Currículo e identidade: Interfaces na educação do campo
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Currículo e identidade - Sandra Santos de Jesus
67-75).
Prefácio
O livro, Currículo e identidade: interfaces na educação do campo, nos possibilita conhecer importantes aspectos de uma experiência educativa desenvolvida na Escola Agrícola Ministra Leonor Barreto Franco, situada no município de Cristinápolis, estado de Sergipe. A reflexão desenvolvida ao longo de suas páginas, além de nos possibilitar conhecer a história dessa instituição formadora, também nos permite pensar sobre temáticas como currículo, juventude rural, educação do campo e processos de identificação. Nasce de questionamentos da autora que, profundamente envolvida com as questões do campo, observa que em seu entorno, as práticas curriculares nem sempre se efetivam como pretendido no currículo prescrito. Para tanto, apresenta o contexto em que a escola está inserida, evidenciando problemáticas há muito denunciadas pela área de estudos que discute a Educação do Campo. Altos níveis de analfabetismo no campo, precariedade das estruturas físicas das escolas, transporte escolar deficitário ou insuficiente, bem como um vertiginoso investimento na modernização
das práticas agrárias com a intensificação do uso de insumos químicos na produção de alimentos, são alguns dos problemas vivenciados pelos sujeitos desse contexto que não se diferencia em relação a outras realidades do campo no Brasil.
Consciente dos aspectos universais implicados na produção das famílias agricultoras mediante o avanço capitalista no campo, a autora identifica no currículo prescrito, o perfil do egresso do Curso Técnico em Agropecuária em nível médio formado pela instituição, a partir da análise do Projeto Pedagógico do Curso, das ementas e bibliografia das disciplinas propostas, de cadernos de alunos, aplicação de questionário, entrevistas com os estudantes e com pessoas da comunidade.
O narrado nas páginas deste livro, aponta para aspectos importantes que nos indagam sobre as relações entre currículo escolar e práticas sociais, revelando pela palavra dos jovens que nossa sociedade necessita enfrentar o debate político da formação pretendida. Debate que implica em considerar qual homem/mulher pretendemos formar e para qual sociedade. O debate sobre preservar/transformar/reinventar está anunciado nas manchetes dos jornais, no ar que respiramos, na água que bebemos, nos alimentos que consumimos. Debate que precisa ser assumido como condição de manutenção da vida no planeta.
A análise que Sandra Santos de Jesus realiza, evidencia e reafirma que apesar do currículo contemplar temáticas importantes, o debate político sobre qual homem para qual sociedade precisa estar presente para qualificar, sustentar e transformar as relações humanas com e no planeta.
A leitura deste livro pode contribuir para pensar o currículo, os processos de identificação e a educação do campo na formação de jovens camponeses, seja no âmbito da escola técnica ou outras escolas do campo, bem como pode contribuir para a continuidade do diálogo sobre educação e sociedade.
São Cristóvão, outubro de 2019.
Marizete Lucini
Introdução
A pesquisa que deu origem a este livro, objetivou analisar os processos de identificação possibilitados aos estudantes da Escola Agrícola Ministra Leonor Barreto Franco, no município de Cristinápolis/SE, pelo currículo desenvolvido. O contexto da pesquisa situou-se no âmbito do ensino agrícola, em específico do Curso Técnico Agrícola como uma área que pode ou não contribuir para o desenvolvimento de processos de identificação do campo como lugar de vida. O interesse pela pesquisa originou-se da vivência como professora em escolas do campo.
A experiência como professora dos anos iniciais do ensino fundamental e, posteriormente, na coordenação pedagógica de escolas do campo, proporcionou uma visão diferenciada da educação no meio rural. Como professora, passou-se a observar, com outro olhar, a realidade campesina, o mundo no qual está imerso, cotidianamente, como sujeitos desse contexto. Observações que remetem a pensar sobre a organização curricular conferida às instituições de ensino presentes no meio rural, considerando a complexidade do processo educativo, bem como as questões políticas, culturais, pedagógicas e sociais que o norteiam.
