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de Bio

Revista Brasileira de Biocincias

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ncias
Brazilian Journal of Biosciences

In
UF
RGS
ISSN 1980-4849 (on-line) / 1679-2343 (print)

ARTIGO
Levantamento florstico de um trecho de mata ciliar na
mesorregio do Serto Paraibano
Francione Gomes Silva*, Risoneide Henriques da Silva,
Rafael Medeiros de Arajo, Maria de Ftima de Arajo Lucena e Jair Moises de Sousa2
Recebido: 22 de setembro de 2014 Recebido aps reviso: 24 de setembro de 2015 Aceito: 1 de outubro de 2015
Disponvel on-line em http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/view/3163

RESUMO: (Levantamento florstico de um trecho de mata ciliar na mesorregio do Serto Paraibano). Mata ciliar o con-
junto de formaes vegetacionais que margeiam os corpos dgua, desempenhando um importante papel na manuteno de
ecossistemas associados. No Nordeste do Brasil e, em especial, no estado da Paraba, os estudos sobre a flora das matas ciliares
ou riprias so escassos. O presente trabalho teve como objetivo realizar levantamento florstico em um trecho de mata ciliar
no Rio Piranhas, mesorregio do Serto Paraibano. O estudo foi realizado no perodo de agosto de 2013 a dezembro 2014 em
uma rea de 6 km de extenso s margens do rio, situado no municpio de So Bento, PB. O material botnico foi identificado a
partir de anlises morfolgicas, por comparao com exsicatas do acervo do Herbrio do Centro de Sade e Tecnologia Rural
(CSTR), bibliografias especializadas, consulta a guias de imagens e chaves de identificao. Foram registradas 105 espcies,
distribudas em 88 gneros e 44 famlias, dentre elas Fabaceae (20 spp.) foi a mais representativa, seguida por Malvaceae (oito
spp.), Euphorbiaceae (sete spp.) e Poaceae (cinco ssp.). Amaranthaceae, Cucurbitaceae, Lamiaceae, Phytolacaceae, Sapindaceae,
Solanaceae e Verbenaceae apresentaram trs espcies cada, enquanto que para as demais famlias foram encontrados valores
inferiores a trs espcies. A importncia do rio para a regio associada riqueza florstica encontrada, alertam para o planejamento
e execuo de aes visando sua recuperao e conservao.
Palavras-chave: Caatinga, Rio Piranhas, Vegetao.

ABSTRACT: (Floristic survey of a riparian forest in the Serto mesoregion of Paraba state, Brazil). Riparian vegetation is
the group of plant formations that border water bodies. It plays an important role in the maintenance of associated ecosystems. In
Northeastern Brazil, especially at Paraba state, studies on the flora of this type of environment are scarce. We aimed to conduct
a floristic survey in a riparian forest along the Piranhas river, in the Serto mesoregion of Paraiba state. The study was con-
ducted from August 2013 to December 2014 over an area of 6 km along the river banks, in the municipality of So Bento. The
botanical material was identified through morphological analyses by comparison with voucher specimens from the Herbarium
collection of the Center for Rural Health and Technology, and through consultation of specialized bibliographies, image guides
and identification keys. We found 105 species distributed across 88 genera and 44 families. Fabaceae was the most species-rich
family (20 spp.), followed by Malvaceae (eight spp.), Euphorbiaceae (seven spp.) and Poaceae (five spp.). Amaranthaceae,
Curcubitaceae, Lamiaceae, Phytolacaceae, Sapindaceae, Solanaceae and Verbenaceae were represented by three species each,
whereas the other families were represented by less than three species. The importance of the river to the region, associated with
the floristic richness found, highlight the need for planning and implementation of actions aimed at its recovery and conservation.
Key words: Caatinga, Piranhas river, Vegetation.

