A Aventura Da Consciencia Compl
A Aventura Da Consciencia Compl
A Aventura Da Consciencia Compl
SATPREM
Pondicherry, 27 de janeiro de 1970
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INTRODUO
I
UM CONSUMADO OCIDENTAL
passou os anos de sua formao, dos sete aos vinte anos. Viveu de um
sto a outro, a merc de hospedeiros mais ou menos benvolos,
contentando-se com uma refeio por dia e carecendo de abrigo para
colocar sobre os ombros, mas carregado sempre de livros: os
simbolistas franceses, Mallarm, Rimbaud, a quem lia em sua lngua
original antes ainda de haver lido traduo alguma do Bhagavad Gita.
Sri Aurobindo para ns o sujeito de uma sntese nica.
Nasceu em Calcut, em 15 de agosto de 1872, o ano das Iluminaes
de Rimbaud; j ento, a fsica moderna havia nascido com Max
Planck; Einstein poucos anos mais jovem que ele e Julio Verne
sonda ento o futuro. No entanto, a rainha Vitria prepara-se para
coroar-se imperatriz da ndia, e no foi dada a conquista da frica,
at ento; encontramos-nos na conjuno de dois mundos. A histria
nos d s vezes a impresso de que os perodos de prova e de
destruio precedem ao advento de um mundo novo, mas acaso ele
seja um erro e, ainda melhor - porque o germe novo nasceu - por ele
que as foras da subverso (ou do escombro) se exacerbam. Como
quer que seja, a Europa se encontra no apogeu de sua glria; a partida
parece jogar-se no Oeste. Assim, isto havia compreendido o doutor
Krishnadhan Ghose, pai de Sri Aurobindo, que, por haver estudado
medicina na Inglaterra, havia se convertido a tal ponto pela cultura
inglesa. De modo algum queria que seus filhos -tinha trs, dos quais
Sri Aurobindo era o menor- se contaminassem do misticismo
"retrgrado e embriagador" em que seu pas parecia afundar-se. No
queria sequer que seus filhos conhecessem nenhuma das tradies
nem das lnguas da ndia. Sri Aurobindo foi, ento, dotado no s de
um nome ingls - Akroyd-, seno de uma bab inglesa - Miss Pagett
-, e logo, desde a idade de cinco anos, enviado a Darjeling, a uma
escola de monjas irlandesas, com os filhos dos administradores
britnicos. Dois anos mais tarde os trs filhos do doutor Ghose
partiam para Inglaterra. Sri Aurobindo tinha sete anos. E at os vinte
no aprender o bengali, sua lngua materna, no voltar a ver seu
pai, falecido pouco antes de seu regresso ndia; a sua me, ainda
que enferma, que apenas o reconhecer ao v-lo. Encontramos-nos,
ento, na presena de uma criana que cresceu fora de toda influncia
familiar, nacional ou tradicional, em presena, em suma, de um gnio
livre. Acaso a primeira lio que nos d Sri Aurobindo seja
justamente uma lio de liberdade.
Sri Aurobindo e seus dois irmos foram entregues a um pastor
anglicano de Manchester, "com severas instrues de que no
conhecessem nenhum hindu, nem se expusessem a nenhuma
influncia indiana"; decididamente, este doutor Ghose era um homem
quase de todo ponto-, mas era pouco ainda para por remdio ao frio e
fome, tanto mais quanto que os irmos maiores participavam
tambm, em grau no pequeno, daquela ajuda. O que ia fazer Sri
Aurobindo neste berrio de gentlemen (homens gentis)? Tinha
ento dezoito anos e, sem dvida, obedecia aos desejos de seu pai.
Mas no por muito tempo. Desde seu primeiro ano no Kings College
acumula todos os prmios de poesia grega e latina, mas seu corao
no se encontra ali. Joana DArc, Mazzini, a revoluo americana o
perseguem: em suma, a liberao de seu pas, a independncia da
ndia, do qual ser um dos primeiros artesos. Esta imprevista
vocao poltica havia de ocup-lo por cerca de vinte anos, a ele que
no sabia bem o que era um Indiano e menos ainda um Hindu. Mas
logo preencher esse vazio; tanto no que respeita ao hindusmo como
em quanto concerne ao ocidentalismo, se este se pode dizer assim, ele
saber tomar dupla mordida e fazer a digesto; caso contrario no
ser verdadeiramente Sri Aurobindo, seno quando se tenha
assimilado a um e a outro e descoberto o ponto em que ambos os
mundos se encontram em algo que no nem um nem outro, nem
sequer uma sntese, seno melhor, como disse a Me -continuadora
da obra de Sri Aurobindo- uma terceira posio, "outra coisa", da que
temos viva necessidade, ns que no somos nem materialistas
limitados nem espiritualistas exclusivos.