A história revela que as práticas educativas são socialmente construídas, elas ocorrem em um determinado lugar, num determinado contexto, incluindo a educação nesse campo. Para Libâneo (1994, p. 17), por educação, no sentido amplo, compreende-se o processo formativo que ocorre no meio social, no qual se está envolvido de modo necessário e inevitável pelo simples fato de existir socialmente
. Os traços coloniais se fazem presentes na formação social do Brasil. Formação com origens eminentemente rurais e patriarcais. A permanência de traços coloniais na estrutura fundiária brasileira influenciou e influencia fortemente o ensino oferecido no meio rural (Antônio; Lucini, 2007).
A escola agrícola, historicamente, destinou-se à qualificação para o trabalho rural. Gritti (2008) indica que o técnico agrícola é moldado no cerne de um processo complexo e fragmentado, visando atender à necessidade de controle e direcionamento de um modelo de produção para a agricultura. Ainda segundo Gritti (2008, p. 2):
Pode-se aferir disso que a educação para o trabalho impõe-se como forma de dar direção à formação, assumindo uma especificidade que vai substituindo e retirando do trabalhador rural o protagonismo de sua formação.
Logo, pode-se ver que a formação do agricultor está ligada aos fazeres cotidianos das lides agrícolas e, muito pouco, a uma tradição escolar, necessitando, para tanto, de um currículo que correspondesse às necessidades da vida e do trabalho no campo. Contudo, a questão é: qual currículo para qual campo, quais identidades são possibilitadas, quais conteúdos são ensinados?
Compreende-se que a realização de estudos sobre a educação rural contribui para o desenvolvimento de políticas que contemplem as especificidades da Educação do Campo, bem como possibilita conhecer as diferenças expressivas entre a educação oferecida no contexto urbano e a ofertada no contexto rural. Nesse sentido, Hage (2010) aponta algumas problemáticas comuns à educação desenvolvida no meio rural, quais sejam:
(1) a precariedade na estrutura física das escolas; (2) ausência e/ou precariedade dos meios de transporte, impondo aos estudantes e professores que percorram longas distâncias para chegarem à escola; (3) os professores se sentem sobrecarregados ao assumir outras funções nas escolas, como de faxineiro, líder comunitário, diretor, secretário, merendeiro, agricultor etc.; e além disso, sofrem pressões dos grupos que possuem maior poder político e econômico local e discriminação em relação às escolas da cidade. (Hage, 2010, p. 95)
Ao se observar alguma das diferenças entre a educação ofertada no campo e a ofertada na cidade, entende-se que se faz necessário levar em consideração a realidade na qual a escola está inserida, para a elaboração de políticas públicas para as escolas do campo. Nesse sentido, considerou-se que esta pesquisa justifica-se porque contribuiu para conhecer a realidade vivida no espaço rural. Realidade revelada mediante a falta de escolas no campo, próximas à moradia dos estudantes, a falta de transporte escolar e, até mesmo, a falta de condições de sobrevivência da família, que os conduzem ao trabalho no campo para ajudar na renda, reflexo da falta de uma política pública que, efetivamente, trate do desenvolvimento do campo brasileiro.
As dificuldades acima mencionadas e vivenciadas pelos povos do campo são evidenciadas mediante a permanência de altas taxas de analfabetismo entre os jovens do campo, bem como pela persistência da defasagem entre a idade dos sujeitos e o ano em que estão matriculados, como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) através dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), realizada em 2014.
Conforme a Pnad 2014, o percentual de pessoas analfabetas no Brasil é de 8,3%. Contudo, no meio rural, principalmente no Nordeste, os índices de analfabetismo beiram a 19%. O analfabetismo foi subdividido a fim de se proceder a estudos mais detalhados, em aspectos absoluto e funcional. Esse último, segundo a pesquisa, tem sido mais recorrente, dada a precariedade do ensino público. Apesar de conhecer as letras e algarismos, os analfabetos funcionais demonstram dificuldades para interpretar textos e realizar operações matemáticas complexas.
Os dados anteriores dão indícios de que a educação não tem sido priorizada, pois o que se vê são projetos colocados como soluções para a problemática, mas, na maioria dos casos, não resolvem as questões estruturais. As soluções propostas, frequentemente, são trazidas de fora para dentro, sem a participação dos sujeitos do campo nessa construção. Ao não se desconsiderar as especificidades dos sujeitos do campo, desconsidera-se também as histórias de vida dos que ali vivem.
