MADAME DE STAL

Pgina de Filosofia
Contempornea
escrita por Rubem Queiroz
Cobra
(Site original:
www.cobra.pages.nom.br)

Sntese

Dona de uma personalidade brilhante, escritora, poeta, ativista

poltica, e feminista, Anne-Louise-Germaine, Madame Baronesa
Infncia e de Stal-Holstein, geralmente reconhecida como a primeira
juventude filsofa poltica. Filha nica de um rico banqueiro e de uma
escritora sua, recebeu dos pais sua paixo pelas letras e pela
Salo em
filosofia poltica, e um grande interesse pela coisa pblica.
Paris
Viveu em um perodo crtico da histria da Frana,
Salo em compreendendo os anos de Lus XVI, da Revoluo Francesa,
da era napolenica, e da restaurao da monarquia dos Bourbons
Coppet
com
Perodo
napolenico Lus XVIII. Ela teve um importante papel na corrente
minoritria de livres-pensadores moderados favorveis a uma
Viagem monarquia constitucional, mas que saram derrotados tanto pela
Alemanha e feroz maioria radical vitoriosa na Revoluo, quanto por
Itlia
Napoleo e pelos restauradores da monarquia.
A fuga

A perseguio que sofreu de Napoleo ele representava a

negao de todas as liberdades que ela defendia fez dela uma
Restaurao figura mrtir e herica, que alentou a resistncia ao imperador
Pensamento em Paris, na Sua e em toda a Europa. Deixou livros e artigos, e
tambm inmeras cartas que escreveu aos seus amantes
declarando suas frustraes e seus anseios de felicidade.

I - Vida
Infncia e Juventude. Seu nome de solteira foi Anne-Louise-Germaine
Necker (depois baronesa de Stal-Holstein, tratada mais comumente por
Germaine ou Madame de Stael). Nasceu em Paris a 22 de Abril de 1766. Seu
pai, Jacques Necker, por quem teve grande admirao e afeto, foi trs vezes
ministro de finanas de Louis XVI, rei da Frana de 1774 a 1793. Nascido em
1732, era filho de um professor de Direito Pblico em Genebra. Chegou jovem
em Paris, onde ganhou experincia como empregado no banco de um amigo da
famlia e depois fundou, com um scio, o seu prprio banco, com
estabelecimentos em Paris e Londres. Ficaram ricos financiando negcios de
trigo e emprestando dinheiro para o governo. Membro do conselho de
administrao da Companhia das Indias desde 1764, ele salvou a histrica
instituio de ir falncia. Em 1768, foi ministro da Republica de Genebra
junto ao rei de Frana.

Sua me, Madame Necker, nascida Suzanne Curchod em 1737, escritora sua,
era filha do pastor da Vila de Crassier, localidade vizinha a Genebra. Escritora,
era uma mulher instruda e de bela figura. Filantropa, sua atividade filantrpica
envolveu a fundao, em Paris, em 1778, do Hopital des Paroisses, atualmente
Hospital Necker, na rua de Svres. Nesse hospital Ren Laennec inventou o
estetoscpio e criou as regras da auscultao dos batimentos
cardacos. Madame Necker foi, tambm, uma voz contrria ao comrcio de
escravos que os franceses faziam entre a frica e a Amrica. O professor
Franois Poirier, da Universidade de Paris (www.univ-paris13.fr, 2005),
comenta que quase desconhecida essa postura de Madame Necker, a qual
fundou, em 19 de fevereiro de 1788, a Socit des Amis des Noirs (Sociedade
dos Amigos dos Pretos), e salienta que ela tinha por amigos os anteescravagistas abade Guillaume Raynal, que em 1770 publicou Histoire
philosophique et politique des tablissemens et du commerce des Europens
dans les deux Indes; Condorcet, autor do Rflexions sur l'esclavage des ngres,
publicado em 1781, e Olympe de Gouges, cuja pea L'esclavage des noirs foi
encenada em 1789 pela Comdie Franaise. Estava em Paris, como tutora do
filho de Madame de Vermenoux quando conheceu o banqueiro Necker, com
quem se casou em 1764.
Os encontros promovidos por Suzanne Necker em seu salo foram no apenas
uma escola para a filha Germaine, futura Madame de Stal, mas tambm
ajudaram seu marido a projetar-se e a se alar a posies elevadas no governo.
s sextas-feiras, Madame Necker reunia em sua residncia, o Hotel Leblanc,
grupos de livre-pensadores moderados e da nobreza parisiense, para debates
em torno de questes sociais e polticas. O "hotel" nome dado a edifcios
pblicos e grandes manses urbanas em Paris situava-se na Chausse
d'Antin, local que ento era o centro da elegncia parisiense, prximo dos
teatros, e das grandes avenidas, e onde aristocratas nobres, e empresrios e
comerciantes ricos, residiam em palcios criados pelos mais famosos
arquitetos da poca.
Germaine, desde menina, habituou-se ao debate dos temas polticos. Tanto seu
pai quanto sua me eram protestantes calvinistas convictos, de grande moral,
esprito aberto e tolerante, e seus amigos eram todos de tendcia liberal. Em
sua casa, conheceu incontveis figuras importantes como: Victor Riqueti,
Marqus de Mirabeau, monarquista constitucionalista, um dos redatores da
"Declarao dos Direitos do Homem e do Cidado", documento bsico da
Revoluo Francesa em 1789, autor de Explication du Tableau conomique
("Explicao do Quadro econmico") de 1759, Thorie de l'impt ("Teoria do
imposto"), de 1760; e Philosophie rurale ("Filosofia rural"), de 1763; Denis
Diderot, o editor da Enciclopdia; Georges Louis Leclerc, conde de Buffon, o
grande naturalista; Franois Arnauld, Gabriel de Mably, conhecido tambm
por Abb de Mably, historiador, precursor do socialismo comunitrio; Jacques
Henri Bernardin de Saint-Pierre, escritor, discpulo de Rousseau e precursor do
romantismo, clebre por seu romance Paul et Virginie; Caroline-StphanieFlicit du Crest de Saint-Aubin, condessa de Genlis, autora de vrias obras
sobre Educao; e Jean le Rond d'Alembert, entre outros. A esses encontros
compareciam tambm alguns no famosos, que pertenciam ao crculo de

velhos amigos suos da famlia.

Uma criana precoce, Germaine interferia ela prpria nos debates com
aprecivel sagacidade. Por influncia de seu pai, um admirador de
Montesquieu, tornou-se adepta da monarquia parlamentar segundo o modelo
ingls. Recebeu da me uma educao muito esmerada e completa: aprende
ingls, latim, dico, msica e dana; vai ao teatro e, ainda muito jovem, ela l
e escreve intensamente.
Em 1770, Jacques Necker adquiriu uma propriedade em Saint-Ouen. Sua me
comeou a corresponder-se com Voltaire, de quem seu pai era um admirador a
ponto de encomendar uma esttua do filsofo. Lisonjeado, Voltaire enviou
versos a Madame Necker e manteve com ela o contacto epistolar em seus
ltimos anos. Porm o arteso moldou o filsofo nu, e a esttua, considerada
imoral pelo casal, no saiu do seu atelier.
Em 1772 seu pai afastou-se dos negcios, aos trinta e oito anos, com uma
fortuna de sete a oito milhes de libras. Dedicou-se a escrever. Em 1773, ele
ganhou o prmio da Academia Francesa pela seu enaltecimento do economista
e ministro Jean-Baptiste Colbert.
Em 10 de maio de 1774, falece Louis XV, e comea o reinado de Louis XVI.
Em 1775 Necker publicou seu Essai sur la lgislation et le commerce des
grains, no qual criticava a poltica de livre comrcio do ministro Turgot.
Em 1776, o rei Lus XVI demite Turgot e Necker, apesar de no ser nem
catlico nem francs, o substitui como Diretor do Tesouro Real. O novo
ministro tem que enfrentar o problema das grandes despesas com a ajuda
militar francesa aos colonos da Amrica para sustentar sua independncia,
proclamada a 4 julho daquele ano, contra a Inglaterra. Germaine tinha dez
anos e v agora a casa freqentada no mais apenas por intelectuais e amigos,
mas tambm por polticos, ministros e diplomatas. Neste ano, de abril a junho,
acompanha os pais em uma viagem Inglaterra.
Em julho de 1777 seu pai, com as reformas que fez, passa a designar-se
Ministro (Diretor Geral) das Finanas. Em maio de 1781 ele publicou seu
famoso Compte rendu au roi, um balano financeiro da Frana que foi um
sucesso de leitura. Foram vendidos 30 mil exemplares em apenas duas
semanas. Este trabalho corajoso que revelou as despesas sunturias da corte,
lhe valeu o desagrado da famlia real e, nesse mesmo ano, por influncia da
prpria rainha Maria Antonieta, foi forado a demitir-se, e substitudo por
Charles Alexandre de Calonn.

Germaine, uma grande admiradora de seu pai, lhe havia escrito uma carta de
elogios sobre o Compte Rendu antes de completar 15 anos. O excesso de
estudos e de excitamento intelectual, os amores impossveis em sua
adolescncia, e as fortes emoes que vivia envolvida em todos os
acontecimentos que atingiam sua famlia, conduzem-na a um esgotamento
mental que exige repouso; levam-na para a bela residncia da famlia em
Saint-Ouen, ento apenas uma pequena vila na margem direita do Sena, entre
Saint Denis e Paris (no era o castelo de Ouen, o qual pertenceu ao duque de
Gesvres, e cuja famlia o cedeu, em 1782, ao duque de Nivernais).
No vero de1783, Germaine acompanha os pais Sua. Ela recusa o projeto
deles de cas-la com William Pitt, jovem e ambicioso poltico Ingls que em
dezembro daquele ano, na idade de apenas 24 anos, seria nomeado por George
III o mais novo primeiro ministro da histria da Inglaterra. No sendo William
Pitt um homem rico, a escolha provavelmente tinha muito a ver com o ideal
constitucionalista de Jacques Necker. Pitt era por reformas que aprimorassem o
regime parlamentarista, evitando suborno eleitoral, permitindo a destituio de
parlamentares corruptos, e aumentando a representao do povo no
Parlamento. Entre os nobres franceses havia poucos protestantes e seus pais
no queriam que ela se casasse com um catlico.
Em 1784 seu pai escreveu, em Saint-Ouen, seu livro "De l'administration des
finances de la France", no qual explicava e defendia sua poltica financeira.
Em maio levou a famlia para seu castelo de Beaulieu, em Lousanne, e
adquiriu o castelo de Coppet, 14 km a leste de Genebra, situado margem do
Lago Leman, com a pequena Vila de Coppet a separ-lo da beira do lago, e
que seria, no futuro, a principal morada da famlia fora de Paris.
Em fins de setembro de 1785 a jovem Germaine aceita o segundo projeto: seu
casamento com o representante da Sucia em Paris (ganharia depois status de
embaixador), Baro Eric de Stal-Holstein, dezessete anos mais velho que ela.
No dia 6 de janeiro de 1786 o contrato de casamento foi referendado em
Versailles pela famlia real. A cerimnia foi celebrada na capela da Embaixada
da Sucia, na rua de Bac, no dia 14 do mesmo ms . No dia 31 a nova baronesa
foi apresentada aos nobres, os quais nunca viam com bons olhos e ela
percebeu isso algum de origem plebia, ainda que muito rico, intrometer-se
na corte.
O Salo em Paris. Uma vez casada, Anne-Louise-Germaine, agora Madame
Baronesa de Stal, abre seu prprio salo em sua residncia na rua de Bac. A
formao poltica liberal recebida do pai faz que ela se cerque de uma gerao
nova. Muitos que comparecem aos encontros em sua casa haviam lutado na
Amrica pelas idias liberais, como La Fayette, Noailles, Clermont-Tonnerre,
ou eram escritores como Condorcet, Louis de Narbonne (1755-1813) sua
primeira grande paixo ; Mathieu de Montmorency (1767-1826) e o bispo
Charles-Maurice de Talleyrand-Prigord (un des signataires de la Constitution
Franaise de 1791).
No ano do seu casamento ela inicia sua carreira literria com Sophie ou Les
Sentiments secrets (Sofia, ou os sentimentos secretos) e comea, entre outros