Fez-se ento secretrio da Indian Majlis, associao de estudantes
indianos de Cambridge; pronuncia discursos revolucionrios, troca
seu nome britnico, se afilia a uma sociedade secreta: "Ltus e
Punhal", nada menos! (mas o romanticismo podia conduzir tambm
forca). Em suma, se faz suspeito e pronto figura na lista negra de
Whitehall. Isto no lhe impede obter uma licenciatura de Letras
clssicas; logo, uma vez passado o exame, renuncia ao grau, como se
aquilo fosse j insuficiente. Apresenta-se tambm ao clebre concurso
do Indian Civil Service, chamado a abrir-lhe as portas do governo da
ndia ao lado dos administradores britnicos, obtm brilhantes
resultados, mas no se cuida de submeter-se prova de equitao sai
para passear nesse dia em vez de cavalgar em Woolwich - e finda
desqualificado. Nesta ocasio o decano de Cambridge exaspera-se e
escreve: "Que se perda para o governo da India um homem de tais
qualidades simplesmente porque no montou um cavalo ou porque
no compareceu a uma reunio, me parece - confesso- um
monumento de miopia oficial que seria difcil de superar. Durante os
dois ltimos anos sua vida foi muito difcil e atribulada. As remessas
de fundos de seu pas cessaram quase por inteiro e ele teve no s que
prover a suas prprias necessidades, seno manter aos seus irmos
tambm... Em muitas ocasies escrevi a seu pai em seu nome, mas
II
A LEI ETERNA
nenhuma parte, em nenhum ser, por mais luminoso que seja, porque a
Verdade infinita e vai sempre adiante. "Mas sempre se coloca sobre
os ombros um fardo interminvel", dizia um dia a Me, em uma
conversao sobre o budismo. "No se quer deixar nada do passado e
cada vez oprime mais o peso de uma acumulao intil. Tendes um
guia em uma parte do caminho, mas quando haveis passado essa
parte, deixai o caminho e o guia, e ide mais longe. uma coisa que
os homens fazem com dificuldade; quando se apoderam de algo que
os ajuda, se agarram e logo no querem se mover. Os que fizeram
algum progresso por meio do cristianismo no querem deix-lo e o
levam sobre os ombros; os que progrediram com o budismo no
querem deix-lo e o levam sobre os ombros, isto entorpece a marcha
e os retarda indefinidamente. Uma vez que tenha passado a etapa,
deixe-a, que se v! Ide mais longe!" A lei eterna, sim, mas
eternamente jovem e eternamente progressiva. Mas a ndia, que
soube assim mesmo compreender o eterno Iconoclasta que Deus em
sua marcha csmica, nem sempre teve a fora de suportar sua prpria
sabedoria; o imenso invisvel que impregna esse pas havia de fazerse pagar um duplo resgate, igualmente humano e espiritual. Humano,
porque esses homens saturados do alm, conscientes do grande Jogo
csmico e das dimenses interiores em que nossa pequena vida de
superfcie se reduz a um ponto, periodicamente florescida para
desaparecer em seguida, acabaram por descuidar do mundo; a inrcia,
a indiferena ao progresso, a resignao foram muitas vezes a
mscara da sabedoria. Logo, espiritual (muito mais grave este),
porque nessa imensido demasiadamente grande para nossa pequena
conscincia atual, o destino da terra, nossa terra, acabava por perderse nos confins das nebulosas, ou em nenhuma parte, reabsorvido em
Brahman, de onde, depois de tudo, no havia sado nunca, a no ser
em nossos sonhos; o ilusionismo, os transes, os olhos fechados do
yogue, tomaram tambm muitas vezes a mscara de Deus. Convm,
ento, definir com alguma claridade a finalidade geral que a ndia
religiosa se prope, e ento poderemos ver melhor, o que pode ou o
que no pode, por ns que buscamos a verdade integral.
Devemos reconhecer que encontramo-nos diante de uma contradio
surpreendente. H aqui um pas que aportava uma grande revelao.
"Tudo Brahman", dizia, tudo o Esprito, esta terra, esta vida, estes
homens; nada se encontra fora Dele. "Tudo isto Brahman imortal e
nada mais; Brahman est diante de ns, Brahman est detrs de ns, e
no norte e no sul, e abaixo e acima de ns. Ele estende-se por toda
parte. Tudo isto Brahman somente, todo este magnfico universo"
(Mundaka Upanishad II. 12). Estava, pois, curada por fim, a
dicotomia que faz deste pobre mundo uma disputa entre Deus e o
III
OCASO DO INTELECTO
IV
O SILNCIO MENTAL
As construes mentais
vibraes; quer dizer, o mundo e os seres tal como so, e outro "ns
mesmos" que vale mais do que ordinariamente se acredita.
Meditao ativa
Transio
Vamos, pois, em busca de outro pas, mais preciso. Quer dizer, entre o
que deixamos atrs e o que, todavia, temos por adiante, existe uma
terra de ningum extremamente penosa. um perodo de poema mais
ou menos longo, segundo seja nossa determinao; mas em todos os
tempos - sabemos bem-, desde as iniciaes asiticas, egpcias e
rficas at a busca do Santo Graal, a histria de nossa ascenso
sempre esteve acompanhada de provas. Antigamente essas provas
eram de ndole romntica e nada de maligno tinha o fato de fazer-se
encerrar em um sarcfago ao som dos pfanos ou de celebrar os
prprios ritos fnebres em volta de uma fogueira; hoje conhecemos
sarcfagos pblicos e vias que so uma maneira de enterro. Vale mais
a pena fazer um esforo para sair dali. Conseqentemente, se bem se
olha, no temos muito que perder.
