Como o Minimanual do Guerrilheiro Urbano foi utilizado pelas guerrilhas urbanas ALN

e Baader Meinhof e sua influncia para os grupos durante sua atuao

Amanda Matos Valente1

Luiz Carlos Vieira da Silva

Resumo

Durante a Guerra Fria, vrios grupos se propuseram guerra de guerrilhas e, em 1969, Carlos
Marighella escreve seu manual com informaes que um guerrilheiro precisa saber para se
manter na luta contra o Estado atravs da organizao. Esse manual influenciou tanto
guerrilheiros na Amrica Latina, quanto na Europa, ambos sob o espectro revolucionrio de
esquerda. Desta forma iremos analisar como estudo de caso os exemplos da Aliana
Libertadora Nacional em territria domstico e o grupo Baader Meinhof da Alemanha.

Palavras-chave: ALN. Baader Meinhof. Guerra Fria. Guerrilhas Urbanas. Mininmanual do

Guerrilheiro Urbano. Carlos Marighella.

1 Alunos do curso de Relaes Internacionais da PUC Minas.

1 INTRODUO
O Minimanual do Guerrilheiro Urbano foi uma obra do guerrilheiro comunista Carlos
Marighella, redigido em 1969. Com a finalidade de ensinar articulaes e mtodos de
securitizao, Marighella descreve precisamente tticas e estratgias a serem seguidas por um
revolucionrio, destinando o livro principalmente para aqueles que queriam se juntar as
guerrilhas urbanas em protesto ao governo fascista e ditatorial da poca. O livro hoje em dia
visto como uma obra que influenciou e articulou guerrilhas urbanas ao redor do mundo.
O Manual conseguiu se emplacar rapidamente, sendo o livro base para orientar
qualquer organizao que j estivesse em trabalho, em desenvolvimento ou mesmo
recrudescer os nimos daqueles que simpatizavam com a causa comunista ou queriam lutar
contra o Estado. De acordo com Azambuja (2014) Marighella neste sentido foi o pai das
causas revolucionrias. Suas palavras ecoaram por vrios continentes, acabando por quebrar o
estigma que era imposto aos pases latino-americanos, no era mais o centro que influenciava
a periferia, a periferia se sobrepunha e influenciava o centro.
O livro (1969) utiliza como vlvula propulsora o idealismo, motivando atos com
finalidade de se alcanar um objetivo maior. H passagens na obra que motivam o guerrilheiro
a ir de frente ao Estado, no importando seus recursos ou sua fora face a ele. A credibilidade
seria o mrito daquele que no traia seus prprios ideais, que saberia defender o que acredita
por mais que dependesse da sua prpria vida. Marighella pode ser considerado um idealista,
mas tambm um extremista como pode ser comprovado na seguinte passagem do Manual:
Hoje, ser violento ou um terrorista uma qualidade que enobrece qualquer
pessoa honrada, porque um ato digno de um revolucionrio engajado na luta
armada contra a vergonhosa ditadura militar e suas atrocidades (MARIGHELLA,
1969).

Segundo Azambuja (2014) a CIA Central Intelligence Agency-, Agncia de

Inteligncia Estadunidense, comeou a empreg-lo como material didtico em suas escolas de
treinamentos. As Escolas das Amricas situadas no Panam eram centros de formao para
contra-insurgncia anti-comunista, desta maneira, o livro foi utilizado como forma de
conhecer o inimigo. Marighella conseguiu um reconhecimento to forte com a sua obra, que
passou a ser o grande mentor dos grupos revolucionrios ao redor do mundo, e inimigo
nmero um dos Estados capitalistas, fascistas e ditatoriais da poca.
Na dcada de 1960, a Amrica Latina passava a vivenciar de forma mais acirrada a
convulso da consequncia de acontecimentos com relao crescente nsia da Guerra Fria e

com o episdio da Revoluo Cubana em 1959. Segundo Paz (1997) como resultado, vrios
golpes de cunho militar permearam-se pela Amrica Latina e, avesso ao posicionamento do
PCB Partido Comunista Brasileiro-, Carlos Marighella deserta do partido e forma o
Agrupamento Comunista de So Paulo. Logo em seguida funda a ALN Ao Libertadora
Nacional-, que se tornou a maior organizao promotora de aes de guerrilha urbana do
Brasil. Marighella ento escreve o Manual do Guerrilheiro Urbano que por sua vez, tornava
teoricamente possvel articular as aes de uma guerrilha e traduz essa possibilidade para as
vrias guerrilhas existentes, unindo a teoria e ao foquista2 com o seu manual.
A preocupao da emergncia de um grupo contra a ditadura, pode-se estruturar-se
atravs do pronunciamento do Agrupamento Comunista de So Paulo, assim como, na
divergncia ideolgica com o PCB Partido Comunista Brasileiro-, que no esboara
qualquer reao frente ao golpe militar de 1964:
Precisamos agora de uma organizao clandestina, pequena, bem estruturada,
flexvel, mvel. Uma organizao de vanguarda para agir, para praticar a ao
revolucionria constante e diria, e no para permanecer em discusses e reunies
interminveis. (MARIGHELLA, 1962, p. 2).

A ALN comeou, ento, a lanar mo de aes que serviriam de base para a

estruturao e organizao do grupo, como assaltos a bancos, expropriao de carros,
sequestros, dentre outras prticas ilustradas no Manual do Guerrilheiro Urbano. Para Teixeira
(1999), os principais agentes dessas aes eram os estudantes, que formavam a base dos
militantes do grupo e estes no hesitaram usufruir de uma ttica inclinada a disseminao de
medo e terror em sua trajetria de luta contra a ditadura e em prol de uma revoluo de cunho
comunista.
Segundo Gasparetto (2010) no que tange os sequestros durante o perodo da ditadura,
a ALN foi responsvel por quatro. O caso mais emblemtico o sequestro do embaixador
norte-americano Charles Burke Ellbrick, em setembro de 1969, com participao do grupo
MR-8, tendo como objetivo a libertao de presos polticos. Tiveram autoria no sequestro do
embaixador da ento Alemanha Ocidental, Ehrenfried Von Holleben, tambm em troca de
presos polticos do seu pas de origem e, ambos os casos foram exitosos e divulgaram a sigla
ALN- entre a populao.
Em 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella assassinado em uma emboscada,
planejada e executada pelos militares, na cidade de So Paulo. Sendo assim, Joaquim Cmara
2 Teoria do foco guerrilheiro, proposta por Che Guevara, que consistia na criao de vrios
focos de ao guerrilheira pela Amrica Latina, a fim de se instaurar vrios regimes
comunistas pelo continente.

