Contracultura
Contracultura
Contracultura
Tema:
Contracultura
Pesquisador:
Francis
Vogner
dos
Reis
Sinopse
O
perodo
da
contracultura
(anos
60
e
70)
foi
um
momento
de
efervescncia
cultural
no
mundo
e
no
Brasil,
de
transgresso
poltica,
de
liberao
de
costumes
e
de
ousadia
formal
nas
artes.
A
contracultura
teve
sua
incurso
no
cinema,
tanto
em
filmes
que
se
filiavam
a
esse
repertrio
de
rebeldia
como
Fando
e
Lis,
de
Alejandro
Jodorowsky
(Mxico)
e
O
Rei
da
Vela,
Jos
Celso
Martinez
Correa,
tanto
em
trabalhos
atuais
que
refletem
sobre
as
caractersticas
libertrias
da
contracultura
como
os
documentrios
Lki,
de
Paulo
Henrique
Fontenelle
e
Dzi
Croquettes,
de
Raphael
Alvarez
e
Tatiana
Issa.
Apresentao
dos
filmes
e
das
questes
Fando
e
Lis
(Mxico,
1968),
de
Alejandro
Jodorowski
O
diretor
chileno
Alejandro
Jodorowsky
fundou
junto
aos
surrealistas
Fernando
Arrabal
e
Roland
Topor
em
1962
o
Movimento
Panique,
homenageando
o
deus
Pan,
que
realizavam
apresentaes
teatrais
performticas
e
vanguardistas
ao
vivo
pelas
ruas
de
Paris.
A
pea
de
Arrabal
Fando
y
Lis
foi
a
que
Jodorowski
adaptou
em
seu
primeiro
longa.
A
trama
mostra
a
jornada
de
Fando
e
sua
amada,
a
paraltica
Lis,
em
busca
da
mtica
Tar,
a
ltima
cidade
que
sobrou
na
terra
aps
uma
guerra
nuclear
apocalptica,
uma
espcie
de
paraso.
O
filme
um
delrio
surrealista
que
mistura
artes
plsticas,
performance
e
os
arroubos
estticos
e
violentos
das
vanguardas
dos
anos
1960.
O
filme
no
tematiza
a
contracultura
da
poca,
mas
parte
integrante
da
produo
contracultural
do
perodo.
O
Rei
da
Vela
(Brasil,
1983),
de
Jos
Celso
Martinez
"A
pea
e
a
revolucionria
encenao
do
Teatro
Oficina
relatam:
o
rei
Abelardo
I
agoniza;
seu
secretrio,
Abelardo
II,
quer
subir
ao
poder;
o
povo
enjaulado
delira.
O
filme
acrescenta:
os
Dzi
Croquettes
(Brasil,
2009),
de
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez
Dzi
Croquettes
um
documentrio
de
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez
e
que
trata
de
um
dos
mais
importantes
grupo
de
teatro
na
dcada
de
70
no
pas,
o
Dzi
Croquettes.
O
grupo
surgiu
no
Rio
de
Janeiro
em
plena
ditadura
militar.
Composto
somente
por
homens,
o
grupo
se
travestia,
cantava,
danava
e
faziam
performances
provocadoras.
Em
pouco
tempo
e
alcanaram
o
sucesso
junto
a
intelectuais
e
artistas.
Ao
derrubar
os
tabis
sexuais
e
investir
em
uma
expresso
criativa
da
liberdade
e
do
humor,
o
Dzi
Croquettes
se
tornou
uma
das
principais
diferenas
da
contracultura
brasileira.
Material
Anexo
Liberdade
cabeluda
O
inusitado
carter
poltico
da
contracultura
brasileira
Capellari
acredita
que
at
1968
a
juventude
engajada
tinha
como
norte
comum
a
derrubada
da
ditadura,
e
outras
preocupaes,
relacionadas
subjetividade,
em
geral
ficavam
em
segundo
plano.
Quando,
porm,
o
sinal
se
fechou
com
o
AI-5,
a
juventude
se
trifurcou
(como
disse
Alfredo
Syrkis),
e
uma
parte
dela
aderiu
luta
armada,
outra
sociedade
de
consumo
e
uma
Essa
viso
teria
ajudado
a
academia
a
manter
no
limbo
o
rico
movimento
que
ficou
conhecido
como
contracultura
ou
underground
udigrudi,
em
bom
portugus
,
enquanto
se
dedicou
exaustivamente
a
estudar
o
movimento
estudantil
e
a
luta
armada?
provvel
que
sim.
Doutor
em
histria
social
pela
USP,
Marcos
Alexandre
Capellari
diz
que
se
pode
aventar,
inicialmente,
algumas
razes
para
o
pouco
interesse
da
universidade
pelo
assunto.
A
primeira,
explica
ele,
tem
a
ver
com
o
fato
de
que
se
trata
de
fenmeno
recente
em
que
muitas
de
suas
feridas
(decepes,
mal-
-entendidos
etc.)
ainda
no
cicatrizaram.
No
confortvel
lidar
com
um
movimento
cujos
personagens
envolvidos,
em
sua
grande
maioria,
esto
vivos
e
atuantes,
e
cujo
ide-rio
ainda
repercute
culturalmente,
dividindo
opinies,
observa
o
historiador,
que
defendeu
recentemente
a
tese
O
discurso
da
contracultura
no
Brasil:
o
underground
atravs
de
Luiz
Carlos
Maciel,
com
orientao
de
Raquel
Glezer.
Outra
explicao
diz
respeito
s
tradies
de
pesquisa
nas
universidades,
no
interior
das
quais
determinados
temas
so
ou
no
considerados
legtimos
objetos
de
estudo.
Capellari
concentrou
sua
pesquisa
na
represso
imposta
pelo
regime
militar,
sobretudo
a
partir
do
AI-5,
de
dezembro
de
1968,
para
investigar
o
iderio
libertrio
da
contracultura
propagado
pelo
jornalista
Luiz
Carlos
Maciel
na
coluna
Underground,
do
semanrio
O
Pasquim,
lanado
em
junho
de
1969.
Maciel
seria
apelidado
de
guru
da
contracultura
pela
importncia
que
teve
em
difundir
suas
ideias
no
pas.
A
anlise
de
Capellari
tenta
identificar
as
motivaes
do
movimento
contracultural
internacional
e
sua
introduo
no
Brasil
em
um
perodo
marcado
por
fortes
rivalidades
polticas
e
ideolgicas.
A
partir
do
discurso
do
jornalista,
ele
questiona
se
a
concepo
de
liberdade
proposta
pelo
movimento
foi,
como
defende
a
crtica,
mera
expresso
de
escapismo
hedonista
ou
efetivamente
revolucionria.
O
trabalho
procura
tambm
apontar
suas
origens
histricas.
O
rebelde
hoje:
Luiz
Carlos
Maciel
Para
elaborar
o
projeto
do
doutorado,
Capellari
leu
de
forma
mais
sistemtica
desde
obras
de
divulgao
sobre
o
tema
at
tericos
evocados
pelo
movimento,
como
Theodore
Roszak,
Wilhelm
Reich,
Herbert
Marcuse,
David
Cooper,
entre
vrios
outros.
Com
a
ajuda
de
minha
orientadora,
avaliei
possveis
rumos
da
pesquisa
e
surgiu
a
deciso
de
abordar
a
coluna
de
Luiz
Carlos
Maciel.
Ao
lidar
com
essa
documentao,
o
historiador
notou
que
era
possvel,
analisando
os
elementos
de
seu
discurso,
compor
uma
interpretao
no
apenas
da
difuso,
nesse
perodo
(1969-1972),
do
iderio
contracultural
no
Brasil,
como
tambm
do
seu
conte-do,
composto
por
elementos
oriundos
de
diversas
tradies
do
saber.
Nesse
contexto,
a
ditadura,
de
alguma
forma,
ao
reprimir
a
liberdade
sexual
e
outras
manifestaes
como
o
movimento
hippie,
tentou
conter
a
chegada
da
contracultura
no
Brasil.
Nesse
sentido,
o
autor
observa
que,
alm
dos
aspectos
polticos
e
econmicos
envolvidos
no
conceito,
o
termo
ditadura
pode
ser
considerado,
para
o
perodo,
como
representao
sinttica
do
conservadorismo
na
esfera
dos
costumes.
No
resta
dvida
de
que
ela
se
ops
de
forma
contundente
ao
ingresso
da
contracultura
no
cenrio
nacional,
ao
consider-la
um
elemento
subversivo
a
mais
a
ser
combatido.
Para
isso,
a
censura,
de
um
lado,
e
a
represso,
atestada
por
testemunhos
de
poca,
de
outro,
foram
utilizadas
como
meio
de
impedir
a
liberao
dos
costumes.
Creio
que
no
s
o
regime,
mas
sobretudo
a
cultura
conservadora
que
ele
representava
foi
vencedora,
mas
no
apenas
no
Brasil.
Acontece
que,
prossegue
Capellari,
do
ponto
de
vista
de
grande
parte
dos
que
se
envolveram
na
contracultura,
ficou
a
sensao
de
que
os
ideais
libertrios
que
acompanhavam
a
liberao
dos
costumes
minguaram
medida
que,
no
seu
lugar,
a
indstria
cultural
transformava
as
bandeiras
do
movimento
em
mercadoria,
esvaziando-as
de
suas
conotaes
polticas
e
filosficas.
Juventude
H,
sobre
esse
aspecto,
afirma
o
pesquisador,
uma
outra
considerao
a
ser
feita
e
que
se
relaciona
com
as
disputas
que
ocorriam
no
Brasil
no
mbito
poltico
e
cultural.
De
um
lado,
ao
contrrio
dos
EUA,
vivia-se
no
pas
um
regime
de
exceo,
contra
o
qual
parte
da
juventude
estudantil
e
de
outros
segmentos
sociais
se
manifestou
at
dezembro
de
1968,
quando
veio
a
represso
pelo
AI-5.
De
outro
lado,
na
arena
cultural,
havia
uma
forte
disputa
entre
defensores
de
uma
cultura
nacional
e
politicamente
engajada,
simbolizada
pelas
propostas
do
CPC
(Centro
Popular
de
Cultura),
e
tropicalistas
abertos
s
vanguardas
estticas
nacionais
e
internacionais.
Entendo
que
no
interessava
ao
regime
militar
a
introduo
de
elementos
culturais
aliengenas
quando
eles
tivessem
alguma
conotao
subversiva,
e
realmente
houve
represso
a
eles;
creio,
contudo,
que
a
contracultura
tambm
encontrou
obstculos
para
a
sua
difuso
na
prpria
conjuntura
brasileira
do
perodo.
Gonalo
Jnior
Revista
da
Fapesp
-
155
-
Janeiro
de
2009
Disponvel
em
http://revistapesquisa.fapesp.br/2009/01/01/liberdade-cabeluda/
Contracultura
e
modernismo:
relaes
rebeldes
APRESENTAO
disso,
voc
pode
se
descabelar
ou
apenas
ler
um
poema
de
Walt
Witman.
Vai
depender
da
sua
sensibilidade.
Muito
j
foi
dito
sobre
a
contracultura,
mas
ela
ainda
no
foi
suficientemente
estudada,
e,
se
o
foi,
pode
no
ter
sido
observada
por
todos
os
ngulos
possveis.
As
relaes
desta
com
o
altamente
prestigiado
modernismo
do
incio
do
sculo
XX.
DESENVOLVIMENTO
Apesar
de
atualmente
a
ingenuidade
de
quem
acreditou
numa
ou
noutra
mudana
ser
evidente,
na
poca
no
era
e,
para
entendermos
melhor
a
proximidade
entre
modernismo,
devemos
utiliz-la
como
uma
das
principais
chaves
de
compreenso.
Afinal,
uma
das
trs
coordenadas
para
o
modernismo
apresentadas
por
ANDERSON
justamente
a
proximidade
imaginativa
da
revoluo.
Ao
utilizarmos
estas
coordenadas
para
analisar
no
o
modernismo,
mas
a
contracultura,
necessitaremos
de
alguns
ajustes
e
ento
conseguiremos
evidenciar
semelhanas
estruturais
entre
os
dois
movimentos.
Tratemos
primeiro
da
proximidade
imaginativa
da
revoluo
social.
Enquanto
no
incio
do
sculo
uma
revoluo
socialista
parecia
no
apenas
vivel,
mas
tambm
louvvel;
depois
da
metade
do
sculo
a
situao
estava
bem
diferente.
No
mundo
polarizado
pela
Guerra
Fria
os
defeitos
de
ambos
sistemas
se
evidenciavam
e
uma
revoluo
social
era
quase
sempre
descartada.
O
movimento
contracultural
desejava
mudanas
sim,
mas
estas
mudanas
estavam
na
esfera
dos
direitos
civis,
liberdades
individuais,
pacifismo
e
estilo
de
vida;
ou
seja,
na
esfera
da
micropoltica,
ou
poltica
do
quotidiano.
Alm
disso,
a
Guerra
do
Vietn
e
as
vrias
ditaduras
na
Amrica
Latina
eram
inimigos
bem
reais;
venc-los
atravs
do
pacifismo
(nos
Estados
Unidos)
ou
da
luta
armada
(na
Amrica
Latina)
seria
sem
dvida
uma
revoluo
de
peso.
Como
sabemos,
nenhuma
das
duas
se
concretizou.
Enquanto
atualmente
poucos
acreditam
em
revoluo
em
face
da
vitria
do
capitalismo
e
da
ausncia
do
que
possa
substitu-lo;
na
poca
da
contracultura
havia
muito
pelo
que
lutar
e,
ao
menos
nas
mentes,
a
revoluo
era
possvel.
Vamos
segunda
coordenada;
academicismo
muito
forte.