projetos, a escrever uma crtica ao pensamento de Jean-Jacques Rousseau.

Em abril de 1787, seu pai Jacques Necker, devido s suas crticas poltica
real e s medidas liberais que adotou para transparncia do oramento, foi
visto pela nobreza conservadora como defensor das causas da Revoluo. Foi
demitido e banido de Paris por carta rgia, a um raio de 40 lguas da corte.
Madame de Stal o acompanhou em vrias moradas no permetro desse crculo
de Paris. Mas o rei suspendeu o castigo dois meses depois. No mesmo ano, em
julho, nasceu a primeira filha de Germaine de Stal, batizada Gustavine em
homenagem ao padrinho Gustavo III, rei da Sucia.. Tambm neste ano ela
comps sua tragdia Jane Gray.
A publicao da Constituio Americana de 17 setembro de 1787 causa grande
sensao entre os constitucionalistas e republicanos parisienses.
Em 1788, Necker foi novamente nomeado Diretor Geral das Finanas, mas
tambm ministro de estado e primeiro ministro de fato. Para solucionar a crise
financeira, convence o rei a convocar os Estados Gerais, um conselho
constitudo de nobres e de representantes do clero e do povo. A 3 de maio
desse ano, o Parlamento publica dclaration des droits de la Nation e aprova
a convocao dos Estados Gerais na esperana de que seus membros fizessem
o rei manter os privilgios fiscais das classes altas. Em 7 de junho ocorre a
revolta do povo contra o parlamento, em Grenoble.
Por presso da opinio pblica influenciada por polticos e intelectuais de suas
relaes, em 26 de agosto, seu pai chamado de volta para substituir Lomnie
de Brienne no Ministrio das Finanas. E ela, mal satisfeita com o casamento,
comea, no outono, um caso de amor com o jovem conde de Narbonne,
freqentador do seu salo. No fim desse ano publicou, em poucos exemplares,
sua crtica a Rousseau: Lettres sur le caractre et les ouvrages de J.-J.
Rousseau (Cartas sobre o carter e a obra de Rousseau). No livro ela aprova
muitos dos pontos sustentados pelo filsofo, mas condena suas idias sobre a
mulher quanto ao seu papel social e sua educao. Esta obra, que lhe trouxe
fama como feminista, foi muitas vezes reeditada.
A Revoluo. O ano de 1789 foi trgico para a baronesa. Em abril, faleceu a
pequena Gustavine de Stal. Os acontecimentos polticos tambm so de um
mau prenncio.
Em maio ela assiste procisso solene dos deputados, para a missa de abertura
da Assemblia dos Estados Gerais. Em 9 de julho os Estados Gerais se
proclamam uma Assemblia Nacional Constituinte, para redigir uma
constituio calcada no modelo norte americano. Nesse ms seu pai afastado
do ministrio mas o povo, vendo em sua demisso um sinal de endurecimento
do governo contra as causas liberais, se amotina em Paris e exige a sua volta
direo das Finanas. O motim cresceu e agravou-se com a tomada da
Bastilha, fato histrico que marcoui o 14 de julho, e ao qual ficou ligado o
nome do ministro Necker, que chegou a ser considerado o salvador da Frana.
A 30 de julho, acompanhado da filha, ele retornou a Paris, aclamado pelo povo
em cada lugar por onde passava, culminando o entusiasmo popular com uma

apoteose na Place de Grve, ou Place de l'Hotel de Ville (Praa do Palcio da

Municipalidade). Mas nada podia fazer sem aumentar os impostos, medida
impopular que terminou por desacredit-lo. O rei, amedrontado, evita
dissolver a Assemblia. O irmo do rei, o Conde d'Artois, futuro rei Carlos X,
percebe as dimenses dos acontecimentos e deixa a Frana, seguido de vrios
nobres entre eles o prncipe de Cond e Mme de Polignac.
Um comit de revoltosos nomeia Bailly prefeito de Paris, e La Fayette
comandante da guarda nacional, uma usurpao do que era antes
administrao direta do monarca. A revolta contra os altos impostos levam os
camponeses a invadir os castelos e destruir os papeis que davam privilgios
aos seus senhores; alguns foram atacados e mesmo massacrados. Na noite de 4
de agosto a Assemblia votou a abolio dos direitos senhoriais, para acalmar
os camponeses. No dia 26 de agosto os deputados, inspirados nas idias dos
filsofos como Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau, votam a Declarao
dos Direitos do Homem e do Cidado, com dezessete artigos, o artigo primeiro
declarando que todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em seus
direitos. A 5 de outubro uma multido de parisienses vai a Versailles revoltada
com a oposio do rei abolio dos direitos senhoriais. La Fayette convence
o rei a se mudar para o Palcio das Tuileries, no centro de Paris, a fim de ficar
mais perto do povo e dissipar sua desconfiana. O rei se muda no dia seguinte,
6 de outubro. A Assemblia Constituinte tambm se aloja em Paris, ao lado do
palcio.
Apesar de todos os incidentes que a envolveram naquele ano, Madame de
Stal publica Courte rplique lauteur d'une longue rsponse. Tratava-se da
sua resposta crtica preconceituosa que recebeu de Louis-Ren Quentin,
marqus de Richebourg-Champcenetz, com respeito s suas Lettres sobre
Rousseau. O marqus comenta que a figura de Rousseau fora degradada,
duvida da legitimidade de uma mulher pretender ser escritora, e pede uma
"revirilizao" do meio literrio.
O ano de 1790 foi de grande efervescncia poltica em toda a Frana. Em Paris
multiplicam-se os jornais, os sales nobres tornam-se concorridos e formam-se
clubes populares para debates polticos. O advogado Maximilien de
Robespierre, deputado da Assemblia, torna-se presidente do clube dos
Jacobinos em maro. A Assemblia constituinte reforma em profundidade as
instituies do pas: divide a Frana em Departamentos, unifica pesos e
medidas criando o sistema mtrico, introduz o casamento e o divrcio civil, e
suprime vrios privilgios do clero e da nobreza que oneravam os cofres
pblicos, e confisca os bens da Igreja Catlica. O estado manter os
estabelecimentos religiosos de interesse social, conforme uma Constituio
Civil do Clero.

Madame Necker, publica Des inhumations prcipites. A 31 de agosto, nasce

em Paris o filho de Germaine, Auguste, o qual, aps a morte dela, haveria de
editar sua obra completa. A 30 de setembro seu pai demitiu-se do cargo de
ministro e foi cuidar de seus negcios na Sua. Ela o visita periodicamente.
Em outubro ela publicou, em pouqussimos exemplares, Sophie ou les
Sentiments secrets, e tambm Jane Gray, uma tragdia de fundo poltico. De
10 de outubro ao fim de novembro mora com os pais na Sua. Passa o incio
de inverno, de 6 de dezembro 1790 a janeiro 1791 em Lousanne.
Em dezembro de 1791 seu amante Narbone nomeado ministro da Guerra, em
parte graas ao seu trabalho e influncia.
Grande leitora de Rousseau, marcada pelas idias do Iluminismo, Madame de
Satl abraou com entusiasmo o movimento revolucionrio. Declarada a
Revoluo, ela orienta sua obra ainda mais para a poltica liberal. De janeiro a
maio de 1791 seu salo em Paris local de encontro dos polticos moderados.
Em 16 de abril Madame de Stal publica, apcrifo, no peridico Les
Indpendants, o seu primeiro artigo conhecido. Nele ela propugna por uma
monarquia constitucional como a da Inglaterra, e advoga a educao do povo,
que deve ter seus direitos polticos inteiramente respeitados. Os radicais
monarquistas e republicanos a atacam.
Neste ano, Louis XVI usa o poder de veto para paralisar os trabalhos da
Assemblia, em respeito reprovao do papa s medidas adotadas. Em 21 de
junho o rei tenta fugir do pas com sua famlia e preso em Varennes. Em 1
de outubro entra em vigor a primeira Constituio francesa, inaugurando uma
monarquia constitucional semelhante da Inglaterra.
Em maro de 1792 Narbone foi demitido; um dos ltimos ministros de Louis
XVI, pouco depois iria refugiar-se na Inglaterra. Em 20 de abril, a Assemblia
Legislativa e o rei Louis XVI declaram guerra Alemanha e ustria. No
vero a Frana invadida pelos exrcitos alemo e austraco. Em 14 de julho
ela assistiu, no Campo de Marte, a Festa da Federao e do terceiro aniversrio
da queda da Bastilha. Grande multido de gente vinda de toda a Frana estava
l reunida; o Rei fez novo juramento de respeitar a Constituio; foi a ltima
apario pblica da famlia real antes da decapitao do rei e da rainha. Ainda
em julho Madame de Stal, Narbonne e Malouet ofereceram ao rei um plano
de fuga, que a rainha recusou. Sua casa, a Embaixada da Sucia na rua de Bac,
era territrio relativamente seguro, apesar do embaixador seu marido
encontrar-se fora de Paris na ocasio. L ela escondeu e salvou no ms de
agosto vrios amigos que estavam condenados execuo.
Porm, a partir de ento, sua prpria situao torna-se insuportvel. Em 2 de
setembro do mesmo ano, milhares de prisioneiros so assassinados nas prises,
por instigao de Marat. Ela conta, conforme citao de Constance Hill em
Juniper Hall (1894 - on-line em http://digital.library.upenn.edu) que, naquela
data (estaria grvida do filho Albert), ao tentar sair de Paris, na condio de
esposa do embaixador da Sucia, foi detida por uma multido de revoltosos
atrados pelo luxo de sua carruagem puxada a seis cavalos e acompanhada de
vrios criados. Escapando em vrios momentos de ser massacrada pela