Ferreira assume seu posto como lder da ALN e no ano seguinte tambm assassinado,
devido a delao de um dos ex-integrantes do grupo. Para Teixeira (1999) com o lder e
idelogo do grupo e seu sucessor assassinados pelos militares, a ALN enfrenta diversas
dissidncias a partir do final dos anos 1970 e a grande maioria de seus militantes so
perseguidos, torturados e assassinados pelo regime.
J na Alemanha houve o recrudescimento dos nimos daqueles que se identificavam
com a ideologia comunista. Assim como descrito anteriormente, o Manual do Guerrilheiro
Urbano desempenhou papel fundamental para incentivar as atividades revolucionrias ao
redor do mundo. Sua obra obteve destaque no que tange os movimentos contra o Estado tanto
em ambiente domstico quanto em ambiente internacional.
Segundo Ruttscheidt (2007), A RAF Frao do Exrcito Vermelho em portugus-,
nome adotado pelo grupo em contraponto pelo designado pela mdia: Baader-Meinhof,
considerava-se uma guerrilha urbana de extrema esquerda anti-imperialista da Alemanha
ocidental. Seu perodo de atuao estendeu-se entre 1970-1998, contando com 28 anos de
operaes de guerrilha armada. A sua preferncia pelo nome RAF j retrata a sua resistncia a
qualquer resqucio da direita, como no caso, o nome gerado pela mdia.
Ainda de acordo com Ruttscheidt (2007), as origens remontam aos baby boomers de
1960, movimento de extremo crescimento de natalidade durante o fim da Segunda Guerra
Mundial e incio da Guerra Fria, aonde as crianas cresceram acompanhando mudanas
sociais e culturais. Os movimentos estudantis que emergiram em 1970, contestavam as
instituies estatais vigentes e os altos postos de comando ocupados por antigos integrantes
do regime nazista no novo governo. De acordo com Smith e Moncourt (2009), no s a classe
dominante, mas mesmo a sociedade alem como um todo, havia sido beneficiada pelo
surgimento de um Terceiro Reich.
Os alemes ps-nazistas que ainda apoiavam o regime estavam em uma situao
privilegiada analisando tanto pelo que tinham feito no passado, como pela ideologia que ainda
sustentavam. Um policiamento mais agressivo, bem como uma economia em crescimento, iria
agradar aqueles que ainda apoiavam as crenas nazistas. Como exps Smith e Moncourt
(2009), alguns radicais e a RAF viram o Terceiro Reich como nada mais do que uma questo
de hiper-capitalismo, sendo a nica soluo para tanto um hiper-anti-capitalismo. Assim,
os membros da RAF se juntaram ao comunismo como uma forma de combater o mal do
sculo, a escurido da Alemanha: um novo governo fascista, uma nova forma de nazismo.
No obstante, um dos pontos principais de sua origem, faz referncia clandestinidade
do partido comunista em 1956. A RAF possua uma ligao forte com o movimento

comunista, alguns membros chegaram at a se filiarem ao partido, outros residiam em

comunas e tambm lutavam pelos direitos humanos, sua pretenso era de fazer a diferena, de
incitar motins. De acordo com Aust (2008) o seu incio teve uma forte influncia do
leninismo-maosmo, passando depois para o marxismo-leninismo. Seus primeiros integrantes
foram: Andreas Baader, Gudrun Ensslin, Ulrik Meinhof, Jan-Carl Raspe, Horst Mahler,
Holger Meins e Irmfard Mller.
Tendo apresentado os respectivos atores relevantes para esse trabalho, intende-se por
este, analisar os aspectos presentes no manual em si e como ele serve para um alinhamento
ttico e ideolgico das guerrilhas urbanas que o seguem tanto a nvel nacional quanto a nvel
internacional, isto , tambm pretende-se expor o alcance do manual. Para isto, vamos
analisar o caso da Ao Libertadora Nacional e do grupo alemo Baader Meinhof e como
critrio de anlise refletir se regras dispostas no manual foram mais ou menos efetivas, bem
como, possibilitar uma comparao entre os dois.
2 MARIGHELLA E O MANUAL
Segundo Fernandes (2016) Carlos Marighella foi uma figura de extrema importncia e
relevncia no cenrio poltico brasileiro entre as dcadas de 1960 a 1980, porm morreu em
1969, tornando-se um mrtir com a perpetuao de seus ensinamentos. A partir da segunda
metade da dcada de 1960, se tornou o inimigo nmero um do Estado brasileiro devido a sua
pblica e radical oposio ao regime militar instaurado em 1964. No obstante, tambm fez
oposio ferrenha durante o modelo do Estado Novo (1937-1945), perodo ditatorial de
Getlio Vargas inspirado no fascismo europeu, sendo preso e torturado, porm foi libertado ao
fim do regime.
Nascido em Salvador, Bahia, abandonou a universidade para se tornar militante do
PCB e fixou residncia no Rio de Janeiro, ainda na dcada de 1930. Foi eleito deputado
federal pelo mesmo partido em 1945, partido este que foi colocado na ilegalidade devido ao
clima nascente da Guerra Fria. De acordo com Fernandes (2016) Marighella foi convidado
pelo Comit Central Comunista Chins para conhecer o modelo revolucionrio que estava
sendo implantado na China em 1953 e participou da Organizao Latino-americana de
Solidariedade OLAS-, em 1967.
Para Arajo (2008) Marighella acreditava que com o golpe de 1964 as vlvulas de
escape dentro do modelo de democracia burguesa estavam fechadas e que, a partir de ento, a
revoluo era palavra de ordem. Fazia-se necessrio organizar uma solidariedade mundial

