Cefaleias - José Geraldo Speciali - Wilson Farias Da Silva
Cefaleias - José Geraldo Speciali - Wilson Farias Da Silva
Cefaleias - José Geraldo Speciali - Wilson Farias Da Silva
Impresso no Brasil
2002
EDITORES
Prof. Dr
Prof. Dr.. Jos Geraldo Speciali
Professor Associado de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP de Ribeiro Preto.
Assessor de Divulgao da Sociedade Brasileira de Cefalia.
Prof. Dr
Prof. Dr.. W ilson Farias da Silva
Professor Titular da Disciplina de Neurologia e Neurocirurgia do Servio de Neurologia e
Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco.
Ambulatrio de Cefalia do HC-UFPE.
C OL ABORADORES
OLABORADORES
Edgard Raf
Edgard faelli Jr
Raffaelli Jr..
Neurologista, Doutor em Medicina pela FMUSP.
Organizador e Fundador das Sociedades Brasileira e Internacional de Cefalia.
Eliova Zukerman
Professor Adjunto de Neurologia da Universidade Federal de So Paulo/Escola Paulista de
Medicina.
Vice-Presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.
Dr
Dr.. Hilton Mariano da Silva JrJr..
Mestre em Neurologia pela USP-RP.
Membro do Ncleo de Estudos em Cefalia da USP-RP.
Membro das Sociedades Brasileira e Internacional de Cefalia.
Ida Fortini
Neurologista, Orientadora do Ambulatrio de Cefalia do Hospit al das Clnicas de So Paulo.
Marcelo Gabriel V
Marcelo ega
Vega
Doutor em Medicina pela Universidade Nacional de Buenos Aires.
Organizador do Laboratrio de Dor Ceflica do Hospital Municipal Odilon Behrens,
Belo Horizonte, MG.
Paulo de TTarso
arso T roleis Guimares
Fisioterapeuta.
Ps-graduando em Neurocincias pela Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da Universidade
de So Paulo.
Especialista em RPG, Cadeias Musculares e Osteopatias.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Alvarez WC. Notes on the history of migraine. Headache 1963;4:208-212.
Brando JS. Mitologia Grega. 11a ed. Petrpolis: Vozes Volume II, 2000; pp. 24.
Clifford Rose F. John Fothergill (1712 - 1780). In: Clifford Rose F. A Short History of Neurology.
Oxford: Butterworth-Heinemann, 1999; pp. 88-92.
Clifford Rose F. The history of migraine from Mesopotamian to Medieval times. Cephalalgia
1995;(Suppl) 15:1-3.
Diamond S, Prager J, Gandhi S. Hallucinations and migraine. In: Amery WK, Wauquier A
(eds.). The Prelude to the Migraine Attack. London: Bailliere Tindal, 1986; pp. 99-111.
Feindel W. The Beginnings of Neurology: Thomas Willis and his Circle of Friends. In:
ClifFord Rose F. A Short History of Neurology. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1999;
pp. 1-18.
Gower WR. Clinical lectures on the bordeland of epilepsy. III Migraine. Br Med J 1906;2:1617-
1622.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgia, and facial pain.
Cephalalgia 1988;8(Suppl 7):1-96.
Histria da Medicina. Volume I. So Paulo: Abril Cultural, 1969.
Isler H. Headache classification prior to the Ad Hoc criteria. Cephalalgia 1993; 13(Suppl
12):9-10.
32
Isler H. Retrospect: The History of Thought about Migraine from Aretaeus to 1920. In: Blau
JN. Migraine. Cambridge: Chapman and Hall, 1987; pp. 659-674.
Lashley KS. Patterns of cerebral integration indicated by scotomas of migraine. Arch Neurol
Psychiatr 1941;46:331-339.
Leao AAP, Morison RS. Propagation of spreading cortical depression. J Neurophysiol
1945;8:33-45.
Leao AAP. Spreading depression of activity in the cerebral cortex. J Neurophysiol 1944;7:359-
390.
Liveing E. On Megrim, Sick-Headache, and Some Allied Disorders. Nijmegen, the
Netherlands: Arts & Boeve, 1997.
Lord GDA. Clinical characteristic of the migranous aura. In: Amery WK The Prelude to the
Migraine Attack. Great Britain, 1986; pp. 87-98.
Maranho Filho P, Costa AL. Neurologia: Pingos & Respingos. Rio de Janeiro: Revinter,
2000; pp. 55.
Moskowitz MA. The neurobiology of vascular head pain. Ann Neurol 1984;16:157-168.
Pearse JMS. Edward Living's (1832-1919). Theory of Nerve-storms in Migraine. In: Cliford
Rose F. A Short History of Neurology. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1999; pp. 192-
203.
Raffaelli Jr E. Cefalias crnicas e enxaqueca. Ars Curandi 1979;11:5-46.
Raffaelli Jr E. Enxaquecas. Edio do Programa Nacional de Atualizao Mdica. (Fontora-
Wyeth). 1980; 2:3-40.
Sacks OW. Migraine Evolution of a Common Disorder. Berkeley, Los Angeles: University
of California Press, 1972.
33
2
ANAMNESE
Wilson Farias da Silva
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Ad Hoc Committee of the International Headache Society. Classification and diagnostic
criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988;
(Supp.7):1-98.
47
Farias da Silva W. Cefalia Tensional: Quadro Clnico e Estudo Comparativo com as Cefalias
Vasculares. In: Disfunes Autonmicas nas Cefalias. IV Curso de Atualizao em
Cefalia. So Paulo: Ach,1984; pp. 9-13.
Farias da Silva W. Diagnstico e tratamento das cefalias vasculares. Neurobiologia
1977;49: 78.
Farias da Silva W. Estudo Comparativo entre Enxaqueca Clssica e Comum (No-Clssica).
In: Disfunes Autonmicas nas Cefalias. IV Curso de Atualizao em Cefalia. So
Paulo: Ach, 1984; pp. 3-5.
Farias da Silva W et al. Cefalia em relao atividade sexual (cefalia orgsmica).
Neurobiologia 1980;43:425-428.
Farias da Silva W et al. Fatores desencadeantes ou agravantes de crises de enxaqueca.
Estudo em 235 pacientes. Revista Brasileira de Medicina 1979;36:495-497.
Farias da Silva W et al. Cefalia do esforo e da tosse. Neurobiologia 1980;43:145-150.
Farias da Silva W, Van Der Liden AM. Cefalia em salvas: diagnstico e tratamento.
Neurobiologia 1983;46:53-66.
Farias da Silva W. Cefalias. Diagnstico e Tratamento. Rio de Janeiro: Medsi, 1988; pp. 276.
Farias da Silva W. Estudo comparativo entre aspectos clnicos da enxaqueca clssica e
comum. Tese para Concurso de Professor Titular do C.C.S. da UFPE, 1988.
Farias da Silva W et al. Cefalia em salvas: alguns aspectos clnicos pouco freqentes.
Neurobiologia 1991;54:135-140.
Farias da Silva W, Valena MM. "Hemicrania contInua": a new case responsive to
amitriptyline. Neurobiologia 1993;56:155-158.
Forsyth PA, Posner JB. Headache in patients with brain tumor: a study of the 111 patients.
Neurology 1993;43:1678-1682.
Frishberg MB. The utility of neuroimaging in the evaluation of headache in patients with
normal neurologic examination. Neurology 1944;44:1191-1197.
Graham JR. Cefalia, Diagnstico, Mecanismo e Tratamento. So Paulo: Fontora Wyeth,
1978;p. 45.
Lance JW. Mechanism and Management of Headache. Inglaterra: University Press,
Cambridge; 1993;p. 289.
Lovshin LL. Carotidynia. Headache 1977;17:192-195.
Mitchell CS et al. Computed tomography in the headache patient: is routine evaluation
really necessary? Headache 1993;33:82-86.
Paulley JW, Hughes JP. Giant-cells arterites or arterites of the aged. British Medical Journal
1960;2:1562-1566.
Raffaelli Jr E. Cefalias crnicas e enxaquecas; diagnstico e tratamento. Ars Curandi 1979;11:
5-46.
Raskin NH, Appenzeller O. Headache (Major Problems in Internal Medicine). Philadelphia:
W. B. Saunders, 1980; 244p.
48
Raskin NH, Pruzinier MD. Carotidynia. Neurology 1977;27:43-46.
Rooke ED. Cefalia Benigna de Esforo. Clnica Mdica da Amrica do Norte. 1968; 4:799-806.
Sanvito WL. Sndromes Neurolgicas. So Paulo Manole, 1977; 436p.
Shaumburg HH et al. Monosodium L-Glutamate: it's pharmacology and role in the Chinese
restaurant syndrome. Science 1969;163:826-827.
Singh J et al. Acute mountain sickness. Boston New England Journal of Medicine
1969;280:175-184.
Sjaastad O, Dale I. Evidence for a new treatable headache entity. Headache 1974;14:105-108.
Sjaastad O et al. Chronic paroxysmal hemicrania: mechanical precipitation of attacks.
Headache 1979;19:31-37.
Symonds C. Cough headache. Brain 1956;29:567-577.
Thomas JE et al. The neurologist's experience with pheochrcromocytoma. JAMA
1966;197:754-758.
Vijayan N, Dreyfus PM. Posttraumatic dysautonomic cephalalgia. Clinical observations
and treatment. Archives of Neurology 1975; 32:649-652.
Williams B. Cerebrospinal fluid pressure. Changes in response to coughing. Brain
1976;99:341-346.
Wolff HG. Headache and Other Head Pain. New York: Oxford Univ. Press 6 ed. 1993.
49
3
A EPIDEMIOLOGIA
DAS CEFALIAS PRIMRIAS
Liselotte Menke Barea
Cassiano Mateus Forcelini
INTRODUO
Desde os primrdios da civilizao, o homem tem se preocupado com o sintoma
dor de cabea e tem procurado formas de o evitar ou eliminar. Sua importncia,
j ressaltada em textos assrios e babilnicos, foi definitivamente assinalada na
literatura mdica quando Hipcrates descreveu pela primeira vez um caso de
enxaqueca.
A noo de dor de cabea como uma queixa comum antiga, constituindo um
fato inconteste j comprovado por diversos estudos populacionais. Porm, o
conhecimento detalhado da natureza dos diversos tipos de cefalia, especialmente
daquelas denominadas cefalias primrias, s obteve progresso significativo nas
ltimas dcadas do sculo XX. Para isso, contriburam grandemente os avanos
na rea da epidemiologia e sua aplicao no estudo das cefalias.
Tabela 3.1 Algumas estimativas de prevalncia para cefalia do tipo tensional episdica
Autor (ano) Tipo de Mtodo de Amostra Faixa Intervalo Prevalncia (%)
Pas populao pesquisa etria (masc.) (fem.)
Rasmussen Comunidade Entrevista, 1.000 Adultos Vida 78,0
et al. (1991) exame clnico (69,0) (88,0)
Dinamarca
Schwartz et al. Comunidade Entrevista 13.345 Adultos 1 ano 38,3
(1998) (36,3) (42,0)
EUA
Lavados e Comunidade Entrevista 1.385 Adultos 1 ano 26,9
Tenhamm (18,1) (35,2)
(1998) Chile
53
No estudo dinamarqus de Rasmussen et al. (1992) foi evidenciado que 59%
das pessoas portadoras de cefalia do tipo tensional sofrem, pelo menos, um episdio
por ms, enquanto 37% apresentam vrios episdios mensais.
A cefalia do tipo tensional crnica bem menos freqente que a episdica e,
a despeito do seu grande impacto individual, tem um impacto social menor que a
forma episdica.
EPIDEMIOLOGIA DA MIGRNEA
A maioria das medidas de freqncia de migrnea em base populacional est
representada por estudos de prevalncia, cujos ndices variados podem ser
justificados por diferentes critrios de seleo populacional e distintas definies
de caso de enxaqueca. Pode ser observado (Tabela 3.2) que os ndices de preva-
lncia de migrnea se tornaram mais uniformes aps a utilizao dos critrios
diagnsticos da IHS, embora ainda se notem nveis mais elevados na Europa e nos
EUA quando comparados queles da sia e da Amrica Latina.
Stewart et al. (1999) conduziram uma meta-anlise de estudos de prevalncia de
migrnea (incluindo os anteriores ao estabelecimento dos critrios da IHS) abarcando
apenas aqueles que informavam a prevalncia relacionada ao sexo, idade e a definio
de caso baseada em sintomas bem definidos. Por meio de anlise por regresso
linear pode se constatar que o fator sexo responsvel por 15% da variao nas
estimativas de prevalncia; sexo mais idade por 30% e quando se acrescenta ainda
a definio de caso, a variao nas estimativas de prevalncia sobe a 70,6%.
A migrnea constitui a segunda cefalia primria mais predominante, tendo
pico de prevalncia nos anos produtivos, entre 25 e 55 anos. Antes dos 12 anos de
idade, a enxaqueca mais comum em meninos que meninas. Essa relao se
inverte a partir da adolescncia, e a preponderncia feminina (relao mulher/
homem) 2:1 aos 20 anos de idade e 3,3:1 aos 42 anos. Mesmo aps a menopausa,
o predomnio feminino permanece.
No que se refere ao diagnstico da migrnea na infncia e na adolescncia,
vrios estudos tm sido conduzidos na tentativa de estimar a sensibilidade e a
especificidade dos critrios diagnsticos da IHS para enxaqueca nessa faixa
etria. Arruda et al., (2000), em nosso meio, observaram baixa sensibilidade e
alta especificidade dos critrios da IHS. Estes, no entanto, concluram os
autores, demonstram ser teis e necessrios na prtica diria e na pesquisa da
migrnea na infncia, desde que adaptados para a populao infantil, ou seja,
reduzindo o tempo de durao da crise de migrnea para uma hora.
So escassos os estudos de incidncia de migrnea em base populacional,
possivelmente pelas dificuldades em conduzir estudos de coorte para avaliar um
distrbio episdico como a migrnea.
54
Tabela 3.2 Algumas estimativas de prevalncia para migrnea
Autor (ano) Tipo de Mtodo de Amostra Faixa etria Intervalo Definio Prevalncia
Pas populao pesquisa (anos) enxaqueca
(masc.) (fem.)
Bille (1962) Estudantes Entrevista, 8. 993 7 15 Vida 2 de 3,3 4,4
Sucia correio HF/N/U/AV
Ekbom et al. Funcionrios Entrevista 9. 610 18 Vida 2 de 1,7
(1978) HF/N/U/AV
Sucia
Henry et al. Comunidade Entrevista 4. 204 5 65 1 ano IHS 1988 6,1 17,6
(1992)
Frana
Rasmussen Comunidade Entrevista, 740 25 64 Vida IHS 1988 7,8 25,2
et al. (1991) exame 1 ano 5,9 15,3
Dinamarca clnico
Stewart Comunidade Questionrio 20. 334 12 80 1 ano IHS 1988 6,0 17,7
et al. (1993)
EUA
Barea et al. Estudantes Entrevista, 538 10 18 1 ano IHS 1988 9,6 10,3
(1996) exame dia 0,7 1,8
Brasil clnico
Lavados e Comunidade Entrevista 1.385 adultos 1 ano IHS 1988 2,0 11,9
Tenhamm
(1997)
Chile
Launer et al. Comunidade Entrevista 6.491 20 65 Vida IHS 1988 13,3 33,0
(1999) telefnica, 1 ano 7,5 25,0
Holanda exame
clnico*
Lu et al. Estudantes Entrevista 4.064 13 15 Vida IHS 1988 5,7 7,8
(2000)
Taiwan
HF = histria familiar, n = nusea, U = unilateral, AV = aura visual.
* Se houve dvida diagnstica.
Pode-se depreender que aqueles tipos de dor de cabea que fazem os pacientes
freqentar mais os consultrios e clnicas, notadamente as especializadas no
tratamento de dor de cabea, costumam ser mais graves e trazer maior prejuzo
socioeconmico a eles. De fato, embora menos prevalente, a cefalia do tipo
tensional crnica determina mais dias de trabalho perdidos e reduo na
produtividade que sua variante episdica, proporcionalmente. Essa, por ser mais
prevalente, acaba tendo impacto social global maior. Alm disso, a variante episdica
afeta principalmente as faixas etrias que constituem a maior parte da populao
economicamente ativa. Mas para o indivduo isolado, o impacto da cefalia do tipo
tensional crnica mais significativo.
O impacto da migrnea na vida pessoal, familiar e social tambm significativo,
pois se apresenta como dor moderada a intensa, durando de horas a dias, com
freqentes episdios em uma grande parcela dos indivduos sofredores, e comum
na populao em geral. De fato, segundo Launer et al., mais de 25% dos pacientes
com migrnea experimentam pelo menos duas crises por ms.
Como a maior prevalncia de migrnea entre 25 e 55 anos, ou seja, os
anos mais produtivos, deduz-se o prejuzo causado pela condio. O impacto
da migrnea na sociedade avaliado pelos custos diretos despendidos com a
ateno mdica e o uso de medicamentos e pelos custos indiretos representados
por absentesmo e diminuio da produtividade no trabalho. Para se ter uma
idia do impacto econmico, basta ver a estimativa de Osterhaus et al. de U$
5 a 17 milhes como sendo o custo anual determinado pela falta ao trabalho ou
diminuio da produtividade dos migranosos nos Estados Unidos. Em nosso
meio, Bigal et al. avaliaram os custos hospitalares para atendimento, inves-
tigao e tratamento clnico de pacientes com cefalias agudas numa Unidade
de Emergncia pblica brasileira, estimando em US$ 76.985,17 os valores
dispendidos durante um ano.
58
Stewart et al.(1996) num estudo que procurou comparar um questionrio para
avaliao do impacto individual de cefalia (Migraine Disability Assessment
MIDAS) com outro mais antigo (Headache Impact Questionnaire HimQ),
encontraram maior prejuzo nos pacientes que sofriam migrnea em relao aos
portadores de outras cefalias.
A tabela 3.4 traz os nmeros de diversos trabalhos que procuraram quantificar
esse impacto socioeconmico da migrnea.
As cefalias primrias, especialmente a cefalia do tipo tensional episdica, a
migrnea e a cefalia crnica diria tm, alm do impacto individual, grande
repercusso social dadas a alta prevalncia e significativa incapacidade gerada.
Infelizmente, os recentes avanos na pesquisa da etiopatogenia, epidemiologia e
tratamento dessas condies no se acompanharam de uma divulgao adequada
nos meios mdico e leigo.As cefalias primrias devem ser consideradas, e includas,
cada vez mais na elaborao dos planos de sade pblica, na educao mdica em
geral e na informao da populao. Somente assim, com o desenvolvimento de
medidas abrangentes de assistncia, educao e pesquisa podero ser reduzidos
os prejuzos sociais desencadeados pelo sofrimento e pela incapacidade gerados
nos pacientes com cefalias recidivantes.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Arruda MA, Bordini CA, Ciciarelli MC, Speciali JG, Arruda LCF. Cefalia crnica na infncia:
avaliao dos critrios diagnsticos da IHS. Uma proposta de modificao. Migrneas
e Cafalias 2000;3(4) 125 (resumo).
59
Barea LM, Tannhauser M, Rotta NT. An epidemiologic study of headache among children
and adolescents of Southern Brazil. Cephalalgia 1996;16:545-549.
Benassi G, DAlessandro R, Lenzi PL, Manzaroli D, Baldrati A, Lugaresi E. The economic
burden of headache: an epidemiological study in the Republic of San Marino. Headache
1986;266:457-459.
Bigal ME, Fernandes LC, Bordini CA, Speciali JG. Hospital costs of acute headaches in a
Brazilian public emergency room unit. Arq Neuropsiquiatr 2000; 58 (3A):664-670.
Castillo J, Muoz P, Guitera V, Pascual J. Epidemiology of chronic daily headache in the
general population. Headache 1999;39:190-196.
Field AG, Wang E. Evaluation of the patient with nontraumatic headache: an evidence
based approach. Emergency Medicine Clinics of North America 1999;17(1):127-152.
Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Clinical epidemiology: the essentials. 3rd ed. Baltimore:
Willians & Wilkins, 1996; pp. 281.
Gracia Naya M. The importance of headaches in neurology clinics. Study groups of
neurologists of Aragon. Rev Neurol 1999; 29(5):393-396.
Green JE. A survey of migraine in England 1975-1976. Headache 1977;17:67-68.
Guitera V, Muoz P, Castillo J, Pascual J. Transformed migraine: a proposal for the
modification of its diagnostic criteria based on recent epidemiological data. Cephalalgia
1999;19:847-850.
Isler H. Retrospect: the history of thought about migraine from Aretaens to 1920. In: Blau
JN (ed). Migraine: Clinical, Therapeutic, Conceptual, and Resaerch Aspects. London:
Chapman and Hall, 1987; pp. 659-674.
Jensen R. Pathophysiological mechanisms of tension-type headache: a review of
epidemiological and experimental studies. Cephalalgia 1999; 19(6):602-621.
Lance JW, Goadsby PJ. Mechanism and management of headache, 6th ed. Oxford, UK:
Butterworth- Heinemann, 1998.
Launer LJ, Terwindt GM, Ferrari MD. The prevalence and characteristics of migraine in a
population-based cohort The GEM study. Neurology 1999;53:537-542.
Lavados PM, Tenhamm E. Epidemiology of migraine headache in Santiago, Chile: a
prevalence study. Cephalalgia 1997; 17(7):770-777.
Lavados PM, Tenhamm E. Epidemiology of tension-type headache in Santiago, Chile: a
prevalence study. Cephalalgia 1998;18(8):552-558.
Linet MS, Stewart WF, Celentano DD, Ziegler D, Sprechner M. An epidemiologic study of
headache among adolescents and young adults. JAMA 1989;261:2211-2216.
Lipton RB, Stewart WF. Epidemiology and Comorbility of Migraine. In: Goadsby PJ,
Silberstein SD (ed.). Headache. Boston: Butterworth-Heinemann, 1997; pp.75-95.
Lipton RB, Stewart WF. Prevalence and impact of migraine. Neurologic Clinics 1997;15:1-
13.
Lu S-R, Fuh J-L, Juang K-D, Wang S-J. Migraine prevalence in adolescents aged 13-15: an
student population-based study in Taiwan. Cephalalgia 2000;20:479-485.
60
Martin BC, Dorfman JA, McMIllan JA, McMillan CA. Prevalence of migraine headache and
association with sex, age, race and rural/urban residence: a population-based study of
Georgia Medical Recipients. Clinical Therapeutics 1994;16:855-872.
Merikangas KR, Fenton BT, Cheng SH, Stolar MJ, Risch N. Association between migraine
and stroke in a large-scale epidemilogical study of the United States. Arch Neurol 1997;
54:362-368.
Nikiforow R, Hokkanen E. Effects of headache on working ability: a survey of an urban and
a rural population in Northern Finland. Headache 1979;19:214-218.
Osterhaus JT, Gutterman DL, Plachetka JR. Healthcare resource and lost labor costs of
migraine headache in the United States. Pharmacoeconomics 1992;2:67-76.
Rasmussen BK, Jensen R, Olesen J. Impact of headache on sicknes absence and utilisation
of medical services: a Danish population study. J Epidemiol Community Health
1992;46:443-446.
Rasmussen BK, Jensen R, Schroll M, Olesen J. Epidemiology of headache in a general
population a prevalence study. J Clin Epidemiol 1991;44:1147-1157.
Rozen TD, Swanson MD, Stang PE, McDonnell SK, Rocca WA. Increasing incidence of
medically recognized migraine headache in a United States population. Neurology 1999:
53:1468-1473.
Santandello NC, Polis AB, Hartmaier SL, Kramer MS, Block GA, Silberstein SD. Improvement
in migraine-specific quality of life in a clinical trial of rizatriptan. Cephalalgia 1997;17:
867-872.
Schwartz BS, Stewart WF, Simon D, Lipton RB. Epidemiology of tension-type headache.
JAMA 1998;279(5):381-383.
Silberstein SD, Lipton RB. Headache epidemiology Emphasis on migraine. Neurologic
Clinics 1996;14:421-434.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby JP. Headache in Clinical Practice. Oxford, UK: Isis
Medical Media, 1998.
Silberstein SD, Lipton RB, Solomon S, Mathew NT. Classification of daily and near-daily
headaches: proposed revisions to the IHS criteria. Headache 1994;34:1-7.
Stewart WF, Linet MS, Celentado DD, Van Natta M, Ziegler D. Age and sex-specific incidence
rates of migraine with and without visual aura. Am J Epidemiol 1993;34:1111-1120.
Stewart WF, Lipton RB, Kolodner K, Liberman J, Sawyer J. Reliability of the migraine
disability assessment score in a population-based sample of headache sufferers.
Cephalalgia 1999;19:107-114.
Stewart WF, Lipton RB, Simon D. Work-related disability: results from the American Migraine
Study. Cephalalgia 1996;16:231-238.
Stewart WF, Lipton RB, Simon D, Liberman J, Von Korff. Validity of an illness measure for
headache in a population sample of migraine sufferers. Pain 1999;79:2-3; 291-301.
Zebenholzer K, Wober C, Kienbacher C, Wober-Bingol C. Migrainous disorder and headache
of the tension-type not fulfilling the criteria: a follow-up study in children and
adolescents. Cephalagia 2000;20(7):611-616.
61
4
MIGRNEA (ENXAQUECA)
Hilton Mariano da Silva Jr.
Ida Fortini
Carlos Alberto Bordini
ASPECTOS DIAGNSTICOS
Hilton Mariano da Silva Jr.
HISTRICO
A migrnea foi o primeiro tipo de dor de cabea a ser diferenciado, talvez em
virtude de seus aspectos algumas vezes dramticos, como a hemianopsia e os
vmitos. Areteus da Capadcia (atualmente Turquia) relatou a heterocrania como
uma dor de cabea paroxstica, unilateral, variando de lado, associada a nuseas,
vmitos e fotofobia e melhorando na obscuridade. Cerca de meio sculo mais
tarde, Galeno usou o termo hemicrania, focalizando a unilateralidade da dor, termo
que prevaleceu e passou para o italiano como magrana ou emigrania, para o
ingls/francs como migraine e para o castelhano como migraa. Neste idioma,
utiliza-se tambm jaqueca, termo herdado do rabe sagiga, que significa fender
ao meio e que, no portugus, tornou-se enxaqueca. Em 1984, a Sociedade Brasileira
de Cefalia sugeriu o uso dos termos migrnea para a doena e migranoso para o
paciente.
INTRODUO
O diagnstico da migrnea ou enxaqueca no difere, em linhas gerais, do de
outras molstias: extremamente fcil nos casos tpicos e repleto de sintomas e
sinais, e difcil nos casos oligossintomticos, exigindo alto grau de suspeio clnica
do mdico.As peculiaridades e dificuldades de diagnstico, observadas no cotidiano,
principalmente para o generalista, devem-se aos seguintes fatos:
1. O nosso raciocnio diagnstico baseia-se exclusivamente no relato feito
pelo paciente de sua dor, no existindo at o momento nenhum marcador
diagnstico adequadamente sensvel, especfico e disponvel para ser utilizado
em larga escala para identificar os migranosos. Alm da clareza de
informao que se alicera no nvel de instruo e cultural do paciente,
observou-se que os pacientes ao longo do tempo e aps algumas consultas
mdicas aprendem a conhecer melhor sua dor e, desse modo, a informam
melhor ao profissional de sade.
2. Os exames complementares disponveis no arsenal neurolgico so
exclusivamente excludentes de outras doenas, no se prestando para uso
como ferramenta diagnstica inicial. Uma crise de enxaqueca, assim como
uma crise epilptica, pode ocorrer em indivduos completamente normais (o
sistema nervoso central, inclusive), o que traz tona a questo da susceti-
bilidade individual, geneticamente determinada, e nos leva a procurar conhecer
os mecanismos responsveis pela repetio das crises.
3. A expresso clnica (fentipo) da migrnea varia imensamente; seja interin-
dividualmente nos estudos populacionais, seja ao longo da vida num mesmo
indivduo. Ocorrem, inclusive, crises de migrnea sem dor de cabea.
Restaria saber se um nico ou poucos gentipos se expressariam por meio
de vrios fentipos ou se existiram vrios gentipos que corresponderiam
s mais variadas formas clnicas.
4. A enxaqueca, assim como todos os quadros de dor crnica, mobiliza fatores
psicolgicos importantes. H a sensao de medo da prxima crise
(ansiedade antecipatria), o descontrole sobre o prprio corpo durante os
episdios de dor e vrias alteraes cognitivas j estudadas durante esses
episdios. O mdico deve estar preparado para lidar com esses fatores ao
assistir os pacientes.
SINTOMATOLOGIA
As crises variam na intensidade, durao, freqncia e presena de sintomas
associados. Silberstein et al. (1998) dividem didaticamente as crises de migrnea
em quatro fases: a fase de sintomas premonitrios, a aura, a fase de dor e o
perodo de resoluo da crise (Figura 4.1). Essa diviso representa uma simplificao
Evoluo
Resoluo
Dor
Aura
SP
Tempo
FIGURA 4.1 Representao da evoluo das quatro fases da crise de enxaqueca (a fase de
sintomas premonitrios SP , aura, dor e fase de resoluo.
64
da proposta de cinco fases (prdromo, aura, cefalia, trmino da cefalia e
psdromo) de Blau e Drummond (1991).
Fase de sintomas premonitrios
Vrios sintomas so descritos pelos pacientes como surgindo de horas a dias
antes das crises: anorexia, dificuldade de concentrao, irritabilidade, bocejos
repetidos, alteraes do humor, apetite ou sono, e distrbios do sistema digestrio.
Blau e Drummond (1991) relataram que 17 entre 50 pacientes avaliados queixaram-
se de mudanas de apetite, humor e concentrao antecedendo o incio da dor em
1 a 24 horas. Silberstein et al. (1998) estimaram que em torno de 60% dos migranosos
apresentam fenmenos premonitrios. Farias da Silva (1998) ressalta a dificuldade
de se reconhecer tais sintomas, mesmo em pacientes com bom nvel de instruo.
Aura
Alguns pacientes com diagnstico de migrnea com aura relatam algumas crises
nas quais a nica manifestao seria a aura. Fisher (1980; 1986) relatou que a
migrnea com aura pode se transformar em ataques peridicos de dficit neuro-
lgico no idoso, sem dor associada (aura de migrnea sem cefalia), e investigao
radiolgica normal, sendo, porm, esse um diagnstico de excluso.
69
Migrnea com aura de instalao aguda
definido pela ocorrncia de crise de dor com durao maior que 72 horas,
excetuando-se intervalos livres de dor menores que 4 horas ou o alvio oferecido
pelo sono.
Infarto migranoso
20% 17%
9%
Remisso
Melhora
Piora
Sem alterao
54%
GRFICO 4.1 Evoluo da dor ao longo de 10 anos de acordo com o relato dos pacientes
avaliados.
72
Tabela 4.2 Ev oluo das caractersticas das crises de acordo com o registro do pronturio e
relato dos pacientes
Caracterstica das crises/ Freqncia Durao Intensidade
Evoluo ao longo dos anos
N % N % N %
Diminuio 22 75,9 16 55 15 51,7
Sem alterao 5 17,2 8 27,6 8 27,6
Aumento 2 6,9 5 17,2 6 20,7
Total 29 100 29 100 29 100
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Barea LN, Tannhauser M, Rotta NT. An epidemiological study of headache among children
and adolescents of southern Brazil. Cephalalgia 1996;16:545-549.
Bigal ME, Fernandes LC, Moraes F, Bordini CA ,Speciali JG. Prevalncia da migrnea e
impacto sobre a qualidade de vida em funcionrios do Hospital das Clnicas da Faculdade
de Medicina de Ribeiro Preto USP. Arq Neuropsiquiatr 2000;58:431-436.
Bille B. Migraine in Childhood: A30-Years Follow-Up. In: Lanzi G, Ballottin U, CerniboriA (eds.).
editors. Headaches in Children and Adolescents. Amsterdam: Elsevier, 1989; pp. 19-26.
Blau JN, Drummond MF. Office of Health Economics: Migraine. London, 1991.
Bordini CA. Migrnea sem Aura: Caractersticas Clnicas e Tratamento Profiltico com
Propranolol, Funarizina e Flunarizina mais Propranolol. Tese de doutorado. Faculdade
de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, 1995.
Cologno D, Torelli P, Manzoni GC. Migraine with aura: a review of 81 patients at 10 to 20
years follow up. Cephalagia 1998;18:690-696.
Farias da Silva W. Algias Craniofaciais. So Paulo: Lemos Editorial, 1998.
Fisher CM. Late-life migraine accompaniments as a cause of unexplained transient ischemic
attacks. Canad J Neurol Sci 1980;7:9-17.
Fisher CM. Late-life migraine accompaniments: futher experience. Stroke 1986; 17:1033-
1042.
Guidetti V, Galli F. Evolution of headache in childhood and adolescence: an 8-year follow-
up study. Cephalalgia 1998;18:449-454.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain.
Cephalalgia 1988;8(Suppl 7):1-96.
Henry P, Michel P, Brochet B et al. A nationwide survey of migraine in France: prevalence
and clinical features in adults. Cephalalgia 1992;12:229-237.
Lance, JW. Mechanism and Management of Headaches. London: Buttherworth-Heinemann
1983; pp. 68-90.
Lipton RB, Silberstein SD, Stewart WF. An update on the epidemiology of migraine. Headache
1994;31:319-328.
73
Rasmussen BK, Jensen R, Olesen J. A population-based analysis of the diagnostic criteria
of the International Headache Society. Cephalalgia 1991;11:129-134.
Sanvito WL, Monzillo PH, Peres MF, Martinelli MO, Fera MP, Gouveia DA, Murachovsky
J, Salomao WR. Leme RJ. The epidemiology of migraine in medical students. Headache
1996;36(5): 316-319.
Scher AI, Stewart WF, Liberman J, Lipton RB. Prevalence of frequent headache in a
population sample. Headache 1998;38:497-506.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby P. Migraine: Diagnosis and Treatment. In: Silberstein
SD, Lipton RB, Goadsby P. Headache in Clinical Practice. Oxford, UK: Isis Medical
Media, 1998: pp. 61-90.
Speciali JG, Campos DI, Marchioli M. Cefalia na Unidade de Emergncia do Hospital das
Clnicas de Ribeiro Preto. Arq Neuropsiquiatr 1992;(Suppl):49.
Vincent M, Rodrgues AJ, Oliveira GV, Souza KF, Ldoi LM, Rocha MBL, Saporta MAC, Orleans
RB, Kotecki R, Estrela VV, Medeiro VA, Borges WIS. Prevalncia e custos indiretos das
cefalias em uma empresa brasileira. Arq Neuropsiquiatr 1998;56(4):734-743.
Ztola VH, Novak EM, Luiz A, Branco BO, Sato BK, Nita CS, Bubna MH, Prado RA,
Werneck LC. Headache incidence in a hospital community: incidncia de cefalia em
uma comunidade hospitalar. Arq Neuropsiquiatr 1998;56(3B):559-564.
ETIOPATOGENIA E FISIOPATOLOGIA
Ida Fortini
Para se tratar qualquer afeco, necessrio o conhecimento de sua etiopa-
togenia e fisiopatologia e, embora muito se tenha avanado nos conhecimentos
sobre a enxaqueca, o mecanismo primrio da sua produo ainda no foi
desvendado.
Estudos em gmeos trazem evidncias convincentes de que existe uma
predisposio gentica para a enxaqueca, dado que o grau de concordncia em
gmeos monozigticos significativamente mais alto que nos gmeos dizigticos.
Por meio desses estudos, pode-se inferir que aproximadamente metade da susce-
tibilidade enxaqueca de origem gentica, sendo a outra metade determinada
por influncias ambientais. No entanto, a predisposio gentica pode no se
manifestar, pois a concordncia em gmeos monozigticos ocorre em somente
20% a 50% dos casos, e, portanto, pelo menos 50% dos que tm predisposio
gentica para a enxaqueca nunca a manifestam.
Quando considerados somente pais e filhos, 46% dos pacientes tm histria
familiar de enxaqueca. Se os avs so includos, 55% dos pacientes tm histria
familiar positiva. De modo geral se aceita que cerca de 60% dos pacientes tm
histria familiar positiva.
Existem fatores que facilitam a expresso do quadro, tais como: sexo feminino,
estresse psicossocial, alteraes bioqumicas (que sero abordadas mais adiante)
74
e a superposio de outros fatores exgenos, como alimentos, medicamentos,
lcool etc.
Uma possibilidade de que os pacientes que sofrem de enxaqueca herdem
uma certa incapacidade de se adaptar s alteraes fisiolgicas, particularmente
as de natureza sensorial, de forma que estmulos ou comportamentos que no
acarretam problemas para os indivduos no enxaquecosos podem desencadear
crises nos predispostos. provvel que essa predisposio para o desenvolvimento
das crises seja tanto bioqumica quanto fisiolgica. Como a freqncia das crises
varivel e, mesmo expostos aos fatores desencadeadores de suas crises, os
pacientes nem sempre as apresentam, possvel que fatores exgenos e
endgenos devam coincidir, de modo a precipitar os ataques. Como e onde esses
fatores precipitadores exercem seu efeito gatilho? Alguns agem, sem dvida,
diretamente no sistema nervoso central (SNC), como luzes fortes, estresse
psicossocial, cheiros etc. Outros fatores atuam sistemicamente, como o jejum e
alguns alimentos.
Russel e Olesen (1995) entrevistaram os familiares de primeiro grau dos
pacientes com enxaqueca com aura e encontraram um risco quatro vezes maior
de enxaqueca com aura. J os parentes de primeiro grau dos indivduos com
enxaqueca sem aura apresentam risco 1,9 vez maior de enxaqueca sem aura. A
transmisso do tipo de enxaqueca parece ser especfico para cada famlia. No
entanto, nenhum tipo nico de herana pode ser definido. A inconsistncia dos
resultados pode refletir a heterogeneidade gentica da enxaqueca. Algumas famlias
tm aparentemente um modo de transmisso autossmico dominante, enquanto
outras parecem apresentar herana autossmica recessiva com penetrncia
incompleta.
A enxaqueca hemiplgica familiar uma doena rara, autossmica dominante,
ligada a um lcus no cromossomo 19 em muitas famlias estudadas.
Nessa doena, uma mutao desse gene determina uma alterao intermitente
de funo de canais de clcio voltagem-dependentes. Porm, mesmo numa doena
autossmica dominante estereotipada como essa, existe uma heterogeneidade
gentica, pois foram identificadas famlias em que a anomalia no era determinada
pelo cromossomo 19.
Algumas teorias foram elaboradas para explicar as crises de enxaqueca e,
entre as mais consistentes, a primeira a ser formulada foi a teoria vascular de
Graham e Wolff em 1938. Segundo esses autores, haveria uma fase inicial de
vasoconstrio intracraniana que poderia ocasionar isquemia focal. A seguir ocor-
reria vasodilatao, provocando a dor.
Olesen et al. (1981) proveram as primeiras evidncias em seres humanos de
que durante as crises de enxaqueca ocorreria uma hipoperfuso cortical que se
alastraria lentamente, incompatvel com espasmo de artria maior.
75
Nos estudos do fluxo sangneo cerebral regional (FSCr) com equipamentos de
alta resoluo, na fase precoce da aura de episdios induzidos de enxaqueca,
evidencia-se reduo do FSC com incio focal. Em alguns casos, a primeira
anormalidade observada a hiperperfuso focal, porm, na maioria dos casos, o
primeiro fenmeno observado a reduo do FSC no plo posterior do crebro,
que aparece antes de o paciente observar qualquer sintoma da aura e que aumenta
de forma a envolver a rea parieto-occipitotemporal e, s vezes, todo o hemisfrio.
O aumento gradual da rea de baixo fluxo foi denominado oligemia alastrante por
Olesen et al. (1981). Entretanto, o termo hipoperfuso alastrante um termo mais
adequado e ser aqui utilizado. A hipoperfuso alastrante progride num ritmo de
aproximadamente 2 mm a 3 mm por minuto da regio posterior do crebro para a
anterior, no respeitando os territrios de irrigao das artrias cerebrais maiores
e dos seus ramos. Aps a rpida progresso da hipoperfuso, o FSCr permanece
relativamente estvel por pelo menos 1/2 a 1 hora. Pode, porm, manter-se reduzido
durante horas. Nessa fase ocorrem os sintomas da aura. O incio da cefalia ocorre
enquanto o FSC permanece diminudo.
Durante a fase de cefalia, o FSCr gradualmente muda de anormalmente baixo
para alto, sem uma modificao aparente da cefalia. Em alguns pacientes, a
cefalia desaparece enquanto o FSCr permanece aumentado. Portanto, parece
que a cefalia dissociada da hipoperfuso no seu incio e no seu final. Alguns
estudos demonstram que a hiperemia que ocorre posteriormente hipoperfuso
pode persistir durante horas, inclusive mais de 24 horas.
Woods et al. realizaram medidas do FSCr numa jovem desde o incio de um
ataque espontneo de enxaqueca. A primeira diminuio do FSCr foi verificada
bilateralmente no crtex de associao visual. Essa hipoperfuso foi se alas-
trando anteriormente, num ritmo constante, em direo s reas parietais e
temporais, poupando o cerebelo, os gnglios da base e o tlamo. Os autores
estimaram a diminuio mxima do FSCr em cerca de 40%. Apesar de o estudo
evidenciar hipoperfuso cortical occipital, a paciente relatou somente bor-
ramento visual, sem caracterizar propriamente aura visual. Portanto, possvel
que as alteraes do FSCr ocorram tanto na enxaqueca com aura quanto na
enxaqueca sem aura, e que porm, nesta, a hipoperfuso seja clinicamente
silenciosa.
Os atos de falar, ler e ouvir, que normalmente levam a aumentos do FSCr nas
reas especficas do crebro envolvidas na tarefa, no acarretam essas elevaes
do fluxo nas reas cerebrais afetadas pela hipoperfuso durante as crises de
enxaqueca, enquanto nas reas no afetadas pela hipoperfuso, a ativao ocorre
da forma habitual. A resposta ao CO 2 est alterada, porm no possvel saber se
est completamente abolida ou somente reduzida. A auto-regulao parece ser
normal.
76
Raskin et al. (1988) relataram que pacientes que foram submetidos a um
implante de eletrodos no ncleo magno da rafe ou na substncia periaquedutal
mesenceflica para o tratamento de dor crnica, referiam cefalia unilateral
semelhante enxaqueca, com nuseas e vmitos, fotofobia e fonofobia, mesmo
quando o paciente no era enxaquecoso. Foram realizados estudos do FSCr
durante o ataque e se constataram valores significativamente mais altos do FSCr
nas estruturas medianas do tronco cerebral (TC), contralaterais cefalia, e que
no foram evidenciadas quando no houve ataques. Esse aumento do FSCr no
TC, na regio da substncia periaquedutal mesenceflica, formao reticular do
tronco cerebral e lcus cerleo persistiram mesmo aps o desaparecimento da
cefalia. Essas observaes indicam que pode existir uma estrutura anatmica
no TC ou no mesencfalo que esteja envolvida na deflagrao do ataque de
enxaqueca.
Weiller et al., usando PET scan para medir o FSCr, relataram a ativao do TC
em ataques espontneos de enxaqueca com dor direita, horas aps o incio do
ataque. Constataram valores elevados de FSCr no crtex de associao visual e
giro do cngulo bilateralmente. Do lado esquerdo, verificaram aumento do FSCr na
parte anterocaudal inferior do giro do cngulo e no TC, numa regio anterior ao
aqueduto cerebral e posterior ao trato corticoespinhal. Quando sumatriptano foi
administrado a esses pacientes, ocorreu alvio da cefalia e dos sintomas associados,
e houve reverso do aumento do FSCr nos hemisfrios cerebrais, porm no no
TC, mesmo aps o alvio da cefalia. A ativao do TC pode ser inerente ao
processo de enxaqueca, podendo funcionar como um integrador.A ativao contnua
desses centros, apesar da resoluo dos sintomas pelo sumatriptano, pode ser
responsvel pela recorrncia da cefalia.
A estimulao experimental do ncleo do lcus cerleo no TC de animais
causa reduo do FSC, por meio de um mecanismo ligado estimulao de
receptores alfa-2-adrenrgicos. Essa reduo, mxima no crtex occipital, de
mais de 25%. Ocorre vasodilatao extracerebral em paralelo. A estimulao
do lcus cerleo durante a crise de enxaqueca, particularmente o grupamento
que contm noradrenalina, pode alterar o FSC e a permeabilidade da barreira
hematoenceflica.
Os estudos do FSC refletem o dimetro arteriolar, mas no do informaes
acerca do fluxo nas artrias maiores. Arteriografias realizadas durante as crises
de enxaqueca no revelam anormalidades, exceto por um enchimento anormal da
artria basilar aps injees intracarotdeas, indicando aumento da resistncia
cerebrovascular na regio carotdea.
Com relao ao fluxo sangneo extracerebral, estudos em que foram realizadas
medidas diretas usando xennio 133 nos msculos temporais e no tecido subcutneo
no revelaram anormalidades durante ataques de enxaqueca com ou sem aura.
77
Vrios estudos da velocidade do fluxo sangneo nas artrias cerebrais, que
foram realizados nos pacientes com enxaqueca utilizando Doppler transcraniano,
mostram, com freqncia, resultados contraditrios. No entanto, a maioria desses
estudos sugere que os enxaquecosos tm velocidades sistlicas mdias de fluxo
aumentadas nos perodos interictais.
Alguns desses estudos sugerem que nos perodos interictais a rvore arterial
cerebral dos pacientes com enxaqueca pode responder mais vigorosamente a uma
variedade de estmulos (abertura ocular, hipercapnia e manobra de Valsalva) que a
circulao cerebral dos indivduos que no sofrem de enxaqueca. Parece tambm
que a auto-regulao cerebral no afetada durante as crises.
preciso enfatizar que o Doppler transcraniano mede os efeitos indiretos das
alteraes arteriolares sobre as grandes artrias, enquanto os estudos do FSC se
relacionam ao nvel arteriolar diretamente. As alteraes da velocidade do fluxo
sangneo durante as crises de enxaqueca podem representar modificaes do
tnus arteriolar cortical.
Com a utilizao de equipamentos de ultra-som de alta freqncia foram realizadas
medidas do dimetro das artrias temporais e radiais durante as crises e verificou-se
que tanto as artrias radiais quanto as temporais estavam contradas durante as
crises, provavelmente em virtude de um aumento do tnus simptico induzido pela
dor. A artria temporal do lado da dor (sintomtico) apresentava dimetros maiores
que a do lado no sintomtico. Esses achados foram interpretados como o efeito de
uma vasodilatao local superimposta a uma vasoconstrio sistmica.
Atualmente existem muitas evidncias de que a dor na enxaqueca mediada
por meio das terminaes do nervo trigmeo, e que pode ser devida a uma forma
de inflamao neurognica estril. A estimulao do gnglio de Gasser pode provocar
vasodilatao extracraniana. Uma rede de fibras dos neurnios que do origem
primeira diviso do trigmeo se distribui ao redor dos vasos cranianos, constituindo
o sistema trigmino-vascular, via final comum de transmisso das cefalias
vasculares. A densidade das fibras sensitivas maior ao longo das partes proximais
das artrias do polgono de Willis e diminui consideravelmente sobre a convexidade.
A distribuio predominantemente ipsolateral das fibras trigeminais explica a
distribuio estritamente ipsolateral de muitas cefalias vasculares. A inervao
bilateral dos vasos sangneos da linha mdia (artria cerebral mdia, artria cerebral
anterior e seio sagital superior) sugere a possibilidade de que distrbios nesses
vasos possam causar cefalias bilaterais.
A vasodilatao provocada pela estimulao do gnglio de Gasser acompanha-
se de granulao de mastcitos e de maior permeabilidade vascular, liberando
neuropeptdeos, incluindo a substncia P, CGRP (peptdeo relacionado ao gene
calcitonina) e o VIP (polipeptdeo intestinal vasoatiavo), que contribuem para manter
a vasodilatao.
78
Goadsby (1993) mostrou que a termocoagulao do gnglio trigeminal causa
acentuada elevao ipsolateral nos nveis plasmticos de substncia P e CGRP,
coincidindo com flushing unilateral da face.
Os peptdeos mencionados ficam estocados em vesculas no terminal nervoso
e delas so liberados por mecanismos clcio-dependentes.
Posteriormente se relatou que durante as crises de enxaqueca h um aumento
seletivo dos nveis plasmticos de CGRP (que um potente vasodilatador), mas
no de outros neuropeptdeos, como o neuropeptdeo Y, VIP e substncia P. O
CGRP um potente vasodilatador, porm no causa dor quando infundido por via
endovenosa ou quando injetado na superfcie do msculo temporal superficial.
Outras substncias tambm se acumulam junto aos vasos, como ons K+ ,
catecolaminas, histamina, serotonina e prostaglandinas, provocando um processo
inflamatrio estril nas paredes vasculares, contribuindo para a manuteno da
dor. A endotelina 1, que no um neuropeptdeo, mas um peptdeo vasoativo potente,
tem suas concentraes aumentadas, particularmente nas fases precoces do ataque
de enxaqueca.
O processo inflamatrio estril parece sensibilizar as fibras nervosas, de forma
que estas passam a responder a estmulos previamente incuos, como, por exemplo,
as pulsaes arteriais.
Infelizmente, a inflamao neurognica nunca foi demonstrada durante a crise
de enxaqueca nos seres humanos. Alm disso, compostos ativos que bloqueiam
especificamente o extravasamento de plasma, como o bosentam e o RPR 100893,
no so eficazes para aliviar os ataques agudos de enxaqueca, o que sugere que
outros aspectos do sistema trigmino-vascular requerem explorao.
Para se mapear o processamento central da dor trigmino-vascular, utiliza-se o
mapeamento da expresso de c-fos, um produto gnico, que sinaliza a ativao
celular. Verifica-se experimentalmente que aps a estimulao nociceptiva, c-fos
expresso no ncleo trigeminal caudal e nas colunas posteriores da medula espinhal
(nas lminas I e II) dos segmentos C1 e C2 (complexo trigmino-cervical). Aps a
transmisso na medula cervical alta e no TC caudal, a informao veiculada pelo
trato quintotalmico para os ncleos ventral-pstero-medial, ncleos mediais do
complexo posterior e intralaminares do tlamo.
O fenmeno da hipoperfuso alastrante assemelha-se depresso alastrante
cortical (DAC) descrita pelo neurofisiologista brasileiro Leo ao estimular o crtex
cerebral de coelhos. Produz-se uma onda eltrica de negatividade que se alastra
num ritmo de 3 mm/minuto.
Quando o indivduo com enxaqueca tem aura visual, a margem do distrbio
visual que se move tremulante num ritmo de 10 a 15 Hz, decrescendo na periferia
para 3 a 4 Hz, indicando um distrbio irritativo na frente de onda, seguido por uma
funo neuronal deprimida, o que se expressa no escotoma. Auras sensitivas
79
tambm marcham num ritmo similar, freqentemente com parestesias nas margens,
que deixam dormncia no seu rastro. Se existe mais de um tipo de aura, elas
ocorrem em seqncia.
O nico distrbio conhecido que poderia explicar essa excitao lenta e contgua
que vai espalhando-se, seguida por inibio, a DAC.
Durante a DAC, os neurnios e as clulas gliais se despolarizam, dando origem
a uma atividade eltrica intensa, mas transitria, em espculas, que dura segundos.
Segue-se imediatamente um perodo de silncio eltrico neural com durao de
alguns minutos.
A DAC permaneceu como curiosidade at que Okada relatou ondas eletromag-
nticas lentas bifsicas, registradas por magnetoencefalograma, em crebros de
tartarugas nas quais se havia provocado a DAC por estimulao eltrica, confirmada
por eletrocorticograma. Posteriormente, a DAC foi confirmada em pacientes com
enxaqueca por meio do magnetoencefalograma (MEG). Foram registrados trs
tipos de sinais: ondas bifsicas de grande amplitude, supresso da atividade neuronal
e desvios de grande amplitude e grande durao. Dados posteriores sugerem que
as ondas bifsicas de grande amplitude podem ser artefatos causados pela movi-
mentao ocular.
A DAC se caracteriza por aumento dos metabolismos neuronais cortical e
subcortical, alterao no ambiente inico local, liberao de neurotransmissores no
interstcio tissular, como glutamato, glicina e taurina, e dilatao arterial. As concen-
traes extracelulares de arginina diminuem. A seguir, ocorrem supresso prolon-
gada do metabolismo neuronal, que se evidencia como uma depresso da atividade
eletroencefalogrfica, e reduo no FSCr. A DAC pode ser acompanhada e
estimada utilizando-se a tcnica MRI bold (ressonncia magntica dependente do
nvel de oxigenao sangnea).
A DAC no cruza a linha mdia e no invade ncleos da base, mas pode
ocorrer independentemente nessas reas. Tanto as clulas gliais quanto os neurnios
se despolarizam, o que resulta em aumento de ons K e H e em diminuio do Na,
Ca e Cl no espao extracelular. Na frente de onda da DAC, os neurnios disparam
intensamente, depois permanecem silentes por 10 minutos ou mais, e a recuperao
se completa.
Quando a DAC provocada no crebro de ratos, observa-se uma fase precoce
de hiperemia seguida por hipoperfuso e observa-se que as alteraes da utilizao
de glicose e do FSCr so persistentes na regio do TC e nas reas da base do
crebro. As alteraes que ocorrem nas reas frontais, parietais e occipitais
retornam ao normal 90 minutos aps o incio da DAC, mas permanecem diminudas
no paleocrtex (crtices piriforme e entorrinal) e no arquicrtex (hipocampo),
sugerindo que a DAC inicia uma alterao de longo termo nas regies telenceflicas
filogeneticamente mais antigas.
80
Portanto, as alteraes do humor, nuseas e vmitos associados com a crise de
enxaqueca poderiam ser relacionados disfuno do TC e das regies subcorticais.
Dois mecanismos foram propostos para explicar a DAC, sendo um baseado na
liberao de ons K+ do tecido neural e outro baseado na liberao de glutamato,
que um aminocido que funciona como um neurotransmissor excitatrio. O tecido
neural pode possuir os dois mecanismos. A liberao neuronal de glutamato
despolariza neurnios adjacentes que, por sua vez, liberam glutamato adicional
propagando a DAC. Um aumento de ons K+ no espao extracelular ocasiona
eventos semelhantes. Dados mais recentes admitem que os ons K+ so os principais
responsveis pela propagao da DAC.
Os indivduos com enxaqueca tm nveis de glutamato e de aspartato srico
substancialmente mais altos no perodo intercrtico do que os controles, e os que
sofrem de enxaqueca com aura tm nveis mais altos que os que tm enxaqueca
sem aura. Durante os ataques, o glutamato e, em menor grau, o aspartato sofrem
posteriores aumentos, sendo os nveis mais altos atingidos nos que sofrem de enxa-
queca com aura.
A DAC mais facilmente desencadeada nos crebros com deficincia de
magnsio. Por estudos de espectroscopia, verifica-se que o crebro de indivduos
que sofrem de enxaqueca deficiente em magnsio tanto nas crises (reduo de
19%) como nos perodos intercrticos.
Existem evidncias de que os nveis de magnsio no lquido cefalorraquidiano
de pacientes com enxaqueca so mais baixos quando comparados com indivduos
sem enxaqueca. Alm disso, substncias que podem desencadear uma crise, como
estrgenos, lcool e fosfatos, diminuem o magnsio srico.
Em parte, o magnsio regula o influxo de clcio ionizado por meio de canais
regulados por receptores NMDA (de aminocidos excitatrios). A hipomagnesemia
pode aumentar a sensibilidade desse tipo de receptor DAC induzida pelo glutamato,
pois o magnsio normalmente modula o receptor NMDA. No neocrtex, a DAC
dependente da ativao do receptor NMDA. O influxo de clcio desencadeado
pela ativao do receptor NMDA o estmulo prprio para a atividade de xido
ntrico sintetase.
Existem muitas evidncias que sugerem que a serotonina possa ser particular-
mente importante em alguns aspectos da fisiopatologia da enxaqueca. Logo aps
seu descobrimento, em 1948, a serotonina foi implicada na fisiopatologia da
enxaqueca, desde que Sicuteri et al. verificaram excreo urinria aumentada de
cido 5-hidrxi-indolactico durante as crises.
A serotonina, 5-hidroxitriptamina (5-HT), funciona predominantemente como
um neurotransmissor inibitrio no crebro. Dependendo do tnus vascular, do
dimetro e do leito vascular considerado, a administrao de 5-HT pode causar
vasoconstrio ou vasodilatao. Em geral, a 5-HT contrai as grandes artrias de
81
conduo e anastomoses arteriovenosas, principalmente via receptor 5-HT1b e
dilata arterolas, via receptor 5-HT7 .
No sistema nervoso central, os neurnios que contm 5-HT so restritos a
grupamentos celulares que se situam perto da linha mdia do TC. As clulas mais
caudais se projetam para a medula espinhal e participam da modulao da dor e os
grupos mais rostrais se projetam para o tlamo, hipotlamo, crtex e sobre vasos
cerebrais.
A 5-HT est envolvida na fisiopatognese da enxaqueca, tanto como agente
vasomotor que regula o fluxo sangneo cerebral, quanto como neurotransmissor
nos sistemas neuronais que regulam a nocicepo.
Especula-se que nos indivduos com enxaqueca poderia existir uma transmisso
serotoninrgica instvel que levaria a um aumento no ritmo de deflagrao das
clulas da rafe do TC.
Nos pacientes com enxaqueca sem aura, os nveis de serotonina plaquetria
so normais entre as crises, mas se reduzem em 40% durante os ataques. Nos
pacientes com enxaqueca com aura, tal decrscimo nos nveis de 5-HT plaquetria
durante as crises no detectado.
J os nveis plasmticos de 5-HT (concentrao de 5-HT no plasma livre de
plaquetas) mostram alteraes similares durante ataques de enxaqueca com e sem
aura. Durante as crises, os nveis plasmticos de 5-HT so cerca de duas vezes mais
altos que durante os perodos intercrticos. Portanto, parece ocorrer liberao ictal
de 5-HT plaquetria no incio da crise, com aumento dos nveis plasmticos.
O aumento de 5-HT plasmtico durante a crise de enxaqueca no devido somente
liberao de 5-HT plaquetria. O turnover sistmico de 5-HT est aumentado
tanto no sangue quanto no LCR dos pacientes com enxaqueca nos perodos
intercrticos, o que se reflete nos baixos nveis interictais de 5-HT. Durante os ataques,
o turnover de 5-HT est reduzido, resultando na normalizao transitria dos nveis
de 5-HT plasmticos. Como a atividade das enzimas envolvidas no metabolismo de
5-HT reduzida durante as crises de enxaqueca, a reduo ictal do turnover de
5-HT pode ser devida a uma diminuio transitria da degradao enzimtica.
Somente dados fragmentados e, com freqncia, conflitantes esto disponveis,
com respeito aos nveis de 5-HT nos fluidos corporais de pacientes com enxaqueca.
Os pacientes com enxaqueca tm, no entanto, um distrbio sistmico do
metabolismo da serotonina. A fase final dos eventos que culminaro com cefalia
na enxaqueca parece envolver a ativao de receptores 5-HT1. Na viso de alguns
autores, o paciente com enxaqueca, que sofre de ataques recorrentes, tem, de
forma crnica, nveis sistmicos baixos de 5-HT, o que o predispe cefalia
desde que uma crise tenha se iniciado.
Demonstra-se que os neurnios serotoninrgicos localizados na rafe do TC
mudam seu padro de deflagrao em resposta a estmulos estressantes, um
82
comportamento compatvel com a hiptese de que ataques de enxaqueca sejam
deflagrados por um aumento das descargas de 5-HT em resposta a estmulos
estressantes. Se a ativao trigmino-vascular que causa a inflamao neurognica
poderia ser deflagrada por uma alterao no padro de deflagrao dos neurnios
da rafe, isso ainda deve ser definido.
H possibilidade de que um aumento abrupto na atividade de neurnios
serotoninrgicos da rafe ou uma descarga plaquetria de 5-HT, aps uma estimu-
lao estressante, ative receptores 5-HT2 sensibilizados e leve ativao de um
processo gerador de dor.
Em 1980, Furchgott e Zawadzki relataram que a vasodilatao induzida pela
acetilcolina dependeria de um endotlio intacto. Posteriormente, foi identificado o
mediador dessa vasodilatao endotlio-dependente como sendo o xido ntrico
(NO). O NO gerado a partir do terminal guanidino-nitrognio da l-arginina e
oxignio molecular. A famlia de enzimas que catalisa a formao de NO conhecida
como xido ntrico sintetase (NOS). A acetilcolina age por meio da ativao de
NOS, por sua ao nos receptores muscarnicos. A liberao de NOS acelerada
em resposta estimulao de vrios receptores pelo glutamato, bradicinina, 5-HT,
histamina, substncia P, acetilcolina e, talvez, CGRP. O aumento da velocidade de
fluxo, com o conseqente aumento do estresse nas clulas endoteliais, pode levar
estimulao da NOS.
O GTN (gliceriltrinitrato) considerado um doador de NO exgeno. Vrias
observaes suportam a hiptese de que as cefalias induzidas pelo GTN ocorram
pela liberao de NO. A histamina um doador endgeno de NO, via ativao
de receptores H1. A ativao dos receptores endoteliais H1 induz a formao
endgena de NO e, portanto, a cefalia induzida pela histamina provavelmente
mediada pelo NO, assim como as induzidas por reserpina, fenfluramina,
prostaciclina e mCPP.
O NO tem inmeros efeitos fisiolgicos em todo o organismo, principalmente
vasodilatao endotlio-dependente e produo de hiperalgesia. O NO se difunde
livremente atravs das membranas, no se liga a receptores (ativa guanilato-ciclase
solvel intracelular, que catalisa a formao de GMP cclico que, por sua vez, fosforila
outras enzimas; o resultado final o aumento do clcio citoslico).
Vrios fatores desencadeadores comuns de enxaqueca, como hormnios,
lcool e chocolate, podem dar origem a aumentos de NO diretamente ou via
aumento de neurotransmissores que podem estimular a formao de NO. Parece
que o NO ativa uma cascata de eventos fisiolgicos qual os indivduos com
propenso enxaqueca so hipersensveis. Em virtude de sua meia-vida curta, o
NO somente pode se difundir por curtas distncias de uma clula de onde
liberado (150 a 160 mm) e, portanto, os processos envolvidos seriam iniciados
dentro ou ao redor dos vasos.
83
Nenhum dos peptdeos ou monoaminas examinados at o momento (incluindo
serotonina e CGRP) parece ser o causador da nocicepo na enxaqueca. O NO
o melhor candidato. Foi demonstrado que a DAC induz uma liberao multifsica
de NO, caracterizada por um pico inicial, seguido por um pico menor e mais lento,
que retorna lentamente a um nvel basal.
Alguns dados sugerem que a funo dos sistemas de opiides endgenos
anormalmente baixa nos indivduos com enxaqueca. Foram constatados nveis baixos
de b-endorfina no sangue, no liquor e nas clulas mononucleares do sangue perifrico
de pacientes com enxaqueca com e sem aura.
A ocorrncia de um aumento de n-acetil-beta-endorfina (Ac--E), um produto
ps-translacional, foi relatado durante as crises de enxaqueca. A Ac--E no se
liga aos receptores opiides endgenos e poderia contrabalanar a atividade
analgsica da beta-endorfina. Portanto, poderia atuar como um antagonista opiide
fisiolgico e induzir desbalano dos sistemas nociceptivos nos pacientes com
enxaqueca.
A metionina-encefalina co-estocada com a serotonina nas plaquetas e com
catecolaminas na medula adrenal. Os pacientes com enxaqueca tm nveis
plasmticos mais baixos de metionina-encefalina, enquanto os nveis plaquetrios
esto aumentados durante os perodos intercrticos, e tanto os nveis plasmticos
quanto os nveis plaquetrios aumentam consideravelmente durante as crises.No
foi verificada alterao de dinorfina durante crises de enxaqueca.
As determinaes dos nveis plasmticos dos peptdeos opiides no tm muita
importncia porque estes no cruzam a barreira hematoenceflica e no agem
diretamente nas vias centrais e pouco provvel que os opiides circulantes possam
influenciar mecanismos perifricos de dor. No entanto, a beta-endorfina cerebral
est estritamente conectada com as vias moduladoras de dor e esta sim pode
desempenhar um papel importante.
Nos pacientes com enxaqueca foi observado desarranjo do metabolismo
energtico cerebral e muscular. Verificam-se anormalidades na atividade de enzimas
da cadeia respiratria mitocondrial nos msculos e nas plaquetas.
Estudos do metabolismo cerebral com PET scan revelam hipometabolismo de
glicose durante as crises de enxaqueca, com redues de 5% a 30% com relao
ao consumo de base.
A espectroscopia por RNM dos msculos de pacientes com enxaqueca mostra
reduo na taxa PCr/Pi em repouso e metabolismo energtico anormal do msculo
aps exerccio leve. Portanto, talvez ocorra um defeito global na funo mitocondrial
dos pacientes com enxaqueca.
Os resultados de estudos de magnsio e de bioenergtica mostram que a extenso
da reduo do magnsio livre proporcional ao grau de comprometimento da
bioenergtica cerebral. Por espectroscopia, verificou-se que as medidas de
84
fosfomonosteres estavam reduzidas no crebro, antes e durante o ataque de
enxaqueca, sugerindo instabilidade da membrana fosfolipdica celular, o que indica
que o desequilbrio da homeostase celular seja a base da hiperexcitabilidade neuronal.
Hering et al. investigaram os processos de transduo da membrana celular
mediante a ativao do sistema polifosfoinositol nas plaquetas estimuladas com
trombina, e sugeriram que os portadores de enxaqueca teriam uma reduo da
ativao dos sistemas transdutores de membrana (fosfatidilinositol). Quando os
pacientes com enxaqueca fazem uso exagerado de medicamentos analgsicos ou
ergotamina, ocorre uma regulao para cima desse sistema. Com a suspenso dos
analgsicos e da ergotamina, obtm-se reduo da induo (uma volta aos nveis
obtidos nos indivduos com crises de enxaqueca espordicas). Parece que as
mudanas na transduo no so no receptor, mas sim nas protenas G e nas
protenas efetoras.
Todos esses aspectos discutidos so fragmentos bem elaborados, mas ainda
no fornecem um modelo fisiopatognico nico.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Anthony M. The Biochemistry of Migraine. In: Clifford-Rose F (ed.). Handbook of Clinical
Neurology: Headache. Amsterdam: Elsevier, 1986;vol 48, pp. 85-105.
Clifford-Rose F. The pathogenesis of migraine. J Royal Soc Med 1991;84:519-521.
Diamond S. Migraine headaches. Med Clin N Amer 1991;75:545-566.
Edvinsson L, Goadsby PJ. Neuropeptides in migraine and cluster headache. Cephalalgia
1994;14:320-327.
Farias da Silva W. Algias Craniofaciais. So Paulo: Lemos Editorial, 1998.
Goadsby Pj, Edvinsson L. The trigeminovascular system and migraine: studies
characterising cerebrovascular and neuropeptide changes in man and cat. Ann Neurol
1993;33:48-56.
Graham JR, Wolff HG. Mechanism of migraine headache and action of ergotamine tartrate.
Arch Neurol Psychiatr 1938;39:737-757.
Lance JW, Goadsby PJ. Headache, 6th ed. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1998; pp. 116-
157.
Leo AAA. Spreading depression of activity in cerebral cortex. J Neurophysiol 1944;7:359-374.
Moskowitz MA. Basic Mechanisms in Vascular Headache. In: Mathew NT (ed.). Neurologic
Clinics Headache. Philadelphia:WB Saunders Company, 1990;vol 8, pp.801-815.
Olesen J, Larsen B, Lauritzen F. Focal hyperemia followed by spreading oligemia and impaired
activation of rCBF in classic migraine. Ann Neurol 1981;9:344-352.
Olesen J, Edvinsson L (eds.). Headache Pathogenesis. Monoamines, Neuropeptides,
Purines, and Nitric oxide. Frontiers in Headache Research. Philadelphia: Lippincott-
Raven, 1997;vol7.
85
Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA.The Headaches, 2nd. Philadelphia: Lippincot e Williams
& Wilkins, 2000.
Raskin NH. Headache, 2nd ed. New York: Churchil Livingstone, 1988.
Russel MB, Olesen J. Increased familial risk and evidence of genetic factor in migraine. BMJ
1995;311:541-544.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ. Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis Medical
Media, 1998: pp. 61-90.
Spearings ELH. Headache. Boston: Butterworth-Heinemann, 1998.
TRATAMENTO DA CRISE
Ida Fortini
Quando se considera o tratamento de uma condio to complexa como a
enxaqueca, a utilizao de medicamentos apenas uma faceta do problema. A
orientao teraputica comea com a ateno que o mdico dedica histria do
paciente, o cuidado com que ele o examina e eventualmente se completa com a
pacincia nas explicaes que, muitas vezes, o que o paciente procura. O mdico
deve encorajar o paciente a desenvolver expectativas realistas com relao ao trata-
mento.
Fatores predisponentes ou desencadeantes podem ser identificados e eventual-
mente afastados. So muito importantes os fatores emocionais como estresse,
medo, ansiedade, angstia ou fatores circunstanciais, como fadiga, privao do
sono, hipoglicemia, ingesto alcolica, fumo entre outros. Muitas vezes a correo
de um ou mais desses fatores suficiente para reduzir a freqncia das crises.
O mdico deve ser capaz de reconhecer condies coexistentes com a enxaqueca,
que incluem cefalia do tipo tensional, asma, alergia, alteraes gastrointestinais e
hipertenso e co-morbidades comportamentais e psicolgicas, como ansiedade,
depresso, pnico, transtorno bipolar, fobias sociais e tendncia ao abuso de drogas.
til indicar medidas que levem ao relaxamento, recomendar uma rotina regular
de sono e exerccios, e a diminuio da ingesto de lcool, de cafena e de fumo.
Ao se instituir o tratamento sintomtico das crises, importante levar em
considerao a administrao precoce das drogas de forma segura, em doses
adequadas, e tomar cuidados na preveno do uso de doses excessivas.
Muitas das drogas utilizadas tanto no tratamento sintomtico como no tratamento
profiltico das crises de enxaqueca atuam sobre receptores serotoninrgicos, muito
embora talvez tenham outros mecanismos de ao possveis.
Existem atualmente descries de sete tipos de receptores serotoninrgicos.
A ativao dos receptores 5-HT 1 reduz a resposta nociceptiva, j a
estimulao dos receptores 5-HT2 pode aumentar a transmisso da nocicepo
em nvel espinhal.
86
Vrias drogas utilizadas no tratamento sintomtico das crises de enxaqueca
tm afinidade pelos receptores 5-HT1. Os receptores 5-HT1 tm cinco subtipos
denominados a, b, c, d, e, f.
O tratamento apenas das crises est indicado quando elas so esparsas. No
h consenso quanto ao nmero mximo de crises por ms, acima do qual estaria
indicado o tratamento profiltico. Esse nmero varia conforme os autores, entre
duas e quatro crises por ms.
O tratamento sintomtico ou abortivo indicado em praticamente todas as
situaes de crises moderadas e intensas e, portanto, tem impacto expressivo na
qualidade de vida dos portadores de enxaqueca. Existe uma srie de medicaes
abortivas, classificadas em dois grupos principais:
a ) Drogas no-especficas:
analgsicos no opiceos (cido acetilsaliclico, paracetamol, dipirona,
clonixinato de lisina)
mucato de isometepteno
antiemticos (metoclopramida, domperidona, proclorperazina)
antiinflamatrios no esteroidais
cafena
analgsicos opiceos
neurolpticos (clorpromazina, haloperidol, droperidol)
esterides (dexametasona, prednisona, metilprednisolona)
b) Drogas especficas:
derivados do ergot (ergotamina e diidroergotamina)
agonistas dos receptores 5-HT1b/1d (sumatriptano, rizatriptano,
zolmitriptano, naratriptano, eletriptano, almotriptano, frovatriptano).
Um quadro de enxaqueca de incio recente com crises esparsas geralmente
responde bem a analgsicos comuns (aspirina, dipirona e paracetamol) nas doses
habituais. Com o passar do tempo, infelizmente a maioria desses pacientes passa a
necessitar de medicamentos mais potentes.
Quando as crises no respondem a analgsicos comuns, deve-se utilizar outras
drogas. Podem ser utilizados os vasoconstritores e destes, a droga mais utilizada
o tartarato de ergotamina, o primeiro a ser introduzido na prtica clnica para o
tratamento da enxaqueca, h mais de 60 anos.
A ergotamina tem atividade em todos os receptores de 5-HT, dopamina e de
noradrenalina. Em doses baixas agonista de alfa-adrenorreceptores. Em altas
concentraes bloqueadora de alfa-adrenorreceptores. Sua ao farmacolgica
mais importante inegavelmente a ao vasoconstritora, particularmente marcada
no leito vascular carotdeo. A ergotamina inibe o extravasamento dural de plasma
aps a estimulao do gnglio trigeminal nos ratos e pode bloquear as vias trigmi-
no-vasculares centrais.
87
Embora utilizada h vrias dcadas, no existem muitos estudos randomizados
envolvendo a ergotamina. De modo geral, os estudos mostram que a ergotamina
eficaz no tratamento da enxaqueca, porm o benefcio no adequadamente
quantificado.
O tartarato de ergotamina absorvido lenta e incompletamente pelo trato
gastrointestinal. A absoro oral de ergotamina de 60% a 70%, e a biodisponi-
bilidade aps administrao oral menor que 1%. A concentrao de pico no
plasma atingida em 2 horas.
A administrao concomitante de cafena, por motivos ainda no bem compre-
endidos, provoca maior absoro gastrointestinal da ergotamina. A administrao
por via retal proporciona nveis sricos maiores que a via oral. A ergotamina pode
tambm ser absorvida pela via inalatria, com concentraes semelhantes quelas
obtidas pela administrao via retal.
Os nveis plasmticos de ergotamina nas doses teraputicas so muito baixos,
da ordem de 1 a 5 ng/ml.
A ergotamina metabolizada no fgado e 90% de seus metablitos so
excretados pela bile, e o que resta seqestrado em outros tecidos. Existe um
segundo pico de absoro 20 horas aps a administrao, o que significa a perma-
nncia da ergotamina nos tecidos e a possibilidade de ocorrer acmulo da droga,
quando novas doses so repetidas em curto prazo.
Os efeitos colaterais da ergotamina so representados pelo agravamento das
nuseas e vmitos que muitas vezes comprometem sua utilizao pela via oral.
Com o uso de doses excessivas, pode ocorrer insuficincia vascular perifrica
que, porm, s se manifesta com a ingesto de doses maiores que 15 mg ao dia.
Outra eventual complicao do uso da ergotamina diz respeito possibilidade
do desenvolvimento de cefalias crnicas dirias pelo abuso de sua utilizao.
O uso do tartarato de ergotamina est contra-indicado nas seguintes condies:
doenas vasculares por aterosclerose, tromboangite obliterante, doena de Raynaud,
tromboflebites e outras condies que causam arterites. Insuficincia heptica ou
renal e a existncia de infeco ativa impedem o uso da ergotamina. Gravidez e
aleitamento tambm so condies limitantes. Outras contra-indicaes incluem:
hipertenso arterial importante, hipertireoidismo, desnutrio e porfiria.
A DHE derivada da ergotamina, tem as mesmas caractersticas de absoro
e espectro de ao, e em doses teraputicas equivalentes, possui os mesmos efeitos
colaterais. As formas de apresentao parenteral e inalatria nasal so disponveis
s para a DHE na maioria dos pases.
A maioria dos autores sugeria os seguintes limites para a ingesto oral: mximo
de 6 mg ao dia e de 10 a 12 mg por semana.
Segundo o consenso europeu para o uso da ergotamina, parece haver um
lugar para a droga no contexto teraputico, mas somente quando utilizada com
88
cuidado. Seria til particularmente aos pacientes que tm crises prolongadas ou
aos quais a recorrncia um fato importante. A freqncia de uso atualmente
recomendada de uma vez por semana ou de at seis vezes por ms, sendo a dose
utilizada em cada ataque de 0,5 a 2 mg.
O mucato de isometepteno um vasoconstritor menos potente com menores
efeitos colaterais e tem sido utilizado em associao a analgsicos. Tem poucos
efeitos colaterais, que incluem sedao e distrbios gastrointestinais, e contra-
indicado no glaucoma e em casos graves de comprometimento heptico, renal ou
cardaco.
Drogas antiinflamatrias no hormonais so teis para tratamento da crise de
enxaqueca. Vrios trabalhos mostram sua superioridade sobre o placebo e ao
no mnimo comparvel ergotamina. Foram utilizados, entre outros, o naproxeno,
ibuprofeno, cetoprofeno e cido tolfenmico. No se conhece bem o mecanismo
de ao dessas drogas na enxaqueca, desde que a infuso de prostaglandinas no
provoca crises de enxaqueca e algumas drogas desse grupo, como a indometacina,
tem pouca eficcia no tratamento da crise de enxaqueca. No entanto, existe a
possibilidade de que as prostaglandinas estejam envolvidas na inflamao
neurognica. Outra explicao possvel para sua eficcia no tratamento da
enxaqueca seu efeito analgsico, diminuindo a sensibilizao de nociceptores
perifricos e efeitos mais especficos no sistema trigeminal e antinociceptivos no
TC. Tm incio de ao rpido e atingem a concentrao mxima em 1 a 2 horas.
Podem ser utilizadas para o tratamento de crises fortes, por via intramuscular. So
teis no tratamento da enxaqueca menstrual, inclusive para profilaxia, e tambm
na fase de suspenso de ergotamina e triptanos utilizados abusivamente. O principal
problema da utilizao dessas drogas a difcil tolerncia gastrointestinal. Com o
uso repetido, hemorragia gstrica e reaes de hipersensibilidade podem ocorrer.
O desenvolvimento e uso dos agonistas dos receptores 5-HT1b/1d para o tratamento
das crises agudas de enxaqueca foi o avano isolado de maior impacto no tratamento
de pacientes com enxaqueca nas ltimas dcadas.As drogas coletivamente conhecidas
como triptanos que j esto em uso (sumatriptano, naratriptano, rizatriptano, frovatriptano
e zolmitriptano) e as que esto em desenvolvimento: almotriptano e eletriptano tm em
comum a farmacologia e atuam como agonistas dos receptores 5-HT1b/1d.
Os triptanos podem atuar contraindo os vasos cranianos por meio dos receptores
5-HT1b e tambm causar a inibio perifrica das fibras nervosas aferentes
trigeminais que inervam os vasos e a poro da dura-mter sensvel dor, por
meio dos receptores 5-HT1d, ou por uma combinao desses mecanismos.
