Sobre este e-book
Em Cidade Caminhável, o urbanista Jeff Speck reúne experiências de grandes e médias cidades norte-americanas para demonstrar que a vitalidade dos centros urbanos está diretamente ligada à assunção do pedestre – o cidadão a pé – como o protagonista essencial da reativação, requalificação, animação e integração dessas áreas.
Em prosa leve e objetiva, Cidade Caminhável estrutura-se sobre a noção de caminhabilidade, que estabelece os parâmetros fundamentais de atração da pessoa pedestre para o centro – utilidade, segurança, conforto e interesse –, criando as condições básicas para a fluidez do transporte público, o florescimento do comércio e a ativação dos equipamentos culturais e de lazer. Enfim, para uma cidade voltada para as pessoas.
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Pré-visualização do livro
Cidade caminhável - Jeff Speck
Caminhável
coleção perspectivas
dirigida por J. Guinsburg
Supervisão editorial: J. Guinsburg
Preparação de texto: Adriano C.A. e Sousa
Revisão: Raquel F. Abranches
Capa: Sergio Kon
Produção: Ricardo W. Neves, Lia Marques, Sergio Kon,
Luiz Henrique Soares e Elen Durando
Produção de ebook: S2 Books
Jeff Speck
CIDADE
CAMINHÁVEL
TRADUÇÃO E NOTAS:
ANITA DI MARCO E ANITA NATIVIDADE
Farrar, Straus and Giroux
18 West 18th Street, New York 10011
Copyright © 2012 by Jeff Speck
Todos os direitos reservados
Primeira edição, 2012
Agradecimentos a Charles Marohn por permitir o uso de um trecho da revista virtual Grist.
Título original: Walkable City: How Downtown Can Save America, One Step at a Time.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
S728c
Speck, Jeff
Cidade caminhável / Jeff Speck ; tradução Anita Dimarco, Anita Natividade. - 1. ed. - São Paulo : Perspectiva, 2016.
278 p. ; 23 cm. (A+U ; 2)
Tradução de: Walkable city
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-273-1053-6
1. Urbanismo. 2. Planejamento urbano - Brasil. 3. Desenvolvimento sustentável - Brasil. I. Título. II. Série.
16-30870
CDD: 711.4
CDU: 711.4
02/03/2016 02/03/2016
Direitos reservados à
EDITORA PERSPECTIVA S.A.
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 3025
01401-000 São Paulo SP Brasil
Telefax: (11) 3885-8388
www.editoraperspectiva.com.br
2016
PARA ALICE
Sumário
Capa
Créditos
Folha de rosto
Ficha catalográfica
Dedicatória
Sumário
Prólogo
Uma Teoria Geral da Caminhabilidade
Parte I: Por que caminhabilidade?
Caminhar, a Vantagem da Cidade
A Geração Que Caminha
Uma Tempestade Perfeita
Demográfica[19]
O Ganho da Caminhabilidade
Por Que os Garotos Não Podem Ir a Pé?[69]
A Bomba da Obesidade
Limpando o ar
Car-nificina Americana
Tenso e Solitário
O Verde Errado
Não Se Escreve Carbono Sem Car
Deixando de Ver a Floresta Por Causa das Árvores
Manhattan Como Meca
Feliz Urbanismo
Parte II: Os dez passos da caminhabilidade
Os Dez Passos da Caminhabilidade
A Caminhada Proveitosa
A Caminhada Segura
A Caminhada Confortável
A Caminhada Interessante
A Caminhada Proveitosa
Passo 1: Pôr o Automóvel em Seu Lugar
Estradas Versus Cidades
Porque Preciso: Demanda Induzida
Não São Só as Vias Expressas
Primeiro, Livre-se dos Engenheiros de Tráfego
Remova-as e Eles Irão[198]
Um Passo Longe Demais: Zonas de Pedestres
Pedágio Urbano: Inteligente Demais Para Ser Fácil
A Visão de Longo Prazo
Passo 2: Mesclar os Usos
Em Geral, É a Moradia
Acessibilidade Invisível
O Resto do Quadro
Passo 3: Adequar o Estacionamento
Quanto Custa o Estacionamento e o Que Ele Custa Para Nós
Demanda Induzida Revisitada
Vício Vira Lei
O Custo das Exigências de Estacionamento
Alguns Lugares Mais Inteligentes
O Problema Com o Estacionamento Barato Junto ao Meio-Fio
O Preço Correto
Um Conto de Duas Cidades
O Que Fazer Com Todo Esse Dinheiro?