multido enfurecida na Place de Grve, local de incontveis decapitaes

durante a Revoluo, e onde a 25 de abril daquele ano fora utilizada a
Guilhotina em Paris pela primeira vez, ela foi levada pela polcia presena do
Conselho Comunal no Hotel de Ville. Salvou-a seu amigo, o escritor
revolucionrio Louis Pierre Manuel, procurador da Comuna de Paris e que, no
momento em que ela era ouvida pelo Conselho presidido por Robespierre,
declarou que se responsabilizaria por ela. Trancou-a em sua sala por seis horas,
esperando que escurecesse para lev-la em casa.
Da janela da sala em que estava confinada, Germaine viu um gendarme da
Guarda Nacional proteger sua carruagem prestes a ser saqueada. Mais tarde o
soldado entrou na sala com Manuel, e ela soube que ele era Antoine Joseph
Santerre, cervejeiro, e fora uma das pessoas encarregadas de distribuir aos
pobres, em poca de fome, o trigo conseguido por Necker, seu pai, quando no
poder. Ela deduziu que ele defendera seu carro e seus pertences na praa, em
reconhecimento bondade de seu pai.
No encontrei quais argumentos Manuel apresentou a Robespierre, mas
possvel que, por estar ela grvida - pois seu filho Albert nasceria pouco depois
- no quisessem assassinar um inocente no ventre da me. Aps as peripcias
para obter, com a orientao de Manuel, um novo passaporte, ela consegue no
dia seguinte, 3 de setembro, fugir para a Sua. Manuel morreria na guilhotina
em novembro do ano seguinte.
Uma nova Assemblia, chamada "Conveno" eleita e se rene pela primeira
vez em 20 de setembro de 1792. Nesse dia, em Valmy, no Argonne, os
prussianos foram derrotados pelos franceses e recuaram para a fronteira, e os
austracos batidos em Jemappes, na Blgica, uma possesso austraca. No dia
seguinte, os deputados da Conveno proclamam a abolio da monarquia. Em
10 de outubro uma multido invade o palcio das Tuileries e prende o rei e sua
famlia na priso de Temple.
O Salo em Coppet. Germaine permanece em Coppet at outubro, e depois
passa a Rolle, tambm margem do lago Leman, poucos quilmetros ao norte
de Nyon e de Coppet, onde a 20 de novembro de 1792 nasce o filho Albert.
Em fins de dezembro, ela parte para a Inglaterra. L encontra, em janeiro,
Narbonne e o bispo Talleyrand, Mathieu de Montmorency e outros refugiados
polticos franceses, abrigados na manso Juniper Hall, na vila de Mickleham,
no Surrey, e entre eles causou geral consternao, a notcia de que, a 21 de
janeiro de 1793, Louis XVI havia sido executado na guilhotina.
Em Juniper Hall ela viveu feliz em um ambiente a seu gosto, de debates
polticos, comentrios espirituosos e expectativa em relao ao que se passava
em Paris. Trabalhou no De linfluence des passions, e conheceu a romancista
Fanny Burney que passava frias nas vizinhanas e era sua admiradora. Mas a
amizade com a escritora inglesa foi breve. O pai de Fanny Burney,
influenciado pelos rumores que os monarquistas espalhavam a respeito da
baronesa, principalmente sobre seus amantes, ficou preocupado e no
consentiu na aproximao da filha com a ilustre refugiada francesa.

A 11 maro de 1793 comea na Frana a guerra civil com a revolta dos

camponeses do oeste do pas. A 28 maro constitudo o Tribunal
Revolucionrio para julgar crimes de traio. A 6 abril a Conveno confia o
governo a um comit chamado Comit da Sade Pblica dominado por
Robespierre. o incio da perseguio jacobina aos monarquistas e aos
republicanos moderados que no aceitam a ditadura. No dia 31 maio e 2 de
junho, os girondinos (monarquistas constitucionalistas e republicanos
moderados) so presos para serem guilhotinados.
A estada de Madame de Stal na Inglaterra foi interrompida, para seu grande
pesar, por um chamado de seu marido. O embaixador enviou um emissrio
sueco a Ostend, porto belga de movimentada ligao martima com a
Inglaterra, para esperar por ela e conduzi-la em segurana Sua. Depois de
quatro meses em Londres, em Junho, encontrava-se de volta a Coppet.
Conhece ento o exilado Adolphe Ribbing, um dos conjurados para o
assassinato de Gustave III, rei da Sucia, ocorrido em maro de 1792. Seus
pais esto em Lousanne. Ela comea a se interessar por ele. Aluga uma casa
perto de Nyon, margem do lago e pouco ao norte de Coppet, para l esconder
os refugiados do Terror, e tambm Ribbing, de quem se torna amante. A salvo
na Sua, em sua residncia de Coppet, publica, no incio de setembro do
mesmo ano Rflexions sur le procs de la Reine (Reflexes sobre o processo
da Rainha) onde toma a defesa da rainha humilhada e maltratada, acusada de
crimes que no teria cometido. Nesta obra mostra seu inconformismo com as
misrias da condio da mulher, ainda que seja uma rainha, e dirige a todas as
mulheres uma emocionante defesa por aquela outra que arrastavam na lama
antes de assassinarem.
No dia 13 de julho, Marat, um dos revolucionrios mais violentos,
assassinado por uma jovem monarquista, Charlotte Corday. Em 17 de
setembro, a Conveno vota uma lei que lhe permite prender, julgar e
guilhotinar qualquer um. o incio do Terror, perodo em que seriam
assassinados 20.000 cidados por motivos polticos.Os padres que mantm
fidelidade ao Papa so perseguidos e executados.A 16 de outubro a rainha
Maria-Antonieta guilhotinada.
Em 1794 sua me, Madame Necker, publica Rflexions sur le divorce. Ela
prpria publica, a 6 de abril, o romance Zulma, escrito havia algum tempo. A
15 de maio, Madame Necker morre em Beaulieu. Ento Germaine vem residir
no castelo de Mzery, prximo a Lausanne, onde permanece at o fim de
agosto, e faz fugirem da Frana vrios amigos ameaados de morte.
A 8 de junho de 1794 acontece a "Festa do Ente Supremo" sob o patrocnio de
Robespierre, autor da idia de uma religio nica para os franceses,
independente do Papa. A 27 de julho Robespierre e seus amigos so presos, e
guilhotinados no dia seguinte. o fim do Terror. No outono, seu marido, que
pode reabrir a embaixada em Paris, vem a Coppet.
Em fim de julho, Narbonne chega a Mzery. A ruptura ocorrer logo. Ribbing
permanece em Mzery uma parte do vero e viaja em 7 de setembro. A 18 de
setembro, Germaine encontra pela primeira vez Benjamin Constant em casa

de sua prima Constance Cazenove dArlens. Um intelectual sua altura,

escritor e poltico, porm um jogador sempre afundado em dvidas, Constant
imediatamente lhe faz a corte, por algum tempo sem sucesso. Era um ano e
meio mais novo, e ela termina por se apaixonar por ele. Viveriam um
relacionamento tumultuado, as mais das vezes grandemente frustrante para
ela., mas que haveria de durar por 14 anos. Ao fim do ano, sai uma primeira
edio, impressa na Suia por Franois de Pange, do Rflexions sur la paix
adresses M. Pitt et aux Franais.
A partir de janeiro de 1795 Constant vem residir em sua casa. Nesse ano,
ocorre a publicao, em Paris, do seu Rflexions sur la paix interieure e do
Recueil de morceaux dtachs (trs novelas e o Essai sur les fictions). Em
maio ela vai para Paris com Benjamin Constant e reabre aos amigos o seu
salo na rua de Bac. L se renem, entre outros, Destutt de Tracy e Cabanis.
Com o seu pensamento mais afinado com a Revoluo, o que ela agora
defende uma repblica liberal a exemplo dos Estados Unidos da Amrica.
A Assemblia da Conveno reprime os motins monarquistas e anti-realistas,
prepara uma nova Constituio e, a 1 de outubro de 1795, um novo regime, o
Diretrio, sucede Conveno. No regime do Diretrio, so instalados dois
Conselhos legislativos e um Diretrio executivo composto de cinco pessoas.
Em 15 de outubro, o Comit de Sade Pblica, rgo executivo da Conveno,
ordena a Madame de Stal deixar a Frana. A 22 de abril de 1796 o Diretrio
decretou sua priso se ela fosse encontrada na Frana.
Em fins de julho est de volta a Coppet e, no incio de outubro, ela publica De
linfluence des passions. Sua obra mais aplaudida talvez tenha sido o De
linfluence des passions sur le bonheur des individus et des nations, tambm
deste ano, um tratado sobre a relao entre as paixes e a felicidade,
considerado um importante marco do Romantismo Europeu. Ela adotou a nova
corrente literria desenvolvida principalmente na Alemanha, lendo o velho
crtico suo K.V. von Bonstetten; Humboldt e, principalmente, os irmos
August Wilhelm e Friedrich von Schlegel, que estavam entre os Romnticos
alemes mais influentes.
Sua filha Albertine, nascida em 8 de junho de 1796, foi tida como filha de
Constant. Seu casamento com o Baro de Stal-Holstein terminou com uma
separao formal, devido aos grandes dbitos do marido, contrados no jogo,
que se via compelida a resgatar. Neste ano, publicou Essai sur les fictions.
Goethe apreciar essa obra a ponto de traduzi-la para o alemo no ano seguinte
ao de sua publicao. O grande escritor passa a acompanhar com interesse os
trabalhos de Madame de Stal, juntamente com Schiller e o cientista Wilhelm
von Humboldt; este ltimo ser, a partir de ento, um dos amigos mais caros
para ela e insistiu que somente ela poderia tornar a cultura e o pensamento
alemo conhecidos na Frana. Em dezembro ela parte clandestinamente com
seu amante Benjamim Constant para a Frana. Fica na casa dele em Hrivaux.
frente do exercito francs, Napoleo conquista, naquele ano, o centro e o
norte da Italia, que rendero para a Frana os recursos que ela

desesperadamente necessita para recuperar suas finanas.