Se
no
podemos
ver
uma
alta
cultura
to
forte
em
comparao
com
perodo
anterior
e
temos
em
maior
evidencia
a
cultura
de
massa,
vemos
uma
maior
popularizao
do
sistema
de
ensino
universitrio,
responsvel
por
levar
educao
de
nvel
superior
classe
mdia.
Tal
popularizao
levou
conhecimento
antes
restritos
elite
para
vastas
parcelas
da
populao
mundial
e,
com
este
conhecimento
foi
embasada
a
contracultura.
A
dialtica
academicismo
muito
forte
/
novas
formas
de
arte
fora
substituda,
na
segunda
metade
do
sculo
por
outra
um
tanto
mais
simples:
jovem
/
no-
jovem.
Ficou
clara
a
importncia
do
antagonismo
entre
geraes
e
foi
ento
que
a
juventude
passou
a
se
organizar
como
um
poder
poltico
autnomo.
Por
fim,
tratemos
do
surgimento
de
novas
tecnologias.
Indiscutivelmente
a
mais
importante
tecnologia
do
momento
a
televiso.
Este
aparelho
responsvel
por
finalmente
consolidar
a
consolidao
do
inconsciente
humano.
Uma
mquina
de
prazer
capaz
de
moldar
as
mentes
desde
a
infncia.
To
forte
era
sua
influncia
que
praticamente
toda
a
arte
produzida
no
perodo
era
influenciada
ou
fazia
referncia
de
alguma
forma
T.V.
e
ao
seu
universo
de
sonho.
Entretanto,
a
massificao
e
o
cdigo
de
smbolos
foi
sendo
subvertido;
a
isso
se
deve
o
forte
carter
popular
na
arte
contracultural.
Em
menor
escala,
a
guitarra
eltrica
teve
importncia,
afinal
possibilitou
o
Rock
'n'
Roll
e
a
propagao
de
suas
idias
atravs
de
letras
de
msica.
Uma
outra
tecnologia
teve
um
impacto
transformador
tanto
no
mundo
real,
quanto
no
imaginrio.
A
destruio
de
Hiroshima
por
uma
artefato
atmico
alm
de
acabar
definitivamente
com
a
II
Guerra
Mundial
colocou
o
fim
do
mundo,
ou
pelo
menos
sua
possibilidade,
distncia
de
um
boto.
O
apocalipse
nunca
esteve
to
perto
das
mentes
e
dos
coraes
humanos.
Tal
proximidade
com
o
fim
levou
a
um
sentimento
generalizado
de
niilismo
e,
por
sua
vez,
o
niilismo
junto
com
a
abundncia
econmica
do
perodo
ps-guerra
foram
fundamentais
para
a
gestao
da
contracultura.
na
Amrica,
nesse
peculiar
nexo
de
niilismo
e
jovialidade,
otimismo
tecnolgico
e
poder
militar
excessivo,
um
lugar
onde
expectativas
e
desejos
que
tinham
sido
cultivados
ao
longo
de
muitas
vidas
estavam
comeando
a
ficar
disponveis
em
questes
de
momentos,
a
terra
do
jazz
e
da
algazarra,
que
comea
a
histria
da
contracultura
na
segunda
metade
do
sculo
XX[7].
Podemos
constatar,
portanto,
os
mesmos
fatores
formadores
do
modernismo
no
momento
da
contracultura,
apesar
das
diferenas
observadas.
Vejamos
mais
de
perto
o
nascimento
deste
movimento.
Todos
os
autores
estudados
concordam
que
o
nascimento
da
contracultura
se
d
com
a
publicao
do
poema
Howl,
de
GINSBERG,
Allen
(1956).
GINSBERG
era
uma
das
mais
expressivas
figuras
do
que
ficou
conhecido,
por
conta
de
uma
frase
dele
mesmo,
como
a
beat
generation.
Ele
foi
praticante
de
filosofias
orientais
e
sua
presena
era
aplaudida
mesmo
que
no
pronunciava
palavra
nenhuma.
Os
beats
foram
os
precursores
ideolgicos
dos
hippies,
que
ficaram
bem
mais
conhecidos
e
s
surgiram
nos
anos
60;
ambas
as
tribos
eram
adeptas
da
filosofia
do
Drop
Out,
ou
seja,
ao
invs
de
tentar
lutar
por
mudanas
no
sistema,
preferiam
cair
fora
e
curtir
a
vida
como
bem
entendessem,
bem
longe
dos
que
poderiam
os
incomodar
ou
mais,
mas
sem
dar
importncia
s
crticas
e
preconceitos
dos
caretas,
na
orla
bomia,
aonde
movimento.
Quem
explica
o
prprio
Mautner:
Se
inevitvel
essa
absoro,
vamos
ento
fazer
com
que
essa
absoro
seja
feita
de
modo
a
talvez
preservar
o
que
seja,
o
que
merea
ser
preservado,
o
que
a
essncia
da
coisa.
Aparentemente
no
foi
o
que
aconteceu,
ao
invs
de
preservada
o
essencial,
preservou-se
o
perifrico,
por
exemplo,
o
hedonismo.
Voltemos
s
relaes
entre
modernismo
e
contracultura;
ambos
movimentos
se
caracterizaram
por
uma
atitude
rebelde,
salvo
algumas
excees,
por
exemplo,
o
Futurismo,
aliado
do
Estado
Fascista
na
Itlia.
Porm,
enquanto
os
primeiros
se
rebelavam
contra
ordem
sociais
pr-modernas
ou
os
horrores
da
guerra;
aos
segundos
coube
o
medo
da
bomba
e
a
represso
poltica
das
ditaduras
de
direita
ou
esquerda
e
do
macarthismo.
O
hipsterismo
floresceu
na
prpria
ansiedade
nuclear
(...).
A
possibilidade
de
um
apocalipse
instantneo
criava
uma
desculpa
perfeita
para
fugir
das
responsabilidades
(...).
O
Hipster
estava
livre
para
viver
o
momento[8].
Durante
a
segunda
metade
do
sculo
XX
no
houve
uma
multiplicidade
to
rica
de
obras
de
arte
e
estilos
estticos,
em
comparao
ao
incio
do
mesmo
sculo.
Entretanto,
arte
de
alta
qualidade
e
ousadia
foi
feita
no
perodo
deixou-se
um
legado
ainda
hoje
influente
na
cultura
mundial.
No
campo
da
esttica
a
principal
estilo
foi
a
vigorosa
arte
Pop,
criando
desde
a
dcada
de
50
uma
arte
capaz
de
absorver
e
subverter
tudo
produzido
de
uma
forma
ou
outra
pela
indstria
cultural.
Ao
aproximar
arte
e
design
comercial,
o
artista
borra,
propositadamente,
as
fronteiras
entre
arte
erudita
e
arte
popular
(...)[9].
Por
incorporar
os
elementos
de
consumo
na
arte,
considerada
ps-moderna.
Fato
que
a
coloca
em
um
campo
diferente
do
da
contracultura,
mas
ainda
assim,
serve
para
ilustrar
a
criatividade
artstica
do
perodo
tratado.
Alm
disso,
no
foi
o
nico
movimento
artstico
existente
ento.
O
expressionismo
abstrato
e
o
action-panting
de
Jackson
Pollock
so
exemplos
de
arte
vinculada
aos
valores
modernistas,
no
aos
ps-modernistas,
como
era
a
arte
Pop.
Um
dos
movimentos
artsticos
mais
importantes
dentro
da
contracultura
foi
o
happening.
O
termo
em
si
foi
cunhado
no
final
dos
anos
50
por
Allan
Kaprow;
diz
respeito
a
um
misto
de
artes
plsticas
e
cnicas
de
difcil
definio.
O
objetivo
era
induzir
repostas
criativas
da
platia
a
partir
de
seqncias
de
eventos
no-lineares
e
a
baixa
necessidade
de
recursos
ajudou
em
sua
propagao.
JAMESON
evidencia
o
nvel
de
importncia
ao
relatar
(...)
a
emergncia
dos
chamados
happenings,
discutidos
por
todos,
desde
Marcuse
at
os
suplementos
dos
jornais
de
domingo[10].
Entretanto,
essa
importncia
no
se
limita
abundncia
de
comentrios,
esttica:
ltima
ao
modernismo,
veremos
com
mais
detalhes
a
tnue
fronteira
entre
modernismo
e
ps-modernismo.
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[1]
ANDERSON,
Perry.
2]
GIDDENS,
Anthony.
[3]
JAMESON,
Fredric.
[4]
Os
dois
momentos
responsveis
por
influenciar
um
milho
de
jovens
atravs
do
globo,
por
sua
contestao
de
valores,
rebeldia
e
uma
nova
forma
de
contestar:
Woodstock
e
o
Maio
de
68
na
Frana.
O
primeiro
marcou
o
lado
ldico
do
movimento
e
continua
sendo
visto
com
saudosismo;
muitas
festas
j
tentaram
reviver
o
esprito
do
festival.
O
evento
na
Frana,
porm,
teve
influncia
redobrada
para
a
contracultura
tupiniquim,
pois
muitos
intelectuais
brasileiros
estavam,
por
vontade
prpria
ou
no,
exilados
na
Europa
e
puderam
assistir
aos
efeitos
demolidores
do
anarquismo
francs,
ou
como
diriam
alguns
dos
prprios
participantes
da
revolta,
marxismo
tendncia
Groucho,
em
referncia
ao
comediante
Groucho
Marx.
[5]
Ao
analisar
a
contracultura,
principalmente
nos
Estados
Unidos,
ROSZAK
acreditava
que
este
movimento
de
jovens
rebeldes
poderia
transformar
o
mundo
profundamente.
Para
este
autor,
a
contracultura
era
a
maior
contestao
do
modo
de
vida
ocidental
j
criado
e
a
nica
esperana
de
acabar
com
a
tecnocracia
e
buscar
um
modo
de
vida
mais
humano.
Passadas
algumas
dcadas
podemos
perceber
que
das
teorias
de
ROSZAK
sobre
o
futuro
da
em
http://contraculturabrasil.blogspot.com.br/2008/08/contracultura-e-
modernismo-relaes_27.html
Fando
e
Lis
(1968),
de
Alejandro
Jodorowski
Fando
y
Lis
o
happening
da
libertao
Chocante,
imoral,
sublime,
apocalptico,
catico,
enervante,
provocador.
Tudo
isso
Fando
y
Lis,
o
filme-parbola
do
jovem
Alexandre
Jodorowsy.
Seu
filme
causou
verdadeiro
escndalo
no
Mxico,
onde
chegou
a
ser
proibido.
O
filme
um
happening
da
procura
pela
liberdade,
do
amor,
da
verdade
poder
ser
exibido,
em
breve,
no
Brasil.
Em
uma
de
suas
fbulas
publicadas
em
El
Heraldo
Cultural,
do
Mxico,
Alexandro
dizia
a
Alexandro:
Que
complicado
o
mundo.
No
alcano
nada.
No
encontro.
Quero
ser!
E
contestava:
s
o
que
s
e
no
o
que
queres
ser.
Tudo
o
que
buscas
j
o
trazes
dentro
de
ti.
Fando
y
Lis,
de
Alexandro
Jodorowsky
,
em
ltima
anlise,
a
ressonncia
dessa
fbula.
Fando
e
Lis
so
dois
jovens
procura
de
uma
cidade
misteriosa
chamada
Taar,
smbolo
da
felicidade,
da
vida,da
liberdade,
do
amor.
Fando
guia
um
carrinho
de
rodas
levando
sobre
ele
uma
jovem
paraltica.
Os
dois
caminham
incansavelmente
atravs
de
uma
paisagem
de
pedras
e
runas.
Ansiosos
procuram
por
toda
parte
Taar.
Mas,
sempre,
se
descobriro
no
mesmo
ponto
de
partida.
Nessa
caminhada
angustiante
vo
tropeando
em
todo
o
tipo
de
aberraes
e
monstros.
As
imagens-smbolo
se
sucedem
em
um
verdadeiro
ritual
happening,
revelando
todo
um
mundo
de
intolerncia,
de
frustraes,
de
impotncias,
de
solido.
Uma
jovem
se
alimenta
de
rosas.
Homens
e
mulheres
se
abraam
desesperadamente
mergulhados
num
lago
de
lodo
como
personagens
do
Inferno
de
Dante.
A
imagem
da
me
castradora
entrecortada
pelas
recordaes-fantasmas
da
infncia.
Coraes
so
transformados
em
pssaros.
Homossexuais
cruzam
o
caminho
num
cortejo
de
loucura
e
de
aberraes.
Fando
termina
matando
sua
prpria
me
depois
de
arrancar-lhe
a
maquilagem
que
lhe
cobria
o
rosto
como
uma
mscara.
Obrigado,
meu
filho,
repetir
sua
me,
em
lgrimas.
Entre
as
rochas
de
um
deserto
,encontram-se
com
um
sacerdote
fetichista.
Eles
procuram
se
informar
sobre
Taar:
este
o
caminho
de
Taar?
Se
crs
que
seja
este,
este,
responde
o
sacerdote
a
Fando.
Mas,
tudo
intil.
Taar
no
existe.
Para
meus
personagens
essa
viagem
a
Taar
apenas
um
jogo
explica
Jodorowsky,
uma
experincia
vivida
que
no
sabem
a
que
os
levar,
nem
sequer
sabem
qual
seja
o
caminho.
Fando
y
Lis
o
seu
primeiro
encontro
com
o
cinema.
Com
larga
experincia
teatral,
Alexandro
Jodorowsky,
chileno
de
nascimento,
chegou
ao
Mxico
em
1960
como
ajudante
do
mmico
francs
Marcel
Marceau.
Na
Frana
fundara
com
Fernando
Arrabal
autor
de
Fando
y
Lis,
Cemitrio
de
Automveis,
etc.
espanhol
radicado
em
Paris,
um
grupo
experimental
de
teatro.
Jodorowsky
chegou
a
encenar
por
duas
vezes
a
pea
Fando
y
Lis,
sendo
que
na
segunda
vez
teve
como
intrpretes
aqueles
que
escolheria
para
a
verso
cinematogrfica.
