Papers by Isadora Casari
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Anais do SIMCAM, 2019
Os sentidos experimentados com o corpo são relevantes em toda a área de investigação que tenha o
... more Os sentidos experimentados com o corpo são relevantes em toda a área de investigação que tenha o
gesto como elemento crucial. O processo de objetivação do gesto pressupõe sentidos incorporados
como trajetória e apoio. As ações corporais que permitem a produção sonora — particularmente na
experiência da música — são construídas a partir de entendimentos que emergem da própria
experiência corporal com o movimento, com o deslocamento de peso, com a perda e a manutenção
do equilíbrio, com a realização de trajetórias e com a percepção das forças que atuam no movimento.
Na performance musical, entendimentos que são produzidos pelo corpo em ação são comunicados
em processos de ensino-aprendizagem. As imagens (visuais, cinestésicas) que construímos
mentalmente a fim de objetivar conhecimentos incorporados não estão disponíveis a terceiros.
Entendemos que a “metáfora conceitual” (Lakoff & Johnson, 1999; 2002) e os recursos imaginativos
e imagéticos são potentes comunicadores da experiência subjetiva e incorporada e desempenham um
papel importante nos processos de ensino-aprendizagem da performance musical. Nosso objetivo no
presente texto é propor uma categorização das estratégias de objetivação do conhecimento
incorporado empregados por dois professores experts de violino e de viola. Os dados em questão
foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas que visaram enfocar as expressões
linguísticas que possibilitam aos sujeitos objetivar suas reflexões subjetivas sobre seu conhecimento
prático. Os dados foram compilados, decompostos e recompostos para análise (Yin, 2016). Apoiamo-nos
em procedimentos de codificação propostos por Strauss e Corbin (2008) e de tais procedimentos
emergiram nossas principais categorias analíticas.
Palavras-chave: Metáfora, Imaginação, Pedagogia da Performance, Cognição Incorporada

anais do simcam 13, 2017
O objetivo do artigo é apresentar o conceito de jogo na obra de Hans-Georg Gadamer
(2012) e suas ... more O objetivo do artigo é apresentar o conceito de jogo na obra de Hans-Georg Gadamer
(2012) e suas relações com novos paradigmas da cognição sobretudo com o enacionismo (Varela,
1991). Procurarei por fim esboçar possíveis desdobramentos que o conceito pode oferecer à
construção de uma teoria da performance musical. A relação da hermenêutica filosófica de Gadamer
com o paradigma enacionista da cognição acontece pela superação da dicotomia na relação sujeito/
objeto que ambas abordagens enfrentam. Gadamer apresenta uma teoria geral da interpretação que
pretende explicar de que forma compreendemos e interpretamos o mundo. O conceito de jogo trazido
pelo autor permite abordar e iluminar diversos aspectos implicados em nossa interpretação de mundo,
sendo portanto uma teoria do entendimento. Gadamer traz a questão da compreensão para além da
consciência de quem conhece, ao entender que esse processo não suspende a alteridade do outro, mas
a conserva. Para Gadamer devemos nos desfazer de um modelo de entendimento centrado seja no
objeto, seja no sujeito, que é também um projeto enacionista. A compreensão é sempre um acordo, um
diálogo e num diálogo não existem sujeitos e objetos. É justamente a possibilidade de jogar-se sempre
com (alguém ou alguma coisa) que possibilita ao conceito apresentar a alteridade como um aspecto
inerente à compreensão. Transposta para o contexto da performance musical, o conceito de jogo
permite uma abordagem ampla de diversos aspectos implicados na performance tal como a relação
interprete e ouvinte assim como o caráter imponderável, dinâmico e circunscrito presente em toda
performance.
Palavras-chave: performance musical, filosofia cognitiva, enacionismo, jogo, Hans-Georg Gadamer.

