Lições de Português pela Análise Sintática
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Sobre este e-book
As Lições de português pela análise sintática, do professor Evanildo Bechara, não se destinam apenas aos limites da sala de aula, mas serão excelente material de consulta e reflexão a todos quantos desejam, com segurança e competência, conhecer os segredos e recursos expressivos da sintaxe e da estilística da língua portuguesa contemporânea. Uma rica seleção de exercícios resolvidos, partindo dos fatos idiomáticos mais simples para os mais complexos, permite ao leitor a constante revisão e fixação das informações expostas na parte teórica.
Com inúmeras reimpressões, esta obra, indispensável para a formação dos professores, e que há décadas os acompanha em sala de aula, foi revista e em alguns pontos atualizada pelo autor nesta nova edição.
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Lições de Português pela Análise Sintática - Evanildo Bechara
Copyright © 2006 by Evanildo Bechara
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Centro – 20040-004
Rio de Janeiro – RJ – Brasil
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
B391l
Bechara, Evanildo
Lições de português pela análise sintática / Evanildo Bechara. – 22.ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2023.
Formato: epub com 6.262KB
ISBN: 978-85-2094-080-8
1. Língua portuguesa. I. Título.
CDD: 469.09
CDU: 811.134
André Queiroz – CRB-4/2242
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À minha esposa
e
aos meus filhos Evanildo, Enildo e Evaldo
Todas as questões relativas à estrutura da frase são da maior importância teórica e prática: teórica, porque aí reside uma das partes integrantes de toda a ciência; prática, porque não há reflexão, não há regra, não há ensino referente ao emprego da língua a serviço do pensamento que não apele para as noções gerais desta natureza.
A. Sechehaye, Essai sur la structure logique de la phrase. Paris, 1926.
Sumário
Apresentação
Vale a pena pensar
Prefácio da 18.ª edição
Diferenças de conceitos e nomenclatura entre estas Lições de Português e as obras MGP e GELP
Prefácio da 11.ª edição
Prefácio da 10.ª edição
Prefácio da 2.ª edição
Prefácio da 1.ª edição
Lição I
Sintaxe
Que é oração
Entoação oracional
A importância da situação e do contexto
Constituição das orações
Estruturação sintática: objeto da SINTAXE
A oração na língua falada e na língua escrita
SINTAXE e ESTILO: necessidade sintática e possibilidade estilística
Tipos de oração
Lição II
Termos essenciais da oração
Sujeito e predicado
Omissão do verbo
A vírgula indicativa da omissão do verbo
Posição do sujeito e do predicado
A vírgula e a inversão dos termos da oração
Lição III
Tipos de predicado
Predicado verbal
Predicado nominal
Predicado verbonominal
Verbos de ligação
Lição IV
Sujeito indeterminado e orações sem sujeito
Sujeito indeterminado
Orações sem sujeito
Os principais verbos impessoais
Os verbos impessoais sempre aparecem na forma de 3.ª pessoa do singular
HAVER no singular e EXISTIR no plural
Erro no emprego do verbo TER pelo HAVER
Lição V
Núcleo
Que é núcleo
O núcleo do sujeito é sempre um substantivo ou pronome
Sujeito simples e sujeito composto
A vírgula e o sujeito composto
Ideia de concordância do verbo com o sujeito: princípios gerais
Outros casos de concordância
Lição VI
Complemento
Que é complemento
Complementos nominais e verbais
Os tipos de complementos verbais
Tipos de objeto direto e indireto
A preposição como posvérbio
Objeto direto preposicionado
Concorrência de complementos diferentes
A classificação do verbo depende da frase
Predicativo do objeto
O pronome O como objeto direto e LHE como indireto
O pronome ELE como objeto direto
A preposição e o pronome pessoal oblíquo
Os outros pronomes pessoais com função objetiva
Alterações fonéticas das formas pronominais O, A, OS, AS
Combinações de pronomes átonos
Pleonasmo no emprego de pronomes objetivos
Emprego da vírgula com objetos pleonásticos
Verbos a cuja regência se há de atender na língua-padrão
Elipse do complemento
Objeto direto interno
Complementos de termos de regências diferentes
A preposição com as palavras exceptivas
Complementos comuns a mais de um verbo
Expressões que alternam sua preposição
Lição VII
Adjunto
Que é adjunto
Exercem função de adjunto adnominal
A vírgula no adjunto adnominal
Adjunto adnominal comum a mais de um núcleo
Inversão nos adjuntos adnominais
Antecipação do adjunto adnominal
Adjuntos adnominais e objetos indiretos de posse ou dativos livres de posse
Adjuntos adverbiais
Advérbios interrogativos
Advérbios de base nominal e pronominal
Pontos de contato entre o advérbio e o adjetivo
Princípios de concordância nominal
A concordância com UM E OUTRO, NEM UM NEM OUTRO, UM OU OUTRO
A concordância com MESMO, PRÓPRIO, SÓ
A concordância do adjetivo LESO
A concordância de ANEXO, INCLUSO e APENSO
DADO e VISTO
TAL e QUAL
PSEUDO e TODO
A expressão A OLHOS VISTOS
A expressão HAJA VISTA
É PRECISO MUITA PACIÊNCIA
UM POUCO DE/UMA POUCA DE + SUBSTANTIVO
A VIDA NADA TEM DE TRÁGICA
Concordância do verbo com o sujeito seguido de adjunto adverbial de companhia
Advérbio de oração
Omissão de preposição em adjuntos adverbiais
Acúmulo de preposições no adjunto adverbial
Preposição redundante nos adjuntos adverbiais
Adjuntos adverbiais expressos por pronomes átonos
Verbos que se constroem com objeto direto ou adjunto adverbial
Repetição de advérbios em –mente
Lição VIII
Sujeito
Sujeito como agente da ação verbal
Sujeito como paciente da ação verbal: passividade
O agente da passiva
Sujeito como agente e paciente
Vozes verbais: ativa, passiva e medial
Mais de um sentido em certas construções
Só os verbos transitivos diretos admitem voz passiva
Transformação da voz ativa em passiva e vice-versa
Evolução da conjugação reflexiva
Diferença entre voz passiva e predicativo
O pronome reflexivo SI
Lição IX
Aposto
Que é aposto
Tipos de aposto
Aposto em referência a uma oração inteira
Aposto circunstancial
Aposto especificativo
Pontuação no aposto
Casos de concordância
Lição X
Expressões exclamativas
As exclamações
As interjeições
O vocativo
Um caso de concordância: VIVAM OS CAMPEÕES!
