Ambiental (XVII TRF4)
Ambiental (XVII TRF4)
Ambiental (XVII TRF4)
2016
1
Resumo elaborado conforme o edital do XVII Concurso Público para Provimento de Cargo de Juiz Federal
Substituto do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, tendo sido adaptado com informações do edital
adotado pelo Tribunal Regional da 3ª Região.
Colaboradores: Fernanda Veloso, Hamilton Araújo, Kenia Rezende, Marcel Bueno, Patricia Vieira, Rodrigo
Lanzer, Stephanie Uille.
2
3
Sumário
Ponto 1 - Conceito. Objeto. Princípios fundamentais. Ações judiciais de proteção ao meio ambiente. ... 10
Desdobramentos do conceito jurídico de meio ambiente ....................................................................................... 10
1.1 Estado “Socioambiental” de Direito ..................................................................................................................... 12
1.2 Objeto ............................................................................................................................................................................ 12
1.4 Princípios fundamentais do Direito Ambiental.................................................................................................. 14
1.4.1 Princípio do Meio Ambiente como Direito Humano Fundamental ................................................................. 14
1.4.2 Princípio da Prevenção .................................................................................................................................................. 15
1.4.3 Princípio da precaução (vorsorgeprinzip) ................................................................................................................ 15
1.4.4 Princípio do Poluidor-Pagador ou da Responsabilização .................................................................................... 16
1.4.5 Princípio do Usuário-Pagador...................................................................................................................................... 18
1.4.6 Princípio do Protetor-Recebedor ............................................................................................................................... 18
1.4.7 Princípio do Desenvolvimento Sustentável ou Ecodesenvolvimento ............................................................. 18
1.4.8 Princípio do Ambiente Ecologicamente Equilibrado ............................................................................................ 19
1.4.9 Princípio da Obrigatoriedade de Atuação (princípio da natureza pública da proteção ambiental) ...... 19
1.4.10 Princípio da Participação Comunitária (Princípio Democrático/Cooperação) ................................. 19
1.4.11 Princípio da Publicidade ou da Informação ................................................................................................ 20
1.4.12 Princípio da Educação Ambiental .................................................................................................................. 20
1.4.13 Princípio da Função Socioambiental da Propriedade .............................................................................. 20
1.4.14 Princípio do Equilíbrio (ou proporcionalidade) ......................................................................................... 20
1.4.15 Princípio do Acesso equitativo aos Recursos Naturais............................................................................ 22
1.4.16 Princípio do Limite ou Princípio do Controle do Poluidor pelo Poder Público ................................ 22
1.4.17 ‘Princípio da Ubiquidade (Princípio da Variável Ambiental no processo decisório das políticas
públicas) (Princípio da Transversalidade) ........................................................................................................................... 22
1.4.18 Princípio do Direito à Sadia Qualidade de Vida ......................................................................................... 23
1.4.19 Princípio da Reparação Integral ..................................................................................................................... 23
1.4.20 Princípio da Solidariedade Intergeracional ................................................................................................. 24
1.4.21 Princípio da Proibição do Retrocesso Ecológico (Canotilho) ou “non clicquet” ambiental .......... 24
1.2.1 É inadmissível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores aos já
consagrados, exceto se as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas. ....................................... 24
1.4.22 Princípio do Progresso Ecológico (Canotilho) ............................................................................................ 24
1.4.23 Princípio da Correção na Fonte (Canotilho) ............................................................................................... 24
1.4.24 Princípio da Responsabilidade Social (ou Princípio do Equador) ......................................................... 25
1.4.25 Princípio do Mínimo Existencial Ecológico (STJ)........................................................................................ 25
1.4.26 Princípio da Cooperação entre os povos ..................................................................................................... 25
1.4.27 Princípio da Moralidade Ambiental (TRF 1)................................................................................................ 25
1.5Ações judiciais de proteção ao meio ambiente. ................................................................................ 25
Ponto 2 - O Direito Ambiental como Direito Econômico. A natureza econômica das normas de Direito
Ambiental. ........................................................................................................................................... 30
2.1 O Direito Ambiental como direito econômico....................................................................................................... 31
2.2 Princípios ambientais com viés econômico ............................................................................................................ 31
2.3 Economia verde .............................................................................................................................................................. 32
Ponto 3 - Normas constitucionais relativas à proteção ambiental. ......................................................... 35
3.1 Histórico do D. Ambiental nas Constituições brasileiras ................................................................................ 35
3.1.1 Constituições anteriores ............................................................................................................................................... 35
3.1.2 Constituição de 1988 ..................................................................................................................................................... 36
3.1.2.1 Introdução.................................................................................................................................................... 36
3.1.2.2 Art. 225 CF.................................................................................................................................................... 37
3.1.2.3 Caput – norma matriz................................................................................................................................... 37
4
3.1.2.4 Parágrafo 1º - Deveres específicos do Poder Público na tutela do meio ambiente .................. 38
3.1.2.5 Determinações específicas para áreas e situações que merecem proteção constitucional ... 40
Ponto 4 – Repartição de competências em matéria ambiental .............................................................. 42
4.1. Introdução ....................................................................................................................................................................... 42
4.2. Critérios para definição de competências ............................................................................................................. 43
4.2.1. Critérios utilizados pelo STF ........................................................................................................................................ 43
4.3. Competência Legislativa ............................................................................................................................................. 44
4.3.1. União 46
4.3.2. Estados e DF ..................................................................................................................................................................... 47
4.3.3. Municípios ........................................................................................................................................................................ 48
4.4. Competência Material ................................................................................................................................................. 49
4.4.1. Competência da União ................................................................................................................................................. 51
4.3.2. Competência dos Estados e DF .................................................................................................................................. 52
4.3.3. Competência dos Municípios ..................................................................................................................................... 52
4.4. A LEI COMPLEMENTAR 140/2001 – Regulamentação da Repartição de Competências Administrativas
em Matéria Ambiental ......................................................................................................................................................... 52
4.4.1.1 Instrumentos de Cooperação .................................................................................................................... 53
4.4.1.2 Ações de Cooperação ................................................................................................................................... 54
4.4.3. Competência dos Estados e do DF ............................................................................................................................ 57
4.4.4. Competência dos Municípios e do DF ...................................................................................................................... 57
Ponto 5 - Zoneamento Ambiental. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. ........... 60
5.1. Zoneamento Ambiental .............................................................................................................................................. 60
5.2. Unidades de Conservação. ......................................................................................................................................... 61
5.2.1 Gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação................................................................................ 62
5.2.1.1 Unidades em Espécie.................................................................................................................................... 62
5.2.3 Criação, Implantação e Gestão das Unidades de Conservação ......................................................................... 67
Ponto 6 - Poder de polícia e Direito Ambiental. Licenciamento ambiental. Infrações ambientais.
Biossegurança. ..................................................................................................................................... 75
6.1 Poder de Polícia e Direito Ambiental.................................................................................................................... 75
6.1.1 Poder de Polícia Ambiental X Competência para Licenciamento..................................................................... 76
6.2 Licenciamento Ambiental ........................................................................................................................................ 77
6.2.1 Critérios para fixação da Competência Ambiental ....................................................................................... 82
6.3 A Responsabilidade Administrativa Ambiental ................................................................................................. 87
6.3.1 Caracterização da Infração Administrativa Ambiental ................................................................................ 87
6.3.2 Responsabilidade administrativa de natureza objetiva ou subjetiva?.................................................... 88
6.3.3 Sanções Administrativas Em Espécie ................................................................................................................ 92
6.3.3.1 Advertência – art. 72, I, e §2º, Lei e art. 2º, I, e §2º, Decreto ................................................................ 92
6.3.3.2 Multa Simples – art. 72, II, e §§ 3º e 4º, Lei e art. 8º e ss do Decreto 6.514/08 .............................. 93
6.3.3.3 Multa Diária – art. 72, III, e §5º, Lei e art. 10 do Decreto 6.514/08 ..................................................... 93
6.3.3.4 Apreensão de animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos,
equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração ............................................................. 93
6.3.3.5 Destruição ou Inutilização do Produto.......................................................................................................... 93
6.3.3.6 Suspensão de venda e fabricação do produto - art. 72, VI, e §7º, Lei e art. 3º, VI, Decreto
6.514/08 94
6.3.3.7 Embargo Ou Interdição De Obra Ou Atividade - art. 72, VII, e §7º, Lei e art. 3º, VII, Decreto
6.514/08 94
6.3.3.8 Demolição de obra - art. 72, VIII, e §7º, Lei e art. 3º, VIII, Decreto 6.514/08 ................................... 94
6.3.3.9 Suspensão Parcial Ou Total Das Atividades - Art. 72, IX, E §7º, Lei E Art. 3º, IX, Decreto 6.514/97
95
6.3.3.10 Restritivas De Direitos - Art. 72, XI, E §8º, Lei e Art. 3º, X, Decreto 6.514/08 ................................ 95
6.4 Biossegurança .............................................................................................................................................................. 95
5
6.4.1 Órgãos e Entidades de Biossegurança no Brasil ............................................................................................ 95
6.4.1.1 Conselho Nacional De Biossegurança – CNBS............................................................................................. 95
6.4.1.1 Comissão Técnica Nacional De Biossegurança – Ctnbio. ......................................................................... 96
6.4.1.1 Comissão Interna De Biossegurança – Cibio. .............................................................................................. 97
6.4.1.1 Órgãos e Entidades de Registro e Fiscalização. .......................................................................................... 97
Ponto 7 - Responsabilidade ambiental. Conceito de dano. A reparação do dano ambiental. Dano moral
coletivo. ............................................................................................................................................... 97
7.1 Responsabilidade ambiental ................................................................................................................................... 97
7.1.1. Dano ambiental .............................................................................................................................................................. 98
7.1.2. Reparação do dano ..................................................................................................................................................... 101
7.2.1.1 Cumulação de deveres: ......................................................................................................................... 102
7.1.2.1.1 Embasamento normativo................................................................................................................................ 103
7.1.2.1.2 Teoria adotada: Teoria do risco Integral .................................................................................................... 103
7.1.2.1.3 Obrigação Propter Rem e dispensabilidade do nexo de causalidade ................................................ 105
7.1.2.1.4 Responsabilidade ambiental da Pessoa Jurídica de Direito Público .................................................. 105
7.1.2.1.5 Vedação da Intervenção de Terceiros Devedores Solidários (Denunciação à Lide ou
Chamamento Ao Processo). ................................................................................................................................................. 106
7.1.2.1.6 Os profissionais do licenciamento ou do EIA/RIMA ................................................................................ 106
7.1.2.1.7 Desconsideração Da Personalidade Jurídica. Teoria Menor................................................................. 106
7.1.2.1.8 Inversão do Ônus da Prova:............................................................................................................................ 106
7.1.2.1.9 Provimento não Requerido na Inicial .......................................................................................................... 107
7.1.2.1.10 Fungibilidade: ................................................................................................................................................... 107
7.3 Dano moral ambiental ................................................................................................................................................ 107
7.3.1. Punitive Damage (STJ)................................................................................................................................................ 108
Ponto 8 - Sistema nacional do meio ambiente. Política Nacional do Meio Ambiente ........................... 109
8.1 Sistema Nacional do Meio Ambiente ................................................................................................................ 109
8.1.1 Estrutura do SISNAMA................................................................................................................................................ 109
8.1.2 SISNAMA e a gestão do meio ambiente ............................................................................................................... 110
8.2 Política nacional do meio ambiente ................................................................................................................... 111
8.2.1 Dos princípios e objetivos.......................................................................................................................................... 111
8.2.2 Dos conceitos ................................................................................................................................................................ 112
8.2.3 Dos instrumentos da PNMA (art. 9°) ...................................................................................................................... 113
8.2.3.1. Servidão Ambiental (art. 9-A)............................................................................................................... 114
8.2.3.2 Incentivos Governamentais (art. 12) ................................................................................................... 115
8.2.4 Taxa de controle e fiscalização ambiental ............................................................................................................ 116
Ponto 9 - Estudo de impacto ambiental. Conceito. Competências. Natureza jurídica. Requisitos. ......... 116
9.1 Conceito e Natureza Jurídica ................................................................................................................................ 116
9.2 Requisitos ................................................................................................................................................................... 117
9.3 Competências ........................................................................................................................................................... 120
9.4 Questões complementares sobre o tema ........................................................................................................ 120
Ponto 10 - Biodiversidade. Principais instrumentos de proteção internacional. Acesso. Política nacional.
Proteção jurídica do conhecimento tradicional associado ................................................................... 121
10.1 Biodiversidade........................................................................................................................................................ 121
10.1.1 Conceitos ........................................................................................................................................................... 121
10.1.2 Convenções de âmbito global e aplicação geral .................................................................................... 122
10.1.2.1 Convenção sobre comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em
Perigo de Extinção (CITES) ...................................................................................................................................... 122
10.1.2.2 Convenção sobre a Diversidade Biológica (UNCBD) .................................................................. 122
10.1.3 Acesso e Proteção Jurídica ao Conhecimento Tradicional .................................................................. 123
10.1.4 Caráter erga omnes das normas que tratam de biodiversidade....................................................... 123
10.1.5 Aspectos gerais da Convenção sobre a Diversidade Biológica .......................................................... 123
6
10.1.6 Biopirataria ........................................................................................................................................................ 124
10.1.6.1 Proteção jurídica do conhecimento tradicional associado ...................................................... 124
10.1.6.2 Proteção do conhecimento tradicional associado ..................................................................... 125
Ponto 11 - Proteção às florestas.......................................................................................................... 127
11.1 Novo Código Florestal – Notas Gerais............................................................................................................. 127
11.2 Áreas (Florestais) de Preservação Permanente (APP)................................................................................ 128
11.2.1 Florestas de preservação permanente pelo efeito do Código Florestal ......................................... 128
11.2.2 Floresta de preservação permanente por ato do Poder público ...................................................... 130
11.2.3 Regime de Proteção das Áreas de Preservação Permanente (arts. 7 e 8) ..................................... 130
11.2.4 APPs e Regras para áreas consolidadas .................................................................................................... 131
11.2.5 Exercício do direito de propriedade em área florestal ........................................................................ 132
11.2.5.1 Indenizabilidade da proteção florestal .......................................................................................... 134
11.3 Gestão das florestas públicas - Lei 11.284/2006 ......................................................................................... 136
11.3.1 Princípios da gestão de florestas públicas ............................................................................................... 136
11.3.2 Da gestão direta ............................................................................................................................................... 136
11.3.3 Da destinação às comunidades locais ....................................................................................................... 137
11.3.4 Concessão florestal ......................................................................................................................................... 137
11.3.4.1 Objeto da concessão ........................................................................................................................... 138
11.3.4.2 Licenciamento ambiental ................................................................................................................... 138
11.3.5 Conceitos relevantes (art. 3o ) ..................................................................................................................... 139
11.3.6 Recursos financeiros oriundos dos preços da concessão florestal ................................................... 139
Ponto 12 - Áreas de preservação permanente e Unidades de conservação. ......................................... 140
Ponto 13. Modificação dos genes pelo homem e meio ambiente. ....................................................... 140
13.1 Atividades e pesquisas com OGM ........................................................................................................................ 143
13.2 Células-Tronco Embrionárias................................................................................................................................. 143
13.3 Proibições da LB (art. 6º): ....................................................................................................................................... 144
13.4 Responsabilidade Civil e Administrativa ............................................................................................................ 144
13.5 Órgãos e entidades de biossegurança no Brasil .............................................................................................. 145
13.6 Sistema de Informação em Biossegurança (SIB) ............................................................................................. 147
13.7 Licenciamento ............................................................................................................................................................ 148
13.8 Tipos penais previstos na lei .................................................................................................................................. 148
13.9 Plantio de OGM em terras indígenas e Unidades de Conservação............................................................ 148
Ponto 14 - Proteção química das culturas e meio ambiente (abarcado pelo ponto 15). ....................... 149
Ponto 15 - Produtos tóxicos. Controle. Transporte. ............................................................................. 149
15.1 Introdução ............................................................................................................................................................... 149
15.2 Competência........................................................................................................................................................... 149
15.2.1 Competência da União .................................................................................................................................. 149
15.2.2 Competência dos Estados e DF ................................................................................................................... 149
15.2.3 Competência dos Municípios....................................................................................................................... 150
15.3 Competência acerca das ações penais ........................................................................................................... 150
15.4 Conceito de Agrotóxico ....................................................................................................................................... 152
15.4.1 Regime Jurídico........................................................................................................................................................... 152
15.4.2 Registro de agrotóxicos ................................................................................................................................. 152
15.4.3. Embalagens de agrotóxicos ................................................................................................................................... 154
15.4.4 Propaganda e venda ....................................................................................................................................... 155
15.4.5 Da receita agronômica ................................................................................................................................... 155
15.5 Responsabilidade civil, administrativa e criminal ........................................................................................ 155
15.6 Transporte de agrotóxicos .................................................................................................................................. 156
15.7 Convenções Internacionais ................................................................................................................................ 156
15.8 Convenção de Basiléia ......................................................................................................................................... 157
15.9 Convenção de Estocolmo.................................................................................................................................... 157
7
15.10 Convenção de Roterdã ...................................................................................................................................... 157
15.11 Outros produtos tóxicos ................................................................................................................................... 158
15.12 Resíduos Sólidos .................................................................................................................................................. 160
Ponto 16 – Recursos hídricos .............................................................................................................. 165
16.1 Regime Jurídico das Águas na CF/88 ............................................................................................................... 165
16.2 O Regime jurídico dos recursos hídricos ........................................................................................................ 166
16.3 Conceitos básicos do Código de Águas ........................................................................................................... 167
1.1 Desapropriação de recursos hídricos ............................................................................................. 169
16.4 Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei n9.433/1997 ......................................................................... 169
16.5 Política Nacional de Segurança de Barragens ............................................................................................... 188
Ponto 17 – Mineração ........................................................................................................................ 190
17.1 Introdução ............................................................................................................................................................... 190
17.2 Previsão constitucional........................................................................................................................................ 191
17.3 Mineração em terras indígenas (art. 231) ..................................................................................................... 192
17.4 Mineração e Meio ambiente ............................................................................................................................. 192
17.5 Código de Mineração (DL 227/67) ................................................................................................................... 193
17.5.1 Conceitos básicos ............................................................................................................................................ 193
17.5.2 O Código de Minas e a proteção ao Meio ambiente ............................................................................ 193
17.6 Competências ......................................................................................................................................................... 193
17.7 Regimes de Aproveitamento ............................................................................................................................. 194
17.7.1 Permissão de lavra .......................................................................................................................................... 194
17.7.2 Autorização de pesquisa ............................................................................................................................... 195
17.7.3 Concessão de lavra ......................................................................................................................................... 196
17.7.4 Regime de licenciamento .............................................................................................................................. 196
17.8 Deveres relacionados à exploração minerária ............................................................................................. 196
17.9 Servidão administrativa....................................................................................................................................... 197
17.10 Estudos de Impacto Ambiental e Atividades de Mineração .................................................................. 197
17.11 Atividades com repercussões ambientais ................................................................................................... 199
Ponto 18 - Efetivação da proteção normativa ao meio ambiente: Poder Judiciário, Ministério Público e
Administração Pública. ....................................................................................................................... 199
18.1 Poder Judiciário ..................................................................................................................................................... 199
18.1.2 Termo de Ajustamento de Conduta – TAC .............................................................................................. 201
Ponto 19 - Política energética e meio ambiente .................................................................................. 201
19.1 Breve introdução ................................................................................................................................................... 201
19.2 Política Energética no Brasil ............................................................................................................................... 202
19.3 Petróleo e Gás Natural ........................................................................................................................................ 202
19.4 Biocombustíveis..................................................................................................................................................... 204
19.5 Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia.................................................................. 205
19.6 Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica ........................................................ 206
19.7 Energia Nuclear ...................................................................................................................................................... 206
19.8 Usinas hidrelétricas .............................................................................................................................................. 207
Ponto 20 – Os indígenas e as suas terras. ............................................................................................ 208
20.1. Fundamentos constitucionais dos direitos indígenas ................................................................................... 209
20.3. Direitos sobre as terras indígenas ...................................................................................................................... 210
20.3.1 Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios ............................................................................................... 211
20.3.2 Posse permanente ..................................................................................................................................................... 213
20.3.3 Usufruto exclusivo ..................................................................................................................................................... 213
20.3.4 Mineração em terras indígenas ............................................................................................................................. 213
20.3.5 Demarcação das terras indígenas ......................................................................................................................... 213
20.4. Defesa dos direitos e interesses dos índios ..................................................................................................... 217
20.5. Conhecimento tradicional associado dos índios ao patrimônio genético .............................................. 217
8
20.6. Caso da Usina Belo Monte .................................................................................................................................... 217
9
Ponto 1 - Conceito. Objeto. Princípios fundamentais. Ações judiciais de proteção ao meio ambiente.
Denominação: “Direito ambiental” é mais amplo do que a expressão “direito ecológico” ou “direito da
natureza” por não limitar seu campo de estudo a elementos naturais. ‘Meio Ambiente”: Parte da doutrina
brasileira afirma ser redundante a expressão Meio Ambiente, pois meio significa lugar onde se vive, ao
passo que Ambiente é aquilo que cerca ou envolve os seres ou as coisas. Contudo, o uso consagrou esta
expressão.
Natureza Jurídica: Ramo do Direito Público, por sua relação de proximidade com o Direito Administrativo e
seu forte embasamento constitucional. É uma espécie de direito coletivo no sentido amplo: direito difuso.
A CF afirma ser o meio ambiente bem de uso comum do povo no sentido de direito difuso diferindo,
portanto, do conceito de bem de uso comum do povo previsto no Código Civil.
Conceito Doutrinário: É o ramo do direito que estuda, analisa e regulamenta as questões e os problemas
ambientais e sua relação com o ser humano, voltando-se à proteção do meio ambiente e à melhoria das
condições de vida no planeta.
Conceito Legal: Artigo 3º, I, da Lei nº. 6.938/81 (Politica Nacional de Meio Ambiente – PNMC): “o conjunto
de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege
a vida em todas as suas formas”. (restringe-se ao meio ambiente natural). A Resolução CONMA 306/2002
amplia o conceito da PNMC (“... interações de ordem física, química, biológica, social, cultural e
urbanística...) e não extrapola o seu caráter infralegal, pois apenas explicita algo que é trazido pela própria
CF.
A maior parte da doutrina e da jurisprudência (STF ADI 3540 – 4 primeiros desdobramentos) divide o
conceito de meio ambiente em:
a) meio ambiente natural (ou físico): conjunto de recursos naturais bióticos e abióticos. O meio ambiente
natural é tutelado pelo caput do art. 225 da Constituição Federal e imediatamente, v. g., pelo § 1º, I, III e
VII, desse mesmo artigo.
b) meio ambiente artificial: construído ou alterado pelo ser humano, composto pelos edifícios urbanos
(espaços públicos fechados) e pelos equipamentos comunitários (espaços públicos abertos). O meio
ambiente artificial recebe tratamento constitucional especialmente no capítulo referente à Política Urbana.
A mais importante norma vinculada ao Meio Ambiente Artificial é o Estatuto da Cidade (Lei n.
10.257/2001). Atualmente, também, tem grande relevância o Estatuto da Metrópole.
c) meio ambiente cultural: patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ecológico, científico e turístico,
constituído tanto por bens imateriais e materiais. Tutelado especialmente na Seção destinada da Cultura,
em especial no art. 216, da CF; Resolução 306/02 do CONAMA inclui o elemento cultural do meio
ambiente, ampliando a definição legal da LPNMA.
10
se restringe às relações de caráter empregatício, pois fundamentado na promoção da salubridade e
incolumidade de todo trabalhador, independentemente da atividade, do lugar ou da pessoa que exerça;
e) patrimônio genético: é admitido apenas por parte da doutrina. Trata-se de novo elemento do meio
ambiente, consistente nas informações de origem genética oriundas dos seres vivos de todas as espécies.
Compreende o conhecimento obtido sobre a biodiversidade.
Meio Ambiente como Microbem ou MacroBem: Enquanto microbem os recursos naturais são
considerados individualmente, a exemplo de certa espécie animal ou vegetal, e valorizados de acordo com
a sua utilidade ou valoração econômica. Enquanto Macrobem o meio ambiente não pode ser reduzido a
nenhum de seus elementos, pois existe uma relação de integração e interdependência entre cada um
deles, de maneira que se trata de um bem caracteristicamente indivisível, portanto, mesmo que não tenha
valor econômico ou função social, qualquer recurso natural deve ser protegido.
Concepção Objetiva e Subjetiva de Direito Ambiental: A dimensão objetiva se traduz em parâmetros para
a atuação do Poder Público e do Particular na defesa do Meio Ambiente, assim as responsabilidades a
cargo do Poder Público para garantia da salvaguarda do equilíbrio ecológico, os vetores exegéticos atentos
à preservação ambiental e a atenção ao princípio econômico de preservação ambiental são manifestações
de tal dimensão. Por outro lado, a dimensão subjetiva do meio ambiente é pontuada pela consagração de
prerrogativas de exercício individualizado em prol do equilíbrio ecológico tais como: a legitimidade ativa
conferida a “qualquer cidadão” para a propositura de ação popular que objetive anular ato lesivo ao meio
ambiente, as audiências e as consultas públicas.
4. Protocolo de Kyoto: firmado em 1997, teve o objetivo precípuo de promover o controle climático da
terra por intermédio da diminuição da emissão de gases de efeito estufa (GEEs). Em 2015, na 21a
Conferencia das Partes (COP21), foi celebrado o Acordo de Paris, no qual os países apresentaram suas
metas de redução de emissão de GEEs, denominadas Pretendidas Contribuições Nacionalmente
Determinadas (Intended Nationally Determined Contributions - iNDC). O Brasil comprometeu-se a reduzir
suas emissões em 37% abaixo dos níveis verificados em 2005, até 2025, com uma contribuição indicativa
(não vinculante) de alcançar 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. O estabelecimento das metas foi de
extrema relevância, pois era o ponto mais controvertido do Protocolo de Kyoto.
11
5. Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável: realizada em Johannesburgo, em 2002, serviu para
reforçar e acelerar as metas e compromissos firmados nos encontros anteriores.
6. Rio + 20: Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, teve por objetivo “a
renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do
progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto
e do tratamento de temas novos e emergentes.”
Segundo INGO SARLET, HERMAN BENJAMIN e FENSTERSEIFER, atualmente é possível falar em um Estado
Socioambiental de Direito. Percebe-se uma expressiva valorização do meio-ambiente em termos jurídico-
constitucionais, incorporando-se uma consciência ecológica que objetiva assegurar a efetividade dos
programas constitucionais e legislativos de proteção ao meio ambiente. O bem-estar ambiental passa a
constituir uma dimensão da própria dignidade da pessoa humana. A qualidade e segurança ambientais
passam a figurar como elemento integrante do próprio conteúdo normativo do princípio da dignidade da
pessoa humana.
1.2 Objeto
O objeto do Direito Ambiental é a harmonização da natureza, garantida pela manutenção dos ecossistemas
e da sadia qualidade de vida para que o homem possa se desenvolver plenamente. Restaurar, conservar e
preservar são metas a serem alcançadas através deste ramo do Direito, com a participação popular.
Para o autor Marcelo Abelha, o art. 225, caput, da CF dispõe sobre o objeto do direito ambiental: o
equilíbrio ecológico, alcançado através da proteção dos elementos bióticos e abióticos e de todas as formas
de interação entre eles.
O direito ao meio ambiente reconhece o direito ambiental como um direito fundamental do homem de 3a
dimensão (visão antropocêntrica);
O direito do ambiente rompe com a visão antropocêntrica do direito. Decorre do reconhecimento do valor
ecológico independente do homem. Meio ambiente como sujeito de direito, e não como objeto de direito
(fenômeno da ecologização do direito). Alinhada ao biocentrismo e ao ecocentrismo .
A evolução histórica do DA é dividida em três momentos: fase individualista, fase fragmentária e fase
holística.
12
A partir da década de 50 e mais enfaticamente na década de 60,;
Características: surgimento de legislação voltada ao controle das atividades exploratórias dos recursos
naturais, v.g., água, fauna e flora; o MA ainda não era considerado bem autônomo. Somente recursos
naturais com valor econômico recebiam proteção jurídica.
4. Antropocentrismo e Biocentrismo
No antropocentrismo o ser humano é apontado como titular e destinatário de todos os recursos naturais
existentes, devendo a proteção do MA ocorrer apenas na medida necessária para que os interesses
humanos sejam resguardados.
Fala-se, ainda, em Antropocentrismo utilitarista, quando se considera a natureza como principal fonte de
recurso para atender as necessidades do ser humano; ou, ainda, em antropocentrismo protecionista,
quando a natureza é tomada como um bem coletivo essencial que deve ser preservado como garantia de
sobrevivência e bem-estar do homem, impondo-se equilíbrio entre as atividades humanas e os processos
ecológicos.
Já no biocentrismo, cada recurso natural possui um valor instrínseco e deve ser protegido em razão de sua
função ecológica, pois os seres vivos e os elementos que propiciam a vida fazem parte de um sistema
integrado e interdepentente, sendo o ser humano apenas uma parte dessa complexa teia.
A CF/88, ao estabelecer no caput do art. 225 o direito de todos ao MA ecologicamente equilibrado, adotou
o paradigma antropocêntrico, já que nessa passagem constitucional, o equilibrio ambiental serve aos seres
humanos.
Já o inciso VII, do par. 1, do art. 225, que determina que o Poder Público proteja a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de
espécies ou submetam os animais à crueldade, foi inspirado primordialmente nas linhas ecocêntricas e
principalmente biocêntricas.
Morato Leite afirma que a CF adota o antropocentrismo protecionista, ou para alguns doutrinadores, o
antropocentrismo alargado, não se restringindo o ambiente a mera concepção econômica ou de
subalternalidade direta a interesses humanos.
Preservação - manter o meio ambiente intocado, sem ações do homem. É não interferir na biota (conjunto
de seres vivos que vive num determinado sistema). A preservação deve ser exceção diante do princípio do
desenvolvimento, por isso é melhor a utilização da expressão conservação.
13
Titularidade do Meio Ambiente (art. 225 da CF)
Teoria Minimalista: a expressão “todos” do dispositivo se refere a todos que estão sujeitos ao regime
constitucional - visão antropocêntrica.
Teoria Maximalista: a expressão “todos” do dispositivo se refere a todos que integram o meio ambiente,
não apenas os homens, mas também a fauna e a flora.
No ordenamento brasileiro não é possível defender os animais como sujeitos de direito, mas o art. 225, §
1º, VII, que dispõe acerca da proteção da fauna e da flora e proíbe que se submetam os animais à
crueldade, representa uma aproximação dessa concepção.