bem como uma estratgia apoiada na necessidade da luta armada. Expressa ento, que se
deveria organizar os trabalhadores do meio urbano em consonncia com os do meio rural,
adaptando a teoria da guerra de guerrilhas de Ernesto Che Guevara ao contexto da
movimentao poltica brasileira daquela poca em prol de transformao social do pas em
direo ao comunismo.
A criao burocrtica de mais uma organizao a nada conduziria. Era necessrio
inverter os termos do problema. Um programa geral, estratgico e ttico j havia
sido apresentado nos documentos aprovados pela conferncia da OLAS, que
sintetizavam as melhores experincias da luta libertadora dos povos da Amrica
Latina (ARAJO, 2008).

O mais importante nesse contexto para Marighella, ainda segundo Arajo (2008), era a
ao. A direo seria dada atravs da guerrilha, do comando guerrilheiro, o comando
operativo ento seria hibrido com o poltico-militar e ambos se alinhariam s outras aes que
estariam em curso ou que ainda se iniciariam. Por isto, no fazia segredo estratgia global
qual pregava e explicava detalhadamente os passos que precisavam ser seguidos para se
colocar em ao. Ento, escreve o Mini Manual do Guerrilheiro Urbano (1969) para que suas
ideias alcanassem um nmero maior de revolucionrios. Marighella foi muito bem-sucedido
em seu objetivo, sendo amplamente aclamado influenciando guerrilhas de pases europeus
como o Action Directe na Frana, as Brigadas Vermelhas na Itlia e o Baader Meinhof na
Alemanha, por exemplo.
O Manual na realidade era um guia prtico para aqueles que queriam lutar pelo que
acreditavam e tirar todo o idealismo do papel. Marighella prope que o idealismo seja mais
forte do que instintos utilitaristas ou egocntricos, assim como, propunha tambm o
comunismo. Ele acreditava que o importante era assegurar o bem de todos, por mais que tenha
que descredibilizar alguns.
O guerrilheiro urbano um homem que luta contra uma ditadura militar com
armas, utilizando mtodos no convencionais. Um revolucionrio poltico e um
patriota ardente, ele um lutador pela libertao de seu pas, um amigo de sua gente
e da liberdade (MARIGHELLA, 1969, p. 4).

Em sua obra, o autor revolucionrio descreve pontualmente o que e como um

revolucionrio deve fazer e agir. O livro explicita e deixa claro o comportamento e as
qualidades de um guerrilheiro:
Outras qualidades importantes no guerrilheiro urbano so as seguintes: que possa
caminhar bastante; que seja resistente fadiga, fome, chuva e calor; conhecer como
se esconder e vigiar, conquistar a arte de ter pacincia ilimitada; manter-se calmo e
tranqilo nas piores condies e circunstncias; nunca deixar pistas ou traos
(MARIGHELLA, 1969, p. 6).

No obstante, segundo Magalhes (2012) o autor no banaliza a forma que emprega o

uso da violncia, nem mesmo banaliza a palavra violncia. A violncia para ele seria um
modo de se chegar a um objetivo traduzido na maximizao da vontade do povo e de seu
bem-estar social. A existncia do guerrilheiro se faz por via da utilizao de meios blicos,
fora isso, sua existncia seria desnecessria.
A razo para a existncia do guerrilheiro urbano, a condio bsica para qual atua e
sobrevive, o de atirar. O guerrilheiro urbano tem que saber disparar bem porque
requerido por este tipo de combate. (...) A vida do guerrilheiro urbano depende de
atirar, na sua habilidade de manejar bem as armas de pequeno calibre como tambm
em evitar ser alvo (MARIGHELLA, 1969, p. 13).

interessante ressaltar que em seu livro, Marighella tambm une o pragmatismo com
o sentimentalismo. As aes dos guerrilheiros no so meramente tcnicas, h tambm um
cunho de reciprocidade e camaradagem. necessrio que haja confiana para poderem
alcanar seu objetivo juntos. Sem o trabalho em grupo, nada pode ser alcanado. Ento
define, para a guerrilha urbana, que essa se organize em pequenos grupos, que estejam sob a
liderana de uma ou duas, isto o que constitui um grupo de fogo. Dentro do grupo de fogo
tem que haver confiana plena entre os camaradas (MARIGHELLA, 1969, p. 14).
De acordo com Magalhes (2012) faz-se necessrio tambm ressaltar que o Manual na
poca foi distribudo de vrias formas, mimeografadas e fotocopiadas, com a inteno que se
popularizasse e chegasse s mos de todas as camadas sociais, para provocar e recrudescer os
nimos da populao. At hoje, no possvel apontar qual era o Manual original, contudo,
sua finalidade est gravada nas palavras que circularam entre o povo e formaram no s no
Brasil, como em todo o mundo, grupos anti-imperialistas. Marighella ficou conhecido como
smbolo de resistncia, cativando at grandes personalidades como o filsofo francs Jean
Paul Sartre.
Ento, em sua obra, vai cumprir a expectativa a que um manual se prope, oferecendo
coordenadas para se operar uma guerrilha urbana, alm de fazer uma diferenciao entre a
guerrilha no campo e a guerrilha urbana. Ele tambm justifica o motivo da necessidade de
lanar mo guerra revolucionria sob a afirmao de que o Brasil passava por uma crise
estrutural crnica e resultante instabilidade poltica (MARIGHELLA, 1969, p.8). Estes
fatores, segundo ele, seriam as razes que justificam o surgimento abrupto da guerra
revolucionria, que se daria por meio da guerra de guerrilha urbana em apoio rural.
Marighella (1969) enfatiza que em um embate direto entre o guerrilheiro e a polcia ou outra fora repressora - o guerrilheiro se encontra em desvantagem por deter uma menor
capacidade do uso da fora. Contudo, ele que assume o papel de atacante e isto aliado a
outros fatores pode elevar a probabilidade de que o embate seja exitoso. Desta forma,