A prova principal desta transio o vazio interior. Depois de haver
vivido em febril desassossego mental, se algum se encontra de
sbito como um convalescente, um pouco flutuante, com estranhas
ressonncias na cabea -como se este mundo fosse espantosamente
ruidoso, fatigante- e uma sensibilidade sobre aguda que d a
impresso de que algum se choca por toda parte com homens opacos
e agressivos, com objetos grosseiros, com acontecimentos brutais; o
mundo parece enormemente absurdo. o signo evidente de um
comeo de vida interior. No entanto, se por meio da meditao se
trata de descender conscientemente ao interior, se encontra assim
mesmo o vazio, uma espcie de poo escuro ou de neutralidade
amorfa; se persistisse em descender, pode-se cair bruscamente no
sonho um instante, dez segundos, talvez dois minutos, algumas vezes
mais, ainda que no, por certo, em um sonho comum; s passamos a
outra conscincia, mas ainda no h unio entre as duas, e se sai dela
em aparncia menos adiantado do que algum se achava ao entrar.
Descenso da Fora
A Mente Universal
seria muito mais fcil; a verdade que em toda parte haver sempre
algo para perturbar-nos, e mais vale decidir-nos romper nossas
construes e abraar todo esse "fora"; ento, em toda parte que nos
encontremos, estaremos em nossa prpria casa. O mesmo ocorre com
a antinomia ao-meditao; o aspirante fez em si mesmo o silncio e
sua ao uma meditao (e ainda advertir que a meditao pode ser
uma ao); ora se encontre fazendo seu asseio pessoal, ora entregado
a seus negcios, a Fora passar, passar nele, j ele estar para
sempre estabelecido em outra parte. E ver, por ltimo, que sua ao
se torna mais clarividente, mais eficaz, mais poderosa, sem perturbar
por isso a paz: "A substncia mental est tranquila, to tranquila que
nada pode conturb-la. Se os pensamentos ou as atividades chegam...
passam pela mente como um bando de pssaros que cruzam o cu no
ar imvel. Os pensamentos e as atividades passam e nada alteram,
no deixam nenhuma pegada. Ainda se um milhar de imagens ou dos
mais violentos sucessos nos atravessa, a imobilidade tranquila
permanecer, como se a textura da mente estivesse feita de uma
substncia de paz, eterna e indestrutvel. A mente que alcanou essa
calma pode comear a atuar, pode ainda atuar intensa e
poderosamente, mas sempre conservar essa imobilidade
fundamental, no colocando nada em movimento por iniciativa
prpria, recebendo do Alto e dando a quanto recebe uma forma
mental, sem agregar nada de sua prpria colheita, tranquila,
imparcial, mas com a alegria da Verdade e o poder, luz de seu
passo. 13
Ser acaso necessrio recordar que Sri Aurobindo dirigia nesse
perodo um movimento revolucionrio e preparava a guerra de
guerrilhas na ndia?
V
A CONSCINCIA
Os centros de Conscincia
OS CENTROS DE CONSCINCIA
Segundo a tradio tntrica na ndia
A Personalidade Frontal
A individualizao da Conscincia
esse impulso interior cobra vida. Esse impulso "se alarga e fazer
surgir isso que vive, diz o Rig-Veda, despertando a algum que estava
morto" (I.113.8), e toma uma consistncia cada vez mais precisa, uma
potncia cada vez mais densa e, sobretudo, independncia, como se
fosse ao mesmo tempo uma fora e um ser dentro de seu ser. E notar
primeiro em suas meditaes passivas (quer dizer, em sua casa,
tranquilo, os olhos fechados), que esta fora que se encontra nele tem
movimento, tem uma massa, intensidades variveis e que baixa e
sobe dentro dele, como se no estivesse quieta; se diria o
deslocamento de uma substncia vivente; estes movimentos interiores
podem muito bem adquirir uma pujana bastante grande como para
encurvar o corpo quando a fora descende ou para endireit-lo
quando sobe. Em nossas meditaes ativas, quer dizer, na vida
exterior ordinria, esta fora interna est mais diluda e d sensao,
como j o observamos, de uma pequena vibrao surda que se
encontra em segundo plano; sentiremos, alm disso, que no se trata
somente de uma fora impessoal, seno de uma presena, de um ser
no fundo de ns mesmos, como se nele tivssemos um sustentculo,
algo que nos d solidez, uma armadura quase, e um apaziguador olhar
sobre o mundo. Com esta pequena coisa dentro, que vibra, se
invulnervel, j no se est nunca s. Por qualquer parte que algum
vai, ela est sempre ali. quente, est prxima, forte. E curioso
que quando algum descobre isso, encontra a mesma coisa por toda
parte, em todos os seres, em todas as coisas; se pode entrar em
comunicao direta, como se fosse verdadeiramente igual, sem
muros. Ento tocamos em ns algo que no joguete das foras
universais, no o "penso, logo existo", bastante seco e raqutico,
seno a realidade fundamental de nosso ser, ns, ns em verdade,
centro verdadeiro, calor e ser, conscincia e fora.*
medida que esse impulso ou esta fora interior vai adquirindo uma
individualidade distinta, medida que cresa verdadeiramente como
cresce uma criana, o aspirante perceber que esse impulso ou essa
fora no se move ao acaso como em um princpio lhe havia
parecido, seno que rene em diversos pontos de seu ser segundo as
atividades do momento, e, que em realidade, ela a que se encontra
atrs de cada um dos centros de conscincia: detrs dos centros vitais
quando algum sente, sofre ou deseja algo; ou mais abaixo, ou mais
acima; e que ela em realidade a que exerce a faculdade de conhecer.