Tendo
passado
um
ano
a
estudar
o
cinema
mexicano,
segundo
afirma
Manuel
Jimnez,
do
Instituto
de
Cinematografia
da
Universidade
Nacional,
em
Santa
F,
Jodorowsky
se
lanou
nessa
tardia
tentativa
vanguardista,
conseguindo
criar,
apesar
de
tudo,
um
clima
petio
de
ternura
e
solido.
No
ltimo
Festival
de
Acapulco,
o
filme
de
estria
de
Alexandro
Jodorowsky
causou
profunda
polmica
junto
opinio
pblica
mexicana,
chegando
alguns
mais
extremados
a
pedir
a
expulso
do
diretor
que
ousara
apresentar
uma
obra
to
obscena
e
imoral.
O
filme
acabou
sendo
interditado
no
Mxico.
Atualmente,
ele
est
nas
prateleiras
do
INC
espera
de
um
comprador
para
a
sua
distribuio
no
Brasil.
Escatologia
e
Libertao
O
meu
filme
escatolgico
declara
Jodorowsky.
Ele
se
volta
para
o
fim
do
mundo;
supe
que
uma
guerra
mundial
tenha
acabado
com
o
ser
humano.
Daqui
partem
meus
personagens
(Fando
e
Lis)
em
busca
de
Taar,
que
pode
simbolizar
a
redeno,
a
luz,
o
amor.
Mas
o
mundo
a
destruiu.
S
restam
sinais
decadentes
de
uma
sociedade
que
falsificou
todos
os
valores
e
conceitos.
H
muita
gente,
que
busca
a
si
mesmo
para
renascer.
Creio
que
seja
uma
simbologia
aberta.
A
arte
no
deve
ser
teoria,
deve
dar
ao
espectador
a
oportunidade
de
escolher
a
sua
prpria
imagem
do
mundo.
Fando
y
Lis
um
espelho
onde
cada
espectador
ver
refletido
seus
problemas
interiores.
Fando
seria
a
alma
de
Lis.
Ela
o
arrasta
para
o
sofrimento,
para
a
paixo.
Com
a
morte,
ele
se
libertar
de
tudo
isso.
E
Lis
seria
a
alma
de
Fando,
que
procura
destru-la
durante
toda
a
caminhada.
Mas
ao
final,
ele
descobrir
que
no
pode
viver
sem
ela.
O
primeiro
passo
a
dar,
eliminar
a
falsa
imagem
que
se
tem
de
si
mesmo
para
se
aceitar
como
,
para
se
encontrar
em
sua
totalidade:
livrar-se
da
mscara.
Lis
poderia
ser
simplesmente
a
alma
ou
o
outro
ego
de
Fando.
Fando
se
v
obrigado
a
arrastar
esse
ego,
encarnado
em
uma
paraltica,
como
uma
cruz.
Para
encontrar-se
consigo
mesmo
deve
destruir
a
imagem
de
Lis
integrando-a
em
sua
totalidade.
Eis
Taar,
a
terra
prometida.
Taar,
segundo
Jodorowsky,
existe
no
fundo
de
cada
um
de
ns.
Seus
personagens
vivem
obcecados
pela
presena
da
morte.
Ao
som
do
tambor
e
do
rgo,
Lis
caminha
para
a
morte:
Que
lindo
um
funeral!
Mas,
quando
eu
morrer,
ningum
se
recordar
de
mim.
Sim
Lis,
eu
virei
te
visitar
com
uma
flor
e
um
cachorro.
Uma
flor
e
um
cachorro!
Em
meio
ao
deserto
enterrada
a
jovem
Lis.
Sobre
sua
tumba
esto
uma
flor
e
um
cachorro.
A
solido.
Impossvel
chegar
a
Taar.
Ningum
jamais
chegou
l.
E
ento,
o
absurdo?
No.
Taar
est
dentro
de
cada
um
de
ns.
Ao
final,
a
libertao.
A
morte.
Com
ela,
renascemos.
Na
tela,
ao
som
de
uma
msica
medieval,
a
legenda:
E
quando
sua
imagem
se
apagou
do
espelho,
apareceu
no
vidro
a
palavra
liberdade...
Ningum
jamais
chegou
l.
Ningum.
Jos
Wolf
Publicado
originalmente
em
Separata
da
Revista
Vozes,
ano
63,
n
6,
junho
de
1969
Contracampo
revista
de
cinema
Disponvel
em
http://www.contracampo.com.br/90/artjodowolf.htm
Fando
e
Lis
Direo:
Alejandro
Jodorowsky
Fando
y
Lis,
Mxico,
1968.
Em
1957,
Alejandro
Jodorowsky
j
havia
feito
"A
Gravata",
curta-metragem
que
apesar
de
evidenciar
um
talento
raro
e
promissor,
se
direcionava
mais
ao
exerccio
da
pantomima
e
deixava
a
linguagem
cinematogrfica
em
segundo
plano.
Conduzido
de
forma
completamente
distinta
dos
trabalhos
que
mais
tarde
consagrariam
o
diretor,
este
filme
ficou
cinqenta
anos
desaparecido
e,
na
poca
de
sua
concluso,
no
foi
visto
por
quase
ningum.
Portanto,
o
efetivo
incio
da
carreira
de
Jodo
enquanto
cineasta
ocorreria
apenas
onze
anos
mais
tarde,
com
"Fando
e
Lis"
(1968,
baseado
na
pea
de
Fernando
Arrabal*),
o
primeiro
dos
seis
longas
que
(por
enquanto)
compem
sua
filmografia.
A
estria
de
um
grande
cineasta
via
de
regra
j
carrega
todos
os
elementos
caractersticos
de
sua
personalidade,
e
o
caso
do
psicomago
no
foi
diferente.
Desconsiderando
a
natural
evoluo
que
acompanha
a
trajetria
do
artista,
podemos
dizer
que
todo
o
Jodorowsky
est
contido
em
"Fando
e
Lis".
Aqui
j
podemos
vislumbrar
a
jornada
espiritual
de
personagens
estranhos
que
vagam
por
paisagens
marcadas
pela
desolao,
localizadas
numa
realidade
paralela
nossa;
a
atmosfera
hipntica
de
influncia
surrealista;
a
obsesso
pelos
smbolos;
a
mistura
de
esoterismo
com
crtica
religiosa;
a
nfase
na
beleza
do
grotesco;
etc.
De
certo
modo,
muito
da
essncia
de
Jodo
est
resumida
de
forma
oculta
nos
crditos
iniciais
deste
filme,
quando
surge
na
tela
uma
dedicatria
para
Samuel
Rosenberg,
um
mongolide
de
rosto
disforme
pelo
qual
o
chileno
se
encantou,
a
ponto
de
contrat-lo
como
chofer
e
assistente
de
palco.
Quando
Rosenberg
se
suicidou,
seu
pai,
que
era
um
joalheiro
milionrio,
presenteou
o
multimdia
com
100
mil
dlares
em
retribuio
a
tudo
o
que
tinha
feito
pelo
falecido.
H
muito
tempo
querendo
filmar,
o
chileno
utilizou
esta
verba
para
financiar
seu
longa.
A
premissa
de
"Fando
e
Lis"
uma
das
mais
desgastadas
da
histria
do
cinema:
narrar
o
triste
cotidiano
de
um
casal
em
crise.
Este
aparente
clich
responsvel
por
boa
parte
de
seu
charme,
j
que
a
fita
difere
radicalmente
de
tudo
o
que
possa
ter
sido
criado
a
partir
do
tema.
Lis
paraltica,
Fando
a
carrega
nas
costas;
os
dois
vivem
numa
espcie
de
futuro
ps-
apocalptico
e
sonham
em
um
dia
chegar
Tar,
moradia
da
plenitude
espiritual
e
nica
cidade
sobrevivente
da
Grande
Catstrofe.
Enquanto
caminham
rumo
a
este
lugar
que
talvez
nem
exista,
marido
e
mulher
consolam
um
ao
outro,
se
afagam
e
manifestam
afeto
mtuo;
porm,
tambm
entram
em
conflito,
se
agridem,
descarregam
no
parceiro
todas
as
suas
frustraes:
eles
se
odeiam
demais
para
permanecerem
juntos,
mas
se
amam
muito
para
viverem
separados.
E,
claro,
como
estamos
falando
de
um
filme
dirigido
por
Alejandro
Jodorowsky,
o
supracitado
paradoxo
amoroso,
perturbador
por
si
s,
tem
seu
poder
de
fogo
redobrado
ao
tornar-se
pretexto
para
centenas
de
metforas,
analogias
e
obstculos
inacreditavelmente
bizarros
que
vo
surgindo
pelo
caminho
dos
protagonistas.
Junto
com
"Santa
Sangre",
"Fando
e
Lis"
a
mais
psicanaltica
obra
de
Jodorowsky
no
cinema.
Formado
em
psicologia
e
grande
estudioso
de
Freud,
Jung,
Lacan
e
outros
tericos
do
subconsciente,
o
cineasta
impregnou
a
fita
de
situaes
relacionadas
mais
obscura
regio
do
crebro
humano,
representado
pelos
dois
supracitados
personagens.
Fando
mimado,
infantil,
carrega
a
todo
momento
um
tamborzinho
de
brinquedo,
enquanto
Lis
passiva,
submissa,
aptica,
chorosa,
com
trejeitos
e
limitaes
que
remetem
personagem
interpretada
por
Giulietta
Masina
no
filme
"A
Estrada
da
Vida",
de
Fellini.
Os
atos
impensados
que
cometem,
a
inusitada
abordagem
que
eles
tm
do
mundo
e
seus
hbitos
desengonados
so
quase
sempre
frutos
de
traumas,
frustraes
e
episdios
infelizes
da
infncia.
Lis
foi
molestada
quando
criana,
tragdia
que
a
cmera
nos
mostra
de
forma
extremamente
simblica.
Por
intermdio
de
um
flashback,
vemos
uma
garotinha
sentada
na
platia
de
um
teatro,
assistindo
tranquilamente
a
uma
pea;
sem
aviso
prvio,
os
atores
lhe
convidam
a
subir
no
palco
e
a
levam
para
o
camarim;
seduzida
pelo
apelo
de
um
deles
("Venha
conhecer
o
nosso
mundo!"),
no
muito
tempo
depois
ela
estaria
imersa
em
jogos
e
brincadeiras
cujas
regras
desconhece.
O
passado
de
Fando
nos
revelado
atravs
do
mesmo
artifcio,
mas
agora
as
metforas
so
bem
menos
sutis:
atordoado
por
um
complexo
de
dipo,
ele
bombardeado
pela
sinistra
lembrana
do
velrio
de
sua
me,
uma
figura
narcisista
tida
pelos
"fs"
como
"a
melhor
defunta"
e
que
implora
aos
presentes
para
que
sintam
seu
corpo
esfriar
"estupendamente";
a
cena
culmina
com
filho
e
progenitora
se
beijando
na
boca.
Estes
e
outros
eventos
no
influenciam
apenas
o
modo
como
os
protagonistas
se
enxergam,
mas
tambm
o
jeito
como
encaram
o
universo
e
a
relao
amorosa
que
mantm:
em
certa
altura
da
histria,
testemunhamos
o
casal
farreando
num
quarto
qualquer;
ao
som
de
jazz,
eles
quebram
vrios
objetos,
inundam
a
parede
com
tinta
e
escrevem
seus
nomes
no
corpo
do
parceiro,
como
se
enxergassem
suas
prprias
personalidades
na
figura
do
outro.
Fando
abandona
Lis
no
meio
de
criaturas
macabras
surgidas
da
lama,
com
aspecto
semelhante
aos
zumbis
podres
dos
filmes
B;
de
olhos
vendados,
beija
outro
homem
pensando
que
a
boca
era
da
bela
mulher
que
tinha
visto
minutos
antes;
num
misto
de
vergonha
e
prazer,
dana
com
uma
multido
de
travestis
que
surgem
de
repente.
Lis
ridicularizada
por
ser
paraltica;
tem
o
sangue
extrado,
servido
em
tacinhas
e
bebido
por
um
mdico
hematfago
acompanhado
de
um
cego;
aparenta
atingir
o
orgasmo
quando,
nua,
posicionada
em
frente
a
um
ancio
magrelo
e
desdentado
enquanto
tem
uma
infinidade
de
crnios
derrubados
sobre
o
corpo.
Na
busca
desesperada
pelo
paraso
Para
quem
curte
este
tipo
de
experimentao,
Fando
y
Lis
pode
ser
um
timo
deslumbre;
pra
quem
no
vai
muito
com
a
cara
do
estilo,
pode
se
tornar
um
programa
enfadonho
(a
reao
do
pblico
revoltado,
um
tanto
exagerada,
fez
com
que
o
carro
de
Jodorowsky
fosse
apedrejado
quando
saia
da
primeira
apresentao
do
filme,
espero
que
ningum
atire
alguma
coisa
em
seus
aparelhos
de
TV).
O
fato
que
impossvel
ficar
indiferente
diante
de
alguns
momentos
pictricos
impressionantes,
algo
que
Jodorowsky
viria
a
amadurecer
muito
ainda
e
teria
grande
fora
em
seu
filme
seguinte:
El
Topo.
Assim
como
La
Cravate,
Fando
y
Lis
vale
muito
como
curiosidade
e
preparao
para
suas
verdadeiras
obras
primas:
o
j
citado
El
Topo,
The
Holy
Mountain
e
Santa
Sangre.
