Sobre este e-book
Em 1948, aos 20 anos, Hanna fugiu da Alemanha Oriental para a Alemanha Ocidental. Mas o preço da liberdade — deixar para trás seus pais e os oito irmãos — partiu seu coração. Sem raízes, Hanna acabou se mudando para os Estados Unidos, onde formou uma família.
Criada perto de Washington, D.C., Nina Willner, a filha de Hanna, se tornou a primeira mulher oficial de inteligência do exército dos EUA a liderar operações secretas em Berlim Oriental no auge da Guerra Fria. Embora apenas alguns quilômetros separassem Nina de suas parentes alemãs, uma guerra política acirrada as mantinha afastadas.
Em Quarenta outonos, Nina conta a história de sua família — vidas comuns atingidas por circunstâncias fora de seu controle. E também nos leva ao mundo tumultuoso da Alemanha Oriental sob o domínio comunista, revelando a realidade cruel que seus parentes enfrentavam e suas próprias experiências como oficial de inteligência, executando operações secretas atrás do Muro de Berlim que punham sua vida em risco.
Um olhar pessoal sobre uma era explosiva que dividiu uma cidade e uma nação, Quarenta outonos é uma história íntima e belamente escrita de coragem, resiliência e amor — de cinco mulheres que lutaram para preservar o que mais importa: a família.
"O livro de memórias épico de Willner atravessa três gerações, recontando a trágica separação e a coragem impressionante de uma família despedaçada. [...] Uma leitura emocionante e relevante tanto para historiadores quanto para leitores comuns." - Publishers Weekly
"Comovente e apaixonante, por vezes angustiante." - Kirkus Reviews
"Um livro que não se consegue parar de ler. [...] Uma história multigeracional que traz a Guerra Fria e a Cortina de Ferro à vida, de forma trágica e memorável." - Booklist
"Um relato excelente e intrigante do impacto da Guerra Fria sobre famílias e vidas em ambos os lados do Muro de Berlim." - Library Journal
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Quarenta outonos - Nina Willner
Tradução
Ryta Vinagre
1ª edição
fioRio de Janeiro-RJ / Campinas-SP, 2021
Verus Editora.Título original
Forty Autumns
ISBN 978-65-5924-049-4
Copyright © Nina Willner, 2016
Todos os direitos reservados.
Publicado mediante acordo com HarperCollins Publishers.
Direitos reservados em língua portuguesa, no Brasil, por Verus Editora. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora.
Verus Editora Ltda.
Rua Benedicto Aristides Ribeiro, 41, Jd. Santa Genebra II, Campinas/SP, 13084-753
Fone/Fax: (19) 3249-0001 | www.veruseditora.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
W712q
Willner, Nina, 1961-
Quarenta outonos [recurso eletrônico] / Nina Willner; tradução Ryta Vinagre. – 1. ed. – Campinas [SP]: Verus, 2021.
recurso digital
Tradução de: Forty autumns
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5924-049-4 (recurso eletrônico)
1. Willner, Nina, 1961-. 2. Willner, Nina, 1961- – Família. 3. Guerra Fria. 4. Alemanha (Oriental). 5. Berlim, Muro de (1961-1989). 6. Livros eletrônicos. I. Vinagre, Ryta. II. Título.
21-73445
CDD: 929.20943
CDU: 929.52(430)
Camila Donis Hartmann – Bibliotecária – CRB-7/6472
Revisado conforme o novo acordo ortográfico.
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Para
OMA
Agora e para sempre, pretendo me apegar à crença na força oculta do espírito humano.