ICMPC15/ESCOM10. Graz, Austria: Centre for Systematic Musicology, University of Graz., 2018
Comprehension is a type of action and as such refers to our
corporeality and emotions. In turn, t... more Comprehension is a type of action and as such refers to our
corporeality and emotions. In turn, the Western epistemological
tradition advocates that the body and emotions are undesirable
interferences to our production of knowledge. The notion that the
mind is transcendental and the body no more than transient matter
leads to a denial of our corporeality, the expectation of absolute
control over action, and the hierarchized relations between body and
mind, which limits our self-understanding. This paper aims to
surpass this dichotomy and propose a theoretical reflection on the
construction of the sound production gesture and its association with
play and the metaphor. The expression of musical ideas and
intentions may only gain materiality through the construction and
expansion of a repertoire of actions. Our hypothesis is that the
behavior present in play allows for the exchange between different
domains of experience, as it happens in metaphorical thinking, and
that play configures itself as an experiential field that facilitates the
development of creativity and comprehension, enabling the
transformation and development of actions and behaviors. Gadamer
(2010) uses the concept of play (spiel) as the guiding thread for his
model since he considers that, as a game, the entire process of
constructing meanings is an open act and an interpretive and
interactive action.

Revista Percepta, 5(1), 93–116, 2017
Resumo O objetivo do artigo é apresentar o paradigma da cognição incorporada e apontar suas contr... more Resumo O objetivo do artigo é apresentar o paradigma da cognição incorporada e apontar suas contribuições para uma pedagogia da performance. Nessa perspectiva epistemológica, o corpo é o vetor semântico a partir do qual nossa relação com o mundo é construída. As categorias e os conceitos que usamos para descrever o mundo não são fixos, mas construídos interativamente pela nossa relação corporal com o ambiente. Esse percurso epistemológico contraria abordagens mais tradicionais da cognição ao romper com o dualismo cartesiano entre corpo/mente e sujeito/objeto por entender que tais pressupostos não apresentam condições necessárias para explicar nossos processos de construção de sentidos. Dentre esses pressupostos gostaria de destacar a concepção de que sujeito e objeto de conhecimento são instâncias autônomas, o que será criticado no presente artigo por meio do conceito de "jogo" do filósofo Hans-George Gadamer.

Anais do SIMPOM
Resumo: O artigo apresenta uma discussão teórica a respeito da relação entre projeções metafórica... more Resumo: O artigo apresenta uma discussão teórica a respeito da relação entre projeções metafóricas, imaginação e execução musical. A imaginação tem um papel chave em nossos processos de construção de sentido e, portanto, na construção de novos conhecimentos. Pela metáfora projetamos nossa experiência em determinado domínio em outros que desejamos conhecer e tal procedimento cognitivo só é possível pela nossa capacidade de imaginar e de assim gerar novos arranjos mentais. A cognição musical não trabalha de maneira diferente. Projetamos experiências a priori não musicais na construção dos sentidos em música. Estão em jogo no ouvinte uma intrincada rede de sentidos oriundos de sua experiência corporal, que passam por uma experiência de movimento e de manipulação de objetos, que nos possibilita dar sentido aos sons que ouvimos e que pela metáfora, entendida enquanto veículo do pensamento e da ação e não apenas como um recurso da linguagem, projeta essa experiência nos sons que adquirem assim sentido e podem ser por nós entendidos como música. O músico, da mesma maneira, lança mão de uma gama de experiências extra-musicais na construção e na realização da interpretação de uma obra. Nossa experiência artística, seja na construção de uma obra seja na construção de seu sentido, é uma experiência emocional, sensível, imediata e incorporada. Discutir a imaginação como um elemento chave na cognição humana possibilita a construção de um quadro teórico que dê conta de elucidar os processos cognitivos que possuem um viés mais emocional, imediato e sensível que discursivo racional, como é o caso da cognição musical. Abstract: This paper is a theoretical discussion on the relation between metaphorical projections, imagination and musical performance. Imagination plays a key role in the process of meaning and knowledge construction. Through it, and by the use of metaphors, our experience in a certain domain is projected in others domains that we wish to comprehend. This cognitive feature is possible by our capacity to imagine, which generate new mental arrangements. Our musical cognition does not work in a different way. Nonmusical experiences are project in the construction of musical meaning. An intricate meaning web, 1 Orientanda da professora Doutora Mônica de Almeida Duarte e bolsista Capes.