Os agonistas dos receptores 5-HT1b/1d so: almotriptano, alniditan, avitriptano,
BMS-181885, eletriptano, frovatriptano (VML-251, SB-209 509), naratriptano,
rizatriptano, sumatriptano e zolmitriptano. O alniditan e o BMS-181885 no continuam
mais em desenvolvimento clnico.
89
Os agonistas do receptor 5-HT1b/1d foram desenvolvidos como constritores
carotdeos seletivos, embora possam ter mais de trs modos de ao distintos,
todos os quais podem ser aditivos em sua ao antimigranosa, cada um tendo o
efeito de reduzir a atividade em alguma parte do sistema trigmino-vascular. Esses
efeitos incluem: constrio carotdea, inibio de terminais trigeminais que inervam
vasos cranianos e a dura-mter e inibio de neurnios trigeminais no complexo
trigmino-cervical.
Apesar de o sumatriptano ser um potente constritor de grandes vasos cerebrais
e de vasos piais, no tem efeito no FSC de repouso em animais experimentais.
Neste aspecto, parece que o frovatriptano o vasoconstritor mais potente quando
se consideram doses equivalentes. A ao preferencial dessas drogas na circulao
craniana uma conseqncia direta de sua potncia e da relativa falta de receptores
5-HT1b/1d noutros leitos vasculares, particularmente a circulao coronariana.
Est bem documentado que essa classe de drogas fecha shunts arteriovenosos
e que principalmente por meio desse mecanismo que o fluxo craniano redistri-
budo aps sua administrao.
A estimulao do gnglio trigeminal nos ratos e em humanos resulta na liberao
de substncia P e de CGRP. Esse efeito bloqueado por DHE, sumatriptano,
avitriptano e zolmitriptano.
A estimulao do seio sagital superior no gato e a estimulao eltrica no macaco
resultam na atividade de clulas no complexo trigmino-cervical. Esse complexo
possui receptores que ligam sumatriptano no gato, na cobaia e nos humanos e
zolmitriptano no gato, e prov um lcus de ao agonista 5-HT1b/1d no complexo
trigmino-cervical. As clulas trigmino-cervicais podem ser inibidas por drogas
antimigranosas como DHE, naratriptano, rizatriptano e zolmitriptano. O sumatriptano
no inibe a atividade dessas clulas a menos que a barreira sangue/crebro seja
rompida, uma observao muito consistente com a falta de eficcia de sumatriptano
quando administrado durante a aura da enxaqueca. Os triptanos mais lipoflicos
como rizatriptano, eletriptano e zolmitriptano podem afetar estruturas do SNC.
As caractersticas farmacocinticas e farmacodinmicas dos triptanos esto
resumidas na tabela 4.3.
O sumatriptano um indol-derivado obtido por modificao da estrutura da
serotonina. O sumatriptano, usado por via parenteral ou oral, considerado muito
efetivo para o tratamento das crises de enxaqueca, com poucos efeitos colaterais,
que ocorrem em 62% dos pacientes, sendo, porm, leves e transitrios. Podem
ocorrer: sensao transitria de presso na cabea, sensao de calor, nuseas,
vmitos, distrbios do paladar, tontura, aperto no peito, dor no local da injeo,
vertigens, dispnia e sensao de fraqueza. Durante o uso de sumatriptano, alguns
casos de isquemia miocrdica foram documentados em pacientes com angina de
Prinzmetal, coronariopatias sintomticas e assintomticas.
90
Tabela 4.3 Caractersticas farmacolgicas e clnicas dos triptanos
suma (VO) riza zolmi nara ele frova almo
T (horas) 2 2a3 3 6 5 25 3
Biodisponibilidade 14% 40 a 45% 40% 63 a 74% 50% 24 a 30% 80%
T mx (horas) 2 1 2,5 2a3 1 2a4 2a3
Excreo MAO MAO p450 renal p450 renal a 50% p450
MAO MAO
Recorrncia 38% 30 a 40% 20 a 37% 25% 25% 8 a 10% ?
Interaes IMAO IMAO IMAO IMAO IMAO
propranolol propranolol
% de eficcia 58% 71% 64% 48% 65% 45% 70 a 80%
em 2 horas
% de eficcia 60 a 74% 60 a 70%
em 4 horas
suma = sumatriptano; riza = rizatriptano zolmi = zolmitriptano nara = naratriptano ele = eletriptano frova =
frovatriptano almo = almotriptano t = meia-vida t mx = tempo para atingir o pico de concentrao plasmtica
MAO = metabolizada pela monoaminoxidade, p450 = metabolizada pelo citocromo p450 IMAO = inibidores da
monoaminoxidase recorrncia = ndice de recorrncia da cefalia em 24 horas.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Bomhof MAM, Heywood J, Pradalier A, Enahoro H, Winter P, Hassani H. Tolerability and
efficacy of naratriptan tablets with long-term treatment (6 months). Cephalalgia
1998;18:33-37.
Callaham M, Raskin N. A controlled study of dihydroergotamine in the treatment of acute
headache. Headache 1986;26:168-171.
Dahlf CGH, Boes-Hansen S, Cederberg CG, Hardebo JE, Henricksson A. How does
sumatriptan nasal spray perform in clinical pratice? Cephalalgia 1998;18:278-282.
Diener HC, Kaube H, Limroth V. Antimigraine drugs. J Neurol 1999;246:515-519.
Diener HC, Gendolla A, Jptner M, Kaube H, Limroth V. Emerging treatments in headache.
Eur Neurol 1997;38(3):167-174.
Edmeads J. Advances in migraine therapy: focus on oral sumatriptan. Neurolology
1995;45:(8 suppl 7):53-54.
Farkkila M (for the Eletriptan Steering Comittee). A dose finding study of eletriptan (UK-
116.044) (5-30 mg) for the acute treatment of migraine. Cephalalgia 1996;16:387.
Ferrari M, Haan J. Drug Treatment of Migraine Attacks. In: Silberstein SD, Goadsby PJ (eds.).
Headache. Blue Books of Neurology. Newton: Butterworth-Heinemann, 1997; pp. 117-130.
Fowler PA, Lacay LF, Thomas M. The clinical pharmacology, pharmacokinetics and
metabolism of sumatriptan. Eur Neurol 1991;31:291-294.
Ferrari M, Roon K. The Triptan War Anno 1999. American Academy of Neurology. Sylabus
1999.
95
Goadsby PJ. Serotonin 5HT1b/1d receptor agonists in migraine. Comparative pharmacology
and its therapeutic implications. CNS Drugs 1998;10(4):271-286.
Goadsby PJ, Ferrari MD, Olesen J, Stovner LJ, Senard JM, Jackson NC, Poole PH, Stat C.
Eletriptan na crise de enxaqueca. Uma comparao duplo-cega e controlada com placebo,
com sumatriptano. Neurology 2000;54:156-163.
Gobel H, Roswell D, Winter P. A comparison of the efficacy, safety and tolerability of
naratriptan and sumatriptan [abstract]. Cephalalgia 1997;17:426.
Goldstein J, Ryan R, Jiang K, Getson A, Norman B, Block GA, Lins C and the Rizatriptan
Protocol 046 Study Group. Headache 1998;38:737-747.
Meloche J. Triptans and migraine: which drug for which patient? Can J Diag 1999;16:67-77.
Rappoport AM, Ramadan NM, Adelnon JV, Mathew NT, Elkind AH,Kudrow DB, Earl NL on
behalf of the 017 Clinical Trial Study Group. Optimizing the dose of zolmitriptan (ZOMIG,
311C90) for the acute treatment of migraine. A multicenter, double-blind, placebo-
controlled, dose-ranging finding study. Neurology 1997;48(suppl).
Sanvito WL. Tratamento escalonado versus tratamento estratificado. Simpsio Enxaqueca:
Atualidades. XVI Congresso Brasileiro de Neurologia, So Paulo, 1998.
Tfelt-Hansen P, Teall J, Rodriguez F, Giacovazzo M, Paz J, Malbecq W, Bock GA, Reines SA,
Visser WH on behalf of the Rizatriptan 030 Study Group. Oral rizatriptan versus oral
sumatriptan: a direct comparative study in the acute treatment of migraine. Headache
1998;38:748-755.
Tfelt-Hansen P, McEwen J. Nonsteroidal Antiinflamatory Drugs in the Acute Treatment of
Migraine. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches 2nd ed.
Philadelphia: Lippincot Williams & Wilkins, 2000; pp. 391-397.
Tfelt-Hansen P, Saxena PR, Dahlf C, Pascual J, Lainez M, Henry P, Diener HC, Schoenen J,
Ferrari MD, Goadsby PJ. Ergotamine in the acute treatment of migraine. A review and
european consensus. Brain 2000;123:9-12.
The Subcutaneous Sumatriptan International Study Group. Treatment of migraine attacks
with sumatriptan. N Eng J Med 1991;32:316-321.
TRATAMENTO PROFILTICO
Carlos Alberto Bordini
Conquanto se possua cada vez mais frmacos altamente eficazes no combate
das crises migranosas, essas drogas no reduzem o nmero de crises ou a evoluo
da migrnea. Deve-se atentar para: a) 24% dos migranosos padecem mais de quatro
crises/ms; b) em 50% dos migranosos, a crise provoca grande diminuio das
atividades; c) 85% apresentam em determinadas pocas crises muito intensas. Esses
fatos justificariam a introduo de tratamento profiltico, semelhantemente ao que
se procede em outras reas mdicas, como epilepsia, hipertenso e depresso.
Ao se optar pelo incio de medicao profiltica, considerar que: a) esta ser
usada por meses ou anos, sua indicao, portanto, deve ser bem estabelecida; b) a
96
profilaxia deve ser evitada caso a paciente deseje engravidar; alguns autores
recomendam que se utilize um mtodo contraceptivo eficaz quando se for instituir
tratamento profiltico; c) migranosos so mais sensveis aos efeitos colaterais; d)
a posologia pode ser menor que a usada em outras condies, assim, a amitriptilina
para depresso usada na dose de 75 a 125 mg, para migrnea a dose usual de
12,5 a 37,5 mg, a dose de divalproex para epilepsia ou mania de 1.000 a 3.000
mg; para migrnea, 500 a 1.000 mg.
Ao usar medicao profiltica, visa-se elevar o limiar de ativao do processo
migranoso com as seguintes estratgias: a) Diminuindo a ativao do centro gerador
de migrnea; b) Aumentando a antinocicepo central; c) Aumentando o limiar
para a depresso alastrante; d) Estabilizando o sensvel sistema nervoso migranoso
alterando o tnus simptico ou serotoninrgico.
Por no se dispor ainda de uma nica droga perfeita, isto , que cure 100%
dos pacientes e desprovida de efeitos colaterais ou contra-indicaes, a instituio
de tratamento para migrnea torna-se um processo fascinante, envolvendo toda
a perspiccia do mdico que deve conhecer minuciosamente no somente o
frmaco, sua ao, contra-indicaes, efeitos colaterais, segurana, tolerabilidade,
comodidade, mas tambm seu paciente a fim de se usar o chamado tratamento
sob medida (Tabela 4.4), que, sem dvida, aumenta sobremaneira a possibilidade
de sucesso.
O tratamento profiltico pode ser efetuado sob diversas modalidades:
a) episdico: um tratamento profiltico, posto que se tenta prevenir a
ocorrncia da crise com o uso do frmaco limitado ao perodo imediata-
mente anterior exposio circunstncia presumidamente deflagradora
de crises. Como exemplos h as cefalias coital e a de exerccio;
97
b) subagudo quando se institui a profilaxia por determinado perodo durante
o qual o migranoso ficar exposto. Por exemplo, profilaxia para migrnea
de altitude, profilaxia perimenstrual da migrnea;
c) crnico, contnuo, o mais corriqueiro. O medicamento ingerido de maneira
ininterrupta.
As circunstncias geralmente aceitas para que se proceda ao tratamento
profiltico esto listadas na tabela 4.5.
CLASSIFICAO DAS MEDICAES PROFILTICAS
Ainda que no haja concordncia absoluta entre os cefaliatras a respeito dos
frmacos profilticos de migrnea, a classificao adaptada de Silberstein et al.
(1997), com a insero de medicamentos presentes em nosso mercado, possivel-
mente espelhe os conhecimentos atuais do assunto (Tabela 4.6). A diversidade e a
multiplicidade de substncias o reflexo da inexistncia do frmaco ideal e
sugestivo de que haja participao de diversos sistemas, que quando ativados
resultem em crise migranosa.
AS PREFERNCIAS E AS EVIDNCIAS CIENTFICAS
Ramadan et al. (1997) revisaram todos os artigos em lngua inglesa de estudos
randomizados, duplo-cegos, controlados contra placebo de drogas profilticas para
98
migrnea. Classificaram esses estudos de acordo com o rigor cientfico em escala
de 1 a 5: 1 = baixo; 2 = baixo a mdio; 3 = mdio; 4 = mdio para bom e 5 = bom.
Para resultados negativos, isto , a droga no melhor que placebo, usando a
lgica invertida, foram usados valores negativos: -1 = baixo; at -5 = bom.
Os autores, ademais, entrevistaram neurologistas e clnicos, seguindo critrios de
seleo, de tal forma que a amostra dos entrevistados fosse representativa dos EEUU.
Foram feitas perguntas sobre quais seriam suas primeiras e segundas escolhas de
medicaes profilticas. A tabela 4.7 mostra alguns dos achados desses autores.
Antidepressivos tricclicos
Descarboxilase
do cido glutmico
cido gama-aminobutrico
GABA-amino-
transferase
Semialdedo succnico
VALPROATO
Desidrogenase
semialdedo succnica
= ao inibitria
= ao estimulante cido succnico
1a Possibilidade
Evento A evento B evento C Crise migranosa
droga W droga Y
2 Possibilidade
a
FIGURA 4.3 Possveis seqncias fenomenolgicas que culminam em crise na crise migranosa.
106
Por outro lado, a politerapia poderia permitir usos de menores dosagens, possivel-
mente acarretando menor incidncia de efeitos adversos. Uma evidncia, de ordem
prtica, seu uso freqente em clnicas especializadas.
Assim, ainda que pouco se tenha publicado a esse respeito, possvel que
semelhana do que sucede no tratamento da hipertenso arterial sistmica, em que se
pode usar frmacos com aes diversas (exemplo diurtico mais beta-bloqueador) ou
ainda mesmo no tratamento da crise migranosa (antiemtico mais analgsico), haja
espao tambm para o uso simultneo de mais de um frmaco na profilaxia da migrnea.
Para corroborar esse ponto de vista, a seguir frases de eminentes cefaliatras a
respeito da politerapia:
Combinaes so freqentemente utilizadas para os casos mais difceis
Silberstein et al., 1998.
Muitos cefaliatras crem que beta-bloqueadores hajam sinergicamente a
tricclicos Silberstein et al., 1998.
Divalproex associado a antidepressivos seria lgico para migrnea refratria
associada a depresso ou desordem bipolar Silberstein et al., 1998.
Metissergida mais bloqueador de clcio pode ser associao til Lance, 1998.
a opinio dos autores desta obra, compartilhada por numerosos outros
especialistas, que a despeito de a politerapia ter seu lugar na profilaxia da migrnea,
ela no deve ser medida adotada como rotina.
Associao de frmacos na profilaxia
Tendo-se por base os possveis mecanismos de ao dos profilticos, seus efeitos
adversos e suas interaes, na tabela 4.12 h algumas sugestes para associaes
de drogas na profilaxia da migrnea, assim como limitaes e mesmo contra-
indicaes para algumas associaes.
107
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Bordini CA. Migrnea sem aura. Caractersticas clnicas e tratamento profiltico com
propranolol, flunarizina e flunarizina mais propranolol. Tese de doutorado. Departamento
de Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo,
1995.
Bordini CA, Corbioli N. Retratos da Enxaqueca e das Cefalias Primrias. Lemos Editorial:
So Paulo, 2001.
Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KWA. The Headaches. New York: Raven Press, 1993.
Ramadan NM, Schultz LL, Gilkey SJ. Migraine prophylactic drugs: proof of efficacy,
utiization and cost. Cephalalgia 1997;17:73-80.
Silberstein SD. Preventive treatment of migraine: an overview. Cephalalgia 1997;17:67-72.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PG. Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis Medical
Media, 1998.
Silberstein SD, Mathew NT, Saper J, Jenkins S. Botulinun toxin type-A as a migraine
preventive treatment. Headache 2000;40:445-450.
Steiner TJ, Findley LJ, Yuen AWC. Lamotrigine versus placebo in the prophylaxis of migraine
with and without aura. Cephalalgia 1997;17:109-112.
108
5
CEFALIA DO TIPO TENSIONAL
Eliova Zukerman
EPIDEMIOLOGIA
Esta cefalia predomina nas mulheres numa proporo de 5/4. Na enxaqueca,
muito maior o predomnio nas mulheres em relao aos homens, o que j diferencia
a cefalia de tipo tensional da enxaqueca.
A prevalncia varia muito conforme o tipo de pesquisa, porm no h dvida
que seja elevada. Em estudos populacionais h porcentagens de 38% a 74%. Os
estudos de prevalncia variam conforme o tempo considerado. Na Dinamarca,
considerando o tempo todo de vida, a prevalncia de 69% em homens e 88% em
mulheres. Considerando a prevalncia em um ano, os dados so similares, 63%
nos homens e 86% nas mulheres. Vrios estudos mostram que elevada porcentagem
desses pacientes nunca consultou um mdico e, portanto, a automedicao que
condenvel elevada entre esses pacientes.
QUADRO CLNICO
importante detalhar as caractersticas da cefalia, seu tipo e carter, intensi-
dade, localizao, durao e periodicidade.
110
Em geral, os pacientes descrevem a dor como uma sensao de aperto, presso,
e muitas vezes dizem: Parece que tenho uma cinta pressionando a cabea ou
um capacete apertado. Outras vezes, dizem: Tenho um peso enorme na cabea
e nos ombros. A dor no latejante como na enxaqueca, porm alguns pacientes
sentem, no pice de intensidade da dor, um certo latejamento.
A localizao bilateral, a regio occipital mais afetada que a frontal ou
temporal. Alguns pacientes tm dor predominante na nuca. A dor unilateral rara,
no ultrapassando 10% a 15% dos casos.
A durao varia de 30 minutos at 7 dias, porm na maioria no ultrapassa 24
a 48 horas.
Esse tipo de cefalia no impede as atividades rotineiras dos pacientes, embora
possa interferir na sua produtividade. A atividade fsica rotineira no agrava a
cefalia; isso acontece em pacientes com enxaqueca.
Alguns pacientes tm contrao dos msculos pericranianos. Outros apresentam
pontos sensveis, verdadeiros ndulos localizados na musculatura em volta do crnio
ou da nuca.
No aparecem sintomas associados como nuseas, vmitos, foto ou fonofobia,
porm na cefalia do tipo tensional crnica um desses sintomas pode ocorrer.
Esses pacientes tm crises precipitadas por privao de sono e, alm disso,
freqente a associao com dificuldade em conciliar o sono.
MORBIDADE ASSOCIADA
Pacientes com cefalia de tipo tensional apresentam em porcentagens variveis
associao com depresso e ansiedade. Estas podem ser conseqncia ou
participarem como desencadeantes, principalmente nos casos em que h intensi-
ficao das crises de cefalia. Vale lembrar que a fibromialgia aparece com relativa
freqncia em pacientes com cefalia de tipo tensional.
FISIOPATOLOGIA
Apesar de no se saber com preciso os mecanismos envolvidos na produo
da cefalia de tipo tensional, um crescente nmero de informaes tem trazido
uma melhor compreenso sobre o assunto. A fisiopatologia da cefalia de tipo
tensional no est muito bem esclarecida porque as hipteses aventadas
necessitam de estudos comprobatrios. Os trabalhos publicados contribuem
para se avanar no objetivo de desvendar a causa desse tipo de cefalia, porm
muitos deles se deparam problemas metodolgicos e, freqentemente, no se
sabe se uma determinada alterao causa ou conseqncia da cefalia de
tipo tensional.
111
ALTERAES BIOQUMICAS
As modificaes bioqumicas verificadas por meio de diversos estudos podem contri-
buir para o conhecimento dos mecanismos produtores da cefalia de tipo tensional.
a) Serotonina
A importncia da serotonina tem sido crescente e muito estudada na enxaqueca.
Sabe-se que mais de 90% da serotonina circulante se encontra nas plaquetas. A
serotonina plaquetria, segundo alguns trabalhos, est diminuda nas plaquetas de
pacientes com cefalia de tipo tensional. Outro parmetro estudado a velocidade
de captao da serotonina pela plaqueta que, igualmente, pode estar alterada.
A concentrao plasmtica de serotonina pode estar aumentada ou normal nos
perodos de dor ou nos perodos intercrticos.
Esses dados ainda so inconsistentes para uma melhor definio do papel da
serotonina nos mecanismos produtores da cefalia de tipo tensional.
b) Endorfinas
Alguns referem que o nvel de endorfinas est reduzido no plasma ou no lquido
cefalorraquidiano. Outros trabalhos mostram que esse nvel pode estar aumentado.
provvel que as diferenas sejam devidas metodologia usada.
c) Catecolaminas e aminocidos neurotransmissores
Existem sugestes de haver uma reduo de atividade simptica em pacientes
com cefalia do tipo tensional nos perodos intercrticos. As dosagens plasmticas
mostraram reduo dos nveis de adrenalina, noradrenalina e dopamina.
Vrios trabalhos mostram aumento de aminocidos neurotransmissores, como
glutamato, aspartato e glicina no plasma ou no lquido cefalorraquidiano em pacientes
com enxaqueca, porm em pacientes com cefalia de tipo tensional essa alterao
no ocorreu.
d) GABA
O cido gama-aminobutrico (GABA), um neurotransmissor de funo inibitria,
est elevado nos pacientes com cefalia de tipo tensional. Esse aumento maior
do que verificado em pacientes com enxaqueca. Isso sugere que um estado de
hiperexcitabilidade neuronal esteja sendo controlado pelo aumento desse
neurotransmissor. A ao teraputica favorvel do cido valprico, que uma
substncia GABAmimtica, confirma essa impresso.
e) Peptdeos
Sabe-se que a substncia P, o peptdeo vasointestinal e o neuropeptdeo Y esto
envolvidos na fisiopatologia da dor aguda e da crnica.
Ashina et al. (1998) estudaram o nvel plasmtico desses peptdeos nas veias
jugular e do antebrao de pacientes com cefalia de tipo tensional crnica. No
verificaram diferena nos resultados dos dois nveis de coleta de sangue, tanto na
fase de dor de cabea como na fase intercrtica. Os nveis plasmticos no diferiram
entre pacientes e controles.
112
f) xido ntrico (NO)
O xido ntrico tem um papel importante na fisiopatologia das cefalias primrias,
principalmente das enxaquecas, porm alguns trabalhos sugerem seu envolvimento
na cefalia de tipo tensional crnica. Sabe-se que pacientes com cefalia do tipo
tensional tm alteraes na consistncia dos msculos pericranianos.
Ashina et al. (1998), usando um inibidor da sintase de NO, verificaram, em
pacientes com cefalia de tipo tensional crnica, melhora da dor de cabea e reduo
da consistncia muscular, que estava anormalmente aumentada. Por outro lado, o
trinitrato de gliceril, que um formador de NO, provoca cefalia em controles, que
na sua fase tardia se assemelha s cefalias primrias. Pacientes com cefalia de
tipo tensional tm dor mais intensa que controles quando submetidos a esse formador
de NO. Isso pode sugerir que esses pacientes tenham uma sensibilizao neuronal.
MECANISMOS PERIFRICOS E CENTRAIS
Especula-se que impulsos nociceptivos so referidos ao crebro e percebidos
como cefalia. Existe a possibilidade de ocorrer sensibilizao dos nociceptores
perifricos situados nos msculos e envoltrios ou dos neurnios de segunda ordem
na medula espinhal ou ainda de neurnios supra-espinhais. Outra possibilidade
ocorrer um decrscimo dos mecanismos antinociceptivos supra-espinhais. Alm
disso, existe um complexo de mecanismos de sensibilizao de neurnios centrais.
Essas alteraes poderiam ocorrer na cefalia do tipo tensional.
a) Mecanismos perifricos
O exame clnico desses pacientes revela, na maioria das vezes, uma alterao
dos tecidos pericranianos, principalmente nos msculos, que se tornam mais endu-
recidos e sensveis palpao.
As alteraes dos msculos pericranianos, para efeito de comparao de
resultados, tm sido medidas de vrias maneiras e, recentemente, foi desenvolvido
um palpmetro quantificando essa alterao.
O aumento da consistncia muscular, que um sinal clnico freqente, representa
uma ativao de nociceptores perifricos. Em pacientes com cefalia do tipo
tensional crnica, observa-se diminuio do limiar dor. Esse fato, entretanto,
pode significar um desarranjo central. Acredita-se que ambos coexistam na gnese
desse tipo de cefalia.
b) Mecanismos centrais
Vale lembrar que os estudos neurofisiolgicos sugerem uma alterao em
interneurnios de tronco cerebral. O trabalho mais importante foi feito pelo grupo
de Schoenen e diz respeito supresso exteroceptiva do registro da contrao do
msculo temporal. Esses autores registram a contrao dos msculos temporais
ao cerrarem com fora as arcadas dentrias. Provocando um estmulo extero-
ceptivo, nos lbios homolaterais registra-se uma supresso da contrao dos
113
msculos temporais. Essa supresso ocorre em dois momentos: um inicial, de curta
durao, e outro mais duradouro. O primeiro chamado de ES1 e o seguinte de
ES2. O primeiro monossinptico e o segundo polissinptico. Em pacientes com
cefalia de tipo tensional, constataram esses autores reduo na durao do ES2
ou abolio desse perodo de supresso. Este fato foi interpretado como devido a
uma disfuno de interneurnios do tronco cerebral que ligam o sistema lmbico e
outros ao sistema trigeminal.
O reflexo de piscar, estudado por Aktekin et al. (2001), obtido provocando-se
estmulo no nervo supra-orbitrio. O ciclo de recuperao obtido por pares de
choques com diferentes intervalos entre os estmulos. Foram analisados os
componentes R1, R2 e R2 do ciclo. A curva de recuperao no segmento R2
mostrou-se mais lenta nos pacientes com cefalia de tipo tensional quando com-
parada com a dos enxaquecosos e controles. Esse resultado indica reduo da
excitabilidade de interneurnios do tronco cerebral.
c) Sensibilizao neuronal
Difunde-se atualmente que a cefalia de tipo tensional seja uma manifestao
clnica de sensibilizao neuronal anormal e facilitao dor. Nesses pacientes os
msculos pericrnicos so mais sensveis dor e a consistncia muscular e o
registro eletromiogrfico da contrao muscular esto aumentados. Estes inde-
pendem de o paciente estar ou no com dor, o que significa que a dor no a sua
causa.
O ncleo caudal do trigmeo recebe impulsos nociceptivos de vasos sangneos
e dos msculos. Recebe impulsos supranucleares que podem ser facilitadores ou
inibitrios. As clulas do ncleo caudal do trigmeo podem ser sensibilizadas como
resultado de intensa ativao neuronal. Clulas situadas na regio ventromedial do
bulbo, chamadas on cells, so facilitadoras da dor. Uma dor provocada por ferimento
ou traumatismo desaparece medida que a ferida cicatriza, porm esses estmulos
nociceptivos podem sensibilizar neurnios centrais e produzir, em circunstncias
especiais, dor por reduo de mecanismos antinociceptivos centrais.
Este esquema pode explicar a enxaqueca, nociceptor vascular hiperssensvel, e
a cefalia de tipo tensional, nociceptor miofascial hipersensibilizado.
PREDISPOSIO GENTICA
Recentemente foi referido existir esta predisposio para o aparecimento da forma
crnica da cefalia de tipo tensional. No futuro, os estudos podero demonstrar
mecanismos que tornam alguns pacientes mais predispostos a ter cronificao da cefalia.
DIAGNSTICO
O diagnstico em geral clnico, no exigindo investigaes complementares.
fundamental obter detalhes das manifestaes clnicas porque com esses dados
possvel classificar o tipo de crise de forma adequada.
O exame neurolgico normal. A palpao dos msculos pericranianos deve ser
feita rotineiramente, pois estes podem estar hipersensveis ou dolorosos. Quando h
suspeita de existir causa orgnica, a tomografia computadorizada ou a ressonncia
magntica de crnio estaro indicadas. Nas formas crnicas ou quando a intensidade
das dores aumenta, tambm pode estar indicado exame de imagem.
DIAGNSTICO DIFERENCIAL
Por vezes, sinusitopatia pode ser um diagnstico diferencial, a ser confirmado
pela clnica e por exames de imagem. A disfuno oromandibular pode ser causa
de dores de tipo tensional, porm, em geral, essa condio, pela alta prevalncia,
pode ser um diagnstico associado cefalia de tipo tensional.
A hipertenso endocraniana, chamada benigna, apresenta dor contnua e bilateral.
Ocorre em pessoas jovens, obesas, mais em mulheres que em homens. Pode se
associar a vmitos, distrbios visuais, diplopia e papiledema. H casos raros em
115
que no h edema de papila. A CT de crnio pode ser normal ou mostrar ventrculos
de dimenso reduzida. O exame do lquido cefalorraquidiano mostra hipertenso e,
por vezes, hipoproteinorraquia.
A hipertenso endocraniana sintomtica, devida a processos expansivos, cursa
com cefalia intensa que se acentua na posio ereta, acompanhada de vmitos,
distrbios visuais e, por vezes, sinais neurolgicos de localizao.
TRATAMENTO
O tratamento da cefalia de tipo tensional segue a um diagnstico acurado e
baseia-se em conhecimentos dos mecanismos fisiopatolgicos envolvidos.
A coleta da histria clnica na entrevista inicial pode contribuir no s para o
diagnstico, como tambm para o planejamento do tratamento. Os dados sobre os
sintomas, suas caractersticas, intensidade, localizao, sintomas acompanhantes,
fatores desencadeantes, medicao usada e seu efeito, fatores de melhora e piora
devem ser valorizados.
Como norma geral, o planejamento teraputico deve consistir em medidas gerais,
psicofisiolgicas e farmacolgicas.
a) Medidas gerais
Medidas preventivas so importantes: correo de atitudes e posturas viciosas,
correo de problemas dentrios, dos seios da face. Orientar o paciente a como
lidar com situaes estressantes e conflitos em geral.
vlido o uso de bolsa de gelo ou, ao contrrio, de calor que pode aliviar a dor.
Um programa de relaxamento proporciona resultados positivos e deve ser reco-
mendado. Os exerccios fsicos podem contribuir.
b) Tratamento farmacolgico
Os medicamentos so recomendados para o tratamento da crise de cefalia ou
para a sua profilaxia.
b.1) Tratamento da crise
Em geral, so usados analgsicos e antiinflamatrios no esteroidais. Muitas
vezes, a associao com a cafena melhora a ao daqueles. Os mais populares
so: cido acetilsaliclico, 500 mg a 1.000 mg; acetaminofeno, 500 mg a 750 mg;
dipirona, 500 mg a 750 mg. Os antiinflamatrios, como naproxeno sdico, 550 mg,
e ibuprofeno, so muito teis.
No h evidncias de que miorrelaxantes, como diazepam, carisoprodol,
baclofeno, sejam eficientes nesses pacientes. Estudos isolados recomendam
uso da tizanidina.
preciso lembrar que esses medicamentos podem produzir efeitos colaterais.
Nuseas, pirose e dor epigstrica indicam a necessidade de monitorar uma possvel
complicao gstrica. Reaes alrgicas podem ocorrer.
116
Como a cefalia tem intensidade fraca ou moderada, no h necessidade de
medicamentos em grande quantidade, pelo contrrio, preciso moderao para
evitar a cronificao da dor de cabea por abuso de analgsicos.
b.2) Tratamento profiltico
Este visa, por meio do uso continuado de medicao indicada, reduzir a inten-
sidade das crises, espaar o intervalo entre elas e, se possvel, elimin-las.
Os medicamentos mais usados so os antidepressivos tricclicos. A amitriptilina
um dos mais populares. Seu efeito foi comprovado no s pela prtica do dia a
dia, mas tambm por ensaios clnicos controlados contra-placebo. A dose inicial
pode ser 15 mg a 25 mg noite, aumentando-se progressivamente at 100 mg ou
125 mg se necessrio. Raramente so usadas doses mais elevadas.
A clomipramina na dose de 25 mg a 125 mg um recurso comprovado e efi-
ciente.
Os inibidores da recaptao da serotonina, como a fluoxetina, so teis. A dose
mdia de 20 mg a 40 mg ao dia. Em geral, os efeitos so inferiores aos da
amitriptilina.
Outros medicamentos so usados, porm faltam evidncias decorrentes de
ensaios apropriados.
O valproato de sdio, que til na enxaqueca, pode ser prescrito em casos de
cefalia de tipo tensional crnica, mas carece de estudos controlados.
Recentemente surgiram alguns trabalhos preconizando o uso de toxina botulnica,
porm so necessrios ensaios clnicos e mais relatos de resultados positivos para
a adoo dessa medida.
Uma abordagem multidisciplinar requerida para casos especiais, em que vrios
recursos precisam ser acionados simultaneamente, para a soluo da cefalia de
tipo tensional.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Aktekin B, Yaltkaya K, Ozkaynak S, Oguz Y. Recovery cycle of the blink reflex and exteroceptive
supression of temporalis muscle activity in migraine and tension type headache.
Headache 2001;41:142-149.
Antony M, Lance JW. Plasma serotonin in patients with chronic tension headaches. J
Neurol Neurosurgery Psychiat 1989;52:182-184.
Ashina M, Bendtsen L, Jensen R, Ekman R, Olesen J. Plasma levels of substance P,
neuropeptide Y, and vasoactive intestinal polypeptide in patients with chronic tension-
type headache. Pain 1999;83(3):541-547.
Ashina M, Bendtsen L, Jensen R, Olesen J. Nitrix oxide induced headache in patients with
chronic tension type headache. Brain 2000;123:1830-1837.
Ashina M, Bendtsen L, Jensen R, Sakai F, Olesen J. Measurement of muscle hardness: a
methodological study. Cephalalgia 1998;18:106-111.
117
Bach FW, Langemark M, Secher NH, Olesen J. Plasma and cerebrospinal fluid beta-endorphin
in chronic tension-type headache. Pain 1992;63:103-107.
Bendtsen L. Central sensitization in tension-type headache-possible pathophysiological
mechanisms. Cephalalgia 2000;20:486-508.
Cheung RT. Prevalence of migraine, tension type headache and other headache in Hong
Kong. Headache 2000 ;40:473-479.
Committee of the International Headache Society. Classification and diagnostic criteria for
headache disorders, cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988;8:(suppl 7):1-96.
Dahlhof CG, Jacobs LD. Ketoprofen, paracetamol and placebo in the treatment of episodic
tension-type headache. Cephalalgia 1996;16:117-123.
Fogelholm R, Muros K, Tizanidine in chronic tension-type headache: a placebo controlled
double blind crossover study. Headache 1992;32:509-513.
Goebel H, Petersen-Braun M, Soyka D. The epidemiology of headache in Germany: a
nationwide survey of representative sample on the basis of the headache classification
of the International Headache Society. Cephalalgia 1994;14:97-106.
Jensen R, Bendtsen L, Olesen J. Muscular factors are of importance in tension type headache.
Headache 1998;38:10-17.
Jensen R, Olesen J. Tension-Type Headache: an update on mechanisms and treatment. Curr
Opin Neurol 2000;13(3):285-289.
Jensen R, Hindberg I. Plasma serotonin increase during episodes of tension-type headache.
Cephalalgia 1994;14:219-222.
Lance J, Goadsby PJ. Tension-Type Headache. In: Mechanisms and Management of
Headache. 6th ed. Oxford, Butterworth Heinemann, 1999; pp. 158-175.
Langemark M, Loddrup D, Bech P, Olesen J. Clomipramine and mianserin in the treatment of
chronic tension-type headache. A double blind controlled study. Headache 1990;30:118-
121.
Mathew NT, Ali S. Valproate in treatment of persistent chronic daily headache. An open
label study. Headache 1991;31:126-129.
Ostergaard S, Russel MB, Bendtsen L, Olesen J. Increased familial risk of chronic tension-
type headache. Br Med J 1997;314:1092-1093.
Rasmussen BK. Migraine and tension-type headache in the general population.
Precipitation factors, femele hormones, sleep pattern and relation to lifestyle. Pain
1993;53:65-72.
Rasmussen BK. Migraine and tension-type headache are separate disorders. Cephalalgia
1996;16:217-220.
Redillas C, Solomon S. Prophylatic treatment of chronic daily headache. Headache 2000;40:83-
102.
Rollnik JD, Tenneberger O, Schubert M, Schneider U, Dengler R. Treatment of tension-type
headache with botulinum toxin type A. A double-blind, placebo-controlled study.
Headache 2000;40:300-305.
118
Schoenen J, Wang W. Tension-Type Headache. In: Goadsby PJ, Silberstein SD.(Ed)
Headache. Boston: Butterworth-Heinemann 1997; pp. 177-200.
Schwartz BS, Stewart WF, Simon D, Lipton RB. Epidemiology of tension type headache.
JAMA 1998;279-381-383. Takeshima T, Shimomura T, Takahashi K. Platelet activation in
muscle contraction headache and migraine. Cephalalgia 1987;7:239-243.
Zukerman E, Minatti-Hannuch SN, Mazzacoratti MGN, Reis Filho, JB, Cavalheiro EA.
Cerebrospinal fluid neurotransmitter amino acids in migraine. Cephalalgia 1993;13 (suppl
13): 94.
119
6
CEFALIA EM SALVAS
Wilson Farias da Silva
DEFINIO
O comit de Bethesda, considerando-a como uma cefalia vascular do tipo da
enxaqueca, definiu cefalia em salvas como cefalia vascular, com predominncia
unilateral e do mesmo lado, usualmente associada com transpirao, rubor da face,
rinorria e lacrimejamento; breve em durao e geralmente ocorrendo em grupos
separados por longas remisses.
Dando uma conotao mais descritiva, dir-se-ia: cefalia vascular de predomnio
no sexo masculino na proporo de 4:1, salvo na forma clnica cognominada de
hemicrania paroxstica crnica, e de maior incidncia aps os 20 anos de idade. A
dor estritamente unilateral e quase sempre de um mesmo lado, podendo acontecer
mudanas de lado quando de perodos diferentes, o que raro, ou em um mesmo
perodo, o que bem menos freqente, e excepcionalmente ser bilateral. A cefalia
paroxstica, de grande intensidade, terebrante, mas s vezes com carter pulstil,
tendo localizao supra ou periorbitria, da se irradiando para a regio temporal e,
por vezes, para a hemiface e at mesmo para o hemicranio e a regio cervical
ipsilateral. As crises tm incio e trmino abruptos, durao varivel entre 15 minutos
e 3 horas (em mdia 30 a 60 minutos; entre 5 e 10 minutos na hemicrania paroxstica
crnica), predomnio noturno e tendem, em um mesmo paciente, a ocorrer na mesma
hora do dia. Elas agrupam-se em sries (salvas) que se repetem a intervalos de
tempo variveis de semanas, meses ou anos. Em perodos que duram em mdia 4
122
a 8 semanas e quase sempre comeam na mesma poca do ano, os pacientes tm
uma a oito crises por dia (10 a 20 na hemicrania paroxstica crnica).
Acompanhando a dor, ipsilateralmente a ela, persistindo durante todo o ataque,
ocorrem, habitualmente, distrbios autonmicos: rinorria, obstruo nasal, lacrime-
jamento, hiperemia conjuntival e, menos freqentemente, sndrome de Horner parcial,
hiperidrose e rubor da face, bradicardia. Alguns pacientes referem turgescncia
da artria temporal superficial no lado doloroso durante as crises.
Um dado referido pela maioria dos autores que a ingesto de bebidas alcolicas
capaz de desencadear uma crise quando de uma srie delas, mas no tem qualquer
influncia quando dos perodos de remisso.
O comit para classificao das dores de cabea da Sociedade Internacional
de Cefalia emitiu, em 1988, a seguinte descrio: crise de dor intensa estritamente
unilateral; orbitria; supra-orbitria e/ou temporal, durando de 15 a 180 minutos e
ocorrendo uma a oito vezes ao dia. associada com um ou mais dos seguintes
sintomas e/ou sinais: hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congesto nasal,
rinorria, sudorese da face e fronte, miose, ptose e edema palpebrais. As crises
ocorrem em sries, com durao de semanas ou meses (os assim chamados
perodos) separados por intervalos de remisses geralmente durando meses ou
anos. Cerca de 10% dos pacientes tm sintomas crnicos.
CARACTERIZAO CLNICA
Os aspectos j referidos configuram um quadro clnico bem caracterstico, mas
no isento de algumas nuances, como se observar na anlise a seguir de cada um
dos dados isoladamente.
SEXO
A cefalia em salvas era uma doena masculina at 1974, quando Sjaastad e
Dale (1974) descreveram uma de suas formas clnicas, atualmente reconhecida
a hemicrania paroxstica crnica, que uma condio no exclusiva, como
inicialmente se pensou, mas de franco predomnio nas mulheres. De qualquer
maneira, no conjunto, indiscutvel sua maior incidncia no sexo masculino: 75%
versus 25% na casustica estudada.
IDADE DE INCIO
uma modalidade de cefalia que habitualmente se inicia aps os 20 anos,
com predomnio para as terceira e quarta dcadas. Incio em pacientes bem
mais jovens ou, ao contrrio, significativamente mais idosos, vem sendo relatado:
no primeiro ano de vida (Terzano et al.), aos 3 anos de idade (Kudrow) e aos 8
anos (Ekbom e Olivarius, 1971). Dentre os examinados nesta obra, os incios
mais precoces foram aos 8 e 11 anos (um caso em cada idade). No outro extremo,
123
h um paciente que teve sua primeira salva aos 74 anos. Dos 148 examinados,
em 121 (81,75%) o incio foi aps os 20 anos e em apenas 27 (18,24%) o quadro
eclodiu antes dos 20 anos, e nestes 27 a doena teve incio aps os 18 anos em
17 deles.
SINTOMAS INICIAIS
No so freqentes, sendo raros os pacientes que relatam sentir, alguns minutos
antes da instalao da dor, sensao de ardncia na narina ou de desconforto
periorbitrio no lado que ser acometido.
CARTER DA DOR
Na grande maioria dos casos, a algia de grande intensidade, sendo rotulada
como terebrante, o que ocorreu em 80,64% dos examinados; a qualidade pulstil
foi mencionada por apenas 19,35% dos casos estudados.
L OCALIZAO DA DOR
Na quase totalidade dos casos, a dor referida como peri ou retrorbitria,
frontal ou temporal, da se podendo irradiar para o hemicrnio, para a hemiface e
mesmo para a face lateral do pescoo do mesmo lado. Outras localizaes tm
sido assinaladas. Ekbom e Olivarius (1971) registra dores limitadas ao maxilar e
gengiva superiores, enquanto Brooke chama a ateno para as dores que tm
como sede a mandbula, podendo, assim, ser interpretadas como dor de dente, o
que se observa em um dos estudados cujas algias iniciadas na mandbula se
irradiavam para a regio frontorbitria ipsilateral. A localizao inicial, todavia,
pode ser na regio posterior do crnio, como ocorre no caso relatado a seguir:
MAS, masculino, 48 anos. Desde os 16 anos apresenta dores de carter
terebrante, iniciadas na regio occipital esquerda, da se irradiando para o
hemicrnio e a regio periorbitria ipsilaterais. As dores surgiam por crises
de incio agudo, atingindo o mximo em cerca de 15 minutos e cedendo
aps 1 hora. Os ataques repetiam-se uma a duas vezes ao dia, por 2 a 3
meses, e depois ocorria intervalo assintomtico de 6 a 8 meses.
Concomitantemente dor, e do mesmo lado, havia lacrimejamento,
hiperemia conjuntival, rinorria, obstruo nasal e sndrome de Horner
parcial. A ingesto de bebidas alcolicas era o nico fator desencadeante
reconhecido pelo paciente. Foi tratado com prednisona nos dois ltimos
episdios, com boa resposta teraputica.
Nas descries clssicas, a dor estritamente unilateral e sempre de um mesmo
lado (91,21% dos casos). Contudo, e este fato j vem sendo mencionado na literatura
(Farias da Silva e Van der Liden, 1983; Kunkel, 1982; Lance, 1993; Raffaelli,
1984; Ryan e Ryan, 1978; Sjaastad, 1978; Sjaastad e Haggag, 1989), pode haver
124
mudana de lado em surtos diferentes ou, o que menos freqente, em um mesmo
surto. Lance (1993), em 60 pacientes, constatou alternncia de lado em cinco
deles (8,33%); Sjaastad e Haggag (1989) estimam que a mudana de lado ocorra
no mesmo surto em 5% dos casos e em perodos diferentes em 10% dos pacientes.
Dos 148 casos estudados, 10 (6,75%) referiam alternncia de lado, e em 1 deles
isso ocorreu no mesmo perodo; em 3 (2,02%) as dores alternavam de lado ou
eram ocasionalmente bilaterais.
JDS, masculino, 30 anos. Desde os 24 anos, apresenta dor periorbitria
e frontotemporal esquerda, pulstil, de incio e trmino abruptos, com durao
mdia de 45 minutos, ocorrendo uma a trs vezes ao dia por perodos de 2
a 3 meses de durao. As crises tm predomnio noturno e horrio regular.
Durante os ataques havia lacrimejamento, hiperemia conjuntival, obstruo
nasal e rinorria ipsilateralmente algia. Esse quadro repetiu-se anualmente,
ou a cada 2 anos, de 1983 a 1989. Em julho de 1990, iniciou novo perodo
lgico, porm neste as dores passaram a alternar de lado, muito embora as
crises fossem mais freqentes e mais graves esquerda.
Nos outros nove pacientes, a mudana de lado ocorria em perodos diferentes,
como exemplificado no caso a seguir:
ABS, masculino, 50 anos. Aos 49 anos teve, por 30 dias e uma a duas
vezes ao dia, crises de dor periorbitria direita acompanhada por congesto
ocular e lacrimejamento ipsilaterais. Cada crise durava de 20 a 30 minutos,
e as dores pioravam com o decbito, no havendo predomnio noturno.
Aps um perodo assintomtico de 1 ano, voltou a ter crises semelhantes
s anteriores, salvo que as dores eram periorbitrias esquerda.
Bem mais rara ainda a possibilidade de a dor acometer simultaneamente os
dois lados, o que referido por Sjaastad e Haggag (1989) e por Kunkel (1982),
este ltimo registrando apenas um caso. Isso tambm se verifica em trs pacientes,
um deles relatado abaixo:
OPS, masculino, 29 anos. Desde os 20 anos apresenta salvas de dor
retrocular direita ou esquerda ou bilateral; sede da dor variando no mesmo
perodo ou em perodos diferentes. Crises com incio e trmino abruptos,
durao varivel entre 15 e 20 minutos, freqncia de uma a trs vezes
por dia, sem preferncia noturna, agravadas por ingesto de bebidas
alcolicas. Durante as crises, ipsilaterais dor, havia lacrimejamento,
hiperemia conjuntival, obstruo nasal, rinorria e sndrome de Horner, e
nas crises com dor dos dois lados, os fenmenos autonmicos ocorriam
no lado em que a dor era mais intensa. Os perodos, com durao entre 60
e 90 dias, vm se repetindo a intervalos de 6 meses a 1 ano.
125
Na hemicrania paroxstica crnica, as dores so estritamente unilaterais e sempre
do mesmo lado.
DURAO DAS CRISES
As crises tm durao varivel entre 15 e 180 minutos. Kunkel (1982) refere
que ocasionalmente, durante uma salva com ataques de curta durao, pode ocorrer
uma crise que perdure vrias horas, aspecto que at o momento no foi observado.
Dentre os 148 casos estudados, as crises tinham durao menor que 30 minutos
em 32 deles (21,62%), duravam de 30 a 60 minutos em 79 (53,37%) e em 37
(25%) prolongavam-se por mais de 60 minutos, apenas em 2 deles atingindo 180
minutos, e em outro perdurando por 4 a 5 horas (ver caso AN relatado no tpico
Sintomas acompanhantes).
Na hemicrania paroxstica crnica, os ataques tm menor durao, 2 a 10
minutos, excepcionalmente se estendendo por 30 a 45 minutos. Nos quatro casos
estudados, os ataques duravam de 10 a 25 minutos.
FREQNCIA DAS CRISES
O habitual a ocorrncia de uma a trs crises por dia, alguns tendo, porm,
ataques bem menos freqentes, um a dois por semana, enquanto em outros o
nmero de crises pode chegar a at 20 ao dia, isso ocorrendo apenas em pacientes
com hemicrania paroxstica crnica. Dos examinados, 54 (36,48%) tinham de uma
a trs crises por dia; 86 (58,10%) referiam mais de trs ataques por dia, enquanto
8 (5,40%) relatavam um a dois episdios por semana, e 1 (0,67%) padecia de
apenas uma crise por ms. As examinadas com hemicrania paroxstica crnica
tinham de duas a mais que 12 crises por dia.
PERIODICIDADE
A existncia de perodos de dor alternando com fases isentas de queixas que
permite a subdiviso dos casos de cefalia em salvas em formas episdicas e
crnicas. Nas formas episdicas, os perodos de dor, com durao de 7 dias at 1
ano, alternam-se com fases livres de dor, que devem perdurar por intervalo de
tempo igual ou superior a 14 dias. Em trabalhos anteriores, sugeriram-se 6 meses,
sem perodos assintomticos, como o prazo limite. Seis meses foi o maior perodo
doloroso detectado entre os pacientes estudados e, mesmo assim, em apenas um
deles. Nas formas crnicas, os ataques ocorrem por um tempo igual ou maior que
1 ano, no devendo haver nenhum intervalo assintomtico igual ou superior a 14
dias.
FCP, masculino, 48 anos. Aos 44 anos teve o primeiro episdio de dor
periorbitria esquerda, por crises com 15 a 60 minutos de durao,
repetindo-se de uma a oito vezes ao dia, e predomnio noturno que persistiu
por 6 meses. Durante as crises havia, ipsilateralmente dor, lacri-
126
mejamento, hiperemia conjuntival e obstruo nasal. A ingesto de bebidas
alcolicas era referida como fator desencadeante das crises. Permaneceu
4 anos assintomtico, quando entrou em nova fase dolorosa com as mesmas
caractersticas anteriores. Ao procurar tratamento, vinha tendo crises havia
5 meses, ficando livre das dores a partir do terceiro dia de uso de carbonato
de ltio (300 mg por trs vezes ao dia), tendo sido o medicamento suspenso
aps 15 dias sem dores. Retornou consulta 3 anos e 10 meses depois,
menos de 15 dias aps ter novo perodo de ataques e, mais uma vez,
respondeu rapidamente ao ltio.
Nos demais pacientes nos quais a periodicidade ficou bem caracterizada, as
fases lgicas tinham durao mxima de 4 meses.
No que diz respeito aos intervalos assintomticos, eles podem variar de alguns
dias (no mnimo 14, em obedincia ao que preceitua a Sociedade Internacional
de Cefalia) at vrios anos. Do exposto, conclui-se que os pacientes podem ter
mais de uma fase com dor por ano, como exemplifica o caso relatado na seqncia:
SET, masculino, 41 anos. Desde os 37 anos apresenta dor retrocular direita
por crises de incio e trmino abruptos, com durao de 40 minutos, repetitiva
duas a trs vezes ao dia. Precedem de 5 a 10 minutos a crise sensao de
ardncia e obstruo da narina direita. Durante o ataque, h lacrimejamento,
hiperemia conjuntival, obstruo nasal, rinorria e sndrome de Horner,
tambm no lado direito. O lcool fator desencadeante das crises. Os ataques
ocorrem s mesmas horas e nos trs turnos do dia com igual freqncia.
Cada perodo lgico dura de 20 a 40 dias e vem se repetindo de trs a quatro
vezes ao ano.
SINTOMAS ACOMPANHANTES
Os que mais chamam a ateno so os oculossimpticos (hiperemia conjuntival,
lacrimejamento, rinorria, obstruo nasal e sndrome de Horner parcial), que
expressam a disfuno autonmica presente durante os ataques de cefalia em
salvas. Em alguns pacientes, todos eles esto presentes, mas no raro haver
ausncia de um ou mais de um deles e, at mesmo, somente um estar presente.
Outros sintomas de ocorrncia bem menos freqentes so: bradicardia, hipertenso
arterial, hiperidrose e rubor facial do lado acometido.
Classicamente se diz que os distrbios autonmicos contemporneos da dor que
aparecem durante as crises de cefalia em salvas so unilaterais e do mesmo lado da
algia. Sjaastad e Haggag (1989), contudo, tm chamado a ateno para o fato de que
eles so bilaterais, muito embora menos evidentes no lado assintomtico. Lance (1993),
em seus 60 pacientes, refere bilateralidade em: lacrimejamento em 3 deles, obstruo
nasal em 4 e rinorria em 1. Na prtica cotidiana, o que se ouve dos pacientes que as
alteraes oculossimpticas so unilaterais e do mesmo lado da dor. Apenas 8 dos
127
examinados referiam manifestaes disautonmicas bilaterais durante crises dolorosas
unilaterais (Tabela 6.1), como exemplificado nos dois casos relatados a seguir:
Essa modalidade de dor de cabea foi descrita por Sjaastad e Dale em 1974. A
hemicrania paroxstica crnica idntica cefalia em salvas no que diz respeito
estrita lateralidade, intensidade da dor e aos fenmenos disautonmicos que ocorrem
durante as crises. Difere, todavia, das outras formas clnicas de cefalia em salvas por
serem as crises de menor durao, 5 a 10 minutos (podendo ser de 2 a 45 minutos),
porm mais freqentes, em mdia de 6 a 10 ao dia, ocasionalmente ocorrendo at 20
vezes por dia; predomina nitidamente no sexo feminino; responde de modo exclusivo e
137
absoluto indometacina e, em alguns pacientes, os ataques podem ser desencadeados
por movimentos da cabea. Sjaastad tem relatado ainda duas outras peculiaridades da
hemicrania paroxstica crnica: diminuio ou mesmo desaparecimento das crises
durante gestaes e relato de cefalia crnica de caracterstica varivel precedendo
em anos a instalao do quadro dito de hemicrania paroxstica crnica.
Considerando que os paroxismos lgicos podem se iniciar imediatamente aps
mobilizao do segmento cervical, Sjaastad acredita que uma disfuno do sistema
nervoso autnomo, especialmente do simptico, em nvel cervical, tem importncia
no mecanismo fisiopatognico responsvel pelas crises. uma modalidade rara de
cefalia, registrando a literatura algumas centenas de casos. Em nossa casustica
temos apenas uma paciente.
MGS, feminino, 26 anos. Desde os 25 anos, e uma a duas vezes por dia,
apresenta dor periorbitria e maxilar superior esquerda por crises de incio
e trmino abruptos, com durao de 20 a 25 minutos, ocorrendo sempre
no perodo da manh e/ou da tarde. Medicada com indometacina, 50 mg/
dia, ficou assintomtica a partir do primeiro dia de tratamento, assim
permanecendo por 3 meses quando, sem nossa ordem, suspendeu a
medicao com imediato retorno dos paroxismos lgicos, que mais uma
vez responderam de modo absoluto retomada da indometacina.
Sndromes similares cefalia em salvas no preenchendo os critrios
operacionais para as formas anteriores
O Comit da Sociedade Internacional de Cefalia diz a esse respeito: crises de dor
de cabea passveis de ser reconhecidas como uma forma de cefalia em salvas,
mas que no preenchem totalmente os critrios diagnsticos operacionais.
AMCS, feminino, 27 anos. Entre os 8 e 27 anos tinha crises de dor
excruciante, localizada na regio temporal direita, dirias, sem horrio
preferencial e com durao varivel entre 20 e 120 minutos. Aos 27 anos
passou a ter quatro a seis crises por dia, durante 3 semanas, aps o que,
mesmo sem qualquer medicao, ficou assintomtica, assim permanecendo
at a ltima consulta, 18 meses depois.
Nesse caso, observa-se que a sintomatologia incompleta, faltando os distrbios
autonmicos, alm de que aspectos poucos freqentes na cefalia em salvas, sexo
feminino e incio aos 8 anos esto presentes. Uma outra curiosidade nessa paciente
a aparente resoluo espontnea de um caso de cefalia em salvas crnica.
No caso que segue, as caractersticas da distribuio temporal da dor que o
tornam de discutvel enquadramento como sendo de cefalia em salvas.
TBF, feminino, 42 anos. A partir dos 20 anos, passou a ter dores locali-
zadas na metade inferior da hemiface esquerda, da irradiando-se para o
138
membro superior esquerdo, instalando-se de modo subagudo e persistindo
por um perodo de 2 meses. Durante esse tempo, a dor contnua,
apresentando, porm, no decorrer do dia, fases de exacerbao que
perduram por vrios minutos (10 a 20 minutos), repetitivas por vrias
vezes e acompanhadas por turvao visual, lacrimejamento, hiperemia
conjuntival, obstruo nasal e rinorria do mesmo lado da dor. Os perodos
lgicos vm se repetindo a intervalos de 6 a 12 meses. TC de crnio e face
normais; TC da coluna cervical mostrando discretos prolapsos discais em
C3-C4 e C4-C5.
DIAGNSTICO DIFERENCIAL
A localizao (estritamente unilateral e sempre do mesmo lado na quase totalidade
dos casos), a durao (curta a mdia) e a distribuio temporal (salvas agrupadas ou
no em perodos, em consonncia com a forma clnica) da dor, aliada aos distrbios
autonmicos que se fazem presentes durante os paroxismos lgicos, fazem com que
o diagnstico de cefalia em salvas no apresente maiores dificuldades. Como
exemplificamos, todavia, com alguns casos, algumas nuances podem ser encontradas,
mas esse fato no ocorre com muita freqncia. Contudo, no infreqente que
alguns, por inexperincia, confundam cefalia em salvas com outras entidades
nosolgicas que na realidade praticamente s tm em comum com ela a caracterstica
de evolurem com dores localizadas na regio fronto-orbitria ou terem manifestaes
oculossimpticas fazendo parte de sua sintomatologia clnica.
Teceremos consideraes sobre umas poucas condies.
NEURALGIA DO TRIGMEO
A neuralgia essencial do trigmeo, tambm chamada de neuralgia de Fothergill,
prosopalgia facial ou tique doloroso da face de Trousseau, uma afeco dolorosa
da face com maior incidncia no sexo feminino e incio habitual aps os 50 anos.
As dores so paroxsticas, ditas como em facada, punhalada ou choque eltrico, e
de curtssima durao, embora repetitivas em curtos intervalos de tempo. A
intensidade pode ser intolervel e a localizao na regio de distribuio de um
ou mais ramos do nervo trigmeo, mais freqentemente no segundo ou no terceiro,
o envolvimento do primeiro sendo raro (menos de 5% dos casos). O acometimento
simultneo dos trs ramos ocorre em 10% a 15% dos pacientes, e em 3% a 5%
dos casos ela bilateral. Os paroxismos podem ter incio espontneo ou ser
desencadeados pela estimulao de zonas-gatilho, sempre as mesmas para cada
paciente, as quais esto situadas na pele que recobre a face e na mucosa da
cavidade oral. As crises podem ocorrer com a mastigao, o ato de falar ou roar
da pele, e aps uma srie delas h um perodo refratrio em decorrncia da
139
inexcitabilidade das zonas-gatilho, o que aproveitado pelos pacientes para se
alimentar. Lacrimejamento e congesto da conjuntiva so habituais no fim dos
paroxismos lgicos.
assinalado por Taptas que pode haver dissociao entre a rea que estimulada
e a zona da dor, isto , a estimulao ocorre no territrio do ramo maxilar e a dor
sentida na rea de distribuio do ramo mandibular.
A denominao de tique advm do fato de que a intensidade da dor pode
acarretar o aparecimento de expresses mmicas, traduzidas por contraes da
musculatura da hemiface do lado comprometido.
Nas neuralgias ditas essenciais, o exame neurolgico normal, e uma zona-
gatilho encontrada; perodos de remisses espontneos, ocasionalmente durando
anos, habitualmente ocorrem no incio da doena, havendo, todavia, tendncia a
que, progressivamente, as fases dolorosas se tornem mais freqentes e mais
severas.
Nas neuralgias sintomticas, as dores so contnuas e, quando se apresentam
sob a forma de paroxismos, os pacientes freqentemente relatam sensaes
parestsicas interictais, estabelecendo-se um fundo doloroso contnuo. Ademais, o
exame clnico demonstra a existncia de hipoestasia de maior ou menor intensidade,
configurando-se, por vezes, um quadro de anestesia dolorosa. Na dependncia do
fator etiolgico, pode ocorrer, com a evoluo do processo, leso do ramo motor
do trigmeo e de nervos cranianos de vizinhana.
SNDROME SUNCT
Os autores antigos descreviam, sob a denominao de oftalmodnia peridica,
um quadro clnico caracterizado por dores agudas, sbitas e de curta durao,
referidas a um globo ocular. Em 1989, Sjaastad e alunos relatam um quadro clnico
configurado por ataques de dor em um olho associada com hiperemia conjuntival,
lacrimejamento, congesto nasal e rinorria. As crises duram de 15 a 60 segundos
e se repetem de 5 a 30 vezes por hora, em alguns pacientes, podendo ser precipitadas
pela mastigao ou pela ingesto de alguns alimentos como frutas ctricas. Vimos
apenas um caso de sndrome Sunct.
MTS, masculino, 9 anos. H 2 anos apresenta dores no olho esquerdo,
paroxstica, de incio e trmino abruptos, curtssima durao (poucos
segundos), acompanhadas de lacrimejamento e hiperemia conjuntival
ipsilateralmente, aparecendo com freqncia varivel de 2-3 por dia a um
ataque a cada 2-3 dias.
CEFALALGIA DISAUTONMICA PS -TRAUMTICA
um dos poucos quadros clnicos que se assemelham cefalia em salvas. Foi
descrita por Vijayan e Dreyfus em pacientes que haviam sofrido traumatismo na
140
regio cervical com comprometimento da cartida. Em seqncia ao trauma, a
regio lesionada mostrava-se dolorosa e sensvel, assim permanecendo por vrios
dias. Meses aps, os pacientes passavam a se queixar de cefalia paroxstica,
pulstil, de grande intensidade, localizada na regio temporofrontal ou no hemicrnio
ipsilateral ao lado traumatizado. A evoluo era por crises com durao varivel
entre 8 e 72 horas (em mdia 8 a 12 horas) e tendncia a se repetir uma ou mais
vezes por ms. Durante os ataques, e do mesmo lado da dor, ocorriam midrase e
hiperidrose da face. Ocasionalmente, fotofobia, turvao visual e nuseas
associavam-se dor de cabea. No ps-crise, evidenciavam-se miose e ptose
palpebral parcial.
Como se pode ver, alm de no existirem salvas ou perodos, o diagnstico
diferencial facilitado por trs caractersticas prprias assinaladas na cefalalgia
disautonmica: o antecedente de trauma envolvendo a regio cervical, a longa
durao das crises e os sintomas de hiperfuno simptica durante os ataques.
CEFALIA POSTERIOR LESO EM CHICOTADA DA COLUNA CERVICAL
Hunter e Mayfield em 1949 descreveram um quadro lgico caracterizado por
hemicrania paroxstica e recorrente, acometendo sempre o mesmo lado. A dor,
na maioria dos pacientes, tinha incio na regio suboccipital, da irradiando-se
para o vrtex e as regies temporal e periorbitria ipsilateral. Evoluam por crises
habitualmente noturnas e, com freqncia, acompanhadas de obstruo nasal,
lacrimejamento, rubor e modificao da sudao da face do mesmo lado da dor.
Alguns pacientes referiam sensaes vertiginosas, desequilbrio de marcha e
vmitos. A durao das crises variava de poucos minutos at vrios dias, sendo
em mdia de 2 a 3 horas.
SNDROME PARATRIGEMINAL OU SNDROME PERICAROTDEA
Clinicamente, caracteriza-se por dores supra-orbitria e frontal, contnuas,
porm com exacerbao, associadas a uma sndrome de Horner parcial (ptose
parcial e miose) e anidrose da testa, e, em alguns casos, a sudao da face est
intacta. A paralisia oculossimptica e os distrbios da sudao so do mesmo
lado da dor.
A sndrome de Raeder no deve ser visualizada como entidade autnoma tendo
seu aparecimento valor apenas como indicativo da necessidade de se investigar a
artria cartida interna e a regio parasselar.
Da reviso da literatura, trs aspectos chamam a ateno: a) a variedade assina-
lada para os possveis fatores etiolgicos; b) o grande nmero de casos nos quais
nenhuma etiologia foi presumida; e c) a evoluo aparentemente auto-remissiva
de alguns casos.
No nico paciente que vimos, a sndrome era sintomtica de um tumor (oligoden-
droglioma) hipotalmico com expanso parasselar.
141
INA, feminino, 23 anos. Na primeira consulta, 23/08/1990, referia que
sua doena tivera incio subagudo, 13 dias antes, com dor na regio frontal
esquerda, no incio intermitente e, posteriormente, contnua, com fases
de exacerbao. Ao exame, observaram-se ptose palpebral parcial e miose
esquerda, sem enoftalmia, com aparente integridade da sudao da fronte
associada com borramento nos bordos papilares do olho esquerdo. A TC
mostrou presena de processo expansivo supra e parasselar esquerdo,
com componente slido, que captava contraste, situado lateralmente e
com um compartimento cstico medial, que no se distinguia do III
ventrculo cerebral. rea de hipodensidade intralesional, provavelmente
resultante de necrose, foi identificada no componente slido. Observou-
se, alm disso, dilatao ventricular bilateral por compresso no nvel de
III ventrculo. Foi submetida craniotomia frontal no dia 27/09/1990, com
exrese de um tumor cujo diagnstico anatomopatolgico foi de oligo-
dendroglioma grau II.
NEURALGIA PS-HERPTICA
As dores, contnuas ou subcontnuas, tm carter de queimao, podem ser
desencadeadas por estmulos cutneos e localizam-se no territrio de distribuio
do ramo oftlmico do nervo trigmeo. O exame pode demonstrar dficit
sensitivo. A presena de vesculas ou de leses cicatriciais facilitam sobremodo
o diagnstico.
NEURALGIA DO GNGLIO ESFENOPALATINO
Questiona-se a autenticidade dessa entidade, muitos dos casos descritos como
tal sendo, na realidade, de cefalia em salvas. Caracterizar-se-ia por dores profundas
e contnuas, de localizao ocular, com irradiao para a face, ocasionalmente
acompanhadas por hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congesto da mucosa
nasal e rinorria.
MIGRNEA
Na migrnea, a cefalia pode ser uni ou bilateral localizada, hemi ou holocraniana,
variando de lado e de localizao de uma crise para outra e, s vezes, numa mesma
crise. Em alguns pacientes, a dor de cabea pode ser precedida por manifestaes
enceflicas focais e transitrias variadas, fotopsias, escotoma cego, teicopsias,
parestesias, distrbios da linguagem, disartria e vertigem, sendo os mais freqentes.
A durao das crises varia entre 4 e 72 horas e freqentemente nuseas e vmitos,
palidez e suores, foto e fonofobia esto presentes.
Excepcionalmente, as crises agrupam-se no tempo e ocorrem por ciclos com
durao de 2 a 20 semanas (em mdia 6 semanas), separadas entre si por perodos
assintomticos com durao de vrias semanas. Durante cada ciclo, os pacientes
142
tm de uma a sete crises por semana, cada crise tendo durao de 24 horas ou mais.
Um aspecto caracterstico seria as mudanas de humor, a astenia e a depresso
durante e, ocasionalmente, precedendo de dois a trs dias o incio de cada ciclo.
Essa modalidade evolutiva da migrnea foi descrita por Medina e Diamond sob
a denominao inicial de enxaqueca em salvas (1977) e depois de enxaqueca
cclica (1981).
Mesmo no quadro de migrnea cclica, em que o aspecto em salvas configura-se,
e existem perodos lgicos bem delimitados, a durao das crises, a localizao, o
carter da dor e os sintomas acompanhantes facilitam o diagnstico diferencial.
SINUSITE
A dor unilateral pode estar presente nas sinusites agudas apenas quando o
seio frontal o acometido. A dor unilateral somente se houver agenesia ou
hipoplasia de um seio frontal. Localizada na regio frontal, a dor referida como
contnua, habitualmente mais intensa pela manh, acentuando-se pela tosse ou
pelo ato de abaixar a cabea. Descarga nasal mucopurulenta, dor palpao e
percusso do seio frontal habitualmente esto presentes. Como se v, no h
salvas nem distrbios autonmicos e, alm disso, o estudo radiolgico facilmente
confirma o diagnstico.
CEFALIA CERVICOGNICA
Dor unilateral (j se comea a aceitar casos com dor bilateral), interessando
regio cervical, com irradiao para as regies temporal, frontal e ocular e, por
vezes, tambm para a hemiface ipsilateral e, mais raramente, para o ombro e o
membro superior homolateral. A dor, com carter de presso, peso ou latejamento,
evolui para crises com durao de 3 horas a 1 semana (mais freqentemente 1 a 3
dias), repetidas de uma a quatro vezes ao ms. A intensidade da dor varivel, de
moderada a muito forte. Os ataques podem ser desencadeados por situaes que
induzam contrao dos msculos cervicais, tais como tenso psicolgica e posies
foradas do pescoo, por presso sobre o nervo occipital maior, raiz de C2 e apfises
transversas de C4-C5, do lado da dor e por movimentos da coluna cervical. Acompa-
nhando a dor, constatam-se irritabilidade, fonofobia, tonturas, edema palpebral e
embaamento da viso no olho ipsilateral e, ocasionalmente, nuseas e vmitos. O
intervalo entre as crises pode variar de 2 dias a 2 meses, sendo habitualmente de 1
a 3 semanas. Excepcionalmente a dor contnua.
TRATAMENTO
Considerando-se a intensidade da dor das crises de cefalia em salvas, encontrar
um tratamento que seja eficaz, sempre e em todos os pacientes uma aspirao
de todos aqueles que lidam com os que padecem dessa modalidade de dor de
143
cabea. Nas ltimas dcadas, houve um substancial progresso nos conhecimentos
clnicos e vrias propostas teraputicas foram formuladas, mas o tratamento 100%
eficaz ainda no foi encontrado. Pacientes existem que no responde a nenhuma
das drogas disponveis, enquanto outros, que inicialmente responderam, deixam de
faz-lo nos perodos lgicos subseqentes.
O tratamento da cefalia em salvas no uniforme, devendo a medicao ser
escolhida em funo da forma clnica apresentada pelos pacientes. Quatro medidas,
porm, podem ser consideradas como passveis de ser utilizadas independentemente
da forma clnica: seriam a proibio do uso de bebidas alcolicas e o uso de tartarato
de ergotamina (ou do mesilato de diidroergotamina), do sumatriptano ou da inalao
de oxignio no tratamento abortivo das crises.
A proibio da ingesto de bebidas alcolicas durante o perodo de crises na
forma episdica, e, do ponto de vista prtico, permanentemente, nas formas crnicas,
fundamenta-se no fato de ser o lcool um fator reconhecidamente desencadeador
de crises na grande maioria dos pacientes 71,13% em nossa experincia. Na
opinio de Diamond, durante o tratamento com carbonato de ltio os pacientes
ficariam protegidos do habitual efeito agravante dos ataques provocados pelo lcool,
esta no sendo, todavia, a opinio de Mathew, para quem o ltio no previne os
ataques induzidos pelo lcool.
Ao tratamento abortivo da crise, deve-se procurar associar um tratamento
profiltico. O reconhecimento da existncia de diversificadas formas clnicas da
cefalia em salvas no veio demonstrar somente que existem variados padres
evolutivos, assim como diferenas no muito significativas na sintomatologia
clnica; ele foi de extrema importncia quando evidenciou que a resposta medi-
camentosa pode estar diretamente relacionada com a forma clnica apresentada
pelos pacientes, existindo, na prtica, quase que uma medicao especfica para
cada uma delas.
Atualmente esta assertiva aceita com reserva, dado que alguns dos medica-
mentos (verapamil e valproato de sdio) so eficazes tanto na forma episdica
como na forma crnica.
Por se tratar de uma condio extremamente dolorosa, em que as crises nem
sempre respondem aos procedimentos utilizados na tentativa de abort-las,
imprescindvel que se encontre um medicamento que funcione profilaticamente.
Mesmo que no se obtenha xito total, se conseguirmos reduzir a freqncia, a
severidade e a durao dos ataques, j estaremos prestando um incalculvel
benefcio aos nossos pacientes.
Inicialmente, e obedecendo ordem cronolgica de aparecimento, vamos rever
os principais procedimentos teraputicos propostos, alguns tendo hoje apenas valor
histrico, visto que se mostraram pouco ou nada eficazes. Posteriormente discu-
tiremos as drogas e os esquemas que consideramos vlidos.
144
MEDICAMENTOS E PROCEDIMENTOS SUGERIDOS
Dessensibilizao pela histamina
Introduzida por Horton, em 1956, teve seu primeiro estudo controlado realizado
por Jammes, em 1975. Seu mecanismo de ao , at o momento, especulativo;
supresso da resposta inflamatria por liberao de agentes humorais ou supresso
da sntese desses agentes so as duas hipteses sugeridas. De qualquer
maneira, considerando-se a recorrncia das crises aps retirada da medicao,
evidente que h uma supresso apenas temporria dos mecanismos bsicos. A
prednisona, o corticosteride habitualmente usado, mais eficaz nas formas
episdicas e deve ser associado ao uso de anticidos e de antagonistas de receptores
H2 (cimetidina ou ranitidina).
Indometacina
O uso deste antiinflamatrio no-esteride, na dose de 75 a 150 mg ao dia ,
durante longo perodo de tempo, restringe-se aos casos de hemicrania paroxstica
crnica consonante postulao de Sjaastad e Dale, em 1974. uma droga inibidora
da sntese das prostaglandinas que tem sua indicao no tratamento da hemicrania
paroxstica crnica. Efeitos colaterais variados tm sido assinalados em mais de
um tero dos pacientes, destacando-se dor epigstrica, nuseas e vmitos, clicas
abdominais e diarria, anorexia hemorragias gastrointestinais e reativao de
lcera gstrica, tonturas, vertigens e dor de cabea, esta de localizao frontal em
25% a 50% dos casos. Menos freqentemente vm sendo mencionadas hepatite,
pancreatite, confuso mental, reaes cutneas, sndrome nefrtica e necrose das
148
papilas renais. Existem alguns relatos de hipertenso intracraniana benigna e quadro
psictico. Como as demais drogas que inibem a prostaglandina-sintetase, no deve
ser usada no ltimo trimestre da gravidez, pois pode induzir inrcia uterina e/ou
ao fechamento prematuro do canal arterial. A dose necessria est situada entre
75 e 150 mg ao dia, devendo o tratamento ser mantido por longo perodo.
Carbonato de ltio
Foi indicado por Ekbom, em 1977, sendo ao nosso ver a droga de escolha para
o tratamento das formas crnicas, exceo da hemicrania paroxstica crnica.
Rapidamente absorvido pelo trato gastrointestinal, a concentrao plasmtica atinge
seu ponto mximo aps 2 a 4 horas de sua ingesto. Cruza de modo lento a barreira
hematoenceflica, 95% da droga sendo excretada pela urina em uma fase rpida
e em outra mais lenta, esta podendo demorar at 14 dias. No deve ser utilizado
concomitantemente com dieta hipossdica ou com diurticos que induzam perda
de sdio, dado que a depleo de sdio acarreta reteno intracelular de ltio.
A dose mdia de 300 mg, duas a trs vezes ao dia, por via oral, procurando-
se manter uma concentrao plasmtica entre 0,4 e 0,8 mEq/1. O controle peridico
do nvel srico deve ser realizado.
O mecanismo de ao do ltio no est bem elucidado, sabendo-se ser ele
eficaz em patologias que tm evoluo cclica: inibe a sntese das prostaglan-
dinas e a ao da prolactina, agindo ainda sobre as monoaminas, o AMP-
cclico, as plaquetas e o sono. Em pacientes deprimidos, o ltio aumenta a latncia
do primeiro perodo de sono REM e reduz o percentual de sono REM. Coube
a Dexter e Weitzan demonstrar que as crises noturnas de cefalia em salvas
acontecem em relao ao sono REM. Uma outra propriedade do ltio seria
estabilizar a neurotransmisso serotoninrgica no sistema nervoso central.
O ltio tem diversos efeitos colaterais, relacionados com vrios rgos, alguns
deles bastante preocupantes:
1. Neurotoxicidade Confuso mental, letargia, turvao visual, tremores (que
respondem ao propranolol), nistagmo, ataxia, sinais extrapiramidais e
convulses.
2. Tireide Hipotireoidismo (dez vezes mais freqente nas mulheres) em
5% dos casos e aumento indolor da tireide (reversvel com a suspenso da
droga). Dosagens de TSH, T3 e T4 devem ser feitas a cada 6 meses.
3. Renal Edema e reteno de sdio na fase inicial do tratamento. Poliria,
polidipsia e diabetes inspido por bloqueio do hormnio antidiurtico no nvel
do tbulo renal. Foram relatados uns poucos casos de fibrose tubular e
esclerose glomerular, irreversveis.
4. Hematolgico Leucocitose por polimorfonucleares.
5. Cardaco Achatamento da onda T e disfuno do ndulo sinusal.
149
6. Dermatolgico lceras cutneas, psorase, queda de cabelo, erupes
semelhantes acne.
7. Gravidez Tm sido registrados, em recm-nascidos de mes que utilizavam
o ltio, depresso do sistema nervoso central, hipotonia, bcio neonatal e
ms-formaes cardacas, especialmente doena de Ebstein.
Raskin e Appenzeller relatam nuseas, vmitos, diarria, tremores e viso borrada
como os efeitos colaterais mais freqentes, referindo ainda que com nveis plas-
mticos altos podem aparecer disartria, abalos mioclnicos, hipotenso arterial,
convulses e insuficincia renal. Rigidez dos membros e fasciculaes caracterizam
os quadros de intoxicao moderada para severa. Na experincia de Kudrow, as
reaes adversas mais freqentes foram cefalia occipital com carter pulstil,
anorexia, nuseas, dor abdominal e perda de peso. Raffaelli (comunicao pessoal),
que vem utilizando o ltio h mais de 15 anos, cita tremores e nuseas como os
efeitos colaterais mais encontrados, registrando poucos casos de cefalia occipital
e um nico caso de hipotireoidismo. Em nossa experincia pessoal, tremores finos
distais, nuseas, anorexia e diarria foram os efeitos colaterais mais freqentemente
referidos pelos pacientes.
