O documento discute a importância da educação física escolar. Apresenta brevemente a história da prática de atividades físicas e como ela evoluiu ao longo dos séculos. Destaca que a educação física na escola contribui para o desenvolvimento integral do aluno, auxiliando em aspectos físicos, cognitivos e sociais. Também ressalta que a educação física é importante para a formação de hábitos de atividade física desde a infância e para a promoção da saúde.
O documento discute a importância da educação física escolar. Apresenta brevemente a história da prática de atividades físicas e como ela evoluiu ao longo dos séculos. Destaca que a educação física na escola contribui para o desenvolvimento integral do aluno, auxiliando em aspectos físicos, cognitivos e sociais. Também ressalta que a educação física é importante para a formação de hábitos de atividade física desde a infância e para a promoção da saúde.
O documento discute a importância da educação física escolar. Apresenta brevemente a história da prática de atividades físicas e como ela evoluiu ao longo dos séculos. Destaca que a educação física na escola contribui para o desenvolvimento integral do aluno, auxiliando em aspectos físicos, cognitivos e sociais. Também ressalta que a educação física é importante para a formação de hábitos de atividade física desde a infância e para a promoção da saúde.
O documento discute a importância da educação física escolar. Apresenta brevemente a história da prática de atividades físicas e como ela evoluiu ao longo dos séculos. Destaca que a educação física na escola contribui para o desenvolvimento integral do aluno, auxiliando em aspectos físicos, cognitivos e sociais. Também ressalta que a educação física é importante para a formação de hábitos de atividade física desde a infância e para a promoção da saúde.
Baixe no formato PDF, TXT ou leia online no Scribd
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 110
Universidade Federal do Piau
Centro de Educao Aberta e a Distncia
CONTEDO E METODOLOGIA DE EDUCAO FSICA Sandra Tereza Souza Soares Marina Tereza Soares Carvalho Ministrio da Educao - MEC Universidade Aberta do Brasil - UAB Universidade Federal do Piau - UFPI Universidade Aberta do Piau - UAPI Centro de Educao Aberta e a Distncia - CEAD Sandra Tereza Souza Soares Marina Tereza Soares Carvalho Contedo e Metodologia de Educao Fsica Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira Elis Rejane Silva Oliveira Samuel Falco Silva Francinaldo da Silva Soares Ligia Carvalho Figueiredo Aurenice Pinheiro Tavares PRESIDENTE DA REPBLICA MINISTRIO DA EDUCAO GOVERNADOR DO ESTADO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU SECRETRIO DE EDUCAO A DISTNCIA DO MEC PRESIDENTE DA CAPES COORDENADORIA GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAO ABERTA A DISTNCIA DA UFPI Luiz Incio Lula da Silva Fernando Haddad Wilson Nunes Martns Luiz de Sousa Santos Jnior Carlos Eduardo Bielshowsky Jorge Almeida Guimares Celso Costa Gildsio Guedes Fernandes CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente ) Des. Tomaz Gomes Campelo Prof. Dr. Jos Renato de Arajo Sousa Prof. Dr. Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Prof. Francisca Maria Soares Mendes Prof. Iracildes Maria de Moura F Lima Prof. Dr. Joo Renr Ferreira de Carvalho COORDENAO DE MATERIAL DIDTICO TCNICA EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS PROJETO GRFICO DIAGRAMAO REVISO REVISOR GRFICO A responsabilidade pelo contedo e imagens desta obra dos autores. O contedo desta obra foi licenciado temporria e gratuitamente para utlizao no mbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, atravs da UFPI. O leitor se compromete a utlizar o contedo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a reproduo e distribuio fcaro limitadas ao mbito interno dos cursos. A citao desta obra em trabalhos acadmicos e/ou profssionais poder ser feita com indicao da fonte. A cpia deste obra sem autorizao expressa ou com intuito de lucro consttui crime contra a propriedade intelectual, com sanses previstas no Cdigo Penal. S729c Soares, Sandra Tereza Souza; Carvalho, Marina Tereza Soares Contedo e Metodologia da Educao Fsica/Sandra Ter eza Souza Soares, Marina Tereza Soares Carvalho Teresina: EDUFPI/UAPI, 2010 110 p.
1 - Educao Fsica Escolar- Metodologia 2 - Educao Fsica - ensino fundamental 3 - Recreao e jogos - educa- o infantl I. Ttulo C.D.D. - 372.86 Esta unidade, Contedo e Metodologia da Educao Fsica, destina-se aos acadmicos do curso de Pedagogia que participam do programa de Educao a Distncia da Universidade Aberta do Piau UAPI. Objetiva contribuir para a melhoria da qualidade de ensino, atravs da formao do professor que utilizar os conhecimentos tericos e prticos da Educao Fsica, auxiliando na tarefa de ensinar na educao infantil e nas sries iniciais do Ensino Fundamental de forma signifcativa. O exemplar se compe de trs unidades que discorrem sobre Educao Fsica e seu objeto de estudo, Educao Fsica e a cultura corporal e Recreao e jogos na Educao Infantil e nas sries iniciais do Ensino Fundamental. UNIDADE 1 EDUCAO FSICA E SEU OBJETO DE ESTUDO Educao Fsica Escolar O contexto da Educao Fsica Escolar Exerccio Propostos 45 09 79 11 21 44 UNIDADE 2 EDUCAO FSICA E CULTURA CORPORAL Jogo Os Contedos de Educao Fsica no Ensino Fundamental Exerccio Propostos 53 63 77 UNIDADE 3 RECREAO E JOGOS NA EDUCAO INFANTIL E NAS SRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Recreao e Jogos na Educao Infantl A Criana e o Movimento Aspectos Legais Exerccio Propostos 81 96 99 103 UNIDADE 1 Educao Fsica e seu Objeto de Estudo OBJETIVOS: Conhecer a Educao Fsica Escolar e seu objeto de estudo; Analisar o contexto histrico da Educao Fsica; Definir a importncia, conceituao e objetivos da Educao Fsica Escolar; Entender os aspectos legais que regem a Educao Fsica; Compreender as abordagens didtico-metodolgicas da Educao Fsica. 10 UNIDADE 01 11 Contedo e Metodologia de Educao Fsica EDUCAO FSICA E SEU OBJETO DE ESTUDO Educao fsica escolar Consideraes Gerais O incio da prtica da atividade fsica aconteceu nos primrdios da humanidade, quando o homem ainda no tinha desenvolvido meios para deixar registrados os acontecimentos e fatos que marcariam toda a sua trajetria dentro do histrico da raa humana. Sabe-se que algumas evolues do homem aconteceram em momentos em que a comunicao era defcitria. A prtica da atividade fsica foi uma dessas evolues experimentadas pelo homem ainda como uma forma de sobrevivncia, como atirar lanas em animais, atravessar rios em momentos de mudana de moradia e no preparo de reas agrcolas. Alm disso, ainda existiam as danas primitivas de carter de adorao, rituais fnebres e invocao dos deuses. Com o decorrer dos sculos a humanidade evoluiu e sistematizou vrios movimentos praticados na vida diria dos povos, transformando- os em exerccios fsicos com objetivos especfcos, tais como melhora no condicionamento fsico, formao de exrcitos, busca do equilbrio entre corpo e mente e etc. Os gregos, ao criarem os primeiros jogos olmpicos, mudaram o carter da prtica das atividades fsicas. Foi nesse momento da histria da humanidade que a atividade fsica passou a ser observada como um mtodo de treinamento para disputas esportivas. Em diferentes regies do mundo sabe-se que existiam outras formas de atividades fsicas com objetivos diversos, e essa diferena de atividades e objetivos est ligada cultura de cada povo. A histria do 12 UNIDADE 01 Homem mostra que a prtica de exerccios fsicos est ligada intimamente cultura de determinada regio, ela se insere no contexto de uma comunidade atravs de laos existentes entre cultura e populao. Com isso, observam-se formas distintas de prticas de atividades fsicas que se desenvolvem de acordo com a necessidade cultural das comunidades (sobrevivncia, guerra, competio, lazer). Podemos afrmar que o conceito de atividade fsica cultural. Nos dias atuais, a educao fsica na escola tambm est associada ao conceito de cultura, pois a forma como ela desenvolvida, a maneira como ela praticada e seus objetivos esto ligadas s necessidades dos alunos a quem so direcionadas. Atualmente, o homem, para desenvolver as atividades em diferentes reas de atuao da sua vida cotidiana, precisa estar equilibrado psicolgica e fsicamente, e a educao fsica escolar se faz importante para que seja atingido esse equilbrio desde a infncia. A educao fsica no meio educacional trabalha dimenses amplas de conhecimentos, alm de desenvolver no aluno as habilidades fsicas e cognitivas, tambm ajuda a desenvolver valores e atitudes que sero assimilados e levados para a sua vida social junto comunidade. Dessa maneira, legitima-se a educao fsica dentro da escola para que seja dado um suporte plena formao do aluno. Importncia
Para que as instituies de ensino possam zelar pela qualidade de suas aulas, num primeiro momento necessitam realmente acreditar que a educao fsica escolar deve ter o mesmo grau de importncia das demais disciplinas que compem o ensino. Devem compreender a real contribuio da educao fsica para a formao dos jovens. A educao fsica, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimenso psicomotora das pessoas, principalmente nas crianas e adolescentes, conjuntamente com os domnios cognitivos e sociais, deve ser disciplina obrigatria nas escolas primrias e secundrias, devendo fazer parte do currculo da escola. Todos ns sabemos da importncia de fazer uma atividade fsica e de se manter ativo. Mas isto deve ser trabalhado j na infncia, aliando a educao fsica educao moral e intelectual, formando o indivduo como um todo. Dessa forma, percebe-se que a escola, e neste caso especfco 13 Contedo e Metodologia de Educao Fsica a educao fsica, tem um papel fundamental no aprendizado e consequentemente, no desenvolvimento dos indivduos, desde que estabelea situaes desafadoras para seus alunos. O trabalho de educao fsica dentro da escola muito importante na medida em que possibilita aos alunos uma ampliao da viso sobre cultura corporal de movimento, e, assim, viabiliza a autonomia para o desenvolvimento de uma prtica pessoal. Atravs do respeito s leis biolgicas de individualidade, do crescimento, do desenvolvimento e da maturao humana, a educao fsica vai desenvolver em seus alunos o respeito pela sua corporeidade e das outras pessoas, percebendo e compreendendo assim o papel real da atividade fsica realizada desde a infncia na escola como meio de promoo e manuteno da sade. A educao fsica contribui como elemento fundamental na formao de cidados crticos, participativos e com responsabilidade social. A educao fsica muito importante no momento atual por promover a autonomia dos grupos e, no jogo, valorizar o universo da cultura ldica. A cooperao, a incluso social, a participao de todos, a criatividade e a diversidade cultural, aprendizagem e lazer, prazer e qualidade de vida so temas que so discutidos dentro das abordagens da educao fsica. As atividades rtmicas, esportivas e recreativas so consideradas como meios efcazes para promover a socializao dos alunos que a educao fsica tanto apregoa. Sendo a educao fsica uma rea de estudo onde seu eixo curricular tem como princpio norteador a referncia bsica veiculada aos fundamentos sociolgicos, flosfcos, antropolgicos, psicolgicos e biolgicos (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.27), Gonalves (1997) nos fala da importncia existente no fato de o professor proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos, uma vez que os movimentos mecnicos realizados s contribuem para a inibio da criao e da participao dos alunos em aula, por consequncia, os tornam indivduos que deixam de interpretar o mundo por si prprios e passam a interpret-los pela viso dos outros. O Plano Nacional de Educao Fsica e Desportos-PNED, para o perodo de 1976 a 1979, faz as seguintes observaes: A atividade fsica hoje considerada como um meio educativo privilegiado, porque abrange o ser na sua totalidade. O carter de unidade da educao, por meio 14 UNIDADE 01 das atividades fsicas, reconhecido universalmente. Ela objetiva o equilbrio e a sade do corpo, a aptido fsica para a ao e o desenvolvimento dos valores morais. Sob a denominao comum de Educao Fsica e desportiva o consenso mundial rene todas as atividades fsicas dosadas e programadas, que, embora paream idnticas na sua base, tm fnalidades e meios diferenciados e especfcos. O meio especfco da Educao Fsica a atividade fsica sistemtica, concebida para exercitar, treinar e aperfeioar. De acordo com a inteno principal que anima a atividade fsica, ela se desdobra em exerccios educativos propriamente ditos, os jogos e os desportos. Face informalidade de que se reveste sua prtica, os jogos e os desportos tm um poder maior de mobilizao que os exerccios educativos, sendo recomendvel, portanto, para melhor efccia da Educao Fsica, a integrao das formas (BRASIL, 1976, p. 59). Conceituao O que EDUCAO FSICA? A educao fsica uma atividade dinmica que contribui na formao ampla dos sujeitos, em seu aspecto social, bem como no desenvolvimento de seu lado individual, atravs de oportunidades ldicas que proporcionam equilbrio entre corpo, mente e espao. Desenvolve as habilidades motoras de qualquer sujeito, alm de manter elementos teraputicos, sejam eles emocionais ou fsicos. O trabalho pedaggico desenvolvido na Educao Fsica deve estar voltado para a construo da cidadania dos sujeitos, formando elementos crticos e participativos no meio social em que esto inseridos. Seu objetivo principal deve ser que o aluno adquira a qualifcao scio- histrico-cultural necessria para promover o desenvolvimento de uma racionalidade crtica, autnoma e participativa. O carter competitivo das atividades esportivas nem sempre est presente. Para crianas de at 08 anos de idade as prticas devem estar voltadas para o aspecto ldico e de recreao, deixando as disputas para crianas maiores, jovens e adultos. A educao fsica pode se dividir em vrias classes: a escolar, a social, a teraputica, a esportiva, a recreativa, dentre outras. O profssional tambm atua orientando sobre cuidados com a sade, alimentao, 15 Contedo e Metodologia de Educao Fsica problemas advindos do sedentarismo, obesidade etc. Sabe-se da importncia do profssional de educao fsica para a manuteno da qualidade de vida do ser humano, da sociedade em que se encontra inserido. Esse profssional exerce suas atividades atuando de forma individual (personal trainner) ou coletiva, em clubes, escolas, hotis e spas, academias, condomnios, empresas, clnicas de recuperao, prefeituras e escolas, etc. Veja a defnio dada por alguns autores renomados Viabilizar ( aluna / ao aluno) a aprendizagem referente a conhecimentos especfcos sobre o movimento humano que permita, individual e intencionalmente, (1) a utilizao de potencialidades para movimentar-se, genrica ou especifcamente, de forma habilidosa e, em correspondncia, (2) a capacitao para, em relao ao meio em que vive, agir (interagir, adaptar-se, transformar-se ...), na busca de benefcios para a qualidade de vida (OLIVEIRA,2006). Na escola, a Educao Fsica seleciona e problematiza temas da cultura corporal de movimento, tendo em vista sua intencionalidade pedaggica (que decorre da escolha por determinados valores), aqui delimitada pela inteno de propiciar aos alunos a apropriao crtica da cultura corporal de movimento, associando organicamente o saber movimentar-se, o sentir movimentar-se e o saber sobre esse movimentar- se (BETTI, 2005). A Educao Fsica enquanto componente curricular da Educao Bsica deve assumir ento uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidado que vai produzi-la, reproduzi-la e transform-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rtmicas e dana, das ginsticas e prticas de aptido fsica, em benefcio da qualidade da vida. (BETTI, ZULIANI, 2002) Objetivo As aulas de Educao Fsica, talvez, sejam as nicas que acompanham os alunos desde a Educao Infantil at o Ensino Mdio. Embora seu carter obrigatrio, (Pargrafo 7 da LDB 5692/71) tenha deixado de ser enunciado, este componente curricular, pela sua importncia, deve fazer parte do projeto da escola, como reza a atual 16 UNIDADE 01 Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996, citao esta reforada pelo PCNs: assim explicitada "Artigo 26: Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversifcada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura e da clientela (p. 18). Assim entendendo, a mesma Lei e os PCNs explicitam no tocante s aulas de Educao Fsica. "A educao fsica, integrada proposta pedaggica da escola, componente curricular da educao bsica , ajustando-se s faixas etrias e s condies da populao escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos" ( Par. 3: 19). Os objetivos da Educao Infantil e o componente Educao Fsica segundo os PCNs (a viso dos pedagogos) No que se refere aos objetivos gerais da Educao Infantil, pode-se observar que as aulas de Educao Fsica, dentro do Projeto Pedaggico Escolar, podem favorecer a construo da autoimagem positiva, descobrir progressivamente o seu prprio corpo, brincar expressando emoes, sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades, utilizando dentre as diferentes linguagens (plstica, musical, corporal, oral e escrita), a linguagem corporal. Alm disso, a implementao dos contedos especfcos: ginstica, dana, luta, jogo e esporte, quando adequados ao nvel de crescimento e de desenvolvimento das crianas, facilita o conhecimento das diferentes manifestaes culturais, ampliando a viso dos alunos no tocante pluralidade cultural. Recomenda-se que o professor especialista em Educao Fsica desenvolva com nfase os objetivos voltados para a especifcidade da rea, qual seja, o domnio motor. Isto porque se advoga que seja o professor quem melhor domina os contedos da Motricidade Humana. Dentre os objetivos gerais para o ensino dos alunos com idade entre 7- 14 anos, os PCNs recomendam que o aluno deva conhecer e desenvolver o conhecimento ajustado conforme o prprio corpo nos diferentes domnios a fm de tambm desenvolver a autoconfana e 17 Contedo e Metodologia de Educao Fsica todas as suas capacidades intelectuais, afetivas e sociais. Adotar hbitos saudveis para si e para a coletividade, utilizar as diferentes formas de linguagem, dentre elas a corporal, compreender a cidadania atuando de forma crtica responsvel e construtiva. Os PCNs observam os contedos de Educao Fsica para o Ensino Fundamental como expresso de produes culturais, conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Segundo os PCNs, a Educao Fsica vista como uma cultura corporal (PCN, EF. s/d.p. 10). Quanto aos objetivos do componente em tela, em uma viso construtivista-interacionista, para este nvel de escolarizao, a Proposta Curricular para o ensino da Educao Fsica recomenda que se propicie, com especial ateno, atividades que visem "ao regaste da cultura e do jogo popular perpassando pelos fundamentos esportivos at o esporte" (SE/CENP.1991: 5), sem desprezar o ritmo e a atividade com o material alternativo. As aulas de Educao Fsica, ao contrrio do que ocorria em pocas passadas, devem inserir-se no projeto escolar, contextualizar- se, ir ao encontro das expectativas dos alunos e prever a incluso dos alunos portadores de necessidades especiais. Ao fnal do processo ensino aprendizagem, espera-se que o estudante de forma ampla: a) desenvolva a capacidade de pensar, criar, classifcar; b) estabelea noes de lateralidade, espao e tempo; c) execute movimentos corporais, compreendendo e utilizando-os adequadamente; d) amplie o seu conhecimento acerca dos contedos da Educao Fsica: jogo, ginstica,luta, dana e o esporte; e) desenvolva valores, atitudes de cooperao e de solidariedade; f) descubra e vivencie capacidades fsicas e habilidades motoras; g) desenvolva e pratique o seu prprio programa de atividade fsica de forma consciente.
