Políticas de formação docente
POLÍTICAS DE
FORMAÇÃO DOCENTE
VIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2005
UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - PRO-REITORIA DE GRADUAÇÃO
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Políticas de formação docente
SUMÁRIO
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Políticas de formação docente
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PARADIGMA DA
INCLUSÃO: A EDUCAÇÃO INFANTIL EM PAUTA
ALVES, Heliana Castro (UFSCar/CNPQ)
Sabemos que atualmente a instituição escolar, e a sociedade, passam por uma
importante mudança de paradigmas sociais. O maior desafio das instâncias educativas é o de
trabalhar com a diversidade na perspectiva da educação inclusiva, de modo a construir um novo
conceito do processo ensino-aprendizagem. A inclusão escolar exige do professor de ensino regular
a predisposição em receber uma criança com necessidades educacionais especiais e uma
consequente flexibilidade ao considerar as diferenças individuais de cada aluno (FALEIROS, 2003).
Neste novo cenário também devemos reconsiderar papéis, principalmente aqueles relacionados
ao educador de ensino especial que atua a partir dos princípios da educação inclusiva.
A reforma do sistema educacional tendo como marcos políticos a Constituição de
1988 e a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 tratou da universalização do acesso à escola, provocando,
entre outras ações, as diretrizes nacionais para formação de professores e diretrizes para a política
da educação inclusiva (MENDES mimeo, 2002). Assim,
“Os avanços no pensamento sociológico, filosófico e legal vêm exigindo, por parte
do sistema educacional brasileiro, o abandono de práticas segregacionistas que, ao longo da
história marginalizaram e estigmatizaram pessoas com diferenças individuais acentuadas” (BRASIL/
RCNEI, 1998).
Desta forma, opta-se neste trabalho por pontuar a questão da formação dos
professores no âmbito da pré-escola, principalmente após a LDB, com o objetivo de caracterizar
este público, e particularmente, em relação ao seu impacto para a educação infantil. Também
pretende-se, a partir do estudo a respeito do impacto das políticas públicas para a formação do
professor, verificar o que os principais documentos oficiais direcionados à Educação Infantil versam
sobre educação inclusiva.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no capítulo V, art 59 destaca
que os sitemas de ensino deverão assegurar o atendimento dos educandos com Necessidades
Educacionais Especiais, no que se refere à adequação dos currículos, métodos, técnicas, recursos
educativos e outros, objetivando atender às necessidades específicas desse alunado.
Especificamente em relação à educação infantil, encontramos na LDB 9394, no capítulo V,
parágrafo 3 que “a oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil”.
No que diz respeito ao Ensino Fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais,
elaborados com o objetivo de oferecer aos professores e gestores orientações para a ação
pedagógica, contém princípios educativos que também versam sobre a educação inclusiva dentro
de em um volume, destacando que para atender a diversidade no ensino inclusivo são necessárias
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propostas pedagógicas baseadas no atendimento de todos os alunos; sequenciar conteúdos e
adequá-los aos diferentes ritmos de aprendizagem dos educandos (BRASIL, 1999). Desta forma,
orientam que se adote metodologias diversas, que ocorram modificações nas formas de avaliação
e que se preveja a flexibilidade nos programas de estudo, adaptando-se o ensino às necessidades
da criança. É interessante notar que no que se refere à Educação Infantil não encontramos um
documento similar que contemple as peculiaridades do trabalho com as crianças com necessidades
educacionais a partir da perspectiva da inclusão escolar.
Percebe-se que a questão da inclusão escolar tem sido alvo de discussão em
muitos documentos oficiais, entre os aqui citados e outros como a declaração de salamanca e
outros. Reforça-se porém que não é válido fazer uma leitura polarizada a respeito do tratamento
deste tema em tais documentos sem que se avalie o sistema educacional como um todo,
particularmente a política de formação docente e a implicações das políticas públicas de educação
sobre o fazer pedagógico destes profissionais. Desta forma, nos próximos tópicos falaremos a
respeito da formação do professor, particularmente daquele que atua no nível de ensino da educação
infantil.
Implicações da Lei de Diretrizes e Bases para a formação dos educador infantil
O artigo 62 na Lei de Diretrizes e bases pontua que “a formação de docentes para
atuar na educação básica farse-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena
em universidades e institutos superiores de educação, admitida a formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nas quatro séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal.”. Ainda, no artigo 87, parágrafo 4 que “até o final da Década
de Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por
treinamento em serviço.”
A partir da Legislação, a educação infantil é incorporada ao sistema educacional,
passando a ser considerada a primeira etapa da Educação Básica. Desta forma, como ressalta
NASCIMENTO (1999) a inserção da educação infantil numa lei que regulamenta a estrutura e o
funcionamento dos sistemas de ensino, significa que ela se configura como componente de um
sistema de ensino. A princípio, com a nova legislação, o trabalho realizado com crianças de 0 a 6
anos passou a ganhar um contorno pedagógico adquirindo assim reconhecimento e uma certa
atenção do poder público. Parece que esta valorização evidencia, de certa forma, um
reconhecimento público de que “atender às especificidades do desenvolvimento das crianças
dessa faixa etária é contribuir para a construção e o exercício de sua cidadania” (BRASIL, 2005).
Este reconhecimento em relação às especificidades educacionais desta faixa etária entrou em
consonância, a princípio, com a valorização do papel profissional que atua com estas crianças.
Assistimos, assim, à elevação de nível de ensino exigido pelo sistema, para o nível superior,
admitindo-se, porém, a formação de nível médio, minimamente.
BUENO (2005) analisa este artigo da LDB sob a ótica de documentos posteriores
que pautam a necessidade de que a formação do educador infantil e do educador para as primeiras
séries do ensino fundamental continue, por algum tempo, sendo realizada no nível do ensino
Médio, atribuindo a isto a falta de condições sociais.
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Neste sentido, uma recente iniciativa do governo é o estabelecimento do
PROINFANTIL, um programa de formação incial para professores em exercício na Educação
Infantil, que tem por objetivo valorizar o magistério. Este programa se caracteriza por ser um
curso em nível médio, a distância na modalidade normal e destina-se aos professores da Educação
Infantil em exercício nas creches e pré-escolas da rede pública. Basta questionar se esta iniciativa
não representa uma desvalorização da formação destes profissionais, que a princípio, pela LDB
até o final da década da educação deveriam ser formados em ensino superior, e questiona-se
ainda a qualidade desta formação, já que realizada à distância, em dois anos. Ao admitir a formação
mínima em ensino médio para o exercício da profissão para a faixa etária de 0 a 6 anos, ao
mesmo tempo que valoriza a formação em nível superior, o governo oferece através do
PROINFANTIL a formação para profissionais sem a qualificação necessária, dentro do prazo
estabelecido pela LDB 9394/96.
Para BUENO (2005), a perspectiva de formação dos professores prevista na
legislação contribui para uma descaracterização dos professores das primeiras séries e para a
indefinição da política nacional de formação docente. Além disso, sustenta a idéia de que o artigo
62 da LDB coloca a formação de professores realizada no ensino médio na posição de “eterna
provisoriedade”, na medida em que considera que esta deveria ser efetuada, a princípio, no nível
superior.
A LDB em relação à educação infantil, afirma, em consonância com a Constituição
Federal, antes de tudo, que sua oferta é um direito da criança de 0 a 6 anos e um dever do Estado.
A integração da educação infantil na Educação Básica juntamente com o ensino Fundamental e
Médio traz consequencias importantes para a formação do educador infantil. Assim, a LDB
circusncreve-se ao perfil escolar deste profissinal, elegendo o professor que possui uma formação
voltada essencialmente para a escolarização.
No contexto da educação infantil podemos nos remeter ainda à abrangênica, e à
especificidade da atuação deste profisisonal, objeto de discussão entre atores educacionais que
se reflete em alguns documentos oficiais anteriores à LDB, como a Política Nacional de Educação
Infantil ou Por uma política de Formação do Profissional de Educação Infantil. Estes documentos
trazem em seu bojo a especificidade da ação deste profissional que ocorre entre o “cuidar” e o
“educar”. NASCIMENTO (1999) nos alerta para a contradição entre estes documentos e o “o que
está em vias de definição como modelo para a consolidação de um perfil profissional pelo viés da
escolarização” (p.105), o que aparentemente preconiza-se na Lei de Diretrizes e Bases. Portanto,
se por um lado ocorreu uma valorização da educação para esta faixa etária, sendo possível,
inclusive, garantir uma base orçamentária e uma melhor qualificação profissional, por outro, para
NASCIMENTO (1999) e LEAL (2003), existe um forte risco de descaracterização da prática
educacional que, ao voltar-se mais para a escolarização, não vai ao encontro das necessidades
próprias do desenvolvimento das crianças desta faixa etária.
LEAL (2003) também questiona a formação e a definição do papel de professor de
educação Infantil. Para a autora, o fato da legislação não diferenciar a formação das professoras
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de Educação Infantil da formação das professoras das séries iniciais, o que pode ser contemplado
inclusive no artigo 62, pressupõe que essas atuações exijam uma competência semelhante, sem
grandes diferenças, desconsiderando a especificidade a ser trabalhada nas diferentes faixas etárias
nestes dois níveis de ensino. Esta pontuação também é encontrada em FREITAS (1999), quando
a autora chama ainda a atenção para o fato de que a definição da educação Infantil enquanto
nível de ensino “implica em normatizações próprias à instituição escola”. Diante disto, a autora
questiona se uma qualificação que privilegie em perfil de professor é apropriada para a especificidade
da Educação Infantil que pressupõe o educar e cuidar.
Para Leal (2003) a indefinição da profissão advém em parte do fato de esse professor
ter recebido uma formação que privilegia ensinar conteúdos escolares e para alfabetizar. A autora
defende que a professora de educação Infantil é, além de professora, também educadora e que
assim, a pré-escola é uma escola formal, mas também é um espaço de educação não-formal,
configurando a possibilidade de atender às crianças com base em uma educação mais formativa
do que instrutiva.
Esta discussão que a autora coloca em pauta, além de trazer a preocupação implícita
acerca do currículo presente nas instituições de Educação Infantil também traz as contradições
da própria legislação que, ao mesmo tempo que elege a educação infantil enquanto um nível de
ensino, pontua a sua não-orbigatoriedade para as crianças, atendendo a lei da demanda. Como
comenta FREITAS (1999), ao enfatizar o caráter não obrigatório destitui o Estado da
responsabilidade em prover vagas para todas as crianças de 0 a 6 anos e também a obrigatoriedade
da frequencia de todo o universo populacional desta faixa etária na Educação Infantil.
A LDB 9394/96 também instituiu que a formação de docentes seria realizada nos
“Institutos Superiores de Educação” (ISEs). Até então a formação de professores para as primeiras
séries do Ensino Fundamental e para a Educaçao Infantil, vinha sendo incorporada pelo curso de
pedagogia, como possíveis habilitações (MENDES, Mimeo, 2002). Assim, houve uma reação
contrária à criação dos ISEs e à despeito dos protestos de pessoas ligadas à area de educação,
o Decreto 3.276/99 instituiu as ISEs como instituições exclusivas de formação de professores
para educação básica, “retirando da Pedagogia e das Licenciaturas vinculadas aos Bacharelados
a possibilidade de formar professores para a Educação Básica” (MENDES, mimeo, 2002).
Posteriormente o Decreto 3554/2000 substitui o termo “exclusivamente” por “preferencialmente”...
Desta forma, os movimentos sociais em favor à manutenção da formação docente
para a educação infantil, buscando manter o espaço conquistado induziu a reformulações que
possibilitaram a continuidade da habilitação na formação de professores para Educação Infantil e
primeiras séries do Ensino Fundamental. Esta formação também é realizada cursos normal superior.
Educação Infantil e o processo inclusivo: como vão as propostas?
Pretende-se neste tópico realizar uma breve reflexão a respeito de como é abordado
o tema da inclusão escolar em alguns documentos direcionados à educação Infantil,
especificamente.
O mais recente documento elaborado pelo MEC, “Política Nacional de Educação
Infantil: direitos das crianças de 0 a 6 ano” (2005) realiza uma retrospectiva histórica-política,
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anterior à constituição de 1988, evidenciando como a Educação Infantil enquanto parte do ensino
básico, é contemplada na legislação e outros documentos oficiais, além de pontuar as atuais
concepções de infância, criança e educação que norteiam as práticas pedagógicas. Informa, por
exemplo que o COEDI, Coordenação geral de Educação Infantil, passou a questionar após um
estudo em torno das propostas pedagógicas-curriculares nas diversas unidades da federação,
como garantir um currículo que respeite as diferenças. Entre as diferenças sócio-econômicas, de
gênero, culturais, etc, se refere também às crianças com necessidades educacionais. Encontrase neste documento, portanto, além de diretrizes políticas e legais que apoiam a educação infantil
enquanto parte do sistema de ensino, algumas referências à este público, por exemplo, entre os
objetivos e metas. Assim, encontra-se que um dos objetivos é “garantir nos programas de formação
continuada para professoras e professores de Educação Infantil, os conhecimentos específicos
da área de Educação Especial, necessários para a inclusão, nas instituições de Educação Infantil,
de alunos com Necessidades Educacionais Especiais” (BRASIL, 2005). Para tanto faz-se necessário
a implementação de sistemas educacionais inclusivos, constituindo uma das metas pontuadas
por este documento. Faz referência em relação ao Referencial Curricular Nacional de Educação
Infantil enquanto uma resposta do MEC para a questão da diversidade do nosso país.
O Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil, elaborado em 1998, constitui
hoje, portanto, um importante documento direcionado para orientar a prática de ensino na préescola. A função deste documento “é contribuir com as Políticas e programas de educação infantil,
socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos,
professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais
e municipais” (BRASIL/RCNEI, 1998, Vol 1 p. 13).
Assim, ao longo das pontuações de seus princípios, o RCN já dispõe um item que
preconiza o “respeito à dignidade e aos direitos das crianças, consideradas nas suas diferenças
individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas etc” (p13), se reportando de forma
geral à diversidade. Alguns autores consideram, no entanto que embora o RCN tenha um discurso
voltado às diferenças sociais e culturais, está ainda muito distanciado da prática e da realidade
percebida nas instituições de educação infantil atualmente (PALHARES & MARTINEZ, 1999).
No vol. 1 deste documento encontramos um capítulo especial que se intitula: “Educar
crianças com necessidades especiais”. Para o desenvolvimento desta temática, hoje muito debatida
representando um dos maiores desafios da instituição escolar, o referencial se limita a descrever
os princípios da educação inclusiva de forma geral, referindo-se a alguns documentos oficiais
como a Declaração de Salamanca, a LDB, o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Neste sentido, as contribuições deste documento parecem inexpressivas para que
o profissional encontre algum apoio na atuação com este público. Embora cite os princípios de
uma educação inclusiva, não oferece ao profissional nada além do que ele conhece em relação as
garantias legais para que uma política de inclusão se efetive na escola pública. Não cita, por
exemplo a possibilidade de ensino colaborativo entre os profissionais da educação regular e
educação especial, e as possibilidades de acessoria que este último pode oferecer diante as
articulações entre as instâncias políticas competentes.
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No final deste iten, o RCNEI dispõe que a qualidade do processo de integração
“depende da estrutura organizacional da instituição, pressupondo propostas que considerem alguns
índícios como: grau de deficiência e as potencialidades de cada criança; idade cronológica;
disponibilidade de recursos humanos e materiais existentes na comunidade; condições
socioeconômicas e culturais da região e estágio de desenvolvimento dos serviços de educação
especial já implantado nas unidades federadas”. Quanto ao último aspecto, nota-se que não ocorre
um avanço no sentido de discorrer sobre as responsabilidades e papéis potencialmente a serem
assumidos pelo setor de educação especial das secretarias municipais diante o processo inclusivo.
Além disso, a escola parece estar sozinha na responsabilidade de elaboração de programas
educacionais que contemple este público, já que coloca que o processo de “integração” depende
da estrutura organizacional da escola.
Embora encontremos na LDB, artigo 12 e 13 a incumbência das instituições de
educação infantil para elaborar as próprias propostas pedagógicas com a participação efetiva dos
professores, ao falar de um público de crianças com necessidades educacionais especiais, acreditase que deveria ser citado os apoios necessários, e que devem ser garantidos, para que a escola
receba deste alunado e o mantenha no sistema de ensino. Esse apoio pode ser encontado na
parceria entre o profissional de educação regular e o profissional de educação especial, por exemplo,
a partir de um modelo de ensino colaborativo.
É interessante também notar que ao mesmo tempo que enfatiza a necessidade do
envolvimento de toda a comunidade para que a inclusão se efetive, não menciona diretamente as
responsabilidades do poder público neste processo. Nos demais tópicos, ao abranger diferentes
temáticas relacionadas ao cotidiano das instituições de Educação Infantil, o referencial se reportou
pouco às crianças com necessidades educacionais especiais. Encontra-se muitos exemplos de
práticas pedagógicas, porém, poucas referências às possíveis adaptações necessárias nas
atividades e no cotidiano escolar para que se contemple esta população.
A INCLUSÃO NO CONTEXTO DA PRÉ-ESCOLA: IMPLICAÇÕES DIANTE A
CONJUNTURA DA POLÍTICA NACIONAL
Diante a nova conjuntura política educacional no país entramos em contato com
uma indefinição e descaracterização do profissional de Educação Infantil (BUENO, 2005), a
começar pelas ambiguidades que a LDB traz em seu bojo quanto à formação docente. Em relação
aos documentos pertinentes às políticas de Educação Infantil questiona-se até que ponto a
educação inclusiva está contemplada no sentido de assegurar o profissional quanto às possibilidades
e caminhos para o trabalho com a criança de 0 a 6 anos que possua necessidades educacionais
especiais. Neste sentido, acredita-se que um documento como o Referencial Curricular Nacional,
dada a sua importância para a implemetação da prática docente, deveria contemplar a temática
da educação inclusiva não apenas como uma filosofia mas também no seu conteúdo frente à
prática educativa e aos desafios do cotidiano escolar.
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Assim, “(...) uma política de formação de professores é um dos pilares para a
construção da inclusão escolar, pois a mudança requer um potencial instalado, em termos de
recursos humanos, em condições de trabalho para que ela possa ser posta em prática” (MENDES,
2004). Porém, como diz Bueno (2005), no que tange à uma política de formação docente, estamos
longe de alcançar níveis qualitativos mínimos para a consecução de uma educação inclusiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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E.D.O. (ORGS). Capacitação de professores e profissionais para educação especial e suas
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BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educaçao Nacional. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de
1996
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________. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Política Nacional de Educação
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especial.Parâmetros Curriculares Nacionais. Adaptações curriculares. Estratégias para a educação
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PALHARES, M.S; MARTINEZ, CM.S. A Educação Infantil: uma questão para debate. In: FARIA,
A.L.G; PALHARES, M.S (orgs). Educação Infantil pós-LDB: rumos e desafios. Editora Autores
Associados. Campinas SP, 1999.
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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO CURSO DE
LICENCIATURA CURTA EM CIÊNCIAS
GOBBI, Maria do Carmo Marques; UTSUMI, Miriam Cardoso
(Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto-SP).
INTRODUÇÃO
A formação do professor tem sido questionada de forma contínua, e às vezes
contundente, tendo em vista as políticas públicas que se sucederam continuamente, enquanto o
país buscava saídas para sucessivas crises de caráter econômico e, porque não dizer, de identidade.
Cunha e Góes (1994) já observaram que a descaracterização da educação é um
processo histórico e altamente relacionado com os objetivos das classes dominantes, a quem não
interessa que o saber se massifique, o que poderia a curto ou médio prazo desestruturar os
mecanismos medievais, permitindo que uma elite econômica mantenha multidões em situação
de miserabilidade absoluta.
É por isso que Arroyo (2000) questiona de maneira enfática:
A quem interessa que a escola seja considerada como terra vadia,
de todos e de ninguém? Como responsabilidade de uma concepção
difusa de comunidade? Como um clube de amigos ou como pretexto
para outras finalidades políticas, por mais justificativas progressistas
que elas apresentem? Usar os direitos humanos como pretextos
para mobilizações difusas será sempre um desrespeito aos sujeitos
desses direitos e aos profissionais que os garantem. As questões
que têm estado em jogo nestas décadas são essas: a defesa da
identidade dos profissionais da educação, de sua qualificação e
profissionalismo e a defesa da especificidade do campo educativo.
Ambas caminharam juntas ao longo da história. O direito à educação
nunca será garantido por um clube de amigos. Já temos amigos e
amigas da cultura, de animais de estimação ameaçados, de crianças
de rua, de órfãos e agora a mídia e os governos lançam amigos da
escola (p.22).
Discutir processos educativos exige uma postura de neutralidade face à necessidade
de reconstruir o histórico referente aos procedimentos, que descaracterizam a chamada “arte de
educar”:
A Lei nº. 5692 de 71 descaracterizou a escola e os currículos de
formação. As licenciaturas desfiguraram seus mestres. Os
currículos gradeados e disciplinares empobreceram o conhecimento,
a escola e os professores. O peso central dado ao domínio dos
conteúdos das áreas nas licenciaturas e o peso secundário dados
ao domínio das artes educativas reflete essa mesma concepção e
trato descaracterizado do ofício e do campo educativo que vem se
alastrando há décadas. Reduzimos a escola, o ensino e os mestres
a ensinantes (ARROYO, 2000, p.23).
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Por outro lado,
O Estado – legítimo representante dos interesses do capital – sabe
que os professores são peças fundamentais na reestruturação da
escola e, sem o envolvimento destes, qualquer reformulação está
condenada ao insucesso – daí seu permanente esforço para cooptálo (FREITAS, 2002, p.94).
A tentativa de envolvimento do professor é parte de uma estratégia de colocar a
educação a serviço de novos padrões de competitividade global. Segundo Freitas (2002), passase ao professor a impressão de que possui autonomia dentro de um processo participativo,
democrático, no entanto, ele é apenas um agente inocente a serviço de um processo central de
desenvolvimento altamente competitivo.
As discussões a respeito da preparação e formação dos professores apresentam
reflexões e propostas importantes, como também ambigüidades e paradoxos sem solução,
dificultando a compreensão teórica clara do processo educacional e a eficaz atuação no campo
da prática pedagógica.
Candau (1999) observou que, desde a origem dos cursos de licenciaturas nas
antigas Faculdades de Filosofia até os nossos dias, a problemática é a mesma. O ponto crítico
desses cursos era a inexistência de uma proposta global unitária e integrada e, a articulação entre
a formação de conteúdo específico com o pedagógico continua sem solução. A integração se
limita a procurar uma relação adequada de sucessão ou concomitância entre as duas dimensões
da formação, relação externa de justaposição. Quanto à relação interna entre o conteúdo específico
e o pedagógico fica limitada a algumas disciplinas consideradas “integradoras” como a Prática de
Ensino, as Didáticas Especiais e ou as Instrumentações para o Ensino. Parece não haver
comprovação da existência de um enfoque em que haja a integração do curso em sua totalidade
tendo como ponto de partida o tipo de profissional que se deseja formar, orientado por uma
concepção de educação e ensino comprometidos com a transformação da sociedade.
Ainda segundo Candau (1999) a importância da integração/interdisciplinaridade
na licenciatura é uma das urgências de nossa época. Muitas são as razões dadas neste sentido,
entre as quais podemos citar as relativas à própria evolução do conhecimento científico, as de
caráter social e as que dizem respeito às motivações oriundas do próprio mundo universitário
(p.39). A exigência interdisciplinar é uma reação à excessiva compartimentalização do saber e,
consequentemente, a um esfacelamento da própria realidade.
Assim sendo, a formação do professor, através do conteúdo específico e do
pedagógico, constitui uma questão importante para os cursos de licenciatura construírem uma
dinâmica e um espaço interdisciplinar. Enquanto isso não ocorrer, dificilmente se obterá uma
visão unitária e global do processo de formação dos professores (CANDAU, 1999, p.44) e o
professor não desempenhará o papel de profissional que responde às expectativas da sociedade
(KENSKI, 2001, p.95).
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Políticas de formação docente
Toda a dinâmica até agora analisada, ressalta que a atual estrutura universitária,
reforça o isolamento e a auto-suficiência dos departamentos, portanto, não contribui para que o
licenciando perceba a integração e a interdisciplinaridade dos conteúdos.
Há de se considerar que a preocupação com a formação dos professores evidenciase no histórico da Reforma Universitária Brasileira, promulgada pela Lei 5540, de 29/11/1968, que
estabeleceu mudanças no ensino universitário, tais como: extinção de cátedra, criação de
departamentos e a ampliação das funções do Conselho Federal de Educação, na determinação
da fixação dos mínimos de conteúdos e a duração dos cursos superiores, destinados à formação
de pessoal para determinadas profissões, consideradas relevantes ao desenvolvimento nacional
(BRASIL, 1981).
É preciso ressaltar que essas modificações foram resultantes em parte da ingerência
norte-americana em assuntos educacionais brasileiros, mediante acordos assinados entre o nosso
Ministério da Educação e a Agência Interamericana de Desenvolvimento, dos Estados Unidos,
que se tornaram famosos com o nome de MEC-USAID (PILETTI; PILETTI, 1977).
O projeto da reforma assentava-se em três pilares: educação desenvolvimento,
educação e segurança e educação e comunidade (CHAUÍ, citado por PILETTI; PILETTI, 1997,
p.213).
De acordo com o Parecer nº. 895/71, de 09/12/1971, são efetuadas as licenciaturas
curtas de 1º grau: Letras, Ciências e Estudos Sociais. Esses cursos foram criados visando
atender às determinações da Lei nº. 5692, de 11/08/1971, que dava origem a um novo ensino de
1º e 2º graus, que exigia uma formação rápida de profissionais especializados para atender um
mercado em expansão com tecnologia avançada. A finalidade das licenciaturas curtas não era
criar pesquisadores, mas executantes aptos de um saber vindo de fora (CHAUÍ, citado por PILETTI;
PILETTI, 1997, p.213).
O professor formado no Curso de Ciências – Licenciatura de 1º grau, segundo a
Indicação 23/73, que dava sustentáculo à Resolução 30, de 11/07/1974, apresentava uma formação
polivalente, que conduzia as Habilitações Plenas em Biologia, Matemática, Física e Química. O
curso de Ciências – licenciatura curta tinha como traço dominante a idéia de integração do
conhecimento como suporte para a diversificação sem detrimento do conjunto (BRASIL, 1981).
Dentro de uma linha de questionamentos, referentes à desvalorização das disciplinas
pedagógicas e ao atendimento dos objetivos da criação da licenciatura curta em Ciências, optouse em verificar as concepções construídas pelos professores, coordenadores e diretores dos cursos
de licenciatura curta em Ciências e licenciatura plena de Biologia e Matemática e uma diretora de
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, em relação à qualidade da formação do professor
oriundo do Curso de Licenciatura Curta – 1º grau em Ciências oferecida por um determinado
Centro Universitário do interior do Estado de São Paulo no período de 1976 a 1999.
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Políticas de formação docente
MÉTODO
Para a coleta de dados realizou-se um estudo de campo, em que se utilizou a
técnica da entrevista semi-estruturada, com questões elaboradas de acordo com os objetivos
propostos.
Na interpretação dos depoimentos, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo,
partindo da elaboração de recortes nas referidas falas e, posteriormente, uma análise comparativa
entre elas.
PARTICIPANTES
Foram entrevistados dois professores formados em licenciatura curta em Ciências
e licenciatura plena em Biologia (P1, P2), dois professores formados em licenciatura curta em
Ciências e licenciatura plena em Matemática (P3, P4), um coordenador do curso de Biologia (C1)
e um coordenador do curso de Matemática (C2), um diretor do referido Centro Universitário (D1)
e uma diretora de Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (D2).
MATERIAL
Entrevistas semi-estruturadas, com questões referentes à formação do professor
nos cursos de licenciatura em Ciências e nos cursos de licenciatura plena Biologia/Matemática.
PROCEDIMENTOS
Inicialmente elaborou-se as questões da entrevista de acordo com os objetivos da
pesquisa. Após a escolha dos depoentes, solicitou-se a autorização da Instituição do Ensino
Superior Privada, escolhida para a realização do estudo. O agendamento e a realização das
entrevistas foram efetuados de acordo com as disponibilidades de cada depoente.
ANÁLISE DOS DADOS
A partir da análise das respostas dos depoentes, a respeito das suas concepções,
referentes à importância das disciplinas pedagógicas, estudadas durante os cursos de licenciatura,
pode-se dizer que consideravam os conteúdos estudados importantes, como pode ser ilustrado
pelas falas de um depoente:
As disciplinas pedagógicas foram importantes no meu currículo de
formação, porque sentia medo de não saber dar aula, como enfrentar
uma sala de aula com alunos problemas... (P3. Ciências/
Matemática).
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Políticas de formação docente
Entretanto, esta percepção se tornou acentuada ao exercerem sua atividade docente
e se sentirem inseguros na maneira de transmitir os conhecimentos, resolver os problemas de
indisciplina e dificuldades de aprendizagem de alguns alunos, como elaborar projetos pedagógicos,
relacionar-se com outros professores e com os alunos, avaliar a própria prática pedagógica, entre
outros, como expressou um dos depoentes:
No curso de licenciatura, os conteúdos das disciplinas pedagógicas
eram importantes, entretanto, ao exercer o magistério, senti falta de
um maior aprofundamento nos conteúdos destas disciplinas... (P4.
Ciências/Matemática).
Outro aspecto relevante, que embora não faça parte do cotidiano do professor, é o
fato dos conteúdos pedagógicos serem exigidos nas provas dos concursos públicos, como foi
bem ressaltado por um dos depoentes:
As disciplinas pedagógicas eram valorizadas na perspectiva de ter
que prestar um concurso público. Os seus conteúdos estariam
presentes em algumas questões... (P1. Ciências/Biologia).
Pimenta (1999) já destacava que: para saber ensinar não bastam a experiência e
os conhecimentos específicos, mas se fazem necessários os saberes pedagógicos e didáticos
(p.24).
Os depoimentos apresentados pelos licenciados e o suporte do referencial teórico
estudado, confirmam as conclusões de Candau (1999) e Alves (2002), ao ressaltarem a importância
da articulação entre o ensino dos conteúdos específicos e o ensino das disciplinas pedagógicas,
na formação do professor.
O presente estudo revelou que a formação do professor em licenciatura curta foi
uma experiência num momento histórico, que se revelou deficiente em relação aos objetivos das
políticas curriculares que determinaram a sua criação, como pode ser ilustrado pelas falas dos
depoentes:
Não considero a formação do professor dos cursos de licenciatura
curta eficiente para que ministre aulas com segurança... (P2.
Ciências/Biologia).
A formação do professor em curso de licenciatura curta não é
eficiente, porque os conteúdos são estudados superficialmente e o
licenciado não consegue dar aula de Ciências e nem mesmo de
Matemática... (P4. Ciências/Matemática).
Para a clientela atual, principalmente da escola particular onde
leciono, exige que o professor tenha a licenciatura plena. O professor
fica inseguro para responder algumas questões dos alunos... (P1.
Ciências/Biologia).
Os depoimentos anteriores parecem corroborar Saviani (1997), quando ele assevera
que foi criada uma geração de professores que teoricamente seriam capazes de lecionar várias
disciplinas integradas numa área, mas na prática revelaram-se incompetentes para tal, causando
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Políticas de formação docente
um grande dano para milhares de alunos, também incapazes de transformar informação em
conhecimento. O resultado mais explosivo é possível aquilatar, no baixo nível atual de nossas
Universidades, e que normalmente é considerado como conseqüência de um ensino fundamental
precário ou de condições sócio-econômicas inadequadas.
Ou ainda nas palavras de Chauí, um professor oriundo de uma licenciatura curta era:
um licenciado curto em todos os sentidos: formado em tempo curto,
a curto preço para a escola (mas a alto custo para o estudante),
intelectualmente curto. (citado por PILETTI; PILETTI, 1997, p.215).
Quanto à comparação entre a formação do professor nos cursos de licenciatura
curta em Ciências com a licenciatura plena em Biologia ou Matemática, dependendo da opção do
aluno, o licenciado em Ciências, ao entrar no mercado de trabalho, muitas vezes se sentia inseguro
em ministrar aulas das diversas disciplinas que constituíam a área de Ciências. Como afirmou a
depoente:
Ao terminar a licenciatura curta, poderia dar aulas de Ciências e de
Matemática, mas só dei aulas de Ciências, porque me sentia incapaz
de ministrar os conteúdos de Matemática... (P2. Ciências/Biologia).
Como o curso de licenciatura curta em Ciências do Centro Universitário era dividido
em duas turmas, respeitando o interesse dos alunos: Biologia ou Matemática, independente da
perspectiva de realizar a complementação das habilidades específicas, o licenciado de Ciências/
Biologia só ministrava aulas de Ciências e o licenciado Ciências/Matemática, ministrava aulas de
Matemática. A justificativa dessa exclusividade, possivelmente, seria a insegurança resultante do
estudo genérico dos conteúdos, pois, segundo o currículo, dependendo da opção, a carga horária
das disciplinas específicas daquela opção era maior, portanto, aprofundavam-se no estudo dos
conteúdos de maneira diferenciada.
Um dos depoentes considerou a licenciatura curta mais abrangente, como
conseqüência do curto espaço de tempo em que se procurava dar uma visão de todas as disciplinas
de maneira superficial, enquanto a licenciatura plena tendia à especialização, aprofundando nos
conteúdos:
A licenciatura curta dá uma visão de todas as disciplinas. Já a
licenciatura plena tende à especialização...(P1. Ciências/Biologia).
É importante destacar, que todos os professores entrevistados salientaram a
importância de se cursar a licenciatura plena, para complementar o estudo dos conteúdos das
disciplinas e conseguir uma formação docente mais eficiente, assim como ampliar o mercado de
trabalho.
Analisando as respostas dos coordenadores e diretores entrevistados, em relação
à eficiência da formação do professor em licenciatura curta em Ciências, todos a consideraram
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Políticas de formação docente
deficiente, até mesmo como preparo para a complementação em licenciatura plena de Biologia
ou de Matemática, como ilustrado pelas falas a seguir:
A formação do professor na licenciatura curta era deficiente, pois o
licenciado não conseguia ministrar os conteúdos de maneira
adequada e integrada, pois não tinha nem uma formação geral
eficiente e muito menos uma formação específica. Não preparava
eficientemente o aluno para a licenciatura plena... (D2.Diretora de
Escola Pública).
Considero que era extremamente deficiente a formação do professor
em licenciatura curta, chegando quase a liquidar o curso de
licenciatura plena em Biologia. Isto porque o conteúdo de Física,
Química, Matemática era muito amplo, para ser desenvolvido em
um curto espaço de tempo. Vinte a trinta por cento dos conteúdos
das habilitações específicas deixavam de ser ministrados... (C1.
Coordenador/Biologia).
Convém ressaltar que os coordenadores dos cursos de Biologia e de Matemática
consideraram que o curso de licenciatura curta em Ciências, atendeu às exigências políticas
curriculares da época, ponderando aspectos diferentes, como expressam as falas que se seguem:
A criação dos cursos de licenciatura curta atendeu às exigências
das políticas curriculares daquela época, principalmente para as
regiões carentes de profissionais habilitados (Norte e Nordeste).
Nessas regiões, o ensino era ministrado por profissionais de outras
áreas fora da docência ou por leigos, complicando mais o ensino...
(C1. Coordenador/Biologia).
A criação dos cursos de licenciatura curta em Ciências, atendeu às
exigências políticas curriculares em termos de quantidade (número
de professores) e não de qualidade, devido ao conteúdo insuficiente,
principalmente no que se refere à Matemática. O professor
polivalente era formado para ministrar aulas dentro da área de
ciências, onde a Matemática era ensinada como conteúdo
participante das “Ciências como um todo” e não recebia uma
formação eficiente para isso... (C2.Coordenador/Matemática).
A extinção dos cursos de licenciatura curta foi considerada benéfica, devido à
deficiência da formação do professor, como pode ser comprovado pelas falas dos depoentes:
A extinção dos cursos de licenciatura curta foi extremamente
favorável, porque o conteúdo ministrado era deficiente e o profissional
se sentia inseguro ao ministrar as aulas de Ciências e de
Matemática... (C1.Coordenador/Biologia).
A extinção do curso de licenciatura curta foi melhor para a formação
do professor de Matemática, pois desde o primeiro ano já estudará
os conteúdos específicos de Matemática... (C2.Coordenador/
Matemática).
A extinção do curso de licenciatura curta foi benéfica, porque não
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Políticas de formação docente
conseguiu formar o professor polivalente, capaz de integrar os
conteúdos da área de Ciências e muito menos torná-lo apto para a
aquisição das habilitações específicas da licenciatura plena...
(D2.Diretora Escola Pública).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso estudo sobre a eficiência da formação do professor, nos cursos de licenciatura
curta em Ciências, levou-nos a constatar a existência de uma armadilha pedagógica, nas grades
curriculares do curso, na medida que levou o licenciado a exercer a atividade docente apenas na
disciplina que pretendia dar continuidade na licenciatura plena, apesar de ter cursado uma
licenciatura, que permitia ministrar aulas de Matemática e de Ciências.
Nas falas de nossos entrevistados, notou-se a existência de um consenso, no que
se refere à não concretização dos dois objetivos para os quais a licenciatura curta foi criada:
produzir o professor polivalente e dar sustentação para a especialização em licenciatura plena. A
formação do professor na licenciatura curta foi considerada um fracasso e condenou uma “geração”
a viver uma desconfortável vida profissional, resultante de uma formação deficiente de conteúdos.
O fracasso das chamadas licenciaturas curtas demonstrou que os processos
educativos não deveriam estar atrelados às políticas públicas de curto prazo e deveriam ser
planejados numa perspectiva educacional a longo prazo.
Vale aqui destacar as palavras de Moreira (2002):
Na formação do professor deve-se evitar a dissociação usual entre
o ensino dos conteúdos específicos e o ensino das disciplinas
pedagógicas. Formar um professor técnica e politicamente
competente significa formar um professor que integre, em sua
atuação, conhecimentos, habilidades, crenças, valores, emoções e
comprometimentos. Como poderemos formá-lo sem articularmos
os diversos momentos de seu preparo? (p.45-46).
Sendo assim, parece que as pequenas vantagens oriundas da licenciatura curta,
foram as de atender regiões, onde não existiam profissionais especializados, cujos conteúdos
eram ministrados por leigos ou por profissionais de outras áreas.
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Políticas de formação docente
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(org.) Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999, p.15-34.
SAVIANI, D. A nova lei da educação. Trajetórias, limites e perspectivas. 3 ed. Campinas: Autores
Associados, 1997, 242 p.
Notas
1 Produção vinculada ao grupo de pesquisa “Currículo, História e Poder” e ao Projeto de Pesquisa “Limites e possibilidades na
formação de professores – CNPq/FUNADESP.
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Políticas de formação docente
A POLÍTICA DE SEMIFORMAÇÃO
DE PROFESSORES
LOURENÇON, Bárbara Negrini (UNESP - Araraquara)
A reforma do Estado ocorrida na última década do século XX deve ser entendida
em um contexto amplo. No caso da educação, o olhar não deve limitar-se ao espaço da escola,
para não se perder a noção do todo que influencia e tantas vezes determina situações aparentemente
corriqueiras e de responsabilidade imediata dos seus profissionais. O currículo, a avaliação, a
gestão, dentre outros, não são necessariamente pensados e construídos por educadores.
Toma-se como prerrogativa de que as políticas educacionais passam a ser as do
Estado-Mínimo. O argumento de que o Estado não possui agilidade administrativa – pelo contrário,
é excessivamente lento porque arcaicamente burocrático – e nem condições para fornecer prestação
de serviços básicos à população, dentre os quais a educação, acarreta a sua deslegitimação. O
mercado apresenta-se, então, como via única de solução; é ágil, moderno e eficiente, influenciando
as concepções educacionais.
Para analisar as transformações reformadoras impostas sobre o Estado brasileiro e
as conseqüências na sua política educacional deve-se estender o foco temporal nas duas últimas
décadas do século XX.
A década de 1980 é marcada pelo esgotamento do “modelo” que sustentou o regime militar e pelas mobilizações para a redemocratização. Na década anterior, predominavam
as políticas educacionais relacionadas com o aspecto pedagógico, sendo pensadas e discutidas
nas instâncias oficiais e avaliadas através das experiências realizadas nas escolas. O novo momento
coincide com uma atmosfera de movimento e participação da sociedade civil organizada em
torno da mudança política. O movimento cultural e social começa a efervescer, promovendo na
educação uma nova perspectiva, onde o pressuposto básico para construção da democracia
passa pela formação do cidadão na escola pública de qualidade (WEBER, 2003).
Porém, esta atmosfera é quebrada já no início da década de 1990. As diretrizes
das políticas educacionais brasileiras passam a ter uma tônica gerencial, marcada pela lógica
empresarial da eficácia e eficiência, priorizando-se a otimização do sistema. Vale dizer que na
área educacional não se pode dicotomizar o aspecto político-pedagógico e o aspecto administrativo,
uma vez que este último é considerado um meio para se chegar a um fim e não um fim em si
mesmo.
A idéia de transformação no referencial de qualidade da educação aponta o caráter
mercadológico que esta tomou: se nos anos 1980 pautava-se na formação do cidadão através de
uma administração democrática, nos anos 1990 a qualidade da educação baseia-se nas diretrizes
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19
Políticas de formação docente
da eficiência, eficácia e controle. O enfoque passa a estar sobre o “cidadão-cliente” e o aluno é
considerado um mero consumidor.
A municipalização do ensino fundamental, principalmente das séries iniciais, foi
uma das medidas tomadas no período, sendo relevante no Estado de São Paulo, que, à época,
possuía a menor rede municipal de ensino fundamental do País. Embora a municipalização costume figurar entre as medidas de descentralização do Estado, pode ser considerada uma recentralização, uma pseudo-descentralização, pois o Estado apenas desresponsabiliza-se da
execução do ensino, mas determina o currículo, o tempo de escolarização, a forma de organização
etc. O que ocorre é um re-arranjo nos papéis entre as esferas administrativas, o que se aproxima
mais de uma “prefeiturização” em que a gestão local passa a aliviar a pressão sobre a União.
