Caderno 40 PDF
Caderno 40 PDF
Caderno 40 PDF
ISBN 978-85-334-2339-8
CADERNOS
9 788533 423398
de
ATENO BSICA
ESTRATGIAS PARA O CUIDADO DA
PESSOA COM DOENA CRNICA
O cuidado da pessoa tabagista
40
40
Braslia DF
2015
MINISTRIO DA SADE
BRASLIA DF
2015
MINISTRIO DA SADE
Secretaria de Ateno Sade
Departamento de Ateno Bsica
BRASLIA DF
2015
Reviso tcnica:
Carolina de Campos Carvalho
Cicero Ayrton Brito Sampaio
Daniela Marques das Mercs Silva
Lvia Custdio Puntel Campos
Michelle Leite da Silva
Maria Cristina Correa Lopes Hoffmann
Natlia Vargas Patrocnio de Campos
Rui Leandro da Silva Santos
Autoria:
Anna Luiza Braga Pl
Deborah Alencar de Oliveira
Fabola Danielle Correia
Fernando Zanghelini
Jaqueline Silva Sousa
Laura dos Santos Boeira
Luiz Henrique Costa
Marcelo Gervilla Gregrio
Marcelo Pellizzaro Dias Afonso
Nubia Mendonca Ferreira Borges
Patrcia Sampaio Chueiri
Priscila Regina Torres Bueno
Silvia Maria Cury Ismael
Thais Severino da Silva
Coordenao editorial:
Laeticia Jensen Eble
Marco Aurlio Santana da Silva
Editora responsvel:
MINISTRIO DA SADE
Secretaria-Executiva
Subsecretaria de Assuntos Administrativos
Coordenao-Geral de Documentao e Informao
Coordenao de Gesto Editorial
SIA, Trecho 4, lotes 540/610
CEP: 71200-040 Braslia/DF
Tels.: (61) 3315-7790 / 3315-7794
Fax: (61) 3233-9558
Site: www.saude.gov.br/editora
E-mail: editora.ms@saude.gov.br
Equipe editorial:
Normalizao: Luciana Cerqueira Brito
Reviso: Khamila Silva e Tatiane Souza
Diagramao: Marcelo S. Rodrigues
Edio tcnica:
Patricia Sampaio Chueiri
Luiz Henrique Costa
Reviso geral:
Patricia Sampaio Chueiri
Laura dos Santos Boeira
Marcelo Pellizzaro Dias Afonso
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
Ficha Catalogrfica
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Fatores de risco prevenveis para as doenas crnicas no transmissveis ......................... 23
Figura 2 Trade da dependncia fsica................................................................................................. 41
Figura 3 Um episdio de cuidado........................................................................................................ 45
Figura 4 Estgios motivacionais Roda de Prochaska ....................................................................... 51
Figura 5 Os seis componentes do mtodo clnico centrado na pessoa ............................................. 59
Figura 6 Substncias qumicas componentes do cigarro.................................................................... 85
LISTA DE GRFICOS
LISTA DE QUADROS
LISTALISTA
DE FLUXOGRAMA
DE QUADROS
Fluxograma 1 Fluxo de identificao e abordagem do tabagista no territrio ......................... 48
LISTA DE SIGLAS
AB Ateno Bsica
APA Associao Psiquitrica Americana (American Psychiatric Association)
AVC/AVE Acidente vascular cerebral/enceflico
Ciap-2R Classificao Internacional de Ateno Primria
CICQTC Comisso de Internalizao da CQTC
CID-10 Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados com a Sade, dcima edio
CQCT Conveno-Quadro para o Controle do Tabaco da OMS
DAB Departamento de Ateno Bsica
DAP Doena arterial perifrica
DCNT Doenas crnicas no transmissveis
Dpoc Doena pulmonar obstrutiva crnica
DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, quinta edio
ESF Estratgia Sade da Famlia
EM Entrevista motivacional
GM Gabinete do Ministro
IAM Infarto agudo do miocrdio
INCA Instituto Nacional de Cncer
MS Ministrio da Sade
ONG Organizao no governamental
OMS Organizao Mundial da Sade
Paap Perguntar e avaliar, aconselhar e preparar
Paapa Perguntar e avaliar, aconselhar, preparar e acompanhar
PNCT Programa Nacional de Controle do Tabagismo
PSE Programa Sade na Escola
PTA Poluio tabagstica ambiental
TRN Terapia de reposio de nicotina
SES Secretaria Estadual de Sade
SMS Secretaria Municipal de Sade
SNC Sistema Nervoso Central
SOE Sem outra especificao
SUS Sistema nico de Sade
UBS Unidade Bsica de Sade
VEF1 Volume Expiratrio Forado no Primeiro Segundo
Vigitel Vigilncia de fatores de risco e proteo para doenas por inqurito telefnico
SUMRIO
Responsabilidades e atributos da Ateno Bsica ............................................................................... 15
Primeiro acesso .................................................................................................................................. 15
Integralidade ...................................................................................................................................... 15
Longitudinalidade .............................................................................................................................. 16
Coordenao do Cuidado .................................................................................................................. 16
Apresentao .......................................................................................................................................... 19
1 Introduo ............................................................................................................................................ 21
1.2 Epidemiologia .............................................................................................................................. 22
1.2.1 Relao do tabagismo com as doenas crnicas no transmissveis ................................. 22
1.2.2 Epidemiologia mundial ....................................................................................................... 23
1.2.3 Epidemiologia no Brasil ....................................................................................................... 24
1.3 Benefcios da interrupo do tabagismo ................................................................................... 29
2 Controle do tabaco no Brasil............................................................................................................... 31
2.1 Preveno do tabagismo ............................................................................................................. 31
2.2 Evoluo da legislao para controle do tabaco no Brasil........................................................ 32
2.3 A Conveno-Quadro para o controle do tabaco da OMS ....................................................... 33
2.4 Diretrizes para tratamento da cessao do tabagismo............................................................. 34
3 Tabagismo passivo ............................................................................................................................... 37
4 Tabagismo ativo ................................................................................................................................... 39
4.1 Dependncia ao tabaco ............................................................................................................... 39
4.1.1 Dependncia fsica (Dependncia qumica) ....................................................................... 40
4.1.2 Dependncia psicolgica ..................................................................................................... 41
4.1.3 Dependncia comportamental (Condicionamento) .......................................................... 42
4.2 Classificao diagnstica ............................................................................................................. 42
4.2.1 CID-10 ................................................................................................................................... 43
4.2.2 DSM-V ................................................................................................................................... 44
4.2.3 Ciap-2R.................................................................................................................................. 44
.......................................................................................................................................... 119
Anexos
.......................................................................................................................................... 125
.......................................................................................................................................... 135
Responsabilidades e
atributos da Ateno
Bsica
A Ateno Bsica (AB) ocupa uma posio privilegiada e estratgica para controle do tabaco
dentro do Sistema nico de Sade (SUS), assim como para diversos outros agravos crnicos
sade, resultado de seus quatro atributos essenciais: (1) primeiro acesso; (2) integralidade; (3)
longitudinalidade; e (4) coordenao do cuidado (BRASIL, 2010).
Para alm desses quatro atributos, espera-se que as equipes de AB sejam resolutivas, ou seja,
por meio de um cuidado qualificado e abrangente, resolvam a maior parte dos problemas de
sade da sua comunidade. Uma vez que o tabagismo ainda um problema de sade prevalente
no Pas, seguro que o cuidado da pessoa que fuma e a preveno para o incio deste hbito
fazem parte do leque de suas responsabilidades.
Primeiro acesso
O Primeiro Acesso ou Acesso de Primeiro Contato do indivduo com o sistema de sade
, enquanto atributo, descrito como a acessibilidade e a utilizao do servio de sade como
fonte de cuidado a cada novo problema ou novo episdio de um mesmo problema de sade,
com exceo das verdadeiras emergncias e urgncias mdicas (BRASIL, 2010; STARFIELD, 2002).
O Primeiro Acesso pressupe maior proximidade entre profissional/servio de sade e usurio
e a construo de vnculo mais slido entre ambos. Esses fatores se relacionam intimamente
com a efetividade de tratamentos, especialmente aqueles relacionados mudana de hbitos,
incluindo a cessao tabgica.