Uma Pechincha de 1,2 Bilhão de Dólares
Passo 4: Deixar o Sistema de Transporte Fluir
Onde os Estados Unidos Estão
São os Bairros, Idiota[340]
Não Mexa Com Dallas[343]
Outro Tipo de Transporte
O Que Fazem os Bondes
Transporte Para Motoristas
Trens Versus Ônibus
Compartilhe Se Puder
A Caminhada Segura
Passo 5: Proteger o Pedestre
Tamanho Importa
Uma Conversão Longe Demais
Faixas Gordas
Para Que Simplificar, Se Podemos Complicar?
A Apoteose da Segurança
A Epidemia de Mão Única
Calçadas Sagradas
Sinais Sem Sentido
Passo 6: Aco1lher as Bicicletas
Um Jeito Melhor de se Deslocar
Amsterdã, Copenhague, Portland e Outras Cidades Estrangeiras
Ei! Estou Aqui Pedalando!
Quão Seguro É Seguro?
Conflitos Com Ciclistas Veiculares
Ciclofaixas, Vias Separadas, Rotas Compartilhadas
Ciclismo Avançado
Não Seja Ganancioso
A Caminhada Confortável
Passo 7: Criar Bons Espaços
Abrace-me
Fetichismo do Objeto
Quanto Menor, Melhor
Sem Clima Ruim
Passo 8: Plantar Árvores
Árvores Para a Vida
O Mais Verde dos Produtos Verdes
Árvores Compensam
Qual Árvore Onde?
A Caminhada Interessante
Passo 9: Criar Faces de Ruas Agradáveis e Singulares
Estacionamento Invisível
Transições Atraentes Versus Transições Que Afastam
Ataque das Estrelas da Arquitetura
Muito de Uma Coisa Só
Natureza Monótona
Passo 10: Eleger Suas Prioridades
Triagem Urbana
Âncoras e Caminhos
A Lição de LoDo
Áreas Centrais em Primeiro Lugar
Agradecimentos
Bibliografia
Índice Geográfico
Prólogo
Este não é um novo grande livro sobre as cidades americanas; não é preciso. Uma revolução intelectual não é mais necessária. O que caracteriza a discussão sobre as cidades, hoje em dia, não é uma obstinação tola ou falta de consciência sobre o que precisa ser feito; ao contrário, é uma total desconexão entre essa conscientização e as ações dos responsáveis pela forma física de nossas comunidades.
Há três décadas, sabemos como tornar as cidades melhores e mais habitáveis – depois de termos esquecido por quatro décadas – e, mesmo assim, não fomos capazes de melhorá-las. Jane Jacobs, que escreveu em 1960, em 1980 já havia conquistado os urbanistas. Mas os urbanistas ainda têm de conquistar a cidade.
Exceto algumas cidades grandes. Se você mora em Nova York, Boston, Chicago, São Francisco, Portland, ou uma série de outros lugares especiais, pode acreditar que as coisas estão no caminho certo. Mas são exceções. Nas cidades pequenas e médias, onde mora a maioria dos norte-americanos, as decisões cotidianas das autoridades locais, quase sempre, ainda pioram sua vida. Não se trata de um planejamento urbano ruim e, sim, da ausência de planejamento, ou melhor, de tomadas de decisões desconectadas do planejamento. Por tantos anos, os urbanistas estiveram tão errados que hoje, quando a maior parte deles está certa, são amplamente ignorados.
Mas este não é um livro sobre planejamento como profissão, nem mesmo um argumento em prol de um maior planejamento, por si só. Ao contrário, é uma tentativa de simplesmente delinear o que há de errado com a maioria das cidades nos Estados Unidos e como consertar isso. Este livro não trata de por que as cidades funcionam ou como funcionam, mas sobre o que funciona nas cidades. E o que funciona melhor nas melhores cidades é a caminhabilidade
.
