Tese Final PDF
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haja garantia de que uma boa licenciatura seria 100% efetiva na formao de docentes diferenciados, a
falta de comunicao com cursos que disponham de contedo pedaggico parece interferir no sentido de
impossibilitar contatos sociais e intelectuais com discursos e prticas do campo educacional. A ausncia
destas relaes pode contribuir para retardar o desenvolvimento profissional, j que, na dialtica destas,
no h conscincia do indivduo e, portanto, estas se constroem a partir de relaes, tanto ativas quanto
passivas, com os elementos do entorno.
Figura 4.8 Subreas das Cincias Biolgicas nas quais os participantes da pesquisa realizaram seus
cursos de ps-graduao (titulao mxima).
Riegel (1979) oferece um arcabouo que permite analisar este processo a partir de uma
perspectiva dialtica, na qual o desenvolvimento adulto resulta da combinao de quatro dimenses:
biolgica-interna, psicoindividual, sociocultural e fsico-externa. No entanto, o modelo riegeliano no foi
proposto com o intuito de estabelecer estgios universais de desenvolvimento. Segundo outro autor, sua
preocupao est em:
explicitar a mecnica atravs da qual este desenvolvimento pode ser analisado e compreendido.
Como para ele, este envolve uma seqncia de eventos que ocorrem em um processo
transacional indivduo/mundo, as pautas desenvolvimentistas iro depender da conjugao entre
diversos componentes de uma determinada situao (ISAIA, 2000, p. 22).
Com esta compreenso, usou-se este modelo explicativo para balizar as anlises realizadas,
auxiliando inclusive na identificao de importantes elementos prprios da realidade investigada nesse
estudo.
Ainda em relao formao inicial e sob a luz do esquema riegeliano, outra situao que no
pode ser avaliada a partir de uma compreenso simplista, diz respeito natureza da formao inicial dos
docentes. O referido esquema no se refere a diferenas nos cursos de graduao cursados pelos docentes
universitrios.
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Neste sentido, uma caracterstica importante dos docentes tradicionais diz respeito natureza do
curso de formao inicial, particularmente, ao tipo de graduao cursada. Ainda que os docentes
diferenciados no sejam oriundos, necessariamente, de cursos de licenciatura, a maioria dos tradicionais
caracteriza-se por no ser licenciado. Deste modo, estes ltimos, realizaram na graduao, cursos com
menor, ou nenhum, contedo explicitamente pedaggico. Assim, em que pese os problemas de formao
dos licenciandos para o exerccio da docncia na educao bsica, para a docncia universitria, esta origem
parece ter interferido positivamente. Docentes que no cursaram licenciaturas na graduao, por exemplo,
explicitaram concepes educacionais pouco sintonizadas com aquelas indicadas na literatura especializada,
indicando fraco domnio dos contedos pedaggicos.
No que tange titulao dos docentes, ser retomada a afirmao emergiu do ltimo Censo da
Educao Superior (BRASIL, 2010b), de que o tpico docente universitrio de instituies pblicas brasileiras
tem 44 anos, brasileiro, doutor e atua em tempo integral.
A proporo de docentes com doutorado neste estudo (69,2%) bem maior do que a mdia
nacional, considerando tanto o conjunto das IES (29,0%), quanto, especificamente, o nmero de doutores
nas IPES (48,0%) (BRASIL, 2010b) e, individualmente, a instituio D (42,8%) foi a nica a ficar abaixo
da mdia nacional das IPES.
Outro estudo envolvendo docentes universitrios de contedos especficos, conduzido por Tullio
(1995) observou propores aproximadas, na ESALQ (73,54% de doutores e 22,96% de mestres). Alm
deste, encontrou-se somente o trabalho de Franco et al. (2007), abordando realidade distinta, pois disserta
sobre uma instituio particular.
Importante salientar estes dados, sobretudo em razo destas instituies estarem localizadas na Regio
Norte do Brasil, fortemente marcada por ndices sociais - como escolaridade, alfabetizao, indicadores de
sade, entre outros normalmente abaixo da mdia nacional.
Oportuno lembrar que, para docentes destas regies, muitas vezes, os cursos de ps-graduao
representam uma oportunidade rara de convvio acadmico e profissional com profissionais dos tradicionais
centros de ensino e pesquisa do Sudeste do Brasil. Apesar dos grandes deslocamentos, das diferenas culturais
e, no raro, tambm, da distncia da famlia, muitos docentes destas instituies (56,5%) buscam cursar
mestrado ou doutorado em universidades desta regio, sobretudo nos estados de So Paulo, Rio de Janeiro e
Minas Gerais, particularmente a USP (23,1%), a UNIFESP e a FIOCRUZ/RJ (15,4% cada).
H, entretanto, aqueles que, alm de no terem cursado uma graduao na rea de ensino,
possuem pouca ou nenhuma titulao de ps-graduao, quadro ainda comum no contexto nacional.
Se, por um lado, no presente estudo, mais de 30,0% dos docentes no possuam doutorado, sendo
este ndice considerado baixo em comparao com a mdia nacional, por outro lado, chama a ateno
que, dentre os docentes sem qualquer titulao, se incluam uma professora com 18 anos de docncia
universitria e outro com 33 anos de atividade. Alm destes, uma docente com especializao leciona h
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25 anos, e outras duas com mestrado lecionam h 12 e 25 anos, sendo que tais casos constituem a maioria
dos docentes universitrios sem doutorado.
Tal situao, rara nos pases ricos do hemisfrio norte, pouco discutida na literatura
especializada. Embora haja preocupao com a falta de formao pedaggica do docente universitrio,
no se abordado a questo destes docentes cronicamente no-titulados.
Apesar disso, neste estudo, tal fato parece ser resqucio de um perodo em que havia poucos
candidatos titulados em reas especficas como a que ora se investigam, o que aumentava as chances de
ingresso docncia universitria, de candidatos sem titulao, nas universidades do Norte do Brasil.
Alm do reduzido nmero de candidatos titulados nesta regio, as grandes distncias (num perodo em
que o custo das passagens areas dificultava a vinda de candidatos de outros estados) a serem percorridas
por eventuais candidatos a estas vagas, tornaram frequente o ingresso de graduados, especialistas e
mestres.
Hoje a situao se revela distinta, haja vista a parca ou nula presena de docentes no-doutores
entre os menos experientes, com a exceo da instituio D, marcada pela precariedade do esquema
contratual. Nesta instituio, no havia, at a realizao desta pesquisa, na unidade investigada, um
quadro permanente de docentes, sendo todos contratados temporariamente.
Em muitos dos casos referidos acima, os docentes, profissionais liberais ligados tambm a outras
atividades, como a investigao cientfica em instituies de pesquisa, anlises clnicas, docncia em
outras instituies e a clnica mdica, parecem ter realizado a escolha contingente, descrita por Huberman
(1989), que, frequentemente, gera um comportamento de indiferena. Esta explicao parece ser mais
plausvel do que aquela que apontava as dificuldades para a realizao de cursos de ps-graduao em
passado recente, considerando o perfil dos docentes no-titulados, descrito acima.
No obstante, este problema tende a desaparecer com o tempo, dada a tendncia de que a
docncia, no contexto destas instituies seja exercida exclusivamente por profissionais mais envolvidos
com a academia. Em que pese a crescente exigncia do doutorado, convm lembrar que a titulao dos
docentes repercute pouco na qualidade da docncia universitria. Se, de um lado, os marcos legais
apontam os cursos de ps-graduao como responsveis pela formao destes docentes, de outro,
conforme afirmam Bazzo (2007) e Pachane (2003), a maioria destes cursos no oferece a formao
pedaggica necessria para o exerccio da docncia.
No presente estudo, observou-se uma maioria de docentes doutores entre os diferenciados e de
no-doutores entre os tradicionais, evidenciando alguma influncia destes cursos, ao menos no sentido de
propiciar mudanas em certos aspectos das concepes e prticas docentes. Foi ntida, por exemplo, a
maior afinidade dos docentes diferenciados com questes como contextualizao, interdisciplinaridade e
vises mais contemporneas de cincia e sade, demonstradas ao responder os questionrios nos. 1 e 2.
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Alis, como lembra Cunha (1996), preciso considerar com parcimnia a prtica dos docentes
diferenciados, os quais trabalham ainda numa lgica reprodutiva, do paradigma dominante.
Deste modo, ao mirar prticas interdisciplinares, contextualizadas, no-bancrias, construdas na
lgica de contribuir com mudanas na problemtica das doenas infecciosas e parasitrias, torna-se
imprescindvel a implementao de aes docentes coletivas, que integrem atividades formativas, nas
quais os professores sejam sujeitos de suas prticas e nas quais estas se faam e refaam.
No se est com isso, desconsiderando a possvel contribuio destas individualidades
excepcionais fazendo uso da expresso goldmaniana - nestas aes transformadoras. Pelo contrrio,
acredita-se que estes sujeitos podem se constituir como importantes aliados na construo de propostas
alternativas pautadas na compreenso explicitada acima.
preciso, entretanto, na caracterizao destes sujeitos, atentar para fatores de maior impacto em
sua constituio docente. Por isso, ser iniciada a anlise de outros destes elementos.
4.3. Experincias prvias com outros nveis de ensino
Em relao experincia prvia com o ensino, 46,1% dos participantes nunca lecionou em outros
nveis, enquanto 38,5% o fizeram no Ensino Mdio (1-22 anos, mdia 9,0) e 19,2% lecionaram no
Ensino Fundamental (1-5 anos, mdia 2,0 anos).
A experincia com outros nveis, que parece importante no sentido de promover um
adiantamento de algumas etapas do desenvolvimento profissional, como a orientao paradigmtica
inicial e o contato com atividades de ensino. Com efeito, foi vivenciada, predominantemente, por
docentes diferenciados, ainda que no se constitua exclusividade. Dentre os tradicionais, Pricles e
Rodrigo no se envolveram com a docncia em outros nveis, enquanto Marcela lecionou por dois anos
no ensino fundamental. No segundo grupo, ngelo nunca lecionou para outros nveis, enquanto Suely o
fez por cinco anos no ensino mdio e um no fundamental. Neide foi docente do ensino mdio por dois
anos e Luana nunca lecionou para outros nveis de ensino.
Ainda sobre esta experincia, com frequncia, docentes que afirmaram, nos depoimentos, que a
docncia universitria foi uma fuga da docncia na educao bsica, tarefa considerada difcil, ainda que
por razes distintas. Ao falar que a docncia foi uma escolha contingente, Marcela, por exemplo, afirma:
eu queria fazer uma coisa que no fosse pra sala de aula. Mas, paradoxalmente, aps experimentar a
docncia no ensino fundamental, diz: E eu gostava (certa vez) at um aluno (disse) professora fica aqui,
a senhora tem pacincia com a gente.
Marcela no fala muito desta experincia, mas ao longo da entrevista possvel perceber que,
apesar de ter lecionado por dois anos, vivenciou esta realidade em funo de ter sido criada numa famlia
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com muitos professores. Fica implcito tambm que acabou adquirindo uma viso negativa sobre esta
carreira, no sentido de consider-la difcil e pouco rentosa.
Por questes de ordem econmica, outra participante tambm acabou exercendo a docncia em
uma escola de ensino mdio e tambm considera esta uma atividade que, apesar de importante, representa
tarefa de grande dificuldade, embora sua experincia tenha sido com alunos de perfil diferenciado:
Foi um treinamento espetacular porque a escola era difcil, uma escola particular da capital
onde os estudantes eram alunos que estavam pra serem reprovados de outras escolas, ento,
tinha problema tambm. Era convnio com agncia de modelos. Ento a gente tinha modelos,
tinha atores e atrizes dentro dessa escola. Ento a gente tinha que passar exerccios e era meio
difcil voc avaliar o aluno s com isso, n? Ento foi um aprendizado porque eu sa um
pouquinho daquele esteretipo aluno-professor. Ento eu fiquei dois anos nessa escola e foi um
aprendizado importante (Neide).
Durante este perodo, revela um momento em que procurou rever suas concepes e prticas
docentes em funo de uma advertncia da diretora da escola:
No primeiro semestre eu acho que eu fui to rgida com os alunos que a diretora me
chamou a ateno com a reprovao, o excesso de reprovao. E a eu fui adequando
tambm um pouco a minha pedagogia com eles (Neide).
Para Neide, abandonar esta atividade foi uma deciso influenciada pelo seu desejo de tornar-se
pesquisadora, j que no se identificava com a docncia. Suely, ao contrrio, da mesma forma que
Marcela, afirma gostar da docncia, ainda que prefira a universitria, por considerar a docncia na
educao bsica uma tarefa penosa. Apesar disso, revela que, no incio, quando se props a lecionar,
buscou evitar a reproduo de prticas de certos docentes que considera referncias negativas, sobretudo
pela falta de compromisso destes referentes:
Quando me propus a ensinar, a minha cabea era que precisava, realmente, preparar e
no enrolar, como eu via meus professores... o que me revoltava muito, me deixava
chateada. Tinha proposto que quando comeasse a dar aula, ia realmente explorar o
que pudesse com os alunos (Suely).
Na prtica, em distintos contextos, percebe ntidas diferenas e revela como o exerccio da
docncia e as relaes sociais subjacentes ao cotidiano de uma escola particular influenciaram suas
concepes educacionais. Fala em cobranas, sobretudo em relao pontualidade e ao contedo
ministrado, mas tambm no sentimento de estar sendo vigiada:
Como eu comecei a dar aula numa escola particular, a coisa era mais certinha, n?
Entrar e sair no horrio, dar todo o contedo, estar sempre vigiado, ento minha
formao inicial foi assim, muito cobrada, n (Suely)?
Ao chegar escola pblica, ao contrrio, se depara com uma situao em que as concepes e
prticas adquiridas em outro contexto, tornaram difcil sua relao no novo ambiente escolar. Suely revela
um comportamento negligente de diversos componentes desta nova comunidade escolar, da direo aos
funcionrios da limpeza. Refere-se, particularmente, quase inexistncia do ltimo tempo de aula:
Quando eu fui pro ensino pblico, foi um choque, n, professor vai a hora que quer, entra na sala
a hora que quer, a diretora pega no p, mas no aquela coisa... No ltimo tempo nunca
ningum dava (aula), ento (o) pessoal me achava muito chata, porque o ltimo tempo pra mim
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era importante porque tinha naquela turma... ento tinha que dar todo aquele tempo e eles
ficavam chateados l fora, com a vassoura, porque queriam limpar a sala e todo mundo j tinha
ido embora. O ensino fundamental e o ensino mdio pra mim foram... assim, que foi a minha
primeira experincia, foi, assim, brutal, marcou muito (Suely).
Em outro momento, Suely expe, com riqueza de detalhes, sua viso acerca dos alunos e dos
problemas a enfrentar na relao com eles, as diferenas entre os maus alunos da escola particular,
caracterizados por ela como indisciplinados; e os do ensino pblico, cuja problemtica, segundo ela,
estaria mais ligada dependncia qumica. Conclui sua fala relacionando estes problemas ao ambiente
que os cerca:
Chegava na escola pra dar aula da 5 ao 3 ano. Ento passava por todas as sries e via todas
aquelas caractersticas de cada turma. Ento, algumas coisas que aconteceram durante isso...
desde menino que era, assim, odiado por todos os professores, que cuspia, que jogava chiclete no
teto, que baixava a cala na hora da aula, menino de escola particular, desde esses meninos at
aqueles do ensino mdio pblico, aqueles que eram dependentes de droga que me ameaavam
dizendo que iam me dar um murro. Ento, todas essas experincias que eu passei elas
mostraram pra mim que as pessoas, elas tambm so fruto daquilo que elas vivem (Suely).
O contato com as atividades de ensino parece ter gerado a aprendizagem a seguir, na qual a
docente desenvolve elementos que poderiam ser considerados constituintes de uma orientao
paradigmtica inicial:
Ento, esses meninos... os bonzinhos no, os bonzinhos to l, vo estudar, vo passar, t timo. O
problema no so eles, o problema so, justamente, aqueles que no passam, que so difceis de
lidar dentro da sala de aula, ento, esses, o que a gente precisa mais trabalhar, esses so os que
precisam de mais ateno. Esses meninos me ensinaram que, ateno, valorizao do que eles
podem ser ou do que eles so, faz muita diferena dentro de uma sala de aula. Ento, a questo de
voc pegar um aluno problemtico, chegar com ele, conversar, dizer que ele importante, dizer que
ele inteligente, pedir a ajuda dele pra organizar a tua sala, faz toda a diferena (Suely).
No caso de Luana, a docente no viveu, pessoalmente, tal experincia, mas afirma que alguns de
seus colegas docentes a viveram. Fala das diferentes vises sobre a docncia dos colegas de curso, que j
tinham vivenciado tal experincia, em relao a si prpria, que no teve esta oportunidade:
Algumas (colegas de curso) j tinham dado aulas e eu acho que elas tinham uma leitura do que
acontecia com a gente em sala de aula, diferente da minha que no tinha nunca pisado numa
sala de aula, muito menos ensino fundamental. Eu acho que elas j viam melhor ou j tinham
entrado em contato... elas j tinham pensado no assunto. Ento eu acho que ganha sim, com
certeza, uma experincia anterior (Luana).
A experincia prvia na docncia em outros nveis de ensino relatada tambm por outra docente
de uma instituio da Regio Sul, a docente Y, participante do estudo-piloto, que embora seja
farmacutica-bioqumica, afirma que seu primeiro emprego depois de formada foi a docncia em uma
escola de ensino mdio. Ao referir-se ao aprendizado decorrente desta experincia, a docente evasiva e
fala genericamente sobre tal aprendizado, incluindo, em sua resposta, o aprendizado decorrente de sua
educao bsica, numa compreenso que o pressupe na lgica de um acmulo de conhecimento. Alm
disso, acaba mencionando os problemas que observa em seus alunos:
Eu acho que muito importante, n? Sei que tenho uma bagagem que meus alunos no tm. H
quem diga o seguinte... porque a gente diz que os alunos no sabem nada, mas h quem diga que
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no que eles no sabem nada. Eles no sabem o que eu sei, eles sabem outras coisas que eu
no sei, mas assim, eu sinto que eles no sabem se expressar. Eu fao prova escrita e eles no
sabem se expressar no papel. Ento, eu tive aula de latim, tive francs, n? Ento eu sei que eu
tenho uma bagagem que eles no tm (professora Y).
Considerando as experincias dos docentes, percebeu-se que mais da metade dos participantes da
pesquisa como um todo (no somente os docentes entrevistados) desenvolveu atividades prvias em
outros nveis, sobretudo na docncia no ensino mdio. Ainda que tais atividades tenham constitudo
experincias relevantes no desenvolvimento profissional de alguns destes docentes, para outros, o
impacto no parece to significativo.
Alguns sujeitos, mesmo tendo lecionado por dcadas em escolas de educao bsica, no se
tornaram docentes universitrios com concepes e prticas diferenciadas, caso de uma professora de
Parasitologia, participante da primeira etapa desta pesquisa, que explicitou, ao responder ao questionrio,
concepes tradicionais de ensino e informou ter lecionado no ensino mdio por 22 anos. Vale ressaltar,
por outro lado, que as experincias prvias com a docncia em outros nveis de ensino foram mais
frequentes entre os docentes diferenciados do que entre os tradicionais. 75,0% dos docentes
diferenciados informaram ter lecionado para outros nveis de ensino, enquanto entre os tradicionais, este
percentual foi de 25,0%.
No primeiro caso, tais atividades podem ter se constitudo de escolhas contingentes e, ao invs de
conduzirem a processos de descoberta ou estratgias de sobrevivncia, acabaram configurando atitudes
indiferentes, quando analisadas sob o modelo hubermaniano. Dentre os docentes tradicionais, parece
haver um menor investimento na carreira, j que estes indivduos possuem menor titulao e, alm disso,
despendem mais esforos com outras atividades (como profissionais liberais ou pesquisadores), muitas
vezes declarando predileo.
Nos casos em que a atividade, alm de contingente, foi desenvolvida em perodo adulto tardio,
considerando-se o esquema riegeliano, tal fato pode ter implicado num sentimento, de frustrao, por
parte do docente, em razo de ainda atuar, nesta fase, em atividade distinta daquela que pretendia. Para
docentes com idade compatvel ao nvel III, por exemplo, muitos de seus colegas j se dedicam a
profisses relacionadas com sua rea de interesse e especializao.
Sobre este tema, h outros elementos implicados nestes fracassos no processo de
desenvolvimento. Como argumenta Paulo Freire (1995), para que tal experincia seja efetiva na formao
destes docentes, constitui condio sine qua non a reflexo crtica sobre a prtica docente. Neste sentido,
incluem-se sujeitos que exerceram a docncia na educao bsica sem formao adequada, algumas
vezes por no serem licenciados (como o caso de Neide e da professora Y) e, noutras pelo deficiente
processo de formao inicial caracterstico de muitas licenciaturas, conforme referido no Captulo 1.
Em outro estudo, a incompletude da formao inicial apresentada nas experincias iniciais com
a docncia de seus participantes e relatada pelas autoras:
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Do incio da carreira docente no ensino mdio, os formadores recordam que ensinavam
pelo livro, espelhavam-se em outros professores, tinham um bom relacionamento com
os alunos e perceberam que tudo que haviam aprendido na Universidade no tinha
nada a ver com o que ensinavam (SILVA; SCHNETZLER, 2005, p. 1128).
Associado a este quadro, como ocorre no ingresso da maioria dos docentes nas IPES, muitas escolas
tambm no possibilitam ao professor uma adequada orientao e acompanhamento nos primeiros anos de
atuao e socializao dos docentes, dificultando o processo de estabilizao destes profissionais.
Outro elemento em relao a pouca efetividade desta atividade no sentido de promover o
desenvolvimento profissional do docente universitrio diz respeito ao fato de que, tanto quanto no ensino
superior, muitos dos participantes que atuaram na educao bsica o fizeram de forma contingente,
conforme postula Huberman (1989), premidos por necessidades financeiras, abandonando a profisso, da
qual muitos declaram ter fugido, sobretudo pelas dificuldades que encontraram em seu exerccio,
aliadas claro, baixa remunerao. Para este autor, nestas condies o docente pode nunca atingir a fase
de estabilizao na profisso, devido falta de identificao com a atividade.
Apesar disso, muitos dos docentes universitrios que vivenciaram tal experincia, afirmam que
tais atividades constituram aprendizagens de grande significado. Tal avaliao revela um quadro distinto
daquele descrito por Huberman (1989). Para este pensador, nos casos em que o contato com a realidade
problemtica na fase inicial da docncia gera-se uma configurao motivacional de mera sobrevivncia e
ainda, nos casos em que a escolha tenha sido contingente, o docente pode tornar-se indiferente s
situaes vivenciadas.
Neide, Marcela e a professora Y no ofereceram, em suas falas, elementos suficientes para
avaliar-se em que medida tais aprendizagens foram relevantes. Marcela limitou-se a falar do seu apreo
pela atividade de lecionar, alm da empatia das crianas, que pediram sua permanncia na escola. Neide
falou, vagamente, em mudana de postura, de uma adequao de sua pedagogia aps uma advertncia.
Esta adequao, por sua vez, pode significar, desde uma simples mudana contingente em funo de uma
nova percepo de seus limites enquanto docente - levando, na verdade, a uma adequao das notas
at mudanas mais complexas, relacionadas a preocupaes mais centradas no ensino.
Em comum, os casos de Neide e Suely constituram experincias difceis e, talvez, por isso,
marcantes. Assim, apesar das percepes semelhantes sobre estas atividades docentes, os resultados
dessas experincias, para Suely parecem distintos.
Em sua fala, Suely faz uma contextualizao da problemtica subjacente a certos aspectos da
realidade escolar. Identifica alunos com problemas que, em sua avaliao, impossibilitam um
aprendizado efetivo e, em funo disso, busca mudar sua postura, comportando-se de modo a atrair a
ateno dos alunos, a solucionar problemas relativos auto-estima dos discentes para motiv-los ao
aprendizado.
170
Com experincia desenvolvida satisfatoriamente, Suely, que lecionou em outros nveis ao longo
de sete anos, provavelmente ingressou na docncia universitria j no nvel III do esquema riegeliano. Ao
comparar suas caractersticas com quelas previstas no referido modelo, pode-se afirmar que Suely: a) j
atua na docncia de temas ligados sua prpria formao (ainda que lecione tambm Microbiologia e
outras disciplinas em uma instituio particular) e, alm disso; b) j possui razovel produo acadmica,
tendo publicado, nos ltimos cinco anos, dois artigos em peridicos especializados, 1 captulo de livro,
um artigo completo em evento e 26 resumos em congressos cientficos da rea. Alm disso, c) a docente
integra um grupo de pesquisa, no qual goza de certa autonomia na administrao de recursos e pessoal,
mas, tendo concludo recentemente o doutorado e sofrendo sobrecarga de trabalho (leciona em trs
instituies), parece no ter ainda recebido o devido reconhecimento por seu trabalho.
Considerando o modelo hubermaniano, as falas e informaes referentes a prticas e concepes
de Suely parecem indicar que a docente tambm pulou fases, estando no perodo correspondente
estabilizao na profisso. Ela identifica-se como uma docente de Parasitologia e tendo selado um
compromisso definitivo com a profisso, demonstra sentimentos de segurana, competncia e
autoconfiana profissional e, sobretudo, parece ter adquirido um estilo pessoal de ensino.
Neste caso em particular, possvel que tal atividade tenha contribudo no sentido de oferecer ao
docente uma orientao paradigmtica inicial (prpria do nvel I), alm de um engajamento em
atividades de ensino (caracterstica do nvel II), o que poderia ter adiantado o desenvolvimento
profissional desta docente. Como indicado no Captulo 1, de fato, uma das caractersticas que marcou a
constituio dos docentes diferenciados foi a experincia prvia com outros nveis de ensino.
O papel da experincia prvia com a docncia, ainda que no restrita a outros nveis de ensino, foi
observado por Veiga et al. (2004), entre docentes da Universidade de Braslia (UnB), que tambm
identificaram, nos participantes, casos de docncia prvia na condio de professores da educao bsica,
professores temporrios do ensino superior e bolsistas em cursos de graduao e ps-graduao. As
autoras afirmam que:
Podemos dizer, ento, que o ingresso no magistrio quadro permanente teve a influncia de um
exerccio docente anterior e provisrio. Isto indica que o ingresso provisrio na universidade foi uma
condio necessria para que o debut na profisso ocorresse com mais facilidade. A experincia
inicial foi dando, progressivamente, aos docentes mais segurana em relao ao contexto do trabalho
possibilitando, assim, a familiaridade no contexto das atividades acadmicas, no mbito da
universidade como um todo e na sala de aula, em particular (VEIGA et al., 2004, p. 2).
Assim, com a referida falta de vagas, muitos destes sujeitos, j adultos e tendo concludo um
curso universitrio, desenvolveram outros tipos de atividade remunerada, como por exemplo, a docncia
em outros nveis de ensino.
Ainda que esta atividade no possa ser considerada um processo formal de formao para o
magistrio superior, viu-se que pode contribuir para o aperfeioamento da prtica docente, de modo mais
171
significativo que a ps-graduao, j que a primeira pressupe, ainda que sem, necessariamente, contar
com acompanhamento e orientao pedaggicas, o exerccio efetivo de atividades de ensino, enquanto os
cursos de ps-graduao, conforme j foi referido, raramente envolvem alguma atividade de preparao
para a docncia.
Na formao da conscincia destes profissionais, atuam, entretanto, outros elementos. As
experincias marcantes a influenciar mudanas nas posturas pedaggicas dos docentes foram de natureza
distinta. Para Neide, uma repreenso da diretora constituiu experincia significativa, para Suely, o
comportamento rebelde de seus alunos; em comum, aprendizados oriundos das relaes com o mundo,
na interao com o outro, nas influncias recprocas, dialticas, portanto.
Ao ingressarem para lecionar na universidade, no se tornaram, de um momento para o outro,
professores universitrios. Traziam concepes oriundas de outros contextos, de outras aprendizagens,
formao inicial, ps-graduao, docncia em outros nveis. Neste ltimo caso, muitos fizeram escolhas
contingentes, vendo na docncia a nica opo para sua manuteno pessoal, atestando, de modo direto, a
primazia da dimenso econmica.
Outros, escolhendo a docncia por questes que no envolviam necessidades materiais, tambm
foram influenciados por esta dimenso, convivendo, durante sua formao, com gostos, valores, padres
de consumo e comportamentos ligados aos da classe mdia, j que este processo tambm inclui as
aprendizagens oriundas dos contextos informais, como estudar na casa dos colegas, participar de
encontros sociais, interaes durante intervalos de aula, prticas de campo, etc. Deste modo, docentes, em
seu processo formativo, absorvem em sua conscincia, elementos sociais e psquicos de seu grupo social.
Influncias que, por um lado, advm dos pares, dos aprendizados com os colegas e de outro,
provm de elementos da realidade em que o docente est inserido, os alunos de Suely, a diretora de Neide e
o marido da professora Y - a docente afirmou que o casamento foi um dos motivos para mudar de cidade e
buscar emprego numa universidade. O impacto dessas influncias, a formao desta conscincia, ter
reflexo na prtica docente, no modo como exercem na docncia universitria. Destaca-se, contudo, que
mesmo constituindo aspectos desta atuao, a profissionalizao docente, particularmente a do ensino
superior, no pode reduzir-se a esta dimenso formativa, exigindo, tambm iniciativas mais estruturantes,
como deve ocorrer com qualquer outra profisso cuja formao propiciada por processos educativos
escolares. Enfatiza-se, portanto, que lacunas formativas devido ausncia de prticas e conhecimentos
pedaggicos implementados de modo consistente, crtico e reflexivo, nos cursos frequentados por futuros
professores universitrios, precisam ser superadas, para que no se tenha como parmetro nico, aspectos
aleatrios que contribuiriam, eventualmente, para uma atuao docente consistente.
172
4.4 Atividades extra-acadmicas
Considerando a importncia da aprendizagem informal na constituio dos docentes,
investigaram-se alguns aspectos relacionados a atividades extra-acadmicas, como as atividades
desportivas, polticas e artstico-culturais realizadas pelos participantes desta pesquisa.
A influncia destes elementos, ligados, como diria Goldman (1972), realidade sociohistrica
mais ampla, relevante na tentativa de caracterizar a gnese das concepes e prticas docentes.
Referiu-se, no tpico anterior, que os docentes consideraram as aprendizagens formais para a
docncia universitria mais importantes do que as informais e no-formais, embora cerca de um quinto
(19,2%) deles tenha afirmado que aprendeu a lecionar fora dos espaos formais.
Alm da desvalorizao das aprendizagens informais, este resultado expe a pouca reflexo sobre
o tema entre os docentes, evidenciada pela grande importncia auferida a elementos geradores de
aprendizagens informais, como a famlia e os amigos. De qualquer modo, tal posio compatvel com a
pouca importncia dada a certas atividades que poderiam ser fontes de aprendizagem informal, como as
sociais de natureza poltica e artstico-cultural.
Outros elementos, como vocao e entusiasmo foram considerados, de modo distinto, entre
docentes diferenciados e tradicionais. Os primeiros, em sua maioria, no os consideraram relevantes,
enquanto os ltimos tiveram-nos, em geral, como relevantes. O modo como definem vocao, apesar
disso, foi distinto entre eles.
Alguns, por exemplo, concebem vocao como algo inato, enquanto outros afirmam-na como
no inata, sendo desenvolvida ao longo do aprendizado. Entre os docentes aparentemente contrrios ao
inatismo, contudo, se a vocao pode ser despertada, para alguns, est tambm associada a certa
habilidade natural: Vocao eu fui descobrindo. Eu j tinha dado aula numa universidade particular,
gostei. Ento, aprendi a gostar e j no rejeitava, mas no era aquele gosto! (Marcela); Vocao eu
entendo como aquilo que voc, naturalmente, expressa ou desenvolve. Voc nasceu com aquilo ou
desenvolveu durante a sua fase de aprendizado (Suely).
Os docentes que concebem vocao como algo inato, entretanto, afirmam no acreditar neste
conceito:
Eu no sei se eu nasci com a vocao de ser professora. Pelo salrio bsico, pelas
coisas que a gente escuta de ser professor n. Ento vocao, eu no sei, eu acho que
um pouco de perseverana, o conhecimento, eu acho que no acredito em vocao
no (Neide).
Acho um negcio muito difcil, Ah! Vocao! Acho que Ah! Tenho vocao pra
aquilo, no, eu tenho vocao pra viver, na verdade. Eu acho que todo mundo tem que
fazer aquilo que gosta. No acredito muito em vocao (ngelo).
173
J em relao ao entusiasmo, os participantes da pesquisa, tanto os tradicionais quanto os
diferenciados, foram unnimes em afirmar sua importncia no desenvolvimento das atividades
docentes. Para a maioria dos entrevistados, entusiasmo um elemento que est relacionado a
gostar da profisso e, por este motivo, poderia, segundo eles, impactar positivamente o
aprendizado dos estudantes.
Neste sentido, opinio frequente que a funo do entusiasmo na prtica docente
contagiar os discentes com tal sentimento:
Isso eu tento passar pros meninos. Eu falo pra eles que se forem entusiastas da
profisso que escolheram, do ngulo que eles esto trabalhando se fizerem bem,
gostarem do que fazem, eles vo ser melhores do que todo mundo e o lugar deles est
reservado (Marcela).
Professor tem que ter entusiasmo, mostrar que gosta daquilo faz para tornar o assunto
que ministra, interessante, transmitir isso pra contaminar, tanto no entusiasmo quanto
o oposto, contaminam a sala (Rodrigo).
Uma das docentes relaciona o entusiasmo a conceito frequentemente empregado na literatura
especializada no campo educacional: a motivao. Como os demais, a professora atribui ao entusiasmo
um papel crucial no aprendizado do aluno e o afirmar como condio sine qua non neste processo:
Bom, entusiasmo eu vejo como questo fundamental pra aprendizagem que a
motivao. Quando o indivduo no ta motivado ele no tem entusiasmo e no h
aprendizagem. Pode at cumprir, pode servir pra ele cumprir uma tarefa, seja uma
prova ou um trabalho, uma apresentao, mas se aquilo no tiver entusiasmo (Luana)...
A docente relata ainda como a postura entusistica de um de seus professores do ensino mdio foi
decisivo para que cursasse biologia:
No ltimo ano do clssico eu tive a matria biologia. E eu tive um professor que era um alemo.
Ele me ensinou citologia e alguma coisa de gentica, as coisas do azo azinho. A partir dessa
disciplina, e foi uma disciplina no terceiro ano, eu falei vou fazer biologia. Porque? Ele tinha
tanto entusiasmo no que ele contava que aquilo me contagiou (Luana).
Outro elemento considerado muito importante pelos docentes, em sua quase totalidade (Fig. 4.9)
foi a influncia da famlia em sua constituio para o magistrio superior. Tamanho o peso deste
elemento, para eles, que nenhum dos docentes considerou que a famlia exercesse pouca ou nenhuma
importncia em sua constituio.
Uma das influncias atribuda famlia, segundo os docentes, diz respeito ao ingresso na
universidade, quer para o magistrio, quer enquanto estudante. Alguns dos docentes so filhos de
professores (caso de Marcela e ngelo), outros so filhos ou sobrinhos de mdicos (caso de Marcela e
Luana), enquanto outros ainda, so filhos de funcionrios pblicos (como Rodrigo). Mesmo os que no
revelaram grau de parentesco com professores ou com outros servidores pblicos e profissionais liberais,
declararam a importncia do apoio afetivo e material da famlia para o ingresso e a permanncia na
universidade.
174
Figura 4.9 Importncia relativa de aspectos das aprendizagens informais na constituio docente.
Mais do que este papel, alguns docentes atribuem famlia influncias sobre as prprias
concepes relativas docncia:
Eu acho que minha famlia influenciou muito, principalmente a minha me. Eu sempre
gostei de ver a minha me na sala de aula. Ela era uma excelente professora. Bem
melhor do que eu sou. Ela gostava de sala de aula. Sempre gostei de ver minha me,
minhas tias, minhas professoras (Marcela).
Primeiramente minha me tambm, porque minha me foi professora a vida inteira.
Ento eu aprendi a corrigir prova em casa, a lanar nota, dirio de classe, essas
coisas. Era a minha diverso. noite no tinha o qu fazer, quando no tava estudando
ficava fazendo isso pra mame (ngelo).
Outra dimenso cuja influncia atribuem famlia e que repercute em suas prticas docentes, so
os aspectos ligados a seus valores, sobretudo os morais:
Dou muito valor pra famlia. E tudo o que a gente aprende de bom, muitas coisas so
da famlia. Ento essa seriedade, esse comprometimento, essa ateno aos
compromissos, eu, digamos assim, herdei da minha famlia e procuro ser assim como
professor, n (Rodrigo)?
Toda minha formao ela foi baseada muito nessa questo de famlia, de princpios morais, de
ser um bom cidado. Ento essa influencia da famlia, do equilbrio que a famlia tem, ela vai
influenciar diretamente no aprendizado tambm do meu aluno (Suely).
Meu pai era clnico geral, mas dedicou a vida ao ensino da medicina, num aspecto
generalista, social, preocupado com a formao dos alunos, do exerccio da medicina
como uma responsabilidade muito grande. Ficava aborrecido quando via todas estas
especializaes e que no havia mais uma viso do paciente, n (Luana)?
Alm da famlia, o papel desempenhado pelos amigos includos ai os colegas de trabalho
tambm foi considerado relevante pela maioria dos docentes (Fig. 4.9). Tal posio foi indistinta entre
diferenciados e tradicionais.
Apesar disso, ao referirem-se a tal influncia, ofereceram poucos elementos para explicitar em
que sentido os amigos constituem fontes de aprendizagem para a docncia. Resumem-se a afirmar, por
exemplo, que estes, como todo mundo que nos cerca exercem influncia neste processo ou ainda,
situando-os em posio anloga dos familiares.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Famlia Amigos Religio Poltica Artes e
Cultura
mt importante
Importante
mdia importncia
pouca importncia
nenhuma importncia
175
Aspectos religiosos, por sua vez, foram considerados importantes ou muito importantes, para
metade dos docentes (50,0%) e pouco ou nada importantes para mais de um tero destes sujeitos (Fig. 4.9).
Conforme descrito na apresentao do perfil dos participantes da pesquisa in loco, um dos docentes
entrevistados (Rodrigo) declarou-se ateu. Um outro afirmou ser afro-religioso (ngelo) e, entre os demais,
alguns se declararam cristos (Marcela e Suely). Apesar destas filiaes religiosas, no houve, entre estes
sujeitos, quem afirmasse relacionar preceitos religiosos especficos sua prtica docente.
Dois elementos caracterizaram suas falas quanto a este aspecto; o ecumenismo e os valores
morais. Em relao ao primeiro destes, manifestaram uma posio em sentido lato, concebendo a
validade de distintas crenas (e em alguns casos, as descrenas):
No tenho nada contra quem religioso, nem religio nenhuma, mas eu sou ateu. Ento para
mim no tem importncia, para outras pessoas, no tenho nada contra. Pode ser bom para ela e
pode ser bom para todo mundo que est ao redor dela (Rodrigo).
A gente aqui dentro uma loucura aqui dentro desse laboratrio, tem de todas as
religies de todos os tipos, de tudo quanto lugar do mundo e todo mundo em paz. A
gente no tem a Faixa de Gaza aqui, ta todo mundo bem (ngelo).
Eu conheo tanta gente aqui que tem uma alma to do bem mesmo e no tem nada a ver com
religio. Eu acho que so questes de estrutura interna mesmo de cada um (Luana).
Quanto aos valores, em grande medida, os docentes declarados cristos, referem-se suas prprias
convices como se representassem valores universais, ainda que explicitem diversos elementos que
caracterizam, sobretudo, as doutrinas crists, como a viso maniquesta, a noo de castigo e os mandamentos
cristos. Deste modo, mesmo externando posies ecumnicas de aceitao daqueles filiados a outras
religies, ao expressarem seus valores morais, parecem ter uma viso restrita de ecumenismo:
Poder voc pode tudo. Agora voc vai pagar o preo por aquilo que voc resolveu escolher. A
conscincia que diz, se tu fizer isso tu vai se ferrar, tu fizer esse negcio est errado. A gente faz!
O grilinho falante est aqui, n, mas a voc vai l e faz (Marcela).
Quando eu falo religio, eu falo de princpios morais, de ser um bom cidado. Porque
a religio ela influencia nesse sentido, n? No matar, no roubar, ento, nesse sentido
que eu falo da religio (Suely).
Ao extrapolar o domnio das prticas e dos espaos de congregao de seus discpulos, os valores
e convices religiosas, parecem afetar as relaes socioculturais entre pessoas que cultivam distintas
vises de mundo, qui interferindo nas relaes professor-aluno.
Dos de aprendizagens informais at ento referidos, no foram observados, nos estudos envolvendo
docentes universitrios, dados que apontassem a influncia da religio na atividade destes profissionais, ainda
que Veiga et al. (2004) indiquem o predomnio de catlicos entre os docentes.
No caso de outras fontes de aprendizado informal, como a famlia e os amigos, considerada por
eles como fundamental enquanto suporte material e psquico, conforme relatado, houve uma grande
valorizao destas, evidenciando que os mesmos percebem relaes entre as referidas fontes e a docncia.
Em sua maioria, os docentes apontam a vocao e o entusiasmo como elementos relevantes para a
176
atuao em sala de aula, embora os primeiros possuam uma compreenso que no pressupe somente o
inatismo, mas a vocao para a docncia como passvel de aprendizado. Docentes diferenciados, por sua
vez, por compreenderem a vocao como inata, no a consideram relevante na atividade docente. J o
entusiasmo, para eles, ao contrrio, considerado fundamental.
A compreenso de vocao enquanto elemento no inato, ainda que possa conter certa
predisposio natural, explicitada pelos docentes deste estudo, foi referida tambm pelos participantes
da pesquisa de Silva e Schnetzler (2005). Professores universitrios, na investigao conduzida por
Maciel (2007) afirmam que a formao para a docncia ocorre a partir de experincias pessoais e pela
influncia de familiares.
Outras pesquisas realizadas com docentes diferenciados apresentam similaridades em algumas
dimenses, como a valorizao da influncia da famlia, aqui observada. Silva e Schnetzler (2005),
investigando a constituio de professores universitrios da rea de Ensino de Qumica, identificaram
distintos tipos de participao da famlia, tanto no ingresso na docncia quanto no exerccio profissional,
quer estimulando, quer desmotivando. Cunha (2005) tambm registra, entre docentes diferenciados, a
participao da famlia, no apoio material e incentivo prtica docente dos filhos que se tornaram
professores.
Em relao aos amigos, particularmente os colegas de trabalho, os participantes de ambos os
estudos acima referidos, referem-se a eles como parceiros no aprendizado profissional. No tocante s
interrelaes extra-acadmicas, h tambm outras similaridades com os resultados de estudos envolvendo
docentes universitrios, conforme ser visto adiante.
Alm dos elementos at aqui discutidos, outros, como atividades desportivas, polticas e artstico-
culturais, para as quais foi definido a priori, na elaborao dos instrumentos de pesquisa, sobretudo o
questionrio n 1, um nvel maior de detalhamento, sero apresentados posteriormente.
A investigao sobre a frequencia e a qualidade das atividades polticas busca compreender se e
como a trajetria de atuao poltica dos docentes participantes da pesquisa poderia influenciar suas
prticas pedaggicas. A investigao envolvendo as atividades artstico-culturais, do mesmo modo,
objetiva apreender eventuais relaes entre estes elementos de valor predominantemente esttico, como a
produo e o consumo das artes e da cultura tambm com as prticas docentes.
Tais atividades podem indicar se, ao realizar atividades extra-acadmicas os docentes estariam
exercendo atividades coletivas ou optando pelas individuais. Uma eventual constatao de que estes
docentes no se interessam por atividades coletivas, alm de corroborar com os achados de Veiga et al
(2004), pode oferecer explicao plausvel o que Teixeira (2003) chama de tradio individualista do
ensino superior. As atividades desportivas tambm foram investigadas, sobretudo, nesta perspectiva.
177
Ser iniciada a apresentao destes dados retomando aqueles provenientes da busca realizada no
item anterior, j que, alm das tradicionais atividades relacionadas como produo cientfica em seus
currculos Lattes, dois dentre os participantes da pesquisa mencionaram atividades no item Produo
Cultural, quais sejam, programas de rdio e teatro. Um docente, entretanto, embora tenha feito referncia
ao grupo de teatro em que atua, no fez qualquer meno a estas atividades em seu currculo.
Alm destes dados preliminares, que indicavam a realizao de tais atividades, foram
sistematizadas tambm as respostas dos docentes a questes do instrumento se relacionadas ao tema.
Em relao s atividades extra-acadmicas realizadas pelos docentes, tanto as desportivas como
as artstico-culturais, buscou-se distinguir a simples frequncia a estas atividades, realizada por docentes
leigos, de uma participao autnoma por parte de docentes mais habilitados nestas prticas. Por isso
fizeram-se, inicialmente, duas perguntas: a) freqenta tais atividades? b) realiza tais atividades? Em
seguida buscou-se caracterizar tais atividades e a frequncia com que so realizadas.
4.4. 1. Atividades desportivas
Oito docentes (30,8%) declararam no frequentar ou realizar qualquer atividade fsica, enquanto,
dentre os demais, 12 (46,1%) disseram frequentar tais atividades e 15 (57,7%) afirmaram realiz-las
54
.
Dentre as atividades mais frequentadas esto aquelas praticadas em academias (91,6%), sendo
referidas a musculao (83,3% destes) e o pilates (16,7%). Alm destas, o kobud, uma arte marcial japonesa,
foi referido por um docente (3,8%). Quase a totalidade destes (92,3%) frequenta tais atividades mais de uma
vez por semana, enquanto os demais (7,7) o fazem uma vez.
Quanto realizao de atividades fsicas, houve uma diversidade maior de prticas referidas,
como caminhada (47,1%), corrida (17,6%), futebol, natao, ciclismo, pilates e programas mistos de
atividades fsicas (5,9% cada). Cerca de metade dos participantes da pesquisa (46,7%) realiza tais
modalidades mais de uma vez por semana, um tero (33,3%) o faz uma vez, enquanto os 20,0% restantes
raramente dedicam-se a estas atividades.
possvel notar que, com raras excees, as atividades desportivas realizadas e/ou frequentadas
pelos docentes, constituem modalidades individuais. A nica coletiva referida, praticada por um docente,
foi o futebol. Embora muitas das atividades individuais referidas sejam praticadas em espaos coletivos,
como as academias, no h, entretanto, indicativos de que nestes lugares, exista interao entre seus
praticantes.
Ainda que os motivos pela busca de tais atividades no tenham sido objetos de investigao, o
perfil dos docentes que frequentam as academias (assim como a grande maioria dos participantes desta
54
Alguns docentes, alm de frequentar, sistematicamente, atividades em academias, tambm realizam,
individualmente atividades no-acompanhadas por instrutor, como corridas e caminhadas, por exemplo.
178
investigao) caracterizado pela distncia de atividades sociopolticas (90,1% destes no participa de
tais atividades). Tal distncia ainda maior do que a observada entre os que no praticam qualquer
atividade fsica (62,5%).
Quase metade (46,7%) destes docentes, frequentadores de academia, realiza tais atividades mais
de uma vez por semana. Observa-se ainda, que mais da metade (54,4%) tambm realiza, embora com
menor frequencia, corridas ou caminhadas, indicador de que despendem razovel esforo semanal com as
atividades desportivas.
No se tencionou aprofundar este aspecto, que constitui, na viso aqui explicitada, um dos
elementos de menor influncia na constituio para a docncia. Entretanto, no se pode negar sua forte
presena entre os docentes. Qui participassem com tamanha frequncia de atividades sociopolticas!
Alm da frequncia de sua realizao, outro elemento de sua constituio, proveniente da
formao inicial, pode estar influenciando a realizao de tais prticas, qual seja: a viso biologicista do
corpo. Soares (2007b), ao reconstruir o histrico das prticas corporais, observa um contexto marcado por
estratgias de interveno fundadas em representaes biologicistas do corpo, estabelecendo prticas
individualistas, nas quais cada praticante procura ser o pastor de si mesmo, artfice de sua prpria sade,
responsvel pela prpria vida (SOARES, 2007b, p. IX).
Esta leitura remete s dimenses socioculturais das vises de mundo destes sujeitos e aos motivos
que os conduziram prtica de tais atividades, que como afirmado, no se buscou investigar. Apesar
disso, alguns destes motivos so apontados pela literatura especializada. Liz et al. (2010) observaram,
numa reviso de literatura, sobre a aderncia prtica de exerccios fsicos em academias de ginstica,
que a sade e a esttica foram os motivos mais citados para a realizao de tais atividades. As autoras
referem-se a outras motivaes, como resistncia, aptido fsica e, dentre os menos citados, a
socializao (dentre os 13 estudos investigados, um referia-se a este ltimo).
Neste estudo, ressaltada ainda, a supremacia de certo ideal esttico sobre a alegada procura por
sade que, para seus autores, prejudica o desenvolvimento da prpria atividade, j que os interesses dos
professores e dos alunos so conflitantes. Em outro estudo desenvolvido por Kantikas (2007), os
principais motivos referidos foram a forma fsica (50,0%) e preocupaes com a qualidade de vida
(48%). A autora conclui que a razo principal desta procura o culto ao corpo.
Como visto, na exposio dos resultados do presente estudo, a nica modalidade coletiva referida
foi o futebol e, ainda assim, por um nico docente. Apesar disso, parece que no somente a falta de prtica
com atividades coletivas (detalhadas nos prximos tpicos) a influenciar esta rejeio ao futebol entre os
docentes. Comparando a faixa etria destes sujeitos com dados de Pontes et al. (2006), que investigaram o
perfil dos praticantes de futebol recreativo, percebem-se significativas diferenas etrias, apontando para
uma incompatibilidade desta atividade com o perfil mdio de seus praticantes.
179
Buscou-se apontar, nestas atividades, dois aspectos: a) significativo perodo de tempo (e esforo)
de, ao menos metade, destes docentes despendido com tais atividades (muitos se dedicam mais a estas
do que a atividades de pesquisa e extenso) e; b) ao elegerem modalidades individuais, no esto somente
expressando o individualismo prprio do meio acadmico, como aponta Teixeira (2003). Mais do que
isso, esto praticando o individualismo, reforando-o, portanto.
Ser aprofundado ainda este segundo aspecto na discusso das demais atividades informais
realizadas pelos participantes da pesquisa.
4.4.2. Atividades polticas
Em relao a atividades de natureza poltica, mais da metade dos docentes (53,8%) declarou ser
filiada a sindicatos. Se, por um lado, a maioria deles (84,6%) vincula-se ao Sindicato Nacional dos
Docentes de Ensino Superior (ANDES-SN), por outro, tambm h filiao a diferentes sindicatos de
servidores das universidades e outros de distintas profisses, como o dos Mdicos, no qual 8,2% dos
entrevistados so filiados. Apesar disso, metade destes (50,0%) no participa de assemblias ou outros
processos decisrios.
Dentre os que declararam participar destas atividades, 28,6% (ou 15,4% do total dos docentes)
afirmaram ser assduos somente s assemblias, enquanto 21,4% (ou 11,5% do total) afirmaram
envolver-se tambm em outros processos decisrios.
A maioria destes (80,8%) filiada tambm a associaes e/ou conselhos, sobretudo a conselhos
profissionais (76,2%), mas tambm de associaes de pesquisadores (28,6%), funcionrios pblicos e
entidades culturais (ambas com 9,5%), associaes de moradores, produtores rurais, entidades de
natureza artstica, cooperativas mdicas e conselhos consultivos de rgos pblicos (4,8%).
Quanto efetiva participao nas atividades, 28,6% dos filiados a estes coletivos declararam
participar com frequncia de reunies e outras atividades. Vale ressaltar que, com duas excees, os
docentes que declararam frequentar as atividades de suas entidades so integrantes de suas diretorias.
Dentre estes docentes, que constituram excees, ngelo participa de um grupo sem carter
predominantemente poltico, no caso, um grupo de teatro, enquanto Suely participa de uma associao de
moradores. Com efeito, at mesmo os participantes mais assduos o fazem em funo de um
envolvimento temporrio. Os demais 71,4% declararam no participar com frequencia de tais atividades.
Ressalte-se ainda que quase todos os filiados a conselhos profissionais (95,2%) disseram que estas
entidades no costumam realizar reunies com seus associados.
180
Investigou-se tambm se os participantes da pesquisa teriam alguma filiao partidria. Um dos
docentes (3,8%) declarou ser filiado, ainda que no frequente reunies nem participe de qualquer outro
processo decisrio em seu partido poltico.
A falta de participao em organizaes sociais repete-se entre docentes de instituies de outras
regies, como os professores X e Y. H, entre eles, excees. E, tal exceo ocorre tambm entre os
docentes diferenciados. Luana participa de atividades em uma entidade assistencial, um grupo de auto-
ajuda. A entidade em questo atividade trabalha com o anonimato de seus integrantes, logo, a atividade
desenvolvida no poder ser explorada neste estudo. possvel afirmar, entretanto, que a participao da
docente foi motivada por questes de ordem familiar.
Esta pouca participao dos docentes em atividades polticas consistente com a posio
declarada por eles, sobre a importncia dada atuao poltica em sua constituio enquanto docentes.
Metade deles (50,0%) declarou este aspecto como pouco ou nada importante, j outra parte (19,2%)
considerou-o como de mdia importncia, enquanto cerca de dos docentes afirmou que tal aspecto
importante ou muito importante (3,8% deles no se posicionou sobre o tema. Ver Fig. 4.9).
Assim, aspectos relacionados trajetria de atuao poltica dos docentes parecem exercer pouca
influncia no exerccio das atividades de ensino de alguns destes sujeitos. Conforme apontado
anteriormente, pouco participam de atividades desta natureza. Por isso, esta desvalorizao da dimenso
poltica consistente com a posio assumida pelos docentes.
No houve diferenas na posio dos docentes diferenciados em relao dos tradicionais. Uma
docente (Suely) que participa ativamente de uma associao de moradores, considerou sua trajetria
poltica importante na atuao docente. Outra, Marcela, tendo julgado tal aspecto medianamente
importante, tambm participa de atividades coletivas, junto associao de docentes de sua instituio,
integrando a diretoria do sindicato.
Dentre os que no perceberam os aspectos polticos como importantes para o exerccio da
docncia, um deles (ngelo) declarou participar de atividades coletivas junto a um grupo de teatro. Faz-
se referncia a esta, ainda que se caracterize como predominantemente artstica, por ser dotada, como
qualquer ao coletiva, de uma dimenso poltica, explorada com propriedade por teatrlogos
mundialmente conhecidos como Bertolt Brecht, alm de expoentes do teatro nacional como Plnio
Marcos e Augusto Boal, por exemplo.
No caso de ngelo, entretanto, seu coletivo teatral est relacionado ao clown, uma tcnica teatral
cujo elemento central predominantemente o ldico (FELLINI, 1985), ainda que artistas como Charles
Chaplin (1936) a tenham utilizado de modo politizado. Ao comentar sua participao neste coletivo,
entretanto, o docente no faz qualquer meno a este elemento. Tampouco oferece qualquer argumento
para o fato de ter atribudo nenhuma importncia a tal dimenso em sua prtica docente.