Integralidade
A Integralidade definida pelo leque de servios disponveis e prestados pelo servio de
AB, ou seja, aes que o servio de sade deve oferecer para que os usurios recebam ateno
integral, tanto do carter biopsicossocial do processo sade-doena, como aes de promoo,
de preveno, de cura e de reabilitao adequadas ao contexto da AB, mesmo que algumas aes
no possam ser oferecidas dentro das Unidades Bsicas de Sade (BRASIL, 2010; STARFIELD, 2002).
15
Longitudinalidade
A Longitudinalidade definida pela existncia de uma fonte continuada de ateno, assim
como sua utilizao ao longo do tempo. Do mesmo modo que o Primeiro Acesso, a relao
entre a populao e sua fonte de ateno deve se refletir em uma relao interpessoal intensa
que expresse a confiana mtua entre os usurios e os profissionais de sade (BRASIL, 2010;
STARFIELD, 2002).
A pessoa que conhece e conhecida por sua equipe de sade tende a se engajar mais no
cuidado pactuado e compartilhado de sua sade, o que em ltima anlise promove maior adeso
e melhores desfechos, sendo bastante interessante no cenrio da preveno da iniciao e na
cessao tabgica.
Coordenao do Cuidado
Entende-se por Coordenao do Cuidado a capacidade de se integrar todo cuidado que o
paciente recebe em diferentes pontos, por meio do gerenciamento e da coordenao entre
os servios (BRASIL, 2010). Sem ela, a longitudinalidade perderia muito do seu potencial, a
integralidade seria dificultada e a funo de primeiro contato tornar-se-ia uma funo puramente
administrativa (STARFIELD, 2002, p. 365).
16
17
Apresentao
19
Esperamos que os objetivos deste material sejam plenamente alcanados. Para isso, contamos
ainda, como apoio didtico-pedaggico complementar, com o Curso de Cessao do Tabagismo na
Ateno Bsica, curso na modalidade educao a distncia, gratuito, disponvel na Comunidade
de Prticas1 , em <http://atencaobasica.org.br/courses>.
Que voc, profissional de sade, sinta-se seguro sobre o seu papel, sua importncia e a sua
potencialidade no cuidado das pessoas, sejam elas tabagistas ou no. Boa leitura!
20
Criada em 2013, a Comunidade de Prticas um espao on-line onde gestores e trabalhadores da Sade
se encontram para trocar informaes e compartilhar experincias sobre seu cotidiano de trabalho. Esses
atores formam, assim, uma rede colaborativa voltada para a melhoria das condies de cuidado sade da
populao, que conta em 2015 com mais de 30 mil inscritos. A Comunidade de Prticas hospeda um blog
e mais de uma centena de Comunidades especficas (a maioria delas abertas), alm de conter uma seo
para Relatos e oferecer Cursos gratuitos para todos os profissionais da AB. Conhea mais em: <https://
atencaobasica.org.br/>.
Introduo
O tabaco representa um grave problema para os sistemas nacionais de sade. Apesar dos
esforos de controle, seu uso se mantm prevalente em todo o mundo e cresceste na maioria dos
pases em desenvolvimento (excetuando o Brasil, onde a prevalncia decrescente desde o final
do sculo passado), definindo a Epidemia Mundial do Tabaco (GARRETT; ROSE; HENNINGFIELD,
2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001). Primeira causa de morte evitvel, o uso do tabaco
gera altos custos sociais e econmicos.
Dessa maneira, urge fortalecer, ampliar e difundir os esforos de controle do tabaco no Pas,
que vem apresentando importantes avanos nas ltimas dcadas. O controle do tabaco, no mbito
do cuidado/ateno em sade, pode ser resumido em preveno de iniciao e tratamento para
cessao do uso do tabaco, ambos objetos deste material.
Assim, a seguir, apresentam-se algumas definies relevantes a respeito do tabaco e do
tabagismo. Outras definies relevantes so apresentadas no Glossrio, ao final do Caderno.
1.1 Definies
O consumo de derivados do tabaco, definido como tabagismo, pode ser feito de diferentes
formas, definindo-se duas grandes categorias:
s Tabaco fumado.
s Tabaco no fumado.
Define-se como tabaco fumado o tabaco consumido a partir da sua queima (gerando
fumaa). O principal representante deste grupo o cigarro industrializado, que conta ainda
com os cachimbos, charutos, cigarros de palha e narguil. A fumaa exalada pelo produto afeta
no somente o usurio, definido como tabagismo ativo, mas tambm as pessoas que esto ao
seu redor e expostas poluio tabagstica ambiental em locais fechados ou cobertos, definida
como tabagismo passivo.
21
1.2 Epidemiologia
1.2.1 Relao do tabagismo com as doenas crnicas no transmissveis
Com o advento da Transio Epidemiolgica, as doenas crnicas no transmissveis (DCNT)
tornaram-se progressivamente mais prevalentes ao longo do ltimo sculo, e representam hoje
a maior carga de doena no Brasil e no mundo. Os principais integrantes desse grupo so as
doenas cardiovasculares, as neoplasias e o diabetes mellitus. Em 2008, as DCNT representaram
63% de todas as causas de morte no mundo, sendo que 80% dessas mortes ocorreram em pases
de renda baixa e mdia (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2011a). No Brasil, as estatsticas
tambm so alarmantes: em 2007, 72% das mortes foram ocasionadas em decorrncia destas
patologias, sendo 31% por doenas do aparelho circulatrio, 16,3% por neoplasias e 5,2% por
diabetes (SCHMIDT et al., 2011).
22
Abuso do
lcool
Cardiovascular
Diabetes
Cncer
Doenas
Respiratrias Crnicas
Fonte: Doenas Crnicas No Transmissveis e os Fatores de Risco, ACTBr, 2014 (Adaptado de Tobacco Atlas, 2009).
Disponvel em: <http://www.actbr.org.br/uploads/conteudo/968_Folder_final.pdf>.
23
24
35,00%
30,00%
25,00%
20,00%
Prevalncia de
fumantes
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
PNSN
1989 (> 18
anos)
Inqurito
PNAD
Domiciliar 2008 (>15
de 2004
anos)
(>15 anos)
PNS 2013
(> 18
anos)
Essa reduo no nmero de fumantes pode ser explicada como consequncia de uma srie
de aes macrorregulatrias, visando reduzir a atratividade do cigarro como: proibio de
publicidade do tabaco, aumento de impostos sobre o produto, incluso de advertncias mais
explcitas sobre os efeitos danosos do tabaco nos maos, legislao para restrio do fumo em
ambientes fechados, campanhas para controle do fumo e o desenvolvimento de programas de
abordagem e tratamento, as quais sero abordadas adiante (BRASIL, 2014b).
- Caractersticas da populao tabagista
Algumas variveis se associam prevalncia de tabagismo, em especial o sexo, a raa/cor, o
tipo de regio, a escolaridade e a renda. A prevalncia de tabagismo consistentemente superior
no sexo masculino, na raa/cor preta e na regio rural. Em relao escolaridade, as propores
de fumantes so mais expressivas entre aqueles com menor grau de instruo, reduzindo-se
progressivamente medida que se aumentam os anos de estudo. Alm disso, a prevalncia de
fumantes encontrada tambm se apresenta inversamente proporcional renda (BRASIL, 2011a;
2014e; 2014d).
25
20,00%
15,00%
11,20%
Masculino
10,00%
Feminino
5,00%
0,00%
Sexo (PNS 2013)
Fonte: IBGE; FIOCRUZ, 2014.
18,00%
17,40%
17,00%
16,00%
Urbana
15,00%
14,60%
14,00%
13,00%
Tipo de regio (PNS 2013)
Fonte: IBGE; FIOCRUZ, 2014.
26
Rural
20,00%
15,00%
0 a 8 anos de estudos
15,00%
10,30%
10,00%
7,40%
5,00%
9 a 11 anos de estudos
12 ou mais anos de
estudos
0,00%
Escolaridade (VIGITEL 2013)
Fonte: BRASIL, 2014d.
25,00%
23,10%
20,40%
20,00%
15,00%
17,60%
16,10%
13,30%
Menos de 1/4 de
salrio mnimo
1/4 a menos de 1/2
salrio mnimo
1/2 a 1 salrio mnimo
10,00%
1 a menos de 2 salrios
mnimos
5,00%
2 salrios mnimos ou
mais
0,00%
Renda (PNAD 2008)
Fonte: BRASIL, 2014d.