Caminhabilidade é, ao mesmo tempo, um meio e um fim, e também uma medida. Enquanto as compensações físicas e sociais do caminhar são muitas, talvez a caminhabilidade seja muito mais útil, já que contribui para a vitalidade urbana, além de ser o mais significativo indicador dessa vitalidade. Após inúmeras décadas redesenhando áreas da cidade, tentando torná-las mais habitáveis e bem-sucedidas, observei meu foco se estreitar na direção dessa questão como a única que parece influenciar e incorporar a maior parte das demais. Garanta uma caminhabilidade adequada e muito do restante virá a seguir.
A discussão é necessária porque, desde meados do século xx, seja intencional ou acidentalmente, as cidades dos Estados Unidos, em sua maioria, acabaram tornando-se zonas não transitáveis a pé. Na ausência de maior visão ou iniciativa, os engenheiros – venerando os deuses gêmeos do Trânsito Tranquilo e Estacionamento Amplo – transformaram os centros de nossas cidades em lugares fáceis de chegar, mas aonde não vale a pena ir. Códigos de obras e zoneamento desatualizados, geralmente importados dos chamados suburbs, ou bairros residenciais distantes [1], adequaram-se à – pouco atraente – paisagem das ruas com os edifícios particulares, igualmente antissociais, completando uma esfera pública insegura, desconfortável e simplesmente tediosa. Na medida em que um número crescente de americanos opta por estilos de vida mais urbanos, em geral, acabam se defrontando com centros que não os recebem bem. Como resultado, um pequeno número de cidades com visão de futuro está acolhendo a grande maioria de jovens adultos, que deixam os distantes bairros residenciais de classe alta, e de casais agora sem filhos e com recursos para viver onde quiserem, enquanto a maior parte das cidades médias fica a ver navios.
Como cidades como Providence, Grand Rapids e Tacoma podem competir com Boston, Chicago e Portland? Ou, sendo ainda mais realista: como essas cidades comuns podem oferecer, a seus cidadãos, a qualidade de vida que os faça querer ficar? Apesar das muitas respostas a essa pergunta, talvez nenhuma tenha sido tão relegada quanto o projeto, o desenho urbano, e como uma ampla série de simples correções de projeto poderia reparar décadas de políticas e práticas contraproducentes e levar a uma nova era de vitalidade nas ruas dos Estados Unidos.
Essas correções apenas dão uma chance razoável ao pedestre e, ao mesmo tempo, acolhem bicicletas, aumentam o transporte público e transformam as áreas centrais em lugares atrativos para um maior número de pessoas. A maior parte dessas ações não é dispendiosa, algumas requerem pouco mais do que tinta amarela. Porém, individualmente, cada uma faz diferença; em conjunto, transformam a cidade e a vida de seus habitantes.
Até mesmo Nova York e São Francisco ainda cometem alguns equívocos, mas continuarão a ostentar o melhor e mais brilhante do país, a menos que outras cidades comuns aprendam com os sucessos daquelas grandes cidades e, igualmente, evitem os erros cometidos. Nós, urbanistas, contamos com esses lugares comuns, porque os Estados Unidos finalmente serão conduzidos ao século urbano
, não por poucas exceções, mas por um movimento coletivo das cidades comuns para, novamente, fazerem o que as cidades fazem melhor, que é reunir as pessoas – a pé.
Uma Teoria Geral da Caminhabilidade
Como urbanista, faço projetos para novos lugares e para tornar velhos lugares melhores. Desde o final da década de 1980, trabalhei em quase 75 projetos urbanos para cidades grandes, médias e pequenas, velhas e novas. Desse total, quase a terça parte foi construída ou está em construção, o que parece bem pouco, mas, na verdade, é uma média bem razoável. Isto significa que tive tanto agradáveis surpresas quanto inúmeras oportunidades para aprender a partir de meus erros.
No meio desse trabalho, afastei-me por quatro anos para dirigir o departamento de projeto no National Endowment for the Arts-nea (Fundo Nacional Para as Artes). Aí, ajudei a gerir um programa intitulado Mayors’ Institute on City Design (Instituto de Prefeitos para o Desenho Urbano), que reúne arquitetos com os líderes das cidades para intensas sessões de planejamento. A cada dois meses, em algum lugar dos Estados Unidos, reuníamos oito prefeitos e oito arquitetos, nos trancávamos em uma sala por dois dias e tentávamos resolver os desafios mais urgentes de planejamento urbano de cada cidade [2]. Como se pode imaginar, trabalhar, lado a lado, com centenas de prefeitos, um de cada vez, provou ser um aprendizado de projeto maior do que qualquer outro que eu já tenha feito antes, ou desde então.