181
Entre os docentes que afirmaram ser a dimenso poltica pouco ou nada importante, os
argumentos so diversificados. Um dos docentes expressa averso ao tema, afirma que s vota nulo e
pretende manter esta posio no futuro e ainda que procure no se envolver com estas questes, critica a
despolitizao dos demais brasileiros, que, em sua opinio, esto mais interessados em temas como
futebol, por exemplo. Em sua fala, fica evidente que no se percebe como um ator poltico, compreende,
de forma restrita, poltica como a ao de agentes pblicos, polticos profissionais, e atribui sua falta de
interesse descrena nestas atividades:
Pra mim, no Brasil, poltico sinnimo de cafajeste. Claro que existem excees, eu t falando
da maioria. Ento, a trajetria poltica, pelo fato de o Brasil, ser hoje, na minha opinio, a
maioria dos polticos no presta para nada, no uma referncia para mim... No que a pessoa
no possa ser um bom poltico, talvez possa ser, mas, pra mim no quer dizer nada (Rodrigo).
Outra docente diz julgar a poltica pouco importante, a partir da velha mxima poltica e religio
no se discutem (Neide). Num primeiro momento, relaciona este elemento poltica partidria, e informa
no incluir tais discusses em sua disciplina, mas, aps certa reflexo, lembra que alguns temas, como as
polticas de sade, integram o contedo de suas atividades. A docente tambm admite que, ao ministrar
outra disciplina, chamada Biotica, poderia at discutir, mas no o faz por opo pessoal.
Outros atribuem alguma importncia a esta dimenso e participam de atividades polticas. Uma
das participantes, frequenta regularmente, h vrios anos, assemblias e outras atividades sindicais, mas
revela que o principal motivador deste envolvimento a amizade. Alm disso, generaliza esta falta de
relao com a poltica como caracterstica dos bilogos e, em sua fala, deixa explcita a falta de
identificao com as causas e os valores defendidos pelo movimento docente:
Poltica eu no consigo me envolver o tempo inteiro, tenho fases. Hoje estou afastada (do sindicato).
No comeo me cobravam muito, mas quando entrei eu falei: olha, no tenho a coerncia poltica, a
vontade poltica de trabalhar, ajudo no que eu puder, mas no vou ter nunca a cabea que vocs
tem pra o lado da poltica. Me envolvi mais por amizade mesmo (Marcela).
H quem, por sua vez, revele o envolvimento e a tomada de conscincia da importncia de tais
atividades como fato recente:
Essa questo de envolvimento poltico pra mim era uma coisa assim, deixada de lado. Com o
tempo, observando as pessoas que eram envolvidas com isso, vendo o que ta acontecendo na
sociedade, hoje tenho uma concepo bem diferente. Acho que a formao poltica da gente
precisa existir. A gente no pode estar alheio e alienado de tudo isso, porque isso repercute
diretamente na gente. Ento, a questo poltica interfere na educao, no que ta sendo ou como
ta sendo investido ou o que no est sendo investido (Suely).
A partir desta nova percepo, a docente afirma que passou a incluir discusses sobre poltica em
suas aulas, relacionando as doenas parasitrias a questes de ordem social, como a pobreza e a falta de
saneamento bsico. Do mesmo modo, outra docente, da rea de ensino, discute e contextualiza tais
assuntos, utilizando particularidades do exerccio profissional dos farmacuticos para justificar a
importncia deste enfoque:
182
Quando chegava no captulo de resistncia a antibiticos, no meu entender, alm deles
conhecerem como que uma bactria se torna resistente ao antibitico - alunos que iam ser
donos, ou assinar em farmcias achava muito importante que soubessem as consequncias do
antibitico vendido sem nenhuma conscincia, sem nenhum critrio (Luana).
Em que pesem as reflexes das docentes, a poltica no foi das dimenses mais valorizadas pelos
participantes da pesquisa. Em geral, relacionaram-na a polticos profissionais ou a partidos, revelando,
com raras excees, certa despolitizao. Alguns docentes afirmam compreender a importncia de
questes polticas, utilizando esta dimenso para abordarem, com distintos nveis de elaborao, temas
relevantes da realidade contempornea.
Argumento relevante em favor da importncia da dimenso poltica na atividade docente,
oferecido por Masetto (2003) e j referido no Captulo 2 (item 2.1), postula que o docente prossegue
sendo um cidado em sala de aula e continua a fazer parte de um povo, de um processo histrico, etc.
Neste sentido, seria importante que o docente universitrio pudesse perceber-se como sujeito
poltico, como o zoon politikon
55
aristotlico. Ao contrrio, a influncia de aspectos polticos na
constituio profissional observada em estudos que envolvem docentes universitrios desvalorizada por
eles (VEIGA et al., 2004).
Nos estudos envolvendo docentes universitrios com formao e atuao na rea de ensino
(SILVA; SCHNETZLER, 2005; CUNHA, 2005; 2006), por outro lado, estes sujeitos reconhecem a
importncia do envolvimento em questes coletivas de interesse social. Mais do que isso, alguns docentes
associam este envolvimento a mudanas em suas concepes pedaggicas, de um modelo mais tradicional
e disciplinar, para uma postura mais preocupada com o contexto de vida de seus alunos, ainda que a
repercusso desta preocupao na prtica tenha requerido, de modo geral, processos formais de
aprendizagem para a docncia (CUNHA, 2005). Outros ainda, associam a emergncia de uma
compreenso poltica mais elaborada com a prpria opo pela docncia (SILVA; SCHNETZLER, 2005).
A julgar por este quadro, a compreenso da influncia destes elementos, oriundos,
predominantemente, das aprendizagens informais, entre docentes universitrios no uniforme. Um dos
motivos implicados nestas diferenas apontado em alguns dos estudos referidos anteriormente e diz
respeito presena, em algum momento da trajetria formativa docente, de um contato mais ntimo com
a discusso e o envolvimento com aspectos estticos e/ou polticos, quer no convvio familiar, quer em
funo da influncia de certos docentes (SILVA; SCHNETZLER, 2005; CUNHA, 2005). Este ltimo
elemento indica ainda a importncia da promoo de um ensino que leve em conta tais elementos.
No caso especfico do ensino de Microbiologia e Parasitologia, a histria da constituio, tanto
destes saberes, quanto de sua introduo no ensino superior, sendo marcada por compreenses higienistas
e biologicistas, reduz a complexa realidade social, no tocante s relaes entre os organismos parasitas e
55
Animal social, emaranhado em um conjunto de relaes necessrias para a sua produo e reproduo como ser
social (IANONI, 2005, p. 2)
183
os humanos, a esquemas simplificadores. Assim, em tais esquemas, no haveria espao para reflexes de
natureza sociocultural e poltica. Em outras palavras, caso o docente destas reas no tenha vivido as
experincias descritas no pargrafo anterior, em algum momento de sua vida, no as viver igualmente na
formao acadmica.
O quadro aqui descrito similar ao observado em outras investigaes envolvendo docentes
universitrios, como aquelas desenvolvidas por Veiga et al. (2004). As autoras afirmam que os docentes
universitrios integrantes desta pesquisa no costumam frequentar atividades em organizaes coletivas,
como sindicatos, associaes de bairro, entidades profissionais, etc. No caso das entidades profissionais,
os docentes das IPES investigadas neste estudo, filiados a instituies desta natureza, afirmaram que tais
entidades no promovem reunies ou outras atividades (exceto entre os integrantes de suas diretorias).
Para Veiga et al. (2004), esta alienao poltica dos docentes universitrios induz a um
comportamento individualista e at mesmo a concepes calcadas no produtivismo em suas prticas
profissionais. Cunha (2006), por sua vez, relaciona esta alienao ao carter disciplinar dos contedos
desenvolvidos por estes docentes. A este respeito, pensa que um dos possveis desdobramentos de prticas
pedaggicas centradas neste modelo, pode ser a reproduo entre os estudantes, de tal alienao.
H, entretanto, outras posturas pedaggicas em meio aos docentes universitrios. Entre os
participantes do estudo conduzido por Silva e Schnetzler (2005), houve maior participao e
envolvimento em suas trajetrias de atuao poltica, o que inclui a participao em movimentos sociais,
particularmente os estudantis. Alm destas autoras, Cunha (2006) observou que dentre treze sujeitos
integrantes de sua investigao, dez fizeram meno a experincias de prticas poltico-sociais na sua
trajetria. No caso desta investigao, nem todos os docentes diferenciados declararam envolver-se em
atividades desta natureza.
Na opinio de alguns deles, a participao nestas atividades contribuiu para o despertar de certa
compreenso poltica, momento a partir do qual os saberes do campo poltico social vieram contribuir na
constituio dos saberes profissionais (SILVA; SCHNETZLER, 2005, p. 1128)
Pela importncia desta dimenso na constituio destes sujeitos, Cunha (1996) defende a
realizao de investigaes sobre o professor, envolvendo seu cotidiano e seu contexto sociohistrico.
Para a autora, tais estudos poderiam contribuir para a definio de uma nova ordem pedaggica.
A superao do comportamento individualista do docente universitrio, no entanto, no parece
processo simples. Esta caracterstica foi destacada na abordagem das atividades de ensino, de pesquisa e
ao falar sobre as atividades desportivas e polticas. Enfim, mais do que uma concepo poltica ou
pedaggica, o individualismo infiltra-se por todos os poros de suas vidas cotidianas, representando toda
uma weltanschauung.
184
Reitera-se o carter coletivo da conscincia, que aponta para o individualismo enquanto
aprendizado de regras coletivas. Entre estas regras est o j referido modelo da transmisso-recepo.
Indica uma concepo bancria, apassivadora, segundo a qual o docente estende algo desde a sede do
saber, at a sede da ignorncia, para salvar, com este saber, os que habitam nesta (FREIRE, 1979b, p.
25).
Tarefa apropriada para integrantes da classe mdia, segundo Oliveira (1988), os agentes tcnicos
da administrao da medida. Eder (2001) atribui a ela ainda outros adjetivos e faz uma descrio
detalhada de seus integrantes.
Segundo este ltimo autor, esta no constituiria uma classe, mas abrigaria os indivduos
(professores, funcionrios pblicos, artesos, comerciantes) que, de acordo com a teoria marxista, no
seriam integrantes da burguesia ou do proletariado. Diz ainda que, no sculo XIX, estes cumpriam
importante papel na estrutura social, controlando o fluxo da comunicao cotidiana na sociedade e, neste
papel, professores eram cruciais. Por fim, atribui como caracterstica tambm o consumo conspcuo,
posio social indefinida (alguns oprimidos, outros opressores) e posio poltica reacionria.
Por isto, o modelo tradicional de ensino, pautado na transmisso-recepo, adqua-se tambm s
prioridades das classes dominantes, que, segundo Goldman (1972), precisam dedicar esforos para
organizar a vida econmica da sociedade e, com isso, defender seus privilgios.
Neste sentido, a adeso a esta nova ordem pedaggica tarefa para a qual haver, dentre os
docentes universitrios de parasitologia, microbiologia e micologia, os que identificaro, tornando-se
aliados; aqueles para os quais tais transformaes no faro sentido, mantendo-se indiferentes e, ainda,
aqueles para os quais esta nova ordem constitui uma ameaa, tendo como reao a hostilidade.
Este processo transformador poder ter entre os docentes diferenciados, alguns dos sujeitos desta
prxis de superao do comportamento individualista, que pressupe, ao contrrio da domesticao,
tomar a educao como prtica de liberdade.
4.4.3. Atividades artstico-culturais
Para caracterizar as atividades artstico-culturais desenvolvidas pelos docentes, perguntou-se a eles se
frequentavam e/ou realizavam atividades ligadas ao cinema, teatro, literatura, artes plsticas e msica. Foram
includas, dentre estas atividades, a programao televisiva e as leituras realizadas pelos participantes.
Atividades audiovisuais, como assistir TV, ir ao cinema e ver filmes em outras mdias, foram as
mais frequentemente assinaladas pelos docentes, que tambm declararam assistir concertos, shows,
festivais, dana, teatro e, alguns raros docentes tambm, declararam frequentar centros culturais de pases
como os Estados Unidos e o Japo (Fig. 4.10).
185
Dentre estas atividades, assistir televiso constituiu a mais frequentemente realizada pelos
participantes. A maioria a realiza mais de uma vez por semana (84,6%), somente um docente (3,8%)
apresenta uma frequencia menor e outros dois professores (7,7%) afirmaram no assistir TV.
Figura 4.10 Atividades artstico-culturais mais frequentes entre docentes universitrios (na condio de
expectadores).
Grande parte dos docentes (76,9%) assiste a noticirios, enquanto filmes em geral e programas de
carter cientfico, seriados e documentrios, constituem a predileo de um pblico menor de docentes
(19,2 e 15,4%, respectivamente). Outros tipos de programa, como os de variedades, as novelas, os
seriados e humorsticos, foram tambm referidos (Fig. 4.11).
Figura 4.11 Programao televisiva dos docentes participantes da pesquisa.
Depois da TV, as salas de cinema so frequentadas com relativa assiduidade pelos docentes,
sendo que quase metade (46,1%) dos participantes declarou realizar tal atividade, ao menos, uma vez por
semana (Fig. 4.12).
Dentre os participantes desta pesquisa, 22 dos 26 docentes (84,6%) declararam no realizar
qualquer uma das atividades relacionadas (encenar, dirigir, atuar, pintar, esculpir, tocar instrumentos, danar,
escrever contos, crnicas e/ou poesias). Dos quatro indivduos que afirmaram realiz-las, dois atuam em
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coletivos de teatro (um deles participa de ensaios e apresentaes mais de uma vez por semana), uma
dedica-se, uma vez por ms, dedicava-se a escrever crnicas, enquanto a ltima afirmou ter formao
musical e tocar seu piano, em casa, sempre que possvel.
Figura 4.12 Frequncia com que os docentes participantes da pesquisa assistem a filmes no cinema.
A importncia atribuda ao papel das atividades artstico-culturais na constituio para a docncia,
pelos participantes da pesquisa foi inferior quela auferida a outros elementos como a famlia, por exemplo,
variando entre importante e muito importante, para quase metade dos participantes (46,2%) e medianamente
ou pouco importante para uma proporo ligeiramente superior de docentes (53,8%, Fig. 4.9).
Deste modo, o engajamento nestas aes proporcionalmente maior do que a importncia que
atribuem a elas enquanto elementos que os constituem para a docncia. Tal constatao parece indicar
que, para parte deles, no h relao entre as artes e a cultura, por um lado, e os processos de ensino-
aprendizagem, por outro.
Ao detalhar esta anlise, a partir da abordagem qualitativa, observou-se que, com excees, entre
os docentes entrevistados, estes aspectos foram considerados importantes.
Dentre os participantes da pesquisa in loco, dois atuam no teatro (ngelo e Suely), constituindo-
se como docentes diferenciados. O primeiro envolvido, h mais de uma dcada, com tais atividades,
enquanto a segunda no possuindo qualquer processo formativo formal, encena amadoristicamente, em
extenso universitria.
A relao que percebem entre estas aes e a docncia distinta. Enquanto ngelo refere-se
influncia de sua viso artstica sobre a docncia, Suely classifica-o como recurso didtico, influenciando
sua ao pedaggica:
Isso me desinibe um pouco na hora de falar, porque s vezes eu vejo a cincia, eu vejo que a gente
participa de umas coisas to difceis, numas reunies. Gente, isso to prtico! s olhar pelo olho
da graa! Alguns mais tradicionais olham com certa desconfiana. Tem gente que no d muito
valor ao meu trabalho mesmo. Acha que tudo uma brincadeira. Eu t que nem um cavalo no sete
de setembro n? T cagando e andando e sendo aplaudido por quem t me vendo (ngelo).
A questo da graa por causa das tcnicas de palhao que tenho, que nada mais do
que tcnica. Bota um slide, uma figura engraada pra falar de Parasitologia, n?
Sempre tem uma coisa assim, uma brincadeira, s vezes mais picante. Eu falo pros
mais de 1 vez p semana
uma vez por semana
raramente
no frequenta
187
alunos olha, eu falo palavro na sala de aula. No sou um personagem-professor. At
brinco com os alunos que tenho um personagem professor, que vou pra sala de aula,
ele mau e no sei o qu. Na sala de aula eu mais converso do que dou aula.
Conversar no sentido de interagir mesmo (ngelo).
a gente tinha essa coisa de poder mostrar pra populao, de forma mais abrangente,
principalmente pras crianas pra que elas conhecessem como o bichinho, de que
forma ele transmitido, quem ele, o que ele causa, qual a forma de preveno disso
tudo, essa questo de tornar a pesquisa mais popular, n (Suely)?
Nas falas de ngelo percebe-se, a partir do uso de termos pouco frequentes no meio acadmico,
os palavres, uma postura irreverente, ldica, prpria dos artistas do clown. A importncia deste
comportamento, para o docente, expressa em diversos momentos da entrevista, refletir uma perspectiva
de crtica aos valores morais prprios do ambiente universitrio, observada por ele, na maneira assumida
por seus colegas, que, segundo ele, carece de tais elementos.
Alm destes sujeitos, dentre os participantes de instituies de outras regies, Luana dedica-se a
um aspecto que apresenta certos elementos comuns s aes ora investigadas. Esta docente produz jogos
educacionais sendo um dos elementos principais de sua atividade profissional. Assim como muitas das
atividades artstico-culturais aqui descritas, esta envolve dois aspectos relevantes no processo
educacional: a ludicidade e a criatividade. ngelo tambm se refere importncia destes nas atividades
de ensino. Luana, por sua vez, fala dos aspectos ludicidade e criatividade, ao desenvolver jogos didticos,
nos quais percebe outra funo, qual seja, a promoo da sociabilidade:
Gosto muito dessa parte artesanal e de mexer, inclusive os jogos. O jogo pra mim um
fator de sociabilidade importante. Toda essa coisa da importncia da ludicidade
mesmo, n? Essas coisas todas desenvolvem na gente a criatividade. Acho que esse
lado da criao muito importante (Luana).
Ainda sobre as atividades artstico-culturais, uma das entrevistadas assume ter pouca intimidade
com elas, afirmando que no percebia qualquer relao entre sua participao num coral da instituio em
que trabalha e as atividades de ensino que desenvolve. Mais do que isso, ao falar desse tema, a professora
atribui sua postura tradicional a esta lacuna na sua constituio: Tanto que eu no gosto muito de
misturar... minha disciplina muito mais tradicional (Marcela). Prosseguindo com seu relato, entretanto,
aponta uma possvel aproximao: Tem relao pra voc fazer um treinamento dos meninos pra
deslanchar, pra tirar a timidez (Marcela).
Na relao com as artes e a cultura, a maioria dos depoimentos revela uma viso utilitria, uma
instrumentalizao das criaes artsticas para fins didticos, no se se referindo importncia de
proporcionar, a partir destes elementos, um contato mais ntimo dos alunos com padres estticos mais
elaborados. Tal viso foi tambm expressa por Neide e, ainda que apresente o mesmo utilitarismo na
relao com as artes, a docente relata o uso de livros e filmes para promover discusses sobre erros
conceituais contidos nestas obras.
188
A viso utilitria das criaes artsticas no a nica limitao das concepes dos docentes sobre
estes elementos. A percepo de cinema enquanto entretenimento, apontada como uma compreenso
pouco esclarecida, ao abordar as atividades artstico-culturais frequentadas pelos docentes, explicitada,
nos depoimentos, por quase todos estes sujeitos, que a associam a uma opo pouco criteriosa ou ainda, a
uma opo de lazer enquanto consumo alienado, como refere Werneck (2001):
Eu gosto de filme leve, gosto de coisa que me divirta, no gosto de sair dando choque
do cinema. Pode ser falta de critrio, mas eu no gosto no. Desde ver desenho
animado que eu vou com a sobrinha, mas eu gosto mais de filme de aventura (Marcela).
Ah relaxar. Um filme, livro pra relaxar, espairecer a cabea. Ento eu busco outros
filmes assim, n, pra relaxar mesmo, bem aguinha com acar, nada assim (Neide)...
O filme uma atividade, pra mim, pra relaxar. Ah! Sim, outra coisa tambm que eu tive
contato recentemente, que no uma coisa corriqueira, foi o teatro, a questo do
teatro, a questo do entretenimento (Suely).
Para alguns docentes, frequentar atividades artstico-culturais tem a funo de adquirir cultura
geral, numa compreenso assemelhada, na educao, concepo bancria. Outros, entretanto,
expressando compreenso distinta, percebem a influncia destes elementos como instrumentos contra a
alienao, tanto poltica quanto educacional:
Eu acho que pelo fato do nosso povo no ter cultura, ele... assim como muitas vezes ele
facilmente doutrinvel religiosamente falando, ele tambm doutrinvel
politicamente falando (Rodrigo).
eu digo assim, o que voc aprende dentro de casa, o que voc aprende lendo um livro que no
tem nada a ver com aquilo que voc tem que estudar, o que voc aprende no museu, com
evento, com qualquer... fundamental, pra no fechar muito (Luana).
O primeiro destaca, em suas escolhas artstico-culturais, o contedo antes da forma, considerando
a influncia, entre as pessoas comuns, da pirotecnia de efeitos especiais e do cinema 3D. Para ele, o
privilgio do contedo importante para aqueles que, como professores universitrios, trabalham
formando pessoas. Rodrigo expressa uma compreenso mais crtica, ao indicar a pobreza artstica e a
imposio de um padro monotpico de beleza entre alguns dos produtos contemporneos da indstria
cultural. Apesar disso, sua fala contm um elemento destacado por investigadores na literatura
educacional, referente avaliao, feita por certos docentes em relao realidade do ensino
contempornea: um saudosismo que revela um passado que no leva em conta mudanas na sociedade
(CASSIANI et al., 2008, p. 23).
Mais do que referir critrios, alguns dos docentes indicam uma relao mais direta entre as
concepes artstico-culturais e a constituio para a docncia: Luana, ao afirmar que a produo de jogos
didticos desenvolve a sua criatividade e; ngelo, que percebe a influncia de sua viso ludoartstica nas
suas prticas docentes e investigativas.
Alm destes aspectos, sero includas, algumas respostas a questes envolvendo a leitura dos
docentes visando, de forma direta, a autoformao para a docncia universitria que se buscou investigar
189
a partir do questionrio n 1. Tais questes objetivam auxiliar na compreenso da relao entre os
docentes participantes da pesquisa, sobretudo, com a literatura especializada. Assim, foi perguntado se h
procura por literatura que apie no ensino das cincias em nvel superior. Grande parte dos participantes
(65,4%) afirmou faz-lo frequentemente, enquanto cerca de um tero (30,8%) respondeu que raramente
buscava tal aporte. Um dos docentes (3,8%) assinalou nunca utiliza tal literatura.
Sobre a consulta literatura especializada na rea de ensino, perguntou-se ainda em que
circunstncias os docentes a realizavam. 61,5% afirmaram procurar curiosidades para ilustrar aulas
(descobertas cientficas, personagens histricos, etc.), enquanto 46,1% disseram procurar contato com
esta literatura quando precisam mudar as estratgias de ensino e avaliao e outros 23,1% a buscam
quando desconhecem o assunto.
Ao investigar o tipo de literatura que costumam buscar nestas circunstncias, fica evidente,
entretanto, que, em grande medida, os participantes menciona buscar livros e artigos especializados de
sua disciplina, enquanto menos da metade deles consulta a literatura no campo da educao (34,6%) ou
de EB (34,6%). Em menor escala, outros tipos de literatura citados pelos docentes incluem livros e artigos
especializados em EC (23,1%), livros de Cultura Geral (19,2%), livros e artigos especializados em
Pedagogia Universitria (15,1%) e livros sobre a Epistemologia das Cincias (11,5%).
Um ltimo elemento ao qual ser feita referncia, nos depoimentos dos entrevistados, diz respeito
descrio de uma atividade de ensino, integrando elementos artstico-culturais ao ensino de
Microbiologia, idealizada pela participante que atua na rea de ensino, para uma disciplina chamada
Ensaios Pedaggicos:
Tem uma aula que eu fao como se fosse uma aula de comunicao. Chamo Informao e
comunicao. E a eles inventam, eu dou o tema, vamos supor, tem que fazer a propaganda de
uma exposio de microbiologia que vai acontecer. Eles tem que fazer o convite, arrumar um
jingle, fazer... Nada a ver com nada, mas eles fazem em grupo. Eles fazem coisas muito
interessantes (enftica) e criativas. Ento eu acho que fazendo esse tipo de atividade, suscita na
gente essa coisa da criatividade mesmo. Eles sabem que no precisam fazer nada de primeira
linha. Eu dou todo o material que eles querem e eles apresentam no final da aula, ficam muito
animados. Acho que essas coisas servem pra devolver pras pessoas a confiana que elas
precisam ter nelas, de que so capazes de criar coisas (Luana).
Exceto por este depoimento e por elementos pontuais, os dados parecem evidenciar pouca
compreenso, entre os participantes da pesquisa, sobre a relao entre as atividades artstico-culturais que
frequentam/realizam (extensiva, parece, aos demais processos informais de aprendizagem e constituio
para a docncia); j que indicam, algumas vezes, uma desvalorizao destes processos e, noutras, a
relevncia de elementos envolvidos nestes.
Avaliando o conjunto dos dados sobre estas atividades artstico-culturais entre os participantes e,
comparando-o com outros estudos realizados envolvendo docentes universitrios, encontraram-se quadros
similares. Veiga et al. (2004), por exemplo, apesar de apontar como preferncias culturais dos docentes
msicas e gneros literrios diversos, lazer, espaos culturais, entre outros, indicam tambm uma tendncia
190
ao frgil interesse por aspectos estticos e culturais, dimenso considerada pelas autoras fundamental para o
processo de desenvolvimento profissional do docente universitrio.
Em relao a atividades desta natureza, de modo similar ao observado neste estudo, indicam
tambm, no uso dos meios de comunicao, que os docentes preferem os noticirios televisivos e,
referindo-se a elemento no investigada neste estudo, apontam o uso frequente dos correios eletrnicos.
Quanto leitura, Tullio (1995) verificou que grande parte dos docentes universitrios
participantes da investigao que conduziu, so assinantes de peridicos especializados. 68,0% destes
profissionais referiram-se a revistas da sua rea especfica, enquanto outros 12,0% afirmaram assinar
peridicos na rea cientfica e ainda 10,0% deles falou em ttulos de agronomia em geral. Houve ainda,
neste estudo, 10,0% de docentes que afirmaram no aderir a qualquer assinatura. Alm disso, nenhum
dos docentes declarou assinar revistas didtico-pedaggicas. Neste sentido, o autor observou que um dos
participantes afirmou ler, na biblioteca, assuntos ligados a esta rea.
Em relao a tais leituras, neste tpico, interessa, sobremaneira, antes que os contedos
especficos, a referncia ao contato com outros contedos, como os livros de cultura geral, referidos por
menos de um quinto dos docentes e os de Epistemologia das Cincias, lidos por pouco mais de um
dcimo dos participantes da pesquisa. No se pode esquecer, entretanto, que a questo no envolveu
diretamente as leituras realizadas por estes indivduos, de modo geral, mas no contexto especfico do
apoio pedaggico. Apesar disso, tal constatao, que indica um predomnio das leituras de contedos
especficos, parece ser outro indicador da falta de interesse por contedos de outras disciplinas e em
outros contextos.
Ressalte-se que a leitura como atividade artstico-cultural dos docentes no foi objeto de uma
investigao mais detalhada neste estudo. Passar-se- assim, a uma reflexo mais criteriosa do papel das
mdias audiovisuais, dentre as atividades desenvolvidas pelos docentes.
Antes, sobre o significado da associao dos docentes com as atividades artstico-culturais,
possvel afirmar que estas se caracterizam como de carter predominantemente passivo (incluindo, em
certos aspectos, os diferenciados). Vale relembrar que, a observao da realizao de atividades artstico-
culturais (para alm da simples relao de expectadores, aes como pintar, tocar instrumentos, escrever
contos, poesias, encenar, atuar, etc.), evidencia que os participantes da pesquisa, em sua grande maioria
(84,6%), no realizam qualquer atividade desta natureza.
Ademais, tais relaes parecem pautadas por comportamentos de consumo, ao invs de produo.
Mais que isso, os docentes no costumam adotar critrios para escolher as atividades desta natureza que
costumam frequentar, sugerindo uma viso pouco crtica.
Ainda que alguns raros docentes tenham declarado uma vinculao distinta com as expresses
artstico-culturais, encenando em coletivos teatrais, tocando instrumentos musicais e escrevendo crnicas,
191
parte destas atividades no envolve, necessariamente, a produo cultural. Nada indica que estes mesmos
docentes, no estejam, como os demais, na condio de consumidores passivos.
O carter passivo no significa um aspecto menos importante, j que, segundo Lima (2006), a mdia
desempenha importante papel no processo de socializao
56
, sobretudo a poltica. O autor acrescenta ainda
que a mdia exerce funo ainda mais relevante, participando na construo da realidade, atravs da
representao de diferentes aspectos da vida humana (etnias branco e negro, gneros masculino e
feminino, geraes novo e velho, esttica feio e bonito).
Neste estudo, Lima diz que das mdias chamadas eletrnicas, a televiso cumpre, no somente
entre estes docentes, mas para o conjunto da sociedade brasileira, papel preponderante, estando presente
em 89,8% dos domiclios e sendo vista por 98% da populao com mais de dez anos de idade.
Considerando o destaque de tal veculo na socializao poltica do brasileiro, fundamental
ressaltar seu papel, no Brasil, segundo este autor, em favor da classe economicamente dominante, nas
constantes aes que criminalizam movimentos sociais, distorcem fatos, fraudam processos
democrticos, na insistente tentativa de manipulao da opinio pblica desde o seu nascedouro, no
perodo do regime militar.
No caso do cinema, como ser visto mais adiante, ainda neste tpico, papel similar
desempenhado pela indstria cultural. A escolha frequente por esta opo (quer em salas de cinema, quer
no uso domstico) observada tambm entre docentes por Crtes e Gerbase (2010), que, consideram
saudvel o hbito de ir ao cinema. Ao referirem-se opo de assisti-las na onipresente TV, entretanto,
os autores indicam o acomodado conforto desta possibilidade.
Gatti Jr. (2011), destacando o impacto de massa do cinema no contexto do conhecimento sobre
os direitos humanos pelo mundo, afirma a supremacia deste veculo, tanto pelo poder de atrair grandes
pblicos, quanto por elementos como a disponibilidade em vrios idiomas, sua adaptao e transmisso
pela TV e disponibilizao em mdias digitais, como o DVD-ROM e o blu-ray disc.
Bourdieu (1979) associa a escolha pelo cinema atmosfera cultural em que os indivduos esto
imersos, relacionando a experincia escolar e o grau de afinidade que mantm com as artes e a mdia.
Atribui a tais experincias tambm o modo como as pessoas lidam com os produtos culturais, incluindo o
cinema. Crtes e Gerbase (2010), por sua vez, apontam a origem sociocultural das pessoas como
responsvel pelas escolhas qualitativas que fazem em relao aos filmes que preferem. Segundo os autores,
quanto maior a intimidade com o cinema (desenvolvida, sobretudo, pela valorizao da famlia e de outros
grupos sociais), maiores as possibilidades de ampliao de capital cultural, fazendo uso da expresso
bourdieuana.
56
Para o autor, a socializao um processo contnuo que vai da infncia velhice e atravs dele que o indivduo
internaliza a cultura de seu grupo e interioriza as normas sociais.
192
Este capital cultural, expresso a partir de elementos da cultura brasileira, seria o equivalente a um
alforje de cultura. Alforje, designao dada a um apetrecho amplamente utilizado pelo sertanejo,
tambm conhecido como bornal ou capanga e no qual estes sujeitos, segundo certo cordelista,
transportam parte de sua alma (MARCO HAURLIO, 2011, s.p.).
Alforje usado tambm, neste sentido, pelo compositor Aldy Carvalho (2011), quando afirma
que:
Todos ns carregamos um alforje e nele nossas coisas, tangveis e intangveis,
materiais e imateriais, preciosidades, significantes e significados. Na nossa jornada,
seja no incio ou j bem longe lguas percorridas, de partida ou de chegada, todos
carregamos um alforje (CARVALHO, 2011, s.p.).
Ainda que as opes cinematogrficas nesta trajetria envolvam elementos deste alforje
cultural, para Duarte (2002), estas no constituem escolhas pessoais, representando, ao contrrio,
prticas sociais que atuam na formao geral das pessoas. A importncia do audiovisual (incluindo ai
outras mdias, como a TV) carrega tambm elementos formativos. Assim, para Crtes e Gerbase (2010),
a linguagem audiovisual por suas infinitas possibilidades de articulao entre imagens e sons, quando
definida em parmetros que (re)configuram o texto narrativo abre mltiplas alternativas de produo de
sentidos, permitindo a construo (e reconstruo) de significados individuais. Para os autores, o cinema
tambm constitui um fator de mobilizao das caractersticas mais especficas da condio humana.
Dentre estas, Gatti Jr. (2011) refere-se a valores como a busca da justia, em conformidade com
os direitos humanos, caractersticas nas quais o cinema teria relevante papel. Outra destas caractersticas,
apontada por Bourdieu (1979) referida por este como a competncia para ver, enquanto certa
disposio, valorizada socialmente, para a anlise e compreenso de histrias na linguagem do cinema.
Esta competncia est relacionada ao aprendizado no campo artstico e, segundo Oliveira (2007c) pode
contribuir para um melhor entendimento da arte e do mundo.
Outra funo relevante, atribuda ao cinema, indicada na literatura especializada desta rea e
refere-se a seu desempenho na sociabilizao dos indivduos, pela promoo da interao plena entre
desiguais, em funo de valores, interesses e objetivos comuns (DUARTE, 2002, p. 17). Neste papel:
A fascinao exercida pelo movimento da cmera (...) encaminha a experincia cinematogrfica
ao patamar de um processo socializador muito peculiar. Assim, partindo-se da premissa de que a
educao escolar , lato sensu, talvez o mais expressivo e consistente processo de socializao,
perceber o papel social do cinema como recurso educativo apenas uma consequncia
(CRTES; GERBASE, 2010, p. 63).
Esta dimenso traz relaes mais diretas com o campo educacional do que as que se buscou
investigar (seu papel na constituio dos docentes universitrios) e uma delas diz respeito ao uso como
recurso didtico.
Quanto a este uso, para Gatti Jr. (2011), filmes esto lado a lado com livros didticos no que tange
disseminao enquanto fenmeno da cultura geral. Alm disso, lembra-se que Crtes e Gerbase (2010)
193
afirmam ser frequente, entre professores e alunos, a ida ao cinema e o assistir filmes na TV. Sobre o uso
como recurso didtico, sugerem aqueles autores que, dada a importncia do cinema enquanto ferramenta
para o conhecimento da realidade, caberia s instituies de ensino desenvolverem condies de explor-
lo sob esta perspectiva, que constitui tambm (ou deveria constituir) o objeto essencial dos contedos de
ensino.
Os referidos autores lembram ainda que em muitos casos, o propsito educativo exatamente
propiciar ao aluno um olhar para alm dos contedos da sala de aula. Nessa perspectiva, indicam que um
uso adequado do cinema, neste contexto (ser referido adiante o significado desta expresso), atuaria na
formao humana e sociocultural contextualizada e interdisciplinar, contribuindo para a formao
cidad.
Outros estudos, ao contrrio, problematizam o uso do audiovisual. Um dos pontos atacados diz
respeito ao seu contedo, apontando para a influncia da indstria cultural. De fato, ao monopolizar salas
de cinema e abarrotar estantes de locadoras, a indstria do entretenimento influencia as escolhas dos
docentes, dificultando-as, com o agravante de, em grande medida, indisponibilizar alternativas menos
comerciais. No obstante, os docentes so tambm agentes de tais escolhas e esta assertiva se coaduna
com indicaes da literatura especializada, descritas adiante, sendo possvel afirmar que h possibilidade
para outras posturas mais seletivas e crticas na relao com o cinema.
Um dos estudos sobre os problemas causados pela indstria cultural o de Campos e ElHajji
(2009), que identificam a crescente identificao da mdia com o consumo. Para ilustrar tal identificao,
recorrem a outro autor:
Para melhor entender esta identificao, preciso levar em conta que o veloz empilhamento dos
objetos industriais postos no mercado leva saturao de seu valor de uso, isto , ao limite de
sua existncia como pura e simples utilidade. [...] No tanto o objeto valor-de-uso que move o
desejo de consumir, mas a emoo ou a sensao vinculadas semiose (marca, desenho, cores)
do objeto, ou seja, imagem como forma acabada de mercadoria (SODR, 2008, p. 59).
Tambm apoiam-se em Kellner (2001), para quem a concordncia com as sociedades capitalistas
no induzida por um sistema de doutrinao ideolgica rgida, mas aos prazeres propiciados, tanto pela
mdia quanto pelo consumo (nos quais se poderiam incluir as relaes de consumo de mdias, como
DVDs). Os autores ainda lembram outra relao, referida por Debord (1997) e atribuda como
caracterstica classe mdia por Eder (2001), observado no item anterior, associando o comportamento
de consumo conspcuo a influncias propagandsticas prprias das mdias:
Ondas de entusiasmo por determinado produto, apoiado e lanado por todos os meios
de comunicao, propagam-se com grande rapidez. Um estilo de roupa surge de um
filme; uma revista lana lugares da moda, que por sua vez lanam as mais variadas
promoes (DEBORD, 1997, p. 44-45).
Consumo (passivo) que Sodr (2008) ope cidadania (ativa). Neste sentido, remetendo
pedagogia freiriana, seria relevante perguntar: qual a diferena entre a relao do expectador com uma
194
obra cinematogrfica e a de um professor com seu aluno a partir do modelo tradicional, apassivador e
bancrio?
Ainda que tal pergunta pudesse remeter, silogisticamente, a uma resposta simplista, sua soluo
envolve questes mais complexas, dentre as quais a competncia para ver, indicada por Bourdieu (1979)
relacionada a uma postura crtica sobre o cinema.
Como j mencionado, a principal finalidade apontada pelos participantes desta pesquisa o
entretenimento, viso que constitui um dos objetivos da indstria cultural e que indica uma compreenso
pouco esclarecida acerca do cinema. Segundo Crtes e Gerbase (2010), tal concepo, fundante na histria
do cinema, se alterou significativamente ao longo do tempo, sendo substituda por uma viso que considera
o papel preponderante do cinema enquanto documento histrico (alm de outros elementos ligados
expresso cinematogrfica), constituindo-se como articulador do contexto histrico-cultural. Ao postular tal
compreenso, os mencionados autores referem-se ao estudo de Oliveira (2007c), para quem tal dimenso
histrica implicaria em elementos formadores do imaginrio social.
Por isso, no poderia deixar de ser feita referncia importncia de uma viso crtica dos docentes em
relao aos recursos audiovisuais, sobretudo a TV e as obras cinematogrficas.
A este respeito, Duarte (2002) afirma a relevncia, em sociedades audiovisuais como as
contemporneas, do domnio dessa linguagem como requisito para um trnsito adequado, pelos mais
diferentes campos sociais e outros autores complementam, afirmando que:
Apropriar-se da linguagem audiovisual, percebendo seus mecanismos de operao e desvelando
seus cdigos, para melhor compreender o mundo e melhor perceber-se como sujeito, constitui
uma das finalidades bsicas da educao contempornea, pois que essa se d em um ambiente
marcadamente imagtico (CRTES; GERBASE, 2010, p. 64).
Ao perguntarem a si mesmos se possvel usar obras audiovisuais sem uma formao especfica,
Corts e Gerbase (2010) afirmam que a busca por referenciais terico-tcnicos (como linguagem,
evoluo histrica e recursos) facilita a sua utilizao em trabalhos didticos. Mais do que isso, Kellner
(2001) sugere ser o aprendizado da leitura e da crtica mdia o amplificador da resistncia manipulao
que promove. Este aprendizado os fortalecer em sua relao com a mdia e a cultura dominantes,
aumentando sua autonomia diante destas, pela aquisio de mais poder sobre estes meios e de
conhecimentos para produo de novas formas de expresso. No caso do uso didtico do cinema, Crtes
e Gerbase (2010) afirmam ainda que, nesse processo, a mediao de professores com boa cultura geral e
domnio de conhecimentos fundamental para proporcionar uma aprendizagem intelectualmente
estimulante.
evidente que tais aes precisam ser articuladas com outros setores, como sugere o Coletivo
Intervozes (2008), sendo necessrio pensar polticas de comunicao para alm dos meios de
comunicao. O referido estudo alerta ainda sobre o papel estratgico da comunicao como instrumento
195
de gesto pblica, indispensvel para a o xito na implementao de polticas sociais, destacando a
comunicao como instrumento para qualificar a participao do cidado no processo democrtico, o
acesso pleno informao (INTERVOZES, 2008, s.p.), que segundo eles, condio do exerccio da
cidadania. Por isso, Crtes e Gerbase (2010) sugerem que a comunicao deva constituir tema
transversal na educao.
No s a comunicao, afinal, as atividades artstico-culturais podem desempenhar funo
decisiva na conscincia dos docentes, influenciando suas prticas e sua viso de mundo. Em conjunto
com as atividades de natureza poltica, estas constituem, segundo dados desta pesquisa e literatura
especializada, elementos sociais importantes na formao da conscincia real efetiva dos docentes,
quando se consideram as influncias externas comunidade acadmica.
Constituem, portanto, elementos do universo temtico, do alforje cultural dos docentes e, ainda
que no configurem diretamente dimenses inerentes aos campos da Educao ou da EC, como as
prprias atividades de ensino, alm da pesquisa e extenso, no parecem menos importantes para
construo da conscincia destes indivduos.
Apesar disso, a fragilidade nas relaes entre os professores com as dimenses esttica e cultural,
observada nesta investigao, parece frequente entre docentes universitrios. Veiga et al. (2004)
igualmente a identificaram e a relacionaram com a adeso acrtica ao produtivismo acadmico. Outro
risco inerente a estas compreenses limitadas dos docentes sobre a influncia dos produtos artstico-
culturais nas suas vises de mundo o relevante e crescente papel desempenhado por distintas mdias nos
processos de socializao do brasileiro, apontado por Lima (2006). Para este autor, tais veculos esto
substituindo a famlia, a escola, os amigos e a igreja nestes processos.
Assim, parece evidente a relao entre as artes e a cultura, por um lado, e sua funo na constituio
dos docentes, por outro. Como afirma Goldman, o indivduo humano assim como a sociedade so fatos
totais em que no se pode recortar camadas privilegiadas (GOLDMAN, 1972, p. 1). Indicou-se
anteriormente, com base neste autor, que a conscincia produto de relaes sociais passivas e ativas com o
mundo, com realidades econmicas, sociais e polticas, intelectuais, religiosas, etc.
Referiu-se tambm, ao falar das atividades de natureza predominantemente poltica, que, no caso da
dimenso econmica, os docentes situam-se em posio diversa daqueles que, na sociedade, constituem as
classes oprimidas e que, neste sentido, a luta pela garantia de condies de sobrevivncia, como alimentao e
moradia, no integra a conscincia destes indivduos.
Ainda que, conforme apontam Veiga et al. (2004), os docentes universitrios paream interessar-
se pouco pelas artes e pela cultura, diferentemente dos integrantes de outras classes sociais, professores
universitrios gozam da possibilidade de contato com elementos mais elaborados das artes e da cultura,
ampliando seu alforje cultural. Portanto, o pleno atendimento das condies mnimas de sobrevivncia
196
constitui-se fundamental para que possam, como diria Goldman, amar, pensar e crer. Mais ainda esta
existncia social determina suas conscincias.
O problema posto ento seria saber porque estes indivduos, tendo pleno acesso a estes elementos
possuem uma relao to superficial com as artes e a cultura, pautada no consumo e no na produo.
Excetuam-se, claro, alguns destes sujeitos, em relao aos quais. Na constituio dos participantes da
pesquisa foram observados, nas concepes e prticas analisadas, poucos elementos, que pudessem
instrumentaliz-los para uma postura mais crtica no tocante a esta dimenso. Constituem, portanto,
demandas a serem supridas em processos formativos para o exerccio da docncia universitria.
Com efeito, o modelo explicativo goldmaniano, atribui relevante papel s grandes obras de
filosofia e da arte na constituio da conscincia mxima possvel. Com tais argumentos busca-se
justificar a importncia de tais atividades no universo temtico dos docentes e sua funo no estudo da
docncia universitria, relao que emergiu, tanto da experincia existencial do pesquisador nesta
atividade quanto, como diria Freire, da reflexo crtica sobre as relaes homens-mundo e homens-
homens (FREIRE, 1979a, p. 103).
197
Captulo 5 - Caracterizao das atividades e concepes acerca do trabalho docente
Constitui praticamente um chavo a ideia de que as atividades de um docente universitrio
incluem o ensino, a pesquisa e a extenso. H consenso no caso das duas primeiras dimenses, mas,
como ser argumentado, a necessidade de destaque e incluso deste ltimo p do trip, enquanto
dimenso da atividade docente, parece questionvel.
Tambm quase chavo, ao menos para estudiosos da docncia universitria, a ideia de
primazia das atividades de pesquisa sobre as de ensino entre professores do ensino superior.
Neste captulo, ao investigar as atividades docentes, buscou-se verificar quais destas so
desenvolvidas pelos docentes, como as concebem e qual importncia relativa atribuem a cada uma destas.
Para isto, utilizou-se metodologia diversificada, recorrendo-se pesquisa das informaes constantes no
currculo dos docentes, respostas a dois distintos questionrios e entrevistas semiestruturadas. Dentre os
questionrios referidos, no primeiro sistematizaram-se respostas a questes fechadas, sobretudo em
relao s concepes de ensino; enquanto no segundo, aplicado somente aos docentes participantes das
entrevistas, buscou-se explorar seus posicionamentos no tocante a distintas vises de cincia e sade,
particularmente.
Na investigao conduzida, at mesmo as convices quase ptreas enunciadas no incio deste
captulo, foram postas em exame. Alm disso, ainda que se tenha buscado explorar as atividades de
pesquisa e extenso com o esforo e o rigor necessrios, priorizou-se a investigao minuciosa das
atividades de ensino, que, por opo estratgica, deixou-se para discutir como ltimo tpico deste texto.
5.1. Atividades de Extenso
Mais da metade (57,7%) dos docentes afirmou realizar atividades relacionadas extenso
universitria. Em que pese a afirmao, quando questionados sobre qual a natureza destas aes, distintas
compreenses emergiram. Evidenciou-se, por parte de alguns dos participantes, uma compreenso que
abarcava de modo demasiadamente amplo tais atividades. Nestas concepes foram includas desde aes
de natureza eminentemente pedaggica - como a orientao de alunos em atividades de iniciao cientfica,
em docncia para alunos de campi do interior e em estgios voluntrios (referida por 26,7% dos docentes) -
at aquelas de carter de investigao cientfica e educao distncia (referidas por 3,8% dos
participantes).
Dentre as atividades de extenso discriminadas esto: aes profilticas em escolas (26,7%);
prestao de servios comunitrios; como monitoramento de gua potvel e exames parasitolgicos
(13,3%); aes formativas de estudantes junto comunidade (6,7%), realizadas em disciplinas
integradoras, como atividades de enfermagem, acompanhadas de tutor; oficinas de produo de material
198
didtico-pedaggico e; coordenao de eventos abertos comunidade (6,7%), como semanas de cursos e
feiras cientficas.
Diversas destas atividades, como as aes profilticas, o monitoramento de gua potvel e os
exames parasitolgicos, apresentam carter de prestao de servios, numa lgica assistencialista,
enquanto outras, pretensamente, referem-se a aes educativas. Tal compreenso emergiu com o apoio
de alguns depoimentos sobre as atividades de extenso, extrados das entrevistas, ainda que esta dimenso
no tivesse constitudo tema especfico para investigao na idealizao destes instrumentos.
Suely, por exemplo, revela esta compreenso, anloga referida na obra Extenso ou
comunicao (FREIRE, 1979b) e que diz respeito extenso antidialgica dos saberes cientficos, numa
viso assistencialista. Neste livro, esta apresentada, a partir de uma anlise semntica, como o ato de
expanso do conhecimento acadmico, no caso em questo, a populaes rurais, processo considerado
pelo autor, autoritrio e colonizador.
A referida docente que desenvolve junto a comunidades no-acadmicas estabelecidas em reas de
risco de doenas como leishmaniose, por exemplo, a apresentao de peas teatrais, aliada distribuio de
materiais educativos (cartilhas), espera, a partir destas aes fazer com que tudo isso traga benefcio logo
direto pra populao. Neste caso, ainda que seja utilizada uma linguagem popular e estratgias ldicas,
tanto a cartilha quanto o roteiro da apresentao emergiram dos saberes acadmicos, no tendo origem no
contexto de vida dos comunitrios.
Alm destas, muitas das aes referidas pelos docentes, podem estar sendo realizadas dentro
desta viso de extenso enquanto prtica assistencialista, que segundo a literatura de influncia
estadunidense e pode ser definida como:
a busca de soluo para os problemas sociais e a relao universidade e sociedade tende a ser
unvoca, girando em torno do atendimento de necessidades sociais emergentes, como fica
patente na anlise de algumas universidades pblicas federais atravs dos seus programas,
atividades e eventos organizado, que atendem carentes e desempregados, promovendo cursos
profissionalizantes, assistncia tcnica e servios assistenciais (JEZINE, 2004, p. 2).
Esta viso assistencialista est intimamente relacionada de extenso do conhecimento (FREIRE,
1979b) expressa, no campo educacional, pelo modelo de transmisso-recepo. Esta compreenso
manifesta por um dos participantes da pesquisa, que fala sobre suas atividades de extenso, com
particular referncia ao projeto Microbiologia na Escola:
a gente vai em escolas, em comunidades, igrejas e a gente fala sobre microbiologia
para crianas, n, a importncia dos microorganismos. A gente procura desmascarar
aquele mito de que bactria, vrus, fungo sinnimo de doena, a gente procura
mostrar o lado bom do microorganismo (Rodrigo).
Para a formao dos alunos, Rodrigo acredita que tais aes sejam importantes. Diz compreender
que o profissional (...) mais bem formado quando ele tem uma atividade extraclasse. Na atividade de
199
Suely, referida anteriormente, em que a docente explicita sua concepo sobre o papel pedaggico da
atividade teatral (captulo anterior, item 4.4.3) tambm est incutido o modelo de transmisso-recepo.
Falou-se, at o momento, de uma extenso assistencialista, padro que transforma a universidade
em prestadora de servios, de aes que envolvem o ensino a partir do modelo de transmisso-recepo.
Alternativamente, qual seria o papel da extenso numa universidade cujas atividades de ensino e
pesquisa, levassem em conta os contextos sociais e os principais problemas da sociedade, promovendo a
interdisciplinaridade e a contextualizao? Provavelmente nenhuma. Por que? A realizao de atividades
de extenso visa justamente prover a lacuna criada pelo distanciamento entre ensino-pesquisa e os reais
problemas da sociedade.
Neste sentido, em sintonia com Botom (1996) e Marcovitch (1998), defende-se que a extenso
universitria integre as prticas de ensino e pesquisa, ao invs de manter uma terceira funo para suprir
tais lacunas.
Como pensar em atividades de extenso no-assistencialistas e, portanto, dialgicas, em
instituies que promovem o ensino no modelo transmisso-recepo? Para Freire (1979b), a
antidialogicidade manifesta-se como invaso cultural. Prticas dessa natureza presumem a superposio
do espao histrico-cultural dos indivduos pelo sistema de valores prprio do docente, reduzindo os seres
humanos a meros objetos de sua ao.
Deste modo, ainda que o docente perceba sua ao como ajuda, ensino, prestao de
servios, conscientizao; estaria agindo de forma autocrtica, no sentido da unidirecionalidade do
processo comunicativo. Percebe-se nesta viso, uma situao-limite na prtica extensionista dos docentes.
Acredita-se, entretanto, que as aes de extenso promovidas por docentes de Parasitologia,
Microbiologia e Micologia, requeiram estudos mais aprofundados e reflexes mais acuradas,
considerando as limitadas informaes dispostas neste estudo. Contudo, os elementos apresentados
poderiam subsidiar docentes destas disciplinas no desenvolvimento de aes formativas desenvolvidas na
perspectiva de problematizar tais vises.
5.2 Atividades de Pesquisa
Em relao pesquisa, embora existam outros indicadores da produtividade acadmico-
cientfica, optou-se por analisar os artigos cientficos publicados em peridicos indexados, devido
relevncia, enquanto capital simblico, deste componente, na comunidade acadmica, que contribui
significativamente para que o docente produtivo tenha um status diferenciado na universidade e,
particularmente, junto aos programas de ps-graduao strictu sensu.
200
Foram consultados os currculos dos participantes da pesquisa disponveis na Plataforma Lattes
da CAPES e esta pesquisa revelou que, juntos, os 26 docentes publicaram nos ltimos cinco anos (2006-
2011) 78 artigos em peridicos indexados e constantes do Qualis
57
(Tab. 5.1), da CAPES, sendo vinte
destes produzidos na condio de primeiros autores. Este total corresponde a uma mdia de 0,6 artigos
por docente a cada ano.
Evidentemente esta produo de artigos no foi homognea, variando significativamente, tanto
entre docentes quanto entre instituies (conforme pode ser observado na Tab. 5.1). 84,6% do total de
artigos cientficos foram gerados por duas instituies (a mais antiga e a mais nova delas).
Comparando-se as instituies estaduais e federais, 44,9% foram produzidos pelas
primeiras, enquanto 55,1% foram pelas ltimas. H outro indicador desta desigualdade: 30 destes
artigos (38,5%) foram redigidos por dois docentes e mais da metade (56,4%, n=44) por quatro
dos participantes desta pesquisa.
Tabela 5.1 Produo de artigos cientficos pelos participantes da pesquisa.
Estrato Qualis
Instituio A1 A2 B1 B2 B3 B4 B5 C Total
A 1 12 2 8 1 2 3 2 31
B 0 0 0 0 0 0 0 0 0
C 1 1 4 5 1 0 0 0 12
D 0 3 10 5 7 7 3 0 35
Total por
estrato
2 16 16 18 9 9 6 2 78
O nmero total de artigos foi influenciado decisivamente por estes poucos docentes e, assim, para
compreender o significado destes nmeros, buscou-se, num primeiro momento, comparar a produo de
artigos cientficos destes docentes com os de uma universidade pblica brasileira (federal) de referncia
nos campos da Parasitologia e da Microbiologia, localizada na Regio Sudeste do Brasil. Esta
comparao deu-se tanto no tocante investigao cientfica quanto produo de importantes livros
didticos utilizados nestas disciplinas, na maioria dos cursos de graduao no Brasil.
Compararam-se os nmeros de artigos, por estrato, das instituies A e D, com aqueles referentes
a esta instituio de referncia (Figura 4.13). Os dados evidenciam que, exceto por um dos estratos (A2),
a produo de artigos em peridicos da instituio de referncia foi numericamente superior ao das
instituies do Norte do pas investigadas neste estudo.
Tal diferena pode ser explicada, em parte, por uma caracterstica do quadro estudado: o fato de
que quase 50% dos docentes destas instituies produziram, nos ltimos cinco anos, menos de dois
57
Qualis o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para estratificao da qualidade da produo
intelectual dos programas de ps-graduao (BRASIL, 2011b).
201
artigos, ou menos de 0,4 artigos/ano, ao contrrio dos docentes da instituio de referncia, cuja produo
individual comparvel, nestas instituies aos trs participantes mais produtivos deste estudo.
Tal elemento constitui, entretanto, explicao parcial. Como ser discutido adiante, outras
influncias, tais como as diferenas regionais, incidindo tanto no que se refere ao financiamento da
pesquisa quanto em outras condies objetivas, como a massa crtica necessria ao estabelecimento de
grupos de pesquisa nestas instituies. Importante lembrar ainda da reduo na produo cientfica dos
docentes ao longo do tempo de exerccio do magistrio superior, detectada entre os participantes deste
estudo.
Figura 4.13 Comparao, por estrato do Qualis (CAPES), entre a produo de artigos cientficos em
peridicos especializados das instituies A e D, deste estudo e a produo oriunda de uma instituio
pblica de referncia no Brasil.
