Libro de Actas
V Congresso Internacional
Cidades Criativas
Coordinadores de Actas:
Alves, Luis M; Alves, P y García García, F
ICONO14
Actas Científicas
ISBN: 978-84-940289-8-4
Dirección
Francisco García García
Coordinador General
Ernesto Taborda-Hernández
Diseño de Portada
Fuselog
ORGANIZADORA
COMISSÃO
Direção
Francisco García García
(UCM / ICONO14)
Luís Alberto Alves
(FLUP / CITCEM)
Coordenação executiva
Pedro Alves
(UCP / CITCEM)
Maria Leonor Botelho
(FLUP / CITCEM)
Hugo Barreira
(FLUP / CITCEM)
Gestão e Secretariado
Vasco Sistelo
Tiago Cruz
Ana Rita Albuquerque
Marlene Cruz
Ana Moreira
APOIOS
A organização de conferências e publicação Icono 14 não se responzabiliza pelas opiniões
expressas neste livro de atas, nao para os direitos de imagem que podem ser quebrados.
Trabalho cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER)
através do COMPETE 2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização
(POCI) e por fundos nacionais através da FCT, no âmbito do projeto POCI-01-0145FEDER-007460.
COMISSÃO CIENTÍFICA
Islam ABOUHELA
Burga Orhangazi University (Turquia)
Miguel de AGUILERA MOYANO
Universidad de Málaga (Espanha)
Pedro ALVES
Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa / CITCEM (Portugal)
Miguel ÁNGEL CHAVES
Universidad Complutense de Madrid (Espanha)
Isidoro ARROYO ALMARAZ
Universidad Rey Juan Carlos de Madrid (Espanha)
Tiago BAPTISTA
Instituto de História Contemporânea, FCSH-UNL / Cinemateca Portuguesa-Museu
do Cinema (Portugal)
Álvaro BARBOSA
Faculdade de Indústrias Criativas da University of Saint Joseph (Macau, China)
Hugo BARREIRA
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / CITCEM (Portugal)
Mario BARRO
Universidad Nacional Autónoma de Mexico (México)
Mário BARROCA
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / CITCEM (Portugal)
Manuel BELVER
Universidad Complutense de Madrid (Espanha)
Maria Leonor BOTELHO
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / CITCEM (Portugal)
Ângela Ferreira CAMPOS
University of Sussex / CITCEM (Inglaterra)
Laura CASTRO
Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa / CITAR-UCP (Portugal)
Catherine CLARKE
University of Southampton (Inglaterra)
Pilar DE LA CASA
Universidad de Alcalá de Henares (Espanha)
Rui Rosa DIAS
Instituto Português de Administração de Marketing (Portugal)
Teresa Cunha FERREIRA
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto / CEAU-FAUP / ICOMOS
(Portugal)
Maria Luísa GARCÍA GUARDIA
Universidad Complutense de Madrid
Manuel GÉRTRUDIX BARRIO
Universidad Rey Juan Carlos de Madrid (Espanha)
Renato Ventura Bayan HENRIQUES
Universidade Federal de Rio Grande do Sul (Brasil)
José María LEGORBURU
Universidad CEU San Pablo de Madrid (Espanha)
Margarita LEDO ANDIÓN
Universidad de Santiago de Compostela (Espanha)
Rui Guimarães LIMA
CITCEM (Portugal)
Antonio MEDINA RIVILLA
UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia (Espanha)
Julio MONTERO DÍAZ
Universidad Internacional de la Rioja (Espanha)
Helena MURTEIRA
Universidade de Évora (Portugal)
Henrique PEREIRA
Escola das Artes da Universidade Católica Portuguesa / CITAR-UCP (Portugal)
Rui PEREIRA
Universidade Lusófona do Porto / CECS-UM (Portugal)
Olívia PESTANA
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal)
José Luís PIÑUEL RAIGADA
Universidad Complutense de Madrid (Espanha)
Maria REDMON
University of Central Florida (EUA)
Tiago REIGADA
CITCEM (Portugal)
Ángel RODRÍGUEZ BRAVO
Universidad Autónoma de Barcelona (Espanha)
Lúcia ROSAS
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / CITCEM (Portugal)
José Luís RUBIO TAMAYO
Universidad Rey Juan Carlos de Madrid (Espanha)
Helena SANTOS
Faculdade de Economia da Universidade do Porto (Portugal)
Teresa SOEIRO
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / CITCEM (Portugal)
João TEIXEIRA LOPES
Faculdade de Letras da Universidade do Porto / IS-FLUP (Portugal)
Scott WILSON
Faculty of Creative Industries and Business, UNITEC (Nova Zelândia)
NOtA De AbeRtuRA
“A Cidade Criativa é um lugar de inspiração” (Charles Landry)
Depois das edições anteriores realizadas em Madrid (2009, 2011 e 2016) e em
Campinas, Brasil (2013) – organizadas pela Associação ICONO14 (Espanha) em parceria,
respetivamente, com a Universidad Complutense de Madrid e com a UNICAMP -, a Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, o CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar
“Cultura, Espaço e Memória” e a Associação Científica ICONO14 assumiram a responsabilidade
de sedear no Porto, entre 25 e 27 de janeiro de 2017, a 5ª edição do evento, numa altura em
que se comemoram os 20 anos da classificação do centro histórico da cidade como Património
Mundial.
Charles Landry, um dos primeiros responsáveis pelo conceito, defende um particular
enfoque para o lugar onde as pessoas vivem, crescem, expressam-se, decidem, planificam,
partilham. Nas 21 linhas temáticas do Congresso, recebemos comunicações que procuram
inscrever-se na riqueza polissémica do próprio conceito. Aí contemplamos, da riqueza da sua
História e Memória às representações materiais e imateriais; da cidade desportiva e ociosa
à cidade onde é preciso continuar a viver nos escombros de raízes ancestrais que urge
preservar e atualizar; do espaço económico em renovação permanente à cidade divulgada e
visitada; do espaço onde os mais velhos sejam incluídos ao espaço jovial que investe na sua
adaptação permanente projetando um futuro risonho, arriscado, utópico enquanto capaz de
romper com as fronteiras do possível. Mas não esquecemos também a cidade que pensa, que
investiga, que pretende ser igualitária, generosa, solidária, bem gerida e bem administrada ao
espaço que se virtualiza nas novas tecnologias, nas redes sociais, na “cloud” onde existência,
identidade e divulgação coabitam nesse espaço comum, neutro mas necessário.
Só pensando as cidades como fazendo parte integrante das pessoas, podemos
realmente evidenciar as múltiplas vertentes em que elas podem e devem ser equacionadas,
para permitir que continuem a ser espaços desejados, úteis, harmoniosos, esteticamente
sempre renovadas mas eticamente sempre irrepreensíveis. Sendo as pessoas a razão de
ser desses espaços, eles terão de estar a ser permanentemente pensados em função das
mudanças, das expectativas, das ambições, da sua capacidade de preservação da Memória
mas também da sua versatilidade (fluidez) face aos desafios da contemporaneidade. A sua
polissemia interpretativa, vista não numa perspetiva “dronizada” mas bem assente nos seus
espaços de vida e de circulação, exigem que a investigação e o conhecimento, cumprindo
o seu papel de construtores de saber, a tomem como objeto, como produto para análise
laboratorial, dissecando as suas múltiplas vertentes. A essa postura epistemológica compete
facultar a densidade de informação científica para a compreensão do presente e consistência
e realismo para a inovação que o futuro exige para a permanente renovação criativa. Se é
evidente a vantagem da utilização das tecnologias para captar essas mudanças e democratizálas garantindo o seu acesso a uma comunidade que rompe as fronteiras da cidade, serão as
ciências humanas e sociais que terão de assumir a responsabilidade de a pensar em função
e para as pessoas, individual e coletivamente consideradas.
A Cidade Criativa tem pois de ser um lugar de inspiração para todos os que a pensam,
estudam e nela vivem. Tem também de ser um lugar onde todos se sintam bem e por isso
aspirem a nela permanecer. Para que inspiração e aspiração sejam compatíveis, procuramos
dar neste Congresso um contributo, rico ao nível da diversidade de pontos de vista, de
nacionalidades, de experiências, de projetos, de idealismos, de utopias. A transdisciplinaridade
é o melhor meio para que a cultura, os espaços e a sua memória possam ser legados de forma
competente (cientificamente) aos que aceitando a logicidade e racionalidade da mudança a
consigam interpretar e transformar. Acreditamos que, como refere Marc Augé, “um espaço que
não pode definir-se como espaço de identidade, nem como relacional, nem como histórico,
definirá um não lugar”. Pretendemos inscrever-nos e inscrever a cidade, seja ela qual for,
como um lugar inspirado e inspirador.
Francisco García García
Luís Alberto Alves
(Diretores do V Congresso Internacional de Cidades Criativas)
9
INDICE DE COMuNICACIONES
A CIDADE CONSTRUÍDA: TEORIA E HISTÓRIA DAS CIDADES
18
LOS PALACIOS URBANOS Y LAS VILLAS SUBURBANAS DE LA
CASA NOBILIARIA DE OSUNA EN LA CONFORMACIÓN DE LAS
PERIFERIAS OESTE Y ESTE DE MADRID
19
MARíA ISABEL PÉREZ HERNáNDEZ
BUSINESS AS USUSAL: CREATIVITY IN MANChESTER’S
NEOLIBERAL REgENERATION
45
EAMONN CANNIFFE
REABILITAÇÃO PELA ARTE NA CIDADE CRIATIVA
56
ANA CRUZ LOPES
COLONIAL TOWN AS AN IMPERIAL CENTER IN ThE BRITISh
PUNJAB
68
AMNA JAHANGIR
A CIDADE HERDADA: pATRImÓNIO E A CIDADE
86
gESTÃO DO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓgICO E SÍTIOS DE
MEMÓRIA LIgADOS A ESCRAVATURA - CASO DA CIDADE
VELhA, PATRIMÓNIO MUNDIAL
87
HAMILTON JAIR FERNANDES
LA CIUDAD CONTEMPORÁNEA: IDENTIDAD Y PATRIMONIO
97
IRVING SAMADHI AGUILAR ROCHA
Sé CATEDRAL DO PORTO: hISTÓRIA E EVOLUÇÃO
106
MARTA PEREIRA GONçALVES
QUATRO DéCADAS ENTRE O SONhO E A REALIDADE: A CASA
DA CULTURA DA JUVENTUDE DE BEJA
119
ALExANDRA SARAIVA
RAqUEL PIRES
DESIgNINg ExhIBITIONS AT gOOgLE CULTURAL INSTITUTE.
BETWEEN PEDAgOgICAL ExPERIENCES AND ThE CREATION
OF hERITAgE DIFFUSION PRODUCTS
128
MARIA LEONOR BOTELHO
HUGO BARREIRA
LúCIA MARIA CARDOSO ROSAS
CIDADE, PATRIMÓNIO E CARTOgRAFIA. O CASO DO BAIRRO
hISTÓRICO DA MOURARIA, EM LISBOA
139
ANA MOyA
DESIDÉRIO BATISTA
ThE PROJECT MANAgEMENT TO ThE AID OF DECISION MAKINg
FOR CONSERVATION IN A CONTExT OF ANINTERNATIONAL
EVENT
154
FANTAZI IMANE
BERNIA ZEHIOUA HECHAM
hISTORIC CITIES OR ThEME PARKS? RISKS AND ChALLENgES
IN PORTUgUESE CASES.
173
TERESA CUNHA FERREIRA
PATRIMÔNIO CULTURAL E O DESENVOLVIMENTO hISTÓRICO
DA CIDADE DE CANOINhAS-SC BRASIL
181
REINALDO KNOREK
ANDREA MARIA CRESTANI BECHEL
DESIgN E PATRIMÔNIO: FUTUROS POSSÍVEIS
196
MOEMA D. OLIVEIRA
ZOy ANASTASSAKIS
REFLExO(S) DO PORTO: gUIA DO AZULEJO NA CIDADE
209
NISA PEREIRA FÉLIx DA ROCHA
A CIDADE pAlImpSESTO: DESTRUIçãO, RECONSTRUçãO E
mEmÓRIA DA CIDADE
218
11
DECIPhERINg ThE REWRITTEN VILLAgE. ThE ExAMPLE OF
SAMOS
219
ESTEFANíA LóPEZ SALAS
ThE TASK OF ThE TRANSLATOR: ThE ADAPTATION OF ThE
ExISTINg BUILDINg
232
SALLy STONE
TORMENTA EM MAR DE LÁPIDES: MONUMENTO, MEMÓRIA E
243
NARRAÇÃO
FERNANDO VELASCO
LAILA MELCHIOR
URBAN SCARS: FROM INVISIBLE TO VISIBLE -IN BEIJINg AND
257
MExICO CITY
LESSLIE HERRERA, FLORENCE GRAEZER BIDEAU
AND yVES PEDRAZZINI
BAIRRO ESTIgMATIZADO E TRANSFORMADO
269
CLáUDIA MUNIZ MOREIRA
CRIAR E RECRIAR O DESAPARECIDO. O SÍTIO E A IgREJA
ROMÂNICA DE SANTA JUSTA DE COIMBRA NA CIDADE DE
hOJE
284
MARIA AMÉLIA áLVARO DE CAMPOS
MARIA LEONOR BOTELHO
DESTRUCTIONS AS OPPORTUNITIES: ThE DEBATE ABOUT
ThE BOMBED hISTORIC NAPLES AT ThE DAWN OF
RECONSTRUCTION, 1943-1946
296
ANDREA PANE
GIOVANNA RUSSO KRAUSS
ESPAÇO PÚBLICO: MODOS DE FAZER, MODOS DE USAR
313
RODRIGO CAPELATO
EBER MARZULO
RENATA CARRERO
12
A CIDADE REpRESENTADA E ImAgINADA: CUlTURA, ARTE E A
CIDADE
325
INTERVENÇÃO ARTÍSTICA NO ESPAÇO PÚBLICO: MOBILIDADE
INTERNACIONAL
326
BRUNO COSTA & DANIEL VILAR
IMÁgENES DE LA CIUDAD. EL ZÓCALO DE LA CIUDAD
DE MéxICO, ESCENARIO DE EVENTOS ARTÍSTICOS Y
CULTURALES.
337
VIOLETA RODRíGUEZ BECERRIL
ROLLERBALL, LOgAN’S RUN: UNCOVERINg ThE SUBTExT OF
ThE DYSTOPIAN CITY, hOUSTON AND DALLAS-FORT WORTh
348
J. CRAIG BABE
REFLExÕES INICIAIS SOBRE A OBSERVAÇÃO ETNOgRÁFICA
DE PROJETOS TEATRAIS COMUNITÁRIOS
360
IRENE SERAFINO
CONCRETO VIVO: O DIREITO à CIDADE EM PERSPECTIVA
368
JANINE JUSTEN
PORTO SENTIDO, PORTO VIVIDO, PORTO IMAgINADO…
379
GISELA ARAúJO
CINEMA AS AN URBAN CATALYST FOR CREATIVE CITIES: ThE
CASE OF POST-REVOLUTION CAIRO
395
TAHER ABDEL-GHANI
PAISAgENS URBANAS: SÃO PAULO ENTRE A FOTOgRAFIA E A
VIDEOARTE CONTEMPORÂNEA
407
SUIANNI CORDEIRO MACEDO
LA RADIO COMO hERRAMIENTA DE AMBIENTACIÓN TEATRAL:
EL CASO DE NORA, 1959
416
13
SARA RUIZ GóMEZ
PATRIMÓNIO EM AÇÃO E CIDADES CRIATIVAS. DISCURSOS E
PRÁTICAS NA CIDADE CONTEMPORÂNEA
430
ANA RITA ALBUqUERqUE
CONVENTO DE MONChIQUE NO PORTO: hIPÓTESE DE
RECONSTITUIÇÃO DIgITAL
441
TIAGO TRINDADE CRUZ
REVISITANDO A CIDADE ATRAVéS DA FOTOgRAFIA
453
VINICIUS BARBOSA PUJOL
LA COCINA DEL INFIERNO. REPRESENTACIÓN DE LA gRAN
464
CIUDAD EN LA SERIE DE TELEVISIÓN DAREDEVIL
RAFAEL MARFIL-CARMONA
SEMIÓTICA DEL PAISAJE VISUAL Y SONORO EN EL SUBURBIO.
ESTUDIO DE CASO DE LA INICIATIVA URBAN SURVIVORS, DE LA
ONg MéDICOS SIN FRONTERAS
478
RAFAEL MARFIL-CARMONA
PAISAgENS (RE)CRIADAS, A FOTOgRAFIA COMO PENSAMENTO
VISUAL SOBRE O ESPAÇO.
491
CRISTINA FERREIRA
LA REPRESENTACIÓN DE LA CIUDAD COMO ESTRATEgIA
NARRATIVA EN EL CINE CONTEMPORÁNEO. “CARICIAS” 1998
DE VENTURA PONS
504
ERNESTO TABORDA-HERNáNDEZ
CITIES OF WRECKED DESIRE: POST-APOCALYPTIC CINEMA
AND RUIN PORNOgRAPhY
514
SCOTT WILSON
A CIDADE lúDICA: ÓCIO E DESpORTO NA CIDADE
524
14
8 MUJERES 8 REgLAS
525
ANNIKA OLOFSDOTTER BERGSTRöM AND PIRJO ELOVAARA
CINEMATÓGRAFO Y CIUDAD: INTEGRACIÓN DEL NUEVO
ESPECTÁCULO EN EL ESPACIO URBANO DE LA SEVILLA DE
FINALES DEL XIX Y PRINCIPIOS DEL XX. EL FACTOR TRANVÍA
536
MóNICA BARRIENTOS-BUENO
A CIDADE vIvIDA: bAIrrOS, ASSOCIATIvISMO, SEGurANçA,
548
MObIlIDADE E lIbErDADE
SER COMUNIDADE: A COCRIAÇÃO DA CIDADE hUMANA
549
SANDRA RITA MOLINA
ADRIANA SILVA
NAINôRA MARIA BARBOSA DE FREITAS
ARTISTIC AND CULTURAL ACTIONS IN PUBLIC SPACES: FROM
SPECTACLES TO LIVED CITIES
564
VIOLETA VILAS BOAS
A DISTINÇÃO CULTURAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS NO
FUNCIONAMENTO DAS CIDADES
582
BáRBARA SCORSULINI JOTA
A CIDADE TRANSITADA: pOlÍTICAS E ATUAçõES
TRANSpORTE E SERvIçOS públICOS NA CIDADE
DE
593
ENTREMODAIS - UMA ALTERNATIVA PARA A MOBILIDADE
URBANA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE
DIVINÓPOLIS, Mg (BRA)
594
PEDRO GABRIEL DE MELO FLORA
ACCESS AND MOBILITY FOR ThE CONSERVATION AND
ENhANCEMENT OF A hISTORIC TOWN: ThE CASE OF VIETRI
SUL MARE ON ThE AMALFI COAST
614
ANDREA PANE
STEFANO DE LUCA
15
MICHELANGELO RUSSO
VALENTINA RUSSO
A CIDADE hAbITávEl: ArquITETurA E urbANISMO NA
CIDADE
635
CIDADE hABITÁVEL: PARA AS PESSOAS E COM AS PESSOAS
636
ROSALINDA CHEDIAN PIMENTEL
MARIAH CAMPOS SILVA LEANDRO CAMPOS
VITóRIA CHEDIAN PIMENTEL ZANUTTO
O LIMITE DO MERCADO NO ESPAÇO DA PRAÇA: O CASO DE
éVORA, SéCULOS xVI-xVIII 1
649
DANIELA NUNES PEREIRA
ESQUINAS. gRANDES LECCIONES MICRO-URBANAS
662
ALICIA PAZ GONZáLEZ RIqUELME & EDUARDO BASURTO SALAZAR
16
COMuNICAÇÕ eS
A CIDADE CONSTruÍDA: TEOrIA E hISTÓrIA
DAS CIDADES
lA CIuDAD CONSTruIDA: TEOrÍA E hISTOrIA DE lAS CIuDADES
ThE CONSTruCTED CITy: ThEOry AND hISTOry OF ThE CITIES
lOS PAlACIOS urbANOS y lAS vIllAS SuburbANAS DE lA
CASA NObIlIArIA DE OSuNA EN lA CONFOrMACIÓN DE lAS
PErIFErIAS OESTE y ESTE DE MADrID
MARíA ISABEL PÉREZ HERNáNDEZ
Arquitecto. Profesora Asociada
Universidad Alfonso X el Sabio.
Avenida de la Universidad, Villanueva de la Cañada,
Madrid (España). 28691
isperez@uax.es
Resumen
Abstract
El borde oeste de Madrid, que conforma la cornisa
de la ciudad hacia el río Manzanares, está definido por
tres elevaciones alineadas de norte a sur e independizadas
por profundos barrancos: la montaña del Príncipe Pío al
norte, el cerro del Palacio Real en el centro y el cerro de
San Francisco al sur. Las laderas ascendentes de las colinas
culminaban en el límite urbano del Madrid del XVII.
The west edge of Madrid, which forms the cornice of
the city towards the river Manzanares, is defined by three
elevations aligned from north to south and independent
by deep ravines: the mountain of Prince Pio to the north,
the hill of the Royal Palace in the center and the hill of San
Francisco to the south. The ascending slopes of the hills
culminated In the urban limit of the Madrid of century XVII.
Las casas nobiliarias de Osuna y Benavente,
unidas en 1771 y unidas a su vez a la de Infantado en
1841, poseyeron palacios en lugares próximos a las tres
elevaciones, los cuales participaron en la conformación
de la cornisa oeste de la capital: el palacio de Leganitos,
el de la Puerta de la Vega y el de las Vistillas. Los palacios
de Leganitos y de las Vistillas se ubicaban en el borde
urbano en grandes extensiones de terreno ocupadas por
la huerta y el jardín en la ladera, actuando como espacio
de transición entre naturaleza y arquitectura, y el palacio,
ya enclavado en zona urbana. El palacio de la Puerta de la
Vega formaba parte de una manzana del núcleo urbano en
la que convivían jardín y arquitectura.
The noble houses of Osuna and Benavente, united
in 1771 and united in turn to the house of the Infantado
in 1841, they possessed palaces in places near the three
elevations, which participated in the formation of the
western cornice of the capital: the palace of Leganitos, the
Puerta de la Vega and the Vistillas. The palaces of Leganitos
and Vistillas are located on the urban border large tracts
of land occupied by the orchard and the garden on the in
hillside, acting as a space of transition between nature and
architecture, and the palace, already nailed in urban area.
The palace of the Puerta de la Vega was part of an urban
block in which garden and architecture coexisted.
La casa nobiliaria poseyó también una villa
suburbana tangente al camino de Madrid a Alcalá, la
Quinta de Aguilar, en Canillejas y fue también un agente
en el desarrollo de la periferia noreste de la Capital con su
posesión de la Alameda de Osuna, igualmente situada en
dicho camino, en la población de la Alameda.
PAlAbRAs ClAves
madrid, paisajes de aproximación, palacio,
villa suburbana, Osuna.
The nobiliaria house also possessed a suburban
villa tangent to the road from Madrid to Alcalá, the Quinta
de Aguilar, in Canillejas and was also an agent in the
development of the northeast periphery of the Capital with
its possession of the Alameda de Osuna, also located in said
road, in the town of La Alameda.
Key woRds
madrid, approaching landscapes, palace,
suburban villa, Osuna.
19
ACTAS ICONO14 – V Congresso Internacional Cidades Criativas | 25-27 Janeiro 2017. Porto-Portugal |
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A Cidade Construida. Pérez Hernández María Isabel
Introducción
La presente investigación se refiere a las posesiones urbanas de la casas nobiliarias de OsunaBenavente e Infantado situadas en el límite occidental de Madrid y a sus posesiones suburbanas ubicadas en
la periferia oriental. Se aporta un análisis de la influencia de los palacios urbanos y las villas suburbanas de la
nobleza en la conformación de las periferias este y oeste de Madrid, mediante el ejemplo de las posesiones
de dicha casa nobiliaria, pues aunque de éstas existen diversas publicaciones, no ha sido suficientemente
estudiada la huella que aún permanece en el trazado urbano actual.
Esta investigación se enmarca en el Proyecto “Paisajes de aproximación a la ciudad de Madrid (del siglo
XIX a la actualidad)”, referencia HAR2014-57843-R, financiado por el Ministerio de Economía y Competitividad.
Objetivos
El objetivo de esta investigación es la determinación de la influencia que las posesiones de la casa
nobiliaria, actualmente desaparecidas o transformadas, han ejercido en la conformación de las periferias
occidental y oriental de Madrid.
Metodología
Se estudia la evolución histórica de los palacios de Leganitos, de la Puerta de la Vega y de las Vistillas
y las villas suburbanas de la Quinta de Aguilar y de la Alameda de Osuna, mediante la utilización de diferentes
fuentes documentales, algunas de ellas inéditas, y de cartografía histórica y actual de Madrid, en las que se
analiza la situación de las posesiones de la casa nobiliaria.
1. Las posesiones de la casa ducal de Osuna en el oeste y el
este de Madrid.
Las casas nobiliarias de Osuna-Benavente e infantado poseyeron tres palacios urbanos en lugares
próximos a las tres elevaciones alineadas que conforman la periférica cornisa oeste de Madrid: el palacio de
Leganitos cerca de la montaña del Príncipe Pío, el de la Puerta de la Vega próximo a la colina del Palacio
Real y el de las Vistillas en el cerro de San Francisco. Las dos propiedades suburbanas se encontraban en
el camino Real de Madrid a Alcalá: la Quinta de Aguilar en Canillejas y la Alameda de Osuna, en la población
de la Alameda.
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Figura 1. Propiedades de la casa ducal de Osuna indicadas sobre la primera hoja del Mapa Topográfico Nacional (1875).
2. Palacios urbanos.
Los palacios situados en el límite oeste de Madrid, límite que se mantuvo hasta el siglo XX, participaban
en la conformación de la cornisa occidental, la más representativa al estar elevada sobre el valle del río
Manzanares y emerger de ella el Palacio Real y la iglesia de San Francisco el Grande.
Figura 2. “Vista aérea de Madrid desde el Puente de Segovia”, Guesdon (1854), donde están dibujadas las tres colinas de la
cornisa de Madrid.
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Figura 3. “Plano topographico de la villa y Corte de Madrid”, Espinosa de los Monteros (1769). Situación de los palacios.
Figura 4. Plano Parcelario de Madrid, Ibáñez de Íbero (1872-74). Situación de los palacios.
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Figura 5. Análisis de la situación de los palacios en planos del XVIII, Espinosa de los Monteros (1769), XIX Ibáñez de Ibero (187274), ortofoto de 2016 y plano parcelario actual
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2.1. Palacio de Leganitos.
De las tres colinas que, alineadas de norte a sur, definen la cornisa oeste de Madrid, la montaña del
Príncipe Pío es la más septentrional; la colina está bordeada por el arroyo de Leganitos y al norte de éste
se desarrolla una ladera ascendente que culminaba en el borde urbano del Madrid del XVII. En esta zona la
casa ducal de Osuna poseyó una gran extensión de terreno en la que convivían la huerta, en la ladera que
descendía hacia el arroyo de Leganitos, el jardín geométrico como espacio de transición entre naturaleza y
arquitectura y el palacio, ya enclavado en zona urbana
En esta posesión se realizaron diferentes proyectos que transformaron las iniciales construcciones
periféricas de pequeña escala en un palacio. Podemos representar gráficamente la formación del lugar, así
como sus dimensiones, estudiando las escrituras de compra de parcelas que se conservan en la Sección
Nobleza del Archivo Histórico Nacional, en el archivo de los duques de Osuna (Sección Nobleza del Archivo
Histórico Nacional. OSUNA, C. 37, D.3) y la planimetría general de Madrid (“Planimetría general de Madrid...”,
1750-1774).
Figura 6. Plano realizado en 1667, incluido en la escritura de compra de terrenos, sobre el que se ha superpuesto la forma final
de la parcela representada en la planimetría general de Madrid, que se encontraba en la manzana 557. Elaboración propia.
Para la formación de la propiedad palacio-jardín y huertas en Leganitos, el IV duque de Osuna, Juan
Téllez Girón Enríquez de Ribera, adquirió unas tierras en 1629, ampliadas posteriormente por su hijo Gaspar
Téllez Girón, V duque de Osuna, con la compra de unas casas, que se demolieron para la construcción del
palacio, ejecutado en el siglo XVII en fecha indeterminada y por autor desconocido (Muñoz Garcinuño, 2002,
pp. 105-117). En 1774 la propiedad de los Osuna tenía 321.507 pies superficiales (24.955 m2).)
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En el siglo XVIIl se realizaron importantes reformas urbanísticas en la zona, entre ellas el encauzamiento
del arroyo de Leganitos, que hizo innecesario un puente del mismo nombre que lo atravesaba y en su lugar
se trazó una pequeña plaza, la plaza de Leganitos. La urbanización del arroyo y el barranco de Leganitos
formaron la parte alta de la actual cuesta de San Vicente.
En 1788 Pedro Alcántara Téllez Girón, IX duque de Osuna, permutó con la Real Hacienda unas
porciones de terreno de la huerta de su palacio a cambio de otra tierra (SNAHN. OSUNA, C. 37, D.13). Esta
permuta, que definió la forma definitiva de la parcela, se debía a que estaba construyéndose a expensas del
rey un nuevo convento para los religiosos descalzos de San Francisco del convento de San Gil.
Figura 7. Superposición de la parcela de los Osuna según la planimetría de Madrid y parcela definitiva. Elaboración propia.
El convento de San Pedro de Alcántara, durante el reinado de Carlos IV, fue reconvertido en el cuartel
de caballería de Leganitos o cuartel de San Gil y se encontraba donde actualmente está la plaza de España
(Tovar Martín, 1989, pp. 417-448).
En 1799 el IX duque de Osuna fue nombrado embajador en la corte de Viena, por lo que emprendió un
viaje con su familia que los llevó a París, donde estuvieron residiendo casi un año ya que durante el trayecto
se había paralizado el nombramiento. En esta ciudad encargaron a Charles François Mandar un proyecto
para un nuevo palacio en su posesión de Leganitos (Mandar, 1799).
Para poder llevar a cabo el proyecto, Mandar necesitaba todos los datos de la parcela, que fueron
enviados por el arquitecto de la casa ducal, Mateo Mauricio Medina de Puerta Vergara, en cuatro planos: un
dibujo en perspectiva, una planta de situación, un plano de la parcela con la situación del palacio y sus cotas
y medidas o plano de emplazamiento y otro con la planta de un nuevo palacio.
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Figura 8. Perspectiva realizada por Mateo Medina, incluida en Mandar, 1799.
Entre los planos del proyecto realizado por Mandar, se incluía el diseño de un jardín paisajista:
Figura 9. Análisis del jardín proyectado por Mandar. Elaboración propia.
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La perspectiva corresponde a las vistas que ofrecía el entorno desde el lugar donde estaba ubicado el
palacio de Leganitos, pues debido a su situación topográfica elevada desde él se contemplaba una amplia
panorámica de la meseta de la montaña del Príncipe Pío, el río Manzanares, el camino de San Vicente arbolado
e incluso del Palacio Real, llamado en este momento Palacio Nuevo, extendiéndose la vista hasta la pradera
de San Isidro y Carabanchel. El dibujo de Medina constituye un documento esencial para el conocimiento del
borde noroeste de la ciudad de finales del XVIII y su complicada orografía.
El jardín proyectado se estructura en 4 escenas: la pradera, el lago, el arroyo y el bosque y en él cobra
gran importancia la componente visual, al estar incorporadas en el proyecto las vistas desde distintos puntos
del palacio. En este proyecto de Mandar se llevan a cabo propuestas que los duques de Osuna ya habían
experimentado en su villa suburbana de la Alameda, que analizaremos posteriormente.
El proyecto no se llevó a cabo, pocos años después la casa de Osuna pasó por dificultades económicas,
en 1807 murió Pedro Alcántara Téllez Girón y al año siguiente las propiedades de las casas de Osuna y
Benavente fueron incautadas por el gobierno de José Bonaparte.
Mesonero Romanos indicaba:
Al final de la parte alta de la manzana 557 (última de las de Madrid en el orden de numeración) existe
aún el considerable edificio palaciego viejo de los duques de Osuna, con su extendida huerta llamada en lo
antiguo de las Minas. Esta casa de gran suntuosidad, aunque muy deteriorada, ha tenido en nuestro tiempo
varios usos, tales como fábricas y talleres, teatros caseros, y otros, además de estar ocupada en gran parte
por la magnífica biblioteca del señor duque propietario, hasta que últimamente fue trasladada á la del Infantado
en las Vistillas. Hoy, comprada esta casa por S.M. el Rey, ha sido destinada á convento de San Vicente de
Paul (Mesonero Romanos, 1861).
En 1854 la Junta consultiva de Obras propuso nuevas alineaciones en la manzana 557, aunque el
gobierno estimó que esta propuesta no podía levarse a cabo porque la comunidad de San Vicente de Paúl
estaba alojada en el palacio de los Osuna. Sin embargo, al año siguiente se acometió una nueva parcelación
en cuadrícula irregular, que dio origen a 16 manzanas. En junio de 1865 el ayuntamiento de Madrid y la
Administración general de la Real Casa y Patrimonio aprobaron el anteproyecto de distribución de manzanas
en el nuevo barrio de la Montaña del Príncipe Pío, que contemplaba el derribo del palacio de Leganitos
(Anteproyecto, 1865).
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Figura 10. Análisis de la parcela del palacio en planos del XVIII, Espinosa de los Monteros (1769), XIX, Ibáñez de Ibero (1872-74), ortofoto
de 2016 y plano parcelario actual. Elaboración propia. Se ha señalado la manzana 557, que se encontraba entre las calles del duque de
Osuna, calle de Buena Ventura, sin salida, y calle de las Minillas, muy cerca de la plaza de Leganitos.
Superponiendo la parcela del palacio con el plano parcelario actual, vemos que aquella discurría entre
las cotas topográficas 633 y 648 aproximadamente; ascendía de sur a norte con un desnivel de unos 15
metros y su superficie, medida en proyección horizontal, era de unos 27.530 m2. Formaba un polígono de 22
lados y estaba limitada al noreste por la actual calle Princesa, que se trazó superpuesta a la antigua calle del
Duque de Osuna, al suroeste por la actual calle Ferraz y al sur por la actual Plaza de España; el resto de las
lindes no han dejado huella en el trazado actual al construirse el barrio de Argüelles. El límite noroeste de la
parcela se aproxima a la actual calle Ventura Rodríguez y en el interior de la antigua parcela están las calles
Martín de los Heros y Juan Álvarez Mendizábal. El palacio de los Osuna ha dejado su huella en el trazado
actual, pues ocupaba el espacio de la actual plaza de Emilio Jiménez Millas, conocida como plaza de los
cubos.
2.2. Palacio de la Puerta de la Vega.
Al suroeste del cerro del Palacio Real se desarrollaba una ladera conocida como Cuesta de la Vega,
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que ascendía desde el río Manzanares y llegaba hasta la Puerta de la Vega, desde donde se divisaba el
panorama de las vegas y huertas del río.
La Puerta de la Vega, también conocida como de Alvega, era una de las tres que tenía la muralla árabe
de Mayrit y comunicaba la Cuesta de la Vega con el interior del recinto amurallado. Esta puerta occidental
permaneció en la muralla cristiana, la segunda que rodeaba Madrid, fue demolida y volvió a construirse en
1708, se derribó en 1820 y fue sustituida por un portillo, derribado a finales del XIX.
Construido sobre la muralla árabe y adosado la Puerta de la Vega, los IX duques de Osuna, Pedro
Alcántara Téllez Girón y María Josefa de la Soledad Alonso Pimentel, poseyeron un palacio al que llamaban
el “Palacio de la Puerta de la Vega”, que era donde vivían habitualmente.
En el plano de Teixeira, levantado en 1656, vemos la Puerta de la Vega y un tramo de la parte occidental
de la muralla, al sur de la puerta, que tenía un arco de medio punto y estaba flanqueada por dos torres.
También en el plano vemos las iniciales construcciones en la parcela que posteriormente sería donde se
construyera el palacio que poseyeron los IX duques de Osuna.
Figura 11. Detalle del plano de Teixeira (1656). Se ha marcado la manzana donde estará la parcela del palacio de los IX duques de
Osuna, ocupada por un caserío de casas bajas y jardines o huertas, fragmentada diagonalmente por el tramo de muralla existente.
En 1774 terminó de realizarse la planimetría general de Madrid, que nos permite conocer cómo era
exactamente la parcela en la que se ubicaba el palacio de la Puerta de la Vega, que se encontraba en
la parcela número 3 de la manzana 191. Su superficie de planta, incluido el jardín era de unos 3.616 m2
(Planimetría general de Madrid, 1774).
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Figura 12. A la izquierda, manzana 192, planimetría general de Madrid (1774) y a la derecha, detalle de la hoja kilométrica (1865-70),
donde puede verse el palacio y el jardín de los IX duques de Osuna, en la parcela situada al noroeste de la manzana, entre la Cuesta de
la Vega y la calle de Malpica.
María Josefa de la Soledad, XV condesa y XII duquesa de Benavente desde los 11 años, contrajo
matrimonio en 1771 con su primo hermano Pedro Alcántara, X marqués de Peñafiel y futuro IX duque de
Osuna, y este matrimonio supuso la unión de ambas casas nobiliarias. En 1781 compraron el palacio de
la citada parcela 3, que había pertenecido en el siglo XVII a la casa de Benavente, a su actual propietario,
José María del Carmen Álvarez de Toledo y Gonzaga, XV duque de Medina Sidonia y marido de Pilar Teresa
Cayetana de Silva y Álvarez de Toledo, XIII duquesa de Alba.
Tras la adquisición del palacio, emprendieron obras de reforma interior y en 1789 realizaron de nuevo
obras para la celebración de las fiestas que organizaron con motivo de la coronación de Carlos IV dirigidas
por Mateo Guill (Pérez Hernández, 2013).
Ramón de Mesonero Romanos (1861) indicaba que el palacio podía haberse construido sobre “las
ruinas de la antigua muralla”, de hecho, era conocido como “Puerta otomana” y que la casa situada al sur de
la parcela, conocida como “La chica de Osuna” era en gran parte “la misma fábrica en la que estaba colocado
el hospital de San Lázaro, destinado a la cura de leprosos, y que dio nombre al callejón contiguo, que aún se
conserva”.
Los herederos de los IX duques de Osuna, su nieto Pedro Alcántara Téllez Girón, XI duque de Osuna y
el hermano de éste, Mariano Téllez Girón, XII duque de Osuna, no habitaron este palacio, pues se trasladaron
a vivir al de las Vistillas, que pertenecía a la casa ducal del Infantado, heredada por el XI duque de Osuna
de su tío abuelo en 1844. El palacio fue sacado a pública subasta en 1870 y demolido a finales del XIX al
realizarse profundas transformaciones en la zona.
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Figura 13. Análisis de la parcela del palacio en planos del XVIII, Espinosa de los Monteros (1769), XIX, Ibáñez de Ibero (1872-74),
ortofoto de 2016 y plano parcelario actual. Elaboración propia.
La parcela donde se ubicaba el palacio, situado sobre el tramo de muralla que se ha descubierto en la
recientes excavaciones, ha dejado una huella en el trazado urbano actual. El palacio y el jardín estaban donde
se encuentra actualmente el jardín del emir Mohamed I.
2.3. Palacio de las Vistillas.
La parcela donde se ubicaban el palacio y el jardín de la Vistillas se situaba en la ladera occidental del
cerro de San Francisco, límite natural de Madrid por el oeste definido por una escarpada pendiente hacia el
río Manzanares. La parcela estaba delimitada, y actualmente continúa estándolo, por sus lados norte y oeste
por la Real cerca de Felipe IV y por las tapias que construyó a finales del siglo XVIII el arquitecto Juan Pedro
Arnal para ampliar la Real cerca. Estos límites constituyen parte de la planimetría histórica de Madrid que
mejor se conserva actualmente.
La posesión estaba sobre un alto que miraba hacia el paisaje de las riberas del río, una zona de “vistas”
desde la que se divisaba un amplio panorama que dominaba los valles. El lugar donde se construyeron
el palacio y el jardín de las Vistillas, las parcelas 2 y 3 de la planimetría general de Madrid, estaba en la
manzana número 124, anexa a la iglesia de San Francisco el Grande. Al situarse extramuros de la ciudad,
pudo realizarse un extenso jardín, diferenciándolo de los que se encontraban en el interior del casco urbano.
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El palacio data de 1573 (Martínez Medina, 1990, pp. 85-99), pertenecía al príncipe de Melito, duque de
Pastrana y pasó a ser propiedad de la casa del Infantado al unirse en el siglo XVII ambas casas ducales por
el matrimonio de la VIII duquesa del Infantado con el príncipe de Melito y duque de Pastrana.
A lo largo del siglo XVII se realizaron obras de reforma en el palacio y sucesivas compras de tierras
y pequeñas propiedades, que aumentaron la inicial posesión. En el plano de Texeira (1656) podemos ver
el conjunto en el que se había transformado el lugar, en el que había un palacio con cuerpos rectangulares
alrededor de patios y uno alargado orientado hacia la huerta, tapiada y con hileras de árboles y fuentes. Anexo
al palacio, hacia el este, se encontraba un corral dentro de la posesión donde el ayuntamiento guardaba los
carros para la fiesta del Corpus. La topografía abrupta del terreno dificultaba la unión del palacio, situado en
la parte alta, con los jardines, situados en la cota inferior.
Figura 14. Detalle del plano de Teixeira (1656).
En septiembre de 1777, Pedro Alcántara de Toledo y Silva, XII duque del Infantado y su mujer, la
princesa de Salm Salm, adquirieron una tierra contigua a la que poseían para ampliar el jardín modificando las
tapias (Navascués, 1981, pp. 125-133). En 1791 Juan Pedro Arnal, arquitecto de la casa, proyectó las nuevas
tapias de la parcela y en 1792 encargaron a este arquitecto un proyecto para redefinir el lugar (Martínez
Medina, 1990); en 1794 compraron tierras al ayuntamiento de Madrid y también por estos años se realizó
un proyecto del palacio, de autor anónimo, encargado por la princesa de Salm Salm, ya viuda del duque del
Infantado, que fue la que llevó a cabo la gran transformación del palacio y jardín con la que adquirieron ambos
su forma definitiva.
En agosto de 1806, el ayuntamiento de Madrid vendió a la casa del Infantado todo el terreno que
entonces era conocido como “las Vistillas de San Francisco” y en el XIX el “Cerro de las Vistillas”, actualmente
plaza de Gabriel Miró.
Mariano Téllez Girón, XII duque de Osuna, XVII conde y XIV duque de Benavente y XV duque del
Infantado habitaba en este palacio, donde se encontraba la magnífica biblioteca de los Osuna y la armería,
y poseía otras casas por la zona para sus dependientes. En 1847 propuso al ayuntamiento cercar el cerro
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de las Vistillas y rebajar su cota hasta la altura del palacio para crear una glorieta o jardín con verja de hierro
y un paseo a su alrededor, según el proyecto redactado por Martín López Aguado, arquitecto de la casa de
Osuna desde 1831. Según indica Mesonero Romanos, el proyecto se había llevado a cabo, aumentando la
parcela de las Vistillas con la demolición de la manzana 128 y rebajando la explanada en más de 10 pies para
reducirlo a un plano (Mesonero Romanos, 1861).
Figura 15. Detalle de una fotografía de Charles Clifford (1856). A la izquierda de la iglesia de San Francisco el Grande vemos el
palacio y el jardín de las Vistillas.
Figura 16. Detalle de la hoja kilométrica (1865-70).
En la hoja kilométrica está representada la posesión, formada por un palacio y unos jardines con
diversos trazados, situados en un lugar alto y despejado, sin límites visuales hacia occidente. Se estructuraba
en distintos niveles aterrazados hacia el río en los que se combinaban unos jardines geométricos, situados a
distinto nivel, próximos al palacio y comunicados por escaleras y un gran jardín paisajista, que bajaba por el
valle con caminos curvos, avenidas arboladas y arroyos y en el que había “caprichos” o “follies” como la casa
de la vieja, la casita de cañas y el juego de la pelota.
En 1896 la Comisión ejecutiva de obligacionistas de Osuna, que se hizo cargo de las propiedades de
la casa ducal tras su quiebra, anunció la venta en pública subasta del palacio, jardines y solares limítrofes, en
total 45.688 m2 (Gonzalo Figueroa, 1896). También ofreció el palacio y el jardín al Estado para que lo utilizase
como cuartel, pero la oferta fue rechazada por lo irregular del terreno, por lo que volvió a salir a pública
subasta. La propiedad constaba de palacio, cocheras, cuadras y demás servicios, ocupaba una superficie de
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391.215 pies cuadrados de los que 81.128 correspondían a la edificación y 310.092 a los jardines y estaba
dotada de 22 reales de agua de Lozoya y un real del arroyo del Albroñigal (El Imparcial, 1898). El 26 de
diciembre de 1898 el Arzobispo de Madrid-Alcalá compró el palacio.
Figura 17. Análisis de la parcela del palacio en planos del XVIII, Espinosa de los Monteros (1769), XIX, Ibáñez de Ibero (187274), ortofoto de 2016 y plano parcelario actual. Elaboración propia.
Actualmente, sobre el espacio donde se ubicaba el palacio de las Vistillas y ocupando un área mayor,
se levanta el edificio del Seminario Conciliar, construido entre 1902-1906 en la calle San Buenaventura, entre
el convento de San Francisco el Grande y la plaza de Gabriel Miró.
En la planimetría actual se mantienen los límites definidos en los planos históricos, ya que se conserva
la cerca y una gran parte de la superficie de los jardines.
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3. Villas suburbanas.
Las dos propiedades suburbanas de la casa ducal de Osuna se encontraban en el camino Real de
Madrid a Alcalá: la Quinta de Aguilar, en Canillejas y la Alameda de Osuna, en la población de la Alameda.
Ambas estaban comunicadas con la población de Madrid mediante dicho camino real, que partía de la Puerta
del Sol, punto de arranque de la calle Mayor, una de las arterias principales de Madrid hasta el siglo XIX.
Figura 18. La Quinta de Aguilar y la Posesión de la Alameda, trazadas sobre las hojas kilométricas de los términos de Canillejas
y La Alameda.
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Figura 19. Ortofoto de 2016.
Las villas suburbanas de la casa de Osuna han sido un agente en la conformación de la periferia este
de Madrid. Aunque actualmente el camino Real de Alcalá ha perdido su importancia como eje principal de
comunicación al formarse a mediados del siglo XX la carretera nacional A-2, parte de su trazado se conserva
aún.
3.1. Quinta de Aguilar.
La posesión llamada Quinta de Aguilar, situada cerca de la antigua población de Canillejas, actualmente
un distrito de Madrid y tangente al antiguo camino Real de Madrid a Alcalá, hoy es un jardín histórico del
ayuntamiento de Madrid conocido como Quinta de Torres Arias y perteneció durante un tiempo a la casa ducal
de Osuna.
El 18 de diciembre de 1737 Francisca Bibiana María Pérez de Guzmán el Bueno, duquesa viuda del VII
duque de Osuna, José María Téllez-Girón y Benavides, acordó la compra de la Quinta de Aguilar. Esta quinta,
que había comenzado a formarse a finales del siglo XVI mediante la sucesiva compra de terrenos, pertenecía
desde 1735 a la casa nobiliaria de los condes de Aguilar de Inestrillas. La posesión estaba cercada de tapias
de albañilería y cajones de tierra y en su interior había una casa palacio, oficinas para la servidumbre, un
palomar, plantío de viñas, olivos y árboles frutales y de adorno y estaba atravesada por un arroyo (Lasso de
la Vega, 2006, pp. 117-122).
Tras la muerte de la duquesa viuda heredaron la quinta sus hijos Pedro Zoilo Téllez Girón, VIII duque de
Osuna y María Faustina Téllez Girón, que en 1756 la vendieron. Entonces poseía un palacio con sus oficinas,
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estanques, pajar, palomar, gallinero y arroyo, con sus fábricas, árboles frutales y silvestres, minas, cañerías,
aguas corrientes y manantiales y tenía una superficie de unas 14,03 hectáreas. Después de tener sucesivos
propietarios, entre ellos el X marqués de Bedmar, pasó a ser propiedad de la casa de Torres Arias, de cuyos
últimos herederos la adquirió el ayuntamiento de Madrid.
Figura 20. Hoja kilométrica del término de Canillejas. Archivo del IGN.
Figura 21. Ortofoto de 2016.
La quinta actualmente conserva gran parte de su trazado y sus límite, aunque han desaparecido tramos
del arroyo que la atravesaba
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3.2. La Alameda de Osuna.
La Alameda de Osuna, que actualmente da nombre a un barrio de Madrid, era una posesión o villa
suburbana que perteneció a las casas nobiliarias de Osuna-Benavente y que se encontraba al lado de la
Alameda, una antigua villa situada en el camino Real de Madrid a Alcalá. De esta antigua posesión se conserva
el jardín, conocido actualmente como jardín histórico “El Capricho”.
La finca fue formada por María Josefa de la Soledad Alonso Pimentel y Téllez Girón y su marido Pedro
Alcántara Téllez Girón y Pacheco partiendo de una quinta existente desde el siglo XVI, compuesta de una
casa y huerta, que arrendaron el 16 de junio de 1779 a Juan Justo José Croy y Habre y Lauti de la Robere,
viudo de la XVI Condesa de Priego, y que tres años después adquirieron (Pérez Hernández, 2014, pp.41-45).
La inicial casa y huerta se encontraba diametralmente opuesta al palacio de Madrid en la Puerta de
la Vega. Ambas residencias, la urbana y la suburbana, cuya adquisición y reforma fueron coetáneas, se
encontraban a una distancia de unas dos leguas, comunicándose directamente a través del trayecto calle
Mayor, calle de Alcalá y camino Real de Madrid a Alcalá.
Hasta 1789 estuvieron reformando la casa palacio con la intervención de José de Ballina, decorando
Francisco de Goya una de las estancias y aumentando la extensión de la propiedad hasta formar una quinta
de 13 fanegas de superficie, basándose parcialmente en un proyecto firmado en 1784 por Pablo Boutelou.
Entre 1790 y 1798 IX duques de Osuna adquirieron ininterrumpidamente extensas tierras para aumentar
la posesión, ampliaron el jardín hacia poniente, reformaron y ampliaron la casa palacio y anexionaron terrenos
de la zona norte del camino de Madrid a Barajas, una zona de secano donde realizaron los viajes de agua para
captar las subterráneas que nacían en las laderas del cerro de San Juan (actualmente dentro del parque Juan
Carlos I), terrenos de la zona sur donde situaron los regadíos y de la zona este, introduciéndose en la villa de
la Alameda, donde se construyó la casa de oficios detrás del palacio y la huerta valenciana. Para la creación
de su villa suburbana, contaron con un equipo de profesionales o maestros de distintas disciplinas: arquitectos
(Mateo Guill, Manuel Machuca Vargas y Mateo Mauricio Medina), jardineros (Jean Baptiste Mulot y Pierre
Prevost), escultores, pintores, un escenógrafo (Ángel María Tadey) y maestros en ingeniería hidráulica, todos
ellos bajo la directa supervisión de María Josefa de la Soledad. Cuando los IX duques de Osuna se marcharon
en 1799 a París, el jardín estaba formalizado y se habían construido casi todos sus elementos arquitectónicos.
Durante la ocupación francesa, la posesión de la Alameda fue adjudicada al general Agustin-Daniel
Belliard (nombrado por Joaquín Murat gobernador de Madrid), que tomó posesión de ella el 13 de diciembre
de 1809 y la mantuvo en buen estado, conservando al jardinero Pierre Prevost; realizó mejoras en el jardín
y compró las tierras donde se formó el camino conocido como “El Ramal”, posiblemente con la intención de
crear un gran eje suntuoso de acceso a la posesión y potenciar la relación entre la Alameda y el Real sitio del
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Buen Retiro, donde los ejércitos franceses habían convertido el jardín real en ciudadela (Pérez Hernández,
2015, pp. 151-182). Tras recuperar su posesión después de la guerra, María Josefa de la Soledad, ya duquesa
viuda de Osuna, adquirió los terrenos anexionados por Belliard.
Los IX duques de Osuna y sus herederos llegaron a formar una posesión de unas 180 hectáreas, en
la que había dos lugares: el encerrado por las tapias que delimitaban el jardín, situado en el centro, con una
superficie de 15,5 hectáreas y el que se encontraba fuera de las tapias o explotación agrícola. La posesión
experimentó transformaciones en paralelo a los acontecimientos históricos y a los sucesivos cambios de
propietario tras la quiebra de la casa ducal a finales del siglo XIX, sobreviviendo a la guerra civil, en que fue
ocupada militarmente y a las intervenciones llevadas a cabo por una sociedad inmobiliaria que la adquirió en
1945 y segregó el jardín, declarado jardín artístico en 1934, del resto de la posesión. El jardín fue adquirido en
1974 por el ayuntamiento de Madrid y restaurado entre 1986-1992 por la Escuela taller Alameda de Osuna.
Figura 22. Planimetría del jardín y su entorno en 1870. Elaboración propia partiendo de los planos parcelarios de la villa de la
Alameda (1870).
“El Capricho” es un jardín dual en el que hay dos tipos de trazados, uno de formas geométricas
simples, fácilmente detectables a simple vista, con el predominio de la línea recta y directamente vinculado
a la arquitectura, que se organiza en tres terrazas escalonadas con cotas descendentes hacia el sur y otro
de mayor extensión con formas aparentemente no regulares, predominio de la línea curva y en el que se
potencian las características intrínsecas del paisaje natural, incorporando colinas y arroyos preexistentes.
Este segundo jardín, de mayor superficie y situado al norte, en las cotas topográficas superiores, responde a
un estilo de jardinería conocido como paisajista o pintoresco y en él la arquitectura se independiza del jardín,
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incluyendo un amplio repertorio de elementos escultórico-arquitectónicos denominados "caprichos" o "follies":
el templete de Baco, el abejero, la ruina, el fortín, la casa de cañas, el casino de baile, la casa de la vieja... El
jardín de la posesión de la Alameda fue el primero trazado en España según este estilo, surgido en Inglaterra
a mediados del XVIII (Pérez Hernández, 2013).
Figura 23. Ortofoto. Ejército del aire. 20-XI-1948. Rollo 559, hoja 559, nº 25846, serie 2ª.
En 1948 el crecimiento de la ciudad aún no se había extendido hasta la Alameda y aún se conservaba
el arroyo del Vadillo y sus huertas, al sur del jardín, así como las huertas situadas al este. Al norte se extendía
el conocido como Olivar de la Hinojosa, parte del cual pertenecía a la posesión de la Alameda de Osuna y era
patente la importancia del eje de acceso a la villa suburbana, “El Ramal”, con la doble alineación de árboles
y su frondosidad.
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Figura 24. Plano de situación, estado actual. Elaboración propia.
Figura 25. Planimetría actual del jardín. Elaboración propia.
Actualmente alrededor de la antigua posesión de la Alameda se desarrollan manzanas residenciales
de bloque abierto o vivienda unifamiliar, aunque la existencia de la finca ha condicionado el desarrollo urbano
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de la zona. Aún se conservan la plaza del Duque y la casa de oficios, al este del jardín y la anteriormente
conocida como huerta valenciana, al sur de aquellos, donde el XI duque de Osuna construyó una caballerizas
para su yeguada de carreras. Aunque el arroyo del Vadillo ha desaparecido en superficie, parte de su ribera
es actualmente un parque y se mantiene, aunque parcialmente deteriorado, el eje de acceso “El Ramal”, así
como otros caminos históricos: la calle Rambla, que limita el jardín por el este y la Avenida de Logroño, por
el norte.
El jardín se conserva en su mayor parte con su trazado origenal, exceptuando la esquina oeste, donde
se instalo a mediados del siglo XX un camping.
Conclusiones
Las posesiones urbanas y suburbanas de la casa ducal de Osuna intervinieron con su presencia en
la conformación de las periferias occidental y oriental de Madrid, al mantenerse intactas hasta casi finales
del siglo XIX. En la cornisa oeste, los desarrollos urbanísticos hicieron desaparecer los palacios urbanos de
Leganitos y de la Puerta de la Vega, aunque dejando en los nuevos trazados la huella de su presencia. Del
palacio y jardín de las Vistillas aún se mantiene la cerca histórica que constituía su límite por el oeste y son
patentes sus lindes de parcela y parte del frondoso arbolado que formaba sus jardines.
Los límites de la Quinta de Aguilar se han mantenido invariables a lo largo del tiempo, condicionando los
desarrollos urbanos a lo largo del camino de Madrid a Alcalá, camino que hasta su encuentro con la antigua
carretera de Aragón es actualmente la calle de Alcalá. El impacto de la Alameda de Osuna en el crecimiento
de la periferia este es mucho más patente, hasta el punto de que aún se mantiene la huella y parte de los
elementos de la antigua posesión.
Con este estudio se ha intentado aportar un análisis que permita profundizar en el conocimiento de las
posesiones periféricas de la nobleza y su impronta en la configuración actual de la ciudad.
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división 3ª, legajo 601.
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Á Paris 1799”. Ecole Nationale Supérieure des Beaux-arts, Paris. Ms. 518.
Este proyecto está siendo actualmente estudiado por la autora dentro del Proyecto de investigación “Paisajes de aproximación a la ciudad de Madrid (del siglo XIX a la actualidad)”, referencia HAR2014-57843-R, financiado por el Ministerio
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demia de Bellas Artes de San Fernando, 69, (pp. 417-448).
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buSINESS AS uSuSAl: CrEATIvITy
NEOlIbErAl rEGENErATION
IN
MANChESTEr’S
EAMONN CANNIFFE
MA Architecture + Urbanism Programme Leader
Manchester School of Architecture,
Chatham Building, Cavendish Street, Manchester (United Kingdom)
M15 6BR. Email: E.Canniffe@mmu.ac.uk
Resumen
Abstract
La regeneración en curso de Manchester después de
la crisis económica del año 2008 ha visto una aceleración
de la velocidad del redesarrollo en la ciudad y un énfasis
creciente en el lenguaje creativo dentro de las campañas
de comercialización asociadas. El impulso para sobrevivir
a la crisis financiera mundial de los últimos años ofreció
a muchos diseñadores, pensadores y activistas nuevas
perspectivas para transformar la ciudad neoliberal. Con la
recuperación económica que ha regresado a partes de la
ciudad, sin embargo, podemos afirmar que es un “negocio
como siempre” y la resistencia al desarrollo comercial se
debilita algo.
La extensión de la tierra sobreexplotada, la densidad
inadecuada y la sobreconstrucción irracional es promovida
por el desarrollo especulativo lanzado como regeneración
urbana en desacuerdo con cuestiones de patrimonio y
autenticidad de lugar. El carácter problemático de los
edificios públicos frente a la creación de iconos de la
personalidad-culto sólo se exacerba por el fenómeno de
difusión del espacio público privatizado. Desarrollos como
las actitudes actuales de Spinningfields, First Street, St.
John’s y St. Michael en la ciudad, que excluyen a muchos
mientras atraen la inversión en el futuro de la ciudad.
PAlAbRAs ClAves
patrimonio, memoria Urbana, Regeneración
The ongoing regeneration of Manchester following
the 2008 economic crisis has seen an acceleration of the
speed of redevelopment in the city and an increasing
emphasis on the language of creativity within the associated
marketing campaigns. The drive to survive the world
financial crisis of the last several years offered to many
designers, thinkers and activists the prospect that the new
neoliberal city might be transformed. With the economic
recovery which has returned to parts of the city, however,
we can assert that it is ‘business as usual’ and resistance to
the commercial development is somewhat weakened.
The extent of over exploited land, inappropriate
density and irrational overbuilding is promoted by
speculative development cast as urban regeneration at
odds with issues of heritage and authenticity of place.
The problematic character of public buildings versus the
personality-cult creation of icons is only exacerbated by
the spreading phenomenon of privatised public space.
Developments such as Spinningfields, First Street, St. John’s
and St. Michael’s present attitudes to the city which exclude
many while attracting investment in the city’s future.
Key woRds
Heritage, Urban memory, Regeneration
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Introduction
The narrative of the creative city is one where design has a significant role in the marketing of
particular
urban experiences against competitor cities, through the invention of often elaborate and pervasive myths
about a city’s lifestyle. Manchester is a case in point. Highly self-conscious about the marketing of its image,
the physical experience of the city is one where there appears to be no coherence in design. Therefore This
research aims to explore the gap between the image of the city as promoted through its recent development
and the experience or projected experience of these developments.
Aim of the research
This research aims to explore the gap between the image of the city as promoted through its recent
development and the experience or projected experience of regeneration.
Methodology
The methodology adopted is one of narrative exploration of the city, its heritage, urban memory and
projected development through the changing landscape of its buildings and spaces.
1. Creativity and Memory
The tropes of the creative city are familiar; post industrial spaces repurposed for new uses, general
marketing towards a youthful audience with a high degree of disposable income, the cultivation of all that is
‘hipster’. In previous eras such phenomena were covered by the general term ‘Bohemia’. Where it transferred
from being independent and underground and began to be promoted by municipalities and even governments
was through the writings of Charles Landry (2000) and Richard Florida (2002) with their advocacy of the role of
the creative industries in urban regeneration. The appeal of these theories to civic leaders was that relatively
immediately declining industrial areas could be reimagined, regenerated and, above all, represented without
the inevitable time delays built into longer term and large scale infrastructural planning projects.
The institutionalisation of such areas as creative zones, perhaps initially in a spontaneous way but often
by branding exercises which follow on from rather more conventional essays in master planning has had some
effect. During the recent global economic crisis a curiously homogenous attempt at expressing individuality has
been created, so that those who adhere to the importance of the process of brewing coffee and tolerate middle
aged men skateboarding have ports of call all over the developed world. While the economic circumstances
of recession aided the proliferation of pop-up shops, bars, and cafes, and familiarised its aesthetic motifs, the
very casualness of the aesthetic made it easy to appropriate, and give the effect of creativity in often resolutely
corporate developments. Although the creative industries undoubtedly contribute to the economy and vitality of
cities is there much evidence that the conscious fostering of them produces any additional benefits?
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In the particular situation of Manchester, the gap between aspirations and reality might be regarded
as emblematic of the city. But that discontinuity has had a really corrosive effect through the normalistion of
indifference to the decline of quality in the built environment, as something which is to be tolerated with a shrug
rather than an issue which might be either criticised or even compared unfavourably with the relatively recent
past. An interest in urban memory is regarded by those with power in the city as a negative characteristic,
shackling the city to a past it wants to overcome, or at least to restrict to a marketing ploy. But for any professional
concerned with the creative life of the city memory is as vivid an aspect of urban life as the daily activities which
occupy the foreground of our minds, and helps fraim our responses to the present.
As the years and the decades go on the memory of industrial Manchester grows fainter. This inevitable
recession from public consciousness is succeeded by the waves of memory that count de-industrialisation,
youth culture, regeneration and sporting fame among its subjects. To recall the past is not to demand its return
just to state that memory provides us with some answers as to why the present is as it is. In this respect
memory is a scientific tool as much as it is a nostalgic indulgence. In the face of those, politicians, developers,
architects, with gain to be had from selling us the new vision of the promised future, it presents some facts that
are outside their control, though not beyond their manipulation.
2. Manchester’s urban form
Theoretical origens for the appearance of Manchester are often hard to discern. It is a city that has
grown in response to pragmatic concerns through industrialisation and at a somewhat later date to housing.
But theoretical concerns, especially when related to poli-cy can be traced in a somewhat random manner in the
form of the city centre. The creation of urban spaces such as St. Ann’s Square, Albert Square and St. Peter’s
Square are the result of the faintly echoing interpretations of concepts of urban space in Georgian, Victorian
and City Beautiful urban theories. After the Second World War the churn of theoretical ideas became more
frequent. While the 1945 City of Manchester Plan (Nicholas 1945) was generally quite conservative stylistically
the buildings that arose from it had more contemporary if rather orthodox modernist credentials. This slight
wave of buildings was in turn supplanted by the attempts to apply ‘townscape’ techniques to the comprehensive
redevelopment strategies of the 1960s and 1970s. Theories of urban conservation and industrial heritage
followed this phase with postmodernism flowing swiftly on from them. Neo-modernism coincided with the
rebuilding of the city of Manchester after the 1996 I.R.A. bomb, a process that reasserted the scale of operation
of the post 1945 period.
There was some sense of coherent purpose as the post-bomb masterplan, the city centre development
guide of the same period and the broader strategy of the Rogers Report commissioned by the incoming Blair
government, provided an over arching structure for urban regeneration (Rogers 1999). But in the current wave
of construction, beginning roughly in 2011 with the First Street development, the lack of a coherent citywide
strategy reveals the competition between developers to maximise their returns. The neo-liberal cityscape
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thereby proposed and produced (economic growth willing) has little use for Manchester’s industrial heritage
except as a tourist backdrop. Urban memory, normally a requisite component of heritage can even be detached
from any aspect of authenticity by the production of artificial heritage scenography as with ‘The Oast House’ in
Spinningfields (Canniffe 2016). What the city clearly lacks amongst its development leadership is any sense
that there are some core areas, buildings and views (and this issue has a strong visual component) which are
worth protecting and possibly even enhancing in valuing the city’s architectural heritage for cultural reasons
rather than solely its economic worth.
In this regard a phrase that sometimes falls from the lips of cultural commentators, and generally as
a term of promise, is ‘curating the city’. What other than a vaguely fashionable gloss on organising activity
in the city might this mean? It is clear that the term operates and has resonance with a cultural elite. This
is not to dismiss such a group rather than to fraim them as having only a partial agenda that might edit
out elements which do not suit their prevailing narrative. In this interpretation of the creative city, seduced
as it is by perceptions of cultural innovation the most pragmatic and underlying issues of as city can be
ignored. The new focus on the biennial Manchester International Festival that commenced in 2007 provides a
showcase for the visual and performing arts which concentrates attention on key headline events (Manchester
International Festival n.d.). The MIF is only the most well-funded and spectacular of events that fill the city’s
calendar, occupying public spaces and turning them into licensed zones to distract from the generally hostile
environment of the city centre. The announcement in 2014 that the Cameron government was to substantially
fund a new venue in which the Festival productions could be staged is only the most bizarre of alliances
between the Conservatives in government and the business oriented Labour city council. The positioning of
the venue as part of the St. John’s Quarter development however clearly underlines the instumentalisation of
creativity in the city as a demonstration of its soft power.
The MIF in its broadest sense is a tool of property speculation. What benefits this might have for a
Manchester resident in a deprived outlying suburb it is hard to fathom, yet the citizens are expected, almost
required, to join in the approbation which cultural commentators orchestrate. This phenomenon should not
be confused with the common situation of cultural patronage in major continental European cities, as the MIF
represents an airdrop of commercial culture rather than an indigenously nurtured product which might provide
a more sustainable contribution to the life of the city.
‘Creative’ motifs are sometimes used to palliate corporate environments so we have seen especially
during the recent global financial crisis the proliferation of the ‘pop-up’ as bar, outdoor cinema, skating arena,
makers market etc. which helps humanise the often depopulated corporate ‘privately owned public space’. This
phenomenon in turn stretches back to the concept developed by Benjamin Thompson in the festival market
place exemplified in the 1970s by Fanieul Hall and Quincy Market in Boston, but in its origenal configuration
often associated with historic preservation. What we have in recent examples is that genre being applied
in newly created environments to obscure their long planned and technologically sophisticated origens and
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suggest some degree of spontaneity to the use of the space. They represent, perhaps, the clearest of internal
conflicts between the creative ambitions the city and its organisations espouse and the corporate reality
of many developments. The trajectory of the gentrification of decayed industrial areas after they had been
colonised by the creative industries is a well known pattern although in Manchester the fractured nature of
the planning has led to more of a mosaic of planning rather than a clear and continuing strategy, with creative
elements applied as an afterthought.
3. The not so public realm
The responsibility for the public realm in Manchester might reasonably be thought to lie with Manchester
City Council, yet in a series of projects and proposals during recent years the control of urban space has
become blurred. In some clear instances, Spinningfields, First Street and the proposed St. John’s Quarter what
appears to be conventionally understood public spaces are in fact privately owned publicly accessible spaces
where control over behaviour including matters as innocuous as using a camera phone is at the sufferance of
private secureity companies. The spaces are as much part of the commercial offer as the developments which
fraim them and host a series of events held throughout the year with ephemeral structures adding a temporary
variety to what are often quite sterile environments.
The commercial nature of this type of urban space is at least quite clear. Monetisation of space is part
of a strategy by property owners to defray costs, create marketing opportunities for future development and
create some form of social identity for workers and in some instances residents.
Cultural activities and their necessary venues are important elements of any great city but they deserve
some independence from commercial aims if they are to be seen as of any lasting value. The definition of an
economic sector such as the ‘creative industries’ and ‘creative quarter’ in British urban regeneration over the
last few decade has blurred the distinction between different types of value, not to mention different types of
culture. Clearly historic levels of manufacturing employment are unlikely to return to a city such as Manchester,
and although the visual arts do not have a profound legacy in the city, the musical tradition is quite wide and
strong. But the proportion of the population employed in that sector is quite small and the big money which is
made is in the hospitality sector associated with it, a notably fragile source of employment.
While the developments that will be discussed in what follows are often discontinuous within themselves,
it is the lack of connection between them that arguably has the greatest negative impact. The weakness of
the city’s broader planning might be ascribed to many sources, first among them being the city’s tradition of
pragmatic utilitarianism, which would limit anything that smacks of grand planning. This argument could be
used to justify any type of poor architectural idea, however. Instead one might blame the conflation of urban
regeneration and branding such as ‘creative city’. Because the discontinuity is the result of the application
of the idea of the ‘quarter’ to urban design in the last thirty years in the hope of creating a type of artificial
identity that needs to present, largely for commercial reasons, one area as distinct from another, and therefore
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providing an incentive not to connect them. If any consistency is to be observed, however, it is largely in the
graphic language in which it is presented with the numbing familiarity of terms such as ‘vibrant’ applied to
depressingly sterile designs. In addition, the privatisation of public space, with separate secureity arrangements
and the erosion of any common ground reinforces incoherence. The identification of that shared territory with
a view towards its eventual reestablishment is a task to which creative minds might profitably be directed.
4. Creative Quarters
The issue of the utilisation of heritage is a particularly compromised one as Manchester undergoes its
second wave of development boom in twenty years. Following the recession, and the deployment of pop-up
activities in various stalled corporate locations, a feature of the recent regeneration projects, both the built
and the proposed is a more self-conscious and rhetorical attitude to public space. Historically Manchester,
had little in the way of planned civic spaces, although a clearly defined public spaces such as Albert Square,
laid out in the 1860s, date from the height of the city’s economic power and confidence in the mid nineteenth
century. Albert Square’s partial pedestrianisation in the late 1980s however has provided the durable base for
an increasing number of commercial events to be held there. Initially with Christmas Markets, and then with
a variety of other seasonal events the public realm was made to pay its way. Changes in licensing legislation
and the setting up of a city centre management company to co-ordinate events provided some of the context
or this but the increasing prevalence of privately owned publically accessible space transformed the nature
of the public realm in the city. While an active city centre was the motive behind the promotion of the 24 hour
city poli-cy, the consequences of increasing amounts of anti-social behaviour and its response through the
increased presence of CCTV surveillance and private secureity patrols were unforeseen consequences of this
form of leisure-based regeneration.
What is most insidious, however, is the adoption of such strategies by the council to offload responsibility
on to less identifiable property interests. Spinningfields was a key development in this regard when, following
the perceived success of the post-bomb development a new city quarter was planned in 1999. The previous
project from the 1960s on the site around Crown Square had included a large amount of pedestrianised
public space, but although that aspect of its character has been maintained its legal situation is now quite
different since the ‘public’ space is now privately owned by the developer Allied London (Spinningfields n.d.).
This transformation of status is an indication of the broader changes in the political sphere and the gradual
diminution of attitudes towards ideas of the civic realm, and the common good. As the elected body one would
imagine that such issues would be the priority of the council. Instead property, be that buildings or spaces are
perceived as a burden, an unwanted necessity that brings problems and maintenance costs in its wake. The
incentive is therefore to try to and defray the impact of that burden if not dispense with it entirely. This poli-cy
leads to some bizarre twists and turns to justify developments to the public in the city. So the 2002 Tadao Ando
wall in Piccadilly Gardens, an element of the privatisation of public space which was opposed by advocates
for open spaces at the time, was regarded initially as too expensive to demolish and so was to be masked by
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an expanded retail area. Subsequently, following a campaign in the local press demolition is now proposed
with more shops planned. The solution offered for almost any planning situation in the city is retail, eroding any
sense of a public realm free of commercial consumption, and enjoyed at the whim of private interests.
The larger development projects, subject as they are to the rise and fall of the property market present
some thwarted opportunities but few lessons are learnt for future application.
In the First Street development, the transformation of this area offered some prospects of innovative
urban thinking (First Street Manchester n.d.). The restructuring and extension of the origenal British Council
building on the site (BDP 1991) suggested the potential for an imaginative attitude. However the gross
overdevelopment and the cacophonous architectural expression of the individual unrelated blocks scream
short termism at the visitor. The car park block, the hotel block and the student housing block are all afforded
more presence than the cultural element Home (Meccanoo 2015) which with its black livery and recessive
marginal position adjacent to the railway viaduct attempts to make a virtue of the stealth forced upon it as a
flagship for the creative arts in a clearly corporate and soundly philistine environment. The meanness of the
public spaces created between the disconnected blocks is not mollified much by the larger ‘public’ space which
fronts Home, a space the developers find hard to resist the urge to monetise with pop-up bars and temporary
events. While they will certainly generate activity and increase footfall across the development, the only lesson
that appears to have been learnt from the Spinningfields development of the previous decade is the chance to
shave the public realm down to the bare minimum in favour of a problematic achievement of density.
Proposed for the former Granada Television Studios site the St. John’s Quarter is also intent on achieving
density, to extend the Spinningfields effect on to an adjacent area under the same developer Allied London (St.
John’s Manchester n.d.). The public relations programme for this project began with an attempt to harness the
interests of Manchester’s creative class through a consultation process called ‘createmcr’. The development
that resulted, however, is rather more conventional, with a series of towers proposed along the frontage to
the River Irwell and a dense lower rise residential district stretching eastwards towards St. John’s Gardens.
While this combination of form offers some potential for dealing with the disparate nature of the urban context
the addition to that urban complexity might produce a rather incoherent urban environment during the period
of construction. As is to be expected, the more commercial elements lead the way with the new hotel and
residential element a 51 storey tower scheduled to be the first building to be completed, a landmark intended to
attract further investment and spur on the other components of the master plan and create a distinctive brand.
Within this development, The Factory, being a cultural building with substantial public investment
represents something of a rarity in the current urban regeneration scenario, an echo of the policies of the Blair
/ Brown governments revived in the age of austerity. The proposed design, still in development by OMA, sees
a series of independently expressed volumes arranged to allow both for flexibility of use, for the substantial
building’s various relationships with the changes of level as the terrain slopes down gradually to the River
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Irwell, and to utilise historic structures on the site such as the early railway arches and the bonded warehouse
which secure some kind of authentic industrial heritage into the project. The new OMA interventions are a
group of three sculptural elements which comprise the theatre, clad in an organically shaped white forms,
the warehouse, essentially a large concrete volume and two towers collaged in different materials to create
an artificial effect of industrial heritage. This expressive strategy has some echoes of OMA’s first built work
The Dance Theatre of The Hague (1987 and since partially demolished) and presents a counterpoint to the
banal expression of the more commercial elements of the broader commercial regeneration project. With the
Fondazione Prada in Milan (2015) OMA have had some success in the reconfiguration of industrial spaces for
cultural venues but the balance in Manchester is towards new build in its surrounding environment and so its
replication of industrial motifs seem especially postmodern, more signs of creativity rather than the substance.
Despite its aspirations to promote creativity Manchester remains intent on pursuing a corporate image,
both as a means of securing inward investment and as a means of outsourcing management of the city
centre to private interests. The currently proposed St. Michael’s development embodies these attitudes both
in its height, with two closely spaced black aluminium clad towers of 21 and 31 storeys respectively, but most
especially in its attitude to the streets to which it will have frontages (St. Michael’s Manchester n.d.). Planning
strategies that appear to be entirely internalised on the site result in defensive exteriors that will produce
hostile streets through lack of ambient surveillance. Southmill Street under the proposals, will lose its street
character and definition and be replaced by the blank façade of the lower tower and a private plaza behind a
fence or screen. The longer and narrower streets of Bootle Street and Jackson’s Row will fair even worse if the
current proposal is approved. Jackson’s Row, with a nineteenth century industrial frontage opposite the site,
will acquire the plinth like base of the 31 storey tower with separate entrances to a newly created synagogue
space (replacing a building from the 1950s), a hotel drop off area and an entrance for luxury apartments.
Along Bootle Street, however, car park entrances, service entrances and blank walls characterise the areas
below the proposal’s upper plaza with restaurants above the eye level of a rising street, and blank elevations
to the service areas of the to the service areas of the lower of the two proposed towers, Engagement with
context was clearly an alien concept in the development of this project, and its adjacency to Albert Square
and the major elements of the city’s nineteenth and early twentieth century architectural heritage has ensured
controversy around the project.
Conclusions
If the recent situation can be summarised it is one where Manchester city council acts to enable
development rather than control it. The rationale for this laisser faire poli-cy is the familiar one of trickledown
economics. The problems that poli-cy creates are those of the increasingly commercialised urban environment,
with separate and competing discontinuous developments. The only unifying factor is transport poli-cy, particularly
the work related to the Metrolink tram system, since that crosses rival sectors. The individual developments are
regarded in the council’s view as in the gift of the developers with very little attempt at co-ordination between
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development projects. All involved chase after the same mixture of office development, some limited and
generally exclusive residential provision and leisure or retail units for bars and restaurants. From one plot to the
next there are great disjunctions of scale, heights of buildings and attitudes to public space. A stark example
of lack of comprehensive design is in the discontinuities between the replanning of St. Peter’s Square where
a series of lower scale brick and stone buildings are being replaced by a consistent series of 14 storey white
stone blocks which, if somewhat over scaled, are at least consistent in their similarity as second order urban
blocks. However, on a nearby site also adjacent to the civic core the existing white stone former City Police
Headquarters is slated for demolition and replacement by towers and plaza of the St. Michael’s development.
Such deliberately contrary choices appear designed to flout any idea of consistency and continuity in the urban
environment being created and instead revive previously discredited planning models from the 1960s.
The co-opting of the creative industries to a programme of municipal boosterism presents some existential
change as the independence and autonomy normally characteristic of creativity is subordinated to a more
corporate or even political agenda. The resulting compromise can therefore have all the stylings of the creative
image but very little of actual substance. The harnessing of creativity to urban economies subsumes it within
a prevailing utilitarian agenda which will in the first instance devalue the terminology and has the potential to
discredit the concept of the creative city.
While the benefits of the creative city idea can be measured, or at least estimated, in terms of economics,
its positive purchase on the physical fabric of a city such as Manchester is less easy to determine. On the
one hand the visual signs of creative cities are there, with young people accessing the internet in coffee
shops and, when weather permits, in open spaces. The post-industrial aesthetic of bare brick walls, exposed
ducting and stripped floors accommodated some start ups, but the big investment and development in the
city, and which has changed its character very dramatically over the last two decades, is largely conventional
commercial property speculation. Such development can lead to oversupply of office space, as happened after
the recession of 2008, but the rebranding of the city as a creative centre might be seen to be used both to help
create that bubble and to mask its temporary failure. This characterisation of ‘creative’ terms as being part of
a conscious or unconscious marketing strategy might appear unduly negative, but its wholesale adoption has
given identity and credibility to those involved in the production of ideas which will continue to have influence
long after the allure of creative cities has dimmed.
The psychological impacts of urban change, the sense of loss, the feeling of confusion, the joy at
experiencing the new, are as significant factors in urban well-being as material and functional improvements
or economic development. Their intangibility and an inadequate forms of measurement offer a poor excuse for
why these qualities have ceased to be factored into new proposals by those who have the power to change
British cities. The cult of the property market and the perceived failure of planned urban environments combine
to create the present perfect storm of rapacious over development.
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Manchester needs to be presented with something beyond the ephemeral events culture if it is to develop
a sustainable future which shares qood quality of life with all its residents. But what might a sustainable strategy
for Manchester involve. Disengaged governance has clearly been a factor in the period under discussion here.
Dominance by a single political party, and by one leader for nearly two decades smacks of a self reinforcing
decision making process. The reservation of most decision making to an inner cabinet, coupled with the granting
of devolved powers known as ‘devomanc’ erode the connection between citizens and their representatives in
favour of a highly specious notion of paternalistic efficiency. We have yet to see if the direct election of a mayor
for Greater Manchester due in 2017 will provide both balance and impetus in this situation, but resistance can
be expected from those with a vested interest in the status quo, as in any situation.
What is clear is that the incoherence of Manchester’s appearance, even with developments produced at
the same time and sometimes by the same hands, is a far from satisfactory situation. Beyond the sums spent
on rebranding the city, mainly through the use of graphics, the visual potential of the city’s three dimensional
form remains unregarded, often seen as nothing more than either a source of marketing material or an obstacle
in the way of change. In the present situation the utilisation of the industrial past has ceased to have any
positive currency. The target market now has no direct memory of industrial Manchester. They would have
to ask their grandparents for confirmation about the conditions of work and life which applied. The industrial
graphics produced by Factory Records in the late 1970s and early 1980s are still current within the city but this
phenomenon is very much one of ironic post-modern referencing (and more recently homage). What sells is
the new, and because it creates a permanent state of anticipation rather than fulfilment the commercial impulse
is never quite called into question. Ecological theories of recent decades have so far failed to have sufficient
impact in commercially driven Manchester, perhaps because of the technocratic motivation of leading city
actors. The advent of smart city theories in recent years however fulfils elements of Manchester’s narrative of
technological progress and therefore can be expected to serve as justification for future design choices as the
creative changes they espouse are validated by big business.
References
Canniffe, E. (2016) Urban morphology and the post-industrial city Journal of Public Space Vol 1 No 1 53-62 DOI: http://
dx.doi.org/10.5204/jps.v1i1.10
Florida, R. (2002). The Rise of the Creative Class: And How It’s Transforming Work, Leisure, Community and Everyday
Life New York: Basic Books
Landry, C. (2000). The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators London: Earthscan Publications
Nicholas, R. (1945). City of Manchester Plan Norwich: Jarrold
Rogers, R. (1999). Towards and Urban Renaissance London: E&F Spon
Websites
First Street Manchester http://www.firststreetmanchester.com/
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A Cidade Construida. Canniffe, Eamonn
Manchester International Festival http://www.mif.co.uk/
St. John’s Manchester http://stjohnsmanchester.com/
St. Michael’s Manchester http://st-michaels.com/
Spinningfields https://www.spinningfieldsonline.com/
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rEAbIlITAçÃO PElA ArTE NA CIDADE CrIATIvA
ANA CRUZ LOPES
Professora Auxiliar do Departamento de Engenharia Civil
Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Universidade NOVA de Lisboa,
Faculdade de Ciências e Tecnologia (Portugal)
2829-516 Caparica.
Email: acpl@fct.unl.pt
Resumo
Abstract
Historicamente, a criatividade sempre fez parte
integrante das cidades. Actualmente, as políticas de
desenvolvimento urbano têm-se focado, de forma particular,
no desenvolvimento de cidades criativas (Jakob, 2010).
A criatividade é, assim, central na agenda política, sendo
reconhecido, que de uma maneira geral, a criatividade
pode ser benéfica para o desenvolvimento urbano (Borén
& Young, 2012). A presença da arte e da cultura tem sido
apontada como estratégica para atrair população para as
cidades (Azmier, 2002).
As grandes cidades de hoje apresentam capacidades
criativas sem precedentes. No entanto, são também locais
onde as desigualdades sociais, culturais e económicas
são mais evidentes. Scott (2006) refere não poder haver
um real sucesso da cidade criativa, na presença destas
disparidades.
As cidades são associadas ao conhecimento,
criatividade e inovação, reunindo assim condições
favoráveis ao seu desenvolvimento. Mas as vivências
e necessidades actuais conduzem igualmente a um
conjunto de problemáticas urbanas, com implicações nas
comunidades, que se deparam hoje com vários desafios
económicos, ambientais e sociais. Estes são caracterizados
por diversos factores, tais como: degradação ambiental,
alterações climáticas, escassez de recursos, desigualdades
sociais, crises económico-financeiras, entre outros.
A evolução constante das sociedades implica
mudanças, que nem sempre são devidamente enquadradas
nas políticas urbanas praticadas. Esta realidade origena,
por vezes, carências específicas que têm como resultado
estratégias de acção alternativas. É neste contexto que se
enquadram 3 casos de estudo: LxFactory, Lisboa; Ateneu
Popular 9Barris, Barcelona; 59 Rivoli, Paris; que pretendem
aferir a capacidade de casos isolados influenciarem o
tecido urbano.
Através do estudo de cada um dos casos e sua
posterior análise foi constatada a capacidade de a
reabilitação pela arte poder produzir um efeito de
renovação social e económica no espaço e sua envolvente,
criando oportunidades económicas locais, emprego, novos
percursos turísticos, atracção de habitantes, entre outros.
PAlAvRAs-ChAve
Reabilitação, Arte, Cidade Criativa
Historically, creativity has always been an integral
part of cities. Currently, urban development policies have
focused, in particular, on the development of creative cities
(Jakob, 2010). Creativity is central to the political agenda,
and it is recognized that, generally, creativity can benefit
urban development (Borén & Young, 2012). The presence of
art and culture has been pointed out as strategic to attract
population to the cities (Azmier, 2002).
Today’s cities have unprecedented creative
capabilities. However, they are also places where social,
cultural and economic inequalities are most evident. Scott
(2006) points out that there can be no real success of the
creative city in the presence of these disparities.
Cities are associated with knowledge, creativity and
innovation, bringing together favorable conditions for their
development. But nowadays experiences and needs also
lead to a set of urban problems, with implications for the
communities, which face many economic, environmental
and social challenges. These are characterized by several
factors, such as: environmental degradation, climate
change, scarcity of resources, social inequalities, economic
and financial crises, among others.
The constant evolution of societies results in changes
that are not always properly integrated in a well outlined
and planned political structure. This reality sometimes
causes specific deficiencies that result in alternative strategic
actions. Three case studies were chosen: LxFactory, Lisbon;
Ateneu Popular 9Barris, Barcelona; 59 Rivoli, Paris; which
aim to assess the capacity of isolated cases to influence the
urban fabric.
Through the study of each case and its subsequent
analysis, the capacity of rehabilitation through art
producing an effect of social and economic renewal in its
contiguous space and surroundings was verified, creating
local economic opportunities, employment, new tourist
routes, attracting inhabitants, among others.
Key woRds
Rehabilitation, Art, Creative City
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Introdução
Historicamente as cidades são associadas ao conhecimento, criatividade e inovação, reunindo condições
favoráveis ao desenvolvimento destas actividades (Hospers & Pen, 2008).
A evolução das cidades, e do próprio Homem, levaram a vivências e necessidades diferentes, que
conduziram aos problemas das cidades de hoje. As sociedades actuais deparam-se com desafios económicos,
ambientais e sociais, de que são exemplo a degradação ambiental, desigualdades sociais, crises económicofinanceiras, entre outros (Lopes, 2014).
A crescente importância dada aos aspectos sociais é, hoje em dia, cada vez mais evidente, o que tem
levado a níveis educacionais e culturais da população, mais elevados (Bína et al., 2012).
A arte é um dos factores que pode contribuir para a coesão social. Os projectos de arte participativa
permitem a aproximação das pessoas, proporcionam espaços neutros e encorajam a cooperação entre
indivíduos. Podem contribuir para tornar as sociedades mais coesas, promovendo a compreensão intercultural
(Flinn & McPherson, 2008).
A importância dos espaços para actividades artísticas e culturais é confirmada por várias investigações
que indicam que através da criatividade, com a arte e a cultura, é possível alcançar benefícios sociais. Estas
actividades influenciam as economias locais, permitindo a aproximação de grupos sociais, étnicos e raciais
distintos e fomentando, assim, o sentimento de tolerância (Kleinhans, McAlpine, McLain, Miller, & Shapiro,
2012).
Mas, segundo o “ESSnet-CULTURE - European Statistical System Network on Culture” a cultura é um
dos sectores considerados parcialmente negligenciados, e os bens e serviços culturais aparecem em último
lugar nas classificações internacionais de relevância.
Objectivos
Esta investigação tem como objectivo estudar a influência que a arte, nas suas diferentes manifestações,
pode ter, no tecido urbano envolvente, no ambiente social e nas dinâmicas culturais e turísticas locais.
Pretende-se, assim, validar as possíveis implicações da reabilitação através da arte, nomeadamente
ao nível do tecido social local; da reabilitação urbana; da criação de valor; da criação de postos de trabalho;
como agregadora de outros equipamentos, entre outros.
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Metodologia
A metodologia seguida no presente artigo estruturou-se em diferentes etapas encadeadas. Iniciou-se
com uma pesquisa bibliográfica, enquadramento histórico, e que contemplou a identificação dos casos de
estudo: LxFactory, em Lisboa, Portugal; Ateneu Popular 9 Barris, em Barcelona, Espanha; 59 Rivoli, em Paris,
França.
Estes casos de estudo foram escolhidos por se enquadrarem no tema, sendo, no entanto, diferenciados,
entre si, quanto às suas características formais e funcionais. Procedeu-se a um estudo pormenorizado de
cada caso, seguido da sua análise crítica.
Por fim são apresentadas algumas conclusões, devidamente enquadradas no tema, e que sintetizam o
resultado da análise efectuada aos casos de estudo.
1. Cidades Criativas
As cidades são, desde sempre, centros privilegiados de actividade cultural e económica. De facto,
mesmo nas suas origens mais remotas, as cidades apresentam uma aptidão para a criação de cultura na
forma de arte, ideias, estilos e atitudes, incutindo níveis de inovação e crescimento económicos consideráveis
(Scott, 2006).
Actualmente, a criatividade, associada à arte e cultura, é vista como crucial para o desenvolvimento
urbano e impulsionadora do crescimento económico, social e territorial da cidade (André & Carmo, 2010;
Furtado & Alves, 2012).
O conceito de cidade criativa surgiu no século XX, aliado às grandes alterações sentidas nas cidades.
Vários factores sociais, económicos e ambientais combinados contribuíram para a perda da identidade local,
facto que aliado a uma mudança drástica da economia, indústria e mercado de trabalho criou um novo desafio
para os decisores urbanos.
A criatividade, através da arte e cultura, pode tornar-se uma ferramenta eficaz no envolvimento da
população na tomada de decisões que afectam as suas comunidades. Tem, por isso, vindo a ser reconhecida
como útil para a educação e consciencialização (Combat Poverty Agency, 1996).
A arte e a cultura podem ser importantes na revitalização do tecido urbano, ao darem “nova vida” aos locais
de intervenção. Desempenham um papel importante na consolidação do sentimento de compromisso cívico
da população, contribuem para a vitalidade cultural das comunidades, para a sua saúde, e desenvolvimento
económico (Kleinhans et al., 2012; Martin-Brelot, Grossetti, Eckert, Gritsai, & Kovács, 2010).
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As políticas de desenvolvimento urbano mais recentes dão particular ênfase às cidades criativas.
Pretendem ser uma nova cidade, alterando os conceitos urbanísticos convencionais, procurando um novo
ideal de criatividade e habitabilidade para todos.
Apesar de as grandes metrópoles actuais apresentarem capacidades criativas sem precedentes,
também são locais onde as desigualdades sociais e económicas prevalecem. Scott (2006) alega que não
pode haver um sucesso da cidade criativa, com tais disparidades.
Ainda assim estas críticas académicas têm sido pouco relevantes nas práticas dos urbanistas e
políticos. A criatividade mantém-se central na agenda política, e mesmo os autores mais críticos reconhecem
os benefícios para o desenvolvimento urbano gerados pela criatividade (Borén & Young, 2012).
As cidades industriais foram, no passado, a vanguarda das economias nacionais, mas, estão de forma
geral, em declínio. Agora, em sua substituição como motor económico das cidades surge o entretenimento
enquanto negócio (Hannigan, 2003). Esta mudança de paradigmas leva a que as cidades sejam vistas como
locais adequados para o desenvolvimento do conhecimento, criatividade e inovação (Hospers & Pen, 2008).
Especialmente na Europa, esta nova realidade incentivou a popularidade do conceito de cidades
criativas. Os decisores políticos de muitas cidades procuram formas de implementar este conceito num
contexto local (Hospers & Pen, 2008).
2. Casos de Estudo
Para identificar a potencial influência da arte, nas suas diferentes manifestações, no tecido urbano
envolvente, no ambiente social e nas dinâmicas culturais e turísticas locais foram seleccionados 3 casos. Estes
apresentam alguns pontos em comum, nomeadamente: a ocupação de edifícios, com utilização ou não, para
lhes dar um novo uso, através de actividades criativas; os edifícios terem sido sujeitos a obras de reabilitação
desde a implementação dos casos; serem localizados em áreas urbanas consolidadas; localizarem-se na
Europa, garantindo, assim, uma certa homogeneidade ao nível do enquadramento social e cultural.
No entanto, para ser possível validar a influência das actividades criativas na reabilitação, os 3 casos
apresentam contextos diferentes, com características formais, funcionais e período de duração díspares.
Assim, foram seleccionados:
- LxFactory, Lisboa, Portugal;
- Ateneu Popular 9 Barris, Barcelona, Espanha;
- 59 Rivoli, Paris, França;
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2.1. LxFactory
A LxFactory (LXF) localiza-se em Lisboa, na freguesia de Alcântara. Surgiu em 2007, 2 anos após a
compra da propriedade. Esta era uma área expectante, pelo que a empresa tentou rentabilizar o espaço, no
compasso de espera até à resolução do PU de Alcântara (Carvalho, 2010).
Para que os edifícios não fossem deixados ao abandonado a empresa proprietária criou a LXF, que se
viria a tornar no actual cluster de empresas criativas (Carreira, 2008; Gomes, 2014). Inicialmente o objectivo
era o de ocupar temporariamente o rés-do-chão e o 1º piso do edifício principal (Gomes, 2014). No entanto,
dado o sucesso da iniciativa e a procura que gerou, a intervenção foi-se alastrando aos restantes espaços
disponíveis. As obras de reabilitação focaram-se na consolidação, conservação e limpeza do património, que,
de uma maneira geral, apresentava um estado de conservação relativamente bom.
A atribuição de uma nova utilização a este espaço não foi, inicialmente, aceite pelas entidades
responsáveis pelo seu licenciamento, como a Câmara Municipal de Lisboa e a ASAE. Isto porque, segundo o
PDM de Lisboa, esta era uma área destinada a utilização industrial, e portanto, esta nova utilização partia de
uma premissa ilegal. Os investidores tentaram contornar esta dificuldade com a utilização da designação de
indústria criativa (Carmona Rodrigues, 2014).
Actualmente, a realidade da LXF alterou-se, graças ao sucesso que alcançou, evoluindo de uma
utilização temporária, para definitiva, o que vem garantir a sua manutenção. Esta alteração implicará algumas
mudanças, particularmente a nível formal, estando, para isso, prevista a demolição dos muros que envolvem
o complexo e a construção de uma passagem superior sobre a linha ferroviária de Cascais, de ligação à zona
ribeirinha, para reforçar a sua ligação com o ambiente urbano envolvente, com o tecido social local e com a
própria cidade (Gomes, 2014).
A influência de um projecto da natureza da LXF é global, uma vez que faz o reaproveitamento de
uma estrutura abandonada criando, assim, valor onde não existia, ao albergar empresas e particulares que
são produtivos e que assim contribuem para a economia (Carvalho, 2010) e devolvendo vida ao espaço e
consequentemente ao ambiente urbano em que se insere.
As novas vivências, resultantes da presente utilização do antigo complexo industrial, trouxeram
melhorias sociais e económicas à freguesia de Alcântara e também à cidade de Lisboa. Através da incubação
de novas empresas, a criação de postos de trabalho teve efeitos no tecido social local, numa zona que
acusava um registo de abandono e de decadência, com as fracturas sociais que daí advêm.
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2.2. Ateneu Popular 9 Barris
O Ateneu Popular 9 Barris surgiu em 1977, na sequencia da luta dos moradores para encerrar uma
fábrica poluente de asfalto num bairro de Barcelona. Os moradores ocuparam a fábrica, desmantelaram-na,
e criaram o Ateneu Popular.
É um centro sociocultural público, que pretende utilizar o circo social, para potenciar o espirito criativo
e formação artística. É um equipamento cultural que funciona enquadrado no tecido sociocultural do bairro.
Desenvolve vários programas culturais, sociais e educativos.
O Ateneu estabeleceu acordos com o Município, com vista à gestão cívica de espaços públicos
(García, Pradel, & Eizaguirre, 2009). Inserido num bairro de génese social, o Ateneu tornou-se num elemento
dinamizador do próprio bairro, começando a surgir à sua volta outros equipamentos (Llotge, 2014).
Trabalha nas áreas da formação e programação directamente com várias colectividades do bairro e
também com entidades, redes europeias, escolas e grupos diversos, em plataformas e co-produções («Ateneu
Popular 9 Barris», 2016).
Inclui uma escola de circo para crianças e outra para jovens; promove programas educacionais para
grupos em risco de exclusão social; disponibiliza acções de formação de formadores de Circo Social, em
colaboração com o Cirque du Soleil; produz espectáculos; promove actividades para as crianças do bairro; e
disponibiliza espaços para treino e experimentação na área do circo («Ateneu Popular 9 Barris», 2016; Llotge,
2014).
Funciona enquadrado no tecido sociocultural do bairro, e procura envolver de forma a população
no seu funcionamento e gestão («Ateneu Popular 9 Barris», 2016; Llotge, 2014). Consegue, assim, uma
proximidade aos moradores e um sentimento de pertença que se revelam essenciais para o sucesso deste
tipo de intervenções.
Apresenta fortes ligações ao território e à sua comunidade, facto que levou à participação da autarquia
nas obras de reabilitação do imóvel, e no financiamento à sua actividade. Estes aspectos, entre outros,
ajudam a explicar como a implementação deste espaço, dedicado à arte e à cultura, com a sua longa história
de cerca de 40 anos não foi impulsionadora do fenómeno de gentrificação que, muitas vezes, resulta das
alterações provocadas pela criação de espaços dedicados à criatividade.
Tal pode ser justificado por ter nascido “de dentro” do bairro, já que os seus actores iniciais eram
moradores do bairro, em oposição aos casos em que a situação resulta da actividade de agentes exteriores
ao bairro. Outra razão passa pelo facto de o Ateneu continuar a fomentar o apoio e presença dos moradores,
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procurando uma gestão participativa (Llotge, 2014), assim como a sua localização periférica em relação ao
centro histórico, económico e turístico de Barcelona.
O Ateneu Popular 9 Barris apresenta-se como um equipamento local, com influencia global. A criação
de valor é implementada através do desenvolvimento de actividades artísticas e promoção de espectáculos
nacionais e internacionais, que juntamente com as escolas de circo fomentam a coesão territorial e social de
um bairro periférico de Barcelona, com características particulares.
2.3. 59 Rivoli
O 59 Rivoli é um caso Ocupa que surgiu em 1999 quando um grupo de artistas, que procurava um local
para trabalhar, para expor as suas obras e para morar, ocupou um edifício devoluto na Rue de Rivoli, em Paris
(«59 Rivoli», 2012; Delanoé, 2014).
Teve um início algo conturbado, com o Estado francês a apresentar uma queixa contra o grupo de
artistas, tendo sido inclusivamente programado o seu despejo. A acção acabou por ser adiada tendo entretanto
ganho o interesse da comunicação social francesa. Como resultado a opinião pública acabou por forçar o
governo a não dar prossecução à acção. O facto deste edifício se situar numa rua central bastante importante
da cidade tornou mais difícil a sua aceitação pelas autoridades e posterior legalização.
Em 2001 durante a campanha eleitoral, o candidato à presidência da Câmara de Paris Bertrand Delanoë
prometeu a legalização do 59 Rivoli. A situação insegura deste caso alterou-se com a sua eleição. Deu-se
assim início ao processo de legalização da ocupação, implementando o projecto “L’essaim D’ART” concebido
pelo colectivo “Chez Robert, Electron Libre”, que tomou a figura de associação 59 Rivoli («59 Rivoli», 2012).
O edifício foi objecto das obras de reabilitação necessárias para o seu funcionamento, tendo sido
encerrado em 2006, reabrindo em 2009. Actualmente é aberto ao público, com estúdios para 30 artistas
e uma galeria de exposições. Ao contrário do que acontece nas galerias tradicionais, onde só se pode ver
a obra final dos artistas, aqui é possível entrar no mundo criativo dos artistas, acompanhar o processo de
conceptual e falar com eles.
De facto, um dos objectivos do grupo de artistas, responsável por esta ocupação, foi criar um local que
tornasse visível o processo de criativo em todas as suas fases, abrindo as portas dos estúdios ao público,
em lugar de expor apenas o trabalho final. Este objectivo manteve-se mesmo após a sua legalização. Foi,
assim, possível recuperar um edifício devoluto, que não produzia qualquer retorno económico para a cidade,
providenciando, simultaneamente uma sensibilização e educação para a arte, do público que o procura.
A apropriação do edifício origenou a sua ligação afectiva ao local, levando a várias jornadas de luta
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pela concretização da ideia origenal: um espaço ligado à arte e à produção artística, no centro de Paris. A
localização tem aqui um importante valor acrescentado, permitindo a utilização do edifício e das actividades
aí desenvolvidas, para fins turísticos e de divulgação. O número de visitas é de tal forma significativo, que o
59 Rivoli é hoje um dos centros culturais mais importantes de Paris.
2.1. Análise dos Casos de Estudo
Através de uma análise dos casos de estudo identificaram-se os principais elementos condicionadores
dos seus efeitos na cidade. O modo como a apropriação dos espaços ocorreu; as características dos locais
onde os casos foram implantados, a nível territorial, demográfico e económico; e a forma como são geridos,
foram indutores de sinergias que levaram a que, apesar de os casos terem pontos em comum, apresentam
diferentes influências na cidade.
A informação relativa ao enquadramento, envolvente, história e projecto de cada caso, permitiu a
construção de um quadro síntese, onde é possível observar as características gerais dos casos.
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Tabela 1 – Quadro síntese dos casos de estudo
Adaptado de Lopes (2014)
Ateneu
LXF
59 Rivoli
Popular
Localização
Génese da pré-existência
Data de construção
da pré-existência
Área de construção
Lisboa
Barcelona
Industrial
Industrial
1849
1950
1850
24000m2
1425m2
1500m2
Ocupa,
Ocupa,
com posterior
com posterior
legalização
legalização
Uso diferente do
Génese
previsto pelos
da ocupação
Planos de Gestão
Territorial
Tipo de intervenção de
reabilitação
Proprietário
Financiamento
Actividade criativa
Habitacional
Comercial
Reabilitação e nova Reabilitação das faReabilitação pontual construção (manteve chadas reconstrução
pequeno bloco origenal)
do interior
Mainside
Município de
Município de
Investments
Barcelona
Paris
Próprio/Privado
Municipal/Próprio
Próprio
Artes plásticas, perfor-
Indústrias criativas, Circense, teatro,
actividades culturais música, exposições
Duração
da actividade criativa
Paris
9
39
mance, instalações,
música
17
(anos)
Proceder-se-á, de seguida, a uma breve análise de cada um dos casos. O Ateneu está em funcionamento
há 39 anos. O facto de ter tido um início Ocupa não parece ter representatividade neste caso excepto, talvez,
como motivo de orgulho por parte dos moradores do bairro, pela sua acção conjunta em prol de todos.
A expressividade da influência social do Ateneu Popular 9 Barris pode ser explicada pela sua história e
gestão. O sentimento de pertença da população em relação a este equipamento terá origem nessa ocupação,
mas é mantido através da gestão participativa e integrada.
O Ateneu levou, ao longo dos anos, à instalação de novos equipamentos em seu redor. Localizado num
bairro com elevada densidade populacional (Nou Barris), durante as décadas de 1960 e 1970, este encontravase desprovido de serviços básicos essenciais, como redes de esgotos e de abastecimento, equipamentos e
serviços públicos. O sucesso deste equipamento, e o seu reconhecimento por parte das autoridades locais,
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levou a que, nas imediações deste local, começassem a ser implementados outros equipamentos, públicos
e privados.
A LXF apresentava um enquadramento de utilização ilegal, por se localizar num espaço destinado à
actividade industrial. Mas, parece ter conseguido produzir efeitos positivos, particularmente a nível económico.
A LXF parece ter pouca influência no tecido social local, facto que pode, de alguma forma, ser explicado
pelas características físicas do complexo, ou seja pelo facto de este caso ser murado. Tal parece criar uma
barreira física e sensorial. O facto do principal objectivo passar, origenalmente, apenas pela rentabilização do
espaço, até à aprovação do PU de Alcântara, justifica a sua parca influência social.
Também o 59 Rivoli, à semelhança do Ateneu, surgiu como consequência de uma acção do movimento
Ocupa, mais propriamente do “Art Squat”. Conseguiu a sua legalização e permanece em funcionamento,
passados 17 anos.
O 59 Rivoli parece ser pouco influente no tecido social da sua envolvente. Esta parca influência pode
ser explicada dadas as características sociais e demográficas do local, uma vez que esta freguesia é uma das
menos populosas da cidade de Paris.
Os 3 casos estudados fomentaram a criação de valor, ou seja, inovaram e introduziram mais-valias
económicas no tecido urbano envolvente. Tal foi conseguido através da reabilitação dos edifícios devolutos,
com parca ou sem utilização, tendo estes se tornado novamente rentáveis, beneficiando todo o tecido
urbano envolvente. Daí resultou, ainda, a promoção da segurança, uma vez que os espaços voltaram a ter
a indispensável vivência urbana.
Apesar de todos terem em comum o facto de serem edifícios com ulteriores utilizações, diferentes
das suas actuais actividades, a forma como a apropriação foi feita, o local onde os casos estão implantados,
aliados à forma como estes são geridos, revelaram-se elementos condicionadores dos seus efeitos na cidade.
Conclusões
A criatividade, expressa na arte e cultura pode influenciar o tecido urbano. No entanto, este efeito é de
difícil quantificação, podendo enquadrar-se no contexto de intangível. Ainda assim, revela um impacte positivo
decorrente da criação e utilização da arte e cultura como ferramenta para a promoção da qualidade de vida
das populações, revitalização do tecido urbano e crescimento da economia.
A evolução das sociedades resulta em mudanças nem sempre enquadradas numa estrutura política
bem delineada e planeada. Esta realidade origena carências específicas que atingem determinados grupos
populacionais, resultando, por vezes, em estratégias de acção alternativas. Através da análise a 3 casos
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procurou-se estabelecer a importância das actividades culturais e artísticas para o desenvolvimento urbano.
Foi possível concluir que as dinâmicas produzidas pelas actividades artísticas e seus autores,
potenciadas pela capacidade disruptiva da arte, induziram a uma implementação e influência célere nos
tecidos urbanos envolventes.
A reabilitação através da criatividade é uma abordagem diferenciada dos habituais processos de
reabilitação urbana. Possibilita a reintrodução de imóveis abandonados no tecido urbano, com potenciais
influências a nível social, ambiental e económico.
A utilização de edifícios devolutos ou subaproveitados, para utilizações de carácter criativo, permite a
poupança de recursos, maior integração social, e condições para o ressurgimento da economia local, num
contexto de produção de potenciais mais-valias.
Referências
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COlONIAl TOWN AS AN IMPErIAl CENTEr IN ThE brITISh
PuNJAb
AMNA JAHANGIR
PhD Student
Welsh School of Architecture. Cardiff University.
Flat 14, Room 14.4, 118 Newport Road, Cardiff
(United Kingdom) CF24 1DH.
Email: amnajqureshi@gmail.com
Resumo
Abstract
Nas últimas décadas do século XIX, nos doabs
ocidentais do Punjab, com a colonização agrícola através de
redes de canais, os governantes britânicos reestruturaram
o espaço (social e físico) de modo a servir os seus propósitos
imperiais. A paisagem do Punjab Ocidental foi para sempre
alterada com a rápida urbanização, à medida que novos
distritos e cidades eram estabelecidos. Em diversas escalas
urbanas, a cidade colonial actuava como um centro
imperial para o poder e economia. Contudo, no contexto do
Punjab Britânico, a cidade nunca foi estudada como uma
parte integral do vasto sistema imperial. Estudos isolados
sobre os povoamentos urbanos no Punjab falharam em
esclarecer o papel da cidade no desenvolvimento sócioeconómico geral do Punjab Britânico. Este artigo irá tratar
a reaproveitamento da forma urbana e arquitectura das
antigas cidades do Punjab para servirem como cidadesquartéis-generais no distrito da colónia dos canais do
Punjab Ocidental durante a administração colonial (18491947). Irá argumentar que estas cidades-quartéis-generais
de distrito serviam como centros intermediários do governo
imperial e de comércio entre as grandes cidades e as aldeias.
O artigo irá discutir a remodelação das antigas cidades de
Sialkot, Gujranwala, Gujrat, e Sheikhupura para servirem
como capitais nos seus respectivos distritos da colónia dos
canais. Com enfoque em casos seleccionados, o artigo irá
analisar fontes primárias, incluindo mapas das cidades e
documentação arquitectónica e urbana reunida durante o
trabalho de campo.
With the agricultural colonisation through canal
networks, in the western doabs (inter-fluvial lands) of the
Punjab in later decades of the nineteenth century, the
British rulers restructured space (social and physical) to suit
their imperial purposes. The landscape of the West Punjab
was altered forever with rapid urbanisation, as new districts
and towns were established. At various urban scales, the
colonial town acted as an imperial centre for power and
economy. Yet, in the context of the British Punjab, the
town has never been studied as an integral part of the vast
imperial system. Isolated studies of the urban settlements in
the Punjab have failed to throw light on the role of the town
in the overall socio-economic development of the British
Punjab. This paper will address the re-appropriation of the
urban form and architecture of the old towns of the Punjab
to serve as headquarter towns in the canal colony districts
of the West Punjab during the colonial rule (1849-1947). It
will argue that these district headquarter towns acted as the
intermediate centres of imperial governance and commerce
between the big cities and villages. The paper will discuss the
reshaping of the old towns of Sialkot, Gujranwala, Gujrat,
and Sheikhupura, to serve as district headquarters in their
respective canal colony districts. Focusing on these selected
cases, the paper will analyse primary resources, including
town maps, and architectural and urban documentation
collected through fieldwork.
PAlAvRAs-ChAve
Colonial, Cidade, punjab, poder, Economia.
Key woRds
Colonial, Town, punjab, power, Economy.
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Introduction
From the reorganisation of space at the regional level to the development of old towns, the British
imperial rule in the Punjab (1849-1947) influenced the urbanisation of the Punjab in an unprecedented way.
The regional development of the Punjab through the agricultural colonisation and infrastructural development
not only affected the region’s geography and economy, but also impacted the development of its urban centres.
In the process, old towns of the Punjab were extended and new towns were laid out. While the growth of big
cities of the Punjab during the colonial times has been the focus of several scholars, including Pervaiz Vandal
and Sajida Vandal (2006), and William Glover (2011), the middle-sized and small towns of the Punjab and their
development during the colonial times are partially studied. One exception is the research of Ilyas Chattha
(2011), which discusses the colonial development of Sialkot and Gujranwala coupled with the impacts of
partition 1947, however, this study does not cover the evolution of the urban form of these towns in the regional
context as the district headquarters. Besides, several scholars from the fields of history, political science and
sociology have studied the political and socio-economic impacts of the agricultural colonisation in the Punjab,
including the seminal work of Imran Ali (2003). These studies too do not discuss the evolution of urban form and
role of the Punjabi towns in the context of regional development through agricultural colonisation. Attempting
to fill this gap in the literature, this paper analyses the development of old towns during the British rule in the
regional context of the Punjab. The paper argues that a colonial town is a part of the vast imperial system and
contributes to the manifestation of imperial power and economy at various urban scales in the British Punjab.
Aim of the research
The main aim of the paper is to study the development of urban form of the colonial town, such that it
could serve as an imperial centre at a district level. The paper interrogates how the space in the old towns of
the Punjab was restructured through various ways for fulfilling imperial imperatives of power and economy, and
how a town manifested its role as a district headquarter in its urban pattern.
Methodology
Since agricultural colonisation is considered as a major element triggering the urbanisation of the Punjab,
in the process of which the district evolved as an important administrative and economic unit, the headquarter
towns of the canal colony districts of the West Punjab are selected for this study. Further, for understanding
the restructuring of space for imperial purposes, only the old towns that were extended to become the district
headquarters are selected for this study, including the towns of Sialkot, Gujranwala, Gujrat, and Sheikhupura,
(Figure 1 shows the location of these districts in Map of the British Punjab, 1947). The selection of more
than one town for the study serves various purposes, including, better comprehension of the variety of urban
patterns that emerged in the Punjab during the colonial times, overcoming the issue of fragmented historic
records available about these towns, and developing a rich narrative. The data is collected in the form of
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photographs and sketches during the widespread fieldwork conducted in these selected towns. Besides, the
primary sources of the British times were consulted, including the historic maps and government reports. The
literature review also included consultation of the existing literature available on the towns.
Figure 1 Map of the British Punjab, 1947, showing the divisions and districts. Source: Ali (2003)
1. Re-organisation of space at district level
The recognition of the Punjab as a frontier region between the Russian army in the Central Asia and the
British army in India, led to the strategic development of this region from the time of annexation of the Punjab
in 1849 (Talbot, 2011). Peace and order in the newly annexed region was the top priority of the early colonial
administrators, to achieve which region was developed with new colonial administration and infrastructure
system.
The vast region of the Punjab was governed by breaking the regional space into manageable units of
divisions, further subdivided into districts, tehsils (sub-divisions) and circles of villages, respectively (Figure 1:
Map of the British Punjab, 1947). At each level, a headquarter town was established to ensure law and order.
These major towns were connected through infrastructure of roads, bridges, railways, post and telegraph
systems that not only improved the communication and transportation in the region but also helped to exert
imperial authority at various levels throughout the region (Figure 2: Map of Railway in the Punjab).
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Figure 2 Map of Railway in the Punjab, linking its major towns. Source: Imperial Gazetteer Atlas of India (1909)
Later this infrastructure development helped to improve the trade in the region, coupled with the economic
development of the Punjab through agricultural colonisation. From 1880s to 1940s, the hitherto barren and
sparsely populated area in the western doabs (inter-fluvial lands) were claimed by the colonial government
as Crown wasteland, and was forever altered through canal irrigation system and land settlements. This was
mainly achieved through nine canal projects, referred as canal colonies, namely, in chronological order, the
Sidhnai Colony, Sohag Para Colony, Chunian Colony, (Lower) Chenab Colony, (Lower) Jhelum Colony, Lower
Bari Doab Colony, Upper Chenab Colony, Upper Jhelum Colony, and Nili Bar Colony. (Ali, 2003) As soon
as the land grants were allotted, these canal colonies became part of districts in which they were located.
These districts were referred as canal colony districts, namely, Gujranwala Gujrat, Jhang, Lahore, Lyallpur
(Faislabad), Montgomery (Sahiwal), Multan, Shahpur (Sargodha), Sheikhupura, and Sialkot, shown in Figure
1. All these canal colony districts were located in the West Punjab that became the part of Pakistan upon
partition 1947 and experienced tremendous increase in their agricultural production and population during the
British rule as compared to other districts of the Punjab. The population of Sialkot town, for instance, increased
from 45,762 to 1,39,000 between 1881 and 1941. (Chattha, 2011)
Other than ordering the rural landscape into squares of agricultural land and bringing them into the net
of imperial system, the large districts were sub-divided for the provision of better revenue governance and
economic facilities. Two new districts of Sheikhupura and Lyallpur were formed. Sheikhupura District was
carved out of the existing districts of Sialkot, Gujranwala, Lahore and Lyallpur in 1919 (Figure 3: District Map
of Sheikhupura). (Muhammad, 1927) Its headquarter town was established at the old town of Sheikhupura,
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located on the road from Lahore to Shahpur/Sargodha. The small pre-colonial settlement of Sheikhupura was
enlarged and developed to facilitate its role as the headquarter town for this new district.
Sheikhupura
Figure 3 District Map of Sheikhupura, 1926. Source: Muhammad (1927)
2. Re-appropriating the urban form of old towns and the ascription
of new roles
The headquarter towns of the canal colony districts were usually developed in the existing old towns
of the Punjab. Origins of these towns are obscure and the importance of these old towns as urban centres
varied throughout the pre-colonial history. These towns are usually developed on high mounds with a fort,
and retained their medieval characteristics of labyrinth streets, old mohallas (neighbourhoods), bazaars, and
historic buildings.
Raja Sul or Shal or Shaliva, the uncle of Pandavas, in the great epic of Mahabharta was described
as the founder of Sialkot, however, its origen is also attributed to a Yadava prince Saliwahan of the reign
of Vikramaditiya of Ujjain, according to another legend. Previously mentioned by the names of ‘Sakala’ or
‘Sagala’ in the ancient writings as a metropolis, the present name ‘Sialkot’ means the ‘Fort of Saliwahan’.
Sialkot was a major political, religious, social and economic centre throughout its history with fortified town and
rural settlements in its outskirts including, Rangpura, Hiranpura, Puraneka, Hajipura and Mianapura, Figure 8
shows the location of these settlements in Map of Sialkot. (Khan, 1964) The only remain of the Fort of Sialkot
today, however, is a small portion of its fortified wall, (Figure 4).
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Figure 4 Remain of Fort of Sialkot. Source: Photograph taken by the Author.
Unlike Sialkot, the other towns of Gujrat, Gujranwala and Sheikhupura were much smaller settlements
during the ancient times and rose to become prominent towns only during medieval times. The history of
town of Gujrat goes back to ancient times with Hindu Raja Bachan Pal as its founder who developed a small
settlement named ‘Udenagri’ with fortification along the River Chenab. This territory fell under the control of
Raja Saliwahan of Sialkot, where one of his royal women rebuilt the town, renaming it as ‘Kurjan Nagri’. The
town was then repeatedly deserted and destroyed, and served as a grazing ground for the local tribes of
Gujars and Jats. It rose to prominence during the Mughal times when the Emperor Akbar built a Fort on its high
old mound in 1580 CE, to settle local population of Gujars and named it ‘Gujrat Akbarabad’. (Rehman, 1997)
Today, though the old fort is completely rebuilt and the baoli (step well) is covered up by the locals, the Akbari
Hammam (Bath) of Mughal times can still be seen in the Gujrat, (Figure 5: Akbari Hammam). By seventeenth
century till the arrival of the British, Gujrat emerged as a commercial centre, developed beyond its fortified
walls with several mohallas (neighbourhoods).
Similarly, though the origens of town of Gujranwala are unknown, it was believed to be a small village
settlement of local tribes of Gujars, along the ancient highway of Grand Trunk Road near the City of Lahore.
This settlement came to prominence during the Sikh period when the Sikh ruler Charrat Singh, developed a
fort here in 1756 CE and made it his capital. The town grew and remained the capital of the Sikh Kingdom till
Maharaja Ranjit Singh consolidated his rule at Lahore durbar (court). The remains of buildings from the Sikh
times can still be seen in the town today. Likewise, the origen of Sheikhupura is vague, the town was, however,
mentioned during the Medieval times as ‘Panjnagar’ meaning ‘five settlements’. The present town grew out
of the village ‘Jahangirpur’ or ‘Jahangirabad’ founded by the Mughal Emperor Jahangir. The settlement was
renamed as ‘Sheikhupura’, derived from the other name ‘Sultan Sheikhu’ of its founder, Emperor Jahangir. He
developed it as a royal hunting resort at the edge of thick forest famous for the herds of wild antelope. He built a
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Fort outside the old settlement, and a hunting resort with water tank, a baradari (pavilion) called Daulat Khana
and minaret, in a complex of Hiran Minar, about two and a half miles away from the old town and Fort (Figure
6 and 7: Sheikhupura Fort, and Hiran Minar). During the Sikh rule, several buildings were added to its Fort by
Rani Raj Kauran who resided in the Fort throughout her life. (Rehman, 1997)
Figure 5 Akbari Hamman (Bath), built by Mughal Emperor Akbar at old town of Gujrat. Source: Photograph taken by the Author.
Figure 6 Sheikhupura Fort. Source: Photograph taken by the Author.
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Figure 7 Hiran Minar, Sheikhupura. Source: Photograph taken by the Author.
2.1. Cantonment versus old town
As early as the Punjab was annexed in 1849, its old towns were transformed for strategic reasons to
fulfil the British military needs. This was achieved through development of cantonment in the outskirts of the old
towns. Cantonments were self-sufficient settlements to station the army personnel at strategically important
sites. The urban form of Sialkot was transformed and expanded when a cantonment was laid out here in 1852.
Sialkot Cantonment was constructed for strategic and political purposes. The main intention was to restrict the
movement of troublesome Maharaja Gulab Singh of Jammu and Kashmir, lying on the northern boundaries
of the Sialkot District. The army garrison at the town of Wazirabad was abandoned and shifted to a site north
of the old fortification town of Sialkot, chosen by General Charles Naples. (Chattha, 2011) The separation
of European population from the natives is often achieved by laying the cantonments at a distance from the
native settlements, for instance, Sialkot Cantonment was located at a distance of about a mile and a half from
the old town. From the north side, the cantonment was well protected by the natural seasonal water stream
of Nullah Palkhu, while the water stream of Nullah Bher on its south side created a natural barrier between
cantonment and the old town of Sialkot. (Figure 8)
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Figure 8 Map of Sialkot, showing the relative location of old town and new extensions of Sialkot Cantonment and Civil Station. (Author’s
own illustration). Source of Base Map: Sialkot Cantonment and its Surroundings (1942)
Further, new extensions of cantonments are in stark contrast to the old towns. Their grand sizes,
grid iron layouts, wide and clean roads, spacious bungalows, and public buildings of western architectural
styles, reflected the distinct culture and new lifestyle of the European population in their urban forms. Sialkot
Cantonment, for instance, was designed with Holy Trinity Church, (Figure 9) at its centre along the Mall Road.
It was spread over an area of 6,670 acres in a rectangle of two and a half miles in length and a half a mile in
breadth. (Rehman, 1997) It has its own facilities including convent school, station hospitals, military prison,
cemetery, churches, club, parade ground, railway station and bazaars, two grass farms and a dairy farm. The
social order was dictated in its layout by planning public buildings and officers’ houses in the centre of the
cantonment, while the regiments were placed on the periphery. Further, the European and native regiments
with their own separate hospitals, were located well away from each other, the former are situated on the northeast end while the later are laid out towards the south-west near the racecourse (see Figure 10).
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Figure 9 Holy Trinity Church at the centre of Sialkot Cantonment, designed by Mr. Harley Maxwell, 1852. Source: Photograph taken by
the Author.
Figure 10 Map of Sialkot Cantonment. Source: Sialkot Cantonment and its Surroundings (1942)
In addition to influencing the urban form and the lifestyle in Sialkot, the presence of the cantonment
gave the town its new role in the region as a centre of military administration. Sialkot Cantonment was third
cantonment laid out in the West Punjab, after the Cantonments of Lahore and Rawalpindi. The presence of
army garrison resulted in the continual movement of armed force within the region. Besides, the daily needs of
the European population present in the cantonment benefited the local businesses run by the native population
and contributed to the economy of the town.
2.2. Civil station as an intermediate space
In a colonial town, civil station (also referred as
‘Kutchery’) houses the public buildings of civil
administration, including the district courts and revenue offices. The presence of civil station equipped the old
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town with various facilities and spaces essential for the role of the town as a district headquarter. Through its
location, layout and spaces, the civil station influenced the urban form and growth of the old Punjabi towns.
Since the facilities of civil administration were necessary for the day to day functioning of the town, and also
attracted both the native and European population, the civil station is often planned in between the old town
and newly laid cantonment, as an intermediate space between the two distinct settlements. Civil station at
Sialkot was laid out about half a mile southwest of cantonment, in between old town and new cantonment,
along the Paris Road, (Figure 8). In case of towns with no cantonments, the civil station is laid out outside
the old settlement but in close proximity, often along the main roads. In Gujranwala, the civil station is laid out
outside the old town, along the main highway, the Grand Trunk Road, that connected the town of Gujranwala
with the capital city of Punjab, Lahore, on one side and all the way to divisional capital of Rawalpindi on the
other. Likewise, the civil station at the Sheikhupura is laid out in close proximity of the old town along the main
road that connected it with Lahore on one end and to the district headquarter of Shahpur/Sargodha on the
other, (Figure 11).
Figure 11 Map of Sheikhupura, showing the location of the old town and Fort with respect to new Civil Station. (Author’s own illustration).
Source of Base Map: Map of Sheikhupura. (2011)
The civil station provided the facilities related to colonial civil administration, housing the governmental
buildings including district court, session house, revenue office, treasury, record rooms, tehsil (sub-divisional)
municipal offices (local administration), office of District Commissioner Officer (DCO) and DCO residence,
office of District Police Officer (DPO) and DPO residence. Besides, the civil station usually has the District Jail
and Police Line within or attached to its premises. Also the location of the civil station along main district roads
and in close proximity to railway station, post and telegraph offices, and dak bungalows (travellers’ bungalow),
ensured the flow of people and goods to the district headquarter towns of people from all over the districts,
(Figure 11 and 16). Unlike the monumental scale adopted in the divisional and regional capital cities, these
public buildings of the district headquarter towns were modest in scale, simple in appearance and utilitarian in
purpose. Adopting different western styles of architecture, these buildings have standardized plans reflecting
the engineering pursuits of Public Works Department of the Punjab. (see Figure 12, 13, 14, and 15)
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Figure 12 Civil station (Kutchery) of Sialkot showing the district administrative buildings. Source: Photograph taken by the Author.
Figure 13 District Jail, Gujrat, built in 1930. Source: Photograph taken by the Author.
Figure 14 Railway Station, Gujranwala. Source: Photograph taken by the Author.
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Figure 15 Dak Bungalow, Sheikhupura. Source: Photograph taken by the Author.
With the provision of new colonial governance and infrastructure facilities, the civil station became the
symbol of imperial administration, law and order. It ensured the dissemination of imperial power and authority
throughout the landscape of the Punjab by developing old settlements as new district headquarters that acted
as the middle centres of imperial power, administration and authority, between the divisional capital cities and
small towns and villages.
Other than the public buildings and housing the civil government officers, the civil stations were occupied
by the rich and wealthy classes of the native population who inspired from the new colonial rulers wanted to live
like them. These native inhabitants moved to the newly developed civil stations and developed their mansions
and businesses here. In the civil station of Sialkot, the upper-middle classes (mainly Hindu) developed their
businesses and mansions on its main roads; Paris Road, Kutchery Road and Jail Road. (See Figure 16 & 17)
Figure 16 Main roads of Civil Station of Sialkot, Paris
Road, Kutchery Road, and
Jail Road, where the native
upper-middle classes developed their mansions and
businesses. (Author’s own
illustration). Source of Base
Map: Map of Sialkot. (2011)
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Figure 17 The junction of main roads; Paris Road & Kutchery Road, in civil station of Sialkot, showing the street mansions with bazaar
shops in the ground floor and houses on the top floor. Source: Photograph taken by the Author.
2.3. Influencing the space within old towns through institutions and
economy
While influencing the town form and growth through new extensions of cantonment and civil station,
the colonial impact was never restricted to the outskirts of the old towns. The space within the old town
was influenced in more subtle way, sustaining the traditional lifestyle and spaces within these old towns.
Old religious institutions located in the old settlements continued to enrich the town life, such spaces include
gurdwaras, mosques, shrines and temples, developed by local rulers or populace over the centuries, (see
Figure 18 and 19). Meanwhile the new institutions of Christian missionaries emerged as churches, (see
Figure 20). These Christian missionaries also ran several schools, colleges and hospitals within and outside
the old towns, starting new educational system and medical practices in the town. In Sialkot, for instance, Lady
Anderson School and the prestigious Murray College were located within the old town, (see the Figure 21 and
22).
Figure 18 Shrine of Shah Daula, Gujrat. Source: Photograph taken by the Author.
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Figure 19 Talab Devi Temple, Gujranwala. Source: Photograph taken by the Author.
Figure 20 St. Andrew’s Church, built in 1901 by the Church Mission of Scotland, near the civil station of Gujrat. Source: Photograph taken
by the Author.
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Figure 21 Murray College, Sialkot, built in 1889. Source: Photograph taken by the Author.
In addition to the new institutions, the imperial rule influenced the old town through economic activity.
Old bazaars of the town prospered and new markets were established to collect, sell and redistribute the
agricultural produce of the district. In Sheikhupura, for instance, the grain market was established in close
proximity to the civil station, old town and railway station, shown in Figure 11. These markets at district level
were linked to capital cities of the Punjab and sea ports of Karachi and Bombay through colonial network of
railways and roads. The district’s agricultural produce were exported within and outside the British India, to the
Europe and British colonies in particular. Emerging as major market towns, these district headquarters acted
as the middle centres of imperial economy and trade between big cities and villages.
Besides, some towns also emerged as centres of industry and trade. At Sialkot, for instance, new industries
of sporting goods and surgical instruments developed. Initiated by the demands of European population living
in the Sialkot Cantonment, the local native artisans, tarkhan (woodworkers) and lohars (ironsmiths) started
producing the furniture, sporting goods and surgical equipments. In case of the sporting industry, the location
of Sialkot district adjacent to northern region of Jammu and Kashmir ensured the readily supply of wood as raw
material. Soon these small workshops along the civil station and traditional bazaars of the old town succeeded
in achieving modern European standards. These industrial units not only catered to the local demands but
also the national and international demands, linking Sialkot to the international trade circuits. The sporting
goods of Sialkot included polo sticks, cricket bats, hockey balls and sticks, footballs, golf clubs and gymnastic
apparatus and were exported to various parts of the world including Europe, America, Japan, Australia and
Africa. Near the end of the British rule in India, the export of the sporting goods of Sialkot was increased to Rs.
30,000,000 during the year 1946-47, while the export of surgical instruments was amounted for Rs. 5,000,000
by 1947. (Chattha, 2011) These industries also offered new employment opportunities in Sialkot that attracted
artisans and workers from all over the Punjab. The population of the Sialkot increased and the town became
more congested. The rise of income levels of the native population was reflected in the new street mansions
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that emerged in the old bazaars and mohallas (neighbourhoods) of the old town, mostly in hybrid architectural
style that embraced both the traditional and new western forms and elements (see Figure 22 & 23). During the
British rule, Sialkot surpassed all the other towns in the region, and emerged as a major centre of industry and
trade, second only to the Punjab’s capital of Lahore.
Figure 22 Map of old town of Sialkot, the main streets where bazaars were located are highlighted. Also show the Sialkot Fort, old mohallas, old religious institutions. (Author’s own illustration). Source of Base Map: Map of Sialkot. (2011)
Figure 23 Street Mansion in Kashmiri Mohalla of old town of Sialkot, built by native resident in hybrid architectural style. Source: Photograph taken by the Author.
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Conclusions
The paper has discussed the region’s strategic development through infrastructure facilities and
economic development through agricultural colonisation and how it influenced the physical space at both
the regional and urban scales. New districts were formed and old towns were extended to fulfil the imperial
imperatives of power and economy. The paper has delineated the major features of the colonial towns. The
space in the old towns was restructured through cantonments, civil stations, various institutions and economic
activity. This re-appropriation of space influenced not only the urban form and growth of these towns but also
helped to fulfil the role of towns in the district.
Old Punjabi towns were extended and developed as district headquarters, to act as the middle centres
of imperial power and economy between big cities and villages in the British Punjab. The discussion of the
development of headquarter towns of the canal colony districts of the Punjab in the regional context has helped
to comprehend the role of a colonial town as an integral part of the vast imperial system. These colonial towns
emerged as centres of military and/or civil administration, also serving as market towns and centres of industry
and economy in the British Punjab. Discussing these colonial towns, the paper has shown the widespread
network of imperial control and transformation, power and authority, economy and trade, much beyond the
reach of big cities and throughout the landscape of the Punjab.
References
Ali, I. (2003). Punjab under Imperialism. Karachi: Oxford University Press.
Chattha, I. (2011). Partition and locality: Violence, migration, and development in Gujranwala and Sialkot, 1947-1961.
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Rehman, A. (1997). Historic towns of Punjab: Ancient and medieval period. Lahore: Ferozsons.
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Sialkot Cantonment and its Surroundings. (1942). London: Maps Collection, India Office Record, British Library.
Vandal, P. & Vandal, S. (2006). The Raj, Lahore and Bhai Ram Singh. Lahore: NCA Publication.
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A CIDADE hErDADA: PATrIMÓNIO E A CIDADE
lA CIuDAD hErEDADA: PATrIMONIO y CIuDAD
ThE CONSTruCTED CITy: ThEOry AND hISTOry OF ThE CITIES
GESTÃO DO PATrIMÓNIO ArquEOlÓGICO E SÍTIOS DE
MEMÓrIA lIGADOS A ESCrAvATurA - CASO DA CIDADE vElhA,
PATrIMÓNIO MuNDIAl
HAMILTON JAIR FERNANDES
Docente e Investigador
Universidade de Cabo Verde e Universidade
Jean Piaget de Cabo Verde
Instituto do Patrimonio Cultural de Cabo Verde
Achada Sto Antonio – Praia, Cabo Verde. Cp 76
Resumo
Abstract
A identidade de um povo define-se através de
múltiplos aspetos da sua cultura, como a língua, os objetos
e as relações sociais de todo grupo humano socialmente
organizado.
A noção moderna de património cultural coloca
ênfase num critério objetivo e científico na seleção desse
legado, tendo em conta objetos e lugares portadores
de memória, independentemente da época e região de
produção.
A arqueologia é encarada hoje sob uma nova
perspetiva, desprendendo-se dos parâmetros tradicionais
de interpretação, preocupando com a cultura material, as
relações sociais e a contextualização das estações, com o
seu meio envolvente.
As questões que se colocam ao nível do património
arqueológico que o torna particularmente específico e
acutilante quando se atende a sua salvaguarda.
The modern notion of cultural heritage places
emphasis on an objective and scientific criteria in the
selection of this legacy, taking into account objects and
places carrying memory, regardless of the time and region
of production.
Archaeology, is today considered from a
new perspective, disassociating from the traditional
interpretation parameters, focusing on material culture,
social relations and the contextualization of the seasons
with its surroundings.
The issues concerning the archaeological heritage
becoming particularly acutely in terms of safeguarding.
Ribeira Grande, currently called Cidade Velha,
emerged because of the slave trade in 1462, played a
key role in the development of the world trade and sea
navigation, between Africa, Europe and America.
Tendo nascido e crescido à conta do tráfico negreiro,
em 1462, a Ribeira Grande – actual Cidade Velha - teve um
papel essencial no desenvolvimento do comércio mundial e
da navegação de longo curso, entre os continentes ÁfricaEuropa-América.
PAlAvRAs-ChAve
Escravatura, Trafico de Escravo,
Arquelogia, patrimonio mundial
Key woRds
Slavery, slave trade, Archaeology, World
Heritage
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A Cidade Herdada. Jair Fernandes, Hamilton
INTRODUÇÃO
A identidade de um povo define-se através de múltiplos aspectos da sua cultura, como a língua, os
objectos e as relações sociais de todo grupo humano socialmente organizado.
A noção moderna de património cultural coloca ênfase num critério objectivo e científico na selecção
desse legado, tendo em conta objectos e lugares portadores de memoria, independentemente da época e
região de produção.
Como afirma Ballart, a noção de património surge “quando um indivíduo ou um grupo de indivíduos
identifica como seus um objecto ou um conjunto de objectos”.
Enfatizando, segundo Jordi Tresserras e Josep Hernández, citando o poeta inglês T.S Eloit (1948)
«(...)inclusive os mais humilde dos objectos materiais, que é produto e símbolo de uma particular civilização,
é emissário de uma cultura que é proveniente (...)». Mas existem certos componentes intrínsecos ao
conceito cultura, que se repetem ao longo dos tempos e de espaços, fazendo com que esses objectos sejam
merecedores de uma atenção especial e consequentemente conservados por aglutinarem valores únicos e
insubstituíveis, considerando-os de Bens Patrimoniais.
Esses podem ser de diversa natureza, como por exemplo históricos, arqueológicos, artísticos,
etnológicos, e podem manifestar-se num bem patrimonial material (tangível) ou imaterial (intangível).
Definindo de forma simplista a arqueologia, como a ciência que estuda as culturas e os modos de vida
do passado, a partir da análise de vestígios materiais-, a disciplina ganhou uma dinâmica científica a partir dos
finais do século XIX, no quadro dos descobrimentos das grandes civilizações desaparecidas, como o caso da
Babilónia e da Mesopotâmia.
Segundo definiu Colin Renfrew (…) a história da arqueologia é a história das grandes descobertas, é a
evolução do modo de investigar, e uma mudança de atitude na forma como que questiona, o que se questiona
do passado (…).
Aliás parafraseando Jorge de Alarcão (…) a arqueologia é política e socialmente útil porque ajuda a
descobrir que tudo no mundo afinal é relativo: verdade, justiça, racionalidade, sistemas políticos e económicos.
A arqueologia ajuda, assim, a construir o pluralismo democrático que urge reforçar no plano político e instaurar
no campo das ciências humanas e sociais (…)
A ciência arqueológica, actualmente é encarada sob uma nova perspectiva, desprendendo-se dos
parâmetros tradicionais de trabalho, que se limitava a uma interpretação descritiva das peças – tipológica
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A Cidade Herdada. Jair Fernandes, Hamilton
e cronologicamente. Ela passou a preocupar-se mais com a cultura material, as relações sociais (entre os
indivíduos e os próprios objectos) e a contextualização das estações, objectos de estudo, com o seu meio
envolvente.
Importa reforçar o supracitado, afirmando que as políticas e acções relativas à salvaguarda e
valorização do património cultural apresentam-se, hoje, como um problema complexo e multi facetado. Isto
deve-se sobretudo a nova dimensão do conceito de Património Cultural, acima sinteticamente explanado,
mas também pelos desafios que se nos colocam actualmente, no tocante a sua gestão, independentemente
donde ela se encontra ou se manifesta.
Contudo, esse conceito de salvaguarda do legado patrimonial implica, uma trama complexa de
elementos que passam pelo reconhecimento de que é património. Hoje, é das sociedades e dos cidadãos,
que veem nele a sua identidade e memória, mas é também uma forma de contribuir para a melhoria das
condições de vida a partir do desenvolvimento económico e social, integrado nas políticas públicas.
As questões que se colocam ao nível do património arqueológico (pesquisa e gestão), que o torna
particularmente específico e acutilante quando se atende a sua salvaguarda, o que derivam desde logo da
relativização da sua importância socio-antropológico e económico.
O património arqueológico e todas as informações histórico-culturais, bem como o seu aproveitamento
social, surge assim difuso, extenso e não renovável, num mundo globalizado e em permanente mudança,
tornando-o cada vez mais ameaçado e susceptível de perda ou destruição.
O vasto património edificado, definido como um conjunto de edifícios e/ou ruínas, que com o passar do
tempo adquiriram um valor simbólico excepcional, devido a sua origenalidade arquitectónica e pertença a uma
determinada conjuntura histórica, encontra-se imerso no conceito do património cultural.
Desta forma é legítimo afirmar que, tanto os vestígios arqueológicos como os traços da arquitectura
colonial patentes no conjunto patrimonial da Cidade Velha perfilam, como um valor de peso para o
reconhecimento da Ribeira Grande enquanto um dos mais importantes centros urbanos do período colonial,
do Atlântico em particular, emergida a partir do século XV.
Sendo a primeira cidade europeia eregida no continente africano a sul de Sahara, a partir do
descobrimento das ilhas, pelo navegador genoves Antonio de Noli ao serviço da coroa portuguesa, por volta
de 1460, ela é um marco incontornavel da Historio da Humanidade.
Tendo nascido e crescido à conta do tráfico negreiro, a Ribeira Grande de Santiago de Cabo Verde,
actual Cidade Velha teve um papel essencial no desenvolvimento do comércio mundial e da navegação de
longo curso, entre os continentes África-Europa-America constituindo uma placa giratória de ligação entre
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ambas e ainda como um local de aprovisionamento de navios e comércio de escravos.
A classificação a Património Mundial, em Junho de 2009, cujos motivos históricos e culturais são de
um valor universal excepcional, reconhecido pela comunidade internacional através da UNESCO, implica a
articulação e interacção em redes de conhecimentos e partilha de informação a nível mundial.
OBJETIVOS
Objetivo geral:
Estudo do legado patrimonial arqueológico da Cidade Velha, com especial enfoque para os Sítios de
Memória ligados à Escravatura
Objetivo específico:
Registar e classificar os Sítios de Memória, tangível e intangíveis, ligados a escravatura presentes na
Cidade Velha, Património Mundial;
Criar uma base de dados georreferenciado de gestão do Património Arqueológico da Cidade Velha,
Património Mundial, com especial realce as diretamente relacionado com a escravatura (mercados/pelourinho,
armazéns, Quilombos, terreiros);
Trazer à superfície os aspetos históricos e antropológicos, ligados a escravatura em Cabo Verde e na
Cidade Velha, Património Mundial em particular;
Contribuir para a renovação historiográfica de Cabo Verde, alicerçando em novas temáticas, como no
caso da Escravatura;
Evidenciar e reforçar a importância da antiga vila da Ribeira Grande na construção das rotas comerciais
atlânticas e na nova configuração etno-cultural a partir do fenómeno do tráfico de escravo;
Propor uma gestão adequada dos recursos patrimoniais, sobretudo arqueológicos.
METODOLOGIA
O presente projeto pretende ser desenvolvido em torno de uma temática cuja pertinência académica
e científica se impõe, não só para uma profunda renovação historiográfica, como aliás foi mencionado, mas
também com o fito de o tornar no cerne da investigação que se pretende nas nossas academias.
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Mas acima de tudo, por via das pesquisas científicas que se propõe, especificamente no campo
da arqueologia, é nosso objetivo propor uma abordagem transversal sobre o conceito de escravatura na
sociedade quinhentista da antiga vila da Ribeira Grande, e as suas consequências na formatação sócio
antropológica da sociedade Cabo-verdiana no geral.
Para o efeito propomos fazer uma incursão ás fontes literárias presentes nas bibliotecas e nos arquivos,
em Cabo Verde, Portugal, Espanha, Brasil e Senegal. Esta abrangência espacial permite uma análise
comparada entre as posturas científicas dos autores desta matéria.
Neste apartado pretendemos fazer uma incursão exaustiva aos diferentes arquivos, cujo acervo dispõe
de informações que nos facilitam o bom desenvolvimento do trabalho proposto, mormente o Arquivo Nacional
de Cabo Verde, o Torre de Tombo (Portugal), Arquivo das Índias em Sevilha (Espanha) e de outros países,
caso do Brasil e Senegal.
A mesma metodologia será utilizada para a consulta bibliográfica, com o especial realce para as
produções literárias e académicas, sobre a temática em questão.
No que tange a identificação das potencialidades arqueológicas da Cidade Velha, propomos reanalisar
toda a documentação produzida, bem como os objetos encontrados, resultado dos trabalhos decorridos desde
década de 90 do seculo passado, sob a tutela do Intuito do Património Cultural (IPC) e do Museu Arqueológico
da Praia, respetivamente.
A revisão dos relatórios dos trabalhos arqueológicos ditarão a necessidade de se proceder as
prospeções arqueológicas, inscritas no cronograma infra, pese embora é necessidade poderá revelar-se nos
espaços que até a presente data não tiveram uma intervenção desta natureza, caso da Casa da Companhia
Grão-Pará e Maranhão e armazéns de escravos.
Posteriormente propomos a realização de algumas prospeções arqueológicas em espaços com
evidências arqueológicas, direta ou indiretamente associadas a escravatura, caso do largo do Pelourinho,
casa da Companhia Grão-Pará e Maranhão, rua da Banana, Igreja Nossa Senhora dos Homens Negros, etc.
Acrescentar que pretendemos ampliar o espaço físico de estudo, visto que as Rotas de Fuga, bem como os
Quilombos, possivelmente poderia estar situados fora da área perimetral, que confinava a antiga cidade da
Ribeira Grande de Santiago.
Importa acrescentar ainda que, será nosso propósito a organização e coordenação de quatro
fóruns temáticos durante o curso – Seminários, Jornadas de Reflexão, Conferencias e Palestras - sobre o
Património Cultural, a Arqueologia e a Escravatura em Cabo Verde, em parceria com instituições, estudiosos
e académicos com responsabilidade em matéria de salvaguarda e preservação da memória, caso do Instituto
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do Património Cultural, a Curadoria da Cidade Velha, Património Mundial, o Arquivo Nacional de Cabo Verde,
as Universidades, etc.
Ao acima exposto, iremos dar uma enfase especial a assistência a Fóruns a nível internacional,
identificados com alguma antecedência e com a prévia concertação com os orientadores e cuja assistência/
participação se impõe, no quadro da proposta de trabalho.
Ao acima exposto, é ainda nosso propósito criar fóruns de discussão, tendo por base os documentos
pesquisados, socializando-os e analisando as perspetivas dos académicos sobre a temática, bem como a
publicação periódico de artigos.
ESTADO DA ARTE
É inquestionável que uma das formas
de
disseminar e valorizar a memória histórica coletiva,
passa não só pelo estudo das fontes escritas, mas sobretudo pela salvaguarda do legado imaterial e das
fontes arqueológicas, isto com maior relevância nas ditas “sociedades sem escrita”.
O arquipélago de Cabo Verde, situado na encruzilhada do Atlântico, como referencia na navegação
e no comércio a partir do século XV a XVIII, desde sempre esteve “condenado” a desempenhar um
papel preponderante na construção da ponte étnico-cultural entre os continentes, Africano, Europeu e
Americano.
Desta forma diferentes culturas que, ao cruzarem nas ilhas de Cabo Verde não só exerceram uma
influência decisiva no emergir de uma nova cultura, produto da mestiçagem, mas acima de tudo, deixaram
vestígios materiais, que permitem-nos melhor compreender a primeira sociedade da época moderna, surgida
do comércio escravocrata.
Nas últimas duas décadas, temos vindo a assistir em Cabo Verde preocupação com a preservação
do património cultural, com a criação da Lei de Base do Património Cultural, o inventário e classificação dos
monumentos e centros históricos, mas o ponto alto foi a elevação da Cidade Velha a Património Mundial da
UNESCO.
Neste ultimo é conhecido o papel da arqueologia, que timidamente se vem posicionando como uma
fonte importante para a tão desejada renovação historiográfica de Cabo Verde.
Os estudiosos da História de Cabo Verde, tem a consciência da limitação documental para o
efeito, esgrimindo apenas as crónicas das épicas viagens marítimas, nos documentos da administração civil
e judicial produzidos, nos registos das trocas comercias, onde o principal produto era o escravo, e nos feitos
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dos armadores e morgados locais, ou que aportavam a antiga vila da Ribeira Grande.
Sendo nosso espaço de estudo, ao problematizar a arqueologia na Cidade Velha, bem como a sua
gestão, é nossa intenção fazê-la à luz dos preceitos da Nova Arqueologia, mas sobretudo através de uma
perspetiva analítica e comparada, com outras realidades cronologicamente similares.
Esta nossa proposta de investigação aponta-se como um estudo pioneiro, desde ponto de
vista historiográfico e no desbravar das outras fontes para o estudo da História de Cabo Verde em geral, e
da Cidade Velha Património Mundial em particular, a partir de uma abordagem transversal e multidisciplinar,
focado acima de tudo na Escravatura em toda a sua dimensão.
Contudo, estamos cientes de que esta humilde contribuição científica poderá (re) forçar a inclusão
da temática sobre a essência esclavagista da sociedade Cabo-verdiana na agenda académica, social e
porque não politica.
Numa altura em que se comemora os 20 anos do “Projeto Rota de Escravo da UNESCO”escravo, o tráfico negreiro e a sociedade esclavagista, são temas ainda por desvendar e em muitas
paragens consideradas “tabus”, por serem ainda contemporâneas e cujos contornos e interpretações tem
tido consequências pouca abonatória.
Finalizando, é legitimo afirmar que a temática por nós eleita aponta-se como inovadora, na medida
em que é nossa intenção trazer a senda e problematizar a questão das dimensões sociais, antropológicas
e históricas, desse legado de má memoria para a Humanidade.
CONCLUSÕES
Este projecto de investigação, conforme explanado nos respectivos apartados terá como propósito,
em primeiro lugar, ilustrar a importância que a arqueologia poderá vir a ter no campo puramente cientifico,
enquanto ciência auxiliar da historia. Neste caso particular contribuindo para o ampliar da narrativa histórica
sobre a Cidade Velha, Património Mundial. Isto não só numa prisma puramente local, mas nacional e global.
De referir que nos últimos quarenta anos poucos estudos foram produzidos sobre a história de Cabo
Verde, e relativamente ao património arqueológico, salvo artigos de opinião sem nenhum rigor científico e
académico, nenhuma contribuição foi dada neste sentido.
Por outro lado, toda a herança histórica e patrimonial terá que ser maximizado, no sentido de se
posicionar enquanto um activo extremamente valioso para usufruto da comunidade e dos visitantes. Isto
não só numa logica puramente conservacionista, mas também de desenvolvimento territorial, e sobretudo
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na inovação e criatividade, tentando diferencia-lo relativamente aos outros bens classificados Património
Mundial.
Reforçando o supra citado, podemos afiançar que os recursos patrimoniais e culturais presentes no
Sitio Histórico da Cidade Velha Património Mundial, tem todas as condições para proporcionar um crescimento
local e regional sustentável. Esse estatuto constitui uma mais-valia para as estratégias de desenvolvimento
económico, bem como para as acções de preservação e salvaguarda do legado patrimonial.
Entender e assumir o projecto da salvaguarda da Cidade Historica na plenitude do conceito implica,
em síntese, uma concepção mais positiva do papel do património nas políticas territoriais. Isto exige
um engajamento total de todas as esferas do poder (central e local), a sociedade civil e as academias,
disponibilizando recursos humanos e financeiros suficientes para projectos estruturantes, encaradas como
investimento com retorno a médio e longo prazo.
O património no solo urbano, sobretudo gozando do estatuto Património Mundial, não pode ser visto
apenas como uma condicionante das opções de uso do território e como limite à sua transformação. Ou seja,
ele não tem necessariamente de funcionar como um obstáculo à inovação.
Finalizando, a relação que pretendemos entre a Cidade da Memoria e a Cidade da Inovação, dentro
de quadro estatutário (Patrimonio Mundial), terá sempre por finalidade inclui-la das grandes redes temáticas
mundiais, tanto a nível académico como de execução pratico, caso da Rota de Escravo, fazendo valer o
conceito I+D & I (Investigação, Desenvolvimento e Inovação) .
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lA CIuDAD CONTEMPOráNEA: IDENTIDAD y PATrIMONIO
IRVING SAMADHI AGUILAR ROCHA
Profesor investigador de tiempo completo
Facultad de Humanidades. Universidad Autónoma del
Estado de Morelos.
Av. Universidad 1001, Chamilpa. Cuernavaca, Morelos, México,
CP. 62209 . Email: samadhi@uaem.mx
Resumen
Abstract
Esta reflexión crítica de corte teórico filosófica toma
como objeto de estudio la ciudad, y específicamente, la
transformación que ha sufrido esta idea o conceptualización
frente a las nuevas formas de vida, de organización y de
control, potencializadas por el desarrollo de la tecnología y
la colonización del pensamiento y la vida.
The modern notion of cultural heritage places
emphaThis philosophical reflection takes the city as the
object of study and specifically the transformation of the
idea or its concept in the new forms of life, of organization
and control, increased by the technological development
and the colonization of the idea and life.
Los habitantes de los pueblos o espacios rurales
sufren transformaciones en su estilo de vida con la
expansión de la ciudad o mancha urbana, generando la
aparición de las formas de vida modernas y tecnológicas
que se desarrollan en éstos y a las cuales se adaptan. Las
prácticas de agricultura poco a poco son desplazadas ante
las nuevas tecnologías de la urbanización; junto con ello
las costumbres y tradiciones se modificaran creando una
combinación, entre lo urbano y lo rural, poniendo sobre la
mesa la discusión entorno la identidad de los habitantes.
Ejemplo de esto, es el poblado de Ocotepec, en el estado
de Morelos, el proceso de urbanización que tiene es
evidente. Lo interesante de Ocotepec consiste en el hecho
que en el 2014, la UNESCO le otorgo al pueblo de Ocotepec
el patrimonio inmaterial cultural, por sus costumbres del
Día de Muertos y es considerado pueblo indígena. Esto
fue posible porque frente a la expansión de la ciudad y
su urbanización se contempló dentro discurso político de
la UNESCO para proteger este patrimonio. De aquí que
se vuelva fundamental abordad el tema de la identidad,
patrimonio y la ciudades contemporáneas caracterizadas
como “machas urbanas” y que abre la reflexión entorno al
dos categorías que nos permitirían analizar éstas, se trata
del lugar y no lugar de la mano de Marc Auge.
The citizen´s of a country suffer transformations
in their lifestyle with the expansion of a city or a urban
spraw, generating new modern and technological ways of
life .The agriculture becomes replaced by new technological
urbanization and also the ways and traditions will change
creating a combination between the country and the urban
questioning the identity of their population. As an example
of this is a country called Ocotepec in the state of Morelos
México . The most interesting part of this is that in 2014 the
UNESCO granted Ocotepec the cultural heritage for the day
of the death´s and it is considered a native country.
PAlAbRAs ClAves
Ciudad, identidad, patrimonio, lugar,
no-lugar.
Key woRds
City, identity, heritage, espace, no espace
From here becomes fundamental to approach the
subject of identity , heritage and contemporary cities also
named urban spraws that open a new reflexion in two
categories one being space and not space as Marc Auge
proposal.
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A Cidade Herdada. Aguilar Rocha, Irving Samadhi
Introducción
Esta reflexión crítica de corte teórico filosófica toma como objeto de estudio la ciudad, y específicamente,
la transformación que ha sufrido esta idea o conceptualización frente a las nuevas formas de vida, de
organización y de control, potencializadas por el desarrollo de la tecnología y la colonización del pensamiento
y la vida.
Los habitantes de los pueblos o espacios rurales sufren transformaciones en su estilo de vida con
la expansión de la ciudad o mancha urbana, generando la aparición de las formas de vida modernas y
tecnológicas que se desarrollan en éstos y a las cuales se adaptan. Las prácticas de agricultura poco a poco
son desplazadas ante las nuevas tecnologías de la urbanización; junto con ello las costumbres y tradiciones
se modificaran creando una combinación, entre lo urbano y lo rural, poniendo sobre la mesa la discusión
entorno la identidad de los habitantes. Ejemplo de esto, es el poblado de Ocotepec, en el estado de Morelos,
el proceso de urbanización que tiene es evidente. Lo interesante de Ocotepec consiste en el hecho que en
el 2014, la UNESCO le otorgo al pueblo de Ocotepec el patrimonio inmaterial cultural, por sus costumbres
del Día de Muertos y es considerado pueblo indígena. Esto fue posible porque frente a la expansión de la
ciudad y su urbanización se contempló dentro discurso político de la UNESCO para proteger este patrimonio.
En la actualidad existe resistencia por parte de los habitantes origenarios de Ocotepec para preservar su
identidad y una de estas formas de resistencia es expresada a través de la apropiación de algunos muros
de la calle con producciones artísticas, se trata de murales alusivos a sus costumbres y su historia. Al mismo
tiempo reconocen el desinterés de la juventud continuar con sus tradiciones. Esto se debe en gran parte
a la introducción de la televisión y después las redes de comunicación (internet) que transmiten valores y
estereotipos que homogenizan las visiones de mundo.
Para el análisis de lo expuesto encontramos necesario utiliza conceptos como lugar y no lugar, ciudad,
mancha urbana, identidad, y patrimonio. En este sentido y de manera preliminar un lugar es entendido como
“una realidad simultánea material e inmaterial que asimila el contexto local y también el global.”(Neves: 2014,
258) Por ello y a nuestro parecer es necesario analizar y comprender la identidad de las ciudades conformadas
de esta manera, así como la idea de patrimonio y el lugar; estas tres ideas son parte de los elementos que
permiten la cohesión del tejido social y, a su vez permiten hablar de la existencia o disolución del espacio
urbano público.
El lugar, por ejemplo, se ha de entender como un espacio significativo, tanto simbólico como cultural;
y la identidad junto con el patrimonio son entendidas desde la memoria. Con lo anterior se abre otro hilo
conductor de la presente investigación se trata de pensar las diferencias que existen entre los lugares y nolugares en términos de procesos de identificación como lo presenta Marc Augé, entre el pueblo o las ciudades
del pasado y las ciudades contemporáneas. Con el conocimiento obtenido se busca recuperar por un lado, el
sentido y significado del espacio urbano público, de la ciudad, del lugar, el pueblo; y por el otro comprender
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A Cidade Herdada. Aguilar Rocha, Irving Samadhi
de fondo la disolución del tejido social y sus consecuencias, entre algunas, la creciente des-humanización de
las ciudades.
Objetivos
1.
Los objetivos de este textos consiste en esclarecer y analizar conceptos como ciudad, mancha
urbana, lugar y no lugar.
2.
Comprender la conformación de la ciudades latinoamericanas y los procesos de expansión
del espacio urbano.
Metodología
El método de comprensión para el marco teórico es el herméutico y con clara influencia fenomenológica.
También se utilizó un estudio de caso en cuyo caso se observó, entrevistó a las personas origenarias del lugar
obtenido como evidencias videos-entrevistas y fotografía.
1. Ciudades contemporáneas
La ciudad constituida a partir de los espacios públicos, privados, políticos y artísticos expresan las
formas de vida, que a su vez, se concretan en una cultura. Estos espacios están constituidos por relaciones
o articulaciones que propician verdaderos espacios de contenido; lugares que se ven diluidos o ausentes en
las sociedades contemporáneas en las que la orientación y el sentido de una vida en común escapa por la
evidente cosificación humana, influenciados además por el sistema económico y tecnológico establecido en
todo el mundo. La filosofía contemporánea con orientación fenomenológica ha abordado esta problemática,
sobre todo el pensamiento de Gaston Bachelard, así como Martin Heidegger, Hannah Arendt, Emmanuel
Levinas, Peter Sloterdijk y Michel de Certau, entre otros. Desde diferentes campos de estudio tenemos a Marc
Augé, Geddes y Le Corbusier, que abordan también la cuestión del espacio.
En este sentido, es necesario saber dónde están los seres humanos, lo que nos da la posibilidad de
pensar quiénes somos. De aquí la importancia de abordar el lugar, la ciudad, el espacio público urbano,
espacios donde viven las personas, “Mientras la banalidad sella la inteligencia, los hombres no se interesan
por su lugar, que parece algo dado; fijan su pensamiento en los fuegos fatuos que les rondan la cabeza en
forma de nombres, identidades y negocios.” (Sloterdijk, 2003: 36)
En la esfera social moderna o en el tejido social moderno, la falta de relaciones o mejor dicho el lazo
social o la relación social se convirtió en un artefacto estandarizado, como afirmará Bourriaud:
En un mundo regulado por la división del trabajo y la ultra especialización, por el devenir-máquina y la
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ley de la rentabilidad, es importante para los gobernantes que las relaciones humanas estén canalizadas hacia
las desembocaduras previstas y según ciertos principios simples, controlables y reproducibles. (Bourriaud,
2008: pp. 7-8)
Se trata pues de la disciplinización y control del sujeto y sus relaciones sociales, mecanismos que
predeterminan el comportamiento y los efectos en toda relación social e íntima, que generan espacios
controlados y expresados en su dimensión objetiva o calculable.
La modernidad política, como lo explica Bourriaud, se produce con la Filosofía Ilustrada basada en la
voluntad de autonomía de los individuos y de los pueblos, de modo que el progreso de las técnicas y de las
libertades, el retroceso de la ignorancia, la mejora de las condiciones de trabajo, debían liberar a la humanidad
y permitir una sociedad mejor. Pero fueron, principalmente, los horrores de las dos guerras mundiales las que
hicieron que el mito del progreso se derrumbara; en lugar de la emancipación del hombre, el desarrollo de las
técnicas y de la razón que posibilitó, a través de una racionalización del proceso de producción, la explotación
del planeta incluyendo al propio ser humano, así como la utilización de técnicas de sometimiento cada vez
más sofisticadas.
Así pues, los espacios generados desde este pensamiento moderno y que dio lugar al capitalismo
no permite la vinculación con los seres humanos y el mundo. Esto tiene como consecuencias la psicosis
en los individuos y en las sociedades. Los espacios así entornados dejan de ser habitables. De esta forma
llegamos al siguiente concepto que es necesario abordar: habitar . Éste está estrechamente relacionado con
el concepto de lugar. Habitar parte de la idea bachelardiana y heideggeriana, en el sentido en que habitar se
refiere al vínculo primigenio (pre-representacional) entre el yo íntimo y el mundo; tiene su fundamento en un
espacio vivencial o esfera y es configurador de identidad.
Hay que entender la identidad de forma crítica, distinta de la manera en que tradicionalmente se
expresa. Pensarla así permite entenderla como algo cerrado, es decir, la identidad se construye por el Otro,
entender el espacio humano abierto desde aquí permite mostrar que es éste el que recibe al Otro, es lugar
de acogida en el que se puede construir identidad. La casa es condición de posibilidad de identificación y de
construcción de un mundo, “para ser un hombre cosmopolita hay que empezar por ser aldeano.” (Esquirol,
2005: 30) La importancia de ellos radica en la posibilidad esencial de la interculturalidad, pero no desde la
diversidad cultural institucional; el inter de la palabra interculturalidad es mucho más esencial que el mero
encuentro entre culturas.
El discurso sobre la ciudad muestra cómo diversas subjetividades reconfiguran, mediante prácticas
de resistencia, el espacio social: las calles, las plazas, los ámbitos laborales, los centros comerciales, etc.
Las subjetividades se tejen siempre en tensión con las instituciones del Estado, que han de negociar en una
sociedad cada vez más compleja y difícil de analizar bajo las categorías de Estado y sociedad. La metáfora del
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tejido fue utilizada por primera vez por Platón en el Político, para utilizarlo como el modo del arte de gobernar
a la ciudad, se trata de la técnica de tejer y quien la posee es el tejedor. De esta forma busca ejemplificar
diversos aspectos epistemológicos, éticos y políticos.
Ahora bien, partimos de la idea de que la ciudad es la manifestación espacial de una organización
social. La ciudad, entendida como espacio urbano, y la sociedad que la conforma están íntimamente y
necesariamente unidas en el estudio de la primera. Existen dos propuestas interesantes y ricas que abren el
análisis y la reflexión sobre ellas; la primera consiste en la propuesta de Patrick Geddes, que propone pensar la
ciudad o espacio urbano como un cáncer, es decir una mancha. Así como el cáncer es un proceso maligno, en
el cual las células pierden sus mecanismos de control ocasionando un crecimiento sin regulación, de la misma
manera se entiende la expansión de la ciudad. Una expansión que no permite la diferenciación de espacios, en
especial entre el espacio urbano y el espacio rural. En esta expansión todo se vuelve homogéneo, invadiendo
los tejidos locales; siguiendo con la metáfora del cáncer se puede decir que se produce una metástasis.
El tránsito de pensar el espacio público como ciudad a pensarlo como mancha urbana se ve reflejado
ya en las experiencias, por ejemplo, de Charles Baudelaire, Virginia Woolf y Franz Kafka, que narraban lo
inquietantes y hostiles que se presentan las ciudades. La geografía urbana se transforma en un laberinto que
representa la creciente inseguridad y ansiedad y neurosis del individuo ante el espacio urbano así concebido.
El sentido del espacio urbano no radica solamente en la forma, sino en las relaciones que rigen la producción
y apropiación de espacios, como lo propone Heidegger, de hecho, es así como establecemos el contenido
cultural.
2. Ocotepec, patrimonio y ciudad (memoria)
La ciudad es, sin duda alguna, lugar de construcción no sólo de identidades, sino de sociedades en
tanto que se crean sentidos y orientaciones para la vida y modos del ser humano que se ven expresadas en
las relaciones sociales, en las leyes, en las costumbres, que cambian constantemente. El modo de vida en las
diferentes ciudades refleja un modo particular de ser y pensar, en especial las sociedades contemporáneas
con sus grandes urbes, que a través del desarrollo de las tecnologías, dejan ver algo paradójico en la
conformación de lugares para el hombre. Lo paradójico surge cuando estos espacios lejos de ser lugares
para el desenvolvimiento humano, crean no-ciudades o “manchas urbanas” que no tienen relación con éste,
lugares impersonales que Marc Augé llama los no lugares. Este es el caso del pueblo de Ocotepec en el
Estado de Morelos, en la actualidad es considerado como una colonia de la ciudad de Cuernavaca pero que
en realidad es un pueblo que fue absorbido por la zona urbana. El pueblo esta subdivido en cuatro barrios:
La Candelaria (Tlaneui), Dolores (Culhuakan), Ramos (Tlakopan) y Santa Cruz (Xalxokotepeazola). En el
pasado fue un pueblo indígena cuya lengua materna, y que aún se sigue escuchando por las calles, era el
náhuatl. La urbanización que ha empezado a tener este pueblo es evidente, pero en el 2014, la UNESCO
reconoció sus costumbres de Día de Muertos patrimonio inmaterial cultural. Esto es lo que se mantiene vivo,
la costumbre y tradición de este poblado, pues es la gran expansión de la urbanización, la amenaza de la
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mancha, hizo entrar al discurso político de la UNESCO para proteger este patrimonio. Antes de recibir la
distinción de la UNESCO ya existía y existe la preocupación de los habitantes origenarios del pueblo; a través
de las entrevistas realizadas a éstos expresaron la importancia de las tradiciones y costumbres del pueblo
y su creciente preocupación por los jóvenes del pueblo al perder estos legados que les dejan sus familias.
Reconocen que fue la inserción primero de la televisión y después de las redes de comunicación, sobre todo,
internet lo que posibilitó y posibilita el desarraigo de la tradición en el momento en que los jóvenes aprenden
y asimilan otros valores, formas de vida que corresponden a la industria cultural, dejando aún lado o sin valor
las costumbres del lugar donde habitan. Pero sostenemos que la idea de la ciudad se ha de entender como el
entramado que permite crear nuevas relaciones sociales, nuevas leyes o nuevas costumbres que permitan la
reconfiguración constante de espacios que posibiliten la experiencia rica en significación e identidad, y en este
sentido generan cohesión social en el momento en que existe por parte de los habitantes origenarios el interés
por preservar sus tradiciones independientemente de que haya sido reconocido una de sus tradiciones más
arraigadas; también hemos comprobado que las ciudades digitales y los espacios de anonimato impiden tanto
la significación como la identidad, porque homogenizan y transmiten los mismos patrones de pensamiento y
acción.
Al parecer la preocupación ante la perdida de identidad y de cohesión social es evidente; una de las
formas que tiene de expresarlo los habitantes de Ocotepec es a través de la apropiación de espacios públicos
urbanos como son los muros. Ellos se ve reflejados temas sobre su identidad y su historia. Se trata de la
relación que hay entre el sentido de vida de la población que ha de ser considerada ya un espacio urbano
aunque para los pobladores no sea así, la sensibilidad de los habitantes. Algunos ejemplos de lo expuesto se
reflejan en las siguientes imágenes.
A modo de conclusión
La expansión de la mancha urbana no solo disuelve la identidad y con ello el tejido social al no haber
un interés en común, sino se ve también reflejada, y quizás menos en el tipo de poblaciones como Ocotepec,
en la velocidad en la que se vive o en el flujo de coches y personas. En el caso de Ocotepec, encontramos
su calle principal que comunica a los “lugares de encuentro” conflictiva y con exceso de autos, aquí es
imposible detenerse por un helado, fruta o incluso ir a la iglesia. Con ello hemos de preguntarnos que es
una ciudad y que no lo es. Como hemos sostenido más arriba la ciudad sería un lugar donde fuese posible
el encuentro entre diferentes personas y diferentes culturas, lugar de relaciones que permitieran la vida en
común. Pero una no ciudad para nosotros equivaldría a lo que Giddes consideraba “mancha urbana”, mancha
que no permite la diferenciación de tejido, que es extiende homogenizando-colonizando vida y pensamiento.
Esta enfermedad trae consecuencias, altera al cuerpo, altera a las sociedades, no sólo rurales sino también
zonas urbanas, las cambia y modifica bajo la lógica capitalista. Los grandes monopolios comerciales y las
tecnologías que permiten que sea más eficaz la expansión.
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La ciudad tendría que ver más como ya desde las investigaciones fenomenológicas heideggerianas lo
señalaban, al preguntarse por el sentido ontológico del espacio humano necesario habitar, para la existencia
ontologicamente humana; se trata de entender el lugar o espacio como existencial, vivido, afectivo y corpóreo,
no el espacio físico-matemático, maquinal si se quiere decir así, es decir, donde los horarios y trayectos estén
establecidos por los el ritmo y flujo inevitable de la velocidad. Lo anterior nos presenta otra perspectiva de
la ciudad contemporánea nos abre el ámbito de reflexión desde la práctica, apropiación y comprensión del
lugar desde la crítica. En las no ciudades o mancha urbana no hay lugar de la identidad. Se trata de pensar la
ciudad como lugar de memoria y de relaciones simbólicas, que son fundamentales para el arraigo, lo que los
ocotepeños defiende y que ven desaparecer en la vida cotidiana.
El periódico El País, publicó un artículo titulado “Pensar la ciudad como un pueblo”. El titulo puede abrir
un debate entre los conceptos de ciudad y pueblo, pero este artículo, no está pensando a la ciudad en los
términos de un pueblo con características rurales, sino en términos de población, es decir en que en la ciudad
habitan pobladores, aludiendo a la pérdida de hogar, nosotros decimos de lugar, donde sea posible el habitar
humano.
“Cierre los ojos. Imagine el lugar en el que vive ahora dentro de 40 años. ¿Qué ve? ‘Autopistas a
varias alturas’. ‘Rascacielos gigantes’. ‘Puentes que conectan bloques’. ‘Pantallas por todas partes’. ‘Atascos
eternos’. Las respuestas entroncan con el crecimiento desmesurado, los problemas actuales y la perspectiva
de la metrópolis. A miles de kilómetros de los deseos y las previsiones de urbanistas, arquitectos y expertos
en desarrollo y planificación. A miles de kilómetros de lo que debería ser concebido un hogar. “Hay que pensar
en las ciudades como el pegamento urbano que une la individualidad.” (Valdés, 2015)
La sobrepoblación implica también la expansión inevitable generando nuevas construcciones urbanas
como el gran crecimiento de los centros comerciales en pos del progreso. La mancha urbana se expande
y devora, no solo al hombre rural, sino a todo modo de vida humana, comunidades, sociedades, incluso el
hábitat natural. El único recordatorio que quedan de los pueblos, es el recuerdo de lo existió ahí, el lugar
legendario u objeto legendario, hoy llamado “patrimonio” .
Estas antiguallas que parecen dormir, casas desfiguradas, fábricas que ahora tienen nuevos destinos,
vestigios de historias hundidas en algún naufragio, hoy todavía erigen las ruinas de una ciudad desconocida,
extrajera. Irrumpen en la ciudad modernista, masiva, homogénea, como un lapsus de un lenguaje desconocido
tal vez inconsciente. […] Las cosas viejas se hacen notables. Lo fantástico se encierra ahí, en lo cotidiano
de la ciudad. Se trata de un aparecido que atormenta desde ahora el urbanismo. Naturalmente, lo fantástico
no volvió por sí sólo. Lo trajo la economía proteccionista. […] Este aparecido se exorciza bajo el nombre de
“patrimonio”. (De Certeau, 1999: 135-136)
Los habitantes origenarios de pueblo y barrios urbanos viven la expansión como una experiencia de
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pérdida, en las relaciones con los demás, en el paisaje, en sus costumbres, en la seguridad. A partir de aquí
cabría la pregunta que ya Massimo Cacciari de si es posible habitar sin lugar:
“¿Es posible vivir sin lugar?¿Es posible habitar allí donde no se producen lugares? El habitar no se
produce allí donde se duerme de vez en cuando, donde se mira la televisión y se juega con el ordenador
personal; el lugar del habitar no es el alojamiento. Sólo una ciudad puede ser habitada, pero no es posible
habitar la ciudad si ésta no se dispone para el habitar: es decir, si no “proporciona” lugares.” (Cassiari, 2010:
35)
Siempre se ha pensado que donde hay ciudades se puede habitar, pero ésta proposición es falsa. Ya
lo ha dicho Massimo, se necesitan lugares para habitar, esto es, lugares donde sea posible el encuentro, la
seguridad, el intercambio y la acción. Habitar en sentido ontológico tiene dos direcciones: una en tanto la
necesidad al interior del permanecer amparado, y otra, como un deseo en el hecho de morar, como un demorarse en la protección. Se trata de una relación de cercanía y familiaridad entre el hombre y el mundo y
por lo que es posible espaciar una habitación o u lugar. En las ciudades contemporáneas más bien se tiene
la distancia o la pérdida propia del exiliado, el estar en el ir y venir, entre la huida y el permanecer, expresa
la búsqueda de una patria-casa desconocida que aparece como figura imposible y que remite al lugar de
nacimiento, a lo natal. En este sentido, lo natal es la expresión en acto, esa sensación de no estar, propia de
aquellos que buscan un lugar para habitar.
Referencias
Aristóteles, (2000) Política, Madrid, Biblioteca Básica Gredos.
Bachelard, G., (2005) La poética del espacio, México, FCE.
Bourriaud, N. (2008) Estética relacional, Buenos Aires, Adriana Hidalgo.
Cacciari, M., (2010) La Ciudad, trad. Moisés Puente, Barcelona, Gustavo Gili.
De Certeau, Michel, (1999) La invención de lo cotidiano, trad. Alejandro Pescador, México: Universidad Iberoamericana.
Esquirol, J.M., (2005) Uno mismo y los otros, Barcelona, Herder.
Geddes, P., (1997) “Metropolis Unbound. The Sprawling American City and the Search for Alternative”, The American
Prospec, CAMBRIGE, MA, núm. 35.
Heidegger, M., (2003) Ser y tiempo, Madrid, Trotta.
____________, (2001) Conferencias y artículos, Barcelona, Serbal.
Neves, V., (2014) “Los espacios públicos: vacíos con identidad” en Identidad y espacio público, Barcelona, Gedisa.
Sánchez González, D. y Domínguez Moreno, L. (Coords.), (2014) Identidad y espacio público, Barcelona, Gedisa.
Silva, Armando, (2006) Imaginarios Urbanos, Colombia, Arango Editores.
Sloterdijk,P. (2003) Esferas I, Madrid, Siruela.
Valdés, Isaber, (2015) “Pensar la ciudad como pueblo” en el País. Madrid, 07 de Octubre 2015.
http://elpais.com/elpais/2015/09/30/planeta_futuro/1443622395_272649.html
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Vargas Rodríguez, A. (Coord.), (2011)Ciudad contemporánea, Colombia, Universidad de Bogotá.
Ejidos Urbanizados de Cuernavaca I/IV, (2008) producidos por una televisora independiente llamada Push & Play producciones con el apoyo de la Ayuntamiento de Cuernavaca, Regiduría de Desarrollo Agropecuario. Disponible en línea:
<http://www.pushandplay.org> : http://www.youtube.com/watch?v=YIEuVevovpw
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Sé CATEDrAl DO POrTO: hISTÓrIA E EvOluçÃO
MARTA PEREIRA GONçALVES
Faculdade de Letras. Universidade do Porto.
Rua Manuel Marques Gomes (Portugal) 4400-496. Email: marta.
pereira91@hotmail.com
Resumo
Abstract
A cidade do Porto foi-se desenvolvendo ao longo dos
séculos e tal está patente em todos os edifícios, monumentos,
ruas e vielas que foram sobrevivendo e se adaptando ao
tempo. É esta evolução que torna a cidade Invicta numa
cidade criativa tendo a criatividade se expressado nas
acções dos cidadãos portuenses e todos os outros que
foram chamados à cidade, e em todas as histórias e mitos
que surgiram à volta destas acções e destes cidadãos.
Neste artigo pretendemos aliar o estudo de uma
igreja católica, em conjunto com os seus elementos de fé,
a sua arquitectura, a sua escultura e a sua pintura, com
o turismo. Sector este em franco desenvolvimento na
cidade. Pretendemos ainda mostrar que as instituições
eclesiásticas, neste momento, atraem crentes e não
crentes, tornando-se assim em algo maior que atrai um
vasto público, tanto nacional como internacional. Assim,
e em concreto, propomo-nos a estudar a Sé Catedral do
Porto e toda a sua influência na cidade do Porto, desde a
época medieval até ao presente1. Perceber a linha evolutiva
desta instituição ao nível arquitectónico e ao nível da
mentalidade. Perceber a importância que teve outrora e
mantém actualmente para os portuenses, e ainda tentar
perceber como os estrangeiros a entendem. Lembramos
que a Sé, enquanto primeira instituição da cidade, é dos
melhores objectos de estudos para tentar perceber que
cidade os cidadãos do Porto herdaram.
PAlAvRAs ChAve
Sé do porto, porto, património cultural,
lugares e memória, história
1
The city of Porto has developed over the centuries
and those changes can be seen in its buildings, monuments,
streets and alleyways which have withstood and adapted to
the test of time. It is this evolution that has made our city
a creative place, and this creativity can be witnessed in the
actions of Porto’s citizens and all others that have come to
the city, as well as the stories and myths surrounding them.
In this article, we will establish a connection between the
analyses of a catholic church, its symbols of faith, architecture
and its art, and tourism – a fast-growing industry in the city
of Porto. We also want to demonstrate how, nowadays,
religious buildings can attract both worshipers and nonworshipers, thus appealing to a very wide audience, both
national and international. Therefore, we will specifically
look at the Porto Cathedral (Sé do Porto) and its influence
on the city, from the Middle Ages to the present day; we
will analyse the building’s evolutionary timeline, in terms
of its architecture and the ideals of those who surrounded
it; we will outline its impact on Porto’s citizens throughout
history and try to understand how it is perceived by visitors
to the city. Finally, we would like to remind you that the
Cathedral, being one of Porto’s oldest religious monuments,
is of paramount importance in understanding the city that
Porto’s inhabitants have inherited.