Ronald
Perrone
A
Privada
Cult
08
de
setembro
de
2009
Disponvel
em
http://diadafuria.wordpress.com/2009/08/09/fando-y-lis-1968-alejandro-
jodorowsky/
Curiosidade:
Ao
exibir
Fando
&
Lis
no
Festival
de
Acapulco,
Jodorowski
escapou
de
um
linchamento
por
parte
da
platia,
(fugindo
pelos
fundos
do
recinto)
incluindo
at
mesmo
o
diretor
consagrado
nido
Fernandez,
que
ao
se
indignar
com
as
imagens
do
filme,
sacou
sua
pistola
para
matar
o
cineasta,
no
atingindo
o
seu
objetivo.
O
Rei
da
Vela
(1983),
de
Jos
Celso
Martinez
Nota
do
pesquisador:
como
o
filme
foi
pouco
exibido
e
pouco
visto
no
h
fortuna
crtica
ou
mesmo
muitas
informaes
sobre
o
filme
O
Rei
da
Vela.
Abaixo
esto
reunidas
as
informaes
mais
relevantes
para
a
compreenso
do
projeto
esttico
e
dramtico
do
filme
e
o
lugar
que
ocupa
na
(contra)cultura
brasileira
moderna.
Entrevista
com
Z
Celso
Programa
do
Festival
de
Bobigny,
Frana
Por
que
voc
decidiu
montar
O
Rei
da
Vela?
Porque
estvamos,
depois
do
golpe
de
64,
perdidos,
sabendo
que
o
que
tinha
sido
pensado
antes
no
era
mais
o
mesmo.
O
pas
tinha
entrado
em
outra
e
era
preciso
descobrir
o
que
estava
acontecendo.
Pedimos
a
dramaturgos,
cineastas,
estilistas,
artistas
plsticos,
para
nos
enviarem
peas,
curta-metragens,
vestidos,
trajes
que
sintomatizassem
essa
grande
mudana
que
havia
no
ar,
alis,
em
todo
mundo
no
somente
no
Brasil,
e
iramos
fazer
um
espetculo
com
essas
contribuies
todas.
Mas
nada
que
vinha
nos
revelava
nada.
At
que
uma
leitura
em
voz
alta
do
Rei
da
Vela
feita
por
Renato
Borghi
num
apartamento
da
Vieira
Souto
em
Ipanema
para
um
grupo
resumido
de
amigos,
revelou
a
potncia
inclusive
retrica
do
texto
que
procurvamos.
Estava
ali.
Havia
sido
escrito
de
1933
a
1937,
nunca
tinha
sido
montado
e
iluminava
todo
momento
que
estvamos
passando.
Eu
fui
para
a
casa
do
filho
de
Oswald,
Non,
com
sua
primeira
mulher,
uma
francesa,
e
me
atirei
no
Ba
onde
estava
toda
a
obra
do
pai.
Li
tudo.
Virei.
Em
um
ms
e
meio
montamos
a
pea,
ela
j
estava
em
ns.
E
foi
a
maior
revoluo
cultural
que
o
teatro
fez
na
histria
do
Brasil
pelo
menos.
Pois
no
ficou
s
no
Teatro,
se
alastrou
como
peste
no
movimento
tropicalista
que
hoje
se
alastra
no
movimento
mix,
no
mundo
inteiro.
Caetano
Veloso
e
Gilberto
Gil,
so
seus
divulgadores
no
mundo,
mas
cada
vez
mais
aparecem
estudiosos
que
querem
saber
de
donde
vem
essa
grandeza
que
deles
mas
tambm
da
libido
cultural
que
a
cultura
brasileira
tem
a
dar
ao
mundo
e
que
tem
em
Oswald
sua
maior
antena.
O
que
voc
aprendeu
com
a
montagem
de
O
Rei
da
Vela?
Que
tudo
possvel
em
teatro
e
na
vida.
Que
a
arte
tem
poder,
valor.
Oswald
escreveu
um
de
seus
primeiros
livros
de
poesias,
bem
pequenininho,
com
o
titulo
parodiando
as
Indstrias
Reunidas
Matarazzo:
POESIAS
REUNIDAS
O.A.
e
dizia
que
suas
poesias
eram
mais
poderosas
do
que
as
mega
indstrias
de
So
Paulo
de
ento.
Eu
acredito
inteiramente.
Por
isso
sua
poesia
nos
faz
derrubar
paredes,
construir
teatros
e
agora
se
encaminha
para
o
poder
maior.
O
Oficina
cercado
de
todos
os
lados
por
prdios
de
um
magnata
da
TV,
um
grande
artista
animador
que
foi
um
camel:
Silvio
Santos.
Todo
o
Bixiga
quase
propriedade
do
seu
grupo
SS
Grupo
Silvio
Santos.
Depois
de
25
anos
de
luta,
vamos
nos
aliar
e
construir
o
teatro
de
Estdio
sonhado
por
Oswald.
Quando
falo
em
poder
falo
em
Poder
de
Presena
Humana
diante
da
Presena
do
Poder
Maqunico.
Poder
das
mquinas
de
desejo
como
as
do
Teatro
Oficina
diante
das
mquinas
castradoras
e
de
especulao
do
capitalismo.
Oswald
misturou
valores
do
erudito
e
do
popular,
do
brega
do
cafona
e
do
requintado,
do
poltico
e
do
alienado,
da
retrica
mais
rigorosa
e
sublime
a
demagogia,
do
baixo
calo,
da
eloqncia
da
vulgaridade,
sem
perder
grandiosa
Poesia
de
toda
a
vida
.
Um
Maiakoviski
muito
mais
engraado
.
Qual
foi
a
repercusso
cultural
e
artstica
de
O
Rei
da
Vela?
A
de
catalisadora
de
uma
Revoluo
Cultural.
Pela
primeira
vez
viam-se
as
figuras
dos
quadros
modernos,
da
literatura,
da
msica,
incorporadas,
num
corpo
de
atriz
ou
ator,
na
cena,
na
cenografia,
cenografia
pardica
de
Helio
Eichbauer,
e
de
seus
figurinos,
trazendo
nos
seus
trs
atos
cada
qual
um
estilo:
pera,
cubismo,
teatro
de
revista,
o
visual
mais
marcante
do
Tropicalismo.
Foi
para
o
Cinema,
para
Moda,
para
a
Luta
Armada,
para
o
desbunde,
para
tudo.
Redescobria-se
um
Brazil,
que
apesar
de
colonizado,
explorado,
devorava
seus
dominadores
e
trazia
intacta
na
vida
de
seu
povo
o
dionisismo,
a
antropofagia,
o
carnaval
da
Grcia
do
Brasil.
Essa
revoluo
continua
at
hoje,
mas
soterrada
outra
vez
pelo
AI
5,
mas
que
agora
no
cinqentenrio
da
morte
de
Oswald,
retomada,
assim
como
o
embrio
castrado
do
68
no
mundo
inteiro,
que
continuou
por
exemplo
aqui
no
Oficina
a
ser
sempre
estudado,
amadurecido
e
vivido
sempre
com
a
eternidade
do
seu
aqui
agora.
O
que
voc
descobriu
culturalmente
com
O
Rei
da
Vela?
Que
a
Cultura
o
fator
de
maior
riqueza
e
poder
do
Brasil
e
que
deve
dirigir
a
linha
do
Banco
Central.
Felizmente
nesse
momento
ns
temos
um
Oswaldiano
no
Ministerio
da
Cutura:
Gilberto
Gil,
juntamente
com
Celso
Amorim
nas
relaes
exteriores,
so
as
duas
pessoas
mais
carismticas
e
prticas
do
Governo
Lula.
Forte
no
sentido
da
fora
da
presena
transhumana
que
vale
tudo,
e
que
o
capitalismo
nesta
fase
hegemnica
despreza
at
na
figura
humana
do
prprio
capitalista.
Seu
maior
adversrio
no
a
ONG
terrorista
Al
Kaeda,
mas
a
prpria
vida
que
no
sabe
mais
nem
capitalizar
e
que
joga
fora,
exclui,
ignora
,extermina.
Qual
a
diferena
entre
a
pea
e
o
filme
O
Rei
da
Vela?
Antes
de
Noilton
Nunes
e
eu
partirmos
para
a
montagem
do
Rei
da
Vela,
ns
tiramos
um
master
com
todo
material
filmado
e
deixamos
pr-montado
o
primeiro,
o
segundo
e
o
terceiro
ato
da
pea
tal
como
foi
montada
no
Teatro.
Hoje
h
muito
interesse
em
se
conhecer
a
verso
teatral
que
foi
extremamente
bem
filmada
por
Carlos
Alberto
Hebert
e
Rogerio
Noel,
falecido,com
som
direto
muito
bem
feito
por
um
Seu
Riva,
tambm
falecido.
Nossa
montagem,
minha
e
de
Noilton,
comea
pelo
fim
da
pea
e
numa
montagem
no
linear
fomos
ao
mesmo
tempo
que
,juntando
todo
o
material
filmado
em
1971
parte
no
Teatro
Joo
Caetano
durante
uma
temporada
da
pea
no
Rio
e
parte
em
externas,
na
Semana
de
Pscoa
deste
mesmo
ano
inserindo
a
prpria
luta
em
torno
da
preservao
do
filme
e
do
que
ele
significava
como
link
entre
o
trabalho
passado
e
o
futuro.
Tivemos
no
Oficina
uma
coisa
rara.
Morremos
uma
poca
totalmente,
como
Grupo
visvel,
vivendo
uma
vida
subterrnea
louca,
criativa,
mas
cultura
do
Brasil,
passaram
a
ser
acompanhados
e
suas
cenas
levadas
para
as
salas
de
montagem
do
filme.
Vieram
as
foras
populares
de
Surubim,
Ana
Helena,
Harp,
Sandi
Celeste,
Edgar,
Walter
Backberry,
Tadeu
Jungle,
Zuria,
Katherine,
Luciana,
Heloisa,
Vernica,
Anselmo,
Piu
que
foram
entrando
pelo
filme
dentro
sem
pedir
licena.
A
Era
do
Vdeo
comeava
e
o
filme
foi
incorporando
tambm
as
novas
tecnologias
dos
frames,
que
se
misturavam,
que
se
casavam
com
os
fotogramas
em
35mm,
16mm
e
super
8.
Considerado
um
dos
filmes
de
mais
longa
gestao
da
histria
da
cinematografia,
com
seu
tempo
de
criao
contado
desde
1967,
quando
as
filmagens
comearam,
at
sua
primeira
cpia
em
1982,
O
Rei
da
Vela,
chega
ao
sculo
XXI
gritando
em
alto
e
bom
som:
Ao!
Um
filme
que
atravessou
a
ditadura,
abertura,
anistia,
diretas
j,
Sarney,
Collor,
Itamar,
FernandoHenrique,
Lula,
est
vivendo
agora
no
Governo
Dilma,
a
chance
de
sua
restaurao,
no
s
fsica,
flmica,
mas
tambm
de
preservao
de
exemplos
necessrios
para
que
os
brasileiros
se
espelhem
e
enfrentem
os
dificeistempos
do
capitalismo
selvagem,
predatrio,
insustentvel.
Herdamos
um
tosto
em
cada
morto
nacional.
Estamos
voltando
a
idade
da
vela.
O
Rei
da
Vela
um
farol
que
serve
para
jogar
luzes
para
abertura
de
novas
vias
do
conhecimento.
O
Rei
da
Vela
inspira
vontades
de
novos
encontros
com
a
realidade
e
desejos
de
continuidade
da
vida,
do
amor,
da
paz
do
entendimento.
O
Rei
da
Vela
uma
novela
sem
fronteiras
que
a
juventude
brasileira
no
conhece.
O
filme
est
a
ainda
vivo.
Na
UTI
da
Cinemateca
Brasileira.
So
Paulo
precisa
do
Rei
da
Vela.
Vem
a
o
centenrio
da
Semana
de
Arte
Moderna.
2022.
So
Paulo
necessita
do
Teatro
Oficina
grandioso,
estdio
monumento
nacional.
A
nova
Ministra
da
cultura,
Marta
Suplicy,
sabe
muito
bem
o
que
representa
para
o
pas
a
construo
dessa
Praa
Pblica,
desse
TeatoEstdio,
que
ser
um
dos
mais
visitados
centros
culturais,
artsticos,
tursticos,
da
Paulicia
Brasileira
Internacional.
E
o
filme
O
Rei
da
Vela,
j
tem
sua
nova
pr
estria
nacional
mundial,
com
dia
e
hora
marcados
nas
estrelas.
Mos
Obra.
Noilton
Nunes
de
Coimbra
Portugal
4
de
novembro
de
2012
Associao
Teatro
Oficina
Uzyna
Uzana
Disponvel
http://teatroficina.uol.com.br/menus/45/posts/639
O
Rei
da
Vela
insaldveis
ao
imperialismo
norte-americano,
retrata
condio
forma
que
nos
anos
30,
margem
da
evoluo
poltica.
A
histria
no
se
far
seno
pela
Revoluo;
esta
a
lio
implcita
em
O
Rei
da
Vela".1
Em
1968
o
espetculo
se
apresenta
na
Europa,
em
Florena,
Itlia,
no
4
Rassegna
Internacionale
dei
Teatri
Stabili;
em
Nancy
e
em
Paris,
Frana,
no
1
Festival
Internacional
des
Jeunes
Compagnies
e
no
Thtre
de
la
Commune
d'Aubervilliers.
A
montagem
filmada,
nos
anos
subseqentes,
em
co-direo
de
Jos
Celso
Martinez
Corra
com
Noilton
Nunes,
mas
no
entra
em
circuito
comercial.
A
encenao
do
Oficina
torna-se
o
epicentro
de
referncia
de
muitos
artistas
que,
em
unssono,
do
corpo
ao
movimento
tropicalista
atravs
de
significativos
desdobramentos
na
msica,
no
cinema,
nas
artes
plsticas
e
na
literatura.
Notas
1.
KOURISLKY,
Franoise.
Le
nouvel
observateur.
Paris,
4
de
maio
de
1968.
