A Disciplina Na Congregação Puritana
A Disciplina Na Congregação Puritana
A Disciplina Na Congregação Puritana
D. Downham
Hoje em dia, a questo da correta administrao da disciplina eclesistica urgente e desconcertante. O que nos pode ajudar a definir nossa posio levar em considerao opinies dos sculos XVI e XVII. A NECESSIDADE DA DISCIPLINA Os Reformadores, tanto os do continente europeu como os da Inglaterra, eram unnimes neste assunto. Calvino diz: Assim como a doutrina de Cristo a vida da Igreja, tambm a disciplina semelhante aos nervos da Igreja, porque dela depende a coeso dos membros do corpo, estando cada um no seu prprio lugar. A disciplina um tipo de rdea para conter e domar os que lutam contra a doutrina de Cristo...um tipo de aguilho para acordar os indiferentes. A prtica de Calvino em Genebra seguia com seu ensino. Durante seu primeiro ministrio na cidade, ele se recusou a ministrar a Ceia do Senhor por causa das maldades da cidade. Cidados libertinos reagiram contra seu zelo inflexvel, dando o nome de Calvino a seus cachorros, e ele foi expulso da cidade por trs anos. Ao retornar, Calvino estabeleceu um tribunal da Igreja, composto de seis pastores da cidade e de doze presbteros de suas congregaes, que se reuniam cada quinta-feira para disciplinar todo tipo de malfeitor, sem acepo de pessoas. A influncia de Calvino sobre os Reformadores britnicos era muito grande no assunto da disciplina. O Livro de Disciplina de Knox, Os Livros de Orao e Artigos de Crammer, e mais tarde, os Cnones Eclesisticos de 1603 mostram que nossos homens piedosos concordavam com os irmos do continente que a confisso auricular e a penitncia deviam ser substitudos por uma forma mais geral de disciplina. Esta disciplina era para eles uma marca verdadeira da Igreja, junto com a pregao da palavra e a administrao dos sacramentos. Na Inglaterra, porm, os desejos dos Reformadores foram em grande parte frustrados. O relacionamento entre Igreja e Estado, herana do passado, foi o motivo principal desta frustrao. Segundo o direito comum, somente tribunais cvis podiam impr penalidades aos excomun gados. (Hoje em dia, duvidoso at que ponto um tribunal eclesistico possa pronunciar uma sentena sobre um leigo em algum caso. Boultbee, The Thirty-nine Articles, p. 278). Isto significava que a Igreja Estabelecida, embora clara em seus princpios, estava, desde os seus primrdios, muito limitada em sua ao. Os Puritanos na poca Elisabetana eram homem devotos, ligados Igreja, que exigiam um sistema de disciplina que devia funcionar com base na parquia. Por isso, eles eram s vezes chamados de Disciplinadores. Somente a disciplina, eles afirmavam, pode preservar a vida da igreja da perdio que
causada por desordens na congregao. Mais tarde, Baxter, testificou de seu trabalho em Kidderminster: O exerccio da disciplina eclesistica foi um grande auxlio para o bem do povo: porque eu senti plenamente que sem ela eu no podia ter guardado o povo religioso de separaes e divises. Evidentemente, o instinto disciplinador era sadio. Mas o desejo de ter disciplina no era apenas baseado na idia de utilidade; o que mais perturbava estes homens era o fato de que estava sendo negligenciado um elemento essencial do padro do Novo Testamento a respeito da ordem nas congregaes. OS OBJETIVOS DA DISCIPLINA Para os Puritanos havia trs objetivos: 1. Glorificar a Deus pela obedincia sua Palavra. Deus falou e prescreveu disciplina; portanto, eles tm que obedecer. Como sempre, os Puritanos tinham mais preocupao com a obedincia do que com as conseqncias da obedincia. 2. Garantir a pureza da f e do modo de viver da Igreja. Se no houvesse disciplina, esta pureza estaria perdido. Como Thomas Goodwin diz, falando sobre Apocalipse 2 e 3, Cristo chama as igrejas para que imitem o princpio padro dado a elas, e naquilo em que elas se desviaram, Ele as reconduz ao que receberam e aprenderam com os apstolos, no comeo, contendo uma regra imutvel da qual no se podem desviar. Agora, se elas no tinham a liberdade de se desviarem dos ensinos apostlicos, muito menos ns: Apocalipse 3:3 diz: Lembra-te...do que tens recebido...e guardao, e arrepende-te. Aquelas epstolas s sete igrejas tratam igualmente de disciplina e de assuntos de doutrina; porque o erro principal que Ele sempre acha neles o relaxamento da disciplina pelo qual elas toleravam que pessoas ensinassem ou praticassem coisas erradas. Baxter acusou em seu livro Reformed Pastor (O Pastor Aprovado) seus c-ministros de colocarem sobre suas prprias cabeas a culpa da blasfmia, embriaguez, fornicao e outros crimes porque eles estavam negligentes no uso desta ordenana que Deus tinha dado para a cura de pecadores. (No h de se admirar que seus colegas queriam que ele publicasse o livro em latim!) Disciplina era tambm preciso para proteger os membros mais fracos da congregao contra influncias nocivas; porque m companhia muito infecciosa. Homens perversos cobrem o caminho com lama, como o crocodilo, para que vocs caiam, e, quando estiverem cados, eles suguem, por assim dizer, seu sangue (Swinnock). Por isso, por amor do be b em Cristo, o perverso tem que ser expelido da congregao. 3. Corrigir e recuperar o membro que est errando. Este assunto ser tratado, depois, com pormenores.