Alm da publicao de artigos cientficos em peridicos, os docentes participantes da pesquisa,
no mesmo perodo tambm publicaram um livro, doze captulos de livros e, em eventos cientficos, 41
artigos completos e 243 resumos. Atuaram ainda na orientao de quatro teses, 19 dissertaes, 27
monografias de especializao, 72 Trabalhos de Concluso de Curso (TCC) e 77 projetos de Iniciao
Cientfica (IC). Tambm integraram 15 bancas de doutorado, 130 de mestrado, 25 de especializao e 80
em nvel de graduao (TCC)
Da mesma forma que os parmetros anteriormente analisados, esta produo ocorreu de forma
desigual entre as instituies, com predomnio de A e C (Fig. 4.14), seguindo a mesma tendncia
observada no caso dos artigos em peridicos. Assim, excetuando-se a produo de artigos em eventos
(em que se sobressaram as instituies A e B), em todos os demais indicadores, as referidas instituies
foram responsveis por grande parte da produo aqui analisada.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
a1 a2 b1 b2 b3 b4 b5 c total
Norte I
Norte II
Inst. Referncia
202
Figura 4.14 Indicadores de produo acadmico-cientfica das quatro instituies pblicas de ensino
superior participantes deste estudo.
Revelou-se tambm similar desigualdade entre docentes. Um nico participante (da instituio A)
integrou 56 das 130 bancas de dissertao (43,1%). Uma nica docente (tambm da instituio A)
participou da orientao de 22 dos 72 TCCs (30,5%), enquanto somados, os trs docentes que mais
orientaram trabalhos desta natureza, concluram 48 (66,7%) destas orientaes. No caso da IC, tais
diferenas tambm foram observadas, j que duas das docentes (ambas da instituio D) orientaram um
nmero maior de alunos em relao aos demais (21 e 10, respectivamente), perfazendo 40,2% do total.
Na anlise destes dados, ao invs de um julgamento sobre a qualidade do trabalho de investigao
dos docentes, buscou-se investigar estas atividades visando a compreender quais as prticas
desenvolvidas com maior frequncia. Caso se tencionasse emitir julgamentos sobre qualidade, se poderia
recorrer a outros indicadores mais representativos, como fatores de impacto, por exemplo.
Ao invs disso, a inteno deste estudo foi avaliar, no cmputo geral das atividades, quais as
principais prticas desenvolvidas por estes docentes e quanto esforo era despendido por eles com cada
uma destas dimenses, a saber, ensino, pesquisa e extenso, alm do peso relativo de cada uma das
atividades desenvolvidas pelos docentes.
Deste modo, no se est fazendo coro a certa compreenso segundo a qual quantidade (e no a
qualidade) de artigos publicados em peridicos especializados pode servir como indicador de qualidade,
quer de uma instituio de ensino, quer de um curso de graduao ou ps-graduao. Com efeito, este
tipo de compreenso atrela-se ao produtivismo ao qual se referem alguns estudos sobre a docncia
universitria (BAZZO, 2007; VEIGA et al. 2004), que atribuem-no tanto s influncias de polticas
institucionais quanto s prprias concepes individuais dos docentes.
Ao avaliar informao sobre os docentes destas instituies, que produzem menos de um artigo por
ano, possvel afirmar que esta no constitui atividade prioritria para tais docentes. Como se viu, a
203
produo deles no homognea: enquanto 38,5% dos docentes no produziram sequer um artigo nos
ltimos cinco anos (na instituio B tal percentual de 100,0%), outros, ao contrrio, publicaram mais de
trs artigos por ano, sendo este indicativo de que a realizao de tais atividades desempenha um papel
distinto entre estes sujeitos.
Tais diferenas, quando analisadas luz dos distintos perfis destes docentes, no tocante s suas
concepes pedaggicas podem ser importantes para compreender, em certa medida, alguns elementos
da constituio destes professores. Por exemplo, ao comparar-se o papel do principal indicador de
produo acadmico-cientfica, aqui utilizado, entre docentes tradicionais e diferenciados, percebeu-se
que entre os primeiros, h duas configuraes distintas, sendo a primeira mais frequente.
Entre os tradicionais, encontra-se o perfil de um docente que no realiza qualquer atividade de
investigao, ou quando muito, tal atividade restringe-se apresentao de resumos em congressos
cientficos. A outra configurao, minoritria, caracterizou-se, ao contrrio, por expressiva produo de
artigos, por forte vinculao com esta dimenso da atividade docente.
Entre os docentes diferenciados houve maior uniformidade. Estes indivduos caracterizam-se
como produtores medianos de artigos cientficos, tendo publicado entre dois e seis destes nos ltimos
cinco anos, o que pode indicar busca por equilbrio entre atividades de ensino e pesquisa. Apesar disso, os
artigos que produzem enfocam contedos especficos nos quais so especialistas. Exceto por Luana,
nenhum docente investigou, a partir desta produo, suas prprias prticas de ensino. Alm disso, os
diferenciados caracterizam-se por desenvolver, invariavelmente, atividades de orientao em iniciao
cientfica.
Observe-se agora, os padres de distribuio desta produo entre instituies. Chama a ateno a
absoluta ausncia de artigos cientficos entre os docentes da instituio B, alm de artigos em eventos e
captulos de livros. Tal fato no pode ser explicado quando se comparam os dados das instituies
federais e estaduais, visto que h certo equilbrio entre estas duas modalidades institucionais. A titulao
de seus docentes, por outro lado, indica que estas duas variveis podem estar relacionadas, j que a
instituio B possui a menor proporo de doutores em seu quadro. Convm destacar que esta foi a
instituio com o menor nmero de participantes nesta pesquisa (n=4). Por outro lado, a falta de
envolvimento com estas atividades no pode ser justificada, salvo uma de suas docentes, com elevadas
cargas horrias em atividades de ensino.
Na anlise da produtividade institucional, as duas instituies com produo mais expressiva so
a mais antiga e a mais nova delas (A e D, respectivamente). No primeiro caso, trata-se de universidade
que, nas reas da Parasitologia e da Microbiologia, possui grupos de pesquisa tradicionais e consolidados,
enquanto no segundo caso, apesar da precria infra-estrutura para pesquisa e inexistncia de grupos de
pesquisa consolidados, dois elementos guardam relao com os resultados: a) a precariedade do esquema
204
contratual de docentes, que contribui para que, sob presso, buscando garantir a renovao de seus
contratos temporrios, sejam impelidos a apresentar resultados expressivos e; b) a participao de alguns
de seus mais produtivos docentes em grupos de pesquisa ligados a outras instituies mais bem
estruturadas.
Outro elemento que, num primeiro momento, parecia capaz de explicar estes padres, dada a sua
relevncia, foi a produo individual dos quatro docentes responsveis por mais da metade da produo
total de artigos em peridicos. Por isso, procurou-se saber se a produo individual destes sujeitos poderia
ter peso decisivo na comparao entre as instituies. Para isso, foi realizada uma simulao em que os
artigos produzidos por estes docentes foram excludos do total das instituies a que pertencem. Como
resultado, o quadro permaneceu inalterado, sem mudanas na participao de cada instituio sobre o
total de artigos produzidos. Ou seja, mesmo sem a volumosa participao destes docentes, as instituies
mais produtivas continuam tendo tal status, sendo preservadas, aproximadamente as propores de
artigos entre as instituies.
Os demais indicadores (exceto resumos em eventos) mantiveram-se equivalentes, quando
considerada a participao de cada instituio, apenas reforando os padres observados na produo de
artigos cientficos, mostrando que este constituiu um bom indicador da produtividade acadmico-
cientfica.
Na presente investigao sobre as atividades de pesquisa desenvolvidas pelos docentes, ainda que
no se despreze a influncia de fatores externos comunidade cientfica sobre as escolhas e concepes
dos participantes desta investigao, tal dimenso no compe o foco de interesse. Configura centro da
ateno desta pesquisa a caracterizao do papel e da importncia destas prticas na constituio destes
docentes. Adiante sero apresentadas tambm anlises sobre as concepes de cincia.
Conforme referido anteriormente; no se observa predomnio de tais atividades sobre as de
ensino, constatao que corroborada pelo fato de que expressiva proporo do corpo docente (38,5%)
no desenvolve qualquer atividade desta natureza, enquanto outra fatia considervel deste total limita-se a
produzir menos de meio artigo (entre 0,2 e 0,4) por ano, ou, mais precisamente, entre um e dois artigos
nos ltimos cinco anos.
A constatao de que grande parte destes docentes no publica artigos cientficos, nem realiza
outras atividades de investigao cientfica, no faculta afirmar que atribuam a elas pouca importncia.
Para isso, seria fundamental o conhecimento sobre as concepes de cincia dos participantes da
pesquisa. Com este objetivo, recorreu-se ao instrumento desenvolvido por Borges (1996), descrito no
Captulo 2, aplicado a partir do questionrio n 2, e cujos resultados sero apresentados adiante. Antes,
entretanto, se discorrer sobre a relao entre ao e conscincia, ou mais particularmente, a expresso da
conscincia sobre as aes humanas, nas atividades de pesquisa destes docentes.
205
A escolha das categorias goldmanianas conscincia real efetiva e conscincia mxima possvel,
tem-se como pressuposto a unidade do pensamento e da ao; e, vale destacar, tal unidade no equivale a
acreditar que o conjunto das conscincias individuais seja a soma aritmtica de unidades autnomas e
independentes (GOLDMAN, 1972, p. 15). Ao contrrio, h influncia de outros elementos nelas
operando, influncias externas comunidade acadmica, por exemplo, e, como produto de trabalho
coletivo de diversos de seus integrantes, em particular, 78 artigos cientficos, oriundos da ao de
docentes e que repercutiro, sobretudo, na formao da conscincia destes profissionais.
Alm da influncia interna ao ambiente acadmico, existem outras influncias. Na autoria destes
artigos tambm operam, como afirma Goldman (1972), a conscincia coletiva, num processo que , ao
mesmo tempo, individual e conjunto, sendo integrado tanto pela autoria quanto pela ao e pela reflexo
coletivas.
Numa abordagem externalista e sob a tica do pensamento goldmaniano, este trabalho intelectual
representa, no somente as aes destes docentes buscando transformaes sobre o mundo que os cerca,
mas tambm um comportamento reativo s aes do mundo sobre ele.
Buscou-se apoio em Bourdieu (2004) para melhor apreenso do papel destes artigos no campo
cientfico. Para este autor, no mencionado campo, h uma especificidade que se constitui por aquilo sobre
o que os concorrentes esto de acordo acerca dos princpios de verificao da conformidade ao real (p.
33). Afirma ainda que os autores e, sobretudo, aqueles que publicam artigos como parte de sua prtica
cotidiana, desempenham papel distinto no campo, postulando sobre tais princpios.
Em sua argumentao, o socilogo francs, v no mundo da cincia, relaes de fora, relaes
sociais de dominao que conduzem os cientistas a se engajarem numa disputa pelos meios de produo
e reproduo, havendo, portanto, posies distintas quanto ao capital cientfico.
Parte da lgica de distribuio destes atores no campo cientfico, ainda segundo Bourdieu (2004),
guarda relao com este capital ou, mais especificamente com certos atributos, como a ocupao de
posies importantes nas instituies cientficas, pertencimento a comisses, comits de avaliao e
meios de produo e de reproduo deste capital. Para o autor, uma das maneiras de adquirir este capital
constitui a publicao de artigos, sobretudo na efetuada em peridicos conceituados.
Por esta lgica ser elemento importante na constituio da conscincia dos docentes
universitrios, que se fez tal parntese.
Ainda que a exacerbao desta prtica possa conduzir ao produtivismo, denunciado por Bazzo
(2007), no se observaram prticas como esta entre os participantes da pesquisa, mesmo entre os mais
produtivos, visto que a publicao de trs artigos por ano, somada s demais atividades docentes, no
configura carga de trabalho excessiva. Ao contrrio, a mdia de publicao de trabalhos (incluindo artigos
206
completos em eventos, livros, captulos, dissertaes e teses) como observa Beato (1998), analisando a
produo cientfica brasileira entre 1991 e 1993, varia entre cinco e dez.
O autor observa tambm que, se por um lado, a existncia de docentes superprodutivos
incomum (outliers), por outro, a de improdutivos representa percentual mnimo, neste ltimo caso, ao
contrrio do que foi aqui observado. A lgica da produtividade, portanto, antes de ser prtica docente
disseminada, uma poltica que envolve financiamento da pesquisa no Brasil. No obstante, h
excees. No perodo da realizao do referido estudo, 90% dos socilogos, 75% dos cientistas
polticos e 86,7% dos economistas no tinham publicado um artigo sequer em revistas
internacionais, contudo, entre fsicos isso ocorreu com 7,8% deles.
Segundo aponta o estudo realizado por Mugnaini et al. (2004) esta maior produo dos fsicos,
indicada por Beato (1998), caracterstica tradicional da investigao nas Cincias da Natureza, da Sade
e das reas ligadas s engenharias que, no final da dcada de 1990 produziam, por exemplo, mais de dois
teros dos artigos publicados por instituies brasileiras. No caso das Cincias Sociais e Humanidades, ao
contrrio, o estudo aponta uma produo reduzida, equivalente, no mesmo perodo, a 0,1% do total de
artigos nacionais.
Neste sentido, a literatura destaca uma importante funo da divulgao dos trabalhos de
pesquisa:
A pesquisa cientfica que no publicada no existe: seus resultados no so controlados, sua
contribuio no conhecida, seus autores nada precisam provar, ningum a convencer e nada a
aprender. Publicaes constituem-se a traduo mais conspcua do carter pblico da cincia, bem
como a garantia mais fundamental de sua autonomia tcnica e estratgica (BEATO, 1998, p. 4).
Por outro lado, o produtivismo, ou a exacerbao desta prtica, segundo Silva e Silva Jr. (2010),
marcado pelo individualismo e competitividade. Na compreenso que aqui se explicita, a adeso a esta
viso constitui escolha pessoal feita por alguns indivduos workaholic, ainda que, conforme aponta Bloise
(2009), tenha como causa deste comportamento, o ambiente universitrio, definido pelo autor como
exigente e competitivo.
Vale lembrar que, na presente investigao, grande parte dos artigos produzidos de autoria de
quatro indivduos. Ainda que este nmero no represente demasiada carga de trabalho em situaes
normais, considerando as dificuldades de desenvolvimento de atividades de investigao cientfica em
situaes como as de Manaus, por exemplo, que no dispe sequer de internet por banda larga, pode-se
concluir que tal tarefa demanda um pouco mais de esforo.
Caracterizadas as prticas de investigao, sero apresentadas as concepes dos docentes acerca
da cincia.
Problemas relacionados a vises inadequadas de cincia entre docentes (incluindo os
universitrios) tm sido identificados em inmeros estudos sobre esta temtica (GIL-PEREZ et al., 2001).
Dentre os problemas esto, por exemplo, a ideia de cincia como rgida, algortmica, exata e infalvel (p.
207
130), como aproblemtica e ahistrica, exclusivamente analtica (p. 131), como acumulativa e de
crescimento linear (p. 132), como individualista e elitista (p. 133), alm de descontextualizada e
socialmente neutra (p. 133).
Como se ver a seguir, tais compreenses foram amplamente discutidas e criticadas ao longo da
primeira metade do sculo XX, constituindo ainda hoje, em pleno sculo XXI, concepes no coetneas
de cincia. Como os autores acima referidos, no se est sugerindo a existncia de uma viso correta da
construo do conhecimento cientfico. Antes, a inteno est mais associada superao de vises que
permanecem aderidas concepo de viso correta ou de mtodo cientfico.
Antes da exposio do resultado das anlises aqui realizadas, sero retomados alguns dos pontos
fundamentais que balizaram a presente investigao, no que tange ao perfil epistemolgico das
concepes de cincia dos docentes participantes da pesquisa, a partir do instrumento desenvolvido por
Borges (1996).
O referido instrumento foi composto a partir de trechos extrados da discusso sobre a
repercusso da obra A Estrutura das Revolues Cientficas, (KUHN, 2007) e a tentativa de superao
do Positivismo Lgico do Crculo de Viena, envolvendo importantes epistemlogos, como Thomas
Kuhn, Karl Popper, Paul Feyerabend, Gaston Bachelard, etc.
Sero apresentadas aqui, as principais vises de cincia contidas no mencionado instrumento,
iniciando pela viso tradicional das cincias. Nesta viso, segundo Borges (1996), as ideias defendidas
pelo Crculo de Viena constituam desdobramentos do mtodo empirista-indutivista, originrio do
pensamento de Francis Bacon. Este mtodo consistiria na observao dos fenmenos, medida de
grandezas e busca de relaes entre estas, com o objetivo de enunciar leis sobre tais fenmenos,
possibilitando atingir um conhecimento seguro, baseado na evidncia observacional e experimental
(BORGES, 1996, p. 14).
J no chamado falseacionismo popperiano:
A cincia possui valor, no porque a experincia demonstre as ideias cientficas, mas porque fatos
experimentais podem falsear proposies cientficas. As ideias cientficas no podem ser provadas
por fatos experimentais, mas estes fatos podem mostrar que as proposies cientficas esto
erradas. Esta a caracterstica de todo o conhecimento cientifico: nunca se pode provar que ele
verdadeiro, mas, s vezes, podemos provar que ele no verdadeiro (BORGES, 1996, p. 15).
Deste modo, Popper (1975; 1982) prope a falseabilidade como critrio para a distino entre
cincia e no-cincia. De maneira distinta, para a Viso Dialtica do Conhecimento Cientfico, concebida
por Gaston Bachelard (1996) e, - segundo a autora do instrumento, retomadas por Thomas Kuhn e Paul
Feyerabend - no processo de construo do conhecimento cientfico esto contidas a razo e experincia
e, assim, as observaes so influenciadas por teorias prvias. Por isso:
a necessidade de uma experincia cientfica identificada pela teoria antes de ser descoberta
pela observao. Ou seja, a experimentao depende de uma elaborao terica anterior. Deste
208
modo, o pensamento cientifico , ao mesmo tempo, racionalista e realista, pois a prova cientfica
se afirma tanto no raciocnio como na experincia (BORGES, 1996, p. 16).
Outro epistemlogo, segundo esta autora, a retomar as ideias de Bachelard e que tambm esteve
presente nesta discusso, foi Paul Feyerabend, com sua Viso Anarquista sobre o conhecimento, com a
qual enfatizou a diversidade metodolgica na cincia e a inexistncia de regras de pesquisa inviolveis,
afirmando a necessidade de tais violaes para o progresso da cincia. Em sua viso, conforme Borges:
Em princpio, o cientista no precisa seguir qualquer norma rgida quanto metodologia da
pesquisa. Ou seja, vale tudo. No existe regra de pesquisa que no tenha sido violada alguma
vez. Portanto, no se pode insistir para que, numa dada situao, o cientista adote,
obrigatoriamente, um certo procedimento metodolgico. No fim das contas, pode ser esta
justamente a situao em que a regra deve ser alterada. No existe nenhuma regra, por mais
alicerada que esteja numa teoria do conhecimento, que no tenha sido violada em uma ocasio
ou outra. Tais violaes so necessrias ao progresso (BORGES, 1996, p. 15).
Dentre os epistemlogos aqui citados, este apresenta proposio mais polmica para a comunidade
cientfica que, como diria Kuhn, conservadora e resistente a mudanas (BORGES, 1996, p. 17).
Thomas Kuhn (2007), autor da obra seminal referida como importante neste debate, prope a Viso
Contextualista da Cincia. Nela, a comunidade cientfica, s considera cincia aquilo que seus prprios
membros aceitam por consenso, em perodos denominados por ele Cincia Normal, nos quais os
cientistas aderem a um paradigma. Sua viso contextualista afirma:
Normalmente os cientistas no esto muito preocupados em negar uma teoria, mas sim em
comprovar as teorias existentes. Se o resultado aparecer depressa, timo. Caso contrrio, o
cientista lutar com os seus instrumentos e as suas equaes at que, se for possvel, obtenha
resultados conformes com a teoria adotada pela comunidade cientfica a que pertence
(BORGES, 1996, p. 17).
Entretanto, ainda que sejam conservadores, os cientistas, em casos excepcionais, mudam de postura e
procedem assim:
...uma teoria aceita por longo tempo abandonada e substituda por outra. Em geral, as novidades
que no se enquadram nas teorias vigentes tendem a ser rejeitadas pelos cientistas. S
considerado como cincia aquilo que os cientistas aceitam por consenso (BORGES, 1996, p. 17).
So os perodos considerados por Kuhn de revolucionrios e nos quais os paradigmas so
abandonados, instaurando-se uma crise que preceder a formulao de novas teorias, em torno das quais
se desenvolver um novo paradigma.
Concluda esta breve contextualizao histrico-epistemolgica, ser iniciada a anlise das
concepes de cincia dos docentes participantes da presente investigao.
Nas referidas respostas ao questionrio, no foram observadas diferenas relevantes entre as
concepes dos docentes tradicionais e diferenciados. Apesar disso, ser analisada a concepo de
cincia dos participantes da pesquisa, conforme o instrumento utilizado, a partir de uma abordagem
epistemolgica do desenvolvimento das cincias (internalismo), segundo a classificao de Borges
(1996).
209
Para esta autora, a concepo segundo a qual a observao precede a teoria prpria dos
empiristas. J considera construtivistas aqueles para os quais no h observao neutra, isenta de teoria.
Para estes, as teorias influenciam a observao. Por se mostrarem dbios, concordando com vises tanto
empirista quanto construtivista, sem uma concepo clara, os participantes da pesquisa enquadraram-se,
segundo esta classificao, entre os indefinidos.
Todos os participantes, sem exceo, concordam parcialmente com a sentena relacionada com a
Viso Tradicional de Cincias, para a qual o mtodo empirista-indutivista possibilitaria atingir um
conhecimento seguro, baseado na evidncia observacional e experimental.
Alguns destes docentes, alm de concordarem parcial ou totalmente com tal viso, ao falarem
sobre a importncia da iniciao cientfica, expressaram certo empirismo, quando valorizaram o olhar
desprovido de teoria, a teoria que emerge da observao neutra:
Uma coisa que a gente perde quando vira adulto a inocncia da criana. Perde cientificamente
isso quando vai crescendo cientificamente. Perde o olhar, a curiosidade cientfica de um aluno
comeando a ver a coisa. Esse olhar, aquela pergunta mais tola ele que vai fazer. Ele te ajuda
nisso, porque te faz voltar, mostra tuas razes, ensinar a base (ngelo).
Eu tento comparar pra pensar que o que importa na pesquisa cientfica nas descobertas
cientficas muito a observao (Luana).
A importncia predominante das observaes empricas se manifesta na fala de Luana, docente
que, em relao s concepes e prticas, apresenta uma compreenso esclarecida. Outra viso
problemtica, ou deformada (como sugerem GIL-PEREZ et al., 2001), entre os docentes, referiu-se
concepo de cincia acumulativa e de crescimento linear: uma evoluo de um acmulo de
conhecimento (Marcela).
Ao mesmo tempo em que expressaram estas vises deformadas, muitos docentes concordaram
total ou parcialmente com a viso dialtica de Bachelard (com uma exceo entre os sete docentes) e com
o falseacionismo popperiano (duas discordncias). Em relao ao contextualismo kuhniano, as
concordncias e discordncias ocorreram em proporo similar, mas suas posies frente ao anarquismo
epistemolgico foram, majoritariamente, discordantes (duas concordncias).
Uma concepo crtica ao empirismo e tambm ao experimentalismo
58
foi expressa por um dos
docentes:
O pessoal se empolga muito na hora do laboratrio, em fazer uma reao, de fazer um ensaio,
mas eu sempre explico para eles: apesar de importante, uma coisa mecnica, no precisa um
bilogo para fazer isso, pode ser um analfabeto, desde que a pessoa seja treinada, ela vai fazer
tudo o que voc faz, talvez at melhor, porque s vezes tem mais jeito para a coisa, n? O
importante a gente se aprofundar na teoria da coisa (Rodrigo).
Outros elementos epistemolgicos surgiram nas falas dos docentes ao referirem-se IC ou
histria da cincia, quais sejam, o papel do erro e o do acaso na construo do conhecimento:
58
Gonalves (2009) chama de experimentalismo, a concepo que surgiu como alternativa ao verbalismo.
210
A questo do acaso nas pesquisas cientficas, que na verdade no o acaso, uma observao a mais
que voc percebe ali alguma coisa a mais que no deu certo, em vez de descartar aquilo, conseguir
entender qual o possvel significado, no ficar totalmente dependente da tcnica, n (Luana)?
Como que surgiu a penicilina? Foi um erro. Ento a microbiologia, muitas das descobertas
foram por erro, n? Ento ele tem que entender que no uma cincia exata, na microbiologia
tem muito disso (Neide).
Por fim, um ltimo elemento epistemolgico foi a manuteno de certos dogmas, mesmo aps
descobertas que questionam sua validade. Tal compreenso emergiu de um longo depoimento de Luana a
respeito da permanncia da tradicional classificao das bactrias em gram-positivas e gram-negativas.
Este sistema, segundo a docente, continua vigente apesar das novas descobertas que colocaram em xeque
o papel do cido murmico, indicador utilizado com papel taxonmico, no sentido de assegurar uma
correta identificao a partir deste modelo.
Alm desta anlise internalista, sobre questes epistemolgicas relativas dimenso cognitiva e
conceitual da produo de conhecimento cientfico e que se preocupa, portanto, com o modo como este
construdo no interior das comunidades cientficas, integrou ainda o instrumento desenvolvido por Borges
(1996), outra sentena relacionada a uma anlise externalista, ou seja, levando em conta as influncias de
fatores sociopolticos, econmicos e culturais sobre o desenvolvimento das cincias.
Segundo Dias (1997), um marco do externalismo o artigo As razes sociais e econmicas dos
Principia de Newton, publicado por Hessen em 1931, cuja verso em portugus consta da Revista de
Ensino de Fsica, v. 6, n.1 (1984). O artigo teve o propsito de utilizar o mtodo do materialismo
dialtico e a concepo do processo histrico criada por Marx para analisar a obra newtoniana,
relacionando-a com a poca em que o cientista viveu e trabalhou. Deste modo, a viso externalista das
cincias destaca as influncias externas, considerando que fatores sociopolticos, econmicos e culturais
possam direcionar as investigaes (BORGES, 1996, p. 17). Esta compreenso foi encampada por
historiadores da Cincia - como o ingls John D. Bernal, com a conhecida obra Science in History
(BERNAL, [1965], 1976) - que a partir do artigo seminal de Hessen, desenvolveram anlises histricas
examinando tais influncias.
Os docentes, ao manifestarem seu grau de concordncia em relao a estas influncias, com uma
exceo (uma discordncia parcial); concordaram parcial ou totalmente com a assertiva seguinte, que
versava sobre os limites, possibilidades e tendncias sociais a repercutir no interior da comunidade
cientfica, influenciando o direcionamento de recursos e o desenvolvimento de tcnicas e os rumos das
investigaes:
Comparando temas de pesquisa cientfica com problemas econmicos, tcnicos, sociais ou
polticos de cada poca, fica evidente que o desenvolvimento cientfico determinado por eles.
Antes da revoluo industrial, a cincia no podia ultrapassar os limites impostos pela Igreja.
Depois, submeteu-se aos interesses da burguesia, cujas necessidades tcnicas e econmicas
determinaram o desenvolvimento posterior das teorias cientificas. Atualmente, o papel dessas
influncias sobre o desenvolvimento das cincias pode ser facilmente constatado, verificando-se
em quais pesquisas as agncias financiadoras investem recursos (Borges, 1996, p. 16).
211
O nico que discordou desta afirmao foi Rodrigo. Este docente foi tambm o nico a responder
as questes que tratavam de concepes de sade, sem relacionar fatores sociais com a ocorrncia de
doenas infecto-parasitrias, alm de, ao falar sobre suas concepes docentes, afirmar que no considerava
importante o contexto social de seus alunos, tratando todos de forma igualitria. Assim, ainda que, em
relao a questes epistemolgicas, concernentes dinmica interna do campo cientfico, o docente tenha
expressado certo domnio, ao considerar as influncias da sociedade nesta dinmica, revelou fraca sintonia
com aquela manifesta pelos especialistas.
Deste modo, o caso de Rodrigo ilustra a viso de Cunha (2005), segundo a qual a concepo de
cincia, preside a definio da prtica, uma vez que o modo como o docente concebe as relaes entre o
campo cientfico e a sociedade parece interferir na sua postura pedaggica. No caso especfico de
Rodrigo, esta interferncia incide, particularmente, na relao que estabelece com seus alunos. Se,
pretensamente, acredita que todos devem ser tratados com igualdade, sua ao neste sentido, implica em
desconsiderar aspectos da realidade social dos alunos.
Esta , entretanto, uma das implicaes das concepes de cincia dos docentes em sua prtica
pedaggica. Uma outra dimenso envolve a abordagem internalista. Nela, h uma compreenso pouco
afinada com a anlise epistemolgica contempornea sobre a natureza da cincia, por parte dos docentes
e esta compreenso refletir na reproduo, por exemplo, das vises deformadas do conhecimento
cientfico, ou ainda da Viso Tradicional da Cincia, amplamente presente entre os participantes da
pesquisa.
Estes so alguns motivos que justificam a realizao de estudos desta natureza, os quais podem
subsidiar aes de formao continuada de docentes universitrios que levem em conta a promoo de
um aprimoramento nas suas concepes de cincia.
Neste sentido, Matthews (1995), por exemplo, afirma que a superao de compreenses ingnuas
sobre a natureza do conhecimento cientfico pode humanizar as cincias e aproxim-las dos interesses
pessoais, ticos, culturais e polticos da comunidade, tornando as aulas de cincias mais desafiadoras e
reflexivas, possibilitando o desenvolvimento do pensamento crtico e uma viso mais aprofundada do
contedo ensinado. Usando uma expresso do autor, uma compreenso mais contempornea da cincia
pode contribuir para a superao do mar de falta de significao.
Alm do estudo acima mencionado, dentre as investigaes sobre a importncia de uma
concepo contempornea de cincia na prtica docente, podem-se incluir o de Terra (2002), que versou
sobre as repercusses do anarquismo epistemolgico feyerabendiano no campo educacional; o de Harres
(1999), que postulou sobre a importncia do conhecimento sobre o conhecimento na formao de
professores e ainda; o de Lopes (1993), autora que discorreu sobre as contribuies de Gaston Bachelard
ao campo educacional.
212
Destaca-se, deste modo, a necessidade de um processo formativo que possibilite um
distanciamento crtico do docente a respeito da dinmica da produo do conhecimento cientfico, uma
vez que a conscincia real efetiva, aqui caracterizada, constitui-se por compreenses sobre a natureza da
Cincia mais prximas de concepes paulatinamente superadas por uma conscincia mxima possvel,
presentes nas anlises epistemolgicas contemporneas, a partir das posies de Kuhn, Popper, Bachelard
e Bernal.
5.3. Interfaces ensino-pesquisa
Antes de descreverem-se elementos das atividades de ensino desenvolvidas pelos docentes
participantes desta pesquisa, sero analisados aqueles que constituem uma interface entre elas, afetando tanto
as primeiras quanto as segundas.
Estes se referem a duas correlaes realizadas aqui: a) a relao entre a carga horria despendida
com atividades exclusivas em sala de aula (a carga horria de aulas do docente) e a produtividade
acadmica (que ter como indicador a publicao de artigos cientficos em peridicos indexados) e; b) a
relao entre a produtividade acadmica e a experincia profissional do docente (indicada pelo tempo de
docncia, em anos).
Este exerccio buscou localizar as possveis causas das diferenas individuais observadas. No
primeiro caso, uma regresso linear entre estas duas variveis, evidenciou um coeficiente de correlao de
valor reduzido (0,0581), ainda que, ao menos em um dos extremos, seja possvel afirmar que, para os
docentes produtivos, cargas horrias reduzidas parea constituir condio sine qua non para uma
expressiva produo de artigos cientficos (Fig. 5.1).
Embora diversos autores falem da primazia da pesquisa em relao s atividades de ensino nas
universidades (MASETTO, 2003; BAZZO, 2007; GONALVES et al., 2007), na presente investigao,
alguns docentes dedicaram-se mais investigao cientfica (no significando, necessariamente, que os
demais docentes desvalorizem estas atividades em relao s de ensino). Alm deste, o estudo de Veiga et
al. (2004) tambm encontrou resultado distinto daquele apontado pela literatura especializada,
verificando, na distribuio das atividades docentes, um equilbrio entre o ensino e a pesquisa.
Observou-se ainda outro fator que pode ter influenciado a produo de artigos pelos docentes e, por
isso; foi realizada tambm, uma regresso linear entre o tempo de docncia em nvel superior e a quantidade
de artigos publicados, pressupondo-se que o tempo de experincia na atividade docente poderia contribuir para
melhorar o desempenho, ao menos quantitativamente, neste tipo de tarefa.
213
Figura 5.1 Relao entre a carga horria de ensino e a produo de artigos cientficos.
A anlise estatstica dos resultados, alm de no evidenciar uma forte correlao entre estas
variveis (Coeficiente de Correlao = 0,4334), apontou para uma tendncia oposta que se pressupunha.
Ou seja, via de regra, os docentes mais novos publicaram proporcionalmente mais artigos cientficos do
que seus colegas mais experientes (Fig. 5.2).
Figura 5.2 Relao entre o tempo de docncia em nvel superior e a produo de artigos cientficos em
peridicos indexados.
Tal situao pode vincular-se ao fato de os docentes mais novos terem concludo seus doutorados
nos ltimos cinco anos (perodo no qual foram recolhidas as informaes sobre a produo acadmico-
cientfica). Este perodo est associado a uma pesquisa de grande porte, capaz de gerar razovel
quantidade de publicaes, e tambm ao contato com pesquisadores e grupos de pesquisa em atividade,
contribuindo para o estabelecimento de atividades de investigao em parceria tanto com outros
pesquisadores quanto com outras instituies.
Estas parcerias constituem fator fundamental para estimular esta atividade, sobretudo para
docentes de instituies da Regio Norte do pas que, durante muito tempo, por estarem distantes dos
grandes centros produtores da pesquisa, apresentaram maiores dificuldades para o estabelecimento de
intercmbios com instituies que possuem melhor infra-estrutura e maior disponibilidade de recursos.
O quadro descrito est se alterando graas a novas polticas de financiamento de pesquisa adotadas
pelo estado brasileiro. Segundo Bortolozzi e Gremsky (2004), que investigaram dados de agncias de
fomentos, como a CAPES e o CNPq, alm de outras fontes, no perodo de 1998 a 2004, os critrios
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo de docncia
A
r
t
i
g
o
s
(
n
)
0
50
100
150
200
250
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
artigos (n)
(
h
/
a
)
214
utilizados para corrigir as distores no quadro de desenvolvimento regional, adotados, neste perodo,
contriburam, num primeiro momento, para ampliar estas desigualdades. Os autores destacam dados
referentes ao ano de 2002, quando houve um significativo aporte de recursos para algumas grandes
instituies regionais, ampliando os desequilbrios regionais e intra-regionais.
Alguns Estados beneficiaram-se pouco desses investimentos, principalmente devido reduzida
massa crtica, caracterstica obstaculizante na obteno de recursos mais significativos para suas
universidades. Num segundo momento, entretanto, os autores discorrem sobre medidas adotadas por
estes rgos de fomento, como a negociao direta com os estados, dos Planos Regionais de Pesquisa e
Ps-Graduao, via Fundaes de Amparo Pesquisa ou rgos equivalentes, com o objetivo de mudar o
quadro. Para estas ltimas aes, sob a tica da CAPES e do CNPq, os resultados foram considerados
positivos, avaliao que segundo os autores faculta a continuao destas polticas, para tanto tomando
como urgente a estruturao dos Planos Estaduais de Pesquisa e Ps-Graduao, integrados com as
agncias nacionais de fomento.
Apesar das dificuldades mencionadas anteriormente, alguns sujeitos experientes continuam a publicar
artigos, embora a tendncia apontada pela correlao apresentada indique a tendncia ao abandono da
investigao cientfica por parte dos docentes depois de alguns anos de atividade.
Os fatores responsveis pelo abandono parecem variados. A maioria dos docentes antigos (com
20 ou mais anos de docncia), por exemplo, no possui doutorado, situao que dificulta o financiamento
de pesquisas e tambm o estabelecimento de vnculos com grupos de pesquisa j constitudos. Contudo,
alguns professores com doutoramento tambm no desenvolvem atividades de investigao cientfica.
Excetuando-se as atividades de sala de aula, estes docentes no fazem referncia, nem em seus currculos,
tampouco nos questionrios, realizao de atividades acadmicas de qualquer natureza. Esta
constatao permite explicar porque h uma tendncia, ainda que sutil, para possurem maior carga
horria em atividades de ensino (ver Fig. 4.13). Ou seja, ao deixarem de realizar outras atividades, podem
se ver forados a aumentar sua contribuio na distribuio da carga horria em sala de aula.
5.4. Atividades de Ensino
O ensino uma dimenso que constitui a especialidade profissional do docente. Em tese, um
professor, em qualquer dos nveis de ensino, da pr-escola ps-graduao, um especialista na rea de
ensino ou, de modo mais abrangente, na rea de educao.
No caso do ensino superior, talvez apenas em tese, caso se considere que muitos dos professores
universitrios no vivenciaram qualquer processo formal de preparao para o magistrio superior. Deste
modo, sem o contato com os saberes do campo educacional, docentes universitrios de diversas reas do
215
conhecimento, como refere Luckesi et al. (1989) podem estar atuando como receptores e transmissores
de uma cultura tcnico-cientfica alheia. A presente investigao sobre a docncia universitria, buscando
caracterizar as atuais prticas docentes em cursos de graduao, apresentar, nas pginas seguintes, uma
anlise das concepes e prticas de ensino dos participantes da pesquisa, numa tentativa de compreender
sua gnese.
Sero apresentadas, assim, algumas informaes e anlises, sobretudo em relao s disciplinas
ministradas, carga de trabalho docente no que diz respeito a atividades de ensino, em sala de aula, incluindo
quelas realizadas em outras instituies. Sero abordados tambm dados relativos ao nmero de alunos e
disciplinas ministradas, includas as desenvolvidas em outras reas do conhecimento e/ou em outras
instituies de ensino, pelos participantes da pesquisa. Busca-se tambm estabelecer correlaes entre estas
e as atividades de pesquisa, integrando-as a outras atividades de ensino, na tentativa de compreender, na
realidade destas instituies, qual a efetiva carga de trabalho destes profissionais.
Articuladas a estas, sero exploradas concepes sobre algumas dimenses da prtica
pedaggica, como contextualizao, em suas dimenses histrica e sociopoltica; interdisciplinaridade;
planejamento, seleo e organizao do contedo ministrado, como concebem e que importncia
conferem aprendizagem formal, seus principais modelos de docncia (alguns falam em modelos
negativos) e como caracterizam um bom docente nas reas em que lecionam.
Preliminarmente, sero apresentadas as concepes dos docentes sobre os prprios processos
formais de aprendizagem, tomando-os como intencionais e sistemticos, sendo desenvolvidos em
instituies de ensino (ESHACH, 2007).
Sobre os mencionados processos, foi investigada, a partir do questionrio n 1, a importncia dada
pelos participantes da pesquisa. Cerca de um quarto destes sujeitos (23,1%) atribuiu maior importncia
aos processos formais, sem fazer referncia aos demais; metade (50,0%) considerou, igualmente, as
aprendizagens formais mais importantes, reconhecendo tambm a importncia das dimenses no-
formais e informais; outros ainda consideraram equivalente a importncia dos processos formais, no-
formais e informais (38,5%), enquanto os que consideraram mais importante a aprendizagem fora dos
espaos formais, representaram cerca de um quinto do total (19,2%)
59
.
Somados os dois primeiros posicionamentos, quase dos docentes (73,1%) consideraram os
processos formais prioritrios. Apesar disso, dados da pesquisa in loco, sobre o que pensam estes sujeitos
e qual a importncia que atribuem estes, evidenciaram concepes limitadas sobre a temtica, nas quais,
tanto aqueles que os julgaram mais importantes, quanto os que no os consideraram prioritrios,
confundiram aprendizagem formal com ensino tradicional, aprendizagem latu sensu e dimenso terica:
59
A soma, neste caso, maior do que 100,0%, j que alguns docentes marcaram mais de uma alternativa,
possibilidade indicada a eles em quase todas as questes do referido questionrio.
216
Essa aprendizagem acadmica, formal, essa coisa de sala de aula, prova, acho isso
importante, mas a gente pode sempre melhorar, mais leitura, mais biblioteca, incitar o
aluno que busque mais informaes fora da sala de aula (Rodrigo).
todas essas informaes que voc vai tendo durante a vida. Porque essa questo de
aprendizagem, desde que a mame comea a falar com voc, voc comea a agir, ver
gestos, ento tudo isso ao longo de sua vida tudo o que vai formando voc (Suely).
Essa (a aprendizagem formal) menor ainda do que a vocao, n? Acho que voc tem
que tambm ter prtica. Acho que s a formalidade, s a teoria. Muitos tericos no
so bons na pratica (Neide).
Houve tambm aqueles que, mesmo expressando compreenses em consonncia com aquela de
Eshach (2007), no consideraram as aprendizagens formais mais importantes:
Eu aprendi muita coisa aqui n, informal e tambm na questo formal. Eu acho assim
que, que as duas coisas se complementam. Eu acho que a aprendizagem formal 50%
das coisas que a gente faz aqui (ngelo).
Uma das docentes explicitou ainda uma viso de aprendizagem enquanto processo cumulativo e
de crescimento linear, incluindo ainda, tanto aspectos formais como informais:
Eu acho que aprendizagem formal ela como se fosse uma um murinho que voc tem
os tijolinhos que voc vai sedimentando os tijolos. Alguns so mais fininhos do que
outros, mas voc vai montando, como se vai montando um edifcio, n? Se voc prestou
o mnimo de ateno, voc tem a sedimentao. Na verdade tudo o que a gente hoje,
o que a gente sedimentou desde que a gente nasceu, n (Marcela)?
Dentre os elementos da aprendizagem formal para a docncia, as tcnicas so referidas, por outro
docente. Em seu depoimento, ainda que ele, de um lado, mencione vivncias de um modo abrangente,
de outro, restringe-se a abordar o aprendizado tcnico:
Aprendizagem formal? A gente aprende tcnicas, aprende vivncias.
Fundamentalmente, eu aprendi com meus professores vivncias. Eu vi como eles
faziam, prestava ateno Ah isso aqui uma tcnica! Ah! algum escreveu, um
terico escreveu sobre esta tcnica ensino de qualquer coisa! Ou ento uma tcnica
de laboratrio, mas isso me ajuda a construir a minha histria (ngelo).
Em relao s concepes sobre a aprendizagem formal, investigaram-se ainda aquelas relativas
aos processos formativos para a docncia. Sobre estes, inicialmente, perguntou-se, a partir do questionrio
n 1, como ocorreria tal formao.
Em sua maioria (65,4%) responderam que o referido processo ocorre no exerccio cotidiano da
docncia, em sala de aula. Outros afirmaram ainda, assinalando outras alternativas, que a formao para a
docncia universitria ocorre no estgio probatrio (7,7%); nos cursos de graduao em geral (15,4%);
particularmente nas licenciaturas (23,1%); nos cursos de ps-graduao em geral (38,5%); nos cursos de
ps-graduao da rea de Educao ou EC (19,2%), ou ainda; que ainda no existe um curso para
formao especfica do docente universitrio (3,8%).
Sobre a formao para a docncia, perguntou-se ainda, se consideravam tal formao suficiente.
A maioria dos docentes (65,4%) considera-se parcialmente satisfeito, enquanto para outros formao foi
tida como insuficiente (15,4%). Para outros ainda, tais processos foram predominantemente prticos
217
(15,4%), enquanto alguns destes docentes (11,4%) afirmaram considerarem-se aptos do ponto de vista
didtico-pedaggico. A percepo de incompletude desta formao expressa por uma das docentes:
No que as minhas aulas sejam top de linha, mas pelo menos eu tento fazer o melhor que eu posso.
Tenho as minhas limitaes (Marcela).
Por isso, com uma exceo, consideraram importante a formao para a docncia. Para grande
parte destes (53,8%), entretanto, vocao e entusiasmo podem ter um papel to ou mais importante do
que a formao para a docncia no sentido de estimular o aluno a estudar. Para outra poro considervel
de docentes (30,8%), o domnio e a atualizao dos contedos so mais importantes do que a formao
pedaggica e na viso dos demais (30,8%) um docente precisa ser, acima de tudo, um bom
pesquisador.
Uma das causas apontadas para esta relativa desvalorizao da dimenso explicitamente
pedaggica, intencionalmente informada e crtica, como constituinte da formao para a docncia a
alegada ineficcia das disciplinas de contedo pedaggico das licenciaturas, desqualificando-se o carter
terico aliado falta de orientao durante o estgio:
Confesso que a didtica que eu tive na universidade essas disciplinas viradas para o
ensino no me serviram de muita coisa, no. Didtica, prtica de ensino, essas coisas,
era muito terica. uma prtica de ensino que ningum te acompanha. Eu ia pra o
colgio, teoricamente eu tinha um tutor, mas ele acabava sendo meu colega de algumas
disciplinas que estava cursando e ele ficava na sala de aula (Marcela).
Vale ressaltar que a citada opinio sobre o papel das disciplinas pedaggicas na formao dos
licenciandos no generalizvel, j que h grande heterogeneidade nestes cursos. Ademais, a literatura
relaciona a insuficincia da formao pedaggica destes cursos, sobretudo, ao papel predominante das
disciplinas de contedo especfico.
Em relao aprendizagem formal, ainda, os docentes atribuem parte da influncia que
receberam em sua constituio para a docncia a certos professores de distintos nveis, os quais
consideraram referncias de conduta profissional. Alguns dos participantes afirmam que poucos, em sua
trajetria podem ser tomados como tal, outros, ao contrrio, citam vrios exemplos:
Poucos professores foram marcantes. Eu diria que um professor no meu doutorado, ele ministrava
uma disciplina de fisiologia dos microorganismos. Era uma disciplina muito legal, que era toda
baseada em leitura de artigos, mas, fora ele, nenhum me chamou ateno (Rodrigo).
Eu tenho, desde o ensino mdio que eu lembro, da graduao, da ps e lembro dos nomes e o
que eles fizeram. Do ensino mdio a professora de portugus, professora [menciona o nome] que
me incentivou muito a leitura com a biblioteca circulante, pedindo doao de livros. Todos os
alunos tinham que ler pelo menos um livro por ms. Eu extrapolei, ganhei a de melhor na
leitura, que eu gosto de ler, ento desde aquela poca (Neide).
` Os exemplos acima, referem-se a professores de distintos nveis de ensino e alm destes, tambm
a profissionais de cursinhos pr-vestibulares. Alm do incentivo leitura, ressaltado nestes depoimentos,
h elogio responsabilidade, pacincia, educao (como sinnimo de cortesia), ao domnio do
218
contedo ministrado, ao modo dinmico como os educadores do passado lecionavam e a capacidade que
tinham de motiv-los/as a ler e/ou estudar. Uma docente fala ainda da importncia destes referentes na
ampliao de sua viso de mundo:
Eram freiras alems. E elas ensinaram que, pra falar de determinado assunto, voc tem que ter
uma espinha dorsal do assunto e fazer uma programao, porque seno voc foge do assunto.
(...) Agora h uns dois anos eu fui pra Europa. Eu lembrava que as irms falavam de geografia,
de histria, daquelas coisas assim que voc ficava imaginando, aquelas coisas. Porque antes no
tinha televiso, no tinha nada (Marcela).
A professora [menciona o nome] era um barato. Dava aula de geografia e historia, gostava de ET. s
vezes n, viajava. (...) Hoje eu vejo, mas pra mim era fascinante as historias que ela contava de
extraterrestres, ela sabia contar historia. uma outra disciplina que eu gosto muito tambm (Neide).
Nos depoimentos acima, ressalta-se a importncia do planejamento de ensino, no depoimento de
Marcela e a habilidade com a narrativa, explicitada por Neide. Por outro lado, em sua maioria, apontaram
tambm referenciais negativos, destacando neles dois elementos, algumas vezes interligados: a) o
descompromisso profissional, que atribuem, algumas vezes, ao descontentamento salarial e, noutros
casos, a problemas pessoais e; b) o rigor excessivo na prtica docente e/ou o tratamento desumano
dispensado aos alunos. Nos depoimentos abaixo, sobre o primeiro elemento referido, os participantes
falam, ora de seus prprios professores ora de colegas de trabalho:
Porque voc, s vezes, pega muito professor que sabe, mas no quer ensinar, n? Tem
preguia, no sei o que , acha que se der a informao parece que ele diminui. Tem
vagabundo aqui que no faz nada ganha muito bem pra fazer o que faz. Mal vem dar
uma aula e quando d uma aula mequetrefe (Marcela).
Eu tinha a viso que (para) eles no era necessrio, bastava dar um conteudozinho,
uma prova. Era o suficiente! Ento, os alunos no precisavam saber tudo. Ento isso
me chateava muito (Suely).
Em relao ao segundo destes elementos, os participantes da pesquisa atribuem a antigos
professores da graduao, o tratamento inadequado dos alunos, contudo, os tratamentos adjetivados como
inadequados no so rememorados como exclusividade dos professores do passado dos participantes
desta pesquisa. Dois destes ltimos, por exemplo, na abordagem destes comportamentos, criticaram
colegas que, ao passarem no corredor, no do nem bom dia. Ainda que concebam tais comportamentos
descorteses como negativos, algumas vezes justificam sua adoo:
Tem gente que estabiliza e s desce ladeira abaixo. Ai fica tratando mal principalmente o aluno,
que o elo fraco. Na poca da graduao teve um professor, na formatura, a gente convidou
todos menos ele. Outra turma deu o diploma de chato pra ele. E eu vi naquilo ali assim, um
desprezo por aluno, um desprezo pela inteligncia do aluno (Marcela).
Tem a professora de morfologia. E ela era assim pra mim, uma carrasca, mas depois,
hoje eu vejo que ela no tanto. Ela queria realmente mostrar que o nosso excesso de
liberdade, (na) repblica, muitas vezes no cabe o tempo da universidade, n? Ento
ela no permitia saia na sala de aula, chinelo. Por isso que eu falo que ela era bem, n,
conservadora? Depois, se abriu bastante e ensinava muitssimo bem (Neide).
Alm de justific-los, algumas vezes os reproduzem, como se pode perceber nas falas anteriores
destas docentes, sobre as reprimendas aos alunos. As concepes de outros participantes, entretanto, que
219
adotaram referenciais baseados em outros modelos, revelam repercusses diferenciadas no seu modo de
refletir o processo educacional:
A gente aprendeu muito mais do que com esse tipo de aula de colgio, n, com o professor l na
frente. No que ela no tenha sua utilidade, mas eu acho que a exemplo de universidade fora do
Brasil, a gente podia estimular o aluno mais leitura, pesquisa bibliogrfica. O que a gente v
o contrrio: alunos querem tudo mastigado e tem arrepio de raiva quando a gente pede para
ler um artigo, uma coisa fora da sala de aula (Rodrigo).
Tal exemplo no diz respeito a prticas elaboradas, mas to somente ao uso de recursos didticos
alternativos. Outra docente, entretanto, graas ao convvio com colegas mais experientes, que dominavam
com mais profundidade os saberes do campo educacional, utiliza estratgias de ensino baseadas em
prticas coletivas, que levassem em conta sua dimenso pedaggica, considerando-a prioritria:
(Ele) tinha uma didtica maravilhosa, era um exemplo, inclusive de vanguarda. Ia atrs de novas
metodologias, comeou a trabalhar com dinmica de grupo. Isso em 1969. Ia fazer curso sobre a
tcnica, depois aplicava em sala de aula e, depois de cada aula terica, a gente se reunia pra
comentar, pra saber e ele assistia a todas as aulas. Realmente tive uma sorte de ter um processo
de formao para a docncia. Isso no existe mais, n? Nem existem mais os grupos (Luana).
Deste modo, ao expressarem o que compreendem por bom docente em suas reas de atuao,
apresentam concepes distintas e, muitas vezes, dspares. Para alguns as caractersticas de um bom
docente no se aplicam somente aos que lecionam estes contedos. Para estes, o professor, em geral,
deve gostar da profisso e fazer tambm com que o aluno sinta-se estimulado a aprender.
Adicionalmente, o bom docente deve, segundo eles, dominar e estar atualizado com o contedo, ser
pontual e assduo, agir com justia e tratar os alunos com cortesia:
Eu acho que no s professor de micologia, o professor. Professor tem que gostar de estar em
sala de aula. Acho que voc tem que fazer a aula o mais agradvel possvel, n (Marcela)?
Um professor bom de Parasito ou em qualquer rea tem o aspecto intelectual, conhece, busca,
atualizado, humano. Acho que o que diferencia os professores ainda essa parte de humanidade.
No somente dar a aula, mas tambm interagir com os alunos (Suely).
Cara, no sei, acho que o assunto, ele independente, que o professor, de maneira
geral, um bom docente pra mim seria uma pessoa que conversasse com os alunos,
entendesse e no passasse a mo nos problemas (ngelo).
Outra habilidade frequentemente atribuda ao bom docente relaciona-se ao desenvolvimento de
atividades de experimentao:
A maioria mulher que gosta, porque a gente tem a pacincia de estar manipulando coisa no
laboratrio, de esperar que o fungo cresa, de olhar, de ter memria visual pra aquelas coisas,
de ir procurar e no achou, no deu certo, vai l e mexe de novo (Marcela).
Ele tem que ter um domnio terico e prtico na Microbiologia, que lida com seres
microscpicos, seres que ningum v. Ento se eu ficar s na terica, o aluno no perceber que
eles podem ir passando, semeando numa placa um meio de cultura e eles podem observar isso,
n, sentir o cheiro disso, seno eles nunca vo lembrar (Neide).
Algumas posies que se diferenciaram das referidas at o momento e que, na viso de uma das
participantes, caracterizaria um bom docente, indicam a insuficincia do domnio do contedo especfico,
220
apenas, para a prtica docente: Um bom docente de Parasito no um professor que conhece muito, s o
conhecer no faz diferena (Suely).
A importncia de conhecimentos que vo alm do contedo disciplinar sugerida tambm por
outra docente: Pode ser um gnio na pesquisa, mas no obrigatoriamente vai ser um bom professor
(Luana). Esta mesma docente, ao longo da entrevista, concorda com Neide e Marcela sobre a relevncia
da vivncia com experimentao cientfica, na constituio do bom docente.
Mais do que fazer referncia a alguns elementos da constituio docente, Luana postula sobre os
processos formais de aprendizagem escolar contemporneos, evidenciando conhecer com mais
profundidade a temtica quando comparada aos demais docentes. Considera o valor de tais processos,
mas, analisando criticamente a realidade escolar (de outros nveis de ensino), afirma:
Se considerarmos o que aprendizagem significativa, c entre ns, aprendizagem formal, hoje
ponho dvidas se a escola ta ajudando. At o terceiro ano a criana crtica, tem criatividade,
observa. A partir da um fechamento pra padres. No sei se em funo de quantidade de
informao, habilidades que tem que desenvolver. Acho que o mundo da aprendizagem virou um
mundo de tarefas e isso t diminuindo a criticidade (Luana).
Em outro trecho da entrevista, destaca tambm suas preocupaes pedaggicas em relao aos
processos formais, apresentando, novamente, boa compreenso sobre estes temas:
Eu sempre me preocupei muito com a formao dos alunos, mais do que estar em dia com a
informao, priorizar a formao. Ento se eu trabalho com eles em grupo, eu tenho uma
inteno com isso, de form-los, que eles aprendam a descobrir as coisas, que eles aprendam a
trocar, aprendam o respeito quando se trabalha em grupo (Luana).