INTRODUO (2008), caracterizou-se pela falta de planejamento que


Nos dias atuais tendncia mundial a crescente pre- ocasionou na destruio de boa parte de seus recursos
ocupao com a conservao dos recursos naturais, que naturais, principalmente os florestais, com a cobertura
requer a adoo de novas posturas frente natureza, vegetal nativa dos diferentes biomas brasileiros cedendo
motivando a busca por conhecimentos que promovam a lugar para as cidades, culturas agrcolas e pastagens.
sustentabilidade dos recursos por ela ofertados (Lacerda No diferentemente dos demais ecossistemas brasilei-
et al 2003). ros, as matas ciliares foram alvo de todo tipo de alterao,
O Brasil um dos pases mais ricos do mundo em pois alm do processo de urbanizao elas sofrem com
biodiversidade e devido a sua magnitude espacial de presso antrpica resultante das diferentes atividades
propores continentais abriga um mostrurio bastante humanas (Martins 2011). A explorao e degradao das
completo das principais paisagens e ecologia do mundo florestas nativas resultaram em um conjunto de proble-
tropical (AbSber 2003). Embora o pas abrigue uma mas ambientais, como a extino de espcies da fauna
grande diversidade biolgica, de paisagens e ecossiste- e flora, eutrofizao, mudanas no clima local, alm do
mas, seu processo de ocupao, segundo Paz & Farias assoreamento dos cursos dgua (Ferreira & Dias 2004).
1. Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, Centro de Sade e Tecnologia Rural, Curso de Licenciatura em Cincias Biolgicas.
Av. Universitria s/n, Bairro Santa Ceclia, CEP 58708-110, Patos, PB, Brasil.
2. Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, Centro de Sade e Tecnologia Rural, Herbrio CSTR, Laboratrio de Botnica.
Av. Universitria s/n, Bairro Santa Ceclia, CEP 58708-110, Patos, PB, Brasil.
*Autor para contato. E-mail: cionesb@hotmail.com

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Florstica de mata ciliar no Serto Paraibano 251