Todos os centros, e entre eles a mente, no so seno aberturas sobre
os diferentes estados da realidade universal ou seus instrumentos de
transcrio ou de expresso. Ela o "viajante dos mundos", 8 o
explorador dos planos de conscincia; ela, a que conjuga nossas
diversas maneiras de ser, da viglia ao sonho e morte, quando a
Conscincia-Fora, Conscincia-Alegria
* Tapas
Existe uma ltima equivalncia. No s a conscincia fora, no s
a conscincia ser, seno tambm alegria, Ananda-ConscinciaAlegria, Chit-Ananda-, Ser consciente alegria. Quando a
conscincia se liberou das mil vibraes mentais, fsicas e vitais que a
absorvem, ento se descobre a alegria. Todo o ser acha-se como
preenchido por uma massa de fora vivente ("como um pilar bem
formado", diz o Rig-Veda V.45), cristalino, sem movimento, sem
objeto-conscincia pura, fora pura, alegria pura, porque a mesma
coisa-, uma alegria slida, uma substncia de alegria, vasta,
pacificada, que parece no ter nem princpio, nem fim, nem causa,
que tambm parece achar-se por toda parte, nas coisas, nos seres, ser
seu secreto fundamento, sua secreta necessidade de crescer; ningum
quer deixar a vida porque est em toda parte. A vida no necessita
nada para ser, ela , irrefutavelmente, como a rocha atravs de todos
os tempos, de todos os lugares, como um sorriso, atrs, por toda
parte. Nisso reside todo o Enigma do universo. No h outro. Um
sorriso imperceptvel, um nada que tudo. E toda esta alegria, porque
tudo o Esprito, que alegria, Sat-Chit-Ananda, ExistnciaConscincia-Alegria, trindade eterna que o universo e que somos
ns, segredo que devemos descobrir e viver atravs de nossa longa
viagem evolutiva: "Da alegria nasceram todos estes seres; pela alegria
existem e crescem; alegria retornam." (Taittiriya Upanishad III.6).
VI
A PACIFICAO DA MENTE
Os Limites da moral
O hbito de responder
As foras adversas
O vital verdadeiro
VII
O CENTRO PSQUICO
O nascimento psquico
"Um espao cheio de sol, onde para sempre tudo jamais se conhece".
3
Se sentirmos este Sol dentro de ns, esta chama, esta vida vivente h tantas vidas mortas -, ainda quando no fosse seno um segundo
em nossa existncia, tudo mudar; uma lembrana cuja presena
todos os demais empalidecem. a Lembrana.
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* Katha Upanishad IV, 12-13; VI, 17
** Katha Upanishad V, 8.
E se somos fiis a este Agni que queima, crescer cada vez mais
como um ser vivente em nossa carne, como uma necessidade
inesgotvel e cada vez ser dentro de ns mais concentrado e
comprimido e pulsante, como algo que no chega a explodir: "Uma
sensao terrvel de algo que impede de ver e passar; algum trata
de passar atravs dele e se encontra diante de um muro. E ento
golpeia e golpeia continuamente e no consegue passar", diz a Me.
Logo, fora da necessidade, fora de desejar e de j no poder
mais com esse encarceramento, um dia alcanar a tenso psquica
seu ponto de inverso e teremos a experincia:
A presso se torna de tal maneira grande e a intensidade de tal
modo forte, que algo oscila na conscincia. Em vez de achar-se fora
e de tratar de olhar dentro, se est dentro; e desde o momento em
que se est dentro, tudo muda inteiramente. Tudo quanto parecia
verdadeiro, natural, normal, cheio de realidade, tangvel, tudo se
parece em seguida muito grotesco, muito estranho, muito irreal e
absurdo. Mas nos deparamos com algo que supremamente
verdadeiro e eternamente belo; e isto no se perde nunca mais".
