Cruzadas: A história de uma guerra não-santa
De Alec Silva
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Sobre este e-book
No imaginário popular, lendas e histórias foram construídas ao redor dos inúmeros personagens e elementos que protagonizaram e figuraram os intensos conflitos: cruzados, templários, tesouros sagrados, bulas pontifícias, traições, assassinos e nobres em busca de poder e glória.
Na camada superficial, uma Cruzada é uma guerra santa, contudo há contos não-revelados da ação dos cristãos e de seus inimigos. Camponeses entravam no exército a serviço de seus senhores, contudo, quais as motivações em uma guerra em terras distantes? Quantas crianças se tornaram órfãs, de ambos os lados dos conflitos, e ficaram marcadas tanto pela intolerância religiosa quanto pela ambição humana? Quais segredos levaram os templários a serem acusados de heresia pelo Papa? E quão real é a lenda do homem que possuía assassinos tão leais que não hesitavam em tirar a própria vida se ele assim desejasse?
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Cruzadas - Cartola Editora
Apresentação
Entre 1095 e 1492, houve oito Cruzadas. Tradicionalmente, uma Cruzada é o termo utilizado para designar qualquer um dos movimentos militares de inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa e à cidade de Jerusalém com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão.
No imaginário popular, lendas e histórias foram construídas ao redor dos inúmeros personagens e elementos que protagonizaram e figuraram os intensos conflitos: cruzados, templários, tesouros sagrados, bulas pontifícias, traições, assassinos e nobres em busca de poder e glória.
Na camada superficial, uma Cruzada é uma guerra santa, contudo há contos não-revelados da ação dos cristãos e de seus inimigos. Camponeses entravam no exército a serviço de seus senhores, contudo, quais as motivações em uma guerra em terras distantes? Quantas crianças se tornaram órfãs, de ambos os lados dos conflitos, e ficaram marcadas tanto pela intolerância religiosa quanto pela ambição humana? Quais segredos levaram os templários a serem acusados de heresia pelo Papa? E quão real é a lenda do homem que possuía assassinos tão leais que não hesitavam em tirar a própria vida se ele assim desejasse?
A cruz e a meia lua: reminiscências de Cédric Oliviê Bertrand
G. L. Fellowynn
Eu fora alvejado, abatido, a treva me engolfava. Sentia sob a pele uma dor lancinante e abrasadora. Exausto, não conseguia descerrar as pálpebras, tampouco me concentrar em algo específico, exceto no fosso abissal — talvez de queda infinita — ao qual terminara condenado. Não dispunha de certezas, entretanto, julguei que muito tempo se passara. Quando finalmente a temperatura amainou, e pude ter ciência dos ruídos ao redor, das ataduras que envolviam os meus membros e da tira de tecido, embebecido em infusão fria, cuidadosamente pousada sobre a minha fronte — possivelmente uma compressa de casca de salgueiro-branco, cardo e freixo, eficiente no combate da febre —, franzi o cenho e, de forma excruciante, recordei das batalhas na cobiçada Terra Santa. O som das lâminas se cruzando ou perfurando a carne, os gritos, o sangrar, o relinchar dos cavalos em fuga ou agonia… em um átimo, absolutamente tudo viera à tona e doeu lembrar tanto quanto doera vivenciar.
— É esse o cruzado do qual falam? Cédric Oliviê Bertrand? — ouvi indagarem.
Uma voz paciente afirmou-lhe que sim, e então posicionou-me gentilmente de lado, iniciando a troca dos lençóis. Mantive-me calado, aparentando dormir, evitaria falar, não estava pronto. Pelo zelo, eu certamente me recuperava em um monastério.
Sofri na troca dos curativos. Protestando contra as dolorosas pontadas nas zonas cicatriciais — ainda extremamente sensíveis —, meu coração disparava. Não tive vontade de contabilizar as lesões, elas eram múltiplas. Espargiram água mentolada para limpar os machucados superficiais e aplicaram unguentos nos ferimentos mais expostos. O cheiro das ervas e da fronha de linho, que trazia um calmante aroma de lavanda, me conduziram em pensamento até a comuna francesa em que nasci.