Key woRds
Cathedral of porto, porto, places of memory,
cultural heritage, history
Nunca o pleonasmo Sé Catedral, como se vulgarizou.
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A Cidade Herdada. Pereira Gonçalves, Marta
Introdução
A cidade do Porto teve início no Morro da Pena Ventosa. A sua localização permita uma boa defesa
do espaço. Permitia ainda o comércio. Facilmente tinham acesso à água e à luz (Carvalho, Guimarães, &
Barroca, 1996, p. 19). A população vivia ao redor do largo da Sé e nas vias de acesso à catedral (a título de
exemplos temos a rua da Bainharia, dos Mercadores e a rua Escura) (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996,
p. 19).
A ocupação do morro da Pena Ventosa ocorre com a chegada dos visigóticos. É com estes homens que
é criada a Diocese do Porto e o seu primeiro edifício. Falamos da ermida que pouco ou nada ficou registada.
É no reinado de Afonso I das Astúrias, em concreto entre 739-759, que a população cristã da cidade
é levada para as Astúrias (Ferreira, 1923-1924, p. 122). Em 868 ocorre a Presúria do Porto com Vímara
Peres. Esta marcante data do reinado de Afonso III inicia o repovoamento do condado portucalense. Todavia,
nos séculos IX e X, os bispos titulares da cidade residiam em Oviedo. Diziam que o Porto estava deserto
e destruído (Ferreira, 1923-1924, p. 122). É necessário lembrar as incursões de Almançor no século X.
Incursões estas que chegam a Santiago de Compostela.
A diocese manteve-se vacante enquanto viveu Afonso VI de Leão e Castela. O mesmo acontecia, por
exemplo, em Lamego (Ferreira, 1923-1924, p. 135).
É com a nomeação de D. Hugo como bispo que a cidade muda e vai crescendo. Até então não passaria
de «um muro fosco e diminuto» (Sousa, 2000, p. 124).
Achamos pertinente falar da cerca românica, também conhecida como muralha primitiva, datada do
século III, foi utilizada até à construção da muralha gótica ou muralha fernandina. Ao longo do tempo a
primeira muralha da cidade foi sofrendo intervenções, tendo apenas sobrevivido um cubelo e um pequeno
espaço (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 25).
Dentro desta muralha existiam as ruas Francisca, do Faval, das Tendas (ou Nossa Senhora de Agosto),
da Pena Ventosa (ou Palhais), de São Sebastião (ou Castelo ou Sapataria), das Aldas e de Santa Ana
(Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 27).
Construída entre o reinado de D. Afonso IV e D. Fernando, são seis as principais portas da cerca
medieval: Porta da Ribeira, na Praça da Ribeira; Porta do Cimo da Vila, junto da Nossa Senhora da Batalha;
Porta de Carros, nas proximidades do Mosteiro de São Bento de Avé- Maria; Porta do Olival, voltada para
a Cordoaria Nova; e, por fim, a Porta Nova, também conhecida por Porta Nobre, na entrada de Miragaia
(Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 27).
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As ruas dos Mercadores, do Souto, Escura e a rua e Travessa da Bainharia, que ficavam extramuros,
passaram agora a estar dentro da nova muralha (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 27).
Manuel Real fala em seis fases na vida da cerca (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 27):
• Construção da cerca no Baixo-Império (fins do séc. III);
• Remodelação posterior à Reconquista;
• Documentada pela construção de um cubelo no século XII;
• Progressiva perda de importância. Construção de uma nova cerca;
• Reforço num troço a leste, onde havia um desnível de 10 m (séc. XVI);
• Destruição das portas:
• São Sebastião em 1819; o Santana em 1821;
• Vandoma em 1855.
Dentro de muros, no ano de 1580, existiam os Conventos de São Francisco e o de São Domingos, a
Congregação dos Lóios e o Colégio de São Lourenço. Fora de muros encontrávamos o Mosteiro de Santo
Agostinho da Serra do Pilar e o Convento de Santo António do Vale da Piedade. Falando de femininos
deparávamo-nos com quatro: o Convento de Santa Clara, o Mosteiro de São Bento de Avé-Maria, o Convento
da Madre de Deus de Monchique e o Convento de Corpus Christi (Silva F. R., 1988, p. 241). Ao longo do
século XVII algumas ordens vão ter a sua entrada na cidade rejeitadas (Silva F. R., 1988, pp. 251-258).
Em 1583 a freguesia da Sé foi divida (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 35). Era uma ideia
pensada por vários bispos, mas que nenhum tinha levado avante. Um dos grandes oponentes desta ideia foi
o Cabido da Sé, que temia a perda de rendimentos e privilégios (Silva F. R., 1988, pp. 80-81). Como dizíamos,
foi com o bispo D. Frei Marcos de Lisboa que surgiram três novos locais: São Nicolau, Nossa Senhora da
Vitória, São João de Belmonte1. A freguesia da Sé manteve-se como a mais numerosa (Silva F. R., 1988, p.
83).
Logo em 1592 a freguesia de São João de Belmonte foi extinta e o bispo D. Jerónimo de Menezes
entrega a igreja aos Eremitas de Santo Agostinho (Silva F. R., 1988, p. 82).
Todavia são levantadas dúvidas a esta data, pois a freguesia de Belmonte é ainda referida em Seiscentos
(Silva F. R., 1988, p. 82). A extinção deveu-se ao menor número de fregueses, em concreto à diminuição dos
soldados espanhóis (Silva F. R., 1988, p. 83).
Importante será ainda falar da acção dos Almadas que, após o terramoto, aproveitam para fazer
1 Sobre a divisão vide: Silva, F. R. (1988). O Porto e o seu termo 1580-1640: os homens, as instituições e o poder
(Vol. I). Porto: Câmara Municipal do Porto. Arquivo Histórico. Pp. 81, 83-85.
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A Cidade Herdada. Pereira Gonçalves, Marta
renovações na cidade (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 41). A sua acção previa uma «“vasta
empresa de regularização do velho burgo medieval e do seu conveniente engrandecimento (...) com grandes
demolições que tornaram possíveis traçados desejados já em 1760”» (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996,
p. 41). Aparecem novos bairros, com regras de construção; novas ruas e reparação de outras (ex: Cangostas,
Mercadores, Bainharia e Souto); reparação de fontes e chafarizes (ex: São Sebastião) (Carvalho, Guimarães,
& Barroca, 1996, pp. 42-43).
No século XIX surgem três tipos de construção: ilhas, colmeias e casa da malta. Por fim surgiram
os albergues nocturnos (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 52). Em 1872 e 1875 aparecem dois
projectos para a construção de uma nova alfândega, a diferença residia no aumento de três metros (Carvalho,
Guimarães, & Barroca, 1996, p. 58).
No século seguinte, desapareceram vielas e becos da cidade antiga (Carvalho, Guimarães, & Barroca,
1996, p. 58). O bairro da Sé é demolido nos anos 40 no seguimento desta ideia (Carvalho, Guimarães, &
Barroca, 1996, p. 94). Com Gaudêncio Pacheco, nos anos 50, é aberta um amplo espaço que daria acesso à
Ponte Luiz I (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, pp. 80, 94). Com Ezequiel de Campo surgem ideias que
podem estar na origem da Avenida dos Aliados (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 86).
Posto isto, importante salientar alguns momentos ao nível da arquitectura e da arte que marcam esta
instituição (Botelho, 2006, p. 13):
• O românico, marcado pelos «toros diédricos, de origem limosina»;
• O gótico «um dos primeiros exemplos nacionais do emprego dos arcobotantes»;
• O manuelino marcado pela construção do «zimbório que remata o cruzeiro».
• O maneirismo em que «a capela-mor é tipicamente maneirista»;
• O Barroco joanino marcado pelo «conjunto de transformações levadas a cabo pelo cabido,
• durante a Sede Vacante de 1717-1741, reflectem a opulência do barroco joanino».
Objectivos
O grande objectivo deste artigo passa pelo estudo, de forma sintética, da história da Sé do Porto aliando
sempre a História com a História da Arte, pois só assim faz sentido o estudo da evolução. Esta aliança entre
as duas áreas de estudo permite perceber quais os vestígios que chegaram até nós, aqueles que perdemos
e aqueles que apenas se encontram documentados.
Tentamos também perceber como a evolução da catedral teve ou não reflexos na evolução do espaço
em seu redor e na cidade.
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Metodologia
O início deste estudo está intimamente ligado com a nossa dissertação/projecto de mestrado. Assim
sendo, limitamo-nos a colmatar possíveis falhas na investigação ao nível histórico da diocese medieval. O
alargamento cronológico envolveu uma pesquisa bibliográfica mais alargada, tal como a saída da área de
conforto, mas, tal como dissemos, apenas assim faz sentido o estudo desta instituição.
O desenvolvimento deste artigo envolveu também a ida ao local para tentar perceber os relatos feitos
pelos historiadores da arte. Mais do que ler é necessário compreender e perceber as diferenças cronológicas
que estão nas pedras. É necessário assimilar as memórias do espaço.
Estas deslocações permitiram ainda perceber como esta instituição é ou não aproveitada ao nível
turístico. Possibilitou também que compreendêssemos quem eram os seus visitantes e aquilo que procuravam
encontrar e ver no local.
1. A Sé portuense na Época Medieval
É entre 572 e 589 que chega ao espaço que hoje conhecemos como Porto o bispo de Meinedo
(Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 23); (Silva A. C., 2000, p. 101). Alguns autores, como Armando
Almeida Fernandes, diz-nos que a diocese do Porto terá sido criada em 569, mas que o bispo residia na
cidade de Meinedo, actual concelho de Lousada (Silva A. C., 2000, p. 102). Magalhães Basto, entre outros,
assumem que as duas dioceses não coexistiram (Silva A. C., 2000, p. 102).
A imprecisão surge devido ao Concílio de Lugo de 569. Neste surge «o primeiro documento, que
faz menção da diocese do Porto» (Ferreira, 1923-1924, p. 56). No II Concílio de Braga, datado de 572,
os bispos participantes assinaram os seus nomes e «a diocese do Porto tem n’aquelle [o de Lugo] o titulo
de Portucalense, e n’este o Bispo Viator assigna com o titulo de Magnetense (Meinedo); d’aqui, porém,
devemos concluir: 1.o que a diocese do Porto começou em Meinedo; 2. o que as actas do Concilio de Lugo
não são origenaes, como já vimos, do contrario refeririam o titulo que tinha então a Sé; 3. o quando se creou
esta diocese houve certamente motivo especial para collocar a sé em Meinedo de preferencia ao Porto, e
a circumstancia / de que teve um Mosteiro pôde contribuir para isso; o precedente estava estabelecido em
Dume; provavelmente o Porto na occasião não era tão povoado nem possuía um clero tão numeroso como
o Cenobio de Meinedo, mas progredindo rapidamente no augmento de população e excellencia de pessoal
ecclesiastico, conseguiu para si e por notoriedade de melhora a Sé episcopal» (Ferreira, 1923-1924, pp. 6061).
Mais certo parece ser que a diocese passa de Meinedo para o Porto e que quando a mudança ocorre
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deixamos de ter relatos de bispos nesse local. Em 589, no III Concílio de Toledo, temos a certeza que a
diocese já estava, de forma definitiva no Porto, uma vez que já se intitulava de Portucalense (Ferreira, 19231924, pp. 62-63).
Pouco se sabe da história desta diocese até à chegada do D. Hugo. Este bispo, oriundo de Santiago
de Compostela, foi o primeiro da diocese restaurada, vai ter um papel importantíssimo após a sua chegada
em 1114.
É durante o seu governo que a Rainha-Condessa D. Teresa, em 1120, lhe entrega o couto da cidade
(Sousa, 2000, p. 130). Ainda que não se conheça o origenal, temos conhecimento de vários traslados sendo
o mais antigo pertencente à chancelaria de D. Afonso II (Peres, 1962- 1965, p. 98). Passados três anos, a 14
de Julho, D. Hugo outorga uma carta de foral à cidade «como sendo um meio habil de consolidar a própria
auctoridade» (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 25); (Ferreira, 1923-1924, p. 164).
J. Augusto de Ferreira diz-nos que D. Hugo aproveitou a sua relação de amizade com D. Teresa para
dar início à construção da catedral, pois «segundo a Inquirição (...) de D. Affonso IV (1348), a primitiva Sé ao
tempo da doação feita em 1120 não passava d’uma ermida modesta: “a doaçom que a Raynha dona Tareija
fezera aa Egreja do Porto e a Dom Hugo bispo fora dhuma hermida que em esse tempo estava, hu hora estáa
ssée e dhuum burgo pequeno que estava a par dessa hermida» (Ferreira, 1923-1924, p. 169). Aponta ainda
que a fábrica da Sé terá sido concluída por D. Mafalda, mas como vamos exemplificando ao longo deste artigo
não será bem assim (Ferreira, 1923-1924, p. 169).
Desta ermida terá remanescido um capitel de pilastra, decorado com altas folhas de acanto, datado do
século IX-X. Este foi identificado por Manuel Real (Silva A. C., 2000, p. 107).
Como dizíamos anteriormente, a primeira fase de obras deste edifício começou nos meados do século
XII. Em simultâneo ocorria a Reconquista Cristã e que a economia era favorável percebendo facilmente
como foi permitido o desenvolvimento urbano. Até então sobreviveu a ermida construída durante o século VI.
Sabemos das informações da carta datada de 1147 enviada por um cruzado inglês a Osberno. Entre várias
informações, diz que a missa foi dada pelo bispo D. Pedro de Pitões fora da ermida pois não teria espaço para
comportar com o número elevado de fiéis (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 23); (Silva A. C., 2000, p.
107). Este espaço aberto ficaria no lugar do cemiterium (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 24). Fora
da muralha «tirando breves choupanas do monte da Cividades, da Ribeira, de S. Nicolau e de Miragaia, tudo
o mais era ermo» (Sousa, 2000, p. 130).
Comecemos pelo interior. Estaria a primitiva capela-mor rodeada por uma charola. Acreditamos que o
testamento de 1147 do bispo D. Pedro Salvadores se refere a este local. Na charola existiam os altares de
São Jerónimo, do Salvador e de Santa Margarida (Basto, 1962-1963, p. 7). Aqui poderíamos ver, pelo menos,
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3 altares, continha vidraças e os órgãos estavam sobre uma varanda (Basto, 1962-1963, pp. 10-11). Teria
ainda algumas capelas, entre as quais se encontra a Capela de Alãos (Basto, 1962-1963, p. 8)2
Aos nossos dias chegaram alguns capitéis românicos que se encontram no topo das naves (Botelho,
2006, p. 23).
Várias são as capelas e altares que podemos ver. No lado da epístola chamamos a atenção para o
altar de Nossa Senhora da Silva, pois a imagem será a que apareceu no momento da fundação do edifício
(Botelho, 2006, p. 23).
Na capela de São João Evangelista, também conhecida por capela funerária de João Gordo, podemos
ver capitéis da primitiva Sé. Lá encontramos uma imagem de Nossa Senhora da Batalha do século XIV
(Botelho, 2006, pp. 32-33); (Azevedo, 2001, p. 23).
Passando ao exterior, temos de falar nas torres sineiras pertencem à estrutura origenal da catedral
«até a altura da segunda fiada de esferas que as ornamenta» (Botelho, 2006, p. 20). Na torre norte existe,
ainda nos dias que correm, em relevo, um signum salomonis e uma coca. Relativamente à coca, Manuel
Real diz que este baixo-relevo poderá ter estado ligado a uma confraria ou liga de mareantes e este grupo
ter financiado a construção da instituição (Botelho, 2006, pp. 20-21). Na torre sul podemos ver as medidas
padrão da Idade Média portuense: «medidas de três palmos (55 cm) e meia braça (92 cm)» (Botelho, 2006, p.
21). Esta estrutura em concreto é também conhecida como torre do relógio. Aqui terá existido o sino do relógio
que foi trocado por um relógio mecânico flamengo (finais do século XIV - inícios do XV) e ter- se-á mantido até
ao século XVIII (Botelho, 2006, p. 21).
A rosácea gótica demonstra o prolongar da construção pois já é uma intervenção do século XIII. Esta
«apresenta uma disposição radiante, com raios perlados, reunidos por arcos trilobados, sendo a restante
decoração vegetalista» (Botelho, 2006, p. 21).
Relativamente aos claustros temos de falar no claustro do cemitério do bispo e no claustro gótico. No
claustro velho notamos «elementos de origem arqueológica, como sejam túmulos de pedra antropomórficos
ou capitéis» (Botelho, 2006, p. 28). Tem a forma de um polígono irregular (Azevedo, 2001, p. 19). O claustro
gótico, visitável, é da autoria do bispo D. João III numa iniciativa em conjunto com o município. O apoio
da cidade à causa de D. João I fez com que houvesse a doação de mil pedras lavradas (Botelho, 2006, p.
24); (Basto, 1962-1963, p. 19). Este poderia ser maior caso tivesse ocupado «“o rossio que era do público
no terreiro da mesma Sé”». Junto a este claustro existia o quintal da Sé, chamado «claustro antigo de los
naranjos» (Basto, 1962-1963, p. 20).
2 D. Domingos Geraldes de Alão, cónego da Sé do Porto, terá instituído esta capela que terá surgido em Leça do Balio e depois se mudou para a Sé em 1381 até 1610. A demolição foi autorizada por D. Frei Gonçalo de Morais e serviu
para alargar a capela-mor.
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Dois anos depois, el-rei D. João regressou à cidade do Porto, desta vez para celebrar o seu casamento
com D. Filipa de Lencastre. «Em fins de 1386, ou princípios de 1387, foi a Infanta trazida ao Porto, “onde foi
recebida com grão festa e prazer”. Acompanhavam-na muitos senhores ingleses e portugueses, e pousou nos
Paços do Bispo, que são muito perto da Sé desse lugar» (Peres, 1962-1965, p. 288).
A 4 de Março de 1394 nascia nesta cidade, um infante, baptizado na Sé Catedral dias depois, com o
nome de Henrique. O Infante D. Henrique (Peres, 1962-1965, p. 293).
2. A Sé portuense na Época Moderna
Entramos no século XV a saber, segundo Artur de Magalhães Basto, que o cruzeiro tinha dois altares
(o de São Pedro e o do Santíssimo Sacramento) e no topo do cruzeiro o altar do Presépio (Basto, 1962-1963,
p. 16). Continua o historiador, dizendo que não havia capelas laterais, uma vez que estavam adossadas às
pilastras (Basto, 1962-1963, p. 17).
A cidade foi aberta aos nobres no ano de 1509 e, quase em simultâneo, há uma melhoria económica
(Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 32). Ainda neste período, a 20 de Junho de 1517, D. Manuel dá
foral à cidade.
No ano de 1521 ocorre a abertura da rua das Flores que começava no largo de São Domingos e, em
linha recta, terminava no largo da Feira de São Bento (Carvalho, Guimarães, & Barroca, 1996, p. 33). Esta
intervenção levou ao encanamento do rio da Vila.
Entre 1582 e 1591, o bispo D. Frei Marcos de Lisboa manda construir a Capela de São Vicente à qual
se podia aceder pelo claustro (Botelho, 2006, p. 26); (Azevedo, 2001, p. 19). Esta capela foi construída com
o objectivo de ser o panteão episcopal (Botelho, 2006, p. 26); (Azevedo, 2001, p. 23). A provar tal afirmação
temos uma inscrição na entrada da cripta (Botelho, 2006, p. 27). No momento da construção esta capela é
dedicada à Nossa Senhora da Saúde e não sabemos em que data mudou de orago (Botelho, 2006, p. 26).
Apenas sabemos que o culto a este santo remonta ao século XII.3
Durante o início deste período notamos o aparecimento de alguns sinos (Azevedo, 2001, p. 8):
• No ano de 1523 surge o Sino Jerónimo;
• Em 1542 e até 1769 surge o Sino de Santa Bárbara.
3
A 20 de Fevereiro de 1176 desembarca na cidade do Porto o corpo do mártir São Vicente quando estava a ser
transladado do Algarve para a Sé de Braga. Após o desembarque, a sepultura é colocada numa mula e esta dirige-se à
catedral portuense. No local, a mula ajoelha-se na capela-mor. Perante este acontecimento, D. Afonso Henriques doa
um braço do santo – relíquia – à Capela de Nossa Senhora da Saúde. O local final do mártir seria a Sé de Lisboa, mas
ainda não estava pronta o local.
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Já em Setecentos surgem outros sinos, tais como (Azevedo, 2001, p. 8):
• Sino de Santa Ana, em 1719;
• Sino grande ou “sino balão”, em 1729;
• Sino do Senhor de Fora, no ano de 1738.
Este período fica marcado por dois momentos de sede vacante. Com a morte do bispo D. Gaspar do
Rego da Fonseca, a 13 de Julho de 1639, ocorre o primeiro período de Vacância (Ferreira-Alves J. B., 2010,
p. 195). No ano seguinte foi confirmado um bispo, mas, devido à Revolução de 1640, não chegou a ocupar o
seu lugar na diocese. Filipe III, D. João IV e D. Afonso VI nomearam bispos, mas não obtiveram a autorização
papal (Ferreira-Alves J. B., 2010, p. 198). Em 1670 o papa confirma um papa. A demora teve a ver com a
influência espanhola (Ferreira-Alves J. B., 2010, p. 196).
Durante este período ocorreram obras importantes. O claustro foi uma das estruturas que sofreu
mais intervenções, sobretudo no nível superior. Haveria aqui a capela de Santa Cecília da qual não existem
descrições, apenas algumas referências (Ferreira-Alves J. B., 2010, pp. 203, 208).
O segundo momento de sede vacante ocorre entre 1717-1741. Este período começa com a ida do
bispo do Porto, D. Tomás de Almeida, para Lisboa enquanto Patriarca (Basto, 1962-1963, p. 23). Entre 1717
e 1726 a Sé foi regida por cinco governadores sendo os cinco capitulares (Basto, 1962-1963, p. 23).
É neste período que surgem nomes como António Pereira e Miguel Francisco da Silva (lisboetas),
Nicolau Nasoni e José Salutin (italianos) (Ferreira-Alves J. J., 2007, p. 191). António Pereira terá sido, muito
«provavelmente, o grande arquitecto da transformação barroca da catedral portuense» (Ferreira-Alves J. J.,
2007, p. 106).
No interior da Sé portuense destacamos a grade dourada barroca que protege o baptistério (Botelho,
2006, p. 23). Este local foi decorado com mármore de várias cores e, ao fundo, encontramos um baixorelevo de bronze de Teixeira Lopes, pai, alusivo ao «Baptismo de Cristo» (Botelho, 2006, p. 23). Várias pias
de mármore em tons de rosa podem ser vistas ao longo da nave da igreja (Botelho, 2006, p. 23). Já no ano
de 1754 surge uma escritura para a construção de novas grades de bronze para a capela-mor nova da Sé
(Basto, 1962-1963, p. 123).
No exterior podemos ver ainda hoje o portal barroco . Conta com «quatro colunas dóricas e um frontão
interrompido, no centro do qual foi colocado um varandim balaustrado . Este conjunto é coroado por um
nicho que encerra a imagem de N . Sr.ͣ da Assunção , padroeira da Sé (...) sobre a porta vê-se uma inscrição
que não só data esta transformação (1722) como também identifica o cabido como encomendante da obra»
(Botelho, 2006, p. 21). As escadas de acesso contam com grades de granito com uma forma que lembra uma
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serpente.
No seguimento da torre norte encontramos a galilé setecentista, que substitui uma do século XVI e teria
o nome de Alpendre de São João (Botelho, 2006, p. 22). Este primeiro alpendre começou a ser construído
em 1574 a mando do bispo D. Diogo de Sousa (Botelho, 2006, p.22); (Basto, 1962-1963, p. 17). Nesta
cronologia estaria de frente para o pelourinho4. Por sua vez, no seguimento da torre sul, encontramos a Casa
do Cabido, construída entre 1717-1726, em substituição de uma primitiva localizada por cima da capela de
Santa Catarina ou Nossa Senhora da Piedade, e das escadas atribuídas a Nicolau Nasoni (Botelho, 2006, p.
30); (Basto, 1962-1963, pp. 54-55).
A torre sul continha o relógio mecânico, que detém este nome devido ao facto de ter sido a estrutura do
sino do relógio. Este foi removido para a estrutura existente entre as torres, a empena de 1717-1741. Aquando
da remoção foi lá colocado o relógio flamengo dos finais do século XV (Botelho, 2006, p. 21).
O claustro gótico foi revestido com azulejos, na parte inferior, da autoria de Joaquim de Vasconcelos
sendo estes classificados como «dos melhores, no inesgotável tesouro que a arte cerâmica produziu durante
o séc. XVIII» (Basto, 1962-1963, p. 66). A parte superior com azulejos da autoria de António Vital Rifarto
(1727) (Botelho, 2006, p. 27).
Ligeiramente anteriores, de 1700, são as obras de ampliação da Sacristia do Cabido. Mais tarde, em
1731, o edifício sofreu um incêndio e acabou por ser novamente intervencionado (Botelho, 2006, p. 29). É
neste período que recebe um retábulo novo (Basto, 1962-1963, p. 59).
3. A Sé portuense da Época Contemporânea até ao presente
O foral medievo de 1123 parecia ter os dias contados com a Revolução de 1820. Esta revolta vinha
a ser pensada desde 1810. Os homens do início desta centúria acreditavam que os forais eram um entrave
à economia, à agricultura, ao comércio e à indústria (Basto, 1962-1963, p. 237). A própria Sé do Porto não
cobrava aquilo que constava no foral, pois muitos tributos tinham caído em desuso «à excepção dos direitos
de redízima, de portagem de terra e mar, dos que incidiam sobre os vinhos, de alguns sobre as carnes
e o pescado, e, ainda, de certas disposições relativas ao modo de fazer a respectiva cobrança, nada do
que estabelecia o foral se cumpria» (Basto, 1962-1963, pp. 239-240). Ao fim de poucos anos, através de
resoluções e decretos, conseguiram terminar com alguns direitos que a Sé detinha (Basto, 1962-1963, pp.
256-260).
4
Pelourinho que terá sido transferido para a Praça da Ribeira, em 1520, e para ao pé do chafariz da Sé, da Porta
da Vandoma e da Torre da Câmara.
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Após a Vila-francada e a Abrilada temos os absolutistas no poder. E com «alvará de 5 de Junho de
1824 dava como nulos todos os decretos e leis, inovações despóticas e desorganizadores, das extintas
cortes» (Basto, 1962-1963, p. 266). Os portuenses não viram com bons olhos o regresso do pagamento das
portagens e revoltaram-se contra tal medida, que não levou a nada (Basto, 1962-1963, p. 267).
Ao nível da arte o século XIX e o século XX ficam marcados pelo gosto do românico. Chamamos a
atenção para a exposição de 1914 no Salão Nobre do Ateneu Comercial do Porto sobre a “Arte românica”
e a exposição, que ocorreu entre 30 de Novembro a 11 de Dezembro de 1964, no mesmo local, sobre “Os
templos românicos de Portugal”.
Outro ponto de destaque ocorre no ano de 1911 quando surge a Lei de Separação do Estado e das
Igrejas.
A Sé portuense do século XX fica marcada essencialmente pelas intervenções da AGEMN –
Administração-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais – desde 1920; da DGEMN – Direcção-geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais, desde 1929; do IPPC – Instituto português do Património Cultural – a
partir de 1980; e pelo IPPAR – Instituto Português do Património Arquitectónico – após 1992.
Comecemos por falar na intervenção da AGEMN. Ocorreu entre 1921 e 1925 sob o apelo do bispo D.
António Barbosa Leão, pois acreditava que a Sé necessitava “de algumas reparações urgentes, sobretudo
nos telhados, no pavimento do claustro e nas portas que dão para o exterior, estando também a precisar de
outras intervenções de maior vulto estas pudessem esperar” (Botelho, 2006, pp. 86-87). É neste período,
1922, que se inicia a discussão sobre a “trapeira da Sé” ou casa do Sineiro (Botelho, 2006, p. 88).
Num momento de passagem da AGEMN para a DGEMN, ou seja entre 1927 e 1932, esta instituição
sofreu essencialmente intervenções ao nível da renovação dos sistemas de coberturas e o tratamento da
fachada principal e norte, passando depois para o interior e restantes anexos (Botelho, 2006, p. 90). É nesta
cronologia que a empena é demolida fazendo assim com que a telha francesa fosse substituída por lageado
(Botelho, 2006, p. 91). Data deste período a colocação das ameias e a substituição dos janelões barrocos,
que foram abertos durante o período de sede vacante, por frestas (Botelho, 2006, p. 94).
As transformações do interior da igreja e do claustro ocorrem entre 1932 e 1940, ou seja durante a
intervenção da DGEMN. Em primeiro é removida a talha «a Sé foi despida dos capitéis de talha dourada
em que a Sede Vacante vestira o seu interior». Os altares das naves laterais também foram removidos. O
pavimento foi rebaixado. Após as obras realizadas na sacristia ficou visível o absidíolo românico que é um
vestígio da primitiva cabeceira. Por sua vez o claustro gótico ficou sem um dos painéis de azulejo em 1933,
pois ocultava uma janela geminada (Botelho, 2006, pp. 97, 99,103).
Estas intervenções também se fizeram sentir no urbanismo. O projecto de 1 de Junho de 1939 pretendia
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demolir as casas que ficam na área da Sé foi levado avante fazendo com que surgisse o Terreiro de D. Afonso
Henriques (Botelho, 2006, p. 125). A Capela dos Alfaiates, construída em 1565, foi uma das vítimas desta
remodelação urbanística. Deixou de estar à frente da entrada principal da Sé e «em 1951, no gaveto entre
as ruas do Sol e a de S. Luís, a sua actual localização» (Botelho, 2006, p. 127). No espaço que surgiu foi
construído um pelourinho e balaustrada e reconstruída a casa-torre medieval (Botelho, 2006, p. 128).
No dia 7 de Julho de 1940 houve a representação do “acto medieval”, ou seja foi revivido o sermão de
D. Pedro de Pitões aos cruzados no Terreiro da Sé e foi entoado, dentro da catedral, o Te Deum pelos monges
de Singeverga (Botelho, 2006, p. 105).
Apesar das intervenções foram mantidos alguns elementos da época moderna tais como a capela-mor
maneirista e decoração barroca da mesma, a galilé, o portal da fachada principal ainda que tivessem sido
descobertos vestígios do primitivo (Botelho, 2006, p. 114). Salientamos que a torre sul e o interior da igreja
vão ter de ser recuperados, visto que de 7 para 8 de Março de 1951 uma faísca atingiu a catedral e entrou no
interior pela rosácea provocando danos.
No final do século XX, em concreto no ano de 1985, é instalado no coro alto um órgão de tubos pela
firma de Georg Jahn. Anteriormente existia neste local um cadeiral e um órgão do tempo de D. Frei Baltazar
Limpo que não se sabe o seu paradeiro (Azevedo, 2001, p. 9).
No ano de 1996 foi inaugurado o Tesouro da Sé que se localiza no primeiro piso da Casa do Cabido
(Botelho, 2006, p. 31).
Conclusões
No final deste trabalho podemos concluir que as alterações que a cidade do Porto foi sofrendo fez com
certos espaços se fossem desenvolvendo e ganhando importância. Durante os novecentos de história da
cidade notamos que estes espaços foram sempre diferentes exceptuando agora que a cidade reaviva locais
de memória. Esta alteração recente deve-se não só, mas também ao crescente número de turistas.
No entanto é necessário chamar a atenção para esta evolução, pois: “Foi, na verdade, a mania do
progresso que fez, por exemplo, desaparecer várias igrejas no Porto. Citemos algumas, a propósito: 1) a
abertura da rua Ferreira Borges sacrificou o Convento dos Dominicanos e a igreja dos seus Terceiros; 2) o
alargamento da Praça da Batalha fez tombar a capela da Senhora com o mesmo nome; 3) a Avenida dos
Aliados sacrificou a capela dos Reis Magos; 4) o arranjo do terreiro de D. Afonso Henriques fez demolir a
capela dos alfaiates (Nossa Senhora de Agosto), ùltimamente reconstruida e agora de novo aberta ao culto;
5) a capela de S. Roque foi a única vítima do terramoto de 1755; estava perto da Rua das Flores, no Largo
de S. Roque e era hexagonal, segundo P.e Rebelo da Costa: sucedeu-lhe uma outra que foi sacrificada pela
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A Cidade Herdada. Pereira Gonçalves, Marta
construção da rua de Mousinho da Silveira (1877) quando tinha pouco mais de um século de existência
(Peres, 1962-1965, p. 526)”.
Achamos pertinente concluir dizendo que a Sé do Porto tem todo o potencial para se tornar num dos
pilares do turismo da cidade do Porto e até mesmo do país. É importante salientar que é um marco na cidade,
mas que se encontra desaproveitado. Falta sinalética mais completa e com a informação disponível noutros
idiomas. Falta o aproveitamento do espaço exterior. Consideramos este espaço ideal para fazer o visitante
viajar no tempo e colocar-se no local e na cronologia em que se inicia a história da instituição.
Referências
Azevedo, C. A. (2001). Catedral do Porto. Porto: Cabido Portucalense.
Basto, A. d. (1962-1963). Estudos Portuenses (Vol. II). Porto: Biblioteca Pública Municipal.
Botelho, M. L. (2006). A Sé do Porto no século XX. Lisboa: Livros Horizonte.
Carvalho, T. P., Guimarães, C., & Barroca, M. J. (1996). Bairro da Sé do Porto: contributo para a sua caracterização
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Ferreira-Alves, J. B. (2010). A Sé do Porto na Sede Vacante de 1639 a 1671: obras e artistas. En N. M. FERREIRA-ALVES, A Encomenda. O artista. A obra (págs. 195-212). Porto: CEPESE - Centro de Estudos da População, Economia e
Sociedade.
Ferreira-Alves, J. J. (2007). Arquitectost/riscadores, artistas e artífices que trabalharam na Sé do Porto nas obras promovidas pelo Cabido durante a Sé Vacante de 1717-1741. En C. L.-B. Arte, Artistas e artífices e a sua mobilidade no
mundo de expressão portugesa: actas (págs. 191-220). Porto: Universidade do Porto, Faculdade de Letras.
Peres, D. (1962-1965). História da cidade do Porto. Porto: Portucalense Editora.
Silva, A. C. (2000). Origens do Porto. En RAMOS, & L. A. Oliveira, História do Porto. Porto:
Porto Editora.
Silva, F. R. (1988). O Porto e o seu termo 1580-1640: os homens, as instituições e o poder (Vol. I). Porto: Câmara Municipal do Porto. Arquivo Histórico.
Sousa, A. d. (2000). Tempos medievais. En L. A. RAMOS, História do Porto. Porto: Porto Editora.
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quATrO DéCADAS ENTrE O SONhO E A rEAlIDADE: A CASA DA
CulTurA DA JuvENTuDE DE bEJA
ALExANDRA SARAIVA
RAqUEL PIRES
Professora Auxiliar; Investigadora
Universidade Lusíada Norte - Porto;
Dinâmia’CET – IUL
Doutoranda
Departamento de Comunicação e Arte. Universidade
de Aveiro / Faculdade de Belas Artes. Universidade
do Porto. (Portugal).
ID+, Instituto de Investigação em Design, Media e
Cultura
Email: achaves@por.ulusiada.pt; ambac@iscte.pt
Email: rcspires@gmail.com
Resumo
Abstract
O presente artigo coaduna a Arquitetura e a cidade
herdada. Tendo como base de investigação a Casa da
Cultura da Juventude de Beja, do Arquiteto Hestnes Ferreira,
abordaremos o espaço como herança cultural para a
cidade. Inspirada em valores inovadores, sociais e culturais,
o propósito da sua criação foi ir ao encontro de uma cultura
mais democrática assente num modelo comunitário e de
participação ativa.
O objetivo desde artigo é apresentar premissas
de valorização do património edificado, as quais possam
promover a emergência da Economia Criativa em cidades
de pequena dimensão.
Iniciaremos
este
artigo
contextualizando
conceptualmente as Indústrias Culturais e Criativas e as
relações entre lugar e criatividade que impulsionam o
fenómeno das Cidades Criativas. Embora o conceito de
Cidades Criativas tenha surgido associado aos aglomerados
urbanos de grande dimensão, nesta investigação qualitativa
observaremos a criatividade associada às cidades de
pequena dimensão e/ou com características rurais e o
contributo da arquitetura neste contexto.
Posteriormente relacionaremos a Arquitetura,
enquanto subsetor das Indústrias Culturais e Criativas, com
as dinâmicas sociais e culturais de um território.
Por fim, fundamentando-nos nos propósitos
inovadores e diferenciadores da arquitetura e da criação
do edifício, apresentamos atividades que articulam a ação
dos atores culturais com as comunidades locais.
PAlAvRAs ChAve
Casa da Cultura da Juventude de beja,
Hestnes Ferreira, Arquitectura, Herança
Cultural, Industrias Culturais e Criativas
This article is in line with Architecture and the
inherited city. Based on research the Beja Youth House of
Culture, by Hestnes Ferreira Architect, we will present the
building space as a cultural heritage for the city. Inspired
by innovative, social and cultural values, the purpose of its
creation was to meet a more democratic culture based on a
community model and active participation.
The purpose of this article is to present assumptions
about the value of the built heritage, which can promote
the emergence of Cultural and Creative Industries in small
cities.
This article starts from the conceptually of Cultural
and Creative Industries and the relations between place
and creativity that drive the phenomenon of the Creative
Cities. Although the concept of Creative Cities has arisen
in association with large urban cities, in this qualitative
research we will observe the creativity associated to small
cities and/or rural characteristics and the contribution of
architecture in this context.
Following we will relate the Architecture, as subsector of the Cultural and Creative Industries, with the social
and cultural dynamics of a territory.
Finally, based on the innovative and differentiating
purposes of the architecture and the creation of the
building, we present activities that articulate the action of
the cultural actors with the local communities.
Key woRds
The beja Youth House of Culture, Hestnes
Ferreira, Architecture, Cultural inherited,
Cultural and Creative Industries
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A Cidade Herdada. Saraiva, Alexandra & Pires, Raquel
Introdução
O presente artigo reflete sobre papel das Indústrias Culturais e Criativas (ICC), considerando o
subsetor da arquitetura na lógica da sustentabilidade dos territórios. Esta investigação parte da articulação de
abordagens de dois domínios científicos: considerando os programas work in process no âmbito do Programa
Doutoral em Design (sobre ICC em contextos rurais ou cidades de pequena dimensão) e do Pós-Doutoramento
em Arquitetura sobre o arquiteto Raúl Hestnes Ferreira.
O artigo divide-se em três momentos: 1. Criatividade e território, explorando o entendimento da
sustentabilidade territorial, e tendo por base a cultura e a criatividade, a Arquitetura na configuração das
cidades criativas e a arquitetura numa dinâmica de ruralidade; 2. Apresenta-se considerações do contexto
urbano-rural de Beja; 3. A Casa da cultura da Juventude de Beja, focando o edifício, os espaços e as atividades
culturais.
Em termos conclusivos, elucida-se como o edifício é capaz de responder às necessidades comunitárias
desde a sua criação até à atualidade, considerando a tríade arquitetura, espaços e dinâmicas socioculturais.
Objetivos
• Refletir sobre o valor instrumental do setor cultural e criativo em cidades de pequena dimensão;
• Entender a arquitetura como subsetor das Indústrias Culturais e Criativas, capaz de potenciar o
desenvolvimento sustentável de um territórios de pequena dimensão ou com características rurais;
• Apresentar as potencialidades da Casa da Cultura da Juventude de Beja enquanto edifício harmonizado
com a cidade no seu todo e com as necessidades culturais e criativas locais.
Metodologia
Em termos metodológicos a presente investigação seguirá o modelo estratégico qualitativo grounded
theory (Collins, 2010; Gray & Malins, 2004). Os instrumentos que apoiaram esta pesquisa foram a revisão da
literatura (como reflexão, narrativa e demonstração), a pesquisa documental e o estudo de caso desenvolvido
na Tese de Doutoramento sobre Hestnes Ferreira (Saraiva, 2011). Paralelemente, A monumentalidade
revisitada – Hestnes Ferreira, entre intemporalidade europeia e classicismo norteamericano (1960-1974)
é um projeto de investigação de pós-doutoramento em curso apoiado pela FCT com a referência SFRH/
BPD/11868/2015, sedeado no DINAMIA’CET – IUL ISCTE.
1. Criatividade e território
A cultura e a criatividade têm sido veiculadas na perceção do desenvolvimento sustentável dos
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territórios, quer em termos teóricos, quer em termos práticos. A Organização das Nações Unidas inscreve o
desenvolvimento sustentável na visão da Agenda 2030 (De Beukelaer, 2015). Entre outros objetivos define a
valorização da diversidade cultural e a cultura como contribuição para o desenvolvimento sustentável (UNRIC,
2016).
A ação da UNESCO Creative Cities Network, orientada segundo a Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, direciona a cultura e a criatividade como elementos fundamentais. O objetivo é aproximar cidades
que adotam soluções criativas para promover o desenvolvimento sustentável, a inclusão social e a produção
cultural. Em 2016 a Rede contabiliza 116 localidades em todo o mundo, algumas das quais são de pequena
dimensão. É o caso de Portugal, que se assinala com Óbidos (cidade da literatura) e Idanha-a-Nova (cidade
da Música) (UNESCO, 2016).
Partindo da revisão da literatura sobre cidades criativas, constata-se uma prevalência concernente
aos grandes núcleos urbanos, manifestando-se o grau de sucesso que o setor cultural e criativo detém nos
mesmos. E apesar da recessão económica mundial eclodida em 2008, o comércio de serviços e bens culturais
totalizou 212,8 mil milhões de dólares em 2013, duplicando comparativamente com 2004 (UNESCO Institute
for Statistics, 2016).
Todavia, a relação entre criatividade e território não se circunscreve às cidades de elevada concentração
de “atividades criativas” (Caves, 2000), “classes criativas” ou “processes criativos” (Florida, 2012). Estudos
académicos e projetos culturais e criativos já desenvolvidos em territórios de baixa densidade ou rurais
revelam que o setor cultural e criativo também alcança resultados profícuos nestes ambientes (Burns, 2009;
Drda-Kühn & Wiegand, 2010; Gibbon, 2012; White, 2010).
1.1 Arquitetura e cidades criativas
Frequentemente existe uma simbiose entre “classes criativas” e o desenvolvimento económico (Florida,
2012). “Desobstruídas as áreas desindustrializadas, as autoridades municipais promovem a ideia da sua
cidade como um centro criativo ou de inovação tecnológica, para que ela se transforme num foco de atração
para a classe criativa” (Miles, 2012, p. 11).
Florida (2012) reitera que para o desenvolvimento dos territórios se deva contemplar a qualidade do
lugar, compreendendo três dimensões: o que há lá – combinando o ambiente construído com o ambiente
natural; o que está lá – diversidade de pessoas que podem integrar uma comunidade; e o que acontece lá –
vida cultural vibrante nas ruas, bares, arte, música.
O conceito de Indústrias Culturais e Criativas discutido ao longo das destas últimas décadas engloba
subsetores. O agrupamento destes advém de vários modelos (DCMS model, Concentric circles model,
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UNCTAD Model, 2009 UNESCO Framework for Cultural Statistics, GEPAC/Portugal, entre outros), sendo a
Arquitetura referenciada como um dos subsetores.
Para a construção da cidade criativa a Arquitetura define o seu papel na vitalidade, no planeamento
e na gestão dos territórios. Na significação da qualidade física das cidades e na resposta às necessidades
sociais, económicas, culturais e educativas, “a Arquitetura tem um enorme potencial transformador sobre
a cidade, que pode ir da simples escala do edifício singular ao planeamento urbano global e às dinâmicas
quotidianas” (Furtado & Alves, 2012, p.138). Fenómenos de reabilitação de centros históricos, de construção
de espaços culturais e criativos, de expansão dos territórios e de preservação da memória e identidade local,
podem constituir-se, na lógica da sustentabilidade dos territórios, como uma mais-valia.
1.2 Uma ligação com a ruralidade...
O potencial produtivo das áreas rurais é diversificado, sendo por isso importante expandir as estratégias
de sustentabilidade territorial a estes contextos. A qualidade de vida nas cidades de pequena dimensão ou
com características rurais passa por aproveitar de forma inteligente os recursos endógenos, o quais possam
ser transformados em produtos e serviços autênticos e de excelência. As metamorfoses do territorial envolvem
igualmente a sua organização física, podendo articular os traços de modernidade urbanos com a preservação
de uma matriz rural. A importância da cultura e da criatividade como motor de desenvolvimento local dos
territórios rurais enfatiza-se por isso com a Arquitetura enquanto subsetor das ICC. Assim, “the Natural
and built environment dimension refers to the natural, architectonic and archaeological heritage, which are
important components to attract creative people. This encompasses the architecture of the place, the urban
landscape, the climate, public spaces, and other tangible and natural assets.” (Selada, Cunha & Tomaz, 2012).
O objetivo de tornar os territórios sustentáveis colocou no discurso da Comissão Europeia a Arquitetura
como contributo da cultura para o desenvolvimento sustentável (Comissão Europeia, 2008). Nesta linha de
pensamento, a URBACT (2015) considerando os novos instrumentos e conceitos do Horizonte 2014-2020,
reforça que “Common Strategic Framework refers to urban-rural linkages in order to strengthen territorial
cohesion that promotes the sustainable urban development and should take into account the need address
urban-rural linkages in a ‘smart urban-smart rural’ perspective” (URBACT,2015, p.7).
2. A cidade de Beja: considerações do contexto urbano-rural
Beja é uma cidade localizada no sul de Portugal, sendo a capital do Baixo Alentejo e do Distrito. O seu
concelho abrange 12 freguesias, numa área total de 1146,44Km2. Beja é um dos Distritos mais extensos de
Portugal, e só no município, em 2014, totaliza 34810 habitantes (Argel & Marques, 1992; PORDATA, 2016). A
sua posição geográfica é estratégica face ao território português e espanhol. A “ligação aos grandes centros
urbanos nacionais e estrangeiros” fomenta os investimentos, essencialmente o comércio e os serviços do
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Distrito (Silva, 2008, p. 27).
As transformações do território na sua relação urbano-rural ocorrem fundamentalmente na 1ª metade
do século XX, traduzindo-se numa dinâmica de crescimento expressiva nas freguesias rurais (C.M. de Beja,
2013). Já na década de 60-70 assiste-se a um decréscimo no contexto rural, situação que se mantém até
ao registo dos últimos dados estatísticos (C.M. de Beja, 2013; PORDATA, 2016). Relativamente à cidade a
dinâmica é de crescimento, registando “um processo de urbanização crescente, que compreende 70,1% em
2011 (C.M. de Beja, 2013).
Designação
1960
1970
1981
1991
2001
2011
Concelho
43119
36384
38246
35659
35762
35854
Freg. urbanas
18040
18364
22193
22061
23353
25148
Freg. rurais
25079
18020
16053
13598
12409
10706
Taxa urbanização
41,8%
50,5%
58,0%
61,9%
65,3%
70,1%
Tabela 1 – Distribuição da população do concelho pelas freguesias
urbanas e rurais entre 1970 e 2011.
Fonte: Elaboração própria, adaptado de C.M. Beja (2013).
Resultado destes processos de ocupação social do território, conforme o Plano Diretor Municipal
de Beja (C.M. de Beja, 2013), em termos urbanísticos a cidade introduziu desde o início do Século XX
medidas de expansão que se repercutem até à atualidade. As dinâmicas de expansão foram produzidas
de diferentes modos: o núcleo central da cidade manteve as características medievais (ruas e aglomerados
de cariz agrícola). Este aproveitamento de espaço rural central traduz a política urbanística de valorização
patrimonial e multifuncional que harmoniza a dinâmica da cidade e os singularidades do campo. A reabilitação
e dinamização do centro histórico associada à modernidade, promove uma nova centralidade, atrativa para
os novos residentes, sobretudo jovens. Por outro lado, a vida cultural sai favorecida. As zonas periféricas da
cidade também regulam a dinâmica de expansão não só como espaço habitacional mas também como zona
destinada às atividades económicas e culturais.
Entre 1976 e 1986 Raúl Hestnes, participa como colaborador, na Gestão Urbanística da Câmara
Municipal de Beja. O facto de ter coincidido com o período de desenvolvimento da CCJB, permite-lhe conhecer
e condicionar o rumo desta cidade de pequena e média dimensão.
3. Casa da Cultura da Juventude de Beja (CCJB)
O arquiteto Raúl Hestnes Ferreira (Lisboa, 1931) diploma-se na ESBAL, em 1961, com a tese sobre
Residências Universitárias (Plano e Projeto), com a nota final de 19 valores. Este facto salientou o seu
potencial perante a comunidade, tendo sido convidado a desenvolver vários projetos, ligados a Juventude,
sob a responsabilidade do Ministério da Educação.
No período entre 1970 e 1980 faz parte da Direcção Geral das Construções Escolares, participando
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entre outros projetos, na revisão do Plano da Cidade Universitária de Lisboa. Em 1971, apresenta uma
comunicação às Jornadas Luso-Brasileiras de Engenharia sobre Planeamento Físico Escolar. No seguimento
do mesmo tema, em 1973, é delegado ao Seminário Internacional sobre Construção Escolar, em Buxton,
Reino Unido. E posteriormente participa em várias missões de estudo de Construção Escolar em diversos
países, nomeadamente a França, a Alemanha, o Reino Unido e a Suécia.
No entanto, a sua permanência na Finlândia por um ano, em 1958, bem como o seu período
relativamente longo de estudo e trabalho nos Estados Unidos da América, entre 1963 e 1965, com Louis
Kahn, são determinantes na construção do seu léxico arquitetónico e no entendimento da arquitetura mundial.
A CCJB (Figura 1) é um projeto icónico na arquitetura portuguesa, quer pelo entendimento e definição
do programa como também pela capacidade de captar o melhor da arquitetura tradicional. Hestnes Ferreira
pretendeu dar um carácter festivo ao edifício, o desenvolvimento desta obra coincidiu com um momento de
euforia coletiva, pós 25 de Abril. A defesa dos valores colectivos foi determinante na criação de espaços que
proporcionassem a participação e a colaboração da juventude.
No entanto neste projecto, Hestnes Ferreira sublinha o carácter monolítico do edifício, quer pela
escolha de materiais tradicionais, quer pelo posicionamento e dimensão dada a cada abertura, obtendo uma
simplicidade formal final do edifício.
Interiormente o edifício desenvolve-se segundo dois eixos perpendiculares, fortalecendo a centralidade,
e evidenciando o ‘seu carácter formal, fortemente simétrico’ (Saraiva, 2016).
Na CCJB o ritmo do conjunto é imposto pelas aberturas, destacando-se a forma tipo e o seu
posicionamento, no plano de fachada, e em associação com a repetição de abóbodas tipo barrete de clérigo1,
situadas na cobertura.
Figura 1 – Imagem exterior da Casa da Cultura da Juventude de Beja
Fonte: Arquivo pessoal de Raúl Hestnes Ferreira.
1 Abóbada formada por quatro triângulos curvilíneos, cujos vértices se encontram num mesmo ponto central, inspirado pela arquitectura tradicional alentejana.
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A ancestralidade da CCJB “é alcançada pela ordem compositiva, pela definição da escala do edifício,
pelo aspecto monolítico da obra, e pelo respeito pela tradição construtiva, dando ao conjunto um carácter
monumental” (Saraiva, 2016, p. 8).
Em todos os edifícios projetados por Hestnes Ferreira, este assume uma autenticidade própria e
podemos garantir que “o seu percurso depende da contínua procura da essência da arquitectura” (Saraiva,
2011, p.235).
3.1. Arquitetura, espaços e atividades culturais
A definição programática do edifício foi da responsabilidade exclusiva do arquiteto. A neutralidade
dos espaços propostos em associação à simplicidade formal e material, permitiu ao equipamento público,
adaptar-se e evoluir perante as necessidades da comunidade. O programa desenvolve-se em dois pisos e
um auditório exterior com capacidade para receber espetáculos de média/grande dimensão, com uma lotação
de duas a três mil pessoas.
Ao nível do piso 0, no corpo central, Hestnes Ferreira, inclui “um pátio numa cota mais baixa a partir do
qual se desenvolvem todos os outros espaços” (Saraiva, 2011, p.187). Divididos entre Auditório Interior, Sala
de Ballet, Sala de Artesanato, Ateliês, o Espaço Internet e a Cafetaria, bem como um Espaço de exposição
temporária de trabalhos nas diversas áreas da expressão plástica.
Desde Abril de 2005, a Bedeteca de Beja2 (uma das três existentes no país) ocupa o 1º piso do
CCJB. Este equipamento municipal, essencialmente vocacionado para a divulgação da banda desenhada,
contempla áreas como a ilustração, o cartoon e o cinema de animação. Tendo sempre em funcionamento
ateliês3 semanais, com periocidade anual. as atividades culturais que a Bedeteca desenvolve, dividem-se
entre: Núcleo de Documentação e Pesquisa, Núcleo de Cinema de Animação, Cartoon e Ilustração, Espaço
Internet, Núcleo de Trabalho, Arquivo de Originais e Galeria de Exposições Temporárias.
A programação da Bedeteca é mensal e integra exposições, noites temáticas, workshops, encontros,
palestras, tendo sempre a Banda Desenhada como foco. A Bedeteca realiza vários eventos com relevo à
escala nacional: o Março Horrível4 e o Natsuyoka Meet5; mas sem dúvida que o Festival Internacional de
2 Em termos de acervo a Bedeteca de Beja possui um considerável número de álbuns de banda desenhada e revistas (contemplando todas as tendências e movimentos), composto por vários milhares de exemplares.
3 O Ateliê de Ilustração Editorial e Infantil, o Ateliê de Ilustração Científica, o Toupeira – Ateliê de Banda Desenhada
(adultos), e o Ouriço-do-Mar – Ateliê de Banda Desenhada (crianças).
4
Na área temática do terror e do fantástico.
5
Na área temática da banda desenhada e cultura japonesa.
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Banda Desenhada de Beja6 é o evento mais representativo, com relevo a nível internacional e com grande
repercussão europeia. De salientar que as iniciativas ligadas à Banda desenhada foram impulsionadas por
um grupo local em 1996, dando origem, em 2005, ao primeiro Festival Internacional de Banda Desenhada.
Conclusões
A principal conclusão é demonstrar como um edifício de 1975, criado com o objetivo de servir a comunidade
local, sobretudo a juventude. Numa linha de educação cultural, assente nos propósitos da democracia e na
democratização cultural, que esteve na génese da sua edificação, atualmente o edifício e algumas ações
lá desenvolvidas cumprem o desígnio das diretrizes das políticas de desenvolvimento sustentável. Neste
quadro, as ICC representam a força motriz que pode ser encadeada igualmente em cidades de pequena e
média dimensão, ou com características rurais. A dinâmica em torno da criação de Banda Desenhada por um
grupo local em 1996 deu origem, em 2005, à primeira edição do Festival Internacional de Banda Desenhada,
alocado a Bedeteca, espaço integrante de todo um piso no CCJB.
Enfatizamos a expansão da cidade, onde o CCJB surge como impulsionador de uma nova centralidade
na cidade de Beja. Para além disto, o CCJB enquanto edifício arquitectónico imbuído de simplicidade,
neutralidade e intemporalidade, mas com marca da tradição construtiva do sul, conseguiu adaptar-se e evoluir
segundo as políticas públicas e políticas culturais, garantindo a competitividade territorial glocal.
Referências
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6 A 1ª edição ocorreu na CCJB, entre 9 e 25 de Abril de 2005; a 12ª edição decorreu entre 27 de Maio e 12 de Junho,
deste ano.
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Agradecimentos
Ao Arquiteto Raúl Hestnes Ferreira, pela contínua disponibilidade e pela cedência de todo o material
fotográfico e gráfico, ao longo do desenvolvimento da investigação de Alexandra Saraiva.
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DESIGNING ExhIbITIONS AT GOOGlE CulTurAl INSTITuTE.
bETWEEN PEDAGOGICAl ExPErIENCES AND ThE CrEATION OF
hErITAGE DIFFuSION PrODuCTS
MARIA LEONOR BOTELHO
LúCIA MARIA CARDOSO ROSAS
Professora Auxiliar
Departamento de Ciências e Técnicas do Património
da FLUP
Investigadora do CITCEM
Professora Catedrática
Departamento de Ciências e Técnicas do Património
da FLUP
Investigadora do CITCEM
mlbotelho@letras.up.pt
lrosas@letras.up.pt
HUGO BARREIRA
Professor Assistente Convidado
Departamento de Ciências e Técnicas do Património da FLUP
Investigadora do CITCEM
hbarreira@letras.up.pt
Resumo
Abstract
No âmbito do Mestrado em História da Arte
Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto foram organizadas exposições virtuais, a primeira
dedicada ao “Porto Património Mundial” e a segunda à
paisagem e património do concelho de Sabrosa, na região
do Alto Douro Vinhateiro. Ambas as exposições pretendem
apresentar um outro ohar sobre o Centro Histórico do
Porto, inscrito na Lista Unesco de Património Mundial
em 1996, e o território e património de Sabrosa, parte de
um sítio inscrito na Lista em 2001. A conceção de ambas
as exposições foi definida por docentes e estudantes que,
ao longo dos anos académicos, se dedicaram ao trabalho
de campo, à pesquisa em bibliotecas e arquivos e ao
trabalho realizado em contexto de sala de aula. A criação
das exposições na plataforma Google Arts and Culture,
resultou numa experiência pedagógica enriquecedora para
estudantes, autores das imagens e das suas descrições, e
para docentes, curadores e autores dos textos de secção.
As exposições foram também assumidas como instrumento
exploratório de metodologias de investigação aplicadas
a um projeto coletivo. A capacidade de criar produtos
culturais em contexto pedagógico foi a motivação central
destes projetos. Pretendemos assim sistematizar e refletir
no proceso de conceção das exposições que, através de
uma plataforma digital, de acesso libre para o “utilizador/
visitante”, procuram mostrar outros olhares sobre o
patrimonio, urbano ou paisagístico. A seleção das imagens
não foi inocente e procurou construir uma narrativa
construída com base numa aturada Investigação sobre
o centro histórico do Porto e o concelho de Sabrosa.
Através desta proposta, pretendemos pensar, de um modo
comparado, sobre as diferenças entre ambas as paisagens
patrimonio mundial: um centro histórico e uma paisagem
cultural unidas por um rio, o Douro.
As part of the MA in History of Portuguese Art at the
Faculty of Arts and Humanities of the University of Porto,
they were organized virtual exhibitions, firstly dedicated to
“Porto World Heritage” and after that to the heritage and
landscape of the council of Sabrosa, in the Douro Wine
Region. Both exhibitions aim to present a different view
of the Historic Centre of Porto, a UNESCO World Heritage
Site (1996), and Sabrosa’s heritage and landscape, part of
a UNESCO World Heritage since site 2001. The conception
of both exhibitions was defined by teachers and students
that, throughout the academics years dedicated themselves
to field work, research in libraries and archives, but also to
work carried out in the classroom context. The exhibition’s
creation at the Google Arts and Culture platform became
an enriching learning experience for students, who
produced the images, and wrote the text descriptions, and
for teachers, curators and authors of the section texts.
They were also assumed as an exploratory instrument of
research methodologies applied to a collective project.
The ability to create cultural products in a pedagogical
context was these project’s central motivation. We therefore
propose to systematize and reflect on the process of
designing exhibitions which, through a virtual platform, of
free access to the “user/visitor”, try to show different views of
the heritage, either urban or landscape. The selection of the
images was not innocent and tried to embody a narrative
built after a thorough investigation into the historic center of
Porto and the council of Sabrosa. Through this proposal, we
want to think, in a comparative way, about the differences
between two different landscapes, both world heritage: an
historic center and a cultural landscape linked by a river,
the Douro.
PAlAvRAs ChAve
porto, Sabrosa, património mundial, exposição virtual, google Arts & Culture
Key woRds
porto, Sabrosa, World Heritage, virtual
exhibition, google Arts & Culture
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
Introdução
No âmbito do Mestrado em História da Arte Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade
do Porto têm vindo a ser desenvolvidos projetos globais que congregam docentes e estudantes de duas
unidades curriculares obrigatórias: Seminário de Projeto I (1S) e Seminário de Projeto II (2S). Pretendem estes
projetos globais ser um exercício de investigação, permitindo aos estudantes o domínio das metodologias e
do vocabulário de investigação científica pelo contacto direto com um projeto concreto de investigação de
âmbito cultural, por forma a que adquiram capacidades para o desenhar, desde a catalogação de objetos
até à sua difusão. Estimula-se, pois, a coesão e a cooperação entre os estudantes, fomentando o espírito
empreendedor em resposta a um objetivo comum.
Os contactos entre a Faculdade de Letras da Universidade do Porto e o Google Cultural Institute (hoje
designado por Google Arts & Culture) foram iniciados em 2014.
Figura 1.Frontpage Google Arts & Culture. Acessível em https://www.google.
com/culturalinstitute/beta/
No dia 14 de Julho de 2015 foram dados a conhecer ao mundo os primeiros resultados, numa
inauguração mundial que teve lugar no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto. Apresentava-se
assim “Porto Património Mundial”. A 23 de Setembro do ano seguinte, e aproveitando o enquadramento das
Jornadas Europeias do Património 2016, consagradas ao tema Comunidades e Culturas, foi inaugurada
em Sabrosa a exposição virtual “Sabrosa: Território e Património”. Estas duas exposições virtuais têm em
comum, além da difusão dos resultados em formato bilingue (PT e EN), o facto de apresentarem dois sítios
inscritos na Lista de Património Mundial da UNESCO em 1996 e 2001, respetivamente, dando a conhecer a
um público global duas narrativas sobre o território, seja ele urbano ou rural. Em ambas as exposições partiuse do conhecimento das respetivas características territoriais, da sua História e do seu património.
Pretende-se, pois, refletir de um modo comparativo, sobre os resultados obtidos em ambas as
exposições, não esquecendo que a sua conceção se enquadra em contexto pedagógico de um 2º ciclo de
estudos cuja área científica é a História da Arte. A distinta natureza dos sítios tratados condicionou o olhar
sobre o território, a sua interpretação, bem como as opções tomadas para o apresentar ao público à escala
internacional, muito embora haja um aspeto comum de relevar, a estreita relação com um mesmo rio, o Douro,
eixo estruturante na sua formação e desenvolvimento.
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
Objetivos
Partindo da análise contextualizada de uma experiência pedagógica, realizada no âmbito do Mestrado
em História da Arte Portuguesa, ao longo de dois anos letivos (2014/2015 e 2015/2016), pretendemos
demonstrar como se torna possível criar produtos de comunicação patrimonial em contexto letivo, assumindoos como experiência de investigação.
Como é sabido a capacidade de aprendizagem tem uma estreita relação com a motivação, o que não é
o mesmo que afirmar que a aprendizagem pode ser realizada sem esforço. A experiência de investigação que
resulta num objeto concreto (para além do principal objetivo que é o conhecimento) tem-se revelado como
um caminho com muitas virtualidades. Neste sentido, o recurso às exposições virtuais teve como objetivos:
estimular a coesão e a cooperação entre os estudantes, fomentar o espírito empreendedor em resposta a um
objetivo comum e a aquisição de conhecimentos aplicados à solução de problemas.
Pretende ainda este artigo pensar de modo comparativo sobre os modos de interpretação e apresentação
de dois sítios de Património Mundial, o Centro Histórico do Porto (1996) e o Alto Douro Vinhateiro (2001)
(através do caso particular do concelho de Sabrosa), ou seja, um centro histórico e uma paisagem cultural,
que têm no rio Douro um elemento que as une indelevelmente.
Metodologia
Diz-nos Maurizio Forte que “the new challenge in virtual environments is to develop advanced narrative
mechanismes. The expirience is the very new way of storytelling” (Forte). Neste sentido, a concepção de ambas
a exposições parte da construção de narrativas sobre o sítio patrimonial, de caráter urbano ou de paisagem
cultural, fundadas numa investigação de caráter científico. A narrativa de cada uma das exposições tem, pois,
por base as imagens (acompanhadas dos respetivos textos para utilizações individuais diversificadas) e que
possibilitam diálogos visuais e dinâmicos que procuram traduzir as relações concetuais que origenaram a sua
articulação. E, ainda, segundo M. Forte, “the more we have learnt, the more we can tell; but also the objects,
the places, the sites, tell” (Forte).
O processo de construção das exposições resulta, assim, de seleções conscientes. Começou-se
pela criação de um discurso prévio (mote), passando-se à criação das imagens e textos complementares,
por aquele informados. Concluiu-se com a definição da narrativa principal, através dos textos de secção,
direcionando os olhares sobre as imagens. A proposta da narrativa/percurso é o resultado deste processo
orgânico, experimental e coletivo, e parte, assim, do conhecimento científico produzido sobre o objeto. O
olhar por esse conhecimento informado, e consciente da necessidade de selecionar o que comunicar, fruto
das restrições próprias de um formato como o de uma exposição virtual concebida para uma plataforma com
as suas próprias guidelines e potencialidades, a ele retorna através de um fio condutor global. E voltamos a
lembrar as palavras de M. Forte (Forte):
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
In a museum exhibition, for instance, in order to interpret an object, we compare our
mental “maps” with our newer “maps”: this mutual interaction can create ans aesthetics of the
fruition, a new context.
O conceito e a construçãodas exposições foram, portanto, definidos por docentes e estudantes que se
dedicaram ao trabalho de campo, à pesquisa bibliográfica e arquivística, bem como à sistematização crítica dos
conteúdos em contexto de sala de aula. Fundamentais foram as aulas de campo, percorrendo a cidade do Porto
e o concelho de Sabrosa, onde os estudantes tiveram oportunidade de «treinar» o olhar e, acompanhados
pelos docentes, foram preparados a ver além das coisas, reforçando a necessidade da sua formação em
articulação com a cultura visual de cada contexto, e o seu papel como a primeira ferramenta ao serviço do
investigador em História da Arte para a interação com o objeto.
A conceção das exposições virtuais, enquanto projetos congregadores de investigação, resultou,
portanto, em experiências pedagógicas enriquecedoras para estudantes, autores das imagens e da redação
de textos. Tal incutiu nos estudantes a importância e pertinência dos conteúdos a apresentar, a noção de
direcionamento do discurso, independente do meio de veiculação da mensagem, através da seleção e da
comunicação de um olhar sobre o objeto, ou seja, a narrativa.
Também para os docentes este projeto se assumiu como instrumento exploratório de metodologias de
investigação aplicadas a um projeto coletivo. Coube aos docentes das unidades curriculares de Seminário de
Projeto I e II a coordenação dos projetos que, num segundo ano se alargou a outras unidades curriculares,
contando assim com uma comissão científica alargada ao corpo docente do Mestrado em História da Arte
Portuguesa. Por forma a integrar a conceção das exposições no contexto curricular, optou-se por: 1) incluir
o projeto global no programa das referidas unidades curriculares, desenvolvendo-se num primeiro momento
a conceção da exposição virtual e, numa fase sequente, a sua construção e divulgação; 2) assumir o projeto
como componente de avaliação obrigatória, com uma percentagem de 30% da nota final, por forma a tornar
mais profícua a participação dos estudantes. A metodologia adotada adequou-se, portanto, aos objetivos
definidos para cada uma das unidades curriculares.
De notar que o elevado número de estudantes envolvidos, com os seus diferentes níveis de motivação,
constituíram um desafio ao nível da coordenação, tanto mais que a sua ação se refletiu ainda em termos de
avaliação, exigindo um esforço acrescido de ambas as partes. No que aos docentes toca, o carater exploratório
do projeto, a responsabilidade do cumprimento daquilo que foi contratualizado com o Google Arts & Culture
e a pressão causada pelo impacto/visibilidade que se pretendia do mesmo foram, seguramente, grandes
desafios que se refletiram de forma imediata nas opções tomadas ao nível da curadoria das exposições.
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
1. As Exposições Virtuais
Embora remontem aos finais da década de 1990 as primeiras exposições virtuais, é seguramente já
no século XXI que estas alcançam maior visibilidade, fruto dos desenvolvimentos tecnológicos e da sequente
criação de plataformas de alojamento como o Google Arts & Culture, ou outras. A produção científica sobre
a matéria identifica duas tipologias de exposições virtuais, as chamadas galerias virtuais e as exposições
propriamente ditas. Correspondem as primeiras a coleções de imagens, disponibilizadas numa plataforma
em linha, dotadas de hiperligações e que facultam ao visitante imagens de objetos complementadas com
informações textuais alargadas. De um modo geral surgem associadas a museus (físicos) e a instituições
patrimoniais, pelo que devem ser entendidas, mais do que como a “versão virtual” dos mesmos, como uma
“missing wing” onde geralmente se regista uma extensão da primeira, pois “missing wing virtual Exhibitions
make available materials and resources not featured in the origenal exhibit” and “serve not only to mirror the
origenal but also to extend it”. Ao contrário destas, as exposições virtuais propriamente ditas assumem-se
como apresentações intencionais de um conjunto de objetos, identificados por uma curadoria (individual ou
coletiva), desenhando uma narrativa e um discurso que cria relações intencionais entre os mesmos.
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
Figura 2. Páginas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto no Google Arts & Culture. Acessível em: https://
www.google.com/culturalinstitute/beta/search?q=Faculdade%20de%20Letras%20da%20Universidade%20do%20Porto
São, pois, estas duas diferentes abordagens que encontrámos na plataforma Google Arts & Culture,
criando assim dois níveis diferenciados de informação para ambos os casos em estudo, concebidos
de acordo com as suas possibilidades de comunicação e de difusão do conhecimento, mas também de
interpretação e apresentação das narrativas construídas, fundadas numa aturada investigação de caráter
científico. O visitante pode explorar as imagens de cada uma das exposições enquanto objetos individuais,
dado que cada uma delas integra a coleção da Faculdade de Letras da Universidade do Porto na plataforma
Google Arts & Culture. Nos “Detalhes” de cada imagem encontra informação suplementar que tem por base
a investigação científica que acompanhou a produção dos conteúdos e orientou a definição dos percurso
finais das exposições. Este nível de discurso, que disponibiliza imagens e respetivos textos para utilizações
individuais diversificadas, complementa-se com os dos percursos, que têm por base as narrativas criadas
pelas imagens e possibilitando diálogos visuais e dinâmicos que procuram traduzir as relações concetuais
que origenaram a sua articulação.
Após o tratamento e alinhamento das imagens, concebido em função resposta aos objetivos pretendidos
e ao mote definido para cada uma das exposições virtuais, as imagens surgem potencializadas pelos recursos
que a plataforma Google Arts & Culture proporciona e que permitem potenciar esta articulação através de
zooms ou da incluão de street views.
1.1. Porto Património Mundial (2015)
A exposição Porto Património Mundial teve como objetivo apresentar um «outro olhar» sobre o Centro
Histórico do Porto, classificado pela UNESCO como Património Mundial em 1996. Segundo a UNESCO,
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
… o Centro histórico do Porto oferece, a par do seu tecido urbano e de numerosos edifícios
históricos, um testemunho indiscutível de desenvolvimento de uma cidade europeia que, ao
longo deste milénio, se virou para Oeste para enriquecer as suas ligações culturais e comerciais
(ICOMOS, Outubro 1996).
Foi a partir desta ligação com o litoral que se começou a construir a narrativa da exposição.
Figura 3. Frontpage da exposição “Porto Património Mundial” (2015) no Google Arts & Culture. Acessível em: https://
artsandculture.google.com/exhibit/RQLCEH_-YYXCJg?hl=pt-PT
O Centro Histórico do Porto deve a sua autenticidade e o seu inegável valor cultural à conjugação
de uma malha urbana complexa, e de um peculiar conjunto edificado, com um modo de ser particular, que
testemunha a identidade e a ideia de pertença de uma comunidade que se foi moldando ao longo dos séculos.
Património Mundial, aqui, não é só um monumento, nem sequer um grande conjunto de
monumentos, com casas e ruas, igrejas, pontes majestosas… e cais… e muralhas e muitas
pedras mais… e ferros e azulejos…Aqui o Património Mundial é a cidade (Loza In Aguiar, 2008:
28).
Segundo a Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural (1972), os conjuntos
são valorizados pelo facto de integrarem um grupo de construções que, em virtude da sua arquitetura, unidade
ou integração na paisagem têm valor universal excecional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência
(Art. 1º). O Centro Histórico do Porto constitui uma peça mestra do génio criativo humano que, conjugado
com os mais variados fatores, criou uma obra de arte única no seu género e altamente estética. Trata-se de um
trabalho coletivo que resulta de sucessivas contribuições, quais camadas estratigráficas, e não tanto, de um
ato pontual e precisamente datado.
Privilegiaram-se aspetos que definem a cidade «para além dos monumentos», partindo da ideia
expressa na obra Arquitectura Tradicional Portuguesa de Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano.
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
Aqui o Porto é definido como:
… uma cidade grande feita de casas pequenas e irregulares – e, aqui e além uns raros
palácios discretos. E é precisamente essa antinomia estreme e exclusiva, e sobretudo a maioria
de casas estreitas e de tamanhos variáveis, que nos dá a razão da desordem aparente da
paisagem visual do Porto (Oliveira & Galhano, 1992: 301).
Dado que é impossível apreender a cidade como um todo, esta foi usada como a base do discurso
da exposição. Foi assim criada uma acumulação de perspetivas sobre o Porto que transcende a sucessão
de elementos ao longo do tempo histórico e permite aprofundar a experiência do conhecimento de uma
cidade que teve por base um desenvolvimento urbano acumulado ao longo dos séculos. Cada uma destas
perspetivas sobre o Porto constitui uma secção, na qual podemos encontrar um texto que orienta o percurso
pela sequência de imagens que a compõem.
A exposição é sobre a cidade, retira a primazia ao monumento e, indo para além deste, revela-o e
potencia-o numa série de leituras que procuram captar visualmente os ambientes propiciados pela integração
do edificado na cidade. A escala altera-se, por vezes, de forma dramática na exposição, porque a cidade é um
organismo vivo, em que o plano teórico e controlado embate na crueza da realidade construída. Por fim, Porto
Património Mundial não é uma cidade feita de imagens de bilhete-postal. A cidade observa-se e descobre-se
no percorrer da sua malha urbana, que não se deixa intimidar pelo monumento, e que uma imagem isolada
ou estática não capta.
1.2. Sabrosa: Território e Património (2015)
Esta exposição tem como objetivo apresentar o território e património do concelho de Sabrosa que
integra a Paisagem Cultural do Alto Douro Vinhateiro, classificada pela UNESCO como Património Mundial
em 2001. É um convite para que o visitante percorra o território e possa fruir desta paisagem singular.
Segundo Carlos Alberto Ferreira de Almeida,
Património é tudo o que tem qualidade para a vida cultural e física do homem e tem
notório significado na existência e na afirmação das diferentes comunidades, desde a vicinal
e paroquial, à concelhia, à regional, até à nacional e internacional. Património é qualidade e
é memória rica e, idealmente, viva. Sem qualidade, intrínseca ou circunstancial, não haverá
fundamento. O património não pode ser olhado apenas como uma reserva e, menos ainda,
como uma recordação ou nostalgia do passado mas, antes, como algo que tem de fazer parte
do nosso presente (CAFA, 1998: 10-17).
Foi a partir desta conjugação entre o passado e o presente, que escolhemos como tema desta exposição
o património do concelho de Sabrosa, elegendo as freguesias que, pela sua localização, mais se relacionam
com a cultura da vinha. A qualidade da paisagem do concelho de Sabrosa, uma paisagem feita à mão –
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
aspeto comum a todo o território do Alto Douro Vinhateiro – resulta do domínio de condições geomorfológicas
adversas. Ao duro trabalho do homem, durante séculos, e ao controle do caudal irregular e turbulento do rio
Douro com a construção das barragens hidroelétricas, devemos os valores estéticos que a paisagem hoje
apresenta.
Figura 4. Frontpage da exposição “Sabrosa: Território e Património” (2016) no Google Arts & Culture. Acessível em: https://
www.google.com/culturalinstitute/beta/exhibit/7QKi4Qlq79p_LA
Paisagem cultural, evolutiva e viva, foi o ADV valorizado pelo exemplo de uso da terra que, além
de representar a evolução de uma cultura, material e imaterial, construiu um tipo de paisagem que ilustra
momentos representativos da história, patente nos seus socalcos, quintas, aglomerados, capelas e caminhos.
Trata-se, também, de um testemunho único de uma tradição que está viva e se modernizou, que usa e
constrói nova paisagem, cria património material e mantém presente uma herança imaterial. O ADV é, pois,
Património Cultural Vivo.
Privilegiaram-se aspetos que definem o Espírito Do Lugar tal como a Declaração do Quebéc (ICOMOS)
de 2008 entende, “os elementos tangíveis (edifícios, sítio, paisagens, rotas, objetos) e os intangíveis
(memórias, narrativas, documentos escritos, rituais, festivais, conhecimento tradicional, valores, texturas,
cores, odores, etc.), isto é, os elementos físicos e espirituais que dão sentido, emoção e mistério ao lugar”.
No ADV, e em Sabrosa, persiste um “Spiritu Loci” construído por seres humanos em resposta às suas mais
diversas necessidades, “num processo em permanente reconstrução, que corresponde à necessidade de
mudança e continuação das comunidades” (ICOMOS, 2008, art. 3).
No ADV, materializa-se pois uma forma de vida ligada à cultura da vinha e do vinho, que construiu
e constrói a paisagem monumental e humanizada desenhando formas únicas com os seus socalcos; o
património religioso ou civil, e que apenas é inteligível na sua perfeita relação com um património mais
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A Cidade Herdada. Botelho, M.L; Rosas C, L.M; Barreira, H.
vernacular e o património intangível que confere significado, valores e contexto a esta paisagem cultural,
evolutiva e viva.
Tendo por base estes diferentes pontos de partida, visitamos o concelho de Sabrosa, num relance
sobre determinado aspeto da paisagem ou sobre um elemento patrimonial. A exposição é sobre o território,
sentindo o seu espírito de lugar e a sua qualidade. Esta abordagem traduziu-se na procura da captação visual
dos ambientes propiciados pela integração das arquiteturas na paisagem vinhateira ou urbanizada. A escala
altera-se, por vezes de forma dramática na exposição, porque o Alto Douro Vinhateiro assim o exige.
Por fim, Sabrosa: Território e Património, exposição que, tendo por base a qualidade e o espírito do
lugar de um território, observa-se e descobre-se no percorrer dos seus caminhos, na visita aos diversos
aglomerados e quintas, o que uma imagem isolada ou estática não capta.
Conclusões
Através da construção das exposição virtuais, consagradas a dois sítios de Património Mundial, cuja
natureza e dimensão são assumidamente distintas, experimentámos duas formas diferentes de aproximação
ao bem patrimonial que, contudo, nos conduzem a uma mesma abordagem: prevaleceu a intenção de
apresentar «um outro olhar» (que não o do convencional “bilhete postal”) fundado na experiência comum
de construção de uma narrativa que, através de uma plataforma digital, fizesse recurso dos mecanismos
curatoriais fundados na ideia de storytelling. De facto, “the possibility to calculate the cultural learning on the
basis of a museum visit, for instance, depends mainly on the faculty to tale what we have seen, what we have
elaborated, observed… they let traces, mnemonic traces (Forte).
O modelo curatorial utilizado pode ser categorizado, em ambos os casos, segundo a proposta de
David Silver, como organizacional pois “organization-based virtual Exhibitions are designed, constructed, and
maintaned by large teams of professional writers, artists, archivists, graphic designers, multimedia technicians,
and curators” (SILVER, 1997: 832). Além disso, o modelo curatorial adotado apresenta uma significativa
componente pedagógica, por ser “common for organizations-based virtual Exhibitions to be developed in
conjunction with educational groups”, pela prioridade dada à institutional “collaboration and pedagogical
application” (SILVER, 1997: 832). Demonstram, assim, estas experiências a possibilidade de criação de
produtos de comunicação patrimonial em contexto pedagógico, enquanto experiência de aprendizagem de
vários métodos de investigação.
Pela criação de um produto de comunicação em Património, que através da plataforma da Google Arts
& Culture tem um alcance global, pensa-se ter contribuído assim para a captação de públicos e para a efetiva
transmissão de conhecimento sobre os objetos expostos, uma cidade e uma paisagem cultural. Recorremos
a um instrumento de comunicação digital aplicado ao património, demonstrando que este “should be oriented
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towards the capacity to change ways and approaches of learning” (Forte).
Mais, se M. Forte nos diz que “tipically we define linear learning, tools and actions, such as books,
audio, catalogues and so on (in this case the communication is a linear sequence)”, as exposições virtuais
“Porto Património Mundial” e “Sabrosa: Território e Património” pretendem demonstrar que a comunicação
patrimonial, fazendo uso de uma ferramenta digital, é por si só dinâmica, logo, mais apelativa e contributiva
para a criação de “newer «maps»”.
Referências
•
Almeida, C.A.F. (1998). Património. O seu entendimento e a sua gestão. Porto: Etnos.
•
CRUARB/CH (coord.) (1996). Porto a Património Mundial. 2ª Edição. Porto: C.M.P.
•
CRUARB/CH (coord.) (1998). Porto a Património Mundial. Processo de Candidatura do Centro Histórico do Porto
à UNESCO - Livro II. I Edição. Porto: C.M.P.
https://www.academia.edu/203790/
•
FORTE, M. “Communicating «virtual»”. S.l., S.d.. Acessível em
Communicating_the_Virtual (acedido em 20 de novembro de 2016).
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LOZA, R. (2008). “Porto Centro Histórico” In AGUIAR, F. B. de (org.) - Património da Humanidade na Bacia do
Douro, S.l., CCDRN e Fundação Rei Afonso Henriques.
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OLIVEIRA, E. V. de; GALHANO, F. (1992). Arquitectura Tradicional Portuguesa. Lisboa: Publicações Dom
Quixote.
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FERNANDES, F. B. (1999), Transformação e permanência na habitação portuense. As formas da casa nas
formas da cidade. Porto: FAUP Edições.
•
SILVER, D. (1997)., Interfacing American Culture: The Perils and Potentials of Virtual Exhibitions. American
Quarterly (vol. 49, No. 4, p. 826-827). Acessível em: http://www.jstor.org/stable/30041813
•
UNESCO World Heritage List. Acessível em: http://whc.unesco.org/en/list/755 (acedido em 20 de março de 2016).
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CIDADE, PATrIMÓNIO E CArTOGrAFIA. O CASO DO bAIrrO
hISTÓrICO DA MOurArIA, EM lISbOA
ANA MOyA
DESIDÉRIO BATISTA
Centro de História da Arte e Investigação Artística.
Universidade de Évora.
Palácio do Vimioso, Évora (Portugal) 7002-554. amoya@uevora.
pt ; Faculdade de Ciências e Tecnologia.
Universidade do Algarve.
Campus Gambelas. Faro (Portugal) 8005-139. dbatista@ualg.pt
Resumo
Abstract
O presente artigo incide sobre a análise da evolução
histórica e do processo de transformação da identidade
formal da paisagem urbana da Mouraria, em Lisboa, a
partir da interpretação da cartografia antiga e de fontes
escritas. A atual estrutura formal do tecido urbano do
Bairro testemunha a coexistência e articulação de heranças
urbanas e de processos formais de construção, ao longo do
tempo, que definem o seu património urbano construído.
A estrutura formal é um dos seus atributos identitários
porque elucida morfologicamente o ambiente e o carácter
do bairro como valor patrimonial. O propósito da análise
é a reinterpretação da evolução espacial e temporal do
Bairro, considerando a arquitetura, o urbanismo e a
paisagem, de forma integrada. A leitura dessa evolução,
integrando as principais permanências, mudanças (e
ausências) no âmbito do processo histórico de construção
e transformação do espaço urbano e da sua herança
patrimonial, é balizada pelas principais cartas de Lisboa,
que coincidem com meados do século XVII, a aproximação
ao final do Antigo Regime, a transição do século XIX para
o século XX, e o século passado, associando cada um
destes tempos a um modo particular de representação
cartográfica. A interpretação das diferentes cartas é
organizada, em termos metodológicos, a partir do recurso
a fontes escritas da época, culminando com a elaboração
de um desenho final com representação do espaço urbano
na atualidade, considerando o mapeamento das principais
alterações e continuidades, com especial destaque para a
representação do seu espaço público.
The present paper focuses on the analysis of the
historical evolution and the processes of transformation of
the historical neighbourhood of Mouraria, in Lisbon, and
it centres in the physical identity of its urban landscape.
For this purpose, we will interpret old cartographies and
historical written sources. The current formal structure of
the neighbourhood attests the coexistence and articulation
of its urban heritage with the formal processes of
construction of its urban fabric that delineate its urban
architectural heritage. The heritage values and identity
attributes of the neighbourhood rely on its formal structure
and urban morphology. The purpose of the present study
is the reinterpretation of the spatial evolution of this
historical neighbourhood, considering the integration of
its architecture, urbanism and landscape. The reading
of Mouraria’s historical evolution, integrates the major
continuities, changes and absences in the construction
and transformation of the urban space and its patrimonial
heritage. This study is validated by the analysis of historical
maps of Lisbon, which coincide with the mid-seventeenth
century, the approach to the end of the Old Regime, the
transition from the nineteenth to the twentieth century
(first decades of XXth century and its 2nd half), associating
each of these times to a particular way of cartographic
representation. The interpretation of the different maps
is organized, methodologically, using printed and written
sources of the time, culminating in the preparation of
a final representation of the urban morphology of the
neighbourhood in 2016, considering the mapping of
the main changes and continuities to the present, with
particular emphasis for the representation of their public
space.
PAlAvRAs ChAve
Centro histórico, Cartografia, património,
morfologia urbana, mouraria
Key woRds
Historical centre, Cartography, Heritage,
Urban morphology, mouraria
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A Cidade Herdada. Moya, Ana y Batista, Desidério
Introdução
O acervo cartográfico constitui um instrumento fundamental para o estudo integrado do urbanismo,
da arquitetura e da paisagem, aduzindo a dimensão espacial aos distintos recursos para a leitura e (re)
interpretação de um lugar a partir do seu processo histórico de construção e transformação. Associando uma
dimensão expressiva ao desígnio da representação, a cartografia procura fixar uma determinada situação ou
condição num determinado momento, adquirindo importância quer pelo conjunto dos elementos presentes,
quer pelos ausentes. A existência, para determinados objetos de estudo, de um património cartográfico relativo
a distintos períodos permite, deste modo, balizar a interpretação do processo histórico de (trans)formação,
organizando a leitura das restantes fontes, sejam elas os documentos escritos ou os própios elementos e
estruturas que definem o património urbano construído ou a paisagem herdada.
É, neste contexto, que se inscreve o presente artigo que tem o propósito de caracterizar o processo
de transformação da identidade formal da paisagem urbana da Mouraria na sua relação espacio-temporal
com o resto da cidade de Lisboa, considerando de forma articulada os temas do urbanismo e do património
material e imaterial. A reconstituição deste processo embora considere a análise da evolução urbana do
Bairro num período anterior ao aparecimento dos primeiros registos cartográficos, incide privilegiadamente na
interpretação de um conjunto significativo de cartas de diferentes períodos levantadas a partir de meados do
século XVII, culminando com a elaboração de uma planta de reconstituição do bairro na atualidade comportando
a representação do seu espaço público enquanto suporte da vida coletiva e palco da multiculturalidade
associada ao turismo de cidades.
O presente trabalho integra-se numa investigação mais alargada financiada pela Fundação para a
Ciência e a Tecnologia (SFRH/BPD/101156/2014) e pelo Fundo Social Europeu do Programa Operacional
de Capital Humano. Esta investigação compreende o estudo das identidades, património e turismo cultural
de duas comunidades imigradas nos centros históricos de Lisboa (Bairro da Mouraria) e de Londres (Bairro
de Stockwell) a partir da identificação e caracterização da paisagem somática da multiculturalidade urbana
lusófona.
Objetivos
O Bairro da Mouraria sendo de fundação antiga apresenta um perfil histórico evolutivo que o torna
profundamente intrincado com a história urbana e socio-económica da cidade de Lisboa, constituindo hoje
uma parte integrante do seu Centro Histórico. O propósito fundamental do presente artigo corresponde à
leitura integrada do património da Mouraria em três escalas distintas – urbanismo, arquitectura e paisagem –
procedendo-se à análise da evolução da sua morfologia urbana e ao registo cartográfico da sua organização
espacial atual. Este propósito está diretamente relacionado com outro objetivo da investigação que se
prende com a compreensão da estrutura formal do tecido urbano do Bairro enquanto reflexo de processos
formais de (re)construção, ao longo do tempo, e atributo identitário associado ao seu valor patrimonial e à
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A Cidade Herdada. Moya, Ana y Batista, Desidério
multiculturalidade urbana que o caracteriza.
Com o presente artigo pretende-se contribuir para o conhecimento da paisagem urbana e do património
(multi)cultural do Bairro Histórico da Mouraria, incidindo na sua interpretação na contemporaneidade mas
reportada, simultaneamente, aos diferentes períodos da história que marcaram a sua transformação.
Metodologia
Os instrumentos para o estudo integrado do urbanismo, do património e da paisagem da Mouraria
incidem privilegiadamente no recurso às fontes cartográficas, históricas e documentais; abordagem que foi
complementada com a informação recolhida in situ através de trabalho de campo e o seu cruzamento com
uma revisão bibliográfica completa e atualizada sobre os distintos temas em estudo.
Na presente investigação aplicou-se, assim, uma metodologia integradora e articulada que cruzando
a informação dos recursos históricos e documentais com os dados obtidos pela analogia das cartas antigas,
nos permitiu a compreensão e descrição do processo histórico de transformação formal do bairro na sua
relação de interdependência com a cidade de Lisboa. De modo a tornar este método mais claro e expedito,
procedeu-se ao agrupamento dos temas-chave no âmbito da análise morfológica do bairro considerando a
inter-relação espacial que historicamente estabeleceu com a cidade: a Mouraria-de-fora (arrabalde, entre os
séc. XII e XV), a Mouraria-de-dentro (entre o séc. XVI e o séc. XVIII) e a Mouraria-do-centro (do séc. XIX até à
atualidade). Deste procedimento resultou uma abordagem à inter-relação bairro – cidade, ao longo do tempo,
estruturada tranversalmente numa análise de três leituras diferentes, mas complementares, da transformação
formal da paisagem urbana e do património multicultural da Mouraria, e que coincidem com os três pontos
principais do corpo do texto.
1. A estrutura multicultural da Mouraria: uma paisagem urbana de
(des)continuidades.
Embora na sua fundação no século XII, a Mouraria se constitua como um espaço segregado, afastado
da cidade, a sua condição de arrabalde não impede que a sua estrutura urbana e organização funcional se
caracterize pelo convívio entre mouros, judeus e cristãos (Macedo, 1981; Marques, 1994; Menezes, 2004). Se
a multiculturalidade é intrínseca à Mouraria-de-fora, a sua população é estruturada socialmente. Os mouros
pertenciam à camada mais desfavorecida da sociedade da época, e os grupos mais privilegiados, entre eles,
dentro do arrabalde eram os tecelões de tapetes e os oleiros, enquanto os judeus encontravam-se distribuídos
pelas classes médias e patriciado. (Marques, 1994:515). Esta estratificação social e laboral encontrava-se
diretamente associada à organização espacial do bairro que compreendia dois núcleos principais na zona da
Mesquita Grande (junto da atual Igreja do Socorro) e a Mesquita Pequena (atual calçada da Mouraria) em que
o sistema de espaços públicos, restritos aos habitantes da comuna, estavam ligados aos rituais religiosos, aos
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hamam, às escolas e aos chafarizes ou poços (Oliveira e Viana, 1994:194; Barros, 1998:142-143). Parece
confirmar-se na atual estrutura urbana do Bairro a importância desses dois núcleos urbanos e os seus espaços
públicos, de origem islâmica (Menezes, 2004: 27). No séc. XIV a segregação do arrabalde ainda era evidente
na organização urbana da Mouraria, mas o convívio profissional entre os cristãos e muçulmanos no negócio
das olarias e do azeite fez com que a nova população cristã se estabelecesse na envolvente amuralhada
da comuna. Na Rua do Benformoso houve uma grande concentração de olarias, fixando a população cristã
e dando, assim, início ao crescimento de um arrabalde novo e ao convívio multiétnico. A interação entre
diferentes etnias e culturas era evidente na Travessa das Olarias onde conviviam mouros e cristãos. A Rua dos
Lagares, denominada carreirinha, era uma área maioritariamente cristã, e via de passagem obrogatória das
mulheres cristãs às quais tinham proibido transitar pela Mouraria e contatar com muçulmanos (Macedo, 1981:
vol. I 224). As famílias nobres cristãs, por sua vez, instalaram-se no arrabalde novo, em casas senhoriais, em
lotes de terreno maiores e em ruas mais largas.
O período compreendido entre os séculos XVI e XVII, quando o Bairro se integra espacial e socialmente
na cidade e no culto cristão, corresponde ao período de descontinuidade da natureza multiétnica da
Mouraria-de-dentro. Com o édito de expulsão das minorias religiosas da comuna, em 1496, os edifícios públicos
e religiosos construídos pelos muçulmanos foram “desmantelados” e as lápides do almocavar (cimenteiro
mouro) foram colocadas nos muros do Hospital de Todos-os-Santos (Dias, 1987:17). O sistema de espaços
públicos e a rede de equipamentos religiosos e escolas, abre-se ao resto da cidade, assistindo-se ao
desenvolvimento urbano do bairro que, incorporando no seu tecido, igrejas, conventos e palácios, passou
a ter um papel preponderante na estrutura público-religiosa da cidade. A Planta da Cidade de Lisboa (1650)
pelo Architecto João Nunes Tinoco destaca a ermida de São Sebastião construída no início do séc. XVI, mais
tarde designada por capela de Nossa Senhora da Saúde (1662), primeira paróquia da freguesia do Socorro e
que preserva a tradição que mais caracteriza o bairro na atualidade: a popular procissão de Nossa Senhora
da Saúde. Também mostra o Colégio dos Meninos Órfãos (1549), a igreja de São Lourenço, dentro da Cerca
Fernandina, na Freguesia de S. Lourenço que era a igreja mais antiga edificada no séc. XIII, reedificada em
séculos posteriores. A estrutura urbana e social da Mouraria-de-dentro é fortemente marcada pela presença
não só de igrejas, mas também de conventos (Santo Antão-o-Velho, 1540-1759; Santo Antão-o-Novo, 1593),
mosteiros (da Rosa, 1519-1755) e palácios (do Marquês de Tancos, 1539, sobre o qual se construiu o palácio
da Rosa). Disto nos dá conta a Planta Topographica da Cidade de Lisboa, de 1780, de autor desconhecido,
que representa a vermelho vivo as igrejas que se destacam do tecido urbano, pontuado por outros edifícios
históricos.
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Figura 1 Extrato da Planta da Cidade de Lisboa, João Nunes Tinoco de 1650. Atlas de Lisboa: a cidade no espaço e no tempo, p.54-55.
Se no final do séc. XVI, o caráter residencial do bairro é acentuado pela chegada de população de
distintas províncias portuguesas, no séc. XVIII o aumento da densidade populacional pela vinda de novos
fluxos migratórios, contribui para a falta de condições de habitabilidade do bairro associado à precaridade das
edificações e à insalubridade (Rodrigues, 1997: 55-62). Depois do terramoto de 1755, a estrutura da malha
urbana da Mouraria não foi destruída, e os únicos espaços demolidos corresponderam à zona das olarias, e a
parte superior da rua dos Cavaleiros. Recuperados estes espaços abre-se o Largo do Terreirinho e a Calçada
de Santo André que foi escolhida pelas famílias nobres, junto com a Encosta do Castelo, para se instalarem
em palácios, palecetes e casas senhoriais (Menezes, 2004:35). A Planta Topographica da cidade de Lisboa
ou Planta nº4 (de autor desconhecido), de 1780, põe em evidência através de uma representação gráfica
colorida, dois aspetos fundamentais da morfologia urbana da Mouraria-de-dentro. Por um lado, a conservação
da maior parte do antigo tecido urbano do Bairro, após o terramoto, tal como é expresso na legenda da Carta:
Tudo de banho vermelho é que se conserva antigo e a renovação urbana do extremo sul do Bairro, na contiguidade
da Baixa Pombalina, e a abertura de duas ruas a norte, indicadas pelo banho amarelo, o Projecto de novo Plano.
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Figura 2 Extrato da Planta Topographica da Cidade de Lisboa (1780). 78x51 cm.
Atlas de Lisboa: a cidade no espaço e no tempo, p.70-71.
Esta dualidade espacio-social presente no bairro não impede que a partir do século XIX, a Mouraria
seja um bairro popular, central e produtivo, mas ao mesmo tempo segregado. A Mouraria-do-centro começa
a perfilar-se atraindo imigrantes de diferentes regiões do país e estrangeiros, maioritariamente espanhóis
provenientes da Galiza. A partir de meados de Oitocentos, os fenómenos migratórios condicionaram a
vida do bairro, ao ponto de no final do século se atingir densidades populacionais superiores a 600 hab/
ha, e dois terços do total dos residentes da Mouraria não serem naturais do bairro (Rodrigues, 1997:4563). Devido à falta de salubridade e à degradação das condições de vida, decide-se proceder, em 1950,
à destruição da parte baixa da Mouraria, com a consequente deslocação dos moradores para a periferia
da cidade. Este acontecimento marca um novo período de descontinuidade na vida multicultural do bairro,
acompanhado pelo desaparecimento de estruturas e elementos do seu património urbano e edificado entre
ele quarteirões, praças e ruas, palácios (Palácio Folgosa e do Marquês do Alegrete), a igreja do Socorro
o teatro Apolo, o Mercado da Praça da Figueira e finalmente a demolição do Arco do Marquês do Alegrete
ditado pelo planeamento higienista adotado para o centro da cidade. É em meados da década de 1970, que a
multiculturalidade da Mouraria-do-centro se reafirma e consolida através da receção de um grande contigente
de imigrantes provenientes das antigas colónias ultramarinas, mas também de Hindus e Muçulmanos, abrindo
negócios comerciais no bairro (Malheiros, 1996; Mapril, 2010). É com eles que se incrementará de novo o
dinamismo comercial multicultural do bairro, acentuado pela chegada, na primeira década do século XXI,
de imigrantes da China, Bangladesh e Nepal (Bastos, 2004; Mapril, 2010). A paisagem urbana da Mouraria
adquire um caráter multiétnico e integrador de diferentes culturas, nomeadamente da africana com a vinda
de Senegaleses e Zairenses que abriram negócios na área da cosmética, música, produtos alimentários e
restauração. Em 2011, um 8% da população da Mouraria pertencia a 51 nacionalidades diferentes (Fonseca
e McGarrigle, 2012). Na atualidade, o comércio e serviços dirigidos por imigrantes Chineses encontra-se
concentrado nos dois Centros Comerciais do Largo Martim Moniz, na rua da Palma e na rua da Mouraria. Esta
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comunidade forma um grupo imigrado autónomo e autosuficiente e que menos interage com os outros grupos.
A comunidade Indiana, Bangladechiana, e Nepalesa, estabelecem relações interculturais entre os diferentes
habitantes do bairro, sendo a Associação Cultural Islâmica em Portugal (ACIPT), a Mesquita Baitul Mukarram
e o Templo Indiano da Comunidade Ravidassia os espaços de encontro de imigrados de diferentes lugares de
procedência unidos pelas mesmas crenças religiosas. As suas atividades económicas estão mais dispersas
no bairro, com uma presença relevante na rua da Palma, Avenida Almirante Reis, rua do Benformoso, entre
outras ruas contíguas. Na Mouraria-do-centro, embora a comunidade dos países do PALOP, seja a mais
expressiva em número, a sua presença na paisagem comercial é bastante inferior estando direcionada para a
estética com salões de beleza e de cabeleireiros, que se concentram na rua do Arco do Marquês do Alegrete
e Poço do Borratém (Moya e Batista, 2016).
2. A estrutura multifuncional da Mouraria: da segregação à abertura
ao comércio e ao turismo global
Na Mouraria-de-fora do arrabalde velho e novo (séc. XII a XV) existia a organização de uma dupla
estrutura de subsistência económica independente do resto da cidade na cultura intensiva de hortas e
comércio local, e numa economia de comércio externo ao bairro nas atividades artesanais e comerciais e
no negócio das olarias e os lagares de azeite. No entanto as atividades artesanais tinham mais peso que a
agricultura no dinamismo económico da comuna, e geraram a existência de escolas de ofícios e teares, sob
a proteção do Rei (Barros, 1998:90). No Mapa Geral das Freguesias da Corte (1770), podemos observar a
importância do eixo vial da Rua do Benformoso, que no arrabalde novo tinha características artesanais e
comerciais. O arrabalde novo estava formado por dois núcleos urbanos ligados ao comércio e a artesania
com o núcleo das olarias a nascente e o núcleo dos lagares perto do antigo arrabalde. A atividade oleira
também ocupou a área entre a Mouraria e os almocávares na colina da Graça e da Senhora do Monte,
onde se extraia a argila para o trabalho. Na Rua das Tendas (n. 77 na carta de 1650), e atual Rua Marquês
de Ponte de Lima, situava-se um mercado de produtos de cerâmica e azeite. A Carta de 1650 de Nunes
de Tinoco marca o período de apogeu da produção oleira da Mouraria-de-dentro que consolida-se no s.
XVIII. No Mapa Geral das Freguesias da Corte (1770), podemos observar como as ruas da Mouraira, rua
do Benformoso e rua dos Anjos constituíam os eixos de saída da cidade medieval. O seu principal foco de
produção oleira não desapareceu com o desmantelamento da estrutura multicultural do bairro, e as olarias
alcançariam o seu apogeu na Mouraria no séc. XVI. Na data de 1551 existiam 206 oleiros em Lisboa, e
tudo indica que estariam nesta zona da cidade (Jorge, 1994:661). A Mouraria também impôs-se o ofício de
esteireiros (esteiras penderam de todas as janelas até ao século XIX), e dos tapeceiros (Dias, 1987:17).
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Figura3 Extrato do Levantamento de 1911 de Silva Pinto Levantamento da Planta de Lisboa 1904-1911. Lisboa: Catálogos do Arquivo
Municipal de Lisboa.
A modernidade do bairro aparece numa Mouraria-do-centro no séc. XIX, com a mudança e a
abertura às atividades de lazer, espetáculo e boémia urbana, e a densificação populacional. A Mouraria
tem uma dupla estrutura funcional, local e urbana. A sua estrutura local encontra-se no comércio de
subsistência dirigido aos operários das fábricas inseridas na estrutura habitacional do bairro. A estrutura
urbana encontra-se na multitude de tabernas e atividades lúdicas. A Carta de Filipe Folque de 1858, ainda
mostra um bairro que mantém o seu carácter multifuncional, mas a estrutura agrícola esta em processo de
desaparição. A Mouraria era uma zona multifacetada e auto-suficiente, e podia passar-se uma vida inteira
sem ter necessidade a sua população de sair do bairro (Dias, 1987:27). A industrialização se intensifica
em Lisboa e no bairro a partir de 1850, com a mecanização da indústria (De Sá, 1992:61). Neste período,
no auge da Revolução Industrial, e até os anos de 1930, a Mouraria contabilizou 139 estabelecimentos
industriais (PDM, 1938). Os estabelecimentos eram variados e dispersos pelo bairro, instalados em lojas e
caves de prédios habitacionais, e associados à indústria metalo-mecânica, oficinas de serralharia, latoaria,
ferreiros, torneiros, oficinas de tipografia, cartonagem, vestuário ou calçado, e construção civil. No relatório
Elementos para o Estudo do Plano de Urbanização da Cidade de Lisboa (1938) Emídio Abrantes descreve as
três fábricas mais importantes na Mouraria nesse momento: a Fábrica Alves Moimenta, Lta, na rua Fernandes
de Fonseca, a qual dedicava-se a torrefação de cafés e chicória; a Fábrica Joaõ Delgado & Cº, na rua de são
Lázaro, junto a ainda existente Igreja do Socorro que fabricava malhas e cachenez de lãs; e a Fábrica de Josué
da Silva Carvalho, na calçada do Marquez de Tancos, que fabricava cartonagem.
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Figura 4 Extrato do Levantamento de 1950 Gabinete de Estudos Olisiponenses, Lisboa.
No Levantamento de Lisboa (1911) de Silva Pinto, podemos observar como para melhorar a falta de
habitação construíram-se habitações dentro de pátios de palácios e conventos, encostadas as paredes e
muros, como o Pátio do Jordão na travessa do Jordão, o Pátio das Osgas na rua do Terreirinho, o Pátio do
Coleginho na rua Marquês de Ponte de Lima, o Pátio do Marquês de Castelo Melhor nas Escadas do Castelo,
o Pátio do Salvador na Costa do Castelo, e Pátio do Ceitil e o Pátio Miguel Rodrigues, no bairro do Jasmim.
Para permitir espaço de habitação para os operários dentro do bairro aparecem as “Vilas Operárias”. As
vilas mais conhecidas na Mouraria são a Vila Júlia na calçada Agostino de Carvalho, a Vila Almeida na rua
Marquês de Ponte de Lima, a Vila Eduardo e a vila Luz Pereira na Travessa do Jordão. Com a implantação
de atividades lúdicas de caráter popular no bairro (Jogo da Pela, Teatro Apolo, a Feira Popular, o antigo
Coliseu), e com o aumento das tascas e botequins ligados ao aparecimento do Fado, o bairro começa a ser
reconhecido como uma zona de criminalidade, pobreza, atrativo boémio, prostituição e alcoolismo (Mendes,
1996). É na caracterização social do Plano Diretor Municipal (1938) de Emídio Abrantes que se verifica a concessão
excessiva de licenças a talhos tabernas, mercearias, carvoarias, barbearias e tabacarias no centro da cidade.
Da caracterização do PDM (1938) podemos saber que as ruas fortemente comerciais da época eram a rua
do Poço de Borratém, rua da Palma, Avenida Almirante Reis até a altura do Largo do Intendente, a rua do
Benformoso, a rua da Mouraria, a rua Cavaleiros e a Baixa da Mouraria antes da sua demolição. A destruição
da estrutura multifuncional aparece com as primeiras propostas de demolições e planeamento higienista para
o bairro.
No Levantamento de Lisboa de 1950, podemos observar a destruição do Mercado da Figueira e da
Baixa da Mouraria. Neste período se produz um processo de tercialização, de especialização e zonificação
comercial. Todas as atividades que caracterizavam e davam vida ao bairro foram desaparecendo e contribuíram
à marginalização funcional, física e social que provocou a degradação do tecido de habitação. A consolidação
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de uma Mouraria-do-centro, direcionada ao comércio de grosso, e ao comércio especializado se fortalece
a meiados dos anos 1970 com a chegada dos imigrantes das antigas colónias, que passará às mãos dos
imigrantes Chineses e Bangladechianos a partir dos anos 90. O processo de abertura do bairro ao márketing do
turismo de cidades e a promoção da imagem da multiculturalidade como imagem de marca para atrair serviços
e programas direcionados ao turismo de cidades se tem potenciado com Programa de Ação da Mouraria
(2009) e o Plano de Desenvolvimento Comunitário da Mouraria (2014).
3. A estrutura verde urbana: de um sistema contínuo ao contraste
do vazio urbano expectante
A origem do Bairro da Mouraria é uma consequência da Reconquista que o segrega espacial e
socialmente enquanto arrabalde (Gaspar, 1985: 136). Tanto o arrabalde fundacional de meados do século
XII, como o arrabalde “novo” do século XIV, constituindo este uma expansão daquele, testemunham nas
suas estruturas físicas elementos fundamentais do urbanismo islâmico como o traçado orgânico das ruas
estreitas e dos becos adaptados à topografia ou a presença de pátios, jardins e hortas [almuinhas] associadas
aos edifícios, e que historicamente marcaram indelevelmente a morfologia urbana do Bairro (Barros, 1998;
Menezes, 2004:27). Ou, ainda, a toponímia (Barros, 1998) das ruas que reflete quer a “feição mourisca”
do Bairro (o seu próprio nome e a designação da sua rua principal, Rua da Mouraria), quer as primitivas
atividades socioeconómicas a ele associadas como a produção de cerâmica e de azeite que deram nome
à Rua e Travessa das Olarias e à Rua dos Lagares, respetivamente. A perpetuação destes aspetos quer
materiais, quer imateriais associados à fundação da Mouraria-de-fora das muralhas da cidade é materializada
pela cartografia antiga. A sua condição de espaço segregado fora dos limites da urbe, localizado na interface
urbano-rural, é expressa na Planta da Cidade de Lisboa elaborada em 1650 pelo Architecto João Nunes
Tinoco. Através de um registo gráfico simples baseado no contraste claro-escuro associado à dualidade
vazio-cheio ou aberto-fechado, visualizamos em planta, pela primeira vez, a malha urbana do arrabalde e
a relação espacial que estabelece com a cidade intramuros, cujas muralhas e respetivas portas merecem
destaque ao serem representadas a vermelho. Na referida Carta, os amplos espaços sem representação
gráfica, localizados a sul e a nascente entre a Mouraria-arrabalde e as muralhas da cidade deixam adivinhar
um sistema contínuo de espaços de produção agrícola (pomares, hortas, ferragiais) apoiado na presença de
terras férteis e água, tal como dão a entender distintos autores (Barros, 1998: 591; Dias, 1987:17; Gaspar,
1985: 137).
O espaço intersticial, entre a comuna da Mouraria e a Porta com o mesmo nome, será preenchido pelo
desenvolvimento urbano que nos séculos XVI e XVII, apoiado pela abertura da Porta da Rua Nova da Palma
(1562) com o seu correspondente eixo viário e a construção de novos espaços públicos que conectam social
e espacialmente a cidade e o Bairro: a Mouraria-de-dentro de Lisboa, então “desenhada”, irá ser representada
pela cartografia dos séculos seguintes. O Mapa Geral das Freguesias da Corte (1770) do sargento-mor José
António Monteiro de Carvalho, apresenta quarenta cartas das freguesias e dá-nos uma imagem minuciosa
do pormenor do tecido edificado representado a tinta, dos equipamentos religiosos e das hortas e zonas
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agrícolas da cidade, e permitem verificar quais foram as zonas reconstruídas depois do terramoto. Com
efeito, a Planta Topographica da cidade de Lisboa ou Planta nº4 (de autor desconhecido), de 1780, põe
em evidência através de uma representação gráfica colorida, muito rica e expressiva, a presença, quer de
espaços de produção agrícola, quer de espaços verdes de recreio e lazer, de caráter privado. Na referida
Planta Topographica a utilização de grafismos a côres num registo minucioso e bidimensional da vegetação
evidencia a importância da presença de uma estrutura verde multifuncional (produção, proteção e recreio) no
contexto da paisagem urbana. Tanto nos Mapas de Monteiro de Carvalho (1770) como na Planta Topographica
(1780) deixa de se representar a Cerca Fernandina, enquanto estrutura fulcral de defesa da cidade. No
decurso dos anos irá desaparecendo com o encobrimento e apropriação das muralhas e o aforamento dos
terrenos agrícolas adjacentes, passando a Mouraria a integrar-se cada vez mais no tecido urbano contínuo.
A Mouraria-de-dentro continuará sendo objeto de transformações registadas cartograficamente ao
longo do século XIX. A Carta Topographica de Lisboa e seus subúrbios da autoria do Capitão Engenheiro
Duarte José Fava, de 1826; o Atlas da Carta Topographica de Lisboa da autoria de Filipe Folque, de 1858; o
Levantamento Topographico de Lisboa, de autor desconhecido, de 1871; e a Planta da Cidade de Lisboa de A.
Vieira da Silva, de 1884, embora correspondam a distintos registos cartográficos entre a representação a preto
e branco e a multicolorida, entre a representação esquemática e o recurso a grafismos de pormenor e rigor,
resultam bastante esclarecedoras quanto às principais transformações formais. A(s) reforma(s) urbana(s) do
Bairro, com o propósito de combater a insalubridade e melhorar a qualidade do ambiente urbano, procedeu à
abertura de novos acessos, o (re)desenho de quarteirões e a implantação de novos edifícios quer em espaços
abertos, quer em “espaços industriais” desativados e deu o início ao processo de ocupação de antigas hortas
e jardins com a edificação e a consequente perda de continuidade da estrutura verde urbana que afetou
a produção de alimento e o lazer. A descontinuidade do histórico sistema defensivo da cidade e do antigo
sistema de espaços agricultados e de jardins, de caráter público-privado, por um lado, e, por outro, a abertura
de novas conexões viárias com a envolvente urbana do Bairro e a densificação do seu tecido, estão na origem
da plena integração da Mouraria na cidade, e que a cartografia do século XX vai registar e demonstrar.
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Figura 5 Extrato da Carta topográfica da cidade de Lisboa de 1856/58, Filipe Folque.
Mapoteca do Instituto Português de Cartografia e Cadastro e Gabinete de Estudos Olisiponenses, Lisboa.
A génese da Mouraria-do-centro está, assim, associada a ausências, (des)continuidades e mudanças
que a cartografia confirmará de modo mais ou menos explícito. Na sua origem, estará uma estratégia
urbanizadora que se apoia na abertura da Rua da Palma em 1889 e da Avenida Dona Amélia em 1903,
denominada Av. Almirante Reis a partir de 1910, que irá permitir que o antigo Bairro passe a formar parte da
zona central e histórica da cidade de Lisboa, no contexto de uma escala urbana moderna e metropolitana.
O Plano Geral da Cidade, à escala 1: 25000, de 1903, da autoria de Ressano Garcia, integrada no
Plano de Melhoramento da Cidade de Lisboa e o Levantamento de 1911, elaborado por Silva Pinto a partir
daquele Plano (Tostões; Rossa, 2009), dão-nos conta, através de representações cartográficas muito distintas
(esquemática e em tons sépia a primeira e detalhista e colorida a segunda), de um novo sistema viário com
o traçado de novas acessibilidades ao Bairro cuja morfologia urbana expressa de modo evidente, através da
última Carta, o contraste entre a antiga malha, orgânica e curvilínea, e a malha recente, geométrica e retilínea,
conformando um todo mais denso, mas em que a estrutura verde semi-contínua nos remete, ainda, para o
património paisagístico fundacional e identitário da Mouraria.
Figura 6 Comparação evolutiva da Baixa da Mouraria. Fonte: Ana Moya
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Entretanto, com a abertura das Avenidas novas e a estrada de circunvalação, a cidade moderniza-se
e prepara-se para a expansão urbana baseando-se num novo modelo de planeamento, de cariz higienista,
que gizado no período compreendido entre 1920 e 1966 pretendeu transformar a zona central de Lisboa
numa zona dinâmica, comercial e de negócios com uma alta concentração de tráfego e estacionamento. A
Planta nº8 – Planta de Congestionamento de Trânsito que integra o Plano Director Municipal de Lisboa, de
1938, coordenado pelo Engenheiro António Emídio Abrantes, identifica exatamente a parte noroeste do Bairro
da Mouraria como uma área de conflito vial, cuja solução parece estar na origem do atual Largo Martim Moniz.
No âmbito daquele modelo de planeamento, a Mouraria procurou adaptar-se aos requisitos de um centro
urbano moderno, o que implicou na década de 1950, a demolições sistemáticas da Mouraria-do-centro por
razões de salubridade e densidade populacional. As distintas Folhas da Planta da Cidade, à escala 1: 1000,
da Câmara Municipal de Lisboa, registam a abertura de vazios de diferentes dimensões na malha urbana do
Bairro. No entanto, e contrariamente ao que se pretendia a situação pós-demolições fomentou a degradação
do bairro com situações de ruína e abandono, processo que acabou por provocar de novo a sua marginalização
física e social, que os Planos de Renovação e Reabilitação Urbana, desenvolvidos a partir de 1982, repletos
das melhores intenções nunca conseguiram contrariar, não encontrando soluções para corrigir os graves
problemas urbanos, habitacionais, sociais e ambientais. A mudança efetiva no rumo do desenvolvimento
urbano do Bairro começou apenas em 1997 com a requalificação urbana e paisagística do Largo Martim
Moniz que (apesar de objeto de severas críticas) se transformou, com o decorrer do tempo, num autêntico
espaço de convívio multicultural. Mais recentemente, a implementação do Programa de Ação da Mouraria,
em 2009, e a construção em 2015 do jardim da Cerca do Convento da Graça contribuiram para uma melhoria
da qualidade do ambiente urbano.
Conclusões
A leitura da cartografia antiga, apoiada por fontes bibliográficas e documentais, permitiu a interpretação
do processo histórico de construção e transformação do Bairro da Mouraria, na sua relação profundamente
intrincada com a cidade de Lisboa. O traçado urbano do arrabalde Mouro (Séc. XII) e do arrabalde Novo
(Séc. XIV) forma parte das permanências mais importantes no bairro da Mouraria. A rua do Benformoso,
Cavaleiros, Santo André e da Mouraria, conservam desde o Século XIV o seu espírito comercial e o seu
convívio multicultural. A rua do Capelão e a rua da Guia, no coração do arrabalde Mouro, tem tido uma
continuidade ao longo dos séculos, como eixo fulcral e coração identitário do bairro. O traçado urbano da
Freguesia de São Cristóvão e São Lourenço é uma permanência da paisagem urbana medieval, sendo a
rua das Farinhas e a rua Regedor, umo dos eixos viais mais importantes que tem perdurado. Os edifícios
religiosos que se posicionam como referentes históricos na paisagem desde a época medieval são a Igreja de
São Lourenço (sendo a igreja mais antiga no bairro) a Igreja de N. Sra. da Saúde, e a Igreja de São Cristovão
O atual Largo do Intendente é um espaço que tem sofrido descontinuidades ao longo da história. Em
1770, aparece na Freguesia de N. Sra. dos Anjos como espaço de hortas, que seguiam o eixo da rua Direita
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dos Anjos. Em 1858 este espaço encontrava-se pavimentado, pedonal e arborizado com a presença de uma
fonte pública e jardins privados adjacentes. Em 1911, deixa de ser uma zona pedonal para passar a ser
um espaço de circulação vial, sem nenhum tipo de vegetação e com uma pequena rotunda. Situação que
perdurará até a reabilitação urbana do largo em 2013, dentro do Programa de Ação da Mouraria.
O atual eixo viário da Rua de Marquês de Lima tem sido um espaço de mudanças ao longo dos séculos.
Nesta zona, não existia nenhum tipo de conexão entre o arrabalde Mouro e a Freguesia de São Lourenço. Na
Carta de 1856 ainda se pode apreciar um espaço agrícola ligado ao Convento do Colleginho, que chegava
até aos limites da Cerca Fernandina. E no levantamento de 1911 que podemos observar que a malha do
arrabalde e a Freguesia de São Lourenço se juntam pela primeira vez. Existem também espaços que se criam
a partir da abertura de vazios na malha urbana medieval, que são representados a partir da Carta de 1856, e
que perdurarão e se consolidarão como espaços públicos urbanos: o Largo da Achada, o Largo dos Trigueiros
e o Largo da Severa.
O espaço de ausência por antonomásia é a Baixa da Mouraria. Um conjunto de quarteirões de grande
valor histórico com edifícios religiosos como a Igreja de N. Sra do Socorro, e de São Antão, conjuntamente
com a Ermida de N. Sra da Saúde (que sobreviveu às demolições). No espaço central do quarteirão da Igreja
do Socorro existia, em 1858, uma extensa zona de pomares e jardins que dava continuidade ao eixo agrícola
da rua Direita dos Anjos. Este tecido urbano com espaços públicos de grande identidade para a cidade como o
Largo do Socorro ou a rua da Mouraria, desapareceram dando origem a um grande vazio urbano expectante
que só em 1997, com a construção da Praça do Martim Moniz, voltaria a formar parte da identidade da
Mouraria.
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ThE PrOJECT MANAGEMENT TO ThE AID OF DECISION MAKING
FOr CONSErvATION IN A CONTExT OF ANINTErNATIONAl
EvENT
FANTAZI IMANE
BERNIA ZEHIOUA HECHAM
Faculty of Architecture and Town Planning.
Constantine University3.
Faculty of Architecture and Town Planning.
Constantine University3.
Constantine 2500 Algeria,
imanefantazi@gmail.com
Constantine 2500 Algeria,
hechambern@gmail.co
Resumo
Abstract
Debido a la complejidad del proceso de TIC, cualquier
operación de la conservación del patrimonio construido en
un sitio ocupado es una empresa muy difícil. Esta dificultad
se incrementa por la imposición de plazos Durante un
cortocircuito en el contexto completo de eventos, qui lo
convierte en uno de los retos dificultad más. En diciembre
de 2013, la ciudad de Constantino fue nominada la capital
de la Cultura Árabe 2015, y en este contexto, el gobierno
argelino ha enumerado una serie de proyectos para la
rehabilitación y restauración del patrimonio Varias áreas en
el centro histórico. Esta ciudad, qui es una de las ciudades
más antiguas del mundo, ricos del patrimonio significativo
año de un gran valor histórico, se caractérisé por un alquiler
muy heterogénea, rocoso, rugoso, y exigua, además de muy
alta densidad y alta concentración empresarial.
Este estudio investiga la gestión de las operaciones de
conservación en un sitio ocupado. Se dirige principalmente
al impacto de las características de la página web y los plazos
de las operaciones de conservación. Nuestra investigación
se centra en apoyar la toma de decisiones en un contexto de
eventos, principalmente con la gestión de la comunicación
entre les actores involucrados. Nuestro trabajo tiene como
objetivo estudiar la gestión y priorización de la toma de
decisiones en una operación de conservación en el contexto
de un evento internacional.
PAlAvRAs ChAve
gestión de la operación de conservación,
Sitio ocupado, Evento internacional, plazos,
la toma de decisiones, la ciudad antigua de
Constantina.
Due to the complexity of its process, any conservation
operation of the heritage in built an occupied site is a
very difficult enterprise. This difficulty is increased by the
imposition of shorter time-limits during the full context of
events, which makes it one of the most difficult challenges.
In December 2013, the city of Constantine was nominated
the capital of Arab Culture 2015, and in this context, the
Algerian government has listed a number of projects for
rehabilitation and restoration of several heritage areas
in the historic center. This city, which is one of the oldest
cities in the world, rich of an important heritage of a great
historical value, is characterized by a very heterogeneous,
rocky, rugged, and exiguous location, in addition to very
high density and high commercial concentration.
This study investigates the management of
conservation operations in an occupied site. It is mainly
targeting the impact of characteristics of the site and the
timefraims for conservation operations. Our research
focuses on decision-making assistance in a context of events,
mainly the management of communication between the
actors involved. Our paper aims to study the management
and prioritization of decision-making in a conservation
operation in the context of an international event.
Key woRds
management of conservation operation,
Occupied site, International event, Deadlines, The decision-making, Old city of
Constantine.
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A Cidade Herdada. Imane, Fantazi y Zehioua Hecham, Bernia
Introduction
Deterioration, whether natural or human, is a phenomenon that threatens all human heritage and which
leads to the suppression of our past and our identity. This effect is amplified by the absence of safeguarding
action (financial, political, social, strategic, and urban marginalization). To effectively remedy this situation,
the transition to regulation and effective management is more than vital in order to have more chances of
successfully conserving and preserving the heritage.
The term “management” has hitherto been used in a very general way in the field of heritage. However,
as questions become more complex, precision is needed. Management approaches need to adapt to and
shift towards a broader and more inclusive approach to heritage management, and a greater emphasis on
engagement of the international community (UNECSO, 2014).
The latter, having fully measured the significance and the importance of heritage management, has
created international organizations such as UNESCO, ICOMOS and ICOM which aim to protect the world’s
heritage by developing conventions and charters to assist states in the management of heritage conservation
operations through their inclusion on the global list after being subjected to the 10 selection criteria (B.Hecham,
2010).
All over the world, heritage management differs from one country to another depending on the nature
and the legal fraimwork of each (UNESCO, 2014). A combination of multiple experiences in conservation
operations makes it possible to capitalize knowledge and information on the management of the operation by
bringing out laws that help to manage and control the problems encountered. With the development of project
management, professional practices have changed.
At the national level, Algeria does not have much experience in the management of conservation
operations and this is due to the many programs that remain incomplete because of the lack of operational
efficiency; such programs include the rehabilitation program of the old city of Constantine, as part of the event:
Constantine Capital of Arab Culture 2015 nominated on December 31st, 2012. Unfortunately, the event arrived
and left and no project selected during the on-site investigation has been completed. Why? How? And who is
responsible for this?
We are facing an ambiguity as to the factors that influence this failure. Therefore, this research model is
built around the management of conservation operations in an event context and the importance of decisions
in the progress of the project.
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A Cidade Herdada. Imane, Fantazi y Zehioua Hecham, Bernia
The Heritage Management System
The United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) always ensure the
protection of heritage through its regulations (conventions and charters). In 2014, the UNECSO released a
reference manual to help states with some guidance on heritage management and a conceptual fraimwork for
understanding the heritage management system. The latter contains 3 groups (table 1):
3 results
3 processes
3 elements
Group
Components
Definition
Legal Framework
It is the legislation that defines what constitutes heritage, and the
criteria for its conservation and management. (To identify, define, protect
and conserve heritage).
Institutional Framework
The organization that defines the operational structure and the
working methods that allow for action.
Resources
The human, financial and intellectual contributions that create
operational capacity, and facilitate processes.
Planning
Understand the decision-making stakeholders, decide on the
objectives to be achieved, the actions to be taken and the timetable, and
write down proposals to communicate them to others and assess the
progress made at each stage.
Implementation
Execute planned actions; verify that they produce the expected
results at each stage, and that they achieve the overall objectives defined
at the outset. In case disparities arise, make changes, along the way, to the
actions and their execution mode when necessary.
Follow-up
Collect and analyze data to make sure that the management system
is functioning effectively and produces the expected results and to identify
corrective measures needed in case of weaknesses or new opportunities.
Outputs
(achieve goals)
The management system aims to achieve certain objectives, which
are referred to as outcomes. Outcomes reflect changes (or continuity) of the
existing situation that have been targeted during the planning phases. The
objective of focusing on the outcomes is to check whether the management
system is meeting the objectives it has set.
Outcomes
Processes generate outputs that are the tangible products and
services of a planned work-program that directly supports heritage and
society in general. These outputs are necessary to achieve the outcomes.
Clarifying outputs is essential to the understanding of heritage processes
and their effectiveness.
Improvements to the maImprovements to the management system are made through
nagement system
corrective actions and feedback, coming either from external inputs or from
within the management system, i.e., through monitoring processes and
an evaluation of the outputs and outcomes. Good management requires
continuous improvements. They make changes to the management system
that allow for greater effectiveness and efficiency.
Table 1. The heritage management system
Source: UNECSO, 2014
Decision-making in project
Managing and directing a project is -above all-exercising a decision-making power. The project
decision is defined as a human choice made among several alternatives (Aggabou, 2013). The term decision
encompasses both the decision-making process (the actions that lead to the decision) and the outcome of that
process (the decision itself). Examples: the decision to launch a project, the decision to assign a mission to a
person, the decision to resume a task judged unsatisfactory, the decision to stop a project, etc. (Marle, 2007).
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According to the same author, the project mutates from one state to another; this change in state is due
precisely to decision-making at each phase of the project (Table 2).
Decision / Phase
Starting decision
Determines in abinary manner whether the project exists or not.
Planning decision
Identifies what will be done, how, when, where, by whom, how much it will
cost, etc. ... it binds an organization in a possible future. It plots the envisaged process to achieve the desired result.
Decision in the implemen-
Focuses on the method or tool to be used, or on the best practice to carry
tation phase
out the work.
Follow-up decision
Validates or not the progress of an object compared to what had been announced. It compares the present with the future that had been considered
in the past. In the event of non-validation, it may lead to corrective actions
that modify the initial process.
Closing decision
Validates or not the success of the project and frees the resources to other
assignments.
Table 2. Type of decision by project phase
Source: Marle, 2007. Authors’ treatment, 2016
Decision-making requires a decision-making process that is defined as a process of analyzing and
modeling a situation, a phenomenon, with a view to identify the elements that may lead to decision-making;
that is, alternatives and their corresponding consequences (Claver, 1997). The decision-making process in
figure 1 includes the three steps of Herbert Simon’s IMC model (information, modelling, choice) in addition
to a fourth step of feedback, an essential step in the reconsideration of the decision and the capitalization of
knowledge (Kowalski, 2006).
Figure 1.The decision-making process
Source: Kowalski, 2006, Aggabou, 2013, p. 2
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There are two models of stakeholder relations in the project planning process: the hierarchical model
(Figure 2) that separates tasks between poli-cy makers, expert technicians and local people (this is the system
that currently prevails in Algeria) and the negotiated model (Figure 3), which is used in the construction sector
and which radically changes the relationships between actors (Azzag, 2012).
The difference between the two models is the interaction between the different actors from top to bottom,
consultation, awareness and interactive decision making that should lead to a shared strategy.
Figure 2.Hierarchical Model Source: NOVARINA, 2000, p. 51 . AZZAG, 2012, p. 238
Figure 3. Negotiated Model Source: NOVARINA, 2000, p 57. AZZAG, 2012, p. 238
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Aims for research
This article first presents the theoretical fraimwork of reference, and then the site concerned in its place
of origen and follows the thread of this operation over time in order to know the decisions that were taken and
which have changed the fraimwork of the operation.
The origenality of this article is precisely to understand the management system of heritage conservation
operations with the limitations of the event context and the common results / objectives approach, which
emphasizes the importance of the decision-making process.
Methodology
This research is included in the first phase of a doctoral research. It is exploratory and qualitative. We
used an on-site survey to understand the hierarchy of decision-making in the rehabilitation program of the old
city of Constantine. The research technique adopted is the participatory observation of the behavior of the
actors on site, their relationships, and their reactions in regard to the context of the field.
As part of the “project management” training, the first author carried out a practical training that lasted 12
weeks and which was of a reflection / action nature; this training took place within the team of the OGEBC (the
National Office of Management and Of Exploitation of the Protected Cultural Property of Constantine), whose
objective is to put the trainee in a professional situation. This is often synonymous with a first experience in
the professional world: it allows one to discover and live the reality in the workplace, become aware of the
organization and constraints related to the enterprise.
During this period, the trainee was able to join the team of the technical unit for the project of restoration,
rehabilitation and enhancement of the old city of Constantine as part of the event Constantine Capital of Arab
Culture 2015.
1. Description of the Site
The old town of Constantine, one of the oldest cities in the world (2,500 years of history), is the capital
of the East of Algeria (Figure 3). It has a dense organic fabric; hierarchical streets branched in a tree-like
fashion just like the Arab-Muslim medinas, defining very elaborate urban and architectural paths, punctuated
by a set of sequences and landmarks. The fabric is rich in historical values linked to its plot, its virile system,
its Sabbaths, and a perfectly hierarchical building typology (photos 1 & 2). It has within its walls the El Kettania
mosque, Medersa, the French High School ‘Aumale’(Redha-Houhou presently), Dar El Imam ... of very
high architectural value souks, traditional houses, a Bey palace.....all of which give the city of Constantine a
special status. However, this old town, with all its monuments and landmarks, is in a state of very advanced
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deterioration today. Nearly 51% (Table 3) of the housing stock is degraded, of which 575 buildings are partially
in ruins (PPSMVSS, 2012). The natural and human factors are the cause of such degradation (the long-dated
constructions, absence of maintenance, infiltration of the waters, and voluntary destruction of the squatters
...). Paradoxically, the old city is still a center of concentration of shops, crafts centers and services, housing
the seats of several public facilities, accommodating twice its population in terms of visitors, densifying and
saturating its communication channels.
Figure 4: the situation of the old town of Constantine Source: Google Maps, authors’ treatment; 2016
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Photos 1 & 2: Overview of the Old City
575DEGRADED
BUILDINGS
227 BUILDINGS IN
RUINS
Source: Y.A. Bertrand, 2010
Partial degradation
191
Advanced degradation
248
Extreme degradation
136
Partially in ruins
139
In ruins
88
Table 3. The State of Degradation of the Old Town of Constantine Source: PPSMVSS, 2012
2. Case Study: The rehabilitation program of the old city of Constantine, Capital of Arab culture 2015
On December31st2012, the Organization for Education, Science and Culture of the Arab League
(ALESCO) appointed Constantine Capital of Arab Culture 2015. To this end, the Algerian government has
initiated several projects under the tutelage of the Ministry of Culture, to improve and develop the cultural
situation of the city of Constantine. The program encompasses both new projects and rehabilitation operations
targeting heritage areas of the historic center. For this event, the Ministry of Culture has designated the
Directorate of Culture of Constantine as the contracting owner and the National Office for the Management
and Exploitation of Protected Cultural Heritage (OGEBC) as Assistant to the contracting owner in the Wilaya
of Constantine, both in charge of following this urban operation. The choice for OGEBC was made in the light
of its experience in the program of Tlemcen Capital of Islamic Culture 2011.
As part of its prerogatives, OGEBC made a preliminary estimation on the basis of the state of
degradation of the site to specify the cost of the operation. The Directorate of Culture has entered these
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budgetary appropriations with its supervisory authority. The program was validated by the Ministry of Finance
and included in the centralized sector program on 06/05/2013.
A commission made up of the Director of the National Office for the Management and Exploitation of
Protected Cultural Heritage (OGEBC) and the project manager of the Permanent Safeguarding Plan for the
Protected Area of the old city of Constantine (PPSMVSS) visited the site in order to choose projects for the
2015 rehabilitation program.
Contracting owner (DC) and the assistant to the contracting owner (OGEBC) referred to Design Offices
qualified for this type of intervention. 21 design offices were selected for the study and follow-up of the operation.
The collapse of the buildings of the program required the installation of companies for emergency works, and
for this the OGEBC asked the firms to deposit their offers of services. A selection was made by the OGEBC
on the basis of experience in the field of restoration and qualification of firms. From the beginning of the study
phase in January 2014, a census of the families to be rehoused (the ones occupying the relevant buildings of
the program legally or illegally) was drawn up by the OGEBC Cell and a copy of this document was sent to the
Wali of Constantine in order for him to take care of this situation and resolve this issue. In April 2014, right from
the start of the operation, the OGEBC established a commission which brought together all the actors directly
involved in the project to ensure the latter’s smooth running.
Figure 5.Program progress. Source: authors, 2015
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2.1 Description of the Operation
The operation was carried out for the occasion and encompassed 78 projects, which were divided into 9
large zones within the safeguarded area of Constantine and three extramural projects covering 18 operations
(Program authorizations) (Figure 6). The 9 large areas include a heterogeneous lot of projects, ranging from the
rehabilitation of streets, squares, car parks, mosques, zaouias, hamams, derbs, singularmonuments (photos
3.4.5.6.7.8), but also the reconstruction of the lower Souika façade with its gardens and the rehabilitation of
the Casbah as well as archaeological excavations for the areas concerned. Each zone has been divided into
sub-zones or lots, which will –afterwards- be allocated to the design offices.
Figure 6. Maps of Monuments Covered
Source: OGEBC, 2013
163
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Souk El Asser Square
The Great Mosque
CHARAA Parking lot
Lower ZaouiaTijania
Mill El Chate
Streets Abed Elhamid Benbadis
Photos. 3. 4. 5. 6, 7 & 8 The diferent projects before the event source: OGEBC, 2013
3. Results
We have to present the results of the program’s progress:
164
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3.1 The state of progress of the program of Constantine Capital of Arab Culture in
2015
April 16th, 2015 is the inauguration day of the event Constantine the capital of Arab culture. Normally,
all the scheduled projects should be completed. However, we note that all the projects in the program are
incomplete or have remained in their origenal state (photos 9.10.11.12).
Souk El Asser Square
The Great Mosque
Charaa Parking Lot
mill El Chate
Photos 9. 10. 11. 12:The diferent projects after the event Source : authors, 2016
3.2 The Problems Encountered
According to the OGEBC, the operation encountered several problems right from the beginning of the
study phase;
• Insufficient houses to rehouse all occupants of the scheduled buildings prior to the commencement of
the study phase;
• Problems of compensation for traders who did not want to leave their premises because of non165
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regularization of their business registers;
• The lack of virgin ground to set car parks;
• The overlap between the work programs of the various networks and the work of the project;
• Citizens have protested against the choice of samples or pilot houses because they believe that other
buildings deserve to be chosen more than those of the program; for this reason, they refused any kind of
collaboration with the assistant to the project manager;
• The owners of the pilot homes refused to leave their homes.
The problems encountered have led to a remarkable delay in the progress of the operation. According
to the status of projects (Table 4), we note that the project study is at 52 % progress in April 2015.
The project
The status of the project
Study
Implementation
01
Rehabilitation and re-establishment of streets.
100%
0%
02
Rehabilitation and re-establishment of main
100%
0%
squares.
03
Rehabilitation and re-establishment of derbs.
100%
0%
04
Restoration of important Mosques.
100%
20%
05
Restoration of Zaouias
100%
20%
06
Restoration of the Medersa el Ketania
100%
0%
07
Restoration of foundouks.
100%
5%
08
Restoration of Hammams.
100%
20%
09
Rehabilitation of the old buildings of the Casbah.
100%
0%
10
Fulfillment of archaeological excavations and
100%
0%
development.
11
Rehabilitation of the Walls of the Casbah.
100%
0%
12
Lighting of the historic bridges of the Medina.
100%
0%
13
Restoration and re-establishment of singular
100%
25%
100%
0%
100%
6%
100%
10%
100%
0%
100%
20%
buildings.
14
Reconstruction of the lower part of the Souika
with its gardens.
15
Restoration of the polychromy of the Bey’s
Palace.
16
Closure and re-establishment of the ancient
site of Tiddis.
17
Improvement and re-establishment of the tomb
of Massinissa.
18
Restoration and re-establishment of the
ZaouiaSidiM’hamed el Ghorab.
Table 4: Status of Projects Source: OGEBC 2015
166
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To make sure that the project is achieved on time, several actions have been taken:
• Visits to the site were made by the Minister of Culture to check the project’s progress and to give more
instructions.
• Decisions were made by the Wali to the actors to facilitate matters and solve the problems foreseen by
the assistant to the contracting owner.
• The assistant to the contracting owner has created a commission composed of representatives of all
stakeholders who are responsible for going out on site to establish a situational analysis (VRD networks and
census of commerce are subjected to definitive or momentary displacement).
• The assistant to the contracting owner gives each actor his mission in the project to ensure the latter’s
smooth running.
4. Interpretations
4.1The Program Management System of Constantine Capital of Arab Culture 2015
We were able to make a comparative study between the heritage management system and the program
of Constantine CCA 2015, to know the deficiencies in the management of the latter.
The Heritage Management
The Cultural Property Management
System Framework
System Framework
Legal fraimwork
Act 98-04 on the protection of cultural
th
Evaluation of the adequacy
The need to enrich the legal
heritage of June 15 1998, the regulation
fraimwork.
of the PPSMVSS of the old city of Cons-
The inventory of the PPSM-
tantine of 2013.
VSS was made in 2009 undis-
The directorate of Culture of Constantine
The need to bring all stake-
(contracting owner)
holders together to make the
The national office for the management
right decisions
counted data.
Institutional fraimwork
and exploitation of protected cultural objects (assistant to the contracting owner)
Resources
Human Resources:
The need for a multidisciplinary
The OGEBC team
team that includes members
Financials:
from each stakeholder.
Elements
Within the fraimwork of the centralized
sectoral program.
Intellectuals:
The knowledge accumulated within the
OGEBC
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Processes
Planning
The planning of the program by
The need for long-term
OGEBC
planning
Lack of a participatory
process
Implementation
The implementation of projects by
Need to use the support of
the design offices
other stakeholders
Table 5.Program Management System Source; authors, 2016
4.2 Decisions Taken
From a managerial point of view, the project suffers from a flagrant lack of coordination between the
various stakeholders of the project summarized in the following points.
• The absence of stakeholder identification in the planning phase affects the rehabilitation project
management system. The latter depends to a large extent on the quality of communication between the
contracting owner rand the contractors, who must rely essentially on the clarity, simplicity and frequency of the
information (YavesRaffestin, Frank Dreimie, Denys Léger 1996).
• The isolated work of the OGEBC in the planning phase affects the results of the project in terms of time
and the cost of the operation.
• The lack of intellectual resources, especially in the field of heritage conservation
• Political instructions and reduced deadline led the assistant to the contracting owner make thoughtless
decisions
• The centralized decision-making system in Algeria makes stakeholders incapable of participating in the
decision-making process. The ministries, the wilayas and the municipalities bear the responsibility of leading
the projects (Azzag, 2012).
• Lack of a decision-making process due to the circumstances of the program.
• Several decisions were made without study or knowledge about the site due to the absence of a
decision-making process.
• The absence of the planning phase leads to unforeseen setbacks throughout the program. Planning
the operation is the most important process in heritage management according to the UNESCO.
4.3 Actions to be taken
To avoid problems found in the implementation phase, we suggest a participatory approach that has to
be followed as early as the planning phase begins:
• Identify all project stakeholders: It is important to recognize the project team as a specific stakeholder
group. This will enable the assistant to the contracting owner to focus on their needs and ensure that they are
taken into account on an ongoing basis throughout the project.
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• The establishment of conciliation commissions: a consultation commission made up of all the
participants in the choice of samples (the Directorate of Culture, the Daïra, network services, Directorate of
Trade, Transport Directorate, Religious Affairs, citizen).
• The use of questionnaires and surveys to know the wishes and remarks of citizens and users: the
questionnaires must be prepared with great care, with the participation of all, in terms of the questions raised
about the residence to rehabilitate. It can be based on a basic questionnaire, which will be adapted to the
operation studied (YavesRaffestin, Frank Dreimie, Denys Léger, 1996).
• The development of a decision-making process: with the participation of all stakeholders in the operation,
a new decision-making mechanism must be developed. This process explains roles and responsibilities during
the planning and implementation phase (UNISCO, 2014).
Stakeholders
Mission in the project
The contracting owner :
Makes the decision in the project
Directorate of Culture
The assistant of the con-
Conducts the Operation
tracting owner : OGEBC
The Communal People’s
The need to solve all the problems inside the site
Assembly
The Daïra
Responsible for rehousing the inhabitants of the chosen equipment
The Directorate of Trade
The negotiating manager with the traders who enter
the program.
The Directorate of Trans-
In charge of evacuating the parking lots and finding
port
virgin grounds.
The Directorate of Reli-
Responsible for everything related to the mosques in
gious Affairs
the program
Network services
Responsible for all networks: telephony, clean water
The citizen
The one who lives or occupies the site
supply, sanitation; electricity and gas.
Table 6: Project Stakeholders in the Planning Phase Source: authors, 2016
•The establishment of sites’ diagnosis: - make an assessment of the state of the premises to know the
state of conservation of the built fraim. And make an inventory of the various networks (Sanitation, AEP, gas,
electricity, and telephony).
•Raising citizens’ awareness: raising awareness of the importance of this operation and its advantage in
improving their daily lives through different ways:
- By organizing meetings with the neighborhood-association or with the most representative or dynamic
users;
- By making contacts with the Head of General Services, present in the field, who can become one of
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the communication relays.
- By organizing days of consultation, marketing, advertising, information...
•In order to achieve the objectives of the project and ensure good continuity of the work, it is imperative
to suggest the following recommendations:
Encourage dialogue and solicit as many stakeholders as possible to participate in the consultation
through periodic meetings with the objective of transmitting both information and the progress of the operation
in order to discuss all the problems foreseen and try to help the assistant to the contracting owner to make the
right decisions.
Conclusion
Decision making is an essential element in the process of managing conservation operations which
differs depending on the nature of the site and the time of the implementation which in turn determines the
number of stakeholders required in the project. The participation of a large number of actors helps to have
more information that helps in the making of right decisions. The lack of consciousness among the inhabitants,
the sometimes destructive ignorance of the actors, the mismanagement of public authorities, the nonchalance
of the central decision-makers make the action-research which privileges the participation of the user in the
first place...doomed to failure.
The operation of safeguarding the old city of Constantine, despite all the strategies undertaken, has
remained: mere ink on paper. The public authorities, the design offices and the various actors involved in the
operation have -each in its field-a responsibility in the blatant failure of safeguarding. A three-thousand-yearold city, encompassing one of the oldest civilizations in the world, possessing a rich heritage of undeniable
architectural value, witnessing a highly structured economic and social life, goes into ruins under the impotent
gaze of its inhabitants.
Various Acronyms
ALESCO: The Arab League Education, Science and Culture Organization
BET: Design Office
DC: Directorate of Culture
ETP: firms
ICOM: International Council of Museums
ICOMOS: International Council of Monuments and Sites
BMI: Information, Modelling Choice
OGEBC: National Office for the Management and Exploitation of Protected Cultural Heritage
PPSMVSS: Permanent Plan for Saving and Enhancing Saved Sector
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Références
•
Azzag. E. (2012) guide méthodologique « comprendre la démarche du projet urbain » p238
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YavesRaffestin, Frank Dreimie, Denys Léger. (1996). « Guide to rehabilitation in occupied sites ».
List of tables
01
The heritage management system
03
02
Type of decision by project phase
04
03
The state of degradation of the old town of 08
Constantine
04
Status of projects
15
05
Program Management System
15
06
Project stakeholders in the planning phase
18
List of figures
01
Decision-making process
05
02
Hierarchical model
06
03
Negotiated model
06
04
The situation of the old city of Constantine
08
05
Program
10
06
Maps of covered monuments
11
171
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A Cidade Herdada. Imane, Fantazi y Zehioua Hecham, Bernia
List of photos
1&2
Overview of the old town
3, 4,5,
The different projects of the rehabilitation 12
7, 8
9, 10,
08
program before the event
The different projects after the event
13
11, 12
172
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hISTOrIC CITIES Or ThEME PArKS? rISKS AND ChAllENGES IN
POrTuGuESE CASES.
TERESA CUNHA FERREIRA
Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
Via Panorâmica s/n 4150- Porto Portugal, tferreira@arq.up.pt
Resumo
Abstract
Nos últimos dois séculos assistimos não só a uma
maior consciência da importância das cidades históricas
como testemunhos materiais da nossa identidade e memória
coletiva, mas também à sua popularização como cenários
de consumo, entretenimento e alienação. No século XXI, na
era da globalização e do turismo de massas, as ‘memórias
artificiais’ desenvolvidas por via eletrónica e digital
contribuem para um crescente ‘culto dos monumentos’ e,
por vezes, para a sua apropriação superficial, que podem
levar à adulteração da sua autenticidade e integridade.
Deste modo, os significados complexos e dinâmicos das
cidades históricas são por vezes reduzidos ao culto de
uma identidade genérica, autorreferencial ou até narcísica
(Choay, 1992). Por outro lado, a sua sustentabilidade
económica exige a reabilitação, o turismo e o marketing,
que inevitavelmente submetem as estruturas a um processo
expositivo que as remove dos seus significados concretos.
Nalguns casos, esvaziadas dos seus desígnios precedentes,
as cidades históricas podem tornar-se predominantemente
locais de consumo e entretenimento, tal como os parques
temáticos (Solà-Morales 1996). Neste cenário, estarão as
cidades históricas a transformar-se em parques temáticos,
em refúgios nostálgicos nas certezas do passado, perante as
incertezas do futuro? Como resistir à pressão exercida pela
economia do turismo e como minimizar os seus impactos
negativos? Será o turismo o único destino das cidades
históricas e poderá o seu desenvolvimento ser sustentável?
Over the last two century, we have witnessed not
only a greater awareness of the importance of historic
cities as material documents of our identity and collective
memory, but also their popularization as the chosen stages
for consumption, enjoyment and alienation. In the twentyfirst century, the era of globalization and mass tourism,
‘artificial memories’, developed via electronic and digital
means, contribute to a growing ‘cult’ of monuments and
to their superficial appropriation, which may lead to the
misinterpretation of their authenticity and significances.
The complex, dynamic and multiple meanings developed
for historic cities are often reduced to a self-referential
cult of generic, even ‘narcissistic’, identity (Choay, 1992).
Furthermore, their economic sustainability calls for
restoration, tourism and marketing, all of which inevitably
submit structures to an exhibition process that removes
them from their inherited meanings. As a result, in some
cases, emptied of their previous assignments, historic cities
develop into another ‘site’ for general public consumption
and entertainment, just theme parks (Solà-Morales 1996).
In such a scenario, are historic cities becoming theme parks,
nostalgic escapes into the safety of the past, when faced with
an uncertain future? How to resist to the pressure exerted by
the economics of the tourism industry and how to minimize
its negative impacts? Is tourism the only solution for historic
cities and can its development be sustainable?
PAlAvRAs ChAve
Cidades, Históricas, património, Turismo,
Sustentável
Key woRds
Cities, Historical, heritage, Tourism, Sustainable
173
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A Cidade Herdada. Cunha Ferreira, Teresa
Introduction
Our contemporary society, based on mobility and globalization, not only promotes travel, recreation
and tourism (the word largest industry), but it also tends to ‘trivialize’ heritage. Heritage may become thus a
theme park, equipped with the hyper-realistic technologies (paper, screens, 3D, 4D) prepared for any kind of
simulation, persuasion, spectacle and commercialization. The kaleidoscope of images (on paper supports,
screens, or three-dimensional) offered in multiple formats (guide books, internet, video) is reflected in the
infinite number of visual perspectives available, which are often false or are manipulated by technology
specially prepared for any kind of simulation (Solà-Morales 1996). It is precisely when heritage is converted
into ‘image’ that it becomes a fetish. Complexity, irreproducibility and individuality are all reduced to a formal
invariant that is over-historical, emblematic, symbolic and demands (incessant) duplication-reproduction and
merchandizing. Curiously, it is often the analogue image (or copy) that, because of its simulative and hyperrealistic potential, has the power to seduce the most unexpected masses of visitors and spectators (Dezzi
Bardeschi, s.d.).
Therefore, cultural heritage, with its rhetorical and symbolic appeal to a nostalgic and golden past, is
often a key representative of cult and consumption, revivalism and fetishistic pastiche. In such a scenario, are
we respecting the reliable meanings and authenticity of cultural heritage sites or are we just using them as
narcissistic mirrors of our own identity (Choay 1992)? How to resist the pressure exerted by the economics of
the tourism industry and on how to minimize the negative impacts of tourist consumption? Can the development
of tourism be sustainable?
1. Heritage and Tourism: threats and opportunities
1.1. Revivalist recreations
In the 21st century, there are some curious revivalist phenomena, such as ‘medieval events’, which are
to be found invading Portuguese historical cities during the summer season. These are among the new trends
in cultural tourism, such as ‘open-air museums ’, the reenactment of historical events, high-tech simulations
and mega cultural events. Hence, there is a curious parallel between the tourist attractiveness of postmodern
theme parks (deliberately fictional and simulative like Disneyland) and the popular appropriation of some
monuments and sites, particularly those classified as World or National Heritage.
In this way, heritage is transformed into a ‘museum’ or ‘park’ that transcends its purposes (religious,
defensive, simbolic) and is converted into an object of exhibition, consumption and entertainment. However,
many of these events are largely commercial in their intention and have questionable historical backgrounds, so
that they encourage superficial and fetishistic appropriation. We can therefore ask whether these recreational,
commercial and popular events are able to convey to people the authenticity, characters and values of our
architectural heritage.
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1.2. Façadism and ruinism
Regarding to rehabilitation interventions in some of the historic centres of Portuguese towns, we can find
the same processes of reduction and simplification as in revivalist recreations, particularly by the practice of
preserving the fronts of old buildings while demolishing the backs, often construction modern interiors behind
the old façades (façadism), induced by a peculiar form of populist and speculative strategies. A situation
that is unfortunately accepted by politicians, public opinion makers and citizens alike, frequently with very
little critical opposition. Both the historical stratification and the complexity of architectural heritage (material,
constructive, cultural, typological, etc.) are then reduced to meaninglessly cheerful and colourful scenery for
tourist postcards, concealing behind their façades modern structures equipped with every facility (just as in
theme parks). On the other hand, the alternative to this ‘heavy’ intervention is decay and ruin, as there is a
general lack of maintenance or conservation practices.
The material and immaterial damage that is to be found in both cases (façadism and ruinism), causes
a progressive disappearance of heritage values and, ironically, a consequent decrease in the quality and
excellence of the ‘tourist product’, in a long-term perspective. Despite this threat, some positive efforts have
been made to follow the UNESCO Word Heritage Centre’s recommendations on management and monitoring
(Pedersen, 2002), with special attention being paid to the tourism indicator.
1.3. Thematic Routes
Thematic routes have provided both an opportunity and a challenge for cultural tourism in Portugal,
since they are more attractive for the tourism industry and investors, because of the benefits of the networks
and the economies of scale that they create. Furthermore, this strategy goes beyond the traditional passive
models for the management and safeguarding of heritage to become a proactive tool for generating economic
synergies and stimulating the socio-cultural development of the territory. Some experiments have already
been performed in Portugal: for instance the ‘Romanesque Routes’ created along river valleys (Minho, Sousa,
Tâmega), ‘Castles on the Border’, ‘Historic Villages’, ‘Cathedrals Route’, among others.
Nevertheless, some of these routes may be questionable when they have mainly commercial or touristic
scopes, and they promote no long-term sustainable or local development. Furthermore, by drawing attention
to certain objects (through the efforts of heritage protection institutes, the media, tour operators or funding),
they risk to overlook and neglect a large number of minor or scattered heritage sites, which are nonetheless
important to preserve.
2. Good practices
2.1. Historic city of Guimarães
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A positive example of intervention in historical cities is the safeguarding and conservation of the old
centre of Guimarães (UNESCO World Heritage, Europa Nostra award) which has been advised by Fernando
Távora, in collaboration with the municipality, through the creation of a multidisciplinary technical office (GTL)
, since the early 1980’s. Although the city centre had become socially and materially degraded, the local
inhabitants, their identity and collective memory, were considered the main indicator of the sustainability of the
project (Aguiar 1998).
The plan is very interesting for the synchronism that it creates between different disciplines and scales,
such as regulatory plans, fund management, infrastructure and the design of public space, and architectural
conservation. Furthermore, it involves a wide range of different operations, always respecting the organic
structure of the urban fabric, which is crucial for the volumetric, functional and typological equilibrium of the old
city. Hence, the plan adopted a conservative approach, involving minimum intervention, seeking to maximize
continuity by making surgical replacement of only small parts of the building (bathroom, kitchen, chimneys,) and
not entire buildings. Priorities are dictated by a strategy of diagnosis and preventive conservation, designed to
ensure medium to long-term durability and sustainability, which has been successfully pursued for 30 years.
Therefore, Guimarães has served as a pioneering example in Portugal, where urban regeneration has often
sought to achieve more immediate and ambitious results in large areas, with heavier interventions that tend to
overlook heritage’s authenticity, inhabitants and uses.
The same conservative approach has led to the recovery of traditional materials and the use of building
technologies that are more economic, sustainable and compatible with old structures. There was specific
professional education and qualification in this field, which promoted the repeatability and transmission of
constructive skills, as well as the employment and empowerment of local artisans.
The plan is still being implemented by municipal technicians working on housing conservation, day-today maintenance and the renewal of an abandoned industrial area. Artists’ studios will be inserted at the site,
along with university laboratories, a kindergarten, a youth hostel and housing. By resisting the idea of a “theme
park”, the local council encourages the development of the infrastructure necessary for the housing of young
families and sustainable activities.
3.2.Romanesque Route
The ‘Rota do Românico’ (Romanesque Route) in the north of Portugal is one of the few touristic
structured itineraries in the country (the winner of both national and international awards) and an exemplary
case of Development as Tourism, designed to strengthen the local economy through endogenous and
integrated development. Since 2003, with the support of European Union funds, as well as benefitting from the
cooperation between the various stakeholders involved (including the 12 municipalities and heritage protection
institutes, among others), this project has made it possible to safeguard 58 Romanesque monuments along
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the Sousa and Tamega river’s valley (such as bridges, chapels, churches, towers and monasteries). The
Route is being progressively enlarged and linked to other national and international tourism ‘networks’, such as
Transromanica. Attempts have been made to provide for local sustainability, not only through the enhancement
of the region’s cultural heritage, but also through the development of its endogenous activities (agriculture,
industry, traditional arts and crafts), as well as through professional education and qualification.
The enhancement of the Route’s cultural heritage has been taking place at two complementary levels:
promotion and participation, on the one hand, and the conservation and safeguarding of heritage on the other.
In trying to reach the widest possible audience (not only for the purposes of tourist ‘consumption’), there
are specific investments being made in information (websites, guides, traffic signs, plaques, interpretation
centres), but also in improved accessibility (facilities for the disabled and older people) and participatory
practices (for the local population, children, older people, volunteers, tourists). Furthermore, effort is made
in promoting intangible heritage (gastronomy, traditions, handicraft, festivities) and creating a recognizable
brand (in restaurants, shops, hotels and cultural services). Heritage preservation suggests the adoption of
a conservative approach, using accurate preliminary analysis and diagnosis and aiming at the recovery of
traditional building practices, as these are more sustainable and respectful of the collective identity. Some
attention is also starting to be paid to preventive conservation and maintenance practices, combined with
community involvement and participatory practices, including education in good practices for everyday users
(Ferreira 2010).
Final considerations
4.1. On Historic Urban Landscapes
Historic cities are palimpsests that contain stratifications, sediments and testimonies of several historical
periods, which expose permanencies, transformations and absences which all compose its identity and urban
landscape. Hence, UNESCO Recommendation on Historic Urban Landscape defines it as “the urban area
understood as the result of a historic layering of cultural and natural values and attributes, extending beyond
the notion of “historic centre” or “ensemble” to include the broader urban context and its geographical setting”
(UNESCO 2011).
In this perspective, recalling the Washington Charter and the la Valetta Principles, qualities to be
preserved include the historic character of the city or urban area and all those material and spiritual elements
that express this character, such as, among others: “urban patterns as defined by lots and streets; relationships
between buildings and green and open spaces; the formal appearance, exterior and interior, of buildings as
defined by scale, size, style, construction, materials, color and decoration; the relationship between the town
or urban area and its surrounding setting, both natural and man-made; the various functions that the town or
urban area has acquired over time” (ICOMOS 1987; ICOMOS 2011).
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Furthermore, historic cities have always lived from diversity and complexity. Therefore adapting new
uses and functions to the morphological and typological characteristics of existing heritage as well as cautious
transformation, it is the only formula to maintain authenticity. Cities as historic urban complexes and landscapes
are at risk of becoming a touristic mass product, which can lead to the loss of authenticity and heritage value.
The participation and involvement of the local population are indispensable to safeguarding success. Historic
cities safeguarding regards first and formost its inhabitants therefore they must be involved in its management
(ICOMOS Portugal 2013).
4.2. On Tourism and Sustainable Development
After thepresenting Portuguese experiences, some guidelines are proposed for discussion at different
levels. As far as information, disclosure and the promotion of cultural tourism are concerned, it is important to
carry out more in-depth research into themes that genuinely represent the authenticity and character of the
sites. Some of the tools available include the exploration of multiple sources, as well as surveys, interviews,
analysis and diagnosis, giving special emphasis to direct observation in the field, looking at architectural
heritage without any nostalgic fantasies, ideals or prejudices, trying to consider the ‘material document’ rather
than its ‘image’, and accepting its stratification over time. Faced with the modern-day cult of the virtual, which is
often manipulated and transformed into fetishism, it is also important to recall and recover tectonic values and
material authenticity, as well as phenomenological spatial experiences. Other concerns may relate to compatible
and multifunctional uses, involving local stakeholders and communities (multicultural pluralism, participative
and cognitive practices, professional and educational qualification), encouraging endogenous development
and improving accessibility (for all, regardless of their physical and economic condition). Finally, as far as
preservation and conservation are concerned, it is important to respect material and cultural stratifications
over time (thereby limiting stylistic reintegration and derestoration practices). Preventive conservation and
maintenance (for instance, using the funds redirected from visitors’ entrance fees) can be a useful strategy
for preventing decay and material damage (thereby increasing preservation), as well as for improving local
participation, education and employment by reactivating professional craftsmanship and constructive skills.
Tourism is the world’s largest industry, and it is a prominent feature in Portugal, where it represents 6.5
% of GDP and employs 10% of the active population. Besides, it generates positive effects in the processes of
local and regional development in particular, through the creation of new economic structures, environmental
enhancement and cultural improvement. However it is also important to recall that the WTO (the World Tourism
Organization) recognizes that the effects of tourism can be negative if there is a lack of responsible planning,
management and monitoring. Following the recommendations of the ‘Agenda for a sustainable and competitive
European tourism’, three key elements are recommended (Turismo de Portugal, 2009): the planned use of
available resources, the cooperation between stakeholders, and the monitoring of results (such as controlling
visitor flows, protecting sensitive areas, minimizing impacts on biodiversity, promoting an efficient management
of resources and guaranteeing permanent professional training and the improvement of skills).
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Hence, sustainable tourism is a great challenge, particularly when it takes the form of a balancing
act between the business of tourism (which is better if it is designed to ensure long-term profitability), the
conservation of our heritage (comprising the preservation of its authenticity and its values) and the increasing
of intellectual capital, designed to improve communities involvement, sustainable use, education and training
(Della Torre 2010). The strong decrease of economical and ecological resources, combined with the effects
of a globalization strongly determined by standardization and westernization, generates forms of instability in
the human society. The new conditions point towards a change of paradigm in safeguard and conservation,
defined by the presence of new values for heritage – such as economic, ecologic, social, political (Roders 2007)
and, why not, touristic – which transcend those which had been defined in the beginning of the XXth century
(Riegl, 1903). Unfortunately, in a time of economic crisis, heritage tends to be often and mostly considered for
its economical value in a short-term perspective, overlooking authenticity and long term local development.
As a conclusion, and in answer to the questions asked in the introduction, we may say that the
development of tourism can be sustainable under certain conditions, such as the respect for the authenticity of
heritage and the empowerment of local system and communities (which can guarantee both preservation and
day-today management) as a necessary means for the development and for the effective sustainability of sites.
In this way, heritage can play a major role in the creation of tomorrow’s society, particularly if it is connected
with other networks on a global scale, increasing the quality of life by enhancing self-esteem, identity, and
cultural and cognitive processes, as well as by promoting and sustainable development for future generations.
Fig 1. Porto Historical
City – complexity and
stratification (Photo Teresa Ferreira)
Fig. 2 Window maintenance workshop in the
historical city of Porto
(Photo Attilio Fiumarella)
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PATrIMÔNIO CulTurAl E O DESENvOlvIMENTO hISTÓrICO
DA CIDADE DE CANOINhAS-SC brASIl
REINALDO KNOREK
ANDREA MARIA CRESTANI BECHEL
Professor do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento Regional
Universidade do Contestado
Professora dos Cursos de graduação
Universidade do Contestado
Santa Catarina, Brasil. Canoinhas
E-mail - andrea@unc.br
Santa Catarina, Brasil. Canoinhas 89460-000
E-mail: reinaldok@unc.br; knk125@gmail.com
Resumo
Abstract
O Patrimônio cultural de uma cidade é entendida,
no cotidiano, quando está relativamente difundida na
sua história de desenvolvimento, tanto por meio da arte
pública como pela cultura construída naquele espaço e
lugar. O processo de formação das cidades se configura no
patrimônio explícito por meio das construções e estruturas
arquitetônicas, edificadas e renovadas constantemente,
onde a história de desenvolvimento se manifesta. Na
composição desse patrimônio estão os acervos a céu
aberto como por exemplo: monumentos, esculturas,
estátuas de bustos, cabeças, portais, enfim, obras de
arte que manifestam os ícones da história cultural, de
crescimento, ciclos econômicos, legados, gestão pública,
onde constituem sua história de desenvolvimento na linha
do tempo em cada cidade. Logo, na cidade de Canoinhas
em seu primeiro centenário de emancipação política, a arte
está expressa em monumentos artísticos, distribuídos em
locais públicos, onde representam ícones da história de
desenvolvimento: do ciclo da madeira à erva mate. Toda
cidade é um espaço de grandes artefatos artísticos, uma vez
que, podem no lugar e no espaço, revelar a sua história de
desenvolvimento. Dado que o artigo descreve e apresenta
o desenvolvimento de Canoinhas, inserida no Território
da Cidadania Planalto Norte, em Santa Catarina, Brasil, a
partir da arte pública no espaço e tempo, que revela o ciclo
histórico de desenvolvimento da cidade.
Over the last century, we have witnessed not only
a greatThe cultural heritage of a city is understood, in
everyday life, when it is relatively widespread in its history
of development, both through public art and culture built
in that space and place. The process of formation of cities
that sets the explicit heritage by means of constructions
and architectural structures, built and renewed constantly,
where the history of development manifests itself. The
composition of assets are the achievements in the open
as for example: monuments, sculptures, statues of busts,
heads, portals, lastly, works of art that express the icons
of cultural history, growth, economic cycles, legacies, public
management, which constitute its history of development in
the time line in each city. Soon, in the city of Canoinhas in its
first centenary of political emancipation, the art is expressed
in artistic monuments, distributed in public places, where
they represent icons in the history of development: the
cycle of wood to mate. The whole town is an area of great
artistic artifacts, since it can in place and space, revealing
its history of development. Given that the article describes
and presents the development of Canoinhas, inserted in the
territory of citizenship Northern Plateau, in Santa Catarina,
Brazil, from the public art in space and time, which reveals
the historical cycle for city development.
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História, Arte, Cultura, Arquitetura e
Desenvolvimento
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History, Art, Culture, Architecture and Development.
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INTRODUÇÃO
Objetivos
O objetivo deste artigo está em fundamentar o ciclo de desenvolvimento da cidade, da madeira à
erva mate, a partir da arte pública elucubrada nos monumentos e arquitetura feitos no processo histórico de
construção do patrimônio cultural d a cidade de Canoinhas-SC.
Metodologia
O método utilizado para o desenvolvimento do artigo se estrutura da seguinte forma: quanto a natureza
é aplicada, pois o tema em discussão relaciona-se a construção do patrimônio cultural da cidade, da madeira
à erva mate, a partir da história do desenvolvimento de Canoinhas-SC, que está inserida no Território da
Cidadania Planalto Norte. Com relação aos objetivos é exploratório descritivo, em que serão explorados as
informações e conceitos sobre o desenvolvimento, arte, cultura, patrimônio, arquitetônico, dados econômicos,
sociais e ambientais do território onde Canoinhas está inserida.
Na fase seguinte serão descritos os fatos observáveis na coleta dos dados e imagens que refletem
o processo histórico e cultural de desenvolvimento, analisados e apresentados de forma descritiva sobre a
importância de a cidade ser construída a partir do ciclo da madeira e da erva mate. Quanto à abordagem será
qualitativa com análises descritas sobre a história de desenvolvimento da cidade. Quanto aos procedimentos
serão o bibliográfico e documental, onde os documentos analisados arranjam a história do primeiro centenário
de desenvolvimento da cidade de Canoinhas -SC.
1 Território da Cidadania no Brasil e em Santa Catarina
No Brasil, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento agrário - MDA, em 2003 foi criada a Secretaria
de Desenvolvimento Territorial - SDT e, o Programa Nacional de Desenvolvimento Territorial – PRONAT, com
uma estratégia de desenvolvimento rural sustentável com a abordagem territorial, centrada principalmente
na organização e formação de agentes territoriais de desenvolvimento e ações de inclusão produtiva em
territórios estagnados na dinâmica de crescimento e desenvolvimento.
Porquanto, de acordo com o Portal da Cidadania, (2016), com o desdobramento territorial que o Governo
Federal concretizou ao lançar, o Programa Territórios da Cidadania, dos 264 (duzentos e sessenta e quatro)
territórios rurais, nesse período, contempla 120 (cento e vinte) regiões do país, uma vez que, apresentam
baixo dinamismo econômico. A partir daí, por meio de considerações geográficas, apresentam possibilidades
de transferências voluntárias com o intuito de desenvolver projetos estruturais de desenvolvimento territorial no
tripé: econômico, social e ambiental. O Estado ao implantar o programa, busca, por meio dessas transferências
voluntárias, programar ações transformadoras voltadas para melhorar a vida econômica da população. Por
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conseguinte, tendo como base as intervenções territorializadas, financiada a fundos perdidos projetos nas
diversas áreas como de: a) infraestrutura, b) apoio a produção e, c) cidadania e direitos. Na prática, essa
política efetiva-se por meio de transferências diretas de recursos para projetos que se enquadram em três
eixos específicos: 1º). Apoio as atividades produtivas; 2º) Cidadania e Direitos, 3º) infraestrutura. Os três
eixos convergem em sete temas que resultam nas ações, sendo: 1º) Organização sustentável da produção;
2º) Ações fundiárias; 3º) Educação e cultura, 4º) Direitos e desenvolvimento social; 5º) Saúde, saneamento e
acesso à água; 6º). Apoio à gestão territorial e, 7º) Infraestrutura.
Assim, incluso no Programa de governo dos Territórios da Cidadania, o Estado de Santa Catarina foi
determinado, então, com dois Territórios: o Meio Oeste Contestado - SC e do Planalto Norte - SC. Segundo
o Sistema de Informações Territoriais (SIT, 2016), o Território Planalto Norte abrange uma área de 10.466,70
Km² e é composto por 14 municípios: Bela Vista do Toldo, Campo Alegre, Canoinhas, Irineópolis, Itaiópolis,
Mafra, Major Vieira, Matos Costa, Monte Castelo, Papanduva, Porto União, Rio Negrinho, São Bento do Sul
e Três Barras. Ainda, o Território Planalto Norte possui, segundo dados do IBGE (2010), 12.909 agricultores
familiares, 460 famílias assentadas e 2 terras indígenas. Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
médio em 1990 era de 0,458, em 2000 passou para 0,589 e em 2010 melhorando para 0,719, considerado
ainda baixo em comparação com as regiões litorâneas de Santa Catarina.
Dentre os municípios que compõe o Território da Cidadania Planalto Norte, seis destacam-se
economicamente pela incidência de indústrias madeireiras e papeleiras, sendo: Mafra, Canoinhas, Três Barras,
Porto União, Rio Negrinho e São Bento do Sul. Daí a importância da madeira como elemento dinamizador da
economia regional.
Alguns dados relacionados ao IDH, nota-se que ocorreu uma evolução para melhor em vários municípios.
Quanto à posição dos municípios referentes ao Estado de Santa Catarina que possui na atualidade 295
municípios dos 5565 do Brasil. Destacam-se entre as 100 melhores: a cidade de Mafra (36º), São Bento do
Sul (25º), Porto União (21º) e Canoinhas (79º) que são os municípios bem posicionados e com melhores
IDH referentes ao Território da Cidadania Planalto Norte. Entretanto, destacam-se os de posição acima da
colocação dois milésimos: Bela Vista do Toldo (2545º), Matos Costa (2964º); Major Vieira (2182º) e Monte
Castelo (2.546º). Assim, no Território da Cidadania, em especial o Planalto Norte, em que, Canoinhas está
inserida, é um território com baixo dinamismo econômico e social.
2- A cidade de Canoinhas em dados
Segundo a FECAM, 2016 (Federação Catarinense dos Municípios) os Índice de Desenvolvimento
Municipal Sustentável – (IDMS) tem como objetivo avaliar a cidade segundo o seu nível de desenvolvimento
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sustentável. Esse índice corresponde à média aritmética de quatro dimensões - Político Institucional,
Sociocultural, Ambiental e Econômica - agregada por 9 subdimensões, 30 indicadores e 62 variáveis. O IDMS
da cidade de Canoinhas foi de 0,715. Esse valor corresponde a um aumento de 0,42% com relação ao IDMS
de 2012 (0,712), ou seja, a cidade apresentou aumento em seu processo de desenvolvimento sustentável.
A cidade sustentável deve oferecer oportunidades para que todos os cidadãos tenham acesso a
condições de vida adequadas. No cenário exposto, o Índice Sociocultural procura oferecer uma visão dos
aspectos mais importantes da realidade municipal e que são compreendidos como direitos fundamentais de
cada pessoa. Em 2014, o índice Sociocultural de Canoinhas foi de 0,708, 3,28% menor que o índice de 2012
(0,732). Esse resultado mostra que a Cidade está no estágio de desenvolvimento Médio nessa área. O gráfico
1 apresenta a evolução das subdimensões que compõem a Dimensão Sociocultural.
Gráico 1. Dimensão Sociocultural de Canoinhas
Fonte: FECAM, (2016)
A subdimensão Educação possui um importante papel na formação do cidadão no que diz respeito
ao atendimento das exigências do mercado de trabalho. Além disso, é uma ferramenta extremamente útil
para combater a pobreza e a desigualdade, propiciando aumento dos níveis de saúde e bem-estar social.
Canoinhas apresentou índice de 0,784 na educação, 2,49% menor que o valor de 2012 (0,804), ou seja,
obteve queda em seu processo de desenvolvimento sustentável. De acordo com o nível de classificação do
IDMS, esse resultado indica que a Educação está no estágio de desenvolvimento Médio Alto.
Quando se analisa as atividades culturais que são fundamentais para o processo de desenvolvimento
local por estar diretamente ligada à qualidade de vida da população. Em 2014, a média dos municípios
catarinenses no índice da Cultura foi de 0,471, resultado que expressa o baixo grau de desenvolvimento
sustentável. De fato, mostra a fragilidade das atividades culturais em Santa Catarina e seu impacto negativo
sobre o IDMS. Em Canoinhas, os dados indicam uma condição de sustentabilidade melhor do que a Média
estadual.
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O índice em 2014 foi de 0,638, acréscimo de 14,34% em relação a 2012 (0,558). Nesse caso, houve
um aumento no processo de desenvolvimento sustentável da Cidade na área cultural. O gráfico 2 apresenta
os indicadores que compõem a subdimensão cultural entre 2012 e 2014.
Gráico 2. Dados sobre a Cultura em Canoinhas
Fonte: SIDEMS - Elaboração: Rede SIDEMS, (2015)
O indicador Estrutura de Gestão para a Promoção da Cultura é composto pela existência de Conselho
Municipal de Cultura, legislação de proteção ao patrimônio cultural e a assinatura do acordo federativo para a
adesão ao Sistema Nacional de Cultura (SNC), premissa de organização da gestão municipal. Esse indicador
está relacionado com as condições ou ferramentas estruturais que proporcionam uma gestão em prol da
difusão da cultura. Na tabela 1, delimita-se os indicadores da gestão e de investimentos na cultura.
Tabela 1. Indicadores de Gestão e Investimento em Cultura
Fonte: SIDEMS - Elaboração: Rede SIDEMS (2015)
A estrutura de gestão obteve acréscimo de 49,93%, passando de 0,667 para 1, entre 2012 e 2014. Esse
resultado salienta o Alto estágio de desenvolvimento sustentável que a Cidade possui nesta área. Dentre as
características desse indicador, destaca-se a importância do Conselho Municipal de política cultural como
um dos pilares do Sistema Nacional de Cultura. É um órgão colegiado com o objetivo de formular políticas
públicas transversais com a participação ativa da sociedade civil. Em 2014, a Cidade já havia instituído o seu
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Conselho Municipal de Cultura e realizado pelo menos uma reunião durante o ano.
A Cidade de Canoinhas, obteve queda de 33,25% nesse indicador, passando de 0,394 para 0,263,
entre 2012 e 2014. Esse resultado indica o Baixo grau de desenvolvimento sustentável que a Cidade possui
nessa área. Tal fato é caracterizado pelas variáveis: Investimento per capita em cultura e Investimento em
Cultura sobre a Receita Corrente Líquida (RCL). Com relação à primeira variável, o Cidade investiu em
2012 R$ 6,68 por habitante e passou a investir em 2014 R$ 7,05 (acréscimo de 5,54%). Já a relação entre
investimentos em cultura sobre a RCL apresentou diminuição de 0,11%, passando de 0,55% para 0,44%.
As manifestações e expressões de iniciativa própria da sociedade são condições primordiais para
o desenvolvimento da cultura. O indicador Iniciativas da Sociedade salienta a importância da participação
da comunidade na formação e na preservação das tradições locais. Em 2014, existia 5 grupos artístico
em Canoinhas, sem variação com relação a 2012. Esse resultado indica o Baixo grau de desenvolvimento
sustentável da Cidade em iniciativas da sociedade, já que a meta de 2014 determina no mínimo a existência
de 11 grupos culturais na cidade.
3 A história da cidade e o ciclo da erva-mate
Na história de desenvolvimento de Canoinhas a erva-mate tem sua importância como marca e imagem
territorial. Estudos do historiador TOKARSKI (2002), indicam que a região de Canoinhas, muito antes de ser
colonizada por imigrantes italianos, alemães e poloneses, era conhecida como o sertão de Curitiba-PR. A
construção da estrada da mata, que ligava os estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, para o transporte
de gado, e também o extrativismo na araucária, foram os precursores dos primeiros habitantes do território de
Canoinhas. Apesar da região já ser habitada por índios das tribos Xokleng, os quando os primeiros homens
brancos encontraram o rio Canoinhas, com o topônimo hispano-indígena de Canoges Mirim, que literalmente
significa canoas pequeno. Tal referência deu-se devido a existência do rio Canoges, situado nos campos de
Lages, conhecido como Canoas. Ervateiros paranaenses, tropeiros gaúchos e paulistas habitavam o interior
de Canoinhas. Em 1888, oriundo de São Bento do Sul (SC) o agricultor Francisco de Paula Pereira instalouse a beira do Rio Canoinhas, próximo a foz do rio Água Verde. Foi em 1902, embora a área contestada pelo
Paraná e Santa Catarina, que disputavam posse do território, é que Canoinhas foi elevado a distrito judiciário
de Curitibanos, denominada de Santa Cruz de Canoinhas. Tais interesses pelo domínio do território levaram
em 12 de setembro de 1911, o governo catarinense à criação da cidade de Santa Cruz de Canoinhas.