Oh Fogo, oh Agni, quando nasces de verdade em ns, te convertes no
supremo crescimento, na suprema expanso de nosso ser; toda glria
e toda beleza esto em teu desejvel calor, em tua viso perfeita. Oh
Extenso, tu s a plenitude que nos leva ao longo do caminho, tu s
uma multido de riquezas por toda parte espalhadas (Rig-Veda
III.1.12). a vida verdadeira que se abre como se algum no
houvesse visto nunca a luz: "Coloca o prisma de um lado -diz a Mee a luz ser branca; d-lhe a volta e a luz vai se decompor. Pois bem,
isto justamente o que ocorre: de novo nos compomos no branco. Na
conscincia comum nos encontramos com a decomposio, mas
O crescimento psquico
recursos humanos, mentais e vitais, fsicos e psquicos, para liberlos de sua escria e engrandec-los; em uma palavra, para divinizlos, como o fizeram os sbios da poca vdica e acaso tambm os
sbios de todos os antigos Mistrios, sem falar de Sri Aurobindo,
descartaram tudo e quiseram "saltar diretamente da mente pura ao
Esprito puro" 5, e ento, como era natural, no podiam ver o que
recusavam ver. Os materialistas, por sua vez, vieram a cair no
atoleiro contrrio; exploraram uma pequena parcela de realidade
fsica e negaram tudo mais; fundados no conceito de que s a
matria tem realidade e que todo o resto mera alucinao, no
podiam chegar seno ao ponto aonde suas premissas os conduziam.
Mas se empreendemos o caminho simplesmente, sem prejuzos,
como o fez Sri Aurobindo, armado de uma verdade aberta e de uma
confiana integral nas possibilidades integrais do homem, acaso nos
apresente a conjuntura de chegar a um conhecimento integral e,
portanto, a uma vida integral tambm.
Considerada desde o ponto de vista de uma evoluo da conscincia,
a reencarnao deixa de ser a ronda ftil que alguns viram nela, ou a
extravagncia da imaginao que outros figuraram. Com uma
claridade prpria do esprito ocidental, Sri Aurobindo nos redime,
como diz a Me "do folhetim espiritual" em que, desde o fim da idade
dos Mistrios, degeneraram-se numerosos conhecimentos srios, e
nos convida a fazer una experincia, no super-lcida, seno lcida
simplesmente. No se trata de "crer" na reencarnao, seno de
experiment-la e, diante de tudo, de saber em quais condies
possvel a experincia. Aqui est um assunto de ordem prtica que
atravs do tempo interessa a nosso desenvolvimento integral.
Pois bem, no a limitada personalidade frontal a que reencarna,
ainda que isso possa decepcionar a quem se considere imortalmente o
mesmo senhor Prez, primeiro em calas primitivas, logo com calas
de cetim e depois com calas de tela sinttica, o qual seria em
verdade muito tedioso. O sentido da reencarnao mais profundo e
mais amplo de uma s vez. Toda a fachada desmorona na hora da
morte; o conjunto de vibraes mentais que se amalgamaram em
torno de ns por sua habitual repetio e que formam nosso
verdadeiro ego ou corpo mental, se desintegram e retornam Mente
Universal; o mesmo ocorre com as vibraes vitais que formam
nosso ego ou corpo vital, que hora de nossa morte retornam ao Vital
Universal, como se desintegram os componentes naturais de nosso
corpo fsico e se restituem Matria universal. Somente o ser
psquico perdura; eterno, j o vimos. Nossa experincia da
reencarnao depender, pois, do descobrimento do Centro e Dono
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VIII
A INDEPENDNCIA FSICA
IX
O SONO E A MORTE
Os planos de conscincia
Sono de experincia
Sono de ao
X
O YOGUE REVOLUCIONRIO
Problema de ao
Nirvana
nem nos espiritualistas. O primeiro ponto que lhe chega grifado, por
demais caracterstico, o seguinte: "Eu quero praticar o yoga para
trabalhar, para atuar, no para renunciar o mundo, nem sequer pelo
Nirvana". A resposta de Lel estranha e digna de recordar-se: "Para
voc no deveria de ser difcil, porque voc poeta". 11 Logo ambos
se retiraram a um aposento isolado e ali permaneceram trs dias.
Desde ento, o yoga de Sri Aurobindo seguir uma curva imprevista
que parecer afast-lo da ao, mas s para conduzi-lo ao segredo da
ao e da mudana do mundo. "O primeiro resultado -escreve Sri
Aurobindo- foi uma srie de poderosas experincias e de mudanas
radicais de conscincia que Lel nunca havia tido a inteno de
aproxim-lo... e que eram de todo ponto contrrio as minhas prprias
idias; fizeram-se ver o mundo, com prodigiosa intensidade, como
um jogo cinematogrfico de vagas formas na universalidade
impessoal do Absoluto, Brahman. 12
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* Tomemos boa nota de que o yoga de Sri Aurobindo, que trata de
superar a Mente, est chamado a comear ao final da curva
intelectual, e seria impossvel - como veremos mais adiante-, se no
houvessem sido percorridos todos os graus intermedirios. Falar de
"silncio mental" a um indgena das ilhas Fiji ou a um campesino
breto no teria nenhum sentido.