Detectando-se sinais de intoxicao, a droga deve ser suspensa de imediato
(salvo quando se tratar de tremores que podem ser controlados com a adio de
propranolol), providenciando-se, quando de intoxicaes mais severas, sesses de
hemodilises.
Clorpromazina
Foi indicada por Caviness e OBrien, em 1980, que prescreviam doses de 75
at 700 mg ao dia. Atualmente no mais usada em face de sua ineficcia.
Oxignio
Dos bloqueadores do canal de clcio, o verapamil a droga que tem sido utilizada
com resultados satisfatrios. A sugesto do uso do verapamil para o tratamento da
cefalia em salvas, tanto na forma episdica como na crnica, partiu de Gabai e
Spiering, em 1989. No deve ser prescrito para pacientes com insuficincia cardaca,
hipotenso arterial severa e em algumas outras cardiopatias com distrbios da
conduo. Reaes adversas fazem-se presentes em menos de 8% dos pacientes,
as mais freqentes sendo hipotenso arterial, bradicardia, edema perifrico, bloqueio
atrioventricular, tonturas,astenia, nuseas e constipao. As doses sugeridas variam
entre 240 e 320mg/dia, porm alguns autores chegam a prescrever at 600 mg ao
dia na forma episdica e 1.200 mg ao dia na forma crnica.
Valproato de sdio
Forma episdica
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Ad Hoc Commitee on Classification of Headache. Classification of headache. The Journal
of the American Medical Association 1962;179(3):717-718.
Ad Hoc Headache Classification Committee of the International Headache Society.
Classification and diagnosic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and
facial pain. Cephalalgia 1988;8(suppl 1):-967.
Alessandri M et al. Increase of Calciotonin Gene Related Peptide (CGRP) in external jugular
blood during Nitroglicerin (NTC) induced attack of Cluster Headache (CH). Cephalalgia:
1933;13(suppl 13):31.
Campbell JK. The Current Status of Histamine Desensitization in the Treatment of Cluster
Headache. In: Cluster Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American
Association for the Study of Headache, 1982;14p.
156
Campbell JK. The Treatment of the Resistant Patient. In: Cluster Headache. A Comprehensive
Course. New Orleans: American Association for the Study of Headache, 1982;9p.
Caviness US et al. Cluster headache: response to chlorpromazine. Headache 1980;20(3):127-
131.
Couch JR. Treatment and management of acute cluster headache. Cluster Headache.
Mathew, NT (ed.). Pergamon Press, NY pp. 89-96, 1984.
Couch JR, Ziegler DK. Prednisone therapy for cluster headache. Headache 1978;18(4):219-
221.
D'ngua Filho ASP. Tratamento da Cefalia em Salvas. In: Curso de Atualizao em Cefalia,
4. So Paulo: Ach, 1982; pp.16-21.
Dalessio DJ. Surgical Therapy of Cluster Headache. In: Cluster Headache. A
Comprehensive Course. New Orleans: American Association for the Study of
Headache, 1982;13p.
Diamond S. Chronic Cluster Headache. Chronic Paroxysmal Hemicrania Cluster Migraine
and Other Cluster Variants. In: Cluster Headache. A Comprehensive Course. New Orleans:
American Association for the Study of Headache, 1982;6p.
Diamond S et al. Treatment of intractable cluster. Headache 1986;22(1):42-46.
Ekbom K. Lithium for cluster headache: review of literature and preliminary results of long-
term treatment. Headache 1981;21(4):132-139.
Ekbom K. Prophylactic treatment of cluster headache with a new serotonin antagonist, BC-
105. Acta Neurologica Scandinavica 1969;45:601-610.
Ekbom K. Long-term acute treatment of cluster headache attacks with sumatriptan: an
interim review. Cephalalgia 1993;13(suppl 13):36.
Ekbom K, Olivarius PF. Chronic migranious neuralgis diagnostic and therapeutic aspects.
Headache 1971;11(2):97-101.
Farias da Silva W. Cefalias em Salvas: Quadro Clnico e Diagnstico Diferencial. In: Curso
de Atualizao em Cefalia, 5. So Paulo: Ach, 1984; pp. 9-13.
Farias da Silva W. Consideraes sobre enxaqueca e sndrome de Horton. Neurobiologia
1974;37(2):171-182.
Farias da Silva W, Van der Linden AM. Cefalia em salvas. Diagnstico e tratamento.
Neurobiologia 1983;46 (1):53-66.
Farias da Silva W, Almeida CAV, Maciel PS. Cefalia em salvas: alguns aspectos clnicos
pouco freqentes. Neurobiologia 1991;54(3):135-143.
Farias da Silva W, Barros ACC, Valena MM, Maciel PS, Almeida CV. Sndrome de Raeder e
tumor hipotalmico. Neurobiologia 1991;54(4):181-188.
Friedman AP. Current concepts in the diagnosis and treatment of chronic recurring headache.
The Medical Clinics of North America 1972;56(6):1257-1271.
Friedman AP. The Psychological and Behavioral Aspects of the Cluster Headache Patients.
In: Cluster Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American Association
for the Study of Headache, 1982;7p.
157
Gabai IJ, Spiering ELG. Prophylatic treatment of cluster headache with verapamil. Headache
1989;29:167-168.
Goadsby PJ, Edvinsson L. Evidence of trigeminovascular activation in man during acute
cluster headache. Cephalalgia 1993;13(suppl 13):30.
Graham JR. Cluster headache. Headache 1982;11(2):175-185.
Graham JR. Migraine and Cluster Headache. A Critical Review of Relationship. In: Cluster
Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American Association for the Study
of Headache, 1982.
Hannerz J, Greitz D, Hansson P, Ericson K. Sunct may be another manifestation of orbital
venous vasculitis. Headache 1992;32(8):384-389.
Hering R, Kuritzky A. Sodium valproate in the treatment of cluster headache: an open
clinical trial. Cephalalgia 1989;29:195-198.
Horton BJ, Maclean AR, Graig W. A new syndrome of vascular headache: results of treatment
with histamie. Preliminary report. Proc Staff Meet Mayo Clinic 1939;14:257-260.
Horton BT. Headache: clinical varieties and therapeutic suggestions. The Medical
Association of North America 1949;2:973-1005.
Horton BT. Histaminic cephalalgia. The Journal of the American Medical Association
1956;160:468-469.
Horven J et al. Dynamic Tonometry in Migraine and Cluster Headache. In: International
Headache Symposium, Elsinore, 1971. Proceedings. Basle, Sandoz LT, 103-10, 1971.
Hunter CR, Mayfield FM. Role of the upper cervical roots in the production of pain in the
head. American Journal of Surgery 1949;27:743-751.
Isler H. A hiden dimension in headache work: applied history of medicine. Headache
1986;26(1):159-163.
Jammes JL. The treatment of cluster headache with prednizona. Dis Nerv System 1975;36:375-
376.
Kruszewski P, Sand T, Shen JM, Sjaastad O. Shortless unilateral neuralgiform headache
attacks with conjuntival ingestion and tearing (Sunct syndrome). IV Respiratory sinus
arrhythmic during and outside paraoxysms. Headache 1992;32(8):377-378.
Kudrow L. Cluster headache: diagnosis and management. Headache 1979;19(3):143-150.
Kudrow L. Comparative Results of Prednisone, Methysergide and Lithium Therapy in
Cluster Headache. In: Current Concepts in Migraine Research. New York: Raven Press,
1978; pp. 159-163.
Kudrow L. Response to cluster headache attacks to oxigen inhalation. Headache
1981;21(1):1-5.
Kunkel RS. Classification of Custer Headache. Clinical Features of Episodic Cluster
Headache. In: Cluster Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American
Association for the Study of Headache, 1982;8p.
Lance JW. Mechanism and Management of Headache, 5 th ed. London: Butterworth-
Heinemann, 1993; pp. 133-188.
158
Leon M et al. Hypotalamic-pituitary-adrenal axis investigation in cluster headache and low
back pain patients. Cephalalgia 1933;13(suppl 13):33.
Mathew NT. Clinical subtypes of cluster headache and response to lithium therapy. Headache
1978;18(1):26-30.
Mathew NT. Prophylactic Pharmaco-Therapy of Cluster Headache. In: Cluster Headache. A
comprehensive course. New Orleans: American Association for the Study of Headache,
1982;20p.
Mathew NT, Hunt W. Percutaneous radiofrequency trigeminal gangliorhizolysis in intractable
cluster headache. Headache 1988;28:328-331.
Medina JL, Diamond S. Cluster headache variant. Spectrum of a new headache syndrome.
Archives of Neurology 1981;38:705-709.
Medina JL, Diamond S. The Concept of Cyclical Migraine. In: Progress in Migraine Research
1. London: Pitman Books, 1981; pp. 9-12.
Meyer JS et al. Migraine and cluster headache treatment with calcium antagonists supports
a vascular pathogenesis. Headache 1985;25(7):358-367.
Moench LG. Migraine. In: Headache. Chicago: Year Book Publ., 1947; pp. 154-186.
Moench LG. Histamine Headache. In: Headache. Chicago: Year Book Publ., 1947.
Monstad J. Pre-emotive oral treatment with sumatriptan during a cluster headache period.
Cephalalgia 1993;13(suppl 13):35.
Nappi G, Savoldi F. Headache. Diagnostic System and Taxonomic Criteria. London: John
Libbarra Eurotext, 1985; pp. 84-91.
Ogden HD. Vascular headache. Journal of the Louisiana State Medical Society
1958;110(11):390-395.
Ogden HD. Frontal headache: the most ignored type of headache. Headache 1965;5(1):49-55.
Peatfield RC, Rose FC. Exacerbation of migraine by treatment with lithium. Headache 1981,
21:140-2.
Ptaffenrath V. Cervicogenic Headache and its Differencial Diagnostic. In: Migraine and
Other Headache. New Jersey: The Parthenon Publishing Group Ltd, 1989; pp. 161-177.
Raffaelli Jr E. Tratamento dos Distrbios Autonmicos nas Cefalias e na Clnica Geral. In:
Curso de Atualizao em Cefalia, 5. So Paulo: Ach, 1984; pp. 55-60.
Raffaelli Jr E. Diagnstico e teraputica. Ars Curandi 1979;11(12):5-46.
Raffaelli Jr E. Cefalia Cervicognica. In: Farias da Silva W. Cefalia, Diagnstico e
Tratamento. Rio de Janeiro: Ed. Mdica Cientfico Ltda., 1989; pp. 241-240.
Raffaelli Jr E et al. Lisuride in Cluster Headache. In: Annual Meeting of the American
Association for the Study of Headache, 24. New Orleans, 1982.
Rapoport AM et al. Chronic paroxysmal hemicrania. Case report of the second known
definitive occurence in male. Cephalalgia 1981;1(2):67-69.
Raskin NH, Appenzeller O. Cluster Headache. In: Headache. Philadelphia: WB Saunders,
1980; pp. 185-198.
159
Russel D. Cluster headache: severity and temporal profiles of attacks in patient activity
prior to and during attacks. Cephalalgia 1981;1(4):209-216.
Ryan Sr RE, Ryan Jr RE. Headache and Head Pain: Diagnosis and Treatment, 1 st ed.. Saint
Louis: C.V. Mosby Company, 1978 pp. 192-207.
Sakai F, Meyer JS. Abnormal cerebrovascular reactivity in patients with migraine and cluster
headache. Headache 1979;19:257-266.
Sanvito WL, Tilbery CP. Cefalia em salvas. Arquivos de Neuropsiquiatria 1980;38(4):375-384.
Saper JR. Non-Headache Disorders and Characteristics of Cluster Headache Patients. In:
Cluster Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American Association for
the Study of Headache, 1982;12p.
Sjaastad O. Pathogenesis of the cluster headache syndrome. Res Clin Study Headache
1978;6:53-64.
Sjaastad O. et al. Chronic paroxysmal hemicrania: mechanical precipitation of attacks.
Headache 1979;19:31-37.
Sjaastad O et al. Cervicogenic headache and hipothesis. Cephalalgia 1983;3:249-256.
Sjaastad O, Dale I. Evidence for a new treatable headache entity. Headache 1974;14(3):105-108.
Sjaastad O, Haggag KJ. Cluster Headache: Syntomatology in Pathophysichology. In:
Migraine and Other Headache. New Jersey: The Partheum Publishing Group Ltd, 1989;
pp. 73-85.
Sjaastad O, Fredriksen T. Cluster headache: synthomatology interrelationship of autonomic
phenomena and pain. An editorial. Chephalalgia 1986;6:3-5.
Sjaastad O et al. The sweating anomaly in cluster headache: further observations on the
underlying mechanism. Cephalalgia 1987;7:77-81.
Sjaastad O et al. Cluster headache: further observation on the dissociation of pain autonomic
findings. Cephalalgia 1988;8:127-132.
Speed WG. Cluster Headache: History, Nomenclature, Relation to Other Facial Pain
Syndromes. In: Cluster Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American
Association for the Study of Headache, 1982;16p.
Taptas JN. Les Syndromes Douloureux Cranio-Faciaux non Nralgiques Predominants aux
Territorires Cephaliques Antreus. In: Maux de Tte et Nvalgies, Douleurs
Craniofaciales Paris: Masson, 1963.
Terzano MG et al. Cluster headache in one-year old infant? Headache 1981;21(6):255-256.
The Sumatriptan Cluster Headache Study Group. Treatment of cluster headache with
sumatriptan. New England J Med 1991;325:322-326.
Vijayan N, Dreyfus PM. Post-traumatic dysautonomic cephalalgia. Clinical observation
and treatment. Archives of Neurology 1975;32:649-652.
Vijayan N, Watson C. Pericarotid syndrome. Headache 1978;18(5):244-254.
Vijayan N, Watson C. Periphral Autonomic Abnormalities in Cluster Headache. In: Cluster
Headache. A Comprehensive Course. New Orleans: American Association for the Study
of Headache, 1982;16p.
160
Watson CP et al. The surgical treatment of chronic cluster headache. Headache
1983;22:289-295.
Waltz TA et al. Trigeminal cistern glyceral injections for facial pain. Headache
1985;25:354-357.
Wolff HG. Headache and Other Head Pain. New York: Oxford Univ. Press, 1948.
Wolff HG. Migraine. In: Cecil RL, Loeb RF. A Textbook of Medicine, 10 ed. Philadelphia:
W.B. Saunders, 1959; 1.417p.
Wood EW, Friedman AP. Thermography in Migraine and Cluster Headache. In: X International
Congress of Neurology, Anal de Congresso. Barcelona, 1973. Abstracts. Amsterdam:
Excerpta Medica, 1973; pp. 29.
161
7
CEFALIA DO ESFORO, DA TOSSE E
DA ATIVIDADE SEXUAL
Maurice Borges Vincent
INTRODUO
A primeira responsabilidade do mdico que atende um paciente com dor de
cabea diferenciar os que sofrem de primrias daqueles com dores secundrias.
Esta diferenciao pode ser particularmente importante em indivduos que
apresentem cefalias relacionadas ao esforo, tosse e atividade sexual. Embora
a maioria das pessoas se enquadrem em dores primrias e relativamente benignas,
afeces expansivas, cerebrovasculares e malformaes podem se manifestar
como cefalias com estas caractersticas. Na reviso de Sands et al. (1991), um
em cada cinco casos descreve que as cefalias produzidas por esforos
relacionavam-se a leses intracranianas. sabido que cefalias so agravadas
por tosse e/ou esforo nos pacientes com presso intracraniana elevada. Este
captulo, entretanto, trata apenas das condies primrias, posto que as cefalias
secundrias pertencem a outro grupo de algias cranianas.
A Classificao Internacional das Cefalias, na sua verso vigente, publicada
em 1988, prev os seguintes itens diagnsticos para as cefalias relacionadas ao
esforo e atividade sexual:
4.4. Cefalia benigna da tosse
4.5. Cefalia benigna do esforo
4.6. Cefalia associada atividade sexual
4.6.1 Tipo peso
4.6.2 Tipo explosivo
4.6.3 Tipo postural
As dores de cabea produzidas pelo esforo constituem um grupo nico de
desordens, devendo a cefalia copulognica fazer parte dele. A tosse, o espirro, a
evacuao, a inclinao da cabea anteriormente e o esforo fsico em geral podem
desencadear as dores deste tipo nos pacientes suscetveis. Em cerca da metade
dos casos, os pacientes com dores orgsticas tambm sofrem de cefalia a outros
esforos.
Tinel, em 1932, publicou sua srie de quatro pacientes com cefalia produzida
pelo esforo. Em 1956, 27 casos com cefalias relacionadas tosse ou ao espirro
(ptarmicalgia, do grego ptarmikos, relativo ao espirro) foram reunidos. Destes,
seis apresentavam algum tipo de leso intracraniana. O termo cefalia benigna
do esforo (benign exertional headache) foi cunhado por Rooke em 1968,
incluindo toda cefalia que fosse provocada por esforos sem que houvesse
associao com leses intracranianas.
A epidemiologia dessas desordens no bem conhecida. Segundo Rasmussen e
Olesen (1992), todas estas trs entidades possuem uma prevalncia para toda a vida
de 1%. So, portanto, relativamente comuns, devendo fazer parte dos conhecimentos
do neurologista e do clnico, pois estaro sujeitos a examinar alguns novos casos todo
ano. Certamente, nem todos os casos so relatados ao mdico, restando-nos a
sensao de que este tipo de dor mais freqente do que se possa imaginar. Somente
um estudo epidemiolgico populacional desenhado com esse propsito poderia
realmente fornecer sua real incidncia e prevalncia. Resta tambm definir se tais
condies so entidades distintas ou pertencentes a um mesmo grupo fisiopatolgico,
se so subtipos da enxaqueca ou de outra cefalia primria.
Na reviso de Pascual et al. (1996), 1,9% dos pacientes com cefalia encami-
nhados em um perodo de 15 anos tinham dores relacionadas a esforo ou excitao
sexual.
Em levantamento entre 1.151 atendimentos em nossa casustica neurolgica, 7
(0,6%) tinham cefalia preferencialmente copulognica, e 7 (0,6%) sofriam de
cefalia induzida por esforo, tosse e/ou ptarmicalgia. Em outros quatro casos
(0,34%) a cefalia, embora nitidamente relacionada tosse, enquadrava-se em
outros diagnsticos como cefalia cervicognica ou hemicrania contnua. Assim o
percentual de casos com cefalias devidas tosse, esforos ou sexo totalizou
1,55%.
A fisiopatologia destas desordens tambm obscura, devendo o mdico
assistente, alm de tratar, tranqilizar o paciente aflito por dores que causam
embarao social e afetivo, seja quando provocadas pelo esforo, seja, principalmente,
quando desencadeadas pela atividade sexual.
Critrios diagnsticos:
Dor de incio sbito e intenso (exploso) que ocorre durante o orgasmo.
Tipo postural
Critrios diagnsticos:
Cefalia postural que lembra aquela da baixa presso liqurica e que se
desenvolve aps o coito.
Embora Hipcrates tenha identificado e relacionado a cefalia sexual ao exerccio
fsico, segundo stergaard e Kraft, foi Kriz, em 1970, quem relatou formalmente
pela primeira vez a cefalia copulognica reunindo 24 casos sem afees orgnicas.
Outros relatos se seguiram, sendo cerca de 110 o nmero de casos relatados em
1996.
A CAAS no uma condio extremamente rara. Em nossa srie, 0,6% (n = 7)
dos atendimentos foram ocasionados por cefalias deste tipo. As idades variaram
de 21 a 54 anos quando do incio da afeco (40,1 11,1; mdia DP). Homens
foram mais acometidos na razo de 6:1. Em uma srie francesa de 3.800 casos de
cefalia, CAAS representaram 0,21%. Em 15 anos de atendimento, Pascual et al.
(1996) reuniram 13 casos, todos do tipo 2. A predominncia masculina foi
praticamente igual nossa (5,5:1), bem como a idade (41 9, mnima de 24, mxima
de 57). Estes autores chamam ateno para o fato de a cefalia orgstica se
iniciar comparativamente mais tarde do que a CBE (p < 0,005) e mais cedo do que
a CBT (p < 0,0005). A idade dos pacientes de stergaard e Kraft (1992) variou
entre 19 e 43 anos entre os homens (mdia de 32 anos) e de 21 at 57 anos para as
mulheres (mdia de 33 anos), o que sugere no haver diferenas de idade segundo
o sexo. Para Paulson e Klawans (1974), a idade de 11 casos variou de 20 a 45
anos (mdia de 39,5 anos), com 7 homens e 4 mulheres. O paciente mais jovem
entre 21 casos de Lance (1976) tinha 18 e o mais velho 58 anos, tambm
predominando nos homens. Para Silbert et al. (1991), entre 45 pacientes com
cefalia sexual vascular benigna, a idade mdia foi de 34,3 anos, com uma relao
homemmulher de 5,4:1. Em um estudo feito por questionrios enviados a indivduos
com dor de cabea relacionada ao coito na Inglaterra, relativamente mais mulheres
171
responderam pesquisa (18 mulheres de 18-61 anos, mdia de 41,9 anos; contra
14 homens de 29-67 anos, mdia de 45,4 anos) (Selwyn, 1985). Dentre estes 32
indivduos, s 2 disseram ter cefalia exclusivamente relacionada ao sexo. Vinte e
sete j haviam consultado mdicos exatamente por este motivo e 9 receberam
algum aconselhamento teraputico a respeito.
O tipo 2, explosiva no momento do orgasmo, descrito como o mais comum, o
que tambm ocorre em nossa casustica. Na reviso de Johns, de 1996, 86% tinham
esta forma. Embora Lance (1976) no considere o exerccio como importante
nesta condio, Silbert (1991) relaciona 40% dos casos ao esforo. Este mesmo
autor descreve um caso em que a cefalia orgstica antecedeu a CBE, havendo
mltiplas reas de vasoespasmo angiografia, o que poderia relacionar as duas
condies do ponto de vista fisiopatolgico.
A fisiopatologia da cefalia orgstica permanece desconhecida. possvel haver
superposio entre os seus mecanismos e o de outras cefalias primrias, com
ativao de sistemas neurovasculares semelhantes. A observao de casos
familiares levanta a suspeita de eventual suscetibilidade gentica. Curiosamente,
um dos nossos pacientes, um jovem de 21 anos, referiu que seu pai sofria de
cefalias orgsticas semelhantes s suas. Especulativamente, imagina-se que a
hipertenso arterial e o estado circulatrio hiperdinmico durante o sexo possam
ser responsveis pela cefalia.
Para o tipo 1, Lance (1993) considera crucial a atividade muscular, sobretudo
quando ela muito sobrecarregada durante o ato sexual. Foram encontradas
anormalidades ao Doppler transcraniano aps esforo em um paciente de 44 anos
e CAAS (Heckmann et al., 1997). A exemplo dos achados na CBE, os autores
especulam sobre a presena de anormalidades na auto-regulao circulatria
cerebral miognica.
Entre 14 pacientes descritos por Paulson e Klawans em 1974, em 3 foram
atribudas as cefalias a hipotenso liqurica (CAAS tipo 3). Nestes enfermos h
relao da cefalia com a posio supina. Julgam os autores que um vazamento de
lquido cefalorraquidiano ocorreria pelo estresse fisiolgico do coito. Prosseguem
ainda os autores: O fato de a dor aparecer mais provavelmente nas frias ou em
ocasies onde o intercurso for praticado com grande entusiasmo pode relacion-la
ao estresse. Os autores chamam tambm a ateno para a possibilidade de
contrao em determinados grupamentos musculares que poderiam provocar dor,
como ocorre na proctalgia fugax. H relativamente poucos casos descritos de
pacientes sofrendo o tipo 3, e a comprovao fisiopatolgica da hipotenso liqurica
foi realizada em poucos exemplares, o que levanta dvidas sobre a prpria existncia
desta forma. A atitude teraputica natural em casos de hipotenso liqurica, a
injeo epidural de sangue total, no foi testada nesta forma de cefalia, at onde
pudemos pesquisar.
172
Estresse emocional e cansao so considerados tambm como desencadeantes
possveis para os ataques. Lance e Goadsby (1976) tambm relacionaram a
ocorrncia da CAAS s frias, notando em um de seus jovens pacientes que as
dores se concentraram durante um ms com relaes at trs vezes por dia.
A relao entre a enxaqueca e a CAAS no bem compreendida. Muitos pacientes
com dores copulognicas tm histria pessoal ou familial de enxaqueca. Sicuteri chamava
ateno, j em 1976, para pacientes nos quais o fenmeno prodrmico da enxaqueca
um desejo sexual exagerado. Couch e Springfield (1990) perguntaram a 82 mulheres
enxaquecosas se elas tinham relaes sexuais durante as crises de enxaqueca. No s
57 admitiram o sexo durante a dor, como 27 (47%) disseram que o coito as melhoravam.
Tal resultado confirmou dados anteriores, mostrando que 24% das pacientes tinham
melhora com o sexo, e apenas 3 em 29 disseram piorar.
Quanto ao aspecto clnico da CAAS, o padro parece semelhante entre as sries
relatadas. As caractersticas clnicas em 7 casos de nossa casustica esto resumidas
na tabela 7.1. O mais encontrado de uma cefalia difusa, intensa, que coincide de
forma explosiva com o clmax durante o ato sexual. Uma pequena dor ou desconforto
pode preceder o orgasmo e crescer muito lentamente antecedendo o momento de
mxima intensidade. Alguns pacientes apresentaro um nico episdio que nunca
mais se repetir, outros tero dores por perodos variados de tempo. O curso varia de
acordo com o subtipo de cefalia copulognica. No primeiro tipo, a dor assume um
carter compressivo e se assemelha dor que surge na cefalia do tipo tensional, e
vai aumentando progressivamente com o aumento da excitao sexual. No tipo 2, a
dor explosiva e catastrfica, acometendo o indivduo no momento do orgasmo. No
tipo 3 a cefalia tem relao com a postura, a exemplo a hipotenso liqurica.
Trinta e dois pacientes (24 masculinos e 8 femininos) foram descritos na
Dinamarca, examinados entre 1978 a 1991 (stergaard & Kraft, 1992). O tipo 1
tambm foi o mais freqente (73%) seguido pelos tipos 2 (19%) e 3 (6,5%). Entre
os 19 indivduos com o tipo 2, mais de 75% tiveram dor bilateral de incio occipital,
e no restante a localizao foi bifrontal. No houve padro caracterstico entre os
indivduos com cefalia do tipo 3. Nos nossos pacientes, a dor holocraniana foi a
mais freqente, mas a nuca poderia ser acometida no incio ou posteriormente,
A freqncia dos episdios est diretamente relacionada atividade sexual,
seja coito ou masturbao. O onanismo gerou CAAS com certeza em 2 de nossos
pacientes. Em 21 casos de Lance (1976), 3 a relacionavam tambm masturbao.
No obrigatrio que todo orgasmo desencadeie um ataque, tampouco depende
seu aparecimento da tcnica sexual escolhida. Examinamos casos nos quais as
crises ocorriam raramente e de forma imprevisvel, bem como indivduos que
apresentavam dor em todas as relaes sexuais. Em um caso, em particular, as
dores eram raras, porm prolongadas, permanecendo cefalia leve por vrios dias.
Durante esta fase, um novo orgasmo desencadearia intensa crise.
173
Tabela 7.1 Caractersticas clnicas de 7 pacientes com cefalia associada atividade sexual
174
Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4 Paciente 5 Paciente 6 Paciente 7
Sexo Masc. Fem. Masc. Masc. Masc. Masc. Masc.
Idade 21 50 37 47 54 36 36
Incio em relao 1 semana antes 1 ms antes 2 dias antes 1 ms antes 15 anos antes, 1 ano antes 1 ano antes
primeira consulta pior nos ltimos
2 anos
Durao Minutos a vrias 3 horas Constante desde Horas (raramente, 15 minutos * Horas
horas ento at 2 dias)
Surgimento At 1 hora aps Orgasmo Antes do orgasmo Orgasmo Orgasmo * Orgasmo (leve
o orgasmo antes do
clmax)
Cefalia com masturbao Sim Sim ? ? No ? ?
Cefalia com tosse No No No No Sim No Sim
ou esforo
Freqncia 6-7 crises Em toda relao 2 crises Em algumas Se orgasmo 3 episdios 2 por ms. Em
relaes intenso algumas relaes
Carter Pulstil Aperto ? Pulstil Pulstil Pulstil Pulstil
Localizao Holocraniana, Holocraniana Nuca no Bifrontal ou Vrtice Difusa no Frontal
inicia-se no vrtice momento, ou unilateral momento, esquerda o
parietal esquerda direita nuca depois holocraniana
depois
Intensidade Moderada Excruciante Intensa, Excruciante Intensa Intensa Intensa
formigamento
na mo direita
Nuseas No No Sim Sim No No No
Vmitos No No No No No No No
Fotofobia No No No No No No Sim
Fonofobia No No No No No No No
Presso arterial (mmHg) 120 x 80 160 x 90 170 x 100 110 x 80 120 x 80 140 x 80 130 x 90
Exame neurolgico Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal
Ressonncia de crnio Normal ?** ?** Normal Normal Normal ?**
Tratamento /efeito Metoprolol/ Atenolol Atenolol/? Atenolol Atenolol, Metoprolol Atenolol/?
assintomtico em 5 dias /assintomtico /assintomtico sem efeito /assintomtico
Co-morbidades Crises Passado de Hipertenso e Angina com Hipertenso Nenhuma Alergias
convulsivas, enxaquecas hipercolesterolemia revascularizao arterial,
em uso de fenobarbital desde adolescncia miocrdica esofagite, gastrite***
Histria familiar Pai com cefalia Irmo e filho Negativa Negativa Negativa Tias com Pai e irm
orgstica no com cefalia cefalias enxaquecosos
passado no-sexual no-sexuais
*As dores que surgiam com o orgasmo diminuam progressivamente e, aps 2 a 3 horas, permanecia como uma sensao de peso e desconforto por uma semana. Durante essa semana, uma nova relao sexual poderia provocar
intensa dor. Entretando, o sexo praticado aps esses 7 dias no era doloroso, at que uma nova crise semelhante aparecia de modo inesperado meses depois. Em um ano teve 3 episdios.
**No retornaram para controle com resultado dos exames de neuroimagem.
***Sofreu isquemia cerebral com hemiplegia esquerda tempos aps o incio dos sintomas, com recuperao completa dos sintomas neurolgicos.
A durao da cefalia variada, podendo persistir por minutos at vrios dias.
Aps o clmax, uma dor menos intensa, como uma sensao de peso pode,
raramente, perdurar at mesmo por meses. Na maioria dos indivduos a dor ter
desaparecido em 24 horas. Em seu estudo realizado por questionrio, Selwyn (1985)
dividiu seus casos em dois grupos. No primeiro (10 indivduos, 5 com histria de
enxaqueca), a dor surgia antes ou durante o orgasmo, durando 30 segundos a 30
minutos (mdia de 16,6 minutos). No segundo (19 indivduos, 15 com histria de
enxaqueca), a cefalia surgia entre 15 minutos e 42 horas aps o coito (mdia de
11,1 horas) e durava 2 a 48 horas (mdia de 18,1 horas).
O carter relatado como latejante em 11 de 14 casos, com durao de 10
minutos a 12 horas. Nos nossos pacientes prevaleceu o carter pulstil, mas a dor
compressiva possvel.
H casos descritos em que a dor pode lembrar uma crise de cefalia em salvas.
Em 3 pacientes relatados por Martinez et al. em 1988 havia sintomas vertebroba-
silares, como vertigem, nuseas, desorientao, desequilbrio, dormncia na face e
no membro superior, hemianopsia homnima e hemi-hipoestesia. Um dos casos
apresentou confuso e amnsia por 3 dias e sinal de Babinski por 20 dias; em um
homem de 40 anos hipoestesia surgida direita durou 24 horas. No terceiro paciente
a hemianopsia persistiu por 2 semanas
O mdico deve atentar para o grande aspecto emocional que esta queixa
representa. H consultas nas quais o embarao inerente doena impede a obteno
adequada da histria clnica, seja quando comparecem ambos os parceiros sexuais,
seja quando apenas um deles vai ao consultrio. Nesta eventualidade, deve o
profissional estimular o livre relato do paciente, assegurando-lhe, com discrio,
naturalidade, elegncia e solidariedade, a simplicidade desta desordem. Aflitos, os
pacientes no imaginam haver outros casos semelhantes e todos julgam ser nico
o seu prprio caso. Surpresos, quando percebem que o mdico demonstra
familiaridade e segurana com a afeco e lhes descreve o diagnstico, a sua
apreenso se transforma em tranqilidade e esperana, acompanhados por um
sorriso de alvio. Nesta ocasio vencido o pudor que impede a anamnese. Por
vezes ser na segunda consulta a melhor poca para o fornecimento de detalhes
at ento omitidos pelo cliente.
A sensao de culpa e responsabilidade permeia a entrevista mdica por cefalia
copulognica. Se precoce na relao do jovem casal, julga-se o cnjuge incapaz de
satisfazer sexualmente o enfermo culpando-se como o provvel responsvel pela
cefalia. Se de aparecimento tardio em unio antiga, pensar o parceiro que no
outro j no desperta o mesmo interesse, pelo contrrio, apenas dor. O mdico tem
a obrigao de explicar claramente que esta uma condio orgnica e que ningum
na relao responsvel pelos sintomas. Agindo assim, o suporte emocional
necessrio na eventualidade estar assegurado.
175
Alm da cefalia, o ato sexual pode determinar outros problemas agudos,
particularmente ao sistema nervoso, incluindo infarto do miocrdio e acidentes
vasculares enceflicos, convulses, amnsia global transitria, rompimento de vasos,
hrnia de disco, sncope, morte sbita, tetania e vertigem.
O principal diagnstico diferencial da CAAS deve ser feito com a hemorragia
subaracnidea por rotura de aneurisma desencadeada pelo orgasmo. De fato, a
subtaneidade que a cefalia orgstica pode apresentar se superpe semiologi-
camente instalao da cefalia hemorrgica. Sabe-se que 3,8% a 12% dos
pacientes com aneurisma sacular (Locksley, 1966) e 4,1% dos pacientes com
malformaes vasculares podem ter hemorragias desencadeadas pelo ato sexual.
Em 6 casos entre 50 com hemorragia subaracnide reunidos por Lundberg e
Osterman (1974) o desencadeamento foi a cpula. Dentre estes, dois haviam
apresentado cefalia aguda e intensa algum tempo antes do ictus, de aparecimento
em circunstncias no-sexuais. Segundo Fisher (1968), em 66 hemorragias
subaracnideas o desencadeamento pelo ato sexual ocorreu em 3 casos (4,5%).
Em um destes casos houve 6 episdios de cefalia relacionados ao ato sexual
antes do sangramento, que alis no ocorreu durante o ato sexual.
Depender principalmente da histria o diagnstico apropriado, cabendo ao
exame fsico um papel relativamente menor na identificao da CAAS. Os exames
complementares no mostraro anormalidades nos casos primrios. A repetio
dos sintomas durante muitos episdios pode tornar a possibilidade de causa orgnica
subjacente menos provvel. O paciente que conta na entrevista sofrer muitas crises
de qualquer cefalia por vrios anos no deve ser vtima de aneurisma intracraniano,
pelo menos indicado por este tipo de sintoma. A ausncia de rigidez de nuca e
sinais neurolgicos deficitrios focais, especialmente envolvendo nervos cranianos,
tambm favorece o diagnstico de benignidade. Vmitos e perturbaes da
conscincia em cefalia muito aguda e sbita no devem fazer suspeitar de cefalia
orgstica primria. Nuseas, como observado em alguns de nossos casos
(tabela 7.1), podem estar presentes.
Diante de um caso recm-diagnosticado deve-se proceder ressonncia mag-
ntica com angiorressonncia para a deteco de eventual afeco cerebrovascular.
Se aguda e atendida em pronto-socorro, a tomografia computadorizada poder mostrar
presena de hemorragia. A realizao de puno lombar no deve ser proposta
universalmente, dependendo a deciso de realiz-la da anlise de cada caso.
H relato (Levy, 1981) de paciente de 24 anos com acidente vascular enceflico
isqumico (hemiparesia e hemiparestesias direita com linguagem normal)
concomitante cefalia orgstica sem hemorragia, o que deve ser tambm
pesquisado pelo mdico.
A concomitncia com outras cefalias primrias possvel na CAAS. Em 30
pacientes seguidos em mdia por 34 meses, uma histria pessoal e familial de
176
enxaqueca foi observada em respectivamente 47% e 30% dos casos. A hipertenso
arterial, presente em 2 de nossos casos, foi observada em 7 entre 21 casos de
outra srie.
O tratamento das cefalias orgsticas deve ser proposto, inicialmente, com
beta-bloqueadores. Propranolol, atenolol e metoprolol so as substncias
preferidas, em doses de 40-120; 25-150 e 50-150 mg/dia, respectivamente. A
resposta usualmente excepcional, mas, no sexo masculino, deve-se atentar
para a possibilidade de impotncia como efeito colateral. Afinal, aqui, os fins no
justificam os meios. O tratamento com diltiazem j foi descrito como eficaz, mas
nunca foi utilizado pelo autor. Outra possibilidade a metissergida, um
medicamento que, se utilizado longamente, dever ser interrompido por 3 semanas
a cada 6 meses devido possibilidade de fibrose de serosas. No h relatos com
o uso de valproato de sdio ou flunarizina. No encontramos referncias ao uso
de triptanos.
A interrupo do ato sexual logo no incio da dor, antes da sua instalao, tende
a abort-la em at 5 minutos. Entretanto, a nova cefalia aps breve interrupo
do ato sexual devido a dor pode ser particularmente intensa (Lance, 1993).
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Akpunonu BE, Ahrens J. Sexual headaches: case report, review, and treatment with calcium
blocker. Headache 1991;31:141-145.
Basoglu T, Ozbenli T, Bernay I, Sahin M, Onur A, Demircali AE et al. Demonstration of
frontal hypoperfusion in benign exertional headache by technetium-99m-HMPAO SPECT.
J Nucl Med 1996;37:1172-1174.
Benzon HT, Nemickas R, Molloy RE, Ahmad S, Melen O, Cohen B. Lumbar and thoracic
epidural blood injections to treat spontaneous intracranial hypotension. Anesthesiology
1996;85(4):920-922.
Calandre L, Lain H, Valdes L. Benign valsalvas maneuver-related headache: an MRI study
of six cases. Headache 1996;36:251-253.
Couch J, Springfield CB. Relief of migraine with sexual intercourse. Headache 1990;30(5):302.
Couch JR, Bearss CM. Relief of migraine headache with sexual orgasm 3. Headache
1987;27:287.
Diamond S, Medina JL. Benign exertional headache, successful treatment with indomethacin.
Headache 1979;19:249.
Diamond S, Medina JL. Prolonged benign exertional headache: clinical characteristics and
response to Indomethacin. Adv Neurol 1982;33:145-149.
Diamond S. Prolonged benign exertional headache: its clinical characteristics and response
to indomethacin. Headache 1982;22:96-98.
Edmeads J. Emergency management of headache. Headache 1988;28:675-679.
177
Ekbom K, Horsten G, Johansson T. Posterior cranial fossa tumors Headache, aculostatic
disorders and scintillation camera findings. Headache 1974;14(3):118-131.
Ekbom K. Cough Headache. In: Rose FC (ed.). Handbook of Clinical Neurology. Amsterdam:
Elsevier, 1986; pp. 367-371.
Fisher CM. Headache in Cerebrovascular Disease. In: Vinken PJ, Bruyn GW (eds.). Handbook
of Clinical Neurology. Amsterdam: North-Holland Publishing Co., 1968; pp. 124-156.
Fontanarosa PB. Recognitios of subarachnoid hemorrhage. Ann Emerg Med
1989;18:1199-1205.
Forsyth PA, Posner JB. Headaches in patients with brain tumors: a study of 111 patients.
Neurology 1993;43(9):1678-1683.
Hazelrigg RL. IV DHE 45 relieves exertional cephalgia. Headache 1986;26:52.
Heckmann JG, Hilz MJ, Mck-Weymann M. Benign exertional headache/benign sexual
headache: a disorder of myogenic cerebrovascular autoregulation? Headache
1997;37:597-598.
Indo T, Takahashi A. Swimmers migraine. Headache 1990;30:485-487.
Iversen HK, Strange P, Sommer W, Tjalve E. Brain tumour headache related to tumour size,
histology and location. Cephalalgia 1987;7(suppl 6):393-394.
Johns DR. Benign sexual headache within a family. Arch Neurol 1996;43(11):1158-1160.
Khurana RK. Headache spectrum in Arnold-Chiari malformation. Headache 1991;31:151-155.
Klapper JA, Yamamoto LJ, Tedder Denver DG. Chronic headaches and increased intracranial
pressure secondary to HSV infection. Headache 1992;32:263.
Lambert Jr RW, Burnet BA. Prevention of exercise induced migraine by quantitative warm-
up. Headache 1985;25:317-319.
Lance JW, Goadsby PJ. Other Headaches Without Any Structural Abnormality. In: Lance
JW, Goabsby PJ (eds.). Mechanisms and Management of Headache, 6 ed. Oxford:
Butterworth -Heinemann, 1999; pp. 207-225.
Lance JW. Benign masturbatory cephalalgia. Arch Neurol 1983;40:393.
Lance JW. Headaches related to sexual activity. Journal of Neurology, Neurosurgery and
Psychiatry 1976;39:1226-1230.
Lance JW. Miscellaneous Headaches Unassociated With a Structural Lesion. In: Olesen J,
Tfelt Hansen P, Welch KM (eds.). The Headaches. New York: Raven Press, 1993; pp.
609-617.
Levy RL. Stroke and orgasmic cephalgia. Headache 1981;21:12-13.
Lichtenstein BW. So-called cough headache. Headache 1961;4:112-113.
Lockett DMC, Campbell JF. The effects of aerobic exercise on migraine. Headache
1992;32:50-54.
Locksley HB. Natural history of subarachnoid hemorrhage, intracranial aneurysms and
arteriovenous malfunctions: based on 6,368 cases in the cooperative study. J Neurosurg
1966;25:219-239.
178
Lundberg PO, Osterman PO. The benign and malignant forms of orgasmic cephalgia.
Headache 1974;13:164-165.
Maliszewski M, Diamond S, Freitag FG. Sexual headaches occurring in cluster headache
patients. Clin J Pain 1989;5:45-47.
Maranho-Filho P, Vincent M. What on earth generates headache in patients with brain
tumours? Cephalalgia 1997;17(3):378.
Martin EA. Headache during sexual intercourse (coital cephalalgia). J Med Science
1974;48:342-345.
Martinez JM, Roig C,Arboix A. Complicated coital cephalalgia. Cephalalgia 1988;8:265-268.
Massey EW. Effort headache in runners. Headache 1981;22:99-100.
Mathew NT. Indomethacin responsive headache syndromes. Headache 1981;21:147-150.
McCrory P. Recognizing exercise-related headache. Physician Sportsmed 1997;25:33.
Moncada E, Graff-Radford SB. Cough headache presenting as a toothache: a case report.
Headache 1993;33:240-243.
Mullally WJ. The loge headache. Headache 1988;28:306.
Nick J, Bakouche P. Les cphales declenches par lacte sexuel. Semaine des Hpiteaux de
Paris 1980;56:621-628.
Nightingale S. Hindbrain hernia headache. Lancet 1987;1(8535):731-734.
Olesen J, Rasmussen BK. Management of acute nonvascular headache: the Danish
experience. Headache 1990;30(suppl 2):540-543.
Ostergaard JR, Kraft M. Benign coital headache. Cephalalgia 1992;12:353-354.
Pascual J, Berciano J. Clinical experience with headaches in preadolescent children. Headache
1995;35:551-553.
Pascual J, Iglesias F, Oterino A, Vazquez-Barquero A, Berciano J. Cough, exertional, and
sexual headaches: an analysis of 72 benign and symptomatic cases. Neurology
1996;46:1520-1524.
Pascual J, Oterino A, Berciano J. Headache in type I chiari malformation. Neurology
1992;42:1519-1521.
Paulson GW, Klawans HL. Benign orgasmic cephalalgia. Headache 1974;13:181-187.
Paulson GW. Weightlifters headache. Headache 1983;23:193-194.
Porter M, Jankovic J. Benign coital cephalalgia. Differential diagnosis and treatment.
Archives of Neurology 1981;38:710-712.
Raskin NH. The cough headache syndrome: treatment. Neurology 1995;45(9):1784.
Rasmussen BK, Olesen J. Symptomatic and nonsymptomatic headaches in a general
population. Neurology 1992;42:1225-1231.
Rasmussen BK. Epidemiology of headache. Cephalalgia 1995;15:45-68.
Rooke ED. Benign exertional headache. Med Clin North Am 1968;52:801-808.
Rushton JG, Rooke ED. Brain tumor headache. Headache 1962;2(3):147-152.
179
Salvesen R, Bogucki A, Wysocka-Bakowska MM, Antonaci F, Fredriksen TA. Cluster he
pathogenesis: a pupillometric study. Cephalalgia 1987;7:273-284.
Sands GH, Newman L, Lipton R. Cough, exertional, and other miscellaneous headaches.
Med Clin North Am 1991;75:773-747.
Selwyn DL. A study of coital related headaches in 32 patients. Cephalalgia 1985;5(suppl
3):299-300.
Sicuteri F. Migraine: a central biochemical dysnociception. Headache 1976;16:145-159.
Silbert PL, Edis RH, Stewart-Wynne EG, Gubbay SS. Benign vascular sexual headache and
exertional headache: interrelationships and long term prognosis. Journal of Neurology,
Neurosurgery and Psychiatry 1991;54:417-421.
Silbert PL, Hankey GJ, Prentice DA, Apsimon HT. Angiographically demonstrated arterial
spasm in a case of benign sexual headache and benign exertional headache. Aust N Z J
Med 1989;19:466-468.
Smith WS, Messing RO. Cerebral aneurysm presenting as cough headache. Headache
1993;33:203-204.
Steeno O. Coital death. Andrologia 1987;19:229-232.
Stovner LJ. Headache associated with the Chiari type I malformation. Headache 1993;33:175-
181.
Symmonds C. Cough headache. Brain 1956;79:557-568.
Tinel J. La cephalee a leffort. Syndrome de distension dolourese des veines intracranienes.
Medicine 1932;13:113-118.
Vaidya S, Dexter JD. Cough induced headache as presentation of sleep apnea. Headache
1986;26:320.
Vincent FM. Benign masturbatory cephalalgia. Arch Neurol 1982;39:673.
Williams B. Cough headache due to craniospinal pressure dissociation. Arch Neurol
1980;37:226-230.
180
8
CEF ALIA
EFALIA E CICLO
HORMONAL
Marcelo Cedrinho Ciciarelli
INTRODUO
Vrias evidncias indicam uma ligao entre os hormnios sexuais femininos e
a migrnea. Nas crianas, por exemplo, a migrnea ocorre igualmente em cerca
de 4% dos meninos e das meninas, enquanto nos adultos ela incide com maior
freqncia nas mulheres (18%) do que nos homens (6%), sugerindo que a partir
da menarca quando as oscilaes hormonais so mais intensas h um aumento
da prevalncia dessa enfermidade. Alm disso, em 33% das mulheres, a migrnea
se inicia aps a menarca. A migrnea tem tendncia a piorar no primeiro trimestre
da gravidez, enquanto a maioria das mulheres experimentam uma melhora
importante da cefalia nos dois ltimos trimestres. O uso de anticoncepcionais
orais e a terapia de reposio hormonal podem piorar a migrnea ou mudar suas
caractersticas.
Neste captulo discutiremos a influncia da menstruao, da gestao e lactao,
dos anticoncepcionais e da reposio hormonal sobre a migrnea.
P
E
Recrutamento
folicular Folculo dominante Corpo lteo
0 2 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28
MIGRNEA MENSTRUAL
Em grande parte das mulheres migranosas, as crises pioram durante o perodo
menstrual e em algumas ocorre, exclusivamente nessa poca, a assim chamada
182
migrnea menstrual pura. No se trata de um problema da esfera psicolgica
nem de outros problemas funcionais, e tanto a cefalia como a menstruao ocorrem
devido a uma oscilao dos nveis hormonais. A migrnea pr-menstrual pode
fazer parte da sndrome pr-menstrual (TPM) e, portanto, estar associada a outros
sintomas fsicos presentes nesse perodo do ciclo menstrual da mulher. As crises
de migrnea podem ocorrer tambm durante a menstruao e essas, usualmente,
esto associadas dismenorria e so refratrias ao tratamento, assim como as
crises que ocorrem durante a ovulao.
A prevalncia de migrnea relacionada menstruao varia de 26% a 60%,
essa grande variao est relacionada, principalmente, a problemas diagnsticos.
De acordo com o perodo de ocorrncia, a migrnea relacionada menstruao
pode ser definida como: 1) migrnea menstrual pura aquela que ocorre somente
no perodo menstrual; 2) migrnea desencadeada pela menstruao aquela que
ocorre tanto no perodo menstrual como em outros perodos do ms; 3) migrnea
pr-menstrual aquela com que ocorre de 2 a 7 dias antes do incio da menstruao
e, finalmente, 4) migrnea menstrual aquela que se situa entre um dia antes at
4 quatro dias depois da menstruao.
O mecanismo pelo qual a migrnea menstrual ocorre, parece estar relacionado
com as flutuaes hormonais. Nos estudos clssicos realizados por Somerville et
al., quando os estrgenos eram administrados no perodo pr-menstrual, havia um
atraso da crise migranosa, mas no da menstruao (Figura 8.3); por outro lado,
quando a progesterona era administrada nesse mesmo perodo ela retardava a
menstruao, mas no prevenia as crises de migrnea. Com esses achados, os
autores concluram que a queda dos nveis de estrgeno pode desencadear ataques
de migrnea em mulheres susceptveis.
100
Ciclo Normal
80 Estradiol
60
40 Estradiol
10 mg Crise
20 migrnea
Crise
0 migrnea
-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6
FIGURA 8.3 Estudos de Somerville (1972) mostrando a relao entre os nveis plasmticos
de estradiol e a crise de migrnea menstrual.
183
Essas flutuaes dos nveis de estrgeno produzem uma grande variedade de
efeitos bioqumicos, os quais podem ser relevantes na patognese da migrnea
menstrual, dentre os quais se destacam os efeitos sobre as prostaglandinas e o
tero, sobre a liberao de prolactina, sobre a regulao dos opiides e finalmente
sobre a secreo da melatonina.
PROSTAGLANDINAS E CICLO OVARIANO
As prostaglandinas, especialmente a PGF2 e PGE2, produzidas pelo endomtrio
sob a ao do estrgeno e da progesterona, intensificam a contrao uterina. O endomtrio
e o lquido menstrual das pacientes dismenorricas possuem concentrao aumentada
de prostaglandinas, esse aumento coincide com o aparecimento das crises de cefalia
nesse perodo do ciclo, j que no restante do ciclo que os nveis de PGF2 esto normais.
Portanto, a migrnea menstrual pode ser, em parte, mediada pelo aumento dos nveis
de prostaglandina produzida por influncia dos hormnios sexuais femininos.
PROLACTINA
Vrios estudos tm demonstrado que a prolactina pode estar envolvida no
desenvolvimento de crises de migrnea, especialmente na migrnea relacionada
menstruao. As pacientes com migrnea menstrual parecem apresentar uma
liberao inadequada de prolactina devido a uma sensibilidade anormal aos fatores
liberadores hipotalmicos.
A liberao de prolactina est sob influncia de vrios neurotransmissores. A
dopamina exerce uma ao inibitria sobre a sua liberao, enquanto o peptdeo
intestinal vasoativo, a angiotensina e o hormnio liberador de tireotrofinas promovem
a liberao desse hormnio.
A serotonina aumenta a liberao de prolactina por inibir a dopamina e estimular
os neurnios produtores de hormnios liberadores de tireotrofinas. Os receptores
de serotonina por sua vez, so modulados pela secreo do estrgeno e da
progesterona. Portanto, a liberao de prolactina do pacientes portadores de
migrnea menstrual pode ocorrer de maneira irregular provavelmente por modulao
irregular da serotonina no nvel central.
OPIIDES ENDGENOS
Como foi descrito anteriormente, alguns derivados opiides tm ao inibidora
sobre a produo do hormnio liberador das gonadotrofinas (GnRH) e conseqen-
temente sobre a liberao do hormnio luteinizante (LH). A administrao de
naloxone, um antagonista dos receptores locais onde os opiides exercem sua
ao , produz um significativo aumento dos nveis de LH durante a fase ltea.
Entretanto, estudos demonstraram que essa propriedade perdida nas pacientes
com migrnea menstrual pura, provavelmente pela diminuio da atividade opiide
hipotalmica nessas pacientes.
184
MELATONINA
Brun et al. estudaram a secreo urinria de melatonina em mulheres com
migrnea sem aura e compararam com um grupo-controle e conseguiram
demonstrar que nas mulheres migranosas havia uma diminuio das concentraes
de melatonina em todo o ciclo menstrual, e mais importante, no aumentavam
durante a fase ltea, enquanto no grupo-controle havia um aumento significativo
dos nveis dessa substncia nessa fase. Mirialdo et al. relataram que a secreo
urinria de melatonina estava diminuda nas pacientes com migrnea menstrual,
entretanto ocorria um aumento dessa secreo na fase ltea. Esses estudos, apesar
de apresentarem resultados parcialmente conflitantes, sugerem a existncia de
uma anormalidade na secreo de melatonina nas pacientes com migrnea
menstrual.
185
O uso de magnsio na dose de 360 mg ao dia no perodo pr-menstrual
demonstrou reduzir a cefalia e os sintomas pr-menstruais quando comparado
com o placebo. O naproxeno tambm foi objeto de alguns estudos, nos quais a
dose de 550 mg a cada 12 horas foi comparado ao placebo com desenho duplo-
cego. A medicao foi iniciada 7 dias antes da data provvel do incio da menstruao
e mantida at 6 dias aps o incio do fluxo menstrual e houve uma reduo
significativa da durao, da intensidade e dos dias de cefalia. Alm disso, cerca
de um tero das mulheres experimentaram um desaparecimento completo dos
sintomas. importante salientar que se um antiinflamatrio no se mostrou eficaz
para o tratamento da migrnea menstrual, um outro pode ser tentado com xito.
Como exemplo, o cetoprofeno na dose de 25 mg a 50 mg trs vezes ao dia ou o
ibuprofeno na dose de 200 mg a 400 mg duas ou trs vezes ao dia demonstraram
ser eficazes em algumas anlises. Os antiinflamatrios (AINEs) quando utilizados
no perodo pr-menstrual tambm tm a capacidade de melhorar a dismenorria.
Os derivados da ergotamina podem ser utilizados em tratamento de curta
durao, sendo administrados uma ou duas vezes ao dia no perodo pr-menstrual.
Os triptanos outro grupo de drogas utilizado no tratamento abortivo da migrnea
tambm podem ser administrados como profiltico no tratamento da migrnea
menstrual. Um estudo aberto demonstrou que o uso de sumatriptano na dose de 25
mg, trs vezes ao dia, administrado no perodo pr-menstrual apresentou boa eficcia.
Se a terapia com AINEs, derivados da ergotamina ou triptanos no controla
adequadamente a migrnea menstrual, a terapia hormonal deve ser analisada. Esse
tipo de terapia pode ser realizada atravs da utilizao dos inibidores da liberao de
prolactina ou do estrgeno em combinao com a progesterona ou com a testosterona.
A progesterona quando utilizada isoladamente parece no ser efetiva nem para cefalia,
nem para os sintomas de tenso pr-menstrual. Como j foi salientado anteriormente,
a queda dos nveis sricos de estrgeno deve ser o fator desencadeante da cefalia
pr-menstrual, portanto a utilizao desses hormnios em baixas doses produz a
estabilizao dos seus nveis sricos. A utilizao de terapia de percutnea com gel de
estradiol (1,5 mg de estradiol em 2,5 g de gel) foi analisada por alguns autores com bons
resultados. Lignieres et al. realizaram estudo duplo-cego cruzado, placebo-controle,
analisaram a eficcia do gel percutneo de estradiol, iniciado 2 dias antes da menstruao
e mantido por 7 dias, e evidenciaram que essa terapia produziu uma diminuio da
freqncia, da durao e da severidade da cefalia. Dennerstein et al. elaboraram
estudo duplo-cego, placebo-controlado com gel percutneo de estradiol e demonstraram
reduo significativa do nmero de crises moderadas e severas. Finalmente, um terceiro
estudo conduzido por Bousser et al. resultou nas mesmas concluses.
Por outro lado, estudos com a utilizao de patchs transdrmicos de estrgeno
tiveram resultados conflitantes. Enquanto Smiths et al. no conseguiram demonstrar
benefcios do Estraderm TTS 50 versus placebo na migrnea menstrual, Pradallier
186
et al. concluram que o estradiol transdrmico promoveu reduo na freqncia da
migrnea e no uso de medicaes de resgate.
Outra droga que tem sido testada no tratamento da migrnea pr-menstrual o
danazol um andrgeno sinttico a qual demonstrou ser efetiva no tratamento
da migrnea menstrual na dose de 200 mg a 600 mg ao dia, devendo ser iniciada no
provvel dia de incio da cefalia e mantida durante toda a menstruao.
A utilizao de agonistas dopaminrgicos, tais como a bromocriptina na dose de
7,5 mg ao dia, produziu uma reduo na freqncia das crise de cefalia em 72%
dos casos, entretanto 6 de 24 pacientes no toleraram esse tipo de terapia. A
bromocriptina administrada continuamente parece ser mais eficaz do que com o
uso intermitente. O tamoxifeno um antiestrgeno e inibidor das prostaglandinas,
o qual se liga aos receptores citoslicos de estrgeno pode ser uma boa alternativa
teraputica na migrnea menstrual refratria. A dose de 10 mg a 20 mg ao dia, no
perodo pr-menstrual, e 5 mg a 10 mg ao dia administradas no perodo menstrual,
reduziu significativamente a intensidade e a freqncia dos ataques de migrnea
menstrual, e mais recentemente o raloxifeno na dose de 60 mg ao dia no mesmo
perodo tem sido tentado.
Com relao ao tratamento abortivo das crises de migrnea menstrual
(Tabela 8.2), os medicamentos utilizados com a evidncia cientfica de bons
resultados so o sumatriptano 6 mg por via sub cutnea e o zolmitriptano na dose
de 2,5 mg por via oral, outros triptanos, assim como drogas classicamente eficazes
no tratamento das crises de migrnea, tais como ergotamina e AINHs tambm
podem ser utilizados.
Tabela 8.2 Tratamento abortivo da migrnea menstrual
Triptanos Sumatriptano 50 mg a 10 mg VO; 20 mg spray nasal; 6 mg S.C.
Zolmitriptano 2,5 mg VO
Podem ser repetidos uma vez nas 24 horas se recorrncia da cefalia.
188
Nos ataques de migrnea refratrios s medidas no farmacolgicas, o uso
de drogas est indicado. O paracetamol, os antiinflamatrios no hormonais, a
codena e os outros narcticos podem ser utilizados. O cido acetilsaliclico em
baixas doses e de forma intermitente tambm est indicado, entretanto em
altas doses e durante o terceiro trimestre da gravidez pode estar associado a
pr-eclampsia e a sangramentos. O mesmo cuidado deve ser tomado com
outros antiinflamatrios nesse perodo, esses por sua vez devem ser evitados
no final da gestao, pois podem produzir o fechamento ou a constrico do
ducto arterial fetal. O uso dos corticosterides pode ser considerado nos casos
mais severos.
Os derivados ergticos e os triptanos esto contra-indicados durante a gravidez.
O tratamento dos sintomas associados migrnea tambm deve ser considerado,
pois, em muitas crises, esses eventos so at mais importantes do que a prpria
cefalia, principalmente as nuseas e os vmitos. Nesses casos, a metoclopramida
se afigura como uma boa opo, pois alm de diminuir os vmitos, tambm auxilia
na absoro das outras drogas. Nos casos mais severos, a utilizao da
clorpromazina se apresenta como uma boa alternativa.A utilizao da domperidona
contra-indicada durante a gravidez no Reino Unido, devido ao seu efeito txico
sobre o embrio em testes com animais.
O tratamento profiltico da migrnea na gestao deve ser indicado quando
ocorre aumento significativo da freqncia e da intensidade das crises, estando
associadas nuseas e vmitos, os quais podem levar a desidratao e colocar em
risco a sade da me e do feto. Nesses casos, a paciente e o seu par devem
participar da deciso e conhecer os benefcios e os riscos do tratamento. As drogas
de primeira escolha para essas pacientes so os beta-bloqueadores, tais como o
propranolol.
190
Tabela 8.8 Anticonvulsivantes, antidepressivos e anti-hipertensivos
FDA TERIS Lactao
Anticonvulsivantes
Carbamazepina C S Compatvel
Gabapentina C U Incerto
Fenitona D S Mod Compatvel
cido valprico D S Mod Compatvel
Antidepressivos
Tricclicos
Amitriptilina D N Min Com preocupao
Nortriptilina D U Com preocupao
ISRSs
Fluoxetina B N Com cuidado
Paroxetina C U Com preocupao
Sertralina B U Com preocupao
Anti-hipertensivos
Beta-bloqueadores
Atenol C U Compatvel
Metoprolol B U Compatvel
Nadolol C U Compatvel
Propranolol C U Compatvel
Bloq. canais de Ca++
Verapamil C U Compatvel
Portanto, esses resultados sugerem que a migrnea com aura parece ser um
fator de risco independente para a ocorrncia de eventos vasculares cerebrais.
O mecanismo pelo qual a migrnea pode predispor um paciente a AVC incerto,
algumas evidncias sugerem que anormalidades plaquetrias e da coagulao, alm
de anormalidades na prpria parede dos vasos sangneos podem estar presentes
na migrnea.
E FEITO DOS ANTICONCEPCIONAIS ORAIS SOBRE O RISCO DE AVC
A associao entre anticoncepcionais orais e AVC tem sido estudada h vrios
anos e inmeras anlises foram publicadas. Vrios desses estudos foram realizados
com ACOs com altas doses de estrgeno, no mais empregadas. Estudos mais
194
recentes analisaram a influncia de diferentes doses de estrgeno sobre a taxa de
risco de AVC, esses estudos esto sumarizados na tabela 8.11. Notar que nos
estudos em que foram utilizados anticoncepcionais com doses iguais ou superiores
a 50 microgramas de estrgeno encontrou-se uma taxa de risco mdia de 4.1,
enquanto naqueles em que os anticoncepcionais possuam menos do que 50
microgramas a taxa de risco mdia foi de 1.9.
Tabela 8.11 Dose de estrg eno(g) nos ACOs e o risco de AVC isqumico
Estudo N > 50 < 50 20 Progesterona
isolada
N risco N risco N risco N risco
Lidegaard 320 61 2,9 85 1,8 8 0,9
Tzourio 72 8 4,8 30 2,7 2 1,7 1 1,0
Heinemann 220 15 3,5 103 2,8
WHO Collab. 141 32 5,3 20 1,5
Petitti 142 17 1,2
Scwartz 60 6 1,4
Baseado no exposto acima, quando nos deparamos com uma paciente migranosa
que necessita ou pretende fazer uso de anticoncepcionais orais, algumas recomen-
daes podem ser sugeridas:
1. a paciente deve conhecer os riscos e os benefcios desse tipo de mtodo
contraceptivo antes de tomar a deciso.
2. a freqncia e a severidade das crises de migrnea devem ser cuidado-
samente monitoradas, como tambm o aparecimento de novos sintomas
neurolgicos focais, mudanas no padro das crises de aura ou o surgimento
de crises com aura, antes inditas.
3. mesmo pacientes com crises de aura tpica e breve, ou seja, menores
de 30 minutos de durao, tm aumento significativo da taxa de risco de
AVC e esse risco aumenta consideravelmente nas pacientes acima de
40 anos.
4. pacientes migranosas podem utilizar anticoncepcionais orais com relativa
segurana, exceto quando existem outros fatores de risco como tabagismo,
hipertenso arterial, diabetes e mais de 40 anos de idade.
5. interromper o anticoncepcional oral quando ocorre piora significativa das
crises de migrnea sem aura.
196
6. pacientes com aura prolongada ou aura atpica devem ser desencorajadas
a usar anticoncepcionais orais.
7. mulheres que desenvolvem aura aps o incio do uso de anticoncepcionais
ou apresentam mudanas no padro da aura devem ter o seu uso desconti-
nuado.
8. os anticoncepcionais orais devem ser descontinuados quando a paciente
desenvolver ataques isqumicos transitrios, AVC ou qualquer evento
vascular isqumico.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Aub M. Migraine in pregnancy. Neurology 1999;53(suppl 1):S26-S28.
Becker WJ. Use of oral contraceptives in patients with migraine. Neurology 1999;53(suppl
1):S19-S25.
Birge SJ. The Role of Estrogen Deficiency in the Aging Central Nervous System. In: Lobo RA
(ed.). Treatment of the Post Menopausal Woman. New York: Raven Press, 1994; pp. 153-157.
Bousser MG, de Lignieres B, Vincens M, Mas JL. Percutaneous Estradiol Treatment in the
Treatment of Menstrual Migraine. In: Ferrari MD, Lataste X (eds.). Migraine and Others
Headache. New Trends in Clinical Neurology Series. Carnforth, UK; Park Ridge, NJ:
Pathernon Publishing 1989; pp. 281-288.
Boyle CA. Management of menstrual migraine. Neurology 1999;53(suppl 1):S14-S18.
Carolei A, Martini C, De Matteis G and the Italian National Research Council Study Group
on Stroke in the Young. History of migraine and risk of cerebral ischaemia in young
adults. Lancet 1996;347:1503-1506.
Chrousus GP, Torpy DJ, Gold PW. Interactions between the hypothalamic-pituitary-adrenal
axis and the female reproductive system: clinical implications. Ann Intern Med
1998;129:229-240.
Collaborative Group for the Study of Stroke in Young Women. Oral contraceptives and
stroke in young women. JAMA 1975;231:718-722.
Cupini LM, Matteis M, Truisi E et al. Sex hormone related events in migraunous females. A
clinical comparative study between migraine with aura and migraine without aura.
Cephalalgia 1995;15:140-144.
de Lignires B, Vincens M, Mauvais-Jarvis P. Prevention of menstrual migraine by
percutaneous estradiol. BMJ 1986;293:1540.
de Lignires, MacGregor EA. Risks and benefits of hormone replacement therapy.
Cephalalgia 2000;20:164-169.
Dennerstein L, Morse C, Burrows G, Oats J, Brown J, Smith M. Menstrual migraine: a
double-blind trial of percutaneous estradiol. Gynecol Endocrinol 1988;2:113-120.
Epstein MT, Hockaday JM, Hockaday TDR. Migraine and reprodutive hormones throughout
the menstrual cycle. Lancet 1975;1:543-548.
197
Facchinetti F, Bonellie G, Kangasniemi P, Pascual J, Shuaib A, for the Sumatriptan Menstrual
Migraine Study Group. The efficacy and safety of subcutaneous sumatriptan in the
acute treatment of menstrual migraine. Obstet Gynecol 1995;86:911-916.
Fachinetti F, Sances G, Borella P, Genazzani AR, Nappi G. Magnesium prophylaxis of menstrual
migraine: effects on intracellular magnesium. Headache 1991;5:298-301.
Fettes, I. Migraine in the menopause. Neurology 1999;53(suppl 1):S29-S33.
Fink G, Stanley HF, Watts AG. Central Nervous Control of Sex and Gonadotrofin Release:
Peptide and Nonpeptide Transmitter Interactions. In: Krieger D, Brownstein M, Martin
J (eds.). Brain Peptides. New York: Wiley, 1983; pp. 413-435.
Goldstein M, Chen TC. The Epidemiology of Disabling Headache. In: Critchley M (ed.).
Advances in neurology. New York: Raven Press, 1982; vol 33, pp. 377-390.
Haapaniemi H, Hillbom M, Juvela S. Lifestyle-associated risk factors for acute brain infarction
among persons of working age. Stroke 1997;28:26-30.
Hanington E, Jones RJ, Amess JAL. Platelet aggregation in response to 5HT in migraine
patients taking oral contraceptives. Lancet 1982;1:967-968.
Heinemann LAJ, Lewis MA, Spitzer WO, Thorogood M, Guggenmoos-Holzmann I,
Bruppacher R and Transnational Research Group on Oral Contraceptives and the
Health of Young Women. Thromboembolic stroke in young women. Contraception
1998;57:29-37.
Henrich JB, Horwitz RI. A controlled study of ischemic stroke risk in migraine patients. J
Clin Epidemiol 1989;42:773-780.
Herzog AG. Continuous bromocriptine therapy in menstrual migraine. Neurology
1997;48:101-102.
Jaszmann L, van Lith ND, Zaat JCA. The perimenopausal symptoms. Med Gynaecol Androl
Sociol 1969;4:268-276.
Johanees CB, Linet MS, Stewart WF, Celentano DD, Lipton RB, Szklo M. Relationship of
headache to phase of the menstrual cycle among young women: a daily diary study.
Neurology 1995;45:1076-1082.
Koren G, Pastuszak A, Ito S. Drugs in pregnancy. N Engl J Med 1998;338:1128-1137.
Krudow L. The relatioship of headache frequency to hormone use in migraine. Headache
1975;15: 37-40.
Lichten EM, Bennett RS, Whitty AJ, Daoud Y. Efficacy of danazol in the control of hormonal
migraine. J Reprod Med 1991;36:419-424.
Lidegaard O. Oral contraceptive, pregnancy and risk of cerebral thromboembolism: the
influence of diabetes, hypertension, migraine and previous thrombotic diseases. Br J
Obstet Gynecol 1995;102:153-159.
Lipton RB, Stewart WF. Migraine in the United States: a review of epidemiology and health
care use. Neurology 1993;43(suppl 3):6-10.
Lundberg PO. Endocrine Headaches. In: Rose FC (ed). Handbook of Clinical Neurology.
New York: Elsevier, 1986; vol 48, pp. 431-440.
198
MacGregorA. Treatment of migraine during pregnancy. IHS News Headache 1994;4:3-9.
MacGregor EA, Igarashi H, Wilkinson M. Headaches and hormones: subjective versus
objective assessment. Headache 1997;8:126-136.
Maggioni F, Alessi C, Maggino T, Zanchin G. Headache during pregnancy. Cephalalgia
1997;17:765-769.
Massion H, MacGregor EA. Evolution and treatment of migraine with oral contraceptives.
Cephalalgia 2000;20:170-174.
Mazal S. Migraine attacks and increased platelet aggregability induced by oral contraceptive.
Aus NZ J Med 1978;8:646-80.
ODea JPK, Davis EH. Tamoxifen in the treatment of menstrual migraine. Neurology
1990;40:1470-1471.
Petitti DB, Sidney S, Bernstein A, Quesenberry CP. Incidence of stroke and myocardial
infarction in women of reproductive age. Stroke 1997;28:280-283.
Petitti DB, Sidney S, BernsteinA, Wolf S, Quesenberry C, Ziel HK. Stroke in users of low-
dose oral contraceptives. N Engl J Med 1996;335:8-15.
RapoportAM, Pamadan NM, Adelman JU. Optimizing the dose of zolmitriptan (Zomig) for
the acute treatment of migraine: a multicenter, double-blind, placebo controlled, dose
range-finding study. Neurology 1997;49:1210-1218.
Sances G, Martignoni E, Fioroni L, Blandini F, Fachinetti F, Nappi G. Naproxen sodium in
mesntrual migraine prophylaxis: a double-blind placebo controlled study. Headache
1990;11:705-709.
Scwartz SM, Siscovick DS, Longstreth WT Jr et al. Use of low-dose oral contraceptives and
stroke in young women. Ann Intern Med 1997;127:596-560.
Silberstein SD, de Lignires B. Migraine, menopause and hormonal replacement therapy.
Cephalalgia 2000;20:214-221.
Silberstein SD, Massion H. Headache During Pregnancy and Lactation. In: Olesen J, Tfelt-
Hansen P, Welch KMA. The Headaches, 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Williams &
Wilkins, 2000; pp. 981-986.
Silberstein SD, Merrian GR. Estrogens, progestins, and headache. Neurology 1991;41:775-793.
Silberstein SD, Merrian GR. Physiology of the mesntrual cycle. Cephalalgia 2000;20:148-154.
Silberstein SD, Merrian GR. Sex hormones and headache 1999. Neurology 1999;53(suppl
1):S3-S13.
Silberstein SD. Headaches and women: treatment of the pregnant and lactanting migraineur.
Headache 1993;33:533.
Silbertein SD. Migraine and pregnancy. Neurol Clin 1997;15:209-231.
Smits MG, Van der Meer YG, Pfeil JPJM, Rijnierse JJMM, Vos AJM. Perimenstrual migraine:
effect of EstradermTTS and the value of contingent negative variation and
exteroceptive temporalis muscle suppression test. Headache 1993;34:103-106.
Solbach MP, Waymer RS. Treatment of menstruation-associated migraine headaches with
subcutaneous sumatriptan. Obstet Gynecol 1993;82:769-772.
199
Solbach P, Sargent J, Coyne L. Menstrual migraine headache: results of a controlled,
experimental outcome study of nondrug treatment. Headache 1984;24:75-78.
Sommerville BW. Estrogen-withdrawal migraine. I. Duration of exposure required and
attempted prophilaxis by premenstrual estrogen administration. Neurology 1975; 25:
239-234
Sommerville BW. Estrogen-withdrawal migraine. II. Attempted prophylaxis by continuous
estradiol administration. Neurology 1975;25:245-250.
Sommerville BW. The role of estradiol withdrawal in the etiology of menstrual migraine.
Neurology 1972;22:355-365.
Sommerville BW. The role of progesteron in menstrual migraine. Neurology 1971;21:853-859.
Tzourio C, Iglesias S, Hubert J-B et al. Migraine and risk of ischaemic stroke: a case-control
study. BMJ 1993;307:289-292.
Tzourio C, Tehindrazanarivelo A, Iglesias S et al. Case-control study of migraine and risk of
stroke in young women. BMJ 1995;310:830-833.
Welch KMA. Migraine and Pregnancy. In: Devinsky O, Feldman E, Hainline B (eds.).
Neurological Complications of Pregnancy. New York: Raven Press, 1994; pp. 77-81.
WHO Collaborative Study of Cardiovascular Disease and Steroid Hormone Contraception.
Ischaemic stroke and combined oral contraceptives: results of an international,
multicentre, case-control study. Lancet 1996;348:498-505.
200
9
CEFALIA NA INFNCIA
E ADOLESCNCIA
Marco Antnio Arruda
Deusvenir de Souza Carvalho
DIAGNSTICO
Marco Antnio Arruda
INTRODUO
A cefalia na infncia um sintoma de elevada prevalncia, amplo espectro de
causas e dificuldades diagnsticas, e teraputicas especficas.
Em um estudo de prevalncia realizado por Bille (1962) na cidade de Uppsala
(Sucia) uma referncia clssica da literatura vemos a comprovao de parte
dessa assertiva. Entrevistando 8.993 escolares com idade entre 7 e 15 anos, o
autor obteve o relato de ao menos um episdio de cefalia em 40% das crianas
aos 7 e em 75% dos adolescentes aos 15 anos de idade.
Sillanp (1976), estudando 4.825 crianas com 7 anos de idade que iniciavam
o curso primrio nas cidades de Turku e Tampere (Finlndia), obteve resultados
semelhantes: 37,7% delas j haviam se queixado de cefalia ao menos uma vez
em suas vidas e 2,7% apresentavam a migrnea como causa da cefalia. Ao
reavaliar essas crianas aos 14 anos de idade em 1983, encontrou uma prevalncia
de cefalia de 69% e de migrnea em 10,6%.
Outros estudos epidemiolgicos realizados com crianas e adolescentes revelam
taxas de prevalncia de cefalia nos ltimos 12 meses que variam de 40,7% a
82,9%.
Em nosso pas, Barea et al. (1996), avaliando 538 estudantes com idade entre
10 e 18 anos na cidade de Porto Alegre, encontraram taxas de prevalncia de
cefalia de 82,9% no ltimo ano, 31,4% na ltima semana e 8,9% nas ltimas 24
horas. De acordo com os critrios da Sociedade Internacional de Cefalia (IHS,
1988), o diagnstico de cefalia do tipo tensional foi dado a 72,8% e de migrnea a
9,9% dos estudantes que apresentavam cefalia.
A cefalia do tipo tensional e a migrnea, prottipos das cefalias primrias,
so as causas mais freqentes de cefalia crnica na infncia e na adolescncia.
A sua prevalncia varia de acordo com o grupo de pacientes estudado, havendo o
predomnio da migrnea nas crianas e nos adolescentes atendidos em servios
tercirios e da cefalia do tipo tensional nos estudos populacionais.
A cefalia idioptica em facada, que no adulto encontra-se freqentemente
associada migrnea, na infncia parece ocorrer de forma independente. Soriani
et al. (1995) relatam uma srie de 54 pacientes com idade entre 1,5 e 18 anos
com essa cefalia. Os autores reportam que em apenas 11% desses pacientes
foi constatada uma associao da cefalia idioptica em facada com outras
cefalias.
Na literatura encontram-se tambm descritas outras cefalias primrias de rara
observao na infncia como a cefalia em salvas e a hemicrania paroxstica
crnica. No primeiro caso de hemicrania contnua descrito no Brasil por Zukerman
et al. (1987), a cefalia teve seu incio aos 11 anos de idade.
As cefalias secundrias, por sua vez, so uma causa rara de cefalia crnica
na infncia.
A tabela 9.1 ilustra a distribuio dos diagnsticos em uma casustica de 417
crianas atendidas no Ambulatrio de Cefalia na Infncia do HCFMRPUSP de
1989 a 1994 (Arruda, 1999).