Lição XI
Período
Período composto
Orações independentes e dependentes
As orações quanto à ligação: conectivas e justapostas
Tipos de orações independentes
Conjunções coordenativas
Tipos de orações dependentes
Funções sintáticas da oração subordinada substantiva
Subordinadas substantivas conectivas e justapostas
Características da oração subjetiva e predicativa
Omissão da conjunção integrante
Pleonasmos da conjunção integrante
Subordinada substantiva justaposta
Subordinada adjetiva: seus tipos
Subordinada adjetiva justaposta
Funções sintáticas do conectivo das orações adjetivas
Emprego de relativos
Posição do relativo
Pronome relativo sem função na oração em que se encontra
O QUE, A QUE, OS QUE, AS QUE
O DE que mais gosto É DE
Emprego de À em À QUE, ÀS QUE
Relativo universal
Concordância com os relativos QUE e QUEM
Observações finais
Tipos de oração subordinada adverbial
Análise de SEM QUE
QUE depois de advérbio ou conjunção
Orações subordinadas adverbiais justapostas
Uso da vírgula na oração subordinada adverbial
Composição do período
Decorrência de subordinadas
Concorrência de subordinadas: oração equipolente
Concorrência de termo + oração
Lição XII
Orações reduzidas
Que é oração reduzida
Orações reduzidas coordenadas
O desdobramento das orações reduzidas
Orações substantivas reduzidas
Orações adjetivas reduzidas
Orações adverbiais reduzidas
Orações reduzidas fixas
Quando o infinitivo não constitui oração reduzida
Quando o gerúndio e o particípio não constituem oração reduzida
Um tipo especial de substantivas reduzidas: DEIXEI-OS FUGIR
LHE por O como sujeito de infinitivo
A omissão do pronome átono em EU OS VI AFASTAR DAQUI em vez de AFASTAR-SE DAQUI
A construção PEDIR PARA
A construção DIZER PARA
A construção PARA EU FAZER
A posição do sujeito nas orações reduzidas
A construção É DA GENTE RIR
Reduzidas decorrentes e concorrentes
A locução verbal: tipos de verbos auxiliares
A concordância na locução verbal
Emprego do infinitivo flexionado e sem flexão na locução verbal
O emprego do infinitivo com os verbos causativos e sensitivos
O emprego do infinitivo fora da locução verbal
A colocação dos pronomes átonos (ME, TE, SE, NOS, VOS, O, A, OS, AS, LHE, LHES)
Algumas inversões do pronome átono em escritores portugueses
Fenômenos de sintaxe que mais interessam à análise sintática
Elipse
Pleonasmo
Anacoluto
Antecipação (Prolepse)
Braquilogia
Haplologia sintática
Contaminação sintática
Expressão expletiva ou de realce
Modelos de análise
Augusto Epifânio da Silva Dias
José Oiticica
Exercícios elementares
Exercícios adiantados
Exercícios elementares resolvidos
Exercícios adiantados resolvidos
Bibliografia
Índice remissivo
Apresentação
Todos os bons mestres das ciências da linguagem e da pedagogia sempre insistiram em que a análise sintática é um meio e não um fim, mediante a qual os alunos devem compreender como as palavras se relacionam entre si na construção das frases, e as frases na construção do discurso.
Esta boa lição sempre foi repetida, mas nunca apareceu como objeto de estudo em manuais destinados à orientação dos professores para que servissem de proveito a seus alunos. Nos manuais só se viam rótulos aplicados a funções sintáticas e aos fatos da língua que estavam sob a pele de tais rótulos.