Aspectos Legais 1851 LEI N 630, de 17 de setembro. Inclui a ginstica no currculo das escolas primrias. 1855 REGULAMENTO DA lNSTRUO PRIMRIA E SECUNDRIA NO MUNICPIO DA CORTE, expedido em 1855. Estende a exigncia dos exerccios ginsticos ao Colgio Pedro II. 18 UNIDADE 01 1858 DECRETO N 2. 116, de 11 de maro. Inclui esgrima e natao nos Cursos de Infantaria e Cavalaria da Escola Militar. No mesmo ano, a esgrima, a ginstica e a natao tornam-se obrigatrias na Escola da Marinha. 1862 DECRETO N 2.882, de 01 de fevereiro. Reforma Sousa Ramos. Mantm a ginstica no Colgio Pedro II e acrescenta dana no seu currculo. 1866 DECRETO N 3.705, de 22 de setembro. Determina a prtica da ginstica, natao e esgrima nos Cursos Preparatrios Escola Militar. 1871 DECRETO N 4.720, de 22 de abril. Baixa o Regulamento da Escola da Marinha, conservando a obrigatoriedade da prtica da esgrima, da ginstica e da natao em seus cursos. 1876 DECRETO N 6.370, de 30 de setembro. Introduz exerccios graduados de ginstica e princpios gerais de Educao Fsica nos cursos das duas Escolas Normais criadas no Municpio da Corte. 1880 DECRETO N 7.684, de 06 de maro. Regulamenta o ensino normal do Municpio da Corte, conservando, na 5. srie, os princpios gerais da Educao Fsica, e os exerccios ginsticos, nas demais sries. 1882 PROJETO N 224, de l882. Reforma do Ensino Primrio e de vrias Instituies Complementares da Instruo Pblica. Seu relator, Rui Barbosa, resumiu o pensamento nele contido nos seguintes itens: 1. Instituio de uma seo especial de ginstica em cada escola normal. 2. Extenso obrigatria a ambos os sexos, na formao do professorado e nas escolas primrias de todos os graus, tendo em vista, em relao mulher, a harmonia das formas femininas e as exigncias da maternidade futura. 3. Insero da ginstica nos programas escolares como matria de estudo, em horas distintas das do recreio, e depois das aulas. 4. Equiparao, em categoria e autoridade, dos professores de ginstica aos de todas as outras disciplinas. 1890 RELATRIO DO INSPETOR-GERAL (Ramiz Galvo). Revela que a ginstica fgura nos currculos das escolas primrias de 1. e 2. graus, no Ginsio Nacional e na Escola Normal do Municpio da Corte. 19 Contedo e Metodologia de Educao Fsica 1892 REGULAMENTO DE 1892. Autoriza o diretor e o vice-diretor do Ginsio Nacional a desenvolver, nos seus alunos, o gosto pelos exerccios ginsticos livres, alm de outros. 1901 DECRETO N 3.914, de 26 de janeiro. Aprova o Regulamento do Ginsio Nacional, exigindo a prtica da ginstica com intuito higinico. 1905 PROJETO DE LEI, de 21 de setembro. Apresentado pelo Deputado Jorge de Morais, do seguinte teor: O Congresso Nacional resolve: Art. 1. Ficam criadas duas escolas de Educao Fsica, sendo uma militar e outra civil. 1911 DECRETO N 8660, de 05 de abril. Baixa novo regulamento para o Colgio Pedro II, estabelecendo que as "aulas de ginstica tero por fm robustecer o organismo, devendo os mestres adestrar os alunos nos exerccios que constituem a Educao Fsica. 1916 DECRET0 N 1.058, de 29 de janeiro. Regulamento do Servio de Inspeo Mdica Escola do Distrito Federal. Confere ao mdico a competncia de dirigir a Educao Fsica dos alunos proporcionada as necessidades e a capacidade de cada idade e sexo. 1921 DECRETO N 784, de 27 de abril. Aprova o Regulamento de Instruo Fsica Militar destinado a todas as armas. 1928 DECRETO N 3.281, de 23 de janeiro, do Prefeito Antnio Prado Jnior. Reforma o ensino municipal, dando destaque especial a Educao Fsica. O art. 452 desse decreto criava uma Escola Profssional de Educao Fsica destinada a preparar e selecionar professores de Educao Fsica para os estabelecimentos de ensino do Distrito Federal. 1929 CURSO PROVISRIO DE EDUCAO FSICA, calcado no Centro Militar de Educao Fsica, entra em funcionamento, por onde se diplomaram 22 professores civis, a ele encaminhados pelo ento Diretor da Instruo Pblica do Distrito Federal, Prof. Fernando de Azevedo. 1930 PORTARIA DE 11 DE JANEIRO, do Ministro da Guerra. Organiza o Centro Militar de Educao Fsica. Embora destinado esse Centro a formar instrutores e monitores, para o ensino da Educao Fsica no Exrcito, o art. 95 dessa portaria dispunha: O Centro receber, tambm, para os seus cursos, ofciais e sargentos das foras auxiliares, professores federais, estaduais ou municipais e civis. 20 UNIDADE 01 1931 DECRETO N 19.890, de 18 de abril. Art. 9. Durante o ano letivo haver, ainda, nos estabelecimentos de ensino secundrio, exerccios de Educao Fsica para todas as classes. 1932 DECRETO N 21.241, de 4 de abril. Mantm a exigncia da Educao Fsica nos estabelecimentos de ensino secundrio e reconhece a necessidade da criao da funo de inspetor especializado nessa prtica educativa. 1937 Lei N 378, de 13 de janeiro. Reorganiza o Ministrio da Educao. Pelo art. 1, cria a Diviso de Educao Fsica, por onde, segundo o art. 12, passaria a correr a administrao da Educao Fsica. 1939 DECRETO N 1.056, de 19 de janeiro. Institui a Comisso Nacional de Desportos. PORTARIA N 688, de 24 de dezembro do Departamento Nacional de Educao. Regulamenta a realizao dos exames vestibulares das Escolas de Educao Fsica. 1945 DECRETO N 17.592, de 16 de janeiro. Reconhece os Cursos Superior e Normal da Escola de Educao Fsica e Desportos do Estado do Paran. LEI N 745, de 27 de junho. Dispe sobre o registro de professores de Educao Fsica, mdicos assistentes de Educao Fsica e Tcnicos Desportivos, no habilitados na forma da lei. 1950 LEI N 1.153, de 4 de julho. Estende as regalias de licenciado aos diplomados, at o ano de 1942, pelo Curso Normal da Escola Nacional de Educao Fsica e Desportos e por escolas congneres reconhecidas. 1953 DECRETO N 32.158, de 29 de janeiro. Autoriza o funcionamento dos Cursos Superior, Medicina Especializada, Tcnica Desportiva, Massagem Especializada e Educao Fsica Infantil da Escola de Educao Fsica das Faculdades Catlicas de Minas Gerais. 1958 PORTARIA N 1, de 5 de janeiro, da Diviso de Educao Fsica. Institui Curso de Recreao no Centro de Educao de Base da Campanha de Educao Rural, em Cruz das Almas, no Estado da Bahia. 1958 PORTARIA N 98, de 17 de novembro, da Diviso de Educao Fsica. Acrescenta Ginstica Feminina Moderna s aulas a que se refere o art. 1 da Portaria N 82, de 25-12-57, em relao aos cursos a serem realizados na capital do Estado do 21 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Amazonas e no Territrio Federal do Amap. 1960 DECRETO N 49.131, de 20 de outubro. Cria a Comisso de Preparao Pr-Olmpica, para os Jogos Olmpicos de Tquio. 1961 LEI N 4.024, de 20 de dezembro. Fixa a obrigatoriedade da prtica da Educao Fsica nos cursos primrios e mdios, at a idade de 18 anos. 1963 PORTARIA N 4, de 4 de abril, do Conselho Federal de Educao. Estabelece normas para autorizao e reconhecimento de escolas superiores. 1965 PORTARIA MINISTERIAL N 159, publicada no D. O. de 23 de junho. Fixa a durao dos cursos superiores em horas aula. 1966 DECRETO N 58. 130, de 31 de maro. Regulamenta o art. 22 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. 1969 DECRETO-LEI N 705, de 25 de julho. Altera a redao do artigo 22 da Lei N 4.024, de 20-12-61, estendendo a obrigatoriedade da pratica da Educao Fsica a todos os nveis e ramos de ensino. 1998 LEI N 9.696, DE 1 DE SETEMBRO. Dispe sobre a regulamentao da Profsso de Educao Fsica e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educao Fsica. O contexto da educao fsica escolar Um breve histrico da educao fsica escolar no Brasil ao longo do sculo XX No mbito da escola, os exerccios fsicos na forma cultural de jogos, ginstica, dana, equitao surgem na Europa no fnal do sculo XVIII e incio do sculo XIX (Coletivo de autores, 1992, p.50). Ofcialmente, a Educao Fsica foi includa nas escolas do Brasil ainda no sculo XIX, com a reforma Couto Ferraz, em 1851, embora a incluso de exerccios fsicos, na Europa, remonte ao sculo XVIII, com Guths Muths, J.J. Rosseau, Pestalozzi e outros. Os objetivos e as propostas educacionais da Educao Fsica foram se modifcando ao longo deste ltimo sculo, mas estas tendncias, de algum modo, ainda hoje infuenciam a formao do profssional e as prticas pedaggicas dos professores de Educao Fsica. Trs anos aps a aprovao da reforma do primrio e do 22 UNIDADE 01 secundrio, em 1854, a ginstica passou a ser uma disciplina obrigatria no primrio e a dana no secundrio. Em reforma realizada, a seguir, por Rui Barbosa, em 1882, houve uma recomendao para que a ginstica fosse obrigatria para as mulheres e que fosse oferecida para as Escolas Normais. Todavia, a implantao de fato destas leis ocorreu apenas em parte, no Rio de Janeiro (capital da Repblica) e nas escolas militares. E apenas a partir da dcada de 1920 que vrios estados da federao comeam a realizar suas reformas educacionais e incluem a Educao Fsica, com o nome mais frequente de ginstica (BETTI, 1991). A partir da dcada de 30, a concepo dominante na Educao Fsica calcada na perspectiva higienista. Nela, a preocupao central com a formao de hbitos de higiene e sade como: tomar banho, escovar os dentes, lavar as mos, valorizando o desenvolvimento do fsico e da moral, a partir do exerccio. A fase higienista da educao fsica enfatizava um corpo forte e saudvel e a disciplinarizao do fsico e do intelecto. Visava multiplicar os indivduos brancos e nacionalistas. No incio do sculo passado, surgem os mtodos ginsticos em funo da necessidade de sistematizar a ginstica escolar. Inicia-se, ento, a fase militarista da educao fsica que vai de 1930 at 1945. Os principais precursores deste mtodo foram o sueco RH. Ling, o francs Amoros e o alemo Spiess. Estes autores apresentaram propostas que procuravam valorizar a imagem da ginstica na escola e, assim, acabaram por fornecer elementos para o aprimoramento fsico dos indivduos. A educao fsica era vista como um poderoso auxiliar no fortalecimento do Estado e possante meio para o aprimoramento da raa. Nesta fase o professor assumia o papel de instrutor e o aluno, de recruta; ao aluno cabia disciplina, obedincia e subordinao. A educao fsica era praticada, tambm, para a formao de homens e mulheres sadios e fortes que gerassem flhos saudveis para estes defenderem e construrem a Ptria. Os mtodos ginsticos procuravam capacitar os indivduos no sentido de contribuir com a indstria nascente e com a prosperidade da nao. No modelo militarista, os objetivos da Educao Fsica na escola eram vinculados formao de uma gerao capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra, por isso era importante selecionar os indivduos "perfeitos" fsicamente, excluir os incapacitados, contribuindo para uma maximizao da fora e do poderio da populao (COLETIVO De AUTORES, 1992). 23 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Ambas as concepes higienista e militarista da Educao Fsica, consideravam a Educao Fsica como disciplina essencialmente prtica, no necessitando, portanto, de uma fundamentao terica que lhe desse suporte. Por isso, no havia distino evidente entre a Educao Fsica e a instruo fsica militar (DARIDO, 2003). Aps as grandes guerras, que coincidem com o fm do Estado novo, o modelo americano denominado Escola Nova entra no Brasil e fxa razes. Com a elaborao da constituio de 1946 gerado um debate por parte de diversos educadores sobre os rumos da educao e tambm da educao fsica, a inspirao liberal-democrtica face infuncia dos educadores da Escola Nova. Inicia-se a fase da pedagogizao (1946- 1964), quando a educao fsica passa a ser vista como uma prtica meramente educativa. O discurso predominante na Educao Fsica constitui: "A Educao Fsica um meio da Educao". O discurso desta fase vai advogar em prol da educao do movimento como nica forma capaz de promover a chamada educao integral. neste contexto que, num concurso promovido pelo Departamento de Educao Fsica (DEF), vence a proposta que prope o conceito biosscio-flosfco da Educao Fsica em substituio ao conceito antomo-fsiolgico que vigorava at ento (DARIDO, 2003). Mas a prtica da educao fsica nas escolas praticamente no foi alterada, permanecendo os exerccios militares. Ghiraldelli Jr. (1988) nos lembra que, apesar da mudana da concepo pedagogicista, a prtica de uma Educao Fsica comprometida com uma organizao didtica ainda sobre parmetros militaristas no foi extinta. Contudo, a proposta escola-novista explicita formas de pensamento que, aos poucos, alteram a prtica da Educao Fsica e a postura do professor. Este movimento passa a entrar em declnio a partir da instalao da ditadura militar no nosso pas quando se observou, no Brasil, a ascenso do esporte, iniciando-se a fase competitiva da Educao Fsica em 1964. Segundo Darido (2003), nessa poca, os governos militares que assumiram o poder em maro de 1964 passam a investir pesado no esporte na tentativa de fazer da Educao Fsica um sustentculo ideolgico, na medida em que ela participaria na promoo do pas atravs do xito em competies de alto nvel. Foi neste perodo que a ideia central girava em torno do Brasil-Potncia, para o qual era fundamental eliminar as crticas internas e deixar transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento. 24 UNIDADE 01 Castellani Filho (1993) afrma que nesse perodo houve uma tentativa do Estado de reprimir os movimentos estudantis no sentido de desviar as atenes dos estudantes das questes de ordem scio- polticas, contribuindo, assim, para a construo do modelo de corpo apoltico. Nessa fase, a Educao Fsica tem um carter altamente tecnicista, visando a utilizao dos mais aptos em detrimento dos menos capacitados. A frase mais conhecida dessa poca "Esporte sade". De acordo com Coletivo de Autores (1992), esporte , para essa fase, o objetivo e o contedo da Educao Fsica escolar alm de estabelecer uma nova relao passando de professor-instrutor para professor- treinador. nessa fase da histria que o rendimento, a seleo dos mais habilidosos est mais presente no contexto da Educao Fsica escolar. O papel do professor bastante centralizador e a prtica uma repetio mecnica dos movimentos esportivos. Em crtica a esse momento por que passou a Educao Fsica na escola, a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas de So Paulo (CENP, 1990) considera que, em relao metodologia, alm dos procedimentos diretivos, as tarefas eram apresentadas de forma acabada, privilegiando a execuo de movimentos automatizados, e os alunos deviam execut-las ao mesmo tempo, ao mesmo ritmo, desprezando os conhecimentos que a criana j construiu, desencorajando-os de suas aes corporais espontneas, anulando, com isso, a sua criatividade, seu pensamento enquanto manifestao de movimento. Nesse perodo h um aumento no nmero de pesquisas e de publicaes relacionadas fsiologia do exerccio, biomecnica e teoria do treinamento devido busca da melhoria do rendimento do aluno-atleta. A partir dos anos 80, o modelo esportivista muito criticado pelos meios acadmicos, os efeitos desse modelo comearam a ser sentidos e contestados: o Brasil no se tornou uma nao olmpica e a competio esportiva da elite no aumentou signifcativamente o nmero de praticantes de atividades fsicas. Iniciou-se ento uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no prprio discurso da Educao Fsica, que originou uma mudana expressiva nas polticas educacionais: a Educao Fsica escolar, que estava voltada principalmente para a escolaridade de quinta a oitava sries do primeiro grau, passou a dar prioridade ao segmento de primeira a quarta sries e tambm pr-escola. O objetivo passou 25 Contedo e Metodologia de Educao Fsica a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno, propondo-se retirar da escola a funo de promover os esportes de alto rendimento. Essa fase conhecida como fase popular da Educao Fsica. Nesse momento, a Educao Fsica passa por um perodo de valorizao dos conhecimentos produzidos pela cincia. A discusso do objeto de estudo da Educao Fsica, a abertura de programas de mestrado na rea, a volta de inmeros profssionais titulados nos principais centros de pesquisa do mundo, a confrmao da vocao da Educao Fsica para ser cincia da motricidade humana, adicionados a um novo panorama poltico-social resultante da abertura, contribuem para que seja rompida, ao menos no nvel do discurso, a valorizao excessiva do desempenho como objetivo nico na escola (DARIDO, 2003). Castellani Filho (1993) nos diz que as mudanas ocorridas na Educao Fsica foram resultado de dois motivos distintos, porm no excludentes. O primeiro deles diz respeito ao modelo educacional que, no que tange formao de homens com conscincia do tempo em que vivem, deixava muito a desejar, precisando, portanto, ser modifcado para sincronizar-se aos novos tempos. O segundo motivo est relacionado com a questo da produtividade. Assistamos, naqueles anos, ao avanar de um processo de automao da mo de obra, at ento apoiada na fora de trabalho humana, que fez por secundarizar a importncia da construo do modelo de corpo produtivo. Abordagens didtico-metodolgicas Em oposio vertente mais tecnicista, esportivista e biologista surgem novos movimentos na Educao Fsica escolar a partir do fnal da dcada de 70, inspirados no novo momento histrico social por que passou o pas, a Educao de uma maneira geral e a Educao Fsica especifcamente. Atualmente, coexistem na rea da Educao Fsica vrias concepes, todas elas tendo em comum a tentativa de romper com o modelo mecanicista, fruto de uma etapa recente da Educao Fsica. Num primeiro, sero apresentadas as abordagens psicomotora, desenvolvimentista, Construtivista, Crtico-Superadora e Sistmica, pois estas nos foram apresentadas primeiramente. Num segundo momento, discutimos as abordagens Psicomotricidade, Crtico-Emancipatria, Cultural, aquela apoiada 26 UNIDADE 01 nos Jogos Cooperativos, no modelo de Sade Renovada e tambm aquela relacionada aos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que entendemos tenham tambm papel relevante na construo do pensamento pedaggico nacional.
