A Algaroba No Rio Grande Do Norte
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A Algaroba No Rio Grande Do Norte - João Paulo Silva Dos Santos
João Paulo Silva dos Santos
A algaroba no Rio Grande
do Norte
Histórico, usos e potencialidades
dos recursos da árvore
João Paulo Silva dos Santos
A algaroba no Rio Grande
do Norte
Histórico, usos e potencialidades
dos recursos da árvore
Mossoró/RN
2015
(Edição do autor)
Copyright do Autor, 2015
ISBN 978-85-914213-1-2
Projeto Gráfico / Diagramação / Capa
João Paulo Silva dos Santos
1ª Edição
FICHA CATALOGRÁFICA
S237a
Santos, João Paulo Silva dos
A algaroba no Rio Grande do Norte: histórico, usos e
potencialidades dos recursos da árvore / João Paulo Silva dos
Santos – Mossoró: Edição do autor, 2015.
133 p.
ISBN 978-85-914213-1-2
1. Rio Grande do Norte. 2. Algaroba. 3. Semiárido. I. Título.
CDD 633.39
Contato: joaozxz@yahoo.com.br
Dedico esse livro aos meus familiares, José Ferreira, Maria Salete, Edy
Moura, José Edilson, a minha esposa Alexsandra Ferreira Gomes, seus
pais e irmão nas figuras de Júlio Gomes, Antônia Ferreira e Júlio Cesar.
Além destes, dedico a obra ao meu orientador acadêmico Marco
Antonio Diodato.
Não se aprende bem a não ser pela experiência.
Francis Bacon
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 9
CAPÍTULO I: CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESPÉCIE ...................... 14
CARACTERÍSTICAS GERAIS ........................................................................ 15
A ALGAROBA COMO ÁRVORE DE MÚLTIPLO USO ...................................... 17
NECESSIDADES AMBIENTAIS DA ALGAROBA ........................................... 18
RELAÇÃO DA ESPÉCIE COM O MEIO AMBIENTE ......................................... 20
SUSCETIBILIDADE A PRAGAS ..................................................................... 23
FENÔMENO DE INVASÃO BIOLÓGICA DA ESPÉCIE NA CAATINGA .............. 24
USO TRADICIONAL DOS RECURSOS DO GÊNERO ....................................... 32
CAPÍTULO II: HISTÓRICO DA INSERÇÃO DA ALGAROBA NO
NORDESTE E NO RIO GRANDE DO NORTE .................................... 33
INTRODUÇÃO NO SEMIÁRIDO NORDESTINO ............................................. 34
INTRODUÇÃO DA ALGAROBA NO RIO GRANDE DO NORTE ................... 40
CAPÍTULO III: USOS DOS RECURSOS DA ESPÉCIE NO
SEMIÁRIDO POTIGUAR ........................................................................ 53
MÉTODOS DE COLETA DE DADOS DA SEÇÃO ............................................ 54
APROVEITAMENTO SOCIOECONÔMICO DOS RECURSOS DA ALGAROBA ... 60
NÍVEL DE CONHECIMENTO DA POPULAÇÃO RURAL SOBRE A ESPÉCIE ...... 73
CAPÍTULO
IV:
PROPOSTAS
PARA
APROVEITAMENTO
SOCIOECONÔMICO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS DA
ALGAROBA NO RIO GRANDE DO NORTE E MANEJO DA
ESPÉCIE NO SEMIÁRIDO POTIGUAR ............................................... 84
A VAGEM NA ALIMENTAÇÃO HUMANA .................................................... 85
VAGENS E RAMAS NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL ......................................... 91
PRODUÇÃO DE BEBIDAS ........................................................................... 96
USO DA MADEIRA .................................................................................. 101
GERAÇÃO DE ENERGIA ........................................................................... 102
MATÉRIA PRIMA PARA SETORES DA INDÚSTRIA ..................................... 104
APOIO E DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO MELÍFERA ........................ 106
APROVEITAMENTO DE SOLOS SALINIZADOS OU DEGRADADOS ............. 107
MANEJO DA ESPÉCIE NO SEMIÁRIDO POTIGUAR ..................................... 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................... 114
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 118
Apresentação
A história da área semiárida nordestina brasileira,
desde período colonial até os dias atuais, é marcada e
