Introdução À Antropologia Biológica
Introdução À Antropologia Biológica
Introdução À Antropologia Biológica
Editado por:
Lorena Madrigal
University of South Florida
Rolando Gonzlez-Jos
CONICET/ Cenpat
ISBN 978-987-42-3502-2
Data de publicao da edio em portugus: Fevereiro, 2017.
Livro escrito, editado, produzido e disponibilizado gratuitamente e sem fins lucrativos.
Nenhuma parte deste livro pode ser vendida.
2
Coordenao da Traduo
Caio Cesar Silva de Cerqueira
Perito Criminal da Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica do estado de So Paulo, Brasil
Reviso da Traduo
Caio Cesar Silva de Cerqueira
Perito Criminal da Superintendncia da Polcia Tcnico-Cientfica do estado de So Paulo, Brasil
Captulos 1, 9 e 23
Francis Maria Bo Zambra
Ps-Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil
Captulos 2, 3, 6 e 13
Pedro Vargas Pinilla
Doutorando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil
Captulos 4 e 5
Silviene Fabiana de Oliveira
Professora da Universidade de Braslia (UnB), Brasil
Captulos 8 e 11
Vanessa Cristina Jacovas
Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil
3
Captulos 16, 20 e 21
Rafael Bisso Machado
Professor na Universidad de la Repblica, Uruguai
Captulos 18 e 22
Pamela Laiz Par da Rosa
Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Brasil
Agradecimentos:
Clarissa Isabel Veiga de Oliveira, pelo auxlio na traduo dos captulos 2, 3, 6 e 13.
Joana Flor Rattes Nunes, pelo auxlio na traduo do Captulo 4.
1. Antropologa. I. Gonzlez Jos, Rolando, comp. II. Madrigal Diaz, Lorena, comp. III. Silva de
Cerqueira, Caio Cesar, trad. IV. Ttulo.
CDD 570
4
ndice
Pgina
5
13. Evoluo dos Primatas: desde sua origem at os primeiros registros de hominneos. Tejedor,
MF..........................................................................................................................................360
14. A evoluo dos gneros Australopithecus e Paranthropus. Makinistian, A...........................414
15. O gnero Homo. Martnez Latrach, F.....................................................................................438
16. A disperso do Homo sapiens e o povoamento inicial da Amrica. Bisso-Machado, R et
al.............................................................................................................................................464
17. Contribuio da Paleogentica compreenso da filogenia dos Homo sapiens. Dejean,
CB...........................................................................................................................................493
6
PRLOGO.
UM EXPERIMENTO EM SOLIDARIEDADE E
COOPERAO.
Professores e estudantes de antropologia biolgica tm sofrido por dcadas com o
problema da falta de um bom livro-texto em espanhol, assim como em portugus. Temos
usado livros obsoletos, atualizando as laterais das pginas para atualizar datas e mesmo
informaes, como que a capacidade craniana de um ou outro homindeo diferente daquela
escrita. Outros utilizam livros-texto escritos em outros idiomas, o que cria uma bvia
desvantagem para os estudantes que no esto familiarizados com tais idiomas, alm do alto
custo para comprar um livro publicado no exterior.
Os captulos que compem este volume foram idealizados em parte por ns, e em parte
pelos membros da ALAB. Alguns colegas nos indicaram a incluso de captulos sobre um tema
que no havamos considerado inicialmente, e assim foi feito. Solicitamos que os interessados
em escrever os captulos nos enviassem resumos de captulos de interesse, e escolhemos os
que nos pareciam mais apropriados. Os captulos foram avaliados por dois especialistas no
tema, para assegurar-nos de que o material estava corretamente apresentado e atualizado,
resultando que alguns captulos foram recusados pelos avaliadores, outros aceitos com
mudanas maiores, e outros com mudanas menores.
7
conhecimento, onde o livro-texto no se publica com o fim do lucro, mas para o benefcio dos
estudantes latino-americanos.
Ns, organizadores, solicitamos ALAB para que forme um comit editorial a cada dois
anos, a fim de que avaliem estes captulos e determinem quais devem ser escritos novamente,
com o objetivo de que acrescentem o necessrio para cobrir as lacunas presentes no volume.
Idealmente, deveria haver uma edio nova a cada trs anos, de tal forma que o estudante
latino-americano tenha acesso a um material que esteja em dia.
Em solidariedade,
8
INTRODUO. A ANTROPOLOGIA BIOLGICA.
1
Instituto Patagnico de Ciencias Sociales y Humanas, Centro Nacional Patagnico. CONICET.
rolando@cenpat-conicet.gob.ar
2
Department of Anthropology. University of South Florida. madrigal@usf.edu
A antropologia difcil de definir uma vez que est colocada entre as cincias sociais e
naturais e porque se pratica de maneira diferente de pas para pas. Ns definimos a
antropologia como o estudo da variao e evoluo biocultural da humanidade. Dependendo
da corrente antropolgica da instituio, um departamento de antropologia pode incluir
antroplogos sociais ou culturais, linguistas, arquelogos e fsicos ou biolgicos. Na maior
parte da Europa, os antroplogos biolgicos so parte dos departamentos de biologia,
enquanto que nos Estados Unidos, eles so parte dos departamentos de antropologia. Na
Amrica Latina, visto que temos recebido influncias Europeias e Norte-Americanas, vemos
ambas as situaes. Uma vez que importante conhecer nossa histria, pedimos aos Pais
Fundadores da ALAB que nos descrevam como comeou a associao que une os
antroplogos biolgicos latino-americanos e espanhis.
9
A antropologia biolgica tem muito em comum com outras disciplinas como a biologia
humana, a demografia, a paleontologia, e at a medicina. Talvez a melhor maneira de explicar
o que nos separa destas outras disciplinas seja a maneira que os antroplogos biolgicos
focam suas pesquisas, visto que, seja qual for o tema de investigao, ns observamos desde
pontos de vista evolutivos, transculturais e bioculturais. Portanto, mesmo se estamos
estudando algo to clnico como, por exemplo, o parto, a viso ser buscada a partir destes
trs pontos de vista: 1. Evolutivo: Qual o papel da pelve na locomoo e no parto? Quando
em nossa histria evolutiva os humanos comearam a caminhar de maneira bpede, afetando
desta maneira a pelve? Como parem os primatas no humanos? 2. Transcultural: De que
maneira as famlias, obstetras, parteiras e outros assistentes mdicos ajudam s mes que
esto parindo em culturas ao redor do planeta? possvel que a maneira de parir tpica da
biomedicina no seja a melhor para a mulher? 3. Biocultural: Como o estresse de estar parindo
em um hospital afeta o sucesso do parto para mulheres que esto desacompanhadas de sua
famlia? Poderamos melhorar a sade da me e do beb incorporando prticas culturais da
mulher que est parindo? Em outras palavras, os antroplogos biolgicos estudam um fato
biolgico, como uma doena ou um gene, incorporando informao sobre seu passado
evolutivo em diferentes culturas-ecossistemas, estudando como a doena ou o gene afetam a
cultura onde se manifesta, e como a cultura os afetam.
Este enfoque (evolutivo, transcultural e biocultural) bvio nos captulos que seguem. A
segunda unidade do livro voltada aos estudos de primatas humanos e no humanos. A
primatologia uma parte muito ativa da antropologia biolgica, importante para a abordagem
de questes desde sade (por exemplo, Aonde dormem todos os bebs primatas? Em beros
separados de suas mes e em outro quarto, ou muito prximos delas? Existe alguma outra
espcie alm dos humanos em que as mes decidem que no vo amamentar seus bebs?),
pesquisa da origem da linguagem (Os chimpanzs podem transmitir seus pensamentos?), at a
conservao do ambiente (Como reagem os macacos presena de humanos em zonas de
desenvolvimento turstico? Qual a melhor maneira de proteger as populaes de macacos
dos humanos, e os humanos dos macacos?).
O fato de que a antropologia biolgica uma cincia evolutiva est evidente na terceira
unidade do livro, que se direciona ao estudo da paleoantropologia. A paleoantropologia ,
talvez, a rea mais transdisciplinar da antropologia biolgica. Em um grupo de trabalho paleo-
antropolgico se encontram arquelogos, gelogos, palinlogos, especialistas em anatomia
humana e primata, etc. O material destas pesquisas analisado no somente no laboratrio
10
de anatomia, mas tambm em laboratrios de anlises qumicas e fsicas, onde se determina a
idade do material estudado. Lamentavelmente no inclumos um captulo sobre tcnicas de
datao e escavao, motivo pelo qual o estudante ter que buscar tal informao em outra
fonte. Devido rapidez com que a paleoantropologia muda e ao crescente registro de fsseis,
decidimos dividir a seo em vrios captulos, para que os autores possam discutir o tema
amplamente.
11
CAPTULO 1. O DESENVOLVIMENTO DA
ANTROPOLOGIA BIOLGICA NA AMRICA
LATINA E A FUNDAO DA ALAB.
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. E-mail: francisco.salzano@ufrgs.br
2
Universidad de Chile e Centro de Investigaciones del Hombre en el Desierto, Arica, Chile. E-mail:
frothham@med.uchile.cl
2. ARGENTINA
12
realizados estudos de polimorfismos genticos, caractersticas morfolgicas e medidas
cranianas, liderados por inmeros pesquisadores, entre os quais se destacam Francisco R.
Carnese, Hctor M. Pucciarelli, Jos Alberto Cocilovo e, mais recentemente, Nestor Bianchi.
3. BRASIL
A descoberta e anlise de crnios da Lagoa Santa por Peter W. Lund entre 1835 e 1844
pode ser considerada uma das primeiras investigaes importantes realizadas no Brasil
durante o perodo de 1835 - 1933. Outra figura chave desse perodo foi Fritz Mller (1822 -
1897), um alemo que emigrou para o Brasil e desenvolveu uma carreira cientfica
incrivelmente produtiva, a maior parte fora das instituies oficiais. A fundao da
Universidade de So Paulo em 1934 foi um marco na cincia brasileira como consequncia da
forte nfase na pesquisa cientfica que a caracterizou desde o comeo. Entre 1934 e 1955, os
grupos sanguneos e a anemia falciforme foram utilizados como marcadores da variabilidade
populacional, enquanto outras pesquisas se concentravam no crescimento e desenvolvimento
fsico, na estrutura populacional e na epidemiologia gentica. Figuras importantes deste
perodo foram F. Ottensooser (1891 - 1974), Ernani M. da Silva (1914 - 1948), PC Junqueira
(1916 - 2010), N. Freire-Maia (1918 - 2002) e O. Frota-Pessoa (1917 - 2010). A eletroforese de
13
protenas foi desenvolvida no incio do perodo de 1956 - 1997 e transformou-se em uma
poderosa ferramenta para as investigaes intra e inter-populacionais. Um programa amplo de
estudos foi desenvolvido por F. M. Salzano e colegas em Porto Alegre. Salzano, aps trabalhar
com evoluo utilizando como organismo experimental a Drosophila, realizou ps-doutorado
na Universidade de Michigan com James V. Neel, considerado nessa poca o cientista
especialista em gentica humana de maior destaque em nvel internacional. Nos ltimos anos,
W. A. Neves destacou-se gerando novas hipteses sobre o povoamento da Amrica, com base
em estudos craniomtricos. Paralelamente, a caracterizao direta do DNA tem sido realizada
por vrios grupos de pesquisa na Amrica do Sul, incluindo o Brasil (Salzano, 2013), e permitiu
testar modelos baseados em caractersticas morfolgicas e morfoscpicas.
4. CHILE
14
5. CUBA
A histria da antropologia fsica cubana pode ser dividida em quatro perodos (ver
Tabela 1). O primeiro perodo dominado pela figura de Felipe Poey (1799 - 1891), que
estudou crnios pr-histricos e foi muito influente durante a ltima metade da dcada de
1800. Em seguida, Poey e Luis Montan (1849 - 1936) desenvolveram importantes estudos em
vestgios pr-histricos durante o que poderia ser chamado de um segundo perodo de
desenvolvimento da disciplina. Durante o terceiro perodo (1903 - 1958), vale mencionar
Frederick S. Hulse (1906 - 1990), um antroplogo fsico norte-americano, e o cubano Manuel
Rivero de la Calle (1926 - 2001). O quarto perodo, a partir de 1959, reflete as profundas
mudanas polticas que ocorreram aps o triunfo da revoluo socialista. Vale mencionar
especialmente a realizao de um levantamento nacional do crescimento das crianas cubanas
em colaborao com James M. Tanner (1920 - 2010) do Reino Unido, as investigaes em
antropologia biomdica realizadas por Antonio Martnez e as investigaes em gentica de
populaes realizadas por Pedro Hidalgo.
6. MXICO
15
7. URUGUAI
Anteriormente 1900, vale mencionar Jos H. Figueira (1860 - 1946), que estudou as
caractersticas fsicas de material esqueltico do Uruguai, como evidenciado em publicaes
datadas entre 1892 e 1900. Depois (1901 - 1975), o francs Paul Rivet (1876 - 1958) analisou,
em 1930, vestgios de charruas depositados em Paris, e membros da Escola de Humanidades e
Cincias da Universidade da Repblica, em Montevidu, trabalharam com dermatglifos e
outras caractersticas morfolgicas. Durante o perodo atual, destaca-se Mnica Sans, que
comeou a trabalhar como arqueloga, posteriormente obteve doutorado em gentica e est
realizando relevantes pesquisas gentico-populacionais.
8. VENEZUELA
O livro de Joseph Gumilla Espaol (m. 1750), "El Orinoco Ilustrado", com observaes
sobre os aborgenes venezuelanos, pode ser considerado como o incio das pesquisas em
antropologia fsica na Venezuela. Outra figura chave Gaspar Marcano (1850 - 1910) que
realizou investigaes em craniometria e osteometria. Uma fonte importante para a realizao
de pesquisas no comeo do sculo XX foi a compilao de publicaes de antropologia fsica
venezuelana realizada por T. Lpez Ramrez em 1946. O Departamento de Sociologia e
Antropologia da Universidade Central da Venezuela foi criado em 1953 e, nos anos seguintes,
o descobrimento do fator sanguneo Diego abriu novas perspectivas para o estudo de grupos
sanguneos, protenas sricas e do complexo principal de histocompatibilidade na Venezuela.
Os nomes Miguel Layrisse (1918 - 2002), Zulay Layrisse e Tulio Arends (1918 - 1990) esto
associados a estas importantes investigaes. Outro nome de destaque foi Adelaida Diaz
Ungra (1913 - 2003). A partir da dcada de 1980, Dinorah Castro de Guerra, no Instituto
Venezolano de Investigaciones Cientficas, colocou em andamento um importante projeto de
gentica (genmica) de populaes venezuelanas que continua at o presente; e Adelaida
Struck desenvolveu estudos sobre diversos aspectos da Antropologia Biolgica.
16
9. A ASSOCIAO LATINO-AMERICANA DE ANTROPOLOGIA BIOLGICA
(ALAB)
17
em oito pases, trs na Amrica Central e cinco na Amrica do Sul. Aproximadamente metade
dos membros das Comisses Diretoras da ALAB eram do Brasil, Chile, Argentina e Colmbia,
enquanto o restante eram profissionais de outros pases. Foram abordados durante os
congressos muitos aspectos da antropologia biolgica, proporcionando grandes oportunidades
para a interao entre pesquisadores experientes e jovens. O resultado foi uma importante
contribuio para o desenvolvimento dessa rea de estudo na Amrica Latina. As Figuras 1 a 3
ilustram eventos importantes relacionados ao incio da ALAB e os cientistas que participaram
ativamente neles.
TABELA 2: Lista dos Congressos e Comisses Diretoras da Associao Latino-Americana de Antropologia Biolgica
(ALAB), 1989-presente.
18
Tesoureiro: Isabel Barreto (Uruguai)
Figura 1. Fotografa de alguns dos participantes do primeiro Congresso da ALAB. Da esquerda para a direita, F.R.
Carnese (Argentina), F. Rothhammer (Chile), M. Sans (Uruguai), S.M. Callegari-Jacques (Brasil), F.M. Salzano (Brasil)
e J.A. Cocilovo (Argentina).
20
TABELA 3: Informao resumida das localidades onde ocorreram os congressos da ALAB e a composio de suas
Comisses Diretoras por pas.
N de membros, Comisses
Pases Locais dos Congressos
Diretoras
Argentina Buenos Aires, La Plata 4
Chile Santiago 5
Cuba La Habana 2
Peru - 1
Venezuela Caracas 2
Fonte: Salzano (2013).
Figura 2. Alguns dos pesquisadores mencionados no texto que participaram de um Colquio realizado em 1990 na
Universidade Autnoma do Mxico, no qual foi avaliada a Antropologia Latino-Americana. Da esquerda para a
direita, C. Serrano (Mxico), F.M. Salzano (Brasil), J.A. Cocilovo (Argentina), A.G. de Daz Ungra (Venezuela), M.
Rivero de la Calle (Cuba) e A.J. Martnez (Cuba).
21
11. CONCLUSES
Figura 3. Comisso Diretora do I Congresso da ALAB, com algumas das pessoas identificadas na Figura 1.
22
BIBLIOGRAFIA CITADA
Carnese FR, Goicoechea AS, Cocilovo JA. 1997. Argentina. In: Spencer F (ed) History of Physical
Anthropology, Vol 1, Garland, New York, pp 207-213.
Carnese FR, Cocilovo JA. 1993. Situacin de la Antropologa Biolgica em Argentina. In: Arizpe
L, Serrano C (eds) Balance de la Antropologa en Amrica Latina y el Caribe. Universidad
Nacional Autnoma de Mxico, Instituto de Investigaciones Antropolgicas, Centro
Regional de Investigaciones Multidisciplinarias, Mxico, DF, Mxico, pp 163-197.
Castro de Guerra D. 1997. Venezuela. In: Spencer F (ed) History of Physical Anthropology, Vol
2, Garland, New York, pp 1087-1091.
Daz-Ungra AG. 1993. Historia de la Antropologa Fsica en Venezuela. In: Arizpe L, Serrano C
(eds) Balance de la Antropologa en Amrica Latina y Caribe. Universidad Nacional
Autnoma de Mxico, Instituto de Investigaciones Antropolgicas, Centro Regional de
Investigaciones Multidisciplinarias, Mxico, DF, Mxico, pp 141-147.
Daz-Ungra AG, Castillo HL, Arechabaleta G, Oyalbis J, Struck A. 1993. Balance y perspectivas
de la Antropologa Biolgica en Venezuela. In: Arizpe L, Serrano C (eds) Balance de la
Antropologa en Amrica Latina y Caribe. Universidad Nacional Autnoma de Mxico,
Instituto de Investigaciones Antropolgicas, Centro Regional de Investigaciones
Multidisciplinarias, Mxico, DF, Mxico, pp 147- 155.
Rothhammer F, Aspillaga E. 1997. Chile. In: Spencer F (ed) History of Physical Anthropology,
Vol 1, Garland, New York, pp 271-273.
Salzano FM. 2013. Biological Anthropology in Brazil. The last two decades. Intern J Anthropol
28:135-148.
Sans M. 1997. Uruguay. In: Spencer F (ed) History of Physical Anthropology, Vol 2, Garland,
New York, pp 1081-1083.
Serrano C, Villanueva M. 1997. Mexico. In: Spencer F (ed) History of Physical Anthropology, Vol
2, Garland, New York, pp 652-655.
Weinker CW. 1997. Cuba. In: Spencer F (ed) History of Physical Anthropology, Vol 1, Garland,
New York, pp 301-305.
23
CAPTULO 2. A EVOLUO DA TEORIA
EVOLUTIVA. (PRIMEIRA PARTE).
1. INTRODUO
25
denominado uniformismo, que posteriormente ficou mais conhecido a partir das obras de
Charles Lyell (1797-1875). Lyell sustentava que a histria da Terra era imensa e no seguia
nenhuma direo, quase no se diferenciando da histria da vida, com perodos de surgimento
e extino de espcies que tinham relao com o movimento dos continentes e com as
grandes mudanas no clima. Esta relao j tinha sido descrita por C. Linneo (1707-1778), que
tambm desenvolveu um sistema hierrquico de classificao natural, postulando claramente
a realidade das espcies.
No entanto, o maior retrocesso foi produzido por Cuvier, que continuou fazendo valer
sua hegemonia e suas ideias reacionrias fixistas, a ponto de camuflar com a perspectiva de
avanadas algumas das suas conjecturas, a exemplo do tratamento da homologia como
semelhana por descendncia (ou Buplane). Ele justificou a impossibilidade da transformao
ou evoluo em razo da estreita correlao funcional entre as partes, em que qualquer
pequena transformao significava a reestruturao total da organizao do indivduo como
sistema em si mesmo, em uma ao conjunta para um propsito definido por reao recproca
(Cuvier, 1818). Sua soberba cientfica, causa do enfrentamento com Geoffroy de Saint-Hilaire
sobre se o conceito de organizao era funcional ou estrutural (Caponi, 2006), no permitiu
vislumbrar suas contribuies para a teoria evolutiva, bem como suas tentativas de apagar da
histria a primeira pessoa que construiu um verdadeiro corpus terico sobre a evoluo dos
seres vivos: Lamarck.
27
Zoolgica (1809) livro que vale a pena ler e reler, luz dos conhecimentos atuais em
matria de retrovirus, herana horizontal, epignese, transposons, etc.
Conhecemos Lamarck tanto pelo que disse de supostamente errado, embora tenha
sido partilhado por figuras destacadas na histria (como Darwin), quanto pelo que nunca foi
dito por ele. O porvir histrico tambm uma evoluo influenciada pela seleo e pelo acaso
(poderamos considerar tambm contingncias, no sentido de Stephen Gould, 1989). Neste
caso, a figura de Lamarck foi selecionada contra a de Cuvier, quem o atacava diretamente e
silenciava seus trabalhos. Mas tambm houve outro fator pelo qual foi quase proscrito: sua
supostamente errada herana dos caracteres adquiridos e o conceito de uso e desuso das
partes. Para sermos fiis e mostrarmos sua coerncia, a nica opo transcrever algumas das
suas frases a respeito.
Essa ideia se manifesta tambm quando fala da espcie como coleo de indivduos
semelhantes, que a gerao perpetua no mesmo estado, enquanto as circunstncias da sua
situao no mudam o suficiente para gerar mudanas nos seus hbitos, seus caracteres e sua
forma (op. cit, p. 65). Fica claro, assim, que Lamarck percebeu a mudana como voltada a
manter a adaptao, pois deveria primeiramente aparecer a necessidade da funo para
depois construir a forma. Contudo, se deixarmos de lado o conceito de herana mendeliana
(sobre a qual se basearam seus crticos, embora fosse desconhecida na poca de Lamarck),
qual foi o erro de Lamarck, que as geraes seguintes transformaram em quase pecado?
Poderia ele ser criticado por no ter levado em conta a gentica, e nem tampouco o que
posteriormente se denominou barreira de Wiesmann (que postulava um nico sentido de
transmisso da informao, do gentipo ao fentipo ou do plasma germinal ao soma)? Qual foi
seu erro ao sugerir a influncia do ambiente sobre a expresso dos caracteres nas futuras
geraes dos indivduos que o experimentaram? O sentido nico gentipo a fentipo foi
revisado por C. Waddington (1957), quando sugeriu a possibilidade de que situaes geradas
por fatores de estresse especficos ao longo do desenvolvimento poderiam gerar mudanas no
material gentico, reguladas por um sistema epigentico conservativo. E mais ainda: quanto
podemos desacreditar Lamarck, uma vez que suas frases foram includas no contexto de
trabalhos atuais sobre epignese? Ele sustentava que a organizao da vida de um ser vivo
somente possvel se conserva suas conexes com o meio, isto , com suas circunstncias da
vida (Lamarck, 1809). Precisamente, seu Captulo II intitula-se Importncia da considerao
das conexes. E em tais conexes tambm incluem-se os humanos, de cujas capacidades
trata amplamente, mas com perguntas surpreendentes ques onando, por exemplo, se a
postura ereta seria completamente natural e citando, alm disso, que o mais aperfeioado
dos animais, comparado com o homem, o orangotango de Angola (Simia troglodytes,
Linn.). Agora sabemos que se trata do chimpanz!
Diante do exposto at aqui, pode-se ver claramente que Lamarck nunca afirmou que o
ambiente externo mudava diretamente a forma, uma vez que argumentou que um organismo
no est confrontando com um meio, mas est conectado com ele, e que o conjunto de suas
conexes com o meio so as suas circunstncias. Por acaso, no so familiares esses
conceitos aos que surgiram posteriormente, como o de nicho de um organismo ou o de
29
organismo como sistema? A cincia deve a si mesma e a Lamarck uma reconsiderao da
critica herana dos caracteres adquiridos luz dos conhecimentos atuais.
O mesmo vale para a ideia do uso e desuso dos rgos (tambm aceita por Darwin), tal
como temos entendido e transmitido (fora de contexto) nas obras de Lamarck, que a
expressou por duas leis, como segue: 1) Em todo animal que no ultrapassou o final do seu
desenvolvimento, o uso mais frequente e contnuo de um rgo qualquer fortalece pouco a
pouco este rgo, desenvolve-o, aumenta seu tamanho e gera uma potncia proporcional ao
tempo do seu uso, enquanto que o defeito constante do uso do rgo, enfraquece-o
sensivelmente, deteriora-o, reduz progressivamente suas faculdades e at leva-o a
desaparecer. At este ponto, e sem considerar a questo do desaparecimento do rgo,
Lamarck esteve to errado? Ele nunca disse que isto acontecera nos organismos adultos j
desenvolvidos, mas, sim, nos que no ultrapassaram o estado de desenvolvimento. Essas
ideias, to criticadas, no deveriam ser revistas luz do corpo de conhecimento denominado
como evo-devo? Especificamente no que diz respeito ao uso e desuso, autores da atualidade
(Lamb & Jablonka, 2014) sugerem que isso pode ser descrito nos novos termos da lei de
plasticidade biolgica, segundo a qual o novo trao no o resultado da seleo no passado.
Segundo as autoras, Lamarck detectou ajustes no organismo e, por razes bvias como a
falta de informao na sua poca , no conseguiu diferenciar entre distintas estratgias de
plasticidade, algumas das quais so de grande interesse atual. 2) O que Lamarck (1809, p. 175)
denominou segunda lei, por sua vez, expressa que tudo o que a natureza fez os indivduos
adquirirem ou perderem pela influncia das circunstncias s quais sua raa se encontrou
exposta durante longos perodos de tempo e, por consequncia, pela influncia predominante
de tal rgo, ou pelo defeito constante no uso daquela parte, ela o conserva pela gerao de
novos indivduos, desde que as mudanas adquiridas sejam comuns aos dois sexos ou aos que
tenham produzido esses novos indivduos. Hoje se sabe que, em termos de herana
mendeliana, na reproduo sexual, tais mudanas poderiam ou no se incorporar s clulas
germinativas para serem transmitidas descendncia. Na reproduo assexuada (e inclusive
em algumas plantas e fungos que incorporam clulas somticas linhagem germinativa)
possvel que as mudanas que acontecem nos pais por presso ambiental sejam transmitidas a
seus filhos. Os diferentes mecanismos de herana durante o desenvolvimento, como por
exemplo, variaes epigenticas, envolvem hoje diferentes disciplinas biolgicas, incluindo a
epigentica mdica, epigenmica comportamental e coevoluo cognitiva-sociocultural
(Jablonka and Lamb, 1995, 2013). Tambm a origem das organelas da clula eucaritica a
30
partir de bactrias simbiontes ou Teoria da Endosimbiose Seriada de Margulis (1970)
inevitavelmente nos lembra Lamarck.
Chega-se, assim, ao clebre exemplo da girafa, que, segundo cremos, esticava o pescoo
para alcanar as folhas e seus descendentes nasciam com pescoos compridos. Este exemplo,
usado sempre para explicar (e demonstrar) sua teoria, ocupa na Filosofia Zoolgica somente
um pargrafo, no qual tambm salienta o hbito mantido depois de muito tempo em todos os
indivduos da sua raa.
Passamos, por fim, ltima grande crtica sobre a ideia da tendncia ao progresso na
evoluo. No entanto, essa tendncia no para Lamarck uma perfeita ortognese,
perspectiva que tambm lhe foi atribuda. Isso fica explcito quando comenta o seguinte:
Ser, de fato, evidente que o estado em que vemos a todos os animais , de um lado, o
produto de uma composio crescente da organizao, que tende a formar uma gradao
regular (conceito retomado por Darwin) e, de outro, que corresponde s influncias de
mltiplas circunstncias muito diferentes, que tendem continuamente a destruir a
regularidade na gradao da composio recente da organizao (Lamarck, 1809, pg. 107).
mais do que evidente que pensava, por um lado, em uma linha principal bsica que (alm de
utilizar como mtodo de ensinar e aprender as partes da arte nas cincias naturais) tendia a
uma complexidade crescente, e por outro, em desvios que se isolavam e levavam adaptao.
O que faltou, segundo Gould (2002), foi somente uma explicao consistente na qual Lamarck
unisse as duas foras. O prprio Gould (1999) inclusive, esclarece que Lamarck, em seu livro
posterior, Histoire naturelle des animaux sans vertbres (Lamarck, 1815-1822), anuncia sua
converso ao processo de ramificao, em contradio com seu antigo modelo linear, dizendo
que a natureza no executou uma srie nica e simples (o que se assemelharia
significativamente rvore da vida, de Darwin) e, posteriormente, esclarece que a influncia
31
das circunstncias, que geram os ramos taxonmicos, conduz os caminhos da evoluo. Isto
significou reconhecer sem preconceitos seu prprior erro lgico anterior o que,nas palavras de
Gould (1999), faz considerar Lamarck one of the finest intellects in the history of biology. Ao
ler sua Filosofia Zoolgica pode-se comprovar que foi o primeiro a postular uma teoria
consistente e completa da evoluo e, segundo Corsi (1988) (apud Gould, 2002), a primeira
grande sntese evolucionista da biologia moderna.
Grande parte das suas ideias foram compartilhadas por tienne Geoffroy St. Hilaire
(1833), que postulou o poder do mundo exterior na alterao da forma dos corpos, alteraes
que eram herdadas; se estas fossem prejudiciais, os animais morriam, e outra forma diferente,
que se adaptava ao novo ambiente, os substitua. Mas, alm disso, St. Hilaire pensava que toda
organizao dos vertebrados podia referir-se a um tipo uniforme que era descoberto atravs
das relaes entre eles, o que posteriormente foi definido por R. Owen como homologia.
Com o objetivo de evitar a tpica contraposio com as ideias de Lamarck, comum nos
livros didticos, e que o leitor por si mesmo possa deduzir as semelhanas, comearemos a
anlise com dois pargrafos do Captulo 5 de Origem das espcies (Darwin, 1859): A
mudana de condies geralmente motiva uma variabilidade flutuante, mas algumas vezes
causa efeitos diretos e definidos, que com o tempo podem chegar a se apresentar muito
marcados, embora no tenhamos provas suficientes sobre este ponto... O hbito de produzir
peculiaridades constitucionais, o uso para fortific-las e a desuso enfraquecendo-a e
diminuindo os rgos, parecem, em muitos casos, ter sido causas potentes para produzir tais
efeitos...quando uma espcie com algum rgo extraordinariamente desenvolvido se
converte em ancestral de muitos descendentes modificados, processo que, na nossa opinio,
precisa ser muito lento, precisando um grande intervalo de tempo, a seleo natural consegue
32
dar um carter fixo ao rgo. Se extramos o termo que significou sua grande contribuio
(seleo natural), podemos contrapor tanto ambos autores?
Mas no se deve ignorar que Darwin tambm descreveu outro tipo de variao (e de seu
significado evolutivo), que parece antecipar as ideias surgidas nos anos 60 em oposio aos
selecionistas radicais: a teoria neutralista. Darwin sustentou que as variaes que no so teis
nem prejudiciais no so afetadas pela seleo natural e permanecem como elemento
flutuante ou se fixam, de acordo com a natureza do organismo e as condies externas. E
acrescenta no captulo 7 que, como esses caracteres no influenciam o bem-estar da espcie,
no esto submetidos seleo; mas achamos a uma declarao inusitada: Chegamos, assim,
a um estranho resultado... que os caracteres de pouca importncia vital para as espcies so
33
os mais importantes para o sistematizador! (Darwin, 1859, p.79). Teria intudo uma evoluo
molecular muitas vezes independente do fentipo?
Assim como outros que o precederam, Darwin viu claramente o organismo a partir do
ponto de vista sistmico, o que denominou variao correlativa durante o crescimento e
desenvolvimento, sobre a qual a seleo agiria em bloco (Cap. 5), acumulando as variaes
benficas. Quanto ao grande mecanismo explicativo da evoluo, a seleo natural, tambm
Darwin em alguns momentos foi mal interpretado ao ser referir ao mais forte e luta pela
existncia (sendo que ele mesmo advertiu que utilizava esta ltima expresso em sentido
amplo e metafrico), quando, na realidade, sua ideia no diferia substancialmente do conceito
atual. Considerou como elemento chave a variao existente entre os indivduos de uma
espcie, e sustentou que a evoluo produto de taxas diferenciais de sobrevivncia e
reproduo das distintas variantes, cujas frequncias relativas variam atravs do tempo. Tendo
em mente a ideia de que, dos muitos indivduos que nascem, somente uns poucos sobrevivem,
e que no h a correspondente progresso dos recursos (ideia tomada de T. Malthus [1798]),
deriva que o princpio segundo o qual toda leve variao, se til, conservada (embora mais
adiante, no livro, acrescente a destruio das que so prejudiciais), eu o denominei de seleo
34
natural (Darwin, 1589, p.32). Em especial, refere-se seleo efetuada pelo homem que, de
acordo com ele, agia com extrema lentido mas comenta que mais exata, e algumas vezes,
conveniente, a definio dada por Herbert Spencer (1867) no sentido da sobrevivncia dos
mais aptos.
Sobre Darwin pode-se concluir que, apesar de sua contribuio com milhares de
exemplos derivados de suas observaes durante a viagem no Beagle, a seleo natural como
mecanismo novo, assim como muitas das ideias aqui relatadas, que foram construtivas e
transcendentes na teoria evolutiva , no se deve negar que, como qualquer pesquisador na
sua poca, cometeu erros de lgica que a cincia deve analisar (Harvey, 2009). Deve-se
lembrar que, mesmo sem reconhecer isso, tomou de Lamarck boa parte das explicaes, o que
no foi devidamente difundido ao pblico em geral nem na biologia em particular.
Isto leva a reavaliar outra figura, nascida quatorze anos depois de Darwin, mas quase
apagada nos tempos atuais: Alfred Wallace (1823-1913). Costuma-se ainda mencion-lo como
o outro homem da teoria evolutiva, que serviu meramente como estmulo a Darwin, e cujo
espiritualismo e concepes socialistas fizeram emudecer seu pensamento biolgico. (Berry
and Brown, 2008). Os autores destacam que foi Wallace, no entanto, o nico a ganhar uma
medalha de ouro da Sociedade Linneana de Londres, em 1908, em comemorao ao
cinquentenrio da apresentao conjunta com a de Darwin, nessa mesma sociedade, em 1858.
Alm disso, ele fundou as bases da Biogeografia.
No sero tratadas aqui a popular histria da carta de Wallace escrita a Darwin antes da
apresentao conjunta na Sociedade Lineana de Londres, em 1858, nem sua viagem pela
Malsia (fatos que figuram na maioria dos livros didticos), mas as ideias e conceitos
explicados em alguns dos seus escritos. Um exemplo sua analogia da seleo natural com o
35
regulador centrfugo da mquina de vapor, que verifica e corrige qualquer irregularidade
antes mesmo que se manifeste (Wallace, 1858) j que, no reino animal, uma deficincia se
faria sentir desde o momento da seu aparecimento e, portanto, nunca chegaria a uma
magnitude perceptvel. Seu conceito de seleo natural no o do princpio regente, linear e
progressivo, mas de um circuito de retroalimentao e interao com o ambiente, em que as
variaes aleatrias vo ser controladas pela seleo (Lahitte & Hurrell, 1994), que era para
Wallace a causa da evoluo.
Wallace tambm aplicou sua leitura de Lyell sobre as mudanas geolgicas, ao mesmo
tempo em que criticou fortemente Lamarck. Porm, sustentou que [] se consideramos como
a superfcie da terra e o clima sofrem, lentamente, mudanas permanentes; e estas so, sem
dvida, alteraes que iniciam ou impem alteraes, talvez primeiramente na distribuio e,
posteriormente, na estrutura e nos hbitos das espcies [] a seleo natural preserva a fixidez
de sua mdia ou condio mediana por meio da eliminao do menos adaptado e,
consequentemente, da sobrevivncia do mais apto (Wallace, 1859; Wallace, 1871). Mas em
1870 ele reconhece que pode ser corrigida a ideia de evoluo permanentemente preguiosa,
o que permite supor que a mudana morfolgica no mundo orgnico age mais rapidamente do
que havamos acreditado ser possvel (Wallace, 1870). Novamente, e como dito
anteriormente sobre Lamarck, o reconhecimento de erros anteriores e de novas propostas
explicativas mostra a grandeza intelectual desses personagens da histria da evoluo.
Como se pode ver, continua se repetindo nos autores a ideia de retorno ao original
(talvez o preludio das constries de Stephen Gould?), retomada e fundamentada por
Francis Galton (1886, 1892), primo de Darwin que, junto a Thomas Huxley (amplamente
conhecido como o bulldog de Darwin) foram os continuadores da seleo natural. Mas o
estudo pioneiro de herana quantitativa de Galton (1886, 1892) em especial a regresso
mdia e a exemplificao da variao com um polgono de lados desiguais, em que alguns
davam grande estabilidade evolutiva e outros poderiam dar um salto a um novo estado,
levou finalmente a este ltimo postular a variao descontnua em ampla escala.
Enquanto isso, outros cientistas que se opunham aos Mendelianos, como Bateson,
estavam obcecados pela medida da variao biolgica contnua e pela ao que sobre esta
exercia a seleo natural, pelo que se tornaram os Biomtricos. Grandes personalidades
dessa corrente, mais conhecidas na antropologia biolgica pelos seus desenvolvimentos e
provas estatsticas, foram R. Fisher (1890-1962), assim como S. Wright (1889-1988), e J. B. S.
Haldane (18921964) por suas contribuies gentica de populaes. Fisher (1932), por
exemplo, afirmou que as mutaes so predominantemente desfavorveis e que a mudana
o resultado de uma srie de equvocos. Wrigth, nos anos 30, estabeleceu matematicamente
que genes neutros podem aumentar sua frequncia entre geraes em razo de qualquer
processo estocstico. E em temas mais relacionados antropologia, Haldane demonstrou que
a seleo contra a doena hemoltica em recm-nascidos no leva ao equilbrio estvel entre
Rh+ e Rh-. Crow (2008) afirmou que eles estabeleceram uma impressionante teoria
matemtica da variao gentica e da mudana evolutiva, posicionando a seleo natural
como o fator guia da evoluo.
Chega o momento de falar dessa ltima corrente (chamada tambm Teoria Sinttica ou
Teoria Selecionista, pela excessiva nfase dada seleo como fator quase exclusivo do
processo evolutivo e pelo deslocamento da deriva e da variao no adaptativa), que ser a
ltima tratada neste captulo. No simples analisar cada uma das generalizaes que ela
estabeleceu e que constituem as ideias principais gravadas firmemente, seja na mentalidade
de muitos cientistas, seja na do pblico amplo interessado no estudo da evoluo no sculo
XX, bem como na maioria dos livros didticos que abordaram a temtica. Considerando essa
amplssima divulgao, s indicaremos aqui seus principais postulados e falaremos do seu
profundo efeito sobre o desenvolvimento posterior da teoria evolutiva, deixando por conta do
leitor a consulta dos numerosos trabalhos que a reavaliaram, ampliaram e, muitos deles, a
criticaram (entre outros Wassermann, 1978; Lewin, 1980, Beatty, 1984; Kutschera & Niklas,
2004; Pennisi, 2008). Ela surge nos anos 40, como uma conjuno das contribuies e dos
livros de destacadas figuras provenientes das distintas disciplinas envolvidas no tema:
Theodosius Dobzhansky (1937), Ernst Mayr (1942), Julian Huxley (1942), George G. Simpson
(1944), e outros seguidores imediatamente posteriores. Resumindo essas contribies, eles
retomam a obra de Darwin (e, por isso, tambm so denominados Neo-darwinistas), mas a
convertem em uma ideia nica e fechada do processo evolutivo por meio da seleo,
produzindo quase uma militncia que ofuscou novas ideias dissonantes.
40
BIBLIOGRAFIA CITADA
Agassiz, L. 1859. An Essay on Classification. Longman, Brown, Green, Longmans & Roberts &
Trbner. London.
Beatty, J. 1984. Chance and Natural Selection. Philosophy of Science 51: 183-211.
Berry, A., Browne, J. 2008. The other beetle-hunter. Nature 453: 1188-1190.
Corsi, P., 1988. The Age of Lamarck: Evolutionary Theories in France, 17901830. University of
California Press, Berkeley.
Darwin, C. 1859. El Origen de las Especies. Edicin Alfa psilon 2007. ww.alfaepsilon.com.ar
Darwin, C. 1868. The variation of animals and plants under domestication. London: John
Murray.
Darwin, C. 1871. Descent of man, and selection in relation to sex. John Murray Ed., London.
Darwin, E. 1794-96. Zoonomia; or, The Laws of Organic Life. Part I y II. J. Johnson, London.
Dobzhansky, T. 1937. Genetics and the origin of species. Columbia University Press, New York.
Eble, G. 1999. On the Dual Nature of Chance in Evolutionary Biology and Paleobiology,
Paleobiology, 25: 75-87.
Eldredge, N. 1986. Information, Economics, and Evolution. Annual Review of Ecology and
Systematics 17:351-369.
Eldredge, N. 1995. Reinventing Darwin. The Great Evolutionary Debate. John Wiley and Sons,
Inc., New York.
Fisher, R. 1932. The bearing of genetics on theories of evolution. Science Progress, 27: 273-
287.
Geoffroy Saint-Hilaire, E. 1833. Le degr d'influence du monde ambiant pour modifier les
formes animales. Mmoires de l'Acadmie Royale des Sciences de l'Institut de France, 12:
63-92.
Gould, S. 1989. Wonderful Life: The Burgess Shale and the Nature of History. W.W. Norton &
Company Inc. New York-London.
Gould, S. 2002. The Structure of Evolutionary Theory. Cambridge MA: Harvard Univ. Press.
Gregory, T. 2008. Evolution as Fact, Theory, and Path. Evo Edu Outreach 1:4652.
Harvey, P. 2009. Question & Answer: What did Charles Darwin prove? Journal of Biology 8:11-
13.
Hutton, J. 1795. Theory of the Earth with proofs and Illustrations. William Creek edit,
Edimburgo.
Huxley, J. 1942. Evolution: Modern Synthesis. The MIT Press (2010), Cambridge.
Jablonka, E., Lamb, M.J. 1995. Epigenetic Inheritance and Evolution: the Lamarckian Dimension.
Oxford University Press.
Jablonka, E., Lamb, M.J. 2013. Evolucin en cuatro dimensiones. Capital Intelectual, Buenos
Aires.
Kutschera, U., Niklas, K.J. The modern theory of biological evolution: an expanded synthesis.
Naturwissenschaften 91:255276.
Lahitte, H., Hurrell, J. 1994. Tres hombres, una pauta global. Lamarck, Wallace-Bateson.
Proene-Teora Nro.8, Comisin de Investigaciones Cientficas Provincia de Buenos Aires.
Lahitte, H., Hurrell, J., Malpartida, A. 1991. Reflexiones sobre la Filosofa Zoolgica: homenaje a
Lamarck. Ediciones Nuevo Siglo, Argentina.
Lamarck, J. 18151822. Histoire naturelle des animaux sans vertbres, prsentant les
caractres gnraux et particuliers de ces animaux... Verdire Libraire, Paris
Lamb, E., Jablonka, E. 2014. Lamarcks Two Legacies: A 21st-century Perspective on Use-Disuse
and the Inheritance of Acquired Characters http://www.ehudlamm.com/lamarck-
legacies.html
Lewin, R. 1980. Evolutionary theory under fire. Science, 210 (4472), 883-87.
Liu, Y. 2008. A new perspective on Darwins Pangenesis. Biol. Rev. 83: 141149.
Margulis, L. 1970. Origin of Eukaryotic Cell. Yale University Press. Pp. 349.
Mayr, E. 1942. Systematics and the origin of species. Columbia University Press, New York.
42
Mayr, E. 2004. 80 years of watching the evolutionary scenery. Science 305: 46-47.
Owen, R. 1843. Lectures on the Comparative Anatomy and Physiology of the Invertebrate
Animals. Delivered at the Royal College of Surgeons in 1843. Longman, Brown, Green,
Londres.
Robertson, M. 2010. The evolution of gene regulation, the RNA universe, and the vexed
questions of artefact and noise. BMC Biology 8:97 http://www.biomedcentral.com/1741-
7007/8/97.
Simpson, G.G. 1944. Tempo and mode in evolution. Columbia University Press, New York.
Smith, C. 2011. Natural Selection: A concept in need of some evolution? Complexity 17:8-17.
Stebbins, G.L. 1950. Variation and evolution in plants. Columbia University Press, New York.
Waddington, C.H. 1957. The Strategy of the Genes; a Discussion of Some Aspects of
Theoretical Biology. Allen & Unwin Edit. London.
Wallace, A.R. 1859. On the Tendency of Varieties to Depart Indefinitely From the Original Type.
Proc. Linn. Soc. Lond. 3, 53-62.
Wallace AR. 1870. The limits of natural selection as applied to man. In: Contributions to the
theory of natural selection. Macmillan, London.
Wallace, A.R. 1871. Contributions to the Theory of Natural Selection, Macmillan and Co. New
York.
Wallace, A.R. 1890. Human selection. Fortnightly Review (n.s.) 48: 325-337.
43
CAPTULO 3. A EVOLUO DA TEORIA
EVOLUTIVA. (SEGUNDA PARTE).
GERMN MANRQUEZ1
1
Universidad de Chile, Santiago de Chile, Chile. gmanriquezs@odontologia.uchile.cl.
1. INTRODUO
44
variao fenotpica incentivou, a partir da segunda metade do sculo XX, a reviso dos
princpios sobre os quais se sustentou a teoria sinttica da evoluo. Particularmente, nas
ltimas dcadas acumularam-se numerosas evidncias que mostram a importncia que tm na
evoluo dos seres vivos: 1) os processos epigenticos ou modificaes ps-transcricionais 2) a
variao fenotpica, especialmente nos primeiros estgios de desenvolvimento do indivduo
(enfoque Evo-Devo), 3) o crescimento alomtrico e o desenvolvimento heterocrnico, e 4) as
mudanas macroevolutivas da natureza intermitente. Considerando sua relevncia e
atualidade, dedicaremos a segunda parte deste captulo reviso deste conjunto de novos
conhecimentos. O enfoque Evo-Devo integra a gentica do desenvolvimento e o conhecimento
sobre o papel das mudanas epigenticas para explicar a origem e evoluo da diversidade
biolgica (Gilbert, 2010). Junto com hipteses e modelos recuperados dos bastidores da
teoria sinttica da evoluo, o que se aplica particularmente ao enfoque Evo-Devo, este
conhecimento constitui o que muitos autores definem como a extenso ou expanso da teoria
sinttica da evoluo (Handschuh & Mitteroecker, 2012; Pigliucci, 2007; Pigliucci & Mller,
2010).
De acordo com a teoria sinttica, a evoluo um processo gradual, que ocorre a partir
de leves mudanas de base hereditria mutaes e recombinao, no caso das espcies
com reproduo sexual , as quais se expressam como variantes fenotpicas que so
submetidas no nvel populacional ao da seleo natural, onde o estudo dos eventos que
ocorrem na escala ecolgica, no nvel de populaes e espcies (microevoluo), deveria ser
suficiente para entender as mudanas observadas na escala geolgica, no nvel de linhagens de
espcies (macroevoluo) (Manrquez & Rothhammer, 1997). Esse enfoque reflete o resultado
de uma longa e contnua discusso gerada entre os geneticistas clssicos e os naturalistas
neodarwinianos ao longo das primeiras dcadas do sculo XX sobre a natureza da mudana
evolutiva e suas causas subjacentes, o papel das mutaes do material hereditrio e da seleo
natural, assim como sobre quais eram os problemas de pesquisa prioritrios da teoria fundada
graas aos trabalhos de J.B. Lamarck (1809), Ch. Darwin (1859) e A. R. Wallace (1889). O termo
Neodarwinismo foi cunhado por George J. Romanes en 1895 (apud Reif, 2000), e se refere a
the pure theory of natural selection to the exclusion of any supplementary theory", conforme
indicavam os naturalistas darwinianos do final do sculo XIX, representados por Wallace e,
especialmente, Weismann, cujos trabalhos teriam refutado para sempre as teorias sobre a
45
transmisso somtica do material hereditrio (pangnese) e a herana dos caracteres
adquiridos (lamarckismo). Erroneamente, vincula-se Neodarwinismo (Romanes, 1895) com
Teoria sinttica da evoluo (Huxley, 1942). Para uma extensa discusso sobre as bases
histricas e tericas desta diferena, ver o trabalho de Reif et al. (2000).
Os princpios de Mendel foram redescobertos em 1900 por Karl Correns, Erich von
Tschermack e H. de Vries, enquanto que Haldane escreveu a primeira traduo para o ingls
do trabalho de Mendel. Geneticistas como H. de Vries (1906) e W. Bateson (1909) propuseram
que a mudana evolutiva se dava em saltos, devido ao papel preponderante que as mutaes
teriam como agente dessa mudana em comparao com a seleo natural, que teria um
papel passivo ou secundrio, participando somente da manuteno das variantes mais
vantajosas e da eliminao das mutaes deletrias ou prejudiciais. Da mesma forma, o novo
conhecimento da gentica mendeliana sobre o modo de herana e a natureza do material
hereditrio colocou em dvida a validade do conceito de espcie utilizado por Darwin, que
equiparava o termo ao de variedade, em contraposio ao conceito tipolgico predominante
na sua poca. Quanto s mutaes, de Vries (1906) aponta que estas no s representam o
principal fator evolutivo que explicaria a origem de novas espcies, como tambm que a
gerao de novas espcies a partir de formas pr-existentes se produziria por saltos
repentinos. De sua parte, Bateson (1909) salienta a importncia que possui o enfoque da
Gentica na compreenso do conceito de espcie, j que permite distinguir a variao real, de
tipo gentico, da variao flutuante, ocasionada pelo ambiente ou outros fatores que no
podem ser transmitidos descendncia.
Esse novo enfoque, definido como a teoria sinttica da evoluo (Huxley, 1942),
permitiu superar as diferencias aparentemente inconciliveis entre os pontos de vista dos
48
geneticistas clssicos e dos naturalistas neodarwinianos. Entre as principais contribuies da
teoria sinttica para o conhecimento sobre as causas da evoluo e de seus fatores
determinantes, destacam-se: i) a definio operacional de conceitos centrais da teoria da
evoluo/ espcie, modelos de especiao, mecanismos de isolamento reprodutivo (pr e ps-
zigtico), seleo estabilizadora, fluxo gnico, acervo (pool) gentico, etc., ii) a demonstrao
matemtica e posterior confirmao emprica de como uma pequena vantagem seletiva
poderia, a longo prazo, chegar a ter um impacto evolutivo maior para a adequao biolgica
da populao, iii) a demonstrao experimental de que a variao fenotpica contnua era
causada por mudanas mutacionais de natureza discreta, iv) a demonstrao da constituio
heterozigota e altamente varivel da maior parte das variantes genticas presentes nas
populaes naturais, v) o estabelecimento da base hereditria das variaes geogrficas
(altitudinais, clinais, etc.) de valor adaptativo, vi) a descrio de padres gerais da mudana
evolutiva na escala geolgica. Considerando a diversidade e a importncia de cada um desses
tpicos, e diante da impossibilidade de abord-los mais amplamente dentro dos limites do
presente captulo, nos concentraremos a seguir na definio do conceito de espcie e nos
fundamentos dos modelos de especiao como um dos exemplos mais ilustrativos da
contribuio da teoria sinttica da evoluo para o desenvolvimento da teoria evolutiva do
sculo XX.
1859, Ch. Darwin The Origins of Species by means Desenvolve integralmente as teorias de
1871 of natural selection, The Descent seleo natural, seleo sexual e
of Man and Selection in relation descendncia com modificao,
to Sex apresentando as evidncias que as
sustentam, incluindo o caso da nossa
espcie. Prope o sistema de classificao
da diversidade biolgica baseado em
relaes genealgicas, ilustrado pela
metfora da rvore da vida.
49
1889 A. R. Wallace Darwinism Sugere que a seleo natural que leva
divergncia de caracteres a principal
causa da formao de novas espcies.
1893 A. Weismann The Germ-Plasm. A theory of Sugere que s as variaes que ocorrem
heredity nos tecidos embrionrios so transmitidas
s seguintes geraes e, portanto,
possuem valor evolutivo.
1930 R. A. Fisher Genetical theory of natural Demonstra que o valor da aptido
selection biolgica (fitness) proporcional variao
gentica de uma populao (Teorema
fundamental da seleo natural).
1932 S. Wright The roles of mutation, Desenvolve o modelo da evoluo das
inbreeding, crossbreeding and mutaes como uma paisagem de picos
selection in evolution. e vales com diferentes valores
adaptativos.
J.B.S. Haldane The time of action of genes, and Estuda as bases celulares (vias
its bearing in some evolutionary metablicas) da expresso gnica
problems diferencial e discute seu papel na evoluo.
1937 Th. Dobzhansky Genetics of the origin of species Define as espcies como unidades naturais
e a especiao como processo de
isolamento reprodutivo das variantes
geneticamente polimrficas com valor
adaptativo.
1942 E. Mayr Systematics and the origin of the Desenvolve os modelos de especiao
species (aloptrica, simptrica, periptrica, etc.)
em relao a cenrios geogrficos que
limitam o fluxo gnico entre as
populaes.
J. Huxley Evolution. The modern Resume o conhecimento da gentica
synthesis mendeliana e o naturalismo
neodarwiniano e formaliza os contedos
da teoria sinttica da evoluo.
1944 G. G. Simpson Tempo and mode in evolution Prope que, na escala geolgica, a taxa de
mudana evolutiva dependente do
tempo e da acumulao de novas
mutaes no nvel populacional.
1950 G. L. Stebbins Variation and evolution in Apresenta a unicidade (padres gerais de
plants especiao) e especificidade (sries
poliplides) da mudana evolutiva nas
populaes de vegetais.
1966 G.C. Williams Adaptation and natural Discute que a seleo natural age
selection unicamente no nvel individual e
desenvolve o conceito de seleo grupal.
1972 N. Eldredge; S.J. Punctuated equilibria: an Discutem que o gradualismo o nico
Gould alternative to phyletic processo que explica a mudana
gradualism filogentica e desenvolvem o modelo
alternativo da evoluo pelo equilbrio
pontuado.
1978 S.J. Gould; The Spandrels of San Marco and Discutem o programa adaptacionista e
& R. Lewontin the Panglossian: A critique of the argumentam a necesidade de estudar o
adaptationist programme papel dos fatores estruturais,
ontogenticos e filogenticos para explicar
a mudana evolutiva.
1983 M. Kimura The neutral theory of molecular Apresenta o papel das mutaes
evolution seletivamente neutras na evoluo e a
importncia da deriva gnica como
mecanismo alternativo seleo natural.
1970 L. Margulis Origin of eukaryotic cells Discute a viso da evoluo como sendo
exclusivamente uma competio por
recursos, e desenvolve a viso alternativa
da formao de novas linhagens por
50
endossimbiose de organelas e
complementaridade celular.
1995 E. Jablonka; M. L. Epignetic inheritance and Apresentam a importncia para a evoluo
Lamb evolution das modificaes epigenticas do genoma
devidas a causas ambientais, ps-
trancricionais. Discutem o carter universal
da herana mendeliana.
1997 J. Gerhart; M. W. Cells, embryos and evolution Apresentam o papel das mudanas que
Kirschner ocorrem ao longo do desenvolvimento e
dos ambientes celulares extranucleares na
variao e evoluo fenotpicas.
2002 S.J. Gould The structure of evolutionary Estabelece as condies que devem ser
theory satisfeitas para que acontea uma nova
sntese evolutiva, define os componentes
centrais do darwinismo e sua vigncia.
2010 M. Pigliucci; G.B. Evolution. The extended Resume o programa de pesquisa da teoria
Mller synthesis evolutiva expandida, que incorpora as
crticas feitas nos ltimos cinquenta anos
aos pressupostos bsicos da teoria
sinttica.
51
do conceito de espcie ocorre porque no se explicitam as suas dimenses, as hipteses
fundamentais nem os pressupostos paradigmticos que as sustentam (Figura 1). E isso
relevante para entender o processo que d origem a novas espcies. Como aponta Wiley
(1981), a definio do termo espcie construda sobre a base do conceito espcie, e o
prprio conceito afeta profundamente a forma como os pesquisadores abordam a origem das
espcies que estudam.
Por outro lado, foram propostos modelos paradigmticos que tentam explicar as causas
da especiao, conhecidos a partir de Mayr (1942) como modelos de especiao (conferir
Box 1).
52
53
Figura 1. Dimenses, hipteses subsidirias e pressupostos paradigmticos utilizados para definir o conceito de
espcie no contexto da teoria sinttica da evoluo.
BOX 1: Causas da origem das espcies. So reconhecidos, pelo menos, cinco fatores dos quais
depende o modelo de especiao: 1) o tipo de coeso que os membros da nova espcie
apresentam (demogrfica vs. interna ou transiliente), 2) a fora evolutiva que age
predominantemente durante a especiao (seleo v. deriva gentica), 3) o tipo de separao
ou descontinuidade que se estabelece entre as novas espcies (no nvel genmico, ecolgico,
etolgico ou geogrfico), 4) o tipo de isolamento reprodutivo predominante (pr-cpula ou
ps-cpula, e 5) o tamanho populacional (grande ou pequeno). A Figura 2 ilustra que um tipo
ou modelo de especiao em particular resultado da interao diferencial desses fatores e
da distribuio que tinham no momento da especiao. Assim, o conhecimento obtido no
marco da teoria sinttica da evoluo permite entender a especiao como o processo de
divergncia de populaes de seres vivos que perdem coeso gentica e continuidade
biolgica devido ao de fatores gnicos (por exemplo, reguladores da expresso gnica),
cromossmicos (principalmente fuses robertsonianas), reprodutivos (como modificaes na
expresso do dimorfismo sexual), ecolgicos (mudanas na norma de reao e da plasticidade
fenotpica) e/ou etolgicos (evoluo dos sistemas de isolamento reprodutivo pr-zigticos),
podendo ter como resultado posterior distribuies geogrficas aloptrica, simptrica,
periptrica, entre outras. No se pode esquecer que, como acontece em outras reas da
cincia, a discusso sobre as causas da especiao est longe de ser concluda.
54
Figura 2: Fatores relevantes (eixos) e modelos (interior) propostos no marco da teoria sinttica da evoluo para
explicar o processo de formao de novas espcies.
6. HERANA EPIGENTICA
55
Figura 3: Componentes da teoria estendida da evoluo que, junto com os elementos constituintes do darwinismo
clssico (I), e da teoria sinttica (II), constituem em seus aspectos centrais o estado atual do conhecimento sobre as
causas da mudana evolutiva (III).
Entre os processos de base epigentica que ocorrem nos nveis de organizao biolgica
de maior complexidade que o celular (nveis organsmicos, societais, biosfricos), encontram-
se (Avital & Jablonka, 2000): i) a transmisso, durante a gravidez e a lactncia, de substncias
que podem determinar as preferncias de alimentao da descendncia, ii) a transmisso de
comportamentos de pais para filhos por meio do aprendizado por imitao, e iii) a transmisso
de informao por meio de sistemas simblicos complexos como a linguagem. Quando os
processos de transmisso epigentica ii) e iii) esto acompanhados de comportamentos
altrustas, ocorre o aumento da aptido biolgica do grupo (fitness inclusivo). Curiosamente,
Darwin (1871) foi um dos primeiros a chamar a ateno para o papel desses comportamentos
na evoluo das sociedades H. sapiens: Para que os primeiros homens, os progenitores smios
humanos, chegassem a ser sociais, tiveram primeiramente que adquirir os mesmos
sentimentos que impelem os outros animais a viver em comunidade, devendo todos tambm
manifestar a mesma disposio geral. Como consequncia, eles se sentiriam inquietos ao se
separarem dos seus companheiros, pelos quais j tinham certa afeio, avisariam uns aos
outros dos perigos e, nos ataques e defesas se ajudariam mutuamente, fatos que supem
simpatia, fidelidade e coragem (...) Os povos egostas jamais formaro um todo compacto e,
portanto ,jamais faro alguma coisa importante, pois a fonte de todo progresso a unio.
interessante perceber que esse enfoque darwiniano da evoluo das sociedades humanas
relaciona-se diretamente com os problemas que preocupam a Antropologia Fsica no que se
refere natureza biocultural da evoluo do H. Sapiens, e do lugar que a obra de Ch. Darwin
ocupa nesse aspecto (Manrquez, 2010).
57
lamarckiana um importante avano para expandir o horizonte da teoria evolutiva para
processos nos quais o papel dos fatores epigenticos fundamental.
7. VARIAO FENOTPICA
Desta viso deriva o conceito de norma de reao ontogentica, que se refere variao
fenotpica diferencial de um mesmo gentipo a diferentes ambientes, e que explicado pelo
conjunto de fatores que determinam as trajetrias ontogenticas ou rotas que os fentipos
seguem durante sua ontogenia: os genes, o ambiente interno do indivduo e suas condies
ambientais externas (Pigliucci & Schlichting, 1998). Nesse contexto, as novidades evolutivas
so explicadas por modificaes (mutaes) genticas de tipo mais regulador do que estrutural
e, no nvel epigentico, por diferenas no tipo de interao que os produtos gnicos
estabelecem entre si, sua durao no tempo e o microambiente (celular ou tecidual) especfico
no qual essas interaes acontecem. Mas por que so to relevantes as mudanas do padro
de desenvolvimento para a evoluo? A primeira resposta a essa pergunta se encontra nos
trabalhos do naturalista estoniano Karl Ernst von Baer que, no comeo do sculo XIX, lanou as
bases da embriologia comparada.
58
De acordo com von Baer (apud Gilbert, 2010): 1) no estado embrionrio, primeiro
aparecem os caracteres mais comuns de um determinado grupo de animais, e somente depois
as suas caratersticas mais especficas. Por exemplo, o sistema excretor, a notocorda e as
brnquias, comuns em todos os vertebrados, surgem imediatamente aps a gastrulao,
enquanto que os carateres que distinguem os mamferos de rpteis, aves, anfbios e peixes se
expressam nos estgios mais tardios do desenvolvimento, 2) as caractersticas menos comuns
se desenvolvem a partir das mais comuns ou gerais. As extremidades se formam a partir de
cristas germinativas similares em todos os vertebrados tetrpodes, e somente nos estgios
tardios de diferenciao adotam as formas especializadas, como ocorre nos tipos especficos
de locomoo prprios de cada grupo (natao, voo, caminhada, etc.), 3) os embries de cada
espcie em particular, ao invs de repetir durante seu desenvolvimento os estados adultos de
outros animais, afastam-se desses estados e, como consequncia 4) o embrio inicial de um
animal nunca parecido com o animal adulto ancestral, mas sim a um embrio mais novo da
sua prpria espcie. Assim, o embrio humano nunca repetir ao longo do seu
desenvolvimento os estados adultos dos embries de um peixe, de um anfbio, de uma ave ou
de outro mamfero. Cabe notar que, fiel tradio dos naturalistas e taxonomistas de sua
poca, Darwin (1859) aplicou os conhecimentos embriolgicos de von Baer para explicar a
origem dos picorocos (Austromegabalanus psittacus: Balanidae, Crustacea) por meio da
comparao das larvas deste animal com os estgios larvais de moluscos e crustceos. As
evidncias embriolgicas foram as nicas provas diretas da evoluo como processo de
descendncia com modificao que Darwin entregou.
59
imaginais de muitos insetos holometbolos (de desenvolvimento completo). Como ser visto
mais adiante, essa condio caracteriza a evoluo por encefalizao do crnio dos
homindeos. Uma segunda condio a parcimnia molecular (Gilbert, 2010), ou uso
durante os estgios iniciais do desenvolvimento de um nmero e tipo delimitado de molculas,
que determinam caractersticas comuns a grandes grupos filogenticos, como o plano corporal
bilateral e o eixo cfalo-caudal de vertebrados e invertebrados. Nesse caso, essa condio
determinada pela expresso de sequncias de DNA altamente conservadas na evoluo, nas
quais as mudanas entre um grupo filogentico e outro se devem duplicao do material
hereditrio mais do que apario de novas sequncias (genes hometicos).
60
pequeno, posio central do foramen magnum, forma quadrangular da plvis, braquicefalia
(crnios mais largos do que compridos), maior tamanho relativo do encfalo em relao ao
resto do corpo.
Uma das principais objees feitas a Charles Darwin quando publicou A origem das
espcies foi que sua teoria no explicava a ausncia de formas intermedirias no registo fssil
de cada linhagem. Darwin respondeu a seus oponentes que o nmero de elos ou variedades
intermedirias entre todas as espcies vivas extintas deve ter sido inconcebivelmente
grande, mas essas variedades no so encontradas nos estratos geolgicos devido extrema
imperfeio do registro fssil. A predio derivada da teoria da evoluo de Darwin
pressupe que, se a ao da seleo natural contnua e prolongada, e durante esse processo
ocorre a substituio de determinas formas por outras, ento o registro fssil da origem de
uma nova espcie deveria consistir em uma sequncia de formas intermedirias que unem
gradualmente as formas ancestral e as derivadas. O carcter imperfeito do registro fssil
refletiria, dessa forma, a ausncia das formas intermedirias que alguma vez existiram. Essa
explicao, incorporada posteriormente por George G. Simpson teoria sinttica da evoluo,
refere-se ao tempo ou ritmo das mudanas evolutivas, e constitui um elemento central da
viso gradualista da evoluo em nvel supraespecfico, tambm conhecida como gradualismo
filtico (Manrquez & Rothhammer 1997).
A teoria do equilbrio pontuado proposta por Eldredge & Gould (1972), surgiu
inicialmente como resposta interpretao gradualista do ritmo evolutivo. Por essa razo, os
autores ilustraram sua teoria com uma rvore evolutiva cujas ramificaes quebram-se de
forma abrupta, e no, imperceptivelmente. Atualmente, a teoria consiste em um conjunto de
hipteses e modelos alternativos s explicaes que predominaram durante muito tempo na
viso do gradualismo filtico sobre o ritmo da evoluo (hiptese do ritmo intermitente), o
modo como acontece a especiao (hiptese da especiao por peripatria), os mecanismos
genticos associados com o surgimento de novas espcies (hiptese das revolues genticas)
e as principais tendncias macroevolutivas (hiptese da seleo de espcies) (Tabela 2).
Paradoxalmente, as hipteses sobre o modo e os mecanismos genticos da especiao so
proposies originais de Ernst Mayr, um dos fundadores da teoria sinttica. Essas duas
hipteses foram incorporadas pela teoria do equilbrio pontuado para explicar as mudanas
61
evolutivas que acontecem na escala geolgica. Assim, antes de ser uma nova descoberta, essa
teoria uma reinterpretao dos dados que a teoria sinttica no considerou (problema da
estase do registro fssil), e um conjunto de hipteses novas e outras j existentes, s quais a
teoria sinttica atribuiu um papel secundrio na explicao dos processos macroevolutivos.
TABELA 2. Comparao entre as principais hipteses (H) das teorias do gradualismo filtico e do equilbrio
pontuado para explicar o ritmo (1), modo de especiao (2), mecanismos genticos (3) e tendncias da
macroevoluo (4) (Manrquez & Rothhammer, 1997).
As novas espcies surgem por transformao As novas espcies surgem por transformao rpida da
gradual, lenta e contnua de uma populao linhagem ancestral, e depois permanecem durante
1
ancestral (a estase um artefato do registro longos perodos sem modificao (a estase um dado do
fssil) registro fssil)
A populao parental dividida por uma barreira Uma pequena subpopulao resulta isolada na periferia
geogrfica em duas ou mais subpopulaes da linhagem parental por migrao e/ou surgimento de
(subespcies), as quais se diferenciam barreiras ecogeogrficas (populao ou indivduo
2
gradualmente at atingir um nvel de isolamento fundador). Essa subpopulao, portadora de uma frao
reprodutivo que se refora e completa em uma da variabilidade gentica da populao parental, atinge
etapa de contato secundrio (alopatria- simpatria). em poucas geraes um isolamento reprodutivo pleno
(peripatria).
A base gentica da especiao so mutaes que Na especiao, participam mutaes que afetam
afetam de forma gradual, contnua e majoritria as drasticamente a integridade e a coeso do genoma
sequncias gnicas que codificam produtos (revoluo gentica) e, em geral, tm como alvo
3
difusveis (genes estruturais). Devido grande sequncias reguladoras encarregadas de controlar as
dimenso da populao parental, durante a etapas iniciais da ontogenia. A deriva ao acaso pode
especiao, os fenmenos de deriva ao acaso no exercer um papel determinante nas etapas iniciais da
exercem um papel de grande importncia. especiao.
62
9. CONCLUSO
63
BIBLIOGRAFIA CITADA
Arthur W. 2004. Biased embryos and evolution. Cambridge: Cambridge University Press.
Bateson W. 1909. Heredity and variation in modern lights. In: Essays in commemoration of the
centenary of the birth of Charles Darwin and of the fiftieth anniversary of the publication
of The Origin of Species. Seward AC, editor. Cambridge: Cambridge University Press. Ch.
V.
Cracraft J. 1983. Species concept and speciation analysis. Curr Ornithol 1: 159-187.
Darwin Ch. 1859. On the origin of species by means of natural selection. London: John Murray.
Darwin Ch. 1871. The descent of man, and selection in relation to sex. London: John Murray.
de Vries H. 1906. Species and varieties. Their origin by mutation. Chicago: The Open Court Pub.
Co.
Dobzhansky Th. 1950. Mendelian populations and their evolution. Am Nat 84: 401-418.
Eldredge N, Gould, SJ. 1972. Punctuated equilibria: an alternative to phyletic gradualism. In:
Models in paleobiology. Schopf TJM, editor. San Francisco, California: Freeman, Cooper
and Co. p 82-115.
Gilbert SF. 2010. Developmental Biology, 9th edition. Sunderland, Massachusetts: Sinauer
Associates.
Gould SJ. 1977. Ontogeny and Phylogeny. Cambridge, Massachusetts: The Belknap Press of
Harvard University Press.
Huxley J.1942. Evolution: The Modern Synthesis. The definitive edition. With a new foreword
by M Pigliucci and GB Mller. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.
Jablonka E, Lamb MJ. 2005. Evolution in Four Dimensions: Genetic, Epigenetic, Behavioral, and
Symbolic Variation in the History of Life (Life and Mind: Philosophical Issues in Biology and
Psychology). Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.
Jablonka E, Lamb MJ. 2010. Transgenerational epigenetic inheritance. In: The extended
synthesis. Pigliucci M, Mller GB, editors. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press. p
137-174.
64
Kirschner MW, Gerhart JC. 2010. Facilitated variation. In: The extended synthesis. In: Pigliucci
M, Mller GB, editors. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.p 253-280.
Lamarck JB. 1809. Philosophie Zoologique. Prsentation et notes par Andr Pichot. Paris: GF-
Flammarion [1994, facsimilar edition].
Mayr E. 1942. Systematics and the origin of species. New York: Columbia University Press.
Mayr E. 1954. Change of genetic environment and evolution. In: Evolution as a process. Huxley
JS, Hardy AC, Ford EB, editors. London: Allen and Unwin. p. 156-180.
Mayr E. 1982. The growth of biological thought. Diversity, evolution, and inheritance.
Cambridge, Massachusetts: The Belknap Press of Harvard University Press.
Mayr E, Provine WB. 1998. The evolutionary synthesis. Perspectives on the unification of
biology. Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press.
Ollerton J. 2005. Flowering time and the Wallace effect. Heredity 95: 181182.
Oster G, Alberch P.1982. Evolution and bifurcation of developmental patterns. Evolution 36:
444-459.
Paterson HEH. 1985. The recognition concept of species. In: Species and speciation. Vrba ES.
Editors. Pretoria: Transvaal Museum Monograph No 4. p. 21-29.
Pigliucci M, Mller GB. 2010. Evolution. The extended synthesis. Cambridge Massachusetts:
The MIT Press.
Reif WE, Junker T, Hofeld U. 2000. The synthetic theory of evolution: general problems and
the German contribution to the synthesis. Theory Biosc 119: 4191.
Reiss JO, Burke AC, Archer Ch. (...), Mller GB. 2008. Pere Alberch: Originator of EvoDevo. Biol
Theory 3: 351-356.
Ritchie MG. 2007. Feathers, Females, and Fathers. Science 318: 54.
Rohlf FJ. 2004. TpsSplin, Thin-plate Spline, v 1.20, 04/14/2004, Department of Ecology and
Evolution, State University of New York at Stony Brook, New York, e-mail:
rolhf@ssbbiovm.bitnet, Web: http//life.bio.sunysb/morph.
Rohlf FJ. 2013a. tpsDIG2, Digitizer of landmarks and outlines, v 2.17, 04/30/2013, Department
of Ecology and Evolution, State University of New York at Stony Brook, New York, e-mail:
rolhf@ssbbiovm.bitnet, Web: http//life.bio.sunysb/morph.
65
Rohlf FJ. 2013b. tpsRelw, Thin-plate splines relative warp analysis, v 1.53, 10/02/2013,
Department of Ecology and Evolution, New York: State University of New York at Stony
Brook, e-mail: rolhf@ssbbiovm.bitnet, Web: http//life.bio.sunysb/morph.
Simpson GG. 1961. Principles of animal taxonomy. The species and the lower categories. New
York: Columbia University Press.
Sneath P, Sokal R. 1973. Numerical taxonomy. San Francisco: W.H. Freeman and Co.
Templeton AR. 1989. The meaning of species concept and speciation: A genetic perspective. In:
Speciation and its consequences. Otte D, Endler JA, editors. Sunderland, Massachusetts:
Sinauer Associates. p. 3-27.
Van Valen L. 1976. Ecological species, multispecies, and oaks. Taxon 25: 223-239.
Wallace, A. R. 1889. Darwinism. An exposition of the theory of natural selection with some of
its applications. Macmillan and Co. London and New York (Second Edition).
Wiley EO. 1981. Phylogenetics. The theory and practice of phylogenetic systematics. New York:
John Wiley & sons.
66
CAPTULO 4. INTERSECES ENTRE A POLTICA
COLONIAL EUROPEIA, O RACISMO E A
BIOANTROPOLOGIA.
1. INTRODUO
Essas imagens sobre as prticas culturais aberrantes dos indgenas foram amplamente
difundidas na Europa e tiveram marcada influncia sobre a percepo que os europeus tinham
sobre esses povos, a qual era uma forma, no a nica, de justificar a erradicao das culturas e
o extermnio dos indivduos que estavam mais perto da natureza e da animalidade do que da
civilizao. As imagens so mais contundentes do que a escrita ou a transmisso oral para
refletir as prticas culturais de qualquer povo. Por essa razo foi to utilizada durante a
conquista da Amrica. Esse imaginrio monstruoso segue sendo reproduzido na atualidade,
por outros meios, como a fotografia e o cinema das ltimas dcadas, em que o canibalismo e
as cerimnias pags so a representao visual dos povos originrios (Carreno, 2008).
3. AS EXPOSIES ZOOLGICAS
69
morfolgicas e culturais entre as raas inferiores e as superiores europeias. Nessa poca a
Iberoamrica havia se libertado do colonialismo europeu e era governada por crioulos (salvo
alguns pases da Amrica Central como, por exemplo, Cuba, Porto Rico e Santo Domingo).
Entretanto, se instalou nas novas elites intelectuais e na classe dominante a concepo racista
dos conquistadores, que justificava os exrcitos americanos a confrontar com os povos
originrios a fim de extermin-los e conquistar o territrio que ocupavam, e que realmente
lhes pertencia. Exemplos deste tipo de ao foram as denominadas Conquistas do Deserto na
Argentina, da Araucana no Chile e do Oeste norte-americano nos Estados Unidos. Mais
adiante desenvolveremos esse tema e a influncia que a filosofia positivista teve na
justificativa destas aes. Assim, foram vrios os pases europeus que, a partir de 1870,
comearam a realizar esses espetculos. Em 1874, Karl Hagenbeck exps indivduos da
Samoa e Lapnia como populaes a que chamou "puramente naturais" (aspas nossas). Dado
o sucesso dessas exposies, Geoffroy de Saint-Hilaire, diretor do Jardim de Aclimatao da
Frana, decidiu organizar em 1877 um destes espetculos apresentando em Paris para
Nbios e Esquims. A grande imprensa parisiense divulgava essas exposies dizendo tratar-se
de bandas de animais exticos, acompanhados por indivduos no menos singulares (Bancel
et al., 2000). Estes tipos de espetculos (aspas nossa) se estenderam por quase todos os
pases europeus, inclusive no incio do sculo XX, e foi legitimado pela Sociedade de
Antropologia da Frana, criada em 1859, onde vrios de seus membros a visitaram para
efetuar investigaes em antropologia fsica.
De acordo com Bancel et al. (2000) o aparecimento dos zoolgicos humanos, assim
como seu auge e o entusiasmo que despertaram, resulta da articulao de trs fenmenos
concomitantes: em primeiro lugar, a construo de um imaginrio social sobre outrem
(colonizado ou no); logo, a teorizao cientfica da hierarquia de raas, consecutiva aos
avanos da antropologia fsica; e, por ltimo, a edificao de um imprio colonial em pleno
crescimento.
Estas ideias sobre a hierarquizao das raas humanas, dentro de um marco terico
evolucionista-positivista, tiveram um impacto significativo entre os integrantes das elites e da
intelectualidade europeia da poca. Essas concepes se expandiram tambm na Amrica
latina e predominaram tanto em crculos cientficos como em instituies acadmicas.
72
A incluso do subcontinente dentro dos cnones das economias capitalistas gerou
conflitos e tenses nas diversas tendncias ideolgicas e polticas. Neste marco, os positivistas
se propunham a diagramar modelos de pases onde suas instituies traaram um limite entre
os setores dispostos a integrar-se modernidade frente s sociedades pr ou extra-capitalistas
relutantes a incorporar-se a essas novas estruturas nacionais (Tern, 1987).
73
populaes. Por sua vez, Alcides Arguedas (1879-1946) publica um livro sobre a Bolvia que
denomina Povo Doente, no qual sustenta que esse pas est condenado a uma decadncia
irrefrevel por seu legado gentico indgena, absolutamente impermevel aos impulsos
modernizantes. Por outro lado, Alberdi (1810-1884) considerava que a Amrica Latina est
dividida em duas fraes os indgenas, quer dizer, os selvagens e os que nascemos na Amrica
e que falamos espanhol e cremos em Cristo e no em Pilln, o deus dos indgenas. Sarmiento
(1811-1888), por sua vez, agregava que brbarie deve incluir-se, alm dos indgenas, o negro,
o espanhol e o mestio, raas que esto fora da civilizao e alheias ao progresso (Zea, 1980).
Para o alcance desse objetivo, ou seja, o progresso, devia ser criado na Amrica Latina um
sistema educativo que superasse os hbitos e costumes retrgrados impostos pela colnia,
particularmente, os dogmas negativos gerados pelo clero. Benjamin Constant (1836-1891) no
Brasil e os mexicanos Justo Sierra (1848-1912) e Jos Maria Luis Mora (1794-1850) tinham
ideias similares para se chegar ao progresso, mediante a educao, e conseguir a emancipao
mental frente ao poder poltico da Colnia. Este ltimo autor sustentava que haveria que
superar a ordem colonial herdada para a ordem industrial ou positiva (Zea, 1980). Para se
concretizar essa industrializao haveria que desenvolver uma burguesia seguindo os modelos
dos Estados Unidos e da Europa. Essas posies eram sustentadas na Venezuela por Adolfo
Ernst (1832-1899) e Rafael Villavicencio (1832-1920). No Equador, em contrapartida, se
adotavam as ideias de Sarmiento, seguidas pelos spencerianos Juan Agustn Garcia (1862-
1923) e Jos Ramos Meja (1849-1914), de apoiar uma oligarquia com ideias liberais e
positivistas que, mediante a educao e a imigrao civilizadora europeia, permitiria alcanar
esses objetivos (Zea, 1980).
Box 3. O positivismo. O criador do positivismo foi Auguste Comte (1790-1857), que sustentava
que o carter fundamental da filosofia positivista consiste em considerar todos os fenmenos
como sujeito s leis naturais invariveis. A explicao dos fatos, reduzidas a seus termos reais,
no vai alm de outra coisa que a coordenao estabelecida entre os diversos fenmenos
particulares e alguns fatos gerais, que as diversas cincias limitaro ao menor nmero
possvel Comte (1981 [1830]). As duas ideias bsicas da filosofia positivista foram sintetizadas
por Jos Manuel Revuelta no prlogo do livro de Comte, a primeira delas se refere
necessidade de organizar as cincias em uma grande escala enciclopdica e a segunda a de
apontar reorganizao da sociedade partindo de resultados de uma sociologia, por fim,
positiva (Comte, 1981 [1830]). Para Comte h trs mtodos de se filosofar que se excluem
74
mutuamente: o teolgico, o metafsico e o positivismo. O primeiro tenta explicar os fenmenos
por ao de agentes sobrenaturais, no segundo a razo adquire maior extenso mas persiste
uma parte especulativa exagerada e uma tendncia argumentao ao invs da observao
(Comte, 1980 [1884]). O positivismo, por sua vez, se dedica a descobrir, com uso bem
combinado da razo e da observao, suas leis efetivas, ou seja, suas relaes invariveis de
sucesso e similaridades (Comte, 1981 [1830]).
Por outro lado, pases do Caribe como Cuba, Porto Rico e Santo Domingo ainda
permaneciam, nessa poca, sob regime colonial europeu. No entanto, em Cuba, Jos Antnio
Caballero (1765-1835), Flix Varela (1788- 1853), Jos Antnio Saco (1797-1879) e Jos de la
Luz Caballero (1800-1862), e Eugenio Maria de Hoyos (1839-1903) em Porto Rico, estavam
elaborando nessa poca propostas para se opor opresso da colnia inspirados na
experincia de libertao de outros pases do continente. Hoyos tambm se opusera mais
adiante aos antilhanos que acreditavam que a soluo era anexao das suas terras ao novo
colonialismo dos Estados Unidos. Em Cuba, um herdeiro desta tradio foi Enrique Jos Varona
(1849-1933), quem defendia que primeiro haveria de se desvencilhar das cadeias mentais e
depois das polticas, pois considerava que a libertao dos povos hispanoamericanos foi uma
revoluo poltica realizada por somente uma classe da populao, a nova oligarquia que
substituira quela imposta pela Espanha. Varona dizia que nada muda nestes povos: a mo
75
servil continua na servitude, na misria, na abjeo. Os mesmos instrumentos de opresso
continuam oprimindo (Zea, 1980). importante mencionar estas palavras to significativas de
Varona porque, justamente, foram as oligarquias vernculas e seus exrcitos que continuaram
as polticas iniciadas pelos conquistadores europeus.
Em sntese, at agora vemos como o racismo foi sendo construdo por estigmatizar o
outro mediante a criao de esteretipos mitolgicos ou outro tipo de invenes como os
chamados monstros morfolgicos e culturais, e a exposio de homens exticos em
zoolgicos humanos. Essa criao de condio de outro desenvolvida pelos colonialistas
europeus os permitiu justificar a apropriao das riquezas e o genocdio dos povos originrios
da Amrica.
Box 4. A sociedade segundo Spencer. Spencer tinha uma concepo extremamente biologicista
da sociedade. Considerava que o Estado no deveria intervir na sociedade e deveria deix-la
livre ao da seleo natural. Para Spencer o progresso orgnico consiste no trnsito do
homogneo ao heterogneo, isto , do simples ao complexo, mediante sucessivas
diferenciaes. Com essa definio, Spencer trata de demonstrar que a lei do progresso
orgnico a lei de todo o progresso, como as que se produzem na natureza, nas instituies
polticas, cientficas, artsticas e em toda e qualquer manifestao humana (Spencer, 1904).
Seguindo esse pensamento, Spencer chega concluso que entre os mamferos, os marsupiais
seriam os que ocupam lugar inferior na escala da classe, enquanto que o mais elevado e
recente o homem. Assinala que inegvel que, desde o perodo em que a terra foi povoada,
76
a heterogeneidade do organismo humano cresceu entre os grupos civilizados da espcie, assim
como tambm a heterogeneidade da prpria humanidade, considerada como um todo, por
virtude da multiplicao das raas e a diferenciao destas entre si. Afirma que h uma
diferena entre as raas no desenvolvimento relativo dos seus membros. Exemplifica
mencionando que os Papuas tm pernas extremamente curtas e os braos e o corpo bem
desenvolvidos, lembrando aos quatro-mos, diferentemente dos europeus, que muito visvel
o maior alongamento e robustez das pernas, apresentando ento uma maior heterogeneidade
entre essas extremidades e as superiores.Tambm assinalava as diferenas existentes entre o
desenvolvimento dos ossos do crnio e os da face entre o homem civilizado e o selvagem
(Spencer, 1904).
Mais recentemente, Luca & Francesco Cavalli Sforza (1999), seguindo o dicionrio
etimolgico de Cortelazzo & Zolli, definiram raa como ...um conjunto de indivduos de uma
espcie animal ou vegetal que se diferenciam de outros grupos da mesma espcie em uma ou
mais caractersticas constantes e transmissveis descendncia. Dobzhansky (1955), a partir
da perspectiva gentica, considerou raa como uma populao que difere de todas as demais
na freqncia dos seus genes. Uma definio similar de Dobzhansky a proposta por Mayr
(1978), que as define como Populaes variveis que diferem de outras anlogas, da mesma
espcie, por seus valores mdios e pela frequncia de certos caracteres e genes. Nesse
enunciado, o autor parece equiparar os conceitos de raa e populao. Morner (1969) props
77
que tal conceito deve ser reservado para designar a cada uma das grandes divises da
humanidade, cujos membros compartilham certos traos fenotpicos e a frequncia de
determinados genes. Porm, o autor tinha dvidas sobre a possibilidade de se estabelecer
classificaes raciais, devido ao fato de que a mestiagem fez com que as distines raciais
tivessem carter vago.
Uma das primeiras crticas ao conceito de raa foi formulada por Darwin, que
considerava que era difcil encontrar caractersticas distintivas evidentes entre elas, j que
estas no so descontnuas. Darwin havia observado que certos autores divergiam sobre o
nmero de raas: Jacquinot & Kant (4), Blumenbach (5), Buffon (6), Hunter (7), Aggassiz (8),
Pikering (11), Boris Saint Vicent (15), Desmoulins (16), Morton (22), Crawfurd (60), Burke (63),
e a partir dessa observao concluiu que essa diversidade de pareceres... demonstra que [as
raas] esto em gradao continua, sendo assim quase impossvel distinguir entre elas os seus
caracteres distintivos bem determinados (Darwin, 1939 [1871]). Alm disso, acrescentava que
Ainda que as raas humanas atuais difiram sob muitos aspectos, tais como a cor, os cabelos, a
forma do crnio, as propores do corpo, etc., se considerar o conjunto da organizao, se v
que se parecem em alto grau por muitos aspectos (Darwin, 1939 [1871]). Sustentava que
essas variaes morfolgicas poderiam ser explicadas em parte pela ao da seleo sexual e,
com relao capacidade cognitiva, mencionava que as raas diversas possuem foras
inventivas e mentais parecidas (Darwin, 1939 [1871]).
78
6. A ORIGEM DO TERMO RAA. CLASSIFICAES RACIAIS.
79
Homo asiaticus, Homo afer. Como concluso, ainda em meados do sculo XVIII, a categoria
raa no formou parte do que foi a primeira classificao do mundo natural (Marks, 1997).
Mais tarde, tal categoria foi empregada na classificao racial elaborada pelo naturalista
Johann Frederick Blumenbach (1752-1840) em 1776, quem dividiu a humanidade em cinco
raas, segundo a colorao da pele: Caucasiana ou Branca, Monglica ou Amarela, Etope ou
Negra, Americana ou Vermelha e Malaia ou Parda. Como se pode observar, Blumenbach,
considerado o pai da antropologia biolgica, enfatiza para essa sistematizao as regies
geogrficas da origem das populaes humanas.
80
observadas nos grupos humanos, tanto a nvel regional como continental, poderiam ser
atribudas a diferenas de carter racial. A primeira classificao racial da espcie humana,
mediante a utilizao de marcadores de grupos sanguneos, foi feita pelo imunologista Boyd,
em 1950, seguindo, para sua elaborao, assim como outros pesquisadores, um critrio
geogrfico, dividindo a humanidade em 6 grupos raciais continentais: 1) grupo europeu
primitivo (hipottico), 2) grupo europeu (caucaside), 3) grupo africano (negride), 4) grupo
asitico (mongolide), 5) grupo amerndio e 6) grupo australide (Boyd, 1952). Porm, com a
utilizao desses marcadores gentico-sorolgicos e, posteriormente, com os provenientes da
biologia molecular, introduzidos em meados da dcada de 1980, tampouco foi possvel
delimitar as populaes humanas em entidades particulares. Por conseguinte, o grau de
incerteza que haviam alcanado as sistematizaes raciais com base em traos morfolgicos
continuou existindo at a atualidade, apesar da incorporao de modernas ferramentas
tcnico-metodolgicas.
81
Com base nesses critrios, o conceito de populao seria mais adequado para substituir
o de raa, porque nessas populaes operam fatores microevolutivos como as mutaes, a
seleo natural, a deriva gentica e o fluxo gnico, que originam mudanas direcionais ou
aleatrias, dependendo da estrutura demogrfica-gentica das mesmas. As variaes
observadas no se devem a diferenas raciais, mas so consequncias da ao desses fatores,
que modificam, tanto no tempo como no espao, a composio gentica dos grupos humanos.
Na atualidade, os antroplogos biolgicos em geral aceitam que a espcie humana se encontra
organizada em populaes locais, que essas entidades reais constituem as unidades
operacionais de estudo, que no so estticas porque variam espacial e temporalmente, que
entre elas existem relaes de parentesco suscetveis de serem estimadas e que a evoluo se
produz por seleo, deriva gentica e migrao (Carnese et al. 1991-1992).
82
de stios nucleotdicos, as diferenas implicam somente 250.000 desses stios (Barbujani,
2005).
TABELA 1. Proporo da diversidade gentica existente no seio de populaes e raas e a diversidade entre as
mesmas.
Proporo
Dentro da Dentro das Em raas entre
Gene Entre raas
espcie populaes populaes
Hp 0,994 0,893 0,051 0,056
Ag 0,994 0,834 --
Lp 0,639 0,939 --
Xm 0,869 0,997 --
Ap 0,989 0,927 0,062 0,011
6PGD 0,327 0,875 0,058 0,067
PGM 0,758 0,942 0,033 0,025
Ak 0,184 0,848 0,021 0,131
Kidd 0,977 0,741 0,211 0,048
Duffy 0,938 0,636 0,105 0,259
Lewis 0,994 0,966 0,032 0,002
Kell 0,189 0,901 0,073 0,026
Lutheran 0,153 0,694 0,214 0,092
P 1,000 0,949 0,029 0,022
MNS 1,746 0,911 0,041 0,048
Rh 1,900 0,674 0,073 0,253
ABO 1,241 0,907 0,063 0,030
Mdia 0,854 0,083 0,063
Fonte: Lewontin R. (1984) La diversidad humana. Barcelona. Prensa Cientfica.
83
os anos de 1977-2002, a porcentagem de artigos que usam os conceitos de raa e etnia nas
disciplinas biomdicas, tanto nos Estados Unidos quanto em outras regies do mundo. Nos
EUA, o emprego conjunto de raa e etnia, de somente etnia e de somente raa foi observado
em 19,1%, 19,1% e 7,6% respectivamente, enquanto que em outras regies esses valores na
mesma ordem foram 4%, 18,5% e 2,8%. Mesmo assim, esses autores comentam que em 74%
dos artigos publicados na revista American Journal of Epidemiology (perodo 1996-1999), se
empregaram os termos raa e etnia.
Alguns autores, como Gonzlez Burchard et al. (2003) e Rich et al. (2007) consideram
que em epidemiologia e em investigaes clnicas a utilizao das categorias de raa e etnia
til para gerar e explorar hipteses sobre fatores de risco genticos e ambientais. Baseiam-se
na existncia de diferenas genticas entre as populaes a nvel continental, que validam os
estudos epidemiolgicos e a busca de genes raa-especficos. Nestes estudos, usada
geralmente a classificao do Censo Norte-americano do ano 2000, que inclui cinco grupos:
afroamericanos, brancos, asiticos, nativos do Hava ou de outras ilhas do Pacfico e nativos
americanos ou do Alasca.
85
Concluindo, acreditamos, em consonncia com outros autores, que as raas humanas
no existem como realidade biolgica, mas so construes sociais historicamente
determinadas. Porm, a raa como valor simblico est presente no imaginrio social e as
diferenas fenotpicas, culturais e de classes sociais, a que se atribuem certa carga valorativa,
do lugar gerao de argumentos falaciosos para justificar a discriminao racial.
AGRADECIMENTOS
86
BIBLIOGRAFIA CITADA
Avena S, Via M, Ziv E, Prez-Stable EJ, Gignoux C, Dejean C, Huntsman S, Torres-Meja G, Dutil
J, Matta JL, Beckman K, Gonzlez Burchard E, Parolin ML, Goicoechea A, Acreche N,
Boquet M, Rios Part MC, Fernndez V, Rey J, Stern MC, Carnese FR, Fejerman L. 2012.
Heterogeneity in genetic admixture across different regions of Argentina and implications
for medical research. PLoS ONE 7(4): e34695.
Barbujani G. 2005. Human Races: Classifying people vs understanding diversity. Curr Genomics
6(4) :215-226
Carnese FR, Cocilovo JA, Goicoechea AS. 1991-1992. Anlisis histrico y estado actual de la
Antropologa Biolgica en la Argentina. RUNA XX: 35:67.
Carreo G. 2008. El Pecado de Ser Otro. Anlisis a Algunas Representaciones Monstruosas del
Indgena Americano (Siglos XVI-XVIII). Revista Chilena de Antropologa Visual. 12: 127-146.
Comte A. 1981 (1830). Curso de Filosofa Positiva. Primera y Segunda Lecciones. Buenos Aires:
Aguilar.
Cooper RS, Kaufman JS, Ward R. 2003. Race and genomics. N Engl J Med 348 (12):1166-1170.
Darwin C. 1939 [1871].El Origen del Hombre y la Seleccin en Relacin al Sexo. Buenos Aires:
Biblioteca Pluma de Oro.
87
Glick TF. 1989. Darwin y el darwinismo en el Uruguay y en Amrica Latina. Uruguay: Facultad
de Humanidades y Ciencias, Universidad de la Repblica.
Gonzlez Burchard E, Ziv E, Coyle N, Gomez SL, Tang H, Karter AJ, Mountain JL, Prez-Stable EJ,
Sheppard D, Risch N. 2003. The importante of race and ethnic background in biomedical
research and clinical practice. New Eng J Med 348:1170-1175.
Gravlee CC, Sweet E. 2008. Race, ethnicity, and racism in medical anthropology, 1977-2002.
Med Anthropol Q 22(1):27-50.
Larrain HB. 1993 Pueblo, Etnia o Nacin? Haca una Clarificacin Antropolgica de Conceptos
Corporativos Aplicables a las Comunidades Indgenas. Revista de Ciencias Sociales (CI)
2:28-53. Universidad Arturo Prat. Chile.
Magasich-Airola J, De Beer JM. 2001. Amrica Mgica. Mitos y Creencias en tiempos del
descubrimiento del nuevo mundo. Santiago: LOM Ediciones.
Malthus TR. 1945 (1789-1823, sexta edicin). Ensayos sobre el principio de poblacin. Buenos
Aires: Intermundo.
Marks J. 1997. La Raza. Teora Popular de la Herencia. Mundo Cientfico. 185: 1045- 1051.
Mrner M. 1969. La Mezcla de Razas en la Historia de Amrica Latina. Buenos Aires: Editorial
Paidos.
Piazza A. 1997. Un concepto sin fundamento biolgico. Mundo Cientfico. 185: 1052-1056
88
Van Dijk TA. 2011. Las ropas nuevas del racismo. Revista de Divulgacin Cientfica y
Tecnolgica de La Universidad Veracruzana. Vol. 24(2).
http://www.uv.mx/cienciahombre/revistae/vol24num2/articulos/entrevista/
Ventura Santos R, Fry PH, Monteiro S, Chor Maio M, Rodrigues JC, Bastos-Rodrigues L, Pena
SDJ. 2009. Color, race, and genomic ancestry in Brazil. Dialogues between anthropology
and genetics. Curr Anthrop. 50(6):787-819.
89
CAPTULO 5. GENTICA: DE MENDEL AO
CONHECIMENTO DO FUNCIONAMENTO DO
GENOMA.
90
impacto na comunidade cientfica (para ler o trabalho completo de Mendel, original em
alemo e traduo em ingls, visite a pgina http://www.mendelweb.org/MWpaptoc.html/).
b. O TRABALHO DE MENDEL
O trabalho de Mendel foi considerado por muito tempo um exemplo bem sucedido da
aplicao do mtodo de pesquisa Aristotlico tradicional (mtodo indutivo-dedutivo). Porm,
seus experimentos foram profundamente baseados em estudos anteriores de hibridao de
plantas e possvel que Mendel j tivesse, antes mesmo de concluir seus experimentos, toda
ou quase toda sua teoria j pronta.
A seleo das ervilhas comestveis (Pisum sativum) como objeto de pesquisa foi
essencial para o sucesso de seus experimentos. Essa escolha no foi acidental, mas sim
planejado com critrio cientfico e lgico, o que demonstra que a obra de Mendel um
exemplo bem sucedido da aplicao do mtodo cientifico baseado em hipteses, como
atualmente se utiliza na maioria dos trabalhos cientficos. A escolha da ervilha Pisum sativum
foi baseada nos seguintes fatores: disponibilidade de sementes, cultura barata e que ocupa
pouco espao fsico, tempo de gerao curto e produo de farta descendncia. Ainda, apesar
das ervilhas serem autgamas, o cruzamento direcionado pode ser feito por qualquer pessoa,
processo conhecido como polinizao cruzada.
Alm disso, o sucesso do trabalho de Mendel decorre dos seguintes fatores: 1. Anlise
de uma ou duas caractersticas de cada vez; 2. Planejamento e controle dos experimentos; 3.