As matas ciliares podem ser entendidas como o conjun- (2009) e Martins (2011), que abordam os processos
to de vegetaes, de composio mista, que ocorrem no de recuperao e conservao de reas ciliares. Para a
entorno dos corpos hdricos, sejam eles naturais ou arti- regio Nordeste contribuies sobre o conhecimento
ficiais (Lacerda et al 2010, Brackmann & Freitas 2013). desse tipo vegetacional foram dadas com as pesquisas
Funcionam como reas de transio entre os ecossistemas desenvolvidas por Cestaro & Soares (2004), Ferraz et
terrestres e aquticos, com espcies tpicas das margens al. (2005), Ferraz et al. (2006), Arajo (2009), Moura &
de rio como das formaes vegetais onde esto inseridas, Schilindwein (2009) e Souza & Rodal (2010) as quais
estando presente em todos os domnios paisagsticos do agregam conhecimento sobre a composio, fisionomia
Brasil (Battilani et al 2005, Lacerda et al 2005, Absaber e usos da flora de algumas matas ciliares nesta regio.
2009; Kipper et al 2010, Martins 2011). Estes ambientes No estado da Paraba as florestas ciliares so escassas,
podem se apresentar como corredores ecolgicos, ligando principalmente no Serto, por causa do clima semirido
fragmentos florestais e, assim, facilitando o fluxo gnico e das prticas socioeconmicas, que tm provocado o
da flora e da fauna (Barrella et al 2009, Marinho-Filho desaparecimento de espcies importantes da nossa flora
& Gastal 2009, Martins 2011). (Silva 2004). Pesquisas desenvolvidas por Lacerda et
As matas ciliares contribuem ainda para o abasteci- al. (2005), Andrade et al. (2006), Lacerda et al. (2007),
mento do lenol fretico, oferecem proteo contra a Trovo et al. (2010), Oliveira et al. (2012), Silva et al.
eroso do solo e mananciais, reduzem impactos sobre a (2012) e Queiroga et al. (2013) contriburam em apresen-
biota aqutica e esto intimamente relacionadas quali- tar parte da riqueza florstica de algumas matas ciliares
dade da gua para consumo humano e animal, gerao do estado e identificar os principais fatores de degradao
de energia e irrigao (Lima & Zakia 2009). Agem de alguns de seus rios, alm de apontar propostas para
tambm como filtros, retendo resduos de agrotxicos e uma melhor utilizao de seus recursos. Queiroga et
sedimentos (Niccio 2001, Ferreira & Dias 2004, Martins al. (2013) alertaram, porm, para o fato de que a maior
& Dias 2001). parte desses estudos se concentram nas mesorregies da
Apesar da reconhecida importncia ecolgica nos dias Borborema e Brejo Paraibano.
atuais, em que a gua considerada um dos recursos Diante desta necessidade de ampliar o conhecimento
naturais mais importante para a humanidade, as matas cientfico sobre esses ecossistemas na regio semirida do
ciliares continuam sendo degradadas, sobretudo para a Brasil, o presente trabalho teve como objetivo inventariar
especulao imobiliria, para o desenvolvimento agro- a flora de uma floresta ciliar na mesorregio do Serto
pecurio e, na maioria dos casos, sendo transformadas Paraibano, situada as margens do Rio Piranhas, um dos
apenas em reas degradadas, sem qualquer tipo de ati- mais importantes nesta mesorregio, como subsdio
vidade produtiva ou social (Martins 2011). tambm para conservao da mesma.
A degradao das formaes ciliares, alm de des-
respeitar a legislao, que torna obrigatria a proteo M AT E R I A L E M TO D O S
das mesmas, resulta em vrios problemas ambientais.
E, mesmo desempenhando papel importantssimo para Localizao e caracteriao da rea de estudo
manuteno dos cursos dgua, essas esto seriamente O presente estudo foi realizado no municpio de So
comprometidas em boa parte do territrio nacional (Silva Bento, localizado na mesorregio do Serto Paraibano e
et al 2012). microrregio de Catol do Rocha, estado da Paraba, ao
Quando se trata desse tipo de ecossistema no bioma longo de um trecho de 6 km de vegetao (62845,1S e
Caatinga, Arajo & Ferraz (2003) alertam para o fato 372722,9O), no leito e a cerca de at 20 metros de dis-
de que este apresenta reas degradadas florstica e es- tncia das margens do Rio Piranhas, seguindo as variadas
truturalmente, onde vrias espcies vegetais so usadas faixas de vegetao existentes (Fig.1). Trata-se de um rio
para diversas finalidades, como forragem para o gado, perene ao longo de propriedades rurais particulares. Sua
construo civil, produo de energia e tratamento de bacia hidrogrfica possui uma rea total de drenagem de
enfermidades (Ferraz et al 2005). Em muitos casos 43.681,50 km, dividida entre os estados da Paraba e Rio
constituem os ltimos remanescentes florestais das pro- Grande do Norte. Sua nascente est situada no municpio
priedades rurais (Silva et al 2012). de Bonito de Santa F, no estado da Paraba desaguando
No Brasil, poucos so os estudos realizados sobre a no oceano atlntico na costa Potiguar (AESA 2015).
flora de ambientes ciliares, dada a diversidade de fitofisio- Apresenta uma vegetao ciliar arbrea-arbustiva
nomias que compem esses ecossistemas nos diferentes aberta, inserida no bioma Caatinga, assentada sobre Lu-
domnios paisagsticos brasileiros, onde os trabalhos vissolos e Neossolos Flvicos, com fisionomia bastante
desenvolvidos por Oliveira-Filho (1989), Sanchez et al. perturbada pela ao antrpica (Fig. 2). A cobertura
(1999), Battilani et al. (2005), Ferreira & Dias (2004) vegetal de sua margem, sobre terra firme, varia de 5 a 20
e Rodrigues & Leito-Filho (2009) colaboraram para metros de largura e seu leito no local apresenta cerca de
uma melhor compreenso da composio florstica e do 40 metros de largura em pocas de seca, podendo chegar
padro estrutural, caracterizando a fisionomia de trechos a mais de 300 metros na poca da cheia; o clima da rea
das matas ciliares das regies Sul, Sudeste e Centro-Oeste semirido (Bsh) e altitude mdia no trecho estudado
do Brasil. Destacam-se tambm os trabalhos de Martins de 148 metros.
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Coleta dos dados (rvores), espcies lenhosas que apresentam um tronco