Rollemberg (2001) discorre sobre a eficcia que o fator surpresa possua como indo de
encontro ao inimigo em um momento inesperado; aliado ao maior conhecimento do territrio
possvel; maior mobilidade e velocidade que o oponente; tendo um servio de informao
mais eficiente que o mesmo e sendo uma inspirao para os outros membros do grupo. O
xito de suas estratgias se devem pela sua aparncia autoconfiante, fazendo com que os
membros do grupo tendam a no hesitar na hora da ao.
Afirma, tambm, que necessrio estudo e cita a importncia de ler A Guerra de
Guerrilhas (1961) de Ernesto Che Guevara. Ele discorre uma teoria que estrutura um
conceito sobre o fenmeno da guerra entre o Estado, detentor do uso legtimo e legal da fora,
e o povo armado. Guevara estabelece como conceito que a guerra de guerrilhas se traduz
numa guerra de massas, do povo, e que o bando guerrilheiro estaria no ncleo das aes,
educando o povo e criando as condies revolucionrias. usada para o apoio populao na
luta contra a opresso dos governos, contudo com menos armas. Para que este modelo de
conflito se estabelea necessrio que esteja sobre um pilar, o qual ser traduzido no apoio da
populao s aes das guerrilhas, pois acreditava que pequenos exrcitos de guerrilha
poderiam derrubar governos organizados e opressivos. Entretanto, Guevara (1961) salienta
que as aes das guerrilhas deveriam se concentrar ao campo, uma vez que o espao facilitava
seus movimentos.
Sendo assim, Guevara (1961) ainda trabalha na definio do guerrilheiro colocando-o
como um reformador social e revolucionrio agrrio. No faz distino terica entre um
guerrilheiro e um soldado, sendo, ento, seu ponto de distino comum, o apoio que recebe,
pois, o soldado recebe apoio do Estado organizado e o guerrilheiro da populao. Em
contrapartida, Carlos Marighella (1969) em seu trabalho vai dizer que a guerra revolucionria
aconteceria por meios urbanos, rurais e psicolgicos. Tambm agrega que a guerra
guerrilheira urbana, assim como a guerra psicolgica na cidade, depende da guerrilha no
campo.
Para Marighella (1969), a guerra psicolgica consiste-se na estratgia de criar uma
sensao de desconforto com relao ao inimigo, ou seja, o governo, por vias dos meios de
comunicao em massa e dos boatos passados boca-a-boca para desinformar o governo e
propagar o que o autor chama de meias-verdades, gerando um sentimento de
intranquilidade. Com o governo ocupado averiguando a verossimilidade das informaes e
ainda devido censura instituda pelo mesmo, as guerrilhas inicialmente sairiam em
vantagem, tornando essa ttica bastante eficaz.
Desta forma torna-se fcil e por vezes, inevitvel o uso do terrorismo como uma

ferramenta eficaz. Isto porque gerar medo uma boa forma de se chamar a ateno para uma
causa e sinalizar que se est pronto para aes diretas. Estas, segundo o manual, consistem em
aes que eventualmente poderiam se munir de explosivos, em que o alvo seja o meio de
produo dos imperialistas e dos capitalistas. importante que a populao conhea a causa,
para que a guerrilha obtenha o apoio popular. Sendo assim, torna-se crucial a boa articulao
da informao e propagao da justificativa do ato terrorista.
No existe consenso no que seria terrorismo, sendo assim interessante que este seja
incentivado como uma ferramenta para a guerra de guerrilha. Louise Richardson (2007)
afirma que o termo terrorismo amplamente utilizado para diversos tipos de situaes, que
seu sentido quase que no quer dizer nada. Entretanto, interessante notar que o termo seja
visto e assimilado como algo pejorativo nos dias de hoje. O Departamento de Estado dos
Estados Unidos (2003) define terrorismo como sendo algo premeditado, com violncia
politicamente motivada e perpetrada contra alvos no combatentes por um grupo subnacional
ou agentes clandestinos, usualmente utilizado para alcanar uma audincia, de acordo com o
Art. 22 do cdigo dos EUA, seo 2656 (d).
Contudo, ainda assim a definio exclui o Estado. Ou seja, o Estado no poderia ser
considerado terrorista porque o objeto limitado aos agentes no estatais. Marighella enfatiza
em seu manual, que o terrorismo uma ttica que o guerrilheiro no pode abandonar. Isto se
deve porque encarado como uma forma de sabotagem atravs do medo. Entretanto, algo
em que se deve tomar bastante cuidado ao utilizar, pois pode voltar o apoio popular contra a
guerrilha, rompendo com seu pilar legitimador, devido ao rtulo negativo carregado pelo
termo terrorismo.
O autor prope mtodos extremistas, porm criativos, eles no s so inovadores em
suas tticas e estratgias dentro do prprio grupo como tambm no universo das guerrilhas
urbanas em geral. De acordo com Crenshaw (1981) a inovao em grupos de guerrilha ou
grupos terroristas podem ser medidas em termos de sua capacidade para sobrevivncia, isto ,
como e com quais recursos eles respondem a ataques externos alocando e construindo tticas
e objetivos emergenciais. A finalidade em ser criativo e inovar diretamente proporcional a
conseguir danificar um maior numero de materiais, ataques inesperados com respostas
despreparadas, desmoralizao e humilhao de publico e governo. interessante analisar que
no momento em que um grupo consegue inovar, ele apreciado por outro grupo e tambm
utilizado didaticamente como exemplo para suas inovaes e desenvolvimentos estratgicos
futuros.
Segundo Magalhes (2012) as tticas de guerrilhas urbanas expostas por Marighella se