Enfiado em um vilarejo como outro qualquer de Nancy, o derrocado casebre no qual morava — diferente da ala hospitalar — exalava um odor pungente de urina e bebidas fermentadas. Desde que minha mãe adoecera e ficara entrevada em um leito, comecei a considerar aquele lugar um abrigo, não um lar. Por mais que nos empenhássemos, Justine nos afazeres domésticos e eu na lavoura, nossos esforços nunca eram o suficiente aos olhos de nosso instável tio, cuja principal distração era fomentar intrigas. Ele nos tratava como um fardo, do qual queria rapidamente se librar.
Sinceramente, não fora por falta de aviso. Naquela lúgubre tarde, intuí, repetidas vezes, que algo terrível estava na iminência de acontecer. Os excessos de Remi, e sua truculência, ultrapassaram os limites. A rusga, iniciada por conta das terras aradas, não fenecera em ofensas trocadas e distanciamento mútuo, partira para a violência física. Eu tentava encerrar a contenda, antes que Justine voltasse do campo de lavandas com Lianne D’Maélie, minha amada noiva — receava por suas vidas.
Caído sobre o úmido chão de terra batida, estendi as mãos frente ao rosto, em uma inútil tentativa de aplacar o covarde golpe; sobreveio um forte chute no abdômen, perdi o fôlego. Ladeado pelos excrementos do sabujo — que amedrontado se encolhera em um canto —, fui dominado pelo gosto de ferrugem e sal; cuspia sangue.
Tendo regressando antes do previsto, a cólera de meu tio derramou-se sobre as meninas, que, acuadas, viam-no se aproximar, removendo as vestes. A ira me cegou.
Trôpego, apanhei o pedaço remanescente do jarro que quebrara com minha queda e bati com ele na nuca do homem — já ameaçando tocar minha irmã. Notando que este ainda tinha energia para revidar, lhe cortei a garganta — não posso dizer que foi bom, eu nunca tirara uma vida —, e a luz deixou seus olhos.
Aquela não fora a única morte na casa. Lívida, com os lábios azulados, encontrei mamãe recostada sobre um travesseiro mal posicionado. Jamais saberia a verdade.
Apesar de absolvido pelas autoridades, já que meu crime se enquadrara em legítima defesa e resguardo da honra, ainda assim eu era visto como pária nos arredores de Nancy; por não acreditarem nas circunstâncias do assassinato de meu parente — este se comportava cordialmente com estranhos —, julgavam-me responsável pela ruína da família. Perdido, decidi aconselhar-me com o pároco, Antoine Ludovic, amigo do arcebispo. A motivação para a atitude que tomara não a justificava em sua totalidade e, por isso, a culpa me consumia. Terminada a minha confissão, o padre, analisando minha compleição e ponderando, declarou enfático:
— Não te darei nenhuma penitência, porque se o que busca perante Deus é conciliação e redenção, usufrua de sua juventude, lute o bom combate, demonstre arrependimento exercendo a sua fé, defenda a crença, a história e o legado do Nosso Pai no solo de Jerusalém. Aliste-se, treine, seja um noviço, experiencie e se faça cavaleiro de Jesus… batalhe na Segunda Cruzada.
Como estímulo, presenteou-me com uma túnica, em cujo centro, bordado com primor, se destacava uma cruz vermelha.
Marcharia não à procura de glória, mas de salvação. Pelo restante da quinzena, empenhado, foquei em resolver os assuntos mais prementes. A contragosto, internei Justine em um convento, até que ela tivesse idade de fazer suas próprias escolhas. Mil adagas chamejantes me dilaceraram quando rompi o compromisso amoroso com Lienne, que chorou copiosamente em meu ombro, suplicando que não partisse.
Liberto das amarras, agrupado à expedição bélica organizada diante da capela, recebi as bençãos do padre e as salvas da população. Concluída a missa campal, a empreitada começou. Rápido o grupo se avolumou ao agregar novos irmãos de fé.
Atendendo a proclamação do Papa Eugênio III, dirigida aos Cristãos do Levante, responderíamos com a fúria divina, à conquista de Edessa, distinta dos demais, já que não possuía costa com o Mar Mediterrâneo.