— Andrei Sakharov, físico nuclear e dissidente russo
SUMÁRIO
Cronologia Familiar e Histórica
Prefácio
PARTE UM
1. A Rendição: Fim da Guerra (1945)
2. Desce uma Cortina de Ferro: Começa a Guerra Fria (1945-1946)
3. Se Quer Sair, Saia Logo
: Escapadas por um Triz e Fugas (1946-1948)
4. Escapada: Uma Mala Pequena e a Fuga Definitiva (11 de agosto de 1948)
PARTE DOIS
5. Dois Castelos: Fora do Turbilhão (1948-1949)
6. Uma Irmã Nasce no Leste: A Stasi Assume o Controle (1949-1952)
7. Queremos Ser Livres
: Uma Revolta dos Trabalhadores (1953)
8. A Visita: O Encontro das Irmãs (1954)
9. A Vida se Normaliza em um Estado Policial: Um Namoro (1955-1957)
10. O Casaco de Pele: Último Encontro (1958-1959)
PARTE TRÊS
11. Um Muro Manterá o Inimigo Lá Fora
: Um Muro para Manter o Povo Dentro (1960-1961)
12. O Muro da Família: A Crença de Oma e a Rebeldia de Opa (1962-1965)
13. Só os Membros do Partido Vencem: Temos um ao Outro
(1966-1969)
14. Uma Mensagem sem Palavras: O Amor Longínquo de Oma (1970-1974)
15. Dissidentes e Desordeiros: Opa Internado (1975-1977)
16. Brilha uma Luz: Nossas Almas São Livres
(1977)
17. Uma Surpresa da América: Inocência (1978-1980)
18. O Bangalô Paraíso: Refúgio e Consolo (1980-1982)
PARTE QUATRO
19. Missão: Berlim: Operações da Inteligência (1982-1984)
20. Cara a Cara com Honecker: Missão em Ludwigslust (1984-1985)
21. Além do Posto de Controle: Passagem (1985)
22. Imagine: A Estrada pela Frente (1986)
23. Derrube este Muro
: Os Ventos da Mudança (1987-1988)
24. Gorby, Nos Salve!
: Uma Nação Desmorona (1989)
25. O Mundo se Espanta: Schabowski Disse que Podemos!
ou: Cai o Muro (9 de novembro de 1989)
26. Amanhecer: A Partida do Leste (Outono de 1989)
27. Reencontro e Renascimento: Juntos Novamente (1990-2013)
Epílogo
Nota da Autora
Agradecimentos
Glossário
Bibliografia
Índice Remissivo
CRONOLOGIA FAMILIAR E HISTÓRICA
PREFÁCIO
O Muro [de Berlim] é […] uma ofensa não só contra a história, mas contra a humanidade, separando famílias, apartando maridos de esposas e irmãos de irmãs, e dividindo um povo que quer se unir.
— John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos
Eu tinha 5 anos quando soube que minha avó morava atrás de uma cortina. Estávamos em 1966. Era o Dia dos Avós no jardim de infância. Em um fluxo lento de crianças pequenas de mãos dadas com idosos, meus colegas de turma traziam os avós, idosos de jeito meigo com uma massa de cabelo branco sedoso ou grisalho, os rostos curtidos pelo tempo e marcados por rugas suaves, olhos cintilantes e sorrisos benevolentes.
Eu estava sentada a minha carteira, vendo-os entrar. Eles cumprimentaram o professor e, um após o outro, se encaminharam para a carteira ao lado de cada criança. Um de cada vez, meus amigos, empolgados, levaram os avós à frente da sala e os mostraram com orgulho, apresentando-os por nomes como Nana, Poppa, Mimi — que eram tão estranhos quanto inebriantes para mim — à medida que os avós permaneciam ali, com um sorriso radiante e amoroso para eles. Fiquei em transe com tudo aquilo. De súbito me senti sozinha e excluída. Olhei para eles, depois me virei para a cadeira vazia ao lado da minha carteira, o que me fez perguntar: onde estavam os meus avós?
Naquele dia, cheguei da escola querendo respostas. Saltei pela porta de entrada, encontrei minha mãe na cozinha e, sem nenhum cumprimento, exigi saber:
— Onde estão os meus avós?
Naquela noite, depois do jantar, meus pais me fizeram sentar e me contaram por que nunca conheci nenhum parente. Falando em um tom gentil, mas sério, meu pai, que era de origem germano-judaica, explicou que toda a família dele tinha morrido na guerra
. Em minha ingenuidade, não me deixei afetar e me virei para minha mãe, esperando ficar decepcionada também com ela, mas me deliciei ao saber que seus pais e outros familiares estavam vivos. Ela pegou uma fotografia da mãe e disse: Esta é sua Oma
.
Oma. Ela era perfeita. Era igualzinha às outras avós, só que melhor. Irradiava serenidade e calma, um sorriso cativante e sábio embelezava seu rosto. Embora na época eu não tenha conseguido pôr em palavras, fui atraída por sua elegância pastoril, a humildade, a sabedoria, a atitude confiante de Oma sentada confortavelmente em uma convidativa poltrona estofada de bolinhas, com o corpo meio virado, olhando para o lado.