A divisão histórica dos direitos humanos em dimensões ou gerações (primeira, segunda e terceira, havendo
respeitável doutrina que amplia este rol – ver resumo de direito constitucional) correlaciona os direitos de
primeira dimensão às liberdades individuais (direitos civis e políticos) e ao caráter absenteísta estatal. A
segunda dimensão (direitos sociais, econômicos e culturais) surge após a revolução industrial e passa a
tutelar os direitos à igualdade social, surgindo o Estado social e prestacional. A terceira dimensão é
caracterizada pelos surgimento dos direitos coletivos, transindividuais, caracterizados pelos valores de
solidariedade, dentre os quais destacamos o direito ao Meio Ambiente.
Norberto Bobbio (1992, p. 43), ao se referir ao problema dos direitos humanos de terceira geração, afirmou
que o mais importante deles é o reivindicado pelos movimentos ecológicos: o direito de viver num
ambiente não poluído. No mesmo sentido, Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “De todos os direitos de
terceira geração, sem dúvida o mais elaborado é o direito ao meio ambiente”.
Neste sentido, o Artigo 5º da Constituição Federal, que cuida dos direitos e garantias fundamentais, faz
menção expressa ao meio ambiente, a teor do inciso LXXIII, arrolando-o como um dos objetos da ação
popular. Logo, se é uma garantia fundamental do cidadão a existência de uma ação constitucional com a
finalidade de defesa do meio ambiente, conclui-se que o desfrute das condições saudáveis do meio
ambiente é, efetivamente, um direito fundamental do ser humano.
Ademais, conforme já o proclamou o Supremo Tribunal Federal, trata-se de um direito típico de terceira
geração que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo gênero humano ((RTJ 158/205-206).
Apesar de não estar contido no rol do artigo 5º da CF, o meio ambiente é considerado um direito
fundamental, sendo uma extensão do direito à vida e necessário à pessoa humana. Está previsto
expressamente no artigo 225 da Constituição Federal.
O STJ, por se tratar de um direito fundamental, inerente à vida, a qualidade do meio ambiente é
essencial devendo ser resguardado pelo manto da imprescritibilidade. Ademais, tal princípio está ligado
ao do mínimo existencial ecológico, que apregoa condições mínimas de preservação dos recursos
naturais para a sobrevivência de todas as espécies.
Procura-se evitar o risco de uma atividade sabidamente danosa e efeitos nocivos ao meio ambiente.
Aplica-se aos impactos ambientais já conhecidos. Finalidade: evitar que o dano possa chegar a produzir-
se. Deve-se tomar as medidas necessárias para evitar o dano ambiental porque as consequências de se
iniciar determinado ato, prosseguir com ele ou suprimi-lo são conhecidas.
Previsão: Declaração de Estocolmo (1972 – princípios 6 e 21) e Declaração do Rio (ECO – 92 – princípio 2).
A Política Nacional do Meio Ambiente fala em manutenção e proteção (Lei 6.938/81). CR/88: art. 225, §1º,
IV - obrigatoriedade de EIA em obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa
degradação ao meio ambiental).
Incide quando não se tem certeza científica acerca dos danos que podem ser causados. Aplica-se o
primado da prudência e o benefício da dúvida em favor do ambiente. A falta de plena certeza científica
não deve ser usada como razão para postergar medidas para evitar ou minimizar essa ameaça. In dubio
pro natura. Deve ser aplicado, contudo, apenas em face da ausência científica do impacto de RISCOS
GRAVES E IRREVERSÍVEIS. Inversão do ônus é seu corolário: implica a necessidade de demonstração de que
a atividade não traz riscos ao meio ambiente.
Marco inicial - Lei da Alemanha de 1976. Primeira previsão internacional: Conferência do Mar do Norte de
1987. Foi proposto formalmente na Declaração do Rio (ECO – 92 – princípio 15) e na Convenção Quadro
das Nações Unidas sobre as mudanças do clima – 1992 (uma de suas emendas é o protocolo de Kyoto de
1997). Presente na Convenção sobre Diversidade Biológica – 1992. Amparo constitucional (art. 225, caput,
de forma implícita). Primeira lei que tratou no Brasil foi a da Biossegurança (art. 11.105/05 – art. 1º).
A adoção das medidas públicas, por sua vez, deve ser regida pela temporariedade (enquanto durar a
incerteza) e pela proporcionalidade.
15
A prevenção atua no sentido de inibir o risco de dano em potencial (atividade sabidamente perigosas),
enquanto a precaução atua para inibir o risco de perigo potencial (ou seja, o dano em abstrato).
Mesmo diante dos princípios da precaução e da prevenção, que para alguns suplantariam os princípios de
garantias dos cidadãos, há de se considerar, diante do caso concreto, a possibilidade de aplicação do
princípio da insignificância.
3) intermediária: o risco deve ser baseado na ciência e deve ser crível, mas não exclui a moratória e adota a
teoria dinâmica da distribuição do ônus da prova.
Jurisprudência: “No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos
nocivos da exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e
eletromagnéticos gerados por sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que
sejam adotados os parâmetros propostos pela OMS, conforme estabelece a Lei nº11.934/09”. (RE 627189).
“...O princípio da precaução pressupõe a inversão do ônus probatório, competindo a quem supostamente
promoveu o dano ambiental comprovar que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente
não lhe é potencialmente lesiva. Nesse sentido e coerente com esse posicionamento, é direito subjetivo do
suposto infrator a realização de perícia para comprovar a ineficácia poluente de sua conduta, não sendo
suficiente para torna-la prescindível informações obtidas de sítio da internet...”(REsp 1.060.753-SP).
Previsão normativa: Art. 225, § 3º da CF; art. 3º, IV; art. 4º, VII; e art. 14, § 1º, da Lei 6.938/81.
Conceito: Aquele que polui terá que arcar com os custos da reparação de dano causado.
Caráter Repressivo - se, ainda que tenham sido adotadas todas as medidas, o dano vier a ocorrer, aquele
que foi o responsável tem o dever de repará-lo. Esses custos não podem ser repassados para a sociedade.
Internalização das Externalidades Negativas - O ônus ambiental em decorrência da atividade deve ser
considerado como integrante dos custos da produção, não podendo ser transferido para a sociedade.
a) Extracontratual - Decorre da Lei, sem que haja um vínculo jurídico contratual anterior;
c) Propter rem - O adquirente responderá ainda que não tiver provocado o dano. Qualquer Cláusula de Não
Indenizar só terá validade entre as partes;
16
d) Solidária - Entre todos que de alguma forma deram origem ao dano (litisconsórcio facultativo).
Majoritariamente entende-se que é possível a responsabilidade solidária do ente público quando, devendo
agir para evitar o dano ambiental, mantém-se inerte ou atua de forma deficiente. Entretanto, apesar de
solidária, a execução contra o ente público é subsidiária, de modo a se exigir execução primeiro do
poluidor direto, não devendo, em regra, a sociedade ser duplamente onerada pela degradação ambiental;;
e) Inversão do ônus da prova - Jurisprudência majoritária admite nos moldes do CDC (verossimilhança ou
hipossuficiência). No caso de ACP ambiental, o STJ vem entendendo que em observância ao P. da Precaução
e ao caráter público e coletivo do bem jurídico tutelado, o ônus da prova é do empreendedor;
Esse princípio não tolera a poluição, pois a finalidade primordial é evitá-la. Não se trata de uma
autorização para poluir, desde que se indenize. A poluição continua vedada; se acontecer, contudo, deve
dar-se a recomposição in natura e a indenização dos danos insuscetíveis de recomposição.
Jurisprudência: “MP estadual, recorrido, ajuizou, na origem, ação civil pública em desfavor da empresa
agrícola, recorrente, sob a alegação de que essa seria responsável por dano ambiental por uso de
agrotóxico ilegal, o que teria causado grande mortandade de pássaros. A recorrente, em contestação, entre
outras alegações, sustentou a descaracterização do mencionado dano, arguindo que pouco mais de
trezentas aves teriam morrido, sem que tenha havido efetivo comprometimento do meio ambiente. A
sentença julgou procedente a ação, condenando a recorrente a pagar a importância de R$ 150 mil em
indenização a ser revertida para o meio ambiente local, em recomposição do dano ambiental causado com
a morte de 1.300 pássaros da fauna silvestre, o que se manteve em grau de apelação. Nesta instância
especial, ao apreciar a controvérsia, consignou o Min. Relator que a existência de um dano ambiental não
só encerra a necessidade de reconstituição do meio ambiente no que for possível, com a necessária
punição do poluidor (princípio do poluidor-pagador), mas também traz em seu bojo a necessidade de
evitar que o fato venha a repetir-se, o que justifica medidas coercitivas e punições que terão, inclusive,
natureza educativa. Observou não haver como fracionar o meio ambiente e, dessa forma, deve ser
responsabilizado o agente pela morte dos pássaros em decorrência de sua ação poluidora. Quanto ao valor
estabelecido na condenação, entendeu que o pleito da recorrente para que se tome como base de cálculo
o valor unitário de cada pássaro não pode prosperar, já que a mensuração do dano ecológico não se exaure
na simples recomposição numérica dos animais mortos, devendo-se também considerar os nefastos efeitos
decorrentes do desequilíbrio ecológico em face da ação praticada pela recorrente. Diante desses
fundamentos, entre outros, a Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 1.120.117-
17
AC, DJe 19/11/2009, e REsp 1.114.893-MG. REsp 1.164.630-MG, Rel. Min. Castro Meira, julgado em
18/11/2010.
Evolução do princípio do poluidor-pagador. O uso gratuito de recursos naturais às vezes pode representar
enriquecimento ilícito por parte do usuário, pois a comunidade que não usa ou usa em menor escala fica
onerada. Não deve ser encarado como punição, pois poderá ser implementado mesmo sem haver
comportamento ilícito (art. 4, VII, da Lei 6.938/81).
O usuário de recursos naturais (escassos) deve pagar por sua utilização. A ideia é de definição do valor
econômico ao bem natural com intuito de racionalizar o seu uso e evitar seu desperdício (o fato gerador é
a mera utilização dos recursos, independentemente de dano ou ilicitude). Leme faz uma correlação entre
o princípio do usuário pagador e a compensação ambiental: "a compensação ambiental é uma das formas
de implementação do usuário pagador, antecipando possíveis cobranças por danos ambientais". Inclusive
o STF no julgamento da ADI 3378-DF definiu que a compensação ambiental densifica o princípio do
usuário-pagador.
O usuário é aquele que não causa poluição. Paga por um direito outorgado pelo poder público. Ex:
cobrança pelo uso de água, art. 19 e 20 da Lei nº 9.433/97. Pagar é garantir o art. 225 CF, em benefício das
futuras gerações.
Tem previsão expressa no art. 6º, II, da Lei nº 12.305/10 (Política Nacional de Resíduos Sólidos). Está
também previsto no Código Florestal (art. 1-A).
O agente público ou privado que protege um bem natural em benefício da comunidade deve receber uma
compensação financeira como incentivo pelo serviço de proteção ambiental prestado.
a) art. 10, §1º, II, da Lei nº 9.393/96, que excluiu da área tributável de ITR alguns espaços ambientalmente
protegidos; b) Lei nº 12.512/11 (Programa de Apoio à Conservação Ambiental), voltado a famílias de baixa
renda que desenvolvam atividades de conservação em determinadas áreas.
CR/88: art. 170, VI, e 225. Pilares do desenvolvimento sustentável: crescimento econômico, preservação
ambiental e equidade social. Caráter social: forma de realização da justiça por meio da distribuição da
riqueza.
18
As necessidades humanas são ilimitadas, mas os recursos ambientais não o são, sendo necessário buscar o
equilíbrio, pela sustentabilidade, e decorre de uma ponderação casuística entre o direito fundamental ao
desenvolvimento econômico e o direito fundamental à preservação ambiental.
Reconhecido no art. 225 da CR e em Estocolmo (1972). Está intimamente ligado ao direito fundamental à
vida e à proteção da dignidade humana. Foi o principal princípio utilizado como fundamentação pelo STF
para declarar a constitucionalidade na ADPF 101 das normas em vigor no país que proíbem a importação
de pneus usados e remodelados.
É dever irrenunciável do Poder Público promover a proteção do meio ambiente. Destaca-se a necessidade
de intervenção do poder público (caráter vinculado do poder de polícia ambiental), mas, ao mesmo tempo,
aborda a questão do aumento da função fiscalizatória/regulatória, via agências reguladoras.
Por ser direito indisponível, a proteção ambiental não pode ser objeto de transação (a única forma
admitida é a negociação de prazo, inclusive por meio de TAC). Esse princípio decorre da declaração de
Estocolmo (1972). Encontra-se na CF (art. 225 – dever de defender e preservar o meio ambiente) e na
declaração do Rio 92.
Encontra previsão expressa, ainda, no artigo 2º, inciso I, da Lei 6.938/81, destacando-se a obrigação do
Poder Público de:
A intervenção do Estado pode ocorrer ainda de forma indireta, como agente normativo e regulador (Art.
174, CF), mediante: a) fiscalização: de atividades econômicas potencialmente degradadoras; rigorosas
multas ambientais; b) incentivo: incentivos fiscais para empresas ambientalmente responsáveis (princípio
do protetor recebedor); c) planejamento: necessidade de integrar o planejamento ambiental ao
planejamento das questões públicas.
19
Inserido no caput do art. 225 da CF. Princípio nº 10 da Declaração do Rio de 1992. É dever de toda a
sociedade atuar na defesa do meio ambiente.
A participação consubstancia-se:
c) na utilização dos mecanismos de controle políticos (plebiscito, referendo, iniciativa popular), judiciais
(ação popular, ação civil pública) e administrativos (informação, petição, EIA).
Destaca-se aqui a atuação das ONGs e assento dos cidadãos nos conselhos ambientais e da consulta
pública para criação de algumas unidades de conservação, além da participação como amicus curiae, em
processos de controle abstrato de constitucionalidade.
Toda informação sobre o meio ambiente é pública. Visa assegurar a eficácia do princípio da participação. É
necessária a devida publicidade das questões ambientais, sob pena de impossibilidade de atuação do
princípio democrático. O art. 5º, XXXIII da Constituição Federal e a Lei 12.527/11, garantem o acesso à
informação de forma ampla, incluindo aquela que diz respeito ao meio ambiente. Está expressamente
previsto no Princípio 10 da Declaração do Rio/92. Segundo Leme as matérias que envolvam
comprovadamente segredo industrial ou do Estado estão excluídas do aludido princípio.
Embora não seja obrigação exclusiva do poder público, encontra-se constitucionalmente previsto no art.
225, § 1º, VI, CF. Para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, incumbe ao Poder
Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação.
A Lei 9.795/99 trata da educação ambiental. O art. 1 dispõe que se entende por educação ambiental os
processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. O art. 10 assinala que a educação
ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os
níveis e modalidades do ensino formal, e que não deve ser implantada como disciplina específica no
currículo de ensino.
Art. 186 da CF: a função social da propriedade é atendida quando há aproveitamento racional e adequado;
utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; observação das
disposições que regulam as relações de trabalho; exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
trabalhadores. É o princípio que justifica serem as obrigações ambientais propter rem.
20
Consiste na ponderação de valores quando da prática de algum evento que possa repercutir na esfera
ambiental. Necessidade de se analisar quais os prejuízos e impactos, e ao contrário, quais os benefícios e
ganhos. Nessa ponderação, deve-se levar em conta todas as condições ambientais, no sentido legal do
termo, como as influências e integrações de ordem química e biológica, que permitem abrigar e reger a
vida em todas as formas. Esse equilíbrio está atrelado ao desenvolvimento econômico e seus impactos
ambientais, guardando estreita relação com o desenvolvimento sustentável.
O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o
emprego de fogo para fins de limpeza e preparo do solo no referido município,
inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-de-açúcar e de
outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio
ambiente obtida com a proibição imediata da queima da cana e, de outro, a
preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste setor. No caso, o
STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores
canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e
da respectiva mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata
da colheita da cana mediante uso de fogo.
Questionou-se ser mais razoável: a proibição imediata da queima da cana ou a
sua eliminação gradual. Afigura-se muito mais harmônico com a disciplina
constitucional a eliminação planejada e gradual da queima da cana, sobretudo,
porque a utilização de máquinas também geraria impacto negativo ao meio
ambiente, como a emissão de gás metano decorrente da decomposição da cana, o
que contribuiria para o efeito estufa, além do surgimento de ervas daninhas e o
consequente uso de pesticidas e fungicidas
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a
necessidade de se traçar um planejamento com o intuito de se extinguir
gradativamente o uso do fogo como método despalhador e facilitador para o
corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98. (RE-
586224).
“O particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício
de maus-tratos, duas aves silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer
na posse dos animais” (STJ Resp 1.425.943-RN).
"Por entender caracterizada ofensa ao art. 225, § 1º, VII, da CF, que veda práticas
que submetam os animais a crueldade, o Plenário julgou procedente pedido
formulado em ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República para
declarar a inconstitucionalidade da Lei fluminense 2.895/98. A norma impugnada
autoriza a criação e a realização de exposições e competições entre aves das raças
combatentes (fauna não silvestre). Rejeitaram-se as preliminares de inépcia da
petição inicial e de necessidade de se refutar, artigo por artigo, o diploma
21
legislativo invocado. Aduziu-se que o requerente questionara a validade
constitucional da integridade da norma adversada, citara o parâmetro por ela
alegadamente transgredido, estabelecera a situação de antagonismo entre a lei e
a Constituição, bem como expusera as razões que fundamentariam sua
pretensão. Ademais, destacou-se que a impugnação dirigir-se-ia a todo o
complexo normativo com que disciplinadas as "rinhas de galo" naquela unidade
federativa, qualificando-as como competições. Assim, despicienda a indicação de
cada um dos seus vários artigos. No mérito, enfatizou-se que o constituinte
objetivara assegurar a efetividade do direito fundamental à preservação da
integridade do meio ambiente, que traduziria conceito amplo e abrangente das
noções de meio ambiente natural, cultural, artificial (espaço urbano) e laboral.
Salientou-se, de um lado, a íntima conexão entre o dever ético-jurídico de
preservação da fauna e o de não-incidência em práticas de crueldade e, de outro,
a subsistência do gênero humano em um meio ambiente ecologicamente
equilibrado (direito de terceira geração). Assinalou-se que a proteção conferida
aos animais pela parte final do art. 225, § 1º, VII, da CF teria, na Lei 9.605/98 (art.
32), o seu preceito incriminador, o qual pune, a título de crime ambiental, a
inflição de maus-tratos contra animais. Frisou-se que tanto os animais silvestres,
quanto os domésticos ou domesticados - aqui incluídos os galos utilizados em
rinhas - estariam ao abrigo constitucional. Por fim, rejeitou-se o argumento de
que a "briga de galos" qualificar-se-ia como atividade desportiva, prática cultural
ou expressão folclórica, em tentativa de fraude à aplicação da regra constitucional
de proteção à fauna. Os Ministros Marco Aurélio e Dias Toffoli assentaram apenas
a inconstitucionalidade formal da norma. Precedentes citados: RE 153531/SC (DJU
de 13.3.98); ADI 2514/SC (DJU de 3.8.2005); ADI 3776/RN (DJe de 29.6.2007). ADI
1856/RJ, rel. Min. Celso de Mello, 26.5.2011. (ADI-1856)"
A utilização saudável do meio ambiente deve ser partilhada de forma equânime por toda a humanidade.
Previsão constitucional: art. 225, § 1º, inciso V. A Administração Pública tem a obrigação de fixar padrões
máximos de emissões de poluentes, ruídos, enfim, de tudo aquilo que possa implicar prejuízos para os
recursos ambientais e à saúde humana.
Ubiquidade é a qualidade do que está em toda a parte. O meio ambiente é condição prévia para a
existência e o exercício dos direitos humanos. Os bens naturais, tendo caráter de onipresença, colocam-se
em posição soberana a qualquer limitação espacial ou geográfica. O meio ambiente deve ser considerado
em toda decisão política (ex. leis orçamentárias, PAC). Visão holística: protege-se o todo para proteger a
parte. Princípio 17 da RIO/92: “A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, será
efetuada para as atividades planejadas que possam vir a ter um impacto adverso significativo sobre o meio
ambiente e estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional competente”
22
1.4.18 Princípio do Direito à Sadia Qualidade de Vida
Enquanto as primeiras constituições escritas colocavam o direito à vida entre os direitos individuais, a partir
do séc. XX foi inserido o "direito à qualidade de vida", não sendo suficiente viver ou apenas conservar a
vida (caput do art. 225 da CF).
Invocado pelo STJ em seus julgados e melhor tratado no tópico sobre reparação dos danos ambientais.
Deve conduzir o meio ambiente e a sociedade a uma situação, na medida do possível, equivalente à
anterior ao dano. Incluem-se os efeitos ecológicos e ambientais da agressão, as perdas de qualidade
ambiental, os danos ambientais futuros e danos morais coletivos. Positivado na legislação civil (art. 944,
CC).
“Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível
que a sentença condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as
obrigações de recompor o meio ambiente degradado e de pagar quantia em
dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo. Isso porque vigora em
nosso sistema jurídico o princípio da reparação integral do dano ambiental, que, ao
determinar a responsabilização do agente por todos os efeitos decorrentes da
conduta lesiva, permite a cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de
indenizar.” (REsp 1.328.753-MG)
Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu
quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do RJ e de MG.
O STJ ao julgar a responsabilidade civil decorrente desses danos ambientais, fixou as seguintes teses em
sede de recurso repetitivo:
a) A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do
risco integral, sendo o nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o
risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a invocação, pela empresa
responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para
afastar sua obrigação de indenizar;
b) Em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e
morais;
c) Na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o
arbitramento seja feito caso a caso e com moderação proporcionalmente ao grau
de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da empresa,
orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da
vida e às peculiaridades de cada caso, de modo que, de um lado, não haja
enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja efetiva
compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.
(REsp 1.374.284-MG).
Por outro lado, há julgado do STJ a afastar o punitive damage (teoria do valor do desestímulo) em matéria
ambiental:
É inadmissível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores aos já consagrados,
exceto se as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas.
Embora não possua previsão expressa constitucional, trata-se de princípio implícito, extraído da própria
noção de Estado Democrático de Direito: dignidade da pessoa humana, máxima eficácia e efetividade dos
direitos fundamentais, princípio da segurança jurídica.
STJ - a salvaguarda do meio ambiente tem caráter irretroativo: não pode admitir o
recuo para níveis de proteção inferiores aos anteriormente consagrados, a menos
que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas. Busca estabelecer
um piso mínimo de proteção ambiental, para além do qual devem rumar as futuras
medidas normativas de tutela, impondo limites a impulsos revisionistas da
legislação.
24
A poluição deve ser corrigida no local em que foi produzida. Ao poluidor cabe corrigir o dano, no local em
que foi produzido, especialmente para que seja evitado o “turismo” da poluição, ou seja, a migração das
consequências em dada área para outra até então intacta.
São critérios mínimos para a concessão de crédito, que asseguram que os projetos financiados sejam
desenvolvidos de forma socialmente e ambientalmente responsável.
Por trás da garantia constitucional do mínimo existencial, subjaz a idéia de que a dignidade da pessoa
humana está intrinsecamente relacionada à qualidade ambiental. Ao conferir dimensão ecológica ao
núcleo normativo, assenta a premissa de que não existe patamar mínimo de bem-estar sem respeito ao
direito fundamental do meio ambiente sadio.
Tendo em vista que o meio ambiente não conhece fronteiras política, sendo a terra um grande
ecossistema, a única forma de preservá-la é a cooperação entre as nações, mormente por meio de
tratados internacionais, para se ter uma tutela global ambiental. O artigo 77 da Lei 9605/98 fala da
cooperação internacional em matéria de crimes ambientais.
Nesse sentido ganha relevo o tema dos Refugiados Ambientais ou Climáticos: Pessoas que em razão de
danos ambientais tem que sair do local em que estão, e, o do Dumping Ambiental: Países que respeitam as
normas ambientais têm condições inferiores de competitividade o que beneficia as empresas e países que
degradam o ambiente.
1.4.27 Princípio da Moralidade Ambiental (TRF 1)
Está ligado à ideia de que a incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses
empresariais nem ficar dependente de motivações de índole econômica, ainda mais se se tiver presente
que a atividade econômica, considerada a disciplina constitucional que a rege, está subordinada, dentre
outros princípios gerais, àquele que privilegia a "defesa do meio ambiente". (AC 9681920114013900 –
TRF1).
Trata-se de um princípio ainda não reconhecido internacionalmente. Há uma proposta na ONU, realizada
pelo Prof. Michel Prieur, para celebração de uma convenção internacional, com força de lei, visando
salvaguardar os direitos humanos das pessoas forçadas a abandonar seus locais de habitat devido a uma
catástrofe (natural ou industrial), sendo obrigadas a procurar acolhida em outro país, ou mesmo dentro de
seus países, de uma região para outra. Essa categoria de pessoas deslocadas em virtude de questões
ambientais tem sido denominada de refugiados ambientais.
1.5.1 Introdução
Paulo Affonso Leme Machado lista, como principais formas de tutela jurisdicional do meio ambiente: a) a
ação popular; b) a participação do Ministério Público (inquérito civil, recomendações e compromisso de
ajustamento de conduta); c) e a ação civil pública.
25
Neste ponto será analisado somente as peculiaridades dações judiciais de proteção ao meio ambiente,
quais sejam: a ação popular ambiental e ação civil pública ambiental.
Introdução: Parcela da doutrina vem defendendo a existência de dois institutos complementares, mas
distintos, na norma constitucional que regula a ação popular. Ação popular propriamente dita, voltada
para a defesa do patrimônio público e regulada pela Lei nº 4.717/65, e a ação popular ambiental, destinada
à defesa do patrimônio histórico, cultural e do meio ambiente.
Diferenças e particularidades podem ser apontadas, de acordo com a doutrina: a)prevalência das regras da
LACP e do CDC em relação às próprias regras da LAP em ações populares em matéria ambiental, por
exemplo, desnecessidade de ajuizamento da ação contra todos os responsáveis, já que a responsabilidade
ambiental é solidária no direito ambiental; ou, ainda, desnecessidade de citar, em todas as demandas
populares ambientais, os órgãos do Poder Público; b) competência para o julgamento do juízo do local
onde ocorreu o dano ou ilícito, observada a hipótese de competência do art. 2º da LACP; c) aplicabilidade
da regra da oitiva prévia da pessoa jurídica de direito público; d) imprescritibilidade, não valendo a regra
do art. 21 da LAP; e) o recurso, em regra, terá apenas o efeito devolutivo, não se aplicando o artigo 19 da
LAP que prevê o duplo efeito; f) poderá tutelar obrigações de fazer e não-fazer de forma autônoma, não se
restringindo aos pedidos constitutivos e condenatório.
Interpretação: A Lei 4.717/1965 deve ser interpretada de forma a possibilitar a mais ampla proteção aos
bens e direitos associados ao patrimônio público, em suas várias dimensões (cofres públicos, meio
ambiente, moralidade administrativa, patrimônio artístico, estético, histórico e turístico) (REsp
453.136/PR)
Legitimidade: É parte legítima para intentar a ação popular o cidadão, assim entendido o brasileiro em
pleno gozo dos direitos políticos, ou seja, alistado na Justiça Eleitoral, devendo a cópia do título de eleitor
instruir a petição inicial. Preso Provisório e maior de 16 anos podem propor ação popular. Pessoa Jurídica
não. Registre-se a existência de uma corrente doutrinária que prega a legitimidade ativa do estrangeiro
residente no Brasil para o ajuizamento da ação popular, por meio de uma definição maximalista da
cidadania ambiental. Ademais, o português com residência permanente no Brasil com reciprocidade pode
se alistar e, portanto, propor ação popular. Já o MP apenas atuará no polo ativo nos casos de sucessão
processual. Em se tratando de ação popular executória todos os cidadãos, sejam ou não autores,
assistentes ou litisconsortes originários na ação popular, além do MP e da própria pessoa jurídica ou
entidade, nos termos dos artigos 16 e 17 da LAP possuem legitimidade.
O eleitor não precisa ter domicílio eleitoral no local da propositura da ação para ter legitimidade. O menor
(16 anos) não precisa estar representado.
A natureza da legitimação na AP é controversa. Na jurisprudência e na doutrina prepondera a tese da
legitimação ordinária, diversamente das demais ações coletivas. O STF já se manifestou assim, enquanto o
STJ se pronunciou no sentido da substituição processual.
Legitimidade passiva será das pessoas jurídicas de direito público que praticaram o ato lesivo ao
patrimônio público, à moralidade administrativa e ao meio ambiente, bem como dos entes receptores de
verba pública, juntamente com as pessoas jurídicas de direito privado que participaram da formação do
ato impugnado ou que dele sejam beneficiários.
Lesividade e Ação Popular Ambiental: Ainda que o ato tenha sido lícito será possível a utilização da ação
popular. No caso da ação popular ambiental também basta o dano ao meio ambiente, porque a
responsabilidade para proteção do meio ambiente independe de culpa ou de ilicitude, basta haver nexo de
causalidade entre a conduta comissiva ou omissiva e a lesão ao ecossistema.
26
Objeto: Objetiva a ação popular a anulação de ato lesivo ao patrimônio público, ao meio ambiente ou à
moralidade administrativa, tendo natureza predominantemente desconstitutiva, pois visa a anular o ato
(ação popular repressiva).
Outrossim, a lesividade e a ilegalidade do ato rechaçado podem ser geradas pela omissão do Poder
Público, sendo possível ter a ação popular como instrumento de controle das omissões administrativas,
conforme já decidiu o STJ:
A ação popular também pode resultar na condenação ao pagamento de valores, nos termos do art. 11 da
LAP.
Também se admite ação popular preventiva, mais interessante à tutela ambiental, impedindo-se o Poder
Público de editar ato ilegal e potencialmente lesivo aos recursos ambientais.
Logo, nota-se que na ação popular a cominação principal não é condenatória - como na ação civil pública,
pois o objeto da ação popular é mais restrito -, mas, sim a anulação do referido ato ilegal e lesivo.
Contudo, entende-se plenamente possível a reparação dos danos em sede de ação popular, desde que seja
a forma de reconstituir o bem jurídico lesado pelo ato ilegal praticado pelo Poder Público e pelos eventuais
particulares que concorrem à sua prática.