Abordagem psicomotora A psicomotricidade o primeiro movimento mais articulado que aparece a partir do fnal da dcada de 70 em contraposio aos modelos anteriores. Nele, o envolvimento da Educao Fsica com o desenvolvimento da criana, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, buscando garantir a formao integral do aluno. A Educao Fsica , assim, apenas um meio para ensinar Matemtica, Lngua Portuguesa, sociabilizao... Para este modelo, a Educao Fsica no tem um contedo prprio, mas um conjunto de meios para a reabilitao, readaptao e integrao, substituindo o contedo que at ento era predominantemente esportivo, o qual valorizava a aquisio do esquema motor, lateralidade, conscincia corporal e coordenao viso-motora. Este discurso penetrou no contexto escolar, tendo sido aceito pelos diferentes segmentos que o compem, como diretores, coordenadores e professores. O discurso e a prtica da Educao Fsica sob a infuncia da psicomotricidade conduzem necessidade de o professor de Educao Fsica sentir-se um professor com responsabilidades escolares e pedaggicas. Buscam desatrelar sua atuao na escola dos pressupostos da instituio desportiva, valorizando o processo de aprendizagem e no mais a execuo de um gesto tcnico isolado. A principal vantagem desta abordagem que ela possibilitou uma maior integrao com a proposta pedaggica ampla e integrada da Educao Fsica nos primeiros anos de educao formal. Porm, representou o abandono do que era especfco da Educao Fsica, como se o conhecimento do esporte, da dana, da ginstica e dos jogos fosse, em si, inadequado para os alunos. Abordagem construtivista preciso lembrar que, no mbito da Educao Fsica, a psicomotricidade infuenciou a perspectiva construtivista-interacionista na questo da busca da formao integral, com a incluso das dimenses 27 Contedo e Metodologia de Educao Fsica afetivas e cognitivas ao movimento humano. Na discusso do objeto da Educao Fsica escolar, ambas trazem uma proposta de ensino para a rea que abrange principalmente crianas na faixa etria at os 10-11 anos. Na perspectiva construtivista, a inteno a construo do conhecimento a partir da interao do sujeito com o mundo, e para cada criana a construo desse conhecimento exige elaborao, ou seja, uma ao sobre o mundo. Nesta concepo, a aquisio do conhecimento um processo construdo pelo indivduo durante toda a sua vida, no estando pronto ao nascer nem sendo adquirido passivamente de acordo com as presses do meio. Conhecer sempre uma ao que implica esquemas de assimilao e acomodao num processo de constante reorganizao. A principal vantagem desta abordagem a de que ela possibilita uma maior integrao com uma proposta pedaggica ampla de interatividade com outras disciplinas e integrada da Educao Fsica nos primeiros anos de educao formal. Porm, desconsidera a questo da Educao Fsica como disciplina especfca. A preocupao com a aprendizagem de conhecimentos, especialmente aqueles lgico-matemticos, prepara um caminho para Educao Fsica como um meio para atingir o desenvolvimento cognitivo. Neste sentido, o movimento poderia ser um instrumento para facilitar a aprendizagem de contedos diretamente ligados ao aspecto cognitivo, como a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemtica, etc. A meta da construo do conhecimento evidente quando alguns autores propem como objetivo da Educao Fsica respeitar o universo cultural dos alunos, explorar a gama mltipla de possibilidades educativas de sua atividade ldica e, gradativamente, propor tarefas cada vez mais complexas e desafadoras com vista construo do conhecimento. O que no fca esclarecido na discusso desta questo qual conhecimento se deseja construir atravs da prtica da Educao Fsica escolar. Se for o mesmo buscado pelas outras disciplinas, tornaria a rea um instrumento de auxlio ou de apoio para a aprendizagem de outros contedos. Essa abordagem levanta a questo que o papel da interdisciplinaridade importante dentro da Educao Fsica escolar, mas se deve ter sempre em mente que a interdisciplinaridade s ser positiva para a Educao Fsica na escola quando estiver claro para o professor quais so as fnalidades da Educao Fsica, de modo a 28 UNIDADE 01 guardar a preocupao de introduzir o aluno s questes relacionadas cultura corporal e guardando as suas caractersticas especfcas. A proposta teve o mrito de levantar a questo da importncia de se considerar o conhecimento que a criana j possui na Educao Fsica escolar, incluindo os conhecimentos prvios dos alunos no processo de ensino e aprendizagem. Essa perspectiva tambm procurou alertar os professores sobre a importncia da participao ativa dos alunos na soluo de problemas. Na proposta construtivista, o jogo, enquanto contedo/estratgia, tem papel privilegiado. considerado o principal modo de ensinar, um instrumento pedaggico, um meio de ensino, pois enquanto joga ou brinca a criana aprende. Sendo que este aprender deve ocorrer num ambiente ldico e prazeroso para a criana. As propostas de avaliao caminham no sentido do uso da avaliao no-punitiva, vinculada ao processo, e com nfase no processo de autoavaliao. Abordagem desenvolvimentista Para Tani et alii (1988) a proposta explicitada por eles uma abordagem dentre vrias possveis, e est dirigida especifcamente para crianas de quatro a quatorze anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentao para a Educao Fsica escolar. A abordagem desenvolvimentista dirigida especifcamente para a faixa etria at 14 anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentao para a Educao Fsica escolar. uma tentativa de caracterizar a progresso normal do crescimento fsico, do desenvolvimento motor e da aprendizagem motora em relao faixa etria e, em funo dessas caractersticas, sugerir aspectos ou elementos relevantes estruturao de um programa para a Educao Fsica na escola. A abordagem defende a ideia de que o movimento o principal meio e fm da Educao Fsica, propugnando a especifcidade do seu objeto. Sua funo no desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetizao e o pensamento lgico-matemtico, embora tal possa ocorrer como um subproduto da prtica motora. Em suma, uma aula de Educao Fsica deve privilegiar a aprendizagem do movimento, conquanto possam estar ocorrendo outras aprendizagens, de ordem afetivo-social e cognitiva, em decorrncia da prtica das habilidades motoras. Grande parte do modelo conceitual desta abordagem relaciona-se 29 Contedo e Metodologia de Educao Fsica com o conceito de habilidade motora, pois por meio dela que os seres humanos se adaptam aos problemas do cotidiano. Como as habilidades mudam ao longo da vida do indivduo, desde a concepo at a morte, constituram-se numa rea de conhecimento da Educao Fsica - o desenvolvimento motor. Ao mesmo tempo, estruturou-se tambm outra rea em torno da questo de como os seres humanos aprendem as habilidades motoras - a aprendizagem motora. Para a abordagem desenvolvimentista, a Educao Fsica deve proporcionar ao aluno condies para que seu comportamento motor seja desenvolvido pela interao entre o aumento da diversifcao e a complexidade dos movimentos. Habilidade motora um dos conceitos mais importantes dentro desta abordagem, assim, o principal objetivo da Educao Fsica oferecer experincias de movimento adequadas ao seu nvel de crescimento e desenvolvimento, a fm de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcanada. A criana deve aprender a se movimentar para adaptar-se s demandas e s exigncias do cotidiano, ou seja, corresponder aos desafos motores. A partir dessa perspectiva passou a ser extremamente difundida a questo da adequao dos contedos ao longo das faixas etrias. A exemplo do domnio cognitivo, foi proposta uma taxionomia para o desenvolvimento motor, ou seja, uma classifcao hierrquica dos movimentos dos seres humanos. Os contedos devem obedecer a uma sequncia fundamentada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor, proposta por Gallahue (2005) e ampliada por Manoel (1994), na seguinte ordem: fase dos movimentos fetais, fase dos movimentos espontneos e refexos, fase de movimentos rudimentares, fase dos movimentos fundamentais, fase de combinao de movimentos fundamentais e movimentos culturalmente determinados. Tais contedos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilidades, do mais simples, que so as habilidades bsicas, para as mais complexas, as habilidades especfcas. Embora no tenha sido especifcamente considerado o item avaliao, no decorrer do trabalho apresentada uma descrio detalhada das principais habilidades motoras, seus diferentes nveis, at a aquisio de um padro de movimento com qualidade. sugerido que os professores observem sistematicamente o comportamento dos seus alunos, no sentido de verifcar em que fase ele se encontra, localizar os erros e oferecer informaes relevantes para que os erros de desempenho sejam superados. 30 UNIDADE 01 Abordagem Crtico-superadora Com apoio nas discusses que vinham ocorrendo nas reas educacionais e na tentativa de romper com o modelo hegemnico do esporte praticado nas aulas de Educao Fsica, a partir da dcada de 80 so elaborados os primeiros pressupostos tericos num referencial crtico, com fundamento no materialismo histrico e dialtico. Essa abordagem passou a questionar o carter alienante da Educao Fsica na escola, propondo um modelo de superao das contradies e injustias sociais. Assim, uma Educao Fsica crtica estaria atrelada s transformaes sociais, econmicas e polticas, tendo em vista a superao das desigualdades sociais. Esta abordagem levanta questes de poder, interesse e contestao. Acredita que qualquer considerao sobre a pedagogia mais apropriada deve versar no somente sobre como se ensinam e como se aprendem esses conhecimentos, mas tambm sobre as suas implicaes valorativas e ideolgicas, valorizando a questo da contextualizao dos fatos e do resgate histrico. Busca possibilitar a compreenso, por parte do aluno, de que a produo cultural da humanidade expressa uma determinada fase e que houve mudanas ao longo do tempo. Essa refexo pedaggica compreendida como sendo um projeto poltico- pedaggico. Poltico porque encaminha propostas de interveno em determinada direo, e pedaggico porque prope uma refexo sobre a ao dos homens na realidade, explicitando suas determinaes. At o momento, pouco tem sido feito em termos de implementao dessas ideias na prtica da Educao Fsica, embora haja um esforo neste sentido. Ghiraldelli Jr. (1990, apud RESENDE, 1994), afrma que a importante infuncia da abordagem crtico-superadora na Educao Fsica, mas critica a falta de propostas pedaggicas na rea. Quanto seleo de contedos para as aulas de Educao Fsica, sugere que se considere a sua relevncia social, sua contemporaneidade e sua adequao s caractersticas sociocognitivas dos alunos. Em relao organizao do currculo, ressalta que preciso fazer o aluno confrontar os conhecimentos do senso comum com o conhecimento cientfco, para ampliar o seu acervo. Alm disso, sugere que os contedos selecionados para as aulas de Educao Fsica devem propiciar uma melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, assim, sua insero transformadora nessa 31 Contedo e Metodologia de Educao Fsica realidade. A Educao Fsica entendida como uma rea que trata de um tipo de conhecimento, denominado cultura corporal de movimento, que tem como temas o jogo, a ginstica, o esporte, a dana, a capoeira e outras temticas que apresentarem relaes com os principais problemas dessa cultura corporal de movimento e o contexto histrico-social dos alunos. No contexto escolar, a avaliao em Educao Fsica duramente criticada porque vem estimulando uma prtica discriminatria aos interesses da classe trabalhadora. Em resumo, a introduo das abordagens psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e crtico-superadora no espao do debate da Educao Fsica proporcionou uma ampliao da viso da rea, tanto no que diz respeito natureza de seus contedos quanto no que refere aos seus pressupostos pedaggicos de ensino e aprendizagem. Reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimenses psicolgicas, sociais, cognitivas, afetivas e polticas, concebendo o aluno como ser humano integral. Alm disso, foram englobados objetivos educacionais mais amplos, no apenas voltados para a formao de fsico que pudesse sustentar a atividade intelectual, e contedos mais diversifcados, no s restritos a exerccios ginsticos e esportes. Abordagem Sistmica Uma quinta concepo de Educao Fsica escolar vem sendo ainda elaborada. Em trabalhos realizados notam-se as infuncias de estudos nas reas da Sociologia, da Filosofa e, em menor grau, da Psicologia. Betti (1991) considera a teoria de sistemas, defendida em grande medida por Bertalanffy e Koestler (apud BETTI, 1991), como um instrumento conceitual e um modo de pensar a questo do currculo de Educao Fsica. Como na teoria de sistemas proposta por Bertalanffy, o autor trabalha com os conceitos de hierarquia, tendncias auto- afrmativas e autointegrativas. O autor entende a Educao Fsica como um sistema hierrquico aberto, uma vez que os nveis superiores, como as Secretarias de Educao, exercem algum controle sobre os sistemas inferiores, como a direo da escola, o corpo docente e outros. um sistema hierrquico aberto porque sofre infuncias da sociedade como um todo e ao mesmo 32 UNIDADE 01 tempo a infuencia. Para a abordagem sistmica existe a preocupao de garantir a especifcidade, na medida em que considera o binmio corpo/movimento como meio e fm da Educao Fsica escolar. O alcance da especifcidade se d atravs da fnalidade da Educao Fsica na escola, que , segundo Betti (1992), "integrar e introduzir o aluno de 1 e 2 graus no mundo da cultura fsica, formando o cidado que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade fsica (o jogo, o esporte, a dana, a ginstica...)" (p.285). O autor ressalta que a funo da Educao Fsica na escola no est restrita ao ensino de habilidades motoras, embora sua aprendizagem tambm deva ser entendida como um dos objetivos, e no o nico, a serem perseguidos pela Educao Fsica Escolar. Para isto no basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades fsicas que, evidentemente, so necessrias em nveis satisfatrios para que o indivduo possa usufruir dos padres e valores que a cultura corporal/movimento oferece aps sculos de civilizao. Os contedos oferecidos na escola para integrar e introduzir o aluno na cultura corporal/ movimento no diferem das demais abordagens: o jogo, o esporte, a dana e a ginstica. Diferem, todavia, da abordagem crtico-superadora, segundo a qual o essencial o aluno conhecer a cultura corporal. Alguns princpios derivados desta abordagem foram apresentados por Betti (1991). O mais importante denominado princpio da no- excluso, segundo o qual nenhuma atividade pode excluir qualquer aluno das aulas da Educao Fsica. Este princpio tenta garantir o acesso de todos os alunos s atividades da Educao Fsica. O princpio da diversidade prope que a Educao Fsica na escola proporcione atividades diferenciadas e no privilegie apenas um tipo, por exemplo, futebol ou basquete. Alm disso, pretende que a Educao Fsica escolar no trabalhe apenas com um tipo de contedo esportivo. Garantir a diversidade como um princpio proporcionar vivncias nas atividades esportivas, atividades rtmicas e expressivas vinculadas dana e atividades da ginstica. A importncia da aprendizagem de contedos diversos est vinculada ao uso do tempo livre de lazer, oportunizando o alcance da cidadania. 33 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Abordagem Crtico-emancipatria Apoiados nas discusses que vinham ocorrendo nas reas educacionais e na tentativa de romper com o modelo hegemnico do esporte/aptido fsica praticado nas aulas de Educao Fsica, so elaboradas estas estruturas autoritrias onde o ensino caminha no sentido de uma emancipao, possibilitada pelo uso da linguagem. Nasce a a abordagem crtico-emancipatria. A linguagem tem papel importante no agir comunicativo e funciona como uma forma de expresso de entendimentos do mundo social, para que todos possam participar em todas as instncias de deciso, na formulao de interesses e preferncias e agir de acordo com as situaes e condies do grupo em que est inserido e do trabalho no esforo de conhecer, desenvolver e apropriar-se de cultura. Do ponto de vista das orientaes didticas, o papel do professor na concepo crtico-emancipatria confronta, num primeiro momento, o aluno com a realidade do ensino, o que foi denominado de transcendncia de limites. Concretamente a forma de ensinar pela transcendncia de limites pressupe trs fases. Na primeira os alunos descobrem, pela prpria experincia manipulativa, as formas e meios para uma participao bem-sucedida em atividades de movimentos e jogos. Em segundo, devem tambm manifestar, pela linguagem ou representao cnica, o que experimentaram e o que aprenderam numa forma de exposio, e por fm, os alunos devem aprender a perguntar e questionar sobre suas aprendizagens e descobertas, com a fnalidade de entender o signifcado cultural da aprendizagem. Abordagem Cultural A abordagem cultural foi sugerida em crtica perspectiva biolgica que ainda domina a Educao Fsica na escola. Esta viso naturaliza e universaliza o corpo humano, entendendo-o como um conjunto de ossos, msculos e articulaes. Assim, todos os corpos so iguais por possurem os mesmos componentes, e as aulas de Educao Fsica devem ser as mesmas para todos os alunos, em qualquer poca e lugar. Dalio (1993) buscou, nas suas propostas, basear-se numa perspectiva antropolgica, um contraponto possvel nfase biolgica, e denominou de enfoque cultural, cuja principal vantagem no a excluso da dimenso biolgica, mas a sua discusso vinculada ao surgimento 34 UNIDADE 01 da cultura ao longo da evoluo dos primatas at culminar com o aparecimento do Homo sapiens. O autor procurou ampliar o conceito de tcnicas corporais prtica da Educao Fsica, tendo concludo que se todo movimento corporal considerado um gesto tcnico, no possvel atribuir valores para esta tcnica, a no ser dentro de um contexto especfco. Assim, no devem existir tcnicas melhores ou piores. Enfatizando o papel da cultura, o autor lembra que toda tcnica cultural, porque fruto de uma aprendizagem especfca de uma determinada sociedade, num determinado momento histrico. Todavia, continua Dalio (1993), a Educao Fsica vem se pautando, ao longo de sua histria, por valorizar os modelos pr- estabelecidos provenientes do esporte de rendimento, negligenciando, e muito, as diferenas tcnicas dos alunos, que no deixam de ser culturais. Dalio (1993) entende que o professor de Educao Fsica est inserido num contexto cultural repleto de representaes sobre o mundo, o corpo e a escola. Da que a prtica transformadora s ser possvel a partir da compreenso do universo de signifcados do professor de Educao Fsica. O autor sugere ainda que o ponto de partida da Educao Fsica o repertrio corporal que cada aluno possui quando chega escola, uma vez que toda tcnica corporal uma tcnica cultural, e no existe tcnica melhor ou mais correta. De acordo com o autor, o princpio da alteridade, emprestado da antropologia, pode ser um instrumento til para pensar a prtica da Educao Fsica na escola, pois considera a humanidade plural e procura entender os homens a partir de suas diferenas, de tal modo que os hbitos e as prticas de determinados grupos no sejam vistos como certos ou errados, melhores ou piores. Assim, a diferena no deve ser pensada como inferioridade, pois "o que caracteriza a espcie humana justamente sua capacidade de se expressar diferentemente" (DALIO. 1993, p.100).
Abordagem dos Jogos Cooperativos Esta nova perspectiva para a Educao Fsica na escola est pautada sobre a valorizao da cooperao em detrimento da competio. Brotto (1995), principal divulgador destas ideias no pas, afrma que a estrutura social que determina se os membros de determinadas sociedades iro competir ou cooperar entre si. O autor entende que h 35 Contedo e Metodologia de Educao Fsica um condicionamento, um treinamento na escola, famlia, mdia, para fazer acreditar que as pessoas no tm escolhas e tm que aceitar a competio como opo natural. O autor sugere o uso dos jogos cooperativos como uma fora transformadora, oferecendo como alternativa os jogos cooperativos, que so divertidos para todos e todos tm um sentimento de vitria, criando alto nvel de aceitao mtua, enquanto os jogos competitivos so divertidos apenas para alguns, a maioria tem sentimentos de derrota e excluda por falta de habilidades. Brown (1994), autor do livro Jogos coperativos: teoria e prtica, traduzido para o portugus, afrma que o ponto de partida desta perspectiva o jogo, sua mensagem, suas possibilidades de ser uma prazerosa oportunidade de comunicao e um espao importante para viver alternativas novas, uma contribuio para a construo de uma nova sociedade baseada na solidariedade e na justia. Entende o autor que os jogos no so algo novo para entreter os garotos, mas uma proposta coerente com valores pedaggicos que deseja transmitir, espaos de criao simblica do povo, espaos onde, a partir da cooperao, do-se os sentidos prtica que realizamos. Embora tal proposta seja bastante interessante na busca de valores mais humanitrios e seja possvel, vivel em termos de implementao na prtica e concreta para os professores de Educao Fsica, considerando a importncia do jogo, a abordagem no parece ter-se aprofundado, como deveria, nas anlises sociolgicas e flosfcas subjacentes construo de um modelo educacional voltado para a cooperao, alm de no considerar os efeitos do sistema capitalista sobre a competio/ cooperao na sociedade contempornea. possvel que estas anlises estejam em curso, uma vez que suas publicaes so bastante recentes. Abordagem da Sade Renovada A produo do conhecimento na rea biolgica em Educao Fsica , sem dvida, uma das pioneiras. J na dcada de 70 so instalados os primeiros laboratrios de avaliao fsica, fsiologia do exerccio e outros. Parece que os estudos conduzidos por estes laboratrios no tinham intenes explcitas de produzir conhecimento na rea escolar, embora, em alguns momentos, isto pudesse ocorrer. Pesquisas realizadas procurando analisar os efeitos da atividade fsica sobre os nveis de fora, resistncia, fexibilidade e outras capacidades fsicas, utilizavam como 36 UNIDADE 01 sujeitos atletas, jovens, adultos, idosos e tambm escolares, embora o foco no estivesse centrado na proposio e na anlise do ambiente escolar e na Educao Fsica neste contexto. Esta ressalva fundamental para compreender o afastamento dos pesquisadores da rea biolgica das questes escolares. Duas parecem ter sido as razes principais. Primeiro, o status, verbas, fnanciamento e reconhecimento da sociedade que notadamente superior no campo do rendimento esportivo. Assim, muitos pesquisadores acabaram por dirigir seus estudos na busca de alternativas para melhorar a performance, e paralelamente, com o aumento do nmero das academias de ginstica e a procura da atividade fsica pelo cidado comum, uma ateno especial tambm foi dirigida aos aspectos relacionados sade e qualidade de vida. Uma segunda razo para justifcar o afastamento dos pesquisadores da rea biolgica das questes escolares pode ser atribuda ao prprio discurso dos trabalhos da rea pedaggica, que a partir da dcada de 80 no entendiam e/ou no valorizavam a dimenso biolgica nas suas propostas para a escola. Pelo contrrio, teceram inmeras crticas viso homogeneizadora e acrtica da perspectiva biolgica. Em meados da dcada de 90 passa a haver um "clima" em torno da busca dos acordos e dos consensos, solicitado por alguns nomes da rea (SOARES, 1996; DALIO, 1995). Observa-se uma discusso mais acadmica e menos pessoal, o que possibilitou um dilogo maior entre os profssionais, acabando por conduzir alguns dos seus membros a refetirem sobre a Educao Fsica na escola dentro de uma perspectiva biolgica, na tentativa de superao dos modelos higinicos e eugnicos, to presentes na construo histrica da rea. Assim, Nahas (1997), Guedes & Guedes (1996), para citar alguns, passam a advogar em prol de uma Educao Fsica escolar dentro da matriz biolgica, embora no tenham se afastado das temticas da sade e da qualidade de vida. Guedes & Guedes (1996) ressaltam que uma das principais preocupaes da comunidade cientfca nas reas da Educao Fsica e da sade pblica levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de reverter a elevada incidncia de distrbios orgnicos associados falta de atividade fsica. Os autores, baseados em diferentes trabalhos americanos, entendem que as prticas de atividade fsica vivenciadas na infncia e adolescncia se caracterizam como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades e hbitos que podem auxiliar na adoo de um estilo de vida ativo fsicamente na idade adulta. E como 37 Contedo e Metodologia de Educao Fsica proposta sugerem a redefnio do papel dos programas de Educao Fsica na escola, agora como meio de promoo da sade, ou a indicao para um estilo de vida ativa proposta por Nahas (1997). Esta proposta foi denominada de sade renovada porque ela incorpora princpios e cuidados j consagrados em outras abordagens com enfoque mais sociocultural. Nahas (1997), por exemplo, sugere que o objetivo da Educao Fsica na escola de ensino mdio ensinar os conceitos bsicos da relao entre atividade fsica, aptido fsica e sade. O autor observa que esta perspectiva procura atender a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam, os sedentrios, os de baixa aptido fsica, os obesos e os portadores de defcincias. Guedes & Guedes (1996), assim como Nahas (1997), ressaltam a importncia das informaes e conceitos relacionados aptido fsica e sade. A adoo destas estratgias de ensino contempla no apenas os aspectos prticos, mas tambm a abordagem de conceitos e princpios tericos que proporcionem subsdios aos escolares, no sentido de tomarem decises quanto adoo de hbitos saudveis de atividade fsica ao longo de toda a vida. Abordagem dos Parmetros Curriculares Nacionais O Ministrio da Educao e do Desporto, atravs da Secretaria de Ensino Fundamental, inspirado no modelo educacional espanhol, mobilizou, a partir de 1994, um grupo de pesquisadores e professores no sentido de elaborar os Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Em 1997, foram lanados os documentos referentes aos 1 e 2 ciclos (1 a 4 sries do Ensino Fundamental) e no ano de 1998 os relativos aos 3 e 4 ciclos (5a a 8a sries), incluindo um documento especfco para a rea da Educao Fsica (BRASIL, 1998). Em 1999, foram publicados os PCNs do Ensino Mdio por uma equipe diferente daquela que comps a do Ensino Fundamental, e a superviso fcou sob a responsabilidade da Secretaria de Educao Mdia e Tecnolgica, do Ministrio da Educao e do Desporto (BRASIL, 1999). Os elaboradores dos PCNs de 5a a 8a sries, publicados em 1998, foram os professores Marcelo Jabu e Caio Costa. De acordo com o grupo que organizou os Parmetros Curriculares Nacionais (1998), estes documentos tm como funo primordial subsidiar a elaborao ou a verso curricular dos estados e municpios, dialogando com as propostas e experincias j existentes, incentivando 38 UNIDADE 01 a discusso pedaggica interna s escolas e a elaborao de projetos educativos, assim como servir de material de refexo para a prtica de professores. Os PCNs so compostos pelos seguintes documentos: documento introdutrio, temas transversais (Sade, Meio Ambiente, tica, Pluralidade Cultural, Orientao Sexual eTrabalho e Consumo) e documentos que abordam o tratamento a ser oferecido em cada um dos diferentes componentes curriculares. O documento dos PCNs rea Educao Fsica para o terceiro e o quarto ciclos (5 a 8a sries) apresenta alguns avanos e possibilidades importantes para a disciplina, embora muitas destas ideias j estivessem presentes no trabalho de alguns autores brasileiros, em discusses acadmicas, bem como no trabalho de alguns professores da rede escolar de ensino. Contudo, o texto publicado pelos PCNs auxiliou na organizao desses conhecimentos, articulando-os nas suas vrias dimenses. De acordo com os PCNs, eleger a cidadania como eixo norteador signifca entender que a Educao Fsica na escola responsvel pela formao de alunos que sejam capazes de: participar de atividades corporais, adotando atitudes de respeito mtuo, dignidade e solidariedade; conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestaes da cultura corporal; reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hbitos saudveis e relacionando-os com os efeitos sobre a prpria sade e de melhoria da sade coletiva; conhecer a diversidade de padres de sade, beleza e desempenho que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua insero dentro da cultura em que so produzidos, analisando criticamente os padres divulgados pela mdia; reivindicar, organizar e interferir no espao de forma autnoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer (BRASIL, 1998). Na anlise dos objetivos descritos para a Educao Fsica fca evidenciada a amplitude de abordagens abarcadas, pois incluem a dimenso da crtica (aos padres de beleza, por exemplo), ao mesmo tempo em que referenciam a busca da compreenso dos benefcios da atividade fsica para a sade. Uma leitura mais atenta mostra tambm uma perspectiva da compreenso dos processos de aprendizagem a partir da tica do construtivismo. Embora a fnalidade seja a integrao do aluno na esfera da cultura corporal de movimento (PCNs, 1998), existe certo ecletismo nos meios considerados para alcanar essas fnalidades. 