Olhei fixamente a foto por um bom tempo, examinei-a da testa aos dedos dos pés, até virei a fotografia um pouco, assim parecia que ela sorria diretamente para mim. Apesar de eu agora saber que a foto era em preto e branco, talvez por um desejo subconsciente de trazê-la instantaneamente à vida, vi Oma em cores, olhos azul-claros por baixo das pálpebras pesadas e macias, e o que me pareceram faces rosadas e coradas. Oma tinha um coque simples, castanho como meu cabelo, e usava duas joias, um broche grande no formato de uma rosa, provavelmente de ouro, pensei, e um pequeno prendedor que enfeitava a base da gola V do antiquado vestido preto. Imaginei-me aninhada em seu colo roliço e confortável, apanhada em um abraço intenso e caloroso enquanto ela me olhava de cima, como os avós dos meus colegas de turma olharam os netos.
— Oma — falei em voz alta, encantada com o tom cantarolado de seu nome. Inteiramente satisfeita, voltei-me para minha mãe e perguntei: — Quando ela vem visitar a gente?
Infelizmente, disse minha mãe, de súbito perturbada ao se levantar para retornar à cozinha, Oma não podia nos visitar. Nem nós podíamos visitá-la. Ela estava em um lugar chamado Alemanha Oriental, com os demais familiares da minha mãe, suas irmãs, irmãos e todos os outros. Não entendi, então minha mãe parou, colocou-me em uma banqueta na cozinha, agachou-se para me olhar nos olhos e explicou.
Quando terminou, eu a encarei, inexpressiva. Embora agora eu entenda que ela deve ter usado a expressão Cortina de Ferro, a única parte da explicação que compreendi naquele momento foi que eles estavam em um lugar muito distante, presos atrás de uma cortina
. Mas aquilo não fez sentido para mim. Tentei entender por que minha mãe deixava que um simples pano de algodão, como o que eu tinha na janela do quarto, ou até pesadas cortinas, como as que ficavam em nossa sala de estar, se metessem entre ela e sua família. Alguém, pensei, precisa simplesmente puxar o tecido e soltar os coitados. Um dia, ela me garantiu, talvez pudéssemos nos encontrar com eles. Um dia… Pelo amor de Deus, pensei. É só uma cortina.
Voltei à escola no dia seguinte e contei à professora e aos colegas que eu também tinha avós, que minha Oma era linda e, além disso, eu até tinha pessoas chamadas tias, tios, primos e primas. Minha professora ficou encantada. Quando perguntou onde eles moravam, eu disse que era na Alemanha Oriental, atrás de uma cortina
. Só quando vi seu rosto alegre cair em uma expressão sombria e solidária percebi que a cortina talvez fosse maior do que eu imaginava.
Vários anos se passariam até eu descobrir que a Cortina de Ferro não era um simples tecido que pudesse ser puxado com facilidade por quem estivesse de qualquer lado dele, mas um símbolo de algo muito maior e mais sinistro que qualquer coisa que pudesse conceber a inocência infantil. Eu viria a saber que toda a família da minha mãe estava de fato presa na Alemanha Oriental e que minha mãe tinha fugido.
1985 | BERLIM ORIENTAL
No bolorento velódromo de Berlim Oriental, com o cronômetro na mão, o treinador soou o apito e a seleção nacional de ciclismo da Alemanha Oriental largou na pista. Pedalando as bicicletas de corrida de uma só marcha, elas se deslocavam com facilidade, acelerando à medida que percorriam os 250 metros da pista de pinho.
Em uma volta pelo oval numa cadência graciosa e moderada, elas deslizavam perfeitamente em uma formação compacta, as bicicletas a centímetros de distância, os pneus finos agarrando o acabamento laqueado e brilhante da pista.
Sincronizando técnica com velocidade, eles se colocaram em posição, em velocidade crescente nas retas, freando nas curvas. Depois, quando os treinadores pediam aos gritos melhor formação e mais esforço, as melhores ciclistas da Alemanha Oriental rompiam a formação compacta e arrancavam à toda.
Na volta seguinte, estavam em plena força, disputando o controle da pista, dando tudo de si, os pneus aparentemente desafiando a gravidade, presos às inclinações e à pista escorregadia pela força centrífuga. Elas dispararam para a reta, passando em um silvo pelos treinadores, que gritavam: "Weiter! Schneller!" (Mais rápido!), e as atletas reagiam, intensamente dedicadas a cada pedalada.