Obs.: a jurisprudência não é pacífica quanto a possibilidade de pedido de obrigação de fazer/não fazer na
ação popular ambiental. Há uma decisão do TRF1 que afirma que “o objeto da ação popular é a anulação
de ato lesivo ao patrimônio público, e somente em casos excepcionais, como bem lembrou a ilustre
magistrada, pode abranger obrigações de fazer”. (REO 0075053-50.2013.4.01.3400 / DF). Em outra
oportunidade, o TRF1 também decidiu que: “o pedido da presente ação popular não visa a anular ato
lesivo ao meio ambiente, mas sim a obter do Estado o cumprimento de obrigação de fazer e de não fazer,
objetivo para o qual é adequada a ação civil pública (Lei 7.347/85, art. 3º), e não a ação popular, voltada
para a invalidação de atos estatais ou de particulares, lesivos ao patrimônio público, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural (Lei 4.717/65, art. 1º; Carta Magna, art. 5º, LXXIII). (AC 0002112-
05.2000.4.01.4000 / PI)
Prescrição da Ação Popular: Segundo previsão legal, a ação popular prescreve em 5 ANOS. Porém, A AÇÃO
POPULAR AMBIENTAL não está sujeita a esse prazo.
Quando a ação popular é intentada em face de omissão lesiva, não se aplica o prazo prescricional.
Em relação aos casos de lesão ao meio ambiente, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está
pacificada no sentido de que as demandas que envolvem a reparação ao meio ambiente são
imprescritíveis.
Legitimidade Ativa: O art. 5º, da Lei 7.347/85, confere legitimidade para propor a ação civil pública
(principal e cautelar) ao Ministério Público, à Defensoria Pública, à União, Estados, Municípios, autarquia,
empresa pública, fundação, sociedade de economia mista, e associação que esteja constituída há pelo
menos um ano, e inclua a proteção ao meio ambiente entre suas finalidades institucionais.
Para Celso Fiorillo, essa legitimidade não se enquadra na dicotomia ordinária/extraordinária, tratando-se
de legitimação autônoma para a condução do processo. Também é concorrente e disjuntiva, podendo cada
um dos co-legitimados promover sozinho a ação coletiva, sem que haja autorização ou anuência dos
27
demais; eventual litisconsórcio entre eles é facultativo. Ainda, quanto aos direitos individuais homogêneos,
há legitimação extraordinária dos entes acima arrolados.
A legitimidade ativa do Ministério Público tem previsão constitucional (art. 129, III), abrangendo ações para
defesa de direitos difusos (meio ambiente), coletivos e individuais homogêneos, quando tratados de forma
coletiva. Não pode, porém, o MP, ajuizar ação individual em nome do lesado pelo dano ambiental para
pleitear a prevenção ou a reparação de dano individual não homogêneo, por lhe faltar legitimidade. Ainda,
é possível o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, dos Estados e do Distrito
Federal (art. 5º, § 5º, Lei 7.347/85). Para Celso Fiorillo, não se trata de litisconsórcio, mas de
representação, tendo em vista que a instituição Ministério Público é una e indivisível.
As associações civis que tenham como finalidade estatutária a defesa do meio ambiente podem agir em
juízo, sendo possível a dispensa da pré-constituição há pelo menos um ano, desde que exista manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a
ser protegido (art. 5º, § 4º, Lei 7.347/85).
Admite-se o litisconsórcio facultativo unitário (art. 5º, § 2º, Lei 7.347/85), podendo os legitimados se
habilitarem como litisconsortes de qualquer uma das partes, o que deve ocorrer quando do ingresso da
ação, ou por meio da assistência litisconsorcial, tendo em vista que não se admite o litisconsórcio
facultativo unitário superveniente.
O particular, pessoa natural, não tem legitimidade para ajuizar a ação civil pública em defesa do meio
ambiente, mas a tem para deduzir em juízo pretensão indenizatória para a reparação de dano pessoal,
com base na responsabilidade objetiva do poluidor (art. 14, § 1º, Lei 6.938/81).
Legitimidade passiva: Quanto à legitimidade passiva, pode ser demandada em ação civil pública qualquer
pessoa, natural jurídica, pública ou privada, desde que esteja inserida no conceito de poluidor previsto no
art. 3º, IV, da Lei 6.938/81.
Intervenção de terceiros: Em regra, o sistema de jurisdição coletiva não admite a intervenção de terceiros,
tendo em vista que o regime da reparação do dano ambiental é o da responsabilidade objetiva.
A intervenção de terceiros – como a denunciação da lide – não será admitida se dificultar a efetivação da
proteção do meio ambiente (REsp 232187).
Mesmo havendo vários agentes poluidores (responsabilidade solidária), a jurisprudência do STJ é firme
quanto a não ser obrigatória a formação de litisconsórcio, visto que a responsabilidade de reparação
integral do dano ambiental é solidária.
Competência Jurisdicional: O art 2º da Lei 7.347/85 preceitua que “as ações previstas nesta Lei serão
propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e
julgar a causa”. Nas ações preventivas, fixa-se competência pelo local onde deva ocorrer o dano. A fixação
da competência nesses termos tem por objetivo facilitar a colheita de provas e possibilitar o contato direto
do juiz com a degradação ambiental e as provas desta, privilegiando o princípio da imediatidade. Por se
tratar de competência funcional, é absoluta, acarretando a nulidade dos atos decisórios (art. 113, § 2º,
CPC) e enseja a propositura de ação rescisória em até dois anos após seu trânsito em julgado (art. 485, II,
CPC), caso não seja observada.
Quando o dano ambiental for regional ou nacional, prevalecerá a regra do inciso II, do artigo 93, da Lei
8.078/1990, que confere competência ao foro da Capital do Estado ou no Distrito Federal, para os danos
de âmbito nacional ou regional. De acordo com o STJ, a referida competência do foro da capital do estado
para conhecer de ação civil pública que busca a reparação de dano ambiental nacional ou regional, ostenta
natureza absoluta. (Resp. 1.101.057-MT),
Esse sistema de competência (local do fato) funda-se no princípio da efetividade da tutela dos interesses
metaindividuais, tendo em vista que, além das dificuldades naturais do ajuizamento da respectiva ação
ambiental, outra regra de competência prejudicaria o exercício jurisdicional do magistrado.
Mesmo que o local em que ocorreu o dano não seja sede de vara federal, a este juízo compete processar e
julgar a ação civil pública (e não à Justiça Estadual), quando for matéria de sua competência, por não se
28
enquadrar o art. 2º na delegação constitucional de competência prevista no art. 109, § 3º. Nesse sentido,
foi cancelada em 24.11.2000 a Súmula 183, do STJ, que previa a competência da Justiça Estadual.
Havendo interesse na causa da União, suas autarquias, fundações e empresas públicas, ou havendo
discussão sobre tratados internacionais ou direitos indígenas, a competência é da Justiça Federal.
Exs. de competência da Justiça Federal:
a) REsp 1057878 – vazamento de óleo, se afetar porto organizado (equiparado a bem público federal), bem
como pelo fato do licenciamento ambiental ter sido promovido pelo IBAMA.
b) STJ, CC 80905 – quando o dano ocorrer em Área de Proteção Ambiental – APA instituída pela União.
No STJ prevalece que, sendo a ACP ambiental proposta pelo MPF, a competência será da JF.
Litispendência, Conexão e Continência: Não há litispendência entre ação coletiva e ação individual (art.
104, CDC), pois não possuem as mesmas partes no pólo ativo; entre uma ação coletiva sobre direito difuso
e outra voltada à proteção de direito coletivo, pois o objeto desta é mais limitado do que o daquela;
também não se dá entre ação para a defesa de direito individual homogêneo e outra que verse acerca de
direito difuso, podendo haver coincidência, no máximo, entre as causas de pedir. Porém, pode haver
litispendência entre uma ação civil pública, que tenha por objeto a desconstituição de um ato lesivo ao
meio ambiente, e uma ação popular com o mesmo fim. Para Celso Fiorillo, a diferença entre os legitimados
não exclui a identidade das partes ativas, pois exercem direito cuja titularidade pertence à coletividade.
Por esse motivo, o resultado da lide, nos dois casos, é estendido a todos os titulares do direito ao meio
ambiente.
Súmula 489 do STJ (também aplicável em matéria ambiental): Reconhecida a continência, devem ser
reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual.
Pedido na ACP Ambiental: STJ passou a admitir, com fundamento no princípio da reparação integral, a
cumulação de pedidos de obrigação de fazer / não fazer / condenação pecuniária, não obstante a
literalidade do art. 3º, Lei 7347/1985, indicar o contrário (REsp 1114893).
Considerando que a tutela ambiental é fungível, o juiz pode, sem incidir em decisão extra ou ultra petita,
fazer as determinações necessárias à recuperação do meio ambiente, ainda que não tenha sido instado a
tanto (REsp 967375). Tal fato tem levado parte da doutrina a afirmar que o pedido, na ACP ambiental, é
aberto.
Prescrição: O pleito de recuperação do meio ambiente degradado é imprescritível, visto que o direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado é fundamental, não sendo permitido a uma geração subtrair
das subsequente referido direito (REsp 1120117).
Termo de Ajustamento de Conduta – TAC: É possível, nos termos do art. 5º, §6º, Lei 7347/85, que os
órgãos legitimados firmem TAC objetivando tratar de temas ambientais. Tal termo não poderá
transacionar sobre a matéria ambiental, mas tão somente sobre a forma de cumprimento das obrigações
ambientais.
Inversão do ônus da prova: O STJ tem admitido a inversão do ônus da prova em casos de empresas ou
empreendedores acusados de dano ambiental, tendo como base o princípio da precaução.
Jurisprudência: “O MPF possui legitimidade para propor, na Justiça Federal, ação civil pública que vise à
proteção de zona de amortecimento de parque nacional, ainda que a referida área não seja de domínio da
União. Com efeito, tratando-se de proteção ao meio ambiente, não há competência exclusiva de um ente
da Federação para promover medidas protetivas. Impõe-se amplo aparato de fiscalização a ser exercido
pelos quatro entes federados, independentemente do local onde a ameaça ou o dano estejam ocorrendo e
da competência para o licenciamento. Deve-se considerar que o domínio da área em que o dano ou o risco
de dano se manifesta é apenas um dos critérios definidores da legitimidade para agir do MPF. Ademais,
convém ressaltar que o poder-dever de fiscalização dos outros entes deve ser exercido quando
29
determinada atividade esteja, sem o devido acompanhamento do órgão local, causando danos ao meio
ambiente. (AgRg no REsp 1.373.302-CE)”
O STJ decidiu, em sede de sistemática de recursos repetitivos (REsp 1253844/SC, Tema 510), que, embora
não seja possível se exigir do Ministério Público o adiantamento de honorários periciais em ações civis
públicas, a referida isenção não pode obrigar que o perito exerça seu ofício gratuitamente, tampouco
transferir ao réu o encargo de financiar ações contra ele movidas. Dessa forma, considerou aplicável, por
analogia, a Súmula n. 232 da Corte Superior ("A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à
exigência do depósito prévio dos honorários do perito"), a determinar que a Fazenda Pública ao qual se
acha vinculado o Parquet arque com tais despesas.
Em recente julgado, o STJ decidiu pela obrigatoriedade de registro da reserva legal do imóvel rural junto ao
Cadastro Ambiental Rural (CAR), a fim de que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural seja
registrada no RGI. Segue o julgado:
Ponto 2 - O Direito Ambiental como Direito Econômico. A natureza econômica das normas de Direito
Ambiental.
30
2.1 O Direito Ambiental como direito econômico
A oposição entre economia e proteção ambiental deixa de existir plenamente, quando a política
econômica adotada traz de volta o relacionamento da economia com a natureza de uma forma integrativa.
A ligação umbilical entre os dois ramos do direito pode ser visualizada quando a Constituição “Econômica”
impõe como princípio a preservação ambiental, e a Constituição “Verde” possibilita a exploração
econômica mesmo em detrimento do meio ambiente desde que ex vi legis. Compreende, assim, que o
meio ambiente é um valor preponderante (mas, não intolerante) que deve estar interligado ao
desenvolvimento.
O próprio art. 225, §4º, CF é exemplo disso, pois declara alguns ecossistemas (mata atlântica, mangues,
etc.) como patrimônio nacional, não para torná-los estaticamente conservados, pelo contrário, sua
utilização econômica, inclusive quanto à utilização dos recursos naturais, é admissível, na forma da lei,
dentro das condições que assegurem a preservação do meio ambiente.
Outras intervenções do direito ambiental nas ações econômicas podem ser, assim, sintetizadas: a)
necessidade de planejamento ambiental, através do estudo prévio de impacto ambiental para evitar
atividades potencialmente destruidoras (art. 225, § 1º, IV); b) a sanção imposta pelo princípio ambiental do
Poluidor-Pagador, o qual impõe a responsabilidade àqueles que causam danos ambientais de arcarem com
o custos de recuperação do ato lesivo (art. 225, § 3º); c) a necessidade do Plano Diretor como instrumento
legal que possibilita o limite ao direito de propriedade mediante o zoneamento urbano, controlando assim,
as atividades potencialmente degradantes (lei 6938/81, art. 2º, V); d) função social necessária ao direito de
propriedade, retirando sua característica de direito soberano, em prol da transindividualidade (art. 170, II e
III).
Ademais, a busca por uma melhor qualidade de vida, em atenção ao princípio da dignidade da pessoa
humana, é objetivo central dos dois ramos jurídicos.
Embora todos os princípios ambientais levem a uma correlação às ciências econômicas, alguns princípios
se destacam.
Já o princípio da UBIQUIDADE OU TRANSVERSALIDADE nos mostra que o meio ambiente deve ser
considerado em toda decisão política, sobretudo, as econômicas.
O princípio da FUNÇÃO SÓCIO AMBIENTAL DA PROPRIEDADE tem como consequência básica fazer com
que a propriedade seja efetivamente exercida para beneficiar a coletividade e o meio ambiente (aspecto
positivo), não bastando apenas que não seja exercida em prejuízo de terceiros ou da qualidade ambiental
(aspecto negativo).
31
Por fim, o PRINCÍPIO DO PROTETOR RECEBEDOR objetiva premiar através de incentivos fiscais, financeiros
ou creditícios, quem desenvolve e adota práticas sustentáveis na sua atividade econômica.
A Economia Verde foi um dos principais temas da Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre o
Desenvolvimento Sustentável), realizada na cidade do Rio de Janeiro em junho de 2012.
Principais características da Economia Verde: - Pouco uso de combustíveis fósseis (gasolina, carvão, diesel,
etc.) e aumento do uso de fontes limpas e renováveis de energia; - Eficiência na utilização de recursos
naturais; - Práticas e processos que visam à inclusão social e erradicação da pobreza; - Investimento e
valorização da agricultura verde; - Tratamento adequado do lixo com sistemas eficientes de reciclagem; -
Qualidade e eficiência nos sistemas de mobilidade urbana.
2.4.Dumping ambiental
Ocorre dumping ambiental quando os preços baixos dos bens resultam do fato das empresa produtoras
estarem instaladas (ou terem-se instalado) em países cuja legislação não exige o cumprimento de normas
de defesa do ambiente, nem seguem os habituais padrões de qualidade do ambiente existentes nos países
desenvolvidos, pelo que tais empresas economizam custos ao não efetuarem investimentos no domínio
ambiental a que estariam obrigadas se estivessem instaladas em países desenvolvidos.
Os meios utilizados pelo Estado para intervir indiretamente na economia são fundamentais para a
implementação de políticas públicas ambientalmente corretas, quais sejam:.
A) Fiscalização: Não sendo coagidas pelo Poder Público a substituir seus métodos produtivos poluentes por
métodos mais limpos, as empresas que não respeitam a legislação ambiental acabam se beneficiando
economicamente. Ao continuarem exercendo suas atividades com métodos tecnológicos ultrapassados,
elas obtém menor custo de produção. Com um menor custo, as empresas poluentes disponibilizam
produtos mais baratos, expandindo seus negócios, em detrimento daquelas cuja produção industrial
tornou-se ambientalmente correta.
32
B) Multas Ambientais: O princípio do poluidor pagador tem como um de seus objetivos evitar a
concretização do dano, auxiliando na prevenção e na precaução. Desta forma, as multa ambientais passam
a ter uma finalidade dissuasiva, tendo em vista que a obrigação de pagar pelo dano causado atua, como
incentivo negativo face a todos aqueles que pretendem praticar uma conduta lesiva ao meio ambiente.
C.1) Tributação Ambiental: Ocorre tributação ambiental quando são instituídos tributos com a finalidade
de viabilizar a preservação ambiental ou coibir condutas lesivas ao Meio Ambiente. São os denominados
“tributos verdes”.
C.1.1) IMPOSTO DE RENDA. No Brasil, a tributação ambiental foi instituída por via do artigo 1º da lei nº
5.106/66 ao determinar que as importâncias empregadas em florestamento e reflorestamento podem ser
abatidas ou descontadas nas declarações de rendimento das pessoas físicas e jurídicas, residentes ou
domiciliados no Brasil. (OBS: O Decreto 1.503/76, atualmente, não permite que o benefício possa ser
concedido às pessoas jurídicas) .
C.1.2) ICMS ECOLÓGICO: A CF, no artigo 158, estabelece que 25% do ICMS deve ser destinado aos
Municípios, cabendo ao legislador estadual legislar sobre o destino de ¼ deste montante. Alguns Estados
impõem como condição para o repasse desses valores a adoção de algumas condutas por parte do
município que induzam a uma maior conservação ambiental. O mecanismo teve origem a partir da
reivindicação de municípios com unidades de conservação em seus territórios, áreas onde o livre
desenvolvimento de atividades produtivas é vedado. Como forma de compensação econômica, aqueles
municípios receberiam parcela do ICMS arrecadado pelo estado membro. Ex: MG (Lei Estadual
13.803/2000;
C.1.3) IPTU: O citado imposto poderá ser progressivo em razão do valor do imóvel e ter alíquotas
diferentes de acordo com a localização e o uso. É possível, portanto, se falar no IPTU VERDE a contemplar o
critério de redução e separação de resíduos favorecendo a eficiência na separação de materiais recicláveis
e orgânicos. Apesar de o diagnóstico apontar poucas experiências municipais, do ponto de vista social, este
é um instrumento com alto potencial de inserção da população no processo de gestão, contribuindo para a
separação dos materiais recicláveis e, eventualmente, para a redução do volume de resíduo gerado.
C.1.4) ITR: O Art. 10, II, §1º da Lei 9.393/96, estabelece hipótese de isenção tributária ao considerar, para
fins de apuração do ITR, como área tributável, a área total do imóvel, subtraídas as áreas de preservação
permanente e de reserva legal; as áreas de interesse ecológico para a proteção dos ecossistemas; as áreas
comprovadamente imprestáveis para qualquer exploração agrícola, pecuária, granjeira, aquícola ou
florestal, declaradas de interesse ecológico mediante ato do órgão competente, federal ou estadual; as
áreas sob regime de servidão ambiental; e aquelas áreas cobertas por florestas nativas, primárias ou
secundárias em estágio médio ou avançado de regeneração.
Evolução da Jurisprudência sobre a necessidade de averbação da reserva legal para obter a isenção de
ITR:
33
- O posicionamento da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça era no sentido de ser considerado
ilegítimo o condicionamento do reconhecimento do referido benefício à prévia averbação dessa área no
Registro de Imóveis, pois a isenção não poderia ser conjurada por força de interpretação ou integração
analógica, máxime quando a lei tributária especial reafirmou o benefício através da Lei n.º 11.428/2006,
reiterando a exclusão da área de Reserva Legal de incidência da exação (art. 10, II, "a" e IV, "b").
-Já a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça entendia que enquanto o bônus individual resultante
da imposição da Reserva Legal ao contribuinte é a isenção no ITR, ao mesmo tempo, a averbação da
reserva funciona como garantia do meio ambiente.
- Ocorre, contudo, que a obrigatoriedade desta averbação, que encontrava previsão na lei 4.771/65, foi
superada com a promulgação da lei 12.651/12. Assim, antecipando as possíveis demandas nesse sentido, a
Corte já acenou que, atualmente, para a concessão da isenção o requisito será a prévia inscrição da
propriedade no CAR.
C.1.5) IPI e II. Embora tais impostos não tenham finalidade ambiental, suas alíquotas são fixadas por um
critério seletivo, aumentando ou diminuindo conforme a matéria-prima empregada. Ex: aquisição de
automóveis biocombustível ou de eletrodomésticos com baixo gasto de energia.
C.1.6) TAXA. A Taxa Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA) é um tributo de natureza parafiscal instituído
e cobrado pelo IBAMA no exercício do seu poder de polícia para controlar e fiscalizar as atividades
potencialmente causadoras de impactos ambientais.
C.1.7) CIDE COMBUSTÍVEIS: A lei 10.336/01 deu caráter de tributo ambiental à CIDE-COMBUSTÍVEIS ao
instituir que o produto de sua arrecadação será destinado ao financiamento de projetos ambientais
relacionados com a indústria do petróleo e do gás.
C.1.8) ISENÇÃO DE PIS/PASEP E DA COFINS: De acordo com a Lei n. 11.828/08, no caso de doações em
espécie recebidas por instituições financeiras públicas controladas pela União e destinadas a ações de
prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, inclusive programas de remuneração por
serviços ambientais, e de promoção da conservação e do uso sustentável dos biomas brasileiros, há
isenção da incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Contribuição para o Financiamento da
Seguridade Social - COFINS. Tais doações também poderão ser destinadas ao desenvolvimento de ações de
prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso
sustentável de outros biomas brasileiros e em outros países tropicais.
34
C.2) Logística Reversa: Conceituada legalmente como o instrumento de desenvolvimento econômico e
social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros
ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
Cabe aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos referidos tomar todas as medidas
necessárias para assegurar a implementação e operacionalização do sistema de logística reversa sob seu
encargo, podendo, entre outras medidas: I - implantar procedimentos de compra de produtos ou
embalagens usados; II - disponibilizar postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis; III - atuar
em parceria com cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis, nos casos do §1º do artigo 33 da lei 12.305/10.
C.5) Pagamento por Serviços Ambientais: O objetivo é implementar um fundo para utilização em
operações financeiras relacionadas ao pagamento por serviços ambientais aos proprietários rurais
conservacionistas que participem de projetos na condição de provedores de serviços ambientais, como
reflorestamento, conservação de áreas verdes e de vegetação de nascentes. Os recursos econômicos para
o pagamento dos proprietários conservacionistas podem ser originar dos Fundos de Recursos Hídricos,
mantidos, dentre outras fontes pelo instrumento de cobrança pelo uso da água.
As constituições que precederam a de 1988 não se preocuparam com a proteção do ambiente de forma
específica e global. Nelas, nem mesmo uma vez foi pregada a expressão meio ambiente, dando a revelar
total inadvertência ou até despreocupação com o próprio espaço em que vivemos.
Primeira constituição republicana 1891: atribuía competência à União para legislar sobre as suas minas e
terras.
35
Constituição de 1934: dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e cultural;
conferiu à União competência em matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca
e sua exploração.
Constituição de 1937: também se preocupou com a proteção dos monumentos históricos, artísticos e
naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza; inclui entre as matérias
de competência da União, legislar sobre minas, águas, florestas, caça, pesca, e sua exploração; cuidou ainda
da competência legislativa sobre subsolo e tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e
agentes nocivos.
Constituição de 1946: além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico, conservou
como competência da União legislar sobre normas gerais da defesa da saúde, das riquezas do subsolo, das
águas, florestas, caça e pesca.
Constituição de 1969: emenda outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou também da
defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico. No tocante à divisão de competência, manteve as
disposições da Constituição emendada. Art. 172-“a lei regulará, mediante prévio levantamento ecológico, o
aproveitamento agrícola de terras sujeitas a intempéries e calamidades”; “o mau uso da terra impedirá o
proprietário de receber incentivos e auxílio do governo”. Introdução do vocábulo “ecológico” em textos
legais.
A Constituição de 1988 pode ser denominada “verde” em razão do grande destaque à proteção ambiental.
A dimensão conferida ao tema não se resume aos dispositivos concentrados, especialmente, no Capítulo
VI, do Título VIII, dirigido à ordem social; alcança, da mesma forma, inúmeros outros regramentos insertos
ao longo do texto nos mais diversos Títulos e Capítulos, decorrentes do conteúdo multidisciplinar da
matéria, a exemplo das disposições constantes nos Princípios Gerais da Atividade Econômica (arts. 170 a
181), na Política Urbana (arts. 182 a 183) e na Política Agrícola e Fundiária e à Reforma Agrária (arts. 184 a
191).
Vale ressaltar, no que concerne à ordem econômica, que após a EC 42/2003, se tornou expressa a sua
sujeição à defesa do meio ambiente (inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto
ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação). Neste sentido, já
decidiu o STF que a ordem econômica não pode ser exercida em desarmonia com os princípios
destinados a tornar efetiva a proteção do meio ambiente, impondo ao proprietário de determinado
bem, inclusive, a necessidade de exercer comportamentos positivos, para que sua propriedade
concretamente conforme-se à preservação do meio ambiente.
Outrossim, a política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal deve observar
as diretrizes gerais de proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do
patrimônio cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico (Estatuto da Cidade, art. 2, inciso XII), a
exemplo da função social da propriedade rural, a qual só se considera cumprida quando atender, dentre
36
outros, o requisito da utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente (CR, art. 186, II).
O art. 225 Define o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos e lhe dá a natureza
de bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O reconhecimento material do direito fundamental ao ambiente justifica-se, também, na medida em que
tal direito é extensão do direito à vida, sob os aspectos da saúde e da existência digna com qualidade de
vida, ostentando o status de cláusula pétrea, consoante entendimento do STF.
O art. 225, par. 4º, declara patrimônio nacional a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, e sua utilização econômica, inclusive, quanto ao uso
dos recursos naturais é admissível, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do
meio ambiente.
Art. 225, seus parágrafos e incisos: compreende, segundo José Afonso da Silva, três conjuntos de normas.
O primeiro aparece no caput, onde se inscreve a norma matriz, reveladora do direito de todos ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado; o segundo encontra-se no §1º, com seus incisos, que versa sobre
os instrumentos de garantia e efetividade do direito anunciado no caput do artigo; o terceiro compreende
um conjunto de determinações particulares, em relação a objetos e setores, referidos nos §§ 2º a 6º, que,
por tratarem de áreas e situações de elevado conteúdo ecológico, merecem desde logo proteção
constitucional.
A norma matriz cria um direito constitucional fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
e, sendo assim, é indisponível.
Indisponibilidade acentuada - o interesse não é só da presente geração, mas das futuras também. Os
titulares do bem jurídico “meio ambiente” não são apenas os cidadãos do país – as presentes gerações,
mas também gerações futuras.
Bem de uso comum do povo - Em segundo lugar, o meio ambiente é considerado bem de uso comum do
povo, o que o qualifica como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em
vista o uso coletivo.
Essencial à sadia qualidade de vida - Além de ser bem de uso comum do povo, é reputado bem essencial à
sadia qualidade de vida.
Esta norma cria para o Poder Público um dever constitucional, geral e positivo, representado por
verdadeiras obrigações de fazer, isto é: defender e preservar o meio ambiente. Esta ação é vinculada,
saindo da esfera da conveniência e oportunidade, para ingressar num campo de imposição.
O cidadão deixa de ser mero titular (passivo) do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e
passa também a ter a titularidade de um dever de defesa e preservação.
37
3.1.2.4 Parágrafo 1º - Deveres específicos do Poder Público na tutela do meio ambiente
Inciso I:
(1) Preservar e restaurar dos processos ecológicos essenciais - Cuida-se de garantir, através de ações
conjugadas de todas as esferas e modalidades do Poder Público, a preservação do que se encontra em boas
condições originais, e de recuperar o que foi degradado.
(2) Promover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas - Significa lidar com as espécies, conservá-
las, e, se possível, recuperá-las. Cuida do equilíbrio das relações entre a comunidade biótica e seu habitat.
Em caso de dúvida, o gestor deve pautar-se pela solução mais segura sob o ponto de vista ecológico, uma
vez que o patrimônio da coletividade deve ser assegurado.
Inciso II:
(1) Preservar a biodiversidade e (2) fiscalizar as entidades de pesquisa e manipulação de material
genético.
Biodiversidade: variedade de seres que compõe a vida na Terra, a variabilidade de organismos vivos de
todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos, aquáticos e os
complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo, ainda a diversidade dentro de espécies, entre
espécies e ecossistemas.
Foi no Fórum sobre Biodiversidade, realizado em Washington, em 1986, que a questão foi posta como
uma grande preocupação de nosso tempo, alertando para o desaparecimento acelerado das espécies, e
colocando o assunto na agenda internacional.
Inciso III:
Definir os espaços territoriais protegidos - figura no rol dos Instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, por força de determinação da L. 7.804, de 18.07.1989, que deu nova redação ao art. 9º, VI, da L.
6.938/81. Estes espaços são um dos instrumentos jurídicos para implementação do direito constitucional
ao ambiente hígido e equilibrado, em particular, no que se refere à estrutura e funções do ecossistema.
c) As reservas legais; e
d) As unidades de conservação.
Inciso IV:
38
Exigir, na forma da lei, a realização de Estudo Prévio de Impacto Ambiental para a realização de obras e
atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente – o EIA destina-se à
prevenção de danos. Inspirado em modelo americano; introduzido em nosso ordenamento pela lei
6.938/81, que dispõe sobre as diretrizes básicas para zoneamento industrial nas áreas criticas de poluição.
Objetivo - evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável sob o ponto de vista econômico, revele-se
posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente.
Necessidade de que seja elaborado no momento certo: antes do início da execução, ou mesmo antes de
atos preparatórios do projeto.
Publicidade: possibilita a participação popular nas discussões e aferições do conteúdo dos estudos.
Inciso V:
Através do exercício do poder de policia, o Poder público deve fiscalizar e orientar a sociedade quanto aos
limites na utilização do meio ambiente.
Inciso VI:
Assim, a educação ambiental é fundamental à efetiva participação dos cidadãos no controle dos atos
estatais, bem como nos atos da iniciativa privada. Sem educação ambiental é impossível exigir da sociedade
efetiva participação na preservação dos recursos naturais.
O art. 2º, X da lei 6938/81 estabelece como princípio da politica nacional do meio ambiente “a educação
ambiental em todos os níveis de ensino, que tem por objetivo a capacitação para a participação ativa na
defesa do meio ambiente.”.
A Lei complementar 140 prevê a competência concorrente dos entes políticos para promover e orientar a
educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio
ambiente.
A lei 9795 instituiu a Politica nacional de Educação ambiental. A educação ambiental é reconhecida como
um “conjunto de processos por meio dos quais o individuo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente...”
(art. 1º).
Inciso VII:
39
Proteger a Fauna e a Flora, vedadas práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a
extinção de espécies e submetam os animais a crueldade - Estão protegidos todos os animais
indistintamente (todo ser vivo tem valor, função e importância ecológica, seja como espécie ou como
indivíduo).
É estreita a ligação entre fauna e flora, expressada nas relações ecossistêmicas. Florestas, matas ciliares,
cerrados, manguezal, e quaisquer formas de vegetação estão sob a proteção constitucional.