Alm disso, Luana reflete sobre as capacidades necessrias ao bom docente, ressaltando vivncia
com pesquisa (tem que ter um p no laboratrio) e a habilidade em selecionar o contedo da disciplina:
que tenha, minimamente, um conhecimento do que importante praquele aluno e no veja (ele)
como um profissional que tem que saber isso, isso, e isso e que se voc ento ensinar pra ele isso,
isso, e isso, obrigatoriamente ele vai ser um bom profissional na sua rea (Luana).
A docente ressalta que ensino e aprendizagem no guardam relao direta: porque voc ensinar
uma coisa, se o aluno est aprendendo, tem um caminho longo ai.... Deste modo, mostrando maior
domnio sobre os conhecimentos do campo educacional, faz referncia a teorias e conceitos formulados
por especialistas nesta rea, como Paulo Freire e Marcos Masetto. Discorre longamente, em outro trecho,
sobre as competncias que o bom docente de Microbiologia deveria possuir, como a cognitiva, a
pedaggica, a afetiva e a poltica e tica.
A referida docente constitui exceo entre os participantes, expressando, a partir de suas
concepes, elementos de uma conscincia mxima possvel, que se deseja com a superao de uma
conscincia real efetiva.
Em sntese, podem-se considerar os seguintes aspectos, relativos s concepes sobre
aprendizagem formal para a docncia, como elementos constituintes da conscincia real efetiva:
221
a) valorizao das aprendizagens formais, ainda que a partir de compreenso limitada sobre seu significado;
b) viso cumulativa (bancria) de tal dinmica; c) aprendizagem para a docncia encarada como um
processo que ocorre no dia-a-dia em sala de aula, que, alm de no-sistemtico, pode ser sobrepujado, em
importncia, por elementos como a vocao e o entusiasmo; d) viso limitada sobre o papel da ps-
graduao como espao de formao para a docncia universitria; e) insatisfao parcial com a prpria
formao pedaggica e consequente reconhecimento de sua importncia para a docncia, ainda que
pautada, sobretudo no domnio e atualizao de contedos; f) atribuio de maior importncia s atividades
de pesquisa e experimentao enquanto componente da constituio docente; g) concepes aliceradas a
partir de modelos de docncia tradicionais, bancrios; h) apesar disso, a conotao negativa em relao ao
descompromisso profissional e ao excessivo rigor e/ou tratamento desumano dispensado aos discentes,
constituem elementos marcantes de seus referenciais de docncia.
A partir dos achados da literatura especializada, possvel relacionar as compreenses limitadas
sobre aprendizagem formal com a falta de preparo adequado para o magistrio superior, indicada em
estudos envolvendo DUCs. Oda e Delizoicov (2011), investigando planos de ensino de Parasitologia e
Microbiologia ministradas em licenciaturas em Cincias Biolgicas, observaram elementos que sugerem
uma atuao docente relativamente padronizada com prticas originrias da didtica tradicional.
Adicionalmente, em outro estudo envolvendo docentes universitrios, Veiga et al. (2004) observaram,
entre os participantes, vises fragmentadas das aes de ensinar, aprender, avaliar, pesquisar e avaliar,
atestando tambm esta falta de preparo pedaggico.
Tal despreparo, segundo os autores, originado na falta de contato com a literatura especializada
no campo educacional, parece responsvel pela desvalorizao destes saberes (e vice-versa), gerando a
frequente compreenso de que a preparao para a docncia uma tarefa que ocorre no dia-a-dia.
Esta compreenso foi explicitada por docentes participantes de outros estudos, como os de Bazzo
(2007) e Veiga et al. (2004), autoras para as quais tal processo insuficiente para assegurar uma
adequada formao para a docncia. A primeira, contundentemente, afirma que esta compreenso
ingnua e do senso comum (p. 170), sendo, pelo contrrio, uma atividade profissional que requer
formao e conhecimentos tericos especficos.
Para Vasconcelos (2000), similarmente, docncia no um dom e tal compreenso contraria
todas as iniciativas de formao docente estruturadas nos ltimos anos. A este respeito, Veiga et al.
(2004) lembram que, embora no suficiente, a docncia cotidiana importante fonte de conhecimento.
Estas autoras, compreendendo os saberes docentes a partir de sua origem multidimensional (processos
formativos iniciais e continuados, experincia profissional, cultura pessoal, etc.) postulada por Tardif
(2002); entendem estes saberes como fonte bsica, mas no nica da aprendizagem para o magistrio.
222
Alm da prtica cotidiana, os sujeitos participantes da presente pesquisa, assim como os docentes
investigados por outros autores apontam outros lcus de formao para a docncia. Os participantes do
estudo de Veiga et al. e os de Maciel (2007), bem como alguns dos docentes que participaram da presente
investigao, por exemplo, atriburam ao aprendizado em seus cursos de graduao, o momento inicial
deste processo. No primeiro destes estudos, os docentes afirmaram ainda, que caberia a processos
formativos continuados um aprofundamento desta.
De fato, a falta de contato, na graduao, com cursos que envolviam disciplinas de contedo
pedaggico (caso das licenciaturas), caracterizou, no presente estudo, os docentes considerados
tradicionais. Convm lembrar, entretanto, que tais cursos no so voltados para a formao dos docentes
do ensino superior. Alm disso, at mesmo para a preparao do professor da educao bsica,
especialidade destes cursos, h crticas quanto sua efetividade (SILVA; SCHNETZLER, 2005; ODA;
BEJARANO, 2007).
A referncia ao estgio probatrio, indicada por alguns docentes, neste estudo, no foi observada
na literatura especializada, mas se poderia apontar para os mesmos problemas observados por Delizoicov
(2010) e Bazzo (2007) em relao ao PEDG da CAPES. Conforme se informou anteriormente (Cap. 1),
ainda que precise ser melhor avaliado, neste programa, orientador e estagirio, vivendo suas
experincias primeiras, estariam pouco preparados para um distanciamento crtico em relao s suas
prticas. J a segunda autora referida afirma que esta experincia, com raras excees, no tem
possibilitado grande contribuio no sentido de trazer alguma inovao ou oxigenao na docncia
universitria.
O espao da ps-graduao, indicado na LDB e mencionado por grande parte dos docentes aqui
investigados, no citado por docentes participantes de outros estudos. Embora grande parte das
referncias feitas pelos participantes desta pesquisa tenha apontado os cursos de ps-graduao (38,5%),
h nestes, um privilgio da formao para a pesquisa cientfica, em detrimento da pedaggica. J em
relao queles destinados aos ps-graduandos no campo da Educao, referidos por outros docentes
(19,2%) na presente investigao, segundo Cunha (2009), parecem constituir espaos que, muitas vezes,
garantem uma formao adequada para o magistrio superior.
Ainda que para muitos a constituio para a docncia ocorra no dia-a-dia em sala de aula, grande
parte dos docentes aqui investigados declararam-se parcialmente insatisfeitos com sua prpria formao
pedaggica, reconhecendo, em consequncia, a necessidade de aperfeio-la.
O reconhecimento desta necessidade, entretanto, tem seus limites. Muitos dos participantes da
presente investigao consideram, por exemplo, vocao e entusiasmo to ou mais importantes do que os
processos formais de aprendizagem para a docncia. Analogamente, Veiga et al. (2004) observaram,
entre os docentes, o desejo por programas de formao continuada voltados a lhes dar nimo,
223
informao interpretada pelas autoras como estratgia para superar o cenrio pessimista em que se
encontravam imersos.
Alm destes elementos, os participantes do presente estudo, compreendem que o preparo para o
exerccio das atividades docentes deva pautar-se, sobretudo, pelo domnio e atualizao dos contedos.
Nas universidades portuguesas, 90,0% dos docentes universitrios afirma a necessidade de formao
pedaggica, mas compreendem que ela deva ser facultativa (AMANTE, 1999). O autor deste estudo
atribui este paradoxo, entre necessria e facultativa, diferena, apontada por Grawitz (1976), entre
opinio e atitude. O estudo indica ainda que a formao almejada por estes docentes seria composta por
mtodos e tcnicas de ensino, planejamento e motivao, a partir de seminrios, workshops e encontros
setoriais, nos quais bastaria a simples frequncia, para garantir a efetividade do processo formativo.
Os docentes participantes do estudo de Veiga et al. (2004) tambm expressaram opinio similar,
compreendendo formao continuada como cursos, eventos e procedimentos que se realizariam mediante
afastamento do local de trabalho. As autoras afirmam que, em tal viso, a universidade no estaria sendo
percebida como lcus destes processos. No estudo conduzido por Ferraz et al. (2003), entretanto, os
docentes universitrios, ligados licenciatura em qumica, atriburam aos aspectos didticos um papel
irrelevante na formao de professores, posio que os autores interpretaram como fruto de
desconhecimento dos saberes do campo pedaggico.
Esta leitura corroborada pelos achados do estudo de Amante (1999). Este pesquisador observou
que os docentes com formao pedaggica recebiam e valorizavam mais os saberes educacionais, ao
contrrio dos que a no possuam. O autor refere-se a este fato como um obstculo epistemolgico
60
,
noo equivalente de situao-limite, empregada neste estudo.
Tal situao-limite, ao obstaculizar uma percepo mais aprofundada sobre a formao
pedaggica, leva os docentes a supervalorizar outros elementos, como as habilidades para a
experimentao, em detrimento das mais diretamente relacionadas aos processos de ensino-aprendizagem
na educao superior, primazia corroborada pelos dados de outros estudos, como os de Bazzo (2007), por
exemplo. Os contedos especficos da disciplina so igualmente relevantes para alguns dos participantes
da pesquisa, assim como para os participantes da pesquisa efetuada por Veiga et al. (2004) e para os
alunos matriculados em uma disciplina pedaggica numa ps-graduao em qumica, investigados por
Zanon et al. (2007).
Essa compreenso, associada a uma conscincia real efetiva representa uma situao-limite, e
alicera-se na identificao com a prtica de outros docentes, considerados pelos profissionais que
compartilham desta viso, como modelos de docncia. Conforme argumentado, estes se caracterizam por
60
Conceito desenvolvido pelo epistemlogo Gaston Bachelard e referido por Gomes e Oliveira (2007), como
acomodaes ao que j se conhece, podendo ser entendidos como antirrupturas. O conhecimento comum seria um
obstculo ao conhecimento cientfico, pois este um pensamento abstrato. (p. 97)
224
prticas tradicionais, bancrias. O modelo imitativo descrito por Tullio (1995) por sua nfase
transmissiva e pela didtica baseada no empirismo e na imitao. Para Veiga et al. (2004), esta
compreenso conduz lgica do aprendizado por imitao estando este, por sua vez, implcito na ideia de
que o aprendizado se faz na atividade cotidiana da docncia, sem a necessidade de um distanciamento
crtico que possibilite sua anlise e transformao.
Esta influncia da prtica de docentes mais experientes na dos mais novos observada, de modo
distinto, entre docentes universitrios da rea de ensino de qumica, participantes do estudo de Silva e
Schnetzler (2005), havendo nestes uma reflexo crtica que extrapola a simples imitao de modelos.
Deste modo, a conotao negativa, expressa pelos docentes na presente investigao, sobre
profissionais cuja atuao sugere descompromisso e tratamento desumano com discentes, ao invs de
representar uma viso crtica sobre a prtica, pode simplesmente configurar a reproduo dos valores de
seus modelos.
Alm da compreenso limitada dos saberes do campo educacional, podem-se considerar outros
fatores na caracterizao desta conscincia real efetiva, como o estgio de desenvolvimento profissional destes
docentes, alm daqueles inerentes s etapas de desenvolvimento psicossocial destes indivduos.
Na investigao realizada por Veiga et al. (2004), as autoras observaram correlaes entre o
estgio de desenvolvimento profissional dos docentes e seus nveis de conscincia afirmando que por
estarem em transio entre as faixas de estabilizao e diversificao de Huberman (1989), no
colocariam a opo pela docncia em questo. Ao invs disso, questionam as condies institucionais de
trabalho.
Para alguns dos participantes da presente investigao poder-se-ia atribuir, em parte, as limitaes
na compreenso dos processos formais, especificamente, e dos saberes do campo educacional, de um
modo geral, escolha contingente feita por estes. Neste caso, podem-se referir indivduos para os quais a
docncia condio para atuarem como pesquisadores (caso de Rodrigo e Neide, por exemplo), alm
daqueles profissionais liberais que consideraram a docncia uma opo secundria (caso de Pricles,
mdico com mais de 30 anos de profisso e que, apesar disso, no possui qualquer ps-graduao).
Esta situao-limite, relacionada ao pouco contato com os saberes do campo educacional pode
vincular-se tambm a caractersticas da fase da vida destes docentes, considerando o esquema proposto
por Mosqura (1987). No referido esquema, o desejo por valorao pessoal e pela avaliao positiva dos
colegas, prprios da adultez jovem (caso de Suely, Neide, ngelo e Rodrigo) pode reforar a influncia
dos outros, dos modelos de docncia que pautam seu comportamento, ainda heternomo.
Prpria tambm do nvel II de desenvolvimento profissional de Riegel (1979), nesta configurao
os docentes, ainda iniciantes (como ngelo, Rodrigo e Neide), j possuem a experincia do magistrio
225
superior, mas compreendem com superficialidade os saberes da profisso, mais seguindo do que
propondo suas orientaes paradigmticas.
A adoo deste esquema no oferece subsdios para apreenso do porque alguns dos docentes
participantes deste estudo, que no esto no incio de suas carreiras e que deveriam, portanto, dominar
uma orientao paradigmtica, de modo mais elaborado (caso de Pricles e Marcela), ainda possuem
limitaes na compreenso dos saberes educacionais. O modelo hubermaniano, entretanto, poderia
atribuir este subdesenvolvimento profissional a escolhas contingentes feitas por estes docentes.
Nestes casos, nada indica que estes estariam dispostos ou interessados em processos para superar
tais limitaes, diferentemente dos anteriores, em que a uma compreenso pouco esclarecida sobre os
saberes educacionais deve-se ao pouco tempo de experincia profissional. Apesar disso, a busca pela
adeso a processos de formao continuada no poderia ser tentada, pela instituio ou por especialistas, a
partir da alegao desta compreenso limitada sobre os saberes educacionais, que sequer pode ser
percebida por estes sujeitos. Ao propor aos docentes aes idealizadas exclusivamente a partir de
problemas detectados, em suas prticas, por especialistas, de modo antidialgico, estar-se-ia incorrendo
no erro da devoluo da temtica significativa como contedo programtico, propondo representaes
de realidades estranhas aos indivduos (FREIRE, 1979a).
Pelo contrrio, os dados deste estudo sobre as concepes dos docentes podem auxiliar na
deteco de problemas percebidos no apenas por especialistas, mas tambm pelos prprios docentes, os
quais, uma vez diagnosticados, poderiam ser atacados a partir dos saberes do campo educacional. Neste
sentido, a indicao de que estes sujeitos consideram necessria a formao pedaggica, assentada sobre
o domnio e atualizao dos contedos poderia constituir-se em uma abertura para reflexes acerca da
natureza do conhecimento relacionadas, especificamente, aos temas abordados no cotidiano profissional.
5.4.1. Tempo de docncia e carga de trabalho nas disciplinas ministradas
Esta etapa da anlise objetiva explorar informaes sobre o regime de trabalho dos participantes
da pesquisa. Mais da metade destes (53,8%) trabalha sob Dedicao Exclusiva, enquanto os demais em
regimes de 20 horas (23,1%) e 40 horas (23,1%). A experincia com o magistrio em nvel superior
varivel, oscilando entre um e 33 anos de docncia universitria (mdia de 14,7 anos, n=26, Fig. 5.3).
Em relao s atividades de ensino na graduao, estes docentes lecionam em cursos das reas
das Cincias Biolgicas e da Sade, sendo Medicina, Odontologia e Cincias Biolgicas (tanto
Licenciatura quanto Bacharelado) os cursos em que um maior nmero de docentes desenvolve suas
atividades de ensino (Fig. 5.4).
226
Figura 5.3 Tempo de docncia em nvel superior entre os participantes da pesquisa.
A carga horria mdia de trabalho que cada docente despende com atividades de ensino em sala
de aula, nos cursos de graduao, de 115,8 horas/aula por semestre, equivalendo a cerca de 7,72
horas/aula por semana.
Figura 5.4 Distribuio dos docentes participantes da pesquisa pelos cursos em que lecionam.
Exceto na instituio B, onde cada docente ministra aulas de sua disciplina para um curso, nas
demais, os professores lecionam para mais de um curso e, em alguns casos, a diviso envolve tpicos do
contedo de cada disciplina que mais se aproximam da rea de formao especfica de cada um deles.
Assim, na instituio D, Neide ministra, para vrios cursos, quase exclusivamente, contedos referentes a
bactrias gram-negativas, tema de sua especialidade. ngelo relata que a diviso dos tpicos busca
atender a estas afinidades conteudsticas. Neste caso, cada docente ministra apenas este contedo (ou
bloco de contedos) para todos os cursos da instituio que contm a disciplina em questo. Noutros
casos, como da instituio C, professores de Parasitologia ministram todo o contedo programtico para
um curso, a cada semestre. Assim, no cmputo geral, a diviso desigual entre eles.
Outro importante indicador da carga de trabalho com atividades de ensino o nmero de alunos por
docente a cada semestre, em mdia 115 alunos, distribudos em 2,15 turmas.
0
10
20
30
40
50
60
70
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4
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7
8
9
10
0-5 6-10 11-15 16-20 21-25 26-30 >30
Anos
227
Analisando a relao entre os cursos em que desenvolvem suas atividades e sua prpria formao
especfica, identificaram-se as seguintes caractersticas: de modo geral, possuem formao nas reas de
Cincias Biolgicas, Biomedicina e Sade, ministrando aulas para cursos nestas mesmas reas, havendo
livre trnsito entre as reas. A nica exceo, nestas instituies, Rodrigo, agrnomo, que ministra aulas
para o curso de Odontologia.
No caso dos professores de instituies de outras regies, como Luana e os professores X e Y,
percebem-se os mesmos padres, ou seja, docentes das reas de Cincias Biolgicas, Biomedicina e
Sade, ministrando aulas para cursos nestas reas, indistintamente. Ainda que na literatura em educao
em sade no se tenham observado queixas sobre inadequao dos contedos das disciplinas, no caso da
Parasitologia, da Microbiologia e da Micologia, aqui analisadas, h um predomnio dos contedos da rea
mdica, ligados s doenas humanas nos currculos dos cursos de Cincias Biolgicas.
Tal predomnio, como foi exposto ao longo do Captulo 3, tem razes na histria de constituio
destas reas do conhecimento. O estabelecimento de relaes entre microrganismos e doenas humanas,
durante o sculo XIX, no somente chamou a ateno de profissionais da rea de sade, mas, tambm
tornou os conhecimentos oriundos deste novo Paradigma da Microbiologia o pensamento hegemnico
neste perodo. Observou-se tambm que estas concepes biologicistas e higienistas so frequentes ainda
hoje no ensino destas disciplinas. Deste modo, o perfil de seus docentes, geralmente oriundos das reas de
sade e biologia, ligados investigao cientfica em microrganismos causadores de doenas humanas,
atende aos requisitos historicamente constitudos neste coletivo, quer sejam estes profissionais da rea de
sade, quer de biologia.
Em relao carga horria, houve grande variao. Enquanto alguns declararam lecionar 2 horas
por semana, enquanto outros afirmaram lecionar 22 horas semanais. Buscando compreender tal variao,
correlacionou-se este elemento com o tempo de experincia na docncia, dos participantes da pesquisa, j
que constitui queixa comum, entre os professores mais novos e ainda em estgio probatrio, uma
sobrecarga de atividades de ensino, que lhes seria imposta pelos mais experientes.
A representao grfica desta correlao (Fig. 5.5) aponta, ao contrrio, para uma ligeira diferena
em favor dos docentes mais novos e, portanto a hiptese inicial no foi comprovada. Em outros termos, os
novatos foram aquinhoados com menor carga horria quando comparada com a dos mais experientes,
ainda que o valor do coeficiente desta correlao (0,1646) obtido a partir de regresso linear, seja reduzido.
Ainda sobre esta anlise, na literatura especializada, poucos estudos investigaram esta relao, na
perspectiva de verificar a hiptese de que seja atribuda uma maior carga horria em sala de aula para
docentes com menor tempo de atividade, pelos mais experientes. Como se pode perceber, tal hiptese
no foi corroborada nem mesmo pelos dados desta investigao.
228
Em outros estudos, foi possvel verificar maior carga horria para professores substitutos
(PITTHAN, 2010), que revelaram cargas horrias de at 60 horas semanais. Implica ainda em condio
para maior carga horria a menor titulao (BACHION, 2005). Para a autora, estes ltimos, podem
assumir maior carga horria por sentirem-se inseguros em relao carreira e manuteno do emprego.
Quanto diviso de trabalho, verificou-se a inexistncia de uma atividade mais coletiva entre
eles, havendo, pelo contrrio, um padro individual. At mesmo quando uma nica disciplina
ministrada por distintos docentes, no parece haver interao entre os responsveis por cada fragmento do
programa, ainda que alguns destes considerem tal diviso como trabalho coletivo.
Figura 5.5 Relao entre a carga horria de aulas e o tempo de exerccio do magistrio superior
dos participantes da pesquisa.
Questionados sobre o modo como realizavam o planejamento das atividades de ensino, mais da
metade dos participantes (57,7%) afirmou que o faz coletivamente e que todos os aspectos relativos ao
contedo, calendrio e diviso das turmas so discutidos pelos professores da disciplina, exaustivamente.
Cerca de um tero (38,5%) dos docentes assinalou a alternativa que dizia que esta tarefa se realiza
individualmente, ainda que algumas decises, como a diviso de carga horria, do contedo e das turmas,
o sejam em conjunto e uma minoria (7,6%) afirmou que planeja as atividades de forma individual.
Ainda que estes dados quantitativos apontem para uma maioria de docentes que declara realizar
tais atividades de modo coletivo, ao cruzar as respostas fornecidas por docentes de uma mesma rea que
atuam na mesma instituio, percebem-se algumas contradies dentro destes grupos. Houve casos em
que colegas, que na opinio de alguns professores com os quais estariam planejando coletivamente as
atividades, afirmaram, ao contrrio, planejar individualmente.
No se excluindo a hiptese da informao inconsistente, pode-se tambm supor que o docente
possa planejar suas atividades dentro de outro coletivo, como o colegiado do curso para o qual leciona.
Tal hiptese reforada pelo fato de alguns cursos (como Enfermagem das instituies B e C) serem
ministrados em faculdades ou centros geograficamente distantes do campus principal da instituio.
0
50
100
150
200
250
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo de docncia (anos)
C
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g
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h
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r
r
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d
o
c
e
n
t
e
229
Apesar disso, os dados oriundos das entrevistas, mostram que, com raras excees, h aspectos
problemticos, em relao s concepes de trabalho coletivo. A discusso exaustiva da questo
assinalada pela maioria, parece resumir-se, no depoimento de muitos dos participantes, tanto dos tradicionais
quanto dos diferenciados, a meras questes burocrticas. Por hora, tal discusso ser postergada.
A tarefa de elaborao dos planos de ensino constitui-se individualmente, ainda que para quase
todos (com exceo de Luana) o planejamento das atividades seja pretensa e verbalmente coletivo. No
obstante, trata-se de mera diviso dos contedos entre os docentes:
A gente decide em grupo a questo de como vai dar aula, o contedo. s vezes a gente
consegue coincidir contedos dos professores. T vendo sistema respiratrio, t vendo
tal coisa ngelo, entra, entra agora porque a gente t falando de alvolo, a os
parasitas que passam pelo alvolo no sei o qu (ngelo)...
Nas outras (disciplinas), que eu divido com a outra professora, eu fao e depois a gente
senta e v se tem que organizar (Marcela).
Alguns docentes, afirmaram que no gostam nem mesmo deste modo limitado de compartilhar o
trabalho:
Eu, particularmente, no gosto muito desse sistema. Eu gosto quando um professor tem uma
turma para si. Porque que eu acho isso? Porque as minhas experincias fora da (instituio C),
como professor, mostram que, ao longo do tempo, a gente vai adquirindo um contato ntimo, com
a turma, vai conhecendo cada aluno. E a gente vai controlando melhor a turma, a gente vai
sabendo mais ou menos como que fala (Rodrigo).
Outra dentre os docentes, ao contrrio, mais do que a adeso ao carter intrinsecamente
disciplinar destes contedos, preferiria um nvel ainda maior de especializao e, de modo oposto a
Rodrigo, afirma gostar deste modelo:
Bom, aqui na (instituio D) voc tem uma diviso, dentro da microbiologia voc tem itens que
voc gosta, n, de ministrar e outros no. Ento eu gosto mais de gram-negativa, porque, afinal
de contas, foi o meu mestrado, meu doutorado foi em gram-negativas ento eu tenho mais
afinidade (Neide).
Nesta compreenso de trabalho coletivo, a docente diz que cada um faz individualmente o
planejamento do curso pelo que est responsvel, mas depois tem que passar pra outro, por isso que
coletivo (Neide). Outra concepo menos limitada de planejamento coletivo expressa por outra docente:
Nas reunies pedaggicas a gente procura discutir os pontos negativos pra ver o que cada um
pode contribuir. Ento quando tm essas reunies, cada professor, ele contribui com ideias.
Ento essas ideias elas vo ajudando e a gente ajuda outros professores a na hora do
planejamento, mudar algumas estratgias dentro do ensino. Ento nessa questo a da pra se
fazer de forma conjunta (Suely, referindo-se ao trabalho numa faculdade particular).
Ao ser incentivada a falar sobre as tais reunies pedaggicas e o planejamento, a docente revela
que, na prtica, ao menos no momento atual, estas reunies envolvem somente ela e outro colega, que
ministra disciplina distinta:
Na (particular) essa parte de interao nas reunies pedaggicas assim. S eu dou Micro
Bsica pra todas as turmas, porque s so duas. Eu e um outro professor, dando Histologia. A
ele d na manh e ele d noite (Suely).
230
Revela ainda alguns limites em sua compreenso. Refere-se a trabalho coletivo como uma prtica
de transmisso-recepo, processo em que, sendo mais experiente, posiciona-se como uma docente
tradicional, adotando prticas antidialgicas. Adicionalmente, sugere que, na realidade, poucas diferenas
existem entre seu plano de ensino e o de seu colega:
Ento como eu sou mais experiente que ele, ele sempre pede minha ajuda. Ento s vezes eu fao
o plano, monto, converso com ele olha, vamos mudar isso. Ento ele aceita porque ele
menos experiente. A eu passo o plano pra ele, ele muda l o nome dele e tal, ajeita as coisas e a
gente entrega os planos mais ou menos igual, entendeu? Ento as atividades que eu fao ele
procura seguir, at ao mesmo tempo pra dar certinho. (Suely).
H, entretanto, concepes e prticas distintas. Luana, assim como em outros aspectos, expressa
uma compreenso mais elaborada, tanto de planejamento didtico, quanto de trabalho coletivo. Embora
hoje viva situao distinta, um pouco mais afastada do meio acadmico devido sua aposentadoria,
afirma que, quando ativa, sempre planejava as atividades em grupo, concepo que se estendia tambm
s prticas:
Quando era docente no aposentada, a gente sempre fazia o planejamento em grupo. Fazamos
parte de um grupo didtico que era responsvel pela disciplina. Planejamos tudo junto e a gente
tava presente, o grupo inteiro no curso inteiro. Ento eu tocava a disciplina inteira com
determinado grupo, vamos supor so sessenta alunos, trs docentes, cada grupo tocava vinte
alunos. Ficava responsvel por vinte alunos que eram... lgico que a gente tava sempre
trocando, era um curso que era planejado sempre (Luana).
E, referindo-se a estas atividades, critica a concepo hegemnica de planejamento enquanto
prtica coletiva: ento no era uma mera distribuio de tarefas entre os docentes voc d essa aula
que eu... No! (Luana).
Atribui esta prtica coletiva iniciativa de um docente, em especial:
Ele ia fazer curso sobre a tcnica e depois aplicava em sala de aula e ns, como componentes do
grupo. Depois de cada aula terica, por exemplo, que a gente dava, a gente se reunia pra
comentar, pra saber e ele assistia a todos as aulas que a gente dava, ento eu realmente tive uma
sorte de ter um processo coletivo de formao para a docncia (Luana).
Afirma que, entretanto, as coisas mudaram, tanto em funo de sua aposentadoria, quanto por
causa do fim do grupo, mas, ainda assim, procura compartilhar as decises com o coordenador do curso:
Isso no existe mais, n? Nem existem mais os grupos. Agora eu dou algumas aulas em
algumas disciplinas, ai eu planejo a aula que eu vou dar, junto com o coordenador pra
tentar inserir ela no contexto da disciplina. (Luana)
Alm destas questes, referentes diviso de trabalho, percebem-se ainda grandes discrepncias
entre carga horria e nmero de alunos por docente nas distintas instituies e, ainda, em menor grau,
dentro destas tambm. Enquanto alguns ministram aulas em condies privilegiadas, lecionando para
uma turma, com reduzidos carga horria e nmero de alunos, outros, raros, ao contrrio, possuem carga
de trabalho excessiva.
No geral, professores com reduzida carga horria de trabalho em sala de aula, na graduao,
possuem atividades adicionais que justificam tal reduo, como cargos de chefia, regime de trabalho de
231
20 horas em funo do exerccio de outras atividades profissionais, atribuio de maior carga horria com
atividades de pesquisa, ps-graduao e volumosa produo cientfica. Constituem exceo os docentes
da instituio B, que, em sua maioria, possuem cargas horrias reduzidas nestas disciplinas, sendo
contratados em regime de tempo integral. Com efeito, no declararam, nem a partir dos instrumentos,
nem em seus currculos Lattes, realizar qualquer outra atividade acadmica.
Em relao carga horria em sala de aula, diversos estudos identificaram, entre os docentes,
uma percepo de sobrecarga no desenvolvimento destas atividades, ainda que poucos, como Santos
(2009), ofeream dados que caracterizam, de fato, uma sobrecarga. A referida investigao de uma
realidade restrita envolve estudo de caso com docentes universitrios de biologia na Universidade Federal
de Gois (UFG). Os demais estudos apontam a sobrecarga somente enquanto uma percepo docente,
sem avaliar quantitativamente as reais condies de trabalho.
Cruz e Lemos (2005) atribuem a sensao de sobrecarga falta de reconhecimento profissional,
que gera desgaste fsico e psicolgico, em funo da repercusso negativa das responsabilidades exigidas no
exerccio da funo. J Porto et al. (2006) apontam que em casos de sobrecarga, a hipersolicitao das
funes psicofisiolgicas, desencadeia sintomas de estresse. Queixas desta natureza praticamente no foram
identificadas na presente investigao, contudo, houve uma anloga, ligada, entretanto a exigncias por
produtividade. Para o docente em questo a cobrana implacvel, uma vez que nunca t bom, nunca t
bom, por mais que a gente produza... (professor X).
Alm disso, a mdia da carga horria semanal dos docentes participantes da pesquisa em atividades
exclusivas em sala aula foi inferior a 8 h. Dentre os docentes com mais atividades desta natureza, para
apenas trs a carga horria superou 10 h/aula semanais e um declarou exercer mais de 20 h semanais de
atividade em sala de aula. Deste modo, a carga de trabalho, ao menos em relao s atividades de ensino em
sala de aula nas disciplinas de Parasitologia, Microbiologia e/ou Micologia em cursos de graduao, se por
um lado no baixa, no parece, por outro, excessiva.
Embora no represente bom parmetro de comparao, por ter sido realizado em instituio
particular, espao no qual o volume de trabalho costuma ser maior, o estudo de Franco et al. (2007),
apresenta realidade similar, em termos de trabalho em sala de aula. Nesta pesquisa, a carga horria
semanal de cada docente variou de quatro a 25 aulas (enquanto no presente estudo, de dois a 22), sendo
que trs dos participantes deste estudo lecionaram mais de 20 h/aula semanais (um dentre os participantes
da presente pesquisa).
A julgar por estas inferncias, a desvalorizao do ensino de graduao, indicada por Bazzo
(2007) pode ter, no caso do presente estudo, ainda outros elementos. Um deles, como referido, diz
respeito predileo de alguns docentes pela pesquisa, caso de Rodrigo e Neide. Esta desvalorizao
atribuda pela autora, por um lado, influncia das polticas neoliberais no estado brasileiro, reduzindo o
232
quadro docente (situao que pode, como se registrou, ter sido alterada no perodo aqui investigado) e
expandindo o contingente universitrio e, por outro, presso sobre a pesquisa e a ps graduao.
Alm destes elementos, vale referir, o envolvimento dos docentes com atividades administrativas,
como chefias, coordenaes e representaes em colegiados (que no constituram elemento de anlise
nesta investigao), atividades de pesquisa, extenso e tambm atividades em outras instituies, como
faculdades particulares, por exemplo.
o caso de trs dos participantes desta pesquisa, que afirmaram lecionar tambm em instituies
particulares e uma delas em mais de uma instituio particular, alm da pblica. Ao produzir sobrecarga
de trabalho docente, as atividades adicionais podem afetar seu desempenho nas atividades de ensino.
Outros trs docentes ainda, apesar de no declararem lecionar em outras instituies ministram aulas de
disciplinas em distintas reas do conhecimento, sendo que uma entre estes declarou lecionar disciplinas
de quatro reas do conhecimento, esforo que, como refere Pitthan (2010), acarreta sobrecarga
intelectual, ao exigir o domnio de conhecimentos especficos em diversas reas alm de demandar
atividades extraclasse. A autora comenta tambm o estudo de Bachion et al. (2005), que evidenciam
docentes atuando em trs ou quatro reas distintas e, deste modo, apresentando maior vulnerabilidade ao
estresse do que os demais.
Em relao ao nmero de alunos por docente, buscou-se, inicialmente, comparar estes dados com
algumas informaes disponibilizadas pelo Censo da Educao Superior de 2007 (BRASIL, 2008). Neste
documento consta que havia, neste perodo, nas instituies pblicas, 17,1 funes docentes/aluno.
Estabelecendo-se alguma comparao com estes dados, caso os 115 alunos por docente relativos aos
participantes da pesquisa, estivessem cursando um mximo de seis disciplinas neste semestre
(considerando as grades curriculares analisadas, um nmero superior parece improvvel), a relao
funo docente/aluno seria equivalente a 19,2, sugerindo um aumento desta no perodo em que se
realizou este estudo.
Ainda que no se tenham encontrado outros estudos envolvendo a problemtica da quantidade de
alunos no ensino superior, acredita-se que 115, em mdia, por docente, constituam quantidade excessiva,
caso o docente busque, em sua atividade, um processo mais interativo e um conhecimento mais
pormenorizado acerca do contexto de vida de seus alunos.
De qualquer modo, no se sugere aqui, que os participantes da pesquisa tenham tal preocupao
e, da mesma forma, esta no uma caracterstica do ensino praticado, em geral, no ensino de
Parasitologia e Microbiologia.
Outra caracterstica apontada na constituio destes sujeitos e que merece ateno, diz respeito ao
tempo de docncia em nvel superior. Em relao a este elemento, digna de meno a amplitude
observada neste estudo (1 a 33 anos), que expe a heterogeneidade da amostra no tocante vivncia
233
destes profissionais no magistrio em nvel superior. Esta grande amplitude, indicada tambm em outros
estudos, parece comum entre estes profissionais, sendo equivalente observada por Tullio (1995), entre
professores da tradicional Escola Superior de Agricultura Luis de Queirz ESALQ, da USP (2 A 35
anos), e ligeiramente mais ampla se comparada ao estudo de Veiga et al (2004), cuja amostra variou, em
relao ao tempo de docncia, entre sete a 25 anos de experincia.
No tocante a esta dimenso, a realidade aqui investigada demonstra certa similaridade entre o
incio da carreira docente e a faixa etria do nvel II (incio da carreira), proposto no modelo riegeliano,
anteriormente referido, que ocorre, segundo o autor, entre os 25 e os 35 anos. Na presente investigao, a
idade de ingresso na carreira de docente universitrio ocorreu em mdia, aos 31, variando de 21 a 42
anos. Trs dos participantes da pesquisa ingressaram na docncia universitria antes dos 25 anos de idade
(a mais nova entre os docentes ingressou aos 21 anos).
No outro extremo, observam-se sete docentes que ingressaram nesta carreira aps os 35 anos de
idade (o mais velho tinha 42 anos). Tal situao se complexifica quando da anlise, porque o docente
pode estar numa fase quanto ao desenvolvimento profissional e em outra quanto ao desenvolvimento
psicolgico. Em outras palavras, ao invs de estar na subfase da adultez jovem plena, como a maioria de
seus colegas iniciantes na carreira, o indivduo encontra-se na adultez mdia inicial. Portanto, ao invs de
estarem tomando conscincia da chegada na fase adulta e, deste modo, mais abertos a uma orientao
paradigmtica inicial, podem, ao contrrio, estar menos receptivos para este aprendizado, menos
exploradores deste novo ambiente, estabelecendo certo conservadorismo precocemente. No caso dos
participantes desta pesquisa, parece ser o caso de Rodrigo, o nico entre os iniciantes cujo perfil esteve
mais prximo dos tradicionais.
Esta entrada tardia na docncia universitria, entre outras questes, pode ter relao com a
precariedade do servio pblico brasileiro ou, mais precisamente, com a falta de vagas decorrente de
polticas neoliberais adotadas pelo estado brasileiro, voltadas para o enxugamento do quadro de
funcionrios.
Questo que atesta a primazia da dimenso econmica na constituio da conscincia, no caso
(GOLDMAN, 1972), a limitao na oferta de emprego levando a uma entrada tardia de alguns indivduos
na docncia universitria e, portanto, interferindo na constituio de suas crenas, no desenvolvimento de
suas concepes educacionais.
Evidentemente, no se trata exatamente dos oprimidos a que se refere Goldman (1972), baseado
no iderio marxista. Mencionaram-se aqui indivduos que concluram um curso universitrio e que,
portanto, devem desfrutar das condies mnimas de nutrio e vesturio. Deste modo, ainda que, no
passado, tenham sido penalizados com a falta de emprego nas reas onde desejavam atuar, deveriam
dispor de outras possibilidades.
234
Assim, com a referida falta de vagas, muitos destes sujeitos, j adultos e, como indicado, tendo
concludo um curso universitrio, desenvolveram outros tipos de atividade remunerada, como por
exemplo, a docncia em outros nveis de ensino, ou mesmo como bolsistas pesquisadores em projetos de
pesquisa.
Outra inferncia em relao ao tempo de magistrio superior dos docentes participantes da pesquisa
diz respeito a uma caracterstica de sua disposio temporal no tocante a este critrio. Considerando uma
distribuio normal dos dados relativos a este critrio, na Figura 5.1 (p. 215), dois intervalos de frequncia
devem ser destacados: o quarto, na faixa entre 16 e 20 anos, representa o pice da curva sinoidal (prpria
deste tipo de distribuio), enquanto o primeiro, entre 0 e 5 anos, no se enquadra neste padro, sublevando-
se e interrompendo uma tendncia de decrscimo rumo extremidade anterior do grfico.
Um aspecto da poltica governamental, adotada pela administrao pblica federal na dcada de
1990, pode estar relacionado com o padro que ora se apresenta. O intervalo de frequncia com o maior
nmero de professores inclui aqueles que, provavelmente, foram contratados entre os anos de 1991 e
1994 (caso o perodo de atividade dos docentes seja contnuo), ou seja, antes que o Governo Federal
suspendesse as contrataes entre funcionrios pblicos federais, ocasionando reduo no quadro. Tal
diminuio, na primeira metade da dcada de 90 observada tambm no estudo de Tullio (1995).
Somente a partir de 2006, conforme aponta o grfico referido anteriormente (mostrando o nmero de
professores entre zero e cinco anos de docncia), que h uma tendncia de crescimento nas novas
contrataes e uma pequena recuperao no quadro destes campi. preciso considerar ainda o fato de
que dois destes, pertencentes a instituies federais, localizam-se em capitais, sendo que, neste perodo,
houve uma poltica federal de interiorizao das instituies de ensino, com a criao de 14 novas
universidades e 100 novos campi em municpios do interior, desde o ano de 2003 (BRASIL, 2010c), o
que pode ter contribudo para que a recuperao destas vagas nos campi destas capitais no fosse ainda
mais significativa.
Corroborando com o argumento de que a reduo registrada deveu-se a polticas de governos
anteriores, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA), publicado em 2011
(BRASIL, 2011a), a medida mais significativa de reduo do pessoal ativo nos governos de Fernando
Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, foi a conteno do nmero de ingressados por
concurso pblico e o aumento das aposentadorias em funo da expectativa de perdas salariais por parte
dos servidores, j que os planos de demisso voluntria (PDVs) fracassaram.
Segundo este estudo, no perodo compreendido entre 1991 e 2002, o estado brasileiro praticamente
no contratou servidores, reduzindo seu quadro, composto por cerca de 662 mil servidores no ano de 1994,
para pouco mais de 530 mil em 2002, um decrscimo de mais de 130 mil funcionrios, portanto.
235
Tratando agora do regime de trabalho, em relao com outros levantamentos envolvendo docentes
universitrios no Brasil, considera-se que a proporo em regime de tempo integral (40h ou DE) observada
entre os participantes desta pesquisa expressiva, representando cerca de dois teros (76,9%) do total. Alm
disso, tal proporo s no foi ainda maior porque uma das universidades (a instituio D) no possui um
quadro efetivo, trabalhando com contratos provisrios e tendo 85,7% de seus professores em regime de 20
horas.
Como referido, o regime de tempo integral caracteriza o docente das IPES no Brasil. Em outro estudo
envolvendo professores universitrios de IPES, por exemplo, 100,0% destes atuava em regime de tempo
integral (TULLIO, 1995). Mais do que isso, a dedicao exclusiva sempre foi um dos mais importantes
objetivos defendidos pelo movimento dos docentes universitrios ligados ao ANDES-SN, na luta pela
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extenso.
Segundo a Associao dos Professores da Universidade Federal do Paran (APUFPR), tal
objetivo foi atingido atravs de mobilizao nacional ou de negociaes entre professores universitrios
federais em greve e a administrao pblica federal, em 1987, durante o Governo Sarney. Por meio deste
processo, conquistaram a valorizao da dedicao exclusiva, com a gratificao de 40% sobre o
vencimento bsico, e o incentivo formao acadmica, com beneficio de 15% para docentes com
mestrado e 25% para os com doutorado (APUFPR, 2010).
Outro importante elemento frequentemente identificado - sobretudo na rea mdica (COSTA, 2009;
BATISTA; SOUZA da SILVA, 1998), mas tambm em outros campos, tais como o Ensino de Qumica
(VASCONCELOS, 2000) vai na contramo da dedicao exclusiva: o exerccio da docncia como
atividade secundria, que pode estar se estabelecendo por motivaes de ordem material como
complementao de renda [segundo BATISTA e SOUZA da SILVA (1998), alguns mdicos sequer
assumem-na como profisso], gerando ainda, conforme a definio hubermaniana, o mal-estar na atividade
docente.
Assumindo o pressuposto de Huberman (1989) de que tal mal-estar poderia estar sendo causado
por motivaes materiais, possvel avaliar que a atribuio de uma importncia secundria atividade
parece questo menos relevante no sentido de explicar os problemas em seu desenvolvimento
profissional; ou no indica, necessariamente, a falta de importncia, para o professor, desta atividade. Tais
problemas, segundo o autor, teriam mais relao, portanto, com exerccio da docncia motivado como
mera questo de ordem material, ligada complementao salarial.
Em relao a outras atividades prvias exercidas pelos participantes, detectaram-se ainda, as
associadas investigao cientfica, na condio de bolsista de pesquisa. o caso de Rodrigo, que
declarou exercer a docncia universitria, ao menos no incio da carreira, como uma escolha contingente.
Esta situao pode ser mais bem explicada com o apoio do modelo hubermaniano. Como relatado
anteriormente, Rodrigo no o nico caso de escolha contingente entre os docentes entrevistados, Neide
236
tambm declara identificar-se mais com as atividades de pesquisa. Em ambos os casos, como no caso dos
que atuaram, por contingncia, no magistrio da educao bsica, tais opes (ou a falta delas) tiveram
estreita relao com questes de ordem econmica, atestando novamente a primazia desta dimenso
sobre a constituio da conscincia.
De forma sinttica, poder-se-ia apontar como caractersticas preliminares das atividades de ensino
nestas reas (s quais sero adicionadas outras, adiante): a) diviso de trabalho desigual, em relao carga
horria, sobretudo entre instituies; b) carter individual do trabalho; c) carga de trabalho moderada, com a
exceo de alguns poucos indivduos, cuja sobrecarga parece estar relacionada a questes financeiras e/ou
opes pessoais; d) alta proporo de alunos por docente.
Em relao primeira destas caractersticas - a desigualdade de condies entre as instituies
tem-se pouco a falar, considerando que uma anlise das condies de oferta destes cursos, no constitui
objeto desta investigao. Assim, limita-se aqui a inferir que tais diferenas parecem comuns, levando-se
em conta a diversidade de condies regionais, estaduais e institucionais no ensino superior.
A segunda caracterstica, entretanto, central nesta tese e diz respeito a uma dimenso
fundamental na constituio da conscincia real efetiva dos participantes da pesquisa, qual seja, a
aprendizagem informal para a docncia, realizada com seus pares.
O individualismo que marca concepes e prticas docentes (marcou praticamente todas as
dimenses investigadas) referido por Tullio (1995), que destaca o planejamento individual como
caracterstico em sua investigao. O autor menciona, ainda, um movimento que, poca da realizao
do estudo, estava surgindo em sua instituio e que, ao invs de buscar um esforo coletivo de integrao,
pretendia estabelecer os limites de cada disciplina. Franco et al. (2007), do mesmo modo, observam
prticas individuais de planejamento das disciplinas entre docentes universitrios.
Apesar desta atuao individual dos docentes em suas disciplinas, importante lembrar que no h
conscincia do indivduo e que, portanto, esta tradio individualista do ensino superior, abordada por
Teixeira (2003), parte da conscincia real efetiva da docncia destes contedos. Tal modo de conceber e
praticar o ensino destas disciplinas fruto de um aprendizado que envolve a participao dos colegas de
trabalho, dos modelos de docncia, enfim, do perfil de docente que internalizaram, tanto como escolha, a
partir de relaes sociais ativas, quanto por contingncias, a partir de relaes sociais passivas.
Deste modo, no se trata de comportamento individual destes sujeitos, mas de um aprendizado que
ocorre na interao com um coletivo de docentes em que as prticas constituram-se historicamente, conforme
detalhado no Captulo 3, de modo a fixar esta maneira de proceder no processo constitutivo dos docentes.
Neste processo, foi ressaltado que, para o exerccio da atividade docente nas universidades, ao
menos desde o sculo XVIII, valorizam-se, de modo quase exclusivo, os conhecimentos e habilidades
profissionais, em detrimento daqueles de natureza pedaggica. Isto, sobretudo, desde a universidade
237
cientfica alem, principalmente entre docentes ligados s Cincias da Natureza. Por isso, ainda que se
possa falar em individualismo ao abordar certas dimenses da atividade docente, o mesmo no ocorre em
outras, como a investigao cientfica. Assim, estes mesmos docentes, que no discutem ou interagem ao
planejarem e executarem suas atividades de ensino, conforme informam seus currculos, participam de
discusses coletivas em reunies, simpsios e congressos cientficos, submetem suas publicaes para
avaliao dos pares e; at mesmo ao desenvolverem as atividades experimentais que originaram suas
publicaes, devem atuar coletivamente junto a tcnicos, estudantes e outros docentes da rea. Tais
atividades j caracterizavam o docente universitrio no perodo citado anteriormente.
Conforme referncia anterior, um dos idealizadores deste modelo alemo, Schleiermacher,
afirmava que o estudante universitrio deveria dedicar-se investigao de um aspecto em particular e
ainda que Humboldt, outro dos idealizadores deste modelo, preconizasse a juno das atividades
acadmicas (investigao) e universitrias (docncia) (TOBIAS, 1969), tal articulao acabou
privilegiando a primeira, em detrimento da segunda.
Se por um lado, os docentes agem de modo crtico e reflexivo em atividades relativas
investigao em Parasitologia e Microbiologia, ao atuarem nas atividades docentes procedem como em
relao a outras atividades humanas cotidianas, para as quais, normalmente, as pessoas no dedicam, de
modo geral, o mesmo nvel de exigncia e criticidade.
Neste sentido, digna de meno a reflexo de Leal (2005). Para esta pesquisadora o ato de
planejar prprio da constituio do pensar humano e integra as mais simples e corriqueiras aes
humanas e assim, envolve um procedimento corriqueiro, para o qual no se recorre a um instrumental
tcnico que o norteie.
Apesar disso, a autora chama a ateno para o fato de que a ausncia de um planejamento mais
elaborado pode configurar certa automao, certa robotizao dos indivduos, afirmando que:
Nessa circunstncia, parece estar presente a alienao do homem como sujeito, na medida em
que assume a atitude de dominado, fazedor dcil e outras tantas denominaes que podem ser
imprimidas no sujeito, quando este se torna objeto nas mos de outrem (LEAL, 2005, p. 1).
Esta ausncia de uma postura crtica , entretanto, na proposta da sociognese fleckiana,
caracterstica da introduo dos indivduos em determinada rea de trabalho, processo que,
segundo esta viso, possui um carter mais doutrinrio do que crtico. Observou-se ainda, que tal
postura favorece a persistncia e a estabilizao de ideias e prticas.
Por outro lado, nesta viso sociogentica, h um elemento que atua em sentido oposto,
favorecendo a mudana: a circulao intercoletiva de ideias. Deste modo, possvel que uma
maior aproximao com outro coletivo, em que se valorize a atividade docente realizada
coletivamente, contribua para, ao menos, tencionar no sentido de produzir mudanas neste
proceder individual, frequente no ensino destas disciplinas. No entanto, conforme destaca o
238
epistemlogo (FLECK, 2010), fundamental para uma transformao de EP, que haja a
conscincia de um problema ainda no resolvido, ou seja, uma complicao no coletivo que
compartilha o EP, associada circulao intercoletiva de ideias. Da a nfase, no presente
estudo, em investigar as possveis limitaes que os prprios docentes apontam relativamente
sua atuao docente.
A valorizao de atividades coletivas na formao docente relatada em alguns estudos
envolvendo professores universitrios da rea educacional. Veiga et al. (2008), por exemplo, ao
investigar a formao para o magistrio em disciplinas pedaggicas de cursos de ps-graduao strictu
sensu, observaram o constante incentivo ao trabalho pedaggico coletivo. Em outra atividade de
formao pedaggica, referido anteriormente, o PECD, da UNICAMP, Pachane (2003) percebe o
incentivo ao trabalho coletivo, percebido por ela como uma dimenso normalmente negligenciada na
docncia universitria. Avaliando o que chamam de formao profissional ampliada para alm dos
saberes especficos, outros autores salientam que:
preciso demonstrar capacidade de trabalhar solidrio, em grupo, com autonomia e auto-
organizao, para tomar decises, bem como se responsabilizar pelas opes feitas. preciso
tambm que saiba avaliar criticamente sua prpria atuao e o contexto em que atua, e que
saiba interagir, cooperativamente, tanto com sua comunidade profissional, quanto com a
sociedade em geral (TAFFAREL; SANTOS JNIOR, 2005, p. 131).
Deste modo, o trabalho coletivo pode configurar importante elemento para a superao do
individualismo, presente tambm em outras dimenses da constituio destes indivduos, como as
atividades desportivas, polticas e artstico-culturais que desenvolvem. Transformao esta cuja
repercusso transcenderia os limites de suas atuaes na docncia universitria, podendo produzir
alteraes nas relaes sociais destes sujeitos, em distintos meios e nveis, gerando novas posturas, novos
afetos, nova interatividade que supere o individualismo, o qual para muitos autores, a marca da
sociedade contempornea (GONALVES, 2005; DUARTE, 1983).
Tal processo no seria possvel entre docentes com sobrecarga de trabalho, quer seja o trabalho de
pesquisa e produo cientfica; quer seja de atividades de ensino ou ainda de atividades administrativas.
Entretanto, alguns raros indivduos, entre os professores universitrios, poderiam sofrer sobrecarga de
trabalho, levando-se em conta as tarefas da instituio pblica que integrou a presente investigao
(excetuando-se, portanto, outras eventuais ocupaes).
Por outro lado, majoritariamente, estes poucos indivduos que desenvolvem grande volume de
trabalho, no caso das atividades de ensino, podem estar compensando o fato de no realizarem atividades
de pesquisa ou extenso. Esta constatao coerente com os dados destes sujeitos, que no declararam
realizar qualquer atividade acadmica, exceto as de ensino.
Em relao ltima destas caractersticas preliminares das atividades do ensino praticado em
Parasitologia e Microbiologia, que diz respeito ao grande nmero de alunos por docente, credita-se em
239
primeiro lugar, ao processo de expanso das vagas no ensino superior, sobretudo, a partir do Programa de
Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais (REUNI).
Segundo Lda e Mancebo (2009), o REUNI, ltima roupagem oficial do projeto Universidade
Nova, imposto s universidades como condio para o repasse de recursos, vinculados, a partir de
2007 (com o Decreto Presidencial no 6.096, de 2007), a uma srie de condies, sobretudo, ao aumento
de vagas com reduo do custo por aluno. Informam as autoras, que diversos pesquisadores, durante a
XXX Reunio Anual da ANPEd, neste mesmo ano, a partir de seus estudos, afirmaram que a expanso,
nestes moldes, no ter uma contrapartida oramentria suficiente para garantir um ensino de qualidade
nas universidades federais, que j vivenciam precariedade estrutural. Este pacote de medidas parece,
entretanto, s aprofundar um processo j em curso. Pinsky (2009), ressalta que, mesmo antes da
implantao do REUNI, no perodo entre 1995 e 2005, houve um aumento de 365% no nmero de
matrculas, acompanhado por uma reduo nas vendas de livros cientfico-tcnicos e profissionais, em
parte, didticos de ensino superior.
Neste sentido, ainda que justificvel a preocupao com o aumento da oferta de vagas para as
universidades - sobretudo se consideradas as dificuldades de acesso ao ensino superior, ainda maiores na
regio norte (ver Cap. 1) ; no parece sensato apostar num plano de expanso da educao superior que
comprometa suas condies de oferta, numa realidade j marcada pela precariedade do ensino em muitas
de suas dimenses, como a infra-estrutura de bibliotecas, laboratrios e a formao de seu pessoal tcnico
(TRAMONTIN, 1995).
Sua inadequao ainda mais perceptvel quando a educao pensada enquanto processo
contextualizado, dialgico, que busque uma relao na qual seja possvel ao professor universitrio
conhecer a realidade social em que o aluno est inserido, estabelecida a partir de procedimentos que
envolvam a investigao preliminar da realidade e do qual possa emergir um conhecimento novo sobre
contedos e prticas mais eficientes, mais inter-relacionados com a problemtica das doenas infecciosas
e parasitrias, construdo a partir de concepes de cincia e de sade contemporneos, contedos e
prticas que se renovem constantemente. Processo este que corresponda superao da conscincia real,
a construo do indito vivel e que seja incompatvel com estratgias educacionais de massa,
estratgias de ensino propagandistas, extensionistas
61
, que intensifiquem a reproduo das tradicionais e
insuficientes tcnicas atualmente adotadas.