Tabela 9.1 Distribuio dos diagnsticos em uma casustica de 417 crianas com cefalia
crnica atendidas no Ambulatrio de Cefalia na Infncia HCFMRPUSP de 1989 a 1994
Diagnstico (cdigo IHS 1988) n %
Migrnea sem aura (1.1) 236 56,6
Migrnea com aura (1.2) 151 36,2
Cefalia do tipo tensional episdica (2.1) 15 3,6
Cefalia do tipo tensional crnica (2.2) 5 1,2
Cefalia idioptica em facada (4.1) 1 0,2
Cefalia ps-traumtica crnica (5.2.1.1) 1 0,2
Cefalia associada neoplasia intracraniana (7.6) 1 0,2
Cefalia induzida por medicamentos (8.2.3.2) 2 0,5
Cefalia no classificvel (13) 5 1,2
Total 417 100
205
Observe que a intensidade da cefalia definida em 3 graus (fraca, moderada
e forte) e assinalada no quadrado correspondente ao dia e perodo do dia em que
ocorreu a crise. Com um X so apontadas as caractersticas da dor (uni ou bilateral,
presso/aperto ou pulstil e piora com o esforo fsico) e a presena de sintomas
acompanhantes (nusea, vmito, dor abdominal, foto e fonofobia), bem como a
ocorrncia de aura (descrita com maiores detalhes no rodap). O uso de analgsicos,
o efeito desse sobre a cefalia e a concorrncia de fatores desencadeantes tambm
so reportados. A somatria mensal da intensidade da dor nas crises de cefalia
denominada por ndice de cefalia (IC), anotado no rodap do dirio juntamente
com a somatria dos perodos de cefalia no ms. Esses dois parmetros auxiliam
bastante no acompanhamento do tratamento, avaliando a eficcia das medicaes
profilticas e abortivas prescritas.
Na ltima linha (em branco), podemos observar a ocorrncia de outras manifes-
taes clnicas que podem nos auxiliar no diagnstico como: perda de apetite, palidez,
osmofobia, dores em membros, cinetose, vertigem etc.
A importncia do dirio de cefalia pode ser evidenciada no caso que a seguir
descrevemos.
Caso 1. A. P., masculino, 5 anos de idade. Criana com cefalia recorrente
iniciada h 3 meses, de freqncia semanal e curta durao (< 1 hora), intensidade
leve, frontal, bilateral, em presso, sem sintomas acompanhantes e sem fatores
desencadeantes identificados. Havia uma histria familiar de migrnea e o exame
neurolgico era normal.
De acordo com os critrios diagnsticos propostos pela IHS (1988), esse
menino apresentava uma cefalia do tipo tensional episdica. No entanto,
observe o que ocorre quando essa criana retorna com o dirio de cefalia
(Quadro 9.2).
Observe que as crises de cefalia no eram apenas de intensidade leve, mas
tambm moderada, conforme a definio orientada aos pais. Apesar de a loca-
lizao referida ter sido bilateral, os pais puderam confirmar com a criana que um
lado da cabea doa mais que o outro. A dor era do tipo presso/aperto, mas piorava
ao pedirem para a criana pular ou se agachar e em algumas crises era francamente
pulstil (como um corao batendo na cabea) ou ento em presso/aperto e se
tornava pulstil com o esforo fsico. Os sintomas gastrintestinais, antes no
relatados, foram ento observados, dor abdominal e perda de apetite. Da mesma
forma, os pais puderam observar a ocorrncia de foto e fonofobia ao notarem nas
crises que a criana procurava lugares com pouca luz e pedia para abaixar o
volume da televiso.
Portanto, o que na primeira consulta parecia tratar-se de uma cefalia do tipo
tensional episdica, com a observao e o detalhamento atravs do dirio, pde
ser comprovado ser uma migrnea, provavelmente sem aura.
206
Quadro 9.2 Caso 1 (A. P., masculino, 5 anos de idade). Dirio de cefalia
Ms: Abril Ano: 1999
Dias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 S
Madrugada (0 - 6)
Manh (6 -12) 1 2 1 1 2
Tarde (12-18) 2 2 1
Noite (18-24) 1
Um lado X X X X X X
Dois lados X X X X X X X
Dor em presso/aperto X X X X X X X X
Dor latejante X X X
Piora com esforo X X X X X X X X X
Nusea X
Vmito
Dor abdominal X X X
Luz incomoda X X X X X X
Som incomoda X X X X X
Aura
Medicao X
Resultado (++/+/-) +
Fator desencadeante X X X
Perda do apetite X X X X X
IC: 13 Perodos com cefalia: 9
Fatores desencadeantes: ingesto de chocolate e cinetose.
207
Alm do dirio de cefalia outros aspectos acima descritos ilustram como
obter informaes sobre a cefalia em crianas com menor idade. Muitas vezes,
informaes indiretas revelam sintomas fundamentais para o diagnstico da
migrnea: dor pulstil, piora com o esforo fsico, cefalia de intensidade moderada
ou forte faz a criana parar de correr e pular, nuseas e vmitos podem estar
ausentes, mas a ao dopaminrgica pode ser evidenciada pela perda do apetite
ou dor abdominal.
Dadas as dificuldades encontradas no diagnstico da migrnea na infncia,
diversos autores foram busca de dados complementares que pudessem auxiliar
esse diagnstico. Acreditavam que uma srie de manifestaes intercrticas
observadas em crianas com migrnea e descritas na literatura sob os termos
Sndromes Peridicas da Infncia e Equivalentes da Migrnea poderiam repre-
sentar marcadores dessa cefalia, com mecanismos fisiopatognicos comuns.
Apesar de esses distrbios no serem encontrados em todas as crianas com
migrnea, ocorrem numa freqncia maior que a observada nos grupos controles.
Em estudos dirigidos e controlados, essa associao pde ser comprovada para os
seguintes distrbios: cinetose, vertigem paroxstica benigna da infncia, dores nos
membros, dor abdominal recorrente, febre recorrente, vmitos cclicos e determi-
nados distrbios do sono.
Esses autores concluram que a presena desses distrbios poderia auxiliar no
diagnstico da migrnea na infncia e, em determinadas circunstncias, triar grupos
de crianas propensas a desenvolverem essa cefalia.
Portanto, nos antecedentes pessoais deve ser investigada a presena dos se-
guintes distrbios: dor abdominal recorrente, dores em membros, cinetose, vertigem
paroxstica benigna da infncia, sonilquio, bruxismo, terror noturno e sonambulismo.
Uma vez presentes, maior a chance no diagnstico da migrnea.
Nos antecedentes familiares, por sua vez, deve ser investigada a ocorrncia de
migrnea, dado o carter hereditrio dessa doena.
E XAME FSICO DA CRIANA COM CEFALIA
O exame fsico da criana com cefalia deve compreender as seguintes
etapas:
a) Exame Fsico Geral: sinais somatoscpicos (sndromes neurogenticas),
pele e anexos (sndromes neurocutneas, D. Sturge Weber e outras), presena
de dermografismo (muito encontrado nas crianas com migrnea), febre
(meningites, encefalites, mastoidite, sinusites etc.), estado de hidratao e sistema
ganglionar.
b) Exame Fsico dos Diferentes Aparelhos: pulsos perifricos (sndromes
vasculares), presso arterial (hipertenso arterial nas glomerulonefrites), precrdio
(prolapso de vlvula mitral), pulmes (hipxia) e abdome.
208
c) Exame Neurolgico Tradicional: considerando suas peculiaridades na infncia.
Principalmente em busca de sinais localizatrios, teis na distino das cefalias
primrias das secundrias. Para maior detalhamento consulte a classificao e
critrios da IHS, grupos de 5 a 11.
d) Exame Cefalitrico na Infncia:
1. Inspeo do crnio: forma, tamanho, sinais de trauma e circulao venosa.
2. Medida do permetro ceflico.
3. Ausculta do crnio e pescoo: rbitas, mastide, cartidas, articulao
temporo-mandibular e regio temporal.
4. Percusso do crnio: em busca do sinal do pote rachado.
5. Palpao do crnio: suturas e couro cabeludo (em busca de zonas de gatilho
de dor ou de pontos dolorosos).
6. Compresso e percusso dos seios da face: maxilar e frontal (sinusites).
7. Compresso dos globos oculares: glaucomas, tumores orbitrios e oculares.
8. Palpao das artrias cartidas (disseces) e temporal superficial
(especialmente dolorosa na migrnea, muitas vezes mesmo no perodo
intercrtico).
9. Compresso de nervos: supraorbitrio, infraorbitrio, ramos do trigmeo,
occipital maior e menor.
10. Palpao e compresso de msculos: frontal, temporal, masseter, pterigoideo,
esternocleidomastoideo, escalenos, occipital, suboccipital, trapzio e elevador
da escpula.
11. Compresso do processo espinhoso de C2-C7.
12. Amplitude de movimentos da coluna cervical: flexo, extenso, rotao e
inclinao.
13. Avaliao da ocluso (linha dos incisivos e desvios da mandbula abertura
da boca) e orofaringe.
14. Otoscopia.
15. Manobra de Naffzigger (modificada por Raffaelli). Atravs dessa manobra,
podemos inferir a presena de hipertenso intracraniana ou do canal medular.
A manobra consiste na compresso simultnea das veias jugulares, em seu
trajeto cervical por dois minutos, estando o examinador postado atrs do
paciente sentado. considerada positiva se a compresso desencadear
cefalia. Outros sintomas como sensao de presso dentro da cabea,
mal-estar e vertigem podem ocorrer no indivduo normal. Segundo Raffaelli
(comunicao pessoal), a positividade da manobra tambm pode ser
observada em pacientes com migrnea, uma vez que a compresso das
veias jugulares com a conseqente estase sangunea intracraniana pode
desencadear cefalia por dilatao das artrias da base craniana.
209
PECULIARIDADES DAS CEFALIAS PRIMRIAS NA INFNCIA
Migrnea e Cefalia do Tipo Tensional
A partir da adolescncia, a prevalncia da migrnea significativamente maior
no sexo feminino. Na infncia, no entanto, um ligeiro predomnio observado no
sexo masculino.
Na literatura, descrita a maior freqncia de aura, de cefalia unilateral e de
dor do tipo pulstil na migrnea em adolescentes (e adultos) do que em crianas.
Por outro lado, tambm relatada a maior freqncia de vmitos e fotofobia na
migrnea de crianas mais novas do que nos adolescentes.
possvel que essas diferenas clnicas sejam decorrentes de dificuldades de
verbalizao dos sintomas na criana mais nova, mas podem tambm ser atribudas
a aspectos prprios da histria natural da migrnea.
Quanto possvel influncia do sexo sobre as caractersticas da migrnea nessa
faixa etria, Wber-Bingl et al. (1996) observaram que o agravamento da cefalia
com o esforo fsico e a ocorrncia de aura so mais freqentemente relatados em
crianas e adolescentes do sexo feminino.
Na literatura, encontram-se numerosas referncias que apontam para a menor
durao das crises de migrnea na infncia num contingente que varia de 11% a
32% das diferentes casusticas. Esta uma peculiaridade importante da migrnea na
infncia, uma vez que interfere de forma decisiva nas condutas teraputicas.
Outra peculiaridade tambm importante no diagnstico e no tratamento da
migrnea na infncia a heterogeneidade das crises. O dirio de cefalia do quadro
9.3 ilustra bem esse aspecto.
Observe, pelo dirio, que essa criana convive com dois tipos distintos de crises,
umas tpicas de migrnea sem aura (dias 8, 13 e 30) e outras de menor intensidade,
com caractersticas tensionais (bilateral e em presso/aperto) e vasculares (torna-
se pulstil e se agrava com o esforo fsico e associadas a dor abdominal, foto e/ou
fonofobia) (dias 18, 19, 20 e 21).
No se trata, portanto, da coexistncia da migrnea com a cefalia do tipo
tensional episdica mas sim da primeira com uma cefalia que combina
caractersticas tensionais e migranosas.
Segundo a teoria do continuum, postulada por Bakal e Kaganov (1979), um
modelo de compreenso das cefalias dentro de um espectro de intensidade da
dor e dos sintomas acompanhantes, de um lado do espectro estaria a migrnea e
do outro a cefalia do tipo tensional.
Com freqncia observamos na criana com migrnea a ocorrncia de crises
que combinam caractersticas migranosas e tensionais, como se essas cefalias se
confundissem e o espectro fosse menos amplo nessa faixa etria.
Este mesmo fenmeno tambm observado nas crianas com cefalia do tipo
tensional, como ilustra o dirio de cefalia do caso 3 (Quadro 9.4).
210
Quadro 9.3 Caso 2 (R. A. S., masculino, 4 anos de idade). Dirio de cefalia
Ms: Junho Ano: 1999
Dias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 S
Madrugada (0 - 6) 2 2
Manh (6 -12) 3 1 4
Tarde (12-18) 2 2 1 1 2 8
Noite (18-24) 3 3
Um lado X X X
Dois lados X X X X X
Dor em presso/aperto X X X X
Dor latejante X X X X X X
Piora com esforo X X X X X X X
Nusea X X X X
Vmito X
Dor abdominal X X X X X X X
Luz incomoda X X X X X
Som incomoda X X X X X
Aura
Medicao X X X
Resultado (++/+/-) + - +
Fator desencadeante X X
Dores nas pernas X X X X X
IC: 17 Perodos com cefalia: 9
Fatores desencadeantes: exposio ao sol, emoo negativa, chocolate.
211
212
Quadro 9.4 Caso 3 (J. A. S., feminino, 7 anos de idade). Dirio de cefalia
Ms: Setembro Ano: 1998
Dias 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 S
Madrugada (0 - 6)
Manh (6 -12) 1 1
Tarde (12-18) 1 1 2 1 1 1 1 2 1 11
Noite (18-24) 2 2 1 5
Um lado
Dois lados X X X X X X X X X X
Dor em presso/aperto X X X X X X X X X X
Dor latejante
Piora com esforo X X X
Nusea
Vmito
Dor abdominal X X X
Luz incomoda
Som incomoda X X X
Aura
Medicao X X X
Resultado (++/+/-) + + +
Fator desencadeante X X X
Dores nas pernas X X
IC: 17 Perodos com cefalia: 13
Fatores desencadeantes: prova escolares e exposio ao sol prolongada.
Observe que essa menina de 7 anos de idade apresenta crises tpicas de cefalia
do tipo tensional episdica (dias 3, 11, 15, 20, 21, 25 e 29) e outras com o mesmo
padro, mas combinadas as caractersticas vasculares (piora da dor com o esforo
fsico) e migranosas (associada dor abdominal e perda do apetite) (dias 8, 18 e
26). Coincidentemente, a cefalia dessas crises com caractersticas combinadas
so de maior intensidade.
Sob esses aspectos, a teoria do continuum talvez seja melhor visualizada na
infncia do que em adultos.
Cefalia Crnica Diria
Poucos estudos existem acerca das Cefalias Crnicas Dirias (CCD) na
infncia e na adolescncia.
Se na literatura referente s cefalias no adulto discutida a identidade das
CCD, na infncia e na adolescncia a questo anterior, uma vez que numerosas
evidncias apontam para as limitaes na aplicabilidade da classificao e dos
critrios diagnsticos propostos pela IHS (1988) nessa faixa etria.
Essas limitaes diagnsticas provavelmente decorrem de aspectos evolutivos
naturais das cefalias primrias na infncia ainda a serem desvendados, bem como
das dificuldades na obteno das informaes sobre a cefalia, fundamentais para
o diagnstico.
Apesar das dificuldades diagnsticas apontadas, entre as cefalias primrias
que podem evoluir de forma crnica e diria, classificadas e definidas por Silberstein
et al. (1994), apenas a hemicrania contnua e a cefalia hpnica ainda no foram
descritas na infncia e na adolescncia.
Em um estudo prospectivo, Gladstein e Holden (1996) descreveram os achados
em uma casustica de 37 crianas com CCD e idade entre 7 e 17 anos. Os autores
classificaram a cefalia de acordo com os critrios propostos por Silberstein et al.
(1994) e encontraram a seguinte distribuio de diagnsticos: 35% Cefalia
Persistente Diria de Incio Sbito (CPDIS), 15% Migrnea Transformada (MT),
5% Cefalia do Tipo Tensional Crnica (CTTC), 40% comorbid pattern e 5%
cefalia no-classificvel.
Os autores definiram como comorbid pattern o que no passado era denominado
por cefalia combinada, tensovascular ou mista, ilustrada nos casos 2 e 3, mas
com uma freqncia de crises diria ou quase diria.
Para Gladstein e Holden (1996), a alta prevalncia desse padro de cefalia
nesse grupo de pacientes seria uma peculiaridade das CCD nessa faixa etria.
Os autores no observaram entre os subgrupos de CCD qualquer diferena
significativa referente aos seguintes aspectos: padro comportamental, compor-
tamentos de externalizao (impulsividade, agressividade, sentimentos de dio) ou
de internalizao (depresso, ansiedade e somatizao), comportamento do tipo A,
213
impacto nas atividades da vida diria e dias escolares perdidos por causa da cefalia.
Tambm apontam como uma outra peculiaridade a baixa freqncia de abuso de
analgsicos entre as crianas estudadas, ao contrrio do que descrito em adultos.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Arruda MA. Fatores de risco e distrbios associados migrnea na infncia. Dissertao de
mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo 1994.
Arruda MA, Speciali JG, Ciciarelli MC, Bordini CA. Childhood migraine: diagnostic problems.
Cephalalgia 1995;15:47.
Arruda MA. Cefalia crnica na infncia: estudo retrospectivo em um ambulatrio tercirio.
Tese de doutorado. Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo
1999.
Bakal DA, Kaganov JA. Symptom characteristics of chronic and non-chronic headache
sufferers. Headache 1979;19:285-289.
Barea LM, Tannhauser M, Rotta NT. An epidemiological study of headache among children
and adolescents of southern Brazil. Cephalalgia 1996;16:545-549.
Barlow CF. Headaches and Migraine in Childhood: Oxford, Blackwell Scientific, 1984. (Clinics
in Developmental Medicine, no 91).
Bille B. Migraine in school children. Acta Paediatr Scand 1962;51(suppl 136):1-151.
Carvalho DS. Fatores de risco da enxaqueca na faixa etria de 7 a 15 anos. Dissertao de
Mestrado. Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de So Paulo, 1986.
Gallai V, Sarchelli P, Carboni F, Benedetti P, Mastropolo C, Puca F. Applicability of the 1988
IHS criteria to headache patients under the age of 18 years attending 21 italian clinics.
Headache 1995;35:146-153.
Gherpelli JLD, Nagae Poetscher LM, Souza AMMH, Bosse EMB, Rabello GD, Diament A,
Scaff M. Migraine in childhood and adolescence. A critical study of the diagnostic
criteria and of the influence of age on clinical findings. Cephalalgia 1998;18:333-341.
Gladstein J, Holden EW, Peralta L. Chronic paroxysmal hemicrania in a child. Headache
1994;34:519-520.
Gladstein J, Holden EW. Chronic daily headache in children and adolescents: a 2-year
prospective study. Headache 1996;36:349-351.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain.
Cephalalgia 1988;8 (suppl 7):1-96.
Hockaday JM. Migraine in Childhood. London: Butterworths, 1988.
Maytal J, Young M, Schechter A, Lipton RB. Pediatric migraine and the IHS criteria.
Neurology 1997;48:602-607.
Metshonkala L, Sillanp M. Migraine in children: an evaluation of the IHS criteria.
Cephalalgia 1994;14:285-290.
214
Olesen J. The International Headache Society Classification and Diagnostic Criteria are
valid and extremely useful. Cephalalgia 1996;16:293.
Seshia SS, Wolstein JR. International Headache Society Classification and Diagnostic Criteria
in children: a proposal for revision. Dev Med Child Neurol 1995;37:879-882.
Seshia SS, Wolstein JR, Adams C, Booth FA, Reggin JD. International Headache Society
Criteria and childhood headache. Dev Med Child Neurol 1994;36:419-428.
Silberstein SD, Lipton R, Solomon S, Mathew N. Classification of daily and near daily
headaches: proposed revisions to the IHS Classification. Headache 1994;34:1-7.
Sillanp M. Prevalence of migraine and other headache in finnish children starting school.
Headache 1976;15:288-290.
Soriani S, Battistella PA, Bordin A, Amaldi C, Cemetti R, Corr S, Mescoli G, De Carlo L.
Idiopathic stabbing headache in childhood. Cephalalgia 1995;15(suppl.16):47.
Winner DO, Martinez W, Mate L, Bello L. Classification of pediatric migraine: proposed
revisions to IHS Criteria. Headache 1995;35:407-410.
Wber-Bingl C, Wber C, Karwautz A, Vesely C, Wagner-Ennsgraber C, Amminger GP
et al. Diagnosis of headache in childhood and adolescence: a study in 437 patients.
Cephalalgia 1995;15:13-21.
Wber-Bingl C, Wber C, Wagner-Ennsgraber C, Karwautz A, Vesely C, Zebenholzer K,
Geldner J. IHS Criteria for migraine and tension-type headache in children and
adolescents. Headache 1996;36:231-238.
Zukerman E, Hannuch SN, Carvalho DS, Fragoso YD, Jenger KA. Hemicrania continua:
a case report. Cephalalgia 1987;7:171-173.
TRATAMENTO
Deusvenir de Souza Carvalho
CONSIDERAES GERAIS
No se deve desprezar o fato de que 50% das crianas que visitam o neuro-
logista por cefalia ficam livres desse incmodo aps a primeira consulta. Diante
disso, vale muito orientao no medicamentosa inicial, principalmente quando
se aguarda investigao subsidiria. Neste perodo, o dirio de anotaes das
crises ajuda na identificao de fatores desencadeantes, a serem afastados
sempre que possvel. No Setor de Investigao e Tratamento das Cefalias da
Escola Paulista de Medicina Unifesp, em 19 enxaquecosos, com 5 a 15 anos
de idade, numa primeira consulta a freqncia mensal de crises foi maior que
duas por ms em 18 pacientes (94,7%) e, um ms aps, com a anotao feita
pelo responsvel ou pela prpria criana, no dirio adotado pelo setor, essa fre-
qncia se confirmou em apenas 9 (45%).
As crianas e os adolescentes parecem responder bem ao relaxamento. A
higiene do sono traz muito benefcio. Carecem de evidncias, procedimentos como
215
restrio diettica, acupuntura, biofeedback, auto-hipnose e psicoterapia. H
evidncias de que a homeopatia no til no tratamento da crise de enxaqueca
tanto em adultos como em crianas e adolescentes.
Os efeitos colaterais podem contribuir tanto positiva como negativamente para
a escolha do medicamento. Quanto a via de administrao, h pouca referncia do
uso de medicamentos no orais (supositrios, spray nasal) que evitariam a via
injetvel que tanto desagradam s crianas.
Em crianas de baixa idade (pr-escolares, abaixo de 6 anos), deve ser
sistematicamente muito bem ponderado o uso de medicao e, sempre que possvel,
evitado. Ao propor medicao, cabe ao mdico orientar como lidar com os aspectos
sociais gerados pela crise e como equacionar o esquema a ser seguido, principal-
mente na escola.
Cefalias primrias
Enxaqueca ou migrnea
Diversas substncias podem ser utilizadas como profilticas. Entre elas: pizo-
tifeno, propranolol, flunarizina, amitriptilina, valproato e divalproato de sdio. Esses
dois ltimos principalmente nos casos de enxaqueca associada a epilepsia. Uma
proposta recente, com baixos efeitos colaterais so os antileucotrienos, entre eles,
218
o montelucaste e o zafirlucaste. Esses medicamentos devem ser indicados quando
h a associao de enxaqueca com asma.
Sintomas recorrentes associados enxaqueca, tais como episdios de vertigem
paroxstica, dor abdominal recorrente e vmitos cclicos, podem ser freqentes,
duradouros e incapacitantes, a ponto de ser necessria indicao de tratamento
medicamentoso para o episdio e para a sua preveno. O tratamento o mesmo
da enxaqueca.
Aproximadamente 60% das crianas com enxaqueca, ao chegarem a jovens
adultos, ficam livres dos sintomas por mais de 2 anos, porm na idade de 30 anos,
somente 40% continuam livres. De forma geral, as crianas e os adolescentes
lidam melhor com a sua enxaqueca que os adultos.
Cefalia tipo tensional
Causas oculares
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Abu-Arafeh I, Hmlinen M. Childhood Syndromes Related to Migraine. In: Olesen J,
Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches. Philadelphia: Lippincot-Williams,
& Wilkins 2000; pp. 517-523.
224
Antonaci F. What is the role of international societies and what could they do better?
Cephalalgia 1997;17(suppl 17):25-28.
Barlow CF. Headaches and Migraine in Childhood. Philadelphia: Spastics International
Medical, 1984; pp. 288. (Clinics in developmental medicine no 91).
Bille B. 40-year follow-up of school children with migraine. Cephalalgia 1997;17:488-491.
Bruni O, Galli V, Guidetti V. Sleep hygiene and migraine in children and adolescents.
Cephalalgia 1999;19(suppl 25):55-59.
Caruso JM, Brown WD, Exil G, Gascon GG. The efficacy of divalproex sodium in the
prophylactic treatment of children with migraine. Headache 2000;40:672-676.
Coelho FMS, Pereira MM, de Souza Carvalho D. Cefalia em crianas e adolescentes:
frequncia de crises em 4 semanas relatadas na primeira consulta, comparadas com as
anotadas em dirio. Arq Neuropsiquiat 2000;58(suppl II):88.
Comit Ad Hoc da Sociedade Brasileira de Cefalia. Recomendaes para o tratamento da
crise de migrnea. Arq Neuropsiquiat 2000;58:371-389.
Davidoff RA. Migraine: manifestations, pathogenesis, and management. Philadelphia: Davis
Company, 1995; pp. 253-256.
de Souza Carvalho D, Fragoso YD, Coelho FMS, Pereira MM. Asthma+migraine in childhood
and adolescence: prophylactic benefits with leukotriene receptor antagonist. New York:
10th Congress of the International Headache Society, 2001. (poster presentation).
Dooley J, Bagnell A. The prognosis and treatment of headaches in children A ten year
follow-up. Can J Neurol Sci 1995;22:47-49.
Dowson AJ, Fletcher PE, Millson DS. Efficacy and tolerability of zomig in adolescent
migraine. Cephalalgia 1998;18:406.
Duckro PN, Cantwell-Simmons E. A review of studies evaluating biofeedback and relaxation
training in the management of pediatric headache. Headache 1989;29:428-433.
Friedman AP, Harms E. Headaches in children. Springfield, Charles C. Thomas, 1967.
Gatrad AR. Dystonic reactions to metoclopramide. Dev Med Child Neurol 1976;18:767-769.
Gladstein J, Holden EW. Chronic daily headache in children and adolescents: a 2-year
prospective study. Headache 1996;36:349-351.
Hmlinen ML, Hoppu K, Valkeila E, Santavuori P. Ibuprofen or acetaminophen for the
acute treatment of migraine in children: a double-blind, randomized, placebo-controlled,
crossover study. Neurology 1997;48:103-107.
Hmlinen ML, Hoppu K, Santavuori P. Is response to oral sumatriptan in childhood
migraine different from adults? Cephalalgia 1997;16:358.
Hermann C, Kim M, Blanchard EB. Behavioral and prophylactic pharmacological intervention
studies of pediatric migraine: an exploratory met-analysis. Pain 1995;60:239-256.
Hershey AD, Powers SW, Bentti A-L, deGrauw TJ. Effectiveness of amitriptyline in the
prophylactic management of childhood headaches. Headache 2000;40:539-549.
Hockaday JM, Barlow CF. Headache in Children. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA
(eds.). The Headaches. New York: Raven Press, 1993; pp. 795-808.
225
Hockaday JM. Headaches in Children. In: Vinken PJ, Bruyn GW, Klawans HL (eds.).
Headache. Amsterdam: Elsevier, 1986.
Honig PJ, Channey EB. Children with brain tumor headaches. Distinguishing features. Am
J Dis Child 1982;136(2):121-124.
Klassen BD, Dooley JM. Chronic paroxysmal hemicrania-like headaches in a child: response
to a headache diary. Headache 2000;40:853-855.
Kramer II, Kramer CM. The phantom earache, temporomandibular joint dysfunction in
children. Am J Dis Child 1985;139:943-945.
Lewis DW, Middlebrook MT, Mehallick L, Rauch TM, Deline C, Thomas EF. Pediatric
headaches: what do the children want? Headache 1996;36:224-230.
Linder S. Subcutaneous sumatriptan in the clinical setting the first 50 consecutive patients
with acute migraine in a pediatric neurology office practice. Headache 1996;36:419-422.
MacDonald JT. Treatment of juvenile migraine with subcutaneous sumatriptan. Headache
1994;34:581-582.
Massiou H. What is lacking in the treatment of paediatric and adolescent migraine ?
Cephalalgia 1997;17(suppl.17):21-24.
Metshonkala L. Migraine and nonmigrainous headache How to distinguish them.
Cephalalgia 1999;19 (suppl. 25):53-55.
Olness K, MacDonald JT, Uden DL. Comparison of self-hypnosis and propranolol in the
treatment of juvenile classic migraine. Pediatrics 1984;79:593-597.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ (eds.). Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis
Medical Media, 1998.
Vanast WJ, Diaz-Mitoma F, Tyrrell DJL. Hypothesis: chronic benign daily headache is an
immune disorder with viral trigger. Headache 1987;27:138-142.
Winner P, Saper J, Nett R, Asghamejad M, Laurenza A, Peykamian M. Sumatriptan nasal
spray for acute migraine in adolescent migraineurs. Barcelona: 9 o Congress of the
International Headache Society, 1999.
226
10
CEFALIA EM IDOSOS
Pedro Ferreira Moreira Filho
Jano Alves de Souza
INTRODUO
A reduo das taxas de natalidade e de mortalidade tem tornado o envelheci-
mento populacional um fenmeno mundial na atualidade, caracterstico no
somente dos pases desenvolvidos, mas tambm, de forma crescente, da maioria
dos pases subdesenvolvidos. O Brasil vem passando pela transio demogrfica,
com aumento da populao idosa num perodo de tempo curto. A evoluo da
expectativa de vida ao nascer nas ltimas dcadas uma prova disso. Enquanto
por volta da Segunda Guerra Mundial essa expectativa em nosso pas era da
ordem de 39 anos, hoje encontra-se em 64 anos, e at o ano 2020 espera-se que
atinja a marca de 72 anos. A participao percentual da populao com 65 anos
ou mais aumentou desde 1940 at o ano 2000 de 2,38% para 5,12%, devendo
chegar a 7,64% em 2020. Esses dados revelam a importncia para a nossa
sociedade do estudo dos aspectos particulares das diversas enfermidades nessa
faixa etria.
O estudo da cefalia na populao idosa revela peculiaridades quanto a epidemio-
logia, diagnstico e tratamento:
1. A incidncia e a prevalncia das diversas formas de cefalia diferem
significativamente com a faixa etria, havendo aquelas que se tornam mais
raras com o envelhecimento, outras cuja freqncia aumenta e algumas de
ocorrncia especfica (ou quase) entre os idosos.
2. Embora as cefalias primrias sejam ainda as mais freqentes entre os
idosos, a proporo das cefalias secundrias significativamente maior
nesse grupo, sendo estimada em at um tero dos casos.
3. A apresentao clnica pode, tambm, revelar pequenas diferenas em
relao populao jovem, o que verdadeiro, principalmente na migrnea.
4. Na medida em que outras doenas crnicas tornam-se mais prevalentes,
algumas delas cursando com cefalia como sintoma, exige-se para o
diagnstico um conhecimento amplo da neurologia e da clnica mdica, bem
como especial cuidado na realizao da anamnese e do exame clnico, neuro-
lgico e cefalitrico.
5. A associao mais freqente com outras doenas crnicas tem implicaes
tambm no tratamento, aumentando as contra-indicaes aos medicamentos
habituais ou favorecendo a escolha de um medicamento capaz de tratar
simultaneamente a cefalia e a outra doena associada.
6. As mudanas que ocorrem no metabolismo com o processo do envelhe-
cimento tornam esses indivduos mais suscetveis aos efeitos adversos e
toxicidade das drogas, exigindo cautela na administrao dos medica-
mentos.
EPIDEMIOLOGIA
Ao contrrio do que ocorre com a maioria dos sintomas, a prevalncia da
cefalia diminui com o envelhecimento; apesar disso, continua sendo uma causa
freqente de desconforto na populao idosa. Waters, em seu estudo
populacional, encontrou prevalncia anual de cefalia de 74% para os homens
e de 92,3% para as mulheres na faixa dos 21 aos 34 anos versus 21,7% para
os homens e 55,2% para as mulheres na faixa dos 75 anos ou mais. Da mesma
forma, Newland et al. observaram prevalncia de cefalia em um ano de 88%
para os homens e 96,7% para as mulheres na faixa de 21 a 34 anos e de 45,5%
para os homens e 52,7% para as mulheres na faixa dos 75 anos ou mais. Hale,
utilizando os dados provenientes do Programa de Dunedin, criado em 1975
com o objetivo de rastrear desordens mdicas no detectadas numa populao
de idosos, coletou informaes de 1.927 mulheres e 1.140 homens com mais
de 65 anos e verificou que 13,9% do total das mulheres e 6,5% dos homens
apresentaram cefalia freqente no ltimo ano. A cefalia foi a dcima queixa
mais relatada entre as mulheres e a dcima quarta entre os homens, numa lista
de 28 sintomas de prevalncia alta entre idosos. A prevalncia da cefalia
encontrada nos diversos subgrupos etrios desse estudo esto expostas na
tabela 10.1. Solomon, Kunkel e Frame estudaram os pronturios dos pacientes
atendidos no perodo de um ano na Cleveland Clinic e encontraram 9.950 cuja
queixa principal havia sido cefalia, dos quais apenas uma minoria era consti-
tuda por indivduos com 65 anos ou mais (n = 359 ou 4%). Serratrice e
Serbanesco estudaram 1.990 sofredores de cefalia e apenas 5% deles encon-
travam-se na faixa dos 65 anos ou mais.
Poucos trabalhos foram realizados com o objetivo de determinar as formas de
cefalia mais freqentes entre os idosos. Pascual e Berciano estudaram 193
pacientes com queixa de cefalia de incio tardio e encontraram os diagnsticos
referidos na tabela 10.2.
228
Tabela 10.1 Prevalncia de cefalia de acordo com o subgrupo etrio de
uma populao idosa Programa de Dunedin (Hale 1980, 1986)
Grupo etrio Prevalncia (%)
65 a 69 anos 14,9
70 a 74 anos 14,8
75 a 79 anos 14,0
80 a 84 anos 13
85 anos ou mais 8,3
CEFALIAS PRIMRIAS
Migrnea
A mdia de idade para o incio da cefalia em salvas de 31,5 anos, mas pode
ocorrer pela primeira vez mesmo aps os 70 anos. Esse assunto de outro captulo
desta obra.
Cefalia idioptica em facada
Uma lista extensa de doenas comuns em idosos pode cursar com cefalia.
Abordaremos algumas das principais.
Hipertenso arterial sistmica (HAS) A HAS apresenta prevalncia de
10% a 20% na populao geral, chegando at 50% entre indivduos com 60 anos
ou mais veja captulo 15.
Doena de Paget A doena de Paget dos ossos acomete o crnio em 42%
dos pacientes e a cefalia est entre suas complicaes neurolgicas. A freqncia
com que os sofredores da doena de Paget manifestam cefalia no foi estabelecida.
Friedman, Sklaver e Klawans estudaram 24 indivduos com doena de Paget mode-
rada a acentuada e identificaram cefalia em sete.
A cefalia da doena de Paget tem sido descrita como intensa, mais freqente-
mente de localizao occipital, e agravada por tosse, espirro e esforos. Dois
mecanismos podem estar envolvidos com a cefalia da doena de Paget: a trao
dos nervos occipitais ou a invaginao basilar secundria ao amolecimento sseo
da base do crnio e conseqentes modificaes no fluxo do LCR e hipertenso
intracraniana.
237
Doena de Parkinson A doena de Parkinson tem sido associada com a
ocorrncia aumentada de cefalia. Numa srie, 41,2% dos parkinsonianos estudados
referiram cefalia versus apenas 13,4% de pacientes de um grupo-controle
composto por indivduos na mesma faixa etria. Outro estudo (no controlado)
revelou a mesma freqncia aumentada de cefalia em parkinsonianos. J Lorentz
no encontrou freqncia aumentada de cefalia entre os portadores dessa doena.
No est claro se a cefalia provocada pela amantadina, levodopa ou outras
drogas utilizadas no tratamento da doena de Parkinson, porm Indo e Takahashi
referiram a melhora da cefalia com o tratamento pela levodopa. A causa da
cefalia na doena de Parkinson no est esclarecida. Meco et al. atribuem
ansiedade e depresso contratura muscular aumentada. Outros acreditam em
alteraes nos mecanismos centrais da nocicepo.
Outras causas de cefalia secundria Outras doenas ou situaes
que podem cursar com cefalia esto relacionadas a seguir:
1. Infeces bacterianas e virais inespecficas; doena de Lyme; infeces
pelo vrus Epstein-Barr.
2. Doena renal e hemodilise.
3. Hipoxemia e hipercarbia (DPOC, apnia do sono).
4. Glaucoma.
5. Sinusite aguda e outras desordens otorrinolaringolgicas.
6. Hipercalcemia.
7. Hiponatremia.
8. Anemia.
9. Policitemia.
CONSIDERAES FINAIS
Mesmo entre os idosos, as cefalias primrias so as que predominam. No
entanto, h uma freqncia aumentada de cefalias secundrias nesse grupo. Em
geral, quando um paciente idoso se queixa de cefalia que se mantm com as
mesmas caractersticas h muitos anos (muitas vezes, desde a infncia ou a juven-
tude) e cujo exame neurolgico normal, a identificao de uma causa estrutural
excepcional. Por outro lado, todo paciente com mais de 50 anos que se apresenta
com cefalia de incio recente, ou cujas caractersticas da cefalia se modificaram
recentemente, ou cujo exame neurolgico revela alteraes, necessita de inves-
tigao complementar em busca de causas estruturais. Os exames complementares
apropriados para cada caso vo depender da etiologia que a anamnese e o exame
clnico e neurolgico sugerirem.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Dodick DW, Mosek AC, Campbell JK. The hypnic (alarm clock) headache syndrome.
Cephalalgia 1998;18:152-156.
Dripps RD, Vandam LD. Long term follow-up of patients who received 10,098 spinal
anesthetics. JAMA 1954;156:1486-1491.
Edmeads J. Headache in the Elderly. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KM (eds.). The
Headaches, 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Williams & Wilkins, 2000; pp. 947-951.
Fernandez E. Headaches associated with low spinal fluid pressure. Headache 1990;30:122-128.
Fisher CM. Late-life migraine accompaniments as a cause of unexplained transient ischemic
attacks. Can J Neurol Sci 1980;7:9-17.
Friedman P, Sklaver N, Klawans LH JR. Neurologic manifestations of Pagets disease of the
skull. Dis Nerv Syst 1971;32:809-817
Gbel H, Petersen-Braun M, Soyka D. The epidemiology of headache in Germany: a
nationwide survey of a representative sample on the basis of the headache classification
of the International Headache Society. Cephalalgia 1994;14:97-106.
Hale WE, Perkins LK, May FE, Marks RG, Stewart RB. Symptom prevalence in the elderly: an
evaluation of age, sex, disease and medication use. J Am Geriatr Soc 1986;34:333-340.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache, cranial neuralgia and facial pain. Cephalagia
1988;8(suppl 7):1-96.
239
Indo T, Takahashi A. Early morning headache in Parkinsons disease: a hitherto unrecognized
symptom? Headache 1987;27:151-154.
Lance JW, Curran DA, Anthony M. Investigations into the mechanism and treatment of
chronic headache. Med J Aust 1965;2:909-912.
Lee JJ, Gauci CAG. Postherpetic neuralgia: current concepts and management. Brit J Hosp
Med 1994;52:565.
Lorentz IT. A survey of headache in Parkinsons disease. Cephalalgia 1989;9:83-86.
Meco G, Frascarelli M, Pratesi L, Linfante I, Rocchi L, Formisano R. Headache in Parkinsons
disease. Headache 1988;28:26-29.
Newland CA, Illis LS, Robinson PK, Batchelor BG, Waters WE. A Survey of Headache in an
English City. In: Res Clin Stud Headache. Basel: Karger, 1978; pp. 1-20.
Newman LC, Lipton RB, Solomon S. The hypnic headache syndrome: a benign headache
disorder of the elderly. Neurology 1990;40:1904-1905.
Pareja JA et al. Idiopathic stabbing headache (jabs and jolts syndrome). Cephalalgia
1996;16:93-96.
Pascual J, Berciano J. Experience in the diagnosis of headaches that start in elderly people.
J Neurol Neurosurg Psychiatry 1994;57:1255-1257.
Ramos LR, Veras RP,k Kalache A. Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira.
Rev Sade Pbl 1987;21:211-224.
Raskin N. The hypnic headache syndrome. Headache 1988;28:534-535.
Serratrice G, Serbanesco F, Sambuc R. Epidemiology of headache in elderly: correlations
with life conditions and socio-professional environment. Headache 1985;25:85-89.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ (eds.). Geriatric Headache. In: Headache in Clinical
Practice. Oxford: Isis Medical Media, 1998; pp.201-212.
Silberstein SD, Lipton RB, Solomon S, Mathew NT. Classification of daily and near daily
headaches: proposed revisions to the IHS criteria. Headache 1994;34:1-7.
Sjastaad O, Fredriksen TA, Pfaffenrath V. Cervicogenic headache: diagnostic criteria.
Headache 1990;30:725-726.
Skobieranda FG, Lee TG, e Solomon S. The hypnic headache syndrome: six additional
patients. Cephalalgia 1997;17:305.
Solomon GD, Kunkel RS, Frame J. Demographics of headache in elderly patients. Headache
1990; 30:273-276.
Spielman FJ. Post-lumbar puncture headache. Headache 1982;22:280-283.
Veras RP, Ramos LR, Kalache A. Crescimento da populao idosa no Brasil: transformaes
e conseqncias na sociedade. Rev Sade Pbl 1987;21:225-233.
Vilming ST, Schrader H, Monstad I. The significance of age, sex, and cerebrospinal fluid
pressure in post-lumbar-puncture headache. Cephalalgia 1989;9:99-106.
Waters WE. The Pontypridd headache survey. Headache 1974;14:81-90.
240
11
ABORDAGEM NO -FARMACOLGICA:
TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL,
MANUSEIO DE ESTRESSE,
RELAXAMENTO E BIOFEEDBACK
Luciana Campaner Fernandes
Paulo de Tarso Troleis Guimares
INTRODUO
O tratamento antes dito como alternativo vem sendo utilizado h vrios sculos
e em vrias especialidades mdicas. Esse captulo destina-se a agrupar tcnicas
no-farmacolgicas direcionadas ao tratamento das cefalias.
Vamos utilizar o termo terapia complementar para designar associaes
teraputicas no farmacolgicas, uma vez que o tratamento da cefalia pode ser
enriquecido atravs de uma anlise biopsicossocial.
Entende-se como tratamento de excelncia aquele que abrange, alm dos
procedimentos mdicos especficos, todos os fatores desencadeantes ou agravantes
como: alteraes qumicas, psquicas, musculares e outras comorbidades.
Existem inmeras tcnicas no farmacolgicas; iremos agrupar algumas das
tcnicas cientificamente aceitas na literatura especializada como sendo eficazes
no tratamento das cefalias.
Segundo a A.H.R.Q. (U.S. Agents for Healthcare Research and Quality) so
aceitas quatro opes de tratamento no-farmacolgico para a preveno da
cefalia; so elas:
Treino de relaxamento
Terapia cognitivo-comportamental (tcnicas de manejo de estresse)
Biofeedback de temperatura, combinado tcnicas de relaxamento
EMG biofeedback
CONCEITOS DE ESTRESSE
O que o estresse?
Estresse o estado manifestado por uma sndrome especfica que consiste de
todas as mudanas induzidas de maneira no especfica em um sistema biolgico,
segundo Hans Selye.
Os organismos vivos sobrevivem custa da manuteno de um equilbrio
dinmico, complexo e harmonioso denominado homeostase. Essa homeostase
ameaada por fatores intrnsecos e extrnsecos, chamados estressores. A
instabilidade necessria para uma boa adaptao mantida atravs de reaes
fsicas e mentais que tentam reagir contra os efeitos estressores e assim
reestabelecer a homeostase. O estresse, ento, um estado de desarmonia e de
homeostase ameaada.
Na tentativa de manter o equilbrio, o organismo tende a se adaptar, mas nem
sempre esta adaptao benfica para o organismo. Respostas adaptativas so
criadas e podem ser especficas a um agressor no especfico. preciso lembrar
que o estresse biolgico essencialmente um ajustamento orgnico, um antagonismo
(tenso) entre um agressor e a resistncia oferecida pelo corpo.
Um estresse biolgico no equivalente ao que, popularmente, chamamos de
estresse (tenso nervosa). O estresse um estado manifestado por uma sndrome
especfica, sendo induzido no especificamente, ainda nas palavras de Selye.
Usando os conceitos de Hipcrates, que definiu a sade como o equilbrio
harmonioso dos elementos e das qualidades de vida e a doena como a desarmonia
desses elementos, Thomas Sybenham estendeu essa definio e definiu doena
como uma desarmonia sistemtica trazida tona devido s foras pertubadoras e
tambm que uma resposta adaptativa a essas foras poderia produzir alteraes
patolgicas.
Existem, porm, estados de estresse nocivos ao organismo e outros no. Hans
Selye criou os termos eutresse, para estados suaves e controlveis de homeostase
ameaada, que so percebidos como prazerosos e so estmulos positivos ao
crescimento emocional e intelectual; e distresse, que so situaes prolongadas e
incontrolveis de sofrimento psquico e fsico, podendo levar a um estado de doena.
Qualquer agente pode ser um agente estressor, dependendo do grau de sua
capacidade de produzir mudanas no especficas (estresse) e o organismo deve,
constantemente, estar se adaptando a essas mudanas.
Muitas doenas no so resultados direto da ao de agentes estressores, mas
sim conseqncias da incapacidade do corpo em enfrentar esses agentes atravs
de reaes adaptativas adequadas (doenas de adaptao).
Ainda, segundo o autor citado acima, quanto menos especfico for o agente
estressor atuante maior ser sua capacidade de produzir uma intensa sndrome de
242
estresse; ento, quando conseguimos, atravs das tcnicas de coping e manejo de
estresse, identificar qual o agente ou situao que est agindo como estressor,
criamos mudanas de comportamentos e evitamos as manifestaes psicolgicas
e fisilgicas do agente agressor.
A resposta ao estresse antagnica, pois ativa duas foras opostas (ataque e
retirada), cabendo ao corpo coordenar essa ao. Esse sistema de coordenao
o sistema nervoso e hormonal. Em ambos os sistemas h pares de antagonistas
pr e antidefesa. O primeiro conduz a mensagem de ao ou de ataque e o segundo
de relaxamento ou rendio.
O ser humano, ao longo de sua evoluo, desenvolveu uma enorme capacidade
adaptativa, mas o grau de adaptao que cada indivduo adquire varia de organismo
para organismo. observado, porm, que h poucas situaes de vida em que, por
meio do aprendizado e da prtica deste, no ocorre modificao.
baseado neste conceito que o ensinamento das tcnicas de manejo do estresse
coping, tcnicas de relaxamento, tcnicas de mudanas de hbitos de vida,
biofeedback, dentre outros ajuda no controle e no tratamento de sintomas
indesejados, sejam eles referentes a um estado de alterao emocional e/ou fsico.
TCNICAS DE COPING
O que coping? A palavra coping vem do ingls e significa lidar com,
poder com, lidar com alguma coisa de forma bem-sucedida, e que, dentro da
teoria do estresse, significa formas de lidar com situaes difceis. O coping
uma das formas de manejo de stresse. Muitas vezes no possvel anular os
agentes estressores da vida cotidiana, podemos, porm, aumentar as habilidades
pessoais de enfrentar essas situaes. As tcnicas de coping foram desenvolvidas
baseadas nos processos de avaliao cognitiva.
Diferenas individuais aparecem no tipo de reao empregada por um organismo
diante de um estresse ambiental, ou seja, o mesmo fator agressor pode desencadear
diferentes reaes fisiolgicas e comportamentais em cada indivduo, por exemplo:
o indivduo pode ficar ansioso, deprimido, angustiado, com reao de choro, de
desespero ou eufrico diante de um nico agente agressor.
Quanto mais deficientes forem as tcnicas de coping empregadas pelo indivduo
mais vulnervel ele estar diante das situaes difceis (medo, dor, preocupao e
outras).
Os processos de avaliao cognitiva so inmeros, nem sempre so conscientes
e diferem de pessoa para pessoa.
Algumas pessoas possuem maior habilidade em lidar com situaes difceis e
percebem a situao como menos agressora, tomando atitudes especficas a elas.
Podemos classificar, de forma mais simplificada, dois tipos de pessoas: aquelas
243
que possuem maior habilidade em lidar com situaes difceis (coping eficaz) e
aquelas que possuem essa habilidade diminuda ou no as usam de forma eficaz
(coping insuficiente). No primeiro grupo, diante do agente agressor, elas buscam
atitudes alternativas para solucionar o problema, acarretando menor prejuzo no
aspecto fsico e emocional; enquanto no outro grupo elas no conseguem
desenvolver solues possveis diante do agente agressor, permanecendo maior
tempo expostas situao de estresse, tendo um maior prejuzo fsico e emocional.
Segundo Rolroyd, indivduos com escores altos em formas de coping relatam
menores nveis de dor, maior limiar dor, maior nvel de exerccios fsicos e se
mostram mais colaborativos. Indivduos que acham que os esforos para lidar com
as dores (escores baixos em forma de coping) no tm nenhum efeito podem
aumentar a dor, apresentar depresso, ansiedade e maiores limitaes em suas
atividades fsicas e sociais.
Atravs de tcnicas especficas, podemos aumentar os escores de coping em
indivduos que no possuem habilidades suficientes para lidar com os diversos
agentes estressores e, a partir desse aprendizado, o indivduo poder amenizar os
efeitos do estresse do dia-a-dia, obtendo assim uma melhora na qualidade de vida.
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Dentre as vrias orientaes tericas de psicoterapia, a psicoterapia breve
indicada como complementao teraputica no tratamento das cefalias por enfocar
o trabalho em problemas especficos, ao invs da investigao generalizada de
toda a vida emocional da pessoa. So tratamentos de menor durao (variam de
trs a seis meses), mas nem por isso so tcnicas de menor eficcia.
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) se enquadra nas modalidades da
psicoterapia breve e tem se mostrado uma das tcnicas de psicoterapia mais eficiente
no tratamento das cefalias e com timas evidncias cientficas.
O modelo cognitivo afirma que o que determinante, em relao ao que o
indivduo sente, no a situao real em si (situao cotidiana, de uma patologia,
estressora, familiar, ou outras), mas o modo como o indivduo interpreta a situao,
ou seja, a resposta emocional intermediada pela percepo do indivduo perante
essa mesma situao.
Essa percepo geralmente permeada pelas emoes e crenas individuais
e, dependendo da histria pessoal, pode ser percebida de forma muito distorcida da
realidade. As crenas so to profundas que nem so articuladas racionalmente
pela pessoa; so tidas como verdades absolutas e influenciaro na percepo do
meio ambiente, nas atitudes, regras e suposies, gerando pensamentos automticos.
Esses pensamentos, por sua vez, geram sensaes e emoes que provocam
comportamentos especficos e reaes fisiolgicas no corpo.
244
Quando identificam-se esses pensamentos automticos, possvel provocar no
indivduo uma segunda viso, uma reflexo racional, e com isso reavaliar toda a
situao real, mudando comportamentos, controlando emoes e diminuindo, assim,
reaes fisiolgicas indesejveis decorrentes.
A TCC associa procedimentos verbais e de ao e tambm o emprego de
mtodos multidimensionais, possundo uma preocupao constante em direcionar
o foco teraputico na problemtica atual e envolvendo o paciente sempre como
co-responsvel no processo teraputico. O enfoque dessa modalidade teraputica
a soluo de problemas e, para isso, preciso que o indivduo identifique a
problemtica, avalie e pense em novas solues.
Em uma situao cotidiana, quando o indivduo se depara com uma situao
estressora e no consegue ter habilidades internas para lidar com o problema, um
conflito gerado podendo se manifestar de vrias formas: euforia, desespero,
angstia, ausncia de atitude, depresso e at desencadear manifestaes somticas.
O agente estressor, por sua vez, pode ser de origem interna (emoes, dores,
frustraes, desconforto, dentre outros) ou externa (situaes desagradveis
cotidianas: trnsito, brigas pessoais, e, no caso de pacientes migranosos, fatos como
barulho, cheiros especficos e a luminosidade podem ser encarados como agentes
estressores, pois desencadeiam as crises enxaquecosas) e nem sempre possvel
fazer com que esse agente desaparea. Mas possvel aumentar e/ou desenvolver
as habilidades de lidar com os problemas, ou seja, melhorar ou desenvolver tcnicas
efetivas de coping (manejo do estresse).
Muitas vezes o indivduo correlaciona certos eventos externos a emoes especficas,
ou seja, faz associaes entre uma situao e a emoo sentida quando a mesma foi
vivenciada. Essa emoo, porm, nem sempre positiva. A pessoa pode ter uma
experincia desagradvel, ter sentido medo diante dessa situao e isso ter servido de
desencadeante para toda uma reao emocional e fisiolgica decorrente da situao
ameaadora (essa situao pode servir tambm como desencadeadora de
manifestaes somticas de vrias patologias, dentre elas, uma crise de cefalia).
Algumas pessoas possuem maior dificuldade em descontextualizar a situao
vivida da emoo sentida e podem, depois, apresentar respostas condicionadas (a
mesma resposta, no exemplo: medo, para uma situao semelhante) ou antecipaes
(apresentam as mesmas reaes fsicas e/ou emocionais antes mesmo da situao
estmulo acontecer). Outras vezes a reao no condiz com a realidade. O
indivduo pode ter uma reao de medo em conseqncia de uma situao que no
apresente realmente perigo e isso sugere uma distoro do processo cognitivo de
interpretao do estmulo. Como diz Rang: o afeto e o comportamento so
determinados pelo modo de como o indivduo estrutura seu mundo. Suas cognies
(eventos verbais pictrios do sistema cosciente) medeiam as relaes entre os
impulsos aferentes do mundo externo e as reaes (sentimentos e comportamento).
245
Esquematizando essa idia, temos:
TCNICAS DE RELAXAMENTO
A palavra relax tem a sua origem na palavra latina relaxare, que significa
soltar. Quando tcnicas de relaxamento so praticadas, ns estamos liberando
tenso, soltando a musculatura, baixando estados de ansiedade e, com isso,
alcanando um estado de equilbrio fsico e emocional.
Os benefcios da prtica diria de tcnicais de relaxamento so vrios, dentre
eles, podemos citar a melhora da sade geral, a liberao de emoes indesejveis,
a obteno da clareza de pensamento, o aumento da disposio para realizao de
tarefas, melhora do padro do sono e das funes fisiolgicas.
Sabemos que as alteraes fisiolgicas e emocionais, como a ansiedade,
depresso, contraturas musculares, podem ser encontradas em pacientes com
cefalia, funcionando como desencadeantes ou potencializadores das crises de
246
cefalia. A prtica dessas tcnicas faz-se necessria, visto que os benefcios esto
integralmente associados a um estado de normalizao fisiolgica e emocional.
Vrios tratamentos no-farmacolgicos efetivos que ensinam habilidades para
lidar com a dor aumentam a participao e a responsabilidade do paciente no
tratamento. Biofeedback, relaxamento muscular progressivo e outras tcnicas de
relaxamento ensinam o indivduo a reconhecer e liberar a tenso fsica e emocional
que contribuem para a manifestao da crise de cefalia. A aquisio e o uso de
habilidades de auto-regulao e manuseio do estresse podem aumentar, no paciente,
a confiana na sua capacidade de lidar com a cefalia.
Existem diversas tcnicas de relaxamento, dentre elas, as mais utilizadas so:
Relaxamento progressivo (Tcnica de Jacobson)
Mtodo de Mitchel
Treinamento autgeno
Visualizao
Meditao
Baseados na literatura especializada e na prtica clnica, evidenciaremos as
tcnicas mais utilizadas no tratamento das cefalias, enfatizando suas caractersticas
e benefcios.
RELAXAMENTO PROGRESSIVO
Foi desenvolvido por Dr. Edmund Jacobson, no incio dos anos 20. Ele trabalhava
com a mensurao da atividade eltrica muscular e foi um dos primeiros a acreditar
que a ansiedade poderia ser manifestada atravs da tenso muscular e que, se
fosse possvel reduzir a resposta muscular, seria possvel tambm reduzir as
experincias de estresse.
Trata-se de uma tcnica muito concreta e de fcil utilizao, possuindo um papel
importante nas pessoas com dificuldade de concentrao. Atravs dela, o paciente
aprende a perceber a diferena entre tenso e relaxamento, uma vez que o estado
de tenso em algumas pessoas constante e percebido, por ela, como normal.
A tcnica consiste na contrao e no relaxamento de vrios grupos musculares
de forma lenta e orientada, sendo que cada grupo muscular trabalhado de forma
progressiva, associando-se tambm tcnicas de respirao profunda, o que otimiza
o processo de relaxamento progressivo.
Podemos citar, como benefcios dessa prtica a diminuio da tenso muscular
corporal, a obteno de um equilbrio emocional, diminuio de ansiedade e,
conseqentemente, melhora do sono.
TREINAMENTO AUTGENO
Desenvolvido por Johannes Schultz e Wolfgang Luthe na dcada de 30. Trata-
se de um mtodo de relaxamento que se utiliza das capacidades curativas da mente
e do poder de sugesto.
247
Este mtodo envolve diretrizes mentais repetitivas e alta concentrao nessas
mesmas diretrizes, at que se consiga a obteno da resposta corporal, como por
exemplo: a repetio mental da frase meus ombros esto soltos e relaxados e,
atravs desse pensamento e repetio, desenvolver a percepo e a sensao de
que o seu ombro est realmente relaxado.
Como benefcios da utilizao desta tcnica podemos citar: relaxamento completo
da mente e do corpo, diminuio da tenso e da fadiga muscular, melhora no
desempenho do trabalho, pois aumenta a capacidade de concentrao, melhora do
sono e de estados ansiosos.
T CNICAS DE VISUALIZAO
A chave para o processo do trabalho com visualizao encontra-se nas conexes
entre emoes, sensaes e imagens. A sugesto aqui visual e, dependendo da
tcnica utilizada, as sugestes de imagens sero induzidas pelo terapeuta ou pelo
prprio paciente.
A terapia por imagens enfatiza que o paciente possui participao no processo de
alvio dos sintomas, pois ajuda a descobrir e utilizar recursos prprios para alcanar um
estado de relaxamento, facilitando e potencializando os tratamentos mdicos em curso.
Como exemplo, podemos citar um dos mtodos de visualizao do Dr. Gerald Epstein
para o auxlio do tratamento oncolgico, em que o paciente orientado a criar imagens
a respeito de clulas do sistema imunolgico lutando contra clulas cancerosas.
Observam-se bons resultados dessa tcnica no uso peditrico, uma vez que as
crianas possuem boa capacidade imaginativa, encarando a prtica da visualizao
de forma ldica e colaborativa.
Outras formas de relaxamento so encontradas na especialidade da fisioterapia.
Uma vez encontradas alteraes musculares como contraturas, trigger points e
rigidez articular, as seguintes formas de tratamentos podem ser utilizadas:
E LETROESTIMULAO
A mais conhecida a TENS (Trascutaneus Electric Nerve Estimulation) que
libera uma corrente eltrica induzindo a produo de substncias naturais produzidas
pelo crebro, como as endorfinas; correntes interferenciais, que alm de serem
analgsicas, tambm desempenham um papel importante no relaxamento da
musculatura; corrente combinada, que uma associao interferencial com o ultra-
som, tendo como funo a desativao dos triggers points miofaciais; formas de
calor, podendo ser superficial ou profundo, proporcionando um relaxamento muscular.
TCNICAS MANUAIS
A osteopatia e a quiropraxia, difundidas nos Estados Unidos e Europa, consistem
em uma manipulao articular rpida e de pouca amplitude, visando a normalizao
da funo articular; ressaltamos que, antes da manipulao ser executada, devem-se
248
realizar testes especficos para saber se a manipulao pode ser realizada ou no
nesse paciente; terapia manual consiste em um relaxamento muscular atravs do
alongamento da musculatura; outras tcnicas manuais como a RPG (reeducao
postural global), cadeias musculares, massoterapia, tambm fazem parte dos
recursos empregados pela fisioterapia, que podem colaborar no tratamento no-
medicamentoso das cefalias.
ATIVIDADE FSICA REGULAR
Promove um relaxamento muscular, aumenta a liberao de endorfina, aumenta
a capacidade cardiorespiratria, proporcionando equilbrio nas funes fisiolgicas.
BIOFEEDBACK
O biofeedback baseado no sistema de retroalimentao, ou seja, definido
como um processo ou tcnica para o aprendizado do controle voluntrio sobre os
msculos e funes corporais reguladas pelo sistema nervoso autnomo.
Utilizam-se instrumentos para monitorar respostas fisiolgicas de forma que o
paciente e o terapeuta, durante a prtica da sesso, observem se h mudanas
reais quantitativas mostradas no monitor do aparelho, sendo possvel assim saber
se o paciente est realizando o trabalho de relaxamento de forma eficaz e precisa.
Esse instrumento permite a obteno de dados objetivos em relao a uma
resposta adaptativa. O relaxamento uma experincia muito subjetiva e o indivduo
pode estar se sentindo relaxado, mas no est reduzindo o seu nvel de estresse
interno, em outras palavras, sem a modificao fisiolgica real, o indivduo pode se
sentir mais relaxado, mas os sintomas iro persistir.
A instrumentalizao do biofeedback fornece informaes imediatas sobre o
funcionamento do corpo (informao essa que pode ser convertida na forma de
som, luz, grficos computadorizados, dependendo do tipo de aparelho utilizado.
Processos fisiolgicos que normalmente so mensurados incluem reatividade
muscular, temperatura das mos, batimentos cardacos, resposta galvnica da pele
e padres de ondas cerebrais.
Atravs da prtica de diferentes tcnicas de relaxamento, o indivduo adquire
habilidade para treinar seu corpo para reduo dos nveis elevados de tenso e,
assim, aumentar sua capacidade funcional adaptativa.
O objetivo do treinamento com biofeedback proporcionar o aprendizado de
tcnicas de relaxamento e estratgias de auto-regulao, para que o paciente
provoque mudanas fisiolgicas objetivas e reais. um processo de aprendizado
consciente que o indivduo inclui em sua rotina de atividades dirias.
O tratamento consiste basicamente de 10 a 12 sesses, realizadas em um
ambiente apropriado, em que o paciente fica confortavelmente reclinado em uma
249
poltrona, acoplado aos aparelhos durante toda a sesso e monitorado por um
terapeuta especializado. Uma vez dominada a tcnica, o paciente est capacitado
para dar continuidade a este trabalho, desenvolvendo, cada vez mais, seu autocontrole
diante de agentes estressores do dia-a-dia, possuindo assim mais um recurso para
a obteno de alvio de dor.
CONCLUSES
Conforme exposto nesse captulo, podemos utilizar todas essas tcnicas,
salientamos, porm, que, para que o paciente tenha um tratamento de excelncia,
este deve ser acompanhado por profissionais qualificados para o manejo dessas
tcnicas garantindo, assim, a segurana e a eficcia da utilizao.
Para que isso acontea de forma integrada, facilitando inclusive o acesso a
esse tratamento de excelncia, seria extremamente desejvel que equipes multidisci-
plinares tratassem de pacientes com cefalia. Esse tipo de equipe favorece a
comunicao interprofissional, facilitando inclusive a relao mdicopaciente,
proporcionando a participao ativa do prprio paciente no seu tratamento, no
sobrecarregando um nico profissional.
Lembramos tambm que o paciente no est restrito a sua patologia, mas sim
envolvido no seu trabalho, com a sua famlia, sua situao financeira e sua crena;
da a importncia de estarmos realizando um trabalho conjunto com os familiares e
responsveis, no sentido de orientao e acolhimento, bem como salientar ao
paciente a importncia dos cuidados em prol da sade, ou seja, o carter preventivo,
como uma boa alimentao, prtica de atividade fsica, momentos de lazer e diverso,
vida profissional e familiar satisfatrias.
Acreditamos, assim, que com um trabalho profissional e dedicado e com o
esclarecimento e colaborao do paciente, o tratamento da cefalia tornar-se eficaz,
proporcionando enfim um alvio dos sintomas e melhora do estado de sade geral
do paciente.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Beck JS. Terapia Cognitiva Teoria e Prtica. So Paulo: Editora Artes Mdicas Sul, 1995.
Caballo VE. Manual de Tcnicas de Terapia e Modificao do Comportamento. So Paulo:
Santos Livraria Editora, 1999.
Chrousos GP, Gold PW. Os conceitos e distrbios da homeostase fsica e comportamental.
JAMA 1993;3(suppl 1):479-489.
Davis M, Eshelman ER, Mckay M. Manual de Relaxamento e Reduo de Stress. So Paulo:
Summus Editorial, 1996.
Lazarus RS, Folkman S. Cognitive Appraisal Process. In: Stress Appraisal and Coping. New
York: Springer Publishing Company, 1984.
250
Mander G. Cognitive Psychology. New Jersey: Lawrence Erlbaum Publishers, 1985.
Mello FoJ. Psicossomtica Hoje. Porto Alegre: Editora Artes Mdicas Sul, 1992.
Rang B (org.). Psicoterapia Comportamental e Cognitiva Pesquisa, Prtica, Aplicaes e
Problemas. Campinas: Editorial Psy, 1998.
Rang, B (org). Psicoterapia Comportamental e Cognitiva de Transtornos Psiquitricos.
Campinas: Editorial Psy, 1998.
Selye H. The Stress of Life. New York: McGraw-Hill Book Company Inc, 1956.
Vasconcellos EG. Teoria de Stress (vol. 1 e 2). Apostilas do Curso de Ps-Graduao em
Psiconeuroimunologia do Instituto Paulista de Stress, Psicossomtica e Psiconeu-
roimunologia - IPSPP (no publicadas). So Paulo, 1996.
Vasconcellos EG. Teorias de Coping. Conceitos Bsicos de Stres Teorias e Experimentao
Cientfica no Campo da Psicologia Social. Apostila do Curso de Ps-Graduao em
Psiconeuroimunologia do Instituto Paulista de Stress, Psicossomtica e Psiconeu-
roimunologia IPSPP (no publicado). So Paulo, 1999.
Vickers A, Zollman C. ABC of complementary medicine. Hypnosis and relaxation therapies.
BMJ 1999;319:1346-1349.
Zimmerman BJ, Schunk DH. Self Regulated Learning and Academic Archievement Theory,
Research and Practice. New York, yansiedade e depresso: Springer -Verlag, 1989.
251
12
TRATAMENTO ALTERNATIVO
DAS CEFALIAS
Yra Dadalti Fragoso
ACUPUNTURA
Pela sua prpria caracterstica de aplicao, a acupuntura praticamente
impossibilita a existncia de estudos duplo-cegos. Indiscutivelmente eficaz na
melhora de uma variada condio de dores crnicas, a acupuntura vem sendo
avaliada em cefalias e os resultados so conflitantes. Mais uma vez, podemos
estar diante de uma mistura de cefalias crnicas, todas catalogadas como uma
mesma cefalia. Em pacientes cuja resposta acupuntura foi boa, o resultado
tende a ser de mdio a longo prazo, o que muito satisfaz o paciente. Poucos
estudos com medicamentos profilticas na migrnea relatam seguimento to longo
do paciente aps a retirada do medicamento, ao contrrio dos raros estudos
realizados com acupuntura, nos quais este detalhe tem sido considerado com
maior cuidado.
256
OUTROS MTODOS
Estimulaes magntica, eltrica e por radiofreqncia so cada vez mais
populares no tratamento da dor crnica. Hipnoterapia, massagens orientais,
manipulao cervical, estimulao de pontos do crnio, reflexologia, mudana de
temperatura corporal, relaxamento e meditao tm sido descritos como eficazes
no tratamento da cefalia crnica, porm nada existe que substancie essas
afirmaes. Os raros estudos feitos com anlise dessas tcnicas falham na
metodologia e, conseqentemente, so criticados pelos mdicos mais tradicionais.
Em seqncia, os terapeutas desses mtodos afastam-se mais ainda dos estudos
cientficos e no vm finalidade em colocar seus mtodos de tratamento sob o
escrutnio da medicina baseada em evidncia. Fecha-se o crculo vicioso dos
tratamentos baseados em experincias e preconceitos individuais, que s pode
prejudicar o paciente que procura esclarecimentos imparciais. Essa atitude
antagnica poder mudar em breve, com uma nova gerao de mdicos treinada
especificamente para a implantao de metodologia cientfica apurada na execuo
e na interpretao de resultados dos estudos conduzidos com medicina alternativa.
CONCLUSO
Tratamentos no-medicamentosos, fitoterapia e homeopatia podem ter seu papel
no tratamento da cefalia crnica. No devem ter papel alternativo ao tratamento
habitual, mas podem ser complementares em determinadas fases do tratamento.
Embora muitos destes mtodos ainda necessitem de validao cientfica, sua
aceitabilidade pelos pacientes no pode ser ignorada. Indubitavelmente, as mudanas
dos hbitos de vida que levam a horrios regulares de sono e alimentao, reduo
de abusos com tabaco e lcool, e exerccios regulares tm valor importante na
melhora da dor crnica, especialmente na cefalia. Sensveis a mudanas drsticas
do seu ambiente, indivduos migranosos freqentemente melhoram de suas crises
com as simples mudanas de hbitos de vida. Deve ser ressaltado que durante os
tratamentos alternativos os pacientes so vistos em consultas mais freqentes,
com durao maior do que aquelas dedicadas pela maioria dos mdicos. Assim,
no to surpreendente que a terapia alternativa tenha ganho tanto espao e que
os resultados sejam satisfatrios em tantos indivduos. O contnuo reforo de estar
sendo tratado de uma doena leva conscientizao do problema e, por si, s
mudanas dos hbitos de vida. Um paciente que se sinta bem tratado, bem atendido
e seguro de seu diagnstico estar satisfeito e com maior chance de melhora
clnica. A sensao do ganho de controle sobre a doena parte importante do
tratamento. De forma geral, os tratamentos no-farmacolgicos fazem uso deste
reforo contnuo, enquanto as consultas mdicas mensais ou bimensais falham em
garantir tal suporte ao paciente.
257
AGRADECIMENTOS
Aos colegas Renato Mayol e Nilton Volquind, cujo interesse pela medicina
complementar foi um incentivo na elaborao deste material.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Alcock JE. Alternative medicine and the psychology of belief. Scientif Review of Alt Med
1999;3:45-50.
Angell M, Kassirer JP. Alternative medicine: the risks of untested and unregulated medicines.
N Engl J Med 1998;339:839-841.
Astin JA. Why patients use alternative medicine: results of a national study. JAMA
1998;279:1569-1575.
Astin JA, Marie A, Pelletier KR, Hansen E, Haskell WL. A review of the incorporation of
complementary and alternative medicine by mainstream physicians. Arch Intern Med
1998;158:2303-2310.
Astin JA, Shapiro SL, Lee RA, Shapiro Jr DH. The construct of control in mind-body
medicine: implications for healthcare. Altern Ther Health Med 1999;5:42-47.
Baischer W. Acupunture in migraine: long-term outcome and predicting factors. Headache
1995;35:472-474.
Beyerstein BL. Alternative medicine. Where is the evidence? Can J Public Health 1997;
88:149-150.
Drew AK, Myers SP. Safety issues in herbal medicine: implications for the health professions.
Med J Aust 1997;166:538-541.
Eaton J. Butterbur, herbal help for migraine. Natural Pharmacy 1998;10:23-4.
Evans RW. Patients resources, educational materials and alternative treatments. In: Evans
RW, Mathew NT (eds.). Handbook of Headache. Philadelphia:Lippincott-Williams &
Wilkins, 2000; pp. 297-306.
Knight D. Feverfew: chemistry and biological activity. Natural Products Report 1995;12:271-276.
Ko RJ. Adulterants in Asian patent medicines. N Engl J Med 1998;339:847.
Linde K, Clausius N, Ramirez G, Melchart D, Eitel F, Hedges LV, Jonas WB. Are the clinical
effects of homeopathy placebo effects? A meta-analysis of placebo-controlled trials.
Lancet 1997;350:834-843.
Meeker WC. Public demand and the integration of complementary and alternative medicine
in the USA health care system. J Manipulative Physiol Ther 2000;23:123-126.
Melchart D, Linde K, Weidenhammer W, Worku F, Wagner H. The integration of natural
healing procedures into research and teaching at German universities. Altern Ther
Health Med 1995;1:30-33.
Melchart D, Linde K, Fischer P, White A, Allais G, Vickers A, Berman B. Acupunture for
recurrent headaches: a systematic review of randomized clinical trials. Cephalalgia
1999;19:779-786.
258
Melis PMI, Rooimans W, Spierings ELH, Hoogduin CAI. Treatment of chronic tension type
headache with hypnoteraphy: a single blind time controlled study. Headache
1991;31:686-689.
Mitzdorf U, Beck K, Horton-Hausknecht J, Weidenhammer W, Kindermann A, Takacs M,
Astor G, Melchart D. Why do patients seek treatment in hospitals of complementary
medicine? J Altern Complement Med 1999;5:463-473.
Primavera III JP, Kaiser RS. Non-pharmacological treatment of headache: is less more?
Headache 1992;32:393-395.
Rothblatt MD. Cranberry, feverfew, horse chestnut and kava. Best Practice 1999; 171:195-
198.
Sinclair S. Migraine headaches: nutritional, botanical and other alternative approaches.
Altern Med Rev 1999;4:86-95.
Vogler BK, Pittler MW, Ernst E. Feverfew as a preventive treatment for migraine: a systematic
review. Cephalalgia 1998;18:704-708.
259
13
CEFALIA NOS TRAUMATISMOS
CRANIOENCEFLICOS
Norma Regina Pereira Fleming
Jano Alves de Souza
INTRODUO
Os traumatismos cranioenceflicos (TCE) constituem um grave problema de
sade pblica em vrios pases do mundo. Os TCE leves apresentam incidncia
alta e, ao contrrio do que se imaginava, podem originar seqelas crnicas em uma
parcela significativa de indivduos.
Entre as seqelas dos TCE leves encontra-se a sndrome ps-traumtica (SPT),
um conjunto de sinais e sintomas somticos, cognitivos, emocionais e comportamentais,
dentre os quais a cefalia, objeto principal deste captulo, o mais proeminente. A
sndrome ps-traumtica ocorre em indivduos com exame neurolgico normal e sem
leses macroscpicas ao exame patolgico. H muito tempo a sndrome ps-traumtica
vem sendo objeto de discusso entre os que acreditam em uma etiologia orgnica e os
que defendem uma origem neurtica ou simulatria, sendo esta ltima hiptese a que
prevaleceu entre a comunidade cientfica at a primeira metade do sculo XX. Somente
a partir do final da dcada de 1960, graas ao avano da neuropatologia, da neuropatologia
experimental e da neuropsicologia, tm surgido evidncias de que a sndrome ps-
traumtica seja de fato resultado de disfuno orgnica enceflica.
CLASSIFICAO
Os TCE podem ser classificados segundo vrios critrios:
a) quanto ao tipo de leso craniana (abertos ou fechados); nesse caso, os
TCE leves fariam parte dos traumas fechados;
b) quanto leso enceflica demonstrada pelo exame patolgico (contuses
ou concusses); os TCE leves no revelam alteraes estruturais;
c) sob o ponto de vista clnico, o qual leva em considerao o grau de
comprometimento do nvel de conscincia.
A avaliao do nvel de conscincia pode ser feita utilizando-se a Escala de Coma
de Glasgow (Tabela 13.1). Proposta em 1974 por Teasdale & Jennet, essa escala
avalia o paciente em trs itens abertura dos olhos, resposta motora e resposta verbal
obtendo-se ao final um somatrio de pontos, no qual os TCE leves ficariam entre 13 e
15 pontos. Recentemente, o uso da Escala de Coma de Glasgow como nico critrio
para a classificao dos TCE vem sendo criticado, principalmente por sua pouca
sensibilidade para revelar graduaes de gravidade entre os TCE mais leves.
263
A IHS reservou o captulo 5 para as cefalias relacionadas ao trauma craniano,
excluindo as cefalias preexistentes que se acentuam com os traumatismo, as dos
hematomas intracranianos e as da hidrocefalia ps-traumtica. Nesta classificao,
a cefalia ps-traumtica foi dividida nas formas aguda, quando a durao no
ultrapassa 8 semanas, e crnica, quando persiste por um tempo maior.
As cefalias ps-traumticas agudas e crnicas foram tambm classificadas,
de acordo com as caractersticas do TCE que as originou, em:
secundrias a traumatismos da cabea significativos ou com sinais compro-
batrios;
secundrias a traumatismos da cabea no-significativos e sem sinais
comprobatrios.
Consideram-se critrios de trauma craniano significativo:
1. Perda de conscincia.
2. Amnsia ps-traumtica durando mais de 10 minutos.
Consideram-se sinais comprobatrios os achados de anormalidades significativas
em pelo menos dois dos seguintes:
1. Exame neurolgico.
2. Radiografia de crnio.
3. Exames de neuroimagem.
4. Potenciais evocados.
5. Exame de fluido cerebroespinal.
6. Provas de funo vestibular.
7. Testes neuropsicolgicos.
A classificao determina a caracterizao das cefalia ps-traumtica de acordo
com o tipo de dor, isto , se a dor apresenta-se com caractersticas de migrnea, do
tipo tensional, em salvas, por hipertenso intracraniana, por hipotenso intracraniana,
do tipo leso local, por vasodilatador, em facada, de outro tipo e de dois ou mais tipos.
FISIOPATOLOGIA
A partir do final da dcada de 1960 tm surgido evidncias de que a sndrome
ps-traumtica seria resultado de disfuno orgnica cerebral e no uma alterao
emocional, neurtica e simulatria.
Diante de tanta discordncia e novos achados fisiopatolgicos, provavelmente
a sndrome ps-traumtica no provocada por uma nica causa e sim por um
conjunto de alteraes patolgicas que ocorrem no crebro de um indivduo
submetido TCE. Quando falamos de um indivduo, no podemos perder de vista
sua singularidade e inter-relao com o meio, gerando expectativas que podem
ser, e muitas vezes so, modificadas pelas alteraes decorrentes do TCE leve, da
sndrome ps-traumtica e da cefalia ps-traumtica.