91
Os resultados obtidos foram anotados e analisados matematicamente; 4. A escolha do
material de pesquisa foi adequado ao estudo do problema pois (i) as plantas apresentam
caractersticas distintas e facilmente distinguveis e se cruzam entre si; (b) os hbridos
resultantes so igualmente frteis; (c) h facilidade em se obter proteo de polinizao
indesejada; 5. as previses puderam ser testadas em novas sries de experimentos.
Mendel selecionou sete caractersticas ou traos para serem analisados (Figura 1),
sendo que cada um desses traos apresenta duas possibilidades de expresso fenotpica.
Figura 1. Caractersticas selecionadas por Mendel para seus experimentos (A) cor da ptala branca ou prpura; (B)
cor da semente; (C) semente madura lisa ou rugosa; (D) vagens infladas ou sulcadas; (e) vagens maduras amarelas
ou verdes; (F) hastes: longas (160 cm) ou curtas (40 cm); (G) Posio das flores axiais ou terminais (Ilustrao:
Marcos A. Santos-Silva).
92
i. O PRIMEIRO EXPERIMENTO DE MENDEL
Antes de iniciar seus experimentos, Mendel cultivou as plantas parentais (P1) por dois
anos para garantir que eram linhagens puras. Na sequncia, realizou os cruzamentos mono-
hbridos, em que apenas uma caracterstica foi avaliada por vez. A pergunta inicial de Mendel
era: quando ervilhas com duas caractersticas diferentes para um mesmo trao so cruzadas,
como ser a distribuio dessa caracterstica na descendncia? As seguintes possibilidades
foram consideradas: i. prole exibe uma das caractersticas; ii. exibe as duas caractersticas; ou
iii. exibe um trao intermedirio. Buscando responder a essa questo, Mendel realizou o
experimento ilustrado na Figura 2.
Mendel observou que o sexo da planta parental (P1) no tem interferncia na prole
gerada. Alm disso, Mendel observou que a prole do cruzamento de plantas de linhagem pura
com flores brancas com plantas de linhagem pura com flores prpuras a gerao F1 (primeira
gerao filial) apresentava 100% dos descendentes com flores de cor prpura. Na segunda
fase do experimento, Mendel permitiu que as flores F1 se autopolinizassem, coletou as
sementes e as plantou. A descendncia obtida da autofecundao entre as plantas F1 deu
origem gerao F2 (segunda gerao filial), que produziu flores tanto prpuras como brancas
(Figura 2). Desta forma, Mendel analisou a F2 contando quantas plantas com flores de cada cor
foram obtidas, observando uma proporo de 3:1. Isto foi considerado o incio da gentica.
A proporo dos fentipos (a expresso dos gentipos mais o ambiente) neste caso
em que existe dominncia completa, diferente da proporo dos gentipos. Temos ento
que o fentipo dos indivduos AA e dos Aa so o mesmo e as propores so somadas. No
caso ilustrado na Figura 2, a proporo de ervilhas com flor prpura de + = = 75%,
enquanto que a proporo de plantas com flores brancas de 25%.
93
Figura 2. Primeiro experimento de Mendel: cruzamento de plantas de linhagem pura com flores de cores
diferentes, os cruzamentos mono-hbridos. (A) O produto do cruzamento F1 foi composto unicamente de plantas
com flores prpuras. As plantas F1 foram cruzadas entre si e obteve-se as plantas da gerao F2 com flores
prpuras e brancas na proporo 3:1. O doador de plen no tem relao com o resultado dos cruzamentos; (B)
Quadrado de Punnet mostrando os cruzamentos com a utilizao de simbologia proposta por Mendel (Ilustraes:
Marcos A. Santos-Silva).
Mendel concluiu com seu primeiro experimento que, como dizemos em linguagem
atual: 1. os determinantes hereditrios, hoje em dia conhecidos como genes, so de natureza
particulada, pois no foi observada mistura de fentipos; 2. cada planta apresenta dois alelos
para cada gene, considerando que as ervilhas so diplides. A partir de seus resultados
numricos, Mendel props que as plantas apresentam dois componentes para cada
94
caracterstica e que esses componentes se segregam igualmente na formao do plen e do
vulo.
Aps os trabalhos de Thomas Hunt Morgan com Drosophila melanogaster que, dentre
outras contribuies, props que os genes esto nos cromossomos, a primeira interpretao
para esse experimento que o gene relacionado com a cor da flor, seja branca ou prpura,
no est localizado nos cromossomos sexuais da ervilha e sim nos autossmicos.
Mendel props os termos dominante e recessivo para explicar o fato do fentipo para a
flor branca no se expressar na gerao F1, porm, no explicou o mecanismo associado com
essa falta de expresso. Hoje sabemos que geralmente o fentipo recessivo representa
ausncia de expresso fenotpica em decorrncia de perda de funo do gene em algum
estgio de expresso, seja na transcrio, em eventos pr-transcricionais, na traduo ou em
eventos ps-traducionais. J o termo dominante refere-se ao fentipo expresso mesmo na
presena de uma cpia do gene com uma mutao (Figura 3). importante ressaltar que tanto
o termo dominante como recessivo so caracterstica do fentipo e no do gene.
As formas alternativas que encontramos para um dado gene ou regio gentica em uma
dada espcie so denominadas alelos daquele lcus especfico (Figura 3). O nmero de alelos,
que so as formas alternativas de um dado gene ou regio genmica, varia muito e depende
de uma srie de fatores, como a posio no genoma e composio em termos de pares de
bases, dentre outras caractersticas.
95
A.
B.
Figura 3. (A) O locus gnico o local do genoma e do cromossomo onde encontra-se uma dada informao. Verses
alternativas dessa sequncia so os alelos desse gene. Portanto, os alelos de um gene so verses alternativas
desse gene em particular, que se localiza em um dado lcus gnico; (B) Relao de dominncia e recessividade
entre os alelos de um gene.
96
Com isso, Mendel descreveu a herana monognica com o padro de herana que hoje
denominamos mendeliano. Mendel descreveu que as caractersticas fenotpicas analisadas e a
sua variao so atribudas a apenas um gene e seus alelos, sem interao com outros genes
modificadores e/ou o meio ambiente. E ainda, que a hereditariedade de uma dada
caracterstica segue um padro consistente com o esperado pelas propores descritas pelo
prprio Mendel.
Em 1911, Morgan demonstrou que os genes esto nos cromossomos. Alfred Henry
Sturtevant, um estudante de Morgan na poca, props que a porcentagem de recombinao
(crossing-over) est diretamente relacionada com a distncia entre os genes. Esse
conhecimento levou ao desenvolvimento de uma metodologia para mapeamento gnico, isto
, encontrar a posio dos genes nos cromossomos.
97
Com a tentativa de repetir dos experimentos, os pesquisadores observaram
modificaes no que veio a ser chamado de Leis de Mendel ou Princpios Mendelianos.
Dentre estas modificaes esto as interaes gnicas, como a epistasia, que a interao de
genes na expresso de uma mesma caracterstica, observada inicialmente por Bateson e
colaboradores.
O artigo que Sutton publicou em 1902 termina com a seguinte frase histrica e que deu
incio Teoria Cromossmica da Herana:
Sutton fez ainda uma contribuio adicional de absoluta relevncia: descreveu que o
pareamento dos cromossomos homlogos no eixo da clula ocorre ao acaso. Isso , Sutton
(1903) descreveu a segregao independente com base no comportamento dos cromossomos
na meiose. O pareamento dos cromossomos homlogos a garantia biolgica de que os
gametas tero metade do material gentico encontrado nas clulas somticas.
98
f. MEIOSE: COMBINAO E RECOMBINAO DA INFORMAO GENTICA
A meiose a diviso celular responsvel pela produo dos gametas. durante a meiose
que a maior parte da variabilidade gentica gerada mediante a combinao (segregao
independente), recombinao (crossing-over) e mutao. A Figura 4A mostra um esquema da
meiose enfatizando a relao entre esse tipo de diviso celular e a segregao independente
descrita por Mendel.
99
quatro clulas, cada uma com 23 cromossomos e 23 molculas de DNA. Nas mulheres, trs
dessas clulas no viveis e so denominadas corpsculos polares.
A.
100
B.
Figura 4. (A) Esquema da meiose mostrando dois pares de cromossomos autossmicos sofrendo segregao
independente; (B) Crossing-over (recombinao gnica) e a gerao de variabilidade gentica.
101
acompanharam a infeco das bactrias. Observaram que o elemento radioativo estava
presente unicamente nas bactrias, mas no no fago. Em um segundo experimento marcaram
os bacterifagos com enxofre-35 e observaram que esse elemento estava presente no fago e
no entrava na bactria. Dessa forma, confirmaram que o cido nuclico, no caso o DNA, o
material gentico do fago, pois o fsforo somente se incorporou no cido nuclico, enquanto
que o enxofre s foi encontrado na protena. Posteriormente foi descrito que determinados
vrus tem o RNA como material gentico.
Um ano aps do trabalho de Hershey e Chase, James Watson & Francis Crick (1953)
descreveram um modelo de estrutura para a molcula de DNA (Figura 5A) junto com a
proposta de autoreplicao da mesma, que hoje conhecemos com maior riqueza de detalhes
(esquema resumido na Figura 6). Esse modelo considerado hoje em dia a estrutura correta
para a molcula de DNA e foi finalmente visualizado pela primeira vez em 2012 (Figura 5B).
Cabe notar que recentemente comearam a reconhecer a importncia do trabalho de Rosalind
Franklin no estabelecimento da estrutura da molcula de DNA de Watson e Crick.
O conceito de gene vem mudando desde quando o termo foi cunhado em 1909 como
significando a unidade bsica de herana. Nos ltimos anos, o conceito est em franca
discusso em funo dos novos conhecimentos na rea da gentica e da genmica (para essa
discusso, consultar Meyer et al., 2013). Vamos considerar aqui nesse livro gene como
sinnimo de gene codificador de protena ou RNA, cuja estrutura bsica esta apresentada na
Figura 8A.
103
A.
C.
B. C.
D.
Figura 5. (A) Modelo da molcula de DNA apresentada no artigo seminal de Watson & Crick (1953); (B) Modelo e
fotografia obtida por microscopia eletrnica de transmisso da molcula de DNA (Gentile et al., 2012); (C)
Ribonucleotdeos e desoxiribonucleotdeo; (D) Ligao entre bases nitrogenadas: a ligao ocorre sempre entre uma
purina e uma pirimidina, sendo que a ligao entre adenina e timina ocorre na forma de duas pontes de hidrognio,
enquanto que a ligao entre citosina e guanina possui trs pontes de hidrognio.
104
A.
B.
Figura 6. (A) Modelo simplificado mostrando mltiplos pontos de duplicao do DNA; (B) Modelo de uma bolha de
duplicao de DNA mostrando o incio da replicao, os iniciadores de RNA, a replicao contnua e a descontnua e
os fragmentos de Okasaki.
Figura 7. Estrutura de um cromossomo eucarioto na metfase. O cromossomo est duplicado e a figura mostra os
diversos nveis de compactao da molcula de DNA.
105
O conceito de gene interrompido por ntrons foi lanado em 1977 por Phillip A. Sharp e
Richard J. Roberts. Esse tipo de gene comum na natureza em todos os reinos biolgicos,
sendo que a maior parte dos genes eucariticos possuem ntrons. Por exemplo, os ntrons so
muito comuns no genoma de vertebrados como o homem e o rato, e muito raros em micro-
organismos como as leveduras e as bactrias. O tamanho e complexidade de um gene em
termos de quantidade de ntrons e xons varia muito. Em humanos, o maior gene o gene da
distrofina, situado no cromossomo X, que tem cerca de 2,7 Mb (mega base = 1 milho de pares
de base) e 79 xons.
Figura 8. Estrutura tpica de um gene codificador de protena; RNAm e uma sequncia de peptdeo/protena.
106
adeninas incorporada (cauda poli-A) a essa molcula, alm de um nucleotdeo especial (cap).
Como resultado, obtm-se um RNA mensageiro (RNAm).
Entretanto, at aqui temos uma molcula de RNA e a clula precisa de uma protena.
como escrever um texto em portugus e pedir que seja lido por um ingls que no entende
portugus. Ele reconhece letras, mas no entende a mensagem. Por isso, o RNAm vai passar
por outro processo, chamado de traduo. Literalmente, a sequncia de nucleotdeos
traduzida em uma sequncia de aminocidos, que efetivamente ser a composio da
protena. O tradutor celular, nesse caso, se chama RNAt, ou RNA transportador. Cada trs
nucleotdeos do RNAm (cdon) corresponde a um nico aminocido.
A.
Segunda Posio
(extremida
(extremida
Posio
Posio
de 3)
de 3)
U C A G
107
Fenilalanina Serina Tirosina Cistena U
B.
Figura 9. (A) Esquema da transcrio e traduo em uma clula eucariota. A transcrio ocorre no ncleo e produz
um RNAm que enviado ao citoplasma, onde reconhecido pelos ribossomos, e os RNAt traduzem os RNAm em
uma sequncia de peptdeos; (B) Cdigo gentico Correlao entre cdons e aminocidos. AUG, que codifica
Metionina, o start codon, ou cdon iniciador. UAA, UAG e UGA so os stop codon, ou cdons de terminao, que
sinaliza o fim da traduo.
Considerando que o DNA composto por quatro nucleotdeos distintos e que um cdon,
conjunto de nucleotdeos com relao direta com o aminocido, composto por trs
nucleotdeos, a anlise combinatria mostra que existem 4x4x4=64 combinaes distintas.
Marshall Nirenberg e Heinrich Matthaei, em 1961, demonstraram que um RNA sinttico
composto somente por nucleotdeos do tipo uracila, um poliuracila, traduzido em um
polpeptdeo polifenilalanina. Pesquisas conduzidas por Har Gobind Khorana revelaram o papel
108
dos outros 63 cdons e, com isso, o cdigo gentico foi decifrado (Figura 9B). Alm disso, foi
revelado que o cdon composto por trincas no sobrepostas, sem pontuao e que a
terceira posio do cdon, muitas vezes, no to importante quanto as duas outras posies.
Ou seja, dois ou mais cdons distintos podem codificar o mesmo aminocido e por isso so
chamados sinnimos. Por exemplo, CUU, CUA, CUC ou CUG codificam o mesmo aminocido:
leucina. Finalmente, alguns dos cdons so especiais porque sinalizam o comeo e o final da
traduo.
c. MUTAO
109
A mutao do tipo duplicao acontece, principalmente, durante o pareamento irregular
das cromtides durante a recombinao. Desta forma, uma determinada sequncia de
nucleotdeos acaba sendo repetida em uma das fitas, sendo possvel se detectar ao observar
duas sequncias idnticas e consecutivas em um dos cromossomos resultantes.
A insero acontece quando um nucleotdeo ou mais colocado entre outros dois que
estariam corretamente posicionados no genoma. Dessa forma, a fita resultante acaba com um
nucleotdeo ou vrios a mais, dependendo de que tipo de sequncia foi inserida. Em
eucariotos, podemos observar um grupo muito interessante de inseres que so chamados
de Elementos Transponveis. Esses elementos tm a habilidade de se copiar e colar em
diferentes regies do genoma, inserindo-se em regies ricas em ilhas CpG. Mesmo no genoma
humano, ainda possvel achar alguns desses elementos em algumas populaes, o que indica
que esses elementos transponveis ainda esto ativos nos dias atuais.
110
perceptveis. Em outros casos, sero produzidas apenas variabilidade ao nvel molecular, sem
grandes consequncias.
i. GENOMAS E GENES
Estamos na era dos genomas. At bem pouco tempo atrs era impensvel o
sequenciamento completo de genomas de qualquer natureza. Os projetos de sequenciamento
de genomas, especialmente o Projeto Genoma Humano (http://www.genome.gov/10001772),
trouxe a criao de novas reas do conhecimento, como a Genmica e a Bioinformtica, bem
como o desenvolvimento de novas tecnologias e anlises computacionais, entre outras. Hoje,
possvel o sequenciamento de genomas completos em tempo recorde e com a possibilidade
de melhorias tecnolgicas significativas nos prximos anos.
Mas afinal de contas, o que um genoma? O nome sugere a ideia de que seria uma
coleo de genes, pois o sufixo OMA refere-se a um conjunto. Entretanto, o genoma
humano se encontra dividido em dois genomas diferentes: o nuclear e o mitocondrial. Em
1981, o genoma mitocondrial humano foi o primeiro genoma totalmente sequenciado. um
genoma compacto, similar ao genoma das bactrias, porm cada clula apresenta vrias
cpias do mesmo, dependendo da funo de cada clula e de quanta energia essa clula
precisa para sobreviver e funcionar. O genoma nuclear o conjunto das molculas de DNA
encontradas no ncleo, sendo que so observados dois por clula diplide. Por exemplo, na
espcie humana o genoma composto pela sequncia dos 22 cromossomos autossmicos e
dois sexuais (X e Y). Na figura 10, est apresentado o caritipo de uma mulher normal. Pode-se
observar os 46 cromossomos, 23 pares, que compem o genoma desta mulher.
111
Figura 10. Caritipo de uma mulher normal (cortesia de Juliana Forte Mazzeu de Arajo).
Em suma, o genoma ainda mais que somente os genes, tambm toda a sequncia
de DNA. Assume-se que encontraremos o mesmo genoma em todas as clulas somticas de
um organismo, ainda que exista excees como os tumores, que podem apresentar
modificao na quantidade e qualidade do material gentico, e alguns genes de clulas do
sistema imune.
Em princpio, a ideia era que o genoma humano era composto por 2% de regies
codificadoras (ou genes) e 98% de regies sem grande importncia ou de importncia
desconhecida. O projeto Encode (Encyclopedia Of DNA Elements -
http://www.genome.gov/10005107) busca descrever e entender o universo das regies
extragnicas. Esse projeto est, pouco a pouco, mudando essa ideia inicial, e a resposta
preliminar que ainda no se sabe qual a porcentagem do genoma que funcional. Estudos
do tipo GWAS (do ingls Genome-wide association study) buscam principalmente os genes
relacionados com as doenas comuns, como diabetes, doenas cardacas, cnceres, dentre
outras, e vem mostrando que cerca de 85% das regies candidatas esto fora dos genes
codificadores de protenas, ou seja, esto nas chamadas regies extragnicas. Portanto,
possvel que as regies que antes eram consideradas sem importncia, no fim das contas,
sejam importantes para a regulao de regies codificadoras.
112
3. HERANA REAL
Os padres de herana clssicos, quando apenas um nico gene est envolvido, esto
apresentados na Figura 11. Nesses diagramas observamos os heredogramas, onde se
considera que todos os indivduos apresentam um quadro clnico similar. Para melhor
entender estes diagramas, vale a pena recordar a nomenclatura universalmente adotada, onde
o smbolo de crculo representa indivduos do sexo feminino e os quadrados so usados para
os indivduos do sexo masculino. Linhas horizontais que conectam dois indivduos representam
casamento ou reproduo, e as linhas verticais ilustram a descendncia. Os indivduos
marcados com cor so aqueles que apresentam a caracterstica ou doena em questo. Os
nmeros I, II e III correspondem s geraes.
Para o quarto caso, herana ligada ao sexo dominante, a chance de 50% tanto para
filho quanto para filha. Nesse caso, similar ao observado para a herana autossmica
dominante. A grande diferena em propores esperada na prole entre uma caracterstica
com herana dominante e uma ligada ao sexo dominante que homens no podem ter filhos
do sexo masculino afetado pois transferem apenas o cromossomo Y para esses indivduos.
114
Figura 11. Padres clssicos de herana monognica mendeliana (A) Herana autossmica dominante: i. No h
saltos de gerao, ii. Indivduos de ambos os sexos podem apresentar a caracterstica, iii. Individuo afetado tem ao
menos um dos pais afetados; iv. Indivduos afetados heterozigotos tm chance de 50% de ter filho afetado (B)
Herana autossmica recessiva: i. Indivduos de ambos os sexos podem apresentar a caracterstica, ii. Indivduo
afetado geralmente filho de pais no afetados, iii. Comumente encontrado em casamentos consanguneos e em
grupos tnicos mais fechados; (C) Herana recessiva ligada ao sexo: i. Afeta em grande parte mais homens do que
mulheres, ii. Filhos de homem afetado no herdam o alelo da caracterstica, iii. Filhas de homem afetado herdam o
alelo da caracterstica, e geralmente no expressam a doena; (D) Herana dominante ligada ao sexo: i. Todas as
filhas de homem afetado apresentam a doena, ii. Nenhum filho de homem afetado apresentar a doena, iii. Os
filhos de mulheres afetadas heterozigotas tm 50% de chance de herdar a doena independente do sexo.
Outra situao a dominncia incompleta. Nesta situao temos um alelo que produz
uma protena e um no produtor, como na dominncia completa. Entretanto, na dominncia
incompleta, a quantidade de produto importante para a expresso fenotpica. Na realidade,
a dominncia completa clssica descrita por Mendel muito rara. A doena de Huntington
um bom exemplo desse fenmeno na espcie humana: os indivduos homozigotos dominantes
e heterozigotos apresentam um quadro clnico similar. A dominncia incompleta, por outro
lado, um padro de herana comum para doenas genticas. Por exemplo, o principal tipo de
nanismo em humanos, a acondroplasia, apresenta esse padro, onde os indivduos
homozigotos apresentam um quadro clnico muito mais severo que os heterozigotos.
Excluindo essa possibilidade, o padro de herana mais provvel para as duas famlias
envolvidas autossmica recessiva, pois afeta ambos os sexos e os pais dos indivduos
afetados no so afetados. Dessa forma, ambos os cnjuges devem apresentar apenas alelos
116
mutados para um dado locus gnico. Mas, sendo assim, como se explica que o casal possui
dois filhos com audio normal? Qual seria a explicao mais parcimoniosa para esta situao?
Figura 12. (A) Heredograma mostrando heterogeneidade de lcus; (B) Heredograma mostrando as consequncias
da heterogeneidade de lcus, considerando que so dois loci envolvidos.
Isso pode ser explicado pelo conhecimento de que a deficincia auditiva no se deve a
um nico gene e sim a um conjunto de genes diferentes. Neste caso, muito provvel que a
famlia apresente mutaes em genes distintos que controlam a mesma caracterstica.
Suponha que a famlia 1 apresente mutao no gene A e a famlia 2 no gene B. Desta forma,
indivduos com deficincia auditiva na famlia 1 so aa e na famlia 2 so bb. Qual o
gentipo desses indivduos para o outro gene em referncia? H uma probabilidade prxima a
100% de que sejam homozigotos dominantes visto que a frequncia dessas mutaes na
populao humana muito baixa. Como demonstrado na Figura 12B, h uma probabilidade
de 100% do prximo filho do casal, independente do sexo, no ter deficincia auditiva, pois
seria heterozigoto para ambos os genes (AaBb).
117
a. HERANA COMPLEXA
Esse tipo de herana caracterizada pela interao de vrios genes entre si e destes
com o ambiente. Dentre os genes, pode-se diferenciar duas classes: os genes principais e os
genes secundrios (Figura 13). As caractersticas de herana complexa no se apresentam
como classes distintas, ao contrrio, segue um padro aproximado de uma curva normal, a
curva de Gauss.
Figura 13. Caractersticas do padro de herana complexa so definidas pelas interaes entre genes principais,
secundrios e fatores ambientais.
Exemplos de herana complexa so: estatura, cor da pele, cor dos olhos, tipo de cabelo,
distribuio de plos pelo corpo, formato da face, distribuio de gordura corporal, presso
sangunea e muitos outros. Em relao s doenas da idade adulta, temos as doenas
cardiovasculares, diabetes, cnceres, doenas autoimunes e alergias.
118
Na Figura 14 est apresentado um tpico heredograma de uma caracterstica com
herana complexa. A caracterstica apresenta uma agregao familiar, ou seja, mais comum
em algumas famlias do que em outras, mas tambm comum na populao. Assemelha-se ao
padro de herana autossmico dominante, mas com penetrncia incompleta: h indivduos
na famlia que apresentam o gentipo mas no apresentam o fentipo. A penetrncia
incompleta decorrente de: i. Interao com outros genes - nesse caso, h outros genes
diretamente relacionados com a caracterstica, pois difcil dizer se estamos tratando de um
gentipo simples como Aa ou de um gentipo complexo com pelo menos dois genes
apresentando mutaes; ii. Interao com o ambiente; iii. Variao na idade de apresentao
o individuo no apresenta a caracterstica por no ter idade suficiente para a expresso.
119
sido demonstrado que cada gene pode contribuir com, por exemplo, apenas 1% da
variabilidade da caracterstica/doena.
4. CONCLUSES
Hoje em dia, a gentica est novamente muito prxima da fisiologia, biologia celular, e
todas as demais reas da biologia e biomedicina alm, claro, das computaes e de todas as
OMICAS, como epigenmica, metabolmica, transcriptmica, protemica, dentre outras. Com
isso, equipes multi e interdisciplinares tm sido criadas com o objetivo de gerar um
conhecimento mais holstico e a vlvula condutora central de toda essa nova forma de abordar
o conhecimento a gentica, buscando uma melhor compreenso do mundo real.
120
GLOSSRIO
Cromatina: material fibroso que se localiza dentro do ncleo e passvel de ser corado com
corantes especficos.
Eucarioto: eu verdadeiro, karya nucleo; clula ou indivduo cujas clulas contm um ncleo
organizado e envolto por uma membrana, semelhante membrana celular.
121
Fentipo: resultado da interao entre a informao contida no gentipo e o ambiente.
Resultado da expresso de um gene.
Gentipo: informao contida no material gentico para uma determinada regio, sequncia
ou gene especfico.
Herdabilidade: conjunto de processos biolgicos que asseguram que cada ser vivo receba e
transmita informaes gentica pela reproduo.
Heterozigoto: indivduo portador de dois alelos diferentes para um mesmo locus gnico (para
a mesma caracterstica).
Homozigoto: indivduo portador de dois alelos iguais para determinado locus gnico.
AGRADECIMENTOS
Gostariamos de agradecer a Dra. Victoria Monge Fuentes, pela reviso, ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico e Coordenao de Aperfeioamento
de Pessoal de Nvel Superior pelas bolsas e ao Jackson Laboratory of Genomic Medicine.
122
SUGESTES DE LEITURAS COMPLEMENTARES:
KlautauGuimares, MN, Paiva, SG, Oliveira, SF. 2014. Heranca monognica: alm de mendel,
alm do DNA. Gentica na Escola 9(2): 141-145.
KlautauGuimares, MN, Pedreira, MM, Oliveira, SF. 2014. Tirinhas no ensino: da estrutura,
funo e conceito de gene. Gentica na Escola 9(2): 95-99.
KlautauGuimares, MN, Oliveira, SF, Moreira, A, Pedrosa, H, AC. 2008. Dinmica dos alfinetes
no ensino de gentica. Gentica na Escola, 3: 42-46, 2008.
Salim, D; Akimoto, AK, Ribeiro, GGBL, Pedrosa, MAG, Klautau-Guimares, MN, Oliveira, SF.
2007. O Baralho Como Ferramenta No Ensino De Gentica. Gentica na Escola. 1: 6-9.
KlautauGuimaraes, MN, Resende, TA, Lobo, JA, Oliveira, SF. 2011. Entendendo a Variao
Gentica. Gentica na Escola. 6: 56-66.
BIBLIOGRAFIA CITADA
Bateson, W, Saunders, ER, Punnett RC. 1904. "Report II. Experimental studies in the physiology
of heredity" Reports to the Evolution Committee of the Royal Society.
http://archive.org/details/RoyalSociety.ReportsToTheEvolutionCommittee.ReportIi.Experi
mental.
Dahm, R. 2008. Discovering DNA: Friedrich Miescher and the early years of nucleic acid
research. Hum Genet 122:565581.
Griffith, F. 1928. The significance of pneumococcal types. J. Hyg. 27: 113- 159.
Hershey, AD, Chase, M. 1952. Independent functions of viral protein and nucleic acid in growth
of bacteriophage. The Journal of general physiology, 36: 39-56.
Meyer, LMN, Bomfim, GC, El-Hani, CN. 2013. How to Understand the Gene in the Twenty-First
Century? Science & Education 22 (2): 345-374.
Nirenberg, MW, Matthaei, JH. 1961. The dependence of cell-free protein synthesis in E. coli
upon naturally occurring or synthetic polyribonucleotides. PNAS 47: 1589-1602.
O'Connor, C, Miko, I. 2008. Developing the chromosome theory. Nature Education 1(1):44.
123
Sutton, WS. 1902. On the morphology of the chromosome group in Brachystola
magna. Biological Bulletin 4, 2439.
Watson, JD, Crick, FHC. 1953. Molecular Structure of Nucleic Acids. A Structure for Deoxyribose
Nucleic Acid. Nature 171: 737-738.
124
CAPTULO 6. EXPLORANDO A ORDEM
PRIMATAS: A PRIMATOLOGIA COMO DISCIPLINA
BIOANTROPOLGICA.
Primatus sum, nihil primatum mihi alienum puto (Eu sou um primata;
Nada sobre os primatas estranho para mim [Hooton, 1955]).
125
1. INTRODUO
5) A presena de uma bula auditiva (espao ao redor dos pequenos ossos do ouvido
mdio) formada pela expanso do osso petroso no complexo temporal, no lugar do
entotimpnico, este ltimo sendo caraterstico de todos os mamferos. Essa tem sido
considerada uma caraterstica e talvez a nica exclusiva da ordem Primata. Porm,
seu valor adaptativo duvidoso.
128
a. SUBORDEM STREPSIRRHINI
O crnio dos estrepsirrinos geralmente tem focinho comprido, rbitas com localizao
frontal e presena de uma barra ps-orbital que, no entanto, no se estende at a rbita
posterior. Entre os estrepsirrinos mais populares encontra-se a infraordem Lemuriformes de
Madagascar, que incluem os tradicionais lmures e o estranho Aie-Aie, gnero Daubentonia,
talvez o primata adaptativamente mais divergente que se conhece; possui orelhas grandes e
pelo denso, uma diminuio radical dos elementos dentrios (reduo a um incisivo e um pr-
molar, e perda dos caninos), os incisivos com crescimento prolongado, similares aos dos
roedores, e a incomum presena do terceiro dgito das mos extremamente comprido e grcil,
que lhe permite capturar insetos nos vos das rvores. As particularidades de Madagascar e o
seu prolongado isolamento da frica o fizeram um cenrio ideal para a ampla radiao dos
lemuriformes, que so exclusivos desta ilha e constituem uma das principais radiaes de
primatas atuais, com 15 gneros diferenciados (Fleagle, 2013).
129
Figura 1. Cladograma que reflete as relaes filogenticas dos gneros de primatas atuais (modificado de Fleagle,
2013). H controvrsias, porm, nos estudos morfolgicos e moleculares quanto posio do Aotus; no presente
trabalho, includo dentro de Pitheciidae.
130
anatmicas dos estrepsirrinos, mas irradiaram em zonas continentais, e sua distribuio
geogrfica atinge regies distantes e com ambientes heterogneos que propiciaram sua
diversificao. Glagos e lrises possuem hbitos noturnos, mas se diferenciam
fundamentalmente no seu modo de locomoo, condicionada pela estrutura diferencial do seu
esqueleto ps-craniano; enquanto os glagos so geis saltadores, os lrises possuem
movimentos lentos, com predominncia de hbitos trepadores. Alm da distribuio
estritamente africana dos galagdeos e sua diversidade de cinco gneros, os lorisdeos se
diversificaram e expandiram-se geograficamente mais do que qualquer outro estrepsirrino
atual, contando-se trs gneros na frica e dois na sia (Fleagle, 2013).
b. SUBORDEM HAPLORHINI
INFRAORDEM TARSIIFORMES
131
Figura 2. Alguns representantes da ordem Primata. A) Saguinus fuscicollis, B) Aotus nigriceps, C) Aotus azarae, D)
Cebus capucinus, E) Sapajus flavius, F) Alouatta caraya, G) Erythrocebus patas, H) Cercopithecus mona, I)
Chlorocebus pygerythrus, J) Presbytis thomasi, K) Colobus guereza, L) Macaca fascicularis, M) Papio anubis, N)
Pongo abelli, O) Pan troglodytes.
INFRAORDEM ANTHROPOIDEA
PARVORDEM CATARRHINI
Os hominoides atualmente esto formados por apenas oito gneros: Pan, Gorilla,
Pongo, Homo, Hylobates, Hoolock, Nomascus e Symphalangus, e possuem adaptaes variadas
dentro de um espectro morfolgico relativamente similar. Esses so os chamados smios, e
entre os aspectos interessantes encontra-se a ausncia de cauda em todos os seus membros.
Os dentes, que so caractersticos dos chamados cercopitecoides, nos hominoides possuem
um aspecto diferencial, com um amplo alvolo do talnido e uma disposio de cinco cspides
principais, com aspecto claramente bunodonte em vez de bilofodonte. Gorilas e chimpanzs
habitam o continente africano, enquanto orangotangos e gibes atualmente distribuem-se no
sudeste asitico. Os nicos hominoides cosmopolitas so os humanos.
PARVORDEM PLATYRRHINI
H pouco tempo, foi publicado um livro sobre este grupo de primatas que resume de
forma concisa e estabelece o estado da arte dos estudos deste grupo: Evolutionary Biology and
Conservation of Titis, Sakis and Uacaris, por Veiga et al. (2013). H trs gneros includos neste
grupo tambm conhecidos como sakis: Pithecia, Chiropote e Cacajao. Uma caracterstica deste
grupo (junto com Callicebus) que so macacos pequenos, com aproximadamente 3 kg e uma
dentio adaptada a processar frutos e sementes duros, que so dificilmente encontrada em
outros primatas (Kinzey & Norconk, 1993; Norconk & Veres, 2011 Bowler & Bodmer, 2011). Os
sistemas sociais so diversos como em outros primatas neotropicais, embora a maioria viva em
sistemas fluidos tipo fuso-fisso ou em grandes grupos que se divididem em pequenas
unidades de alimentao (Norconk & Kinzey, 1994; Defler, 2003; Bowler & Bodmer, 2009). No
caso dos calicebinos, esto em um extremo de um contnuo e formam grupos coesivos,
pequenos, de casais que pareceriam representar o padro monogmico clssico (van Schaik &
Kappeler, 2002; Norconk, 2011). Em geral, formam casais territoriais, os adultos so
monomrficos e possuem mecanismos sociais e fisiolgicos que promovem e reforam as
relaes dos casais (Menzel, 1986; Mason & Mendoza, 1998; Schradin et al., 2003; Norconk,
2011). Apesar de serem principalmente arborcola, apresentam determinadas atividades no
solo (ver Barnett et al., 2012).
136
b. AOTINOS: NOCTVAGOS E MONOGMICOS NO NEOTRPICO
137
Monkey: Behavior, Ecology, Systematics, and Captive Research, por Defler & Stevenson (2014),
assim como Howler Monkeys: Adaptive Radiation, Systematics and Morphology, por
Kowalewski et al. (2015), e Howler Monkeys: Behavior, Ecology and Conservation, por
Kowalewski et al. (2015). Existe tambm uma reviso completa que inclui os quatro gneros
(Di Fiore et al., 2011). So os maiores primatas neotropicais, com indivduos que chegam a
pesar mais de 15 kg. No caso do Alouatta, os machos chegam a pesar cerca de 25% a mais do
que as fmeas; e duas espcies, A. caraya e A. guariba, apresentam dicromatismo sexual. Os
macacos-barrigudos tambm possuem dimorfismo sexual, enquanto que os macacos-aranha e
os muriquis so monomrficos sexualmente. Dentro do grupo, o Alouatta dedica uma grande
parte do seu tempo alimentando-se de folhas, em comparao com os outros grupos. No
obstante, da mesma forma que as outras espcies, possui uma dieta variada composta de
diversos itens alimentcios e, em vrios casos e em determinados momentos do ano, as frutas
e flores so os alimentos mais importantes. Os Brachyteles ou muriquis tambm possuem uma
dieta na qual, por vezes, as folhas so importantes, e contam com certas adaptaes para
process-las. Em algumas populaes de macacos-barrigudos, foi relatado o uso de insetos em
alguns momentos do ano, o que chama a ateno pelo seu tamanho (Fleagle, 2013). Os
muriquis, diferentemente dos bugios e dos macacos-barrigudos, e semelhana dos macacos-
aranha ou Ateles, tm extremidades compridas e se movimentam muitas vezes na floresta por
meio da braquiao. Embora todos os gneros possuam uma variedade de sistemas de
organizao social, que vo desde a estrutura de casais, harm e grupos multimacho-
multifmea, os macacos-aranha, por sua vez, possuem um caracterstico sistema de fisso-
fuso, similar ao intensamente estudado em chimpanzs (Symington 1988, 1990; Asensio et
al.,2008, 2009). So grupos grandes que, geralmente ao longo de um dia ou mais, separam-se
em pequenos subgrupos de forrageio, mantendo o contato auditivo. Essas unidades so
geralmente formadas por uma ou duas fmeas, por suas crias e por grupos de machos.
Similares ao Brachyteles, no h diferenas de tamanho entre fmeas e machos e, inclusive, as
fmeas possuem um clitris pendular que s vezes confundido com um pnis. No outro
extremo, os bugios formam unidades coesivas que podem se dividir por curtos perodos
durante as sesses de alimentao (Bezanson et al., 2008). Enquanto que nos bugios ambos os
sexos podem se dispersar (Crockett & Eisenberg, 1987; Kinzey, 1997; Rumiz, 1990), a disperso
parece ser facultativa no Aloatta caraya; especialmente nos casos em que os custos de
disperso aumentam, os machos so os que se dispersam e as fmeas so as filoptricas
(Oklander et al., 2010). Di Fiore et al. (2011) consideram que o sexo mais dispersante a
fmea, j que elas dispersam mais longe e movem-se por maiores distncias do que os
138
machos, os quais, ao dispersarem, buscam tomar outros grupos, individualmente ou em
alianas, para tirar os machos centrais (Gaulin & Gaulin, 1982; Crockett & Pope, 1993; Pope
1990; 2000). No caso do Ateles, so as fmeas que se dispersam (Symington, 1988, 1990; ver
Aureli et al. 2013 para disperso de machos), assim como ocorre com o Lagothrix (Nishimura,
1990, 2003; Stevenson et al., 1994; Stevenson, 2006) e com o Brachyteles (Strier, 1992a,
1992b, 1994, 1997).
Assim como o resto dos platirrinos, esses gneros tambm no apresentam sinais
evidentes de ovulao e, como acontece em outras espcies, existem cpulas de fmeas com
mltiplos machos e fora do perodo de ovulao (Dixson, 1998; Di Fiore et al., 2011). No caso
139
dos Saimiri, diferentemente dos Cebus, sua reproduo sazonal em um perodo aproximado
de dois meses ao longo do ano e, aparentemente, as fmeas so sexualmente ativas durante
dois dias nesses curtos perodos de acasalamento (Boinski, 1992; ver Jack, 2011).Uma das
caractersticas que mais chama a ateno no Saimiri que, previamente ao perodo de
acasalamento com os machos, estes sofrem mudanas fisiolgicas e morfolgicas,
aumentando seu peso em torno de 20 a 25% (Dumond & Hutchinson, 1967; Stone, 2014).
Assim, eles acumulam gordura e aumentam de tamanho, caracterstica associada a uma maior
atrao para as fmeas nos limitados perodos de acasalamento e, talvez, a uma maior
produo de smen, j que tambm aumenta a testosterona circulante (Boinski, 1992; Schiml
et al., 1996; 1999; Stone, 2014). Os machos experimentam altos custos relacionados com as
interaes agonsticas com outros machos e com a busca de uma fmea reprodutiva; o
aumento do tamanho pode reduzir alguns desses custos, embora possivelmente possuam
custos fisiolgicos (Stone, 2014).
BOX 1. O que necessrio para ser um primatlogo? Em primeiro lugar, assumir que o rduo
trabalho de campo, observando primatas, levar tempo, muito tempo. Para isso, necessrio ter
pacincia e vontade para ir atrs de objetos de estudo s vezes esquivos. Porm, apaixonante
pensar que depois de propor perguntas e hiptese de estudo, de passar longas jornadas no
campo observando, de digitalizar os dados do caderno de campo, processar e analisar essa
informao e, finalmente publicar os resultados, poderemos entender um pouco mais sobre a
Ordem qual ns, os seres humanos, pertencemos.
141
5. O QUE FAZEMOS QUANDO ESTUDAMOS PRIMATAS NO HUMANOS
NEOTROPICAIS?
Os temas e as formas de estudo em torno dos primatas no humanos so mltiplos e muitas
vezes se inter-relacionam. No presente trabalho, vamos considerar uma forma simples de
abordar diversos temas em linhas amplas de pesquisa: ecologia alimentar, cognio espacial,
predao, pressupostos comportamentais, vida social, gentica da conservao, dinmica de
doenas infecciosas e etnoprimatologia (ver Box 2).
BOX 2. Guia (muito) breve para realizar um trabalho de campo primatolgico. Pretendemos
apresentar aqui pequenos passos a serem seguidos com base nas nossas experincias de campo.
Sabemos que existem vrias maneiras de encarar os trabalhos em primatologia e que,
certamente, cada pessoa construir seu prprio caminho. Ento, vamos l:
1) Ler, ler e continuar lendo. Isto implica recolher referncias sobre diferentes temticas e
entender o contexto e o estado da arte do tema que queremos abordar.
2) Identificar quais so os centros de estudo com primatas que existem na atualidade,
atuantes h bastante tempo ou que estejam iniciando estudos em diferentes localidades.
A melhor forma de identificar esses centros por meio das publicaes dos grupos de
trabalho, e observando a que entidades pertencem (universidades e institutos de
pesquisa), pginas de internet e redes sociais. Outra forma de obter essa informao
por meio dos sites da Sociedade Latinoamericana de Primatologia (SLAPrim) e das
respectivas associaes nacionais, tais como Associao Mexicana de Primatologia,
Associao Colombiana de Primatologia, Sociedade Brasileira de Primatologia e
Associao de Primatologia Argentina.
3) A seguinte etapa entrar em contato com o grupo em questo e buscar programas de
voluntariado ou projetos que aceitem estudantes e pesquisadores. Nessa etapa, a nica
opo a apresentao e o contato pessoal, seja numa reunio cientfica (altamente
recomendado) ou mediante um simples e-mail.
4) Tendo chegado a esse passo, ser possvel sentir o que o trabalho no campo; essa a
nica maneira e a mais acertada antes de comear seu prprio projeto. Participar de
outros projetos, conhecer outros pesquisadores, discutir e explorar as problemticas in
situ o melhor a fazer.
5) A partir da, j com alguma experincia na bagagem, resta gerar novas perguntas,
formular propostas e sair a partilhar novos achados primatolgicos.
142
a. ECOLOGIA ALIMENTAR
143
de cada primata e os diferentes problemas que enfrentam para conseguir os nutrientes
necessrios (Fleagle, 2013). Entretanto, ainda se discute como surgiram adaptaes especiais
para diferentes tipos de dieta (para processar folhas, gros, nctar ou exsudatos) (Garber,
1986; Roosmalen et al., 1988; Overdoff, 1992; Norconk et al., 2004; 2011). Alm dessas
caractersticas da dieta dos primatas, os alimentos podem ser encontrados em pequenos
fragmentos florestais que podem alimentar poucos animais, ou em fragmentos florestais
maiores que contm comida suficiente para saciar mais de um animal e, inclusive, mais de um
grupo; a comida tambm pode estar dispersa ou densamente reunida, e sua distribuio
espacial pode variar no tempo e no espao. Essas propriedades da alimentao foram
associadas aos padres de agrupamento, organizao, estrutura social e uso do espao de
primatas em modelos como o socioecolgico (Wrangham, 1980; van Schaik, 1989; Sterck et al.,
1997; Janson, 2001; Janson & Clutton-Brock, 2012) ou o de restrio de tempo (time
constraint) (Chapman et al., 1995; 1998; Chapman & Chapman, 2000; Snaith & Chapman,
2007). Porm, a influncia da disponibilidade espacial e temporal de alimentos sobre a
organizao social dos primatas e como fator de presso seletiva sobre a organizao dos
indivduos em um grupo est em discusso devido ao carcter efmero da variao dos
recursos e sua alta heterogeneidade nas florestas tropicais e subtropicais (ver Sussman &
Garber, 2004; 2011; Cheverud, 2004; Sussman et al., 2005). Para finalizar, existem variadas
estratgias de forrageio, que so as formas pelas quais os primatas obtm seus alimentos. So
consideradas estratgias porque a obteno de um tipo de alimento como, por exemplo,
pequenos frutos na copa de uma rvore, resulta em um comportamento cuja expresso inclui
uma combinao de fatores ecolgicos, sociais e abiticos que redundam na relao de
compromissos (trade offs) entre vrios comportamentos, cada um com seus custos e
benefcios.
b. COGNIO ESPACIAL
c. PREDAO
145
campo pouqussimo explorado, especialmente em platirrinos, e precisa ser avaliado tambm
de uma dimenso humana e sob o ponto de vista da ecologia do predador (Urbani, 2005;
consultar a seo de etnoprimatologia neste captulo).
d. PRESSUPOSTOS COMPORTAMENTAIS
e. VIDA SOCIAL
146
sistemas sociais em primatas tem sido estudada por dcadas (por exemplo, Eisenberg et al.,
1972; van Schaik & van Hooff, 1983; Wrangham, 1987; Janson, 2000; Strier, 2000a). Para
entender a evoluo dos sistemas sociais, necessrio um embasamento terico que
relacione os comportamentos vantajosos para o sucesso reprodutivo individual ou aptido
biolgica (fitness) com as caractersticas do sistema social. A dificuldade consiste no fato de
que as definies e caractersticas dos sistemas sociais estudam as caractersticas dos grupos e
no dos indivduos, os quais so os objetivos da seleo natural e sexual (Goss-Custard et al.,
1972; Rowell, 1993). O marco terico mais aceito atualmente oferecido pelo modelo
socioecolgico (Crook, 1970; Emlen & Oring, 1977; Terborgh & Janson, 1986), que reconhece
que os sistemas sociais representam propriedades emergentes do comportamento e das
interaes dos indivduos que integram os grupos, como resultado das adaptaes dos
indivduos s condies do ambiente e s restries filogenticas (Wrangham, 1980; van
Schaik, 1989; Di Fiore & Rendall, 1994; Sterck et al., 1997; Chapman & Chapman, 2000; Isbell &
Young, 2002). Assim, so encontradas variaes evidentes entre as diferentes espcies de
primatas e, inclusive, dentro de uma mesma espcie, relacionadas com diferenas ecolgicas,
demogrficas ou sociais (Crockett, 1996; Janson, 1992; Sterck, 1999; Borries et al., 2001;
Clutton Brock & Janson, 2012). O modelo socioecolgico trata machos e fmeas
separadamente, j que sua eficcia biolgica limitada por diferentes fatores relacionados s
diferenas sexuais no que diz respeito reproduo (Clutton-Brock & Parker, 1992, 1995). O
modelo supe que a distribuio das fmeas determinada principalmente pela distribuio
de riscos e dos recursos no ambiente, enquanto que os machos distribuem-se principalmente
em resposta distribuio temporal e espacial das fmeas receptivas. Desse modo, so
determinados os tipos de relaes sociais possveis, assim como a proporo de sexos, a qual,
por sua vez, influencia as estratgias reprodutivas e a intensidade da competio por
acasalamentos (Emlen & Oring, 1977; Kvarnemo & Ahnesjo, 1996; Sterck et al., 1997).
Conforme visto anteriormente, existem numerosas crticas ao modelo socioecolgico (ver
Janson, 2000; Sussman & Garber, 2004; Sussman et al., 2005; Clutton Brock & Janson, 2012).
147
composio sexual e do carcter espao-temporal de coeso numa sociedade. Identificam-se
trs tipos bsicos de organizao social: (a) dos solitrios, descritos como animais cuja
atividade geral e cujos deslocamentos espaciais no se encontram sincronizados com os de
outros indivduos (Charles-Dominique, 1978), contrastando com os gregrios, nos quais dois
mais indivduos sincronizam-se suas atividades em tempo e espao (Boinski & Garber, 2000).
Isso no significa que no mantenham relaes sociais, mas essas caractersticas so descritas
nos outros elementos do sistema social; (b) dos casais, que so definidos como associaes
permanentes de um macho e uma fmea adultos. Nesse caso, no apenas as suas reas de
ao coincidem, mas tambm eles esto sincronizados espao-temporalmente (Fuentes, 2000;
van Schaik & Dunbar, 1990); e, por ltimo, (c) os que vivem em grupos com trs ou mais
indivduos adultos. Nessa categoria enquadra-se a maioria dos primatas, e o critrio tradicional
distinguia entre as diferentes propores de machos e fmeas, agrupando-os em polindricos,
polignicos, multimacho ou multifmea (Clutton-Brock & Harvey, 1977; Crook & Gartlan, 1966;
Eisenberg et al., 1972).
148
em busca de fmeas receptivas, abandonando-as pouco depois de copular, procurando
parceiras adicionais; nesse caso, os dois sexos costumam copular com diferentes parceiros
(Kappeler, 1997). Existem tambm vrias formas de poliginia pela defesa de fmeas. Em
algumas espcies, coalises de machos defendem um territrio habitado por vrias fmeas
com as quais a maioria dos machos copula (Gerloff et al., 1999; Watts, 1998). Em outras, os
machos defendem diretamente o grupo de fmeas, e no o territrio. A poliginia tipo harm
ocorre quando um nico macho defende o acesso exclusivo a um grupo de fmeas
(Stammbach, 1987). Quando vrios machos defendem o grupo de fmeas, todos os machos
copulam (Altmann, 1997; Bercovitch, 1989; Brockman & Whitten, 1996; Paul et al., 1993;
Sauther, 1991) embora, frequentemente, exista a tendncia a um vis de acasalamentos com
o macho de maior hierarquia (Cowlishaw & Dunbar, 1991; Paul, 1997; Johnstone, et al. 1999).
Assim, o sistema de acasalamento parece estar principalmente determinado pela capacidade
dos machos de monopolizar o acesso s fmeas (Altmann, 1990; van Hooff & van Schaik, 1992;
Nunn, 1999a). Porm, as fmeas tambm podem influenciar o nmero de machos por meio da
seleo de parceiros ou de modificaes na sua distribuio espacial ou, ainda, da sincronia de
seus estros (Nunn, 1999b; van Schaik et al., 1999; van Noordwijk & van Schaik, 2000; Zinner &
Deschner, 2000). Muitas estratgias reprodutivas das fmeas parecem direcionadas
confuso da paternidade, diminuindo assim, o risco de infanticdio (van Noordwijk & van
Schaik, 2000). A estrutura social (3) refere-se ao modelo de interaes sociais e ao resultado
das relaes entre os membros de uma sociedade. Os padres de interao entre pares de
indivduos (interaes didicas) podem ser utilizados para a caracterizao da estrutura social
(Hinde, 1976). Nesse sentido, so estudadas as variaes na frequncia e na intensidade de
interaes afiliativas ou agonistas (de Waal, 1986, 1989), agrupando-as usualmente por sexos
em relaes entre fmeas, relaes entre machos e relaes intersexuais (Wrangham, 1987;
Dunbar, 1988; van Schaik,1996; Sterck et al., 1997). As relaes entre fmeas foram estudadas
em profundidade no contexto do modelo socioecolgico, sendo caracterizadas atravs da
anlise de quatro variveis inter-relacionadas: filopatria, nepotismo, tolerncia ou despotismo
(para reviso, ver Sterck et al., 1997). As relaes entre machos resultam da seleo
intrassexual para obter fertilizaes. Essas relaes, portanto, so muitas vezes caracterizadas
pela competio e pelo estabelecimento de relaes de dominncia (Bercovitch, 1991;
Cowlishaw & Dunbar, 1991; van Hooff & van Schaik, 1994; van Hooff, 2000). Contudo, em
algumas espcies em que os machos so filoptricos, podem se observar relaes afiliativas
entre eles (Strier, 1994; van Hooff & van Schaik, 1992, 1994; van Hooff, 2000; Kowalewski &
Garber, 2014). As relaes entre os sexos baseiam-se na seleo sexual e no conflito sexual
149
(Smuts, 1987; Smuts & Smuts, 1993; van Schaik, 1996). Alm disso, so influenciadas pelos
seguintes fatores: durao dos machos no grupo, nvel de dominncia em cada sexo, certeza
da paternidade, risco de infanticdio e o grau de dimorfismo sexual (Takahata, 1982; van
Noordwijk & van Schaik, 1988; Hamilton & Bulger, 1992; Watts, 1992; Manson, 1994; Sicotte,
1994; Perry, 1997; Kappeler, 1999b; Paul et al., 2000; Weingrill, 2000).
150
infanticdio esteja presente em vrias espcies de primatas neotropicais (por exemplo,
Alouatta caraya [Zunino et al., 1985; Pave et al, 2012]; Sapajus nigritus [Izar et al., 2007;
Ramirez-Llorens et al., 2008], Ateles geofroyii [Campbell, 200]; ver reviso em van Schaik,
2000), ainda se discute se o mesmo atua como uma fora modeladora da organizao social
dos primatas.
g. GENTICA DA CONSERVAO
151
entidades dinmicas capazes de enfrentar mudanas ambientais. Essa disciplina engloba o
estudo das consequncias genticas de populaes pequenas, a soluo de incertezas
taxonmicas e a definio de unidades de manejo e conservao dentro das espcies (Frankel
& Soul, 1981; Frankham et al., 2002; Mudry & Nieves, 2010; Mudry et al., 2014). Os primatas
so altamente vulnerveis fragmentao das florestas e aos efeitos das alteraes
antropognicas dos seus habitats (Cowlishaw & Dunbar, 2000; Chapman & Peres, 2001;
Oklander et al., 2011). Esses fatos provocam mudanas na demografia, na organizao social,
no fluxo gnico e no estado de sade dos indivduos (Janson, 2000; Clarke et al., 2002; Marsh,
2003; Gmez-Marin et al., 2001; Amaral et al., 2005; Nunn & Altizer, 2006; Oklander et al.,
2010). A extino local de populaes est relacionada principalmente com a destruio dos
seus habitas naturais, expondo os indivduos falta de recursos, s doenas e predao,
entre outros fatores (Crockett, 1998; Gillespie & Chapman, 2004; Stokstad, 2004; Chapman et
al., 2005). Desse modo, a sobrevivncia e a persistncia de primatas dependem, em grande
parte, da sua variabilidade na dieta, sua habilidade de utilizar a matriz de vegetao, assim
como da sua variabilidade gentica (Marsh, 2003). A variabilidade gentica dos indivduos de
uma espcie essencial para sua sobrevivncia a longo prazo. Quando a diversidade gentica
de uma populao reduzida, seu potencial adaptativo diminui, ou seja, reduz-se sua
capacidade de responder a futuras mudanas ambientais (Loeschcke et al., 1994). A disperso
um carcter de histria de vida que tem importantes efeitos tanto na dinmica quanto na
gentica das espcies (Clobert et al., 2001). Existem evidncias que propem que o padro
geral de disperso em primatas , principalmente, resultado de se evitar a endogamia, ou seja,
a reproduo entre indivduos relacionados e a competio intrassexual (Pusey & Packer,
1987; Field & Guatelli-Steinberg, 2003). A maioria das espcies do gnero Alouatta caracteriza-
se pela disperso de ambos os sexos a partir de seus grupos natais (Rumiz,1990; Pope, 1992; Di
Fiore & Campbell, 2007).
152
espcies em perigo, quanto de espcies que enfrentam uma intensa diminuio do habitat
e/ou gargalos de garrafa populacionais. Os bugios esto expostos tanto diminuio do
habitat, quanto aos gargalos de garrafa provocados pelos eventos recorrentes de febre
amarela. As tcnicas moleculares possibilitam obter informao sobre a variabilidade gentica,
o fluxo gnico, os sistemas de acasalamento e o sucesso reprodutivo de diversas espcies por
meio de amostragens no invasivas (Altmann et al., 1996; Gagneux et al., 1999; Gerloff et al.,
1999; Nievergelt et al., 2000; Constable et al., 2001; Vigilant et al., 2001; Goossens et al., 2005;
Bergl & Vigilant, 2007; Oklander et al., 2010; Oklander et al., 2014). Em suma, a relevncia dos
dados genticos consiste na sua capacidade de permitir inferir padres filogeogrficos e
estabelecer unidades subespecficas de grande importncia para o manejo e a conservao das
espcies, assim como tambm estimar uma aproximao ao vrtice de extino (OBrien et al.,
1985).
i. ETNOPRIMATOLOGIA
154
comportamento de primatas em vrios lugares da Amrica Latina sejam claramente
importantes, j que permitem conhecer aspectos de biologia bsica de algumas espcies
geralmente pouco conhecidas, os estudos a longo prazo tambm oferecem uma quantidade
de informao inigualvel para compreender padres de comportamento e histria de vida
dos primatas (Kappeler & Watts, 2012). Alm disso, tendo em vista que os primatas vivem
mais tempo do que outros mamferos do mesmo tamanho (Allman et al., 1993), os dados
obtidos em estudos a longo prazo e durante perodos prolongados permitem detectar
variaes em caracteres de histria de vida dentro e entre espcies fundamentais, para
compreender para onde direcionar nossos esforos de conservao de espcies de forma
eficiente. Entre outras razes, compreender as histrias de vida de diferentes espcies
importante porque nos permite explorar como foram integradas diversas adaptaes que
resultam da relao de compromisso (trade-offs) de determinadas combinaes de variveis
ecolgicas, sociais e demogrficas (Stearns, 2000). Resumindo, a histria de vida fornece
informao particular para compreender os processos evolutivos e mecanismos determinantes
dos comportamentos que observamos, entre outras coisas (Clutton-Brock & Sheldon, 2010).
Embora existam trabalhos em cativeiro na Amrica Latina realizados em zoolgicos ou em
reservas onde os animais muitas vezes so mantidos, nossa reviso se concentrar em estudos
de animais no ambiente selvagem. Fundamentalmente, baseamos nossa deciso no fato de
que a funo adaptativa dos comportamentos sociais e a histria de vida no podem ser
determinadas em condies de cativeiro. Alm de permitir compreender quais so os agentes
de seleo no seu habitat natural, o cativeiro pode induzir mudanas comportamentais
diferentes e fazer variarem aspectos da histria de vida. Resumindo, os estudos em vida
selvagem so necessrios para obter medidas realsticas de tticas comportamentais e a
temporalidade (timing) dos eventos de histria de vida, enquanto estes acontecem em seus
contextos ecolgicos naturais onde evoluram (Clutton-Brock & Sheldon, 2010; Kappeler &
Watts, 2012). Outra vantagem do estudo de primatas em lugares estabelecidos a longo prazo
que, muitas vezes, a formao de coalizes ou mudanas de nvel, assim como outros padres
comportamentais e tticas individuais, e sua possvel relao com eficcia biolgica, podem ser
interpretadas somente no contexto da histria social dos grupos no tempo (Suomi, 1997).
Existem ainda vrias outras vantagens que justificam estabelecer e fortalecer lugares a longo
prazo, tais como captar a grande variabilidade comportamental, tanto no nvel intragrupal
quanto no intergrupal (Whiten et al., 1999; Whiten & van Schaik, 2007; Nakamura & Nishida,
2012); compreender as interaes dinmicas entre grupos de primatas e mudanas no habitat
(Chapman et al., 2010a); explorar as associaes entre parentes, entre machos e fmeas,
155
estratgias reprodutivas (Kowalewski & Garber, 2010;, Oklander et al., 2014) e tudo o que leva
a gerar redes sociais complexas (Silk et al., 2010; Sueur et al., 2011); compreender a influncia
de fatores raros que afetam a sobrevivncia dos primatas, como predao, infanticdio,
inundaes e outras catstrofes naturais (Pave et al., 2012; Behie & Pavelka, 2014); e,
finalmente, poder analisar de forma detalhada e sistemtica as relaes entre a composio
do habitat e variveis abiticas com a variao comportamental e demogrfica (Chapman et
al., 2010b; Wright et al., 2012) (Tabela 1).
156
2009; Kowalewski et al., 2011; Martnez-Mota et al., 2014). Somente compreendendo essas e
outras perguntas sobre a evoluo, ecologia e comportamentos dos primatas neotropicais,
poderemos propor estratgias para conserv-los (Box 1, Box 2).
AGRADECIMENTOS
Queremos agradecer o convite para participar deste volume aos editores Vctor Acua-
Alonzo, Rolando Gonzlez-Jos e Lorena Madrigal Daz. Agradecemos, ainda, aos revisores que
contriburam com ideias e melhoras no captulo. Tambm estamos agradecidos aos colegas
que nos enviaram informao sobre os lugares de estudo a longo prazo em primatas no
humanos na Amrica Latina: Julio Cesar Bicca-Marques, Pedro Das e Gabriel Ramos-
Fernndez. MK agradece a pacincia de Mariana e Bruno durante a escrita do presente
captulo.
157
BIBLIOGRAFIA CITADA
Agostini I, Holzmann I, Di Bitetti MS. 2010. Are howler monkey species ecologically equivalent?
Trophic niche overlap in syntopic Alouatta guariba clamitans and Alouatta caraya. Am J
Primatol 72:173-186.
Alfaro JW, Matthews L, Boyette AH, Macfarlan SJ, Phillips KA, Falotico T, Ottoni E, Verderane
M, Izar P, Schulte M, Melin A, Fedigan L, Janson C, Alfaro ME. 2011. Anointing variation
across wild capuchin populations: a review of material preferences, bout frequency and
anointing sociality in Cebus and Sapajus. Am J Primatol 73:1-16.
Allman JM, McLaughlin T, Hakeem A. 1993 Brain structures and life span in primate species.
Proc Natl Acad Sci USA 90:35593563.
Altmann J. 1990. Primate males go where the females are. Anim Behav 39:193-195
Altmann J, Alberts SC, Haines SA, Dubach J, Muruthi P, Coote T, Geffen E, Cheesman DJ,
Mututua RS, Saiyalel SN, Wayne RK, Lacy RC, Bruford MW. 1996. Behavior predicts genetic
structure in a wild primate group. Proc Natl Acad Sci USA 93:5797-5801.
Amaral JMJ, Simoes AL, De Jong D. 2005. Allele frequencies and genetic diversity in two groups
of wild tufted capuchin monkeys (Cebus apella nigritus) living in an urban forest fragment.
Genet Mol Res 4:832-838.
Arditi SI. 1992. Variaciones estacionales en la actividad y dieta de Aotus azarae y Alouatta
caraya en Formosa, Argentina. Boletin Primatologico Latinoamericano 3:11-30.
Arditi SI, Placci GL. 1990. Hbitat y densidad de Aotus azarae y Alouatta caraya en Riacho
Pilag, Formosa. Boletn Primatolgico Latinoamericano 2:29-47.
Asensio N, Korstjens AH, Schaffner CM, Aureli F. 2008. Intragroup aggression, fission-fusion
dynamics and feeding competition in spider monkeys. Behaviour 145:983-1001.
Asensio N, Korstjens AH, Aureli F. 2009. Fissioning minimizes ranging costs in spider monkeys:
a multi-level approach. Behav Ecol Sociobiol 63:649-659.
Avise JC. 2000. Phylogeography. The history and formation of species. Harvard University
Press.
Avise JC, Hamrick JL. 1996. Conservation genetics: Case histories from nature. New York:
Chapman and Hall.
158
Baer JF, Weller RE, Kakoma I. 1994. Aotus: the Owl Monkey. Elsevier Inc
Barnett AA, Boyle SA, Norconk MM, Bowler M, Chism J, Di Fiore A, Fernandez-Duque E,
Guimares ACP, Harrison-Levine A, Haugaasen T, Lehman S, Palminteri S, Pinto L, Port-
Carvalho M, Santos RR, Setz EZF, Rodrigues da Silva L, Silva S, Veiga LM, Vieira TM,
Walker-Pacheco SE, Spironello WR, MacLarnon A, Ferrari SF. 2012. Terrestrial Activity in
Pitheciines (Cacajao, Chiropotes and Pithecia). Am J Primatol 75:1-22.
Behie A, Pavelka M. 2014. Fruit as a Key Factor in Howler Monkey Population Density:
Conservation Implications. En: Kowalewski M, Garber PA, Corts-Ortiz L, Urbani B,
Youlatos D, editores. Howler Monkeys: Adaptive Radiation, Systematics, and Morphology.
New York: Springer Press.
Bercovitch FB. 1989. Body size, sperm competition, and determinants of reproductive success
in male savanna baboons. Evolution 43:1507-1521.
Bercovitch FB. 1991. Social stratification, social strategies, and reproductive success in
primates. Ethol Sociobiol 12:315-333.
Bergl RA, Vigilant L. 2007 Genetic analysis reveals population structure and recent migration
within the highly fragmented range of the Cross River gorilla (Gorilla gorilla diehli). Mol
Ecol 16:501-516.
Bezanson M, Garber PA, Murphy JT, Premo LS. 2008. Patterns of subgrouping and spatial
affiliation in a community of mantled howling monkeys (Alouatta palliata). Am J Primatol
70: 282-293.
Boinski S. 1992. Monkeys with inflated sex appeal. Nat His 101:4249.
Boinski S, Garber PA. 2000. On The Move: How And Why Animals Travel in Groups. Chicago:
Univ Chicago Press.
Boinski S, Kauffman L, Ehmke E, Schet S, Vreedzaam A. 2005. Dispersal patterns among three
species of squirrel monkeys (Saimiri oerstedii, S. boliviensis, and S. sciureus): I. Divergent
costs and benefits. Behaviour 142(5):525-632
Boinski S, Sughrui K, Selvaggi L, Quatrone R, Henry M, Cropp S. 2002. An expanded test of the
ecological model of primate social evolution: competitive regimes and female bonding in
three species of squirrel monkeys (Saimiri oerstedii, S. boliviensis, and S. sciureus).
Behaviour 139: 227-61.
Borries C, Koenig A, Winkler P. 2001. Variation of life history traits and mating patterns in
female langur monkeys (Semnopithecus entellus). Behav Ecol Sociobiol 50:391-402.
Bowler M, Bodmer RE. 2009. Social behaviour in fission-fusion groups of Red Uakari Monkeys
(Cacajao calvus ucayalii). Am J Primatol 71:976-987.
Bowler M, Bodmer RE. 2011. Diet and food choice in Peruvian Red Uakaris (Cacajao calvus
ucayalii): Selective or opportunistic seed predation? Int J Primatol 32:11091120.
Brack M. 1987. Agents Transmissible From Simians to Man. New York: Springer-Verlag.
Bravo SP, Sallenave A. 2003. Foraging behavior and activity patterns of Alouatta caraya in the
northeastern Argentinean flooded forest. Int J Primatol 24(4):825-846.
159
Brockman DK, Whitten PL. 1996. Reproduction in free-ranging Propithecus verreauxi: Estrus
and the relationship between multiple partner matings and fertilization. Am J Phys
Anthropol 100(1):57-69.
Brockman DK, van Schaik CP. 2005. Seasonality in Primates: Studies of Living and Extinct
Human and Non- Human Primates. New York: Cambridge University Press.
Byrne RW. 1982. Geographical knowledge and orientation. En: Ellis A, editor. Normality and
pathology of cognitive function. London: Academic Press. p 239-264.
Byrne RW. 2009. How monkeys find their way: Leadership, coordination, and cognitive maps of
African baboons. En: Garber PA, Boinski S, editors. On the move: How and why animals
travel in groups. Chicago: University Chicago Press. p 491-518.
Campbell CJ. 2008. Spider Monkeys: Behavior, Ecology and Evolution of the Genus Ateles.
Cambridge: Cambridge University Press.
Campbell CJ, Aureli F, Chapman CA, Ramos-Fernandez G, Matthews K, Russo SE, Suarez S, Vick
L. 2005. Terrestrial behavior of Ateles sp. Int J Primatol 26:10391051.
Campbell CJ, Fuentes AF, MacKinnon KC, Stumpf R, Bearder S. 2011. Primates in Perspective
Second Edition. Oxford University Press.
Carpenter CR. 1934. A field study of the behavior and social relations of howling monkeys.
Comp Psychol Monogr 10(2):1-168.
Carpenter CR. 1935. Behavior of red spider monkeys in Panama. J Mammal 16:171-80.
Carpenter CR. 1965. The howlers of Barro Colorado Island. En: DeVore I, editor. Primate
Behavior. New York: Holt. p 250-91.
Chapman CA, Wrangham R, Chapman LJ. 1995. Ecological constraints on group size: An
analysis of spider monkey and chimpanzee subgroups. Behav Ecol Sociobiol 36(1):59-70.
Chapman CA, Balcomb SR. 1998. Population characteristics of howlers: ecological conditions or
group history. Int J Primatol 19(3):385-403.
Chapman CA, Chapman LJ. 2000. Determinants of group size in primates: The importance of
travel costs. En: Boinski S, Garber PA, editores. How And Why Animals Travel In Groups.
Chicago: University Chicago Press. p 24-42.
Chapman CA, Peres CA. 2001. Primate conservation in the new millennium: the role of
scientists. Evol Anthropol 10:1633.
Chapman CA, Gillespie TR, Goldberg TL. 2005. Primates and the ecology of their infectious
diseases: how will anthropogenic change affect host-parasite interactions? Evol Anthropol
14(4):134- 144.
Chapman CA, Chapman LJ, Ghai RR, Harter J, Jacob AL, Lwanga JS, Omeja PA, Rothman JM,
Twinomugisha D. 2010a. Complex responses to climate and anthropogenic changes: An
evaluation based on long-term data from Kibale National Park, Uganda. En: Plumptre AJ,
editor. New York: Nova Science Publishers. p 70-87.
160
Chapman CA, Struhsaker TT, Skorupa JP, Snaith TV, Rothman JM. 2010b. Understanding long-
term primate community dynamics: implications of forest change. Ecol Appl 20(1):179-
191.
Cheney DL, Wrangham RW. 1987. Predation. En: Smuts B, Cheney D, Seyfarth R, Wrangham
RW, Struhsaker T, editores. Primate Societies. Chicago: University of Chicago Press. p 227-
239.
Clarke MR, Collins DA, Zucker EL. 2002. Responses to deforestation in a group of mantled
howlers (Alouatta palliata) in Costa Rica. Int J Primatol 23(2):365-381.
Clobert J, Nichols JD, Danchin E, Dhondt A. 2001. Dispersal. Oxford: Oxford University Press.
Clutton-Brock TH, Harvey PH. 1977. Primate ecology and social organization. J Zool 183: 1-39.
Clutton-Brock TH, Parker GA. 1992. Potential reproductive rates and the operation of sexual
selection. Q RevBiol 67: 437-455.
Clutton-Brock TH, Parker GA. 1995. Punishment in animal societies. Nature 373:209- 216.
Clutton-Brock TH, Sheldon BC. 2010. Individuals and populations: the role of long-term,
individual-based studies of animals in ecology and evolutionary biology. Trends Ecol Evol
25:562573
Clutton-Brock T, Janson C. 2012. Primate socioecology at the crossroads: past, present, and
future. Evol Anthropol 21(4):136-50.
Coltman DW, Pilkington JG, Smith JA, Pemberton JM. 1999. Parasite-mediated selection
against inbred Soay sheep in a free-living, island population. Evolution 53(4):1259-1267.
Constable JL, Ashley MV, Goodall J, Pusey AE. 2001. Noninvasive paternity assignment in
Gombe chimpanzees. Mol Ecol 10(5):1279-1300.
Cormier LA. 2003. Kinship with monkeys. The Guaj foragers of Eastern Amazonia. New York:
Columbia University Press.
Corra HKM, Coutinho PEG, Ferrari SF. 2000. Between-year differences in the feeding ecology
of highland marmosets (Callithrix aurita and Callithrix flaviceps) in south-eastern Brazil. J
Zool 252:421-427.
161
Cowlishaw G, Dunbar RIM. 1991. Dominance rank and mating success in male primates.
Animal Behav 41:1045-1056.
Crnokrak P, Roff DA. 1999. Inbreeding depression in the wild. Heredity 83:260-270.
Crockett CM. 1996. The relation between red howler monkey (Alouatta seniculus) troop size
and population growth in two habitats. En: Norconk MA, Rosenberg AL, Garber PA,
editores. Adaptative radiations of Neotropical Primates. Plenun Press. p 489-510.
Crockett CM. 1998. Conservation biology of the genus Alouatta. Int J Primatol 19(3):549-578.
Crockett CM, Eisenberg JF. 1987. Howlers: Variations in group size and demography. En: Smuts
BB, Cheney DL, Seyfarth RM, Wrangham RW, Struhsaker TT editors. Primate Societies.
Chicago, University of Chicago Press. p 54-68.
Crockett CM, Pope TR. 1993. Consequences of sex differences in dispersal for juvenile red
howler monkeys. In: Pereira ME, Fairbanks LA, editores. Juvenile Primates: Life History,
Development, and Behavior. New York: Oxford University Press. p 104-118.
Crook JH, Gartlan JS. 1966. Evolution of primate societies. Nature 210:1200-1203.
Crook JH. 1970. The socio-ecology of primates. En: Crook JH, editor. Social Behaviour in Birds
and Mammals. London: Academic Press Inc. p 103-166.
Crow JF, Kimura MA. 1970. An introduction to population genetics theory. London: Harper y
Row.
Dawson KJ, Belkhir K. 2001. A bayesian approach to the identification of panmictic populations
and the assignment of individuals. Genet Res 78:59-73.
de Waal FBM. 1986. The integration of dominance and social bonding in primates. Q Rev Biol
61(4):459-479.
de Waal FBM. 1989. Dominance style and primate social organization. En : Standen V, Foley
RA, editores. Comparative Socioecology: the Behavioural Ecology of Humans and other
Mammals. Oxford, Blackwell Scientific Publications. p 243-263.
Defler T, Stevenson P. 2014 .The Woolly Monkey: Behavior, Ecology, Systematics, and Captive
Research. Developments in Primatology: Progress and Prospects. New York: Springer
Press.
Di Fiore A. 2002. Predator sensitive foraging in ateline primates. En: Miller LE, editor. Eat or Be
Eaten: Predator Sensitive Foraging among Primates. Cambridge: Cambridge University
Press. p 242-267.
Di Fiore A, Rendall D. 1994. Evolution of social organization: A reappraisal for primates by using
phylogenetic methods. Proc Natl Acad Sci USA 91:9941- 9945.
Di Fiore A, Surez S. 2004. Route-based travel and shared routes in sympatric spider and
woolly monkeys. Folia Primatol 75(suppl. 1):97-98.
162
Di Fiore A, Link A, Campbell CJ. 2011. The atelines: Behavioral and socioecological diversity in a
New World radiation. En: Campbell CA, Fuentes A, MacKinnon K, Bearder S, Stumpf R,
editores. Primates in Perspective, 2nd Edition. Oxford: Oxford University Press. p 155-188.
Digby LJ, Ferrari SF, Saltzman W. 2011. Callitrichines: The Role of Competition in Cooperatively
Breeding Species. En: Campbell CA, Fuentes A, MacKinnon K, Bearder S, Stumpf R,
editores. Primates in Perspective, 2nd Edition. Oxford: Oxford University Press. p 85-106.
Dixson AF. 1998. Primate Sexuality: Comparative Studies of the Prosimians, Monkeys, Apes and
Human Beings. Oxford University Press.
Dobzhansky T, Ayala FJ, Stebbins GL, Valentine JW. 1977. Evolution. San Francisco: Freeman y
Co.
Dumond FV, Hutchinson TC. 1967. Squirrel monkey reproduction: The "fatted" male
phenomenon and seasonal spermatogenesis. Science 158: 1067-1070.
Dunbar RIM. 1988. Primate social systems. New York: Cornell University Press.
Ehrenfeld DW. 1970. Biological Conservation. New York: Holt, Rinehart and Winston.
Eisenberg JF, Muckenhirn NA, Rudran R. 1972. The relation between ecology and social
structure in primates. Science 176:863-874.
Emlen ST, Oring LW. 1977. Ecology, sexual selection, and the evolution of mating systems.
Science 197:215-223.
Falconer DS, Mackay TFC. 1996. Introduction to Quantitative Genetics. Longman, London. 4ta
edicin.
Felton AM. 2008. The nutritional ecology of spider monkeys (Ateles chamek) in the context of
reduced-impact logging. Australian National University. Ph.D. dissertation.
Felton AM, Felton A, Wood JT, Lindenmayer DB. 2008. Diet and feeding ecology of Ateles
chamek in a bolivian semihumid forest: the importance of Ficus as a staple food resource.
Int J Primatol 29:379-403.
Felton AM, Felton A, Lindenmayer DB, Foley WJ. 2009a. Nutritional goals of wild primates.
Funct Ecol 23:70-78.
Felton AM, Felton A, Raubenheimer D, Simpsone SS, Foley WJ, Wooda JT, Wallisf IR,
Lindenmayer DB. 2009b. Protein content of diets dictates the daily energy intake of a free-
ranging primate. Behav Ecol 20:685-690.
Felton AM, Felton A, Wood JT, Foley WJ, Raubenheimer D, Wallis IR, Lindenmayer D. 2009c.
Nutritional Ecology of Ateles chamek in lowland Bolivia: How Macronutrient Balancing
Influences Food Choices. Int J Primatol 30:675-696.
Fernandez V. 2014. Ecologa nutricional del mono aullador negro y dorado (Alouatta caraya)
en el lmite sur de su distribucin. Universidad de Buenos Aires, Argentin. Ph. D.
Dissertation.
163
Fernndez VA, Righini N, Rothman JM. 2014. Diet and nutritional ecology of primates in
Argentina: Current knowledge and new directions. En: Kowaleski MM, Oklander LI,
editores. Primatology In Argentina. Buenos Aires: Sociedad Argentina de Mastozoologa.
Fernandez-Duque E. 2009. Natal dispersal in monogamous owl monkeys (Aotus azarai) of the
Argentinean Chaco. Behaviour 146:583-606.
Fernandez-Duque E. 2011. Aotinae: Social Monogamy in the Only Nocturnal Anthropoids. En:
Campbell CA, Fuentes A, MacKinnon K, Bearder S, Stumpf R, editores. Primates in
Perspective, 2nd Edition. Oxford: Oxford University Press. p 140-154.
Fernndez-Duque E, Jurez C, Di Fiore A. 2008. Adult male replacement and subsequent infant
care by male and siblings in socially monogamous owl monkeys (Aotus azarai). Primates
49: 81-84.
Fernndez-Duque E, Di Fiore A, Huck M. 2012. The behavior, ecology, and social evolution of
New World monkeys En: Mitani JC, Call J, Kappeler P, Palombit R, Silk J, editores. The
evolution of primate societies. Chicago: University of Chicago Press. p 43-54.
Ferrari S. 1993. Ecological differentiation in the Callitrichidae. En: Rylandes AB, editor.
Marmosets and tamarins: systematics, behaviour and ecology. Oxford: Oxford University
Press. p 314-328.
Fichtel C. 2012. Predation. En: Mitani JC, Call J, Kappeler P, Palombit R, Silk J, editores. The
evolution of primate societies. Chicago: University of Chicago Press. p 169-194.
Fisher RA. 1930. The Genetical Theory of Natural Selection. Clarendon, Oxford.
Fleagle J. 2013. Primate adaptation and evolution. 3rd Edition. Academic Press
Fragaszy DM, Visalberghi E, Fedigan LM 2004. The Complete Capuchin: The Biology of the
Genus Cebus. Cambridge: Cambridge University Press.
Frankel OH, Soul ME. 1981. Conservation and Evolution. Cambridge University Press.
Frankham R, Ballou JD, Briscoe DA. 2002. Introduction to conservation genetics. Cambridge
University Press, Cambridge, UK.
Freeland WJ. 1976. Pathogens and the evolution of primate sociality. Biotropica 8:1224.
Fuentes A. 2000. Hylobatid communities: Changing views on pair bonding and social
organization in Hominoids. Yearb Phys Anthropol 43: 33-60.
164
Gagneux P, Boesch C, Woodruff D. 1999. Female reproductive strategies, paternity, and
community structure in wild West African chimpanzees. Animal Behav 57:19-32.
Ganzhorn JU, Wright PC. 1994. Temporal patterns in primate leaf eating: The possible role of
leaf chemistry. Folia Primatol 63:203-208.
Garber PA. 1986 The ecology of seed dispersal in two species of callitrichid primates (Saguinus
mystax and Saguinus fuscicollis). Am J Primatol 10: 155-170
Garber PA. 1992. Feeding adaptations in New World primates: An evolutionary perspective.
Am J Phys Anthropol 88:411-414.
Garber PA. 1997. One for all and breeding for one: Cooperation and competition as a Tamarin
reproductive strategy. Evol Anthropol 5:187-199.
Garber PA. 2000. Evidence for the use of spatial, temporal, and social information by primate
foragers. En: Garber PA, Boinski S, editores. On the move: How and why animals travel in
groups. Chicago: University Chicago Press. p 261-298.
Garber PA, Porter LM. 2010. The ecology of exudate production and exudate feeding in
Saguinus and Callimico. En: Burrows AM, Nash LT, editores. The Evolution of Exudativory
in Primates. New York: Springer Press. p 89-108.
Garber PA, Righini N, Kowalewski MM. 2014. Evidence of Alternative Dietary Syndromes and
Nutritional Goals in the Genus Alouatta. En: Kowalewski M, Garber PA, Corts-Ortiz L,
Urbani B, Youlatos D, editores. Howler Monkeys: Behavior, Ecology and Conservation.
New York: Springer Press
Gaulin SJC, Gaulin CK. 1982. Behavioral ecology of Alouatta seniculus in Andean cloud forest.
Int J Primatol 3(1):1-32.
Gillespie TR, CA Chapman. 2004. Forest fragmentation alters primate parasite dynamics:
implications for primate health and conservation. Folia Primatol 75(1):267.
Goldizen AW. 1987. Dynamics and causes of facultative polyandry in saddle-back tamarins
(Saguinus fuscicollis). Diss Abstr Int B48(6):1616.
Goss-Custard J, Dunbar R, Aldrich-Blake F. 1972. Survival, mating, and rearing in the evolution
of primate social structure. Folia Primatol 17:1-19.
Grow NB, Gursky-Doyen S, Krzton A. 2014. High Altitude Primates. Series: Developments in
Primatology: Progress and Prospects. New York: Springer Press.
Haldane JBS. 1924. A mathematical theory of natural and artificial selection. Part I. Trans Camb
Phil Soc 23:19-41.
Hedrick PW, Kim TJ, Parker KM. 2001. Parasite resistance and genetic variation in the
endangered Gila topminnow. Anim Conserv 4(2):103-109.
Heshel MS, Paige KN. 1995. Inbreeding depression, environmental stress, and population size
variation in scarlet gilia (Ipomopsis aggregata). Conserv Biol 9:126-133.
Heymann EW, Buchanan-Smith HM. 2000. The behavioural ecology of mixed-species troops of
callitrichine primates. Biol Rev 75:169190.
Hinde RA. 1976. Interactions, relationships and social structure. Man 11:1-17.
Hooton EA. 1955. The importance of primate studies in anthropology. En: Gavan JA, editor.
The Non-Human primates and Human Evolution. Detroit: Wayne University Press. p 1-10.
Huck MA, Fernandez-Duque E. 2013. When Dads Help: male behavioral care during primate
infant development. En: Clancy K, Hinde K, Rutherford J, editores. Building Babies: Primate
Development in Proximate and Ultimate Perspective. New York: Springer Press. p 361-
385.
Hughes C. 1998. Integrating molecular technologies with field methods in studies of social
behavior: A revolution results. Ecology 79(2):383-399.
Isbell LA, Young TP. 2002. Ecological models of female social relationships in primates:
Similarities, disparities, and some directions for future clarity. Behaviour 139:177-202.
Jack KM. 2011. The cebines: Toward an explanation of variable social structure. In: Campbell
CJ, Fuentes A, MacKinnon KC, Bearder SK and Stumpf RM. Primates in perspective. New
York: Oxford University Press. p 108-121.
Janson CH. 1990. Social correlates of individual spatial choice in foraging groups of brown
capuchin monkeys, Cebus apella. Anim Behavior 40: 910-921.
Janson CH. 1992. Evolutionary ecology of primate social structure. En: Smith EA, Winterhalder
B, editores. Evolutionary Ecology and Human Behavior. New York. De Gruytex. p 95-130.
166
Janson C. 2001. Primate socio-ecology: The end of a golden age. Evol Anthropol 9(2): 73-86.
Janson CH 2000. Primate socio-ecology: The end of a golden age. Evol Anthropol 9(2):73-86.
Janson CH, Di Bitetti MS. 1997. Experimental analysis of food detection in capuchin monkeys:
Effects of distance, travel speed, and resource size. Behav Ecol Sociobiol 41:17-24.
Kappeler PM. 1997. Intrasexual selection in Mirza coquereli: Evidence for scramble
competition polygyny in a solitary primate. Behav Ecol Sociobiol 41:115-128.
Kappeler PM. 1999a. Primate socioecology: New insights from males. Naturwissenschaften,
86:18-29.
Kappeler PM. 1999b. Convergence and nonconvergence in primate social systems. En: Fleagle
JG, Janson CH, Reed KA, editores. Primate Communities. Cambridge: Cambridge University
Press. p 158-170.
Kappeler PM, van Schaik CP. 2002. Evolution of primate social systems. Int J Primatol
23(4):707-740.
Kappeler PM, Watts DP. 2012. Long-Term Field Studies of Primates. New York: Springer Press.
Keller LF, Arcese P,Smith JMN, Hochachka WM,Stearns SC. 1994. Selection against inbred song
sparrows during a natural population bottleneck. Nature 372:356-357.
Keller LF, Waller DM. 2002. Inbreeding effects in wild populations. Trends Ecol Evol 17(5):230-
241.
Kimura, M. 1983. The Neutral Theory of Molecular Evolution, Cambridge University Press.
Kinzey WG. 1986. New world primate field studies: what's in it for anthropology? Annu Rev
Anthropol 15:121-148
Kinzey WG. 1997. New World Monkeys: Ecology, Evolution and Behavior. New York: Aldine de
Gruyter.
Kinzey WG, Norconk MA. 1993. Physical and chemical properties of fruit and seeds eaten by
Pithecia and Chiropotes in Surinam and Venezuela. Int J Primatol 14(2):207-227.
Kowalewski MM, Zunino GE. 2005. Testing the parasite avoidance behavior hypothesis with
Alouatta caraya. Neotrop Primates 13(1):2226.
Kowalewski MM, Gillespie TR. 2009. Ecological and anthropogenic influences on patterns of
parasitism in free-ranging primates: a meta-analysis of the Genus Alouatta. En: Garber PA,
Estrada A, Bicca-Marques JC, Heymann EW, Strier KB, editores. South American primates.
Comparative perspectives in the study of behavior, ecology, and conservation. New York:
Springer Press. p 433-461.
167
Kowalewski MM, Garber PA. 2010. Mating promiscuity and reproductive tactics in female black
and gold howler monkeys (Alouatta caraya) inhabiting an island on the Parana River,
Argentina. Am J Primatol 72: 734748.
Kowalewski MM, Salzer JS, Deutsch JC, Rao M, Kuhlenschmidt MS, Gillespie TR. 2011. Black
and gold howler monkeys (Alouatta caraya) as sentinels of ecosystem health: patterns of
zoonotic protozoa infection relative to degree of human-primate contact. Am J Primatol
73:7583.
Kowalewski MM, Garber PA. 2014. Solving the Collective Action Problem During Intergroup
Encounters: The Case of Black and Gold Howler Monkeys. En: Kowalewski M, Garber PA,
Corts-Ortiz L, Urbani B, Youlatos D, editores. Howler Monkeys: Behavior, Ecology and
Conservation. New York: Springer Press.
Kvarnemo C, Ahnesjo I. 1996. The dynamics of operational sex ratios and competition for
mates. Trends Ecol Evol 11:404-408.
Lambert JE. 1998. Primate digestion: Interactions among anatomy, physiology and feeding
ecology. Evol Anthropol 7:8-20.
Lilly AA, Mehlman PT, Doran D. 2002. Intestinal parasites in gorillas, chimpanzees, and humans
at Mondika Research site, Dzanga-Ndoki National Park, Central African Republic. Int J
Primatol 23(3):555573.
Link A, de Luna AG, Arango R, Diaz MC. 2011. Geophagy in Brown Spider Monkeys (Ateles
hybridus) in a lowland tropical rainforest in Colombia. Folia Primatol 82:2532.
Lizarralde M. 2002. Ethnoecology of monkeys among the Bar of Venezuela: perception, use
and conservation. En: Fuentes A, Wolfe LD, editores. Primates face to face: Conservation
implications of human and nonhuman primate interconnections Cambridge: Cambridge
University Press. p 85-100.
Lynch Alfaro JW, Silva JD Jr, Rylands AB. 2012a. How different are robust and gracile capuchin
monkeys? An argument for the use of Sapajus and Cebus. Am J Primatol 74: 273-286.
Lynch Alfaro JW, Boubli JP, Olson LE, Di Fiore A, Wilson B, Gutirrez-Espeleta BA, Schulte M,
Neitzel S, Ross V, Schwochow D, Farias I, Janson C, Alfaro ME. 2012b. Explosive
Pleistocene range expansion leads to widespread Amazonian sympatry between robust
and gracile capuchin monkeys. J Biogeogr 39:272-288.
Lynch Alfaro JW, Matthews L, Boyette AH, Macfarlan S J, Phillips KA, Falotico T, Ottoni E,
Verderane M, Izar P, Schulte M, Melin A, Fedigan L, Janson C, Alfaro ME. 2012c. Anointing
variation across wild capuchin populations: a review of material preferences, bout
frequency and sociality of anointing in Cebus and Sapajus. Am J Primatol 74:299-314.
168
Lynch M, Walsh B. 1998. Genetics and Analysis of Quantitative Traits. Sunderland: Sinauer
Associates, Inc.
MacKinnon J, MacKinnon K. 1980. The behavior of wild spectral tarsiers. Int J Primatol 1: 361-
379.
Manson JH. 1994. Male aggression: A cost of female mate choice in Cayo Santiago rhesus
macaques. An Behav 48:473-475.
Marsh LK. 2003. The nature of fragmentation. En: Marsh LK, editor. Primates in Fragments:
Ecology and Conservation. New York: Kluwer Academic/Plenum Publ. p 1-10.
Mason WA, Mendoza SP. 1998. Generic aspects of primate attachments: Parents, offspring
and mates. Psychoneuroendocrinology 24:765-778.
Meagher S, Penn DJ, Potts WK. 2000. Male-male competition magnifies inbreeding depression
in wild house mice. Proc Natl Acad Sci USA 97: 3324-3329.
Menzel CR. 1986: Structural aspects of arboreality in titi monkeys (Callicebus moloch). J. Phys
Anthropol 70:167-176.
Miller LE 2002. Eat or be Eaten. Predator Sensitive Foraging among Primates. Cambridge:
Cambridge University Press.
Miller LE, Treves A. 2011. Predation on primates. En: Campbell CA, Fuentes A, MacKinnon K,
Bearder S, Stumpf R, editores. Primates in Perspective, 2nd Edition. Oxford: Oxford
University Press. p 535-547.
Milton K. 1980. The foraging strategy of howler monkeys: A study in primate economics. New
York: Columbia University Press.
Mourth MC, Guedes D, Fidelis J, Boubli JP, Mendes SL, Strier KB. 2007. Ground use by
northern muriquis (Brachyteles hypoxanthus). Am J Primatol 69:706712.
169
Mudry MD, Nieves M. 2010. Primates sin frontera: una visin desde la citogentica evolutiva. J
Basic Appl Genet 21(2): Article 14.
Mudry MD. Nieves M, Steinberg E. 2014. Cytogenetics of Howler Monkeys. En: Kowalewski M,
Garber PA, Corts-Ortiz L, Urbani B, Youlatos D, editores. Howler Monkeys: Adaptive
Radiation, Systematics, and Morphology. New York: Springer Press.
Nadjafzadeh M, Heymann EW. 2008. Prey foraging of red titi monkeys, Callicebus cupreus, in
comparison to sympatric tamarins, Saguinus mystax and Saguinus fuscicollis. Am J Phys
Anthropol 135:56-63.
Nievergelt CM, Digby LJ, Ramakrishnan U, Woodruff DS. 2000. Genetic analysis of group
composition and breeding system in a wild common marmoset (Callithrix jacchus)
population. Int J Primatol 21(1):1-20.
Norconk MA. 2011. Sakis, uakaris, and titi monkeys. En: Campbell CA, Fuentes A, MacKinnon K,
Bearder S, Stumpf R, editores. Primates in Perspective, 2nd Edition. Oxford: Oxford
University Press. p 122-139.
Norconk MA, Kinzey WG. 1994. Challenge of neotropical frugivory: travel patterns of spider
monkeys and bearded sakis. Am J Primatol 34(2):171-183.
Norconk MA, Conklin-Brittain NL. 2004. Variation on frugivory: the diet of venezuelan white-
faced sakis (Pithecia pithecia). Int J Primatol 25(1):1-25.
Norconk MA, Veres M. 2011. Physical properties of fruit and seeds ingested by primate seed
predators with emphasis on sakis and bearded sakis. Anat Rec 294:2092-2111.
Nunn CL. 1999a. The number of males in primate social groups: A comparative test of the
socioecological model. Behav Ecol Sociobiol 46:1-13.
Nunn CL. 1999b. The evolution of exaggerated sexual swellings in primates and the graded
signal hypothesis. An Behav 58:229-246.
Nunn CL, Altizer SM. 2006. Infectious diseases in primates: behavior, ecology, and evolution.
Oxford University Press, Oxford
OBrien SJ, Roelke ME, Marker L, Newman A, Winkler CA, Meltzer D, Colly L, Evermann JF, Bush
M, Wildt DE. 1985. Genetic basis for species vulnerability in the cheetah. Science
227:1428-1434.
170
Oklander LI, Kowalewski MM, Corach D. 2010. Genetic consequences of habitat fragmentation
in black andgold howler populations from northern Argentina. Int J Primatol 31(5):813
832.
Oklander LI, Peker SM, Kowalewski MM. 2011. The situation of field primatology in Argentina:
recent studies, status and priorities. En: A Primatologia no Brasil Vol. 12. Joo M. D.
Miranda & Zelinda M. B. Hirano (Eds.) Sociedade Brasileira de Primatologia.
Oklander LI, Kowalewski M, Corach D. 2014. Male reproductive strategies in black and gold
howler monkeys (Alouatta caraya). Am J Primatol 6(1):43-55.
Overdorff DJ. 1992. Differential patterns of flower feeding in Eulemur fulvus rufus and Eulemur
rubriventer in Madagascar. Am J Primatol 28:191-203.
Paul A. 1997. Breeding seasonality affects the association between dominance and
reproductive success in non-human male primates. Folia Primatol 68(6):344-349.
Paul A, Kuester J, Timme A, Arnemann J. 1993. The association between rank, mating effort,
and reproductive success in male barbary macaques (Macaca sylvanus). Primates 34:491-
502.
Paul A, Preuschoft S, van Schaik CP. 2000. The other side of the coin: Infanticide and the
evolution of affiliative male-infant interactions in Old World primates. In: van Schaik CP,
Janson CH editors. Infanticide by Males and Its Implications.. Cambridge University Press,
Cambridge. p 269- 292.
Pav P, Kowalewski M, Garber PA, Zunino GE, Fernandez VA, Peker SM. 2012. Infant Mortality
in Black- and-Gold Howlers (Alouatta caraya) Living in a Flooded Forest in Northeastern
Argentina. Int JPrimatol 33(4):937-957.
Pook AG, Pook G. 1982. Polyspecific association between Saguinus fuscicollis, Saguinus
labiatus, Callimico goeldii and other primates in North-Western Bolivia. Folia Primatol
38(3-4):196-216.
Pope TR. 1990. The reproductive consequences of male cooperation in the red howler
monkey: paternity exclusion in multi-male and single-male troops using genetic markers.
Behav Ecol Sociobiol 27:439-446.
Pope TR. 1992. The influence of dispersal patterns and mating systems on genetic
differentiation within and between populations of red howler monkey (Alouatta
seniculus). Evolution 46(4):1112-1128.
Pope TR. 2000. Reproductive success increases with degree of kinship in cooperative coalitions
of female red howler monkeys (Alouatta seniculus). Behav Ecol Sociobiol 48(4):253-267
Porter LM. 2006 Distribution and density of Callimico goeldii in the Department of Pando,
Bolivia. Am J Primatol 68(3):235-43.
171
Porter LM, Garber PA. 2007. Niche expansion of a cryptic primate, Callimico goeldii, while in
mixed species troops. Am J Primatol 69:1-14.
Porter LM, Sterr SM, Garber PA. 2007. Habitat use and ranging behavior of Callimico goeldii.
Int Primatol 28:1035-1058.
Porter LM, Garber PA. 2009. Social behavior of Callimicos: mating strategies and infant care.
En: Ford SM, Porter LM, Davis LC, editores. The Smallest Anthropoids Developments in
Primatology: Progress and Prospects. New York: Springer Press. p 87-101.
Porter LM, Garber PA, Nacimento E. 2009. Exudate feeding in Callimico goeldii. Am J Primatol
71(2):120-129.
Porter LM, Garber PA. 2010. Mycophagy and its influence on habitat use and ranging patterns
in Callimico goeldii. Am J Phys Anthropol 142(3):468-475.
Poucet B. 1993. Spatial cognitive maps in animals: New hypotheses on their structure and
neural mechanisms. Psychol Rev 100: 163-82.
Pozo-Montuy G, Serio-Silva JC. 2006 Movement and resource use by a group of Alouatta pigra
in a Forest fragment in Balancn, Mxico. Primates 48(2):102-107.
Primack RB, Rodrigues E. 2001. Fragmentao do hbitat. In: Primack RB, Rodrigues E, editors.
Biologia da Conservao. Londrina, PR. p 95-104.
Pritchard JK, Stephens M, Donnelly P. 2000. Inference of Population Structure Using Multilocus
Genotype Data. Genetics 155:945959.
Pusey A, Wolf M. 1996. Inbreeding avoidance in animals. Trends Ecol Evol 11:201-206.
Pusey AE, Packer C. 1987. Dispersal and philopatry. En: Smuts BB, Cheney DL, Seyfarth RM,
Wrangham RW, Struhsaker TT editors. Primate Societies. Chicago: University of Chicago
Press. p 250-266.
Righini N. 2014. Primate nutritional ecology: the role of food selection, energy intake, and
nutrient balancing in Mexican black howler monkey (Alouatta pigra) foraging strategies
University of Illinois at Urbana- Champaign- PhD Dissertation.
Robinson JG, Janson CH. 1987. Capuchins, squirrels monkeys, and atelines: socioecological
convergence with Old World Primates. En: Smuts BB, Cheney DL, Seyfarth RM, Wrangham
RW, Struhsaker TT editors. Primate Societies. Chicago, University of Chicago Press. p 69-
97.