61
Adotando o sentido proposto por Freire (1979b)
240
5.4.2. Planejamento, seleo e organizao do contedo no Ensino de Microbiologia,
Parasitologia e Micologia
Neste item, prosseguindo com a caracterizao das atividades docentes, sero utilizados
dois instrumentos para investigar o planejamento, a seleo e a organizao dos contedos: a
anlise dos planos de ensino das disciplinas ministradas por estes sujeitos e as questes da
entrevista referentes a esses tpicos.
Como estratgia, sero apresentados os dados sistematizados relativos aos planos de
ensino e, paralelamente, estabelecidas relaes entre as concepes expressas nestes documentos
e aquelas oriundas das entrevistas e do questionrio n 1.
Apesar de serem 26 os participantes da pesquisa, analisaram-se 14 planos de ensino (Tabela 5.2).
Doze docentes no disponibilizaram tais documentos e, ainda que alguns tenham disponibilizado mais de
um plano j que a maioria (80,1%) ministra aulas para mais de um curso selecionou-se um para cada
participante da pesquisa que os disponibilizou, a fim de que as concepes de cada sujeito tenham igual
peso na anlise.
A importncia dos planos de ensino na realidade de cada instituio varivel, embora os
participantes tenham afirmado, majoritariamente, consider-los relevantes para sua prtica docente. Para
mais da metade destes sujeitos, tais documentos desempenham, sobretudo, trs funes no planejamento
de suas aes: organizador de suas atividades (65,5%), estruturador de suas propostas pedaggicas
(57,7%) e calendrio de atividades para seus alunos (53,8%).
Nas instituies B e C constitui prtica, a cada semestre, a elaborao dos planos de ensino, o que
contribuiu para que os docentes destas instituies tivessem em mos e disponibilizassem a maioria dos
planos de ensino investigados neste estudo (85,7%). Por outro lado, segundo relatos dos participantes da
pesquisa, nas instituies A e D, tal prtica no constitui uma exigncia aos docentes, que, em sua
maioria, no dispunham destes documentos. Vrios docentes disseram que os planos de ensino poderiam
ser acessados em seus departamentos acadmicos. No entanto, os departamentos acadmicos no
dispuseram os referidos documentos, ainda que se tenham enviado diversos pedidos formais.
Nas instituies aqui investigadas, disciplinas na rea de Microbiologia (Biologia de
Microorganismos, Bacteriologia e Microbiologia), Parasitologia e Micologia, ministradas pelos docentes
participantes desta pesquisa, so obrigatrias para todos os cursos em que esto presentes.
Doenas causadas por protistas e metazorios so abordadas em disciplinas especficas em todos
os cursos, recebendo a denominao Parasitologia; excetuando-se o curso de Enfermagem da instituio
B, que, por sua distinta estrutura curricular, oferece este contedo como unidade de um eixo temtico
(ocorre tambm na Licenciatura em Biologia da instituio A, ainda que, no caso desta, no se tenha
recebido o plano de ensino desta disciplina).
241
As disciplinas cujo contedo compreende as doenas causadas por bactrias so abordadas, tanto
isoladamente em disciplinas de denominao Bacteriologia e Microbiologia, quanto em conjunto com
vrus, recebendo os nomes de Microbiologia, Microbiologia e Imunologia, com exceo do curso de
Licenciatura em Cincias Biolgicas da instituio A, no qual tal contedo integra o mdulo Seres Vivos
I. As doenas causadas por fungos so ministradas em mdulos de Micologia, juntamente com protistas e
metazorios, na disciplina Parasitologia.
Tabela 5.2 Planos de Ensino de IPES da Regio Norte do Brasil investigadas neste estudo.
Instituio Disciplinas Curso(s)
A Seres Vivos I (mdulo Bacteriologia) Biologia
B Microbiologia*, Parasitologia**, Determinantes do
Processo Sade-Doena***
Enfermagem*,***;
Medicina*,**
C Parasitologia*, Microbiologia**, Microbiologia e
Imunologia***, Micologia#
Enfermagem*;
Odontologia*,**,#;
Biologia**,
Medicina*,***,#
D Parasitologia e Micologia
1
Enfermagem, Medicina
e Odontologia
1
Parasitologia e Micologia conformam a mesma disciplina, possuindo um plano de ensino, portanto, para os trs cursos em
questo.
Em relao ao contedo, os planos de ensino de Microbiologia dos cursos de Odontologia e
Medicina, alm daqueles referentes disciplina Parasitologia dos cursos de Odontologia e Enfermagem
da instituio C so idnticos. No caso da Parasitologia para Medicina, nesta instituio, da Microbiologia
da Biologia, na instituio C, poucas diferenas so apresentadas no tocante s demais disciplinas. Os
planos de ensino dos cursos de Enfermagem e Medicina da instituio B tambm so semelhantes entre
si, caso tambm da Micologia, nos cursos de Medicina e Odontologia da instituio C e de Medicina,
Enfermagem e Odontologia da instituio D.
Tais semelhanas podem estar associadas com o papel atribudo pelos docentes s ementas e ao
livro-texto, no planejamento, seleo e organizao dos contedos. Dentre os elementos que declararam
utilizar nestes processos, foram referidos a ementa, os livros-texto e artigos cientficos publicados em
peridicos especializados (76,9%). Na opo, mais restritiva, afirmaram basear-se na ementa, atendo-se
ao contedo proposto nesta (11,5%).
Corroborando com esta hiptese, a distribuio dos contedos observada nos planos de ensino
similar organizao dos assuntos nos principais livros adotados nestas disciplinas (NEVES et al., 2005;
REY, 1991, TRABULSI; ALTERTHUM, 2004).
As similaridades observadas podem tambm estar relacionadas com certo engessamento dos
contedos, caracterstica registrada na fala de alguns docentes, ao revelarem como realizam o
planejamento de suas atividades:
242
Bom, na verdade so poucas ou, praticamente, nenhuma modificao que feita de um
semestre para o outro, n (Rodrigo)?
Pelo que eu entendi, esse plano esttico, passa de semestre pra semestre a mesma coisa. E
enviado pra direo. Ento se me falaram sobre isso foi assim, eu devo ter visto assim rpido,
mas ter o plano assim pra apanhar, pra pegar, eu no tenho, entendeu? S me passaram assim
seus assuntos so esses. Voc tem tantos dias pra dar esses assunto (Suely).
Na instituio D, uma das docentes atribui tal engessamento, parece, s orientaes restritivas da
coordenadora do laboratrio:
mais ou menos assim, quando eu cheguei na instituio D, eu me senti muito tolhida,
eu dizia assim, meu Deus, eu tenho que seguir tudo o que essa mulher quer, a
coordenadora. Ela manda e a gente tem que dizer sim e acabou. Mas eu achava essa
situao assim... me revoltava (Suely).
Mas alm desse elemento, retoma-se outro, citado anteriormente: as ementas. A referncia a
estas, nas alternativas oferecidas aos docentes no questionrio n 1, no foi casual. Na vivncia como
docente de Parasitologia, foi possvel observar que tal termo amplamente empregado nesta rea em
particular. Na presente investigao, sua importncia no planejamento do ensino foi assinalada por mais
de dos participantes.
No sentido em que usualmente empregado pelos docentes, em seu cotidiano, a ementa, ao invs
de uma apresentao resumida do contedo, tornou-se uma norteadora esttica da seleo do contedo e,
portanto, assim como os livros didticos, estaria implicada no engessamento identificado entre estes
contedos.
Significativo que 11,5% dos docentes tenham declarado ater-se ementa. Conforme se
perceber ao longo deste texto, ao abordarem-se diversos aspectos de suas atividades, tais concepes
parecem tambm relacionadas ao fraco domnio que os participantes da pesquisa possuem dos saberes do
campo educacional.
Esta caracterstica constitutiva dos docentes parece responsvel pela viso burocrtica que tm
dos planos de ensino. Por isso, essa compreenso limitada, que inviabiliza uma reflexo crtica sobre suas
prticas e sobre os contedos (que, engessados, s permitiriam ao docente, dividi-los, atualiz-los, mas
nunca discuti-los) pode ser considerada uma situao-limite em que os sujeitos encontram-se
impossibilitados de perceber os problemas apontados. Deste modo, integra sua conscincia real efetiva
uma viso segundo a qual, para um planejamento de ensino adequado, basta a atualizao dos contedos
e o aprofundamento terico em relao aos contedos especficos de sua disciplina.
Apesar deste engessamento, desta uniformidade frequente nos planos de ensino, alguns docentes
acreditam que a atualizao dos contedos fundamental:
Eu preparo minhas aulas todo semestre. J dei essa aula no semestre passado, mas eu vou dar
uma olhada, vou ver como que ela funciona, vou ver como que ela t, atualizar, tem alguma
coisa nova (ngelo)...
243
No d pra voc permanecer com aquela aulinha dez anos, no d, n? Voc tem que ir l,
batalhar Ah! No ta bom isso aqui Voc sente ao longo das aulas o que voc vai precisando
melhorar a cada aula. Essa aula eu preciso renovar isso, preciso ver aquilo, preciso ler sobre
isso. Porque at eles mesmos te cobram sobre isso, porque tem gente que no ta atualizada
(Suely).
Elementos indicadores da presena destas atualizaes no foram observados nos planos de ensino,
apesar disso, cabem algumas indagaes: como falar em atualizao e aprofundamento terico a partir da
utilizao de conhecimentos descontextualizados e compartimentalizados? Como falar em um adequado
planejamento de ensino quando tal compreenso redundar em uma formao fragmentada, anloga a uma
colcha de retalhos (apropriando-se aqui da expresso referida por Luana, em sua entrevista)?
Uma das gneses desta viso parte de uma compreenso limitada dos saberes educacionais e
pode ser atribuda dinmica da aprendizagem formal para a docncia ou das restries decorrentes desta
aprendizagem (tecnicismo e ausncia de formao pedaggica nos processos formais).
Esta compreenso limitada parece tambm estender-se s diretrizes dos cursos para os quais lecionam,
j que as pequenas diferenas observadas entre os planos de ensino no esto, em geral, associadas formao
especfica requerida para cada um dos cursos. Tais diferenas dizem respeito presena de certos contedos,
como os referentes a vrus e fungos na Microbiologia oferecida seletivamente para alguns cursos, sem
qualquer critrio nesta distribuio quando se comparam as diferentes instituies. Uma concluso preliminar
permite inferir que a formao profissional especfica de cada curso no parece ser uma das preocupaes dos
responsveis pela disciplina nestas instituies.
Tal panorama contradiz, entretanto, a concepo expressa pela maioria de seus docentes, que
afirmaram que o contedo adaptado s necessidades do futuro profissional, devendo atender aos
objetivos do curso (57,5%) ou ainda, que para cada profissional dou exemplos dentro da profisso, pois
assim ele se interessar mais (50,0%).
Esta contradio seria justificvel caso os planos de ensino no constitussem instrumento
importante para os participantes da pesquisa, mas conforme observado anteriormente, para a maioria dos
participantes, tais documentos desempenham vrias funes. Alm disso, um dos docentes afirmou que
o plano de ensino meramente burocrtico e que sua atividade no seria diferente sem ele.
Chama a ateno o fato de que a instituio B, mesmo depois de passar por recente reformulao
curricular no curso de Enfermagem, pouco modificou a estrutura de seu plano de ensino de
Microbiologia (diferentemente do caso da Parasitologia, observado mais adiante, no trato das estratgias
de ensino).
Muitos dos docentes destas instituies no disponibilizaram seus planos de ensino, como os de
Microbiologia da instituio D, os de Micologia das instituies A e B e os de Parasitologia da instituio
A. Apesar disso, aqueles aos quais se pde ter acesso, ofereceram informaes suficientes para subsidiar a
presente investigao.
244
Que diferenas, entretanto, haveria, neste quadro local quando comparado anlise de outras
instituies no cenrio nacional (Cap. 3)? Para responder a esta questo sero buscadas, neste momento,
algumas comparaes.
Em relao Microbiologia, as ntidas diferenas de contedo, relativas a particularidades entre
cursos, encontradas em outras regies do Brasil, aqui no estiveram presentes, havendo, ao contrrio,
grande homogeneidade. Os planos foram compostos, basicamente, por contedos das reas de Biologia e
Sade. No caso destes assuntos, a despeito das diferenas socioeconmicas e biogeogrficas entre a
Regio Norte e as demais regies do pas, e das particularidades relacionadas, como referido (Cap. 1), a
um perfil epidemiolgico singular, poucas diferenas podem ser percebidas no modo como os contedos
so estruturados. Assim, estes planos no contemplam elementos do contexto social para modificar, mais
sistemicamente, a estrutura de seus contedos, indistintos daqueles ministrados em outras regies.
Com isso, temas como o saneamento bsico (ou a falta deste), as relaes entre as infeces e
certas variveis ambientais, como a temperatura, a umidade e a pluviosidade, as condies de pobreza em
que vive grande parte da populao desta regio, entre outros, no parecem articulados ao contedo da
disciplina. Ao contrrio, esto praticamente ausentes. No se est desconsiderando que, em certos
momentos da aula, relatados por alguns docentes de Microbiologia, como Rodrigo e Neide (o contedo
de suas falas ser apresentado mais adiante), sejam abordados e correlacionados com as doenas
infecciosas. Chama-se a ateno, entretanto, para o papel secundrio que desempenham no planejamento,
seleo e organizao dos contedos.
Pode-se afirmar, dada a falta desta contextualizao, que o contedo das disciplinas que abordam
as bactrias (e, secundariamente, os vrus) parasitas do ser humano, estritamente disciplinar,
compreendendo, sobretudo as caractersticas gerais e a biologia bacteriana, a patogenia e o diagnstico de
doenas causadas por estes organismos.
No caso da Microbiologia, no houve plano de ensino que apresentasse caractersticas distintas.
Apesar disso, o uso de uma estratgia para aproximar, mais elaboradamente, os contedos da realidade
em que o aluno est inserido, ser descrito adiante, no caso da Parasitologia.
Ainda em relao a esta disciplina, o cenrio descrito acima em nada se distingue daquele
observado em outras regies do pas. Por outro lado, a ausncia de temas como a Importncia
econmica dos microrganismos, alm da Biotecnologia e a Microbiologia de Alimentos,
caracterstica distintiva destes planos de ensino em comparao com os demais. No obstante, parece
importante que temas relacionados a estes contedos constituam programas da disciplina de
Microbiologia, uma vez que representam temas candentes nesta rea do conhecimento, conforme se
observa no I ENAPROM, em que sua presena foi frequente (SBM, 2010), alm da forte presena da
Biotecnologia nas pesquisas contemporneas, constante no Captulo 3.
245
Embora no quadro regional, haja menos diversidade programtica, a ausncia de temas como
estes, alm da grande diversidade de contedos observada no cenrio nacional, constituram foco de
discusso durante o encontro supracitado, no qual, em alguns momentos, os debates giraram em torno de
um programa mnimo para o Ensino de Microbiologia nos cursos de graduao, envolvendo, alm das
inovaes biotecnolgicas, a multidimensionalidade da prpria Microbiologia, que requer a construo de
qualquer ao, no sentido de unitarizao e padronizao de contedos e prticas neste campo,
contemplando a formao para a atuao nas reas de Microbiologia de Alimentos, Microbiologia
Agrcola, Microbiologia Industrial, Microbiologia Mdica, indstria farmacutica, entre outras.
A disciplina de Parasitologia foi, nos planos de ensino investigados, ainda mais uniforme, em seu
contedo, do que as oferecidas para os cursos previamente analisadas em diversas instituies nacionais.
Na referida descrio e anlise dos planos de ensino de outras regies, percebem-se algumas variaes,
como a presena de uma disciplina voltada para a rea de ensino, alm de outra, que abordava tambm a
Parasitologia Humana, a Parasitologia Animal e a Veterinria. No caso dos planos, aqui estudados, os
assuntos abordados restringiram-se s doenas humanas.
Alm disso, todos os contedos bsicos (aspectos histricos e conceituais, morfologia e biologia
dos parasitos, alm de aspectos mdicos, como patogenia, diagnstico, profilaxia e epidemiologia) foram
obrigatrios, estando presentes em 100,0% dos planos de ensino, enquanto nas demais regies, apesar de
frequentes, constaram em propores variveis.
Aspectos histricos e conceituais so apresentados, nos planos, de modo introdutrio, sobretudo
na primeira aula, na qual so abordados, segundo os docentes, elementos histricos da constituio desta
rea, a definio dos principais conceitos empregados ao longo da disciplina que definem tipos de
ciclos, de hospedeiros, de relao parasita-hospedeiro, etc. -, as subreas e recortes da disciplina.
Todos os demais aspectos relacionados nos planos de ensino so apresentados ao longo da
disciplina. As caractersticas morfofisiolgicas mais gerais de determinados grupos, como protozorios,
helmintos ou artrpodes, so normalmente apresentadas na primeira aula de cada um destes grupos,
enquanto as mais especficas de cada parasita, juntamente com a patogenia, o diagnstico e a profilaxia
associadas, so apresentadas a cada aula terica.
No caso da Micologia, sua presena, como disciplina, menos frequente nos cursos
universitrios, sendo oferecida, algumas vezes, conjugada com a Parasitologia ou a Microbiologia. Nas
instituies C e D, as disciplinas contam com dois mdulos, cada um referente a uma dessas reas.
Tratando-se, particularmente, das instituies aqui investigadas, no foram encontrados
contedos de Micologia nos planos de ensino de Microbiologia. Alm disso, diferentemente da
heterogeneidade encontrada nos planos de ensino de instituies nacionais, nas quais h disciplinas de
Microbiologia Agrcola e Industrial, por exemplo, as oferecidas na Regio Norte foram uniformes, em
246
nada diferiram da estrutura observada para as disciplinas de Microbiologia e Parasitologia (morfologia,
biologia, patogenia, etc.).
5.4.2.1. A estrutura dos planos de ensino
Os planos de ensino de Microbiologia so compostos, quanto ao contedo, por: a) Biologia e
Caractersticas Gerais das Bactrias (sobretudo a morfologia e fisiologia das bactrias, assim como na
investigao envolvendo instituies de outras regies (Cap. 3); b) Patogenia bacteriana e c) Diagnstico
Laboratorial Microbiolgico. O tpico Controle dos Microrganismos esteve presente nos cursos de
Medicina e Odontologia da instituio C.
Nestes planos, os vrus, conforme a tendncia registrada tambm em outras instituies
brasileiras, compreendem grupos de importncia secundria, sendo abordados nos cursos de Medicina e
Odontologia da instituio C, ainda que ocupando um espao muito menor no contedo destas
disciplinas.
Ainda sobre a Microbiologia, alm destes tpicos, foram referidos tambm a Epidemiologia
Bacteriana, para o curso de Enfermagem da instituio B e o Crescimento, o Metabolismo e a Gentica
Bacterianas para o curso de Licenciatura em Biologia da instituio C.
Exceto por estas variaes conteudsticas pontuais, as citadas disciplinas possuem a estrutura
tpica que tem caracterizado o ensino de Microbiologia no Brasil. Os planos de ensino das instituies C e
D pouco diferem daqueles das instituies precedentes.
No quadro geral das instituies investigadas, as disciplinas de Microbiologia ministradas nas A e
B, no sofreram mudanas substanciais, apesar de seus cursos de Biologia e Enfermagem, respectivamente,
terem passado por recentes reformulaes curriculares. Segundo a atual proposta, o novo currculo de
Biologia da instituio A estrutura-se em mdulos, com vistas integrao interdisciplinar, objetivando
atender, segundo informa a pgina oficial do curso, na internet (UFPA, 2011), s determinaes da Lei n
6.684/79, que regulamenta a profisso do bilogo, enquanto o currculo do curso de Enfermagem da
instituio B foi construdo a partir de abordagem temtica
62
.
No curso de Biologia da instituio A, no se teve acesso ao plano de ensino. Apesar disso,
segundo informaram dois docentes do Eixo Temtico Seres Vivos I (integrado pelas unidades
temticas de Micologia, Parasitologia e Bacteriologia),, durante o preenchimento do questionrio n 1,
ainda que de modo informal, as mudanas curriculares em nada afetaram a dinmica anterior. Deste
modo, apesar da denominao de eixo temtico, na prtica, perpetua-se o isolamento e a independncia
62
Perspectiva curricular cuja lgica de organizao estruturada com base em temas, com os quais so
selecionados os contedos de ensino das disciplinas. Nessa abordagem, a conceituao cientfica da programao
subordinada ao tema. (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2002, p 189)
247
caractersticas do modo anterior, disciplinar. A manuteno destas caractersticas pode ser observada no
exame do plano de ensino de Bacteriologia desta instituio, que em nada difere do modelo tradicional.
Na instituio B, na qual o plano de ensino foi disponibilizado para exame, as suspeitas referidas
acima, em relao instituio A, tambm puderam ser observadas. Por trs de uma integrao
meramente burocrtica, em que distintas disciplinas passaram a ser denominadas de Eixo Temtico, a
disciplina de Microbiologia, ainda que chamada unidade temtica, prope contedos estruturados de
forma idntica de qualquer outro plano de ensino.
Nos planos de ensino de Parasitologia, h, via de regra, algumas diferenas pontuais nos
contedos ministrados. Dentre os assuntos distintos entre os cursos esto o Tratamento das Doenas
Parasitrias, presente na disciplina oferecida para o curso de Enfermagem da instituio B e Noes sobre
acidentes por animais peonhentos, nas disciplinas de Enfermagem e Odontologia da instituio C e
Medicina da instituio B. Quanto ao contedo relativo ao tratamento destas doenas, ainda que sua
presena seja pertinente, pois tais disciplinas so ministradas em fases iniciais dos cursos da rea de
sade, no praxe abordar tal tpico nesta disciplina. Este tema costuma ter como pr-requisitos
disciplinas de fases mais avanadas do curso, como a Farmacologia, por exemplo.
O mais curioso, entretanto, foi a presena de contedos sobre acidentes com animais
peonhentos, temtica que no objeto de estudo da Parasitologia. Alm disso, dentre os planos de
ensino investigados aqui e em outras regies do Brasil, este contedo esteve presente somente em
disciplinas destas instituies.
Este fato poderia estar relacionado formao de determinado(s) docente(s) nestas instituies,
mas, alm de examinar esta hiptese, averiguou-se, tambm, a presena deste tpico em planos de ensino
de anos anteriores nesta instituio, que disponibilizou tais documentos.
De fato, havia na instituio C, um(a) docente cujo doutoramento deu-se na rea de Zoologia,
particularmente a Biologia de Serpentes Peonhentas, no sendo mesmo caso na instituio B. Entretanto
este no foi o nico motivo da incluso deste tpico nesta instituio. Tal contedo tradicional da
Parasitologia desta universidade, estando presente h mais de duas dcadas [antes, inclusive, da
contratao do(a) referido(a) docente], inclusive em planos de ensino de outros cursos, como Medicina e
Farmcia. Na instituio B, entretanto, tal estudo no pode ser realizado, porque, com muito custo, foram
disponibilizados os planos de ensino do ltimo semestre letivo e, portanto, os motivos da incluso deste
tpico permaneceram obscuros.
Uma hiptese para a incluso de tal tema a importncia dos acidentes por aranhas e serpentes
peonhentas na regio, onde este tipo de evento ocorre com a maior frequncia se comparado com outras
regies do pas (BRASIL, 2011c, d).
248
A unidade temtica Parasitologia, do eixo Determinantes do Processo Sade-Doena, presente
no currculo do curso de Enfermagem da instituio B, por outro lado, apresenta, em seu plano de ensino,
uma estrutura, de fato, distinta das precedentes.
Nela, h um perodo inicial, destinado ao planejamento das atividades integradas, com visitas
tcnicas a campo, orientao e elaborao de referencial terico, que precedem a apresentao do
planejamento das atividades de ensino. Alm destes procedimentos, os Resduos Slidos so referidos, de
modo a integrar distintas atividades e metodologias de ensino, como Temas ou Problemas.
Dentre os procedimentos citados, podem ser observados o levantamento de dados epidemiolgicos, a
aplicao de questionrios para a coleta de dados e a realizao de pesquisa de campo que, segundo a docente,
autora deste plano, sero realizados a partir da abordagem conhecida como Aprendizagem Baseada em
Problemas (ou Problem-based learning - PBL, como mais conhecida a metodologia).
Esta, oriunda de experincias de mais de 30 anos na Holanda e no Canad (BERBEL, 1998),
surge no ltimo quarto do sculo XX, no cenrio mundial da educao mdica, incorporando
fundamentos do construtivismo em sua base terica e prtica. Afirma-se ainda que, embora goze de boa
reputao por parte dos especialistas, o PBL, por si s, insuficiente para promover as profundas
transformaes que o ensino mdico requer (REGO, 2003, p. 37).
O uso deste referencial, associado abordagem temtica, como descrito no plano de ensino em
questo, traz tona certas diferenas cruciais, como as distintas noes de problema e os procedimentos
adotados nestas duas abordagens. No caso da abordagem temtica, que usa a metodologia da
problematizao, os problemas so formulados pelos alunos a partir da observao da realidade, enquanto
no PBL, os problemas so elaborados por uma equipe de especialistas para contemplar conhecimentos e
atingir objetivos de aprendizagem planejados, conforme caracterizam Silva e Delizoicov (2008).
Mais do que isso, os autores, neste estudo, evidenciam diferenas de ordem epistemolgica entre as
duas abordagens e suas incongruncias, como em relao essncia do conhecimento, particularmente,
relao de determinao entre o sujeito cognoscente e o objeto, responsvel pelas diferenas procedimentais
acima referidas. De qualquer modo, colocam como questo importante, em qualquer mtodo problematizador,
o papel desempenhado pelo prprio problema na articulao entre o ato gnosiolgico e o educativo.
Neste sentido, observam, na metodologia problematizadora freiriana, dois princpios de grande significado:
o compromisso por uma educao libertadora, no sentido do desenvolvimento da autonomia do
indivduo; e o princpio da dialogicidade como exerccio pedaggico constantemente em
construo daquela prtica (FREIRE, 2004 apud SILVA; DELIZOICOV, 2008, p. 11).
Silva e Delizoicov (2008) afirmam, entretanto, que h possibilidade de se instrumentalizar o PBL
com tal enfoque, implicando em outra intencionalidade do processo formativo, alm da necessidade de
uma incorporao voluntria pelo educador, quando de sua implantao e utilizao. Sobre o PBL,
249
indicam ainda sua importncia no sentido de representar, na rea mdica, um modelo contra-hegemnico, cujo
processo de aceitao estaria associado a uma reao ao flexneriano.
No plano de ensino da Parasitologia da instituio B, a realizao de visitas tcnicas a campo
enquanto estratgia para iniciar o planejamento sugere que os docentes deste curso podem estar adotando
a noo de problema da abordagem temtica. Por outro lado, a realizao de reunies preliminares, entre
os docentes, para o planejamento das atividades integradas, sem que haja contato com os alunos que
preceda a apresentao deste plano integrador elemento que aponta em direo contrria.
Mais do que isso, preciso ainda registrar outro elemento deste plano de ensino, uma
caracterstica incompatvel com as duas abordagens anteriormente referidas, representada por algo que se
assemelha a uma tentativa de conjugar o modelo tradicional com abordagens alternativas.
Ao descrever a sequncia proposta para as atividades do semestre, a docente responsvel
relaciona, juntamente com as atividades de investigao preliminar e planejamento integrado da unidade
temtica, os contedos tradicionalmente ministrados nesta disciplina, nos mesmos moldes apresentados
para os demais planos de ensino, os quais representam mais de 70% das atividades da disciplina. Este fato
parece evidenciar certos limites na compreenso destas metodologias alternativas, j que h grande pr-
determinao nos contedos relacionados.
No caso dos planos de ensino de Micologia, o contedo sempre inicia com algum contedo
introdutrio, composto por aspectos histricos e conceituais, ministrados na primeira aula do semestre.
Como nos casos precedentes, tais aspectos histricos esto relacionados constituio desta rea do
conhecimento, alm das subreas e recortes da disciplina, principais termos e definies que sero
utilizados ao longo do contedo, enfim, a linguagem estilizada desta rea.
O uso da histria da cincia observado nestas disciplinas, de modo isolado e restrito a uma
primeira aula inicial, no parece capaz de cumprir o papel descrito, no captulo anterior, por Rosa (2006),
de contextualizar os temas tratados. Em relao ao contedo destes planos de ensino, no referido captulo,
sugeriu-se tambm que aspectos histricos desta disciplina poderiam contribuir para o desenvolvimento
de temas como a fermentao alcolica, as anlises microbiolgicas de gua e alimentos e outros
processos microbiolgicos, tornando-se fios condutores de abordagens temticas. Evidentemente, estas
sugestes no poderiam ser implementadas a partir deste tratamento, estanque e compartimentado.
A citada forma de abordagem, tampouco estaria em sintonia com um ensino universitrio
contextualizado e interdisciplinar, conforme propugna a LDB (BRASIL, 1996), e como recomendam as
diretrizes curriculares para a formao de diversos profissionais da rea de sade, como os mdicos
(BRASIL, 2001b) os odontlogos (BRASIL, 2001c) os farmacuticos (BRASIL, 2002c); alm dos
bilogos (BRASIL, 2002a).
250
Prosseguindo com a caracterizao destes planos de ensino de Micologia; observou-se que
introduo, seguem-se aspectos da biologia e morfologia dos fungos patognicos e contedos mdicos,
como a patogenia, o diagnstico, a profilaxia e a epidemiologia das principais afeces micolgicas
humanas (nenhum relacionado com o uso industrial ou biotecnolgico dos fungos foi referido), de forma
idntica nos trs planos de ensino analisados.
Em relao s estratgias de ensino, em todos os planos aqui examinados, estas pouco diferiram
daquelas utilizadas por instituies pblicas de outros estados brasileiros, sendo que a clssica diviso
entre parte terica e parte prtica tambm foi caracterstica marcante das disciplinas aqui investigadas.
Exceto na disciplina de Parasitologia para Enfermagem da instituio B, nas demais disciplinas,
na parte terica prevaleceram aulas expositivas, utilizando os tradicionais recursos audiovisuais, como
quadro branco e pincel, projetor multimdia, projetor de diapositivos e retroprojetor. Outras estratgias,
igualmente tradicionais no meio acadmico, como seminrios, confeco de relatrios e estudo dirigido
em grupos foram frequentemente utilizadas; enquanto na parte prtica as atividades consistiram em
demonstraes das principais tcnicas de diagnstico laboratorial e da visualizao, ao microscpio, de
estruturas de interesse em cada uma das disciplinas.
Tais prticas, conforme indicado, integram uma metodologia comum, desenvolvida para atingir
objetivos instrucionais pautados em formao tecnicista, ou seja, priorizando o desenvolvimento de
habilidades tcnicas em detrimento de uma formao sociopoliticamente referenciada.
Segundo vrios autores que investigaram a EC, a partir de uma perspectiva integradora de
Cincia, Tecnologia e Sociedade (CTS), referida no Captulo 2, ao tratar-se do VOSTS, a formao
tecnicista frequente no ensino das disciplinas ligadas s Cincias da Natureza, no presente momento
histrico (NASCIMENTO; LINSINGEN, 2006; AULER, 2002; ACEVEDO, 2001). De acordo com
Nascimento e Linsingen (2006), este tecnicismo oriundo de um modelo predominantemente
internalista, que valoriza os contedos especficos de cada disciplina, concebe a cincia como sendo
neutra e o cientista como produtor isolado de conhecimentos benficos para a humanidade.
Alm disso, para os autores, o ensino, nestes moldes, desconsidera acontecimentos
contemporneos, no contempla temas da atualidade, e aparenta no possuir utilidade social.
Neste sentido, Auler (2002) afirma que esta compreenso confusa e ambgua da no neutralidade
da cincia e tecnologia, favorece certa imobilidade frente a problemas emergentes do desenvolvimento
cientfico e tecnolgico.
Por outro lado, pesquisas no campo da EC, ao debruarem-se sobre esta problemtica, sugerem
alternativas a esta educao de base tecnicista. Para Carletto, Linsingen e Delizoicov (2006), por
exemplo, tanto a educao numa perspectiva CTS quanto o mtodo de investigao temtica freiriano,
conformam possibilidades para romper com o tradicionalismo curricular. Estes autores alegam que em
251
ambas as opes a seleo de contedos se d a partir da identificao de temas que contemplem
situaes cotidianas dos educandos relacionadas s contradies mais amplas da sociedade. Deste modo,
ao invs de um EC de base tradicional, no qual os planos de ensino se estruturam a partir dos conceitos,
seria possvel planejar a matria a partir de temas sociais e ambientais, contextualizando-os, portanto.
Apesar disso, nos planos de ensino investigados, alm das prticas convencionais de base
tecnicista, ainda que de forma escassa, foram tambm observadas atividades realizadas fora do ambiente
laboratorial. Estas prticas, chamadas aulas de campo, tanto constituram atividades diferenciadas,
ainda que ligadas ao ensino tradicionais, quanto, em outros casos, representaram elementos de propostas
alternativas, buscando um ensino problematizador.
No primeiro caso, pode-se referir atividade proposta para o curso de Medicina da instituio C,
que consiste em coleta de insetos vetores de doenas em reas de floresta. Neste, parece no haver razo
para a realizao desta a no ser a promoo de um conhecimento emprico sobre estas espcies em seu
habitat natural. De qualquer modo, nenhum objetivo especfico foi referido relativamente a tal prtica.
No segundo, observou-se uma prtica descrita para o curso de Enfermagem da instituio B, que
consistiu em uma visita a populaes sujeitas a doenas infecto-parasitrias, na qual os estudantes
aplicariam questionrios para a obteno de dados socioepidemiolgicos. Tal atividade, conforme
descrito no plano de ensino da disciplina, seguida pela organizao, interpretao e anlise dos dados,
pelos alunos, terminando com a apresentao dos resultados, num outro momento, que envolveria os
prprios discentes, os docentes e a comunidade.
Apesar da presena desta atividade na disciplina referida, como se afirmou anteriormente, o
contedo programtico descrito no plano de ensino consiste, predominantemente, em assuntos abordados
a partir de aulas expositivas e prticas de laboratrio convencionais.
Outras estratgias de ensino menos frequentes, apresentadas pela disciplina Parasitologia das
instituies B (Enfermagem) e C (Enfermagem e Odontologia), referem-se apresentao e discusso,
com os alunos, do contedo, do cronograma e das atividades programadas. Na instituio B, a atividade
realizada com os alunos e integra-se a outras disciplinas num eixo temtico. Alm disso, desenvolve-se,
a partir de discusses coletivas em duas aulas subsequentes. Na instituio C, ao contrrio, o docente
afirma discutir com os alunos, em uma nica aula, uma proposta previamente elaborada por ele.
Destaca-se nestas estratgias, exceto seminrios e algumas atividades de estudo dirigido, seu
carter individual. Exerccios em equipe so referidos pelos cursos de Enfermagem e Odontologia da
instituio C e pelos cursos de Medicina, Odontologia e Enfermagem da instituio D. A primeira
menciona estudos dirigidos, avaliaes e discusses coletivas, enquanto a segunda cita, genericamente,
trabalhos. Outras atividades referidas foram relatrios individuais (cursos da instituio D) e ensaios de
trabalhos cientficos (Medicina, instituio B).
252
A despeito de um nico curso apresentar uma alternativa ao ensino tradicional, alm ainda, da
presena de elementos alternativos encontrados, de forma pontual, em outros cursos, pode-se caracterizar
as estratgias e prticas adotadas por seus docentes, como restritas a aulas expositivas e prticas de
microscopia e diagnstico laboratorial, realizadas numa lgica de formao tecnicista e
descontextualizada.
Aulas expositivas, com o uso de quadro e retroprojetor, como estratgia preferencial entre
docentes universitrios so relatadas por Tullio (1995), em seu estudo desenvolvido na rea de
Engenharia Agrcola. Alm destas, o autor tambm se referiu a um uso minoritrio desta tcnica
associada discusso entre professores, alm da realizao de seminrios e prticas de campo. Em
relao primeira estratgia citada, ele a associa ao ensino tradicional, atribuindo a este, caractersticas
que o aproximam daquilo que Libneo (1985) denomina, conforme informado anteriormente, de senso
comum pedaggico e que, segundo este ltimo, caracterizaria boa parte dos professores; sendo oriunda da
incorporao, ao longo da vida estudantil, ou da transmisso informal de elementos do modelo
tradicional, dos mais velhos, aos mais novos.
No contexto de uma instituio particular, Franco et al. (2007) observaram quadro similar,
apontando o uso do quadro negro como recurso preferencial, alm do livro-texto e listas de exerccios.
Como alternativos, observou tambm a utilizao minoritria de textos de revistas ou jornais e
ferramentas da informtica, como CD-ROM, softwares especficos e internet.
Dentre os participantes da pesquisa, faz-se referncia a um trecho da entrevista com Rodrigo que,
embora caracterizado como docente tradicional, por suas concepes e prticas, no uso dos recursos
didticos, por outro lado, mostra-se diferenciado. Este aspecto conduz a uma viso preliminar de que a
pouca intimidade com as questes educacionais observadas a partir da anlise dos dados sobre o referido
docente, pode relacionar-se mais sua pouca experincia nesta atividade e menos a uma escolha consciente
deste sujeito.
Sobre o uso de tradicionais recursos, expe o problema da falta de livros na biblioteca de sua
instituio e a estratgia alternativa que adota:
complicado porque, por exemplo, no caso da Microbiologia, tem pouqussimos livros na
biblioteca, acho que tem principalmente o Trabulsi e, mesmo assim, s as edies antigas. A eu
procuro comprar (e tambm) vou buscar de vrias fontes. S que a os alunos no tm depois
como reforar, algumas vezes, determinadas informaes que a gente d (Rodrigo).
Em seguida, detalha a utilizao destas outras fontes ou recursos didticos alternativos a que fez
referncia, como matrias de jornais impressos e da internet, alm de expressar sua compreenso sobre a
importncia do uso destes materiais:
Uma coisa que procuro tambm fazer, digamos assim, () trazer a disciplina para o mundo real,
pegar informaes de jornal, que leio aqui pela internet, nos jornais impressos. A sempre que
vejo uma notcia, recorto, colo e coloco num arquivo. Ento, por exemplo, numa aula, eu fao
aquela introduo terica, depois distribuo a turma em pequenos grupos, cada um l, como o
253
artigo de jornal rpido, uma ou duas folhas e cada um fala um pouco sobre o que leu, n, que
so informaes da semana passada, de hoje, de ontem. Ento, por exemplo, a gente fala sobre
Salmonela. A t l uma reportagem: casamento no interior de no sei aonde, todo mundo passa
mal por causa da salmonela. A o cara vai ver, a maionese que estava estragada. Acho que isso
traz mais interesse para os alunos esse tipo de discusso (Rodrigo).
A estratgia, que buscou a superao das deficincias estruturais de sua instituio ou a falta de
livros, pode ser considerada uma percepo crtica desta problemtica, facultando ao docente ir para alm
da conscincia real efetiva, ao invs de permanecer a ela aderido.
Esta e outras caractersticas e concepes de docncia apresentadas por Rodrigo distinguem-no
da postura tradicional com a qual foi inicialmente identificado nesta pesquisa. Trs elementos da
constituio deste docente justificam tais diferenas em relao avaliao anterior, baseada em dados
quantitativos, quais sejam: 1) o curto tempo de docncia em nvel superior (4 anos), 2) a idade
relativamente tardia de ingresso nesta atividade (36 anos) e, 3) concepes e prticas advindas de
modelos de docncia diferenciados.
O primeiro destes elementos indica certa inexperincia com a docncia universitria e um
descompasso entre sua idade e a fase do desenvolvimento profissional correspondente, tanto em relao
ao esquema riegeliano quanto relativamente idade de ingresso dos demais participantes da pesquisa.
Conforme aponta Riegel (1979), a idade de Rodrigo compatvel com o nvel IV de desenvolvimento
profissional, no qual o docente deveria estar devidamente integrado s atividades de sua especialidade,
chefiando grupos de pesquisa, por exemplo. Dado que ingressou recentemente nesta carreira, pode estar,
entretanto, desenvolvendo ainda atividades atribudas pelo pensador alemo s fases II e III, relativas a
estgios preliminares do aprendizado, nas quais o profissional possui certa heteronomia intelectual, tanto
pedaggica quanto acadmico-cientfica.
Alm deste adiamento das fases de desenvolvimento profissional, o ingresso tardio no magistrio
em nvel superior pode tambm alterar a dinmica de desenvolvimento sociopsquico do indivduo.
Segundo Mosqura (1987), enquanto esta fase da vida, a adultez jovem (35-40 anos), caracterizada por
certa estabilidade econmica, uma vez que o indivduo j possui um emprego e experimenta vivncias
relacionadas busca por um sentido da vida, no caso de Rodrigo, nesta fase, o docente vivencia a
experincia de seu primeiro emprego estvel.
Deste modo, pode estar vivenciando, no exerccio profissional, concomitantemente com o
sentimento de plenitude existencial, de realizao pessoal, um processo de ingresso e aprendizagem
profissional que, normalmente, so vividos em fase anterior da idade adulta (antes dos 35 anos).
Por estas caractersticas, Rodrigo poderia ser caracterizado como em transio, de postura mais
tradicional, reprodutiva, para a aquisio gradual de concepes e prticas diferenciadas, frutos de suas
prprias reflexes e experienciais iniciais como professor. Neste sentido, o terceiro elemento referido,
relativo aos modelos de docncia diferenciados, constitui importante condio para seu desenvolvimento
254
profissional, funcionando como a orientao paradigmtica inicial abordada por Riegel (1979) e
associada ao nvel I de seu modelo explicativo.
Assim, ainda que faa uso, por exemplo, de alguns recursos didticos menos convencionais,
constituindo exceo entre os docentes, em outras dimenses, Rodrigo, como os demais, exerce sua
atividade, conforme descreve em seu plano de ensino, a partir de uma perspectiva de relao dicotmica
entre teoria e prtica, desenvolvendo aulas tericas e aulas prticas separadamente.
Em relao a este ltimo aspecto, outro depoimento que expe compreenso igualmente
dicotmica dado por outra docente que, embora no se posicione quanto a isso, explica como funciona o
esquema da diviso de trabalho em sua instituio:
Na [cita a instituio], pra Parasito, so seis professores. A um d Micologia ( Parasito e Mico
a disciplina l, n?), ento dois do Micologia e quatro do Parasito. Ai eu fico com a parte de
protozorios terica, ai outra professora fica com a parte de protozorios prtica. Ai outro fica
com helmintos terica e outra fica com helmintos prtica (Suely).
Esta dicotomia frequente e constitui distintos segmentos dentro da prpria rea, de
pesquisadores intitulados tericos e prticos, sobretudo nas Cincias da Natureza, o que, segundo
Gonalves (2009), colabora para legitimar tal dicotomia. Expressando argumentos contrrios, afirma que
embora a pesquisa terica ocorra sem a exigncia de experimentos de bancada, realizada pessoalmente
pelo pesquisador terico", no lado oposto, a promoo de experimentos de bancada, no vcuo terico,
segundo ele, no se admite.
Outros estudos tambm apontaram concepes de docentes universitrios em que estava presente
tal dicotomia. Silva e Schnetzler (2005), por exemplo, registram, nos relatos de docentes universitrios -
com formao na rea de Ensino de Qumica e que, em eventos da rea, participam na condio de
palestrantes e/ou conferencistas -, indcios desta compreenso oriundos de suas formaes iniciais.
Igualmente, Veiga et al. (2004) e Tullio (1995), observam a mesma compreenso entre docentes
universitrios. As primeiras afirmam que, na concepo destes docentes primeiro vem a teoria e depois a
prtica como aplicao dessa mesma teoria, compreenso que, segundo as autoras, cria uma separao
prejudicial a qualquer processo formativo (VEIGA et al., 2004, p. 5), enquanto o segundo, fazendo
referncia s consideraes de Passos e Veiga (1989), lembram que teoria e prtica no se opem,
devendo haver constante e recproco relacionamento entre tais dimenses, o que redundaria numa prtica
cada vez mais esclarecida e controlada pela teoria e, uma teoria mais ligada realidade educacional.
Nas concepes expressas aqui, acerca da relao entre teoria e prtica, aulas tericas e aulas
prticas, parte terica e parte prtica, o problema no reside somente nestas dicotomias, j que tambm a
maneira como estes termos so compreendidos restrita. Logo, prtica compreendida, neste contexto,
como equivalente a atividades experimentais. Para Galiazzi et al. (2001), o conhecimento destes
formadores acerca de tais atividades permeado por vises do senso comum, numa percepo que as
255
concebe como ponto de partida para a construo da teoria ou, como diriam Silva e Zanon (2000), por
vises simplistas, permeadas pela ideia de transmisso-recepo.
Ainda que, no referido estudo, os autores atribuam a estas vises, uma percepo empirista-
indutivista por parte dos docentes, na presente investigao, ao detectar-se a dicotomia entre teoria e
prtica que se traduz por atividades tericas precedendo as prticas, identificou-se, neste elemento, certo
descompasso com as concluses daquela pesquisa.
Apesar disso, outros dados evidenciam compreenses empricas de certos docentes. Ao avaliar a
importncia das atividades prticas no ensino de microbiologia, uma das participantes da presente
investigao, alm de explicitar tal viso, atribui a estas uma dimenso memorstica, em detrimento de
reflexo crtica:
Olha, (um bom docente) ele tem que ter um domnio terico e prtico na Microbiologia. A
microbiologia, ela lida com seres microscpicos, seres que ningum v. Ento se ficar s na
terica, o aluno no perceber que, s vezes o dia-a-dia existe microorganismo e eles podem
passando, semeando numa placa um meio de cultura e podem observar isso, sentir o cheiro
disso, eles nunca vo lembrar. Porque temos vrias maneiras de memorizar: a fala, o odor, a
leitura e a visualizao, n? Ento se eles no observarem como que se faz, se eles no
observarem como que a bactria , o formato, a cor, o cheiro, eles no acreditam. Muitos j me
falaram isso, que s acreditaram que existia porque eles viram sair da prpria mo deles umas
coisas estranhas, vamos dizer assim, entendeu (Neide)?
Esta percepo de que a experimentao a nica maneira de lidar com questes prticas
classificada, no estudo de Gonalves (2009) de experimentalismo, conceito ao qual j foi feita
referncia e que se ope ao verbalismo.
Apesar disso, diferente do que sugere a docente, a simples realizao de atividades experimentais
no parece suficiente para que o aprendizado seja levado a cabo. O estudo desenvolvido por Barber e
Valds (1996), por exemplo, mostra que nem sempre tais atividades conduzem aprendizagem dos alunos.
Sobre tais compreenses, afirma-se que, nelas, as tericas precedem as experimentais, que
servem para demonstrar/comprovar a teoria. Assim:
os alunos seguem etapas de um roteiro pr-determinado, como se estivessem com uma receita, sem
praticamente refletir acerca daquele procedimento. O mais importante nesses experimentos obter um
resultado conhecido previamente pelos estudantes e pelo professor (GONALVES, 2009, p. 10).
Em se tratando de docentes universitrios, mais importante do que suas concepes em si, a
possibilidade da reproduo destas na formao dos estudantes. No caso daqueles que lecionam para
licenciaturas, por exemplo, para o autor supracitado, a busca por mudanas nas concepes de
professores da educao bsica, envolve, simultaneamente, processos formativos de docentes
universitrios, sem os quais, dificilmente ser quebrado o ciclo de reproduo destas concepes
ingnuas entre os distintos nveis de ensino. Ainda para este autor, entretanto, o tema das atividades
experimentais requer maior ateno, havendo poucos estudos envolvendo a temtica.
A importncia do estudo de Gonalves (2009), para apoiar estas anlises, no se restringe,
entretanto, a estas observaes. A referida investigao buscou compreender de que modo o
256
desenvolvimento profissional e a docncia poderiam contribuir no sentido de promover uma efetiva
aprendizagem acerca da experimentao em EC, tendo como um de seus desdobramentos, uma questo
cara a esta investigao. Esta diz respeito caracterizao da conscincia real efetiva e da conscincia
mxima possvel acerca da natureza pedaggico-epistemolgica da experimentao, no desenvolvimento
profissional de formadores de professores de Qumica.
Gonalves (2009) aponta, por exemplo, como uma das situaes-limite, nas concepes dos
docentes, aprendizagens pouco fundamentadas nos conhecimentos gerados pelas investigaes em EC e
atribui sua conscincia real efetiva, dentre outras, as seguintes caractersticas: a) separao entre
componentes curriculares tericas e experimentais; b) entendimento comportamentalista do processo
educacional; c) viso antropocntrica de meio ambiente (na qual inclui a taciturnidade em torno do
tratamento e da preveno dos resduos em sugestes de experimentos); d) compreenso das atividades
experimentais como a melhor maneira de ensinar os conceitos (que, segundo o autor, remete ideia de
um metodo universal para ensinar tais contedos, ou ainda, significaria afirmar que as atividades
experimentais so promotoras incondicionais da aprendizagem); e) compreenso das atividades
experimentais como um meio de exemplificar aspectos do cotidiano discente associados a conceitos e/ou
de demonstrar/comprovar/verificar uma teoria; f) crena na experimentao como origem do
conhecimento; g) convico na experimentao como causadora irrestrita da motivao discente, etc.
Em relao s questes envolvendo a experimentao, outro termo compreendido de modo
limitado pelos docentes de contedos especficos prtica, que, como se adiantou, no contexto dos
planos de ensino, nestas falas iniciais dos docentes, na literatura referida sobre este assunto, entendida
como sinnimo de atividades experimentais.
Para alm da questo, detalhadamente abordada, da compreenso simplista das atividades
experimentais, ao perceberem prtica neste sentido, muitos dos docentes destas disciplinas no concebem
a leitura, a pesquisa bibliogrfica, a atitude investigativa, a prtica docente e o desenvolvimento de
material didtico como atividades prticas. Ao compreender de forma restrita a prtica, provvel que
percebam a leitura, a pesquisa bibliogrfica, o uso da internet, o aprofundamento sobre a prpria
experimentao como tericas. Tal percepo pode contribuir para a reproduo acrtica de
procedimentos experimentais, realizados de maneira idntica em todas as instituies investigadas, no
Norte e nas demais regies do Brasil, qui em outros pases e continentes tambm.
Exceo seja feita aos docentes de Parasitologia do curso de Enfermagem da instituio B. Alm
destes, so encontrados, em outra rea do saber, educadores que discutem, investigam e experimentam
novas formas de proceder em atividades experimentais na docncia universitria. Faz-se referncia,
especificamente, a alguns docentes do campo da EC, que, a partir de concepes e prticas inovadoras,
combatem a dicotomia teoria-prtica.
257
Aqui, alm de relacionar estes indivduos/saberes como praticantes de aspectos constitutivos de
uma conscincia mxima possvel, se recorrer circulao intercoletiva (FLECK, 2010), considerando
a possibilidade de oferecer respostas a problemas vividos por um coletivo a partir de elementos de outro
coletivo. Para o epistemlogo, entretanto, conforme j destacado, o problema deve ser percebido pelos
integrantes deste coletivo, caso contrrio, devido a problemas de comunicao, de tradutibilidade ou
incomensurabilidade lingustica, torna-se difcil aos integrantes do coletivo de pensamento que, a partir de
seu EP consegue perceber as questes, comunicar aos integrantes do outro coletivo, o problema
percebido.
Gonalves et al. (2007) sugerem, neste sentido, algumas alternativas para promover esta
circulao intercoletiva, como o envolvimento conjunto de docentes de contedos especficos e de EC
em atividades como a elaborao de material didtico, a participao de docentes de contedos
especficos em eventos da rea de EC, a criao de espaos em revistas especializadas nos contedos
especficos para a publicao de artigos sobre o ensino destes contedos, etc.
Deste modo, ainda que o ensino de Parasitologia e Microbiologia seja marcado por um modelo
tradicional, pautado em aulas expositivas e prticas de laboratrio, por compreenses ingnuas das
atividades experimentais, por uma compreenso empirista-indutivista e pela dicotomia teoria-prtica;
concepes distintas, ainda que no hegemnicas, tambm esto presentes e podem referenciar processos
transformadores na docncia universitria.
Para um detalhamento pormenorizado destes procedimentos de planejamento, seleo e
organizao do contedo, investigou-se tambm o modo como os docentes preparam suas aulas. Com
efeito, o mesmo individualismo observado na elaborao do planejamento semestral, esteve presente nas
tarefas de preparao das aulas:
As minhas preparaes de aula, assim, as minhas aulas eu preparo e as aulas dela, ela prepara
tambm (Marcela).
Sim, sim ( individual). Porque pra preparar aula, muitas vezes eu tenho que j ir preparando o
que eu vou falar, o que eu no vou falar (Neide).
Com exceo de Luana, todos os demais docentes entrevistados prepararam suas aulas
individualmente. Esta docente, quando em atividade, discutia com outros colegas, mesmo em situaes
nas quais a aula era ministrada individualmente por ela:
A gente discutia com os outros mesmo que eu fosse dar uma aula, vamos supor, isso era
discutido com os outros docentes. Pra no correr o risco de voc ficar... primeiro porque muito
produtivo, n, voc ter a opinio dos demais (Luana).
Relativamente aos procedimentos de preparao das aulas, os docentes tradicionais,
descreveram-nas, ao invs de abordarem sua preparao, ainda que Marcela tenha feito referncia
confeco de um resumo da aula.
258
Um elemento em suas aulas considerado importante por docentes o relato de experincias
profissionais (referido por Marcela e pelo professor X). Outro elemento citado foram as prticas de
campo:
Mostro material, levo eles no campo, levo eles de excurso na fazenda ou em qualquer outro
local, eles coletam, a alguns d pra identificar a nvel de gnero, eles fazem relatrio, mas ficam
assim, voc v que eles esto encantados porque conseguem descobrir um universo que est ali e
eles, mas eles no enxergam normalmente (Marcela).
Outras atividades tradicionais foram relatadas tambm por docentes diferenciados:
Eu preparo em cima dos meus livros e preparo slide, baseada nas literaturas bsicas e
complementares. Utilizo figuras, tanto da prpria literatura quanto vou aos sites confiveis (a
gente at d alguns sites pra esses alunos pra que eles tambm possam procurar) O contedo
baseado no contexto do livro com as coisas mais atuais dentro dos papers, das pesquisas, no d
pra ficar s no livro, porque tem coisas j muito defasadas (Neide).
Eu aqui numa tarde pego, sento, vejo as aulas que tem pro semestre. Pego livro, separatas. s
vezes, j dei aquela aula, mas um artigo que fala sobre tal coisa. Tem uma pasta no meu
computador que eu vou jogando esses artigos assim, que vo ser usados no semestre que vem. A
eu vou dando uma lida, a tem uma figura que ilustra melhor ou ento achei algum site, alguma
coisa eu vou guardando tudo naquela pasta (ngelo).
Alm destes, o uso de recursos alternativos, como matrias de jornal, para apoiar a discusso dos
contedos, j foi relatado anteriormente, numa fala de Rodrigo, no item anterior, em que se atribuiu a ele
uma viso diferenciada sobre tais recursos e sua importncia na contextualizao dos contedos.
Luana, diferentemente dos demais docentes, enquanto ativa, preparava suas aulas, coletivamente,
e aponta motivos para este procedimento:
Porque se no tem interatividade entre os diferentes professores, o curso vira uma colcha de
retalhos. Se um no sabe o que o outro deu, a at prefervel que o mesmo que v
acompanhando o curso inteiro, porque se tiver cada um pinga na sua hora de dar aula, no sabe
nem do que o outro tratou antes... no sabe nem o que foi abordado o que no foi (Luana).