264
As alteraes da injria cerebral provocam deficincias cognitivas, alterao
do sono e alteraes psicolgicas. Young e Packard acreditam que a cefalia
predominantemente uma manifestao da disfuno cerebral, ocasionalmente
agravada pela injria musculoesqueltica persistente. A cefalia aguda pode ser
provocada por leso de tais estruturas tanto do pescoo quanto da mandbula e
dos tecidos do escalpo. Esses estmulos musculoesquelticos podem provocar
alteraes neuroplsticas nos neurnios do ncleo caudalis trigeminal, promo-
vendo o fenmeno do wind-up e a sensibilizao. O estmulo repetido da fibra C
perifrica leva ao aumento da atividade do corno dorsal, resultando em uma
descarga prolongada, o que seria o fenmeno de wind-up. Com a continuao,
haveria uma sensibilizao dos neurnios do corno dorsal e de outras reas da
via somatossensitiva, refletindo em aumento da atividade espontnea, reduo
do limiar, aumento da resposta aos estmulos aferentes, e gerando ps-descargas
prolongadas a estmulos repetidos e expanso do campo receptivo perifrico dos
neurnios do corno dorsal. Essa expanso do campo receptivo tambm foi
observada, em estudo experimental, nos neurnios trigeminais do tronco aps
estmulo qumico dos aferentes craniofaciais profundos. Tais fenmenos podero
responder pelas sndromes de dor cervical e talvez pela prpria cefalia ps-
traumtica.
O trauma craniano pode provocar leses cerebrais focais e difusas refletindo
mecanismos fisiopatolgicos distintos. Consideram-se leses focais a contuso
cerebral, os hematomas intracranianos, a hemorragia e o infarto do tronco cerebral
secundrios hipertenso intracraniana.As leses difusas so geralmente micros-
cpicas, distribudas por uma maior extenso do encfalo e consistem em leso
axonal difusa (LAD), leso cerebral hipxica, tumefao cerebral difusa e leso
vascular focal mltipla.
Dois so os mecanismos responsveis pela maioria dos TCE no-penetrantes:
impacto e desacelerao. No impacto, a cabea golpeada por algum objeto e a
aplicao de uma fora sobre uma rea relativamente pequena provoca leses
focais como lacerao do couro cabeludo, fratura do crnio, hematoma extradural
e algumas formas de contuso e hemorragia. Na acelerao-desacelerao, o
tecido nervoso submetido a tenso e toro em conseqncia das foras de
cisalhamento que se formam pelos gradientes de presso intracraniano e intrace-
rebral provocados pelo trauma cintico, sendo responsvel pelos hematomas
subdurais agudos e pela LAD.
Atualmente j se tem estabelecido que a LAD pode ocorrer imediatamente
aps o trauma intracraniano, mesmo quando este no leva ao coma. A LAD
caracteriza-se por trs alteraes estruturais fundamentais:
leso hemorrgica do corpo caloso, geralmente com 2 a 3 mm e preferen-
cialmente na poro inferior;
265
leso hemorrgica do tronco cerebral, consistindo em reas de necrose
isqumica e hemorragias petequiais ou micro-hemorragias localizadas na
poro dorsolateral da ponte e do mesencfalo;
alteraes morfolgicas axonais, que so as mais importantes da LAD e s
podem ser identificadas microscopia, compondo-se de trs elementos:
esferides de retrao, cachos de microglia e degenerao walleriana.
Pela rotao no-sincronizada que pode ocorrer entre o hemisfrio cerebral e o
cerebelo, os axnios da poro superior do tronco cerebral podem ser particular-
mente vulnerveis LAD. Os axnios do tronco que so submetidos fora de
cisalhamento so responsveis pela manuteno do despertar, da viglia e do sono.
Nesta rea tambm esto localizadas as projees serotoninrgicas do controle da
dor e o possvel centro da migrnea, onde ambos poderiam ser lesados, resultando
em cefalia.
Young e Packard, em 1997, fizeram uma correlao entre as similaridades das
alteraes bioqumicas da migrnea e do TCE leve, incluindo aumento extracelular
de potssio e intracelular de sdio, clcio e cloro, e liberao excessiva de ami-
nocidos excitatrios, alm de alteraes de serotonina, opiides endgenos e xido
ntrico. Essas alteraes poderiam sugerir que ambas desordens compartilhariam
a fisiopatologia e, provavelmente, tambm o tratamento.
MANIFESTAES CLNICAS
A sndrome ps-traumtica tem incio imediatamente aps ou passadas algumas
semanas do TCE, que pode ser dos mais variados nveis de gravidade. No
necessrio haver perda de conscincia para seu desenvolvimento.
A cefalia o mais proeminente sintoma da sndrome ps-traumtica. Outras queixas
freqentes incluem tonteira, fadiga, irritabilidade, ansiedade, insnia, reduo da
concentrao, reduo da memria e hipersensibilidade a rudos. Entre as queixas
menos comuns esto a vertigem, hipoacusia, mudanas de personalidade, diminuio
da libido, diminuio do apetite, lentificao do pensamento e dificuldade para processar
informaes. Tonteira inespecfica e episdica, alm de vertigem posicional, so queixas
comuns nos pacientes com sndrome ps-traumtica. Apesar da riqueza de sintomas, o
exame neurolgico normal ou no apresenta alteraes compatveis com as queixas.
Os sintomas da sndrome ps-traumtica so comuns, mas pouco relatados.
Somente 59% dos pacientes hospitalizados com leso ceflica tiveram queixa de
sndrome ps-traumtica espontaneamente e, aps 6 meses, somente 33% volunta-
riamente tiveram tais queixas. Na amostragem de Souza, em 1997, foram
encontrados nos 27 pacientes as seguintes queixas: irritabilidade em 59,2%, tonteira
em 51,8%, insnia em 48,1%, ansiedade em 44,4%, reduo da memria em 40,7%,
fadiga em 37%, reduo da concentrao em 29,6%, intolerncia a rudos em
266
11,1%, estalos da ATM em 7,4%, alterao da personalidade, lentificao do
pensamento, hipersonia e turvao visual em 3,7%, respectivamente.
A cefalia ps-traumtica pode manifestar-se isoladamente ou compondo a
sndrome ps-traumtica. No existe uma forma caracterstica de cefalia ps-
traumtica, podendo ser divididas em agudas e crnicas, como j citado anterior-
mente. Souza encontrou em sua amostra cefalia ps-traumtica de incio agudo,
no mesmo dia do TCE, em 51,8% dos pacientes, iniciando entre o 2o e o 7o dias em
14,8%, e entre o 8o e o 14o dias em 31,3%.
CEFALIAS PS-TRAUMTICAS AGUDAS
Podem surgir, de 24 a 48 horas aps a leso ceflica, dores no pescoo e nos
ombros, enquanto dolorimento occipital ocorre imediatamente. Entretanto, na prtica
clnica, geralmente difcil determinar quando a cefalia inicia agudamente, porque
a dor na cabea pode ser fraca em relao s outras algias, principalmente no pescoo.
Crises de migrnea desencadeadas pelo TCE foram descritas primeiramente
por Mathews, em 1972, em cinco pacientes. Apresentavam episdios repetidos de
migrnea com aura desencadeada por TCE em jogos de futebol ou outras circuns-
tncias, chamando-a de migrnea dos jogadores de futebol.
As sndromes neurolgicas agudas juvenis relacionadas a TCE leves ocorrem
em crianas, adolescentes e adultos jovens minutos ou horas aps TCE leves.
Consistem em quadros neurolgicos transitrios que, pela proeminncia dos sinais,
so freqentemente confundidos com hematoma intracraniano decorrente do
traumatismo. Os exames complementares so negativos e a evoluo, salvo raras
excees, tambm benigna sem deixar seqelas, o que atesta o carter benigno
deste fenmeno. Quatro so as sndromes descritas:
hemiparesia (Pickles, 1949);
sonolncia, irritabilidade e vmitos (Schinitker, 1949);
amaurose (Essen-Moller, 1942);
sinais de acometimento do tronco cerebral (Haas et al., 1975).
No trabalho de Haas, em1975, foi confirmada a correlao entre esses quadros
e a migrnea.
Em 1986, Haas e Ross apresentaram nove pacientes, com idade entre 11 e 28
anos, com quadro de amnsia global transitria desencadeada por TCE leves e
consideraram que esta deve ser uma quinta forma de manifestao neurolgica
transitria aguda nos TCE leves. A correlao entre a amnsia global transitria e
a migrnea um fato bem estabelecido.
CEFALIAS PS-TRAUMTICAS CRNICAS
Podemos encontrar cefalias ps-traumticas que preenchem critrios da SIC
de vrios tipos de cefalias primrias, como migrnea, cefalia do tipo tensional (CTT),
267
cervicognica e salvas. Tambm podemos encontrar outros tipos de cefalias
secundrias ao trauma, como cefalia de hipotenso liqurica, neuralgia occiptal,
supra-orbitria ou infra-orbitria, neuroma local ou mista, cefalia no local da leso
e cefalias disautonmicas ps-traumticas.
A freqncia de apresentao desses tipos de cefalia varivel, dependendo
das amostras estudadas. Haas, em 1995, encontrou em 30 pacientes com cefalia
ps-traumtica: 12 com cefalia do tipo tensional crnica (CTTC), 8 com migrnea,
2 com cefalia por abuso de analgsico, 7 com provvel cefalia por abuso de
analgsico e 1 no classificvel (Haas, 1995). Souza , em 1996, estudou 27 pacientes
com cefalia ps-traumtica: 15 com migrnea sem aura, 13 com CTTC, 4 com
migrnea com aura, 3 com cefalia cervicognica, 1 com cefalia do tipo tensional
episdica (CTTE) e 1 com alguns episdios de migrnea basilar.
Podemos encontrar, ento, migrnea com ou sem aura desencadeada pelo
trauma. Weiss et al., em 1991, avaliaram 35 pacientes adultos com episdios
recorrentes de migrnea com ou sem aura aps TCE leves, e vrios desses pacientes
apresentaram muitos sintomas prprios da sndrome ps-traumtica. A anlise dos
casos demonstrou uma faixa etria mais alta que a habitual para o incio da enxa-
queca. Outros pacientes tm quadros clnicos de migrnea transformada.
A cefalia cervicognica caracteriza-se por dor hemicraniana que no apresenta
mudana de lado entre as crises ou na mesma crise, geralmente iniciando em
regio occipital e estendendo-se at regio frontal, temporal ou periorbitria, onde
torna-se mais intensa. Outros elementos comuns na cefalia cervicognica so a
existncia de um ponto doloroso na transio occiptonucal homolateral dor, os
sinais de comprometimento cervical e a dor desencadeada por movimentos do
pescoo,z melhorando com bloqueio anestsico dos nervos occipitais. A histria de
TCE bastante freqente, sendo considerada um dos critrios importantes porm
no indispensveis para o diagnstico.
A cefalia em salvas aps TCE leve pode ocorrer em at 10% dos pacientes,
segundo algumas amostras, ou ser rara. Souza no encontrou nenhum caso em
sua amostra. O primeiro estudo em que ficou estabelecida uma correlao temporal
evidente entre o TCE e a cefalia em salvas parece ter sido o de Reik, em 1987.
Neste trabalho foram apresentados quatro pacientes que no possuam qualquer
tipo cefalia recorrente previamente e que passaram a apresentar cefalia em
salvas dias a semanas aps o TCE.
Dor neurlgica na regio frontal ou occipitocervical pode ocorrer, podendo estar
associada a outros tipos de cefalia.
As cefalias ps-traumticas disautonmicas so um grupo de cefalias recor-
rentes que compartilha o incio do quadro lgico aps TCE e/ou traumatismos do
pescoo, com alteraes autonmicas envolvendo as funes pupilar, lacrimal e
sudomotora da face. H trs formas conhecidas. O primeiro tipo, descrito por Vijayan
268
e Dreyfuss em 1975, caracteriza-se por cefalia vascular recorrente associada, nos
momentos de crise, sudorese excessiva da face e dilatao pupilar. Nos cinco
pacientes estudados por esses autores, a cefalia surgiu aps trauma na regio do
trgono anterior do pescoo e da bainha da cartida. A cefalia foi descrita como
hemicraniana, restrita ao lado da leso, pulstil e de grande intensidade, assemelhando-
se migrnea. Os testes farmacolgicos revelaram evidncias de desnervao
simptica parcial. O segundo tipo foi descrito por Khurana e Nirankari em 1986, em
dois indivduos com chicote cervical. Os casos assemelhavam-se aos anteriores,
exceto pelo fato de serem bilaterais. Os autores atriburam a existncia de uma
forma com hiperatividade simptica nas crises, ao lado de outras com hipoatividade.
O terceiro tipo foi identificado por Khurana em 1990, em um paciente, aps TCE que
cursou com hematoma frontal e pequena contuso temporal esquerda por contragolpe,
desenvolvendo crises de cefalia acompanhadas de ptose, miose e hiperidrose crnica
na regio mediofrontal direita.
DIAGNSTICO
A IHS estabeleceu critrios diagnsticos para cefalia ps-traumtica, sendo
includos neste grupo aqueles pacientes que desenvolvem uma nova forma de
cefalia, incluindo migrnea, cefalia do tipo tensional ou cefalia em salvas, aps
um trauma craniano. Tambm determina que esta cefalia deve ocorrer em menos
de 14 dias aps recuperao da conscincia ou aps o trauma, se no houver
perda de conscincia. O que diferencia a cefalia ps-traumtica aguda da crnica
que na aguda a dor dever desaparecer em at 8 semanas, e na crnica persistir
por mais de 8 semanas.
O diagnstico diferencial dever ser feito com hematoma subdural ou epidural,
hipotenso liqurica, trombose venosa cerebral e de seio cavernoso, disseco das
artrias cartida e vertebral, hemorragia cerebral, epilepsia e hidrocefalia.
A sndrome ps-traumtica e a cefalia ps-traumtica cursam com exame
neurolgico normal. Assim, diversos mtodos de investigao diagnstica tm sido
estudados objetivando confirmar o carter orgnico dos sintomas.
A tomografia computadorizada (TC) de crnio raramente mostra alterao no
TCE leve. A TC de alta resoluo realizada na fase aguda do TCE capaz de
mostrar alteraes compatveis com o que se conhece, pela patologia, sobre as
formas mais graves da LAD, que so hemorragias puntiformes do corpo caloso,
pednculo cerebelar superior, ncleos da base e regio periventricular. Ento, a
TC tem pouco valor no TCE cuja Escala de Coma de Glasgow igual a 15 e sem
qualquer alterao no exame neurolgico. Por outro lado, deve ser realizada sempre
que a Escala de Coma de Glasgow tenha resultado diferente de 15 ou que houver
sinais focais no exame neurolgico.
269
A ressonncia nuclear magntica (RNM) de crnio melhor do que a TC para
mostrar alteraes intracranianas em pacientes com TCE leve e moderado. Levin
et al., em 1987, compararam TC e RNM em 20 pacientes com TCE leve ou
moderado (Escala de Coma de Glasgow entre 9 e 15) e observaram que a RNM
revelou leses que foram inaparentes para a TC. Alm disso, as leses vistas na
TC eram maiores quando avaliadas pela RNM. Submetendo-se esses pacientes
avaliao neuropsicolgica, demonstrou-se que havia correlao entre as alteraes
cognitivas e a localizao das leses na RNM. Ao longo de 3 meses, houve
correlao entre a melhora cognitiva e a resoluo das leses na RNM. Esses
achados permitem concluir que as alteraes observadas na RNM esto
relacionadas com as causas da sndrome ps-traumtica (SPT).
O eletroencefalograma de pouco valor na avaliao da cefalia ps-traumtica,
no tendo sido demonstrado nenhum traado especfico.
O valor do potencial evocado auditivo realizado precocemente como fator de
prognstico para o desenvolvimento de sndrome ps-traumtica foi objeto de estudo
prospectivo em 1988. Foram estudados 103 pacientes 48 horas aps TCE leve e
encontraram-se traados anormais em cerca de 10% dos pacientes. Aps 1 ano,
enquanto 84% dos pacientes apresentavam pelo menos uma queixa persistente
(cefalia, tonteira, depresso, ansiedade, alteraes de memria e concentrao
ou irritabilidade), a alterao no potencial evocado auditivo foi semelhante tanto
nos pacientes sintomticos quanto nos assintomticos. O potencial evocado visual
foi feito em 57 pacientes com SPT, encontrando-se um aumento da latncia da
onda P100 em 6% dos pacientes. Concluram que o potencial evocado auditivo e
visual no tem valor prognstico.
A testagem neuropsicolgica em pacientes com injria cerebral na fase inicial
freqentemente anormal, melhorando com o passar do tempo. Em 1992, 30 pacientes
com SPT e chicote cervical foram submetidos ao teste neuropsicolgico. Aps 6
semanas houve recuperao dos dficites de ateno e concentrao. Aps 12
semanas recuperaram a memria visual, imaginao e capacidade analtica. No
entanto, demoraram mais 12 semanas para recuperar a memria de abstrao
verbal, seletividade cognitiva e velocidade de processamento de informao.
Concluiu-se que esses achados demonstravam uma hierarquia na recuperao
funcional em um perodo maior que 12 semanas aps TCE leve.
Em 1999, Voller et al. compararam testagem neuropsicolgica, RNM e EEG
em 12 pacientes com TCE leve e 14 controles, 24 horas e 6 semanas aps o
trauma. Em 6 semanas, houve melhora significativa no teste neuropsicolgico com
relao memria verbal, habilidade aritmtica e ao tempo de reao psicomotora.
Encontraram alterao na RNM em 3 pacientes e nenhuma alterao no EEG.
Concluram que alteraes funcionais e estruturais podem ser identificadas na
RNM e no teste neuropsicolgico mesmo no TCE leve.
270
EVOLUO
Apesar de vrios estudos terem avaliado o prognstico da cefalia ps-traumtica
(CPT), a comparao entre eles dificultada pela utilizao de diferentes definies
para leso cerebral, desenhos de estudo e caractersticas dos indivduos.
O prognstico dos sofredores de cefalia ps-traumtica ao longo do tempo,
com base nos trabalhos de Evans (1992) e Young e Packard (1997) 31% a 90%,
1 ms aps o TCE leve; 31% a 78%, 2 a 3 meses aps o TCE; 21% a 27%, 6
meses aps o TCE; e 24%, 4 anos aps o TCE.
Tonteira, problemas com memria e irritabilidade so menos notados nos primeiros
meses, porm so persistentes. Aps 4 anos do trauma, 18% dos pacientes
apresentaram tonteira e 19% tinham problemas de memria.
Os fatores de risco que parecem estar relacionados com a persistncia das
seqelas do TCE leve so:
idade acima de 40 anos;
baixo nvel educacional, intelectual e socioeconmico;
sexo feminino;
abuso de lcool;
leso cerebral anterior;
trauma mltiplo.
TRATAMENTO
O paciente com cefalia ps-traumtica deve ser bem avaliado e diagnosticado
no s quanto ao tipo de cefalia que apresenta como tambm em relao a outros
sintomas, principalmente alteraes emocionais e musculoesquelticas.
Biofeedback, psicoterapia e terapia comportamental podem ser teis para muitos.
Nas alteraes musculoesquelticas ser til a abordagem fisioterpica. Podemos
associar, quando necessrio, miorrelaxantes como a tizanidina e antiinflamatrios
no-hormonais por curto perodo para evitar a cefalia por abuso de analgsicos.
A cefalia deve ser tratada com os mesmos medicamentos e procedimentos
utilizados para as formas habituais de cefalia.
A cefalia ps-traumtica do tipo migrnea pode ser tratada com propranolol e
amitriptilina, isoladamente ou associados, o que promove diminuio da freqncia
e da intensidade das crises em 70% dos pacientes. Outros medicamentos profilticos
podem ser utilizados como bloqueadores de canal de clcio, antiinflamatrios no-
esteroidais e valproato. Para as crises podemos utilizar ergotamina, diidroergo-
tamina, isometepteno, naproxeno sdico, no mximo duas vezes por semana para
evitar a cefalia por abuso de analgsico.
Pacientes com cefalia do tipo tensional tm sido tratados com xito utilizando-
se antidepressivo tricclico, o qual parece melhorar no s a cefalia como tambm
271
outros sintomas acompanhantes como irritabilidade, tonteira, fadiga e insnia, e
pontos dolorosos musculares. Label, em 1991, comparou a eficcia e a tolerabilidade
entre a amitriptilina e a maprotilina em doses dirias de 25 e 50 mg, concluindo que
ambas so eficazes, porm a maprotilina foi mais bem tolerada por apresentar
menos efeitos colaterais e por poder ter sido retirada em tempo menor que a
amitriptilina. Segundo Evans, em 1992, podemos utilizar outros antidepressivos. A
nortriptilina e a doxepina so eficazes, enquanto a fluoxetina e a imipramina
apresentaram resultados menos satisfatrios.
As cefalias disautonmicas podem ser tratadas com propranolol, melhorando
a cefalia e as alteraes autonmicas. Na forma bilateral, Khurana e Nirankari
relataram que o uso do propranolol agravou a cefalia, a qual, tratada posteriormente
com amitriptilina, apresentou melhora em 6 semanas.
O importante que avaliemos caso a caso e que tracemos condutas bem
individualizadas, tentando abranger toda a gama de alteraes existentes, o que
certamente aumentar nosso xito e, ainda mais importante, auxiliar nosso paciente
que se encontra em sofrimentos fsico e mental intensos.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Bendtsen L, Jensen R. Amitriptyline reduces myofascial tenderness in patients with chronic
tension-type headache. Cephalalgia 2000;20:603-610.
Coderre JT, Katz J, Vaccarino AL, Melzack R. Contribution of central neuroplasticity to
pathological pain: review of clinical and experimental evidence. Pain 1993;52:259-285.
Dacey RG, Dikmen S. Mild Head Injury. In: Cooper PR (ed.). Head Injury, 3rd ed. Baltimore:
Williams & Wilkins, 1993; pp. 159-182.
Evans RW. The posconcussion syndrome and the sequelae of mild head injury. Neurol Clin
1992;10(4): 815-847.
Gennarelli TA. Cerebral Concussion and Diffuse Brain Injuries. In: Cooper PR (ed.). Head
Injury, 3rd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1993; pp. 137-158.
Goldstein J. Posttraumatic headache and the postconcussion syndrome. Med Clin North
Am 1991;75(3): 641-651.
Graham DI, Adams JH, Gennarelli TA. Pathology of Brain Damage in Head Injury. In: Cooper
PR (ed.). Head Injury, 3rd ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1993; pp. 91-114.
Haas DC, Pineda GS, Lourie H. Juvenile head trauma syndromes and their relationship to
migraine. Arch Neurol 1975;32:727-730.
Haas DC, Ron GS. Transient global amnesia triggered by mild head trauma. Brain
1986;109:251-257.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias, and facial pain.
Cephalalgia 1988;8(suppl 7):44-45.
272
Hodges JR, Warlow CP. The aetiology of transient global amnesia. A case control study of
114 cases with prospective follow-up. Brain 1990;113:639-657.
Label LS. Treatment of posttraumatic headaches: maprotiline or amitriptyline? Neurology
1991;41(suppl 1):247.
Lanser JBK, Jennekens-Schinkel A, Peters ACB. Headache after head injury in children.
Headache 1988;28:176-179.
Masini M. Perfil epidemiolgico do traumatismo crnio-enceflico no Distrito Federal em
1982. J Bras Neurocirurg 1994;5(2):61-68.
Matthews WB. Footballers migraine. Br Med J 1972;2:326-327.
Reik L. Cluster headache after head injury. Headache 1987;27(9):509-510.
Rowland LP. Head Injury. In: Merritcs Textbook of Neurology, 9th ed. Baltimore: Williams &
Wilkins, 1995; pp. 417-440.
Silberstein SD, Lipton RB, Solomon S, Matthew N. Classification of daily and near-daily
headaches: proposed revisions to the IHS criteria. Headache 1994;34:1-7.
Sjaastad O, Fredriksen TA, Pfaffenrath V. Cervicogenic headache: diagnostic criteria.
Headache 1990;30(11):725-726.
Smith DH, Nonaka M, Miller R, Leoni M, Chen XH, Alsop D, Meaney DF. Immediate coma
following inertial brain injury dependent on axonal damage in the brainstem. J Neurosurg
2000;93:315-322.
Souza JA. Cefalia ps-traumtica em traumatismos cranianos leves. Dissertao de
mestrado. Universidade Federal Fluminense, 1995.
Speed III WG. Closed head injury sequelae: changing concepts. Headache 1989;29:643-647.
Tyler GS, McNeely HE, Dick ML. Treatment of posttraumatic headache with amitriptyline.
Headache 1980;20:213-216.
Weiss HD, Stern BJ, Goldberg J. Posttraumatic migraine: chronic migraine precipitated by
minor head or neck trauma. Headache 1991;31:451-456.
Williams DH, Levin HS, Eisenberg HM. Mild head injury classification. Neurosurgery
1990;27(3):422-428.
Young BW, Packard RC. Posttraumatic Headache and Posttraumatic Syndrome. In: Goadsby
PJ, Silberstein SD (ed.). Blue Books of Pratical Neurology-Headache (17). New York
Butterworth-Heinemann, 1997; pp. 253-277.
273
14
CEFALIAS NAS DOENAS
CEREBROVASCULARES
E ARTERITES
Djacir Dantas Pereira de Macdo
HEMATOMAS INTRACRANIANOS
Cefalias e hematomas intracranianos coexistem freqentemente. De fato, na
era pr-tomografia computadorizada a impresso dominante era a de que a cefalia
integrava o quadro clnico de quase todos os pacientes com hematomas
intracranianos. O advento da tomografia computadorizada mostrou que muitos
casos mais leves, clinicamente considerados infartos isqumicos, eram, na verdade,
determinados por hematomas intracranianos e que, nesses casos, nem sempre a
cefalia estava presente.
O quadro clnico tpico de um hematoma intracraniano de uma manifestao
neurolgica que se desenvolve em minutos ou, no mximo, em poucas horas.
Dependendo do volume, da topografia e de outras variveis, cefalia, nuseas,
vmitos e transtornos da conscincia podem aparecer. A dor tambm pode ocorrer
nos casos em que o sangue alcana o espao subaracnideo ou ventricular. A,
sinais de irritao meningorradiculares tambm estaro presentes.
Estima-se que entre 40% a 60% dos pacientes com hematomas intracranianos
se queixam de cefalia. Como ocorre em relao aos infartos isqumicos, a fisiopato-
logia desses quadros dolorosos ainda no completamente conhecida. O mecanismo
278
mais comumente apontado o que associa a cefalia com a produo de trao,
distenso, toro ou compresso de estruturas sensveis dor pela coleo hemor-
rgica. Melo, Pinto e Freire verificaram, entretanto, que, embora o volume da
coleo hemorrgica seja importante, os principais fatores preditivos de cefalia
em hematomas intracranianos so, pela ordem, a existncia de sinais menngeos, a
localizao do hematoma e o sexo feminino.
Os sinais menngeos decorrem de extravasamento sangneo para o espao
subaracnideo. A presena desses sinais independe da quantidade de sangue que
drena para esse espao. Mesmo pequenos volumes, no detectveis pela tomografia
computadorizada, determinam sinais de irritao meningorradicular.
A localizao do hematoma na fossa posterior ou no lobo occipital foi o segundo
fator preditivo mais importante. Uma ativao diferencial do sistema trigemino-
vascular, por conta da riqueza de inervao nociceptiva em muitas estruturas
sensveis dor, como o tentrio, e a irritao das artrias cerebrais posteriores
foram apontadas como fatores determinantes.
A maior incidncia em pacientes do sexo feminino e jovens foi considerada um
reflexo da maior freqncia de cefalias, de um modo geral, neste grupo, sinalizando
uma maior predisposio. No se deve esquecer, entretanto, que nos pacientes
mais jovens certamente o maior volume que o encfalo ocupa na caixa craniana
implica menor complacncia a aumentos sbitos do volume intracraniano, enquanto
nos indivduos idosos a reduo da massa enceflica pode permitir, dependendo do
volume do hematoma, a acomodao de uma coleo sem o desenvolvimento de
hipertenso intracraniana.
A lateralizao e a irradiao da dor decorreriam das estruturas envolvidas, se
dependentes de conexes trigeminais ou cervicais. Cefalias premonitrias
(sentinelas) ocorreram em 14% dos pacientes de Gorelick et al., mas sua fisiopato-
logia e seu significado so desconhecidos.
Nos hematomas cerebelares, mesmo colees relativamente pequenas podem
provocar transtornos da circulao do lquido cefalorraquidiano, levando a hiper-
tenso intracraniana ou compresso do tronco cerebral gerando quadros clnicos
graves, que freqentemente requerem evacuao cirrgica do hematoma. As
hemorragias lobares com freqncia envolvem terminais sensitivos vasculares ou
menngeos, podendo determinar cefalias, ao passo que as hemorragias dos ncleos
da base dependem do efeito de massa que produzem, levando compresso, toro
ou trao das estruturas alggenas a distncia.
O tratamento das cefalias dos hematomas intracranianos pode ser feito com
analgsicos leves, quando a dor menos intensa, ou com analgsicos de ao
central, no caso de dores mais intensas. Lembrar que a aspirina e seus derivados
esto contra-indicados nas hemorragias e que os analgsicos de ao central podem
ter efeitos indesejveis sobre a respirao, o nvel de conscincia e a presso
279
intracraniana, alm de induzir nuseas e vmitos. A evacuao cirrgica dos
hematomas, quando indicada, muitas vezes alivia a cefalia. O mesmo sucede
com pacientes com hidrocefalias e que so submetidos derivao. A indicao
de cirurgia nas hemorragias lobares e profundas no goza da mesma unanimidade,
embora passe por um processo de reavaliao, principalmente tendo em vista os
progressos da tcnica cirrgica.
Os pacientes que sobrevivem s hemorragias cerebrais podem evoluir de
diferentes maneiras no que se relaciona s cefalias. Ferro, Melo e Guerreiro, em
246 casos, verificaram que 27% no informaram cefalias prvia ou subseqen-
temente hemorragia cerebral, 43% relataram cefalias prvias, que persistiram
com as mesmas caractersticas, 11% se queixaram de cefalias que se iniciaram
depois da hemorragia cerebral e 19% afirmaram que sofriam de dores de cabea
antes do icto, mas que tinham desaparecido. Cefalia tipo tensional ou migrnea
predominaram nos pacientes que tinham antecedentes de dor de cabea. O
desaparecimento das cefalias foi mais comum em pacientes que consumiam
grandes quantidades de bebidas alcolicas, fator de risco para hemorragias
cerebrais, e que depois do icto interromperam o uso. As cefalias que apareceram
depois da hemorragia eram predominantemente tipo tensional e se associaram,
com freqncia, depresso ps-ictal.
As cefalias ps-hemorragias cerebrais podem ser menos freqentes do que
no perodo pr-ictal. Particularmente, as migrneas podem desaparecer. Embora
isso possa decorrer de maiores cuidados que os pacientes adotam e histria
natural das migrneas, tem sido levantada a hiptese de que as hemorragias
subaracnideas, freqentemente associadas aos hematomas intracerebrais, podem
determinar alteraes nos receptores serotoninrgicos, CGRP e neuropeptdeo Y,
por exemplo, modificando o limiar migranoso.
Gorelick, analisando a associao de cefalias e outros sintomas nas doenas
cerebrovasculares, concluiu: 1) a associao de cefalia e vmitos no incio do
quadro em pessoa jovem indicativa de hemorragia subaracnidea; 2) cefalia
inicial e presso sistlica e diastlica elevadas esto associadas com hematoma
intracraniano; 3) ausncia de cefalia e vmito no incio do quadro, idade avanada
e nveis tensionais normais so sugestivos de infarto isqumico.
VASCULITES CEREBRAIS
Vasculites cerebrais so um grupo heterogneo de doenas em que leses
inflamatrias dos vasos provocam estenose, ocluso ou necrose que podem resultar
em isquemia ou infarto cerebral. A patognese varia entre as vasculites, mas todas
envolvem deposio de complexos imunolgicos celular ou humoral e infiltrado de
clulas mononucleares ou polimorfonucleares nas paredes vasculares. Na maioria
280
das vezes, a causa da vasculite permanece desconhecida, mas, em outras ocasies,
infeces, processos ps-infecciosos, neoplasias ou reaes imunes de hipersensibi-
lidade desencadeiam a inflamao. A reao pode ser restrita ao sistema nervoso
central ou ser sistmica. Quando a vasculite cerebral resulta de uma influncia
exgena, como drogas, toxinas, infeco ou doena sistmica, classificada como
secundria. Essa distino importante porque a remoo de um agente especfico
pode resultar em melhora da vasculite, embora essa relao seja obscura.
Nas vasculites cerebrais, o processo inflamatrio provoca isquemia agudamente,
por agregao de plaquetas ou formao de trombos no local envolvido, ou cronica-
mente, por necrose fibrinide que estreita a luz vascular.
Os pacientes assim acometidos podem apresentar sintomas extremamente
diversos, incluindo cefalias, distrbios psiquitricos, infartos cerebrais isqumicos
ou hemorrgicos e epilepsia, e as vasculites sistmicas podem determinar alteraes
hematolgicas, metablicas ou cardacas que, por sua vez, tambm podem causar
transtornos neurolgicos. Deve-se, pois, exercer cautela ao se analisar sintomas
neurolgicos que ocorrem em pacientes com enfermidades que determinam vasculites,
pois estes podem no depender de comprometimento vascultico do sistema nervoso.
Por outro lado, vasculites devem ser consideradas em crianas ou adultos jovens
com infartos isqumicos, pacientes com infartos recorrentes e em pacientes com
infartos isqumicos acompanhados por febre, sinais neurolgicos multifocais, leses
cutneas inexplicadas e glomerulopatias. Envolvimento do sistema nervoso central
pode ocorrer em qualquer das vasculites sistmicas, mas mais comumente relatado
na panarterite nodosa, na sndrome de Behet, na granulomatose de Wegener e na
sndrome de Churg-Strauss. A incidncia difcil de estabelecer porque muitos
diagnsticos so presumidos em bases clnicas, sem angiografias ou bipsias, quando
surgem sintomas neurolgicos em portadores dessas doenas.
No lpus eritematoso sistmico, manifestaes cerebrais freqentemente ocorrem
por conta de vasculopatias, com espessamento de pequenos vasos, hialinizao e,
deposio de plaquetas intramurais, mas vasculites so incomuns (7%), ao contrrio
do que se pensava. Quando sintomas neurolgicos surgem no lpus, outros
mecanismos devem ser considerados, como tromboses relacionadas com anticorpos
antifosfolipdicos, embolias cardiognicas e prpura trombocitopnica idioptica.
O nmero de doenas que podem determinar vasculites cerebrais muito vasto
para abordarmos dentro dos limites deste captulo. Aqui nos deteremos fundamental-
mente na arterite de clulas gigantes e na angite primria do sistema nervoso
central, que so as que dizem respeito mais diretamente ao neurologista.
ARTERITE DE CLULAS GIGANTES
A arterite de clulas gigantes (ACG) uma doena de etiologia desconhecida
e de mecanismo auto-imune, que afeta quase exclusivamente pessoas com mais
281
de 50 anos de idade e cuja incidncia aumenta progressivamente com a idade,
sendo nov vezes mais freqente na nona dcada do que na sexta. mais comum
na raa branca e afeta mais as mulheres do que os homens. A condio foi descrita
pela primeira vez no sculo X, mas caiu no esquecimento e foi redescoberta em
1932 por Horton, Magath e Brown. Recebeu previamente as denominaes de
arterite temporal, arterite craniana e arterite de Horton.
O termo arterite temporal, ainda amplamente usado, deve ser abandonado porque,
embora as artrias temporais sejam as mais envolvidas, a doena , na verdade, uma
arterite sistmica e qualquer artria de mdio ou grande calibre pode ser acometida. As
artrias temporais e vertebrais esto envolvidas em praticamente 100% dos casos,
enquanto as oftlmicas e ciliares posteriores esto envolvidas em 3/4 dos casos. As
artrias cartidas externa e interna vm a seguir, em ordem de freqncia, enquanto a
artria central da retina, a aorta e outras so mais raramente afetadas. As artrias
intracranianas tambm podem ser afetadas, mas isto ocorre raramente. O que determina
o maior ou menor risco de comprometimento a riqueza em elastina: as artrias que
contm mais elastina so mais suscetveis de serem lesadas. Como as artrias
intracranianas perdem a camada elstica logo aps penetrarem a dura, seu envolvimento
incomum. Infartos cerebrais ocorrem em 3% dos casos, sendo quase sempre
decorrentes do envolvimento das artrias vertebrais em seu segmento extracraniano.
As alteraes se caracterizam por inflamao granulomatosa envolvendo a
camada elstica e estendendo-se para as mdia e adventcia, com infiltrao
predominantemente linfocitria e fragmentao da lmina elstica interna, com
edema e proliferao celular subintimal, o que pode provocar estenose ou trombose
arterial. O achado de clulas gigantes de permeio ao infiltrado linfocitrio comum,
mas sua ausncia no exclui o diagnstico. O intercalamento de segmentos arteriais
normais com outros com estenose comum.
A sintomatologia da doena variada, mas o sintoma mais constante a cefalia,
geralmente de localizao temporal ou frontal, uni ou bilateral, contnua, podendo
ter perodos de intensificao, e que pode ter qualidade pulstil, em queimao ou
presso, ser de intensidade moderada a forte e quase sempre refratria ao uso de
analgsicos. Podem tambm ocorrer outros sintomas, como dor cervical, na
garganta, no ouvido ou oculares, claudicao mandibular ou da lngua, diplopia e
sintomas sistmicos, como febre, astenia e perda de peso. O sinal mais freqente
no exame fsico a dilatao da artria temporal superficial, uni ou bilateralmente,
que pode se mostrar dolorosa e endurecida palpao, s vezes com aspecto
nodular. A perda total ou parcial da viso a mais temvel manifestao de enfer-
midade e pode atingir at um tero ou mais dos pacientes. O diagnstico precoce
fundamental para evitar este transtorno, que costuma ser irreversvel uma vez
instalado e que pode atingir ambos os olhos, embora remisses parciais tenham
sido relatadas. A perda da viso costuma ser precedida por outras manifestaes
282
locais ou sistmicas, mas existem muitos relatos por oftalmologistas de arterite
temporal oculta, em que o quadro clnico aberto pelo comprometimento visual.
Hayreh cr que, na maior parte das vezes, se trata de pacientes cujos sintomas
prvios no foram relatados ou valorizados. A perda da viso secundria, na
maioria das vezes, ao comprometimento das artrias ciliares posteriores curtas,
resultando em neuropatia ptica isqumica anterior. Sintomas gerais, como febre,
astenia e perda de peso, podem ocorrer, particularmente nas pessoas em que a
velocidade de sedimentao das hemcias (VSH) mais elevada, e costumam
preceder os demais sintomas, sendo denominados prdromos sistmicos. A
claudicao mandibular intermitente um sintoma extremamente sugestivo, mas
que atinge apenas cerca de 30%-50% dos doentes. Caracteriza-se por dor progres-
siva e diminuio da fora muscular que surgem na medida em que o paciente
mastiga ou conversa e determinada por insuficincia circulatria. Deve ser diferen-
ciada da disfuno da articulao temporomandibular, em que a dor e a limitao
funcional ocorrem desde o incio da atividade motora.
Em 35% dos pacientes, a ACG se associa polimialgia reumtica (PMR), que foi
descrita como entidade independente, mas cujas relaes ntimas com a ACG foram
ficando cada vez mais claras com o passar do tempo. A PMR tem, como sintoma
cardinal, fibromialgia, que envolve a cintura escapular, e, mais raramente, a cintura
plvica. A dor de predomnio matinal e, como a ACG, atinge pessoas idosas, se
acompanha de elevao da VSH e responde aos corticosterides, podendo ser precedidas
pelos mesmos prdromos sistmicos.Alguns pacientes com ACG, e que foram tratados,
tm recidiva sob a forma de PMR, e a ocorrncia de cegueira e o achado de clulas
gigantes em bipsias j foram relatados na PMR. Assim, ambas as doenas compartilham
aspectos clnicos, laboratoriais e histopatolgicos semelhantes.
A VSH elevada uma das caractersticas da ACG, e valores acima de 40 mm/
hora ocorrem em mais de 90% dos casos, enquanto muitos exibem nmeros maiores
do que 100 mm/hora e seus valores so freqentemente utilizados na monitorizao
do tratamento. A VSH, embora sensvel, pouco especfica e Hayreh considera
que a dosagem da protena C reativa, cujos valores se encontram tambm elevados
na ACG, mais til tanto no diagnstico como no controle do tratamento.
A confirmao do diagnstico pela histologia fundamental, de modo que a
bipsia da artria temporal superficial obrigatria. Embora o comprometimento
da artria temporal ocorra em praticamente todos os casos, ele descontnuo,
podendo haver segmentos normais da artria intercalados com segmentos
comprometidos. A bipsia deve compreender um segmento de 2,5 a 4,0 cm, com
cortes seriados feitos com intervalos de 1 mm, para reduzir a possibilidade de
falso-negativo. A ligadura da artria temporal superficial no provoca, de uma
maneira geral, maiores transtornos. Em estudo realizado por Hurst et al., nenhum
paciente apresentou necrose cutnea, que pode ocorrer naturalmente na
283
enfermidade, ou qualquer outra alterao importante. A artria escolhida a do
lado comprometido, no caso de leses unilaterais, ou a aparentemente mais
comprometida, no caso de leses bilaterais. No caso de a bipsia ser negativa, a
artria contralateral deve ser biopsiada. A importncia de se insistir no diagnstico
histolgico reside no fato de o tratamento ser prolongado e implicar riscos concretos,
devendo a deciso de iniciar o tratamento repousar em bases slidas.
Alguns autores sugeriram o estudo angiogrfico da artria temporal superficial
para guiar a escolha do segmento a ser biopsiado, a fim de aumentar as chances
de um diagnstico positivo, mas a invasividade do procedimento sempre limitou
sua utilizao. Recentemente, trabalhos com o mesmo objetivo, utilizando duplex-
scan, foram publicados. Schmidt et al. descreveram um sinal (um halo negro, que
crem ser determinado por edema da parede arterial) que julgam especfico da
arterite temporal, cujo achado dispensaria a bipsia. Esse achado no foi confirmado
por outros autores e a tcnica pode ser utilizada, por ora, como meio auxiliar para
indicar o local mais propcio para a bipsia. A possibilidade de este exame vir a
substituir a bipsia arterial precisa ser validada por mais estudos.
A ACG uma doena curvel, e seu tratamento consiste na utilizao de
corticosterides por via sistmica. O incio do tratamento deve ser feito logo que se
suspeita da doena para preveno do comprometimento visual ou para se tentar
preservar o olho oposto, se um j foi atingido. A prednisona, 1 a 2 mg/kg/dia, deve ser
utilizada, o que costuma trazer alvio da dor em at 48 horas. De fato, a persistncia
da dor mais de dois dias depois do incio do tratamento deve ser motivo de
questionamento da exatido do diagnstico. Alguns autores recomendam o uso da
metilprednisolona por via venosa, 250 mg/iv de 6/6 horas, por cinco dias em pacientes
que j tiveram a viso comprometida em um dos olhos quando se fez o diagnstico,
iniciando em seguida a prednisona, j que o risco de o outro olho ser afetado muito
grande, o que freqentemente ocorre dentro de 7 dias. Outros autores recomendam
que a pulsoterapia seja feita com 1.000 mg de 12/12 horas. A despeito desse cuidado,
muitos pacientes sofrem este comprometimento contralateral.
As doses elevadas de corticosterides devem ser mantidas pelo menos por
duas semanas aps o desaparecimento dos sintomas sistmicos. A partir da, as
doses podem ser gradativamente reduzidas, monitorizadas pela VSH e/ou protena
C reativa. A utilizao de doses dobradas em dias alternados, estratgia por vezes
usada em algumas condies para reduzir risco de complicaes ou efeitos adversos
em pacientes que devem usar corticosterides por longo tempo, desaconselhada
na ACG. A doena tem curso autolimitado, e a durao do tratamento geralmente
de seis meses a dois anos, com doses de manuteno em mdia de 10 a 30 mg/
dia de prednisona. O acompanhamento dos pacientes aps o trmino do uso da
medicao deve ocorrer por um ano e os pacientes devem ocorrer informados da
possibilidade de recorrncia dos sintomas.
284
Em pacientes que no toleram o corticosteride, ciclofosfamida, azatioprina,
dapsona ou ciclosporina tm sido usadas, mas ainda no existem dados consistentes
sobre o tratamento com estas substncias.
ANGITE PRIMRIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
A angite primria do sistema nervoso central (APSNC) foi descrita pela primeira
vez como uma arterite granulomatosa. Ao se verificar que nem sempre h processo
granulomatoso, o termo angite primria do sistema nervoso central foi proposto,
sendo a denominao mais adotada atualmente. Outros termos usados so arterite
primria do sistema nervoso central (inadequado, porque as veias tambm podem
ser afetadas) e angite isolada do sistema nervoso central (outras regies, embora
de modo clinicamente silencioso, podem estar envolvidas). A Sociedade Interna-
cional de Cefalia, em sua classificao de 1988, favorece a denominao de
arterite intracraniana primria.
A etiologia e a patognese da APSNC so desconhecidas. Mas h dados suges-
tivos de que dois fatores comumente associados podem estar intimamente
envolvidos: associao com doena viral sistmica e com reduo das defesas do
hospedeiro. Admite-se que, em situaes de mecanismo de defesa comprometido,
um vrus ou outro patgeno possa, direta ou indiretamente, levar a uma arterite
cerebral difusa.
A enfermidade afeta predominantemente adultos jovens ou de meia-idade, mas
tem sido descrita tambm em crianas e idosos. Os homens so mais afetados do
que as mulheres, na proporo de 2:1. Em algumas ocasies a doena coincidiu
com o ps-parto imediato ou com o puerprio. Co-morbidade com angiopatia
amilide foi sugerida. A doena envolve principalmente artrias de pequeno e mdio
calibre, corticais ou menngeas, e, menos freqentemente, veias e vnulas. Tanto o
encfalo quanto a medula espinhal podem ser envolvidos e os vasos leptomenngeos
so mais afetados do que os parenquimatosos. Os primeiros estudos anatomopato-
lgicos descreveram infiltraes inflamatrias com formao de granulomas
contendo clulas multinucleadas gigantes, mas a partir da diferentes padres tm
sido descritos, s vezes na mesma bipsia, com angite granulomatosa clssica ou
vasculite necrotizante do tipo panarterite nodosa. Admite-se que os casos em que
alteraes granulomatosas esto presentes so mais agressivos do que aqueles
em que essas leses esto ausentes.
A cefalia costuma abrir o quadro clnico, estando presente em 75% dos casos.
Pode ser localizada ou difusa, de instalao progressiva ou abrupta, e habitualmente
severa. Sintomas focais, multifocais ou difusos ocorrem em mais de 90% dos
pacientes e transtornos mentais so comuns. Calabrese, Duna e Lie, analisando os
casos publicados com confirmao histolgica, listaram, como manifestaes mais
freqentes, transtornos cognitivos (83,1%), disfuno neurolgica difusa (68,1%),
285
cefalia (55,8%), epilepsia (30,2 %) e infartos (30,2%). Sendo a angite restrita ao
sistema nervoso central, manifestaes sistmicas freqentes em outras arterites,
como artralgias e alteraes cutneas, so inexistentes e sua ocorrncia deve
sugerir outro diagnstico, embora febre e perda de peso possam ocorrer. No exame
neurolgico, os pacientes exibem sinais focais condizentes com infartos cerebrais,
sinais difusos de encefalopatia ou de hipertenso intracraniana. A inespecificidade
dos sintomas faz com que o diagnstico demore a ser firmado, s o sendo, muitas
vezes, em bipsia realizada por suspeita de neoplasia. No levantamento de
Calabrese, Duna e Lie o tempo mdio para o diagnstico foi de 170 dias.
O critrio diagnstico da Sociedade Internacional de Cefalias para APSNC
o de cefalia com alteraes arteriogrficas tpicas de arterite ou bipsia demons-
trando arterite. No existem, entretanto, alteraes angiogrficas patognomnicas
de arterites. Exames anormais so encontrados em 3/4 dos pacientes, sendo o
achado mais constante mltiplas estenoses segmentares em uma artria (padro
em rosrio) ou mltiplas reas focais de estreitamento em mltiplas artrias. Outras
vezes, observam-se ocluses, desvios e reas avasculares. Esses aspectos angiogr-
ficos podem igualmente ser vistos em quadros infecciosos, ateroscleroses, abuso
de herona ou anfetaminas e vasoespamos. A ocorrncia de alteraes limitadas a
um hemisfrio ou a uma regio depe contra, mas no exclui, a hiptese de angite
primria do SNC. A utilizao de um padro angiogrfico clssico como critrio
diagnstico de angite primria tem em torno de 70% de sensibilidade.
A bipsia, igualmente, s anormal em 3/4 dos casos, porque as leses so
descontnuas. Sendo um procedimento mais agressivo e no completamente incuo,
s indicado quando a clnica sugestiva e o estudo angiogrfico foi negativo, j
que o tratamento precoce melhora o prognstico de modo significativo, mas tambm
no incuo. Ultimamente, tem-se avaliado a utilizao da ressonncia magntica
como guia para escolher uma rea de bipsia, como uma forma de aumentar as
chances de positividade do exame, mas os riscos envolvidos, decorrentes do local
da interveno, devero ser bem ponderados. Na ausncia de leses focais ade-
quadas para a bipsia esta realizada no plo temporal do hemisfrio no-domi-
nante, por ser uma rea acessvel e pouco eloqente, devendo englobar material
leptomenngeo e incluir uma artria cortada longitudinalmente.
No h alteraes particulares em outros exames. O exame do lquido cefa-
lorraquidiano importante, sendo anormal em 80%-90% dos casos com diagnstico
histolgico e em 50% daqueles com diagnstico angiogrfico, mas os achados so
inespecficos. Pode mostrar presso de abertura elevada e pleiocitose moderada
custa de linfcitos. As protenas esto elevadas em 3/4 dos casos, com igG elevada
mas sem bandas oligoclonais. Os achados so compatveis com meningite assptica.
Em todos os pacientes com suspeita de APSNC deve-se fazer investigao de
agente infeccioso no lquido cefalorraquidiano e na bipsia, se esta for realizada.
286
J foram identificados, em vasculites do sistema nervoso central, vrus (HIV-1,
CMV, V-Z e outros), T. pallidum, Borrelia BURDORFERI, Bartonellas, M.
tuberculosis, fungos, bactrias diversas e rickttsias.
Vasculites do sistema nervoso tambm j foram descritas nas doenas
mieloproliferativas (linfomas de Hodgkin, no-Hodgkin e leses angioimuno-
proliferativas), com quadro clnico semelhante aAPSNC. Estudos de neuroimagens
so tambm inespecficos, mostrando alteraes compatveis com infartos ou edema
cerebral. Dos mtodos de neuroimagem, a ressonncia magntica a mais sensvel
e um exame negativo torna o diagnstico pouco provvel. A tomografia computa-
dorizada mostra alteraes em 65% dos casos e a ressonncia magntica em
90%, sendo os achados mais constantes infartos bilaterais, mltiplos, distribudos
por reas corticais ou da substncia branca e leses leptomenngeas. Harris et al.,
em 70 pacientes estudados por RM e angiografia com suspeita de angite, encon-
traram 19 com ressonncias normais ou alteraes mnimas e no-sugestivas e em
todos eles o estudo angiogrfico foi tambm normal. Um estudo negativo por RM
foi, assim, preditivo de um estudo angiogrfico igualmente negativo em 100% das
vezes. Outros autores, entretanto, citam casos em que a RM foi normal em casos
confirmados por bipsia. A combinao de ressonncia magntica e lquido cefalor-
raquidiano normais tem valor preditivo negativo e exclui a necessidade de realizar
bipsia. O eletrencefalograma mostra lentificao focal ou difusa. Leucocitose
moderada pode estar presente com VSH normal ou ligeiramente elevada.
Tem havido nmero crescente de casos com diagnsticos estabelecidos com
base nas alteraes angiogrficas, mas a sensibilidade do mtodo em torno de
60%. Outras tcnicas de imagem (PET, SPECT) no foram ainda adequadamente
avaliadas na investigao das angites primrias do sistema nervoso central.
Observando a diferena existente na literatura entre os casos com diagnstico
histolgico e aqueles com diagnstico presumido em bases angiogrficas, Calabrese,
Duna e Lie propem que estes ltimos casos sejam chamados de angiopatias,
observando que neste grupo as mulheres predominam, a cefalia a manifestao
mais freqente, o lquido cefalorraquidiano normal ou tem poucas alteraes, o
curso monofsico e o prognstico, melhor.
A doena era considerada como de evoluo sempre fatal, mas havia o vis de
que os casos iniciais s tinham o diagnstico estabelecido por autpsia. Atualmente,
conceitua-se como doena de curso varivel, podendo evoluir rapidamente ou se
arrastar por meses, mas sempre de modo progressivo, se no tratada. O tratamento
proposto consiste na administrao de prednisona, 40-60 mg/dia (ou 1 mg/kg/dia).
Alguns pacientes, entretanto, s melhoram quando ciclofosfamida, 100 mg/dia,
adicionada ao regime teraputico. Quando o tratamento iniciado dentro de doze
meses do incio da doena, as alteraes angiogrficas podem se normalizar. Em
pacientes com tempo de evoluo maior, as alteraes tendem a persistir mesmo
287
que o tratamento seja bem-sucedido, o que sugere a ocorrncia de infiltrado de
clulas inflamatrias e, talvez, vasoespasmo, no caso de leses reversveis e fibrose
da parede arterial, quando as leses so permanentes.
Um estudo recente mostra uma evoluo bem mais favorvel da enfermi-
dade (4,4% de mortalidade nos casos de confirmao histolgica e 3,6% nos
definidos angiograficamente) com uso apenas de corticosterides em 30,4%
dos pacientes diagnosticados por bipsia e em 49,1% daqueles em que o
diagnstico foi feito angiograficamente. A durao da enfermidade desco-
nhecida e o tratamento mantido por 6-12 meses aps a remisso dos sintomas.
Nos pacientes com perfil mais benigno (apresentao focal aguda, diagnstico
angiogrfico, LCR normal), a associao, por tempo mais curto, de altas doses
de corticosterides com bloqueador de canais de clcio freqentemente bem-
sucedida, juntamente com a recomendao de que se evitem agentes trom-
bognicos ou vasoconstritores, como contraceptivos orais, nicotina e drogas
simpaticomimticas como a efedrina ou a fenilpropalamina, presente em muitos
medicamentos de uso popular.
A APSNC pode ter semelhana clnica e de exames complementares (LCR,
ressonncia magntica e angiografia) com a arteriopatia cerebral autossmica
dominante com infartos subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL), sendo o
diagnstico possvel apenas pela histria familiar.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Andr C. Cefalia nas Doenas Cerebrovasculares. In: Gagliardi RJ (ed.). Doenas
Cerebrovasculares: Condutas. Volume I. So Paulo: Geo-Grfica e Editora, 1996; pp. 409-
419.
Arboix A, Massons J, Oliveres M, Arribas MP, Titus F. Headache in acute cerebrovascular
disease: a prospective clinical study in 240 patients. Cephalalgia 1994;14:37-40.
Bartt R, Shannon KM. Autoimmune and Inflamatory Disorders. In: Goetz CC, Pappert EJ
(eds.). Textbook of Clinical Neurology. Philadelphia: WB Saunders, 1999; pp. 1007-1032.
Bertina RM, Rosendaal FR. Venous thrombosis The interaction of genes and environment.
N Eng J Med 1998;338:1840-1841.
Bousser, M-G, Einhupl K. Cerebral Venous Thrombosis. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P,
Welch KMA (eds.). The Headaches. Philadelphia: Lippincott-Williams & Wilkins, 2000;
pp. 815-818.
Calabrese LH, Duna GF, Lie JT. Vasculitis in the central cervous system. Arthritis Rheum
1997;40:1189-1201.
Calabrese LH, Mallek JA. Primary angiitis of the central nervous system: report of eight
new cases, review of the literature, and proposal for diagnostic criteria. Medicine
1987;67:20-39.
Chu CT. Diagnosis of intracranial vasculitis: a multi-disciplinary approach. J Neuropathol
Exp Neurol 1998;57:30-38.
de Bruijn SFTM, Budde M, Teunisse S, Haan RJ, Stam J. Long term outcome of cognition
and functional health after cerebral venous sinus thrombosis. Neurology 2000;54:1687-
1689.
de Bruijn SFTM, Stam J and the Cerebral Venous Sinus Thrombosis Study Group.
Randomized, placebo-controlled trial of anticoagulant treatment with low-molecular-
weight heparin for cerebral sinus thrombosis. Stroke 1999;30:484-488.
Edmeads J. The headaches of ischemic cerebrovascular disease. Headache 1979;19:345-349.
Einhaupl KM, Villringer A, Meister W et al. Heparin treatment in sinus venous thrombosis.
Lancet 1991;338:597-600.
Evans JM, Hunder GG. Polymyalgia rheumatica and giant cell arteritis. Rheum Dis Clin N
Amer 2000;26:493-515.
Ferro JM, Melo TP, Guerreiro M. Headaches in intracerebral hemorrhage survivors.
Neurology 1998;50:203-207.
291
Ferro JM, Melo TP, Oliveira V, Salgado AV, Crespo M, Canho P, Pinto NA. A multivariate
study of headache associated with ischemic stroke. Headache 1995;35:315-319.
Fieschi C. Central nervous system vasculitis. J Neurol Sci 1998;53:159-171.
Fountain NB, Eberhard DA. Primary angiitis of the central nervous system associated with
cerebral amyloid angiopathy: report of two cases and review of the literature. Neurology
1996;46:190-197.
Galetta SL, Balcer LJ, Lieberman AP, Syed NA, Lee JM, Oberholtzer JC. Refractary giant cell
arteritis with spinal cord infarction. Neurology 1997;49:1720-1723.
Gonzalez-Gay M, Blanco R, Rodriguez-Valverde V, Martinez-Taborda VM, Delgado-Rodriguez
M, Figueroa M, Uriarte E. Permanent visual loss and cerebrovascular accidentes in giant
cell arteritis. Predictors and response to treatment. Arthritis Rheum 1998;41:1497-1504.
Gordon DL. The Diagnosis and Management of cerebral Venous Thrombosis. In: Adams
HP (ed.). Handbook of Cerebrovascular Diseases. New York: Marcel Dekker, 1993; pp.
591-612.
Gorelick PB, Hier DB, Caplan LR, Langenberg P. Headache in acute cerebrovascular disease.
Neurology 1986;34:1445-1450.
Grindal A, Toole JF. Headache and transient ischemic attacks. Stroke 1974;5:603-606.
Hall S, Hunder GG. Is temporal artery biopsy prudent? Mayo Clin Proc 1984;59:793-795.
Harris KG, Yuh WTC. Intracranial vasculitis. Neuroimaging Clinics of North America
1994;4:773-797.
Hayreh SS, Podhajsky PA, Zimmerman B. Ocular manifestations of giant cell arteritis. Am J
Ophtalmol 1998;125:509-520.
Hayreh SS, Podhajsky PA, Zimmerman B. Occult giant cell arteritis: ocular manifestations.
Am J Ophtalmol 1998;125:521-526.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain.
Cephalalgia 1988;8(suppl.7):1-96.
Hinchey JA, Sila CA. Cerebrovascular complications of rheumatic diseases. Rheum Dis
Clin N Amer 1997;23:293-316.
Hsu FPK, Kuether T, Nesbit G, Barnwell SL. Dural sinus thrombosis endovascular therapy.
Crit Care Clin 1999;15:743-753.
Hunder GG, Weyand CM. Sonography in giant-cell arteritis. N Eng J Med 1997;337:1385-
1386.
Hurst RW. Angiography of nonatherosclerotic occlusive cerebrovascular disease.
Neuroimaging Clinics of North America 1996;6:651-678.
Huston KA, Hunder GG, Lie JT, Kennedy RH, Elveback LR. Temporal arteritis: a 25-year
epidemiologic, clinical and pathological study. Ann Intern Med 1978;88:162-167.
Jacobs K, Moulin T, Bogousslavsky J, Woimant F, Dehaene I, Tatu L, Besson G, Assouline
E, Casselman J. The stroke syndrome of cortical vein thrombosis. Neurology
1996;46:1291-1296.
292
Jensen TS, Gorelick PB. Headache Associated with Ischemic Stoke and Intracranial
Hematoma. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches.
Philadelphia: Lippincott-Williams & Wilkins, 2000; pp. 781-788.
Jorgensen HS, Jespersen HF, Nakayama H, Raaschou HO, Olsen TS. Headache in stroke:
the Copenhagen stroke study. Neurology, 1994;44:1793-1797.
Kasner SE. Stroke treatment Specific considerations. Neurol Clin 2000;19:399-417.
Kattah JC, Mejico L, Chrousos GA, Zimmerman LE, Manz HJ. Pathologic findings in a
steroid-responsive optic nerve infarct in giant cell arteritis. Neurology 1999;53:177-180.
Keenan PA, Jacobson MW, Soleymani RM, Mayes MD, Stress ME, Yaldoo DT. The effect
on memory of chronic prednisone treatment in patients with systemic disesase.
Neurology 1996;47:1396-1402.
Koudstaal PJ, van Gijn J, Kappelle LJ, for the Dutch TIA Study Group. Headache in transient
or permanent cerebral ischemia. Stroke 1991;22:754-759.
Lana MA. Arterite de Clulas Gigantes. In: Gagliardi RJ (ed.). Doenas Cerebrovasculares:
Condutas. Volume I. So Paulo: Geo-Grfica e Editora, 1996; pp. 323-335.
Lance JW, Goadsby PJ. Mechanism and Management of Headache. Oxford: Butterworth-
Heineman, 1998.
Loeb C, Gandolfo C, DallAgata D. Headache in transient ischemic attacks (TIA). Cephalalgia
1985;5(suppl 2):17-19.
Martinelli I, Sacchi E, Taioli F, Mannucci PM. High risk of cerebral-vein thrombosis in
carriers of a prothrombin-gene mutation and in users of oral contaceptives. N Eng J
Med 1998;338:1793-1797.
Medina J, Diamond S, Rubino FA. Headache in patients with transient ischemic attacks.
Headache 1975;15:194-197.
Melo TP, Pinto AM, Ferro JM. Headache in intracerebral hematomas. Neurology 1996;47:494-
500.
Mitsias P. Head pain and stroke. Seminars in headache management 1997;2:2-7.
Mitsias P, Ramadan NM. Headache in ischemic cerebrovascular disease. Part I: Clinical
features. Cephalalgia 1992;12:269-274.
Mitsias P, Ramadan NM. Headache in ischemic cerebrovascular disease. Part II: Mechanisms
and predictive value. Cephalalgia 1992;12:341-344.
Moore PM. Central nervous system vasculitis. Curr Opin Neurol 1998;11:241-246.
Moore PM. The vasculitides. Curr Opin Neurol 1999;12:383-388.
Olesen J, Thomsem LL, Lassen LH, Olesen IJ. The nitric acid hypothesis of migraine and
other vascular headaches. Cephalalgia 1995;15:94-100.
Pomper MG, Miller TJ, Stone JH, Tidmore WC, Hellman DB. CNS vasculitis in autoimmune
disease: MR imaging and correlation with angiography. AJNR Am J Neuroradiol
1999;20:75-85.
Portenoy RK, Abissi CJ, Lipton RB. Headache in cerebrovascular disease. Stroke
1984;15:1009-1012.
293
Pulsinelli WA. Cerebrovascular Disorders Principles. In: Cecil Textbook of Medicine.
Philadelphia: WB Saunders, 2000; pp. 2092-2109.
Schmidt WA, Kraft HE, Vorpahl K, Volker L, Gromnica-Ihle EJ. Color duplex ultrasonography
in the diagnosis of temporal arteritis. N Eng J Med 1997;337:1336-1342.
Silva WF. Algias Craniofaciais. So Paulo: Lemos Editorial, 1998.
TehindfazanariveloAD, Evrard S, Schaison M. Prospective study of cerebral sinus venous
thrombosis in patients presenting with benign intracranial hypertension. Cerebrovasc
Dis 1992;2:22-27.
Vestegaard K, Anderson G, Nielsen MJ, Jensen TS. Headache in stroke. Stroke 1993;24:1621-
1624.
Wall M, Corbett, JJ. Arteritis. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The
Headaches. Philadelphia: Lippincott-Williams & Wilkins, 2000; pp. 797-806.
Weyand CM, Goronzy JJ. Polymialgis Rheumatica and Giant Cell Arteritis. In: WJ Koopman
(ed.). Arthritis and Allied Conditions. Philadelphia: William & Wilkins, 1997; pp. 1605-
1616.
Williamson EE, Chukwudenluzu FE, Meschia JF, Witte RJ, Dickson DW, Cohen MD.
Distinguishing primary angiitis of the central nervous system from cerebral autossomal
dominant arteriopathy with subcortical infarcts and leukoencephalopathy. The
importance of family history. Arthritis Rheum 1999;42:2243-2248.
Wolfenden AR, Tong DC, Marks MP, Ali AO, Albers GW. Angiographically defined primary
angiitis of the CNS: is it really benign? Neurology 1998;51:183-188.
294
15
CAROTIDNIA, CEFALIAS
E HIPERTENSO ARTERIAL,
CEFALIA NAS MALFORMAES
VASCULARES CEREBRAIS
Joaquim Costa Neto
CAROTIDNIA
Fay, em 1927, foi o primeiro autor a se utilizar do termo carotidnia para designar
uma sensibilidade aumentada em torno da bifurcao da cartida comum no nvel
cervical, por vezes observada em portadores de neuralgia facial atpica.
Inicialmente interpretada como um mero sinal fsico, a carotidnia foi, ao longo
do tempo, sendo individualizada sobretudo a partir das observaes de Roseman
em 1967. Esse autor enfatizou a presena de dor unilateral no pescoo e de
sensibilidade exacerbada da artria cartida como os dois sinais cardinais que
comporiam uma distinta sndrome.
O quadro clnico geral da carotidnia pode ser detalhado em relao a trs
aspectos bsicos:
dor no pescoo, descrita como profundamente situada, irradiando-se para a
regio auricular e face do mesmo lado, podendo se agravar aos movimentos
da cabea, deglutio, mastigao, tosse, bocejo ou espirro. Tendo carter
usualmente pulstil, a dor tambm pode ser lancinante ou como trao;
a sensibilidade exagerada da cartida no pescoo tem sua expresso mxima
nas imediaes da bifurcao desse vaso, o qual se mostra doloroso
palpao, edemaciado e hiperpulstil;
o perfil temporal da doena pode ser agudo, limitado a onze dias e, crnico,
prolongando-se, s vezes, por vrios anos. A durao de cada ataque indi-
vidual tambm bastante varivel, de minutos a meses. A sua freqncia
pode se restringir a um nico episdio, ou estender-se a numerosas
ocorrncias no decorrer de vrios anos.
Para Lance, h variadas causas de carotidnia. Ele reconheceu a existncia de
uma forma aguda, acometendo jovens ou adultos de meia-idade, com a
sintomatologia dolorosa durando, em mdia, onze dias e sem recorrncia usual dos
sintomas.
Uma outra forma de apresentao foi estabelecida graas s observaes de
Raskin e Prusiner a partir da descrio de oito casos clnicos. Podendo eclodir em
qualquer perodo da vida adulta, com ataques de durao varivel, de minutos a
horas, dias ou semanas, essa forma de apresentao de carotidnia esteve freqen-
temente associada a uma cefalia pulstil. Autores como Lovshin e o prprio Raskin
procuraram estabelecer uma relao entre essa modalidade de apresentao de
carotidnia e a migrnea, partindo de pontos em comum reconhecidos entre ambas,
como a sensibilidade exacerbada da artria cartida e a resposta teraputica s
drogas antimigranosas.
Outros autores tm descrito quadros de carotidnia associados a doenas
carotdeas diversas como arterite de clulas gigantes, trombose aterosclertica,
hemorragia vascular intralmen, displasia fibromuscular e aneurismas
dissecantes.
A classificao adotada pela Sociedade Internacional de Cefalia contempla,
unicamente, o diagnstico de carotidnia idioptica, conseqentemente sem
anormalidades estruturais demonstrveis por exames apropriados, caracterizando-
a por uma hipersensibilidade palpao, edemaciao e hiperpulsatilidade carotdeas,
alm de dor cervical ipsilateral com eventual difuso para o hemicrnio
correspondente. Nesses critrios diagnsticos, est prevista uma evoluo temporal-
mente autolimitada a menos de duas semanas de doena. As formas de evoluo
crnicas da doena no foram reconhecidas pela Sociedade Internacional de
Cefalia.
Considerando a grande variabilidade de sinais e sintomas da carotidnia, Biousse
et al., em 1994, contestaram a validao da carotidnia como entidade clnica
diferenciada, e individualizada, advogando que ela deve corresponder a uma
sndrome vinculada a numerosas causas vasculares ou no-vasculares, podendo
at no existir uma origem primariamente carotdea da patologia.
Em nossa prtica neurolgica de duas dcadas assistimos, apenas, a uma nica
paciente, idosa, com doena ateromatosa disseminada, apresentando um quadro
lgico de evoluo crnica que rotulamos de carotidnia. Admitimos que ateromatose
carotdea detectada fosse o fator fisiopatognico primordial.
Os tratamentos preconizados nas formas idiopticas tm sido empricos. Nas
modalidades agudas autolimitadas, o uso de analgsicos comuns parece beneficiar
os pacientes. Drogas antimigranosas de ataque ou mesmo as profilticas so de
utilidade naquelas formas de carotidnia que seguem em curso mais crnico.
296
CEFALIAS E HIPERTENSO ARTERIAL
Sob esse ttulo, sero detalhadas as cefalias vinculadas hipertenso arterial
crnica e aquelas presentes nos surtos hipertensivos.
No adulto, a constatao de nveis tensionais sistlicos iguais ou maiores que
140 mmHg e/ou de nveis pressricos diastlicos iguais ou maiores que 90 mmHg,
em duas aferies com intervalo mnimo de uma semana, critrio diagnstico
para hipertenso arterial. Variaes desses valores so possveis, aceitando-se
160 mmHg como limite crtico mximo de presso sistlica e 95 mmHg como o
mesmo limite para presso diastlica.
As cefalias da hipertenso arterial esto catalogadas na classificao adotada
pela Sociedade Internacional de Cefalia.
HIPERTENSO ARTERIAL CRNICA E CEFALIA
Aceita-se atualmente que a hipertenso arterial crnica de grau leve moderado
no cause cefalia.
Waters apud Lance, estudando uma comunidade composta por 414 indivduos
dentre os quais 36 tinham presso sistlica superior a 195 mmHg e 13 apresentavam
a presso diastlica mais elevada que 115 mmHg, no encontrou diferena na
prevalncia de cefalias, comparando o pequeno grupo de hipertensos com o grupo-
controle.
Outro aspecto ainda no elucidado se a hipertenso arterial sistmica, mesmo
em nveis mais elevados, porm de desenvolvimento insidioso, poderia ser agente
causal de cefalias. Apesar desse questionamento, est amplamente descrita na
literatura especializada, por diferentes autores, uma cefalia bilateral, preferen-
cialmente posterior (occipital) com ocasional difuso para o vrtex do crnio, de
intensidade moderada, carter em peso ou pulstil, de aparecimento matinal, cedendo
gradualmente com o levantar e caminhar. Aceita-se que o desenvolvimento de
uma cefalia dessa natureza se estabelea a partir da distenso passiva das artrias
intracranianas, na influncia do aumento da tenso intravascular, salientando-se,
ainda, que essa distenso se renova e se amplia a cada sstole.
Todas essas ponderaes visam a esclarecer que ainda persistem dvidas da
existncia real de uma cefalia especfica da hipertenso arterial crnica.
Uma outra hiptese, vista com simpatia por muitos cefaliatras, de que essas
dores de cabea representem mero fenmeno de co-morbidade entre hipertensos
crnicos.
A tese dessa co-morbidade encontra respaldo em alguns fatos:
pacientes hipertensos costumam desenvolver uma cefalia do tipo tensional
ao tomarem conscincia de sua doena hipertensiva;
a hipertenso arterial crnica pode agravar cefalias vasculares pr-
existentes;
297
existem estudos mostrando que a hipertenso arterial essencial, estabelecida
em idade mais avanada, tem maior incidncia entre migranosos.
SURTO HIPERTENSIVO E CEFALIA
Para Lance no h dvidas de que um brusco aumento da presso arterial pode
causar cefalia. As crises hipertensivas podem se relacionar a alguns fatores,
sejam eles farmacolgicos, hormonais, idiopticos (hipertenso maligna), a pr-
eclampsia e a eclampsia.
RESPOSTA PRESSRICA AGUDA A AGENTES EXGENOS
Precedendo a utilizao dos antidepressivos tricclicos, foram prescritos, no
tratamento de diversas modalidades de depresso, os chamados inibidores da
monoaminoxidase (IMAO). Drogas como a fenelzina e a tranilcipromina foram
no somente utilizadas em sndromes depressivas variadas como tambm no controle
profiltico de algumas formas de cefalia.
O mecanismo farmacolgico de ao dessas drogas repousa na inibio irrever-
svel da enzima monoaminoxidade A e B, bloqueando, dessa forma, a catabolizao
da serotonina. Na atualidade, essas drogas praticamente foram abandonadas pelos
psiquiatras e neurologistas em virtude de efeitos colaterais variados, entre eles, a
possibilidade de desencadeamento de crises hipertensivas. Alimentos e bebidas
com grande teor de tiramina (queijo curtido, vinho tinto), bebidas saturadas de
cafena (o prprio caf e os refrigerantes tipo cola), alm de medicamentos com
ao simpaticomimtica, interagindo com os IMAO, podem provocar esses temveis
surtos hipertensivos. Da poder se desenvolver uma cefalia severa, de intensidade
crescente, de predomnio occipital.
Uma das interaes medicamentosas considerada mais perigosa aquela que
ocorre na substituio de um IMAO clssico por um antidepressivo tricclico,
havendo de se respeitar um intervalo livre, sem droga, de pelo menos duas semanas
quando da troca de uma medicao pela outra.
Os modernos inibidores da monoaminoxidase so seletivos e reversveis.
A meclobemida um IMAO que atua especialmente na monoaminoxidade A.
Sua substituio por um antidepressivo tricclico possvel sem a necessidade de
um intervalo (wash out) livre de medicao (reversibilidade).
J a selegilina, um IMAO-B, pode ser at associada, sem riscos de desencadear
crises hipertensivas, a antidepressivos tricclicos.
FEOCROMOCITOMA
So tumores cromoafins secretantes de catecolaminas, sendo causa de hiperten-
so arterial no essencial (secundria).
O tipo de hipertenso encontrada, mantida ou em surtos, pode estar condicionado a
predominncia de uma determinada amina secretada (noradrenalina ou adrenalina).
298
A Sociedade Internacional de Cefalia, atravs de seus critrios diagnsticos, estabelece
uma estreita relao entre cefalia e a hipertenso arterial induzida por feocromocitomas.
Classicamente, admite-se que a dor de cabea relacionada aos surtos hiperten-
sivos do feocromocitoma decorrente de vasodilatao intracraniana acrescida
de possvel associao com deslocamento e trao de estruturas sensveis,
especialmente vasculares, secundrios ao edema cerebral.
Uma questo muito polmica que de 20% a 30% dos pacientes com feocromo-
citoma no apresentam cefalia mesmo na vigncia de hipertenso arterial. Esse
fato sugere que a elevao dos nveis tensionais sanguneos, por si s, talvez no
seja suficiente para produzir os fenmenos lgicos.
H alguns anos, foi isolado um peptdeo hipotensor em pacientes com feocro-
mocitoma, suspeito de ter importncia fisiopatognica no mecanismo desse tipo de
cefalia. Essa substncia, denominada adrenomedulina, encontrada em diversos
tecidos, incluindo o crtex cerebral e vasos enceflicos. Faz parte da superfamlia
do CGRP (peptdeo relacionado ao gen da calcitonina) e produz dilatao das
arterolas cerebrais. Tem-se, assim, um possvel fator algiognico, independente
da hipertenso arterial, na produo da cefalia.
Cefalia associada ao feocromocitoma est inserida em um contexto sintoma-
tolgico bem mais amplo de manifestaes paroxsticas.A dor pode durar de poucos
minutos a horas, havendo uma distribuio difusa ou ocasionalmente em regies
fronto-temporais. Distrbios autonmicos, como taquicardia e sudorese comumente
precedem a dor a qual pode se fazer acompanhar de nuseas, palidez cutneo-
mucosa e elevao dos nveis tencionais sangneos.
Thomas, Rooke e Kvale apud Lance, revendo cem casos de feocromocitoma
na clnica de Mayo, por um perodo de vinte anos, encontraram cefalia, como
caracterstica primordial dos ataques, em oitenta por cento dos casos. O perfil
usual foi de um rpido ataque com dor severa, bilateral, de carter pulstil e
associada a nuseas em aproximadamente metade dos casos. A dor manteve-se
por menos de uma hora em setenta por cento dos pacientes sendo ainda
acompanhada por outros sinais e sintomas de liberao de catecolaminas em outros
noventa por cento.
O diagnstico de feocromocitoma pode ser confirmado atravs da dosagem das
catecolaminas plasmticas e urinrias e de seus metablitos. de praxe pedir dosagens
urinrias do cido vanilmandlico, das catecolaminas livres, da metanefrina e da
normetranefrina, alm da determinao dos nveis plasmticos das catecolaminas por
cromatografia lquida de alta presso. Ultra-sonografia, tomografia computadorizada
ou ressonncia magntica nuclear so recursos de imagem para localizar o tumor.
O tratamento medicamentoso feito eletivamente com prazosina na posologia
de 8 mg a 20 mg ao dia, dependendo a cura definitiva da completa resseco
cirrgica do tumor.
299
HIPERTENSO MALIGNA
Nesse grupo est inserida a chamada encefalopatia hipertensiva. Esta decorre
de uma descompensao dos nveis de presso arterial, gerando perda da auto-
regulao cerebral, quebra da barreira hematoenceflica e edema. Valores diastlicos
acima de 125 mmHg so encontrados, podendo a encefalopatia se estabelecer at
com nveis mais baixos, desde que a elevao seja mais abrupta. A sintomatologia
aguda e dominada por cefalia, nuseas, distrbios visuais, convulses, rebaixamento
do nvel de conscincia, sinais neurolgicos focais e retinopatia hipertensiva. Medidas
teraputicas no sentido da reduo da presso arterial devem ser agilizadas.
PR-ECLAMPSIA E ECLAMPSIA
Esses so casos que normalmente no chegam s mos dos neurologistas,
sendo normalmente assistidos pelos profissionais da toco-ginecologia. A cefalia
semelhante quela observada na hipertenso maligna.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Adams RD, Victor M, Ropper AH. Principals of Neurology. New York: Mc Graw Hill, 1997.