As Lições de Português pela Análise Sintática elaboradas pelo professor Evanildo Bechara foi o primeiro manual a tratar a análise sintática na perspectiva de ser um meio e por ela o professor ultrapassar o simples rótulo classificatório das funções sintáticas para oferecer aos alunos não só as relações que entretêm as palavras na contextura frasal, mas ainda os demais fatos sintáticos decorrentes dessas mesmas relações. Assim, a noção de sujeito e predicado, por exemplo, não termina só na rotulação, mas, partindo desta noção, o aluno, guiado e orientado pelo professor, ultrapassa o rótulo classificatório, para compreender melhor os fatos morfológicos (classes gramaticais que representam as várias funções sintáticas), sintáticos (como a concordância, a regência, a ordem das palavras na frase e as ideias de expressividade conseguidas pela posição dos termos da oração e pelos pleonasmos vernáculos), a pontuação e outros recursos discursivos.
Que a novidade foi bem-recebida pelos professores (haja vista os resultados positivos entre os alunos) servem de incontestável prova as sucessivas edições e reimpressões que as Lições de Português pela Análise Sintática alcançaram desde a sua 1.ª edição em 1960 até nossos dias.
Vale a pena pensar
Há duas maneiras de aprender qualquer coisa: uma, leve, suave, com informações corretas mas superficiais, que, pela incompletude da lição não indo aos assuntos a ela correlatos, acaba sendo insuficiente para permitir a fixação da aprendizagem. É um método que pode agradar, e até divertir o leitor menos exigente; mas não lhe garante o sucesso do conhecimento.
A segunda maneira é aquela que procura dar um passo à frente da resposta breve e imediata: estabelece relações entre a dúvida apresentada e outros assuntos afins, de modo que, aprofundando um pouco mais a lição, amplia o conhecimento e garante sua permanência, porque não se contenta em ficar na superfície dos problemas e das dúvidas.
Falamos em superfície, e a palavra nos sugere agora uma comparação entre as duas maneiras de aprender de que vimos tratando. A primeira ensina a pessoa, no mar de dúvidas, a manter-se à superfície; não afunda, mas não sai do lugar. A segunda, além de permitir à pessoa permanecer à superfície, ensina-lhe dar braçadas, ir mais além. Assim, pela primeira maneira, a pessoa boia; pela segunda, nadando, avança e chega a seu destino.
Estas Lições de Português pela Análise Sintática adotam a segunda maneira de ensinar por acreditar que é mais útil a quem quer aprender.
Por tudo isto, este volume constitui leitura útil e indispensável aos que se servem da análise sintática como um meio para transformar um conhecimento intuitivo no indispensável conhecimento reflexivo e criativo da língua.
Evanildo Bechara
Prefácio da 18.ª edição
Saída em 1960, a presente obra passou por sucessivos melhoramentos nas edições subsequentes até a 15.ª, graças a estudos pessoais e à experiência de sala de aula, bem como às sugestões de colegas de magistério e ao apoio dos três editores anteriores: Fundo de Cultura, Grifo Edições e Padrão Livraria Editora.
Em todas as edições, a obra esteve presa, na medida do possível, às recomendações da Nomenclatura Gramatical Brasileira.
Passados tantos anos, os estudos de sintaxe, tanto geral quanto de língua portuguesa, têm-se beneficiado de alguns progressos que procuramos introduzir nas recentes revisões da nossa Moderna Gramática Portuguesa (MGP), a partir da 37.ª de 1999, e da Gramática Escolar da Língua Portuguesa (GELP), a partir de 2001, ambas da Editora Lucerna, progressos que gostaríamos de inserir nestas Lições. Todavia, como se trata de uma obra cuja filiação à NGB procuramos respeitar, optamos por apresentar a seguir uma relação, resumida quanto possível, de pontos em que elas diferem da doutrina e da nomenclatura da MGP e da GELP.
Outra novidade desta edição é a correção de todos os exercícios, mediante os quais procuramos também apresentar aos colegas e, principalmente, aos alunos alguns comentários que julgamos úteis à atividade da análise sintática e ao seu estudo.
Se estes melhoramentos continuarem a merecer a simpatia dos colegas e promoverem o aproveitamento de alunos e estudiosos da sintaxe portuguesa, dar-nos-emos por bem-pago.
Rio de Janeiro, 9 de abril de 2006
Evanildo Bechara
Diferenças de conceitos e nomenclatura entre estas Lições de Português e as obras Moderna Gramática Portuguesa e Gramática Escolar da Língua Portuguesa
1 – Predicado e sujeito
A tradição tem posto o sujeito como núcleo da oração. Mais recentemente considera-se o predicado como centro da função predicativa, donde partem, graças aos conteúdos léxicos implicados, todos os outros termos, inclusive o sujeito. Como consequência deste novo modelo de descrição, não se adotará a divisão do predicado em verbal, nominal e verbonominal, já que não se atribui ao nome a posição central no chamado predicado nominal, mesmo porque um advérbio pode exercer a função de predicativo. Também segundo este novo modelo, o predicativo, como complemento verbal, está no mesmo nível sintático do objeto direto, por exemplo.