Reconhece que sua postura coletivista uma exceo entre os docentes universitrios:
Agora, eu vou falar uma coisa. Isso era um grupo didtico que a gente tinha, nosso, mas no que
isso represente o que acontece em outras disciplinas, no. Tem grupos que realmente so um
grupo e tem grupos que so um bando de gente que distribui as tarefas e t pronto! (Luana)
Alm do modo como os docentes preparam suas aulas, outra dimenso investigada diz respeito
aos instrumentos de avaliao. Prevaleceram, em todas as disciplinas investigadas, as estratgias de uso
frequente no meio acadmico, sobretudo no ensino de contedos especficos das Cincias da Natureza,
quais sejam, as provas tericas e provas prticas.
Os docentes no descreveram o formato das provas tericas, mas se referiram s provas prticas,
da mesma forma que em outras regies do pas, como a avaliao da percia na identificao laboratorial
dos microrganismos e execuo de tcnicas laboratoriais de manipulao, preservao, cultivo e
diagnstico laboratorial.
A maioria dos cursos utiliza, como critrio avaliativo, o desempenho dos alunos nos seminrios, a
frequncia s aulas e/ou a efetiva participao nas discusses e atividades prticas. No caso do processo
259
avaliativo, nem mesmo a disciplina de Parasitologia da instituio B, que, em seu plano de ensino, refere-se ao
uso de uma pedagogia no-tradicional, distinguiu-se das demais nesta dimenso.
Quanto ao contedo avaliado, como um desdobramento natural das estratgias de ensino,
baseado na estrutura dos principais livros-texto indicados nos planos de ensino. Portanto, o contedo
destas avaliaes, - assim como os procedimentos de ensino em geral -, marcadamente tecnicista,
desconsiderando a realidade do aluno e a possibilidade de uma compreenso mais crtica e aprofundada
da natureza destes conhecimentos.
A adoo de instrumentos tradicionais e pouco variados para avaliar, parece fruto de um fraco
domnio de saberes pedaggicos por parte destes docentes, reproduo acrtica de velhas tcnicas
transmitidas por docentes mais antigos, desde o final do sculo XIX, como indicado anteriormente, ou, no
caso dos instrumentos de avaliao, desde sculos anteriores.
Segundo Luckesi (2002), este modelo de exames escolares (provas tericas e prticas) utilizado
ainda hoje, foi sistematizado ao longo do sculo XVI (assim como as aulas expositivas referidas
anteriormente). Ao discorrer sobre eles, o autor faz a seguinte afirmao:
Nesses quatrocentos anos, ns nem nos perguntamos se essa a melhor forma de acompanhar o
aprendizado dos nossos alunos; simplesmente, exercitamos essa prtica. Hoje, de forma
automtica, por herana histrica, examinamos, sem verdadeiramente tomar conscincia do que
fazemos. A essa prtica damos o nome de avaliao (LUCKESI, 2002, p. 84).
Em sua argumentao contra a mera reproduo acrtica deste modelo de avaliao, Piaget
ainda mais duro e enftico:
Tudo j foi dito a respeito do valor dos exames escolares, e, no entanto essa verdadeira praga da
educao em todos os nveis continua a viciar as palavras no chegam a ter a violncia
necessria o relacionamento normal entre professor e aluno, comprometendo em ambos a
alegria do trabalho e, freqentemente, a confiana recproca (PIAGET, 1970, p. 52).
Este modo simplista e reprodutivo de conceber o processo avaliativo frequente entre docentes
universitrios. Franco et al. (2007) encontraram, no contexto de uma instituio particular, o uso de
provas tericas por 100,0% dos docentes universitrios, alm de trabalhos escritos (80,0%), seminrios e
observao de desempenho do aluno (53,3%), alm de provas prticas (20,0%), em nada diferindo dos
instrumentos observados no presente estudo. Os participantes do estudo conduzido por outras autoras,
falam em testagem do nvel de aprendizado prtico e, para as autoras subjaz aos relatos a ideia de que
testar o que se ensina significa medir o que se aprende. Alm disso, estas mesmas autoras classificam o
docente, neste modelo; como um aplicador de testes e um aplicador de regras e receitas externas como
forma de controle burocrtico. Em relao ao processo avaliativo, caracterizam-no como parcial,
antidemocrtico e frenador da criatividade (VEIGA et al., 2004, p. 4)..
Coelho (2005) indica o uso da avaliao como forma de controle e manuteno da disciplina.
Outro autor ainda, fala em terrorismo homeoptico:
260
Os professores utilizam as provas como instrumentos de ameaa e tortura prvia dos alunos,
protestando ser este um elemento motivador da aprendizagem. Quando o professor sente que seu
trabalho no est surtindo o efeito esperado, anuncia aos seus alunos: Estudem! Caso contrrio,
vocs podem se dar mal na prova! ( LUCKESI, 1996, p. 18).
No artigo referido mais acima, Coelho lembra ainda que a avaliao no um mtodo, mas um
processo, que objetiva diagnosticar o rendimento, quer individual, levando em conta a aprendizagem do
aluno, quer coletivamente, avaliando a instituio como um todo, dinmica da qual a avaliao, na forma
escrita, representa apenas um instrumento.
Alternativas a esse modelo, ausentes entre docentes universitrios destas disciplinas, podem ser
encontradas nas pesquisas em EC. Em relao ao contedo, por exemplo, certos autores fazem referncia
abordagem temtica como estratgia para promover:
...o uso articulado da estrutura do conhecimento cientfico com as situaes significativas [e
ainda que] o potencial explicativo e conscientizador das teorias cientficas que precisa ser
explorado (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2002, p. 202).
No campo da Educao, outra autora aponta a necessidade, num processo avaliativo adequado
dos alunos, da formulao e explicitao de critrios, constatando a ausncia do estabelecimento destes,
entre os docentes universitrios participantes da pesquisa que desenvolveu. Da mesma forma que os
autores supracitados, a autora sugere, no processo avaliativo, a articulao entre teoria e realidade,
vislumbrando a que o estudante possa:
integrar contedos, articular diferentes perspectivas de anlise, exercitar a dvida e o desenvolvimento
do esprito de investigao, colocando-se a aprendizagem como um ato de ampliao da autonomia
do aluno e a avaliao da aprendizagem como oportunidade de inovao, de retomada, que permita
ao aluno ampliar as suas possibilidades de questionar suas aes e decises diante de situaes
singulares e divergentes.com vistas melhoria da qualidade da formao. (CHAVES, 2003, p. 8).
Ainda no campo da Educao, so sugeridos tambm procedimentos para uma adequada
avaliao. Neste sentido, Luckesi (1991) indica que o docente colete, analise e sintetize, to
objetivamente quanto possvel, manifestaes das condutas cognitivas e afetivas dos educandos,
produzindo uma configurao do que foi efetivamente aprendido e atribuindo uma qualidade a tal
configurao da aprendizagem que possibilite a tomada de decises sobre os resultados desta avaliao.
Apesar disso, na presente investigao no se buscou explorar, mais detidamente as concepes
docentes sobre o processo avaliativo, embora as informaes dos planos de ensino se centrem mais nos
instrumentos utilizados, sem, contudo, subsidiarem detalhamento de como este idealizado e para quais
objetivos est voltado. Ainda assim, as escassas informaes obtidas sugerem pouca reflexo sobre esta
dimenso, pouca fundamentao terica dos educadores, uma concepo ingnua sobre avaliao, que
caracteriza uma outra componente da conscincia real efetiva dos docentes.
As alternativas apresentadas pelos investigadores da rea educacional e da EC, por outro lado,
refletem uma concepo crtica ao representarem os fatos na sua relao com a existncia emprica, em
261
suas correlaes causais e circunstanciais, concepo integrada com a realidade, ao contrrio da ingnua,
que se superpe a esta (FREIRE, 2006).
Os objetivos instrucionais constituem outro elemento importante para avaliar-se a adequao de
contedos e prticas a especificidades da formao profissional. Em relao a eles, conforme indicou o
quadro nacional, nos cursos da Regio Norte aqui investigados, tambm prevaleceu o desenvolvimento
de habilidades tcnicas relacionadas ao domnio de contedos disciplinares, conhecimentos bsicos
acerca de conceitos, definies e prticas dos saberes relativos s principais doenas infecciosas e
parasitrias humanas em todas as disciplinas.
Foram registrados objetivos como a compreenso dos mecanismos de patogenicidade bacteriana
no organismo humano (Microbiologia da Enfermagem e Medicina da instituio B) ou:
ensinar noes bsicas de microbiologia geral e especial aos alunos (...) que aprendero a
morfologia, a estrutura, a constituio antignica e a gentica das bactrias e dos vrus e
tambm os principais gneros de microrganismos, alm de sua posio taxonmica, seus
caracteres morfolgicos, culturais e bioqumicos, sua estruturas antignicas e a sua capacidade
de produo de toxinas e enzimas (Microbiologia dos cursos de Biologia, Odontologia e
Medicina da instituio C).
Alm do tecnicismo explicitado nestes, esto ausentes quaisquer objetivos relacionados com as
especificidades de formao de cada um dos cursos em questo ou com os contextos scio-polticos onde
atuaro, estando implcita ainda, a compreenso de ensino como transmisso-recepo.
H raras excees, entre os objetivos instrucionais, como por exemplo:
utilizar e difundir em sua comunidade ou em sua rea de atuao profissional as principais
medidas profilticas relacionadas a cada uma das doenas parasitrias humanas e zoonticas
(Parasitologia dos cursos de Odontologia e Enfermagem da instituio C).
Este parece distinto daquele esperado numa formao tecnicista, assim como esse outro:
estimular a busca de novos conhecimentos atravs da pesquisa e se engajar na medicina
preventiva visando a famlia, a comunidade, o meio ambiente e a informao e recuperao do
cidado (Parasitologia do curso de Medicina da instituio B).
Nos casos acima, evidencia-se a insuficincia de estratgias de ensino para atingirem-se tais objetivos
instrucionais, uma vez que as j descritas no parecem direcionadas para habilitar os alunos a utilizar e difundir
em sua comunidade ou em sua rea de atuao profissional, por exemplo. Tais saberes, assim como estes
planos de ensino parecem carecer tambm de metodologias capazes de estimular a busca de novos
conhecimentos atravs da pesquisa e se engajar na medicina preventiva.
Alm disso, com exceo da Parasitologia oferecida para o curso de Enfermagem da instituio
B, os planos de ensino investigados no dispem de estratgias de ensino ou objetivos instrucionais
direcionados para as necessidades especficas de formao requeridas para a atuao profissional de cada
um dos profissionais aos quais esto ligados.
No curso acima referido, dentre as competncias que pretende desenvolver a partir da disciplina,
encontram-se, alm daquelas relacionadas necessria formao tcnica dos enfermeiros, outras ligadas
262
atuao destes profissionais junto s suas comunidades e contemplando o contexto epidemiolgico da
regio amaznica. Exige-se ainda dos graduandos, a reflexo crtica sobre o papel do enfermeiro e sua
contribuio sociedade. Dentre as habilidades, de forma similar, espera-se deste profissional, que, como
intelectual graduado, investigue o perfil scio-econmico da sociedade onde dever atuar,
compreendendo, em consequncia, o modus operandi com que realizar a vigilncia epidemiolgica,
reconhecendo o papel da nutrio, do meio ambiente, dos recursos materiais e econmicos e sua inter-
relao com a sade do ser humano.
Alm deste curso, que passou por processo de reestruturao curricular, o de Biologia da
instituio A tambm passou por mudana neste sentido. Entretanto, a falta de acesso ao plano de ensino
do referido curso impossibilitou o conhecimento do real impacto deste na elaborao de seu
planejamento. Contudo, a julgar pelo exemplo da disciplina de Microbiologia desta instituio e
considerando a resistncia, expressa verbalmente nos contatos pessoais com seus docentes, adoo das
inovaes no currculo do curso, e juntando-se ainda a ausncia de um acompanhamento consultivo por
especialistas em EC (como ocorreu no curso de Enfermagem referido acima) na efetivao desta
reestruturao, possvel afirmar que mudanas efetuadas no referido plano carecem de conhecimento
em maior profundidade no que toca s suas dimenses e ao seu impacto.
A anlise dos objetivos instrucionais apenas complementa o j discutido em relao s estratgias
de ensino e instrumentos de avaliao e corrobora tais anlises. No se pretende, portanto, aqui, retom-
las.
Quanto bibliografia recomendada nos planos de ensino, tanto quanto os cursos de outras regies
do pas, as disciplinas investigadas indicaram livros, pginas na internet contendo, sobretudo atlas com
fotos de estruturas microscpicas, alm de peridicos especializados (os planos de ensino de
Microbiologia, como outras instituies nacionais, indicaram somente livros).
Nenhuma das instituies que indicou pginas na internet dispunha de material de produo
prpria, organizado e disponibilizado em stios eletrnicos. Os docentes indicaram em suas sugestes
bibliogrficas, entretanto, pginas na internet de instituies do Sul do Brasil, como a UFSC e a UFRGS
e tambm do exterior, como o Center for Disease Control and Prevention (CDC), por exemplo.
Em relao aos livros, no caso da Microbiologia, os docentes indicaram um nmero menor de
ttulos, se comparado com outras instituies nacionais, mas a predominncia de obras da rea mdica
similar, com uma proporo ainda maior de tais ttulos (nove livros desta rea, alm de outro de
Micologia Mdica). Como no cenrio nacional tambm, os ttulos mais recomendados foram
Microbiologia: conceitos e aplicaes (PELCZAR; CHAN, 1997) e Microbiologia (TRABULSI;
ALTERTHUM, 2004) mas, diferentemente destes, a obra Microbiologia Mdica (MURRAY et al.,
1992) foi citada exclusivamente por estas instituies (100,0% dos cursos). Outros ttulos referidos com
263
frequncia nos planos de ensino de Microbiologia foram Microbiologia Mdica (JAWETZ et al.,
1998), e Microbiologia Bsica (BARBOSA; TORRES, 1998), (presentes em 50,0% dos planos de
ensino).
No caso da Parasitologia, a relao de livros, diferentemente da Microbiologia, foi
numericamente comparvel dos indicados no cenrio nacional. As seis disciplinas pertencentes s trs
instituies da Regio Norte aqui analisadas indicaram 31 ttulos, enquanto os nove planos de ensino
selecionados em diversas regies do pas citaram 44 ttulos (ver Cap. 3).
O predomnio das obras na rea mdica, entretanto, foi similar ao observado nas disciplinas de
Microbiologia, tanto local quanto nacionalmente e a proporo de tais livros em relao aos demais, foi
ainda maior do que no cenrio nacional, nesta rea, em que 26 dos 31 ttulos (83,9%) pertencem
Parasitologia Mdica. Destes livros, seis (23,1%) tratam exclusivamente do Diagnstico Laboratorial,
sendo o mais referido entre eles (em 50,0% dos casos) o Manual de Exames de Fezes (VALLADA,
1995); e um (3,8%) trata de Entomologia Mdica. Os demais (73,1%) constituem Tratados de
Parasitologia Mdica, dentre os quais os dois ttulos mais citados, presentes em 100,0% dos planos de
ensino nacionais aqui investigados so: Parasitologia Humana (NEVES et al., 2005) e Parasitologia
(REY, 1991). Alm destes, as obras Doenas Infecciosas e Parasitrias (VERONESI, 1991) e
Doenas Infecciosas e Parasitrias: enfoque amaznico (LEO, 1997), tambm constituram
referncia frequente (4 e 5 dentre os 6 planos de ensino investigados, respectivamente).
Os cinco ttulos restantes so obras nas reas de Biologia Parasitria (3,2%), Clnica de Acidentes por
Envenenamento (3,2%) e Acidentes por Animais Peonhentos (9,7%), sendo os livros destas duas ltimas
reas referidas indicados pelos cursos de Enfermagem e Odontologia da instituio C.
No caso da Micologia, foram recomendados 11 livros, todos na rea de Micologia Mdica. Os
nicos ttulos referidos nos trs planos de ensino analisados foram Fundamentos clnicos e Laboratoriais
de Micologia Mdica (SIDRIM; MOREIRA, 2001) e Micologia Mdica: manual de laboratrio
(TEIXEIRA, 1999), este ltimo produzido em uma instituio da Regio Norte. Dois cursos indicaram
ainda os ttulos Microbiologia Mdica (JAWETZ et al., 1998) e Tratado de Micologia Mdica
(LACAZ et al., 2002).
Uma constatao inicial, em relao aos livros nos planos de ensino destas disciplinas, a grande
similaridade entre a estrutura dos referidos planos e a disposio dos contedos nestas obras. Tal
semelhana, segundo o depoimento dos prprios docentes, no casual, j que afirmam apoiar-se,
principalmente nesta literatura. Pode-se inferir que a descontextualizao e o tecnicismo, observados nos
planos de ensino, teriam como gnese o contedo destas obras. Outra caracterstica deste ensino que,
supostamente, pode ser atribudo ao contedo de tais livros a predominncia dos saberes oriundos da
rea mdica.
264
Uma interpretao alternativa possvel, proveniente mais de observaes empricas - no
sistemticas, no convvio com docentes destas reas e menos das apontadas pelos dados aqui obtidos,
diz respeito utilizao de certos ttulos de ampla aceitao nestas disciplinas (referidos acima), como
livro-texto pelos docentes. Ao adotar esta postura, os docentes indicariam o livro em que os alunos
deveriam estudar, prtica frequente na educao bsica. Neste sentido, ainda que tal prtica seja
corrente, o uso da literatura pelos docentes no constituiu preocupao desta investigao e assim, os
dados aqui obtidos foram insuficientes para evidenciar o uso indiscriminado desta estratgia. Apesar
disso, na literatura especializada, Carvalho (2002), ao investigar o contedo das pastas ou o material
disponibilizado para reproduo, por docentes universitrios, verificou a presena de cpias integrais de
obras que, para a autora, estariam ocupando o lugar de livro-texto nestas disciplinas.
Em relao aos livros, segundo alguns estudos estes constituem os recursos didticos mais
frequentes na docncia universitria (ROSA, 2007; CARVALHO, 2002) e, para Cavallo e Chartier
(1998), isso acontece desde a inveno da imprensa, que propiciou sua maior disponibilizao. Artigos
publicados em peridicos, por outro lado, segundo Carvalho (2002), a partir da anlise de pastas dos
docentes, so utilizados com pouca frequncia.
Para a autora, entretanto, o uso de livros como livro-texto, frequente at a dcada de 60 do
sculo passado, perdeu importncia, sendo substitudo pelo de captulos ou fragmentos de livros,
disponibilizados para fotocopias nas pastas dos docentes, apesar de constatarem, conforme observado,
que livros ainda fazem parte das listas bibliogrficas das disciplinas.
A indisponibilidade de livros nos acervos das universidades, apontada neste estudo, na fala de
Rodrigo, ao referir-se s estratgias de ensino, e no estudo de Tramontin (1995), citado anteriormente,
talvez no constitua um problema conhecido por muitos dos docentes que indicam sua utilizao.
Rosemberg (2000) observou, por exemplo, que entre os docentes da Universidade Federal do Esprito
Santo (UFES), cerca de 30,5% nunca frequentaram a biblioteca central de sua instituio, enquanto
12,8% nunca estiveram sequer nas bibliotecas setoriais ligadas sua unidade.
bvio que h outros modos de o docente obter tal informao, como a partir das queixas dos
prprios discentes, por exemplo, mas significativo que, exceto por Rodrigo, nenhum dos docentes
participantes da pesquisa tenha feito meno a esta problemtica durante a entrevista. Tal preocupao
parece pertinente, considerando a precariedade da situao scio-econmica de muitos estudantes no
Brasil (e em especial na Regio Norte), aliada aos altos custos dos livros, sobretudo na rea de Sade,
caso da maior parte dos indicados. Carvalho (2002), por exemplo, afirma que, s voltas com estes
problemas, os estudantes adotam como alternativas, as fotocpias de livros e/ou captulos (gastando
mensalmente em torno de R$ 50,00 a R$ 80,00), alm de recorrerem aos emprstimos de professores e
amigos e, por ltimo, dentre as alternativas de que se utilizam, referem-se compra de livros.
265
Outra questo importante, investigada por Ostermann (2002), a possibilidade de reproduo de erros
conceituais presentes em livros didticos pelos graduandos, sobretudo quando, como na investigao que ora
conduziu-se, tais livros assumem uma importncia to expressiva, a ponto de estruturar contedos, por
exemplo.
Na docncia universitria em sade, Castanho (2002) observa at mesmo o uso de apostilas pelos
docentes participantes desta investigao, os quais revelam, entretanto, que atualmente aboliram este tipo de
material de suas prticas por reconhecerem a importncia do contato dos alunos com os livros em sua
formao. Alm desta autora, Tramontin (1995) observou um uso frequente de apostilas no ensino superior
brasileiro. O uso de livro-texto carrega algumas semelhanas com a adoo de apostilas. Como apontado
por Castanho (2002), por exemplo, limita o aceso a outras leituras e, como lembra Tramontin, no estudo
referido acima, carrega uma pr-formatao que pode contribuir para uma transmisso, uma extenso
acrtica destes contedos. Alm disso, como diz Carvalho (2002), caso a compreenso do docente considere
o conhecimento como somatria, esta conduzir a prticas para a simples memorizao dos contedos,
numa concepo bancria
63
, portanto.
Outro elemento investigado pela autora, em relao a estes recursos, a importncia de oferecer-
se aos estudantes uma orientao terico-metodolgica para a leitura. Neste sentido, sugere que seja
criada:
uma poltica de leitura na universidade, para facilitar o acesso aos textos impressos e
digitalizados, e defende-se uma pedagogia da leitura, que exigiria dos docentes universitrios
uma tomada de conscincia de seu papel de formadores de leitores (CARVALHO, 2002, p. 1).
Tal considerao emerge de sua compreenso segundo a qual o docente universitrio o leitor
ideal, familiarizado com a leitura, enquanto o estudante, leitor real seja o que necessita de ter
desenvolvidas suas habilidades de leitura.
Levantados, de forma sinttica, os principais elementos da problemtica subjacente relao dos
docentes com estes recursos ser analisado este conjunto de informaes. Primeiramente, ser feito
referncia falta de indicao, para leitura, de material didtico prprio, de autoria dos docentes e/ou das
instituies de ensino envolvidas neste estudo, como livros, stios eletrnicos virtuais e artigos publicados
por estes participantes.
Neste caso, constituiu exceo o programa de Biologia Parasitria da instituio sulista onde o
professor X desenvolve suas atividades, sendo que ele prprio autor de uma obra de referncia na rea, a
qual citada no plano de ensino da mencionada disciplina. A disciplina de Micologia da instituio C
tambm possui uma obra de referncia regional publicada por uma de suas docentes, uma das poucas que
63
Paulo Freire diz que nesta concepo a educao se torna um ato de depositar, em que os educandos so os
depositrios e o educador o depositante (1979a).
266
no se disponibilizaram a participar deste estudo. Sua obra tambm citada nos planos de ensino de suas
colegas.
Em relao a tais materiais, lembra-se que muitos dos docentes destas instituies publicaram
artigos cientficos em peridicos especializados, ainda que a anlise dos planos de ensino no indique sua
utilizao como recurso didtico em atividades de ensino. Nas relaes de bibliografia dos planos
investigados, poucas fazem meno a peridicos.
Um dos problemas decorrentes da falta de produo de materiais didticos - sobretudo para
disciplinas sobre doenas infecto-parasitrias no contexto de instituies localizadas na Amaznia Legal
Brasileira pode estar na inadequao dos materiais existentes especificidade do contexto amaznico,
ainda que parte do conhecimento produzido nesta regio integre os livros sugeridos pelos docentes.
Neste sentido, a produo de material prprio pelos docentes seria fundamental para assegurar o
aprofundamento do estudo destes temas especficos do contexto local, constituindo-se elementos
adicionais para uma compreenso contextualizada destas realidades. Alm disso, como sugerem
Gonalves et al. (2007), a produo de material didtico, quando desenvolvida em conjunto com
especialistas em EC pode contribuir para o estabelecimento de um dilogo entre estes profissionais,
promovendo-se a circulao intercoletiva de ideias.
Ainda que no se configure como atividade de produo de materiais didticos, o uso de
materiais alternativos sugerido por Rodrigo um recurso que pode contribuir para um ensino mais
contextualizado. Recurso que, obviamente, constitui uma soluo restrita, no substituindo o papel
desempenhado por livros ou artigos especializados, os quais, alm de insubstituveis quanto aos
contedos, oferecem aos discentes a oportunidade de familiarizarem-se com a linguagem estilizada destas
reas do conhecimento.
No caso das questes acerca da possibilidade de erros conceituais nestes livros, dada a estreita
relao existente entre estes, na concepo de docentes e no texto de livros didticos, detectada por
Ostermann (2002) acredita-se que esta hiptese merece ser investigada criteriosamente, por pesquisadores
da rea educacional.
Conforme foi possvel observar, na anlise das concepes de cincia e sade expressas pelos
docentes, identificaram-se alguns problemas conceituais cuja gnese pode estar nos livros didticos.
Alm desta relao, outro elemento a justificar o desenvolvimento de pesquisas desta natureza,
provm da suspeita de que alguns livros referidos sejam utilizados na funo de livros-texto, embora tal
hiptese no se apoie em evidncias submetidas a exame sistemtico. Apesar disso, ao analisar-se tal
proposio em conjunto com o resultado de outras anlises referentes s estratgias de ensino e, sobretudo
ao contedo dos planos de ensino, perceberam-se vrias semelhanas entre tais elementos e a disposio
267
dos assuntos nos livros mais frequentemente indicados pelos docentes, fato que parece reforar tais
suspeitas.
Neste sentido, considerando o carter coletivo da conscincia, no seria coerente esperar que
houvesse grandes descompassos entre as concepes destes docentes e quelas expressas nos livros que
estes adotam em suas aulas.
Dois problemas podem originar-se deste quadro: a reproduo de tais erros pelos docentes e a sua
repercusso, a partir das prticas, entre os discentes (que, no caso dos professores das licenciaturas, traria
novo ciclo de reproduo). Dada a falta de reflexo no processo de ensino-aprendizagem, j referido ao
longo deste tpico - e que evidenciou o tecnicismo e a frgil relao entre contedos e a realidade do aluno
a existncia de erros conceituais nos livros potencializaria tais processos.
De modo geral, para iniciar uma avaliao dos elementos constituintes dos planos examinados,
caberia perguntar: como seria um planejamento de ensino adequadamente organizado? Para Leal (2005)
no h uma s resposta para esta questo, mas mltiplas, j que tais processos envolvem diferentes
formas de abordagem. Haveria, segundo a autora, entretanto, certa unidade em torno de seus elementos
constitutivos: objetivos, contedos, procedimentos metodolgicos e avaliativos.
Resgatando as observaes feitas, acima, sobre os planos aqui investigados, pode-se afirmar que
estes se caracterizavam por: a) estratgias de ensino baseadas, sobremaneira, em aulas expositivas,
microscopia e execuo de tcnicas de diagnstico; b) instrumentos de avaliao restritos, usando,
sobretudo, testes escritos e testagem da habilidade de identificao das espcies de microrganismos; c)
objetivos instrucionais voltados para formao tecnicista e memorstica, sem preocupaes com a
especfica, requerida em cada curso em que lecionam; d) planos de ensino estruturados de modo similar,
em termos de contedo e disposio dos assuntos, aos principais livros em suas reas de atuao, pouco
se distinguindo uns dos outros.
Tais inferncias apresentam-se coerentes com as concepes expressas pela maioria dos docentes
participantes desta pesquisa. Com raras excees, observou-se pouca preocupao com o fazer-se e
refazer-se das prticas que adotam, as quais, quando presentes, raramente envolvem discusses que
questionem os contedos e prticas presentes no modo como concebem as atividades de ensino,
restringindo-se mera atualizao dos contedos especficos.
Apesar desta aparente uniformidade, foram percebidos aspectos diferenciadores de duas ordens:
a) pequenas modificaes pontuais ou circunstanciais, em planejamentos tradicionais e; b) modificaes
de ordem estrutural, em termos conjunturais, que buscaram constituir ou implementar metodologias de
ensino alternativas. Evidentemente, a presena distinta destes diferenciadores, tanto do ponto de vista
qualitativo como quantitativo, cria certo gradiente, das propostas mais tradicionais quelas mais
diferenciadas.
268
No primeiro caso, inserem-se os diversos elementos presentes nos planos de ensino e nos relatos
dos docentes das instituies C e D, como o uso, em distintas propores, de materiais didticos
alternativos, de estratgias como estudos dirigidos, prticas de campo, prticas de ensino coletivas, etc.
Nestes planos, apesar da tmida ocorrncia destes, em muitos casos, alm de alguns raros objetivos
instrucionais que parecem estar em consonncia com as diretrizes curriculares dos cursos a que esto
dirigidas estas atividades (Biologia, Medicina, Odontologia, Enfermagem), de modo geral, prevalecem
atividades de ensino e objetivos voltados para uma formao tecnicista; indicando pouca influncia dos
pressupostos interdisciplinares e contextualizadores, j referidos anteriormente, indicados nas DCNs
(BRASIL, 2001a; b; c, 2002c).
No segundo caso, foram encontradas duas situaes distintas, uma mais geral, observada tanto na
instituio A, quanto na B e outra observada no curso de Enfermagem da instituio B. Em ambas,
diferente da situao anterior, os cursos passaram por recentes processos de reestruturao curricular.
A situao mais geral a que se fez referncia parece apontar para mudanas no currculo que no
se efetivaram na prtica, aparentemente, pela falta de sintonia e/ou envolvimento dos docentes no
processo. Assim, disciplinas isoladas passaram, em teoria, a ser denominadas tpicos ou unidades
temticas, numa tentativa de integrao interdisciplinar em mdulos ou eixos temticos,
respectivamente, nos cursos acima referidos. Apesar disso, a julgar pelos planos de ensino apresentados
pelos docentes do Tpico 2, do mdulo Seres Vivos I do curso de Biologia da instituio A e da
unidade temtica Microbiologia do eixo temtico Determinantes do Processo Sade-Doena, do
curso de Enfermagem da instituio B, as alteraes parecem no estar se efetivando, na prtica, j que os
contedos e estratgias de ensino, em nada diferem daqueles elaborados a partir do modelo tradicional.
Uma situao distinta foi observada na unidade temtica Parasitologia deste mesmo eixo
temtico. A julgar pelo depoimento informal da docente ao preencher o questionrio n 1, ao contrrio
dos casos anteriores, neste, houve identificao e participao desta profissional no processo de
reestruturao curricular. Esta participante concebe a nova proposta curricular como problematizadora
e acredita que as modificaes contriburam para melhorar o ensino-aprendizagem em sua disciplina.
J foi relatado que, diferentemente da instituio A, neste curso, a reestruturao curricular foi
realizada com o apoio de especialistas no campo educacional. No caso da docente em questo,
aparentemente, este acompanhamento profissional contribuiu para instrumentaliz-la a efetivar mudanas
em sua prtica. No caso da docente de Microbiologia desta instituio, entretanto, considerando o modo
como elaborou seu plano de ensino, os resultados foram menos expressivos. Tais diferenas revelam os
limites e as possibilidades de aes desta natureza.
Ao longo desta discusso foram apresentados argumentos que revelam ainda outros limites desta
interveno, j que contedo, estratgias de ensino e instrumentos de avaliao apresentados no plano de
269
ensino de Parasitologia do referido curso, embora tenham absorvido elementos de compreenses
educacionais mais elaboradas, apresentam outros elementos oriundos do modelo de ensino
tradicionalmente adotado nesta disciplina.
Em que pese a incompletude deste processo transformador, a presena de uma viso educacional
mais elaborada, quando comparada realidade de outros cursos e instituies apontam para aes
educacionais mais consistentes, qui com melhores resultados para os discentes.
Aes como a coleta de dados epidemiolgicos em campo, associada, tanto a um processo
sistemtico de interpretao e anlise, quanto discusso destes com as comunidades interessadas
poderia contribuir para a formao de um enfermeiro, conforme indicado pelas DCN, no sentido de
oferecer um ensino voltado para que o aluno seja:
capaz de conhecer e intervir sobre os problemas/situaes de sade-doena mais prevalentes no
perfil epidemiolgico nacional, com nfase na sua regio de atuao, identificando as dimenses
biopsicosociais dos seus determinantes (BRASIL, 2001d, art. 3., inciso I).
O uso de procedimentos sistematizados para lidar com estes dados epidemiolgicos, aliado
metodologias problematizadoras, como a abordagem temtica e o PBL, pode favorecer a formao de um
enfermeiro qualificado para o exerccio de Enfermagem, com base no rigor cientfico e intelectual,
conforme preconizam as mesmas DCN (art. 3., inciso I).
Na formao do licenciado em Enfermagem, conforme prev o inciso II deste mesmo
documento, a efetivao de uma metodologia de ensino com base nos referidos pressupostos
educacionais deve favorecer a capacitao do discente para a atuao na educao bsica e no ensino
profissional de enfermagem, papis atribudos por estas diretrizes a estes profissionais.
Mais do que isso, caso as atividades previstas no plano de ensino sejam executadas de modo
integrado com outros participantes do eixo temtico Determinantes do Processo Sade-Doena; este
trabalho coletivo pode proporcionar, na formao do enfermeiro, o desenvolvimento de habilidades que
assegurem, em sua futura prtica profissional, a implementao de aes integradas e contnuas com as
demais instncias do sistema de sade, pautadas na anlise crtica dos problemas da sociedade e na busca
de solues, conforme prope o inciso I do artigo 4 das citadas DCN.
Esta compreenso representa, portanto, a superao de uma frequente situao-limite na docncia
destes contedos, que demandou iniciativas formativas, planejadas. A julgar pelos resultados, estes
processos ocorreram de modo a dar condies para docentes atuarem com prticas educativas em sintonia
com as necessidades expressas tanto pelas indicaes das pesquisas em Educao em Cincias, como, e,
sobretudo, pelos direcionamentos que emanam dos documentos oficiais referentes aos cursos de
formao em nvel superior. No caso dos docentes das licenciaturas, incluem-se a os PCNs da educao
bsica.
270
Vale ressaltar, entretanto, que embora parte das atividades constantes deste plano possuam as
caractersticas acima descritas, a presena de estratgias de ensino tradicionais, transmissivas, de
contedos engessados, numa lgica que dicotomiza teoria e prtica, , at mesmo nesta proposta
diferenciada, prevalente.
Deste modo, ainda que a estratgia de contar com especialistas no campo educacional para a
implementao de reestruturao curricular tenha promovido importantes transformaes na prtica
docente em Parasitologia para o curso de Enfermagem, no caso da instituio B, para que estas mudanas
sejam, de fato, efetivas e duradouras, outros fatores precisam ser atendidos.
Observou-se que, no caso em questo, a presena de sujeitos com conhecimentos e prticas
oriundos de outro Coletivo de Pensamento, contribuiu para o processo de transformao dos saberes e
prticas da docente de Parasitologia, indicados em seu plano de ensino. Neste plano, esto, lado a lado, de
modo articulado, saberes e prticas historicamente presentes no ensino destas disciplinas e
implementados cotidianamente por seus docentes, por um lado e; por outro, mtodos e tcnicas
originrios do campo educacional, igualmente desenvolvidos e aplicados por especialistas nesta rea do
saber.
Apesar disso, a construo conjunta desta nova metodologia no se constituiu, ao que parece, em
um processo duradouro, interrompido to logo os especialistas retornaram sua instituio de origem.
Por outro lado, para compreender como estariam ocorrendo as discusses integradas, ao menos no eixo
temtico em que insere-se a referida disciplina, cabem algumas indagaes: como estariam ocorrendo
estas discusses com os docentes de Sade Ambiental, Epidemiologia, Imunologia e outras unidades
temticas integrantes deste eixo? Por que, no contedo descrito para a unidade Parasitologia no h
referncia a contedo interdisciplinar, mas to somente contedos parasitolgicos bsicos? Docentes da
rea educacional estariam participando destas reflexes integradas?
Para responder a estas questes, h apenas alguns indcios, o que sugere a necessidade de outra
investigao para melhor compreenderem-se os aspectos apontados.
Deste modo, pelas peculiaridades desta unidade temtica na referida instituio, o desenvolvimento de
um estudo detalhado sobre as prticas docentes, envolvendo ainda outras unidades deste eixo temtico, seria
relevante. Outrossim, a ausncia de elementos interdisciplinares no contedo da Parasitologia, associado a um
aparente isolamento da unidade temtica Microbiologia, pertencente a este mesmo eixo, sinalizam problemas
no desenvolvimento destas atividades enquanto um eixo temtico. Alm disso, a ausncia de unidades
ligadas a reas do conhecimento no campo das Humanidades (ou qualquer rea externa Biologia e/ou
Sade) no eixo em questo pode constituir empecilho dinmica da pretendida abordagem, que pressupe a
interdisciplinaridade.
271
Preocupaes como estas integram o rol de prioridades, ao menos dos docentes de Microbiologia
participantes do I ENAPROM, que contou com relatos de experincia e discusses sobre pedagogias
alternativas no ensino de microbiologia, como o PBL, alm de inovaes de outra natureza envolvendo,
tanto o ensino presencial quanto o realizado distncia. No referido encontro foram apresentados
tambm novos recursos didticos desenvolvidos para o ensino desta disciplina. Para o II ENAPROM
(SBM, 2010), configurou pauta ainda, o tema processos avaliativos e indicadores de qualidade para a
avaliao externa, como desdobramentos das discusses anteriores.
A existncia de fruns como estes, envolvendo aes, pesquisas e discusses sobre o ensino destas
reas fundamental, embora represente, ainda, processos em fase inicial de construo e organizao. Tal
avaliao leva em conta o reduzido nmero de docentes participantes destas discusses, j que o I
ENAPROM contou com cerca de trs dezenas de participantes de todo o Brasil. No caso da Parasitologia,
apesar da ausncia de fruns desta natureza, artigos sobre o ensino desta disciplina, ainda que escassos,
estiveram presentes no XXII Congresso da Sociedade Brasileira de Parasitologia, realizado em 2011 (SBP,
2011). A avaliao que se fez do estado preliminar de tais discusses considerou tambm a reduzida
quantidade de profissionais das reas de educao e ensino de microbiologia, as escassas estratgias
educacionais alternativas utilizadas na superao dos problemas apresentados e, enfim, o estgio
preliminar de formao e definio destes saberes.
Assim, alm destes fruns, os casos relatados no presente estudo parecem compreender a
conscincia real efetiva da docncia das disciplinas ora investigadas. Esta conscincia, portanto, no seria
uniforme, mas constituda de modo a formar um espectro, com distintos perfis de conscincia, variando
da concepo tradicional, hegemnica, para outras concepes que se afastam desta, conforme sugerido
anteriormente.
Tal gradiente, portanto, inclui desde o docente que estaria aderido ao senso comum pedaggico,
passando pelo docente que traz, em suas concepes e prticas tradicionais, algum recurso alternativo
diferenciado, culminando com aqueles que, problematizando suas concepes e prticas, chegaram a propor,
de modo sistmico, ainda que com resultados parcialmente satisfatrios, novos procedimentos de ensino.
At o momento, foi dada maior nfase nas condies institucionais que possibilitaram as
transformaes relatadas. Com isso no se pretende desvalorizar a influncia da individualidade dos
docentes nestes processos. No curso de Enfermagem da instituio B, por exemplo, o processo de
reestruturao curricular envolveu o corpo docente como um todo, entretanto, o impacto deste sobre a
professora de Parasitologia, a julgar pelo plano de ensino apresentado, foi distinto daquele que incidiu
sobre a responsvel pela Microbiologia deste curso.
Outro destes exemplos diz respeito postura distinta de Luana, que, percebendo a necessidade de
um trabalho realmente coletivo, com discusses para superao das tarefas meramente burocrticas,
272
parece representar uma individualidade excepcional, entre os docentes. Foi mencionado, anteriormente, o
papel destas individualidades excepcionais, no modelo explicativo goldmaniano da formao da
conscincia coletiva. Estas, assim como o contedo das grandes obras filosficas e artsticas,
expressariam a conscincia mxima possvel (GOLDMAN, 1972). No caso da docente em questo, isto
ficaria evidente no modo como compreende o carter coletivo do trabalho docente.
Por outro lado, ao abordar-se tal tema, no se poderia olvidar a relao entre estes sujeitos e o
papel das condies materiais de formao da conscincia na gnese destas concepes docentes. Neste
caso, alm do contexto institucional, enquanto elemento gerador destas transformaes fundamental
inclurem-se outros elementos genticos destas, igualmente integrantes do modelo goldmaniano: as
influncias da realidade sociohistrica mais ampla.
Muitas destas influncias j foram explicitadas na anlise de seus processos constitutivos, no
tocante tanto s atividades profissionais quanto s externas ao meio acadmico, suas experincias
passadas, seus processos formais de constituio, dos modelos de docncia, alm das concepes sobre
elementos socioculturais onipresentes, como a religio, o cinema, a TV, a poltica, etc.
Estes elementos do contexto de vida, tanto dos docentes quanto dos discentes, poderiam auxiliar,
como ser observado, no trato das concepes de contextualizao e interdisciplinaridade dos participantes da
pesquisa, na elaborao do planejamento de ensino, caso este seja realizado, a partir da investigao temtica,
conduzido pelos docentes com o apoio de especialistas em EC. Neste processo, conforme j foi apontado,
seria fundamental a realizao de um levantamento preliminar da realidade, a partir do qual seriam escolhidas
situaes significativas para as etapas seguintes, quais sejam, codificaes, dilogos decodificadores, obteno
dos temas geradores e a reduo temtica, ponto de partida desta nova compreenso, destes novos saberes
produzidos, que poderiam ser empregados nas atividades de ensino em sala de aula.
Tal processo tornaria possvel no somente o desenvolvimento de novos recursos didticos, como
livros interdisciplinares e contextualizados, como tambm contribuiria, num sentido mais amplo, para o
repensar de novas estratgias de ensino, novos instrumentos de avaliao e, enfim, do indito vivel.
5.4.3. Contextualizao e Interdisciplinaridade
Neste item, estas dimenses sero discutidas em separado, por constiturem princpios difundidos
e recomendados no campo educacional, para os quais se dedicar especial ateno. Aqui, sero
apresentadas as concepes dos docentes relativas a estes temas.
No caso da contextualizao, buscou-se investig-la a partir de trs dimenses: a) levando em conta o
modo como os docentes articulam os aspectos histricos ao contedo da disciplina em questo; b) o modo
273
como consideram a problemtica que concerne, direta ou indiretamente, realidade social do aluno; c) e suas
concepes sobre a adequao de contedos e prticas s especificidades profissionais dos graduandos.
Em relao ao primeiro aspecto, a partir do questionrio n 1, perguntou-se aos docentes, qual o
papel da histria da sua disciplina em suas prticas docentes. 42,3% dos participantes da pesquisa
respondeu que procura resgatar, a cada aula, os aspectos histricos da produo do conhecimento em sua
disciplina, constituindo-se esta a alternativa preferida pelos docentes. Outras duas alternativas tambm
assinaladas com frequncia afirmavam que: a) este aspecto no integrava o contedo formal, ainda que
procurasse inclu-lo, ou, ainda que; b) tais aspectos eram abordados na primeira aula. Estas duas ltimas
alternativas foram respondidas, cada uma por 34,6% dos docentes.
Dentre os entrevistados, todos afirmaram considerar importante a insero de aspectos da histria
da sua disciplina no contedo ministrado, ainda que para Marcela este aspecto possua uma importncia
secundria em sua disciplina, sendo suficiente falar um pouco, uma coisa ou outra. Dentre os motivos
alegados pelos docentes, para considerar relevante a incluso deste tema, est a percepo de que tal
estratgia facilita a aprendizagem do aluno:
Porque seno voc tem muita dificuldade. J tem dificuldade quando voc explica isso porque
muita coisa pra eles... muito conceito pra eles aprenderem. Mas, se voc explica como que era
antes e o que que aconteceu, que uma cincia dinmica (Marcela).
Acho que importante porque isso torna a disciplina muito interessante (enftico), n? Pelo
menos eu pensava assim quando era estudante e tento passar isso pros alunos (Rodrigo).
Outro motivo referido o papel pedaggico da contextualizao histrica na compreenso do
processo de produo dos conhecimentos na disciplina:
E se voc chega aqui na sala de aula e voc diz: olha, fungo isso, aquilo, ele est dividido
assim, mas voc no explica o que foi que aconteceu antes... Ento eu sempre falo pra eles
entenderem o contexto do que a gente, do que tem hoje e do que tinha antes, n (Marcela)?
Nem que voc tenha que vir desde quando comeou, contar t vendo isso aqui? esse
experimento? Foi descoberto por acaso, de tal forma, eles achavam isso. Depois eles viram que
tal coisa era diferente. Sabe por que? Por causa disso, disso... E se a gente d o conhecimento
pronto a gente no mostra como o conhecimento foi construdo (ngelo).
Uma implicao deste procedimento, segundo uma das docentes, seria o desenvolvimento da
criticidade dos alunos:
eu acho que o estudante atual ele recebe muita coisa pronta. E isso acaba tirando um pouco a
criticidade, o poder de observao. Ele no sabe o poder que ele tem, de novas descobertas ou de
uma critica mesmo a alguma coisa que ta de um jeito, que ta de outro (Luana).
Alm desta implicao, para outro docente, a contextualizao histrica pode oferecer ao
estudante uma viso de cincia enquanto empreendimento humano. Ao expressar esta concepo revela
certo esclarecimento sobre o tema, dado divergente do perfil que emergiu na anlise quantitativa, que o
caracterizou como um docente tradicional:
Quando a gente sabe de onde veio tal coisa, como que as pessoas chegaram l, a gente acaba
assim humanizando mais o conhecimento. A pessoa acaba se identificando mais. A gente busca
274
humanizar mais o cientista, n? No colocar, por exemplo, Pasteur como um gnio, que j nasceu
sabendo tudo. No, Pasteur um dia foi que nem um aluno nosso, no sabia nada do assunto. Foi se
interessando, se tornou o maior bacteriologista do mundo por se interessar, por estudar (Rodrigo).
Ainda em relao incluso de temas sobre a histria de suas disciplinas, os docentes indicaram o
modo como exploraram esta dimenso. Dentre eles, Marcela afirmou faz-lo (principalmente) nas primeiras
aulas, expressando ainda uma viso restrita destes aspectos:
Eu falo muito isso nas primeiras aulas, principalmente nas aulas de taxonomia, onde eu mostro
pra eles qual foi a evoluo das classificaes, da sistemtica, pra eles entenderem onde que a
gente est (Marcela).
A maioria dos docentes, ao contrrio, adota uma estratgia mais integrativa entre a histria e os
demais contedos de suas disciplinas, embora em outros aspectos, possuam tambm vises restritas.
Suely e ngelo, por exemplo, indicando uma postura conteudista e, mesmo tendo uma carga horria
maior do que a de Marcela, apontam limites de tempo para dar tanto assunto:
Dentro da ementa no existe essa parte de histria como um contedo que precisa ser dado.
Ento, eu tento inserir no pouco tempo que eu tenho, a quantidade de contedo que precisa ser
dado que s vezes no d tempo mesmo. No de forma geral da parasitologia, mas de forma
pontual, cada tipo de agente etiolgico que a gente vai falando, cada doena e inserir um pouco
da histria de como isso comeou (Suely).
Eu tento fazer isso, nem sempre o tempo me deixa. Porque hoje o sistema t muito, mecnico. Tenho
que ir pra sala de aula com horrio curto. (...) Mas eu tento trazer o tempo todo. Tento trazer pro
senso comum, ainda mais a parasitologia, que aquela coisa, todo mundo j teve lombriga. Ento
falar de parasitologia, falar de uma receita caseira. Por que que funciona uma receita caseira? A tua
av, qual o conhecimento? De onde veio esse conhecimento? Por que que veio assim (ngelo)?
Um limite na concepo histrica que emergiu entre os docentes (no depoimento de uma nica
docente), tem a ver com a adoo de uma viso linear da histria, a partir de uma abordagem que se
utiliza das histrias clssicas da Microbiologia:
Olha, eu dou ao longo do curso. Eu comeo com a histria da microbiologia clssica, n, E
conto a historinha do antibitico, como surgiu. Eu conto a historinha da tuberculose n, da peste
negra. Ento, tem algumas historias que so clssicas. O prprio microscpio, n (Neide)?
Por viso linear da histria, conforme ser discutido mais adiante, compreende-se uma
perspectiva que pressupe um tempo nico, linear e cronolgico. Postura distinta, no-conteudista e no-
linear, expressa por outros docentes que, conhecedores da importncia de incluir aspectos histricos da
produo destes conhecimentos, no se queixam da falta de tempo e do excesso de contedo:
Eu procuro ler a respeito, saber de detalhes e, nas aulas, no s na primeira, ao longo das aulas.
Por exemplo, quando a gente fala de vrus, eu conto como surgiu o conhecimento sobre os vrus,
as dificuldades que as pessoas tinham. Depois quando a gente fala de vacinas, falo de onde
surgiu a vacina, a palavra, a etimologia (Rodrigo).
Nas disciplinas que eu tenho, eu uso histria da microbiologia no como um captulo a parte, do
incio, nada disso. Eu gosto muito de falar coisas relacionadas com a histria como exemplos de
que as descobertas vo tendo relao com o desenvolvimento da tecnologia, mas eu ensino isso
ao longo do curso, no como uma coisa isolada, em termos cronolgicos porque eu acho que
isso fica muito como uma histria no inserida (Luana).
275
Outro aspecto investigado neste estudo diz respeito s concepes dos docentes acerca do
contexto de vida dos alunos. Ao se investigar, a partir dos questionrios, a importncia deste, para estes
sujeitos, exceto por um dos participantes, os demais declararam consider-lo importante. Apesar disso,
quase metade deles (42,3%) assinalou a alternativa segundo a qual, no era possvel lev-lo em conta,
dado o grande nmero de alunos, enquanto em menor proporo (26,9%), alguns indicaram que este
elemento seria chave para o planejamento das atividades de ensino, afirmao que, como se indicou, no
pde ser comprovada a partir de elementos de suas prticas docentes, como os planos de ensino ou a
partir de suas concepes sobre o planejamento pedaggico.
As contingncias referidas pelos docentes so expressas tambm na fala de alguns deles, nas
entrevistas: A gente tem muito aluno, n? E s vezes voc se envolve (Marcela). muito impessoal, na
instituio D, a relao do que nas outras, onde a gente convive mais tempo com aqueles alunos,
diferente (Suely).
Ao discorrerem sobre suas concepes em relao ao significado deste contexto de vida dos
alunos, entretanto, os docentes revelam compreend-lo, de forma restrita, como equivalente a problemas
pessoais dos alunos. Na busca por descreverem o modo como inserem este contexto, descrevem
algumas experincias:
No fim do perodo ele (o aluno) veio conversar comigo. Veio de fora, sozinho, aqui, estava meio
perdido e, entrou em parafuso, a se perdeu em algumas coisas, n? A, ele preocupado se eu ia
reprovar ele por falta. Porque eu acho assim, a universidade diz que eu posso reprovar por falta
e por nota. Mas se ele competente de estudar sozinho, vir aqui e fazer, eu no vou reprovar por
falta. adulto (Marcela).
O problema que s vezes o aluno tem problemas pessoais e a ele recorre ao prprio professor.
Eu tive uma aluna que tava tendo problemas srios com o pai com cncer terminal. Ento
realmente o estado psicolgico dela no tinha como fazer uma prova que eu tinha marcado.
Ento o que fiz com ela: deixei mais tempo pra estudar e quando se sentiu preparada, a ela me
ligou e pediu pra fazer a prova (Neide).
Ainda que possuam uma compreenso limitada sobre a relao entre o papel do docente e o
contexto de vida dos alunos, desenvolvem estratgias para lidar com estes problemas. Uma delas
assumir uma postura paternalista, agindo, por vezes, com complacncia, como o caso de uma das
docentes:
E a voc tem que se envolver. Agora, eu tambm, eu no sou muito rgida. Porque eles falam:
professora a senhora s tem farofa n? [risos] A senhora esculhamba com a gente. Tem um
mesmo que quer ser monitor. Esculhambando com ele mas ele ri (Marcela).
Paternalismo, logo em seguida, explicitado: porque professor meio pai, meio me, n?
(Marcela). Elemento que a docente atribui, em parte, aos alunos: Quando a gente vai ficando mais velho
eles esto vendo voc como se fosse uma me como se fosse um pai (Marcela). E, ainda que no perceba
a si prprio como responsvel, revela:
276
Eu prefiro isso de que, vamos dizer assim, prefiro at ter aluno me atentando atrs de mim,
prefiro! A eu chamo tudo de meu filho, chamo tudo de meu bem, de lindinho de no sei o que. E
a eles... de vez em quando chega um e a fala da vida (Marcela).
Assumindo postura contrria, mas igualmente paternalista, muitas vezes repreendem os alunos:
Eu no incentivo porque seno a gente no tem vida, n, tambm, n? Eu vou falar, no sou
nenhuma santa. Tem dia que eu dou esculhambao nele, depois eu digo: venha c meu filho,
venha c, olhe desculpe. (Marcela)
Vrias vezes j dei bronca em alunos mais velhos do que eu e eu chamando a ateno, n?
Principalmente por falta de educao mesmo, responder ao professor, que eu acho que isso
ainda, eu exijo na sala de aula. s vezes, por eu ser nova dentro da sala de aula, muitos ainda
acham que podem me pressionar. (Neide)
Outra estratgia, ao contrrio, manter-se distante, adotar uma postura de neutralidade em
relao a tais problemas: eu procuro trat-los de uma forma realmente igualitria, tm alunos que tm
mais dificuldades, tem alunos que tm menos dificuldades (Rodrigo); na sala de aula eu tento trat-los de
forma igualitria, mas eu no posso tratar de problemas pessoais dentro da sala de aula (Neide).
Em defesa de tal postura, apresentam diversos argumentos:
Mas foi uma das excees, n (referindo-se ao caso citado anteriormente), porque a gente
tambm exigida, n? A gente tem que cumprir prazo, a gente tem que entregar as coisas, ento
a gente tambm no pode pensar muito. (Marcela)
complicado para um professor, numa turma heterognea, n, no posso cobrar mais de um e
menos de outro, n? (Rodrigo)
Alm destas vises de contexto como problemas pessoais, alguns docentes expressaram
tambm os motivos pelos quais consideram importante adotar alguma estratgia que leve em conta o
contexto de vida dos alunos. Nestes depoimentos, esteve presente a concepo que relacionava estas
estratgias aos conhecimentos prvios dos alunos sobre o contedo:
Isso pra mim vai facilitar na hora em que eu tiver que lidar com aquele contedo com eles,
porque eu vou saber o quanto eles esto deficientes ou no, o que eu preciso buscar l do ensino
mdio pra ajud-los a chegar aqui, saber qual era o conhecimento deles at ali. E a comeava
devagar, dava aquela parte mais bsica de nomenclatura zoolgica, de glossrio, discutia com
eles, ento j despertava neles (Suely).
Ento saber a histria de vida de cada um, de contextuar de onde eles vm, qual sala, qual
pblico. Ah! licenciatura? P! Licenciatura tem que pegar mais... contar histria... Ah!
Bacharelado (ngelo)...
Os depoimentos acima evidenciam que, a despeito da vontade expressa por eles de considerar os
diferentes nveis de compreenso do contedo entre os estudantes, paralelamente, cultivam certas pr-
concepes. Estas seriam frutos de suas vivncias como docentes, como a falta de compreenso de
nomenclatura zoolgica, no primeiro caso e as diferenas entre os perfis da licenciatura e do bacharelado,
por outro (ao longo da entrevista, o docente atribui certas caractersticas tambm aos cursos de Medicina
e Farmcia). Pr-concepes que parecem ter emergido de forma assistemtica.