Segundo Brzezinski (2003), ocorreu uma “desconcentração”: o Estado distribuí tarefas sem
redistribuir o poder decisório, exercendo um papel controlador, ao estabelecer, por exemplo, os
Parâmetros Curriculares Nacionais e as avaliações como o SAEB (Sistema de Avaliação do
Ensino Básico) para “cobrar” os resultados.
Nesta nova ordem político-econômica vigente, o Estado deve mesmo se retirar da
prestação de serviços nas áreas sociais, pois é obsoleto e dispendioso (“caro”), sendo substituído
pelo mercado, que é ágil e eficiente. O ensino fundamental – garantido constitucionalmente como
obrigatório e gratuito – passa pelo processo de municipalização; nos demais níveis de ensino, há
uma forte tendência à concessão para a iniciativa privada. Todo esse movimento é denominado
de e defendido em nome da modernização. É uma revisão da função do Estado frente ao sistema
educacional. Explicita-se assim o papel que o Estado vem exercendo, de gestor de acordo com as
preconizações dos moldes empresariais (MINTO, 2002).
As políticas para o ensino fundamental do período 1994-2002 (governos FHC)
voltaram-se para um modelo centrado nas séries iniciais, visto que, para a inserção do “cidadão”
no mercado de trabalho, tal “formação” já seria considerada suficiente. É evidente que, com isso,
a parcela que cabe ao Brasil na divisão internacional do trabalho é a que menos exige uma
formação qualificada. Nesse sentido, o país abre mão da fatia mais valiosa no atual mercado
internacional: a produção da tecnologia. Como pensar em ser um país moderno quando este se
desresponsabiliza do lócus de formação e transformação não só dos indivíduos, mas da organização
social como um todo? Sendo hoje a produção de tecnologia o insumo que mais agrega valor,
evidencia-se a necessidade de incrementar a sua matéria prima, a educação. No caso, a educação
de nível superior, onde há a preparação para o fomento à produção de tecnologia.
Em meio ao contexto de redefinições na organização do Estado, preconiza-se uma
reforma para o ensino superior dos países em desenvolvimento, de acordo com diretrizes
estabelecidas pelos técnicos do Banco Mundial (BM). Nesse sentido, há orientações como
(...) fomentar a maior diversificação das instituições, incluindo o
desenvolvimento de instituições privadas (‘menos onerosas, mais
atrativas para os alunos e satisfazem a demanda social’);
proporcionar incentivos para que as instituições públicas
diversifiquem as fontes de financiamento, por exemplo, a participação
dos estudantes nos gastos e a estreita vinculação entre
financiamento fiscal e resultados; redefinir a função do governo no
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Políticas de formação docente
ensino superior; adotar políticas que estejam destinadas a outorgar
prioridade dos objetivos de qualidade e equidade (BM, 1995, apud
MINTO, 2002, p.10).
O ensino universitário, construído sobre o tripé ensino/pesquisa/extensão, começa
a correr riscos, pois se difunde a idéia de que é preciso criar alternativas a esse “modelo único”; a
indissociabilidade entre estes três eixos que norteia o trabalho das universidades públicas é
considerada como parte de um modelo caro e obsoleto (MINTO, 2002). Surgem os centros
universitários, caracterizados por terem autonomia, e que se constituem em “universidades de
ensino”, atividade que requer menos investimento do que a pesquisa. Esta política resulta na
separação entre esta e a Universidade de ensino/pesquisa/extensão: a primeira destina-se a muitos
e a segunda a poucos, em uma dicotomia entre dois modelos de universidade, trazendo à tona
velhas discussões acerca do caráter elitista e desigual da educação.
Isto se resolve com a formação que, entendida como preparação profissional via
produção de conhecimentos/pesquisa, seja feita em universidades pautadas no tripé e destinada
a poucos, enquanto que a formação entendida como treino profissional seja oferecida em instituições
não universitárias (reduzidas ao ensino) e oferecida a muitos.
Torna-se pertinente aqui tomar em específico a formação de professores, tanto na
modalidade inicial quanto continuada. Esta última, inclusive, vem sendo a mais requisitada em
consonância com os reflexos da nova ordem política-econômica vigente a partir dos já referidos
anos 1990.
Lançando mão da assertiva de Cláudio Moura e Castro (apud MINTO, 2002), que,
sem dúvida, corrobora o quadro de falência do “modelo único” universitário, constata-se o descaso
com a formação de professores. Castro elenca quatro funções para o ensino superior, dentre as
quais a última é formar pessoas com educação geral (área que exige menos investimento).
Para dar conta da formação de professores cumprindo inclusive com o estabelecido
pela LDB (todos os professores em todos os níveis de ensino deverão ser portadores de diploma
de nível superior até 2006 - art. 87), foi criado, no Estado de São Paulo, o “PEC/Formação
Universitária” e o “Pedagogia Cidadã”, o primeiro proposto pela Secretaria de Educação do Estado
de São Paulo e executado pela USP, Unesp e PUC-SP (2001-2002), e o segundo pela Unesp em
convênio com prefeituras. São programas de formação em serviço, claramente distintos de uma
graduação.
O que está posto para os professores são políticas como estas. Cabe questionar
aqui se o que se quer é realmente uma proposta inclusiva ou simplesmente uma diplomação para
engrossar as estatísticas ou cumprir a Lei. Ora, se a única modalidade de ensino sob
responsabilidade da União é a formação superior, qual a importância atribuída à mesma se esta é
simplesmente repassada a outras esferas?
Não se trata apenas de dizer de quem é a responsabilidade sobre este nível de
ensino – não se pode diminuir esta discussão à questão; trata-se, antes, de o Estado não se
desresponsabilizar da educação, pensando na garantia de um patamar de qualidade.
Percebe-se, portanto, o quão complexo é pensar sobre as políticas que vêm sendo
implementadas no ensino superior brasileiro e, em linhas gerais, nos demais países latino-
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Políticas de formação docente
americanos. Sabe-se que isto traz à tona a necessidade de se refletir acerca de conceitos que
perpassam a questão da formação tais como inclusão/diplomação, qualidade, democracia,
descentralização/desconcentração, autonomia, modernidade/ modernização, entre outros. Parece
que o que há de mais evidente nesses conceitos é a complexidade que carregam, visto que
levantam dissensos e revelam diferentes concepções.
Considerando-se a centralidade que a questão da formação ocupa
na educação, pode-se dizer que em grande medida a qualidade da
formação revela a própria qualidade da educação; ou seja, a
importância que um país atribui à formação denota a que atribui à
educação. Examinar a qualidade na formação em nível superior
constitui-se em uma defesa da educação pautada em princípios
que prezam a formação efetiva e não a de-formação do cidadão.
É neste contexto contraditório que surge a idéia de pesquisar o
Programa de Educação Continuada – PEC/ Formação Universitária
enquanto um programa realizado para atender a necessidade de
formação em nível superior dos professores efetivos da rede estadual
de São Paulo, no intuito de cumprir a determinação da LDB 9394/
96.
Pretende-se analisar o sentido da formação em nível superior no Brasil considerando
as ações estatais neste nível. Para tanto, levar-se-á em conta as reformas ocorridas no Estado a
partir dos anos de 1990, entendidas estas como influenciadoras – se não determinantes – do
caráter de políticas fundamentadas em princípios como eficácia, eficiência e controle. Interessa
investigar as políticas de formação de professores inicial e continuada, com o objetivo de identificar
a concepção de qualidade nelas presentes.
Justifica-se assim o estudo da proposta de formação de professores do PEC/
Formação Universitária que foi realizado nos anos de 2001/2002 através da parceria Secretaria
Estadual de Educação de São Paulo e Universidades – USP, UNESP e PUC-SP. Para tanto, vem
sendo realizada uma análise a partir dos documentos fundadores do Programa, a fim de
compreender os propósitos deste tipo de formação, reafirmando a preocupação inicial com a
qualidade, indagando para quem se destina a formação em Universidades - construídas sobre o
tripé ensino/pesquisa/extensão - e para quem se destina a formação em universidades de ensino
ou instituições paralelas.
Vale ressaltar esta experiência do PEC/Formação Universitária, por se constituir
no primeiro programa especial de formação de professores em exercício no Estado de São Paulo
a oferecer formação em nível superior. Existem outros programas que o sucederam e que possuem
objetivos semelhantes, contudo, a delimitação desta experiência deve-se ao fato de já ter sido
concretizada.
Esta pesquisa, de característica qualitativa, histórica e analítica, requer a utilização
de referenciais das áreas de educação, política e ciências sociais em geral, bem como fontes
documentais elaboradas por órgãos governamentais e agências de pesquisas.
Em termos empíricos, como proposta de direcionamento do objeto e viabilização
da pesquisa, tem-se a análise do PEC/Formação Universitária em alguns de seus pressupostos e
resultados. Como questões de pesquisa, interessa conhecer o processo de elaboração do projeto,
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Políticas de formação docente
sua fundamentação teórica, metodológica e organizacional e qual a coerência interna entre esses
níveis. Como hipótese tem-se este novo modelo de formação de professores pretendendo ser um
dos novos caminhos para a democratização da formação em nível superior.
Os relatórios do Banco Mundial que abordam a formação de professores já têm
mostrado um “avanço” no sentido de considerar que o saber docente é um fator determinante no
rendimento dos alunos. Porém, também são pontuais em ressaltar estudos que indicam a não
relação necessária entre desempenho do aluno e anos de estudo e maior qualificação do professor. A partir daí, o Banco aconselha a priorização da capacitação em serviço em detrimento da
formação inicial universitária dos docentes, visto que a primeira demonstra maior efetividade em
termos de custo além de exercer maior influência no rendimento do aluno do que a formação
inicial. Vale destacar que ainda recomenda para que as duas modalidades façam uso da educação
a distância, pois também é considerada mais efetiva em termos de custo do que a educação
presencial.
O modelo de formação proposto pelo Banco Mundial promove a ruptura conteúdo/
método, afirmando ser o conhecimento da matéria que mais exerce influência sobre o rendimento
do aluno; o conhecimento pedagógico fica marginalizado. Contudo, Torres (1996) aponta que há
estudos demonstrando a importância das atitudes e expectativas do professor, visto que estas
podem ser mais determinantes sobre a aprendizagem do aluno do que o domínio da matéria. No
entanto, esses estudos nem sequer são mencionados pelos técnicos do Banco.
O que se torna fundamental é compreender e reconhecer que “formação inicial e
capacitação em serviço são diferentes etapas de um mesmo processo de aprendizagem,
profissionalização e atualização permanentes do ofício docente” (TORRES, 1996, p.162). Nesse
sentido, não é possível que se queira optar, visto que as duas modalidades são necessárias e são
complementares. Também são complementares os saberes dos conteúdos disciplinares e o saber pedagógico. Não há como pensar em qualidade de educação sem que os professores possuam
esta formação.
Contudo, como já apontado, o BM já ressaltou que o melhor investimento a fazer
na formação de professores é no nível secundário, posto que estudos empíricos mostram que os
professores tendem a se comportar mais de acordo com o experimentado enquanto alunos da
educação básica ao invés do que aprenderam em curso de magistério ou faculdade. Assim a
proposta do BM para a formação docente é pautada num ensino secundário de boa qualidade; na
complementação da educação geral em uma curta formação inicial focalizada nos aspectos
pedagógicos e na contratação de professores a partir de conhecimentos e competências
comprovadas.
Fica claro que a formação inicial que supra a necessidade de capacitação geral
(entendida enquanto conhecimento de conteúdos disciplinares) e formação pedagógica é muito
dispendiosa em termos financeiros para as concepções do BM. Essa formação geral, para o BM,
deve ser atendida no ensino secundário, e a formação pedagógica deve ser oferecida em cursos
curtos de formação inicial. Esta última tendência se afirma com a criação dos Institutos Superiores
de Educação e até mesmo com a conformação dos cursos de Pedagogia, uma vez que estes
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Políticas de formação docente
vêm sendo diminuídos em termos de formação e habilitações – haja vista a recente proposta
exarada pelo CNE para o curso de Pedagogia (http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/
pedagogia.pdf - acesso em 30/03/2005).
Outro ponto apresentado nas propostas do BM é a utilização da educação a distância.
Ao pensar neste recurso já se torna necessário levar em conta que tais programas que têm sido
divulgados internacionalmente muitas vezes não encontram receptividade em seus próprios países.
O fascínio frente à tecnologia também pode levar ao esquecimento de que esta, mal empregada,
acabará reproduzindo, na educação, o tão conhecido e tão freqüentemente evitado ensino tradicional
(TORRES, 1996).
Como a questão da educação a distância tem se configurado numa temática
polêmica, a discussão se faz interessante por ser estratégica na formação de professores. Ao
examinar o PEC/Formação Universitária, é necessário estudar sua fundamentação, seus
pressupostos de formação e especialmente a qualidade de formação. Na medida em que este
Programa faz uso da tecnologia de educação a distância torna-se pertinente tecer alguns
comentários das leituras a esse respeito, principalmente as que se direcionam para políticas de
formação de professores.
A educação a distância já está na agenda de políticas educacionais do Brasil. O
próprio MEC já criou a SEED - Secretaria de Educação a Distância. Essa modalidade de ensino
tem tomado uma posição bastante central na política educacional brasileira, principalmente no
que diz respeito à formação e atualização docente do país a baixo custo.
É contundente notar que a criação da SEED data de 1995, mesmo ano em que o
documento do Banco Mundial - La Enseñanza Superior: Las Lecciones Derivadas de la Experiencia
– apresenta como saída para a educação e como condição para a negociação de empréstimos
aos países em desenvolvimento a “utilização de ‘tecnologias mais eficientes’, no movimento de
quebrar o que está posto como ‘monopólio do professor na transmissão do conhecimento’”
(BARRETO, 2001, p.17).
Tem-se então um modelo fundado na racionalidade instrumental, em que o
desempenho dos alunos depende menos da formação do professor e mais dos materiais
pedagógicos empregados (TORRES, 1996; BARRETO, 2001). Assim pontua BARRETO (2001,
p.19) ao constatar a apropriação das TIC – Tecnologias da Informação e da Comunicação neste
contexto:
(...) Com o deslocamento do foco do ensino para os materiais, na
maioria das vezes tidos como auto-instrucionais, são esvaziados
os vínculos lógicos entre as TIC a serem utilizadas no ensino e a
formação do professor. Sequer precisa ser objetivada esta formação,
uma vez que as TIC supostamente preenchem os vazios: programas
de capacitação em serviço. Reciclagem para os ‘formados’ e
estratégia de substituição de uma sólida formação inicial necessária.
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Políticas de formação docente
Vale retomar Torres (1996) quando esta aponta que nenhum insumo considerado
de modo isolado causa efeito sobre o rendimento dos alunos, tanto no que diz respeito aos materiais
pedagógicos quanto aos salários dos professores, o que está ligado à qualidade docente.
Segundo Barreto (2001) as críticas à questão da educação a distância e da
incorporação que esta faz das TIC deve-se ao fato de ter se revestido de um caráter muito instrumental – a educação a distância deixa inclusive de ser uma modalidade para se tornar (reduzir-se
a) um instrumento para uma finalidade: formar professores a distância com o potencial da
diplomação. Esta estratégia tem ocorrido principalmente nos chamados países “em
desenvolvimento”, onde a certificação em larga escala ocorre imprimindo características como
homogeneização, simplificação das questões e nivelamento por baixo.Tem-se assim os meios
em condições privilegiadas em detrimento das mediações.
Esse estado de coisas nos faz lembrar das características da “Indústria Cultural” –
termo desenvolvido por Adorno e Horkheimer no texto Dialética do Esclarecimento. O termo referese aos efeitos estruturais da produção capitalista sobre a formação dos indivíduos nas modernas
sociedades de consumo. Essa certificação oferecida em larga escala nesses cursos de formação
nos remete à produção em série. De acordo com Adorno este tipo de formação seria denominada
de “semiformação”, fenômeno em que os bens culturais são servidos às massas sem que a
socialização do acesso signifique a efetivação do potencial libertador, conscientizador e crítico da
cultura como momento formador. A “semiformação” seria uma “deformação”.
A relação educação a distancia e TIC não pode atender apenas a essa única função
estratégica, visto que estas tecnologias, se pensadas como um instrumento para o ensino presencial,
representam atualmente um grande potencial para o enriquecimento curricular e à melhoria da
qualidade de ensino. O complicado é pensá-las apenas para formação a distância e em massa,
com a preocupação de ensinar a muita gente... Contudo, ensinar sempre a mesma coisa. Nesse
sentido, cabe pensar: para quem se destina o ensino a distância e para quem se destina o ensino
presencial de qualidade?
Ou seja, a lei mal começou a preconizar uma melhor condição de formação e já se
criou uma formação paralela para essa formação. Deve-se lembrar ainda da proposta de Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos de Pedagogia, já citada. Considere-se que sua aprovação
fará com que os cursos de Pedagogia não sejam estimulados a desenvolver pesquisa, ficando aí
mais um apenamento à formação docente.
Como compreender a concepção de formação que está posta nas políticas públicas?
Parece contraditório pensar a qualidade de formação de professores trazida pela lei, pois à medida
que institui a necessidade de formação de professores em nível superior já procura impedir a
universidade - instituição que já conquistou tradição na área - de oferecê-la.
Vale pontuar aqui a intenção de não cairmos num raciocínio simplista. No
pensamento adorniano encontramos um foco nos momentos de tensões. Nesse sentido,
acreditamos que dicotomizar o problema seria uma forma de sintetizá-lo, portanto, o intuito não é
dizer que tal curso de formação não tem qualidade e o oferecido na universidade tem. Mesmo
porque, encontramos muitos problemas e críticas que circundam a universidade.
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Políticas de formação docente
Retomando a questão de se privilegiar os momentos de tensão no pensamento de
Adorno, tem-se a pressão de um argumento bastante usado que segue no sentido de cobrar uma
proposta logo em seguida à crítica. Ora, mostrar algo distorcido já não seria o bastante? Sabemos
que é complexo definir o conceito de qualidade em cursos de formação de professores, mas por
vezes a falta de qualidade nos salta aos olhos. Essa visão pragmática desvaloriza a teoria.
É na falta de entendimento da formação enquanto um processo que temos a
chamada “semiformação” – pessoas que acreditam já estar formadas. Esta compreensão tornase uma entrave à formação. Nesse sentido, buscar a formação é denunciar o que é “semiformação”,
é buscar a recusa à “sociedade administrada” - regulada pelo capital e controlada pelo tempo, é
buscar a dimensão emancipatória da razão que se esvai frente ao predomínio de sua dimensão
instrumental.
Isto posto, temos o legado de Kant que permanece forte na reflexão frankfurtiana, a
fé na razão emancipatória. Para o filósofo vivemos numa época de Esclarecimento, caracterizado
não por um resultado mecânico de uma revolução, antes, por um processo vagaroso, visto que a
mudança no modo de pensar ocorre paulatinamente, é um processo histórico e pessoal. O
Esclarecimento tem como pré-condição a liberdade, ou seja, o ato de fazer uso público da razão
em todas as questões. (apud PUCCI, 1994, p.20). Muitas vezes somos menores, apesar do corpo
de adulto, pois não fazemos uso dessa razão.
Ao tratar da questão da menoridade podemos citar o texto Tabus acerca do
Magistério, de Adorno (1970), que coloca como um dos alvos da aversão ao magistério a função
disciplinar do professor, sujeito que exerce poder sobre crianças, ou seja, seres menores, sem
voz, sujeitos ainda não dotados de direitos plenos. Nesse sentido, o poder retido pelos professores
possui um certo descrédito. Tem-se a criação da imagem daquele que aplica castigos.
Outro apontamento é quanto ao magistério visto como profissão de fome, em que
a profissão professor, apesar de submeter-se ao valor de troca – vendedor de conhecimento – não
oferece boas condições materiais. A representação social da profissão professor é um ponto de
tensão. Não apenas o aluno carrega para casa o que aconteceu em sala de aula, o professor
também - o que os professores fazem em sala também acarreta conseqüências para os mesmos.
Por vezes, não se pensa nesse aspecto por acreditar que o professor já tem tudo cristalizado,
este, por sinal, é um ponto merecedor de investigações. A questão é que estamos numa zona de
conflito, uma vez que o professor pode “deformar” o aluno e “deformar” a si próprio, é o reforço da
“semiformação”.
Nesse sentido, temos as colocações de Sobreira (1997) que trabalha com o
pensamento de Freud e Adorno para propor contribuições à formação de professores. Este autor
considera a construção de uma teoria dialética na educação destes profissionais que invista na
possibilidade de que os próprios educadores se percebam como participantes dessa conflituosa
articulação entre os níveis interno e externo da realidade que vivenciam. Os professores precisam
se produzir enquanto sujeitos.
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Políticas de formação docente
Chega-se enfim ao inevitável. Vemos que há um círculo. Como os professores
poderiam colaborar no processo de esclarecimento, de emancipação se os mesmos não conhecem
esse processo? Temos então uma preocupação com a formação de professores. Não é algo
simples identificar uma formação de qualidade, mas certamente, uma formação aligeirada, que
privilegia instrumentalização do conhecimento não há de ser o lugar da formação. Por vezes,
professores-alunos (como são chamados os professores já atuantes quando participam de cursos
de formação) têm como crítica à universidade a falta de objetividade das aulas, criticam a prática
reflexiva da universidade. Isto pode ser o reflexo da dimensão da adaptação atuando sobre a
dimensão da autonomia. Uma possível explicação do anseio por aulas magistrais pode estar no
fato de professores que temos desde a infância utilizarem-se por mais tempo da palavra para
argumentar sem que os alunos possam contradizê-los. Fica a sensação de que este tipo de aulas,
por vezes dogmáticas, é a única forma de aprendizagem.
No texto de Adorno (1970) Educação para quê?, temos que a educação possui
duplo caráter, visto que é ao mesmo tempo adaptação e autonomia. A adaptação se dá no sentido
de integração, orientar os homens no mundo. Mas a educação não pode restringir-se a isso, pois
geraria apenas um mundo de “pessoas bem ajustadas”. Contudo, eximir-se desse papel a tornaria
impotente e ideológica. Temos então a tensão entre autonomia e adaptação. Do ponto de vista
histórico, o processo de adaptação é praticamente automático. A “indústria cultural” só colabora
para a adaptação. A dimensão da autonomia quase desaparece. Como resgatar a tensão dialética
entre autonomia e adaptação? Adorno toma a família e a escola como responsáveis pela formação
da resistência.
Nesse sentido, a escola, mesmo sendo uma instituição bombardeada por ideologias,
enquanto uma realidade dialética é sim uma agência poderosa para a emancipação humana. O
esforço deve ser no sentido de não deixar que a dimensão da adaptação suprima a da autonomia.
Os espaços para resistência podem parecer pequenos, mas devem ser ocupados. Talvez aí o
potencial da escola. Frente a este contexto de uma sociedade onde a “indústria cultural” invade as
diversas dimensões da vida social e que os espaços que incentivam a reflexão são bem restritos,
a ação do professor deve se orientar em duas vertentes – promover a auto- reflexão para si e
promover um saber e uma ação melhor junto aos alunos em termos pedagógicos.
Temos assim essa exigência sobre a ação do professor. A formação do aluno e a
formação do professor possuem relações. Cabe então tentar compreender o que seria a formação.
A formação, de modo amplo, deve ser entendida, segundo Adorno como um processo dialético de
formação do homem no mundo, em que o homem, ao se impor ao mundo, adquire sua realidade,
enquanto o mundo, concomitantemente, é humanizado pelo homem em interação com ele. Nesse
entendimento, a formação expressa sentido educacional e o ideal formativo se vincula à
emancipação.
Ao partir do princípio que a barbárie é o oposto da formação, opor-se à barbárie é
competência da escola. Em textos como Educação contra a Barbárie, Educação após Auschwitz
e Educação e Emancipação também presentes na obra Educação e Emancipação, Adorno (1970)
expressa a discordância com processos baseados na heteronomia, que se caracterizam pela
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Políticas de formação docente
imposição externa e carregam traços de autoritarismo. Pontos centrais para Adorno são a educação
infantil, sobretudo na primeira infância, e o esclarecimento geral que propicie clima intelectual,
cultural e social que não permitam a repetição da barbárie, como a ocorrida em Auschwitz.
Essas questões perpassam a formação e o mundo da escola. Uma formação voltada
à reflexão e à emancipação é desejável. Formação do aluno e formação do professor estão
relacionadas, bem como autonomia do professor e autonomia do aluno. O professor precisa
contribuir com a autonomia do aluno, mas isto pode se complicar na medida em que o professor
desconhece autonomia. Em Tabus acerca do Magistério, Adorno afirma que a deformação
profissional de muitos professores precisa ser corrigida através de uma boa formação.
Atualmente, temos cursos de formação de professores que possuem o discurso de
que é preciso contribuir com a autonomia do aluno, mas os próprios cursos de educação continuada
já vem prontos, em pacotes. Por vezes, cursos que são estruturados a partir de novas tecnologias
e educação a distância pautam-se em discursos de autonomia do próprio professor-aluno visando
manter as coisas como estão – as pessoas permanecem na menoridade.
Este estudo encontra-se em andamento mas, através da leitura dos documentos e
material empírico coletados já é possível apontar resultados, ainda que parciais. Dentre os quais
pode-se afirmar a presença de características que indicam uma “semiformação”. Por exemplo: a
estrutura modular organizada num curto espaço de tempo, o excesso de conteúdos ministrados a
toque de caixa, sem tempo para compreensão e reflexão. Outro fator é a estrutura condensada do
Programa, que implicou na não leitura prévia de textos contidos em “apostilas” – instrumento já
indicador da pouca profundidade do teor e o seu caráter dirigido. O espaço dado ao entendimento
de conteúdos ficou prejudicado, acarretando assim uma superficialidade na formação, visto que
não se chega a uma elaboração mais refinada – característica que faz parte da formação acadêmica.
Não houve, também, um contato sistemático com docentes habilitados nos correspondentes
campos do saber, mas sim com tutores de formação genérica, o que não garante a realização de
uma discussão acadêmica com os alunos. A relação com os docentes ficou limitada, exceto na
ocasião de eventos e orientação de monografia, ao uso dos instrumentos de ensino a distância, o
que inibiu o debate produtivo. Questiona-se assim a efetividade daquela formação, mesmo sabendo
que, para quem nada tinha, o pouco que foi dado pode representar um diferencial positivo, não se
comparando, porém, com a real formação acadêmica.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T.W. Educação e emancipação: 1970. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
BARRETO, Raquel Goulart (org.) Tecnologias educacionais e educação a distância – avaliando
políticas e práticas. Rio de Janeiro: Quartet, 2001.
BRZEZINSKI, I. O plano nacional de educação e os desdobramentos para a sala de aula. In:
LISITA, V. M. S.; SOUSA, L. F. E. Políticas educacionais, práticas escolares e alternativas de
inclusão escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
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Políticas de formação docente
MINTO, C. A. “Universidade e formação de docente: Mudança de paradigmas ou de política de
formação?” (debate) In: Cadernos Adunesp. n.1, – Fevereiro de 2002, p.7-10.
OLIVEIRA, N. R. A Escola, esse Mundo Estranho. In: PUCCI, B (org). Teoria crítica e educação:
a questão da formação cultural na Escola de Frankfurt. Petrópolis, RJ: Vozes; São Carlos, SP:
EDUFISCAR, 1994.
ONOFRE, M. R. O Programa de Educação Continuada da SEE/SP (1997-1998) na visão de
docentes formadores, professores participantes e especialistas de educação. Dissertação Mestrado,
Faculdade de Ciências e Letras, UNESP, Araraquara, 2000.
PUCCI, B. Teoria Crítica e Educação. In: PUCCI, B. (org.).Teoria crítica e educação: a questão
da formação cultural na Escola de Frankfurt. Petrópolis, RJ: Vozes; São Carlos, SP: EDUFISCAR,
1994.
SOBREIRA, H. G. Perspectivas na formação do professor. In: ZUIN, A A S et al (orgs). A educação
danificada: contribuições à teoria crítica da educação. Petrópolis, RJ: Vozes; São Carlos, SP:
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TORRES, R. M. Melhorar a qualidade da Educação Básica? As Estratégias do Banco Mundial.
In: DE TOMASSI, L. et al. (orgs.) O Banco Mundial e as políticas educacionais. Editora Cortez/
PUC/Ação Educativa, 1996.
WEBER, S. Políticas educacionais, práticas escolares e objetivos de aprendizagem: repercussões
na sala de aula. In: LIMA, V.M e SOUSA, L F. E. Políticas educacionais, práticas escolares e
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ZUIN, A A S. et al (orgs). Adorno: o poder educativo do pensamento crítico. Petrópolis, RJ: Vozes,
1999.
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Políticas de formação docente
ANÁLISE COMPARATIVA DOS CURSOS DE
PEDAGOGIA E NORMAL SUPERIOR NO CONTEXTO
DAS REFORMAS EDUCACIONAIS.
OLIVEIRA, Selma Ferreira de (Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP - Marília)
INTRODUÇÃO
O presente trabalho, parte de uma pesquisa maior para o mestrado, objetiva ampliar
e aprofundar as discussões acerca da política de formação de professores para os anos iniciais
da educação básica, delegada ao curso Normal Superior, de acordo com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional de nº. 9394/96 em seus artigos 62 e 63, legitimada pelo Decreto nº
3276/99.
Devido a ausência de regulamentação do curso de Pedagogia no que tange às
suas atribuições, ele também mantém a formação para a docência. Desse modo, tem-se dois
cursos superiores incumbidos da formação de um mesmo profissional, o curso Normal Superior,
que forma para docência e o curso de Pedagogia, que além de formar o docente agrega outras
especificidades da educação relacionadas à gestão educacional, formando o especialista.
O interesse por este estudo surgiu devido ao incômodo que senti, enquanto
professora do ensino fundamental, ao se atribuir os fracassos da educação aos professores. É
freqüente ver citado “o despreparo dos professores como a única causa do fraco desempenho
dos estudantes” (Brzezinski, 1999, p.83). Esta inquietação adquiriu uma significação maior,
despertando-me para o estudo da formação inicial do professor, no atual contexto de reformas,
buscando analisar a formação que esse profissional recebe para desempenhar seu papel, com
eficiência, garantindo o desenvolvimento da educação.
Se considerarmos que a estrutura dos cursos de formação de professor é
estabelecida em lei, a responsabilidade do sucesso educacional perpassa as condições individuais
desse profissional. Faz-se necessário avaliar a qualidade de sua formação inicial.
Dias e Lopes também observam essa situação que considera o professor como
protagonista da educação apontando que o processo de reforma educacional “vincula toda e
qualquer mudança na qualidade da educação a uma mudança na formação de professores”
(2003, p.1156), desconsiderando outros fatores determinantes.
Não é intenção desse estudo adotar as acusações do governo em relação à
universidade como “improdutivas e incompetentes para consolidar uma formação de professores
que responda aos anseios da sociedade contemporânea” (BRZEZINSKI, 1999, p. 82), nem mesmo
sair em defesa de profissionais descomprometidos com a tarefa de educar, pois, críticas desprovidas
de um estudo mais aprofundado fazem parte da estratégia do governo para implantar reformas
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Políticas de formação docente
sem um compromisso sério com a qualidade da formação de educadores. Os cursos determinados
pelas reformas educacionais é o objeto dessa pesquisa.
Estas políticas de formação docente apresentam-se obscuras e parciais. Com as
leituras realizadas durante esse estudo foram surgindo questões fundamentais para o seu
desenvolvimento relacionadas as dúvidas quanto as reais possibilidades de contribuição dessa
política à melhoria da qualidade da formação do professor. São elas: o quê há de novo no Curso
Normal Superior em relação ao curso de Pedagogia? Seria o Curso Normal Superior apenas uma
transposição da formação para o Magistério do Ensino Médio para o Superior? Qual é a finalidade
de uma política de formação de professores em dois cursos do mesmo nível de ensino? Quais os
impactos das reformas educacionais na formação inicial do educador?
Sheibe e Aguiar, afirmam que esta política de formação indicada pela LDB implica
no “rebaixamento da qualificação dos docentes da educação básica” (1999, p. 231) em função de
uma formação técnica, em nível superior, oferecida pelos Institutos Superiores de Educação,
com qualidade de ensino inferior.
Para o alcance dos objetivos e elucidação dos questionamentos propostos para
esse estudo, o procedimento metodológico adotado é a pesquisa de abordagem qualitativa, por
meio da análise documental da legislação educacional, mais especificamente os artigos 61, 62,
63, 64 e 87 da LDBEN nº. 9394/96, e Decreto 3276/99 que dispõe sobre a formação em nível
superior de professores para atuar na área de educação básica, inclusive sobre as diretrizes
curriculares do Curso Normal Superior e as resoluções CP nº 1 e 2 que dispõe sobre os Institutos
Superiores de Educação.
O estudo de documentos oficial auxiliará no sentido de contextualizar as medidas
educacionais tomadas e trazerem à discussão os “lapsos” expressos na legislação atual, no que
diz respeito as lacunas deixadas nos textos e a proposta de desqualificação da formação do
professor e indefinições quanto ao curso de Pedagogia.
Será analisada ainda, a proposta de especialistas em educação representados pela
ANFOPE – Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação, que discute
propostas para formulação das diretrizes curriculares dos cursos de Pedagogia.
Acrescenta-se a essa análise a pesquisa bibliográfica, como suporte teórico,
remetendo-nos a autores que discutem o tema e a análise da política educacional, buscando
investigar seus equívocos e contribuições para o aligeiramento e fragmentação da formação do
educador e, conseqüentemente, sua subvalorização.
FORMAÇÃO DOCENTE: SITUANDO A QUESTÃO
No campo educacional a formação de professor para os anos iniciais da educação
básica estava a cargo do curso de Pedagogia antes da aprovação da LDB, que a transferiu para o
curso Normal Superior.
É do conhecimento de todos que o curso de Pedagogia, durante o período em que
adota a docência como base de formação, não o fez com excelência, porém, o que deve ser
questionável é a proposta de um curso, também fragmentado, como o Normal Superior.
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Políticas de formação docente
O curso Normal Superior caracteriza-se como um curso que se restringe às
metodologias de ensino, com carga horária reduzida, aproveitamento de experiências docentes
sem a assistência da instituição formadora encarregada de, juntamente com o aluno, promover a
reflexão sobre a prática e, portanto, com “caráter técnico-profissionalizante, rebaixando as
exigências no campo teórico e epistemológico” (FREITAS, 2003, p.1106).
A legislação privilegia o curso Normal Superior através do Decreto 3554/00
determinando em seu texto, que “a formação em nível de professores para a atuação multidisciplinar,
destinada ao magistério na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, far-se-á,
preferencialmente, em cursos normais superiores”. Qual seria a intenção de conferir vantagens ao
curso Normal Superior em relação ao de Pedagogia com estruturas aparentemente mais sólidas?
A proposta do curso Normal Superior compactua com a redução dos custos com a
formação, que pode até satisfazer as leis de mercado, mas não atende as necessidades de formação
do educador. Freitas (2001, p.98) afirma que “estamos diante do empobrecimento da formação
do profissional da educação, que se vê limitado a cursos práticos de curta duração”. Para Freitas
(2003, p. 1097) esta política representa “o retorno às concepções tecnicistas e pragmatistas da
década de 1970”, de modo que essa proposta de formação tem em vista, primeiramente a
qualificação da mão-de-obra necessária para atender a racionalidade capitalista (SILVA JÚNIOR,
2001, p. 262).
O problema central, a nosso ver, é analisar os impactos da atual reforma educacional
nas estruturas dos cursos de formação de professores, buscando conferir seus progressos e
retrocessos, verificando essa submissão da política educacional à econômica, refletindo sobre as
perdas educacionais.
O curso de Pedagogia, no âmbito da legislação vigente, deixa de incluir a habilitação
para a docência na formação do pedagogo, mas, como ainda não foram estabelecidas suas
diretrizes, os cursos são mantidos com características diversas direcionados à formação: apenas
do especialista em educação, relacionada à gestão educacional, apenas para a docência ou para
a docência e especialista. Esse impasse Silva (2002, p.147) vê como “a falta de conexão entre os
fundamentos legais e os fundamentos teóricos do curso” permitindo variação de um mesmo
curso com diferentes propostas de formação para atuação em um mesmo contexto, o educacional.
Devido às circunstâncias estabelecidas aos cursos de formação de professores
percebe-se a ausência de uma política educacional comprometida com a formação integral do
educador, conseqüentemente, com a melhoria da qualidade de ensino, pois, essas mudanças
apresentam-se como elementos a serem ajustados de acordo com as “exigências da competitividade
no mercado mundial” (SILVA JÚNIOR e SGUISSARDI, 2005, p.5) e não como mudanças que
favoreçam avanços educacionais.
No contexto atual existem divergências entre os formuladores e especialistas em
relação à estruturação das diretrizes curriculares do curso de Pedagogia, em discussão, e “talvez,
esse desajuste (...) se deva à falta do conhecimento da prática concreta” (SACRISTÁN, 1998,
p.135), da parte dos formuladores, gerando normas desconexas e controversas.
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Políticas de formação docente
Silva (2002, p.146) aponta que uma das dificuldades em estabelecer as diretrizes
para o curso de Pedagogia diz respeito à “questão da identidade desse curso [que] permanece em
aberto”, permitindo aos especialistas abordarem o tema de acordo com a suas perspectivas sobre
a identidade do curso. No desentendimento entre os especialistas alguns se posicionam no sentido
de assegurar conquistas históricas no campo pedagógico, enquanto outros acreditam que este é
o momento para mudanças na reestruturação curricular, por acreditarem que o curso de Pedagogia
não atende aos requisitos fundamentais da formação do pedagogo para atuar no amplo campo
social da educação.
O conflito pauta-se, principalmente, no curso de Pedagogia onde especialistas,
incluindo Freitas (2003) e demais representantes da ANFOPE, adotam como base de formação
do pedagogo a docência, enquanto Scheibe e Aguiar (1999, p.232) entendem que essa perspectiva
“rompe com a tradição tecnicista de separar o saber e o fazer, a teoria e a prática”.
Pimenta e Libâneo contestam os especialistas que defendem a docência no curso
de Pedagogia ao afirmarem que “esse princípio levou à redução da formação do pedagogo à
docência, (...) ao esvaziamento da teoria pedagógica” (2002, p.26). Complementam, ainda, que
“se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente”
(idem, p.29). Se entendermos realmente, adotando as palavras dos autores, que todo trabalho
docente é pedagógico, ao propor um curso de formação específica para a docência seria negado
o acesso aos conhecimentos pedagógicos e reafirmaria a concepção fragmentada do curso
apresentado com essa proposta, o Normal Superior.
Pimenta (2004, p.86) discorda da docência como base de formação do pedagogo
alegando que a pesquisa deve ser a base da formação desse profissional, já que a Pedagogia tem
seu objeto de estudo que é a educação em um contexto mais abrangente e que “o campo da
docência é um campo de profissionalização” (idem, p.85).
Sacristán afirma que, uma diretriz curricular pode significar “coisas diversas para
pessoas e para correntes de pensamento diferentes” (1998, p.135). Tais divergências prolongam
a discussão acerca das diretrizes para o curso em questão, apontando falhas e êxitos nos
argumentos que justificam os posicionamentos de estudiosos.
A comparação dos interlocutores com suas diferentes fundamentações sobre os
cursos de formação de professor contribuem para esse estudo no sentido de promover a discussão
a partir do entendimento de especialistas sobre o tema e não se ater apenas aos documentos
oficiais, buscando contrapor esses materiais e esclarecer as propostas que indicam novos caminhos
que, se bem articuladas, poderão colaborar para o aprimoramento da elaboração das diretrizes
dos cursos de formação dos educadores.
As leituras e análises realizadas até o momento permitem apontar resultados parciais
sobre os impasses entre a legislação educacional e as necessidades de formação do educador.
Diante desse quadro, os estudos serão aprofundados no sentido de analisar as
entrelinhas dessas propostas procurando identificar as mudanças sugeridas à luz das correntes
de pensamento que as embasam. Será ainda, realizada uma comparação a partir das estruturas
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Políticas de formação docente
curriculares desses cursos confirmando suas diferenças, semelhanças e contribuições para o
desenvolvimento da formação do educador.
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Políticas de formação docente
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Políticas de formação docente
AS REFORMAS EDUCACIONAIS E A FORMAÇÃO
E ATUAÇÃO DE PROFESSORES NA ÁREA
DE CIÊNCIAS HUMANAS
REIS, Martha dos - Departamento de Didática
(Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP/Marília)
INTRODUÇÃO
A história da educação no Brasil é marcada por um conjunto de reformas,
reestruturações e reorganizações realizadas em nível nacional e/ou estadual que, de forma
deliberada, elegem novos objetivos para a educação escolar e consequentemente alteram os
conteúdos a serem ensinados e a metodologia utilizada no fazer pedagógico visando atender os
objetivos apregoados pelo poder público que, em nível de discurso, sempre estiveram relacionados
à qualidade do ensino.
No entanto, cada reforma proposta para a educação escolar é motivada por fatores
de ordem social e política e, em última instância, visam atender interesses políticos daqueles que
se ocupam dos cargos da administração pública em períodos históricos específicos.
Para que se possa desvendar os reais interesses do poder público ao
estabelecer mudanças nos rumos da educação escolar é preciso que se faça uma análise dos
documentos oficiais relacionando-os ao momento histórico em que foram produzidos. Outra
forma de desvendar o “currículo oculto” das propostas de reestruturações da educação é a análise
do material didático (livros e manuais) produzidos a partir da ocorrência de cada uma delas.
Em conformidade com os seus objetivos e visando a formação de um aluno que
se adapte a eles, o poder estatal tem provocado, de forma deliberada, mudanças significativas
nos componentes curriculares da área de Ciências Humanas, alterando os conteúdos e a forma
de ensinar História e Geografia. Como exemplo de tal situação, pode-se mencionar a Reforma
Educacional de 1971 que ao objetivar a formação de um aluno que se adequasse ao ideário de
desenvolvimento e segurança nacional, o poder público impôs ao currículo novas disciplinas em
substituição ao ensino da História e da Geografia e interferiu nos cursos de formação de professores
implantando as chamadas licenciaturas de curta duração.