Andr C. Manual do AVC. Rio de Janeiro Revinter, 1999.
Biousse V, Bousse MG. The mith of carotidynia. Neurology 1994;44:933-935.
Editorial. Carotidynia. A distinct syndrome. JAMA 1967;199:121.
Farias da Silva W. Algias Craniofaciais. So Paulo: Lemos Editoral, 1998.
Farias da Silva W. Cefalias. Diagnstico e Tratamento. Rio de Janeiro: Medsi, 1989.
International Headache Society. Classification and Diagnostic Criteria for Headache sorders,
cranial neuralgia and facial pain. Cefalalgia 1988;8(suppl 7): 1-96.
Lance JW, Goadsby PJ. Mechanism and Management of Headache, 6th ed. Cambridge
Butterworth-Heinemann, 1998.
Lee SI. Should vasoactive drugs be used in carotidynia? (letter). Neurology 1967;27:698.
Lucena VG et al. (ed.). Condutas em Clnica Mdica, 2a ed. Recife: Editora Universitria da
UFPE, 1997.
Piovesan EJ, Moeller L, Piovesan LM, Werneck LC, Carvalho JLG. Cefalia em pacientes
com feocromocitoma. Arq de Neuropsiq 1998;56:255-257.
Raskin NH, Prusiner S Carotidynia. Neurology 1977;27:43-46.
Rowland LP. (ed.). Merritts Textbook of Neurology, 9th ed. New York: Willams & Wilkins,
1995.
303
16
CEFALIA NOS DISTRBIOS DA
PRESSO INTRACRANIANA
Marcelo Gabriel Vega
V
FIGURA 16.1 Curva pressovolume.
306
As situaes que conduzem a uma elevao da PIC podem ser divididas em:
Presena de massa intraparenquimatosa (abscesso, tumor, hematoma, etc.).
Bloqueio da circulao do LCR
Diminuio do retorno venoso
Edema cerebral difuso
Aumento na produo do LCR
Nem todos os casos de incremento da PIC provocam, necessariamente, cefalia.
Dessa forma, para que exista cefalia dever haver deslocamento ou trao dos
vasos, meninges, nervos, seios durais. Unicamente nestes casos a cefalia formar
parte da sintomatologia.
A presso do LCR reflexo direto da PIC. Em condies normais, estando a
pessoa em decbito lateral, oscila entre 110 e 150 mmH 20, embora existam na
literatura valores superiores aos aqui mencionados. A presso do LCR depende de
vrios fatores: presso de secreo do LCR, taxa de absoro do LCR, presso
arterial intracraniana, presso venosa intracraniana, volume parenquimatoso, presso
hidrosttica. O aumento da presso venosa (por dificuldade no seu retorno) exerce
um efeito primordial. As manobras de Queckenstedt, a de Valsalva e seus derivados,
so claros exemplos.
Passaremos a analisar agora as diversas situaes clnicas que podem levar a
alteraes na PIC e sua relao com o sintoma cefalia.
1. Hipertenso intracraniana
Primrias: Pseudotumor cerebral
Secundrias: Hidrocefalia
Tumor intracraniano
Obstruo venosa
2. Hipotenso intracraniana
Primria:
Secundria: Ps-puno lombar
Ps-traumtica
AUMENTO DA PIC
HIPOTENSO INTRACRANIANA
A presena de dor de cabea naqueles casos de hipotenso liqurica constante.
Caracteristicamente a cefalia agravada pela adoo de postura ereta e melhorada
pelo decbito.
Os critrios da IHS falam da necessidade da dor aparecer nos primeiros quinze
minutos logo aps haver assumido a postura ereta e desaparecer ou melhorar
muito trinta minutos aps deitar.
A presso do LCR nesses casos varia entre 0 e 70 mmH 2O (para um valor
normal de 120-150 mmH2 O). A cefalia muitas vezes se acompanha de rigidez de
nuca, nuseas ou vmitos, fato que pode levar confuso diagnstica.
As cefalias por hipotenso admitem dois grandes grupos etiolgicos: o primrio,
idioptico e o secundrio. Destes, no h dvidas que o grupo dos secundrios
preponderante. Nestes casos a hipotenso geralmente provocada pela realizao
de puno lombar com perda de LCR atravs de uma fstula. Num menor nmero
de casos a fstula ocorre espontaneamente.
Os casos de hipotenso idioptica so menos conhecidos. Por definio no
devem existir antecedentes imediatos de PL ou a probabilidade de uma fstula (na
dura perimedular ou enceflica). Muitos autores adjudicam o quadro a uma
hiperabsoro do LCR. Sob o ponto de vista da sintomatologia, os casos de etiologia
primria e os de natureza secundria so similares.
CEFALIA PS -PUNO LOMBAR
Forma mais freqentemente encontrada, a cefalia ps-puncional provocada
pela trao das estruturas algognicas cranianas (meninges, vasos, seios durais),
causada principalmente pela adoo de uma postura ereta, uma vez perdida a
capacidade de atenuao que exerce o LCR.
Os estudos realizados por Tourtellotte na dcada de 60 separaram a causa
da dor em trs tipos: posterior a puno lombar realizada com objetivos diag-
nsticos, excluindo aquelas realizadas para mielografia ou pneumoencefalo-
grafia.
Posterior a puno lombar realizada com finalidade anestsica, em pacientes
no-obsttricos.
Posterior a puno lombar realizada com finalidade anestsica em pacientes
obsttricos.
Idade e sexo so considerados fatores de risco, acontecendo com maior
freqncia no sexo feminino e na idade dos 18 a 30 anos.
312
CEFALIA NOS DISTRBIOS DA PRESSO INTRACRANIANA
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Evans RW, Armon C, Frohman EN, Goodin DS. Assesment Prevention of post-lumbar
puncture headaches. Report of the Therapeutics and Tecnology Assessment
Subcommittee of the American Academy of Neurology. Neurology 2000;55:900-914.
International Headache Society. Classification and diagnostic criteria for headache disorders,
cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988;8(suppl 7):1-96.
Lance J, Goadsby PJ. Mechanism and Management of Headache. 6th ed. Butterworth-
Heinemann, 1998.
Raskin NH. Headache Caused by Alterations of Structure or Homeostasis. In: Headache.
New York: Churchill-Livingstone, 1988; pp. 283-316.
Raskin NH. Lombar puncture headache: a review. Headache 1990;30:197-200.
Silverstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ. Headache. In: Clinical Practice. Oxford Isis Medical
Media. 1998.
313
17
CEFALIA E SONO
Jayme Antunes Maciel Jr.
INTRODUO
Cefalia pode constituir um sintoma isolado ou fazer parte de quadro clnico
complexo (migrnea, cefalia tipo tensional, cefalia em salvas) ou ento ser a
expresso de doena subjacente (cefalia secundria a neoplasia intracraniana).
O diagnstico correto da cefalia implica no conhecimento da classificao da
Sociedade Internacional de Cefalia (SIC) cujo reflexo a boa conduta clnica e
teraputica. A tabela 17.1 lista alguns tipos de cefalia segundo a SIC que podem
ter relao com o sono: influenciar ou ser influenciada ou, ento, desencadeada
pelo sono.
As relaes entre cefalia e sono fundamentam-se nos conhecimentos sobre
mecanismos complexos do sistema nervoso central (SNC), como hiperexcitabilidade,
mecanismos de transmisso central da dor ceflica, inibio da nocicepo e
sensibilizao central. Esses mecanismos incluem a participao de canais inicos
(clcio, sdio e clordrico), GABA (receptor kainato/cido -amino-3-hidroxi-5-
metilisoxazol-4-propionico(AMPA) e receptores serotoninrgicos (5-HT2 ). A
organizao da arquitetura do sono noturno, em especial as fases de sono de ondas
lentas e de sono rpido ou REM, passa atravs da ciclagem alternante entre
acetilcolina e serotonina. Alm disso, a presena freqente de comorbidade e o
uso de drogas profilticas (cujo efeito se deve a ao sobre esses mecanismos)
constituem elementos suplementares que apontam para a complexidade dos
mecanismos envolvidos na migrnea e sono.
O sono desempenha efeitos variveis e at contraditrios sobre a cefalia. Ele
pode influenciar ou ser influenciado por determinados tipos de cefalia ou ento,
determinados distrbios do sono se vinculam a formas especficas de cefalia.
As relaes entre migrnea (enxaqueca) e sono so conhecidas desde as
descries iniciais e mais recentemente foram objeto de estudos mais aprofundados,
atravs de questionrios ou de avaliao polissonogrfica (Figura 17.1).
Tabela 17.1 Cefalia e sono: grupos de cefalias que podem sofrer interf erncia ou
modificar o sono noturno
Cefalias primrias que podem sofrer interferncia ou modificar o sono
1. Migrnea
2. Cefalia tipo tensional
3. Cefalia em salvas
4. Hemicrania paroxstica crnica
5. Cefalia crnica diria
Cefalias sintomticas ou secundrias que podem ser desencadeadas ou pioradas durante o sono
1. Cefalia associada a distrbios intracranianos no-vasculares
A. Presso liqurica elevada
i. Hipertenso intracraniana idioptica/benigna
ii. Hidrocefalia de presso elevada
iii. Neoplasia intracraniana
iv. Infeco ou inflamao intracraniana
2. Cefalia associada a distrbios metablicos
A. Hipxia e/ou hipercapnia (sndrome de apnia do sono)
3. Cefalia associada a distrbios vasculares
A. De origem arterial
i. Doena vascular cerebral isqumica
ii. Doena vascular cerebral hemorrgica
B. De origem venosa
i. Trombose venosa cerebral
C. Hipertenso arterial sistmica
4. Cefalia ou dor facial associada a distrbio do crnio, do pescoo, dos olhos, das orelhas, dos seios
paranasais, dos dentes ou de outras estruturas faciais ou cranianas que podem ser desencadeadas ou
pioradas durante o sono (postura)
1. Pescoo
A. Coluna cervical (cefalia cervicognica)
B. Tendinite retrofarngea
2. Nariz e seios paranasais
A. Sinusopatia aguda (infecciosa, barosinusite)
3. Disfunes oromandibulares
Hereditariedade
Complexo
Trigemino-cervical
Cefalia
FIGURA 17.1 Ecologia da crise migranosa e suas relaes com o sono e ritmo circadiano.
Cefalia como
causa de distrbio Cefalia e durao
do sono
Cefalia e Sono do sono noturno
Organizao e arquitetura
gicos
Fisiopatologia
Distrbio do sono Cefalia e fases do
e cefalia sono noturno
Modificaes da durao total do sono noturno tem efeito sobre o indivduo normal.
Aps perodo de privao de sono comum o aparecimento de cefalia. As crises de
migrnea podem ser desencadeadas pela reduo ou alongamento do sono total noturno.
Cefalia e fases especficas do sono noturno
Embora tenha sido relatado que a crise migranosa possa ser desencadeada
pela durao excessiva dos estgios III e IV ou do sono rpido isso no foi
corroborado por estudos sistemticos.
A cefalia em salvas est em ntima relao com o sono rpido ou ento pode
ser desencadeada em perodo de sono no-REM.
318
Na hemicrania paroxstica crnica, os ataques que ocorrem durante o sono
esto na dependncia do aumento da presso arterial durante a mudana de sono
lento profundo para sono rpido.
Efeito benfico do sono sobre a cefalia
As crises migranosas durante a infncia ou ento as crises de migrnea com
aura confusional podem ser abortadas por perodos de sono de curta durao,
noturno ou diurno.
Sonho e cefalia
319
d) Cefalia da sndrome dos movimentos peridicos do sono: movi-
mentos peridicos do sono esto relacionados cefalia matinal em 25%
dos pacientes.
CEFALIAS SINTOMTICAS OU SECUNDRIAS QUE PODEM SER DESENCADEADAS
OU PIORADAS DURANTE O SONO
MEDIDAS TERAPUTICAS
A conduta teraputica na cefalia relacionada ao sono depende do diagnstico
criterioso do tipo de cefalia, do perfil temporal e das possveis modificaes
cronolgicas incidentes. A comorbidade de doenas sistmicas ou do sistema nervoso
central com cefalia do tipo primrio constitui fator que no deve ser negligenciado.
Nesse aspecto importante seguir as diretrizes da Sociedade Internacional de
Cefalia no que se refere afastar patologia secundria.
O uso de drogas, geralmente preventivas, ou o emprego de medidas de suporte
mecnico (CPAP) deve ser ponderado de maneira individualizada e em funo da
anlise da complexidade sintomatolgica e etiolgica. judicioso o estudo polissono-
grfico do sono noturno para esclarecer as relaes complexas entre cefalia e
sono noturno.
CONCLUSES
Ao trmino desse captulo necessrio destacar a complexidade, clnica e
fisiopatolgica, das relaes entre cefalia e sono. Isso implica uma postura clnica
320
adequada no sentido de pesquisar sistematicamente essa relao e sempre que
possvel proceder investigao polissonogrfica do sono noturno nesses pacientes.
mister enfatizar que tanto a cefalia como os distrbios do sono ou eventos
relacionados ao sono so fatores limitantes da qualidade de vida desses pacientes.
A possibilidade de cefalias secundrias ou sintomticas se manifestarem durante
o sono ou ao acordar suscitam cautela por parte do mdico assistente que dever
procurar indcios, somticos e neurolgicos, que possam orientar o diagnstico da
patologia de base. As medidas teraputicas devem ser o resultado dessa conduta
sistemtica.
As medidas teraputicas apropriadas e individualizadas, em ntima relao com
o diagnstico acurado da cefalia, so variveis, do suporte mecnico ao
medicamentoso.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Blau JN. Resolution of migraine attacks: sleep and recovery phase. J Neurol Neurosurg
Psychiatry 1982;45:223-226.
Blau JN. Sleep deprivation headache. Cephalagia 1990;10:157-160.
Burstein R, Woolf CJ. Central Sensitivation and Headache. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P,
Welch KMA (eds.). The Headaches, 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Williams & Wilkins
2000, pp.125-132.
Dexter JD. Headache as a presenting complaint of the sleep apnea syndrome. Headache
1984;24:171.
Dexter JD. The relationship between disorders of arousal from sleep and migraine. Headache
1986;26:322.
Dexter JD. The relationship between stage III-IV-REM sleep and arousals with migraine.
Headache 1979;19:364-369.
Dexter JD, Weitzman ED. The relationship of nocturnal headaches to sleep stages patterns.
Neurology 1970;20:513-518.
Dodick DW, Mosek AC, Campbell JK. The hypnic (alarm clock) headache syndrome.
Cephalalgia 1998;18:152-156.
Dostrovsky JO, Strassman AM. Central Transmission of Cephalic Pain. In: Olesen J, Tfelt-
Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches, 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Williams
& Wilkins, 2000; pp.107-116.
Guiraud M, DAghis P, Guard O, Dumas R. Migraine et somnambulisme: enqute portant
sur 122 migraineux. Rev Neurol 1986;142:42-46.
Heather-Greener GA, Comstock D, Joyce R. An investigation of the manifest dream content
associated with migraine headaches: a study of the dreams that precede nocturnal
migraine. Psychother Psychosom 1996;65:216-221.
Inamorato E, Minatti-Hannuch SM, Zukerman E. The role of sleep in migraine attacks. Arq
Neuropsiquiatr 1993;51:429-432.
321
Jennum P, Hein HO, Suadicani P, Gyntelberg F. Headache and cognitive dysfunction in
snorers: a cross-sectional study of 3323 men aged 54 to 74 years: the Copenhagen male
study. Arch Neurol 1994;51:937-942.
Kayed K, Godtlibsen OB, Sjaastad O. Chronic paroxysmal hemicrania IV:REM sleep locked
nocturnal headache attacks. Sleep 1973;1:91-95.
Kudrow L, McGinty DJ, Philips ER, Stevenson M. Sleep apnea in cluster headache.
Cephalalgia 1984;4:33-38.
Paiva T, Batista A, Martins P, Martins I. The relationship beteween headache and sleep
disturbances. Headache 1995;35:590-596.
Paiva T, Farinha A, Martins A, Batista A, Guilleminault C. Chronic headaches and sleep
disorders. Arch Intern Med 1997;157:1701-1705.
Paiva T, Hering-Hanit R. Headache and Sleep. Special Problems in the Headaches and Their
Management. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches.
Philadelphia: Lippincott -Williams & Wilkins, 2000; pp. 967-973.
Paiva T, Martins P, Batista A, Esperanza P, Martins I. Sleep disturbances in chronic headache
patients: a comparaison with healthy controls. Headache Q 1994;5:135-141.
Peres MFP. Cefalia crnica diria. A importncia da prolactina, cortisol, GH e melatonina.
Tese de doutorado em Neurologia. Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal
de So Paulo, 2000.
Poceta JS, Dalessio DJ. Identification and treatment of sleep apnea in patients with chronic
headache. Headache 1995;35:586-589.
Pradalier A, Guiroud M, Dry J. Somnambulism, migraine and propranolol. Headache
1987;27:143-145.
Raskin NH. The hypnic headache syndrome. Headache 1988;28:534-536.
Rasmussen BK. Migraine and tension-type headache in general population: precipitating
factors, female hormones, sleep pattern and relation to lifestyle. Pain 1993;53:65-72.
Sahota PK, Dexter JD. Sleep and headache syndromes: a clinical review. Headache 1990;30:80-
84.
Spierings EL, van Hoof MJ. Fadigue and sleep in chronic headache sufferers: an age and
sex-controlled questionnaire study. Headache 1997;37:549-552.
Thoman EB. Snoring, nightmares, and morning headaches in elderly women: a preliminary
study. Biol-Psychol 1997;46(3):275-284.
Ulfberg J, Carter N, Talback M, Edling C. Headache, snoring and sleep apnoea. J Neurol
1996;243:621-625.
Welch KMA, DAndrea G, Teppley N, Barkley G, Ramadan NM. The concept of migraine as
a state of central neuronal hyperexcitability. Neurol Clin 1990;8:817-828.
322
18
CEFALIA CRNICA
DIRIA PRIMRIA E ASSOCIADA AO USO
DE SUBSTNCIAS OU SUA RETIRADA
Abouch Valenty Krymchantowski*
INTRODUO
As cefalias crnicas dirias (CCD) primrias so conceituadas como um grupo
abrangente de cefalias no paroxsticas, que incluem as cefalias associadas a
consumo excessivo de medicaes sintomticas, e se manifestam de forma diria
ou quase diria, durando mais de quatro horas por dia e persistindo por perodos
superiores a 6 meses ou 1 ano.
As estimativas de sua prevalncia na populao geral variam de 0,5% a 6% e
acometem nmero significativo de pacientes que procuram tratamento mdico
especializado, em clnicas neurolgicas. Em estudos epidemiolgicos realizados
em populaes de pacientes de centros especializados, sua incidncia variou de
32,8% a 75% e autores como Mathew (1991) estimam que a CCD representa
40% do total de visitas a mdicos neurologistas.
Embora bastante freqentes em grupos de pacientes, a sua prevalncia em
populaes aleatrias varia significativamente. Newman et al. (1994) avaliaram
amostra de 20.468 indivduos, representativa da populao americana, e encon-
traram 100 deles com CCD (0,5%). Em outros estudos, a prevalncia variou de
0,1% a 3%. Silberstein et al. (1996) estimam que a CCD acometa 2% da
populao geral e Spierings et al. (1998 a) citam estudo populacional realizado
na Holanda, no qual 6% da populao com idade superior a 20 anos apresentam
cefalia diria. Castillo et al. (1999) demonstraram a incidncia de CCD em
4,7% de amostra populacional, com predomnio do sexo feminino (8,7%) sobre o
masculino (1%).
A inexistncia de critrios diagnsticos claros, bem definidos e universalmente
aceitos tem promovido controvrsias e discusses quanto a sua presena na
atual classificao das cefalias. Embora grande parte dos pacientes com CCD
apresentem migrnea episdica transformada (MT) em cefalia diria e outros
tipos de cefalia como a persistente diria de incio sbito (CPDIS) e a hemicrania
contnua (HC), a atual classificao da Sociedade Internacional de Cefalia no
reconhece esses tipos de cefalia. Em funo disso, novas propostas para a
incluso dessas cefalias primrias na classificao atual tm sido apresentadas
ao longo das ltimas duas dcadas (Quadros 18.1, 18.2, 18.3 e 18.4).
324
Quadro 18.2 MT Critrios revisados por Silberstein et al. (1996) (continuao)
1.8.1 Migrnea transformada com uso excessivo de MS.
A. Preencher os critrios de 1.8.
B. No mnimo um dos seguintes, por no mnimo 1 ms.
1. Uso de analgsicos simples (> 1.000 mg AAS/acetaminofen) > 5 dias/semana.
2. Uso de combinaes analgsicas (cafena, medicaes contendo barbitricos) (> 3 comprimidos/dia) >
3 dias/semana.
3. Uso de narcticos > 1 comprimido/dia > 2 dias/semana.
4. Uso de ergotamina (1 mg VO ou 0,5 mg VR) > 2 dias/semana.
1.8.2 Migrnea transformada sem uso excessivo de MS.
A. Preenchendo os critrios de 1.8.
B. No satisfazer os critrios de uso excessivo de medicaes de 1.8.1.
325
Quadro 18.4 CPDIS Critrios propostos por Silberstein et al. (1994)
4.7. Cefalia persistente diria de incio sbito (CPDIS )
A. Mdia de freqncia da cefalia > ou = 15 dias/ms por > 1 ms.
B. Mdia de durao da cefalia de 4 horas/dia (se no tratada).
Freqentemente constante sem medicao, mas pode variar.
C. Sem histria de cefalia do tipo tensional ou migrnea com aumento na freqncia e diminuio na intensidade
em associao com o incio de CDPIS (> 3 meses).
D. Incio agudo (desenvolvendo-se em < 3 dias) de cefalia constante
que no entra em remisso
E. A cefalia constante na localizao? (precisa ser analisado).
F. No mnimo um dos seguintes:
1. No h suspeita de uma das patologias relacionadas no grupo 5 11.
2.Tal patologia suspeitada, mas afastada por investigaes apropr iadas.
3.Tal patologia est presente, mas a primeira crise de cefalia no ocorre em relao temporal ntima com
essa patologia.
4.7.1 CPDIS com uso excessivo de MS
A. Preencher os critrios de 4.7.
B. No mnimo um dos seguintes por, no mnimo, 1 ms:
1. Uso de analgsicos simples (> 1.000 mg AAS/acetaminofen) > 5 dias/semana.
2. Uso de combinaes analgsicas (> 3 comprimidos/dia) > 3 dias/semana.
3. Uso de narcticos (> 1 comprimido/dia) > 2 dias/semana.
4. Uso de ergotamina (1 mg VO ou 0,5 mg VR) > 2 dias/semana.
4.7.2 CPDIS sem uso excessivo de MS.
A. Preencher os critrios de 4.7.
B. No satisfazer os critrios de 4.7.1 B.
VR = Via retal.
APRESENTAO CLNICA
Do ponto de vista clnico, muitos pacientes com CCD apresentavam no passado
migrnea episdica ou cefalia do tipo tensional episdica. Ao longo de suas vidas,
foram perdendo ou modificando as suas caractersticas especficas e marcantes
passando a apresentar uma cefalia diria ou quase diria, com aspectos clnicos
da migrnea e das cefalias do tipo tensional simultaneamente. No entanto, em um
grupo de pacientes com CCD as crises se iniciam de forma sbita, sem que haja
histria anterior de cefalia, desenvolvendo-se ao longo de um a trs dias. Nesses
casos, mesmo assumindo um padro crnico e dirio, o paciente muitas vezes
recorda-se da data exata em que a dor se iniciou.
Os pacientes com CCD e histria de migrnea prvia tipicamente iniciam a sua
cefalia nas segunda e terceira dcadas de vida. Em torno dos 30 a 40 anos, a
cefalia torna-se progressivamente mais freqente passando a ocorrer diria ou
quase diariamente. As caractersticas migranosas de nusea, vmitos, fotofobia,
fonofobia e osmofobia tornam-se menos exuberantes ou mesmo ausentes, e as
caractersticas de cefalia do tipo tensional mais freqentes. Nos pacientes com
326
migrnea com aura, as mudanas no padro biolgico das crises podem inicialmente
produzir o desaparecimento da aura, para posteriormente transformar essas crises
em dor crnica diria.
Outras caractersticas de migrnea podem persistir, incluindo agravamento da
cefalia no perodo menstrual, fatores deflagradores identificveis e cefalia
unilateral. Nesses pacientes, a histria familiar para migrnea est geralmente
presente e muitas vezes os pacientes apresentam sobrepostas cefalia diria, de
intensidade mais leve, crises intermitentes de migrnea tpica. Os portadores de
cefalia do tipo tensional por sua vez podem passar a apresentar caractersticas da
migrnea em alguns de seus episdios dolorosos de ocorrncia diria.
A apresentao clnica da CCD foi detalhada em alguns estudos publicados
nos ltimos 5 anos utilizando os critrios propostos por Silberstein et al. (1996)
(Quadros 18.1, 18.2, 18.3, 18.4). A maioria dos pacientes pertence ao sexo feminino
(em torno de 75%) e a idade mdia desses pacientes, quando da avaliao em
centros tercirios, de 39 anos. A distribuio por categorias diagnsticas das
CCD primrias revela franco predomnio de migrnea transformada (MT) (75% a
90%), seguido dos pacientes com cefalia do tipo tensional crnica (CTTC) (10%
a 20%) e com cefalia persistente diria de incio sbito (CPDIS) ou hemicrania
contnua (0,1% a 5%).
A maior parte dos pacientes com MT apresenta cefalia frontotemporal bilateral
(em torno de 50%), embora tambm se observe cefalia holocraniana e unilateral.
A intensidade habitual da dor leve ou moderada (em torno de 70%) e a sua
qualidade habitual revela-se em peso ou presso (60% a 70%) ou pulstil/latejante
(aproximadamente 30% dos pacientes).
A cefalia da MT pode ser contnua e embora muitos pacientes deixem de
apresentar os sintomas associados cefalia, tpicos de migrnea, ou diminuam
sua intensidade, esses ainda manifestam-se como nusea (50% a 60%), vmitos
(8% a 10%), fotofobia (30% a 40%), fonofobia (30%) e osmofobia ou intolerncia
odores (20%). Distrbios do sono, como acordar o paciente durante a noite ou a
presena de insnia, ocorrem freqentemente nesses pacientes (em torno de 70%).
Crises intermitentes de cefalia intensa com caractersticas tpicas de migrnea,
sobrepostas cefalia diria, ocorrem em mais de 80% dos pacientes com MT.
Esse aspecto da CCD em pacientes do grupo das MT foi descrito por vrios
autores e denominado de episodic superimposed bouts of full-blown migraine.
As caractersticas clnicas das crises intermitentes podem variar e se apresentar
semelhantes dor diria, porm mais intensas e com sintomas associados mais
exacerbados ou diferentes da dor diria, passando a latejantes/pulsteis, unilaterais,
mais intensas e com sintomas associados que so ausentes na cefalia diria. A
freqncia dessas crises intermitentes varivel havendo pacientes com crises
menos de uma vez por ms e outros apresentando-nas todas as semanas.
327
Os fatores desencadeantes das crises intermitentes so semelhantes queles
que podem deflagrar crises de migrnea episdica e geralmente so referidos
como menstruao, lcool, chocolate, fadiga, dormir por mais horas que o habitual,
privao de sono, perda ou atraso de refeio e situaes estressantes.
O uso excessivo de medicaes sintomticas (MS), de acordo com os critrios
propostos por Silberstein et al. (1994), freqente nesses pacientes (70% a 80%)
e no raro h utilizao de mais de uma classe de substncias.
Na categoria de pacientes com CTTC, a localizao habitual da dor tambm
frontotemporal bilateral, a intensidade leve ou moderada e a qualidade mais
freqente peso ou presso, embora cefalia frontal e occipitonucal possa ser
relatada por alguns pacientes. A durao da dor geralmente contnua e sintomas
associados cefalia no so comuns apesar de nusea e/ou fonofobia leves serem
referidos eventualmente.
Pacientes com CTTC tambm apresentam distrbios do sono com freqncia
considervel. Cefalia presente j ao acordar pela manh e insnia e/ou sono
interrompido ocorrem em mais de 70% desses pacientes. O uso excessivo de MS
observado em mais de 50% e tambm se observa o consumo freqente de mais
de uma classe de medicamento.
As caractersticas de apresentao da cefalia persistente diria de incio sbito
(CPDIS) so as de uma cefalia que se inicia e no termina mais. O desenvolvi-
mento da cefalia abrupto, ocorrendo em menos de trs dias. Os pacientes so
mais jovens do que aqueles com MT e freqentemente se recordam do dia em que
a dor de cabea se iniciou. Como a apresentao clnica da CPDIS semelhante
a da CTTC, as duas cefalias so diferenciadas pela ausncia de histria pregressa
de cefalia do tipo tensional. Eventualmente a CPDIS pode assumir um carter
pulstil e intenso, mas tambm, para comprovao do diagnstico, no pode ter
evoludo progressivamente de uma migrnea episdica. Esse tipo de cefalia
tambm pode ser associada ao uso excessivo de MS.
A hemicrania contnua (HC) apresenta caractersticas peculiares e ser abordada
em outro captulo deste livro.
Em resumo, a maioria dos pacientes com cefalia crnica diria primria
pertence ao grupo da migrnea transformada seguido pelo grupo da CTTC e pelo
grupo da cefalia persistente diria de incio sbito, de acordo com os critrios de
Silberstein et al. (1994, 1996). A predominncia de pacientes com migrnea
transformada entre aqueles com cefalia crnica diria observada por vrios
autores que estudaram populaes de clnicas especializadas.
As caractersticas clnicas da cefalia crnica diria primria so, na grande
parte dos pacientes e independente da cefalia episdica primria, semelhantes
quelas da cefalia do tipo tensional. Dor bilateral, moderada, com sintomas
associados leves como nusea e/ou fotofobia e/ou fonofobia, durao superior a
328
quatro horas por dia e associao freqente a distrbios do sono o padro de
apresentao mais comum.
Entre os pacientes com migrnea transformada, a apresentao clnica da
cefalia diria entremeada pela ocorrncia, com freqncia varivel, de crises
intermitentes revelando caractersticas distintas da cefalia diria e mais tpicas de
migrnea episdica, porm com apresentao clnica de padres variados.
Grande parte dos pacientes com CCD estudados em populaes de centros
neurolgicos preenche os critrios propostos para uso excessivo de medicaes
sintomticas.
FISIOPATOLOGIA E MECANISMOS ENVOLVIDOS
As hipteses de etiopatogenia da CCD ainda so especulativas. Para Mathew
et al. (1982), os pacientes com migrnea passam a apresentar episdios de cefalia
cada vez mais freqentes ao longo do tempo, pela depleo de fatores neuroqumicos
antinociceptivos centrais ou pela sensibilizao anormal de receptores vasculares
perifricos. Olesen (1991) e Mathew (1991) referem que h mecanismos
miognicos nociceptivos tanto na migrnea como na cefalia do tipo tensional (CTT),
e a dominncia relativa dos mecanismos vascular e miognico pode variar com o
passar do tempo, modificando a apresentao da cefalia crnica que passa a ser
diria ou quase diria.
Para autores como Saper (1990), Olesen (1991) e Silberstein (1994), a migrnea
e a CTT seriam pertencentes ao mesmo espectro de dor e compartilhariam
mecanismos fisiopatognicos, inclusive centrais, relacionados a disfunes de
neurotransmissores e/ou receptores no tronco cerebral, sistema lmbico e hipotlamo.
Distrbios nos sistemas endorfinrgicos e/ou monoaminrgicos no hipotlamo e
tronco cerebral, assim como alteraes no controle cronobiolgico hipotalmico,
exerceriam tambm papel importante nesse processo de transformao em dor
diria.
Silberstein (1994) observa que a migrnea e a CTT apresentam caractersticas
comuns como alteraes eletromiogrficas e na sensibilidade palpao de
msculos pericranianos, alm de alteraes nos nveis de serotonina plaquetria, o
que pode justificar a presena de aspectos clnicos de CTT em CCDs que evoluem
a partir da transformao de migrnea episdica.
Olesen (1991) sugere um modelo fisiopatolgico nico para explicar a dor na
migrnea e na CTT. Estmulos vasculares, centrais e miognicos convergiriam
para o ncleo caudado do nervo trigmeo e sofreriam influncias excitatrias ou
inibitrias centrais. As migrneas, ao se transformarem em dirias, apresentariam
caractersticas clnicas de CTT em funo da integrao nociceptiva comum,
segundo o modelo de Olesen (1991). Na migrnea episdica, as aferncias
vasculares predominam sobre as musculares com um papel preponderante de
329
mecanismos centrais, desencadeando toda a gama de manifestaes observadas
em uma crise tpica de migrnea. Nas CTT, predominariam as aferncias
musculares sobre as vasculares, sem tanta participao de mecanismos centrais.
Em pacientes com CCD e migrnea transformada, h aumento de receptores
serotoninrgicos 5-HT2 na membrana das plaquetas. Esse mecanismo promove a
regulao para cima (up-regulation) dos receptores serotoninrgicos ps-sinpticos,
decorrente da diminuio do nvel de serotonina nas fendas sinpticas e poderia
ser o mecanismo de transformao da migrnea episdica em diria. Em estudo
realizado por Srikiatkhachorn e Anthony (1996), destaca-se que embora os pacientes
com migrnea episdica tenham uma concentrao de receptores 5-HT2 nas
membranas plaquetrias bem inferior a dos controles sem cefalia, os pacientes
com cefalia induzida por drogas apresentam concentrao significativamente maior
desses receptores do que migranosos sem CCD, destacando a possibilidade deste
ser o mecanismo de transformao da dor em diria.
Mauskop (1994) ainda sugere haver um componente gentico na CCD, ao
constatar a presena deste tipo de cefalia em quatro geraes de uma famlia.
Autores como Schoenen et al. (1987, 1993) demonstraram em pacientes com
CTTC ausncia ou reduo da durao do perodo de supresso exteroceptiva
tardia (ES2) dos msculos temporal e masseter, sugerindo funcionamento inibitrio
deficiente nos interneurnios do tronco cerebral sobre os mecanismos nociceptivos
miognicos.
Para Silberstein e Lipton (1997), episdios repetidos de inflamao neurognica
como observado em crises de migrnea poderiam ao longo do tempo sensibilizar
nociceptores, inclusive silenciosos ou adormecidos, e neurnios do ncleo caudado
do trigmeo, resultando em ativao mantida do sistema trigeminovascular e
desenvolvimento da cefalia diria. Por outro lado, um aumento da atividade das
chamadas on-cells localizadas na medula rostroventromedial que facilitam a
nocicepo aumentaria a resposta a estmulos dolorosos e no dolorosos no sistema
de modulao da dor no tronco cerebral, o que observado em situaes de
suspenso do uso de opiceos. A CCD poderia resultar, pelo menos em parte, de
atividade neuronal exacerbada no ncleo caudado do trigmeo, como resultado do
aumento da atividade das on-cells ou decrscimo da atividade das off-cells.
A associao entre cefalia e estresse ou entre dor crnica e estresse poderia
ser justificada, ainda segundo Silberstein e Lipton (1997), pela ativao aumentada
deste sistema de on-cells/off-cells, o que seria deflagrado por estmulos
condicionados observados na vigncia de dor ou de estresse.
Post e Silberstein (1994) aventaram que o processo de transformao da
migrnea episdica em CCD envolveria episdios recorrentes espontneos de
migrnea anlogos aos baixos nveis de estimulao eltrica sugeridos no modelo
de kindling da epilepsia. Neste modelo, estimulao eltrica contnua de baixo
330
nvel induziria uma srie complexa de alteraes neuroqumicas e anatmicas
progressivas.
Spierings et al. (1998 b), estudando 258 pacientes com CCD, observaram que
30% dos pacientes que desenvolveram cefalia diria abruptamente no revelaram
causa aparente para essa mudana de ritmo. Nos demais, leses da cabea, pescoo
ou coluna foram as causas mais freqentes, seguidos por infeces gripais, sinusites,
doenas vrias (colite, fibromialgia, vertigem, encefalite e meningite) e
procedimentos cirrgicos variados. Esses autores destacam ainda que a existncia
de cefalia intensa no passado no pr-requisito para o desenvolvimento de
cefalia diria aps leso ou doena.
Alteraes psicopatolgicas avaliadas em vrios testes so freqentemente
encontradas em pacientes com CCD. H controvrsias se essas alteraes
predispem ou causam o desenvolvimento de CCD, ou ainda se decorrem do sofri-
mento de anos com a cefalia diria.Autores como Arena et al. (1985), Blanchard
et al. (1989) e Mongini et al. (1992) observaram que pacientes com CCD j
manifestavam distrbios psicopatolgicos e depressivos antes do desenvolvimento
da CCD, podendo essas alteraes desempenhar papel etiopatognico nesta
transformao. Entretanto, Mathew (1993) sugere que as alteraes psicopa-
tolgicas encontradas nesses pacientes manteriam uma relao bioqumica comum
com o desenvolvimento da CCD, enfatizando o papel integrativo dos sistemas de
neurotransmissores envolvidos na modulao da dor e do humor.
O papel das drogas na patognese das CCDs tem sido destacado com nfase
ao longo das duas ltimas dcadas. Mathew et al. (1987) j haviam observado a
importncia do consumo excessivo de MS em pacientes com CCD. Bowdler et al.
(1988) e Lance et al. (1988) sugeriram que os pacientes com cefalias primrias,
principalmente migranosos, desenvolvem cefalia diria com o uso freqente de
quaisquer tipos de analgsicos e MS. Para eles, uma maior supresso induzida
pelas MS em um sistema antinociceptivo j deficiente ou anormal poderia promover
a transformao para CCD. Srikiatkhachorn et al. (1994) sugerem que o uso
excessivo de drogas seria responsvel pelo aumento do nmero e funo de
determinados receptores serotoninrgicos centrais, suprimindo a atividade de vias
serotoninrgicas envolvidas na modulao da dor no crebro.
Hering et al. (1993 a) observaram que os nveis de serotonina no sangue se
elevam aps a suspenso de MS em pacientes com CCD que utilizavam exces-
sivamente esses medicamentos, o que corrobora o papel da funo serotoninrgica
central nas CCD. Analisaram ainda a transduo das membranas celulares
plaquetrias em pacientes com CCD e sugeriram que a utilizao excessiva de
MS altera o funcionamento deste sistema, podendo desempenhar papel na
transformao da cefalia em CCD (1993 b). Gobel et al. (1992) estudaram o
processo de supresso exteroceptiva do msculo temporal em controles e pacientes
331
com cefalia, observando que a aspirina aumentava a sua durao, sugerindo que
o efeito analgsico dessa droga poderia envolver um reflexo antinociceptivo do
tronco cerebral, o qual seria levado exausto pelo seu uso repetido, desenvolvendo-
se assim a CCD induzida por drogas.
ABORDAGEM E TRATAMENTO
336
8.1.3 Cefalia induzida por monxido de carbono
8.1.4 Cefalia induzida por lcool
Critrios diagnsticos:
Ocorre dentro de trs horas aps a ingesto de lcool.
8.1.5 Outras substncias (especificar)
8.2 Cefalia induzida pelo uso ou exposio crnica a uma substncia
Critrios diagnsticos:
A. Ocorre aps doses dirias de uma substncia por a trs meses.
B. Deve ser indicada a dose mnima necessria.
C. A cefalia crnica (mais de 15 dias por ms).
D. A cefalia desaparece dentro de um ms aps a retirada da substncia.
Comentrio: At agora a cefalia induzida pelo uso crnico de ergotamina e analgsicos s tem sido descrita quando
a droga tomada para cefalia, no quando ela tomada para outros distrbios.
8.2.1 Cefalia induzida por ergotamina
Critrios diagnsticos:
A. precedida pelo uso dirio de ergotamina (oral 2mg, retal 1mg).
B. difusa, pulstil e diferencia-se da migrnea pela ausncia do padro de crise e/ou ausncia de sintomas
associados.
Comentrio: O diagnstico somente pode ser feito aps a suspenso de ergotamina resultar no desaparecimento
da cefalia ergotamino-induzida (mas no da cefalia primria).
8.2.2 Cefalia por abuso de analgsicos
Critrios diagnsticos:
Um ou mais dos seguintes itens:
1. 50g de aspirina por ms ou o equivalente de outros analgsicos suaves.
2. 100 tabletes ao ms de analgsicos combinados com barbitricos ou outros compostos no narcticos.
3. Um ou mais analgsicos narcticos por semana.
Comentrio: Este diagnstico s pode ser feito aps a supresso da substncia resultar o desaparecimento da
cefalia por ela induzida (porm no usualmente da cefalia primria).
8.2.3 Outras substncias
8.3 Cefalia da supresso de uma substncia (uso agudo)
Critrios diagnsticos:
A. Segue-se ao uso agudo de uma substncia.
B. Deve ser indicada a dose mnima necessria.
C. Ocorre quando a substncia em grande parte ou completamente eliminada, mas pode durar mais tempo.
D. melhorada ou desaparece com a retomada da substncia.
8.3.1 Cefalia da supresso de lcool (ressaca)
Critrios diagnsticos:
precedida pela ingesto de suficiente quantidade de lcool para levar embriaguez.
8.3.2 Outras substncias
8.4 Cefalia da supresso de uma substncia (uso crnico)
Critrios diagnsticos:
A. Ocorre aps uso dirio de doses altas (especificar quando possvel a dose de cada substncia) de uma
substncia por trs meses.
B. Ocorre no espao de horas aps eliminao da substncia.
C. Melhora com a retomada da substncia.
D. A cefalia desaparece dentro de 14 dias aps a supresso da substncia .
337
8.4.1 Cefalia da supresso da ergotamina
Critrios diagnsticos:
A. precedida pelo uso dirio de ergotamina (oral 2 mg, retal 1 mg).
B. Ocorre dentro de 48 horas da supresso de ergotamina.
8.4.2 Cefalia da supresso da cafena
Critrios diagnsticos:
A. O paciente usa cafena diariamente e 15 g por ms.
B. Ocorre dentro de 24 horas aps a ltima ingesto de cafena.
C. aliviada dentro de uma hora aps o uso de 100 mg de cafena.
8.4.3 Cefalia da abstinncia de narcticos
8.4.4 Outras substncias (especificar)
8.5 Cefalia associada a substncias, mas de mecanismo incerto
8.5.1 Plulas anticoncepcionais ou estrgenos
Comentrio: A literatura a esse respeito conflitante. Estudos adicionais so necessrios.
8.5.2 Outras substncias (especificar)
As cefalias induzidas pelo uso crnico de substncias, especialmente drogas
para a prpria cefalia como analgsicos, antinflamatrios no esteroidais, ergticos,
triptanos e opiides, situam-se como o terceiro tipo mais comum de cefalia diria.
A sua prevalncia variada e confunde-se com aquela da cefalia crnica diria
primria que evoluiu da migrnea episdica ou da cefalia do tipo tensional. Estima-
se que 5% a 10% de todos os pacientes examinados em centros de cefalia
apresentem os critrios para cefalia pelo uso crnico de substncias envolvidas
no prprio tratamento desta condio.
A apresentao clnica desse tipo de cefalia foi sumarizada atravs da meta-
anlise de 29 estudos envolvendo 2.612 pacientes que apresentavam como cefalia
primria a migrnea em 65% dos casos, cefalia do tipo tensional em 27% e outras
cefalias em 8% dos casos (Diener e Mathew, 2000). As mulheres foram mais
acometidas (3,5:1) e a durao mdia da cefalia situou-se, nesta anlise, em 20,4
anos. O uso regular de drogas ocorreu por 10,3 anos e tempo de durao mdio da
cefalia diria foi de 5,9 anos.
Praticamente qualquer droga utilizada para o tratamento agudo de uma
cefalia primria pode induzir cefalia pelo seu uso crnico. Estudos observando
o potencial de induo dos ergticos, cafena, paracetamol, derivados salicilatos,
sumatriptano, zolmitriptano e naratriptano j so mencionados na literatura
especializada (Diener e Mathew, 2000) e a maioria dos pacientes utilizam mais
de uma substncia simultaneamente. Os pacientes freqentemente apresentam
cefalia constante, difusa, em presso e sem sintomas associados. Aqueles
que fazem uso de ergotamina ou sumatriptano diariamente tambm apresentam
cefalia pulstil logo pela manh, muitas vezes associada nusea. A cefalia
desaparece aps 30 a 60 minutos da utilizao de ergotamina ou sumatriptano
e representa, segundo Diener e Mathew (2000), uma cefalia de abstinncia
ou rebote menor ou branda.
338
Nos pacientes com migrnea como cefalia primria, h crises intermitentes
unilaterais e associadas sintomas tpicos de migrnea episdica. Quando esses pacientes
suspendem a medicao em uso crnico, apresentam cefalia que se assemelha a uma
crise intensa e duradoura de migrnea episdica. Os pacientes com cefalia do tipo
tensional ou cefalia ps-traumtica como condies primrias, freqentemente no
conseguem distinguir a cefalia diria pelo uso crnico de alguma substncia de sua
cefalia primria. Depresso observada com alta prevalncia nesses pacientes.
H caractersticas clnicas que facilitam a identificao de cefalia de rebote
em pacientes com cefalias primrias.
1. Cefalias so refratrias e ocorrem diria ou quase diariamente.
2. As cefalias ocorrem em pacientes com cefalias primrias que usam
medicamentos de resgate freqentemente e em quantidades excessivas.
3. A cefalia varia de tempos em tempos em intensidade, tipo e localizao.
4. O limiar de dor parece reduzido. Quaisquer esforos fsicos ou intelectuais
podem trazer dor de cabea.
5. A cefalia acompanhada comumente por astenia, ansiedade, nusea,
inquietao, irritabilidade, distrbios de memria, e dificuldade de concen-
trao e depresso.
6. Nos pacientes que fazem uso excessivo de ergticos h extremidades frias,
taquicardia, parestesias de extremidades, hipertenso, amplitude diminuda
de pulsos, sensao de cabea vazia ou leve, dores musculares e fraqueza
de membros inferiores.
7. Pode haver periodicidade da cefalia. Ser acordado entre 2 e 5 horas da
manh torna-se comum principalmente naqueles que ingerem grandes
quantidades de combinaes contendo analgsicos, sedativos, cafena e
ergticos.
8. Supresso da fase REM do sono comum nos pacientes que utilizam
analgsicos com barbitricos, o que resulta em rebote da fase REM e
despertar com cefalia intensa no meio da noite.
9. H evidncia de tolerncia com o uso indiscriminado dessas substncias o
que resulta em pacientes necessitando cada vez maiores quantidades de
sintomticos.
10. Sintomas de abstinncia e exacerbao da cefalia so observados nos
pacientes em suspenso abrupta das medicaes usadas em excesso.
11. Melhora espontnea da cefalia ocorre com a continuao da suspenso
do uso da medicao sintomtica.
12. No h eficcia da medicao preventiva usada concomitantemente com
quantidades excessivas de sintomticos.
A fisiopatologia desse tipo de cefalia j foi apresentada neste captulo e tambm
confunde-se com os mecanismos envolvidos no desenvolvimento da cefalia crnica
339
diria, mas importante ressaltar que os pacientes que no apresentam cefalia
primria, como por exemplo aqueles que sofrem de artrites e utilizam regular ou
abusivamente analgsicos no desenvolvem rebote e cefalia diria. Todos os tipos
de medicamentos sintomticos para cefalia podem induzir rebote e no parece
haver diferenas quanto a este potencial nas vrias classes de analgsicos.
Entretanto, a cafena parece ser a substncia mais consumida por pacientes
com CCD que evoluram de migrnea episdica e de cefalia do tipo tensional
(Pfafenrath e Niederberger, 1988). Os efeitos da cafena na cefalia variam
dependendo das doses. Doses excessivas so sabidamente indutoras de cefalia,
o que tambm ocorre com a sbita suspenso de seu uso regular, mesmo em
pequenas quantidades. Por outro lado, doses isoladas podem levar melhora da
cefalia. Estima-se que a cefalia de rebote que ocorre aps a suspenso da ingesto
de cafena e os efeitos psicotrpicos da prpria cafena podem contribuir para o
abuso de medicamentos com combinaes de substncias, como habitualmente
observado nesses pacientes.
O tratamento inclui a sbita retirada dessas substncias e os sintomas tpicos de
abstinncia duram por dois a dez dias (com mdia de 3,5 dias) e incluem piora intensa
da cefalia, nusea, vmitos, hipotenso arterial, taquicardia, distrbios do sono, agitao,
ansiedade e nervosismo. Raramente se observam convulses e alucinaes
principalmente com aqueles que abusavam de narcticos ou barbitricos. Embora haja
discrepncia quanto a forma de retirar essas substncias, com sugestes de tratamentos
ambulatoriais ou de internao, o mdico deve considerar cada caso e o tipo de droga
que se utilizava em excesso. As opes de tratamento j foram apresentadas nesse
captulo e quando empregadas de maneira correta e eficiente podem representar sucesso
em um perodo de um a seis meses da ordem de 72,4%, considerando-se meta-anlise
de 17 estudos e 1.101 pacientes (Diener e Mathew, 2000).
As cefalias induzidas pelo uso crnico de drogas devem ser evitadas atravs
de orientao adequada e enftica aos pacientes, que devem ser acompanhados
objetivamente. Aqueles que se encontram sob maior risco de desenvolverem essa
cefalia so os que apresentam associao de migrnea e cefalia do tipo tensional.
A restrio clara do uso de sintomticos a duas vezes por semana, a instituio de
tratamento preventivo eficiente e o acompanhamento psicoterpico dos pacientes
com depresso, baixa auto-estima e personalidade dependente ou carente, so
fundamentais para que a utilizao excessiva e/ou regular de medicamentos para
as crises no passe a representar o esteio do tratamento.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Arena JG, Andrasik F, Blanchard EB. The role of personality in the etiology of chronic
headache. Headache 1985;25:296-301.
340
Blanchard EB, Kirsch CA, Appelbaum KA, Jaccard J. The role of psychopathology in
chronic headache: cause or effect? Headache 1989;29:295-301.
Bordini CA, Antonaci F, Stovner LJ, Schrader H, Sjaastad O. Hemicrania Continua: a
clinical review. Headache 1991;31(1):20-26.
Bowdler I, Kilian J, Gansslen-Blumberg S. The association between analgesic abuse and
headache: coincidental ou causal? Headache 1988;28:494 (Letter).
Castillo J, Munz P, Guitera V, Pascual J. Epidemiology of chronic daily headache in the
general population. Headache 1999;39:190-196.
Diener H-C, Dichgans J, Scholz J, Gerber WD, Geiselhart S, Bille A. Analgesic-induced
chronic headache: long-term results of withdrawal therapy. J Neurol 1989;236(1):9-14.
Diener H-C, Gerber WD, Geiselhart S, Dichgans J. Short and Long-Term Effects of Withdrawal
Therapy in Drug-Induced Headache. In: Diener H-C, Wilkinson M (eds.). Drug-Induced
Headache. Berlin: Springer, 1988; pp. 133.
Diener H-C, Haab J, Peters C, Ried S, Dichgans J, Pilgrim A. Subcutaneous sumatriptan in
the treatment of headache during withdrawal from Drug-Induced headache. Headache
1991;31(4):205-209.
Diener H-C, Mathew N. Drug-Induced Headache. In: Diener H-C (ed.). Drug Treatment of
Migraine and Other Headaches. Monogr Clin Neurosci. Basel: Karger, 2000; vol 17, pp.
347-356.
Drucker P, Tepper S. Daily sumatriptan for detoxification from rebound. Headache 1998;38:687-
690.
Elkind AH. Drug abuse in headache patients. Clin J Pain 1989;5(1):111-120.
Foster CA, Bafaloukos J. Paroxetine in the treatment of chronic daily headache. Headache
1994;34(10):587-589.
Gobel H, Ernst M, Jeschke J, Keil R, Weigle L. Acetylsalicylic acid activates antinociceptive
brain-stem reflex activity in headache patients and healthy subjects. Pain 1992;48:187-195.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neurolgias and facial pain.
Cephalalgia 1988;8(suppl 7):1-96.
Hering R, Gardiner I, Catarci T, Whitmarsh T, Steiner T, Belleroche J. Cellular adaptation in
migraineurs with chronic daily headache. Cephalalgia 1993;13:261-266.
Hering R, Glover V, Pattichis K, Catarci T, Steiner TJ. 5HT in migraine patients with
medication-induced headache. Cephalalgia 1993;13:410-412.
Krymchantowski AV, Barbosa JSS. Prednisone as initial treatment of drug-induced daily
headache. Cephalalgia 2000;20:107-113.
Lance JW, Curran DA. Treatment of chronic tension headache. Lancet 1964;1:1236.
Lance J, Parkes C, Wilkinson M. Does analgesic abuse cause headaches de novo? Headache
1988;28:61-62 (Letter).
Mathew NT. Chronic Daily Headache: Clinical Features and Ntural History. In: Nappi G,
Bono G, Sandrini G, Martignoni E (eds.). Headache and Depression: Serotonin Pathways
as a Common Clue. New York: Raven Press, 1991; pp. 42-51.
341
Mathew NT. Chronic refractory headache. Neurology 1993;43(suppl 3): 26-33.
Mathew NT. Prophylaxis of migraine and mixed headache. A randomized controlled study.
Headache 1981;21(3):105-109.
Mathew NT, Ali S. Valproate in the treatment of persistent chronic daily headache. An open
label study. Headache 1991;31(2):71-74.
Mathew NT, Kurman R, Perez F. Drug induced refractory headache, clinical features and
management. Headache 1990;30(10):634-638.
Mathew NT, Reuveni U, Perez F. Transformed or evolutive migraine. Headache 1987;27:102-106.
Mathew NT, Stubits E, Nigam MP. Transformation of episodic migraine into daily headache:
analysis of factors. Headache 1982;22(2):66-68.
Mauskop A. Chronic daily headaches in four generations of one family. Headache 1994;34:311.
Mongini F, Ferla E, Maccagnani C. MMPI profiles in patients with headache or craniofacial
pain: a comparative study. Cephalalgia 1992;12:91-98.
Newman LC, Lipton RB, Solomon S, Stewart WF. Daily headaches in a population sample:
results from the American migraine study. Headache 1994;34(5):295 (Abstract).
Olesen, J. Clinical and pathophysiological observations in migraine and tension-type
headache explained by integration of vascular, supraspinal and myofascial inputs. Pain
1991;46:125-132.
Pfafenrath V, Niederberger U. What Kind of Drugs are Taken by Patients With Primary
Headaches? In: Diener H-C, Wilkinson M (eds.). Drug-Induced Headache. Berlin:
Springer-Verlag, 1988; pp. 44-62.
Post RM, Silberstein SD. Shared mechanisms in affective illness, epilepsy, and migraine.
Neurology 1994;44:S37.
Rapoport A. Analgesic rebound headache. Headache 1988;28(10):662-665.
Raskin NH. Repetitive intravenous dihydroergotamine as therapy for intractable migraine.
Neurology 1986;36(7):995-997.
Saper JR. Chronic headache syndromes. Neurol Clin 1989;7(2):387-412.
Saper JR. Daily chronic headache. Neurol Clin 1990;8(4):891-901.
Saper JR, Silberstein SD, Lake AE, Winters ME. Double-blind trial of fluoxetine: chronic
daily headache and migraine. Headache 1994;34(9):497-502.
Schoenen J. Exteroceptive suppression of temporalis muscle activity in patients with chronic
headache and in normal volunteers: methodology, clinical and pathophysiological
relevance. Headache 1993;33:3-17.
Schoenen J, Jamart B, Gerard P, Lenarduzzi P, Delwaide PJ. Exteroceptive suppression of
temporalis muscle activity in chronic headache. Neurology 1987;37:1834-1836.
Silberstein SD. Tension-type headaches. Headache 1994;34(8):S2-S7.
Silberstein SD, Lipton RB. Chronic Daily Headache. In: Goadsby PJ, Silberstein SD (eds.).
Headache. Blue Books of Practical Neurology. Newton: Butterworth-Heinemann, 1997:
pp. 201-225.
342
Silberstein SD, Lipton RB, Sliwinski M. Classification of daily and near-daily headaches:
field trial of revised criteria. Neurology 1996;47:871-875.
Silberstein SD, Lipton RB, Solomon S, Mathew NT. Classification of daily and near-daily
headaches: proposed revisions to the IHS criteria. Headache 1994;34(1):1-7.
Silberstein SD, Schulman EA, Hopkins MM. Repetitive intravenous DHE in the treatment
of refractary headache. Headache 1990;30(6):334-339.
Srikiatkhachorn A, Anthony M. Serotonin receptor adaptation in patients with analgesic-
induced headache. Cephalalgia 1996;16:419-422.
Srikiatkhachorn A, Govitrapong P, Limthavon C. Up-regulation of 5-HT2 serotonin receptor:
a possible mechanism of transformed migraine. Headache 1994;34:8-11.
Spierings ELH, Schroevers M, Honkoop PC, Sorbi M. Presentation of chronic daily
headache: a clinical study. Headache 1998;38:191-196.
Spierings ELH, Schroevers M, Honkoop PC, Sorbi M. Development of chronic daily
headache: a clinical study. Headache 1998;38:529-533.
Vijayan N, Spillane T. Valproic acid treatment of chronic daily headache. Headache 1995;35:
540-543.
343
19
CEFALIA NAS INFECES DO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Getlio Dar Rabello
346
POSSIBILIDADES DIAGNSTICAS
A possibilidade de infeco como causa de cefalia, em um caso concreto,
ocorre em uma de cinco possibilidades:
febre em paciente portador de cefalia com caractersticas de cefalia primria;
na presena de doenas inflamatrias e no-infecciosas;
na infeco do sistema nervoso central;
na infeco sistmica;
na vigncia de certos quadros atpicos.
Iremos expor essas vrias situaes, procurando utilizar os critrios da Interna-
tional Headache Society, porm eventualmente utilizando outros dados da literatura
que nos parecerem pertinentes.
347
Gonzales-Gay et al. e Gur et al. referem um aumento de incidncia dessa
patologia nos ltimos anos, alm de referirem manifestaes atpicas (envolvimento
pulmonar em 5% dos pacientes). Lee descreve casos de ulcerao de lngua na
arterite temporal. Venna et al. descreveram casos de aterosclerose de cartida
interna e externa, com quadro clnico semelhante arterite temporal, inclusive
com claudicao de mandbula. Houve melhora com endarterectomia. Glutz von
Blotzheim e Borruat observaram que, nos casos com complicaes oftalmolgicas,
muitos tiveram afeco de vrios territrios arteriais, diferentemente da neuropatia
ptica isqumica no-artertica. Tambm orientaram que a bipsia da artria
temporal superficial deve ser feita e o uso de corticosteride deve ser iniciado
mesmo com velocidade de hemossedimentao normal, se houver isquemia de
coride.
O diagnstico feito basicamente por bipsia (que deve ser feita retirando-se
fragmentos grandes da artria, devido ao carter segmentar da patologia) e pelo
achado de alteraes em exames laboratoriais (VHS aumentado, anemia normo-
crmica, protena C-reativa positiva, trombocitose, aumento de fosfatase alcalina).
Uma grande aquisio recente para o diagnstico o uso do dplex colorido da
artria temporal superficial. Schmidt et al. publicaram recente artigo demonstrando
sinais caractersticos que podem ser vistos por esse exame. O sinal mais especfico
um halo escuro em torno da artria, provavelmente pelo edema da parede da
artria. Diante desse achado, em paciente com quadro clnico sugestivo, o diagns-
tico de arterite temporal deve ser feito e o tratamento deve ser iniciado, mesmo
sem bipsia da artria.
O tratamento feito basicamente pelo uso de corticosterides (prednisona),
por tempo prolongado.
T ENDINITE RETROFARNGEA
Trata-se de rara sndrome clnica, caracterizada por dores intensas de incio
agudo, localizadas no dorso do pescoo. So agravadas por movimentos de cabea
e por deglutio. O primeiro caso foi descrito em 1950 e sua descrio clnica foi
feita em 1963 por Fahlgren, que publicou em 1986 artigo de referncia sobre a
sndrome. Essa entidade est exposta em outro captulo deste livro.
QUADROS ATPICOS
Entre os quadros atpicos devemos citar a entidade denominada pseudomigrnea
com sintomas neurolgicos transitrios e pleocitose linfocitria, sndrome
migranosa com pleocitose liqurica ou sndrome transitria de cefalia com dficits
neurolgicos e linfocitose liqurica. Trata-se de entidade de recente descrio, cujos
critrios diagnsticos esto abaixo descritos, conforme Gomez-Aranda et al.:
1. Um ou mais episdios de dor hemicraniana ou bilateral, moderada a intensa,
acompanhada por dficits neurolgicos temporrios e variveis, tais como,
geralmente, adormecimento queiro-oral e disartria e, ocasionalmente febre.
2. Resoluo completa do quadro em at 2 meses.
3. Ausncia de sintomas e sinais entre os episdios.
4. Pleocitose linfocitria no LCR com investigao etiolgica negativa.
5. Exames neurorradiolgicos normais exceto alteraes no SPECT (dficits
focais e transitrios de diminuio de captao enceflica).
6. Alteraes EEGrficas focais, no-epileptiformes e transitrias.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Attia J, Hatala R, Cook DJ, Wong JG. Does this adult patient have acute meningitis? JAMA
1999;282(2):175-181.
Bednarik J, Kadanka Z. Adverse effects of administration of intravenous human
immunoglobulins. Cas Lek Cesk 1999;138(21):647-649.
Capra C, Monza GM, Meazza G, Ramella G. Trimethoprim-sulfamethoxazole-induced aseptic
meningitis: case report and literature review. Intensive Care Med 2000;26(2):212-214.
Coodley EL. Headache as an initial manifestation of systemic disease. Funct Neurol 1990;
5(4):371-373.
De Marinis M, Welch KMA. Headache Associated With Intracranial Infection. In: Olesen
J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches, 2 nd ed. Lippincott-Williams &
Wilkins, 2000; pp. 841-848.
352
Erminy M, Bonfils P. Sinusites sphenoidales aigues et chroniques. Revue de la litterature.
Ann Otolaryngol Chir Cervicofac 1998;115(3):106-116.
Fahlgren H, Lfstedt S. Peritendinitis calcarea i vre halsregionen. Nord Med 1963;70:1252.
Fahlgren H. Retropharyngeal tendinitis. Cephalalgia 1986;6:169-174.
Friedmann PD, Samore MH, Kraemer KL, Calkins DR. Clinical correlates of secondary
meningitis in HIV-infected adults. Arch Intern Med 1995;155(20):2231-2237.
Glutz Von Blotzheim S, Borruat FX. Neuro-ophthalmic complications of biopsy-proven
giant cell arteritis. Eur J Ophthalmol 1997;7(4):375-382.
Gomez-Aranda F, Canadillas F, Marti-Massi JF. Pseudomigraine with temporary
neurological symptoms and lymphocytic pleocytosis: a report of 50 cases. Brain
1997;120:1105-1013.
Gonzales-Gay MA, Blanco R, Sanchez-AndradeA, Vazquez-Caruncho M. Giant cell arteritis
in Lugo, Spain: a more frequent disease with fewer classic features. J Rheumatol
1997;24(11):2166-2170.
Gur H, Rapman E, Ehrenfeld M, Sidi Y. Clinical manifestations of temporal arteritis: a report
from Israel. J Rheumatol 1996;23(11):1927-1931.
Harrison MS, Simonte SJ, Kauffman CA. Trimethoprim-induced aseptic meningitis in a
patient with AIDS: case report and review. Clin Infect Dis 1994;19(3):431-434.
Headache Classification Comitee of the Internacional Headache Society. Classification and
diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia
1988;8(suppl 7):1-96.
Horn AC, Jarrett SW. Ibuprofen-induced aseptic meningitis in rheumatoid arthritis. Ann
Pharmacother 1997;31(9):1009-1011.
Jacob J. Mechanisms of fever occurring in migraine. Adv Neurol 1982;33:127-133.
Lee JA. Oral manifestations of giant cell arteritis. Mund Kiefer Gesichtschir 1997;2(3):65-67.
raskin NH. Migraine: Clinical Aspects. In: Raskin NH. Headache, 2nd ed. New York: Churchill
Livingstone, pp. 35-98.
Phanthumchinda K, Sinsawaiwong S, Hemachudha T, Yodnophaklao P. Idiopathic
hypertrophic cranial pachymeningitis: an unusual cause of subacute and chronic
headache. Headache 1997;37(4):249-252.
River Y, Averbuch-Heller L, Weinberger M, Meiner Z, Mevorach D, Schlesinger I, Argov Z.
Antibiotic induced meningitis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1994;57(6):705-708.
Schmidt WA, Kraft HE, Vorpahl K, Vlker L, Gromnica-Ihle EJ. Color duplex ultrasono-
graphy in the diagnosis of temporal arteritis. N Engl J Med 1997;337:1336-1342.
Simon LT, Hsu D, Adornato BT. Carbamazepine-induced aseptic meningitis. Ann Intern
Med 1990;112:627-628.
Smith RS. The cytokine theory of headache. Med Hypotheses 1992;39(2):168-174.
Uchihara T, Tsukagoshi H. Jolt accentuation of headache: the most sensitive sign of CSF
pleocytosis. Headache 1991;31(3):167-171.
353
Venna N, Goldman R, Tilak S, Sabin TD. Temporal arteritis-like presentation of carotid
atherosclerosis. Stroke 1986;17(2):325-327.
Yamazaki M, Mizutani T, Kato M, Ontachi Y, Saito M, Morishita E, Asakura H, Matsuda T.
Aseptic meningitis induced by high-dose gamma-globulin in an adult woman with
antiphospholipid syndrome and chronic idiopathic thrombocytopenic purpura. Rinsho
Ketsueki 1999;40(10):1110-1115.
354
20
CEFALIA CERVICOGNICA
E ASSOCIADA A DISTRBIOS
DA COLUNA CERVICAL
Jos Geraldo Speciali
DIAGNSTICO DIFERENCIAL
Dos quadros clnicos aqui discutidos, o mais comumente encontrado nos atendi-
mentos de rotina , sem dvida, o conceituado por Sjaastat et al. Os estudiosos
que no aceitam o conceito de cefalia cervicognica de Sjaastad tendem a
361
considerar a sndrome descrita por ele, em sua maior parte, como cefalia do tipo
tensional ou migrnea. Entendem que a migrnea pode desencadear dor predomi-
nantemente na regio posterior da cabea em cerca de 10% dos casos e que a
durao maior da crise dolorosa (so descritas crises com 7 a 10 dias de durao)
no impediria que se fizesse o diagnstico de distrbio migranoso (item 2.7 da
IHS). A migrnea, em certas ocasies, aliviada pelo bloqueio anestsico do nervo
occipital maior ou menor. Pode-se refutar esses argumentos, pois no existem
evidncias de que a cefalia cervicognica responda aos triptanos e que se agrave
nos perodos menstruais. Anthony (2000) referiu que de 180 pacientes com cefalia
cervicognica 169 tiveram completo alvio da dor por 10 a 77 dias (mdia de 23,5
dias) aps bloqueio, percentagens a serem estabelecidas em pacientes com migrnea
estritamente unilateral. No entanto, Sjaastad (1999), realizando bloqueios anestsicos
em crises migranosas e de cefalia cervicognica que ocorriam num mesmo
paciente em tempos diferentes, mostraram diferentes resultados nas duas situaes.
Por outro lado, a idade de incio da cefalia cervicognica no na adolescncia
e no adulto jovem, como ocorre na migrnea. A idade mdia dos pacientes com
migrnea de 34,7 anos e, com cefalia cervicognica, 49,5.
Recentemente Sjaastad et al. (1999) abordaram esse problema. Concordam
que na coexistncia num mesmo paciente de cefalia cervicognica e migrnea
verifica-se que ambas tm sintomas em comum, mas sintomas migranosos
ocorrem muito mais freqentemente que os sintomas da cefalia cervicognica
nas migrneas e vice-versa.
Vincent e Luna (1999) aplicaram os critrios diagnsticos da migrnea e da cefalia
do tipo tensional episdica em 33 pacientes com cefalia cervicognica. Trinta por
cento deles preencheram critrios para migrnea e apenas 3% para cefalia do tipo
tensional episdica. Sessenta e seis por cento no preencheram critrios para tais
distrbios. Referem que os aspectos mais diferenciadores da dor foram o local, o
padro temporal, a induo pela movimentao e pela presso digital local.
Est bem demonstrada a semelhana clnica entre cefalia cervicognica e
migrnea em alguns aspectos. Essas semelhanas reforam sobremaneira uma
fisiopatologia central para a cefalia cervicognica de Sjaastad, apesar de, nesta, o
fator desencadeante estar na regio cervical.
Tais fatos apontam para que ambas compartilhem de alguns passos em suas
fisiopatologias. As diferenas clnicas, epidemiolgicas e teraputicas permitem
aceitar, sem dvida, que se tratam de doenas diferentes.
transparente a diferena entre a cefalia cervicognica e a do tipo tensional
pela presena de nuseas e/ou vmitos, foto e/ou fonofobia na primeira. Bono et
al. (2000) relatam que os principais pontos de diferena so a dor estritamente
unilateral e o incio da dor na regio posterior, difundindo-se depois para a rea
frontotemporal, alm do nvel de comprometimento da coluna cervical.
362
O diagnstico diferencial mais importante da cefalia cervicognica com a
hemicrania contnua. Teste teraputico com indometacina recomendado, sempre
que a dor no for aliviada com o bloqueio anestsico.
TRATAMENTO
Diante de uma sndrome que admite etiologias to diversas e sintomatologias
to variadas, seria pretenso discorrer sobre tudo o que se pode fazer para aliviar
os sintomas de todos os que nos procuram.
Quando a cefalia cervicognica desencadeada por doenas especficas
demonstradas por exames clnico-suplementares, o tratamento deve ser orientado
para essa doena causadora, e ento, vrios especialistas podem ser envolvidos:
neurologistas, ortopedistas, imunologistas, endocrinologistas, neurocirurgies, entre
outros.
Quando no temos clara a etiologia do processo desencadeante da sndrome, e
uma vez preenchidos os critrios diagnsticos para cefalia cervicognica primria,
diversos tratamentos tm sido propostos, com predomnio de intervenes invasivas:
MEDICAMENTOSAS
a) Analgsicos comuns, tais como paracetamol, cido acetilsaliclico, so utili-
zados quando a dor fraca. Muitas vezes a dor no se cronifica e um
tratamento de 10 a 20 dias com tais drogas pode resolver o problema.
b) Antiinflamatrios no-esteroidais (AINEs), particularmente a indometacina,
em geral em doses elevadas de 100 a 200 mg/dia, podem beneficiar alguns
pacientes. Quando ocorrer intolerncia gstrica, os inibidores da COX-2
podem ser usados. O tempo de tratamento no est estabelecido na literatura
e depende da resposta teraputica e dos efeitos colaterais. Muitas vezes,
aps resposta favorvel, os sintomas voltam, havendo necessidade de se
procurar outras opes.
c) Relaxantes musculares, incluindo aqui a amitriptilina, baclofem e outros,
podem ser associados se o exame demonstrar contraes musculares.
d) Quando as caractersticas da dor sugerem componente neurlgico,
recomenda-se o uso de carbamazepina, fenitona, clonazepam, e outros
mais recentemente utilizados nessas situaes, como gabapentina, lamo-
trigina e topiramato.
NO-MEDICAMENTOSAS
a) Fsicas: as principais medidas fsicas so calor local e colar cervical, pelo
menos na fase aguda. A imobilizao ajuda a quebrar o ciclo provocador da
dor. Passada a fase de dor forte inicia-se fisioterapia leve, com alongamento
e mobilizao ativa do segmento ceflico. A fisioterapia, pode, posteriormente,
363
melhorar os hbitos posturais anormais, amplificar e adequar os movimentos.
O uso de estimulao transcutnea e outras medidas de uso e conhecimento
dos fisiatras/fisioteraputas podem ser aplicadas. Uma vez assintomtico,
o paciente deve entrar em programas de condicionamento fsico, principal-
mente hidroginstica, natao ou caminhadas. Tais medidas so indicadas
por especialistas e estudiosos (evidncia clnica tipo III) pois, de nosso conhe-
cimento, no existem estudos controlados.
b) Psicolgicas: os aspectos psicolgicos, em sua avaliao fenomenolgica,
podem evidenciar distrbios de ansiedade e depresso que abordados e
orientados trazem benefcio (evidncia clnica tipo III).
INTERVENCIONISTAS
a) Bloqueio anestsico local: o mtodo mais utilizado pela maioria dos
cefaliatras brasileiros. No h consenso sobre as normas gerais do bloqueio
e, em geral, cada servio usa sua prpria tcnica. Vincent et al. (1998)
usam infiltrao de 1 ml a 2 ml de bupivacana a 0,5%. Piovesan et al.
(2000), 2 ml de neocana 0,5% + 80 mg metilprednisolona, seguido ou no
por AINEs por alguns dias. No Hospital das Clnicas de Ribeiro Preto
usamos 3 ml de lidocana 2% sem vasoconstrictor + 1 ml de fosfato dissdico
e acetato de dexametasona seguidos por AINEs por 20 a 30 dias. Com
respeito agulha utilizada, tambm no h consenso uso de agulhas 30X7
para infiltraes mais profundas e amplas (em leque) ou de insulina
(infiltraes num nico local). Efetuado o bloqueio, nas prximas 1 a 2
horas avalia-se a melhora da dor (critrio diagnstico de cefalia
cervicognica) e a rea de anestesia produzida, reflexo da exatido do
local da infiltrao. O local de infiltrao determinado pelo conhecimento
da anatomia dos nervos occipital maior e menor. O nervo occipital maior
encontra-se na metade da linha que une a protuberncia occipital externa
apfise mastidea. O nervo occipital menor est 2 cm para baixo e para
dentro da apfise mastidea. Em ambos os casos deve-se ter como alvo
principal o local que reproduz a dor espontnea. O bloqueio tem duas finali-
dades: diagnstica e teraputica. Aps um bloqueio, a dor pode desaparecer
por meses ou definitivamente. Indicam-se novos bloqueios quando da recidiva
da dor, quer a curto ou a longo prazos. No h orientaes na literatura
sobre o nmero de bloqueios, nem o intervalo de tempo entre eles, ficando
por conta da evoluo clnica e do julgamento do mdico. Tcnica de Raskin
de bloqueio do nervo occipital maior: 6 mg betametasona (1 ml) + 1 ml de
lidocana 2%, agulha 25/6, direcionada para o occiput, at encontrar
resistncia ssea, aspirao, injeo de 0,6 ml da soluo; retirada da agulha
at o subcutneo e redirecion-la em ngulo de 5o duas vezes, lateralmente,
364
injetando mais 0,6 ml em cada direo. Aps a retirada da agulha, massageia-
se a regio vigorosamente. O surgimento da hipoestesia estendendo-se para
frente, at a linha interaural, a comprovao do acerto.
b) Injeo de toxina botulnica nos msculos posteriores do pescoo pode trazer
alvio ao paciente por tempo limitado, porm pode agravar os distrbios posturais.
Nem todos os autores que usaram esse procedimento tiveram bons resultados
c) Descompresso, seco e/ou avulso do nervo occipital maior, do occipital
menor, de razes e gnglios cervicais; estabilizao e/ou fuses vertebrais;
radiofreqncia de discos intervertebrais e nervos cervicais e estimulao
epidural j foram ou esto sendo utilizadas. Essas terapias invasivas, encon-
tram suporte na fisiopatologia reduo de impulsos dolorosos perifricos
aliviam a dor mas, por no estarem padronizadas, dificultam muito a
interpretao dos resultados dos trabalhos existentes na literatura.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Anthony M. Cervicogenic headache: prevalence and response to local steroid therapy.
Clin Exp Rheumatol 2000;18(suppl 19):S59-S64.
Biondi DM. Cervicogenic headache: mechanisms, evaluation, and treatment strategies.
J Am Osteopath Assoc 2000;100(suppl 9):S7-S14.
Blume HG. Cervicogenic headaches: radiofrequency neurotomy and the cervical disc and
fusion. Clin Exp Rheumatol 2000;18(suppl 19):S53-S58.
Bono G, Antonaci F, Dario A, Clerici AM, Ghirmai S, Nappi G. Unilateral headaches and their
relationship with cervicogenic headache. Clin Exp Rheumatol 2000;18(suppl 19):S11-S5.
DAmico D, Leone M, Bussone G. Side-locked unilaterality and pain localization in long-
lasting headaches: migraine, tension-type headache, and cervicogenic headache.
Headache 1994;34:526-530.
Fishbain DA, Cutler R, Cole B, Rosomoff HL, Rosomoff RS. International Headache Society
headache diagnostic patterns in pain facility patients. Clin J Pain 2001;17:78-93.
Fredriksen TA, Hovdal H, Sjaastad O. Cervicogenic headache: clinical manifestations.
Cephalalgia 1987;7:147-160.
Freund BJ, Schwartz M. Treatment of chronic cervical-associated headache with botulinum
toxin A: a pilot study. Headache 2000;40(3):231-236.
Headache Classification Committee of the IHS. Classification and diagnostic criteria for
headache disorders, cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988; 8(Suppl 7):1-
96.
Jansen J. Surgical treatment of non-responsive cervicogenic headache. Clin Exp Rheumatol
2000;18(Suppl 19):S67-S70.
Jansen J. Laminoplasty A possible treatment for cervicogenic headache? Some ideas on
the trigger mechanism of CeH. Funct Neurol 1999;14(3):163-165.
365
Martelletti P. Proinflammatory pathways in cervicogenic headache. Clin Exp Rheumatol
2000;18(suppl 19):S33-S38.
Martelletti P, Di Sabato F, Granata M, Alampi D, Apponi F, Borgonuovo P, Reale C, Giacovazzo
M. Epidural corticosteroid blockade in cervicogenic headache. Eur Rev Med Pharmacol
Sci 1998;2:31-36.
Pikus HJ, Phillips JM. Outcome of surgical descompression of the second cervical root for
cervicogenic headache. Neurosurgery 1996;39:63-70.
Piovesan EJ, Kovacs PA, Lange MC, Tatsui CE, Werneck LC. Can biologic pattern of
cervicogenic headache change after overuse or withdrawal of ergotamine derivatives ?
Arq Neuropsiquiatr 2000;58(A-2):336-341.
Raskin NH. Headaches, 2nd ed. New York: Churchill Livingstone, 1988; pp. 300-304.
Reale C, TurkiewiczAM, Reale CA, Stabile S, Borgonuovo P, Apponi F Epidural steroids as
a pharmacological approach. Clin Exp Rheumatol 2000;18(suppl 19):S65-S66.