Enciclopdia
Ita
Cultural
Disponvel
em
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=espe
taculos_biografia&cd_verbete=456
Dzi
Croquettes
(2009),
de
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez
Dzi
Croquettes
Data/Local
1972
-
Rio
de
Janeiro
RJ
1976
-
So
Paulo
SP
Histrico
Grupo
carioca
irreverente,
alinhado
contracultura,
criao
coletiva
e
ao
teatro
vivencial,
que
faz
do
homossexualismo
uma
bandeira
de
afirmao
de
direitos.
O
conjunto
cria,
em
1972,
o
espetculo
Gente
Computada
Igual
a
Voc,
que
se
origina
de
um
show
de
boate,
posteriormente
levado
para
So
Paulo,
na
casa
noturna
TonTon.
A
realizao
transferida
para
o
Teatro
13
de
maio,
faz
enorme
sucesso.
Na
equipe
criadora
do
espetculo
constam
os
nomes
do
coregrafo
Lennie
Dale,
do
autor
Wagner
Ribeiro
de
Souza,
e
dos
bailarinos
Cludio
Gaya,
Cludio
Tovar,
Ciro
Barcelos,
Reginaldo
di
Poly,
Bayard
Tonelli,
Rogrio
di
Poly,
Paulo
Bacellar,
Benedictus
Lacerda,
Carlinhos
Machado
e
Eloy
Simes.
Gente
Computada
apresenta
nmeros
cantados,
dublados
e
danados,
entremeados
por
monlogos
que
equacionam
as
experincias
de
vida
dos
integrantes.
Tais
textos
de
interligao,
de
autoria
de
Wagner
Ribeiro,
primam
pela
ironia,
duplo
sentido
e
tom
farsesco.
A
montagem
recicla
prticas
da
antiga
revista
musical,
do
show
de
cabar
e
da
tradio
norte-
americana
do
entertainment.
As
coreografias
de
Tinindo
Trincando,
com
msica
dos
Novos
Baianos,
e
Assim
Falou
Zaratustra,
em
verso
dance
e
technopop,
constituem
momentos
altos
do
espetculo.
Figurinos
ousados,
maquiagem
pesada
e
o
contraste
dos
corpos
masculinos
em
trajes
femininos
imprimem
ao
espetculo
tons
de
grotesco,
de
deboche
e
esprito
ferino.
Um
rduo
trabalho
de
interpretao
e
de
dana
empreendido
pelo
bailarino
Lennie
Dale,
para
transformar
o
grupo
numa
trupe
artstica,
elogiada
pela
crtica.
Em
Paris,
os
Dzi
Croquettes
conhecem
a
consagrao
internacional.
Em
1973
e
1974,
fazem
longas
temporadas
no
Le
Palace
e,
entre
outras
atividades,
participam
do
filme
Le
Chat
et
la
Souris,
de
Claude
Lelouch.
Uma
parte
da
equipe
cria
um
novo
espetculo,
Romance,
de
Cludio
Tovar
e
Wagner
Mello,
1976,
que
no
alcana
a
mesma
projeo
do
anterior.
Posteriormente
um
elenco
feminino
vem
agregar-se
ao
ncleo
fundador,
mas
essa
alternativa
no
amplia
as
propostas
iniciais
e,
pouco
tempo
depois,
o
grupo
se
dissolve.
Inspirado
no
conjunto
norte-americano
The
Coquettes
e
no
movimento
gay
atuante
na
off-
Broadway,
a
equipe
utiliza
equacionar
contedos
brasileiros
para
falar
de
nossa
realidade,
desde
a
represso
sexual
at
a
censura
e
a
ditadura.
O
grupo
est
na
origem
de
uma
corrente
que
veio
a
se
desenvolver
algum
tempo
depois,
vinculada
ao
travestismo,
ao
deboche,
explorao
do
virtuosismo
dos
membros
do
elenco,
caricatura,
farsa
e
comdia
de
costumes.
Influencia
a
criao
do
Grupo
de
Teatro
Vivencial,
do
Recife,
e
diversos
grupos
gays
da
Bahia,
nos
anos
1980
e
1990.
Em
2009,
lanado
o
documentrio
Dzi
Croquettes
dirigido
por
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez.
Enciclopdia
do
Ita
Cultural
Disponvel
em
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm?fuseaction=cias_
biografia&cd_verbete=490
'Dzi
Croquettes'
revisita
seu
esprito
debochado
No
h
quem
tenha
ficado
indiferente
ao
assistir
ao
documentrio
Dzi
Croquettes,
de
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez.
Lanado
trs
anos
atrs
e
justa
e
intensamente
premiado
em
festivais
"Ciro
teve
uma
inspirao
Dzi
Croquettes
para
fazer
um
trabalho
dele.
Ele
visita
os
espetculos
antigos.
Eu
achei
o
maior
barato.
Tudo
pode
acontecer.
Eu
no
sei
o
que
as
novas
geraes
vo
pensar."
DZI
CROQUETTES
EM
BANDLIA
-
Teatro
Leblon.
Rua
Conde
de
Bernadotte
26,
Leblon,
telefone
(21)
2259-7700.
6
e
sb.,
23
h;
dom.,
22h
30.
R$
80.
Agncia
Estado
Jornal
A
Tarde
Disponvel
em
http://atarde.uol.com.br/cultura/materias/1463032-'dzi-croquettes'-revisita-
seu-espirito-debochado
Pare,
repare
Os
Dzi
Croquettes,
entidade
poderosssima
dos
anos
70,
exercem
um
campo
magntico
sobre
todo
aquele
que
vasculha
a
identidade
brasileira.
Os
incautos
que,
tolinhos,
andam
na
ponta
dos
ps,
com
medo
de
quebrarem
os
cristais
da
sala,
quando
se
deparam
com
esse
blido
imenso,
no
resistem.
Tentam
toc-lo
e
se
vem
alcanados
por
ele.
Afinal,
ningum
consegue
sustentar
a
tese
de
que
a
influncia
do
grupo
de
treze
moos
tenha
se
restringido
a
um
formato
cnico;
a
um
punhado
de
minutos
em
cima
do
palco,
quilos
de
strass,
plumas,
cenografia
vigorosa,
dana,
humor
refinado.
Trata-se,
sobretudo,
da
histria
de
uma
pulso,
de
um
mistrio
profundo
pela
ascese
artstica
que
melhora,
depura
e
transforma
o
humano.
Tocar
no
pico
de
vida
e
morte
dos
Dzi
significa
tocar
na
guerra
intramuros
e
extramuros,
no
monte
de
energia
que
mal
conseguiam
racionalizar
mas
que
teceu
a
ponte
profunda
entre
os
integrantes
e
o
pblico
que,
mesmerizado,
olhava-os
de
perto
(na
platia)
ou
de
longe
(milanos
depois
ou
poca,
dentro
do
armrio).
Dzi
Croquettes,
o
filme,
tateia
a
superfcie
do
turbilho
de
conceitos
possveis,
o
zilho
de
teses
j
ditas
ou
por
se
dizer.
Mas
apesar
da
previsibilidade
redimido
pelo
amor,
substrato
que
fazia
o
grupo
girar.
No
apenas
de
Tatiana,
filha
de
Amrico
Issa
cengrafo
do
grupo
e
que
aproveita
o
gancho
em
termos
de
linguagem
cinematogrfica,
colocando-se
como
tpico
das
entrevistas
e
narradora
ocasional,
misturada
s
imagens
de
sua
infncia.
Amor
tambm
nutrido
por
aqueles
que,
com
o
distanciamento
do
tempo,
tentam
elaborar
o
que
viram
do
grupo:
As
Frenticas,
as
atrizes
Marlia
Pra,
Betty
Faria,
Norma
Bengell,
as
divas
Elke
Maravilha
e
Liza
Minelli,
Ney
Matogrosso,
Aderbal
Freire
Filho,
Nelson
Motta,
Csar
Camargo
Mariano,
tantos.
Em
alguns
destes,
o
fogo
explode,
se
transforma
em
suor
e
lgrimas,
agrega
entusiasmo
fragilidade
narrativa
do
documentrio.
Dos
integrantes
originais
(Wagner
Ribeiro,
Lennie
Dale,
Cludio
Gaya,
Cludio
Tovar,
Paulette,
Ciro
Barcelos,
Bayard
Tonelli,
Roberto
Rodrigues,
Carlinhos
Machado,
Bene,
Eloy,
Reginaldo
e
Rogerio
de
Poly),
quatro
sobreviveram
(Tovar,
Barcelos,
Tonelly
e
Rogrio).
Depoimentos
destes
ltimos
so
conjugados
com
imagens
de
dois
dnamos:
Lennie
Dale
e
Wagner
Ribeiro,
mentores
do
esprito
dzi.
Em
Lennie,
estava
a
fria.
Egresso
da
Broadway
importado
por
Carlos
Machado
cantou
bossa
nova
no
timbre
meio
Johnny
Hartman,
dilapidou
o
Beco
das
Garrafas,
ensinou
a
Elis
Regina
os
gestos
largos
do
Arrasto
que
mostrou
no
Festival
Excelsior
de
1965.
Em
Wagner,
a
abordagem
filosfica
que
fingia
no
s-la
apesar
de
s-la
de
fato.
Lirismo
articulado,
pensado,
que
colocou
em
palavras
o
mote
de
que
somos
de
carne,
como
croquetes.
Apesar
de
supostamente
remeter-se
ao
sexo
fsico,
vibravam
de
sexo
sensorial.
Os
plos
bufando,
gritando
entre
as
maquiagens
e
os
corpos
masculinos:
No
somos
homens,
no
somos
mulheres.
Somos
gente,
como
vocs,
diria
Lennie.
No
toa,
momentos
como
o
duo
romntico
com
galalaus
fortes
Lennie
e
Ciro,
no
bolero
Dois
pra
c,
dois
pra
l
atingem
uma
compreenso
absurda
sobre
o
relacionamento
de
desespero
e
melancolia,
retratado
na
letra
de
Aldir
Blanc.
Bem
assim,
o
delrio
setentista,
em
que
o
corpo
servia
idia
e
no
ao
atual
narcisismo
chul
das
academias
,
explica
a
delcia
de
um
grupo
que
tratou
dos
costumes
bebendo
de
uma
poca
de
maior
inteligncia
e
menor
diluio
existencial.
Perodo
que
desceu
a
um
luto
tremendo,
ao
caminhar
para
a
histeria
neoconservadora
que
suprimiu
o
desejo
e
determinou
a
imperiosidade
de
um
gozo
que
nunca
vem.
A
ditadura
tecnocrata
dos
1964-1985
totem
que
vira
e
mexe
toma
conta
do
documentrio
no
,
portanto,
o
pano
de
fundo
mais
acertado.
to
somente
o
mais
bvio.
Restringir-se
a
ele
imprimir
um
tom
didtico
que
no
se
sustenta.
Isto
porque,
apesar
das
fronteiras
fechadas,
do
regime
de
exceo,
j
circulava
no
Brasil
a
inquietao
de
sculo
XX,
fosse
ela
publicada
pela
Editora
Civilizao
Brasileira,
fosse
ela
projetada
nas
salas
de
cinema,
de
aula,
de
teatro,
nos
chopes
ideologicamente
marcados
pelo
ba-ba
marcusiano
ou
pelo
combate
planejado.
Les
Dzi
deixam
claro
este
geist
fundamental.
de
se
notar
que
a
gerao
que
em
2009
colocou
o
grupo
nas
telas
passou
por
outro
processo
de
formao,
principalmente
miditico.
Tatiana
Issa
atuou
em
novelas
e
petardos
como
O
Guarani
(1996).
Raphael
Alvarez
encarnou
Cecu,
gal
infantil
de
A
Gata
Comeu
(1985),
novela
de
Ivani
Ribeiro
para
qual
todos
os
pimpolhos
corriam
depois
das
aulas
no
colgio.
Ambos
estriam
agora
na
direo
de
longa-metragem;
ambos
ouvem
o
rudo
dos
tamancos
de
plataforma
e
se
encaminham
a
eles,
um
tanto
nafs,
mas
protegidos
pela
solidez
das
croquettes,
tpicos
exemplos
de
baby-boomers.
O
fato
que
se
deve
aproveitar
o
lanamento
do
documentrio
para
reavivar-se
a
franquia
dziesca.
Toro
febrilmente
por
livro
cuidadoso
de
fotos,
como
registro
de
bordo
do
espetculo
visual.
Biografia
tambm
,
obviamente,
de
bom
grado.
Mas,
ateno:
tudo
concebido
com
o
devido
apuro
que
lhes
pertinente.
De
outro
modo
no
possvel,
meu
bem.
Andra
Ormond
Revista
Cintica
-
Julho
de
2010
Disponvel
em
http://www.revistacinetica.com.br/dzicroquettes2.htm
Dzi
Croquettes
colocaram
purpurina
nos
palcos
e
na
vida
Os
Dzi
Croquettes
lotaram
cabars
e
teatros
cariocas
em
uma
poca
de
represso.
Tiveram
at
as
primeiras
tietes
brasileiras.
Nasceu
no
bar
o
nome
de
um
dos
grupos
teatrais
mais
revolucionrios
que
j
tivemos.
A
pardia
ao
norte-americano
The
Coquette
teve
inspirao
no
petisco
sobre
a
mesa.
Como
croquete,
todo
mundo
feito
de
carne,
pensaram.
A
msica
T
Boa,
Santa?
define:
No
sou
dama
nem
valete
/
Eu
sou
um
Dzi
Croquette.
Os
13
homens
peludos
no
palco,
ora
trajando
vestidos,
ora
apenas
enormes
asas
de
borboletas,
sempre
com
muita
maquiagem
e
brilho,
tinham
algo
de
andrgino.
Uniam
textos
cmicos
a
incrveis
nmeros
de
dana,
combinando
linguagem
de
cabar
com
samba
e
bossa
nova.
O
danarino
norte-americano
Lennie
Dale,
sado
da
Broadway,
encontrou
no
grupo
seu
paraso
e
acrescentou
profissionalismo
aos
corpos
talentosos.