Especializei-me em áreas urbanas centrais e, quando sou contratado para fazer o plano de uma área central, gosto de me mudar para a região com minha família, de preferência por, pelo menos, um mês. Há muitas razões para me mudar para a cidade enquanto idealizo o projeto. Primeiro, é mais eficaz em termos de deslocamento e organização de reuniões, algo que pode se tornar muito caro. Segundo, permite, de fato, conhecer o lugar, guardar na memória cada edifício, rua e quadra. Também dá a chance de familiarizar-se com os moradores com inúmeras justificativas como tomar café, jantar na casa deles, tomar um drinque em bares da vizinhança e através de encontros casuais. É justamente nesses encontros não planejados que se consegue obter uma compreensão real do lugar.
Todos são grandes motivos, mas a razão principal de passar um tempo em uma cidade é viver a vida do cidadão. Deslocar-se entre um hotel e o local das reuniões não é o que eles fazem. Eles levam seus filhos à escola, dão uma passadinha na lavanderia, vão ao trabalho, saem para almoçar, dão um pulo na academia ou vão ao supermercado, voltam para casa e pesam o que seria melhor: uma caminhada à noitinha ou uma cerveja após o jantar. Seus amigos de fora da cidade aparecem no final de semana e, à noite, saem para dar uma volta. Estas são algumas das muitas coisas normais que os não urbanistas fazem e eu tento fazer o mesmo.
Há alguns anos, enquanto trabalhava em um projeto para Lowell, Massachusetts, alguns velhos amigos do ensino médio juntaram-se a nós para um jantar na rua Merrimack, o coração de um adorável centro urbano do século XIX. Nosso grupo consistia de quatro adultos, um bebê em um carrinho e minha supergrávida esposa. Em frente ao restaurante do outro lado da rua e perdidos em bate-papos, esperávamos a mudança do semáforo. Talvez tenha se passado um minuto, antes que víssemos que havia um botão no semáforo para travessia. Apertamos o botão. A conversa durou mais um minuto, ou quase. Finalmente, desistimos e atravessamos a rua, de qualquer jeito. Quase ao mesmo tempo, um carro derrapou na esquina, talvez, a uns setenta quilômetros por hora, em uma rua que tinha sido alargada para facilitar o tráfego.
Felizmente, o quase acidente não deixou marcas, mas não será esquecido. Atravessar a rua descuidadamente, sem seguir as regras de trânsito e com um carrinho de bebê, é uma maneira infalível de se sentir um péssimo pai, sobretudo se algo der errado. Meu único consolo, dessa vez, foi que me encontrava em posição de fazer algo a respeito.
Neste momento, enquanto escrevo, estou novamente em trânsito com minha família, desta vez em Roma. O bebê agora está em um carregador de colo e o irmão se alterna entre um carrinho e seus próprios pés, dependendo do terreno e de seu estado de espírito. É interessante comparar nossa experiência em Roma com aquela em Lowell, ou mais ainda, a experiência de caminhar na maior parte das cidades dos Estados Unidos.
À primeira vista, Roma parece terrivelmente inóspita aos pedestres. Tantas coisas estão erradas. Metade das ruas não tem calçadas, a maior parte dos cruzamentos não tem faixas de pedestres, o calçamento é irregular e esburacado, rampas para portadores de necessidades especiais são praticamente ausentes. As colinas são íngremes e frequentes (ouvi dizer que são sete). E… será que preciso mencionar os motoristas?
Todavia, aqui estamos entre tantos outros pedestres, turistas e moradores – caminhando no bairro do Trastevere, mas apreciando cada minuto da caminhada. Esta anárquica pista de obstáculos é, de alguma maneira, um imã para os pedestres, recentemente escolhida, pelos leitores do Guia de Turismo Lonely Planet, como uma das Dez Melhores Cidades Caminháveis
do mundo. Em quilometragem, os romanos dirigem uma fração do que os americanos. Um de nossos amigos, que trabalha na embaixada norte-americana, comprou um carro assim que chegou à cidade, por hábito. Agora, o carro fica estacionado na entrada do edifício, alvo certo para os pombos.
