Horário nobre
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Sobre este e-book
Esses três personagens vão viver um momento transformador em que cada um vai aprender mais sobre si mesmo e seu lugar no mundo."
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Horário nobre - Ronaldo Brito
© Ronaldo Brito Roque, 2024
Todos os direitos desta edição reservados à Editora Labrador.
Coordenação editorial P
AMELA
J. O
LIVEIRA
Assistência editorial L
ETICIA
O
LIVEIRA,
V
ANESSA
N
AGAYOSHI
Direção de arte e Capa A
MANDA
C
HAGAS
Projeto Gráfico M
ARINA
F
ODRA
Diagramação N
ALU
R
OSA
Preparação de texto C
ARLA
S
ACRATO
Revisão D
ANIELA
G
EORGETO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Jéssica de Oliveira Molinari - CRB-8/9852
B
RITO,
R
ONALDO
Horário nobre / Ronaldo Brito.
São Paulo : Labrador, 2024.
94 p.
ISBN 978-65-5625-667-2
1. Ficção brasileira I. Título
24-3585
CDD B869.3
Índice para catálogo sistemático:
1. Ficção brasileira
Labrador
Diretor-geral D
ANIEL
P
INSKY
Rua Dr. José Elias, 520, sala 1
Alto da Lapa | 05083-030 | São Paulo | SP
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Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real será mera coincidência.
Sumário
Capítulo 1.
Capítulo 2.
Capítulo 3.
Capítulo 4.
Capítulo 5.
Capítulo 6.
Capítulo 7.
Capítulo 8.
Capítulo 9.
Capítulo 10.
Capítulo 11.
Capítulo 12.
Capítulo 13.
Capítulo 14.
Capítulo 15.
Capítulo 16.
Capítulo 17.
Capítulo 18.
Capítulo 19.
Capítulo 20.
Capítulo 21.
Capítulo 22.
Capítulo 23.
1.
Parei de ir nas reuniões. Escrevia os textos em casa e mandava direto para o coordenador. Terminava lá pelas seis, depois ia para um bar ou café, pensar na vida, às vezes rascunhar meus romances. De noite voltava para casa e encontrava Melissa. Depois de dois anos, ela continuava linda. Agora estava estudando para o mestrado, queria dar aula de Teoria Literária. Eu achava estranho que alguém que nunca tinha escrito nem um conto quisesse ser professora de Teoria Literária. Mas nunca falei nada a respeito. Com o tempo percebi que eu queria ser escritor, e ela queria apenas ter bons empregos ligados à literatura. Víamos as Letras de forma muito diferente, conversar sobre isso seria um desastre. Ela não entendia a beleza da literatura, não sabia por que algumas pessoas precisavam escrever livros, transbordar sua imaginação, seus pensamentos e sentimentos, enriquecer o mundo com um mínimo de beleza e fantasia. A mera realidade nos sufocaria sem essas pessoas. Melissa era uma mulher alta, branca, de cabelos anelados. Vinha de uma família tradicional de Petrópolis. Talvez ela não precisasse de fantasia. A mera realidade podia bastar para ela.
Na cama ela nunca foi menos que perfeita. Quando viemos morar juntos, passei um período achando que eu estava no céu. Tudo era mais colorido, mais intenso. Eu pisava o chão com mais confiança, sabia que ele não ia cair, nem escorregar para os lados. Tinha uma mulher maravilhosa me esperando em casa, tinha um emprego que dava para pagar o aluguel e sobrava para a TV a cabo, móveis sofisticados, jantares em restaurantes caros. Enfim eu tinha amadurecido, tinha uma vida.
Mas aos poucos fui percebendo que Melissa não era bem o que eu pensava. Ela não ligava para literatura. Lia apenas os livros que seus professores mandavam. Tinha feito Letras porque um dia pensara em morar fora. Não gostava de traduzir; traduzia pelo dinheiro, e dava aulas porque achava mais fácil que traduzir. Odiava os adolescentes que enchiam as redações com xingamentos americanos, what the fuck, who gives a shit? Se não fosse aquele corpo maravilhoso, acho que eu teria voltado a morar num quarto-e-sala em Copacabana. Mas havia certa ternura quando acordávamos juntos, uma ternura que eu podia não encontrar em outra mulher, por isso eu ia ignorando nossas diferenças, ia ofuscando minhas decepções em noites de sexo e manhãs de carinho, ou vice-versa.
2.
Antero foi um cara que conheci por acaso. Ele também era de Minas Gerais e também veio para o Rio de Janeiro pensando em ganhar a vida como escritor. Não foi bem isso que aconteceu, mas, no caso dele, acho que foi até melhor. Nos conhecemos num bar em Copacabana. Falamos sobre Nelson Rodrigues, Clarice Lispector, sobre Borges, que adorávamos. A partir daquele dia nos víamos quase toda semana. Eu entrava num bar e ele estava lá, ou, às vezes, eu estava num café, escrevendo alguma coisa no leptope¹, ele me via da rua e entrava.
Eu sabia que era você. Quem tem tempo para ficar num café, a essa hora da tarde, tentando achar a frase perfeita para um parágrafo que ninguém vai ler? Como você sabe que ninguém vai ler?, eu perguntava. É brincadeira, rapaz. Mas tenho a impressão de que a literatura está acabando. As livrarias estão fechando, e não vejo os jovens reclamando disso.
Quase sempre nossas conversas começavam assim, como se ele tentasse me dissuadir de escrever. Um dia me ocorreu dizer: todo escritor do mundo deve ter escrito com a sensação de que a literatura estava acabando. Ele quase