2 – Complementos verbais
A NGB divide os complementos verbais em diretos e indiretos. O complemento indireto tem-se mostrado de difícil conceituação, já que a consideração como complemento preposicionado acaba abarcando termos de comportamentos sintáticos diferentes, como nos exemplos: Dei um livro à Belinha. Gostamos de Belinha. Fui à casa de Belinha. Por outro lado, há o caso dos dativos livres que quase sempre não se prestam à caracterização de complementos verbais
, como em casos de: Para mim, ele está doente. Não me mexam nesses papéis, etc.
3 – Complemento nominal e adjunto adnominal
Considerado o complemento nominal uma expansão do nome, à semelhança do adjunto adnominal, autores modernos preferem colocá-lo no grupo adjetival, transposto de substantivo para adjetivo, mediante o concurso da preposição e, assim, não fazer a distinção entre adjunto adnominal e complemento nominal. Daí a preferência de classificação da oração subordinada completiva (O desejo de que venças... Estou desejoso de que venças, etc.) como adjetiva e não entre as substantivas. Primitiva substantiva que, mediante a preposição, é transposta a adjetiva, analogamente a homem de coragem, café com leite, etc. A mesma transposição ocorre com a primitiva oração substantiva que, pelo concurso da preposição, passa a adverbial de agente da passiva, em exemplos do tipo O livro foi escrito por quem não esperávamos. (Veja-se aqui o item 9.)
4 – Artigo o x pronome o
Outra análise diferente ocorre com a construção do tipo: Não sei o que possa fazer. Ela vê o que eu não vejo, em que a tradição tem considerado o, a, os, as (= aquilo / aquele / isso, aquela, aqueles, aquelas) como pronome demonstrativo seguido de um pronome relativo que transpõe a oração a adjetivo, com a seguinte análise: Não sei o que possa fazer
1.ª oração: não sei o (= isto, aquilo)
2.ª oração: que possa fazer: subordinada adjetiva
Autores há que veem na construção uma substantivação, mediante os artigos o, a, os, as, da primitiva oração adjetiva introduzida pelo pronome relativo que. Assim, a análise passaria a:
1.ª oração: não sei
2.ª oração: o que possa fazer: subordinada substantiva objetiva direta
O aparecimento de o, a, os, as resulta da primitiva construção O menino que, A menina que, Os meninos que, As meninas que, com posterior apagamento dos substantivos: O que / A que / Os que / As que, analogamente ao que ocorre com O homem inteligente, A mulher inteligente, Os homens inteligentes, As mulheres inteligentes, que se simplificam em O inteligente, A inteligente, Os inteligentes, As inteligentes, em que o, a, os, as sempre foram classificados como artigo.
5 – Construções com infinitivo
Em construções infinitivas do tipo: Vejo crescer as árvores, em que tradicionalmente se analisa as árvores como sujeito de crescer (= Vejo que as árvores crescem), há a possibilidade de se considerar as árvores como objeto de vejo (= Vejo-as crescer), análise que vê crescer como predicativo do objeto direto as árvores, analogamente a construções do tipo Vejo as árvores caídas / Vejo-as caídas, em que caídas é predicativo de árvores. Talvez porque árvores não seja sujeito de crescer, mas o objeto direto de vejo, é que o infinitivo normalmente não se flexione nestes casos. Esta lição está no excelente sintaticista espanhol Alarcos Llorach. Esta análise já era a do velho gramático inglês Mason adotada por Eduardo Carlos Pereira (Gramática Expositiva, § 517, 3, obs.).
6 – Orações intercaladas
Nas chamadas orações justapostas interferentes ou intercaladas (de citação, de opinião, etc.), há a tendência, cada vez mais generalizada, de entendê-las como um período à parte, que se justapõe a outro período, com análise própria, independente daquele período em que se inserem.
7 – Grupos oracionais (período composto) e oração complexa
Há modernamente a orientação de distinguir a coordenação como resultante de junção
de orações (só as conjunções coordenativas as ligam
), da subordinação como resultante da degradação
de uma oração independente à condição de um termo oracional. Assim, as chamadas conjunções
integrantes e o pronome relativo não passam de transpositores. Desta forma, na coordenação teremos grupos oracionais ou períodos compostos, enquanto na subordinação teremos orações ou períodos complexos.
8 – Conjunções coordenativas
Vai-se hoje retornando à lição já antiga de se considerarem apenas três tipos de conjunções coordenativas: as aditivas, as adversativas e as alternativas. As outras estariam representadas por advérbios que estabelecem relações de conclusão (logo, pois, portanto, por isso, etc.), explicação (pois, porquanto), continuação (ora, demais, outrossim, etc.), concessão (não obstante, embora, contudo, entretanto, etc.), e que mais pertencem à esfera dos marcadores textuais. Não havendo a presença de conjunção, orações começadas por esses advérbios serão consideradas assindéticas.
9 – Classificação de orações subordinadas e os constituintes imediatos
Como vimos no item 3, numa análise sintática há de se acompanhar cada fase por que se apresenta a unidade (termo ou oração) no discurso. Assim, já se leva em conta que a oração adjetiva (de quem falas), com antecedente claro em Conheço a pessoa de quem falas, se tem apagado esse antecedente, passa a funcionar como subordinada substantiva, na função de objeto indireto em Escrevo a quem me pedia notícias, função normalmente expressa por substantivo ou pronome. O fato gramatical é idêntico ao que ocorre com brasileiro, que é um adjetivo em o povo brasileiro, mas que passa a substantivo quando se cala o substantivo povo: o brasileiro. Portanto, é artificial o desdobramento do quem do último exemplo a quem me pedia notícias em aquele que, a pessoa que, para garantir a originária classificação como adjetiva. Não se procede assim (aliás, corretamente) quando da passagem de o povo brasileiro → o brasileiro, na análise tradicional.