27
20,00%
17,80%
18,00%
16,40%
16,00%
Brancos
14,00%
13,10%
12,00%
Pretos
Pardos
10,00%
8,00%
Raa/Cor (PNS 2013)
Fonte: IBGE; FIOCRUZ, 2014.
A PNS 2013 evidenciou outras estatsticas importantes, relacionadas aos resultados de polticas
macrorregulatrias citadas anteriormente. A proporo de pessoas com 18 anos ou mais que
afirmaram terem sido expostas mdia antitabaco foi quase duas vezes maior que a proporo na
mesma populao exposta mdia pr-tabaco (52,1% x 28,7%). Alm disso, 86,2% dos fumantes
atuais afirmaram exposio s advertncias de sade nos maos de cigarro. A pesquisa encontrou
que 17,2% da populao adulta brasileira ex-fumante, superando a prevalncia de tabagismo
atual (IBGE; FIOCRUZ, 2014).
- O impacto do tabagismo no Brasil
Apesar da queda progressiva do seu uso, o tabaco ainda gera um alto custo social e econmico
para o Pas, somando custos diretos de assistncia e indiretos por reduo da produtividade com
absentesmo, aposentadoria por invalidez e morte prematura. A partir de dados de prevalncia
de 2008, o gasto calculado em sade atribudo ao tabagismo foi R$ 20,68 bilhes (destes, R$
15,71 bilhes para o sexo masculino). O tabaco foi responsvel por 13% do total de mortes no
Brasil, reduzindo a expectativa de vida do brasileiro fumante em cinco anos em relao ao no
fumante. Em relao aos anos de vida perdidos ajustados por incapacidade, a carga de doenas
atribuda ao tabagismo foi de 1.873.415 disability-adjusted life year (DALYs), principalmente por
infarto agudo do miocrdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), cncer de pulmo e doena
pulmonar obstrutiva crnica (Dpoc) (ALIANA DE CONTROLE DE TABAGISMO, 2012).
- O acesso ao tratamento
28
H evidncias de que o apoio ofertado aos tabagistas para cessao do tabagismo pelos
servios de sade no Brasil ainda deficiente e insuficiente, apesar do elevado porcentual dos
fumantes que desejam ou tentam parar de fumar. Na PNS de 2013, dos tabagistas com idade
de 18 anos ou mais entrevistados, 51,1% afirmaram que tentaram parar de fumar nos 12 meses
anteriores. Do total de fumantes, porm, apenas 8,8% afirmaram ter procurado tratamento com
profissional da Sade para a tentativa de cessao (IBGE; FIOCRUZ, 2014).
29
30
Controle do tabaco
no Brasil
31
32
33
34
35
Tabagismo passivo
37
Os dados do Vigitel de 2013 apontam que 10,2% dos adultos brasileiros (9,6% dos homens e
10,7% das mulheres) no fumantes moram com pelo menos uma pessoa tabagista dentro de casa
(BRASIL, 2014d). Dados semelhantes foram encontrados na PNS, com a prevalncia de 10,7% dos
adultos (9,5% em homens e 11,7% em mulheres) (IBGE; FIOCRUZ, 2014). Alm disso, 9,8% (14,1%
dos homens e 6,1% das mulheres) e 13,9% (16,9% dos homens e 10,4% das mulheres) dos adultos
que no fumam, segundo, respectivamente, Vigitel e PNS, convivem com ao menos um colega
que fuma no local de trabalho (BRASIL, 2014d; IBGE; FIOCRUZ, 2014).
Recomenda-se que, pelo risco que oferece sade do indivduo, o tabagismo passivo seja
frequentemente indagado aos usurios dos servios de sade (tanto quanto o tabagismo ativo),
incluindo tambm as crianas, podendo constituir-se como importante estratgia de identificao
de fumantes e motivao destes para abandono do tabaco.
38
Tabagismo ativo
Como apresentado anteriormente, o tabagismo ativo por definio refere-se ao uso engajado
pelo indivduo de qualquer produto derivado do tabaco. A seguir, so descritas as diversas faces da
dependncia ao tabaco.
39
40
Tolerncia
Dependncia
fsica
(qumica)
Uso
compulsivo
Sintomas
de
abstinncia
41
42
4.2.1 CID-10
A CID-10 apresenta os transtornos relacionados ao fumo dentro do Captulo V (F00-F99)
Transtornos Mentais e Comportamentais, sendo classificados conforme exposto no Quadro 3.
Alm disso, a CID-10 inclui o Uso do Tabaco (Z72.0) dentro de Problemas Relacionados ao Estilo
de Vida (Z72), presente no Captulo XXI (Z00-Z99) Fatores que influenciam o estado de sade e
o contato com os servios de sade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004).
Quadro 3 Classificao dos transtornos relacionados ao fumo pela CID-10
Captulo V Transtornos Mentais e Comportamentais (F00-F99)
F17 Transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de fumo
s F17.0 Intoxicao aguda.
s F17.1 Uso nocivo para a sade.
s F17.2 Sndrome de dependncia.
s F17.3 Sndrome (estado) de abstinncia.
s F17.4 Sndrome de abstinncia com delirium.
s F17.5 Transtorno psictico.
s F17.6 Sndrome amnsica.
s F17.7 Transtorno psictico residual ou de instalao tardia.
s F17.8 Outros transtornos mentais ou comportamentais.
s F17.9 Transtorno mental ou comportamental no especificado.
Captulo XXI Fatores que influenciam o estado de sade e o contato com os servios de sade
(Z00-Z99)
Z72 Problemas Relacionados ao Estilo de Vida
s Z72.0 Uso do Tabaco.
Notas:
Em relao ao cdigo Z72.0 Uso do Tabaco:
s O cdigo no apresenta critrios diagnsticos definidos como existem para os transtornos
mentais e comportamentais relacionados ao uso de fumo, referindo-se apenas a uso de
tabaco SOE (sem outra especificao).
s So considerados sinnimos: Uso contnuo do tabaco; Eritrocitose devido ao uso ou abuso
do tabaco; Eritrocitose secundria ao uso do tabaco; Eritrocitose secundria ao uso ou
abuso de tabaco; Dependncia do tabaco continuada; e Usurio de tabaco.
s Este cdigo exclui os diagnsticos:
o Histria da dependncia do tabaco (Z87.891).
o Dependncia de nicotina (F17.2-).
o Dependncia do tabaco (F17.2-).
o Uso do tabaco durante a gravidez (O99.33-).
s cdigo Z72.0 considerado inaceitvel como diagnstico principal, uma vez que descreve
uma circunstncia que influencia o estado de sade de um indivduo, mas no uma doena
atual ou leso, ou o diagnstico no pode ser uma manifestao especfica, mas pode ser
devido a uma causa subjacente.
Fonte: ALKALINE SOFTWARE, 2006; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2004. Com adaptaes.
43
4.2.2 DSM-V
O DSM-V, verso mais recente do instrumento de classificao da Associao Psiquitrica
Americana (American Psychiatric Association APA), publicada em maio de 2013, traz algumas
mudanas em relao ao DSM-IV. No mbito dos Transtornos Relacionados a Substncias e Adio,
houve, na nova verso, a remoo da diviso existente at o DSM-IV entre os diagnsticos de
Abuso e Dependncia de Substncias, reunindo estes em uma nica categoria diagnstica de
Transtorno por Uso de Substncias. Os antigos critrios para Abuso e Dependncia, porm, foram
conservados com mnimas alteraes para o novo diagnstico. O Transtorno por Uso de Nicotina
(DSM-IV) foi substitudo por Transtorno por Uso de Tabaco no DSM-V, os especificadores Com
Dependncia Fisiolgica/Sem Dependncia Fisiolgica foram removidos, uma classificao de
gravidade foi adotada e os especificadores de remisso reorganizados em Remisso Precoce e
Remisso Sustentada. De forma semelhante CID-10, o manual tambm incluiu os especificadores
que descrevem indivduos em um Ambiente Controlado e aqueles que esto em Terapia de
Manuteno (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014; ARAUJO; LOTUFO NETO, 2014).