A paisagem urbana tumultuada, que não atende a qualquer medida americana convencional de ser favorável aos pedestres
, é um paraíso para os caminhantes. Então, o que acontece por aqui? Com certeza, em relação ao quesito deslocamentos a pé, a cidade que Anatole Broyard descreveu como um poema forçado a funcionar como uma cidade
começa com algumas vantagens. A classificação do guia Lonely Planet, provavelmente, é moldada mais em função do espetáculo do que do conforto do pedestre. Mas os mesmos monumentos, se organizados de forma – digamos – mais americana, dificilmente teriam alguma chance. (Pense em Las Vegas, com seu Índice de Caminhabilidade igual a 54.) [3] A principal coisa que torna Roma e outras vencedoras – Veneza, Boston, São Francisco, Barcelona, Amsterdã, Praga, Paris e Nova York – tão tranquilas de serem percorridas a pé é aquilo que os urbanistas chamam de tecido urbano, o conjunto cotidiano de ruas, quadras e edifícios que une os monumentos. Apesar das inúmeras falhas técnicas, o tecido urbano de Roma é magnífico.
No entanto, esse é um dos inúmeros aspectos-chave do desenho urbano ausentes das discussões sobre caminhabilidade das cidades, em quase todo lugar. Isso porque a discussão tem sido mais sobre criar facilidades adequadas e atrativas para os pedestres do que sobre criar cidades caminháveis. Não falta literatura sobre o tema ou mesmo um campo incipiente de estudos sobre caminhabilidade
, que se concentre sobre os impedimentos ao acesso e à segurança do pedestre, sobretudo nos bairros afastados de Toronto [4]. Embora ajudem, esses esforços são inadequados. O mesmo vale para programas de embelezamento de cidades, como o famoso Cinco Bs
, da década de 1980 (em inglês bricks, banners, bandstands, bollards, and berms): tijolos, banners, coretos, balizadores e bordas que agora enfeitam muitos centros abandonados [5].
Muito dinheiro e esforços foram usados para improvisar calçadas, faixas de travessia, iluminação pública e latas de lixo, mas qual a importância disso tudo, principalmente, no aspecto de convencer as pessoas a caminhar? Se a questão do caminhar se resumisse apenas em criar zonas seguras para os pedestres, então por que mais de 150 ruas principais [6], transformadas em áreas para pedestres nas décadas de 1960 e 70, fracassaram quase imediatamente? [7] Com certeza, há mais coisas para encorajar as caminhadas do que apenas criar espaços bonitos e seguros.
O pedestre é uma espécie extremamente frágil, o canário na mina de carvão da habitabilidade urbana. Sob as condições corretas, esta criatura se desenvolve e se multiplica. Mas criar tais condições requer atenção a uma extensa gama de critérios, alguns mais fáceis de serem atendidos que outros. Enumerar, e compreender, tais critérios é um projeto de vida – o meu – e é, incessantemente, um trabalho em andamento. Parece presunção alegar que solucionei esse problema, mas já que passei bom tempo tentando, vale a pena comunicar o que aprendi até aqui. E já que isso tende a explicar tudo, chamo essa discussão de Teoria Geral da Caminhabilidade.
A Teoria Geral da Caminhabilidade explica como, para ser adequada, uma caminhada precisa atender a quatro condições principais: ser proveitosa, segura, confortável e interessante. Cada uma delas é essencial, mas não é suficiente quando isolada. Proveitosa significa que a maior parte dos aspectos da vida cotidiana está por perto e são organizados de tal modo que uma caminhada atenda às necessidades do morador. Segura significa que a rua foi projetada para dar aos pedestres uma chance contra acidentes com automóveis: os pedestres não têm apenas que estar seguros; precisam se sentir seguros, condição ainda mais difícil de atender. Confortável significa que edifícios e paisagem conformam as ruas como salas de estar ao ar livre
, em contraste com os imensos espaços abertos que, geralmente, não conseguem atrair pedestres. Interessante significa que as calçadas são ladeadas por edifícios singulares agradáveis e com fartura de sinais de humanidade.