conhecida por flagelos sociais e dificuldades econômicas,
que estão sempre associados aos baixos índices
pluviométricos da região e aos frequentes períodos de
estiagem que a população que reside nessa área enfrenta,
mas não somente isso. As problemáticas sociais,
econômicas e ambientais da região, como o os altos índices
de analfabetismo, os baixos índices de desenvolvimento
humano (IDH), a concentração de atividades industriais em
poucas áreas, as técnicas agrícolas atrasadas, a escassez
de recursos hídricos e a crescente agressão ao bioma
caatinga, discutidas através das décadas, também envolve
os meios e fins das ações políticas voltadas para a
elucidação dos problemas regionais. Dessa forma, várias
técnicas e abordagens sobre o aproveitamento dos recursos
naturais e das condições do ambiente semiárido foram
disseminadas como apropriadas para uma convivência com
o sistema ambiental típico da região.
Nesse contexto, na década de 1940, a espécie
Prosopis juliflora (Sw). D.C. foi implantada em localidades
do Nordeste como uma alternativa para aumentar a
disponibilidade de recursos naturais das áreas semiáridas,
principalmente para alimentar animais e também para ser
uma alternativa de reflorestamento em áreas desmatadas
do bioma caatinga. Ela foi selecionada para essa tarefa já
que em ambientes nativos, apresentava-se resistente a
prolongados períodos de estiagem e com um crescimento
rápido. Além disso, a árvore produzia frutos que serviam
como forragem animal e para a produção de alimento
humano. O aproveitamento da madeira da espécie, na
[A algaroba no Rio Grande do Norte], por [João Paulo Silva dos Santos]
forma de lenha e carvão, também era realizado nos locais
naturais da árvore (SILVA, 1989).
Atualmente, após a dispersão do gênero Prosopis por
vários continentes, países aproveitam socioeconomicamente
os seus recursos. No Sudão, Argélia, Índia e Paquistão ela é
uma das principais fontes de energia para a população.
Nesses locais a algaroba da suporte a produção melífera
por meio das suas flores e as suas vagens são aproveitadas
como alimento humano.
Nos Estado Unidos e na Austrália, a árvore é um
importante fator envolvido na produção de mel de abelha e
a sua madeira é utilizada para fabricação de móveis
(FRANCO, 2008). Na América do sul, na região do Chaco, a
espécie é um recurso natural precioso. As populações,
dessa área, utilizam as vagens para a fabricação de bebidas
e alimentos tradicionais como a Aloja, forte preparado
alcoólico, e o Patay que é um produto similar ao pão,
produzido somente com farinha da vagem da algaroba e
água (GIL, 2001).
No Brasil, Prosopis juliflora (Sw). D.C. foi introduzida
em 1942, no Estado de Pernambuco. As sementes
utilizadas eram procedentes de Piura, no Peru. No Rio
Grande do Norte a espécie foi inserida, primeiramente, no
município de Angicos, por meio da utilização de sementes
oriundas do Peru e do Sudão (AZEVEDO, 1955 apud
NASCIMENTO, 2008).
Após essas introduções, com um incentivo do
Ministério da Agricultura, houve uma dispersão da
algaroba para os Estados do Piauí, Ceará e Paraíba a partir
de 1951 por meio do fornecimento de sementes e mudas
para produtores, prefeitos e técnicos. Entre 1979 e 1984
instituições, como a Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste (SUDENE), o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e as
Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural dos
Estados (EMATER's), promoveram campanhas para
incentivar os plantios de algarobas no Nordeste. Estima-se
[ 10 ]
[A algaroba no Rio Grande do Norte], por [João Paulo Silva dos Santos]
que foram implantados cerca de 90 mil hectares de Prosopis
juliflora (Sw). D.C., com maiores proporções de plantio nos
Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco
(REIS, 1985). Estima-se que a área ocupada pela espécie já
está próximo a um milhão de hectares, sendo que não
existem levantamentos que tenham mensurado a real
dimensão de sua ocupação (OLIVEIRA, 2006).