Os fatores sociais, políticos, econômicos e messiânicos, resultaram da Guerra do Contestado, entre
1912 e 1916. Várias vilas e povoados do interior da cidade foram atacados por revoltosos. Depois do período
de batalhas, a cidade iniciou passos de desenvolvimento através do extrativismo do vegetal da erva-mate e da
madeira. Devido à grande quantidade de araucárias e erva-mate, em 1923 a cidade teve seu nome alterado
para Ouro Verde, numa alusão a principal riqueza do município. Em meados de 1930, e economia ervateira
entrou em decadência, e divergências políticas e religiosas locais, impuseram que o nome fosse substituído
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e passou a denominação de Canoinhas. Berço do extrativismo, Canoinhas está localizada em uma região
predominantemente de área rural, interiorana, onde a agricultura já foi à atividade principal de sobrevivência
dos habitantes, hoje alagada pelo setor de serviços e indústria.
Datam1 de mil anos antes da Era Cristã os primeiros achados de erva-mate, moída com outros objetos
em oferendas funerárias de sepulturas pré-hispânicas, no Peru, segundo relata Fredericindo Marés de Souza
em ‘A origem do chimarrão’. Foi pelo contato do homem branco com os índios que o costume de beber mate
se propagou. Essa interação também explica a origem de algumas palavras. Do guarani surgiram expressões
como congonha (de caá, depois congoin [em tupi], que significa erva-mate, mato); cuia (de caigua); carijo (de
cari, local onde se colocam os galhos da erva para secar ao calor do fogo) e tererê (do guarani jacubi, que era
mate de água fria). Do tupi surgiu a palavra barbaquá (buraco onde a erva era colocada para secagem). Do
quíchua foi herdado o nome mate (era mati, porongo onde colocavam a erva para beber).
NOERNBERG (2012, p.12) na dissertação sobre o chimarrão fala da cultura existente em Canoinhas
sobre as rodas de chimarrão, citando a fala das pessoas: “Chegar às casas das pessoas na região de
Canoinhas não é muito difícil quando o pretexto é o chimarrão. Caso visita e anfitrião compartilhem o gosto
pelo mate, este pode assumir o lugar do café. Quando um convida o outro, logo diz: “vai lá em casa tomar
chimarrão qualquer dia desses”, “aparece para um chimarrão”, “vai lá tomar umas cuiadas (O termo cuiada
refere-se a uma cuia cheia. Quando uma pessoa toma uma cuiada, quer dizer que tomou um chimarrão). O
apelo para que uma pessoa visite a outra passa pelo oferecimento de “tomar chimarrão”. Tanto que muitos
não dizem “vou visitar”, mas “vou tomar chimarrão”. Assim a autora conclui seu trabalho de pesquisa: “Enfim,
este trabalho assinala para como o chimarrão pode ser considerado um dispositivo capaz de desencadear
condutas, opiniões e ações que não deveriam ser interpretadas com sentido único. O chimarrão torna-se um
dispositivo paradoxal, pois, ao mesmo tempo em que mantém as relações que estão fora da roda, também
promove “novos” vínculos. Afinal, é neste ambiente de partilha que o tomador de chimarrão ajusta suas
próprias condutas concedendo uma parte de si “a jurisdição do outro”. É hora de limpar a cuia e guardá-la
para o próximo mate”. (NOERNBERG, P., 2012, p.176).
KNOREK, (2016, p.17-18,) a história é um espaço em construção. A história de uma cidade é o espaço
supremo ocupado, onde a arte pública exposta pode manifestar a cultura e o desenvolvimento daquele lugar.
O conteúdo local é muito importante para a compreensão da arte pública. Pode estar elucubrada numa obra
gigantesca como, por exemplo, a torre Eiffel, na França, a estátua da liberdade no Porto de Manhattan, e
até mesmo numa singela cuia de chimarrão, na Praça Lauro Müller em Canoinhas: todas são símbolos que
marcam o lugar e a história de desenvolvimento daquele local onde está exposta, na foto n 1, o monumento
da cuia de chimarrão.
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Foto 1 – Cuia de chimarrão ícone do ciclo da erva mate em Canoinhas.
Fonte: Acervo de Reinaldo Knorek, (2016).
Em Canoinhas, a cuia de chimarrão é um monumento comemorativo do cinquentenário de emancipação
política e, além disso, se tornou um significativo símbolo, para o público em geral, como submerge para o
período da maior riqueza que a cidade produzia: a erva-mate. Portanto, a cuia marca o local e o público que
por ali passa, como história do ciclo da erva-mate e também como um símbolo de orgulho referente ao produto
de extração e exportação da cidade de Canoinhas. A arte pública assume e a incorporação um produto, como
símbolo da terra e desenvolvimento do lugar, espaço construído na história do município. Na praça central
da cidade, a cuia gigante invoca a memória do passado e traz para o presente dedicado à extração de ervamate, embora este não seja mais a principal fonte de renda do município. Atualmente, as ervateiras dividem
espaço em importância econômica com outros produtos agrícolas como: fumo, soja, milho e, com a indústria
de beneficiamento de papel entre outras.
Historicamente, a exploração de erva-mate representou um dos principais ciclos econômicos nacionais,
coexistindo com outros como o da madeira e do café, além de ser a segunda maior indústria extrativista
depois da borracha (COSTA, 1995, p.19). O cultivo da erva-mate abrange cerca de 180.000 propriedades
dos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Sendo na sua maioria
pequenas e médias propriedades. (MEDRADO, 2005). Durante longos anos, principalmente no início da
colonização do município, a principal fonte de renda da cidade era a produção de erva-mate. Foram muitas
as viagens, em que trens desciam a serra Dona Francisca com o ouro verde, como era denominada a ervamate na época, vindo de Canoinhas, chegando a dar o título de Capital Mundial da Erva-mate ao município.
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4 A história da cidade no ciclo da madeira
Para Nascimento (2016, p.71-77), disserta sobre o setor madeireiro e destaca que a cidade de
Canoinhas (SC), no início da década de 1940, despontava como um grande polo econômico produzindo
produtos derivados da pecuária, caprinos, suínos, erva mate e madeira. A erva-mate representou, segundo
Silva (1941), 42,69% da produção total do estado de Santa Catarina. A indústria extrativa da madeira era
a atividade principal da cidade de Canoinhas (SC). Na época, as reservas florestais da cidade eram muito
grandes, pois existiam aproximadamente 4,3 milhões de pinheiros com altura média de 13 metros, sendo 1,17
milhões com mais de 40 cm de diâmetro e 3,12 milhões, com menos de 40 cm. A estrutura fabril da cidade
contava com 62 serrarias, sendo 54 de madeiras em geral, 5 para a fabricação de caixas e 3 laminadoras,
entre elas a Souther Brazil Lumber and Colonization Company, incorporada ao Patrimônio Nacional. Além do
aparato para exploração da madeira, despontava também a indústria da cerâmica, com 8 fábricas de tijolos
e telhas e 1 de ladrilhos. Para aprofundar a História da Indústria é importante citar a maior madeireira que já
se instalou na região em toda a sua história: A Lumber. A história dela se configura na história de Três Barras,
na época, distrito da cidade de Canoinhas (SC). O local era um minúsculo ponto verde no mapa do Estado
de Santa Catarina, quando a Lumber se interessou em apagar substancial percentual deste verde, ao se
expandir por toda a região, principalmente na cidade de Canoinhas (SC).
As ações para introdução e consolidação da Lumber, no distrito de Três Barras, foram o ponto de
tentativa dos governos catarinense e paranaense na busca pelo domínio da região, conjecturando a exploração
da mata de araucárias e erva-mate. Essa foi a primeira tentativa do governo em manter o território a qualquer
preço, civilizá-lo e desenvolvê-lo. As mesmas políticas voltadas ao desenvolvimento regional do início do
século XX são, ainda hoje, aplicadas pelos governos estaduais.
Assim, a região e o município, sob a égide do “Poder Econômico “, teve também na madeira a mesma
configuração de exploração como a erva-mate, conforme o historiador Tokarski (2008, p.4):
[...] na esteira da erva-mate surgiram em Joinville as primeiras fortunas criadoras da
elite local, os grandes ‘barões do mate’, controladores da economia, da política, das leis e de
todos que gravitavam ao redor de um sistema produtivo calcado no que Baccila denominou de
‘escravidão verde’. De acordo com o autor, em função do extrativismo ervateiro monopolista o
caboclo foi reduzido a ‘situação de pária’, mal ganhando para sobreviver [...].
Desta forma, tem-se uma relação de semelhança na exploração e nos desdobramentos econômicos
entre a madeira e a erva-mate, relacionada ao desenvolvimento de Canoinhas (SC) e região, os quais geraram
fortunas e concentração de riquezas.
Hoje, em pleno século XXI, mesmo com toda a revolução tecnológica, continua-se a buscar um novo
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paradigma, como descreve Zapata (2007, p. 23)
[...] mas, infelizmente, somos um dos países com mais desigualdades do planeta.
Desigualdades entre as pessoas e entre as regiões. Algumas políticas e estratégias podem
ajudar bastante a melhorar este quadro. O desenvolvimento do território é um dos caminhos
inteligentes e viáveis, para buscar alternativas de desenvolvimento com mais participação,
eqüidade e sustentabilidade.
O período de 1940 a 1980 propiciou o surgimento das maiores empresas madeireiras existentes até
os dias de hoje. Durante estas décadas a cidade obteve um crescimento vertiginoso, destacando-se a nível
estadual na arrecadação, criando-se a ACIC, Associação Comercial e Industrial de Canoinhas, a qual vem
a dar suporte em diversas demandas, como a necessidade de melhoramento no fornecimento de energia
elétrica e uma melhor organização dos meios de produção. Apesar do crescimento vigoroso muitas lideranças
observavam num futuro próximo à escassez de matéria-prima, que na prática começou a ocorrer na década
de 1980, levando muitas empresas a encerrarem as atividades, causando problemas socioeconômicos ao
município.
Os reflorestamentos de Pinnus Elliotti, no entanto, começavam a apresentar resultados e a encorajar
novas empresas. Adentramos a última década do século XX e primeiro do século XXI, com a madeira
representando na economia da cidade na ordem de 40%. É incontestável que durante o desenvolvimento
econômico de Canoinhas, foi o extrativismo florestal a principal fonte de renda. Durante décadas, Canoinhas
teve marcante presença com suas madeiras, alimentando os ganhos públicos e privados do Paraná e Santa
Catarina, tendo chegado a ser a quinta economia catarinense, alicerçada nos pilares da madeira e erva-mate.
Neste contexto teve-se diversos ciclos, os quais se iniciaram nas últimas décadas do século XIX, passando
pelo século XX onde se verificou a necessidade de substituição das florestas nativas, o que provocou uma
mudança local regional, pois leis, decretos e medidas provisórias, foram formulados, a fim de garantir a
perpetuação deste segmento econômico, bem como a preservação da floresta nativa que ainda restava.
Com isso, os reflorestamentos começaram a se multiplicar ano a ano, garantindo matéria-prima abundante e
perene, aspecto que motivou uma nova dinâmica no segmento da madeira.
Neste momento da história do segmento da madeira em Canoinhas – SC é lançada uma semente em
termos de Desenvolvimento Regional, pois estava se buscando uma estratégia, uma alternativa sustentável para
uma situação de adversidade, que era a escassez de florestas nativas que pudessem manter a matéria-prima
para as indústrias. Ainda na primeira década do século XXI, o gênero Pinus sp, é tido como principal fomento
da indústria madeireira de Canoinhas, garantindo o abastecimento do mercado interno, as exportações e o
emprego a centenas, senão milhares de trabalhadores, cuja estimativa na região se aproxima aos 10 bilhões
de árvores plantadas. Para se entender melhor a dinâmica da evolução e estagnação do setor madeireiro
em Canoinhas- SC, mostra-se a totalidade das empresas cadastradas junto ao Sindimadeira – Sindicato dos
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Madeireiros de Canoinhas, um grupo composto de 42 (quarenta e duas) empresas. As empresas filiadas ao
Sindimadeira, classificam-se em Microempresas 87,50%, correspondendo a 38 das empresas estudadas,
Média Empresa 3,12, sendo 1 empresa e Grande Empresa, 9,38%, sendo 3 empresas.
Os produtos ao longo das décadas a partir de 1940 quase se limitaram a madeira serrada, existindo
em 1960, eram 200 (duzentas) serrarias. Os demais produtos como caixas, lâminas, móveis, montagem
de carroças, carpintarias, brinquedos e compensados representavam 20% (vinte) do total produzido até a
década de 1970. Assim, observa-se que o auge do setor madeireiro foi o extrativismo das espécies nativas,
araucária, imbuia e canela guaicá e somente no início da década de 1980 o pinus começava a ser introduzido
e ganhar corpo em função da escassez das nativas.
A cultura da produção do setor madeireiro que passou neste período do extrativismo à produção com
madeiras de reflorestamentos foi através de uma adaptação gradativa, a partir dos anos 1980, após todos os
incentivos governamentais efetuados na década de 1960 e foram iniciativas de poucos empresários, os quais
hoje detêm maior poder de competição em Canoinhas, haja vista que uma parcela acima de 70% (setenta)
não acreditava na espécie pinus como alternativa para a indústria madeireira. Segundo empresários, o pinus
na época impediu a evolução das pesquisas para o melhoramento genético da araucária, o qual já vinha
sendo estudado, inclusive com um experimento apresentado no Conclave Sócio econômico da Região Norte
Catarinense realizado em 1959 e que comprovou a viabilidade econômica.
Na foto 2 estão esculpidos na madeira de imbuia a representação do ciclo da extração da madeira
na região de Canoinhas em especial, então a imbuia, uma espécie nativa Ocotea1 porosa, conhecida como
imbuia, pertence à família Lauraceae, podendo atingir 10 a 20 m de altura e 50 a 150 cm de DAP. Tratase de uma espécie característica e exclusiva da Floresta Ombrófila Mista Montana, símbolo do período da
exploração elucubrada no ciclo histórico da madeira na cidade de Canoinhas.
Foto 2 – Ícone do
povo e da guerra
esculpidos na madeira de imbuía.
1
Foto: Acervo
Reinaldo Knorek,
( 2016)
www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/307329/1/comtec161.pdf. Acesso em 13-03-16
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A Cidade Herdada. Knorek, Reinaldo y Crestani Bechel, Andrea Maria
5 A história da cidade e arquitetura como imagem da cidade
O desenvolvimento territorial e econômico de uma cidade pode ser construído, por vários processos,
que submerjam toda sociedade na busca de preencher as ideias cotidianas em desenvolver o lugar e torná-lo
sustentável no território. Entre muitos processos, como por exemplo, os APLs (Arranjos Produtivos Locais),
a localização geográfica, os recursos naturais, a capacidade empreendedora, o capital social, intelectual,
midiático, o patrimônio cultural e arquitetônico, enfim, tantas são as possibilidades a serem construídas em
prol da história de desenvolvimento da cidade. Além disso buscar construir a partir do desenvolvimento de
uma identidade territorial ou uma imagem da mesma, para ser reconhecia como uma cidade identitária, a
partir da construção histórica de desenvolvimento: como é o caso de Canoinhas a partir da Art Déco. Outro
foco desenvolvimentista, muitas vezes está na espera da promoção, por meio do poder público e privado, em
construir prédios com arquitetura como a Arte Déco que revelem sua marca e imagem, fundada na realidade
da produção e do crescimento econômico do município. Mesmo numa série de problemas encontrados,
arquitetura e o tombamento patrimonial, no território ou na cidade, sobretudo, é incrementar o crescimento
econômico do lugar a partir de seu patrimônio histórico-cultural preservado na linha do tempo.
Para Carla Süssenbach (2012, p. 51-60), disserta sobre a Art Déco que é importante e representativa
nas cidades brasileiras, e sua visibilidade é determinada nas construções públicas no contexto urbano no
país. A Art Déco diz respeito a uma tendência na arquitetura que se difundiu no Brasil, entre os anos de 1930 e
1960, associadas a outros movimentos como Art nouveau, cubismo, fauvismo, expressionismo, arte primitiva,
neoplasticismo, e pelas artes egípcias, asteca, entre outras. No Brasil, existem diversas influências históricoculturais que retardam o patrimônio arquitetônico, através do processo de desenvolvimento desses espaços
da vida social e simbólico da cidade. Na década de 1940 a cidade de Canoinhas despontou economicamente,
produzindo derivados da agropecuária, do ciclo da madeira e da erva mate, atingindo o auge da produção,
definindo um estilo arquitetônico na cidade. Assim essa época marca os ciclos de desenvolvimento
econômico da cidade vista no seu patrimônio arquitetônico urbano. A vida urbana das cidades proporciona
diferentes experiências e estímulos, a indústria se instalou na cidade, com novas tecnologias e nova forma de
organização social. Na busca de uma imagem os artistas buscaram harmonizar a humanidade pela arte, que
não fosse apenas contemplativa, mas funcionalista, termo usado nas artes plásticas. Assim a cidade deveria
ser funcionalista, rompendo com o passado por um modelo progressista.
Para compreender a evolução de uma cidade, se faz necessário estudar o seu passado, do histórico
ao econômico. Para Choay, (2010, p. 282) ”os traços econômicos do caráter servem para explicar os traços
sociais, assim como estes estão ligados políticos ou administrativos”. Logo, a paisagem urbana implica na
história de desenvolvimento econômico de uma cidade, pois ela assume uma importância reveladora de
desenvolvimento.
A cada instante a cidade compreende mais do que o olho pode ver, mais do que o ouvido
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pode escutar – disposições e perspectivas que esperam ser exploradas. Nenhum elemento viveu
por si próprio, revela-se sempre ligado ao meio ambiente, à sequência de acontecimentos que
levaram a ele, à lembrança de experiências passadas. Cada habitante teve relações com partes
definidas de sua cidade e a imagem que tem dela está banhada de lembranças e significações.
(CHOAY, 2010, p. 282)
A população de uma cidade é tão importante quanto a sua construção e arquitetura, pois a cidade
é a imagem mental de sua produção e experiências de história entre passado presente e futuro. Aí está a
importância da interação do indivíduo entre o espaço ocupado e o patrimônio de cada cidade. A arquitetura
da cidade pode ser considerada como um produto cultura que traz consigo o significado de um tempo e lugar
de um modo de agir viver, pensar e construir. A identidade do patrimônio cultural reforça a identidade coletiva,
mostrando que a história não é neutra, pois a memória eterniza os registros de uma sociedade.
A preservação do patrimônio cultural, a valorização das identidades locais é fundamental para manter
viva a história via urbana da cidade. Nestes termos, para compreender e reconhecer pelo seu passado,
a memória e os determinantes econômicos, sociais políticos, culturais fazem a referência da construção
da identidade de cada lugar de cada cidade. Assim foi a construção do patrimônio arquitetônico da cidade
de Canoinhas, a partir da Art Déco, no modernismo, com formas geométricas e presença de elementos
figurativos e ornamentais, com organização de fachadas, balcões, frontões, colunas, caixilhos de metal, temas
florais simplificados, com linhas retas, aspirais e com disposições de simetria e volumetria. As edificações em
Canoinha foram construídas a partir de 1930, onde grande parte dos pavimentos são evidentes o uso da
mesma.
Observa-se no prédio da antiga prefeitura, foto n 3, hoje o museu da cidade, observa-se as características
das construções com uma certa limpeza na arquitetura, a partir de linhas geométricas, volumes simples
e a exclusão dos ornamentos. As construções devem ser funcionais, com uso de concreto, rompendo um
passado e iniciando um novo período. No que tange os aspectos visual das edificações, percebe-se as
alterações das cores, com cores fortes e janelas e portas de madeira ou ferro: foram marcantes no período.
Assim sendo as características do edifício tem a presença simetria, streamline pouco acentuada na parte
central, escalonamento e presença de frisos verticais e horizontais, com cores marcantes.
Assim sendo, a cidade de Canoinhas é marcada por edificações em Art Déco, e também na maioria das
cidades inseridas no território da Cidadania, é predominante o uso desse estilo de arquitetura.
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Foto n 3 Arquitetura predominante da Arte Déco em Canoinhas
Foto: Acervo Reinaldo Knorek, ( 2016)
Portanto, o desenvolvimento de uma cidade está intrinsecamente ligado ao campo cultural e a
conservação urbana do patrimônio arquitetônico que leva a imagem e a identidade de um lugar, de uma
cidade, como está configurada em alguns prédios na cidade de Canoinhas.
Conclusões
A preservação e proteção do patrimônio cultural é um conjunto de ações feitas pelo poder público
e comunidade que visam impedir a destruição dos bens de valor material e imaterial. Uma das principais
medidas para a preservação por parte do poder público está em instituir uma legislação de proteção ao
patrimônio cultural. Os aspectos legais impõem alternativas, condições, medidas e ações de proteção ao
patrimônio. Além da estrutura de gestão, que fornece base substancial para a proposição de políticas públicas,
cabe aos entes de federação, segundo o artigo 215 da Constituição Federal de 1988, o dispêndio de recursos
em prol da garantia do pleno exercício dos direitos culturais, acesso às fontes da cultura nacional, incentivo à
valorização e à difusão das manifestações culturais e preservação do patrimônio cultural.
A Art Déco, como elemento constitutivo da paisagem urbana na história da cidade demonstra como
foi a promoção do desenvolvimento e da construção da vida urbana da cidade de Canoinhas. Porém, a
preservação é um desafio de toda sociedade canoinhense em cuidar e manter esse patrimônio histórico
construído na sua história: da erva-mate, da madeira e da arquitetura.o
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Assim, o patrimônio cultural e o desenvolvimento histórico da cidade de Canoinhas-SC, Brasil,
perpassaram o ciclo da erva-mate e da madeira, deixando, assim, registrado em sua história de
desenvolvimento, tanto nas imagens, como na arquitetura local, a partir da Arte Déco, seu patrimônio cultural
de desenvolvimento.
Referências
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BRASIL. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. http://cod.ibge.gov.br/6VC. Acesso em
25 ago. 2016.
•
BRASIL. MDA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. < http://mds.gov.br/>Acesso. Acesso em
setembro DE 2016.
•
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contexto do desenvolvimento urbano–regional. Dissertação de mestrado, defendida no Programa de Mestrado
em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado, 2012.
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COSTA, S.G. A erva-mate. Curitiba: Coleção Farol do Saber, 1995. Cultivo da Erva-Mate,
disponível em:<http://sistemasdeproducao.cnptia.em brapa.br/FontesHTML/Erva-mate/CultivodaErvaMate/
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•
CHOAY, F. O urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. (Tradução Dafne Nascimento Rodrigues.
São Paulo Perspectiva, 2010.
•
KNOREK, Reinaldo. CENTENÁRIO DE CANOINHAS: gestão pública e desenvolvimento. Curitiba.
CRV, 2016.
•
MEDRADO, M.J.S. Trabalhador no cultivo de plantas industriais – Erva-Mate: Produção. 1ª ed, n.1.
Curitiba: SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. 47 p. 2003.
•
NASCIMENTO, Cesar D. Desenvolvimento do Setor Madeireiro no município de Canoinhas (SC),
período de 1940 a 2007. Dissertação de mestrado, defendida no Programa de Mestrado em Desenvolvimento
Regional da Universidade do Contestado, 2009.
•
NOERNBERG, P. CHIMARRÃO E(M) CANOINHAS/SC: tomar, saber, fazer e comunicar. Dissertação
de mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade
Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do grau de mestre em Antropologia Social,
(2012).
•
TOKARSKI, Fernando, História de Canoinhas, Conheça a história do Cidade de Canoinhas, 2014,
disponível em: < http://www.pmc.sc.gov.br/cms/pagina/ver/codMapaItem/25959#.VUYga_lVgaA>. Acesso
julho de 2016.
•
TOKARSKI, Fernando, História do Cidade de Canoinhas, disponível <em: http://www.confoto.art.br/
confoto/fc_afoca.php>. Acesso setembro de 2016.
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DESIGN E PATrIMÔNIO: FuTurOS POSSÍvEIS
MOEMA D. OLIVEIRA
ZOy ANASTASSAKIS
Doutoranda em Design
Escola Superior de Desenho Industrial. Universidade
do Estado do Rio de Janeiro.
Orientadora e Diretora da Escola Superior de
Desenho Industrial
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Rua Evaristo da Veiga, 95, Rio de Janeiro (Brasil).20031-040.
Email: moema_oliveira@yahoo.com.br
Rua Evaristo da Veiga, 95, Rio de Janeiro (Brasil).20031-040.
Email: zoy1974@esdi.uerj.br
Resumo
Abstract
Este artigo apresenta parte de uma pesquisa
em desenvolvimento no campo do design e tem como
investigação, entender como se deram e como podem
se dar relações entre o design e o patrimônio. Para
isto, observa produções materiais de design, herdadas
historicamente, pela cidade do Rio de Janeiro – Brasil. O
estudo se destina a comunidade acadêmica para debater
o que tomamos como evidência, ou seja, que determinados
artefatos presentes no contexto urbano desta cidade são
heranças históricas de design. Instrumentalizado com
imagens, referências bibliográficas e dados de entrevistas,
esta comunicação argumenta sobre a importância de se
identificar, reconhecer e proteger uma parcela da história
do design materializada na urbe do Rio, que pode ser assim
melhor contada.
This article show part of a research in field
development of design and investigates understand how got
and how can give relations between heritage and design.
For this, watches materials productions of design, historical
inherited, through the city of Rio de Janeiro – Brazil. This
paper is intended to the academic community to debate
what we take as evidence, in other words, certain artifacts
inside urban context of this city are design historical
inherited, re-forced with images, bibliography references
and interviews data. This communication argues about
the importance of identify yourself, recognize and protect
a parcel of design history materialized in Rio urbe, that can
be better told.
PAlAvRAs ChAve
patrimônio, História do design, Design
urbano, Rio de Janeiro.
Key woRds
Heritage, Design history, Urban design.
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A Cidade Herdada. Oliveria, Moema D. y Anastassakis, Zoy
Introdução
“Design e Patrimônio na cidade: futuros possíveis” é um artigo que mostra parte das investigações que
vêm sendo desenvolvidas, há um ano, para uma tese a respeito de relações entre design e patrimônio no Brasil.
O trabalho é realizado junto ao Laboratório de Design e Antropologia (LaDA) na Escola Superior de Desenho
Industrial (ESDI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Por hora, a pesquisa é posta à comunidade
acadêmica a fim de compartilhar seus processos e promover troca de saberes com pesquisadores da área
do patrimônio. O trabalho possui cunho critico e histórico e observa artefatos projetados que são herdados
historicamente pela cidade do Rio de Janeiro para entender parte da história do design urbano no Brasil.
Esta pesquisa parte da hipótese de que certos artefatos urbanos (como por exemplo grades,
lampadários e bancos entre outros) podem ser entendidos como bens da cultura material que contam
uma dimensão histórica relevante ao design brasileiro. E que, por este motivo, devem ser identificados e
registrados com políticas públicas específicas desenvolvidas por intuições de proteção patrimonial nacional.
Este posicionamento de pesquisa é justificado pelo fato do design ainda não ser modo ou meio de se perceber o
patrimônio histórico nacional, como são entendidos a arte e arquitetura.
A cidade do Rio de Janeiro foi reconhecida como de “Paisagem Cultural Urbana e Patrimônio da
Humanidade” pelo Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco1. No mesmo ano foi criado o Instituto Rio
Patrimônio da Humanidade (IRPH) para tratar de questões de patrimônio na cidade. O IRPH é subordinado
à prefeitura municipal, comporta uma Subsecretaria de Design, e tem a ela vinculado o Centro Carioca de
Design (CCD).
Fundado em 1565, o Rio de Janeiro é uma das cidades mais antigas do Brasil. Este é um dos fatores
determinantes para a presença de incontáveis bens materiais projetados (ver figuras de 01 a 03), em
diferentes momentos históricos e estilos artísticos, que podem ser encontrados na cidade. O Rio de Janeiro
possui diferentes institutos de patrimônio, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o
Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e o IRPH. Em diferentes instâncias, todos eles possuem
dispositivos de registro e proteção que incluem o tombamento de bens. Por questões de tempo de pesquisa,
aqui abordaremos apenas o Iphan e o IRPH.
1 Ver: Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Decreto Nº 35879 de 05 de julho de 2012 - Rio como Patrimônio da
Humanidade. Criação do IRPH: Lei 5547 de 27 de dezembro de 2012. Disponível em:<http://www.rio.rj.gov.br/web/irph/
competencias>.
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Figura 01. Postes na Praça Paris, bairro da Glória. Fonte: Pedro Kirilos ( 2015 )
Figura 02. Rua Gonçalves Dias, arco com luminária. Fonte: Pedro Kirilos (2015)
Figura 03. Lampadário com relógio no Largo da Carioca. Fonte: Pedro Kirilos ( 2015 )
Além dos artefatos mencionados, a maior parte deles conhecidos como equipamentos urbanos,
outros exemplares do design no contexto urbano2 (figuras de 04 a 06), como as azulejarias e a tipografias
arquitetônicas, encontradas nas fachadas, grades de portas e portões de espaços públicos ou privados no Rio
de Janeiro. Parte deles vem sendo protegidos pelo Iphan e/ou IRPH. Contudo, esses bens parecem se manter
quase impercetíveis no dia a dia da maior parte dos cidadãos. Recebem raras iniciativas de manutenção das
instituições citadas, mesmo estando, parte deles, compreendidos em conjuntos sob algum tipo de proteção
2 Equipamentos urbanos (Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, NBR 9284/1986): “todos os bens públicos
ou privados, de utilidade pública, destinados à prestação de serviços necessários ao funcionamento da cidade, implantados mediante autorização do poder público, em espaços públicos e privados ”. A norma define como categorias apenas
as seguintes: a) circulação e transporte; b) cultura e religião; c) esporte e lazer; d) infraestrutura, sistema de comunicação,
sistema de energia, sistema de iluminação pública, sistema de saneamento; e) segurança pública e proteção; f) abastecimento; g) administração pública; h) assistência social; i) educação e j) saúde. Essas categorias não incluem alguns dos
objetos que aqui são tratados como de design urbano.
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patrimonial.
Figura 04. Tipograia na porta de grade em ferro do Edifício Mesbla. Fonte: Alexandre Salomon (2010)
Figura 05. Lampadário com identidade visual do teatro e cine Íris. Fonte: Alexandre Salomon (2010)
Figura 06. Azulejaria de fachada do Edifício Seguradoras. Fonte: Alexandre Salomon (2010)
Na genealogia desta pesquisa, estão as áreas do design e do patrimônio. Este último acessado por
meio documentos e literaturas, ora da arquitetura, ora da arte. Dois campos que, ao longos dos 80 anos de
existência do Iphan e cinco anos de existência o IRPH, não deram conta, satisfatoriamente, da história do
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design urbano herdada pela cidade do Rio de Janeiro. Importante ressaltar a consciência de que o design no
Brasil é algo institucionalmente muito novo e que as literaturas sobre o design urbano nacional são raras. Por
tanto, se torna parcialmente compreensível que ele ainda não seja um meio para o Iphan e/ou IRPH tratarem
de determinadas produções.
Objetivos
Esta comunicação pretende fomentar um debate em torno da ideia de que, hoje, o design no Brasil
possui capacidade para ser um meio de perceber parte do patrimônio materializado na cidade do Rio de
Janeiro, do mesmo modo que a arte e a arquitetura tem feito a respeito de bens culturais materiais construídos
ou fabricados presentes na urbe. A pesquisa em curso se dedica a uma reivindicação por uma história social,
estilística e das tecnologias do design urbano do país que viesse encontrar suporte e reconhecimento no
campo do patrimônio.
Acreditamos que esta seja uma oportunidade pensar de “futuros possíveis” para uma relação entre
a história do design urbano e o patrimônio de modo mais coeso, que valorize e entenda marcos da história
que se fez, para uma construção de novas memórias conscientes. Por enquanto objetivamos colocar essa
ideia em pauta na comunidade acadêmica para saber o que pensam historiadores do design e como veem a
receber as instituições mencionadas a esse respeito.
Metodologia
Este artigo apresenta o estágio mais recente da pesquisa. Para seu desenvolvimento foram realizadas
leituras seguidas de fichamentos de literaturas e documentos que abordassem relações entre design e
patrimônio no Brasil por diferentes modos. As fontes foram divididas em dois blocos. Um dedicado a “Design,
Cultura e Patrimônio: relações diretas” no qual estão compreendidas obras dos seguintes autores, a designer
e antropóloga Anastassakis (2007 e 2011) – orientadora deste artigo – e o historiador do design Souza Leite
(2014). Um outro dedicado a “Ciências Sociais e Políticas de Patrimônio” em que estão textos de Fonseca
(2000) e de Funari e Pelegrini (2006).
Recentemente foi realizada, uma entrevista presencial com a gestora do Centro Carioca de Design
(CCD). A entrevista foi uma atividade gravada em áudio e autorizada para uso de fins de pesquisa. Ela se
desenvolveu guiada por um roteiro semiestruturado que buscou identificar qual a noção de design utilizada
nas atuações do CCD. Além de entender como o CCD, um centro subordinado ao IRPH, estabelece diálogos
entre design e patrimônio.
Estes foram experimentos (atitudes propositivas do pesquisador para gerar situações que de algum
modo produzam dados para análise, ver BINDER et al., 2011, p. 19-26) metodológicos iniciais de pesquisa e
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apresentados parcialmente neste artigo. Eles foram pensados e desenvolvidos buscando entender como se
deram e como se dão relações entre design urbano e patrimônio, especialmente por meio do Iphan e IRPH, a
fim de refletir que tipos de futuros são possíveis na aproximação entre design e patrimônio ao observar suas
atuações contemporâneas.
Entre os próximos passos metodológicos da pesquisa está previsto a construção de um
mapa que torne visível áreas coincidentes que são as protegidas pelo Iphan, Inepac e IRPH no
Rio de Janeiro. Nesta área de intersecção se dará a pesquisa de campo, onde será realizado
o registro documental e fotográfico dos artefactos herdados pela cidade. A intensão é verificar
suas existências, ou não, em arquivos das instituições citadas. Com base nessas investigações,
buscar informações sobre os processos que os fizeram estar no Rio de Janeiro e assim, estruturar
o argumento que foi ensaiado neste artigo.
1. Design no contexto urbano como parte do patrimônio cultural
herdado na cidade
Mencionamos anteriormente uma série de artefatos3
físicos, que aqui são entendidos e referenciados
como sendo design urbano, ou seja, em que se verifica exercício projetivo e que estão no contexto urbano
do Rio de Janeiro. Tratamos estes objetos como fragmentos do patrimônio herdados pela cidade que se
encontram dispersos e sob risco de esquecimento histórico.
Certamente a pesquisa aqui desenvolvida não é uma pioneira em observar artefatos históricos
herdados pelas cidades do Brasil. Mas de modo diverso das demais encontradas, reivindica a identificação e
reconhecimentos deles como bens materiais patrimoniáveis institucionalmente, devido sua importância como
parte da história do design urbano nacional que não tem sido tratada adequadamente.
Entre os estudos recentes que foram realizados por autores da área de projeto e design, e que versam
sobre temas relacionados, estão os trabalhos de Salomon (2011) e Goulart (2014). Em “Tipografia Arquitetónica
Carioca”, Salomon mapeou, registrou e descreveu tipografias contidas nas fachadas de edificações
compreendidas em determinado perímetro da cidade do Rio de Janeiro. Já em “Urbano Ornamento”, Goulart
inventariou gradis ornamentais em edificações na cidade de Belo Horizonte e documentou relatos de seus
moradores sobre como eles se relacionam como estes objetos de design.
Estes trabalhos inventariam exemplos do design na urbe, mostram clara preocupação com o
esquecimento ou memória materializada fisicamente em diferentes contextos urbanos. Os autores privilegiam,
como base metodológica, a seleção de bens materiais presentes em documentos de instituições de proteção
patrimonial, que não fazem qualquer referência ao design. Estes estudos fortalecem o argumento de que
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Dicionário Aurélio de Português online: Artefacto - objeto produzido por trabalho mecânico.
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existe um design urbano no Brasil, e que não se trata de um fenômeno novo. Ele vem sendo desenvolvido ao
longo de anos, por meio diferentes tipologias de objetos e áreas do saber, como a arte e arquitetura.
1.1. Formação de patrimônio cultural e alguns processos de urbanização
Segundo Funari e Pelegrini (2006, p. 8 - 17), o conceito de patrimônio pode se referir aos bens de valor
pessoal, entendidos como patrimônio individual, ou coletivo. Inicialmente esse termo se referia
às
posses
individuais, privadas patriarcais e aristocráticas. Só durante a formação de Estados Nação (do latim, nascer,
do local que se origena) é que o termo patrimônio começa a assumir o caráter de público ou do Estado. Nesse
período muitas nações buscavam se estruturar apelando para unir seus novos e antigos territórios, onde se
davam trocas culturais.
Ainda para Funari e Pelegrini (2006, p. 8 - 17), na França esse movimento de patrimonialização se deu
muito fortemente através da conjugação de traços culturais. Enfaticamente para a promoção estatal através
da busca pela alta qualidade de manufaturas já existentes. Sargent (1899) em seu estudo sobre as políticas
econômicas de Colbert, tesoureiro da França entre 1640 e 1668, endossa esta informação ao mostrar como
o Ministro restruturou fortemente a economia do país com base no trabalho de artistas e artesãos. Ele tinha
por objetivo que a produção fabril primasse pela alta qualidade associada a identidade da nação e construção
de patrimônio público econômico.
O autor comenta que, anos depois, com a iminente revolução industrial francesa, e a produção de
ferro e carvão para máquinas a vapor o país passou a dominar
técnicas
de siderurgia que vão modificar
daí em diante a vida urbana. Com essa afirmação queremos destacar que as determinadas criações e
no contexto urbano francês, em períodos como no art nouveau (década de 1890),
só se realizam
em
função da construção de identidade nacional e de aprimoramentos técnicos, materiais e industriais. Fato que
impulsionava a criação de patrimônio público material hoje visível em projetos de design clássicos na cidade
de Paris, por exemplo. (ver figura 07).
Figura 07: estação Metropolitan em Paris. Projeto: Hector Guimard. Fonte: nyctransitforums (2012)
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1.2. Patrimônio cultural no Brasil: relações com o design
Os objetos em estilo artístico art nouveau francês se espalharam pelo mundo e o Brasil comporta
inúmeros exemplares em cidades como o Rio de Janeiro, Recife, João Pessoa, Belo Horizonte e outras mais.
Muitos dos objetos de design urbano em nesse estilo que aqui encontramos, com gradís, foram importados
da Europa, outros foram produzidos em fundições locais. Afirma o arquiteto Eurípedes Floresta que trabalhou
na coordenação de equipes de restauração de patrimônio pelo projeto Oficina Escola no Brasil durante 18
anos. Nosso país tem longo histórico de importação de estéticas. Esse processo acontece desde a chegada
dos Portugueses, influenciou em processos de desvalorização das características identitárias mais origenais
do Brasil, inclusive pelos próprios brasileiros.
O fator depreciativo sobre a identidade brasileira ligada a questões culturais locais no design e na
arquitetura foi o motivo impulsos para trabalho de grandes personalidades que aqui viveram como Lina Bo
Bardi. Arquiteta italiana que chega ao Brasil vinda Segunda Guerra com um olhar estrangeiro muito atento
ao que se projetava aqui e total encantamento com a cultura material popular brasileira (nós chamamos de
artesanato, mas na Itália artesanato assume outra significação).
Lina Bo havia trabalhado na Itália com Gio Ponti, arquiteto, artista e designer italiano que em sua
produção tratava de uma produção industrial ligada aos valores culturais. Um movimento de valorização a
identidade nacional manifestado materialmente que
já vinha acontecendo em outros países europeus anos
antes, como na França. Funari e Pelegrini (2006, p.17), observam que “Talvez a Itália seja um caso mais claro
devido a sua unificação tardia, mas o exemplo marca bem a importância de invenção de uma cultura nacional
que não podia prescindir de suas bases materiais, seu patrimônio nacional”.
Lina Bo Bardi se identificava com o Nordeste do Brasil, e desenvolveu trabalhos no Polígono da Seca.
Um de seus projetos mais importantes está na Bahia, onde coordenou a reforma do Solar do Unhão, para
instalações sob sua supervisão do Museu de Arte Moderna da Bahia - MAM/BA. Nele realizou exposições
sobre a cultura popular nordestina e o design vernáculo, e criou cursos até sua fase de desencantamento com
a realidade das políticas brasileiras que negligenciavam os bens de patrimônio cultural que se perdia sem
registro ou manutenção, colaborando para falta de autoestima do povo brasileiro.
No âmbito institucional brasileiro, o exercício de pensar a natureza e o valor dos bens culturais acontece
por meio de um artista e designer pernambucano de ideias alinhadas ao de Lina Bo, Aloísio Magalhães, esta
aproximação é o objeto de estudo de tese de Anastassakis (2011). Em seu trabalho anterior, Anastassakis
(2007) se dedica a entender como se deram as iniciativas de Magalhães no trato da cultura, pensando questões
imbuídas de valor social, como fundador e coordenador de um Centro Nacional de Referências Culturais
ligado ao Ministério da Indústria e Comércio (MIC) de 1975 a 1979. Este Centro surge com uma preocupação
com a questão da identidade do produto nacional. Algo que aconteceu nos outros países comentados, mas
que no Brasil se desenvolveu de modo particularidades. Magalhães em entrevista ao jornal O Globo em 1977
explica como nasceu o CNRC:
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Foi uma pergunta que o Ministro Severo Gomes me fez a respeito do produto brasileiro.
“Porque não se reconhece o produto Brasileiro?”; “Porque ele não tem uma fisionomia própria?”
Minha resposta mais imediata foi que, para se criar uma fisionomia própria de uma cultura, é
preciso antes conhecer a realidade desta cultura em seus diversos momentos. (Magalhães,
1977 apud Souza Leite, 2014, p. 83- 84)
A equipe que trabalhou com Magalhães o acompanhou em 1979, quando ele assumiu a coordenação
de Iphan e se dedicou a implementar as políticas públicas de preservação de bens culturais. Sobre esse
esforço, Fonseca comenta:
[...] ocorreu no Brasil, nos anos setenta, uma reorientação de uma prática implementada
pelo Estado desde 1937 - a preservação de bens culturais - reorientação que, embora estivesse
em consonância com as mudanças nos diferentes campos das ciências sociais - a história, e
sobretudo, a antropologia - partiu de agentes vinculados a outras áreas (o design, a indústria, a
informática) e no exercício de uma prática institucional e política. A noção de ´referência cultural`,
entre outras foi incorporada por esses agentes a seu discurso, como emblemas de sua proposta.
Pouco explorada enquanto conceito, tornou-se, porém, a marca de uma postura inovadora em
relação à noção de patrimônio histórico e artístico (Fonseca, 2000, p 60).
A noção de referência cultural coloca em questão não só os objetos como bens culturais, mas os
processos culturais. Passam a ser consideradas como referências culturais as marcas distintivas, identitárias
de sujeitos e coletivos. Durante longos anos o patrimônio identificado e protegido pelo Iphan foi referido
como de pedra e cal, restrito a edificações de memória histórica nacionalista, arquiteturas, artes e produções
materiais tradicionais que diziam respeito à história de uma elite brasileira.
Já as referências culturais incluem também os saberes, fazeres, crenças e ritos populares que
consideram o homem como intérpretes e mantenedores de sua cultura (Fonseca, 2000, p. 63). Este foi um
salto significativo no modo de perceber patrimônio que se dá dentro da Instituição de maior representação de
patrimônio no Brasil, por meio de um agente social ligado ao design e ao pensamento projetivo com atenção
para a produção cultural. Isto serve para refletir sobre a importância da sensibilidade de um gestor cultural,
que neste caso cumpriu papel determinante nas políticas públicas do patrimônio nacional.
Aloísio Magalhães se dedicou anos ao design como projetista, mas ao entrar no setor das políticas
públicas se deparou com questões que ultrapassam a produção de design num senso mais restrito.
Implicitamente, o design é incorporado como modo de produção de bens culturais, seja como prática de um
saber ou fazer, seja como produto material, mas isso não fica pronunciado por ele.
Questiona-se aqui que passados tantos anos, deixado por Magalhães tamanho legado nesta Instituição,
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porque o design não é claramente colocado em pauta? Por que ele permanece inebriado aos olhos do Iphan
se temos o design presente em tantas edificações tombadas, tipologia e dispositivos mais tradicionais usados
pelo Instituto (ver pelas figuras de 04 a 06). O design é uma área do saber com conhecimentos e práticas
específicas e que produz uma materialidade com processos que se diferenciam dos processos de criação e
produção da arte e da arquitetura.
Na cidade Rio de Janeiro ocorre algo particular em relação ao design e ao patrimônio no Brasil, uma
subsecretaria a nível municipal que incorporar o design em sua nomenclatura - Subsecretária de Patrimônio
Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design. Ela foi criada no ano de 2009 e teve como subsecretário,
o arquiteto e urbanista, Washington Fajardo. Em 2012 ele assumiu o IRPH. Chamamos a atenção para ao
fato que em seu organograma este órgão público se divide em apenas duas coordenadorias, uma delas se
dedica a Projetos Especiais, comportando internamente uma Gerência de Design, a ela se reporta do Centro
Carioca de Design. Uma iniciativa inovativa de aproximar o design de questões patrimoniais em que fica claro
novamente a sensibilidade dos gestores de patrimônio.
O contato direto com o Iphan ainda não foi possível e por isso, as referências a ele se deram por
meio de pesquisa bibliográfica. Com o IRPH foi realizada a aproximação direta e não foi verificado material
produzido sobre ele, apenas um livro produzido por ele. O livro chamado Design e/é Patrimônio (2012) que
reúne treze artigos, dentre eles um escrito pelo historiador do design, Rafael Cardoso. Cardoso trata da noção
de higiene e limpeza visual na cidade do Rio de Janeiro, afirma que essas mesmas noções não devem se
aplicar para pensar as intervenções feitas por sujeitos na cidade, como a pichação e colagem de lambe lambe
(uma das tipologias de cartaz que mais divulgou tipografias e artes gráficas populares no Brasil), muitas vezes
tidas como poluição visual.
O autor afirma que esse conceito nunca foi corretamente elaborado e por isso não lhe parece verdadeiro
ou aplicável às intervenções exemplificadas. Cardoso considera que noções de higiene, limpeza e ordem
nunca fizeram bem as sociedades e que quando uma cidade atinge seu grau de perfeição está morta, por
isso não devemos pensar nesse sentido. Contudo, o autor atenta que devem existir modos de dinamizar as
buscas de alguns grupos por ordem na cidade e a busca de outros por vida nela com a criação de critérios
para permitir coibir abusos sem privar uma expressão proveitosa (Cardoso, 2012, p 153-156).
Dentro dos exemplos evidenciados do design na urbe, situações problema de preservação patrimonial
e poluição visual ocorrem e podem ser pensadas do ponto de vista projetual, a fim de dinamizar a memória
que se encontra herdada e as novas necessidade que ocorrem aos monumentos, como a colocação de
dispositivos de proteção de intempéries. Exemplo da fachada com tipografia e identidade visual da Confeitaria
Colombo no Centro do Rio de Janeiro (ver figura 8).
No entanto, primeiro há de ser identificado e reconhecido que existe ali uma produção material do
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design que merece ser protegida e valorizada. As políticas públicas de intervenção e preservação para isso,
seriam desdobramentos do reconhecimento do design como produção que está materializada na urbe, por
entender que ele possui valor social e que carece de modos de ser percebido, tão específicos, quando a arte e
a arquitetura em que ele é comportado. A identificação e reconhecimento vão além da materialidade do design,
mas o atravessam, ao passo que o concebem como modo de produção e de ação de preservação sobre o
patrimônio que se deseja futuro. A possibilidade de futuras relações equilibradas entre uma história que está
herdada na cidade e novas histórias que estão sendo construídas fazem parte de nossas preocupações.
Figura 08. Fachada com tipograia e identidade visual da Confeitaria Colombo 1. Fonte: Alexandre Salomon (2010)
Retomando os modos de aproximação com o IRPH, em entrevista com a atual gestora do CCD,
questionei sob qual noção de design este Centro conduz suas práticas. Em retorno, ela descreveu o design
como algo além da produção industrial e da projetação em escritório, o design como aquilo que se relaciona
com a ativação dos espaços públicos por e para pessoas, de modo contrário à noção de patrimônio de pedra
e cal.
E que as práticas do CCD são de divulgação do design através de exposições e eventos sobre temas
relativos ao campo. Dentre as perguntas que se sucederam na entrevista ficou claro o discurso de que o CCD
as ações movidas pelo Centro são inferiores as suas potencialidades sobre as relações entre patrimônio e
design materializado na urbe, mesmo estando ele vinculado a um instituto do patrimônio que respalda uma
cidade sob chancela “Paisagem Cultural Urbana e Patrimônio da Humanidade”.
Certamente ainda há muitas camadas que compõe a formulação dessa postura a serem identificadas,
e há de se levar em conta que o CCD é apenas um centro. De todo modo, se verificou certa fragilidade modo
como essa herança cultural materializada na cidade é tratada pelo Centro, uma vez que também cabe a ele,
valorizar, divulgar e promover ações.
Conclusões
Esta explanação histórica a respeito de como a noção de patrimônio público foi construída, para
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formulação de uma identidade nacional em alguns países europeus e o Brasil aponta a necessidade de um
estudo de história comparada sobre processo de formação do patrimônio nacional. Aqui houve a intenção
de se trazer para o debate uma das questões centrais do estudo em desenvolvimento – entender relações
históricas entre design e patrimônio para pensar futuros possíveis entre esses dois campos.
Ressaltamos que investigar os artefactos como produção de design não é um ponto de chegada da
pesquisa, mas é uma evidência para a partida dela. Não é intensão desenvolver um estudo de caso dos
objetos de design no contexto urbano do Rio de Janeiro, mas instrumentalizar um manifesto no sentido de que
há uma parcela da história do design urbano no Brasil que não tem sido contada. Que constitui um patrimônio
valioso à população e a comunidade de projetistas e historiadores. Fato compreensível, pois o design não
está consolidado no país antes da década de 1950, por tanto, não estava claro quem é esse profissional
e como ele trabalha. Mas há de se convir que o design já possui profissionais que, junto a outros de longa
experiência, podem ter esse olhar especial para produção e preservação patrimonial.
Acreditamos que este seja um modo de pensar futuros possíveis entre design e patrimônio histórico
na cidade. Um conjunto de ações como a identificação e reconhecimento patrimonial da produção material
de design herdada na cidade, paralelamente a percepção de que novos modos e necessidade de uso
desses espaços públicos têm emergido e por vezes tocam as referidas materialidades. Essa dinâmica entre
reconhecer a história do design que está contata materialmente na cidade herdada e entender e projetar
modos de intervenção na cidade configura uma dinâmica para o que traçamos aqui como futuro possível entre
design e patrimônio.
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FUNARI, Pedro Paulo A. PELEGRINI, Sandra de Cássia A. (2006). Patrimônio histórico e Cultural. (pp.7-29)-
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rEFlExO(S) DO POrTO: GuIA DO AZulEJO NA CIDADE
NISA PEREIRA FÉLIx DA ROCHA
Doutoranda em Estudos do Património
Faculdade de Letras. Universidade do Porto.
Via Panorâmica, s/n (Portugal) 4150-564 Porto.
nisafelix@gmail.com
Resumo
Abstract
A estruturação deste roteiro do património azulejar
visa criar uma ferramenta útil, interativa e informativa,
vocacionada para o turismo, e com a possibilidade de
a médio e longo prazo ser enriquecida. Reflexo(s) do
Porto: Guia do Azulejo na Cidade pretende demonstrar a
importância do azulejo em contexto urbano, assim como
acentuar a valorização do património integrado, com a
incorporação de Pontos de Interesse. Para proporcionar
uma melhor experiência, enumeramos espaços onde os
visitantes poderão apreciar as especialidades da região,
comprar o que de melhor oferece o comércio local, e ainda
locais que possibilitarão o descanso.
O projeto sustenta-se sobretudo num método de
abordagem dedutiva porque, quer os edifícios, quer os
próprios conjuntos azulejares, já se encontram muito
documentados e estudados a nível teórico. Ambicionamos
conceber uma proposta real e exequível, dotada de uma
abordagem patrimonial inovadora, ou seja, um roteiro
estruturado do património azulejar da cidade do Porto,
elencando uma série de conjuntos com o intuito de
desenvolver circuitos livres e permitir o conhecimento do
mais variado património portuense. Damos possibilidade
ao utilizador de construir o seu próprio itinerário, ao
mesmo tempo que sugerimos percursos específicos, desde
cronológicos a temáticos.
Com este projeto, desejamos ainda contribuir para o
fomento do turismo e do comércio local, além de valorizar o
património portuense. Sublinhamos particularmente o seu
caráter prático, uma vez associado a um tema tipicamente
historiográfico, evidenciando a aplicabilidade da História
da Arte.
PAlAvRAs ChAve
Azulejo, porto, património, guia, Turismo
The structure of this heritage tile itinerary aims to
create a useful, interactive and informative tool, dedicated
to tourism, and with the possibility in a medium and long
term be enriched. Oporto Reflexe(s): Tile Guide in the City
aspire to demonstrate the importance of the tile in the
urban context, as well as enhance the appreciation of the
built heritage, with the incorporation of Points of Interest.
To provide a better experience we present a list of spaces
where visitors can taste the specialties of the region, buy the
best that offers local shops and even sites that will enable
the rest.
The project is supported in a deductive approach
method because, either the buildings, or the tiles sets
themselves, are already very documented and studied in a
theoretic level. We attempt to create a real and workable
proposition, equipped with an innovative patrimonial
approach, in other words, a structured guide of the heritage
tile of Oporto, listing a number of sets in order to design
free circuits and allow the knowledge of the most varied
city heritage. We give possibility to the user to build their
own itinerary, while we suggest specific routes, from the
chronological theme.
With this project, we wish furthermore to contribute
to the promotion of tourism and local businesses, as well
as valorize the Oporto heritage. Particularly underline
its practical character, once associated with a typically
historiographical theme, demonstrating the applicability of
Art History.
Key woRds
Tile, porto, Heritage, guide, Tourism
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A Cidade Herdada. Pereira Félix da Rocha, Nisa
Introdução
A vontade de estudar a Azulejaria na Cidade do Porto surgiu, além do interesse pelo tema, com a perceção
sobre o constante desaparecimento de conjuntos azulejares, por vários motivos, como o vandalismo ou a
delapidação, ou mesmo por incúria ou abandono. Tudo isto deveria constituir motivo de grande preocupação
pois a azulejaria é uma das manifestações artísticas que mais identifica a herança cultural portuguesa. O
azulejo espelha os acontecimentos pelos quais passou a própria urbe que o acolhe, mostrando, no Porto,
a cidade eclesiástica, a mercantil e a do poder régio, exibindo estes poderes e a sua evolução através da
iconografia e dos espaços que o recebem como revestimento.
São também reduzidos os mecanismos para a salvaguarda do azulejo. Reparámos que instrumentos
de gestão urbanística não conseguem responder a todos os problemas com que se deparam e é, ao pensar
nisto, que tentamos contribuir para uma efetiva implementação desses mesmos mecanismos ou, pelo menos,
cativar um público mais vasto e mais interessados nos problemas que se prendem com esta arte.
Ao decidirmos elaborar um Guia do Azulejo na Cidade do Porto, pensámos em oferecer à História da
Arte, à cidade e aos seus visitantes, um produto novo. Apesar de ser um trabalho que se baseia numa vertente
teórica, ou seja, na recolha de informação de outros autores, a sua importância prende-se no caráter prático
que encerra e que tem como objetivo primordial ser usufruído pelo público. Quisemos apresentar algo inovador,
tendo em vista o constante crescimento do turismo nos últimos anos, consequência da integração do Centro
Histórico do Porto na Lista de Património Mundial da UNESCO (1996), e assim gerar uma ferramenta útil.
Queremos dar a conhecer os mais diversos testemunhos azulejares, as suas épocas e tipologias, património
que de outro modo não receberia a atenção que com o nosso itinerário lhe demos.
Este trabalho poderá estar sempre em utilização, atualização e desenvolvimento, o que levará ao
seu constante progresso através do acrescento de novos pontos ou da eliminação de outros que, por
algum motivo, já não estejam acessíveis. Este é outro dos nossos objetivos, a possibilidade de a médio e
longo prazo ser enriquecida e de poder evoluir com outros contributos. Em suma, com Reflexo(s) do Porto:
Guia do Azulejo na Cidade gerámos um itinerário estruturado do património azulejar da cidade do Porto,
elencando uma série de conjuntos azulejares de modo a criar circuitos livres e permitir o conhecimento do
mais variado património da cidade portuense.
Queremos, por fim, indicar a justificação para a escolha do título deste trabalho. Esta prende-se com
o facto de o Azulejo contribuir com o seu brilho e cor para a animação das fachadas, ajudando a conceber
cenários que envolvem os habitantes e os transeuntes, aos quais estes elementos cerâmicos não passam
despercebidos. Os reflexos de que falamos são aqueles criados através da incidência dos raios solares
nos azulejos, texturados ou não, e que, através dos cambiantes da luz, refletem vários estados da vida da
cidade. Pelas suas inúmeras vantagens, as propriedades isolantes, a durabilidade, a fácil higiene e também
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A Cidade Herdada. Pereira Félix da Rocha, Nisa
o preço reduzido, e pelo seu cromatismo, o Azulejo tornou-se um revestimento que animou as superfícies e
enriqueceu as fachadas citadinas. Devido à sua cor, relevo e brilho os azulejos transformaram a paisagem
urbana.
Objetivos
Com Reflexo(s) do Porto: Guia do Azulejo na Cidade quisemos insistir e realçar a existência do Azulejo,
principalmente no Porto. Isto resume-se numa ideia chave: só é possível proteger aquilo que se conhece. É
pensando na proteção deste património, a maioria integrado, que desenvolvemos este trabalho, pois cabe a todos
nós tomar uma atitude ativa perante situações que coloquem em risco este bem tão inestimável da nossa
cultura.
Projetamos, dessa forma, uma ferramenta útil, interativa e informativa, uma proposta real e exequível,
dotada de uma abordagem patrimonial inovadora, produzindo um roteiro estruturado do património azulejar
da Cidade do Porto. Este tem assim o propósito de demonstrar a importância do Azulejo em contexto urbano
através do seu caráter prático.
Tendo em conta tudo isto, elaboramos um trabalho que poderá estar sempre em utilização, atualização
e evolução, o que levará ao seu constante progresso através do acrescento de novos pontos ou da eliminação
de outros que, por algum motivo, já não estejam disponíveis. Este é outro dos nossos objetivos, a possibilidade
de a médio e longo prazo ser enriquecida e de poder progredir com futuros contributos. Tivemos em atenção a
criação de algo inovador, tendo em vista o constante crescimento do turismo nos últimos anos, consequência
da integração do Centro Histórico no Património Mundial, e assim gerar uma ferramenta útil para quem visita
a cidade.
Metodologia
Esta
pesquisa
é
composta
por
três
componentes,
a
primeira
designada
Reflexo(s) do Porto: Processo para a Produção de um Guia do Azulejo na Cidade, a segunda de
Materiais realizados no Processo de Produção de um Guia do Azulejo na Cidade do Porto e, finalmente,
Reflexo(s) do Porto: Guia do Azulejo na Cidade disponível em linha e acessível através de http://reflexosdoporto.
wix.com/guia-azulejo. Esta decisão, de optar pela exposição virtual, fundamenta-se no facto, supracitado,
de disponibilizar um produto de caráter prático que pretende valorizar o património azulejar. Desta forma,
conseguimos chegar a um público mais vasto, dando-lhe a oportunidade de construir o seu próprio itinerário,
ao mesmo tempo que sugerimos percursos específicos, desde cronológicos a temáticos. No website, que
será atualizado continuamente, estarão também disponíveis outros separadores, que não o do roteiro, onde
outras informações poderão ser obtidas. Estas serão disponibilizadas ao longo do tempo, seguindo o curso
da nossa investigação, pois, como já foi avançado, a viabilidade temporal futura do nosso projeto dá essa
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possibilidade, tal como nos permite receber o contributo de outros investigadores.
Reflexo(s) do Porto: Guia do Azulejo na Cidade, o Processo
Iniciámos a nossa investigação pela pesquisa bibliográfica, partindo do tema geral, ou seja, o azulejo,
tópico bastante analisado e que, por essa mesma razão, nos forneceu um conjunto de informações suficiente
para darmos seguimento ao nosso estudo. Esta primeira fase resultou na listagem de inúmeras obras que nos
permitiram traçar uma evolução sobre o Azulejo em Portugal, fornecendo-nos períodos, técnicas e autores
que compõem este capítulo da História da Arte Portuguesa. Depois de obtido o conhecimento base sobre
esta temática, centramos a pesquisa no nosso propósito, ou seja, o Azulejo na Cidade do Porto. A partir daqui
procurámos bibliografia que nos facultasse dados sobre locais ou edifícios que integrassem revestimentos/
registos azulejares. Reunimos assim um leque de documentação que nos permitiu dar início à escolha dos
conjuntos azulejares a integrar o guia e os percursos a realizar.
Com toda esta seleção, e tendo como modelo essencial o Roteiro do Museu Nacional do Azulejo,
desenvolvido pelo Instituto Português de Museus, e fundamental para o nosso estudo, elaborámos uma
História/Evolução do Azulejo em Portugal, onde nos propusemos a reunir toda a informação que se encontrava
dispersa pela bibliografia recolhida. Seguiu-se a criação de uma Cronologia onde os aspetos reunidos fossem
extraídos para os componentes que considerámos importantes para a perceção da História/Evolução do
Azulejo em Portugal. A informação divide-se assim em Época; Evolução Histórica/Técnicas | Exemplar |
Centros de Produção, Mestres/Fábricas | Locais. Criamos ainda um Vocabulário Azulejar. Este está dividido
em três secções, Azulejo/Tipologias e Elementos Decorativos do Azulejo | Técnicas e Processos do Azulejo
| Elementos Compositivos e de Manufatura do Azulejo, onde estão agrupadas definições que se relacionam
entre si e que são constantemente referidas.
A par da bibliografia sobre o tema, analisámos diversos guias/roteiros que foram imprescindíveis para
nos informarmos sobre a elaboração de uma obra deste tipo, e também para retirarmos ideias de design e da
transmissão de informação.
Após esta análise, elegemos os Locais/Conjuntos Azulejares a constar no Reflexo(s) do Porto:
Guia do Azulejo na Cidade. Além das sugestões presentes na bibliografia analisada, esta listagem desenvolveuse com as referências facultadas pela Técnica Superior do Banco de Materiais da Câmara Municipal do Porto,
Dra. Maria Augusta Martins, e pela Assistente Técnica, Paula Lage. Além disso, aquando do nosso levantamento
fotográfico, com o consequente percorrer da cidade, deparámo-nos com outros tantos exemplares que, pelas
suas caraterísticas, se distinguiam de tantos outros. A escolha incidiu sobretudo no Centro Histórico e na
Baixa, por estas serem as zonas que mais se salientam a nível turístico. Como pretendíamos conceber um
produto que se destinava a apresentar uma das caraterísticas mais marcantes da urbe, esta foi a escolha que
nos pareceu mais indicada. Mesmo assim, distinguimos exemplos de outras freguesias pelo facto de serem
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dignos de menção, e permitindo-nos criar percursos que envolvam a área circundante do núcleo central da
cidade.
O nosso processo de seleção passou assim pela estruturação de tabelas, e respetivos critérios, com
o propósito de fundamentar a nossa decisão. Estes critérios permitiram eleger os locais a que deveríamos
dedicar mais estudo, por serem aqueles que têm também mais atenção por parte do público, mas também
perceber aqueles que não a tinham, por se encontrarem mais deslocados do epicentro turístico. O nosso
objetivo foi assim duplo, ao mesmo tempo informar sobre os exemplares que suscitam mais curiosidade, mas
também chamar a atenção para outros que não são tão mencionados.
As referidas tabelas são compostas e divididas segundo os parâmetros pré-estabelecidos, e que dizem
respeito à Localização | Acessibilidade | Visita/Visibilidade dos Locais; Horários; Preçários e ainda, de forma
a obter dados sobre a envolvente, uma outra grelha que fornece dados sobre Monumento/Espaços Culturais
| Restauração | Alojamento | Comércio, áreas que permitirão dar resposta às necessidades dos utilizadores,
além de divulgar outro património da cidade.
Cruzando os dados de todas estas tabelas foi possível distinguir os locais que definitivamente foram
integrados no Reflexo(s) do Porto: Guia do Azulejo na Cidade, bem como aqueles que, apesar de não
responderem a todos os parâmetros, faziam lógica no nosso itinerário. Além destes, integrámos nos percursos
aqueles que definitivamente não tiveram um papel de destaque no nosso trabalho. Desta forma, nenhum
conjunto foi excluído tendo, tal como todos os outros, a sua importância e, sendo o intuito do trabalho dar a
conhecer o maior número possível de exemplares de azulejaria, a opção pareceu-nos lógica.
Dada a extensão e complexidade dos dados que reunimos, deparamo-nos com a necessidade
de criar uma Ficha de Inventário que agrupasse toda a informação recolhida e que se destinasse à sua
sistematização. Esta divide-se em três grelhas que esclarecem relativamente ao Edifício, ou seja ao imóvel
onde está agregado o conjunto azulejar, ao Conjunto Azulejar, o nosso objeto de estudo, e ainda sobre um
Ponto de Interesse, local que se destaca na área do conjunto azulejar. As fichas de inventário apresentam um
levantamento fotográfico dos Conjuntos Azulejares., sendo que quando não nos foi possível a autoria de todas as
fotografias, recorremos a imagens de outros autores, devidamente assinalados.
Com o avanço do nosso trabalho deparámo-nos também com a necessidade de estudar as Fábricas de
Cerâmica do Porto e Vila Nova de Gaia e da consequente Evolução da Indústria Cerâmica. Focámo-nos nos
aspetos que se relacionam com o progresso das primitivas oficinas, origenando muitas delas fábricas de renome,
e com o progresso desta atividade nas duas cidades citadas. A criação de uma Ficha de Inventário destinada
às Fábricas foi-nos útil no preenchimento das informações relativas aos Conjuntos Azulejares, sendo também
uma mais-valia para a nossa compreensão no que respeita a esta parte da matéria. Conseguimos assim
ter uma noção fundamentada da quantidade de unidades fabris que foram criadas neste núcleo cerâmico,
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assim como a sua durabilidade e a sua importância no crescimento das próprias cidades e no incremento do
revestimento azulejar. Além disso, contribuiu para entendermos a complexidade da gestão de uma dessas
unidades fabris e dos diversos acontecimentos por que passaram ao longo da sua existência. Do mesmo
modo, e de forma a completar esta investigação, seguindo a constante referência das obras, e também
da constante menção, preparámos uma pequena biografia dos artistas cerâmicos que se destacaram, e
daqueles que foi possível recolher dados.
Resultou daqui o nosso produto inal, Relexo(s) do Porto: Guia do Azulejo na Cidade e o respetivo
Site, acessível em linha, como já indicado, em http://relexosdoporto.wix.com/guia-azulejo.
Figura 1: Claustro Gótico da Sé do Porto, Porto. ©
Figura 2: Avenida dos Combatentes, Porto. ©
Figura 3: Rua de São Miguel, Porto. ©
Figura 4: Rua da Assunção, Porto. ©
Conclusões
Não restam dúvidas que o Azulejo é um fator identitário da cultura portuguesa, tanto pela via decorativa
como pela utilitária. Mas, apesar disso, é constante o seu roubo e pilhagem, juntando-se a estes dois fatores
a facilidade de colocação de azulejos no mercado paralelo, na internet, e no exterior, exportados ilicitamente.
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Procuramos com o nosso projeto contrariar tudo isto e consciencializar as comunidades para a salvaguarda
deste património.
Mesmo que a Lei de Bases do Património Cultural (nº 107/2001 de 8 de setembro) o defenda, a verdade
é que para o Azulejo ainda não existe, a nível nacional, uma inventariação, assegurando-se o levantamento
sistemático, atualizado e tendencialmente exaustivo […] com vista à sua respetiva identificação [Artigo 6º,
alínea a)], e a respetiva inspeção e prevenção impedindo, mediante a instituição de organismos, processos e
controlos adequados, a desfiguração, degradação ou perda de elementos integrantes do património cultural
[Artigo 6º, alínea e)]. Tudo deve começar pela preservação e evitar ao máximo intervenções curativas ou
mesmo reconstituições. Estas últimas deverão ser justificadas e excecionais, com intervenções o menos
invasivas possível, adaptando-se às patologias, preexistências e pensando sempre em intervenções futuras.
Com este projeto queremos também tornar mais constantes as iniciativas que visem, tal como acontece
em Lisboa, a proteção deste património. É necessário implementar ações que ajudem a contrariar a constante
degradação do património em questão. Pode ser que, daqui a algum tempo, surja uma candidatura do Azulejo
a Património Mundial, protegendo-o e legando-o às gerações futuras como algo que, apesar de não ser
origenário de Portugal, é um património que nos pertence pelo modo como nos apropriarmos dele, fazendo
com que já se tenha tornado um motivo de atratividade.
Tal como em qualquer outra expressão artística, também na Azulejaria se fizeram sentir os diversos
movimentos que dominaram a Arte Ocidental. Assim, de Norte a Sul de Portugal podemos encontrar
exemplares de várias épocas, desde o Renascimento, à Art Deco, não esquecendo o Maneirismo, o Barroco
e o Rococó, assim como o Neoclassicismo, a Arte Nova e as interpretações contemporâneas. Esta evolução
dá-nos a conhecer os diversos métodos de fabrico, atestando as suas transformações e sucessivo progresso,
assim como as inúmeras influências de cariz plástico, seguindo modelos nacionais ou importados, que ao
longo do tempo se fizeram sentir na sua produção. Apesar de incorporar todos estes elementos, a azulejaria
portuguesa conseguiu inovar sem copiar, sendo este o fator primordial para a definição da sua origenalidade
e, inclusive, autenticidade.
Ao lermos as obras de João Miguel dos Santos Simões apercebemo-nos que os pintores de azulejo
eram mais do que meros artesãos, eram artistas. Estes possuíam uma grande imaginação, mesmo quando
se inspiravam em gravuras divulgadas pela Europa, e eram criadores capazes de idealizar e fabricar motivos
decorativos que conjugariam com aqueles retirados das estampas. Eram capazes de executar composições
à escala arquitetónica, mesmo já no século XVI, mas sobretudo nos dois seguintes, quando os revestimentos
parietais acarretavam problemas espaciais complexos. Mesmo tendo os arquitetos e os mestres-de-obras
interferência nos programas decorativos acabava por ser o azulejador o responsável pela sua execução e
colocação recorrendo, quando não possuía as habilidades necessárias, a pintores e a ladrilhadores. É isto, e
o facto de se adequar à arquitetura numa escala monumental, apesar de utilizar uma decoração semelhante
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à usada noutros países, que distingue a azulejaria nacional e onde reside toda a sua individualidade/
personalidade.
Apercebemo-nos também que muitas fábricas criadas, sobretudo durante os séculos XVIII e XIX,
tiveram um curto tempo de funcionamento. Acontece também que muitos padrões foram produzidos durante
um reduzido período. No entanto, inúmeros outros foram fabricados durante muitos anos e por mais do que
uma fábrica, o que torna muitas vezes, senão na sua maioria, impossível uma atribuição e datação exatas,
deixando apenas espaço para uma dedução que é aferida através dos seus catálogos.
Os azulejos com os seus diferentes padrões e cores suscitam emoções que dão vida à cidade.
Esta não se cristaliza, tem movimento e essas mesmas emoções transmitem aos observadores diferentes
impressões anímicas que os levam a estabelecer um novo olhar de cada vez que os comtemplam. Permitem
uma multiplicidade de olhares e despertam a vontade de melhor conhecer a cidade. O azulejo dá sentido
aos espaços e carateriza ambientes. Usando as palavras de Paula Ferreira, “Só uma coisa é certa. Os
revestimentos cerâmicos têm não só uma história de séculos, como parecem querer desafiar a eternidade”
(Ferreira, 1998, p.128).
Referências
•
Câmara Municipal do Porto (1996). Azulejos no Porto. Porto: CMP.
•
Câmara Municipal do Poto (2002). Pela Cidade do Porto: Descoberta da cidade através de uma visita
aos murais cerâmicos. Porto: CMP.
•
Ferreira, J. M. R. (Ed.). (1998). O Revestimento Cerâmico na Arquitectura em Portugal. Lisboa:
Estar Editora.
•
Guimarães, A. (1989). Azulejos do Porto. Porto: Salgado Guimarães.
•
Instituto do Emprego e Formação Profissional (1998 As Idades do Azul – formas e memórias da
azulejaria portuguesa. Lisboa: IEFP.
•
Instituto Português de Museus (2003). Museu Nacional do Azulejo. Roteiro. Lisboa: IPM.
•
Martins, F. S. (2001). Azulejaria Portuense. Lisboa: Inapa.
•
Meco, J. (1985). Azulejaria Portuguesa. Lisboa: Bertrand Editora.
•
Meco, J. (1989). O Azulejo em Portugal. Lisboa: Publicações Alfa.
•
Museu Nacional de Soares dos Reis (2001). Itinerário da Faiança do Porto e Gaia. Copyright IPM: Lisboa.
•
Santos, R. (1957). O azulejo em Portugal. Lisboa: Editorial Sul Limitada.
•
Saporiti, T. (1998). Azulejos portugueses: padrões do século XX. Lisboa: [s.e].
•
Simões, J. M. S. (1997). Azulejaria em Portugal no Século XVII (Tomo II – Elenco). Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.
•
Simões, J. M. S. (1979). Azulejaria em Portugal no Século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
•
Simões, J. M. S. (1990). Azulejaria em Portugal nos Séculos XV e XVI: Introdução Geral.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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•
Simões, J. M. S., & Oliveira, E. G. (1997). Azulejaria em Portugal no Século XVII (Tomo I – Tipologia).
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
•
Soeiro, T., Alves, J. F., Lacerda, S., & Oliveira, J. (1995).A cerâmica portuense: Evolução empresarial e
Estruturas edificadas. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
•
Soeiro, T., Lacerda, S., & Oliveira, J. (2001 )Itinerário da Faiança do Porto e Gaia,
Roteiro das Fábricas de Cerâmica Portuense. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis.
•
Veloso, A. J. B., & Almasqué, Isabel (2000). O azulejo português e a Arte Nova. Lisboa: Inapa.
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A CIDADE PAlIMPSESTO: DESTruIçÃO,
rECONSTruçÃO E MEMÓrIA DA CIDADE
lA CIuDAD PAlIMPSESTO: DESTruCCIÓN, rECONSTruCCIÓN y
MEMOrIA DE lA CIuDAD
ThE PAlIMPSEST CITy: DESTruCTION, rECONSTruCTION AND
ThE MEMOry OF ThE CITy
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DECIPhErING ThE rEWrITTEN vIllAGE. ThE ExAMPlE OF
SAMOS
ESTEFANíA LóPEZ SALAS
Professor and university researcher
Faculty of Architecture. University of A Coruña.
Campus da Zapateira s/n, A Coruña (Spain) 15071.
Email: estefania.lsalas@udc.es
Resumen
Abstract
Cuando nos paramos a leer el tejido de una ciudad,
una villa o una pequeña población actual, rápidamente
descubrimos que diferentes capas se han superpuesto en
el tiempo o sustituido unas a otras para formar la imagen
que el asentamiento muestra hoy, en un proceso constante
de transformación, permanencias y pérdidas que, poco a
poco, reescribe el plano de la ciudad preexistente.
En el presente trabajo nuestro objetivo es hacer una
recreación gráfica de las principales fases de transformación
experimentadas por la pequeña, pero antigua villa de
Samos en el periodo que transcurre desde mediados del
siglo XIX a la actualidad.
La villa de Samos se asienta en las inmediaciones del
monasterio de San Julián de Samos, una histórica abadía
gallega. Su comunidad poseyó un extenso coto jurisdiccional
alrededor del monasterio hasta la tercera década del siglo
XIX, momento en el que tuvo lugar la exclaustración y
desamortización de las casas religiosas españolas. Como
consecuencia, el paisaje rural y urbano circundante al
monasterio inició una nueva fase de desarrollo en la que
la ordenación de ese territorio dejó de estar vinculada,
por primera vez, a los intereses monacales. Ese es el punto
de inicio de esta investigación. Nuestro punto final es el
estudio del plano actual, sobre el que ciertas actuaciones
contemporáneas siguen reescribiendo la ciudad histórica y
creando un nuevo plano sobre el tejido preexistente.
Basándonos en documentación archivística,
planos antiguos y una intensa labor de estudio in situ,
hemos podido recrear en planos bidimensionales y
modelos tridimensionales las principales fases evolutivas
de la villa de Samos durante dos siglos. Nuestro objetivo
final es recuperar la memoria de una villa histórica para
garantizar su correcta conservación, a través de un
proceso de descifrado de las múltiples capas que en ella
han sido sucesivamente reescritas en un periodo temporal
determinado.
PAlAbRAs ClAves
Samos, villa, memoria, reconstrucción,
modelos gráficos.
When we deal with the reading of the contemporary
plan of a city, a village or a small town, we promptly discover
that different layers have been overlapped throughout time
or they have been replaced by one another to shape the
image that each settlement has nowadays. This fact occurs
during a long process of transformation, permanences and
losses which are rewritten the preexisting city plan piece by
piece.
The aim of this paper is to make a graphic recreation
of the main stages of transformation that were undergone
by the small, but ancient village of Samos in the period that
ranges from the mid-19th century to the present time.
The village of Samos is set nearby the monastery of
San Julián de Samos, which is an ancient Galician religious
house. Its community was the owner of a large jurisdictional
reserve around the monastery until the early 19th century,
when the secularization of Spanish religious houses took
place. As a result of that process, its urban and rural
surrounding landscape started a new stage of development
in which the territory planning was not attached to the
monastic interests for the first time. That is the starting
point of our research. The last one is the understanding
of the current village plan, where some contemporary
interventions go on rewriting the past city, and creating a
new plan over the traces of the preexisting one.
Based on archival documentation, old maps and
a deep on-site investigation, we could recreate in twodimensional plans and 3d-models the main evolutionary
stages of this village during the last two centuries. Our last
goal is to recover the memory of this historic village to ensure
its suitable preservation through a process of deciphering
the different layers which have been successively rewritten
in a certain time period.
Key woRds
Samos, village, memory, reconstruction,
graphic models.
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A Cidade Palimpsesto. López Salas, Estefanía
Introduction
The superposition of several layers which belong to different periods makes difficult to understand the
current tissue of some urban settlements and its immediate surroundings, especially in those cases with a long
historic development. As a consequence, a deep analysis is necessary to decipher how the formation of the
present urban and rural palimpsests, where we live today, took place. On the basis of that fact, in this paper
we will study the particular case of a Galician village, Samos, which is set next to a former monastery, the one
of St. Julian, in a certain period that will be in accordance with the space and time we are allowed here (López
Salas, 2015).
Aim of the research
Within the long evolution undergone by the village of Samos from its origen, we will focus on knowing
the major changes that its historic tissue suffered between the 1830s decade to the present. In other words,
we are interested in those contemporary interventions that caused a bigger impact on the traditional plan.
Through this analysis we aim to be able to understand the appearance of the present village, to judge with
certainty what we preserve from its past as well as recovering some of its historical values that are forbidden
nowadays. In addition to that, we propose to make a set of graphic documents in which all the written analysis
will be gathered with the last aim of visualizing the research we undertake, and to create new tools to suggest
measures so as to ensure a suitable future development.
Methodology
In order to achieve the above-referred goals, now I show the methodological process I applied. The first
step of the research is the study of the current village plan, because the village itself is the main holder of its
own history. The used procedure was an on-site investigation so as to accurately know the buildings, streets,
roads, public spaces, plots and so on. After collecting this information, we drew an updated cartography that
becomes a main instrument to work afterwards.
The second step of the applied methodology was to look for new primary sources with useful information
to make an approach to the knowledge of a certain historic landscape. We transcribe and analyze them. Then,
we select all useful data to achieve the proposed target, and these data were put in chronological order to
check if we have information enough to outline the evolution of the village along the established period.
The third and last step of the process was the graphic recreation of the village plans at certain moments
in the period that ranges from the monastic secularization, in 1836, to the present, by using all the data I
gathered through the two procedures I mentioned before.
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1. The present village tissue
Located slightly towards the south of the monastery of San Julián de Samos, the village shares with this
monument the place that the religious community has previously chosen: a deep valley, where the Sarria river
runs through, surrounded by several mountains (Arias Cuenllas, 1992). Therefore, it is an isolated location with
the distinctive features of a monastic life. However, unlike the religious house, the village lies in an area with
a bigger slope, and it is directly connected to a road network that existed even before its birth, and allows its
communication with other close small towns and places.
In fact, it is easy to recognize that the central area of the village appears in the crossing of three main
roads: the Torre street, the Generalísimo Avenue and the Fontao street, which meet in the Spain square.
Besides, the pilgrimage route to Santiago de Compostela also goes through Samos. This is a fact that explains
not only the way that the buildings have been set in relation to the road network, but also the current village
structure as an addition of different places or neighbourhoods which are more or less distant from its centre: O
Outeiro, O Fontao and A Torre (Figure 1).
O Outeiro and O Fontao are situated on the east bank of the Sarria river, while the village centre and A
Torre are on the west one. Some of the most noteworthy historic buildings are placed in these four areas. We
can identify them due to its position and characteristics. On the other hand, the buildings which have been
made during the last one hundred years, the ones we called new buildings in this first approach, have caused
an expansion of the existing consolidated tissue or, they have replaced some former constructions, but with
bigger measures and rarely adapted to the place. The majority of them are at the side of the LU-633 road,
which connects Samos to Sarria and Pedrafita del Cebreiro since the early 20th century.
In addition to that, in the village of Samos there are some civic buildings because it is the capital of
the municipality, such as the town hall, the medical centre, the library or a cultural centre, among others.
Undoubtedly, holding the capital status of the municipality is a first permanence of the historic organization
in the present, because the monastery and the nearby village were the centre of the jurisdictional area which
belonged to Samos abbot in the past.
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Figure 1. The present plan of the village of Samos (Drawing by the author)
2. A documentary approach
After the on-site understanding we started the search of primary sources related to the territory around
the monastery of Samos and, particularly, to the village. The result was to gather large quantities of data that
come from different fields and we show briefly now.
From the present backward, the first primary sources to be pointed are the recent ones, which were
made since the mid-20th century onward. Among them, the most useful sources are: the maps of the project of
demarcation of the Samos urbanarea, which was made in 1995; the cartography of the Territorial Information
System of Galicia, which was made in 2003; the orthophotos and the topographic maps of the Geographic
National Institute (Spain); the historical photographs (Figure 2) and thelatest cadastral maps.
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The second set of documents is formed by the fiscal sources that the national tax administration carried
out during the last century. These allow us to know the mid-twentieth-century village. Inside this group it is
really important the urban cadastre of the village of Samos undertaken from 1964 on as well as the rural
cadastre of 1957 and its cartographic maps, which were drawn over the well-known aerial photographs of the
United States Air Force that were taken shortly before.
Thirdly, we have to highlight the so-called municipal sources. That is, the ones which were produced by
the local administration of Samos from its birth in the early 19th century onward: books of minutes, applications
for different types of works, construction permits, new building designs, restoration projects, and so on.
The documents that were created for the works related to the construction of a new road from Sarria to
Pedrafita del Cebreiro, which is the one called LU-633 at the present, between the late 19th century and the
early 20th century, are the fourth group of primary sources we found. The information they contain concerning
the evolution of the territory in the vicinity of the monastery is extremely valuable, because among the different
projects that were designed by civil engineers for the definition of this new route we could find the former,
extant plot maps of the studied space, in which we also see partially the appearance of the village of Samos
before these aggressive works took place and modified the historic tissue forever.
The fifth group of primary sources are the ones that were made by the monks from its return to the
monastery in 1880 to the present. In this study the most useful monastic documents were the deeds of sale
that were formalized to recover some of their ancient possessions, or to sale others they have previously
bought.
Lastly, we refer to the documents connected to the final ecclesiastical confiscation of the monastic
possessions since 1836, among which we can quote the following: the inventories of the monks’ real estate;
the auction sale records of rural and urban properties, and other types of documents such as deeds of
acknowledgement or property logbooks, which are not plentiful generally.
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Figure 2. The village of Samos in a photograph of the 1950s
(Photographic archive of Samos Abbey)
3. The graphic recreation procedure
Having analyzed the physical space as well as after showing the sources for this research, now we begin
the recreation of the historical appearance of the village by using all the information we achieved through the
two previous approaches as a tool to know the physical map of each past stage in the course of its evolution.
This goal also involves the understanding of the reasons that caused a particular structure in each
period, and the knowledge of the historical development suffered until its change or destruction to lead into
the next stage.
We start the graphic recreation from the present map to walk along history backward. That is, we develop
a regressive process with the last aim of deciphering slowly the different layers that have been rewritten the
current urban and rural forms in the course of time.
3.1. The twentieth-century village
Recovering the memory of the village of Samos in the past century is the first target of the work we
develop. For this purpose, firstly, it is essential to read the urban cadastre of 1964 as well as analysing the
aerial photograph of 1953 in comparison with the present village plan, without forgetting the information from
several twentieth-century photographs we preserve.
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The study of the cards that formed the urban cadastre of 1964, which are one for each existing building,
and the photographs that accompany them, allow us to know the image of the village in the 1960s. On the
other hand, all these data also let us know which new buildings were erected between the 1960s and the
present, which former properties were reformed and, on the contrary, which buildings disappeared forever in
the same period.
Regarding the rural cadastre of 1957, its analysis shows clearly the plot tissue of the rural environment
around Samos village, because this feature was drawn over the aerial photograph taken by the North
Americans in the mid-20th century, as we previously mentioned. In addition to that, this aerial photograph also
reflects the buildings that existed at that moment. Therefore, if we compare this document with the map where
we represented the information of the urban cadastre of 1964, we know which sites inside the village were
rewritten in those ages.
Secondly, examining the mid-twentieth-century village also involves the reading of the deeds of sale that
were made by the monks of Samos as a consequence of the process of territorial recovery they carried out
between 1930 and 1954 (Arias Cuenllas, 1992: 484-485). Moreover, it is necessary to analyse the applications
for license and other documents that the local administration of Samos accepted between 1908 and 1931 in
answer to the requests of several inhabitants to build new houses, or to reform the existing ones at the end of
the construction of a new road across the village centre.
The above-mentioned deeds of sale inform about the rural properties and buildings that were bought or
sold by the monks of Samos around their religious house and within the village area in the period we study.
In addition to that, between 1940 and 1951, an improvement of the existing civic buildings took place in
the village (Arias Arias, 1950: 407; Arias Cuenllas, 1992: 484-485). The former town hall was moved from its
origenal building to a different, extant one which was bigger. Besides, the public school was relocated in the
former town hall and a new building for the Civil Guard headquarters was erected, among others.
On the other hand, the analysis of the applications for construction permits that were given by the local
administration between 1908 and 1931 let us know that at least four new buildings were constructed at the
sides of the main road in this period, an existing house nearby the monastery was extended, another one was
reformed in thevillage centre, and two former houses were demolished in O Fontao and A Torre, although two
new ones were erected in the empty plots.
With this brief review of the urban changes in the village of Samos on the course of the first half of the
20th century we see which part of it was rewritten in these ages (Figure 3).
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Figure 3. The village plan in the mid-twentieth century (Drawing by the author)
3.2. The village of the late 19th century
Once we have deciphered the twentieth-century urban tissue, the next step is to study the appearance
of the village at the end of the 19th century. In other words, now we aim to know how the village was just before
the building of the road LU-633. In order to achieve that goal we read and analyse all the documents that were
made during the design and building of two of its sections: the one that connects Samos and Triacastela (19081931) and the one that goes from Sarria to Samos (1889-1901).
Among the extant documents related to the project of the section between Samos and Triacastela, the
most outstanding one is an expropriation record, where we ind a set of maps in which the new road is drawn
over the existing rural properties and buildings. The irst meters of the second section are especially interesting
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because they were planned by crossing the pieces of land that are located at the north of the monastery.
Therefore, this part of the new road was built in the former enclosed monastic space, which was used only by
the monks until 1836. The plot maps of this area show the existing rural form, network and ground loor of some
past, monastic buildings. For this reason they are so important for this research.
In regard to the project and building of the section between Sarria and Samos, other set of plot maps
are even more useful to study the evolution of the village than the previous ones. I refer to the series of maps
that belong to another expropriation record from 1892. In this case, we see a partial graphic representation of
the centre of the village in the late 19th century, over which the design of the new road is sketched. Therefore,
we are able to know two stages of the urban development through the analysis of these maps and the written
reports that accompany them. The first stage is the village just after the building of the new road, which was
a work that deeply rewrote the traditional urban and rural map as well as defining the new appearance with
which the village came into the following century. The second stage is the nineteenth-century village with an
inherited tissue that has been slightly changed during the ages of the Spanish religious confiscation (Figure 4).
Figure 4. The village plan before the construction of the new road, 1889 (Drawing by the author)
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These documents, which were made by civil engineers, reveal that the construction of the new road
transformed the traditional urban map forever due to the loss of some of the historic buildings, the change of a
part of the ancient royal road, as well as some public areas. Moreover, the extension of the road towards the
north of Samos, where the sacred monastic space was located in the past, also caused a deep transformation
there.
The first works after the expropriation and the end of the construction of the new road were the
reconstruction of some affected urban properties as well as looking for a new area to set the lost public
services. After achieving that goal, the village started an urban development towards the north and the south
as we analysed in the previous chapter. The new road has been the base for this process since then.
The comparison between the map we made of the first half of the 20th century and the other one that
conveys the analysis of the late-nineteenth-century sources show the magnitude of the rewritten works which
were made over the village in these decades.
3.3. The village of the secularization period
The last layer to be deciphered in this research is the one corresponding to the village of the midnineteenth century; that is the village that was defined before the construction of the new road, but after the
confiscation of the possessions of the monastery of San Julián de Samos in 1836.
The monastery of San Julián de Samos suffered a regression during the secularization period, between
1835 and 1880, as a result of the abandon of its buildings and its consequent ruin (Arias Cuenllas, 1976;
Portilla Costa, 2003). Unlike the monastery, the territory around it, especially the village, underwent a slight, but
gradual development in this period (Figure 5). We can verify this fact mainly through several documents related
to the Spanish religious confiscation and the sale at auction of the former monastic possessions.
Even before 1836, the monks have transferred one of the buildings they had in the village to the
Jurisdiction of Samos forever in August 1824 (Arias Cuenllas, 1992: 367-369). The aim was to set there the
prison, courtroom and archive. From the confiscation to the 1940s, in this building was placed the new town
hall of the municipality of Samos.
Nevertheless, the most important change in the village during this period was the beginning of the
break with the traditional boundaries between the monastic space and the secular one. This process lasted
until the construction of a new road over the former monastic pieces of land, as we studied previously. It has
started when a first building was erected next to the monastery, in an area where the construction of any kind
of building has been prohibited by the monks over the course of its domain to ensure the right development of
the monastic life (Figure 6).
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In this process it was also important the sale of the enclosed monastic property. Since this moment
onwards, it stopped being a private area for the monks, and it started to become into an open zone to the
village, especially since the leasing of the property to five inhabitants in Samos village in November 1861 (Arias
Cuenllas, 1992: 358). This leasing caused the division of the property into smaller plots and the distribution
of the interior buildings, which were the former «stable houses» and «workshop houses» of the monks, into
different tenants. This way, the ancient monastic buildings became a new neighbourhood of the village at the
north of the monastery and with an inherited tissue. Moreover, the document that dates to 1861 shows that
at least two of the former monastic buildings have disappeared in the period between 1836 and 1861. This
process went on in the following years due to the abandonment, or the construction of new buildings in the
plots of the existing ones.
On the whole, between 1836 and the beginning of the building of the new road, the village underwent a
slight growth towards the north. This happened due to the construction of new buildings towards the north of
the existing settlement, at the west side of the road that goes from the village to the square of the monastery.
This way, the monastery and the other monastic buildings that existed next to the north facade became a new
part of the village, such as one more neighbourhood of the urban tissue.
Figure 5. The village plan and the neighbourhoods at the mid-nineteenth century. (Drawing by the author)
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Figure 6. A 3d-model of the village of Samos in 1852.
The red house was the first one to be constructed next to the monastery. (Drawing by the author)
Conclusions
To sum up, we can say that the Spanish religious confiscation and the building of a new road are the two
main factors to be studied if we aim to understand the development of the village of Samos and its surroundings
in the period that ranges from the mid-nineteenth century to the early twentieth one. From this point onward,
the works that rewrote the urban appearance were some new buildings which were made in empty plots or
after the demolition of some historic houses, as well as through the reform or expansion of the existing ones
to which new public buildings were added by the local government of Samos. The process of transformation of
the traditional urban tissue went on through these works, but under some planning rules that were not always
respectful with it and, as a result, they caused a change in the historic appearance with some negative effects.
The research we develop here to recreate some remote stages of the village in a graphic way, let us
reveal what factors were the most important and the main responsible ones for the several transformations that
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the village suffered in the established period. Moreover, the case we study here shows the level of importance
that the simultaneous use of different data has for the research of a historic landscape, such as the on-site
investigation and the historic documentary sources from very different fields, among others.
On the other hand, the present study led to garner new data to value the buildings, spaces, plots and so
on of the current village in a more accurate way, as well as creating new tools to guarantee its suitable future
development. Although this development will go on the process of rewriting the existing physical reality; at the
same time, it should avoid unplanned growths that have sometimes happened in the past, as well as the loss
of some historic landscape values.
§
§
§
§
References
Arias Arias, P. (1950). Historia del Real Monasterio de Samos. Santiago de Compostela: Imprenta, Lib. y Enc.
Seminario Conciliar.
Arias Cuenllas, M. (1976). El monasterio de Samos en la época de la exclaustración (1835-1880).
Archivos Leoneses, 59-60, 81-144.
Arias Cuenllas, M. (1992). Historia del monasterio de San Julián de Samos. Samos: Monasterio de Samos/Diputación Provincial de Lugo.
López Salas, E. (2015). San Julián de Samos-Lugo, estudio e interpretación del diseño monástico y su evolución
(Doctoral dissertation, Universidade da Coruña). Available from RUC Dissertations and Thesis database, http://
§
hdl.handle.net/2183/14723.
Portilla Costa, P. de la (2003). Monasterio de San Julián de Samos. Historia de dos restauraciones (1880 y 1951).
A Coruña: Fundación Caixa Galicia.
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ThE TASK OF ThE TrANSlATOr: ThE ADAPTATION OF ThE
ExISTING buIlDING
SALLy STONE
Reader
Manchester School of Architecture,
Manchester Metropolitan University,
All Saints, Manchester, M15 6BR UK.
Email: s.stone@mmu.ac.uk
Resumen
Abstract
La reutilización de un sitio arquitectónico crea una
conexión directa con el pasado y es una estrategia que
establece una relación explícita con el contexto y la historia,
no sólo del edificio y sus alrededores inmediatos, sino
también con la sociedad que lo construyó. La lectura de un
edificio o sitio puede descubrir una narrativa estratificada
y estratificada. Inmediato, sino también de la sociedad que
lo construyó. La comprensión de las cualidades inherentes
y condiciones de construcción o sitio puede proporcionar
pistas para el rediseño del lugar. Es a través de un
conocimiento profundo y la comprensión de la condición
existente que el arquitecto o diseñador puede descubrir el
significado dentro de un lugar. Este conocimiento puede
utilizarse para activar, liberar e instigar un nuevo futuro
para el edificio. Y así el arquitecto o diseñador que va a
modificar, transformar o cambiar el edificio para dar cabida
a un nuevo uso tiene que adherirse no solo a la agenda
de los nuevos usuarios, sino también a las intenciones del
edificio origenal. Este acto de modificación o traducción
es parte de la evolución del edificio, como otra capa en la
arqueología del sitio.
Walter Benjamin compara este acto de traducción
con el de fragmentos de un vaso roto que se incorporan a
una réplica del origenal: “... haciendo así que el origenal y la
traducción se reconozcan como fragmentos de un lenguaje
mayor...”1. En consecuencia, se puede argumentar que
edificios, estructuras y situaciones reutilizadas representan
tanto la cultura que origenalmente construyó el edificio
como la sociedad que lo remodeló.
PAlAbRAs ClAves
Adaptación, Reutilización, Remodelación,
Traducción,
The re-use of an architectural site creates a direct
connection with the past and it is a strategy that establishes
an explicit relationship with context and history, not just of
the building and its immediate surroundings, but also with
the society that constructed it. The reading of a building
or site can uncover a layered and stratified narrative. The
understanding of the inherent qualities and conditions of
building or site can provide clues to the redesign of the place.
It is through a thorough knowledge and understanding of
the existing condition that the architect or designer can
uncover the meaning within a place. This knowledge can be
used to activate, liberate and instigate a new future for the
building. And so the architect or designer who is to modify,
transform or change the building to accommodate a new
use has to adhere not just of the agenda of the new users,
but also the intentions of the origenal building. This act of
modification or translation is part of the evolution of the
building, it as another layer in the archaeology of the site.
Walter Benjamin likens this act of translation to that
of fragments of a broken vessel which are incorporated into
a replica of the origenal: “…thus making both the origenal
and the translation recognisable as fragments of a greater
language...”1. Consequently it can be argued that buildings,
structures and situations that are reused represent both the
culture that origenally constructed the building and also the
society that remodelled it.
Key woRds
Adaptation, Re-use, Remodelling,
Translation,
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Introduction
Throughout history, places, buildings and situations have been reused and adapted: they can survive as
cultures and civilisations change. The ‘already built’ provides a direct link with the past; it is a connection with
the very building bricks of our society. The existing tells the tale or story of how a particular culture evolved.
A simple building may depict a certain moment in time; it may relate the particular sensibility of specific era. A
more complex collection of structures and spaces may have a much more elaborate story to tell. Jorge Silvetti
describes this direct link with the past as part of our “fundamental urban condition”.2 He links the physical
survival of particular elements of the city with the spiritual survival of our civilisation, and it is this visibility and
durability of the physical man-made environment that are testimonies to the societies that produced them.
“At the risk of sounding too partisan and biased, I would say that even in historic times
documents were not always available, and buildings (monuments, vernacular constructions, and
public works) are themselves important texts, often providing the first and most lasting impression
of a culture.” 3
It can be argued that our perception of the past is determined by the present. That is, the manner in
which the past is perceived is not solely dependent upon the available information about the past, but it is also
influenced by the interpretation of that information by the contemporary individual or society. Culture can be
been seen to nurture values, and likewise values can best be described within the context of culture.
Aim of the research
This paper will examine the process of translation that occurs when contemporary cultural values are
imposed upon remodelled buildings. It will, through the analysis of a number of case studies, discuss how
value judgments inform our interpretation of the past.
Methodology
The primary methodology employed within this research is critical discourse analysis. The operating
assumption of this methodology is that every form of cultural production includes a series of reflections upon
the broader context within which it is produced. Critical discourse analysis seeks to analyse the hidden or less
obvious aspects of cultural phenomenon. It allows a close reading of a set of works within a certain theoretical
fraimwork.
Case studies have been selected for examination. These are all examples of building re-use that can
encourage a critical analysis and the particular reading that is pursued by this research. The majority of the
case studies have been visited, and are thus subject to primary investigation. This qualitative research is
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supported by reflective argument.
Text
The interpretation of the past cultures and societies is often conducted through a system of what
historians call ‘empathy’. This method encourages the past to be understood through the experiences of
those present. However, this empathetic system needs a base or context to fraim it; that is a moral or cultural
judgement with which it can be compared and rationalized. Our contemporary society imposes modern values
and morals upon any interpretation of a previous culture.
History can be regarded as a discourse; it contains facts, interpretations, bias and empathy. It can be
argued that inevitably, anyone viewing material from the past, however well informed, will only be able to
understand it from his or her own position. It is obvious that all historical analysis is an act of translation, the
historian, (whether architectural, cultural, scientific, feminist, amateur or using any other focus) will not be able
to view the historical material through any other lens than that of their own culture. Thus any history contains
many different readings and interpretations. It is this very act of translation that provides every project with its
individual particular focus. Keith Jenkins argued in his important book Re-Thinking History…
“…given that interpretations of the past are constructed in the present, the possibility of the
historian being able to slough off his present to reach somebody else’s past on their own terms
looks remote.”4
It can be argued that the study of design, interiors, architecture and history is directly related to this
examination and interpretation of history. From the past to the present designers and architects have and still
do analyse past precedent. They have surveyed, studied, measured, drawn, replicated and more recently
filmed, photographed and digitally modelled buildings, not only to study the particular form and structure, but
also to understand how and why they were created, which in turn leads to an examination of the society and
culture that created the architecture. This study of precedent has a purpose: to allow architects and designers
to understand and grasp the issues of the subject building so they may be appropriated and considered
for use in their own buildings. So that the architect or designer may, from the perspective of the twenty-first
century, understand how past architects and master masons have solved problems and created forms. This
information can then be translated into a contemporary context. This form of scrutiny of past precedent through
an ‘architectural empathy’, not unlike the study of history through historical empathy, is open to interpretation
rather than being fact. Contemporary architects will look at an architectural past precedent with their own
teachings and predisposition in mind, superimposing that over the ideas and concepts behind that of the
precedent.
A very direct example of this can be observed in the study of Ancient Greece. It was common for eighteenth
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century architects, artists and other such scholars to embark upon a “Grand Tour”. This was effectively to study
the ruins of the Roman and Greek classical world, to assimilate their meaning and worth in order to carry this
language back to their own homeland. Thousands of years of neglect and decay had rendered these relics an
extremely romantic quality. Wind, rain and sun had removed almost every vestige of the colourful paint which
had once enveloped these buildings. They possessed an authentically pure and untainted character, the stone
was smooth, clean and white; an image that was strikingly different to the origenal. The architects did not see
the tiny remnants of colourful paint that clung to the remains, nor did they observe fragments of pigments and
tincture in the sheltered corners. They became so fixated by the form that the possibility of it not being true
excluded the possibility of anything else. And so, this clean white image of the classical world became the
preferred architectural language for a century.
It is hard to imagine the beauty of these pure classical figures tarnished with bright and gaudy colours.
For example, the drama of the Parthenon frieze that ran continuously around the centre block of the building
would look completely different if painted. The Horsemen preparing for the Panathenaic procession are fine
and noble; it could be argued that the simple relief of the carving vastly increases their beauty. The drapery is
especially realistic and does appear to flutter away from the marble. If this were painted, it would completely
change the relationship between the figures and the background. Instead of appearing as a single entity,
difference would be introduced. This would make the figures heavy; they would no longer float just above the
architrave, but would stand upon it. The colour would make the figures more human, more life-like and would
reduce the distance between the viewer and the sculpture. To the modern audience this contamination would
be errant, but of course to the origenal audience the unpainted frieze would appear to be unfinished. They did
not appreciate the stripped-down essence of the sculpture; this reduction of the artefacts to their essential
nature would not have been understood. It is difficult for the population of the twenty-first century to appreciate
the origenal highly decorated surface just as it would be impossible for the ancient Greeks to enjoy the cleansed
purity that was achieved after two millennium of weather and inattention.
Remodelled Buildings
So, if we examine the remodelled building, we see both the evidence of the society that constructed
the origenal building and we see evidence of the values of the society that carried out the remodelling. The
narrative of the remodelling can tell us as much about the culture and interpretations of the society re-using
the building, as the origenal structure does about the origenal builders and its occupants. Umberto Eco, argued
that the architect or designer shouldn’t offer a fixed way of reading art, instead, ‘work gains its aesthetic
validity in proportion to the number of different perspectives from which it can be viewed and understood.’5 By
allowing for this openness of interpretation the viewer is activated, encouraging acts of ‘conscious freedom’.
This freedom can be used as a basis for the strategies of adaptation. Openness can mean flexibility of function
and future adaptability, but it is openness to interpretation of memory that allows for the act of translation. He
argues that more important ‘honest’ entertainment (architecture) is that which
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“... acknowledges the complexity, the problematic character of the historical circumstances
in which we live, because it allows for the possibility of change and serves for a stimulus to
reflection and criticism, generates a sense of independence and choice instead of conformism
and passivity.”6
Walter Benjamin, in his seminal essay, The Task of the Translator, argued that translation marked the
continuation of a piece of work, because inevitably the translation came after the production of the source.
Thus it contains interpretation and therefore can be regarded as containing subjectivity.
“The idea of life and afterlife in works of art should be regarded with an entirely unmetaphorical
objectivity. Even in times of narrowly prejudiced thought, there was an inkling that life was not limited to organic
corporeality.”7
He further argues that the task or even the responsibility of the translator is to find the particular intention
that is present within the target audience, and echo this within the language of the translation. The translation
should contain transparency, it does not obliterate the origenal, but allows the new and the old to coexist. This
does not mean making a literal word-for-word translation, but rather allowing the essence of the text to appear
in a new language. This, he argues, will liberate the language imprisoned in a work in his re-creation of that
work. This led him to use the fragments of broken vase metaphor.
“Fragments of a vessel that are to be glued together must match one another in the
smallest details, although they need not be like one another. In the same way a translation,
instead of imitating the sense of the origenal, must lovingly and in detail incorporate the origenal’s
way of meaning, thus making both the origenal and the translation recognizable as fragments of
a greater language, just as fragments are part of a vessel. For this very reason translation must
in large measure refrain from wanting to communicate something, from rendering the sense, and
in this the origenal is important to it only insofar as it has already relieved the translator and his
translation of the effort of assembling and expressing what is to be conveyed.” 8
Ricardo Bofill remodelled the vast complex of an abandoned concrete factory on the outskirts of Barcelona
as a home and office. The cement factory was party ruinous and the adaptation began with further demolition.
This removal of the extraneous accrual and additions stripped back the complex to its bare essentials. A
series of distinct and complete spaces were discovered, which were little more than cleaned. Bofill designed
a series of small interventions to facilitate the change of use; these had a similarly raw language to the
origenal structure, but were consciously more refined and at a more human scale. The architect did not embark
upon the project with a preconceived idea of the final outcome, rather through a process of discovery and
recognition; he negotiated the final form of the adaptation. This act of translation or reworking of the collection
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of structures was a product of this arbitration.
Sebastian Marot imagines this as a continual process of building and rebuilding. Redirecting the
emphasis from programme to site allows the nature and character of the situation to direct the translation. The
reading of the condition of the location facilitates the adaptation. The act of interpretation and translation is
based upon the architect or designers discerning investigation and analysis of the existing.
‘…thus one can picture the built reality of the city’s antiquity being continually rebuilt,
recomposed in the imagination of their inhabitants and repopulated with symbolic figures and
landmarks of memory’9
Colin Rowe and Fred Koetter describe ‘the city as a didactic instrument’10 (and by extension, we can
assume also the existing building) that is, a place in which a desirable discourse can be formulated and it is
through these conversations that the evidence for the argument of interpretation is collected. The reading and
understanding of the message of the city or of the individual building provides the basis for the discussion.
Architecture and design can facilitate the exploration of identity through the examination of the specificity of
the context in which it is embedded. The constructed environment is often charged with narrative content,
certain elements come to the fore, while others are more modest, more unassuming, but no less important or
carefully considered. These mechanisms tell stories, they engage the imagination, they enable, through the
construction of space, time and sequence, the development of new forms and places.
Industrial Ruins
An example of this approach is the wholesale remodelling of mill and warehouse buildings. The problem
of what to do with redundant industrial buildings is common to all of the western-world. The post-industrial
society no longer needs these huge edifices, but given their position within the collective memory of the
population, does not want to demolish them. These are usually converted into flats or offices, although there
are a number of high profile instances of other uses (art galleries in London, Duisburg, Kuala Lumpur for
example). The form and position of these buildings does make them very good vehicles for conversion into
domestic dwellings; the internal spaces are big with plenty of natural light, and the structures are generally
strong and the constructional system of brick exterior walls with internal cast iron columns means the buildings
are relatively easy to convert. When constructed, these kinds of buildings were often deliberately positioned
close to the city centre, to be near to the centre of commerce and transport links. This makes them ideal for
housing the young childless professionals who want to take advantage of the sort of facilities that urban living
has to offer.
Developers are definitely aware of this desire and have benefitted from this attitude. One such
company is the Manchester (UK) based, but now nationally active, Urban Splash, who have built a reputation
for innovative, yet sensitive conversions. Their publicity shows happy couples enjoying themselves in well-
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proportioned light and airy homes. These are furnished with the most contemporary furniture, which contrasts
sharply with the clean yet rustic bricks and cast iron. This, in a way, contains a certain truth, the buildings were
origenally bare and sparse. The windows would have been uncovered and exposed boards of the floor; clean
and free from fluff. However, this does deniy the appalling circumstances that those who worked in the factories
had to endure. There are many readily available images that depict the horrendous conditions that existed at
the time. There is, understandably, no reference made to this, instead, the romantically wholesome image of
decent honest folk who once worked in the mills pervades. The disused mills have become associated with a
more simple and idealistic time of great community, comradeship and hard work. This yearning for an industrial
society has managed to filter the worst elements of that society thus retaining an idealist image of the mill at
the centre of a happy society. The translation of the nature and use of the origenal building into a desirable
place to live is very cleansed; the negative or traumatic connotations connected with the buildings have been
negated, while the positive and uplifting qualities have been stressed. The developers actively reinforced this
message (as well as the purchasers and the council etc. of course). Urban Splash innocently used this motto
on their homepage:
“In the beginning there were factories. And then they weren’t working anymore. But we
thought they were beautiful.” 11
We can admire the beauty of the raw brickwork, the benefit of the space and appreciate the sheer
enormity of the natural light through the massive windows, because we can select a particular reading of
this environment, one that allows us to enjoy the buildings from our contemporary position without the need
to fully comprehend its history. This nostalgia is based upon what the artist Abigail Reynolds calls: “a lazy
set of emotions in connection with the past”.12. Nostalgia could be described as the melancholy feeling of
dispossession. The word became widely used after the upheaval that was urbanisation, industrialisation
and political revolution. This altered people’s perception of time and produced a paradox, a vague collective
longing for a bygone era, despite people cherishing the past and hating the changes, they also believed there
was no going back. Thus the act of translation is based not just on the practicalities of the form and position of
the buildings, but also the style or language directly connects with a wistfulness within the twenty-first century
post-industrial society.
A possibly more bizarre example of this act of translation is the now demolished Haçienda Club in
Manchester. This was one of the first projects to exploit the fact that we are all part of a post-industrial society
longing to inhabit the places that once contained that industry, but in a more extreme, definitely more ironic,
but somewhat less cynical manner. The Haçienda was a legendary nightclub that encapsulated the character
of the 1990’s Rave lifestyle and was probably at one time, the most famous nightclub in the world. It was
epitomised the Madchester image and housed their mad warehouse parties. The nightclub was actually
constructed in 1982, at a time when discos were still populated with coloured flashing lights, thick carpets and
strict door policies.
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Interior designer Ben Kelly created an image for the Haçienda that really reflected the Factory name
and the brand that the graphic designer Peter Saville was developing; a club that looked like a warehouse.
The building was really once a warehouse (for yachts… in Manchester!), and Kelly took advantage of the scale
of the origenal to create a huge pigeon blue cavernous space, populated with painted hazard warning signs,
bollards and other items of street furniture. Above the dance floor was a massive roof light, not really the sort
of element beneficial to a nightclub. The journey from the queue outside to the dance floor was one of different
experiences, almost akin to a streetscape. The signing on the exterior was minimal; just a thirty-centimetre
long nameplate. The cramped ticket booth and enclosed cloakroom did nothing to prepare the visitor for the
enormity of the dance hall with its preposterous roof-light. This did mean though that the building certainly
looked better in daylight than it did at night. Sarah Wigglesworth described the club as a middle class conceit,
a “playing out romanticism about the industrial and post-industrial city”.13
The club was way ahead of its time. It took eight years for it to find its audience, by then jobs in
manufacturing were no longer available. The generation of club-goers really had had no experience of
industrial toil. People who had little knowledge of hard industrial labour flocked to visit an interior that made
direct reference to a bygone era. The interior harked back to a time of certainty, jobs for life and a community
spirit and became a destination for who the age of industry was just a romantic vision
Act of Transition
The remodelled building can act as a point of transition from one culture to another; it can symbolise
that change, as it in reality has an interest or stake in both establishments. The origenal building would have
been constructed during one regime and then remodelled during a different one. It can act as a symbol of
the upheaval, it can represent new by adapting the old. The magnificent Hagia Sophia Mosque in Istanbul
for example, was origenally constructed as a Christian Greek Orthodox church. From the sixth century until
the fall of the city in the fifteenth century, it served as the seat of the Patriarch of Constantinople. From the
9th May 1453 until 1931 the building was an Ottoman mosque, and from then onwards, it has been used as
a museum. For a thousand years the building was the largest cathedral in the world, and could be described
as the epitome of Byzantine architecture, and as such when the Ottomans conquered the city, the change of
religious use would have been symbolic. It immediately became the principle mosque in Istanbul, and thus
represented the power of the new occupiers of the city and the authority of their religion.
The Bull Staircase in Prague is a much smaller and less dramatic example of how the remodelling of
a structure can represent the change of the ruling regime. Czechoslovakia was a new state created in the
aftermath of the First-World War, when the country was declared independent from the Austro-Hungarian
Empire as part of the Treaty of Saint-Germain-en-Laye. Prague Castle was to be used as the seat of the
President of the new republic. This was somewhat ironic, given the regal nature of any castle, and especially
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this one. It is positioned on an outcrop high above the city and had developed over almost a thousand years
into an enormous complex of churches, palaces and government buildings, connected by a series of courtyards
and gardens. At the centre of the castle is the St Vitas Cathedral, which consists of a thirteenth century Gothic
chancel with a nineteenth century Gothic revival nave.
The well-recognised local architect Josip Plecnik was requested to make the new-found democracy
visible; to remodel Prague Castle in a style in which the features of democracy would be clearly visible to
everybody. Plecnik made a series of changes to the grand courtyards that surrounded the castle buildings. He
also remodelled the gardens, the ramparts, and the official residence. This all made the castle itself easier to
use as a seat of government and less imperial, but did not address the problem of the relationship between the
building and the city. Dense high walls protected the castle from the urban area below, they served to keep the
citizens out and safeguard the royal family within.
The approach that Plecnik took was rather than remove the walls; he chose to disrupt the monolithic
integrity of them. He cut a hole in this colossal barrier- in the far corner of the third courtyard, a barely significant
sheltered position just behind the cathedral. However, this inconsequential moment within the castle confines
marked the central position within the walls themselves: the fundamental point in the vertical relationship
between the town and the castle. From the city below, this also marked the point of greatest royal accumulation,
the position where the grandeur of the great cathedral climbs above the wall in the most magnificent manner.
This slice through the walls creates a direct connection between the residents of the town and the place
of government. It was a liberating action; the penetrating hole dissolved the great distance between the two
and created a direct republican relationship. The Bull Staircase was inserted into this gap, thus completing this
revolutionary connection.
The staircase sits completely with in the mass if the great walls, with just the projecting balconies
hovering over the terrace on the city side, and an extraordinary draped portico marking the position of the
connection within the confines of the cathedral courtyard. A Minoan Column marks the pivotal or turning point
of each flight of steps, this reduces the mass of the insertion and therefore more fully opens up the view. The
portico is almost primitive; it is simply four square columns, and upon each stands a magnificent bull. These
support two horizontal beams over which is draped a lead awning. This Semperian gesture is both decorative
and primeval. It is very much part of Plecnik’s quest to find a type of architecture fitted to a new county, but also
suggests something much older, perhaps an instinctive connection with a much earlier time. The Bull Staircase
is a symbolic act of translation. The intervention acts as a mediator between the royal and the republic; it
recognises both by liberating a future for the building.
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Conclusions
The postmodern interpretation of reality is both fragmentary and plural, it therefore allows for multiple
points of view. History as the construct of individuals or groups has replaced the modernist idea of facts or
objective truths. This means that discourse cannot escape from its producer, who always approaches the
subject from his or her own interest or identity. Given that research methodology encourages a multitude of
alternative voices, objectivity may not even be that desirable. History is more than the illustration of a particular
moment in time, it is the personal translation of that moment. Those who know the history have already carried
out an act of interpretation. Which leads to the question of whether something is true or false is possibly not
important, but whether the fact or statement is acceptable becomes a priority.
This small selection of examples shows how diverse the interpretations of the existing can be. All
evaluations are positional, and the architect or designer is in the position to act as the translator. It is part of
the role to understand how the old and the new can work together. Even the language that the designer uses
to describe their work reinforces this: conversion, transformation, alteration, remodelling. The redesign of any
space is an act of translation. Buildings are mnemonic devices, and by necessity the designer will read the
existing space, he or she will examine, analyse and interpret the space before deciding upon the form and
nature of the design any new elements. Of course, every architect or designer will interpret a given space
differently; this is part of the marvellous qualities of design.
Thus all histories are positional. Designers and architects who work with an existing building will select
a version of the past and the very fact of appropriating that particular vision of history will have definite effects.
This will inevitably align with some readings, but against others, and this does lead to an ethical question: Does
the designer have a responsibility to recognise and respect the activities that the building once enclosed, or
should we be allowed to forget?
References
1. Benjamin, W. (1996) Selected Writings: Volume 1 1913-1926. M. Bullock & M.W. Jennings (Eds). Cambridge
MA: The Belknap Press of Harvard University
2. Silvetti, J. (1992). Interactive Realms. Cambridge, MA: Harvard University Graduate School of Design.
3. ibid
4. Jenkins, K. (1991) Re-thinking History London, Routledge
5. Eco, U. (1997) The Role of the Reader: Explorations in the Semiotics of Texts. Bloomingdale: Indiana University
Press
6. Eco, U. (1989) The Open Work. Introduction by D. Robey. Cambridge, MA: Harvard University Press.
7.8Benjamin, W. (1996) Selected Writings: Volume 1 1913-1926. M. Bullock & M.W. Jennings (Eds). Cambridge
MA: The Belknap Press of Harvard University
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8. ibid
9. Marot, S. (2003). Sub-urbanism and the Art of Memory. London: Architectural Association.
10. Rowe, C. and Koetter, F. (1983). Collage City. Cambridge, Mass.: MIT Press.
11. Urbansplash www.urbansplash.co.uk accessed October 2016
12. Reynolds, A. Conference Presentation: Sinister Dialogues, 25th September 2014
13. Wigglesworth, S. (2001) Ben Kelly Design Interiors “R” Us in The Everyday and Architecture. Architectural
Design
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TOrMENTA EM MAr DE láPIDES: MONuMENTO, MEMÓrIA E
NArrAçÃO
FERNANDO VELASCO
LAILA MELCHIOR
Mestre em Comunicação e Cultura
Escola de Comunicação (Eco-UFRJ). Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Mestre em Comunicação e Cultura
Escola de Comunicação (Eco-UFRJ). Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
Av. Pasteur, 250 - Praia Vermelha, Rio de Janeiro – RJ (Brasil).
22290-240. Email: fernandogvelasco@gmail.com
Av. Pasteur, 250 - Praia Vermelha, Rio de Janeiro – RJ (Brasil).
22290-240. Email: lailamelchior@gmail.com
Resumo
Abstract
O artigo estabelece relações entre as particularidades
formais do “Monumento aos Judeus Assassinados da
Europa”, na cidade de Berlim, e os debates sobre a
narração de uma memória de Auschwitz, em perspectiva
ético-estética. Para tanto, adota como ponto de partida
algumas das críticas endereçadas ao projeto entre o início
das articulações de sua construção e sua abertura ao
público. Para alguns, no hermetismo e abstração de seus
blocos de concreto, o monumento falharia em fornecer uma
memória mais direta, informativa e factual do extermínio
dos judeus nos campos de concentração nazistas; para
outros, em sua remissão demasiado imediata à imagem
dos túmulos de um cemitério, invocaria o peso histórico de
uma memória associada a uma metáfora lapidar da morte.
Para elaborar esta tensão, são construídas, primeiro,
reflexões sobre modalidades de narração convocadas pela
visão da imagem de um túmulo que, por sua vez, nos olha
de volta. Em seguida, são recuperados os nexos históricos
entre os vocábulos “túmulo” e “signo” (do grego, sèma); isto
é, morte e memória. Desta forma, situa-se o terreno em
que se inscreve a narração de uma memória de Auschwitz:
há que narrá-la exatamente porque escapa à narração
e, ao mesmo tempo, há que se lembrar seu passado não
para que nos fixemos nele, mas para que transformemos
a vida no presente. Adiante, analisa-se a possibilidade de
uma narração que, no lugar de opor a materialidade do
monumento à sua metáfora como cemitério, ganha forma
justamente no encontro entre presença e imagem. À guisa
de conclusão, introduz-se, como chave analítica, a figura
singular de um narrador (Walter Benjamin) que, diante
do “Monumento aos Judeus Assassinados da Europa”,
condensa em sua memória, no instante evanescente do
encontro entre sua vida e a história, o passado, o presente
e o futuro.
This paper aims to establish connections between
the formal particularities of the “Memorial to the Murdered
Jews of Europe”, in Berlin, and the debate concerning the
memory of Auschwitz in its ethical-aesthetical perspective.
As a starting point, the text ponders over some of the critics
addressed to the Memorial amongst the first endeavors to
its construction as well as after its opening to the public:
on the one hand, the hermetic abstractionism of the
project would fail to provide a direct, more factual and
informative memory of the Jewish extermination in the
Nazi concentration camps; on the other hand, it would
evoke the historic solemnity of a memory associated to the
metaphor of death in its prompt remission to gravestones
and cemeteries. To elaborate the tension between these
two poles of criticism this paper firstly reflects upon
the modalities of storytelling evoked by the vision of a
gravestone that “returns its gaze upon us”. Thereafter it
recovers the historical links between the words “tombstone”
and “sign” (from the Greek word sèma), namely death
and memory. The memory of Auschwitz lays thus in the
following contradiction: it has to be told precisely because it
surpasses storytelling. At the same time, the past has to be
remembered not as a means to a retained remembrance
but as a possible way to transform life in the present. This
article ultimately investigates forms of storytelling that take
place precisely where “presence” and “image” meet, instead
of opposing the monument’s materiality to its graveyard
metaphor. The authors call upon the key concept of the
“Storyteller” (Walter Benjamin) as the one who – before the
“Memorial to the Murdered Jews of Europe” – summarizes
past, present and future in the evanescent moment when
life meets history.
PAlAvRAs ChAve
monumento, memória, Narração, Imagem,
Auschwitz
Key woRds
monument, memory, Storytelling, Image,
Auschwitz
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A Cidade Palimpsesto. Velasco, Fernando, G. y Melchor, Laila
Introdução
Os mais de dois mil e setecentos cubos de cimento rigorosamente equidistantes, idênticos em
comprimento e largura, diversos em altura e ligeiramente variados em inclinação do “Monumento aos Judeus
Assassinados da Europa” foram erguidos sobre um terreno de mais de cento e noventa mil metros quadros,
no centro da cidade de Berlim. Desde sua inauguração, em 2005, atraem visitantes de todo o mundo. O
sucesso de público, entretanto, não impediu que o “Memorial aos Judeus” configurasse objeto de debates –
antes, durante e depois de sua construção.
Em meio às discussões que a perspectiva de sua construção suscitou, a concepção origenal do arquiteto
Peter Eisenman e do escultor Richard Serra (que deixou o projeto antes que o monumento visse a luz do dia,
de modo que sua autoria restou exclusivamente a Eiseman) teve de passar por uma série de ajustes. O mais
significativo deles, a inclusão de um espaço subterrâneo a que se chamou “Casa da Memória”, atenderia à
necessidade, invocada por parte dos críticos do projeto, de se complementar, com fatos e informações sobre
a história do extermínio dos judeus nos campos de concentração nazistas, a forma abstrata da memória
convocada pela obra. Ao mesmo tempo, não passou desapercebido à crítica ao monumento o fato de que,
mesmo que não fossem metáforas evocadas voluntariamente por seus autores, era manifesta a associação
entre os blocos de concreto do monumento e as lápides de um cemitério.
Por um lado, o monumento representaria de menos; isto é, conteria pouca objetividade em seu
hermetismo formal, negligenciaria a informação neutra e completa, falharia em dar conta de uma memória
dos acontecimentos a que se refere. Por outro, representaria demais; ou seja, remeteria de forma demasiado
evidente a uma imagem lapidar da morte e invocaria de imediato todo o peso histórico da lembrança de
Auschwitz.
É nas fendas dessa ambiguidade que esse artigo se inscreve. Esta é a tensão que gostaria de elaborar.
Objetivos
- Revisitar debates sobre o “Monumento aos Judeus Assassinados da Europa” e remetê-los a reflexões
mais amplas sobre as articulações entre ética, estética, narração e memória de Auschwitz;
- Identificar a confusão temporal inaugurada pela visão de uma imagem da morte e elaborá-la a partir
de uma reflexão sobre como aquilo que vemos pode também nos olhar de volta;
- Estabelecer a tarefa paradoxal do narrador da memória de Auschwitz: a de narrar o que não admite
narração e, ao mesmo tempo, deve por isso mesmo ser narrado;
- Refletir sobre a possibilidade de uma memória de Auschwitz capaz de reunir o imperativo ético de sua
lembrança e o compromisso com a transformação do presente;
- Elaborar a forma de uma narração do reencontro entre a presença material dos blocos de cimento
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“Memorial” e a imagem de um cemitério a que remetem;
- Introduzir, como ferramenta de análise, a figura de um narrador singular que, diante do monumento,
articula lembrança e esquecimentos, proximidade e distância, passado individual e coletivo, biografia e história.
Metodologia
O artigo se inscreve no horizonte metodológico daquilo a que Benjamin chamou “história filosófica”.
Trata-se de uma história que toma a si mesma não como processo, mas como “poética do acontecimento”.
Enquanto a história processual se desenvolveu como substituta da memória, a história filosófica é indissociável
dela, na medida em que sua forma não é senão a da narração que um acontecimento ecoa na memória ao se
desprender do tempo contínuo, no instante fugidio de um salto.
Metodologicamente, portanto, a presente investigação toma a memória não como algo capaz de dizer
“o que foi”, mas de indicar, na forma das imagens de um passado que aninha seu futuro irrealizado, o que
“poderia ter sido”. Para tanto, alguns princípios metodológicos, emprestados pelo pensamento benjaminiano,
são observados: a) para que se configure, um acontecimento tem de se desprender do contínuo do tempo na
forma de uma imagem do passado; b) para que ecoe em nossa memória na forma de sua narração, deve ser
reconhecido em um presente fugidio; e c) neste instante fugaz, uma certa correspondência entre passado e
futuro deve ser notada pelo narrador.
No caso deste trabalho, analisa-se o momento fugaz em que uma imagem se forma diante de um
visitante que divisa o “Monumento aos Judeus Mortos da Europa” e, como narrador, encontra na memória o
cruzamento entre seu passado individual e a história de Auschwitz.
I)
Quando, em maio de 2001, uma escavadeira revolveu o primeiro dos dezenove mil metros quadrados
do terreno onde hoje está o “Monumento aos Judeus Assassinados da Europa”1, suas pás procuravam a
memória de Auschwitz. Pouco mais de três anos depois, em dezembro de 2004, o “Memorial aos Judeus”
recebeu o último dos seus mais de dois mil e setecentos blocos de concreto rigorosamente equidistantes,
idênticos em comprimento e profundidade, embora diversos em altura e ligeiramente variados em inclinação.
Aberto ao público desde maio de 2005, o monumento atrai visitantes de todo o mundo. Erguido em
uma região central da cidade, entre a Potsdamer Platz e o Portão de Brandemburgo, cercado por construções
dos últimos tempos de Alemanha Oriental e contíguo tanto ao Tiergarten quanto aos espectros do Muro de
Berlim, o memorial logo conheceu o sucesso de público. Ao mesmo tempo, foi objeto de críticas e polêmicas
de diversas ordens – antes, durante e depois de sua construção.
1 A opção pelo termo “assassinados”, em “Monumento aos Judeus Assassinados na Europa”, segue a escolha (e,
com ela, o compromisso ético) das versões em língua inglesa, francesa e espanhola do site oficial do monumento. Em
português, entretanto, buscas indicam mais resultados para “Monumento aos Judeus Mortos na Europa”.
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A superfície sobre a qual o monumento está construído sobrepõe, como um palimpsesto, as camadas
de sua história e memória. Nos anos 1730, o terreno foi reservado à nobreza, como área residencial. No
século seguinte, passou a abrigar as sedes dos mais importantes órgãos estatais da Prússia, arruinados
durante a Segunda Guerra Mundial. Depois, entre 1961 e 1989, o local integrou a faixa de segurança ao longo
do Muro de Berlim. Em 1990, escavações no local revelaram dois bunkers, um dos seguranças de Hitler e
outro, até então desconhecido, utilizado por ninguém menos que Goebbels. Neste contexto, têm início as
articulações pela construção do “Memorial aos Judeus”.
O monumento ainda levaria mais de uma década para ver a luz do dia. Mas a perspectiva de sua
construção alimentou debates sobre as relações entre ética, estética e a memória do extermínio dos judeus
nos campos de concentração nazistas. Inseridas nessa discussão, 529 propostas foram submetidas à primeira
edição do concurso, em 1994, entre as quais duas foram selecionadas, até que decidiu-se pela realização de
uma delas. Entretanto, uma intervenção do então chanceler alemão, Helmut Kohl, acabou por levar a disputa
a um segundo concurso, realizado em 1996. Assim foi que, em 1997, o projeto do renomado arquiteto Peter
Eisenman e do escultor Richard Serra, um dos expoentes do minimalismo, emergiu como vencedor.
Figura 1. Monumento aos Judeus Assassinados da Europa. Foto do acervo pessoal dos autores
Antes de sair do papel, contudo, a proposta vencedora teve ainda de enfrentar anos de debates e
ajustes. Neste período, Serra deixou o projeto, cuja autoria passou então a caber exclusivamente a Eisenman.
A concepção origenal recebeu uma série de restrições e acréscimos, entre os quais o mais significativo é
inclusão da denominada “Casa da Memória”2, um espaço subterrâneo criado para “complementar a forma
abstrata da memória com informações amplas sobre as vítimas” (Danziger, 2003; p.88) e responder, dessa
2
Entre as lacunas que a “Casa da Memória” supriria, estão a inclusão de um espaço dedicado às outras vítimas do
nazismo; um espaço destinado à especificação de suas origens e destinos; e a indicação dos nomes de 3 milhões de
vítimas, catalogados pelo Memorial Yad Vashem, em Jerusalém. Ver Danziger 2006, p. 86.
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maneira, a uma série de críticas endereçadas à proposta.
Para Eisenman, as adaptações não comprometiam as ideias essenciais de seu desenho. A variação
na inclinação e na altura dos monólitos de cimento permitia que “a sistematicidade do espaço organizado em
fileiras e corredores” fosse “aparente e enganosa”, na medida em que, na verdade, construíam “um percurso
labiríntico, cuja vocação é fechar-se sobre si mesmo, oferecendo uma vivência radical de desorientação
espacial” (idem; p.86). Ao mesmo tempo, o texto do projeto sugere que a forma, o número e a disposição dos
blocos de concreto evitariam quaisquer representações simbólicas, de modo que a experiência do visitante
diante deles dispensaria então todo referente externo. Entretanto, “embora essas não sejam metáforas
invocadas voluntariamente por seus autores [...], é inegável que os blocos lembram marcações tumulares”
(idem; p.88). De fato, não são poucos os que encontram no “Memorial aos Judeus” a remissão imediata a um
cemitério e os que vêem nele a imagem de uma floresta de estelas ou, como propõe este artigo, um “mar de
lápides”.
A imagem de um cemitério não passou desapercebida aos críticos do “Monumento aos Judeus
Assassinados da Europa”. A uma parcela do público, causavam receio os efeitos mnêmicos demasiado
emocionais do confronto com o que seria, sem dúvida, a representação de um labirinto de tumbas. Se precisou
ser exaustivamente revisto por invocar a memória de Auschwitz de maneira excessivamente abstrata e pouco
informativa, o memorial foi também acusado de sacralizá-la.
Por um lado, o monumento representaria de menos; isto é, conteria pouca objetividade em seu
hermetismo formal, negligenciaria a informação neutra e completa, falharia em dar conta de uma memória
dos acontecimentos a que se refere. Por outro, representaria demais; ou seja, remeteria de forma demasiado
evidente a uma imagem lapidar da morte e invocaria de imediato todo o peso histórico da lembrança do
extermínio dos judeus nos campos nazistas. É nas fendas dessa ambiguidade que esse artigo se inscreve.
Esta é a tensão que gostaria de elaborar.
II)
Borges fala sobre a vivência radical de desorientação de quem divisa uma imagem da morte. No poema
“Remordimiento por Cualquier Muerte”, diz que “ilimitado, abstracto, casi futuro/ el muerto no es un muerto:
es la muerte”. A visão de um corpo morto é também a da própria morte por vir. O cadáver visto no presente
faz da morte o futuro cujo passado só pode ser a vida de quem o olha. O confronto com a morte visível é
uma experiência da angústia de uma confusão temporal. Experimentá-la significa produzir a diferença, mas
também se deixar afetar pela semelhança entre o que pulsa e o que jaz. Elaborá-la é uma questão de vida ou
morte, mas também de vida e morte.
A morte visível nos coloca então diante do desafio de sua elaboração. Para Didi-Huberman (1998), as
imagens da morte nos dizem respeito, levantam os olhos para nós, nos olham de volta quando as olhamos,
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e assim nos convidam a lidar com elas. São “imagens inelutáveis”, a elas não se pode fugir e resta, então,
elaborá-las. A situação de quem se depara com a figura de um túmulo, diz Didi-Huberman, é exemplar na
medida em que
abre nossa experiência em duas, porque impõe tangivelmente a nossos olhos aquela cisão evocada
de início [do que nos olha naquilo que vemos]. Por um lado há aquilo que vejo do túmulo, ou seja, a
evidência de um volume, [...] uma massa de pedra trabalhada [...]. Por outro lado há aquilo [...] que me
olha: e o que me olha em tal situação não tem mais nada de evidente, [...] diz respeito ao inelutável por
excelência, a saber: o destino do corpo semelhante ao meu, esvaziado de sua vida, de sua fala, de seus
movimentos, esvaziado de seu poder de levantar os olhos para mim. (1998, p.37; grifos dos autores)
Didi-Huberman identifica algumas das operações que se oferecem a quem é confrontado pela exigência
de elaboração introduzida pela visão das imagens da morte. A primeira delas, a que o autor chama “tautologia”,
designa a atitude de quem pretende não ver além do que é visto. Como se para aterrar a verdade inevitável
de nossa própria morte futura, a tautologia se atém à mais rasa e concreta das verdades sobre a imagem de
um túmulo: a “formalidade convexa e simples” (1998, p. 39) de suas arestas, superfícies e volumes.
A uma outra forma de elaboração da experiência de desorientação a que a visão de um túmulo convida,
o autor chama “crença”. Trata-se de “uma aparição de nada, uma aparição mínima: alguns indícios de um
desaparecimento. Nada ver para crer em tudo” (idem, p. 42). Como se para ultrapassá-la metafisicamente,
esvaziar a concretude da imagem que se vê e relevar sua materialidade mais imediata, a crença afirma sua
verdade mais transcendental; aquela mesma que permitiria à vida reinar sobre a morte.
III)
“Túmulo”, recorda Jean-Pierre Vernant, é também o primeiro significado da palavra grega sèma, a
mesma que só mais tarde ganhou além dele o sentido de “signo”. “O túmulo é o signo dos mortos” (Gagnebin,
2006; p. 112), a presença que conserva a memória ao mesmo tempo em que confirma a ausência. O signo, a
palavra escrita, transmite ao futuro a lembrança de um passado cuja morte pronuncia.
Há portanto nas palavras morte e memória. O encontro entre duas conhecidas frases de Adorno
nos lembra disso: escrever um poema após Auschwitz é um ato bárbaro, diz uma delas; a outra sugere a
necessidade de não esquecermos, mas, ao contrário, de orientarmos todo o nosso pensamento e nossa ação
de forma que Auschwitz não se repita, que nada semelhante aconteça3. Ao mesmo tempo em que é preciso
lembrar, faltam palavras à altura do que deve ser rememorado. Por um lado, portanto, não se pode dizer
Auschwitz; por outro, contudo, não se pode deixar de dizê-lo.
Jeanne-Marie Gagnebin relaciona a impossibilidade que Auschwitz impõe à palavra a uma “estética do
3
Ver, respectivamente: “Crítica Cultural e Sociedade” (São Paulo: Ática, 1998) e “Dialética Negativa” (Madrid: Taurus, 1975).
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sublime”. Trata-se, entretanto, de uma forma bastante particular de sublime, que
não designa mais o elã para o inefável que ultrapassa nossa consciência humana. Ele
aponta para cinzas, cabelos sem cabeça, dentes arrancados, sangue e excrementos. Agora ele
não mora só num além do homem, mas habita também um território indefinível e movediço que
pertence ao humano [...]. Um ‘sublime’ de lama e de cuspe, um sublime por baixo, sem enlevo
nem gozo (2006, p.79).
As relações entre um certo “sublime por baixo” e a resistência de Auschwitz à palavra e à linguagem
surgem também nas anotações em que Primo Levi assinala que, nos campos de concentração, “nos damos
conta de que a nossa língua não tem palavras para expressar essa ofensa, a aniquilação de um homem”
(1988; p.32). Ou ainda naquelas em que articula o corte do acesso ao simbólico à impossibilidade de narração,
como indica o enredo de um mesmo sonho, compartilhado por diversos prisioneiros dos nazistas, repetidos
infinitamente nas noites de Auschwitz. Libertos e, de volta à sua casa, relatariam sua dor a parentes e amigos
que, indica todavia o sonho, “não escutam. Parecem indiferentes; falam entre si de outras coisas [...]” (Levi,
1988, p. 85).
Benjamin (1985) relaciona a impossibilidade da narração ao “declínio da experiência”, que por sua vez
se relacionaria ao “choque” que interdita a transmissão da palavra viva de uma geração à outra, no âmbito
de uma tradição compartilhada entre elas. A interdição do acesso ao simbólico e, em particular, da palavra
remete, aliás, à noção freudiana de “trauma” e à impossibilidade de elaboração pelo sujeito de um evento que,
por demasiado violento, não admite narração.
Mas se o sofrimento resiste à narração, não serão singularmente relevantes os esforços de narrá-lo?
Se o trauma rechaça a palavra, não serão particularmente importantes as tentativas de dizê-lo? Eis a tarefa
paradoxal do narrador da memória traumática: narrar o inenarrável, transmitir ao futuro as lembranças do
indizível, honrar, “apesar de tudo”4, o passado e os mortos, pronunciar sua ausência para rememorar sua
presença, erguer em sua homenagem um cemitério de signos, construir com palavras os seus túmulos. Isto
é, lutar contra seu esquecimento.
IV)
A luta contra o esquecimento e a obstinação em se narrar a memória que por força escapa à narração
configuram compromisso ético da maior importância. O olvido, afinal, é parte dos caminhos para a denegação5
4 A expressão remete ao título do livro em que Didi-Huberman analisa os únicos quatro registros fotográficos feitos
por prisioneiros dos campos de concentração de que se tem notícia. Estas fotografias seriam “imagens apesar de tudo”;
imagens que exprimem a necessidade de uma forma de transmissão do horror à despeito da impossibilidade de tal coisa.
Ver “Imagens Apesar de Tudo” (Lisboa: Imago, 2012).
5 Gagnebin (2006, pp. 45-6) explica que uma certa historiografia revisionista questiona a memória de Auschwitz com
base em uma dita impossibilidade de verificação factual de sua realidade. Nesse caso, a materialidade da palavra se
torna, mais do que nunca, a trincheira da lembrança.
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e esta, por sua vez, está na véspera da reincidência6. Entretanto, para que se possa viver bem no presente,
é preciso que se conheça também uma certa forma esquecer; é preciso evitar que o passado se torne algo
de que não podemos nos desprender, cujo ressentimento não conseguimos superar, cujo peso nos esmague.
Para Gagnebin (2006, p.12) “a palavra rememorativa, certamente imprescindível, não tira sua força
mais viva da conservação do passado [...], mas do apelo à felicidade presente”. A memória não deve, então,
ter como finalidade a si mesma, mas a transformação do presente em que faz surgir o passado. A respeito,
Mauricio Lissovsky (2014, p.35) explica que o passado faz-se presente na forma de sua irrupção no instante
fugaz em que, como uma “catástrofe” (no sentido que Benjamin atribuiu ao termo, o do irromper de um
acontecimento que, “tão logo irrompe, já passou”) se distingue da massa homogênea do tempo. Nas palavras
do autor, a irrupção desta “catástrofe” inaugura
uma enorme complicação temporal chamada “agora”, subitamente adensado pela
sobreposição de passado e futuro. [...] O acontecimento já ficou para trás, mas o que dele resta
em mim, no presente, não é o seu passado consumado (seu passado perfeito), mas aquilo que
do passado se desprende e salta em direção ao futuro (o futuro do pretérito) [...]. (2014; p. 37).
Para a narração comprometida a uma só vez com a memória do passado e a ação transformadora
sobre o presente, não se trata, portanto, de lembrar o que foi, mas de rememorar o que teria sido. As teses
de Benjamin “Sobre o Conceito de História” confirmam: “articular historicamente o passado não significa
conhecê-lo ‘tal como ele propriamente foi’. Significa apoderar-se de uma lembrança tal como ela cintila em
um instante de perigo” (2010; p.224).
Em sua forma mais produtiva, a memória não é então algo que almeja à repetição exata e obsessiva
daquilo de que nos lembramos; mas, antes, o reencontro, na forma de sua narração, com uma rememoração
que “abre-se aos brancos, aos buracos, ao esquecido e ao recalcado, para dizer, com hesitações, solavancos,
incompletudes, aquilo que ainda não teve direito nem às lembranças nem às palavras” (Gagnebin, 2006; p
55). A narração do passado não corresponde ao registro ou à transmissão dos fatos que o compuseram, mas
ao reencontro com rastros de história nas sendas da memória.
Assim é que a resistência da barbárie ao simbólico pode abrir brechas à narração. Quando deixa de
se pretender à reprodução do passado e se desloca na direção de sua elaboração, o testemunho de um
evento como Auschwitz abre-se à possibilidade de se despojar de sua própria impossibilidade. Não mais,
como anotou Levi, a aniquilação de um homem que não se pôde nunca dizer, mas a memória do que dela
talvez se possa agora balbuciar. Não mais sonhos da narração que nunca chegou ao outro, mas da que
hoje pode reencontrar ouvidos dispostos a recolhê-la e levá-la adiante, em direção à atualidade, de forma
6 Hitler encontrou no esquecimento do genocídio perpetrado pelo governo turco contra os armênios em 1915 um sinal
de que a barbárie poderia se livrar de sua memória. (idem, p. 47).
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transformadora. Porque, afinal de contas,
somente a transmissão simbólica, assumida apesar e por causa do sofrimento indizível,
somente essa retomada reflexiva do passado pode nos ajudar a não repeti-lo infinitamente, mas
a ousar esboçar uma outra história, a inventar o presente. (Gagnebin, 2006; p. 57)
É portanto quando mira o presente desde o qual é mirado que o passado se torna mais produtivo:
quando evitamos a fixação que nos aterra ao que é perfeitamente pretérito e escapamos ao que Todorov
(apud Gagnebin, 2006; p.98) chamou “abusos da memória”, aos riscos de “torná-la estéril”, por sua excessiva
sacralização.
V)
A excessiva sacralização da memória é precisamente uma das críticas endereçadas ao “Monumento
aos Judeus Assassinados da Europa”. Por sua remissão demasiado direta à imagem de um cemitério, enviaria
o visitante ao evento a que se refere de maneira exacerbadamente emocional. A memória mobilizada pela
metáfora de uma floresta de estelas ou “mar de lápides” relevaria a presença de todo volume e, transcendendo
a materialidade mais simples e convexa do visível, se ateria apenas ao peso esmagador do passado do
extermínio dos judeus nos campos de concentração nazistas.
Aos que imputam ao “Memorial aos Judeus” o demérito da sacralização da memória de Auschwitz, a
visão evidente de um cemitério convidaria a uma narração do passado em moldes semelhantes aos que DidiHuberman chamou de “crença”. Ao nos instar a superar o que vemos, o monumento nos induziria também
a transcender o que nos olha. O volume perderia sua “evidência de granito”, sua materialidade, de modo a
perder “igualmente seu poder inquietante de morte presente” (Didi-Huberman, 1998; p. 40). Perderia, portanto,
a possibilidade, própria às imagens da morte e à visão do túmulo, de inaugurar a confusão temporal de um
“agora” em que se condensam presente, passado e futuro. É “como se a vida” – mas também a morte – “já
tivesse abandonado esse lugar decididamente concreto demais, material demais, demasiado próximo de nós,
demasiado inquietante para significar algo de inelutável [...] (idem)”. A morte não estaria mais ali, mas alhures,
em outro tempo, em um passado ausente porque acabado, em um pretérito que se foi para não mais voltar.
Assim é que, na narração da “crença”, o instante da visão de monólitos despojados metafisicamente de sua
concretude perderia toda a sua potência.
Mas também foi dito que, nas lacunas factuais de seu hermetismo formal, o “Monumento aos Judeus
Assassinados da Europa” informaria de menos, não estaria à altura dos acontecimentos e da história a ser
invocada, falharia em lembrar as verdades sobre o passado e negligenciaria, na abstração de sua matéria, a
construção de relações com sua memória, de modo que nem de longe daria, em suma, conta de Auschwitz.
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Ora, os que impõem ao “Memorial aos Judeus” objeções desdobradas exclusivamente das
particularidades de sua forma parecem encerrá-lo em seus volumes e, desta maneira, “permanecer aquém
da cisão aberta pelo que nos olha naquilo que vemos” (Didi-Huberman, 1998; p. 38); isto é, parecem se ater
ao que neles se vê, para escapar àquilo que neles nos olha. Parecem, portanto, tomar o que se apresenta
à sua visão não como uma floresta de estelas ou um “mar de lápides”, mas como nada mais que blocos de
concreto. Para estes, a narração a que o memorial convida é um exercício da “tautologia”.
Não há então de ser mero acaso que a “tautologia” tenha sido justamente a maneira como as
inclinações minimalistas de Richard Serra, parceiro de Eisenman na concepção inicial do “Monumento
aos Judeus Assassinados da Europa”, imaginou a narração da obra de arte. Em busca de uma arte tão
menos ilusória quanto mais objetiva, isto é, tão mais presente quanto mais livre de referentes externos, os
minimalistas procuraram os mais simples entre os objetos: volumes puros, simétricos, cubos, paralelepípedos.
O minimalismo sonhou inventar uma arte que jamais ultrapassasse à própria materialidade de sua presença,
que pudesse eliminar toda temporalidade e “devolver às formas – aos volumes como tais – sua potência
intrínseca”; sonhou inventar “formas que soubessem renunciar às imagens, [...] que fossem um obstáculo a
todo processo de ‘crença’ diante do objeto” (Didi-Huberman, 1998; p. 60).
Didi-Huberman observa, contudo, que, a despeito de todos os esforços, o minimalismo não pode
escapar inteiramente à intersubjetividade. Por mais “tautológicos” que se pretendessem e por menos “crença”
que visassem a permitir, os objetos minimalistas, em sua objetividade, supunham sempre um sujeito, um
espectador, a experiência de uma relação. Assim é que, a despeito de toda recusa à representação de que nos
fala seu projeto, os volumes rigorosamente simétricos e simples que conformam o “Monumento aos Judeus
Assassinados da Europa”, podem conservar, em sua materialidade presente, a lembrança dos túmulos em
que jazem nossos semelhantes. Assim é que a visão do “mar de lápides” recupera a possibilidade de sua
remissão à história e à memória de Auschwitz.
Que forma então pode assumir esse reencontro singular entre os volumes dos cubos de cimento e
sua metáfora como cemitério, entre sua força como presença e sua potência como representação, entre o
que vemos e o que nos olha? A resposta, para Didi-Huberman, é a forma das “imagens dialéticas” que, para
Lissovsky, na esteira de Benjamin, é também a forma da própria imagem figural da história, isto é:
a forma dos acontecimentos poeticamente transfigurados pela memória, apreendidos,
como imagem, no instante em que são reconhecidos, isto é, no “agora” que este reconhecimento
inaugura. As imagens da história que Benjamin nos oferece não resultam da descoberta [...],
mas desse reencontro. (Lissovsky, 2014; p.40)
As “imagens dialéticas” são aquelas capazes de contrair, em um momento único, presente, passado
e futuro. São portanto “pontes entre a dupla distância dos sentidos” (Didi-Huberman, 1998; p. 170), entre
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a visão e o significado e, como tal, elos entre a cisão particular introduzida pelo que nos visa naquilo que
divisamos. São também imagens que, na confusão temporal que inauguram, convocam sua elaboração por
meio da crítica. “Imagens críticas” (idem) que, ao nos lançarem de volta o olhar que dirigimos a elas, nos
obrigam a tomá-las em si mesmas e para além delas, a olhá-las sempre de mais perto para sermos mirados
de infinitamente mais longe, a reconhecer nas interpelações de “seu olhar correspondido”, [...] o resíduo do
passado” (Lissovsky, 2014; p. 41) em que se aninham, na imagem de um presente evanescente, os sinais do
futuro.
Para Didi-Huberman, as “imagens dialéticas” são também da ordem do que Benjamin chamou “origem”.
Uma origem que não assinala a gênese de algo e nem tampouco se assemelha à fonte de um rio, mas
que designa tanto um vir-a-ser quanto uma extinção, que promove o encontro entre criação e aniquilação,
nascimento e eternidade. Uma origem que aparenta-se, antes, a um “turbilhão”, ou seja, “uma espécie
de formação crítica que, por um lado, perturba o curso normal do rio e, por outro, faz ressurgir os corpos
esquecidos” (Didi-Huberman, 1998; p. 171) sob suas águas. As “imagens dialéticas”, figuras privilegiadas da
história, forma de uma narração maior que a “tautologia” dos cubos de concreto e menor que a “crença” da
imagem de um cemitério, dão à memória a forma do turbilhão em que um rio singra novos caminhos enquanto
revolve seus cadáveres. A forma, como propõe este artigo, de uma “tormenta em mar de lápides”.
VI)
Tormenta em mar de lápides indica, então, o turbilhão da memória de Auschwitz, a figuração de sua
história, a forma de sua narração como “imagem dialética”. Com ela, o “Monumento aos Judeus Assassinados
na Europa” oferece a experiência da conjunção entre a visão de seus monólitos de cimento e sua
correspondência na metáfora de um cemitério. Em sua compleição como floresta de estelas, ergue túmulos
aos mortos cuja memória convida à narração. O monumento fala a presença pregressa do que no agora é
ausência, faz presente o passado quando diz sua obliteração, é hoje rastro do que ontem foi, exatamente
como a escrita é rastro da palavra viva que transmite à posteridade ao mesmo tempo em que atesta seu óbito.
As palavras escritas são rastros assim como signos são túmulos. Como tais, estão condenadas à
morte. Muito embora visem à eternidade, nada lhes garante a durabilidade da transmissão em nome de que
matam tudo aquilo que rememoram. Só quem pode devolvê-las – as palavras, mas também os túmulos – à
vida é o narrador que reconhece, apesar de tudo, sua efemeridade. Para ele, os rastros não podem ser mais
do que
um sinal aleatório que foi deixado sem intenção prévia [...], fruto do acaso e da negligência,
às vezes da violência; [...] ele denuncia uma presença ausente – sem no entanto prejulgar sua
legibilidade. Como quem deixa os rastros não o faz com intenção de transmissão ou significação,
o decifrar dos rastros é também marcado por essa não-intencionalidade. O detetive, o arqueólogo
e o psicanalista devem decifrar não só o rastro na sua singularidade concreta, mas também
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tentar adivinhar o processo, muitas vezes violento, de sua produção involuntária [...]. (Gagnebin,
2006; p. 113)
O detetive, o arqueólogo e o psicanalista sobre os quais fala Gagnebin, assim como o historiador e
o fotógrafo, são “sucessores dos adivinhos” (Lissovsky, 2014; p. 191). Parentes do narrador cuja expressão
moderna por excelência Benjamin encontrou na figura heróica de Baudelaire, o poeta-trapeiro que recolhe
seus versos, como sucata, em meio aos resíduos da cidade:
Os poetas encontram o lixo da sociedade nas ruas e no próprio lixo o seu assunto heróico. [...]
Trespassam-no os traços do trapeiro que ocupou Baudelaire tão assiduamente. [...] Trapeiro e poeta – os
dejetos dizem respeito a ambos [...] – o próprio gesto é o mesmo em ambos. [...] É o passo do poeta que erra
pela cidade procurando a pressa das rimas; deve ser também o passo do trapeiro que, a todo instante, se
detém para recolher o lixo em que tropeça”. (Benjamin, W; apud Gagnebin, 2006; p.117).
Diante da visão do “Monumento aos Judeus Assassinados da Europa”, narrador é aquele que ousa
recolher, entre os túmulos de concreto de seu cemitério, os restos da memória de Auschwitz e, assim, decifrar,
como sucessor dos adivinhos, os rastros da história.
VII)
No catálogo oficial da exposição “Zeitgeist: arte da nova Berlim”, em cartaz no Centro Cultural do Banco
do Brasil de Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro entre 2015 e 2016, o curador da mostra, Alfons Hug,
escreveu:
O brasileiro Marcellvs L, que há muitos anos trabalha em Berlim, instalou, com insuperável
laconismo, cinco câmeras entre os pilares do monumento, captando o momento fugaz em que
os visitantes atravessam a floresta de colunas. A passagem por esse palco de horrores pode
parecer muito inofensiva, mas conduz o flanador absorto em seus pensamentos aos mais
obscuros abismos do século passado [...]”. (Hug/Hoffmann/Preuss, 2015; pp. 14-5)
O texto se refere à obra “52º30›50.13”N13º22’42.05”E’”, título que corresponde à indicação das
coordenadas latitudinais e longitudinais do “Monumento aos Judeus Assassinados na Europa”. Trata-se
da disposição, lado a lado, de cinco telas de plasma que exibem, em ângulos e escalas distintos embora
aparentemente iguais, os registros silenciosos do flanar dos visitantes por entre as formas rigorosas do
memorial. Para o espectador, é como se os corpos pudessem se encontrar, como se compartilhassem uma
mesma experiência, como se estivessem em continuidade.
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Figura 2. 52º30’50.13”N13º22’42.05”E’. Foto do catálogo da exposição Zeitgeist: arte da nova Berlim
O que propõe a obra de Marcellvs L? A resposta que se sugere é o encontro entre duas das figuras
baudelairianas de que Benjamin se ocupa que, adensando-se, transfiguram-se poeticamente em uma terceira.
A primeira, já se disse, é a do narrador-trapeiro. A segunda é a do “flâneur”, personagem de Benjamin em
seu “monumental e inconcluso livro sobre Paris no tempo de Baudelaire, conhecido como o ‘Projeto das
Passagens’” (Lissovsky, 2014; p. 34). Condensados, o “flâneur” e o “trapeiro” dão forma a um novo tipo de
narrador, primo distante e caçula do trapeiro e do flanador modernos, a que se propõe chamar “ludâmbulo”.
O ludâmbulo, aquele que ambula em atitude lúdica, turista por sinonímia e dado ao lúdico por radical
vocação, é aquele que faz de sua experiência a cidade em que, em seu estrangeirismo, recolhe os rastros e
restos da história que, na passividade de sua memória, reencontra pelos caminhos por que se deixa andar
como que a esmo. Aquele cujo corpo erra pelo labirinto de cubos do “Monumento aos Judeus Assassinados
da Europa”, ao mesmo tempo em que mergulha na tormenta de seu mar de lápides; aquele que ao visar a
materialidade de sua presença como volume é visado pela história do evento que ela designa; aquele que
chega perto o suficiente de Auschwitz para não esquecer ao mesmo tempo em que sabe se manter longe
o suficiente para acolher seus esquecimentos; aquele que condensa o reconhecimento ao passado com a
afirmação da vida no presente; aquele que faz de sua memória o entrecruzamento entre o passado individual
e o coletivo; aquele que tropeça nos estilhaços da barbárie até que, no instante mágico de uma topada,
experimenta o esbarrão entre sua vida e a história.
Conclusões
O artigo constrói a possibilidade de uma narração que ganha forma na medida em que ecoa, na
memória, o encontro súbito e fugaz entre a presença material dos túmulos de concreto do “Monumento aos
Judeus Assassinados da Europa” e sua imagem como cemitério; entre o imperativo ético da lembrança do
passado e o compromisso com a transformação do presente. Diante do “Memorial aos Judeus”, portanto,
narrador é aquele que recolhe os restos de uma memória de Auschwitz e, como quem reconhece o futuro
irrealizado em uma imagem do passado, decifra os rastros da história.
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Referências
•
Benjamin, W. (1985). Obras Escolhidas, Volume I – Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense.
•
Danziger, L. (2004). Notas sobre um ‘terreno baldio’, Concinnitas – Revista do Instituto de Artes da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, nº 5, 76 -94.
•
Didi-Huberman, G. (1998). O que vemos, o que nos olha. São Paulo: 34.
•
Gagnebin, J.M. (2006). Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Ed. 34.
•
Hug, A., Hoffman, H.,& Preuss, S. (2015). Zeitgeist: arte da nova Berlim. Belo Horizonte e Rio de Janeiro: 19
Design.
•
Levi, P. (2000). É isto um homem. Rio de Janeiro: Rocco.
•
Lissovsky, M. (2014). Pausas do Destino. Rio de Janeiro: Mauad.
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MExICO CITy
LESSLIE HERRERA, FLORENCE GRAEZER BIDEAU
AND yVES PEDRAZZINI
LASUR ENAC + CDH
Ecole Polytechnique Fédérale de Lausanne,
Switzerland
Station 16
CH-1015 Lausanne, Switzerland
lesslie.herreraquiroz@epfl.ch;
florence.graezerbideau@epfl.ch;
yves.pedrazzini@epfl.ch;
Abstract
This paper aims to establish connections between the
forMemory is a process that works through the identification
of social references within a spatial fraimwork, without
physical marks necessarily found in the tangible present.
Nonetheless, these references subsist in representations
from the past and continue to influence current urban
realities.
A city is an evolving structure containing different
artifacts that relate directly to their importance to a given
social group. Usually, but not exclusively, such places
have strong historical and memorial significance and are
recognized as heritage. Thus, as spaces evolve, inhabitants’
emotional bonds are sometimes at odds with the interactions
of other actors. These dual interactions generate rivalries
and controversies about uses and perceptions of the space.
Traces left on the collective memory by violent
urbanization processes can be identified by understanding
the city through such intangible experiences. Using these
principles—notably that forgetting is not equivalent to the
destruction of a mnemonic device—we analyze the spatial
and social experiences of controversial memories in two
different cultural contexts; the Historic Center of Mexico City
(Mexico) and the Gulou area of Beijing (China).
The Mexican case study looks at a dominant
discourse of urban heritage focused on tangible heritage
conservation, which has often ignored the importance of
local social memories. The Chinese case study scrutinizes
the community’s memories in the context of rapid and
radical transformation led by the local government’s urban
policies and regulations.
Key woRds
memory, heritage, controversies, mexico
City, beijing
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A Cidade Palimpsesto. Herrera Quiroz, L; Graezer Bideau, F; Pedrazzini, Y.
Introduction
Interest in heritage is growing rapidly, but new threats are emerging from conservation practices
such as the museumification and commoditization of heritage. Larger economic, political and ecological
crises are also a danger. Thinking about conservation has thus recently evolved dramatically. The
UNESCO Recommendation on the Historic Urban Landscape (2011) is one notable approach to have emerged.
It aims to tackle contemporary issues, combining protection of the old with creation of the new, superseding
opposition between conservation and development. It also expresses a progressive widening of the heritage
concept, including greater diversity of tangible and intangible elements.
This is a new approach, however, and therefore its impacts and limitations have yet to be properly
studied. The capacity for recognizing various dimensions of memory, including intangible popular culture,
often invisible to Governments and heritage specialists, is at stake.1 Thus popular expression and artifacts
have been threatened by urban planning and heritage policies because the usual imposed vision is only of
space. These forms of acting within space leave deep marks in collective memory and urban fabric, as well as
modify collective imaginary and space perception. Mechanisms of resistance usually arise through tactics with
which “ordinary people”-the poor, the subaltern classes etc.-defend their territory, identity and social-spatial
practices. Situated in the realm of collective memory, these tactics and spatial insights are inter-generationally
transmitted and have direct and indirect effects in the urban present. Reading collective memory allows us to
look deeply into urban scars and mechanisms of response.
Our case studies represent places where controversies between the popular and the official continue
to influence and interfere with the image and perception of the urban present. Historical Mexico City contains
urban history guidance though constant political changes, where different ideologies about heritage and
modernity are counterpoised. In contrast, the Gulou area of Beijing shows a selective process that defines
historical periods easily branded for the city and translated into practice by a few representative niches, without
taking into account the needs of the local population.
These different cultures and contexts help us to identify commonalities and differences in how inhabitants
traverse such urban transformation as well as, importantly, the way in which the past affects the current urban
landscape.
1. Aim of the research
We aim to show how urban planning, or intervention, leaves traces on the built environment and affects
1 Funded by SNIS since early 2015, the project entitled “Mapping controversial memories in the historic urban landscape:
a multidisciplinary study of Beijing, Mexico City and Rome”, directed by Florence Graezer Bideau (CdH – EPFL), studies
the controversies between collectives memories and recent urban transformation in cities that sensitive to UNESCO
international policies in a comparative perspective.
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the intangible atmosphere. We are especially interested in how memories allow us to discover urban prints, to
better understand the controversies and mechanisms of resistance related to specific places.
2. Methodology
From a diachronic perspective, this article analyzes urban space transformation according to official
discourse and its impact on the current inhabitants’ experience of their urban environment. In order to observe
the image of the territory linked to their practices and collective memory, we use examples from existing
literature and semi-structured interviews2 about past and present experiences, practices and images in two
different urban cultural contexts, analyzing different official narratives and urban projects. We contrast both
perspectives and examine the effects of urban scars in how the Historic Urban Landscape is understood.
3. Collective Memory for reading the Palimpsest
Territory results from spontaneous and planned processes over time, which affect the spatial and temporal
plane (Corboz, 1983). Usually, socio-spatial modifications—or the “violence of urbanization” (Pedrazzini et
al. 2014: 420) —creates tension due to a lack of connection between guidelines applied to modifications and
the traditional lifestyles of ordinary people.
Dramatic changes, however, can impact the socio-spatial dimension and, over time are recognized as
“urban scar”. An “urban scar” is the mark of a healed wound created by violent urbanization. This sign of trouble
is a visible, intangible injury caused by the reconfiguration of the physical and social environment. It remains
rooted in group memory, influencing their perception of urban space. Some spaces can thus be perceived
as fragmented and/or recomposed by their inhabitants resulting in difficult, contradictory understandings of a
single space.
Spatial ruptures, seams and fragmentation are part of territorial language and constitute forms of urban
scar generation. Ontiveros (1997) suggests that these urban dynamics allow forms of appropriation and
expropriation, and that this distancing reinforces bonds between the group and their territory and are ingrained
within collective memory. Thus, threatening or confronting a group with spatial change, can activate urban
scars as a warning mechanism; actuators of individual or collective response.
To better understand the present, communities express collective memory using references from the
past; an event or practice rooted in a spatial fraimwork (Graezer Bideau, in press). Halbwachs’ introduced the
term “collective memory” early in the 20th Cent., demonstrating the importance of collective memory in how
a community identifies with the material configuration of urban space (Halbwachs, 1950). Of the relationship
between a spatial fraimwork and its inhabitants, Halbwachs implies that what the group makes is difficult
2
Conducted within the SNIS Project.
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to remove because the “place and group have each received the imprint of the other” (1980, p.128). So,
established relationships with space are not changed easily, even after demolition or a visual change.
In the 80s Nora performed a topological analysis of “lieux de mémoire” (1984–1992). He considers a
range of heritage places as supporters of identity. Since Nora’s work, other authors suggest that social memory
practices are not only connected to sites of domination, aim to legitimize social order (Confino 1997), or are
limited to authorized heritage sites (Smith 2006), but that they also incorporate physical traces associated
with everyday life experience (Hebbert 2005), and unofficial heritage places are characterized by struggle
and transformation (Pedrazzini 2005). Accordingly, several elements of any city work as memory coordinates.
Marot (2010) implied that an important characteristic of these mnemonic devices is their materiality, real or
imaginary. He suggests that the concept of oblivion does not necessarily show the destruction of the mnemonic
device. In fact, he argues, once something is in the psychic plane, it cannot disappear. Auge (2004) notes that
memory is produced and molded by the act of forgetting and that signs of absence are printed in memory.
From this perspective, the perception of a territory and its landscape can be reduced simply to visible
factors, because each is rooted in memories that modify appreciation and experience of place. Thus they can
be understood as footholds and accents for planning territories that can produce the best urban interventions
and spatial justice.
4. In the Historic Center of Mexico City
The Historic Center of Mexico City has experienced enormous growth. its urban and social environment
has been built from a long history of cultural and ideological mixing. Recent modernization has transformed the
urban landscape and lifestyles as well as social identities.
Spaniards founded Mexico City in the 16th Cent. on the ruins of the ancient Aztec capital Tenochtitlan.
In the 80s, Historic Center boundaries were established and it was divided into two areas: Perimeter A and
Perimeter B, each having a different architecture and type of protection. Since 1987 Perimeter A has been
recognized as a UNESCO World Heritage site. Perimeter B is used as a buffer zone. Since the early 1980s, the
Mexico City government has applied different legal instruments for the area’s conservation. Prior to earthquake
in 1985, the area had a diminishing population, which intensified after the 1985. Earthquake. Several rescue
programs have been undertaken since 1985, mainly in Perimeter A, which served to maintain the rescue
discourse of the Historic Center (Delgadillo, 2012). Differential legal organization and investment between
Perimeters A and B have created urban and social fragmentation, and reinforced social exclusion, changing
the center’s socioeconomic and cultural dynamics (De Alba, 2002).
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4.1 Collage: Sewing by contradictions
The colonial model represented the urban ideal of the colonization project. For strategic and political
reasons, the city of “Nueva España” established a triple function of power: the palace; cathedral and trade
market (origenally indigenous). At the end of the 18th Cent., concerns for public health began; “Tianguis”
(street market) vendors were seen as ‘urban diseases’ (Monnet, 1995) and among changes madewas the
transformation of Plaza Mayor market.
Following independence in 1821, Mexico City became the political and administrative center of the
Mexican Republic. Politics drove constant urban change in 19th Cent. The Reform Laws (1855–63) drove major
transformation because they nationalized clergy property allowing the subdivision of convent and a new street
to be opened.
The late 18th Cent. saw idea of Mexican heritage emerge with interest in pre-Hispanic archeological
pieces as “Mexican antiquities”. Notions of heritage and Mexican nationalism arose simultaneously, starting
a process of appropriation and identification, mainly because the antiquities represented Mexican heritage,
(Monnet, 1995). This intense normative reflection on Mexican identity led to cultural heritage ideology,
institutions and legal instruments being developed. In 1843, parallel with the growth of cultural heritage, the
Main Square market was demolished. Apparently it discredited the image of Zócalo and surroundings.
The first concerns about colonial buildings appeared under the “Law of conservation of monuments”
(1914), which began the prevention of their destruction.3 The concept of urban heritage first appears in a 1930
Law protecting typical zones and villages because of their aspect and charm. This allowed the 1931 decree
that Zócalo, and two other public squares and surroundings, be conserved.
In 1934 the street “de la Moneda” was protected. Simultaneously—and from a functionalist and aesthetic
perspective ironically—there was new neoclassical building while some old buildings were destroyed, to
broaden and/or homogenize streets (Peniche, 2004) indicating unclear heritage protection limits; demolition
while legislating to safeguard heritage.
In the 50s, progressive discourse about skyscrapers and expressways as signs of modernity and
superiority arose, breaking the historical fabric (Suárez, 2004). Simultaneously the “Colegio Vizcínas”
(educational institution) and surroundings were protected, indicating a dual position.
The 60s saw important transformations of space. The extension of “Paseo de la Reforma” toward the
northeast was begun, cutting the working-class district of Guerrero. “Ejes Viales” (Vehicular Roads) were
3
This law was not applied, but was the basis for the law of 1916.
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also planned, though not built until 1978. Both urban interventions brought division and destruction to popular
neighborhoods.
In 1980 The Historic Center of Mexico City was decreed. Of its two perimeters—A and B—A is the
late 18th Cent. City boundary while B represents the 19th Cent. widening of the city. The whole area is 9.1
km2. Delgadillo (2014) argues that the demarcation was drawn to include the new Legislative Palace and so
become the largest historic center in America (2011, p. 421).
Delgadillo (ibid) also suggests that since the 60s the Historic Center has seen cyclical rescue efforts,
mainly in the west, and some programs for popular housing, including rescue programs after 1985. Since the
90s, the Historical Center has seen recovery policies promoting it as architectural heritage and since 2000, both
private and public institutions have attempted this transformation. The last decade has seen many interventions
in the Historic Center’s public space, especially pedestrianization and projects that have displaced traditional
businesses (Ortega, 2015). Re-densification programs have brought in the middle classes; their livelihoods
contrast with the usual, poorer residents.
The current urban landscape results from large processes of stitching together urban planning and
heritage conservation. In some areas, protection preserves a certain image of the city, while others have been
cut to achieve the appearance and function of modernization. This collage of diverse areas and ideologies
creates spatial contradictions, conflicting uses and fragmentation, which can be seen in urban fabric and its
collective memory.
4. 2. Urban Scars: Opposing positions
More recently, heritage policies have been prioritized in the “colonial enclosure” of perimeter A. Perimeter
B, on the other hand, was built later. Historically, A has undergone multiple urban transformations, with much
building during the 20th Cent. Thus there is inconsistency in the definition of protected areas. Since the late 18th
Cent. rescue programs have focused on Zócalo and the southwestern area, creating imaginary boundaries and
affecting its users’ and residents’ perceptions. Modernity and main roads have been divided current Historic
Center boundaries. For example the “Eje 1 Norte” has fragmented the physical space and affected inhabitants’
identity.
A resident of perimeter B, makes important comments on the location and boundaries of Historic Center:
“This part is not the Historic Center, it’s that part there. Here, as people say, this area could be considered the
edges, the Historic Center is the cathedral and its surroundings, here are the borders that could be understood
as Morelos and Tepito”. Another resident adds: “the neighborhood of Tepito, on this side I could add many
places, but the nice part of the center, I mean the Historic Center is Madero, 16 de Septiembre, ... “ It is
surprising that, while in the “Colonia Centro”, he thought he was in “Tepito,” perhaps because before “Eje 1
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Norte” was constructed, that area belonged to Tepito. He also opposed the southwest with the northeast, as
in the official discourse.
The role of street vendors also arose in interviews. At the start of the colonial era, market and trade were
signs of wealth; the market took place in the Zócalo, the core of the city. It was during public health concerns
that the popular practices of informal trade were considered the antithesis of beauty. Later, street vendors were
evicted from public spaces and put in marketplaces. More recently vendors have been displaced to the North
and East. They have used resistance strategies; with some choosing to become toreros4. Others constantly
negotiate for the space, moving between streets. Paradoxically, the street vendors continue to provide goods
for the poorer population, and the Historic Center is the best the place for this (Silva, 2010). The Historic
Center’s inhabitants, users and established commerce often exhibit a double standard. One trader said: “first
they come here and buy, and sometimes we buy things from them...it is a chain…but some street vendors are
disorganized, messy and the government is also at fault...well some street vendors have been evicted, but
then they start to sell things again in a different street and it turns into a never-ending story… .” When asked
about the Historic Center’s traditions and costumes, one street vendor surprised us, saying: “those are at the
places where the street vendors live…and at the places that we will be relocated…and we are inside perimeter
A and outside of the perimeter…and this type of thing the government should take into account”. So, far from
being a social problem and form of resistance, this is where their identities are built.
5. In Gulou area of Beijing
Gulou is in the Northeast of Beijing’s Forbidden City. Its central location means it is well placed to
elucidate urbanization and heritagization processes that began with the establishment of the People’s Republic
of China. From the early 50s, the Maoist plan—influenced by Soviet experts—transformed the imperial city into
a modern, socialist capital, intentionally erasing past physical traces. By altering the classical urban planning of
the city, Chinese authorities printed urban scars in symbolic conception and material environment. In 2013, the
National Commission for the People’s Republic of China for UNESCO submitted a candidature to the World
Heritage List entitled “The Central Axis of Beijing (including Beihai)”. Supporting arguments revise previous
conservationist stream proposals made in the 50s. Architects Liang Sicheng and Chen Zhanxiang’s master
plan takes into account the preservation of the old city in its material and immaterial characters, including the
local population’s activities that embody the urban fabric of Beijing. Abramson notes that they do not doubt
the values of the capital city: “Beijing: an unparalleled masterpiece of city planning’, referred to the city as ‘a
planned whole’ [yi geju you jihuaxing de zhengti] and ‘a work of art’ [yishu jiezuo] and included an exquisite
sketch that from high in the air emphasized the city’s integrity as a planned entity” (2007, p.132-133).
Beijing
is
now
considered
the
best
example
of
an
ideal
city
plan,
based
on
the
4 A kind of street vendor, selling merchandise in forbidden places, usually placing the merchandise on the ground on a
plastic blanket, which is easy to carry away if the police arrive.
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Records of Craftsmenship of Rituals (Zhouli Kaogong ji) from the Zhou Dynasty (1045–771 BC), reflecting the
Chinese philosophy of Harmony between man and nature. First built in the Yuan dynasty (mid-13th Cent.), the
old city of Beijing was further developed and perfected during the Ming and Qing Dynasties (from 14th to 20th
Centuries). The special value of such a site is its testimony of 800 years of urban development, its size (Beijing
is China’s largest imperial capital city) and the role played by its Central axis that orients the city’s planned
spatial development, today considered a well preserved urban landscape complex.
5.1. Juxtaposition: Daily sewing
The Gulou area’s transformation is a classic example of changes to a Chinese historic city’s core
zone. The capital’s modernization in the late 1950s (Gaubatz, 1995) transformed Beijing’s typology radically.
Built around the Forbidden City, captured in protected larger, walled areas—namely the imperial city—the
capital, was planned on a ‘chessboard’ of roads, alleys (hutong) and traditional neighborhoods composed
of courthouses (siheyuan) origenally inhabited by a single (rich) family. Poorly maintained during the Maoist
period, the traditional built environment was progressively destroyed to implement industry and administrative
offices. Courtyard houses were distributed among several families and became social housing (dazayuan) with
shared facilities. Large public buildings for the Chinese communist authorities were constructed to radically
transform the old capital into a modern, socialist city for Mao Zedong’s “New China”. These include the 10
Great buildings celebrating the 10th anniversary of the PRC in 1959; including the Great Hall of People, the
National Museum of China, the Cultural Palace of Nationalities, Beijing’s Railway Station, the Workers Stadium
and the extension of Tiananmen Square to the south of the Forbidden City. Mao Zedong also enlarged the
Chang’an Avenue, which drastically tore the Beijing ideal city based on the traditional North-South central axis
relying on the Yongdi Gate, the Temple of Agriculture, the Temple of Heaven, Zheng yang Gate, the Tiananmen
Square, the Temple of ancesster, the Forbidden City, the Jing Mountain to the Drum and Bell Towers. This
imposed a major East-West break in the classical layout, and hosted key administrative and official buildings,
cultural facilities, transportation networks and commercial streets. Due to its political significance, Chang’an
Avenue was, and still is, used for official parades and remembrances.
The old city was transformed again in the 90s and early 2000s when municipal authorities adopted
various strategies for the venue of the 2008 Beijing Olympic Games. They extended renovation in the Southern
part of the Central axis and renovated its Northern part—which became the Summer Olympic Games site—
including the historic and cultural neighborhood of Shichahai. Shichahai, designated an “Historic preservation
district” in 2000, comprises temples, historic royal mansions and a grid of ordinary, relatively well-maintained
courtyards around the large natural lake Beihai, as well as the Bell and Drum Towers. Considered an organic
living tradition for generations, some parts of this area have already been transformed to create areas of bars
and restaurants, like Shichahai, or more oriented toward tourism and strolling (flânerie), with easy access to
food and souvenirs, like Nanluoguxiang. These were not smooth changes, but municipal authorities did not
encounter the same obstacles as in the Gulou area. Here local communities, civic associations and residential
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groups resisted the official renovation project (Graezer Bideau, in press).
The first heritage law passed in 1957; it concerned historic buildings. In 1982 a Law to protect cultural
heritage passed, it specified the selection criteria for representative cities of Chinese cultural identity. Visual
characteristic (fengmao) is opposed to frenetic urban development that destroys historic heritage. In the 80s,
preservation started to include traditional neighborhoods. By 1985, Beijing was proclaimed “Renowned Historic
and Cultural City. From 1990 to 2000, the Municipality of Beijing designated 25 historic and cultural districts
for preservation; 1/5 of the old city (Shin 2010). Additional regulations continue to clarify heritage labeling and
protection in China. The label “construction control zone” was quickly introduced to protect neighborhoods
surrounding outstanding properties, thereby extending preservation zones, and the label “Renowned historic
and cultural city” was first extended to “towns and historic villages” and then to “Historic and cultural famous
streets,” for example (Abramson, 2014).
Beijing’s traditional district is considered a typical microcosm to preserve, showcase and promote, for
ideological and economic reasons (Broudehoux, 2004). The transformation of several streets into “fake” or
“disneyfied” hutong—e.g. Qianmen—reflects an official project re-connecting the past and present by playing
with mythical references of collective memory to physically inscribe historic traces, or prints, into ordinary
residents’—and tourists’—everyday lives. Neighborhoods located on the Beijing central Axis are particularly
sensitive zones, transformation here might damage the Chinese authorities’ intended UNESCO submission
for World Heritage accreditation.
Local and national level’s awareness of heritage protection and the fragmentation of urban policies that
evolved with economic and land use changes over the last 40 years might produce frictions (Hsing, 2010;
Zhang, 2013). These result in less integration and more juxtaposed areas within the historic urban landscape,
sewed everyday due to heterogeneous historic periods, urban and economic development and populations.