Napoleo Bonaparte. Em abril de 1797, Madame de Stal pode se reinstalar
em Paris rua de Bac. Em dezembro assiste a apresentao solene de
Napoleo ao Diretrio. Napoleo ento lhe pareceu o lder liberal que poderia
fazer triunfar a liberdade, o que a Revoluo no havia conseguido realizar.
Porm Napoleo sabia de suas idias polticas, contrrias s suas, e a olhava
como um perigo em potencial. Ainda em 1797 ela funda o Cercle
constitutionnel com Constant, e outros polticos e intelectuais moderados. Ela
influiu sobre Barras para que o amigo Talleryrand fosse nomeado ministro das
Relaes Exteriores; e em julho, ele foi nomeado para o ministrio.
Em setembro do mesmo ano de 1797, ocorre o golpe de Estado. Germaine
salva vrios amigos ameaados e se retira por algum tempo para Ormesson. A
18 de outubro de 1797, o gnral Bonaparte impe paz ustria acabando
com a antiga coalizo montada contra a Frana.
Em janeiro do ano seguinte mais uma vez retorna a Coppet. Neste ms
Napoleo frente do exrcito francs invade a regio do Vaud, na Sua.
Genebra cai em poder dos franceses. Em junho Germaine retorna Frana e se
instala em Saint-Ouen, na manso de seu pai.
Em 1798 a Frana ameaada por uma segunda coalizo de pases liderada
pela Inglaterra, com a liderana de William Pitt, o jovem. A Frana depende
dos impostos cobrados nos pases conquistados e no pode perder suas
conquistas.
A fim de economizar com as despesas de casa, Germaine se instala com os
seus na rua de Grenelle, em um Htel menos custoso que o da rua de Bac.
Escreve Des circonstances actuelles qui peuvent achever la Rvolution, um
apelo razo, para tirar a Frana da anarquia. Em outubro novamente retorna a
Coppet, onde passa o inverno. Constant se separa dela e volta a Paris. Ela
comea a escrever a obra De la littrature. Permanece em Coppet at abril,
quando volta para Saint-Ouen. Retorna a Coppet em julho e l permanecer at
o incio de novembro do ano seguinte.
No incio de 1799 a coalizo de pases que combate a Revoluo na Frana
pretende colocar Louis XVIII no trono; e o papa quer cobrar indenizao pelas
perdas da Igreja em Frana. Os membros do Diretrio que liderado pelo
abade Emmanuel-Joseph Siys (1748-1836), vigrio geral e chanceler da
diocese de Chartres, eleito deputado dos Estados Gerais pela cidade de Paris,
decidem confiar o pas a um general.
O General Napoleo Bonaparte, que estivera combatendo os ingleses no Egito,
desembarca em Frjus, a 8 de outubro, no propriamente vitorioso, tendo
deixado suas tropas no Egito impedidas de embarcar pela armada inglesa. De
volta, encontrou a Frana mergulhada na crise. Sieys, hbil poltico e membro
do Diretrio, planejou o golpe que poria fim ao regime revolucionrio. Com a
execuo, em 9 e 10 novembro de 1799 (18 de Brumrio) do golpe de Estado,
o regime do Diretrio transformado no Consulado, do qual o general

Bonaparte o Cnsul primeiro, e os dois outros, o advogado Pierre Roger

Ducos (1754-1816) eleito para a Conveno pelo departamento de Landes e
que havia votado pela morte de Louis XVI , e o abade Sieyes.
Aps o golpe de 9 de novembro, que inaugura o Consulado, Germaine e seu
grupo ainda vem no Primeiro Consul um possvel restaurador da Repblica.
No dia do golpe ela volta a Paris.
A 4 de dezembro, Constant nomeado, por Sieys, para o Tribunat dos
Consuls de la Rpublique. No entanto, o primeiro discurso de Constant no
Tribunat, nos primeiros dias de 1800, excita a clera de Bonaparte, o Primeiro
cnsul. O discurso fora preparado em casa de Germaine e ela encorajara
Benjamim a pronunci-lo. Em seu (Dez anos de exlio - Ed. do Projeto
Gutenberg, 2005) diz que, se soubesse a perseguio que sofreria devido a esse
envolvimento, talvez tivesse agido diferente. Napoleo tambm acusa Madame
de Stal de haver deixado seu marido na misria.
Apesar de sua frieza com respeito a Madame de Satl, Napoleo, desejando
seu apoio, havia aceito seu amante Constant no Tribunat, e atravs do seu
irmo Lucien Bonaparte, amigo de Germaine e freqentador de sua casa,
oferece pagar a Necker os 2 milhes que o Estado lhe devia. Quando, mais
tarde, na campanha para conquista da Itlia, ao passar por Genebra, procura
um encontro com seu pai. O ex-ministro simptico ao Cnsul, e sem tocar no
assunto do que tinha a receber do Tesouro, apenas encarece ao Cnsul um bom
relacionamento com sua filha. Em suas memrias Madame de Stal diz
acreditar que esse apelo de seu pai garantiu que ela pudesse permanecer em
Paris por algum tempo.
Em abril de 1800, Madame de Stal publica De la littrature dans ses rapports
avec les institutions sociales. O livro foi um sucesso e fez o seu salo, vazio
desde o atrito com Napoleo, novamente receber a elite de Paris. No entanto, o
que diz nesse livro que a literatura francesa precisava dos costumes de uma
repblica para se regenerar , desagrada o governo. Em maio, ela deixa Paris
por passar, como de hbito, o vero com seu pai em Coppet. L Constant se
junta a ela em julho; ela comea a redigir o Delphine e aprende alemo.
Trabalha tambm a 2a. Edio do De la littrature, que publicar ainda em
novembro, quando retorna a Paris. Retoma sua rotina usual de encontros entre
intelectuais e polticos em sua casa. Conforme relata, estrangeiros a tratavam
com distino, o corpo diplomtico a visitava constantemente, e estas provas
de prestgio eram sua salvaguarda.
Em 1801, em Coppet, ela conhece Sismondi, economista de Genebra, que vir
a ser um de seus amigos mais fieis. Passa os primeiros meses de 1802 em
Paris, e obtm sua separao do Baro de Stal, e retorna a Coppet.

O ex-marido falece em maio, em um albergue em Poligny, quando estava a

caminho de Coppet. Em agosto seu pai publica o Dernires vues de politique
et de finances, que aumentam o desfavor do pai e da filha perante o Primeiro
Cnsul. Ao final do ano, em Dezembro, publica Delphine, a histria de uma
jovem inteligente, boa e correta, que perde todas as iluses sobre os outros e
sobre si mesma, enredo que a autora utiliza para passar suas idias sociais,
polticas e religiosas, e tambm sua viso da condio inferior da mulher
mesmo nos pases mais civilizados. De 2 de novembro a 3 de julho reside em
Genebra.
Em fevereiro de 1803 e durante a primavera, devido guerra com a Inglaterra,
os ingleses residentes na Frana comeam a ser presos, medida que atinge a
vrios de seus amigos. Irritado com a repercusso do Delphine, a 10 de
fevereiro, o Primeiro Cnsul faz saber a Madame de Stal que ela devia se
manter fora de Paris. Porm, em setembro, pensando que Bonaparte j se
esquecera dela devido a estar muito ocupado com seus planos contra a
Inglaterra, ela retorna Frana; evitando Paris, se instala em uma pequena
propriedade que possua em Maffliers, a dez lguas da capital. Sua inteno
era passar ali o inverno e receber alguns amigos, e mesmo aventurar-se at
Paris para ir ao teatro e aos museus. Porm uma intriga dizendo que as estradas
estavam cheias de gente que ia visit-la, fez que o Primeiro Cnsul
determinasse, no incio de outubro, que ela deixasse a Frana. Em favor dela
falaram os irmos do Cnsul, Joseph e Lucien Bonaparte, e outros amigos,
mas ningum conseguiu demov-lo. Uma tarde chegou ao stio o comandante
da guarda do Palcio de Versailles, vestido paisana, com uma carta assinada
por Bonaparte, determinando que ficasse a uma distncia mnima de 40 lguas
de Paris, sob pena de ser tratada como estrangeira e entregue polcia.
Acompanhada do policial, tolerante em lhe permitir algum tempo para se
preparar, ela foi com os filhos a Paris, e ocupou por uns dias uma casa que
havia alugado pouco antes. Joseph Bonaparte voltou a interceder por ela,
novamente sem resultado. Por convite dele e de sua esposa, ela foi passar trs
dias com eles em sua casa de campo em Morfontaine, levando consigo o filho
Auguste.
Viagem Alemanha e Itlia. Decidiu, em lugar de voltar para a Sua,
seguir para a Alemanha, valendo-se de convites que havia recebido antes para
visitar a Prssia. Joseph Bonaparte conseguiu-lhe vrias cartas de
recomendao para Berlim. Acompanhada de Benjamim Constant e de seus
filhos, ela encetou viagem rumo a Alemanha. Pernoitaram em Chalons e no dia
seguinte alcanaram Metz, onde se deteve por 15 dias para trocar cartas com
seu pai, informando-o de seus problemas e de sua viagem. Em Metz, um
pouco ao sul de Luxemburgo, Em Metz conhece a Charles de Villers (17651815), um grande conhecedor da Alemanha. Ela decide escrever a respeito da
Alemanha cuja cultura era praticamente desconhecida para os parisienses.
Ela queria demonstrar a Napoleo Bonaparte que no era uma qualquer: A
celebridade de seu pai e a dela prpria era uma garantia de que seria recebida
em todas as cortes. Mas, o que realmente a tornava importante era a
hostilidade com que era tratada por Napoleo. Realmente, as portas se abrem