3.1.2.5 Determinações específicas para áreas e situações que merecem proteção constitucional
Parágrafo 2º - Meio ambiente e mineração - Mineração possui interface direta com o meio ambiente: não
há como extrair um mineral sem danos.
Após consagrado interesse público existente sobre o aproveitamento dos minerais, impôs ao minerador a
responsabilidade de recuperar o meio ambiente degradado, segundo soluções técnicas exigidas pelo
órgão público. Anteriormente, a Lei 6.938/81, art. 2º, VIII já se referia à recuperação de áreas degradadas
como um dos princípios programáticos informadores da Política Nacional do Meio Ambiente.
Parágrafo 3º - A responsabilidade cumulativa das condutas e atividades lesivas - Ao poluidor, nos termos
da Constituição, aplicam-se medidas de caráter reparatório e punitivo.
A danosidade ambiental, potencial ou efetiva, pode gerar uma tríplice reação do ordenamento jurídico
(sanções administrativas, penais e civis).
Em âmbito civil, a responsabilidade ambiental é objetiva. O dever de reparar exsurge do nexo causal entre a
lesão e uma determinada atividade. A responsabilidade civil, segundo a teoria do risco integral, não
admite as hipóteses de excludentes do nexo de causalidade (força maior, caso fortuito, e fato de terceiro).
Na esfera administrativa o tema é polêmico. Todavia, o Superior Tribunal de Justiça tem majoritariamente
(decisões nas duas turmas) repelido a tese da adoção da responsabilidade objetiva na imposição de
responsabilização administrativa ambiental, em razão: : i) da teoria da culpabilidade ao direito
sancionador; ii) do princípio da intranscendência das penas; e iii) da utilização de vocábulo
“transgressores” no caput do art. 14 da Lei de 8.938 (referência a responsabilidade administrativa), e não
tão somente “poluidor”, referida no §1º do art. 14, relativa a responsabilidade civil. (REsp 1251697/PR)
Essa orientação foi reafirmada em 2015 pela 1ª Turma do STJ em julgado com participação do
Desembargador Olindo Menezes (AgRg no AREsp 62.584/RJ).
40
Entretanto, nesse mesmo ano (três meses antes da decisão citada acima), a própria 1ª Turma, sem o
Desembargador Olindo, decidiu pela responsabilidade objetiva para aplicação de multa (REsp 1318051/RJ).
Não obstante, a posição hoje mais segura é no sentido da responsabilidade administrativa subjetiva,
devendo-se mencionar a posição do examinador Olindo e os precedentes do próprio STJ, bem como a
existência de julgados do própria 1ª Turma em sentido contrário.
Cinco regiões entre os grandes biomas brasileiros recebem tratamento particular em decorrência das
características de seus ecossistemas: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal Mato-
grossense e Zona Costeira.
Tão grande foi a preocupação do legislador constitucional com a manutenção desses vastos territórios, que
os considerou patrimônio nacional, estabelecendo, em consonância com a devida proteção aos direitos de
terceira geração, uma limitação ao seu uso, que só se dará na forma da lei e dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente.
A expressão patrimônio nacional não tem o sentido de propriedade federal ou do Estado, mas de riqueza
que herdamos com a obrigação de preservar e transmitir às gerações futuras, sem perda de seu adequado
aproveitamento econômico. Qualificado como bem de uso comum do povo, não integra o patrimônio
disponível do Estado, que atua como simples administrador de um patrimônio que pertence à coletividade.
No atual quadro constitucional, as terras devolutas foram mantidas como bens públicos. Pertencem à
União as indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
federais de comunicação e à preservação ambiental definidas em lei. As demais pertencem aos Estados.
Parágrafo 6º - O controle das usinas nucleares - As usinas que operam com reator nuclear deverão ter sua
localização definida em lei federal. Somente após a edição de norma que regulamente a localização de
usina nuclear o empreendimento poderá ser efetivamente instalado. Só a lei, no sentido estrito (lei
federal), poderá dispor sobre a matéria, pois a Constituição também elegeu o controle político, efetuado
pelo Congresso Nacional, como forma de gestão das atividades nucleares.
41
Ponto 4 – Repartição de competências em matéria ambiental
Competência: para José Afonso da Silva, competência são as modalidades de poder de que se revestem os
órgãos ou entidades paraestatais para o desempenho de suas funções, ou a atribuição facultada a um
órgão, entidade ou agente do Poder Público para tomar decisões. Dessa forma, a autonomia federativa está
fundamentada na existência de órgãos governamentais próprios e na posse de competência exclusivas que
a Constituição Federal reconhece à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.
4.1. Introdução
A repartição de competências é um dos temas mais controvertidos de Direito Ambiental, pelas seguintes
razões:
c) a utilização de conceitos jurídicos indeterminados como “interesse local”, “normas gerais”, pelo
legislador constituinte, assim como pela doutrina e jurisprudência (“predominância de interesses”, v.g.)
sem definição precisa de seu conteúdo;
A Constituição brasileira busca realizar o equilíbrio federativo, por meio de uma repartição de
competências que se fundamenta na técnica da enumeração dos poderes da União (arts. 21 e 22), com
poderes remanescentes para os Estados (art. 25, § 1º) e poderes definidos indicativamente para os
Municípios (art. 30). Também existem áreas comuns de atuação paralela e setores concorrentes entre
União e Estados, em que se outorga à primeira a competência para edição de normas gerais e aos últimos
as normas específicas.
42
4.2. Critérios para definição de competências
A doutrina ambiental (ROMEU THOMÉ e LEONARDO DE MEDEIROS GARCIA) lembra que há uma
bipartição da competência em: competência legislativa e competência material. A competência legislativa
se expressa no poder outorgado a cada ente federado para elaboração das leis e dos atos normativos. A
competência material cuida da atuação concreta do ente, através do exercício de poder de polícia.
Ademais, a doutrina identifica que a CF/88 adota, em matéria de repartição de competências entre os
entes políticos, tanto a técnica de repartição horizontal (separar radicalmente a competência entre os
entes federativos), como a vertical (divisão de uma mesma matéria em níveis diferentes da Federação).
c) Privilegiar a norma que atenda de forma mais efetiva ao interesse comum imposição constitucional
da tutela do meio-ambiente (sendo o verdadeiro escopo constitucional).
43
e) Teoria dos poderes implícitos Quando a Constituição outorga a determinado ente uma competência
explícita, considera-se que implicitamente ela outorgou para este ente a competência para os meios
necessários à persecução de tal fim.
f) Princípio da Subsidiariedade Utilizando outras palavras, PAULO AFONSO LEME MACHADO entende
que tal princípio reforça a competência dos entes menores, uma vez que a competência somente deve ser
transferida para um ente maior caso um ente menor não tenha capacidade de exercê-la bem.
A regra é que todos os entes políticos têm competência para legislar concorrentemente sobre o meio
ambiente, cabendo à União editar normas gerais, a serem especificadas pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios, de acordo com a amplitude do interesse, se regional ou local (art.24 da CF/88).
Em razão da inexistência de hierarquia entre as entidades que compõem a federação, o conflito entre leis
ambientais de diferentes esferas, caso não seja hipótese de aplicabilidade do princípio da especialidade,
será solucionado pela delimitação pontual do que é considerado como norma geral sobre o meio
ambiente e o que é disposição que verse sobre peculiaridades regionais ou locais.
De acordo com o STF, "o espaço de possibilidade de regramento pela legislação estadual, em casos de
competência concorrente abre-se: (1) toda vez que não haja legislação federal, quando então, mesmo
sobre princípios gerais, poderá a legislação estadual dispor [competência legislativa supletiva]; e (2)
quando, existente legislação federal que fixe os princípios gerais, caiba complementação ou suplementação
para o preenchimento de lacunas, para aquilo que não corresponda à generalidade; ou ainda, para a
definição de peculiaridades regionais [competência legislativa suplementar]". Ainda segundo o Pretório
Excelso, o meio ambiente do trabalho está fora da competência legislativa concorrente (competência
exclusiva da União).
A priori, não há que se falar em conflito quando normas estaduais, distritais ou municipais são mais
restritivas de que as normas federais, ou seja, instituam regras mais protetivas ao meio ambiente, desde
que a lei federal sobre normas gerais o permita (por exemplo, a Resolução CONAMA 02/1990, que
instituiu o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora - SILÊNCIO, prevê expressamente
em seu art. 3º que "sempre que necessário, os limites máximos de emissão poderão ter valores mais rígidos
fixados a nível estadual e municipal").
Cabe ressaltar que boa parte da doutrina, por outro lado, entende que no caso de conflito entre normas
ambientais deve prevalecer sempre a norma mais protetiva ao meio ambiente, ou seja, a prevalência das
normas mais restritivas. Tal tese é fundamentada nos princípios da precaução e do in dúbio pro natura,
bem nos arts. 24, §1º e 4º c/c art.225 da CF/88. Entretanto, observamos que tal teoria não tem
encontrado respaldo na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que, por diversas vezes, declarou a
inconstitucionalidade de normas estaduais e municipais mais protetivas em face a usurpação/ou
contrariedade com a lei federal, senão vejamos:
A Lei nº 9.055/95 dispôs extensamente sobre todos os aspectos que dizem respeito
à produção e aproveitamento industrial, transporte e comercialização do amianto
crisotila. A legislação impugnada foge e muito do que corresponde à legislação
suplementar, da qual se espera que preencha vazios ou lacunas deixado pela
legislação federal (ADI n. 2.396)
45
sentido de ter em mente o objetivo de saciar as necessidades, visto que também
é um serviço público. 3. In casu, porquanto inegável conteúdo multidisciplinar da
matéria de fundo, envolvendo questões sociais, econômicas e políticas, não é
permitido a esta Corte se furtar de sua análise para o estabelecimento do alcance
de sua decisão. São elas: (i) a relevante diminuição – progressiva e planejada – da
utilização da queima de cana-de-açúcar; (ii) a impossibilidade do manejo de
máquinas diante da existência de áreas cultiváveis acidentadas; (iii) cultivo de
cana em minifúndios; (iv) trabalhadores com baixa escolaridade; (v) e a poluição
existente independentemente da opção escolhida. 4. Em que pese a inevitável
mecanização total no cultivo da cana, é preciso reduzir ao máximo o seu aspecto
negativo. Assim, diante dos valores sopesados, editou-se uma lei estadual que
cuida da forma que entende ser devida a execução da necessidade de sua
respectiva população. Tal diploma reflete, sem dúvida alguma, uma forma de
compatibilização desejável pela sociedade, que, acrescida ao poder concedido
diretamente pela Constituição, consolida de sobremaneira seu posicionamento no
mundo jurídico estadual como um standard a ser observado e respeitado pelas
demais unidades da federação adstritas ao Estado de São Paulo. 5. Sob a
perspectiva estritamente jurídica, é interessante observar o ensinamento do
eminente doutrinador Hely Lopes Meireles, segundo o qual “se caracteriza pela
predominância e não pela exclusividade do interesse para o município, em relação
ao do Estado e da União. Isso porque não há assunto municipal que não seja
reflexamente de interesse estadual e nacional. A diferença é apenas de grau, e não
de substância." (Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores,
1996. p. 121.) 6. Função precípua do município, que é atender diretamente o
cidadão. Destarte, não é permitida uma interpretação pelo Supremo Tribunal
Federal, na qual não se reconheça o interesse do município em fazer com que sua
população goze de um meio ambiente equilibrado. 7. Entretanto, impossível
identificar interesse local que fundamente a permanência da vigência da lei
municipal, pois ambos os diplomas legislativos têm o fito de resolver a mesma
necessidade social, que é a manutenção de um meio ambiente equilibrado no que
tange especificamente a queima da cana-de-açúcar. 8. Distinção entre a proibição
contida na norma questionada e a eliminação progressiva disciplina na legislação
estadual, que gera efeitos totalmente diversos e, caso se opte pela sua
constitucionalidade, acarretará esvaziamento do comando normativo de quem é
competente para regular o assunto, levando ao completo descumprimento do
dever deste Supremo Tribunal Federal de guardar a imperatividade da
Constituição. 9. Recurso extraordinário conhecido e provido para declarar a
inconstitucionalidade da Lei Municipal nº 1.952, de 20 de dezembro de 1995, do
Município de Paulínia”. (RE 586224 / SP)
4.3.1. União
A União possui competências legislativas privativa (art.21 da CF) e concorrente (art.24 da CF) para legislar
sobre o meio ambiente. No caso de competência legislativa privativa da União, a matéria, em princípio,
deve ser tratada com exclusividade, com base no critério da predominância de interesses – o próprio
legislador constituinte já elencou matérias que considerou de interesse predominantemente nacional. Nos
termos do art. 22 da CF/88:
Ressalta-se ainda que o fato de a competência legislativa ser privativa da União não significa que, em
princípio, somente a ela caiba a fiscalização. Estados e Municípios podem e devem zelar pela proteção do
meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas (competência material comum).
Entretanto, conforme o parágrafo único do art.22 da CF, existe a possibilidade de delegação específica
para Estados legislarem sobre questões pontuais. Neste ponto, convém ressaltar que a delegação deve
ocorrer por meio de lei complementar e de forma específica, uma vez que a delegação genérica por parte
da União significaria negar o caráter privativo de sua competência constitucional, fato, por óbvio, não
admitido pelo ordenamento. Ademais, ALEXANDRE DE MORAES aponta como requisito implícito para a
delegação do parágrafo único do art.22 da CF – impossibilidade de delegação a uns Estados em detrimento
de outros, em virtude da proibição do estabelecimento de preferências.
Compete, ainda, à União, no âmbito das ATRIBUIÇÕES CONCORRENTES, estabelecer normas gerais sobre
as matérias discriminadas no art. 24 da CF/88:
Um exemplo de norma geral da União em matéria ambiental é o Código Florestal, que dispõe, entre
outras coisas, sobre a proteção da vegetação nativa. Nada impede que os Estados instituam também seus
Códigos Florestais, desde que não disponham de forma contrária ao Código Nacional.
Observe-se, contudo, que “normal geral” não é o mesmo que norma genérica. Segundo a melhor doutrina,
geral é o interesse abarcado pela norma e não a regulamentação em si, podendo a lei geral tratar uma
questão de forma pormenorizada. Por exemplo: APP com largura mínima de 30m para faixas marginais ao
longo das bordas de cursos d’água com menos de 10m de largura (art. 4º, I, “a”, do Código Florestal). É
norma geral, apesar de detalhista. Assim, a antítese da normal geral é a norma particular, que adentra a
peculiaridade de determinado Estado ou Município, sendo, dessa forma, inconstitucional.
4.3.2. Estados e DF
47
As normas gerais da União limitam-se a estabelecer preceitos gerais. Não podem, em tese, especificar
situações que, por sua natureza, são campo reservado aos Estados-membros, perpassando o escopo de
coordenação e uniformização.
É concorrente, por exemplo, a competência para legislar sobre florestas. O Código Florestal passou a ser
considerado norma geral depois da vigência da CF/88. Seus dispositivos, a partir de então, foram elevados
à condição de princípios gerais obrigatórios, podendo os Estados legislar sobre florestas até onde não
exista confronto com as regras genéricas.
Além disso, a atuação concorrente dos Estados e DF poderá ocorrer de forma supletiva, é dizer, exercer
competência plena para edição de normas gerais e específicas sobre os assuntos previstos no art. 24 da
CF, diante da inércia da União, conforme autoriza o §3º deste artigo. No caso de superveniência de lei
federal, será suspensa a eficácia da lei estadual ou distrital no ponto que for contrária à lei federal.
Aos Estados também é reservada a competência legislativa remanescente (art. 25, §1º da CF). Com isso,
os Estados podem legislar sobre matérias que não estejam implícita ou explicitamente vedadas. A
atribuição da competência remanescente aos Estados evita lacunas no sistema constitucional de repartição
de competências.
4.3.3. Municípios
A base constitucional para a elaboração da lei municipal encontra-se no art. 30, I e II, da Carta Magna.
Embora o inciso I não seja específico para o meio ambiente, a matéria encontra-se nele incluída, conforme
se observa na expressão “assuntos de interesse local”. Igualmente, pode-se verificar, a partir do inciso II, a
possibilidade de o Município suplementar, no que couber, a legislação federal e estadual (v.STF, RE
673.681/SP, Rel. Ministro Celso de Mello (16.12.2014).
Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II -
suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; IX - promover a
proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação
fiscalizadora federal e estadual.
Tal competência está disciplinada no § 2º do art. 6º da Lei nº 6.938/81, que subordina a legislação
municipal sobre o meio ambiente aos preceitos contidos nas leis estaduais existentes.
Inconstitucionalidade de Lei Municipal, que proibia o uso do fogo, prejudicando toda uma classe de
trabalhadores canavieiros, em face da Lei Estadual que previa a diminuição gradual da queima da cana
de açúcar:
Nota: No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores
canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva
mecanização, ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de
fogo. Entendeu-se que a proibição da queima da cana não pode ser imediata, abrupta, mas sim gradual,
progressiva, sob pena de gerar um desemprego em massa no setor.
Competência material é a competência administrativa propriamente dita, que atribui a uma esfera de
poder o direito de fiscalizar e impor sanções em caso de descumprimento da lei, intrinsecamente
correlacionada com o poder de polícia estatal.
49
contra poluição etc., ficando agora ao critério das prefeituras executar também normas federais ou
estaduais, quando necessário”.
O art. 23 da CF/88 estabeleceu a competência material comum da União, Estados e Municípios na seara
ambiental, nos seguintes termos:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico,
artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios
arqueológicos; IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras
de arte e de outros bens de valor histórico, artístico e cultural; VI – proteger o meio
ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII – preservar as
florestas, a fauna e a flora; IX – promover programas de construção de moradias e a
melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; XI – registrar,
acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de
recursos hídricos e minerais em seus territórios. Parágrafo único. Lei complementar
fixará normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em
âmbito nacional.
No que tange a competência comum, não importa o ente político que tenha o domínio do bem ou que
legislou sobre o assunto, todos os entes devem atuar na proteção ao meio ambiente, de forma ampla.
Vejamos:
50
PAULO AFFONSO LEME MACHADO defende a aplicação do princípio da subsidiariedade, salientando que
nada deverá ser exercido por um poder de nível superior, se puder ser cumprido pelo inferior. Ou seja, o
Município prefere ao Estado e à União. No entanto, tal princípio não afasta a possibilidade de atuação
supletiva ou concorrente da entidade federal. Nesse sentido, os precedentes do TRF1:
A União possui competências exclusivas e comuns no que tange à matéria ambiental. Nos termos do art.21
da CF/88:
Os recursos minerais são de propriedade da União, e não do proprietário do solo, cabendo, portanto, ao
Poder Público Federal autorizar sua exploração. Da mesma forma, a pesquisa e a lavra das jazidas de
petróleo dependem de autorização do ente federal (art.176 e 177) – razão pela qual não é devida
51
indenização no caso de existir jazida mineral em bem imóvel a ser desapropriado, salvo se autorizada a
pesquisa, lavra ou exploração.
Acerca das atividades nucleares, pela importância e gravidade da matéria, considerando os riscos
decorrentes de uma administração deficitária e a responsabilidade do Brasil, não apenas ante seus
cidadãos, mas também perante a comunidade internacional, a União exerce o monopólio da sua
exploração.
Deixando aos Estados a matéria remanescente, a CF tornou de menor interesse a competência material
privativa de tais unidades da Federação. Nos termos do art. 25, § 2º, da CF/88:
Art. 25. § 1º. São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam
vedadas por esta Constituição. (...) § 2º. Cabe aos Estados explorar diretamente, ou
mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a
edição de medida provisória para a sua regulamentação.
Cumpre observar, porém, que os Estados têm competência material para agir administrativamente,
mesmo nos casos em que a legislação tenha sido editada pela União ou por Municípios.
Por oportuno, já cabe ressaltar que segundo a Orientação Jurídica Normativa (OJN) nº 33/2012, da
Procuradoria Federal do IBAMA, a Lei Complementar 140/2011 acolheu, em regra, a LOCALIZAÇÃO como
critério para definição do órgão competente. Com isso, se os impactos ambientais de um
empreendimento ultrapassarem os limites estaduais, mas o empreendimento estiver localizado
integralmente em um único Estado, seu licenciamento ambiental será de competência do órgão estadual e
não do IBAMA, como acontecia anteriormente – a LC tenta “desfederalizar o licenciamento ambiental. Ao
lado do critério geográfico, em relação à União, temos ainda o critério da atividade (para a atividade militar
e com energia nuclear) e uma via aberta, que é a definição por ato do Poder Executivo Federal segundo
proposta do Conselho Tripartite.
52
4.4.1. ESTRUTURA DA LC 140/2011
DISPOSIÇÕES GERAIS
a) Fundamentos da LC 140 (art. 1º): - proteger o meio ambiente; - proteger paisagens naturais notáveis; -
combater a poluição; - preservar fauna e flora.
ATUAÇÃO SUPLETIVA: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente
detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar;
ATUAÇÃO SUBSIDIÁRIA: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições
decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor
das atribuições definidas nesta Lei Complementar.
Os entes federativos podem valer-se, entre outros, dos seguintes instrumentos de cooperação
institucional:
II - Convênios, acordos de cooperação técnica e outros instrumentos similares com órgãos e entidades do
Poder Público, respeitado o art. 241 da Constituição Federal;
• convênios podem ser firmados por tempo indeterminado, sendo exceção, portanto, à regra
máxima de 60 meses estabelecida pela Lei 8.666/93;
III - Comissão Tripartite Nacional, Comissões Tripartites Estaduais e Comissão Bipartite do Distrito Federal;
• a Comissão Tripartite Nacional e as Estaduais são formadas, paritariamente, por representantes das
três esferas de poder; a do DF é Bipartite, já que este ente não se divide em Municípios
53
• Fundo Nacional do Meio Ambiente (objeto de arguição no último concurso)
O Fundo Nacional do Meio Ambiente criado há 25 anos, é o mais antigo fundo ambiental da América Latina.
O FNMA é uma unidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), criado pela lei nº 7.797/ 1989, com a
missão de contribuir, como agente financiador, por meio da participação social, para a implementação da
Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA.
Seu objetivo é desenvolver projetos que visem ao uso racional e sustentável dos recursos naturais,
incluindo a manutenção, a melhoria ou a recuperação da qualidade ambiental, no sentido de elevar a
qualidade de vida do povo brasileiro.
Serão consideradas prioritárias as aplicações de recursos financeiros aos projetos das seguintes áreas:
Unidade de Conservação, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico, Educação Ambiental, Manejo e
Extensão Florestal, Desenvolvimento Institucional, Controle Ambiental e Aproveitamento Econômico
Racional e Sustentável da Flora e Fauna Nativa.
Será dada prioridade aos projetos que tenham sua área de atuação na Amazônia Legal ou no Pantanal
Mato-Grossense.
V - delegação de atribuições de um ente federativo a outro, respeitados os requisitos previstos nesta Lei
Complementar;
Obs.: só poderá haver delegação se o ente delegatário dispor de órgão ambiental capacitado e conselho de
meio ambiente. Considera-se capacitado o órgão que possui técnicos em quantidade compatível com a
demanda.
Nesse capítulo são descritas as diversas ações administrativas (competências) pertencentes aos diversos
entes da Federação, tratando o art. 7º das atribuições da União, o 8º das do Estado e o 9º das dos
Municípios.
54
licenciamento é de competência desse ente (o art. 12 da LC nomeia expressamente esse critério, dizendo
não se aplicar às APAs).
Para o licenciamento estadual há dois critérios: o residual, que deve ser orientado pela regra geral da lei,
qual seja, o da localização geográfica do empreendimento ou atividade, e o do ente instituidor da unidade
de conservação – se instituída pelo Estado, é desse ente o licenciamento na área (que não se aplica às
APAs).
Na prática, a competência dos Estados, seguindo a lógica constitucional, é residual, cabendo a ele o que
não for de competência da União ou dos Municípios.
Também se insere na competência dos Estados, aprovar o manejo e a supressão de vegetação, de floresta
e de formações sucessoras em: florestas públicas estaduais ou Unidades de Conservação do Estado, exceto
APA’s; imóveis rurais excetuados os casos conferidos à União; atividades ou empreendimentos licenciados
ou autorizados, ambientalmente, pelos Estados.
Basicamente, a competência é a mesma da União e dos Estados, só que em âmbito municipal, incluindo-se
a formulação, execução e imposição da Política Municipal do Meio Ambiente.
Para o licenciamento municipal há dois critérios: permanece o do impacto ambiental local e o do ente
instituidor das unidades de conservação (que não se aplica às APAs);
57
Além disso, cabe aos Municípios autorizar o manejo e da supressão de vegetação, de floresta e de
formações sucessoras em: florestas públicas municipais e Unidades de Conservação instituídas pelo
Município, salvo APA’S; empreendimentos licenciados ou autorizados, ambientalmente, pelo Município.
Por óbvio, o legislador complementar tentou contemplar as diversas realidades municipais. TALDEN
FARIAS, entretanto, alerta que, na prática, a grande parte da competência municipal para ações ambientais
foram “jogadas” para os Governos Estaduais, que poderão centralizar ou descentralizar um maior número
de atribuições, a depender da vontade política do grupo no poder, podendo gerar insegurança jurídica.
Com isso, sustentam que a referida Lei Complementar desrespeitou o pacto federativo, ao colocar em
cheque a autonomia administrativa dos municípios, no que tange ao meio ambiente.
Obs.: A lei complementar somente se aplica à processos de licenciamento e autorização ambiental que
foram iniciados a partir de sua vigência (08 de dezembro de 2011). Foi alterada a redação do art. 10 da Lei
6.938/81, excluindo-se a previsão da atuação supletiva do IBAMA.
Obs.2: Referida Lei modifica também o entendimento que vinha sendo adotado acerca da imposição de
multas.
Pelo art. 70, §§1º e 3º, da Lei 9.605/98, todos os entes federados seriam competentes para lavrar autos de
infração em matéria ambiental.
Para evitar a duplicidade de punição pelo mesmo fato (já que todos eram considerados competentes para
lavrar o auto) e eventual conflito de atribuições entre os entes, existiam alguns dispositivos que
estabeleciam regras definidoras de competência, entre os quais o art. 14, I e § 2º da Lei 6.938/81 e art. 76
da Lei 9.605/98. Este último artigo reza que o pagamento da multa imposta pelos Estados, Municípios ou
DF substitui a multa federal. Agora não é mais assim: prevalece, em caso de dupla lavratura de auto de
infração, a multa do órgão ambiental competente para o licenciamento.
Apenas o competente tem a atribuição de lavrar o auto, mas todos podem fiscalizar. Entretanto, havendo
perigo iminente ou atual ao meio ambiente os demais entes federados estão autorizados a agir
cautelarmente e/ou existindo omissão e inércia do ente originalmente atribuído da competência para
licenciar, fica o ente diverso autorizado a agir com base no poder de polícia, fiscalizando o particular e
tomando medidas cabíveis (a lei não estabelece que medidas seriam essas).
Contudo, existe uma questão que tem intrigado quem se debruça sobre a LC 140. O caput do art. 17 diz
que só o ente competente pode lavrar auto de infração (para aplicação de multa, por exemplo). Porém, o
§3° do mesmo artigo afirma que todos os entes podem fiscalizar e, em caso de dupla multa, prevalecerá o
auto de infração lavrado pelo órgão que detenha a atribuição de licenciar. Quer dizer, ao disciplinar que
todos podem fiscalizar e que prevalecerá o auto do ente competente, está admitindo a possibilidade de
dupla lavratura de auto.
Obs. 3: A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (ASIBAMA)
ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4757) contra a
58
Lei Complementar 140/2011. De acordo com a ASIBAMA, o Meio Ambiente ficou menos protegido com o
estabelecimento de competências ambientais privativas para estados, DF e municípios, uma vez que a
maioria deles não está preparada para tais ações, e a União estaria impedida de agir, pois teria perdido
essas atribuições com a promulgação da lei. A associação afirma que a aprovação da LC 140/2011
desrespeitou os artigos 65 e 255 da Constituição Federal. Na ação, a ASIBAMA pede liminar para suspender
os efeitos da lei e, no mérito, pede que a norma seja declarada inconstitucional. Alternativamente, pede a
suspensão, até o julgamento definitivo da ação, dos seguintes dispositivos: artigo 4º, incisos V e VI; artigo
7°, inciso XIV, alínea "h" e parágrafo único; artigo 8°, incisos XIII e XIV; artigo 9°, incisos XIII e XIV; artigo
14, parágrafos 3° e 4°; artigo 15; artigo 17, caput e parágrafos 2° e 3°, incisos XIII e XIV; além dos artigos 20
e 21 da Lei Complementar 140/2011. A liminar ainda não foi apreciada.
59
Ponto 5 - Zoneamento Ambiental. Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza.
Cumpre ressaltar que, nos termos do art. 13, § 2o., da Lei 12.651/12 (Novo Código Florestal), “os
Estados que não possuem seus Zoneamentos Ecológico-Econômicos (ZEEs) segundo a metodologia
unificada, estabelecida em norma federal, terão o prazo de 5 (cinco) anos, a partir da data da publicação
desta Lei, para a sua elaboração e aprovação”.
Vale destacar que, se o zoneamento vedar a instalação de determinada atividade, por ser de
caráter vinculante, fica vedada a concessão de licença ambiental.
Apesar de inexistir previsão específica para os municípios, a CRFB, art. 30, VIII, afirma competir
a eles o adequado ordenamento territorial. Para a doutrina, essa previsão contém a competência para o
zoneamento.
Questão complexa é saber se a aprovação do zoneamento ambiental será feita por lei ou
mediante decreto. Muito embora inexista previsão constitucional ou legal para a instituição do ZEE por lei
60
em sentido estrito, consta do Decreto n. 4.297/2002 a exigência de processo legislativo de iniciativa do
poder executivo para a alteração do zoneamento (art. 19, §1º). Desta forma, no entendimento de
Frederico Amado, é possível concluir que a exigência de lei em sentido estrito para a aprovação do ZEE
pressupõe, ainda que implicitamente, a sua aprovação por lei, de acordo com o princípio da simetria.
Calha lembrar que, no âmbito dos municípios, o zoneamento ambiental é um dos instrumentos para a
execução da Política Urbana (artigo 4.º, III, “c”, da Lei 10.257/2001), devendo ser considerado na
elaboração do Plano Diretor.
Salienta-se que a alteração só pode ser feita após 10 anos da conclusão ou última alteração, a
menos que seja para aumentar a proteção ou decorrente aprimoramento científico e depende de
consulta pública e aprovação da comissão (art. 19 do Decreto n. 4.297/2002).