Ao se fazer referência ao ensino agrícola que é oferecido no campo, não se pontua apenas a escola rural brasileira, mas a escola do e no campo, fundamentada na concepção de um campo como lugar de vida, de cultura e de identidade, uma escola de direito. Ou seja, compreende-se escola do e no campo, conforme Molina (1999), que a conceitua como:
Aquela que trabalha desde os interesses, a política, a cultura e a economia dos diversos grupos de trabalhadores e trabalhadoras do campo, nas suas diversas formas de trabalho e de organização, na sua dimensão de permanente processo, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva do desenvolvimento social, econômico igualitário dessa população. (Molina, 1999, p. 56)
A intencionalidade do processo educativo deveria, portanto, seguir a lógica de uma educação libertadora, através de uma prática educativa³ que rompa com as segregações, historicamente, impostas a quem estuda e reside no meio rural. Desse modo, pensando acerca de uma prática educativa escolar para o campo, alguns estudiosos da área indicam a Educação Libertadora como uma das possibilidades. Nesse sentido, Antônio e Lucini (2007, p. 185) afirmam que:
Discutir a prática da educação escolar, a partir de um recorte dos condicionantes históricos da educação popular/educação libertadora/educação do campo, possibilita-nos avaliar as relações pedagógicas que são construídas e permeadas por uma tradição educacional, no sentido de questionar e analisar uma série de prioridades e hipóteses que foram herdadas e deveriam estar no centro do nosso esforço para entender a escolarização na teoria e operacionalizá-la na prática.
A lógica presente nas afirmações de Antônio e Lucini (2007) remete a pensar que fora da prática o homem não pode ser, como ressaltado também por Freire (2001). Nesse sentido, a ação pedagógica deve permear práticas a partir de uma totalidade educativa, de opções de organização de ensino que estejam arraigadas a uma prática de educação libertadora. Por conseguinte, pode-se dizer que ao realizar esta pesquisa no contexto educacional do ensino agrícola, especificamente sobre os processos de identificação possibilitados aos estudantes pelo currículo desenvolvido, foi preciso considerar as práticas desenvolvidas em seu contexto histórico. Assim, nos procedimentos de revisão de literatura, efetuou-se uma consulta ao banco de Teses e Dissertações da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes).
1. Levantamento no banco de teses e dissertações da Capes
No intuito de delimitar o objeto de pesquisa, consultou-se o banco de teses e dissertações da Capes.⁴ Elencaram-se algumas expressões de busca que abordam a questão do Currículo, da Identidade e do Ensino Agrícola, intencionando subsidiar o desenvolvimento da pesquisa sobre o tema. Inicialmente, realizou-se uma busca usando o termo currículo, objetivando mapear o número de trabalhos na base de dados que tinha como foco o currículo em trabalhos na área da Educação. A busca possibilitou notar um significativo número de trabalhos. Foram pesquisadas as publicações dos últimos 5 (cinco) anos disponíveis no banco de teses da Capes.
Na primeira busca, encontraram-se 70 (setenta) produções sobre temática envolvendo o currículo. Na sequência, procedeu-se ao levantamento das produções científicas que tinham como preocupação de pesquisa o termo Currículo e Ensino Agrícola, sendo encontradas, na área de Educação, 66 produções. Na terceira expressão de busca, utilizaram-se os termos Currículo e Identidade, objetivando mapear as pesquisas relativas à temática, nos últimos 5 (cinco) anos, encontrando-se 232 produções na área de educação. Dentre as pesquisas com a expressão de busca Currículo, Identidade e Ensino Agrícola, foram localizadas 5 (cinco) produções.
Realizado o levantamento com os cinco trabalhos encontrados a partir das combinações das expressões de busca previamente adotadas, deu-se início a uma análise mais aprofundada dos estudos com o intuito de selecionar aqueles que fariam parte do corpus de análise da pesquisa. Dentre os cinco trabalhos encontrados, três dizem respeito à operacionalização do ensino agrícola, mas não abordam questões acerca da formação da identidade estudantil nem do currículo no ensino agrícola, por isso não foram selecionados para compor o corpus desta pesquisa. A seguir, estão descritos dois dos cinco estudos selecionados, pois se entende que estes se aproximam da proposta deste trabalho e contribuem para a reflexão sobre Currículo, Identidade e Ensino Agrícola, assim como seus conceitos e