para ela e as Cortes lhe do tratamento digno de um Chefe de Estado. Em

meados de novembro detm-se em Frankfurt, por motivo de doena da filha
Albertine, ento com cinco anos. Nessa ocasio troca cartas com o pai, que lhe
envia opinio de mdicos e receitas para a netinha. Recuperada a sade da
menina, prossegue seu itinerrio para nordeste at Weimar, onde permanece de
dezembro a fevereiro do ano seguinte, e onde Benjamim Constant a encontra e
novamente se une a ela. Foi recebida com familiaridade na Corte de Weimar,
visita com freqncia Goethe, Schiller e Wieland. Ela se surpreendeu com o
grande progresso intelectual que descobriu em Weimar. Anotou os costumes, a
psicologia do povo. Estudou a lngua alem para ler e traduzir ela mesma as
obras dos escritores que conheceu, e de outros intelectuais que ainda
encontraria no caminho, como o j famoso Auguste Wilhelm Schlegel que,
junto com seu irmo, representavam o movimento intelectual Sturm und
Drang.
Em maro de 1804, ela passa de Weimar para Leipzig, de onde Constant
retorna a Genebra. De l, agora rumando para o Norte, chega a Berlim, onde
permanece por quase um ms e meio (de 8 maro a 19 de abril). apresentada
corte, e freqenta os sales berlinenses, onde conheceu Schlegel; ela o
convence a ser o preceptor de seus filhos. Mas seu cicerone na Alemanha foi
um jovem ingls estudante em Jena., Henry Crabb Robinson.
Seu pai falece em 9 de abril. Acreditando que ele estivesse apenas doente, ela
deixa Berlim somente no dia 18 . Em quatro dias chega a Weimar, onde
informada do falecimento do pai e encontra Benjamim que viera confort-la.
A 19 de maio chega a Coppet, onde permanece at 1 de agosto. L Germaine
se recusa a se casar com Benjamim Constant, para no perder o sobrenome
Stal e o ttulo correspondente. No outono, ela publica os Manuscrits de
M. Necker, com uma introduo Du caractre de M. Necker et de sa vie
prive. Passa de agosto a setembro em Genebra, e de setembro a novembro em
Coppet.
Ainda de luto pela morte do pai, em dezembro, depois de alguns dias em Lyon,
ela parte para a Itlia com o preceptor Schlegel. Sismondi se juntar a eles no
caminho e ser seu guia na Itlia. Passam por Turin, e o ano novo em Milo,
onde reencontra o poeta Vincenzo Monti.
Em fevereiro de 1805, visita Roma e vai a Npoles, onde recebida com
grande deferncia pela rainha Carolina. Retorna a Roma onde permanece de
maro a maio; frequenta a sociedade romana e encontra o seu amigo o cientista
e diplomata Wilhelm von Humboldt, e flerta com um jovem diplomata
portugus, dom Pedro de Souza, futuro duque de Palmella. Foi aplaudida no
Capitlio pela Academia das Arcdias.
Em maio, fazendo seu percurso de volta, passa por Florena e Veneza. Em
junho chega de volta a Milo, aps a coroao de Napoleo como Rei da Itlia.
Em 12 dias chega a Coppet, onde passaria ainda sete anos de exlio. Passou um
ano entre Coppet e Genebra. Em o Dix annes dexil ela expe, com
eloqncia, a luta desigual do indivduo desarmado contra um poder tirnico.

Constant insiste em despos-la, mas ela mais uma vez recusa. Reencontra
Prosper de Barante, com o qual mantem uma ligao amorosa. Ela comea o
romance Corinne. Em agosto do mesmo ano seu filho Auguste de Stal parte
para Paris, afim de se preparar para a Escola Politcnica. Em agosto ela recebe
em Coppet uma visita de Franois-Ren de Chateaubriand, autor de Le gnie
du Christianisme (Paris, 1802). Ela compe o drama Agar dans le dsert. No
inverno, ela e Constant se instalam em Genebra.

MADAME DE STAL
Pgina de Filosofia
Contempornea
escrita por Rubem Queiroz
Cobra
(Site original:
www.cobra.pages.nom.br)

II PARTE
(Para voltar ao incio clique em Parte I)
Em abril de 1806 Madame de Stal arrisca-se a ir Frana,
enquanto Napoleo fazia a guerra da Prssia e da Polnia..
Auguste cursava preparatrios para entrar na Escola Politcnica, Infncia e
juventude onde Napoleo impedir que ele se matricule -, e ela desejava
acompanhar seus estudos. Para tal necessitava estar a pouca
Salo em
distancia de Paris, violado o limite fixado para seu afastamento
Paris
da capital. Instalou-se sucessivamente em Auxerre e Rouen e por
ltimo, com a conivncia do amigo Fouchet, ficou, de fins de
Salo em
novembro a abril de 1807, a apenas doze lguas de Paris, no
Coppet
castelo dAcosta, prximo a Meulan, onde conclui o Corinne.
Perodo
Constant ento l para ela o seu Adolphe. Ela se v retratada
napolenico
pejorativamente no romance, e lhe faz uma cena violenta.
Sntese

Viagem
Alemanha e
Itlia

Ao retornar ao pas, no incio de 1807, Napoleo se irrita ao saber

que Madame de Stal est novamente prxima de Paris, e ela
recebe ordem de partir. Receosa, em abril ela volta para Coppet
A fuga
aps passar clandestinamente alguns dias em Paris. publicado
Restaurao em Paris ao fim de abril ou incio de maio, o romance Corinne,
ou lltalie, que alcana grande sucesso. A personagem Corina,
Pensamento
meio italiana, meio inglesa, guia um lorde escocs pela Itlia.
Leva-o a conhecer os lugares histricos mais sagrados da cidade,
tanto da repblica romana quanto do cristianismo, e os esplendores do

Renascimento. O romance est ambientado tambm nos campos e nas vilas

italianas. O personagem Oswald acusado de franqueza e irresoluo,
resultante do abalo de suas posies patriarcais por estar submetido a uma
mulher inteligente a quem ama e obedece.
O povo l com interesse as aventuras de de Corinne e lorde Oswald. Mas o
livro tambm levanta comentrios jocosos e Constant se sente visado por
artigos de crticos que vm nas duas personagens a prpria autora e seu
amante.
O grupo de Coppet, no qual liberais e monarquista se misturam, rene
Constant, Juliette Rcamier e vrios escritores romnticos, franceses, alemes,
e de outros paises, que vm confraternizar e trabalhar, escrever, encenar peas
e traduzirem suas obras. Recebeu uma visita de alguns meses do Prncipe
Augustus da Prssia. No outono ela escreve o drama Genevive de Brabant. O
preceptor Schlegel publica Comparaison entre la Phdre dEuripide et celle
de Racine, obra que levanta polmica na imprensa.
Em dezembro de 1807 viajou para passar um ano em Viena, na corte do
Prncipe de Ligne. Enquanto est em Viena, Napoleo concede uma audincia,
em Chambry, a seu filho Auguste de Stal. Ele pede inutilmente ao imperador
permisso para a me voltar a residir em Paris.
O inverno desse ano brilhante e festivo para ela, em meio sociedade
vienense. Freqenta o teatro e se liga ao Marechal de Campo Conde Maurice
ODonnell, de 27 anos, filho do Ministro das Finanas da ustria, caso que
termina ao fim do vero. V muito ao prncipe de Ligne e trabalha com ele em
uma antologia de textos. O preceptor Schlegel. d um curso de literatura
dramtica. Em 22 de maio ela deixa Viena. Por volta de 6 de julho j est em
Coppet e comea a escrever o De lAllemagne. ( filhilho do .
Recebe em Outubro e novembro a Voght, o filantropo, e Oehlenschlger e
Zacharias Werner, dramaturgos. Ela encena sua pea La Sunamite. Em fins de
novembro ela se instala em Genve. Em meiados de dezembro ela encena sua
comdia La Signora Fantastici.
Em 1809, passa o inverno em Coppet. No incio de fevereiro, publica com
grande sucesso as Lettres et penses du prince de Ligne. Instala-se de volta em
Coppet no fim de abril, para passar o vero. visitada por Charlotte de
Hardenberg, que lhe revela seu casamento secreto com Benjamim Constant,
ocorrido em junho do ano anterior, um golpe emocional para ela, mas
concorda que o segredo seja mantido.
Em abril de 1810, tendo terminado os trs volumes do De l'Alemagne, ela
desejou supervisionar a impresso da obra, apesar de ter que violar o limite
que lhe fora imposto de 40 lguas de Paris. Ela consegue instalar-se nas
vizinhanas de Blois, no antigo castelo de Chaumont-sur-Loire, onde havia
residido Catherine de Medicis. O proprietrio, Monsieur Le Ray, amigo da
famlia, achava-se em viagem aos Estados Unidos. L recebe numerosos
amigos, inclusive Constant. D incio impresso do De lAllemagne. Com

esta nova obra, que ela havia comeado a redigir em 1808 e termina em 1810,
queria que os franceses aprendessem tudo sobre a Alemanha: aspectos fsicos e
culturais, e a sua histria. um estudo profundo dos hbitos alemes, sua
literatura e arte, sua filosofia, moral, e religio, no qual ela revela aos seus
contemporneos a Alemanha do movimento Storm und Dran ocorrido de 1770
a 1780. Ela se interessa pelo conde de Balk, mas a ligao terminar em
outubro.
Com o retorno de viagem dos proprietrios do castelo de Chaumont, Madame
de Stael muda-se, em agosto, para uma casa de fazenda chamada Fosse,
colocada sua disposio por um generoso amigo. Morava na fazenda um
soldado, que a serviu com grande prestimosidade. Sua grande amiga, Juliete
Recamier, considerada uma das mais belas mulheres da Frana, veio visit-la.
Os camponeses e moradores da vila prxima vinham ver pelas janelas,
curiosos, aquelas pessoas diferentes, que tocavam instrumentos, cantavam,
declamavam. Certo dia, tendo ido ao precrio teatro em Blois ver a
representao da pera Cinderella, os curiosos a seguiram pela rua,
interessados em conhecer a nobre senhora exilada.
Nesse ambiente buclico, ela termina, em setembro, de corrigir as provas do
De lAllemagne, encerrando 6 anos de trabalho. A obra impressa, mas no
chega a ser distribuda. Germaine fora visitar Mathieu de Montmorency, que
possuia um castelo em meio floresta, a cinco lguas de Blois. Na sua
ausncia, seus filhos e amigos na fazenda Fosse receberam a notcia de que os
livros j impressos haviam sido confiscados na Editora e destrudos pela
polcia. O filho Auguste foi avis-la e ela, retornando a Fosse no dia seguinte,
foi obrigada a entregar os manuscritos ao prefeito de Loir e Cher. Mas lhe
passou apenas um rascunho, que ele aceitou, enquanto os originais haviam
sido escondidos por Auguste. Sua indignao grande, uma vez que a obra
havia recebido aprovao da censura e permisso para ser impressa. Ela
pensou em seguir para a Inglaterra, mas foi indiretamente impedida pelo Chefe
de Polcia, que proibiu seu embarque por qualquer dos portos do Canal, onde
navios americanos poderiam transport-la para um porto ingls.
Como Corinne, ou De l'Italie, o romance Delphine, ou De lAllemagne
continha uma crtica implcita da poltica de Napoleo, e ele viu o perigo;
considerou o livro anti-Francs. Porm, como os originais e muitos textos de
prova escaparam polcia, o livro pde ser publicado na Inglaterra em 1813.
O Corinne pode ser considerado o resultado de seu passeio na Italia, assim
como os frutos de sua visita Alemanha esto contidos no De lAllemagne.
Em Delphine, ela se concentrou sobre a sociedade parisiense, seus sales, as
dificuldades provocadas pela Revoluo aos seus eventos intelectuais e
festivos. Corinne, mulher de gnio, poetiza et artista, ela tambm vtima de
uma sociedade inglesa repressiva. A Inglaterra no um bom modelo de
liberdade social, tanto quanto um modelo de poltica constitucionalista. E,
como sempre, as mulheres so as primeiras vtimas. Mas a maior parte do
romance se passa na Itlia.
Nos primeiros dias de outubro de 1810, ela parte para Coppet; estando a Sua