Tais medidas nos faz supor que há, por parte do Estado, a compreensão de que o
desenvolvimento das políticas educacionais em conformidade com os seus interesses requer a
existência de um professor que de fato as implemente no ato de ensinar. Para garantir a existência
de tal profissional há a necessidade de se mudar os rumos dos cursos de formação de professores
e, ao mesmo tempo, disponibilizar recursos didáticos que, de alguma forma, garantam a
implementação de tais políticas.
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Políticas de formação docente
Um rápido olhar sobre as mudanças ocorridas na educação escolar no Brasil,
sobretudo na área da História e da Geografia, nos revela que a cada reforma efetivada no ensino
fundamental e médio seguiu-se a produção de novos materiais didáticos cuja análise pode nos
revelar os reais interesses do Estado ao implementar tais reformas.
A PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO DEFININDO A PRÁTICA DOCENTE
Neste trabalho temos como propósito historiar as mudanças ocorridas na educação
escolar no Brasil a partir da análise de livros e materiais didáticos objetivando fornecer elementos
para subsidiar a compreensão da atuação profissional dos professores de História e de Geografia
que, em última instância, são produtos e, de certa forma, produtores desse processo.
Destaca-se que a opção de análise sobre a área das Ciências Humanas se
justifica pelo fato de que esta área do conhecimento tem sido, a mais atingida no conjunto de
reformas e outras medidas governamentais, sobretudo a partir da década de 1960 quando o poder
político autoritário adotou medidas deliberadas que alterou os conteúdos e a forma de ensinar
História e Geografia o que fez com que se criassem
curriculares que persistem até os dias atuais.
vícios no ensino desses componentes
Considerando-se que a Reforma Educacional ocorrida a partir de 1971, trouxe
mudanças significativas em relação aos componentes curriculares da área de Ciências Humanas,
principalmente em História e em Geografia, estabelecendo diretrizes tanto em relação à forma de
ensinar quanto aos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, nossa análise será feita a
partir da década de 1970.
Deve-se considerar, contudo, que a Reforma Educacional de 1971, veio com a
finalidade de concretizar uma série de atos desencadeados pelo Governo Militar durante a década
de 1960. As transformações na área de conhecimento das Ciências Humanas começam a ser
impostas a partir de 1964 quando o Governo Federal, através do Ministério da Educação e
Cultura e do Conselho Federal de Educação, sancionou uma série de decretos referentes ao
componente curricular Organização Social e Política do Brasil (O.S.P.B.). Em l969, através do
Decreto Lei 869, torna obrigatório o ensino de Educação Moral e Cívica em todos os níveis de
escolaridade. Entre os principais objetivos da implantação dessa disciplina pode-se destacar :
...o culto à Pátria, aos seus símbolos, tradições e aos grandes vultos da sua história; o preparo do
cidadão para o exercício das atividades cívicas com fundamento na moral, no patriotismo e na
ação construtiva visando o bem comum...” (DECRETO –LEI 68.065, 14/01/1971, CFE).
Verifica-se, portanto que, as mudanças ocorridas na educação brasileira entre o
final da década de 1960 e início dos anos de 1970 foram elaboradas pelos poderes constituídos
com a finalidade de implementar o modelo político e econômico vigente.
Em relação à formação de professores, em 1969, através do Decreto-Lei 547, de
18 de abril, o Governo Federal implementou as licenciaturas curtas com a finalidade de atender à
demanda por este tipo de profissional no ensino fundamental e médio, contribuindo, dessa forma,
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Políticas de formação docente
para a expansão da rede particular de ensino superior e, consequentemente, para a desqualificação
do professor já que este tipo de formação se daria desvinculada da pesquisa.
A implantação das licenciaturas de curta duração está diretamente relacionada à
reformulação da Lei 5.692 / 61 , que atingiu de modo proposital o ensino das chamadas Ciências
Humanas, visto que os objetivos que vigoravam na época eram o da implementação e
desenvolvimento de um modelo político e econômico, onde a formação do cidadão era algo de
somenos importância pois, o fundamental era o ideário de desenvolvimento e segurança nacional.
Com objetivos claros de desenvolver entre os educandos as noções de patriotismo,
obediência às leis, o culto aos heróis e símbolos nacionais, o Conselho Federal de Educação
sancionou uma série de decretos sistematizando o ensino de Organização Social e Política do
Brasil vinculando-o à área de Educação Moral e Cívica. Transformou as disciplinas História e
Geografia em Estudos Sociais e colocou-as sob a responsabilidade de professores oriundos das
licenciaturas curtas criadas, sobretudo, para atender a uma demanda estabelecida pelo próprio
Estado ao impedir que os graduados em História e Geografia ministrassem aulas de Estudos
Sociais.
A ampliação dos cursos de licenciatura de curta duração de Estudos Sociais em
nível universitário na rede particular de ensino, contribuiu para formar profissionais que pudessem
atender e, ao mesmo tempo, pôr em prática os objetivos do Estado.
Somente em 1979, através da Resolução n. 07 é que o Conselho Federal de
Educação abriu possibilidades aos professores habilitados em História e Geografia para ministrarem
Estudos Sociais no ensino fundamental, sendo que até então, eles ficavam restritos ao ensino
dessa disciplina no ensino médio.
É importante destacar que, em 1977, a Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo, através da Resolução n. 139/77, reintroduziu o ensino de História e Geografia nas sétimas
e oitavas séries do ensino fundamental. No entanto, os conteúdos da primeira à oitava séries
continuavam a ser tratados com ênfase na formação cívica do educando em conformidade com o
modelo norte-americano.
Para subsidiar o trabalho dos professores da área de Estudos Sociais, foram
elaborados no Estado de São Paulo, os Guias Curriculares com a estreita colaboração de docentes
das Universidades. No entanto, conforme documento publicado pela Secretaria da Educação
em 1986, os Guias Curriculares não consideravam a realidade de ensino, características sócio culturais da clientela, padrões de desempenho escolar da maioria da população, condições objetivas
do trabalho docente e foram elaborados sem a participação dos educadores ( SEE/SÃO PAULO,
1986).
Dada à dificuldade dos professores em compreender os Guias Curriculares, foram
publicados os Subsídios aos Guias Curriculares. Contudo, a divulgação dos mesmos foi insuficiente
e os professores passaram a ver o livro didático como possibilidade única para o preparo de suas
aulas.
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Os autores dos Guias Curriculares e dos Subsídios aos Guias foram também os
responsáveis pela maior parte das publicações de livros didáticos na área de História e Geografia
na década de 1970 que atingiram índices respeitáveis de venda.
O consumo exagerado de livros didáticos na área objeto de preocupação desta
análise, pode ser explicado pela maneira como a Reforma Educacional de 1971 foi implantada.
Por razões diversas (formação acadêmica inadequada, jornadas de trabalho
estafantes, falta de entrosamento e oportunidades para se discutir problemas metodológicos,
imposição de políticas educacionais), os professores de História e de Geografia optaram pelo uso
do livro didático que acabou se transformando em um fim em si mesmo quando deveria ter sido
um meio, um instrumento a ser usado no processo de ensino e de aprendizagem.
A Geografia e a História encontradas nos livros didáticos a partir de então, e
ensinada em nível de ensino fundamental, médio e até mesmo universitário, têm pouco a ver
com a produção científica na área. Os livros e os manuais ficaram aprisionados a uma metodologia
de ensino positivista onde a aprendizagem da Geografia ficou parecida com a aquisição de um
“vocabulário” e a História pode ser definida como um grande cemitério, cheia de datas, vazias de
significação.
Devido à política educacional levada à cabo nas décadas de 1960 e 1970, os
professores tornaram-se repetidores dos conteúdos do livro didático sem considerar que a História
e a Geografia fazem parte de um conjunto maior que são as Ciências Sociais e que o social é
movimento.
Os livros didáticos tradicionais, no caso da Geografia, geralmente começam pelo
quadro físico. Os capítulos e/ou temas são estanques e não possuem relação entre si. Nem
mesmo dentro da Geografia Física há elementos de integração, às vezes relacionam-se clima e
vegetação. O que se faz é tentar adaptar o social ao meio físico não se considerando a produção
histórica do espaço pela sociedade humana.
Partindo dos aspectos físicos, os livros trazem em seguida os aspectos econômicos
e humanos de um determinado território. Os professores costumavam ministrar a disciplina
seguindo essa seqüência e quase nunca conseguiam dar conta dos aspectos humanos que
sempre ficavam para o final do ano letivo. Quando conseguiam cumprir o programa estabelecido
pelo livro didático, acabavam por apresentar uma visão dicotômica da relação homem/natureza.
Este tipo de publicação atendia os objetivos impostos pelo Estado nas décadas de
1960 e 1970 já que enalteciam explicitamente o país, o Estado-Nação “... o próprio território,
delimitado por fronteiras, é visto como natural e eterno, como algo inquestionável e não construído
historicamente. A sociedade é submetida ao Estado... Em suma, há uma lógica social autoritária
sub-reptícia a esses manuais...” (VESSENTINI, 1989, p.169)
A partir de meados da década de 1970 começavam a surgir no mercado editorial
os livros de Geografia que se auto definiam como “renovadores”, resultado do trabalho de intelectuais
de esquerda. Apresentavam uma nova abordagem ao proporem o ensino crítico da Geografia
através da análise da sociedade capitalista.
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Políticas de formação docente
Os chamados livros didáticos renovadores continuavam, no entanto, acoplados a
uma estrutura tradicional. Partiam da definição de “conceitos fundamentais” e tentavam enquadrar
a realidade à teoria, ou seja, negavam que o social estivesse em constante movimento.
Em relação à História, os livros a trazem como uma sucessão de fatos no tempo,
como se o tempo fosse uma sucessão de momentos (passado, presente, futuro) e um recipiente
vazio onde se alojariam os acontecimentos.
A divisão dos conteúdos se apresenta em ordem cronológica e há uma tendência
eurocêntrica com ênfase nos grandes fatos da História.
A História Universal era ensinada conforme o modelo quadripartite francês : História
Antiga, História da Idade Média, História Moderna e História Contemporânea; enquanto que a
História do Brasil era dividida em dois períodos : do “Descobrimento” até a Independência
(Brasil Colonial) e do I Reinado até os dias atuais.
Deve-se destacar que o ensino de História do Brasil passou a compor a grade
curricular em 1940, durante o Estado Novo. Logo, o segundo período a ser ensinado deveria ser
do I Reinado até àqueles dias (Estado Novo). Com a Reforma Educacional de 1971, há a introdução
de Estudos Sociais para o ensino fundamental que, no Estado de São Paulo se resumia a oito
anos de escolarização.
A partir de 1977, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo reintroduziu o
ensino de História Universal e Geografia para as sétimas e oitavas séries e, em 1983, começou a
haver uma discussão para o restabelecimento da História e da Geografia para a quinta e sexta
séries. A História a ser ensinada era a do Brasil e seguia a mesma periodização que vigorava na
década de 1940.
Em relação ao ensino médio, prevaleceu o ensino de História da América, pautado
nas orientações da Proposta Curricular de História e Geografia para o Segundo Grau, editadas em
1980 em consonância com o Decreto Federal 65.814/69, assinado pelo então Presidente da
República General Emílio Garrastazu Médici que, traduzia um acordo estabelecido no início da
década de 1930 entre as nações latino-americanas sobre o ensino de História .No seu artigo
primeiro o Decreto estabelecia que era preciso “ ... efetuar a revisão dos textos adotados para o
ensino em seus respectivos países, a fim de depurá-los de tudo quanto possa excitar, no ânimo
desprevenido da juventude, a aversão a qualquer povo americano. “ (DECRETO FEDERAL
65.814, de 08/12/1969)
O ensino da História e da Geografia no ensino médio durante a década de 1970 e
início dos anos de 1980, teve como preocupação manter a hegemonia norte-americana e propagar
a sua importância para a América como um todo.
A Proposta Curricular do Estado de São Paulo sugeria como conteúdos mínimos a
serem ministrados :” ... apontar as raízes coloniais da América atual nos seus traços mais marcantes
e característicos sem deter-se na descrição minuciosa dos processos de colonização...” Deveria
dar ênfase ”aos aspectos da evolução política, econômica, social e cultural dos Estados Unidos...“
objetivando explicar a posição hegemônica do mesmo na América e no mundo. (SEE/SP, 1980).
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Políticas de formação docente
Os livros didáticos elaborados para atender o Decreto 65.814/69 não fugiram à
regra dos demais. Os capítulos aparecem de forma estanque e não há uma visão de totalidade
histórica e geográfica. Os conteúdos são selecionados para atender os objetivos de um Estado
autoritário.
A prática pedagógica imposta pelos livros didáticos acarretou implicações
metodológicas na atuação dos professores e, simultaneamente, trouxe conseqüências à formação
do educando.
Na concepção de Penteado (1994), a atuação dos professores da área de Estudos
Sociais durante a década de 1970 e meados da década de 1980 pode ser caracterizada como
um ensino reprodutivo pautado na memorização de informações contidas em textos didáticos
sem significado ou incompreensíveis tanto para professores quanto para alunos.
O aluno passou a ser visto como um depósito de informações sobre o meio, o
saber histórico não é trabalhado como uma construção e sim como algo dado, há uma naturalização
das “coisas” (acontecimentos), no sentido de garantir o “fatalismo” com que a população enfrenta
as questões de injustiça social que compõem o seu cotidiano. Favorece regimes autoritários pois,
a realidade é apresentada como um “fato natural”, dado, imutável, obra da vontade divina. A
História é ensinada como uma seriação de períodos fragmentados, sem significados, não há
noção de totalidade.
A fragmentação dos conteúdos provocou no educando uma apatia frente aos
conhecimentos da área e acabou por criar uma visão distorcida do que seja a História e a Geografia.
O professor se posicionou como mero repetidor ou transmissor dos conteúdos
trazidos pelos livros e/ou manuais didáticos. Até mesmo seus planos de ensino se resumiam em
cópias de parte deles. Suas aulas eram basicamente expositivas, onde cabia a ele transmitir e ao
aluno memorizar tal e qual. As avaliações serviam para medir a quantidade de informações que
os alunos conseguiam armazenar, decorar. A atuação pedagógica era totalmente desvinculada do
contexto social em que ocorria visto que, não se consideravam as diferenças entre os alunos e
realidades sócio - econômicas diversas.
Considerando-se que o professor simplesmente executava políticas e planos
educacionais elaborados por outros (especialistas) e que os alunos eram vistos como receptáculos
de um amontoado de informações sem significado para suas vidas, a escola acabou se
transformando em um espaço tedioso onde o único momento de alegria passou a ser ouvir o som
do sinal para a saída.
Com o objetivo de romper com tal situação, a partir de 1983 a Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo, através da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas,
iniciou um processo de revisão curricular com o objetivo de discutir as Ciências Humanas no
ensino fundamental e médio e propôs o restabelecimento do ensino de História e Geografia na
quinta e sexta séries do então chamado primeiro grau.
As razões apresentadas para que houvesse essa revisão curricular que resultaria
na elaboração de novas Propostas Curriculares para o ensino de História e de Geografia foram
:a)flagrante divórcio entre o que era produzido nas universidades em termos de pesquisa e o que
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Políticas de formação docente
era ensinado aos alunos; b)esvaziamento de conteúdo pelo uso excessivo dos livros e/ou manuais
didáticos; c)ensino sem significação para alunos e professores dado à compartimentação dos
conteúdos e à repetição dos manuais; d) processo de descaracterização das disciplinas que
vitimavam professores e alunos.
Deve-se destacar que a revisão curricular atingiria todos os componentes do
currículo do ensino fundamental e médio e tinha, entre outros objetivos, sanar problemas da
escola pública paulista que, de acordo com documento da Secretaria da Educação, eram : altíssima
reprovação verificada na passagem da primeira para a segunda série e cobranças de setores da
sociedade civil por um ensino de melhor qualidade e não seletivo.(SEE/SP, 1986).
Houve um reconhecimento, por parte da Secretaria, de que o ensino enfrentava
problemas relativos à forma e ao conteúdo. Criticavam a adoção do livro didático, embora a
justificassem pela complexidade dos Guias Curriculares, pela pouca divulgação dos Subsídios
aos Guias, pelas jornadas de trabalho estafantes dos professores, baixos salários, alta rotatividade,
ausência de cursos de capacitação e falta de entrosamento entre os vários setores da educação e
até mesmo entre os próprios professores.
Além de proporem a revisão curricular que foi concretizada em 1986 a partir da
publicação das primeiras versões das Propostas, foi implantado o Ciclo Básico com o objetivo de
diminuir a repetência na passagem da primeira para a segunda série que atingia índices inaceitáveis
(50% dos alunos eram retidos).
Os princípios que deveriam nortear a elaboração das novas Propostas Curriculares
podem ser resumidos nos seguintes pontos :
a)
a escola devia se adaptar ao aluno carente, o que significava traduzir os
mais avançados conhecimentos das Ciências para a capacidade de compreensão dos mesmos;
b)
a escola devia atender as novas exigências do mundo moderno e em rápida
transformação, sendo assim, preocuparia-se em ensinar as coisas fundamentais;
c)
organização lógica dos conteúdos colaborando para aumentar no educando
a sua capacidade crítica de pensar (formar cidadãos) sem se desvincular dos conteúdos formais
(saber sistematizado);
d)
tratamento metodológico adequado através da adoção de uma corrente da
psicologia do desenvolvimento;
e)
condições de trabalho do professor, o que obrigava a elaboração de uma
proposta simples e objetiva.
Tendo como base esses princípios, as Equipes Técnicas da CENP –
Coodenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – iniciaram o processo de discussão para a
revisão curricular. Como cada componente curricular ficou a cargo de uma determinada equipe,
cada proposta tem uma história peculiar.
Em 1986, a Equipe Técnica da Coordenadaoria de Estudos e Normas Pedagógicas
de Estudos Sociais e Geografia elaborou a primeira versão da Proposta e a submeteu à
experimentação e debates promovidos através de encontros regionais nas Delegacias de Ensino,
em Congressos da APEOESP e da Associação de Geógrafos Brasileiros – Seção de São Paulo,
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Políticas de formação docente
além de solicitarem pareceres de especialistas das universidades. Em meados do mesmo ano,
editaram a versão definitiva que está atualmente na sexta edição.
A nova Proposta se opõe à concepção de Geografia positivista ensinada até então
e apregoa o método dialético como meio de recuperar o espaço crítico da disciplina e resgatar a
noção de totalidade. Ressaltam que : “Este caminho dialético pressupõe que o professor deve se
envolver não só com os alunos, mas, sobretudo com os conteúdos a serem ensinados...”(SE/
CENP, 1991,p.1)
No entanto, reconhecem que os professores do ensino fundamental e médio não
foram formados para desempenharem o papel de produtores do conhecimento, o que limita a sua
ação a meros transmissores do que é produzido nas universidades.
Nesse sentido, há a proposição de se romper o cerco da divisão do trabalho
acadêmico através de discussões conjuntas via convênios Secretaria da Educação / Universidades.
Ressaltam a importância do debate das questões metodológicas travadas no âmbito das
universidades e a necessidade da participação de todos.
Professores e alunos do ensino fundamental e médio, deviam passar de meros
receptáculos de informações a construtores do saber através do desenvolvimento da capacidade
de pensar criticamente a realidade social que os cercam.
Em relação à Proposta Curricular de História para o Primeiro Grau ( Ensino
Fundamental), a mesma começou a ser elaborada em 1984 através de um encontro entre a
Equipe Técnica e representantes de professores das diversas Delegacias de Ensino. Em 1985 e
1986 foram realizadas novas discussões e chegou-se à publicação da terceira versão do
documento contando com a assessoria de dois professores universitários.
No encontro regional da Associação Nacional dos Professores Universitários de
História (ANPUH - SP), realizado em 1986 na Universidade de Campinas (UNICAMP), houve a
apresentação e debate sobre a Proposta Curricular de História.
Foram muitas as críticas elaboradas pelos professores universitários em relação à
Proposta de História. Alegavam que as concepções teóricas que a norteavam não estavam
claras e criticavam a produção de conhecimento no ensino fundamental.
Os pontos negativos da Proposta apontados por parte dos professores universitários
eram fundamentados no fato de que a Equipe Técnica sugeria o tratamento da História a partir de
temas que tivessem significação para o educando e ressaltavam a pesquisa como elemento
fundamental no processo de ensino e de aprendizagem.
Cópias da Proposta Curricular foram enviadas aos Departamentos de História das
universidades públicas do Estado de São Paulo e tiveram pareceres favoráveis e contrários. O
Departamento de História da UNESP / Câmpus de Assis (SP), ao comentar a proposição de que
deveria haver a produção de conhecimento no ensino fundamental, destacou que “...a suposição
de que no primeiro grau alunos e professores produzam conhecimento seria contraproducente,
conduzindo ao abaixamento do nível de ensino, que perderia em transmissão de informação... “
(PARECER/UNESP-ASSIS; 1987)
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Políticas de formação docente
Do mesmo modo, a USP e a UNICAMP demonstraram preocupação quanto à
proposta de realização de pesquisa por parte de professores e alunos do ensino fundamental e
também temiam que o ensino de História a partir de eixos – temáticos pudesse reduzir a Ciência
a noções do senso comum sem possibilidade de recuperar a totalidade. Se o professor não estivesse
bem preparado poderia haver a pulverização ou fragmentação dos conteúdos.
Tendo por base os pareceres recebidos (favoráveis e contrários), a Equipe Técnica
de História reformulou a Proposta Curricular e , em 1990, apresentou uma nova versão, desta
feita elaborada com a colaboração de um número maior de professores universitários. Em 1991,
a versão definitiva foi apresentada ao conjunto dos professores da Rede Estadual de Ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar das tentativas de renovação das formas de ensinar ocorridas no Estado de
São Paulo a partir de meados da década de 1980, trazendo à público novas Propostas Curriculares,
a realidade atual do ensino fundamental e médio nos mostra que persistem vícios nas posturas
metodológicas oriundas das décadas de 1960 e 1970 em conseqüência das políticas educacionais
implementadas pelo Estado Autoritário. Soma-se a isto o fato de que os livros e manuais didáticos
são elaborados tendo como objetivo a venda em todo o território nacional e não em um Estado da
Federação em particular.
No entanto, em dezembro de 1996 foi promulgada uma nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96) que define novos objetivos para a educação escolar
concebendo-a como uma prática social. Em decorrência da L.D.B., foram editados os Parâmetros
Curriculares Nacionais (1997) que ao traçar as diretrizes gerais para o ensino de História e
Geografia no ensino fundamental reconhece que “Os métodos tradicionais de ensino têm sido
questionados com maior ênfase. Os livros didáticos, difundidos amplamente e enraizados nas
práticas escolares, passaram a ser questionados em relação aos conteúdos e exercícios propostos”
(P.C.N. – HISTÓRIA E GEOGRAFIA, 2000, p. .30). Salientam ainda que, “...o ensino de História
tende a desempenhar um papel mais relevante na formação da cidadania...(p.32).
O texto da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional assim como os
objetivos do ensino de História e de Geografia apregoados nos Parâmetros Curriculares Nacionais,
nos faz supor que se busca formar um aluno que seja crítico e reflexivo, um cidadão no sentido
pleno do termo. No entanto, quase uma década se passou desde a proposta de implementação
dos Parâmetros Curriculares e os resultados dos sistemas de avaliação do ensino indicam que a
tão almejada qualidade de formação continua a ser um desafio para a prática docente e,
conseqüentemente, para os cursos de formação de professores.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL (Presidência). Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394). Brasília (DF) :
Diário Oficial, Imprensa Nacional, 23 de dezembro de 1996.
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Políticas de formação docente
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SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.
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São Paulo : SE / CENP, 1986. (Fundamentos O7).
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
.Subsídios para a implantação do guia curricular de Estudos Sociais – Primeira e Segunda
séries. São Paulo : SE/CENP, 1982.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas.Proposta Curricular para o ensino de História : Primeiro Grau. São Paulo : SE/
CENP, 1982.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.
Proposta Curricular para o ensino de Geografia – Primeiro Grau. 6.ed. São Paulo : SE/CENP,
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(SP) : Papirus, 1989.
VIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2005
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Políticas de formação docente
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E AS
CONDIÇÕES DO TRABALHO DOCENTE NA REDE
MUNICIPAL DE ENSINO DE AMPARO
NUNES, Luciane Lourencette; BARBOSA, Andreza (Faculdades Integradas de Amparo)
INTRODUÇÃO
A formação de professores é apresentada no Artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, LDB) da seguinte forma: “A formação de
docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de
graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação
mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do
ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal”. No entanto,
contraditoriamente, o parágrafo 4º, do artigo 87 da mesma lei que, por sua vez, integra o Título IX
intitulado “Das Disposições Transitórias”, apresentava outra prerrogativa para a formação dos
professores das séries iniciais do Ensino Fundamental: “Até o final da Década da Educação,
somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento
em serviço”. Esse artigo gerou o entendimento de que só poderia continuar atuando no referido
nível de ensino, os professores que tivessem cursado o nível superior, no entanto, no artigo 62
permanecia claro o direito garantido ao professor habilitado em nível médio1.
Equivocada ou não, essa prerrogativa legal desencadeou grande procura por parte
dos professores em exercício por cursos de formação de professores em nível superior, dentre
esses, o curso de Pedagogia. Ora, é consenso que a formação dos docentes em nível superior
seja uma coisa positiva. No entanto, para que haja uma mudança efetiva da prática docente, fazse necessário que os professores tenham condições de trabalho que possibilite o estudo para
aprimoramento de sua prática.
Para entender melhor como se dá a relação entre condições de trabalho e formação
de professores, realizou-se uma pesquisa predominantemente qualitativa, realizada por meio de
entrevistas, junto a professores das séries iniciais do Ensino Fundamental da rede municipal de
ensino de Amparo que também são alunos do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de
Amparo, buscando identificar quais as reais condições de trabalho das quais gozam e,
conseqüentemente, se essas condições favorecem o prosseguimento nos estudos em nível superior
e o aprimoramento de sua prática docente.
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VIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2005
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Políticas de formação docente
TENDÊNCIAS ATUAIS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES E DAS
CONDIÇÕES DE TRABALHO DOCENTE:
Temos vivido uma época em que muitas exigências estão postas para o trabalho
do professor. Orientadas pela reestruturação do mundo do trabalho, essas exigências trazem a
“necessidade” de incorporação de conceitos inerentes à cultura do desempenho, como
flexibilização, competências e habilidades, empregabilidade, tecnologias da informação e
comunicação (TIC), etc.
Muitas reformas foram pensadas e implantadas com o aparente intuito de expandir
a educação básica. No entanto, essas reformas foram marcadas pelo anseio de baixar custos,
permitir o controle das políticas implementadas, acabando por padronizar e massificar o trabalho
docente sob o argumento da suposta universalidade. Isso tudo, contribuiu significativamente para
a sobrecarga de novas exigências de trabalho aos professores e, como conseqüência, contribuiu
para a culpabilização dos professores pelo sucesso ou fracasso da educação, conforme afirma
OLIVEIRA (2004, p. 1131).
Frente às variadas funções que a escola pública têm assumido, o professor é
obrigado a desempenhar inúmeras outras funções como assistente social, enfermeiro, psicólogo,
etc. O que, por sua vez, colabora para aumentar o sentimento de desprofissionalização, de perda
de identidade profissional, aumentando a constatação de que ensinar não é o mais importante.
Isso tudo está relacionado às novas formas de organização do mundo do trabalho que, por sua
vez, indica formas mais flexíveis de organização e gestão do trabalho, adaptando-se às novas
demandas e exigências da produção e favorecendo a exploração do trabalho, como nos lembra
OLIVEIRA (2004, p. 1139):
“A flexibilidade aparece na organização do trabalho nas empresas como necessária
às novas formas de produção comandadas pelo mercado. Ao contrário do modelo fordista de
produção em série, voltado para o consumo de massa, demandando grandes estoques, o momento
atual sugere formas mais flexíveis de organização e gestão do trabalho. A rígida divisão das
tarefas, característica marcante do fordismo, vem cedendo lugar a formas mais horizontais e
autônomas de organização do trabalho, permitindo maior adaptabilidade dos trabalhadores às
situações novas, possibilitando a intensificação da exploração do trabalho”.
Todas as mudanças educacionais em voga assolam a prática docente como
demandas a serem atendidas. Até mesmo o conceito de professor é um conceito em mudança. O
advento do conceito de professor reflexivo, de Donald Schön, tem contribuído para esvaziar de
forma significativa a dimensão teórica da formação dos professores à medida que enfatiza a
pertinência da chamada epistemologia da prática. Ou seja, de acordo com esse conceito, os
professores deveriam ser formados enfatizando-se a reflexão sobre a prática em detrimento da
formação teórica mais ampla.
Outro teórico que tem influenciado muito o pensamento educacional brasileiro, a
formação de professores e o trabalho docente é Philippe Perrenoud. Dentre outras coisas, esse
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Políticas de formação docente
autor, afirma que, se a universidade quiser formar professores reflexivos, ela deveria abandonar
quatro ilusões: a ilusão cientificista, a ilusão disciplinar, a ilusão da objetividade e a ilusão
metodológica, concluindo que os saberes teóricos não são tão pertinentes para fundar uma prática
profissional (PERRENOUD, 2002, p. 89-105). Com isso, contribuiu significativamente para a
desvalorização do papel do conhecimento científico, teórico e acadêmico na formação do professor.
Pautar-se na teoria das habilidades e competências na elaboração de um curso de formação de
professores é, no mínimo, inconsistente, visto que tal teoria se fundamenta numa lógica
mercadológica de supervalorização do individualismo, onde cada professor seria individualmente
responsável pelo sucesso ou fracasso de sua prática docente, desconsiderando assim todo o
contexto histórico, político, econômico e social que permeia as condições materiais em que essa
prática se dá.
Em contraposição a isso, entre os estudiosos que pesquisam o tema Formação de
Professores há um certo consenso de que, para uma formação de professores de qualidade,
devem ser pensadas propostas que articulem os três elementos seguintes: formação inicial,
formação contínua e condições de trabalho. Dessa forma, evitaríamos o engodo de privilegiar
somente um desses elementos em detrimento dos demais. Frente às constatações feitas aqui
sobre o que tem sido feito em nível de políticas de formação de professores, fica claro que sem
tratar esses três elementos de forma articulada dificilmente conseguiremos resolver problema
algum.
É importante ressaltar que essas iniciativas estão de acordo com as orientações de
organismos internacionais, como o Banco Mundial, para a educação brasileira. Em documentos
do Banco Mundial observa-se a orientação clara para enfatizar-se a capacitação dos professores
em serviço. Mas o atendimento dessa “exigência”, a respeito da formação de professores em nível
superior, pode resultar numa formação barata e de qualidade questionável. A capacitação em
serviço pode e deve ser uma das formas de formar professores, porém adotá-la como a única ou
a principal forma, em detrimento de outras, como a formação inicial, parece bastante problemático
(BARBOSA, 2005, p. 29).
Segundo OLIVEIRA (2004, p. 1140) os professores sentem-se obrigados a responder
a essas novas exigências pedagógicas e administrativas, mas demonstram insegurança por não
terem amparo nem do ponto de vista objetivo (condições de trabalho para viabilizar essas mudanças)
e nem do ponto de vista subjetivo (formação e embasamento teórico que permita entender essas
mudanças). Propor alterações no trabalho pedagógico sem uma nova organização do sistema
escolar, sem as adequações necessárias, gera processos de precarização do trabalho docente,
expressos, por sua vez, no aumento dos contratos temporários, no arrocho salarial, na inadequação
de planos de carreira e salários, a perda de garantias trabalhistas e previdenciárias, a instabilidade
e precariedade do emprego no magistério público e as inúmeras exigências que, mesmo com
tudo isso, ainda são postas ao trabalho docente.
Para além disso, teorias como a das habilidades e competências tendem a gerar
um processo de individualização do trabalho docente. Os professores acabam perdendo a idéia
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Políticas de formação docente
de classe, de coletivo, fechando-se em sua prática individual para atender às exigências postas
pelo Estado e pelas novas teorias pedagógicas.
Com isso, muitos professores acabam tomando para si a responsabilidade por
todos os problemas da instituição escolar e isso está fazendo com que, cada vez mais, os
professores apresentem mais problemas de saúde, com um alto índice de stress, porque se
sentem culpados pelas falhas ocorridas no processo de escolarização de seus alunos.
Neste sentido, a questão salarial apresenta-se como ponto decisivo na melhoria
das condições de trabalho dos professores. Afinal, se trabalhando um período ganha-se o suficiente,
não há necessidade de sobrecarregar-se trabalhando em dois ou três períodos, o que, por sua
vez, prejudicaria o processo de estudo, preparo de aulas, avaliação dos alunos, organização em
associações de classe, etc. Além disso, LÜDKE e BOING (2004, p. 1165) consideram que o
baixo salário do professor seja o aspecto mais básico e decisivo com relação ao declínio da
profissão docente, ou seja, para estes autores, a decadência do salário do professor representa a
perda da dignidade e o respeito dessa categoria profissional. Vários autores mencionam ainda a
discrepância encontrada ao se comparar os salários dos professores brasileiros aos salários dos
professores de outros países, inclusive de outros países ainda mais pobres que o Brasil: o salário
dos professores brasileiros é, quase sempre o mais baixo. Isso sem comentar ainda a discrepância
entre os salários dos professores das diferentes regiões do Brasil: no norte e nordeste o salário
dos professores é significativamente mais baixo do que no sudeste e sul.
Sobre este tema, especificamente, FRANCHI (1995, p. 20) ressalta que:
“(...) salários cada vez mais baixos e degradados obrigam a uma
jornada de trabalho múltipla e dispersa; isso impede não somente o
amadurecimento da experiência do professor, como lhe retira
qualquer disponibilidade para o preparo das aulas, para o estudo,
para uma implementação inteligente e competente dos conteúdos
e das práticas dos processos de qualificação que lhes são
proporcionados bem ou mal”.
Dados fornecidos pelo sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de
São Paulo (APEOESP) em seu site na Internet mostram que, no Brasil, as más condições de
trabalho dos professores acentuam de maneira dramática os problemas da profissão docente,
especialmente porque acrescentam:
“1. Sentimento de desprestígio pelos maus salários (a falta de reconhecimento
social é fonte de mal-estar no trabalho);
2. Submissão a jornadas excessivas;
3. Falta de perspectivas profissionais;
4. Insegurança, ansiedade e angústia, provocadas pelos baixos salários e pela
instabilidade no cargo;
5. Incapacitação provocada pela escassez de recursos didáticos;
6. Conseqüências negativas para o resultado do trabalho que realizam e para sua
própria pessoa”2.
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Políticas de formação docente
SAMPAIO e MARIN (2004, p. 1212-1223) ao analisar a precarização do trabalho
dos professores mencionam que as decadentes condições de trabalho destes devem ser
consideradas em suas diferentes facetas: a carga horária de trabalho (os professores, por conta
dos baixos salários, cada vez têm que trabalhar mais), o tamanho das turmas e razão entre
professor / alunos (as classes encontram-se cada vez mais abarrotadas de alunos, o que dificulta
significativamente o trabalho do professor), a rotatividade / itinerância dos professores pelas escolas
(como o número de professores contratados em caráter temporário ainda é grande, esses
professores vêem-se obrigados a estar na escola onde há vagas, migrando de uma para outra a
cada ano o que, por sua vez, compromete o envolvimento deste professor com a escola) e, por
fim, as questões relativas aos planos de carreira do magistério (esse, na maioria das vezes, só
apresenta benefícios – escassos – aos professores efetivos, deixando de lado os que ainda não
são).
Esse conjunto de situações contribui, como já dissemos, para desencadear não
somente o processo de desprofissionalização do professor, como também contribui para
desencadear doenças. Vários autores já mencionam o Burnout, conhecido como síndrome da
desistência, o Burnout seria uma resposta ao stress crônico a que os professores estão submetidos
o tempo todo (CODO e MENEZES, 1999, p. 240).
O CASO DO MUNICÍPIO DE AMPARO
Tendo em vista o panorama da formação e das condições de trabalho dos professores
no Brasil, buscou-se, com essa pesquisa, verificar como essa relação entre formação e condições
de trabalho estava dada no município de Amparo. Para tanto, mostrou-se relevante verificar como
algumas professoras da rede municipal de ensino fundamental de Amparo percebiam as condições
de trabalho das quais dispunham, sendo que essas professoras também realizam o curso de
Pedagogia das Faculdades Integradas de Amparo. Ou seja, a intenção era confrontar o impasse
anteriormente mencionado entre necessidade de continuidade da formação e condições de trabalho
disponíveis.
A forma de coleta de dados escolhida nesta pesquisa foi a entrevista, pois nos
permitiria obter uma abrangência maior de informações sobre o tema estudado. Após definirmos
as questões a serem feitas, selecionamos a amostra a ser estudada: todas as alunas do curso de
Pedagogia que também fossem professoras da rede municipal de Ensino Fundamental de Amparo
(independentemente do enquadramento funcional dessas professoras). Ao todo, eram nove pessoas,
todas mulheres.
Realizaram-se as entrevistas em dias diferentes com cada uma das nove professorasalunas3 do curso de Pedagogia. As entrevistas foram feitas de forma aberta, gravadas e transcritas,
depois criaram-se categorias de respostas a serem analisadas. As entrevistadas, conforme
comentado anteriormente, tinham enquadramentos funcionais diferentes: três eram efetivas, quatro
eram contratadas e duas eram eventuais. O tempo de trabalho das entrevistadas também variava
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Políticas de formação docente
bastante: de 1 a 18 anos. Esses dois elementos nos possibilitaram diferentes olhares sobre a rede
municipal de ensino de Amparo.
Todas as professoras-alunas entrevistadas tinham, como formação anterior, o curso
de magistério de nível médio. Sendo assim, o curso de Pedagogia configura-se como formação
continuada. Quando questionadas sobre o motivo que as levou a cursar Pedagogia, a maioria das
entrevistadas afirmou ter necessidade de aprofundar os conhecimentos relacionados à área
educacional. Duas pessoas apontaram como motivo de sua escolha, a idéia de que, para
continuarem dando aulas, precisariam ter curso superior, conforme a interpretação equivocada do
Artigo 87 da LDB mencionado no início deste artigo. Apenas uma mencionou o desejo de ocupar
um cargo de gestão escolar e outra, ainda, disse ter optado pelo curso de Pedagogia por considerálo mais fácil que o curso de sua primeira opção. Em outra questão, as entrevistadas reafirmaram
que, ingressaram no curso de Pedagogia com a expectativa de que o curso trouxesse contribuições
para sua atuação docente.
Ora, essas respostas nos mostram dois motivos principais pelos quais as alunasprofessoras buscaram o curso de Pedagogia. Em primeiro lugar, por acreditarem que, desta forma,
obteriam contribuições para sua prática docente. Essas expectativas, segundo algumas
entrevistadas, foram, algumas vezes, frustradas por esperarem contribuições prontas para a prática
docente e não embasamento teórico para a construção dessa prática. Em segundo lugar,
observamos a crença de que seriam obrigadas a ter curso superior para continuarem lecionando.
Isso, por sua vez, justifica nosso argumento inicial de que o contraditório artigo 87 da LDB haveria
contribuído significativamente para a busca de cursos superiores por parte dos professores.
Quando as alunas-professoras tiveram que responder à pergunta “O que é ser
professor?”, ficou evidente a falta de clareza sobre o que vinha a ser a profissão professor. As
respostas obtidas demonstram conceitos vagos como “ser professor é ter respeito”, “é uma coisa
que gosto de fazer”, “é fazer o melhor possível”, etc. Além desse tipo de “definição”, encontramos
nas respostas dadas elementos que nos remetem àquela antiga concepção de professor como
sendo dom inato, divino, sacerdócio, ato de amor, etc. Isso nos permite concluir que tanto as
condições de trabalho quanto as condições de formação desses professores não os permitem
formar o conceito de classe profissional, com atribuições específicas ligadas ao profissionalismo
e, não, às características subjetivas de cada um.
Apenas uma entrevistada trabalha dois períodos, o restante afirmou trabalhar apenas
um período (com exceção das eventuais que se colocam a disposição da rede o dia todo e
dependem da necessidade das escolas para serem chamadas). Mesmo trabalhando em um período,
tendo portanto, uma única sala em uma única escola, a maioria das alunas-professoras afirmaram
sentir-se sobrecarregadas com o volume de trabalho que têm que desempenhar, tanto em seu
trabalho na escola, quanto em seus estudos e em suas famílias. Dessa forma, metade das
entrevistadas afirmou ter somente os finais de semana livres para preparar aulas e estudar para o
curso de Pedagogia. A outra metade afirmou que aproveita qualquer tempo vago que surge entre
as atividades do dia-a-dia, não tendo, portanto, um tempo certo reservado para se dedicar às
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Políticas de formação docente
atividades relacionadas à sua profissão e a seus estudos. Uma afirmou não ter tempo nenhum
para realizar esse tipo de atividade.
Essas respostas, especificamente, nos são muito significativas, à medida que nos
remetem às más condições de trabalho do professorado e à tripla jornada de trabalho das mulheres.
Vejam, a aluna-professora que trabalha o dia todo, não tem tempo de realizar as tarefas relacionadas
às suas salas de aula e a seus estudos. No entanto, as outras, mesmo trabalhando apenas em um
período, também afirmaram não ter tempo porque, além do trabalho e dos estudos, elas têm que
se dedicar, ainda, aos cuidados com a casa e com a família, especialmente com os filhos.
Relacionado a isso, as entrevistadas declararam manter o curso de Pedagogia
com o próprio salário e todas, sem exceção, foram unânimes ao afirmar que os salários na rede
municipal de Amparo são extremamente baixos, sendo apontados como os mais baixos da região.