Franco (2008) discorre que os responsáveis pela
introdução da espécie na região semiárida brasileira
acreditavam que a espécie poderia ser uma alternativa
viável para o Nordeste já que as condições da região se
assemelhavam, em características climáticas, ao habitat
nativo da espécie. Contudo, aproximadamente trinta anos
depois da sua inserção, criou-se uma polêmica em torno da
algaroba devido à existência de fatores negativos
relacionadas à espécie.
Dessa forma, a árvore que havia sido introduzida
para ser de grande valia socioeconômica para a porção
semiárida do Nordeste passou a ser esquecida pelos órgãos
governamentais envolvidos em politicas de desenvolvimento
do semiárido. Com o passar do tempo a algaroba encontrou
condições propícias, nas áreas antropizadas em margens de
corpos d´água da caatinga, para se propagar sem nenhum
controle. Diante desse fenômeno, foram identificados casos
de invasão biológica da algaroba no bioma caatinga e a sua
proliferação passou a ser considerada uma ameaça, em
potencial, à existência de espécies nativas da região
(FRANCO, 2008).
Além disso, surgiram outros problemas. No final de
década de 1980, do século passado, criou-se o mito, em
algumas regiões do Nordeste, de que ela seria uma erva
daninha ou uma praga (FRANCO, 2008). Nesse contexto, a
árvore foi associada a danos irreversíveis ao meio ambiente
como secar o solo e mananciais de água. Foram associadas
às vagens, as causas de algumas doenças nos rebanhos
bovinos e caprinos, principalmente o mal da cara torta
(enfermidade que causa um desvio lateral no movimento da
cabeça que o animal realiza para manter o alimento na
[ 11 ]
[A algaroba no Rio Grande do Norte], por [João Paulo Silva dos Santos]
boca durante a mastigação devido a uma disfunção de
nervos cranianos) e a língua-de-pau
ou actinobacilosa (a
bactéria Actinobacillus lignieresii altera a forma lingual do
animal, tornando-a hipertrofiada e dura, sendo comumente
visível quando há lesão na mucosa da boca devido a
traumatismos por alimentos fibrosos ou grosseiros). A
partir de então, pequenos agricultores iniciaram um
processo de eliminação da espécie por acreditarem que ela
seria maléfica as suas propriedades (GOMES; BARBOSA,
2008). Na caatinga, a espécie vem se alastrando,
principalmente, em áreas de baixios
nos Estados do Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Piauí,
formando grandes concentrações de indivíduos (REIS,
1985). Isto mostra que Prosopis juliflora (Sw). D.C.
encontra-se extremamente confortável e estabilizada na
região semiárida Nordestina (LIMA; LIMA; LIMA, 2002).
Considerando essa condição é encontrado em alguns
estudos, (SILVA, 1997; LIMA; LIMA; LIMA, 2002; PEGADO
et al., 2006; OLIVEIRA, 2006; VILAR, 2006) afirmações de
que se não for realizado um manejo adequado da algaroba
que objetive a contenção de sua proliferação e o
aproveitamento de suas potencialidades, a árvore pode
comprometer a sobrevivência de espécies nativas da
caatinga (FRANCO, 2008).
A discussão sobre benefícios e malefícios da Prosopis
juliflora (Sw). D.C., no Nordeste, é ampla e envolve várias
áreas da ciência. Nesse sentido, o estudo sobre ela é
justificável já que, atualmente, é uma árvore que pode ser
encontrada em facilmente na região (FRANCO, 2008).
Mas, apesar de toda a polêmica em torno da espécie
é visível que a algaroba oferece recursos que podem ser
aproveitados para