tambm sob o domnio de Napoleo, ela permanente vigiada, e proibida de

escrever e publicar qualquer coisa. Napoleo d ordens, o Prefeito de Genebra
se encarrega de cumprir.
Em maio de 1811, por prescrio mdica, ela leva Albert, o filho mais novo,
para banhos no balnerio de Aix, na Savoia, a 20 lguas de Coppet. Ela
comunicou ao prefeito essa ausncia. Dez dias depois o prefeito enviou um
emissrio com uma ordem para ela retornar. Assim como fora proibida de
embarcar em qualquer porto do canal da Mancha, agora estava proibida de
alugar cavalos a qualquer postilho, para assim impedi-la de deixar a Frana e
viajar para a Inglaterra.
Schlegel, que por oito anos fora preceptor dos filhos de Madame de Stal,
recebe ordem de deixar Genebra e se afastar de Coppet. Seus filhos tambm
foram proibidos de ir sem licena Frana, uma punio por terem os dois
rapazes tentado falar com Napoleo, em favor de sua me. O filho Auguste
fica impedido de entrar para a Escola Politcnica.
Em novembro se instala em Genebra, para o inverno. Reencontra o jovem
oficial "John" Rocca, de 23 anos, que fora ferido na guerra da Espanha e
dispensado dos granadeiros, e que se apega a ele com paixo.
Em fins de fevereiro de 1811, Capelle substitui a Barante pai na prefeitura de
Lman. A vigilncia sobre ela redobra. O prefeito de Genebra comunica-lhe
que no poderia se afastar de Coppet mais de duas lguas. Os amigos de Paris
j no a visitavam, para no se indisporem com Napoleo. Ela se v sem poder
receber os amigos, cuidar convenientemente dos filhos, sem poder publicar
suas idias. Por insistncia do preceptor Schlegel, ela pensa em fugir.
No decorrer do ano, Madame de Stal comea a escrever o que seria mais
tarde o livro Dix annes dexil; ao mesmo tempo escreve e publica o drama
Sapho, les Rflexions sur le suicide, que lembra o personagem de Corina sobre
o fundo trgico da mulher genial vtima do amor. Rene, tambm, elementos
para um projeto a respeito de Ricardo Corao de Leo, em cuja vida
comumente buscada a origem das idias liberais. Interessa-se tambm pela
recem divulgada filosofia de Kant, que lhe parece capaz de nutrir a filosofia
francesa.
Ela faz planos para fugir da Sua. Deseja voltar Inglaterra e examina o mapa
da Europa procurando um itinerrio que ficasse fora da jurisdio de Napoleo
e no v outra possibilidade seno passar pela Rssia, que j se achava na
iminncia de ser conquistada pelo Imperador, e de l alcanar a Sucia, de
onde poderia seguir para Londres. Havia o problema do passaporte: como
requerer ao imperador Alexandre da Rssia sua entrada no pas, sem que o
embaixador francs naquele pas tivesse notcia de sua viagem?
Um grande lenitivo foi Mathieu de Montmorency aceder em visit-la. Apesar
da proibio de deixar Coppet, ela foi receb-lo em Orbd, e visita com ele
vrios pontos de interesse na Sua, acompanhados do filho Auguste. Quando
retornaram, o prefeito de Genebra censurou-a pela desobedincia mas

prometeu que no comunicaria o fato s autoridades em Paris.

Em 1811 casou secretamente com o oficial suo, seu amante. Em abril do ano
seguinte d luz secretamente em Coppet a Louis-Alphonse Rocca.
Os dias que o Senhor de Montmorency passou em Coppet custaram-lhe a
perseguio do Imperador. O correio que levou a notcia de que ele estava em
Coppet, voltou com a carta de seu banimento da Frana. Pouco depois o
mesmo aconteceria a sua bela amiga Madame Recamier, que ao dirigir-se ao
balnerio de Aix na Saboia, pretendia deter-se em sua casa para uma visita.
Apreensiva com essa notcia, ela enviou um mensageiro encontrar Madame
Recamier no caminho para convenc-la a no passar por Coppet, mas a amiga
insistiu e Madame de Stael chorou convulsivamente ao abra-la quando
entrou no castelo. A amiga no escapou ao mesmo golpe que atingir o Senhor
de Montmorency: foi desterrada em razo de sua visita de poucas horas a
Madame de Stal. Em agosto, o Senhor de Montmorency deixou Coppet, por
insistncia de sua famlia em distanci-lo da baronesa.
A fuga. Dividida entre o desejo de escapar para a Inglaterra, os riscos da
viagem e a possibilidade de nunca poder voltar a sua terra natal e seu circulo
de amigos, ela perambulava pelo jardim do castelo imersa em pensamentos.
Permanecer na Suia, pais que estava subjugado pelo Imperador - como de
resto quase toda a Europa -, era esperar que o crculo finalmente se fechasse
inteiramente e ela terminasse presa ou fosse executada. E se perguntava o que
seria de seus filhos se tal acontecesse. Por outro lado, tinha recursos
suficientes para a viagem, por longa e dispendiosa que fosse, e tambm para
viver em Londres. Comeou a se preparar secretamente para fugir, antes que a
ltima rota de fuga se fechasse. E essa rota exigia uma longa volta pelos
confins da Europa.
Rezou uma hora diante do tmulo de seu pai e ento sentiu-se convencida da
necessidade de partir. Em 23 de maio de 1812, no meio da tarde, deixou o
castelo com os filhos, sem levar nenhuma bagagem. Os criados de nada
sabiam. Avisou que voltaria hora do jantar. O filho mais novo permaneceria
em Coppet. O filho mais velho e o oficial Roca levavam nos bolsos o dinheiro
necessrio para os primeiros dias de viagem. Viajaram toda a noite e no dia
seguinte, at uma casa de fazenda depois de Berna, onde havia combinado de
entrar o preceptor Schlegel, que havia se oferecido para acompanh-la na fuga.
Depois de acompanh-la no primeiro dia de viagem, seu amante Roca retornou
a Genebra para concluir alguns negcios e voltar a encontr-la mais frente..
Tambm despediu-se do filho mais velho, que estava com a grave
responsabilidade de obter do embaixador da ustria, para os fugitivos, em
Berna, os vistos para a entrada naquele pas e retornaria a Coppet. O filho
mais novo, Albert, deixaria o castelo para juntar-se me em Viena levando
seus criados e a carruagem prpria para longas viagens. Somente esta segunda
movimentao foi notada pela polcia, mas Madame de Stl j se encontrava
fora de seu alcance.
Em Insbruck visita o tmulo do Imperador Maximiliano. Continuando, chega

a Salzburg, capital do bispado de mesmo nome, onde recebe a aterrorizante

notcia de que um agente do governo francs havia indagado por uma
carruagem vinda de Insbruck na qual viajavam uma senhora e sua filha, e
estava na estrada para intercept-la. Madame de Stal aterrorizada, combinou
com Schelegel igualmente alarmado que buscaria um esconderijo na
cidade, e que ele continuaria com sua filha para a ustria. Caso fossem
alcanados pelo agente, diriam que ela j se encontrava na ustria e que iam
se juntar a ela. Ela esperaria em Salzburg mais alguns dias e depois iria para a
ustria disfarada de camponesa. Quando iam por em prtica o plano,
apareceu seu amante Roca na estalagem: era ele o agente! Ele se fizera passar
por emissrio do governo francs afim de ser atendido com mais rapidez na
troca de cavalos e, seguindo por outro caminho, conseguiu chegar antes dela
fronteira da ustria e inteirar-se de que a a passagem estaria aberta para ela.
Imensamente aliviada e feliz, saiu a passear com a filha e os amigos, para
conhecer a cidade. Aguardou na Abadia de Molk o filho Albert que deveria
juntar-se a ela trazendo outro carro, os criados e sua bagagem.
A ustria, com sua moeda desvalorizada e os altos impostos determinados por
Napoleo, no era o mesmo pas feliz que ela visitara quatro anos antes. Ela
chegou em Viena a 6 de Junho, e logo solicitou ao embaixador russo um
passaporte para a Rssia. No teve a mesma recepo que da vez anterior em
que estivera em Viena, porque os prncipes estavam em uma conferncia
convocada por Napoleo, em Dresden.
Os primeiros dez dias em Viena passaram desanuviados e apesar da ausncia
dos soberanos, que estavam... achou-se em meio a uma sociedade cujo modo
de vida correspondia ao seu prprio refinamento. Porm a situao mudou
depois que o chefe de polcia recebeu instrues a seu respeito: passou a ser
vigiada de perto. Era seguida por espies em qualquer lugar que fosse.
Constrangida com aquele acossamento ostensivo, decidiu prosseguir viagem,
sem receber os passaportes russos. Relata que deixou um de seus
companheiros na capital austraca, incumbido de alcan-la mais frente com
os passaportes, assim que os recebesse.
Deteve-se por alguns dias em Brunn, capital da Moravia, e passando por
Lanzut, chegou fronteira russa em Brody. Por toda a Polnia, em cada posto
de troca, sua carruagem era assediada por judeus que ofereciam objetos,
mendigos barbudos e por soldados ou funcionrios que inspecionavam o
veculo e os passaportes dos viajantes. Havia em todos os postos policiais o
aviso de que seus passos deveriam ser cuidadosamente vigiados. A polcia
austraca enviou tambm a descrio de Rocca a todos os postos ao longo do
caminho com ordem pois havia ordem de priso para ele devido a ser um
militar francs e estar protegendo uma inimiga do Imperador - , e se fosse
preso seria recambiado Frana e, por ser um oficial, l seria executado por
traio. Ele passou a viajar em separado, disfarado e com um nome falso.
Madame de Satl ansiava por encontrar na Polnia, em Lanzut, o prncipe
Henry Lubomirska e sua esposa, os quais ela havia hospedado em Genebra por
vrios prazerosos dias. No incio de julho chegou ao principado. A visita seria