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XI
A UNIDADE
Conscincia Csmica
Sri Aurobindo havia vivido por vrios meses em uma espcie de sonho
fantasmagrico e vazio que se recortava na s Realidade esttica do
Transcendente; no entanto, em meio deste Vazio e como sado dele, de modo
estranho entrou de novo no mundo com uma face nova, como se cada vez fosse
necessrio perder tudo para encontrar tudo em uma unidade superior:
"Dominada, subjugada, imobilizada, liberada de si mesma, a mente toma este
Silncio pelo Supremo. Mas o explorador descobre em seguida que tudo se
acha dentro desse Silncio, contido e como fato de novo... ento comea o
vazio a encher-se e dele, emana ou precipita-se nele a inumervel diversidade
da Verdade divina e os inumerveis nveis de um Infinito dinmico". 3 No
havendo visto seno um infinito esttico, no vimos seno um aspecto de Deus,
e o exclumos do mundo (e acaso valeria mais um mundo que considerssemos
vazio de Deus, que um mundo cheio de um Deus solene e justiceiro), mas
quando o Silncio lavou todas as nossas solenidades, grandes e pequenas,
deixando-nos em branco por um tempo, o mundo e Deus encontram-se em
todos os graus e em todos os pontos, como se nunca houvessem estado
separados, a no ser por excesso de materialismo ou de espiritualismo. No
ptio do crcere de Alipore foi onde teve lugar esta nova mudana de
conscincia, durante a hora da caminhada: "Eu via os muros que me isolavam
dos homens, e no eram l altas muralhas as que me aprisionavam, no,
certamente, seno Vasudeva* quem me circundava. Eu marchava sob os galhos
da rvore, frente a minha cela, mas no era uma rvore, eu sabia que era
Vasudeva, que era Sri Krishna, o que eu via ali, de p, enviando-me sua
sombra. Eu olhava as grades de minha cela, o guarda que mantinha-me, e via
tambm Vasudeva. Era Narayana* quem montava guarda, Narayana a
sentinela. E quando me cobria sobre o cobertor que me haviam dado para
cobrir no leito, sentia os braos de Sri Krishna em volta de mim, os braos de
meu Amigo, de meu Amante... Olhava os prisioneiros do lugar, os ladres, os
assassinos, os presos e, vendo-os, via Vasudeva, era Narayana quem se
encontrava nessas almas acinzentadas e nesses corpos mal empregados". 4 A
experincia no havia de abandonar Sri Aurobindo. Os seis meses que durou o
processo, com uns duzentos testemunhos e quatro mil peas no expediente, foi
Sri Aurobindo encerrado a cada dia em uma jaula de ferro no meio do tribunal,
mas no era j uma multido hostil nem juzes o que eu via: "Quando o
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* Um dos nomes do Divino.
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Colocar a responsabilidade, de tudo quanto nos parece, sobre um Diabo semionipotente mau ou terrvel, ou desentender-se disto dizendo que o mal faz parte
da Natureza, criando de tal modo uma oposio irredutvel entre a natureza do
mundo e a natureza de Deus, ou atribuir a responsabilidade ao homem e seus
pecados como se o homem houvesse intervindo na formao do mundo ou
como se ele pudesse criar algo contra a vontade de Deus, so expedientes
desajeitados e muito cmodos... Erigimos um Deus de Amor e de Misericrdia,
um Deus do Bem, um Deus justo, reto e virtuoso conforme nosso conceito
moral de justia, da virtude e do pensamento correto, e tudo o mais, dizemos,
no Ele, no Seu, no seno a obra de algum Poder diablico que por
alguma razo deixou Ele cumprir sua vontade perversa, ou de algum tenebroso
Ahrimn que faz contrapeso a nosso gracioso Ormazd, ou ainda, se diz, que foi
culpa do homem egosta e pecador que perverteu tudo quanto em um princpio
Deus havia feito bem... necessrio contemplar de frente a realidade, faz-lo
valorosamente e ver que Deus e ningum seno Ele quem de Seu ser fez este
mundo e que Ele o fez tal como o mundo . preciso ver que a Natureza
devoradora de seus filhos, e o Tempo que se sacia da vida das criaturas, e a
Morte universal e inelutvel, e a violncia das foras de Rudra* no homem e na
Natureza, so, assim mesmo, a Divindade suprema sob um de seus aspectos
csmicos. preciso ver que o Deus criador, prdigo e benfico, o Deus que
guarda e salva, a misericrdia poderosa, tambm o Deus que devora e o Deus
que destri. De sua mo procede o leito de angstia e de mal em que somos
destroados e de sua mo tambm a alegria e a doura e o gozo. S quando
vemos com os olhos da unio completa e quando sentimos esta verdade no
fundo de nosso ser, somos capazes de descobrir de todo ponto, atrs desta
mscara, a calma e a bela face Daquele que todo-felicidade, e de sentir na
mo que pe prova nossa imperfeio, a mo do amigo e do arquiteto do
Esprito no homem. As discrdias dos mundos so as discrdias de Deus e
somente aceitando-as e progredindo atravs delas seremos capazes de chegar s
altas concrdias de Sua suprema harmonia e aos cumes, s imensidades
vibrantes de sua Ananda** transcendente e csmica... Porque a verdade o
fundamento da autntica espiritualidade e o valor sua alma".7
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* Uma das formas do Divino.