Os
Dzi
Croquettes
lotaram
cabars
e
teatros
cariocas
em
uma
poca
de
represso.
Tiveram
at
as
primeiras
tietes
brasileiras.
Pudera:
foram
eles
que
criaram
o
termo
para
as
garotas
que
no
perdiam
uma
apresentao.
As
mais
fiis
chegaram
a
formar
um
grupo
secundrio
quem
no
lembra
ou
nunca
ouviu
falar
de
As
Frenticas?
Eu,
hein?,
Meu
amor,
te
contei...
J
foi!.
A
turma
que
participava
da
cena
usava
as
grias
prprias
do
vocabulrio
dzi.
Em
documentrio
sobre
a
trupe,
Gilberto
Gil
defende
que
talvez
tenha
sido
a
primeira
manifestao
do
movimento
gay
brasileiro,
ao
mesmo
tempo
com
discurso
poltico.
As
bandeiras
ali
eram
da
inovao,
revoluo
de
comportamento,
libertao
sexual.
Claro,
no
demorou
para
que
surgissem
problemas
com
a
censura
do
governo
militar.
A
comunidade
Dzi,
que
vivia
na
mesma
casa,
embarcou
para
Europa
sem
produtor
ou
agenda.
Em
Paris,
o
grupo
virou
coqueluche.
No
dia
em
que
eu
morrer,
quero
que
o
espetculo
que
substitua
o
meu
seja
o
do
Dzi
Croquettes,
elogiou
Josephine
Baker.
Ningum
esperava
que
a
vedete
morresse
mesmo
e
que
sua
vontade
fosse
cumprida.
Assim
ela
tirou
os
artistas
da
penria,
na
qual
estavam
por
conta
de
um
empresrio
larpio.
Os
rapazes
logo
quiseram
voltar
ao
Brasil,
e
o
grupo
acabou
se
desfazendo,
apenas
trs
anos
depois
de
sacudir
do
Rio
a
Paris.
Natlia
Pesciotta
Almanaque
Brasil
Disponvel
em
http://www.almanaquebrasil.com.br/curiosidades-cultura/10867-dzi-
croquettes-colocaram-purpurina-nos-palcos-e-na-vida.html
A
histria
do
polmico
grupo
relembrada
e
eternizada
em
documentrio
premiado
Comentar
essa
matria
Verso
para
impresso
Envie
essa
matria
para
um
amigo
Eram
feitos
de
carne,
assim
como
croquetes.
Foi
a
partir
dessa
concluso
que,
sentados
numa
mesa
de
bar,
alguns
artistas
decidiram
nomear
o
seu
recm-criado
grupo.
A
repetio
da
letra
t
e
o
Dzi
(um
aportuguesamento
espirituoso
do
artigo
da
lngua
inglesa
the)
foram
inspirados
no
conjunto
norte-americano
The
Coquettes.
E
assim,
com
humor
e
criatividade,
uma
das
maiores
manifestaes
de
contracultura
da
Histria
do
Brasil
ganhou
forma.
Em
julho
deste
ano,
depois
de
ter
rodado
o
mundo
em
festivais
de
cinema,
um
filme
sobre
essas
figuras
to
controversas
entrou
em
cartaz
em
diversas
cidades
do
pas.
No
momento
mais
repressivo
da
ditadura
militar
que
se
instalou
no
Brasil
a
partir
de
1964,
os
Dzi
Croquettes
celebravam
a
alegria,
a
androginia
e
a
liberdade.
Clios
postios,
purpurina,
plumas
e
pernas
cabeludas
sob
saias.
Vestidos
de
mulheres,
ou
ento
com
trajes
minsculos,
os
trezes
jovens
entravam
em
cena,
escandalizando
o
pblico
e,
claro,
os
censores.
Em
dezembro
de
1968,
com
a
decretao
do
Ato
Institucional
no
5,
o
regime
ditatorial
brasileiro
se
tornou
ainda
mais
fechado.
A
alternativa
luta
armada
se
dava
no
campo
comportamental
com
o
desbunde
e
a
irreverncia.
Foi,
portanto,
no
corao
de
um
governo
opressor
que
surgiu
um
movimento
to
ousado
do
ponto
de
vista
dos
costumes.
Os
Dzi
Croquettes
eram
uma
mistura
entre
esprito
libertrio
e
inveno
artstica.
Eles
foram
influenciados
por
diferentes
manifestaes
culturais,
como
o
teatro
de
vanguarda,
o
jazz,
a
bossa-nova
e
o
movimento
gay.
Com
o
passar
do
tempo,
se
tornaram
influncia
para
outros
artistas,
inclusive
para
o
teatro
de
humor
que
ficou
conhecido
como
besteirol,
e
se
consagrou
com
programas
de
televiso
como
Armao
Ilimitada
e
TV
Pirata.
Alm
disso,
eles
foram
a
semente
para
a
criao
do
grupo
musical
'As
Frenticas'.
O
conjunto
montou,
em
1972,
o
espetculo
Gente
Computada
Igual
a
Voc.
Os
prprios
intrpretes
criavam
os
personagens
e
figurinos.
Dois
nomes
se
destacam
na
equipe:
o
ator,
cantor
e
compositor
Wagner
Ribeiro,
e
o
coregrafo
e
bailarino
nova-iorquino
Lennie
Dale.
Este,
adorado
pela
crtica,
trouxe
a
tradio
do
profissionalismo
da
Broadway
msica
popular
brasileira.
Ele
transformou
um
monte
de
mocorongos
em
bailarinos
profissionais,
afirma
um
dos
antigos
membros.
Alm
dos
dois,
o
grupo
contava
com
Cludio
Gaya,
Cludio
Tovar,
Ciro
Barcelos,
Reginaldo
de
Poli,
Bayard
Tonelli,
Rogrio
de
Poli,
Paulo
Bacellar,
Benedictus
Lacerda,
Carlinhos
Machado
e
Eloy
Simes.
Wagner
e
Lennie
mudaram
o
conceito
de
espetculo
daquela
poca:
os
Dzi,
como
eram
chamados,
no
foram
apenas
atores
ou
danarinos.
Os
shows
alternavam
quadros
clssicos
de
clowns,
imitaes,
pole-dancing,
tango,
bolero
e
improvisaes.
Ainda
que
no
seja
possvel
ter
acesso
aos
textos
na
ntegra,
os
trechos
disponveis
e
as
imagens
de
arquivo
demonstram
um
humor
sarcstico,
o
uso
de
diversas
lnguas
(sempre
com
um
sotaque
cmico
carregado)
e
o
rompimento
de
barreiras
entre
artista
e
plateia.
Em
Paris,
depois
de
ter
sido
censurado,
o
grupo
alcanou
fama
inimaginvel,
em
parte
pelo
apoio
da
estrela
Liza
Minnelli.
Alm
das
atividades
cnicas,
os
Dzi
Croquettes
expressavam
irreverncia
tambm
fora
dos
palcos.
Viviam
juntos,
formando
uma
comunidade
ou,
como
eles
preferiam
se
chamar,
uma
famlia.
O
impacto
artstico
e
tambm
o
cotidiano
dos
Dzi
so
os
temas
do
recm-lanado
documentrio
de
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez.
A
ditadura
apagou
qualquer
imagem
existente
dos
Dzi
Croquettes,
disse
Tatiana,
que
tem
uma
relao
especialmente
prxima
do
assunto:
filha
de
Amrico
Issa,
cengrafo
e
iluminador
do
grupo,
e
morou
com
os
artistas
que,
segundo
ela,
eram
como
palhacinhos
que
enfeitavam
sua
vida.
O
tom
sentimental
do
filme,
entretanto,
no
vem
somente
dos
diretores.
A
aceitao,
a
admirao
e,
mais
do
que
isso,
a
vontade
de
falar
sobre
os
Dzi
notvel
em
todos
os
entrevistados.
Nomes
como
Nelson
Motta,
Pedro
Cardoso,
Aderbal
Freire-Filho,
Gilberto
Gil,
dentre
outros,
perceberam
o
quo
injusto
era
deixar
cair
no
esquecimento
um
movimento
cultural
to
relevante.
Aparentemente,
o
pblico
e
a
crtica
concordam:
Dzi
Croquettes
tornou-
se
um
dos
documentrios
mais
premiados
do
pas.
Procuramos
no
Google
e
vimos
que
no
havia
nada,
comentou
Tatiana.
Poucas
dcadas
depois
de
terem
revolucionado
palcos
do
Brasil
e
da
Europa,
quase
ningum
lembra
dos
Dzi.
A
pesquisa
foi
to
difcil
que
muitas
histrias
foram
construdas
no
processo
de
filmagem,
contaram
os
diretores.
O
documentrio
apresenta
imagens
de
arquivo
encontradas
num
canal
de
televiso
alemo
que
filmou
um
espetculo
nos
anos
80,
uma
vez
que
achar
material
brasileiro
sobre
o
assunto
rarssimo.
As
cenas
de
abertura
apresentam
os
pontos
principais
da
relao
entre
a
ditadura
militar
e
produo
artstica.
A
impresso
inicial
de
dj
vu,
mas
o
filme
ganha
um
ritmo
contagiante
logo
em
seguida.
Pareciam
borboletas.
Eram
lindos.
Foi
dessa
forma
que
Ney
Matogrosso
descreveu
os
Dzi
Croquettes.
Alm
dele,
os
outros
rostos
conhecidos
ajudam
a
criar
uma
empatia
em
relao
ao
filme.
E,
segundo
o
crtico
de
cinema
Eduardo
Valente,
os
depoimentos
tm
ainda
mais
valor,
uma
vez
que
os
entrevistados
foram
escolhidos
pela
tietagem
ao
grupo.
E,
foi
nesta
poca,
que
a
expresso
passou
a
representar
a
adorao
dos
fs
pelos
dolos.
O
filme
permeado
por
uma
sensao
de
que
tudo
aquilo
aconteceu
h
muito
mais
do
que
40
anos,
e
de
que
havia
risco
real
de
esquecimento.
Isso
provavelmente
se
d
por
conta
dos
muitos
finais
tristes
dentro
do
conjunto.
Somente
quatro,
dentre
os
trezes
Dzi
originais,
esto
vivos.
A
AIDS,
que
na
poca
era
associada
exclusivamente
aos
homossexuais
e
por
isso
chamada
de
cncer
gay,
teve
um
papel
decisivo
nessas
baixas.
Apesar
dos
inegveis
avanos
em
relao
ao
movimento
gay
e
luta
pela
liberdade
de
expresso,
essas
bandeiras
levantadas
pelos
Dzi
Croquettes
permanecem
erguidas
at
hoje.
O
grupo
continua
na
vanguarda,
e
faz
com
que
nossa
poca
parea
quase
careta
diante
de
tanta
irreverncia.
No
h
dvida
de
que
eles
fizeram
barulho.
Era
preciso
apenas
ouvi-lo.
Julia
Moreira
Revista
de
Histria
-
12
de
agosto
de
2010
Disponvel
em
http://revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/dzi-croquettes
Documentrio
mostra
trajetria
do
grupo
Dzi
Croquettes
"Nem
homem.
Nem
Mulher.
Gente."
Assim
os
Dzi
Croquettes
se
definiam.
Era
uma
gente
extraordinria
que,
em
plena
ditadura
militar,
ousou
quebrar
a
rigorosa
censura
vigente
no
Brasil
com
irreverncia
e
graa.
Pense
em
um
bando
de
13
homens
peludos
e
escrachados
que
subiam
ao
palco
em
vestidinhos,
meias-calas,
saltos
altssimos,
maquiagem
pesada,
piscando
imensos
clios
postios
em
performances
de
dana,
esquetes
de
comdia
em
espetculo
inclassificvel,
mas
to
nico
que
arrebatava
fs
por
onde
passava.
A
irreverncia
foi
tanta
que
por
vezes
foram
proibidos
de
se
apresentar
no
Pas.
Mas
caram
nas
graas
do
pblico
brasileiro
e
tambm
do
europeu,
mais
precisamente
de
Paris.
a
histria
desta
gente
extraordinria
que
Tatiana
Issa
e
Raphael
Alvarez
resolveram
contar
quando
comearam,
h
quase
trs
anos,
as
filmagens
de
"Dzi
Croquettes",
documentrio
que
estreia
hoje
nos
cinemas.
Misturando
docudrama
e
cuidadosa
pesquisa
de
arquivos
com
entrevistas
inditas
e
uma
edio
apurada,
j
integra
a
lista
de
um
dos
mais
premiados
e
bem
recebidos
documentrios
brasileiros
da
histria.
Por
falar
em
brasileiros,
vale
lembrar
que
Tatiana
e
Alvarez
vivem
em
Nova
York
e
no
contaram
com
o
apoio
de
investidores
brasileiros
para
realizar
o
filme.
"Foi
muito
difcil
explicar
nosso
objetivo
aos
possveis
patrocinadores.
E
mais
ainda
entender
os
motivos
dos
''nos''.
Afinal,
queramos
contar
uma
parte
da
histria
recente
do
Pais
que
os
mais
velhos
j
estavam
esquecendo
e
que
os
mais
jovens
talvez
nunca
conheceriam.
No
entanto,
esbarramos
muitas
vezes
no
preconceito
escondido
em
relao
aos
temas
que
o
filme
levanta,
como
em
http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,documentario-mostra-
trajetoria-do-grupo-dzi-croquettes,581989,0.htm
Loki
(2008),
de
Paulo
Henrique
Fontenelle
Arnaldo
Dias
Baptista
Arnaldo
Dias
Baptista
nasceu
em
So
Paulo
em
1948.
Filho
da
pianista,
compositora
e
concertista
Clarisse
Leite
Dias
Baptista
e
do
poeta
e
jornalista
Csar
Dias
Baptista,
tornou-se
um
dos
artistas
brasileiros
mais
cultuados
de
todos
os
tempos.