Robinson JG, Wright PC, Kinzey WG. 1987. Monogamous cebids and their relatives: Intergroup
calls and spacing. En: Smuts BB, Cheney DL, Seyfarth RM, Wrangham RW, Struhsaker TT
editors. Primate Societies. Chicago: University of Chicago Press. p 44-53.
Rodman PS. 1999. Whither primatology? The role of primatology in anthropology today. Annu
Rev Anthropol 28:311-93.
Rosenberger AL. 1979. Phylogeny, evolution and classification of New World monkeys
(Platyrrhini, Primates). PhD Dissertation, City University of New York, New York.
Rosenberg NA, Burke T, Elo K, et al. 2001. Empirical evaluation of genetic clustering methods
using multilocus genotypes from 20 chicken breeds. Genetics 159:699-713.
172
Rosenblum LA, Cooper RW. 1968. The Squirrel Monkey. New York: Academic Press.
Rotundo M, Fernandez-Duque E, Dixson AF. 2005. Infant development and parental care in
free-ranging Aotus azarai azarai in Argentina. Int J of Primatol 26(6):1459-1473.
Rumiz DI. 1990. Alouatta caraya: Population density and demography in Northern Argentina.
Am J Primatol 21:279-294.
Rutberg AT. 1983. The evolution of monogamy in primates. J Theor Biol 104(1): 93-112.
Rylands AB, Mittermeier1 RA, Silva Jr JS. 2012. Neotropical primates: taxonomy and recently
described species and subspecies. International Zoo Yearbook 46(1):1124.
Sauther ML. 1991. Reproductive behavior of free-ranging Lemur catta at Beza Mahafali Special
Reserve, Madagascar. Am J Phys Anthropol, 84: 463-477.
Schiml PA, Mendoza SP, Saltzman W, Lyons DM, Mason WA. 1996. Seasonality in squirrel
monkeys (Saimiri sciureus): Social facilitation by females. Physiol Behav 60:1105-1113.
Schiml PA, Mendoza SP, Saltzman W, Lyons DM, Mason WA. 1999. Annual physiological
changes in individually housed squirrel monkeys (Saimiri sciureus). Am J Primatol 47:93
103.
Schneider H. 2000. The Current Status of the NewWorld Monkey Phylogeny. Acad. Bras. Ci.,
(2000) 72 (2):165-172.
Schneider H, Rosenberger AL. 1996. Molecules, Morphology, and Platyrrhine systematics. En:
MA Norconk, AL Rosenberger, PA Garber editores. Adaptative Radiations of Neotropical
Primates. NewYork: Plenum Press. p 3-19.
Schradin C, Reeder DM, Mendoza SP, Anzenberger G. 2003. Prolactin and paternal care:
comparison of three species of monogamous New World monkeys (Callicebus cupreus,
Callithrix jacchus, and Callimico goeldii). J Comp Psychol 117:166175.
Shettleworth SJ. 1998. Cognition, Evolution, and Behavior. New York: Oxford Univ Press.
Shields WM. 1993. The natural and unnatural history of inbreeding and outbreeding. En:
Thornhill NW, editor. The natural history of inbreeding and outbreeding. Chicago:
University of Chicago Press. p 143-169.
Silk J, Boyd R. 2005. How Humans Evolved. Chicago: University of Chicago Press.
Silk JB, Beehner JC, Bergman TJ, Crockford C, Engh AL, Moscovice LR, Wittig RM, Seyfarth RM,
Cheney DL. 2010. Strong and consistent social bonds enhance the longevity of female
baboons. Curr Biol 20:13591361
173
Simmons NN, Moritz C, Moore SS. 1995. Conservation and dynamics of microsatellite loci over
300 million years of marine turtle evolution. Mol Biol Evol 12:432-440.
Smith TB, Wayne RK. 1996- Molecular genetic approaches in conservation. New York: Oxford
University Press.
Smuts BB. 1987. Sexual competition and mate choice. En: Smuts BB, Cheney DL, Seyfarth RM,
Wrangham RW, Struhsaker TT, editores. Primate Societies. Chicago: University of Chicago
Press. p 385-399.
Smuts BB, Smuts RW. 1993. Male aggression and sexual coercion of females in nonhuman
primates and other mammals: Evidence and theoretical implications. Advances in the
Study of Behavior 22: 1-63.
Snaith TV, Chapman CA. 2007. Primate group size and socioecological models: Do folivores
really play by different rules? Evolut Anthropol 16:94-106.
Sommer V, Reichard U. 2000. Rethinking monogamy: The gibbon case. En: Kappeler PM editor.
Primate Males. Cambridge, Cambridge Univ Press. p 159-168.
Soul ME. 1986. Conservation Biology and the real world. En: Soul ME, editor. Conservation
Biology: The science of scarcity and diversity. Sunderland: Sinauer Associates. p 1-12.
Sponsel LE. 1997. The human niche in Amazonia: Explorations in ethnoprimatology. In: Kinzey
WG, editor. New World primates. Ecology, evolution, and behavior. New York: Aldine de
Gruyter. p 143-165.
Stammbach E. 1987. Desert, forest and montane baboons: Multi-level societies. In: Smuts BB,
Cheney DL, Seyfarth RM, Wrangham RW, Struhsaker TT, editors. Primate Societies.
Chicago, University of Chicago Press. Stearns SC. 2000. Life history evolution: successes,
limitations, and prospects. Naturwissenschaften 87:476486
Stearns SC. 2000. Life history evolution: successes, limitations, and prospects.
Naturwissenschaften 87:476486
Sterck EHM. 1998. Female dispersal, social organization, and infanticide in langurs: Are they
linked to humandisturbance? Am J Primatol 44:235-254.
Sterck EHM. 1999. Variation in langur social organization in relation to the socioecological
model, human habitat alteration, and phylogenetic constraints. Primates 40:199-213.
Sterck EHM, Watts DP, van Schaik CP. 1997. The evolution of female social relationships in
nonhuman primates. Behav Ecol Sociobiol 41(5):291-309.
Stevenson PR. 2006. Activity and ranging patterns of Colombian woolly monkeys in north-
western Amazonia. Primates 47(3):239-247.
Stevenson PR, Quiones, Ahumada JA. 1994. Ecological strategies of woolly monkeys
(Lagotrhix lagotricha) at La Macarena, Colombia. Am J Primatol 32:123-140.
Stone AI. 2014. Is Fatter Sexier? Reproductive Strategies of Male Squirrel Monkeys (Saimiri
sciureus). Int J Primatol 35:628642.
174
Strier KB. 1992a. Causes and consequences of nonaggression in the woolly spider monkey, or
muriqui (Brachyteles arachnoides). En: Silverberg J, Gray JP, editores. Aggression and
Peacefulness in Humans and Other Primates. New York: Oxford University Press. p 100-
116.
Strier KB. 1994. Brotherhoods among atelins: Kinship, affiliation, and competition. Behaviour
130(3-4):151-167
Strier KB. 1994. Myth of the typical primate. Yearb Phys Anthropol 37: 233-271.
Strier KB. 1997. Mate preferences in wild muriqui monkeys (Brachyteles arachnoides):
reproductive and social correlates. Folia Primatol 68:120-133.
Strier KB. 2011. Primate Behavioral Ecology. Fourth edition. Boston: Allyn and Bacon.
Strier KB, Dib LT, Figueira JEC. 2002. Social dynamics of male muriquis (Brachyteles arachnoids
hypoxanthus). Behaviour 139:315-342.
Struhsaker TT. 1969. Correlates of ecology and social organization among African
cercopithecines. Folia Primatol 11:80-118.
Sueur C, Jacobs A, Amblard F, Petit O, King AJ. 2011. How can social network analysis improve
the study of primate behavior? Am J Primatol 73(8):703-719.
Suomi SJ. 1997. Early determinants of behaviour: evidence from primate studies. Br Med Bull
73:170184
Sussman RW. 2000. Primate ecology and social structure. Volume 2, New world monkeys.
Needham Heights (MA): Pearson Custom.
Sussman RW, Garber PA. 2004. Rethinking sociality: Cooperation and aggression among
primates. En: Sussman RW Chapman AR, editors. The Origins and Nature of Sociality. New
York: Aldine de Gruyter. p 161-190.
Sussman RW, Garber PA, Cheverud JM. 2005. The importance of cooperation and affiliation in
the evolution of primate sociality. Am J Phys Anthropol 128:84-97.
Sussman RW, Garber PA. 2011. Cooperation, collective action, and competition in primate
social interactions. En: Campbell CA, Fuentes A, MacKinnon K, Bearder S, Stumpf R,
editores. Primates in Perspective, 2nd Edition. Oxford: Oxford University Press. p 587-599.
Symington MM. 1990. Fission-fusion social organization in Ateles and Pan. Int J Primatol
11(1):47-61.
Symington MM.1988. Food competition and foraging party size in the black spider monkey
(Ateles paniscus chamek). Behaviour 105(1-2):117-134.
Takahata Y. 1982. Social relations between adult males and females of Japanese monkeys in
the Arashiyama B troop. Primates, 23: 1-23.
Taylor LH, Latham SM,Woolhouse EJ. 2001. Risk factors for human disease emergence. Philos
Trans R Soc Lond B Biol Sci 356:983989.
175
Terborgh J, Janson CH. 1986. The socioecology of primate groups. Annu Rev Ecol Syst 17:111-
135.
Tomasello M, Call J. 1997. Primate cognition. New York/Oxford: Oxford University Press.
Urbani B. 2005. The targeted monkey: a re-evaluation of predation on New World primates. J
Anthropol Sci 83: 89-109.
Urbani B. 2009. Spatial mapping in wild white-faced capuchin monkeys (Cebus capucinus).
Tesis doctoral. University of Illinois at Urbana-Champaign. EE.UU.
Urbani B. 2011. The Loci, the Pathway, the Network: C. R. Carpenter and the Origins of
Cognitive Field Research in Primatology. Histories in Anthropology Annual 7: 265-285.
Valeggia CR, Mendoza SP, Fernandez-Duque E, Mason WA, Lasley B. 1999. Reproductive
biology of female titi monkeys (Callicebus moloch) in captivity. Am J Primatol 47:183-195.
van Belle S. 2015. Endocrinology of Howler Monkeys: Review and Directions for Future
Research. En: Kowalewski M, Garber PA, Corts-Ortiz L, Urbani B, Youlatos D, editores.
Howler Monkeys: Adaptive Radiation, Systematics, and Morphology. New York: Springer
Press.
van Hooff, JARAM, van Schaik,CP. 1992. Cooperation in competition: The ecology of primate
bonds. En: Harcourt AH, de Waal FBM, editores. Coalitions and Alliances in Humans and
Other Animals. Oxford: Oxford University Press. p 357-389.
van Hooff JARAM, van Schaik CP. 1994. Male bonds: Affilliative relationships among nonhuman
primate males. Behaviour 130:309-337.
van Hooff, JARAM. 2000. Relationships among non-human primate males: A deductive
framework. En: Primate Males. Kappeler PM, editor. Cambridge: Cambridge University
Press. p 193-191.
van Noordwijk, MA, van Schaik, CP. 1988. Male careers in Sumatran long-tailed macaques
(Macaca fascicularis). Behaviour 107:24-43.
van Noordwijk MA, van Schaik CP. 2000. Reproductive patterns in eutherian mammals:
adaptations against infanticide? En: van Schaik CP, Janson CH, editores. Infanticide by
males and its implications. Cambridge: Cambridge University Press. p 322-360.
van Roosmalen MGM, Mittermeier RA, Fleagle JG. 1988. Diet of the northern bearded saki
(Chiropotes satanas chiropotes): A neotropical seed predator. Am J Primatol 14:11-35.
van Schaik CP. 1989. The ecology of social relationships amongst female primates. En: Standen
V, Foley RA, editores. Comparative Socioecology. The Behavioural Ecology of Humans and
Other Mammals. Oxford: Blackwell Scientific Publications. p 195-218.
van Schaik CP. 1996. Social evolution in primates: The role of ecological factors and male.
Behaviour 88: 9-31.
van Schaik CP, van Hooff JARAM. 1983. On the ultimate causes of primate social system.
Behaviour 85: 91-117.
van Schaik CP, Dunbar RIM. 1990. The evolution of monogamy in large primates: A new
hypothesis and some crucial tests. Behaviour 115(1-2):30-62.
176
van Schaik CP, van Noordwijk MA, Nunn CL. 1999. Sex and social evolution in primates. En: PC
Lee, editor. Comparative Primate Socio-ecology. Cambridge: Cambridge University Press.
p 204-240.
Veiga L, Barnett A, Ferrari S, Norconk M. 2013. Evolutionary Biology and Conservation of Titis,
Sakis and Uacaris. Cambridge: Cambridge University Press.
Vigilant L, Hofreiter M, Siedel, H, Boesch C. 2001 Paternity and relatedness in wild chimpanzee
communities. PNAS 98 (23):12890-12895.
Vitazkova SK, Wade SE. 2006. Parasites of free-ranging black howler monkeys (Alouatta pigra)
from Belize and Mexico. Am J Primatol 68:10891097
Vitazkova SK, Wade SE. 2007. Effects of ecology on the gastrointestinal parasites of Alouatta
pigra. Int J Primatol 28:13271343
Watts DP. 1992. Social relationships of immigrant and resident female mountain gorillas. Male-
female relationships. Am J Primatol 28: 159-182.
Watts DP. 1998. Coalitionary mate guarding by male chimpanzees at Ngogo, Kibale National.
Behav Ecol Sociobiol 44(1): 43-55.
Whiten A, Goodall J, McGrew WC, Nishida T, Reynolds V, Sugiyama Y, Tutin CEG, Wrangham
RW, Boesch C. 1999. Cultures in chimpanzees. Nature 399:682685.
Whiten A, van Schaik CP. 2007. The evolution of animal cultures and social intelligence. Phil
Trans R Soc B 362:603620.
Wolfe ND, Escalante AA, Karesh WB, Kilbourn A, Spielman A, Lal AA. 1998. Wild primate
populations in emerging infectious disease research: the missing link? Emerg Infect Dis
4:149158.
Wrangham RW. 1987. Evolution of social structure. En: Primate Societies. Smuts BB, Cheney
DL, Seyfarth RM, Wrangham RW, Struhsaker TT, editores. Chicago: University of Chicago
Press. p 282-296.
Wright PC. 1986. Ecological correlates of monogamy in Aotus and Callicebus. En: Else JG, Lee
PC, editores. Primate ecology and conservation, Volume 2. Cambridge: Cambridge
University Press. p 159-167.
Wright PC. 1989. The nocturnal primate niche in the New World. J Hum Evol 18(7):635-658.
Wright PC. 1994. The behavior and ecology of the owl monkey. En: Baer JF, Weller RE, Kakoma
I, editores. Aotus: the owl monkey. San Diego: Academic Press. p 97-112.
Wright PC, Erhart EM, Tecot S, Baden AL, Arrigo-Nelson SJ, Herrera J, Morelli TL, Blanco M,
Deppe A, Atsalis S, Johnson S, Ratelolahy F, Tan C, Zohdy S (2012) Long-term lemur
research at Centre Valbio, Ranomafana National Park, Madagascar. En: Kappeler PM,
177
Watts DP, editores. Long-term field studies of primates. New York: Springer Press. p 67-
100.
Wright S. 1951. The genetical structure of populations. Ann Eugen 15: 323-353.
Wright S. 1965. The interpretation of population structure by F-statistics with special regard to
systems of mating. Evolution 19:395-420.
Wright S. 1977. Evolution and the Genetics of Populations, Vol. 3. Experimental Results and
Evolutionary Deductions. University of Chicago Press, Chicago.
Wright S. 1978. Evolution and the Genetics of Populations, Vol. 4. Variability Within and
Among Natural Populations. University of Chicago Press, Chicago.
Zinner D, Deschner T. 2000. Sexual swellings in female hamadryas baboons after male take-
overs: "deceptive" swellings as a possible female counter-strategy against infanticide. Am
J Primatol 52(4):157-168.
Zunino GE. 1989. Hbitat, dieta y actividad del mono aullador negro (Alouatta caraya) en el
noreste de la Argentina. Boletn Primatolgico Latinoamericano 1(1): 74-97.
178
CAPTULO 7. ECOLOGIA REPRODUTIVA
HUMANA.
1. INTRODUO
O trabalho de pesquisa dos eclogos da reproduo nas ltimas duas dcadas tem sido
feito a partir do desenvolvimento de tcnicas de coleta, preservao e anlise de amostras
biolgicas. Tais avanos tm facilitado a coleta de amostras em escala populacional em uma
variedade de contextos fora do mbito hospitalar. Entre as tcnicas mais utilizadas para
monitorar a funo ovariana e testicular em campo, assim como para associar os resultados
reprodutivos ao estado nutricional e imunolgico, encontra-se a medio de biomarcadores
utilizando pequenas quantidades de saliva, urina e sangue, esta ltima preservada como gotas
secas em papel absorvente (Ellison, 1988; OConnor, Brindle et al., 2003; McDade, Williams et
al., 2007; Valeggia, 2007). Os resultados obtidos em grupos humanos de ecologias diversas
tm colocado em evidncia a existncia de uma variabilidade importante na funo
reprodutiva entre indivduos e entre populaes (Ellison & Lager, 1986; Ellison, Lipson et al.,
1993; Bentley, Vitzthum et al., 2000; Vitzthum, Spielvogel et al., 2000; Ellison, Bribiescas et al.,
179
2002; Vitzthum, Bentley et al., 2002; Nez de la Mora, Chatterton et al., 2007). A partir destes
dados empricos, foram geradas hipteses e pesquisas visando elucidar as relaes e
mecanismos subjacentes a estas variabilidades, usando para isto a teoria evolutiva como
referncia e a teoria da histria da vida como ferramenta.
A histria de vida de uma espcie refere-se ao repertrio tpico de eventos e aos traos
caractersticos do desenvolvimento, da reproduo, senescncia e mortalidade de tal espcie
(Hill & Hurtado, 1996). Por exemplo, os humanos se caracterizam por uma maturao
reprodutiva tardia, intervalos relativamente curtos entre nascimentos, um perodo ps-
reprodutivo longo, gravidezes em sua maioria nicas (um s feto), altricialidade secundria
(Portman, 1969) e tamanho corporal (estatura e peso) ao nascer relativamente maior que a de
outros primatas (Mace, 2000; Worthman & Kuzara, 2005).
Sob o mesmo paradigma terico no qual se baseia a ERH, a teoria da histria de vida
assume que tal repertrio de desenvolvimento e reproduo representa uma estratgia
adaptativa; ou seja, que os traos de cada espcie so ajustveis s condies ecolgicas locais
180
como maneira de aperfeioar o sucesso reprodutivo e, finalmente, a adequao (entendida
como a contribuio mdia que um indivduo com um gentipo ou fentipo especfico faz ao
conjunto gentico da gerao seguinte). Estes ajustes esto definidos pela norma de reao
prpria de cada espcie, a qual estabelece o padro de respostas fenotpicas possveis para um
determinado gentipo frente a condies ecolgicas distintas daquelas nas quais tal gentipo
evoluiu. Esta plasticidade fenotpica comumente envolve mecanismos epigenticos, e alm de
ser um atributo do gentipo, alvo dos distintos processos evolutivos, incluindo a deriva
gentica, a mutao e a seleo natural (Piglucci, 1998). De tal forma que, a norma de reao
(e os fentipos associados) no so adaptativos por natureza, e somente podem ser
adaptativos quando esto associados a uma reproduo diferencial favorvel em um contexto
determinado.
Tabela 1. Comparao entre a ERH e outras disciplinas que estudam a reproduo humana.
BIOMEDICINA DEMOGRAFIA ECOLOGIA REPRODUTIVA
HUMANA
Enfatiza a dicotomia entre Enfatiza os padres Busca entender as origens
normal vs. Patolgico para universais, no a e as causas da
explicar a variabilidade variabilidade variabilidade em padres
Implica principalmente Tenta medir e explicar os reprodutivos
populaes homogneas nveis de fertilidade em Se baseia em estudos com
em economias nvel populacional tamanhos de amostra
industrializadas Utiliza questionrios relativamente pequenos e
Se baseia em pesquisas retrospectivos de grande em uma variedade de
realizadas em contextos escala contextos ecolgicos
clnicos Frequentemente
incorpora desenhos
prospectivos, nos quais o
indivduo se converte em
unidade de anlise
Seus modelos assumem
que a variabilidade nos
padres reprodutivos
resulta de distintos
processos evolutivos,
entre eles a seleo
natural.
181
Dado que o tempo e energia disponveis so limitados, a destinao diferencial de
recursos s distintas funes vitais de um organismo (crescimento, acumulao de reservas,
manuteno e reproduo) resulta necessariamente em compromissos (trade-offs) fisiolgicos
que geram distintos custos/benefcios (Stearns, 1992) (Figura 2).
Alm disso, alguns traos da histria de vida esto atrelados de tal maneira que o efeito
em um limita ou constringe o segundo, como o caso da reproduo e o crescimento de um
organismo. Por exemplo, dados epidemiolgicos mostram que bebs de mes adolescentes
apresentam um risco maior de apresentar baixo peso/altura ao nascer que os bebs de
mulheres adultas, particularmente em condies desfavorveis (Scholl, Hediger et al., 1994;
Scholl, Hediger et al., 1995; Wallace, Aitken et al., 2004). A interpretao desta estratgia
reprodutiva desde a perspectiva da ERH pressupe a existncia de uma competio por
recursos limitados entre a me, ainda em crescimento, e o beb, em gestao. Do ponto de
vista da me, o uso dos recursos limitados tem maior impacto na sobrevivncia e no sucesso
reprodutivo futuro se investido em crescimento e manuteno de si mesma, do que se
investido em uma cria com baixas probabilidades de sobrevivncia.
182
Esse tipo de raciocnio uma amostra do enfoque que utilizado pelos eclogos da
reproduo em sua tarefa de analisar as diferentes estratgias de vida e seus respectivos
compromissos, explorar os possveis mecanismos fisiolgicos subjacentes (trade-offs) e
identificar as possveis interaes entre variveis sociais, ecolgicas e culturais que os afetam.
183
Desenho do estudo e mtodos: Trabalhou-se com um desenho longitudinal simples. Foi
recrutado um total de 70 mulheres Toba e seus infantes, os quais estavam, no comeo do
estudo, sob amamentao materna exclusiva. Foram feitas visitas mensais s mulheres
participantes, durante as quais foram realizadas medidas antropomtricas da me e do infante
e se registrou padres de lactao, atividade fsica e dieta. Tambm foram recolhidas amostras
de urina semanalmente at o momento em que as participantes indicassem que haviam tido
seu primeiro perodo menstrual ps-parto. As amostras de urina foram analisadas por meio de
ensaios imunoenzimticos para estimar os nveis de metablitos de estrgeno, progesterona,
cortisol e peptdeo C da insulina.
Resultados: A durao da amenorreia ps-parto no se correlaciona com nenhum parmetro
associado com a intensidade da lactao materna. Os resultados deste estudo mostram que o
retorno fertilidade ps-parto pode ser explicado, ao menos parcialmente, por diferenas no
gasto energtico individual de cada mulher. As mulheres Toba deste estudo reiniciaram seus
ciclos ovulatrios depois de um perodo de balano energtico positivo. Isso apoia a hiptese
da carga metablica relativa que postula que a durao da amenorreia ps-parto no depende
da intensidade da lactao em si, mas do estresse energtico que a lactao representa para a
me.
Relevncia: Alm de contribuir com uma melhor compreenso da biologia reprodutiva
feminina, esses resultados tambm contribuem para entender a dinmica de um dos fatores
determinantes do intervalo entre nascimentos em populaes de fertilidade natural.
* possvel visitar a pgina web do Programa de Ecologia Reprodutiva do Chaco Argentino em:
http://valeggia.wordpress.com/the-chaco-area-reproductive-ecology-program/
O ciclo ovariano descrito como bifsico: uma fase folicular, durante a qual os folculos
crescem no ovrio, seguida por uma fase ltea, durante a qual o sistema reprodutor se
prepara para a concepo e implantao (Figura 4). A ovulao, ou seja, a liberao de um
nico ovcito maduro do folculo o acontecimento que marca a transio de uma fase a
outra e se produz at a metade do ciclo. Pouco antes do comeo de cada ciclo, a glndula
pituitria (ou hipofisria), estimulada por hormnios liberadores de gonadotropinas (GnRH),
comea a secretar o hormnio folculo-estimulante (FSH) e hormnio luteinizante (LH). Estes
hormnios promovem o crescimento dos folculos ovarianos. medida que os folculos
crescem, comeam a secretar o estradiol (E), o qual retroalimenta a glndula pituitria e o
hipotlamo para inibir a liberao de mais FSH e LH. A concentrao de estradiol aumenta
quase exponencialmente durante a fase folicular, enquanto que os nveis de FSH e LH se
mantm baixos durante a maior parte desta fase. Aproximadamente um dia antes da
ovulao, h um brusco aumento de LH, o qual desencadeia a ovulao. Os nveis de LH e FSH
caem novamente para nveis basais e as clulas do folculo que ficam no ovrio depois da
185
ovulao do origem a uma glndula chamada corpo lteo, que secreta progesterona (P) em
grandes quantidades e, em menor quantidade, o estradiol. Este aumento ps-ovulatrio da
progesterona o que define a fase ltea. Se no ocorre a concepo, o corpo lteo se
desintegra e os nveis de progesterona e de estradiol caem abruptamente, o qual sinaliza o
comeo de um novo ciclo. Se ocorrer a concepo, o corpo lteo permanece ativo e os nveis
de progesterona e de estradiol aumentam substancialmente e proporcional concentrao de
gonadotropina corinica humana (hCG) secretada pelo embrio; ambos eventos so cruciais
para evitar a degenerao e perda do endomtrio e a preservao da gravidez em sua etapa
mais inicial.
186
Figura 4. Esquema das mudanas cclicas observadas nos (A) nveis de gonadotrofinas (LH e FSH), (B) folculo
ovariano, (C) estrgeno e progesterona, e (D) endomtrio uterino durante o ciclo menstrual normal. O dia 0
representa o primeiro dia de sangramento menstrual.
Nas mulheres, cada fase ou estado reprodutivo tem seu prprio perfil hormonal, o qual
possvel monitorar mediante o uso de tcnicas minimamente invasivas mencionadas
anteriormente. Exceto em meninas pr-pberes e em mulheres ps-menopusicas, nas quais
os nveis de hormnios ovarianos so acclicos e muito baixos (Figura 5), os ciclos ovarianos se
caracterizam por mudanas regulares e facilmente detectveis nas concentraes de
hormnios ovarianos. Esta caracterstica permite estabelecer o principio e o final da vida
187
reprodutiva das mulheres em nvel populacional, atravs da estimativa dos nveis de estradiol
e progesterona no sangue, na urina ou na saliva.
Figura 5. Representao esquemtica da variao nos nveis de estradiol e FSH (hormnio folculo-estimulante) ao
longo da vida da mulher.
Diferentemente dos homens, a vida reprodutiva feminina est delimitada pelos eventos
biolgicos que marcam o comeo e o final da capacidade de reproduo: a menarca e a
menopausa, respectivamente. Dentro desse perodo, a vida das mulheres est marcada por
eventos reprodutivos individuais, cada um tipicamente composto por uma gravidez seguida de
um perodo varivel de lactao. Apesar das distintas necessidades fisiolgicas de cada um
destes eventos, todos esto sob o controle do eixo HPO e suas interaes com outras funes
vitais. A seguir so descritas as principais caractersticas fisiolgicas e de desenvolvimento de
cada um dos eventos que definem a vida reprodutiva feminina.
188
a. MENARCA
Em quase todas as regies do mundo tem sido registradas uma tendncia secular a uma
menor idade da menarca, a qual coincide com melhoras nos padres de vida, em particular a
nutrio, o saneamento e o acesso sade (Parent, Teilmann et al., 2003). Alm das mudanas
histricas, a idade da menarca varia substancialmente em funo de fatores genticos e
influncias psicossociais associadas ao entorno familiar (Parent, Teilmann et al., 2003; Ellis &
Garber, 2000).
Vrios estudos de gmeos e familiares mostram uma forte associao gentica entre a
idade da menarca das mes e filhas, com estimativas de herdabilidade entre 0,57 e 0,82
(Anderson, Duffy et al., 2007; Morris, Jones et al., 2001; Dvornyk & Waqar-ul-Haq, 2012).
Apesar de ter um importante componente gentico, a idade da menarca uma caracterstica
bastante flexvel que responde a condies energticas e psicossociais durante a vida inicial
(este padro tpico diferente dos casos relacionados s patologias mdicas que requerem
ateno clnica). Por exemplo, mulheres com maior probabilidade de ter uma menarca precoce
189
so as com maior tamanho corporal (ndice de massa corprea, peso e altura) (Cooper, Kuh et
al., 1996); taxas de crescimento mais rpidas durante a infncia (dos Santos Silva, De Stavola et
al., 2002); posio socioeconmica mais alta na infncia (Wronka & Pawlinska Chamara
2005); conflito familiar e divrcio dos pais (Wierson, Long et al., 1993); presena de um
padrasto (Ellis & Garber, 2000); e a exposio a fatores de estresse, tais como guerra, pouco
antes da menarca (Prebeg & Bralic, 2000). Em contraste, um alto nvel de atividade fsica e um
baixo nvel de ingesto de nutrientes, seja por razes de cuidados na aparncia, atlticas ou de
subsistncia diria, possuem um efeito de atraso no aparecimento da primeira menstruao
(Moisan, Meyer et al., 1991; Ellison, 1994; Gluckman & Hanson, 2006).
190
Figura 6. Variao inter-populacional na funo ovariana (adaptado de Ellison et al., 1993).
Cada evento reprodutivo em uma mulher pode-se dividir em gestao, parto, lactao e
retomada dos ciclos menstruais. Estas etapas implicam em custos com relao ao tempo e
energia para a mulher. Em comparao com nossos parentes primatas mais prximos, os
bebs humanos nascem com mais tecido adiposo, maiores e mais pesados em relao ao
tamanho da me, o que faz com que os bebs humanos sejam mais onerosos de se produzir
(Kuzawa, 1998; Mace, 2000). Em comparao com outros mamferos de tamanho corporal
similar, os primatas da subordem Haplorrhini, tanto humanos como no humanos, possuem
longos perodos de gestao e lactao, alm de uma desacelerao do crescimento ps-natal
em relao ao perodo pr-natal (Dufour & Sauther, 2002).
Alm dos custos energticos diretos, a gestao tambm pode ser avaliada em termos
de sucesso reprodutivo ao longo da vida da mulher. Os compromissos energticos a curto e
longo prazo, associados a investimento reprodutivo durante a gravidez, do lugar a um conflito
de interesses entre a me e seus filhos, os quais somente compartilham a metade de seus
genes; o que pode beneficiar a me no necessariamente tem que ser vantajoso para os seus
filhos e vice-versa (Haig, 2008). Tais conflitos genticos entre mes e filhos tm sido invocados
no somente para o entendimento de certas alteraes gestacionais como a pr-eclampsia,
mas tambm para traar hipteses para explicar a evoluo da histria da vida humana (Haig,
2010).
192
Dados os altos custos energticos da gestao, existem mecanismos maternos, tanto
cognitivos como fisiolgicos, que modulam o investimento de acordo com o valor reprodutivo
potencial de cada evento (Wasse & Barash, 1983; Peacock, 1991). Alm dos mecanismos de
aborto espontneo precoce de fetos defeituosos ou anormais (Forbes, 1997; Baird, 2009), o
investimento na gestao varia em resposta s condies ecolgicas. Por exemplo, em
ambientes nos quais a condio da me se mostra comprometida, a probabilidade de
concepo menor (Bailey, Jenike et al., 1992; Vitzthum, Spielvogel et al., 2004) e os riscos de
perda precoce da gravidez (Nepomnaschy, Welch et al., 2006; Vitzthum, Thornburg et al.,
2009) e de parto prematuro (Pike, 2005) aumentam.
193
efeito do meio ambiente ecolgico e sociocultural nos padres reprodutivos de mulheres que,
como resultado de sua histria migratria, cresceram e se desenvolveram em condies
contrastantes.
Perguntas principais: A pergunta central desta pesquisa foi a seguinte: Qual a origem da
variabilidade inter- e intrapopulacional em nveis de esterides na fase reprodutiva? J em
1996, o Professor Peter Ellison da Universidade de Harvard, havia proposto, com base em
dados indiretos, que essa variabilidade poderia ser originria das condies energticas
experimentadas durante o desenvolvimento, as quais determinam o ritmo de crescimento e
amadurecimento, bem como os parmetros fisiolgicos operativos do eixo hipotalmico-
pituitrio-ovariano (Ellison, 1996); o presente estudo ps a prova de maneira emprica tal
hiptese (Nez-de la Mora et al., 2007).
Desenho do estudo e mtodos: Participaram deste estudo 227 mulheres migrantes de 19-39
anos de idade divididas em cinco grupos: 1) mulheres que nasceram e cresceram em
Bangladesh, mas migraram para Inglaterra quando adultas; 2) mulheres que nasceram e
cresceram em Bangladesh, mas migraram para Inglaterra antes da puberdade; 3) mulheres
cujos pais so de Bangladesh, mas que nasceram e cresceram na Inglaterra; 4) mulheres de
Bangladesh que nasceram e cresceram em Bangladesh; e finalmente 5) mulheres inglesas de
ascendncia europeia que nasceram e cresceram na Inglaterra. As participantes contriburam
com uma amostra diria de saliva durante um ciclo menstrual completo, responderam dois
questionrios sobre suas histrias migratrias e reprodutivas, sobre atividade fsica e dieta,
alm da coleta de dados antropomtricos. As amostras de saliva foram analisadas utilizando
ensaios imunoenzimticos para estimar os nveis de progesterona e estradiol.
Resultados: Os resultados mostram que as mulheres cuja infncia transcorreu em condies de
baixo gasto energtico, ingesto energtica estvel, baixos problemas imunolgicos e acesso a
servios de sade na Inglaterra, possuem nveis significativamente mais elevados de
progesterona que mulheres que se desenvolveram em condies menos favorveis em
Bangladesh.
Relevncia: Esta pesquisa demonstra que em mulheres, a infncia um perodo que serve,
entre outras coisas, para monitorar as condies do meio ambiente e modular a funo
reprodutiva de acordo com as projees para a vida adulta, a qual, por ltimo, permite
aperfeioar o esforo reprodutivo. Tal plasticidade, entretanto, pode gerar compromissos
(trade-offs) que afetem negativamente a sade na vida adulta, como por exemplo, um maior
risco de cnceres no sistema reprodutor associados a nveis altos de esteroides ovarianos.
194
d. LACTAO
195
Em nvel metablico e fisiolgico, a variao nos intervalos entre nascimentos depende
da durao da amenorreia associada lactao, um perodo inicial de anovulao e
subfertilidade subsequente causado pela supresso da funo ovariana. Independentemente
dos aspectos culturais que restringem a atividade sexual ps-parto (tabus), do ponto de vista
fisiolgico, o retorno fertilidade depois do parto est determinado, em grande parte, pela
dinmica da disponibilidade de energia materna, a qual est estreitamente vinculada com o
contexto ecolgico em que se produz a lactao (Ellison & Valeggia, 2003; Valeggia & Ellison,
2009).
e. MENOPAUSA
196
risco associados com a menopausa precoce que tem sua origem durante o incio da vida e o
desenvolvimento, tais como: o de no haver sido amamentada (Hardy & Kuh, 2002; Mishra,
Hardy et al., 2007), baixa estatura ao nascer e crescimento juvenil deficiente (Cresswell, Egger
et al., 1997; Hardy & Kuh, 2002), nvel socioeconmico adverso durante a infncia (Hardy &
Kuh, 2002; Mishra, Hardy et al., 2007) e haver experimentado o divrcio dos pais em idade
juvenil (Hardy & Kuh, 2005). Exceto o hbito de fumar (Parente, Faerstein et al., 2008) e a
nuliparidade (Cramer, Xu et al., 1995; Harlow & Signorello, 2000), ambos associados a uma
idade menor da menopausa, outras variveis como a posio socioeconmica, o estresse
psicossocial e a sade reprodutiva, tem demonstrado associaes pouco consistentes (ver Kok,
Onland-Moret et al., 2005; Mishra, Cooper et al., 2009).
O fato de que as mulheres podem viver vrias dcadas alm do trmino de sua idade
frtil um dos traos mais singulares da histria da vida humana. Sob uma perspectiva
evolutiva, tem sido sugerido que a origem da menopausa est relacionada ao benefcio (em
termos de sucesso reprodutivo) resultante da suspenso prematura da prpria reproduo
para redirigir o investimento do tempo e energia para os filhos (Madrigal & Melndez-Obando,
2008; Peccei, 1995; Peccei, 2001) e netos (Hill, 1993; Hawkes, OConnell et al., 1998;
Lahdenper, Lummaa et al., 2004; Shanley, Sear et al., 2007). H estudos indicando tambm
que a menopausa pode ser resultante da competio reprodutiva entre geraes a fim de
minimizar o perodo em que estas se sobrepem (Cant & Johnstone, 2008). Em contraste,
Ellison (2008) tem argumentado que a caracterstica no usual da histria da vida humana
relacionada com a menopausa se refere no ao fato de que esta ocorre, ou da idade com que
ocorre, mas ao fato de que, diferentemente de outros primatas de vida livre, os humanos
rotineiramente vivem vrios anos depois da menopausa. Por exemplo, a limitada evidncia
disponvel para populaes de chimpanzs e gorilas de vida livre mostra que, se uma minoria
197
da populao apresenta caractersticas menopusicas em termos fisiolgicos, a grande maioria
dos indivduos no experimenta a senescncia reprodutiva, pois morrem por outras causas
antes que isto ocorra (Alberts, 2013).
Historicamente, a ecologia reprodutiva masculina tem recebido menos ateno que sua
contraparte feminina. possvel que isto se deva ao fato que a estratgia reprodutiva
masculina seja concebida como mais simples e direta. Na maior parte das espcies de
mamferos, as fmeas arcam com os riscos e a maior parte dos custos energticos da gestao,
parto, amamentao e criao dos filhos. Em consequncia, o momento e as circunstncias
nas quais uma fmea concebe e d a luz so de importncia crtica para seu sucesso
reprodutivo. A estratgia reprodutiva dos machos, em contrapartida, est centrada em
otimizar o acesso sexual s fmeas. O investimento paterno na descendncia mnimo ou
nulo, exatamente o oposto ao observado nas fmeas. Adicionalmente, o investimento
energtico necessrio para a produo de smen e fluido seminal comparativamente menor.
Em consequncia, se assume que a fisiologia reprodutiva dos machos deve ser mais robusta e,
portanto, menos sensvel a seu estado energtico, de sade e s condies socioambientais.
Entretanto, h um nmero de espcies de mamferos incluindo a nossa, Homo sapiens, nas
quais os machos fazem um investimento importante em sua prognie, seja em seus filhos e
netos ou na prognie de suas irms (Holden, 2003). Nestas espcies, as estratgias
reprodutivas masculinas incluem comportamentos, metabolismo e uma responsividade do
eixo HPT sensveis s condies individuais e ao contexto socioambiental.
Por mais que nos Homo sapiens, como no resto dos mamferos, os machos compitam
entre si por acesso s parceiras, a competio entre indivduos no a nica estratgia
reprodutiva. Na maior parte dos contextos socioecolgicos humanos, as fmeas exercem certo
nvel de seleo sexual. Esta seleo se baseia, em parte, na qualidade fenotpica dos
candidatos, percebida pelas fmeas atravs de caractersticas sexuais secundrias (inteligncia
social e prtica, musculatura, altura, tom de voz, simetria corporal, entre outros). Alm de ser
um reflexo do potencial gentico, estas caractersticas permitem aos machos competir pelos
recursos crticos e desta forma, permitem s fmeas avaliarem o potencial reprodutivo e a
capacidade de cuidado e investimento paterno dos candidatos. O desenvolvimento destes
atributos requer uma quantidade importante de energia, pelo que se prediz que as estratgias
198
ontogenticas que um indivduo desenvolver, assim como suas estratgias reprodutivas
durante a vida adulta, estaro limitadas pela energia disponvel em perodos crticos da vida
(Bribiescas, 2001; Bribiescas, 2006). Durante a fase reprodutiva, o balano entre a destinao
de recursos para o funcionamento do eixo hipotalmico-pituitrio-testicular (HPT), e a dos
demais sistemas biolgicos implicados na reproduo (como os sistemas nervoso,
imunolgico, sseo e muscular) depender, em sua maioria, do balano energtico, do
contexto socioambiental e do momento da vida a qual se encontra um indivduo (Bribiescas,
2001).
b. PUBERDADE
199
padro de excreo de GnRH pulstil e do circuito de retroalimentao negativa do eixo HPT
(Campbell, 2006; Campbell et al., 2011).
200
c. VARIAO NA FUNO REPRODUTIVA MASCULINA DURANTE A ETAPA ADULTA
201
Figura 7. Variao inter-populacional nos nveis de testosterona em homens por grupo de idade (adaptado de
Ellison et al., 2002).
202
um desafio psicossocial como um encontro competitivo entre homens, tanto o eixo HPT
quanto o HPA se ativam simultaneamente, ao menos no incio, resultando em um aumento
importante nos nveis circulantes de cortisol e testosterona (Booth, Shelley et al., 1989;
Bernhardt, Dabbs et al., 1998; Mazur & Booth, 1998; Chichinadze & Chichinadze, 2008). Neste
caso, a mobilizao de energia promovida pela ativao do HPA utilizada pelos sistemas
nervoso e muscular na preparao para a competio, enquanto que o aumento em
testosterona facilita a conduta competitiva assim como o rendimento fsico e cognitivo (Booth,
Shelley et al., 1989; Berhardt, Dabbs et al., 1998; Mazur & Booth, 1998).
Outro aspecto importante da atividade do eixo HPT que este se modifica com a
situao marital e a paternidade. Vrios estudos indicam que os homens que se encontram em
uma relao de casal ou so pais de crianas pequenas, apresentam nveis circulantes de
testosterona menores que os de homens da mesma idade, solteiros e sem filhos (Burnham,
Chapman et al., 2003; Gray, 2003; Gray, Campbell et al., 2004; Gray, Yang et al., 2006; Gray,
Parkin et al., 2007; Getter, McDade et al., 2001). No contexto da teoria de histria de vida,
estas diferenas na atividade do eixo HPT so interpretadas como o resultado de uma
mudana de estratgia reprodutiva na qual os pais gastam a energia disponvel no cuidado
paterno em lugar da competio sexual por parceiras (Gray, 2010).
204
Em nvel populacional, h relatos de trade-offs entre funes vitais e outras
caractersitcas da histria de vida humana (Lumma, 2010). Entretanto, ao nvel individual, a
demonstrao dessas relaes tem sido muito mais complicada (Clancy, Klein et al., 2013). Os
avanos metodolgicos para a quantificao de biomarcadores associados s distintas funes
vitais que ocorreram em anos recentes apresentam um potencial de impulsionar a pesquisa
neste sentido (OConnor, Brindle et al., 2013; McDade, Williams et al, 2007; Valeggia, 2007;
Salvante, Brindle et al., 2012). O desafio pendente a integrao de novas tcnicas estatsticas
na anlise dos dados resultantes de tais estudos (Stearns, Byars et al., 2010).
Por ltimo, talvez um dos grandes desafios da ERH e de muitas outras disciplinas afins
refere-se s consequncias biolgicas e sociais das mudanas sem precedentes que
experimentam as populaes contemporneas em todo o mundo. Independentemente de
outros processos evolutivos como a deriva gentica e as alteraes aleatrias que ocorrem
simultaneamente, as rpidas mudanas econmicas, ecolgicas e culturais esto gerando
novos parmetros, presses de seleo e, como resultado, novos trade-offs que j se
evidenciam em algumas variveis da histria de vida humana (Kirk, Blomberg et al., 2001;
Byars, Ewbank et al., 2010; Courtiol, Rickard et al., 2013). O estudo da variabilidade nos
padres fisiolgicos, comportamentais e de histria de vida que ocorrem medida que os
humanos experimentam estes novos ambientes bioculturais mantero os eclogos da
reproduo humana ocupados por dcadas.
AGRADECIMENTOS
205
BIBLIOGRAFIA CITADA
Alberts, S.C., Altmann, J. et al.. (2013) Reproductive aging patterns in primates reveal that
humans are distinct. Proceedings of the National Academy of Sciences USA. 110(33):
13440-5.
Adams Hillard, P. J. (2008). Menstruation in adolescents: whats normal, whats not. Annals of
the New York Academy of Sciences 1135(29-35).
Anderson, C. A., Duffy, D. L., et al.. (2007). Estimation of variance components for age at
menarche in twin families. Behavioural Genetics 37(668-677).
Apter, D. (1980). Serum steroids and pituitary hormones in female puberty: a partly
longitudinal study. Clinical Endocrinology 12(2): 107-120.
Bagga, D., Ashley, J. M., et al.. (1995). Effects of a very low fat, high fiber diet on serum
hormones and menstrual function. Implications for breast cancer prevention. Cancer
76(12): 2491-2496.
Bailey, R. C., Jenike, M. R., et al.. (1992). The Ecology of Birth Seasonality Among
Agriculturalists in Central Africa. Journal of Biosocial Sciences 24: 393-412.
Baird, D. D. (2009). The gestational timing of pregnancy loss: adaptive strategy? American
Journal of Human Biology 21(6): 725-727.
Banks, T. and Dabbs, J. M., Jr. (1996). Salivary testosterone and cortisol in a delinquent and
violent urban subculture. Journal of Social Psychology 136(1): 49-56.
Bentley, G. R., Harrigan, A. M., et al.. (1993). Seasonal Effects on Salivary Testosterone Levels
Among Lese Males of the Ituri Forest, Zaire. American Journal of Human Biology 5: 711-
717.
Bentley, G. R., Harrigan, A. M., et al.. (1998). Dietary composition and ovarian function among
Lese horticulturalist women of the Ituri Forest, Democratic Republic of Congo. European
Journal of Clinical Nutrition 52(4): 261-270.
Bentley, G. R., Vitzthum, V. J., et al.. (2000). Salivary estradiol levels from conception and
nonconception cycles in rural Bolivian women. Human Biology Association Abstracts (HBA
Meetings): 279.
Bernhardt, P. C., Dabbs, J. M., Jr., et al.. (1998). Testosterone changes during vicarious
experiences of winning and losing among fans at sporting events. Physiology and Behavior
65(1): 59-62.
Bogin, B., Bragg, J., Kuzawa, C. (2014) Humans are not cooperative breeders but practice
biocultural reproduction. Annals of Human Biology 41(4): 368-80.
Bonzini, M., Coggon, D., et al.. (2007). Risk of prematurity, low birthweight and pre-eclampsia
in relation to working hours and physical activities: a systematic review. Occupational and
Environmental Medicine 64(4): 228-243.
206
Booth, A., Shelley, G., et al.. (1989). Testosterone, and winning and losing in human
competition. Hormones and Behavior 23(4): 556-571.
Bribiescas, R. G. (2001). Reproductive ecology and life history of the human male. American
Journal of Physical Anthropology Suppl 33: 148-176.
Bribiescas, R. G. (2001). Reproductive physiology of the human male. Reproductive Ecology and
Human Evolution. P. Ellison. New York, Aldine de Gruyter: 106-133.
Bribiescas, R. G. (2006). Men: Evolutionary and life history. Cambridge, MA, Harvard University
Press.
Bribiescas, R. G. (2006). On the Evolution, Life History, and Proximate Mechanisms of Human
Male Reproductive Senescence. Evolutionary Anthropology 15.
Brooks, S., Nevill, M. E., et al.. (1990). The hormonal responses to repetitive brief maximal
exercise in humans. European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology
60(2): 144-148.
Burnham, T. C., Chapman, J. F., et al.. (2003). Men in committed, romantic relationships have
lower testosterone. Hormones and Behavior 44(2): 119-122.
Byars, S. G., Ewbank, D., et al.. (2010). Colloquium papers: Natural selection in a contemporary
human population. Proceedings of the National Academy of Sciences USA 107 Suppl 1:
1787-1792.
Campbell, B. C. (2006). Adrenarche and the evolution of human life history. American Journal
of Human Biology 18(5): 569-589.
Campbell, B. C. (2011). Adrenarche and middle childhood. Human Nature 22(3): 327-349.
Campbell, B. C., Gillett-Netting, R., et al.. (2004). Timing of reproductive maturation in rural
versus urban Tonga boys, Zambia. Annals of Human Biology 31(2): 213-227.
Campbell, B. C., Leslie, P., et al.. (2005). Pubertal Timing, Hormones, and Body Composition
Among Adolescent Turkana Males. American Journal of Physical Anthropology 128: 896-
905.
Cooper, C., Kuh, D., et al.. (1996). Childhood growth and age at menarche. British Journal of
Obstetrics and Gynaecology 103(8): 814-817.
Courtiol, A., Rickard, I. J., et al.. (2013). The Demographic Transition Influences Variance in
Fitness and Selection on Height and BMI in Rural Gambia. Current Biology 23(10): 884-
889.
Coviello, A. D., Haring, R., et al.. (2012). A genome-wide association meta-analysis of circulating
sex hormone-binding globulin reveals multiple Loci implicated in sex steroid hormone
regulation. PLoS Genetics 8(7): e1002805.
Cramer, D. W., Xu, H., et al.. (1995). Does "incessant" ovulation increase risk for early
menopause? American Journal of Obstetrics and Gynecology 172(2 Pt 1): 568-573.
Cresswell, J. L., Egger, P., et al.. (1997). Is the age of menopause determined in-utero? Early
Human Development 49(2): 143-148.
Dabbs, J. M., Jr., Frady, R. L., et al.. (1987). Saliva testosterone and criminal violence in young
adult prison inmates. Psychosomatic Medicine 49(2): 174-182.
de Bruin, J. P., Bovenhuis, H., et al.. (2001). The role of genetic factors in age at natural
menopause. Human Reproduction 16(9): 2014-2018.
dos Santos Silva, I., De Stavola, B. L., et al.. (2002). Prenatal factors, childhood growth
trajectories and age at menarche. International Journal of Epidemiology 31(2): 405-412.
Dunsworth, H. M., Warrener, A. G., et al.. (2012). Metabolic hypothesis for human altriciality.
Proceedings of the National Academy of Sciences USA 109(38): 15212-15216.
Eaton, S. B., Pike, M. C., et al.. (1994). Women's reproductive cancers in evolutionary context.
The Quarterly Review of Biology 69(3): 353-367.
Edozien, L. C. (2006). Mind over matter: psychological factors and the menstrual cycle. Current
Opinion in Obstetrics and Gynecology 18(4): 452-456.
Ellis, B. J. and Garber, J. (2000). Psychosocial antecedents of variation in girls' pubertal timing:
maternal depression, stepfather presence, and marital and family stress. Child
Development 71(2): 485-501.
Ellison, P. T. (1990). Human Ovarian Function and Reproductive Ecology: New Hypotheses.
American Anthropologist 92: 933-952.
208
Ellison, P. T. (1993). Measurements of salivary progesterone. Annals of the New York Academy
of Sciences 694: 161-176.
Ellison P. T., Lipson S. F., O'Rourke M. T., Bentley G. R., Harrigan A.M., Panter-Brick C., and
Vitzthum V.J. (1993). Population variation in ovarian function. Lancet 342(8868): 433-434.
Ellison, P. T. (1994). Salivary steroids and natural variation in human ovarian function. Annals
of the New York Academy of Sciences 709: 287-298.
Ellison, P. T. (2003). Energetics and reproductive effort. American Journal of Human Biology
15(3): 342-351.
Ellison, P. T. (2006). En tierra frtil: historia natural de la reproduccin humana. Espaa, Fondo
de cultura econmica.
Ellison, P. T., Bribiescas, R. G., et al.. (2002). Population variation in age-related decline in male
salivary testosterone. Human Reprodruction 17(12): 3251-3253.
Ellison, P. T. and Jasienska, G. (2007). Constraint, Pathology, and Adaptation: How Can We Tell
Them Apart? American Journal of Human Biology 19: 622-630.
Ellison, P. T. and Lager, C. (1986). Moderate recreational running is associated with lowered
salivary progesterone profiles in women. American Journal of Obstetrics and Gynecology
154(5): 1000-1003.
Ellison, P. T., Lipson, S. F., et al.. (1993). Population variation in ovarian function. Lancet
342(8868): 433-434.
Ellison, P. T. and Panter-Brick, C. (1996). Salivary testosterone levels among Tamang and Kami
males of central Nepal. Human Biology 68: 955-965.
Ellison, P. T., Panter-Brick, C., et al.. (1993). The Ecological Context of Human Ovarian Function.
Human Reproduction 8(12): 2248-2258.
Ellison, P. T. and Valeggia, C. R. (2003). C-peptide levels and the duration of lactational
amenorrhea. Fertility and Sterility 80(5): 1279-1280.
Forsum, E. and Lf, M. (2007). Energy metabolism during human pregnancy. Annual Review of
Nutrition 27(277-292).
209
Gettler, L. T., McDade, T. W., et al.. (2011). Longitudinal evidence that fatherhood decreases
testosterone in human males. Proceedings of the National Academy of Sciences USA
108(39): 16194-16199.
Gold, E. B., Bromberger, J., et al.. (2001). Factors associated with age at natural menopause in
a multiethnic sample of midlife women. American Journal of Epidemiology 153(9): 865-
874.
Gomez-Merino, D., Chennaoui, M., et al.. (2003). Immune and hormonal changes following
intense military training. Military Medicine 168(12): 1034-1038.
Goto, K., Shioda, K., et al.. (2013). Effect of 2 days of intensive resistance training on appetite-
related hormone and anabolic hormone responses. Clinical Physiological and Functional
Imaging 33(2): 131-136.
Gray, P. B. (2003). Marriage, parenting, and testosterone variation among Kenyan Swahili men.
American Journal of Physical Anthropology 122(3): 279-286.
Gray, P. B. (2010). The Evolution and Endocrinology of Human Behavior: a Focus on Sex
Differences and Reproduction. Human Evolutionary Biology. M. G. Muehlenbein.
Cambridge, UK, Cambridge University Press: 277-292.
Gray, P. B., Campbell, B. C., et al.. (2004). Social variables predict between-subject but not day-
to-day variation in the testosterone of US men. Psychoneuroendocrinology 29(9): 1153-
1162.
Gray, P. B., Parkin, J. C., et al.. (2007). Hormonal correlates of human paternal interactions: a
hospital based investigation in urban Jamaica. Hormones and Behavior 52(4): 499-507.
Gray, P. B., Yang, C. F., et al.. (2006). Fathers have lower salivary testosterone levels than
unmarried men and married non-fathers in Beijing, China. Proceedings. Biological Sciences
273(1584): 333-339.
Hardy, M. P., Gao, H. B., et al.. (2005). Stress hormone and male reproductive function. Cell
Tissue Research 322(1): 147-153.
Hardy, R. and Kuh, D. (2002). Does early growth influence timing of the menopause? Evidence
from a British birth cohort. Human Reproduction 17(9): 2474-2479.
Hardy, R. and Kuh, D. (2005). Social and environmental conditions across the life course and
age at menopause in a British birth cohort study. British Journal of Obstetrics and
Gynaecology 112(3): 346-354.
210
Harlow, B. L. and Signorello, L. B. (2000). Factors associated with early menopause. Maturitas
35(1): 3-9.
Hawkes, K., O'Connell, J. F., et al.. (1998). Grandmothering, menopause, and the evolution of
human life histories. Proceedings of the National Academy of Sciences USA 95(3): 1336-
1339.
Hill, K. and Kaplan, H. (1999). Life history traits in humans: theory and empirical studies.
Annual Review of Anthropology 28: 397-430.
Hill, K. R. (1993). Life History and Evolutionary Anthropology. Evolutionary Anthropology 2(3):
78-88.
Hill, K. R. and Hurtado, A. M. (1996). Ache Life History: The Ecology and Demography of a
Foraging People. New York, Aldine de Gruyter.
Holden, C. J., Sear, R. and Mace, R (2003) Matriliny as daughter-biased investment. Evolution
and Human Behavior 24: 99-112
Hu, G. X., Lian, Q. Q., et al.. (2008). Rapid mechanisms of glucocorticoid signaling in the Leydig
cell. Steroids 73(9-10): 1018-1024.
Iversen, A., Thune, I., et al.. (2012). Genetic polymorphism CYP17 rs2486758 and metabolic risk
factors predict daily salivary 17beta-estradiol concentration in healthy premenopausal
Norwegian women. The EBBA-I study. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism
97(5): E852-857.
Jasienska, G. and Ellison, P. T. (1998). Physical work causes suppression of ovarian function in
women. Proceedings. Biological Sciences 265(1408): 1847-1851.
Jasienska, G. and Ellison, P. T. (2004). Energetic Factors and Seasonal Changes in Ovarian
Function in Women from Rural Poland. American Journal of Human Biology 16: 563-580.
Jasienska, G., Kapiszewska, M., et al.. (2006). CYP17 genotypes differ in salivary 17-beta
estradiol levels: a study based on hormonal profiles from entire menstrual cycles. Cancer
Epidemiol Biomarkers Prev 15(11): 2131-2135.
Jasienska, G., Thune, I., et al.. (2006). Fatness at birth predicts adult susceptibility to ovarian
suppression: an empirical test of the Predictive Adaptive Response hypothesis.
Proceedings of the National Academy of Sciences USA 103(34): 12759-12762.
Jasienska, G., Ziomkiewicz, A., et al.. (2006). High ponderal index at birth predicts high estradiol
levels in adult women. American Journal of Human Biology 18(1): 133-140.
Kidd, S. A., Eskenazi, B., et al.. (2001). Effects of male age on semen quality and fertility: a
review of the literature. Fertility and Sterility 75(2): 237-248.
211
Kirk, K. M., Blomberg, S. P., et al.. (2001). Natural selection and quantitative genetics of life-
history traits in Western women: a twin study. Evolution 55(2): 423-435.
Kok, H. S., Onland-Moret, N. C., et al.. (2005). No association of estrogen receptor alpha and
cytochrome P450c17alpha polymorphisms with age at menopause in a Dutch cohort.
Human Reproduction 20(2): 536-542.
Kuh, D. and Hardy, R., Eds. (2002). A Life Course Approach to Womens Health. Oxford, UK,
Oxford University Press.
Lahdenpera, M., Lummaa, V., et al.. (2004). Menopause: why does fertility end before life?
Climacteric 7(4): 327-331; discussion 331-322.
Lipson, S. F. and Ellison, P. T. (1992). Normative Study of Age Variation in Salivary Progesterone
Profiles. Journal of Biosocial Sciences 24: 233-244.
Lummaa, V. (2010). The costs of reproduction. Homo Novus - A Human without Illusions. U. J.
Frey, C. Strmer and K. P. Willfhr, Springer.
MacDonald, A. A., Herbison, G. P., et al.. (2010). The impact of body mass index on semen
parameters and reproductive hormones in human males: a systematic review with meta-
analysis. Human Reproduction Update 16(3): 293-311.
Mace, R. (2000). Evolutionary ecology of human life history. Animal Behaviour 59(1): 1-10.
Magid, K. S. (2011). Reproductive ecology and life history of human males: a migrant study of
Bangladeshi men. Anthropology. London, University College London. Doctoral
dissertation.
Mazur, A. and Booth, A. (1998). Testosterone and dominance in men. Behavioral Brain
Sciences 21(3): 353-363; discussion 363-397.
McDade, T. W., Williams, S., et al.. (2007). What a drop can do: dried blood spots as a
minimally invasive method for integrating biomarkers into population-based research.
Demography 44(4): 899-925.
Melby, M. K., Lock, M., et al.. (2005). Culture and symptom reporting at menopause. Human
Reproduction Update 11(5): 495-512.
Menezes, E. V., Yakoob, M. Y., et al.. (2009). Reducing stillbirths: prevention and management
of medical disorders and infections during pregnancy. BMC Pregnancy Childbirth 9 Suppl
1: S4.
Mishra, G., Hardy, R., et al.. (2007). Are the effects of risk factors for timing of menopause
modified by age? Results from a British birth cohort study. Menopause 14(4): 717-724.
212
Mishra, G. D., Cooper, R., et al.. (2009). Early life circumstances and their impact on menarche
and menopause. Womens Health (Lond Engl) 5(2): 175-190.
Moisan, J., Meyer, F., et al.. (1991). Leisure physical activity and age at menarche. Medical
Science Sports Exercise 23(10): 1170-1175.
Moore, L. G., Charles, S. M., et al.. (2011). Humans at high altitude: hypoxia and fetal growth.
Respiratory Physiology and Neurobiology 178(1): 181-190.
Morris, D. H., Jones, M. E., et al.. (2011). Familial concordance for age at menarche: analyses
from the Breakthrough Generations Study. Paediatric and Perinatal Epidemiology 25: 306-
311.
Morris, F. L., Payne, W. R., et al.. (1999). Prospective decrease in progesterone concentrations
in female lightweight rowers during the competition season compared with the off
season: a controlled study examining weight loss and intensive exercise. British Journal of
Sports Medicine 33(6): 417-422.
Muehlenbein, M. P., Hirschtick, J. L., et al.. (2010). Toward quantifying the usage costs of
human immunity: Altered metabolic rates and hormone levels during acute immune
activation in men. American Journal of Human Biology 22(4): 546-556.
Nepomnaschy, P. A., Welch, K. B., et al.. (2006). Cortisol levels and very early pregnancy loss in
humans. Proceedings of the National Academy of Sciences USA 103(10): 3938-3942.
Nuez-De La Mora, A., Bentley, G. R., et al.. (2008). The impact of developmental conditions on
adult salivary estradiol levels: why this differs from progesterone? American Journal of
Human Biology 20(1): 2-14.
Nuez-de la Mora, A., Chatterton, R. T., et al.. (2007). Childhood conditions influence adult
progesterone levels. PLoS Medicine 4(5): e167-e190.
O'Connor, K. A., Brindle, E., et al.. (2003). Urinary estrone conjugate and pregnanediol 3-
glucuronide enzyme immunoassays for population research. Clinical Chemistry 49(7):
1139-1148.
Ong, K. K., Bann, D., et al.. (2012). Timing of voice breaking in males associated with growth
and weight gain across the life course. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism
97(8): 2844-2852.
Opstad, P. K. (1992). Androgenic hormones during prolonged physical stress, sleep, and energy
deficiency. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism 74(5): 1176-1183.
213
Panter-Brick, C. (1993). Seasonality of energy expenditure during pregnancy and lactation for
rural Nepali women. American Journal of Clinical Nutrition 57(5): 620-628.
Panter-Brick, C., Todd, A., et al.. (1996). Growth status of homeless Nepali boys: do they differ
from rural and urban controls? Social Science and Medicine 43(4): 441-451.
Parent, A. S., Teilmann, G., et al.. (2003). The timing of normal puberty and the age limits of
sexual precocity: Variations around the world, secular trends, and changes after
migration. Endocrine Reviews 24: 668-693.
Parente, R. C., Faerstein, E., et al.. (2008). The relationship between smoking and age at the
menopause: A systematic review. Maturitas 61(4): 287-298.
Peacock, J. L., Bland, J. M., et al.. (1995). Preterm delivery: effects of socioeconomic factors,
psychological stress, smoking, alcohol, and caffeine. British Medical Journal 311: 531-535.
Peacock, N. R. (1991). Rethinking the Sexual Division of Labor: Reproduction and Women's
Work among the Efe. Gender at the Crossroads of Knowledge: Feminist Anthropology in
the Postmodern Era. N. R. Peacock. Berkeley, University of California press: 339-360.
Peccei, J. S. (1995). A hypothesis for the origin and evolution of menopause. Maturitas 21(2):
83-89.
Peccei, J. S. (2001). A critique of the grandmother hypotheses: old and new. American Journal
of Human Biology 13(4): 434-452.
Pike, I. L. (2001). The evolutionary and ecological context of human pregnancy. Reproductive
Ecology and Human Evolution. P. T. Ellison. New Brunswick, Aldine Transactions: 39-58.
Pike, I. L. (2005). Maternal stress and fetal responses: Evolutionary perspectives on preterm
delivery. American Journal of Human Biology 17(1): 55-65.
Pirke, K. M., Wurmser, H., et al.. (1999). Early pubertal development and overweight in girls.
Annals of the New York Academy of Sciences 892: 327-329.
Portmann, A. (1969). Biologische Fragmente zu einer Lehre vom Menschen [A Zoologist Looks
at Humankind] (Schwabe, Basel, Germany); trans Schaefer J (1990) (Columbia University
Press, New York).
Pozo J, Argente J. (2002) Delayed puberty in chronic illness. Best Pract Res Clin Endocrinol
Metab 16(1):73-90.
Prebeg, Z. and Bralic, I. (2000). Changes in menarcheal age in girls exposed to war conditions.
American Journal of Human Biology 12(4): 503-508.
Prentice, A. M., Cole, T. J., et al.. (1987). Increased birthweight after prenatal dietary
supplementation of rural African women. American Journal of Clinical Nutrition 46: 912-
925.
214
Prentice, A. M. and Goldberg, G. R. (2000). Energy adaptations in human pregnancy: limits and
long-term consequences. American Journal of Clinical Nutrition 71(Supl): S1226-1232.
Prentice, A. M. and Prentice, A. (1988). Energy costs of lactation. Annual Review of Nutrition 8:
63-79.
Rayco-Solon, P., Fulford, A. J., et al.. (2005). Maternal preconceptional weight and gestational
length. American Journal of Obstetrics and Gynecology 192(4): 1133-1136.
Rey, R. A., Musse, M., et al.. (2009). Ontogeny of the androgen receptor expression in the fetal
and postnatal testis: its relevance on Sertoli cell maturation and the onset of adult
spermatogenesis. Microscopy Research Techniques 72(11): 787-795.
Roshni, R. P., Steer, P., et al.. (2004). Does gestation vary by ethnic group? A London-based
study of over 122 000 pregnancies with spontaneous onset of labour International Journal
of Epidemiology 33(1): 107-113.
Salvante, K. G., Brindle, E., et al.. (2012). Validation of a new multiplex assay against individual
immunoassays for the quantification of reproductive, stress, and energetic metabolism
biomarkers in urine specimens. American Journal of Human Biology 24(1): 81-86.
Schantz-Dunn, J. and Nour, N. M. (2009). Malaria and pregnancy: a global health perspective.
Reviews in Obstetrics and Gynecology 2(3): 186-192.
Scholl, T., Hediger, M., et al.. (1995). Maternal growth during adolescent pregnancy. Journal of
the American Medical Association 274(1): 26-27.
Scholl, T., Hediger, M., et al.. (1994). Maternal growth during pregnancy and the competition
for nutrients. American Journal of Clinical Nutrition 60: 183-188.
Schweiger, U., Laessle, R., et al.. (1987). Diet-induced menstrual irregularities: effects of age
and weight loss. Fertility and Sterility 48(5): 746-751.
Sellen, D. W. (2007). Evolution of infant and young child feeding: implications for
contemporary public health. Annual Review of Nutrition 27(123-148).
Shanley, D. P., Sear, R., et al.. (2007). Testing evolutionary theories of menopause.
Proceedings. Biological Sciences 274(1628): 2943-2949.
Shiono, P. H., Klebanoff, M. A., et al.. (1986). Smoking and drinking during pregnancy. Their
effects on preterm birth. Journal of the American Medical Association 255(1): 82-84.
215
Sowers, M. R. and La Pietra, M. T. (1995). Menopause: its epidemiology and potential
association with chronic diseases. Epidemiological Reviews 17(2): 287-302.
Stearns, S. C. (1992). The Evolution of Life Histories. Oxford, Oxford University Press.
Stearns, S. C., Byars, S. G., et al.. (2010). Measuring selection in contemporary human
populations. Nature Reviews Genetics 11(9): 611-622.
Stearns, S. C., Nesse, R. M., et al.. (2010). Evolution in health and medicine Sackler colloquium:
Evolutionary perspectives on health and medicine. Proceedings of the National Academy
of Sciences USA 107 Suppl 1: 1691-1695.
Te Velde, E. R., Dorland, M., et al.. (1998). Age at menopause as a marker of reproductive
ageing. Maturitas 30(2): 119-125.
Torgerson, D. J., Thomas, R. E., et al.. (1997). Alcohol consumption and age of maternal
menopause are associated with menopause onset. Maturitas 26(1): 21-25.
Valeggia, C. (2007). Taking the lab to the field: Minimally invasive techniques for monitoring
reproductive hormones in population-scale research. Population Development Review
33(3): 525-542.
Valeggia, C., Elwarch, C. L., and Ellison, P.T. (2009) Testosterone, aging, and seasonality among
Toba men of northern Argentina. American Journal of Physical Anthropology Suppl. 48:
259.
Vitzthum, V. J., Bentley, G. R., et al.. (2002). Salivary progesterone levels and rate of ovulation
are significantly lower in poorer than in better-off urban-dwelling Bolivian women. Human
Reproduction 17(7): 1906-1913.
Vitzthum, V. J., Spielvogel, H., et al.. (2000). Menstrual patterns and fecundity among non-
lactating and lactating cycling women in rural highland Bolivia: implications for
contraceptive choice. Contraception 62(4): 181-187.
216
Vitzthum, V. J., Thornburg, J., et al.. (2009). Seasonal modulation of reproductive effort during
early pregnancy in humans. American Journal of Human Biology 21(4): 548-558.
Wallace, J. M., Aitken, R. P., et al.. (2004). Nutritionally mediated placental growth restriction
in the growing adolescent: consequences for the fetus. Biology of Reproduction 71(4):
1055-1062.
Wallis, M. C., Waters, P. D., et al.. (2008). Sex determination in mammals--before and after the
evolution of SRY. Cellular and Molecular Life Sciences 65(20): 3182-3195.
Wierson, M., Long, P. J., et al.. (1993). Toward a new understanding of early menarche: the
role of environmental stress in pubertal timing. Adolescence 28(112): 913-924.
Winkvist, A., Rasmussen, K. M., et al.. (1992). A new definition of maternal depletion
syndrome. American Journal of Public Health 82(5): 691-694.
Worthman, C. M. and Kuzara, J. (2005). Life history and the early origins of health differentials.
American Journal of Human Biology 17(1): 95-112.
Xita, N. and Tsatsoulis, A. (2010). Genetic variants of sex hormone-binding globulin and their
biological consequences. Molecular and Cellular Endocrinology 316(1): 60-65.
Zemel, B., Worthman, C. M., et al.. (1993). Differences in endocrine status associated with
urban-rural patterns of growth and maturation in Bundi (Gende-speaking) adolescents of
Papua New Guinea. Urban Ecology and Health in the Third World. L. M. Schell, M. T. Smith
and A. Bilsborough. Cambridge, Cambridge University Press: 39-60.
217
CAPTULO 8. OSTEOLOGIA ANTROPOLGICA.
CONHECENDO A BIOLOGIA ESQUELTICA A
PARTIR DA ANTROPOLOGIA.
1. INTRODUO
218
homens e mulheres que nasceram, tiveram uma histria de vida, que se reproduziram e
morreram, e o estudo dos seus restos deve ser feito com o entendimento de que no so
apenas ossos, no so somente esqueletos e dentes, representam os indivduos que formaram
parte de uma populao que no existe mais.
O objetivo desse captulo apresentar a forma com que um antroplogo fsico responde
a algumas perguntas fundamentais sobre a pessoa cujo esqueleto e os dentes so analisados;
isto , a partir de um estudo inteligente e detalhado, mediante um treinamento bsico, e
usando as tcnicas e mtodos de anlises adequados, conseguir obter dos ossos, histrias de
vida. Por exemplo, o antroplogo fsico capacitado em tcnicas osteolgicas o especialista
que pode saber se os restos sseos pertencem a um homem ou a uma mulher, a idade que
tinha ao morrer, sua estatura e principais traos fsicos, alm de caracterizar o grupo biolgico
ao qual pertencia; um exemplo de como a osteologia responde a essas perguntas pode ser
consultado no trabalho de Hubbe & colaboradores (2011) sobre a populao pr-histrica do
Deserto do Atacama, ou tambm o trabalho de Jos Vicente Rodrguez (2011) sobre os antigos
Chibchas da Colmbia. Os estudos de sade em populaes antigas tratam de responder
perguntas, tais como: quais enfermidades estavam presentes e que deixaram marcas em seus
ossos e dentes?, qual era seu estado geral de sade e nutrio? O trabalho de Tania Delabarde
(2010) responde de maneira clara e simples a estas perguntas relacionadas com a sade dos
antigos habitantes do Equador. A reconstruo dos perfis de mortalidade e da composio de
uma populao realizada a partir da metodologia osteolgica, auxiliada por princpios bsicos
da demografia: morrem mais homens ou mulheres? Qual a expectativa de vida ao
nascimento? Qual a proporo homens/mulheres? Essas so algumas perguntas importantes
para entender a dinmica demogrfica das populaes do passado; o trabalho de Merlo &
colaboradores (2005) pode ilustrar amplamente este tema. As modificaes de tipo cultural
que podemos apreciar em alguns esqueletos, tais como a modificao ceflica e desgaste
dental intencional, outro tema bastante interessante para o estudioso de populaes
antigas. Estas prticas culturais que modificavam alguma parte do corpo ou dos dentes esto
presentes tanto na Mesoamrica como na Amrica do Sul, com variantes de carter regional;
existem duas obras clssicas gerais: para o caso mesoamericano a obra de Javier Romero
(1958) e para a Amrica do Sul a de Pedro Weiss (1958), ainda hoje as melhores obras gerais
de consulta sobre o tema.
Desde j, importante esclarecer por qual motivo e como ocorreram tais eventos, pois
se trata de devolver ao osso uma parte ativa da funo e vida que possuiu algum momento.
219
2. CONHECENDO O ESQUELETO HUMANO
220
Cucina (2011) para ampliar alguns aspectos deste tema, ainda existe neste livro um captulo
especfico sobra Antropologia Dental.
a. A IDENTIFICAO DO SEXO
221
Figura 1. O esqueleto humano (http://anatomiadeloshuesos.galeon.com/).
222
b. A ESTIMATIVA DA IDADE MORTE
Em estudos osteolgicos, a estimativa da idade outro dado importante e que faz parte
do processo de identificao humana. As tcnicas para estimar esse parmetro diferem
quando se aplica em subadultos ou a adultos.
Tabela 1: Viso geral do dimorfismo sexual no crnio, sacro e ilaco. Fonte: elaborao prpria.
ii. EM ADULTOS
223
o que se avalia o grau de desgaste presente na coluna vertebral e nas grandes articulaes,
como a coxofemoral, a sacroilaca e a mero-ulnar (Figura 2). As anlises destes processos
degenerativos deve ser feita considerando o sexo, a intensidade das leses e se elas se
apresentam de forma bilateral, j que h desgastes associados com a atividade ocupacional
que o indivduo desenvolveu em vida, ou com um estado patolgico que impedir a apreciao
correta das mudanas por idade. Dadas estas limitaes, existem outras propostas baseadas
no grau de desgaste dental, no aplicveis para o caso das populaes com um modo de
subsistncia caador-coletor, j que o desgaste dental provocado pelos componentes da sua
dieta oferecem uma falsa imagem sobre a idade do indivduo. Favor revisar os trabalhos de
Rodrquez (2010) e de Tomasto (2009), assim como o captulo sobre Antropologia Dental deste
livro.
Figura 2. Esquerda: Superfcie articular de uma mulher com idade avanada (Coleo Palenque 1993, fotografia
Hernndez Mrquez); Direita: Superfcie auricular de um homem de 70 anos (Coleo de Terry para ilustrar as
modificaes pela idade nesta articulao segundo a proposta de Meindl et al., 1985, cortesia Dr. Richard Meindl).
224
Box 1. A morfometria clssica e a morfologia geomtrica.
a) A tcnica osteomtrica:
Nas tcnicas de morfometria clssica, h uma ferramenta muito til para conhecer as
caractersticas fsicas dos indivduos que formaram as populaes do passado, a partir da
reconstruo das suas dimenses esquelticas. A tcnica osteomtrica baseia-se na localizao
de pontos discretos (chamados pontos osteomtricos), tanto no crnio e mandbula como no
esqueleto ps-craniano (ver Figura 6), a partir dos quais se obtm dimetros, para transform-
los em comprimentos, larguras e alturas. Da relao percentual das medidas se obtm ndices,
dos quais podemos ter uma ideia da forma e tamanho do elemento sseo em questo e, em
geral, possui uma classificao, normalmente terciria, com uma amplitude de variao de
acordo com o sexo. Esta tcnica tem sido retomada pela antropologia forense como auxiliar no
processo de identificao humana. Existem manuais especficos sobre este tema, como o
Manual de Antropologia Fsica de Juan Comas (1976), de Osteologia Antropolgica (Lagunas
Rodrguez, 2000; Lagunas Rodrguez & Hernndez Espinoza, 2000) e de Antropologia Forense
(Ramey Burns, 2008; Reverte Coma, 1999; Rodrguez Cuenca, 2004).
b) A morfometria geomtrica
Esta tcnica revolucionou os estudos morfomtricos a partir de modificaes nas estimativas
de tamanho e forma das estruturas analisadas. Diferentemente da morfometria clssica, que
estuda tais modificaes atravs de anlises multivariadas empregando medidas lineares entre
pontos morfolgicos, a morfometria geomtrica analisa, a partir do deslocamentos no plano
ou no espao, um conjunto de pontos discretos denominados landmarks (Figura 7). Os
landmarks so pontos no espao em duas ou trs dimenses que correspondem posio de
um trao em particular de um objeto. Por exemplo, no estudo de formas biolgicas os
landmarks podem ser definidos sobre estruturas concretas como marcas de insero muscular,
forames, suturas sseas, etc.
Em Morfometria Geomtrica um landmark corresponde a um ponto no espao que tem um
nome (como por exemplo os pontos cefalomtricos ou outros definidos pelo operador) e
coordenadas cartesianas bidimensionais (x, y) e tridimensionais (x, y, z), que so as que
descrevem sua posio no espao. Na Morfometria Geomtrica os conjuntos de coordenadas
correspondem aos dados primrios que logo so submetidos a anlises (Toro Ibacache et al.,
2010: 979).
Os mtodos e tcnicas de morfometria geomtrica tm sido empregados em diversos estudos
em uma ampla gama de disciplinas cientficas, que cobrem a biologia evolutiva, a geologia, a
medicina, a antropologia forense, entre muitos outros. Recomenda-se revisar os trabalhos de
225
Gmez Valds et al. (2007), Martnez Abadas et al. (2006), Toro Ibacache et al. (2010) e Ruz
Albarrn (2012).
4. ESTIMATIVA DA ESTATURA
226
5. PRTICAS MORTURIAS E SISTEMAS DE ENTERRO
Tabela 2: Coeficientes de regresso para a estimativa da estatura a partir dos ossos longos, Genovs (1966),
corrigidas por Del ngel & Cisneros (2004).
Existem vrias classificaes em relao posio dada aos corpos no momento do seu
enterro, no entanto existe um consenso em descrever a descoberta da forma como est e
evitar o uso de termos como supino, decbito, ventral, dorsal, pois estes tendem a ser
confusos. Para ampliar a informao, sugiro consultar a produo recente sobre este tema, e
alguns exemplos de contribuies mexicanas so: (Hernndez Espinoza et al., 2012; Lira Lpez
& Serrano Snchez, 2004; Lpez Alonso et al., 2003; Nez Enrquez & Granados Vzquez,
2012; Serrano & Lagunas, 2000).
6. AS PRTICAS CULTURAIS
Cada uma dessas formas possui variaes, que foram definidas por cada cultura, da
mesma forma os significados atribudos a esta prtica. Ainda que sejam mais conhecidos os
casos do Mxico e do Peru, pela extravagncia do modelo usado, a modificao intencional do
crnio est presente em todo territrio americano. Entre os trabalhos atuais recomendamos
228
consultar autores como Cocilovo (1995), Tiesler (2012), Martnez de Len (2009), Ypez (2009),
entre outros.
b. MODIFICAES DENTAIS
c. TREPANAO
229
Figura 3. Crnio com modificao intencional tabular oblqua (fotografia cortesia da Editorial Races / Arqueologia
Mexicana).
230
Figura 4. Incrustao dentria em um indivduo de sexo masculino procedente do Monte Albn, Oaxaca (Fotografia
cortesia do Departamento de Meios Audiovisuais da Escola Nacional de Antropologia e Histria / Mxico).
d. A leso suprainiana
Weiss (1981) e Lagunas (1970) indicam que a leso se realizava aplicando a tcnica de
raspagem, que podia ser desde uma raspagem superficial na parte externa do osso, at a
perfurao completa, associada a prticas cirrgicas e rituais. No entanto, achados recentes de
esqueletos com este afundamento na parte posterior do crnio pe em discusso o carter
intencional da leso, e apontam para uma casualidade cultural: os laos das correias de um
aparato deformador na cabea do indivduo. A reviso microscpica deste afundamento no
revela nenhuma ao mecnica para form-la, e da que se questiona no a sua presena,
mas a sua procedncia. A distribuio da leso suprainiana no se restringe zona andina e
mesoamericana, h evidncia da sua presena em outras partes na Aridoamrica como
Sonora, Arizona, Novo Mxico, Arkansas, Califrnia (Figura 5).
231
Figura 5: Leso supraininana em um indivduo com deformao tabular ereta (Local: Machomoncobe, Huatabampo,
Sonora; Fotografa P. Hernndez).
7. O SACRIFCIO HUMANO
232
canibalismo, que era um complemento do ritual de sacrifcio, e que nem todos participavam.
Para ampliar informaes consultar Pijoan Aguad (1997; 1989; 1989).
8. PALEOPATOLOGIA
Este um dos temas de pesquisa que mais tem encantado os antroplogos fsicos, pelo
enorme potencial interpretativo das leses localizadas nos esqueletos e peas condies de
sade e nutrio de grupos antigos. A importncia do tema mereceu um captulo neste
volume.
11. CONCLUSO
Nos pargrafos anteriores, foram descritos, de maneira simples e clara, o que o estudo
dos esqueletos humanos pode oferecer para reconstruir a histria passada de nossa espcie.
234
Como o leitor viu, o potencial deste tipo de estudos muito grande e a possibilidade de criar
tcnicas e metodologias novas so as que a imaginao humana permitir. O que h de se levar
em conta, que as populaes so constitudas de indivduos e esses indivduos so uma fonte
potencial de informao para o desenvolvimento e entendimento de vidas, modos de vida, e
estilos de vida dos ancestrais.
235
BIBLIOGRAFIA CITADA
Azevedo, Soledad de, Pucciarelli Hctor M., Lanata Jos L., Gonzlez-Jos Rolando. 2012.
Identificando seales de evolucin no estocstica en la morfologa craneofacial de
poblaciones humanas modernas. Revista Argentina de Antropologa Biolgica 14(1):113-
129.
Baker, Brenda J., Dupras Tosha L., Tocheri Matthew W. 2005. The osteology of Infants and
Childrens: Texas A&M University Press. 178 p.
Baker, Scott J., Gill George W., Kieffer David A. 1990. Race and Sex Determination from the
Intercondylar Notch of the Distal Femur. En: Gill, Rhine, editors. Skeletal Attribution of
Race. Albuquerque: Maxwell Museum of Anthropology. p 91-96.
Berrizbeitia, B. A. 1989. Sex determination with the head of the radius. Journal of Forensic
Sciences 34:1206-1213.
Black, T. K. 1978. A new method for assessing the sex of fragmentary skeletal remains: femoral
shaft circunference. American Journal of Physical Anthropology 48:227-231.
Bolsen, Jesper L., Milner George R., Konigsberg Lyle W., Wood James W. 2002. Transition
analysis: A new Method of Estimating Age from Skeletons. En: Hoppa, Vaupel, editors.
Paleodemography Age Distibutions from Skeletal Samples. Cambridge, Mass: Cambridge
University Press. p 73-106.
Buikstra, Jane E., Ubelaker Douglas H. 1994. Standards for data collection from human skeletal
remains. Fayetteville: Arkansas Archaeological Survey.
Bullock, Meggan, Mrquez Morfn Lourdes, Hernndez Espinoza Patricia Olga, Velasco
Fernando. 2013. Paleodemographic Age-at-Death Distributions of Two Mexican Skeletal
Collections: A Comparison of Transition Analysis and Traditional Aging Methods. American
Journal of Physical Anthropology 152(1):67-78.
Cerezo Romn, Jsica Ins, Hernndez Espinoza Patricia Olga. 2014. Estimating Age-at-death
Using the Sternal End of the Fourth Ribs from Mexican Males. Forensic Sciences
International.
Cocilovo, Jos A. 1995. La deformacin artificial del crneo en la poblacin prehistrica de San
Pedro de Atacama, Chile. Chungara 27(2):Universidad de Tarapac, Arica-Chile.
Cucina, Andrea, editor. 2011. Manual de Antropologa Dental. Mrida, Yucatn: Universidad
Autnoma de Yucatn.
De La Cruz Laina, Isabel, Gonzlez Olivier Anglica, Kemp Brian M., Romn Berrelleza Juan
Alberto, Smith David Glenn, Torre Blanco Alfonso. 2008. Sex Identification of Children
Sacrificed to Ancient Aztec Raind Gods in Tlatelolco. Current Anthropology 49(3):519-526.
De La Cruz Laina, Isabel, Romn Berrelleza Juan Alberto, Gonzlez Olivier Anglica, Torre
Blanco Alfonso. 2006. La tecnologa del ADN antiguo aplicada al estudio de los nios
sacrificados en honor a Tlloc. In: Lpez Lujn, Carrasco, Cue, editors. Arqueologa e
236
Historia del Centro de Mxico Homenaje a Eduardo Matos Moctezuma. Mxico: Instituto
Nacional de Antropologa e Historia. p 433-444.
Del ngel, Andrs, Cisneros Hctor B. 2004. Technical Note: Modification of Regression
Equations Used to Estimate Stature in Mesoamerican Skeletal Remains. American Journal
of Physical Anthropology 125:264-265.
Del Castillo Chvez, Oana. 2000. Los restos seos del Hospital Real de Indios de San Jos de los
Naturales [Tesis de Maestra en Antropologa Fsica]. Mxico: Escuela Nacional de
Antropologa y Historia.
Delaborde, Tania. 2010. Salud, enfermedad y muerte en la poblacin mantea de Japoto: las
evidencias osteolgicas y dentales. Bulletin de l'Institute Francais d'tudes Andines
39(3):531-550.
Dembo, Adolfo, Imbelloni Joaqun. 1938. Deformaciones intencionales del cuerpo Humano de
Carcter tnico. Buenos Aires.
Ferembach, D., Scwidetzky I., Stoukal M. 1979. Recomendations pour determiner l'ge et le
sexe sur le esquelette. Societe de Antropologie de Paris: 7-45.
Gmez Valds, Jorge Alfredo, Bautista Martnez Josefina, Romano Pacheco Arturo. 2007.
Morfometra geomtrica aplicada al estudio de la deformacin ceflica intencional.
Estudios de Antropologa Biolgica XIII:117-134.
Gordn, Florencia, Bguelin Marien, Vazquez Romina C., Cobos Virginia A., Pucciarelli Hctor
M., Bernal Valeria. 2013. El hombre fsil de Mata Molle (Neuqun, Argentina): cronologa
y variacin craneofacial en el contexto de las poblaciones de Patagonia y Sudamrica.
Revista Argentina de Antropologa Biolgica 15(1):77-89.
Harrison, G. A., Tanner J. M., Pilbeam D. R., Baker P. T. 2000. Human Biology. An introduction
to human evolution, variation, growth and adaptability. Oxford: Oxford University Press.
Hernndez Espinoza, Patricia Olga. 2008. Informe osteolgico de los sitios Pajones (2005) y
Bajo, Zacatecas 2006-1. Proyecto Arqueolgico Suchil - Chalchihuites: Instituto Nacional
de antropologa y Historia.
Hernndez Espinoza, Patricia Olga, Mrquez Morfn Lourdes, Bullock Meggan. 2013. Transition
Analysis as a Method of Age Estimation, a Reevaluation from an Anthropological
Perspective. In: Population, editor. XXVI World Conference. Busan, South Korea.
Hernndez Espinoza, Patricia Olga, Martnez Mora Estela, Crdova Tello Guillermo. 2012. Los
tmulos funerarios de La Noria, lugar para seres especiales. En: Crdova Tello, Martnez
Mora, Hernndez Espinoza, editores. Tamtoc Esbozo de una antigua sociedad urbana.
Primera ed. Mxico: Instituto Nacional de Antropologa e Historia. p 127-140.
Hernndez Espinoza, Patricia Olga, Mrquez Morfn Lourdes. 2010. Los nios y las nias del
antiguo Xochimilco: un estudio de mortalidad diferencial. Revista Espaola de
Antropologa Fsica(31):39-52.
Hernndez Espinoza, Patricia Olga, Pea Reyes Ma. Eugenia. 2010. La identificacin del sexo y
la estimacin de la edad en esqueletos de menores de 15 aos (subadultos). Mxico:
Escuela Nacional de Antropologa e Historia.
Iscan, M. Yasar, Loth Susan R., Wright Ronald K. 1984. Metamorphosis at the sternal rib end: A
new method to estimate age at death in white males. American Journal of Physical
Anthropology 65(2):147-156.
Lagunas Rodrguez, Zaid. 1970. Notas sobre el hallazgo de crneos con lesin suprainiana en
Cholula. Boletn del INAH 39:1-4.
Lagunas Rodrguez, Zaid. 1975. La determinacin sexual en mandbulas por medio de funciones
discriminantes. Anales del INAH 4:171-178.
Lagunas Rodrguez, Zad , Hernndez Espinoza Patricia Olga. 2000. Manual de Osteologa
Antropolgica. Mxico: Escuela Nacional de Antropologa e Historia.
Larsen, Clark S. 1997. Bioarchaelogy. Interpreting behavior from the human skeleton.
Cambridge: Cambridge University Press.
Lira Lpez, Yamile, Serrano Snchez Carlos, editors. 2004. Prcticas funerarias en la costa del
Golfo de Mxico. Mxico: Universidad Veracruzana / Universidad Nacional Autnoma de
Mxico / Asociacin Mexicana de Antropologa Biolgica.
Lpez Alonso, Sergio. 1967. Las funciones discriminantes en la determinacin sexual de huesos
largos. Mxico: Escuela Nacional de Antropologa e Historia.
Lpez Alonso, Sergio. 1971. La escotadura citica mayor en la determinacin sexual de restos
seos prehispnicos de Mxico. Anales del INAH 2:31-41.
238
Lpez Alonso, Sergio, Lagunas Rodrguez Zaid, Serrano Snchez Carlos. 2003. Costumbres
funerarias y sacrificio humano en Cholula prehispnica. Mxico: Universidad Nacional
Autnoma de Mxico.
Lovejoy, Owen C., Meindl Richard S., Pryzbeck Thomas, Mensforth Robert P. 1985.
Chronological metamorphosis of the auricular surface of the ilium: A new method for the
determination of adult skeletal age at death. American Journal of Physical Anthropology
68:15-29.
Luo, Y. C. 1995. Sex determination from the pubis by discriminant function analysis. Forensic
Sciences International 74:89-98.
Martnez Abadas, Neus, Gonzlez Jos Rolando , Gonzlez Martn Antonio, Van der Molen
Silvina, Talavera Jorge Arturo, Hernndez Espinoza Patricia Olga, Hernndez Miquel 2006.
Phenotyphic Evolution of Human Craniofacial Morphology after Mixture: A Geometric
Morphometrics Approach. American Journal of Physical Anthropology 129(1):387-398.
Martnez de Len Mrmol, Blanca Lilia. 2009. La deformacin ceflica intencional tipo tabular,
variante superior, en el Zapotal, Veracruz. Estudios de Antropologa Biolgica XIV-II:489-
501.
Meindl, R. S., Lovejoy C. O. 1989. Age changes in the pelvis: implications for paleodemography.
En: Iscan, editor. Age Markers in the Human Skeleton. Springfield, Ill: CC Thomas
Publisher. p 137-168.
Meindl, R. S., Lovejoy C. O., Mensforth R. P., Walker R. A. 1985a. A revised method of age
determination using the os pubis, with a review and test of accuracy of other current
methods of pubic symphyseal aging. American Journal of Physical Anthropology 68(1):29-
45.
Meindl, R. S., Lovejoy O. C., Mensforth R., Carlos L. Don. 1985b. Accuracy and direction of error
in the sexing of the skeleton: Implications for Paleodemography. American Journal of
Physical Anthropology 68:79-85.
Menndez Garmendia, Guillermina Antinea, Gmez Valds Jorge, Armendriz F., Wesp Julie,
Snchez Mejorada Gabriela. 2014. Long bone (humerus, femur and tibia) measuring
procedure in corpses. Journal of Forensic Sciences Early View.
Menndez Garmendia, Guillermina Antinea, Gmez Valds Jorge, Snchez Mejorada Gabriela.
2011. Comparacin de ecuaciones de regresin lineal para estimar estatura en restos
seos humanos en poblacin mexicana. Antropo 25:11-21.
Merlo, Noelia I., Mendoza Osvaldo J., Bordach Mara A., Ruiz Martha S. 2005. Vida y muerte en
el Pucar de Yacoraite. Estudio de osteologa humana. Cuadernos de la Facultad de
Humanidades y Ciencias Sociales, Universidad de Jujuy 29:113-142.
239
Nez Enrquez, Luis Fernando, Granados Vzquez Geraldine Guadalupe. 2012. Estudio del
Conjunto de Sepulturas de La Noria en Tamtoc. En: Crdova Tello, Martnez Mora,
Hernndez Espinoza, editores. Tamtoc Esbozo de una antigua sociedad urbana. Mxico:
Instituto Nacional de Antropologa e Historia. p 47-94.
Pea Reyes, Mara Eugenia, Gonzlez lvarez Citlali. 2010. Manual para la estimacin de la
edad sea en vrtebras cervicales como indicador de madurez biolgica. Mxico: Escuela
Nacional de Antropologa e Historia / Conacyt.
Pereira, Gregory. 2007. Problemas relativos al estudio tafonmico de los entierros mltiples.
En: Serrano Snchez, Terrazas Mata, editors. Tafonoma, medio ambiente y cultura.
Mxico: Instituto de Investigaciones Antropolgicas, UNAM.
Phenice, T. W. 1969. A newly developed visual method of sexis de os pubis. American Journal
of Physical Anthropology 30(2):297-301.
Pijoan Aguad, Carmen Mara. 1997. Evidencias de sacrificio humano y canibalismo en restos
seos. El caso del entierro nmero 14 de Tlatelolco, D.F. (Pijoan Aguad). Mxico:
Universidad Nacional Autnoma de Mxico.
Pijoan Aguad, Carmen Mara, Lizarraga Cruchaga Xabier. 2004a. Perspectiva Tafonmica.
Mxico: Instituto Nacional de Antropologa e Historia.
Pijoan Aguad, Carmen Mara, Lizarraga Cruchaga Xabier. 2004b. Tafonoma: una mirada
minuciosa a los restos mortuorios. En: Pijoan Aguad, Lizarraga Cruchaga, editores.
Perspectiva Tafonmica. Primera ed. Mxico: Instituto Nacional de Antropologa e
Historia. p 13-34.
Pijoan Aguad, Carmen Mara, Pastrana Cruces Alejandro. 1989. Evidencias de actividades
rituales en restos seos humanos en Tlatelcomila DF. In: Carmona Macas, editor. El
Preclsico o Formativo Avances y Perspectivas. Mxico: Museo Nacional de Antropologa,
Instituto Nacional de Antropologa e Historia. p 287-306.
Pijoan Aguad, Carmen Mara, Pastrana Cruces Alejandro, Maquvar Maquvar Consuelo. 1989.
El tzompantli de Tlatelolco. Una evidencia de sacrificio humano. Estudios de Antropologa
Biolgica IV:562-583.
Ramey Burns, Karen. 2008. Manual de Antropologa Forense. Barcelona: Ediciones Bellaterra,
S. A.
Reverte Coma, Jos Maria. 1999. Antropologa Forense. Madrid: Ministerio de Justicia.
Rodrguez Cuenca, Jos Vicente. 2011. Los chibchas: hijos del sol, la luna y los Andes. Orgenes
de su diversidad. Bogot: Instituto de Desarrollo Urbano / Universidad Nacional de
Colombia.
240
Rodrguez Flrez, Carlos David. 2010. Microdesgaste dental y paleodieta en una muestra de la
cultura Sonso en el Valle de Cauca, Colombia. Boletn Antropolgico, Universidad de Los
Andes Ao 28(78):61-92.
Rogers, T., Saunders S. R. 1994. Accuracy of sex determination using morphological traoits of
the human pelvis. Journal of Forensic Sciences 39:1047-1056.
Romn Berrelleza, Juan Alberto, Torre Blanco Alfonso. 1998. Los sacrificios de nios en el
Templo Mayor. Un enfoque interdisciplinario. Arqueologa Mexicana 31:28-33.
Romn Berrelleza, Juan Alberto. 1986. La ofrenda nmero 48 del Templo Mayor. Mxico:
Escuela Nacional de Antropologa e Historia.
Romano Pacheco, Arturo. 1974. Deformacin Ceflica Intencional. In: Romero Molina, editor.
Antropologa Fsica Epoca Prehispnica. Mxico. p 195-227.
Romano Pacheco, Arturo. Los crneos deformados de El Zapotal I, Veracruz. XIII Mesa
Redonda: Balance y Perspectivas de Mesoamrica y del Norte de Mxico: Sociedad
Mexicana de Antropologa. p 57-64.
Romero Molina, Javier. 1970. Dental Mutilation, Trephination and Cranial Deformation. En:
Wauchope, editor. Handbook of Middle American Indians. Austin: University of Texas
Press. p 50-67.
Romero Molina, Javier. 1974. La trepanacin prehispnica. In: Romero Molina, editor.
Antropologa Fsica poca Prehispnica. Mxico: Instituto Nacional de Antropologa e
Historia. p 179-194.
Scheuer, Louise, Black Sue. 2000. Developmental Juvenile Osteology. San Diego: Academic
Press.
Scheuer, Louise, Black Sue. 2004. The Juvenile Skeleton. San Diego: Elsevier Academic Press.
Schurr, Michael. 1998. Using stable nitrogen-isotopes to study weaning behavior in past
populations. World Archaeology 30(3):327-342.
241
Schutkowski, Holger. 1993. Sex Determination of Infant and Juvenile Skeletons: I.
Morphognostic Features. American Journal of Physical Anthropology 90(2):199-205.
Snow, C. C., Hartman S., Giles E., Young F. A. 1979. Sex and race determination of crania by
calipers and computers: A test of the Giles and Elliot discriminant functions in 52 forensic
sciences case. Journal of Forensic Sciences 24:448-460.
Sutter, Richard C. 2003. Nonmetric subadult skeletal sexing traits: I. A blind test of the accuracy
of eight previously proposed methods using prehistoric known-sex mummies from
Northern Chile. Journal of Forensic Sciences 48(5):927-935.
