Signo, Objeto, Interpretante
Signo, Objeto, Interpretante
Signo, Objeto, Interpretante
Resumo
Este trabalho tem por finalidade abordar a teoria semitica, incluindo um pequeno esboo sobre signo, objeto e interpretante na Semitica de
Charles Sanders Peirce.
Abstract
The objectzve of tlus paper is to describe the senuotzcs
themy by includmg a short destgn about sign, ob;ect and
interjJreting in the Charle<~ Sanders Peirce's Semiotics.
Introduo
Charles Sanders Peirce (1839-1914), de
origem americana, possua uma formao especializada e diversificada: matemtico, astrnomo,
qumico, topgrafo, especialista em metrologia e
espectrografia, engenheiro, inventor, psiclogo,
filsofo, lexicgrafo, historiador da cincia, fsico,
economista, estudante de medicina durante toda
a sua vida, crtico literrio, dramaturgo, ator, escritor de contos, fenomenlogo, semitica, lgico, retrico e metafsico.
Essas especialidades, to dspares, atribudas
para uma s pessoa, foram mencionadas por Max
H. Fisch, bigrafo e pesquisador das obras e principalmente dos manuscritos inditos de Charles
Sanders Peirce.
Com um interesse em tantas reas do conhecimento, Peirce s poderia ter um propsito que
era distinguir os tipos de semiosis 1 e a partir delas
elaborar um estudo, o mais aprofundado possvel,
de argumenta~s em particular e de suas funes
na matemtica e nas cincias.
Noth afirma que o termo semiose foi adaptado por Peirce de um tratado do filsofo epicurista
Filodemo. Para Peirce, "semeiosis significa a ao de
quase qualquer signo, e a minha definio d o nome
de signo a qualquer coisa que assim age." (CP, 5.484
in NTH, 1995:66).
Esse objetivo foi alcanado, conforme afirma
Santaella (1995:10):
co."
Prlmelrldade
Secundldade
Tercelrldade
Possibilidade
Atual
Processo
Potncia
Imediato
Existncia
Experincia
Mediao
LEI
Qualidade
Ao e reao
Representao
Presente absoluto
Pensamento
Originalidade, original
Luta
Determinao
Generalidade
Resistncia
Continuidade
Espontneo
Resistncia e esforo
Crescimento
lmediaticidade
Fato bruto
Aqui e agora (hic et nunc)
SIGNO
Elo entre a percepo sensorial
Qualidade de sensao e da
percepo sensorial
Acaso , vago
Insistncia
Difuso
Hbito
Obstculo
Atualizao do que antes era potncia
Momentos poticos
Nesse quadro, podemos observar alguns aspectos fundamentais enfatizados tanto por Peirce
quanto por pesquisadores, isto , as palavras utilizadas para a primeiridade enfatizam sua
evanescncia, a importncia da ao para a secundidade e o porqu de alguns autores dizerem
O Signo
Nos escritos de Peirce, como sabemos, h vrias
definies de signo, contudo, isto no significa uma
indefinio ou impreciso de sua parte, mas sim
uma luta incessante para se fazer compreendido.
[... 1 Eu
utilizo as duas palavras signo e representamen de maneira diferente. Por signo, eu entendo tudo o que comunica uma noo definida de um
objeto de algum modo [... 1 Partindo desta idia familiar, realizo a melhor anlise que consigo a respeito
to perceptvel, ou apenas imaginvel, ou mesmo zmmaginvel num certo sentido- pois a palavra 'estrela',
que um Signo, no inimaginvel, dado que no esta palavra em si mesma que pode ser transposta para
o papel ou pronunciada, mas apenas um de seus
aspectos, e uma vez que a mesma palavra quando escrita quando pronunciada, sendo no entanto uma
palavra quando significa 'astro ou luz prpria' e outra
totalmente distinta quando significa 'artista clebre' e
uma terceira quando se refere a 'sorte'. Mas, para que
algo possa ser um Signo, esse algo deve 'representar',
como costumamos dizer, alguma outra coisa, chamada
seu Objeto, apesar de ser talvez arbitrria a condio
segundo a qual um Signo deve ser algo distinto de seu
Objeto, dado que, se insistirmos nesse ponto, devemos
abrir uma exceo para o caso em que um Signo parte
de um Signo. Assim, nada impede que um atar
que represente uma personagem num drama histrico
ostente como 'propriedade' teatral a prpria relquia
que deveria ser apenas representada, tal como o crucifixo que Richelieu de Bulwer ergue com tanto efeito em
sua rebeldia. Num mapa de uma ilha colocado sobre o
cho dessa ilha deve haver, em condies normais,
alguma posio, algum ponto, assinalado ou no que
representa qua posio no mapa, o mesmssimo ponto
qua posio na ilha. Um signo pode ter mais de um
Objeto. Assim, a frase 'Caim matou Abel', que um
Signo, refere-se no mnimo tanto a Abel quanto a
Caim, mesmo que no se considere, como se deveria
fazer, que tem em 'um assassinato' um terceiro Objeto.