Entre os diplomas legais editados pela União com finalidade de estabelecimento de zoneamento
ambiental, podemos destacar a Lei n. 6.803 (zoneamento industrial), Lei n º 4504 (Estatuto da Terra, que
estabelece zoneamento agrícola), Lei nº 7661 (Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro) e o Decreto n.
6961 (zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar).
O conceito legal de Unidade de Conservação consta do art. 2º, I, da Lei do SNUC: “espaço
territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos,
sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
O conceito pode incluir na área de UC o subsolo e o espaço aéreo, sempre que influírem na
estabilidade do ecossistema (art. 24 da Lei 9.985/00). Paulo Bessa entende ser norma de
constitucionalidade duvidosa, uma vez que o subsolo é bem da união, cuja propriedade depende da do
solo.
Quanto ao subsolo, os limites serão definidos no ato de criação, para as UC de proteção integral,
quanto as de uso sustentável, poderá ser ou no ato de criação ou no Plano de Manejo.
A Lei traz definições importantes, que merecem ser conferidas (art. 2º – ex.: conservação,
conservação in situ, preservação, diversidade biológica, proteção integral, uso direto, uso indireto e uso
sustentável, extrativismo, manejo, recuperação, restauração).
I) Unidades de Proteção Integral (UPI): têm por objetivo básico a preservação da natureza, sendo
admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na própria
lei. São elas:
61
a. Estação Ecológica
b. Reserva Biológica
c. Parque Nacional
d. Monumento Natural
e. Refúgio da Vida Silvestre
II) Unidades de Uso Sustentável (UUS): destinam-se à compatibilização entre a conservação da
natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Admite o uso direto e indireto, de
consumo e coleta.
a. Área de proteção ambiental
b. Área de relevante interesse ecológico
c. Floresta nacional
d. Reserva extrativista
e. Reserva de fauna
f. Reserva de desenvolvimento sustentável
g. Reserva particular do patrimônio natural
Excepcionalmente, para atender peculiaridades regionais ou locais, a critério do CONAMA,
podem integrar o SNUC, UC estaduais e Municipais, que possuam objetivos de manejo que não possam ser
satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria prevista na Lei do SNUC e cujas características
permitam, em relação a estas, uma clara distinção. Para Vladimir Passos de Freitas as UCs elencadas na Lei
9.985/00 são meramente exemplificativas.
63
A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade
e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em
regulamento.
QUADRO RESUMO COMPARATIVO:
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PROTEÇÃO INTEGRAL
Proibida a Pesquisa
Preservar a Áreas visitação científica
natureza e Posse e particulares pública, depende de
ESTAÇÃO ECOLÓGICA Conselho
realizar domínio serão exceto autorização
(ART. 9º) Consultivo.
pesquisas público. desapropriad quando com prévia do
científicas. as. objetivo órgão
educacional. responsável.
Preservar Proibida a
Pesquisa
integralmente Áreas visitação
Posse e depende de
a biota e particulares pública,
RESERVA BIOLÓGICA domínio autorização Conselho
demais serão exceto
(ART. 10) público prévia do Consultivo.
atributos desapropriad quando com
s. órgão
naturais as. objetivo
responsável.
existentes. educacional.
Preservar
Visitação está Pesquisa
Ecossistemas Áreas
Posse e sujeita a depende de
naturais de particulares
PARQUE NACIONAL domínio normas e autorização Conselho
grande serão
(ART. 11) público restrições do prévia do Consultivo.
relevância desapropriad
s. Plano de órgão
ecológica e as.
Manejo. responsável.
beleza cênica.
Pode ser
constituído
por áreas
particulares,
desde que
haja
Visitação está
Preservar compatibilid Pesquisa
sujeita a
sítios naturais ade entre os depende de
MONUMENTO normas e
raros, objetivos da autorização Conselho
NATURAL (ART. 12) xxxxxxx restrições do
singulares ou unidade com prévia do Consultivo.
Plano de
de grande a utilização órgão
Manejo
beleza cênica. pelo responsável
(art. 32, §2º).
proprietário.
Caso
contrário,
haverá
desapropriaç
ão.
Proteger Pode ser Visitação está Pesquisa
ambientes constituído sujeita a depende de
REFÚGIO DA VIDA xxxxxxx Conselho
naturais para a por áreas normas e autorização
SILVESTRE (ART. 13) x Consultivo.
existência ou particulares, restrições do prévia do
reprodução de desde que Plano de órgão
64
espécies ou haja Manejo. responsável.
comunidades compatibilid
de flora local e ade entre os
da fauna objetivos da
residente ou unidade com
migratória. a utilização
pelo
proprietário.
Caso
contrário,
haverá
desapropriaç
ão.
66
participar da preservação, recuperação, defesa e manutenção da UC. O uso dos recursos naturais deve
obedecer, além das normas do plano de manejo e contrato:
Proibição de uso de espécies localmente ameaçadas de extinção ou de práticas que danifiquem seus
habitats
Proibição de práticas ou atividades que impeçam a regeneração natural dos ecossistemas
A UC será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e
constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações
tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade.
As atividades desenvolvidas obedecerão às seguintes condições:
É permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo
com o disposto no Plano de Manejo da área;
É permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à melhor relação das
populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se a prévia autorização do órgão
de administração, a condições e restrições, deles, e ao regulamento.
Deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e
É admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e
a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às
limitações legais e ao Plano de Manejo da área.
O Plano de Manejo definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e
corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo.
VII) Reserva Particular do Patrimônio Natural (art. 21)
A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o
objetivo de conservar a diversidade biológica. Este gravame constará de termo de compromisso assinado
perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da
inscrição no Registro Público de Imóveis.
Só poderá ser permitida, conforme regulamento:
a pesquisa científica;
a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.
Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica
ao proprietário de Reserva para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da
unidade.
São vantagens: isenção de ITR (art. 104, p.u., Lei 8.171/91), preferência na concessão de recursos do
Fundo Nacional de Meio Ambiente e crédito agrícola, nas instituições de crédito oficiais (Decreto n./
1.922/96, arts. 12 e 13).
Obs.: A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos recursos
de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural. Art. 9º-B, Lei 6.938, redação pelo Novo
CFlo, Lei 12.615/12
→ Normas gerais
Criadas por ato do Poder Público. Para Paulo Bessa Antunes, é por decreto, enquanto Vladimir Passos de
Freitas, apenas por lei, decreto ou resolução. Frederico Amado entende que a criação ocorre por lei ou
decreto.
A depender da modalidade podem ser compostas de área pública ou particular, neste último caso, será
necessária sua desapropriação, por utilidade pública. A Lei do SNUC, art. 45 exclui da indenização as
espécies arbóreas declaradas imunes ao corte, os lucros cessantes, juros compostos e áreas sem prova
inequívoca do domínio anterior.
A criação precedida de estudos técnicos e consulta pública. A consulta pública, concretização do princípio
democrático, visa subsidiar a definição da localização, da dimensão e dos limites mais adequados (art. 5º,
67
Dec. 4.340/02). O STF (MS 24.184/2003) já decidiu que ela não pode ser dispensada, sob pena de
invalidade do ato de criação, apesar de não ser vinculativa. Frise-se que a consulta pública é dispensada
para estações ecológicas e reservas biológicas, uma vez que o interesse público é presumido. A mera
ampliação dos limites territoriais, sem redução em outras áreas, depende dos requisitos da criação. No
MS 25.347/2010, o STF entendeu não haver ilegalidade na criação de mais de um tipo de UC pelo mesmo
procedimento administrativo.
É possível a transformação de UC de uso sustentável em UC de proteção integral, total ou parcialmente,
por meio de instrumento normativo de mesmo grau hierárquico que o da criação, obedecendo os
procedimentos de prévio estudo técnico e consulta pública. A transformação de UC de proteção integral
para UC de uso sustentável, por sua vez, depende de lei.
A desafetação ou redução dos limites de uma UC apenas pode se dar por meio de lei específica (exceção
ao princípio do paralelismo das formas), já que o art. 225, §1º, III, CRFB, afirma que alteração e supressão
somente podem ser feitas por lei.
Durante os estudos técnicos, podem ser instituídas limitações administrativas provisórias ao exercício de
atividades e empreendimentos efetiva ou potencialmente causadores de degradação ambiental, pelo
prazo improrrogável de sete meses. Essas limitações visam a proteção cautelar da área, quando houver
risco de dano grave aos recursos ali existentes, a critério do órgão competente, nelas, não serão permitidas
atividades que importem em exploração a corte raso da floresta e demais vegetações nativas. Ficam
ressalvadas as atividades agropecuárias e outras atividades econômicas em andamento, bem como
obras públicas licenciadas (art. 22-A, Lei 9.985/2000)
A partir da criação da UC, as licenças ambientais anteriormente outorgadas tornam-se imediatamente
inválidas, pela incompatibilidade de regimes jurídicos, conforme o STJ (RESP 1.122.909-SC/2009).
→ Zonas de amortecimento
Zona de amortecimento é o entorno de uma UC, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e
restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a UC (art. 2º, XVIII, Lei do
SNUC). Todas as UC devem possuir uma zona de amortecimento, salvo as Áreas de proteção ambiental e
as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (art. 25, caput).
Pela inexistência de definição dos limites em lei, eles podem ser definidos no ato de criação da UC ou
posteriormente, devendo ser ouvidos os proprietários e possuidores das áreas.
Cabe ao órgão de administração da UC estabelecer normas específicas regulamentando a ocupação e o uso
dos recursos da zona. Se o regime for incompatível com o uso anterior da propriedade, o Poder Público
deve indenizar o proprietário, ou, em último caso, deve desapropriar
Se um empreendimento afetar a zona de amortecimento, seu licenciamento só poderá ser concedido
mediante autorização do órgão responsável administração da UC, e a UC correspondente deve ser
beneficiada pela compensação. Se a UC não tiver zona de amortecimento, depende de autorização as
atividades num raio de até 3km do limite da UC, salvo as áreas urbanas consolidadas. Regramento válido
até 2015.
A zona de uma UC de proteção integral, uma vez definida formalmente não pode ser transformada em
zona urbana.
→ Corredor ecológico
São porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que
possibilitam entre elas o fluxo de fenes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a
recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para a sua
sobrevivência áreas com extensão maior do que aquelas da UC individual (Art. 2º, XIX Lei do SNUC). São
instituídos pelo Ministério do Meio Ambiente (art. 11, Dec. 4.340/02), terão mesmo tratamento de uma
zona de amortecimento, a menos que integrem mosaico.
→ Mosaico de UCs
Conjunto de Unidades de Conservação de categorias diferentes ou não, próximas, justapostas ou
sobrepostas e outras áreas protegidas, públicas ou privadas. Os corredores integram o mosaico. Esse
mosaico exige gestão integrada e participativa, feita por um conselho de mosaico, que considerará os
distintos objetivos de conservação, para compatibilizar a presença da biodiversidade, valorização da
68
sociodiversidade e o desenvolvimento sustentável no contexto regional. É reconhecido em ato do
Ministério do Meio Ambiente, a pedido de órgãos gestores das UC.
→ Plano de manejo – art. 27
É documento técnico mediante o qual se estabelece seu zoneamento e as normas que devem presidir o
uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à
gestão da UC. É vinculante.
Obs.: zoneamento é a definição de setores ou zonas em uma unidade de conservação com objetivos de
manejo e normas específicos, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que todos os
objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz.
O plano, que deve ser elaborado em 5 anos da criação da UC, deve abranger a área da UC, sua zona de
amortecimento e os corredores ecológicos, devendo incluir medidas com o fim de promover sua
integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
É garantida a ampla participação da população residente na atualização e implementação em Reservas
Extrativistas, Reservas de Desenvolvimento Sustentável, Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber,
das Florestas Nacionais e Áreas de Relevante Interesse Ecológico.
Nas Áreas de Proteção Ambiental e nas zonas de amortecimento das demais UC, ele poderá dispor sobre
as atividades de liberação planejada e cultivo de organismos geneticamente modificados, observada as
informações técnicas da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) sobre:
o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres;
as características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente modificado;
o isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus ancestrais diretos e
parentes silvestres; e
situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade.”
UC de proteção integral: até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras
desenvolvidas devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade
objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais as condições e os meios necessários para a
satisfação de suas necessidades materiais, sociais e culturais.
→ Atividades Proibidas – arts. 28 e 31
São proibidas:
Quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os objetivos da UC, ao
Plano de Manejo e seus regulamentos.
Introdução de espécies não autóctones – não originadas do local em que vivem, salvo:
Área de Proteção Ambiental, Floresta Nacional, Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento
Necessário
Animais e plantas necessários à administração e às atividades das demais UC, conforme o plano de manejo
Nos Refúgios da Vida Silvestre e Monumentos Naturais podem ser criados animais domésticos e cultivadas
plantas compatíveis com as finalidades da unidade, conforme o plano de manejo.
→ Espécies não autóctones
São espécies não originárias da unidade de conservação. Em regra, não será permitida a sua introdução
em UC, salvo, na presença de plano de manejo, em:
• APA – Área de Proteção Ambiental
• FLONA – Floresta Nacional
• RESEX – Reserva Extrativista
• RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável
→ Doações
Os órgãos responsáveis pela administração das UC podem receber doações e recursos nacionais ou
internacionais. A administração desses recursos caberá ao órgão gestor da unidade. Sua utilização deve se
dar exclusivamente na implantação, gestão e manutenção da UC
→ Conselho Consultivo – art. 29
Obrigatório nas Unidades de Conservação de Proteção Integral. É presidido pelo órgão responsável pela
administração da UC e constituído por representantes de órgãos públicos, organizações da sociedade civil,
69
proprietários de terras em UC de Refúgio da Vida Silvestre ou Monumento Natural, quando for o caso, e
das populações tradicionais, enquanto ainda não remanejadas, nas UC que não as permitem.
Têm Conselho Deliberativo:
Reserva Extrativista
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Reserva de Biosfera (tratada a frente)
→ Gestão compartilhada com OSCIP – art. 30
Podem ser geridas por organizações da sociedade civil de interesse público com objetivos afins aos da
unidade, mediante instrumento a ser firmado com o órgão responsável por sua gestão. Frederico Amado
entende que a referida possibilidade é inconstitucional, pois importa em delegação do poder de polícia,
que é atividade estatal indelegável.
→ Taxa de Visitação – art. 35
Pode ser cobrada quando se tratar de unidade de conservação de proteção integral, seus recursos devem
ser aplicados nas áreas. Não foram definidos pressupostos básicos da cobrança.
→ Compensação por significativo impacto ambiental negativo – art. 36
Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimento de significativo impacto ambiental, conforme
o órgão ambiental competente, fundamentado em EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a
implantação e manutenção da unidade de conservação de proteção integral.
O montante de recursos destinados a essa finalidade, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental
licenciados, conforme o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. É realização do
princípio do usuário-pagador.
STF ADI 3.378/2008: declarou inconstitucional a expressão que previa que o montante “não pode ser
inferior a 0,5% dos custos totais de implantação do empreendimento”. Entendeu que o valor da
compensação deve ser fixado proporcionalmente o impacto ambiental após estudo que assegurasse
contraditório e ampla defesa, que prescinde de fixação percentual sobre os custos do empreendimento.
Em retrocesso, por ser prejudicial às UC, o Dec. 6.848/2009, que alterou o Dec. 4.340/02 estabeleceu
regras para o cálculo do valor, limitando a 0,5% dos custos totais.
O órgão licenciador definirá as UC beneficiadas, considerando o EIA/RIMA, ouvindo o empreendedor. Pode,
até mesmo, ser criada nova UC. Se o empreendimento afetar UC específica ou sua zona de amortecimento,
o licenciamento dependerá de autorização do órgão responsável por sua administração, devendo a UC ser
beneficiada, mesmo que não seja de proteção integral.
No RESP 896.863/2011, o STJ afirmou que, se o dano ambiental já tiver sido alvo de compensação
ambiental, não deve gerar a responsabilidade civil posterior do empreendedor, sob pena de bis in idem.
Apenas no caso de dano ambiental não previsto no EIA/RIMA é que será possível a posterior
responsabilização.
Destaque-se, por fim, que o Novo Código Florestal proporciona aos proprietários localizados nas zonas de
amortecimento de UC de proteção integral a possibilidade de receber apoio técnico-financeiro
decorrentes da compensação ambiental, com a finalidade de recuperação e manutenção das áreas
prioritárias para a gestão da unidade.
→ Populações tradicionais
Em que pese a lei 9.985/2000 não ter definido o termo, a ideia de populações tradicionais está
essencialmente ligada à preservação de valores, de tradições, de cultura. O decreto 6.040/2007, art. 3º, I,
que aprovou a política nacional de desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais
define como:
Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem recursos naturais
como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.
São considerados como tal os povos indígenas, quilombolas, seringueiros, pescadores artesanais,
extrativistas, caiçaras, entre outros.
É possível sua manutenção nas:
Áreas de proteção ambiental
70
Áreas de relevante interesse ecológico
Florestas nacionais
Reservas extrativistas
Reservas de desenvolvimento sustentável
Desde que observem o regime jurídico de utilização dos recursos de cada modalidade.
Nas UC que não podem mantê-los, por manifesta incompatibilidade, as populações serão indenizadas ou
compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo poder público em local e
condições acordados entre as partes, devendo o poder público priorizar o seu reassentamento. Até que
isso ocorra, serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a sua presença.
→ Competência para o licenciamento ambiental em UC.
Nos termos da LC 140/2011, salvo no que concerne às áreas de proteção ambiental (APA), a competência
observará o critério do ente federativo instituidor do referido espaço com regime especial de proteção.
Logo, as UC da União serão licenciadas pelo IBAMA
→ Outras disposições
A exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos
recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de
conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá
de prévia autorização e sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento”.
→Res
ervas
da Biosfera – Art. 41
Inobstante tratadas pela lei do SNUC, não são UC. É um modelo adotado internacionalmente de gestão
integrada, participativa e sustentável de recursos naturais. Têm objetivos básicos de:
preservação da diversidade biológica
desenvolvimento de atividades de pesquisa
monitoramento ambiental
educação ambiental
desenvolvimento sustentável
melhoria na qualidade de vida das populações
É constituída por áreas de domínio público ou privado, podendo conter:
uma ou várias áreas-núcleo, destinadas à proteção integral da natureza;
uma ou várias zonas de amortecimento, onde só são admitidas atividades que não resultem em dano para
as áreas-núcleo; e
uma ou várias zonas de transição, sem limites rígidos, onde o processo de ocupação e o manejo dos
recursos naturais são planejados e conduzidos de modo participativo e em bases sustentáveis.
Elas podem ser integradas por UC já criadas pelo Poder Público, respeitadas as normas legais de cada
categoria.
71
São geridas por Conselho Deliberativo, que será formado por representantes de instituições públicas,
organizações da sociedade civil e população residente.
O objetivo do Programa MAB (O Homem e a Biosfera), estabelecido pela UNESCO em 1974, foi criar uma
rede de Reservas da Biosfera para assegurar a conservação de áreas representativas dos principais
ecossistemas mundiais. A UNESCO já reconheceu as seguintes reservas da biosfera, no Brasil: Mata
Atlântica, Cerrado, Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, Pantanal Mato-Grossense, Caatinga, Amazônia
Central e Serra do Espinhaço.
DECISÃO: SINDETUR - SINDICATO DAS EMPRESAS DE TURISMO DE FOZ DO IGUAÇU-PR impetrou mandado
de segurança coletivo contra ato do JUIZ FEDERAL DA 2ª VARA FEDERAL E JEF CÍVEL DE FOZ DO IGUAÇU -
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO PARANÁ - RONY FERREIRA – (...) Ação Civil Pública nº
50008723820114047002 que tramita na 2ª Vara Federal e JEF Cível de Foz do Iguaçu - Seção Judiciária do
Estado do Paraná, proposta pelo Instituto Justiça Ambiental contra o ICMBIO - Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade, na qual não figura como parte, desgarrou-se completamente da lei, da
jurisprudência e da doutrina ao impedir a entrada no Parque Nacional de qualquer veículo que não seja da
Concessionária Cataratas S/A. Afirma os maiores prejudicados pela citada decisão são os membros do
impetrante, que são empresas prestadoras de serviço na área de viagem e turismo da cidade de Foz do
Iguaçu, os quais não foram, em momento algum, informados pelo juízo da decisão que os afeta
diretamente. Sustenta que o Plano de Manejo prevê a circulação de veículos particulares nos locais
definidos nos respectivos subprogramas, desde que credenciados conforme critérios estabelecidos pela
Administração do Parque. Argumenta que, por este motivo, a decisão liminar proferida não estaria
acobertada pelo fumus boni iuris e que, tampouco haveria periculum in mora, porquanto prolatada quase
um ano e meio após o ajuizamento da ação civil pública. Argui, por fim, vício da decisão porquanto o
pedido teria sido de impedimento imediato da entrada no Parque Nacional de qualquer veículo que não
72
seja da Concessionária Cataratas S/A ou expressamente autorizados, conforme reza o Plano de Manejo,
sob pena de multa, tendo o magistrado a quo deferido a liminar para que o transporte de turistas no
interior do Parque do Iguaçu fosse feito apenas pela Concessionária, extrapolando o pedido (ultra
petita). É o relatório. Decido. Alegam os impetrantes, ainda, que os itens 7.3.4.4. (Evento 36 dos autos
da ACP, PROCADM22, fls. 8/9) e 7.4.5.2, subitem 33 (Evento 36 dos autos da ACP, PROCADM22, fls.
119/120) do Plano de Manejo prevêem que a circulação de veículos particulares e do Parque será
limitada aos locais definidos nos respectivos subprogramas e Além do transporte coletivo, será
permitida na BR-469, a circulação de veículos de serviço do Parque, de seus funcionários e demais
credenciados, todos devidamente identificados com adesivo colocado no parabrisa e que A administração
do Parque estabelecerá critérios para distribuição do adesivo de identificação dos veículos que poderão
circular nessa via. Há que se salientar que tal situação não foi ignorada pelo juízo a quo, nesse sentido
destaco o seguinte trecho da liminar: Por ser o Parque Nacional do Iguaçu uma unidade de conservação,
o Plano de Manejo é o documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais da
unidade de conservação, estabelece as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade (Lei 9985,
de 18 de julho de 2000). E da leitura desse, o que se infere, em princípio, é que o transporte dos turistas
deve ser feito de forma coletiva e, existindo concessionária para esse fim, é de supor-se competir-lhe tal
encargo. Este Juízo é sensível ao respeitável trabalho exercido por todas as Agências de Turismo e por
todos os Taxistas que transportam turistas, e também reconhece sua indiscutível importância para o
desenvolvimento econômico de Foz do Iguaçu. Todavia, o uso público do Parque Nacional do Iguaçu,
sobretudo em face do crescente número de visitantes, não pode desconsiderar as diretrizes traçadas
pela Autoridade Ambiental no Plano de Manejo. A leitura sistêmica do Plano de Manejo revela que a
circulação de veículos particulares credenciados, configura exceção à regra do tópico Atividades e
Normas, integrante do Subprograma de Administração e Manutenção, que trata dos meios que
viabilizam o funcionamento da Unidade, indicando aqui um quadro funcional mais adequado, bem como
traça ações visando à manutenção da infra-estrutura existente, o controle administrativo da UC e suas
normas, indicando ainda um processo de controle para assegurar o bom desempenho administrativo do
Parque, porquanto está previsto no caput do item 33: Estabelecer um sistema de transporte único para
atender as AD localizadas ao longo da BR-469. Não foi outra a interpretação do magistrado. Como se
observa, foi proibida a entrada - em qualquer hora do dia ou da noite - de outros veículos (empresas de
turismo e/ou taxistas) para levar ou buscar hóspedes do Hotel existente no Parque; deferido prazo para
que o Diretor do Parque informasse a quantidade de ônibus em operação e quais os critérios utilizados
para definir a quantidade de ônibus, bem como, estabelecido um prazo, para que a Concessionária, as
agências de turismo e taxistas pudessem se adequar às determinações, tudo no intuito de fazer cumprir o
objetivo do Plano de Manejo, no ponto em que determina o estabelecimento de um sistema de transporte
único para atender as AD localizadas ao longo da BR-469. Tal decisão, em que pese incongruente no que
tange aos prazos que estabelece - o que será analisado a seguir -, não acarreta, no meu entendimento,
prejuízo às empresas de turismo de Foz do Iguaçu que se dedicam ao transporte de turistas dentro do
Parque Nacional ou desemprego em massa no setor do turismo, como argumentam os impetrantes, na
medida em que o transporte entre os hotéis situados na cidade e região e o Parque poderá e seguirá sendo
feito pelos táxis e empresas de turismo, que apenas terão o seu acesso restrito à entrada do Parque. (...)
Além disso, a comodidade dos turistas não pode se sobrepôr ao direito fundamental ao meio ambiente
equilibrado, constitucionalmente assegurado. O Plano de Manejo, revisto em 1999, ou seja, há mais de
10 anos atrás, traz à saciedade informações que corroboram a necessidade de fazer cumprir o objetivo
de se estabelecer um sistema de transporte único (...)Assim, evita-se a possibilidade de acesso a áreas
protegidas do PNI, ruído, poluição, atropelamento de animais e risco de derramamento de cargas tóxicas
e incêndios, provocados por tocos de cigarros e materiais análogos. A possibilidade de atropelamento de
diversas espécies de anfíbios e répteis, sobretudo na rodovia das Cataratas e na estrada do Colono, foi
identificada como um dos problemas que mais atingem a fauna desses animais. Verificou-se, também,
ausência completa de controle, fiscalização e monitoramento de tráfego ao longo de seus 11km, à
exceção da rotina usualmente empregada na portaria de acesso ao PNI. As características de
73
trafegabilidade favorecem a possibilidade de atropelamento de animais silvestres e afugenta as espécies
mais retraídas, constituindo-se em barreira para a sua livre dispersão. (...) Entendo que merecem prestígio
as providências determinadas pelo magistrado, que melhor conhece a realidade do lugar e entende a
importância de se dar efetividade à garantia de promoção do equilíbrio ecológico, uma vez que a
existência da atividade econômica defendida pelos impetrantes depende inteiramente da qualidade
ambiental daquela Unidade de Conservação. (TRF4 5012553-25.2012.404.0000, QUARTA TURMA, Relator
JORGE ANTONIO MAURIQUE, juntado aos autos em 03/08/2012) ( o acórdão é muito extenso.
Condensamos acima os trechos mais relevantes. Segue link para consulta na íntegra:
http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/citacao.php?doc=TRF402880253)
74
(Foi interposto Resp em face deste acordão, porém foi negado seguimento
https://eproc.trf4.jus.br/eproc2trf4/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=413824562
74148321030000000216&evento=41382456274148321030000000109&key=6ee4efdf048b87eb3f76b0ab9
8a8e6e6dbaf9ec50222f5e38c98f92e3f58ebad
A proteção ao meio ambiente é dever do Estado e da coletividade (art. 225, CF/88). Uma das formas do
Estado garanti-la é através do exercício do poder de polícia ambiental. O poder de polícia tem previsão no
art. 225, §3º da CF/88, sendo que a omissão do Poder Público no seu exercício pode constituir infração
administrativa (art. 70, § 3º, Lei n.º 9.605/98), ou ato de improbidade (art. 11, II, Lei n.º 8.429/92).
Poder de Polícia, de acordo com José dos Santos Carvalho Filho “é a prerrogativa de direito público que,
calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e gozo da liberdade e da propriedade em
favor do interesse da coletividade” (2002, p.61).
Além do conceito doutrinário (a expressão é amplamente acolhida pela doutrina nacional e estrangeira),
temos no Brasil uma definição legal prevista no art. 78 do CTN: “Art. 78. Considera-se poder de polícia
atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interêsse ou liberdade, regula
a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene,
à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do
poder de polícia quando desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com
observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso
ou desvio de poder”.
“O licenciamento ambiental das atividades que utilizam recursos naturais decorre do poder de polícia da
Administração Pública. Os consentimentos estatais, como as licenças, também decorrem do poder de
polícia e representam resposta positiva da administração pública aos pedidos formulados por indivíduos
interessados em exercer determinada atividade que dependa do referido consentimento, como a
utilização de recursos naturais.” (Romeu Thomé, Leis especiais para Concurso. Direito Ambiental, 2016. P.
140).
A Lei n.º 6.938/81 estabeleceu, em seu art. 9º, IX, como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio
Ambiente, “as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias
à preservação ou correção da degradação ambiental”. Recorde-se, outrossim, que nos termos do art. 23,
III, CF/88, a competência para a proteção ao meio ambiente é comum entre a União, Estados, DF e
Municípios. Da mesma forma, conforme art. 24, VI, VII e VIII, c/c art. 30, I, II, VI e IX, todos da CF/88, é
competência concorrente dos entes federados legislar sobre direito ambiental.
Assim, cabe a cada ente federado exercer o seu poder de polícia no âmbito de suas atribuições, assim
como estabelecer regras próprias para esse exercício.
75
Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente, sendo que qualquer pessoa, constatando
infração ambiental, poderá dirigir representação às autoridades ambientais, para efeito do exercício do
seu poder de polícia.
A autoridade ambiental que tiver conhecimento de infração ambiental é obrigada a promover a sua
apuração imediata, mediante processo administrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade.
Poder de Polícia Ambiental é Comum: Recorde-se que a competência para a proteção ao meio ambiente é
comum entre a União, Estados, DF e Municípios (art. 23, III, CF/88) e que é competência concorrente dos
entes federados legislar sobre direito ambiental (art. 24, VI, VII e VIII, c/c art. 30, I, II, VI e IX, todos da
CF/88). Assim, cabe a cada ente federado exercer o seu poder de polícia no âmbito de suas atribuições,
bem como estabelecer regras próprias para esse exercício.
Autoridades Competentes Para Imposição De Multa: Artigo 72, § 1º, da LCA: São autoridades
competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de
órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as
atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
Paulo Affonso Leme destaca que no Estado moderno não se resume mais à administração direta, sendo os
serviços públicos exercidos também por empresas estatais e entes de cooperação (paraestatatais), assim, o
exercício do poder de polícia ambiental poderá ser atribuído, por lei expressa, não só à Administração
direta como à Administração indireta.
Pelo art. 70, §§ 1º e 3º, da Lei 9.605/98, todos os entes federados seriam competentes para lavrar autos de
infração em matéria ambiental. A LC 140 estabelece que em caso de dupla lavratura prevalece a multa do
órgão ambiental competente para licenciar (art. 17, §3°).