Taipe Campos, Nstor Godofredo. 2005. La sustitucin en los ritos de sacrificio. Gazeta de
Antropologa 21(artculo 06).
Tiesler Blos, Vera. 2012. Transformarse en maya. El modelado ceflico entre los mayas
prehispnicos y coloniales. Mxico: Universidad Nacional Autnoma de Mxico.
Tiesler Blos, Vera. 2006. Hubo trepanacin en la antigua sociedad maya? Una apreciacin
regional. Antropologa Fsica Latinoamericana 4:169-218.
Tiesler Blos, Vera. 2002. La costumbre de la deformacin ceflica entre los antiguos mayas:
aspectos morfolgicos y culturales. Mxico: Instituto Nacional de Antropologa e Historia.
Tiesler Bloss, Vera Cucina Andrea. 2007. New Perspectives on Human Sacrifice and Ritual Body
Treatments in Ancient Maya Society. New York: Springer.
Tomasto Cagiguo, Elsa Lucila. 2009. Caries dental y dieta en poblaciones prehispnicas de los
valles de Palpa, costa sur del Per (3500 aC -1000 dC) [Maestra]. Lima, Per: Pontificia
Universidad Catlica del Per.
Toro Ibacache, Mara Viviana, Manrquez Soto Germn, Suazo Galdames Ivn. 2010.
Morfologa Geomtrica y el Estudio de las Formas Geomtricas: De la Morfologa
Descriptiva a la Morfologa Cualitativa. International Journal of Morphology 28(4):977-
990.
Tortora, Gerard J., Derrickson Bryan. 2007. Principios de Anatoma y Fisiologa. Buenos Aires:
Editorial Mdica Panamericana.
Verano, John W. 1995. La trepanacin como tratamiento teraputico para fracturas craneales
en el antiguo Per. Estudios de Antropologa Biolgica VIII:65-81.
Verano, John W., Lombardi Guido P. 1999. Paleopatologa en Sudamrica Andina. Bulletin de
l'Institute Francais d'tudes Andines 28(1):91-121.
242
Weaver, David S. 1980. Sex Differences in the Ilia of Known Sex and Age Sample of Fetal and
Infant Skeletons. American Journal of Physical Anthropology 52(1):191-195.
Weiss, Pedro. 1958. Osteologa Cultural. Prcticas Ceflicas. Lima: Universidad Mayor de San
Marcos.
Wilson, Laura A., MacLeod Norman, Humphrey Louise T. 2008. Morphometric Criteria for
Sexing Juvenile Human Skeletons Using the Ilium. Journal of Forensic Sciences 53(2):269-
278.
243
CAPTULO 9. ANTROPOLOGIA FORENSE:
MTODOS, APLICAES E DIREITOS HUMANOS
NA AMRICA LATINA.
1. INTRODUO
244
2. HISTRIA
A Antropologia Biolgica, desde seu incio, tem realizado estudos e comparaes sobre
distintas populaes, interpretando a variabilidade fsica da espcie humana. Atualmente,
ainda so realizadas essas pesquisas atravs de anlises morfolgicas, mtricas e estatsticas,
tanto para restos sseos, como para pessoas vivas.
245
a. A ANTROPOLOGIA FORENSE NOS ESTADOS UNIDOS
2. O perodo situado entre os anos de 1940 e incio dos anos de 1970. Em 1939, Wilton
Marion Krogman (1903-1987), o primeiro antroplogo fsico a ser admitido na American
Academy of Forensic Sciences (AAFS), exps suas ideias no "Guide to the Identification of
Human Skeletal Material", o primeiro tratado escrito por um antroplogo para o pessoal
forense e que centralizou a ateno da comunidade mdico-legal sobre o potencial
informativo da antropologia biolgica nos processos de identificao. Demonstrou aos seus
prprios colegas a importncia de sua aplicao legtima aos problemas forenses. Krogman
publicou em 1962 seu clssico tratado The Human Skeleton in Forensic Medicine, reeditado
posteriormente em 1986 juntamente com M. Y. Iscan. Em 1942, T. D. Stewart iniciou
assessorias regulares para o F.B.I e, da mesma forma, H. L. Shapiro, F. E. Randall e Charles E.
Snow (1910-1967) foram consultados durante a Segunda Guerra Mundial. T. D. Stewart, Ellis R.
Kerly e Charles P. Warren realizaram assessoria forense permanente durante a Guerra da
Coria (Iscan, 1981). Assim, esse perodo caracterizou-se pelo reconhecimento oficial que os
antroplogos fsicos tiveram nos trabalhos de identificao de corpos de soldados
desaparecidos nas guerras de meados do sculo XX e, pelo crescente interesse nesta disciplina,
como uma atividade importante em seu trabalho profissional. Alm disso, durante a primeira
metade desse sculo, foram estabelecidas as colees de restos sseos Terry & Todd que
246
levaram ao estabelecimento das tcnicas para a estimativa do sexo, da idade, da afinidade
biolgica e da reconstruo da estatura.
Na Amrica Latina, por sua situao particular quanto aos direitos humanos, com
vtimas que excedem 200.000 pessoas na Guatemala, 10.000-30.000 na Argentina, 70.000 no
Peru, entre 1980 e 2000, e que na Colmbia elevam-se a mais de 8.000, a Antropologia
Forense no pode limitar-se somente ao seu aspecto bioantropolgico anlise dos restos
sseos , nem arqueologia - exumao -, mas o perito forense deve conhecer o contexto
social em que as mortes violentas ocorrem, a fim de obter informaes mais abrangentes
sobre as circunstncias do desaparecimento das vtimas, as suas caractersticas somticas e os
procedimentos legais para realizar a busca, escavao e anlise dos seus restos mortais.
assim que tem atuado a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), a Fundao de
Antropologia Forense da Guatemala (FAFG), a Equipe Peruana de Antropologia Forense (EPAF),
entre outras.
247
3. IMPORTNCIA DA ANTROPOLOGIA FORENSE PARA AS INVESTIGAES
MDICO-LEGAIS
As tarefas realizadas pelo mdico ou patologista forense assemelham-se s de um
antroplogo forense, a diferena est na natureza dos materiais a serem examinados. Os
mdicos trabalham com tecidos moles, enquanto os antroplogos concentram seu interesse
em tecidos duros, como ossos ou dentes.
248
Para estabelecer a causa da morte (o que nem sempre possvel) imprescindvel
contar com uma equipe interdisciplinar, sendo o antroplogo forense essencial para
diagnosticar alteraes presentes nos restos sseos (traumas, patologias, etc) e identificar os
restos mortais (determinar idade, sexo, afinidade biolgica, estatura, tempo post mortem,
entre outras).
O antroplogo forense deve obter uma viso completa do caso levando em conta todas
as variveis e conhecer muito bem o contexto e a histria, com o objetivo de gerar uma
interpretao correta do caso forense.
A recuperao adequada dos restos mortais constitui um aspecto que vem ganhando
importncia para os estudos forenses. Sabe-se que os levantamentos de restos sseos
humanos nem sempre so realizados por antroplogos/arquelogos forenses. As autoridades
judiciais muitas vezes assumem que os investigadores e policiais que auxiliam no
levantamento de evidncias sseas sabem como proceder na recuperao dos restos
esquelticos presentes e das evidncias fsicas associadas. Lamentavelmente, nem sempre
assim, o que resulta numa recuperao parcial dos restos mortais, assim como da informao
crucial para a investigao.
249
a. TRABALHO DE CAMPO
250
Quando o cadver ou os cadveres tiverem sido enterrados, o primeiro passo a
localizao dos restos humanos, para o qual recomenda-se realizar uma explorao que inclui
a inspeo visual do terreno, observando as alteraes da vegetao, o grau de compactao
da terra ou qualquer alterao do mesmo. Como complemento da explorao, podem ser
empregados outros mtodos como a fotografia area (que detecta mudanas na vegetao
produzidas pela decomposio dos corpos ou a terra retirada ao enterr-los), os detectores de
metal, anlises geolgicas ou de gases, estudos eletromagnticos ou, inclusive, ces treinados
para detectar cadveres (Ubelaker, 1995).
251
etiqueta, escrita com caneta de tinta permanente, incluindo o local de origem,
nmero da fossa, data de recuperao, o tipo de pea(s) ssea(s) embalada(s) e o
nmero do esqueleto ao qual pertence (Sanabria, 2010).
Uma vez extrados todos os ossos e todas as evidncias fsicas, continua os
procedimentos com a terra que fica abaixo do corpo at que a tumba seja
excavada em sua totalidade.
O antroplogo forense tambm pode deparar-se com a resoluo de outros casos, como
cadveres queimados, decompostos ou mutiladoss, nos quais a metodologia a seguir a j
descrita com pequenas modificaes de acordo com o caso. As grandes catstrofes e os
incndios requerem um tratamento especial que no h espao para abordar nesse captulo.
O primeiro passo que deve ser seguido no laboratrio a limpeza do material humano.
Se este encontra-se esqueletizado, so utilizadas as tcnicas habituais para restos humanos
provenientes de jazimentos arqueolgicos. Utiliza-se uma escova de dentes e pequenas
ferramentas de madeira para remover a terra e os resduos aderidos aos ossos. Os restos e
peas dentrias devem ser lavados com gua corrente temperatura ambiente, sem a adio
de produtos qumicos ou sabes que poderiam alterar ou degradar DNA.
No caso em que os tecidos moles estejam conservados, estes devem ser eliminados com
cuidado especial de no utilizar ferramentas cortantes. Sempre devem ser utilizados aqueles
252
produtos e tcnicas que danifiquem menos o osso. Em seguida, inicia-se o estudo
antropolgico (Figura 2).
253
a. HUMANO OU NO?
Cabe ressaltar que o estudo da fauna cadavrica realizado por entomlogos forenses
tambm muito til para estabelecer o intervalo post mortem. Destacam-se tambm os
resultados obtidos com a aplicao de mtodos fsicos e/ou qumicos que vm sendo utilizados
em alguns casos. Aqui incluem-se mtodos para verificar a consistncia e o peso do osso, o
254
teste do carbonato, a fluorescncia ultravioleta, o mtodo de radiocarbono, etc., que com
maior ou menor preciso esclarecem o intervalo post mortem.
d. DETERMINAO DO SEXO
O ser humano, ao longo de sua vida, apresenta mudanas ontogenticas que alteram a
morfologia do esqueleto, a qual varia inclusive entre indivduos de uma mesma afinidade
biolgica e por fatores de gnero (as mulheres geralmente amadurecem antes que os
homens), bem como por fatores culturais, alimentares, atividades laborais ou doenas.
Figura 3. Expresso das caractersticas da crista nucal, processo mastide, margem supra-orbital, arco
supra-orbital e proeminncia do queixo (modificado, segundo Buikstra & Ubelaker, 1994).
256
dcada de 20 (1920) e modificado posteriormente por McKern & Stewart (1957), Gilbert &
McKern (1973) e, mais recentemente, por Suchey & Brooks (1990).
257
Tambm possvel analisar as diversas modificaes sofridas pelos dentes, as alteraes
radiolgicas ou densitomtricas da estrutura esponjosa de certos ossos longos, ou as
alteraes histolgicas ou bioqumicas dos ossos.
g. ESTIMATIVA DA ESTATURA
Para determinar a estatura que um indivduo teve em vida, aplica-se uma srie de
mtodos que permitem estim-la a partir do comprimento dos ossos longos do esqueleto,
sendo o fmur e a tbia os que fornecem resultados mais confiveis. Existem dois mtodos
especficos para estimar a estatura: o mtodo matemtico, desenvolvido por Trotter (1970), e
o mtodo anatmico, desenvolvido por Fully (1956).
258
Figura 5. Desgaste na coluna vertebral, osteofitose nas vrtebras lombares, indivduo adulto.
Deve-se escolher o mtodo mais adequado em cada caso, j que tem sido demonstrada
a existncia de mudanas temporrias, assim como diferenas sexuais, populacionais e com a
idade.
No que refere-se a alteraes sseas ante mortem, se o trauma causado pelo menos
de duas a trs semanas antes da morte da pessoa, o osso afetado mostra sinais de reao
ssea que podem ser observados macroscopicamente; depois de um a cinco meses, ter se
formado calo sseo. Existe a possibilidade de que o reparo tenha sido incorreto e que possa
causar encurtamento ou desvio do osso.
Outras caractersticas que tambm tm se mostrado teis nesse campo, junto com as
fraturas consolidadas, so as amputaes, detalhes de certos ossos por processos artrticos, os
seios frontais, e as alteraes ortopdicas, entre outras.
As denominadas alteraes sseas vitais ou peri mortem esto associadas aos traumas
ocorridos com a morte do indivduo (minutos antes ou aps a morte). A resposta biolgica
nesses momentos equivalente a de um osso fresco. Ainda que muitas vezes a causa da morte
no possa ser detectada nos ossos, h outros casos em que isso possvel, como feridas
causadas por tiro ou traumatismos produzidos por objetos contundentes ou instrumentos
cortantes. Em alguns casos, ficar um sinal ou marca (que podem deixar um padro
reconhecvel) para estabelecer o tipo de arma ou instrumento utilizado (Figura 6).
260
E, por fim, as alteraes sseas post mortem, que nos indicam as modificaes sseas
ocorridas aps a morte do indivduo, e que so o resultado de diferentes fatores tafonmicos
(temperatura, atividade de insetos, traumas, localizao na superfcie, etc). Isso fundamental
para determinar se as marcas de leses que aparecem no esqueleto so de origem natural ou,
pelo contrrio, se foram produzidas por animais ou por humanos.
i. MORFOLOGIA FACIAL
H casos nos quais o antroplogo forense deve investigar a relao que h entre o
esplancnocrnio (ossos da face) e os tecidos moles. Nesse sentido, trabalha-se
fundamentalmente em dois aspectos: a reconstruo facial e a superposio de imagens
(Wilkinson, 2004).
262
Arqueologia Forense do Uruguai (GIAF) e, inclusive, desde 2003 so identificadas redes ou
associaes das equipes latino-americanas, como a Associao Latino-americana de
Antropologia Forense (ALAF) (Dutrnit, 2012).
A grande quantidade de corpos sem vida produtos de intensos combates, de alvos civis
durante a guerra, da falta de atendimento durante um sequestro e dos vrios homicdios
seletivos (massacres), devem ser resgatados, identificados e, na medida do possvel,
devolvidos s suas famlias. Lamentavelmente a recuperao e identificao de vtimas torna-
se muito mais difcil quando o corpo encontra-se em estado avanado de decomposio,
carbonizao, incinerao, mutilao e/ou esqueletizao, por isso deve-se recorrer a tcnicas
que tornem possvel aplicar os artigos 15, 16 e 17 da Conveno de Genebra. aqui que nasce
a importncia da aplicao da Antropologia Forense, que constitui-se em, muitos casos, como
a ltima esperana para encontrar as vtimas, devolver o nome aos mortos e a tranquilidade s
suas famlias (Delgado, 2000).
7. CONCLUSO
264
BIBLIOGRAFIA CITADA
Bass W. 1987. Human Osteology: A Laboratory and Field Manual. Third Edition. Especial
Publication No.2 of the Missouri Archaeological Society, Columbia, MO.
Brooks S, Suchey JM. 1990. Skeletal age determination based on the os pubis: a comparison of
the Acsdi-Nemeskri and Suchey-Brooks methods. In: Human Evolution 5. P 227-238.
Buikstra JE, Ubelaker DH. 1994. Standards for data collection from human skeletal remains.
Proceedings of a seminair at the Field Museum of Natural History. Organizado por J. Haas.
Arkansas Archaeological Survey Research. Serie N.44.
Fully G. 1956. Une nouvelle methode de determination de la taille. Ann Med Legale 35. P
266273.
Galera V., Lpez-Palafox J., Prieto L. 2005. Antropologa Forense. En: Para comprender la
Antropologa Biolgica, Evolucin y Biologa Humana. Rebato E., Susanne C., Chiarelli B.
eds. Espaa. p 137-153.
Gilbert BM, McKern TW. 1973. A method of aging the female os pubis. In: American Journal of
Physical Antropology 38. p 31-38.
Iscan MY. 1981. Concepts in Teaching Forensic Anthropology. In: Medical Anthropology
Newsletter 13(1). p 10-12.
Iscan MY, Loths R, Wright RK. 1984. Metemorphosis at the Sternal Rib End: a method to
estimate age at death in white males. In: American Journal of Physical Anthropology
65:147-156.
Krogman WM., Iscan MY. 1986. The Human Skeleton in Forensic Medicine. End Edition. Charles
C. Thomas, Springfield, IL.
McKern TW, Stewart TD. 1957. Skeletal Age Changes in Young American Males, analyzed from
the standpoint of Age Identification. Technical Report EP-45. Quartermaster Research and
Development Command, Natick, MA.
Reverte JM. 1999. Antropologa Forense. Segunda Edicin, Ministerio de Justicia, Madrid.
265
Rodrguez JV. 1994. Introduccin a la Antropologa Forense. Departamento de Antropologa.
Universidad Nacional de Colombia, Santa F de Bogot.
Scientific Working Group for Forensic Anthropology (SWGANTH). 2013. Resolving Commingled
Human Remains. http://swganth.startlogic.com/Commingling%20Rev2.pdf
Steele D. McKern T.1969. Method for assessment maximum long bone length and living
stature from fragmentary long bones. American Journal of Physical Anthropology.31:215-
228.
Stewart T.D. 1979. Essentials of Forensic Anthropology, especially as developed in the United
States. Charles C Thomas Pub Ltd.
Todd TW. 1920. Age changes in the pubic bone: The white male pubis. In: American Journal of
Physical Anthropology 3. p 427-470.
Trotter M. 1970. Estimation of Stature from Intact Long Limb Bones. In T.D. Stewart (ed.)
Personal Identification in Mass Disasters. Smithsonian Institution, Washington, DC. p 71-
84.
Ubelaker D.H. 1990. J. Lawrence Angel and the Development of the Forensic Anthropology in
the United States. In: A life in Science: Papers in Honor of L. Lawrence Angel. P 191-200.
Ubelaker D.H. 1995. Latest Development in skeletak biology and forensic anthropology. In:
Biological Anthropology: the State of the Sciences. Boaz NT. Wolfe LD. International
Institute for Human Evolutionary Research, Bend, OR. P 91-106.
Ubelaker D.H. 1996. Skeletons Testify: Anthropology in Forensic Science, AAPA Luncheon
Adress: April 12, 1996. In: Yearbook of Physical Anthropology, 39. p 229-244.
Ubelaker D.H. 2008. Forensic Anthropology: Methodology and diversity of applications. In:
Biological Anthropology of the human skeleton. New Jersey: Wiley-Liss. p 41-69.
White TD, Folkens PA. 1991. Human Osteology. Academic Press, INC, San Diego, California,
USA.
White TD, Folkens PA. 2005. The Human Bone Manual. Academic Press.
266
CAPTULO 10. A ANLISE DE DNA COMO
FERRAMENTA DA ANTROPOLOGIA FORENSE.
1
Instituto Patagnico de Ciencias Sociales y Humanas. Centro Nacional Patagnico. CONICET. Argentina.
splicinginminds@gmail.com
2
Instituto Patagnico de Ciencias Sociales y Humanas. Centro Nacional Patagnico. CONICET. Argentina.
ramallo@cenpat-conicet.gob.ar
1. INTRODUO
267
vtima examinada, sem ambiguidades e com a mxima segurana, utilizando quantos mtodos
forem necessrios para obter resultados consistentes (Prinz et al., 2007).
Os STRs possuem vantagens em relao aos VNTRs. Por exemplo, o tamanho menor do
fragmento amplificado e a maior capacidade de amplificao pela reao em cadeia da
269
polimerase (PCR, do ingls Polymerase Chain Reaction), o que permite trabalhar com amostras
de DNA com relativo nvel de degradao (Budowle & Van Daal, 2008; Goodwin et al., 2010). O
princpio bsico da anlise de repeties consecutivas que elas so altamente polimrficas
nas populaes humanas, de forma que a anlise forense de vrios loci faz com que seja
estatisticamente improvvel encontrar dois indivduos quaisquer com o mesmo perfil gentico.
Para mais detalhes a respeito dos marcadores genticos utilizados na identificao humana,
consultar Butler (2009) ou Goodwin et al. (2010).
270
importante mencionar que o nmero de STRs utilizados na rotina forense depende do
quo raro o perfil de DNA que se compara, ou seja, depende do Poder de Discriminao (DP,
do ingls Discrimination Power) e da probabilidade de coincidncia ao acaso (RMP, do ingls
Random Match Probability, ou conhecida tambm como adventitious match) calculada para o
perfil gentico. Para uma melhor compreenso de alguns parmetros de eficincia forense e
de como se realiza o clculo de similaridade gentica entre dois indivduos, consulte o Box 1.
Como os bancos de dados policiais e/ou cveis so alimentados com perfis de STRs, para
estudar amostras degradadas foram desenvolvidos os marcadores miniSTRs (para informaes
adicionais, consultar o stio http://www.cstl.nist.gov/biotech/strbase/miniSTR/timeline.htm). A
ideia geral realizar a amplificao por PCR de produtos menores usando primers mais
prximos regio de repetio do STR, diminuindo o tamanho do amplicon (Wiegand &
Kleiber, 2001; Butler et al., 2003; Dixon et al., 2006; Hill et al., 2009) e retendo a mesma
informao que o STR original. Esta tcnica tem mostrado melhores resultados na recuperao
do perfil gentico de amostras degradadas (Butler, 2007). Adicionalmente, tambm h kit
multiplex com 23 Y-STRs (Thompson et al., 2013), muito til para elucidar os casos de misturas
271
de DNA, independente do sexo dos envolvidos. Para obter informao mais detalhada a
respeito dos miniSTRs e STRs em geral, atravs do stio http://www.cstl.nist.gov/strbase/
possvel acessar a base de dados dos STRs, com informaes atualizadas sobre estes
marcadores genticos utilizados amplamente na cincia forense. Para informaes sobre os
STRs exclusivos do cromossomo Y, favor consultar o stio http://yhrd.org/.
273
certas limitaes e usualmente se aplicam correes, as quais esto fora do escopo do presente
captulo. Portanto, para obter mais informaes e conhecer sobre outras anlises relacionadas
a casos mais complexos, favor consultar Butler (2009) ou Goodwin et al. (2010).
Em uma anlise de paternidade se calcula o ndice de paternidade (IP) para cada locus
analisado, o ndice combinado de paternidade (ICP) e a probabilidade cumulativa positiva de
paternidade (W). IP igual a X dividido por Y, onde X a probabilidade de transmisso do alelo
materno (m) multiplicada pela probabilidade de transmisso do alelo obrigatrio paterno (p) e
Y a probabilidade de transmisso do alelo materno (m) multiplicada pela frequncia do alelo
paterno na populao usada como referncia (f). (Frmula: IP = X / Y ou IP = m.p / m.f). A
probabilidade de transmisso dos alelos m ou p pode ser igual a 1 (quando a me ou o pai
so homozigotos) ou 0,5 (quando a me ou o pai so heterozigotos). Exemplo: Se um suposto
pai homozigoto, a me homozigota e a frequncia de um alelo particular (considerado o
alelo paterno obrigatrio) em uma regio (estado, pas, etc) 0,125, ento: IP = 1.1 / 1.0,125 =
8. Se o suposto pai heterozigoto para esse mesmo locus, ento: IP = 1.0,5 / 1.0,125 = 4.
O ndice combinado de paternidade (ICP) calculado multiplicando o ndice de
paternidade (IP) para os vrios loci genticos avaliados. Exemplo: ICP = 8.4.3.2.3.1,5.2.3.1,5 =
7776, utilizando-se nove loci. O ndice de paternidade pode ainda ser um nmero fracionado.
Para calcular a Probabilidade cumulativa de paternidade (W) se usa a Probabilidade a priori de
paternidade (PP) e o ndice combinado de paternidade (ICP). A Probabilidade a priori de
paternidade de 0,5 (ou 50%) e se refere probabilidade de 50% de que o pai alegado seja
realmente o pai biolgico da criana em questo e 50% de no ser, valor este que garante a
imparcialidade. Exemplo utilizando o ICP de 7776, previamente calculado: W = (PP).(ICP) /
[(PP).(ICP) + (1 PP)] = (0,5).(7776) / [(0,5).(7776) + (1 0,5)] = 0,99987 ou 99,87%. O valor
obtido no exemplo indica que altamente provvel que o pai alegado seja realmente o pai
biolgico.
Em nvel internacional, se aceita como paternidade provvel uma porcentagem entre
90 a 94,9%; como forte indcio de paternidade, entre 95-99%, e como altamente provvel,
acima de 99%. Se em um (ou mais) locus no ocorre concordncia de genotipagem com um dos
alelos do suposto pai, no se pode calcular a IP e, portanto, se considera excluso de
paternidade. W e IP tambm podem ser calculados utilizando os parentes do pai alegado,
quando este no se encontra disponvel ou se j faleceu. Nestes casos, o clculo pode diferir da
frmula dada anteriormente. Estes clculos tambm podem ser teis para comparar o DNA
extrado de restos humanos em desastres naturais e tragdias com DNA dos familiares das
vtimas. Em geral, se um perfil de DNA consiste em uma combinao de gentipos
274
extremamente raros, diramos que a evidncia muito forte. Se o perfil no raro, se supe
que o acaso possa ser responsvel pela coincidncia dos perfis genticos. Para obter
informaes mais detalhadas, favor consultar as referncias citadas anteriormente neste Box
ou Jobim et al. (2012).
275
seguintes caracteres: cor dos olhos, cor dos cabelos, estimativa da idade e estimativa da altura
do indviduo, dentre outros fentipos. Desta forma, na fase de investigao policial, a FDP
poderia reduzir o nmero de suspeitos de um crime, previamente anlise convencional de
STRs. Entretanto, visto que esta tecnologia ainda est em desenvolvimento, importante
esclarecer que esse tipo de anlise ainda no est sendo utilizado na rotina forense. A
legislao a respeito do assunto omissa e na maioria dos pases o debate ainda nem sequer
comeou. As duas naes mais avanadas na aplicao prtica desta tecnologia so Holanda e
Reino Unido (consultar Koops & Schellekens, 2008 para mais detalhes), com alguns casos j
descritos sobre predio de fentipos de pigmentao.
4. PIGMENTAO HUMANA
Ainda que no tenham grande aceitao, existem seis mtodos propostos para
estimativa da idade atravs de marcadores moleculares. Quatro destes mtodos j so
discutidos h algum tempo na comunidade cientfica, a saber: a) taxa de racemizao do cido
asprtico, considerado o padro ouro atualmente (Gold standard) (Dobberstein et al., 2010;
277
Meissner & Ritz-Timme, 2010); b) quantificao dos produtos finais do processo de glicao
avanada (Petrovic et al., 2005; Pilin et al., 2007); c) quantificao de uma deleo de 4.977 pb
no mtDNA, devido a ao contnua de radicais oxidativos (Meissner et al., 2008; Ye et al.,
2008); e d) encurtamento dos telmeros a cada diviso das clulas somticas (von Zglinicki &
Martn-Ruiz, 2005; Cawthon, 2009). Cada um destes quatro mtodos apresenta uma srie de
limitaes, portanto recomenda-se uma padronizao rgida dos inmeros protocolos
existentes atualmente para suas efetivas aplicaes. Dentre as principais limitaes, podemos
citar a possvel interferncia de algumas doenas pr-existentes no indivduo analisado
(Polisecki et al., 2004; von Figura et al., 2009) ou o nvel de degradao ps-morte do material
biolgico (Meissner et al., 1999). Certas diferenas de estimativa de idade tambm dependem
de diversos fatores ambientais que o cadver pode ter sido exposto no intervalo ps-morte
(Berneburg et al., 2004; Dobberstein et al., 2008), bem como diferenas nas medies em
decorrncia do procedimento tcnico utilizado para tal estimativa (Meissner & Ritz-Timme,
2010). Apesar destas limitaes, cada uma destas tcnicas tem mostrado bons valores de
correlao (r) com a idade no momento da morte: 0,87 (anlise de mtDNA); 0,83 (anlise de
telmeros); 0,99 (racemizao do cido asprtico); e 0,90 (anlise de produtos finais da
glicao avanada). A partir destas correlaes, foi possvel derivar frmulas matemticas para
estimar a idade do indivduo, como, por exemplo, a apresentada em Tsuji et al. (2002).
importante salientar que os valores de r mencionados dependem muito da qualidade do
material biolgico usado (Meissner & Ritz-Timme, 2010).
278
7. OUTROS FENTIPOS DE POSSVEL INFERNCIA A PARTIR DO DNA
Outros fentipos alvos de estudos para fins de anlise de predio pelo DNA incluem
calvcie (Hillmer et al., 2008; Richards et al., 2008), forma do cabelo (Fujimoto et al., 2008;
Medland et al., 2009) bem como caractersticas faciais (Liu et al., 2012; Paternoster et al.,
2012; Claes et al., 2014). Apesar dos muitos avanos, ainda se faz necessrio uma validao
extensiva dos vrios protocolos existentes e tambm estudos mais especficos para que as
promessas do DNA para a fenotipagem forense se concretize.
279
O trabalho desenvolvido pelo consrcio CANDELA um dos exemplos de estudos que
visam avanar na aplicao da fenotipagem forense (http://www.ucl.ac.uk/silva/candela). Este
projeto tem como objetivo analisar a diversidade biolgica das populaes latino-americanas,
a fim de fornecer uma caracterizao gentica mais sistematizada das variveis fenotpicas
normais, levando em conta a dinmica de mestiagem da amostra analisada. Participam deste
consrcio pesquisadores da Argentina, Brasil, Chile, Colmbia, Mxico, Reino Unido e Peru.
Com exceo da Argentina e Reino Unido, cada pas coletou informaes de 1500 voluntrios,
desde o material biolgico (10ml de sangue para anlise de DNA), variveis antropomtricas
(peso, altura, circunferncia ceflica, de quadril e cintura), medio indireta da pigmentao
da pele por reflectncia, tamanho da boca (distncia Chelion-Chelion), entre outras medidas
quantitativas e qualitativas. Os primeiros resultados do projeto CANDELA foram publicados no
artigo de Cerqueira et al. (2014), estudando marcadores genticos de cor de pele com
potencial uso na Cincia Forense. Outro trabalho do mesmo consrcio (Ruiz-Linares et al.,
2014) resume os resultados da anlise de diversas variveis fenotpicas em relao
ancestralidade. Atualmente, esto sendo analisados 700.000 SNPs para verificar quais esto
associados significativamente com as caractersticas mencionadas acima. Pesquisas como esta
so produto de um novo momento nas Cincias Forenses e na comunidade cientfica como um
todo, que considera o fator mestiagem para estudos populacionais.
8. ASPECTOS TICOS
280
Van Daal, 2008). Alm disso, a fenotipagem forense (que inclui principalmente o uso de SNPs)
seria uma poderosa ferramenta de investigao policial (Budowle & Van Daal, 2008; Kayser &
Knijff, 2011). Na realidade, a discusso um pouco mais complexa, pois muitos genes de
pigmentao so tambm preditores para suscetibilidade ao cncer de pele e outras
patologias. Em contrapartida, mais razovel imaginar que uma prova tcnico-cientfica (perfil
do suspeito oriundo de um teste de fenotipagem a partir do DNA coletado na cena de um
crime, por exemplo) menos sujeita a erros do que o retrato falado originado pela descrio
subjetiva de testemunhas (Spinney, 2008). Neste aspecto, pode-se antever que menos
injustias sero cometidas e que menos recursos pblicos sero despendidos na busca de
criminosos quando tcnicas de predio de fentipos estiverem sendo utilizadas na rotina
forense. Para finalizar, importante destacar que muitos obstculos tcnicos esto sendo
superados para que a predio fenotpica para uso forense seja um fato, e que os aspectos
ticos e legais relacionados ao tema devem sempre ser discutidos e avaliados por fruns
especializados e pela sociedade civil.
AGRADECIMENTOS
Ao Perito Mdico-Legista Aluisio Trindade Filho (Polcia Civil do Distrito Federal, Brasil)
e aos Peritos Criminais Guilherme da Silveira Jacques (Polcia Federal Brasileira), Rhonan F.
Silva (Polcia Cientfica do estado de Gois, Brasil) e Talita Lima de Castro (Polcia Cientfica do
estado de Rondnia, Brasil) pela troca de experincias e informaes com relao ao uso de
tcnicas antropolgicas na polcia cientfica brasileira. Victor Acua-Alonzo pela reviso e
traduo do portugus para o espanhol.
281
BIBLIOGRAFIA CITADA
Allen M, Nilsson M, Havsj M, Edwinsson L, Granemo J, et al. 2013. Haloplex and MiSeq NGS
for simultaneous analysis of 10 STRs, 386 SNPs and the complete mtDNA genoma,
Presentation at the 25th Congress of the International Society for Forensic Genetics.
Melbourne.
Aulchenko YS, Struchalin MV, Belonogova NM, Axenovich TI, Weedon MN, et al. 2009.
Predicting human height by Victorian and genomic methods. Eur J Hum Genet.
17(8):1070-1075.
Bandelt HJ, van Oven M, Salas A. 2012. Haplogrouping mitochondrial DNA sequences in Legal
Medicine/Forensic Genetics. Int J Legal Med. 126(6):901-16.
Bauer M. 2007. RNA in forensic science. Forensic Sci Int Genet. 1:69-74.
Bezerra, CC. 2005. Metodologia de atuao pericial em desastre de massa: relato do caso
Paraguai. Revista Percia Federal da Associao dos Peritos Criminais Federais do Brasil.
20: 6-10.
Bille T, Wingrove R, Holland M, Holland C, Cave C et al. 2004. Novel method of DNA extraction
from bons assisted DNA identification of World Trade Center victims. Prog. Forensic
Genet. 10: 553555.
Brsting C, Fordyce SL, Olofsson J, Mogensen HS, Morling N. 2014. Evaluation of the Ion
Torrent HID SNP 169-plex: A SNP typing assay developed for human identification by
second generation sequencing. Forensic Sci Int Genet. 12:144-54.
Branicki W, Liu F, van Duijn K, Draus-Barini J, Pspiech E, et al. 2011. Model-based prediction of
human hair color using DNA variants. Hum Genet. 129:443-454.
Brenner CH, Weir BS. 2003. Issues and strategies in the DNA identification of World Trade
Center victims. Theor Popul Biol. 63(3):173-8.
Budowle B, Moretti TR, Baumstark AL, Defenbaugh DA, Keys KM. 1999. Population data on the
thirteen CODIS core short tandem repeat loci in African Americans, U.S. Caucasians,
Hispanics, Bahamians, Jamaicans, and Trinidadians. J Forensic Sci. 44(6):1277-86.
Budowle B, Van Daal A. 2008. Forensically relevant SNP classes. Biotechniques. 44(5):603-608.
Butler JM, Shen Y, McCord BR. 2003. The development of reduced size STR amplicons as tools
for analysis of degraded DNA. J Forensic Sci. 48:1054-1064.
282
Butler JM. 2007. Short tandem repeat typing technologies used in human identity testing.
Biotechniques. 43(4):ii-v.
Cerqueira CCS, Hnemeier T, Gomez-Valdes JA, Ramallo V, et al. 2014. Implications of the
admixture process in skin color molecular assessment. Plos One. 9(5):e96886.
Cerqueira CCS, Paixo-Crtes VR, Zambra FMB, Salzano FM, Hunemeier T, et al. 2012.
Predicting Homo Pigmentation Phenotype Through Genomic Data: From Neanderthal to
James Watson. Am J Hum Biol. 24(5):705-709.
Cho S, Yu HJ, Han J, Kim Y, Lee J, et al. 2014. Forensic application of SNP-based resequencing
array for individual identification. Forensic Sci Int Genet. 13C:45-52.
Claes P, Liberton DK, Daniels K, Rosana KM, Quillen EE, et al. 2014. Modeling 3D facial shape
from DNA. PLoS Genet. 20;10(3):e1004224.
Collins PJ, Hennessy LK, Leibelt CS, Roby RK, Reeder DJ, et al. 2004. Developmental validation
of a single-tube amplification of the 13 CODIS STR loci, D2S1338, D19S433, and
amelogenin: the AmpFlSTR Identifiler PCR Amplification Kit. J Forensic Sci. 49(6):1265-77.
Corach D, Sala A, Penacino G, Iannucci N, Bernardi P, et al. 1997. Additional approaches to DNA
typing of skeletal remains: the search for missing persons killed during the last
dictatorship in Argentina. Electrophoresis. 18:16081612.
Divne AM, Allen M. 2005. A DNA microarray system for forensic SNP analysis. Forens Sci Int.
154:111-121.
Dixon LA, Dobbins AE, Pulker HK, Butler JM, Vallone PM, et al. 2006. Analysis of artificially
degraded DNA using STRs and SNPsresults of a collaborative European (EDNAP)
exercise. Forensic Sci Int. 164:33-44.
Dixon LA, Murray CM, Archer EJ, Dobbins AE, Koumi P, et al. 2005. Validation of a 21-locus
autosomal SNP multiplex for forensic identification purposes. Forensic Sci Int. 154(1):62-
77.
Dobberstein RC, Tung SM, Ritz-Timme S. 2010. Aspartic acid racemisation in purified elastin
from arteries as basis for age estimation. Int J Legal Med. 124:269275.
Draus-Barini J, Walsh S, Popiech E, Kupiec T, Gb H, et al. 2013. Bona fide colour: DNA
prediction of human eye and hair colour from ancient and contemporary skeletal remains.
Investig Genet. 4(1):3.
283
Fraga MF, Ballestar E, Paz MF, Ropero S, Setien F, et al. 2005 Epigenetic differences arise
during the lifetime of monozygotic twins. Proc Natl Acad Sci USA. 102(30):1060410609.
Fujimoto A, Kimura R, Ohashi J, Omi K, Yuliwulandari R, et al. 2008. A scan for genetic
determinants of human hair morphology: EDAR is associated with Asian hair thickness.
Hum Mol Genet. 17(6): 835843.
Giusti AM, Budowle B. 1995. Chemiluminescence-based detection system for human DNA
quantitation and restriction fragment length polymorphism (RFLP) analysis. Appl Theor
Electrophor. 5:89-98.
Goodwin W, Linacre A, Hadi S. 2010. An introduction to forensic genetics. 2nd edition. UK:
Wiley Blackwell.
Greenspoon SA, Ban JD, Pablo L, Crouse CA, Kist FG, et al. 2004. Validation and implementation
of the PowerPlex 16 BIO System STR multiplex for forensic casework. J Forensic Sci.
49(1):71-80.
Gudbjartsson DF, Walters GB, Thorleifsson G, Stefansson H, Halldorsson BV, et al. 2008. Many
sequence variants affecting diversity of adult human height. Nat Genet. 40:609615.
Hazarika P, Russell DA. 2012. Advances in fingerprint analysis. Angew Chem Int Ed Engl.
51(15):3524-31.
Hill CR, Butler JM, Vallone PM. 2009. A 26plex autosomal STR assay to aid human identity
testing. J Forensic Sci. 54(5):1008-15.
Hillmer AM, Brockschmidt FF, Hanneken S, Eigelshoven S, Steffens M, et al. 2008. Susceptibility
variants for male-pattern baldness on chromosome 20p11. Nat Genet. 40(11):12791281.
Jobim LF, Costa LRS, Silva M. 2012. Identificao humana Identificao Mdico Legal, Percias
Odontolgicas, Identificao Humana pelo DNA. Millennium Editora. 2 Edio. Srie
Tratado de Percias Criminalsticas organizador: Domingos Tocchetto.
Jobling MA, Gill P. 2004. Encoded evidence: DNA in forensic analysis. Nat Rev Genet. 5(10):739-
51.
Johnson P, Williams R. 2007. European securitization and biometric identification: the uses of
genetic profiling. Ann Ist Super Sanita. 43(1):36-43.
Kaminsky ZA, Tang T, Wang SC, Ptak C, Oh GH, et al. 2009. DNA methylation profiles in
monozygotic and dizygotic twins. Nat Genet. 41(2):240245
Kayser M, Knijff P. 2011. Improving human forensics through advances in genetics, genomics
and molecular biology. Nat Rev Genet. 12:179192.
284
Keating B, Bansal AT, Walsh S, Millman J, Newman J, et al. 2013. International Visible Trait
Genetics (VisiGen) Consortium. First all-in-one diagnostic tool for DNA intelligence:
genome-wide inference of biogeographic ancestry, appearance, relatedness, and sex with
the Identitas v1 Forensic Chip. Int J Legal Med. 127(3):559-72.
Koops BJ, Schellekens HM. 2008. Forensic DNA phenotyping: regulatory issues. Columbia Sci
Technol Law Rev. 9:158202.
Lango-Allen HL, Estrada K, Lettre G, Berndt SI, Weedon MN, et al. 2010. Hundreds of variants
clustered in genomic loci and biological pathways affect human height. Nature.
467(7317): 832-838.
LaRue BL, Lagac R, Chang CW, Holt A, Hennessy L, et al. 2014. Characterization of 114
insertion/deletion (INDEL) polymorphisms, and selection for a global INDEL panel for
human identification. Leg Med (Tokyo). 16(1):26-32.
Leclair B, Shaler R, Carmody GR, Eliason K, Hendrickson BC, et al. 2007. Bioinformatics and
human identification in mass fatality incidents: the world trade center disaster. J Forensic
Sci. 52(4):806-19.
Lettre G, Jackson AU, Gieger C, Schumacher FR, Berndt SI, et al. 2008. Identification of ten loci
associated with height highlights new biological pathways in human growth. Nat Genet.
40:584591.
Li C, Zhang S, Li L, Chen J, Liu Y, et al. 2012. Selection of 29 highly informative InDel markers for
human identification and paternity analysis in Chinese Han population by the SNPlex
genotyping system. Mol Biol Rep. 39:3143e52.
Li C, Zhao S, Zhang N, Zhang S, Hou Y. 2013. Differences of DNA methylation profiles between
monozygotic twins' blood samples. Mol Biol Rep. 40(9):5275-80.
Liu F, Hendriks AE, Ralf A, Boot AM, Benyi E, et al. 2014. Common DNA variants predict tall
stature in Europeans. Hum Genet. 133(5):587-597.
Liu F, van der Lijn F, Schurmann C, Zhu G, Chakravarty MM, et al. 2012. A genome-wide
association study identifies five loci influencing facial morphology in Europeans. PLoS
Genet. 8(9):e1002932.
Marchi E. 2004. Methods developed to identify victims of the World Trade Center disaster. Am
Labor. 36: 3036.
McEvoy B, Beleza S, Shriver MD. 2006. The genetic architecture of normal variation in human
pigmentation: an evolutionary perspective and model. Hum Mol Genet. 15(Spec No.
2):R176181.
Medland SE, Nyholt DR, Painter JN, McEvoy BP, McRae AF, et al. 2009. Common variants in the
trichohyalin gene are associated with straight hair in Europeans. Am J Hum Genet.
85(5):750755.
285
Meissner C, Bruse P, Mohamed SA, Schulz A, Warnk H, et al. 2008. The 4977 bp deletion of
mitochondrial DNA in human skeletal muscle, heart and different areas of the brain: a
useful biomarker or more? Exp Gerontol. 43:645652.
Meissner C, Ritz-Timme S. 2010. Molecular pathology and age estimation. Forensic Sci Int.
203(1-3):34-43.
Mullaney JM, Mills RE, Pittard WS, Devine SE. 2010. Small insertions and deletions (INDELs) in
human genomes. Hum Mol Genet. 19(R2):R131-6.
Norton HL, Kittles RA, Parra E, McKeigue P, Mao X, et al. 2007. Genetic evidence for the
convergent evolution of light skin in Europeans and East Asians. Mol Biol Evol 24:710722.
Pakstis AJ, Speed WC, Fang R, Hyland FC, Furtado MR, et al. 2010. SNPs for a universal
individual identification panel. Hum Genet. 127(3):315-324.
Parson W, Gusmo L, Hares DR, Irwin JA, Mayr WR, et al. 2014. DNA Commission of the
International Society for Forensic Genetics: Revised and extended guidelines for
mitochondrial DNA typing. Forensic Sci Int Genet. 13:134-42.
Paternoster L, Zhurov AI, Toma AM, Kemp JP, St Pourcain B, et al. 2012. Genome-wide
association study of three-dimensional facial morphology identifies a variant in PAX3
associated with nasion position. Am J Hum Genet. 90(3):478485.
Pena SDJ, Prado VF, Epplen JT. 1995. DNA diagnosis of human genetic individuality. J Mol Med.
73:555-564.
Penchaszadeh VB, Schuler-Faccini L. 2014. Genetics and human rights. Two histories: Restoring
genetic identity after forced disappearance and identity suppression in Argentina and
after compulsory isolation for leprosy in Brazil. Genet Mol Biol. 37(1 Suppl): 299-304.
Pereira R, Phillips C, Alves C, Amorim A, Carracedo A, et al. 2009. A new multiplex for human
identification using insertion/deletion polymorphisms. Electrophoresis. 30(21):3682-90.
Petrovic R, Futas J, Chandoga J, Jakus V. 2005. Rapid and simple method for determination of
Nepsilon-(carboxymethyl)lysine and Nepsilon-(carboxyethyl)lysine in urine using gas
chromatography/mass spectrometry. Biomed Chromatogr. 19:649654.
Phillips C, Fondevila M, Lareau MV. 2012. A 34-plex autosomal SNP single base extension assay
for ancestry investigations. Methods Mol Biol. 830:109-26.
Pilin A, Pudil F, Bencko V. 2007. Changes in colour of different human tissues as a marker of
age. Int J Legal Med. 121:158162.
286
Polisecki EY, Schreier LE, Ravioli J, Corach D. 2004. Common mitochondrial DNA deletion
associated with sudden natural death in adults. J Forensic Sci. 49:13351338.
Prinz M, Carracedo A, Mayr WR, Morling N, Parsons TJ, et al. 2007. International Society for
Forensic Genetics. DNA Commission of the International Society for Forensic Genetics
(ISFG): recommendations regarding the role of forensic genetics for disaster victim
identification (DVI). Forensic Sci Int Genet. 1(1):3-12.
Raghavan M, Skoglund P, Graf KE, Metspalu M, Albrechtsen A, et al. 2014. Upper Palaeolithic
Siberian genome reveals dual ancestry of Native Americans. Nature. 505 (7481):87-91.
Richards JB, Yuan X, Geller F, Waterworth D, Bataille V, et al. 2008. Male-pattern baldness
susceptibility locus at 20p11. Nat Genet. 40:12821284.
Rohlfs RV, Fullerton SM, Weir BS. 2012. Familial identification: population structure and
relationship distinguishability. PLoS Genet. 8(2):e1002469.
Roewer L. 2013. DNA fingerprinting in forensics: past, present, future. Investig Genet. 4(1):22.
Schneider PM. 2012. Beyond STRs: The Role of Diallelic Markers in Forensic Genetics. Transfus
Med Hemother. 39(3):176-180.
Thompson JM, Ewing MM, Frank WE, Pogemiller JJ, Nolde CA, et al. 2013. Developmental
validation of the PowerPlex Y23 System: a single multiplex Y-STR analysis system for
casework and database samples. Forensic Sci Int Genet. 7(2):240-50.
Tsuji A, Ishiko A, Takasaki T, Ikeda N. 2002. Estimating age of humans based on telomere
shortening. Forensic Sci Int. 126:197199.
Tully G. 2007. Genotype versus phenotype: Human pigmentation. Forensic Sci Int Genet.
1(2):105110.
von Figura G, Hartmann D, Song Z, Rudolph KL. 2009. Role of telomere dysfunction in aging
and its detection by biomarkers. J Mol Med. 87:11651171.
von Zglinicki T, Martin-Ruiz CM. 2005. Telomeres as biomarkers for ageing and agerelated
diseases. Curr Mol Med. 5:197203.
Walsh S, Liu F, Wollstein A, Kovatsi L, Ralf A, et al. 2013. The HIrisPlex system for simultaneous
prediction of hair and eye colour from DNA. Forensic Sci Int Genet. 7(1):98-115.
Weber-Lehmann J, Schilling E, Gradl G, Richter DC, Wiehler J, et al. 2014. Finding the needle in
the haystack: differentiating "identical" twins in paternity testing and forensics by ultra-
deep next generation sequencing. Forensic Sci Int Genet. 9:42-46.
Weedon MN, Lango H, Lindgren CM, Wallace C, Evans DM, et al. 2008. Genome-wide
association analysis identifies 20 loci that influence adult height. Nat Genet. 40:575583.
287
Wei YL, Li CX, Jia J, Hu L, Liu Y. 2012. Forensic identification using a multiplex assay of 47 SNPs.
J Forensic Sci. 57(6):1448-56.
Wiegand P, Kleiber M. 2001. Less is morelength reduction of STR amplicons using redesigned
primers. Int J Legal Med. 114:285-287.
Wojdacz TK, Hansen LL. 2006. Techniques used in studies of age-related DNA methylation
changes, Ann NY Acad Sci. 1067:479487.
Ye C, Shu XO, Wen W, Pierce L, Courtney R, et al. 2008. Quantitative analysis of mitochondrial
DNA 4977-bp deletion in sporadic breast cancer and benign breast diseases. Breast Cancer
Res Treat. 108:427434.
Yi SH, Xu LC, Mei K, Yang RZ, Huang DX. 2014. Isolation and identification of age-related DNA
methylation markers for forensic age-prediction. Forensic Sci Int Genet. 11C:117-125.
Zubakov D, Liu F, van Zelm MC, Vermeulen J, Oostra BA, et al. 2010. Estimating human age
from T-cell DNA rearrangements. Curr Biol. 20(22):R970-R971.
288
CAPTULO 11. RECONSTRUO BIOCULTURAL
DA DIETA EM POPULAES ANTIGAS:
REFLEXES, TENDNCIAS E PERSPECTIVAS A
PARTIR DA BIOARQUEOLOGIA.
1. INTRODUO
A complexidade relacionada com a alimentao humana nos revela que ela deve ser
analisada a partir de um enfoque holstico, que inclua aspectos da natureza biolgica, social,
cultural, econmica e poltica (lvarez et al., 2001; De Garine, 1972; De Garine & Vargas, 1997;
Vargas, 1992). Este enfoque, conhecido como biocultural, tem sido utilizado amplamente na
bioarqueologia, para o estudo de diversos aspectos das populaes passadas, entre elas a
alimentao (Contreras & Garca, 2004; De Garine & Vargas, 1997; Larsen, 2000; Pelto et al.,
2000; Pea, 2012; Vargas, 1992).
289
Este captulo oferece uma exposio dos diferentes recursos metodolgicos que se tem
no campo da bioarqueologia para fazer uma aproximao/reconstruo da dieta de
populaes antigas. Dentre elas, uma a anlise da composio qumica dos ossos, que enfoca
principalmente nas tcnicas de istopos estveis e elementos-trao; a outra diz respeito s
bases para o reconhecimento do estado nutricional dos ossos e uma breve exposio dos
atributos dos dentes na reconstruo da dieta. Esta breve introduo tem o objetivo de
mostrar ao leitor um panorama das tendncias e perspectivas nas pesquisas atuais em
paleodietas, estimulando a realizao de estudos integrados com enfoque biocultural,
enfatizando a importncia da interao ente diversas disciplinas a fim de conseguir uma
abordagem completa dos problemas e perguntas da pesquisa que se pretende contemplar.
mediante o estudo das dietas antigas que podemos sugerir mtodos de obteno,
produo, distribuio, preparao e consumo de alimentos. Alm disso, podemos propor
sistemas alimentares, que se definem como processos complexos mediante os quais os grupos
humanos obtm os recursos bsicos, ou matrias primas, para elaborar sua comida e bebida
com base em sua cultura e tecnologia (De Garine & Vargas, 1997: 113). Mediante o estudo de
dietas antigas podemos entender as economias de subsistncia, alm das suas transies;
estabelecer a existncia de redes comerciais de intercmbio, incluindo a presena de fluxos
migratrios; compreender como as condies, modos e estilos de vida especficos influenciam
no estado nutricional de um indivduo ou de uma sociedade, e como isto repercute em sua
sade. O estado nutricional a condio resultante do balano entre a ingesto de alimentos e
a sua utilizao pelo organismo (McLaren & Read, 1976: 146). A sade de um indivduo
depende em grande parte do seu estado nutricional (Buzon, 2012; Cohen & Armelagos, 1984;
Contreras & Garca, 2004; Couninhan, 2000; Cucina & Tiesler, 2011; De Garine & Vargas, 1997;
Frenk et al., 1991; Goodman, 1991; Goodman & Leatherman, 1998; Goodman & Martin, 2002;
Hillson, 2002; Hillson, 2005; Larsen, 2000; Lucas, 1985; Luckacs, 1989; Martin et al., 1985;
290
McLaren, 1993; McLaren & Read, 1976; Ortner & Putschar, 1981; Ortner & Theobald, 2000;
Palacios & Romn, 1994; Petrich, 1987). Da a importncia das pesquisas paleodietrias, elas
fornecem uma aproximao da forma de vida das populaes do passado, padres de
comportamento e graus de adaptao ao entorno.
293
de acordo com a composio de sua dieta (DeNiro, 1987; DeNiro & Epstein, 1978; Krueger &
Sullivan, 1984; Schoeninger et al., 1983). Os tecidos mais usados em bioarqueologia so o
sseo e dental, que esto constitudos em 75% por uma matriz mineral de cristais de
bioapatita e em 20% por fibras de colgeno que correspondem a sua parte orgnica (White,
2000). Para estas anlises, os tecidos so submetidos a um tratamento qumico que permite
separar ambos os componentes; na matriz orgnica mede-se a concentrao de 13C e 15N,
que se relaciona com o contedo protico da dieta (Aufderheide, 1989; Fogel & Tuross, 2003;
Kellner & Schoeninger, 2007; Lee-Thorp, 2008), enquanto que na inorgnica estima-se a
concentrao de 13C e 18O, que reflete a composio total da dieta de um indivduo e o
consumo de gua (Froehle et al., 2012; Kellner & Schoeninger, 2007) (ver Figura 1). O istopo
18
de O tem sido empregado para inferir aspectos relacionados com a ingesto de gua e o
processo de lactao e desmame, sendo isto possvel quando se utiliza o primeiro molar
permanente nas anlises. Alm desta possibilidade, o uso deste istopo principalmente para
estimativas de processos de mobilidade e migrao. Em mmias, pode-se utilizar, alm dos
estudos isotpicos convencionais, a anlise dos compostos sulfurados no cabelo conservado
(Katzenberg, 2008).
Figura 1. Diagrama de variao dos istopos estveis atravs dos nveis trficos (Fonte: Elaborao prpria)
294
A frao isotpica do 13C se relaciona com o ciclo de CO2 (ou do carbono) e se associa
com os tipos de vegetais consumidos. A posio trfica na cadeia alimentar o lugar que
ocupa um organismo, seja como auttrofo (produtor de sua principal fonte orgnica de
energia) ou hetertrofo (consumidor de sua principal fonte orgnica de energia, previamente
produzida de forma externa), ou seja como consumidor herbvoro, onvoro, carnvoro ou
decompositor. As plantas possuem duas rotas fotossintticas por meio das quais participam
neste ciclo. Uma rota resulta em produtos com cadeias de 3 carbonos e, portanto, so plantas
C3 (legumes, hortalias e pastagens); outra rota fotossinttica produz cadeias com quatro
carbonos e so plantas C4 (como o milho e a cana-de-acar) e, as plantas CAM so plantas
que tem um metabolismo misto entre C3 e C4 (cactceas, abacaxi e baunilha). Por outro lado,
15
o N se relaciona com o ciclo da uria (ou do nitrognio), e aumenta seus nveis se h
consumo de fauna silvestre, fauna domesticada e alimentada com plantas C4, assim como
tambm evidencia o consumo de alimentos marinhos (Morales et al., 2012).
Tanto o 15N como o 13C se fixam em diferentes tecidos orgnicos e estes, por sua vez,
tm uma frao isotpica diferente. Por exemplo, no cabelo se estima a frao isotpica da
queratina, no osso e na dentina a do colgeno e, nos anteriormente mencionados e no
esmalte se obtm a da apatita (ver Figura 1). Na hora de explorar a literatura importante ter
claro a natureza da informao exposta, j que conveniente fazer comparaes somente
entre fraes isotpicas do mesmo tecido e, ao fazer de distintos tecidos, necessrio corrigir
as variaes se estas so conhecidas. Independentemente do tecido, a relao que existe entre
a frao de 15N com o ciclo da uria, do 13C com o ciclo do CO2 e do 18C com o ciclo da gua, e
evidenciam que o sinal isotpico um indicador da interao dos organismos com seu entorno
bitico e abitico, produto da assimilao do entorno dos tecidos dos organismos, que d uma
ideia global da composio da dieta dos indivduos (Katzenberg, 2008; Katzenberg, 2012;
Morales et al., 2012).
A quantificao do istopo nas matrizes orgnica e inorgnica se faz por meio da tcnica
de espectrometria de massas, que mede a relao entre o istopo do tecido e um padro de
referncia (ver Tabela 1). O tecido tratado quimicamente para poder ser analisado,
transformando-se em gs de forma controlada, para assim poder estabelecer a relao do
delta () do istopo na amostra analisada com seu padro, expressando seus valores em
partes por mil () (Morales et al., 2012).
295
Tabela 1. Padres e valores isotpicos em colgeno (Katzenberg, 2008; Morales et al., 2012).
Istopo Padro de medio Valores**
13
C VPDB (Pee DeeBelemiteLimestone): um Plantas C3*: -20 a -35
carbonato de formao cretcea Pee Dee,
Plantas C4*: -9 a -14
da Carolina do Sul.
15
N* AIR: Se baseia na concentrao de N Herbvoros: +3 que a base de sua dieta
atmosfrico, j que o elemento mais
Carnvoros: +3 que a base de sua dieta
importante na troposfera.
Humanos: 10 14
15
*Os animais herbvoros apresentam N aproximadamente 3 maiores com respeito ao contedo em sua
dieta (apresentando valores menores aqueles com alimentao a base de algumas leguminosas); por sua vez, em
15 15
carnvoros o N 3 maior que o contedo mdio de N em sua dieta.
**Sempre os valores isotpicos esto sujeitos ao contexto ecolgico e arqueolgico do qual provem, de
modo que esses valores no so rigorosos, nem constante em todas as populaes humanas.
A variabilidade do 15N e, em menor medida, do 13C, tem sido usada para inferir os
nveis trficos alcanados por um indivduo (DeNiro, 1985; Katzenberg, 2008; Katzenberg,
2012; Krueger & Sullivan, 1984; Sillen et al., 1989; Tykot, 2006) (ver Figura 1). O metabolismo
vegetal e os graus trficos entre herbvoros, onvoros e carnvoros geram gradientes isotpicos
que so variveis e consistentes com o entorno ecolgico do qual provm os indivduos
(Hedges & Reynard, 2007; Katzenberg, 2008; Morales et al., 2012; Post, 2002; Williams et al.,
2005); todavia, os valores de fraes isotpicas do tecido sseo e dental variam amplamente,
como vemos na Tabela 1. Neste sentido, tanto a nvel trfico como isotpico, os onvoros no
necessariamente esto entre os herbvoros e carnvoros, pois o consumo de leite materno faz
com que surja uma variao que pode ser interpretada como um nvel trfico superior, j que
se considera o leite como um tecido materno. importante levar em considerao que as
concentraes de ambos os istopos tambm se alteram sob estresse, por escassez de gua e
em estados de deficincias nutricionais, j que o ciclo da uria afetado por estas
circunstncias e isso resulta de um comportamento distinto dos gradientes isotpicos de 15N e
18
O (Katzenberg, 2008; Katzenberg, 2012; Kellner & Schoeninger, 2007; Mathews et al., 2002;
Reitsema, 2013; Sillen et al., 1989; Wright & White, 1996).
296
A natureza da informao que provm tanto dos ossos como dos dentes diferente. Os
dentes permanentes no sofrem remodelao e fornecem informao sobre a dieta durante o
perodo da infncia e adolescncia, enquanto que o osso contm informao da dieta dos
ltimos 10 anos de vida do indivduo. Dependendo do dente que seja selecionado para a
anlise isotpica, este pode proporcionar informao sobre a primeira infncia, a infncia
tardia ou a adolescncia, j que a mineralizao dos dentes permanentes inicia-se desde os 6
meses de vida at os 24 anos, e um tecido que no sofre remodelao depois de ter
completado seu desenvolvimento (White, 2000). Uma reviso de pesquisas bioarqueolgicas
empregando istopos estveis documentam que o comportamento dos valores isotpicos nas
matrizes orgnica e inorgnica permitem argumentar sobre os aspectos que se enunciam na
Tabela 2 (Eerkens et al., 2011; Katzenberg, 2008; Katzenberg, 2012; Klepinger, 1984; Wright &
Schwarcz, 1998).
13 15 18
Tabela 2. Comportamento dos istopos estveis de C, N e O na reconstruo paleodietria
Matriz Istopo Interpretaes isotpicas propostas
13
Inorgnica C - Reflete a dieta total (carboidratos, protenas e lipdeos), pode
ser extrado de ambas as matrizes e o contedo protico
inferido a partir da matriz orgnica.
18
O **
Varia com a quantidade de consumo de gua e a altura sobre o
nvel do mar em que vive o indivduo.
13
Orgnica C - Varia com o consumo predominantemente de plantas C3,
CAM e/ou C4.
15
N
- Ajuda a identificar o consumo de alimentos de origem
marinha.***
297
cadeia alimentar.
** Tem sido mais explorado em populaes vivas e este seria seu potencial em populaes antigas (Fuller et
al. 2006).
*** A fauna marinha mostra valores de N que superam os 12 e em seres humanos geralmente alcanam
valores de at 18, dependendo do tipo de flora e fauna marinha consumida (Katzenberg, 2008; Katzenberg, 2012;
Post, 2002; Schoeninger, 1985).
298
montanhosa (El Riego). Os indivduos costeiros tm valores de 15N e 13N congruentes com o
aproveitamento de fauna marinha e uso de plantas C3; neste estudo a interpretao
apropriada do sinal isotpico se baseou em trs fontes de informao: os estudos de
arqueofauna, a etnografia e a comparao da variao isotpica com outras populaes da
mesma regio de diferentes perodos de ocupao (Yesner et al., 2003). No caso de Riego, no
Vale de Teohuacn, a interpretao dos dados feita tendo em conta o contraste entre o
comportamento isotpico do contexto ecolgico e de indivduos correspondentes aos
perodos subsequentes de ocupao do mesmo local, propondo-se que estes grupos
aproveitaram a fauna silvestre de montanha e a flora endmica desta regio (Farnsworth et
al., 1985). Estes exemplos mostram a estreita relao entre os grupos humanos e os
ecossistemas, evidenciando parte da variabilidade no uso de recursos alimentares ao longo do
tempo. Portanto, apesar de ambos os grupos serem considerados caadores-coletores, suas
economias de subsistncia so diferentes e podem ser diferenciadas a partir do sinal isotpico,
sendo o contexto do qual provm os restos sseos um dos elementos que mais contribui para
a interpretao dos resultados.
13 15
Figura 2: Exemplos de variao isotpica de Col C e Col N em diferentes populaes pr-hispnicas de
caadores-coletores do continente.
299
Neste esquema se utilizam alguns valores publicados (Farnsworth et al., 1985; Yesner et
al., 2003). Aqui podemos observar que o comportamento do sinal isotpico diferente dada a
relao do sinal com o contexto ecolgico, pois os dados de Caleta Falsa" provm de uma
zona costeira do Cone Sul, enquanto que os de El Riego provm de uma zona montanhosa
localizada no Vale de Tehuacn, no centro do Mxico. Em ambos os casos, se observa um
comportamento diferente tanto do 13C, como do 15N. O enriquecimento do colgeno em "Caleta
13
Falsa" atribudo ao uso de recursos marinhos, e o C mostra gradientes altos que no se
relacionam com consumo de plantas C4, j que ecologicamente isto no possvel e o
comportamento isotpico dos restos de arqueofauna os corroboram (Yesner et al., 2003). Por
outro lado, o enriquecimento do colgeno em "El Riego" considerado como resultado do
consumo de fauna silvestre e consumo de plantas C3 e CAM, endmicas desta regio; pode-se
perceber isto graas ao comportamento do sinal isotpico de populaes de perodos seguintes
e o registro de fauna e flora recuperado do contexto (Farnsworth et al., 1985).
b. ELEMENTOS-TRAO
Estes estudos tm sido muito utilizados no Vale do Mxico, a regio zapoteca e rea
Maia, para entender as variaes paleodietrias intragrupo, diacronicamente e em relao ao
301
status (Gonzlez, 2011; Meja, 2012). Ressalta-se que o intervalo de aporte dos elementos-
trao em relao reconstruo da dieta aumenta na medida em que: se use para contextos
arqueolgicos prximos a ecossistemas marinhos, ou se busque uma aproximao dieta
consumida nas ltimas etapas da vida, j que somente podem se inferir os nveis trficos em
relao fauna presente no contexto, e em ossos adultos existe troca de tecido, o que informa
apenas os ltimos dez anos de vida. por isso que sua contribuio tem sido usada para o
entendimento do uso de recursos especficos, mais que para um panorama ecolgico onde
esto inseridos outros graus de interao dos indivduos com o seu entorno.
As molculas de oxignio (O2), dixido de carbono (CO2) e gua (H2O) tm altas taxas de
reciclagem no metabolismo e elas no so, necessariamente, obtidas por assimilao direta
(respirao, consumo de gua), mas sim como produtos intermedirios de anabolismo ou
catabolismo de distintas biomolculas de procedncias incertas, portanto, as modificaes em
suas perdas e ganhos interferem no perfil isotpico dos tecidos (Brssow, 2007; Mandigan et
al., 2004; Mathews et al., 2002; Sillen et al., 1989). Devido a isto, importante pensar em
vrias possibilidades na hora de realizar as interpretaes que no somente esto relacionadas
com o consumo de gua na dieta e composio isotpica atmosfrica em cada rea
geogrfica.
302
importante ter uma noo geral dos diferentes estados de carncia relacionados com
o estresse fisiolgico por diminuio na assimilao de nutrientes (por exemplo: gua,
protenas e clcio), j que alteram os perfis isotpicos, no apenas em humanos, mas tambm
nas fontes de consumo (Hernndez et al., 2008; Katzemberg & Lovell, 1999; Katzenberg, 2012;
Mrquez et al., 2002; Reitsema, 2013; Wright & White, 1996).
303
2006; Mrquez & Hernndez, 2006a; Neves & Wesolowski, 2002; Rodrguez Cuenca, 2006;
Ubelaker & Newson, 2002; White et al., 2001; Whittingtong, 1997).
304
Alm do retardo no crescimento, uma das condies nutricionais mais comuns
observadas em esqueletos antigos so os defeitos no tubo neural, incluindo espinha bfida e
anencefalia, patologias associadas deficincia materna de folato, especialmente durante as
etapas iniciais da gravidez, j que a formao do tubo neural se d no perodo embrionrio
(Blom et al., 2006; Coop et al., 2013; Lpez-Camelo et al., 2005). Em paleopatologia, o caso
mais frequente relatado envolve a ausncia de fechamento de vrtebras lombares e sacral,
normalmente observadas em esqueletos juvenis e adultos (Ver Fotografia 1a e Tabela 3)
(Ortner, 2003).
306
Figura 3a, b, c, d, e. Imagens de marcas osteolgicas de leses relacionas com estados carenciais (Fotografias
tomadas da srie esqueltica de San Gregorio Atlapulco, Xochimilco. Laboratrio de Ps-Graduao em
Antropologia Fsica Escola Nacional de Antropologia e Histria). Figura (a) defeitos de fechamento do tubo neural,
figura (b) cribra orbitalia, figura (c) hiperostose portica, figura (d) leses endocranianas associadas ao escorbuto,
figura (e) leses do maxilar associadas ao escorbuto.
307
do osso (Brickley & Ives, 2008). Como a formao do osso inibida enquanto a produo de
colgeno defeituosa, as manifestaes esquelticas somente comeam a ser aparentes com
a reintroduo da vitamina C na dieta, ainda que em quantidades mnimas (Brickley M & Ives
R, 2006 e 2008). Quando a hemorragia ocorre abaixo do peristeo (a membrana que cobre o
osso), pode estimular a produo de osso fibroso, ou uma porosidade anormal, mais marcada
nas zonas onde as contraes musculoesquelticas podem gerar danos adicionais nos vasos
sanguneos limtrofes (Brickley & Ives, 2008; Brown & Ortner, 2011; Mahoney-Swales &
Nystrom, 2009; Ortner, 2003; Ortner & Ericksen, 1997) (Ver Figura 3d e 2e, Tabela 3, e captulo
de Suby et al., neste mesmo volume).
iii. ADULTOS
308
nesta etapa da vida, no mostra a mesma resposta frente a anemia que na infncia (Walker et
al., 2009).
O escorbuto se manifesta nos esqueletos adultos, embora de uma forma mais discreta
que nos adolescentes. Em adultos, a deficincia de vitamina C primeiramente provoca doenas
periodontais, perda dos dentes e formao de hematomas no peristeo pela fragilidade capilar
(Brickley & Ives, 2008; Buckley et al., 2014; Ortner, 2003; Van der Merwe et al., 2010).
A terceira idade merece ateno especial. Com a idade, outros fatores alm da
disponibilidade de alimentos podem desenvolver um papel importante no estado nutricional
do indivduo. A perda significativa dos dentes faz com que a mastigao seja mais difcil, e
outras condies tambm podem interferir na digesto e absoro de nutrientes. Assim, os
ancios podem experimentar deficincias nutricionais, incluindo quando os alimentos
adequados esto a sua disposio.
309
Tabela 3. Marcas sseas das deficincias nutricionais:
Condio nutricional Deficincia Etapa da vida afetada Manifestaes sseas
pela forma ativa
Anemia cido flico e/ou B12 Infncia e adolescncia Crirba orbitalia com expanso do
b
megaloblstica dploe da parte superior da rbita.
Hiperostose portica: leses com
expanso do dploe nos ossos
frontal, parietal e occipital.
c
Escorbuto Vitamina C Pr-natal, infncia, Subadultos: proliferaes porosas
adolescncia e vida anormais nos esfenides, na parte
adulta superior das rbitas, osso temporal,
maxilar, mandbula, calotas
cranianas, endocrnio, juno
costocondral, a escpula e ossos
longos.
d
Raquitismo Vitamina D, clcio e Pr-natal, infncia e Leses cranianas porosas,
protenas adolescncia deformao de ossos longos,
alargamento das costelas na unio
osteocondral.
e
Osteomalacia Vitamina D, tambm Adulta Reduo da massa ssea e
Clcio e protenas deformao em casos severos.
f
Osteoporose Alteraes hormonais, Adulta Reduo e afinamento do osso
embora deficincias de trabecular, reduo do osso cortical
+2
Ca , vitamina D, e fraturas (costelas, vrtebras
protenas ou outros lombares, fmur, mero, e fraturas
nutrientes possam de colles).
contribuir
a.(Allen, 1994; Bogin et al., 2007); b.(El-Najjar et al., 1975; Holland & O'Brien, 1997; Mensforth et al., 1978;
Palkovich, 1987; Stuart-Macadam, 1985; Stuart-Macadam, 1987; Stuart-Macadam, 1989; Stuart-Macadam, 1991;
Walker et al., 2009); c.(Brickley & Ives, 2008; Brown & Ortner, 2011; Buckley et al., 2014; Mahoney-Swales &
Nystrom, 2009; Ortner, 2003; Ortner & Ericksen, 1997; Van der Merwe et al., 2010; Walker et al., 2009); d.(Brickley
& Ives, 2008; Ortner, 2003; Pettifor, 2008); e.(Brickley & Ives, 2008; Ortner, 2003); f.(Brickley & Ives, 2008; Ortner,
2003).
310
7. OS DENTES NA RECONSTRUO PALEODIETRIA
Recentemente, tem-se feito exploraes mais exaustivas das patologias orais, tais como
profundidade, localizao e distribuio das cries (Pezo & Eggers, 2010) e foi incorporado o
uso de tcnicas complementares como a microscopia eletrnica nos estudos de desgaste
dental (Organ et al., 2005). Portanto, est ampliando o acervo de informao extrada tanto
das crie como do clculo dental, sendo estes tpicos de pesquisa muito promissores para
estudos futuros.
312
dieta, assumida por grupos humanos do passado, e esto demarcadas pela organizao social,
poltica, econmica e a interao desses fatores com o seu entorno.
Com relao s tcnicas, tem sido reforado a explorao qumica com a busca
especfica de aminocidos essenciais da dieta e a fisiologia envolvida no sinal isotpico (Fogel
& Tuross, 2003; Reitsema, 2013). Tambm, tem se observado um desenvolvimento de tcnicas
para o estudo de patologias dentais e de restos sseos (Organ et al., 2005; Pezo & Eggers,
2010); tudo isso contribui para um respaldo mais conciso das inferncias que podem ser feitas
com o objetivo de reconhecer parte do comportamento de populaes passadas.
Por fim, outro desafio conseguir projetar a relevncia de nossos aportes e o uso das
ferramentas metodolgicas expostas aqui, para assim contrariar as restries financeiras a que
esto imersos os projetos de pesquisa, j que os estudos bioarqueolgicos so, muitas vezes,
vistos como "distante" das questes estratgicas das polticas de cincia e tecnologia em cada
pas.
314
BIBLIOGRAFIA CITADA
Allen L. 1994. Nutritional influences on linear growth. European Journal of Clinical Nutrition
48:75 - 89.
Ambrose S, Buikstra J, Krueger H. 2003. Status and gender differences in diet at Mound 72,
Cahokia, revealed by isotopic analysis of bone. Journal of Anthropological Archaeology
22(3):217 - 226.
Aufderheide A. 1989. Chemical Analysis of Skeletal Remains. En: can Y, Kennedy K editores.
Reconstruction of Life from the Skeleton. New York: Alan Liss. p 237 - 360.
Balasse M. 2002. Reconstructing Dietary and Environmental History from Enamel Isotopic
Analysis: Time Resolution of Intra-tooth Sequential Sampling. International Journal of
Osteoarchaeology 12:155 - 165.
Barberena R. 2002. Los lmites del mar. Istopos estables en Patagonia Meridional. Buenos
Aires: Sociedad Argentina de Antropologa
Barberena R, Gil A, Neme G, Tykot R. 2009. Stable Isotopes and Archaeology in Southern South
America. Hunter-Gatherers, Pastoralism and Agriculture: An Introduction. International
Journal of Osteoarchaeology 19:127 - 129.
Barker D. 2004. The Developmental Origins of Adult Disease. Journal of American College of
Nutrition. p 588 - 595.
Barker D. 2006. Commentary: birthweight and coronary heart disease in a historical cohort.
International Journal of Epidemilogy 35:886 - 887.
Beutler E, Kipps T, Coller B, Seligsohn U, Lichtman M. 2005. Williams Hematology. New York:
Mc Graw-Hill Interamericana.
Blom H, Shaw G, Heijer M, Finnel R. 2006. Neural tube defects and folate: case far from closed.
Nature Reviews Neuroscience 7:724 - 731.
Bogin B, Varela Silva M, Rios L. 2007. Life history trade-offs in human growth: Adaptation or
pathology? American Journal of Human Biology 19(5):631 - 642.
Brickley M, Ives R. 2008. The Bioarchaeology of Metabolic Diseases. Oxford: Elsevier. 325 p.
Brown, Ortner D. 2011. Childhood scurvy in a medieval burial from Ma??vanska Mitrovica,
Serbia. International Journal of Osteoarchaeology 21:197 - 207.
Brssow H. 2007. Some Aspects of Nutritional Biochemistry. En: Brssow H, editor. The Quest
for Food: A Natural History of Eating. New York: Springer. p 27 - 120.
315
Buikstra J, Beck L, editores. 2006. Bioarchaeology, The Contextual Analysis of Human Remains.
New York: Academic Press - Elsevier Inc.
Bullock M. 2010. Urban Population Dynamics in a Preindustrial New World City: Morbidity,
Mortality, and Immigration in Postclassic Cholula. Pennsylvania: Pennsylvania State
University.
Burton J. 2008. Bone Chemestry and Trace Elements. En: Katzemberg A, Saunders S, editores.
Biological Anthropology of The Human Skeleton. Second ed. New Jersey: John Wiley &
Sons, Inc. p 443 - 460.
Burton J, Price D. 2000. The Use and Abuse of Trace Elelments for Paleodietary Research. En:
Ambrose S, Katzemberg A, editores. Biogechemical Approaches to Paleodietary Analyses.
New York: Plenum Publishers. p 159 - 171.
Coop A, Stanier P, Greene N. 2013. Neural tube defects: Recent advances, unsolved questions,
and controversies. Lancet Neurol 12:799 - 810.
Couninhan C. 2000. The social and cultural uses for food. En: Kiple K, Cone K, editores. The
Cambridge world history of food. Cambridge: Cambridge University Press. p 1513 - 1522.
Cucina A, Tiesler V. 2011. Salud oral y caries entre los mayas del periodo Clsico. En: Cobos R,
Fernndez L, editores. Vida cotidiana de los antiguos mayas del norte de la pennsula de
Yucatn. Yucatn, Mxico: Ediciones de la Universidad Autnoma de Yucatn. p 23 - 43.
De Garine I. 1972. The sociocultural aspects of nutrition. Ecology Food and Nutrition 1:27 - 46.
Del Castillo O, Mrquez L. 2006. Mujeres, desigualdad social y salud en la Ciudad de Mxico
durante el Virreinato. En: Mrquez L, Hernndez P, editores. Sociedad y Salud en el
Mxico Prehispnico y Colonial. Mxico: Conaculta- INAH-Promep. p 395 - 439.
DeNiro M. 1985. Post-mortem preservation and alteration of in vivo bone collagen isotope
ratios in relation to paleodietary reconstruction. Nature 317:806 - 809.
DeNiro M. 1987. Stable isotopy and archaeology. American Science 1:21 - 38.
316
DeNiro M, Epstein S. 1978. Influence of diet on the distribution of carbon isotopes in animals.
Geochimica et Cosmochimica Acta 42:495 - 506.
DeWitte S. 2010. Sex differentials in frailty in medieval England. American Journal of Physical
Anthropology 143:285 - 297.
DeWitte S, Bekvalac J. 2010. Oral health and frailty in the medieval english cemetery of St
Mary Graces. American Journal of Physical Anthropology 142:341 - 354.
DeWitte S, Wood J. 2008. Selectivity of black death mortality with respect to preexisting
health. Proceedings of National Academy of Sciences of the United States 105(5):1436 -
1441.
Eerkens J, Berget A, Bartelink E. 2011. Estimating weaning and early childhood diet from serial
micro-samples of dentin collagen. Journal of Archaeological Science 38:3101- 3111.
Ferrell T. 2002. Enamel Defects, Well-Being, and Mortality in a Medieval Danish Village
[Investigation]. Pennsylvania: Pennsylvania State University.
Fogel M, Tuross N. 2003. Extending the limits of paleodietary studies of humans with
compound specific carbon isotope analysis of amino acids. Journal of Archaeological
Science 30:535 - 545.
Frenk J, Bobadilla J, Stern C, Frejka T, Lozano R. 1991. Elementos para una teora de la
transicn en salud. Salud Pblica Mexicana 33:448 - 462.
Froehle A, Kellner C, Schoeninger M. 2012. Multivariate Carbone and Nitrogen table Isotope
Model for the Reconstruction of Prehistoric Human Diet American Journal of Physical
Anthropology 147:352 - 369.
Fuller BT, Fuller JL, Harris DA, Hedges REM. 2006. Detection of breastfeeding and weaning in
modern human infants with carbon and nitrogen stable isotope ratios. American Journal
of Physical Anthropology 129(2):279-293.
Gil A, Neme G, Tykot R, Novellino P, Cortegoso V, Durn V. 2009. Stable Isotopes and Maize
Consumption in Central Western Argentina. International Journal of Osteoarchaeology
19:215 - 236.
Gonzlez E. 2011. Desigualdad social y condiciones de vida en Monte Albn, Oaxaca. Mxico:
Instituto Nacional de Antropologa e Historia.
Goodman A. 1991. Stress, adaptation, and enamel developmental defects. En: Ortner D,
Aufderheide A, editores. Human paleopathology Current synthesis and future options.
New York: Cambridge University Press. p 11 - 60.
Goodman A, Leatherman T. 1998. Traversing the Chasm between Biology and Culture: An
Introduction. En: Goodman A, Leatherman T, editores. Building a New Biocultural
Synthesis, Political-Economic Perspectives on Human Biology. Michigan: University of
Michigan Press. p 3 - 41.
317
Goodman A, Martin D. 2002. Reconstructing health profiles from skeletal remains. En: Rose J,
Steckel R, editores. The backbone of history Health and nutrition of the western
hemisphere. New York: Cambridge University Press. p 11 - 60.
Goodman A, Martin D, Armelagos G. 1984. Indicators of stress from bones and teeth. En:
Cohen M, Armelagos G, editores. Paleopathology at the origins of agriculture. Orlando:
Academic Press. p 13 - 49.
Grantham-McGregor S. 1998. Small for gestational age, term babies, in the first six years of
life. European Journal of Clinical Nutrition 52(Suppl 1):59 - 64.
Hedges R, Reynard L. 2007. Nitrogen isotopes and the trophic level of humans in archaeology.
Journal of Archaeological Science 34:1240 - 1251.
Hernndez P, Mrquez L. 2010. Los nios y nias del antiguo Xochimilco: un estudio de
mortalidad diferencial. Revista Espaola de Antropologa Fsica 31:39 - 52.
Hillson S. 1979. Diet and Dental Disease. World Archaeology 11(2):147 162.
Hillson S. 2005. Dental Disease. En: Hillson S, editor. Teeth. Second ed. New York: Cambridge
University Press. p 286 - 318.
Holland T, O'Brien M. 1997. Parasites, porotic hyperostosis, and the implications of changing
perspectives. American Antiquity 62:183 - 193.
Katzenberg A. 2008. Stable isotope analysis: a tool for studying past diet, demography, and life
history. En: Katzenberg A, Saunders S, editores. Biological Anthropology of The Human
Skeleton. New Jersey: John Wiley & Sons, Inc. . p 413 - 441.
Katzenberg A. 2012. The Ecological Approach: Understanding Past Dietand the Relationship
Between Diet and Disease En: Grauer A, editor. A Companion of Paleopathology. Malden:
Blackwell Publishing Ltd. p 97 - 113.
318
Katzenberg A, Saunders S, Fitzgerald W. 1993. Age Differences in Stable Carbon and Nitrogen
Isotope Ratios in a Population of Prehistoric Maize Horticulturists. American Journal of
Physical Anthropology 90:267 - 281
Keegan W, DeNiro M. 1988. Stable Carbon - and Nitrogen- Isotope Ratios of Bone Collagen
Used to Study Coral-Reef and Terrestial Componente of Prehistoric Bahamien Diet.
American Antiquity 53(2):320 - 336.
Keene A. 1985. Nutrition and Econmy: Models for the Study of Prehistoric Diet En: Gilbert R,
Mielke J, editores. The Analysis of Prehistorics Diets. Orlando: Academic Press Inc. p 155 -
190.
Kellner C, Schoeninge M. 2008. Wari's imperial influence on Nasca diet: The stable isotope
evidence. Journal of Anthropological Archaeology 27:226 - 243.
Kellner C, Schoeninger M. 2007. A Simple Carbon Isotope Model for Reconstructing Prehistoric
Human Diet. American Journal of Physical Anthropology 133:1112 - 1127.
Klepinger L. 1984. Nutritional Assessment from Bone. Annual Review of Anthropology 13:75 -
96. Knudson K, Aufderheide A, Buikstra J. 2007. Seasonality and paleodiet in the Chiribaya
polity of southern Peru. Journal of Archaeological Science 34:451 - 462.
Krueger H, Sullivan C. 1984. Models for carbon isotope fractionation between diet and bone.
En: Turlund J, Johnson P, editores. Stable isotope in nutrition. Washingtong DC: American
Chemical Society Symposioum. p 205 - 220
Lalueza C, Juan J, Albert R. 1996. Phytolith Analysis on Dental Calculus, Enamel Surface, and
Burial Soil: information About Diet and Paleoenvironment. American Journal of Physical
Anthropology 101:101 - 113.
Larsen S. 1995. Biological Changes in Human Populations with Agriculture. Annual Review of
Anthropology 24:185 - 213.
Larsen S. 2000. Dietary Reconstruction and Nutritional Assessment of Past Peoples: The
Bioanthropological Record. En: Kiple K, Cone K, editores. The Cambridge World History of
Food. New York: Cambridge University Press. p 13 - 34.
Larsen S. 2002. Bioarchaeology: The lives and Lifestyles of Past People. Journal of
Archaeological Research 10(2):119 - 165.
Lee-Thorp JA. 2008. On Isotipes and Old Bones. Archaeometry 50(6):925 - 950.
319
defects after folic acid fortification in Chile. American Journal of Medical Genetics
135A(2):120 - 125.
Lucas M. 1985. The analysis of dental wear and caries for dietary reconstruction. En: Gilbert R,
Mielke J, editores. The Analysis of Prehistoric Diets. Orlando: Academic Press. p 307 - 338.
Luckacs J. 1989. Dental paleopathology: methods for reconstructing dietary patterns. En:
can Y, Kennedy K, editores. Reconstructing Life from the Skeleton. New York: Alan Liss. p 261
- 286.
Mrquez L, Gonzlez E. 2006. Salud, nutricin y desigualdad social en Monte Albn durante el
clsico. En: Mrquez L, Hernndez P, editores. Sociedad y Salud en el Mxico Prehispnico
y Colonial. Mxico: Conaculta-INAH-Promep. p 211 - 232.
Mrquez L, McCaa R, Storey R, Del Angel A. 2002. Health and Nutrition in Pre-hispanic
Mesoamerica. En: Steckel R, Rose J, editores. The Backbone of History Health and Nutrition in
the Western Hemisphere. New York: Cambridge University Press. p 307 - 340.
Mathews C, Van Holde K, Ahern K. 2002. Bioqumica. Madrid: Pearson Practice Hall.
McKenzie SB, editor. 2002. Hematologa Clnica. Segunda ed. Mxico: Manual Moderno.
320
Meja G. 2012. Elementos traza aplicados al anlisis de la paleodieta en Teopancazco. En:
Manzanilla L, editor. Estudios arqueomtricos del Centro de Barrio de Teopancazco en
Teotihuacan. Mxico: Instituto de Investigaciones Antropolgicas UNAM. p 325 - 345.
Mensforth R, Lovejoy CO, Lallo J, Armelagos G. 1978. Part Two: The role of constitutional
factors, diet, and infectious disease in the etiology of porotic hyperostosis and periosteal
reactions in prehistoric infants and children. Medical Anthropology 2:1 - 59.
Moncrieff M, Fadahunsi T. 1974. Congenital rickets due to maternal vitamin D deficiency. Arch
Dis Child 49:810 - 811.
Muthayya S. 2009. Maternal nutrition & low birth weight - what is really important? Indian
Journal of Medical Research. p 600 - 608.
Neves W, Wesolowski V. 2002. Economy, Nutrition, and Disease in Prehistoric Coastal Brazil: A
Case Study of Santa Catarina. En: Steckel R, Rose J, editores. The Backnone History:
Heatlth and Nutrition in The Western Hemisphere. New York: Cambridge University Press.
p 376 - 400.
Organ J, Teaford M, Larsen C. 2005. Dietary Inferences From Dental Occlusal Microwear at
Mission San Luis de Apalachee. American Journal of Physical Anthropology 128:801 - 811.
Ortner D, Ericksen M. 1997. Bone changes in the human skull probably resulting from scurvy in
infancy and childhood. International Journal of Osteoarchaeology 7(3):212 - 220.
Pate F. 1994. Bone Chemetry and Paleodiet. Journal of Archaeological Method and Theory
1:161 - 209.
Petrich P. 1987. Hombres de maz, hombres de carne. Rev UNESCO El hombre y lo que come
Alimentacin y cultura Mayo:10 - 13.
Pettifor J. 2008. Vitamin D &/or calcium deficiency rickets in infants & children: a global
perspective. Indian Journal of Medical Research. p 245 - 249.
Pezo L, Eggers S. 2010. The Usefulness of Caries Frequency, Depth, and Location in
Determining Cariogenicity and Past Subsistence: A Test on Early and Later Agriculturalists
From the Peruvian Coast. American Journal of Physical Anthropology 143:75 - 91.
Post D. 2002. Using Stable Isotopes to Estimate Trophic Position: Models, Methods and
Assumptions. Ecology 83(3):703 - 718.
Schoeninger M. 1985. Trophic level effects on 15N/14N and 13C/12C ratios in bone collagen
and strontium levels in bone mineral. Journal of Human Evolution 14(5):515-525.
Schoeninger M. 1989. Reconstructing prehistoric human diet. En: Price D, editor. Chemestry of
Prehistoric Human Bone. Cambridge: Cambridge University Press. p 38 - 67.
Schoeninger M, DeNiro M, Henrik T. 1983. Stable Nitrogen Isotope Ratios of Bone Collagen
Reflect Marine and Terrestrial Components of Prehistoric Human Diet. Science, New
Series 220(4604):1381 - 1383.
Scott R, Turner II C. 1988. Dental Anthropology. Annual Review of Anthropology 17:99 - 26.
Sellen D. 2001. Comparison of Infant Feeding Patterns Reported for Nonindustrial Populations
with Current Recommendations. Journal of Nutrition 131(10):2707 - 2715.
Sillen A, Selay J, van der Merwe N. 1989. Chemistry and Paleodietary Research: No More Easy
Answers. American Antiquity 54(3):504 - 512.
Sofaer J. 2006. Body as material culture. En: Sofaer J, editor. The Body as Material Culture, A
Theoretical Osteoarchaeology. Cambridge: Cambridge University Press. p 1 - 31.
Steckel R, Rose J, editores. 2002. The Backbone of History. Health and Nutrition in The Western
Hemispehre. New York: Cambridge University Press.
322
Storey R. 2009. Hetrogenidad individual, fragilidad y la paradoja osteolgica. En: Gonzles E,
Mrquez L, editores. Paradigmas y retos de la bioarqueologa mexicana. Mxico: promeP -
INAH - Conaculta. p 191 - 216.
Stuart-Macadam P. 1987. Porotic hyperostosis: new evidence to support the anemia theory.
American Journal of Physical Anthropology 74:521 - 526.
Stuart-Macadam P. 1989. Porotic hyperostosis: relationship between orbital and vault lesions.
American Journal of Physical Anthropology 80:187 - 193.
Tykot R. 2006. Isotope Analyses and Histories of Maize. En: Tykot R, Benz B, editores. Histories
of Maize. San Diego: Elsevier. p 131 - 142.
Ubelaker D, Katzenberg A, Doyon L. 1995. Status and Diet in Precontact Highland Ecuador.
American Journal of Physical Anthropology 97:403 - 411.
Ubelaker D, Newson L. 2002. Patterns of Health and Nutrition in Prehistoric and Historic
Ecuador. En: Steckel R, Rose J, editores. The Backbone of History: Hetalth and Nutrition in
The Western Hemisphere. New York: Cambridge university Press. p 343 - 375.
Usher B. 2000. A Multistate Model of Health and Mortality for Paleodemography: The Tirup
Cementery. Pennsylvania: Pennsylvania State University.
van der Hammen T, Correal G, van Klinken G. 1992. Isotopos estables y dieta del hombre
prehistorico en la sabana de Bogot. Boletn de Arqueologa. p 3 - 10
Van der Merwe A, Steyn M, Maat J. 2010. Adult scurvy in skeletal remains of late 19th century
mineworkers in Kimberley, South Africa. International Journal of Osteoarchaeology
20(3):307
Warinner C. 2010. Life and Death at Teposcolula Yucundaa: Mortuary, Arceogenetic and
Isotopic Investigations of early Colonial Period in Mexico [Investigation]. Cambridge:
Harvard University.
White C, Healy P, Schwarcz H. 1993. Intensive Agriculture, Social Status, and Maya Diet at
Pacbitun, Belize. Journal of Anthropological Research 49(4):347 - 375.
White C, Pendergast D, Longstaffe F, Law K. 2001. Social Complexity and Food Systems at Altun
Ha, Belize: The Isotopic Evidence. Latin American Antiquity 12(4):371 - 393.
323
Whittingtong R. 1997. Commoner diet at Copn: Insights from stable isotopes and porotic
hyperostosis. En: Dutro N, editor. Bones of the Maya. Washington: Smithsonian
Institution Press. p 157 - 170.
Williams J, White C, Longstaffe F. 2005. Trophic level and macronutrient shift effects
associated with the weaning process in the postclassic Maya. American Journal of Physical
Anthropology 128(4):781-790.
Wright LE, Schwarcz H. 1999. Correspondence Between Stable Carbon, Oxygen and Nitrogen
Isotopes in Human Tooth Enamel and Dentine: Infant Diets at Kaminaljuy. Journal of
Archaeological Science 26:1159 - 1170.
Wright LE, Schwarcz HP. 1998. Stable carbon and oxygen isotopes in human tooth enamel:
Identifying breastfeeding and weaning in prehistory. American Journal of Physical
Anthropology 106(1):1-18.
Wright LE, White C. 1996. Human Biology in the Classic Maya Collapse: Evidence from
Paleopathology and Paleodiet. Journal of World Prehistory 10(2):147 - 198.
Yesner D, Figuerero M, Guichon R, Borrero L. 2003. Stable isotope analysis of human bone and
ethnohistoric subsistence patterns in Tierra del Fuego. Journal of Anthropological
Archaeology 22:279 - 291.
324
CAPTULO 12. PALEOPATOLOGIA:
INTERPRETAES ATUAIS SOBRE A SADE NO
PASSADO.
1. INTRODUO
325
Entretanto, distintas evidncias secundrias, como a informao obtida a partir de micro-
organismos associados aos restos humanos ou das fontes iconogrficas, histricas e
etnogrficas, podem prover dados relevantes a partir de uma perspectiva paleopatolgica.
Este captulo dar uma nfase especial s conquistas obtidas a partir do estudo de restos
esquelticos, visto que, comparativamente, so as evidncias mais abundantes dentre as
disponveis (Ortner, 2003). Desta forma, sero desenvolvidas as principais linhas de evidncia
que geralmente se estudam nas sries esquelticas: indicadores de estresse sistmico,
patologias dento-alveolares, processos infecciosos e traumticos, doenas degenerativas
articulares e alteraes entsicas (ver descries detalhadas mais abaixo).
326
tecnolgicos no campo da radiologia e da histologia, comearam a ser utilizados como
ferramentas para obter informao adicional e, com isso, tornar mais precisos os diagnsticos
paleopatolgicos (Chhem & Brothwell, 2008; Zuckerman et al., 2012; Assis, 2013).
Entretanto, segundo alguns autores (por exemplo, Buikstra & Cook, 1980), os progressos
produzidos no mbito da paleopatologia foram escassos at meados do sculo XX. Em
contraste, o desenvolvimento nas reas da arqueologia, antropologia biolgica e biologia
evolutiva realizado durante esse perodo foram abundantes, abandonando-se
progressivamente as concepes raciais, substitudas por perspectivas ecolgicas e evolutivas
em escalas populacionais. Estas mudanas conceituais foram a base dos fundamentos tericos
adotados posteriormente pela paleopatologia, a qual iniciou um processo de abandono das
perspectivas integralmente clnicas e tipolgicas, com interesse em estudos de caso muito
pontuais, passando a abordar o estudo das doenas considerando seus contextos sociais,
culturais e evolutivos (Buikstra & Cook, 1980; Zuckerman et al., 2012).
327
biocultural e populacional, integrando os resultados obtidos com a informao vinculada
organizao social e funerria, os padres de atividades, diviso do trabalho, os dados
derivados dos estudos paleodemogrficos, os movimentos populacionais e as relaes
biolgicas (Cohen & Armelagos, 1984; Larsen, 1987; Buikstra et al., 1990; Bush & Zvelevil,
1991; Boyd, 1996; Agarwal & Glencross, 2011; Pinhasi & Stock, 2011; Martin et al., 2013;
Knsell & Smith, 2014). Foi tambm durante as dcadas de 1970 e 1980 que os espaos
formais de discusso foram criados, assim como as associaes nacionais e internacionais de
antropologia biolgica e paleopatologia em diversos pases, as quais possibilitaram um
intercmbio de conhecimentos mais fluido e a gerao de profundos debates entre
especialistas de distintas reas afins. Em conjunto, estas mudanas levaram a modificao dos
objetivos originais da disciplina chegando a um nvel maior de complexidade, buscando
compreender o desenvolvimento e as caractersticas da evoluo das doenas e como a sade
modificada pela dinmica interna das sociedades humanas.
3. AVANOS TERICOS
328
Ainda assim, em numerosos casos a determinao da etiologia das leses no simples em
decorrncia da compreenso incompleta da dinmica de muitas patologias e pela mesma
natureza arbitrria e no biolgica dos sistemas classificatrios (Ortner, 2012). A incorporao
da informao clnica atual fundamental para o processo de diagnstico diferencial.
Entretanto, a integrao dos dados mdicos, biolgicos e arqueolgicos nas investigaes
paleopatolgicas continua sendo incompleta. Este aspecto constitui um problema complexo de
se resolver, especialmente com relao s dificuldades de interao entre disciplinas que
estudam as doenas na atualidade e no passado (Roberts, 2009; Mays, 2012). Por ltimo, o
desenvolvimento de mtodos digitais e de informtica (por exemplo, fotografia digital,
internet e arquivos em formato PDF portable document format) para a documentao,
transferncia da informao, publicao e acesso a extensas bases de dados, permitiu uma
maior disponibilidade de conhecimento no campo disciplinar, com maiores detalhes e,
eventualmente, um maior rigor na informao publicada.
329
et al., 2012; Salceda et al., 2012), apresentam grande valor para estes progressos. Portanto,
embora estes estudos nos obrigaram a reconhecer as dificuldades que enfrentam as anlises
paleodemogrficas, por outro lado tambm permitiram ressaltar suas potencialidades (Van
Gerven & Armelagos, 1983; Bocquet-Appel, 2002; Bocquet-Appel & Dubouloz, 2004; Milner &
Boldsen, 2012).
4. AVANOS METODOLGICOS
330
em muitos casos sua resoluo no permita detectar defeitos sutis (ver, por exemplo, Chhem
& Brothwell, 2008). Entretanto, sabido que os raios X podem ter efeitos negativos sobre a
preservao do DNA, dificultando as anlises moleculares posteriores (Buikstra, 2010;
Spigelman et al., 2012), motivo pelo qual deve-se empreg-lo criteriosamente. De maneira
similar, a tomografia computadorizada possibilita a anlise de estruturas internas, mas com
uma alta resoluo e em mltiplos eixos de visualizao. Estas tcnicas, como as imagens
tomadas atravs de vdeo-endoscopias, tm sido particularmente teis no estudo de restos
mumificados (Etxeberria et al., 2000; Previgliano et al., 2003; Arriaza et al., 2010; Watson et
al., 2011). Alm disso, o emprego de distintos mtodos radiogrficos e densitomtricos
permitem aproximaes para o estudo da osteopenia e da osteoporose do ponto de vista
antropolgico e evolutivo (Agarwal & Stout, 2003; Brickley & Ives, 2008; Curate, 2013).