Dissertação de Mestrado , 2013
A presente pesquisa teve como objetivo investigar os processos de construção da identidade musica... more A presente pesquisa teve como objetivo investigar os processos de construção da identidade musical dos violistas. Partimos do entendimento que as identidades são construídas e elaboradas na e através da relação com os outros e que a música enquanto pratica social, tem um papel relevante nesse processo (Hargreaves). Dentro do meio musical, historicamente, a viola e o violista foram alvo de uma visão estereotipada e investigamos como esse estereótipo ecoa em suas identidades musicais. Usamos como referencial a teoria das representações sociais. Segundo a teoria existe um tipo específico de conhecimento que é partilhado socialmente – o senso comum – e esse conhecimento é expresso na forma de Representações Sociais que são construídas e partilhadas dentro dos grupos sociais por meio da comunicação. As representações sociais nos permitem conhecer o sistema de conotações implícitas e explicitas de dado objeto dentro de um grupo social. A fim de verificar tais representações, foi aplicada a metodologia da entrevista semi-estruturada realizada com violistas profissionais e atuantes em orquestras sinfônicas cariocas. Para a analise de seus discursos foi aplicada a analise retórica dos discursos (Reboul) onde buscamos conhecer as representações sociais do grupo de entrevistados por meio de suas práticas argumentativas. Verificamos a existência de um grupo reflexivo (Wagner) entre os violistas entrevistados na medida em que encontramos em suas práticas argumentativas padrões, recorrências e ênfases sobre seus posicionamentos frente a determinadas questões de relevância em suas práticas musicais. Foram verificados ainda um conjunto de conhecimentos, práticas sociais e valores partilhados pelo grupo e através dos quais esses instrumentistas se reconhecem mutuamente como “bons violistas”.

TCC Graduação
Mestre Humberto é um ogã (sacerdote do candomblé que tem como uma das funções
tocar nas cerimônia... more Mestre Humberto é um ogã (sacerdote do candomblé que tem como uma das funções
tocar nas cerimônias religiosas) que atualmente leciona na Escola Maracatu Brasil em
Laranjeiras no Rio de Janeiro. É uma figura que circula no meio musical e vem
exercendo a função de mediador entre a música ritual do candomblé e a música popular.
Isso se dá na medida em que é herdeiro de um saber tradicional e vem transmitindo seu
conhecimento ao público leigo, ou seja, desvinculado da religião do candomblé. Desta
forma, Mestre Humberto faz a ponte entre os jovens da classe média carioca e o
universo cultural musical do candomblé. As adaptações que o Mestre realiza (ou não)
do conhecimento musical tradicional e ritualístico do candomblé para uso pedagógicomusical
é o ponto central dessa pesquisa. A análise de sua prática pode contribuir para o
conhecimento das formas de mediação cultural presentes na sociedade brasileira
contemporânea, com ênfase nas práticas musicais como espaços que favorecem a
atuação de agentes mediadores, bem como revisar e ampliar concepções sobre práticas
de ensino e aprendizagem de música.
Anais do SIMPOM
O presente artigo é fruto de nossa pesquisa de mestrado em andamento que tem como objetivo conhec... more O presente artigo é fruto de nossa pesquisa de mestrado em andamento que tem como objetivo conhecer os processos formadores da identidade dos violistas. Usamos o refencial da teoria das representações sociais por entender que identidades e pertenças grupais são construidas socialmente e informam sobre os individuos que as compartilham. Fatores como a viola ser um instrumento pouco conhecido do público não especializado em música, possuir certa semelhança física com o violino e ter sido ao longo de sua história pouco explorada como instrumento solista, além do papel predominantemente de acompanhamento que desempenha nas obras sinfônicas, são apontados por alguns autores como fatores relevantes para a compreensão da viola e o violista como detentores de uma certa representação social: a viola como instrumento defeituoso e o violista como um instrumentista menor.