Pressionando, esticando-se e pedalando com a maior velocidade possível, elas disparavam em blocos enquanto respiravam pela boca. Ficando alguns centímetros para trás, depois avançando e levantando-se do selim, elas forçavam o ritmo, tentando controlar as bicicletas. Por fim, explodiam em uma última descarga de velocidade, até que os treinadores travavam os cronômetros e as atletas cruzavam, uma a uma, a linha de chegada.
A poucos quilômetros, acreditando que não tínhamos sido seguidos, nossa equipe de inteligência saiu da rodovia no Ford verde-oliva e tomou o caminho da floresta alemã oriental por uma estrada de terra cuidadosamente escolhida para esconder nossos movimentos, a fim de chegarmos despercebidos ao alvo. Entrávamos cada vez mais fundo na mata silenciosa, tentando evitar os buracos ao dirigirmos com cuidado pela estrada acidentada, correndo os olhos pela margem da floresta em busca de algum sinal de perigo.
E então, quando começávamos a entrar em posição, um único soldado soviético, de arma erguida, colocou-se bem no caminho do nosso carro. Outros soldados apareceram do nada, de imediato assumindo posições em torno do veículo, eliminando qualquer possibilidade de escapar.
Com os soldados agora bloqueando a estrada à frente e atrás, um oficial soviético foi até o lado do passageiro do carro, já engatilhando a pistola que empunhava.
O cano da pistola carregada bateu algumas vezes no vidro. Ele ordenou: "Atkroy okno" (Abra a janela).
Como não houve resposta, o cano da arma agora colado no vidro, ele vociferou: "Seychass!" (Agora!)
PARTE UM
1
A RENDIÇÃO
FIM DA GUERRA
(1945)
O amor materno desconhece limites.
— Autoria desconhecida
Nossa história começou quando uma guerra terminou e outra teve início.
No dia em que a Segunda Guerra Mundial acabou, minha avó, Oma, foi uma das primeiras no vilarejo a sair do porão subterrâneo para a paisagem desolada da Schwaneberg rural. Aos 40 anos, grávida do sétimo filho, ela abriu a pesada porta de madeira e subiu ao patamar seco e empoeirado, seguida pelos filhos, de olhos estreitos ao encontrar a luz do dia.
Outras mulheres e crianças do vilarejo saíram dos porões de suas casas, vagando e despertando para o que prometia ser um novo dia na Alemanha. Sem homens fisicamente capazes por perto para auxiliá-la, Oma pediu às crianças que a ajudassem a subir os colchões do porão, onde moraram nos últimos dois meses da guerra, e transferi-los para o espaço habitável acima, na ala da família na escola. Não haveria mais bombardeiros Aliados a caminho de seus alvos na cidade industrial próxima de Magdeburgo. A Alemanha tinha sido derrotada, a Europa fora libertada e os céus enfim estavam em silêncio.
Não demorou muito para que as mulheres do vilarejo se encontrassem por cima das cercas de madeira para especular quando maridos e filhos estariam de volta. Elas se perguntavam sobre o que esperar da Alemanha e, o mais importante para essas mulheres, o que estava reservado para seu vilarejo de cerca de novecentos habitantes.
Oma não viu serventia nenhuma em remoer preocupações e, em vez disso, preparou-se para recolocar a casa em ordem. Embora a escola estivesse fechada há meses, insistiu que as crianças voltassem aos estudos e retomassem os deveres, limpando a escola e as carteiras em preparação para um novo ano letivo. Com o estoque de comida quase todo esgotado e a terra sem cultivo, os canteiros de batatas, antes verdejantes, agora vazios e ressecados na terra dura e rachada, ela orientou as crianças mais novas a colher dente-de-leão e urtiga verde nas campinas e procurar quaisquer frutas que restassem nos arbustos silvestres, enquanto as mais velhas a ajudavam a preparar a terra para todo o plantio que deixaram de fazer naquela primavera.
Após várias semanas, quando a maioria dos homens ainda não tinha voltado, caiu uma mortalha sobre o vilarejo. Depois de apenas alguns homens retornarem, Oma começou a se perguntar quando o marido e o filho chegariam em casa, ou mesmo se um dia voltariam. Opa, meu avô, um professor e diretor de escola de 45 anos, e o filho mais velho deles, Roland, que ainda não tinha nem 18 anos, foram pressionados ao serviço militar nos dias de declínio da guerra, quando o Terceiro Reich ordenou que cada homem capaz que restasse, com mais de 15 anos, se juntasse à luta pela Alemanha até o fim.