Abnegado, e dedicado a aperfeiçoar as minhas habilidades nas artes da cavalaria, chamei a atenção de meu comandante. Nossa afinidade era crescente, e forjamos um perene laço de amizade e recíproco respeito. Sobre o dorso dos cavalos, reagrupados e perfilados, emparelhamos, para que Gerard Albinet, em seu habitual tom docente, seguisse me instruindo — sua devoção ao Criador e à santíssima Virgem inspirava. Achava vital entender a geografia de onde íamos decisivo em um cerco.
— Estendendo-se ao norte até as colinas de Golã, e ao sul até Gaza, entre a margem oeste do Mar Morto e o Mar Mediterrâneo, na porção austral e montanhosa de Israel, está a região da Judeia; construída em suas terras, fica Jerusalém. Devido à sua posição estratégica, muitos impérios disputaram pela Judeia, e ela acabou governada por persas, babilônios, assírios, entre outros — esclareceu. — Com a ascensão da palavra de Cristo, as coisas mudaram. Outrora habitada por judeus e cristãos, Jerusalém foi conquistada por um califado. Por anos a cidade se dividiu, entre as três distintas religiões que coexistiam, relativamente bem. No entanto, o sexto califa, que reinava na Judeia, orquestrou investidas contra judeus e cristãos, destruindo igrejas. Na Europa, inúmeros reinos de tradição cristã, descontentes com aquela conduta muçulmana, responderam a bula pontifícia do Papa Urbano II, que, por sua vez, atendera ao alerta do imperador bizantino Aleixo I. Nações rivais, seus camponeses e nobres, irmanaram-se em um só ideal, entoando Deus Vult, Deus o quer
, que conclamava os filhos do Criador à necessária peleja.
— É uma honra nos unirmos sob a cruz de Nosso Senhor, sob a resplandecer de uma só bandeira, cumprindo o desejo do Pai Celestial. Os reinos da Europa retomarão o legado cristão. O olhar do mundo volta-se para aquelas terras, não podemos falhar! — discursei inflamado, dando graças pelos desígnios do Pai Supremo.
Dividíamo-nos em quatro grandes ordens: Ordem dos Templários, Ordem dos Teutônicos, Ordem Equestre do Anto Sepulcro de Jerusalém e Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta (Ordem dos Cavaleiros Hospitalários); quis Deus Onipotente que eu fosse designado à Ordem Templária, onde permaneci sob a tutela
de Mestre Gerard. Porém, logo tudo ruiria.
Unimo-nos por uma crença… e às vezes, nos colapsamos por ela. Meu espírito jazia alquebrado, minhas convicções, outrora sólidas e irrefutáveis, esfacelavam-se sob o peso da verdade. Eu via em cada vida ceifada, cidade saqueada e construção tombada o que gradualmente tínhamos nos tornado; no fundo, temia não haver salvação para nenhum de nós, independentemente do lado pelo qual pelejávamos.
Quer fosse pela justa balança da divindade cristã ou da muçulmana, será que o teor de nossa crueldade penderia mais ou menos que o despontar do arrependimento em nossos corações? Inquietava-me não ter ciência da resposta, mas de algo eu sabia, doutrina alguma me forçaria a brandir o escudo, desembainhar e empunhar a espada contra os ditos inimigos; o letal golpe da lâmina que eu portava não mais recairia sobre soldados ou civis, pois o rubro tom que ela facilmente derramava, sugando deles a vitalidade, igualmente esvaia de mim a sanidade, sorrateiramente violava a pouca retidão que me restava. Agitei as esporas e instei o cavalo a se virar e retroceder — provavelmente a dita honra de cavalheiro
findaria com aquele gesto.
—… É o jovem templário que, havendo desertado, regressa e salva seu comandante da morte certa, durante a emboscada turca… — captei o fragmento da conversa a mencionar-me, mas estava cansado demais para me aprofundar no teor da prosa.
Atos de resignação e amor deturpados em ódio. Com as palavras certas, camponeses sem preparo viram soldados; no calor da batalha, assassinos cruéis, traidores. Não se preocupem, explicarei a passagem que desanuviou minha consciência.