CASOS PARA AO DISCIPLINAR Pessoas culpadas de pecados escandalosos como fornicao ou roubo, ou de heresia tinham que ser censuradas e excomungadas imediatamente, a no ser que eles mostrassem sinais definitivos de arrependimento. Dentro do sistema que os Puritanos desenvolveram durante a poca de Cromwell e que os No conformistas retiveram aps A Restaurao, delinqncias menores eram tambm censuradas. Aqui se seguem alguns exemplos relevantes para o sculo XX: 1. A falta aos cultos pblicos era considerada o primeiro sinal exterior de relaxamento espiritual. O membro da igreja devia estar presente em todas as atividades. Os que iam de vez em quando eram imediatamente suspeitos. Em caso de ausncia permanente e persistente, outro membro da igreja era nomeado para olhar os movimentos do faltoso e tentar lev-lo de volta. 2. A escolha de companhia de pessoas de fora da comunidade crist era considerada caso de censura, especialmente quando a companhia era algum do outro sexo e resultava num casamento com um descrente. Oh! que tristeza. que mgoa, que perplexidade, que paixo sagrada essa abominao trouxe ao bom corao de Esdras!, exclamou Brooks. Se voc um homem de santidade, voc tem que procurar mais a poro da graa na sua esposa do que uma poro de ouro: voc tem que ir atrs de justia mais do que atrs de riquezas; cuidar mais da piedade do que do dinheiro; cuidar mais da herana dela nos cus do que da herana que ela tem na terra; olhar mais o seu novo nascimento do que o seu bero numa famlia de classe alta...Voc acha que o Deus que proibiu o uso do boi e do jumento, sob o mesmo jugo, para lavrarem a terra haveria de consentir estarem os fiis ligados em comunho com os que so reconhecidamente mpios?. Um batista esteve suspenso, se no excomungado, da sua igreja por 36 anos por tal erro. Alguns pastores puritanos encontraram um recurso contra casamentos mistos assumindo o papel de casamenteiros! 3. Alm disso, o cristo puritano podia ser admoestado por causa de seu vesturio. Uma das muitas razes por que Deus visitou Londres com a Praga e o Grande Fogo, segundo Brooks, era esta: Havia uma conformidade grande demais com os costumes do mundo por parte de muitos mestres do evangelho em Londres. Comentando Ezequiel 23:15, ele diz: Os que tomam emprestados os costumes dos egpcios, que eles recebam seus tumores e manchas. Certamente, os que temem ao Senhor s (devem usar aquela roupa que eles queiram usar, primeiro, na hora de morrer, segundo, na hora de comparecer perante o Ancio de Dias, terceiro, na hora de estar perante a poltrona de julgamento. Sem dvida, uma das razes por que o rei Carlos II achava que o presbiterianismo no era a religio de um cavalheiro era que os presbiterianos consideravam o traje real extravagante, indigno de um monarca! Quase qualquer falta qual a fraca natureza humana est sujeita, escreveu G.R.Cragg, era considerada um pretexto adequado para admoestar um membro e exort-lo a comportar-se de um modo mais digno. Paixes fortes, calnia ou insulto, raiva (sem provocao), um esprito irritadio e
contencioso, insubordinao, tomar dinheiro emprestado e no devolv-lo, tratamento duro contra outros membros, vaidade estas e outras coisas eram consideradas motivos justos para disciplinar'.