Também a oração adjetiva transposta a substantiva do nosso exemplo (quem me pedia notícias) pode exercer outra função, se contar com o concurso de uma preposição, como, por exemplo, a de oração subordinada adverbial de agente da passiva em: A carta foi escrita por quem me pedia notícias. Classificar a nova oração transposta como substantiva, em vez de adverbial, é o mesmo que classificar como substantivos os adjuntos adverbiais de O ladrão foi preso pelo policial e Ele trabalha na cidade. A função adverbial está expressa pelos sintagmas pelo policial e na cidade, e não apenas pelos substantivos policial e cidade. (Ver também Moderna Gramática Portuguesa, 39.ª ed., págs. 491 e ss.; Gramática Escolar da Língua Portuguesa, 3.ª ed., págs. 380 e ss.)
Prefácio da 11.ª edição
Graças ao favor do público benévolo, logo se esgotou a 10.ª edição deste livro. Ao fazer agora algumas correções, desejo expressar aqui minha gratidão ao distinto colega Prof. Arnaldo Belluci que, em longa e erudita carta, me ajudou a corrigir alguns erros e imperfeições que maculavam as edições anteriores.
Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 1977
Evanildo Bechara
Prefácio da 10.ª edição
Ao entregar ao público estudioso de língua portuguesa esta nova edição, aproveito a oportunidade que a GRIFO EDIÇÕES me proporciona para melhorar o livro em alguns pontos que de há muito vinham destoando de conceitos divulgados pelo avanço dos estudos linguísticos entre nós.
Em face da natureza especial do público a que o livro se destina, julguei melhor não enveredar por caminho diferente daquele que se costuma chamar tradicional, isto é, não aproveitei os estudos iniciados principalmente com as Syntactic Structures de Noam Chomsky, desde 1957.
Esse novo caminho, onde já se contam reais e importantes progressos no campo da pura conceituação, ainda apresenta ao professor de língua embaraços para sua proveitosa utilização em compêndio escolar. Enfeitar as páginas iniciais com árvores, sob a ilusão de que esgotam a teoria transformacional, e logo depois confundir os novos conceitos com noções e posições tradicionais, é jogar areia nos olhos do leitor incauto, mas é também aviltar-se perante o julgamento do leitor inteligente. Por outro lado, confundir as noções de teoria da comunicação com lições de língua é passar ao próprio autor atestado de ignorância em dois campos diferentes, mas contíguos, de estudo.
Por isso, preferi bater a mesma estrada que vem percorrendo este livro pelo espaço de dez edições, conquistando aplauso de quem o lê e elogio de quem o aplica, como compêndio paralelo, nas suas aulas a estudantes de língua portuguesa.
É para esse grupo de leitor benévolo que estas Lições continuam sendo editadas.
Rio de Janeiro, 30 de janeiro de 1976
Evanildo Bechara
Prefácio da 2.ª edição
Ao apresentar ao público esta 2.ª edição, desejo patentear o meu agradecimento pela benévola acolhida que mereceram as Lições de Português por parte de mestres, colegas, alunos e pessoas interessadas no cultivo do idioma.
Saem agora consideravelmente melhoradas graças não apenas ao esforço com que procurei aperfeiçoá-las tanto na doutrina quanto no estilo, mas ainda – e principalmente – a muitas das observações importantes que se dignaram enviar-me alguns mestres e amigos, entre os quais ressaltam as de MARTINZ DE AGUIAR, ANTENOR NASCENTES, ADAUTO PONTES, ADRIANO DA GAMA KURY, OTHON GARCIA, OLMAR GUTERRES e ARTUR LOUREIRO DE OLIVEIRA FILHO. Não posso também deixar passar em silêncio o estímulo que me trouxeram as referências elogiosas, na imprensa e em carta particular, de JÚLIO NOGUEIRA, SOUSA DA SILVEIRA, ISMAEL DE LIMA COUTINHO, ROCHA LIMA e PAULO RÓNAI.
No intuito de transformar, na medida do possível, estas Lições de Português num completo repositório de fatos de sintaxe da nossa língua, continuei aproveitando as lições das melhores autoridades do assunto, como SAID ALI, MÁRIO BARRETO e EPIFÂNIO DIAS. Muitas vezes me seria fácil repetir o que estes mestres disseram; mas preferi citá-los para que se registrassem as fontes onde os interessados pudessem colher notícia mais larga dos pontos aqui tratados.