Sanções: Com a LC 140/11, ampliou-se a interpretação do art. 76 da Lei 9.605/98, prevalecendo para a
mesma infração ambiental todo o auto de infração do ente competente para licenciar, abarcando
quaisquer sanções previstas no art. 72 e não apenas a sanção de multa (o art. 76 só diz que o pagamento
de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios substitui a multa federal na
mesma hipótese de incidência). Eis as demais infrações:
Havia também entendimentos de que o pagamento da multa municipal ou estadual, sendo menor que a
federal, não impedia a cobrança da diferença. Hoje, com a LC 140, mesmo que a multa federal seja maior,
a multa do ente competente prevalecerá mesmo que menor, não cabendo a cobrança de quaisquer
diferenças em relação à multa federal.
Todo o procedimento de licenciamento ambiental deverá ser elaborado de acordo com os princípios do
devido processo legal, devendo-se garantir: a) um órgão neutro; b) notificação adequada da ação proposta
e de sua classe; c) oportunidade para a apresentação de objeções ao licenciamento; d) o direito de
produzir e apresentar provas; e) o direito de conhecer a prova contrária; f) o direito de contraditar
testemunhas; g) uma decisão baseada somente nos elementos constantes da prova produzida; h) o direito
de se fazer representar; i) o direito à elaboração de autos escritos para o procedimento; j) o direito de
receber do Estado auxílio técnico e financeiro; l) o direito a uma decisão escrita motivada
Natureza da licença ambiental: Discute-se a natureza jurídica da licença ambiental, tendo em vista a
clássica diferenciação entre licença (ato vinculado e definitivo) e autorização (ato discricionário e precário).
Parte da doutrina entende que o termo licença estaria sendo empregado sem o rigor técnico-jurídico,
devendo, no caso, ser entendido como autorização (posição de Paulo Affonso Leme Machado, Toshio
Mukai e de Vladimir Passos de Freitas). Arrolam-se os seguintes argumentos:
77
(i) O emprego na legislação e na doutrina do termo “licenciamento” ambiental não traduz
necessariamente a utilização da expressão jurídica “licença”, em seu rigor técnico;
(ii) o escopo de prevenção sempre foi entendido como típico da categoria da autorização;
(iii) A Constituição utilizou o termo “autorização” em seu texto, dizendo no art. 170, parágrafo único:
“E assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”;
iv) A possibilidade de “renovação” como de “revisão” indicam que a Administração Publica pode
intervir periodicamente para controlar a qualidade ambiental da atividade licenciada, não havendo
na “licença ambiental” o caráter definitivo; afastando-a do conceito de “licença”, tal como
conhecemos no Direito Administrativo; e
Por sua vez, Édis Milaré entende que se trata de licença, uma vez que a capacidade decisória da
Administração se resume ao reconhecimento formal de que os requisitos ambientais para o exercício do
direito de propriedade (empreendimento ou atividade) estão preenchidos. Entretanto, traça 3 diferenças
entre a licença ambiental e a administrativa, a saber:
(ii) necessidade de avaliação prévia de impactos, podendo-se exigir a formalização de EIA-RIMA para
atividades significativamente degradadoras do meio ambiente; e
(iii) a licença ambiental não assegura ao seu titular a manutenção do status quo vigorante ao tempo
de sua expedição, sujeita que se encontra a prazos de validade, obrigando à renovação com
exigências supervenientes à vista do estado da técnica e da própria alteração das características
ambientais de determinada época e de determinado local
Há quem sustente, por outro lado, que “a licença ambiental não é vinculada ou discricionária por sua
natureza, pois sua caracterização depende da vontade do próprio legislador em cada nível federativo, a
quem cabe a escolha entre a concessão de maiores ou menores espaços para os órgãos administrativos
na tomada de decisão sobre a concessão ou negação da licença” (ANDREAS J. KRELL).
Para Fiorillo, trata-se de um ato com discricionariedade sui generis, havendo vinculação, ou seja, direito
subjetivo do empreendedor nos casos de EIA-RIMA favorável, senão vejamos
78
desenvolvimento sustentável é princípio norteador da preservação do meio
ambiente e do desenvolvimento da ordem econômica. Essa possibilidade retrata
uma discricionariedade sui generis. Evidentemente, a concessão da licença deverá
ser fundamentada, atacando cada um dos pontos que se mostraram impactantes
ao meio ambiente, sob pena de ferir o preceito contido no art. 37 da Constituição
Federal. Interessante verificar que o EIA/RIMA atua como elemento de restrição da
discricionariedade que ele mesmo criou, porquanto permite à Administração, com
base nos elementos do estudo, a concessão ou não da licença
Dessa forma, verifica-se que a licença ambiental, diferentemente do que ocorre com a licença modalidade
de ato administrativo estudada no direito administrativo, pode sofrer modificação posterior. Previsões da
Resolução 237:
• Anulação: é retirada definitiva, que ocorre por irregularidade na concessão da licença ambiental,
que desconsiderou os preceitos legais. Omissão ou falsidade de informações relevantes que
servirem para fundamentar a expedição da licença.
• Revogação: superveniência de graves riscos para o meio ambiente e para a saúde pública.
O erro na sua outorga: o erro que supõe a equivocada apreciação de circunstâncias reais não é um erro de
fato – que em todo momento poderia ser sanado pela Administração – mas um erro de classificação, de
valoração, de interpretação, quer dizer, um erro de direito. O erro, no entanto, pode gerar uma
ilegalidade na outorga da licença, caso em que seu desfazimento deverá ser feito por anulação e não por
revogação. E a cassação vincula-se ao problema da legalidade, mas não da legalidade da licença em si,
mas de posterior descumprimento das exigências dela. (José Afonso da Silva)
Ressaltamos que, no que tange à anulação da licença ambiental, inexiste prazo para a sua fulminação,
quer administrativa, quer judicial, tendo em conta que não se sujeita à preclusão administrativa (Frederico
Amado).
(i) inexiste direito a indenização, uma vez que ao “empreendedor são imputados todos os riscos de
sua atividade, o que se coaduna com os princípios do Poluidor-pagador e da Precaução. Portanto,
constatada a impertinência de determinada atividade econômica regularmente licenciada, impõe-se
ao Poder Púbico a análise da conveniência e oportunidade da revogação, não se vislumbrando a
possibilidade de indenização por perdas e danos decorrente exclusivamente da revogação realizada
pela Administração, pois o dever de proteção não é só do Poder Público, mas também de toda a
coletividade incluindo o próprio empreendedor” (Maurício de Jesus Nunes da Silva)
(ii) há direito a indenização, haja vista que mesmo suspensa ou cassada a licença, é importante
assinalar, remanesce o direito do administrado de algum modo vinculado ao empreendimento: se
não sob a forma de atividade efetiva, ao menos sob a forma de ressarcimento dos danos (materiais e
morais) que vier a sofrer pela perda dos investimentos que antes foram legítima e legalmente
autorizados (Edis Milaré)
(iii) em regra, não há direito a indenização, “salvo quando a sua causa determinante do
cancelamento puder ser imputada diretamente à Administração Pública ambiental, quando, por
exemplo, equivocar-se ao licenciar uma atividade que sabidamente, naquele momento, não
deveria sê-lo, pois incompatível com o interesse público” (Frederico Amado).
80
De qualquer forma, aqueles que defendem a possibilidade de indenização ao empreendedor, entendem
ser cabível a reparação dos danos emergentes, apenas os diretos e imediatos, mas não dos lucros
cessantes, haja vista o caráter temporário da licença ambiental (Frederico Amado).
Sobre o tema, colacionamos interessante decisão do Superior Tribunal de Justiça, aduzindo que:
Não gera dano moral a conduta do Ibama de, após alguns anos concedendo
autorizações para desmatamento e queimada em determinado terreno com a
finalidade de preparar o solo para atividade agrícola, deixar de fazê-lo ao
constatar que o referido terreno integra área de preservação ambiental (...) Como
se pode depreender, o agricultor é simultaneamente agente agressor do meio
ambiente e titular do direito difuso à preservação ambiental contra suas próprias
técnicas agropastoris. Assim, não se legitima a pretensão indenizatória que busca
responsabilizar o Poder Público por proteger o próprio agricultor – na qualidade de
titular coletivo do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado – contra os
danos provocados pelas suas próprias técnicas de plantio. Além disso, a simples
vedação da utilização de técnica degradadora no preparo do solo não impede que
se dê continuidade à atividade agrícola com o uso sustentável de técnicas
alternativas à queima e ao desmatamento. Ademais, a concessão de autorização
para queimada e desmatamento nos anos anteriores não gera um direito para o
agricultor, pois a negativa configura nítido exercício do poder de autotutela
(Súmula 473 do STF), por meio do qual a Administração Pública busca justamente
recompor a legalidade do ato administrativo. Por fim, ganha substancial relevo o
princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, porque a limitação
imposta pelo Poder Público quanto à forma de exploração da propriedade
constitui medida restritiva a um direito individual que, todavia, reverte
positivamente em favor de um direito de titularidade difusa – o meio ambiente.
(REsp 1.287.068).
Ao meu sentir, a posição mais segura é a intermediária, sustentada por Frederico Amado, devendo, caso
perguntado, o candidato delinear os posicionamentos acima e o citado julgado do STJ, posicionando-se no
sentido de que, em regra, é incabível a indenização pelo cancelamento (revogação ou anulação) da licença
ambiental, ressalvados casos onde o Poder Público seja responsabilizado diretamente pela concessão
indevida da licença (Nota do Resumidor).
(ii) Licença de Instalação (LI): autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com
as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de
controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza,
características e fase do empreendimento ou atividade.
Procedimento para Obtenção das Licenças. Iter procedimental das licenças: 1 - definição pelo órgão
ambiental, junto com o empreendedor, do que é necessário para o início do procedimento; 2 –
requerimento da LP; 3 – análise pelo órgão; 4 – possibilidade de pedir esclarecimentos, inclusive com
renovação desse pedido; 5 – audiência pública, se for o caso (para procedimentos que exijam a realização
de EIA/RIMA, o órgão ambiental a realizará quando julgar necessário ou quando requerido por 50 ou mais
cidadãos ou pelo MP, nos termos da Re. CONAMA 09/87); 6 – novos esclarecimentos, se necessários após
a audiência; 7 – emissão de parecer técnico conclusivo e, se preciso, parecer jurídico; 8 – deferimento, ou
não, da LP, também com publicidade; 9 – o procedimento deve ser concluído em 6 meses, sem EIA/RIMA,
ou até 12 meses, com EIA/RIMA (art. 14 da Resolução 237/97); 10 – deferimento, ou não, da LI; 11 –
concluídas e aprovadas as obras, deferimento da LO.
LC 140/11 (legislação atual): A LC 140 estabeleceu que o licenciamento será feito por um único ente e
estabeleceu taxativamente as competências de cada ente da federação, tendo referido diploma sido
objeto da ADI 4757, (ainda pendente em 06/09/2016). Ressaltamos que a LC 140 não se aplica aos
procedimentos anteriores a 08/12/11. É bom frisar que mesmo que se conclua pela competência de um
órgão ambiental o licenciamento ambiental, não resta excluído o poder de fiscalização dos demais de
outras esferas, observado o disposto no já analisado artigo 17, da LC 140/2011.
82
Critérios de definição de competência ambiental:
(i) dimensão do impacto ou dano ambiental (ou predominância do interesse): definição do órgão
ambiental licenciador decorrerá da dimensão territorial dos danos ambientais a serem causados. O
interesse local/competência municipal é aquele que não ultrapassa as fronteiras do território de um
Município. Impacto estadual/competência do Estado é aquele que ultrapassa o território de um
Município, mas fica adstrito às fronteiras de um Estado da federação. Impacto regional ou
nacional/competência federal é aquele que ultrapassa o território de um Estado, abarcando uma
região ou mesmo todo o território brasileiro.
(ii) localização geográfica do empreendimento ou atividade: parte da doutrina advoga a tese de que
LC 140/2011 não acolheu o critério da dimensão do impacto ou dano ambiental, mas sim da
localização geográfica do empreendimento como regra geral para fixação da competência federal
para licenciamento ambiental.
Há julgados do STJ e alguns regionais no sentido de que a dominialidade (titularidade do bem) não é
critério definidor da competência para o licenciamento ambiental, contudo, a dominialidade acaba
sendo adotada para definição da legitimidade ativa da União e do IBAMA em ações fundamentadas
em possíveis ilegalidades no licenciamento ambiental, insuficiência da atuação do órgão estadual de
meio ambiente ou dano a bem de domínio da União (REsp 769753/SC).
(iv) atuação supletiva: quando o órgão ambiental do ente federado de menor extensão territorial
não puder licenciar, o de maior abrangência territorial o fará, de acordo com os critérios do artigo 14,
da LC 140/2011. Em todo caso, será apenas um o órgão responsável pelo licenciamento.
(v) ente instituidor da unidade de conservação: o órgão competente para licenciar é o mesmo que
instituiu a UC, exceto em se tratando de APA (art. 12 LC 140).
(vi) atividade: atividades militares ou nucleares/radioativas devem ser licenciadas pela União
COMPETÊNCIAS PARA LICENCIAMENTO. De acordo com os arts. 7°, 8º e 9º da LC 140, ficou assim definida
a competência para o licenciamento ambiental:
83
Atividades ou empreendimentos:
a) localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;
b) localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma continental ou na zona econômica
exclusiva;
c) localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
d) localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pela União, exceto em Áreas
de Proteção Ambiental (APAs);
e) localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
f) de caráter militar, salvo os previstos no preparo e emprego das Forças Armadas
g) os relativos à material radioativo ou energia nuclear; ou
h) que atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de proposição da Comissão
Tripartite Nacional, assegurada a participação de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente
Licencia
(Conama), e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da atividade ou
mento
empreendimento (ou seja, licenciar o que for determinado por ato do Poder Executivo, por proposição
Federal
da Comissão Tripartite Nacional).
(IBAMA)
Obs.: Há um critério geral, que é o da localização geográfica do empreendimento ou atividade (e não
mais do impacto ambiental), e dois critérios suplementares: o da atividade (militar ou
nuclear/radioativa) e o do ente instituidor da unidade de conservação – instituída pela União, é
competência desse ente (salvo APAs). Entretanto, há doutrinador que afirma que o critério da atividade
é, na verdade, ditado pela predominância do interesse (pois é, o tema é muito polêmico!).
Frederico Amado defende que, nos itens “a”, “e” e “g”, o legislador adotou o critério da extensão do
impacto, enquanto, nos itens ”b” e “c”, teria acolhido o critério da dominialidade. O item “d” teria
escolhido o critério do ente instituidor. Saliento que o Des. João Batista Moreira possui artigo a respeito
da competência para licenciamento, onde parece defender a utilização do critério da extensão do
impacto para fins de fixação da competência ambiental, quando houver conflito entre os órgãos
ambientais.
A competência para licenciamento pelo Estado é residual, cabendo-lhe aquilo que não for conferido à
União ou ao Município (art. 8º, XIV), in verbis:
a) (é ação administrativa do Estado) promover o licenciamento ambiental de atividades ou
empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou
Licencia capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7 o e 9o;
mento Cabe, ainda, ao Estado:
estadual b) promover o licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos localizados ou
desenvolvidos em unidades de conservação instituídas pelo Estado, exceto em Áreas de Proteção
Ambiental (APAs)
Obs.: Há dois critérios, o residual, e o do ente instituidor da unidade de conservação – se instituída pelo
Estado, é desse ente a competência (salvo APAs).
Atividades ou empreendimentos:
a) que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local, conforme tipologia definida pelos
Licencia respectivos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial
mento poluidor e natureza da atividade;
municip b) localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município, exceto em Áreas de Proteção
al Ambiental (APAs)
Obs.: Há dois critérios, permanece o do impacto ambiental local e o do ente instituidor das unidades de
conservação (salvo APAs).
84
O licenciamento que compreenda, concomitantemente, área terrestre e marítima da zona costeira só será
atribuição da União se ato do Poder Executivo o definir, a partir de proposição da Comissão Tripartite
(União não quer se ocupar com pequenos empreendimentos, a exemplo de pequenas barracas e aluguéis
de bananas boat).
Em unidades de conservação (exceto APA): A LC 140 diz que quem institui a unidade de conservação deve
licenciar os empreendimentos na área, excetuando-se as APAs. No caso das APAs, o critério é a regra geral
da LC: o da localização geográfica do empreendimento ou atividade. Entretanto, isso não exclui a
competência da União nos casos de sua exclusividade (APA em fronteira com país limítrofe, APA em terra
indígena, mar territorial, zona econômica exclusiva, atividades nucleares em APA...).
Atuação subsidiária: A ação subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de apoio técnico,
científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de cooperação (artigo 16), e um
exemplo é a delegação do licenciamento. Acrescente-se que a ação subsidiária deve ser solicitada pelo
ente originariamente detentor da atribuição.
Contrariando a doutrina e a jurisprudência, a nova Lei estabelece que os empreendimentos devem ser
licenciados ou autorizados por um único ente federativo. Os demais entes podem manifestar-se ao órgão
responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os prazos e
procedimentos do licenciamento (a licença ambiental envolve estudo, avaliação, enquanto a autorização
os dispensa, por ser a atividade considerada simples e de reduzido impacto).
O ente competente para licenciar é quem deve autorizar a supressão de vegetação decorrente dos seus
licenciamentos ambientais.
Prevê, ainda, o art. 13, § 3° da LC 140 que os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros
serviços afins devem guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço
prestado.
Licenciar e Fiscalizar: a competência para licenciamento ou autorização não impede o exercício pelos entes
federativos da atribuição comum de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades
efetiva ou potencialmente poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em
vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de
licenciamento ou autorização. (AgRg no REsp 1373302/CE)
Prazo para Análise do Pedido de Licença: A Resolução 237/97 prevê o prazo máximo de 6 (seis) meses
para análise dos pedidos de licença, a contar do ato de protocolo do requerimento, ressalvados os casos
em que houver EIA/RIMA e/ou audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses. Essa parte
da Resolução continua aplicável.
85
As exigências de complementação de informações, documentos ou estudos feitas pela autoridade
licenciadora suspendem o prazo de aprovação, que continua a fluir após o seu atendimento integral pelo
empreendedor (art. 14, § 2°).
O decurso dos prazos de licenciamento, sem a emissão da licença ambiental, não implica emissão tácita
nem autoriza a prática de ato que dela dependa ou decorra, mas instaura a competência supletiva,
A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte)
dias da expiração, ficando seu prazo automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva do órgão
ambiental competente (art. 14, § 4°).
Atuação Supletiva. Pode ocorrer, ainda, a atuação supletiva em função da deficiência na ação do órgão
ambiental estadual ou municipal, nas seguintes hipóteses (art. 15):
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no Município,
a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um daqueles entes
federativos.
Prazo de validade das licenças. As licenças têm prazo de validade diferenciado de acordo com a sua
espécie. Ao fim do prazo, deve ocorrer a revisão do licenciamento, para evitar a perenização de padrões
ultrapassados tecnologicamente (os prazos são fixados pela Res. 237/97).
86
O órgão ambiental poderá estabelecer prazos específicos para empreendimentos ou atividades que
por sua natureza e peculiaridade estejam sujeitos a encerramento ou modificações em prazos
inferiores
Publicação da licença: De modo a viabilizar o controle popular, há previsão para publicação resumida dos
pedidos de licenciamento, em qualquer de suas modalidades, sua renovação e a concessão da licença. Tal
publicação deve ser paga pelo interessado, no jornal oficial do Estado e em periódico de grande circulação,
regional ou local (art. 4° do Decreto 99.274/90 e art. 4° da Lei 10.650/03).
Regras específicas de licença: Além dessas regras referentes ao licenciamento ambiental, classificadas
como gerais, podem ser definidas regras específicas, pelo órgão ambiental competente, para o
licenciamento de atividades dotadas de características peculiares em razão do porte, da natureza, da
localização, da dinâmica de exploração e assim por diante (Resolução 237/97 – art. 12).
São exemplos de atividades que têm disciplina específica para o licenciamento ambiental: obras de grande
porte (Resolução 006/87), obras de saneamento (Resolução 005/88), atividades minerárias (Resolução
009/90 e 010/90), atividades de exploração e produção de petróleo (Resolução 023/94), empreendimentos
em praias de tartarugas marinhas (Resolução 010/96), assentamentos de reforma agrária (Resolução
289/2001).
As decisões do órgão ambiental acerca do licenciamento são passíveis de recurso, conforme previsão no
art. 20 do Decreto 99.274/90.
De acordo com o caput do artigo 70, da Lei 9.605/1998, “considera-se infração administrativa ambiental
toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do
meio ambiente”.
É importante notar que a ocorrência de dano ambiental não é exigida para a consumação do citado tipo
administrativo, em consonância com o princípio da prevenção, sendo bastante que o agente, por ação ou
omissão, infrinja a legislação administrativa ambiental, existindo infrações de dano e de perigo.
Poderá ser autor dessa infração tanto as pessoas físicas ou jurídicas, mas neste último caso exige-se que o
ato tenha sido praticado por seu representante legal ou contratual, no interesse ou benefício da
entidade moral.
Do Princípio da Legalidade: A aplicação de sanções pelos entes federativos se pauta pelo princípio da
legalidade. Nesse sentido: “É vedado ao IBAMA instituir sanções sem expressa previsão legal. Questão já
87
enfrentada pelo STF, no julgamento da ADI-MC 1823/DF, ocasião em que restou determinada a
impossibilidade de aplicação pelo IBAMA de sanção prevista unicamente em portarias, por violação do
Princípio da Legalidade”. (AgRg no REsp 1164140/MG)
Outrossim, exige-se lei em sentido formal para a tipificação de infrações administrativas. Destarte, “a
aplicação de sanções administrativas, decorrente do exercício do poder de polícia, somente se torna
legítima quando o ato praticado pelo administrado estiver previamente definido por lei como infração
administrativa” (AgRg no REsp 1284558/PB).
Contudo, não viola o princípio da estrita legalidade a instituição de um tipo genérico por lei, a ser
regulamentado via decreto, uma vez que até em Direito Penal Ambiental já se admite a criação de normas
penais em branco heterogêneas, ante o caráter concretista e interdisciplinar do meio ambiente (Frederico
Amado). Nesse sentido STJ e TRF4:
Consoante precedentes desta Corte, o Decreto n.º 6.514/08 não padece de nenhuma ilegalidade,
na medida em que, ao disciplinar as infrações administrativas ambientais, apenas detalha as
previsões da Lei n.º 9.605/98, facilitando a sua execução pela Administração Pública, sem, com
isso, invadir a esfera legislativa reservada às leis (TRF4, AC 5000861-27.2012.404.7211, TERCEIRA
TURMA, Relator RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, juntado aos autos em 04/08/2016).
(ii) somente a multa simples exige responsabilidade subjetiva, conforme a dicção do art. 72 da Lei de n.
9.605/98. Às demais penalidades, inclusive a multa diária, incidirá a responsabilização objetiva (Paulo
Affonso Leme Machado)
O Superior Tribunal de Justiça tem majoritariamente (decisões nas duas turmas) repelido a tese da adoção
da responsabilidade objetiva na imposição de responsabilização administrativa ambiental, senão
vejamos:
88
“Isto porque aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da
responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados), mas
deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta deve
ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento
subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano” (REsp
1251697/PR)
Essa orientação foi reafirmada em 2015 pela 1ª Turma do STJ em julgado com participação do
Desembargador Olindo Menezes, senão vejamos:
89
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, pela sua própria natureza, riscos para os direitos de
outrem.”), senão pela multa de R$ 5.000.000,00 por infração administrativa
ambiental, que lhe aplicou o Município de Guapimirim/RJ, que constitui o objeto
da execução. (...)
Entendeu-se que a questão não se cingia ao plano da responsabilidade civil, senão
da responsabilidade administrativa por dano ambiental, que “não obedece à
lógica da responsabilidade objetiva da esfera civil (para reparação dos danos
causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a
conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu
elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o
dano.” Por último, acentuou o acórdão que “o uso do vocábulo “transgressores”
no caput do art. 14, comparado à utilização da palavra “poluidor” no § 1º do
mesmo dispositivo, deixa a entender aquilo que já se podia inferir do princípio da
intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano ambiental é
subjetivamente mais abrangente do que a responsabilidade administrativa e
penal, não admitindo estas últimas que terceiros respondam a título objetivo por
ofensas ambientais praticadas por outrem.”
Essa leitura, em face da compreensão dos julgadores que compõem a 1ª Seção,
afigura-se majoritária, com a observação, assaz relevante, de que as afirmações
que dão pela responsabilidade ambiental objetiva tratam de danos causados ao
meio ambiente, e não em razão da responsabilidade por multas por infrações
administrativas ambientais, que é de ordem subjetiva e, como tal, restrita aos
seus autores. Fora dos danos oriundos da atividade normalmente desenvolvida
que implique, por sua natureza, riscos para os direitos de outrem, hipótese que
não é a dos autos, que trata de multa por infração administrativa, não se pode
afirmar um caso de responsabilidade civil objetiva sem previsão legal específica,
como estatui o referido parágrafo único do art. 927 do Código Civil.
O posicionamento foi mantido em 2016 pela Segunda Turma, em julgado de relatoria do Ministro Herman
Benjamin:
90
ambiental. Nesses termos, tal responsabilidade independe de culpa, admitindo-se
como responsável mesmo aquele que aufere indiretamente lucro com o risco
criado" e que "o artigo 25, § 1º, VI, da Lei 9.966/2000 estabelece
expressamente a responsabilidade do 'proprietário da carga' quanto ao
derramamento de efluentes no transporte marítimo", mantendo a Sentença e
desprovendo o recurso de Apelação. 2. A insurgente opôs Embargos de Declaração
com intuito de provocar a manifestação sobre o fato de que os presentes autos não
tratam de responsabilidade ambiental civil, que seria objetiva, mas sim de
responsabilidade ambiental administrativa, que exige a demonstração de culpa
ante sua natureza subjetiva. Entretanto, não houve manifestação expressa
quanto ao pedido da recorrente. 3. Cabe esclarecer que, no Direito brasileiro e de
acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a responsabilidade
civil pelo dano ambiental, qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador,
público ou privado, proprietário ou administrador da área degradada, é de natureza
objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios do poluidor-pagador,
da reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura e do favor debilis.
4. Todavia, os presentes autos tratam de questão diversa, a saber a natureza da
responsabilidade administrativa ambiental, bem como a demonstração de
existência ou não de culpa, já que a controvérsia é referente ao cabimento ou não
de multa administrativa. 5. Sendo assim, o STJ possui jurisprudência no sentido
de que, "tratando-se de responsabilidade administrativa ambiental, o
terceiro, proprietário da carga, por não ser o efetivo causador do dano
ambiental, responde subjetivamente pela degradação ambiental causada pelo
transportador" (AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Rel. p/
acórdão Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe 7.10.2015). 6. "Isso
porque a aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da
responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos causados),
mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a conduta
deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu
elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal entre a conduta e o
dano". (REsp 1.251.697/PR, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe 17.4.2012). 7. Caracteriza-se ofensa ao art. 535 do Código de
Processo Civil quando o Tribunal de origem deixa de se pronunciar acerca de
matéria veiculada pela parte e sobre a qual era imprescindível manifestação
expressa. 8. Determinação de retorno dos autos para que se profira nova
decisão nos Embargos de Declaração. 9. Recurso Especial provido.
Com relação ao TRF4, não foi possível encontrar julgados que enfrentem de maneira clara a questão,
parecendo que a linha adotada, contudo, vai no sentido de adoção da responsabilidade objetiva mesmo
para infrações de natureza administrativa, conforme se depreende da ementa abaixo:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA E AÇÃO ORDINÁRIA DE ANULAÇÃO DE AUTO DE INFRAÇÃO. MEIO AMBIENTE.
CORTE DE ÁRVORES. ARTIGO 70 DA LEI Nº 9.605/98. ARTIGO 44 DO DECRETO 6.514/08. - A
responsabilidade pelo dano ambiental é objetiva e a obrigação de reparação dos danos tem
natureza é propter rem. - É imprescritível a pretensão reparatória de danos ao meio ambiente,
matéria pacificada na doutrina e jurisprudência, pois o bem jurídico - meio ambiente - é
indisponível e fundamental. Orientação do STJ. - Consoante precedentes desta Corte, o Decreto n.º
91
6.514/08 não padece de nenhuma ilegalidade, na medida em que, ao disciplinar as infrações
administrativas ambientais, apenas detalha as previsões da Lei n.º 9.605/98, facilitando a sua
execução pela Administração Pública, sem, com isso, invadir a esfera legislativa reservada às leis -
Constatada a impossibilidade de integral reparação natural do dano ambiental, é possível a
cumulação da obrigação de fazer e/ou de não fazer com indenização pecuniária. - Hipótese em que
reconhecida a higidez da autuação e do processo administrativo respectivo, bem assim do valor da
multa cominada, pois condizente com a dimensão das providências determinadas e a importância da
controvérsia posta nos autos. (TRF4, AC 5000861-27.2012.404.7211, TERCEIRA TURMA, Relator
RICARDO TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, juntado aos autos em 04/08/2016)
As infrações e sanções administrativas em matéria ambiental são tratadas no Decreto 6.514/08, que
regulamentou a Lei 9.605/98.
Prescrição da Pretensão Punitiva: o prazo para deflagrar o processo administrativo ambiental é de 5 anos,
a contar do fato, não é do seu conhecimento. O prazo prescricional é interrompido com a lavratura do
auto de infração (art. 21 do Dec. 6.514/08);
Prescrição intercorrente: ocorre se o processo ficar parado por mais de 3 anos, sem impulso por parte da
Administração Pública (art. 21, § 2º);
Dosimetria: A dosimetria das sanções será norteada pelos critérios do artigo 6.º, da Lei 9.605/1998,
consoante a gravidade do fato, os antecedentes do infrator e a sua situação econômica.
O cometimento de mais de uma infração administrativa pelo infrator o sujeita à aplicação cumulativa de
sanções, conforme texto expresso do § 1.º, do artigo 72 da Lei.
Reincidência: O cometimento de nova infração ambiental pelo mesmo infrator, no período de cinco anos,
contados da lavratura de auto de infração anterior devidamente confirmado no julgamento de que trata o
art. 124, implica: (a) aplicação da multa em triplo, no caso de cometimento da mesma infração; ou (b)
aplicação da multa em dobro, no caso de cometimento de infração distinta.
Caberá a advertência pelo cometimento de qualquer infração administrativa, sem prejuízo das demais
sanções cominadas. O artigo 5.º, do Decreto 6.514/2008, prevê a possibilidade de aplicação dessa
penalidade para as infrações de menor lesividade ambiental, quando a multa máxima cominada não
ultrapassa R$ 1.000,00.
Será aplicada, nos termos do art. 72, §2º, Lei n.º 9.605/98, “pela inobservância das disposições desta Lei e
da legislação em vigor, ou de preceitos regulamentares, sem prejuízo das demais sanções previstas neste
artigo”.