MODOS DE DISCIPLINAR A disciplina era igualmente preventiva e corretiva. A Disciplina preventiva era exercida, primeiro no exame cuidadoso de adultos que queriam entrar na igreja. Em muitas congregaes, ser recebido como membro no acontecia logo nem era coisa automtica, escreveu Cragg. Em geral isto demorava, e uma investigao cuidadosa de cada caso era a regra. Os candidatos tinham que demonstrar sinais de regenerao, tinham que ter vontade de publicamente professar o que Deus lhes fez, e tinham de estar dispostos para prestar completa obedincia a Cristo e a seus mandamentos. s vezes eles eram solicitados a subscrever uma forma de aliana. Citemos uma que foi redigida por Oliver Heywood: Eu consinto tambm em ser membro desta igreja da qual o Sr. O. Heywood o mestre e superintendente, e em submeter-me a seu ensino, sua orientao ministerial e superviso conforme a Palavra de Deus, em manter comunho com esta igreja na pblica adorao de Deus, e em submeter-me a admoestao fraternal de outros membros, para que sejamos edificados em conhecimento e santidade. Na Esccia, aps a fase da disciplina preventiva vinha a de proteger as mesas (literalmente: cercar as mesas). Isto era feito atravs de um sermo de ao (ou de sermes), pregado antes da administrao do sacramento, avisando aqueles que viviam conscientemente em pecado que eles no se aproximassem da Mesa do Senhor. O Livro de Oraes contm uma admoestao em linguagem forte com a mesma finalidade. Era para ser lido para os que queriam participar da Santa Ceia: Se um de vocs blasfemar de Deus, obstruir ou caluniar a sua Palavra, adulterar, ou se estiver com malcia, ou com inveja, ou se estiver cometendo qualquer outro crime grave, arrependa-se de seus pecados, ou ento, no venha para a Santa Mesa. A menos que, depois de tomar o Santo Sacramento, o diabo entre em seu corao, como ele entrou em Judas, e o encha de todas as iniqidades, e o conduza destruio tanto de seu corpo como de sua alma. John Owen disse: Tome cuidado para que estas coisas sagradas sejam administradas apenas queles que so dignos, conforme a regra do evangelho. Aqueles que impem aos pastores a administrao promscua destas divinas ordenanas ou impem que os selos sejam aplicados em todos sem discriminao, anulam a metade do ofcio e dever ministeriais. As fases da disciplina corretiva esto expostas na Confisso de Westminster XXX,4 . O pecador tem que ser admoestado, numa conversa particular, ou, se for preciso, publicamente. Se ele no ligar para isto, deve ser suspenso da Mesa do Senhor. Isto se chamava, s vezes, a excomunho menor. A fase final a excomunho completa da congregao. Este passo solene no pode ser feito apressadamente ou sem motivo, porque, come Owen escreve, a grande regra de cada comunidade eclesistica deve ser que as pessoas observem e faam tudo o que Cristo, o Senhor ordenou, e que ningum possa ser expulso da
comunidade seno por motivo justo de desobedincia deliberada a Seus mandamentos. E por isso excluir da comunidade da igreja, com base em motivos leves e triviais,.... contrrio luz natura l e prpria lgica das coisas. Somente quando no houver mais dvida alguma sobre a culpa do pecador e tudo ter sido feito para persuadlo a fim de ele endireitar seus caminhos, que deve ser cortado da vida da igreja. Falando das conseqncias da excomunho completa, Goodwin escreve: O prprio efeito interior que acompanha esta ordenana a aflio interior e angstia da conscincia por parte de Satans, a qual a maior punio de todas as aflies... isto que ns notamos no caso do homem em Corinto. Sobre a excomunho dele foi dito que ele foi entregue a Satans em nome do Senhor Jesus (1 Corntios 5:4). Ele foi expulso pela ordem de Cristo, assinada por Ele no cu, e publicada na terra, em seu nome. Mais comentrio sobre a solenidade do ato seria suprfluo. Uma frase muito usada no sculo XVII a respeito da sentena sobre pecadores diz que ela foi proferida com lamentao e dolorosa preocupao. Baxter recomendava um perodo de trs dias de orao anterior excomunho; durante estes dias a congregao tinha de