baseiam nas tticas de guerrilha na selva descritas por Che Guevara, todavia, Marighella
focava-se nos grandes centros urbanos. O contexto da proposta da guerrilha urbana por
Marighella foi principalmente pela dificuldade de politizao das populaes rurais, sendo o
cenrio urbano o mais propcio para a emergncia de grupos que possuam a aspirao de
atacar o governo. Para Moraes (2013) no contexto brasileiro, isto , no contexto de criao do
Manual, a guerrilha seguia rumo aos campos da guerrilha selvagem, contudo as foras
estavam sendo investidas nas cidades, como apresentado anteriormente. To logo, a nica
forma de se formar uma guerrilha seria por meio da luta nos grandes centros, fato este
comprovado e assumido pelo Manual. O autor no nega a guerrilha rural, mas reconhece a
necessidade e a possibilidade do sucesso da guerrilha urbana nos termos brasileiros vigentes.
Para se diferenciar das guerrilhas rurais ou selvagens, a guerrilha urbana lanava mo
de assaltar bancos, ter maiores mobilidades em ambientes fechados e com obstculos, e seus
modelos de ao refletem-se em tticas de rua, greves e interrupes do trabalho j
salientava Marighella que o trabalhador e operrio tem o dever de filiar-se a foras de
contestaes governamentais na clandestinidade-, e ocupaes de terrenos. possvel traduzir
o movimento da guerrilha urbana, suas peculiaridades e diferenciao para uma guerrilha
rural na seguinte passagem do manual:
Os assaltos aos edifcios concebidos como operaes de guerrilha, variam de
acordo a se so bancos, negcios comerciais, industrias, acampamentos militares,
delegacias, presdios, estaes de rdio, armazns de empresas imperialistas, etc. Os
assaltos em veculos - carros blindados, trens, barcos, avies - so de outra natureza
j que envolvem um alvo em movimento. A natureza da operao varia de acordo
situao e a possibilidade - isto , se o alvo estacionrio ou mvel
(MARIGHELLA, 1969, p. 30).

Observa-se que Marighella acentua o trabalho urbano e diferencia-o de uma guerrilha

rural por justamente estar em um cenrio diferente, que exigia um comportamento e uma ao
especfica. O guerrilheiro urbano diferente dos guerrilheiros rurais ou selvagens. O
guerrilheiro urbano deve saber usar os artifcios que tem e saber passar por cima de obstculos
maiores e mais perspicazes que o rural no desmerecendo as guerrilhas rurais e selvagens,
somente diferenciando-as-.
H, tambm, a distino entre o guerrilheiro urbano e o delinquente. Explica que o
delinquente opera em benefcio prprio e indiscriminadamente, enquanto o guerrilheiro tem
como alvo o governo, os imperialistas norte-americanos e possuem uma meta poltica.
O guerrilheiro urbano, no entanto, difere radicalmente dos delinquentes. O
delinquente se beneficia pessoalmente por suas aes, e ataca indiscriminadamente
sem distino entre explorados e exploradores, por isso h tantos homens e mulheres
cotidianos entre suas vtimas. O guerrilheiro urbano segue uma meta poltica e
somente ataca o governo, os grandes capitalistas, os imperialistas norte-americanos
(MARIGHELLA, 1969).

Hoje, por sua grande influncia mundial, durante a dcada de 80, a Agncia Central de
Inteligncia Americana, achou necessrio traduzir o livro para ingls e espanhol,
popularizando-o no Panam em suas Escolas das Amricas escolas de estudos para
formao de anticomunistas -. Estas escolas foram apelidadas por Escolas de Assassinos,
indo de encontro com prticas aplicadas na ditadura militar, como por exemplo, ministrar
cursos de torturas. Ainda consonante a Magalhes (2012) embora, a CIA tenha traduzido e
estava par das tticas de guerrilha, ainda assim o manual era considerado uma ameaa para o
sistema capitalista, e deveria ser totalmente destrudo, no em folhas ou palavras, mas na
prtica.
3 A EXPERINCIA DA ALN
De acordo com Gaspari (2002) desde a sua dissidncia do PCB, formando o
Agrupamento Comunista de So Paulo, a ALN acumulava um histrico de assaltos bemsucedidos a bancos e carros pagadores. Aliado ao alto grau de organizao do grupo,
conseguiram atuar por um ano sem que fossem descobertos devido a ttica de espalhar boatos
e especulaes, bem como, no assumir a autoria dos ataques. Entretanto, durante um assalto
a um carregamento de trinta e um mil dlares do Instituto de Previdncia da Guanabara, um
dos indivduos foi preso e, sob tortura, delatou o grupo.
Contudo, todo o dinheiro arrecadado era suficiente para a veiculao de seus panfletos,
sempre alegando que tinham por objetivo iniciar uma revoluo em direo a um regime
socialista. A veiculao tambm era importante para conseguir apoio popular. Os estudantes
eram o principal pblico e tambm a base de militantes do grupo, assim a mensagem corria
com mais facilidade dentro das universidades. A compra de armas tambm foi favorecida e o
envio de alguns militantes a Cuba para treinamento foi possvel.
Em auxlio Dissidncia Universitria da Guanabara, que planejaram o sequestro do
embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, a ALN destacou Virglio
Gomes da Silva que j possua treinamento de guerrilha em Cuba e Joaquim Cmara Ferreira,
que era o brao-direito de Marighella, para a ao. Conforme dissertou Ridenti (1993) em 4
de setembro de 1969, o embaixador interceptado em seu carro e sequestrado por dois dias.
Tal ato foi parte de uma negociao para libertao de presos polticos, ao fim, revelou-se
bem-sucedida j que os militares autorizaram a veiculao uma nota na TV criticando o
governo e quinze presos foram liberados e enviados para o exlio no Mxico.