** A alegria divina.
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Acha-se, ento, lambida a ferida que parecia dividir o mundo entre Sat e o
cu, como se no houvesse outra coisa que o Bem e o Mal, o Mal e o Bem
somente, e ns entre os dois, "como uma criana que necessita de mimos ou de
aoites para conhecer os caminhos da virtude". 8 Todo dualismo uma viso
da Ignorncia; no existe por toda parte seno "o Um inumervel", A e as
"discrdias de Deus para que deus se desenvolva em ns. No entanto, um
abismo fica ainda entre esta imperfeio acaso divina- e a ltima Perfeio.
No este Divino csmico um Divino enxergando menos? Onde devemos nos
encaminhar, seno para um Divino sem mancha, transcendente e perfeito?
"Acaso exista uma oposio entre a vida espiritual e a vida do mundo, mas isto
para termos uma ponte sobre este abismo que aqui se constitui ao explorador
integral; o homem se encontra aqui, de fato, para fazer desta oposio uma
harmonia. Acaso se encontre o mundo governado pela carne e pelo diabo, mas
esta uma razo a mais para que os filhos da Imortalidade venham aqui mesmo
a conquistar o mundo para Deus e para o Esprito. Acaso a vida mesma seja
uma loucura, mas justamente por isso tantos milhes de almas esperam que a
elas sejam aportadas a luz da razo divina; acaso a vida seja um sonho, mas um
sonho real quando algum est dentro, real para tantos sonhadores a quem
devesse ensinar a ter sonhos mais nobres ou a despertar; ou uma mentira,
necessrio ento dar a verdade aos que esto enganados".
Mas nosso esprito est inquieto; talvez aceitemos ver Deus em todo este mal e
em todo este sofrimento; talvez aceitemos compreender que o obscuro inimigo
que nos oprime em verdade o construtor de nossa fora, o secreto forjador de
nossa conscincia; talvez aceitemos ser, como os rishis de outrora, os
"guerreiros da Luz neste mundo ensombrecido. Mas por que esta obscuridade?
Por que Ele, a quem concebemos eternamente puro e perfeito, veio a ser este
mundo to pouco divino em aparncia? Por que tinha Ele necessidade da Morte
e da Mentira e do Sofrimento? Se uma mscara, qual a razo de ser desta
mscara?, e se uma iluso, por que este jogo cruel?... Acaso, depois de tudo,
seja uma beno que o Senhor no tenha feito o mundo conforme nossa idia
da perfeio, porque ns temos tantas idias sobre o que "perfeito", acerca do
que Deus deve ser e, sobre tudo, a respeito do que Ele no deve ser, que ao
final das contas, a fora de apagar tudo que sobressai, no fica j nada em
nosso mundo seno um enorme Zero que no toleraria sequer a impureza de
nossa existncia, ou um quartel. "A virtude -observa a Me- empregou sempre
seu tempo em suprimir elementos da vida, e se houvessem posto juntas todas as
virtudes dos diversos pases do mundo, muito poucas coisas ficariam na
existncia". Porque ns no conhecemos seno um tipo de perfeio, o que
elimina, no o que tudo abarca; mas a perfeio uma totalidade. Porque no
vemos seno um segundo da Eternidade e porque este segundo no contm
tudo quanto ns quisramos ver e ter, nos lamentamos e dizemos que este
mundo est mal feito; mas se samos de nosso segundo para entrar na
Totalidade, tudo muda e se contempla a Perfeio em marcha. Este mundo no
todos devemos descobrir. E este "eu" que proclama sua Identidade com Deus,
no o eu de nenhum indivduo privilegiado - como porm, desse lugar para
um pequeno eu pessoal e exclusivo nesta deslumbrante abertura, como se o
sbio dos Upanishads, ou os rishis ou o Cristo houvessem adquirido para si
somente a filiao divina-; no seno a voz de todos os homens, fundida em
uma conscincia csmica, e ns todos somos os filhos de Deus.
Existem duas maneiras ou etapas para fazer este Descobrimento. Consiste a
primeira em descobrir a alma, o ser psquico, eternamente um com o Divino,
pequeno fragmento luminoso desta grande Luz: "O Esprito que se encontra
aqui embaixo no homem e o Esprito que est acima no Sol, so, em verdade,
um s Esprito, e no existe outro", diz o Upanishad;* "O homem que pensa
Ele outro e o outro sou eu, esse no ".** Este descobrimento do Esprito
interno o que, faz seis ou sete mil anos, chamavam os Vedas "o nascimento
do Filho": "Ns vimos sua massa de vermelho vivo; um grande deus interno foi
liberado da escurido" (Rig-Veda V, 1, 2), e em uma linguagem de poder
deslumbrante os rishis vdicos afirmavam a eterna Identidade do Filho e do
Pai, e a transmutao divina do homem: "Libera teu Pai! Conserva-o a salvo
em tua morada; teu Pai que se converte em teu Filho e que te leva" (Rig-Veda
V, 3, 9).