reunir-se e orar intensamente pelo impenitente. Pores das Escrituras como Levtico 17 e 1 Corntios 5 seriam lidas e comentadas. Aps uma declarao detalhada dos pecados do transgressor e dos meios em vo usados para corrigi-lo, declarava-se: ele no mais membro desta congregao a partir de agora, mas tem que ser expulso para o mundo e no pode mais ter parte conosco nos santos mistrios do Senhor, nem na comunho conosco, e nem gozar dos privilgios da Casa de Deus; que o Senhor tenha compaixo da alma dele (Cragg). A congregao era admoestada a trat-lo como um gentio e publicano at que fosse recebido de novo, e orar pela alma dele durante esse perodo. s vezes esse ato era acompanhado de um jejum congregacional. O esprito do ato da excomunho tinha que ser correto; os extremos de descuido, por um lado, e de dureza legalista e censuradora, por outro lado, tinham que ser evitados igualmente. Quando lderes puritanos tratavam deste assunto, eles mencionavam muitas vezes as lgrimas de Paulo. Pastores e seus rebanhos eram lembrados de que Paulo tinha admoestado os efsios noite e dia...com lgrimas, e de que ele escreveu aos corntios no meio de muitos sofrimentos e angstias de corao...com muitas lgrimas, (Atos 20:19,31; 2 Corntios 2:4). Um sculo antes, Calvino havia comentado que a disciplina exercida pela igreja tem como objetivo a cura da doena e no a destruio do pecador, e que a vara que se usa para castigar tem que ser uma vara paternal. Owen toca no mesmo assunto: A natureza e a finalidade deste julgamento ou sentena tem que ser corretiva, e no vingativa; deve servir para curar, e no para destruir. Baxter concorda, dizendo: Deve-se usar de prudncia no procedimento, seno, produziremos u ma coisa m em vez de uma coisa boa...temos de agir com humildade, mesmo agindo com severidade; temos de deixar claro que no estamos agindo por m vontade, nem por arrogncia, nem por vingana, mas por causa de um dever necessrio, que no podemos negligenciar conscientemente. A tentao de tiranizar real mas
tem que ser resistida. Owen d princpios que podem pr prova os motivos da disciplina: 1. A excomunho no permitida quando houver dvida. 2. Todos os preconceitos, toda a parcialidade, todas as provocaes, toda a pressa e precipitao na administrao da disciplina tm que ser evitados cuidadosamente, pois quem julga o Senhor. 3. Em tudo isso deve haver uma lembrana constante de que ns tambm estamos na carne e sujeitos tentao. Isto pode conter e amedrontar aquele ardor e confiana que alguns so aptos a manifestarem em tais casos. A disciplina tem o propsito de corrigir o pecador e, por isso, nada deve ser feito num esprito que coloca obstculos desnecessrios no caminho de sua reintegrao eventual.
A REINTEGRAO DO PECADOR Os puritanos eram cautelosos a respeito de pessoas excomungadas e no as aceitavam novamente com base em uma s profisso de arrependimento. Eles estavam lembrados de que o Senhor ressuscitado submeteu Pedro, o apstolo errante, a um interrogatrio cruzado, minucioso, antes de aceit-lo novamente em seu favor (Joo 21:15 sggs.), e levavam em considerao a distino entre a tristeza segundo Deus, que produz arrependimento para a salvao e a tristeza do mundo, que produz morte (2 Corntios 7:10). As caractersticas da verdade e sinceridade na confisso de arrependimento, procuradas pelos puritanos, foram formuladas por Brooks da seguinte maneira: 1. O verdadeiro arrependimento livre e voluntrio, no forado, nem exigido com m vontade, como as confisses de pecado de Fara e Saul. 2. A verdadeira confisso de arrependimento total e completa. O contraste est na confisso de Judas, que reconheceu sua traio de sangue inocente, mas no sua cobia. 3. A verdadeira confisso de arrependimento sincera e provm dos efeitos da graa sobre a alma. 4. A verdadeira confisso de arrependimento clara, e no confusa. Nela, os pecadores confessam seus pecados em todos os detalhes, como Davi confessou seus pecados pessoais de adultrio e culpa de sangue. 5. Quem est verdadeiramente arrependido confessa as circunstncias agravantes de seu lapso.