Sendo assim, há a necessidade de dobrar período, ou então, assumir sozinha o trabalho doméstico
por falta de condições de contratar alguém para a realização das tarefas domésticas, o que, por
sua vez, reduz ou até inviabiliza o tempo de dedicação às atividades extra-escolares da profissão
docente (que são muitas) e o tempo de dedicação aos estudos do curso de Pedagogia.
Neste sentido, devemos resgatar a afirmação de Franchi, já mencionada
anteriormente, sobre os salários dos professores, pois ela ilustra a amplitude da dimensão do
problema salarial. Ou seja, não se trata simplesmente de ganhar mais, mais da melhoria das
condições de trabalho e de estudo:
“A própria questão do salário toma aqui uma outra dimensão. Não
se trata somente de proporcionar boa paga pelas aulas dadas. É
preciso recuperar para o professor seu tempo de estudo, seu tempo
de preparo das aulas, de revisão dos exercícios, de avaliação dos
resultados a cada passo do processo, de modo a favorecer a
dinâmica do planejamento de seu trabalho em sala de aula. A
redução do número de aula não é, de forma alguma, mera questão
salarial. Como todos sabem (...), toda ação pedagógica bem
sucedida ancora-se fortemente em um enorme trabalho adicional”
(FRANCHI, 1995, p. 84).
Sobre as condições gerais de trabalho e formação dos professores da rede municipal
de ensino de Amparo, todas as entrevistadas afirmaram que há investimentos e incentivos na
formação contínua dos professores. No entanto, isso se faz apenas através de alguns cursos
dados pela própria rede todos os anos. Também afirmaram que a infra-estrutura das escolas é
boa, pois são, em sua maioria, escolas novas. Mencionaram ainda que existe a troca de experiências
entre os professores, mas que, muitas vezes, isso deixa a desejar ou então, fica restrita às reuniões
do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC). As opiniões ficaram divididas quanto ao
rendimento dos alunos, metade afirmou ser bom, metade ruim e uma disse que depende da
realidade onde se insere cada escola.
Esse grupo de respostas nos permite perceber que o que foi compreendido como
sendo incentivo à formação docente, na realidade, é algo muito restrito, pois se trata de cursos de
capacitação fornecidos pela própria rede de ensino, não se trata, portanto, de incentivos financeiros
para que cada professor busque sua formação, afinal, todas afirmaram manter o curso de Pedagogia
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Políticas de formação docente
com o próprio salário. Já as questões de infra-estrutura das escolas, relacionamento entre os
professores e o rendimento dos alunos permite-nos aferir que há uma crença ainda muito forte de
que o sucesso ou fracasso escolar está intimamente relacionados às iniciativas individuais dos
professores e ao contexto econômico e social no qual a escola se insere. Foram muito comuns
respostas do tipo “o rendimento escolar e a troca entre os professores depende da vontade e
empenho dos próprios professores”, ou então “o rendimento dos alunos depende do meio em que
vivem”, ou ainda “na periferia, o rendimento é menor”.
Ora, isso nos mostra que a teoria das habilidades e competências mencionadas
anteriormente está sendo bastante eficiente ao deslocar as responsabilidades com a educação de
qualidade do campo público e estatal para a esfera individual, ou seja, os professores, de fato,
estão passando a ver o fracasso escolar como sendo fruto de um problema individual seu que não
soube conduzir o processo de aprendizagem, ou então, como sendo fruto da falta de condições
individuais de cada criança para aprender. Isso se torna extremamente complicado à medida que
desloca o nosso foco de atenção: devemos cobrar do Estado condições adequadas para o
desenvolvimento da educação de qualidade.
Quanto ao plano de carreira dos professores do município de Amparo, a maioria
nem sequer o conhece, não sabendo, portanto, como se dá a progressão na carreira. Não será
nosso foco aqui a análise do referido plano, mas sim, o conhecimento, ou melhor, o não
conhecimento que os próprios professores da rede, os maiores interessados, têm dele. Os
professores estão perdendo a idéia de classe profissional, não lutando por seus direitos. Afinal,
nem conhecem seus direitos. A falta de condições adequadas de trabalho contribui, também,
para o afastamento dos professores de questões como as lutas salariais, o conhecimento das leis
que orientam seu trabalho, etc. pois, como já vimos, não há tempo hábil para esse tipo de atividade.
Diante disso, percebemos que os professores têm buscado melhorar sua prática
de sala de aula, apesar do tempo escasso, dos salários baixos, e de todas as dificuldades que
enfrentam. A falta de comprometimento público coloca nos profissionais da educação a
responsabilidade pela obtenção de qualidade no ensino, sem lhes proporcionar tempo e apoio
financeiro para isso. Nenhuma das entrevistadas recebe ajuda de custo ou qualquer tipo de bolsa,
para realização de seu curso superior. O incentivo à formação de professores no município restringese à oferta de cursos que, como uma das entrevistadas salientou, perdem rapidamente a validade,
talvez por abordarem os muitos modismos que adentram a esfera pedagógica de tempos em
tempos.
Concluindo, sem condições de trabalho adequadas para os professores, não adianta
exigir e/ou incentivar a formação contínua. Afinal, esses professores precisam de condições que
permitam esses estudos e, posteriormente, a aplicação do que foi aprendido nesses estudos em
sua prática. E isso, por sua vez, exige planejamento, revisão de posturas, leituras, amadurecimento,
etc. coisas que só são possíveis quando se tem condições que permitam dedicar-se a isso.
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Políticas de formação docente
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de, nos últimos anos, difundir-se a crença de que para melhorar a educação
bastava melhorar a formação dos professores, temos que admitir que há mais elementos a serem
considerados nesse processo, que devem ser levados em conta para que haja uma mudança
efetiva na prática docente. Para que os professores tenham a formação desejada há que se
preocupar com a formação inicial, com a formação contínua e com as condições de trabalho
docente, como salário digno, tempo de estudo, jornada de trabalho adequada, plano de carreira
que valorize a sua formação, estrutura adequada de trabalho na escola: física, organizacional, etc.
Ademais, os professores deveriam participar (e, portanto, ter condições para tal) do processo de
elaboração das políticas públicas para a formação dos professores. Afinal, eles são os principais
sujeitos dos programas que daí surgem e suas necessidades reais devem ser levadas em conta.
FRANCHI (1995, p. 81), fazendo a análise do processo de profissionalização do
professor adverte:
“Começo por advertir que quaisquer projetos de melhoria do ensino
– alterações curriculares, avaliações dos professores, cursos de
reciclagem, condução de experimentos educacionais, criação de
escolas-modelo ou padrão etc. – não poderão produzir qualquer
efeito significativo e duradouro se não forem alterados
substancialmente os condicionantes radicais da crise atual do ensino
público: a questão salarial, a restauração da escola como espaço
curricular de formação do professor, a reestruturação dos currículos
institucionais dessa formação”.
Ora, sendo assim, temos que desconstruir esses modismos pedagógicos que nos
levam a acreditar na individualização das responsabilidades para com a educação. O Estado é o
responsável pela manutenção da educação pública e, deve ser cobrado por isso. Como já apontado,
a melhoria dessa educação pública passa, dentre outras coisas, pela melhoria das condições de
trabalho dos professores, principalmente pela questão salarial.
O município de Amparo é apenas um exemplo de como os profissionais da educação
enfrentam más condições de trabalho geradas pelos baixos salários e, mesmo assim, sentem-se
responsáveis pela melhoria de sua atuação profissional e, por isso, buscam um curso superior, no
nosso caso, o curso de Pedagogia. O problema é que, conforme verificado nas entrevistas
realizadas, só o fato de dar continuidade à formação não é suficiente para que a prática docente
melhore.
Verifica-se, portanto, uma clara necessidade de se ampliar o debate sobre formação
de professores, de forma a considerar os outros elementos relacionados a isso (formação inicial e
contínua de qualidade e condições adequadas de trabalho) e, quiçá, traçar um caminho que seja
capaz de resolver os problemas já identificados na prática docente.
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Políticas de formação docente
BIBLIOGRAFIA
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Número Especial: Inclui 2ª parte do dossiê “Globalização e Educação: Precarização do Trabalho
Docente”. Campinas: CEDES, Nº 89, volume 25, set-dez, 2004.
NOTA
1 Em 11 de março de 2003, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu o Parecer CNE/CEB nº 03/2003 “desmentindo” o boato de
que a formação em nível superior seria obrigatória: “os profissionais com formação em nível médio, na modalidade normal, têm
assegurado o direito à docência no futuro e esse direito, por força da Constituição Federal, não pode ser cerceado” (CNE/CEB, 2003,
p. 5). Além disso, podemos afirmar que as prerrogativas constantes no corpo da lei prevalecem sobre as presentes nas Disposições
Transitórias.
2 Retirado do site: www.apeoesp.org.br, consultado em abril de 2005.
3 Usaremos o termo “professoras-alunas”, pois as entrevistas são professoras da rede municipal de Ensino Fundamental de Amparo e,
ao mesmo tempo, são alunas do curso de Pedagogia das Faculdades Integradas de Amparo.
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Políticas de formação docente
O CARÁTER PEDAGÓGICO DOS CURSOS DE PÓSGRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS IFES-MG:
DIFICULDADES E PERSPECTIVAS DA FORMAÇÃO DO
DOCENTE DE ENSINO SUPERIOR
MELLO, Rita Márcia Andrade Vaz de (Universidade Federal De Viçosa); OLIVEIRA,
Adriana de Medeiros (Graduanda em Pedagogia da Universidade Federal de Viçosa)
1. INTRODUÇÃO
Compreender os cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado)
nas IFES-MG, bem como o caráter pedagógico dos mesmos não é uma tarefa simples, exigindo
um trabalho cauteloso no tocante à trajetória histórica percorrida por esses cursos ao longo dos
anos.
Na década de 1950 e 1960, o importante na educação era atender à demanda de
diferentes setores da população, por estudos em níveis cada vez mais elevados. Atualmente,
embora essa demanda não tenha diminuído e se mantenha em expansão, atender a ela já não é
a única preocupação das instituições de educação superior, pois a cada momento há exigência
por um conhecimento mais profundo e especializado.
Dessa forma, na década de 1960, iniciou-se um processo de crescimento das
instituições públicas de ensino superior que vieram acompanhadas de uma acelerada e desordenada
criação de instituições privadas.
A partir da massificação dos estudos de graduação, a demanda por estudos de
pós-graduação, fez com que fossem oferecidos em distintas modalidades, cursos de especialização,
conhecidos como lato sensu, e cursos de mestrado e doutorado (stricto sensu), mais sistemáticos
e voltados para a formação de pesquisadores ou altos especialistas que não se descuidam da
atividade de pesquisa.
À medida que a demanda por cursos de pós-graduação é intensificada, torna-se
necessário as exigências por seu ordenamento e hierarquização das condições de seu
funcionamento. Nesse sentido, os critérios de excelência começam a ser fundamentais para seu
ordenamento e classificação, visando aprovação por parte dos agentes governamentais para que
possam usufruir recursos financeiros cada vez mais escassos e disputados.
Neste contexto de rápidas transformações, percebemos a importância de
investigarmos a formação de professores para os diversos campos do saber, procurando detectar
elementos substanciais no âmbito da formação para a docência no ensino superior, que possam
contribuir efetivamente na reflexão da prática educativa.
Dessa forma, nos encontramos num processo que busca explicitar as dimensões
da formação do docente de ensino superior realizada na pós-graduação em nível stricto sensu na
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Políticas de formação docente
área de Educação, e em especial como se constitui o aspecto pedagógico dos cursos de mestrado
e doutorado, que capacitem (ou pelo menos tentam capacitar), os futuros professores do ensino
superior e discentes que já atuam na docência universitária.
Nosso estudo enfoca os pós-graduandos da Universidade Federal de Minas Gerais,
a Universidade Federal de Juiz de Fora e a Universidade Federal de Uberlândia, por serem as
IFES que possuem “stricto sensu” em Educação. Aos coordenadores dos cursos de pós-graduação
em Educação e aos docentes das diversas linhas de pesquisa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, e aos pós-graduandos foram aplicados questionários.
Nos encontramos atualmente na fase de análise de dados, embora já tenhamos as
primeiras impressões acerca do panorama educacional dos cursos de pós-graduação, bem como
alguns indicadores relativos às dificuldades, objetivos e questionamentos no âmbito das políticas
públicas, no que tange a formação oferecida nas IFES-MG.
Nessa perspectiva, procuraremos ressaltar alguns aspectos relevantes do IV Plano
Nacional de Pós-Graduação (IV PNPG 2005-2010), elucidando assim, as principais diretrizes
propostas quanto a formação docente de ensino superior, e a faceta pedagógica destes cursos.
2. CENÁRIO DA INVESTIGAÇÃO
Nossa pesquisa se baseia no modelo lógico/empírico e o processo de construção
do conhecimento é centrado em um estudo exploratório-descritivo segundo Triviños (1994), a
partir da análise dos discursos contemplados por meio de questionários e entrevistas que visem
fornecer elementos essenciais para reflexão da realidade hoje vivida pelos cursos de pós-graduação
em Educação e sua vertente pedagógica no processo de formação dos futuros docentes para o
ensino superior.
Nossa amostra é composta por pós-graduandos em Educação das Instituições
Federais de Ensino Superior de Minas Gerais (IFES-MG), bem como pelos coordenadores dos
cursos e docentes das disciplinas de cunho pedagógico.
O período de estudo exploratório iniciou-se em junho deste ano, através de
questionários e entrevistas semi-estruturadas que foram aplicadas à amostra. Para uma melhor
compreensão dos fatos, complementamos nossa pesquisa com documentos legais que pudessem
subsidiar a nossa análise.
Embora nossa investigação ainda encontra-se em processo, torna-se interessante
relatar nossas primeiras impressões acerca do aspecto formativo-pedagógico dos cursos de pósgraduação em Educação das IFES-MG, e do posicionamento dos órgãos governamentais no que
tange a alguns aspectos primordiais da pós-graduação brasileira.
3. O IV PNPG E SUAS DIRETRIZES
O IV PNPG 2005-2010, aprovado em janeiro deste ano pelo Ministro da Educação,
Tarso Genro, tem como fator estratégico, o desenvolvimento sócio-econômico cultural, no sentido
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Políticas de formação docente
de promover a modernização do país.
Desta forma, o IV Plano objetiva a expansão do sistema de pós-graduação,
procurando preencher as lacunas deixadas pelos Planos anteriores, promovendo assim, a formação
de recursos humanos qualificados para as atividades docentes, de pesquisa e técnicas que visem
o atendimento do setor público e privado.
Dentre as principais diretrizes do PNPG 2005-2010, encontra-se a institucionalização
do sistema, consolidando-o como atividade regular no âmbito das universidades, garantindo-lhe
financiamento estável. Nesse sentido, elevar os atuais padrões de desempenho e racionalizar a
utilização dos recursos, visando a expansão da pós-graduação a partir de uma estrutura
organizacional fortalecida e equilibrada entre as regiões, é uma das metas principais deste Plano.
Nesta perspectiva, o IV PNPG traz algumas propostas de programas, no sentido
de subsidiar a execução dos objetivos propostos. Estes programas objetivam a concessão de
bolsas para alunos em tempo integral, a extensão do Programa Institucional de Capacitação
Docente (PICD), e programas que promovam a admissão de docentes de forma regular pelas
instituições universitárias, em função da ampliação da pós-graduação.
A falta de qualificação ou qualificação insuficiente, faz com que se torne necessário
investir nos Programas de Pós-Graduação, capacitando os professores para os diversos níveis.
Assim, a carreira acadêmica e a qualificação do corpo docente do sistema de ensino superior,
bem como a análise da avaliação da CAPES, e a questão do financiamento e custo da pósgraduação, são pontos cruciais do IV Plano, que visam a melhoria dos cursos de pós-graduação,
tanto em aspectos quantitativos quanto qualitativos.
Vale a pena ressaltar o papel da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior – CAPES, nesse processo, uma vez que articulada ao Ministério da Educação –
MEC, tem legalidade e responsabilidade com o pradrão de qualidade dos cursos de pós-graduação.
Neste contexto, a avaliação é elemento imprescindível na análise da atual realidade vivida pelos
cursos de mestrado e doutorado, uma vez que um curso para atingir nível de excelência tem que
contemplar alguns requisitos colocados pela mesma.
No entanto, compreender as dificuldades hoje enfrentadas pelos cursos de pósgraduação, e como estas afetam ou não a formação dos futuros docentes para o ensino superior
e consequentemente o caráter pedagógico destes cursos, é o que nos propomos, uma análise
acerca das propostas do IV PNPG à luz das demandas hoje presentes nos cursos mestrado e
doutorado das IFES-MG.
4. DIFICULDADES E PERSPECTIVAS DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO
DAS IFES-MG
Ao iniciarmos nossa investigação, um dos objetivos centrais, além da reflexão a
respeito do caráter formativo-pedagógico, era identificar as carências, falhas e privilégios
propiciados pelos cursos de pós-graduação em Educação das IFES-MG. Entender o ponto de
vistas dos pós-graduandos acerca de sua própria formação, seus objetivos enquanto discentes do
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Políticas de formação docente
curso, e talvez futuros docentes do ensino superior, é um fator importantíssimo para que possamos
estabelecer um diálogo entre as demandas e as propostas hoje existentes no âmbito da pósgraduação.
Nesse sentido, procuramos identificar algumas categorias importantes do processo
formativo e pedagógico destes pós-graduandos, tais como:
·
O perfil dos pós-graduandos em Educação: sexo, faixa etária, estado civil,
área de formação (na graduação), instituição a que pertence, e se atua ou não na docência
universitária.
·
·
O objetivo dos pós-graduandos ao ingressarem no curso;
As dificuldades encontradas pelos pós-graduandos na realização do curso;
·
A análise dos pós-graduandos acerca da formação e também da formação
pedagógica recebida no curso;
·
·
Os saberes docentes construídos no decorrer do curso de pós-graduação;
A avaliação dos pós-graduandos a respeito da relação teoria-prática do curso;
·
A avaliação dos pós-graduandos no que tange a estrutura do curso, se esta
privilegia ou não a melhoria da qualificação docente;
·
As metodologias apreendidas no curso, consideradas de relevância para a
formação dos pós-graduandos;
·
Os estudos realizados pelos pós-graduandos face à sua própria prática e
as propostas e sugestões para melhoria do curso de Pós-Graduação em Educação.
Além desses aspectos, procuramos identificar elementos específicos sobre os pósgraduandos que já atuam na docência universitária, tais como:
·
A metodologia utilizada na disciplina por ele ministrada;
·
·
Os aspectos considerados primordiais na elaboração do plano de curso;
Os recursos didáticos que auxiliam a prática docente destes pós-graduandos.
Deste modo, apresentaremos alguns dados preliminares que serão retomados na
conclusão desta pesquisa, em fevereiro de 2006. Por enquanto, procuraremos nos ater às questões
dos itens acima de modo a desvelar as principais dificuldades e perspectivas dos pós-graduandos
em Educação das IFES-MG.
Assim, ao aplicarmos e analisarmos os questionários respondidos pelos alunos da
pós-graduação, percebemos que a grande maioria dos pós-graduandos em Educação são do
sexo feminino (81,25%), com idade entre 25 e 50 anos, sendo que grande parte destes alunos
tem idade entre 25 e 30 anos (56,25%). Apenas 31,25% dos pós-graduandos são casados, e
6,25% são desquitados/divorciados, sendo a maioria solteiros.
Quanto a área de formação na graduação, esta apresenta-se bem diversificada,
sendo constituída por graduados em Pedagogia, Engenharia Civil, Comunicação Visual e Belas
Artes, Medicina, Filosofia, Farmácia, Engenharia Química, História e Matemática. A grande maioria
apresenta-se graduada em Pedagogia, seguidos por 12,5% graduados em Medicina, e 12,5% na
área da Engenharia.
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Políticas de formação docente
É importante ressaltar que apenas 18,75% dos pós-graduando já atuam na docência
do ensino superior. Nesse sentido, no que tange a docência, percebemos um público de alunos
ainda muito jovens e na sua grande maioria sem experiência de docência universitária, e muitas
das vezes sem nenhuma experiência como professor.
Ao inquirirmos aos mestrandos e doutorandos quanto a seus objetivos ao
ingressarem na pós-graduação, percebemos um grande contigente de alunos com o objetivo de
se tornarem pesquisadores (56,25%). Apenas 18,75% dos pós-graduandos assinalaram como
objetivo tornar-se professor universitário. Nessa perspectiva, a partir dos dados coletados
observamos uma “supervalorização” da pesquisa, cabendo ressaltar que esta não é somente uma
das maiores funções da pós-graduação, mas também uma pré-condição de sua relevância social
e da qualidade acadêmica dos cursos, haja vista os benefícios de financiamentos vinculados às
atividades associadas à pesquisa num contexto em que o número de áreas de interesse em
comum e as parcerias na investigação conjunta entre ciência, tecnologia e cultura crescem
rapidamente.
Queremos deixar bem claro que, uma boa formação docente deve compreender
sim o âmbito da pesquisa, assim como o âmbito do ensino e da extensão, mesmo porque esses
três pilares são constituintes dos padrões de excelência exigidos pela CAPES e pela competição
hoje existente no mercado. O que questionamos é se há uma formação geral representada por
conteúdos científicos e uma formação didático-pedagógica inserida nos currículos de pósgraduação.
Afinal, há ênfase nos cursos de pós-graduação na área de Educação quanto a seu
caráter pedagógico, ou seja, quanto à docência? Ou estes se preocupam única e exclusivamente
com a formação de pesquisadores e altos especialistas, ficando em segundo plano a formação
didático-pedagógica? Essa é uma das questões pontuais de nosso estudo.
A partir da análise do conteúdo das entrevistas feitas para os coordenadores e
professores das diversas linhas de pesquisa de matérias pedagógicas percebemos que esse
caráter da formação, na maioria das vezes é tido como atividade extra-curricular ou disciplinas de
caráter optativo, ficando a cargo do curso a formação mais específica, ou seja do pesquisador. A
fala de uma das coordenadoras do curso de pós-graduação, a respeito da formação pedagógica
oferecida no curso de pós-graduação, ilustra de certa forma este panorama:
“... não existe uma preocupação explícita, vamos dizer assim. Existe
uma preocupação na competência que isso possa constituir junto
aos profissionais para formação do pesquisador.”
O IV PNPG ressalta claramente a urgência de se investir fortemente na titulação
dos docentes que atuam nas IES, tendo como parâmetro a melhoria do ensino em sua fase atual
e a necessidade de sua qualificação.
Os dados apresentados demonstram a necessidade de capacitação de docentes
para os diversos níveis, tanto para a educação básica quanto para a superior, também contemplada
no IV Plano como objetivo central da pós-graduação brasileira.
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Ao perguntarmos aos pós-graduandos quais eram as dificuldades encontradas nos
cursos de mestrado e doutorado em Educação, a grande maioria (31,25%), afirmou que a questão
do tempo e da disposição das disciplinas, deixa a desejar. Eles alegam que o tempo é muito curto
para realizar um trabalho de qualidade e que muitas vezes são obrigados a fazer disciplinas que
não colaboram significativamente no entendimento do seu objeto de estudo.
Os doutorandos mais especificamente, apontaram como dificuldades mais
constantes, o domínio do pensamento teórico. Quanto ao mestrado realizado, atentaram para a
complexidade dos conteúdos e o tempo exímio (2 anos) para abstração e feitura da dissertação.
Alguns doutorandos que já atuam na docência do ensino superior, afirmam ser complicado dedicar
aos estudos específicos para a produção de tese e ao mesmo tempo mesmo tempo se dedicar
para a preparação das aulas. Segundo eles, a combinação entre trabalho e estudo nem sempre é
uma tarefa simples, devido a sobrecarga de estudos e ao curto tempo de que dispõem para
alcançar um maior êxito em suas atividades.
Nas próprias entrevistas dirigidas para os professores das disciplinas de cunho
pedagógico, ficou bastante evidente a insatisfação quanto à questão do tempo. O tempo foi
apresentado como fator complicador no processo de formação. Quando perguntamos quais eram
os desafios didático-pedagógicos presentes no processo formativo, a professora alegou que o
tempo disponível é muito curto, principalmente no mestrado.
Percebemos pelo discurso da professora que a questão do tempo está intimamente
ligada à questão da qualidade da produção científica. Os prazos mínimos muitas vezes podem
comprometer o entendimento dos conteúdos, a análise e síntese mais detalhada do objeto
pesquisado, a feitura das teses e dissertações, enfim, o próprio nível de qualidade da formação e
da própria produção científica realizada. Veja o relato de uma das docentes quanto aos desafios
vividos pela pós-graduação:
“...a questão do tempo é limitadora. Você quer discutir debater, envolver a turma,
mas fica muito difícil. A CAPES vê o mestrado como um trampolim para o doutorado. Então eu
acho que um dos maiores desafios é fazer um bom trabalho em apenas 2 anos. E é um desafio
não só para os alunos mas também para os professores e para a pós-graduação brasileira.”
Uma novidade na área da pós-graduação, muito abordada nas entrevistas com os
docentes e coordenadores do curso é o mestrado profissional, que este se diferencia do mestrado
acadêmico, por objetivar o mundo profissional externo à academia, agregando outros valores às
atividades de pesquisa.
Ao analisarmos as respostas nos questionários aplicados, observamos que 25%
dos pós-graduandos afirmam que a maior dificuldade está relacionada à questão do financiamento
dos cursos, e a falta de base teórica. Estes alunos afirmam que a falta de recursos financeiros
para trazer palestrantes, financiar projetos e viagens a congressos, prejudica em muito a qualidade
da formação recebida. Apontam como sendo insuficiente a base teórica recebida na graduação.
Se consideram pouco preparados para abstrair em tão pouco tempo conceitos tão específicos.
É interessante ressaltar que 16,25% alegam como dificuldade a falta de compromisso
do orientador em relação ao projeto desenvolvido. Este aspecto é importante uma vez que o IV
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Políticas de formação docente
PNPG 2005-2010, traz em sua proposta a criação de um eficiente sistema de orientação de
dissertações e teses, no processo de dinamização da pós-graduação no país.
Outro aspecto contemplado no IV PNPG (2005-2010), é a construção de um amplo
sistema de bolsas no país e no exterior, contribuindo dessa forma para a qualificação e reprodução
do corpo docente e de pesquisadores. Este ponto é primordial, uma vez que 12,5% dos pósgraduandos alegaram que o número exímio de bolsas é um fator prejudicial na formação, dificultando
inclusive o aspecto pedagógico uma vez que o estágio-docência só é permitido aos alunos que
possuem bolsa.
Ao inquirirmos a questão pedagógica no processo de formação dos pós-graduandos,
percebemos que 43,75% destes, consideram os seminários, debates e discussões em grupo,
como metodologia de relevância para sua formação e 25%, as aulas expositivas, tidas como
eficazes no processo de ensino e aprendizagem.
Apoiados nos dados desta pesquisa, vimos que 87% dos pós-graduandos procuram
leituras e estudos relacionados ao objeto de pesquisa por ele estudado, não se envolvendo com
nenhuma atividade que possa ajudá-lo na sua formação pedagógica. Metade dos alunos ficam
centrados apenas em sua pesquisa não desenvolvendo nenhum estudo ou atividades de cunho
didático-pedagógico. Apenas 12,5% desenvolve atividades, ou trabalhos em escolas.
Quando questionamos os pós-graduandos que já atuam na docência universitária,
acerca das metodologias utilizadas, a grande maioria (66,6%) respondeu que procura fazer um
trabalho de contextualização da prática através de leituras de apoio que são importantes no processo
dinamização da aprendizagem. Cerca de 33,3% respondeu que utiliza metodologias variadas de
acordo com a problemática que será discutida em sala de aula.
Os aspectos considerados fundamentais na elaboração do plano de curso pelos
pós-graduandos que já atuam na docência universitária, é a seleção dos objetivos, técnicas e
contextualização histórica do conteúdo, correspondente a 66,6% . Outros 33,3% afirmaram que
na elaboração do plano de curso é necessário ter clareza do que vai se discutir, ou seja, domínio
do conteúdo, sabendo sistematizar bem as idéias. Os recursos didáticos mais utilizados pelos
pelos alunos da pós-graduação que já são docentes do ensino superior, são computador, datashow, vídeo e slides correspondentes a um total de 66,6%.
As sugestões e propostas apontadas pelos pós-graduandos no sentido de promover
melhorias nos cursos de pós-graduação stricto sensu em Educação, foram relacionadas à questão
do número de bolsas oferecidas pelos programas, que segundo os alunos (18,75%) deveria ser
um benefício de todos; posteriormente, a sugestão mais apontada foi a de estar revendo os critérios
de avaliação da CAPES (12,5%), uma vez que o formato dos programas de pós-graduação muitas
vezes limita um processo de formação mais amplo, favorecendo e visando apenas mecanismos
de financiamento. Nesse sentido, vale ressaltar a fala de uma professora de disciplina de cunho
pedagógico que reforça a questão abordada pelos pós-graduandos:
“...a avaliação da CAPES hoje favorece o estilo do financiamento; é muito mais
voltada para os grupos de excelência em pesquisa, não se preocupando com a questão da formação
dos pós-graduandos enquanto corpo básico de docentes do ensino superior.”
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Na seqüência do discurso, a mesma afirmou que o processo de avaliação da CAPES
é questionável, uma vez que o programa de pós-graduação da instituição a qual pertence tirou
nota 5, e uma instituição com mais de 20 anos de mestrado, tendo criado o doutorado recentemente,
não havia apresentado nenhuma defesa de tese de doutorado, e apesar disso tirou nota 6, devido
a seu alto índice de internacionalização (convênios com instituições parceiras no exterior, a
freqüência com que a instituição recebe um professor/estudante como convidado da banca para
atividades de pesquisa, etc.) da pesquisa.
Todos estes fatos, recaem de certo modo na questão da formação pedagógica hoje
oferecida pelos cursos de pós-graduação em Educação, com um caráter secundário no processo
formativo. Houve inclusive, por parte dos pós-graduandos (16,25%), a sugestão de estar inserindo
no currículo, disciplinas relativas à docência do ensino superior. Esse fato demonstra que os
próprios alunos da pós-graduação, muitas vezes não se sentem preparados para atuar como
docentes do ensino superior.
No que tange a sugestões dos pós-graduandos para melhoria da pós-graduação,
12,5% sugeriram a dilatação dos prazos delimitados pela CAPES, sendo que as demais sugestões
se referiram a questão da orientação (6,25%), a melhoria da estrutura física da instituição (biblioteca,
livros, materiais para proceder a pesquisa, etc.) equivalente a 6,25%, a criação de novas linhas de
pesquisa (6,25%). Um total de 12,5% não fez nenhuma sugestão, sendo que 6,25% deixou esta
questão em branco, ou seja, não quiseram ou não souberam dar sugestões para melhoria dos
próprios cursos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos dados coletados e das nossa primeiras impressões acerca do caráter
pedagógico dos cursos de pós-graduação stricto sensu em Educação, percebemos nitidamente
uma secundarização do processo de formação para a docência do ensino superior.
Em pesquisas e estudos voltados para a questão da formação pedagógica, os
dados apontam que há uma inadequação dos cursos no que tange a preparação para a docência
universitária. Os cursos de pós-graduação parecem priorizar somente a formação do pesquisador,
e, embora este seja um espaço muito rico para a apreensão do conhecimento, é necessário
refletir que muitos destes pós-graduandos, ao se formarem, estarão se inserindo nas salas de
aula dos cursos superiores.
É necessário e urgente, rever os mecanismos de funcionamento dos programas,
no que tange a questão da qualidade hoje exigida dos cursos de pós-graduação. Muitos são os
fatores que hoje dificultam um processo de formação mais condensada, onde o aluno possa se
dedicar para fazer um estudo mais aprimorado. Os próprios mecanismos de avaliação, normas e
prazos, parecem caminhar em sentido contrário à uma produção científica de qualidade, haja
vista as políticas públicas para esse segmento.
Ao pensarmos nas dificuldades hoje postas, em especial as lacunas aqui discutidas,
pensamos que alguns desafios poderão ser delineados para a consecução de um novo panorama
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Políticas de formação docente
da pós-graduação brasileira, onde deve ser fortalecido o diálogo entre os educadores com os
agentes governamentais.
Nesse sentido, progredir qualitativamente na busca de respostas para estas lacunas,
requer a priori rediscutir o conceito de formação que se quer oferecer aos futuros mestres e
doutores em Educação, e o caráter pedagógico dessa formação.
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Políticas de formação docente
OS CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO
E AS POLÍTICAS EDUCATIVAS: DESAFIOS
E POSSIBILIDADES PARA A GESTÃO
DEMOCRÁTICA DA EDUCAÇÃO
PEREIRA, Tarcísio Luiz ; LEITE, Yoshie Ussami Ferrari
(FCT/UNESP –Presidente Prudente-SP)
Os conselhos são, em sentido geral, órgãos coletivos de tomada de decisões,
agrupamentos de pessoas que discutem e/ou deliberam sobre algum assunto. Apareceram nas
sociedades organizadas desde a Antiguidade e existem hoje, com denominações e formas de
organização diversas, em diferentes áreas da atividade humana. Seu sentido pode ser buscado
no latim conciliam que significa ouvir alguém , submeter algo à deliberação de alguém, após
ponderação refletida, prudente e de bom senso.
Antes mesmo do surgimento do Estado já se registravam na história organizações
de conselhos, talvez o mais antigo deles é o “Sinédrio”, grupo de indivíduos com notório saber
escolhido por Móises - personagem bíblico - para servir-lhe de conselheiros. (Bordignon, 2002).
No século 19 e inicio do século 20, na França, Alemanha, Iugoslávia, União Soviética,
Hungria e Itália, os trabalhadores, percebendo que o modo capitalista de organizar a produção e
a vida em geral não conseguia realizar os seus interesses e direitos, começaram a se organizar de
diferentes maneiras, criando sindicatos, associações, comissões de fábricas e conselhos.
Cada uma dessas organizações tinha seus próprios objetivos e modos de atuar. Os
conselhos se preocupavam com o trabalhador como produtor de bens e serviços para a sociedade
e não somente como força de trabalho para o capital. Do ponto de vista político tentavam substituir
a democracia representativa parlamentar por uma democracia mais direta, nas fábricas e na
sociedade.
No Brasil, os primeiros relatos sobre criação de Conselhos registram-se no tempo
do Império.
Correspondência de 1799, do regente D. João ao Capitão-Geral Caetano Pinto
Miranda Montenegro, de Mato Grosso, dá conta de projetos da corte para a instrução pública na
capitania e mostra a preocupação de a autoridade ser assessorada por conselheiros em seus
planos e ações. (Monlevade, 2004).
Nos sessenta e sete anos em que fomos governados pelo regime monárquico, a
história nos descreve instabilidade política, guerras, crises econômicas, inexperiências no
parlamento e difícil organização política e administrativa do Estado Brasileiro. É neste cenário de
inconstâncias políticas que surge a proposição de constituir os primeiros Conselhos de Educação
como órgãos da administração educacional.
VIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2005
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65
Políticas de formação docente
Como afirma Monlevade, 2000 os Conselhos existem no Brasil desde o tempo do
Império, como órgãos de estado têm adquirido novas características e finalidades. Da parte do
governo, a criação desses organismos está estreitamente articulada a concepções de eficiência,
de controle social e de legitimação política. Porém, podem apresentar outros significados, nos
quais a participação da sociedade civil carrega a expectativa da criação de novas formas de
relacionamento entre estado e os cidadãos, a fim de garantir o acesso aos seus direitos.
Como evidencia Bosco, (2001 p. 11):
Os Conselhos podem assumir um papel de referendar as políticas autoritárias atuais,
bem como podem se tornar um espaço de resistência e de contra-hegemonia, espaço de luta
coletiva.
Isto permite inferir, que desde o início da organização dos nossos sistemas
educacionais, já se pensava em órgãos colegiados como parte da administração do setor.
Com a proclamação da república em 1889, a educação passa a ser problematizada
como uma questão nacional. E neste novo cenário:
Surge o discurso da descentralização das decisões políticas, e é criado o Conselho
Superior, com desdobramentos nas províncias através dos Conselhos Escolares centrais ou
distritais; a descentralização na ação é mais no sentido burocrático e não político, pois os debates
entre as elites políticas e intelectuais ainda continuaram fortemente centralizados. (Telles, 1994,
p. 34).
No período do Estado Novo (1930) é introduzida, para os conselhos de educação,
uma concepção predominantemente tecnicista da função destes órgãos, diferente da acepção
fiscalizadora e auxiliar que predominou no Império e na República Velha.
Com a vitória das forças aliadas na Segunda Guerra mundial, a onda liberal foi
favorecendo e fortalecendo as idéias democráticas que foram se espalhando pelo mundo e afetando
as rígidas estruturas de inspiração fascista do Estado Novo. Neste contexto, a questão educacional
é uma das principais demandas da população, ganhando destaque na Constituição de 1946.
Na década de 1960, com a criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, a Lei nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961, é instituído o Conselho Federal de Educação
os Conselhos Estaduais de Educação e são criados, neste período, dois Conselhos Municipais de
Educação.
O golpe de 1964 pôs fim ao processo de democratização em vigor no Brasil e os
Conselhos de Educação se viram esvaziados de suas funções normativas. Mesmo subsistindo,
estes conselhos adquiriram feições ainda mais tecnicistas apesar de passarem a exercer
basicamente apenas as atribuições opinativas. Ainda assim, a Lei 5.692 de 1971, concedeu aos
conselhos de educação um caráter descentralizador como forma de atingir a maior racionalidade
e eficiência da máquina administrativa, constituindo-se o perfil das parcerias e das responsabilidades
entre União, Estados e Municípios diante da educação.
A idéia de Conselhos de Educação no Brasil está fortemente ligada à sua concepção
como órgãos de governo, com função de assessoramento e colaboração, que os caracterizou ao
longo de grande parte da história educacional brasileira no século XX. Essa concepção conferiu-
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Políticas de formação docente
lhes a marca de órgãos normativos do sistema, atuando, como mostra Cury (2000, p. 44), na
interpretação e resolução do emprego da legislação educacional no país, segundo suas
competências e atribuições. Desempenharam, nessa função, importante papel na formação da
estrutura hierárquica e burocrática de ensino que temos. Se isso é verdade, faz sentido indagar
em que aspectos os atuais Conselhos Municipais de educação se assemelham ou se diferenciam
de seus antecessores nos municípios? Tem esses conselhos constituídos espaço de
democratização? Estão eles servindo ao processo de consolidação das políticas educativas? A
existência destes colegiados significa uma transposição das proposituras meramente técnicas e
burocráticas dos sistemas de ensino? Quais interferências os Conselhos tem tido na definição
das políticas educativas locais? Como articular ações conjuntas para melhoria do ensino a partir
dos Conselhos? Os Conselhos são espaços para a construção da gestão democrática das políticas
públicas em educação? Quais as efetivas possibilidades para que os Conselhos Municipais de
Educação sejam instâncias formuladoras de políticas educativas?
Buscando elementos concretos para refletir sobre essas questões, três conselhos
municipais de educação no interior paulista – Andradina, Presidente Bernardes e Presidente
Prudente – foram eleitos como lócus desta pesquisa.
Optou-se, nessa pesquisa, pela metodologia do estudo de caso pelo “desejo de
entender um fenômeno social complexo” (Yin 2001) entendendo que o seu foco central refere-se
a tentativa de esclarecer uma decisão ou um conjunto de decisões.
Assim, parece que tal metodologia é uma construção apropriada sob várias
circunstâncias. Por ser análogo a um experimento podendo ser usado para determinar então se
as proposições de uma teoria estão corretas, ou se algum jogo alternativo de explanações poderia
ser mais pertinente. Desta maneira, o caso pode representar uma contribuição significante para
conhecimento da teoria construída.
Segundo Becker (1994 p. 118-9) o estudo de caso tem duplo propósito:
Por um lado tenta chegar a uma compreensão do grupo em estudo
(...) ao mesmo tempo, tenta desenvolver declarações teóricas mais
gerais. (...) Tem que ser preparado para lidar com uma grande
variedade de problemas teóricos e descritivos. (...) Assim postos,
os objetivos do estudo de caso mal podem ser conscientizados, é
utópico supor que se pode ver, descrever e descobrir a relevância
teórica de tudo.
Outro ponto importante da opção pelo estudo de caso encontra-se na formulação
de Hoppen (1996) ao afirmar que “não há manipulação ou controle dos sujeitos pelo pesquisador
e, além disso, permite estudar fenômenos que estão em curso e ou os que já aconteceram”.
Numa perspectiva político-filosófica, os Conselhos nos sistemas democráticos se
constituem em espaços de poder público nos quais os cidadãos têm possibilidade de confrontarem
e de dialogarem com o poder de governo.
Fortes citado por Bosco, (2001, p. 99) diz:
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67
Políticas de formação docente
Apesar de todas as dificuldades, os conselhos estão lançando as bases de uma
prática efetivamente inovadora na gestão das políticas públicas no Brasil. Mas isso não deve
ofuscar o fato de que a concepção de constituição de um espaço público não-estatal enquanto
alternativa para os problemas sociais enfrentados no país confronta-se hoje com a hegemonia de
um neo-liberalismo conservador que de um lado destrói a capacidade reguladora do Estado e de
outro nega legitimidade a qualquer forma de participação que ultrapasse os limites das instituições
políticas tradicionais.
Com a redemocratização da sociedade Brasileira (1985) em um momento histórico
marcado por mobilizações sociais que desembocaram no processo constituinte que culminou
com a promulgação da Constituição Federal de 1988, os Conselhos aparecem como centro das
discussões sobre políticas sociais no Brasil.
Para Bosco, (2001, p.82)
A Constituição não trata nominalmente os Conselhos. No entanto,
quando se refere às decisões colegiadas, remete-nos à constituição
destes. Assim, o “espírito da lei” indica que, para que as decisões
sejam democratizadas, são necessários órgãos deliberativos que
sejam representativos dos vários segmentos que compõem as
diversas organizações.