Seu
trabalho
como
ex-lder
de
Os
Mutantes
considerado
uma
obra
prima
do
rocknpop
mundiais.
Depois
de
deixar
a
banda
em
1973,
seguiu
solo,
criando
obras
igualmente
memorveis.
Arnaldo
Baptista
e
os
Mutantes
originais
tm
sido
reverenciados
no
Brasil
e
no
exterior
por
artistas
e
bandas
como
Sean
Lennon,
Beck,
David
Byrne,
Kurt
Cobain,
Radiohead,
Stereolab,
Torloise,
High
Llamas,
Wondermints,
entre
tantos
outros.
Arnaldo
incansavelmente
mencionado
por
artistas
brasileiros
de
renome
como
uma
influncia
central
em
suas
carreiras.
Em
1974,
Arnaldo
lanou
seu
primeiro
lbum
solo,
Loki?,
at
hoje
considerado
um
dos
melhores
do
gnero
entre
crticos
e
fs.
De
1973
a
1982,
comps
mais
de
60
canes
espalhadas
por
vrios
lbuns
e
fitas,
alm
de
se
apresentar
em
shows
ao
lado
de
bandas
ou
solo,
totalizando
mais
de
100
msicas
ao
longo
de
sua
carreira.
Entre
seus
LPs
solo
esto:
Elo
Perdido
e
Faremos
uma
Noitada
Excelente
,
ambos
de
1977-78
com
a
Patrulha
do
Espao.
Em
1981,
gravou
Singin
'Alone,
tocando
todos
os
instrumentos.
Arnaldo
passou
quase
cinco
anos
se
recuperando
de
um
acidente,
que
sofreu
em
1982.
J
tinha
feito
tanta
coisa!
Tocado
em
tantos
lugares!
Me
senti
ali
perdido,
internado
em
um
hospital,
imaginando:
talvez
ainda
fique
aqui
dez
anos!
Ento,
plenamente
consciente
e
cansado
de
falar
com
os
mdicos,
pensei:
Estou
cansado
disso!
Vou
me
ver
livre!..
E
me
joguei
da
janela,
sabendo
que
estava
jogando
o
jogo
mais
alto
que
existe,
que
a
vida...
E
pareceu
um
milagre,
porque
acordei
na
cama
da
minha
menina,
conta
Arnaldo
em
seu
famoso
documentrio.
A
minha
menina
Lucinha
Barbosa,
com
quem
o
artista
vive
h
30
anos.
Lucinha
conhecida
pela
sua
dedicao
e
amor
incondicional
Arnaldo,
e
incansvel
esforo
e
paixo
na
continuidade
e
preservao
de
seu
trabalho.
O
acidente
provocou
um
traumatismo
craniano,
deixando
sequelas,
mas
no
afetou
sua
genialidade.
Ao
contrrio.
Os
rascunhos
musicais
desta
poca
levaram
ao
lbum
Disco
Voador,
lanado
em
1987.
Durante
aquele
perodo
de
recuperao,
intensificou
seu
trabalho
como
artista
plstico.
Arnaldo
continuou
pintando
e
compondo
em
sua
casa
de
campo
em
Juiz
de
Fora,
Minas
Gerais.
Ao
longo
dos
anos
90,
participou
de
pequenas
exposies
e
contribuiu
com
seu
talento
e
sensibilidade
para
vrios
projetos,
entre
eles
a
compilao
Give
Peace
a
Chance
(2001),
um
tributo
John
Lennon.
Tambm
tocou
e
cantou
em
alguns
festivais
e
teatros,
em
jams
com
outros
artistas.
Em
2004,
lanou
Let
it
Bed,
produzido
por
John
Ulhoa,
do
Pato
Fu.
O
lbum
foi
um
dos
mais
aclamados
pela
crtica
brasileira
no
binio
2004-05.
A
revista
inglesa
Mojo
colocou
Let
it
Bed
na
sua
lista
dos
dez
mais
de
2005.
Durante
2006-07,
Arnaldo
participou
da
reunio
de
Os
Mutantes
para
uma
srie
de
shows
iniciados
em
Londres,
no
grande
evento
dedicado
Tropiclia
promovido
pelo
centro
cultural
Barbican.
Logo
em
seguida,
partiu
com
a
banda
para
a
Europa,
EUA
e
Brasil,
tocando
e
cantando
em
shows
para
at
80
mil
pessoas.
Ao
mesmo
tempo,
sua
histria
preparava,
por
si
s,
uma
nova
reviravolta
a
partir
de
2008.
O
romance
Rebelde
Entre
os
Rebeldes,
escrito
nos
anos
80
e
lanado
pela
Editora
Rocco
em
2008,
foi
um
sucesso.
No
mesmo
ano,
o
Canal
Brasil
levou
ao
pblico
seu
primeiro
longa
metragem,
dirigido
por
Paulo
Henrique
Fontenelle:
o
documentrio
Loki!
Arnaldo
Baptista,
contando
a
histria
de
Arnaldo
de
forma
profundamente
sensvel.
O
filme
foi
um
sucesso
estrondoso,
especialmente
junto
nova
gerao.
Ganhou
14
prmios
no
Brasil
e
no
exterior
e
ainda
emociona
audincias
onde
quer
que
seja
exibido.
Em
2010,
Arnaldo
finalmente
abraado
pelo
circuito
oficial
das
artes
plsticas,
participando
de
duas
coletivas
de
peso,
como
as
da
SP-Arte
2010
e
2011,
alm
da
mostra
de
abertura
das
galerias
Bar/Emma
Thomas
em
2010.
Sua
primeira
grande
exposio
individual,
Lentes
Magnticas,
com
mais
de
100
obras
ao
longo
de
30
anos,
acontece
de
24
de
maro
a
20
de
abril
na
Galeria
Emma
Thomas
em
So
Paulo
e
tem
sido
considerada
uma
das
maiores
coberturas
de
mdia
para
uma
primeira
individual
deste
porte.
Galeristas
e
a
sociedade
da
arte
de
So
Paulo,
que
tem
visitado
a
mostra
,
tm
reiterado
sua
importncia
e
fora
artstica.
A
arte
de
Arnaldo
Dias
Baptista
reflete
sua
filosofia,
poesia
e
a
criatividade
vanguardista
conhecidas
da
carreira
musical.
Assim
como
os
artistas
do
movimento
CoBra,
Arnaldo
trabalha
de
forma
espontnea,
experimental
e
com
nfase
no
imaginrio
fantstico.
A
expressividade
atravs
do
uso
de
cores
e
texturas
permeiam
tanto
o
universo
da
psicodelia
quanto
da
arte
contempornea,
comenta
Juliana
Freire,
scia-proprietria
da
Emma
Thomas.
Arnaldo
voltou
aos
palcos
em
outubro
de
2011
para
duas
datas
no
Sesc
Belenzinho-SP
com
seu
Arnaldo
Dias
Baptista
Solo
Voador,
tocando
e
cantando
ao
piano
de
cauda.
Ovacionado
pelo
pblico
e
crtica,
os
shows
tiveram
ingressos
esgotados
nas
primeiras
horas
da
abertura
da
venda
antecipada.
O
video-cenrio
trazia
projees
dos
desenhos
de
Arnaldo,
selecionados
para
a
mostra
na
Emma
Thomas.
As
imagens
justapostas
e
em
movimento
lembravam
uma
mandala
psicodlica.
Este
show
far
parte
da
Virada
Cultural
de
So
Paulo
2012,
com
uma
histrica
apresentao
no
Teatro
Municipal
no
dia
5
de
maio
de
2012.
Em
2011,
Arnaldo
tornou-se
embaixador
da
ANDA,
uma
das
mais
srias
ONGs
na
defesa
dos
direitos
dos
animais
no
Brasil.
Disse
Arnaldo
ao
abraar
a
organizao:
O
Arnaldo
Dias
Baptista,
ainda
anda
defendendo
o
vegetarianismo
e
a
eletricidade
gerada
pelo
sol.
Portanto,
ser
Embaixador
da
ANDA;
abaixa
a
dr,
dos
animais.
Nomes
como
Barak
Obama
e
Zilda
Arns;
remetem
minha
imaginao,
para
Zilda
Arnaldo.
Num
sentido,
onde
parar
de
queimar;
para
a
energia
gerar,
despoluir.
(Fsica)
Harmonia;
entre,
pessas
e
animais.
Ainda
em
2012,
Arnaldo
Baptista
lanar
seu
novo
lbum,
Esphera,
j
um
dos
mais
esperados
do
ano,
produzido
por
Fernando
Catatau,
do
Cidado
Instigado.
No
final
dos
anos
70,
Arnaldo
teve
o
filho
Daniel
com
a
atriz
Martha
Mellinger,
com
quem
viveu
por
dois
anos.
Daniel
Mellinger
Dias
Baptista
hoje
ajuda
a
manter
e
preservar
a
obra
do
pai.
Em
2010,
Arnaldo
aderiu
s
redes
sociais,
com
perfis
no
Facebook
e
Twitter,
um
canal
oficial
no
YouTube
e
um
blog
como
artista
plstico.
Teve,
ainda,
todos
seus
lbuns
solos
disponibilizados
em
formato
stream
no
Soundcloud.
Hoje,
rene
mais
de
20
mil
fs
em
torno
destas
mdias.
No
Facebook,
71%
dos
frequentadores
esto
na
faixa
dos
17
aos
34anos.
Arnaldo
seguido,
tambm,
por
artistas,
formadores
de
opinio
e
hot
desks
da
mdia
de
massa
e
blogs
culturais.
Para
2012,
seu
time,
formado
por
voluntrios,
espera
poder
realizar
o
sonho
de
ter
os
trabalhos
de
Arnaldo
devidamente
documentados
e
salvaguardados
sobre
suas
prprias
asas.
Entre
outros
projetos,
os
fs
podero
ver
um
novo
web
site,
incluindo
uma
rea
de
download
via
doao
um
presente
dos
fs
da
Elefantte
e
S2Group
e
um
aplicativo
para
iPhone,
pelo
f
Eduardo
Rangel,
da
Easynology.
Arnaldo
emociona
a
todos,
no
apenas
pela
sua
contagiante
simpatia
e
talento
nicos,
mas
tambm
pelo
seu
incansvel
discurso
pela
paz
e
pelo
amor,
na
sua
defesa
pela
preservao
do
meio
ambiente
muito
antes
do
tema
entrar
para
a
agenda
mundial,
por
sistemas
de
som
totalmente
valvulados,
pelo
vegetarianismo,
seu
amor
e
carinho
para
com
os
animais,
sua
poesia
mpar
e
inspiradora
e
seu
delicioso
senso
de
humor.
Desde
o
incio
de
sua
carreira,
Arnaldo
mostrou
uma
capacidade
surpreendente
de
auto-
reciclagem.
Ele
permite
facilmente
que
novos
elementos
entrem
em
sua
msica
e
arte.
Parece
que
sua
misso
apontar
um
futuro
que
ainda
no
existe,
mas
pode
(e
deve)
ser
sentido.
Site
do
Arnaldo
Baptista
Disponvel
em
http://www.arnaldobaptista.com.br/historico.htm
Genialidade
Valvulada
Rogrio
Duprat,
no
vdeo-documentrio
Maldito
popular
brasileiro:
Arnaldo
Dias
Baptista,
de
Patrcia
Moran,
foi
categrico
em
suas
duas
aparies:
Os
Mutantes
foram
a
coisa
mais
importante
do
tropicalismo.
E
ningum
conseguiu
deixar
isto
claro.
Mas
eu
sei
bem
disso
que
a
cabea
disto
tudo,
a
cabea
dos
Mutantes
era
o
Arnaldo
Baptista.
(...)
Insisto
e
resumo,
em
poucas
palavras,
o
Arnaldo
responsvel
por
quase
tudo
que
aconteceu
de
67
pra
frente.
Kurt
Cobain,
em
sua
passagem
pelo
Brasil,
saudou
Arnaldo
com
uma
carta-elogio.
Mas
o
que
h
entre
a
arqueolgica
opinio
de
Duprat
e
a
missiva
de
Cobain?
Mitificao
a
um
artista
louco?
Ou
uma
outra
verso
para
uma
histria
j
sedimentada?
Bom,
Arnaldo,
assim
como
Rita
Lee
e
Srgio
Dias,
teve
sua
vida
e
sua
obra
fracionada
em
duas
etapas:
a
das
glrias
da
Tropiclia
e
dos
Mutantes;
e,
no
caso
de
Arnaldo,
da
pirao
posterior.
Mas
o
que
dizer
dos
cinco
lbuns
de
sua
carreira
solo?
E
como
chamar
de
loucura
sua
opo
pela
amplificao
valvulada,
agora
que
novas
geraes
de
valvulados
demonstram,
mais
uma
vezes,
a
sua
supremacia
perante
os
leves
e
descartveis
transistores?
Seria
loucura
tambm
sua
opo
por
guitarra
Gibson
em
detrimento
da
Fender,
usada
por
seu
irmo
Srgio?
E
seus
dois
livros
de
fico
cientfica?
E
suas
centenas
de
pinturas
a
leo?
A
verdade
que
a
genialidade
de
Arnaldo
s
poderia
ser
tratada,
pela
mentalidade
mediocrizante
brasileira,
de
um
forma,
como
loucura.
Nem
uma
possvel
morte,
vrias
vezes
anunciada,
seria
adequada.
A
loucura.
Assim
teramos
nosso
Syd
Barrett,
nosso
Arthur
Rimbaud,
nosso
Antonin
Artaud.
Mas
contra
este
estigma,
basta
apenas
ouvir
a
obra
de
A.B.
Seu
primeiro
lbum-solo,
Lki?
,
sem
dvida
a
obra-prima
do
rock
brasileiro.