A 1.ª lição foi totalmente remodelada, inspirada pelas leituras dos sugestivos livros de Linguística de MATTOSO CÂMARA JR., LEONARD BLOOMFIELD e CHARLES BALLY, para que o livro ganhasse certo equilíbrio entre as primeiras e as últimas lições, elevando, destarte, o nível geral desta sintaxe. Dei novo tratamento ao estudo das orações reduzidas, filiando-me à maneira tradicional de encará-las, por ver aí maior comodidade didática. No capítulo da regência introduzi a noção de posvérbio que nos ensina Antenor Nascentes. Se outras inovações da ciência não foram aqui contempladas é porque penso que a sintaxe é onde com mais lentidão se pode romper com a larga tradição gramatical em que se alicerça o nosso ensino.
Continuam estas Lições esperando a contribuição valiosa da crítica honesta e competente para que se apresentem melhoradas em nova oportunidade.
Rio de Janeiro, 24 de junho de 1961
Evanildo Bechara
Prefácio da 1.ª edição
Ao escrever estas Lições de Português, foi meu intuito conferir à análise sintática a posição adequada no ensino de nossa língua. Aqui e ali dei tratamento diferente a alguns pontos que têm merecido a atenção de nossas melhores autoridades no assunto; mas isto não chega, penso eu, a fazer original este livro. Seu mérito está na maneira de aproveitar os conhecimentos de análise sintática como ponto de partida para explicação de numerosos fatos de nosso idioma.
O estudo da análise sintática é utilíssimo, desde que, feito com sobriedade, seja encarado como o fio que nos conduzirá à análise da estrutura oracional, às relações de dependência e independência que as palavras, expressões e orações mantêm entre si, e às consequências que daí se tiram para a melhor e mais expressiva tradução do pensamento. A função precípua da análise não é entender o trecho, embora, quando orientada com perfeição, nos leve a encarar o passo pelo melhor prisma de interpretação. Por isso devemos pôr em seus devidos termos a célebre crítica de SILVA RAMOS: Em resumo, o vício essencial da análise patenteia-se, de modo irresistível, no seguinte circo de que não há sair: Não é possível analisar um trecho, se não se lhe compreende o sentido, e se ele se compreende, para que serve analisá-lo?
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Levei em consideração a Nomenclatura Gramatical Brasileira, mas, em alguns pontos, tomei a liberdade de propor à douta Comissão e aos colegas de magistério orientação diferente que me pareceu mais acertada.
Quero deixar aqui minha gratidão aos mestres que, através de seus livros, me permitiram repetir as boas doutrinas; ainda quando não lhes sigo as pegadas, permanece o meu preito de reconhecimento.
Se estas Lições de Português conseguirem tornar realidade a pretensão do autor, e estimular o gosto pela língua portuguesa, fica-me ainda a satisfação de ter contribuído para o aperfeiçoamento do ensino da análise sintática.
Março de 1960
Evanildo Bechara
Nota
1 Explicar ou complicar
, Revista de Filologia Portuguesa, São Paulo, I, v. I, p. 62.
LIÇÃO I
Sintaxe: noções gerais.
1 – Que é oração
Oração é a unidade do discurso, marcada entre duas pausas.
A oração constitui a menor unidade de sentido do discurso e encerra um propósito definido. Para tanto, faz uso dos elementos de que a língua dispõe de acordo com determinados modelos convencionais de estruturação oracional. Estes modelos convencionais nem sempre coincidem de idioma para idioma e vêm a formar o sistema sintático característico desse mesmo idioma ou de um grupo de idiomas.
2 – Entoação oracional
Em português, como na maioria das outras línguas, a unidade de sentido de uma oração se caracteriza pela entoação, isto é, pela maneira com que é proferida em obediência a certa cadência melódica. A parte final de uma oração é sempre marcada por uma pausa de maior ou menor duração, consoante o que se tem em mente expressar. Simples vocábulos, como João, Absurdo!, Vá!, Sim, constituem orações completas desde que ocorram entre duas pausas, e formem unidades de sentido se proferidos entre dois silêncios.
Na entoação final se podem estabelecer algumas diferenças fonêmicas, isto quer dizer que tais diferenças implicam mudança no sentido que as orações encerram:
a) entoação assertiva:1 João estuda.
Nesta oração a linha melódica assinala uma subida de voz até a parte que recebe o acento frásico e daí acusa uma descida até a parte final. Há, portanto, uma parte ascendente e outra descendente. Pela entoação assertiva caracteriza-se a oração declarativa, que pode ser simbolizada por [ . ]
b) entoação interrogativa: João estuda? Quem veio aqui?
A linha melódica na interrogação encerra apenas a parte ascendente, de tal maneira que a só elevação da voz pode chegar a ser o único traço distintivo entre a oração interrogativa e outra declarativa:
João estuda [ . ] João estuda [ ? ]
Distingue-se, na interrogação, a interrogativa geral ou de sim ou não, feita em relação ao conteúdo de toda a oração (João estuda?), da interrogativa parcial, feita em relação a um termo da oração (Quem veio aqui?).
Na interrogativa geral a resposta se resume ou se pode resumir em sim ou não (ou equivalente), e a parte ascendente da entoação é mais acentuada. Na interrogativa parcial, a pergunta é feita, em geral, por vocábulos especiais de interrogação, e a resposta não se resume em sim ou não. Simbolizaremos a entoação da interrogativa geral com [ ? ] e da interrogativa parcial com [ ¿ ].