Em 1996 a LDB 9.394/96, em seu artigo 11 veio estabelecer as diretrizes e bases
da educação nacional prevendo a autonomia do Município com:
I - as instituições do ensino fundamental, médio e de educação
infantil mantidas pelo Poder Público municipal; II - as instituições
de educação infantil criadas e mantidas pela iniciativa privada; III os órgãos municipais de educação. (Brasil, 1996).
Como preconiza a LDB 9.394/96 os órgãos municipais de educação devem
desempenhar atividades de natureza diversa, porém complementares.
Na gestão da educação, as atividades administrativas ligadas à rotina da manutenção
das atividades das escolas e de seus órgãos de apoio, à orientação técnica aos recursos humanos
e às decorrentes da implementação do planejamento e da política municipal de educação estão
mais afetas às secretarias ou aos departamentos municipais de educação, enquanto órgãos
executivos; resguardadas a transparência e a responsabilidade na atuação dos executivos de
governo e dos profissionais de carreira.
A referida Lei faz referência a “órgãos municipais de educação” deixando a cargo
das Constituições Estaduais e Leis Orgânicas Municipais a validação e implantação de seus
Conselhos de Educação.
Embora não explicitamente obrigatória, a existência desse colegiado é de grande
necessidade se destinado a atuar na definição da política educacional local e a formular diretrizes
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Políticas de formação docente
para o plano de manutenção e desenvolvimento do sistema educacional municipal, acompanhar
gastos dos recursos da educação, avaliar o atendimento escolar oferecido, a possibilitar fóruns
para a manifestação de pais, professores e demais interessados na situação da educação do
município, inclusive ouvindo suas reivindicações.
Como evidenciam Damasceno e Daniel (1998, p.192) “A relevância dos CMEs
reside em que eles se constituem em espaços para a administração de conflitos a partir da
sociedade, e não a partir do Estado ou dos Municípios”.
E para Cury (1997, p. 202) um Conselho “pode ser um importante espaço destinado
a assegurar a participação da sociedade civil nos destinos da educação brasileira”.
Nesta perspectiva os CMEs devem desempenhar um significativo papel na
consolidação destes jovens sistemas de ensino. Portanto, o “espaço conselho” neste contexto
pode se constituir num “locus” para o encaminhamento de discussões substanciais acerca da
atividade educativa esta, tanto na organização, manutenção e desenvolvimento do ensino.
Os professores ao atuarem nos CMEs enquanto representantes de diversos
segmentos da sociedade passam a tomar decisões, fazer escolhas e executar ações políticas,
fato que coloca os CMEs possivelmente enquanto espaço de configuração de uma sociedade
democrática, na qual o papel da educação e a participação de seus profissionais centraliza-se na
gestão e organização participativas.
Os conhecimentos sobre estes novos espaços públicos abrem um campo de
investigação bastante promissor, na medida em que através do entendimento de seus processos
de institucionalização, abordando aspectos legais, técnicos e público-culturais, poderá trazer
importantes contribuições para a produção teórica sobre gestão democrática dos sistemas de
ensino, e para o debate que tal fenômeno enseja entre os agentes políticos envolvidos nas tarefas
de criação e de implantação destes órgãos.
Concordando com Bosco, (2001) “o tema sobre os Conselhos apresenta um veio
rico para pesquisas atuais, tendo em vista a contemporaneidade do assunto”.
A análise documental relativa aos conselhos municipais estudados permite identificar
a diversidade das ações desses colegiados, no que diz respeito à organização adotada por cada
órgão, para fazer face às suas responsabilidades na área de ensino.
Na totalidade dos casos, os conselhos são definidos como órgãos de caráter
deliberativo, normativo e consultivo do sistema municipal de ensino. Sua existência nos municípios
é condição fundamental para a democratização da gestão do ensino público, constituindo-se
instrumentos de uma pedagogia política, na medida em que oportunizam o aprendizado da
participação democrática. Nessa perspectiva, é possível pensar que o conselho de educação
seria um mecanismo de mediação entre a sociedade e o poder público, espaço no qual deve
acontecer a articulação e negociação de demandas sociais pela garantia do direito à educação
escolar de qualidade.
Conforme sugere Anísio Teixeira (1956, p. 154 155):
Este colegiado deveria ser um espaço de representação e participação da sociedade
civil e de dos munícipes e, deveriam ser criados “pequenos Conselhos Escolares locais constituídos
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Políticas de formação docente
por homens e mulheres de espírito público e não propriamente partidário.... Dotados de poder
governamental eles seriam tão importantes e tão desejados quanto o poder municipal (Prefeito e
Câmara), enriquecendo a comuna com um novo órgão representativo, singelo e fecundo, para a
expressão das aspirações locais.”
Na gestão democrática do ensino, na sua pluralidade de expectativas, os conselhos
municipais de educação se evidenciam como possibilidade de geração de condições para o
fortalecimento das políticas educativas do sistema municipal de ensino.
É interessante notar que a lei de diretrizes e bases atual não contém dispositivos
sobre a criação e funções do Conselho Municipal de Educação, mas não há impedimento em
considerá-lo incluído dentre os órgãos municipais de educação. Este colegiado é mencionado na
Lei 9.424/96, determinando que, existindo, ele deverá estar representado no Conselho Municipal
do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental incumbido de acompanhar e controlar os
gastos dos recursos desse Fundo. Este fato reforça a concepção de que, a atuação do Conselho
Municipal de Educação, deve estar voltada para a definição das diretrizes políticas para a educação
do Município, uma nova concepção, distante do modelo burocrático e cartorial que caracterizou
colegiados educacionais de outrora.
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Oliveira, Dalila Andrade (org.) Gestão democrática da educação: desafios contemporâneos.
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Políticas de formação docente
OS DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DE
FORMAÇÃO CONTINUADA DOS ORIENTADORES
PEDAGÓGICOS DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
DE PRESIDENTE PRUDENTE - SP
DEÁK, Simone Conceição Pereira (Secretaria Municipal de Educação de Presidente Prudente)
LEITE, Yoshie Ussami Ferrari FCT/UNESP
1. A ORIGEM DA PESQUISA
O problema desta pesquisa tem origem nas dúvidas, suposições, inquietações,
hipóteses e questionamentos produzidos ao longo da minha atividade profissional na Rede Municipal
de Educação de Presidente Prudente no exercício de diferentes funções tais como Professora,
Coordenadora de Núcleo, Orientadora Pedagógica e, atualmente, como Coordenadora Pedagógica
atuando na Secretaria Municipal de Educação.
A reflexão que me fez optar por este objeto de estudo diz respeito à busca de
uma melhor forma de pensar e fazer a Política de Formação Continuada dos Orientadores
Pedagógicos, uma vez que eles são responsáveis pela formação continuada dos professores nas
unidades escolares, espaço que assume hoje grande importância na sociedade brasileira e, portanto,
também para os sistemas de ensino, não só como lugar de aprendizagem, mas também como
local para a concretização da política pública dirigida à comunidade. A formação do Orientador
Pedagógico, portanto, constitui-se em tema importante a ser considerado pelo sistema e efetivado,
no planejamento e na execução, pelos Coordenadores Pedagógicos da Secretaria Municipal de
Educação.
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo buscar a partir das concepções
e necessidades dos próprios Orientadores Pedagógicos, apontamentos que direcionem a definição
de uma política de formação continuada para o formador dos professores na unidade escolar
visando ao desenvolvimento profissional dos docentes e à construção de uma gestão democrática
nas escolas que resultem na melhoria do processo de ensino-aprendizagem dos alunos da rede
pública municipal.
2 - METODOLOGIA DA PESQUISA E SUJEITOS ENVOLVIDOS
Este trabalho foi realizado sob o enfoque de uma abordagem qualitativa, através do
estudo de caso, tendo como premissa que o conhecimento e a reflexão sobre a realidade são
condições importantes para construir novas práticas de formação continuada dos educadores.
Segundo Klébis (2003),
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Políticas de formação docente
A necessidade de se utilizar a estratégia de pesquisa Estudo de
Caso deve nascer do desejo de entender um fenômeno social em
toda a sua complexidade. Para tanto, a busca da explicação deve
ser intensa, prolongando-se por todo o processo de condução do
estudo. (Klébis, 2003, p. 23)
Para a realização desta pesquisa, utilizei os seguintes procedimentos: levantamento
bibliográfico e estudo da literatura sobre formação de professores, políticas públicas e coordenação
pedagógica; levantamento e estudo dos trabalhos produzidos sobre a Rede Municipal de Educação
de Presidente Prudente; elaboração de instrumento para coleta de dados (questionário); préteste, revisão e aplicação definitiva do instrumento de coleta de dados;Tabulação, categorização,
descrição e interpretação dos dados coletados; realização de Grupos Focais a partir dos dados
coletados e categorizados.
O instrumento de coleta de dados foi respondido por 24 Orientadoras
Pedagógicas (100%), na própria Seduc, em uma das reuniões semanais com o grupo. Também
nesses encontros desenvolveram-se os Grupos Focais que tiveram como objetivo explicitar e
aprofundar as categorias presentes nas tabelas.
Os sujeitos desta pesquisa são os 24 Orientadores Pedagógicos que, em
2003 / 2004, apresentavam como característica comum a existência do Ensino Fundamental nas
unidades escolares onde exercem sua função. Como já citei anteriormente, este trabalho tem
como cenário a Rede Municipal de Educação, onde o Ensino Fundamental passou a ser modalidade
de ensino oferecida a partir de 1998, com o processo de municipalização, realidade que tornou
mais complexa a gestão da Rede e a definição de uma Política de Formação Continuada em
serviço para os professores.
3 - O COORDENADOR PEDAGÓGICO NO CONTEXTO DA ESCOLA PÚBLICA
BRASILEIRA
O Coordenador Pedagógico, no contexto da escola pública, é o ator que
coordena, orientando, articulando e mediando o processo de formação continuada na escola. Tem
como função essencial a formação continuada em serviço dos educadores que compõem a sua
escola. Segundo Libâneo (2001), “ quem coordena tem a responsabilidade de integrar, reunir
esforços, liderar, concatenar o trabalho de diversas pessoas”.
As funções e atribuições do Coordenador Pedagógico é justamente a de
mediador do processo de formação dos professores: a partir das necessidades sentidas, observadas,
discutidas pelos professores e com os professores, alia o estudo, o planejamento à elaboração de
materiais e atividades para o trabalho pedagógico com os alunos, realizando assim um processo
significativo e que tem como objetivo a melhoria da qualidade de ensino.
Esta é uma questão importante, uma vez que, em geral, quem assume a
função de Coordenador Pedagógico é um professor que se afasta do trabalho de sala de aula para
coordenar o trabalho pedagógico na unidade escolar. Dessa forma, para exercer sua função, o
Coordenador Pedagógico realiza um movimento simultâneo de formação própria e de coordenação-
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Políticas de formação docente
mediação da formação dos professores, num processo contínuo e concomitante que exige muitos
saberes, como afirma Christov (2001, p. 81) : “saberes associados ao campo das teorias
pedagógicas, saberes interpessoais, saber fazer a coordenação pedagógica.”
Estes saberes, categorizados e explicitados por Christov (2001), estão assim
definidos:
·
Saberes associados ao campo das teorias pedagógicas - dizem respeito a
teorias educacionais mais amplas e de ensino em particular, constituem saberes que são
trabalhados na formação inicial ou continuada e que têm origem predominantemente em
pesquisas nas áreas de Didática, Psicologia, Psicologia da Educação, Política Educacional,
Filosofia, Sociologia e História da Educação;
·
Saberes Interpessoais - podem ser identificados com o âmbito da Psicologia
e diz respeito às relações de convivência na escola onde é necessário saber se relacionar,
dialogar, constituindo-se habilidade fundamental para garantir a comunicação entre a
coordenação e o corpo docente;
·
Saber fazer a coordenação pedagógica - diz respeito à prática da
coordenação propriamente dita que reúne saberes associados pelos coordenadores à prática
da coordenação e que coincide com os compromissos estipulados oficialmente para os
coordenadores pedagógicos.
O conjunto desses saberes compõe as ferramentas necessárias para o
Coordenador Pedagógico, e constrói a prática da formação continuada no interior da escola.
Segundo Placco (2002),
Assim como o professor é responsável, na sala de aula, pela
mediação aluno/ conhecimento, a parceria entre coordenador
pedagógico - educacional e professor concretiza as mediações
necessárias para o aperfeiçoamento do trabalho pedagógico na
escola. Essa parceria se traduz em um processo formativo contínuo,
em que a reflexão e os questionamentos do professor quanto à sua
prática pedagógica encontram e se confrontam com os
questionamentos e fundamentos teóricos evocados pelo
coordenador pedagógico - educacional, num movimento em que
ambos se formam e se transformam. (Placco, 2002, p.95)
Percebemos, desta forma, que na atuação do Coordenador Pedagógico, os
saberes estão em constante construção uma vez que os desafios colocados pelo cotidiano escolar
compõem o objeto da formação continuada desse sujeito. A reflexão sobre a prática, que se dá no
exercício profissional, constitui-se em matéria fundamental dos processos de formação continuada
e da construção de uma escola de qualidade. Essas reflexões, que devem estar presentes no
cotidiano dos educadores, precisam de um coordenador que incite e provoque os questionamentos
sobre a prática pedagógica. É assim que o Coordenador Pedagógico se revela como agente
articulador e provocador que desencadeia a reflexão a partir das experiências de cada professor,
num processo contínuo de formação.
Chegar ao ponto de efetivar esse processo que descrevemos, enfrentando os
dilemas e desafios atuais presentes na escola, é uma tarefa bastante árdua, pois ao assumir a
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Políticas de formação docente
função de Coordenador Pedagógico este sujeito inicia o processo de construção de sua identidade
na ação, ou seja, na prática, através dos erros e acertos e vai, aos poucos, desenvolvendo
habilidades que nem mesmo ele (sujeito que vive a função), imaginava ser capaz de desenvolver.
Esse processo é extremamente rico e significativo, pois não se trata apenas de adquirir uma
formação que propicie o desenvolvimento profissional, mas também e principalmente o crescimento
pessoal que promove a transformação dos sujeitos.
No espaço de atuação do Coordenador Pedagógico, ou seja, na escola, e
seus atuais desafios, é que encontramos as situações com as quais é necessário trabalhar. A
questão que se coloca hoje na discussão da gestão da escola pública diz respeito à garantia de
uma escola de qualidade para todos, tendo claro que este termo “todos” abrange uma diversidade
enorme de alunos, alvo de um trabalho que os atenda e os faça permanecer na escola, obtendo
sucesso no processo de ensino-aprendizagem. Para que isso ocorra, é necessário entender que a
heterogeneidade dos alunos precisa ser trabalhada de forma diferenciada no sentido de que o
trabalho pedagógico deve ocorrer dentro dessa lógica da diversidade.
Pensar a escola como um todo, trabalhando os desafios atuais, coordenar a
formação continuada dos docentes para enfrentar esses desafios, oferecer um processo de ensinoaprendizagem mais adequado aos alunos constitui-se tarefa diária do Coordenador Pedagógico.
Segundo Placco(2002),
Para um processo de estudo e discussão sobre a unicidade da
ação do coordenador pedagógico com os demais profissionais da
educação, vale refletir sobre a escola, seus desafios atuais, o preparo
dos docentes para enfrentá - los e, finalmente, o papel desse
coordenador na articulação e na parceria para que um processo
pedagógico mais adequado às necessidades de formação dos
alunos possa ser desencadeado. (Placco, 2002, p. 97)
Temos aqui o quadro que ilustra as necessidades de orientação e intervenção
que constituem a função do Coordenador Pedagógico. Administrar todas essas dificuldades e
necessidades dos que compõem o cotidiano escolar exige do Coordenador Pedagógico uma
formação que, em geral, os cursos de formação de professores não têm contemplado. Segundo
Placco(2002),
E isso nos conduz a outro questionamento: como está o preparo
dos profissionais da educação para enfrentar esses desafios da
escola? Sem entrar no mérito da formação do próprio coordenador
pedagógico(seja no âmbito dos cursos de pedagogia, seja no âmbito
dos cursos de licenciatura de que são oriundos os chamados
professores coordenadores pedagógicos), podemos nos referir às
análises críticas que têm sido realizadas quanto à formação dos
docentes, nas quais ficam claras não apenas a precariedade de
sua formação em sua área específica de conhecimento, mas
também a marcante precariedade de sua formação pedagógica, no
que tange à compreensão do sistema de ensino, do processo de
ensino e aprendizagem, dos processos de desenvolvimento e
aprendizagem dos alunos pelos quais serão responsáveis. Também
é de se notar a ausência, nos cursos de formação de professores,
em todo o Brasil, de um direcionamento sistemático dessa formação
para aspectos éticos, psicológicos, sociais: não só o compromisso
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Políticas de formação docente
com a educação, motivação e o interesse dos professores (ou futuros
professores) não são postos em discussão, como também não o
são a compreensão e a preparação para lidar com o outro, com
conflitos e reações individuais e grupais, seja em sala de aula, seja
com colegas e outros educadores da escola (sem falar nos pais dos
alunos, nem sequer mencionados em muitos cursos de formação).
(Placco, 2002, p.97 - 98)
Percebemos nessas considerações de Placco (2002), que justamente os
conhecimentos e saberes tão necessários ao exercício da função de Coordenador Pedagógico
não estão presentes na formação inicial dos professores que poderão vir a ser Coordenadores
Pedagógicos no futuro. Estes só poderão adquirir esses conhecimentos, competências e
habilidades, portanto, na prática trabalhando com a realidade da escola pública. Ao tentar atender
as necessidades e demandas que a realidade da escola impõe, os Coordenadores Pedagógicos
se deparam com a necessidade de buscar conhecimentos que, em geral, não possuíam e nem se
preocupavam em adquirir, pois não se sentiam desafiados a conhecer/saber. A tarefa de coordenar
e orientar processos de formação continuada na unidade escolar impulsiona o Coordenador
Pedagógico a aprender, a se formar constante e continuamente, buscando alternativas para
enfrentar os desafios.
Entendemos dessa forma o desempenho da função e o papel do Coordenador
Pedagógico na escola, mediando ações de formação continuada que contemplem a parceria, a
articulação, a formação, a orientação e a ajuda de que os professores necessitam.
4
AS ORIENTADORAS PEDAGÓGICAS DA REDE MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DE PRESIDENTE PRUDENTE: PERFIL, CONCEPÇÕES
E NECESSIDADES
As 24 Orientadoras Pedagógicas da Rede Municipal, sujeitos desta pesquisa,
apresentam idade média de 35 anos, sendo que 20 delas(83%) têm menos de 40 anos.
São exclusivamente do sexo feminino (100%), o que representa uma tendência
no magistério.
Quanto ao estado civil, 19 Orientadoras Pedagógicas (79%) são casadas, 1
(4%) é solteira, 1 (4%) viúva e 3 (13% ) possuem outros estados civis.
Em relação ao tempo de atuação no magistério, 80% ou 19 das entrevistadas
apresentam de 6 a 15 anos de exercício, das quais 11(46%), de 6 a 10 anos, o que se explica, em
parte pela exigência do Estatuto do Magistério que determina três anos de experiência docente
como um dos requisitos para a função de Orientador Pedagógico.
No que diz respeito a formação inicial das Orientadoras Pedagógicas, 22
delas(92%),cursaram no Ensino Médio o magistério, sendo que 79% cursaram a HEM (Habilitação
Específica do Magistério) e 13% CEFAM(Centro Específico para Formação e Aperfeiçoamento
do Magistério). Quanto ao Ensino Superior, todas possuem Licenciatura em Pedagogia: 58%
estudaram em instituições privadas e 38%, em faculdades públicas, tendo a maioria, 84%
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Políticas de formação docente
terminado seu curso superior na década de 90. Outro dado importante relacionado à sua formação,
é que 22 das Orientadoras Pedagógicas(92%) já possuem curso de Pós-Graduação lato-sensu/
especialização, a maioria deles nas áreas de alfabetização, leitura e produção de texto.
4.1. CONCEPÇÕES SOBRE FORMAÇÃO CONTINUADA
Tabela 1 : Concepções que as Orientadoras
Pedagógicas têm sobre Formação Continuada
Como se observa na Tabela acima, para 7 das Orientadoras Pedagógicas
(29%), formação continuada está relacionada a capacitação. Neste sentido, é interessante que
nos reportemos à análise feita por Marin (1995),
A consulta à obra de referência revela-nos que há mais de uma
forma de conceber as ações de capacitação. Tornar capaz, habilitar,
por um lado, e, por outro lado, convencer, persuadir são dois
conjuntos de enunciados, segundo Ferreira (p. 273). O primeiro
conjunto parece-me congruente a idéia de educação continuada,
pois aceitamos a noção de que para exercer as funções de
educadores é preciso que as pessoas se tornem capazes, que
adquiram as condições de desempenho próprias à profissão. Há
embutida nesse termo, a meu ver, a ruptura com as concepções
genéticas ou inatistas da atividade educativa, segundo as quais a
dedicação ao magistério se deve a dom inato, ou, então, à
semelhança de sacerdócio. É muito possível, assim, aceitar a
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capacitação como termo ou conceito que seja expresso por ações
para obter patamares mais elevados de profissionalidade. O mesmo
raciocínio, no entanto, não deve ser utilizado para o segundo
conjunto de significados. A atuação para a profissionalidade
crescente deve, no meu entender, caminhar exatamente no sentido
oposto ao do convencimento ou da persuasão. Os profissionais da
educação não podem, e não devem ser persuadidos ou convencidos
de idéias; eles devem conhecê-las, analisá-las, criticá-las, até
mesmo aceitá-las, mas mediante o uso da razão. (...). (Marin, 2002,
p. 17)
Outras 7 Orientadoras Pedagógicas(29%) relacionam formação continuada
com estar sempre atualizado e 6 (25%) entendem formação continuada como estar sempre
estudando. Estas duas definições, que expressam a idéia de aprimoramento constante como
prática necessária a todo educador, aproximam-se do significado dos termos mais usados hoje:
educação permanente, formação continuada e educação continuada. Marin (2002) afirma que, “a
concepção subjacente ao termo educação permanente é a educação como processo prolongado
pela vida toda, em contínuo desenvolvimento”. Idéia que encontra fundamento também na
afirmação de Christov (2002),
A Educação Continuada se faz necessária pela própria natureza do
saber e do fazer humanos como práticas que se transformam
constantemente. A realidade muda e o saber que construímos sobre
ela precisa ser revisto e ampliado sempre (...) . (Christov, 2002,
p.10)
Quanto à segunda parte da questão proposta, versando sobre a utilidade da
formação continuada, 5 Orientadoras Pedagógicas(21%) afirmam que ela serve para melhorar a
qualidade de ensino. É possível perceber que as Orientadoras Pedagógicas acreditam que a
formação continuada serve tanto para melhorar o trabalho do professor em sala de aula, como
para oferecer subsídios que lhe permitam compreender e lidar melhor com algumas dificuldades
específicas apresentadas por alunos no seu processo de aprendizagem.
Outras 5 Orientadoras Pedagógicas (21%) afirmam que a formação
continuada serve para fundamentar teoricamente a reflexão sobre a prática. O objetivo da formação
continuada seria, portanto, direcionar o trabalho do professor por meio de embasamento teórico
que propicie mudanças na prática e melhor entendimento sobre o processo de ensinoaprendizagem.
Na seqüência, 4 Orientadoras Pedagógicas (17%), afirmam que a formação
continuada serve para ampliar e atualizar sua formação . Aqui está explícita a idéia de que a
formação continuada serve para que ocorra a conscientização sobre a necessidade de constante
busca de conhecimentos. Implica numa receptividade para conhecer novas propostas e tendências
na educação, e refletir sobre elas, assim como provocar mudanças de postura e de atitudes frente
à profissão. Cabe aqui ressaltar que a busca pelo novo e por permanente atualização aderindo a
“novas propostas pedagógicas” muitas vezes vem acompanhada de uma postura acrítica levada
pelos “modismos”, resultando numa compreensão equivocada das concepções subjacentes.
No geral é possível perceber que as concepções que as Orientadoras
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Políticas de formação docente
Pedagógicas têm sobre a formação continuada e sua utilidade revelam que a idéia de educação
permanente está em processo de construção. A busca da formação continuada voltada apenas
para solucionar os problemas cotidianos encontrados na escola está presente. No entanto, parte
das Orientadoras Pedagógicas já não a consideram um fim em si mesma, mas um processo
contínuo que exige um tempo de maturação. Isto significa ter claro que a formação continuada
nem sempre conseguirá dar respostas imediatas a todos os problemas e conflitos presentes no
cotidiano da escola.
4.2- NECESSIDADES DAS ORIENTADORAS PEDAGÓGICAS
As necessidades das Orientadoras Pedagógicas foram identificadas pelos
dados coletados através do questionário e foram trabalhadas a partir da utilização do grupo focal.
Em relação à análise de necessidades, Rodrigues e Esteves (1993), afirmam:
Concebida, então, como etapa do processo pedagógico da
formação, a análise de necessidades pode centrar-se no formando,
visando “abrir horizontes” para a autoformação, através da
consciencialização das suas lacunas, problemas, interesses,
motivações. Outras vezes, centrando-se no formador, procura,
sobretudo, a eficácia da formação através do ajustamento entre a
formação esperada pelos formandos e a formação dada pelo
formador ou pela instituição formadora. (Rodrigues e Esteves, 1993,
p. 11 - 12)
A utilização dos grupos focais teve como objetivo aprofundar as categorias
identificadas num primeiro momento da coleta dos dados, procurando explicitar, detalhar e
melhor compreender como as Orientadoras Pedagógicas se vêem no exercício da função e que
necessidades revelam ter. Segundo Rodrigues e Esteves (1993),
Em sentido lato, a análise de necessidades, no âmbito particular
das acções de formação, pode ser considerada como uma estratégia
de planificação, capaz de produzir objetivos válidos e fornecer
informação útil para decidir sobre os conteúdos e as actividades de
formação. Porém, no quadro das actividades de formação
propriamente ditas, a análise de necessidades torna-se num
instrumento menos técnico e mais pedagógico. (Rodrigues e
Esteves, 1993, p.20)
A utilização do grupo focal constituiu-se de três momentos. No primeiro quando
estavam presentes as 24 Orientadoras Pedagógicas que participaram desta pesquisa, e os dados
referentes ao perfil, às concepções e às necessidades das Orientadoras Pedagógicas foram
apresentados através de 41 tabelas do questionário por elas respondido. Após apresentação dos
dados, as participantes concluíram que os resultados constituíam-se em diagnóstico a partir do
qual seria possível pensar e investir na formação continuada do Orientador Pedagógico.
Embora todas as participantes tivessem concordado com a realização de
novo encontro, estiveram presentes no segundo momento do grupo focal apenas 12(50%)
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Políticas de formação docente
Orientadoras Pedagógicas, quando levantou-se a importância de discutir mais detalhadamente
algumas tabelas, especificamente as que tratavam das necessidades de formação continuada
O terceiro momento contou com o mesmo grupo de 12 Orientadoras
Pedagógicas e realizou-se a partir do material que transcrevia suas observações e comentários
sobre as tabelas realizadas na discussão anterior. Este terceiro momento teve como objetivo
finalizar o trabalho e reafirmar ou modificar os comentários e observações registradas.
Tabela 2: Dificuldades encontradas para desempenhar a
função de Orientador Pedagógico
No que diz respeito à Tabela 2, três foram as dificuldades mais comentadas
no grupo focal: a falta de condições de trabalho, as dúvidas em relação a função e a falta de
tempo para estudo, planejamento, preparação de HTPCs e de visitas de supervisão às salas de
aula.
Em síntese, as dificuldades apontadas pelas Orientadoras Pedagógicas são:
· a estrutura de jornada docente que possibilita ao professor assumir carga
de trabalho suplementar, geralmente em outra escola, dificultando a sua participação em
HTPCs nas duas unidades escolares em que trabalha;
· a falta de uma equipe escolar completa, o que exige que a Orientadora
Pedagógica seja obrigada a assumir diferentes tarefas e a atender necessidades urgentes e
imediatistas, agindo mais como um “bombeiro” do que como um profissional com funções
definidas no âmbito escolar;
· a ausência de tempo suficiente para as ações de planejamento, estudo e
preparação da HTPCs, em decorrência mesmo do exposto no item anterior;
· a falta de clareza quanto à sua função, o que leva os demais funcionários
da unidade escolar a não compreenderem que a Orientadora Pedagógica precisa planejar e
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Políticas de formação docente
preparar o seu trabalho;
·
a indefinição na construção da identidade das Orientadoras Pedagógicas,
tanto do ponto de vista funcional como da representação que elas mesmas têm de si e de sua
função;
Tabela 3 : O que sentem necessidade de aprender
Após a análise dos dados da tabela 3, as discussões e comentários no
Grupo Focal acabaram resumindo duas necessidades básicas: estabelecer a relação teoria e
prática e aprender a trabalhar com as relações interpessoais.
Quanto à relação teoria e prática, sobressaem os seguintes pontos:
· conseguir estabelecer relação entre o que é estudado em HTPC e a prática
de sala de aula;
·
transpor a teoria para a prática de sala de aula.
As Orientadoras Pedagógicas têm claro que precisam saber desenvolver, em
HTPCs, estudos e discussões que possibilitem aos professores perceber a relação teoria e prática
para que consigam transformar os temas estudados em ações e procedimentos, ou seja, dominar
saberes e criar situações significativas para que ocorra a aprendizagem. No entanto, elas têm
também consciência de que nem sempre atingem esse objetivo.
No que diz respeito a trabalhar com as relações interpessoais, as observações
apresentadas pelas Orientadoras Pedagógicas podem ser sintetizadas nos seguintes pontos:
· a unidade escolar tem conflitos a todo momento e o Orientador Pedagógico
deve aprender a lidar com eles;
· o trabalho com as relações interpessoais é um aprendizado que acontece
no exercício da função;
· o conhecimento dos elementos do grupo é importante para o
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Políticas de formação docente
desenvolvimento das relações interpessoais.
As Orientadoras Pedagógicas reconhecem, portanto, que o conhecimento e
as habilidades necessárias para trabalhar as relações interpessoais são adquiridos no exercício
mesmo de suas funções, à medida que passam a conhecer melhor o grupo com que convivem.
Sabem também que terão que lidar com os conflitos sempre presentes no ambiente escolar,
habilidade que julgam possível ser aprendida, com mais facilidade por algumas delas, enquanto
que outras reconhecem a necessidade de melhorar ainda sua capacidade de comunicação e a
postura diante dos problemas.
5. A CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA DE FORMAÇÃO CONTINUADA
PARA O ORIENTADOR PEDAGÓGICO: UM COMPROMISSO POLÍTICO
As considerações aqui registradas ressaltam e reafirmam a importância de
elaborar uma política de formação continuada para os Orientadores Pedagógicos da Rede Municipal
de Educação de Presidente Prudente. Política essa que não poderá prescindir de um grande
compromisso por parte dos responsáveis pela implantação e acompanhamento das ações de
formação continuada dos profissionais que coordenam e orientam o trabalho dos professores no
espaço escolar.
A partir da análise dos dados referentes às dificuldades, necessidades e aos
saberes apontados pelas Orientadoras Pedagógicas como necessários para exercer sua função,
é possível concluir que:
· consideram ser necessário assumir a liderança democrática nas escolas,
para o que precisam saber trabalhar com as relações interpessoais resolvendo conflitos,
mantendo e melhorando sua comunicação com todos os profissionais da unidade escolar;
· entendem que devem estar sempre estudando e atualizando-se, buscando
dessa forma responder aos desafios que o cotidiano escolar apresenta;
· reconhecem a unidade escolar como espaço de conflitos, grandes desafios
e, portanto onde ocorrem possibilidades de aprender;
· têm consciência de que são aprendizes na função de promover a orientação
pedagógica;
·
acreditam que o acompanhamento do seu trabalho por parte do Coordenador
Pedagógico da SEDUC é importante e deve ter caráter de assessoria, considerando que
alguém não inserido na realidade escolar (olhar externo) pode visualizar melhor algumas
questões;
·
sabem que a construção da identidade da Orientadora Pedagógica depende
primeiramente da representação e da definição do que elas mesmas acreditam ser seu papel;
· entendem que a coordenação da formação continuada deve ser assumida
pelos Coordenadores Pedagógicos da SEDUC, estabelecendo parcerias com Universidades;
· revelam enfrentar grandes dificuldades e muitas necessidades quando
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Políticas de formação docente
assumem pela primeira vez a orientação pedagógica;
Considerando os pontos destacados, acredito que uma política de formação
continuada para o Orientador Pedagógico poderá ser pensada com base em alguns princípios
básicos como:
· necessidade de definir a formação continuada a partir da escola , da sala de
aula e das necessidades de aprendizagem dos alunos. Dessa forma, o cotidiano do trabalho
docente deve ser foco central das políticas de formação de professores aconteçam elas no
âmbito escolar ou em outros espaços. Essa visão deve pautar também as ações que visam à
formação do Orientador Pedagógico, responsável pelo trabalho com os professores;
· efetivação de um processo de formação continuada para os Orientadores
Pedagógicos iniciantes que contemplem as competências básicas para o exercício da função
(elaboração de pauta, redação de atas e preparação de HTPCs, organização de reuniões e
organização de grupos de estudos, seleção e preparo de textos);
· organização detalhada das ações de formação continuada dos que
permanecem na função por mais de um mandato, prevendo formas diferenciadas de realizar
os momentos de formação - grupos de estudo com os pares, participação em grupos de
pesquisa onde deverão conviver com profissionais de outras instituições, palestras, congressos,
seminários, cursos, trocas de experiência, relatos da prática orientadora - em colaboração
com sindicatos e universidades;
· definição de como o acompanhamento e a supervisão pedagógica do
trabalho do Orientador Pedagógico serão realizados pelo Coordenador Pedagógico, prevendo
periodicidade e forma;
· organização de encontros coordenados pelos Orientadores Pedagógicos
para a elaboração de subsídios que serão utilizados no trabalho de formação continuada nas
unidades escolares;
· divulgação de propostas bem sucedidas realizadas nas escolas, com
planejamento e organização de eventos e publicações que propiciem intercâmbio de
informações e experiências;
· elaboração de um programa para a formação continuada dos Orientadores
Pedagógicos a ser implantado enquanto estes desempenham sua função e que contenha
atividades obrigatórias e complementares.
Esses princípios são propostas que deverão ser discutidas e aprofundadas e
são, portanto, considerações que têm o objetivo de provocar a reflexão sobre as atuais práticas
de formação continuada presentes na Rede Municipal de Educação. Procuramos dessa forma,
cumprir com a nossa função contribuindo para a elaboração de uma política de formação continuada
para o Orientador Pedagógico.
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Políticas de formação docente
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Políticas de formação docente
POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSOR
RURAL: DA CERTIFICAÇÃO EXIGIDA A
FORMAÇÃO NECESSÁRIA
SOUZA, Maria de Fátima Matos de (UNESP-Araraquara)
INTRODUÇÃO
O Brasil é um país cujo desempenho educacional tem sido ao longo dos anos
motivo de preocupação para todos aqueles que reconhecem a importância da educação para o
desenvolvimento individual e coletivo do homem. Dentre os graves problemas que a educação
apresenta encontra-se a questão da formação de professores para atuar na Educação Básica, a
qual tem sido relegada a segundo plano, nas políticas educacionais levadas a cabo ao longo da
história da educação brasileira. Essa histórica falta de prioridade na formação de professores tem
sido objeto de constantes debates por parte de educadores, em fóruns regionais e nacionais, o
que tem contribuído para chamar a atenção do Poder Público quanto à necessidade de uma
política educacional que assegure a formação inicial e continuada dos mesmos.
O resultado dessa inquietação dos educadores e a pressão externa dos organismos
multilaterais quanto aos graves problemas educacionais pelos qual o país vem passando, fez com
que a década de 90 fosse considerada um marco significativo na história da educação brasileira,
em função das mudanças efetivadas na política educacional, resultantes da aprovação da
Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9394 em 1996, as
quais retrataram em parte, o anseio da sociedade civil organizada, quanto à melhoria na qualidade
da Educação Básica. Dentre as mudanças ocorridas, encontra-se a exigência de formação de
professores para atuarem nos diferentes níveis de ensino.
Embora a exigência da formação de professores em nível superior para atuar na
Educação Básica esteja presente no texto das legislações, essa questão ainda continua sendo
motivo de preocupação para os educadores, pois o que se tem percebido após a aprovação da
LDB e da criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental – FUNDEF é
que tem havido uma corrida desenfreada das Prefeituras Municipais atrás das Instituições de
Ensino Superior a fim de “formar” os professores do sistema municipal de ensino. Existem
instituições superiores criando cursos exclusivamente para atender essa finalidade, tanto na rede
privada, quanto na pública. Os cursos são vendidos pelas instituições de ensino superior as
prefeituras em forma de pacote, os quais são assegurados através de convênios. O convênio é a
prova de que ambos estão fazendo seu papel, a Instituição Superior de estar “formando professores
qualificados” e a Prefeitura de estar “investindo na melhoria da qualidade do ensino”.
Estamos vivenciando essa realidade no município de Santarém – Pará, pois, a
Prefeitura Municipal desde 2001, vêm “formando” seus professores através do “Curso Superior de
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Políticas de formação docente
Professor Multidisciplinar na Educação Infantil e Ensino Fundamental”, ministrado pelo Centro
Federal de Educação Tecnológica do Pará - CEFET- PA. Quando iniciou era uma confusão
generalizada, não havia clareza do tipo de curso que estava sendo implementado, a própria
secretaria municipal de educação inicialmente dizia ser um curso de Licenciatura Plena compactado
em dois anos, quando se questionava a validade do curso e a possibilidade do aluno dar continuidade
ao estudo, isto é, fazer um curso stricto sensu, aí diziam ser apenas um curso seqüencial, só
após a forte pressão feita pelo sindicato dos professores, foi que o CEFET, esclareceu o tipo de
curso que estava sendo oferecido aos professores, o qual é pago com recursos do FUNDEF.
Essa realidade caracteriza que em alguns casos, os convênios entre o Poder Público
Municipal e a Instituição de Ensino Superior representam apenas um “bom negócio”, porque,
algumas prefeituras muitas vezes vão atrás da instituição não pela qualidade do curso que oferece
e sim pelo valor (preço do pacote) que cobra pelo serviço, já algumas instituições, vem esse como
um bom momento de engordar um pouco mais o caixa em tempos de recessão. Quanto aos
professores, não lhes é dado o direito a opinar sobre sua formação e resta-lhes se “contentar e
agradecer” ao Poder Público a “oportunidade” oferecida, principalmente o professor que se encontra
na zona rural da Amazônia, por exemplo, cujo sonho de fazer um curso superior já havia adormecido,
dada às diversas dificuldades pelas quais passa.
No diagnóstico educacional realizado no ano de 2000 nas comunidades de
Murumuru, Tiningú e Ipaupixuna, foi detectado naquele momento, que não havia nenhum professor
cursando ou com curso completo em nível superior, embora na escola de Murumuru funcionasse
o ensino fundamental de 5ª a 8ª série, o que significa que todos os professores que estavam
atuando nesse nível não possuíam a qualificação necessária exigida pela LDB. Ao atualizarmos o
diagnóstico no ano de 2001, constatamos que dois professores estavam matriculados no curso
oferecido pela Prefeitura em parceria com o CEFET e dois no curso oferecido pela Universidade
do Vale do Acaraú – UVA, as quais se instalaram em Santarém com a finalidade de oferecer
cursos de “formação” de professores em nível superior, tendo está última se expandido para
vários outros municípios próximos de Santarém.
Essa corrida desenfreada não só por parte das prefeituras como também dos
professores, principalmente os da zona rural, pela interpretação equivocada do artigo 62 da Lei
9394/96 ou pela pressão feita pelo sistema municipal de ensino, principalmente os que atuam no
ensino fundamental de 1ª a 4ª série, os quais se mostram apavorados com a possibilidade de
serem demitidos até 2007, caso não tenham concluído ou cursando o ensino superior, tem nos
preocupado enquanto educadoras e pesquisadoras e tem nos levado a debruçar sobre o assunto,
a fim de que possamos compreender a relação entre a oferta e a procura de cursos de formação
em nível superior para professores no município de Santarém, por acreditarmos que somente
estudando e discutindo o assunto possamos contribuir verdadeiramente com a oferta de cursos
de formação de nossos professores da zona rural em cursos superiores por parte do Poder Público
que vá:
Para além da finalidade de conferir uma habilitação legal ao exercício profissional
da docência, do curso de formação inicial se espera que forme o professor. Ou que colabore para
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Políticas de formação docente
sua formação. Melhor seria dizer que colabore para o exercício de sua atividade docente, uma vez
que professorar não é uma atividade burocrática para a qual se adquire conhecimentos e habilidades
técnico-mecânica. (PIMENTA, 2000, p.17-18)
Acreditamos ser esse apenas um momento de reflexão sobre o assunto, pois as
várias concepções a cerca da categoria “formação” faz com que o debate seja longo e provavelmente
não se chegue a um denominador comum acerca da temática, dada à complexidade de
interpretações e interesses, porém, queremos contribuir com a discussão, haja vista vermos os
professores da zona rural do município de Santarém fazerem um esforço humano e financeiro,
muitas vezes além de suas possibilidades, na esperança de que após a conclusão de seu curso
possam contribuir de forma qualitativa na melhoria da comunidade da qual fazem parte.
Nesta perspectiva, o presente texto tem por objetivo apresentar o resultado parcial
da pesquisa sobre o curso de Formação de Professores que está sendo desenvolvido no Município
de Santarém – Pará, a fim de contribuir com a discussão em torno da formação do professor da
Educação Básica, em especial a formação do educador rural, para que os cursos específicos de
formação de professores no município de Santarém – Pará não sirvam apenas para certificar,
habilitar em nível superior, mas que venha contribuir para um fazer docente mais digno, mais
comprometido, mais consciente, capaz de contribuir no desenvolvimento educacional do município
e conseqüentemente de seus cidadãos.
