O rato-de-água (Arvicola sapidus) é uma espécie roedora pertencente ao género Arvicola, onde está incluído o seu congénere rato-dos-lameiros (Arvicola amphibius). Actualmente é uma espécie que se encontra vulnerável na Europa segundo o IUCN[1].

Como ler uma infocaixa de taxonomiaArvicola sapidus

Estado de conservação
Espécie vulnerável
Vulnerável
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Rodentia
Família: Cricetidae
Género: Arvicola
Espécie: A. sapidus
Nome binomial
Arvicola sapidus
Miller, 1908
Distribuição geográfica

Descrição física

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O rato-de-água tem um tamanho médio, com o comprimento cabeça-corpo de 170 a 230 milímetros e um peso entre 140 a 310 gramas.[2] Possui um corpo alongado, com os membros bem desenvolvidos. Possui uma cabeça comprida com as orelhas e os olhos pequenos. A pelagem é espessa podendo ser castanho-escura a preta no dorso e cinza no ventre. Os juvenis possuem uma pelagem mais escura que os adultos desta espécie. As fêmeas têm um par de mamas na região peitoral e dois pares na região inguinal.[3][2] A sua fórmula dentária é:  . É um ser diploide, com 40 cromossomas (2n = 40).[2]

Distribuição geográfica

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Mapa de distribuição de Arvicola sapidus em Portugal, de acordo com o Atlas de Mamíferos de Portugal.

O rato-de-água (Arvicola sapidus) ocorre em França e na Península Ibérica. Na França, o rato-de-água ocorre em três regiões: Charente-Maritime, Bretanha e na Cordilheira dos Pirenéus, com distribuições desiguais nestas regiões. A espécie tornou-se vulnerável em várias regiões metropolitanas, ocorrendo apenas num local.[1] Em Espanha, o rato-de-água ocorre a norte, a este e em algumas regiões a sul, não estando presente no centro de Espanha, onde no passado era uma espécie comum.[1] Em Portugal, o rato-de-água é a única espécie do género Arvicola que ocorre em grande número por todo o país em áreas associadas a água doce.[4] Ocorre desde o nível do mar até aos 2300 metros de altitude, nos Pirenéus.[1]

Habitat e ecologia

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O rato-de-água prefere habitats com acesso direto à água intercalando com vegetação herbácea,[5][6] como pequenos lagos de água doce, canais de irrigação e margens de rios com terra húmida nas quais possa fazer escavações e tocas. Essas tocas geralmente têm duas entradas: uma acima do nível da água e outra aquática.[1] Quando as condições não são ideias é encontrado acima do nível da água em campos húmidos.[1] Em Portugal, as salinas de Aveiro, onde a gramata-branca (Haliminone portulacoides) e o junco-das-esteiras (Juncus maritimus) são as espécies vegetais predominantes, e onde existem cursos de água estáveis, são um local favorável para a ocorrência da espécie.[7] O rato-de-água apresenta uma dieta essencialmente herbívora, preferindo caules e folhas de plantas que ocorrem nas margens dos rios, como as gramíneas. Por vezes pode consumir insetos, caranguejos, pequenos peixes, girinos e camarões de água doce.[2][1] O rato-de-água é um mamífero diurno, apresentando dois picos de atividade: um ao final da manhã e outro ao início da tarde, podendo também ter alguma atividade noturna.[1]

Reprodução

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A maturidade sexual do rato-de-água é atingida às 5 semanas de idade e a esperança média de vida varia entre 2 e 4 anos.[2] A época de reprodução do rato-de-água tem uma grande duração, ocorrendo entre Março e Outubro, período durante o qual pode ter entre três e quatro ninhadas, nascendo entre duas e oito crias por ninhada. Geralmente, a período de gestação tem uma duração de três semanas.[1] Na Península Ibérica, em algumas populações a época de reprodução estende-se ao longo de todo o ano, apresentando o pico nas estações quentes.[2]

Predação

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O rato-de-água é predado por diversas aves de rapina, a salientar a coruja-das-torres (Tyto alba), a coruja-pequena (Asio otus), o aluco (Strix aluco), o mocho-galego (Athene noctua) e a águia-de-asa-redonda (Buteo buteo). Também é predado por alguns carnívoros, como é o caso do tourão (Mustela putorius), o texugo-europeu (Meles meles), a lontra-europeia (Lutra lutra), o vison-europeu (Mustela lutreola), o vison-americano (Neovison vison)[2] e mesmo por cães e gatos domésticos.[1]