Os critrios diagnsticos de Transtorno por Uso de Tabaco e Abstinncia pela DSM-V so
apresentados no Anexo B.
4.2.3 Ciap-2R
A Classificao Internacional de Ateno Primria (Ciap) (International Classification of Primary
Care ICPC), diferentemente das anteriores, foi um instrumento desenvolvido especificamente
para o cenrio da Ateno Primria Sade. Atualmente em sua segunda edio (Ciap-2),
apresenta diversas vantagens em relao s outras classificaes (WORLD ORGANIZATION..., 2009):
s Centra-se no processo de cuidado em sade do indivduo (em contraste ao foco na doena/
diagnstico das demais), classificando no somente o diagnstico (Problema de Sade), mas
tambm o Motivo de Consulta e a Interveno/Procedimento de Cuidado.
s Relaciona-se com o Registro Clnico Orientado por Problemas (ReSOAP) e permite o registro
codificado do Episdio de Cuidado2 (Figura 3), conceito profundamente relacionado
longitudinalidade, fundamental para a prtica do cuidado em sade na Ateno Bsica (AB).
44
Incio do episdio
Problema
de sade
percebido
Necessidade
de cuidado
sentida
Motivo da
consulta
Problema
de sade
detectado
Interveno/
procedimento
de cuidado
Problema
de sade
detectado
Interveno/
procedimento
de cuidado
A Ciap-2R, alm de frequentemente usada em diversos pases do mundo, passou a ser usada
tambm pelo e-SUS AB, no Pronturio Eletrnico do Cidado (PEC e-SUS AB).
A Ciap-2R descrita detalhadamente no material tcnico Classificao Internacional de
Ateno Primria (CIAP 2), de livre acesso pelo link <http://www.sbmfc.org.br/media/file/
CIAP%202/CIAP%20Brasil_atualizado.pdf> (WORLD ORGANIZATION..., 2009).
O e-SUS Ateno Bsica (e-SUS AB) uma estratgia do Departamento de Ateno Bsica para
reestruturar as informaes da Ateno Bsica no mbito nacional. Essa ao est alinhada com
a proposta mais geral de reestruturao dos Sistemas de Informao em Sade do Ministrio da
Sade, entendendo que a qualificao da gesto da informao fundamental para ampliar
a qualidade no atendimento populao. A estratgia e-SUS faz referncia ao processo de
informatizao qualificada do SUS em busca de um SUS eletrnico. Saiba mais em: <http://dab.
saude.gov.br/portaldab/esus.php>.
Os transtornos relacionados ao tabaco so classificados pela Ciap-2R com o cdigo P17 (Abuso
de Tabaco), pertencendo assim ao Captulo P (Psicolgico). Os seus critrios diagnsticos so
apresentados no Anexo C, lembrando que esse cdigo pode se referir a Motivo de Consulta ou
Problema de Sade/Diagnstico.
45
Avaliao da pessoa
tabagista
O usurio tabagista precisa ser acolhido e avaliado por sua equipe de sade. Essa avaliao
deve incluir uma investigao das principais doenas e fatores de risco relacionados ao tabagismo,
bem como da avaliao do grau de dependncia da pessoa ao cigarro, seu estgio de motivao
para a cessao do tabagismo e suas preferncias para o tratamento.
47
Orientar o usurio:
a) malefcios do tabagismo;
b) tipos de tratamento para tabagismo;
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Eu tenho feito uso descontnuo do cigarro de um ms para c, ficando sem fumar pelo menos
um dia inteiro durante este perodo.
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Contemplao
Preparao
Ao
Manuteno
Recada
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Intervenes e tratamento
As estratgias usadas para o tratamento para cessao do tabagismo podem ser divididas em
intervenes psicossociais e tratamento medicamentoso. As intervenes psicossociais incluem
aconselhamento, materiais de autoajuda e abordagem cognitivo-comportamental, com nfase
nesta ltima, que representa o alicerce principal do tratamento. O tratamento medicamentoso
aumenta significativamente as chances de o fumante alcanar a cessao completa, mas
desempenha um papel auxiliar no acompanhamento do indivduo.
Algumas teorias embasam o tratamento no farmacolgico, empoderando e motivando o
indivduo para a cessao definitiva, sendo as principais a entrevista motivacional e a abordagem
centrada na pessoa.
Veja como funciona cada uma delas.
Colaborativo porque entende que a funo do profissional de sade de auxiliar e somar com a pessoa;
evocativo porque entende que a motivao j existe dentro da pessoa e que esta motivao (e no a
motivao do profissional de sade) que promover a mudana de comportamento almejada; e que respeita
a autonomia da pessoa porque reconhece que a deciso pela mudana de comportamento absolutamente
individual.
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58
Para aprofundar nesse tema, voc pode acessar o material didtico da UNA-SUS (Universidade
Aberta do SUS), gratuito, disponvel nos formatos videoaula e texto, em: <http://ares.unasus.
gov.br/acervo/handle/ARES/406>
e
<http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/
unidades_conteudos/unidade24/unidade24.pdf>.
Desta forma, a EM e o mtodo clnico centrado na pessoa embasam teoricamente a relao
e a comunicao desejveis entre profissional de sade e indivduo no contexto da cessao do
tabagismo, e podem tambm ser aproveitadas nos demais cenrios da prtica clnica, dentro da
lgica de um cuidado integral e longitudinal de sade do indivduo.
Estas e outras ferramentas so apresentadas mais detalhadamente no Caderno de Ateno
Bsica, n 35 Estratgias para o Cuidado da Pessoa com Doena Crnica, disponvel em:
<http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_35.pdf>.
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s http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pare_de_fumar_04.pdf
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Denominao genrica
Concentrao
Apresentao
Nicotina
21 mg
adesivo transdrmico
Nicotina
14 mg
adesivo transdrmico
Nicotina
7 mg
adesivo transdrmico
Nicotina
2 mg
goma de mascar
Nicotina
2 mg
pastilha
continua
Concentrao
Apresentao
Cloridrato de Bupropriona
150 mg
comprimidos
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Apesar de a recomendao atual indicar a troca de adesivo a cada 24 horas, o uso de adesivo de nicotina ao
longo de 16 horas ao dia parece ser to efetivo quanto o seu uso por todo o dia (STEAD et al., 2012).
5
Evidncias recentes apontam que iniciar o uso de adesivo de nicotina por um curto perodo antes da tentativa
de parar moderadamente mais efetivo que o incio do adesivo na data de cessao, o que pode justificar
adequao da posologia em casos individuais. No h evidncia a respeito de outras formas de TRN para uso
anterior tentativa de parada (STEAD et al., 2012).
6
Apesar de a recomendao atual indicar a reduo gradual da dose administrada, o uso do adesivo de
nicotina por oito semanas parece ser to efetivo quanto por perodos mais longos, e no h evidncias de
que a reduo gradual de dose seja melhor do que a interrupo abrupta do tratamento (STEAD et al., 2012).
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Obstculos e desafios
para cessao
7.1 Ambivalncia
comum que o usurio apresente ambivalncia durante o processo de cessao, trazendo
em seus relatos ou atitudes o entendimento de que precisam parar de fumar, mas ao mesmo
tempo de que gostam de fumar, questionando como enfrentar suas dificuldades na vida sem o
cigarro. Muitas vezes, essa ambivalncia percebida pelo profissional como falta de motivao.
No entanto, importante que o profissional compreenda e esclarea-o que natural que se sinta
dividido entre parar e continuar, pois ele associou, ao longo dos anos como tabagista, o ato de
fumar a muitos espaos e momentos de sua vida.
O usurio deve ser estimulado a desenvolver atividades alternativas, de modo a substituir o
lugar que o cigarro ocupa em sua vida e, assim, ir desvinculando em sua rotina as associaes
estabelecidas. Portanto, a ambivalncia no deve ser interpretada como falta de motivao, mas
sim um aspecto esperado durante o tratamento do tabagismo, como com qualquer outra droga.
Esta ambivalncia precisa ser exposta, acolhida e explicada como um sentimento esperado e
comum para pessoas que esto passando por este processo, debatendo estratgias para trabalhla e us-la a seu favor: o que voc quer mais?.