As coletas botnicas ocorreram mensalmente no pero- principal; arbustivo (arbustos), espcies lenhosas de porte
do de agosto de 2013 a dezembro de 2014, totalizando 14 menor, ramificado na base (vrios troncos); subarbusti-
coletas, atravs de caminhadas nos trechos selecionados, vo (subarbustos), plantas intermedirias entre lenhosas
durante as estaes seca (agosto a dezembro de 2013 e e herbceas; herbceo (ervas), espcies pouco ou no
junho a dezembro de 2014) e chuvosa (janeiro a maio lignificadas; trepador (trepadeiras), espcies lenhosas
de 2014) e nelas foram obtidas amostras de plantas vas- (lianas) ou herbceas com caules alongados e dbeis
culares em estado de florao e/ou frutificao e plantas que necessitam de suporte no qual trepam ou ao qual se
avasculares nos diferentes trechos do rio. enrolam, e epfitas, as espcies que crescem sobre outras
Os procedimentos de coleta, prensagem e herborizao plantas, mas sem parasit-las.
de material botnico seguem a metodologia proposta por As formas de vida para macrfitas aquticas foram
Judd et al. (2009) e IBGE (2012). A identificao dos classificadas conforme Pott & Pott (2000) que reconhe-
txons foi feita a partir de observaes morfolgicas das cem sete tipos: anfbia, espcies de margem capazes de
estruturas vegetativas e reprodutivas, por comparao viver tanto em reas alagadas como fora da gua; emer-
com material j identificado no acervo do Herbrio CSTR
gente, as espcies enraizadas no substrato com partes
e consulta a guias de imagens e chaves de identificao
vegetativas e reprodutivas parcialmente fora dgua;
contidas em bibliografias especializadas de diferentes
flutuante fixa, espcies fixas ao substrato com partes
grupos taxonmicos, como as apresentadas por Alves et
al. (2009), Queiroz (2009), Lima et al. (2011), Rodrigues flutuantes na superfcie dgua; flutuante livre, no enrai-
(2011) e Souza & Lorenzi (2014). zadas e flutuantes; submersa fixa, espcies enraizadas no
A lista florstica elaborada segue o sistema de clas- substrato e submersas, geralmente com flor fora dgua;
sificao do Angiosperm Phylogeny Group (APG III submersa livre, no enraizada e totalmente submersa
2009), a nomenclatura das espcies e seus respectivos geralmente com flor emergente; e epfitas, espcies que
autores foram redigidas com base em consulta Lista crescem sobre outras macrfitas aquticas.
de Espcies da Flora do Brasil (2015). Os hbitos das Foram consideradas espcies exticas e invasoras
espcies esto de acordo com Judd et al. (2009), que aquelas contidas na base de dados do instituto Hrus
os divide em formas lenhosas e herbceas: arbreo (2015).

Figura 1. Mapa da localizao do muncipio de So Bento, Paraba, destacando os municpios circunvizinhos, indicando em vermelho a rea
de estudo (62845,1S e 372722,9O).

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Figura 2. Fitofisionomias do trecho estudado no Rio Piranhas. A. Curso do rio Piranhas na rea estudada. B. Ramificao do rio com destaque
para o bancos de areia e suas margens.