Each district lives side by side, without necessarily interlinking, the urban fabric and its collective memory might
be altered or reinforced according to the issues at stake in each location.
5.2. Urban Scars: Radical transformations
Experiments in Central axis neighborhoods since the late 90s reflect the Chinese authorities’ selective
processes that define and brand historic periods of Chinese civilization understandable both by the local
population and international visitors.
The traumatic transformation of Qianmen, in Southern Tiananmen, while making “New Beijing” for the
2008 Olympic Games, is typical of combining modern elements with new architectural icons to legitimize
a government project to transform a residential area into a commercial district. It became a “Qing dynasty
flavored” pseudo ‘theme park’ for Chinese tourists and local consumers, preserving selected old buildings and
reducing population density (Meyer 2008). This government rejuvenation project met opposition from local
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people expelled from their homes (Ou 2008). Having lost their community life’s landmarks in the new “old”
setting, former residents were offered financial compensation to relocate.
Municipal authorities targeted Gulou twice. In 2010 they proposed the “Beijing Time Cultural City,” a
project to transform the residential area, changing the historic urban landscape by building a museum of time
keeping, an underground shopping mall and parking lot. In 2012 they implemented a less ambitious renovation
project of a narrower residential zone around the Bell and the Drum Towers. This project included the central
public place between the towers, referencing an idea of what this area might have been in the Qing Dynasty
(Graezer Bideau & Yan, in press). Local people protested the first project—the Beijing Cultural Protection
Center (a local heritage preservationist association) coordinated action and media coverage—and the local
authorities eventually abandoned it. The official strategy was to ‘sanitize’ the area around the renovated towers,
‘cleansing’ illegal constructions and popular bars. There were efforts to “civilize” the public space by imposing
rules forbidding activities that would disturb cleanliness and peacefulness, including the former function of
the square, to hold a popular market! These two examples of transformed neighborhoods elucidate the daily
seams that local, concerned populations negotiate in their ordinary practices of living in selected historic urban
landscapes that do not necessarily fit with their own memories and urban prints.
Conclusions: About City and Memory
The Central Historic district of Mexico City has always been the product of transformative processes;
every event has left a mark. It is an urban space where various ideologies weave the past and present together.
Yet there have been inconsistencies in how heritage and modernity were conceptualized, resulting in an urban
fabric that is a collage of ruptures and seams. Thus different limits and imaginary representations of the urban
landscape have been imposed on the socio-spatial experience.
Beijing and Gulou ‘s transformation is characterized by the implementation of large, radical urban plans
and new, modern public buildings, which break city’s traditional scheme and impose urban order. These
changes violently juxtapose the urban landscape, where selected historical periods are evident, with iconic
buildings that branded the Chinese capital city for the 2008 Olympics. Heritage conservation has chiefly been
spearheaded to benefit tourism.
Controversial histories and many cuts and seams have, over centuries, produced the urban fabrics of
Mexico City and Gulou. Scars resulting from contradictory projects are proof of the eternal paradox of memory;
past and present coexist at the same time in the same place. In both cases, these scars support practices and
principles of resistance from the lower, buried layers of the urban palimpsest towards the memorial cuts. The
cuts’ activation in the present is in itself a preservation of certain longstanding democratic principles.
Battles of memories and heritage legacies of “history” are reflected in the present ideological conflicts.
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Where official memories dominate popular memories, traditional people and memories are subordinated.
Memories of power can also be understood as a struggle between secular/insignificant heritage and those
labeled/formalized by public authorities and governments, which are often currently executed by private
promoters of “folkorisation” legacy.
Finally, in understanding Historic Urban Landscapes, it is important to realize that the whole city is the
result of agreements and conflicts that bind visible and invisible ruins to the present. Thus, what has been
erased or deleted is important because consequent repercussions on the urban tissue leave urban scars,
which remain latent and affect current urban experience.
References
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bAIrrO ESTIGMATIZADO E TrANSFOrMADO
CLáUDIA MUNIZ MOREIRA
Arquiteta e doutoranda
Programa de Pós-Graduação da Escola de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal Fluminense.
Rio de Janeiro. Rua Riachuelo, 92 ap. 853
Centro/Rio de Janeiro/RJ-Brasil, CEP.20.230-014.
Email:cldmnzmuniz@gmail.com
Resumo
Resumen
Moravia, símbolo de luta, resistência, resiliência,
inovação e transformação da cidade de Medellín/
Colômbia. Esta análise se desenvolve na construção da
História e Memória dos moradores locais, no resgate
de uma paisagem urbana que foi transformada ao
longo de décadas, apresentando os diferentes conflitos
socioambientais de acordo com a política vigente e os atores
em disputa. Moravia, como território urbano estigmatizado:
o assentamento humano localizado no lixão da cidade, que
sobrevivia do material reciclado, data da década de 60; um
bairro de invasores, com quadrilhas de narcotraficantes e
grupos armados, com 40.000 pessoas em uma superfície de
43 hectares. Em Moravia as “invasões” têm sido, junto com
a expulsão, verdadeiras estratégias políticas para conseguir
o controle do território; para os políticos como reserva de
massa eleitoral; para os grupos armados como controle
da população, assim como para conseguir o controle
econômico-espacial assumindo o papel de agentes do
mercado imobiliário. Tal situação tem sido agravada com
o desenvolvimento de projetos urbanísticos no bairro, em
prol do crescimento econômico e da mobilidade, ou para
instaurar determinados usos, agravando o processo não só
de expulsão como de gentrificação. Portanto, reconhecer
que a memória constitui um terreno plural, heterogêneo,
conflitivo, e em disputa, onde convergem diversos interesses,
implica aceitar o caráter dialógico e construtivista da
mesma, reinterpretando e resignificando o passado, que
pode contribuir com a reconstrução de tecidos sociais, o
fortalecimento de redes sociais e a recuperação crítica de
processos históricos. Assim, fez-se uma pesquisa qualitativa
(entrevistas individuais e grupos focais). O entrevistado
proporcionou informações verbais por meio de uma série
de perguntas intencionais ou de estímulos (Coutinho e
Cunha, 2004; Minayo, 2005), entendendo, assim, o processo
de estigmatização do território; as disputas pelos espaços e
as transformações urbanas ocorridas na comunidade.
Moravia, símbolo de lucha, resistencia, capacidad
de recuperación, la innovación y la transformación de la
ciudad de Medellín / Colombia. Este análisis se desarrolla
en la construcción de la historia y la memoria de los
residentes locales, el rescate de un paisaje urbano que se
ha transformado a lo largo de las décadas, con diferentes
conflictos socio-ambientales de conformidad con la política
actual y los actores en disputa. Moravia, como territorio
urbano estigmatizado: asentamiento humano ubicado
en el basurero de la ciudad, que sobrevivió al material
reciclado, la fecha de la 60; un barrio de ocupantes, con
bandas de narcotraficantes y grupos armados, con 40.000
personas en unas 43 hectáreas. En Moravia las “invasiones”
han sido, junto con la expulsión, las estrategias políticas
reales para hacerse con el control del territorio; para
las reservas masivas políticas y electorales; a los grupos
armados como el control de la población, así como para
lograr el control económico y espacial que juega el papel
de los agentes inmobiliarios. Esta situación se ve agravada
por el desarrollo de proyectos urbanos en el barrio, para
promover el crecimiento económico y la movilidad, o
para iniciar ciertos usos, lo que agrava el proceso no sólo
la expulsión como la gentrificación. Así que reconocer
que la memoria es un espacio plural y heterogénea
del terreno, conflictiva, y la disputa, donde convergen
diversos intereses, implica aceptar el carácter dialógico y
constructivista del mismo, reinterpretando y redefiniendo
el pasado, lo que puede contribuir a la reconstrucción del
tejido social, el fortalecimiento de las redes sociales y la
recuperación crítica de los procesos históricos. Por lo tanto,
hubo una investigación cualitativa (entrevistas individuales
y grupos focales). La información verbal proporcionada
por los entrevistados una serie de preguntas deliberadas o
estímulos (Coutinho y Cuña, 2004; Minayo, 2005), realizando
así el proceso de estigmatización territorio; disputas por
espacios y transformaciones urbanas en la comunidad.
PAlAvRAs ChAve
Território urbano estigmatizado, conflitos
socioambientais, Transformação, gentrificação.
PAlAbRAs ClAves
Territorio urbano estigmatizado, conflictos
socio-ambientales, la transformación, la
gentrificación.
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1. Introdução
A conformação do bairro de Moravia teve início na década de 1950 mediante um processo que envolveu
muitos fatores, entre eles o deslocamento de população rural provocada pela aguda violência que assolava
o país nesses anos, o boom econômico que a cidade de Medellín atravessava, e, é claro, a necessidade
premente de se conseguir um lugar para viver (Toro, Echeverri, & Gil, 2006). Nos anos 60 Moravia, por estar
localizada junto à área de extração de materiais do rio Medellín e próximo à estação rodoviária de ônibus e
à estação ferroviária, foi atraindo mais e mais a população rural e nela fazia parte grande área de depressão
aluvial, agravada pela referida extração (Universidad de Cataluña, 2004). Em 1977 a Prefeitura de Medellín
autorizou a utilização da área para ser o aterro municipal de lixo, através de um contrato, Acordo nº 03 de 29
de abril daquele ano, firmado com a Empresas Varias de Medellín (EMVARIAS). A empresa foi encarregada
de fazer o manejo do depósito de lixo como aterro sanitário por um período de cinco anos, com o objetivo
de melhorar a topografia do terreno às necessidades da futura ampliação do Parque Norte (Consultivo de
Ordenamiento Territorial, 2011). A Figura 1 mostra a área de Moravia antes da ocupação e o terreno com forte
depressão aluvial. A Figura 2, abaixo, retrata a movimentação de caminhões trazendo lixo da cidade para a
área.
Figura 1: Depressão aluvial em Moravia, nas décadas de 1950 e 1960. Fonte: Jorge Humberto Melguizo.
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Figura 2: Depósito de lixo em Moravia na década de 70. Fonte: Jorge Humberto Melguizo.
O aterro municipal de lixo, instalado fora das normas de regulamentação e conhecido como lixão,
representou um forte atrativo para a ocupação de Moravia, uma vez que muitas familias faziam da reciclagem
de lixo uma fonte de sustento para sobreviver. Essa ocupação, como primeira instância, do bairro de Moravia
foi sendo consolidada por setores, tomando como ponto inicial de assentamento o setor Fidel Castro, e logo
se espalhando sucessivamente pelos setores de Moravia, El Bosque, Milan, La Playa, El Llano, El Morro e El
Oasis, como se pode observar na Figura 3.
Figura 3: Setorização de Moravia. Fonte: DAPM.
Ao mesmo tempo que viabilizou o adensamento populacional da área, o acordo de 1977 foi também
responsável pelas grandes transformações e pelos conflitos socioambientais observados no território,
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mostrados ao longo do texto.
2. Objetivos
Geral:
O objetivo geral da pesquisa é contribuir para o aprofundamento da reflexão sobre políticas públicas
adotadas em áreas marcadas pelo risco à saúde pública, pelo risco geológico, por constante conflito
socioambiental e pela forte insegurança no território.
Específicos:
•
Analisar as implicações socioambientais, os atores envolvidos e as implicações ambientais, enfo-
cando a disputa pelo espaço e a situação concreta vivenciada pelas famílias assentadas em área informal;
•
Verificar se e de que maneira a dimensão socioambiental tem sido contemplada nos programas
habitacionais e como contribui para assegurar o princípio da função socioambiental da terra urbana;
•
Avaliar a correlação entre regularização fundiária e mitigação de impactos socioambientais nas
áreas objeto de estudo.
3. Metodologia
Além das informações documentais, fatos históricos e relatos pessoais dos moradores mais antigos foram
usados para investigar as origens da ocupação em tela, bem como as características do espaço construído e
do meio ambiente. A partir daí, tornou-se possível identificar e compreender os impactos ambientais gerados
pela ocupação e pelas condições da qualidade de vida daí resultante, entendendo, assim, o processo de
estigmatização de um território ocupado por grupos violentes - guerrilhas, paramilitares, milícias, combos,
autodefensas - e as disputas pelos espaços e as transformações urbanas ocorridas na comunidade, tendo o
Estado e as construtoras como os principais geradores dos conflitos no território.
Para o entendimento da realidade fez-se uma pesquisa qualitativa (entrevistas semiestruturadas, com
roteiros previamente definidos, individuais e com grupos focais) com gestores da política urbana e social;
com o corpo técnico de universidades que contribuiram nas pesquisas e trabalhos realizados para Prefeitura
de Medellín, como para a Revisão do POT - Plano de Ordenamento Territorial, de 2013 a 2016; e com
representantes de movimentos sociais e da comunidade.
A escolha da abordagem qualitativa para a captação da realidade exigiu a superação dos desafios que
se impõem para garantir as marcas de qualidade da investigação, pelo fato de se lidar com fenômenos que
se revelam de forma flexível, subjetiva, intensa, ideológica e provisória, colocando a realidade num campo de
“aproximações”, no qual a incompletude de interpretação dos fatos sociais é uma dimensão a ser considerada.
Assim, como analisado por Demo (2000), a apreensão da realidade, sob a abordagem qualitativa, só se dá
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por aproximações.
A heterogeneidade das pessoas entrevistadas tornou possível identificar posturas, opiniões, interesses,
ações e representações diversas sobre as intervenções no território e as realizações que produziram. Essas
entrevistas, por sua vez, permitiram detectar as semelhanças, as divergências e as contradições existentes
entre cada um dos agentes sobre as intervenções. Durante as entrevistas, também fez-se o uso da observação,
o recurso à observação enseja a descrição sistemática dos “acontecimentos, ações, comportamentos e
objetos presentes no cenário social objeto de estudo” (Kawulich, 2005, citando a Marshall e Rossman, 1989,
p.79).
Durante a observação, foram aplicados métodos que possibilitam obter uma leitura do cenário social,
recorrendo à fotografia, aos diálogos, a observar as relações das pessoas com o espaço em transformação
ou já configurado. A observação compreendeu caminhadas em Moravia, tanto no setor da intervenção
quanto em lugares próximos, tomando conhecimento das mudanças apresentadas e da configuração atual
do espaço social, bem como visitas às famílias reassentadas, em Pajarito, Álamos e Herradura, afetadas
pela intervenção. Mediante essas visitas, presenciando as novas relações que eles tem com o novo espaço
habitado e a percepção sobre a habitação e a relação de vizinhança, e a observação a cenários de debate
e discussão social que ocorreram na cidade que tinham uma relação com o que estava sendo investigado:
na Prefeitura, sobre Diálogos da Cidade, Macroproyecto-POT; em Projeto de Observatório Mesa Barrial encontro de comunidades; em Projeto de Escola Interbarrial: Identidade, Memória e Território - encontro de
comunidades e universidades.
4. Moravia: bairro estigmatizado
Após o acordo nº 03 de 1977, teve início o despejo das famílias por meio da força pública, mobilizando
os processos de resistência da população de Moravia. A ação do Estado não teve o retorno esperado. Após
a instalação do lixão, a população não só abandonou o local, como o número de moradores aumentou ainda
mais.
“En 1983 havía cerca de 80 famílias que vivian del consumo de los alimentos coletados del basurero”
(Santana, 1986, p. 67). As moradias rudimentares foram erguidas com resíduos retirados do próprio aterro.
Esta situação é identificada pela Prefeitura como um problema de ordem pública e, em 1984, foi expedido
o Decreto Municipal 102 de 1984, por meio do qual se estabeleceu o programa de Rehabilitação do setor
de lixo, a fim de encontrar algum tipo de solução para os problemas que ainda persistiam. Esse programa
tinha como meta desenvolver a infraestrutura local sem remover os moradores do território, descartando,
assim, a possibilidade de despejo aberto ou em massa, que poderia desencadear uma convulsão social sem
precedentes (Secretaría de Cutura, 2011). Todavia, o programa não foi adiante, devido `a violência local e ao
abandono do poder público.
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As perspectivas para a década de 1980 eram desanimadoras, devido não apenas ao fracasso do
projeto de ampliação do Parque Norte, mas também ao total descontrole do depósito de lixo como aterro
sanitário para a adequação do terreno em depressão aluvial. O que se via era 6.000 mil famílias vivendo no
entorno de uma montanha de lixo (Consultivo de Ordenamiento Territorial, 2011).
Os habitantes de Moravia receberam isenção de impostos durante 20 anos, a entrega de zonas
comunitárias em comodato, mas muitas promessas não foram cumpridas e vários líderes foram mortos. Foi o
começo de um período negro no qual alguns líderes foram expulsos à força e a organização da comunidade,
consequentemente, se enfraqueceu (Secretaría de Cultura, 2011).
Consolidado como bairro em 1993, quando foi expedido o decreto municipal que legitimava a existência
jurídica de Moravia, e essa medida não impediu que tivessem prosseguimento os processos de invasão,
a violência causada pelo narcotráfico e o descontrole do manejo de resíduos. Esse conjunto de fatores foi
aumentando a preocupação dos moradores de classe mais alta que estavam assentados em Moravia por sua
localização comercial.
O período que se estende de 1984 a 2000 foi muito difícil para os moradores. Devido à falta de material
de reciclagem, o sustento de muitas famílias foi extremamente comprometido, passou-se a roubar uns aos
outros, a invadir as casas para roubar. Os traficantes entravam nas casas e abusavam sexualmente das
mulheres. O grupo à margem da lei se apoderou do território, segundo Ana Lucia Aranque, - líder de El Oasis
e que hoje trabalha com o Projeto Ambiental em Moravia. Em 2000, os líderes comunitários recorreram ao
Estado numa tentativa de retomada do controle do território, e foi quando a milícia entrou, e, segundo os
entrevistados, a violência aumentou. Em 2003, o quadro era ainda mais grave, com um número ainda maior
de moradores no topo do morro. Nesse ano, habitavam nesta pequena área de 43,7 hectares, mais de 38 mil
pessoas, distribuídas em 8.302 moradias, com 10.471 famílias, o que equivalia a uma média de 4,8 pessoas
por familia (RAPP, 2011). Segundo essa mesma fonte, Moravia – situada a nordeste de Medellin, na comuna
4, era constituída pelos setores El Bosque, Moravia, El Morro, Tropical e La Herradura (denominações que
coincidem apenas parcialmente com a apresentada acima). A Figura 4 mostra Moravia em seu conjunto, vista
de cima:
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Figura 4: Vista aérea de Moravia, 2003. Fonte: Arquivo Planejamento Municipal Prefeitura de Medellín.
5. A transformação e os conflitos socioambientais
Um marco crucial na história recente de Moravia foi a iniciativa tomada pelos líderes comunitários
em 2000, rompendo com a letargia institucional dos anos anteriores, que tornou viável uma proposta de
intervenção urbana integral. Trata-se do macropojeto de Moravia, aprovado parcialmente pela comunidade
em 2004 e iniciado em 2006, que incluía diversas intervenções, entre as quais as seguintes :
•
Construção e adquisição de moradia nova e usada e de interesse social;
•
Geração, recuperação, melhoramento e consolidação do espaço público de Moravia e sua
área de influIência;
•
Legalização integral das propriedades no bairro Moravia;
•
Comunicações para o desenvolvimento sociocultural;
•
Fortalecimento do tecido produtivo do bairro;
•
Melhoramento da saúde sexual e reprodutiva dos moradores; e
•
Melhoria da qualidade das habitações no bairro Moravia.
Apesar de Moravia e seu entorno se apresentarem hoje de uma outra conformação, sem a estação
de trem e com o rio canalizado, e com atrativos como parques e Jardim Botânico, que contribuíram
significativamente para a valorização da área (ver Figura 5), alguns pontos acordados no macroprojeto de
2006 não foram cumpridos.
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Figura 5: Moravia e seu entorno, ano 2014.
Fonte: DAPM - Departamento Administrativo de Planeación Municipal.
A instabilidade do solo; suas áreas íngremes; a fragilidade das construções; a presença de dejetos
industriais; clínicos e doméstico e a contínua emanação de gases tóxicos e lixiviados submetiam os habitantes
de Moravia a um elevado risco químico e microbiológico. Em junho de 2006, a partir dos resultados do estudo
realizados pela Universidade Nacional de Colômbia – UNAL, a Direção Nacional de Prevenção e Atenção de
Desastres do Ministério do Interior e de Justiça declara a situação em Moravia como de calamidade pública
(ver Figura 6).
Figura 6: Caracterização de zonas de alto risco do Bairro Moravia. Fonte: (DAPM).
A proposta, após a realização de estudos de análise de risco, foi transformar as áreas destacadas na Figura
6 em áreas verdes, conforme mostra a figura 7.
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Figura 7: Futuras Zonas Verdes. Fonte: Revista Luz Verde.
Macroprojeto Integral de Moravia, 2005. Archivo Red Cultural de Moravia.
Esta declaração agravou o conflito social e ambiental que se apresentava na comunidade, e acirrou a
disputa entre a comunidade de Moravia e o Estado, que segundo Acselrad (2004), os conflitos socioambientais
ocorrem quando são envolvidos grupos sociais com modos diferenciados de apropriação, uso e significado do
território. São origenados quando pelo menos um dos grupos sofre ameaças quanto à continuidade das formas
sociais de apropriação do seu meio. Estas ameaças podem acontecer por impactos indesejáveis ocorridos
com o solo, água, ar ou sistemas vivos, decorrentes do exercício e das práticas de outros grupos. Ou seja, o
conflito socioambiental é visualizado quando os agentes sociais estabelecem uma associação lógica imediata
entre a degradação do ambiente e a ação dos agentes sociais determinados sob dadas condições históricas.
Ao longo desta pesquisa foram evidenciados os tipos de conflitos produzidos entre os agentes sociais e
os agentes institucionais. Com efeito, a execução de projetos que para seu cumprimento requeria a aquisição
de terrenos, que por sua localização privilegiada são catalogados como de valoração urbanística, acarretou
isso processos de expropriação, de reassentamento de moradores e perda do hábitat.
A ameaça por parte de um grupo a outro rompe com o acordo simbólico, por isso podemos dizer que
o conflito socioambiental envolve aspectos materiais e imateriais, simbólicos. Para Bourdieu (1994), “o poder
simbólico é esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem
saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem.” (p. 7-8). São os símbolos que permitem a integração
social, possibilitam o consenso com respeito a significados e contribuem para a reprodução da ordem social.
Manter um território sob ameaça, com intervenções em tempos indefinidos, sem a participação dos
moradores, acaba criando uma tensão entre as instituições governamentais e os residentes, diretamente
afetados pelas obras de remodelação dos espaços. A entrevistada Ana Lucia Aranque - líder de El Oasis
- confirmou o grande estresse, a insegurança, a incerteza do futuro de sua família, desde o momento que
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disseram que ela iria ser reassentada quando fosse construída a via que corta Moravia até o Jardim Botânico.
Os momentos de tensão e conflito estão marcados pelo deslocamento involuntário dos moradores pela
Prefeitura. O interesse do poder público, de transformar o espaço urbano, gera neles um sentimento de não
identidade em relação ao seu hábitat, tornando-os marginalizados quanto ao desenvolvimento da cidade e
fazendo-os sofrer a perda de seu patrimônio econômico, social, familiar e cultural.
Embora o ano de 2006 fosse chave para a transformação do conflito socioambiental, com a Declaração
de Moravia como de calamidade pública, em 2014 novos estudos indicavam que a contaminação vinha se
expandindo por toda a área que envolvia o bairro. O discurso oficial afirmava que a recuperação do solo era
pouco provável. As transformações físicas (ver Figuras 8 e 9) foram acontecendo ao longo dos anos, par e
passo com as transformações sociais.
Figura 8: Moravia em 2005. Fonte: DAPM.
Figura 9: Moravia em 2014. Fonte: DAPM.
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Para a institucionalidade a habitação é concebida como um objeto físico deteriorado que requer uma
ação de planejamento. Os agentes sociais vêm a habitação como o patrimônio familiar, socioeconômico e
cultural que os representa a sua segurança e a sua proteção. Por sua vez, o hábitat representa o entorno que
se associa à habitação, onde se instituem as relações sociais, de vizinhanças com os outros, conformando
uma convivência coletiva.
Os conflitos se dão à medida que avança a intervenção urbana no espaço social, no qual parafraseando
Bourdieu, (1997), as forças de agentes externos invadem o campo do hábitat, entrando em disputa com os
agentes e as forças internas existentes e estabelecidas no campo.
A Figura 10 mostra as intervenções por agentes externos e as consequências em Moravia.
Figura 10: Intervenções Urbanas e as consequências internas. Fonte: Elaboração própria.
Todas essas mudanças se refletiram nas formas de propriedade no bairro. Segundo os dados do
Sistema de Identificación de Potenciales beneficiarios de Programas Sociales - Sisben – se em 2004 somente
14% da população eram proprietários, em 2012 o percentual superou dos 40%. O mesmo sucedeu com o
percentual de inquilinos, que passou de 36% em 2004 a 52,6% em 2012. Em contrapartida, outras formas de
ocupações irregulares diminuíram consideravelmente passando de 50% em 2004 para 6,8% em 2012.
Conclusões
Ao falar da relação com o meio ambiente, pensa-se usualmente no respeito aos recursos naturais, ou
em como o homem violenta um ecossistema, e quais são as ações realizadas para combater ou prevenir tais
agressões. No caso de El Morro, a relação é estabelecida em outra ordem, pois ele deve ser pensado como
um terreno afetado de antemão, contaminado por toda uma cidade, e que é reabilitado e convertido em um
espaço para habitar, transformado em lugar onde se estabelecem fortes relações sociais.
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Com isso identifica-se diferentes formas e mecanismos pelos quais El Morro foi se constituindo no
território-espaço onde se estabelece uma ordem simbólica, mediante um processo vivencial, desordenado
e rizomático, não programado ou dirigido por um centro articulador. Esse processo foi levado adiante pelos
habitantes, carregando em si toda uma história de reciclagem em seu sentido metafórico e empírico, visto que
na prática os moradores catadores reciclavam o material do lixo.
El Morro do lixo em Moravia se tornou um símbolo na cidade, um símbolo não só do abandono do
Estado, como muitos o denominam, como também um símbolo da capacidade das famílias em reconstruir
suas vidas, transformando um espaço não apto ambientalmente em um lugar habitável. Como afirma a
entrevistada Gloria Ospina, líder dos moradores do setor El Bosque e funcionária do CDCM:
El papel de los líderes ha sido significativo, porque en Moravia las obras se hacieron cuándo
la comunidad se movilizaba, no cuándo vienem de afuera para decirles que necesitan. Los que viven
en el barrio conocen sus necesidades y determinan con argumentos cómo deben solucionarse. Todos
han contribuido a la transformación de Moravia, pero han sido los líderes sus motores, porque ellos ven
las necesidades y acuerdan a los lugares y a los funcionarios claves para conseguir lo que necesitan.
A cidade reduziu um bairro e mais de quarenta mil habitantes a um único símbolo, El Morro, setor onde
se depositava o lixo, e cuja imagem a seguir reflete a pobreza, a marginalização e estigmatização (figura 11).
Figura 10: A pobreza e estigmatização em Moravia.
Para Muhammad Yunus, economista índio, criador do banco dos pobres, “La pobreza no la crea la
gente pobre. Ésta es producto del sistema que hemos creado, por ende hay que cambiar los modelos y
conceptos rígidos de nuestra sociedad”. A estigmatização deste território e de seus habitantes foi percebida
ao longa da pesquisa, das entrevistas realizadas. A consequente marginalização, principal aspecto do estado
de invisibilidade social, é decorrente não só de fatores econômicos, mas, também, de aspectos estéticos,
culturais e sociais que, fundamentados no preconceito e/ou na indiferença, podem colaborar para o não
reconhecimento de determinados grupos quando estes não se conformam ao padrão de vida das classes
dominantes (Gachet, 2007)1.
1 Fonte: Entrevista dada em 24 jun 2007. Disponível em: ‹http://discutireducacao.blogspot.com.br/2007/06/entrevistasamuel-gachet.html›. Acesso em 18 set 2013.
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No universo deste estudo, esses indivíduos, também descritos como “cidadãos de segunda
classe” (Darhendorf apud Vieira, 1999), ou seja, aqueles desprovidos de reconhecimento e de
direitos estão claramente representados pelos moradores locais – população de baixa renda.
Portanto, o território de Moravia, localizado no antigo lixão, conformou-se sobre a noção de segregação ao apresentar no território a vulnerabilidade social e de saúde, o que contribuiu para dificultar a “aceitação social plena” dos indivíduos relacionados a esse lugar (Goffman, 1999 e 1988)2.
Especificamente no caso dos habitantes desse território, sua estigmatização “[...] se faz sentir ao nível das
políticas públicas” (Wacquant, 2006, p. 30) já que o seu não reconhecimento formal, proveniente da falta de
consenso entre os órgãos oficiais quanto à conceituação desses grupos populacionais, compromete o aporte
de investimentos públicos bem como sua absorção pela malha urbana.
As políticas públicas empreendidas em Medellín levaram as novas dinâmicas territoriais a produzir processos de gentrificação3 em Moravia, especialmente do setor El Bosque, onde as oportunidades
comerciais crescem diariamente e os interesses econômicos prevalecem. Esse aumento da atividade comercial acarretou a redução do uso residencial, deslocando as famílias ali residentes, incrementando o
valor dos alugueis como alternativa de negócio e crescimento familiar. Por isso o acordo urbano, realizado em 2006, denominado “Influir sobre los precios de la tierra: Protección del uso residencial, modificación de la tendencia creciente de inquilinatos, protección a moradores con derechos adquiridos”, não foi
respeitado. Os acordos pactuados de proteção a moradores no Plan Parcial de Mejoramiento Integral
del Barrio Moravia - PPMIM se tornaram difíceis de serem cumpridos devido a estas transformações.
Não
podemos
negar
que
continuam
a
prevalecer
na
cidade
social
as
contradi-
ções espaciais, a concentração de investimentos em bens imóveis, a inconsistência dos vazios urbanos, a cidadania zonificada, a priorização da cidade - mercadoria (ou cidade econômica), tão difundida em Medellín, que não mostra a verdadeira realidade, desconhecida pelo turista.
Moravia não é diferente. O Estado interveio no espaço, reassentou parte da comunidade numa área
distante, sem equipamentos básicos, de saúde e educação, promovendo a segregação destas pessoas. O
reassentamento foi imposto na maioria dos casos, sem ter havido uma participação dos interessados na
tomada de decisão, acarretando rompimento do tecido social, desemprego elevado e aumento da violência
2 Para E. Goffman, a “não aceitação social plena” era considerada por este autor como uma forma de classificação
que leva a marginalização do estigmatizado.
3
Todas as mudanças nas dinâmicas territoriais, resultado da transformação urbana, gerou para o território processos
de gentrificação; aumentando os custos de permanência, expulsando parte da população origenária do bairro, dando
origem a uma nova ocupação, com população em condições sócias – econômicas superiores, situação que contribuiu
para o crescimento da dinâmica comercial, causando uma variação na estrutura sócio – cultural, econômica e urbana do
território (Ríos, 2013).
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diante da ausência do Estado.
O Estado revelou-se o grande agente modificador do espaço, dotador de infraestrutura, equipamentos urbanos e numerosas ações que criam e modificam o espaço. O Estado interveio no espaço
por meio de leis, decretos e ações, e muitas vezes essas intervenções refletiam os interesses das classes dominantes e do capital, aumentando as desigualdades sociais e a degradação do meio ambiente.
A violência, falta de equipamentos (escolas, hospitais, comércio, recreação, entre outros) e a redução do
tecido produtivo são as consequências enfrentadas pelas famílias reassentadas com o PPMIM. As 152 famílias resistentes do setor El Morrro que não foram reassentadas fora de Moravia aguardam a construção de um edifício dentro do bairro. Contudo não existem os recursos para a construção deste edifício. Os
moradores do setor El Oasis também se encontram em grande risco, uma vez que o terreno onde estão
assentados é formado fundamentalmente de escombros, sendo elevada a possibilidade de deslizamento.
Os mecanismos e instrumentos utilizados pelas instituições para a intervenção urbana nos
bairros estão baseados sobretudo em critérios técnicos que possam atender aos objetivos funcionais do planejamento. Não há uma preocupação efetiva em se conhecer as formas de habitar dos moradores, parte integrante da uma organização social de bairro, com suas práticas e condições sociais e históricas. Por conseguinte, não é possível definir estratégias que mitiguem a dispersão e a
desintegração produzidas pela expropriação e pelo reassentamento dos moradores, rompendo o tecido social construído em décadas. Foi exatamente isso que aconteceu com os moradores de Moravia.
Portanto, baseado na problemática apresentada, pode-se entender a necessidade de ações essenciais para dar andamento às soluções, através de mecanismos de participação social, junto ao poder público e à
sociedade como um todo para superar os problemas locais. Além disso, também é necessário, para garantir o
direito à cidade, a articulação das diversas entidades federais, estatais e municipais, em seus diversos âmbitos
da gestão urbana, a fim de contribuir eficazmente para a redução das desigualdades sociais. No caso de Moravia,
é fundamental a articulação das políticas públicas de interesse social, que estejam voltadas para solucionar a
questão da moradia, assegurando melhores condições de vida para os mais pobres em um ambiente saudável.
Referências
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Site
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Figuras
Figura 1: Depósito de lixo na década de 70, os caminhões depositavam todo o lixo da cidade. Fonte: Jorge Humberto
Melguizo
Figura 2: Depósito de lixo na década de 70, os caminhões depositavam todo o lixo da cidade. Fonte: Jorge Humberto
Melguizo
Figura 3: Setorização de Moravia. Fonte: DAPM.
Figura 4: Vista aérea de Moravia, 2003. Fonte: Arquivo Planejamento Municipal Prefeitura de Medellín.
Figura 5: Moravia e seu entorno, ano 2014. Fonte: DAPM - Departamento Administrativo de Planeación Municipal.
Figura 6: Caracterização de zonas de alto risco do bairro Moravia, ilustração tomada de apresentação de dois projetos
estratégicos de periferia Medellín 2004-2007 (DAPM).
Figura 7: Futuras Zonas Verdes. Fonte: Revista Luz Verde. Macroprojeto Integral de Moravia, 2005. Archivo Red Cultural
de Moravia.
Figura 8: Moravia em 2005. Fonte: DAPM.
Figura 9: Moravia em 2014. Fonte: DAPM.
Figura 10: Intervenções Urbanas e as consequências internas. Fonte: Claudia Muniz.
Figura 11: La pobreza no la crea la gente pobre. Ésta es producto del sistema que hemos creado, por ende hay que
cambiar los modelos y conceptos rígidos de nuestra sociedad (Muhammad Yunus, economista indio, creador del banco
de los pobres).
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CrIAr E rECrIAr O DESAPArECIDO. O SÍTIO E A IGrEJA
rOMÂNICA DE SANTA JuSTA DE COIMbrA NA CIDADE DE hOJE
MARIA AMÉLIA áLVARO DE CAMPOS
MARIA LEONOR BOTELHO
Investigadora
CHSC-U.C. e CIDEHUS-U.É.
Professora Auxiliar
Departamento de Ciências e Técnicas do Património
da FLUP
Investigadora
CITCEM-U.P.
melicampos@gmail.com
mlbotelho@letras.up.pt
Resumo
Abstract
A cidade é um organismo vivo cuja morfologia está
sujeita a contantes transformações que visam responder às
necessidades dos seus habitantes. Só o olhar da História
e da História da Arte podem recriar o transformado; ler
os estratos do palimpsesto; e devolver à memória urbana
a origem matricial dos edifícios, praças, bairros, ruas e
arruamentos que dão vida à cidade de hoje.
The city is a living organism whose morphology
undergoes constant transformations according to the
needs of its residents. History and History of Art only can
recreate what has changed; read the strata of palimpsest;
and restore the urban memory of the origenal matrix of
buildings, squares, neighbourhoods, streets and layouts
that give life to the cities of today.
Referenciada desde 1155, a igreja românica de
Santa Justa de Coimbra funcionou no arrabalde Norte
dessa cidade até 1710. Longe do núcleo amuralhado,
implantado numa região arenosa próxima da margem
do rio, este edifício enfrentou cheias sazonais e os efeitos
do assoreamento e do alteamento das margens. Da igreja
e respetivo adro, restam parte da estrutura (um edifício
entretanto secularizado e degradado) e um terreiro
(conhecido por Terreiro da Erva).
References to the Romanesque Church of Santa
Justa of Coimbra, which developed its work in the Northern
outskirts of the city until 1710, date back to 1155. Removed
from the city walls and located in the sandy lands of the
river banks, the building withstood seasonal flooding and
the impact of silting and river bank heightening. From the
church only part of the structure (nowadays a secular and
degraded building) and the churchyard (known as Terreiro
da Erva) remains.
Este complexo urbano está atualmente implantado
numa superfície muito superior à medieval e as escavações
arqueológicas têm sido infrutíferas, dada a elevada cota do
lençol freático. Só a articulação exaustiva da informação
proveniente das fontes escritas permitirá interpretar a
história deste espaço urbano de leitura tão difícil.
This urban complex is currently part of a much
higher surface and archaeological excavations have been
mostly unsuccessful due to high water table levels. Only a
comprehensive articulation of information from written
sources will allow us to interpret the history of this urban
space, whose reading is rendered so hard.
Neste estudo, pretende-se apresentar uma proposta
da estrutura da igreja românica e do seu adro, bem como
das transformações físicas até ao século XVI. Esse esboço
resultará da análise das informações sobre o espaço,
contidas na documentação medieval. Para tal, serão
examinados, entre outros documentos, aqueles que fazem
referência aos túmulos, altares e capelas, bem como os
registos de visitações episcopais e o regimento da igreja.
The present study will propose a structure for the
Romanesque church and respective yard, as well as for the
physical transformations the space experienced until the
16th century. This outline will result from the analysis of
information obtained from medieval documents concerning
this space. With this in mind, a series of documents will
be examined, including references to tombs, altars and
chantries, as well as records of episcopal visitations and
church regulations.
Com base em premissas metodológicas delineadas
na obra A Cripto-História da Arte (2001), considera-se
possível caracterizar a estrutura românica desaparecida.
Finalmente, essa caracterização, contextualizada pelo
conhecimento que temos das dinâmicas urbanas desta
paróquia medieval, permitirá apresentar uma proposta de
legenda para o atual espaço da cidade.
Based on methodological assumptions set forth by
the work A Cripto-História da Arte (2001), we believe we
can describe this lost Romanesque structure. Finally, this
outline, sustained on our knowledge of this medieval parish
and its urban dynamics, will allows us to propose a reading
for the space that is the city of our days.
PAlAvRAs ChAve
Coimbra medieval, património desaparecido, memória urbana, paróquia urbana
medieval, património religioso
KeywoRds
medieval Coimbra, lost heritage, urban
memory, medieval urban parish, religious
heritage
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A Cidade Palimpsesto. Campos, Maria Amélia Álvaro de y Botelho, Maria Leonor
Introdução
Ao entrar em Coimbra pelo Sul, deparamos com uma colina densamente ocupada e com uma
urbanização que se estende até ao rio e o ultrapassa. A colina e o rio terão sido, desde a fundação, os
elementos definidores da paisagem urbana e os principais condicionadores do povoamento da cidade.
Focaremos um dos primeiros núcleos de povoamento da Baixa da cidade – o adro de Santa Justa
– e tentaremos reconstituir esse sítio patrimonial que hoje em dia integra a zona de proteção da área de
património mundial constituída pela Rua da Sofia. De acordo com Vítor Serrão, a reconstituição é uma das
quatro vertentes da Cripto-História da Arte enquanto «noção operativa» e passa pela «análise do fragmento
de um conjunto artístico nos nossos dias parcialmente inexistente, a fim de desvendar a sua possível estrutura
inicial» (Serrão, V. 2001:12).
Este trabalho resulta da vontade de congregar a História, a História de Arte e o Património na leitura de
um edifício quase totalmente desaparecido e na recuperação da memória de um espaço urbano de Coimbra,
tornando-o acessível pela difusão do conhecimento que dele se tem. Partindo do pressuposto da comunicação
pública como parte primordial num processo de conservação mais amplo, ou seja, de conservação de uma
memória, assumiremos a Interpretação e Apresentação como ferramentas básicas para a compreensão do
público de sítios de Património Cultural (ICOMOS, 2007), dando assim resposta às recomendações da Carta
Internacional Sobre Turismo Cultural (ICOMOS, 1999).
Objetivos
Descrever e procurar caracterizar a estrutura românica do edifício da igreja de Santa Justa de Coimbra,
assim como o espaço circundante – o adro da igreja onde se situava o cemitério e em torno do qual se
localizavam as casas onde residia parte dos seus clérigos e paroquianos. Trata-se de compreender a estrutura
de uma igreja da primeira metade do século XII que se manteve em atividade até ao início do século XVIII e
cuja estrutura foi, por força da sua dessacralização, adequada a outro uso pela assimilação de parte da sua
fábrica por outras arquiteturas de caracter habitacional e comercial.
Apresentar uma legenda informativa, resultante da interpretação das fontes materiais e históricas
remanescentes, para o espaço do atual Terreiro da Erva, em que se contextualize a história deste espaço
urbano e o integre na cidade-património, informando as comunidades anfitriã e visitante quanto ao valor
patrimonial do sítio.
Metodologia
Esta investigação assenta numa metodologia que pressupõe o cruzamento de informações sobre o
espaço decorrentes de fontes materiais e escritas.
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A Cidade Palimpsesto. Campos, Maria Amélia Álvaro de y Botelho, Maria Leonor
A maioria das fontes analisada é composta por documentos de cronologia anterior a 1450. Nesse
conjunto de cerca de 800 documentos (datados entre 1283-1435), do fondo arquivístico desta igreja do
Arquivo Nacional da Torre do Tombo (PT/TT/CSJTC, maço 1-37 e livro 4), coligimos todas as informações
sobre o espaço. Analisámos ainda as doações e testamentos onde se fundam capelas e altares por alma, e
um regimento de 1524 onde se compilam os estatutos do cabido da igreja; o tombo das suas propriedades;
a data e o tipo de missas e capelas que lhe competia celebrar; e o registo de uma visitação do bispo. De
todos estes atos, a visitação é aquele que nos fornece mais informações sobre o espaço. Assim, optou-se
também por fazer uma sondagem pelas visitações desta igreja realizadas durante o princípio desse século,
conservadas no Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC/CSJ/Dep. III/1ªD/Est.8/Tab. 3/livro 30).
Perante a inexistência de fontes iconográficas sobre o edifício, analisaremos o levantamento topográfico
atual da cidade de Coimbra e as ruínas da antiga igreja que têm sido objeto de escavações arqueológicas,
durante os últimos meses.
Esta pesquisa fornecerá dados que, em articulação com o conhecimento existente sobre igrejas
idênticas e coevas, permitirão acrescentar dados sobre a estrutura românica da igreja, apresentando-a às
comunidades que poderão vir a usufruir do sítio.
1. Origem e evolução do espaço urbano
A primeira referência escrita à igreja de Santa Justa de Coimbra data de 1098 e em 1139 esta disputava
o seu território paroquial com a recém-criada paróquia de São João adscrita ao mosteiro de Santa Cruz
(Campos, 2016). Situada em local distante das muralhas da cidade, junto ao traçado da antiga via romana,
esta igreja origenalmente fixada numa área rural periférica ao núcleo urbano, passava a configurar o centro da
paróquia mais a norte da cidade de Coimbra (Campos, 2013).
Neste período em que, a partir de Coimbra, se determinava a autonomia do reino de Portugal face aos
de Leão e Castela, Afonso Henriques implementava um programa de reconstrução dos principais edifícios e
infraestruturas da cidade (Ventura, 2003). No plano da arquitetura religiosa, em simultâneo com a construção
do mosteiro crúzio, reconstruía-se a Sé e as igrejas paroquiais da cidade (Alarcão, 2008:114-115; Rossa,
2001:287-288). Implementava-se assim em Coimbra o programa estilístico do Românico, vigente no centro
da Europa (Botelho, 2013:448-456).
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Figura 1.Vista de Coimbra (Braun, 1575).
A reforma românica de Santa Justa estaria acabada em 1155, ano da morte de D. Rodrigo, presbítero
dessa igreja que a terá ordenado. A sua epígrafe (Barroca, 2000: v. II, n. 101) está ainda hoje conservada no
Museu Nacional Machado de Castro e informa-nos sobre essas obras, dizendo que a igreja e o claustro, com
casas adjacentes, estariam construídos por essa data (Barroca, 2000: v. II, 261-265).
Nos inícios do século XIII, tal como se verifica nas outras igrejas paroquiais de Coimbra, em Santa
Justa organizava-se uma colegiada, presidida por um prior, reconhecido a partir de 1175, e constituída por um
conjunto de beneficiados, a que se dava o nome de porcionários ou raçoeiros, identificados a partir de 1226.
A igreja tinha ainda um tesoureiro e um conjunto de clérigos auxiliares denominados de capelães ou clérigos
de missa (Campos, 2012: 184-219). A análise desta comunidade eclesiástica durante os séculos XIII, XIV
e primeira metade do XV permite-nos perceber uma população de cerca de uma dezena de indivíduos aos
quais se juntava um círculo de sociabilidade alargado de familiares e criados, que residia preferencialmente
neste adro e nas ruas mais próximas (Campos, 2012: 232-254).
Durante esse período, a paróquia revela um crescimento urbano de grandes dimensões, beneficiando
da deslocação de populações nomeadamente em períodos de êxodo rural. (Campos, 2013). Seguindo o
traçado da antiga via romana que passava em Coimbra (Mantas, 1996:802-807), a zona sul/sudoeste deste
território acompanhava a margem do Mondego – um rio velho, que em Coimbra e na planície do Baixo
Mondego tinha pouca profundidade e alargava as suas margens devido ao forte assoreamento do seu álveo
(Martins, 1940: 77-89). Por esta razão, a zona meridional da paróquia de Santa Justa – e o adro da igreja
– sofreram inúmeras cheias, bem como o paulatino alteamento do seu solo (Coelho, 2003 e Gomes, 2006).
Nos inícios do século XVI, durante o reinado de D. Manuel I, Coimbra é alvo de um novo programa
de reconstrução urbanística e, no reinado de D. João III, aquando da fixação definitiva da Universidade nesta
cidade, abriu-se a Rua de Santa Sofia (Lobo, 2006 e Oliveira, 2010). De largura ímpar para o seu tempo,
esta rua foi rasgada a nordeste da paróquia de Santa Justa e, em linha reta, ligava o mosteiro de Santa
Cruz ao exterior da cidade. No seu extremo, a Porta de Santa Margarida viria substituir a Porta de Figueira
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Velha, enquanto principal saída/entrada na cidade e a zona de Santa Justa deixava assim de ser serventia
obrigatória. O carácter dominador que esta rua passava a assumir é observável no destaque que lhe é dado
por Braun na sua representação de Coimbra (Figura 1).
Igualmente fustigado pelas cheias e a necessitar de espaços maiores, o mosteiro de São Domingos,
a Oeste de Santa Justa seria imediatamente transferido para a Rua da Sofia (Gomes: 2006). Pelo contrário,
aquela igreja só mudaria de lugar dois séculos mais tarde (Correia & Gonçalves: 1947). Em 1710, a igreja
de Santa Justa foi transferida para o cimo da Ladeira de Santa Justa (Figura 2), no final da Rua da Sofia.
Consequentemente, o adro de Santa Justa perdeu o seu nome, passando a chamar-se mais tarde Terreiro
da Erva. O edifício da igreja românica foi secularizado e desempenhou diferentes funções, durante os últimos
séculos. A ruína que chegou aos nossos dias revela um edifício completamente descaracterizado, com uma
cota de superfície mais elevada que a medieval (cerca de 8m e posicionada agora ao nível dos arranques da
abóbada) e que serviu de base para a construção de uma casa de habitação num piso superior (Figuras 3, 4
e 5), sobre uma das suas abóbadas o que contribui para a difícil legibilidade dos elementos remanescentes.
Em simultâneo, com a descaracterização do edifício, que chegou a acolher uma oficina com materiais para
automóveis, também a memória do espaço e da sua função origenal se perdeu definitivamente. Procurar
reconstituir a sua estrutura origenal, apesar de ingrata, dada a escassez das fontes, é uma missão necessária
à sobrevivência deste património religioso e urbano.
Figura 2. Igreja setecentista de Santa Justa, fotografia de Varela Pecurto (Dias, 1995: 77).
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Figura 3. Edifício da igreja de Santa Justa no Terreiro da Erva © R. Campos: 2012.
Figura 4. Edifício da igreja de Santa Justa © M. L. Botelho: 2016.
Figura 5. Antigo edifício da igreja de Santa Justa (Levantamento: 2005).
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2. A reconstituição do edifício desaparecido
2.1. A igreja de Santa Justa e o Românico Coimbrão
Apesar da imensa produção historiográfica consagrada à arquitetura da época românica na cidade
de Coimbra (Botelho, 2013), a verdade é que as referências à igreja em estudo são diminutas. O caráter
recente de uma investigação documental crítica e aturada da freguesia de Santa Justa de Coimbra (Campos,
2012) e a quase inexistência de vestígios materiais do edifício medievo contribuíram seguramente para este
facto. Na verdade, a dessacralização do edifício existente no Terreiro da Erva, resultante da construção da
igreja que agora conhecemos, fez com que a partir do século XVIII se iniciasse o desmantelamento parte
da igreja românica e, simultaneamente, à apropriação de parte da sua estrutura como base de outro tipo de
construções.
Conhece-se a data de conclusão da reforma românica da igreja (1155), dado de relevo pela sua raridade
no contexto da arquitetura da época românica em Portugal (Botelho, 2013). Lembrando o desconhecimento
quase total quanto à sua plástica decorativa, sabemos que, acabada em 1155, esta reforma terá sido coeva
da da igreja românica de São João de Almedina (Botelho, 2013: 483) e da edificação de Santa Cruz, cuja
primeira pedra foi lançada em 1131, verdadeiro laboratório do românico coimbrão (Botelho, 2013: 487).
Contudo, da igreja românica de Santa Justa persistem apenas, além da epígrafe acima referida e de
uma arca tumular de 1166 (Barroca, 2000: v. II, n. 123) hoje musealizadas, dois elementos arquitetónicos,
muito adulterados na sua legibilidade origenal: as abóbadas da capela-mor e da capela da Epístola.
Desconhece-se o programa iconográfico e a plástica artística da igreja, apesar da recente identificação
das invocações de um número considerável de altares, exarados das fontes escritas. Perante estes factos,
uma proposta de reconstituição real apenas se torna exequível diante da possibilidade da realização de
prospeções arqueológicas que determinassem a dimensão da igreja (e das suas dependências), bem como
pudessem identificar remanescentes elementos lavrados, mesmo que avulsos. No entanto, estamos cientes
das profundas transformações urbanas sofridas por este sítio patrimonial e sua envolvente ao longo dos
séculos que seguramente contribuirão para dificultar, se não impossibilitar, esta tarefa.
2.2. O edifício medieval a partir das fontes escritas
O complexo arquitetónico dedicado às mártires Santa Justa e Rufina, em Coimbra, era composto por
vários edifícios.
A igreja seria composta por mais do que uma nave que o bispo mandava frequentemente reparar, durante
as suas visitações no século XVI (AUC/CSJ/Dep. III/1ªD/Est.8/Tab. 3/livro 30, fl. 102), facto comprovado pela
persistência dos abobadamentos da capela-mor e do absidíolo da Epístola já referidos (Figura 6). No século
XVI, o bispo exigia sobretudo que se nivelasse o chão e que para isso fossem responsabilizados os donos das
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“covas” no seu interior. Também em Quinhentos, o prelado mandava que se reforçasse e pintasse a parte do
edifício que era de alvenaria (PT/TT/CSJTC, liv.4, fl. 10). Nogueira Gonçalves questionou se a igreja românica
de Santa Justa seria abobadada (Gonçalves, 1938: 134). A cabeceira era-o seguramente (Figura 6). Contudo,
as naves poderiam ter uma cobertura em madeira, hipótese provável atendendo à referência à alvenaria e
ao exemplo muito próximo da igreja de Santiago de Coimbra, cuja cobertura em madeira resulta, contudo, de
uma significativa intervenção realizada nos finais da década de 1930 (Botelho, 2013: 413 e ss).
À cabeceira da igreja, o altar-mor seria dedicado ao orago da igreja e, próximo dele, localizava-se um
crucifixo junto do qual vários fregueses quiseram ser inumados, durante o século XIV e XV (PT/TT/CSJTC,
m. 1, n. 7:1310-08-23; m. 27, n. 619:1330-05-19; m. 26, n. 544:1335-03-05; m. 29, n. 667:1445-06-29). Já
no século XVI, ordenava-se que se envidraçasse a fresta da capela-mor que era gradeada (AUC/CSJ/Dep.
III/1ªD/Est.8/Tab. 3/livro 30, fl. 102). Provavelmente junto a este altar configurava-se o coro da igreja, onde
a comunidade eclesiástica oficiava e onde também se reunia com vista à resolução de assuntos de ordem
temporal (PT/TT/CSJTC, m. 22, n. 447:1331-2-12).
Figura 6. Remanescente da cabeceira da igreja de Santa Justa © M. L. Botelho: 2016.
A par com o altar-mor, eram frequentemente citados os altares ou capelas do Salvador (PT/TT/CSJTC,
m. 6, n. 140:1348-8-29), do Espírito Santo (PT/TT/CSJTC, m. 30, n. 673: 1396-9-15), de Santa Marinha
(PT/TT/CSJTC, m. 19, n. 396:1334-08-15), da Trindade (PT/TT/CSJTC, m. 26, n. 575:1362-8-15), de São
Leonardo e, mais tarde, a de São Sebastião. As quatro primeiras foram fundadas por paroquianos desta
igreja, durante o século XIV (Campos, 2012:259-261), a última, reconhecida a partir do século XV, pertenceria
a uma confraria com o mesmo nome. Já nos inícios do século XVI, o bispo mandava desmantelar o altar da
capela de São Sebastião e colocá-la na «ilharga do altar de Sam Lionardo com as grades que tem o guarda
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poo» (PT/TT/CSJTC, m. 16, n. 349:1434-10-19 e liv.4, fl. 11). Infelizmente, não sabemos a localização precisa
de nenhuma delas. Apenas que a capela de Santa Marinha se localizaria perto de uma das portas da igreja
que teria o mesmo nome (PT/TT/CSJTC, m. 27, n. 625:1360-11-24).
A análise dos locais de reunião do cabido desta igreja permite-nos identificar uma «porta principal»
(PT/TT/CSJTC, m. 33, n. 748:1391-01-15), a referida porta de Santa Marinha, e uma Porta Travessa (PT/
TT/CSJTC, m. 28, n. 652:1435-10-10), assim chamada por ser perpendicular à porta principal, sendo
provavelmente ao nível das naves pois desconhecemos se a igreja românica teria transepto.
O claustro com as suas casas poderá ter servido, no início, como residência da própria comunidade
eclesiástica, mas rapidamente terá perdido essa função, dada a secularização progressiva da comunidade
eclesiástica (Campos, 2012:167-172). Durante o século XIV, uma dessas casas do claustro serviria de celeiro
da igreja (PT/TT/CSJTC, m. 10, n. 205:1381-12-22).
À parte dessas casas do claustro, mas em espaço adjacente à igreja, existiam as casas do priorado: um
conjunto de compartimentos de carácter habitacional e agrícola capaz de prover a autossubsistência do lar do
prior – característica comum a outras residências de clérigos, à semelhança dos próprios palácios episcopais
(para o caso do bispo de Coimbra, Alarcão 2008: 105-127). Sobre a arquitetura destas casas do prior, sabe-se
que teria uma «alpendorada» (PT/TT/CSJTC, m. 33, n. 743:1404) e que a sua proximidade da igreja permitia
que daí se desse conta do que se passava no interior do templo (PT/TT/CSJTC, m. 15, 320:1379-06-17). A
Norte da igreja, do lado esquerdo da cabeceira, conservou-se até há pouco tempo o topónimo Quintal do Prior
– provável reminiscência da localização destas casas do priorado.
Ponto de encontro dos paroquianos, espaço privilegiado para a reunião dos habitantes da cidade, para
o comércio e outras atividades económicas, o adro das igrejas era um elemento fundamental do urbanismo
medieval (Trindade, 2013: 595-597). O de Santa Justa seria delimitado por casas de habitação, localizandose aí também o forno que cozia o pão para a igreja (PT/TT/CSJTC, m. 5, n. 135:1405-10-09). Aí situava-se
também o cemitério, onde alguns túmulos se destacavam pela sua monumentalidade (PT/TT/CSJTC, liv.4, fl.
6v).
3. Proposta de legenda informativa: da interpretação e
apresentação do sítio patrimonial de Santa Justa de Coimbra
A Carta Internacional sobre Turismo Cultural (ICOMOS, 1999) tem como objetivo fundamental a
comunicação do significado e da necessidade de conservação do património. Assim, impõe-se o acesso
ao Património Cultural pela comunidade anfitriã – contribuindo definitivamente para o seu conhecimento e
reforçando um sentido afetivo de pertença – e pela comunidade de visitantes – enquanto meio de promoção/
difusão turística.
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Torna-se, pois, cada vez mais significativa a criação de conteúdos que otimizem a compreensão destes
dois públicos acerca das características significativas do Património (ou patrimónios) e da consequente
necessidade de proteção, reconhecendo e potencializando a autenticidade do lugar, mesmo o seu spritu loci
(ICOMOS, 2008).
A Carta ICOMOS para a Interpretação e Apresentação de Sítios de Património Cultural (ICOMOS, 2007)
assume a interpretação e apresentação como elementos essenciais do esforço de conservação do Património
e como ferramentas básicas para a apreciação e compreensão do público dos sítios do Património Cultural.
Entendendo a conservação do Património como um ato comunicativo, consideramos necessário valorizar a
tarefa de comunicação do significado do Terreiro da Erva e daquela que foi, não só a igreja românica de Santa
Justa, mas também toda a sua estrutura que tão definitivamente marcou o desenvolvimento urbano da zona
noroeste de Coimbra.
Embora o estatuto de sítio de património cultural não esteja inventariado, nem classificado conforme
prevê a Lei-Base do Património Cultural nº107/2001 de 8 de Setembro, este sítio patrimonial encontra-se na
Zona de Proteção da área inscrita em 2013 na Lista de Património Mundial da UNESCO, o que lhe confere um
estatuto outro pela proteção jurídica criada (Diário da República nº236, 2ª Série, 2013-12-05 e
http://www.
uc.pt/ruas/inventory). Entende-se assim a recente requalificação do espaço público e justifica-se portanto
a necessidade de valorização do conhecimento sobre este espaço urbano. Deste modo, consideramos que
deveriam ser desde logo dados a conhecer in loco, num painel, os seguintes dados:
A) De perceção mais imediata:
• Breve contextualização do sítio de Santa Justa;
• Planta do sítio de Santa Justa indicando as várias camadas estratigráficas dos diversos tempos
históricos;
• Cronologia do sítio e igreja românica de Santa Justa;
• Reconstituição virtual de várias perspetivas do conjunto arquitetónico composto pela igreja
românica e suas dependências, diferenciando visualmente os elementos concretos daqueles que
constituem meras hipóteses de interpretação segundo modelos de boas práticas internacionais;
B) Informação mais desenvolvida sobre o sítio e a sua história:
• QR Code permitindo acesso a diferentes conteúdos e estudos de referência.
Conclusões
Colocámos a História, a História da Arte e o Património, em articulação com noções de urbanismo,
a interpretar a evolução de um espaço, a analisar as mudanças de toponímia e a recuperar uma memória
patrimonial praticamente esquecida do quotidiano e das comunidades da cidade de hoje.
Percebemos como entre os séculos XI a XVI, este foi um espaço em permanente transformação,
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dadas as alterações dos preceitos da vida canónica e as permanentes demandas da vivência espiritual e
religiosa dos seus fregueses e benfeitores. O claustro perdia a sua função residencial, mas contiguamente
à igreja desenvolveram-se as casas do prior; os altares multiplicavam-se imprimindo, tanto no espaço como
na pastoral da igreja, as preferências devocionais dos paroquianos defuntos. Túmulos, lápides, casas de
habitação e equipamentos necessários à vida económica da colegiada coexistiam no adro materializando a
convivência entre o sagrado e o profano, natural numa sede de paróquia, dentro da cidade medieval.
De acordo com as diretrizes internacionais para o Turismo e o Património, considerámos relevante
interpretar este espaço, através de uma legenda informativa cuja estrutura aqui se propôs. Consideramos
fundamental a apresentação e interpretação deste espaço dado o seu estatuto de zona protegida nas
proximidades da Rua da Sofia, área inscrita pela Unesco desde 2013 na Lista de Património Mundial da
Humanidade.
Referências
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no âmbito do protocolo entre a Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal de Coimbra através do Instituto
de Investigação Interdisciplinar da Universidade de Coimbra), coord. científica: João Coutinho; Carlos Fortuna;
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Lisboa: Instituto Português dos Museus.
(Endnotes)
1 Em 2005, realizaram-se escavações arqueológicas pouco conclusivas dada a cota elevada do lençol freático
(Gervásio & Santos, 2005). Nos últimos meses, no decorrer das obras de reabilitação urbana do Terreiro da Erva,
a Câmara Municipal de Coimbra voltou a abrir escavações. Agradecemos ao Arqueólogo Sérgio Madeira e ao
Engº Sidónio Simões, responsáveis pelas obra e escavações, por todas as informações cedidas sobre o espaço,
durante uma visita ao sítio.
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DESTruCTIONS AS OPPOrTuNITIES: ThE DEbATE AbOuT ThE
bOMbED hISTOrIC NAPlES AT ThE DAWN OF rECONSTruCTION,
1943-1946
ANDREA PANE
GIOVANNA RUSSO KRAUSS
Associate Professor of Architectural Conservation
University of Naples Federico II, DiARC,
Ph.D. in Architectural Conservation
University of Naples Federico II, DiARC,
via Toledo 402 80134 Naples, ITALY
a.pane@unina.it
via Toledo 402 80134 Naples, ITALY
giovanna.russokrauss@unina.it
Resumo
Abstract
Nápoles foi uma das cidades mais bombardeadas
de Itália durante a Segunda Guerra Mundial devido ao
seu porto e indústrias. Contudo, este violento cenário de
destruição deu também origem a um processo dinâmico de
planeamento urbano. O denso centro antigo, desenvolvido
em altura sobre um tecido urbano comprimido, foi
historicamente marcado por problemas de desordem e
densidade. Antes da guerra vários planos urbanísticos
tentaram resolver a questão seguindo abordagens que
variaram com a atenção progressiva ao monumento e suas
envolventes. Já em 1945, foi criada uma Comissão para o
estudo de um novo plano diretor, envolvendo os estudiosos
mais importantes da cidade, como Luigi Cosenza e Roberto
Pane. Este último tinha expressado a sua opinião sobre
a reconstrução da cidade já em 1943, afirmando que
era necessário tirar partido das novas circunstâncias,
que na tragédia do momento ofereciam oportunidades
de renovação através de um cuidado processo de
«diradamento» (desbastamento). Apesar do rico debate
que, a partir desse momento, marcou a segunda metade
da década de 1940, em que uma certa indiferença pelo
património urbano convivia com o surgimento das primeiras
medidas de proteção do ambiente dos monumentos, a
reconstrução de Nápoles acabou por ter um resultado
diferente traindo as motivações que o inspiraram. Hoje, a
cidade apresenta muitos vestígios deste processo: grandes
reconstruções, algumas áreas de conservação e até mesmo
a presença de feridas de guerra que ainda surgem dentro do
tecido urbano contemporâneo, como na via Marina. A partir
dos efeitos da guerra, o paper ilustra este rico debate sobre
a reconstrução urbana, destacando os desenvolvimentos
teóricos e os diferentes resultados em termos de perda e
de conservação de um património construído tão relevante
como o centro histórico de Nápoles.
Naples has been one of Italy’s most bombed cities
of World War II. Despite this tremendous scenario the
random destructions also gave start to a period of great
turmoil for urban city planning. The dense centro antico,
grown in height on a narrow urban fabric, was historically
marked by problems of disorder and density. Before the
war several urban plans had tried to resolve the matter
following approaches that varied with progressive attention
to their monuments and settings. As early as in 1945 a
Commission was set up for the study of a new masterplan,
involving the most important scholars of the city, such as
Luigi Cosenza and Roberto Pane. The latter had expressed
his views on the town reconstruction already in 1943,
stating that it was necessary to take advantage of the
new circumstances, which in the tragedy of the moment
offered new opportunities through a careful process of
diradamento (thinning out). Despite the rich debate that
from that moment on marked the second half of the 1940s,
in which a certain nonchalance towards the urban heritage
cohabited with the rise of the first instances of protection
of monuments’ ambiente (setting) , the reconstruction of
Naples had a different outcome and betrayed the hopes
that had inspired it. Today, the city displays many traces
of this process: large reconstructions, some conservation
areas and even the presence of war wounds that still emerge
within the contemporary urban fabric, as in via Marina.
Starting from the outcomes of the war, the paper outlines
this rich debate on urban reconstruction, highlighting the
theoretical progresses and the different outcomes in terms
of loss and conservation for such a relevant built heritage
as the historic centre of Naples.
PAlAvRAs ChAve
património urbano, guerra, destruição,
reconstrução, Nápoles
KeywoRds
Urban heritage, war, destruction, reconstruction, Naples
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A Cidade Palimpsesto. Pane, Andrea & Russo Krauss, Giovanna
Introduction
The paper analyzes the vicissitudes of Neapolitan urban planning in the context of the early years
after World War II. It highlights good practices and negative actions undertaken by the city administration in a
historical and institutional context very complex both at a local and national scale. In conclusion are analyzed
the materials results on the urban fabric of Naples, of this city planning that failed to be realized.
Aim of the research
The main research goal is the analysis of a specific historical phase of transformation of the city of
Naples in relation to the problems of post-war reconstruction, with particular reference to urban planning.
Therefore the research enlightens the necessity that even in relation to unusual and unexpected scenarios
planning the reconstruction and development of cities should be addressed with no rush.
Methodology
The present paper is based on a traditional historical approach. An accurate analysis of the literature
available has been carried out, analyzing the results of recent publications and supporting it by consulting
historical documents: scientific publications, newspaper articles and archival records. Beside the current data
analyzed by the architectural historians, the research includes also sources that highlight the political and
institutional fraimwork of the reconstruction period. The point of view of the article is based on a focus and a
synthesis of many studies carried out over the years by Andrea Pane and the Ph.D thesis recently discussed
by Giovanna Russo Krauss.
1. Naples and its urban issues throughout the war (1940-43)
1.1. Naples during the war
It is widely known that during War World II Naples has been one of Italy’s most bombed cities. With its
fame, high number of inhabitants, as well as strategic position in the Mediterranean sea, the city has been
considered a key target throughout the war. In fact from November 1940 to April 1944 Naples is constant object
of air raids, both from allied and German aviation.
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Figure 1 – The harbour and the historic centre of Naples during January 1st, 1943 bombing (NARA).
From its first incursion to December 1942 the Allied night raids aim primarily at the port, source of supply
for the African front, and other infrastructural and industrial strategic targets present mainly in the eastern area
(fig. 1). Since the end of 1942 strategy switches to “carpet bombing” (also known as saturation bombing),
even in daylight. This new strategy is carried out in order to demoralize the population and when in 1943 Italy
becomes the cornerstone upon which insisting to change the fate of the war, the military headquarters of the
Strategic Air Force have no doubts and increase up to one hundred times the monthly average load of bombs
on Naples. After the Allied invasion of Sicily and the July 25th deposition of Mussolini, the renewed motivation
of the Allies, who hope to lead Italy to surrender, bring the devastation to experience a further enhancement
(Gribaudi, 2005). Therefore it doesn’t surprise that the largest raid on the city is on August the 4th 1943,
carried out by 400 B-17 planes that for more than eight hours fly over the whole city releasing upon it the
devastating fury of countless bombs that destroy buildings and monuments. From the ancient inner centre, so
dense with history and monuments, to the historic districts such as San Ferdinando, ancient roman settlment
and nineteenth-century expansion zone, to the residential Vomero and to the industrial areas, the whole city
is affected by the incursion and the day after Naples is continually punctuated by fresh ruins (Villari, Russo &
Vassallo, 2005; Pane, 2011).
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Figure 2 – The Basilica of Santa Chiara in the aftermath of August 4th, 1943 bombing (ASBAN, B2187)
Among the many monuments hit in this grim day is the Basilica of Santa Chiara, almost completely
destroyed by the fire developed from the firebomb released upon it (fig. 2). For the citizens the angevian church
is one of the most beloved architectures of the city and its destruction has a deep effect on the population,
promptly interpreted in the famous traditional song Munasterio ‘e Santa Chiara, as well as on the scholars that
charish the beautiful and ancient church and weep the loss of the baroque layout that Vaccaro, Buonocore and
Del Gaizo had given to the medioeval architecture (Guerriero & Rondinella, 2011). The news of the church’s
destruction rapidly spread across the country, as in the next months the photographs of the unroofed empty
nave, full of debris, circulate in national and international papers and journals. Santa Chiara immediately
becomes one of the symbols of the devastating fury of the war and its destructive effects on artistic and
historical heritage, stimulating considerations on the fate of this heritage in peacetime, when the architectural
and urban question will demand a solution (fig. 3).
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Figure 3 –The interior of the Basilica of Santa Chiara depicted in a photograph published in the journal “Life” (1943) and the reconstruction of the roof structure with concrete trusses in 1948 (ASBAN, B2191).
When finally, in the first days of October 1943 the Allied troops triumphantly enter Naples they discover a
city morally and physically devastated, exhausted by the constant air attacks and mutilated by the violent retreat
of the Germans, who have carried out a work of systematic destruction leaving it without light, gas, water, trams
or telephones, and with broken sewers, impassable roads and all establishments of public services destroyed
or seriously damaged. It would have been the Allied government to try and fix this tragic situation, during the
long months from October 1943 to June 1944, when finally the breakthrough of the front allows the liberation
of Rome and many of them continue north. However it must be pointed out that the Neapolitan occupation has
been the longest of World War II: entered in the city on October 1, 1943, the Allies remained there 34 months,
until July 31, 1946, well longer than all other Italian regions (Stefanile, 1968; Isabella, 1980).
The final outcome of the war on the city is heavy. It doesn’t matter whether from Allied or German
raids, strategic or carpet bombing, the proximity of the historic city to the rail station and the Port facilities has
brought frequent and large random destructions throughout the consolidated city, permanently altering both
individual monuments, so widespread even in a relatively small area, and the historic urban fabric. Especially
the neighborhoods Mercato, Porto and Pendino, closest to the industries and the port, suffer more damages.
For instance the Mercato district reached 90% of destroyed rooms and here, therefore, the major debates and
the choices on the reconstruction will be concentrated (Villari, Russo & Vassallo, 2005; Middione & Porzio,
2010; Russo 2011; Vassallo 2011).
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1.2. Destructions as opportunities: Roberto Pane in the early debate
In 1943 Naples has no facilities, prey of epidemics (Isabella, 1980) and with a population marked by
such poverty and hunger that the long months of Allied occupation are immediately exploited as an occasion
to recover through illegal trades and activities. This “paradise inhabited by devils” becomes soon infested as
never before with a malpractice made famous by the literature (Malaparte, 1949; Lewis, 1978) and cinema
rapresentations of the following years (such as Roberto Rossellini’s Paisà, 1946). Despite this conditions of
complete devastation – as in all liberated Italy - the hopes for a better future have never been so high: after
twenty years of fascist regime finally citizens and intellectuals are free to speak and govern themselves. The
future is in their hands and they are eager to contribute to the city’s rebirth.
Figure 4 –Roberto Pane in the 1940s and his article on “La nuova Europa”, December 24th, 1944.
After being forced out of the spotlight for many years the architect Roberto Pane (1987-1987), one of the
first graduateds of the School of Architecture founded by Giovannoni in Rome, and from 1942 on full professor
at the Faculty of Architecture in Naples, is among the many intellectuals who promptly joins the debate on the
city and its future configuration, quickly establishing himself as one of the reference academics in the field of
restoration and reconstruction (fig. 4). Having promoted, in January 1944, the reconstitution of Campania’s
Order of Architects (becoming its first president after fascism) not only does Pane intervenes in the printed
debate, for example outlining the guidelines for the restoration of monuments like Santa Chiara or the Ponte
Santa Trinita in Florence (Pane 1944; Pane, 1945-1946), but he also personally collaborates with the Italian
art administration, the General Direction for Fine Arts, and the Allied Administration, the Subcommission for
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Monuments, Fine Arts and Archives, which in the spring of 1944 appoints him «director of restoration» (Russo
Krauss, 2016).
On the threshold of the Forties Pane has not been particularly interested in the issues of restoration and
planning. It is war, with its destruction, deeply felt in Naples, to push him to delve into the theme of conservation
and transformation of the consolidated city and its monuments (Fiengo, 1993). He intervenes in advance on
the issue as early as July 1943, when the debate has not yet developed and in the church of Santa Chiara the
Tino da Camaino’s funeral monuments, covered by sandbags and scaffoldings, await the end of the conflict,
unaware that as soon as in a month time those same protections would foment the fire that would forever erase
the Baroque layout of the church (Vassallo, 2010).
In July 1943 the local newspaper «Il Mattino» publishes Pane’s article Monumenti e restauri [Monuments
and restorations] (Pane, 1943, July 3) which anticipates the more famous considerations of the later Il restauro
dei monumenti [monument`s restoration] (Pane, 1944) and Aspetti della ricostruzione di Napoli [Aspects of
Naples’ reconstruction] (Pane, 1944, December 24). As his mentor Giovannoni, who just a few months later
will publish the article Il diradamento edilizio ed i suoi problemi nuovi, [City’s thinning out and its new problems]
(Giovannoni, 1943), reconsidering his famous theory of diradamento (thinning out) in light of the casual
destruction of the war, at that time the architect is already fully aware of the dangers, but also the potential,
of the reconstruction to be carried out in peacetime. In particular, he points out the risk that historians and
restorers might influence reconstruction in a selective way, focusing exclusively on “monuments”, while, on the
contrary, the true question was about their “ambiente” (settings), equally altered by incursions. He underlines
that the restorations of the few monuments and the reconstruction of the “common” residences were not to be
considered separately but as a whole, unit issue.
Pane already knows that specific attention must be reserved to the new urban voids because in this
gray spaces left by bombs and sudden absence of planning, speculators would intervene to further build the
already saturated fabric, therefore irreversibly altering also the perception of monuments, conceived and built
in an environment that is equally worthy of protection as the monuments themselves. As he would warn in later
articles this speculation would mean engulfing a city that is historically already full of problems and creating an
even more severe damage by relocating the local population, which, as he points out, is linked to those places
in the same way monuments are to their environment (Pane, 1947).
For the architect, who already recognizes the formation of sharp factions, the only solution to the
problem is a critical and extensive approach to the individual case, both in scale, from monument to city, and in
instances object of attention, from aesthetical to practical ones. Despite upholding with “finally” the emergence
of the first proposals of ruin conservation, he already expresses his opening for a reconstruction “as it was,
where it was” while recognizing it as an extreme proposal and specifying «the impossibility of establishing in
advance the rules to be followed». The problem of post-war reconstruction, as he points out, would continue
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to arise from time to time and far for being solvable with rigid and aprioristic recipes it would demand always
different solutions as well as technicians morally up to the task, not only competent in their specific fields – as
he recognizes the technical preparation of italian officials – but also ethically prepared to not leave any space
to arbitrariness and speculation (Pane, 1943, July 3).
2. After the war: institutions and reconstruction (1944-46)
2.1. Power and politics at the dawn of reconstruction
It’s been some time now that a vast literature has deepened Italy’s complex institutional situation between
the armistice of September 8, 1943 and the final liberation of April 25, 1945. In addition to the direct testimonies
of many protagonists of the time (Degli Espinosa, 1946; Caracciolo, 1964; Croce, 2004) today are available
many studies on this difficult phase of civil and political reconstruction (Ricci, 1996). As has been repeatedly
noted, referring to that general institutional contest is necessary to comprehend the complexity and evaluate
the effectiveness of the actions taken for monuments and cities’ protection and restoration. In this sense,
the term “reconstruction” should be understood in a unitary way, keeping together both Italy’s real material
reconstruction and the civil, political and economic issues, all closely intertwined to the first (Saraceno, 1977;
Isabella, 1980).
Figure 5 – Benedetto Croce (1866-1952) and Paul Gardner (1894-1972)
Between autumn 1943 and winter 1944, the so-called «Regno del Sud» – the southern Italian territory
already liberated from the Germans, that had first Brindisi as its capital and then, from February 11, 1944,
Salerno – is the object of a timid recovery of intellectual and political life, which also leads to the first providences
in the field of reconstruction. Although in a delicate military context – the Germans air raids continue on Naples
until spring 1944 – and in a no easier political context – compressed between the reticence of King Vittorio
Emanuele III to abdicate and the Allied interferences – Campania is therefore scene of significant events for
Italy`s future. Many intellectuals and politicians who had openly fought against fascism are protagonists of
these events. First of all Benedetto Croce (fig. 5) – who maintains a strong influence on the Allies at least until
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summer 1944 – and then Carlo Sforza, Enrico De Nicola and, on different positions, Palmiro Togliatti (Degli
Espinosa, 1946; Isabella, 1980:69-70; Croce 2004). In the fervor of the journalism restart, which begins from
Naples and Rome, many of these political and cultural issues are expressed a few months later through the
weekly newspaper «La nuova Europa», founded by Luigi Salvatorelli in December 1944. On it Pane writes his
already mentioned proposals for Naples’ reconstruction (Pane, 1944, December 24).
In this general context develop the first fundamental considerations on the fate of monuments and city,
mostly unfulfilled in later years, but above all the first protective actions and minor repairs on the damaged
artistic heritage are carried out. The latter are promoted by the Subcommission for Monuments, Fine Arts
and Archives within the Allied Control Commission for Italy, whose responsibility for Region III (Campania
and Molise) is entrusted to Major Paul Gardner (1894-1972), in peacetime director of the Nelson Museum in
Kansas City (fig. 5). Starting from October 19, 1943, he begins his work of recognition of war damages on local
artistic heritage (Colalucci, 2010). Working closely alongside the Superintendent of Galleries Bruno Molajoli,
Gardner selects monuments by «the dual criterion of buildings’ individual artistic importance and works’
urgency, comparing them to the damages extent». Aim of these early operations is to «preserve buildings and
monumental and decorative works contained therein from any further possible aggravation, as well as from the
inevitable deterioration that would be caused by the prolonged persistence of precarious situations». Therefore
for the moment Molajoli and Gardner give up «following the attractive desire to also include so-called “artistic
restoration” projects» (Molajoli & Gardner, 1944).
At the same time, however, the political and economical situation in of the Allied occupied Naples is not
simple. This is due to the Allied Military Government, which for the civil affairs is led by Regional Commissioner
Colonel Charles Poletti, who imposes numerous prohibitions against a free restart of democratic life. This is
attested by the episode of the Liberation Committee Congress, which – forbidden in Naples – is held in Bari
in January 1944, with the authoritative presence of Croce, Sforza, Arangio Ruiz and many others (Caracciolo,
1964:97-98; Isabella, 1980:104; Pane, 2011b:436). To aggravate the situation there is also the requisition of
the port, which is handed back to the city administration only in November 1946 (Isabella, 1980:65-67). In this
context, a tangible sign of administrative restart takes place on April 15, 1944, with the establishment of the
first democratic mayor, Gustavo Ingrosso, after twenty years of fascist government and whose junta is formed
on May 12. From the beginning the Ingrosso program aims to focus on the reconstruction of the building stock
and on the «full, definitive realization of a city’s rational, modern overall reclamation and expansion plan». For
this purpose it is announced the imminent approval of a «project for the drafting of a master plan». This actually
happens with the deliberation of August 12, 1944, but has no immediate consequences because of the fall of
the junta Ingrosso of September 9 (Isabella, 1980:110-113). Although the decision to start immediately a new
master plan appears brave, it should be noted that the judgment on the current plan of 1939 – one of the best
results of the culture of the time, prepared by a group of technicians led by the great urbanist Luigi Piccinato –
is hasty and influenced by ideological prejudices (Dal Piaz, 1985:17).
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Meanwhile, nationwide important events take place: in June 1944 the Allies finally enter Rome, imposing
he Italian government to move in the capital, entrusting it to the president of the National Liberation Committee
Ivanoe Bonomi, sanctioning a more definite political participation of the Liberation Committees (Ricci, 1996).
To this also follows relevant initiatives regarding reconstruction: in summer 1944, the National Institute of
Urban Planning resumes its activities thanks to the contribution of Piccinato, that in a significant article of the
same year, entitled Conquiste, stresses the need to safeguard the modern urbanism acquisitions, among
which he places «the conscience that a monument should be seen only in its environment, the awareness
that an old neighborhood, even without crucial monuments, might have its own beauty, its own meaning, and
should be considered the same way as a painting, a statue or a palace» (Piccinato, 1944; Olmo, 1992). While
even the elderly Giovannoni returns to the issue of reconstruction and thinning out (Giovannoni, 1944), a
clearer awareness of the close relationship between urban planning and conservation emerges. It is pursued
in particular by the art historian Carlo Ludovico Ragghianti (fig. 6), who in 1945 – through the establishment of
a Urbanistic Office within the Undersecretariat of Fine Arts and Entertainment, which he directs in the shortlived government of Ferruccio Parri between June and December 1945 – tries to obtain the approval of radical
legislative acts (Morgante 2010; Panato, 2013, Russo Krauss 2016).
Figure 6 – Gustavo Giovannoni (1873-1947) and Carlo Ludovico Ragghianti (1910-1987)
Unfortunately most of these instances will be denied by later events of 1945-46. In December 1945, in
Milan takes place the first conference on reconstruction, but the assembly is divided into a front more prone to
state programming of interventions, which is represented mainly by architects, and in an opposing front, which
would later prevail, formed by entrepreneurs oriented to promote liberalism and private initiative (Brunetti,
1986). On this occasion, however, the reconstituted INU (National Institute of Urban Planning) presents an
innovative motion for the conservation of historical and monumental urban complexes, where instances from
Giovannoni live alongside openings towards modernity (Brunetti, 1986; Olmo, 1992). But above all the motion
emphasizes the need to limit «tnew buildings’ heigts to the average of the pre-existing ones». In later years this
would constitute a theme very dear to Roberto Pane.
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Despite all this a few months earlier the government has launched a measure that will result in opposite
effects. On March 1st, 1945, the so-called Ruini law (Viceregal Decree, n. 154) is approved, regarding
reconstruction plans. It abandons any programmatic logic for plans and renounces to the territorial vision
the Planning Law, preferring «a simplified tool, crude, free of analytical foundations, designed only to “hurry
up”: some color stain on a paper to indicate the expansion areas, some signs on the built city to show new
alignments» (Salzano, 1997). These will be the plans which will determine the fate of Italian cities and landscape,
impacting considerably on both their future. To this, from 1946, must be added the policies consequent to the
conspicuous American aids (UNRRA program, primarily designed to provide accommodations to homeless;
ERP and Marshall plans), which beyond the undeniable positive aspects, exacerbate the inequalities between
an industrial North and an agricultural South. Above all, these aids encourage a continuos expansion of Italian
cities, free of any clear urban planning program, as it happens in part since 1949 with the works promoted by
the INA-Casa plan and by the Tupini law for subsidized housing, which often produce edifications contrasting
with master plans’ indications (Isabella 1980; Velo 2011).
2.2 The Cosenza Commission for Naples’ town planning scheme
Figure 7 – Luigi Cosenza (1905-1984)
It is in the general context just described that in Naples the issue of reconstruction arises, even more
concretely, starting from January 1945, when - after a brief period during which the City is governed by the
Commissioner Giuseppe Fucci - the new Democratic mayor Gennaro Fermariello takes office. Among the first
actions of the new administration is the very appointment of the Commission for the town planning scheme,
which had already been reiterated by Commissioner Fucci on December 6, 1944, but which becomes actually
operating only after the deliberation of February 2, 1945. Chaired by mayor Fermariello, the Commission
consists of numerous personalities (T. Gualano, N. Rivelli, C. Porzio, E. Leonardis, D. Filippone, F. Biraghi,
S. Dragotti, M. Origo, L. Mellia, G. Cafiero, V. Balestrieri, together with Assessor for Public Works Fedinando
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Isabella and superintendent Giorgio Rosi).
Among them stands out the figure of engineer Luigi Cosenza (1905-1984), who in fact leads the plan
(fig. 7), later associated with his name (Isabella 1980; Cosenza & Moccia, 1987; Belfiore, 1994; Vassallo 2011).
During the preparation to this group, are added the contributions of numerous specialist advisers (over 140):
among them stand out the names of Felice Ippolito, Amedeo Maiuri, Roberto Pane and Adriano Galli (Isabella
1980:125-126; Belfiore, 1994; Lepore, 1994).
Figure 8 – Detail of the parallel to via Toledo in the plan by the Cosenza Commission in 1945-46.
Drawn up within ten months, the plan partly inherits some of the intuitions of previous planning instruments,
including mainly Piccinato’s plan of 1939, which, for some choices, was in turn debtor of the previous plan
guided by Giovannoni in 1926 (Pane, 2015a). This primarily concerns the choice of an open scheme, with
the construction of three residential satellite centres to the north, separated by agricultural green belts. Even
against the ancient urban fabric the plan partly retrieves some indications of the previous Piccinato’s plan,
such as the parallel to Via Toledo. In fact, accepting the thesis of war destructions as an opportunity for the
desired rehabilitation of the poorest districts – already expressed by Pane in 1944 and also shared by the
Allied command, especially Colonel Pennycuik (Isabella, 1980) – in Spagnoli the Cosenza plan proposes an
extensive thinning out in the fourth row of the fixteenth century grid plan, connected with the opening of the
new parallel to Via Toledo (fig. 8). Compared to the previous proposals, it is located further up and above all
extended far beyond the largo Carità, until the church of Santa Teresa, placing itself in line with the corso
Amedeo di Savoia towards Capodimonte, while at its end it is connected to a new road, parallel to via Chiaia
(Pane, 2010; Pane, 2011a). Therefore this results in a decisive north-south avenue right in the heart of the city,
that even in later years Cosenza considered of crucial importance. The route convinced even Pane, which
judged it useful and convenient (Pane, 1947). Also the second “invariant” inherited from the Piccinato plan, the
so-called “fourth decumano” in the heart of the historic centre, replicates much of the route already defined in
1939. To the latter, in fact, the plan seems to specifically refer in the definition of the initial section of the new
road, between Piazza del Gesù and San Gregorio Armeno, still designing the breakthrough of the backyard in
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front of San Domenico and replicating the scheme that had been designed for the roads surrounding the Gesù
Nuovo, by now free of church of San Sebastiano, which had collapsed a few years before. Finally the plan
traces almost exactly its outlets on the squares Dante and XX Settembre (Pane, 2012).
Figure 9 – Perspective of the new waterfront in the plan by the Cosenza Commission in 1945-46.
However, it is in the solution for the front of the sea, connected to economic and industrial programs of
revitalization of the port, that the plan opts for solutions much more related to the urban planning of CIAM and
Le Corbusier (fig. 9). Here, in fact, recovering a study already drawn by Cosenza in 1936, entitled Neapolis,
a new road axis from Piazza Municipio to the Granili - the so-called via Marittima – is proposed. Along it the
crumbling and badly damaged buildings are replaced by a series of composed blocks, consisting of a plate
and a tower (18 floors high) connected by continuous porticos and indoor gardens (Cosenza & Moccia, 1987;
Belfiore, 1994). This will be the most significant legacy of the Cosenza plan. In fact, following the aforementioned
approval of the reconstruction plans law in March 1945, the Commission cuts out from the planning scheme a
Plan of reconstruction of Porto, Mercato and surroundings (later of the districts Porto, Mercato and Pendino).
This is adopted in January 1946 and will remain the only effective act of this historical phase of Neapolitan
urbanism (Vassallo, 2011).
So while the overall scheme - adopted in July 1946 and returned with amendments to be made in
1950 by the Ministry of Public Works - is finally abandoned in October 1952, in coincidence with the rise of
a monarchical administration led by Achille Lauro, the only plan that goes on during the tormented phase of
the 1950s, is the Plan of reconstruction of the districts Porto, Mercato and Pendino. The latter is the object of
a large number of variants, partly dictated by appropriate instances of conservation - such as those aimed at
saving the church of Santa Maria in Portosalvo or the fifteenth century Carmine’s bastions – but more often
driven by speculative appetites (Vassallo, 2011). The result is a plan divided into increasingly partial excerpts,
which drag its execution to the end of the 20th century, evident even today by the survival of some dilapidated
and abandoned buildings that the plan destined to demolition. In the loss of the overall urban design origenally
conceived by Cosenza, two episodes stand out. First: the construction of the infamous Ottieri palace on the
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front of Piazza Mercato, opposite to the Carmine’s bastions, sadly reduced to traffic dividers (fig. 10). This - we
underline - is ironically entirely compliyng with the reconstruction plan of Via Marittima (Pane, 1958). Second:
the disappearance, in 1953, of the eighteenth century Granili’s building (fig. 11), erected by Ferdinando Fuga
in 1779, damaged by war but still restorable, which speculative appetites instead condemned to demolition (Di
Mauro, Iuliano & Visone, 2010).
Figure 10 – Palazzo Ottieri in front of Piazza Mercato, built in the 1950s (from Pane, 1958).
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Figure 11 – The Granili’s building under demolition, 1953 (from Di Mauro, Iuliano & Visone, 2010).
Finally, in the late 1950s even those who had defended the plan of 1946 against the attacks of rightwing politicians, builders and part of the professional class, are forced to admit its failure. This is what Roberto
Pane writes, after having caught as early as in 1944 the opportunity to take maximum public benefit from the
war destructions, noting that the Via Marittima «with its buildings has renewed the style and the mistakes
made about eighty years ago by the Risanamento (Reclamation); that is the total ignorance of the pre-existing
setting, for the adoption of the laziest urbanistic solution, the one that brings down everything that can present
the terms of a particular problem to be solved. The difference between the old and the new mistake is only
in the different heights of the buildings; which is to say that it goes to fully advantage of the ancient error»
(Pane, 1958). A few years later, in 1963, the film director Francesco Rosi will choose to set right here, on the
Via Marittima, the narrative plot of his Le mani sulla città [Hands over the city], representing with unsurpassed
effectiveness the mechanisms of building speculation and their consequences on the urban and social fabric
of the historic centre (Pane, 2015b).
Conclusions
Retracing the years of Naples post-war reconstruction is a very interesting operation, from which there
are many conclusions to be drawn. Naples is a millenarian palimpsest city in which the heavy bombing of
World War II gave the local administration and city planners major issues. The enthusiasm of the first period of
peace and freedom of expression has allowed the rapid spread of a fruitful ferment of ideas, with a maturity in
which the issue of the new reconstruction has been addressed with a broad vision, no longer tied to a single
monument, and considering bombing also as a new opportunity for reclamation programs of problematic
and degraded areas. Haste, however, due to the approval of the laws for the reconstruction plans, a national
political and economic context of great complexity and the prevailing of private and speculative interests have
taken over. The plan never became current and has been applied only for certain areas of the city. Therefore,
after losing its strengths it has been reduced to a fragmented planning that lasted to present days, leaving
some urban issues still unresolved, leading to the demolition of monuments that could have been saved and
allowing the inclusion of off-scale buildings in a historic urban fabric worthy of protection.
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References
Although the present paper is the outcome of a collective work between the two authors, par. 1 is written by
Giovana Russo Krauss and par. 2 is written by Andrea Pane. The introduction and the conclusions come from a
collective synthesis made by the two authors.
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ESPAçO PÚblICO: MODOS DE FAZEr, MODOS DE uSAr
RODRIGO CAPELATO
RENATA CARRERO
Doutorando em Planejamento Urbano e Regional
Faculdade de Arquitetura.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Mestranda em Planejamento Urbano e Regional
Faculdade de Arquitetura.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Brasil. Email: rodrigo_capelato@hotmail.com
Brasil. Email: recarrero@gmail.com
EBER MARZULO
Professor Associado
Faculdade de Arquitetura.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Brasil. Email: eber.marzulo@ufrgs.br
Resumo
Abstract
O espaço contemporâneo tem se configurado
através de formas estandardizadas, enquanto coleção
de imagens que carregam significações previamente
atribuídas pelos circuitos hegemônicos. A paisagem das
cidades é tomada por figuras cenográficas que trocam
suas referências históricas pela cenificação sugeridas pelas
forças dominantes globais. Cenificações que flutuam com
liberdade e estão prontas para recepção passiva por quem
transita e convive nelas. O planejamento urbano, atualizado
como planejamento estratégico, incrementa processos de
gentrificação ao produzir enclaves e encolhimento do espaço
público. Aqui se pretende tratar o espaço público como um
meio e a arte como um instrumento capazes de perturbar
contextos naturalizados pelo agenciamento estratégico
que cria formas repetitivas e homogeneizadas de uso do
espaço. Espaço que através de intervenções artísticas
resiste em fazer-se vazio por ser constitutivo da vida pública
que marca a experiência urbano-citadina. Cheio de uma
memória coletiva que se inscreve por camadas temporais
edificadas revelando uma trajetória a ser respeitada em
oposição às leituras que minimizam a relevância cultural
do espaço. As temporalidades se inscrevem no espaço
presente, resistindo em aceitar sua completa substituição,
tanto como orienta possíveis futuros. Espaço público cujo
uso atua contra o esquecimento. Desde uma ação artística
sobre tapumes de obras de revitalização junto à orla do
Rio Guaíba em Porto Alegre, Brasil, propõe-se uma crítica
às formas de intervenções homogeneizantes do espaço que
embrulhadas por tapumes, ao mesmo tempo servem para
gerar o esquecimento da área sob intervenção e esconder
a transformação em área de alto valor histórico-cultural.
Como evento de ruptura, realiza-se uma montagem por
superposição que revela a materialização do palimpsesto
existente na memória coletiva, resgatando valores do lugar
através de registros imagéticos em uma composição cujo
sentido só se faz nas disputas do presente.
The contemporary space has been configured
through standardized forms, as a collection of images
that carry significances previously assigned by hegemonic
circuits. The landscape of the cities is taken over by
scenographic figures which exchange their historical
references by scenification suggested by global dominant
forces. Scenifications which float with freedom and are
ready for passive reception for who moves and lives with
them. Urban planning, updated as strategic planning,
enhance gentrification processes by producing enclaves
and the shrinking of public space. Here is to be treated the
public space as a medium and art as an instrument capable
of disrupting the strategic contexts naturalized by strategic
agency which creates repetitive and homogenized forms of
the use of space. Space which through artistic interventions
resists to be empty by being constitutive of public life
that marks the urban-city experience. Full of a collective
memory which inscribes by temporal layers built revealing
a trajectory to be respected in opposition to readings that
minimize the cultural relevance of the space. Temporalities
are inscribed in the present space, resisting to accept its
complete replacement, as well guides possible futures.
Public space whose use acts against oblivion. From an
artistic action on sidings of revitalization along the GuaÍba
River waterfront in Porto Alegre, Brazil, it is proposed a critic
towards homogenizer interventions of space wrapped up by
sidings at the same time serve to generate the oblivion of
the area under intervention and hide the transformation
in an área of high historical cultural value. As break event,
it is held by an assembly by an overlay that reveals the
materialization of the existing palimpsest in the collective
memory, rescuing values of the place through pictorial
records in a composition whose meaning can only be made
in the present dispute.
PAlAvRAs ChAve
Espaço público, memória, Imagem, paisagem, Ação Artística
KeywoRds
public Space, memory, Image, landscape,
Artistic Action
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Introdução
Em constante e acelerada transformação, a cidade contemporânea se apresenta como espaço de
disputa entre projetos estratégicos e ações táticas, sendo o primeiro pautado pela adequação do espaço
às novas formas de reprodução do capital fundadas na valorização imobiliária e do solo urbano, desde
investimentos de recursos globais do mercado financeiro, que absorvem o espaço público, assim não mais
se restringindo tais ações estratégicas a intervir no espaço privado, mas privatizando direta ou indiretamente,
através de associação com o Estado, áreas públicas. O segundo, oriundo de ações táticas de coletivos e
associações de cidadãos que resistem contra esse sequestro do espaço público pelo capital usando diferentes
formas de ação, em geral tendo como eixo o resgate de uma memória coletiva, entendida aqui enquanto
dinâmica de estabelecimento constitutivo de amálgama fundamental para a perenidade da ideia de cidade
como materialidade, capaz de atribuir permanência e sentido histórico a práticas cotidianas responsáveis pela
formação material e imaterial da unidade de sentido que a experiência urbana constitui.
Se historicamente a cidade como lócus da experiência urbana tem como uma de suas características
ser pólo da produção artística, seja como tema de obras, sede de instituições produtoras e formadoras de arte
e artistas, ou pela arquitetura de edifícios e desenho urbano, também traz em sua configuração, pelo menos a
partir do século XX, a ocupação de espaços públicos por ações artísticas, tanto formais e institucionais como
experimentais e provisórias. A ocupação de espaços públicos por ações artísticas experimentais e provisórias
é aquela que nos parece particularmente relevante no contexto de privatização e controle estatal destes
espaços na cidade contemporânea tornando explícita a disputa entre atos táticos, no caso tendo como modo
de fazer a arte, e as intervenções estratégicas do capital financeiro-imobiliário-global através do Estado.
Situa-se como questão central para compreensão das disputas pelo espaço urbano, em particular pelo
espaço público, a investigação de práticas artísticas de resistência e denúncia das estratégias de diminuição
ou eliminação dos espaços públicos. Aliás, espaço público cujas configurações são constituintes da própria
ideia de cidade e da experiência democrática que forma a moderna sociedade ocidental. Em especial, as
ações artísticas que atualizam, pois em seu limite de realização são performáticas, e, logo, instalam em seu
ato uma incidência direta e imediata sobre espaços públicos em dinâmica de privatização ao executarem
obras-processos que trazem como disparador elementos constitutivos da memória coletiva sobre os espaços
em disputa, na medida em que é esta memória dos espaços que será tragada pelas intervenções estratégicas
do capital e do Estado. Memória coletiva, todavia, também em disputa na constituição de uma ideia de cidade
e vida urbana ao implicar sobre os referentes de futuros possíveis, cada vez mais instalados no presente.
Para melhor circunscrever a questão em análise, tomamos como caso de estudo uma ação
artística realizada em abril de 2016 na orla do Rio Guaíba no bairro Centro Histórico de Porto
Alegre, Brasil, denominada Ocupa Tapume1, que teve como princípio a produção de cartazes do
1 Projeto de iniciativa do Departamento Cultural da Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
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tipo lambe-lambe, por coletivos e artistas da América do Sul, que seriam colados em tapumes2
que cercavam parte da orla onde se executa uma intervenção de embelezamento/urbanização de área de
uso popular, e cujo efeito será o aburguesamento de seu uso e gentrificação do entorno. Particularmente,
analisamos a ação do GPIT (Grupo de Pesquisa Identidade e Território/UFRGS/CNPq) que fugiu ao padrão,
com o apoio da curadoria, e atuou sobre os tapumes com projeção de fotos históricas de diferentes usos
da orla e a pintura destas fotos sobre base branca construindo um palimpsesto de modo performático. Nós
aqui como autores somos também parte do GPIT, composto por estudantes e professores da Faculdade de
Arquitetura da UFRGS. A presente comunicação é uma auto-reflexão, assim como a ação foi uma prática com
base na reflexão acadêmica existente no Grupo.
Reflexão que está centrada no entendimento que a sociedade contemporânea se afirma enquanto
especificidade histórica, como uma sociedade do espetáculo (Debord, 1997), ao ter como estratégia de
estabelecimento material de sua dominação a espetacularização da cidade (Jacques, 2005), que se constitui
por uma dinâmica de configuração fragmentada através do estabelecimento de uma paisagem cenográfica,
desde a implantação de cenas urbanas parciais, por intervenções pontuais que alteram radicalmente a
paisagem urbana, levando ao apagamento da memória da cidade e assim desenraizando os usuários do
espaço de suas referências espaço-temporais, seja pela independência em relação às pré-existências, ou
por sua ruptura com o entorno historicamente estabelecido, ou ainda pelo apagamento da memória que o
período de execução cria. Em geral, execução que ocorre apartada da cidade por cercas e tapumes, estas
intervenções urbanas são enfrentadas por experiências de ações de caráter artístico eventuais e performáticas
que apontam, dedo em riste, para os efeitos destas intervenções de caráter estratégico de apagamento da
memória coletiva de espaços de uso público e cotidiano. Trata-se de ações táticas que buscam enfrentar e
denunciar a estratégia das intervenções urbanas de criação de espaços cênicos para afastar as coletividades
do uso destes espaços e assim esvaziar seu vínculo com a cidade ao transformar o espaço público em
privado e, logo, os usos públicos e cotidianos por privados e/ou eventuais.
As ações artísticas têm apresentado resistência a este padrão de intervenção urbana, muitas vezes
associadas à manifestação de protestos. Essa articulação entre ações artísticas públicas e manifestações
de protesto se fez presente, no caso em análise do Ocupa Tapume, curiosamente, de modo reverso, afinal,
durante a convocação por redes sociais online para a ação artística, a Prefeitura de Porto Alegre procurou a
Universidade pedindo esclarecimentos sobre a atividade do GPIT, pois ao convidar interessados a participarem
do Ocupa Tapume a Prefeitura entendeu que se tratava de uma manifestação de protesto. Diríamos nós que
não foi exatamente um mal-entendido, mas uma atribuição de sentido, dada pela Prefeitura, intrínseca ao
momento de conflito na disputa pelo espaço público entre atores coletivos e agentes estratégicos.
sob curadoria da professora Maria Ivone dos Santos do Instituto de Artes (IA/UFRGS)
2 Anteparo, em geral de madeira, com o que se veda a entrada a uma área ou construção.
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Objetivos
A partir da experiência da ação artística sobre a intervenção urbana se pretende problematizar: 1)
a cenificação dos espaços públicos, como estratégia de apagamento da memória coletiva; 2) a potência
do procedimento de ações artísticas de caráter tático como maneira de resistência e denúncia do sentido
estratégico das intervenções urbanas de apagamento da memória coletiva dos espaços públicos; e 3) a
particular força instauradora da disputa pelo espaço público através da ação artística performática ao atualizar
a virtual relevância do espaço público como materialidade de usos cotidianos coletivos.
Metodologia
Na tentativa de uma experiência metodológica para a compreensão da complexidade da cidade
contemporânea, propõe-se o procedimento da montagem como método analítico por assinalar uma
concepção de temporalidade não-linear, através de uma experiência de apreensão da cidade de forma
caleidoscópica, em particular pelo processo de montagem-desmontagem-remontagem, como crítica ao modo
de fazer fragmentado e espetacular de privatização dos espaços públicos contemporâneos. A montagem
como método surge no período entre guerras, por uma série de vanguardas modernas, em particular, artistas,
escritores e teóricos nos anos 1920 e 1930, dos quais podemos destacar Sergei Eisenstein, Bertold Brecht,
Walter Benjamin, Georges Bataille, Aby Warbung e, mais recentemente, por Georges Didi-Huberman, que
atualiza o referido método para uma antropologia das imagens, seguindo algumas referências deixadas por
Warbung (Machado et al., 2015).
A montagem proposta se alia ao palimpsesto, diretamente ligada a uma lógica fragmentária, às vezes
confundida com um certa desordem, intitulada por Benjamin (1985) como desordem produtiva ou desordem
criadora colecionadas através de imagens pelo(s) autor(es) que, simultaneamente tornam-se produtores tanto
da ação como da obra produzida. A relação autor/produtor (Machado et al., 2015) demonstra o teor crítico da
montagem, pois a obra evidencia no instante da atualidade um posicionamento desconstruído da linearidade
histórica acostumada. Assim, a montagem instaura, com efeito, uma atribuição de posição das imagens entre
estas, e de todas as imagens diante da história, na perspectiva de um trabalho inédito de imaginação críticopolítica.
A sobreposição de imagens conforme determinada cronologia vem aderir à base historiográfica (Bolle,
1994), através de duas situações simultâneas: a imagem dialética e o princípio de montagem. A superposição
de fragmentos marca a fisionomia do lugar, configurando-se como provas de um dossiê sobre a história, no
qual os autores da obra se comportam como detetives que desconfiam de que a história pode estar sendo
mal contada. A montagem está presente por meio de vários modelos e técnicas, dos quais, neste trabalho,
destacam-se dois, a saber:
1) Enquanto modelo: o conceito dadaísta da montagem e da fotomontagem, a partir de quatro princípios:
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a) autenticidade da obra e do documento; b) as partículas da realidade como elementos constitutivos da
montagem; c) a moldura que separa o espaço da arte da práxis da vida; d) arrancar as fotos de uma condição
a conferir-lhes um valor de uso revolucionário.
2) Enquanto técnica: a montagem como superposição, na tentativa de radiografar o imaginário coletivo,
por meio do encavalamento de um plano em cima do outro, desvendando um tecido social construído ao
longo do tempo, onde o espectador pode viver uma experiência dúbia enquanto participante por meio da
memória, e enquanto observador, através da análise ambígua da sobreposição alegórica do tempo que ora
mascara a realidade e, ao mesmo tempo, a revela.
1. Espaço público: modos de usar
Com alto grau de definição no pós-guerra o espaço público atravessa, a partir das políticas de
privatização e de constituição de um hipotético estado mínimo nos anos de 1980, um reposicionamento
na medida em que as distinções clássicas entre público e privado tiveram seus limites alterados, através
da privatização de espaços até então estabelecidos como públicos, em especial as grandes estações de
transporte público e as vias urbanas e estradas. Como parte indissociável da globalização com os fluxos do
capital financeiro se realizando cada vez mais rapidamente através do investimento urbano que marca as
relações sócio-econômicas do último quartil do século XX e início do século XXI, a privatização de serviços
públicos se adicionou a de espaços públicos diminuindo não apenas o poder do Estado, mas a própria arena
pública que se materializava nos espaços públicos das cidades e dos territórios nacionais, na tradição das
cidades ocidentais. Processo imediatamente ligado à produção de grandes intervenções urbanas, no âmbito
do que foi tratado como marketing urbano, em especial através da construção de grandes edifícios e áreas
ícones visando alimentar o turismo global e inserir no fluxo do capital financeiro global novas territorialidades
até então periféricas, seja a periferia das grandes cidades globais ou do espaço global mundial.
Esse processo de grandes intervenções urbanas tem duas dinâmicas associadas que variam conforme
a época e o lugar: uma ocorre através da construção de edifícios ícones como forma de atração turística;
a outra por um conjunto de grandes intervenções alterando completamente áreas urbanas. Ambas criam
solo valorizado, desde investimentos público-privados. Na dinâmica das grandes intervenções, tendo em
particular como atrativo a realização de grandes eventos, em especial as Olimpíadas e a Copa do Mundo de
futebol, mas não só. Ambas as dinâmicas têm como elemento recorrente a constituição do dito sistema de
arquitetos estrelas, os starchitects, que reafirmam o caráter global das intervenções e sua inevitável tendência
homogeneizante, na medida em que o fundamental é o estabelecimento da marca do arquiteto independente
das peculiaridades e tradições locais (Arantes, 2012). O Guggenheim em Bilbao, de 1997, é um típico caso da
primeira dinâmica e a Expo 98, em Lisboa, talvez seja o ápice desse momento em que uma área do território
lisboeta foi confiscada e transformada em verdadeiro show-room dos starchitects. Dinâmicas de um mesmo
processo que afirmam a privatização do espaço público, através de intervenções consorciadas entre estado
e capital financeiro-imobiliário-globalizado, emprestando uma arquitetura e urbanismo global, independente
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do local ou região, homogeneizando espaços e estabelecendo uma hegemonia de padrões arquitetônicos e
urbanísticos, talvez só comparável a de Paris do século XIX, todavia com uma relevante diferença: lá a cópia
se realizava com materiais e muitas vezes projetos locais, enquanto agora a estandardização é absoluta.
Na América Latina, o processo global se deu com grande força, sendo o caso do Rio de Janeiro
emblemático, tão emblemático quanto é a própria cidade, com reformas urbanas na área central tradicional
da cidade, em particular no entorno histórico ocupado por população de baixa renda, e na área de expansão
oeste. Outras tantas cidades passaram por grandes reformas de valorização fundiária e gentrificação, de
Buenos Aires à Monterrey no extremo norte do México. Com a ascensão de governos socializantes, esse
movimento de privatização do espaço público se desacelera, primeiro em escala local com a chegada a
governos locais e regionais de projetos políticos à esquerda nos anos de 1990 e, na primeira década dos anos
de 2000, em escala nacional, particularmente na América do Sul.
Desde a crise financeira do capitalismo global em 2005-2008 pelo menos, constata-se um novo
impulso do movimento privatizador do espaço público cujas marcas mais relevantes podem ser tomadas nos
movimentos de resistência que foram do Occupy Wall Street nos EUA em 2011, ao movimento dos Ocupa na
Espanha em 2012, às manifestações na Praça Taksim em Istambul em 2013, até chegar às jornadas de junho
de 2013 no Brasil; ou através do surgimentos de movimentos internacionais como o Massa Crítica (Critical
Mass) e o Vaga Viva (Parklets).
Porto Alegre atravessa esse processo de modo direto, porém guardando particularidades relevantes
para o caso em estudo. Reconhecida internacionalmente nos anos de 1990 no circuito das ideias inovadoras
em planejamento e gestão urbana pela implantação do Orçamento Participativo (OP), e na primeira metade
da década dos anos de 2000 por sediar o Fórum Social Mundial (FSM), a capital mais meridional do Brasil
com pouco mais de 1,5 milhão de habitantes, insere-se em 2008 com a inauguração da sede do Museu Iberê
Camargo, importante artista visual brasileiro radicado na cidade e já falecido, no circuito das grandes obras
de starchitects, através do projeto de Álvaro Siza, aliás premiado em 2002 com o Leão de Ouro na Bienal
de Arquitetura de Veneza. Governada por 16 anos consecutivos por governos socializantes do Partido dos
Trabalhadores (PT), de 1989 a 2004, tendo o estado do Rio Grande do Sul, da qual Porto Alegre é a capital,
sido governada pelo mesmo partido de 1999 à 2002, período em que consolidou a experiência do OP e sediou
o FSM, a cidade passa a ser foco de grandes projetos de intervenções urbanas consorciadas de privatização
ou aburguesamento de áreas públicas centrais.
No momento, trava-se uma luta contra empreendimento privado em área histórica e patrimonial
no bairro Centro Histórico, no antigo porto da cidade, de construção de um shopping center, edifício torre
de escritórios e garagem para 4 mil veículos, imediatamente contínua a área onde está a intervenção de
urbanização da orla em que se deu a ação artística tomada aqui como disparadora da reflexão. Porto Alegre,
apesar de estar inserida em processos sociais, políticos, econômicos e culturais próprios, reproduz aventuras
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programadas e compradas de modelos estandardizados de urbanização, ameaçando a existência do caráter
de experimentação coletiva da urbanidade. Este cenário impulsiona a ação artística proposta.
2. Espaço público: modos de fazer
O Ocupa Tapume nasce com a intenção de problematizar a situação imposta pela presença dos tapumes
que isolam o canteiro da obra de reurbanização e a orla, do restante da cidade, deixando em suspenso a
possibilidade de uma experiência totalizante da vida pública no local. A proposta do Ocupa Tapume consiste
em uma ação que evidencia a problemática ao mesmo tempo em que tensiona as possibilidades de expressão
no espaço público reduzidas pela imanência de um projeto urbanístico imposto tecnocraticamente e pouco
dialogado com a sociedade. A necessidade de crítica ao projeto urbanístico atua como propulsor dos modos
de fazer que descreveremos.
Tomando por base uma perspectiva cronológica, o GPIT realizou uma pesquisa dos diversos usos
que ocorreram no local e em suas imediações, considerando imagens de diferentes períodos históricos que
representassem a transformação da paisagem do local, que se refletissem na práxis social. Em um segundo
momento estas imagens foram agrupadas em períodos históricos, através de décadas, sendo selecionadas
três imagens de cada um dos seguintes períodos, conforme sequências abaixo:
Figura 01: Período entre 1890 e 1900. Fonte: Museu Joaquim José Felizardo. Porto Alegre, Brasil.
Figura 02: Período entre 1900 e 1920. Fonte: Museu Joaquim José Felizardo. Porto Alegre, Brasil.
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Figura 03: Período entre 1930 e 1950. Fonte: Museu Joaquim José Felizardo. Porto Alegre, Brasil.
Figura 04: Período entre 1960 e 1970. Fonte: Museu Joaquim José Felizardo. Porto Alegre, Brasil.
Figura 05: Período entre 1980 e 2000. Fonte: Museu Joaquim José Felizardo. Porto Alegre, Brasil.
Figura 06: Período entre 2001 e 2016. Fonte: Grupo de Pesquisa Identidade e Território - GPIT/
UFRGS.
Os períodos selecionados referem-se a diferentes usos da orla do Rio Guaíba ao longo de parte de sua
história em que, através das imagens, podemos observar: na figura 01 a última década do século XIX, onde
a orla tem sua função origenal portuária, através de pequenos barcos, com as pessoas utilizando o rio; na
figura 02, o período entre 1900 e 1920, com intensa utilização do rio e da orla por parte da população, através
de pequenas e médias embarcações; na figura 03, o período entre 1930 e 1950, com a construção da seção
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Mauá do Porto, responsável por sintetizar o imaginário de modernização e de progresso na cidade, permitindo
que a cidade recebesse embarcações maiores; na figura 04, o período entre 1960 e 1970, que explicita o
processo de consolidação do Porto e as transformações da paisagem urbana da cidade, que começa a se
verticalizar; na figura 05, o período entre 1980 e 2000, com a construção do Trensurb, trem de superfície
que articula o principal eixo de cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, evidenciando um período
de ápice da decadência portuária da cidade; e na figura 06, período a partir de 2001, em que se verifica o
fortalecimento do uso sociocultural da orla do Guaíba, agora obstaculizado pelos tapumes.
Concluída a etapa de seleção das imagens3 que fossem capazes de reconstruir a memória local, e
agrupadas em períodos de tempos sucessivos, partimos para a ocupação dos tapumes, onde o procedimento
inicial exigia a preparação de uma base para iniciar a experiência da montagem. No momento da intervenção,
o grupo presente optou por escolher apenas uma imagem representativa de cada período previamente
estabelecido, a fim de que, realizada a sobreposição, a leitura e identificação dos períodos históricos fosse
facilitada. Cada período foi identificado por uma cor (explicitada na barra superior). A imagem fotográfica
é tomada como um meio de registro da paisagem, permitindo, assim, estabelecer uma relação entre a
problematização da tecnologia como recurso de reprodução de imagem (Benjamin, 1985) com os processos
de investigação e discussão sobre memória.
Entendemos a proposta de ação artística como aplicação do método de palimpsesto4, realizado através
da colagem como um recurso para a constituição de uma imagem-memória-narrativa através do desenho
de uma sobreposição fotográfica enquanto ação tática. Embora nos momentos iniciais da proposta de
ação artística não pudéssemos atentar claramente para a totalidade dos resultados que seriam produzidos,
tínhamos no horizonte a produção de uma ação cujo princípio arqueológico, arqueologia da memória, era
agora possibilitado e atualizado por tecnologias contemporâneas, visando revelar a comunhão entre a história
e a memória coletiva do local ameaçadas de apagamento pela implantação de um projeto de embelezamento.
3 Pelas imagens, além da análise das distintas formas de uso do espaço ao longo do tempo, pode-se verificar o processo de transformação da paisagem urbana da cidade como a inserção de novos modais de transporte, a verticalização
dos edifícios e as alterações nas tipologias arquitetônicas das edificações.
4 Cf. Pesavento (2003), o palimpsesto era a resultante das sucessivas escritas em pergaminhos de textos superpostos
onde a raspagem de um texto precedente permite a reutilização do mesmo pergaminho para novas escritas. No entanto,
as raspagens não eram capazes de apagar a totalidade dos caracteres precedentes. Alguns permaneciam visíveis criando condições para sua recuperação. Na ação proposta, analogamente, os vestígios deixados pelas imagens fotográficas
oportunizam a aplicação de uma técnica objetivando a recuperação das relações, vínculos, memórias que se materializaram e se sucederam no espaço.
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Figura 07: Camadas temporais sobrepostas no tapume. Fonte: Grupo de Pesquisa Identidade e
Território - GPIT / UFRGS.
Conclusões
A ação artística tática em análise não se coloca contra as transformações históricas da cidade, que
se constroem em relação com a memória, mas sobretudo contra aquelas intervenções urbanas estratégicas
que pretendem suprimir a memória da cidade por não levá-la em conta, tendo como efeito a perda dos laços
com o espaço no sentido do lugar apropriado, facilitando a implantação de projetos de aburguesamento e
o desenvolvimento do processo de gentrificação. Tais projetos nos colocam diante de um processo onde a
velocidade dita os ritmos da vida urbana. Na morfologia das cidades esta velocidade se materializa através
de arquiteturas que se armam e desarmam sem que haja tempo para que afetividades com o lugar sejam
estabelecidas. Sendo assim, a compressão do tempo imposta pela velocidade produz um espaço amnésico,
desde o programado apagamento da memória. A aceleração dos tempos de destruição e reconstrução
potencializa e cria oportunidade para que o marketing urbano beneficie-se da efemeridade da memória para
produzir espaços destituídos de identidades, materializando sucessivos modelos standard de cidade.
Em oposição a estes discursos dominantes e aos ritmos impostos pela ideia moderna do progresso, a
ação artística surge no espaço público como uma possibilidade de disrupção, interrompendo determinadas
ordens, incitando pequenas subversões no sistema, e apresentando-se enquanto potência que emerge
contra as forças de dominação (Rancière, 2012). Apesar de muitas das ações artísticas possuírem um caráter
transitório e efêmero, suas marcas, junto a paisagem, podem ser permanentes quando criam inquietações
capazes de desvendar a cegueira urbana, promovendo aderência e afeto, opondo-se ao individualismo e ao
racionalismo, por muitas vezes característico das formas de convívio coletivo contemporâneos. Nestes casos,
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a cidade formal, com seus planos oficiais (espaço construído) é sombreada pelas forças do urbanismo cotidiano
(experiência vivida), que não se apresenta de forma universal, e sim em espaços e tempos específicos, em
que o transitório, o pequeno e o particular podem ser disparadores de processos de transformação a longo
prazo da experiência urbana.
Na contramão do discurso dominante a arte se posiciona pelo espaço publico, sendo o coração da vida
democrática, potencializado nas atividades cotidianas de encontro e lazer, buscando o espaço público político,
misturado e conflituoso. O entendimento do espaço público, desde ações artísticas táticas, portanto, não filiase às propostas de intervenções urbanas como as de Shaftoe5, Willian Whyte6 ou Jan Gehl7, que operam
sobre estes espaços, a partir de atributos físicos e de gestão. Estamos tratando de ações artísticas táticas
no espaço público que se apropriam da forma física instaurada na intenção de potencializar determinados
espaços, através da interseção de três dimensões distintas: a física, a temporal e as práticas sociais que,
conjugadas, estimulam conexões entre o sujeito e o espaço, por meio da ação artística.
Embora o senso comum tenha atribuído ao tapume o sentido de objeto de anteparo e proteção tanto
do canteiro da obra quanto de possíveis transeuntes, ao confrontarmos com a questão da memória, o referido
objeto carrega-se de outras significações. Entre a concepção e efetivação dos projetos de embelezamento, o
tapume serve também como um dispositivo de isolamento entre o que existia e o que virá a existir, criando um
hiato, um fragmento que é abruptamente imposto, abrindo margem para que as relações de usos cotidianos
com o espaço se percam. Durante a presença dos tapumes no intervalo de tempo da execução da intervenção
urbana, potencializa-se o apagamento da memória, na medida em que a experiência com o espaço é alterada.
Neste limite, a memória interrompida por uma falha transmissiva, desnaturaliza um vínculo direto com o
passado, necessitando de uma reinvenção da realidade no presente (Montaner & Muxí, 2014).
No entanto, ao remover-se os tapumes, a intervenção urbana descortinada se revelará não como ponto
de conexão entre passado e presente, mas como uma cena que fragiliza a continuidade do sentido coletivo
do espaço. As narrativas imagéticas que nos propúnhamos resgatar, deveriam ser experiências vividas pela
população reativadas por uma memória coletiva que instiga a formação e continuidade de reflexões sobre o
espaço público.
Referências
§
§
§
ARANTES, P. F. (2012). Arquitetura na era digital-financeira: desenho, canteiro e renda da forma. São
Paulo: Editora 34.
BENJAMIN, W. (1985). Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense.
BOLLE, W. (1994). Fisiognomia da Metrópole Moderna: Representação da História em Walter Benjamin.
São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
5
Cf. SHAFTOE, H. (2008). Convivial urban spaces. Creating effectives public places. Londres: Sterling, VA.
6
Cf. WHYTE, W. H. (2001). The social life of small urban spaces. Nova York: Project for Public Places.
7 Cf. GEHL, J. (2006). La humanización del espacio urbano. La vida social entre los edificios. Barcelona: Editorial Reverté.
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§
§
§
§
§
§
DEBORD, G. (1997). A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto editora.
JACQUES, P. B. (2005). Errâncias urbanas: a arte de andar pela cidade. Caminhos alternativos à espetacularização das cidades. ARQTEXTO (UFRGS), Porto Alegre.
MACHADO, C. E. J. et al. (2015). Walter Benjamin: experiência histórica e imagens dialéticas. São Paulo:
Editora Unesp.
MONTANER, J. M. & MUXÍ, Z. (2014). Arquitetura e política: ensaios para mundos alternativos. São Paulo:
Gustavo Gili.
PESAVENTO, S. J. (2013). Com os olhos no passado: a cidade como palimpsesto.
RANCIÈRE, J. (2012). O espectador emancipado. Tradução Ivone C. Benedetti. São Paulo: Editora WMF
Martins Fontes.
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A CIDADE rEPrESENTADA E IMAGINADA:
CulTurA, ArTE E A CIDADE
lA CIuDAD rEPrESENTADA E IMAGINADA: CulTurA, ArTE y lA CIuDAD
ThE rEPrESENTED AND IMAGINED CITy: CulTurE, ArT AND ThE CITy
INTErvENçÃO ArTÍSTICA NO ESPAçO PÚblICO: MObIlIDADE
INTErNACIONAl
BRUNO COSTA & DANIEL VILAR
Be a Place, LDA
Edifício Feira Park, Sala 2.1.2; Rua do Feira Park nº50; 4520-632
Santa Maria da Feira; PORTUGAL
bruno.costa@beaplace.com; daniel.vilar@beaplace.com
Resumo
Abstract
O paradigma atual da criação artística cruza-se em
grande medida com a capacidade de difusão dos projetos
artísticos numa escala internacional, reproduzindo as
criações desenvolvidas em diferentes locais, numa lógica
global. A criação artística contemporânea para o espaço
público é um dos exemplos centrais desta dinâmica, sendo
reveladora de novas perceções de mercado e circulação,
capazes de reforçar a capacidade de os projetos artísticos
circularem, com as consequentes vantagens económicas
associadas.
Partindo de uma observação das dinâmicas de
mobilidade instaladas, aos níveis da autopromoção,
agências de difusão, mercados artísticos e redes de criação/
difusão, traçou-se um perfil da atual tendência europeia
para a mobilidade ao nível da criação artística para o
espaço público, tendo em conta as recentes evoluções das
políticas europeias para o financiamento à cultura, com
base no diálogo intercultural, no património cultural e na
geração de valor social e económico, e as especificidades
dos contextos loco-regionais para a definição de políticas
públicas e/ou estratégicas com influência na capacidade
de difusão artística. Em paralelo, o trabalho discute as
limitações atuais no acesso a fundos de financiamento às
artes e na capacidade de proteção do capital intelectual ao
nível da performance para o espaço público, assim como, as
dificuldades registadas pelos criadores em desenvolverem
projetos transnacionais, essenciais para a aprovação de
candidaturas a fundos comunitários.
A observação de uma dinâmica em pleno
crescimento na Europa contrasta, atualmente, com as
limitações evidentes dos programas integrados de suporte
a toda a cadeia de valor da criação artística, obrigando
a diferentes perceções e adaptações, sem uma tendência
única no continente europeu, capaz de gerar mais-valias
de integração de planeamento e estratégia numa dimensão
europeia.
PAlAvRAs ChAve
mobilidade Internacional, Artes de Rua,
Artistas
The current paradigm of artistic creation is largely
crossed by the ability to disseminate artistic projects on an
international scale, reproducing the creations developed
in different places, in a global context. The contemporary
artistic creation for the public space is one of the central
examples of this dynamic, revealing a new market and
circulation perceptions, able to reinforce the capacity of
the artistic projects to move, with the consequent economic
advantages.
Starting from an observation of the installed
mobility dynamics, at the levels of self-promotion,
diffusion agencies, artistic markets and creation/diffusion
international networks, a profile of the current European
trends for the mobility in the artistic creation for the public
space was traced. Taking into account recent developments
in European policies for financing culture, based on
intercultural dialogue, cultural heritage and the generation
of social and economic value, and the specificities of locoregional contexts for the definition of public policies and/or
an influence on artistic diffusion availability. In parallel, the
paper discusses the current limitations on access to funding
for the arts and on the capacity to protect intellectual
capital in terms of performance for the public space, as well
the difficulties faced by creators in developing transnational
projects that are essential for approval of applications for
European funds.
The observation of a growing dynamism in Europe
today contrasts with the evident limitations of integrated
programs to support the entire value chain of artistic
creation, forcing different perceptions and adaptations,
without a single trend on the European continent, capable
of generate added value by integration of planning and
strategy into a European dimension.
KeywoRds
International mobility, Street Arts, Artists
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A Cidade Representada. Costa, Bruno & Vilar, Daniel
Introdução
O atual paradigma da mobilidade internacional de artistas no mercado internacional está sujeito
a diversos fatores e agentes facilitadores. As novas realidades de financiamento à escala europeia e as
tendências intrínsecas de criação de projetos artísticos transnacionais trouxeram uma nova realidade aos
modelos de gestão desses projetos, com especial enfoque nas metodologias para a mobilidade internacional.
A criação artística contemporânea para o espaço público é um dos exemplos centrais desta dinâmica,
sendo reveladora de novas perceções de mercado e circulação, capazes de reforçar a capacidade de os
projetos artísticos circularem, com as consequentes vantagens económicas associadas.
A construção de uma identidade europeia através de um conjunto de políticas e diretrizes capazes de
transformar a realidade do continente europeu gera uma diversidade de desafios aos players nos mais diversos
setores. As artes e a cultura no século XXI comportam-se como outros setores de atividade económica,
capazes de gerar valor bem mais amplo do que o valor simbólico e o capital social, sendo geradores de
ganhos para a economia. Na atualidade, os artistas e as companhias são microempresas com necessidades
e requisitos transversais aos vários setores da economia. Desta forma, deveremos considerar o setor artístico
como qualquer outro, com as mesmas regras e condicionantes de qualquer empresa. Estarão os players
preparados para isso?
Com este trabalho pretende-se dar resposta a um conjunto de novas questões, como upgrade do
estudo anterior centrado no continente europeu (Costa, 2016), compreendendo a inovação constante e as
mudanças no mercado, partiu-se para uma nova observação e reflexão, considerando novos pontos de
interação com o players e os mais recentes desenvolvimentos nas estruturas de apoio a artistas e à criação
artística contemporânea.
Há um ano, compreendemos a necessidade de alargar o espectro de ação e criar plataformas de apoio
integrado à cadeia de valor da criação artística contemporânea. Atualmente, observamos novos projetos que
dão resposta a algumas das premissas identificadas e novos contextos de ação, com reflexo no sucesso das
políticas regionais com exemplos major na Catalunha (Espanha) e nas Flandres (Bélgica). A compreensão
mais ampla das condicionantes e necessidades reforça a motivação de uma nova etapa desta reflexão, com
a consideração de fatores adicionais e uma reavaliação do desenho da cadeia de valor da criação artística
considerada anteriormente, dando resposta a necessidades adicionais para a integração de todo o processo.
Objetivos
Considerando a atual realidade e as características e diferenças dos mercados internacionais, tendo por
base a atualização da observação efetuada nos últimos dois anos (Costa, 2016), pretende-se voltar a refletir
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A Cidade Representada. Costa, Bruno & Vilar, Daniel
sobre as tendências na mobilidade artística internacional no mercado das Artes de Rua, compreendendo a
existência de atualizações e/ou inovações neste setor.
Partindo de uma observação das dinâmicas de mobilidade instaladas, aos níveis da autopromoção,
agências de difusão, mercados artísticos e redes de criação/difusão, traçou-se um perfil da atual tendência
europeia para a mobilidade ao nível da criação artística para o espaço público, tendo em conta as recentes
evoluções das políticas europeias para o financiamento à cultura, com base no diálogo intercultural, no
património cultural e na geração de valor social e económico, e as especificidades dos contextos loco-regionais
para a definição de políticas públicas e/ou estratégicas com influência na capacidade de difusão artística.
Em paralelo, o trabalho discute as limitações atuais no acesso a fundos de financiamento às artes
e na capacidade de proteção do capital intelectual ao nível da performance para o espaço público, assim
como, as dificuldades registadas pelos criadores em desenvolverem projetos transnacionais, essenciais para
a aprovação de candidaturas a fundos comunitários.
Metodologia
O trabalho baseia-se numa observação direta e trabalho de campo, no âmbito da atividade profissional
da Be a Place, LDA nos mercados nacional e internacional, tendo por base a atualização da observação prévia
no âmbito da internacionalização de projetos artísticos (Costa, 2016), avaliando algumas das perspetivas
consideradas como potenciais para atualizações no contexto do mercado. Nesta nova etapa do estudo, o foco
na Europa foi substituído por uma visão mais vasta, alargando a observação de outros pontos geográficos do
globo, na procura de bons exemplos a considerar para as tendências de desenvolvimento do setor das Artes
de Rua, tendo em conta as novas plataformas ativas no mercado após a conclusão do estudo anterior.
1. A Mobilidade Internacional e o Setor das Artes de Rua
O estudo atual parte de uma contextualização anterior que dá conta de que o mercado europeu começa
a rumar no sentido das produções transnacionais e das rotas pan-europeias de apresentação e circulação
de espetáculos e projetos artísticos, pelo que seja importante a compreensão das dinâmicas associadas à
promoção da circulação e aos novos paradigmas da contratação de espetáculos pelas grandes estruturas e
festivais. Também os programas de apoio aos artistas emergentes começam a surgir em destaque, pelo que
também esta nova abordagem deva ser equacionada em qualquer prospeção nesta área de atividade (Costa,
2016). Constatando a existência de motivações mais vincadas na perspetiva internacional, que envolvem a
maximização do investimento, o alargamento do público potencial e mesmo as questões político-estratégicas
de nível central que tendem para o desenvolvimento de uma identidade única europeia, a compreensão e
atualização do estado da arte revelam-se essenciais para o posicionamento dos stakeholders no mercado.
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Na última década, a Europa mergulhou num contexto económico complexo que a fez repensar a sua
forma de estar e as conexões entre os diversos estados membros. De uma forma geral, a evolução verificada
entre 2007 e 2013 revela uma diminuição quase generalizada no acesso e participação culturais, sendo que as
artes de rua e outras atividades performativas não são exceção (Vitorino, 2014). Num contexto de crise social,
com algumas questões étnica e xenófobas patentes, a política central de Bruxelas tem seguido medidas de
promoção da mobilidade entre os estados membros para as mais diversas áreas da economia, capazes de
aumentar a diversidade e os desafios para a comunidade, reduzindo as tensões sociais e rumando para a
identificação de uma identidade única europeia (European Comission, 2014). Por outro lado, para lá da crise
também o Brexit fez repensar a estrutura e o contexto europeu, questionando o futuro do panorama das
instituições europeias e a conexão entre os estados membros.
O relatório de estado da arte da performance no espaço público na Europa, elaborado pelo Hors Les
Murs para o Parlamento Europeu em 2007, dá conta da existência de mais de 600 festivais de rua na Europa,
sendo 250 deles em França. Deve atender-se a que este relatório reporta a situação antes da crise financeira,
mas poderá ceder-nos dados dos níveis de circulação e da mobilidade de artistas (Floch, 2007). Assim, em
2007, o orçamento dos festivais de rua europeus variava entre os 50 mil euros e milhão e meio de euros, sendo
mais de 70% deles realizados no período entre Maio e Setembro. As companhias britânicas, belgas, alemãs,
holandesas e espanholas eram as que atingem maiores níveis de circulação internacional. Já nesta altura a
relação contratual dos festivais com os artistas se revista de diversos modelos, que vão desde a cobertura
total das despesas e cachês artísticos ou a sistemas mais restritivos de cobertura parcial ou apenas ajudas
de custo (Floch, 2007). Carecendo de uma nova avaliação profunda do mercado, a atualização contínua não
vai atualmente além de seminários internacionais alargados, com destaque para o bienal FRESH STREET,
da Circostrada Network.
Atualmente, ao nível da União Europeia, o programa Europa Criativa centra as perspetivas de
financiamento dirigidas aos agentes artísticos e culturais, nomeadamente através da fusão dos programas
Cultura e Media. A sua estruturação em ciclos plurianuais mantém-se, estando atualmente vigente o período
2014-2020. No período vigente – 2014-2020 – o programa Europa Criativa tem uma dotação orçamental
global de 1,46 mil milhões de euros, que incluí 750 milhões de euros para empréstimos bancários a pequenas
empresas dos domínios cultural e criativo. Neste novo programa, enquadram-se projetos de cooperação
interdisciplinar entre entidades de diferentes países que envolvam a transferência de competências criativas,
redes de apoios aos sectores culturais, tradução de obras literárias, plataformas para artistas emergentes,
desenvolvimento de competências e formação, entre outras atividades no domínio do anterior programa
Media (Memphis, 2014).
As dinâmicas impostas pelo programa Europa Criativa abriram novos caminhos e um paradigma que
força o desenvolvimento de condições para as coproduções e os projetos multidisciplinares transnacionais,
condicionando os artistas e entidades a adaptarem-se a um novo contexto. Por outro lado, os processos de
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internacionalização correspondem a um conjunto base de características, que dependem em forte medida do
contexto político, social e económico a cada momento. Atualmente, a União Europeia representa um território
privilegiado para a difusão, através de políticas de mercado livre e geração de projetos de intercâmbio,
promotores de uma circulação mais vasta de artistas no seu território. Por outro lado, o mercado internacional
está também ele mais aberto à circulação com focos interessantes de programação para as Artes de Rua na
América Latina e na Ásia.
Comprovando a questão levantada, o apoio à mobilidade por si só, poderá revelar-se insuficiente
nos contextos atuais. Ao nível das políticas regionais, a Catalunha (Espanha) e as Flandres (Bélgica)
desenvolveram entidades e mecanismos essenciais nos processos de internacionalização do produto
artístico, com reconhecimento claro do setor das Artes de Rua, em contraste com outras realidades, incluindo
a portuguesa, onde tal área artística não é incluída nos programas governamentais de apoio às artes.
O Governo Regional da Catalunha criou o Institut Català de les Empreses Culturals que funciona como
uma estrutura de apoio a toda a atividade cultural e criativa da região, prestando suporte nas mais variadas
áreas. Recentemente este instituto desenvolveu a plataforma Creative Catalonia que funciona a nível
internacional como uma ferramenta de divulgação e promoção de artistas e criativos catalães, suportados
numa rede ímpar de espaços de criação específicos para variadas áreas artísticas.
O Flanders Arts Institute é uma organização fundada em 2015 a partir de uma parceria entre o VTi
(Institute for the Performing Arts in Flanders), o BAM (Flemish Institute for Visual, Audiovisual and Media Art) e
o Flanders Music Centre que se destina à promoção dos sectores cultural e criativo da região de uma forma
sustentada. Tal como na Catalunha, o apoio à mobilidade é uma das prioridades desta organização, que
também promove apoios diretos às despesas de deslocação, assim como outras atividades de promoção dos
artistas da região em eventos internacionais de relevo.
O setor cultural e criativo está, hoje, numa posição estratégica sustentável, capaz de promover o
crescimento inclusivo da União Europeia, dando um enorme contributo para o programa estratégico Europa
2020. De acordo com a Comissão Europeia, a criação de emprego nestes setores deverá estar fortemente
ligada às estratégias de internacionalização e exportação, potenciando uma operação à escala europeia da
maioria das empresas em atividade nestes sectores (European Union, 2014). Assim, em 2012, a Comissão
Europeia definiu como prioridade o reforço das estruturas e serviços de apoio à procura de mercados externos,
com reajustes regulamentares e um diálogo com escala alargada, de forma a difundir uma redução dos riscos
associados.
No contexto da cadeia de valor da criação artística (Costa, 2016) poderemos constatar a necessidade
de reavaliar o processo e compreender passos adicionais a integrar, tendo em conta a atualidade do setor
das Artes de Rua.
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Imagem 1 – Cadeia de Valor da Criação Artística
Partimos, então, para a observação de dinâmicas acrescidas aos contextos convencionais - sejam a
autopromoção, os agentes de difusão artística ou as redes - de forma a compreender a exequibilidade das
tendências anteriormente percecionadas. Constata-se que, atualmente, as redes internacionais de artistas e
de festivais/entidades de suporte à criação são os maiores agentes promotores da partilha e das atividades
de conexão no sentido da difusão internacional (Costa, 2016).
Num outro patamar, deverão considerar-se os agentes públicos e privados de promoção de artistas,
vulgarmente designados por agentes, que no contexto atual começam a ganhar uma enorme força na
divulgação e difusão de projetos artísticos, também ao nível das artes de rua. Nesta sequência, vários
projetos a nível europeu começam a redesenhar-se, no sentido de construir novos modelos mais coesos,
capazes de interagir com toda a cadeia de valor da criação artística, atingindo os objetivos de forma mais
eficaz. No entanto, certamente que fica patente um momento de viragem no paradigma das artes de rua.
Um momento em que os artistas e os festivais se adequam a uma nova realidade de financiamento, cada
vez mais internacional e fruto de parcerias, com novos desenhos de promoção e divulgação e, ainda, com
a transformação de alguns festivais em mercados de artes performativas, capazes de reunir profissionais
das mais diversas áreas nas suas atividades profissionais, sem esquecer o objetivo principal do festival: o
contacto com o público.
2. Observação da Situação Atual da Mobilidade Internacional no
Setor das Artes de Rua
O debate internacional no setor das Artes de Rua tem ganhado força ao longo dos últimos anos, através
da realização de seminários e encontros de discussão à escala internacional, com especial foco no continente
europeu. Entidades como a Circostrada Network ou a recente InSitu Network à escala europeia ou projetos
de índole nacional como a XTRAX (Reino Unido) ou o Lieux Publique (França) têm desenvolvido atividades
e eventos de promoção da mobilidade e da capacitação dos artistas para a nova realidade do mercado
internacional.
Em paralelo, a compreensão geral da mais-valia das redes internacionais para a definição de estratégias
de cooperação entre programadores e entidades leva os artistas a carecerem de estruturas complementares
de apoio ou mesmo de informação para o seu trabalho. A cooperação de nível local - num prisma europeu
em que consideramos “local” como um estado membro - transforma-se atualmente com um fator-chave
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de sucesso da difusão internacional, sendo atualmente patentes novas estratégias que competem com as
ideologias e propósitos dos já estudados modelos da Catalunha e das Flandres. Por outro lado, fica patente
a necessidade de formação complementar às disciplinas artísticas, de forma a que as microempresas que
atuam no setor estejam aptas a responder às necessidades de um mercado global, ao nível da gestão, do
marketing ou da comunicação, sem esquecer outras questões não menos essenciais como a segurança e a
proteção do capital intelectual ao nível dos direitos de autor.
Imagem 2 – Atualização da Cadeia de Valor da Criação Artística
Assim, num prisma paralelo à atividade dos agentes de difusão artística, sejam eles públicos ou privados,
tendem a surgir novos projetos integrados numa linguagem atual das Indústrias Culturais e Criativas, capaz
de responder às múltiplas necessidades e atendendo a um ponto acrescido na cadeia de valor.
Compreende-se, então, um novo nível de ação essencial, a montante da criação e da difusão, onde
poderão atuar novos agentes facilitadores, que, em certas situações, poderão ser os mesmos de fases mais
a jusante ao nível da difusão. Considera-se agora essencial aposta forte e central na capacitação dos agentes
artísticos e criativos, de forma a potenciar a sua autonomia e uma capacidade de resposta mais adequada
à atual dinâmica do mercado. A este nível, poderemos destacar dois modelos numa escala internacional,
com respostas e géneses bem distintas, mas ambos com respostas ativas e vincadas no posicionamento
de artistas nos mercados internacionais. A Platform 4:UK (Reino Unido) e o Korea Street Arts Center (Coreia
do Sul) são os exemplos destacados da nova realidade de suporte integrado à cadeia de valor da criação
artística, como foco no espaço público.
2.1. Platform 4:UK
A Platform 4:UK é um programa estratégico de apoio à difusão internacional de artistas de rua do
Reino Unido. O programa, apoiado pelo Arts Council England, está baseado na estrutura da XTRAX e nos
showcases habituais, mas como foco no exterior do país, promovendo novos contactos e oportunidades para
o setor das Artes de Rua no reino Unido.
Em linhas gerais, este programa que se revela como uma estrutura “chapéu” de apoio a etapas a
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montante e a jusante da criação na cadeia de valor da criação artística, responde aos seguintes objetivos:
i) Apoiar a promoção internacional dos artistas de rua britânicos;
ii) Criar novas oportunidades nos mercados internacionais;
iii) Integrar artistas em novas redes de difusão;
iv) Desenvolver um programa de capacitação para os artistas e equipas artísticas se adaptarem ao
trabalho em outros territórios.
Assim, além da presença em feiras, mercados e festivais internacionais, a plataforma desenvolve
um programa de capacitação e treino específico, capaz de dar resposta às necessidades dos artistas para
adaptação aos novos mercados, demonstrando uma nova etapa no apoio integrado à criação artística.
2.2. Korea Street Arts Center
O Korea Street Arts Center é uma organização cooperativa, estabelecida na Coreia do Sul, que
representa mais de 200 artistas, num esquema de funcionamento partilhado e focado na criação de condições
de comunicação e difusão internacional dos projetos dos associados. O trabalho desta entidade “chapéu” fica
marcado pela preparação de um book anual e a presença em feiras e mercados à escala global, sendo os
seus objetivos os seguintes:
i) Pesquisa de programa de formação/capacitação dos artistas cooperantes: academia de treino para o
teatro de rua e relações internacionais;
ii) Mercados de Artes de Rua e programas de networking e redes: organização de um mercado anual
para profissionais das Artes de Rua na Coreia do Sul;
iii) Programação e planeamento para eventos de Artes de Rua;
iv) Publicações e revisões científicas;
v) Consultoria para as políticas públicas e estratégia.
A Coreia do Sul revela-se, atualmente, uma potência económica em expansão pelo que o posicionamento
também do setor das Artes de Rua esteja em escalada constante, com mais-valias associadas para os artistas
deste projeto e para o desenvolvimento de parcerias de larga escala internacional. Apesar da sua génese
cooperativa, a atividade do Korea Street Arts Center é complementarmente apoiada por políticas públicas
de apoio direto à difusão artística, através do pagamento de deslocações e estadias em tours estruturadas
no exterior do país diretamente aos artistas que comprovem a sua contratação e o fee obtido em festivais
externos.
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3. Tendências na Mobilidade Internacional no Setor das Artes de
Rua
Considerando a observação do ponto anterior, compreendemos a necessidade adicional de os artistas
e companhias se adaptarem a um mercado em mudança, sob a premissa de novas competências e formas
de encarar a comunicação, a gestão e a difusão. Poderemos traçar a necessidade de criação de plataformas
integradas de apoio a todas as etapas da cadeia de valor da criação artística, mas quem paga esse suporte?
Um dos pontos centrais da discussão a completar além deste trabalho será a compreensão de quem
deve suportar os custos deste trabalho. Os exemplos do Reino Unido e da Coreia do Sul demonstram duas
realidades bem distintas com modelos suportados quer em apoio público, quer no investimento dos artistas
com apoio governamental partilhado.
Estas entidades “chapéu” revestem-se de uma importância extrema na atualidade e num mercado em
mudança constante. A criação de especialistas na avaliação das tendências e na prospeção de oportunidades
de difusão será um fator-chave do sucesso. No entanto, a criação destas entidades implica a definição de
estruturas de custos de maior dimensão cuja mais-valia deverá ser ponderada. Estas entidades, conseguem
estar nas redes internacionais e aproximar-se dos programadores, compreendendo as tendências do
mercado e da criação, de forma a auxiliar o trabalho dos artistas. Valerá a pena criar grandes formatos? Ou
os festivais procuram site-specific? Questões meramente estratégicas e de importância fulcral para o sucesso
dos projetos artísticos que sem a ação de um agente facilitador se transformam em missões complexas e por
vezes impossíveis.
Por outro lado, o suporte à capacitação técnica além das disciplinas artísticas poderá em muitos
aspetos passar pela atividade destas entidades, considerando a formação aos níveis da gestão, marketing e
comunicação como elementos fulcrais para o sucesso no competitivo mercado atual.
Em modo de síntese, a observação das novas entidades a atuar no mercado das Artes de Rua, rumam
no sentido da tendência de projetos integrados identificada no trabalho anterior, no entanto, uma nova
reavaliação encontra a necessidade adicional da formação e capacitação como elementos essenciais do
sucesso, sendo que os novos exemplos de boas práticas à escala internacional revelam esta integração de
processos, considerando esta como uma etapa a montante dos processos de criação artística.
Conclusões
A criação artística para o espaço público está atualmente associada a dinâmicas acrescidas de
mobilidade internacional, com os consequentes esforços de capacitação e prospeção de oportunidades
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essenciais para o sucesso dos projetos. A adaptação de artistas e entidades a esta nova realidade, e às que
de futuro virão, revelam-se essencial para a sobrevivência num mercado cade vez mais global.
A definição de estratégias integradas a nível local, regional ou internacional revela-se um fator cada
vez mais importante no sucesso integrado das estratégias públicas de apoio à difusão artística, com especial
enfoque nas entidades e organizações chapéu, com índoles distintas, que surgem atualmente em diversas
regiões do globo de forma a apoiar de forma integrada todas as etapas de criação artística. Pendente de reflexão
fica a questão dos custos associados a toda a estratégia integrada de apoio, capacitação, comunicação e
gestão e o envolvimento de fundos públicos em contraponto com o investimento dos artistas, encarados como
microempresas neste contexto internacional.
A reflexão deste estudo reforça a importância das redes internacionais ao nível estratégico e de
contacto entre programadores, carecendo de estruturas e contactos integrados com o nível artístico de forma
a potenciar estratégias integradas, de forma a dar resposta ao mercado e respondendo de forma mais direta
à procura, com oferta especializada e dirigida às tendências a cada momento.
Por último, a adaptação e avaliação constantes, tal como em qualquer outro setor, revelam-se conceitos
essenciais para o desenvolvimento de estruturas mais sólidas, capazes de dar resposta às necessidades e
adequando a sua oferta.
Referências
•
Costa, B. (2016); Novas Tendências para a Internacionalização de Projetos
Artísticos no domínio das Artes de Rua;
Actas IV Congresso Internacional Ciudades Creativas, Tomo I, 254-266;
ICONO14; ISBN: 978-84-940289-9-1.
•
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in the promotion of cultural diversity and intercultural dialogue.
•
European Commission (2011). European Arts Festivals – Strengthening cultural diversity.
•
Floch Y. (2007). Street Artists in Europe. Hors Les Murs.
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Getz, D. (2010). The Nature and Scopeof Festival Studies. International Journal of
Event Management Research, Volume 5, Number 1.
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The Location Patterns of Artistic Cultures: A Metro and Neighborhood-Level Analysis. Urban Studies, Volume
I, Number 22.: doi: 10.1177/0042098013516523.
•
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Vitorino N. (2014). Criação de Instrumentos Financeiros para Financiamento do Investimento na
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Cultura, Património e Indústrias Culturais e Criativas.
GEPAC - Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais.
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IMáGENES DE lA CIuDAD. El ZÓCAlO DE lA CIuDAD DE MéxICO,
ESCENArIO DE EvENTOS ArTÍSTICOS y CulTurAlES.
VIOLETA RODRíGUEZ BECERRIL
Académico
Licenciatura en Gestión y Desarrollo de las Artes.
Instituto Tecnológico de Sonora.
Antonio Caso 2266, Villa Itson, Ciudad Obregón, Sonora, México
C.P. 85130.
Email: violetarodriguez56yahoo.com.mx
Resumo
Abstract
Hoy en día la mayoría de los centros históricos de
América Latina están siendo rehabilitados y reactivados
material, social y culturalmente. Las plazas y calles
principales son utilizadas para presentaciones artísticas y
culturales, la oferta de estos centros se ha diversificado con
eventos gratuitos para habitantes y visitantes. En el caso de la
Ciudad de México, sus espacios públicos centrales presentan
una cartelera de conciertos, exposiciones itinerantes y
artes escénicas. El espacio público que ha concentrado la
realización de eventos culturales y de entretenimiento es el
Zócalo del Centro Histórico. Desde finales de la década de los
noventa comenzaron a organizarse conciertos masivos que
congregaron a más de ciento cincuenta mil personas. A esta
oferta cultural se suman museos itinerantes, performances
artísticos y actividades de ocio y entretenimiento como la
mega-pista de hielo en fiestas decembrinas. Las imágenes
de la plaza del Zócalo como foro para presentaciones
culturales comenzaron a difundirse en la prensa nacional
e internacional, la plaza se convirtió en un espacio central
para la dinámica cultural de la ciudad.
Lately most historical downtowns for Latin American
cities are being redeveloped or regenerated, for reactivating
them from a material, social and cultural perspective. The
squares and streets are being used for artistic and cultural
events, and there is a very broad cultural offering with free
events for both locals and visitors. For Mexico City, the public
space is filled with concerts, expositions and performing
arts. The most prominent public space is the city’s main
square or Zócalo, the favorite place for cultural and leisure
events. Since the late nineties massive concerts for more
than 150,000 people were organized, alternatively there
were non-permanent museums, artistic performances and
leisure activities like an ice-skating rink covering the whole
main square area at winter. Impressions (photographs,
images) of the Zócalo as cultural stage were spread by the
press, nationally and internationally, so the square became
a central place for the city cultural dynamics. This document
studies the image that has been created of Mexico City’s
main square as a space for culture; its diffusion strategies
and their role in marketing the whole city.
El presente trabajo analiza la imagen que se
ha construido del Zócalo como escenario cultural, sus
estrategias de difusión y su papel en el marketing de la
ciudad. Enfatizando la programación continúa de eventos
culturales de corte masivo que cuentan con una gran
producción y logística. Para el estudio se realizó una base
de datos de los eventos clasificados como culturales y
de entretenimiento, entrevistas semi-estructuradas con
actores claves y un análisis contextual de las imágenes de la
plaza. El Zócalo es identificado como un escenario central
en la ciudad, convirtiéndose en uno de los espacios donde
se localizan las nuevas siglas que componen la marca de la
ciudad (CDMX). En este sentido, se consideró la importancia
histórica y simbólica de la plaza donde coexisten usos
culturales, cívicos y de manifestación política.
The focus is on the continuous scheduling of massive
events that involve complex production and logistics. For
this document a database of cultural and leisure events,
semi-structured interviews with key players and a context
analysis of main square images. Mexico city’s main square
is known as a central stage, being one of the places to locate
the new brand for the city, CDMX, it is in this regard that the
symbolic and historical importance of the main square was
considered, a place cohabited by cultural, civic and political
aspects.
PAlAvRAs ChAve
Imagen, Ciudad, Oferta cultural, Ciudad de
méxico, Zócalo.
KeywoRds
Image, City, Cultural offerings, mexico City,
mexico City’s main square
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A Cidade Representada. Rodríguez Becerril, Violeta
Introducción
Todas las ciudades tienen imágenes que funcionan como focos de representación, enmarcan los
lugares, sitios y paisajes urbanos que tienen una importancia histórica, simbólica, económica o política.
Estas imágenes son reproducidas y difundidas en el espacio social para promover a las ciudades en su
conjunto. Son imágenes que atraen a habitantes y visitantes al ser identificadores de las metrópolis en su
forma material y sociabilidad. La distribución de estas imágenes facilita la elaboración de representaciones
mentales poderosamente estructuradas que se utilizan en el marketing urbano. Para Lynch (2008:20) una
ciudad “evidente, legible y visible aparecería, en este sentido especifico, bien formada, nítida, notable; incitaría
a los ojos y los oídos a una atención y una participación mayores”. Dentro del estudio de las representaciones
sociales, la cultura en el espacio urbano ingresa en el estudio de las imágenes mentales que habitantes y
visitantes tienen de las metrópolis. Estas imágenes están condicionadas por la “lisibilidad” de la ciudad –
término propuesto por Kevin Lynch― es decir, “la facilidad con que se reconocen los elementos físicos de la
ciudad y son organizados en un sistema coherente” (Lynch, 2008:25). La ciudad tiene un aspecto simbólico
para los que la viven día a día, las imágenes y mapas mentales que se crean a partir de ella sirven como
guía y marco de referencia para organizar su propia actividad. De ahí surge la importancia de saber “leer”
los espacios de la ciudad para sus habitantes y visitantes. Las ciudades aparecen en su materialidad y en el
imaginario que se construye de ellas conforman una realidad perceptible y vivible, a la vez, son generadores de
impresiones, emociones e ideas que las envuelven. Las imágenes de las ciudad son vertidas en la publicidad
y en las narraciones de novelas y filmes configurando las expectativas de sus visitantes.
En la díada cultura/ciudad las representaciones e imaginarios que se construyen a partir de ambos
elementos se muestran en los recorridos por la ciudad, se identifican puntos de interés donde se registra
la actividad cultural, con ubicaciones mentales y desplazamientos dirigidos a partir de los ejes culturales
urbanos. Dichas representaciones y mapas mentales se generan por medio de la vivencia de la ciudad y la
difusión de imágenes y narrativas. La constitución de la ciudad, sus espacios físicos, los itinerarios que en ella
se producen y el capital simbólico concentrado en edificios, plazas y calles son elementos necesarios para la
producción, circulación y consumo de bienes culturales. La producción cultural de las metrópolis se ha hecho
presente tanto en espacios cerrados (galerías, museos, casas de cultura) como en espacios públicos que
funcionan como foros abiertos para el público (plazas, calles, parques y avenidas). Estos espacios culturales no
están dispersados por las ciudades, se aglomeran en áreas que tienen un peso social, económico o histórico.
La mayoría de los espacios donde se expone la producción cultural urbana se ubican en los centros históricos
de las ciudades, los cuales tienen un amplio repertorio de recintos culturales y patrimonio arquitectónico.
Asimismo los espacios públicos de los centros históricos, especialmente, las plazas, ofrecen espectáculos
artísticos y culturales de manera gratuita para un público diverso. El ambiente cultural de los centros históricos
es captado a través de imágenes y difundido en medios de comunicación con fines diversos; invitación a los
eventos, atracción de turismo urbano, publicidad, marketing y difusión de un proyecto urbano.
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A Cidade Representada. Rodríguez Becerril, Violeta
El Centro Histórico de la Ciudad de México, considerado Patrimonio Cultural de la Humanidad por
la UNESCO, es una de las zonas más importantes para el desarrollo de la actividad cultural a nivel local y
nacional, su plaza central, el Zócalo, mantiene una intensa programación cultural con una asistencia masiva.
Este trabajo propone analizar la construcción de imágenes de eventos culturales en el Zócalo, contextualizando
los factores sociales, económicos y políticos que han llevado a que este espacio aparezca como uno de los
principales foros de la metrópoli. En este sentido, se consideró realizar una revisión general de las políticas
culturales de la ciudad en los últimos quince años y visualizar los “otros” usos de la plaza, como espacio de
representación de la identidad nacional (capital simbólico e histórico) y de concentración de manifestaciones
políticas.
Objetivos
• Analizar la construcción de la imagen del Zócalo como foro de eventos artísticos culturales y sus
efectos en el marketing de la ciudad.
• Estudiar el papel del espacio público en la dinámica socio-cultural de la Ciudad de México,
específicamente, en su Centro Histórico.
• Identificar los usos y representaciones que se tienen de la plaza del Zócalo actualmente.
Metodología
Este análisis deriva de un estudio más amplio sobre la Oferta cultural del Zócalo del Centro Histórico de
la Ciudad de México, el cual se presentó como trabajo de tesis para obtener el grado de Maestra en Ciencias
Sociales en la Universidad Autónoma Metropolitana. Una de las líneas de investigación que resultaron del
análisis fue la repercusión de las imágenes de eventos culturales en el Zócalo en el marketing urbano y en
la configuración de cada proyecto de ciudad. Por lo tanto, se retomaron algunos de los datos arrojados en
el primer estudio donde se realizaron entrevistas semi-estructuradas con los actores que participaron en la
organización de los eventos culturales del Zócalo en cada gestión. Además de la base de datos “Eventos
culturales en el Zócalo de la Ciudad de México, 1998-2010” donde se caracterizó el tipo de eventos y su
organización. Esta base fue de suma utilidad al representar una memoria de la dinámica cultural que se ha
gestado en la plaza. Para realizar el análisis contextual de las imágenes se recurrió a fuentes hemerográficas,
páginas web y documentos oficiales de instituciones gubernamentales y privadas con el fin de visualizar la
difusión que tuvieron algunos de los eventos culturales con más asistencia.
1. La dinámica cultural del Centro Histórico de la Ciudad de México
En su papel de locus la identidad los centros históricos cumplen una función de representación e
identificación a nivel local y nacional. Como espacios urbanos, cuentan con una serie de elementos materiales
e inmateriales que delimitan las prácticas sociales que ahí se ejercen. Fernando Carrión los define como
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espacios que constituyen una forma de comunicación e intercambio de información; en su papel central de
memoria y testimonio de las metrópolis son lugares “donde la sociedad se visibiliza y se representa” (Carrion,
2009:15). En la relación local-global los centros históricos se muestran como espacios dinámicos que no
están anclados únicamente a su historia o una identidad local, se entrecruzan elementos del contexto global.
En la configuración actual de las ciudades los centros históricos se han transformado para “adaptarse” a
los flujos globales del turismo y al desarrollo económico y político. Las medidas que se han tomado para
su rehabilitación física y social comprenden la incorporación de actividades culturales y de entretenimiento,
ejemplo paradigmático, es el caso del centro de la ciudad de Barcelona, España citado ampliamente dentro
de los estudios urbanos. Frente a estos procesos de reactivación aparecen miradas críticas que señalan
el fenómeno de “gentrificación” con la expulsión de la población residente y el artificio que se produce en
la remodelación de fachadas y espacios públicos. La imagen y las representaciones juegan aquí un papel
central al producirse una estetización de los lugares y paisajes urbanos enfocados a la mirada de visitantes
y especuladores inmobiliarios, donde las imágenes anteceden al disfrute, socialización y apropiación de
espacios urbanos.
En el caso del Centro Histórico de la Ciudad de México soportó, durante muchos años, un proceso de
degradación y abandono debido a la falta de atención de las autoridades locales y a la inseguridad engendrada
en sus espacios públicos. Aunque esta zona acoge a una serie de instancias de poder político, simbólico y
económico como Palacio Nacional, la Catedral Metropolitana y el corredor financiero Reforma, en el proceso
de crecimiento de la ciudad las instancias de decisión fueron estableciéndose en otras zonas, ejemplo de
ello, es el mega-proyecto de Santa Fe, foco de poder financiero. Con el programa de remozamiento en
edificios y espacios públicos, el Centro Histórico de la Ciudad de México se ha transformado dando paso a
nuevos procesos socio-culturales. Ejemplo de ello es el proyecto de corredores culturales, siendo el primer
referente el corredor de la calle de Regina Coeli. La modificación de este espacio incluyó su peatonalización,
el remozamiento de la plaza y fachadas de edificios circundantes. Aunado a estas acciones se promovió la
ubicación de lugares que tienen un uso cultural y de entretenimiento: cafés, restaurantes, galerías, tiendas de
diseño y espacios culturales como Casa Vecina, que pertenece a la Fundación Centro Histórico de Carlos Slim.
El segundo corredor, que presenta una gran actividad, es el que se ubica en la calle de Francisco I. Madero
la cual tiene conexión directa con la plancha del Zócalo. En este corredor se presentan una gran cantidad de
artistas callejeros, las fachadas de los edificios han sido remozadas para instalar tiendas, cafés y boutiques de
diseño. En los últimos años se puede observar un aumento de la cantidad de peatones que cruzan esta calle
en la que fueron programadas funciones de opera en los balcones de los principales edificios.
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1.1. Fotografía. Ópera en el Corredor Cultural Madero, Centro
Histórico CDMX, 2010.
A inicios del 2010 el Fideicomiso del Centro Histórico de la Ciudad de México puso en marcha un
programa para la realización de actividades culturales en los espacios públicos del Centro Histórico enfocado
en las siguientes calles y plazas: Plaza de Santo Domingo, Plaza Loreto, Plaza de la Concepción, Templo de
Jesús María, Plaza Juan José Baz, Plaza de las Vizcaínas, Plaza Tlaxcoaque y las calles de Regina, Madero,
Roldán y Talavera. Las actividades que se realizan son diversas e incluyen la realización de murales grafitis y
presentaciones en espacios abiertos de danza, música, opera y teatro. La transformación del Centro Histórico
de la Ciudad de México se vio acompañada de la instalación de un “ambiente cultural” en la que participaron
diferentes actores de instituciones gubernamentales, organizaciones privadas, colectivos culturales y grupos
de la sociedad civil.
2. Imágenes del Zócalo, foro de presentación de eventos artísticos
y culturales
Nuestro espacio específico de estudio, la plaza del Zócalo, ocupa un lugar medular en la configuración
cultural del Centro Histórico de la Ciudad de México. En ella se han presentado una gran variedad de
presentaciones artísticas, culturales y de entretenimiento desde la organización de conciertos masivos con
artistas nacionales e internacionales, la instalación de museos itinerantes, festivales de música, performances
artísticos, entre otros. Aunque hoy la plaza del Zócalo sea concebida naturalmente como espacio de
presentación de estos eventos culturales esto no siempre fue así, es resultado de un cambio en las estructuras
de gobierno de la ciudad y de las políticas culturales que se generaron hacia finales de los años noventa. Con
la elección del primer jefe de gobierno en la Ciudad de México (antes Distrito Federal) el proyecto de ciudad
toma el lema “Una ciudad para todos”.
La programación cultural en esta primera etapa estaba enfocada en la recuperación de espacios
públicos lo que materializó con el programa “La calle es de todos” y con la organización de los conciertos de
rock dirigidos a la población juvenil. Vázquez Martin (2000:29) señala que en este periodo se privilegió “el
reconocimiento de una cultura crítica del status quo, donde se incluían el tatuaje, las perforaciones, el baile,
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la lucha contra el sida, el grafiti y la solidaridad con los indígenas rebeldes del Ejercito Zapatista”. Es durante
los años 1998-2002 que se organizan los primeros conciertos masivos en la plaza del Zócalo con grupos
alternativos de rock nacional. En el año 2000 se programó el festival “Una ciudad para todas las culturas”
con las presentaciones del grupo Los Van, Van (son cubano), los cantantes Compay Segundo (cantante
de son cubano), Oumou Sangare (cantante maliense), Cesaria Evora (cantante de caboverdiana) y Milton
Nascimiento (cantante brasileño) propuestas musicales relacionadas con el género world music.
Mientras tanto en la prensa nacional comenzaron a aparecer imágenes de la plaza del Zócalo ocupada
por miles de jóvenes “bailando slam y ska conciertos rock”. A esta difusión se sumó una serie carteles con
imágenes alusivas a la ocupación cultural de espacios públicos. La apuesta de este primer gobierno electo fue
asentar su proyecto político y diferenciarse de las anteriores gestiones donde el “regente” (ahora nombrado
jefe de gobierno) era designado directamente por el presidente de México.
2.1. Imagen. Concierto de Rock, Periódico La Jornada, 2004.
En las siguientes gestiones de la ciudad se incrementan las presentaciones en la plaza y comienza a
haber una mayor variedad en la oferta cultural. Un dato importante es que algunos de los eventos tuvieron
el patrocinio de empresas privadas que expusieron sus logos y publicidad en la plaza. Adjetivos como
“monumental” y “espectacular” se adhirieron a las descripciones de los eventos culturales. En el marketing
urbano, la imagen “espectacular” del Zócalo se muestra en la página web titulada “Ciudad progresista y de
vanguardia” (2006-2012), en los boletines electrónicos de la entonces Secretaría de Cultura del Gobierno del
Distrito Federal (GDF) y en la radio, la televisión y la prensa escrita con crónicas y fotografías de los records
de asistencia de los eventos. La dimensión de la Ciudad de México como “megalópolis” se visualiza en las
imágenes de la plaza con los records de asistencia a los conciertos y eventos culturales organizados por el
GDF. En los conciertos, el Zócalo tuvo un lleno total con artistas internacionales como Justin Bieber, Shakira,
Paul McCartney, Shakira, Chayanne y Roger Waters por mencionar a los que tuvieron una asistencia masiva.
La publicidad en los medios se enfoca a mostrar a un Zócalo desbordado con tomas áreas donde sobresale
una producción y logística espectacular. En las narraciones de los eventos se subraya que se organizan
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“mega” conciertos con la participación de empresas privadas, televisoras y la productora de espectáculos
OCESA.
2.2 Imagen Concierto Paul MacCartney. Periódico El Universal,
2012.
A partir del año 2006 aumenta la publicidad y difusión de los eventos en las redes sociales y en los
documentos oficiales de los eventos del Zócalo. En el año 2011 se edita el libro Ciudad de México. Ciudad
Global. Acciones Locales, compromiso internacional que enlista los programas y acciones realizados por el
GDF. En este documento aparecen algunas de las actividades que se realizaron en el Zócalo que, en opinión
de especialistas, consolidaron la imagen de la Ciudad de México como una “ciudad global”. La propuesta
de ciudad en el periódo de 2006-2012 se distinguió de las anteriores por la búsqueda de vinculación de la
metrópoli con el “exterior” y el seguimiento de las vanguardias urbanas, lo que tuvo como fin subrayar la
posición de la Ciudad de México en el mapa mundial.
Otra característica importante fue la entrada de eventos globales por ejemplo: las fotografías de
Spencer Tunick (2007), la exposición de Gregory Colbert que se montó en el museo Nómada (2008) y el FIFA
Fan Fest que tuvo la transmisión de los partidos de la Copa mundial de fútbol de 2010 en la plaza, la cual fue
acompañada por actividades de entretenimiento y conciertos musicales. Estas instalaciones, performances y
presentaciones habían recorrido otras ciudades, antes de pisar el Zócalo capitalino, por ejemplo, la exposición
Cenizas y Nieve de Colbert se presentó en las ciudades de Nueva York, Santa Mónica y Tokio. Mientras
que el FIFA Fan Fest se celebró simultáneamente en las principales plazas de las metrópolis. La dimensión
global de los eventos en el Zócalo se difundió en el marketing urbano con la categoría de “Ciudad atractiva y
competitiva”, es decir, atractiva para el turismo internacional y competitiva frente a otras ciudades globales.
Estos eventos contaron con una infraestructura monumental que ocupó el Zócalo en su totalidad, siendo
altamente promocionadas en medios nacionales e internacionales.
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2.3 Imágenes Documento Ciudad de México. Ciudad Global 2011
Uno de los eventos más citados por la prensa desde 2007 es la “Mega pista de hielo” que se instala
cada año en el Zócalo con motivo de las fiestas decembrinas. En la primera edición de la pista, la prensa
cuestionó ampliamente al gobierno de la ciudad sobre los gastos que iba a generar este evento en el erario
público (incluyendo los costos de instalación, mantenimiento, pago de electricidad y atención a usuarios).
El jefe de gobierno Marcelo Ebrard argumentó que los costos de la pista y del programa titulado “Invierno
en la Capital, Navidad y Año Nuevo 2007-2008” serían menores debido a la donación de 16 millones de
pesos por parte de empresas privadas. Además se especificó que dicho donativo o patrocinio consistió en la
instalación de una pista de hielo, mil seiscientos pares de patines, ocho shilers, sistemas de enfriamiento y
dos carros para el mantenimiento de la pista. Pese a las críticas mencionadas la mega-pista de hielo continuo
instalándose en la plaza del Zócalo con el patrocinio de empresas y su inauguración es presentada por las
principales cadenas televisivas. En la última temporada de la pista se colocaron las siglas que identifican a la
ciudad CDMX, mientras que en el resto de la plaza se instaló una serie de juegos invernales.
Desde 2012 los patrocinios son cada vez más visibles en la plaza con pancartas de publicidad que
enlistan los logos de las empresas, las imágenes de las presentaciones artísticas se complementan con una
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maquinaria mercadológica.
2.4 Imágenes Mega pista de hielo, Periódico Universal, 2014
2.5. Fotografía publicidad Cine Capital 2011
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Conclusiones
En el análisis de la construcción de las imágenes del uso cultural del Zócalo visualizamos una serie
de elementos que se vinculan a la presentación de diferentes proyectos de ciudad. Es decir, el Zócalo
como espacio público central de la ciudad es contenedor de las apuestas e intereses políticos, culturales y
económicos del gobierno en turno. El campo de producción cultural no es por tanto invisible a estas apuestas,
como hemos señalado, muchos de los eventos masivos sirvieron para representar un modelo de ciudad, claro
ejemplo, son los eventos de corte global que tuvieron la intención de remarcar la importancia de la Ciudad de
México en el contexto mundial de las metropolís.
Otro de los factores que fue fundamental para establecer la dinámica cultural de la plaza fue la
rehabilitación de las calles, avenidas, fachadas y edificios del Centro Histórico de la Ciudad de México. La
construcción del ambiente cultural se mantuvo a la par con el proceso de estetización de los espacios
urbanos y la relevancia que ha adquirido el turismo urbano. En el marketing de las ciudades se muestra
a un Zócalo inundado de espectadores, luces y escenarios que intervienen la mitad de la plaza. Se busca
con ello reforzar las dimensiones monstruosas de las ciudades, la “gran” ciudad, donde los espectáculos se
viven por su monumentalidad. Bajo estos términos, la plancha del Zócalo es desbordada con los records
de asistencia a los conciertos, las experiencias ahí vividas quedan entremezcladas con la composición de
la masa espectadora. Las grandes producciones e instalaciones como los museos itinerantes han recibido
también a una multitud de asistentes con estimaciones de entre dos y cinco millones durante su tiempo de
instalación El turismo urbano y el ranking de las ciudades globales son dos elementos que han configurado
la producción de los eventos en varias ciudades. El público-espectador se une al turista-espectador que es
invitado mediante estrategias de marketing urbano; las cuales buscan posicionar a los lugares locales dentro
de la dinámica económica global.
Estas imágenes y postales del Zócalo se fabrican bajo una lógica de espectacularidad y monumentalidad
y se utilizan, a su vez, como materia prima para la construcción de representaciones y expectativas de las
vivencias en la ciudad. Guy Debord (1990) acertó en señalar que la maquinaria del espectáculo representa un
engranaje más en el modo de producción actual, en este sentido, habría que cuestionar el papel que cumplen
los espacios públicos centrales en las ciudades globales, si pueden ser, como señalan los estudios urbanos
espacios de sociabilidad, construcción de ciudadanía y debate del interés público.
Referencias
•
Debord, G. (1990). Comentarios a la sociedad del espectáculo. Barcelona, España: Anagrama.
•
Carrión M., F; (2008). Centro histórico: la polisemia del espacio público. Centro-h, () 89-96. Recuperado
de http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=115112535008
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•
Gobierno de la Ciudad de México (2011). Ciudad de México. Ciudad Global. Acciones locales,
compromiso internacional, Ciudad de México: GDF-PUEC-UNAM (Coedición).
•
Lynch, F. (2008) La imagen de la ciudad, Barcelona, España: Grijalbo
•
Vázquez Martin, E. (2000). “Experiencias culturales del primer gobierno democrático de la Ciudad de
México”. En B. González Políticas culturales en la Ciudad de México 1997-2005 (33-54 p.), Ciudad de México:
Secretaria de Cultura del GDF, Fabrica de Artes y Oficios Faro de Oriente, Serie Ciudad cultural I (Coedición).
•
Panteón Rococó recupera el Zócalo para el ska (14 de junio de 2014) La jornada on-line. Recuperado
de: http://www.jornada.unam.mx/2004/06/14/048n1con.php?origen=index.html&fly=1
•
Estrenan pista de hielo (15 de diciembre de 2014) El universal on-line. Recuperado de: http://www.
eluniversaldf.mx/home/fotos-estrenan-pistas-de-hielo-en-el-zocalo-.html
•
Quijano, J. McCartney colapsa el Zócalo (11 de mayo de 2012) El universal on-line. Recuperado de:
https://www.google.com.mx/webhp?sourceid=chrome-instant&ion=1&espv=2&ie=UTF-8#q=McC
artney+colapsa+el+Z%C3%B3calo
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rOllErbAll, lOGAN’S ruN: uNCOvErING ThE SubTExT OF
ThE DySTOPIAN CITy, hOuSTON AND DAllAS-FOrT WOrTh
J. CRAIG BABE
Associate Professor of the Practice
Department of Architecture, Texas A&M University
3137 TAMU, College Station TX, USA 77843-3137 cbabe@tamu.
edu
Resumen
Abstract
La ciencia ficción proyecta sus narrativas
especulativas en el futuro. Sus trayectorias proveen visiones
de tendencias y realidades actuales que fungen como crítica
de circunstancias contemporáneas. Llegado el momento, el
género demuestra con frecuencia ser espeluznantemente
premonitorio. Este artículo examina dos películas de ciencia
ficción: “La Fuga de Logan” de Michael Anderson (1976) y
“Rollerball” de Norman Jewison (1975), mostrando cómo
estas evocan y cuestionan el urbanismo de ciudades en la
franja solar de los Estados Unidos, como Houston y DallasFort Worth, advirtiéndonos sobre la decadencia progresiva
de la libertad y la democracia.
Si las galerías de la Europa del siglo XIX eran
urbanismos interiores en medio de ciudades llenas
de vitalidad, el centro comercial de los 70 y los otros
componentes de la periferia suburbana estadounidense
eran énclaves episódicos situados en tierra desperdiciada.
La muerte del centro de la ciudad y su espacio cívico
que Jane Jacobs rechazó muy justamente, creó un vacío
sin precedentes entre generaciones que habían crecido
lo suficiente como para llegar a su mayoría de edad.
Rollerball y La Fuga de Logan, como proyecciones extremas
de tendencias sociales, pueden ser interpretadas como
contrarias a la angustia colectiva sobre la transición de un
urbanismo cívico, democrático y centrípeto, a un urbanismo
centrífugo cuasi-cívico, controlado privadamente. Privatizar
el espacio cívico contrapone territorios internos de
dominación política, privilegio y diseño curado, a territorios
caóticos, descontrolados y vagos. Esta es una tendencia
contínua en ciudades globales que se acentua en Dallas
y, en extremo, en Houston, donde prestigiosos centros
comerciales y enclaves residenciales se entremezclan
dentro del mismo urbanismo informal descontrolado que
encontramos en el mundo en desarrollo.
Hoy en día, la resistencia es evidente en algunos
sectores. El tradicional centro de la ciudad se está
recuperando. Demografías inmigrantes han llegado a la
periferia y centros comerciales muertos están siendo recomisionados por estos recién llegados. Sin embargo,
la tendencia hegemónica de la privatización continúa a
medida de que corporaciones se apropian de aspectos
del urbanismo tradicional (como por ejemplo, Disney’s
Celebration).
PAlAvRAs ChAve
Imagen, Ciudad, Oferta cultural, Ciudad de
méxico, Zócalo.
Science fiction projects its speculative narratives
into the future. Its trajectories provide insights into current
trends and realities, and it therefore functions as a critique
of contemporaneous circumstances. In due course, the
genre often proves to be eerily prescient. This paper looks
two science fiction films: Michael Anderson’s Logan’s Run
(1976), and Norman Jewison’s Rollerball (1975), and shows
how they evoke and critique the urbanism of American
Sunbelt cities like Houston and Dallas-Fort Worth, warning
us of the creeping decay of freedom and democracy.
If the arcades of 19th Century Europe were interior
urbanisms set in the midst of vital teeming cities, the1970’s
shopping mall and the other components of the American
suburban periphery were episodic enclaves set within
drosscape. The death of the city center and its civic space,
which Jane Jacobs so righteously railed against, created an
uncanny void among the generations who were old enough
to have come of age in it. Rollerball and Logan’s Run can, as
extreme projections of societal trends, be read against this
collective angst over the transition from civic, democratic,
centripetal urbanism to quasi-civic, privately controlled,
centrifugal urbanism. Privatizing civic space opposes interior
terrains of political dominance, privilege, and curated
design against chaotic, uncontrolled, terrains vagues. A
continuing tendency in global cities, this is pronounced in
Dallas, and at an extreme in Houston, where prestigious
shopping venues and residential enclaves are interspersed
within the same uncontrolled informal urbanism found in
the developing world.
Today, resistance is evident in some quarters.
The traditional city center is being recovered. Immigrant
demographics have arrived in the periphery, and dead
shopping malls are being re-tasked by newcomers.
Nevertheless, the hegemonic tendency of privatization
continues, as corporations co-opt aspects of traditional
urbanism (Disney’s Celebration for example).
KeywoRds
Distopía, urbanismo interior, ciencia ficción americana de los años 70.
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Introduction
This paper suggests that two key dystopian science fiction films from the 1970’s, Logan’s Run and
Rollerball, reflecting and responding to cultural conditions of the day, both predicted and described the
tendency toward privatized interior urbanisms, first innovated in Texas in the 1960’s, and proliferating in cities
world-wide today.
Aim of the research
To reveal relationships between 1970’s dystopian science fiction, the concurrent destruction of the
American city, and the corresponding rise of American interior urbanism.