92
Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade de
prévia imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/1998). (Informativo 581/STJ)
Será aplicada sempre que o agente, por negligência ou dolo, deixar de sanar as irregularidades no prazo
consignado pela autoridade administrativa, ou opuser embaraço à fiscalização (art. 72, § 3º. Lei 9.605/98).
A prestação de serviços substitutiva não pode ser confundida com a obrigação do infrator de corrigir as
irregularidades apontadas e reparar danos ambientais decorrentes de sua conduta - que são obrigações
autônomas, nos termos do art. 225, §3º, CF.
Aplicável no caso de infração que se prolonga no tempo, até a sua efetiva cessação ou celebração de
Termo de Compromisso de reparação de dano.
Nem a Lei nem o Decreto definem “infração que se prolonga no tempo”. Para Milaré, não é aquela que se
repete diversas vezes (aí seria reincidência), mas aquela cujos efeitos se protraem no tempo. Geralmente
ocorre em 2 situações: - operação de atividade sem a licença ambiental exigível; - funcionamento de
atividade não provida de meios adequados para evitar a emissão de poluentes.
As demais disposições mencionadas no tópico da multa simples aplicam-se também à multa diária.
A apreensão está prevista no art. 72, IV, Lei e art. 3º, IV, Decreto 6.514/08. A destruição ou inutilização do
produto, por sua vez, está prevista no art. 72, V, Lei e art. 3º, V, Decreto 6.514/08. O art. 72, § 6º,
estabelece que ambas obedecerão ao disposto no art. 25.
93
§ 2º Até que os animais sejam entregues às instituições mencionadas no § 1o deste
artigo, o órgão autuante zelará para que eles sejam mantidos em condições
adequadas de acondicionamento e transporte que garantam o seu bem-estar físico.
Tem por objeto a irregularidade do produto, e não de sua fabricação ou produção. É usualmente aplicada
pelas autoridades competentes para o licenciamento de produtos, como alimentos e remédios.
Em sede ambiental é pouco utilizada, limitada a produtos que, apesar de não sujeitos ao licenciamento
ambiental, possam causar danos ao meio ambiente.
Impede o prosseguimento da obra ou atividade e é geralmente imposto no caso de edificação sem licença.
Relativamente à atividade, equivale à sanção de suspensão de atividade.
6.3.3.8 Demolição de obra - art. 72, VIII, e §7º, Lei e art. 3º,
VIII, Decreto 6.514/08
É medida extrema, que só deve ser tomada em caso de irregularidade insanável ou de perigo à saúde
pública ou de grave dano ambiental.
Autoexecutoriedade:
(i) Obra já conclusa: O STJ já decidiu que a penalidade administrativa de demolição não é autoexecutória,
ao menos no caso de obra já conclusa, cabendo ao órgão ambiental postular autorização judicial para a
sua execução. (REsp 789.640).
(ii) Casa Habitada: Os atos de polícia são executados pela própria autoridade administrativa,
independentemente de autorização judicial. Se, todavia, o ato de polícia tiver como objeto a demolição de
uma casa habitada, a respectiva execução deve ser autorizada judicialmente e acompanhada por oficiais
de justiça. (REsp 1217234/PB)
(iii) Interesse de Agir: Mesmo que a Lei n. 9.605/98 autorize a demolição de obra como sanção às infrações
administrativas de cunho ambiental, a verdade é que existe forte controvérsia acerca de sua auto-
executoriedade (da demolição de obra). Em verdade, revestida ou não a sanção do referido atributo, a
qualquer das partes (Poder Público e particular) é dado recorrer à tutela jurisdicional, porque assim lhe
94
garante a Constituição da República (art. 5º, inc. XXXV) - notoriamente quando há forte discussão, pelo
menos em nível doutrinário, acerca da possibilidade de a Administração Pública executar manu militari a
medida. (REsp 1246443/PR)
São penalidades, no fundo, acessórias à pena principal, eis que não há sentido em aplicá-las dissociadas da
multa ou da suspensão de obra ou atividade.
6.4 Biossegurança
A Biossegurança é uma medida surgida no século XX, e, em sentido lato, consiste no conjunto de atividades
e técnicas utilizadas no controle e na minimização de riscos ao meio ambiente e à saúde humana advindos
da utilização de diferentes tecnologias. Luís Paulo Sirvinskas formula o seguinte conceito de Biossegurança:
“conjunto de normas legais e regulamentares que estabelecem critérios e técnicas para a manipulação
genética, no sentido de evitar danos ao meio ambiente e à saúde humana” (SIRVINSKAS, Luís Paulo.
Manual de Direito Ambiental. São Paulo, Saraiva, 2ed. 2003).
A disciplina básica da Biossegurança no Brasil está contida na Lei n. 11.105/2005, estabelece normas de
segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o
transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização,
o consumo, a liberação no meio ambiente e o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM
e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e
biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da
precaução para a proteção do meio ambiente.
As atribuições do conselho estão previstas no art.8º da Lei 11.105, dentre as quais destacam-se: fixar
princípios e diretrizes para a ação administrativa dos órgãos e entidades federais com competências
sobre a matéria; analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e oportunidade
socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus
derivados; avocar e decidir, em última e definitiva instância, com base em manifestação da CTNBio e,
quando julgar necessário, dos órgãos e entidades referidos no art. 16 desta Lei, no âmbito de suas
competências, sobre os processos relativos a atividades que envolvam o uso comercial de OGM e
seus derivados.
Compõem o CNBS (11 membros): Ministro de Estado Chefe da Casa Civil, que o preside; Ministro da
Estado da Ciência e Tecnologia; Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário; Ministro de Estado da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministro de Estado da Justiça; Ministro de Estado da Saúde;
Ministro de Estado do Meio Ambiente; Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior; Ministro de Estado das Relações Exteriores; Ministro de Estado da Defesa; Secretário Especial
de Aquicultura e Pesca da Presidência da República.
A CTNbio é a base do sistema de biossegurança e dela partem as principais decisões sobre o tema. A
CNTbío não tem personalidade jurídica, não sendo autarquia, fundação, empresa pública ou agência. Ela
integra a pessoa jurídica da União. Trata-se de um órgão eminentemente técnico integrante do Ministério
da Ciência e Tecnologia, sendo uma instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e
deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação,
atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas
técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam
pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco zoofitossanitário, à
saúde humana e ao meio ambiente.
Quanto aos aspectos de biossegurança do OGM e seus derivados, a decisão técnica da CTNBio vincula
os demais órgãos e entidades da administração, de modo que prevalece sobre aquelas proferidas por
qualquer outro órgão administrativo, à exceção do CNBS. Nesta seara, convém ponderar que é a
CTNbio que detém a prerrogativa de classificar determinada atividade que utilize OGMs como
causadora de “significativo impacto ambiental”, e, assim, estabelecer o cabível EIA/RIMA (REsp 592682
/ RS).
A CTNBio é composta de membros designados pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia e será
constituída por 27 (vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de notória
96
atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade profissional nas
áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente.
Toda instituição que utilizar técnicas e métodos de engenharia genética ou realizar pesquisas com
OGM e seus derivados deverá criar uma Comissão Interna de Biossegurança - CIBio, além de indicar
um técnico principal responsável para cada projeto específico. Os critérios de funcionamento destas
comissões são estabelecidos pena CTNBio e as atribuições destas comissões estão previstas no art.
18 da lei.
6.4.1.1 Órgãos e Entidades de Registro e Fiscalização.
Foram previstos crimes no Cap. VIII, arts. 24 a 29, da Lei 11.105/2005; e, com o acréscimo da tipificação do
art. 5a, § 3a, há sete crimes no total. Todos são crimes dolosos.
Ponto 7 - Responsabilidade ambiental. Conceito de dano. A reparação do dano ambiental. Dano moral
coletivo.
A Constituição Federal, em seu art. 225, § 2o, determina que: "aquele que explorar recursos minerais fica
obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei." O §3o acrescenta: "as condutas e atividades consideradas lesivas ao
meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar o dano”.
A responsabilidade civil em matéria ambiental (independentemente da existência de culpa) é um
mecanismo que garante da reparabilidade dos danos ambientais, bem como de eventuais danos causados
reflexamente a vítimas do evento danoso. Aquele que exerce uma atividade uma atividade potencialmente
poluidora ou que implique risco a alguém, assume a responsabilidade pelos danos oriundos do risco
criado.
97
Um dos pressupostos para a configuração da responsabilidade é a existência do dano, e, por conseguinte,
tem-se a obrigação de ressarcir, que só se concretiza onde há o que reparar. A este respeito, o que se
pretende é aprofundar alguns aspectos atinentes à responsabilidade civil em matéria ambiental, em
especial, o conceito de dano, a sua reparação e a possibilidade de reparação por dano ambiental de
natureza moral.
Noções gerais
Nossa Constituição Federal não elaborou um conceito técnico-jurídico de meio ambiente e a lei ordinária
delimitou-se a noções de degradação da qualidade ambiental e de poluição.
A degradação ambiental, expressão mais ampla do que poluição, é definida como qualquer alteração
adversa das características do meio ambiente, decorrente de atividades humanas (alterações antrópicas)
ou naturais (ex.: evolução de ecossistemas).
A poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente:
• prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; • criem condições adversas às
atividades sociais e econômicas; • afetem desfavoravelmente a biota; • afetem as condições estéticas ou
sanitárias do meio ambiente; • lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos (artigo 3.º, III, da Lei 6.938/1981).
Inclusive, na definição de poluição também se enquadra a emissão de sons e ruídos em desacordo com os
padrões ambientais estabelecidos (poluição sonora), conforme já reconhecido pelo STJ (REsp 1.051.306,
de 16.10.2008).
Dessa relação entre degradação ambiental e poluição, Édis Milaré conclui que "dano ambiental é a lesão
aos recursos ambientais, com conseqüente degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio
ecológico e da qualidade de vida".
Conceito
Pode-se definir o dano ambiental como um prejuízo causado ao meio ambiente por uma ação ou omissão
humana, que afeta de modo negativo o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e, por consequência, atinge, também de modo negativo, todas as pessoas, de maneira direta
ou indireta, inexistindo uma definição legal de dano ambiental no Brasil.
Em sentido amplo, o dano ambiental é aquele que afeta todas as modalidades de meio ambiente (natural,
artificial, cultural e laboral), ao passo que o dano ambiental stricto sensu afeta os elementos bióticos e/ou
abióticos da natureza, sendo denominado puramente ecológico.
São recursos ambientais, nos termos da Lei 6.938/81, art. 3 o, V, a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a
fauna e a flora.
Acrescente-se a esse conjunto de recursos ambientais os elementos artificiais e culturais, uma vez que o
meio ambiente resulta das interações recíprocas do ser humano com a natureza. Em outras palavras, o
dano ecológico pode degradar o meio ambiente (sentido amplo) ou seus elementos naturais (sentido
estrito).
Para José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala, “dano ambiental significa, em uma primeira
acepção, uma alteração indesejável ao conjunto de elementos chamados meio ambiente, como, por
exemplo, a poluição atmosférica; seria, assim, a lesão ao direito fundamental que todos têm de gozar e
aproveitar do meio ambiente apropriado. Contudo, em sua segunda conceituação, dano ambiental
engloba os efeitos que esta modificação gera na saúde das pessoas e em seus interesses”.
Na primeira acepção, define-se o dano ao patrimônio (imaterial) ambiental como o dano ao macrobem
tutelado, ao passo que a segunda se reporta aos efeitos da lesão à sadia qualidade de vida das pessoas, ou
seja, ao dano extrapatrimonial ambiental.
A classificação dos bens ambientais em macrobem e microbem é encampada pela doutrina majoritária
(Édis Milaré, Antonio Herman Benjamin, Celso Pacheco).
98
Ávila Coimbra dispõe que por macrobem ambiental deve ser entendido o meio ambiente como um todo,
em seu conceito mais profundo e adequado. O meio ambiente em sua máxima complexidade, em sua
máxima extensão. Todas as formas de vida interagindo entre si e com todas suas manifestações e criações.
Logo, a tutela também deverá ocorrer de forma ampla. Por conseguinte, o dano a um macrobem
ambiental ofende o direito fundamental da coletividade ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
possibilitando a tutela por meio de instrumentos coletivos previstos no microssistema (Lei de Ação Civil
Pública, Ação Popular, CDC).
Para o autor, o microbem ambiental é todo e qualquer elemento constituinte e integrante do meio
ambiente. Os microbens, ao interagirem, é que formam o meio ambiente e, consequentemente, o
macrobem ambiental. Por serem individualmente considerados, muitos possuem tratamentos legislativos
próprios, tornando-os verdadeiros bens ambientais individuais. Caso o dano recaia sobre microbem
ambiental, a tutela se dará a título individual (singular), por meio das regras do Código Civil e do CPC.
De tal forma, resta assegurada a proteção e reparação de qualquer dano causado ao meio ambiente
natural, seja no tocante a macrobem ou microbem, tendo como vítimas pessoas indeterminadas ou
determinadas. Não obstante, os danos individuais e coletivos não se classificam em categorias estanques e
são frequentes os casos de tramitação simultânea entre os instrumentos coletivos, bem como entre esses
e os individuais (sobre os aspectos processuais, ver o item de classificação do dano e o ponto 18 deste
resumo).
Note-se que a norma determina que o poluidor responderá pela degradação ambiental, assim considerada
qualquer alteração adversa das características do meio ambiente.
Todavia, é preciso vislumbrar que nem toda atividade humana impactante ao meio ambiente configurará
dano ambiental, mas apenas quando se ultrapassar a capacidade natural de absorção ambiental, o que
deve ser feito casuisticamente e com proporcionalidade, sem se descurar da natureza sinergética dos
danos ambientais.
Logo, para a caracterização do dano ambiental, é necessário que exista um prejuízo anormal ao meio
ambiente, dotado de mínima gravidade, ou seja, algo que afete o equilíbrio do ecossistema, não se
enquadrando como dano ao ambiente qualquer alteração de suas propriedades.
Assim, José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala afirmam que “da análise empreendida na lei
brasileira, pode-se concluir que o dano ambiental deve ser compreendido como toda lesão intolerável
causada por qualquer ação humana (culposa ou não) ao meio ambiente, diretamente, como macrobem
de interesse da coletividade, em uma concepção totalizante, e indiretamente, a terceiros, tendo em vista
interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macrobem”.
Ainda é necessário apontar o caráter multifacetário do dano ambiental, que se apresenta na seara
ecológica, ética, patrimonial e temporal, conforme narra o Ministro Herman Benjamin em passagem do
julgamento do Recurso Especial 1.198.727 de 2012.
Poluidor
Considera-se poluidor “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável,
diretamente ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (artigo 3.º, IV, da Lei
6.938/1981).
Poluição Lícita e Ilícita:
A poluição poderá ser lícita ou ilícita.
Se uma pessoa desmata parte da vegetação de sua fazenda amparada por regular licenciamento
ambiental, haverá uma poluição lícita, pois realizada dentro dos padrões de tolerância da legislação
ambiental e com base em licença, o que exclui qualquer responsabilidade administrativa ou criminal do
poluidor.
Contudo, atenção: mesmo a poluição licenciada não exclui a responsabilidade civil do poluidor, na
hipótese de geração de danos ambientais, pois esta não é sancionatória, e sim reparatória, senão vejamos:
“A legislação de regência e os princípios jurídicos que devem nortear o raciocínio jurídico do julgador para
a solução da lide encontram-se insculpidos não no códice civilista brasileiro, mas sim no art. 225, § 3º, da
CF e na Lei 6.938/81, art. 14, § 1º, que adotou a teoria do risco integral, impondo ao poluidor ambiental
responsabilidade objetiva integral. Isso implica o dever de reparar independentemente de a poluição
99
causada ter-se dado em decorrência de ato ilícito ou não, não incidindo, nessa situação, nenhuma
excludente de responsabilidade. (AgRg no REsp 1412664/SP)
Classificação
Dano ambiental coletivo, dano ambiental em sentido estrito ou dano ambiental propriamente dito
Causado ao meio ambiente globalmente considerado, em sua concepção difusa, como patrimônio
coletivo, atingindo um número indefinido de pessoas, sempre devendo ser tutelado por Ação Civil Pública,
Ação Popular, mandado de segurança coletivo ou outro meio processual adequado. Quando cobrado, tem
eventual indenização destinada a um Fundo, cujos recursos serão alocados à reconstituição dos bens
lesados.
ii) Dano ambiental individual ou pessoal
É também chamado de dano ricochete ou reflexo, pois, por intermédio do dano ao meio ambiente, atinge
interesses pessoais.
Viola interesses pessoais, legitimando os lesados a uma reparação pelo prejuízo patrimonial ou
extrapatrimonial. Podem ser ajuizadas ações individuais, de maneira independente, não havendo efeito de
coisa julgada entre a ação individual e a coletiva. Nesse caso, o objeto lesado é a face da propriedade
privada ou saúde individual do bem comum meio ambiente. Nessas ações privadas, a responsabilidade do
poluidor também é objetiva.
São casos típicos desse tipo de dano problemas de saúde pessoal por emissão de gases e partículas em
suspensão ou ruídos, a infertilidade do solo de um terreno privado por poluição do lençol freático, doença
e morte de gado por envenenamento da pastagem por resíduos tóxicos etc.
Ressalte-se que os danos ambientais, segundo a divisão acima, não constituem categorias estanques, de
maneira que um mesmo fato pode gerar danos difusos e individuais.
Principais Características
Na seara privada, liga-se o dano ao prejuízo ao patrimônio de alguém. Mesmo nos casos de danos
extrapatrimoniais (morais, em sentido amplo), acaba-se indenizando em pecúnia, ante a sua
irreparabilidade natural.
No Direito Ambiental existem inúmeras especificidades que impedem a adoção integral da linha
privatística.
Enseja, prioritariamente, a reparação ou restauração do meio ambiente - Tecnicamente, o dano
ambiental normalmente é irreparável in natura. Assim, uma vez impossibilitada a reparação (ou
restauração) em espécie, que é prioritária, dever-se-á partir para uma compensação ambiental ou, em
último caso, para a indenização em pecúnia.
Pulverização de vítimas - Contrapõe-se o dano ambiental ao dano comum pelo fato de que, enquanto este
atinge uma pessoa ou um conjunto individualizado de vítimas, aquele atinge, necessariamente, uma
coletividade difusa de vítimas, "mesmo quando alguns aspectos particulares da sua danosidade atingem
individualmente certos sujeitos" (Milaré).
Difícil reparação - Na grande maioria dos casos de dano ambiental, a reparação ao status quo ante é quase
impossível e a mera reparação pecuniária é sempre insuficiente e incapaz de recompor o dano.
Difícil valoração - Nem sempre é possível calcular o dano ambiental, justamente em virtude de sua
irreparabilidade.
Portanto, o dano ambiental é peculiar, exigindo o desenvolvimento de uma teoria geral de
responsabilização específica para atender a suas características.
Deve ser reparado integralmente - Reparação In Integrum - O princípio da reparação in integrum aplica-se
ao dano ambiental. Com isso, a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado é compatível com a
indenização pecuniária por eventuais prejuízos, até sua restauração plena. Contudo, se quem degradou
promoveu a restauração imediata e completa do bem lesado ao status quo ante, em regra, não se fala
em indenização.
Poluição Lícita Gera Responsabilidade. A degradação tolerada socialmente, amparada em regular
licenciamento ambiental, dentro dos padrões fixados pela legislação ambiental, não isenta o poluidor de
100
responder civilmente pelos danos ambientais, pois a reparação não tem a natureza jurídica de sanção civil,
já que visa recompor o estado ambiental anterior ou compensá-lo.
Por fim, para o STJ, a licença concedida não confere direito adquirido para poluir, podendo-se,
posteriormente, revogar a licença (REsp 1.287.068-RR).
101
Destarte, a reparação integral do dano ao meio ambiente deve compreender não apenas o prejuízo
causado ao bem ou recurso ambiental atingido, como também toda a extensão dos danos produzidos em
consequência do fato danoso à qualidade ambiental. Deve incluir, então: a) os efeitos ecológicos e
ambientais da agressão inicial a um bem ambiental corpóreo, que estiverem no mesmo encadeamento
causal (ex: destruição de espécimes, habitats e ecossistemas); b) os denominados danos interinos, ou seja,
as perdas de qualidade ambiental havidas no interregno entre a ocorrência do prejuízo e a efetiva
recomposição do meio degradado; c) os danos ambientais futuros que se apresentarem como certos; d) os
danos irreversíveis à qualidade ambiental e e) os danos morais coletivos resultantes da agressão a
determinado bem ambiental.
Em tema de dano ambiental, portanto, tendo em vista a indisponibilidade do direito protegido – direito ao
meio ambiente como direito humano fundamental – não se admite qualquer limitação à plena
reparabilidade do dano, que não seja decorrente das próprias características do meio ou do bem
ambiental atingido. Como já mencionado, o sistema pátrio de responsabilidade por danos ao meio
ambiente dispõe de regras próprias e específicas, derrogatórias do regime geral de responsabilidade civil,
que se aplicam com exclusividade nessa matéria e não contemplam nenhuma exceção ao princípio da
reparação integral do dano.
“Ao responsabilizar-se civilmente o infrator ambiental, não se deve confundir prioridade da recuperação in
natura do bem degradado com impossibilidade de cumulação simultânea dos deveres de repristinação
natural (obrigação de fazer), compensação ambiental e indenização em dinheiro (obrigação de dar), e
abstenção de uso e de nova lesão (obrigação de não fazer).
De acordo com a tradição do Direito brasileiro, imputar responsabilidade civil ao agente causador de
degradação ambiental difere de fazê-lo administrativa ou penalmente. Logo, eventual absolvição no
processo criminal ou perante a Administração Pública não influi, como regra, na responsabilização civil,
tirantes as exceções em numerus clausus do sistema legal, como a inequívoca negativa do fato ilícito (não
ocorrência de degradação ambiental, p. ex.) ou da autoria (direta ou indireta), nos termos do art. 935 do
Código Civil.
Nas demandas ambientais, por força dos princípios do poluidor-pagador e da reparação in integrum,
admite-se a condenação do réu, simultânea e agregadamente, em obrigação de fazer, não fazer e
indenizar. Aí se encontra típica obrigação cumulativa ou conjuntiva.
Assim, na interpretação dos arts. 4º, VII, e 14, § 1º, da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei
6.938/81), e do art. 3º da Lei 7.347/85, a conjunção "ou" opera com valor aditivo, não introduz alternativa
excludente. (…) A cumulação de obrigação de fazer, não fazer e pagar não configura bis in idem,
porquanto a indenização, em vez de considerar lesão específica já ecologicamente restaurada ou a ser
restaurada, põe o foco em parcela do dano que, embora causada pelo mesmo comportamento pretérito
do agente, apresenta efeitos deletérios de cunho futuro, irreparável ou intangível.” (RESP 1198727).
102
sem menção a limite de qualquer ordem para a reparação dos danos. Este é o entendimento de Paulo
Affonso Leme Machado, Álvaro Luiz Valery Mirra, entre outros.
A Constituição de 1988 prevê no artigo 225, § 3.º, que “as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Nota-se que literalmente a CRFB não
prevê a responsabilidade civil objetiva do poluidor por danos ambientais (salvo danos nucleares, a teor
do artigo 21, XXIII, “d”, da Lei Maior), valendo registrar que muitos doutrinadores entendem presente
implicitamente (Celso Antônio Pacheco Fiorillo).
Em geral, o sistema brasileiro de responsabilidade civil é de cunho subjetivo, tendo por seu fundamento a
culpa do causador de um dano (art. 186, NCC). No entanto, a legislação específica, em algumas áreas,
retirou a necessidade da comprovação da culpa (dolo, negligência, imprudência ou imperícia) do agente de
um ato lesivo.
Com o advento da Lei 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) a responsabilidade civil para a
reparação do dano ambiental também passou a ser objetiva: “Sem obstar a aplicação das penalidades
previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou
reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade (art. 14, § 1º)”.
Portanto, perceba-se que o fundamento normativo direto da responsabilidade objetiva ambiental não é
constitucional, mas legal.
Uma das razões da introdução da responsabilidade objetiva nessa área foi também o fato de que a maioria
dos danos ambientais graves era e está sendo causada por grandes corporações econômicas (indústrias,
construtoras) ou pelo próprio Estado (empresas estatais de petróleo, geração de energia elétrica,
prefeituras), o que torna quase impossível a comprovação de culpa concreta desses agentes causadores
de degradação ambiental.
É firme a jurisprudência do STJ afirmando que se trata de responsabilidade civil objetiva na sua modalidade
mais forte, ou seja, norteada pela Teoria do Risco Integral, em que não se quebra o vínculo de causalidade
pelo fato de terceiro, caso fortuito ou força maior. É posição majoritária na doutrina também (REsp
1373788/SP).
Acrescentam alguns autores que a responsabilidade objetiva por dano ambiental decorre também da
teoria do risco-proveito ou "risco do usuário": quem obtém lucros com determinada atividade deve arcar
também com os prejuízos causados à natureza, evitando assim, "a privatização dos lucros e socialização
dos prejuízos" (ubi emolumentum, ibi onus).
A teoria do risco-proveito nos parece apontar ao principal motivo da introdução da responsabilidade
objetiva no direito brasileiro. Ela é consequência de um dos princípios básicos da Proteção do Meio
Ambiente em nível internacional, o princípio do poluidor-pagador, consagrado ultimamente nas
Declarações Oficiais da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92 - UNCED1).
Uma consequência importante dessa linha de fundamentação da responsabilidade objetiva pelo dano
ambiental (contrariamente à teoria do risco integral) é a possibilidade de admitir fatores capazes de excluir
ou diminuir a responsabilidade como: o caso fortuito e a força maior, o fato criado pela própria vítima
1 Princípio 16
As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo
em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse
público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.
103
(exclusivo ou concorrente), a intervenção de terceiros e, em determinadas hipóteses, a licitude da
atividade poluidora.
Não são poucos os autores que, em primeiro momento, se declaram adeptos da teoria do risco integral,
que não permite excludentes à responsabilidade, e depois, para fundamentar a sua posição, passam a
recorrer a argumentos muito mais ligados à teoria do risco-proveito.
Os defensores do risco integral no contexto da responsabilidade objetiva do Estado (Art. 37, § 6º, CF)
destacam que ela serve como meio de repartir por todos os membros da coletividade o ônus dos danos
atribuídos ao Estado (Caio M. da Silva Pereira, ob. Cit., p. 270, 274). Ocorre que o mesmo já não vale
indiscriminadamente para todos os casos da ocorrência de um dano ambiental. O sujeito que deve
indenizar, aqui, na maioria dos casos, não é o erário do Estado e, em consequência, a coletividade, mas o
poluidor particular, que muitas vezes até age com uma autorização válida concedida pelo próprio Estado.
Toshio Mukai, por sua vez, defende a adoção da teoria do risco administrativo, ou do risco criado,
admitindo as excludentes, mas este posicionamento é minoritário.
Todavia, podemos constatar que a maior parte da doutrina do Direito Ambiental Brasileiro, hoje, adere à
"linha dura" da teoria do risco-integral, que não permite nenhum tipo de excludente nos casos de danos
ambientais. Também é este o entendimento firme do STJ.
“RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANO AMBIENTAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. DANOS DECORRENTES DO ROMPIMENTO DE BARRAGEM. ACIDENTE
AMBIENTAL OCORRIDO, EM JANEIRO DE 2007, NOS MUNICÍPIOS DE MIRAÍ E MURIAÉ, ESTADO DE MINAS
GERAIS. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. NEXO DE CAUSALIDADE. 1. Para fins do art. 543-C do Código de
Processo Civil:
a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o
nexo de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo
descabida a invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de
responsabilidade civil para afastar sua obrigação de indenizar;
b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e
c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e
com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao
porte da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com
razoabilidade, valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades
de cada caso, de modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a
indenização e, de outro, haja efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que
fora lesado”. (REsp 1374284 / MG, Min. Luis Felipe Salomão, DJe 05/09/2014, tema repetitivo 707)
Nexo de causalidade
O nexo causal é o vínculo que une conduta e resultado lesivo, variando a sua determinação de acordo com
a teoria que se adote. Em se tratando de meio ambiente, tem-se sustentado que o nexo causal existe
mesmo quando se manifesta de modo indireto ou mediato, podendo deduzir-se de presunções,
admitindo-se uma prova de que o risco da atividade teve uma influência causal decisiva na produção do
dano.
Não se exige que o ato tenha sido causa exclusiva do dano, bastando a conexão causal. Seja qual for a
participação de alguém na causação do dano, ele tem o dever de indenizar.
Nexo é prescindível: De maneira inovadora, há precedente do STJ que expressamente admitiu
excepcionalmente a responsabilidade civil ambiental independente de nexo de causalidade: “A
responsabilidade por danos ambientais é objetiva e, como tal, não exige a comprovação de culpa,
bastando a constatação do dano e do nexo de causalidade.
Ainda de acordo com o STJ, “para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano ambiental,
equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que
façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia quando outros fazem”. (REsp 650.728)
Excetuam-se à regra, dispensando a prova do nexo de causalidade, a responsabilidade de adquirente de
imóvel já danificado porque, independentemente de ter sido ele ou o dono anterior o real causador dos
estragos, imputa-se ao novo proprietário a responsabilidade pelos danos. (REsp 1.056.540).
104
7.1.2.1.3 Obrigação Propter Rem e dispensabilidade do nexo de causalidade
O STJ também entende que a obrigação de reparar o dano ambiental é propter rem, sendo o proprietário
obrigado a reparar o dano ambiental em seu prédio rústico, mesmo que não o tenha causado. (RESP
1251697)
Esse regime de responsabilização ambiental do proprietário ou possuidor do bem degradado,
independentemente de ter sido o autor do ato lesivo ao ambiente, foi positivado pela Lei 12.651/2012,
que aprovou o novo Código Florestal brasileiro. De acordo com o seu artigo 2º, § 2º, “as obrigações
previstas nesta Lei têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de
transferência de domínio ou posse do imóvel rural”.
Responsabilidade por atos lícitos
Como já mencionado em tópico anterior, mesmo a poluição licenciada não exclui a responsabilidade civil
do poluidor, na hipótese de geração de danos ambientais, pois esta não é sancionatória, e sim reparatória.
Ademais, a licença concedida não confere direito adquirido para poluir, podendo-se, posteriormente,
revogar a licença (REsp 1.287.068-RR).
Quem tem o dever de reparar
(1) Os autores da degradação: os empreendedores da atividade lesiva;
(2) Os responsáveis solidários;
A impossibilidade de se estabelecer o valor da indenização que compete a cada um gera afinal uma
indivisibilidade do dano e a solução é uma atenuação nos requisitos de verificação do liame da causalidade
e a instituição de um regime de solidariedade passiva dos vários poluidores. No caso do dano ambiental, a
solidariedade seria decorrência lógica da adoção do sistema de responsabilidade objetiva.