Em 11 de junho de 1970, aconteceu o sequestro do embaixador da Alemanha

Ocidental, Ehrenfried von Holleben, em conjunto com a Vanguarda Popular Revolucionria
-VPR-. O carro do embaixador foi abalroado e o de seus batedores foi fuzilado sem reaes ao
fogo. Sua liberdade foi negociada em troca da libertao de quarenta presos polticos e, mais
uma vez, foram bem-sucedidos. Todos foram enviados para o exlio na Arglia e o
embaixador foi libertado logo em seguida.
Segundo Ulstra (2016), os militares demoraram at 1969 para reagir s aes bemsucedidas dos grupos guerrilheiros porque eram incrdulos quanto a sua capacidade. Ento,
organizaram seus grupos de contra-ataque como o Centro de Informaes do Exrcito (CIE),
da Marinha (Cenimar) e o Ncleo do Servio de Informaes de Segurana da Aeronutica
(N-Sisa) e tinham sua prpria autonomia para realizar aes gosto. Iniciada a represso, a
guerra de guerrilha, tanto no campo quanto nas cidades, foi fadada ao fracasso. Terminou
com grande maioria dos militantes no exlio e os que insistiram em lutar sucumbiram ao
regime. Entretanto, foram capazes de reprimir em demasia todo e qualquer tipo de
movimentao nos cenrios rurais e urbanos e pode-se dizer que se iniciou a partir do
assassinato de Carlos Marighella em 4 de novembro de 1969 como a primeira resposta.
Por terem passado tanto tempo sem serem combatidos, a ALN no se atentou para a
necessidade de inovao e isto tampouco est expresso no manual de Marighella. Existe a
preocupao em manter a guerrilha em segurana, contudo no se evolui na discusso de
como adequar essa segurana, por exemplo, a novos fatores que podem por ventura surgir na
relao situacional. Entretanto o desrespeito ao princpio de silncio enquanto na priso foi
o que ativou o incio do fracasso da organizao, agravado pela no inovao em sua cultura
de securitria.
4 A EXPERINCIA DO BAADER MEINHOF
De acordo com Ruttscheidt (2007) o grupo Baader-Meinhof nome cunhado pela
mdia- considerava-se uma guerrilha urbana anti-imperialista de extrema esquerda da
Alemanha Ocidental. De 1970 a 1998, o grupo exerceu atividades, comeando com grande
efervescncia e terminando quase que por ostracismo e enfraquecimento. Nos anos 1970
houve o crescimento de movimentos estudantis que contestavam instituies estatais, grandes
postos de comando e cargos de governo ocupados por ex-oficiais nazistas. Um dos seus
pontos cruciais de insurgncia foi a clandestinidade do partido comunista em 1956.
Em consonncia com Aust (2008), Ulrike Meinhof, apoiada por seus ideais

comunistas, comeou a escrever para a revista Konkret3, fundada para encobrir seu antigo
nome Studenkurier4 na tentativa de retirar-se como alvo do governo. Ulrike, atravs do
trabalho na revista, reuniu vrios nomes que apoiaram sua causa e atingiu o posto de editorachefe. O KPD5 -Partido Comunista da Alemanha-, estava entusiasmado: Ela tem uma grande
carreira poltica frente. Realmente uma grande carreira (AUST, 2008).
De acordo com Smith e Moncourt (2009) assim que a Segunda Guerra Mundial
acabou, o territrio alemo foi dividido em quatro grandes partes: americana, britnica,
francesa e sovitica. As trs primeiras divises pertenciam a parte ocidental, isto , capitalista,
j a ultima, era de possesso da URSS e do socialismo. Deste modo, a Alemanha foi dividida
em dois pases: o lado ocidental passou a ser chamado Repblica Federal da Alemanha
(FRG) e o lado oriental Repblica Democrtica da Alemanha (GDR). O Plano Marshall,
desenvolvido pelos Estados Unidos, foi o catalizador das relaes e consequentemente da
aproximao dos dois pases.
A Alemanha Ocidental era uma pea fundamental para o Imperialismo americano,
muito mais do que o Reino Unido ou a Frana: Claro, o Plano Marshall no era
simplesmente um projeto econmico local: desde o incio pretendia-se que a
Alemanha Ocidental tambm fosse um posto avanado europeu do imperialismo dos
EUA (SMITH; MONCOURT, 2009, p. 11).

Depois de devastada pela Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos ofereceram

suporte financeiro para o reerguimento da Alemanha Ocidental em troca de ajuda para o
capitalismo no continente europeu. A estratgia foi bem sucedida, seguida de rpida
prosperidade e crescimento econmico. O capitalismo e a aliana com os Estados Unidos
acabaram se tornando um modelo a ser seguido pelos pases europeus que tinham sido
destrudos pela guerra. Os EUA utilizaram ento, o pas como ponto estratgico para
disseminar sua nova ordem imperialista, sendo esta o estopim da emergncia da RAF.
O resultado foi uma Alemanha Ocidental com mais de cem bases norte-americanas
no seu territrio e uma classe dominante ansiosa para apoiar o imperialismo
americano em todo o mundo. Isto foi conseguido atravs de (1) agir como um canal
para apoio financeiro e militar a regimes anticomunistas opostas aos movimentos de
libertao nacional, (2) que estabelece a penetrao neocolonial das ex-colnias em
nome do Ocidente, e (3) apoio logstico para as foras armadas americanas de
intervenes em todo o mundo (SMITH; MONCOURT, 2009, p. 11).