Mas o conjunto de objetos pode ser considerado como
constituinte de um Objeto complexo. No que segue, e
freqentemente em outras ocasies, os Signos sero
considerados como tendo, cada um, apenas um objeto,
com a finalidade de se dividirem as dificuldades do estudo. Se um Signo algo distinto de seu Objeto, deve
haver, no pensamento ou na expresso, alguma explicao, argumento ou outro contexto que mostre como,
segundo que sistema ou por qual razo, o Signo representa. Ora, o Signo e a Explicao em conjunto formam um outro Signo, e dado que a explicao ser um
Signo, ela provavelmente exigir uma explicao adicional que, em conjunto com o j ampliado Signo, formar um Signo ainda mais amplo, e procedendo da
mesma forma deveremos, ou deveramos chegar a um
Signo de si mesmo contendo sua prpria explicao e as
Podemos considerar, dessa forma, que cada possibilidade de signo como sendo um ponto, com
um conjunto de linhas ligando-o a todos os outros
pontos de um sistema. "Pensemos no refinamento
das tcnicas copiadoras e na grande quantidade de
novos sistemas de signos criados a partir do advento da
revoluo industrial." (SANTAELLA, 1992:46).
Lcia Santaella continua afirmando: "Pensemos nas
possibilidades inimaginveis de se criar e romper
cdigos que surgiram com o aparecimento dos computadores. Pensemos ainda no desenvolvimento de
linguagens, cdigos e inteligncias artificiais que as
novas mquinas esto tornando possvel".
O desenho abaixo tenta representar as relaes entre os elos da cadeia sgnica: fundamento
(ground) do signo, dois objetos (imediato e
dinmico) e trs interpretantes (imediato,
dinmico e final ou interpretante em si).
SIGNO
---!Interpretante
dinmico
(intrprete)
I
I
objeto
dinmico
!interpretante
em si
Os objetos merecem nossa ateno neste momento. Para tanto, recorremos a Lcia Santaella
(idem:55) para explicar:
Sobre o Interpretante
Sempre foi consensual, entre os pesquisadores
de C. S. Peirce, a insero do interpretante, como parte integrante da ento dicotomia signo/objeto, era a diferena fundamental em relao aos
estudos lingsticos. Esse terceiro elemento era a
distino entre Saussure e Peirce, era parte da
formao do signo tridico, pois, para Peirce, o
signo possui trs partes indivisveis.
Peirce deu uma definio pragmtica da significao, quando definiu o interpretante como o
"prprio resultado significante", ou seja, "efeito do
(PEIRCE, 1977:162).
"O interpretante no o intrprete (embora ocasionalmente, Peirce parea justificar essa deplorvel
confuso). O interpretante aquilo que assegura a
validade do signo mesmo na ausncia do intrprete."
(ECO, 1980:58) .
Segundo Peirce apud Eco (1980:58), o interpretante aquilo que produz na 'quase-mente'
que o intrprete que tambm pode ser concebido como a definio do representamen, isto ,
sua inteno. Para esclarecer o significado de um
significante necessrio nomear o primeiro significante por meio de um outro significante, que
a seu turno conta com outro significante que
pode ser interpretado por outro significante e assim sucessivamente.
A significao, ento, se d em cadeia sgnica.
Um signo gerando outro signo, numa progresso
infinita e o significado de um signo outro signo.
". . . o significado um fenmeno de um sistema; ele
no existe separadamente. [... ] Ento, um interpretante como um terceiro, a fim de ser capaz de trazer
um primeiro para uma relao com um segundo,
deve ser um signo que pertena a qualquer universo
de signos e no a algo que exista separadamente."
(Buczynska- Gare~icz apud SANTAELLA
(1995:88).
Johansen (1993: 158) tambm destaca que o
conceito de interpretante em Peirce est relacionado ao objeto do mesmo modo que o signo
est, mas revela tambm trs razes por que o
interpretante no pode ser exatamente como
o signo que lhe deu origem: (1) o interpretante
Quanto ao Interpretante, ou melhor, a 'significao' ou 'interpretao' de um signo, devemos distinguir entre um Interpretante Imediato e outro
Dinmico, tal como fazemos com os Objetos Imediatos e Dinmicos. Todavia, cumpre observar tambm
que existe um terceiro tipo de Interpretante, que
denomino Interpretante Final, porque aquilo que
finalmente se decidiria ser a interpretao verdadeira,
se se considerasse o assunto de um modo to
profundo que se pudesse chegar a uma opinio
definitiva. (PEIRCE, 1977: 164).
Compreender a palavra final dentro do contexto da teoria de Peirce e no no sentido literal,
como fazem alguns leitores desavisados, importante para evitar equvocos na compreenso do
conceito. Lcia Santaella (1995 :99) argumenta
que "no se deve ignorar o contexto em que esse
moderna de que "pensar sempre procede na forma de um dilogo - um dilogo entre vrias fases
do ego - de maneira que, sendo dilogo, se compe
essencialmente de signos" (CP, 4.6 apud NTH,
1995:72). Bem como "cada pensamento tem de
dirigir-se a um outro" (CP, 5.253 apud NTH,
1995:72), o processo contnuo de semiose, ou
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