R E S U LTA D O S E D I S C U S S O de eudicotiledneas. Das 20 espcies encontradas, nove


O levantamento registrou 105 espcies, distribudas em tm hbito arbreo e quatro compem o estrato herbceo.
88 gneros e 44 famlias, sendo Fabaceae a famlia mais Entre estas rvores, destacaram-se nas margens do rio
representativa com 20 espcies, seguida por Malvaceae Geoffroea spinosa Jacq. (Marizeiro), Inga vera Willd.
(oito spp.), Euphorbiaceae (sete spp.) e Poaceae (cinco (Ing), Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz
spp.) que juntas representaram cerca de 38% do total de (juc), Chloroleucon cf. dumosum (Benth.) G.P.Lewis
espcies coletadas. As demais famlias encontradas foram (mata fome), Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Mo-
representadas por nmeros iguais ou inferiores a trs es- rong e Albizia inundata (Mart.) Barneby & J.W.Grimes
pcies (Fig. 3). Destes, sete txons foram identificados a (timbabas).
nvel genrico e um encontra-se indeterminado (Tab. 1). A famlia Euphorbiaceae foi representada por Astraea
Fabaceae tambm foi registrada em levantamentos lobata (L.) Klotzsch, Cnidoscolus urens (L.) Arthur,
florsticos desenvolvidos em matas ciliares para a Ca- Croton hirtus LHr., Croton heliotropiifolius Kunth.
atinga (Queiroga 2013, Souza & Rodal 2010, Lacerda Jatropha mollissima (Pohl) Baill., Ricinus communis
et al 2005, Lacerda et al 2007) como importante grupo L. e Dalechampia scandes L., sendo a segunda espcie

Figura 3. Riqueza especfica por famlia na mata ciliar do Rio Piranhas no municpio de So Bento, PB.

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Tabela 1. Composio florstica de um trecho de mata ciliar do Rio Piranhas no municpio de So Bento, PB.
Famlias Espcies Hbito/Formas de Vida
Aizoaceae Trianthema portulacastrum L. Erva
Acanthaceae Dicliptera mucronifolia Ness Erva
Alismataceae Hydrocleys martii Seub. Flutuante fixa
Araceae Pistia stratiotes L. Flutuante livre
Asteraceae Eclipta prostrata (L.) L. Erva
Tridax procunbens L. Anfbia
Amaranthaceae Amaranthus blitum L. Erva
Amaranthus spinosus L. Erva
Froelichia humboldtiana (Roem. &Schult.) Seub. Erva
Apocynaceae Funastrum clausum (Jacq.) Schltr. Trepadeira herbcea
Calotropis procera (Aiton) W.T.Aiton Arbusto
Boraginaceae Euploca procumbens (Mill.) Diane &Hilger Anfbia
Heliotropium indicum L. Erva
Capparaceae Crateva tapia L. rvore
Cynophalla hastata (Jacq.) J. Prest Arbusto
Chrysobalanaceae Licania rigida Benth. rvore
Cleomaceae Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. Anfbia
Combretaceae Combretum leprosum Mart. Arbusto
Combretum sp. Arbusto
Commelinaceae Commelina benghalensis L. Anfbia
Convolvulaceae Ipomoea asarifolia (Desr.) Roem &Schult. Erva
Cucurbitaceae Cucumis anguria L. Erva
Momordica charantia L. Trepadeira herbcea
Luffa cylindrica M.Roem. Trepadeira herbcea
Cyperaceae Cyperus rotundus L. Erva
Cyperus ligulares L. Anfbia
Eriocaulaceae Eriocaulon sp. Anfbia
Euphorbiaceae Astraea lobata (L.) Klotzsch Erva
Cnidoscolus urens (L.) Arthur. Subarbusto
Croton hirtus LHr. Erva
Croton heliotropiifolius Kunth Arbusto
Dalechampia scandens L. Trepadeira herbcea
Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Arbusto
Ricinus communis L. Arbusto
Fabaceae Albizia inundata (Mart.) Barneby & J.W.Grimes rvore
Canavalia brasiliensis Mart. ExBenth Liana
Chamaecrista diphylla (L.) Greene. Erva
Chamaecrista serpens(L.) Greene. Erva
Chloroleucon cf.dumosum (Benth.) G.P.Lewis rvore
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong rvore
Geoffroea spinosa Jacq rvore
Indigofera hirsuta L. Subarbusto
Inga vera Willd. rvore
Indeterminada I rvore
Libidibia ferrea (Mart. exTul.) L.P.Queiroz rvore
Macroptilium lathyroides (L.) Urb. Subarbusto
Mimosa pigra L. Arbusto
Mimosa sensitiva L. Erva
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir. rvore
Neptunia plena (L.) Benth. Anfbia
Prosopis juliflora (SW.) DC. rvore
Senna occidentales (L.) Link Subarbusto
Sesbania exasperata Kunth Anfbia
Tephrosia cinerea L. (Pers.) Erva
Hydrocharitaceae Apalanthe granatensis (Bonpl.) Planch. Submersa fixa
Lamiaceae Aegiphila sp. rvore
Leonotis nepetifolia (L.) R. Br. Arbusto
Vitex gardneriana Schauer Arbusto