Factores de ameaça

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O rato-de-água é uma espécie restrita a habitats próximos de água, estando assim sujeito a ameaças habituais associados a este habitat. A alteração ou perda do seu habitat, através da construção de habitações, estradas ou a atividade agrícola intensa são as principais ameaças a que a espécie está sujeita.[1] A competição com outros roedores, nomeadamente com o rato-castanho (Rattus norvegicus), rato-almiscarado (Ondatra zibethicus) e o ratão-do-banhado (Myocastor coypus) põe em causa a ocorrência da espécie em algumas regiões da sua distribuição.[2] Por último, embora a espécie possa sobreviver durante longos períodos com escassez de água, a falta deste recurso tem efeitos negativos sobre o rato-de-água, tornando-se uma espécie particularmente sensível às alterações climáticas.[8]

Conservação

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O rato-de-água é uma espécie que se encontra vulnerável (VU) segundo o IUCN, devido ao seu declínio por toda a sua distribuição geográfica, causado pela modificação do seu habitat e ao isolamento de certas populações.[1] Embora o rato-de-água ocorra em várias áreas protegidas na sua distribuição geográfica, a espécie continua em declínio. Assim, devem ser tomadas medidas para garantir a manutenção e o aumento da densidade da espécie, nomeadamente com a proteção legal nos países onde ocorre (Portugal, Espanha e França).[6] Deve ser estabelecida uma cooperação internacional entre estes países com o objectivo de monitorizar e proteger a espécie em áreas transfronteiriças, onde pode ocorrer a espécie.[6] A conservação do seu habitat é a medida chave de conservação do rato-de-água, pois a espécie necessita de áreas com água com vegetação nas suas imediações para servir de refúgio. Desta forma práticas agrícolas que possam provocar extinções locais devem ser limitadas ou mesmo proibidas.[1] É necessário erradicar espécies exóticas em áreas onde o rato-de-água ocorre, nomeadamente o vison-americano, Neovison vison.[8] Deve ser ainda criado um programa de reprodução em cativeiro de modo a aumentar o número de indivíduos da espécie e eventualmente reintroduzi-los em áreas protegidas, onde a espécie é endémica.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n * Rigaux, P., Vaslin, M., Noblet, J.F., Amori, G. & Palomo, L.J. (2008). Arvicola sapidus. Em: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.2. <www.iucnredlist.org>. Acedido a 20 Maio 2014.
  2. a b c d e f g h Ventura, J. (2007). Arvicola sapidus Miller, 1908. Pp. 405-407. En: L. J. Palomo, J. Gisbert y J. C. Blanco (eds.). Atlas y Libro Rojo de los Mamíferos Terrestres de España. Dirección General para la Biodiversidad-SECEM-SECEMU, Madrid.
  3. Gromov, I.M. and Polyakov, I.Ya. (1992) Fauna of the USSR: Voles (Microtinae), Issue 8. Nauka Publishers, St. Petersburg.
  4. Santos-Reis, M., & da Luz Mathias, M. (1996). The historical and recent distribution and status of mammals in Portugal. Hystrix, the Italian Journal of Mammalogy, 8(1-2).
  5. Saucy, F. (1999). Arvicola sapidus. In: A. J. Mitchell-Jones, G. Amori, W. Bogdanowicz, B. Kry?tufek, P. J. H. Reijnders, F. Spitzenberger, M. Stubbe, J. B. M. Thissen, V. Vohralík, and J. Zima (eds), The Atlas of European Mammals, Academic Press, London, UK.
  6. a b c Fedriani, J. M., Delibes, M., Ferreras, P. and Roman, J. (2002). Local and landscape habitat determinants of water vole distribution in a patchy Mediterranean environment.Ecoscience 9: 12-19.
  7. Santos, J., LUÍS, A., & Fonseca, C. (2007). Mamíferos do sal. Universidade de Aveiro, Departamento de Biologia.
  8. a b Román, J. (2006). Arvicola sapidus Miller, (1908) (Categoría para España (2006): VU A2ace+3ce). Em: L. J. Palomo, J. Gisbert y J. C. * Blanco (eds.). Atlas y Libro Rojo de los Mamíferos Terrestres de España. Dirección General para la Biodiversidad-SECEM-SECEMU, Madrid.

Bibliografia

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  • Joana Bencatel, Helena Sabino-Marques, Francisco Álvares, André E. Moura & A. Márcia Barbosa, ed. (2019). Atlas de Mamíferos de Portugal 2ª ed. ed. [S.l.: s.n.] 271 páginas. ISBN 978-989-8550-80-4 
  • Le Louarn, H. and Quéré, J.-P. (2003). Les Rongeurs de France, Faunistique et Biologie. INRA.
  • Mira A, Ascensão F & Alcobia S (2003). Distribuição das espécies de roedores e insectívoros. Relatório final para o ICN (não publicado). Unidade de Biologia da Conservação, Departamento de Biologia da Universidade de Évora.


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