Estas quatro condições são, sobretudo, uma forma de refletir sobre uma série de regras específicas, a seguir organizadas no que chamo de Os Dez Passos da Caminhabilidade, a serem explorados adiante. Em conjunto, acredito que compõem uma receita completa para tornar nossas cidades mais caminháveis.
Porém, antes, devemos compreender que uma cidade caminhável não é apenas uma noção idealista e bela. Ao contrário, é uma solução simples, prática, para vários problemas complexos que enfrentamos como sociedade, problemas que minam, diariamente, a competitividade econômica, a sustentabilidade ambiental e o bem-estar social de nossos países. Por isso, este livro é menos um tratado de projeto que uma convocação essencial. Por que precisamos tanto de caminhabilidade é o tema da próxima seção.
Apesar de nunca ter sido declarada uma guerra, muitas cidades americanas parecem ter sido feitas e refeitas com a incumbência de derrotar os pedestres. Vias alargadas, calçadas diminuídas, árvores suprimidas, guias rebaixadas para dar acesso a lanchonetes drive-thru e imensas áreas de estacionamento de quarenta mil metros quadrados reduziram muitas das nossas paisagens urbanas a zonas de automóveis, nas quais a vida dos pedestres é apenas uma possibilidade teórica.
Às vezes, as causas dessa transformação são surpreendentes. Em Miami, por exemplo, as pessoas se perguntam por que os cruzamentos em bairros residenciais são tão grandes: duas vias relativamente estreitas se encontram em uma imensidão de asfalto, que, aparentemente, alguém levaria horas para atravessar. A resposta é que, certa vez, o sindicato dos bombeiros fez um acordo de não liberar nenhum caminhão sem levar, no mínimo, quatro homens. Isso é ótimo para a segurança e melhor ainda para a segurança no emprego, mas o único caminhão que levava quatro homens sentados era o que tinha o cabo e a escada. Então, durante anos, bairros residenciais em Miami tiveram de ser projetados em torno de imensos raios de curva previstos para os caminhões de combate a incêndios em edifícios altos [8].
Hoje, esta piada não é rara no cenário de profissões desconectadas e interesses especiais que determinam a forma de nossas comunidades. O mundo moderno está cheio de especialistas pagos para ignorar critérios além de sua área específica. Os departamentos de educação e parques irão pressionar para conseguir instalações maiores, mas em menor número, já que exigem mais fácil manutenção – e ostentação. O departamento de obras públicas ou serviços urbanos irá insistir que novos bairros sejam projetados, sobretudo, voltando-se para as atividades de remover neve e lixo. O departamento de transportes irá construir novas vias para melhorar o tráfego gerado pela grande expansão urbana que elas mesmas criaram. Cada uma dessas abordagens pode parecer correta sozinha, mas não em uma cidade.
Se o que se espera é o funcionamento adequado das cidades, elas devem ser planejadas por generalistas, como já o foram. Generalistas compreendem que consolidar parques significa que menos pessoas irão caminhar até eles. Generalistas compreendem que a infraestrutura organizada em torno do serviço de grandes caminhões nem sempre é convidativa às pessoas. E generalistas, por fim, estão começando a entender que, em geral, mais vias de tráfego só levam a um aumento de trânsito.
E mais, generalistas – como urbanistas e, espero, prefeitos – fazem as perguntas essenciais que, tantas vezes, são esquecidas no corre-corre da atividade de governar a cidade. Perguntas como: que tipo de cidade irá impulsionar nosso desenvolvimento econômico? Que tipo de cidade manterá nossos cidadãos não só protegidos, mas também saudáveis? Que tipo de cidade será sustentável para as próximas gerações?
Estes três aspectos – prosperidade, saúde e sustentabilidade – são, não por mera coincidência, os três principais argumentos para tornar nossas cidades mais caminháveis.
Caminhar, a Vantagem
da Cidade
Muitos clientes me fazem a mesma pergunta: Como podemos atrair empresas, cidadãos e, sobretudo, jovens talentos empresariais?
Em Grand Rapids, Michigan, onde fui contratado pelos principais filantropos da cidade, perguntavam de outra forma: Como impedir nossos filhos de deixarem a cidade? Como impedir nossos netos de saírem daqui
?