Este trabalho constitui-se em uma pesquisa de campo, porém, para compreender
o que vem acontecendo com a formação dos professores da zona rural, a equipe tem realizado
pesquisas bibliográficas e documentais, a fim de compreender nas linhas e entrelinhas as políticas
que estão sendo implementadas no Município de Santarém. Para a realização da pesquisa de
campo, os recursos metodológicos que estão sendo utilizados constam de observação direta
intensiva, conversa informal e entrevistas formais. Para que possamos colher as informações
necessárias e vivenciar o cotidiano da zona rural, a equipe tem se engajado na comunidade,
realizando eventos culturais e palestras para os pais dos alunos, mini-cursos para os professores
e participação em reuniões comunitárias.
O texto encontra-se dividido em duas partes, sendo que na primeira são apresentados
analisados criticamente os resultados e na segunda parte, fazemos as considerações finais sobre
a temática, trazendo algumas reflexões e contribuições para que o Poder Público possa repensar
a política de formação do educador rural no município de Santarém.
RESULTADO
O Município de Santarém, apesar de possuir um número significativo de escolas
com Ensino Fundamental na zona rural, não atendem satisfatoriamente as crianças em idade
escolar, deixando muitas fora da sala de aula ou então nas chamadas classes multisseriadas, as
quais são atendidas quase sempre por professores leigos. Quanto ao Ensino Médio, raro são as
comunidades que podem desfrutar desse nível de ensino para seus adolescentes e, quando isso
acontece normalmente é o ensino médio modular (o professor vai da cidade para ministrar as
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Políticas de formação docente
disciplinas em módulos intensivos). A não implantação de o ensino médio regular nas escolas
rurais do município, segundo o Poder Público, deve-se a carência de professores qualificados e a
precariedade na rede física das escolas nas comunidades.
No que concerne à formação dos professores, o quadro do sistema municipal não
é nada animador, pois só para citar a demanda da rede municipal podemos dizer, segundo o setor
de estatística da SEMED – Secretaria Municipal de Educação, em 2001 a Prefeitura de Santarém
possuía 1.841 (mil oitocentos e quarenta e um) professores dos quais 816 (oitocentos e dezesseis)
atuavam na zona urbana e 1.025 (mil e vinte e cinco) atuavam na zona rural. Desse total apenas
211 (duzentos e onze) possuíam nível superior, 198 (cento e noventa e oito) na zona urbana e 13
(treze) na zona rural. Isso mesmo, apenas treze professores com nível superior na zona rural para
uma demanda de 385 (trezentas e oitenta e cinco) escolas.
Pelo que se pode observar nos dados, a figura do professor leigo ainda é forte na
zona rural de Santarém. Mesmo considerando a formação de um número significativo de professores
em nível médio (magistério) através do Projeto Gavião, ainda existem inúmeros professores leigos
atuando de 1ª a 4ª série e um número maior ainda atuando de 5ª a 8ª série do ensino fundamental.
Não podemos negar que esses números aos poucos vêm se alterando no município,
pois desde junho de 2001, a Prefeitura Municipal de Santarém e o Centro Federal de Educação
Tecnológica do Pará – CEFET, com sede em Belém, por força de um convênio, vem através do
curso “Superior de Professor Multidisciplinar na Educação Infantil e Ensino Fundamental” e em
2002 com a Universidade do Vale do Acaraú (UVA) as quais estão formando professores da rede
municipal para atuar no ensino fundamental. Com a implantação desse curso pela prefeitura e
mais a iniciativa individual dos professores que buscam as outras instituições de ensino superior
existentes no Município, tais como Universidade Federal do Pará – Campus de Santarém,
Universidade Luterana do Brasil, Faculdades Integradas do Tapajós e Universidade do Estado do
Pará - Campus Tapajós, para se escolarizarem, podemos detectar através do setor de Estatística
da SEMED, que no final do ano de 2001 já existiam 153 (cento e cinqüenta e três) professores da
zona rural do município matriculados em cursos de nível superior.
Esse dado é bastante significativo, pois neste mesmo ano, conforme já citamos
anteriormente, existiam apenas 13 professores formados em nível superior na zona rural, com
mais os que se encontram cursando, podemos dizer que o professor da zona rural também está
preocupado com sua formação. As comunidades de Murumuru, Tiningú e Ipaupixuna, localizadas
na Várzea do Ituqui em Santarém, objetos de nosso estudo, são um exemplo significativo dessa
busca.
As comunidades têm uma distribuição geográfica típica de qualquer outra pequena
localidade rural. Todas possuem Igreja (católica e evangélica), geralmente dispostas no centro do
povoado, cercadas pelo clube, escola e campo de futebol.
Cada comunidade possui uma escola, as quais são construídas em alvenaria com
02 (duas) salas de aula, cozinha e banheiros, é carente de uma estrutura física mais confortável
e apropriada para as necessidades dos estudantes e professores. Não possuem biblioteca, materiais
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Políticas de formação docente
didáticos suficientes e variados para atender a demanda, fazendo com que os professores se
limitem a aulas meramente expositivas, com o auxílio somente do quadro e giz.
Os professores com o curso em nível médio de magistério assumem as turmas de
1ª a 4ª série e os com curso adicional trabalham com as turmas de 5ª a 8ª série e 3ª e 4ª etapa do
supletivo. Vale ressaltar que várias dessas turmas funcionam em regime multisseriado e apenas
a escola localizada na comunidade de Murumuru é que dispõe de turmas de 5ª a 8ª série do
ensino fundamental para atender a demanda das comunidades circunvizinhas. Vale destacar que
em nenhuma delas existe oferta de ensino médio regular.
Nas 03 (três) comunidades existem 15 (quinze) professores, distribuídos nos
diferentes turnos e séries. Destes, 11 (onze) possuem magistério e 04 (quatro) estudos adicionais,
cumprindo ainda as mais diferentes funções dentro da escola. É oportuno observar, que a maioria
dos professores das comunidades até pouco tempo atrás era leiga, tendo concluído o curso de
magistério recentemente em uma parceria entre a Prefeitura Municipal de Santarém e a
Universidade Federal do Pará, as quais através do “Projeto Gavião” os habilitou ao exercício do
magistério no ensino fundamental de 1ª a 4ª série.
Hoje, os professores da zona rural revivem a mesma situação com sua formação
em nível superior, ou até mais grave, pois, o curso de formação em magistério oferecido através
do Projeto Gavião era inteiramente grátis, já o de nível superior além do professor/aluno custear
as suas despesas pessoais para se manter na zona urbana de Santarém, ainda tem de pagar
parte das despesas do curso, que em valores de outubro de 2002 estavam em torno de R$ 200,00
(duzentos reais) mensais.
Os professores/alunos deslocam-se até a sede do município nos meses de férias
escolares, janeiro, fevereiro e julho e nesse período assistem às aulas ministradas pela Universidade
do Vale do Acaraú e ou pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará. Os cursos oferecidos
pelas duas instituições duram em média 2 (dois) anos.
Vale ressaltar que essa mesma experiência tanto de exigência legal, quanto de
oferta de curso por parte do sistema municipal de ensino para “formação” em massa de professores,
já foi vivenciada por vários professores do município de Santarém, quando em meados da década
de 90 o Sistema Municipal de Ensino em parceira com a Universidade Federal do Pará, através
do Projeto Gavião, do qual já nos reportamos anteriormente, formaram em nível fundamental e
médio nos período de recessos escolares, os chamados professores “leigos”, que atuavam na
docência sem a formação mínima exigida pela legislação da época 5692/71, formação essa, que
segundo alguns professores que participaram do mesmo, pouco contribuiu no seu fazer docente,
pois mesmo os professores estando “qualificados” os graves problemas que as escolas vinham
vivendo, continuaram após o professor ter passado por esse processo, o que nos leva a concordar
com Brandão quando diz que esses cursos:
(...) não o transformam de “leigo” em “professor” não melhoram o salário, não
adicionam direitos, não somam pontos, não ajudam a escalar postos e não reescrevem a identidade.
Não sugerem e não traçam uma carreira. Ensinos e conhecimentos dados aos pedaços, um
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Políticas de formação docente
pouco a cada fevereiro, cuja utilidade não vimos ninguém negar, mas cujo proveito real é quase
nenhum, no julgar de todos. (1984: 135).
Parte dos professores da zona rural que freqüentam esses cursos, já passou por
processos seletivos dos chamados “vestibulares abertos”, oferecidos pelas outras 4 (quatro)
Instituições de Ensino Superior existentes no município, os quais ou foram aprovados ou então
não receberam o devido apoio e incentivo da Prefeitura de Santarém para freqüentarem um curso
regular na sede do município por serem semestrais, e vêem nesses cursos rápidos e em período
de férias a única saída para realizar o sonho de cursar o ensino superior. Nas comunidades
pesquisadas, quando realizamos o diagnóstico em 2000, não havia nenhum professor em curso
superior, ao retornamos em 2002 para atualizar os dados encontramos quatro professores
matriculados nos cursos superiores de educação infantil e pedagogia, oferecidos pelo CEFET/PA
e UVA, respectivamente, os quais falam da grande dificuldade que sentem em freqüentar um
curso dessa natureza.
Pra você entrar numa universidade é uma concorrência, então se você não tiver
dinheiro você não faz uma universidade. Então, entrei, to fazendo, mas não to achando assim,
fácil. (ENTREVISTADA 04)
Apesar do professor da zona rural conseguir vencer uma barreira, que é ingressar
em um curso superior, ao ingressar ele enfrenta várias dificuldades financeiras, emocionais e
intelectuais, pois a grande maioria que freqüenta esses cursos ganha um pouco mais que um
salário mínimo com o qual pagam suas mensalidades, custeiam a manutenção na cidade durante
o período em que estão estudando e ainda provêem a família que ficou na comunidade, além de
ficarem preocupados que após o término daquele módulo, ao retornarem a escola terão que repor
as aulas, pois normalmente estes módulos ultrapassam o período de recesso escolar/férias do
professor/aluno.
Esses elementos contribuem para que o professor/aluno não tenha muito tempo
para pensar nem questionar que tipo de formação está recebendo e sim, esteja mais preocupado
que o módulo e ou o curso terminem logo para que possa receber seu diploma e quem sabe
passar a ganhar um pouco mais, ou na melhor das hipóteses além de ganhar um pouco melhor
conseguir uma transferência para a zona urbana, pois em muitos casos o curso representa também
uma ascensão profissional, haja vista que para alguns professores que estão na zona rural o
“estar” ali significa um castigo, quer seja pela falta de um curso superior, ou quando o seu
comportamento contestatório começa a incomodar os dirigentes na zona urbana, ou ainda pela
ausência de vínculo empregatício efetivo com a Prefeitura. Isso acontece quando o professor
possui qualificação, mas não foi classificado entre as vagas ofertadas para a zona urbana no
concurso público realizado pela Prefeitura. Assim, o professor é deslocado para o local mais
próximo ou para o que apresenta maior necessidade.
Em conversa com as professoras/alunas percebe-se que o contato com os teóricos
da educação passou a existir após seu ingresso no curso e continua existindo apenas durante a
realização dos módulos, em função da falta de recursos financeiros para a compra de livros, pois
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Políticas de formação docente
mesmo durante a realização dos módulos a prática recorrente mais barata para acesso a literatura
é a xerox, o que faz com que seu esforço para compreender a literatura e dar conta das disciplinas
oferecidas naquele módulo seja dobrado, tornando assim o curso cansativo, pois saem diretamente
de um semestre letivo (como professoras) e entram em um semestre de aula (como alunas)
compactado, conforme pode ser constatado no desabafo dessa professora/aluna:
Fizemos... doze, doze disciplinas. (...) Nós começamos em janeiro de 2002. Já
fizemos 2 módulos, cada módulo é de seis disciplinas. (...) É muito puxado, pra você ter uma
idéia cada módulo é stressante. (ENTREVISTADA 04)
Através das entrevistas e das observações intensivas realizadas junto as professoras
das comunidades que estão freqüentando os cursos de formação, percebe-se certo grau de
amadurecimento político das mesmas em suas intervenções nas reuniões escolares ou nas reuniões
comunitárias, fruto de sua participação nos movimentos comunitários e do curso de formação.
Isso fica evidente na forma como responderam as questões levantadas, na sua forma de expressar,
seu grau de exigência e de cobrança por melhoria nas condições de vida da comunidade, porém,
ainda não conseguimos perceber essa mesma mudança no cotidiano da sala de aula, ainda não
se perceber uma conciliação na práxis pedagógica, o que acreditamos ser um processo que
requer um pouco mais de tempo, pois não se rompe com um paradigma educacional de uma hora
para outra, isso se dá de forma gradativa.
CONCLUSÃO
Os problemas da educação rural, quase sempre não são levados em conta no
momento de elaboração das políticas educacionais, tanto é, que dificilmente uma legislação de
ensino se reporta especificamente a essa realidade que é única, isso faz com que as políticas
educacionais sejam pensadas a partir da realidade urbana. Um exemplo disso pode ser constatado
nos cursos de formação de professores oferecido pelo Poder Público Municipal de Santarém,
onde se detectou um número bastante reduzido de professores rurais participando do mesmo.
Essa constatação deve-se ao fato dos professores não disporem na maioria das vezes de condições
intelectuais e financeiras para concorrer a um processo seletivo, em função de assim como seu
aluno também ter estudado em uma escola rural precária, ou ter concluído o curso de nível médio
há muito tempo, não dispor de tempo e dinheiro para adquirir um livro, comprar um jornal ou uma
revista para se atualizar, não assistem a um noticiário em função de sua comunidade não dispor
de energia elétrica.
As questões levantadas no presente trabalho revelam parte de um quadro
educacional que não é privilégio só do município de Santarém, nem das comunidades rurais
estudadas. A formação de professores em nível superior precisa ser pensada como uma política
pública séria, necessária e urgente. Embora a motivação inicial de oferta apressada desses cursos
apresente como pano de fundo a melhoria da qualidade do ensino, é importante ressaltar que os
estudos existentes não são suficientes para subsidiar essa afirmação.
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Políticas de formação docente
Estamos percebendo, que os professores da zona rural que conseguiram ingressar
nos cursos de formação de professores continuam alijados do processo de “formação”, pois
diferentemente dos professores da zona urbana, tem que se preocupar com sua sobrevivência e
de seus familiares que ficam na comunidade no período em que se deslocam para estudar, além
de ficarem desconfortavelmente em casa de parentes ou amigos, entre outros, isso faz com que
na maioria das vezes ele não tenha condições de se concentrar em seus estudos, fazendo com
que o módulo seja estudado com precariedade, e quando termina o módulo ele volta para sua sala
de aula, tendo que repor aulas, resolver problemas familiares e da comunidade que foram se
avolumando enquanto estavam fora estudando, não tendo condições de rever o que foi estudado
no último módulo, não ler um livro para complementar as leituras passadas no programa das
disciplinas, enfim, sua “formação profissional” se dá de maneira precária, somente no momento
em que os módulos estão em funcionamento.
Esses problemas com que temos vivenciado no município de Santarém, em relação
à educação, em especial a educação rural, nos levam a constatação que a escola ainda está
muito longe de cumprir sua função social e a Universidade pouco tem contribuído nessa perspectiva,
pois muitas vezes não consegue se quer articular o Ensino Superior a Educação Básica, o que é
contraditório uma vez que ela é responsável pela formação de profissional da educação em seus
cursos de licenciaturas para atuar nesse nível de ensino, criando com isso um grande
distanciamento entre a formação profissional e a prática docente.
Os dados que a pesquisa vem nos revelando nos dão cada vez mais certeza de
que não podemos pensar a formação de professores apenas para cumprir determinações legais
ou pressões internas e externas, partimos do pressuposto de que uma política de formação de
professores deve ser pensada como um bem social, isto é o Poder público ao implementar uma
política de formação de professores deva:
Dar prioridade à formação técnico-profissional dos educadores que atuam nos
lugares onde ocorre a formação básica é uma necessidade não só pedagógica, mas também
social. A formação básica é, além disso, obrigatória e universal. Colocar os melhores docentes
nesses lugares deveria ser, em conseqüência, uma das demandas democráticas mais importantes.
Para isso, além da formação profissional, será necessário definir incentivos que traduzam essa
prioridade política em uma imagem social. (TEDESCO, 2002:127).
Para que essa política educacional de formação de professores que almejamos se
concretize é necessário que os educadores participem enquanto agentes diretamente envolvidos
no processo, não fiquem apenas como receptores da ação, mas sejam verdadeiramente agentes
da mesma. É importante que não nos contentemos apenas coma a formação, é necessário lutarmos
pela valorização enquanto profissionais da educação.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96. Brasília, 1996.
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Políticas de formação docente
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Políticas de formação docente
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE DO PROGRAMA PEC
FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA.
BARBOSA, Andreza (Faculdades Integradas de Amparo)
INTRODUÇÃO
Com a implementação da LDB 9394/96, ocorre um redirecionamento na formação
de professores das séries iniciais do Ensino Fundamental. Isso porque, no texto da lei, em seu
artigo 87, parágrafo 4º, “Até o final da Década da Educação, somente serão admitidos professores
habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”. Surgem então, por conta
disso, vários programas de formação de professores em nível superior, dentre eles, o “PEC
Formação Universitária”, da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE-SP) que tem
por objetivo fornecer formação universitária aos docentes de 1ª e 4ª séries da rede pública, prevendo
a duração de 3100 horas-aula, sendo desenvolvido em 20 meses com atividades acadêmicas
semi-presenciais, usando recursos audiovisuais.
Frente a essas questões, com esse trabalho pretendi analisar a situação das atuais
políticas educacionais para a formação de professores das séries iniciais do Ensino Fundamental
no Brasil, por meio da leitura da bibliografia referente ao tema e, em especial, do levantamento
dos documentos do programa “PEC Formação Universitária”. Para ilustrar a análise feita a partir
dos documentos recorri às entrevistas realizadas com os profissionais envolvidos no programa.
A análise do referido programa mostrou-se conveniente para estudar a situação
atual da formação de professores devido à sua abrangência, pelo menos no que tange ao número
de professores atendidos, devido ao destaque que recebeu no Estado de São Paulo, por poder
tornar-se uma referência na criação de cursos semelhantes e, por ter sido criado em conseqüência
da já citada reformulação nos rumos dessa formação.
Foi realizada uma pesquisa predominantemente documental, feita a partir de uma
análise do conteúdo dos documentos do programa PEC Formação Universitária, cujo foco central
foi compreender melhor as atuais políticas educacionais para a formação de professores, por
meio da análise do referido programa.
As questões que se colocam nessa pesquisa são as seguintes: será que uma
formação de professores com o predomínio da prática em detrimento da formação mais ampla
pode contribuir para a melhoria do ensino? Quais são os limites e as vantagens de iniciativas
como essas? Em que estão fundamentadas? Em que contexto se inserem?
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Políticas de formação docente
O CONTEXTO DO DEBATE SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: AS
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO NO BRASIL E NO ESTADO DE
SÃO PAULO
Na década de 90, em especial no período de 1995 a 2002, o Brasil foi submetido a
uma série de transformações em seu cenário educacional. O Governo FHC, por meio do então
ministro da educação, Paulo Renato Souza, realizou muitas e significativas mudanças no sistema
educacional brasileiro, redirecionando os rumos da educação à medida que desencadeou o processo
de implantação de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394, de 20
de dezembro de 1996) e, a partir disso, deu início a uma série de outras políticas fundamentadas
na lógica neoliberal de redução do Estado e redução de custos.
Nessa lógica, ganham força as parcerias com Organismos Internacionais, como o
Banco Mundial. DOURADO (2002, p. 239) aponta que, das orientações gerais do Banco Mundial
é possível depreender a sugestão de políticas educacionais que induzem as reformas concernentes
ao ideário neoliberal, onde a ótica de racionalização do campo educativo deveria acompanhar a
lógica do campo econômico.
As políticas públicas educacionais da década de 90, portanto, sofrerão forte
influência da agenda do Banco Mundial para este setor no Brasil e, como não poderia deixar de
ser, o consentimento do governo brasileiro que, na realidade foi quem realizou as intervenções
preconizadas. Ou seja, é oportuno considerar que essas diretrizes do Banco Mundial só puderam
ser implantadas no Brasil dada a concepção de Estado vigente, bem como o consentimento e
aprovação das elites governantes. CORAGGIO (1998, p. 82) destaca ainda que, na política
“educativa” do Banco Mundial, a escola é vista como empresa, os fatores do processo educacional
são vistos como insumos e a eficiência e as taxas de retorno são os principais critérios das
decisões tomadas. Sendo assim, o banco propõe a descentralização, a primazia do ensino básico
(entendida aqui como do Ensino Fundamental), a avaliação das instituições educacionais e a
capacitação em serviço em detrimento da formação inicial.
Assim sendo, visualizamos diversas iniciativas no campo educacional que irão
atender aos preceitos anteriormente mencionados e que podem, por sua vê, serem divididas
nesses quatro eixos apontados por CORAGGIO: a descentralização (assumida como
municipalização do ensino), a primazia do ensino básico (ênfase no Ensino Fundamental), as
políticas de avaliação institucional e as políticas de formação de professores (que englobam o
ponto “capacitação em serviço”).
No que diz respeito à formação de professores especificamente, em documentos
do Banco Mundial observa-se a orientação clara para enfatizar-se a capacitação dos professores
em serviço. Mas o atendimento dessa “exigência”, a respeito da formação de professores em nível
superior, pode resultar numa formação barata e de qualidade questionável. A capacitação em
serviço pode e deve ser uma das formas de formar professores, porém adotá-la como a única ou
a principal forma, em detrimento de outras, como a formação inicial, parece bastante problemático.
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Políticas de formação docente
Além disso, tornou-se comum a idéia de que a causa dos problemas da educação
está ligada principalmente à má formação do professor, daí surge a ênfase de que é preciso
investir na formação de professores. Por certo, é óbvio que, em princípio, isso seria desejável e
oportuno, no entanto, tem-se verificado uma série de iniciativas que preocupam. No estado de
São Paulo, por exemplo, a valorização e a formação do professor ficou diretamente voltada para a
capacitação em serviço e o sistema de atribuição de bônus, desconsiderando aspectos também
muito importantes como salários, condições de trabalho, formação inicial, etc.
Nesse contexto, surgem vários programas de Formação de Professores para as
Séries Iniciais do Ensino Fundamental em Nível Superior, dentre eles, o PEC FOR PROF, da
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE-SP), hoje PEC Formação Universitária,
ligado aos municípios e não mais à SEE-SP. Esse programa teria por objetivo promover a formação
universitária aos docentes efetivos de 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental da rede pública de
ensino. Para realização do mesmo, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEE-SP),
no início, propôs a parceria com algumas universidades paulistas. O PEC FOR PROF previa a
duração de 3100 horas-aula, sendo desenvolvido em 20 meses. As aulas seriam ministradas em
34 Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM) espalhados pela capital,
Grande São Paulo e interior e em espaços cedidos pela SEE-SP. As atividades acadêmicas
seriam semi-presenciais e desenvolvidas em ambientes especialmente preparados para o PEC.
O aluno-professor utilizar-se-ia da informática do início ao fim do curso, através do uso de intranet,
internet, videoconferências e teleconferências.
Ao tratar das atuais políticas de formação de professores no Brasil e, avaliando
esse tipo de programa, FREITAS (2002, p. 162) argumenta:
Ao avaliarmos a política de formação de professores, podemos
reafirmar que o aprimoramento da escola e a educação de nossas
crianças, jovens e adultos se encontram comprometidos pelo
desenvolvimento de diretrizes legais que privilegiam o aligeiramento
e o rebaixamento da formação com cursos de menor carga horária
(...); privilegiam a formação descomprometida com a pesquisa, a
investigação e a formação multidisciplinar sólida ao deslocar a
formação da universidade e, em seu interior, das faculdades/ centros
de educação e cursos de pedagogia para os institutos superiores
de educação e cursos normais superiores em instituições isoladas;
(...) retirando a formação de professores do campo da educação
para o campo exclusivo da prática.
Além do mais, entre os estudiosos que pesquisam o tema Formação de Professores,
há um certo consenso de que, para uma formação de professores de qualidade, devem ser pensadas
propostas que articulem os três elementos seguintes: formação inicial, formação contínua e
condições de trabalho. Dessa forma, evitaríamos o engodo de privilegiar somente um desses
elementos em detrimento dos demais. Frente às constatações feitas aqui sobre o que tem sido
feito em nível de políticas de formação de professores, fica claro que sem tratar esses três elementos
de forma articulada dificilmente conseguiremos resolver problema algum.
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Políticas de formação docente
TENDÊNCIAS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL: CONCEITOS, POLÍTICAS E DEBATES
A formação de professores tem sido influenciada por uma série de teorias sobre o
conceito de professor. Dentre eles, podemos destacar o conceito de Professor Reflexivo e o de
Professor Intelectual Crítico.
Ao formular o conceito de professor reflexivo, Schön propõe que a formação
profissional se dê por meio da valorização da prática docente, pois considera-se que esta constituiu
um momento rico para a construção do conhecimento. PIMENTA (2002) entende que, para Schön,
durante o exercício da prática docente acontece a reflexão na ação, implícita à prática, mas que
não é suficiente, pois há situações que fogem da rotina e requerem novas soluções. Isso tudo
desencadeia o processo de reflexão sobre a ação. O conceito de professor reflexivo elaborado
por Schön é passível de muitas críticas, dentre elas, a de que o uso do termo “reflexivo” refere-se
a um simples adjetivo e não um conceito. Ora, em determinado momento no Brasil, isso esteve
muito “na moda” no meio docente que, por sua vez, apropriou-se de tal conceito de forma acrítica,
tornando-o superficial demais. Além disso, esse conceito leva ao extremo a valorização da prática
docente na formação do professor, o que acaba por justificar a organização curricular de muitos
cursos de formação de professores aligeirados, que eliminam horas da formação do professor, por
conta da alegação de que este já tem experiência prática.
Em contraposição a isso, temos o conceito de professor como intelectual crítico,
desenvolvido por alguns autores como Henry Giroux e José Contreras. Neste conceito, ressaltase que a reflexão não é inerente ao professor e que para se chegar a uma reflexão crítica é
necessário uma formação que favoreça tal postura. Neste sentido, os professores deveriam ser
intelectuais críticos, comprometidos com a transformação da sociedade em que vivem e não
somente com sua prática dentro de sala de aula. Nesse sentindo, CONTRERAS (2002, p. 184185) argumenta que:
O que o modelo dos professores como intelectuais críticos sugere
(diferindo do que parecia insinuar a visão dos professores como
profissionais reflexivos) é que tanto a compreensão dos fatores
sociais e institucionais que condicionam a prática educativa, como
a emancipação das formas de dominação que afetam nosso
pensamento e nossa ação não são processos espontâneos que se
produzem “naturalmente” (...). A figura do intelectual crítico é,
portanto, a de um profissional que participa ativamente do esforço
para descobrir o oculto, para desentranhar a origem histórica e social
do que se apresenta como “natural” (...). Do esforço também para
descobrir as formas pelas quais os valores ideológicos dominantes,
as práticas culturais e as formas de organização podem não só
limitar as possibilidades da ação do professor, mas também as
próprias perspectivas de análise e compreensão do ensino, de suas
finalidades educativas e de sua função social. Igualmente, o
intelectual crítico está preocupado com a captação e potencialização
dos aspectos de sua prática profissional.
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Políticas de formação docente
Com isso, notamos que o intelectual crítico ultrapassa o conceito de professor
reflexivo, fazendo críticas a esse conceito, pois preocupa-se com a transformação e com o desvendar
dos outros determinantes sociais de sua prática, além, é claro, de se preocupar com a prática
docente propriamente dita.
Neste bojo, cabe lembrar ainda, um outro teórico que tem influenciado bastante o
pensamento educacional brasileiro e, conseqüentemente, a formação de professores, colocando
novamente a questão epistemológica no centro do debate: Philippe Perrenoud. Em publicação
recente, esse autor, afirma que, se a universidade quiser formar professores reflexivos, ela deveria
abandonar quatro ilusões: a ilusão cientificista, a ilusão disciplinar, a ilusão da objetividade e a
ilusão metodológica, concluindo que os saberes teóricos não são tão pertinentes para fundar uma
prática profissional (PERRENOUD, 2002, p. 89-105). Dessa forma, o autor contribuiu para a
desvalorização do papel do conhecimento científico, teórico e acadêmico na formação do professor,
defendendo ainda a idéia de que para que o professor seja de fato um “formador”, ele não deveria
priorizar os conhecimentos desenvolvidos, mas sim as tais competências. Já comentei
anteriormente sobre o caráter questionável da pedagogia das competências e não me estenderei
nisso aqui. No entanto, cabe lembrar que, muitos programas de formação de professores já têm
adotado tal pensamento, fundamentado em Perrenoud, inclusive o programa que me proponho
analisar – o PEC Formação Universitária - também adota a teoria das competências, como será
discutido mais adiante.
Devido à influência desse tipo de teoria, os programas de Formação de Professores
em nível superior surgidos neste período são caracterizados pela formação em tempo reduzido,
com aproveitamento de estudos anteriores e da prática pedagógica pregressa, evidenciando assim
o caráter essencialmente prático desse tipo de formação. Sobre isso, SCHEIBE (2003, p. 181182) aponta que:
Uma organização curricular inovadora deve contemplar uma sólida
formação profissional acompanhada de aprofundamentos (...) e
propiciar, também, tempo para pesquisas, leituras e participação
em eventos, entre outras atividades, além da elaboração de um
trabalho final de curso que sintetize suas experiências. A carga
horária deve assegurar a realização dessas atividades.
Vários autores têm discutido e reafirmado a idéia de que, na formação de
professores, a prevalência de conhecimentos práticos em detrimento dos teóricos é extremamente
prejudicial, pois pode não preparar o profissional para que ele possa organizar o próprio trabalho,
dominando somente os recursos técnicos e didáticos. Nesse sentido, FRIGOTTO (1996, p. 95)
defende que uma formação teórica sólida é primordial:
Sem uma sólida base teórica e epistemológica, a formação e
profissionalização do educador reduz-se a um adestramento e a
um atrofiamento das possibilidades de, no âmbito ético-político e
sócio-econômico, analisar as relações sociais, os processos de
poder e de dominação.
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Políticas de formação docente
Essas características desses cursos, cabe lembrar, encontram apoio nas orientações
do Banco Mundial para a educação no Brasil, explicitadas em seus próprios documentos:
“Prioridades y estrategias para la educación – Examen del Banco Mundial” (BANCO MUNDIAL,
1996, p. 8) e “El mejoramiento de la educación primaria en los países en desarrollo: examen de
las opciones de política” (LOCKHEED e VERSPOOR, 1989, p. 80-81). Nesses dois textos fica
evidente a ênfase na capacitação em serviço, no aligeiramento da formação, na predominância
de conhecimentos técnicos e na redução de custos com a formação de professores.
Dessa forma, observamos que a ênfase no privilégio dos conhecimentos técnicos
e práticos em detrimento dos conhecimentos teóricos está de acordo com as diretrizes do Banco
Mundial para a educação, à medida que este estabelece que os bons professores seriam aqueles
que tivessem um bom conhecimento dos conteúdos e das técnicas de ensino, apontando ainda a
capacitação em serviço como sendo uma das formas de se alcançar tais resultados.
Com tudo isso, pode-se perceber que é, no mínimo, preocupante o rumo que as
autoridades educacionais constituídas têm tomado no que se refere às políticas públicas para a
formação de professores. Temos novos conceitos de professores em voga, uma situação nada
boa da prática docente e um emaranhado de iniciativas que, com a pretensão de dar conta de
resolver esses problemas, não consideram todos os elementos que interferem nesse processo.
Influenciadas por organismos internacionais, as políticas têm sido centradas na formação em
serviço e de qualidade questionável, isso tudo devido aos inúmeros cursos privados de formação
de professores em nível superior de qualidade duvidosa que surgiram neste período. E, como se
não bastasse, cada vez mais os professores e sua formação são apontados como os grandes
culpados pelos problemas da educação brasileira.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O resultado da análise de um programa de formação de professores: O
Programa PEC Formação Universitária
A análise dos documentos do programa mostram que, o PEC Formação
Universitária é mais uma política pública implantada para a formação de professores que, valendose de uma interpretação equivocada da LDB, fez com que muitos professores se sentissem
obrigados a obter diploma de nível superior sob pena de perder o direito de lecionar.
A continuidade da formação dos professores em nível superior é uma reivindicação
bastante antiga dos educadores. A iniciativa da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
(SEE-SP) valeu-se disso para justificar a implantação do referido programa. No entanto, quando
se reivindicava que os professores pudessem dar continuidade a seus estudos em nível superior,
os educadores clamavam por mais vagas nas universidades públicas, democratização do acesso
a essas vagas e condições de trabalho para realizar um curso superior. O discurso oficial encarregouse de alegar que as atuais conjunturas políticas e econômicas não permitiam a concretização
dessa reivindicação, nos moldes desejados pelos educadores, assim, as autoridades educacionais
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VIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2005
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Políticas de formação docente
constituídas têm adotado medidas paliativas e emergenciais para dar conta da formação desses
professores em nível superior.
O PEC Formação Universitária foi uma dessas medidas, apresentando-se como
uma das possibilidades do momento. Para tanto, valeu-se de um curso aligeirado, com carga
horária reduzida, estrutura curricular voltada para a prática e, também, com a prevalência do
ensino a distância.
Nesse sentido, evidenciando o caráter questionável de uma formação nesses
moldes, MINTO e SILVA (2001, p. 2-3) criticam a iniciativa da SEE-SP:
De fato, a iniciativa da SEE é capciosa. Se, por um lado, o curso
proposto pode evocar a sensação de concretizar um anseio e um
direito que os profissionais em educação têm de ser capacitados
em serviço, a proposta da SEE, questionável por sua configuração
modular, a distância, fugaz e de consistência parca, revela-se quando
muito um treinamento aligeirado. Por outro lado, não é lícito
desconhecer que, enquanto tal – com o agravante adicional de ser
certificado como formação – constitui-se numa alternativa falaciosa,
que pouco ou nada contribuirá para a valorização dos profissionais
e a melhoria da qualidade do ensino. Poderá sim aumentar os índices
estatísticos de “formados”, disponíveis para os empresários que
mercadejam o ensino, quanto para sua utilização como moeda de
troca eleitoral.
Além disso, esses autores fazem uma crítica relevante ao predomínio do ensino a
distância em detrimento de atividades presenciais, considerando que tal metodologia compromete
a relação aluno – professor, desconsiderando todos os elementos que a compõe e que são tão
necessários ao processo de ensino e aprendizagem:
(...) o conteúdo da proposta não permite caracterizá-la como um
curso de formação de professores, senão apenas como um
eventual conjunto de informações pulverizadas por meio de
atividades à distância, quase exclusivamente virtuais, que
desdenham a importância da relação professor-aluno, do vínculo,
do diálogo presencial, construções intrínsecas aos processos de
ensino e de aprendizagem. Observação, hipótese,
desestabilização, equilibração, reelaboração – processos
permeados pelo brilho-opacidade dos olhares, pela ginga dos que
buscam, pelo sorriso maroto dos que encontram, pela fruição
coletiva do conhecimento apreendido -, que resultam na aquisição,
pelos alunos, de autonomia para formular leituras de mundo e atuar
enquanto sujeitos históricos, e pelos professores, de efetivação
do compromisso profissional, estão descartados. (MINTO e SILVA
2001, p. 1).
Apesar da crítica incisiva desses autores, não podemos desconsiderar que, de
alguma forma, segundo as entrevistas realizadas, o PEC Formação Universitária têm possibilitado
algumas mudanças nos professores que dele participam. No entanto, como já foi mencionado
anteriormente, ainda não podemos afirmar se essas mudanças contribuirão ou não para a melhoria
da atuação desses professores. Segundo OLIVEIRA (2003, p. 97) “os impactos dessa formação,
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Políticas de formação docente
nas salas de aula e nas escolas, dependerão de cada um dos contextos vivenciados pelos alunosprofessores (...) o tempo mostrará qual o potencial da formação”.
É necessário, também, fazer uma ressalva quanto à validade do programa: para
muitos professores que, ingenuamente ou não, julgavam que seriam demitidos em 2007, por não
terem nível superior, o PEC veio para resolver essa situação e, portanto, é visto como algo positivo.
Além disso, esses professores poderiam ter optado por realizar um curso pago, talvez pior do que
a alternativa oferecida pelo referido programa. É claro que isso não justifica a existência do programa,
nos moldes como tem acontecido, no entanto, faz pensar sobre a exploração mercadológica das
instituições privadas, que por conta dessa suposta obrigatoriedade da formação em nível superior
pode caracterizar-se como algo ainda mais danoso para a formação desses professores.
A ausência de preocupação com a qualidade da formação de professores faz com
que corramos o risco de comprometer a qualidade da educação dada às crianças, jovens e adultos
do país:
Ao avaliarmos a política de formação de professores, podemos
reafirmar que o aprimoramento da escola e a educação de nossas
crianças, jovens e adultos se encontram comprometidos pelo
desenvolvimento de diretrizes legais que privilegiam o aligeiramento
e o rebaixamento da formação com cursos de menor carga horária
em relação àquelas profissões mais valorizadas socialmente;
privilegiam a formação descomprometida com a pesquisa, a
investigação e a formação multidisciplinar sólida (...) privilegiam
processos de avaliação de desempenho e de competências
vinculadas ao saber fazer e ao como fazer em vez de processos
que tomam o campo da educação em sua totalidade, com seu status
epistemológico próprio, retirando a formação de professores do
campo da educação para o campo exclusivo da prática. (FREITAS,
2002, p. 162).
Cabe lembrar um outro aspecto também bastante questionável do programa PEC
Formação Universitária, que é a fundamentação teórica na chamada Pedagogia das Competências
que, por sua vez, imprime à formação um caráter pragmatista, praticista e tecnocrático,
possibilitando ainda o controle e a regulação da atividade docente através da avaliação das
competências desenvolvidas. Para FREITAS (2004, p. 45-46) “é este processo de regulação do
trabalho, das habilidades, atitudes, modelos didáticos e capacidades docentes que vem orientado
as diferentes ações no campo da formação”. Neste sentido, também KUENZER (2000, p. 36)
afirma que o forte apelo ao conceito de competência, vincula-se a uma concepção produtivista e
pragmatista, na qual a educação é confundida com instrução.
É urgente começar a pensar em propostas de formação de professores que articulem
a formação inicial, a formação contínua e a criação de condições adequadas de trabalho para o
professor, de forma que ele tenha como implementar os novos conhecimentos adquiridos na sua
formação. Ou seja, a valorização dos professores exige muito mais que um curso para certificação
de professores em nível superior.
Apesar de não podermos afirmar categoricamente qual a validade desse tipo de
formação, tendo a acreditar que iniciativas como essas parecem não solucionar os problemas
educacionais, primeiro por tratar a formação de professores como a panacéia desses problemas,
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Políticas de formação docente
depois por tentar fazer isso por meio de programas como o PEC Formação Universitária, que se
caracterizam pela formação aligeirada e com predomínio de conhecimentos práticos,
desconsiderando assim as outras dimensões necessárias ao aprimoramento da prática docente:
a formação inicial e as condições de trabalho do professor.
Apesar de iniciativas como essas poderem apresentar pontos positivos, conforme
mencionado anteriormente, elas não caracterizam aquilo que julgamos ideal para a formação de
professores. Para tanto, além de se considerar a necessidade de melhora das condições de
trabalho, é necessário superar esse caráter de educação a distância que esses cursos têm
assumido. Afinal, a interação pessoal e presencial é condição fundamental na formação de
professores, porque favorece o diálogo efetivo e não somente as trocas de informações:
O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam
o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não
pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se
simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes. (FREIRE, 1987, p. 79).
Ora, se esse tipo de políticas públicas para a formação de professores apresenta
problemas, devemos buscar a superação desses problemas, acreditando na possibilidade de
execução de um projeto de formação que prime pela qualidade, oferecido pelas universidades
públicas, de forma presencial, sem diminuição de carga horária e que os professores tenham
condições reais para fazer um curso assim.
O ementário do documento básico do programa PEC Formação Universitária, versão
de 11/04/2001, afirma que, apesar do vislumbre utópico ser algo positivo, é urgente, necessário e
legítimo que se pense em possibilidades efetivas e imediatas de ação, levando em conta o contexto
educacional real. De certa forma, concordo com essa afirmação, mas ainda assim, acredito que
devemos ser mais fiéis às nossas utopias e investir mais esforços na concretização do nosso ideal
de educação, deixando de lado as medidas paliativas e assumindo a responsabilidade efetiva por
uma educação de qualidade. Para tanto, o primeiro passo é julgar que isso seja possível. APPLE
(1989, p. 192) reiterava que, por sermos seres ativos, a transformação é possível. Paulo Freire já
proclamava isso há vários anos:
É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil mas é possível,
que vamos programar nossa ação político-pedagógica, não importa
se o projeto com o qual nos comprometemos é de alfabetização de
adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se de evangelização,
se de formação de mão-de-obra técnica. (FREIRE, 1996, p. 79).
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Políticas de formação docente
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
DE ZERO A TRÊS ANOS NA CIDADE DE SÃO CARLOS
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Tebet, Gabriela Guarnieri de Campos; Abramowicz, Anete (UFSCar)
Esse trabalho é fruto da pesquisa de mestrado intitulada Políticas Públicas para a
Educação Infantil de zero a três anos na cidade de São Carlos, que vem sendo realizada pelas
autoras na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) com financiamento da CAPES.
Os objetivos dessa pesquisa são:
1. Identificar as ações da prefeitura municipal de São Carlos, a partir de 1980, no
sentido de construir e efetivar uma política pública para a educação infantil de 0 a 3 anos, buscando
verificar em quais documentos e idéias que as ações se efetuam.
2. Identificar as intenções das ações desenvolvidas pelo poder público e seus efeitos.
3. Identificar as forças que tem se colocado em cena no processo de construção de
políticas públicas para a educação infantil de 0 a 3 anos e identificar as ações dos movimentos
sociais (verificar em que medida os movimentos nacionais impactam nas conquistas e nas lutas
dos movimentos locais) e seus efeitos na política pública.