39 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Trs aspectos da proposta dos PCNs rea Educao Fsica representam aspectos relevantes a serem buscados dentro de um projeto de melhoria da qualidade das aulas, quais sejam: princpio da incluso, as dimenses dos contedos (atitudinais, conceituais e procedimentais) e os temas transversais. Quanto primeira considerao (princpio da incluso), a proposta destaca uma Educao Fsica na escola dirigida a todos os alunos, sem discriminao. Ressalta tambm a importncia da articulao entre aprender a fazer, a saber, por que est fazendo e como relacionar-se neste fazer, explicitando as dimenses dos contedos procedimental, conceitual e atitudinal, respectivamente. Alm disso, prope um relacionamento das atividades da Educao Fsica com os grandes problemas da sociedade brasileira, sem, no entanto, perder de vista o seu papel de integrar o cidado na esfera da cultura corporal, atravs do que denominam de temas transversais. Assim, a Educao e a Educao Fsica requerem que questes sociais emergentes sejam includas e problematizadas no cotidiano da escola buscando um tratamento didtico que contemple sua complexidade e sua dinmica, no sentido de contribuir com a aprendizagem, a refexo e a formao do cidado crtico. Quadro atual Na atualidade, as grandes tendncias apontadas tm se desdobrado em novas propostas pedaggicas, em funo do avano da pesquisa e da refexo terica especfca da rea e da educao escolar de forma geral, e da sistematizao decorrente da refexo sobre a prtica pedaggica concreta de escolas e professores, que, muitas vezes dentro de situaes desfavorveis, seguem inovando. Ao mesmo tempo, infelizmente, encontra-se ainda, em muitos contextos, a prtica de propostas de ensino pautadas em concepes ultrapassadas, que no suprem as necessidades e as possibilidades da educao contempornea. Nesse contexto, instala-se um novo ordenamento legal na proposio da atual Lei de Diretrizes e Bases, que orienta para a integrao da Educao Fsica na proposta pedaggica da escola. Ao delegar autonomia para a construo de uma proposta pedaggica integrada, a nova lei responsabiliza a prpria escola e o professor pela adaptao da ao educativa escolar s diferentes realidades e demandas sociais. 40 UNIDADE 01 importante ressaltar que essa autonomia deve pressupor a valorizao do professor e da instituio escolar, criando condies concretas e objetivas para o exerccio produtivo dessa responsabilidade, pois a possibilidade de construo deve gerar um avano em direo ao exerccio pleno da cidadania, garantindo a todos os alunos o acesso aos conhecimentos da cultura corporal de movimento. Por outro lado, interesses polticos e econmicos escusos podem, a partir de uma interpretao distorcida da lei, legitimar a descaracterizao da Educao Fsica escolar, tornando-a mera rea tcnica ou recreativa, desprovida de funo no processo educativo pleno. fundamental, portanto, que a escola, a comunidade de pais e alunos e principalmente o professor valorizem-se e sejam valorizados, assumindo a responsabilidade da integrao desta rea de conhecimento humano ao projeto pedaggico de cada escola, exigindo plenas condies para o exerccio de seu trabalho, garantindo para o aluno a manuteno de nmero adequado de aulas e de condies efetivas para a aprendizagem. Os Parmetros Curriculares Nacionais se propem a contribuir nessa construo, fornecendo subsdios para a discusso e concretizao da proposta curricular de cada escola. Para entender melhor O incio da prtica da atividade fsica aconteceu nos primrdios da humanidade, poca em que o homem ainda no tinha desenvolvido meios para deixar registrados os acontecimentos e fatos que marcariam toda a sua trajetria dentro do histrico da raa humana. Sabe-se que algumas evolues do homem aconteceram em momentos onde a comunicao era defcitria. A prtica da atividade fsica foi uma dessas evolues experimentadas pelo homem ainda como uma forma de sobrevivncia, como atirar lanas em animais, atravessar rios em momentos de mudana de moradia e no preparo de reas agrcolas. Alm disso, ainda existiam as danas primitivas de carter de adorao, rituais fnebres e invocao dos deuses. Com o decorrer dos sculos, a humanidade evoluiu e sistematizou vrios movimentos praticados na vida diria dos povos, transformando- os em exerccios fsicos com objetivos especfcos, tais como, melhora no condicionamento fsico, formao de exrcitos, busca do equilbrio 41 Contedo e Metodologia de Educao Fsica entre corpo e mente e etc. Todos ns sabemos da importncia de fazer uma atividade fsica e de se manter ativo. Mas isto deve ser trabalhado j na infncia, aliando a educao fsica educao moral e intelectual, formando o indivduo como um todo. A educao fsica, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimenso psicomotora das pessoas, principalmente nas crianas e adolescentes, conjuntamente com os domnios cognitivos e sociais, deve ser disciplina obrigatria nas escolas primrias e secundrias, devendo fazer parte do currculo da escola. A educao fsica uma atividade dinmica que contribui na formao ampla dos sujeitos, em seu aspecto social, bem como no desenvolvimento de seu lado individual, atravs de oportunidades ldicas que proporcionam equilbrio entre corpo, mente e espao. Desenvolve as habilidades motoras de qualquer sujeito, alm de manter elementos teraputicos, sejam eles emocionais ou fsicos. O trabalho pedaggico desenvolvido na Educao Fsica deve estar voltado para a construo da cidadania dos sujeitos, formando elementos crticos e participativos no meio social em que esto inseridos. Seu objetivo principal deve ser de que o aluno adquira a qualifcao scio-histrico-cultural necessria para promover o desenvolvimento de uma racionalidade crtica, autnoma e participativa. No que se refere aos objetivos gerais da Educao Infantil, pode-se observar que as aulas, dentro do Projeto Pedaggico Escolar, podem favorecer a construo da autoimagem positiva, descobrir progressivamente o seu prprio corpo, brincar expressando emoes, sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades, utilizando dentre as diferentes linguagens (plstica, musical, corporal, oral e escrita), a linguagem corporal. Alm disso, a implementao dos contedos especfcos: ginstica, dana, luta, jogo e esporte, quando adequados ao nvel de crescimento e de desenvolvimento das crianas, facilita o conhecimento das diferentes manifestaes culturais, ampliando a viso dos alunos no tocante pluralidade cultural. Dentre os objetivos gerais para o ensino dos alunos com idade entre 7- 14 anos, os PCNs recomendam que o aluno deva conhecer e desenvolver o conhecimento ajustado conforme o prprio corpo, nos diferentes domnios a fm de tambm desenvolver a autoconfana e todas as suas capacidades intelectuais, afetivas e sociais. Adotar hbitos saudveis para si e para a coletividade, utilizar as diferentes formas de 42 UNIDADE 01 linguagem, dentre elas a corporal; compreender a cidadania atuando de forma crtica responsvel e construtiva. Falando um pouco da histria da educao fsica, podemos relatar que trs anos aps a aprovao da reforma do primrio e do secundrio, em 1854, a ginstica passou a ser uma disciplina obrigatria no primrio, e a dana no secundrio. Em reforma realizada, a seguir, por Rui Barbosa, em 1882, houve uma recomendao para que a ginstica fosse obrigatria para as mulheres e que fosse oferecida para as Escolas Normais. Todavia, a implantao, destas leis ocorreu, de fato, apenas em parte, no Rio de Janeiro (capital da Repblica) e nas escolas militares. apenas a partir da dcada de 1920 que vrios estados da federao comeam a realizar suas reformas educacionais e incluem a Educao Fsica, com o nome mais frequente de ginstica. A partir da dcada de 30, a concepo dominante na Educao Fsica calcada na perspectiva higienista. Nela, a preocupao central com a formao de hbitos de higiene e sade como: tomar banho, escovar os dentes, lavar as mos. Valorizando o desenvolvimento do fsico e da moral, a partir do exerccio. Inicia-se, ento, a fase militarista da educao fsica, que vai de 1930 at 1945. A educao fsica era vista como um poderoso auxiliar no fortalecimento do Estado e possante meio para o aprimoramento da raa. Nesta fase, o professor assumia o papel de instrutor e o aluno, de recruta; ao aluno cabia disciplina, obedincia e subordinao. A educao fsica era praticada, tambm, para a formao de homens e mulheres sadios e fortes que gerassem flhos saudveis para estes defenderem e construrem a Ptria. Aps as grandes guerras, que coincidem com o fm do Estado novo, o modelo americano denominado Escola Nova entra no Brasil e fxa razes. Inicia-se a fase da pedagogizao (1946-1964), onde a educao fsica passou a ser vista como uma prtica meramente educativa. O discurso predominante na Educao Fsica passa a ser: "A Educao Fsica um meio da Educao". O discurso desta fase vai advogar em prol da educao do movimento como nica forma capaz de promover a chamada educao integral. Este movimento passa a entrar em declnio a partir da instalao da ditadura militar no nosso pas onde se observou, no Brasil, a ascenso do esporte, iniciando-se a fase competitiva da educao fsica em 1964. Nessa fase a educao fsica tem um carter altamente tecnicista, visando utilizao dos mais aptos em detrimento dos menos capacitados. A 43 Contedo e Metodologia de Educao Fsica frase mais conhecida dessa poca "Esporte sade". A partir dos anos 80, o modelo esportivista muito criticado pelos meios acadmicos, os efeitos desse modelo comearam a ser sentidos e contestados: o Brasil no se tornou uma nao olmpica e a competio esportiva da elite no aumentou signifcativamente o nmero de praticantes de atividades fsicas. Iniciou-se ento uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no prprio discurso da Educao Fsica, que originou uma mudana expressiva nas polticas educacionais: a Educao Fsica escolar, que estava voltada principalmente para a escolaridade de quinta a oitava sries do primeiro grau, passou a dar prioridade ao segmento de primeira a quarta sries e tambm pr-escola. O objetivo passou a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno, propondo-se retirar da escola a funo de promover os esportes de alto rendimento. Essa fase conhecida como fase popular da Educao Fsica. Resumo das principais caractersticas das abordagens Psicomotora, Construtivista, Desenvolvimentista, Crtico-superadora e Sistmica Psicomotora Construtvista Desenvolvimentsta Crtco-supera- dora sistmica Finalidade Reeducao psicomotora Construo do conhecimento Adaptao Transformao social Transformao social Temtica principal Conscincia corporal Cultura popular, Jogo, Ldico Habilidade, Aprendizagem, Desenvolvimento Motor Cultura Corporal, Viso Histrica Cultura Corporal, Motivos, Atitudes, Comportamento contedos lateralidade e coordenao/ Exerccios Brincadeiras populares, jogo simblico, jogo de regras Habilidades bsicas, habilidades especfcas, jogo, esporte, dana Conhecimento sobre o jogo, esporte, dana, ginstica Vivncia do jogo, esporte, dana, ginstica Estratgias/ metodologia - Resgatar o conhecimento do aluno, solucionar problemas Equifnalidade, variabilidade, soluo de problemas Tematizao Equifnalidade, No-excluso, diversidade Avaliao - No-punitiva, processo, autoavaliao Habilidade, processo, observao sistemtica Considerar a classe social, observao sistemtica - 44 UNIDADE 01 Resumo das principais caractersticas das abordagens Crtico- emancipatria, Cultural, Jogos cooperativos, Sade renovada e PCNs. Crtco- emanci- patria Cultural Jogos coopera- tvos Sade renovada PCNs Finalidade Refexo crtica emancipatria dos alunos Reconhecer o papel da cultura Indivduos cooperativos Melhorar a sade Introduzir o aluno na esfera da cultura corporal de movimento Temtica principal Transcendncia de limites/ Alteridade/ Incorporao de novos valores/ Estilo de vida ativo Conhecimentos sobre corpo Contedos Conhecimento, esportes Tcnicas corporais Jogos cooperativos Conhecimento, exerccios fsicos Conhecimento de esportes, lutas, jogos e brincadeiras e atividades rtmicas 1. O que voc entende por abordagem construtivista em Educao Fsica? No que ela se distingue da abordagem psicomotora e desenvolvimentista? 2. Baseado no que foi lido da unidade, produza um texto relacionando conceituao, importncia e objetivo da educao fsica. 3. Descreva de forma resumida a histria da educao fsica. UNIDADE 2 Educao Fsica e Cultura Corporal OBJETIVOS: Compreender a importncia da cultura corporal para o desenvolvimento da cidadania; Vivenciar as diferentes linguagens da cultura corporal como jogo, esporte, ginstica, dana e luta no cotidiano escolar; Utilizar os Parmetros Curriculares Nacionais como sugesto de contedo, metodologia e avaliao na educao fsica; Planejar atividades sugeridas pelo contedo a ser desenvolvido nesta unidade. 46 UNIDADE 02 47 Contedo e Metodologia de Educao Fsica EDUCAO FSICA E CULTURA CORPORAL A Educao Fsica uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma rea denominada de cultura corporal. Ela ser confgurada com temas das formas de atividades particularmente corporais (...) como jogo, esporte, ginstica, dana ou outras, que constituiro seu contedo. O estudo desse conhecimento visa apreender a expresso corporal como linguagem (COLETIVO DE AUTORES, 1999, p.62). O conceito de cultura segundo os Parmetros Curriculares Nacionais entendido como produto da sociedade, de coletividade a qual os indivduos pertencem, antecedendo-os e transcedendo-os. A cultura o conjunto de cdigos simblicos reconhecveis pelo grupo: neles, o indivduo formado desde o momento da sua concepo. Nesses mesmos cdigos, durante a sua infncia, aprende os valores do grupo; ainda por eles , mais tarde, introduzido nas obrigaes da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe. O homem se apropria da cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o ldico, o artstico, o agonstico, o esttico ou outros, que so representaes, ideias, conceitos produzidos pela conscincia social e que chamamos de signifcaes objetivas. Em face delas, ele desenvolve um Sentido pessoal que exprime sua subjetividade e relaciona as signifcaes objetivas com a realidade da sua prpria vida, do seu mundo e das suas motivaes (COLETIVOS DE AUTORES, 1999, p.62). Segundo Leontiev (1981), as signifcaes no so eleitas pelo homem, elas penetram as relaes com as pessoas que formam sua esfera de comunicaes reais. Assim considerado pelo aluno um sentido prprio s atividades propostas pelo professor, tendo essas atividades uma signifcao dada socialmente, e nem sempre a expectativa coincide 48 UNIDADE 02 com a do aluno.
Educao Fsica: Concepo e Importncia Social O trabalho na rea da Educao Fsica tem seus fundamentos nas concepes de corpo e movimento. Ou, dito de outro modo, a natureza do trabalho desenvolvido nessa rea tem ntima relao com a compreenso que se tem desses dois conceitos. Por suas origens militares e mdicas e por seu atrelamento quase servil aos mecanismos de manuteno do status quo vigente na histria brasileira, tanto a prtica como a refexo terica no campo da Educao Fsica restringiram os conceitos de corpo e movimento fundamentos de seu trabalho aos seus aspectos fsiolgicos e tcnicos. Atualmente, a anlise crtica e a busca de superao dessa concepo apontam a necessidade de que, alm daqueles, se considere tambm as dimenses cultural, social, poltica e afetiva, presentes no corpo vivo, isto , no corpo das pessoas, que interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como cidados. Buscando urna compreenso que melhor contemple a complexidade da questo, a proposta dos Parmetros Curriculares Nacionais" adotou a distino entre organismo um sistema estritamente fsiolgico e corpo que se relaciona dentro de um contexto sociocultural e aborda os contedos da Educao Fsica como expresso de produes culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Portanto, a presente proposta entende a Educao Fsica como uma cultura corporal. A Educao Fsica como Cultura Corporal O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua histria uma histria de cultura, na medida em que tudo o que faz est inserido num contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura. O conceito de cultura aqui entendido como produto da sociedade, da coletividade a qual os indivduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os. preciso considerar que no se trata, aqui, do sentido mais usual do termo cultura, empregado para defnir certo saber, ilustrao, refnamento de maneiras. No sentido antropolgico do termo, afrma- se que todo e qualquer indivduo nasce no contexto de uma cultura, no existe homem sem cultura, mesmo que no saiba ler, escrever e 49 Contedo e Metodologia de Educao Fsica fazer contas. como se pudesse dizer que o homem biologicamente incompleto: no sobreviveria sozinho sem a participao das pessoas e do grupo que o gerou. A fragilidade de recursos biolgicos fez com que os seres humanos buscassem suprir as insufcincias com criaes que tornassem os movimentos mais efcazes, seja por razes "militares", relativas ao domnio e uso de espao, seja por razes econmicas, que dizem respeito s tecnologias de caa, pesca e agricultura, seja por razes religiosas, que tangem aos rituais e festas ou por razes apenas ldicas. Derivaram da inmeros conhecimentos e representaes que se transformaram ao longo do tempo, tendo ressignifcadas as suas intencionalidades e formas de expresso, e constituem o que se pode chamar de cultura corporal. Dentre as produes dessa cultura corporal, algumas foram incorporadas pela Educao Fsica em seus contedos: o jogo, o esporte, a dana, a ginstica e a luta. Estes tm em comum a representao corporal, com caractersticas ldicas, de diversas culturas humanas; todos eles ressignifcam a cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude ldica. A Educao Fsica tem uma histria de pelo menos um sculo e meio no mundo ocidental moderno; possui uma tradio e um saber- fazer e tem buscado a formulao de um recorte epistemolgico prprio. Assim, a rea de Educao Fsica hoje contempla mltiplos conhecimentos produzidos e usufrudos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com fnalidades de lazer, expresso de sentimentos, afetos e emoes, e com possibilidades de promoo, recuperao e manuteno da sade. Trata-se, ento, de localizar em cada uma dessas manifestaes (jogo, esporte, dana, ginstica e luta) seus benefcios fsiolgicos e psicolgicos e suas possibilidades de utilizao como instrumentos de comunicao, expresso, lazer e cultura, e formular a partir da as propostas para a Educao Fsica escolar. A Educao Fsica escolar pode sistematizar situaes de ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos prticos e conceituais. Para isso necessrio mudar a nfase na aptido fsica e no rendimento padronizado que caracterizava a Educao Fsica, para uma concepo mais abrangente, que contemple todas as dimenses envolvidas em cada prtica corporal. fundamental tambm que se faa uma clara distino entre os objetivos da Educao Fsica escolar e os objetivos do esporte, da dana, 50 UNIDADE 02 da ginstica e da luta profssionais, pois, embora seja uma referncia, o profssionalismo no pode ser a meta almejada pela escola. A Educao Fsica escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrtica e no seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de defcincias fsicas no podem ser privados das aulas de Educao Fsica. Independentemente de qual seja o contedo escolhido, os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as caractersticas dos alunos em todas as suas dimenses (cognitiva, corporal, afetiva, tica, esttica, de relao interpessoal e insero social). Sobre o jogo da amarelinha, o voleibol ou uma dana, o aluno deve aprender, para alm das tcnicas de execuo, a discutir regras e estratgias, apreci- los criticamente, analis-los esteticamente, avali-los eticamente, ressignifc-los e recri-los. tarefa da Educao Fsica escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos s prticas da cultura corporal, contribuir para a construo de um estilo pessoal de exerc-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreci-las criticamente. Cultura Corporal e Cidadania A concepo de cultura corporal amplia a contribuio da Educao Fsica escolar para o pleno exerccio da cidadania, na medida em que, tomando seus contedos e as capacidades que se prope a desenvolver como produtos socioculturais, afrma como direito de todos o acesso a eles. Alm disso, adota uma perspectiva metodolgica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperao, a participao social e a afrmao de valores e princpios democrticos. O trabalho de Educao Fsica abre espao para que se aprofundem discusses importantes sobre aspectos ticos e sociais, alguns dos quais merecem destaque. A Educao Fsica permite que se vivenciem diferentes prticas corporais advindas das mais diversas manifestaes culturais e se enxergue o modo como essa variada combinao de infuncias est presente na vida cotidiana. As danas, esportes, lutas, jogos e ginsticas compem um vasto patrimnio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Alm disso, esse conhecimento contribui para a adoo de uma postura no-preconceituosa e discriminatria diante das 51 Contedo e Metodologia de Educao Fsica manifestaes e expresses dos diferentes grupos tnicos e sociais e s pessoas que dele fazem parte. A prtica da Educao Fsica na escola poder favorecer a autonomia dos alunos para monitorar as prprias atividades, regulando o esforo, traando metas, conhecendo as potencialidades e limitaes e sabendo distinguir situaes de trabalho corporal que podem ser prejudiciais. A possibilidade de vivncia de situaes de socializao e de desfrute de atividades ldicas, sem carter utilitrio, essencial para a sade e contribuem para o bem-estar coletivo. Sabe-se, por exemplo, que a mortalidade por doenas cardiovasculares vem aumentando, e entre os principais fatores de risco esto a vida sedentria e o estresse. O lazer e a disponibilidade de espaos para atividades ldicas e esportivas so necessidades bsicas e, por isso, direitos do cidado. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais no devem ser privilgios apenas dos esportistas ou das pessoas em condies de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educao Fsica. Os conhecimentos sobre o corpo, seu processo de crescimento e desenvolvimento, que so construdos concomitantemente com o desenvolvimento de prticas corporais, ao mesmo tempo que do subsdios para o cultivo de bons hbitos de alimentao, higiene e atividade corporal e para o desenvolvimento das potencialidades corporais do indivduo, permitem compreend-los como direitos humanos fundamentais. A formao de hbitos de autocuidado e de construo de relaes interpessoais colabora para que a dimenso da sexualidade seja integrada de maneira prazerosa e segura. No que tange questo do gnero, as aulas mistas de Educao Fsica podem dar oportunidade para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram-se e possam aprender a ser tolerantes, a no discriminar e a compreender as diferenas, de forma a no reproduzir estereotipadamente relaes sociais autoritrias. No mbito da Educao Fsica, os conhecimentos construdos devem possibilitar a anlise critica dos valores sociais, tais como os padres de beleza e sade, que se tornaram dominantes na sociedade, seu papel como instrumento de excluso e discriminao social e a 52 UNIDADE 02 atuao dos meios de comunicao em produzi-los, transmiti-los e imp-los; uma discusso sobre a tica do esporte profssional, sobre a discriminao sexual e racial que existe nele, entre outras coisas, pode favorecer a considerao da esttica do ponto de vista do bem-estar, as posturas no consumistas, no-preconceituosas, no-discriminatrias e a conscincia dos valores coerentes com a tica democrtica. Nos jogos, ao interagirem com os adversrios, os alunos podem desenvolver o respeito mtuo, buscando participar de forma leal e no violenta. Confrontar-se com o resultado de um jogo e com a presena de um rbitro permitem a vivncia e o desenvolvimento da capacidade de julgamento de justia (e de injustia). Principalmente nos jogos, em que fundamental que se trabalhe em equipe, a solidariedade pode ser exercida e valorizada. Em relao postura diante do adversrio podem- se desenvolver atitudes de solidariedade e dignidade, nos momentos em que, por exemplo, quem ganha capaz de no provocar e no humilhar, e quem perde pode reconhecer a vitria dos outros sem se sentir humilhado. Viver os papis tanto de praticante quanto de espectador e tentar compreender, por exemplo, por que ocorrem brigas nos estdios que podem levar morte de torcedores favorece a construo de uma atitude de repdio violncia. Em determinadas realidades, o consumo de lcool, fumo ou outras drogas j ocorre em idade muito precoce. A aquisio de hbitos saudveis, a conscientizao de sua importncia, bem como a efetiva possibilidade de estar integrado socialmente (o que pode ocorrer mediante a participao em atividades ldicas e esportivas), so fatores que podem ir contra o consumo de drogas. Quando o indivduo preza sua sade e est integrado a um grupo de referncia com o qual compartilha atividades socioculturais e cujos valores no estimulam o consumo de drogas, ter mais recursos para evitar esse risco. Vejamos agora: O corpo
A corporeidade humana com sua infnidade de movimentos advem de um contexto histrico-cultural de movimentos, expresses e gestos, originando jogos, esportes, dana, ginstica, lutas e outras manifestaes, que ajudam a Educao Fsica a propiciar ao educando o conhecimento 53 Contedo e Metodologia de Educao Fsica do seu corpo, pois atravs dessas aes e expresses a criana exercita seu esquema corporal, elemento bsico indispensvel para a criana em sua tomada de conscincia do prprio corpo, respeitando suas experincias anteriores, oferecendo condies de adquirir e criar novas formas de movimentos, assim o ser humano integra e harmoniza seu relacionamento: eu o outro os objetos o mundo.