E desde o momento em que nascemos podemos ver que esta alma que est em
ns, a mesma que se encontra em todos os seres humanos, e no somente nos
seres, seno nas coisas, latente, no revelada: "Ele o filho das guas, o filho
dos bosques, o filho das coisas que carecem de movimento e o filho das coisas
que se movem. Ele est ainda na pedra" (Rig-Veda V, 1, 70). Tudo um porque
tudo o Uno. No dizia o Cristo, por ventura, "Este meu corpo, este meu
sangue", tomando estes dois smbolos do po e vinho -os mais materiais,
certamente, e os mais humildes- para indicar que esta Matria tambm o
corpo do Um, que esta Matria tambm o sangue de Deus?*** E se Ele j
no se encontrasse na pedra, como haveria podido vir ao homem, e por qual
miraculosa queda do cu? Ns somos fruto de uma evoluo, no de uma
sucesso de milagres arbitrrios: "Todo o passado da terra est em nossa
natureza humana... a natureza mesma do ser humano implica uma fase material
e uma fase vital que preparou o florescimento de sua mente, e um passado
animal que modelou os primeiros elementos de sua complexa humanidade.
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* Taittiriya Upanishad. X
** Brihadaranyaka Upanishad I, 4, 10
*** Ver Sri Aurobindo Eigth Upanishads X. XI
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no poderamos saber nada; mas no outra coisa seno obra de nossa iluso
separatista; nosso conhecimento indireto recobre e nos oculta o
reconhecimento imediato sem o qual nossos olhos, nossos dedos, nossa cabea
e ainda nossos microscpios no poderiam perceber nada, nem compreender
nada nem fazer nada. Nossos olhos no so rgos de viso, so rgos de
diviso; e quando o Olho da Verdade se abre em ns, esses binculos e essas
muletas esto demais. Nossa viagem evolutiva, finalmente, uma lenta
reconquista do que havamos excludo, um recobrar da Memria; nosso
progresso no se mede pela soma de nossos inventos - no so seno outros
tantos meios de aproximar artificialmente o que havamos nos distanciado-,
seno pela soma reintegrada do mundo que reconhecemos como ns mesmos.
E esta a alegria -Ananda-, porque ser tudo o que equivale a possuir a alegria
de todo o que .
"A beatitude de mirades de mirades que so um s.23
"Como poderia ser enganado, por que haveria de afligir-se aquele que v por
toda parte a Unidade?"*
XII
O SUPRACONSCIENTE
O Enigma
As condies do descobrimento
A ascenso da conscincia
* Rig Veda X, 53
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xtase?
Seres e Foras
XII
O SUPRACONSCIENTE - PARTE II
Os planos da Mente
a) A mente comum
b) A mente superior
c) A mente iluminada
O saisons, chateaux
Quelle me est sans dfauts?
d) A mente intuitiva
um irmo de luz que vive na luz e um irmo de sombra -ns mesmosque vive por debaixo e que repete s cegas, na sombra, tropeando
por toda parte, os gestos do irmo de luz, o movimento, o
conhecimento, a grande aventura do irmo de luz, mas abaixo tudo
mesquinho, esmirrado, desajeitado; logo, de repente, h coincidncia,
se um. Se um em um ponto de luz. Por uma vez j no h
diferena, e a alegria.
E quando sejamos um em todos os pontos, essa ser a vida divina.
E este ponto de coincidncia o conhecimento que pode traduzir-se
de uma ou de outra maneira, segundo a preocupao do momento,
mas que sempre , em essncia, um choque de identidade, um
encontro; sabe-se porque reconhece. Sri Aurobindo dizia que a
intuio "uma lembrana da Verdade".31 E no instante intuitivo se
v claramente, de fato, que o conhecimento no um descobrimento
do desconhecido -noo se descobre se seno a si mesmo, porque nada
mais h que descobrir- seno um lento reconhecimento no tempo, de
e) A supramente
tempo o que trata, mais mal que bem, por traduzir sua nova
conscincia, se que sente a necessidade de traduzir algo. Os rishis
vdicos, que provavelmente constituem o exemplo nico de um
progresso espiritual sistemtico, contnuo, de plano em plano,
figuram, no por acaso, no nmero dos maiores grandes poetas que o
mundo conheceu; Sri Aurobindo nos revelou isto em seu O Segredo
do Veda. A palavra kavi designava de modo inseparvel o vidente da
verdade e o poeta. Se era poeta porque era vidente. esta uma
evidncia que caiu em profundo esquecimento. Poderamos, ento,
dizer aqui algumas palavras sobre a Arte concebida como meio de
ascenso da conscincia, e particularmente sobre a poesia de nvel
supramental.
f) Poesia mntrica