Esperando seus homens retornarem da frente de batalha, as mulheres ficavam alarmadas com histórias que invadiam o vilarejo contando que os soviéticos, ao entrar em solo alemão, estupravam e matavam as mulheres alemãs. Espalhou-se rapidamente que Stálin estimulava abertamente o estupro e saques como espólio de guerra, uma recompensa aos soldados do Exército Vermelho pelos sacrifícios e as lutas que travaram contra o exército alemão, o Wehrmacht. Refugiados de passagem por Schwaneberg a caminho do Oeste confirmavam os relatos, narrando as próprias histórias horrendas de ataques selvagens ou de pessoas assassinadas depois de um estupro ou quando lutavam com os agressores. Uma família contou uma história terrível da filha adolescente que fora estuprada e baleada na cabeça em plena luz do dia.
Agora as mulheres por toda a Alemanha temiam pela própria vida. Em Schwaneberg, elas tinham esperança de que os homens voltassem para casa a tempo de protegê-las se os soviéticos entrassem no vilarejo. Oma ficou especialmente preocupada pela filha mais velha, uma linda morena de olhos grandes de 17 anos — minha mãe, Hanna.
Na primavera, unidades americanas, britânicas e soviéticas entravam nas cidades grandes e pequenas e nos vilarejos por toda a Alemanha para estabelecer o controle e a ordem. Oma, como a maioria das mulheres em Schwaneberg, acreditando na difamação de Hitler de que os russos eram bárbaros, rezou para que os americanos ou os britânicos tomassem o vilarejo. O comandante americano, o general Dwight D. Eisenhower, notaram alguns, tinha até nome alemão, o que reforçava a esperança de que os americanos fossem mais parecidos com eles do que os russos.
E então, numa tarde tranquila em meados de maio, a espera chegou ao fim.
Todos na casa e até nas residências vizinhas ouviram o pequeno Kai gritar do segundo andar. Com o corpo redondo de gestante que a deixava mais lenta, Oma subiu a escada da ala leste da escola enquanto os outros filhos, Manni, Klemens, Tiele e Hanna, passavam às pressas por ela. No patamar, ela encontrou o pequeno Kai cercado pelos irmãos e irmãs, apontando pela janelinha oval alguns caminhões ao longe. A família se amontoou na janela em silêncio, esperando ansiosamente ter um vislumbre de qual exército entrava ali. O pequeno comboio de três caminhões se aproximou lentamente e parou quando chegou ao limite do vilarejo. Oma observava, com os nervos em frangalhos, preparando-se para um sinal. Na janela, o major abriu um lenço branco. As mães do vilarejo se apressaram a seguir seu exemplo, todas elas, inclusive Oma, estendendo lençóis brancos nas janelas.
Os caminhões se aproximaram com cautela e, por fim, ficaram à plena vista. As crianças estavam petrificadas e Oma encarava incrédula, até que os meninos mais velhos romperam o silêncio com um grito de êxtase. O primeiro veículo, trazendo uma estrela branca, liderou lentamente o comboio ao passar pela Adolph-Hitler-Strasse e entrar na praça calçada de pedras. Mais adiante, o prefeito saiu de sua casa e rapidamente mancou pela rua para receber os americanos. Hanna olhou para Oma, que sorriu e assentiu para ela, dando-lhe permissão para pegar os irmãos e se juntarem rapidamente à reunião do lado de fora.
Os americanos pararam os caminhões. Do alto, jogaram chocolates Hershey’s e chicletes às crianças do vilarejo, que rapidamente foram desarmadas pelas expressões alegres e pela atitude animada dos soldados. Ao entregarem as guloseimas, os soldados falavam em um tom amistoso com palavras que pareciam felizes, mas nenhum dos moradores conseguia entender. Um soldado tirou o capacete e puxou Manni para o jipe, enquanto outros meninos pequenos olhavam com inveja. Do alto das janelas e pela rua, as mães do vilarejo observavam a cena, trocando acenos e erguendo as mãos aos céus em gratidão.
Nos dias que se seguiram, quase todos tinham se enamorado dos soldados americanos, seu jeito tranquilo e receptivo, o humor infantil e as palhaçadas joviais. Pela primeira vez em muitos meses, as mulheres sorriram, divertindo-se particularmente quando os soldados provocavam ataques de riso em seus filhos ao errar frases em alemão, dizendo coisas como "Oi, frowline. Itch leeba ditch", ou chamando todos de Schatzi, um termo afetuoso reservado aos pais ou aos apaixonados.