Jogo O jogo uma atividade livre, ldica, com regras, de carter competitivo, que possibilita vivncias culturais de forma espontnea. O jogo uma atividade essencial na infncia porque jogando e brincando a criana demonstra toda uma inteno, pois o jogo fgura como instrumento avaliativo, ferramenta pedaggica, contribui com o desenvolvimento cognitivo, com a estruturao da personalidade e socializao e com o desenvolvimento psicomotor, alm do carter ldico que revela toda sua fora como conceito bsico na Educao. Para Piaget (1981) apud Aroeira (1996, p.09), o jogo representa a predominncia da assimilao sobre acomodao. uma transposio simblica que sujeita as coisas atividade da criana sem limitaes. Assim como a imitao, o desenho e a linguagem contribuem para a construo da representao pela criana, constituindo atividades essencialmente nessa fase. Vygotsky, por sua vez, destaca que no jogo a criana encena a realidade utilizando regras de comportamento socialmente constitudas. Nessa situao, os objetos perdem sua fora determinadora sobre o comportamento da criana, ela passa a agir independentemente daquilo que v. (...) (AROEIRA, 1996 p. 09). O jogo no representa apenas experincias vividas, mas prepara o ser humano para o futuro, exercitando habilidades e estimulando o convvio social. Portanto, o jogo possui um grande valor educativo, como tambm grande a importncia de se trabalhar este contedo nas escolas, de forma comprometida com a formao fsica, intelectual, moral e social do aluno. Assim, o jogo apresenta alguns importantes contedos que podem ser defnidos como: jogos motores, jogos sensoriais e jogos intelectuais. Jogos Motores: Eles desenvolvem fora, velocidade, destreza, Na escola tradicional, os jogos so pouco utilizados como estratgias, causando uma divergncia entre o ldico e o pedaggico motivada pela acomodao dos professores e pelo desconhecimento da importncia do jogo no desenvolvimento infantil. O jogo era tido como um elemento que dispersava a ateno da criana. DICA 54 UNIDADE 02 habilidades diversas, coordenao motora; exemplos: correr, saltar, trepar, lanar, atacar e defender; e os de bola: rolada, batida, arremessada, chutada.
SIGA OU PARE Material: Duas bandeiras, uma vermelha e uma verde. Desenvolvimento: Sero traadas duas linhas paralelas no cho, distanciadas em 20 metros. O professor, com as duas bandeiras, fcar numa das linhas e as crianas na linha oposta. Comea o jogo quando o professor elevar bandeira verde que ser o sinal de correr, ao ser levantada a bandeira vermelha as crianas devero parar. E, assim, continuar o jogo com a mudana alternada das cores verde - sinal de siga e vermelha sinal de pare. Ser considerado vencedor o aluno que atingir primeiro a linha oposta. CAMPEO PELO TATO Jogos Sensoriais: atuam diretamente sobre os sentidos: visual, auditivo, ttil. Material: Vrios objetos diferentes. Desenvolvimento: Escolhem-se algumas crianas que vo para o centro. O elemento destacado coloca a mo dentro de um saco cheio de objetos, pega um dos objetos e deixa o mesmo dentro do saco, em seguida demonstra para os colegas atravs de gestos qual objeto ele pegou, pela ordem, procuram dizer qual o nome do objeto demonstrado Alunos da graduao em Educao Fsica da cidade de Barreirinhas MA. Participando do jogo Siga ou Pare. Foto da autora 55 Contedo e Metodologia de Educao Fsica nos gestos. Quem identifcar o nome do objeto em menos tempo marca ponto. O jogo prossegue com a substituio das crianas, at que todas participem ou enquanto a turma se mostrar interessada. Jogos intelectuais: estimulam qualidades intelectuais: imaginao, memria, ateno, raciocnio. MEU PAI TEM UMA LOJA Desenvolvimento: Sentados em crculo. Um jogador escolhido dir: meu pai tem um armazm. Ele vende A.... As outras crianas, conforme a ordem, procuram adivinhar a palavra sugerida: arroz, aveia, acar, etc. O que acertar poder escolher outra letra ( - sagu, sabo, sal). Ganhar um ponto quem citar o artigo de armazm, cujo nome ningum recorda, dentro de um tempo pr-estabelecido. Variante: O que acertar apresenta outra casa comercial: perfumaria, padaria, etc. Aproveitando as letras dadas, para sua melhor fxao: diga uma palavra que comece com a letra B...; cada um dar um exemplo. Quem errar ter que fazer uma lista de objetos com a letra que errou. Orientao para a Organizao e Estruturao do Jogo Para a seleo dos jogos, importante pensar nos critrios que Alunos da graduao em Educao Fsica de Barreirinhas MA. Participando do jogo Campeo pelo tato. Foto da autora. 56 UNIDADE 02 devem nortear a ao pedaggica do professor. Para o xito de um trabalho sistemtico deve-se observar: Critrios para a escolha do bom jogo: Dica: Inclua a sesso de jogos como atividade curricular, planejando-a de acordo com o estgio de desenvolvimento de seus alunos. Possibilidades para que todos participem: Os jogadores devem estar sempre se movimentando durante o jogo. Evite muito tempo de flas de espera, d uma explicao inicial rpida e precisa do jogo, passando imediatamente prtica. Todos os alunos devem participar efetivamente das atividades, pois a incluso a melhor forma de lograr xito. Dica: Evite atividades que possibilitem constrangimento ou humilhao. Valorize o desempenho e as conquistas do educando. Possibilidades de sucesso dos participantes O jogo deve ser desafador, motivando os jogadores conquista de um bom resultado (vitria). No espere que o grupo despreze o Alunos do 5 ano de ensino fundamental de Teresina PI, participando do jogo Meu pai tem uma loja. Foto da autora. 57 Contedo e Metodologia de Educao Fsica jogo para passar para outra atividade, o prazer termina onde comea o desinteresse. Evite jogos muito fceis ou muito difceis. Possibilidade de gerenciamento dos jogadores Procure oferecer s crianas a oportunidade de gerenciamento do jogo. Observe as reaes das crianas (habilidades, hbitos e atitudes), estimule a iniciativa dos alunos, estimule os tmidos, contenha os agressivos. Seja frme, imparcial e justo. Quando o professor interfere muito, alguma coisa no vai bem. Devem-se desafar os alunos a resolverem situaes com problemas referentes ao espao, material, gestos e regras. Dica: Cooperao e autonomia se aprendem na ao de cooperar e chegar a um acordo a fm de solucionar confitos e desafos do jogo. Favorece adaptaes e novas aprendizagens errando que se aprende. A criana pode educar a sua motricidade no espao do jogar. Cabe ao professor criar condies para que os participantes tenham tempo e espao para experimentar e repetir as habilidades motoras envolvidas no jogo. Com o passar do tempo, as crianas devem sentir-se seguras para experimentar e correr o risco de errar. A boa jogada, aquela em que o jogador demonstra ter aprendido a jogar e faz gol ou marca o ponto com competncia, muitas vezes nasce do erro e das muitas tentativas de acertar. Neste constante ir e vir, entre acertos e erros, o jogador atualiza seus esquemas de ao, faz as adaptaes necessrias e aprende a jogar (ROSSETTO JNIOR. 2005, p. 24). Mantm a imprevisibilidade
Nos jogos em grupo, o professor deve estar atento formao das equipes para que haja equilbrio. S perder ou s ganhar no tem graa, pois aquele que s ganha no se sente desafado e aquele que s perde tem a sua autoestima comprometida (...) (ROSSETTO JNIOR, 2005 p. 25). Ajude cada criana a achar seu melhor jeito de jogar; no jogo o desafo de fazer gol ou marcar pontos o mesmo para todas, mas os caminhos so diferentes, pois cada uma tem suas habilidades prprias. DICA 58 UNIDADE 02 Esporte Consideram-se esportes as prticas em que so adotadas regras de carter ofcial e competitivo, organizadas em federaes regionais, nacionais e internacionais que regulamentam a atuao amadora e profssional. Envolvem condies espaciais e de equipamentos sofsticados como campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, ginsios e outros. A divulgao pela mdia favorece sua apreciao por um diverso contingente de grupos sociais e culturais. J Coletivos de Autores (1992, p.70) trata o esporte como prtica social que institucionaliza temas ldicos da cultura corporal, se projeta numa dimenso complexa de fenmeno que envolve cdigos, sentidos e signifcados de sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte da escola e no como o esporte na escola. Dica: O esporte surgiu da atrao do homem pelo jogo, e que o princpio ldico se evidencia na sua prtica (tanto para quem pratica como para quem assiste), como existe a possibilidade da livre escolha de forma diversifcada dando oportunidade de um amplo conhecimento das suas diferente modalidades: Futebol, Voleibol, Atletismo, Handebol e outros. Junto com as crianas, determine estratgias de escolha das equipes que mantenham a imprevisibilidade do jogo. Cuidados para no despertar preconceito; meninas e meninos podem e devem compartilhar do mesmo jogo. DICA Alunos do ensino fundamental de Teresina PI, participando de uma aula de futsal. Foto da autora 59 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Alunos do ensino fundamental de Teresina PI, participando de um jogo de futsal. Foto da autora. Utilizando os jogos na educao Cabe ao professor, conforme Rossetto Jnior (2005, p.25), mediar o processo de ensino e aprendizagem de jogos e esportes, que ser mais consistente quanto maior for a possibilidade de interao das crianas e jovens com as regras, gestos, espaos, material, seus pares e o mundo ao seu redor. Uma interveno qualifcada pode ajudar os alunos a se aproximarem deste objeto de conhecimento que o jogo. Para ensinar e aprender a jogar e praticar esporte preciso aprender a organizar o tempo e o espao onde vivenciamos essa prtica. O espao do jogo corresponde s pessoas aos objetos, o tempo corresponde s aes. Para o jogo se tornar ao necessrio um espao e um tempo para realizarmos essas aes e vencer todos os desafos do jogo. Conhecer o espao e zelar pelo tempo possibilita adaptar as regras e suas caractersticas, bem como planejar a quantidade e a qualidade de experincias necessrias para que as crianas pratiquem e aprendam o jogo. necessrio que o professor organize o material, crie e adapte, junto com os alunos, o material indispensvel para o jogo, tornando-o mais interessante e prazeroso, e para evitar disperso do grupo deve ter o material mo. O professor deve procurar Conhecer os alunos, seus interesses, suas necessidades e suas preferncias, diagnosticar o que j sabem sobre o jogo a fm de melhor planejar as estratgias e os tipos de jogos que despertem maior interesse, e participar das atividades das crianas 60 UNIDADE 02 demonstrando prazer. A Aprendizagem mais signifcativa quando o aluno consegue estabelecer relaes com sentido entre o que j conhece e o novo contedo. Assim, a aprendizagem signifcativa tem a ver com a seleo de contedos com signifcado para as crianas, onde o novo pode estar desconectado do velho. preciso criar um ambiente onde os conhecimentos possam ser reconstitudos e atualizados. Por meio da valorizao da cultura corporal de cada unidade, os alunos devem ser convidados a participar da seleo dos jogos que sero estudados e aprendidos (ROSSETTO JNIOR, 2005, p. 26). A fexibilidade das regras no espao do jogo favorece discutir as regras e reconstru-las com argumentos consistentes, crucial para a construo da moralidade do jogo. O acordo quanto s regras funo do professor e dos alunos. Cabe ao professor, junto com as crianas, transformar o espao do jogo num ambiente cooperativo, onde tarefa de todos tomar decises e resolver confitos, pois a atitude cooperativa se aprende no prprio exerccio da cooperao. A quebra de automatismo: frequentemente, no espao do jogo e do esporte, o fm est na busca do automatismo, da perfeio dos gestos e das habilidades, melhorando assim o desempenho dos jogadores. (...) Sempre possvel aprender mais sobre o jogo e o esporte. (...) O ensino de jogos e esportes no deve apontar para aquilo que o aluno j conhece ou faz, nem para os comportamentos que j domina, mas sim para o que no conhece, no realiza ou no domina sufcientemente. (...) As crianas devem ser constantemente exigidas em busca do novo conhecimento (...) (ROSSETTO JNIOR, 2005, p. 27-28). Uma interveno qualifcada, por parte do professor, para o ensino de jogos parte do princpio de que uma ajuda ajustada procura sempre analisar quais as competncias que os alunos j possuem e quais aquelas que esto prestes a serem constitudas, com a ajuda de terceiros. na ao de jogar que a criana se instrumentaliza e adquire competncia para jogar bem. Ao professor, cabe solicitar, criana analisar, revisar, diferenciar, transferir e enriquecer seus esquemas de jogar cada vez melhor. O segredo est em lanar desafos nem muito fceis, nem muito difceis, mas de possvel resoluo, mesmo que, para isso, seja preciso a ajuda dos colegas e/ou professor (ROSSETTO JNIOR. 2005. p. 28). 61 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Dana A dana uma atividade que utiliza o movimento atravs do corpo, sendo considerada uma forma de expresso, comunicao e criao, enfatizando a religiosidade, os costumes, o trabalho, os hbitos, a guerra e outros. O ser humano est constantemente se movimentando e todo movimento rtmico e o ritmo um elemento essencial no movimento humano, na natureza e no universo. A educao rtmica atravs da dana se utiliza do movimento com msica, constitui-se em contedo importante da Educao Fsica, sua contribuio signifcativa no desenvolvimento global do educando, estimulando a livre expresso e criao, proporcionando momento de alegria e de interao social. Faz parte do contedo da dana: dana clssica, contempornea, jazz, danas regionais (folclricas) populares e outras. As atividades rtmicas e expressivas como componentes do bloco de contedo incluem as manifestaes da cultura corporal como as lengalengas, que se caracterizam atravs da inteno de expresso e comunicao mediante gestos e a presena de estmulos sonoros complementam o bloco de contedo dana. Lutas Conceituada como combate corpo a corpo, sem armas, entre dois atletas que, observando certas regras, procuram derrubar um ao outro. As lutas so disputas em que o (s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante tcnicas e estratgias de desequilbrio, contuso, imobilizao ou excluso de um determinado espao na combinao de aes de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentao especfca, a fm de punir atitudes de violncia e de deslealdade (PCNS 1997, p. 49). Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e brao-de-ferro at as prticas mais complexas da capoeira, do jud e do carat. 62 UNIDADE 02 Alunos da graduao em Educao Fsica de Barreirinhas MA, participando da luta (brincadeira), Cabo-de-Guerra Humano. Foto da autora. Ginstica A ginstica, conceituada como a arte de exercitar o corpo, focaliza atividades como corridas, saltos, lanamentos e lutas, bem como relaxamento, manuteno ou recuperao da sade, de forma recreativa, competitiva e de convvio social. A ginstica envolve ou no a utilizao de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaos fechados, ao ar livre e na gua (...) so um contedo que tem uma relao privilegiada com Conhecimento sobre o corpo (...). Atualmente existem vrias tcnicas de ginstica que trabalham o corpo de modo diferente das ginsticas tradicionais (PCNS 1997, p.49). Assim, a presena da ginstica no programa (currculo) se faz legtima na medida em que permite ao aluno a interpretao subjetiva das atividades ginsticas, atravs de um espao amplo de liberdade para vivenciar as prprias aes corporais. No sentido da compreenso das relaes sociais, a ginstica promove a prtica das aes em grupo onde, nas exercitaes como balanar juntos ou saltar com os companheiros concretiza-se a coeducao entendida como forma particular de elaborar/praticar formas de ao comuns para os dois sexos (...) (COLETIVOS DE AUTORES. 1992 p. 77/78). Os fundamentos da ginstica so compostos por: saltar, equilibrar, rolar/girar, trepar e balanar/embalar. Devem estar presentes em todos os ciclos de escolaridade. 63 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Pesquise em museus, livros ou revistas de arte pinturas do corpo humano de diferentes pocas, compare-as e analise a afrmao: as diferentes expresses corporais ginstica, dana, esporte, escultura, pintura traduzem uma determinada concepo de homem e de sociedade. Os contedos de educao fsica no ensino fundamental Critrios de seleo e organizao dos contedos Com a preocupao de garantir a coerncia com a concepo exposta e de efetivar os objetivos, foram eleitos os seguintes critrios para a seleo dos contedos propostos. Relevncia social Foram selecionadas prticas da cultura corporal que tm presena marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliao das capacidades de interao sociocultural, o usufruto das possibilidades de lazer, a promoo e a manuteno da sade pessoal e coletiva. Considerou-se tambm de fundamental importncia que os contedos da rea contemplem as demandas sociais apresentadas pelos Temas Transversais. Caractersticas dos alunos A defnio dos contedos buscou guardar uma amplitude que possibilite a considerao das diferenas entre regies, cidades e localidades brasileiras e suas respectivas populaes. Alm disso, tomou-se tambm como referencial a necessidade de considerar o crescimento e as possibilidades de aprendizagem dos alunos nesta etapa da escolaridade. Caractersticas da prpria rea Os contedos so um recorte possvel da enorme gama de conhecimentos que vm sendo produzidos sobre a cultura corporal e esto incorporados pela Educao Fsica. 64 UNIDADE 02 O que lecionar para o aluno do Ensino Fundamental Segundo propem os PCN, os alunos devem desenvolver as seguintes habilidades ao longo das oito primeiras sries: Participar de atividades corporais: Ou seja, os alunos devem manter relaes equilibradas e construtivas com os colegas, respeitando as caractersticas fsicas e o desempenho de cada um. Manter uma atitude de respeito e repudiar a violncia: Situaes ldicas e esportivas devem desenvolver a solidariedade. Aprender com a pluralidade: Conhecer diferentes manifestaes de cultura corporal uma forma de integrar pessoas e grupos sociais. Ser capaz de reconhecer-se como integrante do ambiente: Os alunos devem adotar hbitos saudveis de higiene, alimentao e atividades corporais, percebendo seus efeitos sobre as prprias condies de sade e sobre a melhoria da sade de todos. Praticar atividades de forma equilibrada: A regularidade e a perseverana, regulando e dosando o esforo de acordo com as possibilidades de cada um, permitem o aperfeioamento das competncias corporais. Reconhecer as condies de trabalho que comprometem o desenvolvimento: Os estudantes devem identifcar as atividades que pem em risco seu desenvolvimento fsico, no aceitando para si, nem para os outros, condies de vida indignas. Desenvolver esprito crtico em relao imposio de padres de sade, beleza e esttica: A sociedade divulga esses padres, mas as crianas devem conhecer sua diversidade, compreender como esto inseridas na cultura que produz esses modelos, evitando o consumismo e o preconceito. Reconhecer o lazer como um direito do cidado: Os alunos devem ter autonomia para interferir no espao e reivindicar locais adequados para as atividades corporais de lazer. 