331
no passado, incluindo tuberculose (Bowman et al., 2014), Yersinia pestis (Knapp, 2011; Devault
et al., 2014) e lepra (Gausterer et al., 2014).
Por ltimo, ainda que empregados com menor frequncia, as anlise histolgicas
permitem o estudo microscpico das leses sseas, contribuindo para o diagnstico diferencial
atravs da identificao de padres gerais de neoformao e/ou destruio ssea (Turner-
Walker & Mays, 2008). Devido a sua dificuldade tcnica e natureza destrutiva (ainda que
Pfeiffer, 2000 a descreva como uma transformao devido ao fato de que o tecido sseo pode
continuar sendo estudado atravs do microscpio), os mtodos histolgicos geralmente so
somente aplicados em casos ocasionais e de importncia clara.
332
5. PRINCIPAIS EVIDNCIAS PRIMRIAS
333
Figura 1. Hiperostose portica em parietais de um indivduo subadulto. Stio Bajada de las Tropas 1, Malarge,
Mendoza, Argentina.
334
Figura 2. Cribra orbitalia ativa num indivduo subadulto. Beb de la Troya, Valle de Fiambal, Catamarca, Argentina.
Os estudos sobre a sade bucal contribuem para conhecer processos adaptativos, entre
eles prticas de higiene e padres de consumo alimentcio das sociedades do passado (Huss-
Ashmore et al., 1982). Geralmente considera-se de forma conjunta as variveis como a crie, o
clculo (ou trtaro) dentrio, o desgaste dental, as leses periapicais, a doena periodontal e a
perda dentria ante mortem, com a finalidade de desenvolver anlises comparativas que
335
precisem quais foram as interrelaes entre elas e definam a existncia de diferentes
estratgias adaptativas (Hillson, 2000).
336
defeitos periodontais e altos graus de desgaste, o que produz a perda da pea em vida (Lukacs,
1989; Hillson, 2000).
O conjunto gerado pela integrao de todas estas variveis til para discutir aspectos
ligados ao sistema complexo de causas e efeitos das leses dento-alveolares que levam
deteriorao da sade bucal. Tal informao permite caracterizar padres nos modos de
subsistncia das populaes humanas atravs do tempo e do espao que, por sua vez,
contribui para o conhecimento de suas variaes de acordo com o sexo e a idade dos
indivduos. Da mesma forma, a anlise conjunta das variveis mencionadas pode contribuir
para o conhecimento das possveis atividades laborais em alguns casos especficos (Hillson,
2000; Minozzi et al., 2003; Turner & Andersen, 2003).
338
e. TRAUMAS E SINAIS DE VIOLNCIA
339
econmicos, polticos e simblico-religiosos, permitindo gerar interpretaes que contemple a
complexidade cultural associada aos processos traumticos (Verano & Chvez Balderas, 2014).
Figura 3. Fratura costal remodelada de um indivduo adulto. Stio Orejas de Burro, Santa Cruz, Argentina.
340
durante boa parte do sculo XX, ainda que o desenvolvimento sistemtico sob os conceitos
modernos se iniciaram mais recentemente a partir da dcada de 1970.
341
outros se impea completamente o estudo de restos humanos em certos contextos
sociopolticos particulares.
Apesar das dificuldades surgidas para o estudo de restos humanos em algumas regies,
as temticas paleopatolgicas desenvolvidas na Amrica Latina so numerosas e diversas, no
somente a partir de restos de esqueletos, mas tambm sobre os estudos de mmias. Os
trabalhos sobre restos mumificados tm despertado um interesse especial, principalmente no
Mxico, Peru, Brasil e no norte do Chile e Argentina (Allison et al., 1979; Etxeberria et al., 2000;
Previgliano et al., 2003; Knudson et al., 2005; Arriaza et al., 2010; Meier et al., 2011; Watson et
al., 2011; Seplveda et al., 2015), empregando, em geral, distintos tipos de anlises
moleculares e radiolgicas. Entretanto, os estudos com restos de esqueletos so mais
abundantes. Entre eles, os que focam em patologias infecciosas receberam especial ateno
nas ltimas dcadas. Por exemplo, as pesquisas sobre o desenvolvimento da tuberculose na
Amrica, e em especial na Amrica Latina, tm sido foco de importantes avanos devido s
questes sobre sua presena em perodos pr-coloniais. Durante a dcada de 1970, foram
identificados pela primeira vez no Peru, restos humanos prehispnicos com claros indcios de
tuberculose. Desde ento, foram descritos numerosos casos em diferentes regies da Amrica
atravs de mtodos osteolgicos descritivos e/ou moleculares (por exemplo, Allison et al.,
1973; Salo et al., 1994; Arriaza et al., 1995; Arrieta et al., 2011; Jaeger et al., 2013). Da mesma
forma, so abundantes os relatos de casos de treponematoses (por exemplo, Mansilla et al.,
2000; Standen & Arriaza, 2000a; Santos et al., 2013; Klaus & Ortner, 2014).
342
Souza, 2004), Brasil (Lessa, 2011) e Argentina (Flensborg, 2011a; Gordn, 2013; Bern, 2014),
oferem informao detalhada sobre este aspecto. Igualmente, as anlises da sade oral so
conduzidas com frequncia em diversos contextos da Amrica Latina, com o objetivo de
reconstruir alguns aspectos da paleodieta, suas alteraes atravs do tempo, bem como a
adoo de novas estratgias de cultivo (Bernal et al., 2007; Watson, 2007; Pezo-Lanfranco &
Eggers, 2010; Flensborg, 2013; Luna & Aranda, 2014). Por ltimo, os estudos de indicadores de
estresse sistmico, empregados de maneira conjunta como meio para o estudo dos nveis de
sade das populaes antigas (Klaus & Tam, 2009; Gmez Otero & Novellino, 2011; Pezo-
Lanfranco & Eggers, 2013; Suby, 2014a) e a explorao de padres no estido de vida a partir do
desenvolvimento de leses degerativas articulares (Ponce, 2010; Rojas-Seplveda et al., 2011;
Scabuzzo, 2012; Suby, 2014b) continuam sendo objeto de numerosas contribuies na
Amrica Latina.
344
serem aplicadas nas colees de restos humanos latino-americanos. Algumas delas tm sido
pioneiras nas pesquisas em antropologia biolgica e paleopatologia fora da Amrica Latina. Em
busca de possveis solues, deve-se considerar a possibilidade da construo de colees
identificadas de esqueletos e, com isso, buscar validar os mtodos conhecidos e desenvolver
outros novos. Na Argentina, por exemplo, esto sendo formadas pelo menos duas novas
colees comparativas, a partir de restos identificados de La Plata (Salceda et al., 2012) e
Buenos Aires (Bosio et al., 2012).
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos editores, pelo convite para contribuir neste volume e aos dois
avaliadores annimos por seus valiosos comentrios. Agradecemos a Adolfo Gil, Laura Salgn e
Hugo Tucker por nos ceder gentilmente a fotografia da Figura 1, a Norma Ratto pela fotografia
da Figura 2 e Luis Borrero pela fotografia da Figura 3.
345
BIBLIOGRAFIA CITADA
Agarwal S, Glencross BA, editores. 2011. Social Bioarchaeology. Wiley-Blackwell, Wes Sussex.
Agarwal S, Stout S, editores. 2003. Bone loss and osteoporosis: an anthropological perspective.
Nueva York: Kluwer Academic.
Anastasiou E, Mitchell PD. 2013. Evolutionary anthropology and genes: Investigating the
genetics of human evolution from excavated skeletal remains. Historical Medical
Genetics: Skeletal Disorders 528(1):27-32.
Anderson CP, Martin DL. Thompson JL. 2012. Indigenous violence in Northern Mexico on the
eve of contact. Int J Paleopathol 2(2-3):93-101.
Aranda C, Del Papa M. 2009. Avances en las prcticas de conservacin y manejo de restos
humanos en Argentina. Rev Arg Antropol Biol 11(1):89-94.
Araujo A, Reinhard K, Ferreira LF. 2008. Parasite findings in archeological remains: diagnosis
and interpretation. Quat Int 180:17-21.
Araujo A, Jansen AM, Reinhard K, Ferreira LF. 2009. Paleoparasitology of chagas disease: a
review. Mem Inst Oswaldo Cruz 104(1):9-16.
Armelagos GJ, Sirak K, Werkema T, Turner BL. 2014. Analysis of nutritional disease in
prehistory: The search for scurvy in antiquity and today. International Journal of
aleopathology 5: 9-17.
Arriaza B, Standen V. 2011. Estudio de la pediculosis capitis en las poblaciones tempranas del
norte de Chile. Libro de resmenes de la IV Reunin de la Asociacin de Paleopatologa en
Sudamrica, 2 al 5 de Noviembre, Lima, Per. p. 55
Arriaza BT, Salo WL, Aufderheide AC, Holcomb TA. 1995. Pre-Columbian tuberculosis in
Northern Chile: molecular and skeletal evidence. Am J Phys Anthropol 98:37-45.
346
Arriaza B, Amarasiriwardena D, Cornejo L, Standen V, Byrne S, Bartkus L, Bandak, B. 2010.
Exploring chronic arsenic poisoning in pre-Columbian Chilean mummies. J Archaeol Sci
37:1274-1278.
Arrieta MA, Bordach MA, Mendona OJ. 2011. Tuberculosis precolombina en el noroeste
argentino (NOA). El cementerio de Rincn Chico 21 (RCH 21). Santa Mara, Catamarca.
Intersecciones en Antropologa 12:155-166.
Assis S. 2013. Beyond the visible world. Bridging macroscopic and paleohistopathological
techniques in the study of periosteal new bone formation in human skeletal remains.
Tesis Doctoral. Coimbra, Portugal: Facultad de Ciencias de la Vida, Universidad de
Coimbra.
Beltrame MO, Vieira de Souza M, Arajo A, Sardella NH. 2014. Review of the rodent
paleoparasitological knowledge from South America. Quatern Int 352: 68-74.
Bernal V, Novellino P, Gonzlez P, Perez SI. 2007. Role of wild plant foods among Late
Holocene hunter-gatherers from Central and North Patagonia (South America): an
approach from dental evidence. Am J Phys Anthropol 133:1047-1059.
Berryman HE, Jones Haun SJ. 1996. Applying forensic techniques to interpret cranial fracture
patterns in an archaeological specimen. Int J Osteoarchaeol 6:2-9.
Black S, Ferguson E. 2011. Forensic anthropology 2000 to 2010. Boca Raton: CRC Press.
Blom DE, Buikstra JE, Keng L, Tomczak, PD, Shoreman E, Stevens-Tuttle D. 2005. Anemia and
childhood mortality: latitudinal patterning along the coast of Pre-Columbian Peru. Am J
Phys Anthropol 127:152-169.
Boldsen J. 2007. Early childhood stress and adult age mortality. A study of dental enamel
hypoplasia in the Medieval Danish village of Tirup. Am J Phys Anthropol 132:59-66.
347
Borowska-Strugiska B, Druszczyska M, Lorkiewicz W, Szewczyk R, dziska E. 2014. Mycolic
acids as markers of osseous tuberculosis in the Neolithic skeleton from Kujawy region
(central Poland). Anthropol Rev 77 (2):137-149.
Bosio L, Garca Guraieb S, Luna L, Aranda C. 2012. Chacarita Project: conformation and analysis
of a modern and documented human osteological sample from Buenos Aires City.
Theoretical, methodological and ethical aspects. HOMO. J Comp Hum Biol 63:481-492.
Bouwman AS, Kennedy SL, Mller R, Stephens RH, Holst M, Caffell AC, Roberts CA, Brown TA.
2012. Genotype of a historic strain of Mycobacterium tuberculosis. PNAS 109(45):18511-
18516.
Boyadjian C, Eggers S., Reinhard K. 2007. Dental wash: a problematic method for extracting
microfossils from teeth. J Archaeol Sci 34:1622-1628.
Boyd D. 1996. Skeletal correlates of human behavior in the Americas. J Archaeol Method and
Theory 3(3):189-251.
Brickley M. 2006. Rib fractures in the archaeological record: a useful source of sociocultural
information? Int J Osteoarchaeol 16:61-75.
Brickley M, Ives R. 2008. The bioarchaeology of metabolic bone disease. Amsterdam: Elsevier.
Buikstra JE. 1977. Biocultural dimensions of archeological study: a regional perspective. En:
Blakely R, editor. Biocultural adaptation in prehistoric America. Proceedings of the
Southern Anthropological Society No. 11. Athens, GA: University of Georgia Press. p 67-
84.
Buikstra JE. 2010. Paleopathology: a contemporary perspective. En: Larsen CS, editor. A
companion to biological anthropology. Oxford: Blackwell. p 395-411.
Buikstra JE, Cook DC. 1980. Paleopathology: an American account. Ann Rev Anthropol 9:433-
470.
Buikstra JE, Frankenberg S, Konigsberg L. 1990. Skeletal biology distance studies in American
physical anthropology: recent trends. Am J Phys Anthropol 82:1-7.
Buikstra JE, Roberts C. 2012. The global history of paleopathology: pioneers and prospects.
Oxford: Oxford University Press.
Bush E, Zvelevil M. 1991. Pathology and health in past societies: an introduction. En: Bush E,
Zvelebil M, editores. Health in past societies: biocultural interpretations of human skeletal
remains in archaeological context. BAR International Series 567. Oxford: Archaeopress. p
3-9.
Cardoso HFV. 2006. The collection of identified human skeletons housed at the Bocage
Museum (National Museum of Natural History), Lisbon, Portugal. Am J Phys Anthropol
129:173-176.
Chhem R, Brothwell D. 2008. Paleoradiology: imaging mummies and fossils. Berlin: Springer-
Verlag.
348
Cohen M. 1984. La crisis alimentaria de la prehistoria. Madrid: Alianza Editorial.
Cook D, Powell M. 2006. The evolution of American paleopathology. En: Buikstra JE, Beck L,
editores. Bioarchaeology: the contextual analysis of human remains. Amsterdam:
Academic Press. P 281-323.
Cox M. 1996. Life and death in Spitalfields 1700 to 1850. York: CBA.
Cucina A, Tiesler V. 2005. Past, present and future itineraries in Maya bioarchaeology. J
Anthropol Sci 83:29-42.
Cunha E. 1995. Testing identification records: evidence from Coimbra identified skeletal
collection (nineteenth and twentieths centuries). En: Herring A, Saunders S, editores.
Grave reflections: portraying the past through skeletal studies. Toronto: Canadian
Scholars Press. p 179-198.
Curate F. 2014. Osteoporosis and paleopathology: a review. J Anthropol Sci 92, 119-146.
Dayal MR, Kegley ADT, Strkalj G, Bidmos MA, Kuykendall KL. 2009. The history and composition
of the Raymond A. Dart Collection of human skeletons at the University of the
Witwatersrand, Johannesburg, South Africa. Am J Phys Anthropol 140:324-335.
Dewitte SN, Stojanowski CM. 2015. The Osteological Paradox 20 Years Later: Past Perspectives,
Future Directions. J Archaeol Res, DOI 10.1007/s10814-015-9084-1.
Dias GJ, Prasad K, Santos AL. 2007. Pathogenesis of apical periodontal cysts: guidelines for
diagnosis in paleopathology. Int J Osteoarchaeol 17:619-626.
Dias GJ, Tayles N. 1997. `Abscess cavity - A misnomer. Int J Osteoarchaeol 7:548-554.
Djuric MP, Roberts CA, Rakoevic ZB, Djonic DD, Leic AR. 2006. Fractures in Late Medieval
skeletal populations from Serbia. Am J Phys Anthropol 130:167-178.
Duray S. 1996. Dental indicators of stress and reduced age at death in prehistoric Native
Americans. Am J Phys Anthropol 99:275-286.
El-Najjar MY, Ryan DJ, Turner CG, Lozoff B. 1976. The etiology of porotic hyperostosis among
the prehistoric and historic Anasazi Indians of Southwest United Status. Am J Phys
Anthropol 44:477-488.
349
Eerkens JW, de Voogt A, Dupras T.L., Rose SC, Bartelink EJ, Francigny V. 2014. Intra- nad
interindividual variation in 13C and 15N in human dental calculus and comparison to
bone collagen and apatite isotopes. J Archaeol Sci 52: 64-71.
Endere ML, Ayala P. 2012. Normativa legal, recaudos ticos y prctica arqueolgica. Un estudio
comparativo de Argentina y Chile. Chungara, Revista de Antropologa Chilena 44(1):39-57.
Ferreira LF, Araujo A, Confalonieri U, Nuez L. 1984. The finding of eggs of Diphyllobothrium in
human coprolites (4,100-1,950) from Northern Chile. Mem Inst Oswaldo Cruz 79(2):175-
180.
Flensborg G. 2011a. Lesiones traumticas en crneos del sitio Paso Alsina 1. Explorando
indicadores de violencia interpersonal en la transicin pampeano-patagnico oriental
(Argentina). Intersecciones en Antropologa 12:155-166.
Gernaey AM, Minnikin D E, Copley MS, Dixon RA, Middleton JC, Roberts CA. 2001. Mycolic
acids and ancient DNA confirm an osteological diagnosis of tuberculosis. Tuberculosis
81(4):259-265.
Gmez Otero J, Novellino P. 2011. Diet, nutritional status and oral health in hunter-gatherers
from the Central-Northern coast of Patagonia and Chubut River lower valley, Argentina.
Int J Osteoarchaeol 21:643-659.
Goodman A. 1991. Health, adaptation and maladaptation in past societies. En: Bush E, Zvelebil
M, editores. Health in past societies: biocultural interpretations of human skeletal
remains in archaeological context. BAR International Series 567. Oxford: Archaeopress. p
31-38.
Goodman A. 1993. On the interpretation of health from skeletal remains. Curr Anthropol
34(3):281-288.
350
Goodman A, Armelagos G. 1988. Childhood stress and decreased longevity in a prehistoric
population. Am Anthropol 90:936-944.
Grauer AL. 2012. A companion to paleopathology. West Sussex: John Wiley & Sons, Ltd.
Greene TR, Kuba CL, Irish JD. 2005. Quantifying calculus: a suggested new approach for
recording an important indicator of diet and dental health. HOMO. J Comp Hum Biol
56:119-132.
Grippo JO, Simring M, Schreiner S. 2004. Attrition, abrasion, corrosion and abfraction revisited:
a new perspective on tooth surface lesions. J Am Dent Assoc 135:1109-1118.
Guilln S. 2012. A history of paleopathology in Per and Northern Chile: from head hunting to
head counting. En: Buikstra J, Roberts C, editores. The global history of paleopathology.
Pioneers and prospects. Oxford: Oxford University Press. p 312-228.
Han XY, Silva FJ. 2014. On the age of leprosy. PLoS Negl Trop Dis 8(2): e2544.
Harper K, Zuckerman M, Harper M, Kingston J, Armelagos G. 2011. The origin and antiquity of
syphilis revisited: an appraisal of Old World Pre-Columbian evidence for treponemal
infection. Yearbk Phys Anthropol 54:99-133.
Henderson CY, Cardoso FA. 2013. Special issue: entheseal changes and occupation: technical
and theoretical advances and their applications. Int J Osteoarchaeol 23:127-134.
Henderson CY., Mariotti V., Pany-Kucera D., Villotte S., Wilczak, C. 2012. Recording specific
entheseal changes of fibrocartilaginous entheses: initial tests using the Coimbra method.
Int J Osteoarchaeol DOI: 10.1002/oa.2287.
Henderson CY, Mariotti V, Pany-Kucera D, Villotte S, Wilczak C. 2015. The new Coimbra
method: a biologically appropriate method for recording specific features of
fibrocartilaginous entheseal changes. Int J Osteoarchaeol DOI: 10.1002/oa.2477.
Hershkovitz I., Donoghue HD, Minnikin DE, Besra GS, Lee OYC, Gernaey AM, Galili E, Eshed V,
Greenblatt CL, Lemma E, Bar-Gal GK, Spigelman M. 2008. Detection and molecular
characterization of 9000-year-old Mycobacterium tuberculosis from a Neolithic
settlement in the Eastern Mediterranean. PLoS ONE 3(10):e3426.
Doi:10.1371/journal.pone.0003426.
351
Hillson S. 1996. Dental anthropology. Cambridge: Cambridge University Press.
Hillson S. 2001. Recording dental caries in archaeological human remains. Int J Osteoarchaeol
11:249-289.
Holliday DM, Guillen S, Richardson DJ. 2003. Diphyllobothriasis of the Chiribaya culture (700-
1476 AD) of Southern Peru. Compar Parasitol 70(2):167-171.
Holloway KL, Henneberga RJ, de Barros Lopesb M, Henneberga M. 2011. Evolution of human
tuberculosis: a systematic review and meta-analysis of paleopathological evidence.
HOMO. J Comp Hum Biol 62:402-458.
Hooton E. 1930. The indians of Pecos Pueblo. A study of their skeletal remains. New Haven:
Yale University Press.
Hunt DR, Albanese J. 2005. History and demographic composition of the Robert J. Terry
Anatomical Collection. Am J Phys Anthropol 127:406-417.
Hutchinson DL, Norr L. 2006. Nutrition and health at contact in Late Prehistoric Central Gulf
Coast Florida. Am J Phys Anthropol 129:375-386.
Iiguez AM, Leles D, Jaeger LH, Carvalho-Costa FA, Arajo A. 2012. Genetic characterization
and molecular epidemiology of Ascaris spp. from humans and pigs in Brazil. Trans R Soc
Trop Med Hyg 106(10):604-12.
Iiguez AM, Reinhard KJ, Gonalves MLC, Ferreira LF, Arajo A, Vicente AC. 2006. SL1 RNA
gene recovery from Enterobius vermicularis ancient DNA in pre-Columbian human
coprolites. Intern J Parasitol 36:1419-1425.
Isan M, Miller-Shaivitz P. 1986. Sexual dimorphism in the femur and tibia. En: Reichs L, editor.
Forensic osteology: advances in the identification of human remains. Springfield: Charles
C. Thomas. p 101-111.
Jaeger LH, de Souza SMFM, Dias OF, Iiguez AM. 2013. Mycobacterium tuberculosis complex in
remains of 18th19th Century Slaves, Brazil. Emerg Infect Dis 19(5):837-839.
Judd MA. 2002. Comparison of long bone trauma recording methods. J Archaeol Sci 29:1255-
1265.
Judd MA, Redfern R. 2012. Trauma. En: Grauer A, editor. A companion to paleopathology.
West Sussex: John Wiley & Sons, Ltd. p 359-379.
352
Jurmain R, Alves Cardoso F, Henderson C, Villotte S. 2012. Bioarchaeologys Holy Grail: the
reconstruction of activity. En: Grauer A, editor. A companion to paleopathology. West
Sussex: John Wiley & Sons, Ltd. p 531-552.
Klaus HD, Ortner DJ. 2014. Treponemal infection in Perus Early Colonial period: A case of
complex lesion patterning and unusual funerary treatment. Int J Paleopathol 4:25-36.
Klaus H, Tam ME. 2009. Contact in the Andes: bioarchaeology of systemic stress in colonial
Mrrope, Peru. Am J Phys Anthropol 138(3):356-368.
Knapp M. 2011. The next generation of genetic investigations into the Black Death. PNAS
108(38):15669-15670
Knudson KJ, Tung T, Nystrom KC, Price TD, Fullagar PD. 2005. The origin of the Juchuypampa
cave mummies: Strontium isotope analysis of archaeological human remains from Bolivia.
J Archaeol Sci 32:903-913.
Knsel C, Smith MJ, editores. 2014. The Routledge Handbook of the Bioarchaeology of Human
Conflict. Routledge, New York.
Lallo JW, Armelagos GJ, Mensforth RP. 1977. The role of diet, disease and physiology in the
origin of porotic hyperostosis. Hum Biol 49:471-483.
Larsen CS. 1987. Bioarchaeological interpretations of subsistence economy and behavior from
human skeletal remains. En: Schiffer M, editor. Advances in archaeological method and
theory 10. Nueva York: Academic Press. p 339-445.
Lessa A. 2011. Daily risks: a biocultural approach to acute trauma in Pre-colonial coastal
populations from Brazil. Int J Osteoarchaeol 21:159-172.
Lieverse AR. 1999. Diet and the aetiology of dental calculus. Int J Osteoarchaeol 9:219-232.
Lovell NH. 1997. Trauma analysis in paleopathology. Yearbk Phys Anthropol 40:139-170.
Lovell NH. 2008. Analysis and interpretation of skeletal trauma. En: Katzenberg MA, Saunders
SR, editores. Biological anthropology of the human skeleton. Nueva Yersey: John Willey &
Sons, Inc. p 341-386.
Lukacs JR. 1989. Dental paleopathology: methods for reconstructing dietary patterns. En: Isan
M, Kennedy K, editores. Reconstruction of life from the skeleton. Nueva York: Alan R. Liss,
Inc. p 261-286.
353
Luna L, Aranda C. 2014. Trends in oral pathology of hunter-gatherers from Western Pampas,
Argentina. Anthropol Sci (the Anthropological Science of Nippon) 122(2):55-67.
Mark L, Patonai Z, Vaczy A, Lorand T, Marcsik YA. 2010. High-throughput mass spectrometric
analysis of 1400-year-old mycolic acids as biomarkers for ancient tuberculosis infection. J
Arch Sci 37(2)302-305.
Masson M, Molnr E, Donoghue HD, Besra GS, Minnikin DE, Wu HHT, Lee OYC, Bull ID y Plfi G.
2013. Osteological and biomolecular evidence of a 7000-year-old case of hypertrophic
pulmonary osteopathy secondary to tuberculosis from Neolithic. Plos One. DOI:
10.1371/journal.pone.0078252.
Mays S. 2006. The osteology of monasticism in Mediaeval England. En: Gowland R, Knsel C,
editores. Social archaeology of funerary remains. Oxford: Oxbow Books. p 179-189.
Mays S. 2012. The relationship between paleopathology and the clinical sciences. En: Grauer A,
editor. A companion to paleopathology. West Sussex: John Wiley & Sons. p 285-309.
Meier DK, Mendona de Souza S, Tessarolo B, Malerba Sene GA, Ribeiro da Silva LP. 2011.
Acau: CT scanning a mummified body from Gentio II cave, Minas Gerais, Brazil. Yearbk
Mummy Studies 1:99-107.
Melo FL, Moreira de Mello JC, Fraga AM, Nunes K, Eggars S. 2010. Syphilis at the crossroad of
phylogenetics and paleopathology. PLoS Negl Trop Dis 4(1):575.
Mendona de Souza S, Guichn RA. 2012. Paleopathology in Argentina and Brazil. En: Buikstra
J, Roberts C, editores. The global history of paleopathology. Pioneers and prospects.
Oxford: Oxford University Press. p 327-339.
Mensforth R, Lovejoy O, Lallo J, Armelagos G. 1978. The role of constitutional factors, diets and
infectious disease in the etiology of porotic hyperostosis and periostal reactions in
prehistoric infants and children. Med Anthropol 2:1-59.
354
Milner GR, Boldsen JL. 2012. Estimating age and sex from the skeleton, a paleopathological
perspective. En: Grauer A, editor. A companion to paleopathology. West Sussex: John
Wiley & Sons, Ltd. p 268-284.
Minozzi S, Manzi G, Ricci F, di Lernia S, Borgognini Tarli S. 2003. Nonalimentary tooth use in
prehistory: an example from Early Holocene in Central Sahara (Uan Muhuggiag, Tadrart
Acacus, Libya). Am J Phys Anthropol 120:225-232.
Montenegro A, Araujo A, Eby M, Ferreira LF, Hetherington R, Weaver AJ. 2006. Parasites,
paleoclimate, and the peopling of the Americas using the hookworm to time the Clovis
migration. Curr Anthropol 47(1):193-200.
Mosha HJ. 1983. Dental mutilation and associated abnormalities in Tanzania. Odontostomatol
Trop 6(4):215-219.
Murphy MS, Gaither C, Goycochea E, Verano JW, Cock J. 2010. Violence and weapon-related
trauma at Puruchuco-Huaquerones, Peru. Am J Phys Anthropol 142:636-649.
Ogden AR. 2008. Advances in the paleopathology of teeth and jaws. En: Pinhasi R, Mays, S,
editores. Advances on human paleopathology. West Sussex: John Wiley & Sons. p 283-
308.
Ortner D. 2012. Differential diagnosis and issues in disease classification. En: Grauer A, editor.
A companion to paleopathology. West Sussex: John Wiley & Sons. p 250-267.
Palfi G, Bereczki Z., Ortner DJ, Dutour O. 2012. Juvenile cases of skeletal tuberculosis from the
Terry Anatomical Collection (Smithsonian Institution, Washington, D.C., USA). Acta
Biologica Szegediensis 56(1):1-12.
Park VM, Roberts CA, Jakob T. 2010. Palaeopathology in Britain: a critical analysis of
publications with the aim of exploring recent trends (1997-2006). Int J Osteoarchaeol
20:497-507.
Pezo-Lanfranco LP, Eggers L. 2010. The usefulness of caries frequency, depth, and location in
determining cariogenicity and past subsistence: a test on early and later agriculturalist
from the Peruvian coast. Am J Phys Anthropol 143:75-91.
Pfeiffer S. 2000. Paleohistology: health and disease. En: Katzenberg MA, Saunders SR (eds.),
Biological Anthropology of the Human Skeleton, New York, Wiley-Liss, pp. 287-302.
Pindborg JJ. 1969. Dental mutilation and associated abnormalities in Uganda. Am J Phys
Anthropol 31(3):383-389.
Pinhasi R, Stock JT. 2011. Human Bioarchaeology of the Transition to Agriculture. Wiley-
Blackwell, West Sussex.
355
Piperno DR 2006. Phytolith. A comprehensive guide for archaeologist and paleoecologist.
Nueva York: Altamira Press.
Previgliano CH, Ceruti C, Reinhard J, Araoz FA, Diez JG. 2003. Radiologic evaluation of the
Llullaillaco mummies. Am J Roentgenology 181:1473-1479.
Reichart P, Creutz U, Scheifele C. 2008. Dental mutilations and associated alveolar bone
pathology in African skulls of the anthropological skull collection, Charit, Berlin. J Oral
Pathol Med 37(1):50-55.
Reis-Filho JS. 2009. Next-generation sequencing. Breast Cancer Research 11(Suppl 3):S12-1-7.
Doi:10.1186/bcr2431.
Roberts CA. 2009. Human remains in archaeology: a handbook. York: Council for British
Archaeology.
Roberts CA, Buikstra JE. 2003. The bioarchaeology of tuberculosis: a global perspective on a
reemerging disease. Gainesville: University Press of Florida.
Salceda B, Desntolo B, Garca Mancuso R, Plischuk M, Inda AM. 2012. The Prof. Dr. Rmulo
Lambre Collection: an Argentinian sample of modern skeletons. HOMO. J Comp Hum Biol
63(4):275-281.
Salo WL, Aufderheide, AC, Buikstra JE, Holcomb TA. 1994. Identification of Mycobacterium
tuberculosis DNA in ancient mummy. Proceedings of National Academic of Science USA
91:2091-2094.
Santos AL. 2015. Archives and skeletons: An interdisciplinary approach to the study of
paleopathology of tuberculosis. Tuberculosis (Edinb) 95(Suppl 1):S109-11. doi:
10.1016/j.tube.2015.02.014.
Santos AL, Roberts CA. 2006. Anatomy of a serial killer. Differential diagnosis of tuberculosis
based on rib lesions of adult individuals from Coimbra identified skeletal collection,
Portugal. Am J Phys Anthropol 130:38-49.
Santos AL, Alves-Cardoso F, Assis S, Villotte S. 2011. The Coimbra wokshop in musculoskeletal
stress markers (MSM): an annotated review. Antropologia Portuguesa 28:135-161.
356
Schmitt A, Cunha E, Pinheiro J, editores. 2006. Forensic anthropology and medicine.
Complementary sciences from recovery to cause of death. Totowa, Nueva Jersey: Humana
Press.
Seplveda M, Arriaza B, Standen VG, Rousselire H, Van Elslande E, Santoro CM, Walter P.
2015. Anlisis Microestratigrficos de Recubrimientos Corporales de una Momia
Chinchorro, Extremo Norte de Chile. Chungara, Revista de Antropologa Chilena 47(2):
239-247.
Serafin S, Peraza Lope C, Gonzlez EU. 2014. Bioarchaeological investigation of ancient Maya
violence and warfare in inland northwest Yucatan, Mexico. Am J Phys Anthropol
154(1):140-151.
Sianto L, Vieira de Souza M, Chame M, Ftima da Luz M, Guidon N, Pessis A-M, Arajo A. 2014.
Helminths in feline coprolites up to 9000years in the Brazilian Northeast. Parasitology
international 63(6):851-857.
Smith NH, Hewinson RG, Kremer K, Brosch R, Gordon SV. 2009. Myths and misconceptions: the
origin and evolution of Mycobacterium tuberculosis. Nature 7:537-544.
Spencer SD. 2012. Detecting violence in the archaeological record: clarifying the timing of
trauma and manner of death in cases of cranial blunt force trauma among pre-Columbian
Amerindians of West-Central Illinois. Int J Paleopathol 2(2-3):112-122.
Spigelman M, Shin DH, Bar Gal GK. 2012. The promise, the problems, and the future of DNA
analysis in paleopathology studies. En: Grauer A, editor. A companion to paleopathology.
West Sussex: John Wiley & Sons. p 133-151.
Standen VG, Arriaza BT. 2000a. La treponematosis (yaws) en las poblaciones prehispnicas del
desierto de Atacama (Norte de Chile). Chungara 32(2):185-192.
Standen VG, Arriaza BT. 2000b. Trauma in the preceramic coastal populations of northern
Chile: violence or occupational hazards? Am J Phys Anthropol 112(2):239-249.
Stone A, Wilbur A, Buikstra JE, Roberts CH. 2009. Tuberculosis and leprosy in perspective.
Yearbk Phys Anthropol 52:66-94.
Stuart-Macadam P. 1989. Porotic hyperostosis: relationships between orbital and vault lesions.
Am J Phys Anthropol 80:187-193.
Stuart-Macadam P. 1998. Iron deficiency anemia: exploring the difference. En: Grauer A,
Stuart-Macadam P, editores. Sex and gender in paleopathological perspective. Cambridge:
Cambridge University Press. p 45-63.
Suby JA. 2014a. Porotic hyperostosis and cribra orbitalia in human remains from Southern
Patagonia. Anthropological Science (the Anthropological Science of Nippon) 122(2): 69-79.
357
Suby JA. 2014b. Ndulos de Schmorl en restos humanos arqueolgicos de Patagonia Austral.
Magallania 42(1):135-147.
Temple DH, Goodman AH. 2014. Bioarcheology Has a Health Problem: Conceptualizing
Stress and Health in Bioarcheological Research. Am J Phys Anthropol 155:186191.
Tiesler V, Jan MT. 2012. Conducting paleopathology in Mexico: past, present and future
agendas. En: Buikstra J, Roberts C, editores. The global history of paleopathology.
Pioneers and prospects. Oxford: Oxford University Press. p 305-311.
Tobias PV. 1991. On the scientific, medical, dental and educational value of collections of
human skeletons. Int J Anthropol 6:277-280.
Turner G, Anderson T. 2003. Marked occupational dental abrasion from Medieval Kent. Int J
Osteoarchaeol 13:168-172.
Turner-Walker G, Mays S. 2008. Histological studies on ancient bone. En: Pinhasi R, Mays S,
editores. Advances in human palaeopathology. West Sussex: John Wiley & Sons. p 121-
146.
Usher B. 2002. Reference samples: the first step in linking biology and age in the human
skeleton. En: Hoppa RD, Vaupel JW, editores. Paleodemography. Age distributions from
skeletal samples. Cambridge: Cambridge University Press. p 29-47.
Van Gerven D, Armelagos G. 1983. "Farewell to paleodemography?" Rumors of his death have
been greatly exaggerated. J Hum Evol 12:353-360.
Van Noorden, R. 2014. The impact gap: South America by the numbers. Nature 510(7504):202-
203.
Verano JW. 2008. Trophy head-taking and human sacrifice in Andean South America. En:
Silverman H., Isbell WH, editores. Handbook of South American Arcaheology. Springer. p
1045-1058.
Verano JW, Chvez Balderas X. 2014. La bioarqueologa del sacrificio humano en Mesoamrica
y los Andes prehispnicos: retos en su identificacin e interpretacin. En: Luna LH, Aranda
CM, Suby JA, editors. Avances recientes de la bioarqueologa latinoamericana. Buenos
Aires: Grupo de Investigacin en Bioarqueologa. p 361-383.
Verano JW, Ubelaker DH, editors. 1992. Disease and demography in the Americas. Washington
DC: Smithsonian Institution Press.
Waldron T. 1994. Counting the dead: the epidemiology of skeletal populations. Chichester:
John Willey & Sons.
Waldron T. 2012. Joint disease. En: Grauer A, editor. A companion to paleopathology. West
Sussex: John Wiley & Sons. p 513-530.
Walker PL, Bathurst RR, Richman R, Gjerdrum T, Andrushko V. 2009. The causes of porotic
hyperostosis and cribra orbitalia: a reappraisal of the iron deficiency anemia hypothesis.
Am J Phys Anthropol 139:109-125.
358
Walker D, Powers N, Connell B, Redfern R. 2015. Evidence of Skeletal Treponematosis from the
Medieval Burial Ground of St. Mary Spital, London, and Implications for the Origins of the
Disease in Europe. Am J Phys Anthropol 156:90101.
Wapler U, Crubzy E, Schultz M. 2004. Is cribra orbitalia synonymous with anemia? Analysis
and interpretation of cranial pathology in Sudan. Am J Phys Anthropol 123:333-339.
Watson JT. 2007. Prehistoric dental disease and the dietary shift from cactus to cultigens in
northwest Mexico. Int J Osteoarchaeol 18(2):202-212.
Watson L, Carranza C, Shiguekawa A. 2011. Identidad y construccin del muerto en los fardos
del Museo de Sitio de Ancn. Libro de resmenes de la IV Reunin de la Asociacin de
Paleopatologa en Sudamrica, 2 al 5 de Noviembre, Lima, Per. p. 59.
Wesolowski V, Ferraz Mendona de Souza SM, Reinhard KJ, Ceccantini G. 2010. Evaluating
microfossil content of dental calculus from Brazilian sambaquis. J Archaeol Sci 37(6):
1326-1338.
Weyricha LS, Dobneyb K, Cooper A. 2015. Ancient DNA analysis of dental calculus. J Hum Evol
79:119124.
Wilbur AK, Bouwman AS, Stone AC, Roberts CA, Pfister LA, Buikstra JE, Brown TA. 2009.
Deficiencies and challenges in the study of ancient tuberculosis DNA. J Archaeol Sci
36:1990-1997.
Wood JW, Milner GR, Harpending HC, Weiss KM. 1992. The osteological paradox. Curr
Anthropol 33:343-370.
Zambaco-Pach D. 1914. Anthologie. La lpre travers les sicles et les contres. Paris:
Masson y Cie diteurs. Zink AR, Molnar E, Motamedi N, Palfy G, Marcsik A, Nerlich AG.
2007. Molecular history of tuberculosis from ancient mummies and skeletons. Int. J.
Osteoarchaeol. 17:380-391.
Zuckerman MK, Turner BL, Armelagos GJ. 2012. Evolutionary thought in paleopathology and
the rise of the biocultural approach. En: Grauer A, editor. A companion to paleopathology.
West Sussex: John Wiley & Sons. p 34-57.
359
CAPTULO 13. EVOLUO DOS PRIMATAS:
DESDE SUA ORIGEM AT OS PRIMEIROS
REGISTROS DE HOMINNEOS.
MARCELO F. TEJEDOR1,2
1
Centro Nacional Patagnico- CONICET. Argentina. tejedor@cenpat-conicet.gob.ar
2
Facultad de Ciencias Naturales, Sede Trelew. Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco.
1. INTRODUO
2. AS FORMAS PRIMITIVAS
3. OS EUPRIMATAS
363
Figura 1. Escala do tempo geolgico centrada no Cenozico (extrada parcialmente de Gradstein, F. M, Ogg, J. G.,
Schmitz, M. D., et al., 2012, The Geologic Time Scale 2012: Boston, USA, Elsevier, DOI: 10.1016/B978-0-444-59425-
9.00004-4.)
364
Os Euprimatas primitivos podem ser divididos em duas grandes superfamlias: Adapidae
(geralmente relacionados aos prossmios Strepsirrhini que radiaram posteriormente) e
Omomyidea (vinculados aos Haplorhini, incluindo os Tarsiiformes e Anthropoidea). Durante o
Eoceno inferior, os gneros mais primitivos de ambas superfamlias tiveram caractersticas
dentrias similares, lembrando que os dentes constituem os registros mais abundantes.
Contudo, as caractersticas cranianas em espcimes posteriores demonstram morfologias
derivadas e distintivas para ambos os grupos. Podemos distinguir brevemente os Omomyidea
dos Adapidae por possurem faces mais curtas, calotas cranianas mais elevadas, rbitas
maiores e muitas espcies com dentes de coroas mais planas, indicando provavelmente
hbitos mais frugvoros (Fleagle, 2013). Neste sentido, os adapdeos constituiriam os padres
morfolgicos mais primitivos entre os primatas, e alguns dos seus gneros representativos
seriam Adapis, Cantius e Notharctus, com abundantes registros fsseis na Amrica do Norte,
tendo demonstrado evoluo gradual dos seus caracteres atravs do Eoceno inferior ao
mdio, como demonstrado para Amrica do Norte (Gingerich, 1986). Um dos mais populares
gneros de adapdeos descritos foi o Darwinius (Franzen et al., 2009), provavelmente o mais
completo registro de um primata fssil, consistindo no esqueleto de uma fmea juvenil que
tambm conservou impresses da pele e contedo estomacal. Trata-se de um dos
extraordinrios espcimes preservados do Stio Paleontolgico de Messel, na Alemanha,
datado do Eoceno mdio (Figura 3).
365
Figura 2. Filogenia dos primatas modernos (modificada de Soligo & Martin, 2006).
Um dos temas mais controvertidos na evoluo dos primatas gira em torno da origem
dos Anthropoidea. Trata-se da infraordem que inclui os catarrinos (Macacos do Velho Mundo,
incluindo a linhagem humana) e os platirrinos (Macacos do Novo Mundo) como parte da
subordem Haplorhini, que tambm inclui os Tarsiiformes, grupo irmo dos Anthropoidea. As
caractersticas que definem os antropides so frequentemente discutidas, e os registros mais
primitivos de aparentes antropides tem sido algumas vezes questionados.
366
aproximam do morfotipo esperado para os antropides basais, e da serem considerados
maioritariamente como grupo basal dos Anthropoidea. Entre esses caracteres esto: os
incisivos de forma mais espatulada e implantados mais verticalmente nos alvolos, caninos
mais desenvolvidos e molares inferiores com amplos alvolos mastigatrios. Essas afirmaes
receberam duras crticas inicialmente, embora o status antropide dos Eosimiidae fosse
recebendo uma aceitao mais generalizada.
Outros gneros atribudos aos Eosimiidae foram encontrados fora da China, como o
Bahinia, que foi recuperado em Myanmar, no Eoceno mdio da Formao Pondaung,
conhecido por restos de denties superiores e inferiores parciais. Os Bahinia possuem
367
tamanho maior que os Eosimias, ainda que sua morfologia dentria seja similar (Jaeger et al.,
1999). O Anthrasimias procede do Eoceno inferior da ndia (Bajpai et al., 2008), enquanto que
o Phileosimias foi encontrado em nveis mais modernos, correspondentes ao Oligoceno do
Paquisto. Ambos foram questionados posteriormente pela sua suposta filiao aos
Eosimiidae (Gunnell et al., 2008; Seiffert et al., 2009), e as controvrsias ainda perduram.
368
J no continente africano e sua conexo com a Pennsula Arbica, encontramos stios de
grande interesse paleoprimatolgico (Figura 4), que desempenharam um papel importante na
radiao dos Anthropoidea. Um desses depsitos renomado e com uma longa histria de
achados de antropides primitivos, alguns anteriores divergncia Catarrhini-Platyrrhini.
Trata-se da depresso do Fayum, no Egito, onde foram coletados numerosos gneros de
antropides que datam do Eoceno superior ao Oligoceno inferior (ver Seiffert, 2012, e
referncias ali citadas), sendo os nveis mais basais de uma antiguidade de 37 Ma. Somado a
esses achados, poder-se-ia dizer que o Fayum constitui o melhor registro da evoluo de
mamferos no continente africano (Fleagle & Gilbert, 2006).
Nesses sedimentos egpcios, um dos grupos que se destacam por suas caractersticas a
superfamlia Parapithecoidea. Esses primatas incluem diversos gneros conhecidos por seus
traos peculiares que muitas vezes foram vinculados aos platirrinos do Novo Mundo, entre
eles o contato entre os ossos zigomtico e temporal, tipicamente platirrino. Todavia,
prudente afirmar que os parapitecideos renem caractersticas primitivas como grupo basal.
So conhecidos por restos cranianos, dentrios e ps-cranianos. Os gneros melhor
representados so o Parapithecus e o Apidium, ainda que sua forma mais basal seja o Biretia,
um primata diminuto que tambm tem distribuio no Eoceno superior da Lbia e da Arglia,
alm do Egito. Uma das espcies do Biretia registrada nos nveis mais baixos do Fayum, a
formao Birket Qarum (BQ) (Seiffert, 2012). Da famosa localidade L-41, sobreposta a BQ,
procedem tambm molares isolados do gnero Abuqatrania, que denotam caractersticas mais
primitivas que o resto dos parapitecideos (Simons et al., 2001). Mas essa superfamlia no
procede apenas do Egito. Foram mencionados um mero de parapitecideo do Paleogeno da
Tanznia (Stevens et al., 2005), e o novo gnero Lokonepithecus, do Oligoceno da bacia de
Turkana, no Qunia (Ducrocq et al, 2011), com possveis adaptaes frugivoria extrema.
369
Figura 4. Stios paleoprimatolgicos paleogenos da regio Afro-Arbica.
Figura 5. Crnios do Aegyptopithecus zeuxis, propliopitcido registrado no Oligoceno inferior do Fayum, Egito,
demonstrando dimorfismo sexual. A) fmea (CGM 85785), B) macho (CGM 40237); C) DPC 2803, D) DPC 3161, e E)
CGM 42842. (Modificado de Seiffert et al., 2010).
371
os molares apresentam um aspecto muito similar ao dos smios, com cspides amplas e
arredondadas, claramente distinguveis dos molares bilofodontes dos macacos cercopitecoides
(visto mais adiante).
Recentemente, Seiffert et al. (2010) descreveram um curioso primata dos nveis mais
inferiores do Fayum, do depsito da pedreira BQ2, que foi atribudo ao Eoceno superior. Trata-
se do Nosmips, constitudo por numerosos dentes de confusas relaes, algumas das quais
poderiam ser atribudas aos estrepsirrinos e outras aos haplorrinos, razo pela qual seu status
filogentico incerto.
5. CATARRINOS
Determinados gneros mais modernos do Leste Africano poderiam ter uma relao mais
prxima com os hominoides recentes, como o caso do Kenyapithecus e do Chororapithecus,
sendo este ltimo diretamente relacionado com a linhagem que conduz ao gorila atual (Suwa
et al., 2007); de qualquer forma, sua relao com os smios atuais foi questionada (Harrison,
2010).
374
Victoriapithecidae demonstram algumas caractersticas que anunciam a morfologia
bilofodonte dos molares dos cercopitecoides, isto , duas cspides anteriores e duas
posteriores alinhadas transversalmente e unidas por uma crista; de qualquer maneira, em
certos espcimes observa-se a ausncia da crista, e a presena de uma crista oblqua nos
molares superiores (ligando metacone e protocone), evidenciando a estrutura primitiva do
trgono (Miller et al., 2009). Dos quatro gneros reconhecidos at o momento, cabe destacar
que Victoriapithecus conhecido tambm por um crnio que apresenta caracteres mais
primitivos, e uma capacidade craniana menor, em comparao ao dos cercopitecoides
modernos (Miller et al., 2009, e referncias citadas).
Muitos colobinos extintos, por outro lado, conservaram uma morfologia diversa e
distinta dos taxa atuais, incluindo tambm uma maior distribuio geogrfica (Fleagle, 2013).
6. PLATIRRINOS
i. PERU
ii. BOLVIA
377
Figura 6. Mapa de distribuio geogrfica dos platirrinos fsseis. 1: Salla, Bolvia (Branisella, Szalatavus); 2: Gran
Barranca, Chubut, Argentina (Mazzonicebus); 3: Gaiman, Chubut, Argentina (Dolichocebus); 4: Pampa de Sacanana,
Chubut, Argentina (Tremacebus); 5: Formao Pinturas (Soriacebus, Carlocebus, gen. et sp. nov.; 6: Depsitos
costeiros da Formao Santa Cruz (Killik Aike Norte, Monte Observacin, Estancia La Costa; Killikaike, Homunculus),
Santa Cruz, Argentina; 7: Caadn del Tordillo, Neuqun, Argentina (Proteropithecia); 8: Alto Ro Cisnes, Chile; 9:
Formao Abanico, Chile (Cebupithecia); 10: La Venta, Colmbia (Cebupithecia, Stirtonia, Neosaimiri, Laventiana,
Nuciruptor, Miocallicebus, Micodon, Lagonimico, Mohanamico, Patasola, Aotus dindensis); 11: Rio Acre, Brasil
(Acrecebus, Solimoea); 12: Toca da Boa Vista, Bahia, Brasil (Protopithecus, Caipora, Alouatta mauroi); 13: Lagoa
Santa, Minas Gerais, Brasil; 14: Pinar del Ro, Cuba; 15: Domo de Zaza, Cuba; 16: Trouing Jrmie, Haiti (Insulacebus
toussaintiana); 17: Cueva de Berna e Parque Nacional Padre Nuestro, Repblica Dominicana (Antillothrix); 18: Long
Mile Cave e Jacksons Bay Caves, Jamaica (Xenothrix); 19: Atalaya, Cuzco, Peru; 20: Santa Rosa, Peru (Perupithecus).
Figura 7. Comparao entre A) Perupithecus, o mais antigo registro de primatas sul-americanos e B) Talahpithecus,
do Eoceno superior da Lbia (modificado de Bond et al., 2015).
379
deformado, alm de restos dentrios e mandibulares isolados que foram atribudos ao mesmo
gnero (Kay et al., 2008). O Dolichocebus foi vinculado com o atual macaco-de-cheiro, Saimiri
(Rosenberger, 1979; Fleagle & Rosenberger, 1983; Tejedor, 2000) e, portanto, integrante dos
Cebinae, devido dolicocefalia verificada no seu crnio (discutido em Kay et al., 2008), bem
como forma das suas rbitas, alongadas verticalmente, e ao estreito espao interorbitrio,
caracteres muito evidentes no Saimiri. Pelas caracteristicas dos dentes isolados, h mais de
duas dcadas foram propostas possveis afinidades com Saimiri ou calitriquinos (Fleagle & Kay,
1989), embora recentemente estes mesmos autores tenham o agrupado como grupo stem dos
platirrinos (Kay et al., 2008). Existem semelhanas importantes entre os molares superiores de
Dolichocebus e Killikaike, outro possvel cebino (ver mais adiante), enquanto que os molares
inferiores de Dolichocebus tm semelhanas indiscutveis com os de Laventiana e Neosaimiri,
dois cebinos de La Venta, Colmbia (ver abaixo), demonstrando uma ampla radiao da
subfamlia.
380
projetados e grandes pr-molares anteriores, todos caracteres derivados de sua dieta base
de frutos duros e sementes, sendo os frugvoros mais especializados dentre os platirrinos.
Figura 8. Comparao entre o holtipo de Killikaike blakei e um crnio parcial da coleo Ameghino, atribudo ao
Homunculus patagonicus.
Isso tem implicaes evolutivas relevantes, j que o Killikaike, com uns 16,5 Ma de
antiguidade, posiciona-se como o primata que tem o registro mais antigo de aumento
dramtico no tamanho do crebro, inclusive vrios milhes de anos antes de nossos ancestrais
hominneos.
O Stirtonia, por sua vez, com suas duas espcies, S. tatacoensis (Stirton, 1951;
Hershkovitz, 1970) e S. victoriae (Kay et al., 1987), to prximo do atual Alouatta que, no
nvel genrico, poderia tratar-se de sinnimos (Rosenberger, comunicao pessoal; ver
tambm Szalay & Delson, 1979).
Em tempos mais recentes, foi achada em La Venta uma espcie relacionada linhagem
do atual gnero Callicebus, Miocallicebus villaviejai, pobremente representada, mas com uma
morfologia semelhante ao Callicebus, ainda que seu tamanho seja maior (Takai et al., 2001).
Alguns taxa de La Venta possuem relaes mais incertas, como o caso do Lagonimico
conclucatus, um crnio esmagado que conserva a mandbula e inclui importante informao
da anatomia craniana e dentria, e que foi descrito originalmente como um calitriquino
gigante (Kay, 1994). Posteriormente, Rosenberger (2002) vinculou-o aos pitecinos em razo de
sua morfologia mandibular. Considerando os caracteres do Lagonimico, seria lgico vincul-lo
com os calitriquinos, uma vez que apresenta molares superiores triangulares com uma notria
reduo do M3. Mais instigante ainda a morfologia dos pr-molares superiores, em forma de
rim, ou seja, com seus lados medial e distal cncavos, do mesmo modo que acontece nos
Callitriquinae. A mandbula do Lagonimico foge ao padro calitriquino devido presena de
um corpo profundo posteriormente e um ramo ascendente alto e estreito ntero-
posteriormente, caracteres que Rosenberger (2002) relacionou coerentemente com os
pitecinos. No existem em La Venta outros primatas que possam lanar luz sobre este
intrincado problema.
O Mohanamico hershkovitzi (Luchterhand et al., 1986) foi durante muito tempo motivo
de debate, j que depois da descrio do Aotus dindensis (Setoguchi & Rosenberger, 1987),
surgiram polmicas em torno de sua possvel sinonmia (ver Meldrum & Kay, 1997).
Argumentou-se que o Mohanamico e o Aotus dindensis procediam dos mesmos stio e nvel
estratigrfico, e que possuem tamanho e morfologia similares (Meldrum & Kay, 1997), mas
novos espcimes atribudos ao A. dindensis (Takai et al., 2009) reforam a identidade desse
txon. Uma reviso do material de ambas as espcies permite observar diferenas
substanciais, j que os pr-molares e molares do A. Dindensis diferem do Mohanamico em seu
maior talnido proporcionalmente ao do trignido. O Mohanamico apresenta uma estrutura
que poderia assemelhar-se aos calitriquinos (ver tambm Rosenberger et al., 1990; Meldrum &
Kay, 1997) pelo desenvolvimento do trignido e pelos molares mais alongados, em oposio
ao A. Dindensis, alm de possuir trignido e talnido de altura similar. Esses caracteres
384
lembram a certos calitriquinos com maior probabilidade, mas de forma alguma so similares
aos A. Dindensis.
Foi to diversa e variada a evoluo dos platirrinos, que encontramos registros fsseis
nas Grandes Antilhas (Cuba, Jamaica, Haiti e Repblica Dominicana), pases onde hoje no
habitam primatas nativos neotropicais, alm de se tratar de regies insulares separadas do
continente h milhes de anos (como veremos mais adiante). provvel que o amplo tempo
de divergncia seja o responsvel pela morfologia incomum que apresentam os platirrinos do
Caribe. O Xenothrix macgregori foi descoberto em sedimentos do Pleistoceno da Jamaica
(Williams & Koopman, 1952; Rosenberger, 1977; MacPhee & Horovitz, 2004), contando-se
vrios espcimes dentrios, mandibulares e maxilares com uma dentio incomum, e foi
relacionado principalmente com os pitcidos como o Aotus (Rosenberger, 2002) e o Callicebus
(MacPhee & Horovitz, 2004), ainda que, dada a sua particular morfologia dentria nica
entre os platirrinos as anidades sejam ainda mais incertas. O Antillothrix bernensis foi
originalmente descrito desde o Holoceno da Repblica Dominicana (Rmoli, 1977; MacPhee et
al., 1995). Somam-se a este txon as recentes descobertas de dois crnios e material ps-
craniano (Kay et al., 2011; Rosenberger et al., 2011), com algumas semelhanas fenticas com
os cebinos, embora algumas caractersticas particulares os distanciem deste grupo. No Haiti,
foram descritos um gnero e uma espcie novos, que aumentam a distino desta radiao
caribenha; trata-se do Insulacebus toussaintiana, do Quaternrio superior, com certas
caractersticas dentrias primitivas que lembram alguns primatas patagnicos (Cooke et al.,
385
2011). Os autores sugerem uma relao entre o Insulacebus e o Xenothrix, e que talvez as
hipteses de relaes filogenticas com Callicebus sejam factveis, como apontaram MacPhee
& Horovitz (2004), alm de uma eventual radiao inter-antilhana. Finalmente, em Cuba foram
registradas duas espcies do Paralouatta: P. varonai, possivelmente do Pleistoceno inferior
(Rivero & Arredondo, 1991; Horovitz & MacPhee, 1999), e P. Marianae, representado por um
astrgalo procedente dos sedimentos do Mioceno inferior (MacPhee et al., 2003), sendo o
primata mais antigo registrado para as ilhas do Caribe. Paralouatta varonai consiste num
crnio um pouco deteriorado, com dentes desgastados, mas muito informativo, alm de restos
mandibulares e dentrios isolados, e foi relacionado originalmente com o Allouatta (Rivero &
Arredondo, 1991), embora Horovitz & MacPhee (1999) o integrem juntamente com o
Antillothrix, Callicebus e Xenothrix, a um clado inter-antilhano vinculado, por sua vez, com os
pitcidos continentais atravs da relao com Callicebus. Recentemente, foram mencionadas
vrias caractersticas que reforam a hiptese da relao filogentica entre P varonai e os
alouattinos, sendo a morfologia craniana a mais clara evidncia (Cook et al., 2007;
Rosenberger et al., no prelo).
386
Tambm no Brasil, em regies do leste dos estados da Bahia e de Minas Gerais,
encontramos as espcies extintas do Pleistoceno Protopithecus brasiliensis (Lund, 1840;
Hartwig & Cartelle, 1996) e Caipora bambuiorum (Cartelle & Hartwig, 1996), representadas por
crnios e numerosos elementos ps-cranianos que as relacionam, sem dvida alguma, aos
ateldeos, sendo o Protopithecus, provavelmente um alouatino, e o Caipora, um atelino com
evidentes vnculos com o atual Ateles. Contudo, os restos de Protopithecus procedentes do
estado da Bahia foram recentemente atribudos ao novo gnero Cartelles (Halenar &
Rosenberger, 2013), gerando certas dvidas pelas particularidades da sua anatomia craniana,
que o aproximam do Alouatta, embora com caracteres presentes tambm no Lagorhrix,
enquanto seu ps-crnio apresente caracteres mais adaptados braquiao, contrrio
marcha quadrpede e estritamente arborcola que possui o atual Alouatta.
A presena de uma espcie extinta do atual bugio, gnero Alouatta, foi descrita tambm
para o Pleistoceno da Bahia, no Brasil. Trata-se do Alouatta mauroi, que possui propores
dentrias pouco comuns, no encontradas nas espcies viventes do gnero (Tejedor et al.,
2008).
Como consequncia das distncias temporais e geogrficas dos stios com presena de
platirrinos fsseis, alm da escassez do registro, no existe um conhecimento integrado em
torno das suas relaes filogenticas e da radiao do grupo. Argumentou-se que a sua
principal diversificao deu-se na Bacia Amaznica e, com os novos registros mais antigos do
Peru, a hiptese factvel. Estudar a radiao dos platirrinos a partir das periferias amaznicas
altamente valioso e, alm disso, contamos com registros de faunas de mamferos cenozicos
extintos em ambos os lados de toda Cordilheira do Andes e da estepe patagnica, que
esclarecem sua paleoecologia.
387
significar um nexo para a hiptese da provvel existncia de um corredor, aqui denominado
Corredor Paleobiogeogrfico Ocidental Sul-americano (CPOS) (Tejedor, 2013; Tejedor &
Muoz-Saba, 2013). A cordilheira no representou uma barreira importante na disperso dos
platirrinos para e a partir do oeste da cadeia montanhosa, j que o Chilecebus, com uns 20 Ma
de antiguidade, foi relativamente contemporneo com os mais antigos primatas patagnicos.
Ainda mais se consideramos regies mais austrais da Patagnia, onde tambm verificou-se a
presena de um primata fssil em terras chilenas (Tejedor, 2003). Prope-se, assim, que os
ambiente ocidentais da Amrica do Sul poderiam ter propiciado uma via de disperso para os
primatas platirrinos, ou tambm poderia tratar-se de uma retrao para o norte depois da
mudana paleoambiental na Patagnia, devido tectnica andina em meados do Mioceno; a
forte elevao da cordilheira produziu uma mudana climtico-ambiental patagnica que teria
originado o desaparecimento dos primatas nessa regio. So diversas as faunas de mamferos
registradas para o Mioceno ao longo desta faixa ocidental da Argentina, Chile, Bolvia, Peru,
Equador e Colmbia, e as oportunidades paleoecolgicas para os platirrinos devem ter sido
importantes e contnuas em ambos os lados da ascendente Cordilheira dos Andes.
388
Na busca de caractersticas que constituram os mais antigos ancestrais humanos,
podemos enumerar algumas que tradicionalmente foram consideradas, tais como o aumento
de volume cerebral e a reduo do dimorfismo sexual. No entanto, os mais antigos hominneos
registrados ainda conservam um volume cerebral que no difere notoriamente dos atuais
homindeos como o gorila ou o chimpanz. O mesmo acontece com o dimorfismo sexual, j
que os hominneos que, naquele momento caminhavam erguidos, ainda possuam um forte
dimorfismo sexual no tamanho corporal entre machos e fmeas, a exemplo dos
australopitecos robustos.
Cabe salientar que esses taxa provavelmente foram parcialmente terrestres, ao menos
ao modo dos gorilas ou chimpanzs de hoje. Alm disso, os paleoambientes desses depsitos
389
indicam a presena de ecossistemas de florestas abertas, onde o deslocamento terrestre deve
ter representado um tipo de locomoo habitual, sobretudo para as espcies de maior
tamanho.
O gnero Orrorin procede de uma das zonas promissoras para a descoberta de antigos
hominneos, as montanhas Tugen, no centro do Qunia, datado em 6 Ma, no Mioceno superior
(Senut et al., 2001). Alm de pertencer a um intervalo temporal sumamente importante para o
registro de antigos hominneos, este gnero est pobremente representando por restos
dentrios, mandibulares e maxilares, e ps-crnio parcial pertencentes a uns cinco indivduos,
embora o dado interessante do registro seja o fato de que precede em aproximadamente 1,5
Ma ao gnero Ardipithecus (ver mais adiante). O resto de um fmur proximal sugere uma
marcha bpede, devido especialmente s suas semelhanas com os posteriores
Australopithecus (Richmond & Jungers, 2008). Os molares so relativamente pequenos e seu
390
esmalte espesso, contrrio do que se espera nos smios africanos e conforme o esperado na
linhagem dos hominneos. Contudo, o canino superior projetado demonstra um encaixe
anterior tpico dos smios, razo pela qual ainda se evidenciam caractersticas claramente
primitivas e diferentes das que so encontradas nos Sahelanthropus e nos hominneos
posteriores.
Figura 9. Holtipo de Sahelanthropus tchadensis, o registro mais antigo dos hominneos (modificado de Brunet et
al., 2002).
9. DISCUSSO
Em tempos posteriores aparecem formas primitivas que podem estar relacionadas aos
hominoides e cercopitecoides, mas novamente a diversidade durante o Cenozico mdio deixa
escapar as respostas mais confiveis sobre as relaes filogenticas. Caso similar o dos
hominneos primitivos, nossos ancestrais africanos mais distantes conhecidos, cujas
controvrsias ao redor da origem permanecem abertas.
392
Presenciamos um dramtico aumento no registro fssil dos primatas, particularmente
desde a dcada de 1990, o que permitiu aumentar notavelmente o conhecimento e, visto de
uma tica positiva, aumentaram tambm as perguntas. Como corolrio de muitos trabalhos
paleontolgicos, costuma-se dizer que um aumento do registro fssil determinar a soluo
para numerosas questes; no entanto, se abriro novos debates que exigiro novos achados
futuros.
AGRADECIMENTOS
393
BIBLIOGRAFIA CITADA
Ameghino F. 1891. Los monos fsiles del Eoceno de la Repblica Argentina. Revista Argentina
de Historia Natural (Buenos Aires) 1: 383-397.
Bajpai S, Kay RF, Williams BA, Das DP, Kapur VV, Tiwari BN. 2008. The oldest Asian record of
Anthropoidea. Proc Natl Acad Sci USA 105: 1109311098.
Beard KC. 2002. Basal anthropoids. En: Hartwig WC Ed. The Primate Fossil Record. Cambridge:
Cambridge University Press. P.133-149.
Beard KC, Qi T, Dawson MR, Wang B, Li C. 1994. A diverse new primate fauna from middle
Eocene fissure-fillings in southeastern China. Nature 368: 604-609.
Beard KC, Tong Y, Dawson MR, Wang J, Huang X. 1996. Earliest complete dentition of an
anthropoid primate from the late middle Eocene of Shanxi Province, China. Science 272:
82-85.
Bond M, Tejedor MF, Campbell K, Chornogubsky L, Novo NM, Goin FJ. 2015. Eocene primates
of South America and the African origin of New World Monkeys. Nature 520: 538-541.
http:doi:10.1038/nature14120.
Bordas A. 1942. Anotaciones sobre un Cebidae fsil de Patagonia. Physis 19: 265-269.
Brunet M, Guy F, Pilbeam D, et al. A new hominid from the Upper Miocene of Chad, Central
Africa. Nature 418: 145151.
Cartelle C, Hartwig WC. 1996. A new extinct primate among the Pleistocene megafauna of
Baha, Brazil. Proc Natl Acad Sci USA 93: 6405-6409.
Ciochon RL, Piperno DR, Thompson RR. 1990. Opal phytoliths found on the teeth of the extinct
ape, Gigantopithecus blacki: implications for paleodietary studies. Proc Natl Acad Sci USA
87: 81208124.
Cooke S, Rosenberger, AL, Turvey S. 2011. An extinct monkey from Haiti and the origins of
Greater Antillean primates. Proc Natl Acad Sci USA 108: 2699-2704.
Chaimanee Y, Chavasseau O, Beard KC, et al. 2012. A new Middle Eocene primate from
Myanmar and the initial anthropoid colonization of Africa. Proc Natl Acad Sci USA 109:
1029310297.
Dagosto M. 2007. The postcranial morphotype of primates. En: Ravosa MJ, Dagosto M, eds.
Primate Origins: Adaptations and Evolution. New York: Springer, p. 489534.
394
Ducrocq S, Manthi FK, Lihoreau F. 2011. First record of a parapithecid primate from the
Oligocene of Kenya. J Hum Evol 61: 327331.
Fleagle JG. 1990. New fossil platyrrhines from the Pinturas Formation, Southern Argentina. J
Hum Evol 19: 61-85.
Fleagle JG. 2013. Primate Adaptation and Evolution. 3 rd Edition. New York, Academic Press.
Fleagle JG, Rosenberger AL. 1983. Cranial morphology of the earliest anthropoids. En: Sakka,
M. (ed.): Morphologie Evolutive, Morphogenese du Crane et Anthropogenese, Paris:
CNRS, p. 141-153.
Fleagle JG, Kay RF. 1989. The dental morphology of Dolichocebus gaimanensis, a fossil monkey
from Argentina. Am J of Phys Anthropol 78: 221.
Fleagle JG, Gilbert CC. 2006. Biogeography and the primate fossil record: the role of tectonics,
climate, and chance. En: Lehman S, Fleagle JG, eds. Primate Biogeography. New York:
Springer, p. 375418.
Fleagle JG, Powers DW, Conroy GC, Watters JP. 1987. New fossil platyrrhines from Santa Cruz
Province, Argentina. Folia Primatol 48: 65-77.
Fleagle JG, Bown TM, Swisher III CC, Buckley G. 1995. Age of the Pinturas and Santa Cruz
Formations. Actas VI Congreso Argentino de Paleontologa y Bioestratigrafa, p. 129-135.
Trelew, Argentina.
Flynn JJ, Wyss AR, Swisher CC. 1995. An Early Miocene anthropoid skull from the Chilean
Andes. Nature 373: 603607.
Flynn JJ, Guerrero J, Swisher III CC. 1997. Geochronology of the Honda Group. En: Kay, R.F.,
Madden, R.H., Cifelli, R.L. & Flynn, J.J. (eds.): Vertebrate Paleontology in the Neotropics:
the Miocene fauna of La Venta, Colombia. Washington DC: Smithsonian Institution Press,
p. 44-59.
Godinot M. 2007. Primate origins: a reappraisal of historical data favoring tupaiid affinities. En:
Ravosa MJ, Dagosto M, eds. Primate Origins: Adaptations and Evolution. New York:
Springer, p 83142.
Gunnell GF, Gingerich PD, Ul-Haq M, Bloch JI, Khan IH, Clyde WC. 2008. New primates
(Mammalia) from the Early and Middle Eocene of Pakistan and their paleobiogeographical
implications. Contributions from the Museum of Paleontology, University of Michigan
32(1):114.
Haile-Selassie Y. 2001. Late Miocene hominids from the Middle Awash, Ethiopia. Nature. 412:
178181.
Haile-Selassie Y, Saylor BZ, Deino A, Levin NE, Alene M, Latimer BM. 2012. A new hominin foot
from Ethiopia shows multiple Pliocene bipedal adaptations. Nature 483: 565569.
395
Halenar LB, Rosenberger AL. 2013. A closer look at the Protopithecus fossil assemblages:
new genus and species from Bahia, Brazil. J Hum Evol 65: 37490.
Harrison T. 2010. Apes among the tangled branches of human origins. Science 327: 532534.
Hartwig WC, Cartelle CC. 1996. A complete skeleton of the giant South American primate
Protopithecus. Nature 381: 307-311.
Hershkovitz P. 1970. Notes of Tertiary platyrrhine monkeys and description of a new genus
from the late Miocene of Colombia. Folia Primatol 12: 137.
Hershkovitz P. 1974. A new genus of Late Oligocene monkey (Cebidae, Platyrrhini) with notes
on postorbital closure and platyrrhine evolution. Folia Primatologica 21: 1-35.
Hooker JJ. 2007. A new microchoerine omomyid (Primates, Mammalia) from the English Early
Eocene and its paleobiogeographical implications. Paleontology 50:739756.
Horovitz I, MacPhee RDE. 1999. The Quaternary Cuban platyrrhine Paralouatta varonai and the
origin of Antillean monkeys. J Hum Evol 36: 33-68.
Jaeger J-J, Thein T, Benammi M, et al. 1999. A new primate from the Middle Eocene of
Myanmar and the Asian early origin of anthropoids. Science 285: 528530.
Katz M. 1999. The Source and Fate of Massive Carbon Input During the Late Paleocene
Thermal Maximum. Science 286: 1531-1533.
Kay RF. 2010. A new primate from the early Miocene of Gran Barranca, Chubut Province,
Argentina: Paleoecological implications. En: Madden RH, Carlini AA, Vucetich MG, Kay RF,
eds.): The Paleontology of Gran Barranca: Evolution and Environmental Change through
the Middle Cenozoic of Patagonia. New York: Cambridge University Press, p 220-240.
Kay RF, Madden RH, Plavcan JM, Cifelli RL, Guerrero-Daz J. 1987. Stirtonia victoriae, a new
species of Miocene Colombian primate. J Hum Evol 16: 73-196.
Kay RF, Johnson D, Meldrum DJ. 1998. A new pitheciine primate from the Middle Miocene of
Argentina. Am J Primatol 45: 317-336.
Kay RF, Cozzuol MA. 2006. New platyrrhine monkeys from the Solimoes Formation (late
Miocene, Acre State, Brazil). J Hum Evol 50: 673-686.
Kay RF, Fleagle JG, Mitchell TRT, Colbert M, Bown T, Powers DW. 2008. The anatomy of
Dolichocebus gaimanensis, a stem platyrrhine monkey from Argentina. J Hum Evol 54:
323-382.
Kay RF, Hunt KD, Beeker CD, Conrad GW, Johnson CC, Heller J. 2011. Preliminary notes of a
newly discovered skull of the extinct monkey Antillothrix from Hispaniola and the origin of
the Greater Antillean monkeys. J Hum Evol 60: 124-128.
Luchterhand K, Kay RF, Madden RH. 1986. Mohanamico hershkovitzi, gen. et sp. nov., un
primate du Miocne moyen dAmrique du Sud. Comptes Rendus lAcad Sci, Paris, sr. II
303:1753-1758.
Lund P. 1840. Nouvelles recherches sur la faune fossile du Bresil. Ann Sci Naturelles (Paris) 13:
310-319.
MacPhee RDE, Horovitz I. 2004. New craniodental remains of the Quaternary Jamaican
monkey Xenothrix mcgregori (Xenotrichini, Callicebinae, Pitheciidae), with a
reconsideration of the Aotus hypothesis. Am Mus Novitates 3434: 1-51
Meldrum DJ, Kay RF. 1997. Nuciruptor rubricae, a new pitheciin seed predator from the
Miocene of Colombia. Am J Phys Anthropol 102: 407-427.
Miller ER, Simons EL. 1997. Dentition of Proteopithecus sylviae, an archaic anthropoid from the
Fayum, Egypt. Proc Natl Acad Sci USA 94: 1376013764.
Miller ER, Benefit BR, McCrossin ML, et al. 2009. Systematics of Early and Middle Miocene Old
World monkeys. J Hum Evol 57: 195334.
Morrone JJ. 2006. Biogeographic areas and transition zones of Latin America and the
Caribbean islands based on panbiogeographic and cladistic analyses of the entomofauna.
Ann Ver Entomology 51: 467494.
Rivero M, Arredondo O. 1991. Paralouatta varonai, a new Quaternary platyrrhine from Cuba. J
Hum Evol 21: 1-11.
Rosenberger AL. 1977. Xenothrix and ceboid phylogeny. J Hum Evol 6: 461-481.
Rosenberger AL. 1979. Cranial anatomy and implications of Dolichocebus a late Oligocene
ceboid primate. Nature 279: 416-418.
Rosenberger AL. 2002. Platyrrhine paleontology and systematics: The paradigm shifts. En:
Hartwig WC, ed. The Primate Fossil Record. Cambridge: Cambridge University Press.
p.151-159.
Rosenberger AL, Setoguchi T, Shigehara N. 1990. The fossil record of callitrichine primates. J
Hum Evol 19: 209-236.
Rosenberger AL, Hartwig WC, Wolff RG. 1991a. Szalatavus attricuspis, an early platyrrhine
primate. Folia Primatol 56: 225-233.
397
Rosenberger AL, Setoguchi T, Hartwig WC. 1991b. Laventiana annectens, new genus and
species: fossil evidence for the origin of callitrichine monkeys. Proc Natl Acad Sci USA 88:
2137-2140.
Rosenberger AL, Cooke S, Rmoli R, Xijun Ni, Cardoso L. 2011. First skull of Antillothrix
bernensis, an extinct relict monkey from the Dominican Republic. Proc Royal Soc B 278:
67-74.
Rusconi C. 1935. Las especies de primates del Oligoceno de Patagonia (gnero Homunculus).
Ameghinia, Revista Argentina de Paleontologa y Antropologa I: 39-125.
Sarmiento EE. 2010. Comment on the paleobiology and classification of Ardipithecus ramidus.
Science 328: 1105-b.
Setoguchi T, Rosenberger AL. 1985. Miocene marmosets: first evidence. Intl J Primatol 6: 615-
625.
Seiffert ER. 2012. Early primate evolution in Afro-Arabia. Evol Anthropol 21: 239253.
Seiffert ER, Perry JM, Simons EL, Boyer DM. 2009. Convergent evolution of anthropoid-like
adaptations in Eocene adapiform primates. Nature 461: 11181121.
Senut B, Pickford M, Gommery D, Mein P, Cheboi K, Coppens Y. 2001. First hominoid from the
Miocene (Lukeino Formation, Kenya). C R Acad Sci 332: 137144.
Sig B, Jaeger J-J, Sudre J et al. 1990. Altiatlasius koulchii n. gen. et sp., primate omomyid Du
Palocne suprieur du Maroc, et les origines des Euprimates. Paleontographica A
214:3156.
Simons EL. 1995. Egyptian Oligocene primates: a review. Yearb Phys Anthropol 38: 119238.
Simons EL, Seiffert ER. 1999. A partial skeleton of Proteopithecus sylviae (Primates,
Anthropoidea): first associated dental and postcranial remains of an Eocene
anthropoidean. C R Acad Sci Ser IIA 329: 921927.
Simons EL, Seiffert ER, Chatrath P, Attai Y. 2001. Earliest record of a parapithecid anthropoid
from the Jebel Qatrani Formation, northern Egypt. Folia Primatol 72:316331.
Stevens NJ, OConnor PM, Gottried MD, Roberts EM, Ngasala S. 2005. An anthropoid primate
humerus from the Rukwa Rift Basin, Paleogene of southwestern Tanzania. J Vert Paleontol
25:986989.
Stirton, R.A. 1951. Ceboid monkeys from the Miocene of Colombia. University of California
Publications, Bulletin of the Department of Geological Sciences 28: 315-356.
Soligo C, Martin RD. 2006. Adaptive origins of primates revisited. J Hum Evol 50: 414430.
Sussman R, Rasmussen T, Raven PH. 2013. Rethinking primate origins again. Am J Primatol 75:
95106.
Suwa G, Kono RT, Katoh S, Asfaw B, Beyene Y. 2007. A new species of great ape from the Late
Miocene epoch in Ethiopia. Nature 448: 921924.
Szalay FS, Delson E. 1979. Evolutionary History of the Primates. New York: Academic Press.
398
Takai M. 1994. New specimens of Neosaimiri fieldsi from La Venta, Colombia: a middle
Miocene ancestor of the living squirrel monkeys. J Hum Evol 27: 329-360.
Takai M, Anaya F, Shigehara N, Setoguchi T. 2000. New fossil materials of the earliest New
World monkey, Branisella boliviana, and the problem of platyrrhine origins. Am J Phys
Anthropol 111: 263-281.
Takai M, Anaya F, Suzuki H, Shigehara N, Setoguchi T. 2001. A new platyrrhine from the Middle
Miocene of La Venta, Colombia, and the phyletic position of Callicebinae. Anthropological
Sciences 109: 289-307.
Tejedor MF. 2000. Los Platyrrhini fsiles de la Patagonia (Primates, Anthropoidea). Sistemtica,
filogenia e inferencias paleoambientales. Tesis Doctoral, Universidad Nacional de la Plata,
Argentina.
Tejedor MF. 2003. New fossil primate from Chile. J Hum Evol 44: 515-520.
Tejedor MF. 2005a. New fossil platyrrhine from Argentina. Folia Primatol 76: 146-150.
Tejedor MF. 2005b. New specimens of Soriacebus adrianae, with comments on pitheciin
primates from the Miocene of Patagonia. Ameghiniana 42: 249-251.
Tejedor MF, Rosenberger AL. 2008. A neotype for Homunculus patagonicus Ameghino, 1891,
and a new interpretation of the taxon. PaleoAnthropology 2008: 68-82.
Tejedor MF, Muoz-Saba Y. 2013. La sistemtica de los platirrinos y el registro fsil. En: Defler,
T.R., Stevenson, P.R., Bueno, M.L. and Guzmn Caro, D.C., eds. Primates colombianos en
peligro de extincin. Bogot: Asociacin Primatolgica Colombiana. p. 68-86.
Tejedor MF, Tauber AA, Rosenberger AL, Swisher III CC, Palacios ME. 2006. New primate genus
from the Miocene of Argentina. Proc Natl Acad Sci USA 103: 5437-5441.
Tejedor MF, Rosenberger AL, Cartelle C. 2008. Nueva especie de Alouatta (Primates, Atelinae)
del Pleistoceno Tardo de Baha, Brasil. Ameghiniana 45(1): 247-251.
von Koenigswald GHR. 1983. The significance of hitherto undescribed Miocene hominoids from
the Siwaliks of Pakistan in the Senchenberg Museum, Frankfurt. En: Ciochon RL, Corruccini
RS, eds. New Interpretations of Ape and Human Ancestry. New York: Plenum Press. p.
517526.
Waddell PJ, Okada N, Hasegawa M. 1999. Towards resolving the interordinal relationships of
placental mammals. Syst. Biol. 48: 1-5.
White TD, Suwa G, Asfaw B. 1994. Australopithecus ramidus, a new species of early hominid
from Aramis, Ethiopia. Nature 371: 306333.
399
White TD, Asfaw B, Beyene Y, et al. 2009. Ardipithecus ramidus and the paleobiology of early
hominids. Science 326: 7586.
Wilkinson RD, Steiper ME, Soligo C, Martin RD, Yang Z, et al. 2011. Dating primate divergences
through an integrated analysis of palaeontological and molecular data. Syst Biol 60: 16
31.
Williams EE, Koopman KF. 1952. West Indian fossil monkeys. Am Mus Novitates 1546: 1-16.
Zachos J, Pagani M, Sloan L, Thomas E, Billups K. 2001. Trends, rhythms, and aberrations in
global climate 65 Ma to present. Science 292: 686693.
Zalmout IS, Sanders WJ, MacLatchy L, et al. 2010. New Oligocene primate from Saudi Arabia
and the divergence of apes and Old World monkeys. Nature 466: 360364.
400
APNDICE
ORDEM Primates
SUBORDEM Strepsirrhini
INFRAORDEM Lemuriformes
SUPERFAMLIA Lemuroidea
FAMLIA Lemuridae
Lemur
Hapalemur
Prolemur
Eulemur
Varecia
Pachylemur
FAMLIA Megaladapidae
Megaladapis
FAMLIA Indriidae
SUBFAMLIA Indriinae
Avahi
Propithecus
Indri
SUBFAMLIA Archaeolemurinae
Archaeolemur
Hadropithecus
SUBFAMLIA Palaeopropithecinae
Mesopropithecus
Babakotia
Palaeopropithecus
Archaeoindris
FAMLIA Cheirogaleidae
Microcebus
Cheirogaleus
401
Mirza
Allocebus
Phaner
FAMLIA Lepilemuridae
Lepilemur
SUPERFAMLIA Daubentonioidea
FAMLIA Daubentoniidae
Daubentonia
INFRAORDEM Lorisiformes
SUPERFAMLIA Lorisoidea
FAMLIA Lorisidae
Arctocebus
Perodicticus
Mioeuoticus
Loris
Nycticebus
Nycticeboides
Microloris
FAMLIA Galagidae
Galago
Otolemur
Galagoides
Sciurocheirus
Euoticus
Komba
Progalago
Wadilemur
Saharagalago
FAMLIA Incertae sedis
Karanisia
SUPERFAMLIA Incertae sedis
FAMLIA Azibiidae
Azibius
402
Algeripithecus
FAMLIA Djebelemuridae
Djebelemur
Anchomomys
Omanodon
Shizarodon
Namaia
FAMLIA Plesiopithecidae
Plesiopithecus
SUBORDEM Adapiformes
SUPERFAMLIA Adapoidea
FAMLIA Notharctidae
Cantius
Copelemur
Notharctus
Pelycodus
Smilodectes
Hesperolemur
FAMLIA Cercamoniidae
Donrussellia
Panobius
Protoadapis
Barnesia
Periconodon
Buxella
Agerinia
Anchomomys
Mazaterodon
Pronycticebus
FAMLIA Adapidae
Adapis
Cryptadapis
Microadapis
Leptadapis
403
Palaeolemur
Magnadapis
Paradapis
FAMLIA Caenopithecidae
Caenopithecus
Europolemur
Godinotia
Darwinius
Mahgarita
Mescalerolemur
Afradapis
Aframonius
Adapoides
FAMLIA Asiadapidae
Asiadapis
Marcgodinotius
FAMLIA Sivaladapidae
SUBFAMLIA Sivaladapinae
Sivaladapis
Indraloris
Sinoadapis
SUBFAMLIA Hoanghoniinae
Hoanghonius
Rencunius
Wailekia
Lushius
SUBFAMLIA Incertae sedis
Paukkaungia
Kyitchaungia
Guangxilemur
FAMLIA Incertae sedis
Bugtilemur
Muangthanhinius
Sulaimanius
404
SUBORDEM Haplorhini
INFRAORDEM Anthropoidea
PARVORDEM Platyrrhini
SUPERFAMLIA Pithecioidea
FAMLIA Pitheciidae
SUBFAMLIA Pitheciinae
Pithecia
Chiropotes
Cacajao
Proteropithecia
Nuciruptor
Cebupithecia
Soriacebus
Mazzonicebus
SUBFAMLIA Homunculinae
Callicebus
Miocallicebus
Homunculus
Carlocebus
SUBFAMLIA Aotinae
Aotus
Tremacebus
SUPERFAMLIA Ateloidea
FAMLIA Cebidae
SUBFAMLIA Cebinae
Cebus
Sapajus
Acrecebus
Saimiri
Neosaimiri
Laventiana
Insulacebus
Killikaike
405
SUBFAMLIA Callitrichinae
Callithrix
Mico
Cebuella
Callibella
Callimico
Saguinus
Leontopithecus
Micodon
Patasola
Lagonimico
FAMLIA Atelidae
SUBFAMLIA Atelinae
Ateles
Caipora
Solimoea
Lagothrix
Brachyteles
SUBFAMLIA Alouattinae
Alouatta
Paralouatta
Stirtonia
Protopithecus
SUPERFAMLIA Incertae sedis
FAMLIA Incertae sedis
Perupithecus
Branisella
Szalatavus
Mohanimico
Xenothrix
Antillothrix
INFRAORDEM Catarrhini
SUPERFAMLIA Cercopithecoidea
FAMLIA Cercopithecidae
406
SUBFAMLIA Cercopithecinae
Macaca
Procynocephalus
Paradolichopithecus
Cercocebus
Mandrillus
Procercocebus
Lophocebus
Rungwecebus
Papio
Parapapio
Pliopapio
Dinopithecus
Gorgopithecus
Theropithecus
Erythrocebus
Chlorocebus
Allochrocebus
Miopithecus
Allenopithecus
Cercopithecus
SUBFAMLIA Colobinae
Colobus
Piliocolobus
Procolobus
Microcolobus
Libypithecus
Kuseracolobus
Cercopithecoides
Paracolobus
Rhinocolobus
Mesopithecus
Dolichopithecus
Semnopithecus
407
Trachypithecus
Presbytis
Nasalis
Simias
Pygathrix
Rhinopithecus
Parapresbytis
FAMLIA Victoriapithecidae
Victoriapithecus
Prohylobates
Zaltanpithecus
Noropithecus
SUPERFAMLIA Hominoidea
FAMLIA Hylobatidae
Hylobates
Hoolock
Nomascus
Symphalangus
Yuanmoupithecus
FAMLIA Hominidae
SUBFAMLIA Ponginae
Pongo
Ankarapithecus
Sivapithecus
Gigantopithecus
Khoratpithecus
SUBFAMLIA Homininae
Pan
Gorilla
Homo
Australopithecus
Paranthropus
Kenyanthropus
Ardipithecus
408
Orrorin
Sahelanthropus
SUBFAMLIA Dryopithecinae
Dryopithecus
Pierolapithecus
Anoiapithecus
Hispanopithecus
Rudapithecus
Ouranopithecus
Graecopithecus
Oreopithecus
Lufengpithecus
SUBFAMLIA Incertae sedis
Kenyapithecus
Griphopithecus
Nakalipithecus
Samburupithecus
Chororapithecus
SUPERFAMLIA Proconsuloidea
FAMLIA Proconsulidae
SUBFAMLIA Proconsulinae
Proconsul
SUBFAMLIA Afropithecinae
Afropithecus
Heliopithecus
Morotopithecus
Nacholapithecus
Equatorius
Otavipithecus
SUBFAMLIA Nyanzapithecinae
Nyanzapithecus
Rangwapithecus
Turkanapithecus
Xenopithecus
409
FAMLIA Dendropithecidae
Dendropithecus
Simiolus
Micropithecus
FAMLIA Incertae sedis
Limnopithecus
Kalepithecus
Kogolepithecus
Lomorupithecus
Iriripithecus
Karamojapithecus
SUPERFAMLIA Propliopithecoidae
FAMLIA Propliopithecidae
Propliopithecus
Moeripithecus
Aegyptopithecus
FAMLIA Oligopithecidae
Oligopithecus
Catopithecus
SUPERFAMLIA Pliopithecoidea
FAMLIA Pliopithecidae
SUBFAMLIA Dionysopithecinae
Dionysopithecus
Platydontopithecus
SUBFAMLIA Pliopithecinae
Pliopithecus
Epipliopithecus
Egarapithecus
SUBFAMLIA Crouzeliinae
Plesiopliopithecus
Anapithecus
Barberapithecus
Laccopithecus
SUPERFAMLIA Incertae sedis
410
Saadanius
Kamoyapithecus
INFRAORDEM Parapithecoidea
SUPERFAMLIA Parapithecoidea
FAMLIA Parapithecidae
Abuqatrania
Qatrania
Apidium
Parapithecus
Lokonepithecus
FAMLIA Incertae sedis
Biretia
Arsinoea
SUPERFAMLIA Proteopithecoidea
FAMLIA Proteopithecidae
Proteopithecus
Serapia
INFRAORDEM Incertae sedis
FAMLIA Eosimiidae
Eosimias
Phenacopithecus
Bahinia
FAMLIA Amphipithecidae
Amphipithecus
Pondaungia
Ganlea
Myanmarpithecus
Siamopithecus
Bugtipithecus
SUBORDEM Tarsiiformes
INFRAORDEM Tarsiiformes
SUPERFAMLIA Tarsioidea
FAMLIA Tarsiidae
Tarsius
411
Cephalopachus
Carlito
Xanthorhysis
Afrotarsius
Afrasia
SUBORDEM Omomyiformes
SUPERFAMLIA Omomyoidea
FAMLIA Omomyidae
SUBFAMLIA Anaptomorphinae
Teilhardina
Baataromomys
Anaptomorphus
Gazinius
Tetonoides
Pseudotetonius
Absarokius
Tatmanius
Strigorhysis
Acrossia
Trogolemur
Sphacorhysis
Anemorhysis
Arapahovius
Chlororhysis
Artimonius
SUBFAMLIA Omomyinae
Omomys
Chumashius
Steinius
Uintanius
Jemezius
Macrotarsius
Hemiacodon
Yaquius
412
Ourayia
Wyomomys
Ageitodendron
Utahia
Stockia
Asiomomys
Chipetaia
Washakius
Tarka
Tarkadectes
Tarkops
Shoshonius
Dyseolemur
Loveina
Ekgmowechashala
FAMLIA Microchoeridae
Nannopithex
Pseudoloris
Necrolemur
Microchoerus
Vectipithex
Melaneremia
Indusomys
FAMLIA Incertae sedis
Rooneyia
Kohatius
Vastomys
SUBORDEM Incertae sedis
Altiatlasius
Altanius
Phileosimias
Nosmips
413
CAPTULO 14. A EVOLUO DOS GNEROS
AUSTRALOPITHECUS E PARANTHROPUS.
ALBERTO A. MAKINISTIAN1
1
Universidad Nacional de Rosario, Argentina. amakinistian@citynet.net.ar
Dart concluiu, de maneira certeira, que o menino de Taung era bpede porque a posio
do forame occipital, ou foramen magnum, localizado na base do crnio, estava orientado para
baixo e no para trs e, portanto, mais semelhante com a posio encontrada nos humanos
modernos do que a que existe nos grandes smios. Entretanto, a comunidade cientfica
europeia, sobretudo a britnica, deu pouca importncia ao achado, principalmente por dois
motivos. Por um lado, pela sua reduzida capacidade cerebral, em uma poca em que
predominava a ideia segundo a qual os que nos havia feito humanos era, precisamente, um
maior desenvolvimento de crebro em relao aos outros primatas e, por outro lado, pelo fato
de que, nesta ocasio, se pensava que nossa origem estava mais vinculada com os antropides
asiticos, como o orangotango, que com os africanos.
414
Tendo-se encontrado somente o crnio de um menino, necessitava-se de mais fsseis,
sobretudo de formas adultas, que proporcionariam uma maior informao. Felizmente, nos
anos seguintes foram realizados novos achados, desta vez de formas adultas, nos depsitos de
Sterkfontein (1936), com um crnio quase completo ainda que sem os dentes e nem a
mandbula; e de Makapansgat (1947), que adicionou uma plvis que demonstra um claro
bipedalismo nos australopitecos. O importante que ambos os stios possibilitaram uma
melhor caracterizao do tipo Australopithecus africanus: capacidade cerebral de cerca de 500
cm3, incisivos pequenos, caninos um pouco projetados e premolares relativamente grandes. E
quanto a sua antiguidade, a mesma foi estabelecida entre 3,2 e 2,3 Ma.
2. O GNERO PARANTHROPUS
Do mesmo modo que Dart, e tambm na frica do Sul, o mdico e paleontlogo escocs
Robert Broom (1866-1951) encontrou restos fsseis em Kromdraai (1938) que, por apresentar
crista sagital, pmulos fortes e molares largos, o diferenciou do Autralopithecus e o batizou
com o nome de Paranthropus robustus (etimologicamente parantropo significa ao lado do
homem). Mais tarde, em 1949, Broom encontrou, em Swartkrans, um crnio parcial com
parte da face e do maxilar superior e dois anos depois um crnio bastante completo, que inclui
quase toda a face. Em conjunto, o material encontrado em Swartkrans era similar, por sua
robustez, ao de Kromdraai.
415
Figura 1. Fmea de Australopithecus africanus. As ilustraes 1, 2 e 3, reproduzidas aqui com autorizao,
pertencem a Mauricio Antn e figuram nas pginas 89, 120 e 122, respectivamente, da obra La espcie elegida de
Juan Luis Arsuaga e Ignacio Martnez. Edies Temas de Hoy. Madrid, 18 edio, Novembro de 1999.
416
Kromdraai e Swartkrans), com uma dieta baseada fundamentalmente em alimentos vegetais
duros, tais como sementes e razes. Nas dcadas de 1930 e 1940, os fsseis encontrados em
cada um destes stios receberam nomes distintos: Plesianthropus transvaalensis para os de
Sterkfontein (1936), Australopithecus prometheus para os de Makapansgat (1947),
Paranthropus robustus para os de Kromdraai (1938) e Paranthropus crassidens para os de
Swartkrans (1949). Exceto Paranthropus robustus, os demais nomes caram em sinonmia e
desuso.
417
especializao de seu aparato mastigatrio: apenas esboada em aethiopicus, mais marcada
em robustus e muito acentuada em boisei.
a. PARANTHROPUS BOISEI
O crnio apresenta, na parte superior, uma crista sagital proeminente que revela a
existncia de um aparato mastigador com potentes msculos, apto para a ingesto de vegetais
duros, motivo pelo qual a imprensa o apelidou de quebra-nozes (ver Figura 2). Seus dentes
caninos e incisivos so pequenos, mas os premolares e molares so muito grandes. Como o
tipo de alimento requer uma mastigao muito boa antes de ser ingerido, existe um uso maior
das peas dentrias posteriores, encarregadas de moer ou triturar a comida. por esse motivo
que se observa neles que seus premolares se molarizam, ou seja, aumentam de tamanho para
desta maneira incrementar, junto aos molares, a superfcie mastigatria disponvel. E quanto a
sua estatura, era de 1,45 m aproximadamente, enquanto que sua capacidade cerebral foi
estabelecida em 530 cm3.
418
desta maneira porque partia do firme preossuposto, vigente na poca, de que o homem podia
ser o nico fabricante de ferramentas. Em seguida, com o achado de novos fsseis nesse lugar
entre 1960 e 1963, Leakey reconheceu que havia estado equivocado e que, na realidade, os
instrumentos lticos haviam sido fabricados por estes novos indivduos, cujos fsseis foram
agrupados, em 1964, sob o nome de Homo habilis, por sua habilidade para produzir
ferramentas (Leakey & Walker, 1997).
b. PARANTHROPUS AETHIOPICUS
No ano seguinte, em 1965, Louis Leakey aproveitou a visita do imperador da Etipia, Haile
Selassie, ao Qunia para se encontrar com ele e obter sua autorizao para a busca de fsseis
de homindeos em terra etopes. Isto levou Louis a organizar uma expedio internacional ao
Vale do Omo, ao norte da fronteira entre o Qunia e a Etipia. Iniciada em 1967, participaram
da mesma um grupo francs, um norteamericano e outro angro-queniano.
419
Figura 2. Macho de Paranthropus boisei. As ilustraes 1, 2 e 3, reproduzidas aqui com autorizao, pertencem a
Mauricio Antn e encontram-se nas pginas 89, 120 e 122, respectivamente, da obra La espcie elegida de Juan Luis
Arsuaga e Ignacio Martnez. Edies Temas de Hoy. Madrid, 18 edio, novembro de 1999.
Foi precisamente nesse mesmo ano que o grupo francs, comandado por Camille
Arambourg (1885-1969), realizou a primeira descoberta no curso baixo do rio Omo, prximo
de sua desembocadura no Lago Rodolfo, consistente com um maxilar muito grosso, sem
dentes, ao que em um primeiro momento denominaram Paraaustralopithecus aethiopicus
(Arambourg & Coppens, 1967). Tempos depois, e com maior quantidade de materiais
disponveis em virtude da descoberta em 1985 do crnio KNM-WT 17000 (tambm chamado
Black Skull ou crnio negro devido ao fato de que estava coberto por uma crosta de
minerais ricos em mangans), essa espcie seria definida finalmente com o nome de
Paranthropus aethiopicus, com uma antiguidade estimada de 2,6 Ma. O crnio do P.