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Construo de
estratgias
Exemplos
s Construo de
estratgias
s Identificar riscos de
Desenvolver
recada
habilidades para
resoluo de
problemas
s Desenvolver
estratgias
substitutivas
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s Informar sobre a
dependncia
Apoio social
a familiares e
amigos
s Cuidar/responder
s dvidas e aos
temores
s Favorecer o plano
de abandono
s Solicitar suporte
social e familiar
s Facilitar o
desenvolvimento
das habilidades
s Estimular o suporte
a outros fumantes
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Doenas relacionadas
ao tabaco
A inalao da fumaa do cigarro causa diversos efeitos nocivos sade, em especial doenas
cardacas, respiratrias e cncer, atravs de mecanismos bem conhecidos como inflamao,
estresse oxidativo, alteraes do DNA, dano endotelial, entre outros (CARVALHO, 2000; CEPEDABENITO; REYNOSO; ERATH, 2004; LAI et al., 2010; SMITH et al., 2009).
Mais de 4.700 substncias j foram identificadas na fumaa do cigarro, sendo que mais de
60 delas so cancergenas. Esses efeitos esto diretamente relacionados durao e ao grau
de exposio fumaa do cigarro, apesar de pequenas quantidades ainda se relacionarem a
diversas doenas, no existindo nveis seguros estabelecidos de consumo (ACHUTTI; ROSITO;
ACHUTTI,2004, WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2009a).
Figura 6 Substncias qumicas componentes do cigarro
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8.4 Neoplasias
O tabagismo favorece o desenvolvimento dos mais diversos tipos de cncer: pulmo, cavidade
oral, nasofaringe, orofaringe, hipofaringe, cavidade nasal, seios paranasais, laringe, esfago,
estmago, pncreas, fgado, rim (corpo e plvis), ureter, bexiga urinria, colo de tero e leucemia
mieloide (DENISSENKO et al., 1996; SMITH et al., 2000; ZOJER et al., 1996).
Fumantes possuem uma chance de 10 a 30 vezes comparados a no fumantes de se desenvolver
cncer broncognico, e este risco se mostrou associado carga tabagstica. J o cncer de
laringe, encontrado predominantemente em homens com idade entre 50-70 anos, relaciona-se
intimamente ao consumo associado do lcool e do tabaco, de maneira dose-dependente (CHOI;
88
KAHYO, 1991; SALMASI et al., 2010; SAMET et al., 1988; SAMET, 1991).
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91
Evidncias apontam que a faixa etria mais comum de iniciao do tabagismo de 10 a 19 anos,
e diversas circunstncias ligadas a este perodo podem explicar este fenmeno. O adolescente,
por estar em uma fase de transio, passa por diversas situaes de estresse e de insegurana, a
comear pelo desconforto perante as modificaes em seu corpo. O cigarro frequentemente
utilizado em situaes de nervosismo, frustrao, tenso e aborrecimento, a fim de controlar ou
minimizar esses problemas. Alm disso, o perodo da adolescncia caracteriza-se por um marcado
interesse na socializao, identificao e aceitao do indivduo perante seus pares, levando o
adolescente a seguir modelos nos grupos, o que, sem dvida, ser importante para a formao
de sua identidade adulta. Por fim, padres familiares podem ser mantidos pelo hbito tabgico.
Setenta por cento dos adolescentes fumantes relataram ter pai ou a me fumantes dentro de
casa, reforando a ideia de que o modelo constitui um fator de importncia na determinao do
hbito de fumar (ISMAEL, 2007; FIORE et al., 2008a).
Ao se iniciar a abordagem desta populao, devem ser evitadas as crticas e a desaprovao
verbal da atitude do jovem fumante. Uma postura emptica e colaborativa, dentro dos preceitos
da entrevista motivacional (abordada anteriormente), propiciar uma abordagem mais adequada,
permeada de compreenso, sensibilizao e motivao do indivduo (ISMAEL, 2007).
Os jovens fumantes precisam ser orientados e motivados para cessao do tabagismo da mesma
forma como os demais fumantes, sendo a abordagem cognitivo-comportamental, igualmente,
a pea principal no tratamento para cessao. A TRN mostrou-se segura para adolescentes, e
os malefcios do uso continuado do tabaco certamente sobrepuja qualquer risco relacionado
nicotina administrada isoladamente (FIORE et al., 2008a). As evidncias so escassas para o uso
da bupropiona, o qual no recomendado para o tratamento de indivduos menores de 18 anos
(ZWAR et al., 2011).
Por outro lado, crianas e adolescentes frequentemente encontram-se na condio de fumantes
passivos. O acompanhamento de puericultura configura-se, ento, um momento propcio para a
equipe de sade indagar se os pais so fumantes e, caso positivo, orient-los e motiv-los para a
cessao, em benefcio prprio e tambm para seus filhos.
92
9.2 Mulheres
Apesar do esforo mundial para o seu controle, o consumo do tabaco vem aumentando
consideravelmente nos pases em desenvolvimento. Uma das principais causas do crescimento da
epidemia mundial do tabagismo o aumento expressivo do uso do tabaco entre mulheres jovens
(GARRETT; ROSE; HENNINGFIELD, 2001; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001; 2009a; 2010).
Se, por um lado, a prevalncia geral de tabagismo superior em homens (inclusive no Brasil),
estudos internacionais indicam que, no grupo de 12 a 17 anos, as mulheres so hoje mais propensas
a serem fumantes dirias, ressaltando a importncia de aes de preveno iniciao para
esse grupo especfico. O uso do cigarro pelas jovens pode, muitas vezes, ser interpretado como
uma forma de protesto e de resistncia, ainda que inconsciente ou no verbalizada, frente
opresso do cotidiano de uma sociedade sexista, e isso deve ser trabalhado durante um processo
de cessao (BORGES; BARBOSA, 2009; ZWAR et al., 2011).
Em termos relativos, o tabaco promove um aumento mais substancial do risco para doenas
cardiovasculares (especialmente IAM) em mulheres, comparado aos homens. Os motivos para
essa diferena ainda no so conhecidos, mas podem estar relacionados a um efeito adverso da
fumaa do tabaco sobre o estrognio (TOBACCO FREE CENTER, 2011). Alm disso, o risco da
93
94
continua
Os riscos associados ao tabaco, para a gestante e para a criana, podem ser reduzidos pela
interrupo durante a gestao. O benefcio mais importante ocorre com a cessao no incio do
primeiro trimestre: estudos sugerem que recm-nascidos de mes que interrompem o tabagismo
neste momento apresentam medidas de peso e estatura ao nascer similares s de filhos de mes
no fumantes. Deve-se ressaltar, porm, que a cessao a qualquer momento da gravidez resulta
em benefcios para a me e a criana (FIORE et al., 2008a; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010).
Em relao lactao, o cigarro associa-se ainda reduo da produo do volume de leite
materno, da concentrao de gordura no leite e do tempo da lactao (EVER-HADANI et al.,
1994; LETSON; ROSENBERG, 2002).
A gestao e o puerprio so momentos propcios para se ofertar abordagens para cessao
do tabagismo pois, em geral, a mulher est mais sensvel com o seu bem-estar e com o
cuidado da sade do seu beb. O esclarecimento e a orientao dessas mulheres sobre todos
os riscos envolvidos com o hbito tabgico neste perodo uma importante ferramenta para
motivao da cessao, aliados s tcnicas de entrevista motivacional e da abordagem cognitivocomportamental (MELVIN et al., 2000).
A farmacoterapia com TRN de ao rpida como gomas e pastilhas pode ser empregada por
grvidas e lactantes. Apesar da preocupao relacionada toxicidade da nicotina para o feto,
pesquisas sugerem que o tabagismo representa um risco muito superior para a gestante e a
criana. Recomenda-se a utilizao da TRN para mulheres fumantes pesadas e incapazes ou
inseguras de parar por conta prpria ou auxiliadas somente pela terapia comportamental. Os
riscos e os benefcios do tratamento devem ser discutidos com a pessoa e a sua adoo ou no
deve ser decidida com a mulher (VALBS; NYLANDER, 1994; ONCKEN et al., 2008; FIORE et al.,
2008b; ZWAR et al., 2011).
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9.3 Homens
Apesar da prevalncia de tabagismo em homens brasileiros apresentar, nos ltimos anos,
queda mais ngreme em comparao com as mulheres, eles ainda representam a maior parcela
do total de fumantes, sendo a prevalncia do tabagismo de 18,9% em adultos do sexo masculino
e 11,0% do sexo feminino (BRASIL, 2014e).