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Florstica de mata ciliar no Serto Paraibano 255

Tab 1. Cont.
Famlias Espcies Hbito
Malvaceae s.l. Byttneria filipes Mart. ExK.Schum. Arbusto
Corchorus argutusKunth. Erva
Herissantia tiubae (K.Schum.) Brizicky Subarbusto
Melochia tomentosa L. Erva
Pavonia cancellata (L.) Cav. Erva
Sida rhombifolia L. Erva
Waltheria operculata Rose. Erva
Waltheria rotundifolia Schrank Erva
Molluginaceae Mollugo verticillata L. Erva
Nyctaginaceae Boerhavia coccinea Mill. Erva
Nymphaeaceae Nymphaea pulchella DC. Flutuante fixa
Onagraceae Ludwigia helminthorrhiza (Mart.) H.Hara Flutuante fixa
Ludwigia grandiflora (Michx.) Greuter & Burdet Anfbia
Passifloraceae Passiflora foetida L. Trepadeira herbcea
Phyllanthaceae Phyllanthus amarusSchumach. Erva
Phytolaccaceae Microtea paniculata Moq. Erva
Rivina humilis L. Subarbusto
Rivina sp. Subarbusto
Plantaginaceae Scoparia dulcis L. Erva
Stemodia maritima L. Erva
Poaceae Chloris barbata Sw Erva
Dactyloctenium aegyptium (L.) Willd. Erva
Digitaria bicornis (Lam.) Roem. &Schult. Erva
Eragrostis pilosa (L.) P.Beauv. Erva
Melinis repens (Willd.) Zizka Erva
Polygonaceae Polygonum ferruginum Wedd Emergente
Triplaris gardneriana Wedd rvore
Pontederiaceae Eichhornia crassipes (Mart.) Solms Flutuante livre
Heteranthera oblongifolia Mart. ex Schult. & Schult.f. Flutuante fixa
Portulacaceae Portulaca oleraceae L. Erva
Talinum triangulare (Jacq.) Willd. Erva
Ricciniaceae Riccia sp. Brifita
Rhamnaceae Ziziphus joazeiro Mart. rvore
Rubiaceae Richardia grandeflora (Cham. &Schltdl.) Steud. Erva
Salviniaceae Azolla filiculoides Lam. Flutuante livre
Sapindaceae Paullinia pinnata L. Liana
Sapindus saponaria L. rvore
Serjania glabrata Kunth Liana
Solanaceae Physalis pubescens L. Erva
Physalis sp. Erva
Solanum agrarium Sendtn Subarbusto
Turneraceae Turnera subulata Sm Erva
Verbenaceae Lippia alba (Mill.) N. E. Br. Erva
Stachytarpheta angustifolia (Mill.) Vahl Erva
Stachytarpheta sp. Erva
Urticaceae Urtica dioica L. Erva
Zigophyllaceae Kallstroemia tribuloides (Mart.) Steud. Erva