rpida, porque Napoleo havia declarado guerra Rssia e o avano do seu

exrcito poderia cortar-lhe o caminho para o Bltico. Essa visita foi
traumtica. Foi obrigada a admitir a companhia de um policial insolente e
grosseiro, e sua irritao foi to grande que teve um ataque de histeria, e seu
filho e e o preceptor Schlegel, ajudados pelos criados tiveram que tir-la da
carruagem e sent-la beira da estrada at recuperar-se. Seus sobressaltos no
terminaram a, porque seu amante, o oficial Roca, que viajava em separado e
incgnito -j havia se antecipado a ela e, sem saber que ela estava
acompanhada de um policial, veio receb-la junto com o prncipe entrada do
castelo; poderia ter sido preso, se ela no lhe fizesse sinais para afastar-se.
Quando entendeu toda a situao o prncipe no apenas aceitou mesa o
repugnante espio, como tambm proporcionou meios a Rocca de escapar sem
ser notado.
Madame de Stael passou uma noite no castelo. O policial tinha ordens
inclusive de dormir no mesmo quarto que ela, pois no devia perde-la de vista
por um instante sequer. Mas renunciou a esse dever, que com certeza seria
impedido por todos de cumprir. No deu mais nenhum trabalho, depois que a
secretria do prncipe fez que os criados o deixassem bbado.
Apesar de extremamente abalada emocionalmente, Madame de Stal
continuou sua viagem, passando por Leopol (Lemberg ou, em Polons,
Lwow), capital da Galicia (a Polnia ocupada pela ustria, atual Ucrnia),
onde obteve permisso para cruzar a fronteira russa (para a ento Rssia
kievana). Estava livre da perseguio a partir daquele dia que era exatamente
14 de julho, aniversrio da Revoluo Francesa.
A primeira pessoa com quem pde conversar na Rssia foi um francs que
havia sido funcionrio do Banco de seu pai. Agora tratada com considerao e
respeito, teve o oferecimento de um mdico para ser seu intrprete. Foi
informada de que a estrada para Petersburg estava interrompida pelo avano
do exrcito francs em territrio russo e que teria que ir a Moscou para de l
seguir para aquela cidade, ponto de passagem para a Sucia.Seriam mais 200
lguas de viagem, e ela j havia percorrido 1.500. Atravessou a parte russa da
Polnia. Em Kiev o grupo visitou catacumbas semelhantes s romanas. O
governador da provncia cumulou os visitantes de gentilezas.
No restante do percurso at Moscou o seu cocheiro russo apressou os cavalos;
a rapidez da viagem foi facilitada pelas planuras. Nos dias consumidos nesse
trecho, anotou uma infinidade de detalhes a respeito da topografia, da
agricultura, dos costumes, do comrcio. Planuras de areia, florestas de btulas,
vilazinhas de casas de madeira separadas por grandes distncias. Tambm
cruzaram com tropas de cossacos com longas lanas nas mos a caminho da
frente de batalha. Em Orel e Toula foram tratados com grande hospitalidade.
Foi recebida com apreo pelo governador da provncia e sua esposa. Para
surpresa sua, por estar to distante da Frana, pessoas de distino vinham
estalagem em que estava para cumpriment-la pela sua obra literria.
Encontrou Moscou em clima de preparao para a resistncia s tropas
invasoras de Napoleo. No incio de agosto lhe foi permitido visitar o Kremlin.

Conheceu o arsenal e os aposentos reais dos czares. Subiu ao topo da torre da

catedral, de onde pode admirar toda a cidade. De Moscou seguiu, passando por
Novogorod, para So Petersburgo, onde estava a famlia real. Relata sua
felicidade ao ver a bandeira inglesa em navios surtos no porto, para ela um
smbolo de liberdade. Frente sua casa havia uma esttua eqestre de Pedro I.
No dia seguinte sua chegada recebeu o convite para jantar, de um dos mais
ricos comerciantes de So Petersburgo.
Visitou a Igreja de Nossa Senhora de Casan, construda por Paulo I copiando a
Igreja de So Pedro, em Roma. De l foi ao convento de Santo Alexandre
Newski. O ministro de assuntos estrangeiros da Russia, Romanzow,
dispensou-lhe muita ateno.O Conde de Orloff e esposa convidaram-na para
passar um dia em sua ilha, onde estavam as residncias de vero da nobreza e
da prpria famlia imperial. Foi recebida pelo Imperador e pela Imperatriz na
residncia imperial, e visitou a me do Imperador no palcio de Taurida. Em
fins de agosto, no palcio do prncipe Narischkin participou de uma festa
interminvel, durante a qual o conde props um brinde aos exrcitos unidos da
Rssia e da Inglaterra e fez disparar canhes de sua artilharia ao momento do
brinde. A primeiro de setembro E prestou homenagem a Catherine II visitando
o palcio Czarskozelo, de magnficos jardins. Visitou o museu de histria
natural e o Instituto Santa Catarina, criado pela Imperatriz para a educao de
moas, tanto da nobreza quanto do povo.
Em fins de setembro deixou Petersburg e seguiu por terra para Abo (em
finlands, Turku), antiga capital da Finlndia, antes do domnio russo (1809).
Grande nmero de seus novos amigos vieram despedir-se dela, de Schlegel e
de seus filhos.Durante o trajeto pela Finlndia dedicou-se a observar com a
mesma acuidade e interesse a fisiografia - contrastando os rochedos e
montanhas granticas com as planuras e os pntanos da Rssia - o tipo fsico
da populao e os costumes. No havia castelos de nobres onde se hospedar:
hospedava-se em casa de Pastores da Igreja, como era costume para os
viajantes naquele pas.
Em Abo embarcou para Stockholm. Foi-lhe de grande apoio o preceptor
Schlegel, que tudo fez para dissipar seu horror de navegar entre as ondas
gigantescas do Mar Bltico, em um frgil barco, em grande parte com ventos
desfavorveis que atrasaram a travessia. Passando pela ilha de Aland,
chegaram a Stockholm, onde ela foi cercada de estima pela sua envergadura
intelectual e de respeito por ser baronesa naquele pas. Sua primeira
preocupao foi utilizar as notas do seu dirio de viagem e escrever grande
parte do rascunho para o Dez anos de exlio, que pretendia publicar.
Passa quase um ano na capital sueca, de 24 setembro de1812 a junho de 1813.
Comea a escrever a vida de seu pai, exaltando suas aes no governo, e narra
os episdios dos dias negros da Revoluo. Posteriormente ampliou o texto
com uma sntese de suas prprias propostas de reforma, inspiradas no sistema
poltico ingls, e alterou o ttulo para Considrations sur les principaux
Evnmens de la Revolution Franaise; mas no chegou a public-lo, tarefa de
que se encarregaram seu filho e seu genro o baro Auguste de Stal e o

duque de Broglie.
Em janeiro de 1813 publica Rflexions sur le suicide, no qual ela condena
algumas idias que ela havia por muito tempo sustentado. A 18 de junho chega
em Londres onde foi recebida com entusiasmo. Seu guia na Inglaterra foi Sir
James Mackintosh, um editor Escocs. As observaes que fez no pas ela
incluir em seu livro Considerations sur Ia Rvolution francaise, no qual
abordar a vida e as idias constitucionalistas de seu pai, e mostrar a
Inglaterra como um modelo de sistema poltico para a Frana. Em Londres ela
reencontra o futuro rei Louis XVIII em quem ela v o homme capaz de realisar
a Monarquia Constitutional na Frana. Porm percebe tambm a m influncia
que tem sobre o futuro monarca os arrogantes refugiados franceses que o
cercam.
Pouco depois de chegar a Londres tem notcia de que o filho Albert, fora morto
em um duelo, na Sucia.
O De lAllemagne, proibido na Frana, editado em francs, em Londres.
Edita alguns novos trabalhos e outros mais antigos, que aguardavam
publicao: Zulma e trs novelas, e o seu Essai sur les fictions.
Em abril de 1814 ocorre a abdicao de Napoleo. Com a queda do Imprio
ela pode retornar a Paris, e se instala em Clichy. Porm estava profundamente
decepcionada com o fracasso da Revoluo, o perodo napolenico e o retorno
iminente da monarquia.. Ela aceita os Bourbons a contragosto. Ela lamenta a
adeso de Benjamim Constant, mas aprovar o Ato Adicional que ele redigiu
promulgado a 20 de abril. J em maio reabre em Paris o seu salo e volta a
receber prncipes, ministros e generais. Providencia a traduo do livro Cours
de littrature dramatique, do preceptor Schlegel, por Albertine Necker de
Saussure, sua prima, e o publica. Porm, com o retorno imprevisto de
Napoleo, durante os 100 dias em que consegue escapar aos ingleses e
reassumir o governo, est obrigada a novamente deixar Paris. De 19 de julho a
30 de setembro se reinstala em Coppet onde recebe a solidariedade de
inmeros amigos, principalmente ingleses, tambm obrigados a fugir de Paris.
Madame Rcamier, hospedada em seu castelo, cortejada apaixonadamente
por Benjamim Constant.
A Restaurao. Em setembro de 1815, Madame de Stal adere e apia aos
Bourbons, aps a aventura dos Cem-Dias de Napoleo e sua derrota pelos
ingleses em Waterloo.
Em janeiro de 1816, est em Milo, e publica De lesprit des traductions, e
depois vai passar o resto do inverno em Pisa para cuidar de Rocca, que est
muito doente. Em Piza, em fevereiro, realizada a festa do casamento de sua
filha Albertine com Achille-Lonce-Victor-Charles, III Duque de Broglie
(1785-1870), estadista liberal e diplomata, cujos pais foram prisioneiros
durante o Terror. Seu pai foi guilhotinado em 1794, mas sua me havia
conseguido escapar e fugir com os filhos para a Sua. Para o vero daquele
ano retorna Coppet, onde Lord Byron, deixando a Inglaterra magoado com
uma experincia matrimonial infeliz, foi encontr-la. Uma slida amizade

desenvolveu-se entre a escritora e o poeta ingls.

Sua sade estava declinando. Aps a partida do amigo Bayron, ela retornou a
Paris para passar o inverno onde encontrou muitos dos antigos monarquistas
refugiados da Inglaterra e que no tinham simpatia por suas posies polticas.
Apesar disso e da desconfiana com que foi recebida pela nobreza restaurada,
ela reabriu seu salo, agora em sua nova casa rua Royale, para encontro com
intelectuais at a primavera.
Em fevereiro de 1817 ficou paraltica e presa ao leito, aps um mal sbito
durante um baile em casa do duque de Decazes. Em Abril sua sade agravouse. Faleceu em Paris na data significativa de 14 de Julho, em 1817, em uma
casa onde os amigos se revezavam para assisti-la, na rua Maturins
Ao fundo de um bosque de faias ramadas, por trs do Castelo de Coppet, est o
mausolu em que repousam os restos mortais de Madame Necker, de seu
marido e de sua filha Germaine. Ao tempo em que foram sepultados seus pais,
eram duas cubas gmeas de mrmore cheias com aguardente de uva (esprito
de vinho) em que estavam mergulhados os corpos; o mausolu foi aberto para
receber o sarcfago de sua filha, Germaine de Stal.