O tabagismo o principal fator de risco evitvel sade do homem. Alm disso, homens tm
uma tendncia maior de uso abusivo de lcool e outras drogas e tambm so mais acometidos
por obesidade. Em mdia, homens apresentam um risco cardiovascular significamente superior
quando comparado s mulheres. O risco adicional promovido pelo tabagismo, tanto cardiovascular
quanto para mortalidade geral (incluindo neoplasias) contribui para a manuteno da grande
diferena entre as expectativas de vida dos gneros, que em 2012 era de 71,0 anos para homens
e 78,3 anos para mulheres. Contudo, com a constante reduo da prevalncia do tabagismo,
mais pronunciada no sexo masculino, a tendncia de diminuio gradual desta disparidade nas
prximas dcadas (BRASIL, 2013a).
Ainda presente no imaginrio coletivo a associao da figura masculina com atributos
como fortaleza e poder, criando-se a fantasia de que o homem est imune s mais diferentes
adversidades (GOMES; NASCIMENTO; ARAJO, 2007). Isso justifica, ao menos em parte, outros
problemas de sade pblica relacionados ao gnero masculino, especialmente nos jovens, como
acidentes de trnsito e outras causas externas de morbimortalidade. Homens tendem a procurar
menos os servios de sade para preveno e promoo de sade, inclusive no quesito de deixar
de fumar, e por esse motivo apresentam maior frequncia de tentativas de paradas sem ajuda
(FIORE et al., 2008a).
Todas essas caractersticas devem ser trabalhadas, individual ou coletivamente, durante
o perodo de cessao, a fim de orientar, sensibilizar e motivar essa populao e, por fim,
potencializar os efeitos do acompanhamento.
Para fortalecer esse tipo de ao, foi instituda pela Portaria n 1.944, de 27 de agosto
de 2009, a Poltica Nacional de Ateno Integral Sade do Homem (PNAISH). A PNAISH,
dispe-se a qualificar a sade da populao masculina na faixa etria de 20 a 59 anos, na
lgica da concepo de linhas de cuidado que respeitem a integralidade da ateno sade
desta populao. Um dos principais objetivos desta Poltica promover aes de sade que
contribuam para a compreenso da realidade masculina nos diversos contextos socioculturais
e poltico-econmicos.
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99
100
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Referncias
ACHUTTI, A. C.; ROSITO, M. H.; ACHUTTI, V. A. Tabagismo. In: DUNCAN, B. B.; SCHMIDT, M. I.;
GIUGLIANI, E. R. Medicina ambulatorial: condutas de ateno primria baseadas em evidncias.
3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. p. 533-538.
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Americans: a randomized controlled trial. JAMA, Chicago, v. 288, n. 4, p. 468-474, 2002.
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presentes no cigarro. 2011. Disponvel em: <http://www.actbr.org.br/blog/index.php/2011/11/aquimica-do-cigarro-2/>. Acesso em: 26 nov. 2014.
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ALKALINE SOFTWARE. ICD10Data.com. 2015 ICD-10-CM Diagnosis Code Z72.0. Apresenta
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cdigo Z72.0 da CID-10. Last modified 2006. Disponvel em: <http://www.icd10data.com/
ICD10CM/Codes/Z00-Z99/Z69-Z76/Z72-/Z72.0>. Acesso em: 25 nov. 2014.
ALMIRALL, J. et al. Proportion of community-acquired pneumonia cases attributable to tobacco
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Apresenta os ganhadores do prmio Luther L. Terry de 2003. 2003. Disponvel em: <http://
www.cancer.org/AboutUs/HonoringPeopleWhoAreMakingADifference/LutherTerryAwards/
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AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS. Committee Opinion. Tobacco
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disorders. 4th ed. revised. Washington: APA, 2000.
______. DSM-5 Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2014.
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104
105
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CHOI, S. Y.; KAHYO, H. Effect of cigarette smoking and alcohol consumption in the aetiology of
cancer of the oral cavity, pharynx and larynx. International Journal of Epidemiology, London, v.
20, n. 4, p. 878-885, 1991.
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110
ISSA, J. S.; MOURA, S. S. Como abordar o paciente com cardiopatia isqumica aguda?.
In: ARAJO, A. J. Manual de condutas e prticas em tabagismo. Sociedade Brasileira de
Pneumologia Tisiologia. Rio de Janeiro: Gen Editorial, 2012. p. 260-262.
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116
______. History of the WHO Framework Convention on Tobacco Control. Geneva: WHO, 2009b.
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Glossrio
Abordagem bsica (ou de baixa intensidade). Interveno que envolve um contato
intermedirio entre profissional de sade e paciente, com durao entre 3 e 10 minutos para
cada contato.
Abordagem cognitivo-comportamental. Abordagem que visa a observar, identificar e
modificar pensamentos e processos cognitivos disfuncionais que influenciam no comportamento
das pessoas.
Abordagem comportamental. Abordagem que visa a observar, identificar e modificar
comportamentos que estejam causando sofrimento para as pessoas.
Abordagem intensiva (ou de alta intensidade). Interveno que envolve um contato entre
profissional de sade e paciente mais prolongado, superior a 10 minutos para cada contato.
Abordagem mnima (ou breve). Interveno que envolve um contato muito breve entre
profissional de sade e paciente, com durao inferior a 3 minutos para cada contato.
Abstinncia definitiva (ou contnua). Suspenso definitiva de uso de determinada substncia
(neste material, especificamente relacionada nicotina). No existe um consenso quanto ao
ponto de corte para a definio de abstinncia definitiva do tabaco, que pode variar do perodo
de cinco meses em alguns estudos at o perodo de 12 meses, critrio do DSM-V, sempre contado
a partir da data de parada (Dia D). o principal parmetro utilizado para comparao da
eficcia entre os tratamentos para cessao de tabagismo.
Adesivo de nicotina. Sistema de liberao transdrmica destinado a produzir um efeito sistmico
pela difuso da nicotina numa velocidade constante, por um perodo de tempo prolongado.
Adiamento gradual de tabagismo. Estratgia de aconselhamento para o progressivo
retardamento da hora que o fumante fuma o primeiro cigarro do dia, anteriormente data de
parar (Dia D ou Quit Day).
Adio. Uso compulsivo de uma droga, com: (1) perda do controle do uso, (2) desenvolvimento
de dependncia (definida por sintomas de abstinncia quando a droga retirada) e (3) uso
continuado apesar de consequncias negativas.
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Anexos
Anexo A
Critrios diagnsticos para os transtornos de uso nocivo, sndrome de dependncia
e sndrome de abstinncia para substncias psicoativas em geral pela CID-10
F1x.1 Uso Nocivo
A. Haver provas claras de que o uso da substncia foi responsvel por (ou contribuiu
substancialmente para) danos fsicos ou psicolgicos, incluindo prejuzos no julgamento
ou comportamento disfuncional.
B. A natureza do dano deve ser claramente identificvel (e especificada).
C. O padro de uso deve ter persistido por pelo menos um ms ou ter ocorrido
repetidamente em um perodo de 12 meses.
D. O distrbio no satisfaz os critrios para qualquer outro transtorno mental ou
comportamental relacionada com a mesma droga no mesmo perodo de tempo (com
exceo de F1x.0 Intoxicao Aguda).
s F1x.2 Sndrome de Dependncia
A. Ocorrncia de trs ou mais das seguintes manifestaes em conjunto, persistindo por
pelo menos um ms ou, se persistindo por perodo inferior a um ms, repetidas vezes
em conjunto ao longo de um perodo de 12 meses.
(1) Forte desejo ou sensao de compulso por consumir a substncia.
(2) Prejuzo da capacidade em controlar o comportamento de consumo da substncia
em termos de incio, trmino ou nvel de uso, evidenciado por: consumo frequente
de grandes quantidades da substncia, ou por perodos mais longos do que o
pretendido, ou qualquer esforo malsucedido, ou desejo persistente de reduzir
ou controlar o uso da substncia.
(3) Estado de Abstinncia Fisiolgico (vide F1x.3) quando o uso da substncia reduzido
ou cessado, como evidenciado pela Sndrome de Abstinncia caracterstica para
a substncia, ou utilizao da mesma substncia (ou de substncia similar) com a
inteno de aliviar ou evitar sintomas de abstinncia.