A resposta é óbvia: as cidades precisam garantir o tipo de ambiente que aquelas pessoas desejam. Levantamentos realizados – como se precisássemos disso – mostram como a classe dos cidadãos criativos, especialmente a geração y [9], prefere, em geral, comunidades com ruas vibrantes e cheias de vida, a cultura de pedestres que só pode vir da caminhabilidade.
A falta de vitalidade nas ruas foi uma das razões pelas quais a direção da Wolverine World Wide, fabricante dos calçados Merrell e Patagonia, teve dificuldades para impedir que novos trabalhadores da área de criação desistissem do trabalho na nova sede em um distante bairro residencial chique, a oeste de Michigan. O problema não era a empresa, mas a impressão das esposas recém-chegadas que não tinham como entrar no cenário social… ainda que os moradores do oeste de Michigan sejam conhecidos por sua receptividade e hospitalidade. Então, o que era? Acontece que aquele cenário social só poderia ser acessado de carro e, portanto, por meio de convite. Sem uma cultura de pedestres, não havia oportunidade para encontros casuais que se transformassem em amizades. Quando surgiu o momento de lançar uma nova divisão, eles decidiram implantá-la em Portland, Oregon.
Desde aquela época, a Wolverine tinha criado um novo centro de inovação juntamente com três outras empresas do oeste de Michigan, na área central de Grand Rapids. De acordo com Blake Krueger, presidente e diretor executivo da Wolverine, a empresa precisava de um núcleo urbano que atraísse e conservasse a classe criativa do milênio! É preciso uma cidade vibrante para essas pessoas. Eles estão em um ambiente mais criativo para viver, morar e se divertir no centro da cidade do que presos nos bairros residenciais distantes
. Aquela unidade agora inclui designers e profissionais de desenvolvimento de produto em dezenas de marcas diferentes.
Para muitas empresas, um satélite urbano não é suficiente. A Brandmuscle, anteriormente em Beachwood, Ohio, recentemente realocou todos os seus 150 empregados para o centro de Cleveland, em parte graças aos desejos de grande parcela de sua força de trabalho, na faixa dos vinte e poucos anos. Agora a funcionária Kristen Babjack se vangloria de seu estilo de vida urbano: Saímos do apartamento e caminhamos poucos metros para comer algo no restaurante ou fazer compras. Temos ginásios e áreas específicas para esportes e concertos todos em uma área de acesso muito fácil a pé.
[10] Histórias similares tornaram-se notícia em Saint Louis, Buffalo e até mesmo na sofrida Detroit.
A vantagem econômica, que já começou a fluir para lugares caminháveis, pode ser atribuída a três fatores-chave. Primeiro, para certos segmentos da população, o mais importante deles o dos jovens criativos
, o fato de morar no centro é simplesmente mais atraente. Muitos garantem que, nem mortos, estariam em algum outro lugar. Segundo, as mudanças demográficas significativas que vêm ocorrendo neste momento significam que esses setores pró-urbanos da população estão se tornando os dominantes, criando um pico de demanda que deverá durar décadas. Em terceiro lugar, a escolha para vivenciar a vida caminhando gera uma considerável economia para aqueles domicílios e grande parte dela é gasta localmente. Vou tratar desses fatores, um a um.
A Geração Que Caminha
Quando trabalhei para a empresa de planejamento DPZ [11], em Miami na década de 1990, todos, sem exceção, dirigiam até o escritório. Usar o transporte coletivo ou ir de bicicleta não fazia sentido, já que os ônibus levavam muito tempo e ir de bicicleta era mais que perigoso. Em visitas mais recentes, descobri que uma parcela significativa dos jovens urbanistas agora pedala ou vai de ônibus, ainda que as condições para os dois modos não estejam nada melhores.
São as mesmas pessoas que haviam colocado um recipiente para compostagem de lixo na cozinha do escritório… Então, serão apenas as exceções à regra?
Acontece que, desde o final dos anos de 1990, o número de quilômetros dirigidos pelos norte-americanos, na faixa dos vinte e poucos anos, caiu de 20,8 para 13,7%. E se olharmos para os mais jovens, dos dezesseis aos dezenove anos, provavelmente as mudanças futuras serão maiores. O número de jovens de dezenove anos que optou por não tirar carteira de motorista quase triplicou desde o final dos anos de 1970, aumentou de 8 para 23% [12]. Este dado é particularmente significativo quando se considera a mudança da paisagem dos