65 Contedo e Metodologia de Educao Fsica As melhores atividades para as quatro sries iniciais Quando chegam escola, as crianas trazem algum conhecimento sobre o corpo e o movimento. Se puderam conviver e brincar com amigos e irmos ou explorar diversos espaos, elas j conhecem muitos jogos e brincadeiras. Mas, mesmo com pouca experincia desse tipo, elas podem viver, na escola, novas situaes de desafos corporais. Veja o que se espera do aluno e algumas sugestes para facilitar seu trabalho: No primeiro ciclo Conhecer seus limites e possibilidades para estabelecer as prprias metas. Compreender, valorizar e saber usufruir as diferentes manifestaes culturais. Organizar jogos, brincadeiras e outras atividades ldicas. No segundo ciclo Nas atividades corporais, respeitar o desempenho do colega, sem discriminaes de nenhuma natureza. Manter o respeito mtuo, a dignidade e a solidariedade em situaes ldicas e esportivas, resolvendo confitos de forma pacfca. Saber que organizar jogos e brincadeiras um modo de usufruir o tempo disponvel. Conhecer seus limites e possibilidades para controlar atividades corporais com autonomia, entendendo que esta uma maneira de manter a sade. Dica Divida a quadra em partes. Em cada uma, trabalhe diferentes atividades com grupos de alunos que tenham habilidades parecidas. Ser mais fcil para eles perceber suas difculdades e superar os desafos. Analisar os padres de esttica, beleza e sade como parte da cultura que os produz e criticar o consumismo. Dica Debata com os estudantes como os meios de comunicao apresentam os padres de esttica e pea que relacionem os tipos fsicos Todas as crianas aprendem com a famlia, com amigos ou pela televiso, jogos ou brincadeiras que envolvem movimentos. Durante as aulas de Educao Fsica, crie oportunidades para que elas possam compartilhar essas experincias com os colegas. DICA 66 UNIDADE 02 exibidos nas propagandas que objetivam o consumo de produtos. entender as diferentes manifestaes da cultura corporal sem discriminao nem preconceito, valorizando e participando delas. Dica Mostre um vdeo ou leve seus alunos para assistir a uma apresentao de dana, de capoeira ou a um jogo de futebol. Eles podero observar a beleza dos movimentos e avaliar as tcnicas empregadas. importante que percebam as vrias opes de atividades corporais e a diversidade de manifestaes. Aprendendo esportes, jogos, ginstica e lutas Essas prticas so semelhantes entre si nos primeiros anos de escola, mas algumas diferenas devem ser estabelecidas para que o trabalho do professor seja mais abrangente. Os esportes apresentam carter competitivo e envolvem o uso de equipamentos (campos, piscinas, bicicletas). Os jogos podem ser mais cooperativos e recreativos (como os de tabuleiro ou os de rua). As lutas simples (cabo-de-guerra, brao-de- ferro) e as mais complexas (capoeira, jud) tm regulamentao para as aes que combinam ataque e defesa. As ginsticas podem usar vrias tcnicas para aumentar a percepo do corpo. Como conhecer melhor o corpo Quando tm aulas de Educao Fsica, as crianas percebem que seu corpo se altera durante e depois dos exerccios. A discusso dessas mudanas ajuda a conhecer o corpo. Nos esportes, jogos, lutas e danas, elas aprendem novas habilidades motoras e ampliam seus conhecimentos sobre diferentes posturas e atitudes corporais. A observao desses hbitos pode ser feita nos projetos de Histria, Geografa e Pluralidade Cultural. Por exemplo, por que os orientais se sentam no cho de costas eretas e muitas pessoas do interior se sentam de ccoras? Ritmo e Expresso As danas e as brincadeiras cantadas so formas divertidas de 67 Contedo e Metodologia de Educao Fsica conhecer o movimento e as tcnicas para execut-lo. Nas aulas de Educao Fsica, essas atividades podem ser enfocadas de modo a complementar os contedos sugeridos no documento da rea de Artes, que traz mais subsdios ao professor. A grande diversidade cultural do pas oferece muitas possibilidades de aprendizado por meio da dana. Os alunos podero, por exemplo, escolher as manifestaes mais conhecidas no local onde a escola se situa, alm de realizar pesquisas sobre as danas e as brincadeiras de outras regies. Alunos da graduao em Educao Fsica de Barreirinhas MA, participando de atividades rtmicas expressivas. (brinquedo cantado) Rock Pop. Foto da autora Rock Pop As crianas em crculo cantam e fazem gestos relacionados com a msica. Eu boto a mo direita dentro, Eu boto a mo direita fora, E eu sacudo ela agora, Eu dano o rock pop, Assim bem melhor, hey! Eu boto a mo esquerda dentro, Eu boto a mo esquerda fora, E eu sacudo ela agora, Eu dano o rock pop, 68 UNIDADE 02 Assim bem melhor, hey! Eu boto o p direito dentro, Eu boto o p direito fora, E eu sacudo ele agora, Eu dano o rock pop, Assim bem melhor, hey! Eu boto o p esquerdo dentro, Eu boto o p esquerdo fora, E eu sacudo ele agora, Eu dano o rock pop, Assim bem melhor, hey! Eu boto a cabea pra dentro, Eu boto a cabea pra fora, E eu sacudo ela agora, Eu dano rock pop, Assim bem melhor, hey! Eu boto o bumbum pra dentro, Eu boto o bumbum pra fora, E eu sacudo ele agora, Eu dano o rock pop, Assim bem melhor, hey! Eu boto o corpo pra dentro, Eu boto o corpo pra fora, E eu sacudo ele agora, Eu dano o rock pop, Assim bem melhor, hey! Brinquedos cantados O brinquedo cantado a forma mais simples de recrear a criana. Por meio das rodas ou rondas cantadas ela enriquece seu vocabulrio, aprende a expressar-se, desinibir-se, favorecendo tambm a (coeducao), a formao de grupos mistos, visto que a criana nesta idade tem interesses semelhantes (MACHADO, 1986 p.30). Brinquedos cantados do s crianas estmulos sociais, igualando- Esse brinquedo cantado pode ser trabalhado tanto para ensinar a criana o esquema corporal, como para noes de esquerda e direita (lateralidade) DICA 69 Contedo e Metodologia de Educao Fsica as aos companheiros, socializando-as, desembaraando-as. O instinto de brincar uma das grandes foras da natureza, levando a infncia ao desenvolvimento fsico, ao crescimento mental, a adaptao social. Os brinquedos cantados no passam de um tipo elementar de jogo e melhor se aplicam s crianas de pouca idade, sobre as quais o ritmo das canes e da msica exerce notvel infuncia, facilitando-lhes muitos movimentos que seriam penosos e difceis se, por acaso, no fossem auxiliados pela msica. Contribuem para desenvolver na criana qualidades sociais, facilitar a criatividade e formao da personalidade, alm de desenvolver o esprito de iniciativas e desembarao quando as crianas devem apresentar papis de destacados no brinquedo. (MACHADO, 1986 p.30). Inicialmente, se inibem com frequncia, mas logo se acostumam e so os primeiros a solicitar essas atividades sociais porque so muito apreciadas pelas crianas, especialmente as meninas. Quase sempre este tipo de brincadeiras tem motivos regionais que contribuem para que a criana assimile com mais facilidade as tradies e costumes, proporcionando o enriquecimento de seu vocabulrio. Alunos da graduao em Educao Fsica de Barreirinhas MA., brincando de roda, ciranda cirandinha. Foto da autora. Ciranda-cirandinha Uma criana fora da roda e as demais de mos dadas giram cantando: 70 UNIDADE 02 Ciranda, Cirandinha, Vamos todos cirandar; Vamos dar a meia-volta, Volta e meia vamos dar. O anel que tu me deste, Era vidro e se quebrou, O amor que tu me tinhas, Era pouco e se acabou. Por isso... (fulano), Entre dentro nesta roda; Faa um verso bem bonito, Diga adeus e v embora. A criana chamada entra no centro da roda e diz um verso ou canta e, escolhe a sua substituta. E assim continua a brincadeira. Viva a diferena! Foi-se o tempo em que a Educao Fsica era vista como uma disciplina formadora de atletas olmpicos e futuros campees. Essa viso, nascida de um decreto governamental de 1971, pretendia descobrir talentos nas escolas para representar a ptria no exterior. Mas o modelo entrou em crise nos anos 80, pois o Brasil no se tornou uma potncia olmpica. Hoje a Educao Fsica mais do que moldar a estrutura fsica do aluno. Ela deve contribuir para a atividade intelectual e para a formao do cidado. Trs eixos temticos Os PCN elaboraram trs eixos temticos para ser desenvolvidos ao longo do Ensino Fundamental. Veja quais so e o que se pretende com eles. Conhecimentos sobre o corpo - Esse bloco d ao aluno informaes sobre o prprio corpo, sua estrutura fsica e interao com o meio social em que vive. Estudam-se noes bsicas da anatomia, da fsiologia, dos aspectos biomecnicos e bioqumicos do corpo humano; Esportes, jogos, lutas e variaes de ginsticas - Nesse eixo, 71 Contedo e Metodologia de Educao Fsica o professor transmite informaes histricas sobre as origens e caractersticas de cada uma dessas prticas e a importncia de valoriz- las. Atividades rtmicas e expressivas - So as manifestaes que combinam expresses e sons, como danas, mmica e brincadeiras cantadas. Por meio delas, o aluno caracteriza diferentes movimentos expressivos, sua intensidade e durao. Como incluir os temas transversais Os temas transversais esto bem presentes nas aulas de Educao Fsica. Eles devem ser explorados para estimular a refexo e, dessa maneira, contribuir para a construo de uma viso crtica em relao prtica e aos valores inseridos na disciplina e no meio social. tica Respeito, justia e solidariedade fazem parte das prticas fsicas. O respeito deve ser exercido na interao com adversrios. A solidariedade vivenciada quando se trabalha em equipe. A presena de um juiz, as regras e os acordos frmados entre os participantes so formas de aprender a valorizar o sentido de justia. Sade Estresse, m alimentao e sedentarismo so subprodutos da crescente urbanizao. Da a necessidade de vincular a Educao Fsica ao cultivo da sade e do bem-estar das pessoas, superando, em muitos casos, a falta de infra-estrutura pblica voltada para esporte e lazer. Meio Ambiente O contato da escola com reas prximas, como parques e praas, abre oportunidade para a Educao Fsica abordar o tema do meio ambiente. Orientao Sexual Idias como a de que futebol esporte para homem e ginstica 72 UNIDADE 02 rtmica "coisa de menina" ainda se manifestam na sociedade e no cotidiano escolar. Combater preconceitos como esses uma das misses da Orientao Sexual. Pluralidade Cultural Adotar uma postura no preconceituosa e no discriminatria a chave para atingir os objetivos da pluralidade cultural em Educao Fsica. Para isso, preciso valorizar danas, esportes, lutas e jogos que compem o patrimnio cultural brasileiro, originrios das diversas origens tnicas, sociais e regionais. Trabalho e Consumo O adolescente alvo da publicidade de produtos esportivos. O professor pode ajudar seu aluno a analisar criticamente a necessidade de possuir determinado produto e, assim, criar a noo de consumo consciente. Regras claras na hora da avaliao Os alunos devem saber como e quando sero avaliados. Essa a primeira dica para o professor na hora de atribuir notas turma. necessrio que fque claro desde o inicio como ser feita a avaliao, para que os estudantes possam ampliar o processo de ensino e de aprendizagem. Veja as recomendaes dos PCNs quanto aos instrumentos de avaliao: fchas de acompanhamento do desenvolvimento individual; relatrio de atividades em grupo com critrios defnidos sobre participao e contribuio no desenvolvimento da atividade; relatrio de apreciao de alguma atividade, como evento esportivo ou espetculo de dana; fcha de avaliao do professor em relao capacidade do grupo de aplicar regras; fchas de observao e auto-avaliao sobre a participao em um evento escolar ou da comunidade. Verifque se os alunos realizam as atividades de maneira cooperativa, adotando atitudes de respeito, dignidade e solidariedade; se reconhecem suas caractersticas fsicas e motoras e as de seus colegas, sem discriminar particularidades fsicas, pessoais, sexuais ou sociais. DICA 73 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Estrutura da aula O momento de aprendizagem de jogos e esportes deve ser antes de tudo, um momento ldico, de educao integrada, no qual no basta fazer, preciso compreender. Nas aulas de jogos, fazer e compreender signifca integrar as aes dos domnios cognitivo, afetivo com as da prtica motora. Dessa forma, o conhecimento do que vivido corporalmente vem conscincia e pode ser imaginado e refetido, transformando e reconstruindo a partir dos interesses e motivaes das crianas e jovens. Nesta perspectiva, as aulas/sesses para o ensino de jogos podem ser organizadas em trs momentos, relacionadas entre si, a saber: Primeiro momento: roda de conversa sobre o jogo do dia No inicio da aula, o professor forma uma roda com as crianas para conversar sobre o que ser realizado. Esse momento inicial de explicao, no qual a prtica corporal d-se apenas no plano da representao mental dos alunos visualizam as prticas futuras, fundamental para garantir o bom desenvolvimento do jogo. Com os alunos sentados o professor conjuntamente com os colegas: fazem avaliao sobre o que as crianas j sabem sobre o jogo apresentam as regras, o espao do jogo e o material. conversa sobre as dvidas e registram as regras acordadas com os alunos. combinam as variaes do jogo. Segundo momento: vivncias e prticas Conforme Rossetto (2005, p. 29), trata-se do momento mais visvel de uma aula para o aprendizado do jogo. o momento em que o jogo planejado realizado. Muitas vezes, alguns ajustes precisam ser feitos, pois, no calor da disputa, nem tudo o que foi combinado, as crianas conseguem cumprir. Surgem confitos, transgresses, desacordos e discusses. Numa perspectiva construtiva, esses momentos podem ser muito ricos para a aprendizagem. O professor deve fazer uma leitura adequada dos diferentes papis assumidos pelos jogadores, encaminhar os confitos e: 74 UNIDADE 02 realizar, junto com os alunos, alteraes e/ou adaptaes nas regras. entender as transgresses s regras, muitas vezes, como um caminho para a construo dos limites e da autonomia. conversar em roda, com os alunos sentados, sempre que necessrio. sugerir novos desafos. utilizar outros sinais, alm do apito, para chamar a ateno dos alunos. sugerir troca de papis (ataque/defesa) educar atitudes e comportamentos. Terceiro momento: roda de conversa sobre o que foi feito na aula Todas as aula/sesses devem terminar com uma roda de conversa entre o professor e as crianas. Nessa parte fnal, a exemplo do que acontece no primeiro momento, os alunos falam sobre o que vivenciarem durante a aula, suas difculdades e facilidades, tomando conscincia da sua prtica. Falar e conversar sobre os jogos estudados constitui uma ocasio privilegiada para que os alunos compreendam as suas prticas. A roda inicial de conversa, como tambm a fnal, no deve tomar muito tempo, por exemplo, no mais que cinco minutos, cita Rossetto (2005 p. 30) podendo-se: conversar sobre as atitudes dos alunos avaliar a aula e programar os jogos das aulas futuras. observar e controlar o planejamento. conversar o que aprendemos alm do jogo incentivar as crianas a admirarem, ainda mais, a prtica de atividades fsicas e esportes. Plano de aula A aula de Educao Fsica, como qualquer outro tipo de aula, deve obedecer clssica diviso da didtica, em trs partes: inicial, principal e fnal (primeiro, segundo e terceiro momentos respectivamente). 75 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Parte Inicial (primeiro momento) Corresponde preparao orgnica e psicolgica do aluno, para melhor receber a aula, mediante participao ativa, de maneira progressiva, estimulante e alegre. Alongamentos; Aquecimento atravs de marcha em diferentes ritmos; Corridas em diferentes ritmos; Saltitamentos; Jogos recreativos; Atividades rtmicas simples. Considerando que o tempo destinado para a aula de 50 minutos, reservaremos 5 a 10 minutos para esse incio, de acordo com as necessidades do momento, para efetuarmos a preparao da aula propriamente dita. Parte principal (segundo momento) A essa parte deveremos dedicar 30 a 40 minutos do tempo disponvel, procurando desenvolver o contedo a ser ensinado. Jogo Esporte Dana Ginstica Luta Dentre outros Parte fnal (terceiro momento) parte fnal da aula dedicamos 5 a 10 minutos, procurando incutir nos alunos a conscincia do trabalho realizado dentro de um ambiente alegre e relaxante. Dessa maneira, estaremos tambm cooperando para que o aluno readquira o equilbrio orgnico-emocional para prosseguir o perodo escolar, com um bom aproveitamento em outras atividades escolares. 76 UNIDADE 02 Exerccios de relaxamento; Exerccios respiratrios; Jogos relaxantes; Canto; Comentrios sobre a aula; Dica necessrio no planejamento da aula ou seja na elaborao do plano de aula incluir o contedo a ser desenvolvido,objetivos, metodologia, recursos didticos, avaliao e referncias. A Cultura Corporal e a Educao Fsica esto intimamente entrelaadas, pois ambas utilizam das atividades corporais em seu contedo, como: jogo, esporte, ginstica, dana e lutas. A Educao Fsica tem seus fundamentos nas concepes de corpo e movimento, onde se relaciona com a compreenso desses dois conceitos, consideram-se as dimenses cultural, social, poltica e afetiva, presentes no corpo das pessoas, que se comunicam e se movimentam dentro de um conceito sociocultural. A Educao Fsica rea secularmente estudada possui uma tradio e um saber-fazer, contemplada com conhecimentos produzidos e utilizados ludicamente pela sociedade nas formas de jogo (motores, sensoriais e intelectuais), esporte ( voleibol, basquetebol, futebol, handebol atletismo), dana (clssica, contempornea, regionais e outras), ginstica ( artstica, desportiva, etc.), lutas ( capoeira, jud dentre outras), proporcionando a educao fsica escolar sistematizar situaes de ensino e aprendizagem, garantindo aos alunos conhecimentos prticos e conceituais. A Cultura corporal amplia a contribuio da Educao Fsica Escolar para o pleno exerccio da cidadania, numa perspectiva metodologia de ensino aprendizagem, desenvolvendo no cidado a autonomia, a cooperao, a participao social e a afrmao de valores e princpios democrticos, contribuindo para a aquisio de uma postura\no preconceituosa e discriminatria diante das manifestaes e expresses dos diferentes grupos tnicos e sociais e s pessoas que dele fazem parte. A Educao Fsica poder favorecer a autonomia dos alunos 77 Contedo e Metodologia de Educao Fsica Organize uma atividade para crianas das sries iniciais em que se trabalhe a noo do espao e tempo (ritmo, durao, velocidade, lateralidade, deslocamento). para reger as prprias atividades, monitorando o esforo, traando metas, conhecendo as potencialidades e limitaes e sabendo distinguir situaes de trabalho corporal que podem ser prejudiciais, bem como formar o educando como cidado. UNIDADE 03 78 UNIDADE 3 Recreao e Jogos na Educao Infantl e nas Sries iniciais do Ensino Fundamental OBJETIVOS: Subsidiar os pedagogos na utilizao de jogo, brinquedos e brincadeiras como ferramenta pedaggica. Ampliar os conhecimentos terico-prtico na educao infantil e nas sries iniciais do ensino fundamental. Propiciar uma postura adequada durante a prtica dos jogos e recreao nessa faixa etria. Apresentar alternativas de estudos utilizando dos Referenciais Curriculares Nacionais, que possam subsidiar os professores da educao infantil para o desenvolvimento profissional desses educadores. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 81 RECREAO E JOGOS NA EDUCAO INFANTIL As aulas de Educao Fsica na educao infantil ocorrem de forma recreativa. At mesmo os jogos devem basear-se nas necessidades biolgica da criana, atendendo aos aspectos cognitivos, afetivo e motor, de forma ldica, proporcionando liberdade de movimentos atravs de atividades espontneas e criadoras utilizando atividades psicomotoras visando aperfeioar a coordenao, o desenvolvimento das habilidades e a fexibilidade. Segundo Le Boulche, A forma de atividades psicomotoras a que mais interessa criana nesta faixa etria. A prtica de correr, as atividades rtmicas expressivas como os brinquedos cantados, dramatizaes, pequenos jogos, visando assim, o aperfeioamento das habilidades especifcas do ser humano nos estgios: inicial e elementar. Porm, essa estimulao do desenvolvimento ocorre a qualquer momento, no existindo a delimitao do espao, de atividades previamente planejadas ou de um tempo especifco para isso. Conforme Gallardo (1998 p.70) as crianas na faixa etria de 2 a 4 anos encontram-se na fase dos movimentos fundamentais. Essas crianas matriculadas na educao infantil vivenciam experincias no andar, marchar, correr, lanar e receber, subir e descer, saltar e cair. importante estar atento, pois o tempo necessrio para a aquisio do conhecimento e do desenvolvimento motor, ocorre de forma diversifcada, variando de criana para criana. Vejamos algumas atividades psicomotoras que podem ser vivenciadas pela criana , durante essa fase da escolarizao (GALLARDO, 1998 p. 72-74). Ensinar as crianas a bater palmas em ritmo de uma msica; Utilizar uma msica, bater as mos em diferentes partes do corpo; UNIDADE 03 82 Caminhar ao ritmo da msica; Ensinar brincadeiras ligadas motricidade fna, como enfleirar, encaixar, organizar cores, tamanhos e formas; Ensinar cirandas e jogos rtmicos com ou sem msica; Ensinar algumas brincadeiras e jogos com regras simples; Dentre outros. Aluno da graduao de Educao Fsica na cidade de Coroat Ma. Participando do jogo adivinhe quem estou imitando (jogo imitativo). Foto da autora. O planejamento e a execuo devem ser organizados pelo professor objetivando ampliar o repertrio das crianas no sentido cultural, lingstico e motor, tornando-se cada vez mais complexas. Aroeira (1996, p. 70-71) enfatiza que a partir de dois anos, as atividades ldicas da criana se convertem numa transposio fantasiosa do mundo real que consiste no jogo simblico, funciona como cartase durante a primeira infncia e ajuda a criana estabelecer ou manter o equilbrio afetivo, aproximadamente aos 4 anos, permitindo ao professor obter informaes sobre a criana e sua relao com o mundo representando aquilo que internaliza. Nos jogos funcionais, a criana transforma objetos em smbolos caixa de sapatos o carro, o carro o avio so utilizados para desempenhar papis (me, mdico, professor). Neste jogo a realidade pode ser transformada conforme o desejo da criana. Enquanto que em alguns momentos nos jogos de aquisio, a criana se dedica a observar, escutar, tenta compreender objetos, pessoas, histria e cano. A criana parece estar ausente, mas no, est concentrada em captar a totalidade do objeto observado. Nos jogos de construo, a criana monta e desmonta vrias vezes Contedo e Metodologia de Educao Fsica 83 o objeto, tentando reunir, combinar, modifcar, transformar esses objetos, afm de construir outros, conhecendo-os e modifcando-os conforme seu interesse. J a regra surge quando a criana sente a necessidade de jogar com algum, pois nos jogos de regras a criana de at 4 anos aproximadamente joga sozinha, embora j partilham as regras coletivas que exigem determinada ao. No necessrio ganhar de ningum, portanto no h espao para competio. A necessidade de impor regras surge quando necessrio um controle mtuo das aes, em geral a criana segue as regras estabelecidas. Algumas atividades praticadas pela criana nessa faixa etria como: amarelinhas, bolinhas de gude, pega-pega, queimada, as regras j existente e so incorporadas por elas. Quanto a conscincia que as crianas tm das regras Piaget caracteriza trs estgios (AROEIRA. 