(4) Tolerncia aos efeitos da substncia, de modo que exista a necessidade de
aumento acentuado na quantidade a ser consumida da substncia para se atingir
a intoxicao ou efeito desejado, ou uma diminuio acentuada do efeito com o
uso continuado da mesma quantidade da substncia.
125
(6) Persistncia no uso da substncia apesar de evidncias claras das suas consequncias
prejudiciais (vide F1x.1), evidenciado pelo uso continuado quando a pessoa est
realmente ciente ou quando pode-se esperar que ela tenha conhecimento da
natureza e extenso do dano causado pelo uso da substncia.
Observao 1: O diagnstico da Sndrome de Dependncia poder ser especificado quanto
ao estado de uso da substncia, no cdigo de quinto e sexto caractere, conforme a seguir:
o F1x.20 Atualmente Abstinente
s
&X 2EMISSO 0RECOCE
s
&X 2EMISSO 0ARCIAL
s
&X 2EMISSO #OMPLETA
&X SEM REPERCUSSESCARACTERSTICAS FSICAS
s
&X COM REPERCUSSESCARACTERSTICAS FSICAS
G1. Evidncia clara de recente cessao ou reduo do uso da substncia aps uso repetido,
e usualmente prolongado e/ou de doses altas dessa substncia.
G2. Sintomas e sinais compatveis com as caractersticas conhecidas de um Estado de
Abstinncia da substncia ou das substncias em particular (vide F17.3 a seguir).
126
127
Anexo B
Critrios diagnsticos para transtorno de uso de tabaco e abstinncia de tabaco
pelo DSM-V
s
4RANSTORNOS 2ELACIONADOS AO 4ABACO
o Transtorno por Uso de Tabaco
Critrios Diagnsticos:
128
a.
b.
b.
Especificar se:
Em remisso inicial: Aps todos os critrios para Transtorno por Uso de Tabaco terem sido
preenchidos anteriormente, nenhum dos critrios para Transtorno por Uso de Tabaco foi
preenchido durante um perodo mnimo de trs meses, porm inferior a 12 meses (com exceo
de que o Critrio A4, Fissura (craving) ou um forte desejo ou necessidade de usar tabaco,
ainda pode ocorrer).
Em remisso sustentada: Aps todos os critrios para Transtorno por Uso de Tabaco terem
sido preenchidos anteriormente, nenhum dos critrios para Transtorno por Uso de Tabaco foi
preenchido em nenhum momento durante um perodo mnimo igual ou superior a 12 meses
(com exceo de que o Critrio A4, Fissura (craving) ou um forte desejo ou necessidade de
usar tabaco, ainda pode ocorrer).
Especificar se:
Em terapia de manuteno: O indivduo vem em uso de medicamentos de manuteno
de longo prazo, como medicamentos de reposio de nicotina, e nenhum dos critrios para
Transtorno por Uso de Tabaco foi satisfeito para essa classe de medicamento (exceto tolerncia
ou abstinncia do medicamento de reposio de nicotina).
Em ambiente protegido: Este especificador adicional usado se o indivduo encontra-se em
um ambiente no qual o acesso ao tabaco restrito.
Cdigo baseado na gravidade atual: Nota para cdigos da CID-10-MC: Se tambm houver
Abstinncia de Tabaco ou outro Transtorno do Sono Induzido por Tabaco, no usar cdigos a
seguir para Transtorno por Uso de Tabaco. No caso, o Transtorno por Uso de Tabaco comrbido
indicado pelo quarto caractere do cdigo de Transtorno Induzido por Tabaco (ver a nota para
codificao para Abstinncia de Tabaco ou um Transtorno do Sono Induzido por Tabaco). Por
exemplo, se houver comorbidade de Transtorno do Sono Induzido por Tabaco e Transtorno por
Uso de Tabaco, apenas o cdigo para Transtorno do Sono Induzido por Tabaco fornecido,
sendo que o quarto caractere indica se o Transtorno por Uso de Tabaco comrbido moderado
ou grave: F17.208 para Transtorno por Uso de Tabaco moderado ou grave com Transtorno do
Sono Induzido por Tabaco. No permitido codificar um Transtorno por Uso de Tabaco leve
comrbido com Transtorno do Sono Induzido por Tabaco.
129
130
Anexo C
Critrios Diagnsticos para Abuso do Tabaco pela Ciap-2R
s 0 n 0SICOLGICO
o P17 Abuso do Tabaco
s
)NCLUI PROBLEMAS DE 4ABAGISMO
s
#RITRIOS PERTURBAO DEVIDA AO CONSUMO DE TABACO QUE LEVA A UMA OU MAIS
intoxicaes agudas, uso com prejuzo clinicamente grave para a sade,
dependncia ou estado de privao
s
#ONSIDERAR FATORES DE RISCO .% ! &ATOR DE 2ISCO .%
131
Anexo D
Questionrios de Tolerncia de Fagerstrm
1. Quantos cigarros voc fuma por dia?
( 0 ) menos de 11
( 1 ) de 11 a 20
( 2 ) de 21 a 30
( 3 ) mais de 30
2. Quanto tempo depois de acordar voc fuma o primeiro cigarro?
( 0 ) + de 60 min
( 1 ) entre 31 e 60 min
( 2 ) entre 06 e 30 min
( 3 ) menos de 6 min
3. Voc tem dificuldade de ficar sem fumar em locais proibidos?
( 0 ) no
( 1 ) sim
4. O primeiro cigarro da manh o que traz mais satisfao?
( 0 ) no
( 1 ) sim
5. Voc fuma mais nas primeiras horas da manh do que no resto do dia?
( 0 ) no
( 1 ) sim
6. Voc fuma mesmo quando acamado por doena?
( 0 ) no
( 1 ) sim
Interpretao do Resultado:
s A PONTOS MUITO BAIXA DEPENDNCIA FSICA
s A PONTOS BAIXA DEPENDNCIA FSICA
s PONTOS MDIA DEPENDNCIA FSICA
s A PONTOS ELEVADA DEPENDNCIA FSICA
s A MUITO ELEVADA DEPENDNCIA FSICA
Fonte: FAGERSTRM; SCHNEIDER, 1989.
132
Anexo E
Escala de Razes para Fumar Modificada
Afirmaes:
1) Eu fumo cigarros para me manter alerta.
2) Manusear um cigarro parte do prazer de fum-lo.
3) Fumar d prazer e relaxante.
4) Eu acendo um cigarro quando estou bravo com alguma coisa.
5) Quando meus cigarros acabam, acho isso quase insuportvel at eu conseguir outro.
6) Cigarros me fazem companhia, como um amigo ntimo.
7) Eu fumo cigarros automaticamente sem mesmo me dar conta disso.
8) mais fcil conversar e me relacionar com outras pessoas quando estou fumando.
9) Eu fumo para me estimular, para me animar.
10) Parte do prazer de fumar um cigarro vem dos passos que eu tomo para acend-lo.
11) Eu acho os cigarros prazerosos.
12) Quando eu me sinto desconfortvel ou chateado com alguma coisa, eu acendo um cigarro.
13) Controlar meu peso uma razo muito importante pela qual eu fumo.
14) Eu acendo um cigarro sem perceber que ainda tenho outro aceso no cinzeiro.
15) Enquanto estou fumando me sinto mais seguro com outras pessoas.
16) Eu fumo cigarros para me por para cima.
17) s vezes eu sinto que os cigarros so os meus melhores amigos.
18) Eu fumo cigarros quando me sinto triste ou quando quero esquecer minhas obrigaes ou
preocupaes.
19) Eu sinto uma vontade enorme de pegar um cigarro se fico um tempo sem fumar.
20) Eu j me peguei com um cigarro na boca sem me lembrar de t-lo colocado l.
21) Eu me preocupo em engordar se parar de fumar.
As alternativas e o peso das respostas para cada questo so:
( ) Nunca {1}, ( ) Raramente {2}, ( ) s vezes {3}, ( ) Frequentemente {4},
( ) Sempre {5}
133
134
Apndices
Apndice A
Legislao Federal vigente relacionada ao Tabagismo no Brasil
Legislao Federal Brasileira relacionada ao Controle do Tabagismo
Legislao para controle do tabaco pr-Constituio de 1988:
s Lei n 7.488, de 11 de junho de 1986 Cria o Dia Nacional de Combate ao Fumo e determina
a realizao de comemoraes no dia 29 de agosto em todo o territrio nacional.