277
Ao ser questionada, por exemplo, sobre o modo como procedia para investigar este contexto,
uma das docentes, descreveu aquilo que chama de dinmica do conhecimento que, apesar de oferecer
possibilidades para a emergncia destas informaes, segundo a prpria docente, empregada em funo
distinta:
Sempre fao uma roda, coloco todo mundo, ento eu sempre pergunto: nome, o que faz, se
trabalha, no trabalha, a eles comeam a falar dessa parte mais pessoal deles e por que eles
escolheram fazer aquela graduao. A comeam a se soltar e falam, do depoimentos muito bons.
Depois eu coloco todo mundo pra fazer uma roda em pares. Depois eles vo se tocar. Eu peo pra
eles fecharem os olhos. Eles vo se tocar, vo se abraar, no final vo sorrir um pro outro. Ento
isso j quebra um monte de coisas no primeiro dia e eles j no vo ser mais coisas estranhas
porque j se tocaram e j vo olhar pro outro, no dia seguinte, com mais intimidade (Suely).
Ainda que, em certos momentos de sua fala, a docente refira outros usos que faria deste
procedimento, emite frequentemente outros pr-julgamentos, alm de no apontar qualquer mtodo que
possibilite um uso mais sistemtico destas informaes. Ao contrrio, enfoca outro objetivo: a
importncia de tal atividade no sentido de romper com a formalidade e propiciar um ambiente mais
descontrado. Atribui a isto, o papel de humanizar o ensino, afirmando:
E que eles no percam essa humanidade, no vejam o paciente deles s como cdulas, mas como
ser humano tambm, que vo ao consultrio, s vezes, s pra falar com algum. Ento tento
despertar neles essa questo de humanidade (Suely).
Uma compreenso mais abrangente de contexto de vida expressa por outra docente, que afirma:
Eu aprendo com meus alunos, mas muito mesmo. Porque eles trazem coisas da vida deles que eu no sei,
que eu no tenho contato. Um dos fatores aos quais atribui a ignorncia destes elementos a diferena de
idade:
Se eu pensar que a distncia entre o que eu sei de vida agora muito maior do que antes com
meus alunos. Vamos supor, quando comecei a dar aula, tinha acabado de me formar. Ento eu
era um ano, dois anos mais velha que meus alunos. Ento eu sabia das coisas deles, sabia do
estilo de vida que tinham. Atualmente essa distncia enorme! Porque os alunos continuam
entrando na faculdade com a mesma idade e eu fui l pra frente. Ento acho muito importante
voc saber o que ta acontecendo com esse aluno. Qual o foco de interesse (Luana)?
Mais do que isso, a docente busca tambm fazer emergir elementos do contexto de vida dos
alunos, relativizando seu ponto de vista e, deste modo, evitando pr-julgamentos, alm de referir
estratgias que contextualizam os contedos:
Se de microbiologia, ele tem muito mais possibilidades de ter informao pela televiso, saber o
que ele ta comendo, se t comendo numa lanchonete por quilo, ele l no jornal, por exemplo, que
aquelas lanchonetes no to sob condies que deveriam estar e ligar isso ao que ta aprendendo de
microbiologia, n? Acho que a mdia ajudou muito, nesse sentido. Porque atualmente eles
conhecem muita coisa que ouvem, lem em jornal, ouvem falar e trazem pra discutir. Muitas vezes
eu no estou nem sabendo daquilo. Eles dizem: professora eu li no sei qu, no sei qu, eu digo:
Que legal, vamos atrs disso e, s vezes, d margem pra gente poder discutir. Se aquilo
bobagem, no razovel dentro do que se conhece da microbiologia (porque sai muita besteira
tambm n, muita coisa sensacionalista, mas eles trazendo pra mim, uma forma de eu conhecer
tambm e discutir com eles, se tem base cientfica, se vale a pena ter um crdito, se isso implica em
alguma mudana de comportamento. Eu acho fundamental (Luana).
278
Um elemento contextual tambm investigado diz respeito s concepes dos docentes em relao
ao modo como os problemas da sociedade contempornea integram o contedo da disciplina. A maioria
destes (76,9%) indicou que d exemplos recentes e conta experincias pessoais em sua atuao
profissional, abordando-os sempre que tenham relao com o contedo da disciplina. Esta compreenso
de contextualizao, em que o docente apenas usa elementos do cotidiano para ilustrar suas aulas, foi
referida no item anterior, por dois dos docentes mais sintonizados com a viso tradicional (Marcela e
professor X).
Grande parte dos docentes (65,4%) assinalou a alternativa cuja proposio afirmava que o contedo
da disciplina abordava muitos temas contemporneos, doenas conhecidas no Brasil e no mundo. Tal
concepo, segundo a qual o contedo pr-estabelecido da disciplina j contempla a problemtica, parece
ser, como mostram estes dados, frequente entre os participantes da pesquisa.
Outra alternativa, que se apresentou como opo mais problematizadora afirma que, depois de
expostos os problemas, o docente busca criar estratgias para, junto com os alunos, pensar alternativas e
aes para solucion-los. Ainda que alguns docentes (26,9%) tenham assinalado esta sentena, a anlise
dos dados efetuada at ento, no identificou tais prticas entre os participantes da pesquisa, exceto no
depoimento de Luana (que nem mesmo preencheu o questionrio n 1).
Por fim, nesta questo, na alternativa cujo enunciado procurava dar um papel mais significativo a
esta problemtica afirmou-se que o docente usa tais problemas para elaborar seu planejamento e que os
mesmos estruturam o contedo de sua disciplina, sendo esta assinalada por dois dos participantes (7,7%),
mas que igualmente no foi identificada nas concepes ou prticas dos docentes.
Com a exceo de Rodrigo, na fala sobre o j mencionado uso das notcias de jornal como
recurso didtico em sala de aula e de outra docente, ao afirmar que:
No d pra voc, por exemplo, ensinar resistncia a antibiticos sem saber do que ta acontecendo
socialmente, n? Qual o contexto social onde voc vive. Eu to sempre lendo muitas coisas e fazendo
paralelo. E ai eu penso em muita coisa que o Paulo Freire fala de, por exemplo, o futuro
problemtico e no inexorvel. Todos os contedos so assim, n? Ento isso faz com que eu passo a
ensinar usando situaes de problema, levando os alunos a pensar sobre situaes novas (Luana).
No tocante contextualizao, o terceiro elemento referido no incio deste item, dizia respeito
adequao de contedos e prticas s especificidades da formao profissional dos graduandos. Ao serem
inquiridos sobre este assunto, a maioria dos docentes afirmou levar em conta esta dimenso contextual.
57,5% deles informaram que o contedo adaptado s necessidades do futuro profissional, enquanto
50,0% assinalaram a alternativa cujo enunciado referia um uso meramente ilustrativo de tal contexto (dar
exemplos para que o aluno se interesse mais. (34,6% concordaram com ambas). Pouco mais de 10,0%
no consideraram esta adequao necessria.
No caso especfico das licenciaturas, todos os docentes ligados a este curso disseram que se
envolvem com a preparao do estudante para a docncia. Dentre as duas questes com tal alternativa,
entretanto, a primeira, que se referia exclusivamente ao contedo especfico, foi preferida por 75,0% dos
279
docentes, enquanto a segunda, que falava da preparao para a docncia como uma tarefa onipresente nas
licenciaturas, foi eleita por 58,3% dos respondentes.
Outra questo dirigida aos participantes que lecionam para as licenciaturas perguntava quais
estratgias tm adotado neste sentido. As estratgias mais referidas pelos docentes envolveram a realizao de
seminrios e/ou palestras sobre o contedo da disciplina (83,3%) e a produo de material didtico (58,3%).
Em relao aos dados obtidos a partir do questionrio n 2, em todas as afirmativas assinaladas, os
docentes concordaram total ou parcialmente com os excertos dos DCNs dos cursos em que lecionam.
Quatro docentes do curso de Licenciatura em Cincias Biolgicas concordam parcial ou totalmente com
a assertiva segundo a qual cabe ao licenciando, ainda que atue como docente e no como bacharel, uma
formao que contemple adequada fundamentao terica no campo da Biologia. Segundo este
documento, tal formao incluiria
o conhecimento profundo da diversidade dos seres vivos, bem como sua organizao e
funcionamento em diferentes nveis, suas relaes filogenticas e evolutivas, suas respectivas
distribuies e relaes com o meio em que vivem (BRASIL, 2001a, p. 3).
Sobre o Bacharelado em Cincias Biolgicas, a nica docente que leciona para este curso
respondeu ao questionrio concordando totalmente com a afirmao de que o Bacharel em Biologia deve se
tornar agente transformador da realidade presente, na busca de melhoria da qualidade de vida (BRASIL,
2001a, p. 3). Tal afirmao foi selecionada com vistas a contemplar a dimenso social da profisso do
bilogo que, segundo a literatura especializada, na atual estrutura curricular, fragmentada e
descontextualizada, (WEISSMANN, 1998) tem sido negligenciada.
Quatro dentre os docentes lecionam para o curso de Medicina. Estes quatro professores se
colocam totalmente de acordo com a afirmao segundo a qual:
conhecer os princpios da metodologia cientfica, possibilitando-lhe a leitura crtica de artigos
tcnico-cientficos e a participao na produo de conhecimentos, uma das competncias e/ou
habilidades necessrias ao Mdico (BRASIL, 2001b, art. 5. inciso XV).
Tal compreenso diverge quanto ao propsito da formao de mdico como profissional liberal.
O nico docente do curso de Odontologia concordou parcialmente com afirmao que recusa a viso do
odontlogo como profissional liberal, afirmando que:
o Cirurgio-Dentista deve atuar em todos os nveis de ateno sade, integrando-se em
programas de promoo, manuteno, preveno, proteo e recuperao da sade, sensibilizados
e comprometidos com o ser humano, respeitando-o e valorizando-o (BRASIL, 2001c, p. 9).
Alm destes elementos referentes contextualizao, buscou-se explorar tambm as concepes
dos professores sobre a interdisciplinaridade. Para isso, inicialmente, perguntou-se a eles como
procedem frente a problemas cuja soluo demanda conhecimentos de outras reas do saber. Grande
parte dos participantes desta pesquisa (57,7%) afirmou buscar tais conhecimentos por iniciativa prpria,
considerando-se abertos a todas as reas do saber, enquanto outra parte (38,5%) indicou que, quando
280
confrontados com tal situao, procuravam profissionais destas reas para discutir ou, eventualmente,
convid-los para participar de aulas sobre o tema.
Ainda que estas duas alternativas mais frequentes tenham sido construdas para representarem
posturas opostas (a primeira delas fala em buscar por iniciativa prpria, enquanto a segunda remete a
uma consultoria a profissionais de outras reas do saber), alguns participantes selecionaram ambas as
respostas (23,1%), talvez compreendendo iniciativa prpria tambm como o ato de procurar
profissionais destas outras reas. Deste modo, cerca de dos docentes (23,1%) no assinalou a segunda
destas alternativas, recusando a opo de consultar tais profissionais.
Alternativamente, alguns docentes afirmaram que, nestas situaes, diziam aos alunos que tais
questes seriam tratadas mais adiante no curso (19,2%), enquanto uma minoria assegurou desconhecer o
referido assunto (7,7%).
Noutra questo foram exploradas, de forma indireta, as concepes dos docentes sobre a
interdisciplinaridade. 69,2% dos participantes da pesquisa esperaram, ao final da disciplina, ter propiciado
mudanas na formao do aluno no sentido de capacit-lo a integrar conhecimentos com contedos
aprendidos em outras disciplinas, enquanto outros docentes afirmaram esperar ter propiciado aos alunos
melhor compreenso do contedo especfico (53,8%).
Os dados procedentes das entrevistas apontaram para uma concepo hegemnica segundo a qual
as relaes entre o seu contedo e o de outras disciplinas possuem importncia secundria para o docente.
Deste modo, ao serem confrontados com questes, postas pelos alunos e que no dizem respeito ao
contedo exclusivo de sua disciplina, a maioria dos docentes, desenvolve estratgias pouco elaboradas
para lidar com o impasse. Nos casos em que se deparam com tais questes, caso julguem-se capazes de
respond-las, tratam de oferecer diretamente uma resposta:
Olha, s vezes, voc tem conhecimento daquilo l porque, pelo pblico que voc trabalha, s
vezes voc tem conhecimento daquilo l (Marcela).
Ah! Eu procuro explicar mesmo assim, se essa outra rea for da minha competncia, eu procuro
explicar, mesmo que seja rapidamente. s vezes, em microbiologia, os alunos me perguntam
alguma coisa que tem muito a ver com bioqumica como a gente fala de metabolismo e tal n,
como a gente fala de fermentao, n (Rodrigo)?
Eu t dando Micro e Parasito dentro da odontologia. No sou dentista, mas precisava falar a
linguagem de dentista pra poder contextualizar o que estava falando. Se era pra falar de bactria,
tinha que falar de bactria que causava crie, bactria que estava presente na periodontite. Ento,
precisei buscar esse conhecimento, e a eu comecei a estudar tudo isso (Suely).
No segundo exemplo, o docente est se referindo a contedo (bioqumica) que, embora no
integre o domnio especfico de sua atuao, prprio de sua formao (Agronomia). No terceiro, ao
contrrio, o contedo (microbiologia odontolgica) integra sua disciplina, mas no diz respeito sua
formao especfica (Biologia).
281
Neste ltimo caso, ainda, em situao na qual a professora, desconhecia as respostas, uma
alternativa adotada e referida por Suely, indica que em tais circunstncias, preciso pesquisar por conta
prpria. Alm dela, outros docentes tambm concordam com o uso desta estratgia:
Eu (digo): no meu filho, no sei. Voc quer que eu pesquise? A gente conversa depois. Voc
me pergunta, a gente conversa, a gente senta e conversa depois (Marcela).
Bom, quando eu no conheo as respostas eu procuro dizer que no sei e que eu poderia
pesquisar e tambm eu falo na aula, por exemplo, se algum tem ideia e no uma coisa que
acontece frequentemente, n? , mas aquilo que eu falei: o professor no tem necessidade de
saber tudo, mas, ele no pode tambm usar isso como desculpa para se acomodar, n? Se eu no
sei, na prxima eu tenho que saber, n (Rodrigo)?
H ocasies, entretanto, nas quais alguns docentes aceitam como natural assumirem o
desconhecimento do assunto, enquanto para outros tal postura inadmissvel. Para estes ltimos, a
alternativa encararem como desafio a superao da formao demasiado especializada:
H necessidade dessa busca, no adianta voc olhar pra esse aluno e dizer: Ah, no sou dessa
rea, s me pergunta o que da minha rea, porque esse aqui eu no sei.. No d pra gente
fazer isso! Eu acho que eu ainda tenho uma deficincia nisso, s vezes a gente to especialista,
que s quer ler coisas da nossa rea, s quer saber de l (Suely).
Ao adotar a primeira postura, entretanto, outro docente destacou procedimento que, em sua
concepo, tambm inadmissvel:
Eu acho que o professor no tem necessidade de saber tudo, mas eu acho que a gente no pode
desestimular o aluno de perguntar, ento, se disser assim: eu no sei, eu acho que isso no tem
nada a ver com a nossa disciplina, eu acho que isso fecha o aluno, desestimula o aluno, ento o
aluno tem que ser sempre estimulado (Rodrigo).
Ainda que os docentes reconheam o desconhecimento de certos assuntos como postura possvel,
h especificidades. Outra docente, por exemplo, afina-se com a busca por uma formao mais generalista,
apontando algumas interfaces da sua disciplina com outras reas do conhecimento:
Eu gosto muito de misturar as coisas, como se diz, n? Porque a Microbiologia no um campo
especfico por caractersticas do mundo dos micrbios, da convivncia que a gente tem, do fato
deles estarem presentes em todas as reas. Eu busco muito as questes relacionadas com a
questo afetiva, quando voc fala da preveno, mudana de hbitos que a grande chave da
microbiologia, n? Alm da medicao, se a gente tem a preveno baseada na mudana de
hbitos, que uma das coisas mais difceis de acontecer com o ser humano (Luana).
Posio diferente assumida, ainda, por outros docentes (e tambm pelos mesmos sujeitos). Ao
invs de procurarem respostas por conta prpria, recorrem a outras estratgias, como consulta a colegas
especialistas:
mas mesmo assim tem vrios professores que eu convido pra dar aulas. Convido um professor
do Adolpho Lutz pra falar sobre tica em sala de aula, tica em microbiologia, tambm tem
gente trabalhando com isso, que faz parte de comisses de tica, tudo o mais, convido
professores que trabalham nessa parte de comunicao a distncia, de cursos distncia, que
uma coisa que eu no to habituada e hoje uma coisa muito importante na formao dentre as
possibilidades, n, o ensino a distncia (Luana).
282
Possibilidade distinta refere-se ao envolvimento do prprio aluno formulador da questo, na
busca por possveis respostas, Este o caso (em relao ltima destas alternativas) para o qual a docente
expressa a seguinte compreenso:
Mas tambm eu puxo o aluno tambm a pesquisar e conforme for, ele trazer essa discusso pra
prxima aula, n? Porque se ele fez a pergunta ele tambm tem que ir correr atrs do
conhecimento dele. Se uma duvida dele, s vezes, o professor, nem todo professor vai conseguir
responder, n? Ento ele tambm tem ferramentas pra descobrir isso (Neide).
Os resultados apontam para uma frequente aceitao da necessidade de adoo de estratgias que
envolvam a contextualizao e a interdisciplinaridade. Com raras excees, no houve substantivas
diferenas entre as concepes dos docentes tradicionais e diferenciados.
Em sua maioria, os participantes da pesquisa reconhecem a importncia da contextualizao,
levando-se em conta os elementos histricos da disciplina e afirmam procurar efetiv-lo em sua prtica
docente. Apesar disso, ainda que alguns apontem certas contingncias, de modo geral, esta relao, no
explicitada nos planos de ensino, apresenta-se assistemtica e contm elementos de compreenses
ingnuas, tanto quelas relativas prpria histria, quanto as que dizem respeito s relaes entre esta e
outros elementos do contedo programtico da disciplina.
Acerca de tais compreenses ingnuas, quanto aos aspectos histricos, apontam-se a viso linear
da histria, pouco explicitada entre os docentes, e as simplistas que atribuem histria o papel de
facilitar a aprendizagem ou o de ilustrar para tornar mais interessante o contedo. Por outro lado,
alguns participantes da pesquisa, apresentaram concepes mais esclarecidas como a que se refere ao
papel pedaggico da contextualizao histrica na compreenso do processo de produo dos
conhecimentos na disciplina ou a que menciona sua contribuio para oferecer ao estudante uma viso de
cincia enquanto empreendimento humano (esta ltima apontada por dois docentes).
Em relao perspectiva linear da histria, que pressupe um tempo nico, cronolgico, para
alguns autores (LEIS, 2001; BARREIRA, 1999) esta tende a desconsiderar a ao coletiva dos seres
humanos na histria, dificultando, portanto, a teorizao de qualquer mudana da ordem civilizatria.
Barreira (1999) associa tal perspectiva ao positivismo, ao ocupar-se do estudo da sucesso descontnua
dos diferentes modos de produo, utilizando o mtodo dialtico, afirma o carter cientfico da histria
como disciplina, a produo do conhecimento como fenmeno social e indica a abordagem marxista
como alternativa. Leis (2001), por sua vez, atribui viso linear da histria filosofia e s cincias sociais
caractersticas da modernidade e afirma que o aspecto principal desta linearidade diz respeito
equivocada concepo unidimensional das foras atuantes na histria, j que, em sua percepo, h um
quadro complexo de mltiplas foras, multidimensional, portanto.
Sobre inserir-se a histria da cincia na EC, seu papel na contextualizao dos temas indicado
por Rosa (2006). No referido estudo, a autora constata que a maioria dos professores favorvel
insero de histria e filosofia das cincias, apesar de encontrar dificuldades em faz-la em funo de sua
283
prpria formao. Alm disso, afirma que a atual insero destes elementos histricos pelas universidades
que pesquisou, no suficiente para que o licenciado relacione esses contedos com a prtica na sala de
aula.
Por fim, indica a importncia da incluso de aspectos histricos contextualizadores na EC e,
consequentemente, a necessidade de preparo adequado dos docentes nas licenciaturas em relao a esta
dimenso do conhecimento.
Ao abordar outra dimenso da contextualizao, ligada realidade social dos alunos, os docentes
expressaram quase unanimemente uma compreenso que afirmava a importncia deste elemento, ainda
que muitos tenham apontado o grande nmero de alunos como um obstculo para introduzirem este
elemento em suas prticas. Na avaliao feita, h, de fato, um nmero excessivo de alunos por docente e,
neste sentido, considera-se o argumento pertinente, embora no suficiente para impossibilitar a adoo de
estratgias que levem em conta o contexto de vida dos alunos. Por outro lado, tais estratgias,
envolveriam processos formativos destes docentes, visto que o repensar de contedos e prticas
demandaria o domnio de saberes pedaggicos por parte dos docentes.
Problemas com o domnio destes saberes podem ser observados at mesmo na compreenso que
os docentes expressam sobre a realidade social do aluno. Conforme observado anteriormente, esta
compreenso se d de modo limitado, com o sentido de problemas de ordem pessoal e, assim, os
docentes adotam distintas estratgias, todas de curto prazo, como a postura paternalista, ora complacente,
ora repressiva [REGO (2003) aponta vrios excessos neste comportamento entre docentes do curso de
Medicina]; ou ainda assumem uma posio de neutralidade, afirmando um tratamento igualitrio.
Em que pese a maioria dos docentes perceber o contexto de vida dos alunos como problemas
pessoais, alguns identificaram tambm a sondagem dos conhecimentos prvios sobre a disciplina como
elemento contextual a ser conhecido. Atentando para a importncia deste elemento, apresentaram uma
concepo mais esclarecida sobre o tema. Contudo, quando buscaram discorrer sobre as estratgias para
sondar estes conhecimentos, com raras excees, revelaram, novamente, pouca habilidade na lida com os
conhecimentos pedaggicos.
Houve uma referncia importncia da sondagem dos conhecimentos prvios dos alunos, na qual a
docente revela o uso de recursos didticos, que denomina de dinmica do conhecimento, utilizando-os,
segundo seu depoimento, de forma genrica e assistemtica.
Neste aspecto, a falta de habilidade com os conhecimentos pedaggicos, ainda mais clara
quando se investigou o modo como docentes concebem a relao entre os problemas da sociedade
contempornea e o contedo de suas disciplinas, cujos resultados evidenciaram a falta de intimidade com
o assunto. A quase totalidade dos docentes considerou, no mximo, a possibilidade de inserir tais
problemas de um modo ilustrativo, mas nunca desempenhando um papel estruturador de temas, em
284
sintonia com o que vem sendo designado de abordagem temtica (DELIZOICOV, ANGOTTI;
PERNAMBUCO, 2002) ainda que, alguns sujeitos, nos questionrios, assinalassem alternativas que
afirmavam tal prtica.
Vale lembrar-se do caso da Parasitologia da instituio B, cujo plano de ensino faz referncia ao
uso da abordagem temtica e do PBL, apresentando ainda estratgias que revelavam a preocupao com
a contextualizao que transcende o mero carter ilustrativo. No caso relatado (no item anterior),
importante ressaltar que tais estratgias, descritas no referido plano, no contemplaram o contexto social
como estruturador a disciplina que, em grande medida, permaneceu aderida ao modelo tradicional.
Retome-se o sentido proposto pelos PCNEM, mencionado no incio deste texto (Cap. 1) e
adotado como referncia para esta discusso, no qual recomendada a compreenso e utilizao da
cincia como elemento de interpretao e interveno. Associe-se tal sentido exigncia legal expressa
no artigo 43 da LDB, citada tambm no incio desta tese - que estabelece como finalidades estimular o
conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais para
perguntar: que problemas regionais foram referidos? Que medidas cientficas de interveno na realidade
foram citadas? Tais elementos integrariam o rol de preocupaes dos docentes?
Se presentes, quase no foram explicitadas. A concepo de prticas que, seno de modo
estrutural, ainda assim utilizassem elementos do contexto social contemporneo (de modo ilustrativo),
por exemplo, embora raras, tenham sido observadas. Nelas, o docente recorreu a elementos oriundos dos
meios de comunicao para promover discusses sobre temas ligados aos contedos das disciplinas, tais
como jornais impressos e notcias da internet sobre doenas infecciosas, por exemplo.
Ainda em relao contextualizao, elemento digno de ser destacado, da fala de Luana (p. 280),
diz respeito relao que a docente estabelece entre ter ingressado cedo na docncia universitria e a
melhor compreenso dos elementos do contexto de vida de seus alunos. Esta caracterstica, dentre os
participantes do presente estudo foi frequente entre os docentes diferenciados, cuja idade de ingresso na
docncia universitria (28-34 anos, 30,7 em mdia) foi inferior dos tradicionais (30-43 anos, 36,6 em
mdia). Alguns, dentre os primeiros, ingressaram ainda mais cedo na docncia em outros nveis de
ensino, fato raro para os segundos.
Quanto adequao de contedos e prticas s especificidades dos cursos de graduao, as
respostas dos docentes s questes fechadas dos questionrios n
os
1 e 2, revelaram preocupao com esta
dimenso e sintonia com pressupostos das DCN de cursos da rea de Biologia (BRASIL, 2001a) e Sade
(BRASIL, 2001b; c; d; 2002c). Apesar desta preocupao, as respostas indicam tambm limites na
compreenso sobre os modos para atingirem tal aspecto da formao dos estudantes. Uma das respostas,
com frequncia, assinala uma abordagem meramente ilustrativa destes aspectos como estratgia didtica
285
para alcanarem tal objetivo. Mais que isso, para alguns docentes sua disciplina no guarda qualquer
relao com esta dimenso da formao.
No tocante aos pressupostos nas DCN, as respostas ao questionrio n 2, revelam que os docentes
consideram relevantes as preocupaes com a formao de profissionais, nos diferentes cursos em que
atuam, com competncias e habilidades para utilizarem os saberes acadmicos em busca de solues para
as distintas problemticas sociais relacionadas com as doenas infecciosas e parasitrias. Apesar disso,
situao distinta emerge dos objetivos instrucionais e das estratgias pedaggicas constantes de seus planos
de ensino, os quais se revelam insuficientes para dar conta de tais pressupostos.
Apesar de imperarem nas universidades, como aponta Masetto (2003), os saberes profissionais
em detrimento dos pedaggicos, neste caso, prevaleceu mais a formao especfica do docente e menos
os saberes profissionais. Especificamente em relao aos docentes das licenciaturas, e tambm aos
demais cursos, a formao dos professores foi compreendida como importante, mas as prticas voltadas
para isso, segundo os docentes, resumem-se a seminrios.
Ademais, ao darem mais importncia transmisso do contedo especfico, conduzem sua
prtica em oposio ao defendido por especialistas na rea de EC (SILVA; SCHNETZLER, 2005;
GONALVES et al, 2007), que preconizam que os contedos pedaggicos devem ser onipresentes
nestes cursos. Assim, o impacto destas prticas, na formao dos licenciandos, equivalente ao da lgica
subjacente nas concepes dos docentes participantes da pesquisa conduzida por Maciel (2007), para
quem, a formao pedaggica, nas licenciaturas, atribuio dos professores da rea pedaggica.
A interdisciplinaridade foi outro elemento considerado positivamente pelos docentes, ainda que
tal valorao axiolgica no tenha conduzido, verdadeiramente, a prticas interdisciplinares, exceto em
raras oportunidades. Ainda sobre este tema, as referncias a esta dimenso do ensino envolveram quase
que exclusivamente a relao com outras disciplinas do circulo estrito das Cincias Biolgicas e da
Sade. Apesar deste aspecto restritivo e da quase ausncia deste elemento em suas prticas,
paradoxalmente, os docentes afirmam esperarem o desenvolvimento da habilidade de integrao de
contedos em seus estudantes.
Esta quase ausncia pode estar relacionada a outro aspecto problemtico observado nas
concepes dos docentes sobre a interdisciplinaridade: a compreenso limitada de que esta consistiria
apenas no elo entre assuntos de uma disciplina e as outras reas. Este modo de compreender a
interdisciplinaridade foi tambm observado em outro estudo que investigou as concepes de docentes
(professores do ensino mdio) sobre o tema (RICARDO, 2003). Apesar disso, a mera justaposio, ou
transposio de uma disciplina a outra, de conhecimentos, conceitos ou mtodos no garante a
interdisciplinaridade (RICARDO; ZYLBERSZTAJN, 2008).
286
Ademais, uma compreenso de interdisciplinaridade restrita a mera relao entre reas parece no
ser suficientemente interessante para mobilizar os docentes a implement-la em suas prticas
pedaggicas. Neste sentido, qual seria o sentido de um ensino interdisciplinar?
Para responder a esta questo, importante argumento fornecido por Ricardo e Zylbersztajn
(2008). Para estes pesquisadores as disciplinas no tratam de objetos reais em sua complexidade e, assim,
as situaes reais no so disciplinares. Alm disso, os autores indicam ainda que muito dificilmente uma
disciplina, isoladamente, daria conta de oferecer ao aluno a compreenso de fatos sociais relevantes que
envolvam aspectos cientficos.
Deste modo, caso seja objetivo do docente garantir uma aprendizagem com real significado para
o aluno de temas sobre relaes humanas com organismos parasitas, ao invs do mero aprendizado
descontextualizado do contedo da literatura especializada em Parasitologia e Microbiologia, faz-se
necessrio recorrer a conhecimentos de outras reas.
Neste sentido, interdisciplinaridade no seria simplesmente oposio s disciplinas, mas o
vislumbrarem-se competncias e habilidades que para serem construdas necessitam dos conhecimentos
de mais de uma disciplina (RICARDO; ZYLBERSZTAJN, 2008).
Ainda que se pudesse argumentar em favor de sua importncia no ensino universitrio em
qualquer um dos cursos nos quais os docentes desenvolvem suas atividades; - dado o maior
aprofundamento terico com que esta dimenso tratada no campo educacional empregou-se, nesta
discusso, a perspectiva adotada por especialistas ao tratarem do papel da interdisciplinaridade na
formao e atuao de professores na educao bsica.
As DCN para os cursos de Cincias Biolgicas, por exemplo, conforme referncia anterior,
tambm atribuem interdisciplinaridade o papel de dar significado ao conhecimento e evitar a
compartimentalizao dos saberes (BRASIL, 2002a). Nesse caso, esta seria uma necessidade em razo da
contextualizao do que se pretende ensinar em situaes reais, ou prximas do real vivido pelos alunos,
no a pura e simples unio de disciplinas, mas a construo de novo saber sobre a realidade vivida e
problematizada (RICARDO; ZYLBERSZTAJN, 2008).
Como desdobramento natural desta diretriz da formao do licenciando, a interdisciplinaridade
recomendada tambm na atuao dos professores na educao bsica, nos Parmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Mdio (PCNEM, Brasil, 2002a); na perspectiva da superao gradual do
tratamento estanque e compartimentalizado, que caracteriza o conhecimento escolar.
O individualismo, outro elemento atribudo frequentemente aos docentes neste estudo, pode estar
associado a esta compartimentalizao que dificulta uma abordagem interdisciplinar. Raros indivduos,
dentre os participantes da pesquisa, afirmaram procurar profissionais de outras reas para lidar com
questes interdisciplinares e, de modo geral, para darem conta destes assuntos pesquisam por si prprios.
287
Outra estratgia adotada por eles atriburem aos prprios alunos a busca por respostas a questes no-
especficas de suas disciplinas. Alguns docentes defendem que a adoo de uma autoformao mais
generalista alternativa para lidarem com tais questes.
Aspectos histricos associados a este modo de proceder no ensino universitrio e,
especificamente, no ensino da Parasitologia e da Microbiologia j foram referidos ao longo desta
apresentao. Apesar disso, cabe destacar, ao menos, um destes, prprio, segundo Festoso et al. (2006),
das universidades. Este aspecto diz respeito especialidade enquanto espao de poder e de propriedade,
que, para estes autores justificaria sua defesa contra a invaso de profissionais de outras reas, lgica que
dificultaria a implementao de prticas interdisciplinares.
Segundo a literatura especializada, apesar da importncia auferida a prticas interdisciplinares e
contextualizadas, a realidade observada hegemonicamente em diversos estudos, como os de Masetto
(2003) e VEIGA et al. (2004) mostra-se distinta. Em relao s concepes de docentes universitrios,
por exemplo, dentre os participantes do estudo conduzido por Cortela e Nardi (2003), analogamente ao
observado neste estudo, h uma compreenso segundo a qual o domnio do contedo e a habilidade em
contextualiz-los so competncias importantes para o exerccio da docncia. Os participantes do referido
estudo admitem, apesar disso, dificuldades para efetuarem a contextualizao em suas disciplinas e para
usarem a histria da cincia. Do mesmo modo tambm, os docentes alegam falta de tempo, mas,
diferentemente do observado, falam em dificuldade com mtodos de ensino para elaborarem algo distinto
das prticas tradicionais.
No quadro apresentado, prevalente o domnio dos contedos especficos sobre os pedaggicos,
e as concepes dos docentes sobre a contextualizao e interdisciplinaridade so limitadas. Bazzo (2007)
lembra que, embora no-hegemnico, h outro modelo na docncia universitria, participativo,
autnomo, pautado em interaes sociais, trocas de experincias, desenvolvido a partir da construo
coletiva do conhecimento e preocupado com sua funo social.
Neste sentido, a relao entre prticas individualistas e o modelo tradicional, transmissivo,
disciplinar e descontextualizado por um lado e; prticas coletivas com a contextualizao e a
interdisciplinaridade, por outro, so claras e foram apontadas neste e em outros estudos.
Deste modo, docentes que possuem uma viso de mundo predominantemente individualista
tendem a conceber o contexto de vida como um problema pessoal de cada sujeito. Assim, ao serem
colocados ante um problema de outro campo do saber, por exemplo, entendem que a soluo s pode
emergir de sua prtica individual. Os que, ao contrrio, identificam as relaes sociais como problemas de
natureza coletiva, adotam estratgias que valorizem o trabalho coletivo como norteador de suas aes,
constatao identificada no presente estudo somente nas concepes expressas por Luana.
288
A referida docente, a partir de suas concepes e prticas, distingue-se dos demais, tanto
tradicionais quanto diferenciados, por aproximar-se mais dos pressupostos de uma educao superior
contempornea. Neste aspecto, em particular, na valorizao do trabalho coletivo, Luana a nica a ter
vivenciado a prtica pedaggica coletiva ao longo da sua constituio.
Vale ressaltar que este um aspecto de importncia capital para o exerccio de uma docncia
universitria que contemple a interdisciplinaridade, a prtica da formao continuada ou permanente e um
efetivo dilogo que possibilite a integrao curricular entre disciplinas. Por esta e por outras caractersticas
de Luana, pode-se inferir que a docente inclina-se para uma concepo docente que representaria a
conscincia mxima possvel no Ensino de Microbiologia.
Mais do que uma docente diferenciada, Luana estaria mais prxima do que Giroux (1988)
denomina, em seu esquema classificatrio, de professor transformador.
O referido autor, apoiando-se em Gramsci, considera o docente como mais que um mero
executor de tarefas, resgatando a noo bsica de que toda atividade humana envolve alguma
forma de pensamento. Giroux (1988), portanto, preocupa-se com a
forma como os educadores devem ser considerados nos diferentes nveis do sistema
escolar, em termos de sua poltica, da natureza de seus discursos e das funes
pedaggicas que desempenham (Giroux, 1988, p.30-31).
Neste sentido, prope quatro categorias: Intelectuais Transformadores, Crticos,
Adaptados e Hegemnicos para analisar a funo social dos educadores como intelectuais. O
autor alerta, entretanto, que tais categorias so tpico-ideais e indicam formas de prticas sociais
e ideolgicas, no sendo rgidas, portanto. Assim, docentes podem mover-se dentro e entre elas.
Giroux (1988) caracteriza como intelectual transformador aqueles profissionais da
educao que tornam o processo pedaggico mais poltico e o poltico mais pedaggico, sendo
que, para ele, tornar o processo pedaggico mais poltico significa
inserir a educao diretamente na esfera poltica (...) tornando a escola um espao
central, onde poder e poltica operam a partir de uma relao dialtica entre
indivduos e grupos, que funcionam dentro de condies histricas e limites estruturais
especficos, bem como dentro de formas culturais e ideolgicas que so a base para as
contradies e para as lutas (GIROUX, l988, p. 32).
Tornar o poltico mais pedaggico, por sua vez, significaria:
utilizar formas de pedagogia que: tratem os estudantes como agentes crticos,
problematizem o conhecimento, utilizem o dilogo e tornem o conhecimento
significativo de tal modo a faz-lo crtico para que seja emancipatrio (...) O ponto de
partida para tais intelectuais (transformadores) no o aluno isolado, mas os
estudantes como atores coletivos (...) Os intelectuais transformadores devem (...)
trabalhar para criar condies materiais e ideolgicas na escola e na sociedade mais
ampla que dem aos alunos oportunidade de se tornarem (...) cidados (GIROUX,
1988, p. 32).
Sob esta tica, o trabalho coletivo no se resume ao coletiva entre docentes, mas tambm
pressupe a relao professor-aluno. Deste modo, ao contrrio do individualista, que centra sua atividade
289
sobre si mesmo, o docente que concebe a prtica educacional como um trabalho coletivo, introduz
elementos que envolvam tambm os alunos no processo de construo do conhecimento, prtica que, alm
de Luana, foi observada tambm na fala de Neide.
De forma geral, o modo como os docentes concebem a contextualizao e a interdisciplinaridade,
sua conscincia real efetiva sobre tais elementos, poderia ser sintetizada a partir dos seguintes elementos:
a) a conscincia da importncia da contextualizao no est ancorada em uma compreenso adequada,
nem sobre o papel da histria da cincia em suas disciplinas, nem em relao ao sentido atribudo a
contexto de vida; b) alguns docentes diferenciados, mesmo tendo outra compreenso sobre o contexto
de vida, identificando os conhecimentos prvios dos estudantes como elemento a ser investigado, ao
explorarem tais elementos, no utilizam metodologia sistematizada; c) os docentes acreditam,
majoritariamente, em suas capacidades para efetivarem, sozinhos, prticas interdisciplinares e
contextualizadas; d) dadas as suas limitaes constitucionais, no seriam capazes de efetivar prticas que
concebam o contexto scio-histrico como ponto de partida do planejamento de ensino, inserindo
elementos contextuais de modo puramente ilustrativo e tendo os livros como referncia inicial.
A superao destas situaes-limite (FREIRE, 1979a) adviria, necessariamente, da
transformao, sobretudo, de dois elementos interligados entre si: a maneira individualista como os
docentes concebem a prtica do magistrio e a insuficincia na sua formao pedaggica. Considerando
que contextualizao e interdisciplinaridade constituem temas candentes, ao menos, desde a promulgao
da LDB em 1996, tal processo faz-se urgente.
Por isso e a partir disso...
Buscou-se, neste estudo, caracterizar a docncia universitria em Parasitologia e Microbiologia
no Brasil, com particular nfase para a Regio Norte, investigando elementos histricos e suas possveis
relaes com os atuais conhecimentos, concepes e prticas adotadas no ensino destas disciplinas.
No quadro descrito ao longo do texto, composto, predominantemente, por elementos de uma
pedagogia tradicional, foram observadas tambm posturas distintas, quer de modo pontual ou
circunstancial, quer de maneira mais estrutural, formando um gradiente de concepes e prticas, das
mais tradicionais s mais diferenciadas.
Um gradiente de concepes e prticas
Pelas caractersticas da docncia universitria, levantadas a partir dos dados empricos sobre
concepes e prticas, observou-se a existncia de distintos perfis, agrupados, esquematicamente, em
290
quatro categorias. Seriam elas, as docncias a) tradicional; b) em transio, c) diferenciada, d)
transformadora.
Vale ressaltar que esta categorizao diz respeito docncia universitria, havendo certa
mobilidade entre os participantes da pesquisa, que, em momentos distintos, apresentaram concepes e
prticas relativas a mais de uma destas categorias. Em outras palavras, ao longo de uma aula, de um
semestre ou da vida acadmica, os docentes universitrios podem apresentar concepes e prticas, desde
as mais tradicionais at as mais diferenciadas, quer de um modo mais pontual, superficial, quer por
maneiras mais consistentemente elaboradas.
No presente estudo, ainda que grande parte dos docentes tenha revelado elementos indicadores de
compreenses predominantemente tradicionais ou diferenciadas - categorias j discutidas ao longo da
tese -, conforme referido anteriormente, dois docentes constituram exceo.
O primeiro deles Rodrigo, que apresentou tanto elementos da docncia tradicional quanto
constituintes de uma postura diferenciada. O referido docente parece, considerando as caractersticas
apresentadas, um profissional em conspcuo e constante desenvolvimento. Ainda que expresse, em
relao a certos aspectos - viso de sade e compreenso eminentemente internalista de cincia - alguma
inconsistncia terica, relativamente a outros, como sua viso contempornea das atividades
experimentais e o uso de recursos didticos alternativos, por outro lado, possui uma compreenso mais
aprofundada, diferenciada, portanto.
Tais caractersticas, associadas com o pouco tempo de experincia profissional na docncia
universitria, sugerem que as prticas docentes de Rodrigo se encontram em transio.
A outra docente cuja prtica pode ser considerada distinta, tanto da tradicional quanto da
diferenciada Luana. Como referido anteriormente, mais do que concepes e prticas distintas do senso
comum pedaggico, a docente demonstrou uma consistncia terico-metodolgica prxima daqueles
pressupostos indicados pela literatura especializada e, portanto, do que seria a conscincia mxima
possvel da docncia universitria em Microbiologia.
Nesta concepo, aqui considerada transformadora, destaca-se uma caracterstica fundamental,
no essencialmente presente nos demais, que diz respeito ao trabalho coletivo intencionalmente
planejado. Esta compreenso, ao contrrio de aproxim-la do pensamento hegemonicamente constitudo,
ancora-se em reflexo indicativa de autonomia intelectual. Tal autonomia sugere uma postura singular,
portanto, que a distancia do senso comum pedaggico, caracterizando a ao editanda que possibilita as
transformaes necessrias na docncia universitria ou, adotando termo do vocabulrio freiriano, a
construo do indito vivel no Ensino de Microbiologia.
A valorizao crtica do Ensino de Microbiologia e Parasitologia
291
De todo modo, ainda que uma srie de problemas tenha sido apontada em distintas dimenses da
atividade destes profissionais, um dos objetivos centrais da presente investigao deve ser ressaltado:
buscou-se valorizar criticamente este processo sociohistrico e cultural.
Sendo assim, em que pese a constatao de que h problemas e de que, por isso, so necessrias
transformaes, no implica depreender-se que a realidade educacional posta deva ser desprezada ou
desvalorizada. Pelo contrrio, a transformao das atuais concepes e prticas docentes passa,
necessariamente, pela sua compreenso, enquanto construo histrica, pela explicitao das suas limitaes
e por um modelo que, seletivamente, transforme ou mantenha elementos historicamente constitudos,
buscando superar as complicaes e tornar a docncia universitria uma atividade capaz de dar conta das
atuais exigncias e necessidades sociais.
Tal afirmao aponta duas questes centrais para esta discusso: 1) como transformar, a partir dos
pressupostos assumidos, o modelo hegemnico no magistrio superior em Parasitologia e Microbiologia
e; 2) quais seriam estas exigncias e necessidades sociais?
Transformaes nas concepes e prticas: possveis caminhos
No caso da primeira destas questes, destacam-se as contribuies que Ludwik Fleck (2010)
oferece para a compreenso da dinmica do conhecimento, que balizaram as anlises aqui conduzidas e
que foram explicitadas em diversos momentos. Sero retomadas, sinteticamente, algumas delas.
Sendo o conhecimento, para este autor, social e historicamente constitudo, a principal questo
que motivou suas reflexes foi desvendar de que forma ocorreria este processo. Para isso, construiu um
modelo explicativo para aquilo que chamou de sociognese do conhecimento (DELIZOICOV et al.,
2002). Nesta dinmica, aponta trs distintas fases pelas quais determinados conhecimentos e prticas,
determinado Estilo de Pensamento, passariam: instaurao, extenso e transformao.
Ilustrando este processo a partir da problemtica ora investigada, as atuais, constantes e crescentes
crticas ao modelo hegemnico na Docncia Universitria apontados por especialistas como Masetto
(2003) e Cunha (2005), ou, no vocabulrio fleckiano as inmeras complicaes, apontadas no atual
momento histrico; o configurariam como de crise paradigmtica; na qual muitos dentre os integrantes
deste coletivo, formado pelos professores universitrios, j estariam se dando conta dos limites que os
atuais conhecimentos e prticas docentes teriam no sentido de solucionar os problemas relacionados
docncia na educao superior no Brasil, em suas diversas dimenses, particularmente aqueles que dizem
respeito ao ensino nas disciplinas que componentes dos currculos de cursos universitrios.
292
Vale ressaltar que os referidos autores so especialistas na rea da Educao e, assim como os
docentes-pesquisadores da rea de EC, vivenciam um momento histrico no qual se agudizam vises
crticas sobre problemas e limites da docncia universitria. Por outro lado, no caso dos docentes de
contedos especficos, o quadro apresentado parece apontar para uma realidade distinta, na qual o modelo
hegemnico parece estar sendo menos problematizado.
Tal diferena de compreenso, conforme ressaltado anteriormente na anlise realizada por
Gonalves et al. (2007), a partir de uma compreenso fleckiana, parece devida ao distinto papel
desempenhado por docentes de disciplinas de contedo especfico de um particular curso superior, no caso
as de Parasitologia e Microbiologia, quando comparados aos que se dedicam s disciplinas de algum
contedo didtico-pedaggico especfico de cursos cuja habilitao profissional seja a formao para o
magistrio, particularmente para a educao bsica. Retomando a argumentao dos autores, apresentada no
Captulo 2, estes ltimos integrariam o circulo esotrico, formado por especialistas nas reas de Educao e
Educao em Cincias, enquanto os primeiros integrariam o circulo exotrico, integrado por leigos e leigos
formados, ainda que ocupem posio distinta nos coletivos de Parasitologia e Microbiologia, nos quais, por
serem especialistas, pertenceriam a um crculo esotrico, distinto do anterior.
No modelo fleckiano, relevante tambm o papel da Circulao Intercoletiva de Ideias, j que
esta permite a constituio do coletivo que compartilhar o estilo de pensamento em instaurao como
decorrncia das transformaes necessrias no estilo cuja conscincia da complicao est emergindo. No
entanto, nesta circulao, as interaes nestes dois crculos baseiam-se em relaes de confiana dos
integrantes do exotrico nos especialistas, assim como nas prprias necessidades dos primeiros.
Vale lembrar, um pressuposto deste modelo, qual seja, uma relao mais ntima entre estes dois
crculos, possibilitaria a docentes destas disciplinas desenvolverem atividades em conjunto com os da
rea de ensino. Dentre estas, foram referidas a elaborao de material didtico, a publicao de pesquisas
e relatos em eventos cientficos de EC e o desenvolvimento de propostas de ensino interdisciplinares em
suas instituies (GONALVES et al., 2007).
Se, para esta circulao intercoletiva, h uma interao mais intensa entre coletivos com maior
proximidade de ideias, docentes que lecionam e realizam pesquisas em EB podem, a partir de estratgias
como as descritas, oferecer importante contribuio na formao pedaggica dos de Parasitologia e
Microbiologia.
Segundo Fleck (2010), este fluxo intercoletivo de conhecimentos e prticas seria fundamental
para a instaurao e extenso de estilos de pensamento. Convm lembrar, entretanto, que nestes
processos, os conhecimentos no se mantm intactos, mas, ao contrrio, neles ocorrem deslocamentos
ou transformaes dos valores. No obstante, tambm a partir desta circulao intercoletiva que seus
293
integrantes podem tomar conscincia das complicaes, condio sine qua non para que acontea a
transformao do estilo de pensamento.
Este um dos motivos pelos quais se buscou aqui investigar as concepes dos docentes, j que estas
poderiam apontar complicaes detectadas pelos prprios participantes da pesquisa em relao sua atuao.
Do contrrio, se poderia incorrer no equvoco, apontado por Freire, ao tratar do processo de
Investigao Temtica, da devoluo da temtica significativa como contedo programtico em que o
proponente recairia no equvoco de propor representaes de realidades estranhas aos indivduos
(FREIRE, 1979a, p. 127).
Para uma melhor compreenso deste equvoco, fundamental ressaltar-se o conceito de situaes-
limite. Estas, ainda que no se constituam em obstculos intransponveis, influenciaro, de forma decisiva,
qualquer ao que ataque a problemtica apresentada. Tal influncia se deve a percepes dos sujeitos
envolvidos nesta realidade que, funcionam como um freio a eles, como algo que no podem ultrapassar
(FREIRE, 1979a, p. 106). Essa viso advm da impossibilidade de um distanciamento crtico em relao
sua realidade que os faz permanecerem aderidos a ela. Da a importncia de se investigar o nvel de
percepo dos participantes da pesquisa.
O conceito de situao-limite guarda ntima relao com a utilizao, na gnoseologia freiriana,
das categorias goldmanianas, conscincia real (efetiva) e conscincia mxima possvel. Na primeira os
homens se encontram limitados na possibilidade de perceber mais alm das situaes-limite, enquanto
na segunda encontram-se as solues praticveis despercebidas (FREIRE, 1979a, p. 121).
Pelo exposto, parece razovel que o processo investigativo aqui conduzido no se preste a aes
institucionais abrangentes de formao docente de estrutura vertical, de realizao obrigatria para
professores universitrios. Ao contrrio, os resultados desta pesquisa devem apoiar aes formativas em
contextos especficos, buscando o engajamento em processos constitutivos de formao continuada para
o exerccio da docncia, ou ao institucionalizar a formao permanente de docentes universitrios,
problematizar aspectos da conscincia real efetiva identificados.
Deste modo, os dados deste estudo, sobre as concepes dos docentes, podem auxiliar para a
deteco de problemas percebidos, no apenas pelos especialistas, mas pelos prprios docentes, e que
poderiam ser solucionados a partir dos saberes do campo educacional.
Esta percepo, subjacente a presente pesquisa, advm de sua orientao a partir do processo de
Investigao Temtica (IT), no qual a Constituio dos Docentes Universitrios configurou-se tema gerador.
Importante ressalvar, neste sentido, que as aes aqui realizadas correspondem s etapas iniciais da IT e
podem orientar o planejamento de atividades formativas coletivas e interdisciplinares, que corresponderiam s
suas fases subsequentes. Nestas, alm da participao de pesquisadores do campo de EC, seria igualmente
relevante dispor da contribuio dos docentes diferenciados e da literatura especializada, enquanto expresso
294
da conscincia mxima possvel, o que possibilitaria a implementao da ao editanda, constituindo
alternativas ao modelo tradicional, o indito vivel no campo da docncia em Parasitologia e Microbiologia.
Buscar a participao de docentes diferenciados parece possvel, j que estes sujeitos
consideraram necessria a formao pedaggica, ainda que assentada sobre o domnio e atualizao dos
contedos. Tal necessidade constituiria, por exemplo, uma abertura para reflexes sobre a natureza do
conhecimento relacionadas, especificamente, aos temas abordados em seu cotidiano profissional. Indica-
se, portanto que a problematizao de limitaes oriundas das falas dos docentes seja uma constante no
planejamento da formao permanente de docentes universitrios.
Aqui cabe ressalva, j que se abordam, fundamentalmente, processos de transformao e, para
tanto, ser retomado o modelo explicativo fleckiano, no qual tambm se indicam foras que asseguram
uma tendncia persistncia destes elementos, as quais seriam, tanto quanto a tendncia transformao,
caracterstica dos estilos de pensamento.
A referncia conservao, na compreenso que aqui se explicita, importante no sentido de
assegurar que no se desvalorizem culturas acadmicas e que no se abandonem, por completo, nos
processos transformativos, certos elementos, historicamente constitudos e que, muitas vezes,
antecedendo, no tempo, at mesmo a existncia do estilo de pensamento, podem ser aperfeioados,
potencializados, ao invs de substitudos.
Levando em conta estas dimenses, transformao e conservao, Fleck (2010) oferece um
arcabouo que destaca constituintes e processos sociogenticos passveis de considerao no momento
em que so planejadas aes que visam a superao de certas complicaes.
Uma compreenso aprofundada destes elementos, por parte dos docentes universitrios,
fundamental no sentido de possibilitar que avaliem criticamente e transformem os atuais processos de
ensino-aprendizagem adotados. Deste modo, esta dimenso, que historiciza estes elementos e processos
sociogenticos, deve integrar contedos e prticas docentes.
Destacam-se, no entanto, de modo oposto, a presena de elementos indicadores de certa insuficincia
no domnio desta dimenso histrica. Aspectos histricos, por exemplo, esto praticamente ausentes nas
ementas e planos, constituindo meros apndices introdutrios, quando includos. Talvez a incluso da
dimenso histrica durante a prpria formao inicial dos docentes dessas disciplinas contribusse para a
atuao dos professores que lecionaro nos cursos de licenciatura.
Conforme tem sido apontado por vrios pesquisadores, tais como Matthews (1992), Carneiro e
Gastal, (2005) e Martins (2006), a histria e filosofia no ensino das cincias tm contribuies a dar para
o EC. Neste caso especfico, considerando os problemas histricos e suas solues, que a Microbiologia e
a Parasitologia tm como objeto, poderiam auxiliar, pelo menos, para se discriminar a prioridade de focos
e abordagens a serem adotadas na formao de futuros profissionais que frequentam essas disciplinas,
295
mas que tm distintos perfis de demandas formativas, tal como ocorre com os profissionais da rea de
sade, professores de Biologia e Cincias Naturais da educao bsica.
Alm destes aspectos cognitivos, a utilizao integrada de distintos modelos - quer aqueles
desenvolvidos a partir de estudos sobre o desenvolvimento profissional do docente, como os de
Huberman (1989) e Riegel (1979), quer aqueles relativos ao desenvolvimento psicossocial humano,
como o de Mosquera (1987) parece ter-se constitudo um caminho promissor para investigaes sobre a
constituio do docente universitrio.
Tomando-se como base o esquema desenvolvido por Riegel (1979), que versa, especificamente,
sobre o desenvolvimento profissional do professor universitrio, se poderia aport-lo com as
contribuies de Huberman (1989), que prev, em seu modelo, obstculos nestes processos, no
contemplados pelo esquema riegeliano. Adicionalmente, estudos como os de Isaia (1992), indicando
particularidades do contexto brasileiro subsidiariam a construo de modelos indicativos das fases do
desenvolvimento profissional do docente universitrio, adaptados realidade nacional.
Contextualizao: exigncias e necessidades sociais
A insero da histria e filosofia tambm pode cumprir o importante papel de contextualizar os
assuntos tratados (ROSA, 2006). Assim, contribuiriam, no caso destas disciplinas, valorizando alguns
temas, tais como a fermentao alcolica, o saneamento bsico, as anlises microbiolgicas de gua e
alimentos, a contaminao dos alimentos, a nitrificao do solo por bactrias, a hipertrofia da indstria
farmacutica, os quais, devidamente articulados, se tornariam fios condutores de abordagens temticas,
produzindo programas contextualizados. Esse tipo de implementao, nos programas dessas disciplinas,
os aproximaria das demandas que emanam do texto do parecer integrante das Diretrizes Curriculares
Nacionais para os cursos de Cincias Biolgicas (BRASIL, 2001a). Por outro lado estariam em sintonia
com um ensino universitrio contextualizado e interdisciplinar, conforme propugnam a LDB (BRASIL,
1996), os PCNEM (BRASIL, 2002b) e as DCNs (BRASIL, 2002a).