Sjaastad O, Fredriksen T, Pareja JA, Stolt-Nielsen A, Vincent M.Coexistence of cervicogenic
headache and migraine without aura (?). Funct Neurol 1999;14:209-218.
Sjaastad O, Fredriksen TA, Pfaffenrath V. Cervicogenic headache: diagnostic criteria. The
Cervicogenic Headache International Study Group. Headache 1998;38:442-445.
Sjaastad O, Saunte C, Hovdal H, Breivik H, Grnbk E: Cervicogenic headache. An
hypothesis. Cephalalgia 1983;3:249-256.
van Suijlekom HA, van Kleef M, Barendse GA, Sluijter ME, Sjaastad O, Weber WE.
Radiofrequency cervical zygapophyseal joint neurotomy for cervicogenic headache: a
prospective study of 15 patients. Funct Neurol 1998;13:297-303.
Vincent MB. Cervicogenic headache: clinical aspects. Clin Exp Rheumatol 2000;18(suppl
19):S3-S6.
Vincent MB, Luna RA. Cervicogenic headache: a comparison with migraine and tension-
type headache. Cephalalgia 1999;19(suppl 25):11-16.
Vincent MB, Luna RA, Scandiuzzi D, Novis SA. Greater occipital nerve blockade in
cervicogenic headache. Arq Neuropsiquiatr 1998;56:720-725.
366
21
CEFALIAS E SEIOS PARANASAIS,
OLHOS, OUVIDO E DENTES
Jos Martnio Ferreira de Almeida
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Clerico DM. Sinus headaches reconsideres: referred cephalgia of rhinologia origin
masquerading as refractory primary headaches. Headache 1995;354:185-192.
Close LG, Aviv J. Headaches and disease of the nose and paranasal sinuses. Semin Neurol
1997;17(4):351-354.
Duke Elder. Prticas de Refrao em Oftalmologia. Rio de Janeiro: Ateneu, 1984.
Farias da Silva W. Cefalias: Diagnstico e Tratamento. Rio de Janeiro: Medsi, 1989.
Lopes OF, Campos CAH. Tratado de Otorrinolaringologia. So Paulo: Roca, 1994; pp. 233-
478.
Knapp CM, Narula AA. Childhood headaches caused by occult sinusitis. J R Soc Med
1998;91(3):144-145.
Stamberg H, Hawke M. Essentials of Endoscopic Sinus Surgery. St. Lovis: Mosby, 1993.
371
22
NEURALGIAS CRANIANAS E
CEFALIAS TRIGMINO-AUTONMICAS
Joo Jos Freitas de Carvalho
INTRODUO
Neste captulo trataremos de dois tipos particulares de algias craniofaciais: as
neuralgias cranianas e as chamadas cefalias trigmino autonmicas (CTAs).
As neuralgias cranianas se caracterizam por dores fugazes e recorrentes em
territrios inervados por alguns dos nervos cranianos e afetam especialmente
pessoas na terceira idade. Ataques so deflagrados por estimulao sensitiva variada
em reas bem delimitadas, as chamadas zonas de gatilho. Em sua maioria as
neuralgias respondem ao uso de anticonvulsivantes e as opes cirrgicas tm se
mostrado muito eficazes em casos selecionados.
Cefalias trigmino-autonmicas (CTA) a denominao comum dada a um
grupo de cefalias descritas nas ltimas dcadas que compartilham a associao
de dor de cabea com fenmenos autonmicos.
Em sua maioria, apesar de atender a critrios j bem definidos, ainda no so
contempladas na atual Classificao da Sociedade Internacional de Cefalia (SIC).
Recentemente foi sugerida a renomeao do grupo 3 da classificao da SIC que
passaria a abrig-las (Tabela 22.1).
NEURALGIAS CRANIANAS
NEURALGIA DO TRIGMIO
Foi Arateus da Capadcia quem descreveu pela primeira vez a neuralgia do
trigmeo (NT) ainda no primeiro sculo d.C. A primeira descrio mdica, porm,
s ocorreu com John Locke em 1677 e sua caracterizao como entidade distinta
s ocorreu quase um sculo depois com Nicolaus Andr em 1756.
A NT a neuralgia facial mais comum e uma das causas mais freqentes de
dor facial recorrente. Ocorre em homens e mulheres taxa de 2,5 e 5,7 por 100.000
habitantes a cada ano respectivamente. Acomete especialmente pacientes nas
sexta e stima dcadas de vida (em mdia aos 50 anos). A prevalncia estimada
em 107,5 casos por milho de homens e quase duas vezes por igual quantidade de
mulheres.
Em sua maioria, os casos de NT so espordicos e afetam apenas um membro
da famlia. Porm, a ocorrncia familiar da NT conhecida. Ela ocorreria em
cerca de 4,1% dos pacientes com NT unilateral e 17% dos pacientes com NT
bilateral. Uma associao de NT familiar com neuralgia do glossofarngeo e
neuropatia de Charcot-Marie-Tooth foi relatada.
A histria natural da NT varivel. Remisses permanentes so raras mas a
maioria dos pacientes experimenta perodos assintomticos que podem durar seis
meses ou mais.
A NT caracterizada por dor intensa, paroxstica, unilateral, fugaz, descrita
como em choque, punhalada ou queimao, de instalao e resoluo abruptas em
territrio inervado por um dos ramos do nervo trigmeo. Os ataques duram menos
de dois minutos embora possam ocorrer em rpida sucesso por horas.
374
Afeta mais freqentemente os ramos maxilar e mandibular, nesta ordem. O
primeiro ramo (oftlmico) raramente acometido (cerca de 4%) e o envolvimento
dos trs ramos ao mesmo tempo ocorre em apenas 1% dos pacientes.
A dor quase sempre unilateral sendo bilateral em apenas 4% dos casos.
Alguns pacientes se apresentam totalmente livres da dor entre os ataques. Outros,
porm apresentam um dolorimento residual entre as crises.
Os ataques so na maioria das vezes iniciados por estmulos das chamadas
zonas de gatilho, o que pode ocorrer ao falar, mastigar, fazer a barba, lavar o
rosto, escovar os dentes ou simplesmente tocar levemente a pele. Estes
estmulos so caracteristicamente leves. Estmulos mais intensos no
desencadeiam a NT. As zonas de gatilho se situam quase sempre na regio
central da face ao redor do nariz e lbios e podem ser muito pequenas
(1 a 2 mm). Logo aps um ataque, estas zonas de gatilho no respondem aos
estmulos deflagradores por um perodo. Este perodo refratrio ocorre devido
a hiperpolarizao do gnglio do trigmeo que assim bloqueia a exacerbao
dolorosa.
Os critrios diagnsticos segundo a Sociedade Internacional de Cefalia so:
a) Crises paroxsticas de dor frontal ou facial que duram de poucos segundos
a menos de um minuto;
b) A dor tem pelo menos quatro das seguintes caractersticas:
1. Distribuio ao longo de uma ou mais divises do nervo trigmeo;
2. Dor intensa, aguda, superficial, em facada ou queimao.
3. Precipitao de dor em reas de gatilho, ou por certas atividades dirias
tais como comer, falar, lavar o rosto ou limpar os dentes.
4. Entre os paroxismos de dor, o paciente assintomtico.
c) Sem leso neurolgica;
d) Crises estereotipadas para cada paciente;
e) Excluso de outras causas de dor facial pela histria, exame fsico e investi-
gaes especiais quando necessrio.
O diagnstico se baseia essencialmente nas caractersticas clnicas (paroxismos
de dor facial, zonas de gatilho, perodo refratrio entre os ataques) pois os exames
clnico e neurolgico so invariavelmente normais. Se alguma anormalidade for
encontrada (hipoestesia na face ou diminuio/abolio do reflexo corneano, por
exemplo) deve-se considerar diagnsticos subjacentes tais como tumor de fossa
posterior ou esclerose mltipla (EM).
Os acompanhamentos autonmicos devem levantar a suspeita de SUNCT
embora a presena de lacrimejamento tenha sido observada em pacientes com
NT especialmente do primeiro ramo. Outras cefalias unilaterais de curta durao
so raramente confundidas aps anamnese cuidadosa embora possam raramente
coexistir (sndrome cluster-tic e hemicrania paroxstica-tic).
375
Outras sndromes dolorosas faciais devem ser afastadas antes que o
diagnstico de NT possa ser estabelecido. Algumas patologias dentrias,
neuralgia ps herptica, neuralgia do glossofarngeo ou mesmo disfunes da
articulao tmporomandibular podem produzir um padro de dor muito
parecido com NT.
Dor facial atpica no se apresenta em paroxismos e sua localizao mal
definida. Afeta pessoas mais jovens com ntido predomnio do sexo feminino.
A fisiopatologia da NT ainda no completamente entendida. Disfunes
centrais e perifricas parecem se associar. Alteraes patolgicas tem sido
demonstradas na mielina de fibras ganglionares e razes trigeminais sob microscopia
convencional e eletrnica. Alguns trabalhos mostram que em 80% a 90% dos
casos, a NT est associada compresso vascular da raiz do nervo trigmeo
prximo sua entrada no tronco cerebral. Deste modo, a teoria fisiopatolgica
mais comumente aceita se centra na leso desmielinizante focal do nervo trigmeo
secundria a compresso (vascular, tumoral, etc.). A resultante hiperexcitabilidade
neuronal focal se expressaria como descargas errticas e ectpicas. No entanto,
estas leses estruturais no esto presentes em todos os pacientes com NT e
algumas vezes so vistas em pessoas sem NT.
A hiptese da compresso como fenmeno fisiopatolgico inicial corroborada
pela eficcia da cirurgia de descompresso no leva em considerao a eficincia
de vrios outros procedimentos cirrgicos muitos dos quais lesam as razes e gnglio
trigeminais. Estudos sobre a reativao do vrus herpes zoster aps o tratamento
cirrgico para a NT sugere que alteraes na transcrio nos neurnios ganglionares
poderia ser o mecanismo responsvel pela melhora observada. Deste modo, embora
a descompresso vascular e outros mtodos cirrgicos sejam eficazes para o
tratamento da NT o mecanismo desta eficincia mais provvel que seja via
alterao da funo ganglionar ao invs da eliminao da transmisso eftica e da
gerao de impulsos ectpicos.
A exemplo dos exames clnico e neurolgico, os exames complementares so
sempre normais. Exames de neuroimagem devem ser considerados se h dvida
diagnstica ou se existirem alteraes no exame neurolgico. Servem para excluir
etiologias menos freqentes como tumores ou leses intrnsecas do tronco cerebral.
A tomografia computadorizada o mtodo de mais utilidade para afastar leses
estruturais afetando o nervo trigmeo em qualquer ponto de seu trajeto. A
ressonncia magntica, por sua vez, til para evidenciar leses desmielinizantes
da EM ou tumores. A angiografia por ressonncia magntica (ARM) pode
demonstrar a compresso vascular e ser til para a avaliao e planejamento
cirrgicos.
Apesar do desconhecimento dos exatos mecanismos fisiopatolgicos na NT,
vrios tratamentos propostos tem se mostrado eficazes. O tratamento farmacolgico
376
a primeira abordagem para NT. Atuando via supresso da atividade neuronal, o
que reduziria as descargas neuronais errticas e ectpicas, as medicaes
apresentam uma boa eficcia em cerca de 80% dos pacientes. Esta eficcia inicial,
no entanto, diminui cerca de 50% em 3 a 5 anos. A idade mdia da maioria dos
pacientes com NT os torna mais susceptveis aos efeitos colaterais dos
medicamentos. O uso excessivo de drogas deve ser evitado. Uma vez obtido o
controle da dor deve-se iniciar a diminuio gradativa da medicao retornando-se
dose anterior se a dor reaparecer. Os efeitos colaterais podem ser minimizados
com a distribuio das doses ao longo do dia. Como para as epilepsias, a monoterapia
sempre preferida embora alguns pacientes s melhorem com associao de
drogas.
A carbamazepina a droga de primeira escolha, cujo efeito, quando presente
interpretado por muitos como um importante dado para a confirmao do
diagnstico. Apresenta uma eficcia inicial de at 90% com a maioria dos pacientes
j respondendo aps 2 dias. A dose inicial de 400 a 600 mg raramente chegando
a 1.200 mg/dia (dose mxima preconizada se o paciente no responde a esta
dose melhor trocar o tratamento). A eficcia inicial, no entanto, cai a para 30% a
40% em 05 anos.
Baclofen, na dose de 40 a 80mg/dia, seria uma outra opo. Apresenta boa
eficcia inicial (70%) que cai a 47% em 3 anos. A fenitona (300 a 500 mg/dia)
pode ser usada em associao com carbamazepina e baclofen, porm apresenta
uma baixa eficcia (apenas 25% a 30%).
Outras medicaes incluem clonazepam (1,5 a 8 mg/dia), pimozide (4 a 12 mg/
dia), divalproex sdico (500 a 2.000 mg/dia), gabapentina (at 3.600 mg/dia),
lamotrigina (at 400 mg/dia) e mais recentemente topiramato (200 a 300 mg/dia).
Se o tratamento farmacolgico no controla os sintomas adequadamente, devem
ser considerados os procedimentos cirrgicos, percutneos ou abertos.
As intervenes percutneas apesar de apresentar um maior risco de disestesia
facial se associam a uma menor morbidade e mortalidade e tem um custo menor
que os procedimentos cirrgicos abertos.
O bloqueio anestsico determina um alvio temporrio e pode predizer a resposta
ao bloqueio neuroltico. A injeo percutnea de lcool pode aliviar a dor por 3 a 6
meses.
A ganglilise percutnea por radiofreqncia, injeo de glicerol ou compresso
por balo apresenta uma eficcia inicial prxima de 100% que cai a 50% a 70%
em 5 anos. As complicaes mais freqentes so: parestesia (15% a 50%); anestesia
dolorosa (2% a 3%); anestesia da crnea com risco de ceratite (1% a 8%); e
paresia do masseter.
A termocoagulao do gnglio de gasser tem eficcia inicial muito boa com
cerca de 95,2% mostrando-se livres da dor.
377
Os procedimentos cirrgicos abertos incluem a descompresso microvascular
e a radiocirurgia com gamma knife.
A descompresso vascular pela tcnica de Janeta, executada atravs de uma
craniotomia occipital, remove compresses da raiz do nervo trigmeo por vasos
sangneos aberrantes. Apresenta uma eficcia inicial de at 85% que persiste
mesmo aps 5 anos, com taxas de recidiva de 1% a 6%. Em mos experimentadas,
a mortalidade cirrgica de 1% e morbidade de 7%. Esses resultados no so
influenciados pela idade do paciente. Tem se mostrado um procedimento seguro e
eficaz para o tratamento da NT em pacientes de todas as idades at mesmo em
casos selecionados de NT associada a EM.
Mais recentemente, a radiocirurgia com gamma knife tem sido empregada
com sucesso para o tratamento da NT. Tem a vantagem de ser uma tcnica no
invasiva. Apresenta eficcia inicial comparvel descompresso microvascular o
que a colocaria, em centros experimentados, entre as opes cirrgicas de primeira
escolha.
Em todos os procedimentos cirrgicos, a recidiva pode ocorrer exigindo uma
nova interveno. Pacientes com sintomas atpicos ou que j se submeteram a
procedimento cirrgico com o mesmo fim apresentam os piores resultados.
NEURALGIA DO GLOSSOFARNGEO
Atribui-se a Weisenburg a primeira descrio de neuralgia do glossofarngeo
(NGF). Porm a verdadeira histria da NGF e seu tratamento neurocirrgico se
iniciaria com os trabalhos de Sicard e Robineau em 1920 e Harris no ano seguinte.
A NGF acomete pacientes em idades entre 40 e 60 anos. Ambos os sexos so
igualmente afetados e h uma leve predominncia do lado esquerdo especialmente
em mulheres.
Os ataques se iniciam abruptamente na forma de dor excruciante, fugaz, em
punhalada, como um tiro, na base da lngua, fossa tonsilar, abaixo do ngulo da
mandbula ou regio da orelha, reas de distribuio do nervo glossofarngeo e dos
ramos auricular e farngeo do nervo vago. Os ataques duram poucos segundos e
recorrem em agrupamentos por semanas ou s vezes meses. O perodo intercrtico
(entre os ataques) completamente assintomtico. Os intervalos entre os
agrupamentos so irregulares e podem variar de alguns dias a anos e tendem a
ficar mais curtos progressivamente.
O ataques normalmente so desencadeados pela deglutio especialmente de
lquidos frios. a passagem da comida ou lquido em contato com a zona de
gatilho na regio posterior da faringe que precipita o ataque. Outros fatores
deflagradores descritos so: espirrar, bocejar, mastigar, tossir, tocar a gengiva ou a
mucosa oral, assoar o nariz ou ainda esfregar a orelha, meato auditivo externo ou
378
tragus. A exemplo da NT, cada ataque seguido por um perodo refratrio no
qual a estimulao das zonas de gatilho no deflagram novos ataques. Temendo
mais um paroxismo de dor, muito freqentemente os pacientes se recusam a comer,
o que os faz perder peso.
O comprometimento associado do nervo vago que ocorre em 10% dos casos
pode determinar o aparecimento de bradicardia, hipotenso e mesmo assistolia
que pode se acompanhar de sncope, convulses e coma. Esta apresentao seria
denominada de neuralgia vago-glossofarngea.
A distribuio da dor diagnstica: ela se localiza entre a faringe, amgdala,
base posterior da lngua, trompa de Eustquio e o ngulo da mandbula. Ela
sempre unilateral e permanece no mesmo lado sendo excepcional o acometimento
contralateral. O envolvimento bilateral estimado em 2% dos casos e quando
acontece cada lado se manifesta isoladamente.
A cessao dos ataques por horas aps a aplicao de anestsicos locais nas
zonas de gatilho praticamente confirma o diagnstico.
A Classificao da Sociedade Internacional de Cefalia estabelece como critrios
diagnsticos:
a) Crises paroxsticas de dor que duram de poucos segundos a menos de um
minuto;
b) A dor tem pelo menos quatro das seguintes caractersticas:
1. Localizao unilateral.
2. Distribuio na poro posterior da lngua, fossa tonsilar, faringe, ou abaixo
do ngulo da mandbula.
3. Dor intensa, aguda, superficial, em facada ou queimao.
4. Dor muito intensa.
5. Precipitao de dor em reas de gatilho, ou por deglutir, mastigar, falar,
tossir ou bocejar.
c) Sem leso neurolgica;
d) Crises estereotipadas para cada paciente;
e) Excluso de outras causas de dor pela histria, exame fsico e investigaes
especiais.
O exames clnico e neurolgico sempre so normais. A presena de qualquer
sinal ou sintoma neurolgico deve conduzir investigao de patologias
subjacentes.
Embora na maioria dos pacientes a NGF no se associe a qualquer leso ou
disfuno neurolgica, um nmero crescente de casos secundrios tem sido
descritos. Entre as patologias associadas esto: tumores (meningioma, tumores do
ngulo ponto-cerebelar, carcinoma, neurofibroma, neurinoma); infeces
(amigdalites, abscessos para-amigdalianos; faringites, tuberculose, herpes zoster);
trauma, alongamento do processo estilide e compresso vascular.
379
A fisiopatologia dos casos criptogenticos permanece obscura. A exemplo da NT
mecanismos perifricos (desmielinizaes focais, transmisso eftica e gerao de
impulsos ectpicos) se associariam a disfunes centrais (ncleo do trato solitrio,
ncleo ambguo e ncleo motor do nervo vago, por exemplo) na gerao dos ataques.
Os pacientes com sintomas tpicos raramente apresentam dificuldade diagnstica.
No entanto, alguns casos podem ser confundidos com outras algias craniofaciais.
So diagnsticos diferenciais: a NT, especialmente se envolve apenas o ramo
mandibular ou se associa NGF; a cefalia em salvas; epilepsia com comprome-
timento cardiovascular; e neuralgia do intermdio.
O tratamento pode ser farmacolgico ou cirrgico. Carbamazepina ainda a
droga de escolha. Seu efeito, no entanto, transitrio. Quando h comprometimento
vagal o uso da atropina deve ser priorizado.
As opes cirrgicas incluem a rizotomia e a descompresso microvascular.
NEURALGIA PS-HERPTICA
A neuralgia ps-herptica (NPH) se caracteriza por dor neuroptica persistente
aps resoluo das leses da infeco pelo herpes zoster. Sua incidncia aumenta
com a idade e em estados de imunossupresso. Acometeria 5% dos pacientes
abaixo dos 40 anos; 50% dos pacientes aos 60 anos e cerca de 75% dos pacientes
aos 70 anos de idade. Outros fatores de risco incluiriam diabetes e a localizao
oftlmica da erupo herptica.
A NPH acompanha a distribuio do nervo trigmeo em at 20% dos casos e
destes, 80% envolvem o primeiro ramo (oftlmico).
Remisses espontneas podem ocorrer e aproximadamente 50% dos casos
resolvem-se em 5 meses. Em pouco mais de 20% dos casos a dor persiste aps 1
ano. A persistncia por mais de 6 meses configuraria o quadro de neuralgia ps-
herptica crnica.
A dor constante e descrita como queimao que pode se associar a paroxsmos
do tipo punhalada ou choque. Freqentemente alodnia e hiperpatia tambm esto
presentes.
Os critrios diagnsticos segundo a Sociedade Internacional de Cefalia so:
Neuralgia ps-herptica aguda:
a ) A dor se segue a uma erupo herptica na distribuio do nervo afetado
na primeira semana de instalao;
b) A dor cede aps 6 meses da instalao da leso de pele.
Neuralgia ps-herptica crnica:
a ) Dor restrita distribuio do nervo craniano afetado ou s suas divises.
b) A dor persiste por mais de 6 meses aps o incio das erupes de herpes
zoster.
380
A NPH deve ser tratada to logo o diagnstico seja estabelecido. O tratamento
medicamentoso se faz especialmente base de antidepressivos tricclicos que podem
aliviar a dor em at 60% dos casos. Os mais usados so amitriptilina, nortriptilina e
desipramina. Corticides podem acelerar a resoluo da dor na fase aguda da
infeco herptica, porm no parecem prevenir a NPH. Tratamentos locais
base de anestsicos e capsaicina seriam eficazes em at 70% dos casos. Bloqueios
anestsicos e por ltimo a cirurgia ablativa da raiz dorsal tem sido propostos. Esta
ltima, tentativa teraputica quase herica, apesar do benefcio inicial relatado em
at 90% dos pacientes, apresenta recorrncia de 50% em 6 meses.
OUTRAS NEURALGIAS
Outras neuralgias mais raras so: a neuralgia esfenopalatina (NEP) e a neuralgia
do intermdio (NI).
A NEP pode se apresentar em qualquer idade e acomete especialmente as
mulheres (2:1). A dor do tipo neurlgica, unilateral e pode ser sentida no tero
mdio da face, atrs dos olhos, maxilar, dentes, nariz, e palato mole. Sinais
autonmicos do tipo lacrimejamento, rinorria e salivao podem estar presentes.
No h fatores deflagradores reconhecidos. O tratamento farmacolgico idntico
NT. Bloqueios anestsicos, termocoagulao e resseco cirrgica do gnglio
esfenopalatino tem sido propostos.
A NI, por sua vez, tipicamente se apresenta entre os 20 e 30 anos e tambm
acomete mais as mulheres. A dor neurlgica se localiza no ouvido e na faringe
posterior e pode ser persistente por horas ou se apresentar como paroxismos. A
estimulao sensitiva da parede posterior do canal auditivo externo e o falar ou
engolir so deflagradores conhecidos. A compresso do nervo intermdio ou do
gnglio geniculado a explicao fisiopatolgica proposta. O tratamento
medicamentoso semelhante NT e a descompresso microvascular uma opo
cirrgica para os casos refratrios.
CEFALIAS TRIGMINO-AUTONMICAS
CEFALIA EM SALVAS
J abordada em outro captulo deste livro
HEMICRANIAS PAROXSTICAS
As hemicranias paroxsticas foram descritas por Sjaastad e Dale em 1974 como
uma forma variante da cefalia em salvas. Ela se constituiria de crises semelhantes
da CS, porm com menor durao e muito mais freqentes, apresentando uma
resposta dramtica indometacina.
382
Afeta mais mulheres que homens, numa relao prxima a 3:1. Embora a maioria
dos casos tenha sido descrita em adultos na terceira ou quarta dcadas de vida,
alguns relatos apontam incio dos sintomas ainda na infncia.
As HP se caracterizam por crises de dor unilateral, ocular, supraocular e
temporal excruciante de curta durao e alta freqncia. Como na cefalia
em salvas, as HP se acompanha de distrbios autonmicos que incluem:
hiperemia conjuntival, lacrimejamento, congesto nasal, rinorria, ptose e edema
palpebral ipsilaterais dor. Ao contrrio da cefalia em salvas, no entanto, as
crises so mais curtas (5 a 45 minutos, em mdia 2 a 20 minutos), mais
freqentes (mais de 5 crises por dia) e exibem uma resposta absoluta indome-
tacina.
Descrita inicialmente em sua forma crnica (crises dirias indefinidamente), a
partir do relato de Kudrow, um outro comportamento foi reconhecido. Este
intercalaria intervalos assintomticos variveis mantendo a resposta absoluta
indometacina e foi denominado de hemicrania paroxstica episdica (HPE).
Goadsby e Lipton propem os seguintes critrios diagnsticos para as hemi-
cranias paroxsticas:
Hemicrania paroxstica crnica
a) Pelo menos 30 crises de dor de cabea preenchendo os critrios B-E;
b) Ataques de dor orbital, supraorbital e/ou temporal severa sempre do mesmo
lado e durando de 2 a 45 minutos;
c) Freqncia de pelo menos 5 crises por dia em mais da metade do tempo
(perodos de menor freqncia podem ocorrer);
d) Dor associada a pelo menos um dos seguintes sinais/sintomas no lado da
dor:
1. Hiperemia conjuntival.
2. Lacrimejamento.
3. Congesto nasal.
4. Rinorria.
5. Ptose.
6. Edema palpebral.
e) Pelo menos um dos seguintes:
1. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico no sugerem qualquer dos
distrbios listados nos grupos 5-11;
2. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico sugestivos de tais distrbios
que so afastados por investigao apropriada;
3. Tais distrbios esto presentes, mas as cefalias no guardam uma clara
relao temporal com o distrbio.
OBS.: A maioria dos casos responde rpida e absolutamente indometacina
(doses de 150 mg/dia ou menos).
383
Hemicrania paroxstica episdica
a) Pelo menos 30 crises de dor de cabea preenchendo os critrios B-F;
b) Ataques de dor orbital e/ou temporal severa sempre unilaterais e durando
de 1 a 30 minutos;
c) Freqncia de pelo menos 3 crises por dia;
d) Perodos sintomticos separados por intervalos assintomticos de meses a
anos;
e) Dor associada a pelo menos um dos seguintes sinais / sintomas no lado da
dor:
1. Hiperemia conjuntival.
2. Lacrimejamento.
3. Congesto nasal.
4. Rinorria.
5. Ptose.
6. Edema palpebral.
f) Pelo menos um dos seguintes:
1. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico no sugerem qualquer dos
distrbios listados nos grupos 5-11.
2. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico sugestivos de tais distrbios
que so afastados por investigao apropriada.
3. Tais distrbios esto presentes, mas as cefalias no guardam uma clara
relao temporal com o distrbio.
OBS.: A maioria dos casos responde rpida e absolutamente indometacina
(doses de 150 mg/dia ou menos).
Como em outras cefalias primrias, o tratamento apropriado depende do correto
diagnstico. Clinicamente as hemicranias paroxsticas (HP) tem na cefalia em
salvas o diagnstico diferencial mais prximo.
Associaes com leses estruturais intracranianas (aneurismas, mal-formaes
vasculares e doena cerebrovascular) tm sido relatadas. Em muitos casos a
resoluo da leso se segue pelo desaparecimento da dor.
Estes casos determinam a necessidade de estudos de neuroimagem em
pacientes com cefalias recorrentes do tipo HPC.
A boa resposta aspirina observada nas primeiras descries levou pres-
crio de indometacina para pacientes com hemicrania paroxstica. O rpido e
absoluto alvio obtido com doses de 150 mg ou menos especfico e provavelmente
no se relaciona com o efeito analgsico geral. Mais recentemente, casos tm
sido descritos respondendo ao celecoxib, um antiinflamatrio no-hormonal que
inibe a sntese primria das prostaglandinas pela inibio seletiva da ciclooxi-
genase-2 (COX-2).
384
Obtido o alvio, a dose deve ser mantida por meses e depois descontinuada
gradualmente no intuito de se surpreender remisso. Se houver reaparecimento da
dor, a indometacina deve ser retomada nas doses anteriormente eficazes.
SUNCT
SUNCT (Shortlasting Unilateral Neuralgiform headache attacks with
Conjunctival injection and Tearing) ou cefalias unilaterais do tipo neuralgiforme
de curta durao associadas hiperemia conjuntival e lacrimejamento foi descrita
pela primeira vez em 1978 por Dr. Otar Sjaastad na reunio da Scandinavian Migraine
Society.
uma doena rara cujos poucos casos descritos na literatura mostram uma
preponderncia do sexo masculino (relao homem/mulher de 4:1). Os sintomas
se iniciam na maioria dos casos entre 40 e 70 anos com mdia de idade em torno
dos 50 anos.
Caracteriza-se por ataques muito breves de dor orbital ou periorbital, unilateral,
moderada a severa, acompanhada quase sempre por hiperemia conjuntival e
lacrimejamento e ocasionalmente por obstruo nasal ou rinorria ipsilaterais.
A evoluo imprevisvel com perodos sintomticos (ataques dirios com
freqncia variando de 1 por dia at 30 ataques por hora) se alternando com
remisses espontneas de forma errtica. Durante as fases sintomticas as crises
podem ser precipitadas por vrios mecanismos localizados mesmo em reas no
trigeminais. Toques na face, em especial na regio do nariz, regio frontal, regio
ocular e periocular alm de mastigao e mesmo movimentos rpidos dos olhos e
do pescoo tem sido descritos como mecanismos precipitantes dos ataques de
SUNCT. Em alguns pacientes predominam os ataques deflagrados e em outros os
ataques quase que exclusivamente espontneos.
Ao contrrio da NT desencadeada por estmulos leves os estmulos precipitantes
de SUNCT so mais vigorosos e no parece haver um perodo refratrio entre os
ataques o que faz com que um novo possa ser deflagrado mesmo antes da resoluo
total do anterior.
Uma tendncia de cronificao tem sido observada e segue basicamente
dois padres: aumento progressivo da freqncia ou maior durao perodos
sintomticos.
A dor estritamente unilateral e na grande maioria dos casos o lado direito o
acometido. Descritos como facada, punhalada, perfurante ou em ferroada os
paroxsmos de dor so em sua maioria moderados a severos e s raramente
incapacitantes. A instalao abrupta e um plateau atingido j aos 2 a 3 segundos.
A resoluo pode se dar tambm de forma abrupta ou gradativa (vrios segundos).
Da instalao resoluo decorre em mdia 60 segundos embora ataques de at
385
6 minutos tenham sido descritos. Como em outras cefalias unilaterais, o intervalo
entre as crises pode ser assintomtico ou persistir um desconforto.
Os acompanhamentos autonmicos esto sempre presentes. A hiperemia
conjuntival e o lacrimejamento so constantes e proeminentes. A rinorria ou
obstruo nasal so menos freqentes e bem menos marcantes. So ipsilaterais
dor (raramente bilaterais) e acompanham a dor embora possam preced-la ou
mesmo permanecer aps a resoluo da mesma.
Goadsby e Lipton sugerem os seguintes critrios diagnsticos para SUNCT:
a ) Pelo menos 30 ataques preenchendo os critrios B-E;
b) Ataques de dor unilateral, orbital ou temporal, moderada a severa, durando
de 15 a 120 segundos;
c ) Freqncia variando de 3 a 200 ataques por dia;
d) Dor associada a pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas no lado da
dor sendo a hiperemia conjuntival a mais freqente e muito proeminente:
1. Hiperemia conjuntival.
2. Lacrimejamento.
3. Congesto nasal.
4. Rinorria.
5. Ptose.
6. Edema palpebral.
e) Pelo menos um dos seguintes:
1. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico no sugerem qualquer dos
distrbios listados nos grupos 5-11.
2. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico sugestivos de tais distrbios
que so afastados por investigao apropriada.
3. Tais distrbios esto presentes, mas as cefalias no guardam uma clara
relao temporal com o distrbio.
O envolvimento contralateral (caracterstica de outras cefalias unilaterais)
foi relatado em 3 pacientes. No entanto, ao contrrio das demais cefalias
unilaterais, a extenso a segmentos inferiores da face no foi descrita em
SUNCT. Esse padro a diferenciaria das NTs restritas inicialmente ao primeiro
ramo, que invariavelmente se estenderiam posteriormente aos ramos maxilar e
mandibular
Os exames clnico e neurolgico so sempre normais. Embora a maioria dos
casos sejam primrios, vrios casos secundrios tm sido descritos. H relato de
SUNCT secundrio a malformaes arteriovenosas no ngulo pontocerebelar e
tronco cerebral diagnosticadas por ressonncia magntica. Um paciente teve um
hemangioma cavernoso no ngulo pontocerebelar. Deste modo um estudo com
imagens por ressonncia magntica (RM) deve fazer parte da investigao dos
pacientes com SUNCT.
386
Embora compartilhem vrias caractersticas clnicas, o relacionamento de
SUNCT com a NT permanece obscuro. A predominncia masculina, a localizao
da dor sempre no territrio da primeira diviso do nervo trigmio, os fenmenos
autonmicos associados e a ausncia de efeito teraputico da carbamazepina
diferenciam SUNCT como uma entidade nosolgica distinta. Porm h um relato
de paciente com NT que teria evoludo para SUNCT e mais recentemente 2
pacientes com SUNCT tiveram completo alvio dos sintomas aps cirurgia de
descompresso microvascular.
A fisiopatologia ainda obscura. Estudo com imagens por ressonncia magntica
funcional, no entanto, revelou significativa ativao de regio hipotalmica ipsilateral
dor, a mesma j descrita como funcionalmente associada aos ataques de cefalia
em salvas.
Vrias medicaes e bloqueios anestsicos tm sido testadas em pacientes
com SUNCT sem contudo apresentar efeito convincente. Relatos de um benefcio
parcial da carbamazepina e controle da dor com lamotrigina e gabapentina tm
sido relatados isoladamente.
HEMICRANIA CONTNUA
Descrita pela primeira vez em 1984 por Sjaastad e Spierings, a hemicrania
contnua (HC) um raro tipo de cefalia que, como o nome sugere, estritamente
unilateral e contnua.
Nos poucos casos descritos na literatura, nota-se um predomnio do sexo
feminino.
Caracteriza-se por dor unilateral fixa, contnua e constante (eventualmente
oscilante), de intensidade moderada, com poucos sinais e sintomas acompanhantes
e uma resposta completa indometacina.
Exacerbaes fugazes da dor podem se associar dor persistente e geralmente
se acompanham de fenmenos autonmicos. Estes incluem: ptose palpebral,
hiperemia conjuntival, lacrimejamento e congesto nasal. Raramente h alternncia
de lado e alguns pacientes podem apresentar foto e fonofobia alm de nuseas.
HC ainda no est na Classificao da IHS porm vrias autoridades em
cefalia defendem a sua incluso e subscrevem os critrios propostos por Goadsby
e Lipton abaixo.
a) Cefalia presente por pelo menos 1 ano;
b) Cefalia unilateral;
c) A dor tem as seguintes qualidades:
1. Contnua, mas flutuante.
2. Moderada.
3. Ausncia de mecanismos precipitantes.
387
d) A cefalia deve ter ambas as seguintes caractersticas:
1. Completa resposta indometacina.
2. Um dos seguintes fenmenos autonmicos em associao com as exacer-
baes da dor:
1. hiperemia conjuntival
2. lacrimejamento
3. congesto nasal
4. rinorria
5. ptose
6. edema palpebral
e) Pelo menos um dos seguintes:
1. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico no sugerem qualquer dos
distrbios listados nos grupos 5-11.
2. Histria e/ou exames fsico e/ou neurolgico sugestivos de tais distrbios
que so afastados por investigao apropriada.
3. Tais distrbios esto presentes, mas as cefalias no guardam uma clara
relao temporal com o distrbio.
Os pacientes com HC tm sido classificados em 3 grupos: a) aqueles com uma
forma episdica em que fases sintomticas (com dor) durando semanas ou meses
alternam com perodos de remisso; b) aqueles que evoluem da forma episdica
com remisses para a forma crnica, contnua, sem melhoras; e c) aqueles que
apresentam a forma crnica, sem remisses, desde o incio. Neste ltimo grupo
esto a maioria dos pacientes.
O diagnstico diferencial inclui as cefalias persistentemente unilaterais e as demais
CTAs. A HC se diferencia das outras CTAs primariamente por seu carter de dor
contnua e moderada e pela presena de fenmenos autonmicos apenas nas
exacerbaes da dor. J a cefalia cervicognica, tambm unilateral fixa, apresenta
um padro de dor recorrente que dura horas a dias e no responde indometacina.
Indometacina a droga de escolha para o tratamento da HC. Todos os pacientes
apresentam uma resposta completa e a longo prazo. O efeito rpido, j se expressa
em poucas horas e o alvio completo da dor ocorre nas primeiras 24 horas
(freqentemente j com 8 horas). Deve-se iniciar com 25 mg/3/x/dia por 3 dias
subindo-se para 50 mg/3x/dia, se houver falha de resposta. Uma resposta incompleta,
mas claramente presente pode indicar o acerto diagnstico e a insuficincia da
medicao. No se observa taquifilaxia, e a suspenso da medicao determina o
reaparecimento dos sintomas.
O efeito da indometacina nico. Nenhum outro AINH determina resposta ao
mesmo tempo to dramtica e sistemtica. A necessidade de doses maiores de
indometacina ou a perda de feito da mesma deve levar suspeio diagnstica e a
reavaliao do paciente.
388
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Antonaci F, Sjaastad O. Chronic paroxysmal hemicrania (CPH): a review of the clinical
manifestations. Headache 1989;29:648-656.
Barker FG II, Jannetta PJ, Bissonette DJ, Larkins MV, Jho HD. The long-term outcome of
microvascular decompression for trigeminal neuralgia. N Engl J Med 1996;334:1077-
1083.
Benoliel R, Sharav Y. Trigeminal neuralgia with lacrimation or SUNCT syndrome? Cephalalgia
1998;18(2): 85-90.
Boecher-Schwarz HG et al. Sensitivity and specificity of MRA in the diagnosis of
neurovascular compression in patients with trigeminal neuralgia. A correlation of MRA
and surgical findings. Neuroradiology 1998;40(2):88-95.
Bordini C, Antonaci F, Stovner LJ, Schrader H, Sjaastad O. Hemicrania continua: a clinical
review. Headache 1991;31:20-26.
Bouhassira D, Attal N, Esteve M, Chauvin M. SUNCT syndrome. A case of transformation
from trigeminal neuralgia? Cephalalgia 1994;14:168-170.
Bowsher D. The lifetime occurrence of Herpes zoster and prevalence of post-herpetic
neuralgia: a retrospective survey in an elderly population. Eur J Pain 1999;3(4):335-342.
Broggi G, Ferroli P, Franzini A, Servello D, Dones I. Microvascular decompression for
trigeminal neuralgia: comments on a series of 250 cases, including 10 patients with
multiple sclerosis. J Neurol Neurosurg Psychiatry 2000;68(1):59-64.
Bruyn GW. Glossopharyngeal neuralgia. Cephalalgia 1983;3(3):143-157.
Burchiel KJ, Slavin KV. On the natural history of trigeminal neuralgia. Neurosurgery
2000;46(1):152-154.
Bussone G, Leone M, Dalla Volta G, Strada L, Gasparotti R, Di Monda V. Short-lasting
unilateral neuralgiform headache attacks with tearing and conjunctival injection: the
first symptomatic case? Cephalalgia 1991;11:123-127.
Canavero S, Bonicalai V, Ferroli P, Zeme S, Montalenti E, Benna P. Lamotrigine control of
idiopathic trigeminal neuralgia. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1995;59:646.
Centonze V, Attolini E, Campanozzi F, Magrone D, Tesauro P, Vino M, Campanale G, Albano
O. Hemicrania continua: a new clinical entity or a further development from cluster
headache? A case report. Cephalalgia 1987;7:167-168.
Correa CF, Teixeira MJ. Balloon compression of the Gasserian ganglion for the treatment of
trigeminal neuralgia. Stereotact Funct Neurosurg 1998;71(2):83-89.
Cummings WJK. Episodic paroxysmal hemicrania. J Neurol Neurosurg Psychiatry
1991;54:666.
Cunningham AL, Dworkin RH. The management of post-herpetic neuralgia. BMJ
2000;321(7264):778-779.
Dalessio DJ. Management of the cranial neuralgias and atypical facial pain. A review. Clin J
Pain 1989;5(1):55-59.
389
Ferrante L, Artico M, Nardacci B, Fraioli B, Cosentino F, Fortuna A. Glossopharyngeal
neuralgia with cardiac syncope. Neurosurgery 1995;36(1):58-63.
Flenik LT, Bittencourt PRM. Dor crnio-facial atpica: um estudo controlado. Rev Bras
Otorrinolaringol 1987;53(2):64-67.
Friedman AH, Nashold BS, Ovelmen-Levitt J. Dorsal root entry zone lesions for the treatment
of post-herpetic neuralgia. J Neurosurg 1984;60(6):1258-1262.
Garcia-Callejo FJ, Velert-Vila MM, Talamantes-Escriba F, Blay-Galaud L. Clinical response
of gabapentin for glossopharyngeal neuralgia. Rev Neurol 1999;28(4):380-384.
Goadsby PJ, Lipton RB. A review of paroxysmal hemicranias, SUNCT syndrome and other
short-lasting headaches with autonomic feature, including new cases. Brain 1997;120:193-
209.
Gouda JJ, Brown JA. Atypical facial pain and other pain syndromes. Differential diagnosis
and treatment. Neurosurg Clin N Am 1997;8(1):87-100.
Graff-Radford SB. SUNCT syndrome responsive to gabapentin (Neurontin). Cephalalgia
2000;20(5):515-517.
Greene KA, Karahalios DG, Spetzler RF. Glossopharyngeal neuralgia associated with vascular
compression and choroid plexus papilloma. Br J Neurosurg 1995;9(6):809-814.
Hilton DA, Love S, Gradidge T, Coakham HB. Pathological findings associated with trigeminal
neuralgia caused by vascular compression. Neurosurgery 1994;35:299-303.
International Headache Society. Classification and diagnostic criteria for headache disorders,
cranial neuralgias and facial pain. Cephalalgia 1988; 8(suppl 7):37-38.
Jackson EM, Bussard GM, Hoard MA, Edlich RF. Trigeminal neuralgia: a diagnostic
challenge. Am J Emerg Med 1999;17(6):597-600.
Jannetta PJ. Microsurgical management of trigeminal neuralgia. Arch Neurol 1985;42:800.
Jensen NB, Joensen P, Jensen J. Chronic paroxysmal hemicrania: continued remission of
symptoms after discontinuation of indomethacin. Cephalalgia 1982;2:163-164.
Jensen TS, Rasmussen P, Reske-Nielsen E. Association of trigeminal neuralgia with multiple
sclerosis: clinical and pathological features. Acta Neurol Scand 1982;38:1830-1834.
Johnson RW. Herpes zoster Predicting and minimizing the impact of post-herpetic neuralgia.
J Antimicrob Chemother 2001;47(suppl A):1-8.
Katusic S, Williams DB, Beard CM, Bergstralh EJ, Kurland LT. Epidemiology and clinical
features of idiopathic trigeminal neuralgia and glossopharyngeal neuralgia: similarities
and differences, Rochester, Minnesota, 1945-1984. Neuroepidemiology 1991;10:276-281.
Khan OA. Gabapentin relieves trigeminal neuralgia in multiple sclerosis patients. Neurology
1998;51(2):611-614.
Kirkpatrick DB. Familial trigeminal neuralgia: case report. Neurosurgery 1989;24:758-761.
Knuckey NW, Gubbay SS. Familial trigeminal and glossopharyngeal neuralgia. Clin Exp
Neurol 1979;16:315-319.
Kondo A. Follow-up results of using microvascular decompression for treatment of
glossopharyngeal neuralgia. J Neurosurg 1998;88(2):221-225.
390
Kondziolka D. Gamma knife radiosurgery for trigeminal neuralgia: results and expectations.
Arch Neurol 1998 ;55(12):1524-1529.
Kudrow L, Esperanza P, Vijayan N. Episodic paroxysmal hemicrania? Cephalalgia 1987;
7:197-201.
Lain AH, Caminero AB, Pareja JA. SUNCT syndrome: absence of refractory periods and
modulation of attack duration by lengthening of the trigger stimuli. Cephalalgia
2000;20(7):671-673.
Leone M, Rigamonti A, Usai S, Damico D, Grazzi L, Bussone G. Two new SUNCT cases
responsive to lamotrigine. Cephalalgia 2000;20(9):845-847.
Lordanidis T, Sjaastad O. Hemicrania continua: a case report. Cephalalgia 1989;9:301-303.
Lovely TJ, Jannetta PJ. Microvascular decompression for trigeminal neuralgia. Neurosurg
Clin N Am 1997;8:11-29.
May A, Bahra A, Buchel C, Turner R, Goadsby PJ. Functional magnetic resonance imaging
in spontaneous attacks of SUNCT: short-lasting neuralgiform headache with conjunctival
injection and tearing. Ann Neurol 1999;46(5):791-794.
McCarron MO, Bone I. Glossopharyngeal neuralgia referred from a pontine lesion.
Cephalalgia 1999;19(2):115-117.
McLaughlin MR, Jannetta PJ, Clyde BL, Subach BR, Comey CH, Resnick DK. Microvascular
decompression of cranial nerves: lessons learned after 4400 operations. J Neurosurg
1999;90(1):1-8.
Minagar A, Sheremata WA. Glossopharyngeal neuralgia and MS. Neurology 2000;54(6):1368-
1370.
Morales F, Mostacero E, Marta J, Snchez S. Vascular malformation of the cerebellopontine
angle associated with SUNCT syndrome. Cephalalgia 1994;14:301-302.
Morales-Asin F, Espada F, Lopez-Obarrio LA, Navas I, Escalza I, Iniguez C. A SUNCT case
with response to surgical treatment. Cephalalgia 2000;20(1):67-68.
Newman LC, Gordon MC, Lipton RB, Kanner R, Solomon S. Episodic paroxysmal hemicrania:
two new cases and a literature review. Neurology 1992;42:964-966.
Newman LC, Lipton RB, Russell M, Solomon S. Hemicrania continua: attacks may alternate
sides. Headache 1992;32:237-238.
Ogungbo BI, Kelly P, Kane PJ, Nath FP. Microvascular decompression for trigeminal neuralgia:
report of outcome in patients over 65 years of age. Br J Neurosurg 2000;14(1):23-27.
Pareja JA, Caballero V, Sjaastad O. SUNCT syndrome. Statuslike pattern. Headache
1996;36:622-624.
Pareja JA, Joubert J, Sjaastad O. SUNCT syndrome. Atypical temporal patterns. Headache
1996;36:108-110.
Pareja JA, Kruszewski P, Sjaastad O. SUNCT syndrome: trials of drugs and anesthetic
blockades. Headache 1995;35:138-142.
Pareja JA, Pareja J, Palomo T, Caballero V, Pamo M. SUNCT syndrome: repetitive and
overlapping attacks. Headache 1994;34:114-116.
391
Pareja JA, Shen JM, Kruszewski P, Caballero V, Patio M, Sjaastad O. SUNCT syndrome.
Duration, frequency and temporal distribution of attacks. Headache 1996;36:161-165.
Pareja JA, Sjaastad O. Chronic paroxysmal hemicrania and hemicrania continua. Interval
between indomethacin administration and response. Headache 1996;36:20-23.
Pareja JA, Sjaastad O. SUNCT syndrome in the female. Headache 1994;34:217-220.
Pasqualucci A, Pasqualucci V, Galla F, De Angelis V, Marzocchi V, Colussi R, Paoletti F,
Girardis M, Lugano M, Del Sindaco F . Prevention of post-herpetic neuralgia: acyclovir
and prednisolone versus epidural local anesthetic and methylprednisolone. Acta
Anaesthesiol Scand 2000;44(8):910-918.
Pasquier L, Leys D, Petit H. Hemicrania continua: the first bilateral case? Cephalalgia
1987;7:169-170.
Petersen KL, Fields HL, Brennum J, Sandroni P, Rowbotham MC. Capsaicin evoked pain
and allodynia in post-herpetic neuralgia. Pain 2000;88(2):125-133.
Pfaffenrath V, Rath M, Pollmann W, Keeser W. Atypical facial pain Application of the IHS
criteria in a clinical sample. Cephalalgia 1993;13(suppl 12):84-88.
Regis J, Metellus P, Lazorthes Y, Porcheron D, Peragut JC. Effect of gamma knife on secondary
trigeminal neuralgia. Stereotact Funct Neurosurg 1998;70(suppl 1):210-217.
Resnick DK, Jannetta PJ, Bissonnette D, Jho HD, Lanzino G. Microvascular decompression
for glossopharyngeal neuralgia. Neurosurgery 1995;36(1):64-68.
Rushton JG, Stevens JC, Miller RH. Glossopharyngeal (vagoglossopharyngeal) neuralgia:
a study of 217 cases. Arch Neurol 1981;38(4):201-205.
Sjaastad O, Dale I. A new (?) clinical headache entity chronic paroxysmal hemicrania 2.
Acta Neurol Scand 1976;54:140-159.
Sjaastad O, Dale I. Evidence for a new (?) treatable headache entity. Headache 1974;14:105-108.
Sjaastad O, Hrven I. Indomethacin and headache. Headache 1982;22:90-92.
Sjaastad O, Kruszewski P, Fostad K, Elsas T, Qvigsiad G. SUNCT syndrome VII: ocular
and related variables. Headache 1992;32:489-495.
Sjaastad O, Kruszewzki P. Trigeminal neuralgia and SUNCT syndrome: similarities and
differences in the clinical pictures. An overview. Funct Neurol 1992;7:103-107.
Sjaastad O, Russell D, Hrven I, Bunaes U. Multiple neuralgiform unilateral headache
attacks associated with conjunctival injection and appearing in clusters. A nosological
problem. Proceedings of the Scandinavian Migraine Society 1978, p. 31.
Sjaastad O, Saunte C, Salvesen R et al. Shortlasting unilateral neuralgiform headache
attacks with conjunctival injection, tearing, sweating, and rhinorrhea. Cephalalgia
1989;9:147-156.
Sjaastad O, Spierings ELH. Hemicrania continua: another headache absolutely responsive
to indomethacin. Cephalalgia 1984;4:65-70.
Sjaastad O. Hemicrania continua New developments. Cephalalgia 1987;7:163-166.
Snoeck R, Andrei G, De Clercq E. Current pharmacological approaches to the therapy of
varicella zoster virus infections: a guide to treatment. Drugs 1999;57(2):187-206.
392
Spierings EHL. The chronic paroxysmal hemicrania concept expanded. Headache 1988;
28:597-598.
Tacconi L, Miles JB. Bilateral trigeminal neuralgia: a therapeutic dilemma. Br J Neurosurg
2000 ;14(1):33-39.
Tenser RB. Trigeminal neuralgia: mechanisms of treatment. Neurology 1998;51:17-19.
Tsuboi M, Suzuki K, Nagao S, Nishimoto A. Glossopharyngeal neuralgia with cardiac
syncope. A case successfully treated by microvascular decompression. Surg Neurol
1985;24(3):279-283.
Vijayan N. Symptomatic chronic paroxysmal hemicrania. Cephalalgia 1992;12:111-113.
Yoon KB, Wiles JR, Miles JB, Nurmikko TJ. Long-term outcome of percutaneous
thermocoagulation for trigeminal neuralgia. Anaesthesia 1999;54(8):803-808.
Young RF, Vermulen S, Posewitz A. Gamma knife radiosurgery for the treatment of trigeminal
neuralgia. Stereotact Funct Neurosurg 1998;70(suppl 1):192-199.
Zukerman E, Hannuch SNM, Carvalho DDS, Fragoso YD, Jenger KA. Hemicrania continua:
a case report. Cephalalgia 1987;7:171-173.
393
23
ALGIAS FRONTO-ORBITRIAS
Wilson Luiz Sanvito
Antonio Murillo Lemos Ramalho
CRNEA E CONJUNTIVA
A conjuntiva e, principalmente, a crnea so estruturas muito sensveis dor. O
desconforto que tem origem nessas regies varia desde a sensao de corpo
estranho localizado at dor intensa que irradia-se pelo trajeto do nervo oftlmico,
freqentemente acompanhada de hiperemia ocular, lacrimejamento, fotofobia e
blefarospasmo.
A eroso recorrente da crnea pode causar dor intensa nos olhos ao abri-los pela
manh, podendo em certas oportunidades causar confuso com a cefalia em salvas.
396
Pacientes com olho seco, por deficincia do filme lacrimal, queixam-se de
sensao de areia nos olhos e ocasionalmente podem ter uma dor intensa que dura
de um a dois segundos, comparada a um choque eltrico.
GLAUCOMA
A presso intraocular depende de um equilbrio entre a produo do humor
aquoso pelo corpo ciliar e sua drenagem pelo trabeculado situado no ngulo formado
pela juno da crnea perifrica com a ris. Quando h uma diminuio da drenagem
do humor aquoso, esse ngulo pode estar aberto ou fechado.
A dor do glaucoma depende mais da velocidade de aumento da presso ocular do
que dos nveis a que ela atinge. O glaucoma agudo, de ngulo fechado, causa dor
ocular intensa que pode ser confundida com crise de enxaqueca ou rotura de aneurisma
intracraniano. O quadro lgico costuma se acompanhar de diminuio da viso,
fotofobia, nusea e vmitos. A pupila costuma estar com midrase mdia, h edema
de crnea e o olho sensvel palpao e encontra-se endurecido. A dor pode se
propagar para outros ramos do trigmeo, porm a sua intensidade mxima no olho.
O glaucoma neovascular secundrio a processos que causam isquemia, como
ocluso da veia central, sndrome isqumica ocular, condies que provocam estmulo
para a neovascularizao que oclui a malha trabecular e causam grande elevao
da presso ocular e dor.
UVETE
As inflamaes da ris, corpo ciliar e coride causam as uvetes.A mais dolorosas
so as uvetes anteriores (envolvem a ris e o corpo ciliar). A dor ocular tem carter
surdo e se acompanha de embaamento visual, lacrimejamento e pupila mitica. A
manifestao dolorosa pode irradiar-se para o ouvido e dentes e costuma melhorar
com o uso de colrio midritico.
NEURITE PTICA
Quadro 23.2 As condies orbitrias que podem causar dor esto aqui relacionadas
Celulite orbitria
Pseudotumor orbitrio
Esclerite posterior
Tumor maligno da glndula lacrimal
Metstase
ARTERITE TEMPORAL
Este tipo de algia craniofacial, que ainda conserva a sigla em ingls, pode ser
denominada de cefalia neuralgiforme unilateral de curta durao com injeo
conjuntival e lacrimejamento. As crises dolorosas apresentam durao rpida (a
mdia de durao de 120 segundos), so unilaterais e envolvem o primeiro ramo
do trigmeo. Muitas crises podem ocorrer no prazo de uma hora e a dor geralmente
de intensidade moderada, raramente excruciante. Parece que esta forma de algia
predomina no homem (veja tambm o captulo 22).
SNDROME SLVICA-TRIGEMINAL
Esta sndrome, conhecida nos pases anglo-saxes como Cluster-tic syndrome,
de ocorrncia rara. Caracteriza-se pela presena de dois tipos de dor, de modo simultneo
ou em tempos diferentes. Uma dor do tipo choque, de curtssima durao e lembra
a dor da neuralgia do trigmeo, enquanto a outra dor de localizao ocular e periocular,
de maior durao e se acompanha de manifestaes disautonmicas. Os dois tipos
de dor se localizam do mesmo lado e so sempre unilaterais. De sorte que esta entidade
rene a dor neurlgica dor slvica. Apenas o componente neurlgico responde ao
tratamento com drogas do tipo carbamazepina ou difenil-hidantona; o componente
slvico habitualmente irresponsivo ao tratamento.
SNDROME DE RAEDER
Esta sndrome apresenta as seguintes caractersticas clnicas: a dor apresenta
algumas semelhanas com da neuralgia do trigmeo e costuma envolver os ramos
oftlmico e/ou maxilar do V nervo, e ao fenmeno lgico associa-se uma paralisia
ocular simptica (miose e ptose palpebral incompleta), com preservao da sudorese
no lado comprometido. Pode ocorrer, em alguns casos, hipoestesia na rea trigeminal
comprometida, bem como dficit da musculatura inervada pelo trigmeo.
Em 1962, Boniuk e Schlezinger propuseram dois subgrupos para esta sndrome:
1) quadro de dor e paralisia oculossimptica ao lado do envolvimento de mltiplos
nervos cranianos da regio parasselar; 2) quadro de dor e paralisia oculossimptica
sem envolvimento de nervos cranianos.
405
DISSECO ESPONTNEA DA ARTRIA CARTIDA INTERNA (DEACI)
um quadro pouco freqente, que pode comprometer o indivduo jovem ou de
meia-idade, e que se exterioriza com cefalia e dficit neurolgico focal. A cefalia
a queixa mais freqente, geralmente unilateral e distribui-se pela regio orbitria,
periorbitria e frontal. Com certa freqncia associa-se dor cervical no trajeto da
artria cartida. A cefalia pode ser contnua ou pulstil e a intensidade pode variar
de moderada a forte. Freqentemente se associa ao quadro lgico a sndrome de
Horner. Os sinais neurolgicos focais (crise isqumica transitria ou acidente
vascular cerebral isqumico) podem preceder ou suceder os fenmenos lgicos.
O papel do traumatismo na DEACI incerto. Alguns fatores tm sido relatados
na DEACI: acesso de tosse prolongado e violento, manipulao quiroprtica, acesso
de espirros, rotao brusca do pescoo. A presena de arteriopatias, como a displasia
fibromuscular, pode facilitar a instalao da disseco.
O diagnstico pode ser confirmado pela ultra-sonografia duplex das cartidas
ou pela ressonncia nuclear magntica, entretanto a angiografia digital o exame
mais valioso. O quadro relativamente benigno e uma recuperao completa ocorre
em aproximadamente 90% dos casos. O tratamento costuma ser clnico e
excepcionalmente h indicao de cirurgia. O emprego de anticoagulantes est
indicado, iniciando-se com heparina (que deve ser mantida por alguns dias) que
deve ser substituda por anticoagulante oral por perodo aproximado de trs meses.
NEURALGIA DO TRIGMEO
Trata-se de afeco caracterizada por paroxismos dolorosos de curtssima durao
no territrio de um ou mais ramos do trigmeo. Este tipo de neuralgia acomete a
ambos os sexos e costuma ocorrer, com maior freqncia, aps os 50 anos de idade.
O quadro clnico caracteriza-se pela presena de paroxismos dolorosos intensos, de
carter lancinante, geralmente localizados nos territrios do IIo e/ou IIIo ramos do
nervo. O acometimento isolado do Io ramo (oftlmico) raro e, quando ocorre, os
paroxismos dolorosos se localizam na regio ocular, periocular e frontal. A dor, com
durao de segundos, pode ocorrer espontaneamente ou ser desencadeada por
estimulaes mnimas de certas pores da face (trigger-points).
O diagnstico da neuralgia do trigmeo clnico e o tratamento deve ser
conservador atravs de drogas como a carbamazepina, difenil-hidantona, baclofeno,
clonazepam, pimozide, valproato de sdio, gabapentina. Nos casos rebeldes ao
tratamento farmacolgico, h indicao de tratamento cirrgico, podendo ser
utilizadas tcnicas convencionais ou as modernas tcnicas estereotxicas.
CEFALIA IDIOPTICA EM FACADAS
um quadro lgico de apresentao episdica e de curta durao e conhecido
na literatura mdica de lngua inglsa como ice-pick pains. A dor costuma
406
localizar-se na regio inervada pelo primeiro ramo do trigmeo. O episdio de dor
pode ser nico ou ocorrer em srie, com intervalos irregulares (horas ou dias). Seu
diagnstico depender da excluso de alteraes estruturais e da presena de dor
unilateral na rea orbitria e/ou frontotemporal. Este tipo de dor mais comum nos
pacientes enxaquecosos. Esta dor pode responder indometacina.
HEMICRANIA CONTNUA
uma forma rara de cefalia unilateral, de natureza benigna e ligeiramente
predominante no sexo feminino. Geralmente tem incio na idade adulta, entre os 20
e 50 anos. A dor, geralmente de grau moderado, costuma ser contnua e no-
latejante; ocasionalmente pode se exacerbar e apresentar carter latejante. A
intensidade da dor flutuante e nos perodos de exacerbao pode ser acompanhada
de distrbios autonmicos como ptose palpebral incompleta, miose, congesto ocular,
lacrimejamento, congesto nasal e rinorria. Alguns pacientes referem fotofobia,
fonofobia e nusea. A durao da dor varivel, podendo ir de 20 minutos a vrios
dias. A sua localizao sempre unilateral, habitualmente na regio rbito-fronto-
temporal. freqente a associao com a cefalia em punhaladas. A hemicrania
contnua costuma responder indometacina.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Alberca R, Ochoa JJ. Cluster-tic syndrome. Neurology 1994;44:996.
Antonaci F, Sjaastad O. Chronic paroxysmal hemicrania (CPH): a revieww of the clinical
manifestations. Headache 1989;29:648.
Boniuk M, Schlezinger NS. Raeders paratrigeminal syndrome. Am J Ophthalm 1962;52:1074.
Goadsby PJ, Lipton RB. A review of paroxysmal hemicranias, SUNCT syndrome and other
short-lasting headaches with autonomic features including new cases. Brain
1997;120:193.
Mathew NT. Indomethacin-responsive headache syndromes. Headache 1981;21:147.
Monzillo PH, Sanvito WL, Costa AR. Cluster-tic syndrome. Report of five cases. Arq
Neuropsiquiatr 2000;58:518.
Pareja JA, Joubert J, Sjaastad O. Sunct syndrome. A typical temporal patterns. Headache
1996;36:20.
Raskin NH, Schwartz RK. Icepick-like pain. Neurology 1980;30:203.
Rosenblatt MA, Sakol PJ. Ocular and periocular pain. Otolaryngologic Clinics North Am
1989;22:1173.
Rusell D, Vincent M. Chronic Paroxysmal Hemicrania. In: Olesen J Tfelt-Hansen P, Welch
KMA. The Headaches. Philadelphia: Lippincott-Williams & Wilkins, 2000; pp. 741-749.
Sanvito WL, Monzillo PH. Algias craniofaciais de curta durao. Neurocincias
1995;3(3):113.
407
Sjaastad O, Saunte C, Salvesen R et al. Shortlasting unilateral neuralgiform headache attacks
with conjuntival injection, tearing, sweating and rhinorrhea. Cephalalgia 1989;9:147.
Tolosa E. Periarteritic lesions of the carotid siphon with the clinical features of a carotid
infraclinoidal aneurysm. J Neurol Neurosurg Psychiat 1954;17:300.
Tomsak RL. Ophthalmologic aspects of headache. Med Clin North Am 1991;75:693.
Tomsak RL. Headaches of Ocular Origin. In: Diamond ML, Solomon GD. The Practicing
Physicians Approach to Headache. Philadelphia: WB Saunders, 1999; pp. 166-173.
408
24
CAUSAS CENTRAIS DE
DOR CEFLICA. SNDROME DE EAGLE
Erasmo Barros da Silva
SNDROME DE EAGLE
INTRODUO
A sndrome de Eagle, tambm chamada de sndrome de Garel-Bernfeld, estilalgia
ou sndrome estilocarotdea, uma dor atpica, que no apresenta uma leso
412
estruturalmente reconhecida. H relato da sndrome de Eagle de 1870 e, na mesma
dcada, do tratamento cirrgico pela remoo da apfise estilide.
FISIOPATOGENIA
Em 1937, aps uma ligeira reviso bibliogrfica, Eagle concluiu que as explicaes
existentes eram muito simples para uma sintomatologia to complexa, e, ao
aprofundar seu estudo, avaliando 211 casos na mesma poca, sugeriu que a apfise
estilide alongada em mdia de 60 mm a 80 mm (o tamanho normal de aproxima-
damente 25 mm) ou anormalmente curvada, muito prxima da cartida interna e
externa, impediria, por compresso, a circulao e irritaria o plexo simptico carotdeo
a inserido, produzindo dor nos locais de distribuio dessas artrias (Figura 24.1).
1. mastide
2. processo estilide (deformidade dorsal)
3. artria auricular posterior
4. artria occipital
5. artria carotdea externa
6. artria carotdea interna
7. tendo do msculo estilo-hiide
SNDROME DE TOLOSA-HUNT
A sndrome de Tolosa-Hunt est inserida no grupo 12.1.5 da Classificao e
Critrios Diagnsticos das Cefalias, Neuralgias Cranianas e Dor Facial da ISH.
Os critrios diagnsticos so:
a) episdio(s) de dor orbitria unilateral que dura em mdia oito semanas se
no tratados;
414
b) associao da dor com paralisia de um ou mais nervos cranianos (III, IV e
VI), que pode coincidir com o incio da dor ou segui-la por um perodo de
at duas semanas;
c) a dor melhora dentro de 72 horas aps o incio da corticoterapia;
d) excluso de outras leses causais por neuroimagem e (no obrigatoriamente)
angiografia carotideana.
INTRODUO
A sndrome de Tolosa-Hunt caracteriza-se por oftalmoplegia dolorosa unilateral
recorrente sendo considerada um processo inflamatrio inespecfico no seio
cavernoso ou fissura orbitria superior.
Em 1954, Tolosa descreveu o caso de um paciente de 47 anos com dor
orbitria, perda progressiva da viso, oftalmoplegia total e parestesia no territrio
do primeiro ramo do trigmeo ipsilaterais, apresentando estreitamento da poro
cavernosa da cartida interna na arteriografia contrastada; passados trs dias
aps a explorao cirrgica, o paciente faleceu, tendo o estudo histolgico
revelado uma granulomatose inflamatria ao redor da artria cartida afetada
e regio do seio cavernoso. Hunt et al. apresentaram em 1961 cinco casos de
uma sndrome que acreditaram ser semelhante descrita por Tolosa. O epnimo
da sndrome de Tolosa-Hunt foi empregado pela primeira vez por Smith e Taxdal
em 1966, na apresentao de cinco casos, em que preconizaram o uso de
corticosteride como teste teraputico. Em 1982, Kline fez a reviso dos 146
casos descritos na literatura inglesa, estabelecendo as bases para o diagnstico
clnico-laboratorial.
FISIOPATOGENIA
Devido raridade de estudos post-mortem detalhados de pacientes com a
sndrome de Tolosa-Hunt, as informaes a respeito do processo patolgico e sua
extenso so bastante limitados. Entretanto, considerado uma granulomatose
inflamatria inespecfica no seio cavernoso e fissura orbitria superior.
QUADRO CLNICO
Tolosa e Hunt caracterizaram a sndrome pelos seguintes critrios:
1. dor precedida ou seguida por oftalmoplegia; dor constante e cansativa
por trs do olho afetado, no uma hemicrania latejante ocorrendo em
paroxismos;
2. envolvimento neurolgico incluindo III, IV, V (primeira diviso) ou VI nervos
cranianos; fibras simpticas periarteriais e nervo ptico;
3. sintomatologia perdurando por dias ou semanas;
4. remisses espontneas, algumas com dficit neurolgico residual;
5. ataques recorrentes em intervalos de meses ou anos.
415
Outras concluses interessantes foram acrescentadas por Smith e Taxdal como
o no predomnio por sexo, a ocorrncia mais comum durante a quinta dcada (dos
3 aos 75 anos), a pupila ser geralmente preservada e a acuidade e o campo visuais
estarem usualmente normais.
DIAGNSTICO
O diagnstico clnico dado considerando-se os critrios de Tolosa e Hunt. O
diagnstico diferencial ocorre com a migrnea oftalmoplgica, oftalmoplegia
diabtica, aneurisma carotdeo intracavernoso, tumor nasofarngeo, pseudotumor
da rbita, meningiomas e tumor de clulas gigantes da regio celar ou paracelar,
linfomas, meningite tuberculosa, tumores na base do crnio. O diagnstico feito
por excluso de qualquer etiologia.
Os exames complementares de bioqumica so de valia para afastar a hiptese
de qualquer doena sistmica. A radiografia simples de crnio no oferece subsdios;
a TC valiosa para o diagnstico diferencial, podendo mostrar tumores para-
selares e alteraes sugestivas do envolvimento inflamatrio do seio cavernoso
(geralmente com contorno lateral cncavo) e fissura orbitria superior. A RNM
cerebral revela sinais isointensos ao msculo em T1 e isointensos gordura em
T2. No diagnstico da sndrome de Tolosa-Hunt sempre necessria a realizao
da arteriografia cerebral, que mostrar se h presena de aneurisma da poro
cavernosa da artria cartida interna.
A flebografia orbitria o mtodo radiolgico que melhor orienta o diagnstico
da sndrome de Tolosa-Hunt, podendo apresentar estreitamento, irregularidade ou
ocluso total ou parcial da veia orbitria superior, ocluso parcial ou total do seio
cavernoso ou circulao colateral venosa. Entretanto, por ser um diagnstico
exclusivo, a realizao da TC e da angiografia cerebral imprescindvel para afastar
outras doenas com sintomatologia semelhante e que tm resposta positiva ao
teste com corticosterides.
O teste teraputico com corticosteride positivo na sndrome de Tolosa-Hunt,
porm no patognomnico pois diversas outras oftalmoplegias dolorosas tambm
respondem.
T RATAMENTO
O uso do corticosteride (prednisona) o mais habitual, com resposta nas
primeiras 48 horas e remisso da dor variando de meses at anos. A oftalmoparesia
possui remisso mais demorada, de 4 at 45 dias. Pode haver recidivas em tempos
variveis ou remisses espontneas da sndrome.
E VOLUO E COMPLICAES
A evoluo satisfatria, independente do tratamento clnico.
416
TENDINITE RETROFARNGEA
A tendinite retrofarngea est inserida no grupo 11.2.2 da Classificao e
Critrios Diagnsticos das Cefalias, Neuralgias Cranianas e Dor Facial da ISH.
Os critrios diagnsticos so:
a) dor na parte posterior do pescoo irradiando-se para a parte posterior da
cabea ou para toda a cabea;
b) dor pulstil uni ou bilateral, severamente agravada pela retroflexo;
c) tecido mole pr-vertebral no adulto mede mais que 7 mm ao nvel de C1 a C;
d) melhora dentro de duas semanas de tratamento com drogas antiinflama-
trias no-esteroidais nas doses recomendadas.
INTRODUO
A Tendinite Retrofarngea uma doena relativamente rara, com poucos casos
publicados na literatura. O primeiro deles foi detectado radiologicamente em 1950
por Lfstedt em paciente com suspeita de abscesso retrofarngeo. Em 1963 foi
descrito como uma nova sndrome dolorosa caracterizada como uma dor sbita,
aguda, por trs do pescoo, agravada pelos movimentos da cabea e ao engolir, no
incio associada a febre e aumento da VHS. A radiografia da coluna cervical
mostrava edema pr-vertebral de tecidos moles e calcificao ao nvel da primeira
e segunda vrtebra cervical. uma doena de curso benigno com regresso da
dor em torno de uma a duas semanas.
FISIOPATOGENIA
Embora falte uma completa explicao antomo-patolgica, a tendinite
retrofarngea causada por uma inflamao do msculo longo do pescoo.
QUADRO CLNICO E DIAGNSTICO
A tendinite retrofarngea se caracteriza por uma dor sbita e severa localizada
na parte posterior do pescoo, progressiva ou em crises rpidas e podendo se
irradiar para a parte posterior da cabea ou holocraniana (em poucos casos, para
o ngulo da mandbula). A dor se agrava ao movimentar a cabea, ao deglutir e na
posio supina, sendo necessrio ficar semi-sentado apoiando a cabea com as
mos para evitar o seu movimento e conseqente dor. Muitos se queixam de um
inchao na parte superior da faringe.
Ao exame fsico e neurolgico, a temperatura corporal est ligeiramente elevada
em alguns pacientes com aumento do VHS. Ao girar a cabea, encontra-se rigidez
do pescoo uni ou bilateral.
A radiografia da coluna cervical mostra tecidos moles pr-vertebrais com
espessamento muscular de C1 a C4, que se normaliza com o tratamento. O
edema dos tecidos pr-vertebrais tpico da tendinite retrofarngea: uma vez
417
diagnosticada, o paciente deve ser examinado o quanto antes, pois o edema
tende a regredir rapidamente. Em muitos pacientes a radiografia mostra
calcificaes solitrias abaixo do tubrculo anterior do Atlas, que podero ser
melhor estudadas pela tomografia computadorizada. Casos com incio e curso
tpicos e confirmao do edema pr-vertebral sem as calcificaes tm sido
diagnosticados como tendinite retrofarngea, sem descartar a possibilidade de
processos inflamatrios, tumores nas vrtebras cervicais, abscessos, artrite gotosa,
tonsilite, artrite reumatide, espondilite anquilosante ou trauma severo da
espinha.O lquor apresenta-se normal.
T RATAMENTO
O tratamento se baseia em antiinflamatrios no-esteroidais por via oral:
indometacina 75 mg a 100 mg por dia, naproxeno sdico 500 mg a 1.000 mg por
dia. Quando diagnosticada deposio calcria, o tratamento feito com aspirao
por puno com agulha, que revela material granular, branco-acinzentado,
provocando melhora imediata dos sintomas.
E VOLUO E COMPLICAES
A tendinite retrofarngea uma doena de boa evoluo e sem maiores
complicaes.
SNDROME PESCOOLNGUA
A sndrome pescoolngua est inserida no grupo 12.1.6 da Classificao e
Critrios Diagnsticos das Cefalias, Neuralgias Cranianas e Dor Facial da ISH.
Os critrios diagnsticos so:
a) dor e parestesias nas reas de distribuio do nervo lingual e da segunda
raiz cervical;
b) precipitada pela rotao sbita da cabea.
INTRODUO
A sndrome pescoolngua consiste em uma dor sbita e aguda, localizada na
parte superior do pescoo ou regio occipital, com ou sem dormncia na hemilngua
ipslateral, desencadeada pela rotao sbita da cabea.
Em 1980, Lance e Anthony descreveram quatro casos de pacientes que referiam
dor aguda induzida pela rotao sbita do pescoo localizada ipslateralmente na
parte superior do pescoo ou occipital com dormncia da hemilngua do mesmo
lado. Na literatura, at ento, a nica referncia para esse tipo de dor teria sido
feita por Cyriax em seu Textbook of Orthopaedic Medicine de 1949, que descrevia
dois pacientes com quadro clnico semelhante. Bogduk, em 1981, a partir da
dissecao de cinco cadveres, descreveu as bases anatmicas da sndrome
418
pescoolngua. Posteriormente, em 1984, Elisevich et al. publicaram a conduta
cirrgica com base no tratamento de um paciente.
FISIOPATOGENIA
A localizao da dor sugere uma irritao por compresso das segundas e
terceiras razes cervicais, aps a rotao sbita e excessiva da cabea, provocando
uma subluxao anormal e temporria da articulao atlanto-axial lateral.
As fibras proprioceptivas da lngua entram no sistema nervoso central atravs
da segunda raiz dorsal cervical via conexes entre os nervos lingual (ramo do V3)
e hipoglosso entre o ltima e a segunda raiz cervical. Durante a rotao normal do
atlas, o ramo ventral de C2 pode ser impactado contra a extremidade do processo
articular da articulao atlanto-axial lateral. Sendo os pacientes com a sndrome
pescoo-lngua portadores de uma subluxao anormal, tal rotao teria um impacto
maior contra o ramo ventral de C2, causando as sensaes de dormncia.
A manobra de rotao da cabea precipitante da sndrome pescoo-lngua
compromete o ramo ventral de C2, mas no o gnglio dorsal da raiz de C2. Isso
valoriza o comprometimento exclusivo do ramo ventral de C2 nesta sndrome
(Figura 24.2).
419
QUADRO CLNICO E DIAGNSTICO
A sintomatologia da sndrome pescoo-lngua consiste em uma dor unilateral
sbita na parte superior do pescoo ou occipital com dormncia na hemilngua
ipslateral. Outros sintomas relatados so a dormncia da pele retroauricular, no
palato posterior ou nos dedos da mo, sempre desencadeados pela rotao sbita
e exagerada da cabea. Os pacientes geralmente so jovens, entretanto, a literatura
cita doentes de meia-idade. Enquanto a dor dura de segundos a um minuto, a
dormncia pode se prolongar por poucos minutos.
O diagnstico feito clinicamente mais radiografias da coluna cervical e
tomografia computadorizada.
T RATAMENTO
Antiinflamatrios e uso do colar cervical, alm de exerccios isomtricos suaves
do pescoo.
E VOLUO E COMPLICAES
A sndrome pescoo-lngua uma sndrome benigna; o mais adequado orientar
os pacientes (principalmente os jovens) a maiores cuidados nas prticas esportivas
para evitar traumatismos na coluna cervical superior.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Alvarenga RMP, Ferreira CM. Oftalmoplegia dolorosa sintomtica e idioptica: anlise de
60 casos. Rev Bras Neurol 1995;3(5):205-214.
Amncio EJ. Dor central enceflica. Tese de doutorado. Escola Paulista de Medicina, 1994;
pp. 213.
Bodguk N. An anatomical basis for the neck-tongue syndrome. J Neurol Neurosurg
Psychiatry 1981;44:202-208.
Bowsher D et al. The anatomy of thalamic pain. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1959;22:81-82.
Braga FM et al. Sndrome de Tolosa-Hunt: relato de 4 casos. Arg Bras Oftal 1988;51:83-85.
Bruyn GW. Stylohyoid Syndrome (Eagle). Handbook of Clinical Neurology. Amsterdam:
In: Vinken PJ, Bruyn GW (eds.). Elsevier Science Publishers BV 1986;vol 4, pp. 501-
514.
Carrilho PEM, Yamamoto FI. Sndrome de Tolosa-Hunt: dificuldades no diagnstico e padro
de resposta prednisona. Arq Neuropsiquiatr 1997;55:101-105.