De acordo com a entoação utilizada percebe-se a diferença de sentido em orações do tipo Quem viu o filme?. Proferida Quem viu o filme [ ¿ ], como interrogativa parcial, indaga-se a pessoa que viu o filme; em Quem viu o filme [ ? ], como interrogativa geral, a oração significa é sobre este assunto que se pergunta?
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c) entoação exclamativa: João estuda!
Na exclamação a linha melódica só tem também a parte ascendente com que se traduz um enunciado expresso com acentuado predomínio emocional para comunicar, acompanhado ou não de mímica, dor, alegria, espanto, surpresa, cólera, súplica, entusiasmo, desdém, elogio, gracejo. A entoação exclamativa também é empregada para exigir a presença ou a atenção de alguém (João! Menino!) ou para traduzir ordens e pedidos (Corra! Saltem!). A entoação exclamativa pode combinar-se com os tipos enunciados anteriormente. Compare-se a resposta João (da pergunta parcial Quem estuda?) com João! para chamar ou atrair a atenção de alguém e com João?!, quando a pergunta envolve um sentimento de surpresa. Simbolizamos a entoação exclamativa com [ ! ].
d) entoação suspensiva ou parcial: Ele, o irmão mais velho, tomou conta da família.
Consiste a entoação suspensiva ou parcial em elevar a voz antes da pausa final dentro da oração. Difere da entoação final por mostrar que o enunciado não termina no lugar em que, em outras ocasiões, a estrutura oracional poderia marcar o fim de uma oração. Simbolizamos a entoação suspensiva com [ , ]. É pela entoação suspensiva que se distinguem alguns tipos de oração, como, por exemplo, a adjetiva restritiva da explicativa. Note-se o contraste de sentido pela entoação distinta que se dá ao trecho: O homem [ , ] que vinha a cavalo [ , ] parou defronte da casa. A narração pressupõe a existência de um só homem. Se proferimos: O homem que vinha a cavalo parou defronte da casa (sem entoação parcial), pressupõe-se que na narração há mais de um homem.
3 – A importância da situação e do contexto
No intercâmbio de nossas ideias, dentro das mais variadas circunstâncias, desempenham relevante papel a situação e o contexto. Entende-se por situação o ambiente físico e social onde se fala; contexto é o ambiente linguístico onde se acha a oração.2
Situação e contexto são estímulos decisivos para a melhor aproximação entre falante e ouvinte ou entre escritor e leitor. Através destes estímulos as pessoas se identificam numa mesma situação espacial e temporal, e a atividade linguística, mesmo reduzida a termos estritamente necessários em fragmentos de orações, atinge a eficiência desejada.
4 – Constituição das orações
A oração pode ser constituída por uma sequência de vocábulos ou por um só vocábulo:
a) Pedro trabalha.
b) Dormimos.
c) Sim. Pedro.
d) Fogo! Parada de ônibus.
No primeiro exemplo temos uma oração que encerra nos seus limites os dois termos de que em geral se compõe: o sujeito (Pedro) – ou o ser de quem se declara alguma coisa – e o predicado (trabalha) – aquilo que se declara na oração.
O segundo exemplo nos evidencia que não é sempre necessária a representação do sujeito por vocábulo dependente especial, com indicação redundante, uma vez que este termo oracional pode ser indicado pela desinência do verbo. Realmente o -mos de dormimos expressa como de 1.ª pessoa do plural o sujeito da declaração. Omitimos com mais frequência, em português, o pronome sujeito quando de 1.ª e 2.ª pessoas do singular e plural, porque a desinência verbal aí o especifica com evidência; a omissão do pronome sujeito de 3.ª pessoa do singular ou plural fica dependente da situação e do contexto, sem o que, muitas vezes, não se pode precisar a pessoa a quem se refere o predicado.
No terceiro caso temos orações cujo enunciado se relaciona com um contexto anterior, sem o qual seriam incompreensíveis. Explicam-se, por exemplo, como respostas às perguntas Você passeou? e Quem veio aqui?
No quarto caso temos orações cujo enunciado se relaciona com a situação em que se acha o falante e, assim, contém um elemento extralinguístico. Tais tipos de orações constituem o que o linguista francês BRUNOT chama indicações.
A língua portuguesa conhece todas as constituições de orações acima relacionadas. As constituições favoritas de estrutura oracional em português apresentam a binaridade sujeito e predicado, podendo o primeiro vir expresso apenas pela desinência verbal. Pelo jogo estrutural de sua composição, onde os termos se apresentam numa sequência de relações sintáticas, essas constituições favoritas são as que mais de perto interessam ao gramático e na sua análise está o maior propósito do estudo da sintaxe acadêmica.
Orações do tipo c) e d) dizem-se constituições de estrutura menor e apresentam pouca importância para o gramático, porque nelas o jogo das relações sintáticas quase sempre se patenteia com desempenho reduzido. Isto não quer dizer que, para a atividade linguística, as estruturas favoritas são mais importantes que as menores; apenas naquelas o gramático encontra os elementos componentes dos padrões estruturais de cujo estudo mais se ocupa a sintaxe.