concentrada em grande nmero ao longo do trecho do na poro superficial do solo, que menor nessa poca
rio estudado. A regio Nordeste do Brasil pode ser consi- do ano. Com incio das primeiras chuvas no ms de
derada um grande centro de diversidade da famlia, com janeiro de 2014 houve um aumento de ervas coletadas.
211 espcies e 45 gneros, distribudos, em sua maioria, O aumento das chuvas no ms seguinte com o grande
nas reas de Caatinga (Lucena & Alves 2009). volume de gua do rio e o alagamento da rea propor-
No perodo seco, de agosto a dezembro de 2013, cionaram a transformao da fitofisionomia local. Essa
coletou-se um maior nmero de espcies do componente heterogeneidade em matas ciliares pode ser entendida
arbreo-arbustivo (24 spp.) em relao ao herbceo (dez como resultante da atuao diferencial da umidade ou do
spp.). Este fato coincide com a disponibilidade de gua encharcamento do solo em funo do extravasamento do
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leito do rio e afloramento temporrio ou permanente do solo tem maior capacidade de reteno de gua, sendo
lenol fretico, sendo o conjunto de espcies dessas reas encontradas em diferentes levantamentos florsticos de
delineado pelas caractersticas regionais do ambiente matas ciliares da regio (Queiroga et al 2013, Sousa &
ciliar (Rodrigues & Shepherd 2009). Rodal 2010, Lacerda et al 2007).
A rea apresentou 44 espcies de ervas, representando Os componentes arbustivo e subarbustivo foram re-
mais de 42% das espcies coletadas, especialmente no presentados por 19 espcies. Entre os arbustos, Mimosa
ms de janeiro e fevereiro. O estrato arbreo foi repre- pigra L. destaca-se habitando especialmente os locais
sentado por 15 espcies e os componentes arbustivo e prximos as margens do rio na maior parte do trecho
subarbustivo por 11 e oito espcies, respectivamente. estudado. Esta espcie tambm foi registrada na vege-
Oito espcies de trepadeiras e uma espcie de brifita tao ripria de Caatinga no Rio Paje, Pernambuco
completam a lista. A riqueza do estrato herbceo em (Souza & Rodal 2010). De acordo com Flanagan et al.
matas ciliares foi tambm destacada nos estudos de Quei- (1990), trata-se de uma espcie considerada invasora em
roga (2013) e Souza & Rodal (2010) no bioma Caatinga. diferentes partes do mundo.
As espcies herbceas foram encontradas nas margens, As trepadeiras foram representadas por oito espcies,
mas em maior frequncia prximas ao leito do rio, com sendo cinco delas herbceas, destas, duas pertencentes
destaque para Talinum triangulare (Jacq.) Willd. ocorren- famlia Cucurbitaceae (Momordica charantia L. e Luffa
do ao longo de toda rea. Herbceas como Amaranthus cylindrica M. Roem.), as demais foram Passifloraceae
spinosus L., Eclipta prostrata (L.) L., Tridax procumbens (Passiflora foetida L.), Euphorbiaceae (Dalechampia
L., Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf., Ipomoea asarifolia scandens) e Apocynaceae (Funastrum clausum (Jacq.)
(Desr) Roem. Schult, Cyperus spp., Euphorbia hirta L., Schltr.). As trepadeiras lenhosas (Lianas) foram represen-
Scoparia dulcis L., Portulaca oleraceae L., Richardia tadas por trs espcies, Canavalia brasiliensis Mart. ex
grandiflora (Cham & Schetde) Steud, Lipia alba (Mil.) Benth (Fabaceae), Serjania glabrata Kunth e Paullinia
N.E.Br aparecem na lista florstica produzida por Sousa pinnata L. (Sapindaceae).
et al. (2012), como espcies ruderais de ambientes per- Entre as espcies exticas, Prosopis juliflora (SW.)
