Reagregando o Social Latour

REAGREGANDO O SOCIAL - BRUNO LATOUR (2012)
Apresentao
(Iara Maria de Almeida Souza - UFBA/ Drio Ribeiro de Sales Jnior UFBA)
No apresenta Latour nem sua obra. Tece comentrios sobre o livro.
1 Estilo de escrita diferenciado
2 Desenvolvimento da Teoria do Ator-rede (Latour recomenda seguir
os atores e traar um mapa das associaes que compem o mudo
social)
3 Repensando a Antropologia (O que o social?/ Fim da sociedade
estvel/ eliminao do apriorstico e troca das certezas pelas
incertezas/ Combate ao antropocentrismo e a insero dos nohumanos no debate.
Introduo
O argumento deste livro pode ser definido de maneira simples:
quando os cientistas sociais acrescentam o adjetivo "social" a um
fenmeno qualquer, aludem a um estado de coisas estvel, a um
conjunto de associaes que, mais tarde, podem ser mobilizadas para
explicar outro fenmeno.
O que tenciono fazer no presente livro e mostrar por que a
social no pode ser construdo como uma espcie de material Ou
domnio e assumir a tarefa de fornecer uma explicao social de
algum outro estado de coisas.
Tenciono, pois, redefinir a noo de social remontando a seu
significado primitivo e capacitando-o a rastrear conexes novamente.
Tal projeto acarreta, porm, uma redefinio daquilo que
geralmente se entende por essa disciplina, Traduzida tanto do latim
quanta do grego, a palavra "socio-logia" significa "cincia do social".
Ela seria excelente se no fossem dais empecilhos: 0 termo "social" e
0 termo "cincia". Cincia: empreendimentos tcnicos e cientficos
tem pouca relao com as intenes dos fundadores das cincias
sociais quando inventaram suas disciplinas. Social: J no se sabe ao
certo se existem relaes especificas 0 bastante para serem
chamadas de "sociais" e agrupadas num domnio especial capaz de
funcionar como uma "sociedade". 0 social parece diludo por toda
parte e por nenhuma em particular. Assim, nem cincia nem
sociedade permaneceram estveis 0 suficiente para cumprir a
promessa de uma forte sociologia. Quero, pois, encontrar uma
definio alternativa para "sociologia.
Existem duas principais abordagens para responder as questes
da sociologia. A primeira soluo foi postular a existncia de um tipo
especfico de fenmeno chamado por vrios nomes: 'sociedade",
"ordem social", "prtica social", "dimenso social" ou "estrutura
social". Esta verso da teoria social tornou-se a posio padro, que
leva em conta 0 seguinte: existe um "contexto" social em que
ocorrem atividades no sociais; ele uma esfera especifica da
realidade; pode ser usado como um tipo especial de causalidade para

explicar as aspectos residuais que escapam a outros domnios. A
outra abordagem no admite a pressuposto bsico da primeira.
Afirma que no h nada de especifico na ordem social; que no existe
nenhuma dimenso social, nenhum "contexto social'" nenhuma esfera
distinta da realidade a que se possa atribuir 0 rtulo "social" ou
"sociedade"; que nenhuma fora social esta ai para "explicar" os
traos residuais que outros domnios no explicam. A "sociedade",
longe de representar 0 contexto "no qual" tudo se enquadra, deveria
antes ser vista como um dos muitos elementos de ligao que
circulam por estreitos canais. Na viso alternativa, "social" no uma
cola que pode fixar tudo, aquilo que outros tipos de conectores
amalgamam.
Etimologia. Nos dois casos, a palavra tem a mesma origem - a
raiz latina socius - , podemos permanecer fieis as intenes originais
das cincias sociais redefinindo a sociologia no como a "cincia do
social", mas como a busca de associaes. Sob este angulo, 0
adjetivo "social" no designa uma coisa entre outras, e sim um tipo
de conexo entre coisas que no so, em si mesmas, sociais.
Devido constante restrio do Significado (contrato social,
questo social, assistentes sociais), nossa tendncia limitar 0 social
aos humanos e as sociedades modernas, esquecendo que a esfera do
social e bem mais ampla que isso.
Outra noo de social tem de ser descoberta: bem mais
ampla.do que a usualmente chamada por esse nome e, ao mesmo
tempo, estritamente limitada busca de novas associaes e ao
esboo de seus agregados. Este 0 motivo pelo qual definirei 0
social, no como um domnio especial, uma esfera exclusiva ou um
objeto particular, mas apenas como um movimento peculiar de
reassociao e reagregaao. Segundo essa viso, 0 direito, por
exemplo, no deve ser visto como algo explicvel pela "estrutura
social" alm de sua lgica interna; ao contrrio, sua logica interna e
que pode explicar alguns traos daquilo que faz uma associao durar
mais e estender-se por um espao major. (NO O SOCIAL QUE
EXPLICA AS INSTITUIES, SO AS INSTITUIES QUE EXPLICAM O
SOCIAL)
O autor distingue entre a sociologia padro, que chama de
sociologia do social, de uma proposta sociolgica mais crtica, que
chama de sociologia de associaes, ou teoria do ator-rede. A sigla
em ingls, ANT (Actor-Network Theory), cria a palavra formiga, e
hoje defendida pelo autor por ser adequada para um viajante cego,
mope, viciado em trabalho, farejador e gregrio (cientistas sociais?).
Uma formiga (ant) escrevendo para outras formigas, eis 0 que condiz
muito bem com meu projeto!
SOCIOLOGIA SOCIAL X SOCIOLOGIA DE ASSOCIAES - em
situaes nas quais as inovaes proliferam, em que as fronteiras de
grupo so incertas, em que 0 leque de entidades a considerar flutua,
a sociologia do social no consegue mais encontrar novas
associaes de atores. Nessa altura, a ltima coisa a fazer seria
limitar de antemo a forma, 0 tamanho, a heterogeneidade e a
combinao de associaes. o recurso oportuno do social tem de ser