Thesis Chapters by Isadora Casari

O jogo da performance: a relação entre gesto e metáfora na construção de sentidos na pedagogia do violino e da viola, 2019
Uma questão que permanece em desenvolvimento na área da pedagogia da performance é o
entendimento... more Uma questão que permanece em desenvolvimento na área da pedagogia da performance é o
entendimento de como o instrumentista objetiva suas habilidades e como essa experiência pode ser
comunicada a outra pessoa na forma de um discurso ou narrativa. A reflexão sobre processos de
construção e comunicação de conhecimentos em performance enfrenta necessariamente a questão
de como objetivamos e comunicamos experiências que são de ordem subjetiva e incorporada. Ao
reconhecermos uma experiência como “incorporada” estamos admitindo o corpo humano como
estrutura experiencial vivida, como agente cognitivo e expressivo assim como o contexto no qual
operam os mecanismos cognitivos (VARELA, 1991; 2000; MATURANA, 2014; GIBBS, 2005). Os
professores de instrumento tem em mãos a difícil tarefa de reconhecer qual é a dificuldade do aluno
na realização de algum trecho musical ou de alguma técnica específica, objetivar e comunicar
possíveis caminhos de como solucionar o problema. É necessário que o professor de instrumento se
aprimore em comunicar conceitualmente para o estudante sua própria experiência da realização
musical, seja esta relacionada a alguma técnica de produção sonora ou a alguma intenção no
discurso musical. Uma importante questão trazida pela cognição incorporada é que devemos
questionar o dualismo naturalizado no ocidente de que a experiência do corpo é uma forma de
comportamento que pouca relação tem com a linguagem, com o pensamento, com a ação
significativa e com a construção de sentidos. Tanto a performance quanto a apreciação musical
envolvem aspectos cognitivos que são delineados pelo corpo em muitos aspectos. O que está em
jogo nesse paradigma quando aplicado à performance musical é justamente compreender as interrelações,
interações e implicações que emergem quando entendemos que corpo e mente formam
uma unidade e não uma dicotomia. O conceito de jogo trazido por Gadamer (2012) permite abordar
e iluminar diversos aspectos implicados em nossos atos de entendimento de forma semelhante. Por
meio desse conceito, Gadamer traz a questão do entendimento para além do sujeito, pois o
entendimento não acontece “dentro” do sujeito, mas em seu jogo com o mundo. Devemos nos
desfazer de um modelo da cognição centrado seja no objeto, seja no sujeito. A dicotomia entre esses
dois têm suas raízes na própria dicotomia entre corpo e mente que baliza o pensamento ocidental. O
ato de entendimento não é a reprodução de uma representação de um objeto por um sujeito, este é,
por sua vez, um jogo e, enquanto tal, apresenta uma estrutura que é dialógica e dinâmica. O jogo
possibilita-nos pensar sujeito e objeto, produtor e produto do conhecimento, como inexoravelmente
inseparáveis. O objetivo central da presente tese é compreender os pontos fundamentais que
norteiam a objetivação e construção de conhecimentos subjacentes às técnicas de produção sonora
no violino e da viola a fim de compreender as estratégias pedagógicas que visam comunicar a
experiência incorporada da produção sonora nesses instrumentos. A fim de compreender as interrelações
entre corpo e mente que emergem na forma de estratégias pedagógicas que visam
comunicar a experiência subjetiva da produção sonora nos instrumentos de cordas, escolhemos
lançar um olhar hermenêutico sobre a tradição pedagógica Flesch/Bosísio/Lavigne. Buscamos
compreender que conceitos, categorias, dicotomias, práticas, imagens e metáforas emergem quando
olhamos essa tradição pedagógico-musical sob o ponto de vista dinâmico e incorporado da cognição
musical.
Palavras-chave: gesto, cognição incorporada, metáfora, jogo, pedagogia da performance.
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Papers by Isadora Casari
gesto como elemento crucial. O processo de objetivação do gesto pressupõe sentidos incorporados
como trajetória e apoio. As ações corporais que permitem a produção sonora — particularmente na
experiência da música — são construídas a partir de entendimentos que emergem da própria
experiência corporal com o movimento, com o deslocamento de peso, com a perda e a manutenção
do equilíbrio, com a realização de trajetórias e com a percepção das forças que atuam no movimento.
Na performance musical, entendimentos que são produzidos pelo corpo em ação são comunicados
em processos de ensino-aprendizagem. As imagens (visuais, cinestésicas) que construímos
mentalmente a fim de objetivar conhecimentos incorporados não estão disponíveis a terceiros.