420
aethiopicus tem uns 410 cm3 de capacidade cerebral, maxilares robustos e molares grandes e
uma crista sagital muito marcada que indubitavelmente servia de insero a potentes
msculos mastigadores aptos para o processamento de sementes, razes e frutos duros antes
da ingesto. A sigla WT (West Turkana) se refere ao local do descobrimento, ou seja, oeste do
Lago Turkana e 17000 o nmero de registro no Museu Nacional do Qunia (KNM). Outro
esclarecimento que cabe mencionar que o nome do lago foi Rodolfo at 1974, mas em um
processo de nacionalizao de nomes estrangeiros, o governo do Qunia passou a denomin-
lo Lago Turkana a partir de ento. Da importante que o leitor esteja informado que em toda
referncia aos achados efetuados na zona e que seja anteriores a 1974 aparecer a letra R de
Rodolfo e em toda descoberta posterior a este ano a letra T, de Turkana.
a. AUSTRALOPITHECUS AFARENSIS
421
Figura 3. Macho de Paranthropus aethiopicus. As ilustraes 1, 2 e 3, reproduzidas aqui com autorizao,
pertencem a Mauricio Antn e encontram-se nas pginas 89, 120 e 122, respectivamente, da obra La espcie
elegida de Juan Luis Arsuaga e Ignacio Martnez. Edies Temas de Hoy. Madrid, 18 edio, novembro de 1999.
Em 1971, o jovem antroplogo norteamericano Donald Carl Johanson (n. 1943) havia
viajado para Paris com o propsito de completar sua tese de doutorado. L conheceu Maurice
Taieb (n. 1935), um gelogo francs que tambm estava empenhado em redigir sua tese de
doutorado sobre a evoluo geolgica do vale do rio Awash, no noroeste da Etipia. Com
interesses em comum, ambos decidem trasladar-se para a zona para uma prospeco sobre o
terreno. Uma vez a, se encontram com Yves Coppens (n. 1934) e os trs resolvem trabalhar
juntos no lugar, ressaltando que eles seriam os principais responsveis, cada um em sua
disciplina (Taieb em geologia, Coppens em paleontologia e Johanson em paleoantropologia.
422
Depois da morte de Arambourg em 1969, Coppens havia ficado a cargo do grupo francs na
expedio internacional ao Vale do Omo).
ilustrativo registar que nesta noite, como reflexo dos comentrios e intercmbios de
opinies entre os cientistas do acampamento, se escutava a cano dos Beatles Lucy in the
sky with diamonds" e em um determinado momento o nome de Lucy passou para o fssil,
por consider-lo de sexo feminino, a julgar pela maior dimenso de sua abertura plvica (ver
Figura 4). Tecnicamente, seu registro na coleo de Hadar A. L. 288-1 (A. L. por Afar Locality).
Tendo-se encontrado o resto acima do stio KHT (Kada Hadar Tuff), datada de 3,18 Ma, sua
antiguidade seria um pouco menor, talvez 3,1 Ma.
Foram efetuadas duas expedies alm de Hadar, em 1975 e 1976. Em 1975 foi
realizado outro experimento incrvel: na ladeira de uma colina designada posteriormente A.
L. 333 foi encontrado um verdadeiro tesouro de fsseis de homindeos. Essa encosta
produziu cerca de 200 peas fsseis, entre dentes e fragmentos de ossos. A duplicao de
determinadas partes evidenciou que no menos que 13 indivduos estavam ali representados:
machos, fmeas e umas quatro crianas menores de cinco anos, a julgar pelos dentes. Foram
denominados de A primeira famlia e sem dvidas se trata de um achado de grande valor
pelo fato de ter possibilitado o estudo comparativo das diferentes peas anatmicas e tambm
permitiu escrever a amplitude das variaes individuais, includas as sexuais. A totalidade do
material fssil foi encontrada ligeiramente por debaixo do stio KHT, cuja antiguidade seria de
uns 3,2 Ma.
Em 1977, a coleta de fsseis de Hadar estava compsota por mais de 350 peas fsseis.
Porm, em um local muito distante de Hadar, se produziria um descobrimento
verdadeiramente extraordinrio que logo se relacionaria com os fsseis de Hadar. Referimos-
nos ao stio de Laetoli.
424
Figura 4. Esqueleto de Lucy (Australopithecus afarensis).
LAETOLI
425
No vero de 1976, e de maneira totalmente acidental, Andrew Hill, da Universidade de
Harvard, reparou na presena de rastros de animais no solo e dois anos depois, em 1978, o
geoqumico Paul Abell, da Universidade Rhode Island, descubriu uma impresso inconfundvel
de p humano em outro stio. Uma posterior limpeza da superfcie revelou mais de cinquenta
pegadas ao longo de vinte e sete metros.
Estas pegadas (ver Figura 5) relevam o passo, todos juntos ou em distintos momentos,
de trs homindeos que se dirigiam para o norte. Uma das faixas de pegadas corresponderia a
um indivduo menor (pegada de 10,5 cm de comprimento e altura aproximada de 1,20 m de
altura) e uma segunda a um indivduo maior (pegada de 15 cm de comprimento e altura
aproximada de 1,40 m) que est parcialmente apagada porque outro homindeo, de altura
intermediria, caminhou sobre ela intencionalmente (Hay & Leakey, 1982).
Como possvel que essas pegadas tenham permanecido inalteradas aps vrios
milhes de anos? A conservao de pegadas fsseis em Laetoli foi explicada como
consequncia de uma combinao nica de condies climticas, vulcnicas e mineralgicas.
Tentando reconstruir o que ocorreu, os pesquisadores observaram a existncia, a 20 km de
Laetoli, de um vulco, o Sadiman, atualmente inativo, mas que teve erupes ricas em
carbonatito at final do Plioceno. O carbonatito um material rico em carbonato de sdio que,
depois que umidece, tem a propriedade de endurecer fortemente quando seco. Em tempos
modernos, esta particularidade somente foi detectada nas cinzas do vulco Oldoenyo Lengai,
localizado a 90 km ao norte de Laetoli.
426
Figura 5. Pegadas fsseis de homindeos em Laetoli.
Ao que parece, o episdio durou poucas semanas entre o final da estao seca e o
comeo das chuvas. Uma vez que a capa de cinzas mencionada depositou-se sobre o solo,
caram aguaceiros breves. Grandes gotas ficaram impressas, mas choveu o suficiente para
umedecer a superfcie de cinzas e permitir que ficasse registrado todo ser vivo que transitou
por ali. Logo, a superfcie de cinzas se endureceu e conservou milhares de pegadas de animais
da regio.
Pelo seu contedo em biotita, que um mineral potssico, a cinza de origem vulcnica
existente nas superfcies de Laetoli pode ser submetida tcnica de potssio-argnio, que
determinou que as pisadas tinham entre 3,59 e 3,77 Ma. Tambm a bioestratigrafia confirma
427
essa datao pelo fato de terem sido encontradas pisadas de Hipparion, um antigo cavalo que
se extinguiu h mais de 3 Ma.
428
Tempo depois, a partir da dcada de noventa, seriam encontrados novos restos de A.
afarensis. Assim, em janeiro de 1992, seria descoberto o crnio quase completo de um macho
com mandbula proeminente, bochechas largas e msculos fortes e em fins de 2000 o
pesquisador etope Zeresenay Alemseged da Academia de Cincias da Califrnia, encontrou o
esqueleto de Selam (termo que significa paz em amrico, idioma oficial no norte e centro da
Etipia), uma menina de cerca de 3 anos no stio de Dikika, no nordeste da Etipia, a cerca de
10 km de onde havia sido encontrada Lucy. Ainda que tenha sido datada de 3,3 Ma, ou seja,
uma antiguidade maior que a registrada por Lucy, o resto conhecido comumente sob a
expresso a filha de Lucy (Wong, 2007). Em 2010, e a duzentos metros do esqueleto da
menina foram encontrados dois ossos de herbvoros com marcas de corte. Imediatamente,
alguns autores supuseram que tais marcas foram efetuadas com instrumentos lticos, daquela
antiguidade e, portanto, relacionados ao Australopithecus afarensis. Entretanto, o pesquisador
espanhol Manuel Domnguez-Rodrigo descartou tal possibilidade ao advertir que as marcas
eram produto do pisoteio dos ossos por parte de outros animais.
De acordo com uma opinio expressa por Donald Johanson e Tim White, o
Australopithecus afarensis constitua provavelmente um ponto de partida de duas linhas
evolutivas: por um lado, a srie continuava com australopitecos grceis e depois robustos e,
por outro lado, com a linha de Homo (habilis, erectus e sapiens, sucessivamente). Mais
recentemente, o anatomista israelita Yoel Rak e seus colaboradores consideraram que o
Australopithecus afarensis havia derivado para a linhagem dos parntropos do leste africano.
Por outro lado, o achado de um australopitecdeo mais antigo que afarensis, o
Australopithecus anamensis (que ser visto adiante) tambm contribuiu para modificar o
esquema original de Johanson-White.
b. AUSTRALOPITHECUS ANAMENSIS
429
(a expresso anam significa lago em linguagem turkana local), cuja antiguidade estimada
entre 4,2 e 3,9 Ma (Leakey et al., 1995).
Diferentemente dos chimpanzs, que possuem uma cova oval profunda na parte inferior
do mero, onde se encaixa a ulna para aumentar a firmeza da articulao do cotovelo,
possibilitando o tpico deslocamento sobre as articulaes dos dedos, os Australopithecus
anamensis e os humanos modernos no apresentam este carter. Isso indicativo, portanto,
que A. anamensis no se deslocava sobre as articulaes.
De especial interesse a anlise da tbia, quase completa, por seu papel relevante no
bipedalismo. Efetivamente, a tbia de um bpede se distingue claramente da tbia de um animal
quadrpede. Nos chimpanzs, a parte alta da tbia tem forma de T, enquanto que em A.
anamensis, de maneira similar ao que se observa nos humanos modernos, o extremo superior
largo por ter mais tecido esponjoso, o que permite absorver os esforos prprios dos seres
bpedes. Por outro lado, a borda dianteira que mostra a tbia de A. anamensis constitui um
indcio claro de postura bpede.
c. AUSTRALOPITHECUS BAHRELGHAZALI
d. AUSTRALOPITHECUS GARHI
Uma questo controvertida, sem dvida alguma, o achado, a uns duzentos metros dos
restos de A. garhi e no mesmo nvel estratigrfico, de numerosos fragmentos sseos de
mamferos herbvoros que apresentam claramente marcas de corte e ainda fraturas para
acesso medula. Neste caso, seriam as provas mais antigas de marcas feitas por homindeos,
ainda que no podemos estar completamente seguros de quem foram seus autores. Complica
ainda mais o fato de que no foram encontrados instrumentos lticos associados e os mais
prximos e de poca contempornea esto presentes no Vale de Gona, a menos de 100 km ao
norte de Bouri e datados em 2,5 Ma. Asfaw, Heinzelin e colaboradores, atribuem os
instrumentos, de tipo olduvaiense, a A. garhi, porque o nico homindeo presente na regio
at ento (Asfaw et al.). Se assim for, ainda que seja preciso esclarecer que no h consenso
sobre o tema at o momento, o Australopithecus garhi colocaria em dvida a exclusividade do
Homo na fabricao de ferramentas.
432
e. AUSTRALOPITHECUS SEDIBA
Em quatro anos, entre 2008 e 2012, foram encontrados no total cerca de 220
fragmentos sseos, que representam cinco indivduos. A pesquisa, feita por cem especialistas
de distintos pases, foi conhecida h pouco tempo, em abril de 2013. Alm dos crnios
descobertos durante 2010, a equipe de Berger recuperou uma mo direita quase completa,
um p e uma pelve. Os ossos esto especialmente bem preservados porque estes indivduos
caram em uma cova profunda, na qual um sedimento fossilizou seus ossos em poucas
semanas. As rochas sobre a cova foram erosionando-se e os restos ficaram na superfcie.
433
capacit-los a subir em rvores, ainda que possua um polegar longo e forte que o aproxima
dos humanos.
Recentemente, um estudo das vrtebras feito por Ella Been e uma anlise do maxilar
inferior efetuada por Yoel Rak, ambos da Universidade de Tel Aviv, indicaram que a mistura de
caractersticas observada nos restos deveria ser devido presena de dois gneros de
homindeos diferentes em Malapa: um Australopithecus e um Homo inicial.
Em 1997, Clarke buscou e encontrou mais ossos, ao que parece do mesmo indivduo, em
sacos que tinham sido guardados. Um dos fragmentos de uma tbia tinha uma ruptura que
ocorreu durante a extrao ao ser separada do resto do corpo. Por tal motivo, seus assistentes
voltaram ao stio do achado e no somente encontraram a parte faltante, mas tambm um
crnio completo com sua mandbula articulada e outros ossos das extremidades. Finalmente,
em 1998, Clarke fez o anncio do achado de um esqueleto bastante completo que no seria
para ele de um A. africanus nem de um A. afarensis, mas de uma nova espcie, ainda no
determinada, motivo pelo qual o identifica momentaneamente como Australopithecus sp. (sp.
espcie indeterminada).
A complexa geologia de Sterkfontein dificulta uma datao precisa e este dado, sem
dvida, vital para localizar o fssil dentro do contexto evolutivo. Baseando-se em suas
caractersticas anatmicas, Clarke havia considerado inicialmente uma antiguidade de 3 Ma.
Depois, a tcnica do paleomagnetismo indicou 3,3 Ma. Mas, em 2006, as anlises dos estratos
calcreos que rodeiam os fsseis determinaram a idade entre 2,2 e 1,5 Ma (Clarke, 2001).
Finalmente, Ron Clarke encomendou ao especialista Laurent Bruxelles o estudo da datao. Os
resultados obtidos, com base em rigorosas anlises estratigrficas que constam em um
434
trabalho bastante recente, concluram que a idade de Little Foot no menor que 3 Ma
(Bruxelles et al., 2014). Se esta datao for confirmada, o fssil poderia ser considerado como
outro possvel ancestral do Homo.
4. CONCLUSO
De toda maneira e apesar das dificuldades, temos tentado esboar, em cada caso, as
vrias ideias expressas a respeito. Apesar de termos j repetido inmeras vezes, no perdeu a
validade a expresso que sempre utilizada: necessita-se mais achados para entender melhor
o que j temos. O nico porto seguro no momento que, a partir dos 2,5 Ma, e sem prejuzo
da permanncia por um tempo maior de alguns australopitecos, um novo gnero de
homindeos far sua apario: o gnero Homo. E este ser o tema do prximo captulo.
AGRADECIMENTOS
435
BIBLIOGRAFIA CITADA
Asfaw B. et al. 1999. Australopithecus garhi. A new species of early hominid from Ethiopia.
Science, 284:629 - 635.
Brunet, M. et al. 1996. Australopithecus bahrelghazali une nouvelle espce d' Hominid ancien
de la rgion de Koro Toro (Tchad). Comptes Rendus de la Acadmie de Sciences de Paris
322: 907- 913.
Bruxelles L. et al. 2014. Stratigraphic anlisis of the Sterkfontein StW 573 Australopithecus
skeleton and Implications for its age. Journal of Human Evolution Vol. 70: 36 48.
Coppens Y. 2000. Una historia del origen de los homnidos. Investigacin y Ciencia Temas 19: 8
15.
Hay R. y Leakey M. 1982. Las pisadas fsiles de Laetoli. Investigacin y Ciencia 67, 16 - 25.
Johanson D. y Edey M. 1982. Lucy. El primer antepasado del hombre. Editorial Planeta.
Barcelona.
Johanson D. 2000. Cara a cara con la familia de Lucy. National Geographic Espaa. Edicin
Especial Los orgenes del hombre p. 16 - 37.
Leakey et al. 1995. New four-million-year-old hominid species from Kanapoi and Allia Bay,
Kenya. Nature 376: 565 -571.
Tobias Ph. V. 1997. El descubrimiento de Little Foot y la luz que proporciona sobre cmo los
homnidos se volvieron bpedos. Ludus Vitalis Volumen 5 N 8, 11 33.
Arsuaga J.L. y Martnez I. 1999. La especie elegida. Ediciones Temas de Hoy. Madrid.
Boyd R. y Silk J. B. 2004. Cmo evolucionaron los humanos. Editorial Ariel Ciencia. Barcelona,
2edicin.
436
Carbonell E. (Coordinador) 2005. Homnidos: las primeras ocupaciones de los continentes.
Editorial Arel. Barcelona
Cela Conde C. J. y Ayala F. J. 2001. Senderos de la evolucin humana. Editorial Alianza Ensayo
N 188.
Cela Conde C. J. y Ayala F. J. 2013. Evolucin humana. El camino hacia nuestra especie. Alianza
Editorial. Madrid.
Haile Selasssie Y. 2001. Late Miocene hominids from the Middle Awash, Ethiopia. Nature, 412:
178-181.
Lewin r. 1993. Evolucin humana. Biblioteca cientfica salvat n 23. Editorial salvat. Barcelona.
Reader j. 1982. Eslabones perdidos. En busca del hombre primigenio (en especial captulos 4, 6,
7, 11 y 12). Fondo educativo interamericano.
437
CAPTULO 15. O GNERO HOMO
FELIPE MARTNEZ LATRACH1
1
Pontificia Universidad Catlica de Chile. fmartinez@uc.cl
Este captulo apresenta uma descrio sobre o estado da arte e debate atual a respeito
da origem e evoluo de nosso gnero. O gnero Homo engloba um conjunto de espcies
primitivas transicionais, arcaicas ou pr-modernas e nossa prpria espcie Homo sapiens.
Durante o Pleistoceno, diferentes espcies de Homo primitivas e pr-modernas habitaram a
frica e Eursia. A evoluo do gnero se caracteriza por presses seletivas e mudanas na
ontogenia que propiciam a encefalizao e retrao facial, junto com um desenvolvimento
social e cultural complexo. O captulo tem como objetivo abordar as seguintes perguntas:
Como e onde se origina o gnero Homo? Como se distribuem cronolgica e geograficamente
as espcies do gnero? Quais so as principais hipteses filogenticas? Como evoluem as
principais caractersticas biolgicas e comportamentais? Quando e como emergem os
humanos anatomicamente modernos? O captulo discute as evidncias fsseis e arqueolgicas
mais significativas, assim como os avanos recentes na paleogenmica.
O gnero Homo foi introduzido originalmente por Carlos Linneu em 1758 para acomodar
os humanos modernos, Homo sapiens, dentro de seu sistema de classificao biolgica. Desde
ento diversos grupos de hominneos extintos tm sido adicionados ao gnero, ampliando sua
definio e gerando debate com relao s caractersticas que o definem e as espcies que o
compem. O nmero de espcies compreendidas dentro do gnero Homo depende do tipo de
aproximao taxonmica utilizada. Atualmente, se reconhecem pelo menos oito espcies
fsseis: Homo neanderthalensis, Homo florensiensis, Homo heidelbergensis, Homo antecessor,
Homo erectus, Homo ergaster, Homo habilis e Homo rudolfensis (Wood & Baker, 2011; Figura
1).
438
A taxonomia do gnero no est isenta de discrepncias entre os especialistas. Amostra
disto que alguns pesquisadores agrupam os espcimes e espcies de diferentes maneiras.
Por exemplo, h quem sugere agrupar o H. habilis com o H. rudolfensis em um s txon,
enquanto que outros propem agrupar ambos dentro de H. erectus. H tambm quem
desconhece o status de espcie de H. ergaster e H. antecessor, e prefere consider-los dentro
de H. erectus e H. heidelbergensis, respectivamente. Em parte, as diferenas na nomenclatura
se devem ao fato de que os modelos taxonmicos so construdos sobre um registro fssil
incompleto. medida que se descobrem novos espcimes, os modelos devem ser revisados.
Em certas ocasies, isto obriga modificar os agrupamentos taxonmicos de consenso
transitrio. Por este motivo, a terminologia do gnero Homo tem sofrido diversas
transformaes e de se esperar que siga mudando na medida em que o registro fssil
hominneo cresce.
Figura 1. Taxonomia das espcies de hominneos. Os grupos taxonmicos se encontram ordenados em graus. Os
trs graus Homo so: primitivo (ou transicional), pr-moderno e anatomicamente moderno. A altura das colunas
reflete a idade temporal estimada para cada txon (Wood & Baker, 2011).
3. HOMO PRIMITIVO
a. HOMO HABILIS
A definio original de Homo habilis remonta-se a 1964, quando Louis Leakey, Philip
Tobias e John Napier (Leakey et al., 1964) propuseram o nome homem hbil para designar
um conjunto de fsseis provenientes de sedimentos das superfcies I e II inferiores da Garganta
de Olduvai (Olduvai Gorge) no Grande Vale de Rift, Tanznia, e que se encontravam
indiretamente associados tecnologia ltica olduvayense. Entre estes fsseis encontra-se o
espcime OH 7, o qual constitui o espcime tipo para a espcie. OH 7 tem uma idade geolgica
estimada de 1,84 MA e compreende restos juvenis de uma mandbula, parietais e ossos da
mo. Outros espcimes relevantes de Homo habilis so KNM-ER 1805 e KNM-ER 1813,
provenientes de Koobi Fora, Qunia; Stw 53, proveniente de Sterkfontein e SK 847,
proveniente de Swartkrans, ambos na frica do Sul.
Homo habilis considerado pela maioria dos especialistas como um dos primeiros
membros do gnero e o ancestral mais provvel do H. ergaster/erectus (Tobias, 1991; Strait &
Grine, 2004; Lieberman, 2001). Contudo, a ancestralidade habilina de ergaster/erectus tem
sido questionada baseada na considervel sobreposio temporal entre ambos os txons
(Spoor et al., 2007). Apesar disto, se supormos uma transio desde Australopithecus a Homo,
esta deve ter envolvido uma fase de tipo habilina (Lieberman, 2011). Ainda que H. erectus e H.
habilis coexistiram de maneira simptrica na regio do Lago Turkana (Figura 2) durante meio
milho de anos, no podemos descartar que H. erectus se desenvolveu a partir do H. habilis
em outra zona geogrfica da frica, e que Turkana foi um lugar de contato secundrio entre os
dois taxa (Spoor et al., 2007).
b. HOMO RUDOLFENSIS
Apesar das novas descobertas, persiste uma importante confuso filogentica entre
habilis e rudolfensis, produto da dificuldade em reconhecer homoplasia na morfologia craniana
(Lieberman et al., 1996) e a ausncia de material ps-craniano atribuvel ao rudolfensis. Por
este motivo, alguns pesquisadores preferem utilizar uma denominao ampla de H. habilis
(lato sensu) para englobar dentro desse grupo o H. rudolfensis, assemelhando situao
original de antes, quando o H. rudolfensis ainda no tinha sido proposto (Wood, 1992). Em
441
resumo, os espcimes fsseis atribudos ao Homo primitivo (habilis e rudolfensis) exibem um
mosaico de caractersticas que tornam difcil uma definio taxonmica consensual. Assim, a
origem da radiao do Homo primitivo problemtica e sua posio filogentica ainda
discutida (Foley, 2002).
Homo sapiens constitui a espcie tipo do gnero Homo. Portanto, nossa compreenso
das espcies extintas ou paleo-espcies designadas como Homo depende em grande parte da
importncia com a qual ponderamos as caractersticas biolgicas de nossa prpria espcie. Isto
implica que qualquer txon fssil designado como Homo deve apresentar traos mais
prximos aos humanos modernos que a qualquer espcie australopitecnea. Tal situao no
traz problemas para espcies Homo pr-modernas tais como H. ergaster em diante.
Entretanto, as espcies primitivas ou transicionais no cumprem completamente esta
condio (Wood & Collard, 1999; Antn, 2012).
Outra estratgia para definir Homo perguntar desde que momento se inicia o caminho
da humanidade (Wood & Baker, 2011). Esta aproximao coincide intuitivamente com uma
das perguntas mais frequentes entre estudantes de paleoantropologia: A partir de que
momento evolutivo ns podemos definir como humanas as espcies extintas de nossa
linhagem? A resposta no totalmente clara, dado que os traos anatmicos e
comportamentais distintivos de nosso gnero no surgiram a partir de um evento delimitado,
mas a maioria deles evoluiu em mosaico durante mais de dois milhes de anos. Apesar dos
inconvenientes mencionados, achados fsseis recentes e novas tcnicas de anlise sugerem
que as primeiras espcies Homo diferem de Australopithecus principalmente por seu maior
tamanho cerebral e corporal (Antn, 2012).
442
4. CONSIDERAES SOBRE O MODELO DE EVOLUO DO GNERO HOMO
443
Figura 2. Mapa da regio do Lago Turkana e seu contexto geogrfico situado no Grande Vale do Rift. So indicados
os stios do achado de KNM-ER 406 (Paranthropus boisei), 1470 (Homo rudolfensis), 1813 (Homo habilis) e 3733
(Homo ergaster) em Koobi Fora, e KNM-WT 15000 (Menino de Turkana, Homo ergaster) em Nariokotome. Alm
disso, indicado o local de Kibish na Etipia, de onde provm o fssil Omo-Kibish 1. Modificado a partir de Morell,
1996.
444
Figura 3. Crnio KNM-ER 3733, proveniente de Koobi Fora, lado leste do Lago Turkana, Qunia. Capacidade
endocraniana estimada de 848 cc. Idade geolgica: 1,78 MA. Redesenhado a partir de Klein, 2009.
5. HOMO PR-MODERNO
a. HOMO ERGASTER
Homo ergaster apresenta traos morfolgicos que permitem situ-lo como um membro
certo de nossa linhagem. A abobada craniana do H. ergaster relativamente alta em
comparao com as espcies Homo transicionais, apresenta um tamanho endocraniano de 800
cc, seu rosto relativamente pequeno, apresenta prognatismo facial menor, exibe diminuio
do tamanho mandibular e da dentio ps-canina, assim como um menor nmero de razes
premolares superiores. Ainda assim, Homo ergaster retm traos de hominneos primitivos:
possui um marcado estreitamento atrs das rbitas no sulco supratoral e a constrio ps-
orbital, seu osso frontal se inclina em retrocesso e no possui queixo ou maxila em sua
mandbula. Alguns traos derivados prprios de H. ergaster so: protuberncia supra-orbital
pronunciada, crista occipital horizontal na parte posterior do crnio e osso nasal projetado
(Figura 3).
446
Figura 4. Primeiros stios de Homo e a disperso fora da frica. O stio Nihewan (China) apresenta milhares de
artefatos, entre eles ncleos pequenos e fragmentos, mas no foram encontrados restos fsseis de Homo.
Yuanmou (China) apresenta somente dois incisivos de caractersticas similares ao H. erectus, mas sem ocorrncia de
artefatos. Redesenhado a partir de Antn et al., 2014.
447
A manuteno de crebros maiores requer um consumo alto de energia total, o qual se
supe uma maior ingesto calrica, mas tambm pode implicar na reduo da destinao de
energia para outras funes. De acordo com isso, a anatomia torcica-abdominal do H.
ergaster, a qual ainda em forma de barril, embora menos pronunciada, sugere o comeo da
reduo no tamanho do sistema digestrio do Homo. Outros fatores como a adiposidade nos
neonatos e sua altricialidade tambm podem ter sido chaves para manter um crebro de
maior tamanho na ontogenia original. No restam dvidas de que o aumento do tamanho
cerebral comea de forma constante a partir do H. ergaster e que, portanto, suas populaes
alcanaram um maior controle do risco de mortalidade assim como um aumento da suficincia
nutricional (Antn et al., 2014).
b. HOMO ERECTUS
448
Sinanthropus dentro do Homo erectus foram includos: os espcimes de Sangiran (Figura 4)
provenientes de Java, Indonsia, os quais at ento eram designados como Meganthropus
(Koenigswald, 1941) e foram transferidos a Homo erectus por Mayr (1944); a mandbula SK15
encontrada em Swartkrans, frica do Sul, at ento designada como Telanthropus (Broom e
Robinson, 1949), e transferida a Homo erectus por Robinson (1961); e trs mandbulas e
fragmentos cranianos encontrados em Tighenif, Algria, denominados como Atlanthropus por
Arambourg (1955), e transferidos para Homo erectus por Le Gros Clark (1964). Anteriormente,
em 1933, Homo soloensis havia sido includo no gnero Homo com base em trs crnios
provenientes de Ngadong, Java (Oppenoorth, 1932). Atualmente, os crnios de Ngadong so
considerados uma subespcie dentro do Homo erectus (Schwartz & Tattersall, 2003).
c. HOMO HEIDELBERGENSIS
d. HOMO ANTECESSOR
450
e. HOMO NEANDERTHALENSIS
451
f. HOMO FLORENSIENSIS
Homo florensiensis uma das espcies mais enigmticas do gnero Homo. Foi
recentemente descrita em 2004 a partir de restos descobertos na cova Liang Bua, Ilha de
Flores, Indonsia. O conjunto consta de mais de 100 restos fsseis representando cerca de 10
indivduos. O espcime LB1 representa um esqueleto parcial de um indivduo adulto, o mais
completo e nico que conserva o crnio. A principal caracterstica do Homo florensiensis seu
reduzido tamanho corporal com apenas um metro de altura, um peso estimado entre 25 e 30
Kg e um crebro muito pequeno de apenas 417 cc. Em virtude destes traos morfolgicos
primitivos exibidos pelo Homo florensiensis, a espcie foi interpretada como uma populao
descendente das primeiras migraes do Homo pr-moderno ou transicional, e que ao tornar-
se endmica sofreu um processo de reduo do tamanho corporal, possibilitado talvez pelo
produto de presses seletivas associadas ao ecossistema da ilha. As datas cronolgicas do
Homo florensiensis so de apenas 74 mil a 17 mil anos atrs, ou seja, Homo florensiensis pode
ter coexistido com o Homo sapiens na Ilha de Flores. Entretanto, outros pesquisadores pensam
que LB1 simplesmente um indviduo com algum tipo de doena do desenvolvimento ou
microcefalia (Wood, 2011).
6. HOMO SAPIENS
a. CARACTERSTICAS GERAIS
452
sexual. Nosso crebro de grande tamanho relativo ao resto do corpo, o qual acrescenta
nossa aprendizagem e memria. Nosso trato vocal nico, e em conjunto com nosso crebro
nos permite produzir linguagem e cultura. Temos um desenvolvimento ontogentico comprido
e derivado que permite, entre outras coisas, mais tempo para aprender e socializar, condio
essencial para desenvolver uma cultura cada vez mais complexa e diversa. Estes e muitos
outros traos anatmicos e fisiolgicos, assim como nosso variado repertrio comportamental,
incrementam nossa capacidade de adaptao a diferentes habitats. A interao entre nossa
biologia e cultura nos fornece flexibilidade comportamental e fitness adaptativo.
O Homo sapiens surge to somente a 200.000 anos atrs. Os fsseis mais antigos
provm da frica: Omo-Kibish 1, proveniente da Etipia (Figura 2), datado em 195 mil anos
atrs, Jebhel Irhoud, proveniente de Marrocos, datado em 160 mil anos e Herto (Figura 5c),
proveniente da Etipia datado de 160 mil anos. Estes fsseis apresentam uma anatomia mais
robusta que os humanos atuais. Por exemplo, o fssil de Herto possui uma variao
morfolgica fora do espectro de variao observada em fsseis de H. sapiens subsequentes.
Por esta razo, Herto reconhecido como Homo sapiens idaltu, uma paleo-subespcie de
Homo sapiens (White et al., 2003). Os fsseis de Homo sapiens subsequentes apresentam uma
morfologia menos robusta e comeam a ser associados invariavelmente como produo de
cultura simblica. Este o caso de Skhul e Qafzeh, dois sepultamentos provenientes do
Oriente Mdio e com datao prxima aos 100 mil anos de antiguidade.
Figura 5. Visualizao lateral e frontal dos crnios: a, Kabwe (Natural History Museum, Londres); b, La Ferrassie
(Muse de LHomme, Paris); c, Herto (Natural Museum of Ethiopia). Todos na mesma escala. Reproduzido e
modificado com permisso de White et al., 2003.
Alm disso, tem sido demonstrado que algumas variantes genticas herdadas de
populaes pr-modernas mostraram ser funcionalmente teis para a adaptao a novos
ambientes em populaes modernas. Exemplos disso: o caso de populaes tibetanas atuais
que possuem uma adaptao gentica para ambientes de hipxia em altura e que foi passado
por hibridao de uma espcie Homo arcaica chamada Denisova, descoberta exclusivamente
por evidncia genmica (Krause et al., 2010; Huerta-Snchez et al., 2014), a herana de um
alelo do sistema imune do Denisova para a populao ancestral da sia e Oceania (Abi-Rached
et al., 2011) ou a herana Neandertal de genes do catabolismo de lipdios em Europeus
(Khrameeva et al, 2014). prevista a deteco de novos exemplos, mas alguns alelos
introduzidos no foram mantidos na linhagem H. sapiens porque, dentre outras coisas,
contriburam para a esterilidade masculina dos indivduos hbridos, reduzindo assim a
proporo da ancestralidade Neandertal (Sankararaman et al., 2014).
457
Figura 6. Relao hipottica entre populaes modernas, Neandertais e Denisova. As duas flechas azuis indicam
evidncia gentica de hibridao ou introgresso. A flecha preta indica possvel fluxo gnico. Modificado de Lalueza-
Fox & Gilbert, 2011.
458
BIBLIOGRAFIA CITADA
Abi-Rached L, Jobin MJ, Kulkarni S, McWhinnie A, Dalva K, Gragert L, Babrzadeh F, Gharizadeh
B, Luo M, Plummer FA, Kimani J, Carrington M, Middleton D, Rajalingam R, Beksac M,
Marsh SGE, Maiers M, Guethlein LA, Tavoularis S, Little A-M, Green RE, Norman PJ,
Parham P. 2011. The shaping of modern human immune systems by multiregional
admixture with archaic humans. Science 334:8994.
Antn SC. 2012. Early Homo: who, when, and where. Curr Anthropol 53:S278S298.
Antn SC, Potts R, Aiello LC. 2014. Human evolution. Evolution of early Homo: an integrated
biological perspective. Science 345:1236828.
Asfaw B, Gilbert WH, Beyene Y, Hart WK, Renne PR, WoldeGabriel G, Vrba ES, White TD. 2002.
Remains of Homo erectus from Bouri, Middle Awash, Ethiopia. Nature 416:317320.
Berger LR, de Ruiter DJ, Churchill SE, Schmid P, Carlson KJ, Dirks PHGM, Kibii JM. 2010.
Australopithecus sediba: a new species of Homo-like australopith from South Africa.
Science 328:195204.
Bermdez de Castro JM, Arsuaga JL, Carbonell E, Rosas A, Martnez I, Mosquera M. 1997. A
hominid from the lower Pleistocene of Atapuerca, Spain: possible ancestor to Neandertals
and modern humans. Science 276:13921395.
Black D. 1927. On a lower molar hominid tooth from Chou-kou-tien deposit. Palaeontologia
Sinica 7:128.
Bobe R, Leakey MG. 2009. Ecology of Plio-Pleistocene mammals in the OmoTurkana Basin
and the emergence of Homo. In: The first humans origin and early evolution of the
genus Homo. Vertebrate paleobiology and paleoanthropology. Springer Netherlands. p
173184.
Broom R, Robinson JT. 1949. A new type of fossil man (from Swartkrans). Nature 164:322323.
Cann RL, Stoneking M, Wilson AC. 1987. Mitochondrial DNA and human evolution. Nature
325:3136.
Dart R. 1925. Australopithicus africanus: the man-ape from South Africa. Nature 115:195199.
Foley R. 2002. Adaptive radiations and dispersals in hominin evolutionary ecology. Evol
Anthropol 11:3237.
Fu Q, Li H, Moorjani P, Jay F, Slepchenko SM, Bondarev AA, Johnson PLF, Aximu-Petri A, Prfer
K, de Filippo C, Meyer M, Zwyns N, Salazar-Garca DC, Kuzmin YV, Keates SG, Kosintsev PA,
Razhev DI, Richards MP, Peristov NV, Lachmann M, Douka K, Higham TFG, Slatkin M,
Hublin J-J, Reich D, Kelso J, Viola TB, Pbo S. 2014. Genome sequence of a 45,000-year-
old modern human from western Siberia. Nature 514:445449.
Green RE, Krause J, Briggs AW, Maricic T, Stenzel U, Kircher M, Patterson N, Li H, Zhai W, Fritz
MHY, Hansen NF, Durand EY, Malaspinas A-S. 2010. A Draft Sequenceofthe Neandertal
Genome. Science 328.
Johanson DC, White TD. 1979. A systematic assessment of early African hominids. Science
203:321330.
Khrameeva EE, Bozek K, He L, Yan Z, Jiang X, Wei Y, Tang K, Gelfand MS, Prufer K, Kelso J,
Paabo S, Giavalisco P, Lachmann M, Khaitovich P. 2014. Neanderthal ancestry drives
evolution of lipid catabolism in contemporary Europeans. Nat Commun 5:3584.
Kimbel WH, Johanson DC, Rak Y. 1997. Systematic assessment of a maxilla of Homo from
Hadar, Ethiopia. Am J Phys Anthropol 103:235262.
Kimbel WH. 2009. The Origin of Homo. In: The first humans origin and early evolution of the
genus Homo. Vertebrate paleobiology and paleoanthropology. Springer Netherlands. p
3137.
King W. 1864. The reputed fossil man of the Neanderthal. Q J Sci 1:8897.
Klein RG. 2009. The human career. Human biological and cultural origins. Chicago: University
of Chicago Press.
Koenigswald GHR. 1941 (1950). Fossil hominids from the lower Pleistocene of Java.
Proceedings of the International Geological Congress 9, London.
Krause J, Fu Q, Good JM, Viola B, Shunkov MV, Derevianko AP, Pbo S. 2010. The complete
mitochondrial DNA genome of an unknown hominin from southern Siberia. Nature
464:894897.
Lalueza-Fox C, Gilbert MTP. 2011. Paleogenomics of archaic hominins. Curr Biol 21:R10029.
Le Gros Clark WE. 1964. The fossil evidence for human evolution: an introduction to the study
of paleoanthropology. 2nd edition. Chicago: University of Chicago Press.
Leakey MG, Spoor F, Brown FH, Gathogo PN, Kiarie C, Leakey LN, McDougall I. 2001. New
hominin genus from eastern Africa shows diverse middle Pliocene lineages. Nature
410:433440.
460
Leakey MG, Spoor F, Dean MC, Feibel CS, Antn SC, Kiarie C, Leakey LN. 2012. New fossils from
Koobi Fora in northern Kenya confirm taxonomic diversity in early Homo. Nature
488:201204.
Leakey LS, Tobias PV, Napier JR. 1964. A new species of the genus Homo from Olduvai Gorge.
Nature 202:79.
Leakey RE, Walker AC. 1976. Australopithecus, Homo erectus and the single species
hypothesis. Nature 261:572574.
Lieberman DE. 2001. Another face in our family tree. Nature 410:419420.
Lieberman DE. 2011. The evolution of the human head. Cambridge, MA: Harvard University
Press. Lieberman DE, Wood B, Pilbeam DR. 1996. Homoplasy and early Homo: An analysis
of the evolutionary relationships of H. habilis sensu stricto and H. rudolfensis. J Hum Evol
30:97120.
Mayr E. 1944. On the concepts and terminology of vertical subspecies and species. National
research council committee and common problems of genetics, paleontology and
systematic bulletin 2:1116.
Mayr E. 1996. What Is a species, and what is not? Philos Sci 63:262277.
Morell V. 1996. Ancestral passions: the Leakey family and the quest for humankind's
beginnings. New York: Touchstone Publisher.
Oppenoorth WFF. 1932. Homo (Javanthropus) soloensis een Plistoceene mensch van Java.
Wetenschappelijike Mededeelingen 20:4974.
Reich D, Patterson N, Kircher M, Delfin F, Nandineni MR, Pugach I, Ko AM-S, Ko Y-C, Jinam TA,
Phipps ME, Saitou N, Wollstein A, Kayser M, Pbo S, Stoneking M. 2011. Denisova
admixture and the first modern human dispersals into Southeast Asia and Oceania. Am J
Hum Genet 89:516528.
Rightmire GP. 2001. Patterns of hominid evolution and dispersal in the Middle Pleistocene.
Quat Int 75:7784.
Robinson JT. 1961. The australopithecines and their bearing on the origin of man and of stone
tool making. S. Afr. J. Sci. 57, 313.
461
Schoetensack O. 1908. Der Unterkiefer des Homo heidelbergensis aus den Sanden von Mauer
bei Heidelberg. Leipzig: W. Engelmann.
Schwartz JH, Tattersall I. 2003. The human fossil record, volume 2. New York: Wiley-Liss.
Spoor F, Leakey MG, Gathogo PN, Brown FH, Antn SC, McDougall I, Kiarie C, Manthi FK,
Leakey LN. 2007. Implications of new early Homo fossils from Ileret, east of Lake Turkana,
Kenya. Nature 448:688691.
Strait DS, Grine FE. 2004. Inferring hominoid and early hominid phylogeny using craniodental
characters: the role of fossil taxa. J Hum Evol 47:399452.
Stringer C. 2002. Modern human origins: progress and prospects. Philos Trans R Soc Lond B
Biol Sci 357:563579.
Thorne AG, Wolpoff MH. 1981. Regional continuity in Australasian Pleistocene hominid
evolution. Am J Phys Anthropol 55:337349.
Tobias PV. 1991. The skulls, endocasts and teeth of Homo habilis, Olduvai Gorge, Volume 4.
Cambridge University Press.
Underhill PA, Kivisild T. 2007. Use of Y chromosome and mitochondrial DNA population
structure in tracing human migrations. Annu Rev Genet 41:539564.
Vernot B, Akey JM. 2014. Resurrecting surviving Neandertal lineages from modern human
genomes. Science 343:10171021.
Villmoare B, Kimbel WH, Seyoum C, Campisano CJ, DiMaggio EN, Rowan J, Braun DR,
Arrowsmith JR, Reed KE. 2015. Paleoanthropology. Early Homo at 2.8 Ma from Ledi-
Geraru, Afar, Ethiopia. Science 347:13521355.
Weaver TD. 2012. Did a discrete event 200,000-100,000 years ago produce modern humans? J
Hum Evol 63:121126.
White TD. 2013. Paleoanthropology: Fives a Crowd in Our Family Tree. Curr Biol 23:R112
R115.
White TD, Asfaw B, DeGusta D, Gilbert H, Richards GD, Suwa G, Howell FC. 2003. Pleistocene
Homo sapiens from Middle Awash, Ethiopia. Nature 423:742747.
Wolpoff MH. 1968. Telanthropus and the Single Species Hypothesis. Am Anthropol 70:477
493.
Wolpoff MH. 1971. Metric trends in hominid dental evolution. Studies in Anthropology 2.
Cleveland: Case Western Reserve University Press.
Wolpoff MH. 2009. How Neandertals inform human variation. Am J Phys Anthropol 139:91
102.
462
Wolpoff MH, Hawks J, Caspari R. 2000. Multiregional, not multiple origins. Am J Phys
Anthropol 112:129136.
Wood B. 1992. Origin and evolution of the genus Homo. Nature 355:783790.
Wood B. 2014. Human evolution: Fifty years after Homo habilis. Nature News 508:31.
Wood B, Baker J. 2011. Evolution in the genus Homo. Annu Rev Ecol Evol Syst 42:4769.
Woodward AS. 1921. A New Cave Man from Rhodesia, South Africa. Nature 108: 371372.
463
CAPTULO 16. A DISPERSO DO HOMO SAPIENS
E O POVOAMENTO INICIAL DA AMRICA.
1. INTRODUO
O ser humano h muito utiliza a cincia para responder as perguntas que faz a respeito
de si mesmo, sobre sua origem como espcie, sua atual distribuio geogrfica ou as
caractersticas particulares que identificam cada populao. A arqueologia e a
paleoantropologia so as disciplinas que tradicionalmente investigam o passado humano,
particularmente daqueles grupos que no deixaram nenhum tipo de registro escrito. A partir
da revoluo da gentica e da biologia molecular, dois campos relativamente recentes do
conhecimento, se conta com nova informao para tentar resgatar a histria ainda no
contada da nossa espcie. A antropologia biolgica incorpora assim novas perspectivas e novas
ferramentas de trabalho.
Este captulo apresentar uma reviso dos achados que a cincia fez sobre o surgimento
do Homo sapiens, passando pela sua disperso ao redor do planeta e sua chegada ao
continente americano, com particular destaque para os dados genticos.
Antes de falarmos da espcie Homo sapiens e sua disperso, precisamos discorrer sobre
sua origem. Inicialmente acreditava-se que o gnero mais antigo dos homindeos seria o
Australopitechus, mas esta ideia mudou com a descoberta de trs espcies com existncia em
464
tempos muito mais remotos (~4-7 milhes de anos atrs ou Mya, sua sigla em ingls), foram
elas: Sahelanthropus tchadensis (Brunet et al., 2002), Orrorin tugenensis (Haile-Selassie, 2001)
e Ardipithecus ramidus (Suwa et al., 2009; White et al., 2009). Nas trs foram descritos indcios
de bipedalismo, caracterstica que levou a inclu-las na filogenia humana (ver captulo sobre
esse tema nesse livro).
Vrias espcies j foram identificadas como pertencentes ao gnero Homo, trs delas
(Homo habilis, Homo ergaster e Homo rudolfensis) conviveram na mesma regio, ao redor do
lago Turkana, no Qunia, a cerca de 2 Mya (Tattersall, 1997). A sobreposio temporal dificulta
estimar relaes precisas de ancestralidade-descendncia (Johanson & Edgar, 1996). At
aquele momento, a presena dos homindeos era restrita frica. Entretanto, a ~1,8 Mya, esta
histria comea a mudar, pois registros paleontolgicos indicam a presena de homindeos na
Europa, sia e Oceania. Em 1891, na ilha de Java, Eugene Dubois encontrou o primeiro
exemplar do que logo se conheceria como Homo erectus.
O surgimento do Homo sapiens moderno teria ocorrido a cerca de ~155.000 anos atrs,
seguindo uma linha que inclui Homo erectus,Homo sapiens arcaico e, finalmente, Homo
sapiens moderno. Todos esses eventos evolutivos sucessivos ocorreram na frica (Gibbons,
2002; Schwartz & Tattersall, 2010), o fssil mais antigo de um espcime identificado
comoHomo sapiens moderno foi encontrado na Etipia, datado em ~195.000 anos atrs
(White et al., 2003; Haile-Selassie et al., 2004; McDougall et al., 2005).
466
distintos ramos so designados atravs de uma combinao de letras e nmeros (como, por
exemplo, A2, B2, C1 ou D1). Cada ramo tem uma distribuio geogrfica particular, o que faz
das filogenias populacionais uma ferramenta especialmente til em pesquisas
antropolgicas, mdicas ou forenses.
467
ser questionada em favor de modelos alternativos que admitam algum nvel de assimilao
entre homindeos locais arcaicos e migrantes modernos (Paixo-Crtes et al., 2012).
Por volta de 30-25 mil anos atrs desaparecem os vestgios de Neandertais e Denisovas
na Eursia. A partir de ento no existem outras espcies competidoras e todos os
continentes, incluindo a Amrica, foram colonizados pelo Homo sapiens.
a. O PAPEL DA BERNGIA
A Berngia era uma massa de terra de cerca de 1.000.000 de Km2, exposta no ltimo
mximo glacial no Pleistoceno tardio (21.000 anos atrs), e no habitada por qualquer grupo
humano at ento (Santos et al., 2007). Os migrantes vindos da sia teriam permanecido por,
pelo menos, 5.000 anos nesse local, tempo suficiente para o surgimento de variantes genticas
autctones, tanto no genoma nuclear (Schroeder et al., 2007), quanto no mitocondrial
(Bonatto & Salzano, 1997a; Fagundes et al., 2008) e no cromossomo Y (Pena et al., 1995;
Bortolini et al., 2003).
A Berngia pode ser considerada como a regio de origem das linhagens mitocondriais
que penetraram na Amrica (Bonatto & Salzano, 1997a), teoria que foi fortemente
corroborada pelos estudos posteriores com genomas mitocondriais completos, revelando a
presena de haplogrupos autctones (A2, B2, C1, D1 e X2a) derivados dos asiticos A, B, C, D e
X (ver BOX 1). Dentro dos haplogrupos autctones americanos se identificaram linhagens
privadas do DNA mitocondrial (mtDNA), bastante teis para rastrear os movimentos
populacionais em regies especficas (Figueiro et al., 2011). Chatters et al. (2014) informaram
o achado de um esqueleto humano em uma caverna submersa na Pennsula de Yucatn,
468
Mxico (datado em 13.000-12.000 anos antes do presente), identificando-se a presena antiga
na Amrica do haplogrupo D1, uma linhagem mitocondrial derivada da Berngia.
Se torna evidente que a Berngia foi algo alm de apenas um corredor de passagem. Em
sua estadia nessa regio, aqueles que logo depois ocuparam a Amrica comearam a
diferenciar-se das populaes asiticas das quais provinham (Bonatto & Salzano, 1997a; Tamm
et al., 2007; Fagundes et al., 2008), o que tambm foi constatado por estudos do cromossomo
Y (Pena et al., 1995; Santos et al., 1999). A transio CT na posio 181 do lcus DYS199/M3
define o haplogrupo atualmente denominado como Q1a2a1a1 (International Society of
Genetic Genealogy, 2014). Anteriormente denominado Q1a3a (Karafet et al., 2008) ou Q3 (The
Y Chromosome Consortium, 2002), a linhagem observada na maioria dos homens nativos
contemporneos. Esta mutao deve ter se originado na Berngia (Underhill et al., 1996; Lell et
al., 1997; Santos et al., 2007). Estudos com marcadores do tipo STR (short tandem repeat, em
ingls; sequncias nas quais um fragmento de poucos pares de bases se repetem de forma
consecutiva, tambm chamados de microssatlites) em cromossomos pertencentes a esta
linhagem, mostraram claramente a acumulao de novas variantes associadas com o processo
de radiao populacional ao longo do continente (Scozzari et al., 1997; Bortolini et al., 2003),
como a variante andina (Q1a3a4), descrita por Jota et al. (2011). Para mais detalhes sobre
essas linhagens, ler a recente reviso completa de Bisso-Machado et al. (2012).
469
linhagens paternas de 1011 sul-americanos, representando 50 populaes nativas diferentes e
detectaram pela primeira vez variantes do haplogrupo C3* no Equador. Estas linhagens de
origem asitica estavam praticamente confinadas a Amrica do Norte e no haviam sido ainda
detectadas na Amrica Central, o que sugere uma introduo tardia do C3* na Amrica do Sul
h mais de 6.000 anos, atravs de rotas costeiras. A baixa taxa de migrao posterior explicaria
a ausncia dessa linhagem masculina no resto do continente.
J em 1589, o jesuta espanhol Jos Acosta sugeriu que alguns grupos de caadores-
coletores tinham chegado Amrica vindos da sia seguindo seus animais de caa (Santos et
al., 2007). Muitos sculos depois, estudos com marcadores genticos clssicos corroboraram
tal postulao (Spuhler, 1972; Salzano et al., 1986; Cavalli-Sforza et al., 1994; Crawford, 1998;
ORourke, 2006).
T1: Berngia se forma durante o ltimo Mximo Glacial e os migrantes vindos da sia se estabelecem a. Estes
indivduos tinham uma morfologia craniofacial pouco diferenciada e traziam consigo os haplogrupos mitocondriais
basais: A, B, C, D, X e o haplogrupo Q do cromossomo Y.
T2: A glaciao termina, Berngia comea a submegir-se enquanto se abrem corredores de passagem na Amrica do
Norte, graas retrao do glaciares. A rota costeira foi a primeira a estabelecer-se. Os fsseis humanos deste
perodo, tanto Asiticos como Paleoamericanos, apresentam uma morfologia craniofacial ainda pouco diferenciada.
Durante a estadia na Berngia, surgem haplogrupos/alelos autctones do cromossomo Y, mtDNA e genoma nuclear
(9AR, por exemplo).
471
T3: Berngia j no existe e em seu lugar foi formado o Estreito de Bering. Nas populaes asiticas do leste
registrada uma morfologia craniofacial bastante derivada. Nos nativos americanos se verifica um gradiente, desde
pouco at bastante derivada, passando por todos os tipos craniofaciais intermedirios. Na Amrica existem
haplogrupos autctones tanto de mtDNA como do cromossomo Y. No leste da sia, alm das linhagens prprias,
tambm se encontram linhagens do cromossomo Y, mtDNA e alelos autossmicos nativos da Amrica. Estas
variantes em baixa freqncia na Sibria demonstram a existncia de um fluxo gnico contnuo no Crculo Polar
rtico.
Em uma das publicaes mais recentes nessa rea, foram analisados ~365.000 SNPs
autossmicos em amostras de 52 populaes nativas americanas e 17 siberianas (Reich et al.,
2012), indicando um padro similar ao modelo prvio de Greenberg et al. (1986). No foram
trs migraes equivalentes: a primeira e mais importante teria sido responsvel pela
ocupao humana de todo o continente, seguida por pelo menos outras duas, com impacto
mais restrito. Amorim et al. (2013) tambm propem um resgate do trabalho de Greenberg,
analisando a concordncia dos diferentes modelos lingusticos com os dados genticos de
nativos americanos.
474
Recentemente Bortolini et al. (2014) reforaram a importncia e atualidade do modelo
de Gonzlez-Jos com novos dados craniomtricos e novas anlises em amostras do
cromossomo Y, salientando a importncia de integrar diferentes reas do conhecimento a fim
de conseguir interpretaes mais robustas.
A disperso dos Tupi considerada uma das maiores e mais bem-sucedidas migraes
em nvel continental (Rodrigues, 1964; Migliazza, 1982; Urban, 1996, 1998; Heckenberger et
al., 1998; Noelli, 2008). De fato, considerada uma expanso, devido a sua eficcia na
explorao dos recursos do meio e a ocupao permanente dos novos territrios conquistados
(Noelli, 2008). As motivaes para esta expanso podem ser mltiplas e no mutuamente
475
exclusivas: presses demogrficas e/ou scio-culturais, busca por novas terras cultivveis,
secas prolongadas, etc. (Schmitz, 1997).
Como visto acima, a ocupao do continente americano por sua populao originria
tem uma grande profundidade temporal. No momento em que Cristvo Colombo chegou,
existia uma enorme diversidade de culturas e idiomas que surgiram in situ (Long & Bortolini,
2011), desenvolvimento que foi acompanhado tambm pelo surgimento de particularidades
biolgicas. Porm, a forma de vida tradicional, bem como toda a histria evolutiva das
populaes americanas mudaram de forma irreversvel com a chegada dos conquistadores
europeus no sculo XV e dos escravos africanos no sculo XVI. Estima-se que, na poca do
contato,viviam na Amrica entre 9 a 100 milhes de indgenas (Salzano & Callegari-Jacques,
1988; Salzano & Bortolini, 2002). Esse nmero foi reduzido drasticamente depois do contato
devido a confronto direto entre nativos e conquistadores, doenas introduzidas, etc.
478
genticas interessantes. Por exemplo, o povo Charrua, considerado extinto pelos especialistas,
teria deixado um legado cultural nas populaes gachas que habitam a mesma regio
geogrfica na Amrica do Sul e tambm um legado gentico atravs de suas mulheres, j que
suas linhagens mitocondriais esto presentes na populao mestia atual (Marrero et al.,
2007; Sans et al., 2012).
8. CONCLUSO
Neste captulo resume-se a disperso do Homo sapiens, desde seu surgimento na frica
at o povoamento do continente americano. A busca pelo esclarecimento sobre to instigante
temtica advm de vrias reas do conhecimento: arqueologia, paleoantropologia, geo-
climatologia, lingustica e gentica, disciplina que foi particularmente revisada aqui. Nossa
espcie surgiu na frica, conviveu neste continente com outras espcies do mesmo gnero e,
ao se dispersar pelo restante do planeta, entrou em contato com outros humanos, tais como
os Neandertais e Denisovas, deixando sinais desta mestiagem em nosso genoma atual. Nesse
processo gradual de busca de novos habitats, a Terra foi sendo ocupada e a Amrica o ltimo
continente a ser colonizado pelo Homo sapiens. Os primeiros nativos americanos teriam vindo
da sia, muito provavelmente da regio das montanhas Altai, ocupando primeiramente a
Berngia durante o ltimo Mximo Glacial. Nesta regio, permaneceram por um longo perodo
de tempo antes de adentrar finalmente no continente, no final da era glacial. Durante a
estadia na Berngia surgiram caractersticas genticas autctones, registrando-se um
prolongado fluxo gnico entre as populaes ali assentadas e os grupos nativos da Amrica do
479
Norte. Os migrantes foram bem sucedidos em sua empreitada, colonizando totalmente o
continente, ganhando ao longo do processo uma nova e rica diversidade, tanto biolgica
quanto cultural. Por fim, a partir do sculo XVI, registra-se um declnio demogrfico acentuado
nos amerndios, concomitante com o surgimento de uma grande populao mestia, resultado
do encontro com os conquistadores europeus e escravos introduzidos da frica. Tambm
encontram-se ao longo do continente descendentes de grupos originrios, que ainda lutam
para terem seus direitos garantidos e perpetuar seu legado cultural.
480
BIBLIOGRAFIA CITADA
Achilli A, Perego UA, Lancioni H, Olivieri A, Gandini F, Hooshiar Kashani B, Battaglia V, Grugni V,
Angerhofer N, Rogers MP, Herrera RJ, Woodward SR, Labuda D, Smith DG, Cybulski JS,
Semino O, Malhi RS, Torroni A. 2013.Reconciling migration models to the Americas with
the variation of North American native mitogenomes. Proc Natl Acad Sci U S A.
110:14308-14313.
Alonso S, Armour JA. 2001. A highly variable segment of human subterminal 16p reveals a
history of population growth for modern humans outside Africa. Proc Natl Acad Sci U S A
98:864-869.
Alves-Silva J, Santos MS, Guimares PM, Ferreira ACS, Bandelt H-J, Pena SDJ, Prado VF.
2000.The ancestry of Brazilian mtDNA lineages. Am J Hum Genet 67:444-461.
Amorim CE, Bisso-Machado R, Ramallo V, Bortolini MC, Bonatto SL, Salzano FM, Hnemeier T.
2013. A bayesian approach to genome/linguistic relationships in native South Americans.
PLoS One 8:e64099.
Armitage SJ, Jasim SA, Marks AE, Parker AG, Usik VI, Uerpmann HP. 2011. The southern route
Out of Africa: Evidence for an early expansion of modern humans into Arabia. Science
331:453-456.
Avena S, Via M, Ziv E, Prez-Stable EJ, Gignoux CR, Dejean C, Huntsman S, Torres-Meja G, Dutil
J, Matta JL, Beckman K, Burchard EG, Parolin ML, Goicoechea A, Acreche N, Boquet M,
Ros Part Mdel C, Fernndez V, Rey J, Stern MC, Carnese RF, Fejerman L. 2012.
Heterogeneity in genetic admixture across different regions of Argentina. PLoS ONE
7:e34695.
Bamshad M, Wooding SP. 2003. Signatures of natural selection in the human genome. Nature
Rev Genet 4:99-111.
Bisso-Machado R, Bortolini MC, Salzano FM. 2012. Uniparental genetic markers in South
Amerindians. Genet Mol Biol 35: 365-387.
Bodner M, Perego UA, Huber G, Fendt L, Rck AW, Zimmermann B, Olivieri A, Gmez-Carballa
A, Lancioni H, Angerhofer N, Bobillo MC, Corach D, Woodward SR, Salas A, Achilli A,
Torroni A, Bandelt HJ, Parson W. 2012. Rapid coastal spread of First Americans: novel
insights from South America's Southern Cone mitochondrial genomes. Genome Res
22:811-820.
481
Bonatto SL, Salzano FM. 1997a.A single and early migration for the peopling of the Americas
supported by mitochondrial DNA sequence data. Proc Natl Acad Sci U S A 94:1866-1871.
Bonatto SL, Salzano FM. 1997b. Diversity and age of the four major mtDNA haplogroups, and
their implications for the peopling of the New World. Am J Hum Genet 61:1413-1423.
Bonatto SL, Redd AJ, Salzano FM, Stoneking M. 1996. Lack of ancient Polynesian-Amerindian
contact. Am J Hum Genet 59:253258.
Bortolini MC, Gonzlez-Jos R, Bonatto SL, Santos FR. 2014. Reconciling pre-Columbian
settlement hypotheses requires integrative, multidisciplinary, and model-bound
approaches. Proc Natl Acad Sci U S A 111:E213-214.
Bortolini MC, Salzano FM, Thomas MG, Stuart S, Nasanen SP, Bau CH, Hutz MH, Layrisse Z,
Petzl-Erler ML, Tsuneto LT, Hill K, Hurtado AM, Castro-de-Guerra D, Torres MM, Groot H,
Michalski R, Nymadawa P, Bedoya G, Bradman N, Labuda D, Ruiz-Linares A. 2003. Y-
Chromosome for differing ancient demographic histories in the Americas. Am J Hum
Genet 73:524-539.
Bortolini MC, Silva Jnior WA, Castro-de-Guerra D, Remonatto G, Mirandola R, Hutz MH,
Weimer TA, Zago MA, Salzano FM. 1999.Africa-derived South American populations: a
history of symmetrical and asymmetrical mattings according to sex revealed by bi and
uniparental genetic markers. Am J Hum Biol 11:551-563.
Cann RL. 1994.mtDNA and Native Americans: A Southern perspective. Am J Hum Genet 55:7
11.
Cann RL, Stoneking M, Wilson AC. 1987. Mitochondrial DNA and human evolution. Nature
325:31-36.
Carneiro da Cunha M. 1998. Histria dos ndios no Brasil, 2nd ed. So Paulo: Companhia das
Letras.
Carvalho-Silva DR, Santos FR, Rocha J, Pena SD. 2001.The phylogeography of Brazilian Y-
chromosome lineages. Am J Hum Genet 68:281-286.
Cavalli-Sforza LL, Menozzi P, Piazza A. 1994.The history and geography of human genes.
Princeton: Princeton University Press.
Chatters JC, Kennett DJ, Asmerom Y, Kemp BM, Polyak V, Blank AN, Beddows PA, Reinhardt E,
Arroyo-Cabrales J, Bolnick DA, Malhi RS, Culleton BJ, Erreguerena PL, Rissolo D, Morell-
Hart S, Stafford TW Jr. 2014. Late Pleistocene human skeleton and mtDNA link
Paleoamericans and modern Native Americans. Science 344:750-754.
Corach D, Lao O, Bobillo C, van Der Gaag K, Zuniga S, Vermeulen M, van Duijn K, Goedbloed M,
Vallone PM, Parson W, de Knijff P, Kayser M. 2010. Inferring continental ancestry of
482
argentineans from autosomal, Y-chromosomal and mitochondrial DNA. Ann Hum Genet
74:6576.
Crawford MH. 1998. Environments of northwestern North America before the Last Glacial
Maximum. The origins of Native Americans: evidence from anthropological genetics. New
York: Cambridge University Press.
de Saint Pierre M, Bravi CM, Motti JM, Fuku N, Tanaka M, Llop E, Bonatto SL, Moraga M.
2012a. An alternative model for the early peopling of southern South America revealed by
analyses of three mitochondrial DNA haplogroups. PLoS One7:e43486.
Dillehay TD. 1999. The late Pleistocene cultures of South America. Evolutionary Anthropology:
Issues, News, and Reviews 7:206216.
Dillehay TD, Ramrez C, Pino M, Collins MB, Rossen J, Pino-Navarro JD. 2008. Monte Verde:
seaweed, food, medicine, and the peopling of South America. Science 320:784786.
Dodge DR. 2012. A molecular approach to Neanderthal extinction. Quatern Int 259:22-32.
Dulik MC, Owings AC, Gaieski JB, Vilar MG, Andre A, Lennie C, Mackenzie MA, Kritsch I,
Snowshoe S, Wright R, Martin J, Gibson N, Andrews TD, Schurr TG; Genographic
Consortium. 2012a. Y-chromosome analysis reveals genetic divergence and new founding
native lineages in Athapaskan- and Eskimoan-speaking populations.Proc Natl Acad Sci U S
A109:8471-8476.
Dulik MC, Zhadanov SI, Osipova LP, Askapuli A, Gau L, Gokcumen O, Rubinstein S, Schurr TG.
2012b. Mitochondrial DNA and Y chromosome variation provides evidence for a
recentcommon ancestry between Native Americans and indigenous Altaians. Am J Hum
Genet 90:229246.
Fagundes NJ, Kanitz R, Eckert R, Valls AC, Bogo MR, Salzano FM, Smith DG, Silva WA Jr, Zago
MA, Ribeiro-dos-Santos AK, Santos SE, Petzl-Erler ML, Bonatto SL. 2008.Mitochondrial
population genomics supports a single pre-Clovis origin with a coastal route for the
peopling of the Americas. Am J Hum Genet 82:583-592.
Fagundes NJ, Ray N, Beaumont M, Neuenschwander S, Salzano FM, Bonatto SL, Excoffier L.
2007. Statistical evaluation of alternative models of human evolution. Proc Natl Acad Sci U
S A 104:17614-17619.
Faria RA, Tambusso PS, Varela L, Czerwonogora A, Di Giacomo M, Musso M, Bracco R, Gascue
A. 2013. Arroyo del Vizcano, Uruguay: a fossil-rich 30-ka-old megafaunal locality with cut-
marked bones. Proc Biol Sci. 281:2013-2211.
Figueiro G, Hidalgo PC, Sans M. 2011. Control region variability of haplogroup C1d and the
tempo of the peopling of the Americas. PLoS One 6:e20978.
483
Forster P, Harding R, Torroni A, Bandelt HJ. 1996. Origin and evolution of Native American
mtDNA variation: a reappraisal. Am J Hum Genet 59:935-945.
Goebel T, Waters MR, ORourke DH. 2008. The Late Pleistocene dispersal of modern humans in
the Americas. Science 319:1497-1502.
Gonzlez-Jos R, Bortolini MC, Santos FR, Bonatto SL. 2008a.The peopling of America:
craniofacial shape variation on a continental scale and its interpretation from an
interdisciplinary view. Am J Phys Anthropol 137:175-187.
Gravel S, Henn B, Gutenkunst R. 2011. Demographic history and rare alleles sharing among
human populations. Proc Natl Acad Sci USA 108:1198311988.
Greenberg JH, Turner II CG, Zegura SL. 1986. The settlement of the Americas: a comparison of
the linguistic, dental and genetic evidence. Curr Anthropol 27:477-495.
Green RE, Krause J, Briggs AW, Maricic T, Stenzel U, Kircher M, Patterson N, Li H, Zhai W, Fritz
MH, Hansen NF, Durand EY, Malaspinas AS, Jensen JD, Marques-Bonet T, Alkan C, Prfer
K, Meyer M, Burbano HA, Good JM, Schultz R, Aximu-Petri A, Butthof A, Hber B, Hffner
B, Siegemund M, Weihmann A, Nusbaum C, Lander ES, Russ C, Novod N, Affourtit J,
Egholm M, Verna C, Rudan P, Brajkovic D, Kucan Z, Gusic I, Doronichev VB, Golovanova LV,
Lalueza-Fox C, de la Rasilla M, Fortea J, Rosas A, Schmitz RW, Johnson PL, Eichler EE,
Falush D, Birney E, Mullikin JC, Slatkin M, Nielsen R, Kelso J, Lachmann M, Reich D, Pbo
S.2010.Adraft sequence of the Neandertal genome. Science 328:710-722.
Guerreiro-Junior VF, Bisso-Machado R, Marrero AR, Hnemeier T, Salzano FM, Bortolini MC.
2009.Genetic signatures of parental contribution in black and white populations from
Brazil. Genet Mol Biol 32:1-11.
Haber M, Gauguier D, Youhanna S, Patterson N, Moorjani P, Botigu LR, Platt DE, Matisoo-
Smith E, Soria-Hernanz DF, Wells RS, Bertranpetit J, Tyler-Smith C, Comas D, Zalloua PA.
2013. Genome-wide diversity in the levant reveals recent structuring by culture.PLoS
Genet9:e1003316.
Haile-Selassie Y, Asfaw B, White TD. 2004. Hominid cranial remains from Upper Pleistocene
deposits at Aduma, Middle Awash, Ethiopia. Am J Phys Anthropol 123:1-10.
Haile-Selassie Y. 2001. Late Miocene hominids from the Middle Awash, Ethiopia. Nature
412:178-181.
484
Halbwachs M. 1992. On collective memory. Chicago: Universityof Chicago Press.
Harris EE, Meyer D. 2006. The molecular signature of selection underlying human adaptations.
Am J Phys Anthropol 43:89-130.
Heckenberger MJ, Neves EG, Petersen JB. 1998. De onde surgem os modelos? As origens e
expanses Tupi na Amaznia Central. Rev Antropol 41:6996.
Hoffecker JF, Elias SA. 2007. Human ecology of Beringia. New York: Columbia University Press.
Hughes DA, Tang K, Strotmann R, Schneberg T, Prenen J, Nilius B, Stoneking M. 2008. Parallel
Selection on TRPV6 in Human Populations. PLoS One 3:e1686.
Hunley KL, Spence JE, Merriwether DA. 2008. The impact of group fissions on genetic structure
in Native South America and implications for human evolution. Am J Phys Anthropol
135:195-205.
International Society of Genetic Genealogy. 2014. Y-DNA Haplogroup Tree 2014, Version: 9.22,
Date:13 February 2014, http://www.isogg.org/tree/ 20 February 2014.
Jacobs DK, Haney TA, Louie KD. 2004. Genes, diversity, and geologic process on the Pacific
Coast. Annu Rev Earth Planet Sci 32:601652.
Johanson DC, Edgar B. 1996. From Lucy to Language. New York: Simon & Schuster.
Jota MS, Lacerda DR, Sandoval JR, Vieira PP, Santos-Lopes SS, Bisso-Machado R, Paixo-Cortes
VR, Revollo S, Paz-Y-Mio C, Fujita R, Salzano FM, Bonatto SL, Bortolini MC, Santos FR;
Genographic Consortium. 2011. Am J Phys Anthropol 146:553-559.
Karafet TM, Mendez FL, Meilerman MB, Underhill PA, Zegura SL, Hammer MF. 2008. New
binary polymorphisms reshape and increase resolution of the human Y chromosomal
haplogroup tree. Genome Res 18:830-838.
Karafet TM, Zegura SL, Posukh O, Osipova L, Bergen A, Long J, Goldman D, Klitz W, Harihara S,
de Knijff P, Wiebe V, Griffiths RC, Templeton AR, Hammer MF. 1999. Ancestral Asian
source(s) of New World Y-chromosome founder haplotypes. Am J Hum Genet 64:817-831.
Kimbel WH, Delezene LK. 2009. Lucy redux: A review of research on Australopithecus
afarensis. Am J Phys Anthropol 140:42-48.
Jobling MA, Hurles ME, Tyler-Smith C. 2004. Human Evolutionary Genetics: Origins, Peoples
and Disease. London/New York: Garland Science Publishing.
485
Leakey MG, Feibel CS, McDougall I, Ward C, Walker A. 1998. New specimens and confirmation
of an early age for Australopithecus anamensis. Nature 393:62-66.
Lell JT, Sukernik RI, Starikovskaya YB, Su B, Jin L, Schurr TG, Underhill PA, Wallace DC. 2002.
The dual origin and Siberian affinities of Native American Y chromosomes. Am J Hum
Genet 70:192-206.
Lell JT, Brown MD, Schurr TG, Sukernik RI, Starikovskaya YB, Torroni A, Moore LG, Troup GM,
Wallace DC. 1997. Y chromosome polymorphisms in Native American and Siberian
populations: identification of Native Y chromosome haplotypes. Hum Genet 100:536-543.
Lewis Jr CM, Long JC. 2008. Native American genetic structure and prehistory inferred from
hierarchical modeling of mtDNA. Mol Biol Evol 25:478-486.
Long J, Bortolini MC. 2011. New developments in the origins and evolution of Native American
populations. Am J Phys Anthropol 146:491494.
Lowery RK, Uribe G, Jimenez EB, Weiss MA, Herrera KJ, Regueiro M, Herrera RJ. 2013.
Neanderthal and Denisova genetic affinities with contemporary humans: introgression
versus common ancestral polymorphisms.Gene530:83-94.
Lukic S, Hey J. 2012. Demographic inference using spectral methods on SNP data, with an
analysis of the human out-of-Africa expansion.Genetics192:619-639.
McEvoy BP, Powell JE, Goddard ME, Visscher PM. 2011. Human population dispersal "Out of
Africa" estimated from linkage disequilibrium and allele frequencies of SNPs.Genome
Res21:821-829.
Malhi RS, Eshleman JA, Greenberg JA, Weiss DA, Schultz, Shook BA, Kaestle FA, Lorenz JG,
Kemp BM, Johnson JR, Smith DG. 2002. The structure of diversity within New World
mitochondrial DNA haplogroups: implications for the prehistory of North America. Am J
Hum Genet 70:905919.
Marrero AR, Silva-Junior WA, Bravi CM, Hutz MH, Petzl-Erler ML, Ruiz-Linares A, Salzano FM,
Bortolini MC. 2007.Demographic and evolutionary trajectories of the Guarani and
Kaingang natives of Brazil. Am J Phys Anthropol 132:301-310.
McDougall I, Brown FH, Fleagle JG. 2005. Stratigraphic placement and age of modern humans
from Kibish, Ethiopia. Nature 433:733-736.
Merriwether DA, Hall WW, Vahlne A, Ferrell RE. 1996.mtDNA variation indicates Mongolia may
have been the Source for the founding population for the New World. Am J Hum Genet
59:204-212.
486
Merriwether DA, Rothhammer F, Ferrell RE. 1995. Distribution of the four founding lineage
haplotypes in Native Americans suggests a single wave of migration for the New World.
Am J Phys Anthropol 98:411-430.
Meyer M, Kircher M, Gansauge MT, Li H, Racimo F, Mallick S, Schraiber JG, Jay F, Prfer K, de
Filippo C, Sudmant PH, Alkan C, Fu Q, Do R, Rohland N, Tandon A, Siebauer M, Green RE,
Bryc K, Briggs AW, Stenzel U, Dabney J, Shendure J, Kitzman J, Hammer MF, Shunkov MV,
Derevianko AP, Patterson N, Andrs AM, Eichler EE, Slatkin M, Reich D, Kelso J, Pbo S.
2012. A high-coverage genome sequence from an archaic Denisovan individual. Science
338:222-226.
Migliazza EC. 1982. Linguistic prehistory and the refuge model in Amazonia. In: Prance GT,
editor. Biological diversication in the tropics. New York: Columbia University Press. p
497519.
Neel JV, Salzano FM. 1967. Further studies on the Xavante Indians. X. Some Hypotheses-
generalizations resulting from these studies. Am J Hum Genet 19:554-574.
Neel JV, Biggar RJ, Sukernik RI. 1994. Virologic and genetic studies relate Amerind origins to
the indigenous people of the Mongolia/Manchuria/southeastern Siberia region. Proc Natl
Acad Sci U S A 91:10737-10741.
Neves WA, Hubbe M. 2005. Cranial morphology of early Americans from Lagoa Santa, Brazil:
implications for the settlement of the New World. Proc Natl Acad Sci USA 102: 18309
18314.
Neves WA, Pucciarelli HM. 1991. Morphological affinities of the first Americans: an exploratory
analysis based on South American human remains. J Hum Evol 21:261-273.
Neves WA, Bernardo DV, Okumura M, Almeida TF, Strauss AM. 2011. Origin and dispersion of
the Tupiguarani: What does cranial morphology say? Bol Mus Para Emlio Goeldi Cienc
Hum 6:95122.
Noelli FS. 2008. The Tupi expansion. In: Silverman H, Isbell W, editors. Handbook of South
American archaeology. New York: Springer. p 659670.
ORourke DH. 2006. Blood groups, immunoglobulins, and genetic variation. In: Sturtevant WC,
Ubelaker D, editors. Handbook of North American Indians, Vol.3: Environment, origins,
and population. Washington, DC: Smithsonian Institution Press. p 762776.
Paixo-Crtes VR, Viscardi LH, Salzano FM, Hnemeier T, Bortolini MC. 2012. Homo sapiens,
Homo neanderthalensis and the Denisova specimen: New insights on their evolutionary
histories using whole-genome comparisons. Genet Mol Biol 35:904-911.
Parra FC, Amado RC, Lambertucci JR, Rocha J, Antunes CM, Pena SD. 2003.Color and genomic
ancestry in Brazilians. Proc Natl Acad U S A 100:177-182.
Pena SD, Santos FR, Bianchi NO, Bravi CM, Carnese FR, Rothhammer F, Gerelsaikhan T,
Munkhtuja B, Oyunsuren T. 1995.A major founder Y-chromosome haplotype in
Amerindians. Nat Genet 11:15-16.
Pielou EC. 1992. After the ice age: the return of life to glaciatedNorth America. Chicago:
University of Chicago Press.
487
Price AL, Patterson N, Yu F, Cox DR, Waliszewska A, McDonald GJ, Tandon A, Schirmer C,
Neubauer J, Bedoya G, Duque C, Villegas A, Bortolini MC, Salzano FM, Gallo C, Mazzotti G,
Tello-Ruiz M, Riba L, Aguilar-Salinas CA, Canizales-Quinteros S, Menjivar M, Klitz W,
Henderson B, Haiman CA, Winkler C, Tusie-Luna T, Ruiz-Linares A, Reich D. 2007. Am J
Hum Genet 80:1024-1036.
Ramachandran S, Deshpande O, Roseman CC, Rosenberg NA, Feldman MW, Cavalli-Sforza LL.
2005. Support from the relationship of genetic and geographic distance in human
populations for a serial founder effect originating in Africa. Proc Natl Acad Sci U S A
102:15942-15947.
Ramallo V, Bisso-Machado R, Bravi C, Coble MD, Salzano FM, Hnemeier T, Bortolini MC. 2013.
Demographic expansions in South America: enlightening a complex scenario with genetic
and linguistic data. Am J Phys Anthropol150:453-463.
Reich D, Patterson N, Campbell D, Tandon A, Mazieres S, Ray N, Parra MV, Rojas W, Duque C,
Mesa N, Garca LF, Triana O, Blair S, Maestre A, Dib JC, Bravi CM, Bailliet G, Corach D,
Hnemeier T, Bortolini MC, Salzano FM, Petzl-Erler ML, Acua-Alonzo V, Aguilar-Salinas C,
Canizales-Quinteros S, Tusi-Luna T, Riba L, Rodrguez-Cruz M, Lopez-Alarcn M, Coral-
Vazquez R, Canto-Cetina T, Silva-Zolezzi I, Fernandez-Lopez JC, Contreras AV, Jimenez-
Sanchez G, Gmez-Vzquez MJ, Molina J, Carracedo A, Salas A, Gallo C, Poletti G,
Witonsky DB, Alkorta-Aranburu G, Sukernik RI, Osipova L, Fedorova SA, Vasquez R, Villena
M, Moreau C, Barrantes R, Pauls D, Excoffier L, Bedoya G, Rothhammer F, Dugoujon JM,
Larrouy G, Klitz W, Labuda D, Kidd J, Kidd K, Di Rienzo A, Freimer NB, Price AL, Ruiz-Linares
A. 2012. Reconstructing Native American population history. Nature 488:370374.
Reich D, Green RE, Kircher M, Krause J, Patterson N, Durand EY, Viola B, Briggs AW, Stenzel U,
Johnson PL, Maricic T, Good JM, Marques-Bonet T, Alkan C, Fu Q, Mallick S, Li H, Meyer M,
Eichler EE, Stoneking M, Richards M, Talamo S, Shunkov MV, Derevianko AP, Hublin JJ,
Kelso J, Slatkin M, Pbo S. 2010. Genetic history of an archaic hominin group from
Denisova Cave in Siberia. Nature 468:1053-1060.
Rodrigues AD. 2002. Lnguas brasileiras: para o conhecimento das lnguas indgenas, 4th ed.
So Paulo: Edies Loyola.
488
Rodrigues AD. 1964. Classicao do tronco lingustico Tupi. Rev Antropol 12:99104.
Rosenberg NA, Pritchard JK, Weber JL, Cann HM, Kidd KK, Zhivotovsky LA, Feldman MW. 2002.
Genetic structure of human populations. Science 298:2381-2385.
Ruiz-Linares A, Ortz-Barrientos D, Figueroa M, Mesa N, Mnera JG, Bedoya G, Vlez ID, Garca
LF, Prez-Lezaun A, Bertranpetit J, Feldman MW, Goldstein DB. 1999. Microsatellites
provide evidence for Y chromosome diversity among the founders of the New World. Proc
Natl Acad Sci U S A 96:6312-6317.
Russell N. 2006. Collective memory before and after Halbwachs.French Rev 79:792804.
Salzano FM, Bortolini MC. 2002. Evolution and genetics of Latin American populations.
Cambridge: Cambridge University Press.
Salzano FM, Callegari-Jacques SM. 1988. South American Indians: a case study in evolution.
Oxford Science Publications. New York: Oxford University Press.
Salzano FM, Gershowitz H, Mohrenweiser H, Neel JV, Smouse PE, Mestriner MA, Weimer TA,
Franco MH, Simes AL, ConstansJ, Oliveira AE, de Melo E Freitas MJ. 1986. Gene flow
across tribal barriers and its effect among the Amazonian Iana River Indians. Am J Phys
Anthropol 69:314.
Snchez-Quinto F, Botigu LR, Civit S, Arenas C, Avila-Arcos MC, Bustamante CD, Comas D,
Lalueza-Fox C. 2012. North African populations carry the signature of admixture with
Neandertals.PLoS One 7:e47765.
Sans M, Figueiro G, Hidalgo PC. 2012. A new mitochondrial C1 lineage from the prehistory of
Uruguay: population genocide, ethnocide, and continuity. Hum Biol 84:287-305.
Sans M. 2000. Admixture studies in Latin America: from the 20th to the 21st century.Hum Biol
72:155-177.
Santos RV, Fry PH, Monteiro S, Maio MC, Rodrigues JC, Bastos-Rodrigues L, Pena SDJ.
2009.Color, race, and genomic ancestry in Brazil: dialogues between anthropology and
genetics. Curr Anthropol 50:787-819.
Santos FR, Bonatto SL, Bortolini MC. 2007.Molecular evidence from contemporary indigenous
populations to the Peopling of America. In: Santos C and Lima M. (Org.). Recent advances
in molecular biology and evolution: Applications to biological anthropology. Kerala:
Research Signpost.p 1-13.
Santos FR, Pandya A, Tyler-Smith C, Pena SDJ, Schanfield M, Leonard WR, Osipova L, Crawford
MH, Mitchell RJ. 1999. The Central Siberian origin for native American Y chromosomes.
Am J Hum Genet 64:619-628.
Santos-Lopes SS, Pereira RW, Wilson IJ, Pena SD. 2007.A worldwide phylogeography for the
human X chromosome. PLoS One 2:e557.
Schmitz PI. 1997. Migrantes da Amaznia: a tradio Tupi-Guarani. In: Kern AA (org)
Arqueologia pr-histrica do Rio Grande do Sul, 2nd ed. Porto Alegre: Mercado Aberto. p
295330.
489
Schroeder KB, Schurr TG, Long JC, Rosenberg NA, Crawford MH, Tarskaia LA, Osipova LP,
Zhadanov SI, Smith DG. 2007.A private allele ubiquitous in the Americas. Biol Lett 3:218-
223.
Schurr TG, Sherry ST. 2004. Mitochondrial DNA and the peopling of the Americas: evolutionary
and demographic evidence. Am J Hum Biol 16:420-439.
Schwartz JH, Tattersall I. 2010. Fossil evidence for the origin of Homo sapiens. Am J Phys
Anthropol 143:94-121.
Seielstad M, Yuldasheva N, Singh N Underhill P, Oefner P, Shen P, Wells RS. 2003. A novel Y-
chromosome variant puts an upper limit on the timing of first entry into the Americas. Am
J Hum Genet 73:700705.
Spuhler J. 1972. Genetic, linguistic and geographical distances in native North America. In:
Weiner J, Huizinga J, editors. The assessment of population affinities in man. Oxford:
Oxford University Press. p 7395.
Starikovskaya YB, Sukernik RI, Schurr TG, Kogelnik AM, Wallace DC. 1998.mtDNA diversity in
Chukchi and Siberian Eskimos: implication for the genetic history of Ancient Beringia and
the peopling of the New World. Am J Hum Genet 63:1473-1491.
Stoneking M. 1994. Mitochondrial DNA and human evolution. J Bioenerg Biomembr 26:251-
259.
Suwa G, Asfaw B, Kono RT, Kubo D, Lovejoy OC, White TD. 2009.The Ardipithecus ramidus skull
and its implications for hominid origins. Science 326:681-687.
Tamm E, Kivisild T, Reidla M, Metspalu M, Smith DG, Mulligan CJ, Bravi CM, Rickards O,
Martinez-Labarga C, Khusnutdinova EK, Fedorova SA, Golubenko MV, Stepanov VA,
Gubina MA, Zhadanov SI, Ossipova LP, Damba L, Voevoda MI, Dipierri JE, Villems R, Malhi
RS. 2007. Beringian standstill and spread of Native American founders. PLoS One 2:e829.
Tarazona-Santos E, Santos FR. 2002.The peopling of the Americas: a second major migration?
Am J Hum Genet 70:1377-1380.
The Y Chromosome Consortium. 2002. A nomenclature system for the tree of human Y-
chromosomal binary haplogroups. Genome Res 12:339-348.
490
Torroni A, Sukernik RI, Schurr TG Starikorskaya YB, Cabell MF, Crawford MH, Comuzzie AG,
Wallace DC. 1993. mtDNA variation of aboriginal Siberians reveals distinct genetic
affinities with Native Americans. Am J Hum Genet 53:591608.
Torroni A, Schurr TG, Yang C-C, Szathmary EJE, Williams RC, Schanfield MS, Troup GA, Knowler
WC, Lawrence DN, Weiss KM, Wallace DC. 1992. Native American mitochodrial DNA
analysis indicates that the Amerind and the Nadene populations were founded by two
independent migrations. Genetics 130:153-162.
Underhill PA, Jin L, Zemans R, Oefner PJ, Cavalli-Sforza LL. 1996. A pre-Columbian Y
chromosome-specific transition and its implications for human evolutionary history. Proc
Natl Acad Sci USA 93:196-200.
Underhill PA, Kivisild T. 2007. Use of Y Chromosome and Mitochondrial DNA Population
Structure inTracing Human Migrations. Annu Rev Genet 41:539-564.
Urban G. 1998. A histria da cultura brasileira segundo as lnguas nativas. In: Carneiro da
Cunha M, organizer. Histria dos ndios no Brasil. So Paulo: Companhia das Letras. p 87
102.
Urban G. 1996. On the geographical origins and dispersion of Tupian languages. Rev Antropol
39:61104.
Vigilant L, Stoneking M, Harpending H, Hawkes K, Wilson AC. 1991. African populations and the
evolution of human mitochondrial DNA. Science 253:1503-1507.
Wang S, Ray N, Rojas W, Parra MV, Bedoya G, Gallo C, Poletti G, Mazzotti G, Hill K, Hurtado
AM, Camrena B, Nicolini H, Klitz W, Barrantes R, Molina JA, Freimer NB, Bortolini MC,
Salzano FM, Petzl-Erler ML, Tsuneto LT, Dipierri JE, Alfaro EL, Bailliet G, Bianchi NO, Llop E,
Rothhammer F, Excoffier L, Ruiz-Linares A. 2008. PLoS Genet. 4:e1000037.
Wang S, Lewis CM, Jakobsson M, Ramachandran S, Ray N, Bedoya G, Rojas W, Parra MV,
Molina JA, Gallo C, Mazzotti G, Poletti G, Hill K, Hurtado AM, Labuda D, Klitz W, Barrantes
R, Bortolini MC, Salzano FM, Petzl-Erler ML, Tsuneto LT, Llop E, Rothhammer F, Excoffier L,
Feldman MW, Rosenberg NA, Ruiz-Linares A. 2007. Genetic variation and population
structure in Native Americans. PLoS Genet 3:e185.
White TD, Asfaw B, Beyene Y, Haile-Selassie Y, Lovejoy OC, Suwa G, Wolde Gabriel G. 2009.
Ardipithecus ramidus andthepaleobiologyofearlyhominids.Science326:75-86.
White TD, Asfaw B, Degusta D, Gilbert H, Richards GD, Suwa G, Clark H. 2003. Pleistocene
Homo sapiens from Middle Awash, Ethiopia. Nature 423:742-747.
Yong E. 2013. Americas natives have European roots. Nature News & Comment 20 November
2013.
491
Zegura SL, Karafet TM, Zhivotovsky LA, Hammer MF. 2004. High-Resolution SNPs and
microsatellite haplotypes point to a single, recent entry of Native American Y
chromosomes into the Americas. Mol Biol Evol 21:164-175.
492
CAPTULO 17. CONTRIBUIO DA
PALEOGENTICA COMPREENSO DA
FILOGENIA DOS HOMO SAPIENS.
CRISTINA B. DEJEAN1
1
Universidad Maimnides, Buenos Aires, Argentina. dejeancr@gmail.com
1. INTRODUO
Na primeira seo introduziremos esta rea cientfica com uma breve referncia
metodologia de trabalho na paleogentica, mas, em especial, neste captulo buscaremos
apresentar a informao que existe relativa origem de nossa espcie Homo sapiens,
principalmente, aquelas descritas a partir da anlise do DNA antigo. O surgimento dos
humanos modernos foi sempre uma temtica que ocupou grande parte do interesse dos
paleoantroplogos. Durante os anos 80, duas teorias extremas defendiam diferentes razes
explicativas do surgimento e distribuio de nossa espcie: a teoria que se refere a uma
origem africana nica, denominada Out of Africa, Eva mitocondrial ou da substituio (Stringer
& Andrews, 1988) e a da origem multirregional ou do candelabro (Wolpoff et al, 1984), que
discutiremos mais adiante.
493
Durante o desenvolvimento deste captulo sero descritos os achados da paleogentica
que contriburam na compreenso de como surgiu nossa espcie, que se referem relao
existente entre nossa espcie e a de outros Homo. Partiremos da ideia inicial da teoria da Eva
Africana, baseada fundamentalmente nos resultados do DNA mitocondrial (Cann et al., 1987),
que envolvia a substituio total das outras espcies de Homo que habitavam o planeta pelos
sapiens em sua expanso fora da frica h cerca de 40.000 anos. Ser apresentada a evidncia
que conduz a aceitao de certo grau de hibridao entre os indivduos deste gnero.
Para concluir, sero analisadas as ltimas descobertas que sugerem que os humanos
modernos so o resultado de um substrato gentico maioritariamente africano com
contribuies dos outros grupos que populavam o planeta antes e durante a expanso dos
Homo sapiens atuais.
494
variveis, e o estado de conservao depende das condies ambientais do local onde estavam
os restos e/ou do museu onde se encontram depositados desde sua descoberta. Os lugares
secos e frios tendem a preservar melhor a integridade da molcula de DNA que se encontra
nos restos esquelticos. Isto assim pois uma vez que os seres vivos morrem, os cidos
nuclicos sofrem deteriorao que tem a ver com processos qumicos como a oxidao e a
hidrlise, e que podem modificar as bases nucleotdicas por substituio, e produzem cortes
da cadeia original em fragmentos de muito poucos pares de bases, ficando somente pequenas
pores amplificveis (Hofreiter et al., 2001). As novas tcnicas de sequenciamento direto,
como seu nome indica, evitam o passo de amplificao e rearmam a cadeia original a partir de
leituras diretas dos pequenos fragmentos de DNA remanescentes, facilitando a obteno de
genomas completos.
3. MARCADORES GENTICOS
Em ambos os casos estes clados ou linhagens permitem rastrear a histria evolutiva dos
ancestrais maternos e paternos, inclusive ir at o passado dos primeiros Homo, reconstruindo
as migraes a partir das linhagens encontradas em diversas regies geogrficas atravs de
estudos em grupos humanos atuais, que traam o caminho que os Homo sapiens percorreram
uma vez que deixaram a frica, chegando finalmente ao continente Americano (Raff et al.,
2001; Cruciani et al., 2011).
No final dos anos 80, Alan Wilson e sua equipe (Cann et al., 1987) publicaram uma
primeira estimativa das distncias genticas entre indivduos de distintas origens geogrficas
atravs da anlise de apenas 147 amostras de diversos continentes, exceto da Amrica, de
variantes de DNA mitocondrial humano atual. Eles detectaram 133 variantes estudando
polimorfismos com 12 enzimas de restrio. Neste trabalho pioneiro parece evidente a origem
africana dos humanos atuais: as amostras subsaarianas formam um grupo de similaridade que
497
parecem dar origem ao resto das variantes genticas encontradas. Esta informao se constitui
no principal suporte da chamada teoria da substituio, Out of Africa, ou da Eva
mitocondrial. Stringer & Andrews (1988), a partir destes dados, propem uma teoria para o
surgimento dos Homo sapiens no contexto da gentica, a qual sustenta que os humanos
modernos surgiram na frica em aproximadamente 150-200.000 anos antes do presente e
que, mais tarde, h cerca de 100.000 anos, saram da para migrar para Eursia, como se
evidencia no registro paleoantropolgico. As evidncias dos stios associados ao Homo sapiens
e ao Homo neandertalensis, pareciam indicar uma convivncia prxima, mas sem mestiagem,
tanto no territrio do Oriente prximo como na Europa. As diferenas esquelticas entre
ambas as espcies so evidentes e as indstrias lticas associadas a cada uma delas parecem
definitivamente distintas. Estes pesquisadores postularam a migrao desta espcie e a
substituio dos homindeos que ocupavam previamente os territrios pelos H. sapiens recm-
chegados, sem nenhum tipo de hibridao entre nativos e migrantes.
H cerca de 20 anos, Pbo e sua equipe (Krings, M. et al., 1997) publicaram na Cell a
primeira sequncia da regio controle do DNA mitocondrial de um Neandertal, procedente do
exemplar descoberto em 1856, prximo de Dsseldorf, Alemanha. Neste estudo, clonaram e
determinaram que a sequncia no possuia afinidade com a dos H. sapiens atuais.
Foi assim que em 2003 Caramelli et al. (2003) e em 2004 Serr et al. (2004)
sequenciaram parte da regio hipervarivel mitocondrial em 2 e 5 indivduos,
respectivamente. As anlises mostram uma clara separao entre as populaes de
Neandertais e de humanos modernos, onde se apreciava claramente que as mostras de Cro-
Magnon aparecem dentro do conjunto de sequncias modernas e sempre distantes
geneticamente das de Neandertais.
499
da subunidade 2 da citocromo-oxidase C. Uma vez mais, ao construir uma rvore de distncia
gentica, a sequncia Neandertal se afasta das 10 sequncias modernas contra as que se
compara. No somente isto: a partir dos dados de 12 sequncias mitocondriais Neandertais,
Fabre et al. (2009) publicam um estudo em que analisam vrios modelos para relacion-las,
chegando concluso que no parecem a um grupo nico, mas que podem divid-las em trs
grupos: um na Europa ocidental, um na parte sul e o terceiro na sia ocidental, indicando a
existncia de variabilidade dentro do grupo.
Com os dados das sequncias de DNA mitocondrial Neandertal, poderia se dizer que
estes no tm nenhuma representao nas populaes humanas atuais. Se realmente houve
contribuio ao acervo gentico mitocondrial por parte dos Neandertais, alguns de ns
seramos portadores de linhagens cujas sequncias poderiam relaicionar-se com alguma das
descritas nos indivduos desta espcie. Entretanto, no podemos descartar que no futuro
algum as descubra. As evidncias com as quais contamos at o momento indicam que as
mulheres Neandertais parecem no haver contribudo com linhagens maternas para a
humanidade atual ou que suas descendentes femininas tiveram uma fertilidade reduzida ou
no foram viveis.
b. GENOMAS NUCLEARES
A equipe liderada por Svante Pbo em seu laboratrio do Instituto Max Planck de
Leipzig se envolve com a investigao em paleogenomas empregando as tcnicas mais
modernas de sequenciamento. Empregando uma delas, o pirosequenciamento, se obtm a
sequncia do primeiro milho de pares de bases nucleares do genoma nuclear Neandertal, a
partir de um osso de um indivduo proveniente da caverna de Vindija, na Crocia (Green et al.,
2006). Considerando as diferenas com o genoma de humanos modernos, estima-se um
tempo de divergncia de cerca de 500.000 anos entre humanos atuais e Neandertais, tomando
como referncia para as estimativas a separao entre humanos e chimpanzs em 6.500.000
anos antes do presente. Estes primeiros resultados sugeriam algum grau de contribuio dos
Neandertais ao genoma do sapiens atual. Neste momento os autores supuseram a existncia
de alguma contaminao proveniente de DNA moderno nas sequncias. Outros
investigadores, na mesma semana, mas com uma metodologia clssica, publicam 65.000 pares
de bases (Noonan et al., 2006).
500
Em 2010, a equipe do Max Planck publica o primeiro rascunho, como chamaram, do
genoma do Neandertal, trabalhando com trs ossos selecionados. Desta vez, com mais
certeza, se anuncia o surpreendente achado de sequncias compartilhadas entre este genoma
e o de H. sapiens atual, sugerindo a possvel contribuio dos Neandertais s populaes de H.
sapiens arcaicos (Green et al., 2010). As evidncias de hibridao parecem irrefutveis e as
teorias extremas originais sobre o surgimento dos humanos modernos tornam-se mais
flexveis. E como os Neandertais nunca habitaram a frica, lgico observar que estes so
geneticamente mais prximos s populaes modernas de fora da frica que das africanas. A
estimativa para a contribuio de alelos Neandertais em Euroasiticos entre 1 a 3%.
O projeto do Instituto Max Plack para decifrar o genoma dos Neandetais, que utilizou
material proveniente de um dedo do p de uma mulher, finalmente se completa e publicado
na Nature em 2014 (Prfer et al., 2014). Uma Neandertal que viveu h 50.000 anos na Sibria e
cujos pais devem ter parentesco prximo. Esta proposta baseia-se na homozigose observada
no genoma. A partir de ento, voltaram a estimar a proporo de DNA derivado de
Neandertais nos humanos no africanos de 1,5 a 2,1%, voltando a confirmar a hibridao entre
esses grupos. H alguns cientistas que se animam a predizer que ao detectar estas relquias de
partes de genomas de outros homindeos que muitos de ns portamos, seja possvel
reconstruir o genoma, por exemplo, dos Neandertais (Vernot & Akey, 2014).
A busca de alelos de genes especficos que poderiam ser interessantes para comparar
ambos os genomas, tem permitido descrever caractersticas de humanos atuais que j
estavam presentes nos Homo neandertalensis. Foram detectados, por exemplo, o gene FOXP2
(Krause et al., 2007) e o da microcefalina (Evans et al., 2006), o primeiro ligado produo da
linguagem e o segundo a uma variante que se associa microcefalia em humanos modernos,
que os autores sugerem que esteve presente em Neandertais e aparece em alguns humanos
modernos como uma prova da contribuio destes ao nosso patrimnio gentico.
501
Tambm foi determinada a presena de genes que sugerem que os indivduos do stio
de El Sidrn na Espanha foram portadores do alelo O do grupo ABO (Lalueza-Fox et al., 2008) e
cabelos ruivos de pele clara, como um dado adicional para completar nossa imagem destes
parentes prximos (Lalueza-Fox et al., 2007).