Cesaro P, Mann MW, Moretti JL. Central pain and thalamic hyperactivity: a single photon
emission computerized tomographic study. Pain 1991;47:32-36.
Dejerine J, Roussy G. Le syndrome thalamique. Rev Neurol (Paris) 1906;14:521-532.
Elisevich K, Stratford J. Neck-tongue syndrome: operative management. J Neurol Neurosurg
Psychiatry 1984;47:401-409.
420
Elliot KJ. The pathogenesis of neuropathic pain and implications for management. 46th
Annual Meeting. American Academy of Neurology, Washington DC. 1994;232:1-14.
Espinoza JB, Bez BR. Oftalmoplegia dolorosa vs. sndrome de Tolosa-Hunt: la utilidad de
los epnimos. Rev Med IMSS 1991;29:129-130.
Fahlgren H. Retropharyngeal tendinitis. Cephalalgia 1986;6:169-174.
Garnier PJP et al. Enfermedad inflamatoria idioptica de la rbita (pseudotumor orbitario).
Rev Oftalmol Venez 1998;54:25-32.
Hankey GO et al. Neck-tongue syndrome on sudden neck rotation. Aust NZJ Med 1988;18:
181.
Headache Classification Committee of the International Headache Society. Classification
and diagnostic criteria for headache disorders, cranial neuralgias and facial pain.
Cephalalgia 1988;8(7):1-96.
Hunt WE, Meagher JN, Lefever HE, Zeman W. Painful ophthalmoplegia: its relatioship to
indolent inflammation of the cavernous sinus. Neurology 1961;11:56-62.
Kline LB. The Tolosa-Hunt syndrome. Surv Ophthalmol 1982;27:79-95.
Lance JW, Anthony M. Neck-tongue syndrome on sudden turning of the head. J Neuro
Neurosurg Psychiatry 1980;43:97-101.
Meja EV, Corts MED. Sndrome de Tolosa-Hunt. Acta Med Colomb 1985;10(6):256-258.
Monteiro ML. Bilateral visual loss in the Tolosa-Hunt syndrome. Arq Bras Ooftalmol
1993;56:273-275.
Nalli DR, Malheiros SMF. Avaliao da flebografia orbitria em oito casos de sndrome de
Tolosa-Hunt. Arq Neuropsiquiatr 1994;52(2):231-236.
Riddoch G. The clinical features of central pain. Lancet 1938;5979:1093-1098.
Smith JL, Taxdal DSR. Painful ophthalmoplegia. The Tolosa-Hunt syndrome. Am J
Ophthalmol 1966;61:1466-1472.
Tolosa E. Periarteritic lesions of the carotid syphon with clinical features of carotid infraclinoid
aneurysm. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1954;17:300-302.
421
25
CEFALIA NA EMERGNCIA
Marcelo Eduardo Bigal
Jos Geraldo Speciali
CONSIDERAES GERAIS
As cefalias, acometendo parcela to significativa da populao, implicam consi-
dervel procura por auxlio mdico, em especial para o alvio de crises agudas de
dor. Estudo realizado nos EUA mostrou que 40% dos norte-americanos apresentam
cefalia suficientemente intensa, em algum momento de suas vidas, que os leva a
procurar por assistncia mdica. Entre 5% e 10% da populao procuraria mdicos
com freqncia para auxlio de crises de cefalia.
A abordagem diagnstica e teraputica de pacientes com cefalia pode se dar
em vrios nveis:
1. Sugestes de leigos e curiosos.
2. Prescrio de medicamentos por balconistas de farmcia.
3. Atendimentos em unidades bsicas de sade (UBS), por clnicos gerais ou
mdicos plantonistas.
4. Atendimento em ambulatrios ou consultrios especializados de neurologia
ou cefalia.
5. Admisso em Unidades de Emergncia.
Em nosso meio os padecentes de cefalia, em grande parte, optam inicialmente
por sugestes de leigos ou de balconistas de farmcia como forma de abordar sua
dor. possvel que isso se d pela dificuldade que a maioria da populao de nosso
pas encontra em conseguir acesso ao atendimento mdico. Outra explicao possvel
que a cefalia seja considerada como algo, em geral, de menor importncia pelos
portadores. Ou seja, seria um sintoma que requer alvio (procuram por ajuda, mesmo
que no especializada), mas que permitiria a automedicao. Naqueles casos em
que o paciente entende como mais importantes, seja pela intensidade dos sintomas,
seja pela ineficcia da medicao utilizada, h a procura por auxlio mdico.
As unidades de emergncia so alternativas naqueles casos em que o paciente
apresenta sintomatologia muito intensa ou em que se faz urgente a investigao
diagnstica.
Existem basicamente dois tipos de Unidades de Emergncia (UE) no Brasil.
As mais comuns so hospitais de estrutura terciria, vinculados ao SUS, onde se
atendem pacientes com urgncias ou emergncias que teoricamente tenham sido
encaminhados de unidades de menor complexidade. Existem ainda aquelas UE
que funcionam como prontos-socorros para usurios de convnios mdicos ou que
funcionam em hospitais particulares. De qualquer modo, os pacientes com cefalia
que so atendidos nessas unidades geralmente apresentam:
1. A primeira crise de cefalia intensa que no melhorou com medidas caseiras
e/ou da unidade bsica de sade (UBS) procurada.
2. Cefalia diferente das que usualmente apresentam, seja pela maior inten-
sidade da dor ou pela mudana de suas caractersticas.
3. Cefalia acompanhada de doenas sistmicas.
4. Pacientes com alteraes (constatadas ou presumidas) ao exame clnico
ou neurolgico.
O atendimento do paciente com cefalia aguda se reveste de algumas particula-
ridades. J. Edmeads (1990), referindo-se ao tema, afirmou: Quando o paciente
com cefalia visto, entre os ataques, calmo e em condies confortveis, o
diagnstico da cefalia pode no ser fcil. Quando o paciente tem uma cefalia
aguda e severa e est incapaz de fornecer uma boa histria ou de cooperar total-
mente com o exame e anseia por alvio imediato, o diagnstico pode ser extrema-
mente difcil, apresentando-se como um desafio para o mdico assistente.
Assim, o manejo desse tipo de situao deve ser realizado de maneira absolu-
tamente racional. H que se proceder investigao etiolgica e, concomitan-
temente, propiciar alvio da dor. O presente captulo pretende abordar o tema,
subdividindo-o nas seguintes sesses: 1)Etiologias das cefalias em unidades de
emergncia; 2) Critrios clnicos para proceder investigao laboratorial; 3)
Tratamento sintomtico em unidades de emergncia; 4) Discusso de alguns casos
ilustrativos.
Tabela 25.2 Grupos etiolgicos das cefalias atendidas na UE-FMRP-USP, no ano de 1997
No-Internados no (%) Internados no (%)
Cefalia primria 127 (77,0) 19 (29,7)
Cefalia secundria a distrbios neurolgicos 15 (9,1) 33 (51,5)
e de estruturas da face e do pescoo
Cefalia secundria a distrbios sistmicos 23 (13,9) 12 (18,8)
90%
Primria
80%
Secundria
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
< 10 10 a 49 50 e mais
FIGURA 25.1 Grupos etiolgicos de acordo com a faixa etria em pacientes atendidos na
UE -HC-FMRP-USP.
INVESTIGAO
Detalhes acerca da investigao das cefalias foram expostos no captulo
correspondente. Enfatizaremos apenas alguns pontos peculiares da investigao
das cefalias agudas em UE.
Em uma UE, os exames freqentemente disponveis so os seguintes: 1) Exames
de neuroimagem (tomografia computadorizada e/ou ressonncia nuclear
magntica); 2) Rotina de lquido cefalorraquidiano; 3)Arteriografia; 4) Eletroence-
falograma. Apresentaremos alguns dados sobre esses exames.
NEUROIMAGEM
Diversos estudos mostram que no absolutamente recomendado a solicitao
de rotina desses exames. Se todos os pacientes com cefalias crnicas fossem
tomografados, considerando que apenas 1/10.000 pacientes com cefalia como
429
sintoma inicial e exame neurolgico normal apresentar tumor cerebral, o custo do
diagnstico de cada tumor, dessa maneira, seria de um milho de dlares. Ao
contrrio, esses estudos mostram que a utilizao dos sinais de alerta aumenta
bastante a sensibilidade desses exames. Assim, os critrios propostos pela maioria
dos autores para a solicitao de neuroimagem em pacientes com cefalia aguda
so, em ltima anlise, aqueles por ns expostos como sinais de alerta. A tabela
25.4 enumera alguns desses critrios.
Tabela 25.3 Correlao entre clnica, diagnstico dif erencial e investigao sugerida.
Alarme Diagnsticos diferenciais Investigao
A primeira ou pior cefalia Hemorragia subaracnide Neuroimagem
Meningite Exame de LCR
Leso estrutural com efeito de massa
Incio aps os 50 anos Arterite temporal VHS
Leso estrutural com efeito de massa Neuroimagem
Incio sbito Hemorragia subaracnide Neuroimagem
Leso estrutural com efeito de massa Exame de LCR
Cefalia refratria e progressiva Leso estrutural com efeito de massa Neuroimagem
Hematoma intracraniano
Abuso de analgsicos
Anormalidades ao exame neurolgico Leso estrutural com efeito de massa Exames laboratoriais
Malformao arteriovenosa Neuroimagem
AVC
Vasculite
Febre ou sinais de doena sistmica Meningite, encefalite Exames laboratoriais
Infeco sistmica Exame de LCR
Doenas do colgeno Neuroimagem
430
O exame de neuroimagem escolhido depende da suspeita etiolgica. Para a
maioria dos casos, a tomografia computadorizada oferece boa aproximao inicial,
sendo, em alguns deles (hemorragia subaracnide aguda, por exemplo), superior
ressonncia magntica.
ANLISE DE LQUIDO CEFALORRAQUIDIANO
Deve ser realizada, no mbito de UE, basicamente quando h suspeitas de
infeco, aguda ou crnica (meningite ou encefalite), hemorragia subaracnide
no diagnosticada ou que h dvidas, aps a tomografia de crnio e em casos em
que importante a medida da presso liqurica (pseudotumor cerebral, por exemplo).
As principais indicaes, portanto, so:
se a tomografia computadorizada deixar dvidas se h hemorragia suba-
racnide;
para afastar infeco em pacientes com estado confusional;
suspeita de meningite;
cefalia crnica diria intratvel (meningite crnica ou hipertenso intracra-
niana benigna sem papiledema);
se a neuroimagem indicada e apresenta-se:
normal, no-diagnstica ou sugestiva de doena cujo diagnstico
dependa de puno liqurica;
no disponvel (avaliar antes se a puno no est formalmente contra-
indicada).
ANGIOGRAFIA
As principais indicaes, atualmente, se do nas hemorragias subaracnides
(aneurismas, malformaes), tromboses de seios venosos e na investigao
etiolgica das vasculites.Atualmente, com a melhora das condies tcnicas, vem
se utilizando com cada vez maior freqncia a angiografia por ressonncia mag-
ntica ou por tomografia computadorizada, que tm a grande vantagem de ser
no-invasivas e poderem ser realizadas no mesmo tempo da execuo da neuroi-
magem (tomografia ou ressonncia).
ELETROENCEFALOGRAMA
Tem papel muito limitado na investigao etiolgica das cefalias. Sua importncia
se d praticamente apenas nas suspeitas de cefalias associadas a crises epilpticas
e nos casos de cefalia e rebaixamento de conscincia, em que se deseja afastar
estado de mal epilptico e encefalites. Sistematizando suas indicaes:
alterao ou rebaixamento da conscincia;
sinais neurolgicos focais paroxsticos;
suspeita de encefalopatia;
dficits neurolgicos focais e persistentes.
431
TRATAMENTO
O tratamento especfico das vrias cefalias que podem ser atendidas em uma
UE ser descrito no captulo correspondente cefalia em questo. Nos ateremos
a algumas particularidades do tratamento agudo.
Conforme j foi frisado, a cefalia aguda mais comum em uma UE a migrnea.
No ano de 2000, a Sociedade Brasileira de Cefalia (SBC) publicou o seu consenso
para o tratamento agudo da migrnea (para mais informaes ver captulo 28).
T RATAMENTO DA MIGRANEA
As crises de migrnea que se apresentam em UE raramente so leves, o mais das
vezes so moderadas ou severas. Ocorre que a maioria das UE pblicas do Brasil no
dispe de compostos ergotamnicos ou triptanos, peas fundamentais em protocolos
expostos em livros e publicaes do exterior. Em Ribeiro Preto, padronizamos o seguinte
protocolo para tratamento da crise migranosa em nossa UE:
1. Cateterizar veia perifrica, mantendo o acesso com cateter heparinizado
ou soro fisiolgico 0,9% (SF 0,9%).
2. Dipirona 1 grama (2 ml), diluda em gua destilada, por via endovenosa (EV).
No usar antiemticos. Existem evidncias de que a dipirona atua
tambm nas nuseas, fotofobia, fonofobia e aura. Evita-se assim os
efeitos colaterais da metoclopramida ou a administrao de dimeni-
drato.
Se a cefalia persistir uma hora aps esse esquema, propomos:
1. Infundir SF 0,9%, 5 ml/kg, pina aberta.
2. Clorpromazina 0,1 mg/kg EV, em 3 minutos (ampola 25mg/5ml). Manter
infuso de SF 0,9%.
3. Se em 1 hora permanecer com dor, repetir clorpromazina, at um mximo
de 3 vezes.
Estudo randomizado conduzido pelo nosso grupo mostrou que o sulfato
de magnsio teve ao importante sobre a aura, fotofobia e fonofobia.
Assim, nos casos em que esses sintomas forem importantes, pode-se
administrar adicionalmente o sulfato de magnsio na dose de 1 grama
EV.
No caso de pacientes gestantes, propomos o seguinte esquema:
1. Hidratar. Manter acesso venoso.
2. Dimenidrato, 1 ampola IM (primeiro trimestre) ou metoclopramida, 1 ampola
EV diluda, lentamente (segundo ou terceiro trimestres).
3. Aps 30 minutos, paracetamol, 1.000 mg via oral (VO).
4. Se realmente necessrio, meperidina, segundo protocolo j descrito.
5. Permanecendo com dor, dexametasona, segundo protocolo j descrito.
432
6. Alternativa ao uso da meperidina a administrao venosa de sulfato de
magnsio na dose de 1 grama, num tempo superior a 10 minutos, com a
paciente deitada. Os efeitos colaterais so discretos sendo relatado apenas
flush facial.
O tratamento agudo das demais cefalias primrias, no mbito de UE est
descrito a seguir.
CEFALIA DO TIPO TENSIONAL
CASOS CLNICOS
A B
FIGURA 25.4 Tomografia, RNM e angiografia por RNM mostrando trombose de seio
venoso sagital e transverso E.
435
B CRS, 38 ANOS, SEXO FEMININO
Quadro clnico: paciente sabidamente portadora de migrnea com aura, procurou
servio de urgncia por aura prolongada. A aura era visual, iniciara-se com a
descrio de escotoma cintilante e persistia sob a forma de mancha escura,
acompanhada de moscas volantes. Aps tratamento usual, houve remisso da dor,
porm no da aura. Paciente no era tabagista, mas utilizava-se de contraceptivos
hormonais.
Exame: normal.
Exames subsidirios: RMN mostrou rea de infarto isqumico occipital (Figura
25.5).
Comentrios: a classificao da SIC descreve a aura como durando no mais
de uma hora. Assim, conforme descrito acima, a aura prolongada deve ser encarada
como sinal de alerta. Estudos recentes mostram que a migrnea com aura fator
de risco para o AVC, em especial em mulheres jovens, tabagistas e que se utilizam
de contracepo hormonal.
C TKJ, 43 ANOS, SEXO FEMININO
Quadro clnico: a paciente apresentava, havia muitos anos, quadro de cefalia
crnica que preenchia critrios para migrnea sem aura. Havia 4 meses, no entanto,
sentia piora progressiva da intensidade da dor, que passou a acord-la no perodo
noturno.
Exame: borramento de papilas, assimetria de reflexos de estiramento.
Exames subsidirios: a RNM demonstrou massa intraventricular direita, que,
posteriormente, se confirmou como sendo um meningioma.
FIGURA 25.5 RNM mostrando acidente vascular isqumico em paciente com migrnea
com aura.
436
Comentrios: o fato de ser migranoso no imuniza o paciente de ter um tumor
cerebral. Havia, no caso acima, vrios sinais de alerta: mudana na intensidade da
dor, mudana no padro da dor (passou a ser noturna), alteraes ao exame
neurolgico.
D ACS, 40 ANOS, SEXO MASCULINO
Quadro clnico: o paciente apresentava, pela primeira vez, sintomatologia tpica
de cefalia em salvas. Estava em tratamento com verapamil e boa melhora do
quadro.
Exame neurolgico: notava-se discreta ptose esquerda, mesmo entre as crises
de dor.
Exames subsidirios: RNM demonstrou tumor em regio do clivo, esquerda.
Comentrios: esse caso ilustra bem a importncia do exame fsico. O paciente
em questo apresentava dor que preenchia critrios para cefalia em salvas,
incluindo boa resposta teraputica. Valorizaram-se, no entanto, a alterao do exame
neurolgico (ptose) e a ocorrncia da primeira salva, que foram a chave para o
correto diagnstico.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Barton CW. Evaluation and treatment of headache in the emergency department: a survey.
Headache 1994;34(2):91-94.
Bigal ME. Cefalia na Unidade de Emergncia do HC-FMRP-USP Avaliao do ano de
1997. Dissertao de Mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade
de So Paulo, 2000.
Bigal ME, Bordini CA, Speciali JG. Headache at an emergency room. So Paulo Medical
Journal 2000; 118(3):58-62.
Bigal ME, Bordini CA, Speciali JG. Tratamento da cefalia em uma unidade de emergncia de
Ribeiro Preto, SP, Brasil. Arq Neuropsiquiatr 1999;57(3-B):813-819.
Bordini CA. Tratamento hospitalar das cefalias. Medicina Ribeiro Preto 1997;30:472-475.
Costa AG, Monzillo PH, Sanvito WL. Uso de clorpromazina para tratamento de cefalia no
servio de emergncia. Arq Neuropsiquiatr 1998;56:565-568.
Edmeads J. Challenges in the diagnosis of the acute headache. Headache 1990;30(suppl
2):537-540.
Fragoso YD. Management of primary headache in emergency services of Santos and
surrounding towns. Rev Paul Med 1998;116:1650-1653.
He X, Neugebauer V, Schaible HG, Schmidt RF. New aspects of the mode of action of
dipyrone. Resumo publicado nos anais do New Pharmacological and Epidemiological
Data in Analgesics Research, Adelaide 1990;3Apr1990; pp. 9-18.
Mauskop A, Altura BT, Cracco RQ, Altura BM. Intravenous magnesium sulfate rapidly
alleviates headaches of various types. Headache 1996;36:154-160.
437
Olenick JS, Taylor RB. Emergency evaluation and treatment of headache. Prim Care
1996;13:97-107.
Olesen J. Discussion Summary. In: Olesen J (ed.). Headache Classification and Epidemiology.
New York: Raven Press, 1994; pp. 227-228.
Rabello GD. Aspectos clnicos e teraputicos das cefalias agudas. Medicina (Ribeiro
Preto) 1997;30:458-471.
Rasmussen BK. Epidemiology of Headache in Europe. In: Olesen J (ed.). Headache
Classification and Epidemiology. New York: Raven Press, 1994; pp. 231-237.
Silberstein SD. Evaluation and emergency treatment of headache. Headache 1992;32:396-407.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ. Migraine: Diagnosis and Treatment. In: Silberstein
SD, Lipton RB, Goadsby PJ (eds.). Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis Medical
Media, 1998; pp.115-124.
Speciali JG, Campos DI, Marchioli M. Cefalia na unidade de emergncia do Hospital das
Clnicas de Ribeiro Preto. Arq Neuropsiquiatr 1992;50:49.
The Diclofenac-K/Sumatriptan Migraine Study Group. Acute treatment of migraine attacks:
efficacy and safety of a nonsteroidal anti-inflammatory drug, diclofenac-potassium, in
comparison to sumatriptan and placebo. Cephalalgia 1999;19:232-240.
Welch KMA. Headache in the Emergency Room. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA
(eds.). The Headaches. New York: Raven Press, 1993; pp. 855-864.
Zukerman E, Lima JGC, Hannuch SNM, Nothen MR, Carvalho DS. Unidade de atendimento
de agudos com cefalia (UAAC): uma experincia nova em nosso meio. Rev Ass Med
Brasil 1989;35:107- 110.
438
26
ESTUDOS DE QUALIDADE DE VIDA
RELACIONADA SADE EM CEFALIA
Hilton Mariano da Silva Jr.
Roberta Paula Garbelini
INTRODUO
A sensao dolorosa uma das formas mais contundentes de sofrimento. A
dor uma das causas mais comuns e uma das mais importantes, do ponto de vista
do indivduo, que levam algum a procurar auxlio mdico. No s a necessidade
do diagnstico e do tratamento determina essa procura; o grau de interferncia
dos quadros lgicos nas atividades dirias gera preocupao e mina a confiana do
indivduo em relao a sua prpria sade e sua vida. Quando a dor persiste por
longo perodo os efeitos sobre o bem-estar se alastram e se aprofundam, determi-
nando prejuzo familiar, social e profissional.
Um modelo experimental em animais que consideramos importante ao discutir os
efeitos da dor sobre o organismo o do desamparo adquirido (Seligman e Beagley,
1975); nesse experimento os animais eram expostos a choques eltricos sobre os
quais no tinham qualquer controle e dos quais no tinham chance de escapar. Com
o passar do tempo ocorria diminuio da ingesto de gua e comida, perda de peso e
aparente desistncia de realizar qualquer tentativa para escapar dos choques. Essa
desistncia se generalizava a outras situaes e, progressivamente, os animais
mostravam-se sempre apticos e indefesos. importante ressaltar que esse
comportamento no era observado em animais que podiam controlar os choques.
Consideradas as devidas propores, os migranosos tambm experimentam
dores de moderada a grande intensidade, freqentemente associadas a sintomas
debilitantes, muitas vezes sem fatores desencadeantes, e sobre as quais tm pouco
ou nenhum controle. Quanto maior a freqncia das crises e a intensidade dos
sintomas debilitantes, maior o prejuzo vida do indivduo.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Anderson RT, Aaronson NK, Wilkin D. Critical review of the international assessments of
health-related quality of life. Qual Life Res 1993;2:365-369.
Baker GA. Health-related quality-of-life issues: optimizing patient outcomes. Neurology
1995;45: S29-S34 .
Bayley BK, London MR, Grunkemeier GL, Lansky D. Measuring the success of treatment in
patient terms. Med Care 1995;33:AS226-AS235.
Birbeck GL, Kim S, Hays RD, Vickrey BG. Quality of life measures in epilepsy: how well can
they detect change over time? Neurology 2000;54:1822-1827.
Bowling A, Brazier J. Quality of life in social science and Medicine. Soc Sci Med
1995;41:1337-1338.
Brazier JE, Harper R, Jones NMB, O Cathian A, Thomas KJ, Unsherwood T, Westlake L.
Validating the SF-36 health survey questionnaire: new outcome measure for primary
care. BMJ 1992;305:160-164.
Bree MBM, Van Den Passchier J, Emmen HH. Influence of quality of life and stress coping
behaviour on headaches in adolescent male students: an explorative study. Headache
1990;30:165-168.
Cavallin A, Micieli G, Bussone G, Rossi F, Nappi G. Headache and quality of life. Headache
1995;35:29-35.
Ciconelli RM. Traduo para o portugus e validao do questionrio genrico de avaliao
de qualidade de vida Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-
36). Tese de doutorado. Universidade Federal de So Paulo, 1997.
Dahlf CGH, Dimensas E. Migraine patients experience poorer subjective well-being/quality
of life even between attacks. Cephalalgia 1995;15:31-36.
Ferrari MD. The direct cost of migraine to society. In: Assessing migraine disability and
optimizing care: a poster presentation. Migraine disability assesment programme.
Sponsored by Zeneca Pharmaceuticals, 1998; 5p.
443
Fitzpatrick R, Fletcher A, Gore B, Jones D, Spiegelhalter D, Cox D. Quality of life
measures in health care. I. Applications and issues in assessment. BMJ 1992;305:1074-
1077.
Guyatt GH, Naylor D, Juniper E, Heyland DK, Jaeschke R, Cook DJ. Users guides to the
medical literature. XII. How to use articles about health-related quality of life. JAMA
1997;277:1232-1236.
Hartmaier SL, Epstein RS, Santanello NC, Silberstein SD. Development and preliminary
validation of a 24-hour migraine-specific quality of life questionnaire. Headache
1994;34:306-307.
Hornquist JO. The concept of quality of life. Scand J Soc Med 1982;10:57-67.
Jacobson GP, Ramadan NM, Aggarwal SK, Newman CW. The Henry Ford Hospital Headache
Disability Inventory (HDI). Neurology 1994;44:837-842.
Langeveld JH, Koot HM, Loonen MCB, Hazebroek-Kampschreur AAJM, Passchier J.
A quality of life instrument for adolescents with chronic headache. Cephalalgia
1996;16:183-196 .
Martin BC, Pathak DS, Sharfman MI, Adelman JU, Taylor F, Kwong WJ, Jhingran P. Validity
and reliability of the migraine-specific quality of life questionnaire (MSQ Version 2.1).
Headache 2000;40:204-216.
Osterhaus JT, Gutterman DL, Plachetka JR. Healthcare resource and lost labour costs of
migraine headache in the US. PharmacoEconomics 1992;2:67-76.
Osterhaus JT, Townsend RJ, Gandek B, Ware Jr. JE. Measuring the functional status and
well-being of patients with migraine headache. Headache 1994;34;337-343.
Ruta DA, Garratt AM, Leng M, Russel IT, McDonald LM. A new approach to the measurement
of quality of life. The patient generated index. Med Care 1994;32:1109-1126.
Santanello NC, Polis AB, Hartmaier SL, Kramer MS, Block GA, Silberstein SD.
Improvement in migraine-specific quality of life in a clinical trial of rizatriptan. Cepha-
lalgia 1997;17:867- 872.
Seligman MEP, Beagley G. Learned helplessness in the rat. Journal of Comparative and
Physiological Psychology 1975;88:534-541.
Solomon GD, Skobieranda FG, Gragg LA. Quality of life and well-being of headache patients:
measurements by the Medical Outcome Study Instrument. Headache 1993;33:351-358.
Solomon GD, Skobieranda FG, Gragg LA. Does quality of life differ among headache diagnoses?
Analysis using the Medical Outcome Instrument. Headache 1994;34:143-147.
Solomon GD, Skobieranda FG, Genzen JR. Quality of life assessment among migraine patients
treated with sumatriptan. Headache 1995;35:449-454.
Stewart AL, Hays RD, Ware JE. The MOS Short-Form General Health Survey: reliability and
validity in a patient population. Med Care 1988;26:724-735.
Stewart AL, Greenfield S, Hays RD, Wells K, Rogers WH, Berry SD, Mcglynn EA, Ware JE.
Functional status and well-being of patients with chronic medical conditions. Results
from the Medical Outcomes Study. JAMA 1989;262:907-913.
444
Stewart WF, Lipton RB. The indirect cost of migraine to society. In: Assessing migraine
disability and optimizing care: a poster presentation. Migraine disability assesment
programme. Sponsored by Zeneca Pharmaceuticals, 1998; 6p.
Terwindt GM, Ferrari MD, Tijhuis M, Groenen SMA, Picavet HSJ, Launer LJ. The impact of
migraine on quality of life in the general population. The GEM Study. Neurology
2000;55:624-629.
445
27
RECOMENDAES
PARA O TRATAMENTO
PROFILTICO DA MIGRNEA
Abouch Valenty Krymchantowski
Amrico dos Santos Poas Dgua Filho
Carla da Cunha Jevoux
Carlos Alberto Bordini
Deusvenir de Souza Carvalho
Djacir Dantas Pereira de Macdo
Eliova Zukerman
Edgard Raffaelli Jr.
Getlio Dar Rabello
Jano Alves de Souza
Jayme Antunes Maciel
Joo Jos Freitas de Carvalho
Jos Geraldo Speciali
Jos Luiz Dias Gherpelli
Jos Martnio Ferreira de Almeida
Liselotte Menke Barea
Luiz Paulo Queiroz
Marcelo Cedrinho Ciciarelli
Marcelo Gabriel Vega
Marco Antnio Arruda
Maria Eduarda Nobre D. Magalhes Costa
Maurice Borges Vincent
Mauro Eduardo Jurno
Murilo Rubens Schaefer
Norma Regina Pereira Fleming
Paulo Hlio Monzilo
Pedro Ferreira Moreira Filho
Regina Pires de Albuquerque
Wilson Farias da Silva
Wilson Luiz Sanvito
Yra Dadalti Fragoso
CONSENSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALIA
A Sociedade Brasileira de Cefalia (SBCe) designou um Comit ad hoc com os
propsitos de estabelecer um consenso sobre o tratamento profiltico da migrnea e de
elaborar recomendaes para serem difundidas entre os profissionais da rea mdica.
O Comit respaldou-se em evidncias da literatura mdica mundial e na
experincia pessoal dos relatores, e tambm procurou alicerar-se nas realidades
dos recursos medicamentosos existentes em nosso meio. No que diz respeito s
drogas que por acaso surjam listadas, a ordem de colocao destas no indica
preferncia dos relatores, nem grau de eficcia teraputica.
A apreciao das evidncias disponveis na literatura teve como base as
recomendaes:
Classe I Evidncia proporcionada por pelo menos um ensaio clnico bem
desenhado, randomizado, com grupo-controle.
Classe II Evidncia proporcionada por pelo menos um estudo clnico do
tipo caso-controle ou estudos de coorte.
Classe III Evidncia proporcionada por especialistas, ou estudos no
randomizados ou relato de casos.
Foram criados cinco grupos de trabalho, cada um dos quais estudou um aspecto
especfico relacionado ao tratamento profiltico:
Aspectos gerais do tratamento e tratamento no-farmacolgico.
Migrnea com e sem aura.
Migrnea na infncia e na adolescncia.
Migrnea na mulher.
Migrnea e doenas ou condies associadas.
Os participantes de cada um dos grupos de trabalho reuniram-se e preparam,
por escrito, o consenso sobre o assunto que lhes coube. Aps essa reunio, todos
os participantes ouviram o apresentado pelo relator de cada do grupo e, aps a
aprovao de todos os participantes, o documento definitivo foi redigido.
PRINCPIOS GERAIS
Cogitar o tratamento profiltico para todos os pacientes com migrnea
(diagnosticados em conformidade com os critrios da Sociedade Internacional
de Cefalia de 1988) com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida,
diminuindo o grau de incapacidade relacionado s crises, reduzindo sua
freqncia e intensidade, bem como tornando-as mais responsivas ao trata-
mento abortivo.
448
Avaliar o impacto sobre os aspectos pessoal, familiar, social e produtivo da
migrnea na vida do paciente.
Estabelecer expectativas realistas de tratamento.
Identificar morbidades associadas.
Identificar fatores desencadeantes e agravantes.
Avaliar o tipo de tratamento profiltico a ser seguido (nenhum, episdico,
peridico ou contnuo).
Envolver o paciente no tratamento, incluindo o preenchimento de um dirio
de cefalia.
Estabelecer critrios de eficcia teraputica, opes e modificaes do
tratamento.
INDICAES DA PROFILAXIA
Devem ser considerados conjuntamente os seguintes critrios:
Freqncia das crises: em geral, indica-se a profilaxia medicamentosa
quando ocorrem trs ou mais crises por ms.
Grau de incapacidade importante (pessoal, familiar, social e produtiva): nesse
caso, considerar a profilaxia, mesmo quando a freqncia for menor do que
a referida no item anterior (uma crise ao ms ou, mesmo, menos).
Falncia da medicao abortiva: ineficcia, uso abusivo ou excessivo,
intolerncia.
Subtipos especiais de migrnea: basilar, hemiplgica, com aura prolongada,
com auras freqentes e atpicas e infarto migranoso.
Ineficcia da profilaxia no-farmacolgica quando esta tiver sido a prefe-
rncia inicial do paciente.
TRATAMENTO FARMACOLGICO ESCOLHA DO(S) MEDICAMENTO(S)
Devem ser considerados conjuntamente os seguintes critrios:
Eficcia, tolerabilidade e segurana estabelecidas por estudos clnicos
apropriados ou opinio de especialistas.
Doenas associadas e transtornos dos perodos intercrticos.
Interaes medicamentosas e farmacolgicas.
Relao custobenefcio.
Preferncias do paciente.
Particularidades como gravidez, inteno de engravidar, amamentao, idade
(crianas e idosos) e alergias.
TRATAMENTO FARMACOLGICO PRINCPIOS E ESTRATGIAS
Devem ser considerados conjuntamente os seguintes critrios:
Avaliar o uso abusivo ou excessivo de medicaes abortivas e orientar a
sua descontinuidade.
449
Optar por medicao com melhor relao entre eficcia teraputica e efeitos
colaterais, iniciando com baixa dose, que pode ser incrementada gradual-
mente.
Dar preferncia monoterapia; em casos selecionados, a politerapia pode
ser mais conveniente.
Estar familiarizado com os efeitos colaterais possveis.
Avaliar cada esquema teraputico por prazo mnimo de 2 meses.
Manter esquemas teraputicos eficazes (melhora acima de 75% na
intensidade e na freqncia das crises avaliada pelo dirio da cefalia) por
pelo menos 6 meses, descontinuando gradativamente, quando a melhora
estiver estabilizada.
Retomar esquema teraputico prvio ou modific-lo em caso de recidiva
das crises e, neste caso, prolongar o tratamento pelo tempo que for necessrio,
levando-se em conta as limitaes particulares da metisergida.
Dar ateno especial a particularidades como gravidez, inteno de
engravidar, amamentao, alergias e idade (crianas e idosos).
T RATAMENTO NO-FARMACOLGICO RECOMENDAES
Educao
Fazer o paciente entender a migrnea como uma doena fundamentalmente
biolgica.
Motivar a adeso da(o) paciente ao tratamento.
Discutir com a(o) paciente a cronobiologia da migrnea.
Discutir as opes de tratamento profiltico associado ou no ao tratamento
agudo.
Explicar em linguagem acessvel os mecanismos da migrnea e sua
predisposio gentica.
Explicar a importncia de se evitarem os fatores desencadeantes e agra-
vantes comprovados para o seu caso particular.
Explicar a importncia e estimular o uso de um dirio de cefalia.
Os mtodos a seguir foram avaliados com base na literatura existente e as
recomendaes foram fundamentadas em evidncias cientficas e em opinies
consensuais de especialistas. Os mtodos aqui no recomendados podem ser
eventualmente utilizados em pacientes selecionados e motivados que demonstrem
preferncia ou benefcio anterior com esses.
a) Biofeedback e tcnicas de relaxamento
Recomendados em casos selecionados (Evidncia classe II).
Obs.: Ineficaz na enxaqueca menstrual e particularmente eficaz em crianas.
b) Terapia cognitivo-comportamental
450
Recomendada em casos selecionados (Evidncia classe II).
Obs.: Particularmente til quando coexiste nvel elevado de estresse e motivao
da(o) paciente.
c) Dieta
Restrio diettica especfica e individualizada est indicada apenas para pacientes
com desencadeante(s) alimentar(es) comprovado(s) (Evidncia classe II).
d) Acupuntura
Recomendada em casos selecionados. A reviso dos trabalhos demonstra que
a acupuntura pode ter algum papel no tratamento dos pacientes com migrnea,
porm, a qualidade e a quantidade desses estudos no so plenamente convincentes
de sua utilidade. Ela deve ser considerada mtodo auxiliar e de eficcia limitada e
permanece espera de novos estudos com metodologia adequada (Evidncia
classe II).
e) Psicoterapia
Recomendada em casos selecionados (Evidncia classe III).
f) Fisioterapia
Recomendada em casos selecionados (Evidncia classe III).
g) Homeopatia
No recomendada na profilaxia da enxaqueca (Evidncia classe I).
h) Inmeras outras terapias tm sido tentadas para o tratamento da migrnea,
porm, pela inexistncia de informaes cientficas sobre sua utilidade, no
sero citadas.
452
GRUPO 4 ANTAGONISTAS SEROT ONINRGICOS (TABELA 27.4)
O primeiro grupo de medicaes eficazes para a profilaxia da migrnea foi o
dos antagonistas serotoninrgicos. Os principais frmacos desse grupo so
metisergida, pizotifeno e ciproeptadina, esta ltima particularmente utilizada na
infncia. Embora a metisergida seja muito eficaz, seus efeitos adversos exigem
particular ateno no seu uso.
454
Tabela 27.7 Tratamento farmacolgico da migrnea na criana e
no adolescente (em ordem alfabtica)
Droga Dose diria Administrao Opo Contra-indicao Evidncia
(em mg) (vezes/dia) preferencial
Depresso, Cardiopatia, Classe II
Amitriptilina 12,575 1 ansiedade, glaucoma,
insnia epilepsia
Baixa idade, Gravidez, Classe III
Ciproeptadina 48 1a2 inapetncia, hepatopatia,
alergias, glaucoma,
obesidade
Divalproato 1545/kg 2 Epilepsia Hepatopatia, Classe II
gravidez
Flunarizina 2,510 1 Todas as formas Transtornos Classe I
de migrnea depressivos
Pizotifeno 0,51,5 1 Inapetncia Gravidez, Classe III
hepatopatia,
glaucoma,
obesidade
Propranolol 12/kg 2 a3 Obesos Asma, Classe III
cardiopatias,
arritmias,
diabetes
MIGRNEA NA MULHER
MIGRNEA MENSTRUAL
1. Migrnea menstrual verdadeira migrnea sem aura que ocorre, exclusiva-
mente, no perodo compreendido entre 2 dias antes do incio da menstruao
e at 2 dias aps o seu trmino.
2. Migrnea com exacerbao no perodo menstrual migrnea que ocorre
em qualquer parte do ciclo, com exacerbao da freqncia e/ou da intensi-
dade no perodo perimenstrual.
455
MIGRNEA MENSTRUAL VERDADEIRA
Antes de se iniciar o tratamento, fundamental estabelecer os perodos em que
as crises ocorrem com maior freqncia por meio do preenchimento de um dirio
de dor pelo paciente. O tratamento profiltico da migrnea menstrual deve ter
carter temporrio, iniciando em um intervalo de 1 a 14 dias antes do dia em que,
usualmente, a cefalia se inicia, sempre obedecendo ao padro estabelecido pelo
dirio (Tabela 27.8).
457
Tabela 27.10 Taxa de risco de teratogenicidade (TERIS)
N Nenhum (A)
N Min Nenhum mnimo (A)
Min Mnimo (B)
Min P Mnimo pequeno (D)
P Pequeno
P Mod Pequeno moderado
Mod Moderado
A Alto (X)
I Indeterminado (C)
( ) = equivalncia com a classificao da FDA.
Beta-bloqueadores
Bromocriptina
Ciproeptadina
Gabapentina
Metisergida
Divalproato
Topiramato
Flunarizina
Pizotifeno
Tricclicos
Piridoxina
Triptanos
Angina/IAM AINEs S N P N
Ansiedade S N S S
Apnia do sono I P
Arteriosclerose grave P N
Asma brnquica N N I
Bloqueio AV 2 e 3 grau N N
Bradicardia N
Cefalia do tipo tensional S I S
Colagenoses I N
Colite ulcerativa N I
Constipao I P
Depresso do humor N N S
Diabetes mellitus N
Discrasias sangneas N I N P N
Distrbios da ejaculao I P
Doena do trato urinrio sup. I N P N
Doena vascular perifrica N N P
Doena heptica P P P N P P N P P P P
Doena pulmonar P
Doena renal P P P P P P N P N P P
Doena cardaca valvar I N
Doenas cerebrovasculares P I P I N
Doenas da tireide P P P
Epilepsia I S S S P
Estados hiponatrmicos I I
Fadiga fsica N N S
Fibrilao atrial I P
Fibromialgia S I S
Flebites e celulites MMII I N
Glaucoma I N N
HAS P S N N
Hipertrofia prosttica I N N
460
Hipotenso arterial N N S P
ICC N N P P N N
Insnia I S S
Mania I N S N
Obesidade P P N N S P
Outras disfunes sexuais P P
Parkinsonismo / distonias I N
Processos fibrticos N N N
Psicoses I P
Prpura trombocitop. tromb. N I N
Rinites P I I
Sepse I N N
Sndrome n sinusal I S
Sndromes dolorosas crnicas S I S S
Toxemia gravdica P I N P P N N P N P N
Transtorno de pnico S S
Tremor essencial S P P P
lcera pptica N I N N
Vertigem I S I
Legenda:
I Indiferente
N No-indicado
S Sim, indicado
P Deve-se ter precauo
461
13. Discrasias sangneas e ppura Devem ser evitados o divalproato, o topiramato e os
AINEs. A gabapentina pode ser utilizada com precauo.
14. Glaucoma Devem ser evitados os antidepressivos tricclicos, o pizotifeno e a
ciproeptadina.
15. Hipertrofia prosttica Devem ser evitados os antidepressivos tricclicos, o pizotifeno
e a ciproeptadina.
16. lcera pptica e colite ulcerativa Devem ser evitados a metisergida e os AINEs. Ter
precauo com a ciproeptadina.
17. Distrbios psicoafetivos Recomenda-se o uso dos antidepressivos tricclicos para
depresso e ansiedade, beta-bloqueadores para ansiedade e transtorno do pnico e
divalproato para ansiedade e mania. Devem ser evitados os antidepressivos tricclicos
na mania e usados com precauo nas psicoses. Devem ser evitados os beta-bloquea-
dores e a flunarizina na depresso do humor.
18. Obesidade Recomendado o uso do topiramato. Devem ser evitados a flunarizina, o
pizotifeno e a ciproeptadina. Podem ser usados com precauo antidepressivos
tricclicos, beta-bloqueadores e divalproato.
19. Sndromes dolorosas (Neuralgias) Recomendam-se antidepressivos tricclicos,
topiramato, gabapentina e AINEs.
20. Doenas hepticas e renais Todos os medicamentos devem ser usados com precauo,
particularmente nos casos mais graves. A metisergida e o divalproato devem ser evitados,
mesmo nos casos mais leves.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Aspectos gerais do tratamento e tratamento no-farmacolgico
Fox AW, Davis RL. Migraine chronobiology. Headache 1998;38(6):436-441.
Gauthier JG, Carier S. Long-term effects of biofeedback on migraine headache: a prospective
follow-up study. Headache 1991;31(9):605-612.
Hickling EJ, Silverman DJ, Loos W. A non-pharmacological treatment of vascular headache
during pregnancy. Headache 1990;30(7):407-410.
Holroyd KA, Penzien DB. Pharmacological versus non-pharmacological prophylaxis of
recurrent migraine headache: a meta-analytic review of clinical trials. Pain 1990;42(1):1-13.
Marjolijn Sorbi MA, Bert Tellegen B, Du Long A. Long-term effects of training in relaxation and
stress-coping in patients with migraine: a 3-year follow-up. Headache 1989;29:111-121.
Matchar DB, McCrory DC, Gray RN. Toward evidence-based management of migraine.
JAMA 2000;284(20):2640-2641.
Mauskop A. Alternative therapies in headache. American Academy of Neurology Syllabus
2001:S29-S34.
McGrady A, Wauquier A, McNeil A, Gerard G. Effect of biofeedback-assisted relaxation on
migraine headache and changes in cerebral blood flow velocity in the middle cerebral
artery. Headache 1994;34(7):424-428.
462
Medina JL, Diamond S. The role of diet in migraine. Headache 1978;18(1):31-34.
Melchart D, Linde K, Fischer P et al. Acupuncture for recurrent headaches: a systematic
review of randomized controlled trials. Cephalalgia 1999;19(9):779-786.
Peatfield RC, Glover V, Littlewood JT, Sandler M, Clifford Rose F. The prevalence of diet-
induced migraine. Cephalalgia 1984;4(3):179-183.
Peatfield RC. Relationships between food, wine, and beer-precipitated migrainous
headaches. Headache 1995;35(6):355-357.
Pryse-Phillips WE, Dodick DW, Edmeads JG et al. Guidelines for the diagnosis and
management of migraine in clinical practice. Canadian Headache Society. CMAJ
1997;156(9):1273-1287.
Pryse-Phillips WE, Dodick DW, Edmeads JG et al. Guidelines for the nonpharmacologic
management of migraine in clinical practice. Canadian Headache Society, CMAJ
1998;159(1):47-54.
Richardson GM. Cognitive-behavioral therapy for migraine headaches: a minimal-therapist-
contact approach versus a clinic-based approach. Headache 1989;29(6):352-357.
Silberstein SD. Practice parameter: evidence-based guidelines for migraine headache
(an evidence-based review). Neurology 2000;55(6):754-762.
Tfelt-Hansen P. Prophylactic pharmacotherapy of migraine: some practical guidelines. Neurol
Clin 1997;15(1):153-165.
Van Hook E. Nonpharmacological treatment of headaches. Why? E Clin Neurosci
1998;1(1):43-49.
Migrnea com e sem aura
Adly C, Straumanis J, Chesson A. Fluoxetine prophylaxis of migraine. Headache
1992;32(2):101-104.
Anthony M, Lance JW. Monoamine oxidase inhibition in the treatment of migraine. Arch
Neurol 1969;21(3):263-268.
Bank J. A comparative study of amitriptyline and fluvoxamine in migraine prophylaxis.
Headache 1994;34(8):476-478.
Cady RK. Prophylactic therapy of migraine in primary care. Headache Quarterly, Current
Treatment and Research 1996;(suppl 1):6-12.
Couch JR, Hassanein RS. Amitriptyline in migraine prophylaxis. Arch Neurol 1979;36(11):
695-699.
Couch JR, Ziegler DK, Hassanein RS. Evaluation of amitriptyline in migraine prophylaxis.
Trans Am Neurol Assoc 1974;99:94-98.
Diener HC, Kaube H, Limmroth V. A practical guide to the management and prevention of
migraine. Drugs 1998;56(5):811-824.
Edwards KR, Glantz MJ, Shea P et al. A double-blind, randomized trial of topiramate versus
placebo in the prophylactic treatment of migraine headache with and without aura. The
18th Annual Meeting of the American Pain Society, Oct. 21-24, Fort Lauderdale,
Florida,1999.
463
Goadsby PJ. Migraine, aura, and cortical spreading depression: why are we still talking
about it? Ann Neurol 2001;49(1):4-6.
Gomersall JD, Stuart A. Amitriptyline in migraine prophylaxis. Changes in pattern of attacks
during a controlled clinical trial. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1973;36(4):684-690.
Hering-Hanit R. Baclofen for prevention of migraine. Cephalalgia 1999;19(6):589-591.
Kaniecki RG. A comparison of divalproex with propranolol and placebo for the prophylaxis
of migraine without aura. Arch Neurol 1997;54(9):1141-1145.
Landy S, McGinnis J, Curlin D, Laizure SC. Selective serotonin reuptake inhibitors for
migraine prophylaxis. Headache 1999;39(1):28-32.
Langohr HD, Gerber WD, Koletzki E, Mayer K, Schroth G. Clomipramine and metoprolol in
migraine prophylaxis: a double-blind crossover study. Headache 1985;25(2):107-113.
Markley HG, Gasser PA, Markley ME et al. Fluoxetine in prophylaxis of headache: clinical
experience. Medical Center of Central Massachusetts, Worcester, Massachusetts, USA.
pp.164-165.
Mathew NT, Rapoport A, Saper J et al. Efficacy of gabapentin in migraine prophylaxis.
Headache 2001;41:119-128.
Meienberg O, Amsler F. Moclobemide in the prophylactic treatment of migraine. A
retrospective analysis of 44 cases. Eur Neurol 1996;36(2):109-110.
Mitsikostas DD, Polychronidis I. Valproate versus flunarizine in migraine prophylaxis:
a randomized, double-open, clinical trial. Funct Neurol 1997;12(5):267-276.
Noone JF. Clomipramine in the prevention of migraine. J Int Med Res 1980;8(suppl 3):49-52.
Ramadan NM, Schultz LL, Gilkey SJ. Migraine prophylactic drugs: proof of efficacy,
utilization and cost. Cephalalgia 1997;17(2):73-80.
Rapoport AM. Pharmacological prevention of migraine. Clin Neurosci 1998;5(1):55-59.
Saper JR, Silberstein SD, Lake AE, Winters ME. Double-blind trial of fluoxetine: chronic
daily headache and migraine. Headache 1994;34(9):497-502.
Silberstein SD. Divalproex sodium in headache: literature review and clinical guidelines.
Headache 1996;36(9):547-555.
Silberstein SD. Methysergide. Cephalalgia 1998;18(7):421-435.
Silberstein SD. Tratamento Preventivo das Cefalias. Annual Meeting The American
Academy of Neurology. Rio de Janeiro: Publicaes Cientficas Ltda, 2001; pp. 3-7.
Solomon S. Current concepts in migraine therapy. Seminars in Headache Management
1996;1:1-14.
Tfelt-Hansen P. Prophylactic pharmacotherapy of migraine: some practical guidelines. Neurol
Clin 1997;15(1):153-165.
Tfelt-Hansen P, Welch KMA. Prioritizing Prophylactic Treatment of Migraine. In: Olesen J,
Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches, 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-
Williams & Wilkins, 2000; pp. 499-500.
Turkewitz LJ, Casaly JS, Dawson GA, Wirth O. Phenelzine therapy for headache patients
with concomitant depression and anxiety. Headache 1992;32(4):203-207.
464
Von Seggern RL, Mannix LK, Adelman JU. Efficacy of topiramate in prophylactic treatment
of migraines in patients refractory to preventive intervention: a retrospective chart
analysis. Cephalalgia 2000;20(4):423.
Wilson MC. Efficacy of topiramate in the prophylactic treatment of intractable chronic
migraine: a retrospective chart analysis. Cephalalgia 2000;20(4):301.
Ziegler DK, HurwitzA, Hassanein RS et al. Migraine prophylaxis. A comparison of propranolol
and amitriptyline. Arch Neurol 1987;44(5):486-489.
Ziegler DK, Turwitz A, Preskom S, Hassanein RS, Seim J. Propranolol and amitriptyline in
prophylaxis of migraine. Pharmacokinetic and therapeutic effects. Arch Neurol
1993;50(8):825-830.
Migrnea na infncia e na adolescncia
Olness K, MacDonald JT, Uden DL. Comparison of self hypnosis and propranolol in the
treatment of juvenile migraine. Pediatrics 1987;79(4):593-597.
Bille B, Ludvigsson J, Sanner G. Prophylaxis of migraine in children. Headache 1977; 17:61-63.
Caruso JM, Brown WD, Exil G, Gascon GG. Efficacy of divalproex sodium in the prophylactic
treatment of children with migraine. Headache 2000;40(8):672-676.
Forsythe WI, Gillies D, Sills MA. Propranolol (Inderal) in the treatment of childhood migraine.
Dev Med Child Neurol 1984;26(6):737-741.
Gillies D, Sills M, Forsythe I. Pizotifen (Sandomigran) in childhood migraine. A double-blind
controlled trial. Eur Neurol 1986;25(1):32-35.
Hershey AD, Powers SW, Bentti AL, deGrauw TJ. Effectiveness of amitriptyline in the
prophylactic management of childhood headaches. Headache 2000;40(7):539-549.
Labbe EE. Treatment of childhood migraine with autogenic training and skin temperature
biofeedback: a component analysis. Headache 1995;35(1):10-13.
Levanstein A. Comparative study of ciproheptadine, amitriptyline and propranolol in the
treatment of pre adolescent migraine. Cephalalgia 199 1;11(suppl 11):122-123.
Lewis DW, Middlebrook M, Meballick L, Deline C. Naproxen for migraine prophylaxis. Ann
Neurol 1994;36:542-543.
Louis P. A double-blind placebo-controlled prophylactic study of flunarizine in migraine.
Headache 1981;21(6):235-239.
Ludvigsson J. Propranolol used in prophylaxis of migraine in children. Acta Neurol Scand
1974;50(1):109-115.
Peroutka SJ, Allen GS. The calcium antagonist properties of cyproheptadine: implications
for antimigraine action. Neurology 1984;34(3):304-309.
Pintov S, Lahat E,Alstein M, Vogel Z, Barg J. Acupuncture and opioid system implications
on migraine. Pediatric Neurology 1977;17:129-133.
Salomon MA. Pizotifen (BC.105 - Sandomigran) in the prophylaxis of childhood migraine.
Cephalalgia 1985;5(suppl 3):174.
Sartory G, Muller B, Metsch J, Pothmann R. A comparison of psychological and
pharmacological treatment of pediatric migraine. Behav Res Ther 1998;36(12):1155-1170.
465
Sorge F, Marano E. Flunarizine versus placebo in childhood migraine: a double-blind study.
Cephalalgia 1985;3(suppl 2):145-148.
Migrnea na mulher
Giacovazzo M, Gallo MF, Guidi V, Rico R, Scaricabarozzi I. Nimesulide in the treatment of
menstrual migraine. Drugs 1993;46(suppl 1):140-141.
Herzog AG. Continuous bromocriptine therapy in menstrual migraine. Neurology 1997;
48(1):101-102.
Koren G, Pastuszak A, Ito S. Drugs in pregnancy. N Engl J Med 1998;338(16):1128-1137.
Kudrow L. The relationship of headache frequency to hormone use in migraine. Headache
1975;15(1):37-40.
MacGregor A. Treatment of migraine during pregnancy. IHS News Headache 1994;4:3-9.
Mira M et al. Mephenamic acid in the treatment of premenstrual syndrome. Obstet Gynecol
1986;68:395-398.
Newman L, Mannix LK, Landy S et al. Naratriptan as short-term prophylaxis of menstrually
associated migraine: a randomized, double-blind, placebo-controlled study. Headache
2001;41(3):248-256.
Sances G, Martignoni E, Fioroni L et al. Naproxen sodium in menstrual migraine prophylaxis:
a double-blind placebo controlled study. Headache 1990;(30)11:705-709.
Silberstein SD, de Lignires B. Migraine, menopause and hormonal replacement therapy.
Cephalalgia 2000;20(3):214-221.
Silberstein SD, Massiou H. Headache During Pregnancy and Lactation. In: Olesen J, Tfelt-
Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches, 2nd ed. Philadelphia: Lippincott-Williams
& Wilkins, 2000; pp. 981-986.
Silberstein SD. Headaches and women: treatment of the pregnant and lactating migraineur.
Headache 1993;33(10):533-540.
Solbach P, Sargent J, Coyne L. Menstrual migraine headache: results of a controlled,
experimental outcome study of non-drug treatment. Headache 1984;24(2):75-78.
Migrnea e doenas ou condies associadas
Cady RK. Prophylactic therapy of migraine in primary care. Headache Quarterly 1996;7(suppl
1):6-12.
Evans RW, Mathew NT. Handbook of Headache. Philadelphia: Lippincott-Williams &
Wilkins, 2000.
Lance JW, Goadsby PJ. Mechanism and Management of Headache, 6th ed. Oxford:
Butterworth-Heinemann, 1998.
MICROMEDEX. Healthcare Sries, v. 108.
Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA. The Headaches. Philadelphia: Lippincott-Williams
& Wilkins, 2000.
Rapoport AM. Pharmacological prevention of migraine. Clin Neurosci 1998;5(1):55-59.
Raskin NH. Acute and prophylactic treatment of migraine: practical approaches and
pharmacologic rationale. Neurology 1993;43(suppl 3):S39-S42.
466
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ. Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis Medical
Oxford, 1998.
Tfelt-Hansen P. Prophylactic pharmacotherapy of migraine. Neurol Clin 1997;15:153.
USP DI-DRUG INFORMATION FOR HEALTH CARE PROFESSIONAL,.12th.ed.
Welch KMA. The therapeutics of migraine. Current Science 1993;6:264.
467
28
RECOMENDAES PARA O
TRATAMENTO DA
CRISE MIGRANOSA
Abouch Valenty Krymchantowski
Abram Topczewski
Carlos Alberto Bordini
Deusvenir de Souza Carvalho
Djacir Dantas
Eliova Zukerman
Getlio Dar Rabello
Ida Fortini
Joo Jos Freitas de Carvalho
Jayme Antunes Maciel
Jos Geraldo Speciali
Jos Luiz Dias Gherpelli
Liselotte Menke Barea
Marcelo Cedrinho Ciciarelli
Marcelo Gabriel Vega
Marco Antnio Arruda
Pedro Andre Kowacs
Pedro Ferreira Moreira Filho
Tania Novaretti
Wilson Farias da Silva
Wilson Luiz Sanvito
Yra Dadalti Fragoso
CONSENSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALIA
A Sociedade Brasileira de Cefalia (SBCe) designou um Comit Ad Hoc
para estabelecer um consenso sobre o tratamento das crises de migrnea,
visando elaborar recomendaes para a difuso entre os profissionais da rea
mdica.
O Comit procurou respaldo em evidncias da literatura mdica mundial e na
experincia pessoal dos relatores, bem como procurou se alicerar nas realidades
dos recursos medicamentosos existentes em nosso meio. No que diz respeito s
drogas que por acaso surjam listadas, a ordem de colocao destas no indica
preferncia dos relatores nem grau de eficcia teraputica.
A apreciao das evidncias disponveis na literatura teve como base as
recomendaes:
Classe I Evidncia proporcionada por pelo menos um ensaio clnico bem
desenhado, randomizado, com grupo-controle;
Classe II Evidncia proporcionada por pelo menos um estudo clnico do
tipo caso-controle ou estudos-coorte;
Classe III Evidncia proporcionada por experts ou estudos no-rando-
mizados ou relatos de caso;
Foram criados seis grupos de trabalho, cada um dos quais estudou um aspecto
especfico relacionado ao tratamento das crises de:
Migrnea sem aura;
Migrnea com aura;
Migrnea na mulher;
Migrnea e doenas ou condies associadas;
Migrnea na infncia e na adolescncia;
Migrnea na emergncia.
470
4. A utilizao de um dirio para o registro das crises deve ser encorajada.
5. Tratamentos no-farmacolgicos (acupuntura, tcnicas de relaxamento,
biofeedback, psicoterapia) e homeopatia tambm tm sido considerados,
entretanto no h evidncias de eficcia dessas medidas.
6. No tratamento farmacolgico a ser utilizado, deve-se levar em considerao
a eficcia e os efeitos adversos teraputica prvia e as contra-indicaes,
assim como a intensidade e a freqncia das crises, a presena de sintomas
e sinais associados e o tempo necessrio para que o medicamento atinja a
sua eficcia mxima.
472
Tabela 28.3 Tratamento da crise forte
Droga Dose/Posologia Classe
Dipirona* 1000 mg IV diluda em SF 0,9% mximo/dia 2 g ou Classe III
Clonixinato de lisina* 200 mg IV diludo em 20 ml SF 0,9% mximo/dia 500 mg ou Classe III
Sumatriptano 6 mg SC ou 20 mg IN, ou 50-100 mg VO ou Classe I
Rizatriptano 5-10 mg VO, 10 mg disco dispersvel sobre a lngua ou Classe I
Zolmitriptano 2,5-5 mg VO ou Classe I
Indometacina* 100 mg IR repetir 1h s/n mximo/dia 200 mg ou Classe II
Clorpromazina 0,1-07 mg/kg IM ou IV diludo em SF 0,9%, repetir at 3 vezes Classe I
Dexametasona* nas 24 h ou 4 mg IV, repetir 12-24 h s/n ou Classe II
Haloperidol 5 mg IM ou IV diludo em SF 0,9% Classe II
Triptanos Em caso de recorrncia freqente de cefalia, associar Classe II
cido tolfenmico 200 mg VO ou naproxeno sdico 550 mg VO
*associar metoclopramida parenteral na vigncia de vmito.
(Legenda vlida para todas as tabelas e algoritmos). SC = via subcutnea; IM = via intramuscular; IR = intra-retal;
IV = via intravenosa; SF = soro fisiolgico.
Medidas no-farmacolgicas:
CEFALIA
473
OBSERVAES FINAIS
O uso de analgsicos deve ser limitado a 3 g de cido acetilsaliclico ou analgsico
equivalente/dia, mximo de 3 vezes na semana (50 g de cido acetilsaliclico ou
equivalente por ms) e a 2 a 4 mg/dia, mximo 2 vezes na semana (8 a 10 mg/
semana) de ergticos, no intuito de prevenir o aparecimento da cefalia crnica
diria ou de manifestaes sistmicas dessas drogas (ergotismo, fibrose retroperito-
neal, hemorragia gastrointestinal).
A escolha do triptano deve levar em conta a presena de doenas associadas
(hipertenso arterial sistmica, doena coronariana ou vasculopatias). O seu uso
contra-indicado nas 24 horas subseqentes ao uso do ergtico (Tabela 28.4).
MIGRNEA NA MULHER
Migrnea uma afeco freqente e predomina no sexo feminino. Durante as
diferentes fases do ciclo reprodutivo, a migrnea pode se apresentar com
caractersticas peculiares tanto em suas manifestaes clnicas e comorbidades
como na resposta ao tratamento. Embora de forma geral a abordagem da crise
migranosa seja a mesma da migrnea sem aura, a fisiologia das flutuaes prprias
do ciclo hormonal da mulher e das suas condies de gravidez e de amamentao
justifica tratamentos especficos.
O uso de hormnios, como contraceptivos, pode influenciar a freqncia e a
intensidade das crises migranosas, porm o tratamento da crise permanece inal-
terado. Atualmente, com progestinas de terceira gerao, a piora da migrnea durante
o uso de contraceptivos orais j no se apresenta como uma condio to freqente.
Este relatrio abordar os seguintes aspectos:
1. migrnea menstrual;
2. migrnea e gravidez;
3. migrnea e lactao;
4. migrnea e menopausa.
TRATAMENTO DA CRISE DE MIGRNEA NA MULHER
1. Migrnea menstrual
ou ou
ou ou
ou
No Sim
Metoclopramida
Crise curta (< 30o)
(IR, IM ou IV)
Sim No
Sem melhora
Intensidade da crise
No especficos
Analgsicos comuns
(analgsicos comuns, AINH, isometepteno)
(paracetamol, dipirona, cido acetilsaliclico),
ou
AINEs (naproxeno, diclofenaco, ibuprofeno)
especficos*
(ergticos associaes sumatriptano IN
e SC e zolmitriptano VO)
Sem melhora
Sem melhora
Especficos*
(ergticos associaes, Clorpromazina
sumatriptano IN e SC e Diazepam
zolmitriptano Dexametasona
* Drogas que no devem ser utilizadas na migrnea com aura prolongada, basilar e hemiplgica.
479
Tabela 28.5 Drogas antimigranosas: contra-indicaes, riscos e interaes farmacolgicas
Droga Contra-indicaes Grau do risco Interaes
farmacolgicas
relevantes
Paracetamol doena heptica ++/+++ barbitricos
grandes etilistas ++++
Aspirina lcera pptica ativa ++++ anticoagulantes orais
discrasias sangneas ++++ insulina
nefropatias ++/+++ hipoglicemiantes orais
gastrite ++ corticosterides
crianas e adolescentes + fenitona
gravidez (3 trimestre) ++++ ticlopidina
asma +++ cido valprico
Dipirona porfiria heptica ++ anticoagulantes orais
LES ++++ clorpromazina
hipoglicemiantes orais
Analgsicos nefropatias ++ amiodarona
Narcticos hepatopatias ++ diurticos
amamentao ++/+++ drogas anti-hipertensivas
IMAO
AINEs gravidez (3 trimestre) +++
lcera pptica ativa ++++ hipoglicemiantes orais
discrasias sangneas ++++ ltio
asma brnquica ++++ anti-hipertensivos
inibidores da ECA
gastrite ++/+++ beta-bloqueadores
hipertenso arterial grave ++/+++ diurticos
nefropatia +++
crianas + digitlicos
Isometepteno porfiria aguda intermitente ++++ IMAO
hipertenso arterial grave ++ alcalides derivados do
esporo do centeio
doena coronariana ++
cardiopatia ++
doena vascular perifrica ++
glaucoma +++/++++
hepatopatias ++
DHE doena coronariana +++ vasoconstritores
no considerada hipertenso arterial grave +++ beta-bloqueadores
a apresentao doena vascular perifrica +++ nitroglicerina
injetvel hepatopatia ++ triptanos
nefropatia ++ eritromicina
gravidez ++++
amamentao ++++
infeces sistmicas graves ++++
480
Tabela 28.5 Drogas antimigranosas: contra-indicaes, riscos e interaes farmacolgicas
(continuao)
Droga Contra-indicaes Grau do risco Interaes
farmacolgicas
relevantes
Ergotamina doena coronariana ++++ triptanos
doena vascular perifrica ++++ vasoconstritores
gravidez ++++ derivados ergticos
infeces sistmicas graves ++++ eritromicina
AVC ++++ aminas vasopressoras
nuseas e/ou vmitos +/++ IMAO
colagenoses ++ nitroglicerina
hipertenso arterial grave ++/+++ propranolol
amamentao ++/+++
bradicardia acentuada ++
hepatopatia ++/+++
nefropatia ++/+++
prurido intenso ++
desnutrio +++
Sumatriptano infarto do miocrdio ++++ derivados ergticos
AVCI/AIT ++++ IMAO
doena coronariana ++++ inibidores seletivos da
recaptao
angina de Prinzmetal ++++ de serotonina
hipertenso arterial grave ++++ ltio
hipertenso arterial +++
gravidez ++++
amamentao +++/++++
nuseas e/ou vmitos 0/+
doena vascular perifrica +++/++++
Triptanos infarto do miocrdio ++++ IMAO
segunda gerao AVCI ++++ derivados ergticos
AIT ++++ aminas vasoativas
doena coronariana ++++ inibidores seletivos da
recaptao
angina de Prinzmetal ++++ de serotonina
hipertenso arterial grave ++++ propranolol
hipertenso arterial +++
gravidez ++++
amamentao +++/++++
doena vascular perifrica +++
hepatopatia ++
nefropatia ++
Corticosterides glaucoma ++++ anticidos
infeces sistmicas ++++
diabetes mellitus +++/++++
481
Tabela 28.5 Drogas antimigranosas: contra-indicaes, riscos e interaes farmacolgicas
(continuao)
Droga Contra-indicaes Grau do risco Interaes
farmacolgicas
relevantes
Clorpromazina sndromes parkinsonianas ++/+++ propranolol
hipotenso arterial ++/+++ opiceos
cardiopatias graves +++ neurolpticos
hepatopatia ++ anti-hipertensivos
inibidores da ECA
epilepsia ++ fluoxetina
gravidez 0/+
sndromes distnicas ++
Haloperidol sndromes parkinsonianas ++/+++ alfa-metildopa
formas graves de nefropatia opiceos
e cardiopatia ++/+++ barbitricos
1 trimestre da gestao 0/+ outros neurolpticos
amamentao 0/+ ltio
sndromes distnicas ++ aminas vasoativas
depresso endgena 0/+ valproato/divalproato
anticolinrgicos
beta-bloqueadores
Cafena lcera pptica ativa ++++ nifedipina
taquicardia ++ IMAO
arritmias cardacas ++ fenitona
quinolonas
outros estimulantes do SNC
Metoclopramida amamentao +++ neurolpticos
feocromocitoma ++++ digitlicos
sndromes parkinsonianas +/++ IMAO
sndromes distnicas +/++ sedativos
crianas +/++
hemorragias gastrointestinais ++++
epilepsia ++
Domperidona feocromocitoma ++++ neurolpticos
prolactinoma ++++ cisplatina
hemorragia gastrointestinal ++++
cardiopatias graves ++/+++
(++++) = risco mximo, contra-indicada; ( +++) = risco alto, usar quando no houver outra opo e sob estreita
superviso; ( ++) = risco moderado, uso com precauo; (+) = risco baixo, segura; 0 = sem risco.
482
Tabela 28.6 Risco das drogas antimigranosas nas doenas ou condies associadas
Droga Epilepsia Hipertenso Doena Cardiopatia AVC Asma Glaucoma Diabetes lcera Hepatopatia Nefropatia Discrasias Infeces
arterial vascular pptica sangneas sistmicas
perifrica ativa
Paracetamol + + + + + + + + + _ + + +
Aspirina + + + + + _ + + + _ +
Dipirona + + + + + + + + + + + + +
Opiceos + + + + + + + + + _ _ + +
AINE + _ + + + + + + _ +
Isometepteno + _ _ _ ? _ + + _ + + +
DHE + _ _ _ ? + + + + _ _ +
Ergotamina + _ + + + + _ _ +
Sumatriptano + _ _ + + + + + + + +
Triptanos (2 ger.) + _ _ + + + + _ _ + +
Corticides + _ + _ + + + + + +
Clorpromazina + + + _ + + + + + + + + +
Cafena + + + _ + + + + + + + +
Metoclopramida + + + + + + + + * + + + +
Domperidona + + + + + + + + * + + + +
(+) = segura; (-,) = uso com precauo; () = contra-indicada; (?) = ao desconhecida; (*) = com sangramento.
483
Tabela 28.7 Medicamentos utilizados na crise de migrnea em crianas e adolescentes
Droga Dose Via Evidncia
Paracetamol 10-15 mg/kg/dose at 6 doses/dia VO Classe I
Crianas
Adolescentes
Ibuprofeno 10-20 mg/kg/dose at 4 doses/dia VO Classe I
Crianas
Adolescentes
Sumatriptano 10-20 mg IN Classe I
Adolescentes
Sumatriptano 3-6 mg/dose SC Classe III
Crianas
Adolescentes
Mesilato de diidroergotamina 0,02-0,04 mg/kg/dose at 3 doses/dia VO Classe II
Crianas
Adolescentes
Tartarato de ergotamina 0,04-0,08 mg/kg/dose at 3 doses/dia VO Classe III
Crianas
Adolescentes
Zolmitriptano 2,5 mg/dose VO Classe III
Adolescentes
cido acetilsaliclico 7-10 mg/kg/dose at 6 doses/dia VO Classe III
Crianas
Adolescentes
Metoclopramida 0,1-0,2 mg/kg/dose at 3 doses/dia VO, IM IV, IR Classe III
Crianas
Adolescentes
Clorpromazina 0,25 mg/kg at 6 doses/dia 0,5 mg/kg VO, IR Classe III
at 4 doses/dia
Naproxeno sdico 2,5-5 mg/kg/dose at 4 doses/dia VO Classe III
Diclofenaco potssico 0,5-2 mg/kg/dose at 3 doses/da VO, IR Classe III
Diclofenaco sdico 0,3-1 mg/kg/dose at 3 doses/dia VO, IR Classe III
Dipirona 6-10 mg/kg/dose < 6 a: at 1 g/dia VO, IR IM, IV Classe III
6-12 a: at 2 g/dia > 12 a: at 3 g/dia
Isometepteno (associao) 1 gota/kg/dose VO Classe III
Dexametasona 0,25 mg/kg/dose IV Classe III
Diazepam 0,2-0,3 mg/kg/dose IV Classe III
Observao: A partir de 30 quilos de peso, as doses so as mesmas que as do adulto.
484
MIGRNEA NA EMERGNCIA
O relatrio sobre o tratamento da migrnea na emergncia no seguiu proposita-
damente o direcionamento dos demais. Procurou-se recomendar normas para o
descarte de cefalias secundrias que daro ao no-especialista segurana no
diagnstico da migrnea. Pacientes que procuram uma unidade de emergncia
no tm suas crises migranosas habituais, o que indica possibilidade de cefalia
secundria.
CONDIES RECOMENDVEIS PARA O ATENDIMENTO DE CEFALIA EM UMA
UNIDADE DE EMERGNCIA
Medidas gerais
AGRADECIMENTOS
A Sociedade Brasileira de Cefalia agradece aos membros do comit que
elaboraram este consenso, nas pessoas dos colegas Eliova Zukerman, Jos Geraldo
Speciali, Wilson Farias da Silva e Wilson Luiz Sanvito.
487
Pacientes com
cefalia
Caractersticas
No
usuais?
Sim
Sim
Exame
neurolgico No
normal?
Sim
Migrnea
refratria
Esquema 4
488
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
MIGRNEA E MULHER
Becker WJ. Use of oral contraceptives in patients with migraine. Neurology 1999; 53(Suppl.
1): 19-25.
Bousser MG, Massiou H. Migraine in the reproductive cycle. The Headaches. Olesen J,
Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). New York: Raven Press, 1993.
489
Boyle CAJ. Management of menstrual migraine. Neurology 1999; 53(Suppl. 1):15-8.
Facchinetti F, Neri I, Martignoni E, Fioroni L, Nappi G, Genazzani AR. The association of
menstrual migraine with the premenstrual syndrome. Cephalalgia 1993; 13: 422-425.
Facchinetti F, Bonellie G, Kangasniemi P, Pascual J, Shuaib A. The efficacy and safety of
subcutaneous sumatriptan in the acute treatment of menstrual migraine. Obstet Gynecol
1995; 86: 911-916.
Fettes I. Migraine in the menopause. Neurology 1999; 53(Suppl. 1):129-133.
Granella F, Sances G, Messa G, de Marinis M, Manzoni GC. Treatment of menstrual migraine.
Cephalalgia 1997; 17(Suppl. 20): 35-38.
Koren G, Pastuszak A, Ito S. Drug therapy: drugs in pregnancy. The New England J Med
1998; 338: 1128-1137.
Lignieres B, Vincens M, Mauvais-Jarvis P, Mas JL, Touboul PJ, Bousser MG. Prevention of
menstrual migraine by percutaneous oestradiol. Br Med J 1986; 293:1540.
MacGregor AE. Menstruation, sex, hormones and migraine. Advances in Headache. Neurol
Clinics 1997; 15: 125-141.
Newman LC, Lipton RB, Lay CL, Solomon S. A pilot study of oral sumatriptan as intermittent
prophylaxis of menstruation-related migraine. Neurology 1998; 51: 307-309.
Pfaffenrath V. Efficacy and safety of percutaneous estradiol vs placebo in menstrual migraine.
Cephalalgia 1993; 13 (Suppl. 13): 244.
Pradalier A, Vincent D, Beaulieu P, Baudesson G, Launay JM. Correlation between oestradiol
plasma level and therapeutic effect on menstrual migraine. In: Clifford Rose F (ed.). New
Advances in Headache Research, 4. London: Smith-Gordon, 1994; 129-132.
Rapoport AM, Ramadan NM, Adelman Ju et al. Optimizing the dose of zolmitriptan (Zomig)
for the acute treatment of migraine: a multicenter, double-blind, placebo controlled,
dose range-finding study. Neurology 1997; 49:1210-1218.
Sance G, Martignoni E, Fioroni L, Blandini F, Fachinetti F, Nappi G. Naproxen sodium in
menstrual migraine prophylaxis: a double-blind placebo controlled study. Headache
1990; 30: 705-709.
Silberstein SD. Migraine and pregnancy. Advances in headache. Neurol Clinics 1997; 15:209-31.
Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ. Headache in clinical practice. Oxford: Isis Medical
Media 1998.
Smite MG, Van der Meer YG, Pfeil JPJM, Rijnierse JJMM, Vos AJM. Perimenstrual migraine:
effect of estraderm TTS and the value of contingent negative variation and
exteroceptive temporalis muscle suppression test. Headache 1993; 34:103-106.
Solbach MP, Stevenson-Waymer R. Treatment of menstruation-associated migraine
headache with subcutaneous sumatriptan. Obstet Gynecol 1993; 82: 769-772.
Steiner M, Steinberg S, Stewart D, Carter D, Berger C, Reid R, Grover D, Streiner D. Fluoxetin
in the treatment of premenstrual dysphoria. The New England J Med 1995; 332:1529-1534.
Wainscott G, Volans GN, Sullivan FM, Wilkinson M. The outcome of pregnancy in women
suffering from migraine. Postgrad Med J 1978; 54: 98-102.
490
MIGRNEA NAS DOENAS OU CONDIES ASSOCIADAS
Callaham M, Raskin N A controlled study of dihydroergotamine in the treatment of acute
migraine headache. Headache 1986; 26: 168-171.
Cords TA, Barretto OCO. Interaes medicamentosas. So Paulo: Lemos Editorial, 1998.
Farias da Silva W. Algias craniofaciais. So Paulo: Lemos Editorial, 1998.
Ferrari MD How to assess and compare drugs in the management of migraine: success
rates in term of response and recurrence. Cephalalgia 1999; 19: 2-8.
Ferrari M, Haan J. Drug treatment of migraine attacks. Headache. Blue Books of
Neurology. Silberstein SD, Goadsby PJ (eds.). Newton: Butterworth-Heinemann,
1997: 117-130.
Giammarco R, Edmeads J, Dodick D. Clinical Decisions in Headache Management. London:
Decker BC, Hamilton, 1998.
Hezog AG. Continuos bromocriptine therapy in menstrual migraine (abstract). Neurology
1995; 45(4): A465.
Lance JW, Goadsby PJ. Headache. 6th ed. Oxford : Butterworth- Heinemann, 1998: 116-157
Marcolin MA. Interaes farmacolgicas com drogas psiquitricas. Rio de Janeiro: MEDSI,
1998.
Olesen J, Tfelt-Hansen P, Welch KMA. The Headaches. 2nd ed. Philadelphia: Lippincott
Williams & Wilkins, 2000
PDR Generics. Medical Economics. New Jersey: Montvale, 1995.
Pradalier A et al. Acute migraine attack therapy: comparison of naproxen sodium and an
ergotamine tartarate compound. Cephalalgia 1985; 5: 107-113.
Rowland LP. Current Neurologic Drugs. Baltimore: Willians & Willians, 1998.
Silberstein SD. Agents for migraine and other headaches. Current Neurologic Drugs.
Baltimore: Williams & Wilkins, 1998.
Silberstein SD, Lipton BR, Goadsby PJ. Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis Medical
Media, 1998.
Silberstein SD, Lipton BR Overview of diagnosis and treatment of migraine. Neurology
1994; 44: 6-16.
Silberstein SD. Migraine and pregnancy. Neurol Clin 1997; 15: 209-231.
Silberstein SD, Saper J. Migraine: diagnosis and treatment. In: Dalessio D, Silberstein
SD (eds.). Wolff's Headache and Other Head Pain. New York: Oxford University
Press, 1993: 96-170. Spierings ELH. Headache. Boston: Butterworth-Heinemann,
1998.
493
Este livro foi produzido e impresso em oficinas prprias da
Lemos Editorial & Grficos Ltda.
Rua Rui Barbosa, 70 Bela Vista So Paulo, SP
CEP 01326-010 Telefax: (0XX11) 3371-1855
Homepage : http://www.lemos.com.br
E-mail: lemos@lemos.com.br