Por sua vez as prticas de ensino efetivadas e balizadas por parmetros da didtica tradicional
poderiam ser minimizadas, considerando-se que h uma produo consistente, em mais de duas dcadas,
de pesquisas em EB contidas em dissertaes e teses (SLONGO; DELIZOICOV, 2006) e demais
publicaes (NASCIMENTO et al., 2009; BORGES; LIMA, 2007). A pesquisa atravs de outras fontes,
alm das ementas e planos, pode fornecer indicativos sobre as causas do distanciamento das prticas dos
docentes universitrios de propostas que emanam destas pesquisas, ou eventualmente detectar a sua
adoo, o que permitiria avali-las.
296
A abordagem histrica constitui-se tambm em importante porta de entrada para a introduo de
questes de natureza pedaggica, dado que ofereceria um elo entre os contedos especficos, mais
valorizados pelos docentes, e os contedos pedaggicos, considerados hegemonicamente, como
perfumaria. A valorizao de aspectos ligados, mais diretamente, aos contedos disciplinares tornaria
mais significativa a abordagem, para os docentes.
Ademais, outro problema correlato diz respeito ao do currculo de muitas das licenciaturas,
concebido, tradicionalmente no modelo 3+1 conforme apontam Gonalves et al. (2007). Tais cursos so
criticados, sobretudo por desarticulao entre as disciplinas (GOEDERT, 2004) e por oferecerem um
ensino terico e livresco (LORETO; SEPEL, 2006), indicando no s a formao do docente
universitrio, mas a prpria estruturao da licenciatura como influenciadores na implementao de
prticas de ensino.
Evidentemente, as situaes abordadas no so particulares do EB. Em estudo realizado entre
professores universitrios de diferentes reas do saber, Veiga et al. (2004) concluem que, muito embora
os docentes participantes da pesquisa refiram-se contextualizao de contedos e ensino interdisciplinar,
no so capazes de implement-los em suas prticas por causa de vises fragmentadas das aes de
aprender, ensinar, pesquisar e avaliar. Esta concluso sugere que concepes, tanto de educao como de
conhecimento, que parametrizam a atuao de docentes universitrios, transcendem uma particular rea
do saber. Certamente esforos para adequaes aos novos desafios na formao de professores no se
limitam a alteraes pontuais em determinadas disciplinas, embora necessitem de ser realizadas.
No caso da docncia em Parasitologia e Microbiologia, por exemplo, ainda que muitos docentes
tenham expressado a necessidade de aperfeioar sua prpria formao para o exerccio da docncia e,
portanto, aparentemente, tenham conscincia desta complicao; observou-se que a compreenso
hegemnica destes sujeitos sobre tal formao distinta daquela explicitada pelos especialistas no campo
educacional, em seus estudos.
Enquanto os ltimos, provavelmente, vinculariam formao para a docncia com os conhecimentos
e prticas do campo pedaggico, os primeiros associam-na ao domnio e atualizao dos contedos
especficos, acreditando ainda que a prtica docente se desenvolva no dia-a-dia da profisso.
Neste sentido, outra dimenso, alm da histrica, que suscitaria interesse e engajamento dos
docentes em processos formativos a epistemolgica. As contribuies de tericos da prpria Biologia
possibilitariam, na abordagem de seus contedos, uma viso que consideraria o processo evolutivo como
tema transversal no planejamento de suas atividades.
E, neste sentido, autores como Jacob (1983), Gould (1989; 1998) e Meyer e El-Hani (2005)
oferecem importante contribuio. Outra dimenso significativa no campo da Filosofia da Biologia,
297
necessria para uma compreenso mais sintonizada com a epistemologia contempornea, diz respeito ao
estatuto epistemolgico da Biologia, em relao qual se destaca a obra seminal de Mayr (1998).
No caso da Parasitologia e, sobretudo, da Microbiologia, contribuio relevante dada por Fleck
(2010), pensador cuja epistemologia construda justamente a partir do estudo de elementos desta
cincia, envolvendo conhecimentos e prticas particulares desta rea, como a microscopia e, de um modo
geral, a experimentao.
Outro autor que investiga aspectos da experimentao, a partir da dimenso epistemolgica,
Gonalves (2009). Para ele, o tema das atividades experimentais requer maior ateno, havendo poucos
estudos envolvendo o assunto. Sobre sua importncia na formao de professores, nos cursos de
licenciatura, o autor afirma que a busca por mudanas nas concepes de professores da educao bsica,
envolve, simultaneamente, processos formativos de docentes universitrios, sem os quais, dificilmente ser
quebrado o ciclo de reproduo destas concepes ingnuas entre os distintos nveis de ensino.
Mais do que os aspectos epistemolgicos: a atuao do docente universitrio requer a
compreenso do universo temtico dos alunos. Portanto, estes processos formativos precisam levar em
conta - alm de uma compreenso sobre a natureza do conhecimento cientfico em sintonia com uma
epistemologia contempornea abordagens gnoseolgicas, que situem o conhecimento cientfico em
suas relaes com outros saberes.
Neste caso se reafirma para docentes de Microbiologia e Parasitologia, que, pesquisadores
dedicados investigao em EC teriam alguma contribuio institucional a dar formao para a
docncia nestas reas e em outros contedos especficos das Cincias da Natureza, conforme os
pressupostos acima enunciados nas IES, com formao durante o estgio probatrio.
A adoo de prticas interdisciplinares e contextualizadas requer mudanas na compreenso dos
docentes universitrios sobre a forma como percebem as interaes com os pares no trabalho docente, as
quais demandariam a implementao de processos cotidianos de formao continuada, realizados no
prprio local de trabalho e envolvendo a constituio de pequenos grupos temticos e interdisciplinares.
Alm disso, processos desta natureza requerem a superao da lgica da especialidade enquanto
espao de poder e de propriedade, no significando, contudo, que a formao especfica dos docentes
deva ser desconsiderada. Ao contrrio, deve envolver outros elementos formativos/constitutivos (cultura
pessoal, familiar, regional, vivncias dos docentes, habilidades pessoais, aspectos ticos, estticos, etc.),
como prope a literatura especializada (CUNHA, 2006; SILVA; SCHNETZLER, 2001).
Outro aspecto a ser atendido no sentido de possibilitar tais transformaes diz respeito a
mudanas nos demais processos formais para a docncia universitria, principalmente nos cursos de
mestrado e doutorado, como indica a LDB, os quais no oferecem adequada formao pedaggica a seus
discentes. Alm disso, como apontam as anlises aqui realizadas sobre o papel da formao inicial, a
298
melhoria da formao pedaggica em certos cursos de graduao, sobretudo as licenciaturas, poderia,
indiretamente, produzir impactos positivos na docncia em nvel superior.
Deste modo, o docente universitrio se habilitaria para o atendimento de algumas finalidades da
educao superior propugnadas na LDB, como o estmulo a criao cultural, o desenvolvimento do
pensamento reflexivo e o conhecimento dos problemas do mundo presente (BRASIL, 1996). Alm disso,
as universidades incluiriam os docentes de contedos especficos na tarefa de:
produo intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemtico dos temas e problemas
mais relevantes, tanto do ponto de vista cientfico e cultural, quanto regional e nacional (idem,
artigo 52., p. 40).
O fato destas disciplinas situarem-se nos campos de EB e da Educao Mdica, no constitui
argumento para a negligncia das dimenses artstico-culturais e sociopolticas, uma vez que as DCN de
diversos cursos destas reas preconizam competncias e habilidades profissionais que requerem formao
humanstica que leve em conta estas dimenses.
Para a formao mdica, por exemplo, preciso contemplar seu papel social, habilitando o
profissional para atuao em atividades de poltica e de planejamento em sade (BRASIL, 2001b, art. 5.
Inciso XX, p. 3). No caso do farmacutico, necessrio estimular um exerccio profissional articulado ao
contexto social, compreendido como participao e contribuio social (BRASIL, 2002c, art. 5. inciso V,
p. 2). J o currculo do curso de Odontologia deve contribuir para que este profissional compreenda,
preserve, reforce, fomente e difunda as culturas nacionais, regionais, internacionais e histricas (BRASIL,
2001c, p. 13); enquanto a formao dos bilogos deve assegurar que dispensem particular ateno s
relaes entre seres humanos, dada a sua especificidade, no dissociando conhecimentos biolgicos dos
sociais, polticos, econmicos e culturais (BRASIL, 2001a, p. 1).
Embora seja possvel acessar tais caractersticas da formao destes profissionais a partir de
outras disciplinas, ignorar a clara relao entre as questes socioeconmicas, culturais e polticas e os
agravos sade da populao, deixando-se de contextualizar o contedo destas disciplinas uma opo
pedaggica e poltico-ideolgica contrria queles pressupostos.
Enfim, nesta mise-en-scne da concepo dos docentes sobre a importncia das aprendizagens
informais, na qual se vislumbra uma viso hegemnica de profissionais com pouca compreenso do
processo ensino-aprendizagem, torna-se premente que aes formativas possam elucidar, para estes, a
indissociabilidade entre elementos de suas trajetrias individuais e as prticas em sala de aula.
Por este motivo, como lembram Pachane (2003) e Cunha (2006), tais aes devem levar em
conta caractersticas da trajetria individual dos docentes, atendendo a necessidades que no so
homogneas entre eles. Lembra a autora, por exemplo, que os docentes ingressam na carreira com idades
e pretenses distintas.
299
Nestes almejados processos transformativos, como lembram Veiga et al. (2004), os aspectos
estticos e culturais so elementos fundamentais para o desenvolvimento profissional do docente
universitrio, alm da afetividade, do companheirismo, respeito e confiana, dimenses indicadas por
Pachane (2003) como fundantes do PECD, da UNICAMP.
No se trata de formalizar as aprendizagens informais, nem tampouco de institucionaliz-las.
Antes, as instituies podem (e devem) contribuir tambm para que as aprendizagens no campo dos
processos informais sejam potencializadas.
Propiciarem-se ambientes institucionais para a aprendizagem no significa somente oferecerem-
se condies para o desenvolvimento de atividades de formao acadmica. Significa tambm garantir a
alunos, docentes e tcnico-administrativos um espao onde as atividades artstico-culturais, sociais e
polticas possam realizar-se, por exemplo, enquanto extenso junto comunidade ou como aes de auto-
gesto estudantil.
Quando viabilizam espaos para atividades artstico-culturais, sociais e polticas e contribuem em
processos que envolvem aprendizagens no-formais, as instituies, com efeito, asseguraram as
condies objetivas para efetivao de alguns preceitos constitucionais, dentre os quais, destacam-se: a)
livre expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica e de comunicao, alm de plena liberdade
de associao (BRASIL, 1988, art. 5.); b) liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o
pensamento, a arte e o saber (idem, art. 206.); c) produo, promoo e difuso de bens culturais e
democratizao do acesso aos bens de cultura (idem, art. 215.).
Em sntese, instituies podem interferir nos processos de aprendizagem informal, ao disporem
de ambiente propcio livre criao artstico-cultural e ao estimularem a participao scio-poltica
integrada dos docentes.
Processos de formao para a docncia universitria, evidentemente, precisariam completar
lacunas da constituio destes profissionais, indevidamente trabalhadas durante a formao inicial e em
outros momentos, bem como aquelas relativas a uma adequada fundamentao didtico-pedaggica e
histrico-epistemolgica.
Deste modo, muitos dos saberes da experincia no tocante ao ensino destas disciplinas, hoje
dispostos de modo desorganizado no alforje cultural dos docentes; ao se articularem a outros saberes,
num processo formativo continuado, contribuiriam para o aprimoramento das habilidades e competncias
para planejar, selecionar, adequar e organizar o contedo a ser ministrado.
Dominando processos, tanto quanto os saberes, o docente estaria apto para o fazer-se e refazer-se
de suas prticas e, para avaliar, de modo constante e sistemtico, seus resultados. Assim, a compreenso
da permanncia do processo de organizao dos seus saberes, equivaleria, nas viagens dos sertanejos a
distintas paragens, conscincia destes sujeitos de que preciso organizar, de modo distinto, seus
300
alforjes, a cada um destes eventos. Nestes, o ambiente, o tempo de estadia, o motivo do deslocamento e
outros elementos contextuais precisam ser considerados no momento da organizao de seu alforje.
Nestes deslocamentos, alm da importncia de evitar que se carregue peso desnecessrio, o viajante
deveria estar atento, sobretudo, para que apetrechos fundamentais no faltassem.
No caso da docncia universitria, os elementos do alforje cultural destes profissionais, ao serem
trabalhados em dinmica fundamentada na Investigao Temtica, ao contrrio do que ocorreria em
processos tradicionais, bancrios, no representariam uma srie de objetos adicionais a serem
depositados em seus alforjes. Em oposio, na presente proposta, os prprios elementos de que estes j
profissionais dispem seriam considerados e organizados, sendo que o papel desempenhado pelos novos
saberes de natureza pedaggica, sociolgica, epistemolgica, etc. seria construtivo, apoiando a integrao,
a organizao e a sistematizao destes saberes.
301
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325
ANEXO 1 Declarao de aprovao do Projeto Avaliao qualitativa e quantitativa do
Ensino das Cincias na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pelo Comit de tica e
Pesquisa (CEP)
326
ANEXO 2 Questionrio n 1 verso preliminar
UFSC PPGECT
Instrumento de Pesquisa
Questionrio Docente
Prezado(a) Professor(a)
A presente pesquisa uma das atividades previstas no Projeto de Tese intitulado A Docncia
Universitria em Biologia e suas relaes com a realidade amaznica desenvolvido junto ao Programa de
Ps-Graduao em Educao Cientfica e Tecnolgica (PPGECT) da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Contamos com a sua participao para conhecermos as opinies, crenas e prticas que constituem seu
fazer docente. As informaes fornecidas neste instrumento sero mantidas em sigilo.
A) Dados do Docente
E-mail:_______________________________________ Telefone: ___________________________
I) Participao em atividades artstico-culturais
1) Atividades Artstico-culturais
1.a) Freqenta?
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no freqento
Qual(is)?_______________________________________________________________________
1.b) Realiza?
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no realizo
Qual(is)?_______________________________________________________________________
1) Atividades Desportivas
2.a) Freqenta?
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no freqento
Qual(is)?_______________________________________________________________________
2.b) Realiza?
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no realizo
Qual(is)?_______________________________________________________________________
II) Atividades Polticas
1) Sindicato
filiado? ( ) sim ( ) no
327
Participa das assemblias? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
E de outros processos decisrios? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
2) Associaes e Conselhos
filiado? ( ) sim ( ) no A qual(is)
associao/conselho?___________________________________________
Participa das assemblias? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
E de outros processos decisrios? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
3) Partidos Polticos
filiado? ( ) sim ( ) no
Freqenta o diretrio? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
Participa de outros processos decisrios? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
B) Dados Profissionais
IES: ________________________________________________________________________________
Unidade/ Depto.:______________________________Regime de trabalho:__________________________
Nome da disciplina
Curso
N
alunos/turma
Horas/
aula
semana
*Freqncia com que
ministrada
*Todo semestre, uma vez por ano, em colaborao (mais de 1/3 do contedo), participao ocasional (uma ou
algumas aulas).
Atualmente, ministra aulas em outra instituio? (disciplina ministrada/curso(s)/carga
horria)__________________________________________________________________________
_________________Tempo de atuao no magistrio superior:______________________________
J exerceu docncia em outros nveis? Quais? Por quanto tempo?
________________________________________________________________________________
2) Estgio Docente
Realizou estgio docente na ps-graduao:( ) sim ( ) no Se afirmativo, em que nvel? ( ) especializao
( ) mestrado ( ) doutorado Tempo de estgio (h):__________________________
C) Concepo de Docncia
1) Em sua atuao docente, voc ministra aulas para diferentes cursos. H diferenas na sua prtica e na
seleo do contedo a ser ministrado em sala de aula para cada um dos cursos em particular? ( ) sim ( )
no Especifique
328
2) Em sua disciplina, quando oferecida para a licenciatura, procura envolver-se com a preparao do aluno
para a docncia do contedo lecionado? Em caso afirmativo, que estratgias tem adotado neste sentido?
4) E no caso de sua prpria formao, teve algum docente que abordou aspectos relativos docncia?
Quais voc destacaria?
5) Formao pedaggica importante para o exerccio da docncia em sua rea de atuao?
6) Em sua prtica docente, o contexto de vida de seus alunos considerado importante? Caso afirmativo, de
que modo ele compreendido e utilizado em sala de aula
7) De que forma voc seleciona e organiza os contedos a serem ministrados para as licenciaturas?
8) Relativamente ao papel da histria da cincia, normalmente, ela integra o contedo de sua disciplina?
Com que freqncia?
9) O contedo de sua disciplina ministrado, separadamente, em aulas tericas e prticas. As DCNs
sinalizam para a necessidade de articulao entre teoria e prtica. Voc concorda com esta recomendao?
De que maneira procura articular teoria e prtica?
10) De que forma os problemas da sociedade contempornea integram contedos e prticas em sua
disciplina?
11) Quando as solues para estes problemas demandam conhecimentos de outras reas do saber, como
voc procede?
12) Conforme o PARECER N.:CNE/CES 1.301/2001, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais
para os cursos de Cincias Biolgicas, o contedo relacionado rea de Sade obrigatrio para os cursos
de Licenciatura, mas no para os de Bacharelado, voc saberia dizer porque?
13) Quanto ao aprendizado, ao final da disciplina, que mudanas espera ter contribudo na formao do
aluno?
14) Para atingir este tipo de formao, que estratgias de ensino voc privilegia?
15) Normalmente, que instrumentos de avaliao utiliza? Eles contribuem para voc modificar e/ou
adequar as estratgias utilizadas?
3) Formao informal:
Nas questes abaixo responda de 1 a 5, conforme: (1) discorde totalmente (2) discorde parcialmente (3) no
tenha opinio formada (4) concorde parcialmente ou (5) concorde totalmente.
a) O que me influenciou na escolha da profisso foi:
famlia: ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
bom(s) docente(s) no ensino bsico: ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
bom(s) docente(s) na graduao: ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
bom(s) docente(s) na ps-graduao: ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
outros. Quais?___________________________________________________________
Voc tem procurado literatura que te apie no Ensino das Cincias em nvel superior? ( )
frequentemente ( ) raramente ( ) nunca
Em que circunstncias? Que tipo de literatura?
329
ANEXO 3 Roteiro da entrevista semiestruturada verso preliminar
INSTRUMENTO DE PESQUISA
1) Como tornou-se docente universitrio? Que fatores o motivaram a exercer a docncia? (explorar
aspectos formais e informais)
2) Lembra de algum(ns) docente(s) marcantes na sua formao? Caso afirmativo, que caractersticas
poderia destacar deles?
3) E sua formao acadmica? Educao Bsica, Graduao, Ps-Graduao: que importncia acredita
que desempenhem na sua constituio enquanto docente?
4) Voc desenvolve, com seus alunos, atividades de extenso? Fale-nos um pouco sobre elas.
5) Como voc elabora seus planos de ensino? E como prepara suas aulas?
6) Gostaria de saber a sua opinio sobre alguns pontos referentes formao docente abordados nos
documentos legais. Primeiramente, de que maneira tais dispositivos legais influenciam sua prpria
prtica docente?
7) E no processo de construo do novo currculo do curso de biologia, eles desempenharam algum
papel? Caso afirmativo, que papel foi este e como, pessoalmente, interagiu com estes documentos?
8) E seus colegas de departamento? Tambm fazem uso destes dispositivos legais? Caso afirmativo, de
que maneira?
9) E em outras instituies pblicas? Tem alguma informao de como foi a interao com esses
documento? Como avalia o uso deles? Que aspectos gostaria de destacar?
10) Considerando que a formao para a docncia universitria no Brasil um processo ainda bastante
problemtico, que alternativas voc sugere para apoiar a formao pedaggica dos docentes em sua
rea de atuao?
11) Como voc caracterizaria um bom docente de Parasitologia?
12) Que papel acredita que desempenham suas crenas, valores familiares, posicionamento poltico e
religiosidade ao ensinar Parasitologia?
13) Muitos professores de Parasitologia que conheo no fazem uso das recomendaes que livros
didticos trazem, no sentido de realizar o diagnstico laboratorial e evitar a automedicao, por
exemplo. Como voc, pessoalmente, lida com seus prprios problemas com doenas parasitrias?
14) (Caso haja assim tb) Acredita que a maneira mais recomendvel de lidar com isto? Ensinaria a seus
alunos?
15) Nos dias de hoje, j se produziram frmacos para o tratamento da maioria das doenas parasitrias,
muitos inclusive capazes de combater cepas resistentes aos medicamentos tradicionais. No entanto, a
proporo global da populao acometida por doenas parasitrias como verminoses em geral,
malria e leishmaniose permaneceu praticamente inalterado no ltimo sculo. A que voc atribui
este fato?
16) Os procedimentos clnicos e profilticos recomendados nos livros-texto de Parasitologia so,
usualmente os mesmos e, praticamente, permaneceram inalterados nas ltimas dcadas.
Profissionais de sade tem adotado estes procedimentos ao longo deste perodo e, aparentemente,
eles no tem contribudo para melhorar o quadro de sade da populao brasileira? Voc concorda
com esta afirmao? possvel reduzir a prevalncia global de doenas parasitrias? Como?
17) Ainda sobre a Parasitologia? De que maneira o pesquisador trabalha na Parasitologia? Como o
parasitlogo faz cincia?
18) Gostaria de destacar ainda outros aspectos sobre como voc faz cincia?
19) O senhor afirmou considerar importante o papel da histria da cincia em sua disciplina. Julga que a
histria da Parasitologia adequada e suficientemente explorada nos livros de Parasitologia? Caso
negativo, que problemas apontaria na abordagem que usam?
330
ANEXO 4 Questionrio n 1 verso final
INSTRUMENTO DE PESQUISA
Prezado(a) Docente
A presente pesquisa uma das atividades previstas no Projeto de Tese intitulado A Docncia Universitria
em Biologia e suas relaes com a realidade amaznica desenvolvido junto ao Programa de Ps-Graduao em
Educao Cientfica e Tecnolgica (PPGECT) da Universidade Federal de Santa Catarina.
Contamos com a sua participao para conhecermos as opinies, crenas e prticas que constituem seu fazer
docente. As informaes fornecidas neste instrumento sero mantidas em sigilo.
A) Dados do Docente
E-mail: Telefone:
I) Participao em atividades artstico-culturais
I.1) Atividades Artstico-culturais
1.a) Freqenta? (p. ex. cinema, shows, concertos, teatro, dana, festivais, filmes, etc.)
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no freqento
Qual(is)?__________________________________________________________________
1.b) Realiza? (pinta, encena, dirige, atua, dana, escreve contos, crnicas, poesias, etc.)
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no realizo
Qual(is)?__________________________________________________________________
1.c) Programao televisiva. Assiste TV?
( ) todos os dias ( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) raramente ( ) no assisto
Programas preferidos_________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
I.2) Atividades Desportivas
2.a) Freqenta? (academias, treinos coletivos, etc.)
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no freqento
Qual(is)?__________________________________________________________________
2.b) Realiza? (corre, pedala, caminha, nada, etc. sem orientao profissional)
( ) + de 1 vez por semana ( ) 1 vez por semana ( ) 1 vez por ms ( ) raramente ( ) no realizo
Qual(is)?__________________________________________________________________
II) Atividades Polticas
II. 1) Sindicato
filiado? ( ) sim ( ) no
Participa das assemblias? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
E de outros processos decisrios? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
331
II.2) Associaes e Conselhos
filiado? ( ) sim ( ) no
A qual(is) associao/conselho? (associao de moradores, conselhos profissionais, etc.): __
_______________________________________________________________________________
Participa das assemblias? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
E de outros processos decisrios? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
II.3) Partidos Polticos
filiado? ( ) sim ( ) no
Freqenta o diretrio? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
Participa de outros processos decisrios? ( ) com freqncia ( ) ocasionalmente ( ) raramente ( ) no freqento
B) Dados Profissionais
IES: ______________________________________________________________________
Unidade/ Depto.: _____________________________ Regime de trabalho:_____________
Nome da disciplina
Curso
N
alunos/turma
Horas/
aula
semana
*Freqncia com
que ministrada
*Todo semestre, uma vez por ano, em colaborao (mais de 1/3 do contedo), participao ocasional (uma ou algumas aulas).
Atualmente, ministra aulas em outra instituio? (disciplina ministrada/curso(s)/carga horria)
_____________________________________________________________________________________________
_______Tempo de atuao no magistrio superior: _________________________
J exerceu docncia em outros nveis? Quais? Por quanto tempo? ____________________________
Desenvolve atividades de extenso? ( ) nunca ( ) raramente ( ) todo semestre ( ) anualmente
No caso de desenvolv-las com licenciandos, tais atividades envolvem a preparao para a docncia? ( ) sim ( )
no
Como elabora seus planos de ensino? ( ) individualmente ( ) com os demais docentes da disciplina
Com que freqncia? ( ) semestralmente ( ) anualmente ( ) n.d.a. _______________________
E como prepara suas aulas? ( ) individualmente ( ) com os demais docentes da disciplina
3) Estgio Docente
Realizou estgio docente na Ps-Graduao: ( ) sim ( ) no Se afirmativo, em que nvel? ( ) especializao ( )
mestrado ( ) doutorado Tempo de estgio (h):_____________________________________________________
332
C) Concepo de Docncia Ateno! Cada questo admite mais de uma resposta!
Concepes sobre a Prtica Docente
1) Em sua atuao docente, voc ministra aulas para diferentes cursos. H diferenas na sua prtica e na
seleo do contedo a ser ministrado em sala de aula para cada um dos cursos em particular?
( ) No, esta uma disciplina do bsico e conhecimento bsico independe da rea de atuao.
( ) No, mas procuro executar aulas prticas especficas para as necessidades de cada curso.
( ) Poucas, as ementas das disciplinas dos diferentes cursos pouco diferem na minha rea de atuao.
( ) Sim, para cada profissional dou exemplos dentro da profisso, pois assim ele se interessar mais.
( ) Sim, o contedo adaptado s necessidades do futuro profissional, devendo atender aos objetivos do
curso.
( ) Nenhuma das alternativas (N.d.a.) Justifique: __________________________________
__________________________________________________________________________
2) Em sua disciplina, quando oferecida para a licenciatura, procura envolver-se com a preparao do aluno
para a docncia do contedo lecionado?
( ) No. A preparao para a docncia realizada nas disciplinas pedaggicas.
( ) No, procuro seguir risca o contedo, no fugindo da ementa da disciplina.
( ) Sim, me esforo para que aluno conclua a disciplina sabendo o contedo a ser transmitido.
( ) Sim, a preparao para a docncia deve ser uma tarefa onipresente no currculo das licenciaturas.
( ) n.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
3) Em caso afirmativo, que estratgias tm adotado neste sentido?
( ) Seminrios, palestras
( ) Elaborao de prticas pedaggicas em escolas
( ) Produo de material didtico
( ) Abordando aspectos tericos da docncia em Parasitologia
( ) Outros. Discriminar: _____________________________________________________
__________________________________________________________________________
4) Em sua prtica docente, o contexto de vida de seus alunos considerado importante?
( ) No. Dou aos alunos um tratamento igualitrio, mas de forma impessoal.
( ) No. No devemos misturar questes pessoais no ambiente de trabalho.
( ) Sim, busco uma relao mais estreita com os alunos, considerando os aspectos pessoais.
( ) Sim, para mim o contexto de vida dos alunos chave para o planejamento das atividades de ensino.
( ) Sim, mas como tenho muitos alunos, no possvel levar em considerao seus contextos de vida.
( ) Sim, principalmente na minha relao com meus orientandos. Em sala de aula, o nmero de alunos
impossibilita um trato mais pessoal, mais individual.
( ) Sim, procuro deix-los a vontade para falar sobre o cotidiano, ainda que no tenha relao com o
contedo da disciplina.
( ) Sim, eu sempre pergunto a origem dos alunos, sua experincia e histria de vida. Muitas vezes me utilizo
disso para dar exemplos nas aulas durante o curso.
( ) N.d.a. Justifique: ________________________________________________________
__________________________________________________________________________
5) De que forma voc seleciona e organiza os contedos a serem ministrados para as licenciaturas?
( ) Normalmente uso como base os planejamentos dos anos anteriores da disciplina.
( ) No preparo contedos de forma especfica para cursos de licenciatura.
( ) Alm da parte tcnica bsica, insiro formas de abordagem dos problemas e sua resoluo.
( ) Uso os livros didticos da disciplina e os planejamentos anteriores como base para estas tarefas.
( ) Parto da realidade dos alunos para planejar as atividades de ensino.
333
( ) Sigo o programa, mas em cada aula eu comento fatos sobre temas como espiritualidade (longe de
conotao religiosa), comportamentos humanos, relao com as pessoas, com o meio ambiente, etc.
( ) Procuro levar em conta a problemtica local, nacional e mundial na seleo dos contedos.
( ) Busco articular o contedo dos livros textos, os planejamentos anteriores e a realidade dos alunos.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
6) Relativamente ao papel da histria da cincia, normalmente, ela integra o contedo de sua disciplina?
( ) No, histria da cincia tratada em outra(s) disciplina(s) do curso.
( ) A histria da cincia no integra o contedo formal, mas sempre que posso abordo aspectos relacionados
histria da minha disciplina.
( ) Sim, na primeira aula abordo fatos histricos da constituio de nosso campo do conhecimento.
( ) Sim, a cada aula procuro resgatar os aspectos histricos de produo do conhecimento que estou
lecionando.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
7) As DCNs sinalizam para a necessidade de articulao entre teoria e prtica. Voc concorda com esta
recomendao? De que maneira procura articular teoria e prtica?
( ) No. Momentos de atividades prticas e tericas, separadamente, so fundamentais.
( ) Sim, existe uma boa integrao entre o contedo terico e prtico. Aulas prticas sempre abordam
aspectos indissociveis da teoria. So momentos diferentes em sala, mas no dissociados.
( ) Sim. As aulas tericas sempre precedem as aulas prticas, mas quase sempre elas so integradas num
mesmo ambiente: o laboratrio.
( ) Sim. Acredito que o processo de aprendizado favorecido quando fizemos uma abordagem
terico/prtica do tema.
( ) Sim. Alis, sequer divido a disciplina em aulas tericas e prticas.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
8) De que forma os problemas da sociedade contempornea integram contedos e prticas em sua
disciplina?
( ) Em minha disciplina so abordados muitos temas contemporneos. Vrias doenas que abordo so
bastante conhecidas no Brasil e no mundo.
( ) Busco dar exemplos recentes e contar experincias pessoais em minha atuao profissional. Abordo-os
sempre que tenham relao com o contedo da disciplina.
( ) Depois de expostos estes problemas, busco criar estratgias para, junto com os alunos, pensar alternativas
e aes que possam ser executadas para solucion-los.
( ) Uso-os para elaborar meu planejamento. Os problemas da sociedade contempornea estruturam o
contedo de minha disciplina.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
9) Quando as solues para estes problemas demandam conhecimentos de outras reas do saber, como
voc procede?
( ) Digo que no sei
( ) Tento voltar para o contedo da aula.
( ) Isto raramente acontece, mas quando acontece procuro algum professor desta outra rea do saber.
( ) Informo que aqueles tpicos sero tratados mais adiante no curso.
( ) Procuro profissionais destas reas para discutir ou eventualmente convido esses profissionais para
participarem de um contedo especfico.
( ) Considero-me aberto a todas as reas do saber, por isso, busco conhecimento de outras reas, por
iniciativa prpria.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
334
10) Quanto ao aprendizado, ao final da disciplina, que mudanas espera ter contribudo na formao do
aluno?
( ) Capacidade de integrar conhecimentos com os contedos aprendidos em outras disciplinas.
( ) Que ele seja capaz de produzir um texto terico sobre o contedo da disciplina.
( ) A aquisio da capacidade de reconhecer a morfologia das espcies parasitas, ao microscpio, de realizar
um exame diagnstico.
( ) Que compreenda o ciclo biolgico dos parasitas e as manifestaes patognicas associadas.
( ) Que o aluno, ao final da disciplina, possa, no somente possuir compreenso e acesso a um contedo
especfico, mas como tenha compreendido a necessidade de serem educadores.
( ) Que consiga formular perguntas e tenha capacidade de propor solues para alguns temas.
( ) Espero que ele torne-se capaz de pensar e se torne uma pessoa melhor.
( ) Tento faz-los participar ativamente de suas prprias avaliaes, para, primeiramente, perceberem a
dificuldade que definir e atribuir valores, como difcil ser justo e a maior de todas as dificuldades: auto-
avaliar-se.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
11) Para atingir este tipo de formao, que estratgias de ensino voc privilegia?
( ) Atividades em grupo, provas em dupla, discusso de casos.
( ) Todas (presencial, distncia, cotinuada), sem exceo.
( ) Aulas expositivas, aulas prticas, filmes, etc
( ) Falo sobre a vida e sua correlao com as pessoas, com o meio ambiente e com o desenvolvimento da
espiritualidade e do conhecimento.
( ) Trazer situaes do cotidiano que tem relao com o contedo da disciplina, dar aulas com bom humor,
ter a percepo de respeitar o tempo e o humor dos prprios alunos;
( ) Promover avaliaes no no modo clssico, em forma de provas; utilizar o momento da avaliao e da
sua correo para ampliar o aprendizado.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
12) Normalmente, que instrumentos de avaliao utiliza?
( ) Provas escritas
( ) Provas escritas de consulta sobre o contedo da disciplina
( ) Provas escritas de consulta com questes amplas, interdisciplinares
( ) Provas terico-prticas sobre o contedo da disciplina
( ) Provas terico-prticas com questes amplas, interdisciplinares
( ) Provas em duplas sobre o contedo da disciplina
( ) Provas em duplas com questes amplas, interdisciplinares
( ) Seminrios sobre o contedo da disciplina
( ) Seminrios sobre artigos cientficos atuais
( ) Abro mo de todas as alternativas e estou sempre aberto a novas possibilidades
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
13) Estes instrumentos de avaliao contribuem para voc modificar e/ou adequar as estratgias utilizadas?
( ) Nunca dei ateno a este aspecto.
( ) No. Dificilmente modifico minhas estratgias de ensino.
( ) Sim, dependendo do desempenho dos alunos na avaliao, modifico minhas estratgias.
( ) Sim. Este constitui um aspecto sempre importante: como avaliar a aprendizagem dos alunos.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Concepes sobre os Processos Formais de Aprendizagem para a Docncia Universitria
14) Em sua opinio, como se d a formao para a docncia universitria?
( ) Nos cursos de licenciatura
335
( ) Nos cursos de graduao, em geral
( ) Em cursos de ps-graduao em geral
( ) Em cursos de ps-graduao da rea de educao/ ensino de cincias
( ) No exerccio cotidiano da docncia, em sala de aula
( ) Durante o estgio probatrio
( ) Ainda no existe um curso para formao especfica do docente universitrio
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
15) Considerando sua formao integral (graduao e ps-graduao), voc acha que recebeu suficiente
formao pedaggica?
( ) No, de modo algum.
( ) No, apenas parcialmente.
( ) O suficiente.
( ) Sim, mais em relao prtica pedaggica e menos do ponto de vista terico-conceitual.
( ) Sim, considero me apto do ponto de vista didtico-pedaggico.
16) Formao pedaggica importante para o exerccio da docncia em sua rea de atuao?
( ) No, importante mesmo o domnio dos contedos da disciplina.
( ) depende do tipo de formao pedaggica, julgo importante desde que o docente compreenda as tcnicas
e formas de ensino e no somente alguns truques didticos.
( ) Sim, indiscutivelmente fundamental.
( ) Sim, mas o domnio e a atualizao do contedo mais importante.
( ) Sim, mas um professor precisa, acima de tudo, ser tambm um bom pesquisador.
( ) Sim, mas se um professor no tiver vocao e entusiasmo, nenhuma tcnica pedaggica estimular o
aluno a estudar.
( ) Julgo que sim, embora seja exceo na minha rea.
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
17) No caso de sua prpria formao, teve algum docente que abordou aspectos relativos docncia? Quais
voc destacaria?
( ) No.
( ) Sim. Alguns docentes enriqueciam suas aulas com experincias vividas.
( ) Sim. Que o aluno precisa sempre ser estimulado a fazer pergunta sobre o contedo.
( ) Sim. Ouvi comentrios sobre a postura em sala de aula, entonao de voz, modo de apresentar
diapositivos e outros materiais audiovisuais.
( ) Sim. Alguns docentes chamaram a ateno para a importncia da contextualizao e da
interdisciplinaridade.
( ) Sim. Lembro-me de ter ouvido sobre a seleo e organizao dos contedos.
( ) Outros. Discrimine: ______________________________________________________
__________________________________________________________________________
( ) N.d.a. Justifique: _________________________________________________________
__________________________________________________________________________
Concepes sobre os Processos Informais de Formao para a Docncia Universitria
18) Alm dos processos formais de aprendizagem para a docncia, em sua viso, qual a importncia relativa
dos seguintes fatores na sua trajetria de constituio enquanto docente?
- Famlia
( ) nenhuma importncia ( ) pouco importante ( ) media importncia ( ) importante ( ) muito importante
- Amigos (incluindo o aprendizado com seus colegas de trabalho)
( ) nenhuma importncia ( ) pouco importante ( ) media importncia ( ) importante ( ) muito importante
- Religio
( ) nenhuma importncia ( ) pouco importante ( ) media importncia ( ) importante ( ) muito importante
- Trajetria de atuao poltica
336
( ) nenhuma importncia ( ) pouco importante ( ) media importncia ( ) importante ( ) muito importante
- Formao artstico-cultural
( ) nenhuma importncia ( ) pouco importante ( ) media importncia ( ) importante ( ) muito importante
19) E, para voc, que processos considera mais importantes na sua constituio docente?
( ) Sem dvida, a graduao e a ps-graduao: os processos formais.
( ) Os processos formais foram mais importantes.
( ) Igualmente, os processos formais e informais.
( ) Os processos informais foram mais importantes.
( ) Aprendi a lecionar fora dos espaos formais de aprendizagem para a docncia.
20) Voc tem procurado literatura que te apie no Ensino das Cincias em nvel superior?
( ) Frequentemente
( ) Raramente
( ) Nunca
21) Caso afirmativo, em que circunstncias?
( ) Quando desconheo o assunto.
( ) Li vrios textos sobre Ensino de Cincias durante meu estgio docente.
( ) Quando preciso mudar as estratgias de ensino e/ou os instrumentos de avaliao.
( ) Procuro sempre curiosidades pra ilustrar minhas aulas. Temas como descobertas cientficas, personagens
histricos, etc.
( ) Outros: ______________________________________________________
( ) N.d.a. Justifique: _______________________________________________
_______________________________________________________________
22) Ainda em caso afirmativo, que tipo de literatura?
( ) Livros de Cultura Geral
( ) Livros e artigos especializados de minha disciplina
( ) Livros sobre a Epistemologia das Cincias
( ) Livros sobre Educao
( ) Livros e artigos especializados em Ensino de Cincias.
( ) Livros e artigos especializados em Pedagogia Universitria.
( ) Artigos sobre o Ensino de Biologia.
( ) N.d.a. Justifique: _______________________________________________
337
ANEXO 5 Roteiro da entrevista semiestruturada verso final (modelo com pequenas
variaes individuais.
1) Como tornou-se docente universitrio? Que fatores o motivaram a exercer a docncia?
(explorar aspectos formais e informais)
2) Lembra de algum(ns) docente(s) marcantes na sua formao? Caso afirmativo, que
caractersticas poderia destacar dele(s)?
3) Como voc caracterizaria um bom docente de Parasitologia?
4) J lecionou em outros nveis de ensino? Caso afirmativo, acredita que a experincia prvia
com a docncia em outros nveis de ensino facilita a atuao como docente universitria?
Caso afirmativo, de que forma?
5) Procura se envolver com a orientao de alunos em iniciao cientfica? Qual a
importncia de orientar alunos neste processo?
6) Considera importante o papel da histria da Microbiologia em sua disciplina? Caso
afirmativo, que estratgias usa para inseri-la em suas atividades?
7) Ao defrontar-se com problemas que demandam conhecimentos de outras reas do saber,
procura profissionais destas reas para discutir ou, eventualmente, at participar de suas
aulas? Caso afirmativo, qual a importncia desta interao com outras reas do saber? Alm
disso, de que forma tem buscado esta aproximao em sua prtica cotidiana?
8) Considera importante o contexto de vida de seus alunos? Caso afirmativo, porque o
considera importante e de que maneira ele influencia sua prtica docente?
9) Em relao prtica docente, gostaria que falasse sobre o que pensa acerca destes trs
termos: a) vocao, b) aprendizagem formal e, c) entusiasmo
10) Voc planeja suas atividades de ensino individual ou coletivamente em conjunto? Como
ocorre este processo?
11) Como prepara suas aulas?
12) Alm das atividades acadmico-cientficas, voc tambm realiza atividades de natureza
artstico-cultural, como escrever poesias ou contos, pintar, encenar, etc? Caso afirmativo, qual
a importncia destas atividades para voc, enquanto docente?
13) Fale um pouco sobre sua trajetria de atuao poltica e sobre o papel que teria na sua
constituio enquanto docente.
14) Ao eleger certas atividades artstico-culturais para frequentar ou realizar, que fatores
considera importantes?
338
ANEXO 6 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Dados de identificao
Ttulo do Projeto: A Docncia Universitria em Biologia e suas relaes com a realidade amaznica
Pesquisador Responsvel: Welton Yudi Oda
Instituio a que pertence o Pesquisador Responsvel: Universidade Federal de Santa Catarina
Telefones para contato: (48)33717757 - (48) 96547757
Nome do voluntrio: ___________________________________________________________
Idade: _____________ anos R.G. _______________________
O Sr. (a) est sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa A Docncia Universitria em Biologia
e suas relaes com a realidade amaznica, de responsabilidade do pesquisador Welton Yudi Oda.
O exerccio crtico de nossa atividade muito importante para a melhoria do desempenho profissional.
Entretanto, nossas tarefas cotidianas muitas vezes no possibilitam uma reflexo sobre nossas prticas e a realizao de
uma avaliao criteriosa que possibilite uma percepo mais acurada da efetividade dos procedimentos que estamos
adotando.
Visando iniciar um processo de avaliao da Educao em Cincias no ensino superior em
Biologia, em nvel de graduao, estamos nos propondo a realizar uma pesquisa em trs etapas. Na
primeira estaremos realizando um estudo documental e sobre a literatura produzida no campo da
Educao em Cincias. Em seguida estaremos aplicando a professores universitrios de biologia que
se disponham a participar desta pesquisa, um questionrio sobre o referido tema. A terceira fase,
realizada com um nmero menor de professores (4 a 10), consistir em uma anlise de carter
qualitativo. Nesta fase, os professores voluntrios tero entrevistas videogravadas (com posterior
transcrio das videogravaes). Este Termo de Consentimento diz respeito somente a esta terceira
fase.
Os procedimentos utilizados no devero expor os voluntrios a nenhum risco ou desconforto
previsveis e, como benefcios esperados para o voluntrio e para o ensino destas disciplinas,
prevemos que os resultados deste estudo apontem para as eventuais deficincias em procedimentos de
ensino e possam indicar posturas alternativas para os problemas encontrados.
Em casos de dvidas, os voluntrios podero telefonar para o pesquisador responsvel, ligando para os
nmeros supra-citados, preferencialmente em horrio comercial ou enviar mensagem eletrnica para o
endereo yoda@ufam.edu.br.
A participao dos professores voluntria e este consentimento poder ser retirado a qualquer tempo,
sem prejuzos a continuidade da pesquisa. As informaes prestadas sero de carter confidencial e a
sua privacidade ser garantida.
Eu, __________________________________________, RG n _____________________ declaro ter sido
informado e concordo em participar, como voluntrio, do projeto de pesquisa acima descrito.
(Local)_________________, _____ de ____________ de _______
_____________________________ _____________________________________
Nome e assinatura do professor Nome e assinatura do responsvel por obter o consentimento
______________________________ ____________________________________
Testemunha Testemunha
339
ANEXO 7 - Texto de Apoio entrevista
A formao do Professor de Biologia: o que dizem os documentos oficiais?
A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB)
Em relao formao do professor universitrio, bem conhecido o artigo 66. da
LDB (Brasil, 1996) que afirma que a preparao para o exerccio do magistrio superior far-
se- em nvel de ps-graduao, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.
Talvez menos conhecido seja o texto original da LDB, que, segundo Saviani (1998
apud Giusti e Monteiro de Aguiar, 2004), teria sofrido um enxugamento que redundou
nesta sentena genrica e imprecisa, j que o Senador Darcy Ribeiro, redator da referida lei
referia-se necessidade de formao didtico-pedaggica.
Formao didtico-pedaggica para o professor universitrio e no somente para os
docentes ligados diretamente ao campo educacional. Sendo assim, devem estar includos,
nesta proposio, os docentes de contedos especficos, como os de Parasitologia e
Microbiologia.
Alm disso, a formao requerida pelo docente para atender as exigncias da LDB
requer mais do que formao didtico-pedaggica. Requer uma formao humanstica mais
ampla para dar conta, por exemplo, das finalidades da educao superior conforme propugna
o artigo 43., em dois de seus incisos que podem contribuir com a presente anlise. So eles: I
- estimular a criao cultural e o desenvolvimento do esprito cientfico e do pensamento
reflexivo; e VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular
os nacionais e regionais, prestar servios especializados comunidade e estabelecer com
esta uma relao de reciprocidade.
Alm destes, a referida lei, em seu artigo 52., prossegue neste mesmo tom, ao afirmar
que as universidades so instituies pluridisciplinares de formao dos quadros
profissionais de nvel superior, de pesquisa, de extenso e de domnio e cultivo do saber
humano e, novamente, em seu inciso I, faz referncia contextualizao, ao caracterizar as
universidades como centros de produo intelectual institucionalizada mediante o estudo
sistemtico dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista cientfico e
cultural, quanto regional e nacional.
O texto da LDB no faz referncia explcita s disciplinas de contedos especficos,
no atribui a elas, em particular, tais tarefas. Tal particularidade do ensino superior, pode ser
melhor compreendida em outros documentos, como as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCNs), por exemplo.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formao de Professores da Educao
Bsica, em nvel superior
As DCNs para a formao dos professores da Educao Bsica (Brasil, 2002b)
tambm oferecem importantes tarefas para o docente universitrio. O artigo 5., que trata do
projeto pedaggico de cada curso, por exemplo, afirma em dois de seus incisos, que: IV - os
contedos a serem ensinados na escolaridade bsica devem ser tratados de modo articulado
com suas didticas especficas; e V que a avaliao deve ter como finalidade a orientao
340
do trabalho dos formadores, a autonomia dos futuros professores em relao ao seu processo
de aprendizagem (...), etc.
No caso da articulao entre os contedos e as didticas especficas, o artigo 12 busca
fazer da prtica docente um articulador entre as disciplinas, j que esta no poder ficar
reduzida a um espao isolado, que a restrinja ao estgio, desarticulado do restante do curso
e, em seu pargrafo 2. reafirma que a prtica dever estar presente desde o incio do curso e
permear toda a formao do professor.
J em relao organizao institucional da formao dos professores, o artigo 7.
aponta alguns princpios norteadores, dentre os quais assinalaria: a estreita articulao com
institutos, departamentos e cursos de reas especficas, a indicao de formao dos
formadores, incluindo na sua jornada de trabalho tempo e espao para as atividades
coletivas dos docentes do curso, estudos e investigaes sobre as questes referentes ao
aprendizado dos professores em formao.
O artigo seguinte (8.) faz referncia ao processo avaliativo e indica que estas devem
ser: I peridicas e sistemticas, com procedimentos e processos diversificados e; III -
incidentes sobre processos e resultados. Por fim, as DCNs enfatizam ainda (art. 14.), que
cada instituio construa projetos inovadores e prprios, com a flexibilidade necessria, que
abranger as dimenses tericas e prticas, de interdisciplinaridade dos conhecimentos a
serem ensinados, etc.
Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Cincias Biolgicas
As DCNs para os cursos de Cincias Biolgicas (estabelecidas pela Res. CNE/CES n.
7/ 2002 e integrantes do Parecer CNE/CES n. 1.301/ 2001; Brasil, 2001; 2002b) enfatizam a
importncia de uma compreenso interdisciplinar e contextualizada da Biologia, ao afirmar
que particular ateno deve ser dispensada s relaes estabelecidas pelos seres humanos,
dada a sua especificidade. E ainda que, em tal abordagem, os conhecimentos biolgicos no
se dissociam dos sociais, polticos, econmicos e culturais.
E dentre as competncias e habilidades desejadas, sugere que o bilogo utilize os
conhecimentos das cincias biolgicas para compreender e transformar o contexto scio-
poltico e as relaes nas quais est inserida a prtica profissional (...), e atue multi e
interdisciplinarmente, interagindo com diferentes especialidades e diversos profissionais (...).
Uma importante questo emerge deste documento: tais apontamentos no dizem
respeito somente ao professor de biologia, mas buscam sinalizar caractersticas profissionais
do bilogo, quer seja ele docente da educao bsica, do ensino superior ou at mesmo
bacharel.
Deste modo, qualquer curso de Biologia em territrio nacional deve garantir ao aluno:
um ensino problematizado e contextualizado, assegurando a indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extenso; (...) a formao de competncia na produo do conhecimento com
atividades que levem o aluno a: procurar, interpretar, analisar e selecionar informaes;
identificar problemas relevantes, realizar experimentos e projetos de pesquisa;
Por fim, este importante documento, sugere que os conhecimentos biolgicos sejam
distribudos ao longo de todo o curso, devidamente interligados e estudados numa
abordagem unificadora.
Estariam tais dispositivos legais sendo atendidos no ensino da Parasitologia e da
Microbiologia que ocorre nas instituies pblicas de ensino superior?
341
ANEXO 8 Questionrio n 2 (modelo com pequenas variaes individuais)
Aps a leitura das 13 questes abaixo, indique o seu grau de concordncia com as mesmas, usando uma
escala de 1 a 4. Use 4 para indicar concordncia plena, 3 para concordncia parcial, 2 para discordncia
parcial e 1 para discordncia total.
No sculo XIX a tuberculose tornou-se a doena social por excelncia, porque a indstria arrancou os
trabalhadores dos campos, obrigando-os a trabalhos ainda mais forados, a viverem em moradias
apinhadas, escuras, mal cheirosas e forou as crianas a trabalhar at a noite. Em tais condies a
tuberculose explodiu como fenmeno de massa.
Muitas medidas adotadas atualmente para lidar com doenas como a dengue, a malria e outras parasitoses
so tomadas de cima pra baixo, sem o envolvimento da populao acometida. Desse modo, resultam em
constantes fracassos.
As doenas podem ser explicadas a partir do modelo de rede de causalidade, que considera as interaes
recprocas entre os fatores na causao da doena. Com ele possvel, descobrindo o fator mais frgil,
intervir neste e debelar a doena, ao invs de dispersar tempo e energia buscando atacar vrios fatores.
So os parasitos que causam as doenas. Cada doena infecciosa e parasitria possui seu agente etiolgico.
preciso compreender aspectos como a morfologia e a biologia dos parasitos, alm das suas
manifestaes. O controle das populaes destas espcies patognicas e o tratamento dos doentes (com
bactericidas, fungicidas, carrapaticidas, etc...) so as maneiras mais eficazes de combatermos as causas
destas doenas.
A sade o equilbrio entre fatores diversos e mltiplos que envolvem o hospedeiro, os vetores, o agente
etiolgico e o meio-ambiente. Por desequilbrios centrados no hospedeiro ou no agente, ou por
modificaes do meio ambiente em direo ao hospedeiro ou ao agente, surge a doena.
A higiene individual fundamental na preveno das doenas parasitrias. Pessoas com menor poder
aquisitivo possuem hbitos de higiene mais precrios e por isso so mais susceptveis a este tipo de doena.
Conhecer os princpios da metodologia cientfica, possibilitando-lhe a leitura crtica de artigos tcnico-
cientficos e a participao na produo de conhecimentos, uma das competncias e/ou habilidades
necessrias ao Mdico.
A necessidade de uma experincia cientfica identificada pela teoria antes de ser descoberta pela
observao. Ou seja, a experimentao depende de uma elaborao terica anterior. Deste modo, o
pensamento cientifico , ao mesmo tempo, racionalista e realista, pois a prova cientfica se afirma tanto no
raciocnio como na experincia.
O cientista deve desconfiar as experincias imediatas, refletir sobre os conceitos iniciais, contestar as ideias
evidentes. Ou seja, o conhecimento cientfico se estabelece a partir de uma ruptura com o senso comum. E
o progresso das cincias exige ruptura com os conhecimentos anteriores.
Comparando os temas de pesquisa cientfica com os problemas econmicos, tcnicos, sociais ou polticos
de cada poca, fica evidente que o desenvolvimento cientfico determinado por eles. Antes da revoluo
industrial, a cincia no podia ultrapassar os limites impostos pela Igreja. Depois, submeteu-se aos
interesses da burguesia, cujas necessidades tcnicas e econmicas determinaram o desenvolvimento
posterior das teorias cientificas.
Atualmente, o papel dessas influencias externas sobre o desenvolvimento das cincias pode ser facilmente
constatado, verificando-se em quais pesquisas as agncias financiadoras investem seus recursos.
Em princpio, o cientista no precisa seguir qualquer norma rgida quanto metodologia da pesquisa. Ou
seja, vale tudo.
No existe regra de pesquisa que no tenha sido violada alguma vez. Portanto, no se pode insistir para que,
numa dada situao, o cientista adote, obrigatoriamente, um certo procedimento metodolgico. No fim das
contas, pode ser esta justamente a situao em que a regra deve ser alterada. No existe nenhuma regra, por
mais alicerada que esteja numa teoria do conhecimento, que no tenha sido violada em uma ocasio ou
outra. Tais violaes so necessrias ao progresso.
Normalmente os cientistas no esto muito preocupados em negar uma teoria, mas sim em comprovar as
teorias existentes. Se o resultado aparecer depressa, timo. Caso contrrio, o cientista lutar com os seus
342
instrumentos e as suas equaes at que, se for possvel, obtenha resultados conformes com a teoria
adotada pela comunidade cientfica a que pertence.
A comunidade cientfica conservadora. Somente em casos muito especiais uma teoria aceita por longo
tempo abandonada e substituda por outra. Em geral, as novidades que no se enquadram nas teorias
vigentes tendem a ser rejeitadas pelos cientistas. S considerado como cincia aquilo que os cientistas
aceitam por consenso.
A formulao de leis naturais tem sido encarada, desde h muito tempo, como uma das tarefas mais
importantes da cincia. O mtodo que a cincia utiliza para conhecer os fenmenos que ocorrem no
universo o mtodo experimental, que consiste, basicamente, em: a) observao dos fenmenos; b)
medida das principais grandezas envolvidas; c) busca de relaes entre essas grandezas, com o objetivo de
descobrir as leis que regem os fenmenos que esto sendo pesquisados.
Este processo, que permite chegar a concluses gerais a partir de casos particulares, denominado induo
e uma das caractersticas fundamentais da cincia. Ele possibilita atingir um conhecimento seguro,
baseado na evidncia observacional e experimental.
A cincia possui valor, no porque a experincia demonstre as ideias cientficas, mas porque fatos
experimentais podem falsear proposies cientficas. As ideias cientficas no podem ser provadas por fatos
experimentais, mas estes fatos podem mostrar que as proposies cientficas esto erradas. Esta a
caracterstica de todo o conhecimento cientifico: nunca se pode provar que ele verdadeiro, mas, s vezes,
podemos provar que ele no verdadeiro.
Sempre existe a possibilidade de se provar que uma teoria estabelecida est errada, mas nunca podemos
provar que ela correta. Assim, a cincia evolui atravs de refutaes. medida que se vai provando que
ideias so falsas, obtm-se uma nova teoria, ou a antiga aperfeioada.
343
ANEXO 9 Mdia (DVD) com arquivos de udio e transcrio das entrevistas
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