Nas semanas seguintes, os americanos estabeleceram a calma e o controle. Faziam muita troça, riam, tiravam fotos deles mesmos com crianças do vilarejo, até se reuniram para uma foto coletiva em frente à placa da Adolph-Hitler-Strasse, que um deles arrancou depois para levar como suvenir.
Embora a maioria tenha se encantado com a comunidade, alguns davam vazão à fúria contra os nazistas descontando nos moradores, saqueando e destruindo propriedades privadas. Oma um dia chegou em casa e descobriu que a tranca da mesa de Opa tinha sido arrombada, o conteúdo — um abridor de cartas de prata e uma caixa que era relíquia de família — roubado e uma suástica entalhada em sua grande cadeira de couro. No assento, como um cartão de visita, estava uma moeda americana. De modo geral, porém, as preocupações dos moradores começaram a diminuir, a maioria acreditando que, com os americanos, a vida melhoraria.
Mas o alívio não durou muito. Um dia, os americanos chocaram os moradores com o anúncio de que iriam partir.
— A Alemanha foi dividida em duas áreas de governo separadas — disse o primeiro-sargento. Americanos e britânicos assumiriam o comando da parte ocidental da Alemanha, e os soviéticos, o lado oriental. Olhando a multidão, ele disse simplesmente: — Schwaneberg ficará sob controle russo.
Os moradores ficaram perplexos. Foi como se a bomba que temeram durante a guerra finalmente tivesse explodido no vilarejo.
— Não há nada a temer — o sargento tentou tranquilizar a todos. — A guerra acabou e os russos virão não como tropas de combate, mas como uma força de ocupação pacífica.
A multidão ficou agitada. Alguém resmungou algo sobre fugir antes da chegada dos soviéticos. Hanna se virou para Oma e sugeriu que a família fizesse as malas e partisse, mas Oma desprezou a ideia. Fugir não era um plano racional nos primeiros dias depois de uma guerra para uma gestante com filhos pequenos, sem comida nem abrigo, sem a proteção dos homens, enfrentando o caos e a incerteza na estrada, com milhares de outros refugiados sumindo em lugares desconhecidos.
— E além de tudo — disse ela —, seria terrível se papai e Roland chegassem em casa e descobrissem que nós os abandonamos.
A atenção de Oma foi atraída de novo ao sargento, que concluía com um último anúncio.
— Se alguém tiver um motivo convincente para partir — disse ele —, estamos autorizados a levar alguns moradores conosco para o Ocidente. — Agora as mulheres se entreolharam. Algumas se remexeram, outras recuaram um passo, a maioria meneou a cabeça, sem querer considerar o rompimento de suas famílias. Voltaram a seus lares tentando se consolar sobre o que o futuro lhes reservava sob a ocupação soviética.
Aquela noite marcou uma das decisões mais difíceis que Oma teria de tomar. Em algum momento depois da meia-noite, ela foi ao quarto de Hanna e sentou em silêncio na beira da cama. Olhando a filha adormecida, examinou o rosto de Hanna e se recordou da infância da menina, fez um balanço da vida dela, a começar pela noite do nascimento.
Hanna chegou ao mundo em uma noite gelada e escura de inverno em Trabitz, um povoado mínimo à margem do rio Saale. Do lado de fora da escola naquela noite, os ventos traziam imensos flocos de neve que voavam loucamente a noite toda, dando a impressão de que nunca assentariam. Os telhados e as árvores tinham sido cobertos por um grosso manto branco de neve, e os cômodos no interior estavam frios como gelo. No sótão de ripas de madeira da escola de uma sala só, Oma, não muito mais velha do que a filha era agora, preparava-se para dar à luz sozinha. Opa, um professor em meados de seus 20 anos, tinha saído às pressas à procura do médico. O primogênito, Roland, dormia profundamente em um berço de madeira. E então, na quietude da noite, a bebê veio ao mundo, seu choro ecoando pelo cômodo vazio. Oma a limpou com o cobertor e viu que tinha dado à luz uma menina. Segurando a recém-nascida junto de si, ela a acalmou e a criança se acomodou tranquilamente nas dobras macias de seu corpo exausto.
Quando garotinha, Hanna queria crescer rapidamente. Enquanto Roland floresceu em uma criança ideal, a precoce irmã mais nova passava por dificuldades. Roland era o sonho de qualquer pai ou mãe: obediente, inteligente, um líder nato. Hanna, porém, a pequena espoleta de cabelos