Este novo cenrio acabou explorando de forma extrema o trabalhador operrio e

dividindo tambm a Alemanha em duas grandes frentes: A frente da classe que era
3 Concreto em traduo literal; revista de esquerda radical financiada pelo Partido Comunista
Alemo.
4 Correio de estudo; antigo nome da revista Konkret.
5 Kommunistische Partei Deutschlands, em alemo.

privilegiada e a frente da que era altamente oprimida. Como expuseram Smith e Moncourt
(2009), alguns radicais e a RAF costumavam enxergar o Terceiro Reich uma questo de hipercapitalismo, e a resposta para tanto seria um hiper-anti-capitalismo. Assim, os membros da
RAF simpatizaram e posteriormente integraram o partido comunista como uma forma de
combater o novo governo errtico, uma segunda emergncia do nazismo. No cenrio de
1956, o Partido Comunista foi colocado de volta na marginalidade, com a pretenso do
governo de fazer da Alemanha uma ptria mais segura. Embora a RAF tenha se tornado uma
faco extremista, as causas do grupo foram, em certa medida, legtimas.
Segundo Monteiro (2015) Andreas Baader, Ulrike Meinhof e Gudrun Ennslin foram
em 1970 Jordnia para participarem de um treinamento de guerrilha. O que demonstrava
claramente a confluncia de interesses da RAF com os salientados por Carlos Marighella em
seu manual, que incentivou literalmente as aes do grupo e discriminava os passos a serem
seguidos por aqueles que queriam defender um ponto de vista a partir de uma guerrilha.
Meinhof, que por sua vez era jornalista formada e que j escrevia para vrias revistas, dentre
elas revistas de esquerda, com grandes ensaios tericos, decidiu ento, publicar seu livro O
Conceito da Guerrilha baseado nos pilares de Marighella e de seu manual.
No campo de treinamento da Jordnia, o grupo foi liderado por Ali Hassan Salameh,
um dos lderes do grupo terrorista secular da Jordnia: Setembro Negro. O descontentamento
do grupo com o treinamento que estava recebendo, rendeu uma greve em campo. Baader
queria o tratamento e treinamento descritos por Marighella em seu manual e no o
treinamento sem respaldo terico que estavam recebendo que era basicamente pautado na
guerrilha da selva. Meinhof reivindicava o tratamento que os capacitassem para uma guerrilha
dentro das cidades. Segundo Marighella, o treinamento em um campo afastado nada poderia
condizer com o treinamento que um guerrilheiro urbano deveria ter, seus obstculos e seu
palco de atuao eram completamente diferentes.
Assim como descrito por Marighella (1969), e em um paralelo com a RAF, o
terrorismo no deveria ser um movimento a ser combatido, a violncia e o terror com motivos
e causas deveriam ser admirados. Em consonncia com Huffman (2011) o grupo utilizou o
manual como a bblia, embora seja claro, que o livro era fatalmente equivocado. O manual
chegou em um tempo extremamente fortuito para os revolucionrios, ele trazia a guerrilha das
selvas de Che Guevara, para os centros urbanos. O desejo e a euforia dos alemes eram
tamanhos que j estavam planejando a sua prpria campanha revolucionria urbana antes
mesmo de entrarem em contato com as ideias de Marighella, desta forma, possvel notar o
tamanho do contentamento ao ver publicado em um livro, tudo aquilo que ainda se

consolidava para o grupo no mundo das ideias. Ainda segundo Huffman (2011), durante os
anos de 1970 era menos difcil para novos militantes se tornarem terroristas do que hoje
em dia na atual conjuntura internacional.
O modo de vida, preparao para a guerrilha urbana, armas, razes, alvo, preparao
tcnica, organizao do grupo, logstica, vantagens, conhecimento de terreno, mobilidade e
velocidade, capitao de informaes, ato de tomar decises, objetivos e tticas, modelos de
ao, assaltos a bancos e a estabelecimentos, ocupaes, emboscadas, tticas de rua, greves,
confiscos, deseres, expropriao de armas, libertao de prisioneiros, execues,
sequestros, sabotagem, terrorismo, propaganda armada, guerra psicolgica, resgate de feridos,
segurana da guerrilha, apoio popular e treinamento para seleo de guerrilheiros, foram
todos os aspectos do livro levados risca pela RAF. A interpretao pura do livro serviria para
chamar ateno para o movimento, ao passo que, agregava singularidade e peso para seu
idealismo.
Revolucionrio
patriota ardente e bravo
Luta pela liberdade agindo underground
Est preparado em tticas, armas, munio e equipamento
mvel, ataca as corporaes, o governo, os imperialistas e os ricos
ser com alta moralidade. paciente e frio
Ataca e recua, no se entrega fome, fadiga, chuva e calor e no tem medo
Bem como esquematizado por Wainberg (2013), uma guerrilha armada para se tornar
eficiente, deve seguir os passos institucionalizados por Marighella. No esquema possvel
identificar a luta armada de Baader Meinhof como exemplo de uma guerrilha do Manual: O
movimento era revolucionrio, queria quebrar a ordem imperial americana e colocar o
socialismo em voga. Era patriota, mas no s, defendia as injustias na Alemanha, mas
tambm aquelas fora de seu pas. O Caso do X6 Persa pode exemplificar esta passagem como

um momento catalizador descrito por Chenshaw (apud Schmid) (1981).

Huffman (2011) descreve o caso do X com exatido. O X da Prsia em uma visita
diplomtica Alemanha Ocidental, foi recebido com vrios protestos que continuaram
durante a sua estadia no pas em frente ao seu Hotel. Na Prsia, a populao estava vivendo
em situao precria, margem da falta de dignidade e condies mnimas de respeito aos
Direitos Humanos. Os universitrios alemes se mobilizaram e reagiram a esta causa,
utilizando o instante da visita do X como momento para impor suas crticas ao governo. Na
revolta, alguns estudantes se irritaram e tentaram invadir a barreira estabelecida pela polcia.
Nesta hora, a polcia lanou mo de seus meios atacando de forma hostil os estudantes,
chegando ao ponto de matar um deles. Para o grupo Baader Meinhof, a utilizao da fora
fsica por um agente de segurana do Estado foi o ponto crucial para recrudescer os nimos do
grupo e leva-los batalha.
De acordo com Monteiro (2015) o grupo no dava importncia para os meios que
utilizaria, tinha somente que atingir o seu objetivo. Lutava pela liberdade do povo, pela
desalienao americana, e por uma democracia social. Possua um grande estoque de
armamento e antes de cada ataque se preparavam estrategicamente. No possuam alvo fixo e
atacavam qualquer um que se projetasse como inimigo do povo. Era um movimento frio e
calculista, no agia com d, agia de acordo com seus objetivos. E por fim possua a grande
capacidade de se adaptar a situaes adversas.
Assim como descrito por Marighella (1969) a RAF acreditava que tanto o xito da
guerrilha urbana como o da guerra psicolgica dependiam da luta armada, da violncia.
Foram iniciados ento, atentados, assaltos a bancos e a estabelecimentos, pessoas foram
sequestradas, algumas torturadas e outras mortas, assim Marighella, principalmente como
grande alicerce do grupo Baader-Meinhof, ganhou a fama de idelogo do terror que acabou
percorrendo o mundo.