1996, p.72). a regra no coercitiva. suportada como interessante no como obrigatrio. a regra tem um carter divino. imutvel, pois emana do mundo adulto das crianas mais velhas. Qualquer tentativa de mudana considerada pelos menores como uma transgresso imperdovel. a regra pode ser alterada. Num exerccio do conceito de legalidade, a criana agora admite a mudana das regras do jogo desde que haja consentimento de todos os participantes. A regra agora concebida, portanto, como produto das relaes sociais. De acordo com a funo, os jogos podem ser: funcionais simblicos, de aquisio, de construo e de regras, permitindo que a criana trabalhe suas emoes, sentimentos, dvidas e ansiedade e cabe ao professor estimular, orientar e acompanhar a aluno na explorao dos mesmos (jogos). DICA Alunos da graduao em Educao Fsica na Cidade de Barreirinhas Ma. participando da brincadeira infantil Cad o grilo. Foto da autora UNIDADE 03 84 Alunos da 5 ano do ensino fundamental participando da aula de Educao Fsica Escolar, Jogo verde e amarelo, em Teresina-Pi. Foto da autora. Recreao e jogos nas sries iniciais do ensino fundamental A recreao e os jogos a serem trabalhados nas sries iniciais do Ensino Fundamental so estabelecidos em ciclo como indica os Parmetros Curriculares Nacionais, onde o primeiro ciclo compreende a 1 e 2 sries (6/7anos) e o segundo ciclo a 3 e 4 sries (8/9 anos). Portanto, ao iniciar o trabalho recreativo e a utilizao de jogos nessa escolaridade deve-se seguir a sequncia lgica do desenvolvimento biolgico da criana. Nessa fase, a criana fascinada pelos movimentos, pois j adquiriu certo domnio de suas habilidades. Sente prazer em competir, entregando-se desse modo as atividades que exigem maior concentrao, reao rpida e habilidades diferentes no mesmo jogo. OS PCNs (1997, p. 63-66) sugerem, no primeiro ciclo, brincadeiras e jogos de carter simblico e individual, brincadeiras sociais regradas e jogo com regras simples. Ex: jogos de esconde-esconde, pique bandeira entre outros. caracterstica desse ciclo a diferenciao de experincias e competncias de movimento de meninos e meninas. Os contedos devem contemplar atividades que evidenciem essas competncias de forma a promover uma troca entre os dois grupos, mesclando atividades ldicas competitivas com atividades ldicas expressivas proporcionando participao dos meninos e das meninas de forma equilibrada. Os jogos e atividades que desenvolvem a estruturao espacial permitem que se amplie as possibilidades de se posicionar melhor e Contedo e Metodologia de Educao Fsica 85 compreender os prprios deslocamentos, ajuda a construir representaes mentais mais apuradas do espao, pois a referncia o prprio corpo. Enfatizando o domnio motor, os contedos devem abordar: correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar a si e aos objetos, desequilibrar- se e pendurar-se, arrastar, rolar, escalar, quicar bolas dentre outras atividades que deve ocorrer em grupo e individualmente, com utilizao de materiais como: bolas, cordas, elsticos, bastes. Ao longo do primeiro ciclo ser abordada uma srie de contedos, nas dimenses conceituais, procedimentais e atitudinais, os Parmetros Curriculares Nacionais (1997. P.65-66), explicita-se a seguir a lista daqueles a serem trabalhados nesse ciclo que podero ser retomados e aprofundados e/ou tornarem-se mais complexos nos ciclos posteriores: participao em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e no discriminando os colegas; explicao e demonstrao de brincadeiras aprendidas em contextos extra-escolares; participao e apreciao de brincadeiras ensinadas pelos colegas; resoluo de situaes de confitos por meio do dilogo, com a ajuda do professor; discusso das regras do jogo; utilizao de habilidades em situaes de jogo e luta, tendo como referncia de avaliao o esforo pessoal; resoluo de problemas corporais individualmente; avaliao do prprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxilio do professor; participao em brincadeiras cantadas; criao de brincadeiras cantadas acompanhamento de uma dada estrutura rtmica com diferentes partes do corpo; apreciao e valorizao de danas pertencentes localidade; participao em danas simples ou adaptadas pertencentes a manifestaes populares, folclricas ou de outro tipo que estejam presentes no cotidiano; participao em atividades rtmica e expressivas; utilizao e recriao de circuitos; utilizao de habilidades (correr, saltar, arremessar, rolar, bater, rebater, receber, amortecer, chutar, girar, etc.) durante os jogos, lutas, brincadeiras e danas; UNIDADE 03 86 desenvolvimentos da capacidades fsicas durante os jogos, lutas, brincadeiras e danas; reconhecimentos de algumas das alteraes provocadas pelo esforo fsico, tais como excesso de excitao, cansao, mediante a percepo do prprio corpo. Conceitos, procedimentos e atitudes conforme Gallardo (1998, p.45): Os contedos conceituais trabalham com a construo dos conhecimentos por meio de sucessivas articulaes das capacidades intelectuais. Operam com smbolos, informaes, imagens, princpios, fatos, signifcados e representaes que permitem organizar os dados da realidade. Os procedimentos, por sua vez, exprimem um conjunto de aes ordenadas (pesquisa, resumi, maquete, construo de um instrumento), uma tomada de deciso para atingir uma meta. freqente a utilizao dos termos destreza, estratgia, mtodo e tcnica como sinnimos de procedimentos. As atitudes tm a ver com o para qu e o como se ensina. Dizem respeito s normas e aos valores relativos ao conhecimento, ao professor, aos colegas, s atividades e sociedade. A recreao e jogos como contedos abordados no segundo ciclo, conforme os PCNs (l997, p.72-76), sero desdobramentos e aperfeioamentos dos contedos do ciclo anterior. As habilidades corporais devem contemplar desafos mais complexos. Por exemplo, correr-quicar uma bola, saltar-arremessar, saltar-rebater, girar-saltar, equilibrar objetos - correr. No segundo ciclo a relao da percepo do corpo os alunos podem fazer anlise simples, percebendo a prpria postura e os movimentos em diferentes situaes do cotidiano, percebendo as caractersticas de movimento de sua coletividade, observando a histria local, desenvolvendo esse trabalho junto com os contedos de Histria, Geografa e Pluralidade Cultural (interdisciplinaridade). Nas atividades rtmicas e expressivas possvel combinar a marcao do ritmo com movimentos coordenados entre si. As manifestaes culturais da coletividade podem ser analisadas a partir de conceitos de qualidade de movimento como ritmo, velocidade, O domnio cognitivo corresponde aos contedos conceituais, o domnio motor corresponde aos contedos procedimentais e o domnio afetivo por sua vez corresponde aos contedos atitudinais. DICA Contedo e Metodologia de Educao Fsica 87 intensidade e fuidez; podem ser aprendidas e recriadas. As noes de simultaneidade, seqncia e alternncia podero tambm subsidiar a aprendizagem e a criao de pequenas coreografas. Nesse ciclo as crianas tm muito interesse pelos esportes, pois conhecem atravs da mdia e pelo contato com crianas mais velhas e adultos. Os jogos pr-desportivos e os esportes coletivos e individuais podem predominar nesse momento. A construo das noes de espao e tempo se iguala ao do primeiro ciclo. A anlise e a compreenso das regras mais complexas e das estratgias de jogo tornam-se um conhecimento que ajuda a criana a jogar melhor e a ampliar suas possibilidades de movimento. Alunos do 5 ano do ensino fundamental de Teresina Pi, participando do jogo Acerte o Alvo. (iniciao ao basquetebol). Foto da autora; Ao longo do segundo ciclo sero abordados contedos nas dimenses conceituais, procedimentais e atitudinais. Como no primeiro ciclo, os contedos esto integrados e no separados por blocos. A seguir a lista daqueles que continuam a ser abordados, dos que devero comear a ser desenvolvidos e aprofundados nesse ciclo e/ou tornar-se mais complexos nos ciclos posteriores: participao em atividades competitivas, respeitando as regras e no discriminando os colegas, suportando pequenas frustraes, evitando atitudes violentas; observao e anlise do desempenho dos colegas, de esportistas, de crianas mais velhas ou mais novas; expresso de opinies pessoais quanto a atitudes e estratgias UNIDADE 03 88 a serem utilizadas em situaes de jogos, esportes e lutas; apreciao de esportes e lutas considerando alguns aspectos tcnicos, tticos e estticos; refexo e avaliao do seu prprio desempenho e dos demais, tendo como referncia o esforo em si, prescindindo, em alguns casos, do auxlio do professor; resoluo de problemas corporais indivualmente e em grupo participao na execuo e criao de coreografas simples; participao em danas pertencentes a manifestaes culturais da coletividade ou de outras localidades, que estejam presentes no cotidiano; valorizao das danas como expresses da cultura, sem discriminaes por razes culturais, sociais ou de gneros; acompanhamento de uma dada estrutura rtmica com diferentes partes do corpo, em coordenao; participao em atividades rtmicas expressivas; anlise de alguns movimentos e posturas do cotidiano a partir de elementos socioculturais e biomecnico; percepo do prprio corpo e busca de posturas e movimentos no-prejudiciais nas situaes do cotidiano; utilizao de habilidades motoras nas lutas, jogos e danas; desenvolvimento de capacidades fsicas dentro de lutas, jogos e danas, percebendo limites e possibilidades; diferenciao de situaes de esforo aerbico, anaerbico e repouso; reconhecimento de alteraes corporais, mediante a percepo do prprio corpo, provocadas pelo esforo fsico, tais como excesso de excitao, cansao, elevao de batimentos cardacos, efetuando um controle dessas sensaes de forma autnoma e com o auxlio do professor. Bombaquim Bombaquim, bombaquim, Deixa ns passar Carregado de flhinhos, Pra Jesus criar. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 89 Alunos da graduao em Educao Fsica de Barreirinhas MA. Brincado da brincadeira tradicional infantil Bombaquim Passars, passars, Algum deles h de fcar, Se no for o da frente. O de trs ser. Outra verso: Trs trs passar Trs trs passar, Derradeiro fcar, Bom vaqueiro, bom vaqueiro, D licena preu passar, Com meus flhos pequeninos, Pra acabar de criar. Alunos da graduao em Educao Fsica de Barreirinhas MA. Participando da atividade Ginstica Estriada. UNIDADE 03 90 Ginstica estriada As estrias, que contadas, quer em forma de aulas estoriadas e dramatizadas, apresenta-se como uma fonte inesgotvel, que podemos lanar mos quando o objetivo recrear, formar o carter e educar. As estrias aplicam-se s crianas de 4 a 7 anos, e os exerccios que dela fazem parte so todos os executados por imitao. Para contar estria necessrio: 1. ter facilidade de expresso; 2. usar vocabulrios adequados compreenso da criana esclarecendo o sentido de uma ou de outra palavra, que lhe possa ser desconhecida; 3. fazer predominar a ao sobre a descrio. 4. dar-lhe, tanto quanto possvel um cunho de veracidade, mostrando objetivos, medida do possvel, fazendo gestos, imitando expresso dos animais, de maneira a conseguir que a criana viva as situaes, 5. Emprestar nfase s principais passagens a fm de mais destac-las e melhor grav-las. Chapeuzinho vermelho Era uma vez uma menina bonita, boazinha e educada. Tinha este nome porque usava um chapu vermelho. Um dia disse me que ia levar doces para a vov que morava no bosque. Andava bem depressa entre as rvores (marcha em serpentina), quando olhou para cima viu uns passarinhos voando e comeou a imita- los (corrida com movimentao dos braos). Chapeuzinho vermelho estava to cansada e respirou bem fundo (inspirao e expirao) sentiu um perfume agradvel e viu muitas fores coloridas, comeou apanh-las (fexo e extenso do tronco). Andando novamente avistou um pequeno riacho, teve que saltar (pular) para prosseguir caminho, foi quando avistou o lobo saindo da foresta e pegou algumas pedrinhas e comeou a atir- las no lobo (arremesso). Ela j estava muito cansada, deitou no cho e adormeceu (deitar), sonhou que era o lobo mau e comeou a cantar: eu sou o lobo mau! (marcha com canto). Contedo e Metodologia de Educao Fsica 91 Alunos da graduao em Educao fsica de Barreirinhas MA. Jogando queimada. Queimada Material: bolas. Desenvolvimento: as crianas se dividem em duas equipes e espalham-se pelo campo de jogo a fm de difcultar a ao do adversrio, que tentar queim-las, arremessando a bola em seu corpo. Os atingidos pela bola de forma direta (sem receber com as mos e sem que a bola toque antes o cho ou outro companheiro) sero considerados queimados, passando a ocupar o cemitrio, onde podero queimar os adversrios da equipe oponente. Facilitando o jogo: no permitir que as crianas se desloquem para fugir da bola, facilitando o arremesso, e diminuir o espao da quadra para os deslocamentos. O espao de fuga, delimitar uma distncia entre os campos e o cemitrio para o arremesso. Solicitar o arremesso com a mo no dominante. Dica: A queimada um jogo motor, ativo, com grande aceitao pelo alunado, considerado tambm um jogo pr-desportivo. UNIDADE 03 92 Alunos do ensino fundamental (da equipe mirim de futsal), de Barreirinhas Ma, disputando a posse de bola em um jogo de futebol. Foto da autora. Referencial curricular nacional para eucao infantil Reconhecido na Constituio Federal de 1988, Art. 208, inciso IV, a educao infantil em creches e pr-escolas, passou a ser, um dever do Estado e um direito da criana. O Estatuto da Criana e do Adolescente ECA de 1990, destaca tambm o direito da criana a este atendimento. No capitulo III, Do Direito Educao e do Dever de Educar, art. 4, IV, se afrma, que: O dever do Estado com educao escolar pblica ser efetivado mediante a garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pr- escolas, s crianas de Zero a trs anos de idade. Tanto as creches para crianas de Zero a trs anos como as pr-escolas, para as de quatro a seis anos, so consideradas como instituies de educao infantil. A distino entre ambas feita apenas pelo critrio de faixa etria. No captulo IV (da LDB vigente), trata da organizao da Educao Nacional, art.11, V, considera-se que: Os Municpios incubir-se-o de: (...) oferecer a educao infantil em creches e pr-escolas, e, com prioridades, o ensino fundamental, permitidas a atuao em outros nveis de ensino quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua rea de competncia e com recursos acima dos percentuais mnimos vinculados pela Constituio Federal manuteno e desenvolvimento do ensino. Reafrma no art. 9, IV, que: A Unio incumbir-se- (...) estabelecer, em colaborao com os Estados, Distrito Federal e os Municpios, competncias e diretrizes para a educao infantil (...) que nortearo os currculos e seus contedos mnimos, de modo a assegurar formao bsica comum. Seguindo o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil, a elaborao de propostas educacionais, veicula necessariamente concepes sobre crianas, educar, cuidar e aprendizagem, cujos fundamentos devem ser considerados de maneira explicita. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 93 Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular de as crianas serem e estarem no mundo o grande desafo da educao infantil e de seus profssionais (PCN, 1998, v. I). Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina, etc., possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas caractersticas comuns do ser das crianas, estas permanecem nicas e suas individualidades e diferenas. Trataremos do Brincar (jogo e a apropriao da imagem corporal) por ser contedo da Educao Fsica. Brincar Os Parmetros Curriculares Nacionais menciona que a brincadeira uma linguagem infantil que mantm um vnculo essencial com aquilo que o no - brincar. Se a brincadeira uma ao que ocorre no plano da imaginao, isto implica que aquele que brinca tenha o domnio da lngua simblica. Isto que dizer que preciso haver conscincia da diferena existente entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu contedo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir- lhes novos signifcados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulao entre a imaginao e a imitao da realidade. Toda brincadeira uma imitao transformada, no plano das emoes, de uma realidade anteriormente vivenciada. Os gestos, os sinais, os objetos e os espaos no ato de brincar signifcam coisas diferentes daquilo que apresenta ser. As crianas, durante o brincar recriam e repensam os fatos acontecidos que deram a origem brincadeira, porm sabem que esto brincando. As crianas precisam ter independncia para brincar, escolher seus companheiros e papis dentro de um contexto, cujos desenvolvimentos dependem apenas da vontade de quem brinca, favorecendo as vivncias de brincadeiras imaginrias, criadas por elas, permitindo-lhes resolver problemas signifcativos. A brincadeira tambm oportuniza a criao de espaos no qual as crianas podem experimentar o mundo e internalizar uma compreenso particular sobre as pessoas, sentimentos e diferentes conhecimentos. As brincadeiras e suas categorias de experincias so agrupadas em trs modalidades bsicas: brincar de faz-de-conta (atividade fundamental que d origem a outras brincadeiras e jogos), brincar UNIDADE 03 94 com materiais de construo e brincar com regras. As brincadeiras do faz-de-conta (movimento, mudanas de percepo, relao com os objetos, linguagem oral e gestual, o brincar com materiais de construo (contedos sociais: papis, situaes, valores e atitudes do universo que se constri), por fm as brincadeiras que impem limites e regras, constitui- se um recurso fundamental para brincar. Portanto as brincadeiras de faz- de-conta, os jogos de construo e os que possuem regras, propiciam a ampliao dos conhecimentos infantis por meio da atividade ldica. Na instituio infantil o professor que ajuda a estruturar as brincadeiras, por meio delas o professor pode observar o desenvolvimento das crianas em conjunto ou de cada uma separadamente. Assim o professor, observa que, na brincadeira, as crianas recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esfera do conhecimento. A apropriao da imagem corporal proporciona a aquisio da conscincia dos limites do prprio corpo e um aspecto importante do processo de diferenciao do eu do outro e da construo da identidade. Por meio das exploraes, do contato fsico com outras pessoas, da observao daqueles com quem convive, a criana aprende sobre o mundo, sobre si mesma e comunica-se pela linguagem corporal. Organizao pela idade A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1996, explica no art. 30, capitulo II, seo II que: A educao infantil ser oferecida em: I creches ou entidades equivalentes para crianas de at trs anos de idade; II pr - escolas, para as crianas de quatro a seis anos. Movimento Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil (1998, vol. 3), o movimento uma importante dimenso do desenvolvimento e da cultura humana. As crianas se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais possibilidades de interao com o mundo. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianas tambm se apropriam do repertrio da leitura corporal, na qual esto inseridas. Nesse sentido, as instituies de educao infantil devem favorecer um ambiente fsico e social onde as crianas se sintam protegidas e acolhidas e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e Contedo e Metodologia de Educao Fsica 95 vencer desafos. Quanto mais arriscado e desafador forem o ambiente, mais ele lhes possibilitar a ampliao de conhecimentos e o acesso de si mesma, dos outros e do meio em que vive. O trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funes e manifestaes do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos especfcos da motricidade das crianas, abrangendo uma refexo acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliao da cultura corporal de cada criana. A presena do movimento na educao infantil no deve ser omitida, "nem deve a omisso ser utilizada como disciplinadora". Pois o movimento para a criana signifca expressar-se e se comunicar atravs de gestos e das mmicas faciais, pois a dimenso corporal integra-se ao conjunto da atividade da criana, vale ressaltar que a funo expressiva no exclusiva do beb. No inicio do desenvolvimento predomina a dimenso subjetiva da motricidade, que encontra sua efccia e sentido principalmente na interao com o meio social, junto s pessoas com quem a criana interage diretamente. somente aos poucos que se desenvolve a dimenso objetiva do movimento, que corresponde as competncias instrumentais para agir sobre o espao e o meio fsico. Os jogos, as brincadeiras, a dana e as prticas esportivas revelam a cultura de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o movimento aprendido e signifcado. Dado o alcance que a questo motora assume na atividade da criana, muito importante que, ao lado das situaes planejadas especifcamente para trabalhar o movimento em sua vrias dimenses, a instituio refita sobre o espao dado ao movimento em todos os momentos da rotina diria, incorporando os diferentes signifcados que lhe so atribudos pelos familiares e pela comunidade (REFERNCIA CURRICULAR NACIONAL PARA EDUCAO INFANTIL, 1998 VOL. 3). Nesse sentido, importante o trabalho corporal, a expressividade e as modalidades prprias s crianas. Assim, um grupo disciplinado no aquele em que todos se mantm quietos e calados, mas sim um grupo em que vrios elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento no podem se entendidos como disperso ou desordem, e sim como uma manifestao natural das crianas. Compreender o carter ldico e expressivo das manifestaes UNIDADE 03 96 da motricidade infantil poder ajudar o professor a organizar melhor a sua prtica, levando em conta as necessidades das crianas. A criana e o movimento O primeiro ano de vida No primeiro ano de vida, quando as emoes so o elo de interao do beb com os adultos e com outras crianas, predomina o movimento em forma de toque corporal, constitui-se em aprendizagem, pois atravs de atividades imitativas, a criana balana o corpo, bate palmas e ps, vira e levanta a cabea e outros gestos. Com as atividades expressivas bebes conquistam a sustentao do prprio corpo, vivenciadas atravs do virar-se, rolar, arrastar-se, sentar-se, e engatinhar, preparando-se para o aprendizado da locomoo, ampliando assim sua ao independente. As aes exploratrias do prprio corpo permitem ao beb descobrir seus limites e a conscincia corporal, a relao dessas aes e dos seus gestos propiciam a coordenao sensrio-motora. Aquisies como a apreenso e a locomoo apresentam importantes conquistas no plano da motricidade objetiva. Consolidando- se em instrumentos de ao sobre o mundo, aprimorando-se conforme as oportunidades que se oferecem criana de explorar o espao, manipular os objetos, realizar atividades diversifcadas e desafadoras.