turbados pela ao antrpica e que eventualmente atuam DC., Calotropis procera (Aiton) W.T.Aiton, Melinis re-
no processo de sucesso ecolgica dessas reas (Moro pens (Willd.) Zizka, Momordica charantia e Ricinus com-
et al 2012). munis L. so comumente encontradas em reas degradas
As macrfitas aquticas foram representadas na rea do Nordeste (Moro et al 2012). Estes mesmos autores
por 18 espcies: Polygonum ferruginum Wedd, He- alertam que este grupo de plantas reportado em poucos
teranthera oblongifolia Mart. ex Schult. & Schult.f., trabalhos, prejudicando assim o real conhecimento das
Eichhornia crassipes (Mart.) Solms, Azolla filiculoides reas que estas plantas ocupam e, desta forma, perdendo
Lam., Nymphaea pulchella DC., Ludwigia helminthor-
informaes importantes para o mapeamento das loca-
rhiza (Mart.) H. Hara, Ludwigia grandiflora (Michx.)
lidades que necessitam de aes para a conservao de
Greuter & Burdet, Apalanthe granatensis (Bonpl.)
sua flora. Ressalta-se que as espcies exticas, quando
Planch., Sesbania exasperata Kunth, Neptunia plena (L.)
se tornam invasoras, alteram as caractersticas naturais e
Benth., Eriocaulon sp., Cyperus ligulares L., Commelina
o funcionamento dos processos ecolgicos, afetando as
benghalensis L., Tarenaya spinosa, Euploca procumbens
resistncias dos ecossistemas, reduzindo as populaes
(Mill.) Diane & Hilger, Tridax procunbens, Pistia stra-
naturais e aumentando a perda da biodiversidade, visto
tiotes L. e Hydrocleys martii Seub. A forma de vida fre-
que as adaptaes das mesmas permitem que elas possam
quentemente observada foi a anfbia, com nove espcies,
competir com a flora nativa (Ziller 2001).
seguida por flutuante fixa (quatro spp.), flutuante livre
(trs spp.), estando as emergentes e as submersas fixas
CONCLUSO
representadas por uma espcie cada (Tab. 1).
As macrfitas foram encontradas em reas alagadas A rea estuda ainda abriga espcies caractersticas de
no leito do rio, em locais onde a correnteza era mais matas ciliares, especialmente espcies arbreas. O regime
fraca e em algumas pequenas lagoas que se formaram de guas entre as estaes seca e chuvosa influencia na
com a diminuio do nvel da gua, na poca seca. No fitofisionomia e composio florstica das matas ciliares
perodo chuvoso, devido ao grande volume e fora da do semirido. A riqueza de parte da flora da mata ciliar do
gua, as espcies aquticas so pouco observadas, pois Rio Piranhas, aqui catalogada em 105 espcies, pode ser
a maioria, especialmente as flutuantes livres, flutuantes maior com estudos ampliados em outros trechos do seu
fixas e submersas fixas levada pela correnteza. O mes- curso nos outros municpios que este rio banha. A presen-
mo observado para as espcies herbceas que crescem a de espcies exticas que podem se tornar invasoras,
prximas ao leito do rio. alterando os processos ecolgicos e comprometendo a
O componente arbreo foi representado por Inga biodiversidade local demonstra a necessidade da adoo
vera, Geoffroea spinosa, Triplaris gardneriana Wedd, de medidas que visem recuperao e conservao das
Sapindus saponaria L., Ziziphus joazeiro Mart., Licania formaes ciliares que margeiam o Rio Piranhas, dada a
rigida Benth. e Albizia inundata, que so espcies carac- importncia que este rio tem para o Semirido paraibano
tersticas de reas ciliares da Caatinga em locais onde o e potiguar.
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