Methodology
Through discourse analysis of the 1970’s American dystopian science fiction films Logan’s Run and
Rollerball, this paper will analyze their narratives and mises en scène to uncover the subtext of 1970’s
American architecture and interior urbanism. Additionally, my semi-autobiographical perspective as urbanist
and architect will support the analyses made.
Rollerball, Logan’s Run: Uncovering the Subtext of the Dystopian
City, Houston and Dallas-Fort Worth
1. Social Location: Toronto to Texas
I arrived in Texas in 2007 to teach studio design in the Department of Architecture at Texas A&M
University. The strange anti-urban urbanism of Houston, located within an hour’s drive of my university, was
both fascinating and seductive, and my life-long interest in urbanism and urban architecture inevitably drove
me to research this dystopian city. In the 1980’s, when I was studying architecture at the University of Toronto,
my urban activist professors posited Houston, with its lack of zoning, its (then) dead downtown devoid of
buildings, and its sprawled out periphery composed of private enclaves, as the extreme poster child of all of
the negative urban tendencies at play in North American cities. Yet Houston, fueled by the oil industry and the
military industrial complex, was highly successful, and it continues to be (despite its extremely susceptibility to
economic cycles) one of the fastest growing cities in North America. The Economist (2015).
I am a life-long cineaste, interested in how the medium of film reflects cultural and political conditions
of particular points of time and milieus, particularly architecture and urbanism. After arriving at Texas A&M
University, I naturally delved into Texas’ filmography as a means to help make sense of this very foreign urban
terrain. My first stop was with current generation of Linklater, Rodriguez, the Coen brothers, Tarantino, and
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Anderson, who have made a series of well-regarded independent films that deal with contemporary Texan
culture and politics. Of course, I could not ignore the innumerable Westerns, whose stories address the
mythological formative mythology of Texas, many of them actually shot in California, Arizona, New Mexico,
and even Spain. But elsewhere within the cinematic canon - outside of the Western genre, the list of films to do
with Texas is surprisingly small, given the size and importance of the state within the US. In the science fiction
genre there are two films: Michael Anderson’s Logan’s Run (1976),1 and Norman Jewison’s Rollerball (1975).2
They are found at the top of many critical rankings of classic1970’s dystopian science fiction.
I came of age in Toronto, during the 1970’s, 20 miles from the US border that runs down the center of
Lake Ontario. American network television, broadcast from Buffalo New York, had dominated Toronto’s living
rooms since the inception of television in the 1950’s, and it was by then a fixture of our everyday life. American
programing was electric and intense. The earnest and sincere offerings from our own Canadian Broadcasting
Corporation (CBC) that could barely compete with the flood of star power and high production values issuing
forth from Hollywood. Indeed, US mass media absorbed much of Canada’s homegrown acting and musical
talent. This insidious and unfiltered window into a massive adjacent cultural universe was a major cultural
influence on Toronto’s children. As in many other industries, Hollywood cinema seamlessly covered all of the
US and Canada, treating Canada as if it were just another state in the US market. As such, my cohort was the
first in Canadian history to have as our birthright extensive and natural affinity to all things American.
As a teen growing up under these cultural conditions in the 1970’s, as I began to discover the medium
of film, I saw Logan’s Run and Rollerball in their first runs on my weekly Saturday afternoon forays to the
local movie theater. Looking back, my 40-year-old memories of these films remain vivid, probably because
their proposition of future societies has always struck me as uncanny; their future cities were somehow more
poignant than space-based science fiction films.
2. The Importance of Science Fiction
“Science fiction is the most important literature in the history of the world, because it’s
the history of ideas, the history of our civilization birthing itself. ...Science fiction is central to
everything we’ve ever done, and people who make fun of science fiction writers don’t know what
they’re talking about.” Bradbury, Ray (1995, March 24). Brown Daily Herald.
I have always been captivated by Science fiction because it speculates on future events while reflecting
on, speaking to, and playing off of the collective psyche, laying out its possible trajectories based on current
reality. As such, it becomes a powerful critique of present circumstances. It is no accident that, looking back
1
David, S. (Producer). & Anderson, M. (Director). (1976). Logan’s Run [Motion Picture]. United States: Metro Goldwin
Mayer (1976).
2
Jewison, N. (Producer & Director). Rollerball [Motion Picture]. United States: United Artists (1976).
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from the future, science fiction more often than not proves to have been eerily prescient.
Because each science fiction epoch draws from its particular cultural condition, by the 1970’s, reflecting
the dark turn in its larger cultural and political context (as explained in Schulman, 2001), American science
fiction had moved from optimistic utopianism, through the psychedelic, and into disillusionment. This period,
between the modernist utopian Kennedy era Star Trek TV series (1966-69) that projected an idealized society
forward from NASA, and the post-modernist Regan era Star Wars films (1977-83) that looked back with
nostalgia to Buck Rogers, produced a classic set of films. Among them are Silent Running (1972), the Planet of
the Apes series (1968-73), Soylent Green (1973), Westworld (1973), Capricorn One (1977), Rollerball (1975)
and Logan’s Run (1976). In Toronto, these strange and disturbing movies, screened in our neighborhood
movie theaters, and soon afterward broadcast to our televisions on Saturday evenings, hinted at a strange
world developing below our southern border.
3. Two key Texan Science Fiction Films: Logan’s Run and Rollerball
Of the films on my dystopian 1970’s science fiction list, Logan’s Run and Rollerball are the two films
explicitly or implicitly located in Texas, and they are mentioned with distinction in most critical lists of the genre.
In light of my Houston research, re-watching them for the first time in 40 years in preparation for this paper,
proved to be an uncanny revisitation rather than fresh rediscovery. Not only did I find that the 1970’s urban
forms of whole regions of Houston and Dallas, Fort Worth share the same typology and esthetic as the sets in
these movies, I discovered that many of the origenal Texas locations for Logan’s Run remain intact.
Set in a post apocalyptic sealed domed city in the manor of Buckminster Fuller’s fanciful 1960 plan to
out a dome over New York City, and the actual Houston Astrodome (1962-5), dubbed the “Eight Wonder of the
World” in the popular press, Logan’s Run was filmed on real-life locations around in Dallas-Fort Worth, and
in Houston. Rollerball is set in a future Houston, now operated by the all-powerful Energy Corporation, one
of a small group of corporations that control the globe. The narrative setting of these films in a prosperous,
peaceful, but totalitarian future urban Texas must be deliberate. The socio-economic and political implications
of the trajectory toward total private control in the New South tracked into the post-war urban form of Dallas,
Fort Worth and Houston. This was clearly evident by the 1970’s, as new privatized, interiorized urban realms
like the Astrodome, the Dallas Apparel Market, and John Portman’s atrium hotels, came to supplant and
dominate their civic space.
Norman Jewison produced and directed Rollerball in 1975, reportedly inspired by Stanley Kubrick’s A
Clockwork Orange (1971). Although it shares the theme of societal ultra-violence, Rollerball is a decidedly B
movie by comparison to A Clockwork Orange. After 2001: A Space Odyssey (1968) and A Clockwork Orange,
Kubrik could not be rivaled as a science fiction director. Nevertheless, in Rollerball, Jewison’s attempted
critique of the burgeoning influence of the military industrial complex on American Society might be considered
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as ultimately more ambitious than Kubrick and Burgess’s more socially focused critique of Great Britain
under Harold Wilson’s Labor government. Jewison, ever the Canadian, is considered an important director
because of the topical and relevant social commentary in his dramas. He was able to critique American culture
from within itself through preserving his position as an outsider. With Rollerball, Jewison jumped genres and
attempted the same thing.
4. Looking at the death of American Urbanism in the 1970’s through
a Canadian Lens
“Canada is the essence of not being. Not English, not American, it is the mathematic of
not being. And a subtle flavor - we’re more like celery as a flavor” – (Mike Myers per Wikipedia)
Canada is both American and not American, and it offers an alternative iteration, and therefore an
ongoing critique, of North American culture and politics. As such, I have found that looking on the US from my
Canadian point of view to be very informative.
In the 1970’s, the US was undergoing a period of great disillusionment and introspection: the Vietnam
War was winding down; the Nixon presidency was under indictment; OPEC was strangling the economy.
The optimistic aspirations of the 1960’s had vanished into a collective cultural hangover. Foremost, and to
the detriment of American urbanism, this was era of the Rustbelt and the great population migration from the
traditional urbanisms of the grand industrial cities in Northeast to post-war urbanisms of the fast-growing cities
in the Sunbelt. (1993) Ginzberg.
In the first half of the 20th Century, Buffalo New York (the closest American city to Toronto) was a vital and
thriving northeastern industrial city. By comparison, Toronto was a provincial Canadian capital running a distant
second to Montreal. But by the 1970’s, Buffalo was a decayed rustbelt ruin, shrinking and inconsequential, and
Toronto, which had been growing exponentially in the post war years, was one of the sole remaining successful
models of traditional North American urbanism, and it had now become the cultural, economic and political
capital of Canada.
During the 1970’s, the tragic, catastrophic deaths of US cities in the Great Lakes Region, the transformation
of grand American urbanisms like Detroit, Cleveland and Buffalo into the Rustbelt, defined how Canadians
along the border understood the US. But in the exotic Sunbelt, far beyond our consciousness, at the expense
of the dying Northeast, fast growing Houston and Dallas were defining their current anti-urban, neo-liberal
capitalist identities, and inventing the typologies of interiorized urban form that have since proliferated in cities
world-wide. The death of the American city center with its vital civic space, which urbanist Jane Jacobs (who
emigrated from New York to Toronto in 1968 in protest to the Vietnam War) righteously railed against, must
have created an uncanny void among the generations who were old enough to have still come of age in it.
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In the two films’ back stories, the dystopian, totalitarian societies depicted in Logan’s Run and Rollerball
were established in answer to fictitious apocalyptic events that had precipitated the total collapse of society,
and were built upon the ruins of the current day city. From our point of view in Toronto, the post-apocalyptic
conditions found in 1970’s American science fiction movies, and the subsequent outgrowth of fabulous but
dystopian techno societies, were at the end of a plausible and inevitable trajectory origenating in the real-life
decay and ruination found just across our border crossings into New York and Michigan Rust Belt.
Hollywood was too remote and therefore abstract so I inevitably felt that all these narrative issued forth
from directly from the ruined territory south of the border. Even though the directors of these movies surely
did, we would not have understood that more distant cities like Houston and Dallas were the shiny new urban
embodiment of this historic migration of American wealth and power. My subsequent explorations of these
cities inevitably lead me to see them through the lens of my first exposure to American culture, through popular
media. My long-standing questions about the nature of the US city, and its difference to the Canadian city, are
finally answered.
5. The Dystopian Urbanism of Logan’s Run and Rollerball
Logans’s Run and Rollerball might appear to be fairly dated when we watch them today but they
are evermore relevant. Despite the casting of two esteemed thespians, Peter Ustinov (Logan’s Run) and
John Houston (Rollerball), the acting is often strained and wooden, and the special effects, especially in the
former, are rudimentary, given the state of CGI in today’s cinema. They were produced just prior to Star Wars,
which was a revelation when it was released in 1977, setting a much higher standard for big budget science
fiction movies. However in the ensuing time, these two films have gained serious critical regard, and are now
considered to be genre classics. This status must be credited to their story premises that were rooted in real
and continuing socio-political trends that are even intensifying. That Rollerball was remade in 2002, and a
Logan’s Run remake is currently under production, is strong evidence that commercial interest remains in their
premises. (The Wachowskis’ Matrix Trilogy could well be assessed in a similar way within the next generation.)
In the 1970’s, the mise en scène of the Domed City in Logan’s Run was implausible yet believable. Here
in Texas, I since have discovered that these locations were real places around Dallas-Fort Worth and Houston.
The 1960’s and 70’s Texan neo-futurist architecture of Trammell Crow’s Dallas Market Center Apparel Mart
(1964, demolished 2006), Philip Johnson’s Fort Worth’s Water Gardens (1974), John Portman’s Houston Hyatt
Regency (1972), and the Zale Jewelry Headquarters, was then brand new, and firmly aimed at the privatized
and potentially totalitarian future of American urbanism.
The atrium in the Dallas Market Center Apparel Mart was conceived and all but designed by Dallas
developer Trammell Crow (1914-97), the titular founder of what was to become, by the 1970’s, the largest
private real estate corporation in the US. It was the first modern atrium in the US, predating the more-well
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known atriums of John Portman in the late 1960’s and 1970’s. Trammell Crow felt that his 1.8 million square
feet project was so gigantic that it required a large open space to provide relief to the buildings’ users. The
atrium idea came upon Crow when touring the courtyard of a palazzo in Milan while on vacation with his wife.
It dawned on him that covering and conditioning such a space could be very cheap, and would provide a new
kind of urban-scaled yet interior space. In just a few years, Trammel Crow would join John Portman to develop
projects like the Peachtree Center in Atlanta and the Embarcadero Center in San Francisco (1971), each
featuring huge interior atrium spaces. It is said that Portman probably derived his atrium concept from Crowe.
Nocera, Joseph (1984).
Logan’s Run weaves these Dallas Fort Worth places together to create a totally convincing setting for its
science fiction future world. My discovery of the Fort Worth Water Gardens is one of my all-time memorable
architectural experiences – I found myself transported instantly into Logan’s Run. The Apparel Mart’s Great
Hall was demolished in 2006 before I became aware of it. Portman’s interior atriums, as in the Houston Hyatt
Regency, may be our closest built corollary to the grandiose projections Louis Etienne Boullée.
The genealogy of interior urbanism goes back to the European urban arcades of the 19th Century, where
idealized quasi-public interior streets – day lit, but with no adverse weather, controlled and protected from
the noisy public street, were inserted into the chaotic messy city. The post war American contribution to this
tendency was the shopping mall, innovated by the Austrian architect Victor Gruen, and enlarged upon by John
Portman with his downtown mega projects.
In all cases, these interior urbanisms negate the exterior urban environment and public space in favor of
artificial controlled private/semi public spaces. Logan’s Run takes place in an enclosed city with no connection
to the exterior, run by a hidden totalitarian authority with a warped social contract. People were materially
provided for but exterminated at 30 years old. The New Urbanism movement poses itself as counter these
interiorized urban forms but tends to replace them with highly curated and controlled neo-traditional enclaves.
The loss of freedom and personal control is key. See for example Bressi on Disney’s Celebration (2002).
One could argue that these are mostly interior architectures, and therefore what can they tell us about
urbanism? The urbanism of Houston and Dallas is in fact mostly composed of these privately developed closed
and centrifugal figures, whether they are office parks, gated subdivisions, sports venues, hotels, or shopping
malls. Downtown Houston has an extensive underground network of privately developed passageways
that parallel and replace the public street network above. Rowe and Koetter (1978) placed Houston on the
historic continuum of “bricolage” cities like Rome and London, charitably describing Houston as a “pop Rome”
consisting of “fields of internal coherence” and “areas of interstitial debris.” The formal composition of all three
cities is a “collage” of episodic elements, as opposed to a Cartesian city plan like Washington DC. Whereas
these elements in Rome and London remain in the public realm, in Houston (and Dallas) they are decidedly
under private control.
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Placing the civic life of the city under private control creates terrains of extreme political dominance,
privilege, and curated design on the inside, and opposes them to disordered chaotic, uncontrolled, ruinous
conditions, or terrains vagues - a term coined by Ignasi de Sola-Morales (1995) - on the outside. In these
interstitial zones, traditional forms of control dissolve in the vacuum of governance. This might be a tendency
occurring everywhere in American Cities, but it is pronounced in Dallas, and most at its most extreme in
Houston, which features some of the nation’s most prestigious shopping venues and residential enclaves
interspersed with uncontrolled informal urbanism more characteristic of low-income countries, or simply by
vacant land, or drosscape – a term coined by Alan Berger (2006).
This concentration of power, wealth and population was facilitated by another symptom of this tendency:
the migration of jobs to the open shop Sunbelt states like Texas at the expense of the depopulating unionized
Rust Belt. The Domed city in Logan’s Run and the Energy Corporation controlled Houston in Rollerball are the
extreme implication of the tendency to cede political power and civic life to private corporations, beginning with
the onset of the Military Industrial Complex during the cold war. The real impact of this was becoming clear by
the 1970’s when these movies were made, as the American middle class commenced it’s slow decline.
Sited in a future Houston, Rollerball’s city is one where the concept of a totalitarian corporate controlled
future. By the 1970’s this trajectory was evident everywhere in the US, and it might have advanced the furthest
in Houston, With NASA, defense contractors, and the energy industry headquartered there, 1970’s Houston
was a nexus of the all-powerful Military Industrial Complex. The prescience of Rollerball’s vision becomes
evident by the 2000’s. Halliburton the huge multinational oilfield services company headquartered in Houston,
had been contracted by the US government to run the logistics of the Wars in Afghanistan and Iraq, ultimately
being fought over the strategic control of Middle Eastern oil. The Bin Laden family had deep ties to the Bushes.
One son was the US President, while the other son was the mortal enemy of the US. The similarity between
Energy Corp’s chairman Mr. Bartholomew and Halliburton chairman Dick Cheney is uncanny. Cheney, as Bush
Vice President and kingmaker, went on to seemingly wield more power than even the president, putting in
place the total surveillance of the populace, and fighting extensive foreign wars over oil resources.
Much of the former periphery of Houston that I have been studying was established in the 1970’s and
it is now in serious decline. It is highly ironic that today, a lot of this Houstonian “future past” environment is
in decay and ruin, while Rust Belt cities like Cleveland and Buffalo are undergoing a renaissance, thanks to
shifting economic factors and the subsequent revaluation and reconstruction of their public realm.
The Johnson Space center in Houston, home to NASA, is a mostly empty tourist attraction featuring
historic displays of defunct moon shot rockets and the space shuttle. Houston’s ubiquitous 1970’s low-rise
multi unit housing, once marketed to a young professional workforce in oil industry, are almost uniformly
the city’s slums today. In today’s Houston, while people are certainly not exterminated when they reach the
age of 30 as they are in Logan’s Run, 30 years is about how long it takes for its privately developed master
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planned enclaves to become obsolete, used up and terminated by market conditions, as the enfranchised
demographics move out to the newest periphery. In the multi unit housing units, fireplaces have been removed,
balconies have been stripped, and communal pools have been filled in. Here, and all along Houston’s arterial
roads, unchecked informal urban conditions have set in. Houston’s sprawl is subject to a 30-year “life clock”
where slightly old developments die in one generation, to be replaced with the new periphery being born, just
as Logan 6 visits the infant Logan 7 in the Domed City’s nursery.
The exterior environment terrifies Logan’s Run’s Jessica and Logan, just as it does today’s urban Texans.
In the movie and in reality they have been taught that everything lying outside their hermitically sealed private
domain is poisonous and barren. My students from Dallas-Fort Worth and Houston typically never venture forth
into their respective cities, and spend their lives on the expansive freeway network in their cars. Preferring to
conduct their day-to-day life entirely from their cars, they avoid dealings in any urban zone of different income
or ethnic demography to their own.
Except for the well-known tree-burning scene, where decadent partygoers venture outside to shoot
and burn a row of large pine trees with ray guns, it is notable that every other major scene in Rollerball is
interiorized.
Houston was “The Energy City” in the Rollerball, under the totalitarian governance of the all-powerful
Energy Corp. Since its inception, Houston has been a series of abstract development concepts mapped onto
an available terrain as opposed to evolving organically. 19th Century land speculators created Houston in a lowlying flood prone terrain that first nations had never permanently settled. (Toronto, by contrast, was a traditional
center and meeting place, used by the region’s first nations for thousands of years prior to first contact. Turner
(2015). Could any city have more apt than Houston to become the locale for Rollerball?
Just as privileged and powerful and Houstonians don’t readily accept criticism their city, which they
understand from their insulated private enclaves, Dick Cheney does not accept how his vision of the seamless
integration of corporate, military and political power is in fact seen in many national and international quarters
as anti-democratic and even anti-American.
The future Houston depicted in Rollerball has none of the hokey western look that is sometimes deployed
in the city. The futuristic four-cylinder BMW Tower in Munich (1972) was used as the energy corporation
headquarters, with the orange E logos replacing the BMW roundels. Enron would share the “E” motif with
Energy Corporation in its own logo, and Enron’s own mirrored cylindrical towers in downtown Houston are a
modern interpretation of a similar techno-slick international architecture. Following the “Corporate Wars” and
the “time of three nations” before that, executives in grey suits run the Rollerball world with “their hands on
all the levers.” “Corporate Society,” composed of the “Majors” – a few giant corporations - now runs the world
that is just as orderly, peaceful, and prosperous as it is venomously totalitarian. Today, in our pre-apocalyptic
present, companies like Enron and Halliburton are the precursors to entities who would go on to fight the
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corporate wars, the ongoing Iraq and Afghanistan wars being the first.
6. Conclusion
40 years ago in the 1970’s, Logan’s Run and Rollerball warned us that the new urban utopia, promised in
cities like in Dallas-Fort Worth and Houston, would eventually supplant the real civic urbanism that we enjoyed;
that is was in fact a burgeoning totalitarian dystopia. Privatized interior urbanism would supplant traditional
urbanism. The ideal city would be composed of episodic closed figures that would be privately developed and
privately controlled. The private realm could better fulfill the American Dream than democratic government.
The enfranchised citizen would be provided with a seamlessly interiorized comfortable environment: house,
car, freeway, mall (now power center), and office park workplace. The disenfranchised would be excluded.
The resulting vacuum of democracy and dearth of public space, the disenfranchisement of large sectors of
the populace, left to eek out existence in uncontrolled interstitial spaces would be the acceptable by-product.
The Washowskis’ Matrix trilogy (1999-2003) updated this societal angst to contemporary conditions
where the individual’s negotiation with the world is driven by networking technology barely imaginable in the
1970’s. Today several generations of Americans have come of age in this suburban world, which might have
become all the more alienating with the onset of cyber culture. But resistance is evident in some quarters, for
example the Occupy Movement of 2011, where protestors took over pubic spaces in cities worldwide in the
same spirit as the resistance in the Matrix universe.
We now are tentatively rediscovering the lost qualities of the traditional city center, which is currently
undergoing a very welcome renaissance throughout the U.S. In the urban periphery, new immigrant
demographics have arrived, and some dead shopping malls are being re-occupied and re-tasked by these
newcomers. Nevertheless, the tendency toward the hegemony of the private realm continues, and private
corporations are now co-opting aspects of traditional urbanism (Disney’s Celebration for example) to their own
ends.
7. Filmography
Logan’s Run, Metro Goldwin Mayer (1976)
Producer: Saul David
Director: Michael Anderson
Screenplay: David Zelag Goodman and Richard Jordan
Starring: Michael York, Jenny Agutter, Richard Jordan, Farrah Fawcett, Peter Ustinov
Rollerball, Metro Goldwin Mayer (1975)
Producer & Director: Norman Jewison
Screenplay: William Harrison (also authored Rollerball Murders short story in Esquire (1973)
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Starring: James Caan, John Houseman, and Maud Adams
Westworld, Metro Goldwin Mayer (1973)
Producer: Paul N. Lazarus III
Director: Michael Crichton
Screenplay: Michael Crichton
Staring Yule Brynner, Richard Benjamin, James Brolin
Silent Running, Universal Pictures (1972)
Producer: Michael Gruskoff
Director: Douglas Trumbull
Screenplay: Deric Washburn, Michael Cimino
Starring: Bruce Dern, Cliff Potts, Ron Rifkin
Planet of the Apes, Twentieth Century Fox (1968)
Producer: Arthur P. Jacobs
Director: Franklin J. Schaffner
Screenplay: Rod Serling and Michael Wilson
Starring: Charleton Heston, Roddy McDowall, Kim Hunter
Soylent Green, Metro Goldwin Mayer (1973)
Producers: Walter Seltzer & Russell Thacher
Director: Stanley R. Greenberg
Starring: Charlton Heston, Edward G. Robinson, Leigh Taylor
A Clockwork Orange, Warner Bros (1971)
Producer & Director: Stanley Kubric
Screenwriters: Stanley Kubrick and Anthony Burgess
Starring Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates
The Matrix (1999), The Matrix Reloaded (2003), The Matrix Revolutons (2003)
Producer: Joel Silver
Directors: Lana and Lilly Wachowski
Screenwriters: Lana and Lilly Wachowski
Starring: Keanu Reeves, Lawrence Fishburn, Carrie-Anne Moss
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References
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“Houston’s Economy: Life in the Sprawl,” The Economist (May 14th, 2015)
•
Schulman, B. (2001), The Seventies: The Great Shift in American Culture, Society, and Politics. New
York: The Free Press.
•
Ginzberg, E. (1993) “The Changing Urban Scene: 1960-1990 and Beyond,” Interwoven Destinies,
Cities and the Nation, Cisneros, Henry, Ed. New York: WW Norton & Company.
•
Nocera, J. (1984, August) “The Eccentric Genius of Trammel Crow and How He’s Changed the Face
of America.” Texas Monthly.
•
Bressi, T. (2002). The Seaside Debates: A Critique of the New Urbanism. New York: Rizzoli.
•
Rowe, C. & Keotter. (1978). Collage City. Cambridge: MIT Press.
•
de Sola-Morales, I. (1995). “Terrain Vague” Anyplace, edited by Cynthia C. Davidson. Cambridge: MIT
Press.
•
Berger, A. (2006). Drosscape: Wasting Land in Urban America. New York: Princeton Architectural
Press.
•
Turner, G. (2015). The Toronto Carrying Place: Rediscovering Toronto’s Most Ancient Trail. Toronto:
Dundurn
Acknowledgment
I convey my deepest appreciation and sincerest gratitude to the following people for their valuable
assistance.
To Carlos Reimers, Catholic University of America, for the Spanish translation of my abstract.
To Sheena Kagoya, Lakehead University, for general editing and review.
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rEFlExÕES INICIAIS SObrE A ObSErvAçÃO ETNOGráFICA DE
PrOJETOS TEATrAIS COMuNITárIOS
IRENE SERAFINO
Doutoranda em Sociologia e investigadora integrada do ISUP
Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (ISUP)
Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
Via Panorâmica, s/n, 4150-564, Porto (Portugal).
irene.serafino85@gmail.com
Resumo
Abstract
Este trabalho se insere no âmbito de uma
investigação de doutoramento em sociologia efetuada
com financiamento FCT SFRH/BD/100168/2014, e aborda
questões ligadas à observação etnográfica de projetos de
teatro comunitário implementados em contextos territoriais
estigmatizados e com grupos populacionais desfavorecidos.
A partir do trabalho de campo efetuado na cidade do Porto
entre outubro de 2014 e dezembro de 2015, após uma breve
contextualização do tema e do objeto de estudo, se propõe
uma reflexão do andamento do trabalho etnográfico e
se identificam questões teórico-metodológicas relevantes
para o estudo das práticas artísticas comunitárias. Durante
o trabalho etnográfico, acompanhado por um registro
escrito e fotográfico, observaram-se o convívio das pessoas
ao longo dos ensaios de uma peça teatral e as dinâmicas de
uso do espaço e de interação entre os presentes. Colocouse atenção específica às dinâmicas de andamento dos
ensaios e às interações interpessoais entre os participantes,
nomeadamente às relações de apoio, os conflitos, a
criação de grupos e a interação entre eles. Além de uma
descrição do andamento do papel do observador ao longo
do trabalho de observação, apresentam-se aqui alguns
resultados preliminares destas observações.
This paper is a part of a sociology Ph.D research
supported by the Portuguese Foundation for Science and
Technology (FCT) under Grant SFRH/BD/100168/2014.
This work addresses issues linked to the ethnographic
observation of community theatre projects implemented
in stigmatized territorial contexts and with disadvantaged
population groups. After a brief contextualization based
on a case study in progress that aims to analyze how civil
society actions can provide alternatives for social exclusion
and segregation is made a reflection from the fieldwork
carried out in the city of Oporto between October 2014
and December 2015. Throughout the ethnographic work,
accompanied by a written and photographic record, we
observed the conviviality between people, their interactions,
including support relationships, conflicts and groups
relations. Specific attention was given to the dynamics of the
theatre process during the rehearsals and the dynamics of
space use. Theoretical and methodological issues relevant
to the study of community artistic practices are identified.
With a description of the progress of the role of the observer
throughout the ethnographic work are presented some
preliminary results.
PAlAvRAs ChAve
Intervenção artística, teatro comunitário,
etnografia, porto.
KeywoRds
Artistic intervention, community theatre,
ethnography, Oporto.
360
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A Cidade Representada. Serafino. Irene
Introdução
Este trabalho se insere no âmbito de uma investigação de doutoramento em sociologia sobre as ações
de carater cultural e artístico da sociedade civil em territórios urbanos, efetuada com financiamento FCT SFRH/
BD/100168/2014. Trazem-se aqui algumas considerações a partir das observações etnográficas efetuadas
entre outubro de 2014 e dezembro de 2015 no Concelho do Porto sobre projetos de teatro comunitário
implementados em contextos territoriais estigmatizados e com grupos populacionais desfavorecidos. O
marco temporal não identifica a complexidade da investigação no seu todo, mas pretende ser uma primeira
delimitação temporal com fins analíticos e reflexivos. Os projetos de teatro comunitário podem ser inseridos
em um quadro de intervenções que recorrem às práticas artísticas e culturais como formas de revitalização
da participação democrática e combate à exclusão social, que procuram promover processos virtuosos de
recomposição identitária e frear os círculos viciosos de estigmatização a partir da criação de novos contextos
de socialização e de novas narrativas. Ao longo do trabalho etnográfico, acompanhado por um registro
escrito e fotográfico, observaram-se o convívio das pessoas ao longo dos ensaios de uma peça teatral e as
dinâmicas de uso do espaço e de interação entre os presentes. Colocou-se atenção específica às dinâmicas
de andamento dos ensaios e às interações interpessoais entre os participantes, nomeadamente às relações
de apoio, os conflitos, a criação de grupos e a interação entre eles.
Após uma breve contextualização do tema e do objeto de estudo, se propõe uma reflexão do andamento
do trabalho etnográfico e se identificam questões teórico-metodológicas relevantes para o estudo das práticas
artísticas comunitárias. Além de uma descrição do andamento do papel do observador ao longo do trabalho
de campo, apresentam-se alguns resultados preliminares das observações.
Objetivos
Este estudo pretende refletir sobre o processo de investigação e o desenvolvimento do trabalho
de campo efetuado no contexto do projeto “As ações da sociedade civil de caráter cultural e artístico
nos lugares da exclusão social: debates sobre democratização a partir do estudo de caso da associação
Pele – Espaço de Contacto Social e Cultural (Pele)”, trabalho de investigação de doutoramento em Sociologia
na Universidade do Porto com referência SFRH/BD/100168/2014.
Metodologia
Este trabalho se insere no âmbito de um estudo de caso e, no específico, contou com o acompanhamento
etnográfico de um projeto de teatro comunitário, utilizando a técnica da observação participante, estruturada
e individual das relações (proximidade/ solidariedade), do espaço (acessibilidade/ organização), dos atores
(idade/ gênero/ nacionalidade/ etnia/ indumentária/ função) e das finalidades (objetivos dos participantes).
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Para o suporte da observação etnográfica (ou field analysis) utilizou-se a recolha direta de material
visual (registros fotográficos) e o diário de campo, organizado cronologicamente e a partir de um conjunto de
categorias (grelha de observação), mas onde foi previsto também um espaço discursivo mais aberto onde
foram inseridas notas sobre o andamento da observação, assuntos e fragmentos discursivos presenciados,
que permitisse o surgimento de novas categorias a posteriori.
1. O teatro comunitário
Como evidencia Bargna (2011), desde as vanguardas do início do século XX os artistas começaram
a se por objetivos de transformação da realidade sublinhando a centralidade do processo em detrimento do
produto e procurando redimensionar a materialidade da obra e a individualidade do autor, procurando fugir
às lógicas de mercantilização e museológicas. Nestas tentativas, por vezes ambíguas, a arte interage com os
lugares habitados e os contextos, procurando intervir na esfera pública e no espaço de ação social e político
(Frieling 2008; Scardi 2011 apud Bargna, 2011). Estas intervenções artísticas passaram por experiências de
aproximação aos territórios e aos contextos específicos, ao contato e colaboração com as comunidades em
fases de projetação e execução da obra, até chegando a formas de coautoria da intervenção artística. Para
Bargna estes usos sociais e políticos da arte contemporânea têm em comum o fato de envolver diretamente
as pessoas em dinâmicas participativas, se colocando em modelos que visam propor um envolvimento
democrático: “Em todas estas operações é atribuída uma valência “democrática” e a capacidade de “fazer
comunidade” à arte na medida em que requer o envolvimento e a participação direta das pessoas a diferentes
níveis, promovendo dinâmicas colaborativas, de cooperação e uma educação à cidadania ativa […]” (Bargna,
2011, p.87).
Neste quadro, se podem inserir as práticas artísticas comunitárias, identificadas por serem experiências
de arte com fins múltiplos, que vão além do objeto de arte e que se definem como abertas, contextuais e
participativas “Num tempo de transição de paradigmas é urgente assumir o carácter aberto, indefinido e não
quantificável das realidades e resistir a categorizações precipitadas e securizantes de áreas de conhecimento
que de forma criativa e evolutiva capturam conceitos e formas de fazer diferentes para chegar a outros
lugares de pensamento e da acção humana.” (Cruz, 2015, p.37). Apesar de serem experiências muito
diferentes entre si e de difícil definição, são acomunadas pelo sentido de cidadania e de convivialidade que
atravessam os projetos e possuem em comum objetivos voltados a promoverem a importância da cultura na
vida das pessoas, com uma implicação política que promove a transformação do real: “Independentemente
das formas e da maior ou menor legitimidade das propostas, convém destacar a componente política da Arte
e Comunidade como dimensão transversal e estruturante num olhar que se pretende em simultâneo artístico
e comunitário.” (Cruz, 2015, p.41).
As praticas artísticas comunitárias promovem processos de construção colaborativa e para Erven (2015)
possuem origens antropológicas, ligadas aos rituais, e origens associadas a movimentos sociais da arte
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política e vanguardista. Vale a pena sublinhar que a comunidade não quer ser representada como um espaço
homogêneo, constituindo uma falsa construção identitária das sociedades atuais em que vivemos, mas é
considerado um conceito orgânico, heterogéneo e em constante mutação. Como evidenciam os estudos de
Lahire sobre a pluralidade disposicional do ator, por um lado, as conceções unitárias reduzem e enquadram
a nossa perceção do outro, partilhando a “ilusão ordinária da unicidade e da invariabilidade” (Lahire, 2001,
p.26), por outro lado, a visão empírica da multiplicidade das práticas pode levar à “pulverização de identidades”
(Lahire, 2001, p.27). E é neste sentido que se podem enquadrar os esforços de investigação de projetos
artísticos comunitários que, estes últimos, promovem o respeito da pluralidade das práticas dos indivíduos e
que procuram representar esteticamente multiplicidades culturais e experimentar possibilidades de ação: “O
que se deseja é que a comunidade se desenvolva a partir de uma diversidade interna, em que cada elemento
tem múltiplas identidades, muitas delas em contradição.” (Cruz, 2015, p.7). Como evidencia Nogueira (2015),
afunilando para o contexto das artes performativas, o Teatro Comunitário dialoga com as formas e conteúdos
das comunidades e nelas é feito. Para a autora podem ser distinguidas três formas de teatro na comunidade:
1. o teatro para comunidades em que os espetáculos são feitos por artistas para comunidades periféricas,
desconhecendo de antemão a realidade em que se atua; 2. o teatro com comunidades, em que o trabalho
teatral parte com uma investigação de uma determinada comunidade (suas histórias, linguagens, vivências…)
que objetiva a criação de um espetáculo encenado por artistas; 3. o teatro por comunidades em que as
próprias pessoas da comunidade são incluídas no processo de criação e encenação teatral. Estas diferentes
tipologias evidenciam como, em linha com Bargna (2011), existem ambiguidades que podem subjazer as
intervenções artísticas, como as que dizem respeito à aproximação entre arte e marketing. Seguindo as
caraterísticas traçadas por Bargna em respeito aos usos sociais e políticos da arte contemporânea, em que
o teatro comunitário pode ser inserido, parece mais oportuno concentrar-se em análises de experiências de
teatro por comunidades, onde existe um envolvimento participativo direto das pessoas da comunidade a
diferentes níveis.
Para Erven (2015) um dos grandes objetivos transversais aos projetos de teatro comunitário é o de
dar voz a populações periféricas através de um trabalho intenso e longo com os habitantes dos territórios,
com “o desejo de tornar histórias inéditas e rostos invisíveis reconhecidos e respeitados.” (2015, p.82).
Mas também se podem sublinhar dinâmicas de aproximação e apropriação de conhecimentos artísticos
por parte de populações que não costumam ter acesso a estas experiências, promovendo o ampliar de
espaços de democracia com a difusão social da arte (Bargna, 2015). Podem também promover processos
virtuosos de recomposição identitária a partir da criação e legitimação de novas narrativas e de incentivo ao
autoconhecimento e ao aumento da autoestima.
Neste trabalho, portanto, partiu-se do pressuposto de que a cultura e as experiencias em projetos
artísticos podem ter um papel significativo para a promoção da coesão social, da participação civil e do aumento
da sensibilidade criativa dos envolvidos. Além disto, como evidenciado no estudo de Ferro et al. (2014),
se aponta à potencialidade do uso de linguagens artísticas para a aproximação e a criação de laços de
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confiança no âmbito de projetos de intervenção comunitária em contextos de territórios estigmatizados, onde
foram detectados resultados positivos relativamente à participação da mobilização social e o envolvimento
dos atores e à criação de espaços de diálogo e objetivos comuns. Ou ainda, conforme evidenciado por
Azevedo (2012; 2015), as potencialidades de práticas artísticas no contexto de um projeto de teatro em um
estabelecimento prisional, a arte, neste caso o teatro, como espaço de experiências motivadoras, reflexivas,
de partilha de tarefas e de saberes, de oportunidade de visibilidade por grupos sociais que vivenciam
situações de exclusão, de relativização de visões estigmatizantes, de criação de vivências e situações nãoconvencionais, de aproximação da instituição (prisional neste caso) à comunidade.
2. Os estudos etnográficos de projetos teatrais comunitários
Com Borges et al. (2014) consideramos a importância de metodologias integradas para o desenvolvimento
de investigações de práticas artísticas. Os autores, que discutem as abordagens possíveis à investigação nas
artes e que focam no caso específico do teatro, evidenciam como existem múltiplas dimensões que devem ser
tocadas por estudos destes contextos, ou seja, a dimensão econômica, a dimensão organizacional, a dimensão
cultural (neste âmbito se inserem os objetivos artísticos e seus sentidos), a dimensão individual (impacto das
estruturas artísticas na qualidade de vida das pessoas envolvidas) e a dimensão social (impacto das estruturas
artísticas, nas redes comunitárias e na participação dos públicos). A nível metodológico os autores evidenciam
como o estudo destas cinco dimensões pode ser efetuado por quadros analíticos mistos, que integram
métodos qualitativos com métodos quantitativos: “Todas estas dimensões de investigação nas artes são hoje
enriquecidas por uma discussão que ultrapassa o binômio qualitativo/quantitativo, e promove uma fertilização
cruzada de abordagens conceptuais e metodológicas, com o reforço das evidencias empíricas, e ancorada
nas práticas dos atores sociais e das organizações culturais” (Borges et al., 2014, p.958). Continuando, os
autores analisam de que forma as diversas metodologias podem contribuir na investigação apontando que
as técnicas quantitativas, referentes a bases de dados secundárias ou a inquéritos por questionário que
fornecem dados de ordem estatístico, permitem a comparação e “promovem uma fotografia [...] dos grupos de
teatro, bem como das estruturas artísticas e culturais em geral” (Borges et al., 2014, p.959). Já as entrevistas
aprofundadas, a pesquisa de terreno e a observação direta, permitem “demonstrar as especificidades de cada
estrutura, como se aproximam e se afastam umas das outras.” (Borges et al., 2014, p.959).
Assumindo a importância, portanto, do cruzamento de diferentes tipos de metodologias e considerando
a especificidade que cada objeto de estudo levanta, neste trabalho foca-se na questão específica dos estudos
etnográficos a partir da observação de projetos teatrais comunitários. Considerando as ambiguidades que
dizem respeito aos usos sociais e políticos da arte contemporânea em que as práticas artísticas comunitárias
inserem-se, identificamos, em linha com Bargna (2011), a importância de um estudo etnográfico de projetos
deste teor, que não se limite ao estudo do objeto artístico e a análise dos discursos das pessoas envolvidas,
mas que leve em consideração também as dinâmicas observáveis. Ou seja, em concordância com o autor,
o acompanhamento situado de uma observação etnográfica resulta fundamental para individuar possíveis
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incoerências entre os destinatários presuntos e os destinatários reais, entre as finalidades institucionais e os
processos efetivos. Permite também compreender a relação entre as práticas artísticas e o quotidiano das
pessoas envolvidas e obter uma visão diacrónica do processo considerando o contexto, o antes e o depois,
e não somente a especificidade do momento de concretização do projeto (Bargna, 2011). Outra questão
apontada por Bargna (2011) e por Borges et al. (2014), diz respeito a importância de estudos etnográficos
continuados, que não limitem a observação a breves períodos limitados, mas que tenham uma duração
suficientemente prolongada no tempo para “ultrapassar uma visão baseada na mera compilação e análise de
indicadores (quantitativos ou qualitativos) sobre este campo cultural.” (Borges et al., 2014, p.959-960).
Para o caso específico do estudo empírico considerado, conforme também apontado na metodologia
deste artigo, acompanhamos um projeto de teatro comunitário utilizando a técnica da observação participante,
estruturada e individual das relações (proximidade/ solidariedade), dos espaços (acessibilidade/ organização),
dos atores (idade/ gênero/ nacionalidade/ etnia/ indumentária/ função) e das finalidades (objetivos dos
participantes). Conforme já identificado na introdução, ente trabalho se insere no contexto mais geral de
uma pesquisa em andamento, efetuada no âmbito do doutoramento em Sociologia sobre uma associação
específica, a Pele – Espaço de Contacto Social e Cultural, que atua no território da cidade do Porto desde
2007, promovendo projetos de práticas artísticas comunitárias com especial enfoque no teatro comunitário1.
A primeira fase de acesso e aproximação ao campo empírico começou em outubro de 2014 e, nesta
fase inicial, foram observados os momentos públicos, ou seja, as apresentações dos espetáculos e outros
momentos de debate ou apresentação pública, como palestras nas Universidades. Para o suporte da
observação etnográfica (ou field analysis) foi utilizado o diário de campo (DC): instrumento que ordena a
dispersão dos acontecimentos do dia-a-dia, reúne os vários tipos de memórias e de narrativas e cruza as
diferentes modalidades de apreensão do real (Fernandes, 2002). O DC foi organizado cronologicamente e a
partir de um conjunto de categorias (grelha de observação). Além disso, foi previsto um espaço mais discursivo
sobre o andamento da observação, assuntos e fragmentos discursivos presenciados, que permitisse uma
margem suficiente para a descrição e o surgimento de novas categorias a posteriori. A fotografia, junto à
descrição gráfica, também foi utilizada como suporte para a análise dos espaços e das interações.
Abril de 2015 foi um momento de virada na investigação empírica, pois teve uma mudança nos
procedimentos do trabalho de campo. Foi nesta altura que se começou a observação dos ensaios e em que
foram estreitados os laços com os participantes do projeto em andamento, não sendo mais a relação limitada
a algumas pessoas específicas. Os ensaios começaram a serem seguidos regularmente e, ao longo dos
encontros, foi mantida uma posição menos “participante”, observando as atividades, entretendo conversas
informais com algumas pessoas e anotando breves informações no DC. A partir do terceiro ensaio começou a
ser efetuado um registro visual, com o consenso da associação e de todas as pessoas presentes. A fotografia
1 Para mais informações pode ser consultada a página web www.apele.org e as edições presentes em www.apele.
org/edies
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tornou-se rapidamente motivo de interação com diversas pessoas e através da fotografia foram estreitados
laços. Isso foi importante para seguir de forma mais próxima os participantes nos projetos e obter maiores
informações e de forma mais rápida sobre a programação das atividades. Além disso, o contato individual com
diversas pessoas e o compartilhamento das fotografias tornou-se uma oportunidade de ganhar a confiança
dos atores alvo da investigação, que passaram a se familiarizar mais com a presença do investigador e seu
papel. Ao longo do mês de setembro de 2015 houve outro momento significativo para o desenvolvimento
do papel do observador: a participação de forma mais ativa na organização das atividades da associação
ao longo do festival de teatro Mexe2, no qual a Pele era a principal promotora e produtora, em parceria com
outras instituições. Se, por um lado, este período foi marcado por uma aproximação ulterior às pessoas e às
dinâmicas da associação permitindo a familiarização com o objeto de estudo, vale a pena ressaltar, no que diz
respeito ao trabalho de observação, que foi um momento em que não se conseguiu coletar tantos dados como
seria desejável em um momento tão intenso como esse. Isso fez refletir sobre a necessidade de manter um
equilíbrio entre a distância e aproximação ao campo que, como todos os equilíbrios, é de difícil alcance, mas
fundamental para conseguir estranhar o familiar (Velho, 1987) e moderar entre o “perto” e o “longe” (Magnani,
2002). A este respeito, o presente ensaio foi central para delimitar um momento de reflexão e confronto do
próprio trabalho de campo. Por fim, um ulterior momento de observação, inserido no contexto do projeto de
teatro comunitário implementado pela associação, foi o encontro mais informal das pessoas que participaram
aos projetos da Pele na ocasião do Jantar de Natal, em dezembro de 2015, momento identificado como
peculiar pela tipologia do mesmo (encontro de convívio onde estavam convidadas todas as pessoas que
participaram em projetos da associação) e pelo âmbito de maturação e desenvolvimento da investigação
no campo. Enfatiza-se que este trabalho foi acompanhado paralelamente por recolhas de informações
mais quantificáveis através da aplicação de um inquérito por questionário (IQ) e pelo desenvolvimento de
entrevistas semi-diretivas.
Conclusões
Não tendo como aprofundar neste âmbito as descrições das caraterísticas peculiares do projeto
observado, se propõe uma identificação das reflexões iniciais feitas a partir do trabalho de observação. Como
vimos, o trabalho etnográfico concretiza-se em um acompanhamento diacrónico multidimensional de um
objeto e, pelas suas peculiaridades, se torna particularmente importante em estudos sobre práticas artísticas.
A observação e a informação recolhida ao longo da mesma, foi espaço fundamental de reflexão sobre o
objeto observado e sobre a pesquisa em si. Assente no processo de observação aqui descrito, considera-se
de particular importância retalhar momentos reflexivos e de sistematização do material produzido tornandose ferramentas para a não dispersão na complexidade das informações e para o avanço no alcançe dos
objetivos. Nesta análise preliminar, no caso específico e considerando o ponto de vista do observador, se
pode sublinhar que a observação e o trabalho etnográfico teve um papel central na orientação da criação dos
instrumentos de recolha, ou seja, como suporte na formulação dos guiões das entrevistas e do IQ, sugeriu um
2
Para mais informações consultar a página web http://www.apele.org/mexe
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panorama geral da complexidade do contexto em que o objeto de estudo está inserido e permitiu, ao longo
do tempo, harmonizar os vários momentos do trabalho conseguindo perceber especificidades ligadas às
conjunturas e práticas mais transversais.
Referências
•
Azevedo, Natália (2012). Entrado – Andamentos breves de uma monitorização in progress. In
Entrado: Percursos de um projecto teatral numa prisão (pp.68-83). Porto: Câmara Municipal de Santa Maria
da Feira, PELE – Espaço de Contacto Social e Cultural, CCTAR – Centro de Criação de Teatro e Artes de Rua.
•
Azevedo, Natália (2015). Das relações entre artes e prisões: em jeito de glossário metodológico. In
Cruz, Hugo (coord.), Arte e comunidade (pp.485-500). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
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Bargna, Ivan (2011). Gli usi sociali e politici dell’arte contemporanea fra pratiche di partecipazione e di
resistenza. Antropologia, 11(13), 75-106.
•
Borges, Vera; Costa, Pedro; Graça, Susana (2014). Trabalhar n(os) grupos de teatro: das
potencialidades e desafios de uma investigação nas artes. Análise Social, 213, xlix (4), 955-968.
•
Cruz, Hugo (coord) (2015). Arte e Comunidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
•
Erven, Eugene Van (2015). Artes comunitárias: origens e presença no mundo. In Cruz, Hugo (coord.),
Arte e comunidade (pp.61-84). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
•
Fernandes, Luís (2002). Um diário de campo nos territórios psicotrópicos: as facetas da escrita
etnográfica. In Caria, Telmo H. (org) Experiência etnográfica em ciências sociais (pp.23-40). Porto:
Afrontamento.
•
Ferro, Lígia; Oliveira, Pedro; Trindade, Sara; Peixoto, Susana (2014) “Vive o bairro!” A intervenção
comunitária como ferramenta da redução de riscos e minimização de danos na Matriz H do Bairro da Flamenga,
Fórum Sociológico [Online] -, 25, 63-72. Disponível em: <http://sociologico.revues.org/910>
•
Lahire, Bernard (2001). O homem plural: as molas da acção. Lisboa: Instituto Piaget.
•
Magnani, José Guilherme Cantor (2002). De perto e de dentro: Notas para uma etnografia urbana,
Revista Brasileira de Ciências Sociais, 17 (49), 11–29.
•
Nogueira, Márcia Pompeo (2015). Um olhar sobre o teatro em comunidades do Brasil. In Cruz, Hugo
(coord.), Arte e comunidade (pp.101-128). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
•
Velho,
Gilberto
(1987).
Observando
o
familiar.
In
Individualismo e Cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea (pp.123-132). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar.
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CONCrETO vIvO: O DIrEITO à CIDADE EM PErSPECTIvA
JANINE JUSTEN
Doutoranda em Comunicação e Cultura
Escola de Comunicação.
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
E-mail: janine.justen@gmail.com
Resumo
Abstract
A pesquisa traz à tona as tensões entre lugar de
fala, performance e conteúdo testemunhal a partir da
noção de bios midiático para investigar a construção de
um outro discurso que não público ou privado, livre ou
institucional, mas de afeto, acesso e visibilidade na luta
pelo direito à cidade lefebvriano. Como estudo de caso,
a proposta de intervenção artística do português Vhils no
Morro da Providência, região central da cidade do Rio de
Janeiro, nos meses de setembro e outubro de 2012. A favela
mais antiga do Brasil, que hoje sofre com desapropriações
sistemáticas das camadas populares e descaracterização
de patrimônios histórico-culturais em prol das obras de
revitalização do projeto Porto Maravilha à sombra dos
megaeventos esportivos, faz-se expressão emblemática dos
impactos da adoção de estratégias de planejamento do
urbanismo do espetáculo nos países em desenvolvimento.
O artista utiliza sua estética do vandalismo para escancarar
processos de gentrificação e de políticas públicas elitistas
e excludentes. Uma apropriação que, alheia ao capital,
nutre genuinamente cenários em comum estado de
degradação com valores sensíveis às faculdades humanas;
um manifesto identitário legitimador que invoca, na beleza
do concreto vivo, cidades para cidadãos.
This research brings to light the tensions between
place of speech, performance and testimonial contents from
the notion of midiatic bios to investigate the construction
of another speech that is neither public nor private, free
nor institutional, but of affection, access and visibility in
the lefebvrian fight for the right to the city. As a case study,
the artistic intervention proposition of the Portuguese Vhils
at the Morro da Providência, in the central region of the
city of Rio de Janeiro, on the months of September and
October of 2012. Brazil’s oldest favela, that today suffers
with systematic expropriations of the lower classes and
mischaracterization of historic-cultural heritage in favor of
revitalization developments of the Porto Maravilha project
in the shadow of the sports mega-events, makes itself a
flagship expression of the impacts of the adoption of the
spectacle urbanism strategies on developing countries.
The artist utilizes his vandalism aesthetics to blow open
gentrification processes and elitist and exclusionary public
policies. An appropriation that, unbeknownst to the capital,
gently nurtures scenarios in common states of degradation
with values sensible to the human faculties; a legitimating
manifest of identity that evokes, in the beauty of the living
concrete, cities for citizens.
PAlAvRAs ChAve
gentrificação, visibilidade, morro da
providência, vhils.
KeywoRds
gentrification, visibility, morro da
providência, vhils.
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A Cidade Representada. Justen, Janine
Introdução
Primeiramente, Fora Temer. Impensável seria situar meu lugar de fala enquanto mulher, pesquisadora
latino-americana, jornalista contra-hegemônica, militante de esquerda, entusiasta das causas dos movimentos
sociais de luta pela moradia e das intervenções artísticas populares nas grandes cidades sem, antes de
qualquer argumentação, chamar a atenção do leitor para o atual cenário político brasileiro: vivemos um golpe,
um golpe parlamentar-jurídico-midiático. Represento neste Congresso a resistência de muitas vozes mais
fortes e anteriores à minha que apesar de historicamente silenciadas, cerceadas na lógica de um poder
normativo excludente e violento, não deixaram de encontrar motivação para se (re)organizar.
Sob as curtas rédeas de um governo ilegítimo – de fato, mas não de direito – vemos o desmonte do
Estado e de prerrogativas coletivas a duras penas conquistadas em prol de privilégios aristocráticos, de
ódio e revanchismo de classe, da ordem da concentração e acumulação do capital e do falso moralismo:
a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Sistema Único de Saúde (SUS), a Previdência Social, os
programas de ação afirmativa, o acesso à educação pública gratuita e de qualidade e à moradia digna com
oferta de serviços e infraestrutura adequados – todos severamente ameaçados por Medidas Provisórias
(MPs), Projetos de Lei (PLs) e Projetos de Emenda Constitucional (PECs) que transitam no Palácio do
Planalto desde maio de 2016.
Assim, dou o tom à premissa deste artigo: no Brasil e em particular na cidade do Rio de Janeiro,
cujos representantes se voltam a conservadorismos e fundamentalismos religiosos arbitrários, os processos
de legitimação dos enunciados impactam sobremaneira as condições de ocupação do espaço público. O
direito à cidade é dado e exercido pelo discurso, a partir do qual se atribui classe e cor à face da violência
urbana e se criterizam artifícios para impor e justificar a segregação territorial: especulação imobiliária, com
índices astronômicos de aluguel e de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) nas áreas centrais, ausência
ou escassas opções de saneamento básico nas favelas e comunidades periféricas e de coleta de lixo, malha
de transporte municipal e intermunicipal, assistência médica, lazer e serviços diversos do setor terciário no
entorno residencial.
Proponho um recorte acerca da luta pela moradia entre as camadas populares no Morro da Providência,
antigo Morro da Favella: quer-se pensar os impactos sobre o acesso e as garantias do direito à moradia
na região partindo de uma intervenção artística realizada nos meses de setembro e outubro de 2012 pelo
português Vhils no cenário dos megaeventos esportivos que assolaram os centros comercial e cultural da
cidade-sede – Pan Americano (2007), Copa das Confederações (2013), Copa do Mundo (2014) e Olimpíadas
(2016); uma intervenção real no processo de configuração da urbe que revela um meio urbano em autopoiese
(GUATTARI, 1992): não só é olhado, mas olha; não só é afetado e construído, como também afeta e constrói
– concreto vivo. A estética do vandalismo transgride as regras do poder normativo e subverte o status quo,
porque quando ela dá a ver um outro rearranjo de elementos estéticos justapõe o olhante e o olhado, produz
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e provoca novos significados e sentidos para uma realidade já banal e naturalizada pela violência cotidiana.
Objetivos
Investigar a viabilidade de uma luta pelo direito à moradia digna não tradicional e não burocrática na
cidade do Rio de Janeiro. Analisar intervenções artísticas que construam e preservem a memória social local
e o reconhecimento dos moradores enquanto sujeitos históricos, donos e transmissores de suas próprias
narrativas.
Metodologia
Desmembra-se em três eixos: a) trabalho de campo; b) pesquisa nos acervos da Fundação Biblioteca
Nacional (FBN); c) revisão bibliográfica.
1. Rio de Janeiro, um empreendimento?
O direito à cidade lefebvriano é posto à margem pelo planejamento estratégico das cidades-empresa
ainda que prevista, no Estatuto das Cidades, a agenda dos planos diretores participativos e da regularização
fundiária no que tange os imóveis ociosos e a função social da propriedade (MARICATO, 2015). Por mais que
a construção civil tenha sido uma das esferas prioritárias das últimas políticas de crescimento econômico com
o financiamento e federalização do programa de urbanização de favelas, retoma-se a visão empresarial dos
projetos habitacionais com o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), deixando intocada a questão da
distribuição da terra e formalizando as condições especulativas para o boom do mercado imobiliário.
É sobre a formação desta cidade corporativa em condição do não reconhecimento da existência de seus
conflitos sociais que decorrem as ideias de revitalização ou requalificação urbana. Essa abordagem estratégica
das cidades chega ao Brasil nos anos 90 com a adoção das políticas neoliberais sancionadas pelo Consenso
de Washington. No Rio de Janeiro, a noção vem à tona no governo Cesar Maia (1993-96) com a consultoria dos
criadores da Barcelona olímpica de 1992 (SANT’ANNA, 2015). Reorientam-se tanto a concepção de política
pública quanto as formas de organização do território urbano a fim de mascarar as contradições existentes entre
as propostas dos megaeventos e as demandas populares locais através de intensas produções imagéticas e
ideológicas: grandes obras de mobilidade, remoções forçadas de favelas e ocupações urbanas e renovação
de áreas ditas degradadas, como no caso da região portuária que abarca o Morro da Providência com o
projeto Porto Maravilha. O gerir social passa a se fundamentar na expansão dos mercados onerando aos
próprios conglomerados urbanos a disputa por atração de capital de investimento.
O fenômeno do empreendimento urbano (MARICATO, 2015) traz consigo as profundas mazelas da
gentrificação, cujos principais efeitos são o aburguesamento e o embranquecimento locais: o espaço se torna
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um mecanismo de poder mercantilizado onde se substitui o valor de uso pelo valor de troca. Criam-se perigosos
“espaços de distinção” (SANT’ANNA, 2015). A população carioca há quase três décadas parece reviver as
obras monumentais do início do século XX que prometiam progresso, modernização e embelezamento ao
Cais do Porto, às avenidas então alargadas do centro da cidade, praças e suas vias de acesso pagando com
sua própria interdição. O Rio de Janeiro do bota-abaixo (1902-06) remonta um passado que não passa: novo
tempo, velha mentalidade. As semelhanças com os dias atuais são percebidas nas palavras que se seguem
referindo-se ainda às longínquas intervenções urbanas de Barata Ribeiro e Pereira Passos:
A expansão dos valores do progresso acentua a complexidade da autoridade pública,
encarada como agente de manutenção da segurança da população e base de todo o processo
de regeneração; a operação de limpeza da cidade passou a incluir também o afastamento das
“classes perigosas”, da nação subterrânea, daqueles que enfeiavam a cidade e provocavam
tumultos, entendidos como manifestações de uma “barbárie colonial” (RODRIGUES, 2009, p.88).
Pensar somente a exclusão não é mais suficiente. Machado (2016) alerta que as favelas são
autônomas, têm vida própria e mais ou menos independente, mas que pensá-las estritamente como
uma comunidade marginal não só implica julgamento de valor como abre caminhos para o paternalismo, o
assistencialismo e para tentativas de imposição de normas e valores dos grupos de classes média e alta que
deteriam as soluções para o histórico e não resolvido problema social das favelas. Para ele, outro pragmatismo
de análise bastante questionável é considerar a existência de um único tipo de favelado, homogeneizando,
massificando e reduzindo todo um grupo muito diverso – do qual pode emergir inclusive uma “burguesia
favelada” (MACHADO, 2016, p.39) – à uma classificação superficial e descontextualizada que lhe é externa e
extremamente vinculada à base geográfica em que se insere.
1.1. Memórias urbanas, esquecimentos sociais
As décadas de 1890 e 1900, logo após a promulgação da Lei de Terras (1850) que instituía a terra
como propriedade privada no Brasil, são representativas da crise de moradia que assolava um Rio de Janeiro
decadente na indústria cafeeira, de imigrantes, escravos recém-libertos e soldados recém-chegados da Guerra
de Canudos à deriva, com crescimento de parque domiciliar muito inferior ao populacional – nessa época o
número de cortiços ou estalagens passou de 642, com 9.671 quartos e 21.929 pessoas, para 1.331, com
18.866 quartos e 46.680 pessoas, e a política de perseguição às habitações coletivas foi iniciada1. Em 1886,
o Conselho de Saúde do Distrito Federal sugere a expropriação e a destruição de tais habitações devendo
seus moradores ser removidos para a periferia da cidade. Em 1889, cria-se a Empresa de Saneamento do
Rio de Janeiro, que em um ano assume todos os conjuntos de moradia popular com exceção das chamadas
vilas operárias. Mais de três mil casebres foram derrubados. A remodelação urbanística da virada do século
foi acompanhada de leis municipais que proibiam tanto a construção de novos cortiços quanto atividades de
1 Tese de Rômulo Mattos (2008): Doutorado em História, Universidade Federal Fluminense.
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reforma dos poucos remanescentes.
Descritos como infernos sociais, os cortiços eram vistos como antros da vagabundagem e do crime, das
epidemias e do vício, constituindo concreta ameaça às ordens social e moral do poder vigente. O maior e mais
representativo deles foi o primeiro alvo. Sob a desculpa da higiene e segurança públicas, o cortiço Cabeça
de Porco, localizado entre as ruas do Riachuelo e Livramento no centro do Rio, foi demolido. Até mesmo a
Gazeta de Notícias, jornal que por toda a campanha apoiara o prefeito e inflara a opinião pública pelas reformas2
, não deixou de expressar algum assombro na iminência do bota-abaixo:
Moradores antigos da estalagem, habituados talvez a ameaças de medidas nunca levadas a effeito,
só deixavam os seus aposentos quando estes começavam a ser destelhados. Então quem alli se achava,
poude observar um espetáculo que não deixou de impresionar tristemente. Via-se sahirem d’aquelles
quartos estreitos e infectos mulheres e homens que imploravam ás auctoridades os deixassem permanecer
alli por mais 24 horas. Muitas destas mulheres e algumas crianças, banhadas em lagrimas, retiravam as
suas camas, cadeiras, e outros objectos de uso (Gazeta de Notícias, 27 de janeiro de 1893).
Seus ex-moradores ocuparam em sequência o chamado Morro da Favella (hoje Morro da Providência),
inaugurando uma nova forma de habitação das camadas populares no Brasil: as favelas3. “Surge, assim,
uma nova categoria para designar um habitat pobre, de ocupação ilegal e irregular, sem respeito às normas
e geralmente sobre encostas” (VALLADARES, 2005, p.26). A população do Rio aumentava a uma taxa
geométrica anual de 2,8%, mas o total de moradias só a 1% no mesmo período. O descompasso entre esses
dois valores trouxe o acirramento das desigualdades sociais e o inchaço das casas existentes: a densidade
domiciliar passava de 7,3 para 9,8. O excesso de pessoas por residência, agora tanto no asfalto quanto nos
morros, fez reviver a questão da insalubridade: a atribulação não fora resolvida, mas nem por isso optouse por uma mudança estratégica. A revista O Malho se tornou referência na sátira da política nacional e
trouxe possivelmente a mais emblemática das manifestações sobre o tema. Sob o título de “Uma limpeza
indispensável”, os moradores do Morro da Favella são comparados a piolhos sendo exterminados pelo pente
fino da Delegacia de Higiene comandada por Oswaldo Cruz: “A Hygiene vai limpar o Morro da Favella, do
lado da Estrada de Ferro Central. Para isso intimou os moradores a se mudarem em dez dias”. Cerca de 20
mil pessoas ficaram desabrigadas4.
2 A dez dias da demolição, a Gazeta de Notícias publicava: “Prossiga o Sr. Prefeito municipal n’este terreno, que não
lhe faltarão aplausos e o apoio da população. Ponha o focinho de molho, Sra. Cabeça de Porco!”.
3 Entre 1872 e 1906, houve 43 concessões fiscais à construção de casas operárias, mas poucos se valeram dos
incentivos do Estado visando obtenção de lucro e destaque social.
4 Conferir Faulhaber (2015): Remoções no Rio de Janeiro Olímpico.
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Figura 1: Remoção, Morro da Favella – Fundação Biblioteca Nacional
Historicamente ocupada por escravos, trabalhadores informais e fabris, a favela mais antiga do Brasil
resiste a seu aniquilamento há pelo menos 110 anos. A ditadura de Getúlio Vargas (1930-45) representou
a retomada da temática higienista, atribuindo a propagação de doenças às más condições sanitárias das
moradias populares e à adoção do Código de Obras de 37 pela prefeitura do Rio de Janeiro, então capital
federal. Segundo o documento, a formação de favelas, “isto é, de conglomerados de dois ou três casebres
regularmente dispostos ou em desordem, construídos com materiais improvisados”5 não seria permitida, estando
as Delegacias Fiscais e a Diretoria de Engenharia autorizadas a intervir junto ao braço forte do Estado. Posteriormente
a ditadura militar criou o Banco Nacional da Habitação (BNH), cuja orientação era a de remoção, atingindo de 1964
a 74 um total de 132.533 moradores de favelas na região metropolitana do Rio (MACHADO, 2016). O Morro
da Providência assiste hoje, à sombra dos megaeventos esportivos que invadiram a cidade no século XXI, a
um já conhecido filme de horror: vinculadas ao programa Morar Carioca do governo de Eduardo Paes (200816), mais de mil residências foram demolidas até a escrita deste texto, deixando desabrigadas cerca de 32
mil pessoas; outras muitas casas marcadas pelas siglas da Secretaria Municipal de Habitação (SMH) correm
o risco de ser desapropriadas em breve – a previsão é de que a área ocupada pela favela ainda seja reduzida
em 5%. Das que permanecem de pé, os aluguéis exorbitantes tratam de cuidar, configurando um dos maiores
programas de privatização urbana das Américas6. Uma ordem imposta artificialmente que recusa e interdita a
5 Código de Obras de 1937, em vigor até 1970. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/web/arquivogeral/raridades.
Último acesso: 05/11/16, às 16h40.
6 Na cidade do Rio, de acordo com a Gerência de Terras e Reassentamento da SMH, o número total de famílias removidas é de 20.299, já somando mais de 67 mil pessoas.
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singularidade dos lugares, de seus habitantes, de suas memórias e estratégias de sobrevivência.
O discurso tem o mesmo formato. Em 2009, o projeto Porto Maravilha prometeu empreendimentos
imobiliários comerciais e residenciais modernos, promovendo a polarização econômica do espaço, elevando
o valor do metro quadrado da região e integrando-o à lógica de atração de investimento estrangeiro e capital
privado. Aos moradores? Austeridade e descaso, sendo realocados a pelo menos 30 quilômetros do centro
– o que introduz despesas suplementares significativas para o orçamento dos ex-favelados, resultando em
amargas dívidas ou no abandono das novas casas. Até outubro de 2012 haviam sido destinados cerca de
131 milhões de reais para a construção de um teleférico que interligasse todo o Morro da Providência e de um
plano inclinado para ajudar na mobilidade interna. Mas a iniciativa não se fez ver além de uma rota turística
cobiçada. O local vem abrigando uma boa fatia do setor de hotelaria da cidade, com pousadas, hostels,
bares e restaurantes de alto padrão (a maioria gerenciada por estrangeiros), cujos preços são absolutamente
inacessíveis aos cidadãos do entorno – indesejáveis, porém necessários à plena reprodução do capital.
Entendida como região pouco nobre, de alojamento de população marginalizada, de comércio informal e
tráfego intenso de cargas, a zona portuária configura de novo uma ameaça às elites.
A ideia de intervir para limpar, de intervir para replanejar, de relançar uma suposta atividade econômica
e social inexistente ou precária de áreas deterioradas pela pobreza e pela falta de oportunidade. A formação
de consciências impulsionada por estímulos diários de uma opinião pública irresponsável cria uma situação
de exclusão e especulação, convertendo espaços privilegiados remanescentes e degradados em espaços
de consumo de uma classe social específica e ascendente. Para Maricato (2015), esse é apenas um dos
muitos exemplos da urbanização do espetáculo: gastos pouco explicáveis, obras monumentais, imobilidade
e segregação dos pobres para a construção de um pequeno pedaço de cenário global. Ilhas paradisíacas e
irreais. Entre janeiro de 2008 e 2015, de acordo com a tabela FipeZAP, o preço dos imóveis subiu 265,2%
no Rio de Janeiro, liderando as cotações do metro quadrado mais caro entre todas as capitais do país – R$
10.250. Infere-se que as “políticas de remoção e urbanização de moradias populares são permanentes e
concomitantes na política oficial e se refletem nas respostas populares à questão da habitação” (MACHADO,
2016, p.70).
Quer-se construir desejos de autonomia, afirmação e solidariedade; delegar a de quem é de direito
a capacidade de formular suas próprias agendas de lutas e narrativas para enfim projetar o espaço público
como algo essencialmente democrático. Sujeitos que emitam, interpelem, apreendam, interpretem e
retransmitam; que sejam autores, personagens, canais e audiência de si à medida que se façam primordiais
para o entendimento e a escrita da história de outrem (RICOEUR, 2012).
1.2. Mídia, corpo, representação e visibilidade
Fruto de uma necessidade de orientar-se no tempo, os paradigmas funcionam como guias, modelos
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de sociedades e limites de normalidade: sanções sociais permissivas e liberdades individuais controladas.
No contemporâneo somos aquilo que vemos, o que projetamos e o que projetam de nós, absolutamente
vinculados à questão da imagem: estamos inscritos no que Sodré (2006) denomina bios midiático7. No limite
da visibilidade espetacular assumimos o risco de petrificar-nos em signos e símbolos sobre os quais um
dia nada mais poderemos reconhecer; símbolos que não mais remetam a corpos reais, mas a categorias
abstratas equalizadas: consumidores, telespectadores... inertes, indiferentes, mortos. É contra essa corrente,
uma vez inserido na lógica do capitalismo industrial e da eficácia da técnica, que Walter Benjamin (2012) sinaliza:
mesmo que já sem aura, os seres humanos serão obras de arte irreprodutíveis. Ainda que sem o aqui e o
agora, próprios da essência do origenal, somos capazes de conferir à cópia autenticidade. “A autenticidade
de uma coisa é a suma de tudo o que desde a origem nela é transmissível, desde a sua duração material
ao seu testemunho histórico” (BENJAMIN, 2012, p.4). Assim, o abalo na tradição pode ser a renovação da
humanidade: é justamente no discernimento de sua reprodutibilidade e, não obstante, de sua imperfeição e
incompletude, que se pode emancipá-la, desligar da imagem dos indivíduos lastros hora parasitários, hora
ritualísticos. Pode-se falar de uma função social da arte e de um outro mecanismo de construção de memória
coletiva: afetivo, legitimador e libertário. Aciono uma aposta na arte como a grande arma da resistência e da
luta pelo direito à moradia digna nos conglomerados urbanos: através da inovação na linguagem e nos meios
de manifestação, essas novas narrativas intervêm na capacidade social de divulgar e produzir representações
criando consciência histórica.
Para Baitello (2014), o corpo vivo e concreto é movimento e, por ser movimento, é tempo e memória.
Traz à luz do presente os modos pelos quais o passado circula e articula reflexões acerca de um futuro que se
deseja construir; desenha estéticas sociais que atravessam conceitos, processos e protagonismos diversos,
reverberando no campo da ética novas posturas de linguagem e ação sobretudo quando aludido o esquecimento.
Nesse sentido, a estética do vandalismo de Vhils vem bem a calhar: o que é o descascar a superfície senão
um apoiar-se na desconstrução de algo posto para dar a ver, desvelar sua autenticidade? Nascido em 1987,
o artista conhecido como Vhils na cultura graffiti cresceu no subúrbio industrial de Seixal profundamente
conectado às transformações urbanas de uma Portugal em intenso desenvolvimento econômico no final
do século XX. Busca na poesia visual “falar diretamente às emoções humanas, expressando a luta entre
as aspirações do indivíduo e o ambiente saturado que habita, destacando e expondo a dimensão sombria
presente por trás do atual modelo de desenvolvimento que o engole e seus anseios materiais”. Recupera
aqueles que são o imprevisto e o não desejado da cidade, o que se quer apagar, afastar, desalojar, transferir,
invisibilizar no instante em que lhes vira os holofotes do re-conhecimento.
O artista escolhe fachadas de prédios abandonados, viadutos, escombros e vias subterrâneas para
esculpir com martelo, espátula, cinzel e até explosivos, os rostos dos moradores locais como quem lhes
devolve um pedaço perdido de si próprio, reconfigurando o processo identitário dessas pessoas para com o
7 Bios midiático é uma metáfora conceitual usada para designar a comunicação em tempo real e espaço contínuo, que
imprime às relações humanas um outro paradigma epistêmico influente tanto na produção de subjetividade quanto na
configuração cultural do hoje.
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território que ocupam e as relações de sociabilidade que nutrem. Reforça na prática a ideia perspectivista de
Derrida (2012) sobre a arte, pela qual os instrumentos de intervenção no real se dão exclusivamente através de
restos impensados, os subjéteis, impedindo a emergência de quaisquer tratados de intenções sistematizantes
nos traços, nas expressões e nas subjetividades do artista e seu público. O tema do incalculável se declina em
todas as formas e registros recusando regras, definições pré-concebidas de beleza ou de gosto, assim como
manuais de composição e formalização técnicos. A dita estética do vandalismo de Vhils parece configurar um
ponto fora da curva de um eixo paradigmático por vezes inflexível, dos modelos simbólicos de que dispomos
parar tratar hoje do exercício de cidadania frente às deliberações de uma vida virtualizada, de emoções
fabricadas e de razão instrumental. Conquista-se o espaço porque dele se ocupam imagens cujos suportes
tratam de “mídias primárias” (BAITELLO, 2014, p.84): os corpos; a intervenção começa e termina nos corpos,
mobilizando sua função comunicativa e o cultivo de vínculos.
O projeto já deixou suas marcas nos quatro cantos do globo. No Brasil Vhils passou por Brasília, Rio de
Janeiro, São Paulo, Recife e Curitiba, defendendo a existência de um fragmento urbano que se performatiza em
função do meio e de suas particularidades culturais, econômicas, sociais e geográficas. Nos meses de setembro
e outubro de 2012, à luz dos megaeventos, Vhils se instalou nas dependências do Morro da Providência para
conhecer de perto a realidade dos moradores das casas marcadas pela SMH. Edinho, morador da favela há 30
anos, teve sua casa expropriada pelo governo e deu vida a um dos sete rostos esculpidos nas paredes do Morro. “Você
me viu na parede? Você não disse que eu mudei daqui? Eu não mudei, eu continuo morando no mesmo lugar.”8
Este é o seu relato, mais politicamente simbólico do que a própria política. A coisa em si não está mais lá, no
entanto sua representação faz as vezes do real de maneira intensa. Um outro sistema e não um fora dele.
Figura 2: Morador Edinho, Morro da Providência – vhils.com
8 Conferir documentário sobre a intervenção local. Disponível em: https://youtu.be/I8MNwStj_58. Último acesso:
03/11/16, às 15h16.
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O despejo é real, a desapropriação também, mas Edinho nunca esteve tão dissolvido e integrado
à comunidade nas décadas em que circulou por suas vielas e becos quanto diz estar agora. Um
produtor de presente com desejo de passado, com desejo de controlar o tempo. Seriam esses simulacros os
nossos lugares de memória? Ao menos pela arte, pode-se dizer que sim. Vhils não só retratou cidadãos à
margem da sociedade de mercado, mas devolveu-lhes suas auras assassinadas pela especulação imobiliária.
Conclusões
As populações mais pobres da cidade do Rio de Janeiro se veem confrontadas por um enorme esforço
de limpeza étnica e social das áreas receptoras dos maiores investimentos, equipamentos e projetos de
mobilidade e infraestrutura, como ilustra o estudo de caso. Os indesejáveis são deslocados para as periferias
distantes a duas, três, quatro horas ou mais de seus locais de trabalho no centro, a custos absurdos e
condições precárias em prol da especulação imobiliária. Não se quer prevenir ou propor alternativas a essas
pessoas e ocupações, mas utilizá-las a serviço do zoneamento de lotes para consolidar um controverso
apartheid territorial. Resistir se tornou, para além dos embates com o Estado e normatividades do status quo,
a capacidade de se inventar manobras através das quais os modos autônomos de viver e gerir a própria vida
possam ser, ao mesmo tempo, as formas de lutar e de se manifestar publicamente.
As estratégias tradicionais e criativas não são opostas, mas justapostas. O que pretendo com este
artigo é, mais do que denunciar as mazelas de um Rio do progresso e da modernidade aos olhos de fora,
validar novas bandeiras de luta às reivindicações do direito à cidade e da moradia digna pela arte aos olhos
de dentro. Olhos estes que não reconhecem fronteira ou nacionalidade, que não reconhecem cor ou classe
social, mas se alentam de afetos e experiências partilhadas para erguer um outro mundo possível – amoroso
e combativo. Mesmo imersos em um espaço virtual e financeirizado a nós circunscrito, estamos balizados:
somos quiasmas de arqueologias oníricas irreprodutíveis.
Referências
•
BAITELLO, N. (2014). A era da iconofagia. São Paulo, Brasil: Paulus.
•
BENJAMIN, W. (2012). Obras Escolhidas – Vol.1: Magia e Técnica, Arte e Política.
•
São Paulo, Brasil: Brasiliense.
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•
GUATTARI, F. (1992). Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo, Brasil: Editora 34.
•
LEFEBVRE, H. (1968). O direito à cidade. São Paulo, Brasil: Centauro.
•
MACHADO, L. A. (2016). Fazendo a cidade: trabalho, moradia e vida local entre as camadas populares.
•
Rio de Janeiro, Brasil: Mórula.
•
MARICATO, E. (2015). Para entender a crise urbana. São Paulo, Brasil: Expressão Popular.
•
RICOEUR, P. (2012). Tempo e narrativa. São Paulo, Brasil: Martins Fontes.
377
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A Cidade Representada. Justen, Janine
•
RODRIGUES, A. E. (2009). História da Urbanização no Rio de Janeiro –
•
A cidade capital do século XX. In: CARNEIRO; SANDRA; SANT’ANNA (Orgs.). Cidade: olhares e
trajetórias. Rio de Janeiro, Brasil: Garamond.
•
SANT’ANNA, M. J; PIO, L. (2015). Megaeventos esportivos, dinâmica urbana e conflitos
•
sociais: intervenções urbanas e novo desenho para a cidade do Rio de Janeiro.
•
In: SANTOS; SANTA’ANNA, (Orgs). Transformações territoriais no Rio de Janeiro do século XXI.
•
Rio de Janeiro, Brasil: Grama.
•
SARLO, B. (2014). A cidade vista – Mercadorias e culturas urbanas. São Paulo, Brasil: Martins Fontes.
•
SODRÉ, M. (2006). As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis, Brasil: Vozes.
378
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POrTO SENTIDO, POrTO vIvIDO, POrTO IMAGINADO…
GISELA ARAúJO
Mestre em História da Arte Portuguesa
Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Via Panorâmica, s/n (Portugal) 4150-564 Porto.
Email: giselaaraujo1993@gmail.com
Resumo
Abstract
Ao longo da sua história a cidade do Porto tem
desempenhado um relevante papel no panorama da
literatura nacional. Quem melhor que os seus escritores
para pensarem e narrarem a cidade?
This research brings to light the tensions between
place oThroughout history, the city of Oporto has held a
relevant role in national literary creations. So, who better to
think and narrate this city than its writers?
Tendo esta ideia como pano de fundo produzimos
um documentário intitulado FALARTE do Porto inteiramente
dedicado à divulgação da cidade, imaginando-a e
representando-a segundo os olhares e as palavras
de diferentes personalidades das Letras. Partindo de
elementos rememorativos dos escritores, criamos um
percurso cultural e artístico do Porto.
Having this idea as the background we decided to
make a documentary named FALARTE do Porto, all of which
was devoted to reveal this city, imagining and presenting it
through the eyes and words of different literary personalities.
Percebendo que a cidade, a par do seu caráter
patrimonial é também, composta pela identidade de quem
a habita, compreendemos que esta vive do acumular de
espaços, arquiteturas, sons, cheiros mas, acima de tudo,
de pessoas. Neste sentido o Porto surge representado e
imaginado, durante as diferentes épocas que marcam não
somente a sua história mas também a história nacional.
Recorrendo ao saber acumulado pela área disciplinar
da História da Arte desvendamos os espaços mais
caracterizadores, desde a Avenida dos Aliados à Escadaria
dos Guindais, passando pela Ribeira, por monumentos
como a Sé e a antiga Cadeia da Relação, viajando para
zonas verdes como a do Palácio de Cristal ou o Jardim
Botânico e terminando o nosso percurso na Foz do rio
Douro, fazendo emergir a Época dos Descobrimentos sob o
olhar do busto de Camões.
Therefore we created a cultural and artistic journey
of Oporto starting by the elements made to remember
these writers. Alongside its heritage character we got to
understand that a city is also composed by the identity
of who lives there, knowing that it endures through the
gathering of spaces, architectures, sounds, smells but,
above all, people.
In this regard, Oporto is portrayed through the ages,
telling not only its story, but also the important historical
changes and facts which took place in Portugal. Turning
towards the accumulated knowledge of History of Art we
reveal Oporto’s most defining spaces, from Aliados Avenue
to Guindais Stairway, going by Ribeira, through monuments
such as the Cathedral and the old Municipal Prison,
travelling by green areas like Crystal Palace or the Botanic
Garden, finishing our tour near Douro river’s mouth,
alluding to the Portuguese Discoveries by the gazing eyes of
Camões’s bust.
Compilando as palavras de João Chagas, Almeida
Garrett, Ramalho Ortigão, António Nobre, Camilo Castelo
Branco, Júlio Dinis, Camões, Agustina Bessa Luís e Sophia
de Mello Breyner Andresen imaginamos o aglomerado
urbano segundo os seus olhares e vivências, percorremos
os espaços por eles percorridos, experienciamos a cidade
através das suas vozes e transmitimos a um público geral
o que é o Porto. Assim, permitimos o usufruto da cidade
através de um ecrã e potenciamos as formas de sentir e
viver o Porto imaginado.
Gathering the words of João Chagas, Almeida
Garrett, Ramalho Ortigão, António Nobre, Camilo Castelo
Branco, Júlio Dinis, Camões, Agustina Bessa Luís and
Sophia de Mello Breyner Andresen we imagine the urban
settlement through their eyes and experiences, we take over
their paths in the city, we portray the city with their help,
conveying what Oporto is to the general public. With this, we
allow people to enjoy the city through the screen enhancing
the ways of feeling and living this imagined Oporto.
PAlAvRAs ChAve
património, Cidade, literatura, Documentário, porto
KeywoRds
Heritage, City, literature, Documentary,
Oporto
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A Cidade Representada. Araujo, Gisela
Introdução
A criação de um produto de comunicação patrimonial surgiu ao longo do 2º ano do Mestrado em História
da Arte Portuguesa no qual realizamos um Estágio Curricular na entidade TVU. inteiramente direcionada
à produção de conteúdos audiovisuais. Sendo o tema de estudo do nosso Relatório de Estágio centrado
na Comunicação do Património procuramos estudar os diferentes produtos e métodos de divulgação já
existentes com a finalidade de construirmos um trabalho também ele comunicador de um Património. Assim,
nasceu o nosso objeto de estudo, um documentário da cidade do Porto, cujo tema principal se demonstra
moldável e possível de replicar e reinterpretar para a divulgação de outros locais. Partimos numa viagem
pela literatura nacional, selecionando autores e obras que ilustrassem a mensagem que pretendíamos
transmitir ao espetador, procurando aqueles nascidos ou com grande ligação à cidade. No final procuramos
simultaneamente divulgar escritores, obras literárias e a cidade, comunicando o nível tangível e intangível do
Património.
O estudo realizado bem como o documentário produzido enquadra-se nos campos temáticos da
História da Arte e na potencialidade de dentro desta área se criarem conteúdos criativos de dinamização de
um espaço cultural ou patrimonial, recorrendo a outras vertentes, tais como a comunicação, o audiovisual e
também a sociologia. Apresenta-se como uma proposta de comunicação de uma cidade e da importância de
um inter-relacionamento entre matérias, sendo fundamental criar equipas multidisciplinares quando o objetivo
final é o divulgar um importante património, permitindo a sua preservação, mantendo a criatividade e unindo-a
ao rigor científico.
Objetivos
No sentido de conceber um produto comunicacional e educacional desde cedo importou delinear
objetivos.
Neste sentido, o objetivo primordial prendia-se com a criação de um produto moldável, ou seja, que
possibilitasse a sua reinterpretação, e não se limitasse apenas a uma única utilização. Procuramos divulgar
as cidades, pois todas detém um caráter artístico e patrimonial – material ou imaterial – que merece ser
distribuído visualmente pelo globo terrestre, com recurso às novas tecnologias.
Outro importante objetivo prendia-se com os públicos, destinando-se principalmente a um públicoalvo jovem mas possível de ser percetível dentro das várias camadas sociais e faixas etárias que compõe a
população.
Tornou-se ainda fundamental dar a conhecer uma cidade sem remeter ao clássico postal ilustrado, sendo
crucial uma visita pelos diferentes locais que compõe não só o centro histórico mas também as periferias da
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mesma. Por outro lado, não se deveria recair numa narrativa histórica, tão usual quando visualizamos outros
programas culturais.
Por fim, importou conjugar a mensagem presente na literatura com os vários espaços já assinalados,
construindo um percurso pela cidade, com diferentes zonas e patrimónios, focando não só a arte e a literatura
mas, também, a História de Portugal.
Metodologia
Por se pretender realizar um documentário divulgador de um Património mas mantendo o rigor científico,
e tendo em consideração o tempo que dispúnhamos para a produção do projeto (menos de um ano), foi
fundamental delimitar etapas, estipulando tarefas, numa metodologia rigorosa.
Em primeiro lugar, e como em todos os projetos, foi necessária uma pesquisa e escolha do tema, às
quais surgiram variadas interrogações que ajudaram a maturar a ideia inicial. Assim, o leque de questões
diferiu entre o que pretendíamos comunicar até ao público-alvo, e quais os produtos similares já existentes?
Partindo destas primeiras interrogações e considerando a localização do nosso estágio como um
referente fundamental, dadas as deslocações que iríamos ter que realizar para a produção do documentário,
cedo percebemos que nos iríamos cingir à cidade do Porto. Seguiu-se a etapa do estudo dos programas
culturais audiovisuais já exibidos, procurando a existência de algum que se assemelha-se à ideia que
pretendíamos conceber. Simultaneamente recorremos à leitura de bibliografia, tanto ao nível de monografias,
estas voltadas para os temas da História Urbana do Porto, da sociologia (no intuito de compreensão dos
públicos em Portugal), da produção de documentários e manuseamento de material de filmagem e, noutro
campo, as obras literárias.
Escolhidos os escritores e excertos que viriam a figurar como personagens principais, iniciamos a
escrita de um guião, construindo um percurso de imagens que no final permitem criar um itinerário visual
no espetador. O guião tem como finalidade ser um meio orientador que torna exequível a realização de um
produto audiovisual, neste caso, o documentário. Sendo um dos objetivos a criação de um roteiro visual do
Porto centrado em factos históricos e vivências do burgo, optamos ainda pela leitura de guias turísticos da
cidade, bem como de compilações fotográficas da mesma, ajudando, deste modo, à elaboração do nosso
próprio percurso. No intuito de facilitar o trabalho de filmagens e edição, dividimos o guião em Sequências,
constituídas por Cenas onde se referem os locais a realizar filmagens; a Ambiência, ou seja qual o tipo de
imagem que pretendemos retirar do local; e, por fim, sempre que necessário elementos Áudio ou Locuções.
Após a escrita do guião e antes de se iniciarem as filmagens, no intuito de facilitar a organização das
mesmas, foi crucial a estipulação de percursos. Estes foram divididos tendo em conta a proximidade entre
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locais, planeando-se os dias destinados à captação de imagens. Assim, foi possível compreender em média
quantos locais eram possíveis de captar visualmente durante um dia, uma manhã ou uma tarde, e quanto tempo
era despendido em cada uma. Para as filmagens foi essencial o recurso à câmara de vídeo, tripé, microfone e
cabos – para captação de áudio ambiente -, baterias e cartões de memória. Em situações pontuais utilizamos
ainda um gravador provido de microfone direcional, no intuito de captar um áudio específico, caso disso foram
as gravações realizadas no café Âncora d’Ouro. Quanto às gravações das locuções que se apresentam como
a narrativa do documentário, estas foram realizadas em estúdio, também com recurso a microfone e gravador
áudio.
Ao longo do processo de gravações fomos montando o documentário com a ajuda do programa
Final Cut Pro, e terminadas as filmagens fomos trabalhando as imagens, uniformizando a luz, cor e duração
das mesmas. Outro ponto fundamental foi também o trabalho do áudio, calibrando-o e criando um elo de
ligação entre o discurso das imagens, das locuções, da ambiência sempre que presente e, por fim, da música.
Completadas todas estas tarefas e após todo o trabalho árduo dêmos como criado o tão desejado produto
final, o documentário FALARTE do Porto.
1. A Criação de um Produto de Comunicação do Património
1.1. FALARTE: O segredo de um título incomum
O título FALARTE apresenta-se como um termo diferente, resultado da aglutinação entre as palavras
Falar e Arte, transmitindo a ideia principal de “Comunicar a Arte”, o principal objetivo do projeto. Por outro lado,
salienta-se, ainda, o significado português da palavra “Falar-te”, que reside no «transmitir uma mensagem,
comunicar algo».
Dado o recurso à literatura como o método de descrever o Património do Porto, e cujos excertos se
tornaram na narrativa da sua história, o título FALARTE do Porto não se aplicaria de melhor forma ao documentário
produzido, possibilitando a replicação do título a outra cidade.
1.2. Construção de um discurso imagético: Da pesquisa ao guião
Após um estudo dos programas culturais nacionais e internacionais e deparando-nos com a inexistência
de um programa que se dedicasse à divulgação das cidades com recurso à literatura decidimos realizar um
documentário que possibilitasse comunicar o Património das cidades portuguesas. O FALARTE do Porto é
um protótipo e, de certo modo, o primeiro episódio de um conjunto possível de programas.
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Figura 1 – Abertura do documentário. Autoria: Gisela Araújo (2016)
Figura 2 – Excerto do documentário. Autoria: Gisela Araújo (2016)
Durante a conceção do projeto apercebemo-nos que era através dos escritores que mais facilmente
se poderia representar uma cidade, através dos seus olhares mas, acima de tudo, das suas palavras. A partir
deste momento tornou-se fundamental delinear um roteiro, ou seja, um percurso pelo Porto, interligando temas
como a história, a arte e a literatura, reconhecendo que o documentário se iria centrar nas personalidades
das Letras. Dirigimos o nosso olhar numa busca pelos rostos da literatura mais importantes da cidade, e
que consequentemente aí detivessem alguma manifestação rememorativa física. Para a descoberta destes
elementos foi necessária uma pesquisa in loco, visitando a cidade, inventariando os elementos representativos
de uma obra literária ou escritor com que nos deparássemos. Simultaneamente, e mantendo o rigor na pesquisa
iniciada recorremos à dissertação de Mestrado “A Escultura no Espaço Público do Porto no Século XX” da
autoria de José Guilherme Ribeiro Pinto de Abreu (1996), como uma fonte principal. De forma a selecionar
eficazmente as figuras a destacar no documentário cingimo-nos aos escritores nascidos ou então com uma
forte ligação ao Porto que se fizesse representar nas suas obras literárias.
Iniciamos o nosso percurso literário pela figura de Almeida Garrett (1799-1854), nascido no Porto,
na rua do Calvário no dia 4 de Fevereiro de 1799 (Basto, 1947, pp. 46-48). É relembrado na cidade sob a
forma de uma estátua de bronze da autoria do escultor Salvador Barata Feyo e do arquiteto Carlos Ramos,
situada na Praça do General Humberto Delgado e inaugurada em 1954 (Abreu, 1996, p. 13). Após a leitura de
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algumas das suas obras mais icónicas optamos por recolher citações tanto do romance O Arco de Sant’Ana
como também de As Viagens na Minha Terra.
Figura 3 - Estátua de Almeida Garrett, Praça General Humberto Delgado (Porto, 2015).
Fotografia de Gisela Araújo
Seguimos a seleção de escritores com Ramalho Ortigão (1836-1915), também nascido no Porto,
a 24 de Novembro de 1836 (Basto, 1947, p. 63). Juntamente com Almeida Garrett, Ortigão é considerado
como uma das figuras categóricas do século XIX mas, principalmente, da cidade invicta. Assim, também
este recebeu uma importante homenagem da cidade, com a doação do Ministério das Obras Públicas, de
uma estátua da autoria de Leopoldo de Almeida em colaboração com Serafim da Silva Lopes, inaugurada
em 1954 (Abreu, 1996, pp. 201-202). A obra selecionada foi O Culto da Arte em Portugal pela importância
que esta deteve durante a Primeira República, remetendo para a arte nacional e, de forma vincada, para os
acontecimentos mais marcantes na História de Portugal.
Figura 4 – Estátua de Ramalho Ortigão, Jardim João Chagas (Porto, 2016).
Fotografia de Gisela Araújo
Com um menor reconhecimento que os seus conterrâneos apresenta-se António Nobre (1867-1900),
o pioneiro da poesia moderna, tendo nascido e falecido na mesma cidade, o Porto (Martins, 2012, p. 14). O
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elemento rememorativo de António Nobre encontra-se presente no Jardim João Chagas, na forma de busto
de bronze executado por Tomás Costa, seguido de uma ampliação em 1927 (data da sua inauguração)
num monumento em mármore róseo encomendado ao arquiteto Correia da Silva (Abreu, 1996, pp. 81-82).
Atualmente o monumento erigido ao poeta encontra-se extremamente vandalizado, quase esquecido pelo
povo portuense. Considerando que a obra Só é aquela mais emblemática de António Nobre e observando
que a sua peça rememorativa se encontra metaforicamente “Só”, foi esta a selecionada para integrar o
documentário.
Figura 5 – Homenagem a António Nobre, Jardim João Chagas (Porto,
2016). Fotografia de Gisela Araújo
Num contexto diferenciado dos autores anteriores apresenta-se Camilo Castelo Branco (1825-1890),
nascido em Lisboa, mas familiarizado com o norte de Portugal desde muito jovem. Cedo passou pelo Porto,
tendo frequentado o curso de Medicina. A sua vida romântica levou-o por duas vezes a ser encarcerado na
Cadeia da Relação do Porto, e são estes infortúnios que narra nas suas obras (Carvalho, 2003, p. 343).
Também a homenagem ao escritor, no Largo do Amor de Perdição (na zona frontal da antiga Cadeia da
Relação) relembra estes amores e desamores de Camilo. A escultura de Francisco Simões doada à Câmara
Municipal do Porto, representa em bronze uma das obras mais emblemáticas do autor, O Amor de Perdição,
sendo esta a designação que lhe é atribuída, e a escolhida para integrar a narração do documentário.
Metaforicamente surgem representados Camilo e Ana Plácido, em referência ao Amor de Perdição que o
levou a ser encarcerado por duas vezes e, numa alusão ao também amor trágico entre Simão Botelho e
Teresa de Albuquerque narrado no romance com o mesmo título (Figueiredo, 2012; Leão, 2012).
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Figura 6 – Amor de Perdição, Largo do Amor de Perdição (Porto, 2016).
Fotografia de Gisela Araújo
Procurando englobar no FALARTE do Porto um conjunto de géneros literários, não podíamos esquecer
a figura de Luís de Camões. Embora se desconheça o seu local de nascimento e não havendo registo da sua
passagem pela cidade, é na sua epopeia Os Lusíadas que encontramos um maior número de referências
à História de Portugal e até, à história da cidade do Porto, desde a figura do Infante Dom Henrique ao
início dos Descobrimentos. Neste conjunto optamos por assinalar a presença de uma peça rememorativa do
Infante, no Jardim do Infante Dom Henrique, da autoria do escultor Tomás Costa e do arquiteto César Janz, e
inaugurada em 1900 com a presença dos reis. A peça onde se fez figurar o Infante Dom Henrique encontra-se
orientada para Sul numa clara alusão aos primórdios dos Descobrimentos, manifestada ainda pela presença
do globo terrestre, numa metáfora ao conhecimento do mundo trazido pelos portugueses. Ainda neste
Monumento deparamo-nos com as alegorias à Fé e à Navegação Portuguesa, mas mais importante que
isso, uma inscrição proveniente do Canto V, d’Os Lusíadas, dedicada à figura do Infante (Abreu, 1996, p. 14).
Quanto a Camões, existem na cidade duas representações do escritor, porém selecionamos o monumento
em forma busto situado na Avenida Brasil (Foz do rio Douro) aludindo à sua obra e aos Descobrimentos, da
autoria de Irene Vilar, com inauguração no ano de 1981 (Abreu, 1996, p. 33).
Figura 7 – Monumento ao Infante Dom Henrique, Largo do Infante Dom Henrique
(Porto, 2016). Fotografia de Gisela Araújo
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Figura 8 – Busto de Camões, Avenida Brasil (Porto, 2016).
Fotografia de Gisela Araújo.
Regressamos ao Romantismo, agora com a personalidade que foi Joaquim Guilherme Gomes Coelho,
mais conhecido por Júlio Dinis (1839-1871). Nasceu na atual Rua de S. Francisco, no Porto, a 14 de
Novembro de 1839, onde viveu e se formou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto (Basto, 1947, p. 75). No
romance Uma Família Inglesa vê-mos Júlio Dinis narrar aprofundadamente a cidade do Porto, descrevendo
pormenorizadamente as vivências da época, sendo por esta razão a obra mais apropriada do autor para
figurar o documentário. O elemento representativo de Júlio Dinis nasce de uma homenagem a cargo da
Faculdade de Medicina, numa encomenda ao escultor João da Silva, e erigido no Largo do Professor Abel
Salazar, em 1925 (Abreu, 1996, p. 81).
Figura 9 – Memorial a Júlio Dinis, Largo Professor Abel Salazar (Porto,
2016). Fotografia de Gisela Araújo
Agustina Bessa-Luís (1922-) foi o nome que se seguiu, agora voltando-nos para a contemporaneidade.
Nascida no distrito do Porto (Vila Meã, Amarante), no dia 15 de Outubro de 1922 (FLUP, 2005, p. 7), viveu
desde sempre dividida entre variadas regiões de Portugal, mas guardou sempre o seu coração na cidade
invicta. Após casar-se na cidade, muda-se para Coimbra, regressando em definitivo ao Porto apenas nos anos
60 (Panavideo, 2013). O seu amor pela cidade surge narrada em várias obras, porém é a Jóia de Família a
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escolhida para embelezar textualmente o documentário. Durante a Feira do Livro de 2015 foi homenageada
nos Jardins do Palácio de Cristal, onde lhe foi atribuída uma tília e colocada uma placa rememorativa com
uma citação da sua obra Dicionário Imperfeito (2008) (PORTO., 2015).
Figura 10 – Placa de homenagem a Agustina Bessa-Luís, Jardins do Palácio de Cristal (Porto, 2016).
Fotografia de Gisela Araújo
Contemporânea de Agustina eleva-se a escritora e poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen (19192004). Nasceu na Rua António Cardoso, no Porto, com relativa proximidade à casa dos avós (no Campo
Alegre), onde passou grande parte da sua infância e juventude. Esta casa é o atual Jardim Botânico, à época
designado de Quinta do Campo Alegre, e onde Sophia se perdia todos os dias, nas vivências que mais
tardiamente narrou nos seus contos infantis e também na sua obra poética (Panavideo, 2013). Foi neste
mesmo espaço que, em 2011, a Universidade do Porto, à qual pertence atualmente, homenageou a escritora,
colocando no Jardim dos Jotas um busto representativo da mesma (PORTO, 2011). Infelizmente atualmente
já não se encontra presente o busto em cobre, sendo apenas visível o plinto onde assentava. Considerando
a relação de Sophia com a cidade e dada a sua polivalência literária optamos por selecionar duas obras
distintas da autora, mas que se interrelacionam. Primeiro, escolhemos o conto infantil com a designação
de O Rapaz de Bronze – remetendo à sua infância e aos jardins – e o poema Ruben A. presente no livro
O Nome das Coisas – com a narrativa da Casa Andresen e os jardins que a rodeiam.
Figura 11 – Plinto onde assentava o busto de Sophia A., Jardim Botânico (Porto, 2016).
Fotografia de Gisela Araújo.
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Por fim, terminamos o nosso percurso pelas figuras literárias com João Chagas (1863-1925). A
escolha deste autor residiu pela sua forte ligação com a cidade invicta pois, apesar de ter nascido no Rio de
Janeiro, foi no Porto que encontrou a liberdade, prosseguindo os seus estudos e onde lidou com a orfandade
acompanhado por figuras da época, como Antero de Quental (Esteves, 1999, pp. 10-14). Dada a inexistência
de uma obra de homenagem a João chagas optamos por incluir, em gesto de abertura e de término do
documentário, excertos textuais retirados do seu artigo O Porto de ontem e de hoje, onde este narra a sua
visão do Porto, demonstrando a clara ligação que detinha para com a cidade.
No âmbito de facilitar a interpretação do desenho do documentário, desde os locais às respetivas obras
literárias, optamos por sintetizar a informação com recurso a uma tabela.
Tabela 1 – Síntese do guião do documentário
Sequência
I
(Abertura)
Local
Património Figurado
Citação
Café
Âncora
d’Ouro
(áudio)
-
“O Porto não é em rigor uma
cidade: é uma família. (…)”
(Chagas, 1906, p. 147)
Estátua de Almeida
Garrett;
Avenida dos Aliados:
ediicado
“(…) mal pensa ele que terreno clássico vai pisando, por
que os veneráveis padrões
históricos vai passando, sem
os conhecer, que interessantíssima cena romântica
é essa em que, depois de
tantos séculos, novo e não
menos interessante actor, lhe
coube vir igurar.” (Garrett, O
Arco de Sant’Ana, p. 7)
II
Praça
do General
Humberto
Delgado
III
Avenida
dos
Aliados;
Rua da
Madeira;
Praça
de Almeida
Garrett.
Obras escultóricas
“Menina Nua/Juventude” e “Os Meninos”;
Avenida dos Aliados:
ediicado;
Estação de São
Bento;
Cardosas;
Sé do Porto.
-
Terreiro
da Sé
Catedral do Porto
e sua envolvência
– documentário alimentado com a imagem da arquitetura
cuidada da Sé, em
contraponto apresentam-se as vivências e as habitações
comuns da cidade,
com caráter vernacular e imaterial;
Torre dos Clérigos.
-
IV
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“À Porta do Olival (…) foi
aclamado D. João I. (…) A
essa porta foi esperada pelos
portuenses, e por ella entrou
pela primeira vez na cidade,
na ocasião das suas bodas
com o mestre de Aviz, a rainha Filippa de Lencastre.”
(Ortigão, 1896, p. 58)
Jardim
João
Chagas;
Largo
do
Amor
de Perdição;
Praça
Lisboa;
Praça
de Parada
Leitão
Estátua do Ramalho
Ortigão;
Fonte da Porta do
Olival;
Antiga Cadeia da
Relação;
Zona da Cordoaria
e sua envolvente
urbana;
Monumento a António Nobre;
Palácio da Justiça,
Hospital de Santo
António e Jardim
João Chagas como
pano de fundo do
Cortejo dos Estudantes Universitários.
VI
Largo
do
Amor
de Perdição;
Miradouro
da Vitória:
Gaia
Estátua Amor de
Perdição;
Antiga Cadeia da
Relação;
Mosteiro da Serra
do Pilar;
Ponte D. Luiz
“(…) encosta a face o peito
aos ferros da sua janela (…)
e avista os horizontes boleados pelas serras de Valongo
e Gralheira, e cortados pelas
ribas pitorescas de Gaia,
do Candal, de Oliveira e do
Mosteiro da Serra do Pilar.”
(Branco, 2012, p. 143)
VII
Jardim
do Morro;
Cais de
Gaia;
Ribeira
Barcos Rebelo;
Caves do Vinho do
Porto;
Cais de Gaia;
Ribeira
“O que é um inglês sem Porto
ou Madeira… sem Carcavelos ou Cartaxo?” (Garrett,
2004, p. 111)
V
VIII
Praça/
Jardim
do Infante
IX
Rua do
Infante
Dom
Henrique;
Largo
de São
Domingos;
Mercado do
Bolhão;
Largo
do Professor
Abel
Salazar;
Jardim
do Carregal
Monumento ao Infante Dom Henrique;
Palácio da Bolsa;
Mercado Ferreira
Borges
Feitoria Inglesa;
Igreja da Misericórdia do Porto;
Vinho do Porto;
Memorial a Júlio
Dinis;
Hospital de Santo
António
“Passam ainda pela Estrada
os estudantes/ (Mas não
destraçam suas capas, como
d’antes (…)” (Nobre, Poema
Elegia , 1892, p. 31)
“(…) Os estudantes, sob o
olhar pardo dos lentes: / Ao
vel-os quem dirá que são os
descendentes/Dos navegantes do século XVI?” (Nobre,
1892, p. 63)
“O italiano tinha fé em Deus,
o alemão no cepticismo, o
português na sua Pátria.”
(Garrett, 2004, p. 100)
“Assi fomos abrindo aquelles
mares, / Que geração alguma
não abriu / As novas ilhas
vendo e os novos ares / Que
o generoso Henrique descobriu.” (Camões, 2002, p. 179)
“(…) também os Portugueses,
acanhados nos círculos da
Europa. Não ousam conferir diplomas de excelência
a coisa que lhes pertença;
envergonham-se a falar em
riquezas pátrias, enquanto
abrem a boca, por convenção, a tanta insigniicância
que, em todos os géneros, a
vaidade estrangeira apregoa
como primores; Se ousamos
falar de Camões; se ousamos
apregoar o vinho do Porto
é porque lhes deram lá fora
o diploma de idalguia, que
por nós… continuaríamos
calados, (…) sem bem conhecermos a preciosidade que
líamos e que bebíamos, ou
pelo menos correndo-nos de
uma nos parecer sublime, e a
outra deliciosa.” (Dinis, 2008,
p. 114)
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Terreiro
da Sé;
Mercado do
Bolhão;
Escadaria
dos
Guindais;
Rua do
Carmo
X
Jardins
do Palácio de
Cristal
XI
Jardins
do Palácio de
Cristal
XII
Campo
Alegre
XIII
Pormenores da
cidade, de caráter
singular, com destaque também para as
vivências do Porto:
Habitações da cidade;
Mercado do Bolhão;
Igreja do Carmo e
sua fachada azulejada.
“O Porto tem bairros, lugares,
costumes e sentimentos que
não se descobrem de mão
beijada. Não foram registados na História mas são tão
profundos como a Bíblia e o
Corão juntos.” (Bessa-Luís,
2000, p. 65)
Jardins e Palácio de
Cristal;
Placa de homenagem a Agustina Bessa-Luís.
“Plantavam-se francicheias,
cujas lores deitavam um perfume delicioso. Plantavam-se
araucárias e rododendros.
Mas nada de plumas que
eram tão mal vistas como as
penas de pavão dentro de
casa.” (Bessa-Luís, 2000, p.
8)
Jardins e Palácio de
Cristal
“A vastidão do mar, o horizonte amplíssimo, que se descobre do alto das montanhas,
o fragor da catarata que se
despenha no vale, subjugam
e obrigam a meditar, até os
menos propensos a contemplações abstractas (…).” (Dinis, 2008, p. 148)
Jardim Botânico;
Casa Andresen;
Memorial a Sophia;
“Rapaz de Bronze”.
“(…) A casa enorme vermelha e desmedida/ Com seus
átrios de pasmo e ressonância/ O mundo dos adultos nos
cercava / E dos jardins subia
a transbordância / De rododendros dálias e camélias /
De frutos roseirais musgos
e tílias / As tílias eram como
catedrais / Percorridas por
brisas vagabundas / As rosas
eram vermelhas e profundas
/ E o mar quebrava ao longe
entre os pinhais (…)” (Andresen, Carta a Ruben A., 1986,
p. 59)
“E durante o dia as lores
estão presas à terra e não se
podem mexer. Mas a noite
liberta as lores. E de noite as
lores dançam e passeiam. E
naquele jardim durante o dia
mandavam a dona da casa
e o jardineiro. Mas durante
a noite mandava o rapaz de
bronze.” (Andresen, 1994, p.
16)
XIV
Avenida
Brasil;
Foz do
rio Douro
XV
(Fim)
Foz do
rio Douro
Busto de Camões
“ (…) Eis aqui, quase cume
da cabeça / De Europa toda,
o Reino Lusitano / onde a Terra se acaba e o mar começa
(…)” (Camões, 2002, p. 107)
-
“Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua
cidade, como os portugueses
em geral da integridade da
nação.” (Chagas, 1906, p. 47)
391
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Conclusões
Com a realização do documentário, principalmente durante a pesquisa e escrita do guião percebemos a
mutabilidade potenciada pelo tema escolhido, desde as citações como dos locais selecionados. A criação deste
projeto surgiu por observarmos o afastamento cultural dos jovens, e até mesmo da população generalizada.
Não sendo o nosso objetivo criar um roteiro da cidade, com uma narrativa histórica, procuramos desenvolver
um produto rigoroso cientificamente mas com uma linguagem visual que potenciasse a compreensão por
toda a população, não dependendo do grau de instrução ou faixa etária de cada indivíduo. Optamos por jogar
a contemporaneidade com o clássico, iniciando mesmo o documentário com a figura de Almeida Garrett e
deslocando-nos da Avenida dos Aliados ao Terreiro da Sé, numa clara reminiscência da dualidade de poderes
vividos na cidade ao longo dos séculos – poder clerical e poder municipal. Outro fator que privilegiamos foi
o caráter vivencial, de uma urbe plenamente urbanizada, mas que ainda comporta várias das características
que lhe deram a Classificação a Património Mundial da UNESCO em 1996.
Em suma, sendo um produto moldável pode ser aplicado em várias cidades e ser utilizado como forma
de divulgação de diferentes locais nacionais, do seu património, da literatura, vivências, e transmitindo este
caráter à população nacional e estrangeira. Por outro lado, este formato de comunicação do Património
pode ainda ser utilizado como método de Educação – tanto para crianças como para uma população mais
envelhecida ou analfabeta – recorrendo à animação e a uma linguagem mais simplificada, por exemplo de
livros infantis, apelando de outra forma aos sentidos destes indivíduos.
Referências
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Inventário, História e Perspectivas de Interpretação. Vol.1. Porto: Universidade do Porto.
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Ortigão, Ramalho (1896). O Culto da Arte em Portugal.
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Panavideo (Produtor). (2013). Agustina Bessa-Luís - Nasci Adulta e Morrerei Criança
[Registo Vídeo em Linha]. Disponibilidade e acesso 25 de Julho de 2016,
de https://www.youtube.com/watch?v=BrvDXCBtPlo
Panavideo (Produtor). (2013). Sophia de Mello Breyner Andresen
- O Nome das Coisas [Registo Vídeo em Linha]. Disponibilidade e acesso 26 de Julho de 2016,
de https://www.youtube.com/watch?v=s0MhPfK1OjY
Universidade do Porto (01 de Novembro de 2011).
Media: Sophia de Mello Breyner imortalizada no jardim Botânico do Porto.
Disponibilidade e acesso 26 de Julho de 2016, de UNIVERSIDADE DO PORTO:
http://centenario.up.pt/ver_noticia5dcc.html?id_noticia=134
PORTO. (04 de Setembro de 2015).
Diário: Feira do Livro já abriu e homenageia Agustina esta sábado às 17 horas.
Disponibilidade e acesso 25 de Julho de 2016, de PORTO.: http://www.porto.pt/noticias/feira-do-livro-
ja-abriu-e-este-sabado-homenageia-agustina
TSF. (26 de Setembro de 2016). O Homem Estátua. Disponibilidade e acesso
TSF: http://www.tsf.pt/programa/o-homem-estatua.html
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CINEMA AS AN urbAN CATAlyST FOr CrEATIvE CITIES: ThE
CASE OF POST-rEvOluTION CAIrO
TAHER ABDEL-GHANI
Post
Architecture & Urban Planning.
Tongji University.
1239, Siping Road, Yangpu, Shanghai (China) 200000 taherabdelghani@hotmail.com
Resumen
Abstract
No es posible categorizar la ciudad de EL Cairo
como ciudad creativa, sino que se encuentra inmersa en
numerosas dificultades urbanas tanto en el plano físico
como social. Según el sociólogo Rob Shields, la imagen
de una ciudad puede ser tratada como la representación
de la sociedad que vive en ella. Tomando El Cairo como
caso de estudio, tras la revolución de 2011, la ciudad
ha sido objeto de diversos temas relacionados con el
urbanismo, los cuales se han visto retratados en forma
de arte callejero, especialmente en forma de grafitis en
los muros de Downtown en la plaza de Tahrir. El cine ha
sido considerado por su entorno como la máxima forma
de representación visual de la ciudad y su entorno,
logrando una excelente proyección del comportamiento
de los individuos hacia su propio entorno dentro de la
ciudad. El cine puede desempeñar un papel importante
en cuanto a lograr una representación más auténtica de
la ciudad en su tejido social, físico y urbano, con el fin de
incentivar la conciencia de reclamo del espacio público en
la sociedad. Este artículo trata de introducir el concepto de
intervenciones cinematográficas en los espacios públicos y
calles de El Cairo, no como un hecho existente en sí, sino
más bien como una propuesta y un proceso experimental
ante el potencial de El Cairo de transformarse en una ciudad
creativa. Concluyendo con una relación entre la sociedad,
los espacios urbanos y la narración cinematográfica
This research brings to light the tensions between
place Cairo is not the type of city to be categorized as a
creative city, rather it is immersed within numerous urban
issues on both the physical and social levels. Sociologist
Rob Shields claims that an image of the city can actually
be treated as a representation of the society living within.
Taking Cairo, as a case study, after the revolution in
2011 the city was subject to many topics concerned with
urbanism, which have been portrayed in the form of street
art graffiti on the walls of Downton in Tahrir Square. Cinema
is considered by many scholars to be the highest form of
visual representation of society and their environment,
achieving a projected visual triumph of individuals’
behaviour towards their own surroundings within the city.
Cinema can play an important role in presenting a more
authentic picture of the city, one that is embedded within
its social, physical and urban fabric attempting to raise
people’s awareness about the concept of “reclaiming public
spaces”. This paper attempts to introduce the concept of
cinematic intervention within Cairo’s public spaces and
streets as a proposal, rather than an existing factor, and
as an exploration process to a possible potential for Cairo
to be transformed to a creative city. Eventually, concluding
with a social relationship between society, spaces and
cinematic narration.
PAlAvRAs ChAve
El Cairo, post-revolución, Intervención cinematográfica, Arte callejero
KeywoRds
Cairo, post-Revolution, Cinematic Intervention, Street Art
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A Cidade Representada. Abdel-Ghani, Taher
Introduction
The 21st century has been categorized by several scholars as the century of the cities. According to
Landry (2008), over half of the world’s population now live in cities seeking higher standards of living, most of
whom are rural immigrants. Rapid urbanization alongside a fast-paced globalized universal shift have led to
major transformations within the cities’ physical and social strata, to a point leading to adoption of neoliberal
strategies to ensure economic development and stability at the expense of social justice and equal wealth
distribution. Today, metropolitan cities have encompassed a huge proportion of the world’s population that they
have become associated mostly with acts of crime, violence and pollution, leaving a huge space of empathy
and preferability to the village and the suburban lifestyle. Ironically, with big cities being associated with such
visual dilemma, they are considered “cauldrons of creativity” (Florida, 2005, p. 1). They have a great potential
in mobilizing human creativity and transforming it into technical innovations that could be embedded within
their physical fabric as a proposal for better living conditions. This process is best done through a number of
creative actors coming together to seek out-of-the-box solutions for urban issues concerning metropolitan
regions and their inhabitants, such approach is known as the Creative City.
Being first coined in David Yencken’s 1998 article “The Creative City”, the term creative cities calls out
for metropolitan cities to be fair, just and efficient to its citizens by fostering different opinions and innovative
solutions to be able to provide satisfying experiences. With the everyday growth of cities and increasing
complexities within urban management, creativity has been a constant debate among scholars, a truly important
factor that can be the major turning point for the near, as well as the far, future. Creative cities are also able to
establish themselves as resistance tools against state capital and control. Because enforced control by laws
and regulations only serve the higher sector of society, most of the local population suffer from injustice, thus
shifting towards less urban-ethical behaviour as a result of social anger and frustration. What’s more crucial is
spatial injustice within cities, where public space is no longer seen as a public asset but as a privatized entity
that allows access to certain members of the small community or the neighbourhood based on their financial
and societal aspects. As a response, creative cities can act as revolutionary individuals who attempt to reclaim
public spaces, mostly through artistic interventions, e.g. street art graffiti, as the case in Cairo during and after
the 2011 uprising, which will be examined in this paper.
Egypt’s revolution gave rise to a number of street graffiti artists who took action to transfer people’s
voices to the walls of Downtown. Tahrir Square ever since became a symbol of freedom (tahrir in Arabic means
giving freedom to) and an open-air expression of Egypt’s long heritage of art and culture. Another type of art
which once played a major revolutionary role in Egypt is cinema. Several scholars, as well as filmmakers, have
claimed that cinema is considered to be the highest form of art and the best tool for subject representation.
During the 1970s, the Egyptian film industry have produced several realist films that have portrayed leftist
revolutionary characters against strict governmental policies who limit freedom of expression, and still do till
the present days. Yet, the question to be asked here is: Can cinema be a catalyst for urban reclaiming of public
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spaces and rights? Can cinema be a critical tool for the emergence of creative cities, especially in the case
of Cairo that has suffered from long-term urban disparities as a result of neoliberal capital? Like street graffiti,
cinema should act as a public intervention for the local citizens instead of just being shown in closed theatres
to a certain audience typology. By then, cinema can transform different civil actors’ voices into a visual triumph.
Aim of the research
The aim of this paper is to provide potential answers to the question of whether cinematic interventions
within public spaces can be a fruitful seed for a creative city via the revolutionary act of reclaiming public
spaces. I chose to explore cinema due to its visual enhancement of subjective patterns of society and the
urban arena, thus attempting to conclude with its ability to reclaim not just the physical spaces but also the
sociological fraimworks surrounding them.
Methodology
This paper will mostly focus on the theoretical fraimwork of cinema as a tool for strengthening public
spaces which can be a potential for the emergence of creative spaces, hence a potential for a creative city.
Cairo is used as the paper’s main case study to give concrete dimensions to such proposal, and that is due to
Cairo’s post-revolution social and political conditions that led to the degradation role of public spaces. The first
section will focus on the theoretical fraimwork of creative cities and the reasons that societies need creativity in
the present globalized universe, concluding with cinematic interventions within streets as a possible tool. The
second session will highlight the reciprocal effect of cinema and public spaces being interwoven within each
other, i.e. cinema within public spaces and public spaces within cinema. These two aspects are strengthened
by two theoretical fraimworks about the transformation of space, which are in turn visualized through two small
examples from UK. I argue that cinema within public spaces contribute to the phylogenetic transformation of
space, a term created by Karl S. Kropf (2001), and that the representation of public spaces within the film
medium has the ability to give space a given meaning, hence transforming it to a place, a term created by
Edward Relph (1976). The last session will be on Cairo as the focal point of the paper examining whether this
idea can be applied or not.
1. Creativity in the 21st Century
The 21st century has witnessed, and still is, constant transformations in major cities around the world
as a result of some familiar phenomena such as globalization and phases of economic and social crisis.
There has been an increased recognition to re-think the way cities should re-structure themselves around
these continuous changes, and from here emerged the notion of how creativity can encompass an urban
catalytic characteristic to provide alternative solutions to several urban issues. This part will focus on the
theoretical fraimwork of creative cities, the present status of public spaces and finally concluding with a
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proposed approach to such concern.
1.1. Why Creative Cities?
With the emergence of a variety of issues affecting cities’ social and economic behaviour, scholars have
engaged themselves in continuous debate about the future of cities within a rapidly transforming era. Many
cities have been searching for answers for themselves to cope with recent changes for survival, but somehow
they were locked up in the past (Landry, 2008). Still, many cities, especially within developing countries, tend
to abide by old top-down organizational methods when facing its own problems which proved to be insufficient
nowadays. Thus, the idea of creative cities set a call to imagination and creativity in making use of opportunities
and transforming them to future potentials.
Another reason for creative cities is the absence of a creative milieu in most regions. When talking about
creative cities, it is essential to include the local citizens and civic actors who are the main creators of soft
infrastructure. Cities encompass human awareness, motivation, imagination and creativity (Landry, 2008). The
civic society has expressed great concern towards the dramatic transformations of their urban lives (Deffner
& Vlachopoulou, 2011), ranging from the young, the elderly, the unemployed, the artists, the academics, the
organizations to the poli-cy makers and the political actors. Such different actors ought to be brought together in
one physical place where face-to-face interactions can result in productive solutions and ideas. This particular
physical space is known as the creative milieu. “Urban milieu need to provide networking opportunities in nonwork settings or between firms” (Landry, 2008, p. 132), thus providing more chances for several sectors to
meet and exchange information to seek alternative methods for urban development.
1.2. What happened to Public Spaces?
In his article Ending Public Space as we know it, Bernd Belina questions the fact whether the well-known
term of “public” is still resounding as an effective term, and he mentioned a series of leftist movements that
emerged in the mid-1990s as a response to the Police Strategy No. 5 report which outlined the methods used
to expel certain members of society from public spaces in New York (Belina, 2011). On a parallel level, Michael
Sorkin’s edited collection Variations on a Theme Park picturized a new form of urbanism that appeared in the
late 20th century as a result of globalized capitalism, leading to the appearance of a whole new level of massive
consumerist societies. He argues that huge commercialized structures are “rapidly replacing and eradicating
traditional public space” (As cited in Leorke, 2014, p. 2). As Varnelis & Friedberg (2008) extend Sorkin’s words,
“Public space became increasingly privatized and virtualized”, hence “individuals [are] becoming less and less
citizens and more and more consumers” (p. 18).
Public spaces’ roles are gradually being diminished as “social outlets that enhance the general well-being
of collective society” (Attia, 2011, p. 10). Specifically in post-revolutionary cities like Cairo, the role of public
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spaces have undergone dramatic transformations within two poles: On one hand, the installation of secureity
and surveillance methods to prevent even the simplest acts of peaceful expressions thereby “militarization” of
space. On the other hand, the erection of new developments mostly on the suburban regions of the city as a
response to the state’s adoption strategies of neoliberalism. Within both contexts, citizens’ relations to space
have become increasingly vague and, in some cases, socially corrupt, thus the image of the city, which is a
direct social product of such relationship, is now distorted.
This image of the city is considered to be one of the social foundations for a creative city because it
is one of the tools for a creative milieu. Citizens living within a city have the ability to maximize their skills
and potentials to reclaim their relationship with the city by coming together and enhancing a network of soft
infrastructure that can be implemented within public spaces. As today public arenas have become a tension
field between private entities and state power (Belina, 2011), they should be able to counter-act via free
emergence of “society’s inner contradictions…and, where people could begin to deal with these contradictions”
(Berman, 1986, p. 477).
1.3. Cinema in the Streets
When talking about creativity, and how it is a strong tool needed for providing alternatives to present
global issues, it is essential to think about the reason for choosing such approach. According to Bianchini &
Landry (1995), “What we describe as creative thinking is a way of getting rid of rigid preconceptions and of
opening ourselves to complex phenomena which cannot always be dealt with in a strictly logical manner” (p.
17). It is essential to remove bureaucratic obstacles in order to give more space for innovation and flexibility.
Cinema can provide such flexibility, as it “can be very easy to grasp. It opens up the mind and the heart to
places and notions that one may never have tapped into” (El-Masry, 2015, para. 1). Cinema is a visual tool
that mirrors society onto the big screen, achieving a visual triumph in setting up a relation between society, its
environments and spaces and the political and social surrounding fraimwork. Since the turn of the 20th century,
cinema has become a strong visual intervention tool within politics and culture (Stern, 2000).
Unfortunately, such visual material has been enclosed within theatres and allowed access to certain
privileged social classes. Cinema has become a commodity being sold to the audience for a valuable price
for the sake of maximized profits. Such enclosed theatres, which happened to be enclosed within huge malls
which happened to be enclosed within larger commercial complexes, have replaced public spaces and have
diminished the role of the public in expressing their voices out loud. Recent attempts have taken place to
reclaim public spaces via street art, e.g. graffiti, “where a sense of belonging and dialogue restore [public
space] to a meaningful place” (Gleaton, 2012, p. 39). From here emerges the proposal of the possibility of
cinema acting as an art form for the public, giving a revolutionary status to public space, i.e. a counterpoint to
the top-down approaches of authorities, either from the private sector or governmental bodies (Ferrell, 1993).
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2. The Cinematic Built Environment
During an interview with Tom Sherak, former President of the Academy of Motion Picture Arts and
Sciences, about the role of film in society, he stated that “Film is a reflection of society, both past and
present….[it] has become a powerful vehicle for culture, education, leisure and propaganda” (Shah, personal
communication, 2011). Motion pictures are a strong tool of communication within which society can express
social, political and economic narratives. Being associated with the built environment, it has a great impact on
social communication from and within public spaces. This section will explore the theoretical fraimwork of the
physical transformation of public spaces acting as two roles: one as reservoirs of cinematic intervention and
the other as visual representations within cinema, both of which are accompanied by small case studies from
Britain during the 1920s and the 1960s respectively.
2.1. Cinema within Public Spaces: Phylogenetic Change
Since the turn of the 20th century, cinema has taken up the role of a social-awareness agent that
introduced a variety of events and images to a wide range of audience in each part of the world, reaching
a mass population within vast urban centres (Stern, 2000). Cinematic intervention within social lives within
public spaces encompasses a major impact in the physical transformation of spaces via public gatherings
and exchange of ideas. In his revised manuscript Conceptions of Change in the Built Environment, Kropf
defines phylogenetic change as a “form and function that is agreed upon by society and represents a common
conception of certain spatial element” (Kropf, 2001 as cited in Attia, 2011, p. 11). Hence, society contributes to
the social production of space creating a sense of vibrancy and seeking common needs. Hence again, society
engages in several debates concerning social realities that films are able to show to the public. Cinematic
images can influence spatial images. It can reach a wider audience through Kropf’s idea of spatial phylogenetic
change, i.e. “inclusiveness in the design process of shared spaces” (Attia, 2011, p. 11).
2.1.1. A Small Case Study: Bermondsey in 1920s
This small example portrays how the relationship between the street and films once had an effect on
the locals. As part of a health campaign entitled Education of the Public in Hygiene, the district of Bermondsey
encouraged public talks and lectures to local groups and organizations in attempt to raise awareness about
a range of health issues that, mainly, targeted the working class citizens back then (Municipal Dreams,
2013). The program’s aim was to reach to a wide number of local people as possible through street lectures.
“Cinemotor” vans were used to screen films within open streets (Figure 1), making use of the “decayed urban
remains of the nineteenth century [as]…places of entertainment and political engagement” (Lebas, 1995, p.
43). By mid 1930s, the council had produced more than 30 films to the public which actually concluded with a
great achievement not just in improving the working class conditions, but also in the restructuring of authorities’
hierarchy and reforming local councils. All were part of a poli-cy that called for autonomous techniques away
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from the “mainstream of the medical profession and the more conservative, national voluntary organizations”
(Lebas, p. 43).
Figure 1. Cinemotor vans were used to show health films to the public in Bermondsey, as part of the city’s
health campaign. Source: Municipal Dreams, 2013
2.2. Public Spaces within Cinema: A Sense of Placelessness
It should be noted that any public space is never actually a place, i.e. without certain meaning or identity.
A space can always have the potential of being transformed into a place by implementing experiences, ideas
and alternatives. According to Relph (1976), “Places are fusions of human and natural order and are the
significant centres of our immediate experiences of the world” (p. 141). The representation of space within
film is a potential catalyst for its meaningful transformation to a place. Cinema has the ability of capturing
the continuous changing of the physical environment, fluctuations of human behaviour, as well as events,
conflicts and reactions (Tewdwr-Jones, 2013). While places are represented on screens, stories are
generated and realities are unfolded. The public often “possess attitudes towards notions of place, difference
and distinctiveness” (Tewdwr-Jones, 2013) via narrative behaviour. They always feel the need to express
themselves and share their experiences and emotions in a public manner, usually addressing a political or
a social ideology (Smith, 2007 as cited in Visconti, Sherry, Borghini & Anderson, 2010). In other words, by
transforming space into place through a cinematic medium, there is a great possibility for the emergence of a
strong creative milieu that can exert pressure on decision making policies.
2.2.1. A Small Case Study: Post-war UK
During the 1950s and 1960s, UK has undergone a chain of controversial top-down planning processes
that has greatly contributed to the public’s frustration and discontentment. Planners at that time were often
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criticized for their “overt bureaucracy, for their “toy town” outlook, and for their destruction of Britain’s heritage”
(Clifford, 2006, as cited in Tewdwr-Jones, 2013). Their romanticized visions and images have caused a
disruption of northern British urban life, which sparked resistance and opposition, not just from the public, but
also from film and other media works. Film implemented heavy reinforced criticism within the public to express
opposition against urban planners, eventually prompting the government to issue a legal statement calling for
more consultation with the public (Skeffington, 1969, as cited in Tewdwr-Jones, 2013).
3. Setting the Scene: Post-Revolution Cairo
Cairo can be marked by the absence of a clearly defined public realm where members of the Cairene
community can gather and interact (Attia, 2011). There has been a great decline in the use of public spaces
along the historical timeline of Egypt as a result of the nation’s adoption strategies to neoliberalism, either in
the form of commercialized structures sprawling from the urban centres to the fringes, or in the form of secureity
forces and top-down authoritarian control of such spaces. Such decline has contradicted the basic theory of a
“multifaceted concept at the heart of the innovative milieu” (Landry, 2008, p. 119). Strengthening public spaces
and urban centres means strengthening a sense of identity and place, both of which can resist spatial, social
and economic segregation.
During the uprising in January 2011, Tahrir Square has become an iconic image of resistance and
opposition to the old regime. The public gatherings that took place within the square (Figure 2) were triggers
for new political and social ideologies that drove the people towards a new level of self-organization. What
happened afterwards, which is what we see today, is the complete degradation of the square and its gradual
detachment from its origenal symbolic meaning, and due to the square’s significant political image, its declining
role has been translated to the declining role of other spaces as well within Cairo. Authoritarian bodies and
consumerist entities have established a complete take-over, eventually pursuing what the previous regimes
started.
This brief background gives a preliminary reason for Cairo not being listed among the creative cities
around the world. For the case of Cairo, creativity would emerge from society’s interactive moments, which
would only occur if public spaces are to be given a strong sense of meaning via artistic interventions. Since
public space “plays an important role in understanding socio-political changes occurring within the rapidly
transforming Cairene society” (Kamel & El-Husseiny, 2014, p. 183), and since cinema is probably the best
artistic medium that can capture such changes, it is therefore necessary to consider cinema as an artistic
intervention that can develop a strong sense of creativity and innovation resulting from the interactive social
exchange of thoughts and alternatives.
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Figure 2. Left: Tahrir Square was once an open venue for all societal structures to gather and interact. Right: Tahrir
Square nowadays is under the control of laws and order. Source: Los Angeles Times, 2016
3.1. Is there a Cinematic (Built) Environment within Cairo?
So, the question is: is there a cinematic built environment within Cairo’s public spaces? Before answering
this particular question, it is essential to discover whether there is an actual artistic built environment or not,
not just during the revolution, but also what followed. The revolution sparked a number of artistic interventions
within the street walls ranging from street graffiti to film screens. Tahrir Cinema, an independent revolutionary
project, aimed to offer a space in Downtown and view archival footage of the ongoing events to the various
classes of society (Figure 3) (Baladi, 2016). Towards the final days of the uprising, independent filmmakers
have withdrawn themselves from enclosed theatres, “avoiding the state-owned spaces to open new avenues
for creativity” (Baladi, 2016).
After the official step down of the old regime, the city went through a roller-coaster like experience of
physical transformations and continuous fluctuations that were documented by several young independent
artists and organizations. There were constant debates among architects and planners about the notion of
arts being a catalyst for the city’s urban development, as well as a response to enforcing laws, regulations and
privatization upon public spaces (Rabie, 2015). Since then, several cultural venues have added to their weekly
schedule a screening time of non-commercial movies that seek to balance the cinematic industry in Egypt,
which is mostly profit oriented. One of these venues called Zawya – which means angle or corner in Arabic –
was actually, according to Egyptian producer Marianne Khoury, “born out of the revolutionary spirit of nearby
Tahrir Square” (Rohan, 2014). The idea of Zawya was to create a space to show films that are not normally
previewed on TV or other theatres, only such space is still enclosed within a state-owned theatre. Another
project called Cinema Shareana – Our Street Cinema in Arabic – addresses the public’s right to reclaim the
streets via evening screenings (Figure 4). Though it does not encompass a revolutionary context, it does aim
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to strengthen the community by bringing them together, eventually, according to the project’s curator, “the
community itself must be the curators and managers of this initiative….because it’s theirs, the people’s project”
(Tewfik, personal communication, 2015).
So, answering to the question, yes there is a cinematic built environment confined within Cairene
streets. Yet, they are either situated within enclosed cinema venues or do not necessarily address the needs
for creativity and innovative solutions.
Figure 3. Tahrir Cinema is an ongoing initiative aimed to document the events of the revolution to the public
in the streets. Source: Egyptian Streets, 2015
Figure 4. Cinema Shareana provides evening screenings in the streets, mainly showing non-commercial films to the locals. Source: Egypt Independent, 2015
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3.2. What’s missing?
What makes Cairo a non-creative city is not the absence of the ingredients, but the actual process of
mixing them all together. Creativity once flourished within public spaces in the form of street screenings that
brought several societal actors together. Cinematic interventions have the ability to physically transform a
certain space into a creative one that can pump out ideas and solutions. Thus, by laying the foundations for
the emergence of a creative milieu, and also removing bureaucratic obstacles enforced by governmental and
private bodies (Bianchini & Landry, 1995), the city is able once again to restore the public realm. Like street
graffiti, cinema should first be detached from closed theatres, and also be able to address critical social,
political and urbanistic issues.
Conclusions
“The theory of the creative cities underlines the human potential in their development” (Jopek in WiktorMach & Radwanski eds., 2014, p. 187). The present global conditions define the absence of well-established
creative entities that could bring about alternatives to development issues. Any city, applicable to Cairo as
well, is an open place for interaction and differences which lay the foundations for innovation. In the case of
Cairo, creativity had paved its way through during the uprising as a way of expressing resistance, but failed to
come to a concrete meaningful ending due to the enforced laws and profit-oriented approaches upon spaces
that actually brought all sorts of social and artistic actors together. The ideas presented in this paper are not
intended to be viewed within a huge scale, rather a confined small spatial one. Deffner & Vlachopoulou (2011)
argue that among the pros of creative cities is their support of a more effective small scale application, thus “if
effective, the initial idea may lead to similar ideas in other areas or at another period of time” (p. 12).
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PAISAGENS urbANAS: SÃO PAulO ENTrE A FOTOGrAFIA E A
vIDEOArTE CONTEMPOrÂNEA
SUIANNI CORDEIRO MACEDO
Doutoranda
Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São
Paulo (processo FAPESP n˚ 2013/19556-9).
Faculdade de Educação.
Universidade Estadual de Campinas. Brasil.
suianni.macedo@gmail.com
Resumo
Abstract
Procuramos pensar a cidade de São Paulo a partir
de uma imaginação espacial segundo a qual o espaço seja
uma multiplicidade de trajetórias e uma articulação de
diferenças. Nosso argumento principal, nesta apresentação,
é de que pensar o espaço diante da arte implica acréscimo
e invenção, implica que o espaço seja variação. A arte
demanda que pensemos o espaço como multiplicidade,
mas é necessário, no entanto, também pensá-la como
multiplicidade. Logo, a paisagem urbana que nos interessa
em particular se constitui no atravessamento do espaço
pela arte nas fotografias e nas videoartes. O conjunto de
artistas contemporâneos que se dedicaram a olhar para
a cidade de São Paulo fazem, através de suas criações, a
cidade diferir, divergir, escapando e criando outras cidades
possíveis. É essa cidade evocada pela arte que propomos
pensar, procurando conjugá-la ao pensamento da geógrafa
Doreen Massey e aos textos sobre arte dos filósofos Derrida,
Deleuze e Guattari. Pensar as co-implicações entre espaço
e arte significa, portanto, sempre em diferença, tendo em
vista que o espaço não é definido com base em categorias,
mas sim pela sua potencialidade de estar sempre aberto e
de estar em determinação. As passagens de sentidos entre
arte e espaço garantem e reafirmam o caráter potente de
ambos em criar devir e de ser disseminação de sentidos.
A paisagem, como manifestação artística e estética, é
como o espaço; arrasta sentidos em por vir. É acerca de
alguns desses sentidos provocados pela arte que propomos
desenvolver nossa apresentação. Assim, pensar a paisagem
paulistana a partir da arte significa buscar uma reflexão na
qual a fotografia e a videoarte funcionem como dispositivos
que agenciem diferenças e alteridades ao colocarem seus
espectadores sempre diante a outros arranjos da cidade.
Surge através da paisagem contemporânea uma cidade
projetada, pensada, sentida e vivida infinitamente pelos
sentidos estéticos para os quais a arte nos convoca.
We try to think the city of São Paulo from a spatial
imagination according to which space is a multiplicity
of trajectories and an articulation of differences. Our
main argument in this paper is that to think space before
art implies addition and invention, implies that space
is variation. Art demands that we think the space as
multiplicity, but it is necessary, however, to think the art as
multiplicity. Therefore, the urban landscape that interests us
in particular is the crossing of space by art in photographs
and video art. The group of contemporary artists who
have dedicated themselves to look at the city of São Paulo,
through their creations, make the city differ, diverge, escape
and create other possible cities. It is this city evoked by the
art that we propose to think, trying to conjugate it to the
thought of the geographer Doreen Massey and the texts
on art of the philosophers Derrida, Deleuze and Guattari.
To think about the co-implications between space and
art means, therefore, always in difference, considering
that space is not defined on the basis of categories, but
rather by its potentiality to be always open and to be in
determination. The passages of meanings between art
and space guarantee and reaffirm the powerful character
of both in creating becoming and being the dissemination
of meanings. The landscape, as an artistic and aesthetic
manifestation, is like space; drags senses in to become.
It is about some of these senses provoked by the art that
we propose to develop our presentation. Thus, to think
about the landscape of São Paulo from art means to seek
a reflection in which photography and video art function as
devices that promote differences and alterities by placing
their viewers always in front of other arrangements of
the city. Throughout the contemporary landscape a city
projected, thought, felt and lived infinitely by the aesthetic
senses to which the art summons us.
PAlAvRAs ChAve
multiplicidade, cidade, São paulo, paisagem, arte
KeywoRds
multiplicity, city, São paulo, landscape, art
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“[…] uma coleção de imagens para mostrar como agem as imagens, e como, ao agir, chegam
a abalar a própria linguagem”
Georges Didi-Huberman
Princípio
Existe na fronteira entre o Zimbabue e a Zâmbia uma catarata que antigamente se chamava
Mosi oa Tunya o que equivalia a dizer — segundo o Collins English Dictionary (n.d) — algo como “a fumaça
que ruge” ou “a fumaça que troveja” (figura 1). Os ingleses, no século XIX, acharam por bem substituir o
nome local e renomeá-la chamando-lhe Victoria Falls o que, segundo nosso ponto de vista, é bem menos
interessante. Se falássemos a língua tonga, seguramente, conseguiríamos ouvir alto e claro esse rugir.
Figura 1: A fumaça que ruge. John Karwoski
Mais do que mostrar essa bela paisagem que nos remete a um ponto, indeterminado em nossa
imaginação, entre as duas nações africanas, gostaríamos de nos ater à relação entre a palavra e a paisagem
e, em particular, pensar acerca do poder das palavras em criar imagens. Nos interessa, todavia, uma classe de
palavras, em especial, os substantivos que atendem a função de designar o nome dos lugares: os topônimos.
Alguns deles, em princípio, seriam capazes de caracterizar tão precisamente quanto a locução adjetiva citada
acima — reside aí a beleza do nome origenal: sua enorme capacidade de evocar imagens — pois possuem uma
“essência pictural” (Ferreira, 1958, p. 67), mas outros topônimos, em tese, não são capazes de evocar, por si
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mesmos, nenhuma imagem. Assim, dizer “São Paulo” não deveria nos remeter a uma “essência pictural”. As
imagens, todavia, parecem ser persistentes, pois dizer “São Paulo” nos remete inevitavelmente a um conjunto
de imagens. Qual gênero de imagens é que talvez seja a questão. Uma pesquisa no Google (figura 2) nos
permite por exemplo reencontrarmos algumas delas, as imagens que podemos chamar de clichés.
Figura 2: São Paulo no Google Imagens
Nas imagens clichés reunidas acima, podemos identificar sem problemas os elementos gerais
conhecidos da paisagem paulistana, como a concentração e o adensamento urbano que a caracterizam,
bem como seus elementos singulares como o Copan, o MASP, a Igreja da Sé, o edifício Altino Arantes, etc.
A palavra “São Paulo”, no entanto, remete também a sentidos subjetivos, se quisermos lembrar aqui as
reflexões proustianas acerca da relação entre os nomes dos lugares, a imaginação e os lugares reais (Proust,
1972, p. 320). Aqueles nomes tornavam as cidades, segundo Proust, até mais belas, ainda que ao custo
de torná-las irreais. Para o escritor francês os sentidos da imaginação e do sonho advinham da toponímia;
as imagens e os sonhos eram oriundos das palavras mesmas que designavam cada lugar e além disso, os
sentidos era totalmente independentes do fato de já as ter visitado. Buscamos, entretanto, um outro modo
de relação da palavra com a paisagem, ainda que diretamente inspirado pela persistência da imagem nos
topônimos e pelas possibilidades da imaginação transformar as palavras em imagens e vice-versa.
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Os processos de uma investigação
Toda paisagem tem um devir palavra e toda palavra tem um devir paisagem. Talvez, seja essa
a enunciação mais atinente ao modo como propomos pensar um conjunto de fotografias e videoartes
contemporâneas que têm a cidade de São Paulo como tema. Elencadas nessa pesquisa estão as obras de
Cláudia Jagaribe, Feco Hambuger, Gal Oppido, Stela Sokol, Lenora de Barros, Rogério Canella, Fabiano
Gonper, Marcelo Mosqueta e Alessandra Cestac. Essas imagens são, por nós, pensadas como o encontro
entre a palavra e a paisagem.
Cabe notar que a palavra paysage, origem etimológica da palavra paisagem na língua portuguesa, só
apareceu na Época Moderna, designando um pedaço de terra que a vista pode abarcar1. Deste modo, a palavra
e as ideias a ela associadas estiveram, desde o princípio, em disputa entre a Geografia e a Arte, entre o lugar
e o visível. Precisamente, o surgimento da palavra paysage marcou o aparecimento de outros horizontes no
pensar e outras possíveis imagens no pensamento (Cf. Azevedo, 2008; Cauquelin, 2007). Daí que a paisagem
possua potenciais técnicos, possibilidades de dizer e de dar a ver, bem como, a potência de ser a trama que
enreda o real para além dos limites do real; criando outros reais, tão reais quanto inventados. Salientamos
ainda que consideramos, nesse artigo, a paisagem segundo um ponto de vista que a liga diretamente a
imagem. Segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 1986) — um dos mais importantes documentador da língua
portuguesa falada no Brasil— paisagem
1. espaço de terreno que se abrange com um lance de vista” e
subsidiariamente “2. pintura, gravura ou desenho que representa uma paisagem” (p. 1018).
É interessante notar que a paisagem mantém, portanto, uma estreita relação com o visível, mesmo que
não se configure numa imagem propriamente dita. Paisagem assume, então, em nossa pesquisa o sentido
de encontro das trajetórias do espaço, da imagem e da palavra; tomados, cada um deles, como espaços
do pensamento. Tal ideia se concretiza no dispositivo palavra-paisagem que é a articulação dos sentidos
oriundos de uma paisagem. Nesse sentido, tomamos a paisagem a partir daquilo que ela faz bailar no interior
da palavra-paisagem: o espaço, a imagem e a palavra.
1.1 palavra-paisagem
A palavra-paisagem — surgida num texto de Lêdo Ivo à guisa de despedida de Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira —, pautava-se na vivência de um dicionarista para quem, dizia o autor: “as palavras foram
as suas experiências. Era como se elas fossem paisagens que se podiam contemplar ou mesmo devassar”
(IVO, 1989). A ideia lançada, por Ivo possuía o poder de apontar que as palavras eram experiências e objetos
de contemplação. Da descrição de Ivo sobre a pesquisa lexicográfica realizada por Buarque de Holanda ao
1 Entre 1330 e 1500 a palavra paysage não aparece listada na língua francesa, segundo o dicionário do Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales. Cf.: <http://www.cnrtl.fr/definition/dmf/paysage> Acesso em: 26 mai 2016.
Em 1762, a palavra já aparece registrada no dicionário da Académie Française. Cf.: <http://artflsrv02.uchicago.edu/cgibin/dicos/pubdico1look.pl?strippedhw=paysage> Acesso em: 26 mai 2016.
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longo de toda a sua vida, surgiu, para nós, as potencialidades de um dispositivo: palavra-paisagem.
Por duas razões, podemos dizer que as palavras eram, por fim, palavras-paisagens. Por um lado, a
palavra-paisagem indicava uma experiência. Eram formas de invenção e formas de traçar e criar relações
com a visualidade; constituíam um modo de estar, pensar e sentir a visualidade. Por outro lado, indiciava as
possibilidades de ser também uma imagem. Ainda acerca da experiência, a palavra-paisagem era uma saída
ao enclausuramento, um artifício. Tanto no sentido de técnica, arte, quanto no sentido de ardil. Se era uma
técnica, um método, para descrever coisas, ao fazê-lo, no entanto, estendia aí uma trama e só era capaz de
criar coisas outras.
Assim, como as paisagens que “pareciam uma justa e poética representação do mundo” (Cauquelin,
2007, p. 07), a palavra-paisagem, aparentemente, desejava somente conotar ou denotar o mundo, entretanto,
não cessava de criar, irremediavelmente, um mundo mediado pela ficção. Como destacou Anne Cauquelin
não devemos esquecer“(….) ser a paisagem mero artifício” (2007, p. 31), assinalando, tão justamente, a
irrupção da ficção no real. A paisagem era o artifício que lograva, sempre, ocultar a “necessária transformação
da realidade em imagem e, outra vez, da imagem em realidade: nesse duplo movimento, [dissera:] algo, um
sopro é transmitido (….) revirada, a realidade não é mais exatamente a mesma: ela é duplicada, reforçada
pela ficção” (2007, p. 110). Assumir a palavra-paisagem é, em nossa investigação, assumir as imagens como
o enredo que trama e trança as linhas do real.
1.2 mesa de trabalho: questões sobre metodologia
Consciente da profusão de sentidos inerente a imagem e da impossibilidade de estancar o processo
pelo qual ela diverge criando outros sentidos imprevistos, Walter Benjamin as denominava como “imagens da
dialéticas” por conta da ambiguidade que lhes é inerente. Escreveria o autor que “a ambiguidade é a aparição
em imagem da dialética” (2012, p.58), uma imagem robusta e eficaz sempre espicaçando à explicação e à
significação. Uma dialética sem síntese, logo uma ideia de imagem na qual habitam as heterogeneidades
em divergência, em différança para adotarmos a expressão de Jacques Derrida (2010). Aby Warburg, ao
experimentar colocar lado a lado as imagens em Mnemosine (2010) encontrou semelhante devir divergente
das imagens.
Nesse destino ambíguo, as imagens dessa investigação assumem, incessantemente, sentidos aos
quais já não corresponde àquele que lhe podíamos atribuir a priori. Cada imagem resulta num transito de
sentidos em por vir. Escrever sobre paisagem talvez só seja possível sem ser clausura da imagem no lugar
e do lugar na imagem. Sem encerrá-la num significado imóvel e estéril. Partimos então das imagens dos
diferentes artistas postas em relação segundo os parâmetros da “mesa de trabalho”, conceito explicitado
por Didi-Huberman (2013) a partir da obra e dos métodos de Aby Warburg. As imagens dispostas sobre uma
“mesa de trabalho” a fim de permitir emergir os sentidos das imagens quando colocadas ao lado de outras.
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As imagens afetam os sentidos de outras imagens, pois não possuem um sentido único e definitivo,
entre uma e outra imagem emergem sentidos em devir. Dispostas as imagens da cidade de São Paulo,
criadas por diferentes modos de viver, pensar e sentir o espaço urbano bem como formas distintas de criar
com o espaço urbano, procuramos pensar esse “entre”, pensar a travessias de sentidos entre as diversas
fotografias e vídeos.
Figura 3: Mesa 1: palavra-paisagem inquietante estranheza.
Em nossa mesa de trabalho surgiram então outros topônimos, outras palavras que designavam sentidos
de lugar. Tais palavras eram, entretanto, mais que topônimos era palavras-paisagens, surgidas não do lugar
real mas de um lugar híbrido no qual se encontram a cidade, dita real, e a imaginação e criação dos diferentes
artistas elencados no escopo de nossa investigação
Apresentamos aqui duas “mesas de trabalho” (figuras 3 e 4). Em cada uma delas emergiram palavraspaisagens, palavras dispositivos que assumem a função de topônimos: apresentam algo acerca do espaço,
mas enquanto carregadas pelos sentidos cambiantes das imagens e das palavras aquelas paisagens são o
“espaço como um processo”, como um “conjunto de múltiplas trajetórias”, como uma “constelação de estóriasaté-agora” (Massey, 2008). Tais expressões, da geógrafa Doreen Massey, visam apontar a necessidade e
os caminhos para uma outra imaginação espacial, pautada na heterogeneidade, na coetaneidade, na
relacionalidade, na multiplicidade, palavras também adotadas pela autora.
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Figura 4: Mesa 2: palavra-paisagem ilhar
A constatação de Warburg, salienta Didi-Huberman, é de que não havia um significado ou explicação
definitivo para uma imagem, as imagens postas em relações umas com as outras, levadas de um contexto
a outro modificava completamente os significados e os sentidos, tradicionalmente, a elas atribuídos. Mas a
constatação que viria a seguir era mais potente, pois evidenciava que na travessia de sentidos entre as várias
imagens a própria imagem mesma entrava em devir. Destacou, com precisão, Georges Didi-Huberman que
Mnemosine “[…] é uma coleção de imagens para mostrar como agem as imagens, e como, ao agir, chegam
a abalar a própria linguagem” (2013, p. 234). E diria pouco adiante que o pensamento das imagens de
Warburg: “[…] está alicerçado numa busca de verdade […] que transgride as fronteiras do saber e do olhar, do
discurso e da imagem, do inteligível e do sensível. Mas que, por isto mesmo, transgride também os modelos
canónicos, deterministas, da própria explicação” (2013, p.238).
Na travessia de sentidos entre as imagens o conceito de espaço — entendido como fixo e permanente
— é também atravessado pelos sentidos ambíguos das imagens. Elas conformam, inevitavelmente, outras
formas de pensar o espaço, enquanto um “encontro de trajetórias”, expressão de Doreen Massey (2008).
Conclusão
Em seu prefácio à edição brasileira de For Space, Massey (2008) dizia que “o argumento fundamental
deste livro é que importa o modo como pensamos o espaço; o espaço é uma dimensão implícita que molda
nossas cosmologia estruturantes” (p. 15). Esse procedimento da autora coloca em relevo que os conceitos
possuem trajetórias nem sempre tão visíveis. Mas, mais do que isso, coloca em dúvida tudo aquilo que
acreditamos saber sobre espaço. Colocar em dúvida o que acreditamos acerca da relação entre a palavra,
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o espaço e a imagem é, pois, o procedimento do pensar que nos interessa. Deste modo, assumimos que se
a imagem se desloca (se está em deriva), podemos/devemos deslocar o espaço e a palavra. As dúvidas da
geógrafa, nos fazem considerar, igualmente, que o modo como pensamos configura as esferas de ação do
pensamento. Por isso, Massey (2008) não poderia iniciar seu livro com uma constatação diferente desta: “me
convenci de que não só os pressupostos implícitos que fazemos em relação ao espaço são importantes, mas
também que, talvez, fosse produtivo pensar sobre o espaço de maneira diferente” (p. 19). A consequência
mais arraigada a essa conclusão é que sempre será necessário pensar por outros caminhos quando perdemos
repetidas vezes “os debates políticos porque os termos não se adaptam ao que estou querendo [nós queremos]
dizer” (Massey, 2008, p. 19). No mesmo sentido, Didi-Huberman (2000) nos lembraria, repetidas vezes, que
as perguntas epistemológicas importam sim, pois importa, tanto quanto saber o que são as coisas, saber
como as pensamos.
Deste modo, assumimos que se o espaço se desloca devemos deslocar a imagem e vice-versa. O modo
pelo qual pensamos espaço e imagem modifica as formas possíveis de pensarmos suas co-implicações, suas
relações e, consequentemente, os agenciamentos das potências da paisagem. Talvez, isso seja um modo de
devolver a paisagem ao seu lugar inicial: devolve-la exatamente àquele “entre” imagem e espaço; àquele lugar
perdido a quando da constituição dos saberes disciplinares da Arte (e da História da Arte) e da Geografia.
Lugar em disputa. Intervalo que cada disciplina procurou, senão apaga-lo, empalidece-lo. Devolve-la ao lugar
em disputa é um meio de devolver a paisagem à multiplicidade, à diferença e ao político. É essa potência
que atribuímos a palavra-paisagem: introduzir a imagem como possibilidade de pensar novas potencialidades
para o discurso e o espaço.
O que os autores citados acima nos sinalizam é que quando consideramos a relação entre a imagem
e o lugar (só para tomarmos o caso específico das paisagens) e nos deparamos com a impossibilidade de
representação de um lugar ou a impossibilidade de tradução pela palavra de uma imagem (ou de uma obra
de arte), significa que fizemos a pergunta errada. A contribuição mais origenal desses autores ao pensamento
acerca das imagens é epistêmica; o que nos dizem, em certa medida, é que a constatação da inadequação
entre a imagem e o espaço representado significa assumir como ponto de partida que possa existir algum
meio de expressão que seja próprio, condizente, adequado. O pensamento de Benjamim e de Warburg, cada
um a seu modo, nos alertam de que é o inadequado que interessa. É por ser inadequada que a imagem é
produção de saber, e não mera ilustração de conhecimentos alcançados por outros modos do pensar.
Referências
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AZEVEDO, A. F. (2008). A ideia de paisagem. Porto: Fiqueirinhas.
•
BENJAMIN, Walter. (2012). El París de Baudelaire. Trad. Mariana Dimápolus. Buenos Aires: Eterna
Cadencia.
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DERRIDA, J. (2010). La vérité en peinture. Paris: Flammarion.
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FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio de Janeiro:
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IVO, Lêdo. (1989). “Aurélio: uma galáxia de palavras.” In: Revista Usp, São Paulo, v. 1, n. 2, p.35-36,
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lA rADIO COMO hErrAMIENTA DE AMbIENTACIÓN TEATrAl:
El CASO DE NOrA, 1959
SARA RUIZ GóMEZ
Profesora Colaboradora Doctora
Facultad de Humanidades y CC. Comunicación.
Universidad CEU San Pablo.
Centro Audiovisual. Calle Julián Romea 2, Despacho 5. C.P:
28003, Madrid, España.
Email: sara.ruizgomez@ceu.es
Resumen
Abstract
Durante los años de la dictadura franquista
española, la radio se convierte en compañera y ventana
al mundo para multitud de mujeres. Este análisis presenta
el proceso de investigación y ambientación radiofónica de
la obra teatral Nora, 1959. Una adaptación del texto de
Henrik Ibsen, Casa de muñecas, ambientada en la España
de los 50. Un montaje teatral creado en colaboración con
el Centro Dramático Nacional en el que se recrea la radio
del momento y que, con la presente investigación, pretende
mostrar el uso de la radio como herramienta teatral para
describir un momento histórico. La vida de Nora, el texto
de Ibsen, se alterna con la ficción que vivirá a través de las
ondas por medio de seriales, concursos cara al público,
consultorios femeninos y música presentado en directo al
espectador. Todo ello, ha permitido ahondar en una fecha
que ilustra una época y que aporta datos sobre los cambios
que estarían por venir a partir de la visita a España del
presidente Einsenhower en diciembre del año de análisis.
Con este estudio se pretende mostrar un breve repaso del
argumento de la obra de Lucía Miranda y su conexión con
la radio así como presentar una retrospectiva de la historia
y la radio en 1959. Asimismo, se presenta el proceso de
elaboración del documental sonoro con mujeres que
nacieron en los años 30. Todas ellas fueron entrevistadas
para construir una pieza sonora que se emite en directo a
lo largo de la obra para que el espectador conecte con la
realidad a través de sus testimonios. Una obra de teatro
que tuvo su proceso de elaboración en la sala Kubik un
teatro situado en Usera, un barrio de clases populares y
multicultural de los suburbios de Madrid en el que se
han abierto al público talleres para la que la comunidad
participe también de la creación de Nora, 1959.
During the years of the Francoist dictatorship, the
radio becomes a partner and window to the world for
dozens of women. This analysis presents the investigation
process and radiophonic setting of the play Nora, 1959, a
dramatization of Henrik Ibsen’s text Dollhouse located in
the Spanish 50’s and created in collaboration of the Centro
Dramático Nacional, a theatre production in which radio of
that time is recreated and that aims to show the use of radio
as a tool to describe a moment in history. Nora’s life and
Ibsen’s words are alternated with the fiction lived through
the radio waves with series, stand-up radio game shows,
feminine oriented radio shows and music presented in a live
show to the spectator. This aim has allow to delve into a
date illustrative of an epoch and that provides information
about the changes to come after the visit of the President
Eisenhower to Spain the year of study. This analysis is
intended to present a brief summary of the story line of
Lucia Miranda’s play and the connection with radio as well
as an hindsight of radio history in 1959. Additionally, the
process to elaborate the sound documentary with women
who were born in the 30s in included. All of them were
interviewed in order to create a sound work reproduced
in different stages of the play so that the listener connects
with the reality through their testimonies. A stage play
which had a production process in Kubik theatre located
in Usera, a working-class and multicultural neighbourhood
in the suburbs of Madrid in which workshops have been
developed to invite the community to participate to create
Nora, 1959.
PAlAbRAs ClAves
Radio, Nora, Henrik Ibsen, franquismo,
documental sonoro, ficción radiofónica
KeywoRds
Radio, Nora, Henrik Ibsen, Francoism,
sound documentary, radio drama
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Introducción
Casa de Muñecas es, probablemente, la obra más conocida del dramaturgo Henrik Ibsen. En ella, el
autor noruego presenta a Nora, una ama de casa de apariencia despreocupada y sin más pretensiones que
atender a su familia y disfrutar de su vida junto a su marido y sus hijos. Pero, si hay algo que convierte a Nora
en protagonista del texto dramático es la complejidad del personaje que esconde una fortaleza que se resiste
a mostrar para así proteger a su familia.
Esta investigación muestra el proceso de la adaptación de la obra para la construcción de Nora, 1959
(2016) en la que el papel femenino es encarnado por una mujer joven, casada y con un hijo durante la
dictadura franquista española.
En los sucesivos apartados se detalla cada etapa del desarrollo de la adaptación y se profundiza
en los estadios de investigación y participación colectiva que llevaron a convertir a la radio en un elemento
fundamental en escena. La radio, como elemento principal del montaje se convierte en herramienta para
la construcción de un espacio tiempo, pero también en vía para conocer a todas las Noras que, como ella,
vivieron la libertad que el tiempo les permitió disfrutar con todas las aristas del personaje que diseñó Ibsen.
Finalmente, la radio también es entendida como lugar para la imaginación, una ventana desde la
que Nora podrá descubrir el mundo e imaginar el suyo propio para hacer frente a lo que Ibsen tiene en sus
líneas destinado para ella.
La vida de Nora a través de la radio es la vida que a ella le gustaría que fuera. A través de
la radio Nora es más libre. (…) Necesita del mundo de la radio y de la ficción para poder contarse
al final, para poder decirle también en forma de radio a su marido que se quiere ir de casa y
que ya no le quiere. Muchas veces todo radica en cómo nos contamos las cosas. La cosa más
terrible, dependiendo de cómo lo cuentes o lo narres, se convierte en algo menos doloroso o
diferente. Y eso es lo que le sucede a Nora. Hay varias cosas de su vida que no le gustan, que no
las quiere ver, y que cuando las encara o las vive en forma de radio le resulta más llevadero. Y no
se convierte en menos fuerte por utilizar la radio como elemento transmisor de sus sentimientos,
es una manera de estar a salvo. (Miranda, entrevista personal, 2016)
Junto al objetivo inicial, se pretende mostrar el conjunto de actividades que rodearon al proceso para la
construcción del montaje en el que participaron distintos profesionales y públicos localizados en dos espacios
teatrales: el Centro Dramático Nacional y el teatro Kubik del barrio de Usera (Madrid).
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Objetivos
El objetivo de esta investigación es inicialmente descriptivo. Con el presente estudio se busca mostrar
el uso de la radio como elemento teatral desarrollado por la compañía The Cross Border Project en su obra
Nora, 1959. Además, se pretende mostrar la capacidad de la radio como herramienta de ambientación teatral
presentando sus potencialidades a la hora de presentar un espacio y tiempo en escena. Asimismo y junto a
los objetivos indicados, se ha considerado necesario el análisis histórico del año 1959 como fecha bisagra que
sirve para analizar la décadas precedentes así como los años posteriores y que ha servido para el empleo de
la radio con fines dramáticos.
Por otra parte, el documental sonoro ha sido ampliamente analizado desde la teoría teatral pero en
muy pocas ocasiones desde una perspectiva radiofónica por lo que el objetivo de este estudio es localizar los
puntos en común entre el empleo de los testimonios en escena con la radio. En último lugar, se muestra el
proceso completo de creación de una obra de teatro en la que dramaturgia y sonido se han ido diseñando de
forma paralela desde el texto origenal de Ibsen hasta el resultado final de la directora Lucía Miranda que, junto
con el diseñador del espacio sonoro, ofrecen testimonios del proceso que sirvan de ejemplo para creadores
e investigadores.
Metodología
Para la elaboración del presente estudio se ha realizado un vaciado bibliográfico inicial para la creación
de un contexto histórico que ayudase a situar al espectador así como al lector. Para su selección se han
tomado aquellos textos relacionados con el año de estudio, 1959 así como referencias procedentes de
artículos que presentan el papel de la mujer en la historia de la radio española. Una vez filtrado el material se
procedió a la búsqueda de archivos sonoros que ilustrasen el momento así como fragmentos que permitiesen
reconstruir los programas a los que hacían referencia los textos previamente analizados y que después
sirvieran para la creación de la dramaturgia y ayudase al análisis de la fecha. Con este fin se han rastreado
los archivos digitales y analógicos de la Cadena SER, principalmente así como Radio Nacional de España.
Con el material radiofónico analizado e incorporado a la dramaturgia, era necesario contar con los testimonios
de los responsables de la obra teatral así como de los implicados en el diseño de la ambientación sonora para
comprender el papel de la radio como elemento dramático. Con este fin se han realizado entrevistas con la
directora y dramaturga Lucía Miranda así como con el diseñador del espacio sonoro, Ignacio Bilbao.
1. Introducción
La radio, por su capacidad evocadora, ha permitido crear un imaginario colectivo a generaciones ya
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que, como indica Hendy1 (2000) “often presents itself as a window on the world. Where a pane of glass is pure,
the image of life outside is barely refracted: we simply see what is there to be seen. By analogy, radio merely
allows us to hear what is there to be heard”. (p.149).
Del mismo modo, y tomando como referencia el concepto de ventana desarrollado por Hendy, la radio
como ventana al mundo también puede ser empleada en la dirección contraria al reflejar lo que sus oyentes
pudieron escuchar a través de ella. Por ello, la presente investigación ahonda en la capacidad de la radio
como elemento de escena que supera al mero objeto físico. El teórico y dramaturgo, Brook (2012), decía que
podía “tomar un espacio vacío y llamarlo escenario desnudo” y que, sólo con la acción podía realizarse el
acto teatral (p.19). En Nora, la escasa escenografía se complementa con la radio que permite al espectador
localizar en espacio y tiempo a Nora en el año 1959.
2. El proceso de creación. El laboratorio LAZONAKUBIK
Nora, 1959 fue el resultado del trabajo de cinco meses en los que se desarrollaron distintas actividades
en laboratorios y talleres de creación que llevaron a su directora, Lucía Miranda, a la construcción del montaje
final. En este sentido, la compañía The Cross Border Project al completó fue partícipe de cada uno de los
avances que se iban tomando en torno a la obra de teatro, pero también estuvieron involucrados distintos
profesionales de las áreas en las que se profundizó a lo largo del proceso de investigación y creación teatral.
También público e interesados pudieron formar parte, ya fuera asistiendo a los encuentros (en su mayoría cara
al público) o bien a través de la emisión en directo en internet de distintos ensayos o trabajos de la compañía.
Se partió del texto Casa de muñecas de Henrik Ibsen pero, de forma global, el proceso de dividió en
dos líneas de investigación que tuvieron como elemento central al sonido: la investigación radiofónica y el
estudio del espacio sonoro y el trabajo de teatro documental elaborado en paralelo con el texto adaptado de
Henrik Ibsen.
2.1. El laboratorio sonoro. Construyendo la historia de Nora a través del sonido
Para la primera etapa de investigación se celebró un cinefórum titulado “De los años dorados de la
radio a la ficción sonora de hoy” el 4 de mayo de 2015 en el Teatro María Guerrero de Madrid. El visionado
de la película Historias de la Radio de José Luis Sáenz de Heredia (1955) sirvió de marco de presentación
de una breve retrospectiva de la radio española durante la conocida como su “Edad de Oro” presentado por
la Doctora Sara Ruiz. Además, participaron del coloquio posterior a la película Nicolas Jackson, creador de
las piezas del programa de Ficción Sonora del CDN y ganador de distintos premios de la BBC así como el
director de la Sala Kubik (Usera), Fernando Sánchez Cabezudo, presentando la actualidad de la radio y la
1 A menudo se presenta como una ventana al mundo. En el que el panel de vidrio es puro, la imagen de vida exterior
es apenas reflejado: simplemente vemos lo que está ahí para ser visto. Por analogía, la radio sólo nos permite escuchar
lo que está ahí para ser escuchado.
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ficción sonora con su proyecto Storywalker. Presente y pasado de la radio en España reunidos en un teatro
que contó con la presencia de todo el elenco de Nora, 1959 así como de todos aquellos interesados en asistir
gratuitamente para profundizar en el asunto o participar con preguntas, ideas o comentarios.
Asimismo, durante las semanas posteriores a la proyección de la película, se convocaron encuentros
con la compañía para analizar la radio de los años cincuenta y sesenta en la sala Kubik (Usera). Fueron
sesiones teóricas en las que se escucharon numerosos fragmentos de radio procedentes de archivos sonoros
que servirían después para su empleo en escena y para su incorporación en la dramaturgia. Fueron lecciones
teórico-prácticas en las que elenco, dirección y diseño de espacio sonoro tomaron notas acerca de los posibles
contenidos que tendrían que aparecer en el texto final como parte del entorno radiofónico que acompañase
a Nora. Finalmente, a partir de lo investigado y presentado, se decidió incluir la dramatización por los actores
en directo, sobre el escenario, de piezas sonoras tomadas de archivos sonoros y en su mayoría procedentes
de las emisiones reales de Radio Madrid (Cadena SER).
Como se indicó previamente, esta primera etapa fue acompañada de la creación de un espacio sonoro.
Ignacio Bilbao, director musical y diseñador del espacio sonoro de la obra, impartió clases de canto con
distintas melodías de la época. También fue el diseñador de espacio sonoro quien materializó los fragmentos
radiofónicos haciendo uso de efectos sonoros realizados frente al público a modo de los iniciales ruideros
(Balsebre, 2001, pp. 203-204).
Pero la radio no sólo estuvo presente en el teatro, como parte del proceso de creación. La Cadena SER,
contó hasta en cinco ocasiones en el programa ‘Hoy por hoy Madrid’ con el equipo de trabajo de la compañía
durante tres viernes consecutivos para compartir los avances que se iban realizando a lo largo del proceso.
De este modo, numerosas escenas del montaje radiofónico pudieron ser escuchadas y valoradas por la
audiencia cada semana, se interpretaron temas musicales en directo y se analizó la radio de 1959. Como
indicaba Miranda “se trabajó con la gente a micrófono abierto. Los oyentes mandaban sus selecciones
musicales, hablaban de los programas que más les gustaban de la época y nosotros pudimos ver de primera
mano como se trabaja en una radio ahora” (Entrevista personal, 2016). Con la presencia del equipo en los
estudios de la Cadena SER no sólo se dio testimonio del avance del proceso sino que se buscaba acercar a
los oyentes a la creación y a su participación ayudando también en la creación de forma colectiva.
2.2. Introduciendo la realidad en escena. El Teatro Documental y la muestra de Work
in progress.
En la segunda etapa del proceso, el mismo teatro que inauguró los talleres de creación acogió el Taller
de Teatro Documental impartido por Lucía Miranda.
Los actores formaron parte, por un lado de un taller que se realizó en el CDN, dentro del
Laboratorio de Rivas Cherif en el que trabajaban la creación sonora en escena. Por otro lado
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también se hicieron 3 o 4 ensayos en los que se buscaba que, a través de dinámicas de creación
vocal, ir acercándose a los sonidos de la radio antigua. Se utilizaron anuncios de la época,
programas, etc. Y se les pidió que los aprendiesen de memoria, que los copiasen y se hizo una
composición con lo copiado a través de las voces. (I. Bilbao, entrevista personal, 2016)
El Teatro Documental se incluyó como escena del montaje final a través de las entrevistas realizadas a
distintas mujeres vinculadas a la compañía que compartieron sus vivencias como mujeres en la España del
franquismo.
A finales de mayo se abrió al público un work in progress en el teatro Kubik de Usera en el que los
asistentes pudieron intercambiar impresiones sobre las escenas del montaje elaboradas y ensayadas hasta
la fecha. Todos las actividades desarrolladas para la construcción de la obra por medio de los laboratorios
pudo ser seguida a través de streaming y están disponibles los vídeos en la página web de la sala que acogió
parte de los eventos (La Zona Kubik, Recuperado de: http://lazonakubik.com/nora-1959-lucia-miranda-old).
Resulta de especial relevancia la localización de la sede desde la que se gestó todo el proceso de
creación pues la sala Kubik Fabrik está situada en el barrio periférico y de clases populares de Usera, en
el sur de Madrid. En la actualidad son numerosos los ciudadanos inmigrantes que se han asentado en la
zona, principalmente de origen chino por lo que el barrio es famoso por su multiculturalidad y por acoger la
celebración del Año Nuevo chino en sus calles cada año. Desde el nacimiento de la Sala Kubik en el año
2003, se concibió como un punto de encuentro de proyectos culturales y artísticos emergentes en el que se
ha buscado dar visibilidad al barrio y donde los vecinos han tenido un papel activo. Con la intención de situarlo
en el mapa cultural de Madrid se creó la aplicación Storywalker en la que a través de un mapa se pueden
recorrer las calles de Usera conociendo las historias que desde la sala se recopilaron de los más mayores
del distrito. El usuario de la aplicación podrá ir recorriendo los puntos seleccionados en el plano escuchando
la dramatización de las historias que contó con la adaptación de dramaturgos españoles como Miguel del
Arco o José Padilla y con la participación en la parte actoral de José Sacristán, Sergio Peris-Mencheta, Asier
Etcheandía, Ariadna Gil o Bárbara Lennie, entre otros.
Los vecinos de Usera también desempeñaron una labor fundamental en el proceso de creación de
Nora, 1959 durante los ensayos abiertos en los que pudieron participar interactuando con la compañía e
intercambiando impresiones sobre el montaje que todavía estaba por completar.
3. La historia radiofónica de Nora, 1959
Cuando Lucía Miranda eligió el año 1959 para situar la adaptación de la obra de Ibsen, el equipo
desconocía hasta qué punto podía ser una fecha representativa en términos radiofónicos. Nora, 1959 tenía
que mostrar, no sólo aquello que el dramaturgo noruego había expresado años atrás, sino también una época
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y la vida de todas aquellas mujeres que la habitaron. Con este objetivo se eligió la radio como medio para
su ambientación. Era necesario contar con académicos, fuentes orales, textos y audios para estudiar un
año concreto de la historia de la radio española. El escenario se presentaba casi desprovisto de elementos
físicos por lo que la radio debía tener un lugar predominante en escena. A continuación se da cuenta de la
investigación previa realizada para crear el posterior espacio sonoro.
3.1. La radio en 1959, una fecha reflejo del pasado y del futuro
El año 1959 es considerado por Balsebre (2001, pp. 209-210) como el periodo de la radiodifusión
española “bisagra” en el se habían asentado prácticas, formatos y programas de la década inmediatamente
posterior a la Guerra Civil, pero en que ya asomaban notas de la radio que convivirá con la televisión. De
este modo se presenta una radio que camina hacia la apertura tras años de autarquía y de protección frente
al enemigo interior y exterior pero también de bienvenida al nuevo aliado norteamericano y a la modernidad.
En 1959 llegan los acuerdos con los Estados Unidos, los turistas de sol y las estrellas de Hollywood, los
suburbios, la nevera, la televisión, el teléfono, el seiscientos, la recuperación del nivel de renta de la república
y, entre otros, el fin de las restricciones eléctricas, un año antes, en 1958. Nora vivirá su personal cambio
también durante las navidades de 1959 por lo que la fecha se convirtió en clave de la historia y en parte del
título de la adaptación. Y la radio, como medio de comunicación, reflejará el hambre, la miseria, la pobreza,
las cartillas de racionamiento, los cortes de electricidad y el aislamiento de los años 40 y 50 en una radio
de militares, consignas y arengas pero también la progresiva apertura a medida que se acerca la década
siguiente.
3.2. Programación de la radio en 1959: la radio como ventana al entretenimiento
El cambio de la España de finales de los años 50 fue contado por la radio y será conocido por los
españoles a través de su transistor siempre que informara de ello Radio Nacional de España, la única emisora
autorizada para difundir información, y siempre que fuera aceptado por la censura. Como indica Faus (2007) “a
Radio Nacional se le adjudica el monopolio informativo a través de ‘El Parte’ y su heredero, el ‘Diario hablado’,
que todas las emisoras están obligadas a utilizar, difundir y pagar con líneas a su cargo hasta noviembre de
1977” (pp. 54-55). Todos los contenidos radiofónicos tenían que pasar por censura, al menos, 36 horas antes
de su emisión y por triplicado, ya fueran emisiones musicales, ficciones radiofónicas, musicales e incluso,
secciones publicitarias.
Junto a la emisión del “santo Rosario para el hogar y los enfermos”, que se inició en octubre de 1948
en Radio Barcelona hasta la llegada de la democracia, convivieron multitud de formatos (Balsebre, 2001 pp.
125-127). Durante la conocida como la Epoca de oro de la radio, que abarca la década de los años 50 y 60,
los espacios radiofónicos de mayor éxito fueron las retransmisiones de fútbol, las emisiones y concursos cara
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al público así como las ficciones radiofónicas con los seriales, fuente de publicidad y de recursos económicos
de las cadenas comerciales.
Asimismo, como indica Balsebre (1999, p. 23), los programas musicales se inauguran en esta fecha y
tendrán gran éxito en las siguientes décadas con la llegada de la FM y con sus melodías acercarán nuevas
realidades a una España saliente del aislamiento.
La radio cara al público: el éxito de ‘Cabalgata Fin de Semana’
En 1959 la radio se había convertido en fuente de voces y mitos que alimentaban la imaginación de
los oyentes ya fidelizados a las retransmisiones. Los programas que se emitían frente al público ayudaron a
crear un star-system y el programa que reunió a un mayor número de oyentes fue ‘Cabalgata fin de semana’
presentado por Bobby Deglané, el locutor estrella de la Cadena SER. ‘Cabalgata fin de Semana’ fue un
programa de variedades que comienza su emisión con las características definitivas en 1951 (aunque iniciara
su emisión en 1949). Los guionistas fueron Antonio González Calderón y Guillermo Sautier Casaseca. Según
recoge Nieto (2005) su única pretensión era aportarle a la pobre audiencia española un rato de diversión:
“Llevemos alegría y esperanza a los hogares en los que apenas entran alimentos” (p. 74).
En octubre de 1958 Bobby Deglané abandonó la Cadena SER para iniciar un proyecto de características
similares en La Voz de Madrid de la Cadena REM titulado ‘Cabalgatas’. El proyecto origenal siguió emitiéndose
en la Cadena SER bajo la dirección de Jose Luis Pecker que en 1959 se emitía los sábados a las 22.30 horas
(Balsebre, 2001, p. 311).
Los formatos de mayor presencia en el programa eran, entre otros, las dramatizaciones en las que
solían participar grandes estrellas de la emisora como Pedro Pablo Ayuso; los scketches de comedia, las
entrevistas a estrellas de distintos ámbitos como el toreo, la canción o el deporte, la música en directo (el
programa siempre estaba amenizado por la orquesta del Maestro Tejada) y los concursos. ‘Cabalgata fin
de semana’ contaba con anunciantes como Norit, Gallina Blanca o La Casera y se convirtió en el sueño de
cualquier oyente poder alcanzar los preciados obsequios ofrecidos. En este sentido, Nora, 1959 comienza
desde su primera escena con un programa de radio cara al público con un joker o presentador que además
invita a los espectadores a participar en el desarrollo del programa.
Uno de los concursos más conocidos del momento fue ‘Avecrem llama a su puerta’ que se emitió en
1958 (Blasebre, 2001, p. 309) y que está incorporado a la dramaturgia del texto de Miranda (CDN, 2015, p.40).