Entendemos que a “metáfora conceitual” (Lakoff & Johnson, 1999; 2002) e os recursos imaginativos
e imagéticos são potentes comunicadores da experiência subjetiva e incorporada e desempenham um
papel importante nos processos de ensino-aprendizagem da performance musical. Nosso objetivo no
presente texto é propor uma categorização das estratégias de objetivação do conhecimento
incorporado empregados por dois professores experts de violino e de viola. Os dados em questão
foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas que visaram enfocar as expressões
linguísticas que possibilitam aos sujeitos objetivar suas reflexões subjetivas sobre seu conhecimento
prático. Os dados foram compilados, decompostos e recompostos para análise (Yin, 2016). Apoiamo-nos
em procedimentos de codificação propostos por Strauss e Corbin (2008) e de tais procedimentos
emergiram nossas principais categorias analíticas.
Palavras-chave: Metáfora, Imaginação, Pedagogia da Performance, Cognição Incorporada
(2012) e suas relações com novos paradigmas da cognição sobretudo com o enacionismo (Varela,
1991). Procurarei por fim esboçar possíveis desdobramentos que o conceito pode oferecer à
construção de uma teoria da performance musical. A relação da hermenêutica filosófica de Gadamer
com o paradigma enacionista da cognição acontece pela superação da dicotomia na relação sujeito/
objeto que ambas abordagens enfrentam. Gadamer apresenta uma teoria geral da interpretação que
pretende explicar de que forma compreendemos e interpretamos o mundo. O conceito de jogo trazido
pelo autor permite abordar e iluminar diversos aspectos implicados em nossa interpretação de mundo,
sendo portanto uma teoria do entendimento. Gadamer traz a questão da compreensão para além da
consciência de quem conhece, ao entender que esse processo não suspende a alteridade do outro, mas
a conserva. Para Gadamer devemos nos desfazer de um modelo de entendimento centrado seja no
objeto, seja no sujeito, que é também um projeto enacionista. A compreensão é sempre um acordo, um
diálogo e num diálogo não existem sujeitos e objetos. É justamente a possibilidade de jogar-se sempre
com (alguém ou alguma coisa) que possibilita ao conceito apresentar a alteridade como um aspecto
inerente à compreensão. Transposta para o contexto da performance musical, o conceito de jogo
permite uma abordagem ampla de diversos aspectos implicados na performance tal como a relação
interprete e ouvinte assim como o caráter imponderável, dinâmico e circunscrito presente em toda
performance.
Palavras-chave: performance musical, filosofia cognitiva, enacionismo, jogo, Hans-Georg Gadamer.
corporeality and emotions. In turn, the Western epistemological
tradition advocates that the body and emotions are undesirable
interferences to our production of knowledge. The notion that the
mind is transcendental and the body no more than transient matter
leads to a denial of our corporeality, the expectation of absolute
control over action, and the hierarchized relations between body and
mind, which limits our self-understanding. This paper aims to
surpass this dichotomy and propose a theoretical reflection on the
construction of the sound production gesture and its association with
play and the metaphor. The expression of musical ideas and
intentions may only gain materiality through the construction and
expansion of a repertoire of actions. Our hypothesis is that the
behavior present in play allows for the exchange between different
domains of experience, as it happens in metaphorical thinking, and
that play configures itself as an experiential field that facilitates the
development of creativity and comprehension, enabling the
transformation and development of actions and behaviors. Gadamer
(2010) uses the concept of play (spiel) as the guiding thread for his
model since he considers that, as a game, the entire process of
constructing meanings is an open act and an interpretive and
interactive action.
tocar nas cerimônias religiosas) que atualmente leciona na Escola Maracatu Brasil em
Laranjeiras no Rio de Janeiro. É uma figura que circula no meio musical e vem
exercendo a função de mediador entre a música ritual do candomblé e a música popular.
Isso se dá na medida em que é herdeiro de um saber tradicional e vem transmitindo seu
conhecimento ao público leigo, ou seja, desvinculado da religião do candomblé. Desta
forma, Mestre Humberto faz a ponte entre os jovens da classe média carioca e o
universo cultural musical do candomblé. As adaptações que o Mestre realiza (ou não)
do conhecimento musical tradicional e ritualístico do candomblé para uso pedagógicomusical
é o ponto central dessa pesquisa. A análise de sua prática pode contribuir para o
conhecimento das formas de mediação cultural presentes na sociedade brasileira
contemporânea, com ênfase nas práticas musicais como espaços que favorecem a
atuação de agentes mediadores, bem como revisar e ampliar concepções sobre práticas
de ensino e aprendizagem de música.