Crianas de um a trs anos A grande independncia que o andar (capacidade de locomover- se adquirida nessa idade) propicia na explorao do espao, somado ao progressivo amadurecimento do sistema nervoso acompanhada tambm por uma maior disponibilidade das mos. Ao mesmo tempo em que explora, aprende gradualmente a adequar seus gestos e movimentos s suas intenes e s demandas da realidade. Alguns gestos (pegar uma colher para comer, papis para fazer desenhos), so exemplos dos progressos no plano da gestualidade instrumental. Tal manifestao manipulativa de uso cultural defnido no signifca que a manipulao se restrinja a esse uso, j que o carter expressivo do movimento ainda predomina. Dessa forma, criana pode utilizar a colher tanto para comer como para brincar, explorando as vrias possibilidades de seu gesto. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 97 Outro aspecto da dimenso expressiva do ato motor o desenvolvimento dos gestos simblicos tanto no faz-de-conta como nos braos em posio de ninar, quanto na funo indicativa. No plano da conscincia corporal, nessa idade, a criana comea a reconhecer a imagem de seu corpo, o que ocorre principalmente por meio das interaes sociais que estabelece e das brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situaes, ela aprende a reconhece as caractersticas fsicas que interagem a sua pessoa, o que fundamental para a construo de sua identidade. Crianas de quatro a seis anos Nessa faixa etria constata-se uma ampliao de repertrio de gestos instrumentais, os quais contam com progressiva preciso, atos que exigem coordenao de vrios segmentos motores e o ajuste a objetos especfcos, como recortar, colar, encaixar pequenas peas (coordenao motora fna) se sofsticam. Ao lado disso, permanece a tendncia ldica da motricidade, sendo muito comum que as crianas, durante a realizao de uma atividade, desviem a direo de seu gesto, por exemplo, a criana est recortando, de repente pe-se a brincar com a tesoura, transformando-o em outro objeto (avio, animal, etc.). grande o volume de jogos e brincadeiras encontradas nas diversas culturas que envolvem complexas sequncias motoras para serem reproduzidas propiciando conquista no plano da coordenao e preciso do movimento. Gradativamente, o movimento comea a submeter-se ao controle voluntrio, refetindo na capacidade de planejar e antecipar aes (pensar antes de agir), e no desenvolvimento crescente de recursos de conteno motora. As brincadeiras que compem o repertrio infantil e que variam conforme a cultura regional apresenta-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como: pular corda e amarelinha, empinar pipas, jogar bola de gude dentre outras.
Equilbrio e coordenao As aes que compem as brincadeiras envolvem aspectos ligados coordenao do movimento e ao equilbrio. Para executar atividades que envolvem equilbrio, as crianas precisam coordenar habilidades UNIDADE 03 98 motoras com velocidade, fexibilidade e fora, de maneira mais adequada de conseguir seu objetivo. As instituies devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que contemplem a progressiva coordenao dos movimentos e o equilbrio das crianas. Crianas de zero a trs anos Trabalha-se: Explorao de diferentes posturas corporais, como sentar-se em diferentes inclinaes, deitar-se em diferentes posies, fcar ereto apoiado na planta dos ps com e sem ajuda. Ampliao progressiva da destreza para deslocar-se no espao por meio da possibilidade constante de arrastar-se, engatinhar, rolar, andar, correr, saltar. Aperfeioamento dos gestos relacionados com a apreenso, o encaixe, o traado do desenho, o lanamento, por meio da experimentao e utilizao de suas habilidades manuais em diversas situaes cotidianas. Criana de quatro a seis anos Trabalha-se: Participao em brincadeiras e jogos que envolvam correr, subir, descer, escorregar, pendurar-se, movimentar-se, danar para ampliar gradualmente o conhecimento e controle sobre o corpo e o movimento. Utilizao dos recursos de deslocamento e das habilidades de fora, velocidade, resistncia e fexibilidade nos jogos e brincadeiras dos quais participa. Valorizao de suas conquistas corporais. Manipulao de matrias, objetos e brinquedos diversos para aperfeioamento de suas habilidades manuais. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 99 Aspectos legais Confederao Nacional dos Estabelecimentos De Ensino (CONFENEN) O CONSELHO NACIONAL DE EDUCAO ao editar a Resoluo CEB/C.N.E. n 03, de 03/08/05, estruturando o fundamental com durao de 9 (nove) anos (...). Divide-o em cinco sries iniciais (6, 7, 8, 9 e 10 anos de idade para 1, 2, 3, 4 e 5 sries) e quatro sries fnais (11, 12, 13 e 14 anos para 6, 7, 8 e 9) porque a LDB j possibilita a diviso do fundamental em dois ciclos (...). Acerto tambm ocorreu com a redefnio de educao infantil. Sem defnir o que seja e a idade de cada um, a Constituio Federal apenas determina atendimento obrigatrio em creche e pr-escola s crianas de zero a seis anos de idade". A Lei n 9394/96 defniu creche para criana de at trs anos (36 meses) e pr-escolar de quatro a seis anos (72 meses), frisou bem, no art. 29, at seis anos de idade (72 meses) e no com 6 (seis) anos de idade mais de (72 meses) por isso: Creche___________________ at 3 anos de idade (36 meses). Pr-escolar________________ 3 anos de idade (36 a 48 meses) Pr-escolar________________ 4 anos de idade (48 a 60 meses) Pr-escolar________________ 5 anos de idade (60 a 72 meses) Inicio de Fundamental_______ 6 anos de idade (72 meses). Afnal, o que se pretende com a criana, aos seis anos, no fundamental, uma srie inicial, bsica, preliminar, vestibular, propedutica com a metodologia de fundamental e no de educao infantil. Nova educao infantil FAIXA ETRIA ETAPA DE ENSINO At 3 anos de idade Creche (36 meses) 3 anos de idade Pr-escolar: 1 perodo (36 meses) 4 anos de idade Pr-escolar: 2 perodo (48 meses) 5 anos de idade Pr-escolar: 3 perodo (60 meses) Na educao infantil, no se cuida de alfabetizao. UNIDADE 03 100 Novo ensino fundamental Durao 9 anos: Classe Inicial de Alfabetizao + 8 sries. Caracterstica Sries Para Crianas Destinao 1 de 9 anos 1 A ou 1 I De 6 anos ou no alfabetizadas Alfabetizao 2 de 9 anos 1 B ou 1 II De 7 ou mais anos, Programao 2 8 de 9 anos 2 8 srie Em prosseguimento das anteriores Idem GOVERNO DO ESTADO DO PIAU SECRETARIA DA EDUCAO CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAO PLENRIO DO CEE RESOLUO n 002/2000 Fixa normas para educao infantil no Sistema Estadual do Estado do Piau. O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAO DO ESTADO DO PIAU, no uso de suas atribuies legais e considerando o disposto nos artigos 89 da Lei n 9.3994/96 e 74 da Lei 5.101/99, CAPITULO I EDUCAO INFANTIL Art. 1 - A educao infantil, primeira etapa da educao bsica, constitui direito da criana de zero a seis anos, a que o Estado e a famlia tm o dever de atender. Art. 2 - A autorizao de funcionamento e a superviso/inspeo das instituies pblicas e privadas, de educao infantil, que atuam na educao de crianas de zero a seis anos, sero reguladas pelas normas desta Resoluo. Art. 3 - A educao infantil ser oferecida em: I creches ou entidades equivalentes para crianas de at 3 (trs) anos de idade; II pr-escolas, para crianas de 4 a 6 anos; 2 - As instituies de educao infantil que mantm simultaneamente, o atendimento a crianas de zero a trs anos em creches, quatro a seis anos em pr-escola, constituiro centros de Contedo e Metodologia de Educao Fsica 101 educao infantil denominao prpria. CAPITULO II DA FINALIDADE E DOS OBJETIVOS Art. 4 - A educao infantil tem como fnalidade o desenvolvimento integral da criana em seus aspectos fsico, psicolgico, intelectual, social, complementando a ao da famlia e da comunidade. Art. 5 - A educao infantil tem como objetivos proporcionar condies adequadas para promover o bem-estar da criana o desenvolvimento fsico, motor, emocional, intelectual, moral e social, a ampliao de suas experincias e estimular o interesse da criana pelo processo do conhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade. Pargrafo nico Dadas as particularidades do desenvolvimento da criana de zero a seis anos, a educao infantil cumpre funes indispensveis e indissociveis: educar e cuidar. CAPITULO III DA PROPOSTA PEDAGGICA Art. 6 - A educao infantil obedecer proposta pedaggica que deve estar fundamentada numa concepo de criana como cidad, como pessoa em processo de desenvolvimento, como sujeito ativo da construo do seu conhecimento, como sujeito social e histrico mediado pelo meio em que vive. Art. 7 - 2 O currculo da educao infantil dever assegurar a formao bsica comum, respeitando as diretrizes curriculares nacionais, nos termos do artigo 9 da Lei n 9394/96. Art. 9 - Os parmetros para a organizao de grupos das especifcidades da proposta pedaggica recomenda a seguinte relao professor/criana: - criana de zero a um ano - 06 a 08 crianas/01 professor; - crianas de um a trs anos - 08 a 10 crianas/01 professor; - crianas de trs a cinco anos - 12 a 15 crianas/01 professor; - crianas de cinco a seis anos - 20 a 25 crianas/01 professor. CAPITULO IV DOS RECURSOS HUMANOS Art. 10 A direo da instituio de educao infantil ser exercida por profssional formado em curso de graduao em Pedagogia ou nvel UNIDADE 03 102 de ps-graduao em Educao. Art. 11 O docente para atuar na educao infantil ser formado em curso de nvel superior (Licenciatura Plena), admitida a ressalva do Art. 26 desta resoluo. CAPITULO V DO ESPAO, DAS INSTALAES E DOS EQUIPAMENTOS Art. 13 Os espaos sero projetados de acordo com a proposta pedaggica da instituio infantil, a fm de favorecer o desenvolvimento das crianas de zero a seis anos, respeitando as suas necessidades e capacidades. Pargrafo nico Em se tratando de turmas de educao infantil, em escolas de ensino fundamental e/ou mdio, alguns destes espaos devero ser de uso exclusivo das crianas de zero a seis anos, podendo outros ser compartilhados com os demais nveis de ensino, desde que a ocupao se d em horrio diferenciado, respeitada a proposta pedaggica da escola. Na educao infantil e sries iniciais do ensino fundamental, os contedos a serem trabalhados nas aulas de Educao Fsica so em forma de recreao e deve ser baseado nas necessidades biolgicas das crianas e no desenvolvimento cognitivo afetivo e motor, de forma ldica. As atividades psicomotoras so as que mais interessam s crianas nesta faixa etria de escolarizao, como andar, marchar, correr, lanar e receber dentre outras. Como as crianas a partir dos dois anos convertem as brincadeiras em atividades fantasiosas do mundo real como jogos: simblicos, funcionais, de aquisio e construo e com regras, obedecendo a seu estgio maturacional. J nas sries iniciais do ensino fundamental a recreao e jogos so estabelecidos em ciclos, quando tambm deve ser seguida a sequncia do desenvolvimento biolgico da criana e das atividades trabalhadas na educao infantil. No primeiro ciclo a criana sente prazer Contedo e Metodologia de Educao Fsica 103 em competir, dedicando-se a atividades com maior concentrao, reao rpida e habilidades diferentes, distinguindo tambm competncias. Nesse ciclo sero abordados contedos nas dimenses conceituais, procedimentais e atitudinais. Enquanto no segundo ciclo, os contedos sero desdobramentos e aperfeioamentos dos contedos do ciclo anterior, contemplando desafos mais complexos. 1. Faa uma pesquisa sobre os jogos antigos e compare-os com os atuais. 2. Observe uma aula de educao fsica realizada por um professor com formao na rea e uma outra ministrada por um professor das sries iniciais sem formao especfca. Discuta as diferenas. 3. Quais deveriam ser os principais critrios de seleo e organizao dos contedos de Educao Fsica para as sries iniciais? 4. Assista ao flme O menino Maluquinho, depois organize um debate em classe. Troque com os colegas opinies e impresses sobre o flme e destaque aspectos, cenas, situaes que possibilitem refetir sobre a brincadeira infantil, sua importncia e seu desenvolvimento. O menino Maluquinho de Ziraldo Sinopse: Maluquinho um garoto to menino quanto qualquer outro de sua idade. Brincalho, esperto e levado, ele teve a sorte de nascer numa famlia que lhe d carinho e permite realizar todas as suas fantasias e diverses da infncia. Isso no impede que ele tambm passe por alguns sustos, daqueles que tiram os pais do srio e s vezes fazem eles sarem correndo do trabalho para acudir um flho que "aprontou alguma daquelas". Contedo e Metodologia de Educao Fsica 104 educacaohoje.no.sapo.pt/ef/Historia.htm www.nepecc.faef.ufu.br/PDF/321_conceito_ef.pdf www.rc.unesp.br/ib/efsica/def2006/artigoleila.pdf www.artigonal.com http://www.efdeportes.com/efd144/educacao-fi si ca-no-ensi no-da- comunicacao.htm http//www.confenen.com.br http://www.scribd.com/doc/504473/atividades-recreativaszm http://jogosbrincadeiras.vilabol.uol.com.br/index.html BARROS, Daisy Regina Pinto; BARROS, Darcymires do Rego. Educao Fsica na escola primria. 4 ed. Rio de Janeiro. Indstria de Artes Grfcas Atlan Ltda., 1972. BETTI, Mauro. Educao fsica e sociedade. So Paulo. Editora Movimento, 1991. BRANCHT, Valter. A criana que prtica esportes respeita as regras do jogo... capitalista. Revista Brasileira de Cincias do Esporte. v. 2, 1986. BRASIL. Ministrio da Educao e do Desporto. Parmetros Curriculares Nacionais Educao Fsica. Braslia. MEC, 1996. _______. Lei de Diretrizes e Base da Educao Nacional. Lei 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 105 _______. Estatuto da Criana e do Adolescente. Lei n 8.069/90, de 13 de julho de 1990. So Paulo: CBIA-SP, 1991. _______. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. So Paulo: Imprensa Ofcial do Estado, 1988. CASTELLANI FILHO, Lino. Educao Fsica no Brasil: a histria que no se conta. Campinas, Papirus, 1988. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino da educao fsica. So Paulo, Cortez, 1992. DARIDO, Suraya Cristina. Educao Fsica na Escola. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2003. FRIEDMAMN, Adriana. Crescer e aprender, o resgate do jogo infantil. So Paulo: Moderna, 1996. GALLARDO, Jorge Srgio Pres; OLIVEIRA, Amauri A. Bssoli de; ARAVENA, Csar Jaime Oliva. Didtica de Educao Fsica: a criana em desenvolvimento: jogo, prazer e transformao. So Paulo. FTD, 1998. (Contedo e metodologia). GRAA, A.; OLIVEIRA, J. O ensino dos jogos educativos. 2 ed. Porto: Cejd, 1997. GUERRA, Marlene. Recreao e lazer. 5 ed. Porto Alegre: sagra, DC Luzzatto, 1996. GALLAHUE, David L. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebs, crianas, adolescentes e adultos. 3 ed. So Paulo. Phorte, 2005. LIBNEO, J. Carlos. Didtica. So Paulo. Cortez, 1991. LE BOULCH, Jean. A educao pelo movimento. Porto Alegre. Artes Mdica, 1983. MACHADO, Nilse. V. Educao Fsica e recreao para pr-escolar. 3 ed. Porto Alegre, Prodil, 1986. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 106 ROSSETTO JNIOR, Adriano J. Jogos Educativos: Estrutura e organizao da prtica. 2 ed. So Paulo: Phorte Editora, 2005. Autonomia: faculdade de governar a si mesmo, liberdade ou independncia moral e intelectual. Cinesiologia: estudo do movimento. Coercitiva: (coercivo), que pode exercer coero, Cartase: uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragdia, a medicina ou a psicanlise, que signifca purifcao, evacuao ou purgao. Habilidades: exerccios ginsticos de agilidades e destreza. Individualidade: o que constitui o individuo, carter especial, particularidade, originalidade, que distingue uma pessoa ou coisa. Maturao: ato ou efeito de maturar, processo de transformao e desenvolvimento de um rgo ou organismo para o exerccio pleno de suas funes e que se prende essencialmente idade. Motricidade: propriedades que tm certas clulas nervosas de determinar a contrao muscular. PCNs: parmetros curriculares nacionais Pedagogos: aquele que aplica a pedagogia, que ensina, professor. Propedutica: Que serve de introduo, preliminar, prvio. Contedo e Metodologia de Educao Fsica 107 Marina Carvalho, licenciada e Especialista em Educao Fsica pela Universidade Federal do Piau. Atualmente Professora do Instituto de Educao Superior do Brasil - IESB, em Teresina, onde leciona a disciplina Recreao e Lazer no curso de Graduao em Educao Fsica. Sandra Tereza, graduada em Educao Fsica pela Universidade Federal do Piau, tambm pedagoga. Especialista em Educao Infantil e Educao Fsica Especial. Professora aposentada da Secretaria de Educao SEDUC. Piau, e do Instituto de Educao Superior do Brasil IESB em Teresina, atualmente professora substituta da UFPI. UNIDADE 03 108 Contedo e Metodologia de Educao Fsica 109