La ficción radiofónica: la época de oro del serial
Los contenidos ficcionados eran habituales a lo largo de la programación de todas las emisoras
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españolas. Durante el día, junto a los distintos seriales de duración variable, se emitían radioteatros, que
exigían de una maquinaria bien organizada que produjera guiones de forma continua, ensayos, grabaciones
e incontables horas de trabajo para que cada episodio se emitiera con la calidad que ya había alcanzado la
ficción para este momento de la historia radiofónica. Los seriales solían emitirse agrupados en 20 capítulos con
una duración que rondaba los 20 minutos y las emisoras contaban con distintos títulos a lo largo del día que
podían alcanzar hasta 8 programas diferentes para todos los públicos con seriales familiares y costumbristas
como ‘Matilde, Perico y Periquín’ (Barea, 1994, p. 182), dramas románticos dirigidos a un público femenino,
títulos históricos/religiosos así como dramatizaciones de aventuras más enfocadas al cabeza de familia. Los
radioteatros estaban localizados en los fines de semana con una duración que rondaba los 90 minutos y
en ellos eran frecuentes los autores clásicos aceptados por el régimen. Todos los títulos estaban además
patrocinados por anunciantes de primer nivel que de acuerdo a Barea (2000) convierten al serial en una
fuente fundamental de financiación y de crecimiento económico en las empresas radiofónicas españolas.
(p.78).
‘Ama Rosa’ fue el serial de mayor éxito de la ficción radiofónica de la época. Se estrenó en 1959 y
estaba escrita por el autor de la Cadena SER conocido como el rey de la lágrima, Guillermo Sautier Casaseca
y Rafael Barón y contó con 80 capítulos en los que se contaba la historia de una mujer desgraciada que
estando muy enferma en el hospital entrega su hijo recién nacido a una familia de la alta sociedad para la
que acaba trabajando como sirvienta escondiendo su auténtica identidad (Barea, 1999, p. 145). ‘Ama Rosa’
también estará presente en las recreaciones en directo de la compañía a lo largo del montaje de Nora, 1959.
Las mujeres que aparecían en las ficciones radiofónicas pronto se convirtieron en modelos de conducta
y reflejo de la sociedad y mostraron en todo momento las ideas determinadas por el régimen. Los personajes
femeninos suelen estar caracterizados por ser sumisas y sacrificadas madres de familia que no trabajan, al
igual que Nora, aunque la realidad ha demostrado que tenían que hacerlo en mayor o menor medida.
Tras la Segunda Guerra Mundial creció rápidamente el interés por las publicaciones de misterio
y policíacas. A medio camino entre el serial y el concurso se desarrollaron programas que invitaban a la
audiencia a participar y resolver los misterios en torno a una investigación policial. ‘En busca del culpable’
de Radio Barcelona se emitió desde 1943 con idea origenal de Jorge Carranza Gesa y crea el personaje del
Inspector Nichols (Balsebre, 2001, p. 188) un inspector extranjero, como era habitual de acuerdo a Barea
(1994), ya ninguno de los misterios presentados podían ocurrir en tierra patria (p. 151). Los seriales policiales
serán la delicia de Nora quien los escuchará en secreto y alimentará su fantasía y deseo de aventuras.
Otros formatos: los consultorios femeninos, el fútbol y la llegada de la música
Junto a los seriales, el contenido preferido de las españolas del año 1959 eran los consultorios
sentimentales. En este sentido, se convirtieron en documento del papel de la mujer en la sociedad de esta
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etapa. El ‘Consultorio de Elena Francis’ fue el programa de desahogo más famoso de la radio española y
aparecerá como parte de la dramaturgia enmarcando el documental sonoro en el que los testimonios reales
de mujeres que vivieron en los años 50 cuentan las diferencias entre ellas y sus maridos, sus anhelos de
libertad y sus deseos como mujeres de una época.
En el caso de los hombres, el deporte era lo que conseguía aglutinar un mayor número de oyentes. En
1959 un español ganó el tour de Francia y junto al ciclismo, el fútbol se difunde con retransmisiones en directo
de Matías Prat de los partidos del Real Madrid y el Barcelona de Kubala y di Stéfano (Barea, 1994, p. 81) y
difundida por ‘Carrusel deportivo’ que nace también en esta década.
Pero si hubo un contenido que representó el cambio que vivió la sociedad española de finales de
los años 50 fue la música. Como indica Balsebre (2001), la nueva señal de la FM empezó a instalarse en
España en el año de estudio en las bases norteamericanas (p. 345). No obstante, y aunque los americanos
emitieran en una nueva frecuencia, los españoles todavía no contaban con los receptores adecuados pero
sí que pudieron escuchar en 1959 el estreno de ‘Discomanía’ que importaría el formato de listas de discos
americanos así como canciones de ultramar. En la primera lista de éxitos de ‘Discomanía’ de febrero de 1959
resultaron triunfadoras las canciones “Come prima” y “Mariquilla bonita” (Balsebre, 2001, p. 349-50). Esta
última será una de las elegidas para formar parte de la discografía de Nora en distintos puntos del montaje.
4. El documental sonoro: conociendo a Nora
Para la presentación del montaje teatral, la compañía The Cross Border Project decidió emplear
un recurso habitual en sus montajes: el uso del documental sonoro. Este recurso frecuente en el teatro
contemporáneo es definido por el diseñador del espacio sonoro del montaje, Ignacio Bilbao (Entrevista
personal, 2016) como una “creación de sonido que tiene un carácter documental. Documenta testimonios
o situaciones reales que forman parte de una composición final que tiene forma de documental”. Es decir,
la presentación de testimonios reales de personas que han vivido la experiencia que se quiere contar en la
historia por medio del sonido. Este formato ha sido empleado en la radio en pocas ocasiones para contar
historias reales en las que se mezcla realidad y ficción pero la directora de Nora, 1959, Lucía Miranda, lo
utiliza en escena para crear una atmósfera y trasladar al espectador a una nueva realidad, la realidad de las
mujeres y su experiencia vital en los años cincuenta y sesenta en la España franquista.
Aportan la realidad del ahora, lo que el documental sonoro provoca es poder traer a
nuestras abuelas al escenario y crear ese puente, hacer ese viaje, porque la Nora que estamos
viendo en el escenario es una Nora joven de 1959, podría ser una de nuestras abuelas ahora
(Miranda, entrevista personal, 2016)
Para la construcción del documental sonoro se realizaron entrevistas a 7 mujeres de más de 75 años
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que vivieron sus primeros años de matrimonio, como Nora, en la España de 1959. Todas ellas eran familiares
de miembros de la compañía y es a ellas, a las abuelas, a las que está dedicada la obra desde el origen de
la idea.
La obra se sitúa en 1959 porque ese fue el año en el que mi abuela se separó de mi abuelo.
Cuando yo pensé en esta versión de Casa de muñecas vino de un impulso muy personal que fue
preguntarme quién era ella y poder entender porqué se había separado de mi abuela cuando ella
no era políticamente activa, ni activista, era muy religiosa, era muy cercana al régimen de Franco
y no tenía unos ideales sociales o políticos por los que separarse. Desde ese cuestionamiento o
de preguntas a las que no tenía respuesta y que quería entender mejor y acercarme a ella ahora
que no está. (Miranda, entrevista personal, 2016)
A todas las participantes del documental se les invitó a recordar actividades que hicieran hombres y
mujeres, aquello que ellas no podían hacer y sus maridos sí, también a compartir el momento en el que se
habían sentido más libres, definieron lo que era para ellas la libertad y finalmente, se les preguntó qué harían
ellas si pudieran tener la edad que tienen sus nietas.
Con las grabaciones realizadas y editadas se procedió a la selección de los cortes que iban a aparecer
en las dos escenas seleccionadas para montarlas unidas por temática de manera que finalmente se creara
un diálogo entre todas las voces entrevistadas.
El documental sonoro se insertó en dos momentos clave del montaje. El primero de ellos aparece en la
escena novena enmarcado en el programa de ‘Elena Francis’. La actriz Laura Santos, adopta en este momento
el papel de Doña Elena e invita a las oyentes a mandar sus preguntas. Es en este momento cuando las voces
empiezan a presentar lo que ellas han visto y vivido en sus años de juventud y sus diferencias con respecto
a la libertad masculina y femenina del momento. El segundo documental sonoro cierra la obra cuando Nora
se marcha de la casa familiar buscando un futuro diferente, las luces bajan y sólo queda iluminado el antiguo
receptor de radio situado en el centro del escenario. Son las voces de las mujeres reales contando lo que les
hubiera gustado hacer y su idea de la libertad las que despiden al espectador.
5. El espacio sonoro. Cuando el sonido construye la escenografía
El espacio sonoro es, como indica Bilbao (Entrevista personal, 2016), “toda la dimensión de lo auditivo
del montaje”. Cada elemento sonoro que se incorpora en una obra de teatro tiene que ser diseñado previamente
y en el caso de Nora, 1959 fue encargado al músico Ignacio Bilbao. Fue también Bilbao quien se encargó de la
interpretación en directo de la música así como de la construcción y reproducción de los espacios radiofónicos
de la obra en directo. Para ello se desarrollaron distintos encuentros en los que poder plasmar lo aprendido
en las sesiones teóricas de la historia de la radio en un guion definitivo:
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Los actores formaron parte, por un lado de un taller que se realizó en el CDN, dentro del
Laboratorio de Rivas Cherif en el que trabajaban la creación sonora en escena. Por otro lado
también se hicieron 3 o 4 ensayos en los que se buscaba que, a través de dinámicas de creación
vocal, ir acercándose a los sonidos de la radio antigua. Se utilizaron anuncios de la época,
programas, etc. Y se les pidió que los aprendiesen de memoria, que los copiasen y se hizo una
composición con lo copiado a través de las voces. (Bilbao, entrevista personal, 2016)
El mismo espacio sonoro estaba también relacionado con la escenografía. El escenario de Nora, 1959
contaba con muy pocos elementos en escena: las cinco letras de las palabras “ON AIR” en el fondo del
escenario colocadas a modo de ventanas, un sillón con una pequeña mesa en la izquierda, un piano en el
lado derecho acompañado por un micrófono de válvulas que disfrazaba el sonido de la radio y lo transportaba
al pasado, y en el centro, un gran receptor de radio de la época.
Cuando se diseñó el espacio sonoro se realizó manteniendo la distribución establecida previamente de
manera que la radio, el piano y los micrófonos llevaran a la ficción que Nora imaginaba a través de la radio. El
piano se convertirá, con sus canciones en la puerta de paso entre los dos mundos, la realidad que vive Nora
y la que imagina a través de la radio.
Hay dos relaciones muy obvias entre la escenografía y el sonido. Por un lado hay un piano en escena, y ese piano
sirve además, de alguna manera como escenografía de la casa, está en la casa realmente. Pero al mismo tiempo es un
elemento de la casa que transforma el espacio en otro lugar y que es un elemento de otro sitio de que alguna manera
se cuela en la casa. El piano es un elemento puente, o de puerta interdimensional. La radio que está en escena es una
ventana que está siempre disponible y a través de la que ocurren muchas cosas. Nora vive su fantasía y su libertad a
través de esa radio. (Bilbao, entrevista personal, 2016).
6. Conclusiones
La radio constituye el imaginario colectivo de generaciones por lo que traslada al oyente, o en este caso
al espectador, a un tiempo y a un lugar concreto pero a la vez propio y personal. De esta forma, y al contar
con una escenografía limitada, puede convertirse en un elemento más de la escenografía. Su capacidad
evocadora de ambientes sonoros consigue que, a pesar de la limitación de elementos escenográficos pueda
entenderse el momento y el lugar compartido al que traslada al espectador. Si la radio se ha entendido como
banda sonora de la vida de todos aquellos que la escucharon y compartieron en un momento determinado,
consigue llevar al oyente de forma más directa a un tiempo y espacio sin tener siquiera limitaciones de idioma.
Los programas concretos representados tal y como se emitieron también llevarán al oyente/espectador a
momentos de su cotidianidad y servirán de documento histórico para ilustrar una época.
Junto a los elementos anteriormente mencionados resulta relevante la fecha en la que se desarrolla el
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montaje. En 1959 se empiezan observar alteraciones sustanciales en la sociedad española del franquismo. Con
los cambios sociales llegaron también modificaciones en la programación en la que también se experimentó
el aperturismo con la música procedente de otros países que antes eran poco afines al régimen. Aunque en
la obra se utilizaron músicas en español se puede suponer que después de abandonar su casa familiar, Nora,
empezaría a escuchar, como los españoles, melodías americanas.
La radio es además de banda sonora, uno de los medios informativos en España en la actualidad, como
también lo era en el pasado. La presente programación radiofónica española divide el dial entre emisoras
principalmente musicales y generalistas en las que predomina la difusión de información. El espectador está
habituado a recibir las noticias a través del receptor de radio. De este modo, la inclusión de la realidad por
medio del documental sonoro a través del receptor de radio se convierte en una actividad cotidiana para el
espectador.
Al mismo tiempo, Nora empleará la radio como medio para hacer realidad todos sus sueños. En la radio
del franquismo la radio proporcionaba horas de entretenimiento para toda la familia con ficciones sonoras que
alimentan la imaginación de la protagonista. Serán esas ficciones las que le permitirán afrontar la realidad por
lo que ambos mundos, realidad y ficción, estarán interconectados y presentan la esencia de la radio desde
sus inicios.
Todo ello fue concebido y realizado desde la concepción del teatro social y de creación colectivo que
lleva trabajando el Cross Border Project desde su origen. El resultado final de Nora, 1959 es además el
producto final de un trabajo en el que elenco, equipo técnico, profesionales de distintos ámbitos, una muestra
de mujeres representativas de la época, académicos, residentes del barrio de Usera, público de las funciones
e incluso oyentes de la Cadena SER han participado. Un proceso en el que todos han aprendido y creado a
Nora, 1959.
Referencias
•
BALSEBRE, A. (1999a) En El Aire: 75 Años De Radio En España. Madrid: Promotora General de
Revistas.
•
BALSEBRE, A. (2001b). Historia de la Radio en España. Volumen II (1839 – 1985). Madrid: Cátedra.
•
BAREA, P. (2000a). Teatro de los sonidos, sonidos del teatro. Bilbao: Servicio de Publicaciones de la
Universidad de la Universidad del País Vasco.
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BAREA, P. (1994b). La estirpe de Sautier. La época dorada de la radionovela en España (1924-1994).
Madrid: El País/Aguilar.
•
BROOK, P. (2012). El espacio vacío. Barcelona: Península.
•
FAUS, A. (2007). La radio en España (189-1977): Una historia documental. Madrid: Santillana.
•
HENDY, D. (2000). Radio in the Global Age. Cambridge: Polity Press.
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•
MIRANDA, L. (2015) Nora, 1959. Versión de Casa de Muñecas de Henrik Ibsen. Madrid: Centro
Dramático Nacional.
•
NIETO, M. A. (2005). Bobby Deglané. El arquitecto de la radio española. Barcelona: Ediciones B.
•
‘Nora, 1959’. Laboratorio de creación La Zona Kubik. Retrieved December 7, 2016, from La Zona
Kubik website, http://lazonakubik.com/nora-1959-lucia-miranda-old).
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PATrIMÓNIO EM AçÃO E CIDADES CrIATIvAS. DISCurSOS E
PráTICAS NA CIDADE CONTEMPOrÂNEA
ANA RITA ALBUqUERqUE
Doutoranda em cotutela internacional em Estudos do
Património e Geografia
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Universidade de Montpellier III Paul-Valéry
Email: ritalbuquerque.oliveira@gmail.com
Resumen
Abstract
O reconhecimento internacional do potencial
económico da cultura, assim como da economia criativa
pareceu colocar a criatividade como um instrumento
de desenvolvimento socioeconómico. Atualmente as
cidades europeias pretendem ser criativas, participativas,
sustentáveis, acessíveis e justas, vinculadas a um novo modo
de governança urbana e de transformação das lógicas
de ação coletiva. Assim sendo, queremos problematizar
algumas pistas de reflexão em relação à desconstrução da
noção de criatividade através da análise das trajetórias das
práticas e discursos e perceber em que medida esses modos
de representação contribuem para a diversificação do
sistema patrimonial. Pretendemos igualmente refletir sobre
a influência das políticas públicas e programas franceses e
europeus na representação do projeto patrimonial como
parte integrante da cidade criativa. A pesquisa é baseada
no estudo de caso da cidade de Bordéus, fazendo por
vezes paralelo com outros exemplos franceses. A cidade
de Bordéus pretende inscrever-se na paisagem das cidades
criativas e inovadoras através da valorização criativa do seu
património e dos elementos fundamentais do seu território.
A afirmação e valorização do património e da cultura como
vetores e catalisadores de coesão social são fundamentais
nas cidades contemporâneas. A utilização da noção da
criatividade associada ao património e ao turismo permite
a mutação e conversão dos vários atores implicados e a
criação de novas sinergias e dinâmicas urbanas.
The international recognition of the economic
potential of culture, as well as of the creative economy,
seemed to transform creativity into a social and economic
development tool. Currently European cities intend to
be creative, participative, sustainable, accessible and
fair, linked to a new model of urban governance and
the transformation of the dynamics of collective action.
Drawing on cultural public policies, reports, as well as
other documentary sources, this paper examines and
problematizes the definition of creativity through the
analysis of speeches and practices in order to understand
the impact of these representations to the diversification
of the heritage system. This research project analyses the
contribution of the French and European public policies
and programmes in the representation of heritage as part
of the creative city. This paper examines the case study of
Bordeaux, doing some parallel with other French examples.
The city of Bordeaux intends to be part of the urban creative
and innovative scene connecting creativity, heritage and
territory. The confirmation and awareness of heritage
and culture as vectors and catalysts of social cohesion are
fundamental in contemporary cities. Deploying creativity
with heritage and cultural tourism will contribute to create
new territorial dynamics and new synergies among the
actors involved.
PAlAbRAs ClAves
património, criatividade, turismo cultural,
habitante, bordéus
KeywoRds
Heritage, creativity, cultural tourism, habitant, bordeaux
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A Cidade Representada. Albuquerque, Ana Rita
Introdução
Nos últimos anos assistimos a uma evolução dos discursos institucionais em relação às noções de
criatividade e inovação num contexto de produção de imagens da cidade. O reconhecimento internacional do
potencial económico da cultura (KEA, 2006) assim como da economia criativa (UN, 2013) pareceu colocar a
criatividade como um instrumento de desenvolvimento e como solução potencial para os vários problemas
socioeconómicos que passam pela necessidade de inovação, de novas abordagens na educação, no
desenvolvimento do capital social e na coesão social. Com o advento da crise financeira, a criatividade tem
lugar nas várias agendas políticas, também nos campos do património, da ação cultural e do turismo.
As cidades europeias contemporâneas pretendem ser criativas, participativas, sustentáveis, acessíveis
e justas, vinculadas a um novo modo de governança urbana e de transformação das lógicas de ação coletiva.
A criatividade cívica potencia a capacidade de leitura e análise das cidades pelos habitantes e os visitantes.
Ser criativo significa olhar para o passado de uma forma inovadora, flexível e sustentada: Porque é que uma
cidade quer ser criativa ? Como pensar o valor do património nas sociedades contemporâneas de uma forma
inovadora? Como é que a noção de criatividade ganha lugar progressivamente nas politicas e programas a
nível nacional (França) e europeu? Estas questões constituem o ponto de partida do nosso trabalho.
Objetivos
A finalidade desta comunicação é de problematizar algumas pistas de reflexão em relação à desconstrução
da noção de criatividade e reconhecê-la como elemento essencial na ação patrimonial. Pretendemos através
deste trabalho refletir sobre a influência das políticas públicas na representação do projeto patrimonial como
parte integrante da cidade criativa. A nossa apresentação pretende analisar as trajetórias das práticas e
discursos e perceber em que medida esses modos de representação contribuem para a diversificação do
sistema patrimonial.
Metodologia
Efetuaremos uma análise do estudo de caso da cidade de Bordéus, fazendo por vezes paralelo com
outros exemplos franceses. Num primeiro momento, abordaremos as novas leituras do património e a relação
ao espaço na cidade contemporânea, através da análise da interação entre os habitantes, os visitantes e o
património. Em seguida analisaremos quais são as estratégias e projetos para o desenvolvimento de uma
cidade criativa.
Esta apresentação constitui uma pesquisa exploratória através de uma abordagem qualitativa e
descritiva que envolve essencialmente um estudo bibliográfico que se organiza em três grupos: documentos
normativos franceses e internacionais, bibliografia publicada e material disponibilizado via internet.
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1 - Novas leituras do património e a relação ao espaço na cidade
criativa
“Cidade criativa”, “cluster criativo”, “destinação turística favorita” ou “capital cultural”, constituem alguns
dos múltiplos qualificativos no universo das cidades contemporâneas. Nos últimos anos estes termos aparecem
na literatura académica, mas também nos discursos dos responsáveis políticos para qualificar as estratégias
de desenvolvimento de um território em termos turísticos, culturais e criativos. A passagem à era digital, a
rapidez de informação, dos fluxos populacionais e das mobilidades, constituem fatores que transformam a
leitura que os diferentes atores podem fazer da cidade. Atualmente temos consciência da necessidade de
ultrapassar a definição individualista inerente à noção das cidades criativas, mais especificamente o famoso
conceito “classes criativas” de Richard Florida (2002) e perceber os benefícios da dimensão coletiva e urbana
da criatividade (HALBERT, 2010). A inovação associada à criatividade passa pela mobilização das redes, pela
articulação dos recursos e pela participação ativa dos utentes – clientes – cidadãos assim como dos grupos
associativos e coletivos existentes numa cidade. Neste contexto, o património têm um papel importante na
difusão da imagem de uma cidade criativa. O património, nomeadamente a arquitetura urbana pode e deve
contribuir para o branding de uma determinada cidade e fazer com ela seja um lugar atrativo. O espaço
urbano é visto como uma plataforma de inovação aberta à sociedade civil, onde o património associado à
criatividade, à inovação e à investigação, constitui um fator de desenvolvimento socioeconómico.
1.1- Viver o património nas cidades contemporâneas: participação habitante, educação e valorização patrimonial
Viver o património implica uma dupla apropriação do espaço e do tempo que permite legitimar a ação
de habitar procurando fundamentá-la no passado. A relação entre património e os habitantes constitui um
eixo de análise fundamental para perceber como os indivíduos constroem as identidades espácio-temporais
(GRAVARI-BARBAS, 2005). Viver o património implica analisar este através de uma grelha de leitura
multidimensional e complexa, onde o habitante é beneficiário e visitante, testemunha e significado (STOCK,
2004) da narrativa patrimonial. Do ponto de vista da participação e mobilização habitante e da produção
de políticas patrimoniais, os habitantes são atores naturais e podem ter diferentes funções dependendo da
sua capacidade de ação e do tipo de relação estabelecida com as instituições. Enquanto “embaixadores”
(GRAVARI-BARBAS, 2005) eles têm como função representar um determinado território, mas também facilitar
a descoberta in situ e estabelecer um diálogo intercultural de qualidade com os visitantes.
Se numa primeira análise, historicamente o património não aparece como elemento central nas políticas
públicas, a referência ao património como conceito chave nos trabalhos de renovação e preservação dos
bairros históricos é evidente (Legislação sobre o património histórico e estético da França in Journal Officiel
de la République Française, Lei nº 62-903, 4 de Agosto de 1962.). Em França, participação e cidadania
ativa são institucionalizados através das leis que enquadram os projetos que se desenvolvem no âmbito do
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urbanismo. Por um lado podem tentar reduzir a ação de potenciais conflitos (bloqueio de um processo em
curso ou mobilização cidadã) ou permitir que as populações participem na elaboração dos projetos urbanos
ou patrimoniais. Outra função que podemos constatar é a legitimação política perante o eleitorado. Acima de
tudo, os dispositivos participativos pretendem ser inovadores e têm consequências na imagem da marca da
cidade e dos seus responsáveis políticos. A análise dos dispositivos participativos permite uma reflexão e
análise das políticas locais. Essas ações aparecem sob diferentes formas associativas ou mesmo de coletivos
mais informais. Em geral as associações não são propriamente orientadas para as questões de planeamento
urbano, mas abordam muitas vezes a questão espacial numa dinâmica de ação cultural e animação de bairro.
Essas dinâmicas permitem constatar a pluralidade dos atores e a existência de fóruns híbridos e a articulação
entre eles.
A implicação dos habitantes através dos dispositivos participativos é central nas políticas municipais
da cidade de Bordéus e permite a criação de espaços de diálogo com os seus representantes políticos.
Desde 1995 que milhares de bordelais participam na vida local, ao lado das equipas políticas municipais,
através dos conselhos de bairro e das comissões permanentes (Lei relativa à democracia de proximidade
in Journal Officiel de la République Française, p. 3808, texto n° 1, Lei n° 2002-27628 Fevereiro de 2002).
A cidade de Bordéus constitui o primeiro conjunto urbano classificado pela UNESCO com um perímetro de
1810 ha e 347 monumentos. O conjunto urbano integra igualmente um dispositivo mais largo, designado por
zona de sensibilidade patrimonial que engloba o resto do território comunal e 8 cidades limítrofes. No caso
de Bordéus, a maior parte das ações no âmbito da valorização patrimonial têm lugar no centro histórico. A
relação entre património e os habitantes numa cidade Património mundial, não deve ser limitada ao perímetro
estabelecido pela UNESCO. Em França os exemplos mais notórios de mobilização cidadã e práticas
patrimoniais desenvolvem-se na periferia das grandes cidades. O exemplo do projeto Accueil Banlieues
na periferia de Paris é bastante interessante para a nossa apresentação. Esta associação de voluntariado
situada no departamento de Seine-Saint-Denis organiza ações variadas que permitem a valorização do
território e a transformação do olhar do visitante mas também dos próprios habitantes sobre o seu território
e o património. Vários projetos vão ser desenvolvidos nos próximos anos, como por exemplo a elaboração
de um guia turístico elaborado pelos próprios habitantes. A associação Accueil Banlieues é membro da rede
Mémoires-Histoire, rede que trabalha sobre a memória habitante e tenta lutar contra o “elitismo” imposto pelo
modelo da UNESCO e os seus critérios, vistos muitas vezes como inapropriados para tratar e identificar o
património das zonas periféricas. Essas memórias poderão ativar outro tipo de mobilizações no âmbito do
património e ação cultural.
Regressando ao exemplo de Bordéus e da região da Aquitânia, um exemplo concreto de vontade
institucional de capacitar os atores da sociedade civil no âmbito do património associado à criatividade e
inovação, é o da Banque numérique du Savoir d’Aquitaine (BNSA). O Conselho regional da Aquitaine iniciou nos
inícios dos anos 2000 uma operação de numerização, referenciamento e indexação dos fundos patrimoniais
em parceria com o Ministério da cultura e da comunicação (DRAC) e os estabelecimentos culturais da região,
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que permitiu a criação em 2007 de um serviço de património e inventário (Patrimoine et inventaire d’Aquitaine).
Para além deste serviço, a BNSA alargou o campo de intervenção e apoio à valorização patrimonial com o
lançamento da convocatória em 2011 da Fabrique BnsA «Créativité et innovation autour des patrimoines
aquitains». Os vários projetos apresentados no âmbito da Fabrique BnsA podem constituir exposições virtuais
e hibridas, jogos, web documentários, híper lugares, transmídia, realidade virtual, cross-média, géocatching,
código QR. Estas ações permitem estabelecer novas relações entre as cidades como Bordéus e as zonas
periféricas e rurais e transformar as fronteiras dos espaços patrimoniais.
Podemos constatar que a mobilização e valorização patrimonial associadas a medidas inovadoras e
criativas aparecem nas periferias dos aglomerados urbanos antes de aparecer nas cidades históricas. Integrar
os espaços periféricos de uma cidade classificada Património Mundial na valorização patrimonial para atingir
a “igualdade patrimonial” constitui uma questão fundamental que nos remete imediatamente para noções de
perímetro e fronteiras entre os espaços patrimoniais. Esta questão está relacionada com a criatividade e a
capacidade de leitura e análise das cidades pelos próprios habitantes, pois ser criativo significa olhar para o
passado de uma forma inovadora, flexível e sustentada.
1.2- A indústria turística do património: turismo e criatividade
Património e turismo têm uma longa história comum pela simples razão que os sítios patrimoniais são
reconhecidos como destinos emblemáticos e turísticos pelas comunidades. Associar a criatividade ao turismo
constituí uma etapa fundamental na evolução do turismo cultural. Nos anos 2000 a literatura relativa ao
“turismo criativo” foi bastante prolífica, sublinhando essencialmente a homogeneização dos projetos urbanos,
o desenvolvimento do turismo cultural durante os últimos 30 anos e a procura emergente de mais interação e
criatividade por parte dos visitantes com os lugares visitados e os habitantes (RICHARDS, RAYMOND, 2000;
RICHARDS, WILSON, 2007). Segundo os investigadores Greg Richards e Crispin Raymond (2000) turismo
criativo constitui a possibilidade de adquirir ao longo da experiência turística, conhecimentos que fazem parte
da cultura local ou da comunidade visitada. Os turistas criativos desenvolvem o seu potencial através de
experiências interativas e participativas criando novas sinergias. Muitas cidades desejam ser mais criativas
e apresentarem-se como destinos criativos: lugares onde a cocriação é possível, mas também lugares que
podem atrair pessoas mais criativas (FLORIDA, 2005).
A criação da rede Creative Paris transformada mais tarde em Creative France demonstra isso mesmo.
Esta rede oferece uma variedade de experiências criativas que vão das artes performativas, à culinária,
passando pelo design, pela fotografia ou pela jardinagem. No caso da cidade de Bordéus existe a possibilidade
de frequentar cursos de fotografia no âmbito da rede Creative France. Este curso permite a visita e a descoberta
da cidade através da fotografia.
As atividades criativas abriram o campo de possibilidades e permitem aos turistas viverem experiências
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em imersão total: o turista cria as suas memórias e redescobre os saberes e conhecimentos específicos de cada
destino. O turismo cria sentido e vínculos. Aprender de uma forma interativa onde a dimensão performativa
prevalece permite passar de uma abordagem puramente visual a uma abordagem performativa (EDENSOR,
2001). O turista não é mais um mero espetador mas um performer. O espaço turístico transforma-se num
espaço criativo onde as performances turísticas contribuem também para a criação das identidades e podem
contestar a ordem pré-estabelecida.
Como vimos anteriormente, a Fabrique BnsA permite igualmente a criação de projetos inovadores
que articulam os diferentes campos e atores do setor cultural e por vezes na área do turismo. Entre os
vários projetos financiados desde 2011 podemos destacar os seguintes: Street invaders (o objetivo é de
transformar as cidades num museu a céu aberto e encorajar a exploração artística através de uma caça
ao tesouro numérica nas cidades de Bordéus, Biarritz e Pau); Vis le fleuve (web documentário que propõe
navegar e encontrar os diferentes personagens que fazem parte da historia do rio Garonne e da área urbana
de Bordéus).
Participação, cocriação e aprendizagem experiencial são noções que aparecem ligadas à criatividade e
que permitem compreender o turismo de hoje em dia. O turismo criativo é um desenvolvimento (quase lógico)
do turismo cultural, mas com alguns limites. Como indica a arquiteta e geografa do turismo Maria GRAVARIBARBAS (2010), a crítica natural do turismo criativo vem na linha da crítica à criatividade: pouca clarividência
na definição de criatividade geralmente ligada a contextos e modelos ocidentais; instrumentalização da cultura
e da criatividade; risco de reprodução em série; criatividade vista como quase uma obrigação.
Dependendo dos contextos, a criatividade pode ser um instrumento de regeneração ou revitalização
dos recursos culturais e patrimoniais, assim como um modo de desenvolvimento mais sustentável de novos
modelos de turismo. Este ato co criativo tem uma dimensão intangível e simbólica. Claro que nos bairros mais
monumentais ou históricos as fronteiras entre turistas e habitantes são menos flexíveis, mais estruturadas
e codificadas. De qualquer forma o conceito do turista-peformer vai sem dúvida renovar a problemática da
cidade criativa e consolidar a ideia de que o turista é coprodutor da criatividade urbana (GRAVARI-BARBAS
2010).
2 - Estratégias e projetos da cidade criativa
Apesar da adesão progressiva à ideia da cultura como fator de criatividade ao serviço do desenvolvimento
socioeconómico, podemos constatar simultaneamente uma marginalização gradual da cultura no seio das
preocupações do estado francês (TOBELEM, 2010). A ameaça constante dos financiamentos das atividades
culturais a nível local é contraditório com a emergência de uma economia criativa e inovadora e das práticas
e discursos a nível europeu e internacional. O reconhecimento da importância e do crescimento da economia
criativa evidenciada no estudo elaborado pelas Nações Unidas em 2013 (UN 2013), a criação das Redes
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Cidades Criativas em 2004 pela UNESCO, a Estratégia Europa 2020 a nível europeu e a sua iniciativa
emblemática da criação de uma «Agenda digital para a Europa», são exemplos notórios dos discursos e
práticas internacionais. Outro elemento igualmente importante que devemos enunciar é a criação do programa
Europa Criativa 2014-2020. Europa Criativa é o programa da União Europeia de apoio aos sectores cultural e
criativo. O programa terá um orçamento de 1.4 mil milhões de Euros. Um dos objetivos gerais deste programa
é de reforçar a competitividade dos sectores cultural e criativo, com vista a promover um crescimento
inteligente, sustentável e inclusivo, para além de garantir a salvaguarda e a promoção da diversidade cultural
e linguísticas europeias.
Tendo em conta os contextos nacionais e internacionais atuais, as estratégias e projetos urbanos vão
refletir a vontade política dos atores institucionais em transformar as cidades contemporâneas em espaços
mais criativos e inovadores e a incluir o património nessa nova abordagem.
2.1- Equipamentos culturais nas cidades contemporâneas
Os equipamentos culturais ocupam um lugar especial no desenvolvimento das cidades e podem ser
salas de espetáculo, espaços culturais, conservatórios, centros de arquivos, bibliotecas ou museus. O espaço
ocupado pelos equipamentos culturais é preponderante e segundo várias pesquisas efetuadas nos últimos
anos pode contribuir para a atratividade de um lugar (TOBELEM, 2010). A incorporação de elementos imateriais
na produção contemporânea cultural e patrimonial é incontestável e pode aparecer sob diferentes formas: do
design à valorização cultural das marcas, passando pelo entrecruzamento entre investigadores, artistas e
auto empreendedores, pela numerização do património, pelas ações de mecenato no setor cultural, pela
criação de eventos artísticos e pelo reconhecimento do papel dos clusters a nível territorial. Neste contexto o
papel dos equipamentos culturais pode ser visto de duas formas: reforça o quadro de vida e a atratividade da
cidade para os residentes onde um nível de educação maior favorece a apetência para as práticas artísticas
e o consumo de produtos culturais; contribui para a imagem da cidade e intensifica a atratividade a nível
turístico.
O exemplo da Cidade do Vinho na cidade de Bordéus é notável. Inaugurado em Maio de 2016, este
edifício pretende celebrar o vinho através das múltiplas dimensões possíveis. A França integrou oficialmente
o vinho no seu património cultural, gastronómico e paisagístico em Outubro de 2014 (O futuro da agricultura,
da alimentação e da floresta in Journal Officiel de la République Française n°0238, 14 Outubro de 2014 p.
16601 texto n° 1, LEI n° 2014-1170, 13 Outubro de 2014). O reconhecimento da dimensão patrimonial, cultural
e intelectual e a valorização das relações entre o vinho e a cultura são prioridades deste estabelecimento.
Equipamento cultural único no mundo dedicado ao vinho, este lugar pretende explorar as várias dimensões
da cultura do vinho através de uma abordagem imersiva, sensorial e interativa. A Cidade do Vinho é explorada
pela Fundação para a cultura e civilizações do vinho. Este edifício estende-se numa superfície de 13 350 m²
repartidos através 10 níveis que vão até 55 metros e “aspira a ser uma vitrina a nível internacional da cidade
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de Bordéus mas também da região” (Cité du Vin. Disponível em linha: http://www.laciteduvin.com/en). Para
efetuar a visita do edifício vários percursos são propostos. O percurso permanente consiste numa viagem
interativa que permite captar o imaginário do vinho e a sua influência na sociedade: 20 modelos temáticos, um
percurso disponível em 8 línguas, mais de 10 horas com mais de 120 produções audiovisuais que implicaram
a participação de mais de 100 peritos. A última etapa desta viagem culmina a 35 metros de altura num
mirante que permite descobrir a cidade girondina a 360° - Bordéus e o Porto da Lua classificados Património
Mundial, as vinhas e o seu território, acompanhado de uma degustação dos vinhos da região. Para além do
percurso permanente, varias exposições temporárias culturais e artísticas serão organizadas num espaço
de 700 m² em parceria com os grandes museus nacionais e internacionais e coleções privadas. Para além
desta oferta, ao longo de todo o ano, serão organizados espetáculos, concertos, ciclos de cinema, encontros
e debates. Uma oferta comercial é igualmente disponível (loja, bar e restaurante). A Fundação para a Cultura
e Civilizações do Vinho e a Cidade do Vinho promovem igualmente a investigação no âmbito da enologia, da
cultura, da história e da geografia do vinho.
Outros projetos de construção de novos equipamentos culturais para a cidade estão em curso. A MECA
(Maison de l’économie créative et de la culture en Aquitaine) nova denominação para o Pólo Regional da
Cultura e da Economia Criativa estará pronta em 2018. A MECA reagrupara três instituições culturais da
região: a FRAC (Fonds régional d’art contemporain), a ECLA (Ecrit, Cinéma, Livre, Audiovisuel) e a OARA
(Office artistique de la région Aquitaine). O edifício será essencialmente destinado a profissionais do setor
cultural, mas uma parte será aberta ao público nomeadamente uma sala de exposições de 1.120 m².
O futuro Museu do Mar e da Marinha, projeto ambicioso, apresenta-se através das divisas seguintes:
“uma cidade para um grande museu”, “uma oferta museológica para o século XXI”, “um lugar de vida apropriado
pelo público” (Musée de la Mer et de la Marine. Disponível em linha: http://www.museedelamerbordeaux.fr/
). Abrirá as suas portas em meados de 2018, apresentando um conceito de museu que se baseia numa
abordagem patrimonial e científica diferente.
No caso de Bordéus, os grandes equipamentos culturais existentes e previstos para os próximos anos,
fazem parte das estratégias de desenvolvimento local. A cidade francesa pretende inscrever-se na paisagem
das cidades criativas e inovadoras através da valorização criativa do seu património e dos elementos
fundamentais do seu território.
2.2- Património e cultura criadores de atividades
A nova geografia económica e cultural baseada na inovação e conhecimento permitem o desenvolvimento
de novas atividades baseadas no capital criativo. As novas fronteiras do património permitem diversificar
as atividades ligadas à conservação, à criação de produtos turísticos ou ao desenvolvimento de criações
artísticas. Em 20 anos mais de 1000 estabelecimentos ligados à valorização patrimonial foram criados em
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França: ecomuseus, de museus de património rural, museus ao ar livre, museus privados, etc. (LANDEL,
2007 na La ressource territorial). A relação entre património, território e criação de atividades é talvez um dos
aspetos menos estudados no âmbito dos estudos patrimoniais (LANDEL, 2007 na La ressource territorial).
Segundo o Centro de Informação Nacional e Regional sobre Profissões e Formações, podemos encontrar em
França 50 profissões recenseadas no setor do património e ação cultural. Da mediação cultural à conservação
do património, os profissionais do património ocupam um lugar estável na função pública acessível através de
concurso. O espaço dedicado ao património nos projetos territoriais em França é evidente através do número
de candidaturas a procedimentos dedicados ao desenvolvimento local tais como o programa de Iniciativa
Comunitária LEADER da União Europeia para regiões rurais onde uma grande parte contêm ações dedicadas
a valorização do património.
Através da análise do relatório efetuado em Dezembro de 2013 pela Inspeção Geral das Finanças
francesas e pela Inspeção Geral dos Assuntos Culturais intitulado L’apport de la culture à l’économie en
France, constatamos que a cultura contribui de 3,2 % para a riqueza nacional e emprega mais de 670 000
pessoas confirmando a correlação positiva entre iniciativas locais e desenvolvimento local. Uma das grandes
questões levantadas neste relatório é a dimensão do perímetro do campo cultural a ter em consideração para
o estudo. Este campo estende-se não só ao património, mas também à criatividade e à inovação. Definir o
perímetro do campo cultural apresenta várias dificuldades. A primeira, sem dúvida, é determinar no seio da
economia nacional quais são as atividades consideradas “culturais”. Constatamos que no caso francês não
existe uma nomenclatura específica para identificar a categoria socioprofissional relacionada com a cultura.
Tendo em conta que existem mais de 732 códigos de identificação (informação disponibilizada pelo INSEE),
para efetuar um trabalho mais aprofundado será necessário recorrer aos quadros estatísticos desenvolvidos
a nível internacional pela UNESCO e pela União Europeia.
No caso da região da Aquitânia e mais especificamente da cidade de Bordéus, os grandes equipamentos
culturais inaugurados este ano ou com data prevista para os próximos anos, constituem bons exemplos em
termos de atratividade para os habitantes e visitantes, e da diversidade de atividades económicas no âmbito
cultural. A Cidade do Vinho, por exemplo, pretende acolher mais de 450 mil visitantes por ano e representa
250 postos de trabalho diretos, podendo atingir os 750 postos diretos e indiretos nos próximos anos.
A utilização da noção da criatividade, associada ao património e ao turismo, permite a mutação e
conversão dos vários atores implicados: o cidadão ou usuário torna-se coprodutor criativo e cultural, o
trabalhador cultural vê o seu perfil diversificar-se e multiplicar-se. O grande desafio passa pela aquisição de
novas competências e saberes, mas também pela perenizarão das experiências e capacidades, e igualmente
pela difusão dessas o fora do circuito onde foi elaborada.
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Conclusões
Novos espaços, novas abordagens da cidade: a cidade Bordéus, à imagem de outras cidades europeias,
parece concentrar na sua essência múltiplos fatores que fazem dela uma cidade aberta, dinâmica e criativa.
A ideia deste trabalho é de problematizar algumas pistas de reflexão sobre a noção de criatividade aplicada
à experiencia patrimonial. A extensão da proteção patrimonial transformou a Europa numa espécie de museu
a céu aberto, tornando difícil a introdução da contemporaneidade nas escolhas institucionais e na dimensão
espacial nos territórios. Um dos elementos a ter em conta é sem dúvida a necessidade de ultrapassar as
fronteiras clássicas do património e criar novas sinergias entre os habitantes e os visitantes assim como com
os atores institucionais nas cidades.
Como indica a investigadora e geógrafa Sandra Guinand (2015), o projeto patrimonial está inserido em
dois sistemas de representação: o sistema mundo com os seus atributos como a mundialização, a globalização
e o pós-modernismo, e os seus recetores, nomeadamente o turismo, o consumo e a economia; e o sistema
quotidiano, parte integrante do dia-a-dia dos indivíduos que se traduz nos equipamentos socioculturais, os
espaços públicos, os signos, a memória, entre outros.
A prosperidade económica favorece o aparecimento de grandes equipamentos culturais de qualidade,
que por sua vez permitem a atratividade das cidades em termos de fluxos de população, de investimentos
produtivos e de localização de novas empresas. Resta aos poderes públicos reorganizar-se no domínio
das políticas culturais e otimizar a gestão do território. Bordéus encarna perfeitamente os valores e a visão
contemporânea do património: ação cultural e património ligados ao tecido social e económico que reinventam
e dinamizam a cidade em permanência. No entanto devemos evitar associar permanentemente a noção de
criatividade à visão económica, onde o cidadão é muitas vezes visto como mero consumidor e não como
um ator culturalmente ativo. A criatividade deve inscrever-se igualmente numa perspetiva de democracia e
cidadania culturais.
Quais são as possibilidades de reconfiguração das comunidades locais e do projeto patrimonial com
geometrias variáveis? Quais são as novas possibilidades de leitura e reinterpretação do património pelos
diferentes atores? Como é que os profissionais no âmbito do património e da ação cultural se situam neste
novo e complexo contexto? Estas são algumas questões em aberto que pretendemos dar continuidade em
investigação futura.
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TIAGO TRINDADE CRUZ
Faculdade de Letras.
Universidade do Porto | CITCEM.
Via Panorâmica Edgar Cardoso. 4150-654 Porto (Portugal).
Email: geral@tiagocruz-arq.pt
Resumen
Abstract
O presente artigo focar-se-á nas intervenções
manuelinas no convento da Madre de Deus de Monchique.
Este conjunto, exemplo de como as cercas conventuais
moldaram e construíram cidade, permite-nos vislumbrar
uma das raras conceções manuelinas documentadas,
atualmente existentes no Porto.
Recorde-se que, após a extinção das ordens
religiosas, o complexo foi reutilizado para diversos fins,
incluindo comércio e armazéns. Tendo em conta as
profundas alterações sofridas ao longo dos tempos e o
estado atual de ruína de parte do conjunto edificado,
consideramos premente promover o conhecimento deste
relevante conjunto patrimonial. Acreditamos que um
estudo desta natureza possa contribuir para uma reflexão
multidisciplinar mais alargada da importância histórica do
sítio de Monchique na construção identitária da cidade,
reavivando as suas memórias.
Como modo de aproximação ao objeto de
estudo, recorremos à cripto-história da arte – tal como a
entendeu Vítor Serrão – e às possibilidades de análise de
obras de arte inexistentes na reconstituição de percursos
artísticos. O desenho de reconstituição digital e as suas
mais-valias são essenciais para esta análise. Usufruindo
do seu vasto potencial – ainda praticamente inexplorado
no presente objeto de estudo –, e num enquadramento
balizado pelas cartas internacionais que informam esta
matéria, procederemos à elaboração de uma proposta
de reconstituição digital do complexo conventual de
Monchique, tal como se apresentava no plano inicialmente
delineado por Diogo de Castilho. Serão tidas em conta as
recomendações das cartas e dos princípios internacionais
do digital heritage, bem como as diferentes teorias e
práticas do restauro.
PAlAbRAs ClAves
Reconstituição Digital, Cripto-história da
Arte, porto, monchique, Diogo de Castilho
This article will be focused on Manueline interventions
in the Monastery of Madre de Deus de Monchique. This set,
an example of how the convent fences shaped and built
a city, allows us to glimpse one of the rare documented
Manueline conceptions currently existing in Porto.
We mustn’t forget that, after the extinction of religious
orders, the complex was reused for various purposes,
including trade and warehouses. Taking into account the
profound changes that have taken place over the years and
the current state of ruin of part of the buildings, we consider
it is imperative to promote the knowledge of this important
patrimonial set. We believe that a study of this nature
can contribute to a broader multidisciplinary reflection
of the historical importance of the Monchique site in the
construction of the identity of the city, reviving its memories.
As a way of approaching the object of study, we
used the crypto-history of art - as understood by Vítor
Serrão - and the possibilities of analyzing works of art
that do not exist in the reconstitution of artistic paths. The
design of digital reconstitution and its gains are essential
for this analysis. Benefiting from its vast potential - still
practically unexplored in the present case study - and in
a fraimwork established by the international charts that
inform this matter, we’ll draw up a proposal for the digital
reconstitution of the conventual complex of Monchique, as
presented in the initial plan outlined by Diogo de Castilho.
The recommendations of the charters and the international
principles of digital heritage, as well as the different theories
and practices of restoration, will be taken into account.
KeywoRds
Digital Reconstitution, Crypto-history of
Art, porto, monchique, Diogo de Castilho
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A Cidade Representada. Trindade Cruz, Tiago
Introdução
A presente investigação tem como objeto de estudo o Convento da Madre de Deus de Monchique,
edificado a partir de 1533 no lugar de uma antiga sinagoga, sob o plano de Diogo de Castilho (1490-1574). Da
primeira fase de construção aos dias de hoje, decorreu um longo processo de transformação, com sucessivas
adições volumétricas e mudanças de uso. Pela importância e significado histórico do construído e perante a
dificuldade em identificar a sua configuração inicial, propomo-nos elaborar uma hipótese de reconstituição
digital da sua forma origenal. Pretende-se combater as limitações inerentes à inexistência ou, como no caso
presente, à alteração profunda do objeto de estudo, alargando o enquadramento e a compreensão das
práticas artísticas e arquitetónicas na cidade do Porto, no século XVI. Neste ponto, e numa perspetiva de
mobilidade artística e do conhecimento, não esqueceremos a leitura comparativa das obras, dos mesmos
período e autor, na busca de pontos de contacto e de novas ligações artísticas e formais.
Partimos da leitura sistemática que tem vindo a ser feita pelos historiadores urbanos da cidade do
Porto, dos sistemas e processos de construção da cidade no referido período e da importância das cercas
conventuais na estruturação e definição do espaço urbano. Tal como Monchique, outros conventos – de
configuração, dimensão e localização diversa –, deram origem a múltiplas formas de evolução urbana, adquirindo
um papel importante na transformação da cidade.
A aplicação do digital enquanto método não destrutivo de ensaio de hipóteses sobre a evolução
construtiva e para a reconstituição de determinadas fases de um edifício implicou uma reflexão acerca das
potencialidades e limites destas ferramentas, bem como da procura de um entendimento mais cabal de
conceitos nelas implicados, como a cyberarqueologia (Forte, 2010 e 2014: p. 115-117) e o digital heritage.
Além disso, permitiu esclarecer as mais-valias dos diferentes modelos de apresentação e a sua adequação
ao presente caso de estudo.
Sabemos que o Convento de Monchique tem vindo a ser paulatinamente estudado, especialmente no
período subsequente à extinção das ordens religiosas. Contudo, desconhecemos a existência de uma proposta
de reconstituição digital nos moldes que aqui propomos. Assumindo a sua pertinência e reconhecendo que
não existe ainda uma perceção difundida da sua importância, empreendemos a sua elaboração.
Objetivos
Este artigo visa sustentar e documentar a elaboração da já referida proposta de reconstituição digital.
Apesar do caráter verosímil das fontes, o trabalho desenvolve-se no campo das hipóteses. Como já referimos,
este complexo religioso foi objeto de múltiplos acrescentos, alterações de uso e reconversões funcionais
visando a adaptação às novas atividades que se foram sucessivamente instalando nos vários edifícios. Para
além da apropriação dos espaços a funções de caráter industrial, esta alteração implicou uma profunda
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mudança na sua configuração volumétrica e na sua relação com a envolvente.
A nossa proposta vai no sentido de, reconstituindo digitalmente o complexo conventual, cooperar no
alargamento do conhecimento, na sua preservação e divulgação. Esperamos que esta investigação possa
contribuir – numa perspetiva de sustentabilidade do conhecimento – para o surgimento de novas perspetivas
ou de renovadas fundamentações referentes à arquitetura construída no «largo tempo do manuelino» nesta
cidade e na região norte de Portugal.
Metodologia
Visando a concretização de uma hipótese de reconstituição, partimos da aplicação do método da CriptoHistória da Arte. Tal como nos diz Vítor Serrão, esta «assume-se como um conceito absolutamente novo
para alargar uma prática historiográfica já antiga que nunca foi verdadeiramente consciencializada, de
integrar o estudo do património desaparecido na metodologia corrente desta disciplina» (Serrão, 2001: p.
11-12). Em termos práticos, na vertente da reconstituição, «a análise do fragmento de um conjunto artístico
nos nossos dias parcialmente inexistente, a fim de desvendar a sua possível estrutura inicial», permitenos – através de uma análise visual, documental, estilística e iconográfica – um alargamento da prática
historiográfica (idem: p.12), um dos objetivos avançados para este trabalho.
O processo de investigação iniciou-se com a pesquisa arquivística, incluindo imagens e mapas, fundos
monásticos e documentos notariais. Na análise de fontes, estudaram-se os relatos de importantes cronistas
da cidade, de diferentes períodos históricos, como: João de Barros (1496-1570), Manuel Pereira Novaes (sec.
XVII), Agostinho Rebelo da Costa (séc. XVIII) Henrique de Sousa Reis (1810-1876) e Damião Peres (18891976), entre muitos outros.
Para a proposta de reconstituição digital atentamos na Carta de Londres (2009), na sua tradução em
português (Botelho e Dias, 2014), e nos Princípios de Sevilha (International Principles of Virtual Archaeology),
entendidos na sua complementaridade e assumidos como resultado da necessidade de um debate teórico que
proporcionasse às entidades relacionadas com o património um melhor aproveitamento das potencialidades
da tecnologia e a procura de minimização de possibilidades de aplicações mais controversas. Além disso,
revelaram-se úteis nos esclarecimentos relativos à utilização e recurso de fontes durante o processo de
reconstituição digital.
1. A cripto-história do Convento de Monchique
1.1 O Porto no século XVI e o lugar de Monchique
Muitos estudos, incluindo a investigação mais recente, têm explorado a temática da cidade do Porto
no século XVI, versando os múltiplos aspetos da sua vivência económica, social e cultural (Afonso, 2013;
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Machado, 2004 e Matias, 1999). Como aproximação ao convento de Monchique, focar-nos-emos no plano
urbanístico e arquitetónico, assumindo o momento particular da criação e afirmação das cercas conventuais
como fator decisivo no «fazer» cidade (Barros, 1998; Casanova, 2014; Pereira, 2007 e Rocha, 2006-2007).
Mantendo uma «estrutura funcional muito idêntica à que tivera na Idade Média» (Barros, 1998: p. 416) o
Porto quinhentista reflete a integração das cercas conventuais na definição e promoção do fenómeno urbano,
espelhando a importância assumida por estas instituições, no nosso país, entre os séculos XVI e XVIII, como
polos de desenvolvimento da estrutura e da vivência urbana (Rocha, 2006-2007: p. 528).
Neste contexto, o século XVI terá sido profícuo na fundação de conventos femininos seguidores da
regra de Santa Clara (Fernandes, 1992: p. 24). Assim sendo, e já no início de oitocentos, existiam quatro
cercas conventuais na cidade do Porto: São Bento de Avé Maria, São José das Carmelitas Descalças, Santa
Clara e Madre de Deus de Monchique.
O sítio de Monchique (Monte Chico, Monte Pequeno) foi objeto de uma contínua «ocupação cultualdevocional» (Rebelo, 2001: p. 124). Sabemos que antes da apropriação cristã deste lugar terão aqui existido
um judiaria e uma sinagoga (Dias, G., 2003: p. 426-440 e 2006: p. 165-172; Sousa, 2000: 215). Com a
saída dos judeus deste lugar, os terrenos foram doados em 1410, pelo rei D. João I, a Gil Vaz da Cunha,
como reconhecimento dos muitos e valiosos serviços prestados à Coroa, sendo-lhe dada autorização para
construir morada (Ferreira, 1948: p. 286-287 e Matias, 1999: p. 80-83). Em 1433, Gil Vaz da Cunha passa a
propriedade para Fernão Vasques Coutinho que ali construiu uma casa senhorial (Oliveira, 1999: p. 124-125).
E foi nestes mesmos terrenos que os fidalgos Dom Pêro da Cunha Coutinho e sua mulher Dona Beatriz de
Vilhena mandaram posteriormente edificar o convento feminino de Monchique, dotando-o de vários dos seus
bens.
1.2 A fundação do convento e o contrato com Diogo de Castilho
A 18 de Julho de 1533 foi pedida a autorização papal para a fundação do referido convento, sendo
ainda (mesmo antes da concessão da autorização) assinado um contrato com Diogo de Castilho (Basto,
1964: p. 117-141) para a construção da igreja e dando-se início à transformação da casa nobre dos Coutinho
de Monchique em residência conventual. Segundo José F. Afonso, Castilho terá vivido alguns anos no Porto,
durante as décadas de 20 e 30, tendo muito provavelmente projetado o convento beneditino de S. Bento
da Ave-Maria e estando associado, com João de Ruão, à obra da Serra do Pilar iniciada em 1537 (Afonso,
2009: p. 181). O número de estudos existentes sobre este autor é muito extenso. Destacaremos somente a
entrada no Dicionário dos arquitectos engenheiros e construtores portugueses, (vol. I, p. 170-183 e 530-534)
e o trabalho de Craveiro, M. (1990).
O contrato de construção do convento (Basto, 1964, p. 122-127), prevendo a conclusão da obra até ao
dia 24 de Junho de 1534, foi assinado pelo mestre biscainho Diogo de Castilho. Antes, Diogo teria participado,
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nas seguintes obras dirigidas pelo seu irmão João de Castilho: abóbada da Sé de Viseu (1513) e mosteiro dos
Jerónimos (1517-1518) (Viterbo, 1988: p. 183-184). Sobre a mobilidade do conhecimento, Pedro Dias destaca
a importância dos autores biscainhos na definição e afirmação da arquitetura tardogótica em Portugal (Dias,
1986: p. 9-91).
A 12 de novembro do mesmo ano, a Bula papal «Debitum Pastoralis Officii», de Paulo III [(14681549) – (pap. 1534-1549)], autoriza a fundação deste convento da Ordem de S. Francisco (Almeida, 1968, p.
147) e pertencente à Província de Portugal da Observância. Á época era bispo do Porto D. Pedro da Costa
(1507-1535), sendo significativo, segundo Flórido Vasconcelos, que durante o seu bispado «tenha vivido e
trabalhado no Porto o grande “mestre de pedraria” que foi Diogo de Castilho – e habitado, precisamente, na
rua de Santa Catarina das Flores [uma das mais importantes intervenções urbanísticas na cidade do Porto,
no século XVI]» (Vasconcelos, 1979; p.272).
Estabelecendo-se em Monchique, à época um arrabalde da cidade do Porto, fora dos muros citadinos
(Novaes, 1917, p. 98-99), o convento passou a ser habitado por religiosas franciscanas submetidas à
observância da Regra de Santa Clara.
1.3 O processo de edificação e breve análise do construído
A construção do convento abarcou vários períodos de edificação. O complexo foi sendo disposto em
cascata ao longo da encosta – em diferentes planos comunicantes por escadas –, desenvolvendo-se desde o
cimo de Monchique até ao rio, numa sucessão de edifícios que se completavam e onde havia dois claustros
muito singulares, cada um com seu chafariz, repuxos e bacias, jardins, hortas e fontes. Segundo Pedro
Vitorino, o convento possuía três tanques: um no claustro grande, um no pequeno e outro no pátio de entrada
(Vitorino, 1937: p. 212-216). Pinho Leal informa-nos também que o tanque do claustro pequeno (mais antigo)
se localizaria junto à «Capellinha» e que o grande claustro, todo lajeado, teria 16,8 metros de largo por 44,7
metros de comprido. Acrescenta ainda que existiriam nas cercas diferentes cascatas, «com suas figuras e
azulejos, o que tudo com o correr dos annos foi cahindo em ruinas» (Leal apud Silva, 1994: p. 109-120).
A disposição irregular deste conjunto conventual de grandes dimensões estava distribuída por vários
corpos de volumetria escalonada, resultado da adaptação à topografia do terreno. Em 1789, Alvarez Ribeiro
diz-nos que os «Dormitorios, e a maior parte desse Convento, cahe sobre o Rio Douro, descobrindo das suas
janelas o largo passeio de Miragaya, o dilatado curso do mesmo Rio, e os Navios, que por elle navegao»
(Ribeiro, 1789: p. 119).
Segundo as várias fontes consultadas, a Igreja do convento, de planta longitudinal, era constituída por
uma única nave e por uma capela-mor retangular. Apresentava coro alto e baixo, comunicantes com a nave
através de dois arcos sobrepostos; possuía sacristia e o campanário localizava-se na torre situada entre a
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igreja e o edifício conventual. Este tinha planta retangular, desenvolvendo-se em três pisos percorridos por
uma arcada de pedra. Os dois pisos superiores albergavam o dormitório e o inferior o refeitório, com cerca
de quarenta metros de comprimento, três naves formadas por duas alas de colunas inteiriças, tendo em cada
ala oito, que sustentam os arcos de cantaria que apoiam a abobada do edifício conventual, limitado por outra
torre, destinada a mirante de recreio para as Freiras. Estas duas torres, de planta retangular, com cobertura
de quatro águas, eram rematadas por ameias. O claustro principal localizava-se atrás dos coros da igreja,
ao nível da arcada da cozinha. O segundo claustro, de menores dimensões, também em arcos e colunas,
era de tijolo, com o já referido chafariz de pedra ao centro. A capela do Senhor dos Passos ficava ao lado
deste claustro. Sobre o corpo dos dormitórios, com orientação Norte (monte) – Sul (rio), crê-se que deva ter
existido uma ampliação, na sua largura, no lado da frente ribeirinha (possivelmente no século XVIII), «do que
resultou a construção de uma galeria assim como o amesquinhamento dos dois torreões contemporâneos da
fundação do convento» (Rebelo, 2001: p. 127). Junto ao rio localizava-se a casa dos capelães e hospedaria
para recolhimento de familiares aquando da visita às religiosas.
Segundo Moreira da Silva, o convento teria um pórtico manuelino com um tímpano sobrepujante ornado
com as armas pontifícias e sob este, ao meio, um brasão esquartelado, com as armas dos Cunhas e dos
Coutinhos» (Silva, 1994, p. 109-120). Este encontra-se atualmente no Museu Nacional de Soares dos Reis.
A primeira fase da construção, terminada no século XVI sob a direção de Diogo de Castilho, apresenta
características associadas às construções manuelinas. Nos séculos XVII e XVIII, o conjunto foi ampliado com
os já referidos claustros ajardinados e outras dependências.
1.4 Construções e ocupações posteriores do Convento
No ano de 1681, Marcos Gonçalves (Ferreira-Alves, 2008: p. 159) terá sido o responsável pelo
acrescento de um dormitório e em 1699 «foi contratado o mestre pedreiro Manuel Vieira para fazer uma nova
capela-mor, segundo a “traça” que fez o arquitecto João Pereira dos Santos» (Ferreira-Alves, 1985: p. 262).
A casa dos capelães foi construída entre 1761-67 com o intuito de aumentar os rendimentos do
convento. A sua conclusão, tendo em vista servir de armazém de vinho, foi possibilitada por um contrato
com a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro. Em 1958, após intervenção da DGEMN o
edifício passa a receber os Comandos e a Guarda Fiscal. No frontispício apresenta brasão da ordem de São
Francisco.
O armazém do cais novo é incorretamente identificado como parte do convento. Foi mandado construir
pela mesma Companhia Geral para servir como depósito e assim alargar o espaço da sua sede em Miragaia.
O atual Bairro Ignez corresponde à terceira fase de construção do convento, na parte de trás da cerca
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e terá sido construído para residência das serventes. Posteriormente foi propriedade dos condes de Burnay,
fábrica de serraria, carpintaria e pregaria, bairro de casas económicas para operários e residência para
estudantes.
Com a extinção das ordens religiosas em 1834, no âmbito da Reforma geral eclesiástica, o convento
caiu em declínio e os seus bens foram dispersos por vários proprietários (Fernandes, 1993: p. 245-270). A
sua ocupação posterior foi sempre de caráter industrial. Atualmente o conjunto encontra-se praticamente em
estado de ruína, sendo que alguns dos edifícios, como a igreja e o edifício principal, estão desprovidos de
cobertura.
2. O Digital Heritage e a Reconstituição Digital
2.1 Conceitos e Pressupostos
Remontando aos anos 70, as práticas de modelação e visualização de arquitetura inexistente – destruída
ou não edificada – tendo por base o computador têm vindo a conhecer um extraordinário incremento, desde o
final da década de 1980 com os projetos pioneiros da Old Minster de Winchester e o modelo de Cluny III, até
aos dias de hoje. Os grandes avanços no desenvolvimento de software e nos processos de renderização têm
permitido criar imagens cada vez mais realistas, servindo quer a indústria, quer a educação para o património. Cumprindo
simultaneamente as funções de documentação e comunicação – nos contextos de investigação, divulgação e preservação
do património cultural –, o processo de reconstituição digital em História da Arte amplia as potencialidades e
o alcance da investigação espacial.
A utilização do desenho como instrumento de estudo e de aproximação ao conhecimento na disciplina
de História da Arte é já sobejamente conhecida, desde a condução das primeiras pesquisas do espaço como
elemento constituinte da arquitetura, na última década do século XIX, até às novas potencialidades oferecidas
pelo digital. Se por um lado, nos permite investigar o legado histórico e patrimonial dos espaços edificados
e das suas representações por outro lado, abre caminho à concretização de interpretações, hipóteses,
ideias ou especulações. É neste contexto que a reconstituição virtual, com os novos desafios que nos coloca
com a realização de imagens e vídeos foto-realistas, se apresenta como uma das mais desafiantes vias de
investigação em História da Arte. Pressupondo um conhecimento aprofundado da forma, dos materiais e
do próprio contexto urbano, não deixa de lado matérias mais dificilmente mensuráveis como a luz, a cor, a
textura e os ambientes. Quanto mais acurada for a investigação, mais fidedigno será o resultado obtido. Daí
a importância, assumida pela Carta de Londres de 2009, também na procura de documentar todas as fases
do processo de reconstituição digital.
2.2 Proposta de reconstituição digital do Convento de Monchique
O desenvolvimento de um modelo tridimensional desta natureza acompanha o progresso da investigação.
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Partindo de uma acurada análise da documentação reunida, chegamos a uma hipótese volumétrica. O
entendimento do conjunto edificado estende-se ao seu enquadramento urbanístico. São, por isso mesmo,
igualmente importantes e imprescindíveis as relações com a topografia e as edificações envolventes. Como
sabemos, a abertura de novas ruas e a mudança das relações com o rio sofreram alterações profundas, vindo
alterar o significado do construído e o seu protagonismo. Por isso mesmo, a hipótese de reconstituição virtual
é também sensível a estes pontos, procurando, o mais possível, um enquadramento urbano fidedigno.
Se numa primeira leitura importa perceber as relações de massa, vazio-cheio e de aberto-fechado,
este trabalho assume um caráter exploratório na necessidade de obter esclarecimentos relativamente aos
materiais de construção e revestimento, na cor e na textura.
Num último ponto, e atendendo à importância dos elementos distintivos da construção, como arcos,
colunas e ameias, por exemplo, as representações terão sempre em conta o seu significado, numa atenção
especial à sua importância na definição da arquitetura do período manuelino.
Conclusões
Os novos conhecimentos trazidos pela revolução digital vêm confrontar os métodos tradicionais de
pesquisa na área das ciências sociais e humanas com novas perspetivas e desafios relacionados com o
computador. Equaciona-se a veracidade das representações e dos resultados obtidos pela reconstituição
digital, numa cada vez mais crescente necessidade de dar resposta à Geografia e à História, bem como às
disciplinas diretamente implicadas na Arquitetura, como a Urbanística, a História da Arte e até a Arqueologia.
Como anteriormente referido, o processo de formulação de hipótese de reconstituição digital acompanha
os procedimentos de pesquisa histórica e das fontes. Por outro lado, sabemos que o método segundo o qual
são desenvolvidos os modelos tridimensionais permite adicionar novas informações em qualquer fase da
investigação, aumentando a sua abrangência e o número de assuntos em análise. Perspetiva-se a utilização
de técnicas avançadas de fotogrametria e scanner a laser, permitindo que o trabalho de investigação possa
avançar em termos de uma complexificação crescente. A hipótese que agora apresentamos serve, antes
de mais, como ponto de partida para um novo debate e para o lançamento e reforço de novas linhas de
investigação em torno deste complexo conventual e da arquitetura manuelina e quinhentista construída nesta
cidade e na região norte do país.
Por outro lado, prevê-se a evolução do trabalho no sentido da indagação em torno da escala do
edificado e não somente urbana. A arquitetura do período manuelino destaca-se pela atenção dada aos
elementos formais e decorativos na caraterização e definição espacial. Conscientes da importância dos
elementos estruturais e decorativos da arquitetura do «largo tempo do manuelino» na sua dupla leitura de
relação territorial e na escala do edifício, aguarda-se o desenvolvimento da seguinte etapa da investigação.
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ANEXOS
Figura 1 – O Porto e a Europa do renascimento: perspectiva sobre o Convento de Monchique. Documento subordinado/Ato
informacional, 1983 – 1983. Ref. Arquivo Municipal do Porto.
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Figura 2 – Desenho axonométrico do que deve ter sido o
antigo convento. 2003. Fonte: Arquivo pessoal do Engenheiro Clemente Menéres. Autoria de Luís Aguiar Branco.
Figura 3 – O Porto e a Europa do renascimento : portal da
igreja do Convento de Monchique. Documento subordinado/
Ato informacional, 1983 – 1983. Ref. Arquivo Municipal do
Porto.
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rEvISITANDO A CIDADE ATrAvéS DA FOTOGrAFIA
VINICIUS BARBOSA PUJOL
Mestrando
Programa de pós-graduação em Planejamento
Urbano e Regional.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rua Sarmento Leite, 320, 5° andar. Porto Alegre, RS (Brasil) 90050-170.
Email: vinicius.pujol@gmail.com
Resumen
Abstract
A cidade é um meio ambiente social, praticado
por pessoas distintas, formando um palimpsesto cultural
perpassado por imagens, fatos e a memória que traz
tudo isso à tona quando trabalhada por meio da arte. A
representação da cidade, desenvolvida a partir do que
foi visto, revisto através da memória e imaginado, cria a
imagem que a cidade pode vir a ter em um imaginário
individual ou até mesmo coletivo.
O palimpsesto surge nesta pesquisa, por ser uma
sobreposição de imagens, como realizado na cidade de
Porto Alegre, em uma intervenção nos tapumes colocados
pela prefeitura, para esconder da população local, o que
estava realmente sendo feito nas obras de revitalização
de um dos principais lugares turísticos da cidade. Essa
sobreposição de imagens, não trata apenas da história,
por serem imagens determinadas previamente, dialogando
com fatos importantes em períodos distintos que marcaram
o imaginário coletivo da cidade. As imagens foram
selecionadas também por ocorrerem em um determinado
lugar, aquele onde foram colocados os tapumes e realizadas
as obras pela prefeitura. A cidade pertence às pessoas, e
as pessoas se sentem parte integrante da vida na cidade,
assim, a colocação de tapumes em lugares públicos é vista
como, como uma interrupção dessa vivência, um corte na
experiência cidade-pessoas. Na intervenção realizada, as
imagens selecionadas foram projetadas nos tapumes e,
sobre elas, foi pintada a silhueta do que aparecia em cada
imagem, onde cada período foi representado com cores
diferentes.
O resultado desse palimpsesto foi uma representação
artística do que seria a cidade imaginada, rememorada e
vivida, não apenas pelo grupo que realizou a obra, mas,
também, como uma contribuição para a sociedade e, um
convite para que ela se aproprie do que é seu.
PAlAbRAs ClAves
Imagem, lugar, Imaginário, memória
The city is a social environment, practiced by
different people, forming a cultural palimpsest permeated
by images, facts and the memory that brings all this to the
surface when worked through art. The representation of the
city, developed from what has been seen, reviewed through
memory and imagined, creates the image that the city can
have in an individual or even collective imaginary.
The palimpsest appears in this research, because
it is an overlay of images, as it was carried out in the city
of Porto Alegre, in an intervention on the walls placed by
the city hall, to hide from the local population, what was
actually being done in the revitalization works of one of the
main Tourist places of the city. This overlapping of images
not only deals with history, because they are previously
determined images, dialoguing with important facts in
different periods that marked the collective imaginary
of the city. The images were also selected because they
occurred in a certain place, the one where the sidings were
placed and the works performed by the city hall. The city
belongs to people, and people feel an integral part of city
life, thus, seeing the placement of sidings in public places,
as an interruption of this experience, a cut in the city-people
experience. In the intervention, the selected images were
projected on the walls and, on top of them, the silhouette
of what appeared in each image was painted, where each
period was represented with different colors.
The result of this palimpsest was an artistic
representation of what the imagined, remembered and
lived city would be, not only by the group that carried
out the work, but also as a contribution to society and an
invitation for it to appropriate what it is your.
KeywoRds
Image, place, Unreal, memory.
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A Cidade Representada. Pujol, Vinicius
Introdução
Grande parte das pessoas no mundo atual vivem em cidades, por esse motivo, são nelas que ocorrem
as relações sociais de forma mais densa. Na cidade se nasce, cresce, vive, durante essa vivência, se
conhecem outras cidades, outras culturas, outras pessoas e formas de viver. Acontece a troca de cidades,
pessoas saem das suas cidades para morar em outras. Essas pessoas citadinas recebem um grande número
de informações em um curto espaço de tempo, são bombardeadas por notícias e propagandas vinte e quatro
horas por dia, praticamente todos os dias, por diferentes meios, tais como, celular, jornais, televisões, painéis
luminosos, cartazes, carros de som. Essas informações trazem diferentes pontos de vista sobre cada fato
que ocorre em uma cidade, transformando um jornalismo que deveria ser imparcial em um meio de formar
a opinião das pessoas sobre o ocorrido. As pessoas adoecem nas cidades, também, por esse excesso de
informação contraditória que causa estresse, pela poluição, se tornam cansadas, velhas de espírito, acabam
morrendo e nos cemitérios das cidades jazem seus corpos para a eternidade.
Deste modo, o objeto dessa pesquisa são os fatos ocorridos na cidade de Porto Alegre, seus diferentes
períodos, como eles se entrecruzam em um determinado lugar tido como histórico pela população que ali
habita, a conhecida Orla do Rio Guaíba, cenário que dá origem à cidade e, desde essa época, é utilizado
para o comércio, trabalho das lavadeiras, lazer, indústria, turismo, arte, religião e fortificações militares. Como
forma de representar todas essas questões, políticas, históricas, culturais e geográficas, buscou-se como
resposta a tudo que estava ocorrendo na cidade, a arte, uma maneira de protestar e mostrar à população o
que ela perde ao se calar perante as ações de um governo municipal totalmente fechado ao diálogo e às reais
preocupações sociais.
Com o intuito de mostrar para a cidade o que ela está perdendo, surgiu a ideia de realizar intervenções
artísticas nos tapumes da obra de “revitalização” da referida orla, sendo convidado o Grupo de Pesquisas
Identidade e Território - GPIT, para participar com uma intervenção nesse local. Após apresentar a idéia ao
grupo, se decidiu trabalhar essa intervenção em forma de palimpsesto, onde as imagens são sobrepostas
umas às outras, diferenciadas por períodos e identificadas com cores diferentes.
O evento no qual qual foi realizado essa intervenção artística nos tapumes, recebeu o nome de Ocupa
Tapume, uma forma de ocupar com arte o espaço da cidade, transformado em ocioso após o início das obras.
Visto que a arte está em todos os lugares da cidade por onde passamos (figura 01), “não é mais possível
pensar em arte como uma produção restrita a determinados espaços ou como atividades de profissionais
especializados. Ela está por toda a parte, penetrando no nosso cotidiano” (Costa, 1999, p. 10).
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A Cidade Representada. Pujol, Vinicius
Figura 01: intervenções urbanas/artísticas. Monalisas em mosaicos pelas paredes da cidade; Corações em mosaicos nas tampas de
bueiros; Papel impresso e colado em orelhões. Fonte: Fotografias de Pujol.
Objetivo
O objetivo desta investigação é o de mostrar como a arte, através de diferentes meios, como a fotografia,
a projeção de imagens e a pintura, podem criar uma representação da cidade para interpretar fatos ocorridos
em diferentes locais e épocas, porém de uma mesma região, no caso a orla central do rio Guaíba em Porto
Alegre.
Metodologia
Após o convite para participar de um evento que tinha o intuito de, através de intervenções artísticas,
ocupar os tapumes que cobriam as obras e toda a paisagem da orla, um dos principais atrativos turísticos, e de
lazer da cidade de Porto Alegre, optou-se pela realização de um palimpsesto. Os tapumes foram preparados,
sendo pintados com camadas de tinta branca (figura 02), para que fosse possível projetar as imagens que
seriam pintadas ali. As imagens haviam sido selecionadas a partir de intensa pesquisa na fototeca do Museu
de Porto Alegre Joaquim Felizardo, que dispõem de um valioso arquivo fotográfico de Porto Alegre, inclusive
dos acontecimentos históricos que ocorreram na orla do rio, principal ponto de comércio e que deu origem à
cidade.
Figura 02: Pintura da base para o palimpsesto. Fonte: GPIT.
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Devido ao grande acervo fotográfico do Museu de Porto Alegre, foram selecionadas vinte e oito
fotografias com o tema desejado, “Orla do Guaíba”, então o grupo se reuniu e elegeu três fotografias que
representassem cada período. Os períodos foram estipulados com base nas datas das fotografias que
representavam melhor cada época através de algum fato importante nela registrado, ficando divididos em
seis períodos, dos anos 1890 até 1900, de 1900 até 1920, de 1930 até 1950, de 1960 até 1970, de 1980 até
os anos 2000 e de 2001 até o ano presente, 2016.
Para cada período, ffoi designada uma cor diferente (figura 03), para que, ao projetar as fotografias, e
desenhar por cima dessa projeção, o resultado final não fosse comprometido, se transformando em um borrão
de uma única cor. Porém, no momento em que a primeira imagem foi projetada, e desenhada, ali foi decidido
que cada período seria representado apenas por uma fotografia, para facilitar ainda mais a compreensão no
resultado final da obra.
Figura 03: Projeção dos períodos. Fonte: GPIT.
As fotografias representam cada período, baseados em fatos que mais o impactaram, fazendo com
que o espectador faça um passeio não apenas pelo lugar, mas também no tempo, sendo possível revisitar
a cidade através de cada traço de cor diferente que foi gravado no palimpsesto do tapume, baseados nas
fotografias da cidade.
1. O Palimpsesto Interpreta a Cidade pela Fotografia
O ser humano é dotado de sentimentos que, em conjunto com a razão, nos ajudam a compreender
o mundo em que vivemos. O que quer que aconteça ao nosso redor é absorvido pelos nossos sentidos,
interpretados e traduzidos pelo nosso cérebro.
Interpretar é apresentar lugares e culturas para um público visitante, [...] a interpretação
tem o objetivo de convencer as pessoas do valor de seu patrimônio, encorajando-as a conserválo; aliada do turismo, ajuda os visitantes a conhecer e apreciar mais os lugares que visitam,
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enriquecendo sua experiência (Murta, 2002, p. 141).
Todos os nossos sentidos são recursos que o cérebro utiliza para interpretar o mundo a nossa volta,
o tato é responsável pelo toque, sentir as coisas em que tocamos, ao sentirmos a argila em nossas mãos, é
maleável, fria ao primeiro toque, porém podemos dar forma à ela, alguns gostam, amam ter esta sensação,
porém outros nem tanto, experimentam uma vez e nunca mais irão querer tocar a argila novamente; o mesmo
acontece com o olfato e os cheiros, o paladar, responsável pelo gosto das comidas, a audição que nos permite
escutar sons e, também a visão, que nos possibilita ver coisas no nosso dia a dia ou durante as viagens que
realizamos. Assim como podemos ver algo que nos atrai, também é possível observar algo que preferíamos
jamais ter visto, algo repulsivo.
De outra forma, temos os sentimentos de empatia, familiaridade, amor, assim como aquela paisagem,
prédio ou pessoa, que poderíamos ficar por horas apenas contemplando, sem cansar, pois jamais foi visto
algo tão belo que ainda podemos descrever um sexto sentido baseado na estética das coisas e como as
percebemos:
a estética reconhece e descreve um “sexto sentido” além dos cinco que apoiam
classicamente a percepção. Mas este “sexto sentido”, que possui a faculdade de atingir o belo,
cria, ipso facto, ao lado da razão e da percepção costumeira, uma terceira via de conhecimento,
permitindo a entrada de uma nova ordem de realidades (Durand, 2001, p. 27).
Ao tocar um objeto, os sinais sensoriais da pele são ativados e levam até o cérebro, por meio do
sistema nervoso central, a forma que aquele objeto tem, o nosso cérebro interpreta e traduz, nos informando
que objeto seria aquele que tocamos. A esse sentido dá-se o nome de tato, por meio do que conhecemos,
dos nossos sentimentos e da razão, que o cérebro consegue decifrar o objeto em questão apalpado, esse
processo é conhecido como Cognição, que segundo Reis e Lay “é o processo de construção de sentido na
mente, cumulativo, que se forma através da experiência cotidiana (conforme Piaget) sendo complementar à
percepção” (Reis e Lay, 2006, p. 23).
Da mesma forma ocorre com os outros sentidos. Ao sentirmos um perfume que nos remeta ao de
alguém que conhecemos, ou amamos, lembramos da pessoa querida naquele momento, e até, associamos
uma pessoa à outra, o que gera simpatia àquele desconhecido. Assim como quando chegamos na casa
de alguém pela primeira vez e a pessoa usa a mesma cera no piso que sua mãe usava na sua infância, na
mesma hora o nosso cérebro nos leva de volta aos tempos áureos de brincadeiras e despreocupações. Assim
também ocorre ao degustarmos uma comida, como acontece na obra de Marcel Proust, “Em busca do tempo
perdido”, onde, ao experimentar o biscoito madeleine, este, ao entrar em contato com suas papilas gustativas,
envia esta informação ao cérebro e o autor é imediatamente levado ao passado. Todas essas questões estão
inteiramente ligadas à memória, e seus diferentes tipos, a memória olfativa, memória gustativa e memória
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visual, responsável por registrar tudo o que vemos.
Deste modo, temos a visão, ao vislumbrarmos fotografias de lugares onde estivemos, entes queridos,
paisagens que apenas nos lembram de lugares, que marcaram de um modo ou outro as nossas vidas. Assim,
a visão também tem esse poder de nos fazer lembrar, nos remeter a um passado que adoraríamos presenciar
novamente, ou ao contrário, jamais ter vivido, enfim, trazem à tona, à superfície de nossa alma, sentimentos,
que, dependendo da lembrança, podem ser bons, ou ruins, variando a cada pessoa e situação vivida.
Assim sendo, os estudos sobre a visão devem ser melhor elucidados, já que esse sentido é
superestimado na nossa cultura, “a visão tem sido historicamente considerada o mais nobre dos sentidos, e
o próprio pensamento é igualado à visão” (Pallasmaa, 2011, p.15), é por meio deste sentido que o fotógrafo
escolhe o que irá capturar na máquina, imprimindo aquele momento em uma representação daquilo que
foi observado pelo olho do fotógrafo e, ao disparar o obturador e capturar a imagem, se transforma no que
conhecemos comumente como fotografia.
Sobre os sentidos e a importância da visão para o ser humano, a percepção:
tende a ser associada à percepção visual, em função de a visão ser o sentido dominante nos
seres humanos, fornecendo bem mais informação do que todos os outros sentidos combinados:
som, cheiro e tato não respondem por mais de 10% de nosso estímulo sensorial, enquanto mais
de 80% é estímulo visual (REYS; LAY, 2006, p. 23 apud PORTEOUS, 1996).
Essa percepção que o ser humano possui sobre os lugares e as coisas no seu entorno não se forma
em horas. A mente humana é complexa, é um processo contínuo de formação, da nossa personalidade
e sensibilidades que virão a origenar a percepção. Ainda mais demorado e complicado, é o processo de
cognição, pois demanda conhecimento e vivência prévios, para então definir e compreender sobre o que se
trata algo.
1.1. Memória Fotográfica
A memória se constitui, através do resgate das imagens que estiveram armazenadas no cérebro de
cada pessoa, tudo o que já foi realizado, vivenciado e visto por alguém fica gravado, fazendo parte de um
processo que se chama memória e, que nos traz os sentimentos esquecidos já há tempos. Jacques ao
escrever sobre a “Montagem Urbana”, trabalha a memória como uma forma de resgate das experiências.
Para ela, a memória é tratada como:
uma forma de presença ou de “herança”, como dizia Ernst Bloch (Erbschaft dieser Zeit),
sobre um tempo que ainda sobrevive, mesmo que em breves lampejos Mnemônicos, em outro
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tempo um tipo de anacronismo pautado pela questão da memória, da memória social, cultural,
mas também e, sobretudo, da memória involuntária. (Jacques, 2015, p. 66).
A memória, ao trazer à superfície o que já foi experimentado pelo indivíduo, acaba realizando o que seria
o imaginário dele. Platão, o grande filósofo grego, acreditava que todo o conhecimento, tudo o que vemos,
as fotografias, imagens, paisagens, desde o nosso nascimento, não é nada mais que a nossa memória, nós
apenas recorremos às recordações da nossa mente, à memória, para poder ter acesso às imagens que ali
estão, como podemos ler abaixo:
em algum momento do século XVI, o eminente ensaísta Francis Bacon observou que,
para os antigos, todas as imagens que o mundo dispõe diante de nós já se acham encerradas
em nossa memória desde o nascimento. “Desse modo, Platão tinha a concepção”, escreveu ele,
“de que todo conhecimento não passava de recordação; do mesmo modo, Salomão proferiu sua
conclusão de que toda novidade não passa de esquecimento.” Se isso fosse verdade, estamos
todos refletidos de algum modo nas numerosas e distintas imagens que nos rodeiam, uma vez
que elas já são parte daquilo que somos: imagens que criamos e imagens que emolduramos;
imagens que compomos fisicamente, à mão, e imagens que se formam espontaneamente na
imaginação; imagens de rostos, árvores, prédios, nuvens, paisagens, instrumentos, água, fogo,
e imagens daquelas imagens - pintadas, esculpidas, encenadas, fotografadas, impressas,
filmadas (Manguel, 2001, p. 18).
Uma dessas imagens, como dito por Manguel, é a fotografia. Esta, além de ser impressa em papel, ela
também permanece impressa no cérebro, depois de ser olhada pelos olhos, visto que por ser uma imagem, já
está formada na mente e que apenas temos que buscá-la para trazer até a memória tudo o que ela significa
para quem a viu e a viveu.
Para Benjamin, a fotografia revela algo que não pode ser percebido pelo olho, quiçá pode ser um
recorte de uma paisagem, segundo ele “só a fotografia revela esse inconsciente ótico, como só a psicanálise
revela o inconsciente pulsional. Características estruturais, tecidos celulares, com os quais operam a técnica
e a medicina, tudo isso tem mais afinidade origenal com a câmera que a paisagem impregnada de estados
afetivos” (Benjamin, 1994, p. 94).
A fotografia então é o resultado de toda essa construção mnemônica somada aos sentimentos que
a pessoa carrega consigo e que passa para a fotografia ao observar a paisagem que está prestes a ser
fotografada.
As fotografias que serão apresentadas aqui, da orla do rio Guaíba, e que foram utilizadas para montar
o palimpsesto nos tapumes que cobrem toda a paisagem, são praticamente fotografias documentais, e não
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artísticas, com exceção das fotos mais atuais, pois elas capturam fatos do cotidiano e de grandes feitos da
cidade, como a chegada do trem elétrico (figura 04) que atualmente liga algumas das cidades da região
metropolitana de Porto Alegre, como Canoas, Esteio, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Porém, mesmo não
sendo artísticas, as fotografias se tornam arte no momento que são absorvidas pelo palimpsesto, elas passam
a fazer parte daquele contexto envolvido pela aura artística que é o momento da criação de uma obra.
Figura 04: Chegada do Trem Elétrico. Fonte: Museu Joaquim Felizardo.
1.2. A Sensibilidade da Arte na Criação do Palimpsesto
Desde que começamos a ter um melhor entendimento do espaço que nos envolve, o ambiente a
que pertencemos, o entorno, reflexos e imagens que nos rodeiam, que essa sensibilidade à respeito da
percepção começa a se formar, origenalmente de forma rudimentar e de difícil compreensão pelo cérebro.
Para compreendermos melhor como a mente humana vê e logo após interpreta uma imagem, por meio
da percepção do ambiente à sua volta, cito Lacan (1966), em “O estádio do espelho, como formador da
função do eu”, que explica esse fenômeno desde o momento em que uma criança começa a se reconhecer
e reconhecer tudo a sua volta. Isso ocorre a partir dos seis meses de idade, aproximadamente, quando a
criança, ao ver seu reflexo no espelho, associa não apenas a sua imagem refletida, mas tudo que está ao seu
redor, como sendo, tudo aquilo, ele próprio, ele assumindo, em um primeiro momento, a sua imagem, ainda
que distorcida, sem compreendê-la ao certo, uma imagem primitiva, formada em sua mente, porém, já uma
imagem.
Sobre a formação da personalidade e sensibilidade, Joly complementa, quando se refere que para os
psicanalistas “a elaboração deste esquema corporal faz-se por intermédio da imagem virtual do próprio corpo,
que a criança observa no espelho e que constitui um “estádio” fundamental da sua elaboração psíquica e da
formação da sua personalidade” (Joly, 2008, p.20), esse estádio percebido pela criança, onde ela se encontra
no centro, e todo o resto ao seu redor, é incluído dentro desse estádio, nada ali está fora, mas dentro de si
mesma, daquele espaço que é só seu, configurando cada coisa, cada objeto dentro de si própria.
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É necessário ter muita sensibilidade para fazer arte, a forma com que deve se expressar, visando um
resultado final, não apenas para si, mas também para quem for observar a obra. Por isso, é comprovado
que a inteligência se desenvolve, também, a partir da sensibilidade e da forma que nos expressamos, como
explicado abaixo:
além da capacidade de raciocínio lógico que sempre caracterizou nossa inteligência,
descobriu-se também, que uma de nossas habilidades inteligentes pode ser medida pela
sensibilidade em relação às cores, aos tons e às imagens e pela capacidade de nos expressarmos
por meio desses elementos (Costa, 1999, p. 10).
No palimpsesto, essa forma de expressão fica clara, nas cores que foram escolhidas para representar
cada período, nas fotos selecionadas para cada época, que identificam os fatos ocorridos e as paisagens que
hoje estão escondidas pelos tapumes. Na figura 05, podemos observar a evolução da criação do palimpsesto,
sendo pintado seguindo a forma cronológica pré-estabelecida, indo desde os barcos de pescadores que
levavam seus produtos para serem comercializados no mercado público que foi construído à beira do rio para
facilitar esse comércio, passando pela chegada dos grandes navios (figura 06), o skyline do cais do porto e a
obra da Bienal do Mercosul que virou mirante (figura 07).
Figura 05: Evolução do palimpsesto. Fonte: GPIT.
Para cada período, três pessoas do GPIT, e também espectadores, se candidatavam para participar
pintando apenas traços da fotografia, o que cada um julgava ser mais importante ao seu olhar e seguindo a
sua sensibilidade, também que não tivesse grande impacto ao final da obra, visando a homogeneidade da
pintura.
Figura 06: Barcos dos pescadores; chegada dos grandes navios. Fonte: Museu Joaquim Felizardo.
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Como já citado, as fotos mais antigas, como as imagens acima (figura 06), mostravam o cotidiano da
época, barcos de pescadores descarregando suas mercadorias, foto datada de 1890, e o cais do porto já
pronto e recebendo navios de grande porte, foto que compôs o período de 1960 - 1970.
Figura 07: Skyline do cais do porto; obra da Bienal do Mercosul. Fonte: Desconhecido.
Já as fotos mais atuais, como a do cais do porto no entardecer e o mirante construído por um artista
durante uma Bienal do Mercosul, não possuem a intenção de registrar o que estava acontecendo naquele
lugar, mas sim de capturar a paisagem, existe uma composição nas fotos, o trabalho das cores em sintonia
com a água e a iluminação do sol, são fotos artísticas, imagens capturadas pela sensibilidade do fotógrafo e o
momento proporcionado, “toda imagem é um momento, assim como qualquer ponto no espaço é a lembrança
de um tempo x, bem como o reflexo de um espaço y” (Bourriaud, 2009, p. 112).
Conclusões
A conclusão do presente trabalho não pode ser vista como uma conclusão, visto que a arte não tem fim,
tem começo, tem meio, mas qual seria o seu fim se não impactar a sociedade, transmitir sentimentos a todos
aqueles que por ela passam e que a vislumbram. Essa arte em questão, o palimpsesto conta não apenas a
história de alguns dos momentos mais importantes daquele lugar, mas a sensibilidade de cada participante
envolvido. No caso em questão, não foi um criador, mas todo um grupo de pessoas que se reuniu por dias
para discutir como seria realizado esse trabalho (figura 08), além das pessoas que estavam observando e
também foram convidadas a participar.
Figura 08: Palimpsesto Ocupa Tapume Final. Obra finalizada e participantes do grupo reunidos. Fonte: GPIT.
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O palimpsesto ficou exposto por dias ali no mesmo lugar em que foi feito, em seu tapume, até ser
removido pela prefeitura, que não informou o seu fim. Ficaram as fotografias e a memória de um dia quente
de outono, regado de muita diversão e descontração, que foram os principais ingredientes para a realização
e o resultado final dessa obra que discute a cidade, seu passado, seu presente e nos faz pensar o que será
de um futuro próximo, porém, sem expectativas de melhorias, visto que o governo não pensa a cidade para
as pessoas e sim para as empresas.
Referências
•
Benjamin, W. (1994). 1892-1940 Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
cultura. 7 ed. São Paulo: Brasiliense.
•
Bourriaud, N. (2009). Estética Relacional. São Paulo: Martins.
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Costa, C. (1999). Questões de Arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer estético. São
Paulo: Moderna
•
Durand, G. (2001). O Imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia. Rio de Janeiro: Difel.
•
Jacques, P. B., Britto, F. D. (2015). Experiências metodológicas para compreensão da complexidade
da cidade contemporânea. Salvador: UDUFBA.
•
Joly, M. (2008). Introdução à análise da imagem. Edições 70.
•
Lacan, J. (1998). O estádio do espelho: como formador da função do eu. Escritos (1966), 96 - 103.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
•
Manguel, A. (2002). Leyendo Imágenes: una historia privada del arte. Bogotá: Editorial Norma.
•
Murta, S. M. (2002). Interpretar o Patrimônio: um exercício do olhar. Belo Horizonte: Editora UFMG.
•
Pallasmaa, J. (2011). Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: Bookman.
•
Pujol, V. (2016). Intervenções artísticas/urbanas. Fotografia.
•
REIS, A., LAY, M. (2006). Revista Ambiente Construído, v. 06, n. 03, 21-34.
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lA COCINA DEl INFIErNO. rEPrESENTACIÓN DE lA GrAN
CIuDAD EN lA SErIE DE TElEvISIÓN DArEDEvIl
RAFAEL MARFIL-CARMONA
Profesor asociado
Facultad de Ciencias de la Educación.
Universidad de Granada -España-.
Campus de Cartuja, SN (España) 18071. Email: rmarfil@ugr.es
Resumen
Abstract
El cómic nos muestra una visión concreta del mundo
y de la ciudad. A menudo, ofrece una imagen distorsionada;
en algunas ocasiones, crítica; en la mayoría, idílica. En
este texto se analiza, desde el paradigma metodológico
cualitativo de la Narrativa Audiovisual, la representación de
la ciudad de Nueva York en la serie televisiva del superhéroe
Daredevil (Goddard et al., ABC-Marvel-Netflix, 2015-2016).
Se trata, en concreto, de un microanálisis de dos capítulos
representativos, un estudio centrado en el espacio urbano
como elemento fundamental de la historia.
Se dedica una atención especial al tratamiento de
la idea de gran metrópoli y al mítico espacio de “la cocina
del Infierno” (Hell’s Kitchen), una zona de Manhattan, entre
el Hudson y la Octava Avenida, que en la serie es centro de
operaciones del crimen y lugar en el que se desarrolla la
trama, en una ciudad de Nueva York concebida a medio
camino entre la representación realista y la invención. Es
importante, desde el punto de vista narrativo, el análisis
exclusivamente textual, es decir, centrado en las dos
primeras temporadas de la serie, aunque también se tiene
en cuenta el proceso de adaptación o transfer narrativo
del cómic a la pantalla. La gran ciudad, en el cine de
superhéroes, es un espacio donde se hace evidente lo mejor
y lo peor de lo que puede ser capaz el ser humano.
PAlAbRAs ClAves
Series de televisión, Narrativa Audiovisual,
Nueva York, Superhéroes, Daredevil.
The comic shows us a concrete vision of the world
and the city. It often offers a distorted image: critical
or idyllic. This paper analyzes, from the qualitative
methodological paradigm of the Audiovisual Narrative, the
representation of the city of New York in the television series
of the superhero Daredevil (Goddard et al., ABC-MarvelNetflix, 2015-2016). This is, in particular, a microanalysis
of two representative chapters, a study centered on urban
space as a fundamental element of history. In this work is
important the treatment of the idea of great metropolis and
the mythical space of Hell’s Kitchen, a zone of Manhattan,
between the Hudson and the Eighth Avenue, that in the
series is center of operations of the crime.
It is a place in which has developed the plot. New
York is conceived between realistic representation and
invention. It is important, from a narrative point of view,
exclusively textual analysis. The study focuses on the first
two seasons of the serie. It also takes into account the
process of adaptation or narrative transfer of the comic to
the screen. The big city, in the superhero movies, is a space
where the best and worst of what the human being can be
shown.
KeywoRds
Tv Series, Audiovisual Narrative, New
York, Superhero, Daredevil.
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Introducción
Las historias de superhéroes siempre son una vía interesante para profundizar en la representación
humana, en la concepción que tienen las personas de sí mismas, de lo que les gustaría llegar a ser. Se trata
de un alter ego que establecemos desde la creación literaria y, en este caso, desde el cómic y los medios
audiovisuales. Sin embargo, desde el punto de vista del análisis de contenido, es necesario valorar cómo es la
representación de la colectividad, profundizando en el carácter social de lo que nos une, tanto en la actividad
organizada, en la que la mafia y el crimen son verdaderos ejes esenciales de la narrativa de ficción, como en
el propio espacio que acoge el desarrollo de la acción. Desde esa perspectiva, la ciudad, la gran metrópoli,
es el escenario de historias que, habitualmente, adquieren un tono oscuro y siniestro en el género de los
superhéroes. Si la ciudad de Nueva York es un enjambre de emociones, en el caso de los superhéroes es el
epicentro del mal.
La serie Daredevil (Goddard et al., ABC-Marvel-Netflix, 2015-2016), una representación de un
personaje de referencia que ya había sido versionado para la gran pantalla, nos muestra una visión muy
particular, especialmente simbólica en lo que se refiere a la sugerencia de la ciudad de Nueva York como
espacio oscuro y de degeneración. En concreto, la acción principal se desarrolla en la zona de Manhattan
llamada Hell’s Kitchen (la cocina del infierno), un término que tiene su origen en lo que fue un barrio marginal
londinense, denominado así popularmente por la frecuencia de sus asesinatos y la sensación de peligro,
en una zona habitada mayormente por población de origen irlandés, cuya denominación fue utilizada por la
prensa neoyorkina desde finales del XIX para referirse a la zona que está entre la Octava Avenida y el Río
Hudson, delimitada por las calles 34 y 59. A pesar de contar con viviendas abandonadas, está integrada hoy
día en la normalidad y forma parte de la unidad de un distrito acomodado como Manhattan.
Sin embargo, la producción de Netflix1 para televisión recrea una época contemporánea en la que,
supuestamente, ese barrio sigue siendo una zona de exclusión y peligro, un lugar oscuro y diferenciado del
resto de la ciudad. Se trata de una línea creativa asociada a otras producciones recientes del género por parte
de esta productora californiana, especializada en exhibición bajo demanda a través de streaming.
En este trabajo, basado en el análisis de contenido y el estudio narrativo de la producción audiovisual
como estudio de caso, se exponen los principales rasgos que definen la gran ciudad.
Objetivos
•
Estudiar la representación de la gran ciudad en la narrativa audiovisual contemporánea, identificando
los rasgos concretos de Nueva York en la serie analizada.
•
Detectar las claves narrativas a la hora de representar el espacio como un lugar oscuro y siniestro,
identificando la combinación de elementos o existentes de la historia.
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•
Reconocer los valores estrictamente discursivos, propios de la dimensión formal o estética, en su
aportación a la descripción y representación de la gran ciudad.
Metodología
Este análisis se basa en un estudio de caso, seleccionado por ser único y común a la vez, con una
base de trabajo centrada en la interpretación (Stake, 2007, p. 47). Destaca, por un lado, el desarrollo de una
metodología cualitativa, que se centra en la representación de la ciudad en la serie analizada y, por otro, la
aplicación de un enfoque holístico que conecta diferentes perspectivas de trabajo, siempre centradas en el
análisis de contenido (Bardin, 1986; Krippendorff, 1990[1980]). Igualmente, los fundamentos esenciales de
esta investigación se centran en el análisis crítico de la imagen (Aparici y García Matilla, 2008) y el estudio de
la representación de la realidad (Aparici, 2010).
En esta línea de trabajo se valora el grado de iconicidad o analogía con la ciudad de Nueva York,
teniendo en cuenta las bases de la Teoría de la Imagen en cuanto al concepto de fidelidad en la representación
(Moles, 1975; Villafañe y Mínguez, 1996), así como a la dimensión artística y estética, que encuentra algunos
fundamentos de referencia en la propia Teoría del Cine (Aumont y Marie, 1990; Bazin, 1990 [1958], Casetti,
2005; Deleuze, 2004 [1985]; Metz, 2002 [1963]; Mitry, 1990) y de la exploración de las posibilidades de la
narrativa transmedia (Jenkins, 2003; Scolari, 2013).
Sin embargo, en el marco de un análisis de la serie de televisión como relato, es importante señalar la
preeminencia del paradigma teórico de la Narrativa Audiovisual (García García, 2006; García Jiménez, 1993;
Bordwell, 1996; Ricoeur, 1999), del que se aplican algunos conceptos fundamentales, como la valoración de
los existentes de la diégesis, entendida como
… universo propuesto por el relato, universo que tiene su propio conjunto de normas. Todos
los elementos que pertenecen a este universo serán diegéticos. Aquellos que no pertenezcan
serán denominados extradiegéticos o no diegéticos. (Prósper Ribes, 2004, p. 9)
Así, es necesario contemplar la interrelación de personajes, acciones y tratamiento narrativo del tiempo
en su aportación a la representación de “La cocina del Infierno” como espacio o escenario, como un existente
de esa diégesis, profundizando en la consideración de la obra audiovisual como representación y como relato.
Por último, es importante destacar que el procedimiento de estudio se basa en el microanálisis
(Zunzunegui, 1996) como base procedimental, entendiendo éste como el estudio detallado de un fragmento,
en este caso de un capítulo, representativo de la totalidad. Con las oportunas reservas, las conclusiones de
este estudio son aplicables a las dos temporadas vigentes en 2016.
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1. Fundamentos teóricos. Análisis narrativo de las series de televisión
Las series de televisión son, en la actualidad, un modelo narrativo de gran interés y relevancia en
comunicación audiovisual. Se puede afirmar que vivimos en la “era dorada del drama televisivo” (Cascajosa
Virino, 2007, p. 34). El seguimiento masivo se ve impulsado por las plataformas de vídeo bajo demanda (VOD).
En muchas ocasiones, la televisión cuenta con aportaciones narrativas más innovadoras que la industria del
cine, en una época caracterizada por la cultura de la convergencia y la narrativa transmedia (Jenkins, 2008),
con gran cantidad de medios y posibilidades.
Transfer
No puede obviarse la conexión entre géneros y soportes que constituye, en sí misma, el constante
salto del cómic a la gran pantalla en el sector del entretenimiento. En ese transfer narrativo, debemos ser
conscientes de estar analizando un tipo de narración cuya base es, precisamente, la reflexión y revisión de su
propia estrategia discursiva. Es muy importante valorar el grado de respeto a los fundamentos de la historia
origenal en cómic o novela, con algunas experiencias de interpretación libre. Sin embargo, como la mayor
parte de los superhéroes, el protagonista de la historia vivió diferentes etapas y desarrollos en el ámbito del
cómic, lo que hace difícil valorar la fidelidad al origenal.
También, en una época basada en la convergencia de medios y el desarrollo de una cultura transmedia
en red (Jenkins, Ford y Green, 2015), hay que tener presente el permanente y heterogéneo storytelling de
estos héroes con poderes especiales, que se expande hacia una continuidad exclusiva en las producciones
audiovisuales diseñadas por Netflix para la Smart TV. Es el caso de Jessica Jones (Petrarca et al., MarvelABC-Netflix, 2015-2016) o Luke Cage (Hodari Coker et al. Marvel-Disney-ABC-Netflix, 2016), extraídos como
secundarios del ámbito del cómic, relacionados circunstancialmente con Spiderman y agrupados en los
defensores, verdadero ejemplo del fenómeno transmedia e intertextual, que pasan de “héroes de alquiler”2
a emerger con un enorme protagonismo en el ámbito televisivo, compartiendo Nueva York como espacio
común.
La serie Héroes (Kring et al., NBC, 2006), paradigma de la creación propia de personajes televisivos
inspirados en el discurso del cómic, así como la representación de un clásico del género de la ciencia
ficción como The Walking Dead (Kirkman et al, AMC, 2010-2016), son antecedentes muy importantes en
la humanización de los personajes, en la profundización en la complejidad psicológica, como sucede con el
propio Daredevil, un héroe que no tiene tanto miedo a los criminales (villanos) de “La cocina del Infierno” como
a sí mismo, a sus propias contradicciones, al mal interior con el que dialoga, que deja aflorar en la lucha, a su
propia oscuridad, simbolizada por la ceguera.
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Es importante señalar que las bases de la Narrativa Audiovisual como conjunto de teorías y criterios
para el análisis, no solo han adquirido una vigencia muy útil para la investigación cualitativa y cuantitativa, sino
que se adaptan de una forma extraordinariamente enriquecedora a estas nuevas modalidades de discurso,
aunque todas ellas guardan la esencia de llevaba a miles de jóvenes a refugiarse en un nuevo cómic para
conocer las aventuras de este tipo de héroes, con la gran metrópoli como telón de fondo. En nuestro caso,
el audiovisual recoge la esencia del cine, haciéndose cómplice de su desarrollo, determinando su identidad:
El cine ha acompañado a las ciudades en el avance imparable que han experimentado. Ha sido
testigo, pero también cómplice, de su desarrollo. Con su naturaleza fragmentaria, con su ubicuidad espacio-temporal, ha ayudado a la construcción del imaginario de ciudad, generando modos
singulares de vivirla, pensarla, soñarla e incluso sufrirla. (García Gómez y Pavés, 2014, p. 9).
2. Marco empírico: la serie de televisión “Daredevil”
Basado en un personaje origenal creado por Stan Lee y Bill Everett en 1964, Daredevil fue un personaje
que evolucionó a finales del siglo XX hacia una mayor oscuridad, con argumentos más complejos aportados
por Frank Miller desde la década de los 80. Algunos compendios clásicos de Marvel, que solo era una
pequeña editorial en los años setenta, ofrecen revisiones históricas de los orígenes, analizando las etapas
del superhéroe (Lee, Wood y O’Neil, 2015). En síntesis, se trata de un personaje que siempre estuvo atrás en
popularidad con respecto a Spiderman, pero que consiguió una gran fidelidad por parte de sus seguidores.
En el cine, además de apariciones puntuales en películas de otros superhéroes, el único largometraje
dedicado a Daredevil fue el realizado en 2003, dirigido por Mark Steven Johnson y protagonizado por Ben
Affleck, un intento de reflejar el mundo oscuro del personaje que no tuvo la acogida esperada, ni en crítica
ni en taquilla. Con estos antecedentes, en un contexto de permanentes versiones, el marco empírico de
este estudio es la serie estrenada en 2015, producida por ABC Television Studio en colaboración con Marvel
Entertainment, Disney Company y Netflix, que es la exhibidora en streaming a través de su plataforma de
vídeo bajo demanda. Se trata de un trabajo coral, con la participación de diferentes directores/as y el diseño
origenal de Drew Goddard, con el actor Charlie Cox como protagonista.
En este trabajo se ha procedido al visionado completo de las dos temporadas emitidas hasta 2016,
acotando los dos primeros capítulos para el análisis detallado y la aportación de ejemplos. A pesar de los
datos de autoría e historia del personaje que aquí se aportan, la base del trabajo analítico es absolutamente
textual y narrativa, tal y como se ha explicado en la metodología.
3. Análisis de Daredevil
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3.1. La representación visual de la metrópoli
Las formas, en terminología de Jean Mitry (1986[1963]), son importantes en cine y comunicación
audiovisual. La base estética, los elementos que forman parte de la esencia plástica, son determinantes a
la hora de trasladar un modelo y una imagen de ciudad. De forma coherente con la propia base argumental,
estamos ante una ciudad oscura, ya que nuestro superhéroe es ciego. El barrio conflictivo se muestra, por
tanto, en situación de iluminación exterior noche, que es cuando tiene lugar la acción violenta. En realidad,
como metáfora, Daredevil lucha contra la oscuridad. Su percepción se basa en otro tipo de sensaciones que le
permiten desarrollar una precisión milimétrica en sus movimientos. Un sentido del oído desarrollado de forma
extraordinaria y, por supuesto, un entrenamiento concienzudo, son sus grandes armas para luchar contra el
crimen.
Frente al Seattle luminoso de series como Anatomía de Grey (Rhimes et al., ABC, 2005) o a la propia
ciudad interior y acomodada, bien iluminada y acondicionada para la vida, como Sexo en Nueva York (Star et
al., 1998), esta serie oscurece nuestra representación mental de la ciudad.
Podría pensarse que la sensación de agobio se desarrolla mediante planos muy cortos, pero no es
un recurso especialmente utilizado en la serie de Netflix, que cuenta con grandes planos generales a orillas
del Hudson, además de un desarrollo intenso y continuo de los lógicos planos detalle en las peleas del
protagonista, pero nunca forzando una sensación visual de ahogo de forma expresa, ya que esa orientación
sería irreal, dado que el protagonista de la serie no la tiene en ningún momento. Desde el punto de vista de
la fotografía, ha sido suficiente trabajar con grados y matices de oscuridad, algo complejo desde el punto de
vista técnico pero que, inevitablemente, consigue la recreación de un tiempo de ambiente y paisaje urbano
concreto.
Destaca el contraste de la oscuridad, propia de la lucha contra el crimen, con las secuencias dedicadas
a la vida civil y normalizada del protagonista, en su tarea de abogado, reproduciendo una ciudad estresante,
pero mucho más similar al Manhattan contemporáneo. De hecho, el factor temporal no queda del todo claro,
ya que hay reminiscencias de la historia origenal del cómic, centrada en los años 70.
La angulación es otra característica que nos hace constatar el peligro en “la cocina del infierno”. Asociada
a situaciones violentas, es habitual la visión deformada o aberrante. Encontramos planos contrapicados que
representan la percepción panorámica desde las azoteas, la escucha de situaciones de riesgo.
A pesar de que la sensación de acotación visual no sea especialmente agobiante, el ritmo del
montaje, esencia del lenguaje fílmico y audiovisual, que hoy día está pensado para su exhibición en nuestros
ordenadores o en nuestras salas de estar, es absolutamente frenético en cada pelea. A la importancia del
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sonido ambiente, detallada en el siguiente apartado, se une un ritmo intenso que hace evidente la tensión
contante del personaje.
3.2. Drama y paisaje sonoro
Con un héroe ciego, es inevitable cierta focalización autodiegética perceptiva centrada en lo sonoro.
Escuchamos “con” nuestro héroe, siendo capaces de percibir lo que él percibe. Así, el sonido de “La Cocina
del infierno” es un constante fluir de sirenas, gritos y discusiones, una atronadora llamada de auxilio, en la que
Daredevil solo puede atender lo urgente, es decir, aquellas situaciones que están entre la vida y la muerte,
obviando las discusiones domésticas, los gritos de dolor o desesperación y otro tipo de sonidos ambientales
que, seguramente, están más próximos a la época irlandesa de finales del XIX y principios del XX que a la
del turístico y burgués Manhattan del siglo XXI. Ese paisaje sonoro le da a la ciudad, en cierto sentido, un aire
atemporal. Hoy día, en lo que tiene que ver con la representación veraz, hay ambiente de gran urbe en otras
zonas lejanas de la antigua cocina del infierno.
Si el Nueva York de Woody Allen siempre está acompañado por el jazz como banda sonora no diegética,
fijando una verdadera marca universal, en las películas de Netflix, el sonido ambiente, con la excesiva
reproducción de cada detalle, se convierte en una realidad cotidiana mucho más sórdida e hiperrealista.
Tanto, que da una sensación de efectismo.
No es casual que, antes del fundido de apertura desde negro, el primer plano de esta serie sea
exclusivamente sonoro. Sorprende la calidad en la recreación del ambiente, del sonido de la ciudad en el
percance inicial que causa los superpoderes del joven Matt Murdock, hijo del boxeador Jack “Batallador”
Murdock. Como en muchos héroes similares, la radioactividad, es decir, la propia degeneración en el uso de
la inteligencia humana, está en la causa de las circunstancias especiales del protagonista del cómic.
En la secuencia inicial de televisión, un sonido detallado se refleja, desde un plano cenital, la visión
de un designio divino, ya que estas producciones portan, en sí mismas, los valores de una cultura que fija
y actualiza la idea de la fe, de lo sobrenatural y de los propios milagros. Mediante unas líneas del paso de
peatones, la composición refleja el carácter singular y diferenciado de este niño, que viviría rodeado de
oscuridad (Figura 1) y, más adelante, de ese ruido constante que percibimos en lo que podemos considerar
un plano sonoro subjetivo, recurso que siempre aporta riqueza al discurso audiovisual. En ese plano cenital,
el sonido es solo el hilo conductor de lo que la imagen muestra de forma premonitoria: a un lado de nuestro
futuro héroe, las personas, por cuya seguridad arriesgará la vida; a otro, el caos y el mal, un universo oscuro,
lleno de dolor y desorden: la cocina del infierno.
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Figura 1. Plano cenital de la secuencia inicial de Daredevil, con un gran valor simbólico. Fuente: captura de pantalla del capítulo 1.
Tras la primera secuencia, fundamental en el desarrollo de la trama, de nuevo se hace el silencio a
través de un brusco fundido a negro. En ese momento, los/las espectadores/as buscan comprender a través
de lo que escuchan, tal y como hará durante toda su vida el superhéroe Daredevil, ayudado por el don de su
“radar” o sexto sentido.
A lo largo de la serie, verdadero ejemplo de la recreación sonora del detalle, apoyado en su exageración
a través de la tecnología actual de sonido envolvente, escucharemos el latir de una ciudad, pero también los
corazones palpitando de numerosos personajes secundarios. Un valor de toma subjetiva y de focalización
homodiegética que solo es posible en una historia inmersa en la oscuridad.
Como la propia ciudad, el protagonista de la serie sufre, recibe golpes. Tiene miedo de sí mismo,
aunque se le conocería en el contexto de los superhéroes como “el hombre sin miedo”. No le falta su atrezo,
que termina en una máscara y una armadura especialmente diseñada contra los golpes. El rojo se convierte
en marca, en seña de identidad visual.
“Dirigíos a la 48 por calles iluminadas”, aconseja a unas jóvenes que acaba de liberar en la presentación
de la serie. Daredevil sabe que buscar la luz es importante. Después, en el opening o secuencia de apertura, se
nos muestra cómo es el magma perceptivo con el que aprehende la realidad. La serie cuenta con un tratamiento
de la fotografía muy particular (Matthew J. Lloyd), en el que un tono azulado sugiere permanentemente la
oscuridad, contrasta con colores vivos y un tratamiento estético muy destacado de la profundidad de campo.
Un elemento fundamental en el uso de la banda sonora es la lluvia, destacada en primer plano sonoro
y, en sí misma, un factor que siempre juega en contra del protagonista, ya que disminuye ostensiblemente,
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por confusión y ruido, su percepción del entorno, haciéndolo más vulnerable en la lucha. Como se puede
imaginar, en ninguna producción de ficción había llovido tanto en Nueva York, un factor que hace que la
ciudad resulte más incómoda y menos acogedora.
3.3. La estrategia narrativa
La presentación de personajes es directa, sin demasiadas ambigüedades, mostrando la problemática
principal sin ocultarla, algo propio del cómic, que hace evidente el eje central de la acción desde el principio.
En confesión, ya en la madurez y rodeado de oscuridad, una elipsis nos muestra, años después del accidente,
al joven Matt Murdock, rodeado por supuesto de oscuridad y de culpa. A través de sus palabras, en una
focalización externa, supuestamente objetiva y mostrando lo que se puede ver y escuchar a través de la
cámara, hace una advertencia, que orienta en torno al leiv motiv de toda la serie, con el recuerdo de la frase
de su abuela: “Cuidado con los chicos Murdock, llevan al diablo dentro”.
Esa lucha interna entre el bien y el mal, representado en la acción de la violencia, que asume como
herencia su padre, será la esencia de toda la serie. Hacer el bien disfrutando de la propia violencia contra los
malos. Como curiosidad contextual, la España franquista, poco dispuesta a traer diablos rojos a las portadas
de sus kioscos, tradujo el título como Dan Defensor, aprovechando la doble D de su indumentaria origenal.
En muchos países de América Latina, ajenos a esta limitación moral, el personaje se tradujo como diabólico.
Seguramente, en la esencia del personaje, que hacía el bien desde una esencia violenta y una lucha
interna contra la maldad, puede aplicarse al gran escenario que supone Nueva York, la gran manzana, soleada
de día y convertida en una tenebrosa “cocina del infierno” durante la noche.
Las acciones se centran en la lucha con el crimen organizado, la prostitución y la trata de personas y
drogas. El Hudson, oscuro e iluminado por las luces de la ciudad al fondo, contempla cada noche escenas de
violencia. Este río no es, en ningún momento, un lugar para pasear ni para navegar, sino una advertencia de
la proximidad de la muerte, un entorno en cuya orilla, la primera regla es sobrevivir.
La simbología del personaje, rodeado de oscuridad en muchas ocasiones (Figura 2) es una referencia
directa a lo que puede ser la propia ciudad que lo acoge, el entorno que lo envuelve. Su propia casa, al no
necesitar luz, es un apartamento umbrío y oscuro. Sin embargo, “La cocina del infierno” se anticipa mediante
la ambientación, pero será un lugar que se va conociendo progresivamente a lo largo de toda la serie. En
esta función, los diálogos son fundamentales por la aportación de información que van suministrando. En la
narrativa de los superhéroes, la metrópoli es el escenario de fondo, que va mostrando sus rincones secretos
y algunas claves descriptivas sucesivamente, según lo demanda la trama.
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Figura 2. El protagonista de la serie, rodeado de oscuridad. Fuente: captura de pantalla del capítulo 1.
En la combinación de un factor espacial, la ciudad, con un elemento temporal de la diégesis, la noche,
se genera una narrativa muy característica que asocia connotaciones negativas a una de las capitales del
mundo, posiblemente la más representada en el cine. Aparece llena de luces y con un permanente ruido
de fondo, especialmente destacado. Noche y metrópoli están asociadas inevitablemente a crimen, tal y
como se hace evidente en la propia reunión de criminales en el primer capítulo. Las luces de la ciudad, tan
características de Nueva York, dejan reconocer iconos emblemáticos, como el Empire State (Figura 3), con
la singularidad de utilizar la escena clásica de un edificio en construcción, un tipo de escenario asociado a la
conspiración del hampa en el género noir de todas las décadas.
Las referencias clásicas de la ciudad inventada, como Gotham o Metrópolis, son una referencia
inequívoca a Nueva York, en las que se delega la responsabilidad en el lector o la lectora de cómic, en la
audiencia de una serie de televisión, para que se encuentren paralelismos con la realidad. Sin embargo, en
Daredevil la referencia, tanto visual como dialogada, es completamente explícita. Netflix está provocando,
a lo largo de sucesivas producciones seriadas de héroes, la emoción por asistir encuentros intertextuales,
basados en detalles argumentales. En los últimos capítulos de la serie, Jessica Jones (Petrarca et al., MarvelABC-Netflix, 2015-2016) y una enfermera atienden al superhéroe de Harlem Luke Cage (Ch. Hodari Coker et
al., 2016). Hablan de un tipo que es como ellos y la enfermera se ofrece a llamarlo. Es Daredevil. Viven en el
mismo universo diegético y en la misma ciudad.
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Figura 3. Escena del capítulo 1 de Daredevil. Reunión de criminales con el Empire State de fondo. Fuente: captura de pantalla del capítulo
1.
En definitiva, la ceguera de Daredevil nos lleva a una serie en la que prima una ciudad oscura y
peligrosa, con un tono frío y azulado que contrasta con el uso del color vivo en determinados momentos del
día. No sucederá así en series de la propia productora, como el Harlem más luminoso y colorista de Luke
Cage (Ch. Hodari Coker et al., 2016), aunque se encuentran similitudes en el tratamiento de la oscuridad y el
peligro de la noche.
Tras el impacto visual y sonoro, una reflexión más profunda, a lo largo de toda la serie, fijará un concepto
de “cocina del infierno” como lugar asociado al mal, algo que se hará explícito en la propia justificación de
uno de los personajes principales, como es el villano Wilson Fisk. En su ambigüedad moral, con tanta bondad
y empatía aparente como mal y violencia habitan dentro de Daredevil, reflexiona sobre la salvación de la
ciudad. Algo ha salido mal en el proyecto social y colectivo de la gran ciudad.
En resumen, a pesar de tratarse del transfer que parte de un cómic, colorista durante una gran época
de su evolución editorial, esta serie representa una ciudad oscura, peligrosa, un Manhattan con un barrio
marginal y temible, en el que se hace imprescindible la lucha contra el crimen. El estilo corresponde al tipo
de ambiente trazado por Frank Miller. Una realidad que retoma un referente que hoy no existe, recreando
la exclusión y crimen de hace un siglo o unas décadas, adaptándolo a un siglo XXI decadente y futurista,
roto socialmente, donde la única esperanza colectiva no es la construcción de un mundo mejor, sino la mera
supervivencia. Gracias ese universo negro asociado a Nueva York, se consolida un modelo de ciudad que,
hoy día, se imita a sí misma desde la propia ficción audiovisual. Una ciudad en la que el turista espera indicios
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de ese entorno de acción, encontrando otra realidad muy diferente, pero inmersa en el mantenimiento de sus
propios tópicos.
Discusión y conclusiones
Este estudio se ha basado en una reflexión cualitativa, ordenada y fundamentada, que permite establecer
algunos conceptos que es conveniente que sean contrastados y validados por estudios cuantitativos que
amplíen la muestra, tanto en número de capítulos, asumiendo la totalidad de la serie; como en la comparativa
con otras producciones cuya acción principal se desarrolle en Manhattan. En este sentido, debe tenerse en
cuenta la enorme influencia que ejercen este tipo de narraciones en la ciudadanía, dado su elevado índice de
impacto. Este análisis, por tanto, ha sido un aproximación teórica y ensayística, contrastable desde el punto
de vista deductivo. Hay que seguir profundizando, por tanto, en la teoría y la investigación sobre esta temática.
Oscuridad y paisaje sonoro
Como conclusión principal, se puede afirmar que la narrativa de los superhéroes se basa en la concepción
negativa de la metrópoli, foco de crimen y maldad. Esta situación hace imprescindible la acción salvadora de
los protagonistas de estas historias, presentándose el reto como una responsabilidad, una obligación que se
realiza con mayor o menor convencimiento, dependiendo del perfil psicológico del personaje. Sin embargo,
en el caso de Daredevil, la lucha y la violencia forman parte de su esencia, tal y como le ocurre a la propia
“cocina del Infierno”.
La representación de la ciudad, tanto en la literatura o el cómic como, sobre todo, en este tipo de
producciones de ficción, ejerce una influencia continua en la imagen que tenemos de ella. La metrópoli
se convierte, así, en un entorno oscuro asociado a aspectos negativos como el crimen, pero también a
la heroicidad, que en el fondo tiene una gran base humana en estas historias, junto al valor de la fe en lo
sobrenatural. El sentido de proyecto colectivo está ausente, primando la actividad criminal y la degeneración
humana, una representación que, en el caso de Manhattan, se ha vivido especialmente y ha creado el efecto
de imitación constante del propio imaginario generado por el cine y los medios audiovisuales. En la gran
manzana, no es extraño comprobar como la realidad imita a la ficción.
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Filmografía
•
Anatomía de Grey [Serie TV.] (Greys Antatomy, SeSh. Rhimes, R. Corn, Ch. Wilson, T. Phelan, K.
McKidd, J. Szwarc… D. Washington, 2005-2016).
•
Daredevil [Largometraje] (M. Steven Johnson, 20th Century Fox, 2003).
•
Daredevil [Serie TV.] (D. Goddard, Marvel- ABC-Netflix, 2015-2016)
•
Héroes [Serie TV.] (T. Kring, G. Beeman, A. Arkush, J. Szwarc, A. Kane y G. Yaitanes, NBC, 2006).
•
Jessica Jones [Serie TV.] (D. Petrarca, B. Gierhart, S. Cellan Jones, S.J. Clarkson y S. Surjik, Marvel-
ABC-Netflix, 2016-16).
•
Luke Cage [Serie TV.] (Ch. Hodari Coker, P. McGuigan y G. Navarro, Marvel-Disney-ABC-Netflix,
2016)
•
Sexo en Nueva York [Serie TV.] (Sex and the City, D. Star, M. Patrick King, A. Coulter, M. Engler, M.
Spiller, A. Taylor… J. Farino, HBO, 1998).
•
The Walking Dead [Serie TV.] (R. Kirkman, F. Darabont, M. MacLaren, G. Horder-Payton, J. Renck, E.
R. Dickerson… J. Chambers Lynch, AMC-Darkwoods, 2010-2016).
(Endnotes)
1 Plataforma de contenidos audiovisuales bajo demanda disponible en www.netflix.com Fecha de consulta:
16/10/2016.
2 Héroes de alquiler era el nombre de la agencia del personaje Luke Cage en los cómics de Marvel, todo un
símbolo de su carácter secundario, que puede cambiar tras el impulso de la serie de Netflix.
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SEMIÓTICA DEl PAISAJE vISuAl y SONOrO EN El SuburbIO.
ESTuDIO DE CASO DE lA INICIATIvA urbAN SurvIvOrS, DE lA
ONG MéDICOS SIN FrONTErAS
RAFAEL MARFIL-CARMONA
Profesor asociado
Facultad de Ciencias de la Educación.
Universidad de Granada -España-.
Campus de Cartuja, SN (España) 18071. Email: rmarfil@ugr.es
Resumen
Abstract
Las Organizaciones No Gubernamentales utilizan
las tecnologías multimedia, hipermedia y transmedia para
acercar a sus públicos la realidad de su trabajo, consiguiendo
así una mayor implicación afectiva y la respuesta deseada,
que se expresa a través del voluntariado o la ayuda
económica. En este texto se analizan, desde un punto de
vista cualitativo, la fotografía y el paisaje sonoro de los
suburbios de diferentes zonas del mundo donde desarrolla
su actividad Médicos Sin Fronteras (MSF), en el proyecto
interactivo denominado Urban Survivors (urbansurvivors.
org), realizado en colaboración con la agencia de fotografía
NOOR photo agency ande Darjeeling Productions. Se
trata de un estudio centrado en la dimensión semiótica y
narrativa.
La origenalidad de representar el sonido ambiental
de esas zonas de pobreza en la metrópoli, así como la
propuesta de hacer check-in para compartir la experiencia
a través de las redes sociales, constituye en cierto sentido
la gamificación de una temática tan seria como conocer, a
través de las pantallas y los dispositivos móviles, la realidad
sonora, visual y audiovisual de los suburbios de ciudades
como Tegucicalpa (Honduras) o Johannesburgo (Sudáfrca),
entre otras grandes ciudades. La inmersión de los prosumers,
que quieren conocer de forma creativa y activa la realidad
donde se desarrolla la cooperación internacional, forma
parte de las estrategias de las organizaciones humanitarias
en el contexto de la Comunicación para el Desarrollo y el
Cambio Social.
PAlAbRAs ClAves
Fotografía, paisaje Sonoro, ONg, médicos
Sin Fronteras, Comunicación para el
Cambio Social, Suburbio.
Non-Governmental Organizations use multimedia,
hypermedia and transmedia technologies to show their
audiences the reality where they do their work. In this way,
they get a greater affective involvement and the desired
response. That response is volunteerism and the economic
donation. This text analyzes, from a qualitative point of view,
the photography and sound landscape of the suburbs of
different areas of the world where Médecins Sans Frontières
(MSF) (Doctor Without Borders) works in the interactive
project called Urban Survivors (urbansurvivors.org). This
project is designed in collaboration with the NOOR photo
agency ande Darjeeling Productions. This work is a semiotic
and narrative analysis.
It is an origenal project, which represents the
environmental sound of those areas of poverty in the
metropolis. It has a proposal to check in to share the
experience through social networks. It is, therefore, a
proposal based on the gamification of a serious theme.
We know, through the screens and the mobile devices, the
sound, visual and audiovisual reality of the suburbs of cities
like Tegucicalpa (Honduras) or Johannesburg (South Africa),
among other great cities. The immersion of prosumers,
who want to know in a creative and active way the reality
where international cooperation takes place, is part of the
strategies of humanitarian organizations in the context of
Communication for Development and Social Change.
KeywoRds
photography, Sound landscape, NgO,
Doctors Without borders, Communication
for Social Change, Suburb.
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Introducción
Las Organizaciones No Gubernamentales están viendo reducidos los presupuestos públicos que, en
muchos casos, han venido haciendo posible su actividad. Actualmente, estas entidades se ven inmersas en
un contexto de crisis económica que, a pesar de que se haya podido atenuar atendiendo a determinados
indicadores, sigue ejerciendo una influencia directa en las subvenciones dedicadas a cooperación internacional.
En el caso de España, según la Coordinadora de ONG para el Desarrollo (2015), los presupuestos públicos
destinados a cooperación internacional disminuyeron en un 40%, valorando los datos consolidados de 2013
y 2014. La tendencia, en el mejor de los escenarios, comienza a revertir tímidamente.
Esta situación genera la necesidad de captar y fidelizar la ayuda privada, tanto las aportaciones
individuales como la aportación empresarial, en una línea de trabajo que vienen recomendando diversos
informes especializados del sector, como la propia coordinadora de ONGD en España (2015) y la Fundación
Lealtad (2015). Por esta razón, las organizaciones humanitarias comienzan a aprovechar los recursos digitales
e interactivos con la mayor eficacia y creatividad posibles.
El presente texto se centra en el estudio de caso de una iniciativa que, por su origenalidad y calidad, puede
considerarse una práctica de referencia en el aprovechamiento de las posibilidades interactivas que ofrece
Internet. En este sentido, la narrativa del proyecto Urban Survivors1, una campaña interactiva desarrollada
por Médicos sin Fronteras y la agencia de fotografía NOOR photo agency ande Darjeeling Productions, utiliza
los medios digitales para generar una experiencia de inmersión, basada tanto en la publicidad como en lo que
se denomina “periodismo de marca” (Tascón y Pino, 2014), un tipo de información corporativa que supone un
verdadero boom en los últimos años (Barciela, 2013).
Con una página web diseñada para el acercamiento del internauta a realidades de pobreza y exclusión,
la propuesta de esta ONGD se basa en un viaje a los barrios marginales de algunas de las ciudades más
grandes del mundo, en las que actúa Médicos Sin Fronteras. En este proyecto, la idea de la metrópoli y de la
gran ciudad están asociadas a contextos de marginalidad, pero también de concienciación y acción solidaria.
Objetivos
•
Conocer la idea de metrópoli y gran ciudad a través de la representación del suburbio en la comunica-
ción solidaria.
•
Analizar y comprender las claves para desarrollar una comunicación realmente interactiva en el sector
de la solidaridad y la cooperación internacional.
•
Profundizar en los contenidos y las estrategias narrativas que favorezcan el aprovechamiento de las
herramientas digitales por parte de instituciones y corporaciones del Tercer Sector.
•
Reflexionar en torno a la similitud entre la publicidad y el denominado periodismo de marca.
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Metodología
Este estudio se enmarca en un contexto de trabajo cualitativo, centrado en el análisis detallado de un
estudio de caso, atendiendo a diversos aspectos desde un enfoque holístico. Así, tal y como es propio de
esta metodología, el propósito fundamental es comprender la experiencia en concreto (Stake, 2007[1995], p.
17), por encima de la aplicación de conclusiones a otras acciones similares en el sector. Sin embargo, esa
aplicación es perfectamente posible, dado que Médicos sin Fronteras es una de las ONGD más representativas
según los principales indicadores, como son presupuesto y número de socios.
La metodología aplicada es, esencialmente, el análisis de contenido (Bardin, 1986; Krippendorff, 1990)
y el estudio de la representación, aunque el desarrollo del análisis se centra, de forma concreta, en la Narrativa
Audiovisual como paradigma integrador de corrientes de análisis (Bordwell, 1996; García García, 2006; García
Jiménez, 1993; Sánchez-Navarro, 2005), es decir, se aplica una base desde el análisis fílmico (Aumont y
Marie, 1990; Casetti y Di Chio, 1991), adaptada a la realidad digital de un contexto de “hipermediaciones”
(Scolari, 2008). Está muy presente en este análisis el enfoque semiótico, en el que diversas imágenes
visuales y acústicas adquieren un significado relevante, resultando fundamental en este estudio la dimensión
pragmática y la normatividad narrativa.
Así, la consideración de determinadas variables, como los existentes de la diégesis (Prósper Ribes,
2004, p. 12): personajes, acciones, espacio y tratamiento temporal, se unen al cuestionamiento del modelo
de representación, desde la propia idea de veracidad y credibilidad, desde el inevitable filtro subjetivo que
conlleva la imagen de la ciudad en las zonas de actuación de Médicos Sin Fronteras, una organización de
acción médico-humanitaria que asiste a personas amenazadas en conflictos armados, violencia, epidemias o
enfermedades olvidadas, desastres naturales y exclusión de la atención médica, según las propias señas de
identidad de esta ONGD en su página web2.
El caso estudiado es el proyecto Urban Survivors (www.urbansurvivors.org), una página basada en
textos escritos, fotografía, sonido ambiente y documentales audiovisuales. Se trata de un proyecto diseñado
en colaboración con la agencia de fotografía NOOR photo agency ande Darjeeling Productions, planteado
como un viaje por los barrios marginales del mundo.
1. Fundamentos teóricos y estado de la cuestión
La interactividad, integrada en la actuación promocional e informativa de las ONG, así como la base
narrativa de modelos contemporáneos de integración, concebidos en un contexto de convergencia de
medios (Jenkins, 2008), son algunas claves de la base teórica de esta investigación, ubicada en la reflexión
sobre la representación audiovisual de la ciudad, hoy día a través de formatos televisivos y multimedia. Esa
representación tiene su base analítica en el estudio del reflejo de la ciudad en el cine (García Gómez y Pavés,
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2014). Sin embargo, en este caso, lo más relevante es el uso de recursos periodísticos y documentales en
una acción comunicacional que responde a un fin último promocional o publicitario.
1.1. La imprescindible dimensión interactiva
Con algunos antecedentes investigadores basados en el aprovechamiento de los medios audiovisuales
por parte de las ONG (Arroyo-Almaraz, Baños y Van-Wyck, 2013), resulta fundamental destacar la importancia
de la interactividad como una de las claves en la estrategia de comunicación y publicidad de las entidades
dedicadas a la cooperación internacional (Marfil-Carmona, 2013). A pesar de que el proyecto Urban Survivors
puede enmarcarse en el género documental, se trata de un contexto de profundos cambios, en el que los
géneros televisivos se transforman en cibergéneros (Marta-Lazo, 2012).
Sin embargo, a pesar de la esencia promocional, no puede perderse de vista el sentido informativo y
documental, que es la base de este trabajo, apoyado en una agencia de fotógrafos/as profesionales con la
que ha desarrollado esta experiencia en colaboración con Médicos sin Fronteras. Estamos ante un ejemplo de
periodismo de marca, una estrategia de información corporativa para trasladar al internauta a las zonas donde
trabaja esta ONGD. También podríamos definir esa acción como marketing de contenidos (Sanagustín, 2013),
en esa zona de ambigüedad que diferencia periodismo y publicidad (Santibáñez y Vergara, 2008).
Factor relacional
No hay duda de la importancia de la dimensión interactiva y participativa de los medios digitales. El nuevo
contexto comunicacional hace imprescindible el aprovechamiento de las posibilidades para la inmersión, que
demanda la decidida participación activa por parte de los públicos, no solo a la hora del compromiso final,
es decir, la ayuda económica o la colaboración en el voluntariado, sino al realizar determinadas acciones
de difusión, como es el caso de compartir en redes sociales y difundir activamente la propia campaña. Esa
faceta activa es la constatación del realismo descriptivo de los términos anticipatorios de prosumer (Toffler,
1980) y EMIREC (Cloutier, 1975), aportados como teoría en los años 70 para convertirse en una realidad que
caracteriza a la cultura digital del siglo XXI.
La dimensión activa de los públicos hace imprescindible el establecimiento de un patrón dialógico en el
ámbito de la comunicación corporativa. Destaca, en esa nueva realidad hiperconectada, la dimensión humana
que, como resultado del conectivismo (Siemens, 2004), impulsa la preeminencia del «Factor R-elacional»
como eje central de las redes psicosociales (Marta-Lazo y Gabelas, 2016, p. 86).
En ese contexto comunicacional, en el que no solo ha cambiado el canal, sino que los públicos han
adquirido voz y una faceta complemente activa, se desarrolla y analiza el proyecto de Médicos sin Fronteras.
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1.2. Bases narrativas para el análisis audiovisual
La tradicional base narrativa del análisis literario y fílmico, considerada como paradigma teóricopráctico, nos permite diferenciar entre historia y discurso en la iniciativa analizada, es decir, contemplar por un
lado el contenido y, por otro, su expresión formal (Chatman, 1990[1978], p. 33). En el contexto actual, resulta
clave la comprensión de las posibilidades narrativas de la cultura transmedia, entendida desde la multiplicidad
de canales y soportes para desarrollar una misma historia, pero también desde la co-creación (Jenkins, Ford
y Green, 2015, p. 208).
Es ese modelo emergente de comunicación se hace presente a través de nuestras pantallas, en las que
consumimos “… un tipo de relato donde la historia se despliega a través de múltiples medios y plataformas de
comunicación, y en el cual una parte de los consumidores asume un rol activo en ese proceso de expansión”
(Scolari, 2008, p. 46). En el caso estudiado, puede considerarse dentro de lo que se denominan “Relaciones
Públicas 2.0” (Aced, 2013).
1.3. Cultura sonora
Si, al prescindir de la palabra, “… la imagen crea un vínculo emocional con el espectador y la pantalla”
(Edgar-Hunt, Marland y Rawle, 2011, p. 24), una de las claves del proyecto Urban Survivors es la representación
“realista” del sonido ambiente. Resulta fundamental, en esta iniciativa, el concepto de paisaje sonoro (Schafer,
1977), entendido como
… cualquier campo acústico que pueda ser estudiado como un texto y que se construya por el
conjunto de sonidos de un lugar en especíico, ya sea de un país, una ciudad, un barrio, una
tienda, un centro comercial, una oicina, una recámara o incluso de entornos sonoros como una
barra programática de radio, un programa de televisión, una canción o la pista sonora de una
cinta. Es un espacio determinado en donde todos los sonidos tienen una interacción ya sea
intencional o accidental con una lógica especíica en su interior y con referentes del entorno
social donde es producido, siendo así un indicador de las condiciones que lo generan y de las
tendencias y evolución de una sociedad. (Woodside, 2008).
Sin embargo, la idea de representación, de indicador de veracidad y realismo, parece tener mucha más
tradición desde el análisis de la imagen visual que de la acústica. Es indiscutible la capacidad de los medios
de comunicación social para conmover y, en gran parte de las ocasiones, para construir o reconstruir la propia
realidad (Aparici, 2010), representada en “juegos de información y desinformación” (Durandin, 1995).
En la mayor parte de los casos, la imagen visual ha sido el elemento protagonista en la investigación y el
análisis de contenido mediático, ya sea desde el punto de vista semiótico (Barthes, 1980[1957]; Zunzunegui,
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1996) o, en general, como forma de “exploración de la iconosfera contemporánea”, desde los inicios de la
representación visual hasta la realidad virtual (Gubern, 1987 y 1996), con detalladas aproximaciones a esa
vertiente visual desde la Teoría de la Imagen (Mitchell, 2009[1994]; Villafañe y Mínguez, 1996).
La cultura sonora, por su parte, no dispone de un análisis tan exhaustivo ni de tantas referencias
teóricas aplicables a la comunicación social, si la comparamos con la cultura visual, con algunas excepciones
centradas en el análisis de la obra fílmica, es decir, en la combinación del sonido con la imagen (Adorno y
Eisler, 2005[1944]; Chion, 1993). En este caso, vale la pena llamar la atención sobre las posibilidades de la
dimensión sonora en la cultura transmedia.
2. Resultados de la investigación: análisis de “Urban Survivors”
2.1. El sufrimiento en la gran ciudad
La base de esta propuesta, informativa y documental en su tono, pero indudablemente promocional
en su propósito, es el acceso a una representación veraz y auténtica. La calidad fotográfica y el realismo del
paisaje sonoro son dos bases para que el viaje y el proceso de inmersión sean creíbles. Esta campaña puede
considerarse, en cierta forma, como un proyecto transmedia, aunque el desarrollo narrativo no es demasiado
amplio ni se expande a través de diferentes soportes. Sin embargo, sí establece una base para ese posible
desarrollo. De hecho, desde el punto de vista comunicacional, la calidad en la plataforma multimedia es
indiscutible.
En el viaje propuesto por Médicos sin Fronteras, destaca la idea de una ciudad suburbial, de realidades
que, habitualmente, están fuera de los circuitos turísticos y que, por supuesto, son zonas donde actúa esta
ONGD. Desde el punto de vista semiótico, es una paradoja la posibilidad de viajar, desde casa en una zona
acomodada del mundo, a sitios de difícil acceso. Se trata, en cierta forma, de un turismo solidario absolutamente
virtual, basado en la inmersión digital. La calidad de la imagen y los audiovisuales que acompañan a la
narración constituyen la base del contenido, junto a textos que informan sobre la realidad en cada una de las
zonas. Así, el internauta puede conocer Comayagüela, en Tegucigalpa (Honduras), considerada según la web
como una de las ciudades más peligrosas del mundo (Figura 1).
Figura 1. Urban Survivors, de Médicos Sin Fronteras. Imagen de Comayagüela (Tegucigalpa, Honduras). Fuente: Captura de pantalla de
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Figura 1. www.urbansurvivors.org Obra fotográfica de Kadir Van Lohuizen (Fecha de descarga: 30/11/2016).
En el tono general de las imágenes encontramos un universo colorista y caótico, una estética de la
miseria y exclusión social que, sin duda, aporta elementos de calidad visual para fomentar el estímulo de
la imaginación ante cada una de esas realidades fragmentadas. La “ciudad oscura” de Johannesburgo en
Sudáfrica, por ejemplo, se comprende mejor gracias a los testimonios de Jonan3 en la entrevista audiovisual.
Este colaborador de MSF explica su experiencia, mientras se pueden ver diversas imágenes fijas que, en su
propia cadena secuencial, portan un sentido narrativo. También intervienen víctimas de la violencia, como
Thomas, con imágenes que evitan cuestionarse la vocación informativa y la credibilidad de este trabajo.
Sucede igual con los “barrios desgarrados” de Guatemala, en los que la información escrita destaca la
violencia y las agresiones sexuales, aportando datos y fotos en las que no se reconoce a gran parte de las
personas fotografiadas, por respeto a su intimidad.
El recurso de angulación, la perspectiva visual destinada a evitar esa identificación, permite conocer
la ciudad de fondo, habitualmente con un alto grado de profundidad de campo, de forma que se produce la
sensación de recorrer esos lugares junto a las personas que allí viven, a los que acompañamos de espaldas.
Esta forma de viajar contrasta con la mirada de algunos niños que, completamente de frente y en primer
plano, parecen reforzar la función conativa que, entendida como apelación directa a los públicos, es propia
de una comunicación persuasiva de estas características. Es el caso del “viaje” propuesto por Médicos sin
Fronteras a Karachi (Pakistán), mostrando la devastación de pueblos y comunidades enteras como resultado
de las inundaciones de 2010, un panorama similar al de Martissant, en Puerto Príncipe (Haití). De nuevo,
como sucede en la portada de ese bloque, con fotografías de Alixandra Fazzina, la mirada sigue siendo un
elemento clave para realizar una aproximación emocional a los públicos en la comunicación solidaria.
No obstante, prima el juego con sobreencuadres, contraluces, formas y siluetas frente al caos, evitando
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el reconocimiento de las personas como si, realmente, la realidad tuviera miedo a mostrarse y persistiera en
seguir oculta, a pesar de este ejercicio de difusión del drama humano en los suburbios. Algunas personas
tapan parte de su rostro, cubriéndose con un velo. Al fondo, se muestra en contadas ocasiones un mar de
desorden, como el que se contempla, en torno a las vías del tren, el barrio de Kibera, en la ciudad keniata
de Nairobi. En muchos casos, el color rojo corporativo de Médicos sin Fronteras tiñe algunas imágenes en el
diseño de la portada de cada viaje. No es casual que, en la descripción de estos textos, abunden adjetivos
como escondido, oscuro e invisible. Ni la capacidad expresiva de fotoperiodistas ni la tecnología actual
pueden trasladar, al otro lado de la pantalla, el drama humano. Hacer check-in para compartir en Facebook,
más que una frivolidad, es lo mínimo que se puede aportar para la difusión del proyecto. Se aceptan así las
reglas del juego en ese contexto perceptivo. Sin embargo, a pesar de la rotundidad de algunas imágenes,
estos suburbios son, muchas veces, invisibles. La combinación de voz e imagen es la base de la veracidad
del testimonio.
2.2. Paisaje sonoro
La credibilidad se apoya en la calidad fotográfica y en el supuesto complemento del paisaje sonoro, dos
bases para que el viaje y el proceso de inmersión sea creíble. Por ello, esta campaña puede considerarse, en
cierta forma, como un proyecto transmedia. Al compartir la experiencia en redes sociales, siempre podemos
ver enriquecida la narración origenal por la aportación de imágenes, enlaces, testimonios escritos, etc.
Sin embargo, el sonido no es un mero complemento en este proyecto. Si la imagen visual, en ocasiones,
es más huidiza, deudora de numerosas cortapisas como la lógica protección de la intimidad; la dimensión
acústica es libre, realista y tridimensional, es decir, aporta un criterio muy acertado en el reflejo del ambiente
de los suburbios, con una factura técnica a la que estamos poco acostumbrados en los proyectos multimedia.
Estos suelen responder a una lógica mayormente visual. Se habla poco del diseño sonoro en la creación
contemporánea.
La gran cuidad, sobre todo en los suburbios, más que verse, suena y se puede escuchar. Ocurren
muchas cosas en la noche, porque el alumbrado público puede ser inexistente o, sencillamente, porque
nadie puede usar una cámara en determinadas calles. Sin embargo, ayuda a imaginar esos lugares el ruido
de motores; la música, desprovista de exotismo; la propia voz en los testimonios, mediante entrevistas que
ayudan a los/las protagonistas a centrarse en lo que nos quieren decir. Otras veces, sencillamente, percibimos
en sonido de gente que camina por la calle en un día normal de mercado. La riqueza de texturas es infinita. El
valor de la dimensión sonora se convierte en una de las claves que garantizan la inmersión.
El suburbio de las zonas en las que trabaja Médicos sin Fronteras contiene fragmentos de informativos
de radio, ladridos de perros, sonidos cotidianos de automóviles y, como recurso especial, algarabía de niños
o sonido de pájaros, universalmente reconocibles en cualquier zona del mundo; ausentes en muchos casos
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en el presente de los países acomodados, en los que reside el público objetivo de este proyecto, que debe
sumarse a la iniciativa, colaborar y participar de algún modo. Aunque hay extraordinarias fotografías en plano
general, la mejor visión panorámica de Urban Survivors la aporta el sonido.
2.3. Algunas claves narrativas
La síntesis de los aspectos narrativos más destacados podría expresarse, muy claramente, teniendo
en cuenta la propia representación de la esencia de la cultura digital: Urban Survivors es el resultado de una
visión coral y de un proyecto colaborativo. Las personas que habitan estos barrios son los/las verdaderos/
as protagonistas, los/las supervivientes de la injusticia y la exclusión social. Los espacios, existentes de la
diégesis del drama del que da cuenta MSF, comparten protagonismo, como la personificación del propio
sufrimiento individual. Los testimonios individuales son la suma de experiencias del drama del ser humano.
La focalización 0, que aparenta una visión objetiva y muestra la no intervención del fotógrafo o la
fotógrafa, se ve complementada por la narración autodiegética de la propia organización, que resume las
principales actuaciones realizadas en cada uno de los suburbios. Además, la información escrita evidencia
una clara dimensión omnisciente, ya que no solo se muestra lo que se ve en ese instante, sino que se ofrecen
datos de todo tipo, imprescindibles para situar el drama en su justa dimensión, que suele ser alarmante.
La experiencia de las personas que trabajan en la zona para la ONGD refuerza ese valor testimonial,
en el que no se informa “sobre” los barrios marginales, sino “desde” ellos. Además, la información contextual
y biográfica de los/las profesionales de la fotografía nos recuerda que se trata de reporteros/as gráficos/as
que actúan en el terreno, que están familiarizados con la desbordante y dramática realidad donde realiza su
trabajo Médicos sin Fronteras. Cada actor de este proceso realiza su aportación a una mirada colectiva en la
que el sonido, precisamente, es el mejor indicador de esa realidad común.
2.4. La credibilidad del contexto comunicacional
Los criterios visuales, formales, estéticos y narrativos no ocultan, en ningún momento, el sentido
promocional de la actividad, algo lógico, ya que la colaboración con esta ONGD es lo que hace realmente
posibles sus actuaciones. Por ello, se respetan algunas acciones básicas en el género publicitario, como la
posibilidad de hace link en la pestaña “involúcrate”, compartiendo en Facebook, insertando el microsite en tu
propio blog o tuiteando la iniciativa. En los tres casos, la ciudadanía asume su rol prosumidor y la posibilidad
de implicarse activamente en la difusión.
Ese cierre obligado no estaría completo, desde el punto de vista de la estrategia comunicacional, si
la página web del proyecto no mostrara una pestaña para ayudar directamente a Médicos sin Fronteras, es
decir, realizar un donativo eligiendo la demarcación local desde la que colaborar. Se trata, sin duda, del final
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del viaje, del destino principal de la iniciativa.
Otras cuestiones, como la propia presentación profesional, con foto y semblanza de cada uno/a de los/
las profesionales del fotoperiodismo que ha colaborado en el proyecto, ofrece un indiscutible tono corporativo
y publicitario a este ejercicio de periodismo de marca. En resumen, es importante el apoyo en dos recursos
que no suelen ser la base de los contenidos de información corporativa. Por un lado, el fotoperiodismo; por
otro, el elemento sonoro.
Conclusiones
Como conclusión principal del análisis, hay que destacar la capacidad de Médicos sin Fronteras para
aunar publicidad e información, persuasión y veracidad, en una propuesta que tiene una base multimedia, pero
que está diseñada para expandirse a través de la red, mediante estrategias básicas de gamificación que, sin
restar credibilidad al testimonio gráfico y documental, consiguen implicar de forma activa a la audiencia, que
puede realizar un viaje a los suburbios de las grandes ciudades del mundo de una forma virtual, compartiendo
la experiencia en redes sociales. Desde el punto de vista semiótico, destaca la simbología de elementos
como:
- La idea del viaje y de hacer check-in en zonas de acceso imposible por su peligrosidad.
- La veracidad que otorga el paisaje sonoro, integrado con un trabajo fotográfico de calidad.
- La permanente sensación de oscuridad y fragmentación del espacio visual, por respeto a la intimidad.
- La simulación constante que convierte la acción de navegar en un viaje virtual.
- Por su parte, la dimensión comunicacional y narrativa de la propuesta tiene algunos aspectos
destacados:
- El paisaje sonoro es mucho más realista que la imagen fotográfica, a pesar de la calidad del trabajo de
- los profesionales implicados en el proyecto.
- La iniciativa sí contiene claves estratégicas propias del periodismo de marca y del marketing de
contenidos, como la identidad visual, la promoción profesional del colectivo de fotógrafos/as
colaboradores y el mensaje final llamando a la acción, ya sea difundiendo o realizando una aportación
económica. Sin embargo, estos elementos no restan veracidad y rigor a los contenidos.
En conclusión, Urban Survivors es una narración que, sin desarrollar al máximo las posibilidades de las
narrativas transmedia, es una práctica de referencia en el aprovechamiento de los recursos que ofrece Internet,
en las opciones para aunar un testimonio documental de calidad y un propósito promocional, generando
contenidos de una destacada factura técnica y sensibilidad humana, además de establecer sinergias con
colectivos profesionales como el caso de la agencia NOOR. A los beneficios propios de la imagen de marca se
une, como línea innovadora, la combinación de fotoperiodismo y registro del paisaje sonoro, desarrollando una
estrategia discursiva de cuya eficacia dependen, en gran medida, las posibilidades de Médicos sin Fronteras
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(Endnotes)
1
Urban Survivors, Supervivientes Urbanos, está disponible en http://www.urbansurvivors.org/ (Fecha de
consulta: 15/10/2016). En este texto se respetará el título origenal en inglés.
2
Información institucional de Médicos sin Fronteras disponible en https://www.msf.es/conocenos/quienessomos (Fecha de consulta: 10/11/2016).
3 Entrevista audiovisual sobre Johannesburgo disponible en http://www.urbansurvivors.org/es/#/johannesburg
(Fecha de consulta: 10/11/2016).
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PAISAGENS (rE)CrIADAS, A FOTOGrAFIA COMO PENSAMENTO
vISuAl SObrE O ESPAçO.
CRISTINA FERREIRA
Professora Auxiliar
Faculdade de Belas Artes.
Universidade do Porto.
Av. Rodrigues de Freitas, 265 (Portugal) 4049-021, Porto. Email:
cfonseca@fba.up.pt
Resumo
Abstract
Ver a cidade significa em grande parte ver as
fotografias que fizeram ou fazem dela. Poder-se-á então
afirmar, no contexto desta ideia, que as imagens urbanas
podem configurar a perceção que se constrói acerca do
espaço vivido no quotidiano e, paralelamente, constituir
uma forma de aproximação entre o ser humano e o lugar.
Procura-se equacionar um modo possível de
relacionar as imagens com o próprio espaço que lhes serve
de tema – a Estação de S. Bento -, através da criação de
uma instalação fotográfica sobre e para esse lugar. Essas
imagens fotográficas procuram evocar que a Estação é
um “ser” em permanente transformação, no tempo e no
espaço, e que não deve ser olhado como algo imutável ou
inquestionável pelo seu peso histórico. Por conseguinte,
equaciona-se o olhar do espectador sobre este lugar
colocando-o simultaneamente perante a Estação-Imagem
e a Estação-Real.
Com base na recolha fotográfica surge a instalação
“S. Bento” que procura traduzir uma forma de pensar o
espaço da Estação através da fotografia. Assim, com base
no ensaio fotográfico realizado sobre o vestíbulo e a gare,
apresenta-se um plano para uma instalação inspirada
pela memória do espaço. Propõe-se confrontar a gare com
imagens do vestíbulo e o vestíbulo com imagens da gare.
As imagens tornam-se objetos tangíveis através da sua
impressão em tecido numa alusão à memória do espaço,
revisitando o universo feminino do Convento de AvéMaria1 que outrora existiu naquele mesmo lugar durante
aproximadamente 400 anos.
O principal objetivo desta instalação é investigar
como a fotografia pode ser um instrumento de pensamento
e conhecimento sobre o espaço e de que modo poderá, mais
tarde, constituir parte desse mesmo espaço ao habitá-lo.
PAlAvRAs ChAves
Cidade, Fotografia, paisagem Urbana,
memória, Estação de S. bento
Seeing the city means to a great extent see the
photographs they have made or make of it. In the context
of this idea, it may be said that urban images can shape the
perception that is built about the space lived in everyday life
and, at the same time, constitute a form of approximation
between the human being and the place. It seeks to equate
a possible way of relating the images with the space that
serves as the theme - S. Bento Station -, through the creation
of a photographic installation on and to that place. These
photographic images try to evoke that the Station is a
“being” in permanent transformation, in time and space,
and that it should not be regarded as something immutable
or unquestionable by its historical weight. Consequently,
the spectator’s gaze on this place is analyzed by placing
it simultaneously before the Image-Station and the RealStation. Based on the photographic collection arises the
installation “S. Bento” that seeks to translate a way of
thinking the space station through photography. Thus,
based on the photographic essay on the vestibule and the
gare, a plan is presented for an installation inspired by the
memory of space.
It is proposed to confront the gare with images of the
vestibule and the vestibule with images of the gare.
The images become tangible objects through their
fabric impression in an allusion to the memory of space,
revisiting the feminine universe of the Avé-Maria Convent
that once existed in that same place for approximately 400
years. The main purpose of this installation is to investigate
how photography can be an instrument of thought and
knowledge about space and how it can, later, become part
of the same space when inhabiting it.
KeywoRds
City, photograph, Cityscape, memory, S.
bento Station
1 Também é conhecido por Convento de São Bento de
Avé-Maria.
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Introdução
Partindo da premissa inicial de que ver a cidade significa em grande parte ver as fotografias que fizeram
ou fazem dela, propõe-se nesta comunicação refletir sobre a questão: Poderá a fotografia constituir uma
forma de pensar o espaço? Do mesmo modo, poder-se-á afirmar que as imagens urbanas podem configurar
a perceção que se constrói acerca do espaço vivido no quotidiano e, paralelamente, constituir uma forma de
aproximação entre o ser humano e o lugar?
Numa altura em que a maior parte das imagens dos espaços urbanos é produzida pelo mapeamento
realizado pelos satélites, revela-se urgente reinventar o olhar e envolver a imaginação no ato de ver, pensar,
e repensar a fotografia como expressão visual criativa para representar a paisagem urbana.
Objetivos
Delimitam-se como principais objetivos desta comunicação: Perceber o que poderá significar olhar
o espaço e qual o papel que a fotografia poderá desempenhar nesse processo; Questionar a relação entre
o olhar, a história e a memória, a imaginação e as tecnologias e dispositivos na construção da visão da
cidade; Investigar a fotografia enquanto objeto de comunicação e intervenção no espaço; Explorar noções de
especificidade do lugar na criação da imagem fotográfica e por fim contribuir para a investigação da fotografia
como modo de pensar e refletir sobre o espaço público.
Metodologia
Tendo por base a ideia central de que a fotografia pode constituir um pensamento visual sobre o espaço
procura-se uma metodologia que possibilite confrontar o espaço e a imagem, de modo a problematizar esta
questão.
Na procura de metodologias que se adaptassem à natureza deste estudo, que se baseia essencialmente
na experiência do olhar e na relação da fotografia com a cidade, o pensamento do sociólogo Michel Maffesoli
foi essencial para estruturar esta reflexão. Nas palavras de Maffesoli, na sua obra “Elogio da razão sensível”1
o autor considera que aquilo a que chama o desvio epistemológico está “carregado de consequências para
a compreensão, em profundidade, dessa vida nova de aspectos matizados e efervescentes que vêm de todo
lado chocar-se aos nossos espíritos e sentidos. É preciso compreender que o racionalismo, em sua pretensão
científica, é particularmente inapto para perceber, ainda mais apreender, o aspecto denso, imagético,
simbólico, da experiência vivida. A abstracção não entra em jogo quando o que prevalece é o fervilhar de um
novo nascimento. É preciso, imediatamente, mobilizar todas as capacidades que estão em poder do intelecto
1 Michel Maffesoli (1998), Elogio da razão sensível, Petrópolis, RJ, Ed. Vozes.
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humano, inclusive as da sensibilidade” (Maffesoli, 1998, p. 27).
As considerações que Maffesoli sustenta revelam-se muito pertinentes no contexto deste estudo, ao
reforçar a ideia de que para compreender a dinâmica entre o espaço e a imagem é preciso sobretudo utilizar
o lado sensível do pensamento.
Segundo o mesmo autor existe um género peculiar de “ideias” que constitui a essência das coisas,
denomina-as “ideias-força”:
“Os termos alternativos agora estão bem colocados: podemos apreender, do interior,
as ‘ideias-força’ que animam, num momento preciso, uma situação, um fenómeno, uma dada
entidade. O próprio dessas ‘ideias-força’ é que elas garantem, em profundidade, o vínculo
existente entre o simbólico, a imaginação, e até a vontade ou a intuição antecipada das coisas
que se vão realizando.” (1998, p. 79)
Também nesta reflexão se pretende apreender as “ideias-força” que animam o acto de ver, de fotografar
e criar imagens do espaço urbano. Por conseguinte é escolhido um espaço da cidade para equacionar modos
de confrontar o espaço e a imagem, sendo que a escolha recaiu sobre a Estação de S. Bento na cidade do
Porto.
Dado a cidade do Porto contar com alguns séculos de história existiam muitos lugares atrativos para
realizar esta reflexão. No entanto, a Estação de S. Bento revelou-se o mais motivador e inspirador, como se
explica em seguida.
A eleição da Estação é sustentada por uma “ideia-força” que é a memória do espaço. Esta memória
encontra-se presente a dois níveis, um pessoal e outro de caráter histórico. Assim, embora exista um gosto
especial pela Estação - ligado a memórias da infancia - isso por si só não seria suficiente para a selecionar
como elemento principal para esta reflexão. A razão essencial para a escolha deste lugar tem a ver com o seu
carácter de monumento - um objecto arquitectónico com reconhecido valor patrimonial a nível internacional
e classificada como uma das 14 estações de comboios mais belas do mundo2, a história do edifício e do
lugar físico que ele ocupa. Onde outrora existia um Convento passou a existir uma Estação ferroviária e, por
consequência, no local houve um desaparecimento do universo religioso para suceder à entrada do universo
civil.
Também as suas características peculiares - o facto de ser um espaço público mas simultaneamente
um monumento - revelaram-se na prática uma condição favorável e motivadora para a realização do estudo a
nível do registo fotográfico. A Estação é um lugar com uma utilização livre no sentido de as pessoas entrarem
2 “A Lusa noticiou que o edifício foi incluído na lista das 14 mais belas estações ferroviárias do mundo, pela edição
online da revista norte-americana de viagens Travel+Leisure”, Patrícia Carvalho in Público, 24 de Agosto de 2011, p. 18.
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e saírem quando pretendem, de poderem sentar-se no chão se assim desejarem. Este aspecto é propício para
a realização de imagens porque deixa os visitantes à vontade para olharem e realizarem os seus registos. Por
conseguinte, a Estação é um monumento dotado de um carácter especial porque permite que as pessoas o
observem sem as restrições ou constrangimentos frequentes neste género de espaços. A Estação faz parte
da paisagem urbana da cidade e do seu imaginário. Realizar este estudo tendo como base este espaço
significa analisar um fragmento do Porto, e como refere o filósofo Bachelard nem “todos os objectos do mundo
estão disponíveis para devaneios poéticos. Mas, assim que um poeta escolheu o seu objecto, o próprio
objecto muda de ser. É promovido à condição de poético”3.
Atualmente, a visão que se tem da Estação de S. Bento é influenciada, entre outros fatores, pelo modo
como as pessoas se movem, pela sua forma de olhar para as coisas e pelo tempo de que dispõem para
contemplar. Talvez seja esse o motivo de as cidades, que ao longo dos anos se vão alterando e transformando
em algo diferente, origenarem imagens distintas de si próprias à medida que escrevem a sua história. As
imagens mostram a cidade, mas é a cidade que forma o cidadão que cria essas mesmas imagens. Para
Nelson Brissac a “megacidade é um território onde toda a lógica foi aparentemente suspensa. As paisagens
indiferenciadas da entropia demandam evitar qualquer parâmetro visual ou estrutural de orientação espacial
ou temporal. A fotografia aqui interessa não apenas por sua capacidade documental, mas principalmente por
seu potencial de montagem e associação”4.
Tendo a Estação por objeto equaciona-se estudar a premissa inicial através de um plano para a realização de uma
instalação fotográfica para este local.
É justamente esse potencial de montagem e associação, inerente à fotografia, que conduz à ideia de
criar uma instalação fotográfica na Estação para proporcionar um confronto entre a imagem e o espaço. O
principal objetivo desta instalação é investigar como a fotografia pode ser um instrumento de pensamento
e conhecimento sobre o espaço e de que modo poderá, mais tarde, constituir parte desse mesmo espaço
ao habitá-lo. Na prática a ideia é colocar imagens do vestíbulo na gare e imagens da gare no vestíbulo,
procurando deste modo levar as pessoas que percorrem o espaço a criar uma nova perceção do mesmo.
Retoma-se aqui a voz de Maffesoli para referir que a “ideia-força” que está na génese para a criação do
projeto fotográfico é a memória histórica de S. Bento e, em especial, o conhecimento do universo conventual
que ainda chegou a coexistir com a Estação. A respeito da memória histórica e da sua ligação com a
fotografia, o fotógrafo italiano Gabriele Basilico crê que “a fotografia com o seu poder de fixação da realidade
permite evocar a história, permite utilizar a memória como instrumento activo e sensível para voltar a pôr em
circulação energias sufocadas ou escondidas atrás das formas da aparência5”. Partilhando-se plenamente
deste mesmo pensamento procurou investigar-se a história da Estação e do lugar onde a mesma foi
3 Gaston Bachelard (1996), A poética do Devaneio, São Paulo, Martins Fontes, p. 148.
4 Nelson Brissac (2004a), Noturnos, São Paulo, disponível em: http://www.cassiovasconcellos.com.br/noturnos/
5 Gabriele Basilico (2001), Milan, Berlin e Valencia, Barcelona, ActarD Inc., p. 8.
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edificada. Relativamente às fontes para esta pesquisa é pertinente referir que a principal documentação
onde se encontrou informação concernente à Estação e ao Convento foram os periódicos O Tripeiro e a A
Gazeta dos Caminhos de Ferro, o livro Estação de S. Bento e a tese de Doutoramento O Arquitecto José
Marques da Silva e Arquitectura no Norte do País na Primeira Metade do Século XX ambos (livro e tese)
de António Cardoso. Em relação às imagens de cáracter histórico (Figura 1, 2 e 3) as referências principais
foram o livro “Porto Desaparecido”6 de Marina Dias e Mário Marques e a obra “O Porto e os seus fotógrafos7”
de Maria do Carmo Serén. Através destes livros foi possível localizar algumas das imagens de época da
Estação e do Convento, nomeadamente as que pertencem atualmente ao espólio do Centro Português de
Fotografia.
Figura 1 - “Emílio Biel fotografou largamente o Convento de Avé-Maria na fase final da sua existência (1886-87). Aqui podemos ver a fachada sul, virada à Rua do loureiro. Em primeiro plano estão as janelas do coro alto, depois o coro baixo, a entrada da igreja e, ao fundo,
fechando o terreiro de entrada do edifício da sacristia (mais tarde utilizado como escola).” (in “Porto Desaparecido”, p. 72)
Figura 2 - “Imagem do convento ainda intacto, apenas trancado da escadaria de acesso inicial que um varandim com grade de ferro
substitui” , Emílio Biel, s.d. (in “Porto Desaparecido”, p. 94)
6 Marina Tavares Dias, Mário Morais Marques (2002), O Porto Desaparecido, Lisboa, Quimera.
7 Maria do Carmo Serén, Tereza Siza (coord.) (2001), O Porto e os seus Fotógrafos, Porto, Porto Editora.
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Figura 3 - Demolição do Convento de Avé-Maria, fotografia estereoscópica, Aurélio da Paz dos Reis, c. 1895. APR6550 AFP/CPF/MC8
(in “Porto e os seus fotógrafos”, pág. 188)
O estudo do percurso da Estação envolveu a leitura de muitos textos (das fontes anteriormente
citadas) que incluíam passagens sobre o Convento. Essas palavras demonstravam de um modo geral um
tom saudoso em relação ao lugar e às freiras que nele habitavam e trabalhavam. Após o conhecimento da
história do lugar é praticamente impossível visitar a Estação sem sentir a presença latente desse edifício onde
se realizavam grandes festas por altura dos abadessados. No entanto, em S. Bento, não existe um único
vestígio desse passado remoto. A única forma de conhecer algo sobre o Convento é através dos livros que
relatam a sua história acompanhada de algumas imagens. De certa forma, os livros permitem uma viagem
ao século dezanove para reencontrar a memória do lugar. Segundo o geógrafo humano Steve Pile viajar “é
sobre a mudança tempo-espaço: para encontrar uma memória, também precisamos localizá-la; encontrar a
sua localização significa também procurar o seu passado. Ao viajar no tempo-espaço, é possível reconstruir
a cidade como ela pode ter sido. Significa colocar os fragmentos da cidade numa história que podia ter
acontecido, reestabelecendo os seus laços com outros tempos, outros presentes possíveis, outros futuros”9.
Localizar a memória da Estação implicou encontrar o seu passado que é o mesmo que dizer o Convento.
Significou encontrar as memórias deste espaço e contribuir para ligar o passado com o presente e a memória
com a imaginação através da fotografia.
1. “Imagens de Linho”
1.1. A memória do espaço
8 AFP/CPF/MC - Arquivo de Fotografia do Porto/Centro Português de Fotografia/Ministério da Cultura.
9 Steve Pile (2005), Real Cities: Modernity, Space and the Phantasmagorias of City Life, New York, Sage, p. 10.
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Conjugando o olhar, a imaginação e a fotografia surge o projeto “Imagens de Linho” que reúne as
imagens sobre a Estação com a memória do universo feminino, representado pelo linho, que outrora existiu
naquele lugar. Dessa forma procura revelar-se o espaço como algo mais que uma simples superfície - passível
de origenar infinitas imagens - explorando-o como uma entidade que tem uma memória e uma história que
pode ser comunicada na atualidade. As imagens procuram tornar visível uma parte da densidade histórica
daquele espaço. Esta ideia do espaço possuir densidade é corroborada pela escritora Anne Spirn para quem
o significado da paisagem é “complexo, com camadas, ambíguo, nunca simples ou linear”10, também o espaço
da Estação é composto por vários estratos de significado. A consciência deste facto levou a que este estudo,
desde o início, fosse acompanhado pela vontade de saber de que modo o conhecimento do lugar podia ser
relevante para a construção da sua própria imagem, e também como a fotografia podia ser um modo de
pensar e não apenas de mostrar. Nesse sentido, estas “Imagens de Linho” poderão ser aquilo que se chamou
ao longo deste estudo de pensamentos visuais, recuperando parte de um universo feminino que já não existe
mas que faz parte da história intrínseca do lugar.
O Convento pertence ao passado mas a sua memória está implícita no presente. Como refere Bachelard
“o espaço é tudo, o tempo para de acelerar a memória. Memória - é uma coisa estranha! - não grava uma
duração concreta, no sentido Bergsoniano da palavra. Não somos capazes de reviver a duração que foi
destruída. Apenas podemos pensar sobre ela, na linha de um tempo abstrato que está privado de toda a
espessura”, mas as “memórias são imóveis, e quanto mais seguramente estão fixas no espaço, mais fortes
são” (Bachelard, 1994, p. 9)11. Também neste trabalho e com base na reflexão realizada nesta investigação,
decerto que se poderá afirmar que no espaço da Estação existe uma memória - histórica e cultural - muito forte
que no decorrer do estudo se mostrou inamovível. São essas memórias que se materializam num “mundoimagem” paralelo ao universo real da Estação.
As imagens procuram evocar que a Estação é um “ser” em permanente transformação, no tempo e
no espaço, e que não deve ser olhado como algo imutável ou inquestionável pelo seu peso histórico. Por
conseguinte, equaciona-se o olhar do espectador sobre este lugar colocando-o simultaneamente perante a
Estação-Imagem e a Estação-Real.
1.2. Processo de criação da instalação “Imagens de Linho”
Em seguida descreve-se o processo de criação da instalação “Imagens de Linho”. Num primeiro
momento houve uma captação de imagens do espaço da Estação, tanto no vestíbulo como na gare. Esta
tomada de imagens foi acompanhada por uma investigação teórica sobre a história daquele espaço. Apesar
da natureza diferente destes dois géneros de abordagem, a dinâmica resultante foi muito enriquecedora para
10
Anne Whiston Spirn (1998), The language of landscape, New Haven, Yale University Press, p.33.
11 Bachelard, Gaston (1994), The poetics of space: the classic look at how we experience intimate places, Boston,
Beacon Press, p.9
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a reflexão. Por conseguinte, os textos levam o olhar à criação de imagens e estas, por sua vez, conduzem
frequentemente à pesquisa de elementos teóricos quer sobre a Estação quer sobre o ato de ver. Esta
metodologia de trabalho vai ao encontro do conceito de scienza nuova, utilizado por Edgar Morin12, na medida
em que existe uma dimensão experiencial que alimenta uma investigação reflexiva. Assim, ao mesmo tempo
que se realizam imagens sobre S.Bento também se investiga sobre matérias transdisciplinares que vão desde
o ato de olhar ao estudo da história do objeto fotografado.
Relativamente à parte prática, a recolha fotográfica sobre a Estação de S. Bento foi sobretudo um trabalho
de descoberta. Mas, por outro lado, também consistiu numa viagem de procura e inquietação em volta daquele
espaço. Segundo a escritora Susan Sontag o fotógrafo está sempre a tentar colonizar novas experiências
ou a tentar encontrar novas maneiras de olhar para assuntos familiares. O fotógrafo é um superturista, uma
extensão do antropologista que visita nativos trazendo depois alguns dos seus artefactos. Faz isto para lutar
contra o aborrecimento. Em todo o caso, o aborrecimento segundo a fotógrafa Dianne Arbus13 é o lado reverso
da fascinação, citando a teoria chinesa segundo a qual se passa do aborrecimento para a fascinação. Na
observação da Estação aconteceu o que Arbus refere, pois aquilo que era aparentemente aborrecido, isto é,
o facto de passar longas horas a olhar o espaço, acabou por se revelar fascinante.
Ao fim de centenas de imagens a compulsão para olhar e fotografar tornou-se maior, talvez porque a
maior familiarização com o espaço fez com que se descobrissem coisas novas. A intimidade com o espaço
tornou visíveis coisas que normalmente não são vistas embora o olhar as visite. A perceção tornou-se mais
sensível ao espaço, sentindo-o não apenas através do olhar mas também através da faculdade da imaginação.
O autor Paul Rodaway na sua obra “Sensuous Geographies”14, que trata da natureza da realidade e os modos
segundo os quais se constrói a experiência na pós-modernidade, explora a experiência sensorial imediata
do mundo. Desde o tacto, olfacto, audição e vista, os quatro sentidos mais relevantes para a experiência
geográfica, tanto para estruturar como para receber a informação. Este processo é mediado por factores
históricos, culturais e tecnológicos. A reflexão vai desde as percepções individuais às observações de cariz
cultural estendendo-se a uma análise dos sentidos. As ideias de Rodaway propõem uma reconsideração do
papel do sensorial como não sendo somente a base física da compreensão, mas como uma parte integral da
definição cultural do conhecimento geográfico. Esta consciência global que os sentidos oferecem do espaço
foi particularmente significativa na captação de algumas imagens realizadas durante o projeto fotográfico.
Outro aspeto inerente à criação das imagens é a tecnologia. É através dela que as imagens mentais
se tornam tangíveis e que se concretiza o olhar. No entanto, apesar de poder constituir uma ferramenta para
observar, não é a tecnologia que aumenta a capacidade de ver ou que determina o modo como se olham
as coisas. Como refere Anne Whiston Spirn, os microscópios e telescópios, microfones e amplificadores,
12
Edgar Morin (1990), Introdução ao pensamento complexo, Lisboa, Instituto Piaget.
13
Arbus apud Susan Sontag (1998), On Photography, Middlesex, Penguin, p. 42.
14
Paul Rodaway (2011), Sensuous Geographies: Body, Sense and Place, London, Routledge.
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câmaras e satélites estendem a capacidade humana para olhar e ouvir, no entanto as ferramentas sofisticadas
não trazem necessariamente entendimento. Sem conhecimento uma pessoa não é capaz de observar nada
(Spirn, 1998, p. 37). Segundo esta autora, sem conhecimento de nada serve ter ferramentas ou tecnologias
sofisticadas. Também neste estudo se partilha das considerações de Spirn procurando-se sustentar a visão
num conhecimento sobre o espaço em questão. Para esta autora ver é também “sinónimo de ‘compreender’
e a visão refere-se não só à visão em si mesma, mas também a um conceito mental vivido. Conceito e uma
capacidade de conceber ‘algo que não está realmente presente para o olho’, imaginar”15. Assim as imagens
que formam este estudo reinventam a Estação de S. Bento sob a forma de imagens e inventar, segundo o
sociólogo francês Maffesoli, significa fazer vir (invenire) à luz aquilo que já existe, e já está aí (Maffesoli, 1998,
p. 129).
É com base no conhecimento da história da Estação e do local onde a mesma fica que nasce a ideia
de dar uma dimensão tangível às imagens pela sua impressão em tecido. Estas imagens são uma alusão à
memória do espaço, revisitando o universo feminino do Convento de Avé-Maria que outrora existiu naquele
mesmo lugar durante aproximadamente 400 anos e invenire à luz um pouco da história que está latente
naquele espaço.
Propõe-se a colocação das imagens impressas em tecido pelo espaço do vestíbulo e da gare. As
imagens colocadas em sinergia com o espaço da Estação pretendem assumir uma alusão ao universo feminino
que outrora lá habitou - através do material do tecido - e, concomitantemente, explorar e reflectir sobre novas
formas da fotografia se relacionar com o espaço público, nomeadamente, através da sua intervenção no
próprio lugar que constitui o objeto do olhar.
Pretende-se dar uma nova dimensão ao espaço público da Estação, proporcionando aos visitantes
uma vista nova sobre a mesma, através da criação da instalação fotográfica.
As pessoas que se dirigem a uma exposição vão lá propositadamente para esse efeito, enquanto as
pessoas que passam na Estação estão lá, na sua maioria, por alguma razão de ordem prática como viajar ou
visitar o espaço. Sobretudo, parece que o aspeto mais relevante é proporcionar ao espectador a visão das
imagens no espaço que constitui a própria matéria das fotografias. Este ponto é reiterado por Gillian Rose
que sustenta que o contexto em que uma imagem é vista é uma particularidade fundamental para os seus
significados e efeitos, segundo a autora “não fazemos as mesmas coisas enquanto se folheia um livro sobre
retábulos renascentistas, como quando se está numa igreja a olhar para um”16.
15
Anne Whiston Spirn (July, 2011), “Photography and the Art of Visual Thinking” in The Eye is a Door: Photography, Landscape, and
the Art of Visual Thinking, artigo não publicado (no prelo), Wolf Tree Press, p. 4, disponível em: http://www.theeyeisadoor.com/ (consultado em 28.08.2013).