6. Quem est verdadeiramente arrependido est triste e vem perante Deus como os servos de Benadade, com as cordas roda da cabea. As lgrimas de arrependimento so embaixadores inegveis. 7. A verdadeira confisso de arrependimento est sempre misturada com f, embora nem sempre com f firme. 8. O verdadeiro arrependimento acompanhado de uma reforma de vida. A confisso era para ser feita somente perante Deus, mas seno tivesse estes sinais da tristeza segundo Deus, o pedido de reintegrao tinha que ser suspeitado. O modo de restabelecimento variava de uma para outra congregao, mas em geral era simples, consistindo principalmente em louvor e orao para que o membro reintegrado pudesse, da em diante, ser preservado no Caminho. s vezes isto era acompanhado da imposio de mos. Em algumas congregaes, esperava-se que a pessoa que se arrependeu e foi integrada, expressasse sua tristeza sobre seus pecados pblicos e privados na presena da igreja, e pedisse perdo, publicamente, queles a quem maltratou. O PODER DAS CHAVES O assunto da autoridade exercida na disciplina foi amplamente discutido no sculo XVI!. A posio puritana era que o poder de excomungar e reintegrar estava na Palavra, e conseqentemente na Igreja, desde que a Igreja aplicasse a Palavra corretamente por intermdio de seus representantes devidamente autorizados. Esta excomunho, diz Owen, um ato da autoridade eclesistica exercido em o nome do Senhor Jesus Cristo; e, como tal, ele um ato dos oficiais da Igreja...porque no h outra autoridade na Igreja, propriamente dita, alm daquela que est com os oficiais da Igreja...E h duas razes que provam que o poder de excomungar, em termos de exerccio de autoridade, est com os presbteros da Igreja: 1. Porque os apstolos, em virtude do poder de seu ofcio em cada Igreja, tomaram parte na excomunho autorizada, como claro no caso de 1 Corntios 5; e no h poder de ofcio que tem permanecido, seno o poder que est com os presbteros da Igreja. 2. Trata-se de um ato de governo; mas todo governo, propriamente dito, est somente nas mos de governantes. Podemos acrescentar a isto que cuidar da preservao da Igreja em sua pureza, da defesa de sua honra, da edificao de seus membros, da correo e salvao dos pecadores, um cargo especialmente entregue a eles. Porm, para se proteger c ontra um equvoco, Owen se apressa a acrescentar que a excomunho apenas um ato dos presbteros na questo do poder; porque a execuo desta sentena entregue...ao corpo da Igreja. Na medida em que os membros da igreja cooperaram e praticam, a excomunho executada; porque so eles que retiram do seu meio a pessoa excomungada; doutra forma, a sentena intil ou invlida. A punio tem que ser imposta pela maioria (2 Corntios 2:6); so eles que tambm devem reintegrar a pessoa rejeitada. Por esta razo, uma excomunho sem o consentimento da Igreja uma mera nulidade. Esta citao
reflete o fato de que o pastor puritano estava consciente de que ele tinha recebido poder do prprio grande Cabea da Igreja, para governar e exercer disciplina. Hoje em dia, esta conscincia se perdeu em grandes propores, e prevalece uma viso pobre do ministrio cristo. Esta sem dvida uma das razes por que a disciplina eclesistica caiu em descrdito. ALGUMAS CONCLUSES PRTICAS claro que tanto os reformadores como os puritanos consideravam a disciplina como uma das marcas da Igreja bem regulada. Calvino repudiava com nfase a atitude dos que eram contra a disciplina, quando disse: Todos os que desejam que a disciplina seja abolida, ou que impedem sua restaurao, seja por descuido seja de propsito, certamente tm como objetivo a completa devastao da Igreja. Se isto correto, sendo a disciplina uma das marcas que distingue a verdadeira Igreja da falsa, certas prticas do sculo XX precisam ser investigadas seriamente, por exemplo, batizar sem distino, convites irrestritos para a Mesa do Senhor, o segundo casamento de pessoas divorciadas sem investigar suas situaes, e receber candidatos a membros da igreja sem examin-los. E o que dizer das boasvindas cordiais muitas vezes dadas a membros de uma igreja vizinha, que vivem em pecado? E o que dizer dos que no freqentam os cultos, mas que sempre tiveram seus nomes no rol eleitoral (ou no rol da comunho) por anos a fio, s para assegurar as recompensa s postmortem? Ser que ns, por nosso descuido, estamos contribuindo para a completa devastao da Igreja? Se ns temos uma convico sobre este assunto, estamos dispostos a fazer esforos positivos para emendar nossos caminhos e levar de volta a ordenana da disciplina para seu prprio lugar? Deixe Baxter encerrar: Se os ministros fossem escrupulosos fazendo este dever inteiramente, negando-se a si mesmos, eles poderiam ter algum resultado e esperar uma bno sobre seu trabalho. Mas se recuamos diante de tudo o que for perigoso ou ingrato em nosso trabalho, e nos livramos de tudo o que for custoso ou incmodo, ns no podemos esperar que tal uso carnal dos meios produz a alguma coisa eficaz. No podemos esperar que o evangelho avance e seja glorificado, se fazemos nosso dever de modo to falho e defeituoso. Que Deus nos ajude a perceber bem o sentido destas palavras.