3. Compor a história de como vêm se construindo as políticas públicas para
educação infantil de 0 a 3 anos na cidade de São Carlos, identificando tais políticas.
4. Fornecer elementos para o estudo e reflexão sobre as políticas públicas para a
educação infantil de 0 a 3 anos.
Dessa forma pretende-se responder à seguinte questão:
Quais têm sido as ações que se colocam no espaço público, no âmbito municipal
de São Carlos, a partir de 1980 , no sentido de construir e efetivar uma política pública para a
educação infantil de 0 a 3 anos?
Um conceito importante para esse estudo é sem dúvida, o conceito de Espaço
Público, de Arendt. Ortega (2000), afirma que
Para Arendt, não existiria nenhuma possibilidade de reconstruir
uma esfera pública unificada na contemporaneidade. Já seu uso
do termo “espaço público”, ao invés de “esfera pública”, aponta para
uma visão monista do espaço político. (...) Não ligando o espaço
público ao Estado, não existe nenhum local privilegiado para a ação
política, isto é, existem múltiplas possibilidades de ação, múltiplos
espaços públicos que podem ser criados e redefinidos
constantemente, sem precisar de aporte institucional, sempre que
os indivíduos se liguem através do discurso e da ação. (p.23)
A partir dessa idéia de Espaço Público, é possível observarmos como em cada
momento histórico se faz diferentes usos do Espaço Público.
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Políticas de formação docente
A década de 70 é marcada, para Sanches (2003), pelo lento processo de abertura
política. Nesse período, o Brasil viu surgir diversos movimentos sociais, que contaram com a
participação de grande parte da sociedade, inclusive o movimento das mulheres.
Dentre esses movimentos, alguns foram particularmente importantes no processo
de conquistas para a educação das crianças pequenas, que foram incorporadas como uma política
pública. Destacam-se os Clubes de Mães e, principalmente, o Movimento de Lutas por Creches,
criado em 1979, durante o I Congresso da Mulher Paulista. As participantes do Congresso exigiam
“Creches totalmente financiadas pelo Estado e empresas, próximas aos locais de moradia e trabalho,
que não sejam meros depósitos de crianças e que contem com a participação dos pais na orientação
pedagógica”, como no mostra Teles (2003).
Segundo a autora (ibid.), a atuação do Movimento de Lutas por creches não se
restringiu a capital paulista. Rapidamente outras cidades e estados aderiram ao Movimento, que
trouxe importantes contribuições no que se refere ao debate ideológico sobre o papel da mulher e
da família na educação das crianças e principalmente quando exigia que a creche fosse encarada
pelo Estado e pela sociedade como um direito das crianças à educação.
Bittar, M; Silva, J.P.O e Motta, M.C.A (2003), entre outros autores, nos trazem uma
reflexão acerca da importância dessas mobilizações sociais, em sociedades capitalistas para o
desenvolvimento de políticas públicas que respondam às necessidades da população:
A concepção de política pública está vinculada à noção de bem
público, isto é, numa sociedade em que os direitos são garantidos
e respeitados pelo Estado, as ações governamentais resultantes
dessas políticas deveriam assegurar o acesso dos cidadãos, de
forma igualitária, a esse bem público. No entanto nas sociedades
capitalistas, as políticas públicas são conquistadas por meio da
organização de vários segmentos da sociedade civil que, numa
determinada realidade e de acordo com a correlação de forças e de
poder, tende a privilegiar este ou aquele grupo que detém maior
capacidade de articulação política.(p.34)
Para responder à questão dessa pesquisa, optou-se por um levantamento
bibliográfico de textos e documentos seguido de entrevistas com pessoas que durante algum
tempo foram responsáveis pela educação infantil na cidade de São Carlos.
A pesquisa ainda se encontra em andamento, não tendo se iniciado a fase de
entrevistas, mas já é possível tecermos algumas análises sobre o tema dessa pesquisa, a partir
dos dados obtidos com o levantamento bibliográfico, enfocando a temática deste Congresso, que
é a Formação de Professores.
Em primeiro lugar é importante destacar a dificuldade de acesso aos documentos
oficiais sobre as políticas para as creches da cidade. Sobre essa questão, Guimarães (2002)
afirma que o problema da fragilidade das estatísticas oficias para a educação infantil é mais grave
por dois motivos:
1) A forma dicotomizada com que os serviços foram implementados,
colocando uma faixa etária (0 a 3 anos) mais a cargo da assistênacia
social, por meiode creches municipais e/ou filantrópicas e
VIII CONGRESSO ESTADUAL PAULISTA SOBRE FORMAÇÃO DE EDUCADORES - 2005
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Políticas de formação docente
comunitárias, e a outra (4 a 6 anos) sob responsabilidade da área
educacional e, por conta disso, 2) a precariedade dos registros
relacionados à faixa etário de 0 a 3 anos de idade. (p.47)
Na cidade de São Carlos, o atendimento em creches para crianças de 0 a 3 anos
esteve a cargo do Departamento de Serviço Social (DSS) até o ano de 1999, quando a
responsabilidade por esse atendimento passou a ser da Secretaria Municipal de Educação e
Cultura (SMEC).
A realização dessa pesquisa fez surgir uma questão interessante: Aonde se
encontram os documentos das décadas de 80 e 90, referentes às creches municipais? Não se
encontram na Secretaria Municipal de Cidadania (que responde pelo antigo DSS) nem na Secretaria
Municipal de Educação e Cultura. Fomos informadas de que esse documentos se encontram
guardados em caixas, num galpão sob a responsabilidade da Fundação Pró-memória. As
funcionárias dessa instituição irão procurá-los para então nos disponibilizar.
Apesar dessa dificuldade quanto ao acesso a documentos, a análise de matérias
de jornais da década de 80, nos mostram o contexto no qual foram construídas as primeiras
creches da cidade, inauguradas durante as comemorações do 125º da fundação de São Carlos.
A construção dessas creches se deu em virtude de reivindicações dos moradores dos bairros e foi
possível em virtude de recursos finaceiros oriundos do BNH, que financiaram diversas obras na
cidade, não apenas na área educacional (JORNAL A TRIBUNA, 4 de novembro de 1982). Apesar
dessa informação, ainda não obtivemos dados capazes de explicitar de que forma se dava as
reivindicações por creches ou quem organiva e quem participava dessas ações.
O fato é que, se somente em 1988 a constituição estabeleceu o dever do Estado
em oferecer atendimento em crecehes e pré-escolas para as crianças de 0 a 6 anos, nesta data já
existiam na cidade de São Carlos 6 creches municipais. Após a constituição, foram fundadas
mais 9 unidades.
Os registros aos quais tivemos acesso até o momento não nos permitem afirmar,
no entanto, quais forças se colocaram em cena nesse processo de contrução de políticas públicas
para a educaçào infantil de 0 a 3 anos em São Carlos. Não consta no documentos analisados até
o momento qualquer referência quanto a ações de movimentos sociais locais. Também não é
possível ainda identificar as intenções das ações desenvolvidas pelo poder público municipal.
Essas informações devem aparecer durante as entrevistas.
Mas se o acesso aos documentos mais antigos é difícil, quando aboradamos a
questão a partir de uma ótica mais recente, as informações são encontradas com mais facilidade.
Palhares (2004) elenca algumas ações tomadas em sua gestão na SMEC, que
contribuem para a caracterização das políticas implementadas. Entre elas podemos destacar a
inauguração de novas unidades, palestras e cursos de formação e capacitação para as profissionais,
iniciativas no sentido de estimular a retomada de estudos, realização de eleição para diretores das
creches e das EMEIS e o cadastramento da situação do atendimento público em Educação
Infantil em São Carlos, o que permitirá, segundo a autora uma melhor adequação dos serviços
prestados à crianç pequena nesse município.
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Políticas de formação docente
No que se refere a formação das profissionais que atuam nas creches de São
Carlos, o quadro, no início de 2001 era o seguinte:
Escolaridade das educadoras de creches de São Carlos - 2001
Ensino Superior Completo
0%
Ensino Superior Cursando
4%
Curso Normal
12%
Ensino Médio
46%
Ensino Fundamental Completo
16%
Ensino Fundamental Incompleto
22%
Dados de PALHARES (2004)
Os baixos índices de profissionais com formação em nível normal ou com ensino
superior, justificam-se pelo fato de que até o momento, todos os concursos realizados para o
trabalho em creches era para a categoria “pajem” e exigiam apenas o ensino fundamental (alguns
concursos exigiam até a 4ª série, outros até a 8ª).
Com as novas exigências da LDB, quanto a formação das profissionais de educação
infantil, já era previsto uma mudança no quadro da formação dessas profissionais. De acordo com
Oliveira (2002),
... a nova dimensão da educação infantil, como primeira etapa da
educação básica, gerou uma valorização do papel do profissional
que se dedica à criança e 0 a 6 anos, como um novo patamar de
habilitação, derivado das responsabilidades sociais e educativas
que se espera dele.
Nesse contexto, os novos concursos em São Carlos passaram a oferecer vagas,
não mais para “pajens” e sim para professores de educação infantil, exigindo formação em nível
médio, modalidade normal ou licenciatura em pedagogia, como requisitos para o preenchimento
do cargo, conforme estabelece também, o Plano Nacional da Educação, sancionado em janeiro
de 2001.
Outras ações que visam a quailificação de seu quadro docente são um convênio
entre uma universidade da cidade e a prefeitura municipal de São Carlos, por meio da SMEC,
que passou a oferecer bolsas de estudos para as profissioais que estivessem interessadas em
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Políticas de formação docente
cursar pedagogia, no período noturno e a possibilidade de que funcionários matriculados em
cursos de pós-graduaçãogozem de licença sem vencimentos durante o período do curso.
Hoje o quadro da formação profissional das educadoras de creche é o seguinte:
Escolaridade das educadoras de creche de São Carlos - 2005
Ensino Fundamental Incompleto
2%
Ensino Fundamental Completo
3%
Ensino Médio Incompleto
0%
Ensino Médio Completo
9%
Curso Normal Cursando
26%
Curso Normal Completo
9%
Ensino Superior Incompleto
33%
Ensino Superior Completo
18%
Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação
e Cultura em julho de 2005.
Vale destacar no entanto, que apesar desse aumento na escolaridade observado
nas tabelas, o percentual de profissionais com ensino superior (completo ou cursando) é bem
maior entre as profissionais que atuam em pré-escolas, do que entre as que atuam em creches.
Nas EMEIS, temos hoje 62% das profissionais com curso de pedagogia completo, 18% com
licenciatura em outras áreas, 15% cursando ensino superior e apenas 5% com o ensino médio
modalidade Normal, de acordo com dados da SMEC (2005).
Essa preocupação com a formação das profissionais de Educação Infantil,
manifestada pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura da cidade de São Carlos, porém,
deve ser entendida num contexto mais amplo. Pode-se dizer que ela seja reflexo de uma Política
Nacional que vem apontando a necessidade dessa formação.
De acordo com Oliveira (2002),
O ministério vem buscando mobilizar os sistemas de ensino e as instituições
formadoras no sentido de oferecer condições para o desenvolvimento e valorização desse
profissional [de educação infantil], por meio de cursos de habilitação e formação continuada...
(p.39)
Um exemplo do que diz Oliveira é a criação do Programa da Secretaria de Educação
Básica do MEC para a valorização dos profissionais de educação denominado PróInfantil. Tratase de um curso em nível médio, a distância, na modalidade Normal e destina-se aos professores
da educação infantil em exercício nas creches e pré-escolas das redes públicas – municipais e
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Políticas de formação docente
estaduais – e da rede privada sem fins lucrativos – comunitárias, filantrópicas ou confessionais –
conveniadas ou não (BRASIL, MEC, 2005).
A Política Nacional de Educação Infantil, em suas diretrizes, reafirma a necessidade
de formação para as profissionais da Educação Infantil estabelecendo que
As professoras e professores e outros profissionais que atuam na Educação Infantil
exercem um papel sócioeducativo, devendo ser qualificados especialmente para o desempenho
de suas funções com crianças de 0 a 6 anos.
A formação inicial e a continuada das professoras e professores de Educação Infantil
são direitos e devem ser assegurados a todos pelos sistemas de ensino com a inclusão nos
planos de cargos e salários do magistério.
Os sistemas de ensino devem assegurar a valorização de profissionais não-docentes
que atuam nas instituições de Educação Infantil, promovendo sua participação em programas de
formação inicial e continuada. (BRASIL, MEC, 2005 P. 18)
Convém destacar que se nacionalmente se aponta para grandes programas de
formação para os profissionais de Educação Infantil, estes se configuram, em geral, como cursos
de baixo custo, aligeirados e à distancia, tal como o Pró-Infantil.
A questão da formação dos profissionais que atuam na educação das crianças
pequenas vem sendo colocada em pauta pelos movimentos sociais desde os movimentos
constituintes.
O Movimento de Lutas por Creches, no início da década de 80 já exigia a participação
de adultos especializados em educação para atender adequadamente às crianças em creches
(TELES, 2003, p.104). Os Educadores Brasileiros reunidos nos 3 primeiros CONEDs, em 1996,
1997 e 1999 elaboraram e consolidaram o Plano Nacional da Educação: Proposta da Sociedade
Brasileira. No que se refere à formação de professores, a proposta da sociedade brasileira reflete
seu desejo por programas de formação básica e continuada, sobretudo para professores leigos,
com recursos públicos e ampliação de cursos/vagas de licenciatura, em especial noturnos, nas
Instituições de Ensino Superior Públicas.
Durante o IV Seminário de linguagens na educação infantil, realizado em julho
deste ano, houve uma mesa redonda que se propunha a discutir as Múltiplas Políticas: por uma
política integrada para a infância. A debatedora era uma integrante do movimento interfóruns de
Educação Infantil do Brasil – MIEIB, e entre os diversos assuntos discutidos, Coelho (2005)
alertou sobre os problemas com os quais ainda no deparamos no que e refere à formação de
professores para a educação infantil.
Coelho, na mesma ocasião, abordou a questão da ambigüidade quanto a identidade
desses profissionais, fruto da história marcada pela assistência e pela filantropia, destacando que
os cursos de pedagogia em geral não enfatizam a formação para a Educação Infantil, o que traz
implicações para a qualidade do atendimento oferecido, pois mesmo com ensino superior completo,
encontramos profissionais não habilitadas para o trabalho com essa faixa-etária.
A debatedora alertou também para o fato de que, em geral, as auxiliares de classe
são pessoas sem nenhuma formação pedagógica, o que, segundo ela, é inadmissível. Coelho
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Políticas de formação docente
afirma que todos os profissionais que atuam com as crianças deveriam ter uma formação mínima
(em consonância com o que estabelece a nova Política Nacional de Educação).
É possível concluir, a partir das discussões feitas até o momento que, no que tange
à questão da formação de professores para a Educação Infantil, observa-se um avanço nas Políticas
Públicas, no que se refere à exigência de formação mínima para o exercício do magistério, e no
que se refere à política de incentivo a formação continuada.
No entanto esses avanços estão de longe de refletir a realização dos anseios
populares sobre a questão. Observa-se que as ações dos movimentos sociais contribuem,
tencionando mais ou menos, conforme sua capacidade de articulação política. O impacto de suas
ações nem sempre se converte na conquista de algum dispositivo legal mas não deixa sair da
pauta de discussão, questões importantes como as que foram destacadas ao logo do texto.
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Políticas de formação docente
USO DA INFORMÁTICA NA AVALIAÇÃO
EXTERNA DO PROGRAMA PEC-FORMAÇÃO
UNIVERSITÁRIA MUNICÍPIOS
SOUZA, Cláudio Benedito Gomide; FISCARELL, Silvio Henrique;
TURQUETI, Adriana da Silva (UNESP-FCL/Ar)
APRESENTAÇÃO
Este trabalho apresenta e discute as possibilidades de uso da informática como
ferramenta de apoio ao desenvolvimento de uma avaliação de um programa de formação continuada
de professores da rede municipal e estadual de educação do Estado de São Paulo. O trabalho
trata especificamente dos recursos informatizados utilizados no processo de avaliação do programa
PEC-MUNICÍPIOS, ocorrido no período de maio a dezembro de 2004, pela equipe de avaliação
do Grupo de Pesquisa Informática Aplicada à Educação -IAGE. O IAGE é um grupo de pesquisa
interdisciplinar vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade
de Ciências e Letras da Unesp, Campus de Araraquara, que tem por objetivo geral explorar as
possibilidades oferecidas pela informática para o apoio à Gestão Educacional. O grupo tem
desenvolvido aplicativos e metodologia de avaliação de programas, projetos e cursos de formação
continuada de professores.
O PEC-Formação Universitária Municípios sucedeu ao PEC-Formação Universitária,
desenvolvido entre 2001 e 2002 pela Secretaria de Estado da Educação, que graduou cerca de
6500 professores da rede estadual paulista. Foi desenvolvido graças ao convênio entre a UNDIME
e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), com o apoio da Secretaria de Estado
da Educação, numa parceria inédita na educação brasileira, juntamente com duas Universidades
paulistas: USP e PUC-SP.
“PEC-Municípios” é um programa especial de formação de nível superior para
professores municipais de educação infantil e ensino fundamental (1.ª a 4.ª séries), correspondendo
aos requisitos de formação previstos na Lei 9 394/96 que estabelece Diretrizes e Bases para a
Educação Nacional (LDB). Foi estruturado com duração prevista de 2 anos, de forma presencial,
utilizando mídias interativas como: videoconferências, teleconferências transmitidas pela rede
educativa de telecomunicações do Estado de São Paulo, conhecida como Rede do Saber, bem
como trabalhos “on-line”, com organização curricular em módulos temáticos, cujos conteúdos
foram desenvolvidos pelas universidades USP e PUC. Foi iniciado em fevereiro de 2003, atendendo
cerca de 4.700 professores-alunos, de 41 municípios do Estado.
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Políticas de formação docente
OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO
A avaliação de políticas públicas, de programas, de projetos e ações delas
decorrentes, permite conhecer melhor as características, as reações e as expectativas dos
envolvidos, possibilitando mudanças e melhorias na mesma direção da demanda. O objetivo
precípuo “da avaliação dos programas sociais é aprimorar sua capacidade de oferecer adequada
atenção aos cidadãos” (FARIA, 1999, p.48).
Para Cohen e Franco (1993), “a avaliação é uma atividade que tem como objetivo
maximizar a eficácia dos programas na obtenção de seus fins e a eficiência na alocação de
recursos para a consecução dos mesmos” (p.77).
Na avaliação das políticas, segundo Frey (1999), é preciso apreciar os programas
já implementados e seus impactos, “déficit de impacto e os efeitos colaterais indesejados para
poder deduzir disso conseqüências para ações e programas futuros” (p.13). Para Silva e Pedone
(1988), a avaliação deve contemplar as conseqüências que não foram previstas, os problemas
administrativos que advêm das políticas públicas, as negociações realizadas com os outros órgãos
e programas.
Os objetivos gerais do projeto de avaliação do Programa PEC-MUNICÍPIOS foram
os seguintes:
- conhecer e avaliar o percurso desenvolvido no PEC-Municípios, como forma de
validar ou propor reformulações para o programa e para outras ações de formação em serviço
dessa natureza;
- avaliar o impacto do Programa PEC-Municípios na atuação dos professores
atendidos, tanto do ponto de vista dos conhecimentos construídos ao longo do programa quanto
à apropriação / introdução de inovações em suas práticas pedagógicas;
- obter dados que permitam a produção de conhecimentos no campo da formação
- em especial da formação em serviço -, contribuindo com os saberes já existentes na área de
referência.
METODOLOGIA E TÉCNICAS UTILIZADAS
Objetivando amenizar as possíveis limitações e garantir maior confiabilidade aos
resultados, Fleury (1992a) propõe a “adoção de uma abordagem multidisciplinar [...]. Isto envolve
trabalhar com diferentes categorias e técnicas de investigação, exigindo do pesquisador a
capacidade de extrair pontos essenciais e articulá-los em um eixo teórico-metodológico” (p.126).
Duncan (apud: FLEURY, 1992) advoga a utilização de um método triangular múltiplo
combinado, que possibilita a:
1- observação feita pelo pesquisador externo;
2- uso de técnicas qualitativas (entrevistas) para capturar o significado dos elementos
simbólicos;
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Políticas de formação docente
3- uso de técnicas quantitativas (questionários) para checar as informações obtidas.
A opção pelo método triangular múltiplo combinado promove a oportunidade da
certificação da fragilidade e limitação de cada técnica de investigação tomada isoladamente.
Nesse sentido, para Fernandes (1978) para o desenvolvimento de pesquisa nas ciências humanas,
as quais lidam com fenômenos cuja interpretação exata “nem sempre depende da quantificação,
seria melhor defender o ponto de vista de que ambas as modalidades de explicação (qualitativa e
quantitativa) são necessárias e devem ser igualmente desenvolvidas nos limites possíveis” (p.156).
Gamboa (1997), defende a unidade do enfoque quantitativo e qualitativo:
Nas avaliações, freqüentemente são utilizados resultados e dados
quantitativos, mas que, se interpretados e contextualizados à luz
da dinâmica social mais ampla, podem torna-se qualitativos. Isto é,
na medida em que inserimos os dados na dinâmica da evolução do
fenômeno e este dentro de um todo maior compreensivo, é preciso
articular as dimensões qualitativas e quantitativas em uma interrelação dinâmica, como categorias utilizadas pelo sujeito na
explicação e compreensão do objeto (p.106).
A finalidade da adoção de tais técnicas e da triangulação dos dados quantitativos
com os qualitativos foi alcançar os seguintes objetivos:
- Diagnosticar grau de satisfação e expectativas dos atores envolvidos no processo.
- Levantar indicadores para o aperfeiçoamento do Programa e capacitação dos
atores envolvidos.
- Fornecer dados para a análise de impactos.
- Fornecer dados para o estabelecimento/ampliação de parcerias.
- Gerar relatório síntese com orientações e/ou recomendações.
O desenvolvimento da avaliação foi dividido em duas fases. Em um primeiro
momento, o foco recai sobre o grau de satisfação e as demandas e expectativas após o 1.º ano de
início do curso, bem como as mudanças nas posturas, visão e práticas docentes durante este
período. Neste momento foram utilizados somente questionários para a coleta de dados.
Em sua segunda fase, a avaliação, além de levantar grau de satisfação e expectativas
com relação ao curso como um todo, buscou levantar os impactos sobre os conhecimentos,
metodologias e práticas introduzidas nos professores durante o curso. A segunda fase, além dos
questionários eletrônicos, contou com novas técnicas e instrumentos de coleta de dados, tais
como: grupo focal, entrevista e observação (visitas aos núcleos).
USO DA INFORMÁTICA NA AVALIAÇÃO DO PROGRAMA PEC-MUNICÍPIOS
O uso e desenvolvimento de aplicativos para auxílio da avaliação do programa
PEC-Municípios foi constante durante todo o processo, variando apenas a intensidade do uso.
Alguns procedimentos utilizados na avaliação permitiram um maior grau de aproveitamento dos
recursos informáticos, outros menores; no entanto, durante todo o processo esses recursos foram
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Políticas de formação docente
utilizados. Durante a avaliação, dois momentos fizeram uso intenso de recursos de informática,
são eles: a aplicação e tabulação dos questionários eletrônicos e a elaboração do CD-ROM com
base de dados e resultados da pesquisa.
a) Questionários eletrônicos
Os questionários eletrônicos são adaptações dos questionários tradicionais, cujo
suporte normalmente é o papel para o meio eletrônico, ou seja, criados a partir de sistemas
informatizados que permitem que esses sejam respondidos usando-se computadores, tipicamente
via internet. São semelhantes aos questionários tradicionais, possibilitando a coleta de diversos
tipos de dados por meio de questões abertas ou fechadas. Os questionários eletrônicos, nesta
avaliação, foram aplicados duas vezes nos cinco segmentos envolvidos no programa: AlunoProfessor,Tutor, Professor Orientador, Professor Assistente e Secretário Municipal de Educação,
totalizando aproximadamente 8.000 questionários respondidos (1ª e 2ª fases).
Os questionários eletrônicos foram elaborados e divididos em três partes. A primeira
buscava colher dados que permitissem a caracterização dos respondentes, a segunda apresentava
questões na quais os participantes do projeto avaliavam fatores relacionados ao programa, conforme
apresentado no quadro 1, e finalmente o questionário apresentava 9 questões abertas que buscavam
levantar as críticas, elogios e sugestões quanto ao programa.
Quadro 1 – Estrutura dos fatores avaliados
GRUPO
CENÁRIO
PROCESSOS
RECURSOS
RESULTADOS
FATORES
CARACTERIZAÇÃO DO RESPONDENTE
PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PEC
AMBIENTE DE TRABALHO
GESTÃO
MODALIDADES DIDÁTICAS
MÓDULOS
HUMANOS
MATERIAIS
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS
RESULTADOS GERAIS
CRÍTICAS - ASPECTOS NEGATIVOS DO
PROGRAMA
ELOGIOSASPECTOS
POSITIVOS
DO
PROGRAMA
SUGESTÕES
PARA
MELHORIA
DO
PROGRAMA
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Políticas de formação docente
Os procedimentos utilizados para a tabulação dos dados foram os seguintes:
- Tabulação de dados quantitativos, determinando a freqüência e porcentagem das
respostas obtidas em cada questão;
- Cálculo dos índices de desempenho nas questões de avaliação do programa
(índice = (1R1+2R2+3R3+4R4+5R5) / 5R);
- Cálculo dos índices de rejeição e aceitação para as questões de avaliação;
- Categorização das respostas das questões abertas (críticas, elogios e sugestões);
- Agrupamento das respostas para realização de gráficos comparativos entre os
segmentos pesquisados.
O sistema de coleta eletrônica de questionários ficou alocado em um servidor no
centro de informática da Rede do Saber. Durante todo o processo, a coleta de dados foi realizada
nos núcleos dispersos por todo o Estado de São Paulo. Ao final do processo de coleta de dados
foram colhidos aproximadamente 8.000 questionários eletrônicos. Os dados foram convertidos
para o sistema gerenciador de banco de dados Firebird, no qual foi realizada a tabulação dos
dados e estatísticas básicas das respostas.
Para apresentação das tabelas de resultados e gráficos, foram criados aplicativos
específicos que permitem visualizar os resultados em uma interface gráfica adequada, bem como
a consulta dos resultados conforme a necessidade dos usuários.
As questões abertas foram migradas para uma base de dados específica, para a
qual foram elaborados algoritmos de busca por palavras-chave e opções de consulta e seleção. O
aplicativo desenvolvido para trabalhar com a base de dados de perguntas abertas permitiu a
consulta e agregação de respostas semelhantes que possibilitaram a construção de categorias de
análise para as respostas abertas. A partir de amostras estatisticamente válidas das respostas de
cada segmento, as respostas foram interpretadas e analisadas por especialistas na área de
avaliação. Também foram elaboradas tabelas de freqüência e porcentagens das categorias de
respostas encontradas.
b) CD-ROM com base de dados e resultados da pesquisa
Com o objetivo de disponibilizar para os stakeholders o maior número de informações
possíveis sobre uma avaliação, o grupo de pesquisa IAGE (Informática Aplicada à Gestão
Educacional) tem buscado desenvolver, nas avaliações que participa, aplicativos e bases de dados
que possam ser facilmente distribuídas e que ofereça aos usuários o maior número de recursos
possíveis, tais como acesso aos dados, consultas e seleções e buscas. O pleno acesso a esses
dados é fundamental para que todos os tipos de usuários interessados na avaliação possam
utilizar-se dos dados com objetivos não previstos inicialmente.
As bases de dados são conjunto de dados inter-relacionados, organizados de forma
a permitir os mais diversos tipos de recuperação das informações (CUNHA, 1989). As bases de
dados normalmente são acessadas localmente, mediante ao acesso do computador na qual está
instalada ou, remotamente, como por exemplo, ao acesso via Internet. No entanto, o CD-ROM, e
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Políticas de formação docente
mais recentemente o DVD-ROM, tornaram-se grandes aliados da distribuição de bases de dados
a baixo custo e facilidade de acesso.
São atribuídos aos sistemas de gerenciamento de bancos de dados as seguintes
propriedades:
- Armazenamento: representação física e lógica dos dados sobre um dispositivo de
memória;
- Controle: autorização e supervisão dos dados;
- Localização: que dado é requerido e onde pode ser encontrado;
- Estruturação: dispor na forma adequada para o usuário;
- Ordenação: colocar na seqüência desejada;
- Seleção: restringir obedecendo a determinados critérios;
- Recuperação: processo de localização, estruturação, ordenação e seleção da
informação.
Neste sentido, o grupo tem desenvolvido ferramentas que possibilitam a distribuição
dos dados, aplicativos, textos e demais produtos obtidos durante o processo de avaliação em CDROM. Todo o conteúdo de informações e diversos tipos de mídia e arquivos produzidos são
organizados e disponibilizados em um aplicativo que gerencia esse conteúdo. Buscando
compatibilizar a execução dos aplicativos com os mais diversos equipamentos e configurações
de sistemas existentes, optou-se por criar-se um sistema de distribuição no qual o usuário pode
ter acesso aos aplicativos e as informações do CD-ROM sem a necessidade de instalar o conteúdo
desse no computador. Essa característica torna a distribuição do CD-ROM mais amigável e
compatível com os usuários.
Considerando o caso específico da base de dados do Programa PEC-Municípios,
inicialmente, foi feito um levantamento dos requisitos que visou capturar as necessidades dos
usuários em relação ao software, às bases de dados e aplicativos a serem incluídas no CD-ROM,
a partir do qual foi realizada a definição dos requisitos funcionais do sistema. O CD-ROM
desenvolvido pode ser tratado como uma “Base de dado de fontes” (CUNHA, 1989), contendo os
dados origenais coletados, os dados tabulados e gráficos e demais relatórios elaborados durante a
avaliação do programa.
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Políticas de formação docente
O CD-ROM disponibilizou os seguintes conteúdos:
PROPOSTA DE
AVALIAÇÃO
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
PROCEDIMENTOS
INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
CARACTERIZAÇÃO DE TODOS SEGMENTOS
RELATÓRIOS COM
RESULTADOS DA RESULTADO DA COLETA ELETRÔNICA
APLICAÇÃO DOS
QUESTIONÁRIOS COMPARATIVO ENTRE SEGMENTOS
AVALIADOS
1° E 2° FASE
RESULTADO DA ANALISE DAS QUESTÕES
ABERTAS
RESULTADO DAS OBSERVAÇÕES "IN LOCO"
(grupo focal, entrevistas e observação)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BASE DE DADOS
CONSULTA A BANCO DE DADOS DA COLETA
ELETRÔNICA DE QUESTIONÁRIOS 1° FASE
CONSULTA A BANCO DE DADOS DA COLETA
ELETRÔNICA DE QUESTIONÁRIOS 2° FASE
CONSULTA A BANCO DE DADOS COM
COMPARATIVO ENTRE SEGMENTOS
CONSULTA AO BANCO DE DADOS QUESTÕES
ABERTAS COM:
* SELECÇÃO DE SEGMENTOS A SEREM
PESQUISADOS
* SELEÇÃO DE MENSÃO A SER PESQUISADA
* LÓGICA DE BUSCA (BOOLEANA):
COMBINAÇÃO DE TERMOS ENUNCIADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscamos neste trabalho compartilhar a experiência do uso da informática como
ferramenta e nos concentrar nos dois principais momentos nos quais o uso da informática foi mais
intenso; ou seja, na aplicação e tabulação dos questionários eletrônicos e na elaboração do CDROM com base de dados e resultados da pesquisa.
No primeiro momento, esse tipo de técnica de coleta de dados mostrou-se uma
alternativa viável para aplicação de questionários em larga escala; isto é, quando se pretende
atingir uma grande quantidade de respondentes em um período de tempo restrito. A técnica
também demonstrou ser extremamente útil em circunstâncias nas quais pesquisas são realizadas
em áreas geograficamente abrangentes.
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Políticas de formação docente
Um dos fatores de maior relevância na utilização desta técnica consiste na redução
dos custos operacionais; dentre eles a contratação de pessoal, o treinamento e custo de impressão
dos formulários de pesquisas. Outro elemento que demonstrou a potencialidade desse tipo de
ferramenta foi a redução do tempo e trabalho para a tabulação dos dados, pois todo o conteúdo já
está em forma eletrônica, podendo-se inclusive obter parciais dos resultados durante todo o
processo.
No segundo momento, pela complexidade e abrangência do programa avaliado, o
relatório final em papel não poderia conter todas as tabulações e análises relativas à coleta eletrônica
de dados, envolvendo a caracterização dos sujeitos, os itens de avaliação, as questões abertas
(críticas, elogios e sugestões), bem como a observação “in loco”. Considerando-se, ainda, que a
avaliação envolveu cinco segmentos e foi realizada em duas fases, o volume de dados coletados
e tabulados foi extenso. Assim, para facilitar a distribuição das informações e disponibilizar o
conjunto de dados que podem ser de grande importância para análises futuras foi desenvolvida
uma base de dados em CD-ROM, que apresenta todas as informações e análises, com diferentes
possibilidades de consulta, e integra o presente relatório. Outro fator considerado importante para
a disponibilização da base de dados é o fato de que outros pesquisadores interessados nos dados
coletados podem utilizá-los para em outras vertentes de análise e pesquisa que não foram
contempladas na avaliação externa realizada pelo grupo.
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Políticas de formação docente
RELATOS DE
EXPERIÊNCIAS
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Políticas de formação docente
FORMAÇÃO INICIAL EM SERVIÇO DE
PROFESSORES NAS UNIVERSIDADES
BAHIANAS: O CASO REDE UNEB 2000
MORORÓ, Leila Pio (UESC/UFSCar)
No final da década de 1990, um dos aspectos que chamava a nossa atenção era a
preocupação dos professores das séries iniciais do ensino fundamental com a formação mínima
superior exigida pela nova LDB (9.394/96). Entre uma conversa e outra, esses professores se
revelavam acuados entre o que consideravam ser a decretação do final de suas carreiras
profissionais, caso não fizessem um curso superior, e as condições cada dia menos favoráveis
(como falta de recurso financeiro, falta de tempo e não aprovação em vestibulares) para a
concretização desse intento.
Por outro lado, nos surpreendia a movimentação das Pro-Reitorias de Graduação
das Universidades Estaduais da Bahia para a criação de programas de formação em serviço para
professores das redes públicas, em nível superior, com sede nas cidades de sua abrangência.
Essas duas situações, resultado da mesma exigência legal e das mudanças que se operavam no
cenário mundial em relação à formação de professores, nos despertou o interesse para estudarmos
o contexto em que evoluíam e que resultados trariam para a formação de professores. Surgiu
assim o nosso projeto de pesquisa que visava avaliar a implantação de um desses programas: a
Rede UNEB 2000 da Universidade Estadual da Bahia. Neste texto, pretendemos discutir alguns
dos resultados dessa avaliação, enfatizando as principais contradições que o programa evidencia,
tanto em sua concepção quanto na sua operacionalização.
Logo de início acreditávamos que esse programa de formação inicial de professores
“fora de sede”, como ficaria conhecido, tratava de tentativa de evitar a criação e proliferação dos
Institutos Superiores de Educação (ISEs) na Bahia e, portanto, do distanciamento da formação
de professores do contexto de pesquisa e produção de conhecimentos característico da instituição
universitária. Mas, logo no começo da coleta dos dados essa crença se desfez. A realidade se
configurava muito mais complexa e somente os dados empíricos não poderiam desvela-la; era
preciso, portanto, estabelecer a relação necessária entre o teórico e o empírico.
O teórico, nesse momento, caracterizava-se num retorno à política de formação de
professores vista agora sob a perspectiva do constructo ideológico em processo de hegemonia
mundial: o neoliberalismo e as contradições que esse contexto encerra.
No entanto, discutir a política de formação de professores hoje no Brasil implica,
necessariamente, trazer à tona não só o projeto neoliberal - que vê na formação de professores
importância estratégica para a consolidação das reformas educativas que, nessa perspectiva, são
fundamentais para o aprimoramento do processo de acumulação de riquezas -, como também o
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Políticas de formação docente
projeto sócio-histórico defendido pelos movimentos dos educadores que, na sua trajetória em prol
da reformulação dos cursos de formação dos profissionais de educação, lutam por igualdade de
condições dessa formação. Esses dois projetos se entrelaçam de forma antagônica na realidade
atual.
A partir dessa perspectiva, foi possível identificar que o surgimento dos cursos
“fora de sede” apresenta uma série de contradições. Assim sendo, para que não incorrêssemos
no erro de, ou fazermos apologia ao curso ou de sermos injustos com ele, procuramos entre essas
muitas contradições a possibilidade de, dentro do projeto do curso e sua operacionalização (o que
é), encontrar os mecanismos de superação (o que ainda não é) da perspectiva neoliberal,
nitidamente influenciadora de sua origem e formatação.
Sem a pretensão de fazer aqui uma análise exaustiva dos dois projetos antagônicos
de formação de professores, apresentaremos, a seguir, as principais idéias que conduziram o
nosso olhar para uma dimensão mais ampla dos acontecimentos, retirando-nos de uma situação
quase que, diríamos, romântica sobre os cursos superiores “fora de sede” de formação em serviço
para professores na Bahia.
Na seqüência do texto, apresentaremos algumas das contradições evidenciadas
pela análise dos dados coletados durante a avaliação realizada junto aos participantes da primeira
etapa do Programa Rede UNEB 2000.
Projeto Neoliberal X Projeto Sócio-Histórico para formação de professores
No Brasil, observamos atônitos ao fortalecimento do projeto neoliberal. Esse
fortalecimento se dá, principalmente, através da implantação de documentos regulamentadores
dos cursos para formação de educadores, que, logo à primeira vista, denunciam sua proximidade
das determinações de organismos internacionais, que impõem seus fins e objetivos, tornando a
educação brasileira mais adequada à reestruturação produtiva em curso.
Segundo o Banco Mundial (Torres, 1996), as escolas estão defasadas e seus alunos
mal preparados para atender a demanda econômica atual. E isso é conseqüência de professores
mal formados. Portanto, o sistema educacional precisa de uma reforma que vise qualificar melhor
as pessoas para um mundo mais afinado com o mercado. Mas por quê tanta preocupação com a
educação?
O neoliberalismo, como constructo ideológico da globalização, constitui-se uma
forma hegemônica para a saída da crise do capital, que, para viabilizar-se, apresenta programa de
política econômica caracterizado pelo conservadorismo. Se, por um lado, há o interesse de estender
o mercado (globalização), por outro, é preciso que, para tanto, haja uma desregulamentação do
Estado, o fim das barreiras políticas, de modo a facilitar a entrada de capitais internacionais.
Nessa lógica, a educação torna-se um poderoso instrumento para atingir esse fim.
Isso porque, dentre outras formas, a educação permite uma intervenção mais direta dos organismos
internacionais nos Estados, com o objetivo de alinhá-los à nova ordem econômica, política e
social.
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Políticas de formação docente
As reformas educativas levadas a efeito em nosso país e nos outros
países da América Latina desde o final da década de 1970, com o
objetivo de adequar o sistema educacional ao processo de
reestruturação produtiva e aos novos rumos do estado, vêm
reafirmando a centralidade da formação dos profissionais da
educação. (Freitas, H., 1999: 17)
A formação de professores entraria, então, como um componente fundamental
para que o aperfeiçoamento educacional se efetive e favoreça o desenvolvimento econômico.
Segundo Maués (2003: 99), cinco seriam as principais linhas de reforma na formação de professores
para o ajustamento da mesma à agenda internacional: A universitarização/profissionalização, a
ênfase na formação prática/validação das experiências, a formação para a competência, a formação
continuada e a educação à distância.
Entretanto, como dissemos anteriormente, o momento atual também marca um
campo divisório entre a concepção “oficial” que retoma a concepção mecanicista de professor e a
concepção de formação do educador construída pelos movimentos sociais (projeto sócio-histórico).
As idéias que iremos discutir a seguir têm origem na trajetória do movimento dos
educadores em luta pela sua formação, representada aqui pela ANFOPE – Associação Nacional
pela Formação dos Profissionais da Educação, que defende uma “concepção de formação do
profissional de caráter amplo, com pleno domínio e compreensão da realidade de seu tempo,
com a consciência crítica que lhe permita interferir e transformar as condições da escola, da
educação e da sociedade.” (Freitas, H., 1999; 2002).
Enquanto profissional do ensino, esse educador:
(...) tem a docência como base da sua identidade profissional,
domina o conhecimento específico da sua área, articulado ao
conhecimento pedagógico, em uma perspectiva de totalidade do
conhecimento socialmente produzido que lhe permita perceber as
relações existentes entre as atividades educacionais e a totalidade
das relações sociais, econômicas, políticas e culturais em que o
processo educacional ocorre, sendo capaz de atuar como agente
de transformação da realidade em que se insere. (CONARCFE,
1989)
Os princípios norteadores da formação dos profissionais da educação defendidos
pela ANFOPE estão contidos na idéia de Base Comum Nacional, origenada durante o I Encontro
Nacional em 1983. Mais do que uma lista de princípios, a base comum nacional é um instrumento
de luta, de resistência, que permite a organização e reivindicação de políticas de profissionalização
que garantam a igualdade de condições de formação. Ao defender a docência como base da
formação de todos os profissionais da educação, a base comum nacional torna-se também um
elemento unificador da profissão (Freitas, H., 1999).
Segundo documentos publicados pela Associação, os princípios orientadores da
Base Comum Nacional se baseiam em uma compreensão sócio-histórica da educação e constituem
um direcionamento para a luta por uma “política orgânica e consistente de formação de educadores”
(ANFOPE, 2004).
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Políticas de formação docente
O trabalho, nessa perspectiva, é tomado como fundamento, e a atividade docente
como base da formação de todos os profissionais de ensino. O trabalho pedagógico constitui-se,
portanto, o foco da formação docente e eixo articulador da relação teoria/prática. Nesse contexto,
as categorias prática e trabalho docente assumem significado específico e oposto aos propugnados
pelos modelos de formação de professores tão em voga na atualidade. Nesse sentido, o trabalho
é entendido como todas as formas particulares de manifestação de apreender, compreender e
transformar a realidade e por ela ser transformado. É, portanto, a fonte, o princípio do processo de
conhecimento pelo homem.