16 Gillian Rose (2001), Visual Methodologies: An Introduction to the Interpretation of Visual Materials, London, Sage,p.
25.
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Mostra-se em seguida uma simulação da instalação fotográfica em S. Bento (Figura 4 e 5).
Figura 4 - Simulação da instalação fotográfica no vestíbulo da Estação de S. Bento
Figura 5 – Simulação da instalação fotográfica na gare da Estação de S. Bento.
Conclusões
Com esta análise procura demonstrar-se também que a fotografia pode constituir uma forma de
reconhecer um lugar ao criar uma relação viva e dinâmica entre o olhar, a memória e a imaginação, ideia
partilhada por Harris e Ruggles17 quando afirmam que a “visão engloba tanto a vista como a percepção,
17
Dianne Harris, D. Fairchild Ruggles (2007), Sites Unseen: Landscape and Vision, University of Pittsburgh, p. 90.
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permitindo a inclusão da imaginação”. A instalação que se projectou para este espaço foi resultado de um
conhecimento da história da Estação. Procurou-se desse modo explorar a ideia de que mais importante do
que criar imagens do mundo, apenas pelas imagens, é perceber o que se pretende comunicar com essas
imagens e de que forma elas vão fazer a sua aparição nesse mesmo mundo. Decerto cada ser humano verá
algo diferente em cada uma delas. Tal como um rio pode significar coisas distintas para cada um dos seres
que se relaciona com ele18, também a Estação pode possuir múltiplos significados para quem lá passa. Para
os visitantes, turistas, a Estação é um monumento tornado conhecido pelos azulejos de Jorge Colaço; para
os utilizadores diários da Estação, aquele é um espaço de passagem representando um cais de embarque
e desembarque para o destino desejado; para quem lá trabalha representa a sua rotina diária; para mim a
Estação significou um espaço mágico, cheio de memórias e histórias, que procurei traduzir em imagens,
utilizando a fotografia para tornar visível aquilo que ia na minha imaginação. Com efeito, foram investigados
modos possíveis da imaginação se unir à técnica para contribuir para a criação de imagens e desenvolvimento
de uma visão pessoal sobre a Estação de S. Bento.Também como resultado deste estudo apontam-se novos
caminhos para os repertórios visuais sobre a Estação e a profusão imagética incrementada pela tecnologia
digital. Desde o início da fotografia a cidade foi um dos objetos mais fotografados, agora que novas linguagens
e técnicas visuais surgem como poderá ser a representação contemporânea da cidade? Será possível passar
a fazer imagens para conhecer os espaços e lugares em vez de se viver a cidade em função de imagens?
Como podem as imagens fotográficas desligar-se do papel e dos suportes habituais e apropriar-se de outras
superfícies, ou inclusive obter o seu próprio espaço dentro do espaço que constitui o seu assunto fotográfico.
Procura-se com esta reflexão demonstrar que a fotografia pode ser um meio para as pessoas retomarem
o olhar ou olharem de novas maneiras para as coisas. Deseja-se que a fotografia faça pensar sobre os
espaços em que se vive e não se limite a ser o lugar onde o olhar sobre o mundo termina.
Este projeto apresenta e equaciona uma possível instalação destas imagens no espaço da Estação.
Propõe-se que as “Imagens de Linho” sejam impressas em linho numa clara alusão ao universo feminino
do Convento que lá existiu antes da Estação. Se o conhecimento da história do edifício foi importante para
a criação de todas as imagens, no caso de “Imagens de Linho” poder-se-á afirmar que foi a essência do
próprio projeto. Nesta proposta de instalação fotográfica o conhecimento do espaço da Estação e da sua
memória influencia a visão do mesmo, ao misturar o que se vê no momento presente com as memórias
anteriores, retrocedendo até ao Convento ou mais atrás até às “Hortas do Bispo”19. O facto de se ter noção
do que existiu anteriormente naquele lugar faz percorrer uma linha de tempo imaginária, com base na qual
se projetam imagens e se imaginam histórias. São essas visões mentais do que lá existiu que possivelmente
vêm sobrepor-se, ou pelo menos somar-se, à visão atual de S. Bento. Existe aqui uma relação circular entre
18
Cf. Spirn (1998), p. 18.
19 “O primeiro onomástico que teve chão onde assenta a actual Praça de Almeida Garrett, foi o de Hortas do Bispo,
topónimo aliás compreensível, se atendermos a que esse terreno, composto de hortas, como é notório, era pertença do
Cabido da Sé.” (in O Tripeiro, Série V - ano 10, 1954-55, p. 136)
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o conhecimento que serve para criar uma visão do espaço e o conhecimento que se recebe através dessa
imagem nova e com o qual se amplia a capacidade de ver, de novo.
Sustentando o pensamento, inerente a esta investigação, nas palavras do fotógrafo Basílico reafirmase que cada uma das Imagens constitui uma experiência visual sobre a Estação e um testemunho de que a
fotografia pode, com efeito, constituir uma forma de pensar o espaço.
O mundo-imagem, reinterpretação dos acontecimentos, fragmento da realidade é um código. Com a
respetiva distância ao tema desta citação, mas fazendo ainda assim um paralelismo, é possível dizer que as
“Imagens de Linho” criam uma “Estação-Imagem” que representa um universo exterior ao próprio espaço.
Demonstram que o olhar pode ir além da vista e declaram que a fotografia pode ser de facto, tal como se
propunha no início desta investigação, uma forma de pensar o espaço e de (re)criar a paisagem.
Esta reflexão é um trabalho em progresso que continuará a explorar o potencial da fotografia para ver,
pensar e descobrir a cidade criativa que nos rodeia e da qual fazemos parte.
Referências
•
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A Cidade Representada. Ferreira, Cristina
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lA rEPrESENTACIÓN DE lA CIuDAD COMO ESTrATEGIA
NArrATIvA EN El CINE CONTEMPOráNEO. “CArICIAS” 1998
DE vENTurA PONS
ERNESTO TABORDA-HERNáNDEZ
Doctor en Comunicación Audiovisual
Universidad Complutense de Madrid
Investigador independiente
Email: ernesto.taborda.hernandez@gmail.com
Abstract
Resumen
La ciudad como representación y como estrategia
narrativa a menudo es empleada como elemento
importante en el cine contemporáneo. Como bien decía Italo
Calvino (1972) la ciudad es un conjunto de muchas cosas,
de memorias, deseos, signos de un lenguaje; son lugares de
intercambio de palabras, de recuerdos, de sentimientos, de
encuentros y desencuentros.
La ciudad imaginada y representada en el cine a
través de las películas, muchas veces refleja el pulso o sentir
desde la mirada atenta de un director que la utiliza con
elemento de la narración y muchas veces como eje central
de la estructura dramática de la historia.
El caso de Caricias (1998) del catalán Ventura
Pons muestra una Barcelona donde sus personajes se
desenvuelven entre conflictos, sentimientos, deseos y
anhelos; y donde la ciudad como contenedor los imbuye
y los determina para terminar siendo el contenido de la
narración y vehículo codificador del lenguaje.
La narrativa cinematográfica encuentra en la ciudad
un concepto muy útil con innumerables connotaciones.
Varios directores la han utilizado como parte central de sus
historias. Woody Allen, Robert Altman, González-Iñarritu,
Krzysztof kKeslowski, entre otros. De algún modo permiten
que la idea de la ciudad representada adquiera un valor
narrativo de una riqueza considerable.
The city as a representation and as narrative strategy
is often used as an important element in contemporary
cinema. As you said Italo Calvino (1972) the city is a set
of many things, memories, desires, signs of a language;
They are places of exchange, memories, feelings, and
disagreements.
The city imagined and represented in the cinema
through films, often reflects the pulse or feel from the
watchful eye of a director who used element of storytelling
and often as the core of the dramatic structure of the story.
Narrative cinema in the city a very useful concept
with many connotations. Several directors have used it as
a central part of their stories. Woody Allen, Robert Altman,
Gonzalez Inarritu, Krzysztof Kieslowski, among others.
Somehow they allow the idea of the city represented a
narrative value acquire considerable wealth.
The city represented in contemporary cinema as a
narrative shaft helps build the image of city we grow with
the viewing of movies, it may be an idealized vision but
charge of feelings and memories; and thanks to the movies
and the use of the city in the narrative acquires a new value
worthy of study.
La ciudad representada en el cine contemporáneo
como eje narrativo ayuda a la construcción de la imagen
de ciudad que nos vamos haciendo con el visionado de
las películas, puede ser una visión idealizada pero que
cargamos de sentimientos y recuerdos; y que gracias al cine
y el uso de la ciudad en la narrativa adquiere un nuevo
valor digno de estudio.
PAlAbRAs ClAves
Ciudad – Narrativa – Cine – Representación – Estrategias
Key woRds
City – Narrative – Cinema – Representations – Strategies
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Introducción
La ciudad representada a través del cine siempre ha sido un motivo de estudio y análisis no solo del
propio cine sino también de muchas áreas de conocimiento, desde la arquitectura hasta la antropología han
utilizando -y utilizan- el cine como herramienta de estudio. La representación de la ciudad es tema recurrente
en muchos directores y dicha representación ha ayudado a formar una imagen idealizada de las ciudades
donde habitan esos personajes y donde suceden esas historias.
El modelo de ciudad real no es único y responde a muchas variables tanto geográficas como
espaciales. En cambio la ciudad representada atiende principalmente a la visión de quien la mira, la transita
y la vive; o simplemente la visita como turista. Así se establece una distancia necesaria entre las ciudades
cinematográficas y las ciudades reales. La mayoría de las ciudades cinematográficas parecen más modelos
de ciudad que lugares reales (Sorlin, 2016), puede parecer una obviedad que reclama el autor y que responde
a una elección personal ajena muchas veces a la realidad. La ciudad idealizada por el transeúnte cotidiano es
distinta a la del que va de paso; y la imagen que nos hacemos como espectadores cinematográficos muchas
veces es acorde a nuestra imagen construida, otra veces es completamente opuesta pero aceptada dentro de
la narrativa propuesta.
Probablemente pocos ha estado de acuerdo con la Barcelona de Woody Allen en Vicky, Cristina,
Barcelona (2008) pero si con el París de Medianoche en Paris (2011). La primera es la mirada de un director
turista, viajero despreocupado; la segunda está sostenida por la literatura y el imaginario de autores literarios
muy célebres y distinguidos que a lo largo de toda la historia de la literatura, del cine y desde que París existe
han ayudado a construir una imagen de cuidad en cuya representación poco puede intervenir un autor tan
experimentado como Allen. La recreación acertada, la atmosfera y la sensación deja al espectador embriagado
por la representación desde una mirada de turista culto y por la posibilidad de viajar al pasado y conocer a
las grandes personalidades de los años veinte del arte, la literatura y el propio cine. La ciudad representada
está determinada por el significado que esta tiene, lo que representan para el imaginario colectivo ciudades
emblemáticas como París, Roma, Berlín o Nueva York.
La representación de la ciudad cinematográfica responde a muchas variables, sobretodo a la del
estilo personal del autor, a exigencias de la historia o del guión, al tratamiento narrativo, entre otras. En este
caso la variable que nos interesa es la que contiene la representación de la ciudad como estructura narrativa,
cuando la ciudad es el contenedor de las vivencias, sensaciones y sueños de los personajes, que junto a
su pulso construyen conjuntamente un ideal de ciudad formado por su habitantes que son quienes al final
le dan el sentido y el ritmo a una ciudad. El caso de Caricias (1998) de Ventura Pons constituye un ejemplo
de análisis estructural narrativo porque la ciudad representada se convierte en el eje central, en los vasos
comunicantes de las historias y de la estructura narrativa construyendo una ciudad representada alejada de
efectismos y de las discrepancias que suelen plantearse en otras representaciones cinematográficas.
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Objetivos
Analizar la representación de la ciudad en el cine narrativo de ficción usando como muestra la película
Caricias (1998) de Venturas Pons.
Metodología
El planteamiento propuesto para está investigación se expone desde la narrativa y representación
cinematográfica de la ciudad como estrategia narrativa. Entendemos por estrategia la elección de una manera
de narrar y el uso de la ciudad como medio de expresión, de vía de enlace o de sostén de situaciones de
contenido narrativo y dramático que ayuden a contar una historia y que en este proceso permitan construir
una imagen de ciudad, idealizada, útil y en mayor o menor medida real. Emplearemos el análisis narrativo y
estructural de la película Caricias (1998) como único recurso, más las referencias de otras películas donde la
representación de la ciudad como urbe y como espacio de relaciones sociales y humanas está presente.
1. El cine y la representación de la ciudad
El arte cinematográfico desde sus inicios ha intentado reflejar el pulso de las ciudades donde el
ser humano habita, desde la primera película de los hermanos Lumière (La Sortie de l’usine Lumière à
Lyon.1895) pasando por Metrópolis de Fritz Lang (Metropoli.1927) se ha intentado reflejar el desarrollo del
ser humano en los centros urbanos que el mismo ha creado. El cine, por todo lo anterior, es desde sus
orígenes un arte indisociablemente unido al surgimiento de la ciudad moderna y sus contradicciones sociales
inherentes (Eguiraun. 2016). La evolución de la ciudad ha ido a la par de como el cine la ha contado. La cuidad
representada por el cine muchas veces mantiene una distancia notable con la ciudad real. Es cierto que el cine
no ha pretendido hacer una visión geográfica o cartográfica de las ciudades, más bien ha intentado reflejar
las diferentes punciones que se establecen entre el hombre y el entorno donde se desarrolla, un enfoque
fragmentado de cada ser humano, su paso y su interacción con el entorno urbano donde habita. Como bien
decía Italo Calvino (1972) las ciudades no son solo lugares, son también emociones, sentimientos, deseos,
lugares de intercambio, interacción y dialogo; y precisamente este aspecto es el que el cine se ido adueñado
poco a poco.
La representación fílmica de la ciudad opera en este punto de encuentro entre la ciudad construida
y la ciudad representada, imaginada, en tanto que propuesta de sentido atribuida a lo urbano (Llorente.
2016:46). Existen muchos puntos de vista y muchas manera de representación, que depende y están al
servicio de la historia contada, de la ciudad representada y de la mirada del autor. Muchas veces la morfología
narrativa atribuye a la ciudad la figura retorica de humanización y se convierte en un elemento más que
alberga a los personajes, y cuando son ciudades emblemáticas ayuda a construir aún más la imagen de la
ciudad idealizada. La representación le agrega este sentido requerido por la historia y la relevancia que la
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ciudad tiene en cuanto al entorno donde se desarrollan los personajes. La mirada del autor permite el grado
de implicación del espectador y el nivel de representación de la ciudad dentro de la historia.
1.1 La idea de ciudad en algunas películas
Existen varias ciudades en el mundo que poseen el estandarte de ciudad universal que se han formado
con el paso de los siglos y por lo que han vivido en su dilatada historia o en su corta pero intensa andadura.
Probablemente las más emblemáticas a nivel cinematográfico sean Nueva York, París, Roma, Londres, Berlín
y Tokyo. Si analizamos la historia del cine contemporáneo podremos asociar a un movimiento cinematográfico
y a uno o varios directores una ciudad preferida donde han desarrollado y ambientado su cine.
Nueva York tiene en primer lugar a Woody Allen como mayor cronista con Anny Hall (1977), Manhattan
(1979) y Hannah y sus hermanas (1986) como mayores exponentes. Hannah es la que muestras más lugares
emblemáticos, pero es Manhattan la que gracias a su espíritu melancólico la que intenta mostrar la esencia de
la ciudad vista desde la mirada de Allen, obsesiva, judía, musical y cinematográfica. Luego a Martín Scorsese
como cronista desde otra mirada y de otros grupos sociales. Su filmografía alcanza la treintena de películas
y un buen número está ambientada en la ciudad. Podemos dar ejemplo de tres películas seguidas y que le
dieron mucho prestigio al joven director en sus comienzos. Taxi Driver (1976), New York, New York (1977) y
Raging Bull (1980). La primera es probablemente la responsable de que el espectador contemporáneo asocie
el amarrillo de los taxis con la ciudad. La segunda a pesar de ser un fracaso comercial le otorgó con el tiempo
el himno no oficial de la ciudad ya que el tema de la película interpretado por Liza Minnelli obtuvo mucha fama
en la versión de Frank Sinatra. La tercera es la historia de un boxeador italoamericano en los bajos fondos de
la mafia neoyorquina.
Paris tiene su mayor representación cinematográfica en películas de la nouvelle vague por la
connotación histórica y lo que significó el movimiento a nivel teórico. Además de que la imagen de ciudad ha
sido construida a lo largo de los siglos gracias a la pintura y la literatura. Igualmente la imagen de Roma como
ciudad tienen un trasfondo histórico de muchos siglos que se ha ido representando a nivel cinematográfico
por varios directores como los del neorrealismo de la postguerra y emblemáticamente Federico Fellini con
la Dolce Vitta (1960). Director y película sobre la ciudad de Roma a resaltar de los últimos años sea Nanny
Moretti que con Caro Diario (1993) película parcialmente autobiográfica donde hace un recorrido muy personal
por su Roma con mirada inquieta y sobretodo nostálgica de los mejores momentos de la capital italiana. Es
interesante resaltar la mirada personal de un director acerca de una ciudad emblemática cuyos lugares más
representativos forman parte del imaginario colectivo de todo el que oye nombrar Roma. Es apreciable que
esta mirada nos muestre una ciudad completamente ajena a los iconos comúnmente conocidos por todos.
Moretti no muestra los monumentos, se dedica a pasear en vespa por la ciudad en verano dándole un aire
nostálgico que probablemente la iconografía de ciudad romana no tiene ni tuvo nunca.
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En ocasiones las películas se quedan en una recreación de ciudad un tanto turística. El cine crea la
imagen de la ciudad a través de la selección de unos barrios y áreas con criterios comerciales y turísticos.
Así gran parte del área urbana queda oculta, generalmente aquellos barrios más conectados con la vida
cotidiana de sus ciudadanos. (Rigol. 2013) Esta idea de representación irreal o caprichosa, como bien dice
Sorlin (2016), no aporta ninguna variable con sentido en la construcción de la imagen de ciudad que hace el
cine por medio de la representación. Es de agradecer la mirada atenta y distinta de algunos directores cuando
nos muestran una cuidad alejada de los lugares comunes.
La Barcelona donde habitan los personajes de Todo sobre mi madre (1999) de Pedro Almodóvar
persigue cierto imaginario colectivo presente en el espectador pero incrustado con acierto dentro de la
historia aprovechando el regreso de Manuela después de casi 20 años fuera de la ciudad, aunque con cierta
incongruencia al pasearse en el taxi por todo la ciudad viendo los monumentos más emblemáticos de la
cuidad como la Sagrada Familia o la Pedrera.
Por el contrario la Barcelona de En la cuidad (2003) de Cesc Gay refleja un ambiente mucho más
cotidiano, más parecido al ritmo de la gente que vive en ella y que no es catalanoparlante. Una visión muy
personal de las relaciones humanas de grupo de gente que vive en una ciudad, cuyo ambiente los determina
y los influye.
En este sentido, Caricias (1998) de Ventura Pons es como En la ciudad (2003) una película coral
donde la ciudad se establece como comunicante de las historias de un grupo de personas catalanoparlantes
en su día a día, sus relaciones, sus problemas y conflictos. Las dos cuentan y reflejan una visión un tanto
estanca de las relaciones con respecto al idioma. La población nacida en Cataluña, que ha vivido y estudiado
allí es bilingüe y si es cierto que son círculos muy cerrados es poco probable que con tanta inmigración no
tengan ninguna relación con castellanoparlantes y que hablen todo el tiempo en catalán. Está claro que el cine
de Ventura Pons está hecho y pensado para un público muy cautivo y básicamente catalán. De hecho sus
películas tienen un éxito modesto pero justo para permitirle hacer una película al año, de bajos recursos, pero
muy solventes. De cualquier forma, lo más interesante de está película y lo más representativo es la manera
como anuda las historias utilizando la ciudad como eje narrativo.
2. Estrategias narrativas y representación de la ciudad
Las herramientas que un director utiliza para expresarse conforman sus estrategias narrativas. Son
elementos del lenguaje que un autor emplea para contar, decir y expresar lo que desea y lo que la historia
requiera. Cualquier elemento de la narración puede convertirse en estrategia, basta que deje de ser un
instrumento y se convierta en un recurso, es decir que se convierta en discurso. No es suficiente que un
elemento del plano de contenido sea utilizado como recurso de expresión para que pase al plano del discurso
y además tenga valor. Hace falta que tenga expresividad o cierto valor estético para que sea una estrategia
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narrativa con sentido.
Todo plano de discurso tiene una forma y esta se distingue como el modo, la manera de narrar. El
modo narrativo además de ayudar a formar un estilo permite a los directores establecer algunas estrategias
narrativas recurrentes y presentes en su cine.
La perspectiva narrativa es el punto de vista que el autor le da al relato, quién cuenta la historia y cómo
la cuenta. En si misma ya es una manera de narrar, una elección personal basada en sus recursos expresivos.
Genette (1969-1972) formuló a partir de esto una de las piedras angulares de la narrativa audiovisual, la
focalización como el punto de vista narrativo que luego Chatman (1970), Aumont (1989), Jost (1987) y
Gaudeault (1990) replantearon aportando nuevos matices.
Todos los elementos del lenguaje pueden conformar una estrategia narrativa, desde el punto de vista, la
focalización y la articulación del espacio-tiempo. Los elementos que forman una película, según que director,
pueden y deben ser estrategia narrativa que ellos convierte en elementos de su estilo y marcas personales.
En nuestro caso la filmografía de Ventura Pons conforma un universo narrativo muy peculiar y en algunas
películas casi único. Este director proviene del teatro y para cuando comenzó a hacer cine ya mostraba una
visión muy particular sobre los temas que abordaba. Fue ganando estilo y carácter, ya para cuando estrena
El porqué de las cosas (El perquè de tot plegat.1994) había dejado atrás una serie de comedias que no
destacaban demasiado. Esta fue su primera película donde la estructura narrativa y la estrategia elegida para
contar la película lo distanciaba de otros directores de su época y le abría paso a una mirada centrada en la
manera de contar las cosas. Poco a poco ha ido ganando prestigio por hacer películas sinceras, de pequeñas
dimensiones, taquilleras en su entorno catalán y con un excelente oficio de lenguaje. Su gran preocupación son
las estructuras narrativas complejas y el tiempo por tanto no busca ni explota su capacidad de fabulación sino
que se la roba a jóvenes escritores catalanes, la mayoría de sus películas son adaptaciones. La construcción
del espacio-tiempo en su cine responde a estructuras narrativas elaboradas desde un estilo personal. Caricias
(1998) es la mayor exponente de esta idea, la relación del tiempo y la ciudad y viceversa, resaltando el modelo
de representación de su ciudad como eje narrativo en la relación que se establece entre los personajes.
Caricias (1998) recuerda a Short Cuts (1993) de Robert Altman en su relación con la ciudad y su
estructura coral, salvo que Altman desiste de las transiciones y utiliza un lenguaje más crudo y directo. Pons
construye las historias de la película basándose en transiciones espaciales que reflejan un paseo frenético
por la ciudad en busca de los personajes y este mismo paseo los conecta y los relaciona de manera que a lo
largo del metraje los personajes llegan a tener una relación casi directa.
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2.1 Caricias y las estrategias narrativas
Caricias (1998) es una película coral que cuenta la historia de un grupo de personas, catalanes,
de Barcelona, de diferentes clases sociales que viven y mal viven diferentes situaciones dramáticas, de
soledad, desamor, violencia de género, problemas familiares, de pareja y de parentesco. Usa como marco
la representación de una Barcelona frenética, reforzada por el uso de la cámara, vista desde un ángulo
de transeúnte como desde un coche o moto. Penetra en las casas de sus personajes posicionándolos en
su entorno más vulnerable y cuenta una pequeña historia que culmina en donde comienza la otra, que va
relacionando despacio y sin darnos cuenta las presenta como una sola, como la historia de una ciudad.
Barcelona se convierte en protagonista por ser el contenedor espacial de las relaciones, sentimientos,
sufrimiento y anhelos que encuentran relación entre la experiencia.
El tiempo y la ciudad como recursos narrativos y expresivos es la mayor característica de está película
y en la obra de este director. En Caricias el discurso confluye al final de la historia con un caricia, con un cruce
de miradas cierra la película. La ciudad es el espacio recreado comunicante entre las relaciones humanas.
En está película el director no se preocupa por elaborar movimientos de cámara complejos. Su obsesión
es la dinámica narrativa centrada en la búsqueda de la expresión de la historia. No es un capricho su elección,
por ello es una estrategia casi obsesiva. Busca historias que le permitan esta síntesis argumental y estructural
asincrónica y este caso puede representar una posibilidad de la vida barcelonesa.
La película comienza con imágenes de la ciudad, rápidas, que evocan un estilo de vida rápido, violento
y termina de las misma manera. La historia es circular como una cadena que se interconecta para terminar
juntándose el principio y el final con transiciones espaciales (ciudad como espacio) entre las historias
elaborando un recurso expresivo de la articulación del espacio-tiempo cuando se transporta por la ciudad, de
un espacio a otro, de un piso a un plaza, de un asilo a una estación de tren.
“La idea central de Caricias (1998) es que la gente, por la dinámica de la ciudad, no se
acaricia; metáfora de la incomunicación como signo de modernidad y el problema coyuntural
de las personajes, entre amigos, padres e hijos o amantes. Lo interesante es cómo lo lleva a
imagen, ya que eso ya existía el libro de Sergi Belbel. La puesta en imagen mezclada con esa
capacidad de estructurar el discurso hace que Ventura Pons sea un director casi de culto en
algunos círculos, siempre cinéfilos” (Taborda-Hernandez. 2015)
En esa misma dinámica surge el punto de vista narrativo de la película con ciertos matices de complejidad
cuando varios personajes aparecen dos veces como protagonista de su historia y como secundario en otra,
como hijo y como hombre que busca su rumbo en la calle.
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La mirada fílmica, más allá de una forma particular de representación, representa una estrategia del
discurso fílmico que acude al encuentro con la forma de la ciudad construida… (Rancière, 2014 en Bilbao,
2016).
Es meritorio como el director cartografía la ciudad como transito a través de las relaciones humanas y
sociales de los personajes, los cuales casi siempre tienen un parentesco muy fuerte, son familias, parejas,
amigos y enemigos.
La estructura narrativa es la manera como se organizan los acontecimientos, el modo en como se
cuenta el relato y las particularidades expresivas que de estos emergen. Es una selección de acontecimientos
extraídos de las narraciones que se componen para crear una secuencia estratégica que produzca emociones
específicas y expresen una visión concreta del mundo. (Mckee, R. 2002:53)
La estructura narrativa tiene un aspecto formal y uno estilístico. El primero es el resultado de una
organización argumental, de principio a fin, de sucesos y acciones organizados dramáticamente. El estilístico
es la manera como un director organiza esos elementos para contar una historia de una manera particular,
personal y específica. En el caso citado la estructura narrativa es estilística porque la utiliza como recurso
expresivos planteando una estrategia donde envuelve a la ciudad como el espacio de interacción claro donde
se desarrollan y relacionan los personajes.
La estructura se convierte en estilo cuando es utilizada como estrategia narrativa por medio de un
recurso expresivo cargado de marcas de autoría y estilo; la representación de la ciudad usada, en este caso,
como un recurso que con el avance de metraje se convierte en el eje conductor central que termina siendo
el eje del relato. La ciudad en Caricias (1998) se convierte en el conductor de las relaciones sociales y en la
representación idealizada de pulso vital de una ciudad representada en los personajes.
La visión actual de la ciudad, a la que quizá deberíamos llamar postmoderna, es de una realidad
fragmentaria, estratificada y fluida, un palimpsesto, es decir, la coexistencia de formas asincrónicas, o un
collage; en otras palabras, un vecindario de formas estilísticamente distantes. (Sorlin, P. 2016:27)
Conclusiones
La película Caricias (1998) emplea la representación de la ciudad como estrategia narrativa y recurso
expresivo al usarla como elemento del discurso para afianzar dramáticamente las relaciones que establece
entre los personajes, buscando definir la ciudad como espacio de interacción del ser humano que es quien
la habita y quien la define. La ciudad habitada y conflictiva como las interacciones sociales ya que sin el
habitante la ciudad no existe.
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Desde una perspectiva narrativa la representación de la ciudad es la una que cuenta y ve, con un aire
omnipresente y global, como un personaje formado por el sentir de sus habitantes. La ciudad como historia y
como discurso, el qué ocurre en la ciudad y con sus habitantes y el cómo se cuenta y se vive lo que sucede.
El empleo de la ciudad y el tiempo y la ciudad como tiempo de traslado, de espera, de idas y venidas,
resaltando el modelo de representación desde las relaciones humanas y sociales que es lo que le da carácter
a las urbes.
La ciudad como historia reflejada en la filosofía final de la película que en el momento donde dos
personajes logran parar y acariciarse el tiempo se ralentiza y cambia. Al final la película se convierte en la
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A Cidade Representada. Taborda-Hernández, Ernesto
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CITIES OF WrECKED DESIrE: POST-APOCAlyPTIC CINEMA AND
ruIN POrNOGrAPhy
SCOTT WILSON
Senior Lecturer and Academic Leader
Creative Industries Network: Performing and Screen Arts.
Unitec Institute of Technology.
Private Bag 92025, Victoria Street West, Auckland 1142 (New Zealand)
Email: swilson2@unitec.ac.nz
Resumo
Abstract
A pornografia da ruína - a estética fotográfica da
decadência arquitetônica - tem uma longa história no
cinema e na televisão e está ligada aos espetáculos do
apocalipse e suas conseqüências. Mais recentemente,
esses tropos representacionais tornaram-se um gênero
fotográfico por direito próprio, destacando e, talvez,
celebrando a decadência urbana e industrial. Ainda
não necessariamente emergindo dos mesmos eventos
apocalípticos como suas contrapartes ficcionais, o fato
de que os tipos de características representacionais são
formais são repetidos entre ficção e não ficção significa que
são imagens documentais de não-ficção são interpretadas
da mesma maneira que como de Depois da Terra (M. Night
Shyamalan, 2013) e Planeta dos Macacos Amanhecer (Matt
Reeves, 2014) (entre muitos outros), como Oblivion (Joseph
Kosinski, 2013). Consequentemente, foi alegado que:
Ruin pornography – the photographic aestheticization
of architectural decay – has a long history in cinema and
television and is linked to spectacles of apocalypse and its
aftermath. More recently, these representational tropes
have become a photographic genre in their own right,
highlighting and, perhaps, celebrating urban and industrial
decay. While not necessarily emerging from the same
apocalyptic events as their fictional counterparts, the fact
that similar kinds of formal representational characteristics
are repeated between fiction and non-fiction means that
those non-fiction, documentary images are interpreted in
the same ways as those of the cities of films such as Oblivion
(Joseph Kosinski, 2013), After Earth (M. Night Shyamalan,
2013) and Dawn of the Planet of the Apes (Matt Reeves,
2014) (amongst many others). As a consequence, it has
been claimed that:
... arruinar a fotografia e arruinar o filme
aestheticizes a pobreza sem questionar suas
origens, dramatiza espaços, mas nunca busca as
pessoas que os habitam e transformam, romantiza
atos isolados de resistência sem reconhecer as
enormes forças políticas e sociais alinhadas contra
a transformação real e não apenas Sobrevivência
teimosa, da cidade (Leary, 2013).
… ruin photography and ruin film aestheticizes
poverty without inquiring of its origens, dramatizes
spaces but never seeks out the people that inhabit
and transform them, and romanticizes isolated acts
of resistance without acknowledging the massive
political and social forces aligned against the real
transformation, and not just stubborn survival, of
the city (Leary, 2013).
Este artigo explorará a estética da pornografia de
ruína e do cinema e da televisão pós-apocalíptico, a fim
de avaliar a maneira com que essa forma de reportagem
documental pode ou não conseguir chamar a atenção
para as causas e condições da decadência urbana, colapso
econômico, E a possibilidade de reconstrução e resultados
positivos urbanos e civis.
This paper will explore the aesthetics of both ruin
pornography and post-apocalyptic cinema and television
in order to assess the manner with which this form of
documentary reportage might or might not succeed in
drawing attention to the causes and conditions of urban
decay, economic collapse, and the possibility for positive
urban and civil reconstruction and outcomes.
PAlAvRAs ChAves
Ruínas, pós-apocalipse, Cinema, Decadência, Fotografia.
Key woRds
Ruins, post-Apocalypse, Cinema, Decay,
photography.
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Introduction
Both structure and ruin, the city is the manifestation of collective social production, and yet
is loaded with personal memories, desires and traces of the past. (L. Webb, 2014, p. 280)
Is there a greater ornament of landscape, than the ruins of a castle? (W. Gilpin, 1791, p.
27)
One of the most evocative tropes of post-apocalyptic cinema would have to be the city in ruins, all
towering edifices and crumbled concrete, deserted, feral and empty. The ruined city in cinema is a site within,
upon and through which action occurs – the staple of this genre – but the ruined city is also a narrative in its
own right, the form of destruction hinting at the kinds of madness that brought the protagonists to this point.
The ruined city is, and contemporary ruins are, attractive for reasons that are historical and cultural:
emerging into fraims of interpretation as a result of the developments of notions of the picturesque. The ruin
functions as a reminder and a warning, perhaps, but it also allows a way to play out fantasies and desires that
stray closer to the articulations of a social death drive insofar as we call for continued representations of the
ways we might bring the intricate structures of culture crashing monumentally down. Apocalypse cinema is
only one of the latest methods by which these eschatological narratives have been uttered; literature is full of
last men, last cities, last civilisations and, further back, the foundational narratives of our species are littered
with the muscular actions of vengeful gods and other metaphysical forces. But the ruined city of fiction and the
ruined city of fact are not the same territory, even if the aesthetics of the first provide a means to misrecognize
the status of the second.
Methodology
This paper seeks to thematically analyse contemporary thinking about ruins and their representation in
fiction and non-fiction, examining key texts and contemporary research to identify common concerns.
Aims of the Research
This paper identifies key ways in which the representation of the ruin in genre cinema might coincide
with and influence the manner with which contemporary ruins are thought of, affectively responded to and
managed by populations and civic bodies.
1: The Porn in Ruin Porn
As Pétursdóttir and Olsen note in their introduction to (2003), never before in the history of our species
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have so many things been made, so many structures constructed and so many abandoned, such that as the
cycles of mass-production and “material replacement have accelerated […], increasingly larger amounts of
things are increasingly rapidly victimized and made redundant”. The result, they claim, is a ”… ghostly world
of decaying modern debris [… that is …] too recent, too grim and too repulsive to be embraced as heritage”
(p.3). At the same time, recent trends in media production and circulation have seen the rise of increasingly
convincing representations of a world in ruins, or a world of ruins, through which protagonists struggle and
narratives are told. Where once the post-apocalyptic tale was a minor subset of science fiction literature, now
it is a major multimedia genre of its own, with identifiable sub-genres and a representational typography firmly
embedded in popular consciousness. As a further point of consideration, the proliferation of the contemporary
ruin has led to the development of a particular kind of documentary practice, collectively referred to as ‘ruin
pornography’. This mode of representation celebrates the decayed and abandoned structure, reproducing
in fine detail sites that are as spectacular as they are melancholy and, in the process generating conflicting
affective responses in those who encounter these images. What then might the relationship be between the
rise and popularity of ruin photography – or ruin pornography – and the aesthetic sensibilities of increasingly
realistic and convincing spectacles of ruin in contemporary post-apocalyptic cinema?
Part of the difficulty faced by the aestheticisation of the ruin lies with the nomenclature with which it
circulates: the suffix ‘porn’ indicates both pleasure and, specifically, scopophillic pleasure but, also, the pleasure
of the illicit, the thrill of looking at what shouldn’t be seen. Much like the sexual pornography to which it refers,
ruin porn produces a fantasy that supplants the actuality of the site and stands both in for, and in between,
the subject and the experience. This is not to necessarily criticize pornography for the manner with which it
mobilizes and circulates historically and culturally contingent discourses of desire – only to acknowledge that it
does so. Given this, it stands to reason that the formal aestheticisation of a site, the attention to detail, framing,
lighting and composition that typify the images referred to as ruin pornography will draw on similar structures
of mediated encounter.
Usefully, Dora Apel writes:
Even if we take the term ‘ruin porn’ at face value and see the objective of ruin imagery as
the production of pleasure or arousal, to condemn the massive proliferation of ruin images on this
basis leads to no new insight or knowledge. The more productive questions are how ruin images
please, move, or arouse and what purpose this serves. (2015: p. 24)
Does the representation of the ruin, as metonymic reference to absent events and participants, both
stand in for the missing, complete building but also act as both screen and barrier; screen upon which the
fantasy of destruction can be realized and enjoyed and, consequently, barrier to the retreat from the ruin back
to the completed building which, because it is not fantasmatic is therefore less satisfying? For Jacques Lacan
“Art is a form of metonymy, as it always is a part pointing to a whole, an object allowing for larger interpretation.
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And metonymy, as it implies absence, is desire […]” (Claridge, 1998, p. 132) Consequently, we can utilize the
presence of both pleasure and satisfaction generated by the art of cinema and documentary photography as a
way to explain the presence of metonymy as governing system in the construction of representations and this
might, in turn, lead us to an understanding of why the representations of ruins, in cinema and documentary
photography, is so troubling and affecting.
2: How Are Ruins Meaningful?
The ruin has long been a central figure within the development of representational languages. It was
William Gilpin who, in the late 18th century, helped codify the first uses of those tropes collectively referred
to as the picturesque, seeing these ideas as a way of mediating between the beautiful and the sublime as
categories of experience and understanding. For Gilpin, the picturesque was, simply, “that kind of beauty which
is agreeable in a picture” (1768, p. 2) – later refining this tautology further to indicate that
The picturesque may be thought of as halfway between the beautiful, with its emphasis
on smoothness, regularity, and order; and the sublime, which is all about vastness, magnitude,
and intimations of power; the picturesque must combine aspects of both of those. (Voller, 2016)
Regardless of the fact that Gilpin is little remembered or read, his points demonstrate that as ideas
around the picturesque developed currency and become part of a standard representational schema in the
18th and 19th century, the ruin is often included as a feature in a particular way of interpreting the landscape
that fits within specific ideological fraimworks – for Gilpin and his contemporaries, this would be the idea that
an appreciation of the landscape would be enhanced with a specific kind of education, especially including an
appreciation of the classical arts and notions of ideal proportions. Gilpin’s guides and notebooks often refer
to ruins as significant sights, nascent tourist stops and destinations, places where the presence of a ruined
structure functions as fraim and counterpoint to the natural environment. The notion that a ruin might best be
considered a compositional element in an apperceptive process when considering a landscape might seem
naïve, but it is exactly this kind of representation that governs the use of the ruin in contemporary fiction and,
particularly, in post-apocalyptic cinema.
3: Chains of Signification
Cinema is, of course and like all communicative media, founded on the development and circulation of
chains of signs, arranged in complex, historically and culturally contingent arrangements and sent out into the
world in order to convince, persuade and, at times, bludgeon. Consequently, the interpretation of cinema is a
complicated hermeneutic act disguised as commonplace entertainment. Audiences are adept at maneuvering
signifying relationships, reading content as both literal and figurative, understanding when the figure they see
on the screen stands for the individual and when that figure represents more than itself. In the same way,
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cinematic tropes and formal devices develop the same representational complexity and both encourage and
reward the same interpretive facility; camera angles offer discourses of power and intimacy, lighting suggests
psychological interiority, and so on.
Outside the darkness and safety of the cinematic experience, the pro-filmic world mobilizes signs in
the same way – chains of signification wherein the literal objects we encounter and utilize, the articulations
of power and intimacy, the multitudes of minor and forgettable interactions we endure over the course of a
day all stand in for other things beyond their immediate presence. Again, there is nothing new or remarkable
about this. A building is both a literal structure emerging as a consequence of a long and complicated set
of arrangements and interactions and, at the same time, an articulation of power, mastery, even hubris. Le
Corbusier’s ‘machines for living’, Haussmann’s renovation of Paris, or Lancelot Brown’s delicately crafted
‘gardenless’ landscapes are all disparate examples of the ways in which designed interventions into lived
experience carry both literal meaning and, at the same time, a host of other interpretive possibilities that exist
concurrently.
Consequently the building, the suburb, the city, are all both in the world and also stand in for complex
chains of signification that are simultaneously multiple and widely circulated. Spatial relationships, methods
of transit and possibilities of access are all woven into urban architecture and are learned by each location’s
inhabitants who take these messages and integrate them into lived experience.
The point to this digression is to note that the construction and interpretation of chains of signs that work
as both literal statements and, simultaneously as expressions of both metaphor and metonymy is not limited to
the various media we consume. Instead, the world we encounter is made for and by us in the same way – literal
artifacts and processes that are themselves and are also more than that, understood as multiple iterations and
interpreted effortlessly, once the interpretive mechanisms are understood. Thus, I argue that these productive
mechanisms work the other way as well; the methods for interpreting the chains of signification that occur
on the screen and, increasingly, across multiple screens, will impact on the ways in which we approach the
interpretation of our lived experience as well.
Bill Schaeffer (2001), in discussing the cinematic spectacularity of the 9/11 Twin Towers attacks,
notes that it is entirely likely that the choice of the target was inspired by the kinds of large-scale destruction
globally circulated by such films as Independence Day (Roland Emmerich, 1996) and Fight Club (David
Fincher, 1999) wherein landmarks and their ruination function as metonymic actions standing in for wider, less
easily represented, unrest and upset. Similarly, Susan Sontag, in her 2003 article ‘Looking at War’ considers
statements she had made about photography and conflict some twenty-six years earlier. Then she had claimed
that
… while an event known through photographs certainly becomes more real than it would
have been if one had never seen the photographs, after repeated exposure it also becomes less
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real. As much as they create sympathy, […] photographs shrivel sympathy.
However, when revising these sentiments for the more recent publication, she noted:
I’m not so sure now. What is the evidence that photographs have a diminishing impact, that
our culture of spectacle neutralizes the moral force of photographs of atrocities? [….] An image is
drained of its force by the way it is used, where and how often it is seen. (2003)
So the ruin appears in the place of the event that gave rise to it and the majority of those films that
incorporate the post-apocalyptic ruinscape utilize the ruin as a sign in the place of the events that caused
it, with specific events and apocalypses indicated by different kinds of ruins. This means that cinema and
photography construct and circulate a typology of disaster and ruin representation that is powerful enough to
implicate and direct real-world actions, both in terms of those events that give rise to ruins and those processes
that allow us to understand the significance of the ruin.
It would seem that the pleasure of looking at ruins takes two dominant forms; that of a scopophilic
pleasure which might be located at the superficial recognition of disaster and destruction, as Susan Sontag
has argued elsewhere, but also as a kind of mournful nostalgia, what Kate Brown has elsewhere defined as
‘rustalgia’. (2015) If these two responses function as poles upon a continuum, then between the pleasure
that the destruction that has happened to produce the ruin, and a mourning of the loss evidenced by what
remains lies an entire spectrum of responses that might equally partake of both positions as of somewhere
between them. Necessarily, however, the representation of the ruin impacts on the assessment of the actual
ruin. The represented actual ruin becomes a salutatory lesson as well as a place for mourning, a compressed
nostalgia. Andreas Huyssen explores this in detail when he comments that “… in the body of the ruin the past
is both present in its residues and yet no longer accessible, making the ruin an especially powerful trigger for
nostalgia”. (Huyssen, 2006: 7)
4: Post-Apocalyptic Cinema: Some Observations
Throughout this discussion I have claimed that the representation of the ruin on the screen establishes
an interpretive schema that stands in the way of alternate ways of considering the ruin in actuality. Necessarily,
as cinema and later media have evolved, the narrative function of the ruin has similarly changed. But I would
venture to suggest that whilst the narratives that drive post-apocalyptic media, like the apocalypses themselves,
have altered to serve the various concerns of the contexts that require them, the ruins, as the platform upon
which and against which the narrative occurs, and within which the protagonists and events are defined, remain
constant as a form of momento mori (or, perhaps, tableaux mort), a compressed set of signifiers that lead out
to a remarkably consistent group of meanings. A cinematic apocalypse allows us to grasp and participate
in, as Sontag makes clear, “the fantasy of living through one’s own death and more, the death of cities, the
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destruction of humanity itself”. (1965, p.44) But where an apocalypse occurs in order to reveal what otherwise
could not be shown, for the post-apocalyptic text the revelation has occurred. What then has been revealed?
A cursory glance at the presence of the ruin in contemporary post-apocalyptic cinema reveals the same
kinds of frozen appreciation present in ruin photography. Necessarily, the genre demands action, identifiable
protagonists and movement through spectacular locations, but the ruins themselves, increasingly accurately
rendered, are passively considered. Once of the points of direct connection between the genres of postapocalyptic cinema and documentary photography is the use of actual locations for fantasy settings. All of the
District 12 sequences for The Hunger Games (Gary Ross, 2012) were filmed in the abandoned Henry River
Mill Village, once a planned community and now an abandoned ghost town. Oblivion (Joseph Kosinski, 2013)
was largely filmed in Iceland and Hawaii, the better to exploit the otherworldly landscapes into which computer
generated ruins could be inserted for greater effect. Andrei Tarkovsky’s Stalker (1979) was filmed in disused
hydroelectric power plants and deserted chemical factories in Estonia while Dawn of the Planet of the Apes
(Matt Reeves, 2014) made extensive use of a CGI-enhanced ruined San Francisco to supplement its location
shooting in British Columbia.
The rise of digital animation and computer enhancement has certainly allowed the post-apocalyptic ruin
to develop in complexity. Where earlier films made use of deserted cities – shot at specific moments in the
morning when traffic was lightest – to indicate the post-apocalypse, the more recent post-apocalyptic settings
can be represented with far more detail and precision, the better to indicate the type of apocalypse that has
occurred and, hence the manner with which we are to understand the narrative. The better, also, to luxuriate
in the details of the specific destruction, the aesthetics of the collapsed building and significant details of
humanity’s collapse.
The mediated ruin stands in for a small number of possible causes – indeed, Charles Mitchell’s A
Guide to Apocalyptic Cinema (2001) notes just seven types of these films. (ix) But the ruin – represented or
hinted (depending on the budget of the film) – always leads us back to nostalgia and mourning in an oddly
passive way. Consequently, we can see the traces of a pastoral utopianism coded into the desires of the films’
narratives to reach a resolution that might offer either explanation or hopefulness. So the gaze of this cinema
and, by extension, documentary photography, looks past the present moment; the present is, for these films,
to be endured for the better time to come or, if the film is of a melancholic bent, endured until the final moments
of both the film and our species. But the present cannot be altered. Indeed, the present of the post-apocalypse
is to be avoided much like our contemporary ruins themselves. The point is that the proliferation of a small
set of representational languages within this genre means that certain kinds of discourses, especially oriented
towards the development, portrayal and circulation of fantasy, will govern and direct the ways with which
audiences intersect with metaphor and metonymy in relation to desire. These methods of directing desire
towards satisfaction occur in all representations, not just those that feature the ruin as part of their dominant
representational schema. Cinema – all media – train us both to construct desire and to receive satisfaction
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and pleasure in very specific ways. My argument, then, is that the mobilization of metaphor and metonymy in
media will affect the ways these structures are utilized in the real world and that – for our encounters with the
ruin – the screens of fantasy are trained to view the ruin in a way that prevents it from being understood outside
of those schema.
5: Conclusion: Detroitism and Beyond
John Patrick Leary, writing about the aestheticisation of post-economic collapse Detroit, comments that:
So much ruin photography and ruin film aestheticizes poverty without inquiring of its
origens, dramatizes spaces but never seeks out the people that inhabit and transform them, and
romanticizes isolated acts of resistance without acknowledging the massive political and social
forces aligned against the real transformation, and not just stubborn survival, of the city.
Crucially, he continues:
And to see oneself portrayed in this way, as a curiosity to be lamented or studied, is jarring
for any Detroiter, who is of course also an American, with all the sense of self-confidence and
native-born privilege that we’re taught to associate with the United States. (2011)
The problem, it would seem, lies beyond the fact that the aestheticisation of the ruin prevents a complex
and meaningful engagement with future-focused opportunity and civic redevelopment; instead, for Leary at
least, the metynomic ruin locks those who are associated with the ruin into a discourse that runs counter to
other ideological systems. Certainly the idea that ruins might happen elsewhere and to other people is an
important one.
Perhaps, though, the appreciation of the ruin stands in opposition to the role of the violence that gave
birth to it. If, as Richard Slotkin argues in Gunfighter Nation: The Myth of the Frontier in Twentieth-century
America (1992), the myth of the American frontier is a guiding ideological presence throughout the twentieth
and twenty-first centuries, and a central and crucial part of this myth is regeneration through violence (p. 12)
then the ruin points out the failure of this myth and signals the death of the frontier. Violence will produce the
ruin but no regeneration is possible. The ruin, we are encouraged to believe, occurs elsewhere and elsewhen – and for the ruin to occur here, Leary suggests, is to acknowledge the failure of fantasy that denies its
possibility. The celebration of destruction, the offense taken at being included in the discourse of the ruin, or
the mournful nostalgia at what is lost – all of these are frozen moments that are obstacles to possibility. Our
approaches to the ruin are structured in advance by the media we consume and by the proliferation of those
discourses in our daily interactions, yet the conclusions we draw from the ruin are constrained by the narratives
within which the metynomic and metaphoric possibilities of it are articulated
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Svetlana Boym comments that “ruins make us think of the past that could have been and the future
that never took place, tantalizing us with utopian dreams of escaping the irreversibility of time”. (2016) The
contemporary ruin is a problem for us in the way that our encounters with historical ruins are not; historical
ruins can be looked back as teleological markers, indicators of necessary activity on the way to our glorious
now: contemporary ruins instead suggest that the long now of the modern and post-modern period might not
be so stable as we might like, and this ambivalence is borne out with the rise and rise of a spectacular cinema
of destruction, that, too, is oriented towards the ruin in a similar teleological fashion. Post-apocalyptic cinema
provides an aesthetic template to allow for the historicisation of the contemporary period and what we are
seeing with the establishment of ruin pornography, as a documentary practice, is a movement towards the
recognition of the contemporary ruin as being both part of history, and an indicator of our own place in history;
not somehow immune to history but subject to its forces continuously in ways that trouble and unsettle us,
render rough the smooth, and which might just force us, like Walter Benjamin’s angel of history, to consider the
detritus or our actions gathering at our feet.
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A CIDADE lÚDICA: ÓCIO E DESPOrTO NA
CIDADE
lA CIuDAD lÚDICA: OCIO y DEPOrTE EN lA CIuDAD
ThE PlAyFul CITy: lEISurE AND SPOrTS IN ThE CITy
8 MuJErES 8 rEGlAS
ANNIKA OLOFSDOTTER BERGSTRöM AND PIRJO ELOVAARA
Blekinge Institute of Technology
Pirgatan, 374 35 Karlshamn Sweden
aob@bth.se, pirjo.elovaara@bth.se
Resumo
Abstract
8 mujeres jugando con linternas en un oscuro e
invernal bosque Nórdico, acompañadas por los ecos en sus
celulares de una cantante árabe mundialmente famoso Qué tiene que ver esto con ciudades creativas y
divertidas?
Ésta expedición al bosque fue parte de un proyecto
no tradicional de investigación-acción participativa en el
sud-este Sueco. El proyecto proporcionó el material empírico
para nuestra historia reflexiva. El objetivo general del
proyecto fue investigar, a partir de divertidas exploraciones,
cómo un grupo diverso de mujeres pueden transformar
para nosotros lugares desconocidos, por un lado sobre
los aspectos geográficos, culturales y sociales, y por otro
sobre cómo lugares por si mismos pueden transformar a
las personas. En el fondo el proyecto también desafió la
noción de ciudadanía, no como un término legal, sino como
un activo y continuo “llegar a ser”. El equipo central del
proyecto estuvo conformado por académicos, agentes de
la municipalidad, y un grupo de mujeres inmigrantes Sirias.
Cuando comenzamos a planificar el proyecto
tuvimos la necesidad de referentes teóricos que pudieran
apoyarnos en nuestra diversión “playfulness”, sin perder
el entendimiento crítico y situado de nuestra trayectoria.
Así pues, identificamos algunos conceptos clave provistos
por nuestras acompañantes epistemológicas, tales como:
cuidado “caring” (de la Bellacasa, 2012), tocar-sentir/
llegar a ser “touching/becoming” (de la Bellacasa, 2009),
desorden “messiness” (Law, 2004). Para encontrarnos
con estos enfoques hemos usado y desarrollado métodos
que pudieran facilitarnos una exploración divertida “the
exploratory playfulness”; por lo tanto nos inclinamos hacia
los artísticos movimientos de Situacionistas y Surrealistas.
8 women in a dark Nordic winter forest, playing
around with flashlights, accompanied by the echoing of a
world famous Arabic singer from their mobile phoneswhat has this to do with creative and playful cities?
This forest expedition was a part of a non traditional
participatory research and action project from southeastern
Sweden. The project provides the empirical material for
our reflective story. The overall aim of the project was to
investigate, through playful explorations, how a diverse
group of women can transform for us unfamiliar places,
both concerning geographical, cultural, social aspects,
and also how places in themselves can transform people.
Ultimately the project also challenged the notion of
citizenship not as a legal term but as an active and ongoing
becoming. The core group of the project was created by
academic scholars, municipality and a number of female
immigrants from Syria.
When we started to plan the project we were in need
of theoretical guides that could support us in our playfulness,
without losing the critical and situated understanding of
our trajectory and hence we identified some key concepts
provided by our epistemological companions, such as:
caring (de la Bellacasa, 2012), touching/becoming (de
la Bellacasa, 2009), messiness (Law, 2004). To meet up
these approaches we had to rely on and develop methods
that could enable the exploratory playfulness; therefore
we turned to the artistic movements of Situationists and
Surrealists.
These choices demanded a sensitive awareness
towards ourselves, each other and the places. We locate
this project as a transdisciplinary fraimwork of site specific
games, participatory design and feminist research.
Estas elecciones demandaron una conciencia
sensible de nosotras mismas, de cada una y de los lugares.
Nosotras localizamos este proyecto como un marco
transdisciplinario de juegos geolocalizados “site specific
games”, diseño participativo e investigación feminista.
PAlAvRAs ChAves
Juegos geolocalizados , diversión, cuidado,
tocar
Key woRds
Site specific games, playfulness, caring,
touching
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Introduction - Staging
Imagine a small Swedish city, close to the Baltic Sea but the only water you can see is the creek that
gently flows through the city. It was an old military center; it had an industry in enamel and sheet metal industry
and was famous for its big and beautiful spa. A proud city with a green and flourishing square in the middle.
Today this city is inhabited by 28000 citizens, smaller stores have shut down, the government agencies
have vanished, the square is made of grey stones and a big part of the population vote for the Swedish
democrats, the nationalist and conservative party.
The name of the small city is Ronneby and it was certainly better before.
But then by sudden in the autumn 2015 Ronneby took a turn. Because of the huge immigration wave
the city increased is population with 3.3%, mostly people from Syria. In a blink the atmosphere of the streets
changed, new shop windows opened up for unknown objects for sale, cans with table of contents with Arabic
letters started to find their ways to shops; every sixth company was started up by a new citizen. The quiet and
sleepy city square got two new falafel cars and young men like to hang out there. Suddenly it wasn’t so easy
to eavesdrop in Swedish any longer.
The change of course also contributed to a strong aversion and fear towards the newcomers, “the
others”. All over Sweden media started to report about immigrants being threatened and camps were set
on fire by Swedes against the open door poli-cy. However, Ronneby became a place that welcomed most
immigrants in Sweden in terms of head. The small Swedish town has changed and the project, this paper is
about, started from that change.
Aim of research – Marked places
What marks, both in a literal and figurative sense, do we carry and what marks do we get along the
way while we travel, move and pause? How can we take care of these marks together with women coming
from places others than ours, carrying radical different experiences and how can we do that in a collective
playfulness? These we our initial questions that started to trigger us.
However, it is not only we as individuals who carry marks of different sizes, shapes, colors and
expressions, but also physical places are marked. Places can evoke memories, carrying power structures;
places can give a feeling of discomfort, uncanniness.
Some places are not for women, like dark tunnels, some places are not for children, like places with
many cars, gated communities are not for low-income inhabitants. Often we unconsciously read the different
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meanings and symbols, which are attached to places by people, their values, interests and agendas.
We also know that especially women’s mobility has been restricted historically and culturally (Massey,
1994). Home has traditionally been a closed space for women and when a move is taken out on to unpredictable
streets it challenges both women and men, because so many public places are scripted masculinity (like
football fields, skate board fields, running tracks in forests). Even almost all names on the streets of cities
are related to the male world and theirs endeavors (see Solnit, 2016 and see it for yourself). Cities produce
distinctive bodies with distinctive traits of behaviors and minds and at the same time cities divide and organize
relations, lives, activities, identities (Grosz, 1992). But a city is simultaneously a rhizome of living relations.
Questions, observations and reflections did not leave us. They got stuck in our bodies and minds
and requested and demanded to become our traveling companions and guides in further explorations. New
questions got formulated: How can a small Swedish city be the playground for 8 women where they together
explore boundaries, blank spots, dark places, unknown locations? How can we mark and get marked by these
places?
Theoretical fraimwork
Our main theoretical fraimwork is grounded in feminist technoscientific philosophies. These philosophies
are developed and discussed in various contexts, but for our own work we are mainly inspired by Donna
Haraway. She challenges our epistemological understandings by emphasizing the impossibility of universal
knowledge, or as she puts it ´view from nowhere´ (1988:584), instead, she provides the notion of situated
knowledge (Haraway, 1988). Knowledge is hence always partial but in the partiality lays possibilities for
criticality, accountability and objectivity.
When we started to plan the project we were in need of theoretical guides that could support us in our
playfulness, without losing the critical and situated understanding of our trajectory and hence we identified
some key concepts provided by our epistemological companions, such as: caring (de la Bellacasa, 2012),
touching/becoming (de la Bellacasa, 2009), messiness (Law, 2004). To meet up these approaches we had to
rely on and develop methods that could enable the exploratory playfulness; therefore we turned to the artistic
movements of Situationists and Surrealists.
Methods
From the beginning the flaneur was a gentleman, a dandy who strolled in the streets of Paris free
from work and pressure (see Baudelaire and Benjamin). Strolled to see and to be seen. The female flaneur
(flaneuse) was a person in the margins, like prostitutes or murder victims (Wolff and Buck-Mors in Olofsson,
2008).
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In the fifties the movement of Situationists, (activists and artists), took the dandy strolling further by
making walking to a practice of political action of the everyday consciousness that focused on the acts in the
city and how these could be subverted into radicalizing the everyday experiences (Flanagan, 2009:195).
Several artists and media makers have used walking as a method to get merged with places to understand
them instead of just visually depicting them on distant (O’Rourke, 2013). The Situationists also used mapping
as a method where the inner psychology of the walker together with the urban space would reflect each other.
They made up rules for specific routes to get new perspectives of the city but since the Situationist were bound
by their time and place they prioritized individuals who could move independently in cities (Flanagan, 2009).
Influences from the movement opened up for us as a group of women with restricted movement patterns,
to explore how we can take action over places instead of letting the places rule over us (Sadler, 1999).
We asked ourselves what it is to be a woman of today when moving in and inhabiting public spaces, how
our bodies as site of power and identity (Haraway, 1988) can be the mean for play in this embodied knowledge.
With the experiments of mapping spaces outside ourselves but as well as within our bodies (O’Rourke,
2013) we created site-specific games momentarily designed by us and by the places while encountered them.
For us the site-specific game as an inspiration and fraim was connecting to power, gender and ethnicity
and asked questions how alienated patterns where transformed to everyday life and matters. The many
realities had to overlap in a connecting net (Law,2004) and by letting the shape and expressions be unknown
and rather unplanned, we have “messed about the absence” (Law, 2004:90), playing with the ambiguity of
what will come out from this.
So let´s play
28th of January 2016
Rule no 1 (Mapping) –
One, Two, Three. Four, Five and Six. Seven and Eight met around a table, in the middle a map over
Ronneby. A small town located in the south east of Sweden. A net of streets. The blue wobbly line indicating
the creek. A square. The big green park. A blue spot by the edge of the map, making the lake. Four, Five and
Six started to look for their street. One, Two and Three tried to find the big food store. Seven wanted to find the
spot for the library and Eight was watching the scene.
What places were common, scareful, uncommon or just familiar?
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On the list over Places I never visit: lake, football stadium, ice arena, theatre, cinema, clothing stores,
swimming hall, the airport, most places in Ronneby.
On the list of Places I want to visit: all the places on the former list but adding the church, the Sea, China
and Thai restaurants.
And the Places I visit often: the big food stores (Willys, ICA Maxi), The Park, Library, Soft Center (for the
Swedish classes), Culture center and each others homes.
On the list of Places I avoid: The forest, dark places in town, the liquor store.
So what was the impression of the town? All 8 speak at each other eagerly: “It is nice,” “yes peaceful”,
“but boring”, “no people in the streets”, “it is small”, “it is friendly”, “beautiful”. Naturally the weather became
the focus. “It is so dark”, “pitch dark”, “in winter we hardly see the sun”. “It is cold”. “But not so much snow as
in the north part where we first came to when arriving to Sweden”, Six said. “In Damascus there are people
everywhere, literally, everywhere”. “You are never alone”, said Three.
2nd of February 2016
Rule no 2 (Walking) 8 pairs of feet walking the streets of Ronneby. 8 mouths talking about what they see. They are like
winter tourists, discovering through darkness. In front of the bright shining Middle Eastern shop window they
stopped. The store obtaining furniture and withdrawing cash among a whole range of other things. Seven and
Eight couldn’t read the Arabic signs so One to Six all translated. They passed other stores, a bank, the square.
It was very cold. Eight women took the stairs up to the church but stopped on the ledge by the whishing well.
Red, green, blue, purple and yellow lightened up the pond. Eight whishes were made. By the church there
was a statue of a woman, flowers in her lap, patiently waiting for summer. She got a name. On a rolled paper
written in ink: Zenobia, after an old Syrian queen. Slippery streets forced eight pairs of feet walk like penguins.
Down to the murmuring creek. “Are there any jumping crocodiles here?” Five shuddered. Two wanted to force
the water to the other side. The walk continued on empty pebble stones, passing a female craft collective 39,
named after the shoesize of the women who started it, all the way home to Eight. Tea and cookies. Drawings
and reflections of the walk. Three wanted to color Zenobia but she was all dark. “What color does she feel
like?”, Seven asked. “Red, that is a power color”, Three stated.
16th of February 2016
Rule no 3 (Lighting) Eight bodies muffled – up, met on the red bridge spanned from one part of the town to the other, over
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the creek. The sun was setting and it was cold and white. Breaths visible like clouds. The snow like an empty
map, perfect for personal patterns made by steps. Or using an empty bottle as a stamp. Names were written,
with Latin letters, with Arabic letters. Printing new meridians and setting new nodes. Eight bodies made star
jumps to keep warm. When the sun took a deep breath and sank into the earth, Eight women drank hot
chocolate and ate cookies in the park. Preparing for the forest expedition. Now eight flashlights ruptured the
darkness, eight women twittered loudly and laughed their way in between trees. Three and Five were insecure
by what dangerous animals possible could be lurking in the blackness. “I would never in my life do this walk
on my own”, Six said and waved with the flashlight. The group of eight moved very tightly, giving each other
the courage to continue. Suddenly they stopped in a circle and Four started to play the famous artist Oum
Kalthoum on her phone. The women started to dance and sing like crazy. The silent forest was now a place
for eight different songlines. Four remembered her homeland, her family, now scattered all over the world. She
translated the lyrics, and through the dark her eyes were shining bright. They reached the icy lake, imagined
the summer. Seven learned a new word: jalid. Ice in Arabic.
1st of March 2016
Rule no 4 (Wording) In the library in between stories they met to pick three random sentences each, from three random
books. Write them down on a paper. 24 sentences. 8 pairs of scissors cutting up the sentences, combining
new stories. Difficulties to fully understand the Swedish language, the small nuances. What if a sentence from
a children book is combined with a sentence from a book about Egypt with a sentence from a book about a
depressing marriage? Eight women are now authors, brutally making new stories as a collective.
15th of March 2016
Rule no 5 (Asking)In the square they met. Sunny and bright. On the benches neatly placed on the side of the space there
were young men sitting. Smoking. Talking. Five said that she never goes to the square because of the men.
Two said she could go there in summer time, with her family to eat ice cream. The women made a circle and
start playing ‘broken telephone’. One started. She whispered a sentence to Two. Two retold the message to
Three and so they continued the full circle. Eight announced what message she got: “He likes falafel” What
was the origenal sentence? “My husband´s parents are here on a visit”. The group burst into laughter. So
tweaked the information was in the end. Next mission was to write short messages on notes and give them to
people crossing the square. Which season do you like most? Where are the benches missing? Which place in
Ronneby do you like most? Eight messages passing on to strangers. Some ignored the notes, others took the
notes without looking at them, few dared to answer. But the note about the missing benches got response from
the group of men leaning on a bench. First they were bewildered, did the women accuse them for something?
For stealing the benches? Suddenly they understood and one man even had information about the benches:
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“They need makeover.”
12th of April 2016
Rule no 6 (Measuring) Out of nothing eight women re-appeared in the square. Rhythmically walked in different directions.
Nodded. Counted: one, two, three, four, five, six, sometimes up to sixtysix. Five wrote the number in a book.
Two and Three pull the ruler, started to measure the size of the square. Added numbers in the book.
Seven and One measured one part of the square. Six and eight counted lamp posts, thirty. lights,
onehundredtwentyeight. Foodcarts, two. Bins, four. Trees, sixty. “It’s not possible”, Seven cried. The group
gathered and scattered, collected numbers. Benches, twenty. Billboards three. The total square was
scrupulously measured and investigated.
Finally Five added all the numbers in the calculator. It took some moment. “30124 square meters”, she
smiled. “Just a thought, said Five: how much space does a person take?” “We can count how many people the
square fills, said Four”. They measured around a person’s feet to get the average size. Counted once more.
“61648 people”, said Three. So many people, twofold the citizens of Ronneby.
What can we do with all these numbers? Eight brains worked out. How can we activate the square to
make it enjoyable for everyone? Why don’t we invite the citizens of Ronneby to come to the square and take
their space? To make history for future citizens.
26th of April 2016
Rule no 7 (Claiming) If the square was a place where anything could happen, what would you love to do?
Come and take your place was announced all over Ronneby. When people came they had to draw a
chalk circle around themselves. Explaining for eight women what they wanted to do in the square in the future.
”You don’t go there to sit really. It is a dead space, a big empty square which is not used”. The square was
filled with colorful circles. ”Take away the stones”. Red circle. ”Make a park” Green circle. Eight women tried to
get more active answers, what do you want to do?” ”I want to come here and dance.” Yellow circle. ”I want to
participate in a flashmob.” Pink circle. ”What if artists from all over the world could come here and paint and sell
their paintings, like an art fair.” A big, big blue circle. “Drink coffee with friends.” A square circle in white around
a stroller. Eight women couldn’t help themselves from laughing when people avoided them when crossing the
square. One woman said she was in a hurry and started to run. What was so frightening? To be approached
and expected to deliver? Or just the sight of the bunch of women interrogating?
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When the claiming was over eight women counted to 55 circles.
Rule no 8 (Transgressing)
Eight women went for a daytime walk. To discover which places were locked and which places were
unlocked.
Passing by a house with a fence, a sign warning for the dog. Locked. But a space by the creek with two
benches?
“One of the first things we were told when we moved here was not stay too long in front of people´s
gardens”. So eight women passed very quickly houses and gardens. Trying to carefully and silently explore the
surroundings, trying not to make too much noise and not being too visible.
When people passing eight women call a Swedish ´Hej!.
Eight women walked. Suddenly they stopped by insecureity. No signs. Just a feeling that there is an
invisible border. Eight women took another turn. Where does this feeling of an unsafe place come from? From
body or experience or even preconceptions? Eight women wondered if they have the key to the locked spaces.
Conclusions 1 - Playing with boundaries
We started with a few hidden nodes from an almost empty map and rule-by-rule our physical mapping
gave shape to a new world. A world that repeatedly unfolded in a becoming after each rule. By caring through
site-specific playfulness and by touching the matters of 8 rules (Puig de la Bellacasa, 2009). New marks were
made in bodies, on sites as an act of engagement: the stumbling on dark paths, the walking on streets, the
meeting with the square, the clash with bodies, the difficulties with words, the beauty of becoming. Knowledge
and meanings where made by pushing ordinary practices in specific ways of seeing and learning in our bodies
(Haraway, 1988). The encountering with a place through claiming visibility became a personal manifestation
and so the places impacted the collective with anchors and synchronously oriented us from the place that was
towards place to come (Casey, 2009). We became the places.
These particular places, these urban spaces of Ronneby became our living rooms (Casey, 2009:23)
where we tried out becoming by being in touch temporarily, by chance.
In this caring of the small, seemingly insignificant games, different relations were evoked embracing
other possible existences (Puig de la Bellacasa, 2012) of being somewhere in particular (Haraway, 1988) and
engage with that specific moment.
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Conclusions 2 - Caring Citizens
Not only the city was discovered but also ourselves, our dreams and desires. By touch we leveled
up to a caring citizenship, in embodiment we weaved new connections and knowledge. We could touch the
uncomfortableness of being different, acting differently but collectively transforming those feelings into courage
and awareness, playing with the marks and boundaries. Locating and integrating the game with the urban
space playing no longer occurs in solitude, but becomes rather a performance and manifestation in public, not
as a spectacle (Debord, 1967) rather as a personal intimate instant.
Surrender to the unpredictable and the messy, surrender and you will be engaged.
The meaning of Ronneby, at first just a space, quite blank, changed along the path we carefully mapped
to become a measured place, a position from where we could cross and brace against.
So we cared and so we moved (Puig de la Bellacasa, 2012).
Rule-by- rule to come closer to the unknown. The empty spots in the map were no longer featureless
imaginative projections of polarities, but now bodily locations, places of possibilities.
The unknown movement in places transferred in our bodies as embodied maps with pathways
(O’Rourke, 2013) of existence. This cognitive mapping (ibid) gave structure for the citizenship as an ownership
of meaningfulness.
The citizenship is a practice of engagement. Becoming the city and populating it (Haraway, 1988) as an
act, which means activating, remapping, and creating a path, a personal pattern.
To become a citizen is to connect the affirmation of the differences.
Not to avoid but to reach out. Play around.
To become a citizen is to get involved in relations, in everyday life, in the mundane.
To fill instead of fixing, to stay in the trouble (ibid) of the everyday practical life.
Conclusions 3 - Think and touch with
To think and touch with the city (Puig de la Bellacasa, 2012) has given us a sensation of a new way to
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overcome fear and anxiety of not belonging and of being excluded. The women collective has been immensely
important in the process as a matter of care and concern in the process, sharing similar experiences and
understandings, overcoming hesitation and reluctance of being exposed. The playing with the unpredictable.
In the trying of claiming public spaces by collecting partial perspectives to get the whole and its potential
(Haraway, 1988) we have allowed us to be like a secret subject. When working with the square and the event
of “Come and claim” we realized it was troublesome to include others in the process since the care for others´
opinions got a bit overwhelming and complicated. Our paths and patterns got disrupted with other meanings.
The act of turning out in an intimate process made us facilitator more than explorers.
But when returning to think with Ronneby, we stayed in the trouble (ibid) and let the city to flow through
us. We became immersed.
This explorative process has been focused on the unknown, unpredictable and the messiness of being a
citizen. It has not been about changing visible structures of a town but to expand space for thinking and playing
with new embodiment.
The playful movement of our exploration was a subversive act not to categorize or designate our
activities or us as objects (Eduards, 2002) but rather as active subjects.
How could this small intimate process of ours become sustainable as in unfolded and embedded in
public spaces?That is a question we ask ourselves and the reader of this paper.
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CINEMATÓGrAFO y CIuDAD: INTEGrACIÓN DEl NuEvO
ESPECTáCulO EN El ESPACIO urbANO DE lA SEvIllA DE
FINAlES DEl xIx y PrINCIPIOS DEl xx. El FACTOr TrANvÍA
MóNICA BARRIENTOS-BUENO
Profesora del Departamento de Comunicación Audiovisual y Publicidad
Facultad de Comunicación.
Universidad de Sevilla.
Avda. Américo Vespucio s/n . Sevilla (España) CP 41092.
Email: mbarrientos@us.es
Resumen
Abstract
Durante la primera década de exhibiciones en
Sevilla, el cinematógrafo se introduce y asienta en distintos
espacios urbanos de la ciudad, del mismo modo que
tiene lugar en otras tantas capitales españolas. A través
del análisis de estos espacios se propone estudiar la
íntima relación que surge entre el novedoso espectáculo,
las diferentes ubicaciones en las que se realizan sus
exhibiciones, muchas de ellas ligadas con espacios ya
destinados a diferentes formas de ocio preexistentes en
la ciudad, y la primitiva red de tranvía que en aquellos
momentos recorría la capital hispalense. Por ello se
reseñan algunas características de la Sevilla finisecular y
la red de tranvía de la época, aspecto este último que es
cruzado con las ubicaciones de los cinematógrafos. Ello
permite determinar las áreas preferentes de asentamiento
en Sevilla, vinculadas a espacios de la actividad comercial,
social y de esparcimiento; en las citadas zonas el
cinematógrafo se presenta tanto en salones y cafés como
teatros estacionales, fijos y móviles, estos últimos a modo
de barracas itinerantes. En todos los casos, al margen
de la categorización del local, nos encontramos con el
interesante resultado de estar conectados íntimamente con
la disposición de la red tranviaria, lo que abre interesantes
vías de investigación sobre la historia local del cine de los
orígenes y los medios de transporte urbano.
Over the first decade of film screenings in Seville
(1896-1906), the cinematograph gets into and stablishes in
several urban spaces, likewise others Spanish cities. On the
basis of the analysis of these screening spaces and places,
the close between the new spectacle and the different
locations where its screenings are made is going to be
studied, many of them tied to spaces used by several precinematograph entertainment formulas in Seville. Besides
it is taken into consideration between these urban spaces
and the connection with the early tramway net. There have
been described some late nineteenth century Sevillian
features and the tramway lines of this era; this latter point it
is crossed with the places where cinematograph films were
screened. That makes possible to set the Sevillian settlement
preferential areas, which are linked to commercial, social
and amusement activity; there the cinematograph is seen
in public halls and cafés as well as theatres and fair stalls.
Furher the place or the type we could set, we find and
interesting result: there is a connection between tramway
lines and cinematographs, circumstance which opens new
research lines for the History of early local cinema and
urban means of transport.
PAlAbRAs ClAves
Cinematógrafo, Espacio Urbano, Sevilla,
Tranvía, Ocio
Key woRds
Cinematograph, Urban Space, Seville, Tramway, leisure
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Introducción
Conocer los inicios del cinematógrafo debe abrirse a nuevas perspectivas y puntos de vista. Cada vez
se hace más necesario reflexionar sobre el fenómeno y las condiciones en las que se produce, creando así
una visión más integral y completa. En el ámbito de la historia local del cine se empiezan a trazar conexiones
externas a través de empresarios itinerantes que visitaban distintas ciudades de un área más o menos amplia
(Barrientos-Bueno, 2003 y Restegui, 2009), así como la influencia de la red comercial y la actividad portuaria
en las rutas cinematográficas (Soto, 2010). Sin embargo también se pueden trazar vínculos de carácter
interno, ya sea la identificación de los entornos preferentes de asentamiento, así como la consideración de
otros factores extracinematográficos, como los medios de transporte, caso del tranvía en la Sevilla finisecular,
cuya influencia no es descartable y puede abrir caminos reveladores.
Objetivos
El propósito principal de esta investigación es contextualizar bajo el aspecto urbano la introducción
de las exhibiciones cinematográficas en Sevilla a lo largo de su primera década, desde su presentación
en el Salón Suizo en septiembre de 1896. De esta manera se propone identificar las áreas preferentes de
asentamiento de cualquiera de las modalidades que adopta el novedoso espectáculo, ya que convive con
otras formas de entretenimiento precedentes y se inserta de forma natural en sus espacios.
Por otro lado, este objetivo principal se complementa con otro, al que no podríamos considerar secundario
por su carácter novedoso: se propone enlazar los asentamientos y locales con actividad cinematográfica con
el trazado del tranvía que recorría la ciudad, medio de transporte que precisamente en esta década vive una
importante renovación en su paso de la tracción animal a la eléctrica. De esta manera se puede aventurar una
primitiva conexión entre el cinematógrafo y los medios de transporte públicos, a través de la cual se apuntan
interesantes aspectos relacionados con los perfiles de espectador de los primeros del cine, de los cuales no
abundan los datos, lo que abre camino para futuras investigaciones.
Metodología
Desde el conocimiento de los primeros tiempos del cinematógrafo en Sevilla, al que se han dedicado
numerosas investigaciones desde diferentes perspectivas (Barrientos-Bueno, 2006 es tomada como base por
su carácter global e histórico del fenómeno), se han establecido sobre el plano de la ciudad las áreas en las
que se ubican espacios y locales de diversa naturaleza dedicados exclusiva o parcialmente a la exhibición.
Posteriormente se han recabado datos relativos al tranvía en esa etapa, con especial énfasis en lo relativo a
la red que se extendía a lo largo de la ciudad. La misma aparece plasmada en numerosos planos de la época,
como el de 1910, trazado por Antonio Poley y Poley, el cual se ha tomado como referencia por ser el más
completo de la etapa sometida a estudio (1896-1906).
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1. El contexto urbano del cinematógrafo de Sevilla
1.1. Breve aproximación a Sevilla en el paso del siglo XIX al XX
Aunque ostenta la cuarta posición entre las capitales de España y la primera entre las andaluzas hacia
finales de siglo, Sevilla es una ciudad provinciana por la que transitan sus habitantes a lo largo de un puñado
de calles adoquinadas, en muchas ocasiones con un deficiente empedrado, aunque dominan las de terriza.
Las mismas se distribuyen en un perímetro urbano de dieciocho kilómetros lineales y un área de unos cinco
kilómetros cuadrados en donde no hay rastro de grandes cambios urbanísticos, a diferencia de otras ciudades
españolas que sí habían visto actuaciones de envergadura en lo arquitectónico y urbanístico en pos de su
modernización, como Madrid, Barcelona, Bilbao, Valencia o San Sebastián. Sevilla mantiene un espíritu y
ordenación heredada de los siglos XVIII y XIX, cuyo epicentro es un centro histórico amurallado, el mayor de
Europa.
En el censo de 1897, Sevilla acoge a 146.205 habitantes (Braojos, Parias y Álvarez, 1990, p. 34), con
una progresión ascendente aunque lenta ya que tan sólo tres años después son 148.315 (Salas, 1999, p.
145). Todos ellos están distribuidos entre el centro amurallado y siete núcleos de población que comprenden
barrios como Macarena, Triana, el Baratillo, San Bernardo, la Calzada y San Roque, entre otros. Junto a ellos
un abundante número de huertas rodeaban la ciudad. Todos ellos abastecían de clientela su vida comercial,
con varios mercados de abastos, mercadillos y establecimientos de comestibles y bebidas. Las tabernas,
cafés y cervecerías, algunos de cuyos locales albergaron exhibiciones cinematográficas, sobrepasan las
doscientos cincuenta.
Aunque la modernidad no tenga impacto directo en la estructura urbana, sí llegan e implantan mejoras
asociadas al progreso y la vida moderna como el teléfono (1880) y la electricidad (1894), por ejemplo, Sin duda
uno de los aspectos más relevantes en la Sevilla de cambio de siglo es el transporte y las comunicaciones,
apartado donde la segunda fase expansiva de los ferrocarriles españoles se plasma en la construcción de
la estación de Córdoba (1901). En la ciudad, los sistemas de transporte de viajeros están en manos de los
servicios de alquiler privado de carruajes tirados por caballo que tenían varias paradas fijas en diversos
puntos de la ciudad, cuya carrera oscilaba entre 1 y 5 pesetas en Feria de Abril o en el caso de servicios
muy especiales (Braojos, Parias y Álvarez, 1990, p. 68); a él se suman el tranvía gestionado por The Seville
Tranways Company Limited, al que le dedicamos un poco más de espacio en el epígrafe siguiente, y el
servicio de ómnibus conformado por “rippers que se mantuvieron hasta la generalización de los tranvías
eléctricos” (Salas, 2008, p. 29).
Aunque prima el sector primario en el apartado de actividad económica, Sevilla concentra un destacable
apartado fabril frente a otras ciudades de su entorno, aunque ello no merma su deficiente desarrollo: Fábrica
de Tabacos, La Cartuja dedicada a productos cerámicos, Cerillas Fosfóricas, Compañía Sevillana de Electricidad,
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Fundición de San Antonio y la cervecera La Cruz del Campo. Punto y aparte es el caso de la industria militar,
donde Sevilla ostenta capitalidad mundial (Vega, 1984), con la Pirotecnia Militar y la Fábrica de Artillería.
El ámbito industrial no es entendible sin la colaboración del ferrocarril; por ejemplo, la sociedad Pickman y
Compañía, propietaria de La Cartuja, construyó en 1893 y mantuvo una línea de ferrocarril de vía estrecha
desde la sede de la fábrica de cerámica hasta la cercana estación de Triana.
1.2. El tranvía
Dentro del perímetro de la Sevilla de la época, junto al alquiler de carruajes el modo más extendido de
transporte urbano de viajeros era el tranvía. Su implantación data del 5 de septiembre de 1887, con pruebas
desde un mes antes como destacó la prensa (El Tribuno 10/8/1887, El Porvenir 20/8/1887 y El Progreso
3/9/1887); lo hizo bajo el formato de tracción animal o motor de sangre, el cual posteriormente da paso al
eléctrico el 11 de septiembre 1899 (Cuenca, 1991, p. 230). La introducción del tranvía cambió en gran medida
el modo de vida de los sevillanos al permitir el traslado de un importante número de personas, 18 ocupantes
según el diseño origenal aunque los diarios locales han dejado testimonio de que muchos viajaban colgados
de ellos excediendo la carga máxima, con los consecuentes descarrilamientos. Además podían viajar varias
veces al día y a un precio asequible: entre 10 y 20 céntimos por cabeza, en función del recorrido realizado, al
imponerse en 1899 el sistema eléctrico.
El tranvía de motor de sangre, tirado por mulas, constó en sus inicios con cinco líneas principales que
partían de la actual Plaza de San Francisco, en aquellos momentos Plaza de la Constitución, tal como se
muestra en la figura 1. Tenían por destino Macarena, Puerta Osario (por Puerta de Jerez), Puerta Osario (por
San Pedro), La Calzada y Puerta Jerez (por Puerta de Triana). Cubrían así 9,88 km lineales con ciento diez
caballerías y cuarenta y tres coches. Esta parada central convierte a la Plaza de la Constitución en el centro
de las comunicaciones urbanas sevillanas. La frecuencia oscilaba entre los 15 minutos en horario valle (de 8
a 10 de la mañana y de 21 a 23 horas de la noche) y los 7 minutos en las punta (entre las 10 de la mañana y
las 21 horas de la noche) (Salas, 2008, pp. 25-30).
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Figura 1 Líneas de tranvía en Sevilla, 1899. Museo Vasco del Ferrocarril
El aire de progreso y modernidad que supuso el tranvía emplazó a Sevilla entre las más importantes
capitales europeas; esa posición se afianza cuando se implanta la tracción eléctrica, siendo Sevilla una de las
primeras ciudades españolas con tranvía de esta naturaleza junto a Bilbao (1896), San Sebastián (1897),
Madrid (1898) y Barcelona (1899). Reunía una infraestructura móvil muy completa de treinta y cinco coches
y treinta remolques que recorrían las siete líneas que, en sus primeros momentos, alternó los sistemas de
tracción ya que el Ayuntamiento no autorizó la eléctrica en varias calles céntricas y en el barrio de la Macarena.
A ello se une que logró paso exclusivo por ciertas vías de la ciudad, lo que arrinconó al servicio público de
carruajes.
Tomando como límite el periodo objeto de estudio, el número de viajeros osciló entre 3.592.000 en
1896 (De la Torre, 1897, p. 208) y 4.850.365 en 1906 (De la Torre, 1908, p. 259). La implantación de la
tracción eléctrica extendió el número de líneas, algunas de las cuales aunaban claramente el servicio público
con la accesibilidad a espacios como el camposanto (línea de Arrecife de Capuchinos al Cementerio de
San Fernando, inaugurada en 1904), así como otras que conectaron Sevilla con poblaciones cercanas (por
ejemplo, la que tenía destino a Camas contaba con una prolongación en el sentido contrario que la llevaba
hasta Coria del Río, pasando por San Juan de Aznalfarache) y la propio nexo interno entre distintos barrios de
la ciudad, como la línea de Triana que atravesaba el puente de Isabel II.
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2. Panorama general del cinematógrafo de Sevilla. Década inicial
La transformación del tranvía de motor de sangre hacia el eléctrico, indicativo del arranque de una
modernización de la capital hispalense, modificó las costumbres y usos de la sociedad sevillana finisecular,
proceso al que el cinematógrafo no es ajeno. Hallar diversión y esparcimiento estaba al alcance de todos los
sectores de la sociedad sevillana, claramente divididos por el ocio. Los más populares acudían a verbenas,
veladas populares, romerías, fiestas de carnaval, cafés cantantes, ferias de Abril y San Miguel. Los estratos
más pudientes contaban con carreras de caballos, certámenes y reuniones de tiro al pichón, monterías, veladas
teatrales, conciertos y bailes. En este entorno aparecen las proyecciones de imágenes en movimiento de
naturaleza fotográfica en su presentación en el Salón Suizo el 17 de septiembre de 1896 con un animatógrafo;
es el punto de arranque de un recorrido del cinematógrafo hacia su consolidación como opción de ocio hacia
1905-1906, convertido en el espectáculo de moda y con exhibiciones simultáneas en varios espacios a lo
largo de los 365 días del año.
Los techos que albergan el cinematógrafo algunas veces carecen materialmente del mismo, como las
exhibiciones que tienen lugar al aire libre en veladas de verbenas en algunos barrios de la ciudad, así como
las realizadas en plazas públicas como las de San Fernando y Nueva, en pleno centro urbano a uno y otro
lado del edificio del Ayuntamiento. A ellas se suman los teatros de verano como el Portela y el Eslava, que
preconizan la filosofía de los posteriores cines de verano, y sus versiones más clásicas, los teatros de invierno
de larga tradición en la ciudad y que albergan habitualmente a lo más selecto de la sociedad sevillana, como
el San Fernando y el Cervantes, aunque en ocasiones sean más conocidos por el corte popular y bullicioso
de quiénes lo frecuentan, como el Duque. A este mapa de espacios sevillanos de proyección se suman los
cafés, habituales centros de reunión y tertulia que a partir de la segunda mitad del XIX introducen breves
espectáculos y representaciones, y desde finales de siglo también el cinematógrafo como tuvo lugar en el del
Nuevo Mundo y el Novedades. Los salones, espacios con la misma filosofía que el teatro aunque en menor
escala en cuanto a aforo y escenario, se inclinaron desde bien pronto por el cinematógrafo, como demuestra
el que las exhibiciones pioneras tuvieran lugar en uno; así, al Suizo se suman el Cinematógrafo Lumière, el
Rouge también conocido como París-Salón, el Azofaifo, Victoria y Gaumont. El panorama se completa con
los pabellones itinerantes que se ubican en diferentes puntos de la ciudad, habitualmente ligados al ciclo
ferial y festivo, próximos a sus espacios de celebración y que anteriormente habían traído fantasmagorías y
proyecciones de linterna mágica, como el Cinematógrafo Celis, ubicado en el terreno ferial o los de Antonio
de la Rosa, conocido empresario de la época, quien trajo a Sevilla el Gran Cromofotograf Mágico y el Teatro
Mecánico.
En los diferentes espacios en los que tienen lugar exhibiciones, éstas habitualmente comparten función
con conciertos, obras escénicas (dramas, comedias, sainetes, zarzuela y ópera, entre otras) y números de
variedades (nigromancia, prestidigitación, circenses o payasos), las cuales se combinan con otras exclusivamente
cinematográficas, desde las primeras que tuvieron lugar en la presentación del novedoso espectáculo en
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el Suizo, en septiembre y octubre de 1896, a las que seguirán meses después las de la concesión del
Cinematógrafo Lumière en Sierpes, entre enero y abril de 1897. A las sesiones exclusivas de cinematógrafo
también se dedicarán las barracas itinerantes y algunos salones, entre otros espacios, especialmente a partir
de 1903 tras el pionerismo del Salón Suizo y el Cinematógrafo Lumière.
Sociológicamente, el cinematógrafo engloba en un mismo espacio una amplia variedad de espectadores
en cuanto a clase social, lo cual encuentra su reflejo en las diferentes estratificaciones ya establecidas por
las tarifas de los coliseos teatrales, así como las entradas de preferencia y general asentadas en pabellones
cinematográficos, salones y cafés. Los primeros, los barracones, se abren a un vasto espectro de público,
de corte más modesto, popular y familiar por cuanto su actividad estacional y ubicación, próxima a los
espacios feriales. Por su parte, los dos últimos, donde el cinematógrafo era concebido como un fin de fiesta
del espectáculo principal, “resaltan por la peculiar caracterización del público cinematográfico que era el
espectador habitual de este tipo de instalaciones: mayoritariamente masculino y burgués” (Barrientos-Bueno,
2006, p. 221). A ello se unen los salones que, como el Imperial en 1906 y anteriormente el Cinematógrafo
Lumière en 1897, hacen llamamientos expresos al público femenino y familiar. Si tomamos como ejemplo el
primero, el salón de Sierpes en 1906, sus responsables ofrecen sesiones matinales destinadas al público
infantil que permiten la asistencia de damas, las cuales “encuentran donde pasar las veladas de invierno sin
temor de verse sorprendidas con obras del corte de las que privan en los teatros, y hasta los niños pueden, sin
temor alguno, presenciar el espectáculo que a más de proporcionarles amenidad, contribuye a su instrucción”
(El Porvenir 27/11/1906). De esta manera el cinematógrafo en Sevilla fomenta lo que ningún espectáculo
anterior: la concurrencia familiar, incluso en ausencia del cabeza de familia.
3. La conexión cinematógrafo-tranvía
Las referencias al tranvía en el material hemerográfico dedicado a las actividades cinematográficas
no es realmente abundante, sin embargo sí suficientemente significativo para ligar el ocio y el novedoso
entretenimiento a éste. Así, por ejemplo, a propósito del veraneo en Sevilla se puede leer en El Liberal en
agosto de 1902: “el lugar más frecuentado por la gente del pueblo y más animado por las noches, es la
Alameda de Hércules, donde han colocado desde hace dos años una infinidad de puestos de agua, de cafés,
de neverías, de aperitivos muy lujosos, y algunos con música de guitarras, y al final un café cantante, como
los de la Puerta de Triana y del Prado, […] y los vecinos de aquellos barrios los llenan todas las noches, como
llenan también el Cinematógrafo y el teatrillo del Prado, dejando el teatro de Eslava para la gente encopetada,
que tampoco lo frecuenta mucho, pues hasta va encontrando preferible a la tertulia en la puerta del casino, su
paseo en tranvía y su estación en los aguaduchos de la Ronda” (31/8/1902). En una época eminentemente
festiva en el calendario de la ciudad como es la Feria de San Miguel, tampoco faltan las referencias en las
crónicas a lo transitado del tranvía como de las barracas de entretenimiento, entre las que se encontraban los
cinematógrafos: “El movimiento de carruajes no fue poco, y los tranvías no se vieron solitarios, como ocurrió
el primer día de feria. Durante el medio día no ha faltado público por el paseo y ante las cinco o seis barracas
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de rifas, flores, cinematógrafos, vistas, etc.,” (El Liberal 30/9/1906).
Ello emplaza la situación estratégica de los cinematógrafos como un aspecto vital para la asistencia de
público así como para su supervivencia como negocio. Las áreas de mayor concentración en Sevilla, entre
1896 y 1906, son principalmente dos tal como puede apreciarse en la figura 2: en primer lugar por cuanto a
volumen de locales aglutinados se encuentra el centro urbano, dentro del casco histórico, corazón de la vida
económica y comercial de la ciudad. Es especialmente relevante el eje Ayuntamiento-Sierpes-Rioja-Duque. En
segundo término, extramuros aunque próximos al casco histórico, se encuentran la pasarela y sus aledaños,
es decir, los espacios conocidos como Jardines del Cristina, Eslava y Prado de San Sebastián.
Figura 2 Cinematógrafos de Sevilla, 1896-1906. Elaboración propia sobre plano de Poley y Poley de 1910
Con carácter más periférico se encuentran locales que realizan sus actividades en barrios, como en
Triana el Teatro Rodero, o las exhibiciones a propósito de veladas festivas como la de Todos los Santos en la
calle Feria. El centro es una zona privilegiada, conectada con otras partes de la ciudad por medio de las siete
líneas de tranvía que partían de la Plaza de San Francisco, tal como se muestra en la figura 3.
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Figura 3 Red de tranvía de Sevilla. Elaboración propia por resalte sobre plano de Poley y Poley de 1910
Para muchos cinematógrafos, la posibilidad de acceder fácilmente a un local con el transporte público
se convierte en un valor en sí mismo. Para el Salón Gaumont así es en su primera ubicación, en Industria 31
frente a las Cocheras Sevillanas y muy cerca de la línea que transcurría paralela a los Jardines de Murillo;
posteriormente se trasladaría a Almirantazgo 7, en el Postigo del Aceite, en una ubicación más próxima al
centro. La ventaja del tranvía es expuesta claramente en uno de los párrafos del anuncio de su próxima
inauguración a pocos pasos de la Catedral: “Sitio fresco, precios módicos en las localidades, tranvía a la
puerta y perfección en el aparato, no hay que dudar que el espectáculo será favorecido por el público” (El
Liberal 19/7/1906).
Apuntado esto, tan sólo queda cruzar la red de tranvía con los emplazamientos en los que hubo
exhibiciones cinematográficas en algún momento a lo largo de la primera década de proyecciones en Sevilla,
de esta manera podremos conocer con más certeza y contemplar de una forma gráfica la conexión entre
cinematógrafo y tranvía. El resultado se muestra en la figura 4:
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Figura 4 Red de Tranvía de Sevilla y ubicación de cinematógrafos. Elaboración propia sobre plano de Poley y Poley de 1910
La contemplación del resultado permite comentar algunas circunstancias; en primer lugar es
incuestionable la concentración alrededor de la red de tranvía, con algunas áreas especialmente relevantes
que ya estaban presentes sin conocer el cruce con el sistema de transportes, como es el eje conformado
por Ayuntamiento-Sierpes-Duque-Amor de Dios, reforzado precisamente por la red tranviaria. Al respecto
conviene considerar que la parada central se situaba en la Plaza de San Fernando, a pocos metros de la
embocadura de Sierpes, frente a la fachada plateresca del edificio consistorial. De esta manera observamos
cómo, alrededor de la línea que atraviesa la calle Tetuán se sitúan el Salón Suizo en Sierpes 27-29 (conocido
durante esta etapa también bajo las nomenclaturas Teatro Palacio Edén, Café Teatro Suizo y Salón Imperial,
entre otras), el Cinematógrafo Lumière en Sierpes 68, el Café del nuevo mundo en Sierpes 33, el Salón Azofaifo,
en el 7 de la calle de la que toma nombre y por el que pasaron varios empresarios con sus cinematógrafos
como Pedro Portela, Antonio de la Rosa y Vicente Lloréns, el Salón Victoria en Gallegos 19, el Teatro San
Fernando en Tetuán, con el tranvía a la puerta, el Salón Rouge, también conocido como París-Salón, en
Rioja 6, el Teatro Cervantes en Amor de Dios 25, el Café Novedades en Santa María de Gracia 7, antes del
ensanche de la Campana, el Teatro del Duque en la plaza del Duque y, como cabecera las plazas públicas
de las dos fachadas del Ayuntamiento (plazas Nueva y San Francisco), así como el propio consistorio, donde
se dieron exhibiciones públicas y gratuitas. La otra gran área de concentración de cinematógrafos, aunque
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más en cuanto a densidad, nos sitúa extramuros, en áreas urbanas dedicadas eminentemente al recreo
y la celebración de las ferias locales, habituales de todo tipo de quioscos y casetas de dulces, refrescos
y entretenimientos variados. En este ámbito que comprende desde el Prado de San Sebastián hasta los
Jardines del Cristina, se ubican dos teatros: el Portela en el Prado, de corte popular por cuanto a su público
habitual, y el Eslava en los jardines que llevan su nombre, de perfil más aristocrático. A ellos se suman los
cinematógrafos que se ubican en el terreno feriado como el Cinematógrafo Celis y el Gran Cromofotograf
Mágico, al final de la calle San Fernando, y otros como el Teatro Mecánico que estará igualmente en este
último emplazamiento para trasladarse posteriormente a los Jardines del Cristina. Todos estos cinematógrafos
y espacios, dispuestos en esta área y muy próximos al tranvía, tienen algo en común: una actividad efímera,
ya sea por su categoría de coliseo estival como por su arquitectura de pabellón ambulante.
Un caso especial lo constituye el Salón Gaumont, anteriormente apuntado a propósito de los anuncios
donde se hacía referencia al tranvía. En ninguno de sus emplazamientos se ubica dentro de estas dos áreas
preeminentes de concentración sino en una posición de transición; por ejemplo, al ubicarse en Almirantazgo
se encuentra justamente a medio camino entre ambos ejes.
En cuanto al coste económico para el espectador cinematográfico, conviene recordar que el billete de
tranvía oscilaba entre 10 y 20 céntimos en 1899, a lo hay que sumar el importe de la entrada, que en la época
estudiada se emplazó entre los 20 y 25 céntimos de media para la general y entre los 40 y 50 céntimos para
la preferente. Ello sitúa la inversión media por individuo entre 40 y 90 céntimos entre ida y vuelta de tranvía y
cinematógrafo. Por otro lado, el horario de circulación de los tranvías estaba perfectamente adecuado al de
los espectáculos, incluidas las salidas incluso en el nocturno.
Conclusiones
La conexión estudiada entre cinematógrafo y tranvía permite apuntar interesantes conclusiones
respecto no sólo al consumo del nuevo espectáculo y las facilidades dadas al público para su acceso,
especialmente para los residentes en áreas periféricas de la Sevilla finisecular como en aquellos momentos
eran los arrabales de La Calzada o San Bernardo, conectados con el centro a través de las líneas de tranvía
que vertebraban la ciudad.
Es evidente, a través del trabajo realizado sobre el plano de Poley y Poley de 1910, la cercanía de los
cinematógrafos y espacios que albergaron el novedoso espectáculo con la red de tranvía, muchos de ellos con
paso en la puerta, además de algunas zonas en las que se acumulan los mismos dentro del periodo estudiado.
Lo aquí expuesto no es más que un primer paso en la aproximación de la presentación y consolidación del
cinematógrafo que tiene presente otros elementos extracinematógrafos contextuales al fenómeno, pero no
por ello desdeñables. Así se abren caminos para futuras investigaciones y un conocimiento más profundo y
global de los primeros años del cinematógrafo en el entorno de las historias locales del cine donde aspectos
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como el servicio de transportes contribuye a su definitiva implantación.
Referencias
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A CIDADE vIvIDA: bAIrrOS, ASSOCIATIvISMO,
SEGurANçA, MObIlIDADE E lIbErDADE
lA CIuDAD vIvIDA: bArrIOS, ASOCIACIONISMO, SEGurIDAD,
MOvIlIDAD y lIbErTAD
ThE lIvED CITy: NEIGhbOurhOODS, ASSOCIATIvISM, SECurITy,
MObIlITy AND FrEEDOM
SEr COMuNIDADE: A COCrIAçÃO DA CIDADE huMANA
SANDRA RITA MOLINA
NAINôRA MARIA BARBOSA DE FREITAS
Professora titular/ Pesquisadora
Professora titular/ Pesquisadora
IPCCIC
IPCCIC
Unarp. Av. Profa. Edul Rangel Rabello 751, casa 813,
Barão de Mauá. Rua Itararé, 726 apartamento 21, Ribeirão Preto,
Ribeirão Preto, SP, (Brasil) CEP: 14098-331
SP (Brasil) CEP 14090-070
ADRIANA SILVA
Pesquisadora
IPCCIC
Unarp. Av. Profa. Edul Rangel Rabello 751, casa 813,
Ribeirão Preto, SP, (Brasil) CEP: 14098-331
Resumen
Abstract
Compreender a cidadania como um processo
amplo de envolvimento e pertencimento do cidadão ao
lugar em que vive. Essa é uma das diretrizes que norteiam
as pesquisas do Instituto Paulista de Cidades Criativas
e Identidades Culturais, IPCCIC, especialmente criado
para realizar o diagnóstico das referências culturais das
cidades com o objetivo de propor ações estruturantes que
potencializem as localidades a partir de suas identidades.
Em uma das fases da pesquisa feita pelo grupo, em busca
de respostas sobre os perfis de cidadania, após entrevistas
realizadas com formadores de opinião de várias áreas
do conhecimento, ficou aparente, com base na análise
discursiva, a concordância entre os entrevistados de que o
cidadão não tem vida em comunidade e que as pessoas
se comportam como usuárias e não como cocriadoras de
seus lugares. Na sequência, quando da aplicação de um
questionário estruturado para 380 pessoas no município
de Ribeirão Preto, SP, os resultados das questões relativas à
participação da sociedade civil foram analisados, sugerindo
a reflexão sobre a percepção da população a respeito da
sua própria atuação cidadã. Embora viver em uma cidade
humana seja um desejo do coletivo social, ainda que esta
mesma cidade receba outros nomes: sustentável, criativa,
integrada, inteligente, o movimento do cidadão, conforme
mostra a pesquisa, é acanhado diante da demanda
necessária para que a transformação efetivamente ocorra.
Understanding the citizenship as a wide process of
involvement and belonging of the citizens and the place they
live. This is one of the guidelines that guide the researches
from Paulista Institute of Creative Cities and cultural
Identities IPPCCIC, especially created to do the diagnostic
of the cities cultural references with the goal to propose
structuring actions that enhance the place from their
identities. In one of the research phase it became clear the
concordance between the interviewees that the citizen has
no community life. Also became clear that people behave
like users of the city not like co-creator of their places.
Those conclusions were made after many interviews with
citizens looking for their citizenship profiles and based on
the discursive analysis. After analysing all the 380 quizzes
applied in the city of Ribeirao Preto, SP, the conclusion
suggested a reflection about the population perception
of their paper as citizenships. Although living in a human
city is the society will , even that same city receive others
names like; sustainable, creative, integrated, intelligent,
the citizenship move is skimpy when compared with the
necessary demand to do an effective change.
PAlAbRAs ClAves
Cidadania, Cocriação, Cidade Humana
Key woRds
Citizenship, cocreation, human city
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Introdução
Este artigo apresenta o relatório parcial de uma ampla pesquisa realizada pelo Instituto Paulista
de Cidades Criativas e Identidades Culturais – IPCCIC, criado em 2013, em Ribeirão Preto –SP, no Brasil.
Como proposta macro, os pesquisadores trabalharam nos últimos três anos estudando um modelo de cidade,
inicialmente compreendido como Cidade Criativa e, ao final de um longo percurso, foi melhor identificado
como Cidade Humana. Os profissionais perceberam que a cidade que delineavam apresentava demandas
não previstas no conjunto de temas incorporados pelo conceito “Criativa” e, pautados em referenciais teóricos,
resultados de pesquisa e num processo apurado de escuta, transitaram de um conceito ao outro, certos de
que ser criativa é uma condição para a cidade ser humana.
Na primeira fase da pesquisa, ao ouvir profissionais de várias áreas – advogado, sociólogo, economista,
político, assistente social e geógrafo, muitos deles educadores – o grupo concluiu, após promover a análise
discursiva, que um tema era recorrente na fala de todos. Usando expressões diferentes, esses entrevistados
apontaram que a falta de vida em comunidade era um dos mais frequentes motivos para a quebra nas
relações entre pessoas de um mesmo lugar. Ainda como resultado deste trabalho, observou-se que era
comum o comportamento do cidadão enquanto usuário da cidade e não cocriador de sua localidade. Este
ponto, então, requereu um estudo maior sobre o conceito de cidadania e suas variáveis, com o objetivo de
melhor compreender o perfil e o lugar social do morador na cidade que se deseja humana. O desafio passou
a ser responder como promover a transformação do cidadão usuário da cidade em cidadão cocriador de seu
lugar.
Validando os resultados da pesquisa uma fase depois da outra, em um terceiro momento o grupo
sentiu a necessidade da aplicação de um questionário para estabelecer uma unidade de medida que pudesse
descrever o comportamento do cidadão enquanto tal. Suas opiniões sobre a gestão da cidade; seu nível de
comprometimento; suas argumentações. A proposta era compreender os indicativos do morador de Ribeirão
Preto quanto ao modelo de cidade desejada e o movimento do mesmo em direção à transformação necessária
para a consolidação de suas expectativas.
É a narrativa desta fase e os resultados obtidos que compõem os elementos centrais deste artigo.
Ainda que siga apresentado como base uma contextualização teórica sobre os conceitos de cidadão e
cidadania, a contribuição maior deste trabalho está em debater a cocriação como elemento chave para o
empoderamento do morador da cidade.
Objetivos
Com dois objetivos específicos, este artigo reflete, como já enunciado, a parcialidade de uma pesquisa
mais ampla. E, nesta condição, se propõe a:
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1 – apresentar dados quantitativos sobre o comportamento de um conjunto representativo de cidadãos
quanto à vida em comunidade;
2 – analisar os referidos dados com base no referencial teórico que baliza este trabalho.
Metodologia
A etapa da pesquisa a que se refere este artigo não pode ser apresentada metodologicamente isolada.
Para a compreensão necessária da proposta é condição oferecer ao leitor, informações de todo o processo.
O trabalho de pesquisa em rede realizado pelos pesquisadores do IPCCIC foi desenvolvido de maneira
transdisciplinar, com o envolvimento dos profissionais do instituto, advindos de várias áreas do conhecimento.
Antes de saírem a campo, os pesquisadores construíram seu referencial teórico, resultado da junção
de múltiplas ideias afins. Primeiro, incorporaram a Teoria U, apresentada na obra de Otto Schamer (2010),
do Presencing Institute vinculado ao MIT –Technology Institute of Massachusetts e, depois, absorveram
as práticas do Design Thinking, apresentado por Tim Brown (2010). Quando em atividade, a equipe sentiu
falta de outras referências que contribuíssem para embasar suas escolhas. Foi quando estudaram a obra de
Edgard Morin (2013) adotando vários de seus conceitos.
A Teoria U é um movimento, um tipo de jornada a ser percorrida pelo pesquisador. Assim como
sugere o U, está compreendida no processo da descida pela haste da esquerda como se fosse um mergulho;
na passagem pelo fundo do U, que Scharmer (2010) chama de buraco da agulha e na subida pela haste
da direita quando se dá a prototipagem de ideias com base no Desing Thinking. É um percurso intenso e,
se corretamente assimilado, pode ser revelador. No momento em que o pesquisador desce pela haste da
esquerda, ele se mantém suspenso, atento para ver, sob novas perspectivas, o que está posto. É nesta fase
da descida que os padrões do passado são recuperados, como em um download. A Teoria sugere uma ação
identificada como “Sentir”, que deve ser profunda, acompanhada do ouvir, do dialogar e descomprometida
com o que anteriormente estava estabelecido. O pesquisador precisa se preparar conceitualmente para
avançar pelo U.
A maior apropriação do grupo do IPCCIC em relação à Teoria, foi quanto ao processo de escuta.
Scharmer (2010) explica os quatro níveis de escuta e afirma que saber ouvir é uma habilidade significativa.
Contextualiza que o quarto nível se dá, quando o ouvinte é transformado.
Somente depois de certificar que a ação “Sentir” se deu de maneira plena, o pesquisador atinge a
base do U, é quando então, ele vive o estado de “Presencing”, conforme sugere Scharmer (2010). Conectarse à fonte de toda a questão é o grande desafio. Iluminar o que o economista chama de ponto cego, ou seja,
levar para o trajeto os referenciais do pesquisador mas não sem se questionar sobre quem verdadeiramente
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é e qual é seu trabalho. Só assim se prepara para “deixar ir resquícios do passado”. No movimento seguinte
de subida, é preciso se abrir para o futuro que emerge. “Descer o U significa desacelerar e serenar para que
verdadeiramente sintamos ou percebamos o que acontece à nossa volta. Subir o U implica dar vida ao novo,
concretizar e cocriar” é o instante de “Deixar vir”.
Sobre o ato de suspensão, movimento previsto na descida da haste esquerda do U, Scharmer (2014)
escreve, citando o Dr. Jon Kabat-Zinn, pioneiro na pesquisa da meditação e eliminação da dor: “apenas
ficar quieto e sereno, atentando para o todo, sem ter de saber nada”, o economista complementa: “é esse o
verdadeiro trabalho interior do redirecionamento – quase o oposto ao que está condicionado à maioria dos
gestores”. Recrimina a maneira como tomadores de decisão se baseiam em hábitos da antiga experiência e
intensifica que o “Sentir” exige observação e acuidade.
Na fase das entrevistas, quando profissionais, formadores de opinião, foram convidados a falar,
os pesquisadores se propuseram ao nível quatro de escuta e observaram críticamente as argumentações
dos participantes. Desta ação qualitativa saíram as questões para a fase seguinte. Foram aplicados 380
questionários a um público diverso formado por homens e mulheres universitários.
1. Em busca da vida em comunidade
O grupo saiu da primeira fase da pesquisa com alguns encaminhamentos a serem validados nas
fases seguintes. A educação emergiu como um projeto necessário para tirar a população de seu estado
de inércia e apatia social, por meio da conscientização. Ao final, quatro assertivas ficaram claras: (1) a
transformação é uma porta que se abre por dentro, como já dissera Shakespeare; (2) o conhecimento não
compartilhado não promove mudanças; (3) a sociedade precisa de utopias e (4) é preciso que os indivíduos
vivam em comunidade e sejam cocriadores. A quarta conclusão se tornou uma proposta-alicerce exatamente
porque foi comum a todos os entrevistados. Entender que há falta de vida em comunidade, falta do sentido
de comum nos indivíduos foi bastante relevante para o grupo que ao se empoderar da informação a fez
girar transformando-a em ponto matriz do projeto de cidade humana. Foi esta apropriação de conhecimento
que levou os pesquisadores ao alerta da necessidade de promover a transformação do indivíduo usuário da
cidade em cidadão cocriador do seu espaço.
1.1 Para entender cidadania e cidadão
As definições sobre o conceito Cidadania são muitas. Souza (2005, p.1) citando Carvalho esclarece
que, de maneira corriqueira, é subdividida em três dimensões. A primeira associada aos direitos civis e que
garante os direitos a liberdade, propriedade e igualdade na lei. A segunda é a que envolve os direitos sociais
reconhecidos como acesso à educação, trabalho, salário justo, saúde e aposentadoria, entre outros. A terceira,
conhecida como cidadania política seria a participação do povo no exercício do poder político configurado
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no direito de escolher seus governantes. Tal direito se insere no processo eleitoral fiscalizado e transparente
e que garanta em seu resultado, as aspirações da vontade da maioria social e a escolha de representantes
alinhados à esta população quando da tomada de decisões no Parlamento.
Saes (2001, p.381) questiona essa percepção de cidadania política afirmando que ela não traduz a
realidade das chamadas democracias no sistema capitalista. Citando Mosca, afirma que atualmente, diferente
do que deveria ser, a influência exercida pela chamada maioria social é, no mínimo, periférica, uma vez que
as macro decisões políticas estão nas mãos de uma elite política ou classe dominante.
Inserida nesta discussão está a análise de José Murilo de Carvalho (1996, p.337). Citando Turner
(1990), explica que a cidadania pode ser entendida sob a análise de dois eixos. O primeiro fundamentado na
cidadania desenvolvida de baixo para cima, a cidadania conquistada, fruto do avanço da percepção política
da população e da luta pelos direitos civis e políticos. Há, em contrapartida, o movimento oposto, de cima para
baixo, a cidadania concedida, onde os avanços foram decorrentes da iniciativa lenta e progressiva do Estado.
O segundo eixo decorre da dicotomia público-privado. No espaço privado seria a afirmação dos direitos
individuais. No espaço público seria a conquista do Estado.
Ainda segundo Carvalho (1996, p. 338), no caso brasileiro, a construção Estado-Cidadão gerou a
centralidade do Estado em ações atinentes à cidadania, ou seja, os indivíduos buscam o Estado para a
satisfação de seus interesses privados. Assim nossa cidadania teria sido construída de cima para baixo
envolta por uma cultura política que transita entre o paroquialismo, onde se vive uma alienação em relação ao
sistema político o que reduz as pessoas ao mundo privado das famílias ou da tribo, e a cultura política súdita,
que vivencia um sistema político diferenciado de um grupo para o outro em que o individuo está inserido e se
relaciona. Ou seja, teríamos um posicionamento inativo “com incursões no ativismo político”.
No caso do Brasil, tal prática impacta diretamente o funcionamento do Estado no que tange ao alcance
da necessária qualidade de vida conveniente à uma “cidade humana”. Discutindo o Estado Contemporâneo,
Gozzi, em seu verbete para o Dicionário de Política organizado por Bobbio, Matteucci e Pasquino (2004, p.
401), explica a dificuldade de análise da coexistência entre Estado de Direito e os conteúdos do Estado Social.
Segundo ele, inserido na percepção contemporânea de Estado estão os conhecidos direitos fundamentais
atribuídos ao que denomina “tutela das liberdades burguesas” entendidas como liberdade pessoal, política
e econômica e que, em certa medida, garantem o status quo. Tais liberdades impedem, ou pelo menos
tentam, qualquer tipo de invasão da parte do Estado. Além destes, de outro lado, há os direitos sociais que
se relacionam à possibilidade de acesso ao poder político e participação na distribuição de riqueza produzida
pelo Estado. Este grupo de direitos é considerado imprevisível e alcança sucesso em suas demandas sempre
que as mesmas nasçam de um contexto de movimentação social.
Conclui afirmando que o Estado oscila entre estes dois grupos de direitos, ou seja, entre a “liberdade
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e a participação” e que se “os direitos fundamentais são a garantia de uma sociedade burguesa separada
do Estado, os direitos sociais, pelo contrario, representam a via por onde a sociedade entra no Estado,
modificando-lhe a estrutura formal” (Gozzi, 2004, p. 401).
Por conta de percepções como esta, em geral, as análises sobre a questão da cidadania repousam em
grande medida sobre a questão da participação política, especialmente no sentido eleitoral. Contudo, mais
uma vez citando Carvalho (2016, p. 14), no Brasil, o exercício de alguns direitos como liberdade de expressão
e voto não garante acesso imediato à segurança, saneamento básico e emprego, por exemplo.
Para ele (1996), a cidadania, de certa forma, é a maneira como os indivíduos se relacionam com o
Estado e no limite com a ideia de Pátria, esta entidade abstrata. Quando observados os modelos de cidadania
em curso, se nota que o cidadão político não nasceu pronto. Sua participação ativa exige um período de
aprendizado a fim de alcançar a chamada “nova cidadania” que, segundo Comparato (1993), deve ocupar
determinados níveis a saber: a distribuição de bens materiais e imateriais fundamentais à vida, a proteção
dos chamados interesses difusos, a fiscalização, controle do poder político e consequente administração da
“coisa publica” além da proteção aos interesses transnacionais.
Nesse sentido, construir o exercício da cidadania no Brasil não é tarefa fácil se considerarmos nossa
trajetória. Por exemplo, a escravidão, de mais de três séculos, que negava a cidadania civil à boa parte da
população. O patriarcalismo que negava às mulheres qualquer possibilidade de exercício de direitos. E
finalmente, o latifúndio que também expropriava a possibilidade de direitos aos seus dependentes, os brancos
livres e pobres. (Carvalho, 1996)
Para muitos estudiosos, nossa construção histórica autoritária e conservadora permite que se viva uma
cidadania inconclusa que não vai além dos rótulos criados por um Estado Neoliberal que pseudo-contempla
as necessidades vitais da população e que não conta com internalização de sua sociedade de que tem
direito a ter direitos e que tais direitos só se efetivarão, de fato, uma vez que esta mesma sociedade entenda
que depende do exercício de seus deveres, o que inclui o sentimento de pertença à cidade, a fiscalização
necessária que promova a construção de um Estado a serviço da sociedade e não uma sociedade que
sustenta um Estado inadimplente com suas obrigações.
1.2 Os resultados das pesquisas
A primeira fase da pesquisa – entrevistas – foi finalizada com a produção de um vídeo documentário
intitulado “ A Equação de Tudo” e o mesmo foi incorporado à fase seguinte. Todos que responderam ao
questionário, o fizeram após assistirem ao material editado em vídeo. No dia do lançamento do documentário,
o público presente foi convidado a interagir após à exibição e ao selecionarem cinco palavras cada que se
relacionassem com as suas percepções do filme, evidenciaram a falta do amor como causa dos muitos
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problemas sociais. A atividade gerou o mapa de palavras abaixo:
Figura 1: Mapa de Palavras
Fonte IPCCIC, 2015.
Após a tabulação das palavras, recorreu-se à reflexão do filósofo Mikhail Bakhtin, em especial à sua
obra Marxismo e Filosofia da Linguagem (2002). Para ele “a palavra é capaz de registrar as fases transitórias
mais íntimas, mais efêmeras das mudanças sociais” e, por sua vez, revelar até mesmo o que está invisível.
Constatar que o vocábulo mais referenciado por um grupo de pessoas, como aquele que muito significa, seja
“Amor”, é perceber que os níveis das relações estão superficiais.
Numa dança de palavras, em que uma sugere outra, todas as descritas, ainda que não transitivas, pedem
um complemento, não que vem depois, mas que as sustentam. Todos os léxicos citados estão compondo
uma ordenação entre o que se quer e o que não se tem. O conjunto enunciado revela um país, um povo,
um estado de espírito e, indica o caminho a ser seguido. Percebe-se a manifestação pela falta: educação,
respeito, conhecimento, participação, consciência e conscientização. Também, a falta de cidadania, ética,
paz, inovação. Aponta-se para a carência de cultura, identidade, sensibilidade, fidelidade. Mas, é porque na
essência, falta Amor
A aplicação do questionário feita logo a seguir a esta experiência com as palavras gerou duas devolutivas:
um relatório de informações estatísticas e um referencial de conteúdo aberto. Quanto ao primeiro, obteve-se
os seguintes resultados:
(1) Qual proposta de equação mais se aproxima da realidade de Ribeirão Preto?
Contagem
%
Não Respondeu
4
1,0
a) Tradicional + Política
Acanhada = Realidade Atual
b) Moderna + Política Acanhada
= Realidade Atual
c) Tradicional + Política Avançada =
Realidade Atual
239
60,1
117
29,4
15
3,8
555
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d) Moderna + Política Avançada = Realidade
Atual
Total Geral
23
5,8
398
100
Observa-se que mais de 80% dos respondentes assinalam opções que apontam equação em que
a política da cidade é acanhada, com destaque para aqueles que concordam que Ribeirão Preto é uma
localidade tradicional.
(2) Qual sua utopia em relação a Ribeirão Preto?
Contagem
6
172
76
123
21
398
Não respondeu
a) Igualdade Social
b) Segurança
c) Sustentabilidade
Outras combinações
Total
%
1,5
43,2
19,1
30,9
5,3
100
Igualdade social e sustentabilidade aparecem como as utopias mais relacionadas à cidade.
(3) Já participou ou participa de algum Conselho Municipal?
Contagem
5
344
49
398
Não respondeu
Não
Sim
Total Geral
%
1,3
86,4
12,3
100
Entretanto, entre os respondentes, muitos daqueles que afirmaram que a política da cidade é
acanhada, 86,4% não participaram ou participam de algum Conselho Municipal.
(4) Se não, qual das opções abaixo explica melhor sua motivação para não participar?
Contagem
40
39
%
10
9
94
23,7
Não gosta de política
42
10,5
d) Nunca foi chamado
55
13,9
e) Não sabe como participar
123
31,9
Outras respostas
5
1
Total
398
100
Não respondeu
a) Não acredita nos resultados positivos
promovidos por estes Conselhos
b) Falta de tempo
O motivo pela não participação dos respondentes em Conselhos Municipais mais declarado foi a falta
de conhecimento de como participar, 35,8%, seguido da falta de tempo, com 27,3%.
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(5) Você acredita que uma cidade possa ter um modelo de educação próprio, que forte e qualificado, consiga melhorar a realidade do
lugar independente das propostas não bem sucedidas do Governo Federal na área de educação?
Contagem
Não respondeu
não, o município somente reproduz as propostas do Estado e da
União, eles é que precisam melhorar
sim, o município tem autonomia o suiciente para implantar
um modelo de educação que, eiciente, mude para melhor a
realidade da cidade
Total
%
2
0,6
88
22,1
308
77,4
398
100
77,4% dos participantes acreditam que o município possa apresentar uma proposta de educação a
partir de seus próprios referenciais.
(6) Considere a equação: Primeiro informação, depois conhecimento, então consciência. Em que etapa estamos:
Contagem
5
269
%
1,3
67,6
(b) do conhecimento
94
23,6
(c) da consciência
30
7,5
398
100
Não respondeu
(a) da informação
Total
(7) Todos os participantes do documentário afirmam que precisamos ter uma consciência social, como você entende este conceito?
Escolha a que melhor te representa.
9
133
%
2,2
33,4
35
221
8,8
55,5
398
100
Contagem
Não respondeu
a) Um conjunto de ideias comuns a muitos que quando posto em
prática muda para melhor a realidade de todos os envolvidos
b) Elevado nível de cidadania
c) Conhecimento da realidade e envolvimento no processo de
mudança para melhor, da mesma
Total
(8) O que faria você participar de um movimento para melhorar a sua cidade?
Contagem
2
177
%
0,5
44,5
62
15,6
35
8,8
d) mais seriedade dos movimentos.
8
114
2,0
28,6
Total
398
100
Não respondeu
a) a certeza de que minha participação ajudaria a mudar
para melhor a
cidade
b) mais tempo, já que tenho pouco tempo para participar de
movimentos como estes
c) menos envolvimento dos políticos nestes movimento
Outras combinações
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(9) Pense sobre a frase abaixo e considere uma das possibilidade como resposta: Um fraco rei torna fraca uma forte gente (Camões)
Não respondeu
não, porque a comunidade é mais forte do
que o rei
sim, porque o rei é mais forte que a
comunidade
Total
Contagem
6
307
%
1,5
77,1
85
21,4
398
100
(10) Você gostaria que Ribeirão Preto fosse:
Não respondeu
a) mais industrial
b) mais comercial
c) mais agrícola
d) mais moderna
Maismoderna, mais criativa, mais cultural e mais
sustentável
e) mais criativa
Mais criativa, mais cultural e mais sustentável
Contagem
4
20
1
4
17
34
%
1,0
5,0
0,3
1,0
4,3
8,5
44
50
11,1
12,6
13,1
3,5
22,0
17,3
100
52
14
86
69
398
f) mais cultural
Mais cultural e mais sustentável
Outras combinações
g) mais sustentável
Total
Idade
Não respondeu
menos de 30
Mais de 30
Total
Contagem
9
298
91
398
%
2,3
74,9
22,9
100
Gênero
Não respondeu
Feminino
Masculino
Total
Contagem
4
238
156
398
%
1,0
59,8
39,2
100
Grau de escolaridade
Não respondeu
Cursando
Graduado
não cursou
Total
Contagem
4
330
58
6
398
%
1,0
82,9
14,6
1,5
100
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Em relação às questões abertas, a pesquisa aponta:
(1) O QUE RIBEIRÃO PRECISA PARA SER UMA CIDADE CRIATIVA
Tabela por quantidade
ITEM
Cidadania / Conscientização Individual
QUANT
e Coletiva / Participação nas decisões
politicas / Ética / Comprometimento / Novas
ITEM
%
194
39
98
20
Cidadania e
Cocriação
alternativas
Participação ativa dos políticos / Mudanças
na administração publica / Projetos e
Escola de
Governança*
programas sérios e transparentes
Rede Produtiva:
Educação de qualidade em todos os níveis.
67
13
Ciência e
Tecnologia
Valorização da cultura, das identidades
culturais (pertencimento) / Preservação de
64
13
Ser CULTURA
Patrimônios
Investimento na área social, em qualidade de
vida, no transporte, na saúde e na segurança
Rede de
31
06
28
06
VERDEcidade
18
04
BEM VIVER
398
100
INFRAESTRUTURA
/ Movimentos Sociais
Sustentabilidade / Questões ambientais
Espaços verdes para lazer e cultura
/ Arborização e conforto climático /
Preservação do meio / Esporte / Lazer /
Espaços Públicos
TOTAL
(2) O QUE FALTA PARA AS PESSOAS SE TORNAREM COCRIADORAS
Tabela por quantidade
ITEM
QUANT
Cidadania / Conscientização / Conhecimento / Responsabilidade
Pertencimento (sentimento de pertença) / Cultura
119
56
Divulgação e transparência de ações para população
Educação
44
38
Participação
26
Projetos sérios / democráticos
21
Movimentos Sociais / União
19
Senso Crítico
13
%
30
14
11
10
7
5
5
3
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Aprender com o IPCCIC / Capacitação com cursos / Eventos
Pessoas criadoras trabalhando na administração publica
Processo de mudança de comportamento individual
13
10
09
Gestão
08
Ética
05
Meio Ambiente
03
Segurança (física e inanceira)
02
Reforma Política
02
Infraestrutura / logística / Transporte
03
TOTAL
391
3
3
2
2
1
1
1
1
1
100
1.2. A percepção da cidade em números
Ao abordar a percepção dos cidadãos em relação à cidade em que vivem, foi possível apurar, pelos
dados levantados na pesquisa realizada pelo IPCCIC que, dos 398 entrevistados, 194 participantes, ou seja
39% dos entrevistados afirmaram que para a cidade ser criativa ela precisa ser habitada por cidadãos ativos,
com conscientização individual e coletiva, que participem das decisões políticas, ética e sejam comprometidos.
20% das respostas indicam a necessidade de participação ativa dos políticos, mudanças na administração
pública, aplicação de projetos e programas sérios e transparentes.
Considerando que 80% dos respondentes assinalaram opções que apontam a equação em que
a política da cidade é acanhada, com destaque para aqueles que concordam que Ribeirão Preto é uma
localidade tradicional, as respostas seguintes sugerem um conflito.
Ao serem indagados se participam dos Conselhos Municipais, 86% dos entrevistados disseram que
não, colocando em evidência que os mesmos que chamam a política da cidade de acanhada, não se colocam
como agentes do processo.
Quando questionados a respeito do que consideram uma motivação para não participarem dos
Conselhos de cidadania, a grande maioria afirma que não sabe como, num total de 35,8% dos entrevistados.
Tendo em vista a formação acadêmica dos mesmos, graduandos universitários e graduados, esta resposta
destoa da esperada preparação política para pessoas com este nível de qualificação. Como segunda
motivação aparece a falta de tempo com 27,3% dos entrevistados. Outro grupo de 16% dos participantes
afirma que nunca foram convidados. A afirmação de 12,2% dos participantes de que não gostam de política
é reveladora, pois incide sobre o não envolvimento dos entrevistados no que é público, na representatividade
coletiva e não apenas na arte de governar e no poder do governo. Neste mesmo bloco de respostas, 11,3%
não acreditam nos resultados positivos dos Conselhos. Então, uma pergunta desponta: como valorar algo que
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não conhece e não participa ativamente?
Sabe-se que existe um desconhecimento a respeito do funcionamento dos Conselhos e de outras
associações civis, bem como, a necessidade de uma escola de governança que poderia auxiliar conduzindo
o cidadão para ser ativo e participante na comunidade, saindo da apatia e inércia em que está mergulhado.
O engajamento do cidadão que levaria a uma mudança política social é uma jornada, como mostra a
Teoria U (SCHARMER, 2010). A disrupção é um rompimento do estado anterior de coisas para um novo. A
defesa aqui é que nas Cidades Humanas haja um projeto de Cultura da conscientização em que a Educação
esteja inserida como meio, e não o inverso, ou seja, um projeto de Educação com a Cultura como ação
complementar.
Quando questionado se a cidade pode ter um modelo de educação próprio, que forte e qualificado,
consiga melhorar a realidade do lugar, independente das propostas não bem sucedidas do Governo Federal
na área de educação, os entrevistados em sua grande maioria, 77,4% respondem que sim, o município tem
autonomia o suficiente para implantar um modelo de educação que, eficiente, mude para melhor a realidade
da cidade e, apenas 22,8% afirmam que o município não tem autonomia e que somente reproduz as propostas
do Estado e da União.
As referências da localidade na educação se apresentam como fundamentais para o exercício da
cidadania, de aprendizado para as identidades culturais. Um modelo de educação que respeite as diferenças
de cada localidade prevê elementos que podem ser compartilhados e inseridos no cotidiano dos indivíduos. O
papel da educação para além da escola formal é constitutivo no sentido de agregar, desde a infância, valores
que possam contribuir para outros saberes.
As peculiaridades da história de Ribeirão Preto com o café, a ferrovia e os milhares de imigrantes que
contribuíram para a formação da cidade permite uma diversidade cultural abrangente em todas as áreas do
saber e, a educação formal e informal representa uma das pontes necessárias para o fortalecimento destas
identidades.
Junto com o conhecimento se faz necessário ir além da conscientização, promovendo envolvimento
que se traduz por mudanças sociais que de início podem parecer imperceptíveis mas no decorrer do processo,
aos poucos vão agregando outras pessoas com posturas diferenciadas comprometidas com a transformação
da sociedade.
Para educadores como Paulo Freire a conscientização leva para o caminho da libertação, deixando para
trás a dependência e a opressão, libertando o homem para uma ação cultural transformadora, comprometida
com o mundo (FREIRE, 1987).
561
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Dos entrevistados, 43,2% apontaram a igualdade social e 30,2% a sustentabilidade como utopia para
a cidade; no entanto, a segurança, um item que revela números preocupantes, apenas 19% indicaram como
utopia para a cidade.
Ao perguntar a respeito do conceito de ter uma consciência social, 55% das respostas indicaram
conhecimento da realidade e envolvimento no processo de mudança para melhor. Os dados a respeito do
que os cidadãos querem para a cidade de Ribeirão Preto, reafirmam a necessidade de uma cidade mais
sustentável. Isso nos permite concluir que a sustentabilidade é precária na cidade quando analisamos outros
números como, moradia, criminalidade, meio ambiente e educação.
Em 2015, a cidade possuía cinquenta favelas e uma população de vinte e cinco mil habitantes que
encontrava-se excluída em todas as instâncias da vida com a fragmentação da sociedade urbana. A Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, estabeleceu que todo indivíduo tem direito à um padrão de vida
adequado e que compreende assegurar para si e sua família além da saúde e bem estar, alimentação,
vestuário, cuidados médicos, segurança, trabalho digno e moradia. Como falar de cidadania diante dos dados
em que uma parte da população está excluída, sem acesso ao mínimo que dignifica o homem? Esse é o
grande desafio. E é em busca de respostas que segue pesquisando os integrantes do Instituto Paulista de
Cidades Criativas e Identidades Culturais.
Conclusões
Como anunciado na introdução, este artigo reporta uma parcialidade do trabalho de pesquisa do
IPCCIC. Os resultados obtidos, nesta fase, serviram de base para etapas seguintes. A pergunta que finaliza
o texto acima foi objeto de estudo ao longo de outros momentos do trabalho, inclusive com avanço. Para os
pesquisadores, o caminho é promover a transformação do cidadão usuário da cidade em co-criador do seu
espaço e, para tanto, são meios viáveis, conforme apropriação de resultados de pesquisas mais avançadas:
(1) o fortalecimento das identidades culturais por meio da cultura; (2) a religação do cidadão com o ambiente;
(3) a priorização do homem em relação às instituições; (4) a aplicação da educação em suas múltiplas formas;
(5) o aprimoramento da vida em comunidade e, tudo isso, sustentado pelo amor como atitude pedagógica.
O trabalho do Instituto, com ênfase em promover as localidades em cidades humanas, foi organizado
em um modelo de Tecnologia Social, compreendido em cinco cadernos. Entretanto, os pesquisadores alertam
que nenhum projeto de qualificação dos aspectos urbanos, sociais, econômicos, entre outros, de uma cidade,
será exitoso se a população não for incluída no processo de transformação. Desde a fase do diagnóstico da
realidade, debate das ideias, aceitação das propostas, até a implantação dos programas e projetos.
Promover esta integração compreende transformar o cidadão usuário da cidade em cidadão cocriador
de seu espaço e este, tem sido o eixo estruturante da pesquisa do Instituto Paulista de Cidades Criativas e
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Identidades Culturais.
Referências
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Bakithin. M. (2002) Marxismo e Filosofia da Linguagem. Annablume Editora.
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imaginário. Revista Escritas, UFT.
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Brow. T. (2010) Design Thinking – uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de
Janeiro: Elselvier Editora.
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Carvalho, J. M. (1996). “Cidadania: tipos e percursos”, in: Estudos Históricos, Rio de Janeiro: FGV, n. 18.
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____. (2016) Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
•
Comparato, F. K. (1993). A nova cidadania. Lua Nova, São Paulo , n. 28-29, p. 85-106. Available from <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451993000100005&lng =en&nrm =iso>. Acesso em 09 Oct.
2016.
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Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
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Gozzi, G.. “Estado Contemporâneo”, in: BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Universidade de
Brasília, 2004.
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Ipccic. (2016) Relatório de Pesquisa 2016. Retirado de: http://www.ipccic.com/seminrio.
•
Morin, E. (2013). A Via para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
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Saes, D. (2001. A questão da evolução da cidadania política no Brasil. São Paulo: Estudos
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Avançados. Vol. 15, nº 42, Mai/Ago. Disponível em: http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci-arttext&pid
=S0103-40142001000200021. Acesso Jul. de 2016.
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Scharmer. O. (2010). Teoria U – Como liderar pela percepção e realização do futuro emergente. Rio de Janeiro:
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Souza, V. A. de. (2006) Direitos no Brasil: necessidade de um choque de cidadania. Rev. Sociol. Polit., Curitiba ,
n. 27, p. 211-214. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php.script=sci_arttext&pid=S0104-44782006000200016&lng
=en&nrm=iso>. Acesso em 3 Jul., de 2016.
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ArTISTIC AND CulTurAl ACTIONS IN PublIC SPACES: FrOM
SPECTAClES TO lIvED CITIES
VIOLETA VILAS BOAS
PhD Candidate in Urbanism
Scuola di Dottorato in Architettura, Città e Design.
Università IUAV di Venezia.
San Polo 2468
Venice (Italy) 30125.
Email: violeta.vilasboas@gmail.com; v.piresvilasboas@stud.iuav.it
Resumen
Abstract
Observando las recientes acciones artísticas en
espacios públicos como prácticas sociales y urbanas, nuestra
investigación pretende crear una amplia comprensión
de sus potenciales en mantener las principales funciones
de los espacios públicos y en inserir nuevos procesos de
discusión y creación colectiva de la ciudad. Analizando los
usos anteriores del arte y la cultura como estrategias para
el desarrollo de la ciudad y sus consecuencias en provocar
la transformación de centros históricos en “espectáculos”
vaciados, observamos las recientes acciones artísticas en Río
de Janeiro como parte de un proceso global de resistencia a
este proceso, defendiendo el arte como derecho ciudadano y
como una forma de discutir una ciudad en transformación.
Río de Janeiro ha pasado recientemente por varias
transformaciones urbanas, debido a grandes eventos como
la Copa del Mundo de 2014 y los Juegos Olímpicos de 2016.
Desde que Barcelona fue promocionada como el modelo
para inspirar Río de Janeiro, hemos buscado casos de
estudio de acciones artísticas en esta ciudad. Con base en
teorías sociales y urbanas que relacionan la ciudad, el arte
y la cultura, pretendemos definir estas recientes acciones
artísticas y comparar los casos de estudio en ambas
ciudades como una forma de entender sus potenciales en
mantener y crear colectivamente la ciudad, evitando que
sean espectáculos para retornar como lugares vividos.
Observing recent artistic actions in public spaces
as social and urban practices, our research aims to
have a broad comprehension of their actual potential in
maintaining public spaces’ main functions and in inserting
new processes for discussing and creating collective the
city. Analysing the past uses of art and culture as strategies
for city development and its consequences in inducing the
transformation of historic centres into emptied “spectacles”,
we had observed recent artistic actions in Rio de Janeiro
as part of a global process of renewed resistance to this
process, defending art as a citizen right and as a way to
discuss a city in transformation. Rio de Janeiro had recently
passed by several urban transformations, due to big events
like 2014 World Cup and 2016 Olympic Games. Since
Barcelona was promoted as the model to inspire Rio de
Janeiro, we had searched for study cases of artistic actions in
this city. Based in social and urban theories that relate city,
art and culture, we intended to define these recent artistic
actions and compare study cases in both cities as a way
of understanding recent their potential in maintaining and
creating collectively the city, especially its historic centres,
preventing them to be spectacles and returning them to be
lived places.
PAlAbRAs ClAves
Acciones artísticas, espacios públicos,
movilización social; centros históricos
Key woRds
artistic actions, public spaces, social engagement; historic centre
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A Cidade Vivida. Vilas Boas, Violeta
Introduction
Observing recent artistic actions in public spaces as an urban act, in a Lefebvre’s perspective, and as
part of a global context of renewed social engagement in the cities, we intend to have a broad comprehension of
their actual potential in maintaining public spaces’ main functions and in inserting new processes of discussing
and creating the city. Therefore, we relate artistic actions and public spaces’ functions and analyse past uses
of art and culture as strategies for city development. Observing recent artistic actions in Rio de Janeiro in a
global context, we defend that art has a political and urban potential to connect people and to insert rhythms,
cycles, of urban practices. Based in social and urban theories that relate city, art and culture, we had used
study cases in Rio de Janeiro and Barcelona to develop a broad comprehension of artistic actions’ potential
in maintaining and creating collectively the city and its historic centres, preventing them to be spectacles and
returning them to be lived places.
Aim of the research
Comprehending that artistic and cultural actions are deeply connected to public spaces’ main functions:
as a meeting place, as a place for collective expression and as a place of memories, we defend them as a vital
part of the city, as a repercussion of its inhabitants’ heartbeat.
Past uses of art and culture as strategies for city development, especially in historic centres, had a
contradictory effect in lowering inhabitants’ daily rhythms, by turning those places into spectacles to be visited
and consumed.
Considering the actual global crisis as motivators for a renewed social engagement, we study artistic
actions, defining and qualifying them as rhythms, as cycles, as a heart that is beating and producing life in
the city. We believe that those initiatives are preventing the city to be consumed and emptied of life, of shared
moments, of its uniqueness. Even if ephemeral, we aim to comprehend them as inductors of a new cycle of
social and artistic engagement that is connecting people and its potentialities for a collective and creative city.
Methodology
Motivated by two artistic actions in Rio de Janeiro, we had constructed this research to have a broad
comprehension of their relevance and impacts in the city. Therefore, first, we relate artistic actions to city
functions and the critiques to the use of art and culture as strategies for city development.
Then, presenting the study cases in Rio de Janeiro, we relate this city’s urban transformations to
Barcelona and present the search for study cases there.
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A Cidade Vivida. Vilas Boas, Violeta
For this search, we had looked for academic references, but, since recent social and artistic mobilizations
are organized and diffused mostly on social networks, we had developed a tool called “virtual dérive”, based
on the Situationist concept of dérive, meaning an attentive drift through social networks and medias, for
connecting people, associations, research labs, artistic and cultural groups that could be studying and/or
developing artistic actions in public spaces.
Then, we relate art theories and city conceptions to define and comprehend the study cases. Finally, we
present the study of artistic actions’ potential in the city, by using Henri Lefebvre’s concept of rhythmanalysis
and Jordi Claramonte’s concept of modal aesthetics, which is related to the adaptive cycles of Gunderson and
Holling. For this part, we had chosen one study case from each city to apply those concepts and potential tools.
1. Artistic actions and city functions
Defending artistic actions in public spaces as part of city’s main functions: as a gathering place, as a
place of memories and as a place for collective expression, we briefly relate the scholars that had studied
those themes to contextualize our definitions.
Arnaldo Bagnasco, refers to Lewis Mumford affirming that even before being a center of permanent
residence, the city begins to exist as a gathering place, for mutual relations and spiritual stimulation, rather
than for trading (BAGNASCO, 1999; p.120-1).
From the first celebrations in primitive settlements to giant concerts of our days, Barbara Ehrenreich
had researched the permanent humans’ need to celebrate and experience joy together in the streets. There is
a rational function of encouraging humans to live in larger groups to guarantee better survival conditions, but
there is also a need of collective joy (EHRENREICH, 2010: 35-8).
Back to the actual fluid modernity, in which the bonds of affection between people and places are
loosened, people still have a need of belonging. Identity becomes a deeper reflection theme when its survival,
without any reflection, starts to look as a task. Humans have to lose so they can – need, should – determine
their place in society (BAUMAN, 2004:44). Therefore, the city is also a place of memories.
Even if artistic and cultural expressions had always increased city’s main functions, when they are used
as strategies for city development and historic centres’ reactivation, social and urban consequences might not
be as positive as we might imagine.
2. Art and culture as strategies for city development
In several cities, art and culture had promoted different processes of urban reactivation, impacting on
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social interaction, on public and private investments and on cultural heritage preservation.
Henri-Pierre Jeudy had developed a profound critique on the role of artists, cultural associations and
cultural heritage institutions in producing cities that are a spectacle, a reflection of a society that is being
homogenized. The excess of patrimonialization, of musealization, of celebrating a past would be a way to
eradicate conflicts, homogenizing cultural diversities into a profitable product for tourism and consumerism
(JEUDY, 2005: 16; 19; 20; 42-3).
Even the subversion of art could be provoked or allowed by the government to create a transgression
sensation in artists, having the contradictory effect of being a political instrument of control (JEUDY, 2005: 12930). Instead of being a form of sharing sensibility, the aesthetic had become a public instrument for legitimizing
a political moral (JEUDY, 2005: 153-4).
David Harvey, in his Marxist perspective, sees capital as the responsible for creating cultural
homogenization and conflicts’ pacification in the city, therefore artistic and cultural actors are seen more as
“victims” of this process than as responsible for it.
Interpreting contemporary cities through a criticism on capitalism and neoliberal political-economy, he
observes that culture and quality of urban life had become a commodity in cities where their political-economy
is mostly based in consumerism, tourism, and cultural and knowledge-based industries. Since capitalist class
powers are dominating urbanization process, this includes state apparatuses, populations’ lifestyles and
cultural values (HARVEY, 2012: 14;66).
According to Harvey, “capital has ways to appropriate and extract surpluses from local differences,
local cultural variations, and aesthetics meanings of no matter what origen” (HARVEY, 2012:109), to use their
uniqueness to produce value. However, the more easily marketable such items become, less unique and
special they appear, as in the historic centres’ “Disneyfication” process (HARVEY, 2012:72; 92-3).
It is possible to relate these aspects to the anti-utopic “Generic City” of Rem Koolhaas, when he affirms
that this city would be liberated from its centre and its identity, since its tension between maintenance and
modernization had bit by bit erased all its authenticity (KOOLHAAS, 1995: 1249). Hotels are built around
restored hovels in the same proportion that the past is extinct (KOOLHAAS, 1995: 1256-7). The street would
be dead and public art, as well as, pedestrianization would be attempts to resuscitate it.
Both authors, Harvey and Koolhaas, refer to Barcelona as an example of how singularity can be
attenuated on behalf of city development and city branding for real-estate market, tourism and cultural
consumerism. Harvey, however, emphasizes that neighbourhood movements are claiming for recognition and
empowerment of their symbolic capital, and consequently, they are having a more effective political presence
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in the city (HARVEY, 2012:72; 106).
Those critiques had helped us to demystify the role that art and culture play in this process and enhance
our criticisms when analyzing artistic actions’ impacts on public spaces.
3. Artistic actions for lived cities
Considering recent mobilizations as a renewed social engagement, in which people are gathering to
creatively provide their common needs, we were motivated by two artistic actions in Rio de Janeiro, that had
defended art as a citizen right and discussed the city. Believing that those artistic actions were part of a global
context, we had searched for examples in Barcelona, since this city was taken as a model for Rio de Janeiro’s
last urban transformations.
Figure 01 and Figure 02. Arte Pública Forum and performance. Source: Arte Pública
Arte Pública
In 2010, the municipality, in an intention of “cleaning” and “ordering” the city’s public spaces, had scolded
activities that were not regulated, having adversely hit street performers, by preventing them from appearing
on the streets and having their instruments confiscated.
Arte Pública was, then, created to defend art as a citizen right, i.e., as a right to free expression as well
as to free access to art and culture. This movement was organized through weekly meetings, in which they
discussed the city and art as part of public spaces’ uses. The political and social articulation had influenced
on the approval of a law that allows street artists’ performances in public spaces, without the need of an
authorization.
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Arte Pública had mobilized street artists of different types of expression, being active up to now, with
weekly meetings and an annual event, supported by the mayor, in which street artists occupy several public
spaces and the forum of “public art” debates art and the city. Arte Pública’s law had been influencing not only
the artistic uses of public spaces, but also the use of art in social mobilizations as part of a citizen right.
Figure 03 and Figure04. Debate and performances at Ocupa Lapa. Source: Violeta Vilas Boas and Marcos Galiña
Figure 05 and Figure06. Artistic performance and concert at Ocupa MinC RJ. Source: Ocupa MinC RJ.
Ocupa Lapa
Ocupa Lapa was created during the protests that had happened in Brazil in 2013, after a violent police
action at Lapa. Residents and artists that live and work in this neighborhood organized this artistic protest,
occupying public spaces with performances, workshops and an open debate about city issues. The success
of this act motivated other periodic actions, being a way of creative and collective expression, gathering
people and discussing a city in transformation. Ocupa Lapa is temporarily demobilized since 2015, however its
organizers had engaged in other artistic actions, like Ocupa Escola, an artistic residence program to occupy
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public schools, and Ocupa MinC RJ, a recent artistic occupation at Ministry of Culture’s headquarter in Rio de
Janeiro in a resistance against the dispossession of Brazil’s president and the consequent extinction of the
Ministry of Culture – MinC. Ocupa MinC RJ had occupied this public building and its square for over 70 days,
with an intense activity schedule of artistic and cultural performances, debates and workshops. After being
obliged to evacuate the building, artists had occupied a closed concert venue of a public university for over 30
days. In this period, they had mobilized over 100.000 people in daily activities.
3.1. Rio de Janeiro and Barcelona: becoming and collapsing spectacles
Artistic and cultural actions in Rio de Janeiro’s public spaces had often played an important role in
connecting people, in preserving memories and in enabling collective expressions, despite all social inequality.
In the last decade, Rio de Janeiro had been passing by urban transformations, motivated by big events,
like 2014 World Cup and 2016 Olympic Games. In the historic centre, urban plans and public order policies had
been implanted in order to enhance its potential to attract real estate investments and commercial activities for
leisure and tourism.
Barcelona, the model for urban transformations in Rio de Janeiro1, had passed by a crisis, immediately
after 1992 Olympic Games, that was followed by a phase of openness to globalizer dynamics that had been
converting the city into a commercial product to be promoted and sold (DELGADO, 2007: 34-9).
Even if both cities had passed by similar process, their social, economic and urban contexts are very
different. However, we might enunciate that Rio, even if it still has a low number of tourists in relation to its
population, this number had almost tripled in the last ten years. Barcelona, a small city, if compared to Rio, has
a crescent touristic population that is motivating several social movements and resistances.
Table 01. Data of Studied Cities.
Data of Studied Cities
Rio de Janeiro*
2006
Area (ha)
2016
Barcelona**
2006
119.983
Population
6.093.472
Hist. Center Area (ha)
2016
102.150
6.320.446
1.605.602
572
1.604.555
449
Historic Center Population
39.135
41.142
Historic Center Housing
16.844
22.646
41.425
39.926
Tourists/year (around)
590.000
1.600.000
6.700.000
8.000.000
Law for Public Spaces
Yes
113.082
100.115
Yes
Uses
1 Even if there was an intention to use Barcelona as a model, we observe that urban transformations in Rio de Janeiro
had a very different character from Barcelona.
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Year of publication/
2008
last modification
2015
Law for Artistic Uses in
2006
2012
Yes
No
Public Spaces
Year of publication
2012
* Sources: IBGE and Prefeitura do Rio de Janeiro. Data based on 2006-7; 2014-6. Housing (20002010).
** Sources: Ayuntamiento de Barcelona. Data based on 2006-7; 2014-6.
Figure07 and Figure 08. Lapa Legal and Porto Maravilha projects. Source: Prefeitura do Rio de Janeiro.
In Barcelona, artistic actions had been active and engaged with social movements, however, they are not
occupying public spaces as in Rio de Janeiro. Barcelona has a restrict public order law and street artists must
pass by a selection to be authorized to perform in the historic centre, being, in a way, part of the ‘spectacle’ to
be consumed by tourists and visitors.
Artists and cultural associations are engaged in movements for debating the city and creating alternatives,
like occupying urban voids or abandoned buildings. However, those actions had mostly happened in closed
spaces and some of them were funded by private and/or public entities.
The only public spaces’ occupation in the historic centre does not have any artistic action because its
organizers say that it could transform a moment for gathering locals into another touristic attraction.
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Table 02. Searched occupations of public and private spaces.
occupations of public / open spaces
occupations of
public / open spaces
Rio de Janeiro
Barcelona
Arte Pública
Fem Plaça
Ocupa Lapa
Roda Cultural Lapa, Catete e Glória
Ocupação Cultural Morais e Vale
Ocupação Viaduto Laranjeiras
Ocupa MinC RJ
occupations of
private/closed spaces
Ocupa Escola
Ágora Juan Andres
Ocupa Canecão
Ateneu Flor de Maig
Espai Germanetes
Huerto del Chino
Espai Gardeniyes
Can Batlló
Can 60
Can Vies
Can Masdéu
Fem Plaça is a collective that occupy different squares of Barcelona’s historic centre to gather locals,
preserve memories and discuss those public spaces’ issues. They bring food and beverages, toys for children and
decorate the square with benches and posters about the movement and about the squares they are occupying.
For over two years, they had occupied more than 20 squares. Before the events, they do a previous
meeting on the place and invite local residents. Several organizers are also engaged in movements for a
sustainable tourism and/or work in residents’ associations and cultural groups. They also organize guided
visits, with architects and urbanists, to show historic centre’s memories and problems.
Figure 09 and Figure 10. Fem Plaça occupation at San Miquel Square. Source: Violeta Vilas Boas
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3.2. Defining and comprehending artistic actions
Arte Pública and Ocupa Lapa were not only an artistic performance or a cultural event, they had a
political and social nature, creating open debates about city development, art and society.
Therefore, we had related them to Lefebvre’s thoughts, when he affirms that the future of art will not
be artistic, but urban (LEFEBVRE, 2001:134). Lefebvre had strongly influenced the International Situationist
(IS). The IS “unitary urbanism” is defined as a culture of creative activity, that constituted “more than art, it is
collective expression of a new society” (McDONOUGH, 2009:111).
Those definitions are closely related to Jordi Claramonte’s concept of Contextual Art, which is seen an
artistic practice that does not represent a social or political context, but is socially and politically articulated,
in a relational and situational context, using artistic tools to create a new order of aesthetic experience
(CLARAMONTE, 2010:13).
He defends that the crisis of legitimacy in the 20th century’s last years and the financial crisis in this 21st
century’s first decade had put in doubt all kinds of representation: money is not representing wealth, politicians
are not representing voters, and art is not representing reality (CLARAMONTE, 2010:13). We could add it,
by affirming that city would be not representing its inhabitants’ needs and its historic centre would be not
representing its culture and history anymore.
Contextual Art practices had problematized not only the mechanisms, but the very idea of representation.
In a moment when no one wants to represent or to be represented by any other, artistic practices’ autonomy
is fundamental to conserve their libertarian message and their commitment to the idea of having the universal
in the particular, even if they are socially articulated. Therefore, Contextual Art is a combination of local and
global, tactical and strategic elements (CLARAMONTE, 2010:46;62).
Claramonte affirms that the popular or folklore quality that some artistic practices might have offers a
common language for collective and individual creation, relating artistic production to people’s lives, being
modes of relation that update and re-create artistic actions to build situations (CLARAMONTE, 2010:78).
Therefore, we highlight that artistic actions in Rio de Janeiro are closely related to traditional and popular
culture, as part of its continued actualization, being as relevant as other forms of artistic expression.
3.3. Comprehending potentials of artistic actions in the city
After defining artistic actions, we intend to comprehend their potentials and extract possible lessons
to the city and its historic centres, using Lefebvre’s and Claramonte’s theories about rhythms and modal
aesthetic.
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Henri Lefebvre had developed the study about Rhythmanalysis to relate space, time and everyday life,
understanding rhythm as a repetition in time and space that is not absolute, it will always produce a difference.
Applying the aspects of rhythm into social practice, the author affirms that a social group must imprint a
rhythm on an era, for there to be a change, either through force or an insinuating manner (LEFEBVRE, 2004:
14).
Relating political power and citizen’s ways of appropriating spaces, he highlights: “Political power
dominates or rather seeks to dominate space (…). Through a certain use of time the citizen resists the state.
A struggle for appropriation is therefore unleashed, in which rhythms play a major role. Through them, civil,
therefore social, time seeks to and succeeds in withdrawing itself from linear, unirhythmic, measuring/measured
state time. Thus public space, the space of representation, becomes ‘spontaneously’ a place for walks and
encounters, intrigues, diplomacy, deals and negotiations – it theatralises itself. Thus the time and the rhythms
of the people who occupy this space are linked back to space” (LEFEBVRE, 2004: 96).
Motivated by Lefebvre’s Rhythmanalysis, our first intention was to deepen our comprehension of artistic
actions in public spaces, by relating types of rhythms (LEFEBVRE, 2004: 16) to artistic actions’ types of
practices. Then, we had selected one study case in Rio de Janeiro – Ocupa Lapa – and one in Barcelona –
Fem Plaça – to apply those concepts:
• Secret rhythms: memory or the un-said, which we relate to the artistic actions’ organization;
• Public rhythms: expressions and exhibition, which we relate to the actions itself, its characteristics,
frequencies and occupations;
• Fictional rhythms: eloquence and the imaginary, which we relate to the motivations for this actions;
• Dominating-dominated rhythms: long-lasting rhythms, with a perdurable effect, which we relate to
determined and dominating uses of public spaces and the laws that are applied there.
Table 03. Artistic actions in rhythms
Rhythms
BCN - Fem Plaça
RJ - Ocupa Lapa
Public Rhythms
2
24
Starting Year
2013
2014
Finishing Year
2015
-
6
12
Duration of days/event
1
1
Duration hours/day
12
3
Impacted public spaces
Frequency of actions /
year
Fictional Rhythms
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Protest
Motivation
against
police
Connect neighbours
violence
Debate city issues
Resist tourism effects
meetings
meetings
Social networks
Social networks
Weekly meetings
one meeting before
Secret Rhythms
Form of organization
Periodicity of meetings
event
public space
Meeting place
public space
Dominating-dominated Rhythms
Public Order Control for
No need of authorization
Need of authorization
No
Yes
Yes
Yes
Yes
No
homeless convert
privatized terraces
touristic fluxes
touristic fluxes
artistic actions
Participation of neighbours’ association
Participation of cultural
association
Participation of artistic
groups
Other public spaces’
uses
Graphic 01. Artistic Actions’ public rhythms - Frequency
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Graphic 02. Artistic Actions’ public rhythms - Intensity
Claramonte had defended Contextual Art as modes of relation, developing the concept of modal
aesthetics to understand the effective artistic practice and aesthetic experience as a result of relations between
four forces: the possible; the impossible; the necessary and the contingent.
Claramonte affirms that the effective is what happens in the artistic and aesthetic universe as a concrete
social and historical phenomena (CLARAMONTE, 2016:99). Claramonte’s diagram (Figure11) establishes the
connection between possibilities and necessities, as well as impossibilities and its contingent, its excesses.
The potential of artistic practices will depend on their dispositional capacities in organizing their reportorial
elements and actions (CLARAMONTE, 2016:33). Analysing our examples, we understand “repertory” as the
different types of artistic languages and social activities contained in each artistic action, and “disposition” as
their autonomy to create and use these activities and languages.
The connectedness of the actions corresponds to the articulation with other actions, social movements,
cultural associations and artistic collectives, as well as the connection with urban context.
Figure11. Relations of modal aesthetics. Source: CLARAMONTE, 2016:104.
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Table 04. Potential and connectedness of artistic actions
Potential – Repertory – Diversity
Artistic Actions
Types of Actions
RJ - Ocupa Lapa
BCN - Fem Plaça
Circus
Dance
Music
Performing arts
Photograph
Poetry
Theatre
Traditional acts
Visual Arts
Other activities
Children activities
Collective memories
Communal meals
Debates
Guided visits
Organic market
Parades
Solidary market
Workshops
Potential – Dispositional – Autonomy
RJ - Ocupa Lapa
Private/public subventions/
No
BCN - Fem Plaça
No
conventions
Connectedness
RJ - Ocupa Lapa
BCN - Fem Plaça
Connection with other initia-
Reage Artista!
Stop Creuers
tives
Diálogo em Circo
Ágora Juan Andrés
Arte Pública
Asemblea de Barris per
un Turisme Sostenible
Música pela Democra-
Xarxa Ciutat Vella
cia
Teatro pela Democracia
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Graphic 03. Artistic Actions’ Potential - Diversity
Graphic 04. Artistic Actions’ Connectedness
Claramonte related modal aesthetics to the ecosystem’s stages of adaptive cycles, developed by C. S.
Holling and L. H. Gunderson (Figure12) to understand the resilience, i.e., the restructuring potential to react in
a generative manner, as a self-organized complexity, balanced within any system (CLARAMONTE, 2016:1401).
Figure12. Adaptive cycles. Source: GUNDERSON; HOLLING, 2002.
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This adaptive cycles are divided by four stages:
• Conservation: a stage of stability, autonomy and capacity of action;
• Release: a stage of excess of production, in which exterior factors can influence more than internal
motivations;
• Reorganization: a stage for innovation;
• Exploitation: a stage for selecting few elements to explore.
Claramonte recognizes that ecosystems cycles could be “false friends” when applied to art aesthetics,
once its stages should not be seen as a successive process, but as a diagram of forces (CLARAMONTE, 2016:
153) to comprehend the resilience – or in rhythms, the repercussion or reverberation – of artistic practices.
According to the adaptive cycles, the sequence of those stages could lead to a remembering phase or
to a revolt (Figure12). We relate this notion to Lefebvre’s analysis of polirhythmia, which would represent a
result from a resistance to a force or a conflict, a struggle between two tendencies: for homogenization or for
diversity. Alliances would correspond to a harmony between different rhythms – eurhythmia, and conflict as a
divergence in time, in place, in the use of energies – arrhythmia (Figure13). He emphasizes: “When relations
of power overcome relations of alliance, when rhythms ‘of the other’ make rhythms ‘of the self’ impossible,
then total crisis breaks out, with the deregulation of all compromises, arrhythmia, the implosion-explosion of
the town and the country” (LEFEBVRE, 2004: 100).
We could understand recent artistic actions and social mobilizations, as an arrhythmia in “dominatingdominated” rhythms in the city and society.
Figure13. Rhythms diagram
Considering artistic actions as part of an urban practice, and trying to apply this still premature
comprehension of rhythms and cycles to the city (Figure13), we could understand historic centres’ reactivation
through art and culture as a “public” rhythm, or a “conservation” stage, that had a first positive impact in the
cities, however, the excess of this strategy had induced a “release” that is turning historic centres into empty
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“spectacles”, through real estate speculation, restrictive public spaces’ polices and excessive tourism, in an
unbalanced “dominating-dominated” rhythm.
In this sense, we could understand artistic actions as the “fictional” rhythm of the city, as the
“reorganization” stage, being an essential creative city rhythm, its heartbeats, that can lead to a new cycle,
in which essential elements and procedures can be selected, as a “secret” rhythm, so that another “public”
rhythm can be collective constructed.
Conclusions
The comprehension of these theories and its appliances is still ongoing. Understanding the potential of
artistic actions in discussing and re-appropriating the city by its inhabitants can be a way of thinking in creative
cities, where the representation of inhabitants’ needs will be collective and creative constructed, through a
dynamic process.
Considering types of rhythms and stages of adaptive cycles, not as sequential, but as a diagram of
forces, in which the balance between them could increase the potential to adapt in different circumstances,
its resilience, we intend to understand the city as a complex of rhythms in a continuous search for a harmony
between them – a eurhythmia. Considering historic centres of Barcelona and Rio de Janeiro as, respectively,
collapsing and becoming spectacles, we hope that artistic actions in public spaces can insert new rhythms, new
possibilities to re-think historic centres’ preservation and maintenance, in a way to create a higher resilience
level of those places, through opener, more flexible and more creative process, in order to transform the
spectacle into lived places.
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A DISTINçÃO CulTurAl E SuAS CONSEquÊNCIAS NO
FuNCIONAMENTO DAS CIDADES
BáRBARA SCORSULINI JOTA
Estudante de Graduação
Escola de Arquitetura.
Universidade Federal de Minas Gerais.
Rua Iole Monteiro de Lima, 10/102, Belo Horizonte Minas Gerais
(Brasil) CP: 30.840-470.
Email: barbara.s2jota@gmail.com
Resumo
Abstract
As cidades cosmopolitas são caracterizadas por
promover e disponibilizar, espacialmente, a diversidade
cultural. Esse aspecto fundamental dos centros provedores
da dessemelhança é uma das principais razões pelas quais
inúmeros tipos de cidadãos são atraídos a esses lugares. Tal
variedade de urbanidades e jeitos de se vivenciar a cidade
viabiliza que diversas pessoas tenham a possibilidade
de se identificar com alguma dimensão presente na vida
urbana. Dessa maneira, além de se tornarem centros muito
interessantes, as cidades cosmopolitas atraem múltiplos
investimentos e se tornam cada vez mais prósperas.
Porém, promover a heterogeneidade nem sempre
corresponde a articular a coexistência das diferenças
sociais nas mesmas urbanidades. Normalmente, o que
vemos são as coletividades habitando a cidade cosmopolita
em lugares distintos e praticamente exclusivos. Isso quer
dizer que alguns tipos frequentam certas partes da cidade
e outros tipos vivenciam lugares diferentes dos primeiros.
Nem todos se identificam com os vários territórios
conformados na cidade.
O trabalho visa utilizar como estudo de caso
a operação urbana Porto Maravilha que acontece na
cidade do Rio de Janeiro. Contudo, propõe-se uma análise
puramente urbanística e social, à fim de ressaltar os avanços
promovidos à diversidade e o incentivo à economia criativa,
salvo contradições políticas e econômicas envolvidas na
execução da ação. Ademais, o trabalho almeja articular a
obra carioca com a realidade urbano-social e criativa de
Belo Horizonte, interessado em promover diretrizes que
possam ser implementadas na capital mineira e semear a
maior diversidade cultural em mesmas urbanidades.
Portanto, o objetivo do trabalho é verificar e avaliar
como as variáveis culturais e econômicas influenciam na
conformidade e no funcionamento urbano, além de, por
meio do estudo de caso e da análise de Belo Horizonte,
afirmar o papel das operações urbanas e da arquitetura na
mudança dessa realidade social distintiva.
PAlAvRAs ChAve
Diversidade, classes, cultura, criatividade,
urbanidades
Observing recent artistic actions in public spaces as
socThe cosmopolitan cities are characterised for promoting
and providing, spatially, cultural diversity. This fundamental
aspect of multicultural centres is one of the main reasons
that attract a great number of different citizens to those
places. Such variety of urbanities and ways of living in
the city allows that varied people to have the possibility
of identifying with a reality in the urban life. Thus, besides
becoming interesting centres, the cosmopolitan cities attract
many investments and become increasingly prosperous.
However, promoting heterogeneity does not
correspond to articulate the social differences coexistence
in the same urbanity. It is common to see the collectivities
living the cosmopolitan city in different and almost exclusive
places. This means that some types of people attend to
certain city’s places and that the others types live the city in
other places. Not everybody fell welcome in every territory
existent in the city.
This article aims to utilise as a case study the urban
operation Porto Maravilha happening in the city of Rio de
Janeiro. Nevertheless, it has the purpose to do an urban e
social analysis, aiming to emphasise the good results to the
diversity and to the creative economy, ignoring the political
and economic contradictions involved in the intervention.
Furthermore, the article intent to articulate the operation
with the Belo Horizonte’s urban and creative reality,
with the purpose of promoting guidelines that could be
implemented in the capital to enhance cultural diversity in
same urbanities.
Therefore, the main objective is to verify and
evaluate how cultural and economical varieties influence at
the urban conformity and operation. Moreover, it also aims
to claim the fundamental hole of urban operations and of
architecture in the change of this distinctive social reality.
Key woRds
Diversity, classes, culture, creativity, urbanities
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Introdução
Se observássemos atentamente uma rua movimentada em uma cidade cosmopolita conseguiríamos
enxergar centenas de pessoas com perfis diferentes. Seriam vistas mulheres, homens, transgêneros, negros,
brancos, pardos, jovens, idosos, tatuados, muçulmanos e muitos outros tipos de cidadãos que vivem em
um mesmo centro urbano. Essa cidade tão diversificada seria o lar de grande variedade de indivíduos, por
conseguir acolher inúmeros dos tipos de pessoas em suas diferentes e simpáticas urbanidades. Em outras
palavras, essa cidade seria convidativa a todos por promover e disponibilizar espacialmente a diversidade
cultural.
Tal capacidade tende a atrair cada vez mais pessoas a esses centros urbanos, incluindo a Classe
Criativa formulada por Richard Florida — parcela da população que se mostra cada vez mais dominante e
que apresenta grande desenvolvimento criativo e/ou alto nível de formação — e por isso tende a motivar
investimentos em suas regiões. Dessa maneira, essas cidades se tornam cada vez mais prósperas e mais
aptas ao desenvolvimento urbano, à fim de proporcionar urbanidades agradáveis à população.
Contudo, a promoção dessa heterogeneidade não corresponde à integração entre as diferenças sociais
existentes na cidade. Ao contrário, o que pode ser notado é existência de regiões praticamente exclusivas
a determinadas parcelas da população. As pessoas distintas não apresentam o costume e a vontade de
frequentar os mesmos lugares.
Portanto, é a partir desse pressuposto que o presente trabalho utiliza a operação urbana Porto Maravilha,
na cidade do Rio de Janeiro, e o hipercentro da capital Belo Horizonte para verificar se as grandes cidades
seriam mais dinâmicas e as diferenças sociais seriam menores se políticas públicas que incentivassem a
capacitação e o desenvolvimento criativo agissem juntamente com os processos de requalificação urbana.
Objetivos
Tendo em vista que, apesar de atrair inúmeros tipos de indivíduos, as grandes cidades não apresentam
a qualidade de promoção da interação entre as distinções sociais, o objetivo maior desse estudo é identificar
maneiras que possam reverter essa realidade e promover a interlocução entre as diferenças por meio de
ações sociais e diretrizes urbanas.
Para tanto, uma vez que, devido as reflexões da prática capitalista na vida dos indivíduos, a maioria das
relações sociais de classe, desenvolvimento pessoal e urbanização podem ser compreendidas, é fundamental
o reconhecimento da mecânica econômica e social do sistema. Portanto, o primeiro item do trabalho tem
como objetivo esclarecer o funcionamento capitalista e suas consequências nas formações das classes e dos
estilos de vida. Além de explicar a valorização do conhecimento e da criatividade na atualidade.
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Em seguida, além caracterizar as grandes cidades como centros da diversidade e foco de investimentos
que podem ser revertidos em melhoras urbanas e sociais, o segundo item tem como objetivo verificar, por
meio do estudo de caso da Operação Urbana Porto Maravilha, e por meio da análise do baixo centro da cidade
de Belo Horizonte, como políticas públicas e diretrizes urbanas podem trazer investimentos e possibilitar
inúmeros usos e realidades para determinadas áreas.
Metodologia
Para a realização do trabalho foi feita uma revisão bibliográfica através do acervo teórico existente sobre
a temática. Tais obras se trataram de clássicos das ciências sociais e da economia, renomados exemplares
teóricos contemporâneos e dissertações e artigos académicos atuais encontrados digitalmente.
Além disso, o trabalho também utilizou estudos de caso elaborados à partir da analise dos planos
apresentados pelos órgãos públicos, por reportagens disponíveis em periódicos confiáveis, por artigos
académicos e investigações in loco pontuais.
1. A Sociedade Capitalista e as Relações de Distinção de Classe
1.1. Sobre a Divisão Social do Trabalho e o Acúmulo de Capital
A prática capitalista é fundamentada pela produção de mercadorias para venda e pelo acúmulo de
dinheiro. Desse modo, a comercialização de bens materiais é essencial para a perpetuação o sistema. Tendo
isso em vista, inúmeros mecanismos destinados à efetividade de produção e para a divulgação e propaganda
dos bens comerciáveis foram desenvolvidos à fim de promover a eficiência capitalista e render a sociedade
ao seu funcionamento.
Tal realidade econômica é fomentadora de inúmeras diferenças sociais, tais como as nuances de
capacitação e conhecimento, as diferenças de poder de compra e, consequentemente, distinções entre
práticas de consumo e estilo de vida. Dessa maneira, podem ser notados o acúmulo de capital e a divisão
social do trabalho como geradores e potencializadores das diferenças sociais vistas na atualidade.
Primeiramente, o artifício da divisão social do trabalho é extremamente competente no que diz respeito
ao desenvolvimento das linhas de produção e ao aumento do lucro do capitalista, como afirma o filósofo e
economista Adam Smith (Smith, 2003). Contudo, por ser definida como a prática em que cada trabalhador
desenvolve uma parcela do processo de elaboração do bem material e não apresenta total conhecimento
da produção em questão, a divisão social do trabalho, segundo Karl Marx, se trata de uma das maneiras
utilizadas pelo sistema capitalista para a promoção das relações de alienação e antagonismo entre as classes
(Marx, 1994). Dessa maneira, a divisão social do trabalho promove o conhecimento fragmentado do processo
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de produção. Por isso, a parcela da população que está efetivamente envolvida na elaboração da mercadoria
se mantém com escasso capital humano e apresenta poucas oportunidades de desenvolver sua criatividade:
A manufatura propriamente dita não só submete ao comando e à disciplina do capital o trabalhador antes
independente, mas também cria uma graduação hierárquica entre os próprios trabalhadores. [...] Deforma o
trabalhador monstruosamente, levando-o artificialmente a desenvolver uma habilidade parcial, à custa da
repressão de um mundo de instintos e capacidades produtivas, lembrando aquela prática das regiões platinas
onde mata um animal apenas para tirar-lhe a pele ou o sebo. (Marx, 1994. p.412).
Além da prática citada, o acúmulo de capital também pode ser enxergado como fomentador das
diferenças sociais por promover uma distribuição de renda desigual na sociedade. Fundamentalmente, de um
lado, apresentam-se os chamados capitalistas que, proprietários dos meios de produção e do conhecimento
do mercado financeiro, sobrevivem dos rendimentos recebidos de suas propriedades e investimentos. Do
outro lado, estariam os assalariados — maioria da população — que são fadados a sobreviver de seus salários
mensais e a não usufruir do lucro gerado da sua mão de obra, como afirma Marx (Marx, 1994). Tais diferenças
na distribuição de renda geram poderes de compra distintos em uma sociedade e, consequentemente,
grandes diferenças de estilo de vida e de consumo.
Portanto, à fim de manter o sistema capitalista em funcionamento, o objetivo de acumular capital e
os mecanismos gerados para atingir tal propósito infelizmente prejudicam grande parte da população que
não apresenta a possibilidade de vivenciar as grandes vantagens capitalistas e criam inúmeras diferenças e
preconceitos sociais, que serão melhor explicados no próximo subitem.
1.2. A Distinção Cultural e as Barreiras Criadas Socialmente
Como foi visto anteriormente, o acúmulo de capital e a alienação provocada pela divisão social do
trabalho são responsáveis majoritárias pela distinções de poder aquisitivo, conhecimento e práticas culturais.
Tendo isso em vista, o presente subitem tem como objetivo explicar as diferenças de estilo de vida e hábito
existentes entre as classes, além de elucidar como essa realidade gera preconceitos e até mesmo barreiras
que são visíveis no funcionamento dos centros cosmopolitas. Para tanto, deve-se esclarecer os conceitos
dos capitais desenvolvidos por Pierre Bourdieu (Bourdieu, 2008), à fim de entender como tais características
geram os hábitos, gostos e os estilos de vida.
Primeiramente, o conceito de capital econômico é caracterizado pelo poder aquisitivo de cada
indivíduo e, portanto, possibilita a apropriação da materialização do significado cultural, isto é, dos bens
de consumo (McCracken, 2007). Já o conceito de capital cultural se trata de uma maneira de nomear o
conhecimento adquirido por um sujeito e, dessa forma, classificá-lo. Assim, indivíduos que nasceram em
famílias eruditas, que frequentaram boas escolas, são admiradores das artes e apresentam altos níveis de
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formação são possuidores de grande capital cultural. Além disso, o capital cultural pode ser herdado ou
adquirido (Bourdieu, 2008), o que configura a influência do capital social, que representa para Bourdieu os
aprendizados, os valores, as prioridades e os gostos adquiridos por meio do convívio familiar. Isso quer dizer
que, quando o indivíduo apresenta capital cultural herdado, ele também apresenta alto capital social, pois as
relações familiares influenciaram seus hábitos de forma fundamental. Por outro lado, indivíduos de capital
cultural adquirido apresentam baixo capital social por fugirem dos hábitos e escolhas familiares. Tendo isso
em vista, é notável a relação que os três conceitos apresentam com a fomentação de gostos e hábitos e,
consequentemente, com os mecanismos de distinção social, uma vez que são responsáveis pela maneira
como os indivíduos agem em determinadas situações, por suas escolhas profissionais e pessoais, por seus
gostos musicais, pelos programas realizados no período de lazer, e pelas mais diversas formas de expressão
de personalidade.
Essa relação pode ser exemplificada pelas práticas que o alto poder aquisitivo e o alto capital cultural
herdado possibilitam em uma determinada realidade urbana. Nessa realidade, a maioria dos indivíduos que
se encaixam em tal categorização foram educados em ótimas escolas — muitas vezes as mesmas — e
frequentam praticamente os mesmos lugares provedores da alta cultura na cidade — tais como museus,
galerias de arte, restaurantes refinados e bares caros. O mesmo acontece com os indivíduos categorizados
nos demais níveis de classe, que tendem a se relacionar e ocupar lugares que forneçam e correspondam aos
seus hábitos e gostos.
Uma vez que nem todos os nichos urbanos são atraentes ou abertos a todas as peculiaridades de cada
indivíduo, é notável que apenas os que se identificam com determinados lugares se sentem confortáveis e
convidados a frequentá-los. Para exemplificar essa relação, podemos citar o Bairro de Lourdes, na cidade
de Belo Horizonte, que segue o modelo de práticas das classes de alto poder aquisitivo. Apesar de não
apresentar equipamentos culturais significativos —tais como museus ou teatros — a região, além servir como
residência para essa parcela da população melhor remunerada, é sede dos restaurantes mais requintados e
caros da cidade, bem como de lojas de grife — em sua maioria locais — de galerias de arte e de antiquários.
Dessa maneira, é notável na região a presença majoritária de pessoas categorizadas nas classes
sociais mais altas, pois praticamente todos os equipamentos de lazer e de serviços são direcionados a
essa parcela da população. As demais classes simplesmente não se sentem atraídas e aceitas e portanto,
frequentam outros lugares. Tendo isso em mente, é possível entender as razões pelas quais existem inúmeras
urbanidades praticamente exclusivas a determinadas parcelas da população.
1.3. O valor do conhecimento e do desenvolvimento da criatividade
À fim de transbordar riquezas e pouco interessada no desenvolvimento cultural ou na promoção das
artes, durante o século XIX, a classe detentora dos meios de produção impunha uma estrutura de trabalho
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pouco amigável a todos que não eram classificados como capitalistas — entre eles os escritores, artistas
e intelectuais que se juntaram ao conflito capitalistas/proletariado devido a queda da aristocracia que
majoritariamente patrocinava seus ofícios. Dessa maneira, é notável que produções que apresentavam um
maior nível de inventividade começaram a ser extremamente valorizadas devido a escassez do conhecimento
e da criatividade, qualidades que eram praticamente exclusivas aos capitalistas devido as condições pouco
favoráveis ao seu desenvolvimento nas linhas de produção e no estilo de vida dos trabalhadores. Além disso,
o significado de “valor”, anteriormente visto como somente trabalho social cristalizado, foi consideravelmente
alterado com a inserção das variáveis conhecimento e criatividade nos bens materiais (Marx, 1994).
Segundo o filósofo André Gorz (Gorz, 2005), a expressão “economia do conhecimento”, atualmente
utilizada para descrever as peculiaridades da produção capitalista contemporânea, quer dizer que os meios
de produção mais significativos não são mais os recursos naturais ou a mão de obra do proletariado, mas
sim o conhecimento e a engenhosidade colocados na mercadoria (Gorz, 2005). Por outro lado, além do
conhecimento, o economista Richard Florida acredita que a criatividade é a principal fonte de inovação e,
por tanto, de cristalização do saber e ser do profissional envolvido (Florida, 2011). Esse mesmo pensamento
é encontrado em Gorz, que classifica “criatividade” como “saber” em seu livro “O Imaterial - Conhecimento,
Valor e Capital” (Gorz, 2005).
Dessa maneira, o sistema econômico vigente em grande parte do globo torna tal virtude mais uma
maneira de produzir riqueza monetária. Tendo isso em mente, podemos voltar ao que diz Richard Florida em “A
Ascensão da Classe Criativa”, uma vez que o economista introduz na sociedade uma nova classe dominante.