5 – Estruturação sintática: objeto da SINTAXE
Ao construir orações conta o falante com a liberdade de escolher os vocábulos com que elas se vão constituir; mas não pode criar a estrutura em que eles se combinam no intercâmbio das ideias. As estruturas oracionais obedecem a certos modelos formais que, como já dissemos, podem não ser coincidentes de uma língua para outra, e que constituem os padrões estruturais.
As estruturas oracionais ou construções sintáticas apresentam seus processos característicos que são:
a) associação dos vocábulos de acordo com a sua função sintática [ Regência ];
b) concordância dos vocábulos de acordo com certos princípios fixados na língua [ Concordância ];
c) ordem dos vocábulos de acordo com sua função sintática e importância na comunhão das ideias [ Colocação ].
Assim, na oração Os bons alunos dão alegria aos pais, temos os bons alunos exercendo a função de sujeito (de acordo com a), o que lhe garante, como posição normal, o lugar inicial no contexto (de acordo com c) e, por ser constituído por um núcleo masculino e no plural (alunos), determina que nesse número e gênero estejam seus adjuntos (os e bons) e no plural o verbo da oração (dão), conforme preceitua o item b).
A sintaxe se ocupa do estudo dos padrões estruturais vigentes em determinada língua, motivados pelas relações recíprocas dos termos na oração e das orações no discurso. Pode ainda a sintaxe estudar o emprego dos vocábulos.
A Nomenclatura Gramatical Brasileira divide a sintaxe em:
6 – A oração na língua falada e na língua escrita
A língua falada conta com numerosos recursos para que a oração alcance seu objetivo de unidade de sentido. Entram em seu auxílio não só os elementos linguísticos de que dispõe o idioma, mas ainda os recursos extralinguísticos elocucionais (os sons inarticulados como, por exemplo, o muxoxo, o riso, o suspiro) e não elocucionais, isto é, à margem da língua, como a mímica.
Na língua escrita entram em jogo outros fatores. Em primeiro lugar, desaparece o recurso da entoação que, como ensina MATTOSO CÂMARA, tem de ser deduzida do texto pelo LEITOR (no qual se transformou o ouvinte), mediante uma técnica especial, que é a arte da leitura. Em segundo lugar, esse ‘leitor’ encontra-se, ao contrário do ‘ouvinte’ no intercâmbio falado, muito distante no tempo e no espaço, e não é em regra um indivíduo determinado e conhecido pelo ESCRITOR (em que se transformou o falante). Finalmente, não envolve o discurso uma situação concreta e bem definida
.3
7 – SINTAXE e ESTILO: necessidade sintática e possibilidade estilística
Cumpre distinguir uma necessidade sintática, ditada pelo jogo das relações recíprocas dos vocábulos na oração ou das orações no discurso, da possibilidade estilística, que permite ao falante ou escritor uma escolha dentre dois ou mais elementos de expressão que a língua lhe oferece, para atingir melhor eficiência expressiva. Saímos, assim, do terreno da sintaxe e entramos no domínio da estilística, isto é, da utilização da língua como apelo à atividade e comunhão social, ou, então, liberação psíquica
.4 Na sintaxe, como parte da Gramática, está o intuito intelectivo; na estilística ressalta o elemento emocional, isto é, o apelo e a liberação psíquica.
8 – Tipos de oração
A oração pode encerrar:
a) a declaração do que observamos ou pensamos (oração declarativa com entoação assertiva):
As aulas começaram.
Ainda não tocou a sineta.
b) a pergunta sobre o que desejamos saber (oração interrogativa com entoação interrogativa):
As aulas começaram?
Alguém virá à festa?
Quem tocou a sineta?
c) a ordem, a súplica, o preceito, o desejo, o pedido para que algo aconteça ou deixe de acontecer (oração imperativa com entoação exclamativa):
Estuda bem tuas lições!
Sê forte!
Bons ventos o levem!
Queira Deus!
d) o nosso estado emotivo de dor, alegria, espanto, surpresa, elogio, desdém (oração exclamativa com entoação exclamativa):
Como chove!
Que susto levei!
Observação:
As orações exclamativas são normalmente introduzidas por pronomes ou advérbios de sentido intensivo.
Nota
1 Tomamos a lição a BLOOMFIELD. Language, 114-5.
2 J. MATTOSO CÂMARA Jr., Linguística Geral, 5.ª ed., 106, e A. H. GARDINER, The Theory of Speech and Language, 49 e ss.
3 J. MATTOSO CÂMARA Jr., Princípios de Linguística Geral, 5.ª ed., 200.
4 Id., ibid., 204.
LIÇÃO II
Termos essenciais da oração: sujeito e predicado. Omissão do verbo. Posição do sujeito e do predicado.
1 – Sujeito e predicado
A oração, de modo geral, se compõe de dois termos essenciais: sujeito e predicado.
Sujeito é o termo da oração que indica o tópico da comunicação representado por pessoa ou coisa de que afirmamos ou negamos uma ação ou uma qualidade.
Predicado é o comentário da comunicação, é tudo o que se diz na oração, ordinariamente o que se diz do sujeito.
Assim:
2 – Omissão do verbo
O verbo, quando muito nosso conhecido, e, assim, facilmente identificável, pode não ser repetido na oração seguinte:
No exemplo abaixo, omitimos o