5 CONCLUSO
Em suma, o manual serve como parmetro para unificar a guerra de guerrilha ttica e
ideolgica, isto , ele existe para que as aes coordenadas de vrios grupos possam ser
6 Nome dado a monarcas que governaram a Prsia atual Ir - antes da revoluo iraniana de
1979.

melhor aproveitadas. Segundo Betto (1987) a inteno buscar estabelecer critrios para que
esses grupos tenham informaes suficientes para continuarem a promover a revoluo
aspirada por Marighella. O Mini Manual do Guerrilheiro Urbano considerado uma obra
clssica para o desenvolvimento do tema devido a sua proposta solidria. O carter
internacional do comunismo chama ateno para o compartilhamento de estratgicas e tticas
com finalidade de construir uma melhor linha de trabalho.
Ainda consonante a Betto (1987) tambm explicita o tipo de resultado que se busca
alcanar atravs de seu guia de regras de guerra e guerrilha urbana, visto que, o manual possui
a capacidade de desenhar o inimigo com perfeio. A obra coloca em voga a capacidade das
guerrilhas urbanas de tornar a ao do oponente previsvel, bem como, estabelecer
rapidamente uma estratgia para retali-lo. Para Magalhes (2012) o inimigo identificado pelo
Manual do Guerrilheiro muitas vezes o prprio Estado, a ditadura, o fascismo ou o prprio
sistema capitalista.
De acordo com o Centro de Documentos de Movimentos Armados (1969) este rival,
por sua vez, no caso da Ao Libertadora Nacional, foi bem delimitado na prpria forma de
governo, a ditadura opressora e hostil vigente no Brasil. As passagens do manual podem ser
bem exemplificadas ao que tange a polcia, os militares e a prpria manuteno e articulao
da guerrilha, ou seja, como se manter e como utilizar seus recursos de forma a maximizar os
benefcios da sua causa. Entretanto, uma grande falha de representao do manual em sua
atividade se deve a falta de preocupao com inovaes, tanto no campo blico, armas e
artefatos explosivos, como a prpria segurana da guerrilha. Este foi um dos maiores fatores
que no representaram o sucesso do manual na prtica.
Depois de iniciada a represso pelas duas partes, embora com uma pequena retaliao
por parte do governo, sua nica preocupao era de manter-se no jogo, e no de buscar novas
e criativas tticas de guerra. Inovaes s veem a partir da necessidade, como o grupo no se
via constrangido por parte da oposio, tambm no articulava novas formas de combate para
retali-la.
J no que concerne ao Baader Meinhof, o grupo obteve relevante sucesso com o
Manual do Guerrilheiro. Ulrike apoiando-se nos pilares de Marighella, escreveu o prprio
livro, transcrevendo-o para a realidade do grupo e da Alemanha. Para Aust (2008) o manual,
acabou por incentiv-los a buscar treinamento na Jordnia com um dos lderes do Setembro
Negro, demonstrando de forma clara a influncia das palavras de Marighella no
comportamento e formulao de estratgias do grupo.
Marighella, mesmo distante, conseguiu ter sua obra repercutida tanto a nvel

domstico quanto a nvel internacional. Para Magalhes (2012) o interessante em anlis-lo

pauta-se na transnacionalizao de sua didtica de guerra. O manual foi o grande catalizador
das guerrilhas europeia e principalmente da guerrilha alem durante os anos 70. Isto ,
Marighella teve suas palavras difundidas por meios no-convencionais, devido ao carter
eloquente e emergencial em suas palavras ao ponto de ser traduzido para o alemo antes de se
tornar um livro didtico para os EUA, uma vez que o Estado consolidava-se como o
hegmona da poca e uma das maiores naes em termos de segurana.
Destarte, faz-se necessrio ressaltar e enfatizar o sucesso do Minimanual da Guerrilha
Urbana, desenvolvido pelo guerrilheiro e primeiro inimigo da ditadura brasileira, Carlos
Marighella. Seja como terrorista ou como grande revolucionrio, inequvoco que Marighella
obteve demasiado sucesso, que seu livro foi uma grande ferramenta de articulaes de
guerrilhas urbanas e que recrudesceu grupos e ativistas tanto nvel nacional como
internacional. At hoje sustentam-se guerrilhas urbanas que usaram Marighella como mentor,
e suas palavras continuaro a ecoar enquanto existir grupos resistentes ao governo ou
qualquer forma de represso.

Abstract
During the Cold War, several groups have proposed the guerrilla war, and in 1969, Carlos
Marighella writes your manual with information that a guerrilla need to know to stay in the
fight against the state through the organization. This book influenced both guerrillas in Latin
America, as in Europe, both under the revolutionary left spectrum. In this way we will
examine a case study examples of the National Liberation Alliance in domestic territory and
the Baader Meinhof group in Germany.

Keywords: ALN. Baader Meinhof. Cold War. Urban guerrillas. Mininmanual the Urban
Guerrilla. Carlos Marighella.
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