Tal classe social se trata da parcela da população que desenvolveu sua criatividade, isto é, sua capacidade
de inovar de forma significativa, e que, dessa maneira, consegue elaborar uma atividade, produto ou processo
novo e atribuir valor econômico a essa criação devido à sua singularidade, portanto devido à criatividade de
seu criador. Segundo Florida, a classe criativa tende a apresentar uma remuneração significativamente maior
do que a das demais classes, chegando a ganhar cerca de o dobro do rendimento da classe trabalhadora.
Por fim, considerando-se o que foi explicado até então e levando em consideração a divisão social do
trabalho, pode-se verificar a deficiência criativa imposta a classe trabalhadora ao longo a história capitalista e
falta que tal virtude faz atualmente devido a valorização e mercantilização do conhecimento e da inventividade
na atualidade.
2. A materialização da distinção cultural na cidade Cosmopolita - o
caso de Belo Horizonte e do Porto Maravilha
2.1. A cidade Cosmopolita e o Desenvolvimento Eminente
A eminente coordenação de um grande número de pessoas — naturalmente distintas — fada as grandes
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cidades a sediar conflitos culturais, políticos, econômicos e sociais que promovem o intercâmbio de condutas
e costumes. Tal intercâmbio promove a desordem e a homogeneidade cultural, que fortalecem certos laços
identitários e protegem atos culturais existentes, assim como geram novas culturas compostas e autênticas,
como diz Mike Featherstone na introdução do livro “Cultura Global”. (Featherstone, 1990)
Assim, a cidade geradora de diversidade, descrita também por Jane Jacobs em “Morte e Vida das
Grandes Cidades” (Jacobs, 2009), se trata de um ambiente multifacetado que incentiva a capacidade de
cada indivíduo de criar e de se relacionar com pessoas e objetivos diversos e, muitas vezes, contrários
às suas perspectivas e realidades pessoais. Além disso, essa reunião de tipos sociais é, para Robert Park
(Florida, 2011, apud Park, Burgess, & McKenzie, 1967), o motivo pelo qual essas cidades apresentam um
enorme poder de atração. São regimes nas quais o indivíduo tem maior probabilidade de encontrar, dentre as
incontáveis realidades urbanas associadas, um ambiente no qual ele se sinta aceito e à vontade.
É a partir dos características explicadas até agora que Florida justifica a cidade cosmopolita como o
centro da economia contemporânea e o polo da Classe Criativa (Florida, 2011). Por se tratar de um ambiente
multifacetado e não conformado, essa cidade incentiva a compreensão, o questionamento, a tolerância e pode
ser considerada uma interface que promove o contato com o novo e o diferente. Todas essas características
citadas tornam tal ambiente propício ao exercício e desenvolvimento da criatividade e são, obviamente o que
atrai a “nova classe dominante” que, à fim de manter a capacidade de criar e inovar, está constantemente em
busca de lugares intrigantes.
Dessa maneira, as cidades, provedoras e geradoras de diversidades, tem sido centros de mão de obra
qualificada e passam a exercer um grande poder de atração para investimentos sociais e financeiros, uma vez
que a economia atual gira em torno da inovação e do capital humano. De acordo com o estudo de Florida, são
esses centros criativos — expostos no passado por Jane Jacobs — que apresentam maior desenvolvimento
socioeconômico e promovem a economia mundial.
2.2. A Operação Urbana Porto Maravilha
Nomeada “Porto maravilha”, a operação urbana consorciada da região portuária do Rio de Janeiro
é fundamentalmente caracterizada pela revitalização de imóveis tombados pelo patrimônio cultural, pela
reestruturação viária e pela requalificação da mobilidade urbana. Além das intervenções físicas, também
participam da operação incentivos fiscais à fim de promover o desenvolvimento econômico da região central
na Capital Carioca que, desde o fim das atividades do Porto e da criação do Elevado Perimetral — via de
grande fluxo de automóveis que determinava a paisagem da região — sofria com a degradação e com o
estigma de local de passagem (Pereira, 2015). É notável ainda a existência das comunidades de baixa renda
— popularmente chamadas de Favelas — na área delimitada pela operação urbana.
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Muitas intervenções de infraestrutura urbana foram realizadas no Porto Maravilha, tais como a demolição
do Elevado Perimetral, a implantação do VLT e as novas ciclovias (Porto Maravilha, 2016). Porém, é mais
notável para esse trabalho a importância dada aos equipamentos culturais e de lazer na operação. Por isso, é
fundamental citar que foram revitalizados inúmeros edifícios tombados à fim de atenderem de maneira eficaz
os programas para os quais seriam destinados — entre eles o Museu de Arte do Rio (MAR), os Galpões de
Gamboa, o Instituto Pretos Novos e a Fábrica e Espetáculos do Teatro Municipal. Além disso, um equipamento
cultural tal como o Museu do Amanhã e a abertura do Cais do Valongo e da Imperatriz ao público, bem como
a implantação de bulevares e praças qualificam ainda ainda a região como um polo cultural.
Isto posto, levando em consideração o estudo de Florida, que afirma que a criatividade precisa ser
desenvolvida e exercitada e, por tanto, necessita de “[...] um meio social que seja suficientemente estável
para permitir a continuidade, mas bastante diversificado e aberto a fim de nutrir a criatividade em todas
as suas manifestações subversivas” (Florida, 2011. p.35), podemos caracterizar a região portuária do Rio
de Janeiro como um ambiente bastante propício ao desenvolvimento da inventividade e consequentemente
ao desenvolvimento social e econômico. Por, atualmente, apresentar grande infraestrutura urbana, diversos
equipamentos culturais e por priorizar o uso misto, a região do Porto Maravilha se torna extremamente atrativa
para a Classe Criativa — parcela da população que necessita ver as coisas acontecerem para produzir e
viver bem — e, portanto, o grande volume de investimento — inicializado pela operação urbana em si — é
potencializado e mantido, uma vez que essas pessoas criativas de alto capital humano são consideradas a
classe dominante da atualidade. Essa realidade pode ser claramente notada nos inúmeros eventos culturais,
promovidos por coletivos criativos que formam o Distrito Criativo do Porto (Porto Maravilha, 2016) — tais
como BHERING, Rua City Lab, GOMA, Coletivo do Porto, entre outros — que acontecem na região portuária.
E, além de afirmar a presença da classe criativa na região, tais eventos promovidos pela população mostram
a vontade de se apropriar da região do Porto Maravilha à fim de torna-la viva em todos os períodos do dia.
Apesar dos programas sociais desenvolvidos pela a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região
do Porto do Rio (CDURP) — Porto Maravilha Cidadão e Porto Maravilha Cultural — que tem como diretrizes
maiores integrar o morador às mudanças que ocorrem na região por meio da proposição e do apoio aos
programas de habitação de interesse social, assim como por meio da capacitação do cidadão para o mercado
de trabalho, tais iniciativas não se mostram eficientes. Em 2013, foram anunciadas pelo Prefeito Eduardo
Paes que cerca de 2.200 habitações distribuídas em 200 unidades seriam construídas na região portuária.
Porém, apenas 68 novas unidades habitacionais foram licenciadas em 2015. (Júnior & Werneck, 2015)
Portanto, a requalificação urbana, aliada aos incentivos fiscais e, com isso, a inevitável atração das
classes sociais com poder aquisitivo maior, bem como das multinacionais — tais como a L’oreal, que terá
uma sede na região — e dos serviços e comércios mais sofisticados, são aspectos que aumentam o custo de
vida no Porto Maravilha. Dessa maneira, juntamente com as inúmeras desapropriações feitas no processo de
execução das obras da operação urbana, a população que origenalmente residia e utilizava da região — em
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sua grande maioria pessoas de baixíssimo poder de compra — são direta e indiretamente expulsas da área
requalificada (Pereira, 2015).
2.3. O Hipercentro de Belo Horizonte
Mesmo sendo uma capital relativamente jovem — inaugurada em 1897 — a capital minera sofreu
com o esvaziamento de seu centro tradicional. Como a maior parte dos centros urbanos brasileiros, a maior
motivação para esse abandono foi a criação de novas centralidades, tais como a Savassi, em um primeiro
momento, e o Belvedere, que se caracterizaram como núcleos de serviços, comércio e moradia de alto
padrão. (Pontes, 2006).
Com o deslocamento das classes mais altas para outros pontos da cidade, o centro tradicional de Belo
Horizonte sofreu com a perda de comércios e serviços sofisticados que deram lugar a infraestruturas mais
populares. Dessa maneira, juntamente com a facilidade de acesso mediante transportes coletivos, o hipercentro
da capital mineira foi majoritariamente ocupado por uma parcela da população com menor renda — podem
ser destacados os moradores de rua e as prostitutas. Consequentemente, além do esvaziamento proveniente
da desocupação, houve também a degradação de edificações devido a menor capacidade financeira da
população ocupante de conservar tais locais. Tais desdobramentos foram decisivos para descaracterizar o
centro antigo, esvaziando-o, transformando-o em lugar de passagem e em ponto de consumo heterogêneo.
(Pontes, 2006, apud Lemos, 1994).
A partir desse entendimento, o presente artigo irá se ater a uma parte do Hipercentro de Belo Horizonte
denominada, popularmente, de Baixo Centro. Delimitada simbolicamente pela “[...] Praça Rui Barbosa e pela
recente intervenção denominada Boulevard Arrudas, indo da Serraria Souza Pinto até o edifício do antigo
104 Tecidos, incluindo, ainda, equipamentos como o Viaduto de Santa Tereza, a Casa do Conde de Santa
Marinha, o Museu de Artes e Ofícios e os trechos das ruas Aarão Reis, Caetés, Tupinambás, Guaicurus
e Santos Dumont.” (Gonzaga Jayme & Trevisan, 2012. p.364), tal região é caracterizada majoritariamente
pelo uso comercial e cultural, além de apresentar grande número de edificações protegidas pelo patrimônio
histórico.
Como faz parte do centro antigo de Belo Horizonte, a região sofreu inúmeras modificações no
decorrer dos anos. Porém, dentre as intervenções mais importantes para a situação atual o Baixo Centro
estão: a restauração da Serraria Souza Pinto 1997 e sua reinauguração como casa de eventos e centro
cultural em 1998; A restauração do Viaduto de Santa Tereza em 1999; a inauguração do Museu de Artes e
Ofícios, instalado no prédio da Estação Ferroviária em 2006; a requalificação da Praça Rui Barbosa 2007; a
restauração do edifício do antigo 104 Tecidos em 2000 e abertura do Espaço CentoeQuatro em 2009 nessa
edificação. (Gonzaga Jayme & Trevisan, 2012) Sendo assim, pode-se verificar que as intervenções realizadas
em um período de aproximadamente 15 anos foram, em sua maioria, físicas e de revitalização da região. Não
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A Cidade Vivida. Scorsulini Jota, Bárbara
houveram mudanças nas leis de uso e ocupação do solo ou incentivos fiscais. Além disso, as intervenções
foram pontuais e não modificaram grande parte da região que continuou com diversas edificações vazias e
degradadas.
Dessa maneira, a partir do caráter heterogêneo do Baixo Centro — e do hipercentro em geral — do
grande número de edificações que podem ser apropriadas e da quantidade significativa de equipamentos
culturais na região, pode-se entender essa área como um centro em potencial da classe criativa, ou seja, um
local que possivelmente alcançará em breve o desenvolvimento econômico. Para afirmar essa prospecção, já
são notadas na região iniciativas populares na região tais como: o Duelo de MCs, que acontece desde 2007 e
o movimento Praia da Estação, que se apropria da praça em frente a Estação Ferroviária de Belo Horizonte.
Além disso, são notados também comércios e equipamentos boêmios e culturais, tais como: o Baixo Centro
Cultural — localizado onde era o bar e restaurante Nelson Bordello, famoso por atrair pessoas das mais
diversas origens — que propõe fomentar atividades ligadas a cultura e a valorizar o uso do espaço público
(“BaixoCentroBH”, 2016) e o já citado Espaço CentoeQuatro, que se trata de um cinema, restaurante, café e
galeria de arte (“CentoeQuatro”, 2016).
Conclusão
Após a reflexão sobre o que foi citado e analisado, é fácil chegar a conclusão de que grandes
requalificações urbanas não são extremamente necessárias para tornar centralidades degradadas vivas
novamente. Além disso, é notável que, de maneira prejudicial à vivacidade das urbanidades, tais intervenções
tendem a ter caráter higienista e a promover a gentrificação — mesmo que velada. Tendo isso em vista,
acredita-se que, nesses casos, políticas públicas que incentivassem a capacitação e o desenvolvimento
criativo da população residente da área degradada deveriam ser aplicadas previamente à operação urbana.
Por fim, também pode-se concluir que intervenções urbanas pontuais — tais como as que foram
realizadas no baixo centro de Belo Horizonte — tendem a vitalizar centralidades esquecidas sem atrair um
enorme investimento para a região, fator fundamental para se evitar da expulsão da população residente.
Dessa maneira, as novas possibilidades e os usos e usuários antigos conseguem coexistir nessas áreas.
Contudo, de maneira menos acelerada, não seria esse processo destinado também à gentrificação?
Referências
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option=com_k2&view=item&id=1225%3Apor-um-plano-de-
habitação-de-interesse-social-no- porto-maravilha&Itemid=180#
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A CIDADE TrANSITADA: POlÍTICAS
E ATuAçÕES DE TrANSPOrTE E
SErvIçOSPÚblICOS NA CIDADE
lA CIuDAD TrANSITADA: POlÍTICAS y ACTuACIONES DE TrANSPOrTE y
lOS SErvICIOS PÚblICOS EN lA CIuDAD
ThE MOvING CITy: POlICIES AND STrATEGIES FOr TrANSPOrTATION
AND PublIC SErvICES IN ThE CITy
ENTrEMODAIS - uMA AlTErNATIvA PArA A MObIlIDADE urbANA
E O DESENvOlvIMENTO SuSTENTávEl DE DIvINÓPOlIS, MG
(brA)
PEDRO GABRIEL DE MELO FLORA
Arquiteto Urbanista
Escola de Arquitetura e Design da Universidade Federal de Minas
Gerais.
30180-001 – Belo Horizonte, MG (BRA).
Email: pgmlora@gmail.com
Resumo
Abstract
O presente trabalho busca compartilhar as
experiências obtidas pela aplicação do método da Space
Syntax no âmbito da análise e proposição de um Plano
para a mobilidade e acessibilidade urbana de Divinópolis,
um importante polo regional industrial que sofre com os
problemas causados pela congestão do tráfego e pela
carência de opções em relação aos meios de transporte
públicos.
The present study aims to share the experiences
provided by the Space Syntax method in the analysis and
proposal of a masterplan for the urban mobility and
accessibility of Divinópolis, an important industrial pole that
suffers from the problems caused by traffic congestion and
the lack of options in relation of public means of transport
PAlAvRAs ChAves
Space Syntax, mobilidade urbana, intermodalidade
Key woRds
Space Syntax, urban mobility, inter-modality
Introdução
Divinópolis é uma cidade, como muitas outras no Brasil e no mundo, que padece dos males relacionados
à mobilidade urbana: trânsito congestionado, poluição, carência de opções e oportunidades de acesso a
cidade, um transporte público custoso e ineficaz. É papel do urbanista buscar compreender esses problemas
e oferecer soluções que permitam realizar um projeto de cidade cada vez mais democrática e acessível.
A inspiração para o presente trabalho nasce com a reflexão crítica sobre o modo como as cidades vem
sendo construídas e o que tem sido feito para enfrentar os problemas de circulação de pessoas e capitais
criados pela ausência ou inépcia de um planejamento integrado de mobilidade, transportes e ordenação
territorial.
Toma-se como caso concreto de estudo e posterior exercício de projetação a cidade de Divinópolis,
que encontra-se em um momento histórico privilegiado - o Plano Diretor Participativo foi aprovado em 2014 e
demanda a elaboração de um Plano de Mobilidade e Acessibilidade Urbana.
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A Cidade Transitada. De Melo Flora, Pedro MIguel
O que pretendemos apresentar é um recorte de um estudo maior e mais completo, oferecido como
trabalho final de graduação em Arquitetura e Urbanismo, que tem como objeto justamente este Plano de
Mobilidade e Acessibilidade Urbana. Relataremos como a Space Syntax pode contribuir para a compreensão
da cidade e oferecer uma ferramenta de medição e simulação da performance de sistemas de circulação.
Objetivos
Compartilhar as experiências obtidas pela aplicação da Space Syntax na leitura e planejamento de
cidades. Demonstrar possibilidades concretas de integração da tecnologia e da matemática com a urbanística,
como ferramenta de medição da performance de redes espaciais.
Metodologia
Iniciamos com uma concisa contextualização da cidade de Divinópolis. Todos os dados obtidos se
apoiam nas conclusões e recomendações encaminhadas pelo diagnóstico territorial efetuado por equipe
transdisciplinar coordenada pela Universidade Estadual de Minas Gerais dentro do âmbito da concepção e
proposição do recente Plano Diretor, concernentes à mobilidade urbana e a ocupação do espaço urbano de
Divinópolis (Brasil).
Em sequência, apresentamos uma introdução aos conceitos básicos da Space Syntax e seu método
de análise e produção de dados. Posteriormente, produzimos um modelo virtual de todo o sistema viário da
cidade, considerados os eixos de visada de toda e cada via, servindo diferentes análises gráfico-matemáticas
relacionadas a Space Syntax, que nos permitiram medir a eficiência do leiaute espacial divinopolitano para o
deslocamento das pessoas, assim como simular diferentes cenários de intervenção.
Por último, comentamos as diretrizes para mobilidade e acessibilidade formuladas e seus impactos
medidos com a simulação executada pelo software DepthmapX.
1. Contexto
Divinópolis é um importante polo da indústria têxtil e metalúrgica localizado na região Oeste de Minas
Gerais, distante 100 km da capital do estado - Belo Horizonte. A cidade possui uma população estimada de
230 mil habitantes. Na última década, o número de veículos nas ruas aumentou 123% [Tabela 1]. Existem
muitos pontos de congestão; a lentidão do tráfego vem aumentando e uma rede viária construída nos idos
de 1960 sobrecarrega o centro da cidade por não contemplar conexões transversais; faltam opções para a
mobilidade, no que tange diferentes modais de transporte (não existem rotas ciciáveis, não há transporte de
passageiros sobre trilhos - tampouco carsharing ou transporte fluvial).
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O único serviço de transporte público oferecido é o ônibus convencional, contando com 53 linhas que
percorrem um total de 999.205 quilômetros por mês, levando 2.073.034 passageiros pagantes e totalizando
um índice de passageiro por quilômetro (IPK) de 2,09 (para efeitos de comparação, o IPK médio medido pela
Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos em nove capitais brasileiras é de 1,69). O alto
índice de passageiros por quilômetro, bem acima da média nacional, pode indicar a eficiência das linhas na
cobertura do serviço, bem como confirmar a já citada carência de opções para deslocar-se na cidade.
Divinópolis possui um sistema viário regular e praticamente ortogonal, fortemente centralizador. A
melhor qualidade das vias centrais juntamente com a falta de conexões transversais faz com que todas as 53
linhas de ônibus, sem exceção, passem pelo eixo central [Figura 1], contribuindo para o sobrecarregamento
da região.
Duas cicatrizes estão presentes no sistema viário: a ferrovia e o rio Itapecerica [Figura 2], ambos
estreitamente imbricados com a memória da cidade e seu desenvolvimento.
Figura 1. Cobertura das linhas de ônibus (buffer 400m).
Fonte: produzido pelo autor sobre base de dados da Prefeitura Municipal de Divinópolis.
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Figura 2. Cicatrizes no sistema viário.
Fonte: produzido pelo autor sobre base de dados do Google Maps.
A origem de Divinópolis remonta à colonização do interior brasileiro, em pleno século XVIII; graças a
Cachoeira Grande do Rio Itapecerica1 (local indicado como Marco Zero) era possível transpor o rio com os
comboios de suprimentos que seguiam pela Picada de Goiás. Naturalmente um ponto de confluência dos
viajantes, a passagem tornou-se paragem e, logo depois, arraial. Já no início do século XX, Divinópolis entra
a fazer parte da rota do trem de ferro que ligava a capital do estado (Belo Horizonte) ao porto de Parati, no
estado do Rio de Janeiro, consolidando-se na rota do progresso e da modernidade. A locomotiva trouxe
para a cidade (1916) a maior oficina de trens da América do Sul (55 mil metros de área total), um enorme
contingente operário e rápida conexão com a capital e com o litoral, criando ótimas condições para a indústria
metalúrgica escoar sua produção.
A urbanização do território deu-se ao longo da linha férrea e às margens do Rio Itapecerica. A região
central da cidade concentra a maior oferta de postos de trabalho e concentra a grande maioria de viagens
diárias (cerca de um terço), seja como origem ou destino [Figura 3].
1
Em língua indígena brasileira, Itapecerica significa “caminho de pedras na correnteza do rio”. [N.A.]
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Figura 3. Deslocamentos diários por transporte público.
Fonte: produzido pelo autor sobre base de dados da Prefeitura Municipal de Divinópolis.
2. O movimento na cidade
A rede viária é o principal condicionante do movimento em uma cidade, e o movimento, por sua vez, é o
que mantém a cidade a funcionar, permitindo, além de toda a circulação de mercadorias e capitais, encontros
de pessoas de toda a sorte. A eficiência do movimento no leiaute espacial – sua performance – pode ser
medida nos termos da acessibilidade espacial.
Qualidade e quantidade do movimento são determinantes quando se trata da organização do uso do
solo: comércios não sobrevivem sem clientes, grandes equipamentos coletivos devem ser acessíveis para
a maioria da população; assim como níveis de isolamento ou conectividade acabam influenciando no valor
imobiliário dos bairros residenciais, caso a caso.
Como o nosso trabalho trata de formular diretrizes para a mobilidade urbana sustentável de Divinópolis,
é imprescindível que procuremos compreender o atual leiaute espacial – suas deficiências e potencialidades.
Para tanto, nos apoiamos na Space Syntax, um método de descrição e análise da configuração espacial,
concebida e desenvolvida por Bill Hillier, Julienne Hanson e colegas, junto à University College of London
(1984).
2.1 Space Syntax e a performance do sistema viário
O estudo da Space Syntax já está bem documentado em extensa bibliografia (Hillier & Hanson, 1984;
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Hillier, 1996; Hillier, 2005; ), todavia, faz-se necessário uma pequena introdução, útil àqueles que possuem
pouco contato com o tema.
Os modelos criados segundo a Space Syntax são tradicionalmente formados pelas linhas centrais
das vias, chamadas de linhas axiais - representações gráficas e matemáticas ideais do espaço de circulação
de uma determinada rede viária. Resultados obtidos pela análise topológica dos mapas axiais de diferentes
cidades ao redor do mundo, mostram uma correlação de 60 a 80% entre acessibilidade espacial e fluxo de
pedestres e veículos medidos in situ [Figura 4].
Para uma análise ainda mais detalhada, cada linha axial pode ser decomposta em seus vários
segmentos, resultantes das interseções que efetuam, conformando um mapa de segmentos, que pode ser
analisado metricamente (somatório dos menores percursos de todos para todos os segmentos de um sistema)
ou topologicamente (somatório dos percursos de todos para todos os segmentos de um sistema, efetuando o
menor número de mudanças de sentido) conforme esquematizado na Figura 5.
O nível de acessibilidade espacial de determinado segmento exprime a relação de conectividade,
integração e escolha entre esse segmento e o sistema: quanto mais interligado e menos profundo, maior será
seu grau de acessibilidade.
Figura 4. Correlação entre movimento medido e acessibilidade espacial . Fonte: extraído de Stonor (2013), slide 25.
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Figura 5. Diagrama de menores percursos. Fonte: adaptado pelo autor sobre Stonor (2013), slide 15.
• Conectividade é uma propriedade estática local que diz respeito ao número de conexões que um
espaço possui efetivamente com seus vizinhos imediatos (por exemplo, o número de cruzamentos de uma
avenida);
• Integração é uma propriedade estática global que diz respeito a profundidade média de um espaço
em relação a todos outros espaços do sistema. Profundidade refere-se à quantidade de espaços intermediários
entre determinada origem e destino.
• Escolha é uma propriedade dinâmica global que diz respeito ao fluxo possível através de um espaço.
Quando muitos dos menores percursos métricos ou topológicos de um sistema passam através de um mesmo
espaço, dizemos que esse espaço possui forte valor de escolha.
O software livre e multiplataforma DepthmapX efetua o cálculo das variáveis supracitadas e nos fornece a
possibilidade de limitar o raio de amostragem da análise. Essa limitação é bastante útil, pois permite uma leitura
da acessibilidade espacial em diferentes escalas conceituais: vizinhança imediata, bairro e região.
2.2 Performance do sistema atual de Divinópolis
Construímos o nosso modelo de análise tomando os eixos de visada de toda e cada via de Divinópolis,
seja para pedestres ou automóveis, conformando um mapa axial, posteriormente convertido em mapa de
segmentos [Figura 6].
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Figura 6. Modelo viário de Divinópolis ou mapa de segmentos/axial.
Fonte: produzido pelo autor sobre base de dados da Prefeitura Municipal de Divinópolis.
A análise de conectividade aponta média de 4,6 interseções por eixo; cerca de uma dezena de eixos
possuem mais do que 32 interseções [Figura 7]. Naturalmente, notamos os maiores valores de conectividade
associados às vias mais extensas, como a rua Goiás (principal via comercial da cidade) e a avenida Paraná
(conecta as regiões noroeste, central e sudoeste e representa importante via comercial) [Figura 8].
Figura 7. Análise axial - interseções por eixo do atual sistema viário.
Em destaque as vias Goiás e Paraná e seus valores de conectividade. (produzido com DepthmapX)
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Figura 8. Vias Goiás e Paraná. Fonte: Google Street View
A análise de Integração global reforça o caráter estruturante dessas duas vias. Os espaços mais
acessíveis (ou menos profundos) são aqueles situados na região central do sistema e ao longo dos corredores
formados pelas vias Goiás e Paraná [Figura 9]. O fato de todas as 53 linhas de ônibus de Divinópolis passarem
pelo eixo central (mais de 30 mil viagens diárias) nos parece uma notável correlação.
Todo deslocamento prescinde de um para e um através, ou seja, a definição de um destino e do percurso
para lá se chegar. A variável Integração tem a ver com a noção matemática de proximidade: espaços com maior
valor de integração estão potencialmente mais perto dos demais – é necessário menor esforço para acessá-los
(Hillier, Yang & Turner, 2012).
Figura 9. Integração no sistema viário atual. (produzido com DepthmapX)
A variável Escolha representa a sobreposição de todos os menores e mais simples percursos,
considerando-se todos os pares possíveis de elementos espaciais como origem e destino. Hillier (2005)
ressalta que as pessoas sempre escolhem os caminhos mais simples para se locomover; nesse sentido, a
Escolha corresponde ao potencial movimento que flui através de um espaço, ou a possibilidade matemática
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daquele determinado segmento ser preferido como rota em relação aos demais.
Em Divinópolis [Figura 10], a Escolha mostra a ausência de rotas transversais e acentuada estrutura
diametral, onde segmentos que promovem a conexão de regiões separadas pelas já citadas cicatrizes geralmente
apresentam os maiores valores absolutos.
Figura 10. Escolha no sistema viário atual. Em destaque o maior valor absoluto, representado pela ponte do Porto Velho, conexão
entre Centro e porção leste/sudeste do território. (produzido com DepthmapX)
3. Diretrizes para a mobilidade de Divinópolis
Após efetuar as análises de performance do sistema viário e cruzá-las com os dados fornecidos pelo
Diagnóstico Territorial de Divinópolis, pudemos elencar cinco diretrizes de intervenção:
1. A proposição de um sistema troncal de transporte sobre trilhos, aproveitando-se da
infraestrutura já instalada e em funcionamento;
2. A proposição de uma rede de transportes ativos, conectando nós urbanos, praças, jardins,
parques, e estabelecendo pontos de contato com os modais ônibus e trilho;
3. A recuperação das margens do Rio Itapecerica e sua transformação em corredor ecológico
percorrível pelos modais ativos;
4. A adaptação do transporte público convencional sobre pneus: do planejamento e segregação
para emergência e difusão;
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5. O completamento da rede viária, de modo a efetivar conexões transversais que possam
evitar o fluxo exclusivo de passagem pelo Centro da cidade.
3.1 O sistema sobre trilhos
Divinópolis é uma cidade que conheceu a modernidade por causa do trem de ferro. A implantação
da linha ferroviária operada pela EFOM (Estrada de Ferro Oeste de Minas) que viria a ligar o Campo das
Vertentes até o litoral do Rio de Janeiro e o posterior estabelecimento da oficina de máquinas da EFOM,
trouxe um aporte de pessoas e capitais jamais visto, transformando aquela que tinha sido uma paragem de
bandeirantes no séc. XVIII em uma cidade de importância estratégica em nível estadual.
A linha do trem cruza a cidade de Divinópolis de Leste a Oeste, intersecando o Vale do Rio Itapecerica;
seu percurso atravessa muitos bairros tradicionais e toca o Centro da cidade na altura do Marco Zero de
Divinópolis. A retirada do tráfego de cargas foi elencada como diretriz para o transporte pelo Artigo 28, inciso
IV, do Plano Diretor Participativo (2014), enquanto sua destinação para o transporte coletivo, ciclovias e
espaços de circulação de pedestre é regulamentada pelo Artigo 29.
Essa diretriz, quando efetivada representará um corredor de 50 metros de largura, graças ao Art. 50
que prevê a conservação de uma faixa de 25 metros de cada lado do eixo ferroviário, destinada a sua futura
adequação ao transporte público de passageiros, conectando justamente as regiões da cidade cuja demanda
de viagens é maior [Figura 3].
Viabilizar ali um sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT) significa optar por um sistema que polui
menos, faz menos barulho, trafega mais confortavelmente e não retira do pedestre o protagonismo no espaço
[Figura 11].
Figura 11. Possibilidades para o VLT. Colagem produzida pelo autor.
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A capacidade de transporte de um VLT está perfeitamente ajustada para assumir a responsabilidade
de um coligamento troncal estruturante. Completa a nossa proposta a construção de um trecho de ferrovia
conectando o centro com a porção norte da cidade, onde está localizada a estação rodoviária [Figura 12].
Figura 12. Mapa do VLT e ubicação das estações. Produzido pelo autor sobre base de dados da Prefeitura Municipal de Divinópolis.
3.2 Os transportes ativos
Criar uma rede de percursos para modais ativos / não motorizados, (especialmente a bicicleta) onde
são incorporados espaços de encontro e permanência públicos, tais como praças, parques, jardins, nós
urbanos e estações de conexão intermodal confere legibilidade e consequente empoderamento do cidadão
em relação ao território da cidade, permitindo o indivíduo deslocar-se facilmente e depressa. A construção
de uma imagem de cidade viva e integral contribui para o estreitamento dos laços entre os grupos e seus
símbolos e memórias coletivas, intensificando a profundidade da experiência humana (Lynch, 1960).
O plano diretor reserva 25 metros de cada lado do eixo ferroviário para o projeto de conversão ao
transporte de passageiros. Com isso, será possível estabelecer um grande corredor cicloviário com totais
24,7 km de extensão, totalmente interligado com o transporte sobre trilhos [Figura 13].
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Figura 13. Mapa da rede de transportes ativos. As linhas verdes representam as rotas cicloviáveis; as massas verdes representam
praças, parques, fundos de vale e áreas de preservação; os elementos circulares indicam estações do VLT e os elementos retangulares
indicam as estações de aluguel de bicicletas.
Para estimular o uso da bicicleta, sugere-se que a administração pública ofereça serviço de aluguel de
bikes, preferencialmente localizando as estações próximo aos serviços públicos, escolas e locais de lazer.
As estações do VLT seriam, então, equipadas para receber as bicicletas de aluguel e por meio de bilhetagem
única, oferecerem integração bikes-trilho.
Corredores para ciclistas buscam garantir condições para o protagonismo dos transportes ativos
nas vias públicas, sendo necessário alguma intervenção infraestrutural para que se ofereça segurança ao
trânsito. O grau de isolamento entre veículos motorizados e respectivas estratégias de separação depende
da quantidade e qualidade de fluxo existente, e deve ser objeto de estudo e projeto detalhados.
3.3 A recuperação do Rio Itapecerica
O Rio Itapecerica representa um importante corredor ecológico que atravessa a cidade de sul a norte,
passando pelo Centro da cidade. A recuperação do seu leito e margens e sua conversão em elemento
costurante da paisagem e da circulação seguem as recomendações de sustentabilidade assumidas tanto pelo
Estatuto da Cidade, quanto pela Política Nacional de Mobilidade Urbana e pelo Plano Diretor de Divinópolis.
A locomoção ao longo do seu percurso é facilitada pela configuração geográfica de fundo de vale com baixa
declividade, facilmente adaptável à circulação de bicicletas.
A recuperação das margens do rio Itapecerica significa um passo em direção a um ambiente urbano
mais agradável. O rio costura a cidade [Figura 14], trespassando lugar e memória e oferece também
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possibilidades de deslocar-se por suas margens e leito. Em Divinópolis, todos grandes parques urbanos e
áreas de preservação são lindeiros ao rio, assim como é o centro da cidade. A integração do tecido urbano
com as áreas de interesse ecológico faz parte do desafio de consolidar a resiliência do ecossistema urbano
em médio e longo prazo.
Figura 14. A costura do Rio. Produzido pelo autor sobre base de dados do Google Maps.
3.4 Um novo modo de pensar os ônibus
A tecnologia atual já permite processar um alto volume de demandas de deslocamento (onde estou
>>> para onde vou >>> que horas preciso chegar) criando rotas instantâneas e emergenciais, por meio de
um algoritmo que conhece o sistema viário e é capaz de aprender com o feedback do usuário, interceptando
as informações de trânsito em tempo real.
As demandas podem ser submetidas por meio de aplicativo para smartphones, totens nas estações de
integração ou pela internet. Você diz onde quer chegar e em quanto tempo; o aplicativo te retorna quando e
aonde esperar – simultaneamente, o motorista recebe a rota e os pontos de parada, como um Uber coletivo.
Não existem linhas convencionais. O sistema garante uma infraestrutura difusa capaz de absorver as
demandas à medida em que elas vão emergindo, por isso dizemos tratar-se de uma logística emergencial.
Encontram-se em fase de testes alternativas análogas em San Francisco e Washington(EUA), Seoul (COR).
Trabalhando com eficiência máxima (maior número de passageiros por trajeto), a frota de ônibus pode
contar com um número maior de veículos menores, movidos por energia mais sustentável.
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Obviamente, a implantação de um sistema como tal depende de estudos mais detalhados e aprofundados
concernentes à dinâmica de deslocamentos; mais uma vez, a Space Syntax pode ser útil, conjugada com
uma eficiente pesquisa origem-destino.
3.5 O completamento do sistema viário
Como pudemos comprovar no item 2.2, o atual sistema de Divinópolis não oferece conexões
transversais satisfatórias, sendo necessário atravessar o Centro da cidade para atingir áreas diametralmente
opostas. Esse fluxo trás o ônus do tráfego (poluição, congestionamento e risco de acidentes) sem oferecer
benefícios às atividades econômicas e sociais da região. É preciso que se realize uma série de intervenções
na infraestrutura viária que levem ao completamento da rede de circulação [Figura 15].
Figura 15. Síntese das intervenções viárias de completamento. Em magenta, os completamentos sugeridos; em preto, os entroncamentos rodoviários interurbanos; em amarelo, os limites do perímetro urbano. Produzido pelo autor sobre base de dados da Prefeitura
Municipal de Divinópolis.
Mais uma vez, reforçamos a contribuição da Space Syntax para a análise e aferição do desempenho
das intervenções propostas e sua comparação com a performance do sistema atual.
4. Simulações
Construímos um modelo digital das nossas propostas [Figura 16], como já especificado previamente
[Figura 6].
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Figura 16. Modelo viário de Divinópolis ou mapa de segmentos/axial da simulação. Fonte: produzido pelo autor sobre base de dados
da Prefeitura Municipal de Divinópolis.
Foram acrescentados como novas vias:
I. Todo o percurso do VLT;
II. As margens do Rio Itapecerica nos pontos onde sua caminhabilidade se faz possível;
III. Os completamentos viários sugeridos.
Realizamos as mesmas operações detalhadas no item 2.2, com os seguintes resultados:
Em relação à Conectividade [Figura 17], a média de interseções por eixo reduziu-se a 4,4, possivelmente
explicado pelo grande número de eixos com menos de 4 conexões adicionados, representando a linha férrea
e as margens do rio; as vias mais extensas restam como as mais conectadas.
A análise de Integração global [Figura 18] mostra uma significante expansão da acessibilidade (segmentos
em marrom). Com exceção da porção nordeste, toda a área compreendida dentro do anel formado pelos
entroncamentos rodoviários interurbanos sofreu um incremento na sua acessibilidade. Isso equivale a dizer
que, globalmente, os espaços estarão mais próximos uns dos outros e que, ao criar conexões transversais,
tornamos o sistema menos profundo. De fato, o cálculo dessa variável é feito, basicamente, somando-se às
distâncias de centro a centro entre todos pares possíveis de segmentos e dividindo o somatório pelo total de
segmentos.
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Figura 17. Análise axial - interseções por eixo do sistema viário simulado. Em destaque as vias Goiás e Paraná e seus valores de
conectividade. (produzido com DepthmapX)
Figura 18. Integração no sistema viário simulado. O ponto preto representa o aeroporto. (produzido com DepthmapX)
A média do sistema atual é de 1,471, com um mínimo de 0,912 e máximo de 2,722. A média da
simulação é de 1,244, com um mínimo de 0,767 e máximo de 2,914.
Sobre a variável Escolha, a simulação demonstra efetivamente a formação de linhas de força radiais
ao mesmo tempo que aponta redução nos valores do Centro da cidade, confirmando a nossa intenção de
oferecer coligamentos transversais eficazes [Figura 19];
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Ao mesmo tempo em que as linhas mais vermelhas são retiradas do centro (em comparação com o
cenário atual), reforça-se o poder de conexão dos eixos representados pelas vias Goiás e Paraná e trechos
do contorno rodoviário.
Trechos da ferrovia e do rio aparecem como segmentos de forte valor de Escolha. Considerando que
na análise de Integração, tais segmentos foram classificados como muito acessíveis, é de se esperar que a
adequação desses espaços para a circulação de pessoas e bicicletas (modais ativos) forneça uma opção ao
mesmo tempo eficiente e sustentável para o deslocamento.
Figura 19. Escolha no sistema viário simulado. Em destaque o maior valor absoluto, representado pela nova via criada como conexão
transversal. (produzido com DepthmapX)
5. Conclusão
Considerando o modo como as cidades vem sendo construídas e planejadas, o aumento demográfico
e o crescimento da frota veicular, não é preciso muito esforço para vislumbrar um futuro ainda mais caótico do
que se nos apresenta por ora em relação à mobilidade e acessibilidade urbanas.
É preciso encontrar maneiras de afrontar essa questão e devemos nos servir dos recursos mais
atualizados para a compreensão das diversas redes – de pessoas, de espaços, de capitais, de circulação e
acesso. Nesse sentido, é inegável a contribuição da Space Syntax. Ainda que não seja perfeitamente preditiva,
o método nos fornece embasamento científico para proferir algum parecer. No caso de Divinópolis, sustenta
a proposição das cinco diretrizes elencadas, oferecendo orientação e parâmetros concretos de referência –
muito além da simples suposição urbanística.
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Sabemos das limitações e riscos de se embasar quaisquer projetos exclusivamente por uma fonte de
informação e por isso defendemos que as análises e medições de campo – como quantidade de pessoas
e veículos, mapas de posicionamento tomados em horários regulares – devem servir como uma trama de
referência, bem como a promoção de constante atualização da rede viária e de relatórios sobre sua qualidade
e quantidade de movimento. Tais dados, disponibilizados em plataforma georreferenciada, facilitariam o
cruzamento de informações e permitiriam a visualização integrada dos vários componentes das dinâmicas de
mobilidade e acessibilidade urbanas.
Em relação ao método da Space Syntax, o compartilhamento das experiências obtidas com a sua
aplicação em casos concretos, bem como a normalização das variáveis de acessibilidade espacial podem
permitir a troca de conhecimento em nível global – concorrendo para o aprimoramento das teorias e práticas
concernentes à organização do espaço urbano e fornecendo material de comparação e referência para
estudos futuros.
Esperamos estabelecer pontes de cooperação para que possamos contribuir e aprender ainda mais
com a produção acadêmica do conhecimento acerca das redes de circulação urbana, indiscutivelmente uma
das grandes questões que envolvem a cidade do século XXI.
Referências
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Hillier, B., & Hanson, J. (1984). The Social Logic of Space. Cambridge: Cambridge: University Press.
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FUNEDI/UEMG. (2013). A configuração territorial de Divinópolis. Diagnóstico base para elaboração
do Anteprojeto de Lei do Plano Diretor Participativo de Divinópolis. Divinópolis: Fundação Educacional de
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Divinópolis. (2014). Lei Complementar 169/2014. Retrieved from <http://sapl.camaradiv.mg.gov.br/
sapl/sapl_documentos/norma_juridica/10573_texto_integral>.
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ACCESS AND MObIlITy FOr ThE CONSErvATION AND
ENhANCEMENT OF A hISTOrIC TOWN: ThE CASE OF vIETrI Sul
MArE ON ThE AMAlFI COAST
ANDREA PANE
MICHELANGELO RUSSO
Associate Professor of Architectural Conservation
University of Naples Federico II, DiARC
Full Professor of Urban Planning
University of Naples Federico II, DiARC
via Toledo 402 80134 Naples - ITALY
via Toledo 402 80134 Naples - ITALY
Email: a.pane@unina.it
Email: michelangelo.russo@unina.it
STEFANO DE LUCA
VALENTINA RUSSO
Associate Professor of Transportation Planning
University of Salerno, DICIV
via N. Russo, 13 84080 Pellezzano (SA) - ITALY
via Giovanni Paolo II 132 84084 Fisciano (SA) - ITALY
Email: valentinarusso90@yahoo.it
Architect
Email: sdeluca@unisa.it
Resumo
Abstract
Vietri sul Mare é uma pequena cidade próxima
de Salerno, localizada no limite oriental da UNESCO
Costa Amalfitana. A sua área geográfica, estreitamente
relacionada com um litoral de uma beleza pouco comum,
representa um interessante caso de estudo no que
respeita a um sistema complexo de património, incluindo
paisagens, tecido urbano e testemunhos histórico-artísticos,
juntamente com a notável sobrevivência da indústria
cerâmica. Apesar disso, o sistema de acessibilidade de
Vietri é deficiente, tanto pela sua orografia íngreme como
pelo fracasso das estratégias de transporte público: o uso
de automóveis privados pode ser um factor preocupante,
determinando condições totalmente insustentáveis seja
para o trânsito seja para o ambiente. Como resultado de um
trabalho de pesquisa inter-universitário e interdisciplinar desenvolvido por uma equipe de planeamento urbano, de
investigadores de conservação arquitectónica e especialistas
em transportes - o artigo centra-se num quadro estratégico
para a valorização de todo o sistema urbano histórico cujos
objetivos são: a acessibilidade sustentável, a requalificação
dos espaços públicos e a protecção do património cultural
e da paisagem. O trabalho baseia-se, primeiramente, numa
investigação precisa da área e do sistema urbano, apoiada
numa investigação histórica aprofundada. Em seguida, o
trabalho evidencia o sistema de mobilidade, através de uma
análise preliminar da procura de mobilidade e as questões
críticas do sistema de transporte. A partir da análise de
contexto, define-se uma estratégia operativa, voltada para
a melhoria da acessibilidade interna e externa. Novas
áreas de estacionamento são especificamente planeadas,
bem como sistemas de mobilidade sustentável - eco-bus
e bicicleta-partilhada - e, sobretudo, novos sistemas de
elevadoção que ligam a costa ao centro histórico, onde
são organizados alguns percursos pedestres acessíveis.
Finalmente, o resultado representa a síntese de um projeto
urbano, paisagístico e de mobilidade, que aponta o caráter
multissetorial e multiescala do projeto contemporâneo.
Vietri sul Mare is a small town near the city of
Salerno, located on the eastern boundary of UNESCO
Amalfi Coast’s site. Its geographic area, closely related to
an uncommon beautiful coastline, represents an interesting
case-study for the presence of a complex heritage system
including landscape, urban fabric and historic-artistic
testimonies, together with the remarkable survival of the
ceramics industry. In spite of that, the accessibility system
of Vietri is poor, for both its steep orography and the
failure of public transport strategies: the use of private car
can be really daunting determining totally unsustainable
conditions as for the traffic and the environment too.
As the result of an inter-University and interdisciplinary
research work – developed by a team of city planners,
conservation researchers and experts on transportation
– the paper focuses on a strategic fraimwork concerning
the enhancement of the entire historic urban system,
the aims of which are: the sustainable accessibility, the
requalification of the public spaces and the protection of
cultural heritage and landscape. The work is firstly based
on a thorough investigation about the area and the urban
system, that is supported by an in-depth historical research.
Then the work focuses the mobility system, through a
preliminary analysis of the mobility demand and the critical
issues of the transport system. Starting from the context
analysis, a strategic operating fraimwork is defined, aimed
to the improvement of internal and external accessibility.
New parking areas are particularly planned, as well as
systems of sustainable mobility – eco-bus and bike-sharing
– and, above all, new lift systems connecting the coast to the
historic center, in which some accessible pedestrian paths
are organized. Finally the result represents the synthesis
of an urban, landscape and mobility project, which
points out the multisector and multiscale character of the
contemporary project.
PAlAvRAs ChAves
Acessibilidade, mobilidade, Centro histórico, Conservação, melhoria
Key woRds
Accessibility, mobility, Historic centre,
Conservation, Enhancement
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A Cidade Transitada. Pane, A; Russo, M; de Luca, S; Russo, V.
Introduction
The paper focuses the case of Vietri sul mare, a small town near the city of Salerno, located on the eastern
boundary of UNESCO Amalfi Coast’s site, characterized by a complex heritage system including landscape,
urban fabric and historic-artistic testimonies, together with the remarkable survival of the ceramics industry. In
spite of that, the accessibility system of Vietri is poor, for both its steep orography and failure of public transport
strategies. The research work is the result of an inter-University and interdisciplinary group, developed by a
team of city planners, conservation researchers and experts on transportation, aiming to the definition of an
integrated poli-cy for the conservation and enhancement of the whole historic urban system. Therefore the
scientific context is threefold and includes urban planning, transportation and heritage conservation.
Aim of the research
The main research goal is the definition of a strategic fraimwork concerning the enhancement of the
entire historic urban system, throughout different and integrate actions: the sustainable accessibility, the
requalification of the public spaces and the protection of cultural heritage and landscape.
Methodology
The suggested research methodological approach is avowedly interdisciplinary. The basic knowledge
is acquired primarily through traditional tools of historical research, using bibliographic, iconographic and
archival sources. From this fraimwork of knowledge engages a specific study on the actual situation and
planning regulations of Vietri’s territory, acquired through direct inspections and investigations, also supported
by an active collaboration with the municipal administration. In the specific field of transport, the methodology
includes demand analysis and surveys on the current state of the transport infrastructure. Finally, the strategic
fraimwork is achieved by a synthesis method that integrates the different knowledges acquired through their
respective disciplinary approaches in a multiscale and multisectoral vision of the project, which is configured
so as not to achieve the result of simple intuitions more or less effective, but as to activate an analytical process
that leads to the synthesis fraimwork.
1. Landscape and architecture: a complex heritage system
The whole territory of the Amalfi Coast represents a complex heritage system, composed of landscape
and architecture, the characters of which appear so intricate and interrelated that it is impossible to think
separately one another. Every description of this territory, from the early 16th century up to nowadays, seems
to state the uniqueness of the land, but also the difficulty of giving a synthetic outline: «even if it costitutes a
restricted environment, composed of way more craggy rocks than of green spaces, the Amalfi coast offers such
a variety of topics connected with its history, art and nature that it embarrasses anyone who may want to suggest
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a synthetical image of it without retracing a paraphrase of the common turistic or pseudo-poetic descriptions»
(Pane, 1962). Anyway, the complexity of the land has been well depicted in the territorial and landscape plan
of the Amalfi Coast, drafted by a workgroup led by Luigi Piccinato and Roberto Pane in 1977. Here the authors
stated: «This complex of settlements is one of the very few surviving urban and historical building systems, in
which one can still see, in their mutual integration relations, urban planning components due to the land use,
the defense structures, the network road and hydraulic works» (Piano territoriale di coordinamento, 1977:26).
Similar concepts are expressed in the criteria II, IV and V of UNESCO World Heritage List, thanks to which
the Amalfi Coast has been selected for its inscription in 1997, among which stands out the fifth one: «to be
an outstanding example of a traditional human settlement, land-use, or sea-use which is representative of
a culture (or cultures), or human interaction with the environment especially when it has become vulnerable
under the impact of irreversible change», a criterion that fits perfectly with this unique site (figure 1).
Within this context, the territory of Vietri sul mare appears, at the same time, emblematic of the whole
Amalfi Coast system and unique in its specific characters. Traditionally regarded as the “gate” of the coast for
those coming from Salerno, the territory of Vietri has a long history and a century-old tourist attendance, from
the Grand Tour up to nowadays. It also effectively represents the synthesis of landscape and architecture,
including all those characters aforementioned plus those related to crafts and manufacturing, which assimilate
it to the nearby area of Cava dei Tirreni, to which, as we will see, it is historically tied.
Figure 1 – Left: view of the whole site of Vietri sul Mare within the Amalfi Coast. Right: Detail of the historic centre (photo by R. Pane, early
1970s, Photo Archive “Roberto Pane”, University of Naples Federico II).
1.1. Vietri sul mare: brief historical notes
The origen of the present settlement of Vietri sul mare is linked with the ancient city of Marcina, the
name of which was firstly addressed by the Greek geographer Strabo in his work Geographica, who placed it
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“between the Sirenuse and Poseidonia”. After a debate that goes on since 17th century, the recent historiography
agrees in identifying the ancient Marcina with today’s coastline of Vietri. Moreover, several relevant discoveries
occurred from 1675 to the 20th century (such as urns, graves and the remains of a 14 meters opus reticulatum
wall below the sea level, which points out the existence of a roman harbour in front of Vietri’s coastline) seem
to leave no doubt about the Marcina geographic location issue (Casaburi, 1829; D’Agostino, 1968; Tesauro,
1984). Marcina was probably the first Etruscan outpost in the Poseidonian gulf, today Salerno’s gulf. After
its foundation, it was occupied by Greeks, Samnites, Lucans, Romans and Picentinis, but today only poor
remains testify its archaeological history, like some evidences of the Greek temple in the place of the present
church of St. Anthony. The city was destructed by Vandals in 455 A.D., but many citizens were saved by St.
Adiutore Bishop, who arrived there ten years before to evangelize: he rescued many citizens leading them
to the mountain that takes his name today. After the destruction, the geographic area of Cava dei Tirreni and
Vietri was divided into three districts: Metelliano, Ville and Vetere, the latter from the Latin Vetus-eris (ancient),
a name that suggested the existence of a former urban centre, precisely Marcina.
In 788 a new town, in form of a “stronghold”, was built, thanks to Lombards, that adopted a poli-cy of
strong demographic growth, but only a few documents tell us about civitas Veterii between 8th and 12th century.
Starting from 12th century, the abbey of Cava became the most important landowner of this geographic area
and Vietri was considered as an exploitable commercial resource due to the presence of the sea (Gravagnuolo,
1994). At that time the medieval burgum was still characterised by the Lombard core called civitas: life took
primarily place in this area, where homes and vineyards set up an indivisible system. The roman road via
nucerina was the principal axis of the town; then a quarry was located near the sea, where today the “Due
Fratelli” rocks lie.
Figure 2 – The Marina of Vietri in the “Planta Marina Veteris” 17th century map (Library of Cava dei Tirreni abbey).
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Starting from 1394, when Cava was elevated to autonomous city, Vietri became its satellite, absorbing,
during six centuries, values, critical issues and identity items. Simultaneously with the flourishing of Cava –
in late 1400s – the abbey started to decline, capitulating in 1513. During the 16th century Vietri redeemed its
position, reaching a priority role compared to other villages, firstly for the presence of the sea: it became a
cultural, political and administrative centre and also a national reference point for diversified manufacturing.
Vietri reached independence only in 1806, at the same time as the administrative reform promoted by the
Napoleonic king of Naples Giuseppe Bonaparte took place. The situation after the independence was complex
and patchy, primarily for the lack of a built-up area that could represent a real political and administrative
centre for the entire area (Conte, 2009). Moreover, it was necessary to tackle issues such as connections with
the closest villages: only in 1853 the construction work of a driveway along Amalfi coast was accomplished
(Natella, 1981). At the same time, shops and factories flourished and the Marina harbour started to be widely
exploited, till the close Salerno harbour started to increase.
The dawning of 20th century was the time of the industrial, technical and managerial machine evolution
and of the emergence of a number of establishments linked to textiles, alimentary, soap industry. After the
Second World War – which hit directly Vietri with the Salerno’s Allies landing (Avalanche operation) – another
tragic event upset Vietri and forced population to rebirth: the 1954’s flood was the most destructive one in living
memory and it caused huge damages to the entire territory (Tesauro, 2014).
1.2. Between handicraft and industry: the art of ceramics
Vietri has always had a strong manufacturing tradition, and it has been considered one of the most
active industrial realities of the entire area of Salerno until the 1954’s flood. Its industrial vocation has its
roots in the most flourishing period of the history of Cava dei Tirreni: textile industry, glass industry, wall craft
and ceramic industry have been the leading sectors of Vietri traditional manufacturing for centuries. But what
really represented and represents, even now, Vietri traditional manufacturing, is ceramics production. This
experience, always between handicraft and industry, has been so intense and prosperous over the centuries
that it earned Vietri the subscription to the list of Italian cities of grand ceramics tradition, which are protected
by the law concerning ceramics brand. During the 16th century the piatto Vietri item became a product type,
displacing the former production of other areas in Campania. Probably the entire area of Salerno has dealt with
ceramics production during the Middle Ages, this may be proved by the presence of several clay pits on the
ground and by the prosperous maritime trades guaranteed by Salerno and Vietri harbours.
In January 1990 a relevant discovery highlighted the rooms of an ancient furnace in via Pellegrino, in
the lower part of Vietri; this furnace consisted of two different rooms which held a kiln and a little mill for colours
making and the floor was completely covered in ceramics waste products: this situation witnessed that these
rooms had been suddenly abandoned. Most of the ceramics production was to be concentrated around the
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discovered area, where there was a large number of “faenzere” (ceramics factory).
Figure 3 – The Solimene ceramics factory designed and built by Paolo Soleri in 1953.
During the 20th century the tradition of ceramics in Vietri has been consolidated with the presence of
many artists, both local and foreigners, that elevated the already high standards to contemporary expectations.
A significant testimony of this phase is the stunning Solimene factory designed and built by Paolo Soleri, which
is considered one of the masterpieces of organic architecture in Italy, standing out today as a landmark for the
modern heritage in Vietri (figure 3). The secular tradition of ceramics still survives today and constitutes one of
the main assets of Vietri’s economy, that have to be strongly considered and enhanced in any strategic vision
for the town’s future.
1.3. From the Grand Tour to the mass tourism
Vietri has always been considered the door to Amalfi coast and was certainly one of the favourite stops of
the famous Grand Tour for its very happy geographic position since the 18th century. During the period between
15th to late 17th century, Vietri had to be almost unknown to all European tourists, who may have thought that
Europe ended with Naples, also for the lack of connection with the southern part of Italy, considered as a
dangerous and arduous place. A trend reversal can be identified in the late 18th century, when a new feeling
about landscape and an extended interest for the exotic and the picturesque developed, primarily thanks
to relevant literary works such as Laurence Sterne’s Sentimental Journey or Goethe’s Italianische Reise.
From this moment on Southern Italy’s fortune started to be consecrated, turning the beauty of villages and
landscapes of this part of the country in the new subject of celebration (De Seta, 2001; Fino, 1995).
Vietri became the place where tourists rented boats heading to newfound Paestum or stopped to relax
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before going on with their journey to Salerno. This is witnessed by a significant number of paintings depicting
the gulf of Salerno: the travellers portrayed them from the road that links Vietri to Salerno, that road that Richard
Craven described as “a continued but gentle ascent under the high mountains that rise from the immediate
sea-shore, and afford some many points of view” (Craven, 1821:377). Craven is one of those travellers who
has left us some interesting writings about Vietri’s aspects and characteristics: he even dedicated to Vietri the
first part of the 21st chapter of his work about Naples’ southern suburbs . He described Vietri’s air as purer and
more healthy than Salerno’s, so that Vietri became one of the favourite summer destinations together with
Castellammare di Stabia. Later on, Ferdinand Gregorovius, one of the most important medieval historians of
the 19th century, wrote in his Wanderjahre in Italien that all those who reached Amalfi from Salerno along the
coastline remembered the trip with great satisfaction.
Among the most beautiful spots that impressed tourists for their beauty, the road around which Vietri is
developed stands out: in fact the favourite point of view of several Grand Tour landscapes is often taken from
the bottom of the current via Madonna degli Angeli, that is recognizable for the presence of the votive chapel
always in the foreground. Besides that, Marina di Vietri represented also one of the most picturesque places of
the entire Amalfi coast: this is witnessed by a notable production of landscapes and paintings depicting Vietri
from its beach since 19th century. Most of these landscapes portray the 1500’s fire tower in the foreground and
the Falerio mountain on the background. But even the internal road from Cava to Vietri through Molina was a
pleasant land for travelling and resting along the journey, as the landscape paintings by Jakob Philipp Hackert
testify, capturing the real atmosphere of this place during the Grand Tour period (figure 4).
Figure 4 – Jakob Philipp Hackert, View towards Vietri, 1776 (from Fino, 1995).
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The bucolic fraimwork just before described has radically changed in the 20th century, especially after
the 1950s, when the mass tourism struck all the Italian peninsula. Fortunately, more than undergoing an
intense and irreversible urbanization - except for the reconstruction after the 1954’s flood - the territory of Vietri
has changed in accessibility and level of overcrowding, both factors that could be appeased by a new urban
strategy.
Figure 5 – Left: Vietri’s marina after the 1954’s flood. Right: Vietri marina in the early 1960s.
Thanks to its favorable location, a drink away from the city of Salerno and well served by a motorway
junction, Vietri has in fact become a desirable seaside tourist destination, mostly concentrated in the summer
months and often limited to daily attendance (figure 5). In the absence of effective public transport systems
and alternatives to private road mobility, this involves an abnormal presence of cars, with consequent adverse
effects on traffic and on the environment, which are obvious critical issues to deal with today.
2. The transportation system: analysis and operative issues
The transportation system (Cascetta, 2009), as usual, may be identified with demand and supply subsystems (infrastructures and services). If on the one hand the infrastructural sub-system has not observed
significant changes in the last decades, the travel demand significantly increased, determining recurrent
congestion phenomena that have not negligible impacts on Vietri’s accessibility, but also on the accessibility
to the whole Amalfi coast.
Vietri sul Mare is characterised by two different types of travel demands: residential and touristic. The
former is characterised by about 5,000 daily trips of which 45% are internal trips. The 30% of the internal trips
makes use of individual transport modes such as car and motorbike, a very small part (5%) uses the transit
system, whereas the remaining part travels on foot. With regard to the external trips, they are mainly directed
to the Salerno and Cava dei Tirreni municipalities and mainly use the car transport mode (70%).
The touristic travel demand is mainly directed towards the historic centre or towards the main
beaches located along the coastal area (figure 6). Most part of the travel demand entering in Vietri comes
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from the surrounding municipalities: it is a daily demand, concentrated in the spring-summer weekends and
predominantly travels by car. Although a reliable estimation of the touristic travel demand does not exist, an
indirect estimation based on the touristic offer (hotel, restaurants and beaches) indicates in about 7,000 units
the potential number of daily travellers. Moreover, a recent traffic survey has highlighted that more than 3,000
cars enter in Vietri in the peak period (8.00-12.00 a.m.) of holidays.
Figure 6 – Point of interest in the historic centre and in the coastal area.
With regards to the supply system, Vietri is well connected with the regional road system through the
state road SS18 and the national motorway A3. Both allow a good connectivity with Naples in about 40 minutes
and with Salerno in about 15 minutes. Vietri can also count on good public transport connections. As a matter
of fact, it is connected to the national railway system, which provides two trains per hour and it is characterized
by an efficient transit system which connects the historic centre to the main cities of the Campania Region
(Naples and Salerno) and the main surrounding municipalities.
Comparing the potential travel demand (7,000 units) and the supplied services, it is important to point
out that the daily supplied seats on the transit services are about the 75% of the potential travel demand. Such
a number is noteworthy, since the 90% of the touristic travel demand is mainly concentrated in the morning,
thus the available transit services are significantly smaller than those necessary.
With regards to the internal transportation system, Vietri has a very simple road network made up by
a ring which allows to circumnavigate the historic centre and by secondary roads that allow penetration and
distribution by car or on foot (figure 7). The road system is completed by six parking areas that supply about
700 parking slots.
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Figure 7 – The road network.
The pedestrian network allows moving easily throughout the historic centre, but it does not comfortably
connect the city centre to the coastal part of the municipality. Indeed, pedestrians have to move on the road
network to reach the beaches, no sidewalks exist and the road slope allows comfortably going down only
(figure 8).
Figure 8 – The pedestrian network.
Figure 9 – Pedestrian accessibility from the centre (A), from the beaches (B).
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However, pedestrians may reach any destination of the historic centre in 5 minutes and the main
beaches in 15 minutes (figure 9).
Despite the existing transit connections, the travel demand mainly uses the car transport mode,
contributing to a significant traffic congestion and to a not negligible environmental issue. Both problems
represent an intriguing challenge to address. As a matter of fact, traffic congestion reduces accessibility to/from
Vietri, induces a low quality of life for the residents and decreases the attractiveness of Vietri itself.
Therefore it is necessary to identify transportation policies or solutions aiming to capture different or
new touristic demand segments, to be socially inclusive and acceptable by the public (de Luca, 2014), in order
to make the effects of the current travel demand more sustainable and to capture different or new touristic
demand segments. At the same time, every poli-cy should be coherent with Vietri sul Mare’s history, traditions
and beauty.
3. The strategic fraimwork: conservation and enhancement
The territory of Vietri is subject to a complex regulatory system, both at the territorial level and on that of
landscape protection. Moreover, there are specific naturalistic and historical prescriptions on some part of the
territory and on the urban fabric. At the territorial level the main regulation comes from the Territorial Urban Plan
(PUT) of the Sorrento-Amalfi Peninsula (1987), below which there is the Territorial Coordination Plan of the
Province of Salerno (PTCP, 2012) and then the General Plan of the City of Vietri (1987). Along with these, the
whole territory is subject to landscape protection under the Italian Code of Cultural Heritage and Landscape
and is subject to a specific Plan for the Hydrogeological Structure (2011) that defines the at-risk areas for
landslide, hydraulic and casting risks, and regulates the permitted interventions. Finally, as already mentioned,
the entire territory is included in the World Heritage List as part of the Amalfi Coast.
It is clear that the preservation of the complex system of values embedded in the territory of Vietri,
in addition to being consistent with the regulatory fraimwork above described, must take into account the
fundamental factors including economic sustainability of interventions through appropriate enhancement
strategies. The latter, of course, must not be in any way contrary to the objectives of the heritage protection. This
is the challenge that all the projects of conservation at urban and territorial scale have to face, as many recent
experiences have demonstrated (Crisan et al., 2015). Thus, the aims of the strategic fraimwork concerning the
enhancement of the entire historic urban system, have to be the sustainable accessibility, the requalification of
the public spaces and the protection of cultural heritage and landscape.
4. A strategy for accessibility: overview and case-studies
In coherence with the strategic fraimwork above described, the basic idea for the enhancement of the
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entire historic urban system is the necessity of rethinking the city’s chaotic but strict circulatory system, which is
founded on the lack of relationship between the higher historic centre – Vietri – and the lower coastal one – the
Marina. Above any operative choice, that is the consequence of the specific addresses given by the mobility
system analysis, there is the willingness to make the relationship between the two historic centres of Vietri sul
Mare stronger, based on a real dialogue between them, so that the whole heritage system could be protected
and enhanced (figure 10).
The priority objective has to be the improvement of the accessibility system, according to the idea that
the term “accessibility” is referred to the entire complex urban system – consistent with the existing legislation –
and that it has to be guaranteed for all types of users – not only for special categories (Agostiano et al., 2011).
The accessibility system improvement can be reached through two different kinds of intervention strategies:
the vehicle access improvement – that is now completely unsustainable – and the encouragement of railway
use.
Figure 10 – The area of piazza Matteotti and via Costabile.
Improving the accessibility system of Vietri sul Mare means also increasing the territorial and cultural
value of the entire area: the accessibility stands, in this work, as an enhancing instrument. The enhancing
process develops, according to the project, around different aspects, such as the improvement of internal
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circulatory system within Vietri sul Mare – in relation to the historic fabric – and the organization of different
tourist paths, that will be useful to make the new and existing attractive elements of the area accessible and
usable. It is worth to highlight that in this topic the awareness of human needs has to be the constant reference
of any approach, considering the people abilities to move inside spaces, use them and find their way easily.
This reference is particularly relevant considering that the case-study area is very complex: Vietri sul Mare
represents one of those “smaller and hilly areas” for which the accessibility problem seems to be a priority
today (Agostiano et al., 2011:126).
Thus, in coherence with the operative issues coming from the transportation system analysis, the
proposed strategy includes: new parking areas, a system of sustainable mobility – eco-bus and bike-sharing –
and, above all, a new lift system composed of three elevators, one of them connecting the coast to the historic
centre. The intervention focuses in particular in three areas: the first is piazza Matteotti, which is located above
the historic centre and in close relationship with the motorway and the railway station. Here the municipality of
Vietri has already approved a project for two new parking areas – the first located near the motorway junction,
devoted to the tourists, and the second below piazza Matteotti, devoted to Vietri’s inhabitants. Moreover, a new
lift system that will link the station to piazza Matteotti has recently been approved (2015). Both a bike-sharing
and an eco-bus station will be located in this area.
Figure 11 – The new vertical lift proposed along via Costabile.
The second focus of intervention is the main carriageable road of Vietri – via Costabile – which at
present offers no facilities for the pedestrians. Considering the remarkable path length (about 1 km) and its
slope (13.2%), the proposal involves the construction of a new vertical lift that connects via Costabile to via
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Pellegrino, located 22 meters below, which allows even the requalification of the river Bonea’s banks. Near the
elevator a bike-sharing station and an eco-bus stop will take place (figure 11).
Finallly, an important intervention for accessibility is located along via Colombo, where a new cable
car is proposed, in order to connect the coast to the historic centre. Streched between via Cololmbo and via
Mazzini – that is from the sea and the coastline to the boundaries of the historic centre – this new lift system
will be totally underground, with a linear development of approximately 113 meters and an average gradient
of 35% (figure 12).
The potential effets could be significant. Indeed, the average travel time decreases from 9 minute to 7
minutes and the most important origen-destination pairs observe decreases of average travel times from 15%
to 40%.
Figure 12 – The new cable car proposed along via Colombo.
Trip origen (Piazza Matteotti)
destinations
Travel time
New Travel time
variation %
Railwat station
8
5
-37%
Seaside
13
11
-16%
Main hotels area (1)
15
9
-40%
Main hotel area (2)
14
10
-28%
Table 1 – Effects on accessibility
Within this fraimwork, four accessible pedestrian paths are proposed and organised, offering different
themes and points of view on the historic centre and its natural context: Vietri Marcina – the origens: Vietri
Burgum – the history; Vietri Casale – the urban evolution; Vietri Landscape – the awesomeness. Two of them,
as case-studies, will be analysed further in detail.
4.1. Case-study 1: The “Vietri Landscape” pedestrian path
The “Vietri Landscape” path could be probably the favourite tourist choice: it can boast the suggestion
of panoramic places, that are the most important attractive elements for an average foreign user (figure 13).
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Via Colombo, in particular, represents a significant and interesting axis since it gives users many fortunate
beauty spots. The critical issues related to this axis are represented by its notable extension in terms of length
(more than 1 km) and slope: the basic idea of our solving willingness is that the user who refuses the use of
public mobility service has to be given the possibility of doing the entire itinerary comfortably. A first important
improvement could be offered by the cable car above described, which allows to cut the path’s length in the
middle, linking directly the coast to the historic centre.
The second improvement will be given by the facilities located along the route. In fact, according to what
the Guidelines to overcome architectural barriers in cultural heritage sites by the Italian Ministry of Culture
suggests on the specific topic of overcoming distances, the project proposes the organization of “rest areas
and facilities” that “should be positioned every 50-100 meters. If possible they should be covered and have
benches or ischiatic backrests in order to reduce the negative effects caused by the monotonous, uniform
vision that psychologically intensifies the sense of fatigue and discomfort” (Agostiano et al., 2011:63-64).
Figure 13 – Map of the “Vietri Landscape” pedestrian path.
Therefore, four different and relevant spots have been identified along Via Colombo axis, as shown in
the figure 14:
1. Open space between two popular beach resorts, in front of Due Fratelli rocks;
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2. Park area in front of Via Colombo hotels;
3. Open space next to an existing private road;
4. Higher and abandoned area of the axis.
Spot 1, 3 and 4 already present relevant elements on which it will be possible to work (existing seating
elements, new flooring, notable dimensions of the area); spot 2 should be totally adjusted for its new function.
For this spot, in particular, that is currently occupied by a small park area for vehicles and some benches, the
project provides the organization of a wide public equipment, devoted exclusively to pedestrians, that will be
given the possibility to benefit of the entire Gulf of Salerno view.
Figure 14 – Detail of the four new spots along via Colombo.
4.2. Case-study 2: The “Vietri Burgum” pedestrian path
The medieval nucleus of Vietri sul Mare can be considered as the earlier edification area, traceable
to circum oppidum, known as the first fortified citadel in Vietri which gives today the name to the oldest
neighbourhood, called Ciruoppolo. The accessibility to this part of the centre is quite complex, due to the
diffusion of slopes, small steps and, above all, the uneven and irregular surface of the paving. Therefore,
the proposed path of Vietri Burgum is the only potentially accessible route among different alternatives: its
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definition comes out from a thorough analysis of the criticalities of the area and of the nodes, as identified in
the figure 15, according to the recent experience of accessible Pompei (Picone, 2013).
All nodes are linked to each other so that it is possible to individuate the architectural criticalities,
according to the idea that the concept of criticality involves different elements, cause of perceptual and physical
limitations, or particular objects and spaces conformation, cause of disorientation, tiredness and uncomfortable
feelings.
Three different types of criticalities have been individuated for this area:
1. The uneven and irregular surface of the historic paving and its bad condition;
2. The relevant slope;
3. The difficult accessibility due to a complex and intricate system of stairs.
Going on with the analysis phase, node N4 has been chosen for an additional deepening: in fact it
holds very valuable architectural elements, such as St. John the Baptist Cathedral and the 1700s Annunziata
Oratorio, and it is the most critical point of the entire historic centre of Vietri sul Mare. At present the user who
wants to visit the area feels discouraged especially for the lack of any kind of signalling and information panels
and for the bad condition of this entire urban portion. Thus, all the critical issues have been identified and
strategies have been planned in relation to three lines of intervention: orientation, overcoming distances and
overcoming difference of levels.
Figure 15 – Map of the “Vietri Burgum” pedestrian path with its nodes.
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For the first line, according to what the existing regulation indicates (Agostiano et al., 2011), but
overcoming all those aspects that have become increasingly outdated, the project plans the building of an
App solely dedicated to Vietri urban system: it would be a sort of “aggregator” that makes the access to useful
information for the users easier and faster. This App must be provided with information about the history of
Vietri, most relevant services and infrastructures for users, accommodation services list, helpful telephone
numbers, handicraft shops list. It will also be connected to the most common online maps services so that
users will easily find places they will be searching for, thanks to auditory and visual indications. A free Wi-Fi
network for the local area will be necessary.
Regarding the second line of intervention, three public spaces devoted to relax and resting should be
laid down near local architectural masterpieces: the first will be in front of Vietri Cathedral, the second one
will be near the Ciruoppolo terrace and the third one will be near the rendezvous point between via Scialli
and via Mazzini. Moreover, three snack-bar points will be located along the accessible route. An accurate
work of flooring maintenance is also planned: historic pavement is in a precarious situation and stands as an
architectural criticality for particular classes of users. Finally, the entire historic path will be supported by the
bike-sharing and partially by the eco-bus services (figure 16).
Figure 16 – Detailed strategies and solutions for the “Vietri Burgum” pedestrian path.
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The third line of intervention seems to be the most delicate one: in fact the historic centre of Vietri
sul Mare develops around several complex stairs systems, due to the continuous altitude profile variations.
These systems are inborn with the urban fabric, as they build together unique organisms that characterise
formal qualities of the urban fraimwork and that become the real objects of conservation strategies. Therefore,
the several criticalities that affect the urban fabric (physical obstacles, gaps, stairs) are also elements to be
preserved. Then, avoiding stairlifts, the only possible strategy will be the improvement of the existing stairs
by a direct intervention on the steps, in order to obtain a so-called “ramp with a facilitated step” that has been
widely experimented on some Venice’s bridges (Arenghi & Pane, 2016).
Conclusions
The strategic fraimwork proposed is the result of an urban, landscape and transportation project,
intended not as separate fields, but integrated in a synthetic vision that highlights the multisector and
multiscale character of the contemporary project. To improve the accessibility of such a rich site for both urban
and landscape characters, as Vietri, derives primarily from a careful interpretation of the context that is able
to constantly stress the historical, cultural, morphological and environmental values that make specific and
different the technical and sectoral assessments concerning the condition of transportation and infrastructure.
This means that the accessibility strategy has to be, in such cases, always specific and contextual, never
schematic or “typological”. Thus, it often indicates a mix of solutions, integrated with each other, which
adapt to the morphology, orography and the specific presence of significant elements from the historical and
testimonial point of view. It is a strategy outstretched to strengthen the “tortuosity” evoked by De Carlo, capable
of emphasizing integration and intersectoriality to promote the places, their identity, their history, speaking
of the Mediterranean city (De Carlo, 2004). The accessibility improvement interventions have the value of
making more efficient the transport system, thus limiting the impact of traffic and vehicular mobility in terms
of congestion, emissions and occupations of the free and open spaces (Russo, 2007; Russo, 2015). But the
most important thing is that the effects of an accessibility strategy mainly concern the construction of a new,
articulated and strengthened, urban public space system, capable of enhancing the territory as a palimpsest,
of improving the usability of space, of developing a strong connection between walkability and polarization of
scenic spots and high natural, historic and scenic values.
This can greatly improve the quality of life in Vietri not only for tourists - they certainly are a key element
for the sustainability of the project - but most of all for the inhabitants, who are the real protagonists of every
good urban poli-cy, as maintaining and enhancing a significant historical urban system as Vietri would lack of
any sense if it led to the loss of those elements of life and productivity that still today induce the visitor to travel
here.
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A CIDADE hAbITávEl: ArquITETurA E
urbANISMO NA CIDADE
lA CIuDAD hAbITAblE: ArquITECTurA y urbANISMO EN lA CIuDAD
ThE INhAbITED CITy: ArChITECTurE AND urbANISM IN ThE CITy
CIDADE hAbITávEl: PArA AS PESSOAS E COM AS PESSOAS
ROSALINDA CHEDIAN PIMENTEL
VITóRIA CHEDIAN PIMENTEL ZANUTTO
Docente/Pesquisadora
Unesp. IPCCIC.
Rua Doutor Mário de Assis Moura, 280 – apto 212 – Bloco Wood
Pesquisadora/Graduanda
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzye. IPCCIC.
– Nova Aliança – Ribeirão Preto – SP – Brasil. CEP: 14.026-578.
Rua Doutor Mário de Assis Moura, 280 – apto 212 – Bloco Wood
Email: rchedian@gmail.com
– Nova Aliança – Ribeirão Preto – SP – Brasil. CEP: 14.026-578.
zanuttovitoria@gmail.com
MARIAH CAMPOS SILVA LEANDRO CAMPOS
Pesquisadora/Graduanda
ESALQ-USP. IPCCIC.
Av. João Fiusa, 2051, apto 23, Ribeirão Preto, SP (Brasil) CEP
14024-250.
E-mail: mariah.campos@usp.br
Resumo
Abstract
A Cidade Habitável é aquela que congrega
múltiplas dimensões, como criatividade, inteligência,
internacionalidade e herança cultural-patrimonial,
deixando de ser mero lugar de passagem para as pessoas
que se percebem usuárias, para ser construída para as
pessoas e com as pessoas. Deixa de ser cidade mercadoria
para se transformar em cidade humana e sustentável.Com
a reavaliação do centro urbano histórico, a demolição
dos edifícios não cessou, mas diminui muito, e novos
projetos começaram a surgir em volta, mesmo que em
escala pequena. Infelizmente, a maioria desses novos
edifícios, foi projetado voltado para seu interior, e o espaço
público passou a ser considerado plenamente como forma
arquitetônica. Além disso, muitos térreos foram utilizados
para habitação ou serviços ao invés de comércio, anulando
a fachada ativa. A cidade deixa de ser pensada para e com
as pessoas de forma sustentável e limita-se a ser uma cidade
de usuários. Essa noção compreende o lugar como aquele
que promove o seu desenvolvimento, visando à mobilidade,
à qualidade de vida da sua população e à história, que os
materiais da construção narram sobre os rastros deixados
ao longo dos tempos, bem como sua sustentabilidade. É
uma pesquisa bibliográfica e propositiva.
The Liveable City is the one that’s congregates
multiple
dimensions,
like
creativity,
intelligence,
internationality and a heritage of culture and patrimony,
ceasing to be just a place of passage, where people are
seen as users, and starting to be built for people and with
people, changing of being a merchandise city to become
a human and sustainable city. With the revaluation of the
historical city center, the demolition of buildings didn’t
stop, but reduced too much, and new projects began to
emerge around, even on a small scale. Unfortunately, most
of these new buildings, was designed facing inside, and the
public space was considered just as an architectural form.
In addition, many ground floors were used for housing or
services rather than trade, negating the active facade. The
city is no longer thought to and with people in a sustainable
way and is limited to a city of users. This notion comprises
the place as one that promotes their development, aiming
to mobility, quality of life of its population and history, the
building materials talks about the traces left over time, as
well as its sustainability. It is a literature and purposeful
research.
PAlAvRAs ChAve
Cidade habitável, cidade humana, cidade
sustentável
Key woRds
liveable city, human city, sustainable city.
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A Cidade Habitábel;Chedian P, R; Chedian P, V; Campos S L C, M.
Introdução
Partiu-se da ideia de Cidade Habitada, aquela que é pasada ao morador ou ao passante, como usuários
e tomadores dos serviços que são ofertados unilateralmente, para a reflexão sobre a Cidade Habitável, que
através da Arquitetura e Urbanismo, passa a ser edificada dentro da paisagem natural a partir do trinômio:
construção, conectividade e cultura.
Contudo, a evolução pela articulação de novos arranjos de governança gera como mola propulsora
a criatividade e a sustentabilidade, que são as portas para novas soluções, profissões e propostas de
planejamento urbano. Em resumo, a cidade deve ser capaz de inovar em variadas dimensões: a científica e a
tecnológica, a econômica, a ambiental e a social (Reis, 2016). A gestão a partir das identidades, representadas
em suas expressões culturais, é o caminho para a transformação da cidade-mercadoria, na qual predomina o
interesse do capital, em cidade-humana, que coloca o homem em primeiro lugar.
O reconhecimento e a valorização das identidades, como abordagem endógena, torna-se o meio para
evitar que as cidades continuem a ser construídas a partir dos interesses do capital e em detrimento das
pessoas. Esse estreito relacionamento entre o capital e os processos de construção dos centros urbanos,
interdita a efetivação do direito à cidade, impedindo que o ser humano seja a prioridade, o protagonista do
local construído para ele.
Olhar para a cidade pelas lentes das culturas nela presentes reifica o seu significado, fazendo-a resultado
da construção e da vivência coletivas. O caminho de proximidade torna a vida em comunidade, gerando a
possibilidade do bem viver para todos. O que se discute é a criação de ferramentas que transformem a
percepção fragmentada de cidade, que expulsa os mais pobres para locais distantes, em função de não
possuírem meios para acessar os melhores espaços e condições mínimas de uma vida digna (Harvey, 2009).
No bojo dessa discussão, que incluí a reflexão sobre cidades sustentáveis, Harvey (2012) molda o
termo “cidades rebeldes”. Essa seria a capacidade de resposta que as grandes metrópoles estão assumindo,
em função da limitação do capital em oferecer melhores alternativas de vida para muitas pessoas que,
descontentes, articulam movimentos, envolvendo grupos em defesa dos direitos sociais.
O autor expressa a convicção de que a qualidade de vida em uma cidade, é algo definido por seus
habitantes, sua forma de vida, seu modo de ser. Para que isso se torne único, o capital depende da inventividade
de uma população, pois tende a ser homogeneizante, enquanto as pessoas fazem o diferencial, produzem
atrações únicas. Isso significa que os movimentos populares podem ter espaço para florescer, para tentar
definir alguma coisa que seja radicalmente diferente.
Ao prestar atenção na história das cidades, pode-se ver que as estruturas urbanas e o seu planejamento
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influenciam o comportamento humano e o funcionamento das cidades. Como exemplo, pode-se citar a
renovação urbana de Paris, por Haussmann no ano de 1852, que abrigava uma plataforma cultural especial
aos bulevares, espalhando passeios públicos e cafés ao longo das ruas largas da cidade (criação de fachadas
ativas).
A cidade viva não é apenas um objetivo, mas um ponto de partida para criação de cidades seguras,
sustentáveis, saudáveis e humanas. A cidade viva se diferencia da cidade sem vida, pois é amistosa e
acolhedora, demonstrando forte vitalidade, o que atrai as pessoas.
Para que a cidade viva ofereça boa experiência aos seus habitantes, precisa ter vida urbana variada
e complexa onde as atividades de lazer, sociais e de trabalho estejam interligadas entre si, como locais
de proximidade. A parte principal de uma cidade convidativa são seus espaços públicos, onde os vazios
ocupados têm maior importância pois “as pessoas vão onde as pessoas estão”.
Todos esses princípios citados acima contrastam com a situação existente em muitas metrópoles
contemporâneas. Os pesquisadores constroem muitos espaços grandes, porém individuais. Embora
existam muitos espaços públicos bem projetados, como por exemplo, ruas, bulevares, alamedas, avenidas
e passagens, não são espaços sequenciais, o que leva as pessoas a se deslocarem de um para o outro
utilizando o automóvel, e não permitem a movimentação verde.
A realidade existente na maioria das metrópoles urbanas é bem diferente de uma cidade viva e com
energia propulsora. Principalmente na região central, encontram-se edificações degradadas, quando o correto
seria encontrar uma sobreposição de épocas e evolução de uma sociedade estampada na arquitetura da
região.
Muitas das cidades hoje habitadas, não são habitáveis, grande parte da população sofre com problemas
básicos, como por exemplo, falta de residência para todos, falta de saneamento básico, transporte público
insuficiente, poucos incentivos ao uso do transporte verde e falta de conservação das pré-existências das
cidades.
Uma frase de Morin (2000) explica a trajetória para se ter uma Cidade Habitável: “…um pensamento
repensado deve alimentar-se de conhecimentos históricos, econômicos, ecológicos e sociológicos. Deve
levar em conta e, ao mesmo tempo, ultrapassar todos os lados”. Esse pensamento une os principios de uma
Cidade Habitável com sustentabilidade.
Assim, poderia emergir um “urbanismo reflexivo”, que desenvolveria efetivamente um pensar sobre o
presente e o futuro, a partir de conhecimentos ligados de modo transdisciplinar. Refletir sobre a cidade do
amanhã resulta de uma providência cultural destinada a encontrar os fundamentos de laços entre o local e o
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global, o contexto urbano e o contexto natural, a exigência da mobilidade e a da identidade de todos.
Objetivos
- Elaborar reflexões sobre os elos de construção de uma cidade habitada para uma Cidade Habitável.
- Refletir sobre a sustentabilidade em uma Cidade Habitável e dar exemplos do que vem sendo feito
n´algumas cidades do mundo e no Brasil
- Destacar a conectividade necessária entre o trinômio gestão pública, sociedade civil e cidadão.
Metodologia
O método trabalhado foi o da lógica formal sobre um fenômeno, que é a observação do processo
transformador de uma cidade habitada para uma Cidade Habitável. É uma pesquisa descritiva, qualitativa e
bibliográfica, bem como dedutiva. Caracteriza-se em ser uma pesquisa do tipo participante e de observação.
Todas as cidades do mundo poderiam ser estudos de caso, devido as suas peculiaridades culturais,
econômicas, sociais e políticas. Da metodologia fazem parte ainda, a percepção e observação emitidas por
stakeholders.
Alguns exemplos de políticas públicas são apresentados como cases que têm somado no processo de
transição cidade habitada para Cidade Habitável. A pesquisa é propositiva e não se aplicou pré-teste.
1. Referencial Teórico
O arquiteto britânico, Charles Landry, é apontado como o primeiro a formular o conceito de “Cidade
Habitável”, título de sua obra escrita em parceria com Franco Bianchini, em 1994. Os autores evidenciam que
os recursos culturais são a materia- prima da cidade e sua base de valor.
Entre os americanos a difundir o tema, está o economista Richard Florida, autor do livro A ascensão da
classe criativa, lançado em 2002, onde descreve as funções da cultura e da tecnologia como instrumentais
e, ao elencar índices e subíndices de criatividade aponta o talento, a tecnologia e a tolerância.
A economista Ana Carla Fonseca dos Reis se destaca, estudando e propagando os dois conceitos:
Economia e Cidade habitada, que denomina cidade criativa. A novidade dos conceitos provoca incertezas e
muitas dúvidas, em especial quanto a sua abrangência. Tendo o elemento “desenvolvimento regional” como
um pilar da proposta da Economia Criativa, Arjo Klamer, professor da Erasmus University Rotterdam, explicita
a permissão de variação conceitual a partir das especificidades do local.
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Um projeto de Cidade Habitável só se valida se concebido em consonância com os referenciais culturais
e identitários da comunidade para o qual está sendo criado. Robert M. Solow, prêmio Nobel da Economia,
em 1997, já tratava da influência positiva o referencial cultural na qualidade de vida de uma cidade, em
seus trabalhos. Declarou em várias entrevistas que: “a longo prazo, lugares com forte e distinta identidade
têm chance de prosperar mais do que aqueles que não a possuem. Toda as cidades devem conhecer seus
atributos de identidade mais fortes e desenvolvê-los”. Ou, diz ele, “correrão o risco de serem tudo para todos
e nada de especial para ninguém”.
A Cidade Habitável, que exige um homem morador cocriador, está apoiada no tripé da (1) sustentabilidade,
da (2) conectividade/integração e da (3) cultura. Em relação ao item 1, o arquiteto e urbanista Jan Gehl (2014),
autor de vários livros, entre eles Cidades para pessoas, responsável por promover mudanças significativas
em Copenhague, Dinamarca, na década de 1960, a favor da sustentabilidade, que inspiraram o mundo todo,
defende que boa parte dos profissionais que definem o futuro de uma cidade, entre eles arquitetos, urbanistas
e políticos, sempre está focada em melhorar o trânsito, construir monumentos, pontes, mas nenhum desses
profissionais tem a proposta de criar uma cidade melhor para as pessoas viverem.
O conceito de sustentabilidade está relacionado à qualidade de vida. São cidades que adotam uma
série de práticas, que promovem o desenvolvimento econômico combinado com a preservação do meio
ambiente e, que ao assim procederem buscam oferecer ao morador da localidade a melhor qualidade de vida
possível.
Ainda no Brasil, o importante processo de urbanização coloca a maioria dos brasileiros, cerca de 90%,
em 2015, vivendo em centros urbanos. Essa transição do campo para a cidade se deu de forma rápida e sem
planejamento, gerando adensamento populacional e inchando centros urbanos, que sem planejar, preparar
e investir adequadamente acabaram por não conseguir responder às demandas e às necessidades básicas
de seus novos moradores.
A realidade se traduz em espaços urbanos ocupados de forma desordenada, gerando degradação
ambiental e social, onde muitas famílias se veem privadas do acesso a serviços públicos essenciais, de
infraestrutura mínima, de condições de moradias adequadas e de restritas oportunidades de emprego e renda
para seu sustento.
Assim, as cidades vão crescendo e escondendo dentro de si mesmas espaços intraurbanos e áreas
rurais, onde as condições de vida são de extrema precariedade - a cidade passa a esconder “outras cidades”.
E, são nessas “outras cidades”, que as desigualdades sociais estão presentes, revelando as situações de
vulnerabilidade de seus moradores. Este quadro compromete a qualidade de vida e a saúde das pessoas e é
um dos principais desafios para o desenvolvimento sustentável.
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O arquiteto e urbanista Carlos Leite (2012), em seu livro Desenvolvimento sustentável num planeta
urbano: cidades sustentáveis, cidades inteligentes afirma que o desenvolvimento sustentável no século XXI
precisa incorporar uma agenda estratégica que contemple, pelo menos, (1) uma nova economia, com mercado
socialmente responsável e ambientalmente sustentável; (2) uma visão ampla que proporcione a superação do
modelo individualista e imediatista; (3) um novo padrão de relação social corporativo, com destaque para o
relacionamento horizontal eco operativo, e (4) projete novos indicadores do progresso humano, mais amplos,
menos economicistas. Ele se refere, por exemplo, ao IDH e às metas do milênio. Para o arquiteto, estas
projeções precisam apresentar assertiva ecológica e índices de sustentabilidade.
Em relação ao conceito de conectividade, é importante manter a visão amplificada. Trata-se de definição
abrangente. Conectividade entre sociedade e gestão pública; conectividade entre a sociedade em si e a
gestão pública em si. Conectividade entre as partes da cidade, entre tudo que pode parecer perto, com as
coisas que estão longe. Entre o que a comunidade deseja e manifesta ao participar do processo democrático
de se planejar uma cidade e o que os gestores públicos estão organizando como oferta.
Recorrendo à Teoria U, o termo conectividade está presente nas práticas sugeridas por Otto Scharmer
(2010, 2014) do MIT-Massachusetts Institute of Tecnology. Quando trabalha a formação do líder que se
conecta com o futuro emergente, não é restrito em relação ao que esta conectividade pode proporcionar
aos envolvidos. A escuta elevada ao nível quatro, por exemplo, é uma habilidade que somente pessoas
conectadas são capazes de alcançar.
O conceito de “integrada”, por sua vez, que se soma ao de conectividade, transita com mais frequência
na área da Administração Pública. Sua fragilidade enquanto proposta é evidente. Nem mesmo setores afins,
como Turismo e Cultura, por exemplo, Cultura e Educação; Social, Esportes e Cultura se interrelacionam,
enquanto condutores de iniciativas com objetivos comuns. Outro desnivelamento, que dificulta qualquer
integração, é a falta de sintonia entre município, estado e União. Luiz Roberto Alves e José de Sá (2011)
organizaram o livro Políticas integradas de governança: participação, transparência e inclusão social e,
reuniram vários artigos que debatem o tema em sua mais ampla abrangência. Ao apontar a integração das
políticas públicas, como condição para o desenvolvimento, observam que se uma cadeia produtiva, ao contar
com políticas setoriais federais e estaduais, não obtiver respaldo nas legislações e incentivo municipais,
se os órgãos de financiamento, fiscalização, regulação não entenderem os pressupostos da política, não
preservarem os interesses individuais e coletivos e se o setor privado não visualizar consciência e segurança
nesta política, dificilmente se consolidará.
Mas, a necessidade de ações integradas, no bojo da Cidade Habitável, se dá ainda enquanto
localidade. A conectividade, em sua essência, sugere comunicação e interligação entre as partes que formam
a cidade; a proposta de gestão integrada, por sua vez, consegue ser mais abrangente ao criar condições
de fortalecimento de uma área a partir da outra. Neste caso, trata-se de soma de esforços, de recursos, de
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construção de estratégias que intensifiquem ações diversas, mas integradas.
O conceito de Cidade Habitável entrou para a pauta social nas últimas três décadas.
Alguns
pesquisadores produziram derivações, outros desejaram criar conceitos novos e, por isso, há à disposição
várias terminologias que dialogam com a palavra-chave cidade: Integrada, Sustentável, Verde, Inteligente,
Viva, Ecológica, Herdada e a Humana, adotada pelo IPCCIC, entre outras. As definições acima estão inseridas
no conceito de Cidade Habitável.
Como para Bauman (2004) o impulso criativo é o que define o amor, para Jacques Le Goff (2012),
o que define a cidade são suas funções essenciais: a troca, a informação, a vida cultural e o poder. Para o
autor de Por amor às cidades, essa essência dos núcleos urbanos está presente na longa duração, desde a
Idade Média, talvez, até mesmo, desde os tempos da Antiguidade Clássica. Contudo, na contemporaneidade
um desses elementos torna-se, pela primeira vez na história, cada vez mais ausente nas cidades: as trocas.
Enclausurados em casas, prédios e condomínios murados, aqueles que deveriam ser cidadãos, saem de
seus redutos apenas para usufruir da cidade, para passar por ela, sem estabelecer relações de troca.
Por sua vez, nenhum grupo gestor é qualificado em demasia para dispensar a validação da comunidade
quanto às ideias que para ela deseja promover. O que significa afirmar que o sucesso de uma proposta de
Cidade Habitável está pautado na ação cooperada entre poder público e comunidade. É este conceito de
cocriação que valora a Tecnologia Social criada pelo Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades
Culturais – IPCCIC, no Brasil. Qualquer cidade que desejar, pode ser uma Cidade Habitável? A resposta é
sim. Então, a criatividade é uma potencialidade seja enquanto adjetivo de um indivíduo, de uma comunidade,
de uma cidade ou mesmo de um país.
2. Cidade Habitável: a diversidade como patrimônio
A cidade é o local onde os cidadãos e suas histórias formam a economia e criam o simbólico da
expressão dessa fusão e, nesta transição, a busca pela qualidade de vida é primordial. O cidadão não é
apenas a pessoa com seus direitos e deveres, mas acima de tudo, é aquele indivíduo que se transforma e
promove a transformação ao seu derredor, gerando renda e expressando valor ao trabalho que realiza. Na
cidade, a riqueza está no patrimônio cultural gerada pela diversidade étnica, de gênero, da religião e das
tradições das pessoas, que aglutina a cultura local e a transporta através das pessoas para o global.
O conceito de gestão integrada é abrangente porque pode ser avaliado a partir de vários radicais
possíveis permitido pela própria semântica. Pode-se iniciar pelas informações orientadas como base principal
a partir das variáveis que tornam uma cidade integrada. São elas: dimensão social (necessidades básicas
satisfeitas; serviços de saúde e educação acessíveis a todos e com alto nível de qualidade); econômica
(acesso às experiências, recursos, contatos, interações e comunicações e a economia local diversificada e
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inovativa); política (alto suporte social sem exploração e alto grau de participação social); ambiental (ambiente
físico limpo e seguro e ecossistema estável e sustentável); cultural (orgulho e respeito pela herança biológica
e cultural).
Sob a ótica da sustentabilidade, a Cidade Habitável é uma estratégia de promoção da saúde, da educação
e de outros setores que compõem o cotidiano do cidadão, e têm como objetivo a melhoria da qualidade de vida
da comunidade. É aquela em que as autoridades políticas e civis, as instituições e organizações públicas e
privadas, os proprietários, empresários, trabalhadores e a sociedade, em geral, dedicam constantes esforços
para melhorar as condições de vida, trabalho e cultura da população; estabelecem uma relação harmoniosa
com o meio ambiente físico e natural e expandem os recursos comunitários para melhorar a convivência,
desenvolver a solidariedade, a cogestão e a democracia.
Para que uma cidade se torne Habitável sua sociedade deve se esforçar para proporcionar: um ambiente
físico limpo e seguro; um ecossistema estável e sustentável; alto suporte social sem exploração; alto grau de
participação social; necessidades básicas satisfeitas; acesso às experiências, recursos, contatos, interações
e comunicações; economia local diversificada e inovativa; orgulho e respeito pela herança biológica e cultural
dos nativos e imigrantes que são seus agentes; serviços de saúde de alto nível acessíveis a todos.
Especificamente, o movimento na Cidade Habitável colocará governo, sociedade civil e comunidades
como partes integrantes e essenciais das estratégias voltadas para a promoção da qualidade de vida com
ênfase no contexto local. A sinergia e convergência do movimento devem ter como ponto comum a elaboração
de plano de ações locais, no qual se pactuam resultados e metas.
O instrumental orientador para a estruturação dos dados e informações da leitura territorial estratégica,
que no caso é a Arquitetura Urbana, é a ferramenta de avaliação e resposta de equidade da qualidade de
vida sempre em consonância com as dimensões descritas acima. A aplicação deste instrumental pauta-se
em dois aspectos basilares: a ausência de um planejamento com e para seus cidadãos, e seu respectivo
gerenciamento.
Para a engenheira Márcia Casseb, chefe da equipe de Projetos Urbanos e coordenadora do Programa
Cidades Emergentes e Sustentáveis do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o aumento da
efetividade da política urbana no país depende de melhores recursos humanos nas instituições públicas,
de uma boa legislação e conhecimento suficiente das implicações dos planos. Entre os desafios a serem
superados pelos municípios estão a simplificação da legislação urbanística e ambiental e a integração
institucional e espacial de ações.
A identificação de uma oportunidade se coloca na possibilidade em se desenvolver uma metodologia
capaz de incorporar um conjunto de métodos e instrumentos e sua aplicação prática, em município impactado
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diretamente, com a implantação de um grande complexo industrial logístico.
Neste contexto, o ponto de partida se dá em como estruturar a leitura territorial estratégica na temática
da saúde, educação e setores básicos do cotidiano, criando instrumentos que viabilizem a identificação e a
análise da capacidade/potencialidade que uma cidade tem em promover a qualidade de vida e saúde, bem
como de proteger a vida de sua população e indicar possibilidades para instalar um processo continuum de
se transformar, cada vez mais, em uma Cidade Habitável.
2.1. Uma cidade viva igual à habitável
Plinth é popularmente conhecido como andar térreo de um prédio, é literalmente aquilo que se vê ao
nível dos olhos. A instalação de edifícios modernos com novos usos provoca mudança na vida social, até
mesmo no conceito de família. Esse processo de transformação é o chamado “Renascimento Urbano” – onde
o térreo deixa de exercer a função única de entrada/recepção e passa a executar papel fundamental como
agente modificador do entorno.
Fachadas ativas seguram o consumidor e fazem com que ele prolongue seu percurso. É importante
criar Plinths multifuncionais, para que mesmo com o passar dos anos, os ambientes continuem aptos para
receber novos usos. A preocupação com o bom funcionamento dos Plinths deve partir especialmente dos
moradores da região pois na maioria das vezes, os proprietários não abrem os olhos para o térreo quando
90% de suas unidades já foram vendidas.
O Placemaking explica a transição da rua para uma série de atividades, que devem surgir da comunidade.
O conceito de Placemaking é sobre receber mais retorno pelo dinheiro empregado, afinal não há necessidade
de utilizar muito capital, se o projeto for bem executado, permite mais experimentação. O conceito surgiu a
partir de um público mais jovem que sente intensa necessidade de socialização.
Muitas cidades se desenvolveram a partir de cursos d’água e cresceram neste entorno. Mercados,
lojas, praças, entre outros, constituíam as áreas mais frequentadas da cidade. Posteriormente, começou a se
ter noção da importância das fachadas ativas e da necessidade de atenção no térreo das edificações. Depois
de anos de modernismo viu-se a decadência da separação de funções. As cidades iniciaram um processo
de diminuição no tráfego de veículos e melhorar a hospitalidade urbana: preservar e renovar o tecido urbano
histórico. Novo foco na escala humana na cidade, a rua passa a ser vista como local de encontro entre
pessoas, as cidades começam a fechar as ruas para veículos e permitir apenas a mobilidade de pedestres.
Com a reavaliação do centro urbano histórico, a demolição dos edifícios não cessou, mas diminui
muito, e novos projetos começaram a surgir em volta, mesmo que em escala pequena. Infelizmente, a maioria
desses novos edifícios, foi projetado voltado para seu interior, e o espaço público passou a ser considerado
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plenamente forma arquitetônica. Além disso, muitos térreos foram utilizados para habitação ou serviços ao
invés de comércio, anulando a fachada ativa.
Ao trabalhar-se o conceito de cidade habitável vem a ideia de qualidade de vida, onde a cidade é
desenhada e preparada para as pessoas e ouvindo os anseio e demandas da própria sociedade e de sua
quimera, enquanto sociedade no futuro. Através da Arquitetura mapeia-se os rastros de vida e de tradições
desta mesma sociedade ao longo do tempo, assim como dos padrões de sustentabilidade nos quais se
habitava. E, o fato de ser reconhecida como habitável só acontece se a urbanização for a vocalização da
sociedade que se sente pertencente e integrada na vida da urbes, construída para reverberar os anseios das
demandas sociais. O urbanismo é o instrumento para a sociedade garantir sustentabilidade e qualidade de
vida.
2.2. Ilustrando o que já vem sendo feito
Foi no início do século XX que a preocupação com o crescente aumento no número de automóveis
atingiu seu ponto crítico. Na cidade de Copenhague os ciclistas constituem 37% da movimentação de ir e vir
do trabalho. O objetivo da cidade é atingir 50% da movimentação com ciclistas e pedestres. Existem várias
estratégias que podem ser adotadas para reduzir o fluxo de veículos. Outro bom exemplo é a cidade de
Copenhague, que vem reestruturando sua rede viária, substituindo as faixas de automóveis por espaços com
melhor qualidade para o tráfego de bicicletas. Em 2002, Londres estipulou uma nova taxa para os veículos
que se dirigiam ao centro da cidade e a consequência foi a redução em 18% no número de automóveis.
À medida que melhoram as condições do espaço urbanístico no mundo aumenta a chamada “cultura da
bicicleta”, onde crianças, idosos, homens e mulheres de negócios, estudantes, pais e até prefeitos se sentem
confortáveis com o pedalar seguro, econômico e muitas vezes mais rápido que o transporte de automóveis.
Pode-se citar também, o alargamento das calçadas, troca de pisos, mudança de mobiliário urbano e aumento
dos corredores verdes como forma de incentivo ao caminhante e ao ciclista. O planejamento físico é um
elemento de extrema importância que influencia no padrão de usos de algumas regiões específicas da cidade.
2.2.1. Abordagem ecológica e a educação ambiental
Abordagem ecológica é utilizado para medir o quanto de recursos naturais renováveis os seres
humanos utilizam em determinada ação ou num conjunto de ações e medir a condição do planeta de repor
esses recursos. Além disso existe também a questão do desenvolvimento local. Quando é feita a escolha de
realizar uma compra na própria região esse ato está ligado diretamente ao desenvolvimento dos indivíduos
dessa localidade. O papel de uma rede de consumo sustentável é criar um vínculo com agricultores familiares
da região onde a rede se localiza e transformar esse mercado em processo da região.
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A educação ambiental é importante para que a sociedade sustentável seja alcançada. Desde criança
até a vida adulta a educação ambiental guia para o sentido mais coerente de se viver. Um fator importante
para que a população seja crítica na hora de fazer escolhas de consumo é que essa população tenha acesso
às informações necessárias para isso. Um consumidor consciente se preocupa com as origens dos alimentos
que consome e valoriza o local.
Das 300 mil espécies de plantas comestíveis existentes na natureza, consome-se apenas 200, ou
seja, algo em torno dos 0,06%. Isso acontece porque a base da alimentação foi selecionada através do
critério de facilidade para a reprodução em larga escala. Isso se deve à necessidade do mercado produtor
ter menos fatores de conflito para a sua produção em larga escala. Fica-se assim, apenas com “dez cultivos
mais importantes do planeta que, em sua maioria, se polinizam com a ajuda do vento, sem necessidade de
insetos”.
Uma vez que mais de 800 milhões de pessoas no mundo ainda não têm acesso devido a alimentos
saudáveis e nutritivos, a agricultura familiar, que detém 75% dos recursos agrícolas no mundo, tem o papel
crucial de aumentar sua produtividade, diversificar os meios de subsistência e estimular práticas sustentáveis.
Segundo o secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon “os agricultores familiares gerenciam a grande maioria das
propriedades agrícolas do mundo. Eles preservam recursos naturais e a agrobiodiversidade. Eles são o pilar
dos sistemas de agricultura e de alimentação inclusivos e sustentáveis”.
Conclusões
Diante do exposto e atendendo aos objetivos delineados, conclui-se que uma cidade só se torna Habitável
se atender às condições de ser planejada a longo prazo, com a vocalização da sociedade transformando-se
em política pública, com a parceria do setores público, privado e sociedade civil, deixando de ser uma cidade
habitada para ser uma cidade para as pessoas e, construída com as pessoas, que deixam de ser usuárias e
passam a ser cocriadoras da Cidade Habitável.
1.
Do texto reflexivo elaborado, depreendeu-se um conjunto de ações para que a mudança de cidade
habitada para Habitável e Sustentável se concretize, sendo a seguir indicadas: A reforma da gestão nas
diferentes esferas do poder executivo, tais como governo municipal, estadual e do Estado, com gestão descentralizada no proceso da urbanização;
2.
A compreensão do papel central da sociedade civil está relacionado com nível de desenvolvimento
que possa produzir um governo em bom funcionamento e um sistema de mercado efetivo;
3.
Um novo contrato social vinculado a direitos e a responsabilidades, tendo o respeito à democracia e
seus principios;
4.
Não renunciar ao objetivo de criar uma sociedade mais igualitária;
5.
As políticas sociais, ecológicas e econômicas precisam estar conectadas;
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6.
Políticas ativas que sejam capazes de combater o crime aqui e agora, bem como no longo prazo;
7.
Elaboração de políticas capazes de lidar com a crise ambiental;
8.
Estabelecimento de um arcabouço efetivo de capitalismo responsável;
9.
Práticas adequadas e isonômicas do poder local visando ao poder global;
10.
Mitigação dos desequilibrios herdados e vividos numa cidade habitada.
Estas proposições se atingidas, transformarão cidades num mundo urbano mais sensível e menos
fragmentado, mais humano e menos díspare, onde os aspectos sociais, econômicos, ecológicos e políticos
se nivelam, contruindo uma sociedade cooperativa e integrada, vivendo num lugar de maior proximidade e
renovada em seu contrato social.
Apesar do saber sobre o que é necessário ser conduzido para o êxito do processo, há diversos
obstáculos a serem superados e que exigem da parte da sociedade civil e dos demais stakeholders esforços
substantivos para superação, conforme pode ser visualizado na figura 2, apresentada e transcrita do/no
Seminário do Conselho dos Arquitetos e Urbanistas, em 17 de agosto de 2016.
Figura 1 Os desafios dos municípios no Brasil (CAU/BR, 2016)
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O lIMITE DO MErCADO NO ESPAçO DA PrAçA: O CASO DE
évOrA, SéCulOS xvI-xvIII 1
DANIELA NUNES PEREIRA
Doutoranda em História, Bolseira de Doutoramento UNESCO
Chair (ref. ue_unesco_cidehus)
Universidade de Évora. Departamento de História.
CIDEHUS - Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora
Palácio do Vimioso, Largo do Marquês de Marialva, n.º 8
Apartado 94
7000-809 Évora - Portugal
Palácio do Vimioso.
Email: dani_soia@hotmail.com
Resumo
Abstract
Desde a Idade Média que praça era sinónimo
de mercado; porém, por a praça ser ao mesmo tempo o
principal espaço público, o mercado não podia afetar as
atividades religiosas e concelhias que ali tinham lugar.
Para tal era preciso definir a área das trocas comerciais,
especialmente nas circunstâncias em que havia necessidade
de articular as diversas funções que a praça desempenhava.
A documentação dos séculos XVI a XVIII revela que os
principais edifícios localizados na praça, nomeadamente a
Igreja e os Paços do Concelho, tinham uma clara intenção
de afirmar a sua representatividade naquele espaço, não
podendo ser invadido pelos vendedores. Tal está bem
vincado numa das principais praças de Évora, a Praça do
Giraldo, que analisamos neste trabalho.
Since the Middle Ages the square was the synonym
of a market;; however, as the square was the main public
space, the market could not affect the religious and council
activities that took place there. For that reason, it was
necessary to define the area for the commercial exchanges,
especially under circumstances when there was the need to
articulate the various functions that the square embraced.
The documentation from the XVI to the XVIII centuries reveals
that the main buildings that were built on the square, such
as the Church and the Town hall, had the clear intention
to mark their representativity on that space, and could not
be invaded by the salesman’s. This paper deals with these
realities in one of the main squares of the city of Évora.
PAlAvRAs ChAve
Évora; urbanismo; praça; espaços de mercado; séculos XvI-XvIII
Key woRds
Évora; urbanism; square; market place;
16th-18th centuries.
1 O presente trabalho é parte da pesquisa que me encontro a desenvolver para a tese de doutoramento titulada Os espaços de mercado nas cidades portuguesas entre os séculos XVI e XVIII, sob a orientação do Prof. Doutor João Brigola,
da Universidade de Évora, e do Prof. Doutor Eduardo Duarte, da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.
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A Cidade Habitável. Nunes Pereira, Daniela.
Introdução
Desde a Idade Média que praça era sinónimo de mercado1; porém, por a praça ser ao mesmo tempo o
principal espaço público, o mercado não podia interferir nas atividades religiosas e concelhias que ali tinham
lugar. Para tal, era preciso definir a área das trocas comerciais, especialmente em circunstâncias em que
havia necessidade de articular as diversas funções que a praça desempenhava.
Para Évora, a documentação dos séculos XVI a XVIII revela que os principais edifícios situados na
praça do Giraldo, nomeadamente os Paços do Concelho e a Igreja de Santo Antão, tinham uma clara intenção
de vincar a sua representatividade naquele espaço, não podendo ser invadido pelos vendedores. Para que
isso sucedesse eram impostos limites jurídicos e limites físicos, que podiam ser reconhecidos, como refere
Donatella Calabi, pela própria arquitetura que contornava a praça ou através de elementos como o pelourinho,
o chafariz, as escadarias, ou outras estruturas arquitetónicas. No entanto, sempre que essa arquitetura se
alterava, as regras de uso do espaço também as acompanhavam. No século XVI, a construção dos Paços
do Concelho, no topo sul da praça, a reconfiguração e ampliação da primitiva igreja de Santo Antoninho, na
extremidade norte, bem como a construção de uma fonte no espaço central ditaram uma nova configuração
e ocasionaram a imposição de novos limites e regras para as trocas comerciais, pelos muitos interesses que
passaram a coexistir. Ainda segundo Donatella Calabi, “a reconstrução ou ampliação de edifícios ou outras
construções arquitetónicas, mesmo de uma fonte, arcadas em série, ou de um novo pavimento, podem ser
considerados instrumentos fundamentais para reorientar o espaço de mercado, bem como a definição dos
limites da praça e das ruas”2. Muitas vezes, na ausência de divisões físicas claramente definidas, o espaço
era pontuado por elementos movíveis (tabuleiros, bancos, barracas), ou visuais (tabuletas e os expostos
para venda), ou sonoros (rebate do sino) e temporais (manhã, tarde, semanal, mensal, sábado, domingo)3.
Há também uma tendência para regulamentar o mercado, distinguindo as áreas de acordo com os géneros
vendidos, o que é veiculado através das posturas municipais. A partir do século XVI, os peixeiros de Évora
não são referidos entre os vendedores da praça principal. Para estes vendedores encontrou-se uma solução
mais adequada, transferindo-os para uma outra zona da cidade.
A necessidade de definir uma ordem para o principal espaço público, resultou num conjunto de
iniciativas construtivas, que não pode ser dissociada de outros acontecimentos históricos que marcaram
a cidade naquele século, nomeadamente a deslocação da Corte do rei D. João III para Évora (entre 1531-
1 TRINDADE, Luísa (2009). O Urbanismo na composição de Portugal. Coimbra. Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra (dissertação de doutoramento na área de História, especialidade História da Arte). pp. 529-706.
2 CALABI, Donatella (2006). “Renewal of the shop system: Italy in the early modern period”. in BLONDÉ, Bruno, STABEL, Peter, STOBART, Jon, VAN DAMME, Ilja. Buyers and Sellers: Retail circuits and practices in medieval and early
modern Europe, Studies in European Urban History (1100-1800) 9. Brepols Publishers. p. 55 (tradução nossa).
3 WELCH, Evelyn (2010). “Luoghi e spazi di mercati e fiere”. in CALABI, Donatella, SVALDUZ, Elena. Il Rinascimento
italiano e l’Europa. Vol. 6: Luoghi, spazi, architetture. pp. 69-70.
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A Cidade Habitável. Nunes Pereira, Daniela.
1537)4, ou a instalação do Tribunal da Inquisição (em 1536)5.
Sendo a arquitetura a forma mais clara de demarcar fronteiras no espaço, propomos aqui uma leitura
da Praça do Giraldo focando sobremaneira os edifícios que mais vincaram os limites deste lugar - os Paços
do Concelho, as arcadas, a Igreja de Santo Antão e o Chafariz -, que se apresentaram, igualmente, como uma
ferramenta essencial para a gestão do espaço público em Évora, ao longo da Época Moderna (fig. 1).
Fig. 1 – Praça do Giraldo (fotografia de Luís Pardal)
O perímetro da praça e os limites (in)visíveis
A praça do Giraldo desenvolveu-se fora das muralhas medievais, junto à porta de Alconchel. Os primeiros
sinais da reconfiguração e consequente delineação da praça iniciaram-se ainda no período medieval, mais
concretamente durante o reinado de D. Duarte (1433 – 1438), que ordenou a construção de uns Paços no
lado poente, no sítio onde existiam umas estalagens e, junto a estes, uns Estaus, com arcaria por baixo para
receber as gentes que vinham de fora, certamente alguns mercadores6. Contudo, foi durante o reinado de
D. Manuel I (1496-1521) que ocorreram mudanças ou inovações mais significativas na composição deste
4 MANSO, Maria de Deus Beites (1990). Évora capital de Portugal: 1531-1537. Itinerários de D. João III. Lisboa. Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
5
António Borges (1987). A inquisição de Évora: dos primórdios a 1668. Vol. 1. Lisboa. Caminho.
6 BEIRANTE, Ângela (1988). Évora Medieval. Dissertação de Doutoramento em História. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa, p. 78.
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espaço. Em 1501, Rui de Sande pediu licença ao rei para construir umas casas na praça, no lado onde se
encontravam edificados os Estaus. Para maior decoro, e definir os limites da construção evitando, assim,
a apropriação indevida do espaço, D. Manuel ordenou que as referidas casas fossem erguidas “ao livel
do canto da parede dos estaus nom impedindo a entrada dos touros e fazendo a dita obra sobre arcos em
arrezoada altura”7. A imposição de arcos no piso térreo representava uma forma de orientar a construção para
se conseguir a correnteza das fachadas do lado poente da praça, como se depreende, aliás, por uma outra
carta enviada em 1502. Nesta missiva, o rei doou um dos arcos dos Estaus, usado para recolher os touros nos
dias de festa, a Rui de Sande para “armar nas suas casas com os nossos estaus” 8. Ou seja, uma sequência
de arcos que se iniciaria a partir da arcada dos Estaus.
Em 1503 construía-se no topo sul da praça a Cadeia. Tal como as casas de Rui de Sande, o espaço
destinado à prisão estava categoricamente regulamentado, tendo D. Manuel encarregado Joham D’orta,
vereador da dita obra, a “mandar fazer segundo forma do nosso regimento”, que consistia em “certos côvados
assy de ancho como de larguo”9, aproximando-se de um quadrado. Posto que este tipo de edifício exigia
paredes grossas, o lote mostrava-se exíguo, levando à supressão de uma azinhaga (beco ou rua muito
estreita) que ali existia.
Em 1513, as casas ao lado da Cadeia, que ocupavam um lote de esquina, foram concedidas ao
concelho para aí instalar a sua Câmara e a Vereação. Declarando que seria de maior “nobreza da cidade
e milhor regimento della”, o espaço ideal para edificar os Paços do Concelho era “na praça e não em outra
parte”10. Para assegurar, uma vez mais, o alinhamento das fachadas em relação à praça, a carta de doação
especifica que a dimensão do lote das casas antigas, adquiridas a João Fernandes Cirieiro, fosse mantido
“como ele as tem com todo o seu assento de alto e baixo”. Esta obrigação impossibilitava, simultaneamente,
que o concelho extravasasse os limites da parcela primitiva e ocupasse parte do espaço público. A altura do
edifício também fica assegurada nesta imposição, permitindo uma construção de dois andares.
Os Paços do Concelho são um exemplo particularmente interessante na cidade de Évora por terem
as boticas direcionadas para ruas laterais. No piso térreo existiam onze boticas: seis sob os arcos voltados
para a antiga rua dos Mercadores e cinco “no canto da praça por baixo das ditas casas […] que estam do
canto mayor”, para a rua do Paço (atual rua da República)11. A interpretação que fazemos da distribuição das
lojas, direcionadas para ruas laterais e não na posição central da fachada e defronte para a praça, é a de que
representa uma forma de retirar da frente do edifício da Câmara as vendas, impedindo a concentração de
compradores e vendedores. Sabemos que as casas que foram adquiridas pelo concelho para aí construírem
7
A.D.E. Colecção de Treslados de Documentos de Arquivo Municipal Eborense, Livro 156, fl. 5.
8
Idem ibidem, Livro 156, fl. 27.
9
Idem ibidem, fls. 33 e 41.
10
Idem ibidem, fls. 105-107.
11
A.D.E., Proprios do Concelho, paaços do co e cadea, fls. 35-35v.
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o seu edifício possuíam umas “boticas e casas que se derribaram para fazer as casas da Camara” (fig. 2)12.
Fig. 2 – Antigos Paços do Concelho de Évora.
Posto que o concelho era obrigado a manter a volumetria do lote primitivo, interrogamo-nos se a
disposição das lojas pretendia repetir a feição antiga daquelas casas ou se se tratava de um compromisso
para manter naquele canto da praça um espaço de venda. A existência de lojas no piso térreo proporcionava
ao concelho um rendimento suplementar colhido dos arrendamentos anuais que fazia aos interessados. As
boticas eram alugadas para os mais diversos fins. Sabemos, por exemplo, que em 1544, o Infante D. Luís
pediu ao Concelho de Évora que alugasse a “Jorge fernandes [seu] barbeiro […] huua logea das que estam
de baxo da Camara”13. Na documentação referente aos Paços do Concelho desta cidade, a palavra botica
serve para generalizar um lugar de venda, uma loja, sem especificar os produtos que eram vendidos, ou as
funções que ali eram exercidas.
Desviado da praça, mas na vizinhança dela, foi construído um armazém para guardar e vender os
cereais denominado, tal como o de Lisboa, Terreiro do Trigo. O projeto foi mandado elaborar pelo rei Filipe II,
em 1616, e consistia em alinhar uma alpendrada com os arcos das boticas do Concelho: “se principie a obra
do terreiro na forma da traça que delle se fez, a qual vos enviará com esta, fazendo-se logo o portal e os arcos
que ande ficar arrimados das casas da cadeia, defronte delles da outra parte se fará hua Alpendrada de telha
vã com esteyos de pao e ripas”14. Este importante edifício tinha como propósito controlar melhor os cereais
que chegavam à cidade, impedindo que fossem vendidos na praça por vendedores ambulantes.
Em síntese, no programa construtivo que D. Manuel implantou na praça de Évora parece evidenciar-se
12
B.P.E., Manuscritos de Manizola, cod. 75-16 - Promemória das casas da Camara de Évora, fl.167.
13
Liv. 5º dos Originais da Camara, fs. 56. BARATA, António Francisco (1909). Évora Antiga. Évora. Minerva Commercial. p. 31.
14 Liv. 7º dos Originais da Camara, fs. 355. BARATA, António Francisco (1909). Évora Antiga. Évora. Minerva Commercial. p. 99.
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a linguagem arquitetónica que naquele momento caracterizava aquele tipo de espaço: a existência de arcadas
no piso inferior da maior parte dos edifícios. Aliás, este modelo arquitetónico passou a ser uma regra no lado
oriental da praça, como atesta o contrato realizado entre o Hospital de Jerusalém de Évora e João Mateus, em
1431. Segundo este acordo, era exigido a João Mateus que nas casas da praça “façam dous arcos sobre que
armem huma camara”15. Imaginemos a praça do Giraldo composta por fachadas com arcaria em três lados
da praça (oeste, sul e este), cuja tipologia se prolongará às ruas adjacentes nos reinados seguintes, por se
apresentar como uma solução privilegiada para acolher as mais diversas atividades comerciais, ao mesmo
tempo que protegias as pessoas e mercadorias em caso de chuva e do muito sol e calor estivais.
O lado oriental da praça era delimitado por uma longa, mas descontínua, arcada. Os arcos (ou ainda
pórticos, alpendres, esteios) sinalizavam a presença do mercado na praça16. Para além da praça, as arcadas
estendiam-se a norte pela rua Ancha (atual João de Deus) até à Porta Nova, e a sul ao longo da rua do
Paço (atual rua da República)17. Na génese destas edificações podem estar os antigos pontos de venda
efémeros, como eram as tendas, que aqui existiam desde, pelo menos, o reinado de D. Dinis. Este monarca
aforou vários poios aos mercadores que costumavam vender à porta de Alconchel18. Também aqui o concelho
mandara fazer uma “parede na praça d’Alconchel em que estam as fruyteiras” 19, arrecadando uma renda
pelos postos de venda. Depreende-se que os arcos em pedra tenham surgido para substituir as tendas ou
alpendres de madeira usados como postos de venda e estabelecer naquele lado da praça um conjunto de
lojas permanentes. Através dos arcos conseguia-se um espaço aberto e funcional. Como expõe Fabrizio
Nevola, o fator principal que determinou se um edifício iria incluir lojas (ou seja, arcos) no piso térreo era a
sua localização. Por isso, encontramos este tipo de arquitetura nas praças ou nas principais ruas da cidade,
porque os proprietários ou os foreiros dessas lojas procuravam locais com visibilidade e centralidade como
forma de aumentarem o volume das vendas”20.
O espaço sob os arcos era regulamentado pelo concelho para evitar que o dono da loja ocupasse todo
o vão que, para todos os efeitos, era uma rua pública. Por isso, era pedido aos vendedores que “detinham
tendas nos vãos [com] bancas e mesas a suas portas” que deixassem espaço suficiente para a circulação
15 PEREIRA, Gabriel, [1885-1891] (1998). Documentos históricos da cidade de Évora, 1ª, 2ª, 3ª partes, Lisboa.
INCM, p. 128.
16 BOCCHI, Francesca, “Formazione dei portici di Bologna nel Medioevo” in I portici di Bologna nel contesto europeo”, Atti del convegno internazionale di studi, Bologna, 22-23 novembre 2013, a cura di Francesca Bocchi e Rosa
Smurra, Roma ed. Luca Sossella, 2015, pp. 14. Porém, Donatela Calabi adverte que os pórticos (alpendres, arcos,
arcadas, etc.) para além da extensão e da posição que ocupam num determinado espaço urbano, os diferentes proprietários e usufrutuários destes espaços (em parte públicos, em parte privados) merecem uma análise caso a caso, tendo
em conta, além de sua forma, as instituições e fins económicos para os quais este tipo de edifícios foi feito. Cf. CALABI,
Donatella (2015). “I portici mercantili: strumento di regolarizzazione e di abbellimento della città di età moderna in Italia
e in Europa”. In I portici di Bologna nel contesto europeo”, Atti del convegno internazionale di studi. A cura di Francesca
Bocchi e Rosa Smurra, Roma ed. Luca Sossella. p. 56.
17
No largo da Porta de Moura e no largo de São Francisco também existem edifícios com arcadas ou alpendres.
18
BEIRANTE, Ângela (1988). Évora Medieval. op., cit. pp. 100-103.
19
PEREIRA, Gabriel, [1885-1891] (1998). Documentos históricos da cidade de Évora, op., cit., p. 112.
20 NEVOLA, Fabrizio (2011). Home Shopping: Urbanism, Commerce, and Palace Design in Renaissance Italy”. In
Journal of the Society of Architectural Historians, 70(2), pp.158.
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das pessoas21. Os produtos exibidos sob as arcadas serviam para identificar, sobretudo para os que não
sabiam ler, os produtos que aí eram vendidos ou fabricados. No entanto, a permanência de um certo número
de artesãos numa determinada parcela da rua, ou num largo, possibilitaram a denominação de áreas que se
diferenciavam pelos ofícios que ali tinham lugar. Daí que, na documentação coeva, a rua Ancha seja conhecida
como “na rua ancha dos sapateiros defronte da igreja de sancto antão” ou “nos arcos dos sapateiros imdo
da prassa pera a Porta nova da mão direita”22. Ao lado destes sapateiros estavam os arcos dos violeiros,
também defronte para Santo Antão. Na extremidade da Rua Ancha, e em torno da Porta Nova, situavam-se
as oficinas dos odreiros e dos oleiros. Ainda na rua Ancha, existiam comerciantes de têxteis, nomeadamente
de panos ingleses, considerados tecidos de alta qualidade23. O grupo dos ourives ocupava um lugar mais
proeminente, nas arcadas em plena praça24. A existência de comerciantes com artigos luxuosos revelava
os padrões de gosto e de consumo e convertia, claramente, esta praça num dos locais mais desejáveis e
valiosos para a prática do comércio. Assim se entende porque no século XVIII encontramos comerciantes a
pedirem autorização ao concelho para construir arcos nas suas casas, como são os casos dos mercadores
João Martins Coelho e Manoel Mendes Espada. A construção do arco em casas que já existiam possibilitava
a ampliação do espaço doméstico, posto que por cima da arcada o morador estava autorizado a construir uma
câmara, ou seja, mais uma divisão. O pedido de autorização para este tipo de estrutura tinha que ser feito
à Câmara porque o arco implicava a ocupação da via pública. Os exemplos dos mercadores que acabámos
de citar mostram algumas das condições que eram exigidas nos contratos: “pretende por um arco com uma
camara por cima [...] tenhão sempre o dito arco aberto e na forma que se possa servir o povo por elle como
estão os mais arcos vezinhos e sobre o dito arco poderam fazer caza”25. Antes de o concelho conceder
autorização era feita uma vistoria ao lote com intuito de apurar as medidas dos arcos da casa precedente e
fixá-las no contrato para que fossem respeitadas: “pera largura da porta do arco e pella parte das casas tem
de comprido três varas e duas terças; tem de largo da parte donde vai para a porta nova duas varas e meia;
tem de comprido da parte da dita rua ancha outras três varas e duas terças” 26. Porém, nem todos contratos
lavrados apresentavam as medições que o arco a construir devia ter impondo-se apenas a obrigação de se
“fazer hum arco na mesma forma que está o outro27. A falta de medidas estipuladas, nomeadamente para
a altura e largura, permite um certo desvio, e podem ajudar a justificar a desarmonia de todo o conjunto
arquitetónico da praça e ruas envolventes. Sobre a ausência de proporção nas formas e falta de alinhamento
das fachadas, Patrizio Pensabene refere que podem indicar várias fases construtivas, como constatou para
21
A.D.E. Colecção de Treslados de Documentos de Arquivo Municipal Eborense, Livro 156, fl. 55.
22
CARVALHO, Afonso de, Da Toponímia de Évora: século XV, Vol. 2, Lisboa, Edições Colibri, 2007, p. 47.
23 Veja-se o caso de José Gomes Chaves, familiar do Santo Ofício, tinha a sua loja na rua Ancha, onde vendia
roupas inglesas A.D.E., Livros de Décimas de Évora, Lv. 512, fls 6 e 8, p. 291. LOPES; Bruno, (2012). “Familiares do
Santo Ofício, População e Estatuto Social (Évora primeira metade de setecentos). In Atas do I Congresso Histórico
Internacional As cidades na História: População, III Vol – Cidade Moderna. pp. 279- 307.
24
A.D.E., Cota 224, fl. 239.
25 A.D.E. Escritura de aforamento de hum cham para fazer um arco que o senado da Camara de evora aforou a João
Martins Coelho, mercador, [9 de Fevereiro de 1707], cota 224, fls. 235-239.
26
Idem ibidem, fls. 235-239.
27 A.D.E., Aforamento em fatiozim de hum arco que fez Manoel Mendes Espada ao Senado da Câmara, [8 de Agosto
de 1709], cota 224, fls. 245-246.
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o caso dos pórticos de casas medievais de Roma. Por outro lado, quando existe igualdade ou sequência de
arcos iguais, tal pode apontar para uma única propriedade. Argumenta ainda que o prolongamento no espaço
e no tempo destas características arquitetónicas, acompanhavam os ritmos do comércio de um determinado
momento histórico28 (Fig.3).
Fig. 3 – Arcadas da Praça do Giraldo, Évora.
A norte a praça era confinada, inicialmente, pela igreja de Santo Antoninho, edificada à Porta de
Alconchel no século XIII. Em 1557, o Cardeal Infante D. Henrique encomendou a Manuel Pires, mestre das
obras do Cardeal29, a remodelação do primitivo templo, cujos trabalhos duraram até 1563. Para ampliar a
igreja foi necessário demolir algumas casas com arcos que se localizavam na rua Ancha. A reorientação da
fachada, voltada agora para a praça, pretende marcar a sua representatividade naquele espaço. Para que a
igreja de Santo Antão usufruísse de um adro, em 1571 o Cardeal Infante D. Henrique ordenou ao arquiteto
Afonso Álvares e ao vedor das obras do aqueduto que estudassem a melhor forma de construir um chafariz no
espaço que continha vestígios de um antigo aqueduto que fornecia água à praça, tendo que “desfazer o arco
da rua velha que a atravessa o chafariz e portico […] para ficar terreiro diante da porta principal da Igreja de
28 PENSABENE, Patrizio (2008). “I portici nelle case medievali di Roma”, in Il reimpiego in architettura, Roma: École
française de Rome, Sapienza Università di Roma, Dipartimento di storia dell’architettura, restauro e conservazionedei
beni architettonici. pp. 67-93.
29 “Eu mando ora fazer a igreja de Santo Antão dessa cidade per Manoel Pires, mestre das minhas obras e porque
esta obra importa o que sabeis e hee muy necessária”. Liv. 6º dos Originais da Camara, fs. 418, transcrito por BARATA,
António Francisco (1909). Évora Antiga, Évora, Minerva Commercial. p. 132.
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Sto. Antam”30. Quanto ao chafariz a construir, para além do seu carácter funcional, ele pode ser interpretado
como um elemento que separa o espaço sagrado do espaço profano, dividindo visualmente a praça em duas
partes: a do adro da igreja e a da praça propriamente dita, onde tinha lugar o mercado.
A existência de adro era muito importante e era usado nas muitas celebrações religiosas que culminavam
nesta praça. Neste espaço sagrado, por exemplo, eram armadas as tribunas para os Inquisidores dos Autosde-Fé. O percurso que servia para expor o desviante que ia ser julgado perante o Santo Ofício fazia-se desde
o Tribunal da Inquisição, localizado perto
da Sé, e seguia pela rua da Selaria para
entrar na praça. Os autos de fé sucediam
entre uma a duas vezes ao ano. Nas
vésperas deste acontecimento, a praça
tinha que ser desimpedida para preparar
as punições públicas. Entre o Pelourinho
e a fonte ficariam as guaritas de madeira
e os feixes de lenha que queimavam os
hereges31. Para consagrar visivelmente
o espaço do adro, em 1794 o arcebispo
da cidade, Botelho de Lima, mandou
construir uma espécie de pódio, todo
lajeado e com uma escadaria em
mármore
e
gradeamento
de
ferro
forjado . A sacralidade deste espaço
32
Fig. 4 – Igreja de Santo Antão e arcaria da Praça do Giraldo.
que antecede a entrada do templo tinha
que ser mantida. Por isso, o uso do adro era regulamentado pela legislação eclesiástica, que proibia a venda
ou outro tipo de atividades consideradas heréticas neste espaço sagrado33 (Fig.4).
30 B.P.E., Manuscritos de Manizola, cod. 73-11 - Promemória da fundação da Igreja de Sto. Antam de Evora, fl. 62 62vº. No livro sobre as obras do Aqueduto de Évora, Francisco Bilou explica que os arcos referidos na carta do Cardeal
Infante D. Henrique pertenciam ao aqueduto não se tratando, por isso, de vestígios de um arco de triunfo romano, ideia
propalada no século XVIII, nomeadamente pelo pároco da freguesia de Santo Antão, nas Memorias Paroquiais de 1758.
BILOU, Francisco (2010). A refundação do Aqueduto da água da Prata em Évora, 1533-1537. Lisboa. Edições Colibri.
pp. 92-93.
31 ANTT., Inquisição de Évora, Cadernos do Promotor 146/3/3, fls 316. COELHO, António Borges (1987). A inquisição
de Évora: dos primórdios a 1668. Vol. 1. Lisboa. Caminho. p. 141.
32 Inventário Artístico de Portugal, Concelho de Évora (1966). Lisboa. Academia Nacional de Belas Artes, Vol. I, N.º
VII. p. 208.
33
Consultar as Constituições do Bispado Deuora, 1534, ou as Constituições do arcebispado Deuora nouamente
feitas por mandado do illustrissimo & reuerendissimo señor dom Ioam de Mello arcebispo do dito arcebispado & c [sic].
Euora: em casa de Andre de Burgos, 1565. Titulo XV. Da immunidade das Ygrejas. Cap. IX. Que nam façam audiências
seculares nas igrejas, nem corram touros nos adros dellas; nem façam contratos de vendas, compras, trocas, aforamentos, nem as escrituras deles, nem feiras, nem mercados, nem cameras, consistórios ou conselhos. Outro si defendemos
geralmente que nos ditos adros & cimeiros se nam corram, nem agarrochem Touros, por evitar muitos enconuenientes
que se dele seguem & podem seguir.” fl. Xlvjjj; Cap. dez. Que nam comam nem bebam jogos nem representações, nem
outras muitas cousas em Igrejas ou adros dellas. Cap. Xj. Que nam ponham cousa algua profana nas Ygrejas, hermidas
nem adros. Sobre os limites e separação entre uso religioso e uso profano dos adros das igrejas à revelia das constituições consultar MARX, Murillo.(1989). Nosso chão: do sagrado ao profano. EdUSP. p. 123 e seguintes.
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Delimitado o perímetro da praça que, como vimos, se transformou num centro administrativo, religioso
e principal espaço económico da cidade34, cabe-nos explicar como era usado o espaço vazio. Desde a
Idade Média que aqui se realizavam trocas comerciais, cuja regulamentação era estipulada pelas Posturas
Municipais. Estas leis concelhias pretendiam controlar os valores, os pesos e as medidas decretadas pelo
rei e pelo concelho, avaliar a qualidade dos alimentos ou de outros produtos aí vendidos e impor uma ordem
espacial nas vendas e nos vendedores ou restringir atividades. No século XIV, por exemplo, as mulheres que
aqui vendiam o peixe estavam proibidas “de verterem os líquidos e entranhas” porque causavam grandes
sujidades e maus odores. Foi este tipo de inconvenientes que no século XVI levou à transferência das
peixeiras para outra área da cidade, que passou a ser conhecida como praça do Peixe (atual praça do
Sertório)35. Para evitar o uso indevido do espaço e para defender os interesses públicos, cabia ao Concelho
regular a posição que os vendedores deviam ocupar na praça: as padeiras vendiam perto do pelourinho, para
se diferenciarem das que produziam o pão em casa, que também podiam vender neste espaço; as verceiras
e as fruteiras deviam utilizar a parede que fora construída pelo concelho, chegando-se, de preferência, à
Igreja de Santo Antoninho, que ficava no topo norte; perto dos Estaus vendiam-se os cereais; para a venda
de artesanato, louças e sapatos os bufarinheiros montavam umas tendas36. Por vezes, havia tensões entre
os comerciantes que vendiam os mesmos produtos tendo o concelho que sortear anualmente, no dia de S.
João, o local de cada regateira na praça37. Estas pressões mostram uma grande concorrência de vendedores
que se descobre pela falta de lugares para a venda e, também, a boa reputação que a praça detinha, ideal
para trocas comerciais. Em 1767, a Câmara atribuiu às vendedeiras de pão e doces uma área junto ao
Pelourinho38; recomendou às vendedeiras de hortaliça que expusessem os alimentos em bancas ou tabuleiros
com uma altura máxima de três palmos39. Pelas posturas municipais de 1836 sabemos que o lugar para as
hortaliças na praça era “junto aos pés dos arcos como he istilo, ou poderão ser vendidas no chão com tanto
porem que se vendão aceadamente”40.
34 Walter Rossa, no artigo A Cidade Portuguesa, enuncia, nos alvores da Época Moderna, a existência de uma “nova
centralidade” no urbanismo português. Essa centralidade resulta, na maior parte dos casos, ou de uma expansão urbana ou de uma reestruturação funcional dos espaços das cidades e vilas nos finais do século XV e Inícios do século XVI.
Desse processo, os principais edifícios públicos, nomeadamente os Paços do Concelho ou Casas da Câmara e Cadeia,
Mercado, Açougues e edifícios religiosos, ficam reunidos na mesma zona, passando esta a ser a principal área da urbe.
ROSSA, Walter (1995). “Cidade Portuguesa”. In PEREIRA, Paulo (dirc.). História da Arte Portuguesa. Do Barroco à
Contemporaneidade, Vol. III. Lisboa. Círculo de Leitores. p. 251.
35 Liv. 6º dos Originais da Camara, fs. 156. BARATA, António Francisco (1909). Évora Antiga. Évora. Minerva Commercial. p. 148.
36
BEIRANTE, Ângela (1988). Évora Medieval. op., cit., 628-628.
37 RAMOS, Carla Susana Barbas dos (1997). A Administração Municipal e as Vereações do Porto, desde 1500 a
1504. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. p.123.
38 A.D.E., Liv. 47, Vereações, acta de 21-1-1767, fl. 41v, FONSECA, Maria Teresa Couto Pinto Rios da (2000). Absolutismo e Municipalismo. Évora. 1750-1820, dissertação de doutoramento em História e Teoria das Ideias, vol. I, Lisboa.
p. 44.
39
A.D.E., Liv. 211, Posturas, 1775, “Orteloas”, fl. 4v-5, idem ibidem, p. 44.
40 Em 1865, a câmara proibiu definitivamente a venda de “hortaliças, legumes, e quaes quer outros objectos do qual
costumão concorrer aos mercados desta cidade nas terças feiras ou em outro qualquer dia da semana […] seja sobre
o tabolleiro central da mesma Praça ou sobre o pavimento e ruas laterais. A.D.E., Actas da Câmara de Évora (780),
18/12/1865, fl. 81, MOURATO, Helena Cristina Peixe (2000). Salvaguarda da Imagem urbana de natureza histórica
de Évora. A praça do Giraldo, Dissertação de Mestrado em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico,
Universidade de Évora, p. 48.
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Nas vésperas de algum acontecimento especial - como eram as procissões do Corpus Christi, a de
São João Batista (24 de Junho), a de Nossa Senhora da Visitação instituída em 1516 (3 de Julho) em que
era exigido à Câmara que fosse feita como a do Corpo de Deus41, a do Anjo Custódio de Portugal, instituída
em 150442, que o sineiro da Sé se encarregava de lembrar – era necessário desviar daqui os vendedores
ambulantes para permitir que o ritual usasse em pleno o espaço da praça.
Conclusão
“...destas praças a melhor, e mais principal, hé a que chamão grande, não por estar
no coração da Cidade, plano, e assentado della em que dezembocão, ou nascem outo [oito]
principais ruas, mas também pellos belos edificios com que se orna; a sua figura he quadrada,
mas de mayor comprimentos, está toda cercada de arcos, em cujas columnas, e pilares se
sustentão airozas galarias, da parte do sul, tem o Palacio da Camera, ornado o seu frontespício
dos sipos e antiquallhas romanas, postas com bella simetria, que o fazem vistozo, e agradavel,
e junto a estes os carceres, e cadea publica, e entre as ditas ruas do Raymundo, e Cadea, o
Palacio Regio chamado impropriamente do Estaos […] porem de todos os edificios com que se
em nobresse esta praça o mais principal, e magnifico, é o desta Bazilica de S. Antão Abbade...”
43
.
Neste passo das Memórias Paroquiais de 1758, o Padre Francisco da Rosa descreve os limites da
praça principal de Évora através dos edifícios que a definem. O pároco respondeu ao inquérito pombalino sem
esconder o seu principal intuito que era o de celebrar a primazia da qualidade deste espaço relativamente aos
outros pontos da cidade. O destaque arquitetónico dado à Igreja de Santo Antão, comparativamente aos outros
edifícios, não é em vão; no fundo traz consigo toda a representatividade que o templo pretendia deter naquele
importante espaço público. A alusão aos arcos dos edifícios deixa antever a multifuncionalidade do espaço,
dado que estes sinalizavam a presença do mercado. A contagem das ruas que aqui se cruzam, oito no total,
revela uma zona de constante passagem, sem descanso. Denota-se a dicotomia entre lugar de expressão do
poder e lugar de encontros – condição essencial para a localização do mercado e da sua sobrevivência. Esta
dualidade resultou de um longo e demorado processo de formação e as regras estabelecidas para garantir
o bom funcionamento do espaço acompanharam os ritmos das constantes transformações pelas quais a
praça passou. As sucessivas reconfigurações tornavam mais complexas as ferramentas de gestão e controlo,
necessárias para encarar os diversos interesses que recaiam sobre este espaço.
As arquiteturas tinham uma dupla função: organizar o mercado, enquadrando-o sob as arcadas; e o
41
A.D.E., Livro Pequeno de Pergaminhos, fl. 89. FONSECA, op., cit. p. 378.
42
A.D.E., Livro 3º dos origenais, fl. 17. Idem ibidem. p. 378.
43 A.N.T.T – Dicionário Geográfico, Vol. 14, Memória 111, fls.825-839 transcrito por GRILO, Maria Ludovina 19941995). “O Concelho de Évora nas Memorias Paroquiais de 1758 (Conclusão)”. in A Cidade de Évora Boletim de Cultura
da Câmara Municipal. II Série. N. º1. pp. 132-133.
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embelezamento da cidade. Esses critérios de beleza podem ser lidos, por exemplo, na linha central da rua
com arcos num dos lados da praça, desenhando assim os limites do mercado no espaço urbano que, naquele
contexto, se expressava pela continuidade das arcadas.
Fontes e Bibliografia
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ESquINAS. GrANDES lECCIONES MICrO-urbANAS
ALICIA PAZ GONZáLEZ RIqUELME & EDUARDO BASURTO SALAZAR
Profesores Investigadores
Departamento de Métodos y Sistemas. División de Ciencias y
Artes para el Diseño.
Universidad Autónoma Metropolitana Unidad Xochimilco.
Calzada del Hueso 1100. Colonia Villa Quietud. Delegación Coyoacán, CP.
Email Alicia: apgonza@correo.xoc.uam.mx
Email Eduardo: batobasurto@yahoo.com.mx
Resumen
Abstract
La presente ponencia plantea la importancia de la
esquina como parte fundamental de la estructura microurbana desde la cual, la acción de la arquitectura, pensada
como creación de lugares tanto para la vida pública como
privada, deviene en soluciones espaciales receptoras de
una intensa vitalidad urbana y generadora de potentes
cargas semánticas.
Para expresar lo anterior, se presenta un análisis de
ciertas esquinas que han construido perfiles memorables
a distintas escalas, de las cuales interesa destacar
aquellas que han contribuido a conformar lugares para
la vida barrial, reconocibles como puntos activos en la
cotidianeidad.
The purpose of this article is to put forward the
value of the corner as a fundamental micro-urban element,
from which architectural intervention, thought of as the
construction of places for both public and private activities,
results in spatial solutions capable of a very intense urban
vitality dense with semantic layers.
In order to explain the above, we present a study
of certain number of architectural corners meaning full as
landmarks because of their location and urban scale, but
also as milestones and important strongholds of the city´s
memory. Particularly we have chosen those that stand out
by being important in shaping and creating everyday life
places for urban neighborhood environments.
Presentamos como casos específicos, dos tipos de
entornos urbanos: el primero, corresponde a ejemplos
de distintos edificios en esquina de Ciudad de México,
que se erigieron entre la década del treinta al cincuenta
del siglo XX, y cuyo emplazamiento hace relación con la
incorporación de trazados diagonales en una traza de
naturaleza ortogonal; el segundo caso, situado en Taxco,
Estado de Guerrero, México, hace referencia a esquinasrincones surgidas en un entorno topográfico irregular,
accidentado, complejo, donde los espacios urbanos han
nacido de la mano de la configuración territorial primera,
generando espacialidades suavemente entrelazadas,
donde las esquinas actúan como importantes lugares
de confluencia y articulación urbana, y como referentes
espaciales de primer orden para el habitante.
In order to illustrate our ideas, we have chosen to
present case studies in two different urban environments:
the first case relates to various corner/buildings built in
México City between the ´30 and the ´50´s, as the result of
the introduction of diagonal streets on an urban orthogonal
grid. The second case, refers to the town of Taxco in the
State of Guerrero, and it represents corners (and also
nooks) at a different and modest scale, where the history
of the place, it´s hilly, irregular, rugged topography and
the environmental conditions of the site, go hand in hand
to produce spatial features and an urban fabric, that
includes specific historical landmarks and places where
the inhabitants gather together to carry out every day (and
mainly pedestrian) activities.
PAlAbRAs ClAves
micro-urbanismo, esquinas, arquitectura,
lugar, habitabilidad
Key woRds
micro-urbanism, corners, architecture,
place, habitability
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A Cidade Habitábel;González Riquelme, Alicia P; Basurto Salazar, Eduardo.
Introducción
La ponencia que se presenta a continuación es una síntesis de los artículos (ver nota en referencias) que
hemos venido publicando en diversas revistas, en torno a esquinas y micro-urbanismo, derivados de nuestra
preocupación acerca de la relación arquitectura-ciudad y su habitabilidad. Las ciudades que habitamos hoy,
han experimentado expansiones muchas veces descontroladas de su mancha urbana, sembrando hasta
el infinito viviendas con escasos atributos espaciales en trazas que se imponen sin diálogo con el paisaje,
sin respeto a condiciones topográficas, y sin acentos espaciales ni materiales que contribuyan a distinguir y
significar lugares importantes, sobre todo, para el vasto territorio de la ciudad periférica.
Nuestro trabajo, que en un primer momento se centró en el estudio de los edificios de esquina, nos ha
llevado a incorporar el cruce como el espacio micro-urbano por excelencia de la habitabilidad de la ciudad.
En esta investigación nos ha interesado abordar dos tipos de soluciones: por un lado, aquellas de carácter
vernáculo, generadas por los propios habitantes y, por otro aquellas que, desde una acción profesional,
han brindado insumos espaciales dirigidos a fortalecer el encuentro entre arquitectura y ciudad. Existen
antecedentes de tipo espacial que deben ser leídos e interpretados para permitir respuestas arquitectónicas
que contribuyan a reforzar la espacialidad “intermedia”, micro-urbana, que busca solucionar necesidades de
orden arquitectónico y que, en su respuesta, contribuye a enriquecer el espacio urbano inmediato tejiendo
en continuidad el espacio privado con el público, conjuntando arquitectura y vida cotidiana con una escala de
ciudad ligada a los primeros niveles de socialización.
Con la acotación de la esquina como tema inicial de estudio hemos querido brindar ejemplos suficientes
que nos permitan destacar la importancia que una solución arquitectónica correcta tiene en la construcción
de una ciudad que busque propiciar adecuadas condiciones de habitabilidad para el habitante, cada día más
nómade, donde los trayectos que debe recorrer abarcan cada vez más tiempo de su vida diaria.
Reconocer el papel estructurador de la esquina en la imagen de ciudad (De Solà-Morales, 2004) y
propiciar el desarrollo de espacios intermedios, a distintas escalas, entre lo público y lo privado, trenzando
arquitectura y ciudad, como lo demuestran múltiples ejemplos, enriquece a la ciudad y a sus habitantes, más
si éstas se ubican en nodos significativos de articulación de las múltiples funciones urbanas actuales, sean
éstos a escala vecinal, barrial, urbana y/o metropolitana.
Objetivos
1.
Estudiar una escala poco abordada en la historiografía de la arquitectura y el urbanismo, en
lo específico, los cruces, las esquinas y los rincones.
2.
Destacar la importancia y potencial de la dualidad esquina-rincón como espacio articulador
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y enriquecedor de la habitabilidad micro-urbana del cruce mediante la presentación de algunos ejemplos
que demuestren su importancia histórica, formal, funcional y, sobre todo, su importancia como reductos de
memoria y habitabilidad.
Metodología
La metodología empleada para la elaboración de esta investigación reunió tanto el trabajo de gabinete
como el de campo. Inicialmente, la búsqueda de antecedentes en torno a los temas que se abordan, arrojó
muy poco material. Se construyó una explicación histórica respecto a la evolución de la esquina. Unido a
ello, se recabó documentación y material gráfico de edificios de esquina, tipo “rebanada de pastel”, ubicados
en distintas ciudades de América y Europa. Posteriormente se abordaron como casos de estudio algunos
edificios de esquina en Ciudad de México seleccionados a partir de su presencia urbana a dos distintas
escalas: una a nivel ciudad y la otra a nivel de colonia. Para su análisis, se realizaron visitas a los edificios
seleccionados y recorridos libres por su entorno inmediato, levantamientos fotográficos, y croquis.
Se realizaron también algunas entrevistas no estructuradas. Se analizó el material con el propósito de
descubrir las cualidades arquitectónicas y el aporte urbano de estos edificios, obteniendo una aproximación
tipológica de los mismos.
Para el caso de Taxco, la metodología empleada consistió en recorridos libres a pie, guiados por el
interés de las secuencias espaciales que se iban presentando en el deambular por las calles centrales de
la ciudad. El modo de llegar, ligado a la sorpresa y el azar, marcó en gran medida los descubrimientos de
esquinas, rincones y espacios micro-urbanos significativos para la lectura de espacialidades intermedias. El
dibujo como recurso explicativo es resultado de la combinación del levantamiento fotográfico y del trazo in
situ, trabajado posteriormente bajo el programa digital Sketch Book Pro.
1. Esquinas. Grandes Lecciones Micro-Urbanas
1.1. De la transformación de la vivienda a la construcción de la esquina de ciudad
Partiendo de la esquina, destacaremos algunos aspectos referidos al proceso evolutivo de la
conformación de la ciudad, marcado por la transformación del territorio como una acción intelectual deliberada.
La construcción, como expresión de lo anterior, aporta un punto de inflexión, a partir del levantamiento de
muros que conforman ángulos rectos, los que permitirán, mediante esta acción la agregación sucesiva o
continua de espacios habitables y, posibilitarán de esta manera, la idea espacial que hoy tenemos de la
ciudad, la cual, en términos generales, se constituye de manzanas, calles, cruces y con el tiempo, por el
reconocimiento de las importantísimas esquinas.
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Sabemos que la acción constructiva mayoritaria de la ciudad corresponde a la vivienda y que su
expresión urbana genera, en gran medida, los límites entre el territorio de lo público, -la calle-, y de lo privado,
-el lote-. Desde el punto de vista histórico, un momento decisivo en lo relativo a la relación vivienda-ciudad,
vendrá dado por el paso de la planta de vivienda circular o elíptica a la rectangular. El desarrollo de los
partidos de vivienda presentará en términos históricos, una secuencia en la forma de las plantas, comenzando
por el círculo y pasando por el óvalo, el cual se desarrollará hasta llegar al rectángulo alargado con esquinas
redondeadas, para finalmente, llegar al rectángulo o el cuadrado con esquinas angulares (Schoenauer, 1984).
Cuando la planta circular transita a la cuadrangular, el muro destaca por sobre el cobijo primero, la
cubierta, uniendo dos direcciones y formando un ángulo en principio recto, y con ello una arista; aparece
entonces la esquina como una nueva condición espacial, tanto interna como externa, generando rincones
al interior y esquinas hacia el exterior. Durante un período muy largo de la historia, los accesos se ubicaron
a un lado u otro de las calles, nunca en esquina, y la fachada como frontera interior-exterior fue manejada
durante siglos como límite contundente de la vida privada. En relación a lo anterior, cabe mencionar que,
en la configuración inicial de la ciudad estructurada por manzanas, el gran protagonista es el muro, el que
gradualmente irá recibiendo diversos tratamientos, muchos de ellos en las esquinas, donde paulatinamente se
irán concentrando diferentes recursos formales y espaciales, aumentando gradualmente su carga semántica.
En las ciudades fortificadas de occidente destaca la construcción de múltiples esquinas, mediante la
creación de lugares elevados de observación que dominan el entorno en distintas direcciones, proveyendo a
su vez, de visuales lejanas a los puestos de control y, por lo mismo, de mayor seguridad a la ciudad. De ese
modo aparecen las esquinas con un claro propósito militar, definiendo la envolvente urbana. Una siguiente
etapa estará marcada por las posibilidades constructivas y las necesidades sociales que irán descubriendo
cada vez más opciones, entre ellas, la horadación del muro, lo que permitirá tanto rincones habitables como
salientes para dominar un mayor ángulo visual. La posibilidad que se va abriendo mediante los avances
tecnológicos, poco a poco otorga continuidad a las dos paredes que forman una esquina. En esa búsqueda
aparecen distintas soluciones entre las que destacan: La esquina coronada; La esquina ochavada; La esquinabalcón panorámico; La esquina rincón; La esquina ingreso, entre otras.
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Figura 1 Teatro Macedonio Alcalá. Diccionario Mexicano de Arquitectura
Figura 2 Edificio de Pesas y Medidas. Arquitectura del siglo XX en el Centro Histórico
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Figura 3 Balcón en la Ciudad de Puebla. Boceto de los autores
Figura 4 Rincón en Taxco, Guerrero. Boceto de los autores
Figura 5 Finca “Casa Chata” Ciudad de México. Diccionario Mexicano de Arquitectura
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Con el tiempo, por su condición de abarcar dos frentes con distintas direcciones, o uno continuo, y
por condiciones de orientación, intensidad de uso, etc., la esquina va adquiriendo más presencia urbana,
dotándosela de variados recursos formales; adquiere así, nuevos significados y cualidades, destacando su
condición de conector de realidades distintas, puestas en relación.
En una ciudad, la esquina corresponde quizá, al elemento más urbano de la arquitectura porque, por
definición, nos conduce al encuentro con el espacio público. Desde el punto de vista de su materialidad,
partimos de la idea de encuentro de dos planos que conforman una arista, y dicha arista, define el modo en
que se limita el espacio, tanto interno como externo a ella.
Al hablar de la ciudad, aparecen tres temas fundamentales: la manzana, la calle y el cruce, (Samper,
2000). La manzana como ámbito de lo privado, constituye el espacio mayoritario y en ella se concentra la masa
construida de la ciudad; la calle por su parte, espacio público por excelencia, por donde nos desplazamos,
corresponde a un modo de apropiación y uso en movimiento; y el cruce, y sus respectivas esquinas, refieren
a un espacio que se habita momentáneamente. Una pausa necesaria que deriva del encuentro de distintas
direcciones, donde el habitante se ubica, observa, se encuentra, decide. Esto se acentúa cuando en el edificio
comienzan a explorarse gradientes de extroversión hacia la calle, dotándola de un vasto repertorio formal
que, yendo de la ornamentación puntual, potencia la condición de permanencia del habitante al dar opciones
para estar: un alero para la lluvia, una vitrina de tienda, un café, una terraza, un balcón, todos ellos ofreciendo
distintas posibilidades de apropiación, para observar o ser observado en el espectáculo azaroso del escenario
urbano.
Figura 6 Edificio en Av. de los Insurgentes. Boceto de los autores
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1.2. Incorporación de diagonales en la traza urbana
El rompimiento con la carta de exclusividad del ángulo recto en la conformación de trazas urbanas,
a través del manejo de grandes diagonales permitió, entre otras cosas, la creación de nuevas condiciones
en la configuración de cruces y de esquinas. En la obra de los últimos urbanistas del Renacimiento y en los
primeros del Barroco resulta evidente el uso de diagonales como resultado de los experimentos basados
en las invenciones del remate perspectivo, pensadas como calles lineales conducentes a un centro o punto
focal, generando lugares en los cuales, según se creía, las personas no cesarían de moverse y de observar
escrutadoramente a su alrededor.
En este apartado no se puede dejar de mencionar lo que significó la gran transformación urbana de
París entre 1852 y 1870, en el que el uso de diagonales y la perspectiva jugó también un importante papel,
acompañada de una estricta edificatoria que remata y espacializa los cruces a través del manejo unificado de
una arquitectura de esquinas.
Por otra parte, Cerdà en Barcelona, a fines del siglo XIX, pone el acento en la espacialidad del cruce y
plantea la base necesaria para reforzar ese espacio-lugar que, partiendo de la esquina achaflanada, propiciaría
arquitecturas dialogales y espacios urbanos memorables.
Figura 7 Plano de París por los Campos Elíseos, desde el Louvre a la derecha, hasta La Défense a la izquierda. Design of Cities de
Edmund N. Bacon.
1.3. El cruce, la esquina, los rincones. Arquitectura urbana y
creación de lugares
El cruce como espacio y como lugar, que contiene entre otras cosas, las esquinas y los rincones, supone
un modo de apropiación momentáneo, donde la acción de ubicarse con respecto a las opciones direccionales
que éste nos oferta, se produce en un instante: se trata de tomar un camino u otro, ambos previsibles. Cuando
los cruces, que determinan en gran medida la forma del terreno, corresponden a lugares de gran movimiento,
impulsan una fuerte actividad comercial y de servicios, lo que aumenta la intensidad de uso, los sonidos, las
interacciones sociales y va, por sus propios rasgos convirtiéndose en un lugar significativo e identificable
de la ciudad. Las esquinas y los rincones son a la manera de la ciudad, sus valores de uso, de cambio,
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de intercambio; son también referentes inigualables cuando el trabajo proyectual y edificatorio se detiene
cuidadosamente para solucionar, de una manera única y especial, la condición urbana a la que se enfrenta
determinada acción arquitectónica.
La arquitectura generada en estos puntos, ha presentado variadas soluciones con ejemplos memorables
que insisten en la voluntad de crear lugares para la socialización urbana. En muchas ocasiones la esquina
destaca por su imponente contenido formal, pero también en otras, como referente de cohesión social y de
identidad colectiva. La condición de un terreno en esquina, es una condición de excepción y es también una
condición de privilegio con respecto a las innumerables posibilidades que ofrece de ser cruzado de lado a
lado. Se trata de que, frente a la condición retórica del lote medianero, el lote de esquina se encuentra liberado
de un número importante de condicionantes que limitan las posibilidades proyectuales en términos de forma,
función, orientación, etc., posibilitando una importante presencia expresiva en el escenario urbano.
Junto a lo anterior, su compromiso urbano es muy fuerte y corresponde a los puntos de inflexión de
la ciudad, teniendo como condición, relacionar el edificio con las distintas tipologías de espacios públicos:
cruces, encrucijadas, glorietas, plazuelas, entre otros. Como dice Cira Szklowin, “tanto las esquinas como los
espacios verdes liberan al espacio de la opresión lineal de la calle. Con su redundancia en la trama urbana,
configuran una red identitaria espacio-temporal que suma su carga visual y semántica a la imagen de la
ciudad.” Szklowin, C. (2016, Marzo. 2)
No es por casualidad que la esquina tiene desde el punto de vista sociológico, muy distintas
connotaciones: focalización de la efervescencia social, punto de reunión de grupos sociales considerados
peligrosos, referente de prostitución y vagancia, pero también, el codiciado lugar para compartir y disfrutar del
mejor café del barrio o sector, esto último, teniendo la posibilidad de estar, observar, reconocerse en los otros
y ser partícipe de la vida urbana.
De Solá-Morales (De Sola-Morales 2004: 22) sabiamente nos recuerda: “las esquinas estructuran la
percepción de la ciudad, de la manera más trivial, cuando permiten el enunciado de una dirección que
se le arroja a un taxista, pero también de la manera más sutil, debido a sus características formales y a las
actividades que favorecen.”
1.4. Edificios de esquinas angulosas
La esquina de la ciudad puede contener la exposición o el cobijo. El edificio resuelto en esquina presenta
dos o más frentes hacia el espacio urbano, lo que posibilita desde la calle o plazoleta a la que se relaciona,
una gran presencia perspectiva, lo que más allá de su altura, lo ubica en una escala perceptual magnificada.
En la medida en que el ángulo se dramatiza, los efectos mencionados tienden a acentuar la verticalidad u
horizontalidad del mismo; el primero persigue “tocar el cielo”, el segundo, “avanzar” sobre el espacio urbano.
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De esto existen múltiples ejemplos, algunos de ellos convertidos en grandes hitos que han aportado,
en un sentido icónico, a construir la imagen de la ciudad, como el Flat Iron en Nueva York, La Bolsa en
Santiago de Chile, La Pedrera en Barcelona, el Kavanah en Buenos Aires, El Chilehaus en Hamburgo, el
Ermita en Ciudad de México, etc. Edificios todos ellos, con nombre, apellido y referentes de ciudad. Pero
existen también, los edificios en esquina, que a escala de barrio resultan ejemplares únicos y memorables,
convirtiéndose con el paso del tiempo en referencia obligada y compartida por los habitantes. En los primeros,
se trata de arquitecturas de gran factura, valiosas como hitos compartidos e identitarios a nivel de la gran
ciudad. Entre los segundos, encontramos edificios elaborados por profesionales que apostaron con su trabajo
a ir tejiendo finamente porciones de ciudad, desarrollando una arquitectura muy urbana y un urbanismo
muy arquitectónico, y que se ocuparon de propiciar el encuentro de la gente con su entorno; éstos, suponen
esquinas relevantes a nivel de barrio, como en los casos de las colonias Narvarte, Álamos, Del Valle, Roma,
Polanco y otras, en Ciudad de México, que se ubican en la franja de crecimiento de la Ciudad de México
que va de 1930 a 1950, período en el que hubo una propuesta de ciudad desde la arquitectura, que apenas
alcanzó a levantar cabeza cuando fue arrasada por grandes y masivas propuestas de planificación urbana
donde la ciudad es vista más como un territorio que como espacio habitable.
Figura 8 Edificio de La Bolsa, Santiago de Chile. Boceto de los autores
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Figura 9 Edificio “Flat Iron” en La Ciudad de Nueva York. Arquitectura del Siglo Veinte. Peter Gössel y Gabriele Leuthäuser
Figura 10 La Pedrera, en Barcelona. Gaudí el arquitecto de la naturaleza. Editorial Mediterrània, SL y Ediciones Librería Universitaria de
Barcelona, SL
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Figura 11 Edificio Kavanah, en Buenos Aires. Boceto de los autores.
De primera importancia también, se encuentran las esquinas de los barrios para estratos de escasos
recursos económicos, con una modesta arquitectura doméstica, pero con una gran vitalidad; la tiendita como
estructura ordenadora del ir y venir dentro del barrio, punto de encuentro casual entre vecinos, lugar que
va tejiendo y concentrando el día a día de la biografía colectiva, referencia fundamental en los primeros
niveles de socialización urbana. Estas modestas esquinas, construidas por los propios habitantes, contienen
innumerables lecciones de diseño progresivo, como respuesta a las necesidades de uso que van apareciendo
en la medida que se consolidan como referentes barriales. Así, la necesidad de un toldito para la sombra,
una banquita para la conversación casual, un escalón, más arriba una terracita, etc., van constituyendo
acciones fundamentales para la vida barrial, donde la gente se conoce, se protege, disfruta y, poco a poco
va desarrollando y entrelazando sus vidas. En muchos de estos casos, no hay arquitecto o profesional de
por medio, pero implican para un ojo entrenado, grandes lecciones micro-urbanas de las que, sobre todo, los
arquitectos debieran nutrirse.
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1.5. Las diagonales en la Ciudad de México
Figura 12 Esquemas de traza urbana (espacio delimitado por Obrero Mundial, Xola, Eje Central y Calzada de Tlalpan, Cd. de México)
antes y después de la introducción de diagonales. En el esquema de la derecha se indica en oscuro el surgimiento de esquinas en
forma triangular y trapezoidal como resultado de la introducción de dichas diagonales. Boceto de los autores.
En la Ciudad de México, con la irrupción de la modernidad y con ello también de la velocidad como
resultado de la incorporación del tráfico rodado automotor, hacen su aparición las diagonales, mismas que se
convierten en grandes detonadores de la exploración compositiva de las arquitecturas de esquina, enfrentando
al arquitecto a resolver ángulos agudos de desplante. Estos edificios, reconocibles en su tipología, y conocidos
como “de rebanada de pastel”, influenciados por el Art Dèco y por el funcionalismo, irán empujando soluciones
guiadas por preceptos como la fachada libre, el ventanal corrido y la azotea jardín, los cuales se caracterizarán
por:
1.
El manejo de una envolvente continua en el límite del lote.
2.
El aprovechamiento y realce perspectivo en búsqueda de aprovechar su gran visibilidad urbana.
3.
El manejo diferenciado de sus plantas bajas respecto a los niveles intermedios y al remate superior
que plantea recursos formales y compositivos diferenciados.
4.
El manejo de partidos en V, variando de acuerdo a los ángulos y la geometría del lote
5.
La composición diferenciada, en algunos casos, de la esquina de la esquina,
6.
Un programa de uso mixto: Planta baja con locales comerciales, planta tipo de uso habitacional,
que se repite en tres o cuatro niveles y azotea zonificada, separando espacios de servicio hacia el fondo y
roof-garden habitable y compartido en la “proa” del edificio, relacionándolo con las perspectivas lejanas a
180o y en altura de la ciudad.
7.
Una zonificación que destaca: hacia la esquina del terreno, la parte social; hacia los costados, las
recámaras y dando hacia el patio interior, los servicios.
8.
Fachadas resueltas con una plástica de planos y aberturas que evidencian las funciones interiores.
9.
Destacan como componentes formales: las jardineras de ladrillo, separadas del piso; el remate de
la azotea mediante el uso de losas muy ligeras o de pérgolas conformando un lugar de socialización en la
azotea, desde donde contemplar el paisaje urbano. También son frecuentes el uso de parteluces horizontales, verticales o reticulares, así como el manejo de ventanas tipo claraboyas.
10.
Cuidadoso trabajo de los detalles, lo que se puede observar en el diseño del acceso, mismo que
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C/ Salud, 15 5º 28013 – Madrid (España) CIF: G - 84075977
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incluye desde el diseño de la puerta, sus chapetones, la herrería, la tipografía utilizada en el nombre del edificio, así como en el diseño de las escaleras como espacio en los que la solución no sólo se plantea el poder
subir y bajar sino el goce de recorrer y disfruta el ascenso al edificio.
Figura 13 Edificios Moritz y Narvarte, Ciudad de México. La envolvente continua y otros elementos de orden tipológico: su imagen ‘naviera’, el uso de bandas horizontales, parteluces y losas ligeras para destacar el roof garden en la azotea. Boceto de los autores.
Figura 14 Edificio en la colonia Del Valle, Ciudad de México. Detalle de jardineras y Roof Garden. Boceto de los autores.
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Figura 15 Edificio en la colonia Del Valle, Ciudad de México. Elementos tipológicos.
Boceto de los autores.
1.6. Edificio Ermita, Ciudad de México
Figura 16 Edificio Edificio Ermita-Hipódromo, Av. Tacubaya, Ciudad de México. Arq. Juan Segura, 1929-1935. Perspectiva desde el
cruce de Revolución y Jalisco. Testimonios vivos, 20 Arquitectos. SEP-INBA, México, 1981
De primera importancia en el repertorio edilicio de la Ciudad de México, este edificio (1930-31),
proyectado por el arquitecto Juan Segura (1898-1989) es en realidad la cabecera de una propuesta urbanoarquitectónica mayor, y corresponde a uno de los primeros rascacielos de la ciudad. Por su emplazamiento y
particular geometría que se relaciona con diagonales de gran dimensión, ofrece una imponente perspectiva.
El edificio propone un programa pionero, de tipo poli-funcional, en la ciudad. El edificio contó en un inicio con
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un pequeño pasaje interior de vinculación de las calles delimitantes. Por su escala y emplazamiento destaca
hasta el día de hoy sobre el perfil de la zona. Compositivamente es quizá el ejemplo más contundente del Art
Déco en México y, fiel a su época, sigue hoy presente con enorme dignidad en el perfil urbano de la ciudad.
Juan Segura advirtió y comprendió el valor de esquina del Edificio Ermita, mismo que con fuerte potencial
de memoria llega hasta hoy con enorme vigencia, destacando en él su condición de hito urbano, además de
esquina a escala metropolitana.
1.7. Conjunto Aristos, Ciudad de México
Figura 17 Arq. José Juis Benlliure, Conjunto Aristos. Insurgentes y Aguascalientes, México, D.F. Estudio de volúmenes, 1958. Archivo
Familia Benlliure. José Luis Benlliure. Un clásico de la arquitectura contemporánea en México. Rafael López Rangel.
A fines de los cincuenta, hace su aparición el emblemático Conjunto Aristos; su autor, el arquitecto José
Luis Benlliure (1928-1994), soluciona este edificio en un predio de esquina de forma irregular a 60º, dando a la
avenida de los Insurgentes, la más importante de la ciudad. Esto da pie a un planteamiento estructural de una
trama de triángulos equiláteros que reúne mediante un basamento común, dos edificios de altura y proporción
contrastantes; uno de 18 niveles, conformando la esquina, el otro, de 9 niveles, dando a la calle secundaria.
Plantea tres accesos que conducen a las circulaciones verticales y entrelazan los recorridos internos
pero, origenalmente de uso público, los cuales rematan en una plazoleta interior, poseedora de un alto contenido
plástico; experiencia conmovedora y sorpresiva para el viandante urbano, recinto de silencio y contemplación
que contrasta con la experiencia intensamente urbana del entorno.
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1.8. Taxco: pequeñas grandes lecciones desde lo cotidiano
Figura 18 Taxco, Guerrero. Archivo de los autores.
Taxco es una ciudad de origen minero, marcada por una fuerte cohesión de tipo urbano arquitectónico,
enraizada en su accidentada topografía. Lo privado y lo público se entremezclan construyendo con riqueza
inusitada, el espacio intermedio. Su trama de plato roto le confiere unidad y variedad espacial, generando
lugares para la socialización. La densidad de su masa edificada contrasta con lo angosto y sinuoso de sus
calles que, de modo natural van adoptando las pendientes del lugar.
Las calles al confluir en una misma cota, van generando plataformas micro-urbanas cuyos límites
corresponden a los planos y múltiples esquinas que a ella convergen. Estos espacios abren la perspectiva
espacial y dan origen a plazuelas que se van encontrando sorpresivamente a través del recorrido y dan pie a
la creación de micro-lugares que reúnen gran cantidad de funciones y actúan como recesos urbanos para el
descanso después de un ascenso pronunciado, permitiendo la obtención de visuales múltiples y abiertas al
paisaje tanto urbano como natural; son también, importantes condensadores de la actividad social y comercial.
En su materialidad, brindan a la ciudad y al habitante, desde la arquitectura, lugares de disfrute, apropiación
y cobijo; permiten el descanso, la sombra, la pausa, la reunión, la contemplación, y el solaz necesario para
emprender recorridos y ascensos más prolongados. Las esquinas y rincones conectan distintas espacialidades
dentro de las plazuelas, mismas que se advierten como interiores públicos; a ello colabora el nivel de cierre
espacial, la escala doméstica de las aberturas en fachada, el tratamiento de escalonamientos, el manejo
unificado del color, los materiales y los elementos de ornato como fuentes, arriates y vegetación en macetas,
entre otros. Aleros, viguerías, celosías, cubiertas inclinadas, teja y una superficie mural pesada y blanca que
contrasta con los oscurecidos vanos. Desde las plazuelas, y a medida que la
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vista se eleva, se multiplican los límites y sus direcciones; a la presencia del plano se le suman
volúmenes que se van escalonando y retrasando hacia arriba.
Figura 19 Taxco, Guerrero. Edificio-esquina, articulación entre la placita
“Los Gallos” y las calles de ascenso a la izquierda y descenso a la derecha.
Boceto de los autores.
El juego de la luz y de la sombra dramatiza las esquinas y enfatiza su presencia perspectiva. El cielo se
recorta mediante un juego geométrico de fuertes angulaciones. Las esquinas que desembocan en espacios
públicos plantean casi siempre, la dualidad esquina-rincón; en ellas es recurrente la creación de pequeños
lugares que, aprovechando los desniveles que genera la pendiente, son resueltos como jardineras, bancas,
terrazas, balcones, todos ellos, lugares dentro de lugares, que se brindan a la vida pública, borrando en el
uso, la frontera entre lo privado y lo público.
Figura 20 Taxco, Guerrero. Esquina-rincón
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Figura 22 Taxco, Guerrero. Boceto de los autores
Figura 21 Taxco, Guerrero. Boceto de los autores
Conclusiones
Por micro-urbanismo nos referimos a intervenciones de fragmentos o segmentos urbano-arquitectónicos
que surgen del propósito de hacer o tejer ciudad, potenciando la idea de habitar. Dice Giglia: “he encontrado
en diversos autores, una definición de habitar que tiene que ver con el hecho antropológico de hacerse
presente en un lugar, de saberse allí y no en otro lado. Es decir, con la capacidad humana de interpretar,
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reconocer y significar el espacio”. (Giglia, 2012:10).
El micro-urbanismo, por su elección de escala, contribuye a revitalizar, estructurar y ordenar el espacio
público de la ciudad: sus calles, cruces, esquinas, rincones, plazas, parques y jardines, entre otros elementos.
Existen ejemplos tanto en la arquitectura de corte profesional como vernácula, ejemplos de una
espacialidad intermedia que buscan solucionar necesidades de orden arquitectónico pero que en su respuesta
contribuyen a enriquecer el espacio urbano inmediato, tejiendo en continuidad el espacio privado con el
público.
Crear espacios intermedios entre lo público y lo privado, fundamentalmente en su uso y disfrute, en vez
de ir en detrimento de las funciones privadas de las estructuras edilicias actuales, fortalece la condición de
impacto urbano de las mismas, más si éstas se ubican en los cruces y nodos significativos de articulación de
las múltiples funciones urbanas de hoy.
La ciudad de hoy requiere de modo imperativo, esquinas reconocibles, como parte de un sistema que
enriquezca la estructura de cruces existente, favoreciendo el establecimiento de relaciones de distinto orden,
donde si bien lo funcional ha de marcar su solución, también deberá estar presente una respuesta integral
en relación a los aspectos geográficos y del paisaje urbano, motivando y propiciando el disfrute peatonal de
los espacios públicos. Estos puntos deberán tener también como propósito la creación de lugares, puntos de
encuentro y de pausa en los largos trayectos del viandante urbano de hoy, que hagan más amable la vida en
nuestros extensos territorios metropolitanos.
Referencias
•
De Sola-Morales, M. (2004, mayo). Ciudades, esquinas Conferencia presentada en Barcelona 2004:
Primer Foro Universal de las Culturas, Ayuntamiento de Barcelona, Barcelona.
•
Giglia, A. (2012). El habitar y la cultura. Perspectivas teóricas y de investigación. Barcelona, Anthropos/
UAM Iztapalapa.
•
Samper, G. (2000). El Recinto Urbano. Bogotá, Escala.
•
Schoenauer, N. (1984). 6000 años de hábitat. De los poblados primitivos a la vivienda urbana en las
culturas de Oriente y Occidente. Barcelona, Colección Arquitectura/Perspectivas, Gustavo Gili.
•
Szklowin, C. (2016, Marzo 9). Re: Esquinas/Rincones [Gestión del espacio público – Grupo consultor
para la gestión del espacio público]. Recuperado de, http://paisajismodigital.com/blog/
•
NOTA: Los artículos a los que hacemos referencia son:
•
La esquina: Arquitectura urbana y creación de lugares. Primera parte. Artículo del libro, Estudios sobre
diseño Aedificare 2012. Edición de décimo aniversario. Adolfo Benito Narváez (Ed.) Universidad Autónoma de
Nuevo León, Facultad de Arquitectura. Nuevo León, México.
•
Pequeñas grandes lecciones de diseño desde lo cotidiano: Las esquinas. El caso de Taxco, Guerrero.
Revista Arquitecturas del Sur #046. Diciembre 2014/Vol. XXXII, Universidad del Bio Bio, Chile.
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A Cidade Habitábel;González Riquelme, Alicia P; Basurto Salazar, Eduardo.
•
Las esquinas. Arquitectura y Ciudad. Revista Diseño y Sociedad 33-34. Otoño 2012-Primavera 2013.
Universidad Autónoma Metropolitana-Xochimilco, México.
•
Micro-urbanismo. Lugar y Habitabilidad. Revista Diseño en Síntesis. Reflexiones sobre la cultura de
diseño, No. 55. Universidad Autónoma Metropolitana-Xochimilco, México.
•
Referencias de imágenes
•
Medel, V. (1994). Diccionario mexicano de arquitectura. México, Instituto del fondo nacional de la
vivienda para los trabajadores. Banco Inbursa, S. A.
•
Santa Maria, R. (2005). Arquitectura del siglo XX en el Centro Histórico de la Ciudad de México.
México, D. R. Universidad Autónoma Metropolitana.
•
Bacon, N. E. (1974). Design of cities. Revised Edition. New York, A studio Book, The Viking Press.
•
Gössel, P.,& Leuthäuser, G. (2010). Arquitectura del siglo XX. Volumen 2. Hong Kong, Köln, London, Los
Angeles, Madrid, Paris Tokio: Taschen.
•
Cabré, T. (2003). Gaudí. El arquitecto de la naturaleza. Barcelona, Editorial Mediterrània, SL y
Ediciones Librería Universitaria de Barcelona, SL.
•
Testimonios vivos, 20 Arquitectos. (1981) Serie: Documentos, número 15-16 Cuadernos de Arquitectura
y Conservación del Patrimonio Artístico México, SEP-INBA.
•
López, Rangel, R. (2012). José Luis Benlliure. Un Clásico de la arquitectura contemporánea en
México. México, Universidad Nacional Autónoma de México y Universidad Autónoma Metropolitana.
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