Thesis Chapters by Isadora Casari
entendimento de como o instrumentista objetiva suas habilidades e como essa experiência pode ser
comunicada a outra pessoa na forma de um discurso ou narrativa. A reflexão sobre processos de
construção e comunicação de conhecimentos em performance enfrenta necessariamente a questão
de como objetivamos e comunicamos experiências que são de ordem subjetiva e incorporada. Ao
reconhecermos uma experiência como “incorporada” estamos admitindo o corpo humano como
estrutura experiencial vivida, como agente cognitivo e expressivo assim como o contexto no qual
operam os mecanismos cognitivos (VARELA, 1991; 2000; MATURANA, 2014; GIBBS, 2005). Os
professores de instrumento tem em mãos a difícil tarefa de reconhecer qual é a dificuldade do aluno
na realização de algum trecho musical ou de alguma técnica específica, objetivar e comunicar
possíveis caminhos de como solucionar o problema. É necessário que o professor de instrumento se
aprimore em comunicar conceitualmente para o estudante sua própria experiência da realização
musical, seja esta relacionada a alguma técnica de produção sonora ou a alguma intenção no
discurso musical. Uma importante questão trazida pela cognição incorporada é que devemos
questionar o dualismo naturalizado no ocidente de que a experiência do corpo é uma forma de
comportamento que pouca relação tem com a linguagem, com o pensamento, com a ação
significativa e com a construção de sentidos. Tanto a performance quanto a apreciação musical
envolvem aspectos cognitivos que são delineados pelo corpo em muitos aspectos. O que está em
jogo nesse paradigma quando aplicado à performance musical é justamente compreender as interrelações,
interações e implicações que emergem quando entendemos que corpo e mente formam
uma unidade e não uma dicotomia. O conceito de jogo trazido por Gadamer (2012) permite abordar
e iluminar diversos aspectos implicados em nossos atos de entendimento de forma semelhante. Por
meio desse conceito, Gadamer traz a questão do entendimento para além do sujeito, pois o
entendimento não acontece “dentro” do sujeito, mas em seu jogo com o mundo. Devemos nos
desfazer de um modelo da cognição centrado seja no objeto, seja no sujeito. A dicotomia entre esses
dois têm suas raízes na própria dicotomia entre corpo e mente que baliza o pensamento ocidental. O
ato de entendimento não é a reprodução de uma representação de um objeto por um sujeito, este é,
por sua vez, um jogo e, enquanto tal, apresenta uma estrutura que é dialógica e dinâmica. O jogo
possibilita-nos pensar sujeito e objeto, produtor e produto do conhecimento, como inexoravelmente
inseparáveis. O objetivo central da presente tese é compreender os pontos fundamentais que
norteiam a objetivação e construção de conhecimentos subjacentes às técnicas de produção sonora
no violino e da viola a fim de compreender as estratégias pedagógicas que visam comunicar a
experiência incorporada da produção sonora nesses instrumentos. A fim de compreender as interrelações
entre corpo e mente que emergem na forma de estratégias pedagógicas que visam
comunicar a experiência subjetiva da produção sonora nos instrumentos de cordas, escolhemos
lançar um olhar hermenêutico sobre a tradição pedagógica Flesch/Bosísio/Lavigne. Buscamos
compreender que conceitos, categorias, dicotomias, práticas, imagens e metáforas emergem quando
olhamos essa tradição pedagógico-musical sob o ponto de vista dinâmico e incorporado da cognição
musical.
Palavras-chave: gesto, cognição incorporada, metáfora, jogo, pedagogia da performance.
gesto como elemento crucial. O processo de objetivação do gesto pressupõe sentidos incorporados
como trajetória e apoio. As ações corporais que permitem a produção sonora — particularmente na
experiência da música — são construídas a partir de entendimentos que emergem da própria
experiência corporal com o movimento, com o deslocamento de peso, com a perda e a manutenção
do equilíbrio, com a realização de trajetórias e com a percepção das forças que atuam no movimento.