substitudo pelo mtodo mais complexo e penoso de suas
associaes.. Para empregar um slogan da ANT, cumpre "seguir os
prprios atores", ou seja, tentar entender suas inovaes
frequentemente bizarras, a fim de descobrir 0 que a existncia
coletiva se tornou em suas mos. A sociologia do social permanece
"pre-relativista" enquanto a nossa "relativista" por inteiro.
Trs caractersticas das teoria ator-rede. Um o exato papel
atribudo aos no humanos. Eles precisam ser atores (ver definio na
pagina 64) e no meras projees simblicas. Entretanto, essa
atividade no deve ser do tipo associado at hoje a coisas concretas
ou objetos naturais. Assim, se determinado texto emprega um tipo
simblico ou naturalista de causalidade, no h motivo para inclui-lo
no corpus da ANT, ainda que ele reivindique isso. Outro teste e
determinar a rumo da explicao. Se o social permanece estvel e
consegue justificar um estado de coisas, no ANT. o terceiro teste,
mais difcil, seria descobrir se um estudo almeja reagregar 0 social ou
continua insistindo na disperso e na desconstruo. A ANT tem sido
confundida com a nfase ps-moderna na crtica das "grandes
narrativas" e no ponto de vista "eurocntrico" ou "hegemnico". Essa
e, todavia, uma das vises mais equivocadas. Disperso, destruio e
desconstruo no so objetivos a atingir e sim obstculos a superar.
Bem mais importante descobrir novas instituies, procedimentos e
conceitos capazes de coletar e reagrupar 0 social
SOCIOLOGIA SOCIAL X SOCIOLOGIA DE ASSOCIAES - Essa
distino entre duas maneiras diversas de entender cincia social no
absolutamente nova. j estava a postos durante 0 nascimento da
disciplina, quando ocorreu a disputa entre 0 velho Gabriel Tarde e
Emile Durkheim. Tarde sustentou veementemente que 0 social no
era um domnio especial da realidade, e sim um princpio de
conexes; que no havia motivo para separar 0 "social " de outras
associaes como os organismos biolgicos ou mesmo os tomos; ele
considerava 0 social como um fludo circulante que devia ser seguido
pelos novos mtodos, e no um tipo especifico de organismo.
Acreditava na possibilidade de a sociologia tornar-se uma cincia apta
a explicar como a sociedade mantida, em lugar de usar a sociedade
para justificar outra coisa ou ajudar a resolver os problemas polticos
da poca.
As duas tradies podem ser facilmente reconciliadas, pois a
segunda apenas retoma a tarefa que a primeira julgava ter concludo
de uma vez por todas. Os fatores reunidos no passado sob 0 r6tulo de
um "domnio social" so simplesmente alguns dos elementos a
agregar, no futuro em algo que no chamarei de sociedade, mas de
coletivo.
Este livro sobre a maneira de usar a ANT para reunir conexes
sociais foi organizado em trs partes correspondentes aos trs
deveres que a sociologia do social assumiu, por motivos no mais
justificveis: Como dispor as muitas controvrsias sobre associaes
sem restringir, de antemo, 0 social a um domnio especifico? Como
tornar plenamente rastreveis os instrumentos que permitem aos
atores estabilizar essas controvrsias? Por meio de quais

procedimentos possvel reagregar o social no numa sociedade,
mas num coletivo? Na primeira parte, mostrarei por que no
devemos, de incio, limitar 0 tipo de seres existentes no mundo social.
Na segunda parte, mostrarei como rastrear conex6es sociais. Por fim,
concluirei revelando por que a tarefa de reagregar 0 coletivo se
justifica plenamente, mas s depois de abandonarmos 0 recurso da
sociedade e da "explicao social".

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REAGREGANDO O SOCIAL - BRUNO LATOUR (2012)

realidade; pode ser usado como um tipo especial de causalidade para

combinao de associaes. o recurso oportuno do social tem de ser

atores estabilizar essas controvrsias? Por meio de quais

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