Os genes envolvidos no catabolismo dos lipdios nos europeus atuais parecem ter uma
estreita relao com as variantes Neandertais (Khrameeva et al., 2014). Estas variantes
mostrariam relao com nveis enzimticos, perfil lipdico e, inclusive, obesidade.
Uma falange e um molar, achados em uma caverna nas montanhas de Altai, no sul da
Sibria, datados entre 30.000 e 50.000 anos AP, revolucionaram a paleogentica. Trata-se de
um tipo de homindeo desconhecido que, ao princpio, pelos escassos restos encontrados, no
se pde atribuir a uma espcia j descrita. A primeira publicao (Krause et al., 2010) reporta o
sequenciamento do genoma mitocondrial, a partir de 70 mg de osso deste indivduo que
revelou, luz dos resultados mitocondriais, afastado dos humanos modernos, mas quase uma
espcie irm aos Neandertais. Os autores sugerem que este indivduo, que em realidade
uma jovem, seja atribudo a uma nova espcie: os Denisovas, pelo nome da caverna onde
apareceram os restos, configurando num ramo parafiltico da linhagem que vincula o H.
neandertalensis ao H. sapiens.
No mesmo ano, aparece a publicao (Reich et al., 2010) de parte do genoma dos restos
de Denisova: foram mapeados mais de 82.000.000 de pequenas sequncias, concluindo-se que
tambm ao nvel nuclear, este indivduo diferente dos Neandertais e dos Sapiens. Ao
comparar as sequncias obtidas com as de vrios grupos humanos atuais, observa-se que os
melansios possuem em seu genoma cerca de 4% das sequncias atribuveis ao homindeo de
Denisova, outra evidncia de contribuio de outros grupos ao patrimnio gentico dos
humanos atuais.
A epigentica e suas consequncias foram ganhando espao nas pesquisas nas ltimas
dcadas. A metilao do DNA parece regular de uma forma suplementar a informao escrita
503
nos genes e a sua expresso nos organismos (Bedregal et al., 2010). Contudo, avaliar a
metilao das bases de DNA em um material degradado e fragmentado como o de um
indivduo que viveu h cerca de 40.000 anos, no parece tarefa fcil. Entretanto, Gokman e
colaboradores publicaram em maio de 2014 a reconstruo dos mapas de metilao do
Neandertal e do Denisova. Ao comparar estes com o mapa de metilao dos humanos atuais,
foram identificadas umas 2.000 diferenas em regies modificadas por metilao, empregando
uma tcnica que permite deduzir a presena de citosinas metiladas em uma sequncia.
Particularmente, observaram uma metilao substancial no gene HOX D, que poderia ser
responsvel pelas diferentes caractersticas anatmicas que apresentam os Neandertais e os
humanos atuais.
11. CONCLUSES
505
BIBLIOGRAFIA CITADA
Bedregal P, Shand B, Santos M, Ventura-Junc P. 2010. Aportes de la epigentica a la
comprensin del desarrollo del ser humano. Rev Md Chile 138: 366-372.
Cann RL, Stoneking M, Wilson AC. 1987. Mitochondrial DNA and human evolution. Nature
325:31-36.
Cann RL. 2001. Genetic clues to dispersal in human populations: Retracing the past from the
present. Science 291:1742-1748.
Cooper A, Poinar H. 2000. Ancient DNA: Do it Right or Not to All. Science 289:1139.
Crespo CM, Dejean CB, Postillone MB, Lanata JL, Carnese FR. 2010. Historias en cdigo
gentico. Los aportes de los estudios de ADN antiguo en antropologa y sus implicancias
ticas. Runa 31(1-2):153-174.
Cruciani, F., Trombetta, B., Massaia, A., Destro-Bisol, G., Sellitto,D., and Scozzari, R. (2011). A
revised root for the humanY chromosomal phylogenetic tree: The origin of patrilineal
diversity in Africa. Am. J. Hum. Genet. 88, 814818.
Evans, PD et al, 2006. Evidence that the adaptative allele of the brain size gene microcephalin
introgressed into Homo sapiens from an archaic Homo lineage. Proc. Natl. Acad. Sci. USA,
103: 18178-18183.
Fabre, V, Condemi S, y Degioanni A. 2009. Genetic evidence of geographical groups among the
Neanderthals. Plos One, 4(4): e5151.
Gilbert MTP, Jenkins DL, Gtherstrom A, Navern N, Snchez JJ, Hofreiter M, Thomsen PF,
Binladen J, Higham TFG, Yohe II RM, Parr R, Scout Cummings L, Willerslev E. 2008. DNA
from pre-Clovis human coprolites in Oregon, North America. Science, 320: 786789.
Gokhman D, Lavi E, Prfer K, Fraga MF, Riancho JA, Kelso J, Pbo S, Meshorer E, Carmel L.
2014. Reconstracting the DNA methylation maps of the Neandertal and the Denisovan.
Science 344: 523-527.
Green RE, Krause J, Ptak SE, Briggs AW, Ronan MT, Simons JF, Du L, Egholm M, Rothberg JM,
Paunovic M, Pbo S. 2006. Analysis of one million base pair of Neandertal DNA. Nature
444: 330-336.
Green RE, Malaspinas AS, Krause J, Briggs AW, Johnson PL, Uhler C, Meyer M, Good JM,
Maricic T, Stenzel U, Prfer K, Siebauer M, Burbano HA, Ronan M, Rothberg JM, Egholm
M, Rudan P, Brajkovic D, Kucan Z, Gusic I, Wikstrm M, Laakkonen L, Kelso J, Slatkin M,
Pbo S. 2008. A complete Neandertal mitochondrial genome sequence determined by
high-throughput sequencing. Cell 134: 416-426.
Green RE, Krause J, Briggs AW, Maricic T, Stenzel U, Kircher M, Patterson N, Li H, Zhai W, Hsi-
Yang Fritz M, Hansen NF, Durand EY, Malaspinas AS, Jensen JD, Marques-Bonet M, Alkan
506
C, Prfer K, Meyer M, Burbano HA, Good JM, Schultz R, Aximu-Petri A, Butthof A, Hber B,
Hffner B, Siegemund M, Weihmann A, Nusbaum S, Lander ES, Russ C, Novod N, Affourtit
J, Egholm M, Verna C, Rudan P, Brajkovic D, Kucan Z, Gusic I, Doronichev VB, Golovanova
LV, Lalueza-Fox C, de la Rasilla M, Fortea J, Rosas A, Schmitz RW, Johnson PLF, Eichler EE,
Falush D, Birney E, Mullikin JC, Slatkin M, Nielsen R, Kelso J, Lachmann M, Reich D, Pbo
S. 2010. A draft sequence of the Neandertal genome. Science 328: 710-722.
Hammer, M. F., Woerner, A. E., Mendez, F. L., Watkins, J. C., & Wall, J. D. (2011). Genetic
evidence for archaic admixture in Africa. Proceedings of the National Academy of
Sciences, 108(37), 15123-15128.
Hummel, S. 2003. Ancient DNA typing. Methods, strategies and applications. Springer-Verlag.
Berlin Heidelberg. New York.
Jobling MA, Tyler-Smith C. 2003. The human Y chromosome: an evolutionary marker comes of
age. Nature Reviews Genetics 4:598-612.
Kaestle, F. y Horsburgh, K., 2002. Ancient DNA in Anthropology: Methods, Apliccations and
Ethics. Yearbook of Physical Anthropology. 45:92-130.
Khrameeva EE, Bozek K, He L, Yan Z, Jiang X, Wei Y, Tang K, Gelfand MS, Prfer K, Kelso J,
Pbo S, Giavalisco P, Lachmann M, Khaitovich P. 2014. Neanderthal ancestry drives
evolution of lipid catabolism in contemporary Europeans. Nature communications 5
Article number: 3584. DOI:10,1038.
Krause J, Lalueza-Fox C, Orlando L, Enard W, Green RE, Burbano HA, HublinJ-J, Hnni C, Fortea
J, de la Resilla M, Bertranpetit J, Rosas A, Pbo S. 2007.The derived FOXP2 variant of
modern humans was shared with Neandertals. Curr Biol 17:1908-1912.
Krause J, Fu Q, Good JM, Viola B, Shunkov MV, Derevianko AP, Pbo S. 2010. The complete
mitochondrial DNA genome of an unknown hominin from southern Siberia. Nature
464:894-897.
Krings M, Stone A, Schmitz RW, Krainitzki H, Stoneking M, Pbo S.1997. Neandertals DNA
sequences and the origins of modern humans. Cell 90:19-30.
Lewin R. 2005. Human Evolution, an illustrated introduction. 5th ed. Oxford: Blackwell
Publishing Ltd.
507
Mendez FL, Krahn T, Schrack B, Krahn AM, Veeramah KR, Woerner AE, Fomine FLM, Bradman
N, Thomas MG, Karafet TM, Hammer MF. 2013. An African American paternal lineage
adds an extremely ancient root to the human Y chromosome phylogenetic tree. Am J Hum
Genet 92:454-459.
Meyer, M., Kircher, M., Gansauge, M. T., Li, H., Racimo F, Mallick, S., Schraiber J, Jay F, Prfer
K, de Filippo C, Sudmant PH, Alkan C, Fu Q, Do R, Rohland N, Tandon A, Siebauer M, Green
R, Bryc K, Briggs AW, Stenzel U, Dabney I, Shendure J, Kitzman J, Hammer M, Shunkov MV,
Derevianko AP, Patterson N, Andrs AM, Eichler EE, Slatkin M, Reich D, Kelso J, Pbo, S.
(2012). A high-coverage genome sequence from an archaic Denisovan individual. Science,
338(6104), 222-226.
Noonan JP, Coop G, Kudaravalli S, Smith D, Krause J, Alessi J, Chen F, Platt D, Pbo S, Pritchard
JK, Rubin EM. 2006. Sequencing and Analysis of Neanderthal Genomic DNA Science
314:1113-1118.
Pbo S, Higuchi RG, Wilson AC.1989. Ancient DNA and the polymerase chain reaction. J Biol
Chem 264: 9709-9712.
Poinar HN, Schwarz C, Qi J, Shapiro B, MacPhee RDE, Buigues B, Tikhonov A, Huson DH,
Tomsho LP, Auch A, Rampp M, Miller W, Schuster SC. 2006. Metagenomics to
Paleogenomics: Large-Scale Sequencing of Mammoth DNA. Science 311:392-394.
Raff JA, Bolnick DA, Tackney J, O'Rourke DH. 2011. Ancient DNA perspectives on American
colonization and population history. Am J Phys Anthropol 146:503-514.
Reich D, Green RE, Kircher M, Krause J, Patterson N, Durand EY, Viola B, Briggs AW, Stenzel U,
Johnson PLF, Maricic T, Good JM, Marques-Bonet T, Alkan C, Fu Q, Mallick S, Li H, Meyer
M, Eichler EE, Stoneking M, Richards M, Talamo S, Shunkov MV, Derevianko AP, Hublin J-J,
Kelso J, Slatkin M, Pbo S. 2010. Genetic history of an archaic hominin group from
Denisova Cave in Siberia. Nature 468:1053-1060.
508
Relethford J, Harding RM. 2001. Population genetics of modern human evolution. En:
Encyclopedia of Life Sciences. New Jersey: John Wiley &Sons Ltd.
Stringer CB y Andrews P. 1988. Genetic and fossil evidence for the origin of modern humans.
Science, 239:1263-1268
Thomson, R., Pritchard, J.K., Shen, P., Oefner, P.J., and Feldman,M.W. (2000). Recent common
ancestry of human Y chromosomes: Evidence from DNA sequence data. Proc.Natl. Acad.
Sci. USA 97, 73607365.
Veeramah KR, Hammer MF. 2014. The impact of whole-genome sequencing on the
reconstruction of human population history. Nat Rev Genet 15:149-162.
Vernot B, Akey J. 2014. Resurrecting Neandertal lineages from modern human genomes.
Science 343:1017-1021.
Wolpff, MH, Wu, XZ y Thorne,A. (1984) En The origin of modern humans: a world survey of the
fossil evidence. Editores Smith, FH, &Spence FJ. 411-4,83 John Wiley & Sons.
Wolpoff MH, Hawks J, Caspari R. 2000. Multiregional, not multiple origin. Am J Phys Anthropol
112:129-136.
Zhivotovsky LA, Rosenberg NA, Feldman MW. 2003. Features of Evolution and Expansion of
Modern Humans, Inferred from Genomewide Microsatellite Markers. Am J Hum Genet
72:1171-1186.
509
CAPTULO 18. TRANSIO DEMOGRFICA,
EPIDEMIOLOGIA E MODELOS DE EFICCIA
BIOLGICA (FITNESS) NA AMRICA LATINA.
511
tornam-se parte de uma populao atravs do sucesso do nascimento, representa em
Antropologia o resultado da transmisso gentica de uma comunidade gerao seguinte. Por
isso, as taxas reprodutivas que fornecem os dados demogrficos podem informar o grau em
que genes so transmitidos. Analogamente, a mortalidade, o evento demogrfico pelo qual os
indivduos deixam uma populao atravs do falecimento, tambm interessante porque, a
partir das tabelas de mortalidade - estatsticas por faixa etria do nmero de mortes, grupos
de risco e taxa de mortalidade e de sobrevivncia, expectativa de vida, entropia, etc. -,
possvel avaliar a probabilidade que tem os descendentes para alcanar a idade frtil,
permitindo completar o ciclo biolgico pelo qual ocorre a transmisso gentica em sucessivas
geraes.
Existe uma estreita relao entre os eventos demogrficos e a maioria dos processos
evolutivos que operam em nossa espcie, de modo que as informaes fornecidas pela
Demografia so teis para sua compreenso. Assim, por exemplo, o modelo diferencial com
que a seleo natural atua nas populaes humanas pode ser analisado atravs dos padres
de natalidade e mortalidade. Com base nessas consideraes, Crown (1958) props uma
metodologia que, aplicada a grupos humanos com distintas idiossincrasias, obtm-se a
oportunidade diferencial da seleo natural e do grau de adaptabilidade biolgica alcanada
(fitness). Os resultados sugerem, alm disso, modelos populacionais de evoluo por seleo
natural intimamente relacionados com o processo universal da transio demogrfica.
513
juvenil, s vezes residual. Nessas populaes, a menor entrada de indivduos por baixa
natalidade tambm compensada pela reduzida mortalidade, originando novamente o
mesmo crescimento demogrfico lento observado nas sociedades no modernas. A diferena
que a estrutura demogrfica sofre uma reviravolta, com uma pirmide de idade
caracterizada pela forma de uma urna: a base se estreita com a reduo da natalidade,
enquanto que a mortalidade mais baixa determina um alargamento em sua rea central, com
o maior nmero de pessoas que atingem idades mais avanadas.
515
Figura 2. Pirmides de idade nas fases da transio demogrfica.
516
nulo. A estrutura demogrfica mostra agora uma pirmide definida pela forma completa de
urna (Figura 2d).
517
Figura 3. Crescimento demogrfico da populao mundial desde 500 AP at a atualidade (Box 1).
518
a humanidade cresce nessa fase com ritmos progressivamente maiores durante todo o sculo
XX. Assim, os primeiros 1.000 m. de habitantes foram alcanados em quase toda nossa histria
evolutiva, os 2.000 m. foram alcanados em pouco mais de 100 anos, os 3.000 m. em apenas
35 e os 4.000 m. em somente 20 anos. O crescimento mximo ocorreu em 1987, quando em 7
anos foram alcanados os 5.000 m. Desde ento, o ritmo de crescimento, embora ainda sendo
elevado, est se desacelerando, com a previso de que a humanidade estaria ascendendo a 3
fase da transio.
a. Modelo de pases desenvolvidos (Figura 4). Este prottipo de transio est bem
documentado por tratar-se do processo que as populaes industrializadas experimentaram
no passado. Caracteriza-se por ser uma transformao lenta e duradoura, de dois a trs
sculos, em que as taxas demogrficas declinam pausadas e parelhas, com pouqussima
519
diferena entre elas, determinando um ritmo de crescimento suave e prolongado no tempo.
Seu estudo destina-se a descrever a estreita relao existente entre as mudanas sociais
produzidas a partir do sculo XVIII e a evoluo demogrfica ocasionada. Essa relao de
causa-efeito explicada atravs da repercusso que as mudanas econmicas derivadas da
revoluo industrial dos sculos XVIII e XIX iniciada na Inglaterra e continuada em outros
pases da Europa Ocidental, Nova Zelndia e Austrlia - tiveram sobre os modelos de
natalidade dessas populaes.
520
Figura 5. Modelo de transio demogrfica nos pases em desenvolvimento.
521
detrimento dos menos adaptados. O mecanismo o seguinte: os indivduos mais aptos so
aqueles que, pela sua idoneidade biolgica no nicho ecolgico em que se desenvolvem, se
reproduzem mais, morrem menos, alcanam com maior probabilidade a idade frtil e
transmitem mais seus genes. Uma vez que esse processo de transmisso gentica tambm
esteja sujeito ao desenvolvimento social (progresso da medicina, controle de natalidade, etc.),
a cultura representa um importante fator regulador da seleo natural em populaes de
nossa espcie e, portanto, da adaptabilidade biolgica conquistada (fitness).
522
Figura 6. Modelos populacionais de atuao da seleo natural de acordo com a metodologia de Crow.
523
O ndice de oportunidade de seleo natural (I) obtido a partir de dois parmetros
parciais relativos sobrevivncia e reproduo:
a. O ndice de seleo potencial devido mortalidade diferencial (lm) calculado a partir
da probabilidade de morte (Pd) e de sobrevivncia (Ps), dos nascidos at a idade reprodutiva,
pela expresso:
lm= Pd/Ps
b. O ndice de seleo potencial devido fertilidade diferencial (lf) obtido a partir da
razo entre os valores mdios de nascidos vivos (X) e a sua varincia (FV):
If=Vf/X2
Finalmente, o ndice I de Crow avalia a oportunidade total da seleo natural a partir de
ambos os parmetros, de acordo com a frmula:
I = Im + (1 / Ps) If
POPULAO Im If I Referncia
a) Populaes em desenvolvimento
Cashinahua (Peru) 0,79 0,11 0,98 Johnston & Kensinger, 1971
Xavante (Brasil) 0,49 0,41 0,9 Neel & Chagnon, 1968
San Pablo (Mxico) 1,63 0,31 2,46 Halbertein & Crawford, 1972
Nmades do Chile 1,38 0,17 1,78 Crow, 1966
Tlaxcala (Mxico) 0,59 0,35 1,14 Halberstein & Crawford, 1972
b) Populaes tecnologicamente desenvolvidas
Frana, 1900 0,26 0,84 1,32 Jacquard, 1974
Austrlia, 1900 0,25 0,4 0,75 Cavalli-Sforza & Bodmer, 1981
Chile Urbano 0,15 0,45 0,67 Crow, 1966
Inglaterra e Gales 0,04 1,21 1,29 Sphuler, 1963
Havana 0,03 0,36 0,4 Vazquez et al., 2012
c) Populaes Rurais
Maragatera (Espanha) 0,22 0,47 0,8 Bernis, 1974
Camprodn (Espanha) 0,04 0,28 0,33 Torrejon & Bertranpetit, 1987
Ute (USA) 0,07 0,47 0,57 Tyzzer, 1974
Chile Rural 0,33 0,22 0,62 Crow, 1966
Alpujarra (Espanha) 0,13 0,3 0,47 Luna & Moral, 1990
Bayrcal (Alpujarra, Espanha) 0,24 0,28 0,58 Luna et al., 2011
525
3. Modelo evolutivo de populaes rurais de pases desenvolvidos. Esses
grupos mostram uma eficcia biolgica superior em relao aos outros dois modelos
anteriores, tanto das sociedades no modernas como das populaes desenvolvidas. Ao
encontrar-se em plena transio demogrfica (2 fase), suas taxas de mortalidade esto se
reduzindo significativamente devido poltica sanitria do pas, mas, ao mesmo tempo, seus
modelos ancestrais de elevada fecundidade persistem. O resultado final que uma grande
proporo da j elevada descendncia consegue superar a idade frtil, reproduzir-se e facilitar
a transmisso de seus genes s geraes seguintes. So bons exemplos desse modelo certas
comunidades rurais da Espanha, como La Maragatera (Len), Camprodn (Catalunha) ou La
Alpujarra (Andaluzia), assim como Chile ou a tribo indgena Norte-Americana de Ute, entre o
Colorado ocidental e Utah oriental. Essas populaes apresentam os tpicos baixos valores de If
de populaes em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, tambm baixos valores de lm,
prprios das comunidades desenvolvidas. Consequentemente, esse modelo de evoluo
caracterstico de populaes com mxima eficcia biolgica e mnima chance de ao da
seleo natural, seja atravs da mortalidade infantil e juvenil como da eficcia reprodutiva.
526
b. Doenas no transmissveis, crnico degenerativas. Fazem referncia s neoplasias,
distrbios endcrinos, doenas cardiovasculares, respiratrias crnicas, msculo-
esquelticas, genital-urinrio, da pele e subcutneas, distrbios do sistema nervoso,
anomalias congnitas e doenas e sintomas de senilidade.
3 Fase; idade das doenas degenerativas. Nesse perodo ocorre uma queda dos
nveis de mortalidade e um aumento da expectativa de vida que poderia exceder os 75 anos,
apesar do aparecimento de doenas degenerativas.
527
doenas representam causas de morte, podero afetar a estrutura demogrfica da populao
e, por sua vez, a distribuio dos indivduos por idade e sexo tambm constituir um
importante fator epidemiolgico da populao. Por outro lado, na medida em que as doenas
infecciosas so reduzidas com o desenvolvimento scio-sanitrio, a populao se envelhece,
promovendo o surgimento de doenas degenerativas de incidncia mais tardia. Essa estreita
relao pode tambm alcanar transio demogrfica, uma vez que algumas de suas fases
esto caracterizadas por comportamentos concretos de mortalidade, que dependem da
incidncia diferencial dos grupos de doenas anteriormente descritos. Isso se traduz, em geral,
em uma correlao entre a transio demogrfica e epidemiolgica que, embora complexa,
alcana as fases de um e de outro processo. Independentemente de certas incoerncias, como
a dificuldade de preciso da fase em que uma populao se encontra, a extrapolao das fases
entre uma populao e outra, e o efeito da polarizao epidemiolgica - coexistncia numa
mesma populao de diferentes fases -, em muitas outras ocasies as fases de transio
epidemiolgica podem ser definidas pelo grupo prioritrio da causa de morte e sua relao
com a fase de transio demogrfica em que a populao se encontra.
Assim, a 1 fase (peste e fome) caracterizada por uma elevada taxa de mortalidade,
corresponde com a 1 fase da transio demogrfica; a 2 fase (pandemia), definida por um
crescimento exponencial do tamanho demogrfico, tem lugar durante a 2 fase da transio
demogrfica. A queda da mortalidade na 3 fase epidemiolgica, em que comeam a aparecer
as doenas degenerativas, corresponderia 3 fase da transio demogrfica. A 4 fase,
surgida nos anos 70 com o desenvolvimento scio-sanitrio na luta contra as doenas
cardiovasculares, teria lugar durante a transio da 3 para a 4 fase. Finalmente, a 5 fase
epidemiolgica, que surge com o aparecimento de novas doenas, ocorre em qualquer tipo de
populao e, portanto, em qualquer fase da transio demogrfica. Contudo, o aparecimento
dessas novas doenas em populaes desenvolvidas adicionaria o aumento da mortalidade
senil que ocasiona o envelhecimento demogrfico alcanado. O resultado final um aumento
da mortalidade que, juntamente com a queda da natalidade, explicaria o declnio demogrfico
das populaes desenvolvidas, caracterizadas pela 5 fase da transio demogrfica.
529
Figura 7. Perfil epidemiolgico atual em pases da Amrica Latina.
530
BIBLIOGRAFIA CITADA
Bernis C. 1974. Estudio biodemogrfico de la poblacin maragata. Tesis Doctoral: Universidad
Complutense de Madrid, Espaa.
Cavalli-Sforza LL, Bodmer WF. 1981. Gentica de las poblaciones humanas. Barcelona: Ed.
Omega.
Crow JF. 1958. Some possibilities for measuring selection intensity in man. Hum Biol 30:113.
Crow JF. 1966. The quality of people: human evolutionary changes. Bioscience 16:863867.
Frenk J, Prejka T, Bobadilla JL, Stern C, Lozano, R, Seplveda J, Jos M. 1991. La transicin
epidemiolgica en Amrica Latina. Bol Of Sanit Panam 111(6):485-496.
Halberstein RA, Crawford MH. 1972. Human biology in Tlaxcala, Mxico: demography. Am J
Phys Anthropol 36:199212.
Johnston FE, Kensinger KM. 1971. Fertility and mortality differentials and their implications for
microevolutionary change among Cashinahua. Hum Biol 43:350-364.
Luna F, Moral P. 1990. Mechanisms of natural selection in human rural populations: survey of
a Mediterranean region (La Alpujarra, SE Spain). Ann Hum Biol 17:153158.
Luna F, Tarelho AR, Camargo AM, Alonso V. 2011. A study using demographic data of genetic
drift and natural selection in an isolated Mediterranean community: Bayrcal (La
Alpujarra, South-East Spain). J Biosoc Sci 43:401411.
Murray C, Lpez AD. 1996. The Global Burden of Disease: a comprehensive assessment of
mortality and disability from diseases, injuries, and risk factors in 1990 and projected to
2020. Ginebra. Organizacin Mundial de la Salud (OMS).
Neel JV, Chagnon NA. 1968. The demography of two tribes of primitive relatively
unacculturated American Indians. Proc Natl Acad Sci USA 59:680689.
Sphuler JN. 1963. The scope of natural selection in man. In: Schull WJ, editor. Genetic Selection
in Man. Michigan University. p 1111.
Salomon JA, Murray C. 2002. The epidemiological transition revisited: compositional models
for causes of death by age and sex. Population and Development Review. 28 (2). New
York.
531
Torrejon J, Bertranpetit J. 1987. Estructura biodemogrfica de la poblacin del Valle de
Camprodn. Trabajos de Antropologa. 20:393557.
Tyzzer RN. 1974. An investigation of the demographic and genetic structure of a southwestern
American Indian population, the southern Ute tribe of Colorado. Thesis (Ph. D.): University
of Colorado.
Vazquez V, Alonso V, Luna F. 2012. Biological fitness and action opportunity of natural
selection in an urban population of Cuba: Plaza de la Revolucin, Havana. J Biosoc Sci.
43:401411.
532
CAPTULO 19. ECOLOGIA DAS POPULAES
HUMANAS: DESENVOLVIMENTO
ONTOGENTICO, ALIMENTAO E NUTRIO.
1. INTRODUO
Algumas caractersticas do meio agem como fatores limitantes j que, ainda que
possibilitem a vida dentro de um espectro de valores (mnimo-mximo), desafiam tambm
uma vida saudvel quando se afastam de tal espectro ou impossibilitam um envelhecimento
533
satisfatrio. Consideram-se fatores limitantes: a gravidade, a altitude, a radiao ultravioleta, a
temperatura, a presso parcial de oxignio, a gua, os nutrientes, os contaminantes e a
produo vegetal e animal. Mas tambm o so, o nvel de educao, o econmico e a atividade
fsica, j que podem limitar os valores timos para a biologia humana. Reconhece-se que tais
fatores atuam especialmente durante certos perodos crticos (BOX 1) ou sensveis do
desenvolvimento ontogentico.
534
Box 2. Determinantes do estado de sade/doena. Os determinantes podem ser estabelecidos
ou potencialmente estabelecidos e so entendidos como fatores causais nicos (por exemplo: o
consumo de frutas ou de gua, nutrio: a relao sdio/potssio no organismo, o baixo peso
ao nascer, a atividade fsica diria > 35 min, etc.) ou que atuam interagindo uns com outros em
vrios nveis de complexidade: o nvel indivdual, o nvel interindividual, o nvel comunitrio, o
nvel institucional e poltico e o nvel superior ou ecossistema humano. Estes cinco nveis podem
ser imaginados como crculos concntricos a partir do crculo individual no centro (como
mostra o grfico). A busca dos determinantes da sade/doena atravs dos nveis de
complexidade foi denominada recentemente de anlise multi-nvel, ainda que alguns
determinantes possam ser rastreados mais facilmente somente em 1, 2 ou 3 nveis. O Institute
of Medicine dos Estados Unidos adotou o modelo ecolgico, tambm conhecido no mundo
biomdico como perspectiva ecolgica, ou modelo multi-nvel, como um marco conceitual para
propor recomendaes em sade pblica.
535
relao com o ambiente o ser humano se esfora na obteno de alimentos e de matrias-
primas para a vida diria (relaes de transformao). Estas duas atividades requerem a
construo de um sistema socioeconmico complexo que intermedirio entre o ambiente e
os seres humanos, mas que incide na biologia humana atravs da nutrio e da maneira para
compreender a sade, a doena e o bem-estar.
536
a. A INTERAO BIOLOGIA-AMBIENTE: A MUDANA SECULAR DA ESTATURA
O estudo dos registros de mais de 8.400.000 jovens colombianos nascidos entre 1910 e
1984 (Meisel & Vega, 2004) mostrou que durante tal perodo houve um aumento mdio na
estatura adulta de 7,2 cm em homens e 7,9 cm em mulheres (Figura 1A), o aumento a cada
dez anos foi de 1,02 e 1,12 cm em homens e mulheres, respectivamente. A Figura 1A mostra
que as curvas de aumentos de estatura em homens e mulheres possuem inclinaes
crescentes com ascenso leve entre 1940 e 45 e um decrscimo entre 1970 e 74. Estas
tendncias biolgicas podem ser explicadas de modo retrospectivo revisando a informao
histrica disponvel sobre as modificaes socioeconmicas. A Figura 1A mostra graficamente
537
as mudanas sociais que provavelmente tiveram maior importncia no bem estar por
expanso do mercado de caf e mudanas nos preos dos alimentos (Hallam, 2004). Por outro
lado, as estaturas dos jovens de Madrid de 18 anos (Figura 1B) no perodo entre 1983 e 1986,
obtidas pela recompilao de vrios estudos de crescimento de escolares (Rosique et al., 2000)
foi incrementada de 9,6 cm em homens e 8,2 cm em mulheres, o que supe um aumento por
dcada de 1,1 e 0,9 cm em homens e mulheres, respectivamente. O valor do aumento por
dcada para a estatura encontrado por Meisel & Vega (2004) na Colmbia se aproxima do
valor de 1 cm por dcada para homens e mulheres, o qual foi encontrado em um estudo
recente (Ruiz-Linares et al., 2014) no Mxico, Chile, Peru e Colombia. Em tal estudo, o
aumento da estatura na Amrica Latina tambm parece potencializado pela mistura gentica
quando existem ancestrais africanos e europeus e, em menor medida, pelas melhoras do nvel
educacional e socioeconmico. A Figura 1B mostra um decrscimo das estaturas dos jovens
espanhis at finais do sculo XIX e princpios do XX at 1914, paralelo crise histrica do
modelo econmico espanhol de abandonar o sistema colonial e iniciar a industrializao
depois do conflito blico entre Espanha e Estados Unidos em 1898, conhecido como Guerra de
Cuba. O ganho de estatura em cm/dcada das mulheres colombianas foi maior que o das
espanholas, considerando um perodo similar. Isto pode ser devido ao fato de que as estaturas
daquelas populaes que experimentam a eliminao de fatores negativos para o crescimento
apresentam mudanas seculares mais notveis. No obstante, a estatura final em ambos os
pases depois de algumas dcadas se tornou similar das populaes de sua regio
sociogeogrfica. Este resultado conhecido como o efeito da comunidade em crescimento
(Almann & Hermanussen, 2013), um efeito que no explicado totalmente pelas diferenas
em composio gentica, seno pelos efeitos do ambiente e da cultura.
538
Figura 1. Mudana secular na estatura: A) adultos colombianos nascidos entre 1910 e 1982; a tendncia crescente
de 1940-45 (flecha branca) mostra um aumento maior e paralelo bonana econmica pela expanso constante do
mercado de caf e a urbanizao, mas de 1970-74 (flecha cinza) h uma tendncia decrescente pela crise do
petrleo e o aumento do preo dos alimentos (Fonte: reelaborado a partir de Meisel & Vega, 2004). B) adultos de
Madrid (18 anos) entre 1896 e 1983; a diminuio da estatura at 1914 (flecha cinza) foi paralela profunda crise
no final do sculo XIX e princpios do XX no sistema econmico ao abandonar o modelo colonial, depois da guerra
de Cuba de 1898, e o incio da nova industrializao (Fonte: reelaborado a partir de Rosique et al., 2000).
539
crescimento e a reproduo so afetados. De fato, h maior probabilidade de abortos em
humanos e no gado. Em 5500 metros acima do nvel do mar (altitude) a presso parcial de
oxignio a metade que ao nvel do mar e a 7500 de altitude h hipertenso pulmonar e risco
de edema cerebral em alpinistas; a vida humana praticamente impossvel em maiores
altitudes.
Em pases com populao tanto em regies altas como ao nvel do mar, as pessoas
subestimam o efeito da altitude. De fato, em algumas cidades colombianas de alturas
medianas como Bogot (2600 de altitude), anualmente se registram alguns falecimentos, em
meninos que migraram com suas famlias a partir de regies de baixa altitude, por hipertenso
pulmonar junto com casos leves de doena de altitude (Dias, 2012). As adaptaes biolgicas
das populaes tradicionais acima dos 3500 m vo desde o aumento de peso das placentas, e
do nmero de glbulos vermelhos em sangue por milmetro cbico, at o aumento da
vascularizao pulmonar e a capacidade torrica. O menor peso ao nascer em populaes de
altitude elevada (Villamonte et al., 2011) uma acomodao hipxia que possibilita um
nascimento saudvel para muitas crianas. Por outro lado, os pesos ao nascimento no sul do
Peru surpreendentemente mais alto que nos Andes Centrais, e similares aos da populao ao
nvel do mar (Gonzales, 2013), e inclusive superiores aos dos neonatos de me recm
emigradas para elevadas altitudes e isto se reflete na adaptao biolgica ancestral da
populao nativa peruana de elevadas altitudes.
540
fsico ou desportivo freqente e exigente tambm um exemplo de aclimatao biolgica
atividade e reversvel se o indivduo inicia uma vida sedentria.
2. O DESENVOLVIMENTO ONTOGENTICO
541
meninos e 3,3% em meninas nas zonas com altitude inferior a 1.000 metros de altitude
(Lomaglio et al., 2007).
544
Box 3. Antropometria. Esta tcnica permite medir o corpo humano e expressar o tamanho e
forma corporal utilizando instrumentos de medio portteis, no invasivos e de baixo custo
para trabalhos de campo. A estatura e comprimentos corporais so medidas com um
antropmetro (A), as circunferncias com cinta mtrica (C e E), o peso corporal em uma
bscula (B), a espessura das pregas cutneas com um adipmetro (D) e os dimetros sseos
com um paqumetro (F). As tcnicas de medio devem ser aprendidas com detalhes a partir de
manuais de treinamento como:
http://www.minsa.gob.pe/portalweb/02estadistica/encuestas_INEI/Bddatos/Documentos%20
Metodologicos/Manuales/MANUAL%20DE%20LA%20ANTOPOMETRISTA%202012.pdf
O avaliador deve ser treinado com um supervisor para obter medidas consistentes
(repetibilidade das medidas) obtendo o erro tcnico de medida (etm) para cada varivel
antropomtrica em uma srie de indivduos (pelo menos n=10), nos quais so repetidas as
medidas depois de umas horas em um dia determinado. Se as repeties de uma medida para
cada sujeito i so escritas como m1 e m2, ento o etm (expresso na frmula do quadro) a raiz
da soma das diferenas ao quadrado entre as duas repeties para os n sujeitos estudados e
dividida por 2n (nmero total de repeties, por exemplo: 2x10, para 10 indivduos).
considerado que depois de um bom treinamento os valores dos etm deveriam ser < 1% da
mdia da medida dos indivduos testados quanto ao peso, estatura e permetros corporais, <
2% para os permetros e comprimentos corporais pequenos e < 5% para as pregas cutneas.
Foto: coleo prpria do Laboratrio de Antropologia Biolgica da Universidad de Antioquia
(Medelln, Colmbia).
545
Box 4. Amplitude e tempo. Estes termos so utilizados por tradio em Auxologia para
diferenciar os padres de crescimento individual a partir de uma comparao histrica
empregada por Franz Boas, um antroplogo alemo que realizou estudos de crescimento de
filhos de alemes emigrados para os Estados Unidos. Franz Boas, alm de ser conhecido como
impulsor do enfoque da antropologia americana, se interessou pelo estudo do efeito da
migrao e as mudanas das condies de vida no crescimento e desenvolvimento infantil.
Como muitos alemes amantes da msica, imaginou que as diferenas do crescimento entre
indivduos se parecem com as diferenas entre msicos tocando sua partitura. As diferenas
em velocidade ou ritmo de crescimento que se mostram na curva de velocidade (v
[cm/ano]/idade) para trs meninos (1, 2, 3), se parecem com as diferenas no tempo da msica
j que o menino que cresce mais rpido (1) parece que toca allegro e o que toca adgio se
parece ao que cresce a um ritmo mais lento (3), ainda que chegue finalmente a estaturas
similares ao menino mediano (2) no final do perodo de crescimento. As diferenas no tempo
so diferenas no ritmo de amadurecimento. Os auxlogos ampliam o exemplo tambm para a
amplitude das ondas sonoras que diferencia a magnitude entre sons, distinguindo os que
tocam alto (com mais decibis) e baixo (com menos decibis), como a curva de crescimento em
distncia (curva estatura/idade) distingue o resultado do crescimento, diferenciando meninos
altos (1-2) e baixos (3). Grfico com trs casos tericos (Fonte: elaborao prpria).
546
O tempo uma medida de amadurecimento, visto que h meninos e meninas que so
amadurecidos precocemente e outros tardiamente no que se refere a alcanar a estatura final
sem distanciar-se da normalidade. As curvas de crescimento em amplitude da estatura, do
peso e do permetro ceflico em meninos e meninas, de 0 a 5 anos (Figura 2), com bom estado
de sade, a partir do estudo da OMS (2006, 2007), refletem trs padres principais de
crescimento para: o esqueleto, tecidos moles e tecido neurocerebral. No sentido estrito, o
crescimento em estatura (Figura 2A) expresso a partir dos dois anos de idade. De 0 a 2 anos,
ou antes que a criana caminhe e se sustente em p, geralmente recomenda-se que o
comprimento da criana seja medido em decbito dorsal, deitado sobre um estadimetro
(BOX 5). A forma da curva de crescimento em estatura/comprimento (Figura 2A) tem o padro
de crescimento de todos os comprimentos e larguras ps-cranianas, como a estatura sentado,
o comprimento dos braos e pernas e as larguras da cintura plvica e escapular. O
comprimento ao nascer 45,5% e 44,9% da estatura aos 5 anos, no menino e menina,
respectivamente. O adulto, em contrapartida, aproximadamente triplica o comprimento da
criana ao nascer. Esta curva de crescimento possui uma inclinao crescente para o lado
direito do eixo da idade, pois os incrementos no tamanho do esqueleto se acumulam ano aps
ano. Diferentemente, a curva de crescimento para o permetro ceflico muito diferente
(Figura 2B) por refletir o padro de crescimento cerebral. Os 68,1 e 67,9% do tamanho aos 5
anos no menino e menina, respectivamente, alcanado j ao nascimento. Aos 3 anos
alcana-se 97,6% e 97,2%, em meninos e meninas, respectivamente, do tamanho que ter a
cabea aos 5 anos. Esta curva seguir paralela ao eixo horizontal da idade depois dos cinco
anos sem acrscimos anuais superiores a 0,1 cm, sendo que somente mais tarde chegar
547
medida mxima do permetro at os 7 anos de idade. Este tipo de crescimento tpico de
outras dimenses cranianas (Hauspie, 2005), mas no encontrada em muitas dimenses da
face.
Figura 2. Padres de crescimento de meninos e meninas de 0 a 5 anos, para trs tipos de medidas corporais. Fonte:
elaborado pelos autores a partir dos dados tabulados da OMS (2006, 2007).
548
(Fonte: modificado a partir de
http://www.who.int/childgrowth/training/apoyo_midiendo.pdf).
ESTADIMETRO PORTTIL
550
Figura 3. Incrementos anuais de trs medidas corporais em meninos e meninas saudveis de 0 a 5 anos. Fonte:
elaborado pelos autores a partir dos dados tabulados da OMS (2006, 2007).
Ainda que a adolescncia seja um termo mais psicolgico que biolgico definido pelos
comportamentos relacionados com a formao da identidade, o amadurecimento psicossocial
e a funcionalidade que ter o adulto (Buckler, 2007), a biologia humana tem adotado o termo
adolescncia para descrever de forma global o processo de crescimento no perodo entre o
incio do PVE e seu final aos 17 ou 18 anos, quando cessa tal processo. Durante a adolescncia
ocorrem as modificaes caractersticas da puberdade e do ganho mximo de massa ssea. O
551
crescimento dos distintos segmentos corporais se associa com cada perodo do ciclo vital, j
que o crescimento do tronco se associa mais com o momento da lactao e adolescncia,
enquanto que o crescimento das pernas se associa mais com a infncia (juventude) e pr-
adolescncia. Por isso, um amadurecimento mais precoce (adiantamento em tempo) repercute
em um menor comprimento das pernas em relao ao tronco por encurtamento do perodo
biolgico de alongamento da extremidade inferior. O inicio da puberdade, perodo de
maturao sexual, se relaciona com o aparecimento dos plos pubianos, mas tambm com
outras mudanas somticas como o desenvolvimento mamrio, desenvolvimento dos genitais
e fisiolgicos (menarca e espermarca). O amadurecimento sexual tambm tem um tempo ou
ritmo individual e por isso h maturadores iniciais, medianos e tardios. Mas no se deve
confundir maturao inicial e puberdade precoce, j que a precocidade considerada uma
condio extrema (Carel & Lger, 2008) definida pelo aparecimento dos primeiros caracteres
sexuais secundrios antes dos 8 (em meninas) ou 8,5 anos (em meninos). Em contrapartida, o
amadurecimento inicial est dentro da variabilidade normal, onde alguns sujeitos
amadurecem mais rpido que outros.
552
muito baixas prximo aos 18 anos. Durante o pico ou estiro ocorre a maior parte das
mudanas de maturao da puberdade. O mximo do estiro ocorre at os 12 anos em
meninas e at os 14 anos nos meninos na maioria dos indivduos. No estudo da populao
mexicana, o estiro foi observado aos 11 anos em meninas e 13 anos nos meninos (PVE da
Figura 4b-d) provavelmente porque entre os filhos de emigrantes tem fatores que os levam
maturao mais cedo. Em contrapartida, o clculo da idade at o PVE pode variar entre os
estudos transversais em comparao com os longitudinais (com seguimento). Os estudos
transversais tambm mostram um estiro adolescente um pouco achatado na altura (Hauspie,
2005).
b. DIMORFISMO SEXUAL
553
Figura 4. Curvas de crescimento ajustadas mediante o modelo LMS (Cole, 1990) procedentes das colnias populares
do Mxico (Iztapalapa e Coyoacn). mostrada a mediana (P50) da estatura dos meninos (a) e meninas (c) e a
estatura adulta mdia desta populao de filhos de emigrantes do campo para a cidade. So mostradas tambm as
curvas de crescimento mdias (b e d) para obter graficamente trs momentos: (1) a diminuio de velocidade do
final da juventude, (2) a idade de incio do PVE e (3) a idade do pico do PVE, em ambos os sexos (Fonte: modificado
a partir do estudo de Rosique & Archiga, 2010).
c. NUTRIO E CRESCIMENTO
d. ENVELHECIMENTO
556
oxignio da respirao circulem por uma cadeia de enzimas denominadas cadeia
transportadora de eltrons. Se os eltrons no circulam de forma adequada pela cadeia, se
unem de forma inesperada a outras substncias, convertendo-as em substncias altamente
reativas: os radicais livres. Estes reagem com as estruturas biolgicas, deteriorando-as (Finkel
& Holbrook, 2000). Nas primeiras etapas do ciclo vital, as clulas limpam os radicais livres, mas
na meia idade estes radicais so mais difceis de limpar. A diminuio da produo de
protenas no envelhecimento est bem documentada em especial para a reduo drstica do
hormnio do crescimento (HC) at os 60 anos de idade e a reduo do tecido muscular das
pernas desde os 30 anos. A funo do HC crucial nos tecidos do adulto saudvel e sua
reduo leva diminuio da massa muscular e ssea, o envelhecimento da pele e a
diminuio da funo imune.
558
Os estudos sobre alimentao e nutrio possuem interesse ecolgico. O ambiente e a
zona geogrfica influenciam no tipo de alimentao e na sade nutricional. Entretanto, a
plasticidade metablica humana para viver saudavelmente em ambientes diferentes e com
hbitos alimentares muito diferentes enorme. Estudar os hbitos alimentares equivale a
estudar a dieta diria (a srie de alimentos que o indivduo consome durante o dia). Se h
pouca variao diria nos tipos de alimentos consumidos dizemos que a dieta montona. As
dietas variadas esto mais prximas de ser saudveis pelo carter onvoro de nossa espcie j
que no temos um alimento exclusivo ou ideal, salvo no perodo de lactao, em que o beb
recebe os distintos nutrientes necessrios com o leite materno. O onivorismo uma aquisio
evolutiva de nossa espcie e se expressa pela capacidade de combinar alimentos de origem
animal e vegetal, com uma proporo varivel em cada cultura. Apesar disto, alguns defendem
seus hbitos vegetarianos por motivos muito dspares. O vegetarianismo se pratica em
algumas culturas e grupos humanos por motivos religiosos, mas atualmente tambm o pratica
quem contra o sacrifcio dos animais e da pecuria industrial por razes de sade individual
(reduo da ingesto de hormnios, antibiticos e conservantes na carne) ou do planeta
(sade ecolgica) para preservar o uso da terra e o desflorestamento. Os conhecimentos sobre
nutrio para vegetarianos estritos e para ovo-lacto-vegetarianos tm avanado muito e tm
conseguido propor dietas bastante completas para evitar a carncia de nutrientes essenciais.
Mas h alguns riscos nutricionais para o desenvolvimento pr-natal e dos lactantes que podem
ser reduzidos com suplementos na alimentao materna. Os hbitos vegetarianos no adulto,
em contrapartida, podem ser corretivos quando h sobrepeso, obesidade, diabetes tipo 2 ou
hipercolesterolemia (Sabat, 2005).
559
cidos graxos (consumimos atualmente atravs de carnes de animais sedentrios com mais
gordura saturada), 3) a proporo de macronutrientes (consumimos mais energia em forma de
carboidratos e gorduras), 4) a densidade dos micronutrientes nos alimentos (atualmente
mais reduzida devido ao consumo de alimentos refinados pobres em nutrientes e o reduzido
consumo de frutas, vegetais, carne magra e alimentos marinhos), 5) o balano cido-base no
sangue (a dieta ocidental libera mais produtos cidos por ter mais cereais, acares e carnes
gordurosas), 6) o quociente sdio/potssio (atualmente mais alto por mudar da dieta as
frutas e vegetais e acrescentar mais sal, leite e derivados lcteos) e 7) o contedo de fibra
(atualmente menor). Foram criadas hipteses que podem ter um desajuste entre as
qualidades nutricionais das dietas ocidentais e um genoma adaptado a dietas pr-agrcolas,
influenciando assim nas doenas do adulto relacionadas com a nutrio. Ainda que as dietas
pr-agrculas puderam ser muito heterogneas segundo a latitude, esto sendo debatidas
atualmente sobre como promover elementos de uma dieta mais prxima pr-agrcola, ou
seja, mais baseada em carne de animais menos sedentrios, tubrculos e razes vegetais,
frutas e nozes e reduzindo o uso dos alimentos pouco disponveis no mundo pr-agricola (leite
e derivados, cereais e farinhas refinadas, acares refinados, azeites vegetais industrializados,
bebidas alcolicas e sal industrializado), junto com uma atividade fsica muito mais intensa.
560
pesca e coleta em um ambiente ecologicamente alterado onde os animais tm reduzido suas
populaes naturais e, alm disso, o cultivo de plantas e a produo animal no formam parte
de suas tradies. A transio a uma economia mais produtiva difcil e as tentativas de
transferncia tecnolgica no tem sido eficientes, por falta de oportunidades educativas entre
os indgenas e a falta de compreenso do idioma e da cultura Embera por parte dos gestores.
A alta prevalncia de desnutrio entre os Embera tem sido um problema desde a dcada de
90, mas muitas de suas comunidades mostram desnutrio crnica (altura baixa para a idade)
em menores de 5 anos, com mdias altas desse problema que superam os encontrados em
nvel nacional para meninos das mesmas idades. Isso no ocorre em muitos grupos tnicos
latino-americanos, no Chile, por exemplo, os indgenas aos 6 anos possuem estaturas similares
s dos meninos no indgenas. O estudo de Rosique et al. (2010) sobre os Embera de Frontino,
mostrou que h a manuteno de um ideal alimentar insustentvel baseado na pesca e caa
de animais selvagens. Habitualmente, consomem banana verde cozida, banana madura assada
(s vezes em bebidas), peixe, feijo e preparaes de milho. As preparaes com produtos
provenientes da carne nem sempre esto disponveis. O contato intercultural introduziu o
arroz, sardinhas enlatadas, refrescos e produtos de padaria. A porcentagem de populao de 1
a 70 anos com deficincia na ingesto usual de energia foi de 73,4% e foi verificado que essa
taxa aumentava claramente com a idade at os 18 anos. A prevalncia de desnutrio crnica
foi de 68,9% em menores de 10 anos, cifra que quintuplica a mdia para a Colmbia, enquanto
que para o Mxico na mesma faixa de idade a desnutrio em indgenas somente 2 vezes a
encontrada em nvel nacional. A desnutrio em Embera em menores de 10 anos coexiste com
19,7% de sobrepeso definido em funo da relao peso/ altura. A prevalncia de sobrepeso e
a obesidade tendem a aumentar entre os adolescentes e adultos Embera e est associado s
baixas alturas adquiridas em seu crescimento.
561
4. CONCLUSES
562
BIBLIOGRAFIA CITADA
Baur JA, Pearson KJ, Price NL, Jamieson HA, Lerin C, Kalra A, Prabhu VV, Allard JS, Lopez-Lluch
G, Lewis K, Pistell PJ, Poosala S, Becker KG, Boss O, Gwinn D, Wang M, Ramaswamy S,
Fishbein KW, Spencer RG, Lakatta EG, Le Couteur D, Shaw RJ, Navas P, Puigserver P,
Ingram DK, de Cabo R, Sinclair DA. 2006. Resveratrol improves health and survival of mice
on a high-calorie diet. Nature (Epub), 444(7117):337-342.
Bernis C. 2005. Envejecimiento. En: Rebato, Susanne, Chiarelli (eds.). Para Comprender la
Antropologa Biolgica. Navarra (Espaa): Editorial Verbo Divino, pp.: 537-546.
Bjrke-Monsen AL, Ueland PM, Vollset SE, Guttormsen AB, Markestad T, Solheim E, Refsum H.
2001. Determinants of cobalamin status in newborns. Pediatrics, 108: 624-630.
Buckler JMH. 2007. Growth at adolescence. En: Kelnar CJH, Savage MO, P Saenger, CT Cowell
(eds.). Growth disorders. USA: Taylor and Francis Group. p. 150-163.
Campbell B. 1985. Ecologa Humana: la posicin del hombre en la naturaleza. Barcelona: Salvat
Editores.
Cardona Gonzlez S, Castao Castrilln JJ, Galeano Ramrez J, Gmez Ospina DC, Gonzlez
Henao NA, Guzmn Rodrguez MA, Herrera Reyes, JP, Lozano Trujillo AR, Villegas Arenas
OA. 2011. Principales hallazgos en el programa de crecimiento y desarrollo de los nios
hasta los 60 meses de edad en ASSBASALUD ESE (Manizales, Colombia) entre los aos
2002 y 2007. Arch Med (Manizales), 11(2): 127-139.
Cole TJ. 1990. The LMS method for constructing normalized growth standards. Eur J Clin Nutr
44: 45-60.
563
Cordain L, Boyd S, Sebastian A, Mann N, Lindeberg S, Watkings BA, OKeefe JH, Brand-Miller J.
2005. Origins and evolution of the Western diet: health implication for the 21st century.
Am J Clin Nutr 81: 341-354.
Daz FG. 2012. Hipertensin pulmonar a mediana altura en nios. Rev Colomb Cardiol, 19(4):
199-207.
ENSIN. 2010. Encuesta Nacional de la Situacin Nutricional. Resumen Ejecutivo. Bogot: ICBF
Instituto Colombiano de Bienestar Familiar.
Finkl T, Holbrook NJ. 2000. Oxidants, oxidative stress and the biology of ageing. Nature, 408,
239-247.
Gluckman PD, Hanson M. 2005. The fetal matrix: Evolution, Development, and Disease.
Gluckman PD, Hanson M (Eds). Cambridge University Press, NY, USA.
Gluckman PD, Hanson MA, Cooper C, Thornburg KL. 2008. Effect of in utero and early-life
conditions on adult health and disease. N Engl J Med 359(1): 6173.
Godina E. 2013. Secular trends. En: Hermanussen M. (ed.). Auxology. Studying Human Growth
and Development. Stuttgart (Germany): Schweiserbart Science Publishers, pp. 138-139.
Gonzales GF. 2013. Crecimiento fetal y peso al nacer en la altura - Rplica [carta]. Rev Peru
Med Exp Salud Publica, 30 (1):154-155.
Hauspie R. 2005. Crecimiento y desarrollo. En: Rebato, Susanne, Chiarelli (eds.). Para
Comprender la Antropologa Biolgica. Navarra (Espaa): Editorial Verbo Divino, pp.: 485-
495.
Johnson JS, Nobmann ED, Asay E, Lanier AP. 2009. Dietary intake of Alaska Native people in
two regions and implications for health: the Alaska Native Dietary and Subsistence Food
Assessment Project. Int J Circumpolar Health 68(2):109-122.
Kuzawa CW y Thayer 2011. Timescales of human adaptation: the role of epigenetic processes.
Epigenomics 3(2): 221-234.
Lomaglio DB, Vern JA, Daz MC, Gallardo F, Alba JA, Marrodn MD. 2007. El peso de los recin
nacidos en el noroeste argentino: variacin regional en la provincia de Catamarca.
Cuadernos de la Facultad de Humanidades y Ciencias Sociales - Universidad Nacional de
Jujuy, 32: 229-239.
564
Martnez E, Saldarriaga JF, Seplveda FE. 2008. Actividad fsica en Medelln: desafo para la
promocin de la salud. Rev Fac Nac Salud Pblica 26(2): 117-123.
Masoro ED. 2005. Overview of caloric restriction and ageing. Mechanisms of Ageing and
Development, 126 (9): 913922.
Meisel A, Vega M. 2004. Cunto crecieron los colombianos en el siglo XX? Un estudio de
antropometra histrica 1910-2002. Reportes del Emisor, 58: 1-6.
Muthayya S. 2009. Maternal nutrition and low birth weight what is really important? Indian J
Med Res, 130: 600-608.
OMS. 2007. Growth reference data 5-19 years. WHO. Disponible en:
http://www.who.int/growthref/en/
Paneni F, Beckman J, Creager MA, Cosentino F. 2013. Diabetes and vascular disease:
pathophysiology, clinical consequences, and medical therapy: part I. Eur Hearth J, 34 (31):
2436-2443.
Richard L, Gauvin L, Raine K. 2011. Ecological Models Revisited: Their Uses and Evolution in
Health Promotion Over Two Decades. Annu Rev Public Health 32:307326.
Rosique J, Restrepo MT, Manjarrs LM, Glvez A. y Santa J. 2010. Estado nutricional y hbitos
alimentarios en indgenas embera de Colombia. Rev Chil Nutr, 37(3): 270-280.
565
Titus-Ernstoff L, Troisi R, Hatch EE, Wise LA, Palmer J, Hyer M, Kaufman R, Adam E, Strohsnitter
W, Noller K, Herbst AL, Gibson-Chambers J, Hartge P, Hoover RN. 2006. Menstrual and
reproductive characteristics of women whose mothers were exposed in utero to
diethylstilbestrol (DES). Int J Epidemiol 35(4): 862868.
Vlez-Gmez MP, Barros FC, Echavarra-Restrepo LG, Hormaza-Angel MP. 2006. Prevalencia de
bajo peso al nacer y factores maternos asociados: unidad de atencin y proteccin
materno infantil de la Clnica Universitaria Bolivariana, Medelln, Colombia. Revista
Colombiana de Obstetricia y Ginecologa, 57(4): 264-270.
Villamonte W, Jer M, Lajo L, Monteagudo Y, Dez G. 2011. Peso al nacer en recin nacidos a
trmino en diferentes niveles de altura en el Per. Rev Per Ginecol Obstet. 2011; 57: 144-
150.
Villamor E, Marn C, Mora-Plazas M, Baylin A. 2011. Vitamin D deficiency and age at menarche:
a prospective study. Am J Clin Nutr, 94:1020-1025.
Weaver LT. 2011. How did babies grow 100 years ago? Eur J Clin Nutr, 65: 3-9.
566
CAPTULO 20. CO-EVOLUO GENES-CULTURA.
Por um lado, a DIT (as iniciais de um dos nomes que a teoria recebe em ingls, Dual
Inheritance Theory) reconhece como componente importante na evoluo do
comportamento humano a seleo natural dos gentipos, enquanto possibilita e compele os
traos culturais, uma vez que admite que a cultura sofre seu prprio processo paralelo de
evoluo, que vai deixar sua marca na espcie com, pelo menos, a mesma fora que sua
contraparte gentica.
567
entre os estratos, e no apenas entre elementos de um mesmo nvel. Assim, o consenso geral
que a coevoluo deve ser responsvel pela maior parte da diversidade gentica observvel
nas populaes humanas, pois ocorre tanto em dimenses microscpicas como
macroscpicas.
Em uma relao de coevoluo, cada parte exerce presses seletivas sobre a outra,
como tem sido ilustrado na evoluo de espcies hospedeiras e seus parasitas. De fato,
tradicionalmente, a etologia o estudo do comportamento animal sob condies naturais (em
oposio s anlises realizadas em ambientes experimentais) - serviu como pedra basilar para
a DIT (Karl von Frisch, que foi premiado com Konrad Lorenz e Nikolaas Tinbergen com o Prmio
Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1973, por seus trabalhos sobre padres sociais
comportamentais, estudando a dana das abelhas).
2. EVOLUO CULTURAL
A partir desse ponto de vista toda a capacidade cultural uma adaptao, de modo que
ela pode evoluir atravs de processos de aprendizagem social. Os traos culturais so
568
transmitidos de maneira diferente aos traos genticos. Alm disso, os genes e os traos
culturais contm informao codificada de forma muito diferente, sendo armazenadas em
estruturas biolgicas completamente diferentes. Veremos que os meios de transmisso
diferem inteiramente entre os dois sistemas tambm. Por tudo isso, a evoluo cultural possui
efeitos em diferentes nveis comportamentais e com variaes populacionais importantes,
sem necessidade de causar uma mudana correlata na evoluo gentica.
provvel que uma vez que a cultura se tornou adaptativa, a seleo gentica tenha
causado um refinamento da arquitetura cognitiva que armazena e transmite a informao
cultural. Este refinamento pode ter tido maior influncia na forma como a cultura
armazenada e nos vieses que regem sua transmisso.
Dito isso, e como Ames (1996: 113) aponta, se a capacidade para a cultura evoluiu
naturalmente, isto , de acordo com a seleo natural, e ela realmente transmitida
socialmente, ento deve ter evoludo com base em comportamentos sociais pr-existentes; a
cultura, ento, "teve que ter evoludo atravs da seleo natural da aprendizagem social e
aprendizes sociais. Daqui resulta que alguns comportamentos sociais possam ser fixados: se
no ocorrem, a aprendizagem no pode ocorrer; se a aprendizagem no ocorre, a cultura no
transmitida". O termo "fixado" refere-se, ento, caracterstica ter uma presena estvel e
ubqua por ser uma pea fundamental que permite que maiores processos ocorram, como a
transmisso de informao.
Com tudo isso, cabe salientar que vrios dos autores que lanaram as bases da DIT no
se aventuraram na complicada busca para uma definio do que a cultura, ou ento no se
comprometeram com uma perspectiva particular sobre a forma como a cultura se comporta.
Boyd & Richerson (1985) definem a cultura em sentido estrito como "(...) informao
capaz de afetar os fentipos dos indivduos, que adquirida por eles a partir de seus pares por
ensino ou imitao.
Isto porque a teoria da dupla herana (Cavalli-Sforza & Feldman, 1981; Boyd &
Richerson, 1985) tenta conciliar os aspectos da cultura humana sob os preceitos darwinianos,
disposta a explicar a importncia que tm em nossa histria evolutiva.
570
Embora essa abordagem tenha visto o seu nascimento h poucas dcadas, a evidncia
emprica que as disciplinas ocupadas com o mtodo gentico tm coletado sugerem que a
cultura tem moldado nosso genoma h bastante tempo (Laland et al, 2000; Richerson et al,
2010).
O impulso que a evoluo cultural proferiu evoluo gentica da nossa espcie (em
termos de elementos culturais cumulativos) nos ltimos milhares de anos seria responsvel
pelo crescimento enceflico, as especializaes cognitivas (Herrmann, Call, Hernndez-Lloreda,
Hare & Tomasello, 2007), bem como da origem da psicologia social e vrias alteraes
fisiolgicas em nossos intestinos, dentes, mos e ossos. No so poucos os modelos evolutivos
que, embora tenham sido desenvolvidos para produzir previses em populaes humanas,
tambm tm sido teis para desenvolver trabalho experimental entre as espcies no
humanas - por exemplo, em ratos -, embora estes estudos demostrem que no ocorre uma
evoluo cultural cumulativa como a que a teoria prev para humanos.
a. TRANSMISSO CULTURAL
A transmisso cultural tem sido objeto de estudo de diversas cincias, tais como
sociologia, antropologia, psicologia, economia e a biologia evolutiva. Luigi Luca Cavalli-Sforza &
Marcus W. Feldman (1981), Peter J. Richerson & Robert Boyd (1985) e Laland et al. (2000)
aplicaram modelos provenientes desta ltima disciplina em suas tentativas de esboar
modelos de transmisso de traos culturais; suas contribuies tericas correspondem, talvez,
s mais importantes no contexto do surgimento da DIT.
571
A descendncia nasce sem preferncias definidas, de modo que adotaro a variante do
trao parental -a primeira que so expostos- com uma probabilidade dx. No entanto, naqueles
casos em que a descendncia escolhe um trao de maneira ao acaso a partir do resto da
populao, por no ter recebido a influncia parental em primeira instncia, a probabilidade
de isso ocorra ser 1 - dx, do qual resulta que as dinmicas do subconjunto populacional que
tm o trao x podem ser descritas como:
Esta equao implica que enquanto dx seja maior do que dy, a distribuio populacional
se polarizar em torno do trao x (e vice-versa), enquanto que a fora de socializao parental
seria menos importante. No entanto, esta concluso inicial entre em conflito com a forte
resilincia que tem sido documentada e que os traos culturais demonstram, mesmo em
populaes minoritrias.
No entanto, Richerson e Boyd apontam para outros fatores que devem favorecer um
cenrio menos esttico, tais como a ampliao do conceito de socializao vertical (parental)
em funo da frequncia percebida de traos, a transmisso horizontal (entre pares), uma vez
que as migraes e mutaes (inovaes fenotpicas) tm a favorecer um cenrio menos
esttico.
Em particular, acredita-se que uma mutao, por exemplo, teria originado a forma
alterada da hemoglobina - Hbs -, que conduz anemia falciforme, o que, por sua vez, confere
resistncia malria; isto teria sido uma adaptao presena de tal doena, favorecida por
uma forma de agricultura que aumentava o nmero de mosquitos que viviam perto de
populaes humanas.
b. NICHOS COGNITIVOS
Lewontin (1983) criticou uma srie de modelos chamados "chave e fechadura" ("lock
and key"), segundo os quais os organismos - as chaves - adotam seus estilos de vida porque
foram feitos para adaptarem-se a estas formas de viver as fechaduras. Em vez da metfora
tradicional que considera a adaptao estritamente em funo da eficcia biolgica (a
habilidade de sobrevivncia e reproduo de um gentipo e/ou fentipo), o autor sugere a
metfora da construo.
572
Segundo ela, os organismos e seus nichos ecolgicos emergem a partir de um processo
de co-construo, atravs do qual se definem mutuamente. Assim, os organismos do forma
ao seu ambiente fisicamente, ao determinar quais fatores do ambiente externo so relevantes
para a sua evoluo, elaborando um conjunto desses fatores no que pode ser descrito como o
seu nicho.
O sistema de herana secundria criado pela evoluo cultural, como foi mencionado,
tem justamente a capacidade de alterar os ambientes sociais e fsicos. Estes, enfrentados por
genes em processo de evoluo, correspondem a ambos os componentes do processo
denominado coevoluo genes-cultura.
Por exemplo, parece que a prtica de cozinhar foi diversificada em torno do globo
atravs da aprendizagem social em populaes humanas ancestrais. A comida cozida tornou-
se uma fora seletiva que estreitou nossos tratos digestivos, dentes e estmagos (Wrangham,
2009). Um investimento reduzido no desenvolvimento de tecidos digestivos poderia ter
liberado energia potencial para o aumento de complexidade e construo de mais tecido
cerebral.
573
conhecimento (por exemplo, sobre comportamento animal e domesticao de vegetais) que
continuam a ser melhorados ao longo dos anos (Boyd & Richerson, 1988).
a. INTELIGNCIA SOCIAL
A abordagem destes autores tambm sugere que a evoluo cultural permite a criao
de normas sociais, em forma de padres que os alunos adquirem, atravs dos quais eles
podem julgar os outros. Muitos modelos demonstram de maneira robusta que a evoluo
cultural pode funcionar como um suporte para quase qualquer comportamento ou preferncia
que seja comum numa populao - quer se trate de cooperao ou outros -, enquanto no seja
muito custoso (Boyd & Richerson, 1988; Henrich & Boyd, 2001). Isto sugere que diferentes
grupos adquiriro diferentes normas e competiro entre si em algum ponto. Esta competio
favorecer queles conjuntos de normas que levam ao sucesso da luta intergrupal.
5. NOVOS ENFOQUES
Eva Jablonka & Marion Lamb (2005) sugerem novas dimenses evolutivas, desviando
ainda mais o foco sobre os sistemas de herana gentica, visto que as explicaes que residem
estritamente em nvel genmico no explicam a seleo e adaptao completamente:
574
devemos considerar tambm os sistemas epigenticos, comportamentais e simblicos de
herana. O primeiro possvel ser reconhecido em todos os tipos de organismos vivos,
enquanto que o segundo est presente num grupo menor deles e, finalmente, o terceiro s
possvel de ser encontrado em humanos, dada a estruturao fisiolgica necessria para o
processamento simblico.
575
Devemos lembrar que, enquanto a cultura tem permeado virtualmente todos os
aspectos centrais da nossa existncia como espcie, ela no transmitida geneticamente de
maneira direta de uma gerao para a seguinte, mas aprendida desde a nossa concepo em
diante.
7. ABSORO DA LACTOSE
Esta habilidade de poder digerir a lactose na idade adulta parece ter aumentado a
altssimas frequncias devido a uma das presses seletivas mais fortes que tem sido descritas.
O processo de construo de nichos, referido nos pargrafos anteriores, destaca-se pela
incorporao de novas presses seletivas na comunidade, a partir de prticas culturais: no
caso do aparecimento massivo desse trao, prope-se que a transmisso cultural das prticas
de pastoreio gerou uma presso seletiva estvel ao ter-se mantido ao longo do tempo por um
perodo significativo. Dessa forma, explica-se como a coevoluo da caracterstica gentica e
da prtica cultural resultou na modificao do ambiente, ou seja, do nicho.
8. CARACTERES MAL-ADAPTATIVOS
9. RESUMINDO
579
BIBLIOGRAFIA CITADA
Ames, K. (1996): Archaeology, Style, and the Theory of Coevolution. En: Maschner, H. (Ed.)
Darwinian Archaeologies (pp.: 109-131). Plenum Press, Nueva York.
Boyd, R. y Richerson, P. (1988): An evolutionary model of social learning: the effects of spatial
andtemporal variation. En: Zentall y Galef (Eds.) Social Learning: Psychological and
BiologicalPerspectives (pp.: 29-48). Lawrence Erlbaum, Hillsdale, New Jersey.
Boyd, R. y Richerson, P. (2001): Built For Speed, Not for Comfort: Darwinian Theory and
HumanCulture. En History and Philosophy of the Life Sciences (23): 423-463.
Cavalli-Sforza, L., Feldman, M., Chen, K. y Dornbusch, S. (1982): Theory and observation
inculturaltransmission. Science, 218 (4567): 19-27.
Durham, W. (1991): Coevolution: Genes, Culture, and Human Diversity. Stanford University
Press,Stanford.
Henrich, J. y Boyd, R. (2001): Why people punish defectors: conformist transmission stabilizes
costlyenforcement of norms in cooperative dilemmas. Journal of Theoretical Biology, 208:
79-89.
Gerbault, P., Liebert, A., Itan, Y., et al. (2011). Evolution of lactase persistence: an example
ofhuman niche construction. Phil Trans R Soc B., 366: 863-877.
Herrmann, F., Call, J., Hernndez-Lloreda, M., Hare, B. y Tomasello, M. (2010): The structure
ofindividual differences in the cognitive abilities of children and chimpanzees.
PsychologicalScience, 21: 102-110.
580
Rendel, L., Fogarty, L., Hoppitt, W., Morgan, T., Webster, M. y Laland, K. (2011).
Cognitiveculture:theoretical and empirical insights into social learning strategies. Trends
in Cognitive Sciences,15 (2): 68-76.
Richerson, P. y Boyd, R. (2005): Not by Genes Alone: How Culture Transformed Human
Evolution.University of Chicago Press, Chicago.
Richerson, P., Boyd, R. y Henrich, J. (2010): Gene-culture coevolution in the age ofgenomics.
Proceedings of the National Academy of Sciences. 107(2): 8985-8992.
Smith, E. A. (1999). Three Styles in the Evolutionary Analysis of Human Behavior. En Lee
Cronk,Napoleon Chagnon y William Irons Adaptation and Human Behavior: An
AnthropologicalPerspective. Nueva York, Aldine de Gruyter: 27-48.
581
CAPTULO 21. A EVOLUO EM POPULAES
AMERICANAS.
MNICA SANS1
1
Universidad de la Repblica, Uruguay. mbsans@gmail.com
1. INTRODUO
582
bem como os principais mtodos de estimativa das contribuies populacionais (graus de
misturas populacionais).
2. AS POPULAES
a. INDGENAS
b. AFRICANOS
Por outro lado, como acontece com os ndigenas, estimar quantos africanos entraram na
Amrica complexo por duas razes principais: a mortalidade durante a travessia, o que
implica que o nmero de escravos embarcados na frica no coincida com aqueles que
chegaram na Amrica e, fundamentalmente, o trfico ilegal. Por todo o continente, os
nmeros variam entre 9.000.000 e 12.000.000, distribudos em sua maioria no Caribe
(3.800.000) e Brasil (3.600.000) (Curtin, 1969; Conrad, 1986). Neste contexto, Barton (1967)
estimou que 15.000.000 saram da frica, mas deve-se considerar a mortalidade nos barcos,
maior no incio e com uma taxa mdia de mortalidade de 12,5% devido superlotao,
contgio, m-nutrio e outras causas (Meltzer, 1993).
585
regio no-recombinante do cromossomo Y (NRY) (Badro et al., 2013). Os estudos sobre
hemoglobinopatias tambm tm fornecido dados nessa direo. A hemoglobina S (Hb
siclmica), alm de ser exemplo de uma clara vantagem seletiva dos heterozigotos, apresenta
diferentes hapltipos (Bantu, Benin, Senegal, Camares), cuja presena na Amrica demonstra
a diversidade das suas origens (Fong et al., 2013; Da Luz et al., 2010).
c. EUROPEUS
Existem diferenas entre a imigrao europeia para a Amrica Latina e aquela para o
norte do Mxico (ou seja, excluindo-se as regies onde se instalaram emigrantes ibricos e
franceses), as quais repercutem no processo de miscigenao. No varia somente a origem dos
imigrantes (predominantemente Espanha e Portugal na primeira, e Gr-Bretanha e alguns
pases do centro-oriente da Europa na segunda), mas tambm a religio e as caractersticas
dos mesmos: na Amrica Latina, a grande maioria dos imigrantes europeus eram homens (na
primeira metade do sculo XVI as mulheres representavam 5% dos espanhis que viajavam
para a Amrica, e comeando o sculo XIX esse nmero representava 10%). O desequilbrio na
proporo entre os sexos conduzido no processo migratrio, como acontece com os africanos,
repercutir na miscigenao. Isso favorecer as unies mistas, junto ao fato de que, para os
catlicos, os indgenas deviam ser evangelizados para evitar barreiras integrao nas
sociedades crioulas. Ao contrrio, entre os anglo-saxes, a base religiosa e moral do
puritanismo motivou que a conquista da Amrica do Norte fosse feita basicamente por
famlias, movidos pela ideia de que as culturas nativas eram obra do diabo, estando proibidas
as unies com eles (Barton, 1967).
A Tabela 1 apresenta uma viso geral das contribuies populacionais nos diferentes
pases ou regies (Brasil). Para os Estados Unidos e Canad os dados so escassos, j que em
588
sua maioria as fontes de informao referem-se a grupos populacionais particulares
(hispnicos, afrodescendentes, franco-canadenses) e, portanto, no esto includos nesta
tabela.
O primeiro resultado que pode ser destacado que todas as populaes, em maior ou
menor grau, so tri-hbridas. Contudo, h certa coincidncia com observaes gerais sobre as
contribuies regionais, assim como foi levantado por vrios autores. Por exemplo, Ribeiro
(1969) prope para as Amricas trs "configuraes histrico-culturais", "povos testemunha"
(onde prima a matriz indgena), " povos novos " (de origem tri-hbrida com uma marcada
contribuio africana) e "povos transplantados" (basicamente descendentes de europeus). A
contribuio europeia maior no Uruguai (84%), considerado "povo transplantado", enquanto
que na Argentina, na mesma categoria, a contribuio indgena elevada. Os pases do
Pacfico so os que apresentam maior contribuio indgena, embora os valores variam de 56%
(Mxico) a 88% (Bolvia). Chama a ateno a alta contribuio indgena estimada na Nicargua
e a alta contribuio europeia em Porto Rico, pases que correspondem, segundo a
classificao mencionada, a "povo testemunha" e "povo novo", respectivamente. O Panam,
de acordo com os dados apresentados, possui a populao com contribuies mais similares
das trs origens.
589
Brasil (S) 189 40 AIMs 78 13 9 Pena et al., 2011
Colmbia 3618 13 STRs 46 34 20 Godinho et al., 2008
Costa Rica 2196 11 sistemas clssicos 61 30 9 Morera et al., 2003
Chile 368 13 STRs 42 52 6 Godinho, 2008
Repblica
100 610,000 SNPs 51 7 42 Bryc et al., 2010
Dominicana
Equador 317 13 STRs 31 65 4 Godinho et al., 2008
El Salvador 296 13 STRs 15 75 10 Godinho et al., 2008
Silva-Zolezzi et al.,
Mxico 300 1814 AIMs 42 56 2
2009
Nicargua 165 15 STRs 69 11 20 Nez et al., 2010
Panam 4202 2 sistemas clssicos 25 36 39 Arias et al., 2002
Peru 100 13 STRs 15 73 12 Godinho, 2008
Puerto Rico 642 93 AIMs 64 15 21 Via et al., 2011
Uruguai 85 5 polymarkers 84 10 6 Hidalgo et al., 2005
Venezuela 1395 13 STRs 61 23 16 Godinho et al., 2008
590
Porto Alegre (S) 104 9 STRs 86 11 3 Leite et al., 2003
Canad
Quebec 205 GWAS*** 98 2 0 Moreau et al., 2013
Colmbia
Antioquia (NW) 40 11 AIMs 50 45 5 Rojas et al., 2010
Choco 161 11 AIMs 46 45 9 Rojas et al., 2010
Crdoba et al.,
Cauca (W) 306 34 SNPs 48 41 11
2012
Boyac-
80 52 SNPs 42 38 20 Ibarra et al., 2014
Cundinamarca (C)
Caldas Manizales (C) 193 11 AIMs 59 37 4 Rojas et al., 2010
Nario (SW) 206 11 AIMs 32 65 3 Rojas et al., 2010
Costa Rica
Guanacaste (NE) 1301 27.904 SNPs 43 38 15 Wang et al., 2010
11 sist.
Chorotega (NW) 451 51 35 14 Morera et al., 2003
clssicos
11 sist.
San Jos (C) 1311 65 28 7 Morera et al., 2003
clssicos
Cuba
Havana y Matanzas
584 60 AIMs 81 3 16 Teruel et al., 2011
(NW)
Equador
Quito 42 49 AIMs 29 71 0 Poulsen et al., 2011
Estados Unidos
Filadelfia eurodesc. Stefflova et al.,
207 1509 AIMs 96 1 3
(NE) 2009
Hispanos 147 24 SNPs 61 15 12 Lao et al., 2010
Mxico
Martinez-Fierro et
Nuevo Len (N) 100 74 AIMs 38 56 6
al., 2009
Rubi-Castellanos et
Chihuahua (N) 161 13 STRs 50 38 12
al., 2009
Galanter et al.,
Cidade do Mxico (C) 1310 446 AIMs 32 64 4
2012
Silva-Zolezzi et al.,
Veracruz (C) 60 1814 AIMs 36 62 2
2009
Rubi-Castellanos et
Yucatn (S) 262 13 STRs 19 70 11
al., 2009
Panam
Cidade do Panam 597 2 sist. 17 26 57 Arias et al., 2002
591
(C) clssicos
2 sist.
Colon (C) 146 6 25 69 Arias et al., 2002
clssicos
2 sist.
Chiriqu (W) 1312 44 51 5 Arias et al., 2002
clssicos
Peru
Lima (C-W) 300 106 AIMs 21 75 4 Pereira et al., 2012*
Porto Rico
San Juan (NE) 141 99 AIMs 70 11 19 Avena et al., 2013
Uruguai
10 sist.
Montevideo (S) 496 92 1 7 Sans et al., 1997
clssicos
22 sist.
Tacuaremb (NE) 127 65 20 15 Sans et al., 1997
clssicos
18 sist.
Cerro Largo (NE) 146 82 8 10 Sans et al., 2006
clssicos
Venezuela
vrios
Churuguara (N) 60 52 20 28 Loyo et al., 2004
sistemas**
vrios
Caracas (N) 110 42 36 21 Martnez et al., 2007
sistemas**
Zabala Fernandez
Ilha de Toas (NW) 232 4 STRs 63 26 11
et al., 2005
Zabala Fernandez
Maracaibo (N) 246 4 STRs 73 23 4
et al., 2005
* Valores aproximados; ** Incluem STRs, um VNTR, marcadores clssicos; *** No especifica os SNPs
C: Centro, W: oeste, N: norte, S: sul, E: leste; GWAS: Genome Wide Association Studies
592
e RH), o que amplia a margem de erro. As duas regies da Bolvia consideradas apresentam a
maior contribuio indgena. As populaes de Quebec (Canad), Filadlfia (Estados Unidos)
ainda que o nmero corresponda apenas a eurodescendentes - e Montevidu (Uruguai)
apresentam a maior contribuio europeia. O centro do Panam e localidades no sudeste do
Brasil se caracterizam pela maior contribuio africana.
As contribuies observadas permitem uma viso geral das cidades e regies mais
povoadas da Amrica, embora forneam pouca informao sobre o processo de integrao das
populaes. Neste sentido, os sistemas de herana uniparental adicionam informao, j que
permitem visualizar as histrias "maternas" e "paternas", no necessariamente similares, mas
sim complementares. A Tabela 3 apresenta alguns dados de mtDNA para analisar linhagens
maternas, de NRY para linhagens paternas, e tambm dados de herana biparental
(autossmica) para facilitar as comparaes. Deve ser mencionado que no se espera que as
contribuies biparentais sejam intermedirias s outras duas, uma vez que ir depender das
unies em cada gerao. Por exemplo, a primeira gerao de mistura de mulheres indgenas e
homens europeus ter 100% de linhagens maternas indgenas, 100% de linhagens paternas
europeias, e 50% de cada origem na anlise biparental. Os dados esto organizados em dois
grupos: populaes cosmopolitas ou subsetores de descendentes europeus, por um lado, e
populaes ou setores de descendentes africanos por outra.
593
Tabela 3. Populaes cosmopolitas (mestios ou euro-descendentes).
% Contribuies
594
Compilado por Guerreiro-
"Brancos", NE Brasil 50 34 22 4 72 5 23 96 0 4
Junior et al., 2009
"Brancos" SE Brasil 492 25 28 46 57 14 28 Cardena et al., 2013
"Brancos" P. Alegre Brasil 203 69 21 10 99 0 1 Guerreiro-Junior et al., 2009
Sans et al., 1997, Bonilla et al.,
Tacuaremb Uruguai 127 62 65 20 15
2004
Cerro Largo Uruguai 146 49 30 21 82 8 10 Sans et al., 2006
Argentina NE 61 31 67 2 79 17 4 96 2 2 Corach et al., 2010
Argentina Central 153 53 46 1 81 15 4 94 5 1 Corach et al., 2010
Argentina S 32 28 66 3 68 28 4 87 11 2 Corach et al., 2010
Tennesee, Ohio, Flrida, EUA 246 5 0 93 10 2 86 30 0 70 Lao et al., 2010
Filadlfia, EUA 217 10 1 87 24 2 74 31 1 68 Stefflova et al., 2009
Caribe (vrias ilhas) 501 4 5 91 32 1 68 Benn torres et al., 2007
Afro-Choc, Colmbia 47 0 47 53 66 5 29 Rojas et al., 2010
Venezuela (Caribe) 70 1 62 37 83 2 15 Castro de Guerra et al., 2011
Amaznia, Brasil 300 1 50 47 41 5 54 34 7 42 Palha et al., 2011
compilado por Guerreiro et al.,
Brasil N 270 3 40 57 25 42 33
2009
compilado por Guerreiro et al.,
Brasil NE 89 21 10 69 38 7 55 34 2 64
2009
Porto Alegre, Brasil 54 5 16 79 56 6 38 Guerreiro-Junior et al., 2009
Melo, Uruguai 41 19 29 52 38 15 47 64 6 30 Sans et al., 2002
595
Nas populaes cosmopolitas e em descendentes de europeus, as diferenas na
contribuio indgena materna e paterna (ou entre materna e autossmica) so claras e, em
todos os casos, mostram uma maior frequncia de unies entre mulheres indgenas e homens
europeus, ou seja, h uma "direo" das unies de acordo com o grupo tnico, evidenciando o
que foi mostrado por Mrner (1969): a conquista da Amrica foi a conquista de suas mulheres.
O Estados Unidos parece escapar deste fenmeno, mas principalmente devido escassez de
contribuies no-europeias nas unidades populacionais consideradas. O exemplo mais
extremo o da provncia de Caldas (Colmbia), onde 98% das linhagens maternas so
indgenas, enquanto apenas 2% corresponde a linhagens paternas (calculados a partir de
dados de Rojas et al., 2010). Mais complexa a anlise da contribuio africana nestas
populaes, embora em geral se observa o mesmo sentido das unies: mulher
africana/homem europeu.
4. RESPONDENDO PERGUNTAS:
a. CONTINUIDADE INDGENA
Existem cada vez mais exemplos de linhagens antigas, especialmente aquelas com base
no genoma mitocondrial, e identificadas em restos humanos pr-histricos da Amrica, que
continuam no presente. Estas linhagens especficas podem apresentar uma ampla distribuio
no continente ou uma distribuio regional. A anlise de sequncias, em diferentes nveis de
resoluo molecular, permite no s determinar a origem, mas tambm as migraes dentro
do continente. Para ilustrar este ponto, selecionamos trs exemplos representados pelos
subhaplogroups mitocondriais D4h3, D1j e C1d. Deve-se tambm levar em considerao que
muitas linhagens antigas no persistiram at o presente, como o caso do D4h3a7, A2ag e
596
A2ah, determinados em restos pr-histricos do Canad (Cui et al., 2013), o qual evidencia a
reduo da variabilidade inicial no continente.
i. O SUBHAPLOGRUPO D4H3
Definido inicialmente por Bodner et al., (2012), o D1J teria uma antiguidade de 13.900
2.900, tendo se originado nas serras pampeanas da Argentina, onde apresenta suas
frequncias mais altas (provncias de Santiago del Estero e Crdoba) (Garcia et al., 2012).
Atualmente, o D1J encontrado em Mapuches argentinos, mas no em chilenos; tambm em
vrias populaes da Argentina e em baixa frequncia na Bolvia, Uruguai, Brasil e Peru. Estes
padres espaciais so devidos, possivelmente, a migraes em tempos histricos, dado que
tratam-se de poucos indivduos. Tambm est presente em um Tano da Repblica Dominicana
e nos dominicanos atuais, mas no em outras populaes do Caribe, Amrica Central ou norte
da Amrica do Sul, devido ao fato de que a sua origem mantida na regio central da
Argentina. Isso tambm estaria apoiado por sua identificao em restos sseos humanos do
Mar Chiquita, Crdoba, datado em 4.525 20 anos AP (Garcia et al., 2012).
597
iii. SUBHAPLOGRUPO C1D3
O haplogrupo C1d (redefinido por Perego et al., 2010) est distribudo amplamente por
toda a Amrica. Figueiro et al. (2011) propem duas linhagens separadas, uma das quais, a
C1d3 (denominao de acordo com mtDNA tree Build 16 (19 de Fevereiro de 2014),
http://www.phylotree.org/), definida por vrias mutaes, e inicialmente identificada em dois
indivduos pr-histricos do leste do Uruguai enterrados em um mesmo montculo. O mais
velho, uma mulher, foi datado em 1.610 46 anos AP, mas a linhagem teria uma idade
prxima daquela determinada para C1d, ou seja, cerca de 18.000 anos (Perego et al, 2010;
Figueiro et al., 2011). At o momento foram identificados sete indivduos na populao atual,
todos no Uruguai, sem ter sido encontrados fora do Uruguai indivduos (antigos ou atuais) que
apresentem alguma das mutaes que caracterizam a linhagem citada (Sans et al., 2012). Isso
faz com que se modifique a concepo sobre a pr-histria uruguaia, baseado na alta
mobilidade das populaes na regio da Bacia do Prata, j que se evidencia que a mobilidade
estaria limitada a uma rea restrita.
b. HISTRIAS LOCAIS
i. JUJUY, ARGENTINA
598
baixas (o restante, indgena) (Dipierri et al., 1998, Cardoso et al., 2013). Estes resultados
mostram diferentes processos: a existncia de unies direcionais entre homens europeus e
mulheres indgenas, mas tambm o escasso fluxo gnico em zonas altas (principalmente
devido falta de mulheres europeias) e escasso acesso de homens europeus s regies mais
inspitas. Gomez-Perez et al. (2011) concluem que as diferenas no ambiente fsico reduziram
drasticamente o fluxo gnico populacional e teriam promovido episdios de deriva gentica
nas altas altitudes, como pode-se inferir a partir da baixa heterozigosidade mdia na altura
(0,16), quando comparada com a registada no vale (0,35). Tambm so observadas diferenas
nas sequncias dos haplogrupos mitocondriais que reafirmam o gradiente de altitude e o
efeito da deriva gentica em altas altitudes (Cardoso et al., 2013).
c. HISTRIA NACIONAL
Por ltimo, interessante analisar como os dados genticos ajudam a revelar histrias
nacionais, regionais ou pessoais. A este respeito, tomar-se- como exemplo a identidade
nacional no Uruguai. At trs dcadas atrs esta foi baseada no extermnio ou genocdio
indgena, que ocorreu principalmente na dcada de 1830, quando vrios massacres contra os
Charruas fizeram com que estes desaparecessem como grupo tnico. Em 1925, um livro
599
publicado pelo Estado destacava que o Uruguai era a "nica nao da Amrica que pode fazer
a afirmao categrica de que dentro dos seus limites territoriais no contm um s ncleo
que lembre sua populao aborgene" (Ministerio de Instruccin Pblica, 1925). Como observa
Olivera Chirimini: "ignoraram, ocultaram e apagaram da histria rio-platense tanto o
componente indgena quanto o afrodescendente" (2004: 163). Em meados da dcada de 1980,
coincidentemente com o fim da ditadura militar (1973-1985), a partir de vrios setores da
populao, tanto acadmicos como descendentes de indgenas e africanos, e acompanhado
por dados genticos que indicavam contribuies populacionais no-europeias, comea o
processo de reviso da histria nacional. Esta reviso levou, por exemplo, a que depois de
quase 150 anos as pesquisas e Censos do pas inclussem perguntas sobre "raa"ou "grupo
tnico". A primeira, em 1996-97 (Instituto Nacional de Estadstica, 1997), mostrou que 0,4% da
populao se definia como indgena ou mestia, mas j em 2011, 2,4% da populao
considerou que sua ancestralidade principal era indgena e 4,9% reconheceram ter essa
ascendncia (Instituto Nacional de Estadstica, 1997, 2012). No entanto, ainda admitindo a
reafirmao como "Charruas" (etnia indgena emblemtica do territrio) por alguns
descendentes, parece claro que grande parte da populao desconhece a sua ancestralidade
indgena: a contribuio gentica indgena de 10% para a herana biparental e de 34% das
linhagens por linha materna (Hidalgo et al., 2005; Pagano et al, 2004), isto , que pelo menos
um tero da populao possui ancestrais indgenas. complexo analisar os motivos para esse
desconhecimento, mas poderia ser devido a dcadas de ocultamento e negao por parte da
histria nacional.
600
populao para outra. Alm dos sistemas sanguneos eritrocitrios (como o j mencionado
ABO, e outros como RH, MNSs, Duffy, Diego) so tambm polimrficos o sistema leucocitrio
(HLA, Human Leucocyte Antigens) que faz parte, por sua vez, do Complexo Principal de
Histocompatibilidade (MHC), protenas do soro (Albumina, Transferrina), enzimas
eritrocitrias (Glicose-6-fosfato-deshidrogenase, Piruvato-quinase e outras). Todos estes
sistemas obedecem a um tipo de herana mendeliana simples. Antes do aparecimento das
tcnicas moleculares na dcada de 1980, estes alelos eram detectados por reaes
serolgicas (antgeno-anticorpo) ou por eletroforese, que permitiam identificar diferentes
protenas. A partir fundamentalmente do desenvolvimento da PCR (reao em cadeia de
polimerase) realizado por Mullis & Faloona (1987), as tcnicas de anlise permitem detectar
diferentes tipos de variaes na sequncia de DNA, sejam RFLPs (polimorfismos de
comprimento de fragmentos de restrio, identificados a partir do corte com enzimas
especficas), SNPs (Single Nucleotide Polymorphisms) ou polimorfismos de nucleotdeo nico,
geralmente identificadas por sequenciamento, STRs ou microssatlites (Short Tandem
Repeats), os quais apresentam sequncias nucleotdicas curtas em tandem, ou de
comprimento varivel (VNTRs), ou aqueles marcadores definidos como inseres Alu. Alm
disso, as variaes diferem dependendo se forem de herana biparental (nos 22 pares de
autossomos mais o cromossomo X), ou herana uniparental (NRY e mtDNA, este ltimo,
extracromossmico). Nestes ltimos casos, uma vez que no h recombinao, pode-se
traar com relativa facilidade a origem de cada conjunto de mutaes, determinando-se
diferentes nveis de complexidade: hapltipos, haplogrupo, subhaplogrupo etc.
Recentemente, foram definidos os AIMs (marcadores informativos de ancestralidade), ou
seja, SNPs com grande poder de discriminao entre as populaes (Shriver et al., 1997),
tendo-se criados painis com algumas centenas como o publicado pelo consrcio LACE
(Galanter et al., 2012).
d. ANCESTRALIDADE E DOENAS
601
doenas complexas, como o cncer. Nestas, o risco de sofr-las depende de vrios fatores
genticos e ambientais, cada um com um pequeno efeito aditivo. Tem-se observado que as
populaes americanas diferem em frequncias de risco, morbidade e mortalidade em relao
s europeias e outras do Velho Mundo. Devido a serem uma mistura destas populaes, seus
cromossomos apresentam complexas estruturas com segmentos de diferentes origens, e sua
anlise (associao, ligao) pode lanar luz sobre as causas genticas das doenas. Assim, as
populaes americanas podem ser usadas como experimentos naturais para estudos
epidemiolgicos (Chakraborty & Weiss, 1988).
602
mistura (admixture mapping), proposto por Rife (1954) e implementado muito mais
tardiamente. O mtodo baseia-se no processo de fluxo gnico experimentado pelas
populaes hbridas e a determinao da origem dos segmentos cromossmicos de distintas
origens populacionais.
603
BIBLIOGRAFIA CITADA
Alfaro EL, Dipierri JE, Gutierrez NI, Vullo CM. 2005. Genetic structure and admixture in urban
populations ofthe Argentine North West. Ann Hum Biol 32:724-737.
Arias et al 2002 Arias TD, Castro E, Ruiz E, Barrantes R, Jorge-Nebert L. 2002. La mezcla racial
de lapoblacin panamea. Rev Med Panam 27:5-7.
Avena S, Via M, Prez-Stable EJ, Gignoux CR, Dejean C, Huntsman S, Torres-Meja G, Dutil J,
Matte JL,Beckman K, Burchard EG, Parolin ML, Goicoechea A, Acreche N, Boquet M, Ros
Part Mdel C,Fernndez V, Rey J, Stern MC, Carnese RF, Fejerman L. 2012 Heterogeneity in
genetic admixtureacross different regions of Argentina. PLoS One 7:e34695.
Barton M. 1967. Slavery and the New World: Race relations. London: Tavistock.
Benn Torres J, Kittles RA, Stone AC. 2007. Mitochondrial and Y chromosome diversity in the
EnglishspeakingCaribbean. Ann Hum Genet 71:782-790.
Bernstein F. 1931. Verteilung der Blutgruppen und ihre anthropologische Bedeutung. En: Gini
C, editor.Comit Ital Studio Problemi della Populazione. Roma: Instituto Poligrafico de
Stato, p. 227-243.
Bertorelle G, Excoffier L.1998. Inferring admixture proportions from molecular data. Mol Biol
Evol 15:1298-1311.
Bodner M, Perego UA, Huber G, Fendt L, Rck AW, Zimmermann B, Olivieri A, Gmez-Carballa
A, LancioniH, Angerhofer N, Bobillo MC, Corach D, Woodward SR, Salas A, Achilli A,
Torroni A, Bandelt HJ, ParsonW. 2012.Rapid coastal spread of First Americans: Novel
insights from South America's Southern Conemitochondrial genomes. Genome Res 22:
811820.
604
Cardena MMSG, Ribeiro-dos-Santos A, Santos S, Mansur AJ, Pereira AC, Fridman C. 2013.
Assessment ofthe relationship between self-declared ethnicity, mitochondrial
haplogroups and genomic ancestry inBrazilian individuals. PLoS One 8:e62005.
Castro de Guerra D, Figuera Prez C, Izaguirre MH, Arroyo Barahona EA, Rodrguez Larralde A,
De LugoMV. 2011. Gender differences in ancestral contribution and admixture in
Venezuelan populations. HumBiol 83:345-361.
Chakraborty R. 1985. Gene identity in racial hybrids and estimation of admixture rates. In: Neel
JB, AhujaY, editors. Genetic Microdifferentiation in Man and other Animals. Delhi: Indian
AnthropologicalAssociation, p.171-180.
Chakraborty R, Weiss KM. 1988. Admixture as a tool for finding linked genes and detecting that
differencefrom allelic association between loci. Proc Natl Acad Sci USA 85:9119-9123.
Conrad RE. 1986. World of sorrow: The African slave trade to Brazil. Baton Rouge: Lousiana
State Univ.Press.
Corach D, Lao O, Bobillo C, van Der Gaag K, Zuniga S, Vermeulen M, van Duijn K, Goedbloed M,
VallonePM, Parson W, de Knijff P, Kayser M. 2010. Inferring continental ancestry of
argentineans fromAutosomal, Y-chromosomal and mitochondrial DNA. Ann Hum Genet
74:6576.
Cordoba et al 2012 Crdoba L, Garca J, Hoyos LS, Duque C, Rojas W, Carvajal S, Escobar LF,
Reyes I,Cajas N, Snchez A, Garca F, Bedoya G, Ruiz-Linares A. 2012. Composicin
gentica de unapoblacin del suroccidente de Colombia. Rev Col Antropol 48:21-48.
Corruccini RS, Handler JS, Mutaw RJ, Lange FW. 1982. Osteology of a slave burial population
fromBarbados, West Indies. Am J Phys Anthropol 59:443-459.
Crawford MH.1992. Antropologia Biologica de los Indios Americanos. Madrid: Editorial Mapfre.
Cui Y, Lindo J, Hughes CE, Johnson JW, Hernandez AG, Kemp BM, Ma J, Cunningham R, Petzelt
B, MitchellJ, Archer D, Cybulski JS, Malhi RS. 2013. Ancient DNA analysis of mid-Holocene
individuals from theNorthwest Coast of North America reveals different evolutionary
paths for mitogenomes. PLoS One8:e66948.
Curtin PD.1969. The Atlantic slave trade: A consensus. Madison: Univ. of Wisconsin Press.
Da Luz J, Kimura EM, Costa FF, Sonati MF, Sans M. 2010. Beta-globin gene cluster haplotypes in
Afro-Uruguayans from two geographical regions (South and North). Am J Hum Biol
22:124-128.
605
Dipierri JE, Alfaro E, Martnez-Marignac VL, Bailliet G, Bravi CM, Cejas S, Bianchi NO. 1998.
Paternaldirectional mating in two Amerindian subpopulations located at different
altitudes in northwesternArgentina. Hum Biol 70:1001-1010
Dusinberre W. 1996. Them dark days. New York: Oxford University Press.
Ferreira da Silva LA, Pimentel BJ, Azevedo DA, Silva ENP, Santos SS. 2002. Allele frequencies of
nine STRloci -D16S539, D7S820, D13S317, CSF1PO, TPOX, TH01, F13A01, FESFPS and vWA
-in thepopulation from Alagoas, northeastern Brazil. Forensic Sci Int130:187-188.
Figueiro G, Hidalgo PC, Sans M. 2011. Control region variability of haplogroup C1d and the
tempo of thepeopling of the Americas. PLoS One 6:e20978.