Legislao acerca de restries de uso e publicidade do tabaco:
s Constituio da Repblica Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988, artigo 220
Determina que a propaganda comercial de tabaco estar sujeita a restries legais e
conter advertncia sobre os malefcios do tabagismo.
s Lei n 8.069, de 13 de julho de 1990 Estatuto da Criana e do Adolescente Probe
vender, fornecer ou entregar, criana ou ao adolescente, produtos cujos componentes
possam causar dependncia fsica ou psquica.
s Lei n 9.294, de 15 de julho de 1996 Dispe sobre as restries ao uso e propaganda de
produtos fumgeros, bebidas alcolicas, medicamentos, terapias e defensivos agrcolas,
nos termos do 4 do art. 220 da Constituio Federal.
s Decreto n 2.018, de 1 de outubro de 1996 Regulamenta a Lei n 9.294/1996, definindo os
conceitos de recinto coletivo e rea devidamente isolada e destinada exclusivamente
ao tabagismo.
s Lei n 10.167, de 27 de dezembro de 2000 Altera a Lei n 9.294/1996, restringindo a
publicidade de produtos derivados do tabaco afixao de psteres, painis e cartazes na
parte interna dos locais de venda, proibindo-a, consequentemente, em revistas, jornais,
televiso, rdio e outdoors. Probe a propaganda por meio eletrnico, inclusive internet,
a propaganda indireta contratada, tambm denominada merchandising e a propaganda
em estdios, pistas, palcos ou locais similares. Probe o patrocnio de eventos esportivos
nacionais e culturais. Probe a participao de crianas e adolescentes na publicidade
de produtos derivados do tabaco. Probe a venda de produtos derivados do tabaco a
menores de 18 anos.
135
136
137
Apndice B
Os componentes dos mtodos Paap e Paapa
Passo 1 Perguntar e Avaliar
Pergunte e registre sobre o consumo de cigarros a todos os usurios. As seis perguntas
seguintes fornecero informaes importantes para a abordagem inicial:
a)
b) Quantos cigarros voc fuma por dia? (Informa sobre o grau de dependncia. Fumantes
que consomem mais de uma carteira ou 20 cigarros ao dia, possivelmente, tero mais
dificuldades em deixar de fumar, podendo beneficiar-se da farmacoterapia associada
abordagem cognitivo-comportamental)
c) Quanto tempo aps acordar voc acende o primeiro cigarro? (Fumantes que acendem o
primeiro cigarro at 30 minutos aps acordar, tambm possivelmente tero mais dificuldades
em deixar de fumar, podendo se beneficiar da farmacoterapia associada)
d) O que voc acha de marcar uma data para deixar de fumar? (Permite avaliar se o
fumante est pronto para iniciar o processo de cessao do tabagismo. Em caso afirmativo,
perguntar: Quando?)
e) J tentou parar? (Fumantes que j tentaram ou mostram interesse em deixar de fumar
sero mais receptivos abordagem);
f) O que aconteceu na(s) tentativa(s) anterior(es)? (Informa o que ajudou e atrapalhou na
tentativa anterior, indicando o que deve ser melhor trabalhado na prxima tentativa)
A partir dessas perguntas, pode-se tambm identificar a fase motivacional do usurio, por
meio do modelo de Proschaska e Diclemente (1992).
Passo 2 Aconselhar
O profissional deve orientar o usurio de acordo com a fase/grau motivacional em que ele
se encontra:
a) Pr-contemplao
Nesta fase, o fumante no pensa em parar de fumar. O profissional deve procurar motiv-lo
a cada consulta, ressaltando os riscos do cigarro (inclusive do fumo passivo para os familiares)
e os benefcios da cessao, procurando encontrar aquele aspecto que mais relevante a cada
um.
138
Por exemplo: para um usurio jovem, o odor desagradvel da fumaa do cigarro e o prejuzo
aos dentes pode ser uma motivao maior do que o risco de cncer de pulmo nos prximos
anos. Deve-se entender a motivao como um processo dinmico, no qual a mudana para uma
fase motivacional seguinte representa um grande avano no tratamento da pessoa tabagista.
139
140
141
142
Apndice C
Proposta de instrumento para acompanhamento dos grupos de apoio a cessao
do tabagismo
GRUPO DE CESSAO DE TABAGISMO Folha de Segmento Individual
NOME: ______________________________________________________________________
DATA DE NASCIMENTO: ___/____/________ .
NMERO DE CADASTRO: ________________
TERAPIA MEDICAMENTOSA PROPOSTA:
( ) NENHUMA
( ) TRN
( ) BUPROPIONA
1 Encontro do grupo de Cessao de Tabagismo
Fumando ____ cigarros/dia.
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
143
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
DATA: ___/___/_____.
144
DATA: ___/___/_____.
Apndice D
Roteiro de temas para as sesses em grupos estruturadas
Lembre-se:
Os grupos devem ter no mnimo quatro encontros, portanto o nmero de sesses vai variar
de acordo com cada local, podendo chegar a sete encontros.
1 Sesso: Entender por que se fuma
Passo a passo
s Realizar o acolhimento dos participantes, o profissional de sade apresenta-se e
cada pessoa faz uma breve apresentao pessoal (nome, idade, quanto tempo fuma,
quantos cigarros fuma por dia, quantas vezes tentou parar de fumar, expectativas do
tratamento, razo pela qual est participando do grupo); em seguida, realiza-se uma
breve sensibilizao dos problemas acarretados pela dependncia do cigarro.
s Explicar o processo do grupo detalhadamente (como so as sesses, tempo e durao,
necessidade de avaliao mdica para uso de medicamento, dvidas a respeito das
sesses), dando-se, assim, incio ao tratamento.
s Estabelecer as Regras de Funcionamento do Grupo: respeito a horrios, nmero de
sesses, confidencialidade, impossibilidade de reposio de faltas, importncia do
preenchimento de formulrios e leituras.
Temas a serem abordados na 1 Sesso:
a)
b)
c)
d)
e)
f)
8 horas
24 horas
48 horas
145
1 ms a 9 meses
1 ano
5 anos
10 anos
15 anos
146
147
Quadro 4 Assertividade
A assertividade refere-se a expressar ideias e emoes no momento em que o indivduo deseja
express-las, sem agressividade.
Muitas pessoas apresentam inibies, cedendo vontade alheia e guardando frequentemente
seus desejos. comum que jovens e adultos, que se sintam desconfortveis nas situaes
interpessoais, se apoiarem em algo para enfrent-las.
O cigarro muitas vezes exerce essa funo. o que acontece, por exemplo, quando um jovem
deseja aproximar-se de uma garota que lhe causa atrao, mas no consegue faz-lo de forma
espontnea. Outro exemplo: um profissional necessita apresentar um projeto importante, no
qual estaro presentes seus superiores, existindo a perspectiva de no obter aprovao.
Quando o indivduo se percebe em uma situao que deseja ser aceito ou aprovado nem sempre
consegue ser assertivo. Esta uma das razes para muitos jovens aderirem ao tabagismo. Por
esse motivo, torna-se importante identificar as situaes que causam constrangimento ou
estresse, nas quais o ato de fumar esteja relacionado, buscando-se formas diferentes de lidar
com elas.
continua
148
Desejo/Vontade
149
Irritabilidade
Insnia
Aumento do apetite
Dificuldade de concentrao
Fadiga
150
s Perguntar e refletir sobre como que as situaes de risco estavam sendo enfrentadas,
analisando a busca de comportamentos assertivos e o manejo das dificuldades.
151
152
Apndice E
Instrues ao tabagista em cessao para uso correto do adesivo transdrmico de
nicotina
Instrues para o uso correto de adesivo transdrmico de nicotina.
153
MINISTRIO DA SADE
ISBN 978-85-334-2339-8
CADERNOS
9 788533 423398
de
ATENO BSICA
ESTRATGIAS PARA O CUIDADO DA
PESSOA COM DOENA CRNICA
O cuidado da pessoa tabagista
40
40
Braslia DF
2015