Lanando
em
1974,
com
a
participao
dos
Mutantes
-
Rita,
Liminha
e
Dinho
-
e
arranjo
de
Duprat,
e
com
a
recomendao:
este
disco
para
ser
ouvido
em
alto
volume,
traz:
Ser
que
eu
vou
virar
bolor?,
Uma
pessoa
s
-
do
repertrio
derradeiro
dos
Mutantes
-,
No
estou
nem
a,
vou
me
afundar
na
lingerie,
C
t
pensando
que
eu
sou
lki?,
Te
amo
podes
crer
e
outras.
Na
seqncia,
Arnaldo
se
transfere
para
o
Rio
de
Janeiro,
formando
o
grupo
Unzioutros,
com
Lulu
Santos.
Em
1976,
passa
a
tocar
com
o
grupo
Patrulha
do
Espao
-
John
Flavin,
guitarra;
Osvaldo
Gennari,
contrabaixo;
e
Rolando
Castello
Jnior,
bateria.
No
ano
seguinte,
grava
um
lbum
no
Estdio
Vice-Versa,
que
se
manteria
indito
at
1988,
quando
Osvaldo
e
Rolando
remasterizam
a
fita
original
e
lanam
o
LP
Elo
perdido,
que
traz
Sunshine,
Sexy
sua,
Corta
Jaca,
Trem,
Emergindo
da
cincia,
Raio
de
sol,
Um
pouco
assustador
e
Fique
comigo.
Em
1980,
lana
o
lbum
Singin'
Alone,
na
estria
do
selo
Baratos
Afins,
de
Lus
Calanca.
Arnaldo
toca
todos
os
instrumentos.
No
repertrio:
I
feel
in
love
one
day,
O
Sol,
Hoje
de
manh
eu
acordei,
Sitting
on
the
road
side,
Ciborg,
Young
blood,
entre
outras.
No
incio
de
1982,
internado
em
uma
clnica
de
So
Paulo,
sofre
acidente.
Sua
fama
de
louco
e
suicida
volta
cena.
Em
1987,
Rolando
Castello
lana
novo
material
da
poca
do
Patrulha.
Agora
trechos
de
uma
gravao
ao
vivo,
de
1978.
O
lbum
Faremos
uma
noitada
excelente...
traz,
basicamente,
msicas
do
Elo
perdido
e
do
Singin'
alone,
exceo
para
a
instrumental
Arnaldo
Soliszta.
Ainda
em
1987,
a
Baratos
Afins
lana,
em
edio
limitada
para
fs,
o
caseiro
lbum
Disco
voador,
gravado
originalmente
em
dois
canais,
pelo
artista,
e
masterizado
no
Vice-Versa.
O
disco
traz
duas
verses,
em
francs
e
ingls
de
Balada
de
um
louco
e
outras
sete
composies.
Em
1989,
a
gravadora
Eldorado
lana
o
lbum-homenagem
Sanguinho
novo...
Arnaldo
Baptista
revisitado,
com
as
participaes
dos
grupos
Sexo
Explcito,
3
Hombres,
Vzyadoq
Moe,
Sepultura,
ltimo
Nmero,
Akira
S.
&
As
Garotas
Que
Erraram,
Ratos
de
Poro,
Fellini,
Atahualpa
Y
Us
Panquis,
Maria
Anglica
e
de
Skowa
e
Paulo
Miklos.
Mas
em
segundo
lugar,
e
mais
importante,
por
essa
estrutura
mofada
e
maltratada
por
dcadas
de
abuso
ganhar
misteriosos
sopros
de
vida
que
no
vm
da
manipulao
de
suas
armaes,
mas
sim
da
fora
do
material
captado
por
Fontenelle.
Por
isso,
a
resistncia
inicial
convencionalidade
da
abordagem
facilmente
transposta
pelo
sopro
de
presente
que
toma
o
quarto
final
do
filme
em
especial
a
turn
de
reunio,
marcada
no
filme
com
shows
em
Londres
e
em
So
Paulo.
Loki
ganha,
a,
uma
fora
bastante
intensa,
pois
parece
registrar
a
concretizao
de
seu
prprio
desejo:
rememorar
a
histria
de
Arnaldo
e
os
Mutantes,
sem
nunca
esquecer
que
essa
histria
continua
viva,
ativa
e
presente.
Se
torna,
a,
uma
comemorao.
A
loucura
genial
e
extraordinria
de
Arnaldo
Baptista
parece
se
sobrepor
ao
filme,
e
a
Paulo
Henrique
Fontenelle
cabem
os
mritos
de
no
ter
tentando
reproduzi-la,
induzi-la
ou
anul-la;
mas
sim
confiar
que
a
fora
do
artista
e
de
sua
histria
seriam,
de
fato,
maiores
que
o
filme.
Mais
do
que
isso,
que
ela
seria
o
filme
algo
que
Loki
comprova,
construindo
momentos
bastante
emocionantes,
com
uma
discreta,
mas
apaixonada
admirao.
Fbio
Andrade
Revista
Cintica
-
Janeiro
de
2009
Disponvel
em
http://www.revistacinetica.com.br/loki.htm
Vida
Mutante
O
documentrio
Loki,
que
tambm
nome
do
primeiro
disco
solo
de
Arnaldo
Baptista,
parece
versar
basicamente
sobre
trs
assuntos
e
suas
ressonncias:
o
amor,
a
nsia
de
viver
e
superaes.
Uma
vida
na
arte
a
qual
comea
como
um
cometa
que
flameja,
o
qual,
porm,
ao
entrar
na
atmosfera,
despedaa-se
em
inmeros
fragmentos
rumo
ao
solo,
mas,
quando
j
cados
no
cho,
so
coletados
e
remontados
aos
poucos,
ganhando
vida
novamente;
assim
Tom
Z,
Sean
Lennon,
Gilberto
Gil,
como
o
prprio
Arnaldo
e
amigos
mais
prximos
descrevem
os
passos
do
cantor:
controversos,
ldicos,
tristes,
encantadores.
A
cinebiografia
Loki
Arnaldo
Baptista
uma
obra
que
flui
de
maneira
leve
e
doce,
com
grande
nmero
de
imagens
originais
de
Arnaldo
de
dcadas
atrs,
as
quais
embalam
o
espectador
ao
sabor
desses
traos
vdeo
e
fotogrficos,
e
tambm
familiarizam
quem
assiste
figura
do
cantor.
Nas
cenas
atuais,
o
mutante
mostrado
por
vrias
vezes
emergido
em
suas
pinturas
e
sonhos,
gravados
por
vezes
atravs
de
cmera
na
mo,
transparecendo
um
ingnuo
suspiro
de
liberdade
do
homem.
Os
depoimentos,
tanto
de
Arnaldo
como
dos
convidados,
so
entregues
em
sua
maioria
de
maneira
mais
original,
atravs
de
cmera
esttica,
receptora
das
informaes,
fugindo
poucas
vezes
dessa
regra,
como
quando
o
show
man
Tom
Z
saca
seu
violo
e
dedilha
uns
acordes,
ou
com
a
interferncia
do
extico
msico
Devendra
Banhart,
gravada
na
pressa
de
um
backstage.
O
pblico
reagiu
muito
bem
ao
documentrio
de
Paulo
Henrique
Fontenelle,
gravado
digitalmente
em
2008,
sendo
tambm
elogiado
pela
crtica.
Tive
a
oportunidade
de
acompanhar
duas
sesses
do
filme;
a
primeira
na
32
Mostra
Internacional
de
Cinema
de
So
Paulo,
quando
a
obra
foi
votada
com
pontuaes
excelentes,
sendo
re-exibida
posteriormente,
e
a
segunda
na
12
Mostra
de
Tiradentes,
no
ltimo
dia
do
evento,
quando
aconteceu
algo
indito
ao
final
da
exibio
at
ento:
as
pessoas
se
levantaram
e
aplaudiram
por
tempos,
algo
particularmente
sensacional.
C
t
pensando
que
eu
sou
lki,
bicho?
A
obra
dividida,
no
estoicamente,
em
trs
partes
bsicas.
No
incio,
tomamos
contato
com
o
nascimento
da
figura
musical
de
Arnaldo,
assim
como
de
Srgio,
seu
irmo
e
companheiro
mutante
(o
qual
tambm
depoente
ao
decorrer
da
obra),
e
a
enorme
importncia
dos
rapazes
para
os
rumos
do
rock
nacional,
criando
assim
uma
identidade
toda
prpria
e
importante
para
esse
ascendente
cenrio
brasileiro;
uma
outra
msica
brasileira
comea
a
ser
vista
pelo
mundo
atravs
das
figuras
dos
Mutantes,
e
os
trs
jovens
(Arnaldo,
Srgio
e
Rita
Lee)
despontam
com
irreverncia
e
inovaes.
No
trecho
central
do
filme,
o
assunto
paira
quase
sempre
sobre
a
vida
pessoal
de
Arnaldo,
um
ponto
to
interessante
quanto
a
vida
artstica
do
cantor,
sendo
at
uma
parte
indissocivel
da
outra.
O
uso
exagerado
das
drogas
no
auge
da
carreira
dos
Mutantes
um
tpico
interessante
abordado
pelos
entrevistados
que,
sem
grandes
pudores,
colocado
como
um
dos
pontos
que
marcou
o
incio
do
fim
da
banda,
at
ento
com
bastante
sucesso,
dentro
e
fora
do
Brasil.
O
rompimento
do
casamento
com
Rita
Lee,
assim
como
as
depresses
e
internaes
de
Arnaldo
ainda
so
discutidos
nessa
parte,
porm
de
maneira
mais
parcimoniosa
e
contida;
Rita
Lee
se
negou
a
participar
do
documentrio.
Logo,
sentimos
certa
moderao
no
que
tange
a
assuntos
mais
delicados
na
relao
entre
Arnaldo
e
ela,
como
no
episdio
no
qual
ela
o
ps
em
um
hospcio,
em
seu
ps-sada
da
banda.
Ao
final,
da
queda
vemos
o
ressurgimento
do
artista,
aps
relaes
afetivas
desfeitas,
temporadas
em
hospitais,
discos
solos
gravados
e
tentativas
de
novas
formaes
de
bandas.
O
quase
recente
hobbie
da
pintura,
o
convite
para
a
remontagem
dos
Mutantes
e
para
a
participao
em
shows,
como
o
de
Sean
Lennon,
so
molas
propulsoras
para
o
reviver
da
fnix,
assim
como
a
gravao
de
um
novo
disco,
j
em
meados
dos
anos
2000.
Quem
tambm
faz
esse
papel
de
remontar
os
fragmentos
do
artista
Lucinha
Barbosa,
f
dedicada
do
cantor
que
entra
em
contato
com
Baptista
quando
esse
tenta
o
suicdio.
De
tiete
a
nova classe, com os reis da vela e tudo sob os auspcios do americano. A nica forma
de interpretar essa falsa ao, essa maneira de viver pop e irreal, o teatro de revista,
a praa Tiradentes. Assim como So Paulo a capital de como opera a burguesia
progressista, na comdia da seriedade da vida do business man paulistano, na
representao atravs dos figurinos engravatados e da arquitetura que, como diz LviStrauss, parece ter sido feita para se rodar um filme. O Rio, ao contrrio, a
representao, a farsa de revista de como vive o burgus, a representao de uma falsa
alegria, de vitalidade que na poca comeava na Urca e hoje se enfossa na bossa de
Ipanema.
O terceiro ato a tragicomdia da morte, da agonia perene da burguesia
brasileira, das tragdias de todas as repblicas latino-americanas com seus reis
tragicmicos vtimas do pequeno mecanismo da engrenagem. Um cai, o outro o
substitui. Foras ocultas, suicdios, renncias, numa sucesso de abelardos que no
modifica em nada as regras do jogo. O estilo shakespeariano interpreta em parte
principalmente atravs de anlises do polons Jan Kott esse processo, mas o
mecanismo no o da histria feudal, mas o mecanismo das engrenagens
imperialistas um mecanismo um pouco mais grotesco, mesmo porque se sabe hoje
que ele supervel, passvel de destruio. A pera passou a ser a forma de melhor
comunicar este mundo. E a msica do Verdi brasileiro, Carlos Gomes, O escravo, e o
nosso pobre teatro de pera, com a cortina econmica de franjas douradas, pintadas,
passam a ser a moldura desse ato.
Aparentemente h desunificao. Mas tudo ligado a vrias opes de
teatralizar, mistificar um mundo onde a histria no passa do prolongamento da
histria das grandes potncias. onde no h ao real, modificao na matria do
mundo, somente o mundo onrico, onde s o faz-de-conta tem vez.
A unificao de tudo formalmente se dar no espetculo atravs das vrias
metforas presentes no texto, nos acessrios, no cenrio, nas msicas. Tudo procura
transmitir essa realidade de muito barulho por nada, onde todos os caminhos tentados
para supera-la at agora se mostram inviveis. Tudo procura mostrar o imenso
cadver que tem sido a no-histria do Brasil destes ltimos anos, qual ns todos
acendemos a nossa vela para trazer, atravs de nossa atividade cotidiana, alento. 19331976: so 34 anos. Duas geraes pelo menos levaram suas velas. E o corpo continua
gangrenado.
Minha gerao, tenho impresso, apanhar a bola que Oswald lanou com sua
conscincia cruel e antifestiva da realidade nacional e dos difceis caminhos de
revoluciona-la. Ela no est ainda totalmente conformada em somente levar sua vela.
So os dados que procuramos tornar legveis em nosso espetculo. E volto para meu
trabalho. E volto para meu trabalho, para a redao do espetculo manifesto do
Oficina. Espero passar a bola para frente com o mesmo impulso que a recebi. Fora
total. Chega de palavras: volto para o ensaio.
[Teatro Oficina, 4 de setembro de 1967. Folheto distribudo na estria da pea e reproduzido em Arte
em Revista 1 Anos 60. So Paulo: Kairs, 1979.]