Frega A., Borucki A, Chagas KY, Stalla N. 2004. Esclavitud y abolicin en el Ro de la Plata en
tiempos derevolusin y repblica. En UNESCO, editor. Memoria del Simposio La ruta del
esclavo en el Ro de laPlata: Su historia y sus consecuencias. Montevideo: Logos, p.115-
148.
Garca A, Pauro M, Nores R, Bravi CM, Demarchi DA. 2012. Phylogeography of Mitochondrial
HaplogroupD1: An Early Spread of Subhaplogroup D1j from Central Argentina. Am J Phys
Anthropol 149:583590.
Godinho NMO. 2008. O impacto das migraes na constituio gentica de populaes latino-
americanas.Tesis para optar al grado de Doctor en Ciencias Biolgicas. Brasilia:
Universidade de Brasilia.
Godinho NMO, Gontijo CC, Diniz MECG, Falco-Alencar G, Dalton GC, Amorim CEG, Barcelos
RSS,Klautau-Guimares MN, Oliveira SF. 2008. Regional patterns of genetic admixture in
South America.Forens Sci Int Genet Suppl Series 1:329-330.
606
Guerreiro-Junior V, Bisso-Machado R, Marrero A, Hnemeier T, Salzano FM, Bortolini MC.
2009. Geneticsignatures of parental contribution in black and white populations in Brazil.
Genet Mol Biol 32:1-11.
Hidalgo PC, Bengochea M, Abilleira D, Cabrera A, Alvarez I. 2005. Genetic admixture estimate
in theUruguayan population based on the loci LDLR, GYPA, HBGG, GC and D7S8. Int J Hum
Genet 5:217-222.
Hirszfeld L, Hirszfeld H. 1919. Serological differences between the blood of different races: the
result ofresearches on the Macedonian front. Lancet 2: 675-679.
Horn J, Morgan PD. 2005. Settlers and slaves. En: Mancke E, Shammas C, editors. The creation
of theBritish Atlantic world. Baltimore: John Hopkins, p. 19-44.
Hrdlicka A. 1912. The problems of the unity of plurality and the probable place of origin of the
Americanaborigines. Amer Anthrop 14: 1-12.
Jin L, Baskett ML, Cavalli-Sforza LL, Zhivotovsky LA, Feldman MW, Rosenberg NA. 2000.
Microsatellite evolution in modern humans: a comparison of two data sets from the same
populations. Ann Hum Genet64:117-134.
Kemp BM, Malhi RS, McDonough J, Bolnick DA, Eshleman JA, Rickards O, Martinez-Labarga C,
JohnsonJR, Lorenz JG, Dixon EJ, Fifield TE, Heaton TH, Worl R, Smith DG. 2007. Genetic
analysis of earlyholocene skeletal remains from Alaska and its implications for the
settlement of the Americas. Am JPhys Anthropol 132:605-621.
Klein HS. 1986. La esclavitud africana en Amrica Latina y el Caribe. Madrid: Alianza Ed.
Krieger H, Morton NE, Mi MP, Azevdo E, Freire-Maia A, Yasuda N. 1965. Racial admixture in
north-easternBrazil. Ann Hum Genet 29:113-125.
Lao O, Vallone PM, Coble MD, Diegoli TM, van Oven M, van der Gaag KJ, Pijpe J, de Knijff P,
Kayser M.2010.Evaluating self-declared ancestry of U.S. Americans with autosomal, Y-
chromosomal andmitochondrial DNA. Hum Mutat 31:E1875-1893.
607
Leite FP, Menegassi FJ, Schwengber SP, Raimann PE, Albuquerque TK. 2003. STR data for 09
autosomalSTR markers from Rio Grande do Sul (southern Brazil). Forensic Sci Int. 132:223-
224.
Lins TC, Vieira RG, Grattapaglia D, Pereira RW. 2011. Population analysis of vitamin D
receptorpolymorphisms and the role of genetic ancestry in an admixed population. Genet
Mol Biol 34:377-385.
Loyo MA, Castro de Guerra D, Izaguirre MH, Rodriguez-Larralde A. 2004. Admixture estimates
forChuruguara, a Venezuelan town in the State of Falcn. Hum Biol. 31:669-680.
Martinez-Fierro ML, Beuten J, Leach RJ, Parra EJ, Cruz-Lopez M, Rangel-Villalobos H, Riego-Ruiz
LR, Ortiz-Lopez R, Martinez-Rodriguez HG, Rojas-Martinez A. 2009. Ancestry informative
markers and admixtureproportions in northeastern Mexico. J Hum Genet 54:504-509.
Martnez Marignac VL, Bertoni B, Parra EJ, Bianchi NO. 2004. Characterization of admixture in
an urbansample from Buenos Aires, Argentina, using uniparentally and biparentally
inherited genetic markers.Hum Biol 76:543-557.
McAdoo HP. 1993. Ethnic families: Strenghts that are found in diversity. In: McAdoo HP, editor,
FamilyEthnicity: Strenght in Diversity. Newsbury Park: Sage Publ., p. 3-14.
McKeigue PM, Carpenter JR, Parra EJ, Shriver MD. 2000. Estimation of admixture and detection
of linkagein admixed populations by a Bayesian approach: Application to African-
American populations. Ann HumGenet 64:171-186.
Ministerio de Instruccin Pblica. 1925. El Libro del Centenario del Uruguay 1825-1925.
Montevideo:Capurro y Ca.
Moreau C, Lefebvre JF, Jomphe M, Bhrer C, Ruiz-Linares A, Vzina H, Roy-Gagnon MH, Labuda
D. 2013.Native American admixture in the Quebec founder population. PLoS One
8:e65507.
Moreno Fraginals M. 1977. Africa in Cuba: a quantitative analysis of the African population in
the island ofCuba. Ann NY Acad Sc 292: 287-201.
608
Morera B, Barrantes R, Marn-Rojas R. 2003. Gene admixture in the Costa Rican population.
Ann HumGenet 67:71-80.
Mrner M. 1967. Race Mixture in the History of Latin America. Boston: Little, Brown and Co.
Mullis KB, Faloona FA. 1987. Specific synthesis of DNA in vitro via a polymerase-catalyzed chain
reaction.Methods Enzymol 155:335-350.
Nei M, Roychoudhury AK. 1974. Genic variation within and between the three major races of
man,Caucasoids, Negroids, and Mongoloids. Am J Hum Genet 26:421-443.
Pagano S, Sans M, Pimenoff V, Cantera AM, Alvarez JC, Lorente JA, Peco JM, Mones P, Sajantila
A. 2005.Assessment of HV1 and HV2 mtDNA variation for forensic purposes in an
Uruguayan population sample.J Forensic Sc 50:1239-1242.
Palha Tde J, Ribeiro-Rodrigues EM, Ribeiro-dos-Santos A, Guerreiro JF, de Moura LS, Santos S.
2011. Maleancestry structure and interethnic admixture in African-descent communities
from the Amazon asrevealed by Y-chromosome STRs. Am J Phys Anthropol 144:471-478.
Parolin ML, Carreras-Torres R, Sambuco LA, Jaureguiberry SM, Iudica CE. 2013. Analysis of 15
autosomalSTR loci from Mar del Plata and Bahia Blanca (Central Region of Argentina). Int J
Legal Med 28:457-459.
Pena SDJ, Di Pietro G, Fuckshuber-Moraes M, Genro JP, Hutz MH, Kehdy FSG, Kohlrausch F,
Magno LAV,Montenegro RC, Moraes MO, e Moraes ME, de Moraes MR, Ojopi EB, Perini
JA, Racciopi C, Ribeiro-Dos-Santos AK, Rios-Santos F, Romano-Silva MA, Sortica VA,
Suarez-Kurtz G. 2011. The genomicancestry of individuals from different geographical
regions of Brazil is more uniform than expected. PLoSOne 6:e17063.
Perego UA, Achilli A, Angerhofer N, Accetturo M, Pala M, Olivieri A, Hooshiar Kashani B, Ritchie
KH, ScozzariR, Kong QP, Myres NM, Salas A, Semino O, Bandelt HJ, Woodward SR, Torroni
A. 2009. DistinctivePaleo-Indian migration routes from Beringia marked by two rare
mtDNA haplogroups. Curr Biol 19:1-8.
Perego UA, Angerhofer N, Pala M, Olivieri A, Lancioni H, Hooshiar Kashani B, Carossa V, Ekins
JE, Gmez-Carballa A, Huber G. 2010. The initial peopling of the Americas: A growing
number of foundingmitochondrial genomes from Beringia. Genome Res 20:1174-1179.
Pereira L, Zamudio R, Soares-Souza G, Herrera P, Cabrera L, Hooper CC, Cok J, Combe JM,
Vargas G,Prado WA, Schneider S, Kehdy F, Rodrigues MR, Chanock SJ, Berg DE, Gilman RH,
Tarazona-Santos E. 2012. Socioeconomic and nutritional factors account for the
association of gastric cancerwith Amerindian ancestry in a Latin American admixed
population. PLoS One 7:e41200.
Pritchard JK, Stephens M, Donnelly P. 2000. Inference of population structure using multilocus
genotypedata. Genetics 155:945-959.
Reich DE, Goldstein DB. 1998. Genetic evidence for a Paleolithic human population expansion
in Africa.Proc Natl Acad Sci U S A. 95:8119-8123.
Ribeiro D. 1969. Las Amricas y la civilizacin. Buenos Aires: Centro Editor de Amrica Latina.
Rickards O, Martnez-Labarga C, Lum JK, De Stefano GF, Cann RL. 1999. MtDNA history of the
CayapaAmerinds of Ecuador: detection of additional founding lineages for the Native
American populations. AmJ Hum Genet 65:519-530.
Rife DC. 1954. Populations of hybrid origin as source material for the detection of linkage. Am J
Hum Genet6:26-33.
Rojas W, Parra MV, Campo O, Caro MA, Lopera JG, Arias W, Duque C, Naranjo A, Garcia J,
Vergara C,Lopera J, Hernandez E, Valencia A, Caicedo Y, Cuartas M, Gutirrez J, Lpez S,
Ruiz-Linares A, BedoyaG. 2010. Genetic make up and structure of Colombian populations
by means of uniparental andbiparental DNA markers. Am J Phys Anthropol 143:13-20.
Rout LB. 1976. The African Experience in Spanish America: 1502 to the Present Day. New York:
CambridgeUniversity Press.
Salzano FM, Callegari-Jacques SM. 1988. South American Indians: A Case Study in Evolution.
Oxford:Clarendon Press.
Salzano FM, Callegari-Jacques SM. 2006. Amerindian and non Amerindian autosome molecular
variability--a test analysis. Genetica 126:237-242.
Salzano FM, Sans M. 2014. Interethnic admixture and the evolution of Latin American
populations. GenetMol Biol. 37(Suppl):151-170.
Sans M. 2000. Admixture studies in Latin America: From the 20th to the 21st century. Hum Biol
72:155-177.
Sans M, Weimer TA, Franco MHLP, Salzano FM, Bentancor N, Alvarez I, Bianchi NO,
Chakraborty R. 2002.Unequal contributions of male and female gene pools from parental
610
populations in the Africandescendants of the city of Melo, Uruguay. Am J Phys Anthropol
118:33-44.
Sans M, Merriwether DA, Hidalgo PC, Bentancor N, Weimer TA, Franco MH, Alvarez I, Kemp
BM, SalzanoFM. 2006. Population structure and admixture in Cerro Largo, Uruguay, based
on blood markers andmitochondrial DNA polymorphisms. Am J Hum Biol 18:513-524.
Sans M, Figueiro G, Hidalgo PC. 2012. A new mitochondrial C1 lineage from the prehistory of
Uruguay:population genocide, ethnocide, and continuity. Hum Biol 84:287-305
So-Bento M, Carvalho M, Andrade L, Lopes V, Serra A, Gamero JJ, Corte-Real F, Vide MC,
Anjos MJ.2008. STR data for the 15 AmpFISTR1 IdentifierTM loci in the Brazilian
population of So Paulo State.Forens Sci Int, Genet Suppl Series 1:367-369.
Scliar MO, Vaintraub MT, Vaintraub PMV, Fonseca CG. 2009. Admixture analysis with forensic
microsatellites in Minas Gerais, Brazil: The ongoing evolution of the capital and of an
African-derivedcommunity. Am J Phys Anthropol 139:591-595.
Stefflova K, Dulik MC, Pai AA, Walker AH, Zeigler-Johnson CM, Gueye SM, Schurr TG, Rebbeck
TR. 2009.Evaluation of group genetic ancestry of populations from Philadelphia and Dakar
in the context of sexbiasedadmixture in the Americas. PLoS One 4:e7842.
Teruel BM, Rodrguez JJL, McKeigue P, Mesa TC, Fuentes E, Cepero AV, Hernandez MAG,
Copeland JRM,Ferri CP, Prince MJ. 2011. Interactions between genetic admixture, ethnic
identity, APOE genotype anddementia prevalence in an admixed Cuban sample: A cross-
sectional population survey and nestedcase-control study. BMC Med Genet 12:e43.
Via M, Gignoux CR, Roth LA, Fejerman L, Galanter J, Choudhry S, Toro-Labrador G, Viera-Vera J,
OleksykTK, Beckman K, Ziv E, Risch N, Burchard EG, Martnez-Cruzado JC. 2011. History
shaped thegeographic distribution of genomic admixture on the island of Puerto Rico.
PLoS One 6:e16513.
Wang S, Ray N, Rojas W, Parra MV, Bedoya G, Gallo C, Poletti G, Mazzotti G, Hill K, Hurtado
AM, CamrenaB, Nicolini H, Klitz W, Barrantes R, Molina JA, Freimer NB, Bortolini MC,
Salzano FM, Petzl-Erler ML,Tsuneto LT, Dipierri JE, Alfaro EL, Bailliet G, Bianchi NO, Llop E,
Rothhammer F, Excoffier L, Ruiz-Linares A. 2008. Geographic patterns of genome
admixture in Latin American mestizos. PLoS Genet4:e1000037.
611
Watkins WS, Xing J, Huff C, Witherspoon DJ, Zhang Y, Perego UA, Woodward SR, Jorde LB.
2012. Geneticanalysis of ancestry, admixture and selection in Bolivian and Totonac
populations of the New World.BMC Genet 20:13-39.
Zabala Fernndez WM, Borjas-Fajardo L, Fernndez Salgado E, Castillo C, Socca L, Portillo MG,
SnchezMA, Delgado W, Morales-Machin A, Layrisse Z, Pineda Bernal L. 2005. Use of short
tandem repeats locito study the genetic structure of several populations from Zulia state,
Venezuela. Am J Hum Hum Biol17:451-459.
612
CAPTULO 22. CARACTERIZAO DA DENTIO
HUMANA E CONTRIBUIO DA ANTROPOLOGIA
DENTAL PARA OS ESTUDOS EVOLUTIVOS,
FILOGENTICOS E ADAPTATIVOS.
1. INTRODUO
613
sua vez, analisa a variabilidade da dentio de uma perspectiva evolutiva e populacional,
considerando a informao dental como um indicador proxy que permite abordar
problemticas que transcendem sade bucal do indivduo (ver Suby et al., neste volume), e
que tambm abrange a realidade biolgica e cultural do grupo humano ao qual faz parte a
amostra analisada. claro que a antropologia dental apresenta um forte carter
interdisciplinar, e at mesmo transdisciplinar (Morin, 1988), integrando as contribuies de
diferentes disciplinas e especialidades cientfica tais como: arqueologia, etnografia,
odontologia, paleontologia, histologia, paleopatologia e biologia, entre outras. Nesse contexto
que o presente captulo se prope a explicar duas das principais linhas de pesquisa na
antropologia dental, a morfologia e a odontometria. Em seu escopo, centra-se na descrio de
caractersticas morfolgicas dos dentes humanos em termos comparativos com outras
espcies de primatas.
Em funo dessa caracterstica das peas dentrias, e de vrias outras que sero
enumeradas a seguir, que o estudo da dentio se apresenta como extremamente adequado
para a realizao de estudos de populaes. Entre as caractersticas mais notveis das peas
dentais, deve-se mencionar a boa conservao dos dentes em registro arqueolgico e
paleontropolgico, o qual permite a fcil comparao de restos de idade variada entre si e com
os de procedentes de populaes atuais. A dureza apresentada pelos dentes torna-os muito
resistentes ao tafonmica, s altas temperaturas e ao impacto de elementos qumicos
corrosivos.
614
contemporneas indicam que o tamanho e a forma dental so variveis altamente herdveis,
ou seja, que as variaes inter e intrapopulacionais podem ser explicadas principalmente por
diferenas genticas (Mayhall, 1992, 2000; Balciunien & Jankauskas, 1993; Hillson, 1996;
Larsen, 2000). O modo de herana polignico significa que muitos genes atuam em baixa
proporo e simultaneamente determinando o grau de expresso dos traos, mas com efeito
potencializador mtuo (Townsend et al., 1994; Hillson, 1996; Hanihara & Ishida, 2005).
Tambm se destaca a baixa correlao observada entre distintos caracteres discretos,
priorizando a independncia no comportamento dos mesmos, o que maximiza a quantidade
de informao obtida. A baixa incidncia de idade e sexo sobre a herana dos traos discretos,
por sua vez, aumenta a quantidade de dados possveis de analisar. Assim, todos os indivduos
de uma amostra podem ser agrupados de modo a aumentar o tamanho da populao a ser
estudada. Finalmente, destaca-se o carter conspcuo, facilmente distinguvel, dos traos
dentrios, o que possibilita a gerao de classificaes claras, precisas e bem definidas. Este
um elemento importante no momento de analisar a informao para estabelecer a magnitude
das afinidades biolgicas interpopulacionais.
615
(paleodieta), podendo inferir o tipo de alimento consumido, os hbitos de ingesta e a
utilizao de diferentes instrumentos no processamento de alimentos (Margvelashvili et al.,
2013; Sun et al., 2014), tudo isso atravs da anlise do desgaste dental e dos vestgios deixados
por partculas de alimentos e fitlitos encontrados nos clculos dentais (Fuchs, 2010;
Musaubach, 2012). Finalmente, na antropologia dental tambm se incluem estudos sobre os
processos de formao e erupo dentria (FitzGerald & Rose, 2008; Smith et al., 2010),
estimativa do sexo em funo dos dimetros coronais (Toribio Suarez et al., 1995; Vodanovic
et al., 2007; Luna, 2008) e a utilizao dos traos dentrios discretos para estimar relaes
biolgicas entre populaes (Pompa, 1990; Garca Svoli, 2009; Khudaverdyan, 2013).
616
J na dcada de 1920, os estudos tnicos tinham nos dentes uma referncia importante,
sobretudo com as diferenas detectadas na estrutura dos incisivos e, principalmente, nos
molares inferiores. At a dcada seguinte, os estudos de alguns autores alemes como
Gottlieb, Driak, Kronfeld, Orban e Sicher, assim tambm como Wasserman e Weidenreich,
comeam a ser conhecidos nos laboratrios e centros de ensino nos Estados Unidos, o que
proporciona s pesquisas odontolgicas um novo e renovado impulso. Durante as primeiras
dcadas do sculo XX Hrdlicka, fundador da American Association of Physical Anthropology
(AAPA), incluiu as anlises da dentio humana em suas investigaes sobre as origens das
populaes americanas. Ao abordar o estudo da evoluo do homem moderno analisou,
principalmente na fase denominada Neandertal, os efeitos das transformaes do sistema
mastigatrio e realizou uma anlise comparativa da morfologia coronal das peas dentais. A
anlise da dentio das populaes americanas lhe conduziu descoberta da alta frequncia
de um dos traos por ele definido para incisivos (keilomorfia ou incisivos em forma de p) em
comparao ao restante das populaes mundiais, o que lhe permitiu postular que as
populaes asiticas haviam dado origem s populaes americanas. Weidenreich, em 1930,
seguindo esta linha de observao dentria, descreveu a keilomorfia nas populaes fsseis de
Sinanthropus e observou a similaridade que esse trao apresenta nessas populaes com o
descrito para populaes atuais da sia.
Na dcada de 1940, Albert Dahlberg (1945; Dahlberg & Mikkelsen, 1947) iniciou estudos
em populaes aborgenes da Amrica, enfatizando nas do sudoeste Norte-Americano (ndios
Pima). Com isso comea uma nova etapa metodolgica para o registro e anlise de traos
dentais. Esse pesquisador elaborou uma srie de placas com as variaes observadas e, com
sua difuso, comea um novo perodo de estruturao da antropologia dental.
Posteriormente, Pedersen & Thyssen (1942) descreveram uma caracterstica denominada
extenso adamantina inter-radicular, enquanto que Dahlberg & Mikkelsen (1947),
caracterizaram as cristas marginais vestibulares. Moorrees (1957) estabeleceu definitivamente
uma caracterstica prpria das populaes mongolides, a presena de incisivos em forma de
p (Rodrguez Cuenca, 1989). Naquela poca, foi realizado no British Museum um encontro da
Society for the Study of Human Biology (SSHB), em que participaram Butler, Glasstone,
Brothwell, Gregory e outros pesquisadores. Em 1963, o simpsio foi editado por Don Brothwell
sob o ttulo Dental Anthropology.
617
Em 1965, em Fredensborg, Dinamarca, foi realizado o Primeiro Simpsio Mundial de
morfologia dental, com a participao de 65 especialistas de 27 pases. Nesse momento, j se
considerava a antropologia dental como um ramo bem definido que permitia estudar a
dinmica e a estrutura populacional. Hanihara (1968) props o termo Complexo Racial
Dentrio para definir as caractersticas das populaes segundo a configurao dos traos
dentrios. Porm, Moorrees (1957) havia sido o primeiro a propor uma abordagem completa
sobre o tema, tendo caracterizado o complexo dental asitico. Tal complexo foi definido com
base em uma srie de caractersticas muito significativas, como os incisivos em forma de p, as
diferenas entre os dimetros msio-distais coronrios de ambos incisivos superiores e a
incidncia muito baixa do tubrculo de Carabelli. Um dado adicional a alta frequncia de
trus mandibularis nessas populaes. Quase uma dcada depois, Hanihara aprofundou seus
estudos de populaes utilizando traos dentrios, descrevendo caracteres discretos e
mtricos como prprios do grupo tnico mongoloide, incorporando o protostilide, o
enrugamento desviado (deflecting wrinkle), a sexta e stima cspides, o metaconule e o ndice
de largura do canino. Posteriormente, foi acrescentado outra caracterstica s anteriormente
mencionadas, estudado por Goaz & Miller (1966): o tubrculo dentis digitiformis. Por fim, na
Argentina, Devoto (1971) definiu um trao denominado fenda das cristas marginais linguais
dos incisivos em forma de p.
Para identificar um fen se elege um trao estvel, com alto componente gentico, e se
estabelece uma gradao da expresso do carter analisado, sendo avaliado seu valor
618
taxonmico mediante a anlise populacional (Rodrguez Cuenca, 2003). Zoubov (1997b)
enfatiza a importncia de tornar o trao dental um marcador intergrupal, considerando
necessrio ir mais alm da simples diviso da expresso em graus e estabeler quais permitem a
mais efetiva determinao e levantamento de sua presena e expresso (Rodrguez Cuenca,
2003). Trata-se de elaborar a caracterstica para torn-la um fen (Zoubov, 1997b). Convm
recordar que a morfognese da coroa dentria determinada pela membrana pr-formativa
de Huxley e Raschow (Hollinshead, 1983). Esse processo ocorre em perodos iniciais do
desenvolvimento, minimizando o efeito de fatores ambientais, de tal maneira que os
caracteres fenotpicos coronais so fortemente dominados pela influncia gentica primria.
Esta correlao vincula o acervo gentico dos caracteres dentrios com as caractersticas da
estrutura fenotpicas das peas dentais. Assim, os gentipos dominantes possuem uma clara
expresso. Por outro lado, a igualdade dos caracteres indica uma estreita relao de
parentesco entre aqueles que possuem estruturas semelhantes (Rodrguez Cuenca, 1994).
em funo dessa considerao terica, sempre utilizada e poucas vezes explicitada, que a
anlise da variao dos traos discretos dentro da antropologia dental baseia suas inferncias.
O estudo dos traos morfolgicos definido quase em sua totalidade em funo dos
traos coronais (principalmente na superfcie oclusal das peas dentais). O estudo das razes
dentrias, embora para alguns autores (Hltta et al., 2004; Edgcomb et al., 2011) forneam
informaes valiosas que permitem a caracterizao e distino entre as populaes em nvel
intra e inter-regional, apresenta algumas dificuldades e crticas. Em primeiro lugar, a
morfognese das razes ocorre durante perodos relativamente prolongados e tardios no
processo de formao das peas dentais, o que aumenta a possibilidade de que sua morfologia
seja afetada pela influncia de fatores ambientais. A segunda dificuldade que implica o estudo
das razes e, geralmente, a que mais condiciona a realizao de tais estudos, corresponde
impossibilidade de observ-las diretamente quando os dentes se encontram implantados. Isso
leva necessidade de empregar tcnicas de diagnstico por imagens, tais como a radiografia e
a tomografia computadorizada, as quais geralmente no so de fcil acesso e implicam num
custo econmico algumas vezes difcil de lidar. Outro aspecto a ser considerado que
usualmente os terceiros molares no so considerados nas anlises morfodentais, pois seu
desenvolvimento tardio faz com que sofram uma forte influncia mesolgica em sua formao
(Steele & Bramblet, 1989; Buikstra & Ubelaker, 1994).
619
6. ESTRUTURA DENTAL
Considerando as questes levantadas por Bass (1986), Ramey Burns (2008) e White &
Folkens (2005), possvel distinguir as seguintes faces ou superfcies coronais:
A seguir ser realizada uma descrio morfolgica das peas dentrias levando em conta
as questes levantadas por Olivier (1960), Brothwell (1987), Bramblett (1988) e Steele &
Bramblett (1989). Sero contempladas as principais caractersticas de todas as peas, com
exceo do terceiro molar, devido alta variabilidade morfolgica que apresenta.
a. INCISIVOS
As coroas dos incisivos so aplanadas e em forma de folha, o que lhes confere uma
tipologia coronal haplodonte. O contorno da superfcie da dentina sobre a face incisal forma
uma linha que com o desgaste produzido no uso da pea se transforma gradualmente numa
banda. Assim, so observados dentes com coroas largas no sentido msio-distal com relao
sua altura, que apresentam um relevo maior em sua face lingual, sendo suas razes mais
circulares no corte transversal.
620
incisal. Na sua face lingual se localiza o cingulum e uma cavidade arredondada com trs
elevaes denominadas cristas marginais, que podem ser mesiais ou distais. O pice da raiz se
orienta at a poro distal, enquanto que a face de contato interproximal mais plana, larga e
simtrica entre os incisivos anteriores que entre o anterior e o lateral. Sua raiz cnica, com o
pice em forma arredondada, e a face radicular distal mais ondulada que a mesial. As
superfcies vestibulares e linguais so mais convexas, sendo o tamanho da raiz maior que a
coroa.
O incisivo lateral superior menor e mais estreito que o central, e possui uma maior
curvatura total. A rea de contato mesial est localizada na juno dos teros incisal e mdio, e
a poro de contato distal encontra-se no tero mdio. Este dente mais varivel que o
incisivo anterior, inclusive s vezes pode at mesmo no se desenvolver. Os ngulos incisais
so mais arredondados, sendo o disto-incisal o de maior amplitude. A fossa lingual mais
profunda e com bordas mais desenvolvidas, e pode-se observar a presena de um sulco ou
fissura linguo-cervical. A superfcie vestibular observada no incisivo lateral mais convexa que
a do incisivo anterior e sua raiz mais longa e estreita. Outra caracterstica distintiva que as
superfcies mesiais e distais possuem forma plana, sendo a curvatura vestbulo-lingual
levemente cncava.
b. CANINOS
621
Sua funo na arquitetura facial muito importante j que sem eles as comissuras bucais se
achatariam.
A forma dos caninos pode ser varivel, mas em geral apresenta uma face vestibular de
forma romboidal cuja borda incisal aguda e a borda cervical arredondada. A poro distal
da cspide maior e apresenta uma maior rea convexa, enquanto que a poro mesial
menor e reta. A borda distal mais inclinada e longa que a mesial, devido qual a poro
cervical distal se localiza mais abaixo da observada na correspondente poro mesial. A face
lingual apresenta uma elevao muito pronunciada que se extende desde o pice at a poro
cingular. As cristas marginais delimitam respectivamente as duas fossas caninas, uma mesial e
outra distal. As razes so convexas nas superfcies vestibulares e linguais, e longas e
levemente planas nas mesiais e distais.
A coroa do canino superior grande no sentido msio-distal com relao ao eixo vertical
e se observa um maior relevo lingual. Ao corte transversal, as razes so geralmente
arredondadas. Diferentemente dos superiores, os caninos inferiores destacan-se por ter uma
coroa maior, estreita e de menor relevo lingual. O contorno mesial vestibular relativamente
reto e a inclinao mesial da cspide curta. O contorno distal cncavo na unio cemento-
adamantina e convexo na vertente oposta, na cspide distal. Na superfcie lingual, as fossas
mesial e distal so menos notveis que nos superiores. Em geral, o cingulum mais
arredondado que no canino superior e as metades mesial e distal das coroas tendem a ser
simtricas. Outra distino que pode ser estabelecida o nvel de desgaste incisal, j que nos
superiores se observa principalmente na face lingual e, nos inferiores, na face vestibular.
Tambm se diferenciam no tamanho, na forma e na estrutura superficial das razes: que nos
inferiores tendem a ser menores e mais aplanadas, com sulcos longitudinais claramente mais
acentuados que nos caninos superiores. Nas pores apicais das razes dos caninos inferiores,
por sua vez, se observa um claro desvio mesial, inclusive alguns autores descrevem uma
bifurcao radicular apical, o que implica numa raiz dupla. Por ltimo, existe uma diferena
entre a face de contato com o incisivo lateral e a do primeiro pr-molar inferior, j que essa
ltima maior e mais larga que a mesial. A superfcie distal dessa raiz apresenta canais ou
sulcos mais profundos que na poro mesial.
622
c. PR-MOLARES
623
extremos dos sulcos sagitais. Esse trao considerado somente quando est completamente
separado das cspides vestibulares e linguais. um trao facilmente alterado pelo desgaste
dental, por isso a dificuldade de estudo em populaes com alto grau de desgaste dentrio.
O segundo pr-molar inferior tem uma superfcie coronal maior do que a do primeiro
pr-molar inferior e possvel observar at trs cspides desiguais. A cspide vestibular
muito menor, j que as inclinaes mesiais e distais formam um ngulo mais agudo. As zonas
de contato mesiais e distais so mais largas. Outra diferena observvel a maior largura e
comprimento da superfcie lingual em relao ao do primeiro pr-molar inferior. As duas
cspides linguais esto separadas pelo sulco de desenvolvimento lingual e o maior deles o
msio-lingual. A crista marginal distal tem menor altura que a crista mesial e na superfcie
oclusal podem se estruturar vrias formas segundo a disposio dos sulcos coronais. A forma
mais frequente a Y, mas tambm podem se encontrar descritas as formas H e C. Finalmente,
a raiz mais circular que a do primeiro pr-molar e inclusive, s vezes, pode-se observar uma
bifurcao no conduto radicular apical.
d. MOLARES
Dahlberg, em 1951, foi o primeiro autor que organizou a sequncia gradativa dessa
caracterstica. Toma como padro de referncia a estrutura e o desenvolvimento comparativo
dessa cspide com o metacone, embora outros autores tenham desenvolvido e modificado a
estrutura desse trao. Turner II et al. (1991) propem uma escala diferente de seis categorias,
tomando como referncia a placa ASU UM hipocone. Nesta se estabelece a sequncia desde a
ausncia total desse trao at uma cspide de tamanho grande. Zoubov & Jaldeeva (1989,
1993) utilizam a escala de Dahlberg, modificando a nomenclatura e no consideram nenhuma
das gradaes descritas por ele.
Esse trao muito interessante para o estudo comparativo de grupos locais, pois possui
uma ampla gama de variabilidade que inclui um arco observado entre 13 e 95%. Os valores
mais elevados, superiores a 90%, so encontrados em indivduos Daguestaneses, Jacazos,
Chineses, Mongis, Turcomanos, Tadjiques e Chukchis, e num grupo de Lituanos com valores
superiores a 80%. As frequncias mais baixas so encontradas entre os aborgenes
australianos, birmaneses, melansios, munda e oraones da ndia, com valores inferiores a 25%
(Zoubov & Jaldeeva, 1993).
Segundo as teorias de Cope e Osborn (Scott, 2008), as quais buscam explicar a evoluo
filogentica da dentio, o protocone, o paracone a o metacone formariam o trgono mais
antigo e estvel da matriz dentria, enquanto que o hipocone substituiria mencionada
estrutura no molar tribosfnico, que constituiria a estrutura de surgimento mais recente.
625
Poderiam ser adicionadas a essa descrio duas cspides menores, importantes nos estudos
de anlises das coroas dentrias, denominadas paraconule (cspide 5 de posio distal-mesial)
e metaconule (cspide 6 de posio distal).
O primeiro molar anterior se caracteriza por ter uma coroa ampla. O seu contorno
apresenta uma estrutura irregular na sua face oclusal com quatro cspides bem desenvolvidas.
A diagonal maior da coroa em sua face oclusal se orienta obliquamente desde o ngulo msio-
vestibular at o disto-lingual. Desde a sua face vestibular possvel observar um estreitamento
da coroa at o colo, de tal modo que o dimetro msio-distal maior se localiza prximo de seu
tero oclusal. A face vestibular est composta por duas cspides, o paracone, de localizao
msio-vestibular e metacone, de posio disto-vestibular. O paracone uma cspide que
apresenta uma estrutura mais larga e arredondada, e ambas esto separadas pelo sulco
vestibular, o qual desemboca na fossa vestibular. A face lingual possui dois sulcos que recebem
os nomes segundo a sua localizao (msio-lingual e disto-lingual). O protocone se localiza
sobre a poro msio-lingual e mais largo e maior que o hipocone, localizado na zona disto-
lingual. Outro trao que pode aparecer s vezes uma cspide acessria chamada tubrculo
de Carabelli, a qual se localiza sobre a poro msio-lingual. Em seu lugar pode, em algumas
ocasies, manifestar-se um sulco chamado sulco lingual. Essa estrutura pode apresentar
diversas formas de desenvolvimento, quer seja desde uma pequena fossa at uma cspide
claramente desenvolvida. Zoubov & Jaldeeva (1989, 1993) propem, seguindo K. Hanihara,
uma gradao simples, sem variantes adicionais, tais como as fossas e os sulcos. A anlise
fentica para o trao de Carabelli tem sido estudada pela escola russa de antropologia, a qual
rene os graus 2, 3, 4 e 5 da proposta inicial de Hanihara num nico trao (fen) observvel no
primeiro molar superior.
Nesse molar, a crista marginal distal menor e menos proeminente do que a mesial. As
trs razes esto muito bem definidas e muito raro observar a fuso entre suas partes. Butler
626
(1937, 1939) e Dahlberg (1945), em sua teoria morfogentica, explicam que cada estrutura de
classe particular apresenta seu prprio campo morfogentico especial, observando-se que
cada dente tem todos os traos presentes da classe correspondente.
627
Stima cspide ou tubrculo intermedirio: cspide de aparecimento varivel,
localizada na zona lingual-medial.
Nos molares inferiores se estuda o padro de contato dos sulcos que separam as
cspides, o que oferece informao sobre o diagrama estrutural que geram trs figuras
distintas, denominadas Y, + e X. Quando os cspides 2 (metacnido) e 3 (hipocnido) fazem
contato, esse padro se denomina Y, ou padro Driopiteco, j que idntico quele observado
nos molares dos Macacos do Mioceno. No padro + se conectam as quatro cspides principais
(1 ou protocnido, 2 ou metacnido, 3 ou hipocnido e 4 ou entocnido). Por ltimo, o padro
estrutural X observado no contato entre as cspides um e quatro (protocnido e
entocnido). Os padres oclusais Y e + no tm mostrado uma regulariadade estvel em sua
distribuio geogrfica na zona euroasitica, e a caracterstica mais til como trao taxonmico
para esta regio do mundo parece ser o nmero de cspides. Aparentemente, o padro Y teria
tendncia a aumentar sua frequncia at o leste. Nesta estrutura so observadas todas as
variantes no nmero de cspides (quatro, cinco ou seis). A variabilidade da frequncia do
padro Y para o segundo molar est compreendida entre 0 e 30%, alcanando seu mximo at
a regio da sia sul-oriental. Por outro lado, comparando-se as frequncias do padro X para o
primeiro molar dos grupos euroasiticos e incluindo os molares com quatro, cinco e seis
cspides, observa-se que esta estrutura se apresenta em frequncias maiores entre os grupos
628
europeus. Esse tipo descrito por Jorgensen (Rodrguez Cuenca, 1999) e, aparentemente, o
critrio mais informativo a respeito dos traos baseados no padro de sulcos inter-cspides
coronais. importante ressaltar, de toda a forma, que o padro de distribuio dos sulcos
geralmente est associado a um determinado nmero de cspides.
Um trao interessante para levar em considerao nos molares inferiores a crista distal
do trignido. Tm sido descritos nesta estrutura do molar inferior trs cristas definidas em trs
posies distintas: uma medial, outra marginal e uma terceira distal. Essa crista distal une a
crista distal do protocnido com a crista axial do metacnido, ou a duas cristas distais das duas
cspides mencionadas. Outro trao interessante a observao do segundo molar inferior
com quatro cspides. Esse trao tem uma baixa correlao com o tipo de quatro cspides do
primeiro molar superior, o que pode parecer estranho, apesar de ter sido amplamente
provado em muitos estudos prvios. Esse marcador importante para distinguir populaes
asiticas de populaes europeias j que apresenta frequncias muito baixas nos primeiros e
mais altas nos segundos. Por ltimo, o nmero de razes nos molares inferiores tambm um
fator importante no estudo da antropologia dental desde os trabalhos de Tratman (1950) e de
Turner II (1990), considerado um excelente marcador para diferenciar grupos sinodontes dos
sundadontes.
629
CDM so a presena de incisivos centrais e laterais na forma de p e a presena de
entoconlido, metaconlido, protostlido e dobras do metacnido, nos molares inferiores.
Por sua vez, Zoubov (1968) e Zoubov & Jaldeeva (1989) elaboraram uma nova
classificao para os padres morfogenticos dentrios. Eles dividiram a populao mundial
em dois complexos opostos: o complexo dental oriental e o complexo dental ocidental. O
primeiro equivale ao complexo dental mongolide descrito por Hanihara, enquanto que o
segundo rene os complexos caucaside e negride do mesmo autor (Rodrguez Cuenca,
2003).
631
8. A ANLISE ODONTOMTRICA. SUAS BASES E APLICAES
632
diferentes pontos da coroa, especialmente entre as cspides, e da localizao delas dentro da
superfcie oclusal. A importncia de aplicar este procedimento que as distncias entre as
cspides so pouco afetadas pelo dimorfismo sexual, em comparao com as medidas dentais,
o que permite incluir nas amostras analisadas dentes soltos ou pertencentes a esqueletos de
sexo indeterminado (Mayhall, 1992, 2000).
9. DENTES E FILOGENIA
633
10. DENTIO DOS HOMINOIDES
634
decduos atuar como guia para alinhar o desenvolvimento dos permanentes por baixo deles,
como tambm manter o espao nas mandbulas para a sucesso dos dentes que sairo mais
tarde. Os dentes permanentes sempre comeam a desenvolver-se sobre o lado lingual dos
decduos nas mandbulas ou, no caso dos pr-molares, entre as razes estendidas dos molares
decduos. Os pequenos orifcios no osso alveolar sobre a face lingual dos dentes decduos, so
conhecidos como canais gubernaculares (do latim gubernaculum, roda ou leme). Esses
marcam a trajetria de uma banda fibrosa que conecta o embrio do dente permanente ao
epitlio oral lingual, o qual possivelmente ajuda a guiar a pea permanente durante o processo
de erupo.
Todas as coroas dos incisivos decduos so arredondadas em sua margem distal incisal e
mais quadradas e afiadas em sua margem mesial. Surpreendentemente, as coroas dos
incisivos decduos centrais superiores so mais largas e mais altas, igual a dos laterais
superiores, embora, neste caso, eles tenham uma borda incisal com uma inclinao acentuada
e menos elevada na margem incisal distal que na medial. Os incisivos inferiores so menores
que os superiores e as coroas dos incisivos centrais so de menores dimenses, de maneira
que possvel distingui-los dos laterais superiores pelo grande tamanho da coroa distal sobre a
raiz seguindo a curva do arco dental. Por ltimo, as razes dos incisivos decduos so mais
635
arredondadas em seco transversal que as dos permamentes, especialmente em comparao
com os inferiores.
O primeiro molar superior tem duas cspides bucais separadas de outras duas palatinas
por uma linha mdia formada por uma fissura profunda. H usualmente quatro cspides no
total, mas as distais podem ser diminutas e as disto-palatinas podem ocasionalmente estar
ausentes. O aspecto msio-bucal da coroa de ambos molares superiores e inferiores
caracterizado por uma protuberncia pronunciada conhecida como tubrculo molar de
Zuckerkandl. Todos os molares superiores, permanentes e decduos, tm trs razes (apesar de
algumas ou todas poderem estar fusionadas). comum ver reas de reabsoro sobre o
aspecto interior das razes dos molares, uma consequncia da presso do pr-molar em
desenvolvimento. O primeiro molar superior largo buco-lingualmente, no entanto, o inferior
estreito nesse sentido e alongado msio-distalmente. As duas cspides bucais apoiam no
eixo mdio-sagital do primeiro molar inferior, de maneira que a superfcie bucal se inclina
abruptamente desde o cervix ao pice das cspides. Duas pequenas cspides se encontram em
ambos os lados, lingual e mesial do dente. Quando no utilizadas, podem ser extremamente
pontiagudos (como estiletes) e, ocasionalmente, ainda maiores do que a cspide msio-bucal,
que geralmente a mais longa. Como no primeiro molar superior, h um tubrculo msio-
bucal pronunciado. Duas razes amplamente divergentes, uma mesial e a outra distal,
aparecem diretamente desde o cervix (Aiello & Dean, 1996).
AGRADECIMENTOS
Os autores desse captulo desejam agradecer aos editores por seu convite para
participar do contedo deste livro.
637
BIBLIOGRAFIA CITADA
Bass WM. 1986. Human osteology. A laboratory and field manual of the human skeleton.
Tennessee: Missouri Archaeological Society.
Bermdez de Castro JM, Martinn-Torres M, Sier MJ, Martn-Francs L. 2014. On the variability
of the Dmanisi mandibles. PLoS ONE 9(2):e88212. doi:10.1371/journal.pone.0088212.
Bollini GA, Rodrguez-Flrez CD, Colantonio SE. 2009. Dental non-metric traits in a pre-
conquest sample Calchaqui from Argentina, South America. Int J Morphol 28(1):1063-
1067.
Bollini AG, Rodrguez-Flrez CD, Colantonio SE. 2010. Morfologa dental en una muestra de
crneos humanos de Pampa Grande, Argentina. Int J Morphol 28(3):685-696.
Brace C. 1980. Australian tooth-size clines and the death of a stereotype. Curr Anthropol
21(2):141-164.
Bramblett CA. 1988. The anatomy and biology of the human skeleton. Texas: ADM University
Press, College Station.
Buikstra J, Ubelaker D. 1994. Standards for data collection from human skeletal remains.
Faytteville, Arkansas: Arkansas Archaeological Survey Research Series No. 44.
Butler P. 1937. Studies in the mammalian dentition-and of teeth of Centetes ecaudatus and its
allies. Proceedings of the Zoological Society, London, B 107:103-132.
Carpenter JC. 1976. A comparative study of metric and non-metric traits in a series of modern
crania. Am J Phys Anthrop 45:337-344.
638
Cavalli-Sforza LL, Menozzi P, Piazza A. 1994. The history and geography of human genes.
Princenton: Princenton University Press.
Corruccini RS. 1974. An examination of the meaning of discrete traits for human skeletal
biological studies. Am J Phys Anthrop 40:425-446.
Dahlberg A. 1951. The dentition of the American Indians. En: Laughlin WS, editor. Papers on
the Physical Anthropology of the American Indians. Nueva York: The Viking Fund, Inc. p
138-176.
Dahlberg A. 1971. Dental morphology and evolution. Chicago: University of Chicago Press.
Dahlberg A, Mikkelsen O. 1947. The shovel- shaped character in the teeth of the Pima Indians.
Am J Phys Anthropol 5:234-235.
Devoto FCH. 1971. Shovel-shaped incisors in Pre Columbian Tastilian Indians. J Dent Res
50:168.
Edgcomb K, BeGole E, Evans C, Johnson B, Luan X. 2011. Prevalence of short dental roots in
four ethnic groups in an orthodontic population. Dent Anthropol 24(1):11-15.
Fitzgerald C, Hillson S. 2008. Alternative methods of assessing tooth size in Late Pleistocene
and Early Holocene hominids. En: Irish JD, Nelson GC, editors. Technique and application
in dental anthropology. Cambridge: Cambridge University Press. p 364-388.
FitzGerald CM, Rose JC. 2008. Reading between the lines: dental development and subadult
age assessment using the microstructural growth markers of teeth. En: Katzenberg MA,
Saunders SR, editores. Biological anthropology of the human skeleton. Nueva York: Wiley-
Liss. p 237-264.
Flower WH. 1885. On the Size of the Teeth as a Character of Race. Journal of the
Anthropological Institute of Great Britain and Ireland 14:183-187.
Fuchs ML. 2010. Alimento vs. Herramienta. Patrones culturales en el desgaste dentario del
sitio Chenque I, Parque Nacional Lihu Calel, provincia de La Pampa. En: Bern M, Luna L,
Bonomo M, Montalvo C,
Garca Svoli C. 2009. Estudio diacrnico de los rasgos dentales en poblaciones del
Mediterrneo Occidental: Mallorca y Catalua. Barcelona: Universitat Autnoma de
Barcelona.
639
Garn S, Lewis A, Kerewsky R. 1965. Genetic, nutritional and maturational correlates of dental
development. J Dent Res 44:228-242.
Garn S, Lewis A, Kerewsky R. 1968a. Relationship between buccolingual and mesiodistal crown
diameters. J Dent Res 47:495.
Garn S, Lewis A, Walenga A. 1968b. Crown size profile pattern comparisons of 14 human
populations. Arch Oral Biol 13:1235-1242.
Garn S, Osborne R, McCabe K. 1979. The effect of prenatal factor son crown dimensions. Am J
Phys Anthropol 51:665-678.
Goaz PW, Miller MC. 1966. A preliminary description of the dental morphology of the Peruvian
Indians. J Dent Res 45:106-119.
Greenberg JH, Turner II CG, Segura SL. 1986. The Settlement of the Americas: A comparison of
the linguistic, dental, and genetic evidence. Current Anthrop. 27:477-497.
Haydenblit R. 1996. Dental Variation among Four Prehispanic Mexican Populations. Am J Phys
Anthropol 100:225-246.
Hanihara K. 1966. Mongoloid dental complex in the decidouous dentition. Zinrulgaku Zassi 7:
9-20.
Hanihara K. 1968. Mongoloid dental complex in the permanent dentition. Proceedings of the
VIIIth International Symposium of Anthropological and Ethnological Sciences. Tokyo and
Kyoto: Science Council of Japan. p 298-300.
Hanihara T. 1990. Dental anthropological evidence of affinities among the Oceania and the
Pan-Pacific populations: the basic populations in East Asia, II. J Anthrop Soc Nippon
98:233-246.
Hanihara T. 1992. Biological relationships among Southeast Asian, jomonese, and the pacific
populations as viewed from dental characters. The basis populations in East Asia, X. J
Anthrop Soc Nippon 100(1):53-67.
Hanihara T, Ishida H. 2005. Metric dental variation of major human populations. Am J Phys
Anthropol 128:287-298.
Hollinshead WH. 1983. Anatoma para cirujanos dentistas. Mxico: Hada Harper & Row
Latinoamericana.
640
Hltta P, Nystrom M, Evalahti M, Alaluusua S. 2004. Root-crown ratios of permanent teeth in a
healthy Finnish population assessed from panoramic radiographs. Eur J Orthod 26:491-
497.
Jimnez-Arenas JM, Prez-Claros JA, Aledo JC, Palmqvist P. 2014. On the relationships of
postcanine tooth size with dietary quality and brain volume in primates: implications for
hominin evolution. BioMed Research International Volume 2014. Article ID 406507.
http://dx.doi.org/10.1155/2014/406507.
Kelley M, Larsen CS. 1991. Advances in dental anthropology. Nueva York: Wiley-Liss.
Khudaverdyan AY. 2013. Non-metric dental analysis of a Bronze Age population from the
Armenian Plateau. Anthropol Rev 76(1):63-82.
Kieser J. 2008. Human adult odontometrics. The study of variation in adult tooth size.
Cambridge: Cambridge University Press.
Lahr MM, Haydenblit R. 1995. Traces of Ancestral Morphology in Tierra del Fuego and
Patagonia. Am J Phys Anthropol Suppl 20:128.
Larsen CS. 2000. Bioarchaeology. Interpreting behavior from the human skeleton. Cambridge:
Cambridge University Press.
Luna L. 2006. Evaluation of uniradicular teeth for age-at-death estimations in a sample from a
Pampean hunter-gatherer cemetery (Argentina). J Arch Sci 33:1706-1717.
Margvelashvili A, Zollikofer CPE, Lordkipanidze D, Peltomki T, Ponce de Len MS. 2013. Tooth
wear and dentoalveolar remodeling are key factors of morphological variation in the
Dmanisi mandibles. PNAS 110(43):17278-17283.
Mayhall J. 1992. Techniques for the study of dental morphology. En: Saunders S, Katzenberg
M, editores. Skeletal biology of past peoples: research methods. Nueva York: Wiley-Liss. p
59-78.
Mayhall J. 2000. dental morphology: techniques and strategies. En: Katzenberg M, Saunders S,
editores. Biological anthropology of the human skeleton. Nueva York: Wiley-Liss. p 103-
134.
641
Morin E. 1988. Articular los saberes. Buenos Aires: Editorial Universidad del Salvador.
Moorrees, CFA. 1957. The Aleut dentition, a correlative study of dental characteristics in an
eskimoid people. Cambridge: Harvard University Press.
Naylor JW, Miller WG, Stokes GJ, Stott GG. 1985. Cemental annulation enhacement: a
technique for age determination in man. Am J Phys Anthropol 68(2):197-200.
Pedersen PO, Thyssen H. 1942. Den cervicale emaljerands forlob hos Eskimoer.
Odontolontologisk Tidskrift 50:444-492.
Pertuz A, Rojas MP. 1998. Desarrollo del tercer molar mandibular y su relacin con la edad
cronolgica en una poblacin masculina de Santa F de Bogot. Postgrado en
antropologa Forense. Bogot: Universidad Nacional de Colombia.
Potter R, Rice J, Dahlberg A, Dahlberg T. 1983. dental size traits within families: path analysis
for first molar and lateral incisor. Am J Phys Anthropol 61:283-289.
Powell JF, Walter AN. 1998. Dental Diversity of Early New World Populations: Taking a Bite Out
of the Tripartite Model. Am J Phys Anthropol Suppl 26:179-180.
Rodrguez Cuenca JV. 2003. Dientes y diversidad humana. Avances de la antropologa dental.
Bogot: Editora Guadalupe Ltda.
Rodrguez Flrez CD. 2003. antropologa dental en Colombia. Comienzos, estado actual y
perspectivas de investigacin. Antropo 4:17-27.
Scott GR. 2008. Dental morphology. En: Katzenberg MA, Saunders SR, editores. Biological
anthropology of the human skeleton. Nueva York: Wiley-Liss. p 265-298.
642
Scott GR, Irish JD. 2013. Anthropological Perspectives on Tooth Morphology: Genetics,
Evolution, Variation. Cambridge: Cambridge University Press.
Smith TM, Tafforeau P, Reid DJ, Pouech J, Lazzari V, Zermeno JP, Guatelli-Steinberg D,
Olejniczak AJ, Hoffman A, Radovci J, Makaremi M, Toussaint M, Stringer C, Hublin JJ.
2010. Dental evidence for ontogenetic differences between modern humans and
Neanderthals. PNAS 107(49):20923-20928.
Steele G, Bramblett C. 1989. The anatomy and biology of the human skeleton. Texas: Texas
University Press.
Sun C, Xing, S, Martn-Francs L, Bae C, Liu L, Wei G, Liu W. 2014. Interproximal grooves on the
Middle Pleistocene hominin teeth from Yiyuan, Shandong province: new evidence for
tooth-picking behavior from eastern China. Quat Int. doi:10.1016/j.quaint.2014.03.008. En
prensa.
Sutter RC. 2005. The Prehistoric Peopling of South America as Inferred from Genetically
Controlled Dental Traits. Andean Past 7: 183-217.
Toribio Suarez LR, Rubn Quezada M, Rivero de la Calle M. 1995. Identificacin del sexo y el
grupo racial por dimensiones dentarias. Estudios de antropologa Biolgica 5:23-32.
UNAM, Mxico.
Townsend G, Dempsey P, Brown T. 1994. Teeth, genes and the environment. Perspectives in
Human Biology 4:35-46.
Tratman EK. 1950. A comparison of the teeth of people, Indo-European racial stock with the
Mongoloid racial stock. Dent Res 70:63-88.
Turner II CG. 1984. Advances in the Dental Search for Native American Origins. Acta
Anthropogenetica 8(1-2):23-78.
Turner II CG. 1990. Major features of sudadonty and sinodonty, including suggestions about
East Asian microevolution, population history and late pleistocene relationships with
Australian aboriginals. Am J Phys Anthropol 82:295-317.
Turner II CG. 1992. Microevolution of East Asan and European populations: a dental
perspectives. En: Akazawa T, Aoki K, Kimura T, editores. The evolution and dispersal of
modern humans in Asia. Tokyo: Hokusen-Sha Pub.Co. p 415-438.
643
Turner II CG, Nichol CR, Scott GR. 1991. Scoring procedures for key morphological traits of the
permanent dentition: the Arizona state university dental anthropology system. En: Kelley
MA, Larsen CS, editores. Advances in dental anthropology. Nueva York: Wiley-Liss Inc. p
13-31.
White TD, Folkens PA. 2005. The human bone manual. Londres: Elsevier Academic Press.
Zoubov AA. 1968. Odontologa. Metdica de las investigaciones antropolgicas. Mosc: Nauka
Press.
Zoubov AA. 1997b. Metodologa para el registro y estudio de los caracteres dentales
morfogenticos. Taller de peritacin antropolgica (antropologa dental). Bogot:
Universidad Nacional de Colombia.
Zoubov AA. 1998. La antropologa dental y la prctica forense. Revista Maguar 13:243-252.
Zoubov AA, Jaldeeva NL. 1993. La odontologa en la antropofentica. Mosc: Nauka Press.
Zoubov AA, Nikityuk BA. 1978. Prospects for the application of dental morphology in twin type
analysis. J Hum Evol 7:519-524.
644
CAPTULO 23. EVOLUO, DESENVOLVIMENTO
E SADE. UMA HISTRIA DE LIMITAES,
DILEMAS E COMPROMISSOS.
1. INTRODUO
Ou sim?
Embora nosso corpo seja formado por sistemas sofisticados e estruturas complexas,
inegvel que estes esto longe de funcionar perfeitamente. Diabetes, doenas
cardiovasculares, estresse, infeces, alergias, problemas reprodutivos e uma velhice com
enfermidades so parte de uma longa lista dos padecimentos humanos. A pergunta bvia e
inevitvel a seguinte: Por que apesar de milhes de anos de seleo natural, o corpo humano
to vulnervel? Esta uma das grandes questes dentro das cincias da sade. Nesse
645
captulo, vamos explorar brevemente algumas das propostas que a Medicina Evolutiva tem
oferecido como resposta a essa pergunta.
2. MEDICINA EVOLUTIVA
A Medicina Evolutiva uma disciplina nova que utiliza o paradigma darwiniano para
estudar os processos associados sade e doenas humanas. A origem formal da disciplina se
deu com a publicao, em 1991, do artigo "The Dawn of Darwinian Medicine" (O amanhecer
da Medicina Darwiniana) (Williams & Nesse, 1991). Neste artigo icnico, Randolph Nesse &
George Williams propuseram incorporar os marcos tericos das reas da evoluo e da
ecologia no estudo da cincia da sade. Tradicionalmente, as cincias mdicas tm focado na
investigao das chamadas causas imediatas dos problemas de sade atravs de um enfoque
mecanicista, orientado a responder perguntas da categoria 'Como?': Como o corpo responde
diante de uma fratura, do estresse psicolgico ou de uma infeco? Seguidas de: Como
solucionamos o problema? A Medicina Evolutiva amplia tal enfoque e gera questes
relacionadas s causas terminais dos fenmenos biolgicos que so a base da sade. Por que o
corpo responde de determinada maneira diante de uma fratura, do estresse psicolgico ou de
uma infeco? (Ver o quadro, Causas imediatas e terminais). Assim, a Medicina Evolutiva
produz informao complementar quela gerada a partir do enfoque clnico tradicional, que
pode ser utilizada no desenvolvimento de estratgias preventivas e de novos tratamentos ou
na melhoria dos j existentes (Chakravarthy & Booth, 2004; Eaton et al., 1988).
H pouco mais de duas dcadas de sua formalizao e, em parte, graas ao apoio obtido
da antropologia, essa disciplina tem conseguido posicionar-se de forma proeminente no
campo da sade, com um aumento constante de estudos publicados, a criao de uma revista
com corpo de revisores (Eaton et al., 2002; Longo & Finch, 2003; McKenna & Mosko, 1994,
Merlo et al., 2006; Nesse et al., 2010; Nesse & Stearns, 2008; Trevathan et al., 1999; Trevathan
et al., 2008; Wallace, 2007; Wander et al., 2009), a ampliao do plano docente de numerosas
universidades em vrias partes do mundo e a incorporao de contedos sobre ecologia,
646
evoluo e antropologia nos currculos acadmicos de seus programas de Medicina e Sade
Pblica.
A Medicina Evolutiva prope que a origem tanto de nossas foras como de nossas
vulnerabilidades em termos de sade pode ser encontrada na evoluo da histria de vida
humana, uma histria de limitaes, dilemas e compromissos constantes. De acordo com a
teoria da histria de vida, todo organismo deve dividir os recursos dos quais dispe em trs
funes biolgicas vitais: crescimento, manuteno e reproduo. Como os recursos so
sempre limitados, o recurso investido em uma destas funes no pode ser investido nas
outras duas, porque cada deciso implica um compromisso. A proporo de recursos
destinados a cada uma dessas funes varia em cada fase da vida de acordo com a cronologia
do desenvolvimento de cada espcie, as necessidades de cada fase, a disponibilidade de
recursos em cada momento, assim como com o sexo do indivduo e os desafios que este
enfrenta. O somatrio de tais desafios afeta o desenvolvimento de cada sistema biolgico e,
por sua vez, converte-se em um fator determinante da sade de um indivduo ao longo de sua
vida (Stearns, 2012).
"O que vai muito rpido chega to tarde quanto o que vai muito devagar."
William Shakespeare em Romeu e Julieta
Para explicar essas observaes, Hales & Barker (1992) desenvolveram a "hiptese do
fentipo poupador" (em ingls, thrifty phenotype hypothesis), que prope que sob condies
energticas reduzidas no tero, desenvolve-se um fentipo mais eficiente quanto ao uso dos
recursos energticos durante a vida ps-natal. O crescimento fetal depende, entre outras
coisas, de insulina e do fator de crescimento insulnico tipo 1 (IGF-1, por sua sigla em ingls).
Em condies energticas limitadas, a secreo destes hormnios diminui, enquanto a
resistncia insulina aumenta, restringindo o crescimento intrauterino e causando um baixo
peso ao nascer (Barker et al., 1993; Phillips, 1996; Woods et al., 1996). Os desafios energticos
no tero tambm afetam o desenvolvimento de um importante eixo metablico, o eixo
hipotlamo-pituitrio-adrenal (HPA) ou do estresse. A ativao do eixo HPA afeta, por sua vez,
o desenvolvimento fetal e, no caso de crises severas (ou seja, quando a vida do feto est em
risco), pode induzir o parto prematuramente (antes das 37 semanas de gestao) (Hobel,
2004; Hobel et al., 1999; Mulder et al., 2002). Os indivduos que sofrem restries energticas
no tero so mais propensos a desenvolver a sndrome metablica (SM), um fentipo que
648
inclui um conjunto de condies como intolerncia glicose, dislipidemia (nveis anormais de
colesterol e lipdios no sangue), obesidade visceral e hipertenso. Os indivduos com SM
possuem, por sua vez, um risco maior de desenvolver diabetes tipo 2 e problemas
cardiovasculares.
Mas de onde vem a energia necessria para responder a uma crise? Para responder a
um desafio, nosso corpo redistribui a energia metablica, retirando de funes que podem ser
650
adiadas, como a funo reprodutora ou a funo imunolgica (Nepomnaschy et al., 2007;
Nepomnaschy et al., 2004; Nepomnaschy et al., 2006). Essa redistribuio de energia
metablica traz custos em paralelo. Por exemplo, aps noites de insnia estudando e de
passar pelo estresse dos exames finais, possvel que voc se sinta cansado e que seu sistema
imune fique parcialmente suprimido. Esse estado o tornaria mais vulnervel a uma infeco
respiratria por Streptococcus pneumoniae com o qual entrou em contato ao tocar a maaneta
da porta da sala de aula. A infeco poderia levar pneumonia, a qual seu corpo responderia
com febre. Qual valor adaptativo poderia ter uma reao dessa natureza? Se a temperatura
corporal supera os 43C, pode causar danos irreversveis ao sistema nervoso e, em casos
extremos, a morte. Mas manter temperaturas to elevadas no o habitual, e perodos curtos
de temperatura corporal moderadamente altas reduzem a capacidade reprodutiva dos
estreptococos e induzem a liberao de protenas de choque trmico (HSP, do ingls heat-
shock proteins) que atuam como antibiticos potentes (Kluger et al., 1996; Singh & Aballay,
2006). Assim, apesar do mal-estar e dos riscos associados febre, a resposta contribui para
deter o avano da infeco. Sem a resposta febril, a morte no seria um risco, mas,
eventualmente, uma certeza. No passado, os mdicos tentavam eliminar completamente a
febre receitando antipirticos. No entanto, a supresso completa da febre prolonga o perodo
de recuperao na maioria dos processos infecciosos (Greisman & Mackowiak, 2002; Mayoral
et al., 2000; Young et al., 2011). A perspectiva evolutiva tem ajudado no entendimento do
papel defensivo dos estados febris, o que tem gerado mudanas na administrao de
antipirticos. Atualmente, os mdicos atualizados os administram com maior cautela,
reservando-os para situaes de risco.
651
5. NOSSOS VILES FAVORITOS. NS A P, VIRUS E BACTRIAS NA FRMULA
UM.
Desde nossa origem evolutiva os organismos multicelulares tivemos que nos defender
de numerosos micro-organismos. Muitos desses organismos causam infeces, aumentando
nossa morbidade (proporo de indivduos que adoecem em um determinado momento e
lugar) e mortalidade, atuando, portanto, como importantes agentes de processos de seleo
natural. Por qual razo, ento, ainda somos vulnerveis s infeces vindas de uma histria
seletiva to antiga quanto a nossa existncia? O problema que esses pequenos viles tm
um ciclo de vida muito mais curto que o nosso. Isso lhes d uma vantagem crtica com relao
a ns. Enquanto que em cada gerao de um patgeno h alguns poucos indivduos capazes de
sobreviver e reproduzir-se apesar dos esforos defensivos do nosso sistema imune, elimin-los
no ser possvel. Alm disso, os descendentes desses patgenos apresentaram maior
resistncia s nossas defesas imunitrias, j que estes sero a prognie daqueles que
conseguiram sobreviver e reproduzir-se apesar das defesas mencionadas. A habilidade do
nosso sistema imune de adaptar-se s cepas sobreviventes limitada pela variabilidade do
genoma humano, que se recombina de modo importante apenas durante a reproduo sexual,
ou seja, no incio de cada gerao. Desta forma, nos 20 anos que ns, humanos, levamos para
produzir nosso primognito (primeira mudana genmica), um patgeno que se reproduz a
cada 20 minutos como, por exemplo, a bactria Escherichia coli (responsvel por intoxicaes
alimentares) recombina seu genoma aproximadamente 525.949 vezes. Para explicar o impacto
dessa diferena, como o tempo em geraes, para a co-evoluo de cada espcie e de seus
patgenos, o bilogo Leigh Van Valen desenvolveu a "hiptese da Rainha Vermelha". Na
histria de Lewis Carroll, "Alice no Pas das Maravilhas", Alice corre com a Rainha Vermelha e,
em um dado momento, nota espantada que por mais rpido que corram, permanecem no
mesmo lugar. A Rainha lhe explica que "aqui assim, deve-se correr o mais rpido possvel
para permanecer no mesmo lugar" e que "para chegar a outro lugar, preciso correr duas
vezes mais rpido". Por ter geraes muito mais curtas que as nossas, os patgenos podem
"correr duas vezes mais rpido" ou, na verdade, vrias ordens de magnitude mais rpido que
652
ns e, portanto, desenvolvem contra-estratgias mais rapidamente, ultrapassando-nos sempre
nessa corrida "armamentista-imunolgica" (Paterson et al., 2010; Van Valen, 1973).
A batalha com vrus e bactrias tem levado a mudanas drsticas em nossas prticas de
higiene. Essas mudanas tm ajudado a reduzir a incidncia de doenas contagiosas (Anderson
et al., 1962) e a morbidade e mortalidade (Taylor & Greenough, 1989). No entanto, existe a
possibilidade de que a reduo do nvel de exposio humana aos micro-organismos esteja
associada a um aumento na incidncia de alergias e doenas autoimunes. A "hiptese da
higiene" (Cookson & Moffatt, 1997; Strachan, 1989) argumenta que na ausncia de micro-
organismos e patgenos, o sistema imune no se desenvolve adequadamente, resultando em
um sistema pouco discriminatrio e hiper-reativo (Prescott et al., 1999; Rook, 2007). Em
concordncia com essa hiptese, alguns pesquisadores sugerem que o aumento na incidncia
de alergias (incluindo as rinites sazonais, eczemas e asma) em reas urbanas uma
consequncia da reduzida exposio a micro-organismos que as crianas so expostas nestes
ambientes (Kuo et al., 2013; Prokopakis et al., 2013). Vrios estudos prospectivos tm
demonstrado que existe uma relao direta entre o uso de antibiticos (que reduz a exposio
654
a micro-organismos) e o risco de desenvolver asma (Marra et al., 2009; McKeever et al., 2002;
Risnes et al., 2011). Alm disso, os indivduos que crescem em ambientes menos "limpos", em
contato com muitas pessoas (oriundos de famlias grandes, frequentando creches) e em
lugares agrestes, apresentam um risco menor de sofrer de asma e de desenvolver alergias
(Braun-Fahrlander et al., 1999; Celedon et al., 2003; Ege et al., 2011a; Ege et al., 2011b;
Lemanske, 2002; Strachan, 1997; Von Ehrenstein et al., 2000). Por qu? A proposta da
hiptese da higiene sugere que a falta de exposio a uma ampla variedade de antgenos
(substncias capazes de provocar uma reao imune) em idade precoce, previne a formao
de uma memria imunolgica mais completa, base essencial para um dos dois ramos do
nosso sistema de defesa: o sistema imune adaptativo (em ingls: Adaptative Immune System).
Alguns dos resultados experimentais que servem de evidncia emprica para essas ideias so
os obtidos com camundongos gerados e criados em ambientes com diferentes graus de
exposio a antgenos. Tais estudos mostram que os camundongos criados em um ambiente
estril apresentam inflamaes pulmonares semelhantes s associadas com a asma e a colite
em humanos, as quais so causadas pela hiperatividade das clulas T (tipos celulares em que
atua a memria imunolgica) (Olszak et al., 2012). Assim, se a hiptese da higiene correta, a
urbanizao do nosso habitat, o uso de sabonetes antimicrobianos e uso excessivo de
antibiticos estariam impedindo que o sistema imunolgico de nossas crianas reconheam
micro-organismos nocivos e sua diferenciao daqueles com os quais podem ter uma
convivncia com benefcios mtuos ou, ao menos, "pacfica".
Quino em Mafalda
655
Conforme discutimos nas sees anteriores, a atividade humana tem acelerado
notavelmente as mudanas no ecossistema nos ltimos milnios. Ento, no de se
surpreender que haja um nmero importante de incongruncias entre o fentipo humano
atual e seu ambiente (Stearns, 2012). Christina Adler e seus colegas, por exemplo, propuseram
que a epidemia da periodontite, uma doena das gengivas que compromete o osso alveolar, e
a crie, que afeta algumas populaes contemporneas (Adler et al., 2013), constituiriam
exemplos de tais incongruncias. A intensificao das prticas agrcolas resultou em um
aumento no consumo humano de gros, incluindo o trigo e a cevada e, mais recentemente, a
revoluo industrial resultou em um aumento no consumo de farinhas e acares, o que teria
contribudo para tal epidemia. Para testar sua hiptese, Adler e seus colegas realizaram
comparaes do DNA antigo de bactrias aprisionadas no trtaro dentrio de esqueletos de
diferentes antiguidades e descobriram que o aumento das prticas agrcolas foi acompanhado
por um aumento de espcies bacterianas que causam a periodontite, e a revoluo industrial
coincidiu com um aumento daquelas que causam cries (Adler et al., 2013).
Um segundo exemplo tem relao com o padro reprodutivo humano. Atualmente, nos
pases industrializados, a taxa de fecundidade total (TFT = nmero de crianas nascidas por
mulher) varia entre 1 e 3 filhos (CIA World-Factbook). Esta TFT menor que a taxa que
provavelmente tinha a maioria de nossos ancestrais caadores-coletores, muitas vezes bem
acima de 4 crianas nascidas por mulher (Pennington, 1992 e 2001). O surgimento de
contraceptivos eficazes em meados do sculo passado resultou em uma reduo significativa
na TFT na maioria dos pases industrializados. Esta mudana na TFT tem resultado em uma
quantidade significativa de avanos em termos tanto de sade materno-infantil, como
ecolgicos, sociais, econmicos e de igualdade de gnero (Adsera, 2004; Ahn & Mira, 2002).
Porm, essa mudana radical nos padres reprodutivos poderia explicar o aumento na
incidncia do cncer de mama. Em geral, nas sociedades industrializadas, as mulheres atingem
a menarca (maturidade reprodutiva) em uma idade mais precoce, tm menos filhos, menos
provvel que amamentem eles e, quando o fazem, amamentam com menos frequncia e por
menos tempo que as mulheres de sociedades no-industrializadas (Eaton et al., 1994). Todos
esses comportamentos so considerados fatores de risco para o desenvolvimento de cncer de
mama (Layde et al., 1989; Vihko & Apter, 1986). Beverly Strassmann (1999) sugeriram que a
relao entre os padres reprodutivos atuais e a incidncia da doena poderia ser explicada,
ao menos parcialmente, como o resultado do aumento na exposio a esterides sexuais
associados a um nmero significativamente maior de ciclos menstruais que as mulheres esto
656
expostas durante a sua vida reprodutiva. Em populaes industrializadas, as mulheres passam
por cerca de 300 ciclos menstruais no curso de sua vida, enquanto que aquelas em populaes
com fertilidade natural (sem mtodos de planejamento familiar) passam apenas por cerca de
100 ciclos menstruais, j que passam a maior parte de suas vidas grvidas ou com amenorria
ps-parto. O estrgeno e a progesterona, hormnios ovarianos produzidos durante o ciclo
menstrual, estimulam a proliferao celular nos seios em antecipao a uma possvel gravidez
(Ramakrishnan et al., 2002). Assim, um maior nmero de ciclos menstruais representa uma
maior atividade mittica e, consequentemente, um maior risco de que mutaes malignas
resultem em cncer de mama (Strassmann, 1999).
Esses dois exemplos mostram como mudanas ambientais podem criar incongruncias
entre fentipo e ambiente, gerando vulnerabilidades. No primeiro caso, mudanas em nossa
dieta aumentaram nossa vulnerabilidade periodontite e crie. No segundo, mudanas em
nossas prticas reprodutivas aumentam a vulnerabilidade das mulheres ao cncer de mama.
657
Essa protena possui duas cadeias beta e duas cadeias alfa. A hemoglobina "normal" em
adultos denominada (HnA). A substituio de uma base nitrogenada no gene que codifica a
hemoglobina beta resulta na produo de globina beta (HnS), contendo valina, no cido
glutmico. Trata-se de uma mutao recessiva que, em indivduos homozigotos para esse
gene, pode resultar em uma deformao dos eritrcitos e na chamada "anemia das clulas
falciformes". Durante uma crise, os eritrcitos disformes afetam a circulao sangunea
causando insuficincia renal, dor no peito, costas, abdmen e nas articulaes e, sem um
tratamento adequado, a crise pode causar a morte. Uma vez que essa mutao afeta a
sobrevivncia dos portadores homozigotos, seria de se esperar que tal mutao fosse
eliminada pela seleo natural cada vez que surgisse. Em certas populaes, no entanto, a
frequncia do alelo "mutante" HS pode chegar a 40%. Esse fenmeno ocorre em populaes
onde a malria (ou paludismo) comum. A malria uma infeco causada pelo Plasmodium
falciparum, um parasita dos eritrcitos transmitido pelos mosquitos do gnero Anopheles.
Esses mosquitos so abundantes em climas quentes e midos, como os da frica subsaariana,
onde a malria responsvel por mais de um milho de mortes por ano.
Por que o alelo que determina a hemoglobina HnS mais comum que o esperado nessas
populaes? Porque a presena da hemoglobina S nos eritrcitos confere resistncia contra o
plasmdio. Os indivduos homozigotos para a HnS no sofrem de malria, mas sim de anemia
falciforme, e sua mortalidade maior. Porm, em indivduos heterozigotos HnA-HnS, apenas
uma poro dos eritrcitos so falciformes, o que confere proteo contra a malria sem
causar anemia (Ferreira et al., 2011). Desse modo, nas regies onde existe a malria, a HnS se
mantm devido ao balano em termos seletivos entre os custos da anemia falciforme para os
homozigotos e a proteo que confere aos heterozigotos contra a malria. dessa forma que a
seleo estabilizadora ajuda a explicar o motivo pelo qual certas patologias de origem gentica
no so eliminadas por processos seletivos.
658
Epicuro
11.TERMINEMOS BEM
Alejandro Dolina
Para concluir, repassemos as explicaes que discutimos para tentar chegar a uma
resposta para nossa pergunta original: por que apesar de milhes de anos de seleo natural, o
corpo humano to vulnervel?
Octavio Paz
Por fim, queremos concluir com um breve comentrio sobre o futuro da Medicina
Evolutiva e sua relevncia para as cincias da sade. Esperamos ter demonstrado que a teoria
evolutiva e a ecologia permitem elaborar perguntas complementares quelas que surgiram
662
desde o seio das cincias mdicas tradicionais e que as respostas obtidas podem ser
importantes tanto para a pesquisa bsica como para a prtica. por isso que acreditamos que
fundamental para o avano das cincias da sade recomendar que continue e intensifique a
incorporao dos marcos tericos da evoluo, ecologia e antropologia nos currculos
acadmicos de Faculdades de Medicina, Enfermagem e Sade Pblica, e que questes
originadas dentro desses marcos tericos sejam consideradas na tomada de decises para o
financiamento de projetos de pesquisa, projetos de intervenes e desenvolvimento de
terapias.
AGRADECIMENTOS
663
BIBLIOGRAFIA CITADA
Adler CJ, Dobney K, Weyrich LS, Kaidonis J, Walker AW, Haak W, Bradshaw CJ, Townsend G,
Soltysiak A, Alt KW et al. 2013. Sequencing ancient calcified dental plaque shows changes
in oral microbiota with dietary shifts of the Neolithic and Industrial revolutions. Nature
genetics 45(4):450-455.
Adsera A. 2004. Changing fertility rates in developed countries. The impact of labor market
institutions. Journal of Population Economics 17(1):17-43.
Ahn N, and Mira P. 2002. A note on the changing relationship between fertility and female
employment rates in developed countries. Journal of Population Economics 15(4):667-
682.
Anderson GW, Arnstein MG, and Lester MR. 1962. Communicable Disease Control. A Volume
for the Public Health Worker. 606 p.
Barker DJ. 1990. The fetal and infant origins of adult disease. British Medical Journal 301:1111-
1111.
Barker DJP, Godfrey KM, Gluckman PD, Harding JE, Owens JA, and Robinson JS. 1993. Fetal
nutrition and cardiovascular disease in adult life. The Lancet 341(8850):938-941.
Blaser MJ. 2006. Who are we? Indigenous microbes and the ecology of human diseases. EMBO
Rep 7(10):956-960.
Blaser MJ, and Falkow S. 2009. What are the consequences of the disappearing human
microbiota? Nat Rev Microbiol 7(12):887-894.
Braun-Fahrlander C, Gassner M, Grize L, Neu U, Sennhauser FH, Varonier HS, Vuille JC, and
Wuthrich B. 1999. Prevalence of hay fever and allergic sensitization in farmer's children
and their peers living in the same rural community. SCARPOL team. Swiss Study on
Childhood Allergy and Respiratory Symptoms with Respect to Air Pollution. Clin Exp
Allergy 29(1):28-34.
Buffie CG, and Pamer EG. 2013. Microbiota-mediated colonization resistance against intestinal
pathogens. Nat Rev Immunol 13(11):790-801.
Celedon JC, Wright RJ, Litonjua AA, Sredl D, Ryan L, Weiss ST, and Gold DR. 2003. Day care
attendance in early life, maternal history of asthma, and asthma at the age of 6 years. Am
J Respir Crit Care Med 167(9):1239-1243.
Chakravarthy MV, and Booth FW. 2004. Eating, exercise, and "thrifty" genotypes: connecting
the dots toward an evolutionary understanding of modern chronic diseases. 3-10 p.
Colman RJ, Anderson RM, Johnson SC, Kastman EK, Kosmatka KJ, Beasley TM, Allison DB,
Cruzen C, Simmons HA, Kemnitz JW et al. 2009. Caloric restriction delays disease onset
and mortality in rhesus monkeys. Science 325(5937):201-204.
664
Cookson WO, and Moffatt MF. 1997. Asthma: an epidemic in the absence of infection? Science
275(5296):41-42.
Eaton SB, Cordain L, and Lindeberg S. 2002. Evolutionary Health Promotion: A Consideration of
Common Counterarguments. Preventive Medicine 34(2):119-123.
Eaton SB, Konner M, and Shostak M. 1988. Stone agers in the fast lane: Chronic degenerative
diseases in evolutionary perspective. The American Journal of Medicine 84(4):739-749.
Eaton SB, Pike MC, Short RV, Lee NC, Trussell J, Hatcher RA, Wood JW, Worthman CM, Jones
NG, Konner MJ et al. 1994. Women's reproductive cancers in evolutionary context.
Quarterly Review of Biology 69(3):353-367.
Ege MJ, Mayer M, Normand AC, Genuneit J, Cookson WO, Braun-Fahrlander C, Heederik D,
Piarroux R, von Mutius E, and Group GTS. 2011a. Exposure to environmental
microorganisms and childhood asthma. New England Journal of Medicine 364(8):701-709.
Ege MJ, Strachan DP, Cookson WO, Moffatt MF, Gut I, Lathrop M, Kabesch M, Genuneit J,
Buchele G, Sozanska B et al. 2011b. Gene-environment interaction for childhood asthma
and exposure to farming in Central Europe. J Allergy Clin Immunol 127(1):138-144.
Evans JM, Morris LS, and Marchesi JR. 2013. The gut microbiome: the role of a virtual organ in
the endocrinology of the host. J Endocrinol 218(3):R37-47.
Falush D, Wirth T, Linz B, Pritchard JK, Stephens M, Kidd M, Blaser MJ, Graham DY, Vacher S,
Perez-Perez GI et al. 2003. Traces of human migrations in Helicobacter pylori populations.
Science 299(5612):1582-1585.
Ferreira A, Marguti I, Bechmann I, Jeney V, Chora A, Palha NR, Rebelo S, Henri A, Beuzard Y,
and Soares MP. 2011. Sickle hemoglobin confers tolerance to Plasmodium infection. Cell
145(3):398-409.
Flinn MV, Nepomnaschy PA, Muehlenbein MP, and Ponzi D. 2011. Evolutionary functions of
early social modulation of hypothalamic-pituitary-adrenal axis development in humans.
Neuroscience and Biobehavioral Reviews 35(7):1611-1629.
Gill SR, Pop M, Deboy RT, Eckburg PB, Turnbaugh PJ, Samuel BS, Gordon JI, Relman DA, Fraser-
Liggett CM, and Nelson KE. 2006. Metagenomic analysis of the human distal gut
microbiome. Science 312(5778):1355-1359.
Godfrey KM, Lillycrop KA, Burdge GC, Gluckman PD, and Hanson AM. 2007. Epigenetic
mechanisms and the mismatch concept of the developmental origins of health and
disease. Pediatric Research 61:5R- 10R.
Greisman LA, and Mackowiak PA. 2002. Fever: beneficial and detrimental effects of
antipyretics. Current opinion in infectious diseases 15(3):241-245.
Hales CN, and Barker DJP. 1992. Type 2 (non-insulin-dependent) diabetes mellitus: The thrift
phenotype hypothesis. Diabetologia 35:595-601.
665
Hobel CJ. 2004. Stress and Preterm Birth. Clinical Obstetrics and Gynecology 47(4):856-880.
Hobel CJ, Dunkel-Schetter C, Roesch SC, Castro LC, and Arora CP. 1999. Maternal plasma
corticotropinreleasing hormone associated with stress at 20 weeks gestation in
pregnancies ending in preterm delivery. American Journal of Obstetrics & Gynecology
180(1):S257-S263.
Kaplan H, Lancaster J, and Robson A. 2003. Embodies capital and the evolutionary economics
of the human life span. In: Carey JR, and Tuljapurkar S, editors. Life Span: Evolutionary,
Ecological, and Demographic Perspectives. New York: Population Council.
Kirkwood TBL. 1977b. Mechanism of Aging - Evolutionary Support for Error Theory. Trends in
Biochemical Sciences 2(10):N228-N229.
Kirkwood TBL, and Holliday R. 1977. Commitment to Senescence - Model for Aging of Human
Cells in Culture. Biometrics 33(2):430-430.
Kluger MJ, Kozak W, Conn CA, Leon LR, and Soszynski D. 1996. The adaptive value of fever.
Infectious disease clinics of North America 10(1):1-20.
Kuo CH, Kuo HF, Huang CH, Yang SN, Lee MS, and Hung CH. 2013. Early life exposure to
antibiotics and the risk of childhood allergic diseases: an update from the perspective of
the hygiene hypothesis. Journal of microbiology, immunology, and infection = Wei mian
yu gan ran za zhi 46(5):320-329.
Kuzawa CW. 1998. Adipose tissue in human infancy and childhood: an evolutionary
perspective. American Journal of Physical Anthropology Suppl 27:177-209.
Kuzawa CW, and Quinn EA. 2009. Developmental Origins of Adult Function and Health:
Evolutionary Hypotheses. Annual Review of Anthropology 38:131-147.
Lackland DT, Bendall HE, Osmond C, Egan BM, and Barker DP. 2000. LOw birth weights
contribute to the high rates of early-onset chronic renal failure in the southeastern united
states. Archives of Internal Medicine 160(10):1472-1476.
Layde PM, Webster LA, Baughman AL, Wingo PA, Rubin GL, and Ory HW. 1989. The
independent associations of parity, age at first full term pregnancy, and duration of
breastfeeding with the risk of breast cancer. Cancer and Steroid Hormone Study Group. J
Clin Epidemiol 42(10):963-973.
Lederberg J, McCray AT. Ome Sweet Omicsa genealogical treasury of words. Scientist.
2001;15:8
Lemanske RF, Jr. 2002. The childhood origins of asthma (COAST) study. Pediatr Allergy
Immunol 13 Suppl 15:38-43.
Ley RE, Lozupone CA, Hamady M, Knight R, and Gordon JI. 2008. Worlds within worlds:
evolution of the vertebrate gut microbiota. Nat Rev Microbiol 6(10):776-788.
Ley RE, Turnbaugh PJ, Klein S, and Gordon JI. 2006. Microbial ecology: human gut microbes
associated with obesity. Nature 444(7122):1022-1023.
666
Longo VD, and Finch CE. 2003. Evolutionary Medicine: From Dwarf Model Systems to Healthy
Centenarians? Science 299(5611):1342-1346.
Mair W, and Dillin A. 2008. Aging and survival: the genetics of life span extension by dietary
restriction. Annual Review of Biochemistry 77:727-754.
Marra F, Marra CA, Richardson K, Lynd LD, Kozyrskyj A, Patrick DM, Bowie WR, and Fitzgerald
JM. 2009. Antibiotic use in children is associated with increased risk of asthma. Pediatrics
123(3):1003-1010.
Masoro EJ. 2000. Caloric restriction and aging: an update. Experimental Gerontology
35(3):299-305.
Mayoral CE, Marino RV, Rosenfeld W, and Greensher J. 2000. Alternating antipyretics: is this
an alternative? Pediatrics 105(5):1009-1012.
McKeever TM, Lewis SA, Smith C, Collins J, Heatlie H, Frischer M, and Hubbard R. 2002. Early
exposure to infections and antibiotics and the incidence of allergic disease: a birth cohort
study with the West Midlands General Practice Research Database. J Allergy Clin Immunol
109(1):43-50.
McKenna JJ, and Mosko SS. 1994. Sleep and arousal, synchrony and independence, among
mothers and infants sleeping apart and together (same bed): an experiment in
evolutionary medicine. Acta Pdiatrica 83:94-102.
McShane TM, and Wise PM. 1996. Life-long moderate caloric restriction prolongs reproductive
life span in rats without interrupting estrous cyclicity: effects on the gonadotropin-
releasing hormone/luteinizing hormone axis. Biology of Reproduction 54(1):70-75.
Merlo LMF, Pepper JW, Reid BJ, and Maley CC. 2006. Cancer as an evolutionary and ecological
process. Nat Rev Cancer 6(12):924-935.
Mulder EJH, Robles de Medina PG, Huizink AC, Van den Bergh BRH, Buitelaar JK, and Visser
GHA. 2002. Prenatal maternal stress: effects on pregnancy and the (unborn) child. Early
Human Development 70(1):3-14.
Murgas Torrazza R, and Neu J. 2011. The developing intestinal microbiome and its relationship
to health and disease in the neonate. J Perinatol 31 Suppl 1:S29-34.
Nepomnaschy PA, and Flinn MV. 2009. Early life influences on the ontogeny of neuroendocrine
stress response in the human child. In: Gray PB, and Ellison PT, editors. Endocrinology of
Social Relationships. Cambridge, MA: Harvard University Press. p 364-382.
Nepomnaschy PA, Sheiner E, Mastorakos G, and Arck PC. 2007. Stress, immune function, and
women's reproduction. Ann N Y Acad Sci 1113:350-364.
Nepomnaschy PA, Welch K, McConnell D, Strassmann BI, and England BG. 2004. Stress and
female reproductive function: A study of daily variations in cortisol, gonadotrophins, and
gonadal steroids in a rural Mayan population. American Journal of Human Biology
16(5):523-532.
667
Nepomnaschy PA, Welch KB, McConnell DS, Low BS, Strassmann BI, and England BG. 2006.
Cortisol levels and very early pregnancy loss in humans. Proceedings of the National
Academy of Sciences of the United States of America 103(10):3938-3942.
Nesse RM, Bergstrom CT, Ellison PT, Flier JS, Gluckman P, Govindaraju DR, Niethammer D,
Omenn GS, Perlman RL, Schwartz MD et al. 2010. Making evolutionary biology a basic
science for medicine. Proceedings of the National Academy of Sciences 107(suppl 1):1800-
1807.
Nesse RM, and Stearns SC. 2008. The great opportunity: Evolutionary applications to medicine
and public health. Evolutionary Applications 1(1):28-48.
Nicholson JK, Holmes E, Kinross J, Burcelin R, Gibson G, Jia W, and Pettersson S. 2012. Host-gut
microbiota metabolic interactions. Science 336(6086):1262-1267.
Nicholson JK, Holmes E, and Wilson ID. 2005. Gut microorganisms, mammalian metabolism
and personalized health care. Nat Rev Microbiol 3(5):431-438.
Olszak T, An D, Zeissig S, Vera MP, Richter J, Franke A, Glickman JN, Siebert R, Baron RM,
Kasper DL et al. . 2012. Microbial exposure during early life has persistent effects on
natural killer T cell function. Science 336(6080):489-493.
Paterson S, Vogwill T, Buckling A, Benmayor R, Spiers AJ, Thomson NR, Quail M, Smith F,
Walker D, Libberton B et al. 2010. Antagonistic coevolution accelerates molecular
evolution. Nature 464(7286):275-278.
Pennington R. 1992 Did food increase fertility? Evaluation of !Kung and Herero history. Hum
Biol. 64(4):497- 521.
Pennington R. 2001. Hunter-gatherer demography. In: Panter-Brick C, Layton RH, and Rowley-
Conwy P, editors. Hunter-Gatherers: An Interdisciplinary Perspective. Cambridge:
Cambrindge University Press. p 170-204.
Prescott SL, Macaubas C, Smallacombe T, Holt BJ, Sly PD, and Holt PG. 1999. Development of
allergenspecific T-cell memory in atopic and normal children. Lancet 353(9148):196-200.
Ramakrishnan R, Khan SA, and Badve S. 2002. Morphological changes in breast tissue with
menstrual cycle. Mod Pathol 15(12):1348-1356.
Raoult D. 2010. The globalization of intestinal microbiota. Eur J Clin Microbiol Infect Dis
29(9):1049-1050.
Risnes KR, Belanger K, Murk W, and Bracken MB. 2011. Antibiotic exposure by 6 months and
asthma and allergy at 6 years: Findings in a cohort of 1,401 US children. American journal
of epidemiology 173(3):310-318.
668
Rook GA. 2007. The hygiene hypothesis and the increasing prevalence of chronic inflammatory
disorders. Trans R Soc Trop Med Hyg 101(11):1072-1074.
Rose MR. 1982. antagonistic pleiotropy, dominance, and genetic variation. Heredity 48:63-78.
Rose MR. 1985. Life history evolution with antagonistic pleiotropy and overlapping
generations. Theoretical Population Biology 28:342-358.
Singh V, and Aballay A. 2006. Heat-shock transcription factor (HSF)-1 pathway required for
Caenorhabditis elegans immunity. Proceedings of the National Academy of Sciences of the
United States of America 103(35):13092-13097.
Sommer F, and Backhed F. 2013. The gut microbiota--masters of host development and
physiology. Nat Rev Microbiol 11(4):227-238.
Stearns SC. 2000. Life history evolution: successes, limitations, and prospects.
Naturwissenschaften 87(11):476-486.
Stearns SC. 2012. Evolutionary medicine: its scope, interest and potential. Proceedings of the
Royal Society B 279(1746):4305-4321.
Strachan DP. 1989. Hay fever, hygiene, and household size. Bmj 299(6710):1259-1260.
Strachan DP. 1997. Allergy and family size: a riddle worth solving. Clin Exp Allergy 27(3):235-
236.
Strassmann BI. 1999. Menstrual cycling and breast cancer: an evolutionary perspective. J
Womens Health 8(2):193-202.
Taylor CE, and Greenough WB, 3rd. 1989. Control of diarrheal diseases. Annu Rev Public Health
10:221- 244.
Trevathan W, Smith EO, and McKenna JJ. 1999. Evolutionary medicine. New York: Oxford
University Press. xvi, 480 p. p.
Trevathan W, Smith EO, and McKenna JJ. 2008. Evolutionary medicine and health: new
perspectives. New York: Oxford University Press. xii, 532 p. p.
Turnbaugh PJ, Ley RE, Mahowald MA, Magrini V, Mardis ER, and Gordon JI. 2006. An obesity-
associated gut microbiome with increased capacity for energy harvest. Nature
444(7122):1027-1031.
Vihko RK, and Apter DL. 1986. The epidemiology and endocrinology of the menarche in
relation to breast cancer. Cancer Surv 5(3):561-571.
Von Ehrenstein OS, Von Mutius E, Illi S, Baumann L, Bohm O, and von Kries R. 2000. Reduced
risk of hay fever and asthma among children of farmers. Clin Exp Allergy 30(2):187-193.
Wallace DC. 2007. Why Do We Still Have a Maternally Inherited Mitochondrial DNA? Insights
from Evolutionary Medicine. Annual Review of Biochemistry 76(1):781-821.
669
Wander K, Shell-Duncan B, and McDade TW. 2009. Evaluation of iron deficiency as a nutritional
adaptation to infectious disease: An evolutionary medicine perspective. American Journal
of Human Biology 21(2):172-179.
Wells JC. 2012. A critical appraisal of the predictive adaptive response hypothesis.
International Journal of Epidemiology 41(1):229-235.
Whitman WB, Coleman DC, and Wiebe WJ. 1998. Prokaryotes: the unseen majority. Proc Natl
Acad Sci U S A 95(12):6578-6583.
Williams GC. 1957. Pleiotropy, natural selection, and the evolution of senescence. Evolution
11:398-411.
Williams GC, and Nesse RM. 1991. The dawn of Darwinian medicine. Quarterly Review of
Biology 66(1):1- 22.
Woods KA, Camacho-Hbner C, Savage MO, and Clark AJL. 1996. Intrauterine Growth
Retardation and Postnatal Growth Failure Associated with Deletion of the Insulin-Like
Growth Factor I Gene. New England Journal of Medicine 335(18):1363-1367.
Wu HJ, and Wu E. 2012. The role of gut microbiota in immune homeostasis and autoimmunity.
Gut Microbes 3(1):4-14.
Young PJ, Saxena MK, and Beasley RW. 2011. Fever and antipyresis in infection. Med J Aust
195(8):458- 459.
670
LISTA DE AUTORES(AS) E EDITORES(AS).
Claudia M. Aranda
Chefa da rea de Antropologia Biolgica do Museu Etnogrfico J. B. Ambrosetti (Faculdade de Filosofia e
Letras, Universidad de Buenos Aires, Argentina). arandaclau@gmail.com
Rafael Bisso-Machado
Bilogo, com Mestrado e Doutorado em Gentica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Brasil. rafaelbmachado@gmail.com
671
Gabriel A. Bollini
Faculdade de Cincias Naturais e Museu de La Plata, Universidad Nacional de La Plata. Email:
gabrielbollini@gmail.com
Meggan Bullock
PhD. em Antropologia, Docente e Pesquisadora Escola Nacional de Antropologia e Histria.
megganbullock@gmail.com
Bibiana Cadena
MSc. em Antropologia, Estudante de Doutorado em Antropologia Fsica Escola Nacional de
Antropologia e Histria. mariel725@gmail.com
Sonia Colantonio
Professora Titular de Antropologia. Faculdade de Cincias Exatas, Fsicas e Naturais. Universidad
Nacional de Crdoba, Argentina. Pesquisador Principal do CONICET. scolanto@efn.uncor.edu
Cristina B. Dejean
Professora Adjunta e Pesquisadora da Universidad de Buenos Aires. Docente no Bacharelado em
Cincias Biolgicas da Universidad Maimnides. dejeancr@gmail.com
Gustavo Flensborg
Pesquisador assistente do Consejo Nacional de Investigaciones Cientficas e Tcnicas EU INCUAPA-
CONICET-UNICEN. gflensbo@soc.unicen.edu.ar
672
Rolando Gonzlez-Jos
Diretor do Centro Nacional Patagnico CONICET, Puerto Madryn, Argentina. Tel: +54 (0)280 488-3184
/ 488 3185 (Int. 1219). rolando@cenpat-conicet.gob.ar
Antonio Gonzlez-Martn
Universidad Complutense de Madrid. Rua Jos Antonio Novais, 2. 28040, Madrid. antonio@ucm.es
Martn Kowalewski
Pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Cientficas e Tcnicas na Argentina. Diretor da
Estao Biolgica Corrientes. martinkow@gmail.com
Alberto A. Makinistian
Professor Titular Ordinrio da Disciplina de Paleoantropologia e Evoluo na Faculdade de Humanidades
e Artes da Universidad Nacional de Rosario, Argentina. amakinistian@citynet.net.ar
Axayacatl Medina
Engenheiro Biotecnlogo, Mestrando em Antropologia Fsica Escola Nacional de Antropologia e
Histria. axa106@hotmail.com
673
Samantha Negrete
Antroploga Fsica, mestranda em Antropologia Fsica Escola Nacional de Antropologia e Histria.
vhehk1989@gmail.com
Germn Manrquez
Departamento de Antropologia e Centro de Anlises Quantitativas em Antropologia Dental, Faculdade
de Odontologia. Universidad de Chile. gmanriquezs@odontologia.uchile.cl
Nazanin Mohtadi
Volunteer Research Assistent. Maternal Child Health Laboratory. Faculty of Health Sciences Simon
Fraser University. Canada.
Pablo Nepomnaschy
Professor Associado. Diretor do Maternal Child Health Laboratory. Faculty of Health Sciences Simon
Fraser University. Canada. pablo_nepomnaschy@sfu.ca
Luciana Oklander
Pesquisadora do Consejo Nacional de Investigaciones Cientficas e Tcnicas na Argentina. Instituto de
Biologia Subtropical (IBS-CONICET), Misiones, Argentina. lulaok@gmail.com
674
Virginia Ramallo
Antroploga, com Doutorado em Cincias Naturais. Pesquisadora assistente no Consejo Nacional de
Investigaciones Cientficas e Tcnicas, Argentina. ramallo@cenpat-conicet.gob.ar
Francisco Rothhammer
Instituto de Alta Investigao, Universidad de Tarapac, Faculdade de Medicina, Universidad de Chile e
Centro de Pesquisas do Homem no Deserto, Chile. frothham@med.uchile.cl
Mnica Sans
Departamento de Antropologia Biolgica, Faculdade de Humanidades e Cincias da Educao,
Universidad de la Repblica, Magallanes 1577, 11200, Montevideo, Uruguai. mbsans@gmail.com
Jorge A. Suby
Membro do INCUAPA-CONICET e da Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires,
Argentina. jasuby@conicet.gov.ar
Marcelo Tejedor
Pesquisador, Consejo Nacional de Investigaciones Cientficas e Tcnicas. Professor Adjunto, Universidad
Nacional de la Patagonia. Centro Nacional Patagnico. tejedor@cenpat-conicet.gob.ar
Bernardo Urbani
Pesquisador Associado do Centro de Antropologia do Instituto Venezolano de Investigaciones Cientficas
em Caracas. burbani@illinois.edu
675
Claudia R. Valeggia
Department of Anthropology. Yale University. 10 Sachem St. New Haven CT 06511, USA.
claudia.valeggia@yale.edu
676