II - Pensamento
Madame de Stal no apenas se engajou na luta dos pensadores iluministas de
sua poca contra a influncia da Igreja, mas tambm trabalhou pela definio
dos princpios do Liberalismo tanto na Frana como na Sua. Tornou-se um
elo entre os adeptos do liberalismo de antes e de depois da Revoluo.
Advogava a maior liberdade individual possvel, e chamou absurda a idia de
proceder de Deus a autoridade entre os homens. Era favorvel
desapropriao das terras da Igreja e abolio de todos os privilgios dos
religiosos, que tinha como inimigos da Revoluo. Considerava a Repblica
uma forma poltica adequada apenas aos pequenos pases, enquanto as grandes
naes deveriam ser Monarquias Constitucionais, conforme o modelo ingls.
Seu pensamento, tanto poltico quanto feminista, est expresso principalmente
em seu livro Considrations sur les principaux vnements de la Rvolution
franaise ("Consideraes sobre os principais acontecimentos da Revoluo
francesa") em que mostra os resultados nefastos da Revoluo e o retrocesso
que imps ao seu pas.
Ela havia retomado em Londres uma idia antiga: a de escrever um livro sobre
a vida poltica de seu pai. Porm no finalizou onde termina a carreira dele, de
homem pblico. Prosseguiu, elaborando uma crtica do Consulado, do
Imprio, e do incio da Restaurao. Assim, o que seria apenas a biografia de
seu pai, tornou-se no livro Considrations sur les principaux vnements de la
Rvolution franaise, com a adio da histria do grupo liberal que ela
indiscutivelmente liderou. Aborda nele os trs primeiros anos da Rev,oluo, e
comenta o desencanto provocado pelas atrocidades do Terror, o fracasso do
Diretrio, a tirania da era napolenica e o retorno monarquia, que via com
desconfiana. Termina o livro com uma sntese de suas propostas, inspiradas

no sistema poltico ingls.

Poltica. Em seu Des circonstances actuelles qui peuvent achever la
Rvolution, faz um apelo ao bom senso dos franceses para acabar com o terror
e restaurar a paz por meio de uma Repblica. Educada como liberal, apesar de
estimar Rousseau ela prefere seguir o pensamento de Montesquieu e as idias
constitucionalistas de seu pai, o ministro Necker. Convencida de que o Terror e
suas conseqncias eram um desvio da histria, no aceitou que se apagassem
as luzes do Iluminismo. Suas idias sobre a liberdade lhe valeram perseguies
do poder e lhe custaram muito caro inclusive com respeito a sua vida ntima.
Em sua opinio, a arte da poltica est em direcionar a opinio pblica para um
objetivo e depois apoiar-se nela no momento certo.
Ela pede o respeito ao que chama trs elementos dados pela natureza, a
deliberao, a execuo e a conservao, necessrios para garantir aos
cidados sua liberdade, fortuna e uso tranqilo de suas faculdades, e os
recompensar pelo seu trabalho.
Reconhece, embora minimize, que, devido a que os nobres apiam o
despotismo como salvaguarda de seus privilgios, esta pode ser uma razo
contra uma Cmara dos Nobres (pares do reino)
Religio e Estado. A grande questo de sua poca foi a separao entre o
Estado e a Igreja, a extino do poder do Segundo Estado constitudo pelos
clrigos (O Primeiro Estado eram os nobres, e o Terceiro Estado os homens
comuns). A religio deveria ser apenas o culto ntimo, sem envolvimento de
interesses polticos. E em sua opinio, o dia em que os franceses deixassem de
unir o que Deus havia separado a religio e a poltica , apesar do clero
perder o seu poder e os seus privilgios, a nao teria uma religiosidade mais
autntica e sincera. Ela se indigna com a doutrina do Direito Divino dos reis,
expressa no famoso dogma: todo poder vem de Deus; e quem resiste ao poder
resiste ao prprio Deus. Ela contra argumenta lembrando que nos evangelhos
est escrito d a Deus o que de Deus e d a Csar o que de Csar, uma
evidncia de que Cristo desejava que a religio que ele anunciava fosse
considerada inteiramente estranha poltica. E cita mais o trecho: meu reino
no deste mundo. Esse falso direito, de governar sem limites de poder,
resultava na opresso permanente do povo e na corrupo do carter do
cidado que tinha que desenvolver artifcios, os mais abjetos e escusos, para se
colocar a salvo da arbitrariedade do governo.
O cristianismo trouxe de fato a liberdade, a justia aos oprimidos, o respeito
pelos que sofrem, e a igualdade perante Deus, da qual a igualdade perante a
Lei apenas uma imagem imperfeita. Mas as formas de organizao social no
podem dizer respeito religio seno quanto manuteno da liberdade e da
justia para todos, e da moral de cada um; o resto pertence cincia deste
mundo.
A liberdade. Para ela, os adversrios da liberdade em todos os pases salvo
alguns trnsfugas de entre os intelectuais em geral so aqueles inimigos do
conhecimento e das idias; a necessidade de um governo livre a monarquia

constitucional para os grandes pases, e a repblica independente para os

pequenos , to evidente que ela no acredita que algum possa no
reconhecer esta verdade. Mas h aqueles que ficaram amedrontados com a
liberdade trazida pela Revoluo, e que havia resultado nos crimes perpetrados
por seus lderes. Outros pensam que aceitar uma idia filosfica, como a do
amor liberdade, implica tornar-se ateu. H, ainda, os que consideram de mau
gosto meter-se na poltica: dizem que o povo escolhe sempre mal.
A felicidade. No De linfluence des passions obra na qual havia trabalhado
desde 1792 e publicou em 1796, revela-se pessimista, descrente de que seja
um meio seguro de buscar a felicidade permitir que ela dependa dos outros,
como na amizade, ou mesmo quando buscada nobremente no triunfo e na
glria. O sbio deve contentar-se com aquilo que no dependa seno dele
mesmo, e encontra a felicidade na serenidade da reflexo, do estudo, e do
progresso intelectual.
Educao. Em 1800, Madame de Stal publica sua primeira grande obra : De
la littrature considre dans ses rapports avec les institutions, um trabalho
complexo, cuja teoria fundamental era que uma obra literria deve refletir a
moral e a realidade histrica do pas em que escrita. Este foi considerado o
primeiro livro importante do novo sculo. Nele ela aborda a evoluo da
literatura e do pensamento filosfico atravs de diferentes tipos de sociedades,
de governos, e de religies. Na ltima parte do livro, como j fizera em Des
circonstances actuelles, faz um vaticnio sobre a literatura do futuro e insiste
na importncia do teatro para a educao do povo, e no valor da eloqncia
poltica no regime republicano.
Feminismo: O pensamento de Madame de Stal com respeito mulher
encontra-se principalmente nos livros Corine, Delphine, no Rflexions, e em
um dos captulos finais do Consideration.
No Delphine, de 1802, o enfoque o de uma mulher que, conhecendo o
mundo e suas misrias, faz uma anlise do sofrimento humano das mulheres
em particular , com muita argcia e colorido. Constata que a Revoluo
Francesa causou um retrocesso na condio da mulher sob os aspectos
jurdico, social e poltico; e denuncia o sofrimento a que esto condenadas
devido condio subordinada na famlia e na sociedade, mesmo nos pases de
civilizao mais avanada e nos nveis mais altos da sociedade. Mas o livro
tambm rico em pensamentos sobre questes polticas e sociais tais como a
imigrao, o liberalismo poltico, a influncia inglesa, a superioridade do
protestantismo sobre o catolicismo, e o divrcio.
No Corinne, ou lltalie, ela mostra o choque entre as mentalidades nrdica e
mediterrnea. Inteligente e culta, a personagem Corina, meio italiana, meio
inglesa, retrata a mulher que invade um campo naquela poca essencialmente
masculino: o da cultura. Seu companheiro na viagem pela Itlia um nobre
escocs conhece, pela sua mo, os esplendores do Renascimento italiano. Ele
obrigado a admitir sua superioridade intelectual, a anular sua vontade diante
dela, no por superar seu preconceito contra a mulher inteligente, mas
obrigado a faz-lo porque a amava, o que o torna aparentemente fraco e

irresoluto. De modo amplo, o livro ocupa-se de questes ousadas tanto da

filosofia, como da religio, da histria e da poltica, e tambm da poesia e das
artes.
No Rflexions sur le procs de la Reine (Reflexes sobre o processo da
Rainha) de 1793, em sua defesa da ranha, clama contra a humilhao a que
Maria Antonieta submetida, no por crimes que tivesse cometido, mas por
ser vtima do preconceito que sempre foi causa dos maus tratos e da
infelicidade da mulher, em todos os nveis da sociedade.
No Considrations sur les principaux vnements de la Rvolution franaise,
publicado pelo filho Auguste depois da sua morte, ela aborda um aspecto
especial da posio da mulher, o quanto e porque ela est sujeita a se
corromper nos pases sob o governo autoritrio, onde tudo depende de
amizades e favores. A mulher lana mo de todos os seus meios de seduo
para influir sobre o poder, em todos os nveis. No por conta de qualquer ideal,
mas para obter posies para si e para seus amigos. Outra de suas armas a
intriga, feita para deslocar adversrios e chantagear ministros. Algum
acredita que, poca de Louis XIV, madame De Montespan, e de Louis XV,
Madame Dubarry, tenham recebido alguma recusa dos ministros? pergunta.
Para Madame de Stal, papel social da mulher especfico, e nisto ela difere
das feministas radicais que vo alm da igualdade de direitos para proclamar
uma igualdade total entre o homem e a mulher. Para ela, a vida domstica
inspira s mulheres todas as virtudes. Segundo ela, os costumes que so
gerados em um governo arbitrrio separam a mulher do seu destino natural e
as transformam em um triste produto da ordem social depravada. E
exemplifica: uma mulher do povo, na Inglaterra, se espelha na rainha que
cuida de seu marido e educa suas crianas como a religio e a moral
determinam a todas as esposas e a todas as mes. E conclui : "o verdadeiro
carter de uma mulher e o verdadeiro carter de um homem somente podem
ser conhecidos e admirados nos pases livres" (Stal, P.VI, T. II, p. 432-434).