Na performance musical, entendimentos que são produzidos pelo corpo em ação são comunicados
em processos de ensino-aprendizagem. As imagens (visuais, cinestésicas) que construímos
mentalmente a fim de objetivar conhecimentos incorporados não estão disponíveis a terceiros.
Entendemos que a “metáfora conceitual” (Lakoff & Johnson, 1999; 2002) e os recursos imaginativos
e imagéticos são potentes comunicadores da experiência subjetiva e incorporada e desempenham um
papel importante nos processos de ensino-aprendizagem da performance musical. Nosso objetivo no
presente texto é propor uma categorização das estratégias de objetivação do conhecimento
incorporado empregados por dois professores experts de violino e de viola. Os dados em questão
foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas que visaram enfocar as expressões
linguísticas que possibilitam aos sujeitos objetivar suas reflexões subjetivas sobre seu conhecimento
prático. Os dados foram compilados, decompostos e recompostos para análise (Yin, 2016). Apoiamo-nos
em procedimentos de codificação propostos por Strauss e Corbin (2008) e de tais procedimentos
emergiram nossas principais categorias analíticas.
Palavras-chave: Metáfora, Imaginação, Pedagogia da Performance, Cognição Incorporada
(2012) e suas relações com novos paradigmas da cognição sobretudo com o enacionismo (Varela,
1991). Procurarei por fim esboçar possíveis desdobramentos que o conceito pode oferecer à
construção de uma teoria da performance musical. A relação da hermenêutica filosófica de Gadamer
com o paradigma enacionista da cognição acontece pela superação da dicotomia na relação sujeito/
objeto que ambas abordagens enfrentam. Gadamer apresenta uma teoria geral da interpretação que
pretende explicar de que forma compreendemos e interpretamos o mundo. O conceito de jogo trazido
pelo autor permite abordar e iluminar diversos aspectos implicados em nossa interpretação de mundo,
sendo portanto uma teoria do entendimento. Gadamer traz a questão da compreensão para além da
consciência de quem conhece, ao entender que esse processo não suspende a alteridade do outro, mas
a conserva. Para Gadamer devemos nos desfazer de um modelo de entendimento centrado seja no
objeto, seja no sujeito, que é também um projeto enacionista. A compreensão é sempre um acordo, um
diálogo e num diálogo não existem sujeitos e objetos. É justamente a possibilidade de jogar-se sempre
com (alguém ou alguma coisa) que possibilita ao conceito apresentar a alteridade como um aspecto
inerente à compreensão. Transposta para o contexto da performance musical, o conceito de jogo
permite uma abordagem ampla de diversos aspectos implicados na performance tal como a relação
interprete e ouvinte assim como o caráter imponderável, dinâmico e circunscrito presente em toda
performance.
Palavras-chave: performance musical, filosofia cognitiva, enacionismo, jogo, Hans-Georg Gadamer.
corporeality and emotions. In turn, the Western epistemological
tradition advocates that the body and emotions are undesirable
interferences to our production of knowledge. The notion that the
mind is transcendental and the body no more than transient matter
leads to a denial of our corporeality, the expectation of absolute
control over action, and the hierarchized relations between body and
mind, which limits our self-understanding. This paper aims to
surpass this dichotomy and propose a theoretical reflection on the
construction of the sound production gesture and its association with
play and the metaphor. The expression of musical ideas and
intentions may only gain materiality through the construction and
expansion of a repertoire of actions. Our hypothesis is that the
behavior present in play allows for the exchange between different
domains of experience, as it happens in metaphorical thinking, and
that play configures itself as an experiential field that facilitates the
development of creativity and comprehension, enabling the
transformation and development of actions and behaviors. Gadamer
(2010) uses the concept of play (spiel) as the guiding thread for his
model since he considers that, as a game, the entire process of
constructing meanings is an open act and an interpretive and
interactive action.
tocar nas cerimônias religiosas) que atualmente leciona na Escola Maracatu Brasil em
Laranjeiras no Rio de Janeiro. É uma figura que circula no meio musical e vem
exercendo a função de mediador entre a música ritual do candomblé e a música popular.