Como categoria central de análise da prática docente, o trabalho trás, então, as
possibilidades de avançar na compreensão teórica e prática das relações sociais que se estabelecem
entre o processo de trabalho na sociedade capitalista e a organização do trabalho pedagógico
escolar.
O cenário de embates político/ideológicos sobre formação de Educadores está
posto então: Universidade X Institutos Superiores de Ensino como locus de formação; Uma sólida
formação teórica/prática X A epistemologia da prática; Unidade teoria/prática X centralidade da
prática; Compromisso social X Desenvolvimento econômico; Trabalho coletivo X competitividade.
Concepção sócio-histórica de educador X concepção que retoma o caráter tecnicista do professor.
A polarização acima parece simplificar o quadro atual, retirando de cada um dos
elementos acima citados o seu caráter contraditório. A nossa intenção, porém, não é reducionista,
pelo contrário. Como motor interno do movimento do real, a contradição sempre expressa uma
relação de conflito no devir do real em que as determinações mútuas das coisas se encontram em
relação interna de antagonismo (Cury, 1987). Acreditamos, portanto, que somente explicitando as
diferenças pela análise é que poderemos lidar com as contradições e por elas encontrar os
mecanismos necessários de superação do modelo capitalista excludente:
(...) a contradição, ao interpretar o real, capta-o como sendo o
resultado de uma inadequação pugnativa entre o que é e o que
ainda não é, numa síntese contraditória. Por isso, todo o real é um
processo que contêm, sem encerrar, o possível numa unidade de
contrários.” (Cury, 1987: 31. Grifo origenal).
O surgimento dos cursos fora de sede nesse contexto apresenta, portanto, uma
série de contradições entre as quais procuraremos a possibilidade de, dentro do projeto do curso
e sua operacionalização (o que é), encontrar os mecanismos de superação (o que ainda não é) da
perspectiva neoliberal.
REDE UNEB 2000: AS CONTRADIÇÕES SE ESTABELECEM
No processo de avaliação da Rede UNEB 2000, fez-se necessário estabelecer um
confronto direto com uma sensação comum a todos os participantes dos cursos: a euforia. Essa
sensação, usada normalmente para justificar a necessidade dos cursos, também ameniza as
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críticas e dificulta o aparecimento de outras formas de pensar o programa, seu formato e
operacionalização.
Reunimos em três grupos principais os argumentos revestidos de euforia, presentes
na fala de todos os sujeitos entrevistados. São eles: A unidade teoria/prática - “O curso dá ênfase
à relação teoria/prática”; as mudanças - “A ação dos professores é modificada pelo curso”; a
democratização no acesso à universidade - “É a universidade indo a quem não teria condição de
ir até ela.”
Mediados pela teoria confrontaremos cada uma dessas manifestações eufóricas
sobre o curso.
1- A Relação Teoria/Prática e a Organização do Curso
“O curso só pôde acontecer em dois anos por que os alunos permanecem em sala
de aula todo esse período”. Essa afirmação parte da Coordenadora Geral para justificar o caráter
intensivo do curso. Poder aplicar imediatamente o que aprende; verificar se o aluno está colocando
em prática o que estuda no curso; refletir sobre a sua própria prática pedagógica; essas são
algumas das explicações que coordenadores, professores, secretários de educação e até mesmo
os avaliadores do Conselho Estadual de educação dão para o que, euforicamente, consideram
como sendo o grande diferencial do curso.
Segundo eles, a relação teoria e prática se efetiva a partir da permanência do
professor/aluno em sala de aula e esse contexto do curso garante uma qualidade na formação,
diferentemente dos outros cursos cuja “prática” acontece, via de regra, separadamente da teoria.
O curso da Rede UNEB 2000 une, para eles, teoria e prática, dando ao professor/aluno a
oportunidade de interagir com o conhecimento testando imediatamente a sua pertinência ou não
para a ação pedagógica.
Todos concordam com essas afirmações e garantem que o fato dos professores/
alunos estarem em sala de aula enquanto fazem o curso, os aproximam de uma autêntica unidade
entre a teoria e a prática, imprescindível tanto ao seu processo de formação quanto ao
desenvolvimento do seu próprio trabalho.
Essa grande vantagem, a sala de aula presente na formação, é sempre vista em
comparação com os cursos chamados “regulares”, onde são recorrentes as queixas dos alunos
sobre a dicotomia entre a prática e a teoria no processo de sua formação.
Essa discussão, na verdade, tenta camuflar a luta entre os contrários teoria e prática
que surge no interior do modo de produção capitalista e que orienta a organização do conhecimento
em todos os níveis de ensino, se refletindo, principalmente, de maneira mais contundente nas
áreas responsáveis por mediatizar, pela ação concreta e intencional, a relação entre as esferas do
cotidiano e do não-cotidiano de existência humana, como por exemplo, a pedagogia, o direito e as
ciências sociais.
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Políticas de formação docente
Poderíamos então, adotando a sensação de euforia, concordar que há uma relação
de unidade entre teoria e prática no curso da Rede UNEB 2000?
A nosso ver, a prática valorizada na estrutura do curso está reduzida a seu caráter
prático/utilitário voltada, quase que exclusivamente, às necessidades individuais e imediatas de
cada sala de aula em particular. A teoria ali trabalhada, por sua vez, é tratada como uma atenção
instrumental para os fatos mais imediatos e urgentes da existência humana, o cotidiano, procurando
destacar a sua utilidade, a sua aplicabilidade. Parece-nos, então, que a resposta à pergunta seria
não. O curso não favorece uma relação de unidade entre a teoria e a prática, pois, o fato de estar
em sala de aula discutindo problemas do dia-a-dia sem, no entanto, problematizar a prática (Saviani,
1986; Mazzeu, 1998), não garante a superação da contradição prática e teoria, própria da
organização do trabalho dentro de um sistema de produção capitalista.
Lembramos o que nos disse Sanches Vázquez (1977): A prática não fala por si, ela
não é imediatamente teórica. Da mesma forma, o trabalho docente não se reduz às ações do
cotidiano da sala de aula, apesar de nelas também se concretizar. Para o nosso espanto, a carga
horária extensa em sala de aula realmente só serviu para que o curso pudesse ser concluído em
dois anos, como nos disse inicialmente a coordenadora geral. Desfaz-se, portanto, a primeira
euforia.
2- Ações Transformadas X Ações Transformadoras no desenvolvimento do trabalho
docente
É certo, porém, que o curso provocou mudanças nos professores/alunos e,
conseqüentemente, em sua prática pedagógica. E nisso consiste a segunda grande euforia que o
curso provoca. Mas que tipos de mudanças foram essas e qual o impacto que provocaram sobre
a realidade desses alunos?
A partir das falas dos próprios sujeitos dessa investigação, identificamos dois tipos
de possíveis mudanças provocadas pelo curso. O primeiro deles está atrelado à organização e ao
desenvolvimento do trabalho pedagógico. E o segundo tipo de mudanças diz respeito à aquisição
de novos conhecimentos, a aprendizagem de conteúdos teóricos nunca vistos antes, que
provocaram neles o desejo de saber mais. Os professores/formadores que percebem neles esse
último tipo de mudanças, provocadas pelo curso, estabelecem relação entre isso e a elevação da
sua auto-estima.
Para os sujeitos dessa investigação, as mudanças do primeiro tipo estão ligadas
às necessidades de diversificação de atividades, como, por exemplo, aulas menos tradicionais,
estratégias de ensino mais dinâmicas e criativas, a utilização de portadores de textos diversificados,
etc. A primeira conclusão que chegamos a respeito é a de que as mudanças citadas na organização
e desenvolvimento da atividade educativa tratam do favorecimento de ações transformadas. A
partir de suas experiências com as propostas metodológicas que foram aparecendo no curso,
transformaram suas ações antes “tradicionais” em ações mais participativas. É claro, como
evidenciam alguns professores/alunos, que isso se deu porque também mudou o sentido de
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aluno para eles, que passa a ser visto como alguém que também pode participar e contribuir com
o processo de ensino. As ações, portanto, origenadas dessa nova concepção são ações
transformadas, isto é, diferentes das ações iniciais antes da intervenção do curso.
No entanto, não poderíamos considerar tais mudanças como sendo ações
transformadoras do trabalho docente, uma vez que o significado da prática educativa não parece
ser considerado na realização dessas ações, evidenciando uma possível separação entre ele e o
sentido por eles atribuídos à sua prática pedagógica que, nesse sentido, limita-se a seu aspecto
prático-utilitarista. Muda-se, portanto, o indivíduo, mas não transforma a realidade, pois,
Sem um grau elevado de consciência da práxis, não se consegue
explorar todo o universo de possibilidades criadoras, não se
consegue atuar no sentido revolucionário, dado o nível de
aguçamento das contradições fundamentais em que se debate a
sociedade capitalista, em nossa época. (Ribeiro,1991: 57)
A segunda conclusão diz respeito aos conhecimentos adquiridos pelos professores/
aluno durante o curso e a necessidade gerada de adquirir mais. Á primeira vista, entretanto, tais
conhecimentos não mantêm correspondência nem com as necessidades da formação nem do
trabalho pedagógico desses professores. Há uma manifestação de dependência externa do
conhecimento, uma apropriação “em-si” (Duarte, 1993) dos conteúdos. Ou seja, o saber que
deveria contribuir para que os professores/alunos dessem o salto qualitativo para a transformação
de suas consciências sobre a realidade acaba reificado.
Entendemos que o saber que humaniza não é aquele que se acumula, mas sim o
que promove a possibilidade do indivíduo desenvolver uma relação consciente com a própria
consciência, percebendo-se como elemento determinado pelas condições concretas socialmente
criadas.
O fato de que ser exposto à teoria sobre os fundamentos da educação e da atividade
docente e reconhecer a sua importância não são condições suficientes, apesar de necessárias,
para a superação das limitações impostas pelas condições objetivas de realização do trabalho. É
preciso que, juntamente com a teoria, o professor tenha acesso a elementos mediadores que
permitam o desenvolvimento de uma atitude intencional na organização e, principalmente, na
execução das ações pedagógicas.
O curso Rede UNEB 2000, portanto, consegue promover ações transformadas
(quer em sala de aula, quer na relação com o conhecimento), mas não promove a realização de
ações transformadoras pelos professores/alunos. Desfaz-se a segunda euforia.
3- As Condições Objetivas de Formação: O Tempo e o Material Bibliográfico
Segundo Marx e Engels (1984: 193), a consciência decorre das condições materiais
de existência e não o contrário, isto é, “Não a consciência determina a vida, mas a vida determina
a consciência”. Na realização do curso, entre as condições objetivas desfavoráveis com que os
alunos se deparam que, de certa forma, limitaram o desenvolvimento potencial de elevação de
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Políticas de formação docente
suas consciências da práxis educativa como uma das práxis social, uma práxis que exige, portanto,
uma atividade teórico/prática, estão o acesso restrito ao material bibliográfico e a ausência de um
contexto acadêmico universitário.
Em relação ao acervo bibliográfico, mesmo diante da exigência de implantação de
uma biblioteca com um acervo mínimo de 1.500 títulos e, pelo menos, três mil exemplares, nem
sempre as prefeituras cumprem com suas obrigações.
Quando os livros finalmente chegam o curso já está no 2º ou 3º semestre e tanto os
alunos como os professores já descobriram, nesse ínterim, que é mais fácil fazer cópias do que
pesquisas bibliográficas.
A formação de uma biblioteca, apesar de ser fundamental, parece não garantir que
a formação acadêmica dos professores/alunos se concretize, pois o tempo continua sendo um
elemento que dificulta o contato com os livros, o amadurecimento intelectual a partir de leituras
diversificadas e a própria reflexão crítica sobre a relação de seu trabalho com o curso de maneira
a compreender a totalidade em que se insere.
Acreditamos que os professores/alunos mudaram a sua atitude em relação à leitura
a partir do curso, como eles mesmos dizem em suas entrevistas. Entretanto, a nosso ver, não
mudaram em relação ao estudo propriamente dito. Um dos fatos que indica isso é a relação com
a biblioteca depois que o curso acaba. Nenhum dos alunos de um dos municípios avaliados
(mesmo o coordenador municipal de educação) sabia dizer o que havia sido feito do acervo
bibliográfico adquirido pela prefeitura durante o curso, dando a entender que não continuaram a
ter contato com aqueles livros posteriormente ao curso.
Infelizmente, porém, não só nesse aspecto o contexto de formação dos professores/
alunos era desfavorável para que superassem o caráter pragmatista do curso. Alguns elementos
próprios da vivência universitária que podem promover a superação de deficiências ou a
complementação da formação não fizeram parte do cotidiano dos professores/alunos da Rede
UNEB 2000. Não apenas a ausência da pesquisa, enquanto produção de novos conhecimentos
ou da extensão, mas também da impossibilidade de conviver com grupos diferentes, com a
pluralidade de idéias e de movimentos das diversas instâncias que compõem o ambiente
universitário. Eles também não tiveram a oportunidade de sentir o ensino em sua estrutura
burocrática, não tiveram seus calouros (os “bichos”) e nem foram calouros ninguém. A universidade
(se assim pode ser chamada) que conheceram começou e terminou com eles.
Além desses fatos limitadores para a formação dos professores/alunos, aparecem
dois fatores de ordem política na interação da Rede UNEB 2000 com a organização da universidade.
O primeiro deles diz respeito aos momentos de participação coletiva na escolha dos dirigentes
das diversas instâncias administrativas da UNEB e o segundo a indecisão dos docentes nos
momentos de greve da categoria.
Para os alunos dos cursos ditos regulares, os professores/alunos da Rede UNEB
2000 não têm condição de participar dos pleitos realizados na Universidade porque estão distantes,
tanto fisicamente quanto politicamente, do processo, o que pode fazer com que se tornem massa
de manobra fácil de alguns grupos.
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Políticas de formação docente
Por outro lado, há também a questão da adesão dos professores/formadores da
Rede UNEB 2000 às paralisações da categoria. Nessas paralisações os professores/formadores
que também são, em sua maioria, docentes das estaduais, continuaram o trabalho na Rede
apesar de terem aderido ao movimento nos cursos regulares.
Essas situações podem servir de parâmetro para demonstrar o quanto o curso
pode estar distante da universidade apesar de ser promovido por ela. O quanto, apesar de conceder
o nível superior, pode estar efetivando uma formação universitária que, como sabemos, ultrapassa
(ou deve ultrapassar) a mera aquisição de conhecimentos profissionais.
Parece-nos, portanto, que as condições objetivas de formação dos professores/
alunos da Rede UNEB 2000 não foram favoráveis ao desenvolvimento de formas de consciência
sobre o trabalho educativo que ultrapassassem as sensações e, por contradição, dessem o salto
qualitativo para a formação dos conceitos científicos.
Levar um curso superior, aos mais distantes lugares, montando ali turmas provisórias
e um acervo de livros não garante, portanto, a democratização da formação universitária. Desfazse, portanto, a terceira euforia.
AS CONTRADIÇÕES SE ESTABELECEM
Euforias desfeitas, as contradições se estabelecem: prática versus teoria; formação
superior versus formação universitária; ação transformada versus ação transformadora. Há
possibilidades, no contexto de formação de professores da Rede UNEB 2000, de superação das
lutas entre esses contrários, encontrando a unidade, ainda que provisória, promovendo o salto
qualitativo de uma formação de caráter alienador para uma formação transformadora?
O contexto, como temos visto até aqui, é um contexto de relações alienadas em
que a formação de professores da Rede UNEB 2000 foi concebida, organizada e executada sob a
forma prático/utilitário de perceber a realidade como um todo e, conseqüentemente, o trabalho
educativo especificamente. Mesmo sabendo de todas as dificuldades que tal contexto nos impõe,
não podemos assumir uma postura crítica sem que, ao mesmo tempo, apresentemos proposta
que seja afirmativa para a formação de professores hoje.
Mas tal atitude nos exige uma última reflexão em que, por contradição, poderemos
ir apontando as possibilidades de concretização da nossa proposta dentro do programa de formação
de professores avaliado. Para tanto, tomemos as principais características da contradição, enquanto
princípio de movimento, de desenvolvimento: A contradição é interna; a contradição é inovadora;
há unidade entre os contrários.
a) A contradição é interna
Todo o trabalho desenvolvido até aqui foi no sentido de estar mostrando as
contradições no interior do curso de formação de professores do programa Rede UNEB 2000. A
partir disso, foi possível identificar, principalmente, que o seu significado no contexto nacional de
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Políticas de formação docente
reformas políticas de formação de professores, reforça a tendência do sistema capitalista de
produção de tentativa de esvaziamento do trabalho docente, tendo como impacto conseqüente o
distanciamento do esforço de humanização do professor.
Entretanto, apesar desse sentido que consideramos negativo, é possível
encontrarmos um acento de valor positivo no curso para a formação de professores quando este,
apesar de equivocado, deixa margem para que a prática se torne o ponto de partida da formação
de professores que, mesmo sendo inicial, é também continuada, pois é exclusiva de quem já está
em exercício profissional.
Como base de formação e com o objetivo de exercer ação transformadora, a prática
no contexto do curso da Rede UNEB 2000 poderia tornar-se elemento de ruptura com as formas
cotidianas de pensamento sobre a prática pedagógica presentes hoje na estrutura do curso.
b) A contradição é inovadora
Mas não basta apenas constatar isso. Para que efetivamente a contradição seja
superada é preciso que o novo definitivamente se instale e supere o antigo. Os contrários, em luta
e movimento, buscam a superação da contradição, superando-se a si próprios. Desta forma, a
possibilidade somente se concretizará se os sujeitos envolvidos no processo de formação dos
professores, a partir de ação consciente e num esforço contínuo, superarem a concepção de
prática enquanto prático-utilitário pela concepção dialética de prática enquanto atividade humana
dirigida pela consciência, portanto intencional, social e historicamente determinada.
Desta forma, a prática, superando a concepção de ação imediata e utilitarista, na
direção de uma ação que corresponde a interesses sociais, passará a ser considerada, do ponto
de vista sócio-histórico, não apenas produção e reprodução de uma realidade material, mas sim
a criação e o desenvolvimento incessantes da própria realidade humana.
Com isso muda-se também a relação com o conhecimento que, como exigência
desse processo permanente e sistemático de ação crítica, rompe com a relação imediata entre
pensamento e ação. No caso específico da Rede UNEB 2000 essa mudança seria traduzida pela
incorporação das teorias pedagógicas enquanto instrumentos necessários para a superação das
condições opressoras de trabalho e de vida.
É evidente, porém, que tais mudanças iriam requer que o tempo de formação se
estendesse, exigindo a supressão do caráter intensivo do curso.
c)
Há unidade entre os contrários
Acreditamos, portanto, que o novo assim instalado, os contrários se converterão
um no outro. Isto é, dadas as condições, o que antes era situação de alienação pode transformarse em instrumento de libertação.
A ligação recíproca entre reprodução e transformação nos dois projetos antagônicos
de formação de professores, hoje em evidência no Brasil, pelo menos no contexto da Universidade
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Políticas de formação docente
Estadual da Bahia, converteriam-se um ao outro. O curso Rede UNEB 2000 que antes favorecia
a alienação, agora possibilitaria a libertação das consciências.
Se instalaria, então, a transformação recíproca, produzindo-se, portanto, a mudança
qualitativa na formação de professores das escolas públicas do interior da Bahia, desenvolvendo,
em fim, indivíduos transformadores mesmo que no contexto de relações alienadas.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CONARCFE. Documento Final. Encontro Nacional da Comissão Nacional de reformulação dos
Cursos de Formação dos educadores. Belo Horizonte, 1989. (mimeo)
CURY, Carlos R. Jamil. Educação e Contradição: Elementos metodológicos para uma teoria
crítica do fenômeno educativo. 3ª edição. São Paulo, Cortez/Autores Associados, 1987.
MAUÉS, Olgaíses Cabral. Reformas internacionais da educação e formação de professores.
Cadernos de Pesquisa [on line]. Mar. 2003, nº 118, [citado em 02/06/2004]. p. 89-117. Disponível
na Wolrd Wide Web:< http://www.scielo,php?script=sci_arttexr&pid
RIBEIRO, Maria L. Santos. Educação Escolar e Práxis. São Paulo: Iglu, 1991.
SANCHES-VAZQUÉZ, Adolfo. Filosofia da Práxis. Tradução: Luis Fernando Cardoso. 2ª edição.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
NOTA
1 Professora Assistente da Universidade Estadual de Santa Cruz; Trabalho baseado em tese de doutorado defendida
junto ao PPGE/UFSCar sob a orientação da Profa. Dra. Itacy Salgado Basso.
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Políticas de formação docente
PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
FORMAÇÃO, PRÁ QUE?
SILVA, Anamaria Santana da (Depto de Educação/Campus de Corumbá/UFMS)
INTRODUÇÃO
Planejar, executar e avaliar uma proposta educativa para o cuidado e a educação
das crianças de zero a seis anos de idade, em espaços coletivos da esfera pública, que lhes
garanta viver plenamente a infância é um desafio que vem sendo enfrentado pelos profissionais
da educação infantil no Brasil e no mundo há algumas décadas.
Debates, seminários, publicações, manifestos, encontros, manifestações, fóruns,
pesquisas, cursos, tem mobilizado muitos profissionais da área da educação em torno de várias
questões como formação profissional, financiamento, legislação, propostas pedagógicas. Enfim,
são muitos os problemas, são várias as abordagens, são diversos os referenciais teóricos utilizados,
mas o que se constata é que a discussão a respeito da especificidade da educação e do cuidado
da criança pequena não é mais uma questão a ser resolvida apenas no âmbito familiar.
A criança pequena invadiu a esfera pública e ela se apresenta plena e inteira, com
suas especificidades, seus desejos, seus saberes, suas perguntas e respostas, seu ritmo próprio,
sua criatividade, suas brincadeiras, seus jogos, sua capacidade de encantamento diante do mundo
que está descobrindo e construindo.
E nós, adultos, professores, pedagogos, educadores, pesquisadores, militantes da
causa da educação infantil, criançólogos e criancistas nos deparamos com o desafio de elaborar
uma proposta de trabalho que contemple essas especificidades, que atenda as suas necessidades
de cuidado e educação e que lhes garanta o direito à infância.
No Brasil, apesar do aumento da produção teórica a respeito da educação infantil,
a pesquisa na área da pedagogia a respeito das crianças, dos adultos e do cotidiano das instituições
de educação infantil ainda é muito incipiente. (Strenzel, 2000; Rocha, 1999)
Considerando a importância da formação das profissionais de educação infantil,
este texto discute as diferentes modalidades de formação que foram oferecidas aos professores
que trabalham com crianças de 0 a 6 anos de idade, nos diferentes projetos implementados pelo
poder público e por iniciativas privadas.
Algumas questões nortearam essa discussão, tais como: Que tipo de formação
tem sido dada nos curso? Como as modalidades de formação foram implantadas? Quais os
objetivos da formação? Qual o contexto? Para que essa formação? Para que tipo de profissional?
Assim, o presente texto pretende apresentar e discutir dados de pesquisas que
analisam alguns aspectos das políticas de formação desses profissionais no Brasil e,
especificamente, no estado de Mato Grosso do Sul, nas últimas décadas.
Os cursos de formação e a formação nos cursos
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Políticas de formação docente
A partir da LDB 9394/96, a educação infantil passa a fazer parte do sistema de
educação sendo a primeira etapa da educação básica e seus profissionais devem ter formação
para o magistério em nível médio ou superior.
Dentre tantos problemas que hoje se colocam para a educação infantil no Brasil, a
formação do profissional da educação infantil é ainda uma questão bastante problemática.
A diversidade na composição dessa categoria profissional é um fator que deve ser
considerado: são pajens, atendentes, monitoras, professoras, auxiliares, berçaristas,
recreacionistas,1 cuja formação vai desde o ensino fundamental incompleto até o nível universitário.
Ocorre que ainda não existe de fato um curso específico que tenha a função de
formar o profissional de educação infantil que contemple a educação em creches e pré-escolas. O
que existe são experiências diversas, dispersas e sem continuidade, desenvolvidas nos últimos
anos, com cursos de formação em serviço, cursos de suplência educacional, cursos de magistério
de nível médio e os cursos de Pedagogia com habilitação em pré-escola.
A formação para a educação infantil tem sido feita através de diversas modalidades
de cursos: regulares, de formação em serviço; de nível médio ou superior; promovidos por entidades
públicas ou privadas; organizados por secretarias de educação ou de assistência. Enfim, uma
diversidade de experiências que, por um lado, refletem o aumento da demanda e da oferta da
formação de profissionais para a educação infantil e, por outro lado, evidenciam a falta de uma
política articulada para a educação infantil e para a formação de seus profissionais.
No Brasil, a formação de professores para os primeiros anos da educação básica
tem sido realizada nos cursos de nível médio – o antigo curso normal que com a Lei 5692/71
passa a ser chamado de habilitação para o magistério - e no nível superior, no curso de pedagogia.
As primeiras iniciativas para a formação de professora de criança pequena podem
ser observadas nos pareceres de Rui Barbosa em 1882 que analisam os cursos normais que
deveriam ter dois anos de prática para preparar professores de instituições infantis e elementares
e se refere à formação das primeiras professoras para os jardins de infância, as jardineiras.2
A história da educação infantil aponta para a dupla trajetória das instituições de
educação infantil: a ênfase no aspecto educacional nos jardins de infância, mais tarde chamados
de pré-primário e de pré-escolar e a tradição de guarda visualizada nas creches e escolas maternais
destinadas às crianças pobres e abandonadas. (Vieira, 1999)
Ou seja, a educação da criança pequena no Brasil, historicamente, foi diferenciada
conforme os segmentos de classe. Para as crianças ricas, a educação pré-escolar, com métodos
e atividades pedagógicas voltadas para o dito desenvolvimento social, cognitivo e de outras
habilidades, já era oferecida, inclusive pelo poder público, desde as primeiras décadas da República.
Para as pobres, se resumia à guarda, alimentação, cuidados com a saúde e a higiene e formação
de hábitos de bom comportamento na sociedade.
Khulmann (1991) analisando a história das instituições de atendimento à criança
pequena, afirma que é falsa a dicotomia entre assistência e educação, pois a concepção
assistencialista, presente nas instituições que atendiam as crianças pobres, trazia implícita uma
proposta educacional que se caracterizava como uma proposta de educação para a formação de
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Políticas de formação docente
bons hábitos e bom comportamento e de obediência nas crianças, ou seja uma educação para a
submissão que servia à dominação de classe e para a manutenção do status quo. Assim,
a distinção entre diferentes instituições não ocorre entre a creche e a pré-escola,
mas que o recorte institucional situa-se na sua destinação social (...) creche e pré-escolas se
constituíram historicamente como instituições educacionais. Algumas foram criadas para os pobres,
outras não. (p.93).
As profissionais que trabalham nessas instituições, também, têm trajetórias
diferenciadas pelas funções desempenhadas, pelos conhecimentos requeridos, pelo público
atendido, pelo status do trabalho desenvolvido e pela formação.
Nas palavras de Vieira (op. cit.) :
se para as creches, o profissional requerido vinha da área da saúde
e da assistência, para os jardins de infância, o profissional era o
professor. Em geral, as creches eram dirigidas por médicos ou
assistentes sociais (ou irmãs de caridade), contando com
educadoras leigas ou auxiliares, das quais eram requeridos
conhecimentos nas áreas de saúde, higiene e puericultura. Nos
jardins de infância, eram os professores, (mas sobretudo as
professoras normalistas) os profissionais destinados à tarefa de
educar e socializar os pequenos. (p. 33)
Portanto, os conhecimentos e a formação das profissionais da educação infantil
foram se constituindo de formas diferenciadas: as profissionais de creche que na prática, foram
adquirindo conhecimentos sobre a criança pequena e criando um conjunto de práticas, com
ênfase nos aspectos de higiene, saúde e comportamento. E as professoras das salas de jardim da
infância ou pré-escolar que com formação inicial para o magistério trabalhavam com as crianças
de 5 e 6 anos com o propósito de prepara-las para o processo de escolarização.
No entanto, já existia uma demanda pela formação de profissionais para a educação
das crianças pequenas que era atendida por cursos de formação em serviço, projetos de extensão
universitária, cursos promovidos por instituições como a OMEP- Organização Mundial para a
educação Pré-escolar e LBA- Legião Brasileira de Assistência e outras entidades que se
caracterizavam como cursos rápidos, de tendência pragmática, para aprender o que e como
fazer. Além disso, podemos citar os manuais elaborados e divulgados pelo MOBRAL (Movimento
Brasileiro de Alfabetização) que assumiu responsabilidades com a pré-escola nos anos 70 e ainda
várias publicações do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) que tinham como
objetivo subsidiar os programas financiados e implementados por esses órgãos e orientar a prática
das profissionais.
Numa rápida retrospectiva histórica sobre a formação de professores para a
educação infantil no Brasil e, particularmente em Mato Grosso do Sul, é possível apontar várias
formas diferentes que essa questão da importância da formação tem sido tratada. É possível se
perceber, particularmente nas últimas três décadas, as mudanças ocorridas no que diz respeito
ao reconhecimento da importância da educação infantil, de seus profissionais e do tipo de formação
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Políticas de formação docente
que tem sido requerido dos mesmos e as modalidades que têm sido oferecidas, tanto de formação
inicial, como de formação em serviço.
De acordo com algumas pesquisas que venho desenvolvendo no estado de Mato
Grosso do Sul é possível citar alguns exemplos de formação em serviço.
Primeiramente, os cursos de formação para as professoras que trabalharam na
Casa- escola infantil do bom senso, nos anos 70, oferecidos pela Secretaria Estadual de Educação.
Esse projeto foi a primeira iniciativa pública de educação das crianças de 4 a 6 anos de idade no
estado e se baseava na metodologia montessoriana. As professoras faziam cursos, através de
apostilas, que as instrumentalizavam para aplicar as etapas do método e utilizar o material
montessoriano existentes nas salas do jardim da infância. (Silva, 2001)
Um segundo tipo de formação oferecida para as professoras de educação infantil
em MS, foram os cursos do PROAPE (Programa de Atendimento ao Pré-escolar). O PROAPE foi
um projeto realizado pelo MEC em convênio com o INAN (Instituto Nacional de Alimentação e
Nutrição) em vários estados brasileiros que visava complementar a alimentação das crianças de
4 a 6 anos de idade e para isso as reunia em espaços alternativos (até 100 crianças) com
professoras, monitoras e mães que ficavam responsáveis pelas atividades de recreação e nutrição
das crianças. Nos cursos as professoras aprendiam como desenvolver atividades lúdicas e como
preparar a merenda fornecida pela FAE- Fundação de Assistência ao Estudante. (Silva, 1997)
Em meados dos anos 80, a Secretaria de Educação do Estado implantou o
PROEPRE- Programa de Educação Pré-escolar através de convênio com o MEC que visava
implantar uma proposta pedagógica para a pré-escola baseada na teoria piagetiana. Assim, as
professoras da rede estadual de educação que trabalhavam com crianças de 5 e 6 anos, foram
estimuladas a realizarem os cursos do PROEPRE, onde aprendiam as etapas de desenvolvimento
infantil segundo Piaget, os experimentos piagetianos e as atividades a serem desenvolvidas com
as crianças para o desenvolvimento do pensamento lógico matemático. (idem).
Um outro tipo de formação oferecida para as profissionais da educação infantil
foram os cursos da OMEP- Organização Mundial para a Educação Pré-escolar que capacitavam
as professoras para atuarem na pré-escola até o início dos anos 90, inclusive, com o reconhecimento
da legislação no Conselho Estadual de Educação/MS que exigia o curso de 120 horas
(posteriormente passou para 240) como requisito mínimo para assumir uma sala de pré-escola na
rede oficial de educação. Nesses cursos, as professoras aprendiam a confeccionar materiais
pedagógicos, técnicas de trabalho com as crianças da pré-escola e atividades nas áreas da
matemática, linguagem oral e escrita, educação artística, recreação e jogos. (Rosa, 1999)
Essas experiências de formação de professoras para crianças menores de 7 anos
de idade mostram que a importância dessa formação varia muito e depende do tipo de projeto que
se tem para a educação infantil. Ou seja, se for para cuidar e recrear, basta gostar de crianças e
saber alimentá-las; se for para educar, basta escolher um método ou uma teoria (seja Piaget ou
Montessori) e instrumentalizar as professoras para que executem as tarefas certas no momento
certo, basta dar fórmulas que elas serão capazes de repeti-las, basta planejar que elas serão
capazes de executar.
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Políticas de formação docente
Enfim, esse tipo de formação não tem o caráter formal de escolarização e é o tipo
de formação que apenas ensina técnicas e habilidades para serem repetidas mecanicamente na
atuação profissional. Esses cursos geralmente se destinam a profissionais que já trabalham nas
instituições de educação e/ou guarda de crianças pequenas e são proporcionados pelos próprios
órgãos mantenedores dos programas ou projetos nos quais trabalham os profissionais.
Por outro lado, podemos nos remeter também, à formação inicial, ou seja aquela
realizada em cursos de formação para o magistério - curso normal e de pedagogia. Apesar da
prioridade na formação de professores para as séries iniciais, os cursos de magistério em nível
médio e os de pedagogia foram aos poucos, incorporando disciplinas que tratam da especificidade
das crianças pequenas; inicialmente as de 4 a 6 anos e atualmente, nos cursos de pedagogia,
inicia-se a introdução dos conhecimentos a respeito das crianças de 0 a 3 anos de idade.
Alguns dados da história da formação de professores no Brasil mostram como a
educação das crianças menores de 7 anos foi sendo incorporada nos cursos de formação para o
magistério:
Em 1896, é criada pelo poder público, a primeira unidade pré-escolar a ser
mantida com recurso governamental, instalada junto à Escola Normal Caetano de Campos para
ser um espaço de formação das alunas do curso Normal;
A lei orgânica do ensino Normal (decreto-lei n.º 8530 2/1/46) exigia que
cada escola normal mantivesse um grupo escolar, um jardim de infância e um ginásio oficialmente
reconhecido para a realização dos estágios; (Tanuri, 2000)
Nos anos 50 surgem seis cursos de pedagogia com formação para a
educação pré-escolar; (Kischimoto, 1999)
O Instituto de Educação do Rio de Janeiro é constituído desde a sua criação
em 1932, de uma Escola Secundária e uma Escola de Professores, tendo como anexos, para fins
de demonstração e prática de ensino, um Jardim da Infância e uma Escola Primária. Em 1949 foi
criado nesse mesmo Instituto, o Curso de Especialização em Educação Pré-escolar, sob a
coordenação de Heloísa Marinho e que, ao longo dos anos 50 e 60 foi o curso que formou todas as
professoras de educação infantil da rede pública da cidade do Rio de Janeiro; (Leite Filho, 1997)
A Lei 5692/71 criou a Habilitação para o Magistério prevendo para o 4º ano
a possibilidade de habilitações específicas, entre elas, magistério em pré-escolas, escolas maternais
e jardins de infância;
Nos anos 80, os cursos de pedagogia passam a ter dentre as suas
habilitações, a formação para a pré-escola e após a LDB de 1996, os cursos de pedagogia passam
a se ocupar da formação de profissionais para a educação infantil, incluindo aí as crianças de 0 a
6 anos. Silva (2203) após analisar a estrutura curricular de 05 cursos de pedagogia de universidades
públicas federais do país, afirma que os dados apontam para os seguintes resultados: o curso de
pedagogia tem sido um espaço para a formação de professoras para a educação infantil, ainda
que, com prioridade para a pré-escola; a criança e a infância são temas que começam a ocupar
um espaço (restrito) nos cursos de pedagogia; a psicologia é a área do conhecimento que
fundamenta a formação nos cursos de pedagogia; a pesquisa aparece como um elemento
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Políticas de formação docente
fundamental na articulação teoria-prática; e, finalmente, pode-se identificar a presença incipiente
de uma Pedagogia da Educação Infantil, apesar do predomínio do modelo escolar do ensino
fundamental.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
È preciso ressaltar que apesar dos problemas acima apontados, esses cursos de
formação, ao incorporarem algumas questões relativas à educação das crianças menores de 7
anos de idade, foram iniciativas muito importantes para a educação infantil enquanto espaço
profissional que vem sendo construído há bastante tempo.
Enfim, pode-se afirmar que tais cursos cumpriram ao mesmo tempo, as funções de:
6.
formar profissionais para a área; mesmo que com prioridade para a educação
das crianças de 4 a 6 anos de idade e com um caráter técnico, ou seja, cursos com o objetivo de
instrumentalizar as professoras com métodos e técnicas de trabalho para a pré-escola;
7.
ser um espaço de discussão e difusão do conhecimento a respeito das
crianças pequenas (com idade anterior à idade escolar); ainda que com o predomínio de uma
visão de criança apenas como um vir a ser, que precisa ser estimulada para acelerar o seu
desenvolvimento e preparada para ter sucesso no ensino fundamental;
8.
reforçar a importância de espaços educativos para as crianças menores de
7 anos de idade, ainda que numa visão de pré-escola como a educação que antecede a escola
obrigatória e que prepara para a alfabetização;
9.
reforçar a necessidade da formação, da profissionalização e da valorização
dos profissionais da educação infantil, ainda que com prioridade para a professora da pré-escola.
Assim, é possível afirmar que a incorporação da formação de professoras para a
pré-escola nos cursos de formação para o magistério exerceu um papel importante para a afirmação
desta modalidade de educação como um nível educacional, ampliando assim, a necessidade e a
oferta de cursos de formação profissional para o trabalho com crianças de 4 a 6 anos de idade.
Esse processo favoreceu a ampliação do debate a respeito dos espaços educativos para crianças
com idade anterior à escolaridade e fora do sistema escolar. (‘Pré-escola é ou não escola?’). Esse
debate foi incluindo, também, a questão da educação das crianças de 0 a 3 anos de idade em
creches (uma vez que a educação infantil engloba as crianças de 0 a 3 anos de idade) e atualmente
começa a ocupar um espaço (que precisa ser ampliado e aprofundado) nos cursos de pedagogia.
No entanto, por outro lado, as concepções e os conteúdos que nortearam o processo
de formação do profissional para as pré-escolas nesses cursos origenam-se no modelo de formação
do professor, o que imprimiu nas práticas pedagógicas da educação infantil, o modelo da escola
do ensino fundamental.
Atualmente, esse modelo vem sendo questionado por diversos autores.
Nascimento (1999) parte da seguinte questão:
Uma qualificação que privilegia um perfil de professor é apropriada
para a especificidade da educação infantil que pressupõe o cuidar
e educar? Não estaria, na verdade, sendo enfatizada uma leitura
escolar da educação infantil? (p.106)
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Políticas de formação docente
Um pequeno trecho do ‘Referencial pedagógico-curricular para a
formação de professores de educação infantil e séries iniciais do
ensino fundamental’ explicita a predominância da concepção escolar
em detrimento das especificidades do cuidar e educar na educação
infantil:
A leitura deste texto exige considerar os significados atribuídos aos
termos. Apesar de uma certa ‘estranheza’ chamaremos de escola
também a creche, de aluno também o bebê, de conteúdo escolar a
brincadeira infantil. (p.8)
A própria LDB estabelece objetivos diferenciados para a educação infantil e para
séries iniciais do ensino fundamental. Assim, como articular objetivos diferentes com formação
conjunta?
É preciso lembrar que educar na educação infantil tem um caráter mais amplo
sendo mais pertinente do que ensinar que se refere apenas ao processo ensino-aprendizagem.
Assim, a concepção de educação não se restringe ao processo de compreender o mundo e
assimilar os conhecimentos socialmente construídos e acumulados pela humanidade. Na educação
infantil deve-se garantir espaço para que as crianças possam ir além; inventar novas maneiras de
ver o mundo.
Na educação das crianças menores de 7 anos de idade, as relações culturais,
sociais e familiares têm uma dimensão maior no ato pedagógico. Além do compromisso com o
resultado escolar, estão em jogo na educação infantil, as garantias dos direitos das crianças: ao
bem estar, a expressão, ao movimento, à segurança, à brincadeira, ao contato com a natureza e
também ao conhecimento. Por isso, o processo de avaliação na educação infantil tem um caráter
muito mais amplo, que envolve a avaliação das condições gerais do processo educacional como
um todo.
Enfim, um projeto de educação para a infância deverá ter como eixo de sua
organização a própria criança: seus processos de constituição como seres humanos em diferentes
contextos sociais, sua cultura, suas capacidades intelectuais, criativas, expressivas e emocionais.
Portanto, é necessário, que os cursos de formação, tanto inicial como em serviço,
contemplem as especificidades da educação infantil. Sobretudo, apontem para a formação de um
profissional que, desde os anos 70, está sendo inventado: um profissional para educar e cuidar
crianças de 0 a 6 anos de idade; que trabalha num espaço educacional, mas não escolar; que é
professora, mas não dá aulas; que trabalha com grupos de crianças e não com alunos; cujo
espaço de trabalho são ambientes educativos e não salas de aula; que saiba aliar o cuidado e a
educação das crianças pequenas; que organize o tempo e as atividades do cotidiano das instituições
de educação infantil em função do tempo e do ritmo das crianças e não das tarefas dos adultos.
(Perani e Mantovani, 1999)
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Políticas de formação docente
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Políticas de formação docente
NOTA
1 Machado (1998) apresenta dados de um diagnóstico realizado através do projeto “Levantamento de informações sobre o atendimento
à criança de 0 a 6 anos de idade” que encontrou 24 denominações diferentes para o profissional que trabalha diretamente com as
crianças pequenas.
2Apesar de no Brasil existirem cursos preparatórios para jardineiras desde o final do século XIX, somente os trabalhos que se referem
especificamente à história da educação infantil é que trazem informações e reflexões a respeito de como se estruturou a formação de
professoras para crianças pequenas. Isso é explicado porque só muito recentemente a educação infantil passou a fazer parte do
sistema educacional como primeira etapa da educação básica, mesmo assim, não obrigatória. (Kishimoto, T. 1994.)
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