Isso se dá na medida em que é herdeiro de um saber tradicional e vem transmitindo seu
conhecimento ao público leigo, ou seja, desvinculado da religião do candomblé. Desta
forma, Mestre Humberto faz a ponte entre os jovens da classe média carioca e o
universo cultural musical do candomblé. As adaptações que o Mestre realiza (ou não)
do conhecimento musical tradicional e ritualístico do candomblé para uso pedagógicomusical
é o ponto central dessa pesquisa. A análise de sua prática pode contribuir para o
conhecimento das formas de mediação cultural presentes na sociedade brasileira
contemporânea, com ênfase nas práticas musicais como espaços que favorecem a
atuação de agentes mediadores, bem como revisar e ampliar concepções sobre práticas
de ensino e aprendizagem de música.
entendimento de como o instrumentista objetiva suas habilidades e como essa experiência pode ser
comunicada a outra pessoa na forma de um discurso ou narrativa. A reflexão sobre processos de
construção e comunicação de conhecimentos em performance enfrenta necessariamente a questão
de como objetivamos e comunicamos experiências que são de ordem subjetiva e incorporada. Ao
reconhecermos uma experiência como “incorporada” estamos admitindo o corpo humano como
estrutura experiencial vivida, como agente cognitivo e expressivo assim como o contexto no qual
operam os mecanismos cognitivos (VARELA, 1991; 2000; MATURANA, 2014; GIBBS, 2005). Os
professores de instrumento tem em mãos a difícil tarefa de reconhecer qual é a dificuldade do aluno
na realização de algum trecho musical ou de alguma técnica específica, objetivar e comunicar
possíveis caminhos de como solucionar o problema. É necessário que o professor de instrumento se
aprimore em comunicar conceitualmente para o estudante sua própria experiência da realização
musical, seja esta relacionada a alguma técnica de produção sonora ou a alguma intenção no
discurso musical. Uma importante questão trazida pela cognição incorporada é que devemos
questionar o dualismo naturalizado no ocidente de que a experiência do corpo é uma forma de
comportamento que pouca relação tem com a linguagem, com o pensamento, com a ação
significativa e com a construção de sentidos. Tanto a performance quanto a apreciação musical
envolvem aspectos cognitivos que são delineados pelo corpo em muitos aspectos. O que está em
jogo nesse paradigma quando aplicado à performance musical é justamente compreender as interrelações,
interações e implicações que emergem quando entendemos que corpo e mente formam
uma unidade e não uma dicotomia. O conceito de jogo trazido por Gadamer (2012) permite abordar
e iluminar diversos aspectos implicados em nossos atos de entendimento de forma semelhante. Por
meio desse conceito, Gadamer traz a questão do entendimento para além do sujeito, pois o
entendimento não acontece “dentro” do sujeito, mas em seu jogo com o mundo. Devemos nos
desfazer de um modelo da cognição centrado seja no objeto, seja no sujeito. A dicotomia entre esses
dois têm suas raízes na própria dicotomia entre corpo e mente que baliza o pensamento ocidental. O
ato de entendimento não é a reprodução de uma representação de um objeto por um sujeito, este é,
por sua vez, um jogo e, enquanto tal, apresenta uma estrutura que é dialógica e dinâmica. O jogo
possibilita-nos pensar sujeito e objeto, produtor e produto do conhecimento, como inexoravelmente
inseparáveis. O objetivo central da presente tese é compreender os pontos fundamentais que
norteiam a objetivação e construção de conhecimentos subjacentes às técnicas de produção sonora
no violino e da viola a fim de compreender as estratégias pedagógicas que visam comunicar a
experiência incorporada da produção sonora nesses instrumentos. A fim de compreender as interrelações
entre corpo e mente que emergem na forma de estratégias pedagógicas que visam
comunicar a experiência subjetiva da produção sonora nos instrumentos de cordas, escolhemos
lançar um olhar hermenêutico sobre a tradição pedagógica Flesch/Bosísio/Lavigne. Buscamos
compreender que conceitos, categorias, dicotomias, práticas, imagens e metáforas emergem quando
olhamos essa tradição pedagógico-musical sob o ponto de vista dinâmico e incorporado da cognição
musical.
Palavras-chave: gesto, cognição incorporada, metáfora, jogo, pedagogia da performance.