A lei diz que há solidariedade na responsabilidade aquiliana quando há mais de um causador do dano (art.
942, NCC). E, mesmo que se trate de responsabilidade objetiva, ela não deixa de ser aquiliana, apenas sem
o requisito da culpa. O art. 225, §3º, CF, apoia este entendimento.
Poluidor direto ou Indireto. Note-se que mesmo as pessoas jurídicas de direito público poderão ser
consideradas poluidoras, por atos comissivos ou omissivos. Assim, quando explora diretamente atividade
econômica, a exemplo da atividade petrolífera, por meio de empresa estatal, a Administração Pública
poderá se enquadrar como poluidora direta. Outrossim, a concessão de uma licença ambiental irregular
por um órgão ambiental que culmine em degradação ambiental colocará o Poder Público na condição de
poluidor indireto.
No caso de entidade ambiental que se omite na fiscalização de atividades poluidoras, conquanto não seja
entendimento pacificado internamente, prevalece no STJ que a responsabilidade é objetiva (REsp
1.071.741 - 24.03.2009).
Responsabilidade Solidária. “A Turma entendeu haver responsabilidade solidária do Estado quando,
devendo agir para evitar o dano ambiental, mantém-se inerte ou atua de forma deficiente. Assim, sem
prejuízo da responsabilidade solidária, deve o Estado – que não provocou diretamente o dano nem obteve
proveito com sua omissão – buscar o ressarcimento dos valores despendidos do responsável direto,
evitando, com isso, injusta oneração da sociedade. Com esses fundamentos, deu-se provimento ao
recurso”. (REsp 1.071.741-SP)
Execução Subsidiária Do Estado. Contudo, apesar de ser solidária, a atual jurisprudência dominante no STJ
(1.ª e 2.ª Turmas) é no sentido de que a responsabilidade civil do Poder Público é de execução subsidiária,
na hipótese de omissão de cumprimento adequado do seu dever de fiscalizar que foi determinante para a
concretização ou o agravamento do dano causado pelo seu causador direto:
A responsabilidade solidária e de execução subsidiária significa que o Estado integra o título executivo
sob a condição de, como devedor-reserva, só ser convocado a quitar a dívida se o degradador original,
direto ou material (= devedor principal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial ou
insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade, inclusive técnica, de cumprimento da prestação
105
judicialmente imposta, assegurado, sempre, o direito de regresso (art. 934 do Código Civil), com a
desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do Código Civil). (REsp 1071741/SP)
Há uma tendência específica no Direito Ambiental em buscar responsabilizar quem tem mais condições de
arcar com os prejuízos ambientais, com base na doutrina americana do “bolso profundo”, uma vez que
prevalece que todos os poluidores são responsáveis solidariamente pelos danos ambientais.
Com base nas lições de José de Aguiar Dias, obtempera Paulo Affonso Leme Machado: “Num distrito
industrial ou num conglomerado de indústrias pode ser difícil apontarem-se todas as fontes poluidoras que
tenham causado prejuízo. A vítima não está obrigada a processar conjuntamente todos os poluidores,
podendo escolher aquele que lhe convier, chamar à responsabilidade, por exemplo, optando por um
poluidor solvente e não pelo insolvente”.
Inclusive, visando a celeridade processual e a prática viabilidade da reparação, há forte entendimento
vedando a denunciação da lide ou o chamamento ao processo nos processos de reparação por danos
ambientais, sendo necessário o ajuizamento de ação própria contra os codevedores ou responsáveis
subsidiários (AgRg no Ag 1.213.458).
Embora não possam ser demandados em ação ambiental, podem sê-lo em ações de regresso de Estado ou
do empreendedor que contratou seus serviços, pois têm responsabilidade subjetiva e podem ser
demandados civilmente, provando-se a sua culpa.
Outro instrumento importante para garantir a reparação dos danos ambientais é a desconsideração da
personalidade jurídica, que na esfera ambiental é informada pela Teoria Menor, pois não se exige o abuso
da personalidade jurídica para a sua concretização. De acordo com o artigo 4.º da Lei 9.605/1998, “poderá
ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de
prejuízos causados à qualidade do meio ambiente”.
O STJ também admite a inversão do ônus da prova nas ações de reparação dos danos ambientais, com
base no interesse público da reparação e no princípio da Precaução: “No Direito Ambiental brasileiro, a
inversão do ônus da prova é de ordem substantiva e ope legis, direta ou indireta (esta última se manifesta,
p. ex., na derivação inevitável do princípio da precaução), como também de cunho estritamente processual
e ope judicis (assim no caso de hipossuficiência da vítima, verossimilhança da alegação ou outras hipóteses
inseridas nos poderes genéricos do juiz, emanação natural do seu ofício de condutor e administrador do
processo). Como corolário do princípio in dubio pro natura, ‘Justifica-se a inversão do ônus da prova,
transferindo para o empreendedor da atividade potencialmente perigosa o ônus de demonstrar a
segurança do empreendimento, a partir da interpretação do art. 6º, VIII, da Lei 8.078/1990 c/c o art. 21 da
Lei 7.347/1985, conjugado ao Princípio Ambiental da Precaução’ (REsp 972.902/RS, Rel. Min. Eliana
Calmon, Segunda Turma, DJe 14.9.2009), técnica que sujeita aquele que supostamente gerou o dano
ambiental a comprovar ‘que não o causou ou que a substância lançada ao meio ambiente não lhe é
potencialmente lesiva’ (REsp 1.060.753/SP).
106
7.1.2.1.9 Provimento não Requerido na Inicial
Assim, no contexto, encontra plena aplicação o princípio do poluidor pagador, a indicar que, fazendo-se
necessária determinada medida à recuperação do meio ambiente, é lícito ao julgador determiná-la,
mesmo que não tenha sido instado a tanto. (REsp 967.375-RJ)
7.1.2.1.10 Fungibilidade:
A tutela ambiental é de natureza fungível por isso que a área objeto da agressão ao meio ambiente pode
ser de extensão maior do que a referida na inicial e, uma vez assim aferida pelo conjunto probatório, não
importa em julgamento ultra ou extra petita. (REsp 1.107.219-SP)
Imprescritibilidade
Por fim, frise-se que a pretensão reparatória ambiental imaterial é perpétua, porquanto não sujeita a
prazo prescricional, conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça no REsp 647.493/2007.
Isso porque a higidez do meio ambiente possui a natureza de direito fundamental, supraindividual e
indisponível, além de ser de titularidade da coletividade.
(...)
6. O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade hermenêutica, está
protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de direito inerente à vida, fundamental e
essencial à afirmação dos povos, independentemente de não estar expresso em texto legal.
7. Em matéria de prescrição cumpre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado
seguem-se os prazos normais das ações indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fundamental,
antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem saúde, nem trabalho, nem lazer ,
considera-se imprescritível o direito à reparação.
8. O dano ambiental inclui-se dentre os direitos indisponíveis e como tal está dentre os poucos
acobertados pelo manto da imprescritibilidade a ação que visa reparar o dano ambiental.
9. Quando o pedido é genérico, pode o magistrado determinar, desde já, o montante da reparação,
havendo elementos suficientes nos autos. Precedentes do STJ.
10. Inviável, no presente recurso especial modificar o entendimento adotado pela instância ordinária, no
que tange aos valores arbitrados a título de indenização, por incidência das Súmulas 284/STF e 7/STJ.
11. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. (STJ, REsp 1120117/AC, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 19/11/2009)
Discute-se também a reparabilidade do chamado dano moral ambiental, como dano moral coletivo.
De acordo com a extensão do dano ao ambiente, é possível subdividir o gênero dano ambiental, em duas
espécies: dano patrimonial e dano extrapatrimonial ou moral. Existirá dano patrimonial quando os bens
lesados forem bens materiais, exigindo-se, portanto, a restituição; quando o prejuízo ao indivíduo ou à
coletividade for não-patrimonial (por ter lesado bens imateriais), haverá dano extrapatrimonial ou moral.
O dano moral ambiental, como dano coletivo, consiste, em linhas gerais, na dor ou no sentimento de
frustração da sociedade decorrente da agressão a um determinado bem ambiental, ao qual a coletividade
se sinta especialmente vinculada, seja por laços de afeição, seja por algum vínculo de especial respeito.
O dano moral ou extrapatrimonial, por sua vez, é dividido em dois aspectos. O aspecto subjetivo do dano
(em que o interesse ambiental atingido diz respeito a um interesse individual) ocorre quando a vítima
experimenta algum sofrimento psíquico, de afeição ou físico. Na hipótese de lesão ambiental, configura-se
subjetiva quando, em consequência desta, a pessoa física venha a falecer ou sofrer deformidades
permanentes ou temporárias, acarretando sofrimento de ordem direta e interna. Ocorre o que se chama
107
de dano reflexo, ou efeito ricochete, isto é, uma lesão ao meio ambiente resvala no indivíduo, causando-
lhe problemas de ordem pessoal.
Verifica-se, por outro lado, o dano moral ambiental em seu aspecto objetivo (quando o interesse
ambiental atingido é difuso) quando não há repercussão na esfera interna da vítima de forma exclusiva,
mas diz respeito ao meio social em que vive. Nesse caso, o dano atinge valores imateriais da pessoa difusa
ou da coletividade, como, por exemplo, a degradação do meio ambiente ecologicamente equilibrado ou da
qualidade de vida, como um direito intergeracional, fundamental e global. Não é, nessa perspectiva, o
meio ambiente um meio intermediário entre o dano e o lesado; mas é ele próprio lesado, ocorrendo uma
perda de qualidade de vida das presentes gerações e um comprometimento à qualidade de vida das
futuras gerações (humanas e não humanas). Entra-se aqui em uma visão antropocêntrica alargada, na qual
a preservação ambiental não corresponde apenas a interesses humanos imediatos, mas
preponderantemente, a um valor ínsito do meio ambiente, que, se preservado, culmina na sadia qualidade
de vida de toda a coletividade.
Pode ocorrer o fato de um mesmo dano ambiental afetar concomitantemente a esfera subjetiva e a
esfera objetiva.
A reparação de um dano moral objetivo visa a proteger o ambiente como valor autônomo e como
macrobem pertencente à coletividade, ao contrário do dano moral subjetivo, cuja reparação objetiva
proteger um interesse particular de uma pessoa.
Pode-se constatar que o dano ambiental, além de poder se relacionar intimamente com uma suposta
vítima ou grupo de vítimas determináveis na sociedade (requisito clássico para a configuração do dano
moral); pode também se relacionar com toda a coletividade, uma vez que esta tem a sua qualidade de vida
afetada, mesmo que de maneira não diretamente perceptível. A colaboração ao impedimento de um
desenvolvimento pleno da personalidade advindo com o dano ambiental, afeta toda a coletividade e não
apenas supostas vítimas diretas.
Nota-se, então, a necessidade de tutela ambiental em duas frentes complementares: tutela do meio
ambiente como microbem, relacionando-o a interesses individuais e tutela do meio ambiente como
macrobem, relacionando-o a interesses difusos, em que o titular do direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado não pode ser identificado, uma vez que se confunde com toda a coletividade.
No caso em que se determina o pagamento de indenização por dano moral ao individual atingido
reflexamente, o objetivo é a compensação da dor e do sofrimento causado pela lesão decorrente de
alterações ambientais de índole poluidora.
Já na indenização por dano moral coletivo, o objetivo principal é a compensação da perda de qualidade
de vida da sociedade proveniente da lesão ambiental. A compensação, nesse caso, relaciona-se à
coletividade e a seu sofrimento pela alteração ambiental negativa.
Observe-se que o direito brasileiro admite, expressamente, a reparabilidade do dano moral ambiental, ao
lado do dano causado à qualidade ambiental em si mesma considerada, conforme se verifica do disposto
no art. 1, caput, e inciso I, da Lei 7.347/85, segundo o qual: “Regem-se pelas disposições desta lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: I - ao
meio ambiente;”
Atualmente, o STJ possui jurisprudência consolidada no sentido da admissibilidade do dano moral coletivo
ambiental, veja-se: “O dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral, impondo
conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o direito das futuras gerações a um meio
ambiente ecologicamente equilibrado. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade
do grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa,
a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado” (REsp 1269494/MG).
O valor a ser arbitrado como dano moral deverá incluir um caráter punitivo? NÃO. É inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que
incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive
108
damages) no caso de danos ambientais, haja vista que a responsabilidade civil por dano ambiental
prescinde da culpa e revestir a compensação de caráter punitivo propiciaria o bis in idem (a punição
imediata é tarefa do direito sancionatório).” (REsp 1.354.536-SE, repetitivo).
O Sistema Nacional do Meio Ambiente, SISNAMA, é formado pelo conjunto de órgãos e instituições dos
diversos níveis do Poder Público, incumbidos da proteção ambiental e da implementação da Política
Nacional do Meio Ambiente - PNMA.
O antecedente do SISNAMA foi a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, que surgiu logo após a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano - Estocolmo, 1972. Foi a resposta
brasileira às pressões da comunidade internacional do momento.
A estrutura político-administrativa está descrita no art. 6º da Lei 6.938/81, tendo a seguinte disposição,
sendo que, por ser um sistema nacional, não detém personalidade jurídica:
Órgão Consultivo e deliberativo: Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, com a finalidade de
assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio
ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida.
Atente-se para sua competência normativa, editando normas complementares à lei - atuação secum
legem. O Conselho é formado por representantes de cinco setores, a saber, órgãos federais, estaduais e
municipais, setor empresarial e sociedade civil.
As competências do CONAMA estão disciplinadas no art. 8o, da Lei 6.938/81, destacando-se sua atribuição
para o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, notadamente no que toca ao licenciamento
ambiental.
Avulta salientar a competência do CONAMA para revisão, em grau recursal, das penalidades aplicadas pelo
IBAMA foi expressamente revogada pela Lei 11.941/09. A respeito, decidiu o TRF4:
109
Relator: CANDIDO ALFREDO SILVA LEAL JUNIOR, Data de Julgamento: 19/05/2015, QUARTA TURMA,
Data de Publicação: D.E. 21/05/2015)
Órgão Central: Ministério do Meio Ambiente (antiga Secretaria do Meio Ambiente), a quem incumbe
planejar, coordenar, supervisionar e controlar a Política Nacional e as diretrizes governamentais fixadas
para o meio ambiente.
Órgãos Executores: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais renováveis - IBAMA e
o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO. Ao Ibama compete exercer o
poder de polícia ambiental federal, executar ações da PNMA na esfera federal e ações supletivas. Ao
ICMBio compete a tarefa da conservação ambiental, mediante a gestão das unidades de conservação
federais.
Órgãos Seccionais: são órgãos ou entidades estaduais constituídos na forma da lei e por ela incumbidos de
preservar o meio ambiente, assegurar e melhorar a qualidade ambiental, controlar e fiscalizar ações
potencial ou efetivamente lesivas aos recursos naturais e à qualidade do meio.
Órgãos Locais: são órgãos ou entidades municipais incumbidos legalmente de exercer a gestão ambiental
no respectivo território e no âmbito de sua competência, na forma a lei.
Deve-se entender que o SISNAMA, como um sistema, a que compete exercer a tutela ambiental por meio
dos seus órgãos executores federais (IBAMA e ICMBIO), estaduais e municipais, em compasso com as
normas legais e as regulamentares expedidas pelo CONAMA, sem embargo da administração ambiental
setorizada, tal como na área de recursos hídricos, a ser realizada por órgãos específicos criados para tal fim
(Sistema Nacional de Recursos Hídricos).
Quadro resumo
ICMBio (ADI 4029) - Associação Nacional dos Servidores do Ibama (Asibama) ingressou com a ADI 4029,
alegando vício formal na tramitação Medida Provisória 366/2007, que deu origem à Lei 11.516/2007,
instituidora do ICMBio. A associação defendia não ter sido observado o disposto no art. 62, § 9º da CF/88
(§ 9º Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e sobre elas
emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do
Congresso Nacional.). Ocorre que o Congresso Nacional vinha utilizando a Resolução n.°1, de 2002, para
disciplinar o tema, a qual fixava o prazo de 14 dias para que a comissão mista emitisse parecer sobre a
110
matéria objeto da MP, caso o prazo não fosse observado, o parecer poderia ser dado apenas pelo relator
da comissão, dispensando a análise colegiada (art. 6o, § 2o ). A Asibama sustentou que tal rito não se
coaduna com o previsto no art. 62, § 9º da CF/88, que atribui a comissão mista, e não ao relator, a emissão
do parecer. Por conseguinte, em 07/03/2012, o STF julgou a ADI procedente e modulou os efeitos da
decisão, fixando o prazo de 2 anos para que o Congresso Nacional editasse nova lei para garantir a
continuidade da autarquia. Contudo, no dia seguinte ao julgamento, a AGU suscitou questão de ordem,
afirmando que, se fosse mantida a decisão do STF de reconhecer a inconstitucionalidade dos arts. 5°, caput
e 6°, §§ 1° e 2° da Resolução n.° 1, do Congresso haveria um caos e uma tremenda insegurança jurídica,
considerando que cerca de 500 leis em vigor (resultado de conversão de medidas provisórias) foram
aprovadas segundo este procedimento, dentre elas a do Bolsa Família e a do Minha Casa Minha Vida. O
Plenário do STF acolheu a questão de ordem e declarou que a declaração de inconstitucionalidade dos
arts. 5°, caput e 6°, §§1° e 2° da Resolução n.° 1, do Congresso Nacional somente valerá da data do
julgamento em diante (08032012). Assim, a Lei n.° 11.516/07 foi considerada válida, tendo em vista que
a inconstitucionalidade dos arts. 5°, caput e 6°, §§ 1° e 2° da Resolução n.° 1, do Congresso Nacional
somente produziu efeitos ex nunc. (dizer o direito)
Trata-se das diretrizes gerais estabelecidas na lei que têm o objetivo de harmonizar e de integrar as
politicas públicas de meio ambiente dos entes federados, procurando torná-las mais efetiva, por meio de
instrumentos tratados na própria lei, tendo como vetor a promoção do desenvolvimento sustentável.
O pioneirismo da referida Lei deve-se ao fato dela inaugurar um microssistema legal de tutela do meio
ambiente, composto não só de princípios norteadores, mas também de instrumentos eficazes na defesa
do ecossistema. Seu escopo foi o de trazer equilíbrio entre a proteção do meio ambiente e o
desenvolvimento econômico (na esteira do desenvolvimento sustentável).
O art. 2º da Lei 6.938/81 traz uma série de princípios, formatados mais como objetivos ou metas a serem
alcancados por meio da PNMA, saber:
VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos
recursos ambientais;
111
X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
Cabe dizer que, tais princípios, como concernentes à política de governo, não se confundem aqueles mais
amplos e ditados como vetores do Direito Ambiental como ciência, como o da precaução na seara
ambiental.
Já o art. 4º, por sua vez, elucida os objetivos específicos a serem alcançados pela PNMA, sem se descurar
de seu objetivo gerai elencado no art. 2o da lei, a saber, preservar e melhorar a qualidade ambiental para
as presentes e futuras gerações.
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
Atenção ao art. 4o, VII, da Lei, o qual elucida a necessidade de responsabilzação tanto do poluidor quanto
do usuário dos recursos ambientais para fins lucrativos, para este última na forma de contribuição.
Há vários conceitos na lei de Política Ambiental, que se encontram no art. 3º, a saber:
I - meio ambiente: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica,
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; Obs.: de acordo com a doutrina, deve ser
interpretado de modo abrangente, englobando I -) meio ambiente natural ou físico; II -) meio ambiente
cultural (art. 215 e 216, da CF/88), integrado pelo patrimônio artístico, paisagístico, histórico, turístico,
arqueológico; III - ) meio ambiente artificial (art. 182 e art. 183 da CF/88), consubstanciado no conjunto de
edificações (espaço público) e equipamentos, espaços públicos (ruas, praças, áreas verdes, etc.); IV - ) meio
ambiente do trabalho (arts. 7º, XXII, XXIII, e 200, VIII, da CF/88), protegendo o homem em seu local de
trabalho, definindo normas de segurança laborativa.
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades
112
sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias
do meio ambiente e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;
IV – poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente,
por atividade causadora de degradação ambiental;
Cabe ressaltar a distinção feita pela lei entre degradação e poluição, nos incisos II e III, do dispositivo, tratando
o diploma a poluição como uma forma qualificada de degradação.
Frederico Amado preceitua que estados, DF e municípios também poderão fixar padrões de qualidade
ambiental, comumente, mais restritivos. Defende que, a princípio, inexiste qualquer conflito quando as
normas estaduais, distritais e municipais são mais restritivas que as federais, desde que não invadam a
competência privativa de outros entes. Os padrões, nada mais são, do que a definir de níveis de poluição
e da tecnologia a ser utilizada para a sua mitigação, sendo atribuição do CONAMA estabelecer tais
limitações. Romeu Tomé diz que o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental implica definir,
grosso modo, a linha divisória entre impacto ambiental tolerável e dano ambiental.
Tal previsão tem encontrado grande eco, atualmente, por força dos processos de certificação da ISO 9.000
e ISO 14.000. O objetivo deste instrumento é fazer com que o Poder Público estimule a adoção e práticas
ecologicamente corretas por meio de incentivos fiscais ou econômicos. desdobramento do princípio do
protetor-recebedor, efetivado por meio das chamadas sanções premiais. É o caso da isenção de ITR para
imóveis transformados em espaço especialmente protegido.
113
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental;
Registro, com caráter obrigatório, de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam à consultoria técnica
sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e
instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. É administrado
pelo IBAMA, nos termos do artigo 17, I da Lei 6.938/81.
Este item não tem sido cumprido sistematicamente, mas vale ressaltar a importância do Relatório lançado
pelo IBAMA denominado GEO BRASIL 2002 - Perspectivas do meio ambiente no Brasil.
Apesar do não cumprimento do encargo pelo Poder Público, a Lei 10.650/03 dispõe sobre o a acesso
público aos dados e informações existentes no SISNAMA.
Também em pleno funcionamento por parte do IBAMA, que o administra, nos termos do artigo 17, II, e
inclusive cobra uma taxa anual para tal fim, nos termos da Lei 10.165/2000.
Concessão Florestal: nos termos da Lei nº 11.284/2006, art. 3o, VII: “é delegação onerosa, feita pelo poder
concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável para exploração de produtos e serviços
numa unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às
exigências do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e
risco e por prazo determinado”. Sendo contrato administrativo no qual o poder público outorga ao
particular a exploração sustentável das florestas públicas. (art. 7º, da Lei nº 11.284 de 2006). Seguro
Ambiental: tem como objetivo reparar os danos ambientais advindos da execução das atitidades
economicas, haja vista a responsabilidade de meio ambiente ser objetiva, baseada na teoria do risco
integral.
O proprietário ou possuidor de imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou
particular ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a
sua propriedade ou de parte dela para preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes,
instituindo servidão ambiental.
A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima exigida.
A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo, a
mesma estabelecida para a Reserva Legal.
114
Pode ser negociada com outros proprietários ou possuidores para compensar áreas com proteção ambiental
deficitária, ou com proprietário ou entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim
social.
É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos casos de
transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.
A servidão ambiental poderá ser onerosa ou gratuita, temporária (prazo mínimo de 15 anos) ou perpétua.
É dever do proprietário do imóvel serviente, entre outras obrigações, manter a área sob servidão
ambiental e defender a posse da área serviente, por todos os meios em direito admitidos.
É dever do detentor da servidão ambiental, entre outras obrigações, defender judicialmente a servidão
ambiental.
O Código Florestal instituiu a Cota de Reserva Ambiental – CRA, título nominativo representativo de área
com vegetação nativa, existente ou em processo de recuperação, sob regime de servidão ambiental que
ultrapasse os limites mínimos exigidos em lei. Podem ser negociadas com proprietários cujas terras
apresentem percentual de vegetação nativa inferior ao mínimo legalmente exigido. Busca-se atribuir valor
à vegetação nativa preservada, com previsão de mecanismos de remuneração daqueles que contribuem
para proteção ambiental.
Atento a isso, o Novo Código Florestal (art. 78-A) prevê que “após cinco anos da data da publicação desta lei,
as instituições financeiras só concederão créditos agrícola, em qualquer de suas modalidades, para
proprietários de imóveis rurais que estejam inscritos no CAR(...).”
Destaca-se ainda que o Código Florestal dispõe de capítulo sobre apoio e incentivo à preservação do meio
ambiente (art. 41 e seguintes) elencando como linhas de ação, dentre outras medidas de incentivo:
II - compensação pelas medidas de conservação ambiental necessárias para o cumprimento dos objetivos
desta Lei mediante obtenção de crédito e seguro agrícolas em melhores condições, linhas de financiamento
para iniciativas de preservação voluntária, dedução de APP e reserva legal para cálculo do ITR, isenção de
impostos para principais insumos e instrumentos destinados a recuperar e manter APP, reserva legal e uso
restrito além de destinação de recursos arrecadados com cobrança pelo uso da água para manutenção de
áreas protegidas na respectiva bacia hidrográfica; e
III - incentivos para comercialização, inovação e aceleração das ações de recuperação, conservação e uso
sustentável das florestas e demais formas de vegetação nativa, tais como a) participação preferencial nos
programas de apoio à comercialização da produção agrícola; b) destinação de recursos para a pesquisa
científica e tecnológica e a extensão rural relacionadas à melhoria da qualidade ambiental.
115
8.2.4 Taxa de controle e fiscalização ambiental
A Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental – TCFA tem como fato gerador o exercício regular do poder de
polícia conferido ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA
para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais e
teve sua constitucionalidade reconhecida pelo STF (RE 416.601, 30/09/2005).
A Avaliação de Impacto Ambiental – AIA (gênero do qual são espécies os mais diversos estudos ambientais)
é mecanismo de realização do desenvolvimento sustentável, pois permite identificar previamente o grau
de impacto ao meio ambiente provocado pela implantação de uma certa atividade socioeconômica,
visando a adoção das providências adequadas.
Inicialmente, não se deve confundir o EIA com a Avaliação de Impacto Ambiental (art. 9, III da Lei 6938/81).
A AIA é um instrumento de política ambiental formado por um conjunto de procedimentos capaz de
assegurar, desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais da ação
proposta (projeto, programa, plano ou política) e de suas alternativas, e que o resultado sejam
apresentados de forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão. Permite que se
exija do empreendedor a adoção das medidas necessárias. A AIA pode ser implementada tanto para
projetos que envolvam execução física de obras e processo de transformação, como para políticas e planos
que contemplem diretrizes programáticas, limitadas ao campo das ideias, neste caso denominada
Avaliação Ambiental Estratégica.
116
O EIA/RIMA é uma das espécies de estudos contemplados pela AIA. São vários os impactos ambientais
possíveis e há diferentes espécies de estudos menos complexos previstas para atividades de baixo
impacto, como plano e projeto de controle ambiental, plano de recuperação de área degradada, plano de
manejo, etc.
O EIA, assim é uma modalidade de avaliação de impacto ambiental e deve ser realizado para subsidiar o
procedimento de licenciamento ambiental de atividades consideradas efetiva ou potencialmente
causadoras de significativa degradação ambiental. Cuida-se de relevante instrumento da PNMA que tem
previsão expressa na Constituição Federal no inciso IV do § 1º do art. 225: “exigir, na forma da lei, para
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.
Nos termos do art. 3 da Resolução 237/97 do CONAMA: “A licença ambiental para empreendimentos e
atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio
dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio
ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando
couber, de acordo com a regulamentação. Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando
que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento.” A
Resolução CONAMA n. 01/86 (art. 2o) em seu artigo segundo traz um rol exemplificativo de atividades que
seriam potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental.
Não se deve também confundir o EIA (Estudo de Impacto Ambiental) com o RIMA (Relatório de Impacto
Ambiental). Este último é documento que veicula as conclusões do EIA de forma mais clara e acessível aos
interessados. “A ideia é traduzir as informações do EIA (que normalmente é complexo, redigido em
linguagem técnica) através da utilização de linguagem simples, quadros, mapas, gráficos, com intuito de
demonstrar as vantagens e desvantagens do projeto, bem como, todas as consequências ambientais de
sua implementação”. (Romeu Tomé, 2016, p. 140). Viabiliza-se assim através do RIMA o princípio da
participação comunitária.
Em regra, o EIA deverá proceder à concessão da Licença Prévia, pois este ato administrativo aprova o
projeto e declara a sua viabilidade ambiental, tendo o estudo ambiental como pressuposto lógico. Assim,
cabe ao EPIA qualificar e, quanto possível, quantificar antecipadamente o impacto ambiental, de modo a
dar suporte a um adequado planejamento de obras ou atividades. Assim, podemos dizer, em síntese, que
o EPIA é “um estudo das prováveis modificações nas diversas características socioeconômicas e biofísicas
do meio ambiente que podem resultar de um projeto proposto”.
9.2 Requisitos
As conclusões do EPIA não vinculam o órgão administrativo ambiental (parte da doutrina advoga que a
EPIA positivo vincula a concessão de licença pelo administrador) O objetivo do estudo é orientar a decisão
da Administração, informando sobre as consequências ambientais de um determinado empreendimento.
Não obstante, o estudo é um limite da discricionariedade administrativa, pois a administração deve expor
as razões que a levaram a optar por solução diversa.
Os casos em que pode haver significativa degradação do meio ambiente estão previstos,
exemplificativamente, na Res. CONAMA 01/86. Podemos citar: estradas de rodagem com duas ou mais
faixas de rolamento, ferrovias, portos, etc.
Tem prevalecido na doutrina que as hipóteses de atividades listadas na Resolução 001/86 ensejam
presunção absoluta de serem potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental.
Entretanto, Milaré advoga que, segundo a Resolução CONAMA 237/97, a presunção é apenas relativa. De
fato, dispõe o art. 3º da resolução, p. único, que o “órgão ambiental competente, verificando que a
atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento”. Há normas
específicas que presumem a necessidade de EIA-RIMA (p. Ex. Lei 11.284/06, art. 18).
No que se refere aos OGM – Organismos Geneticamente Modificados, a matéria encontra-se atualmente
tratada na Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005), em seu artigo 16. Somente se exige EPIA nos casos em
que a CTNBio deliberar que o OGM é potencialmente causador de significativa degradação do meio
ambiente.
O EPIA e o RIMA são feitos antes da concessão da Licença Prévia, como uma condição à expedição desta, a
partir de um Termo de Referência fornecido pelo órgão ambiental, norteado, no mínimo, pelas seguintes
diretrizes (art. 5º, da Resolução nº 01/86 do CONAMA):
c) definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos,
denominada área de influência do empreendimento, considerando, em todos os casos, a microrregião
sociogeográfica e a bacia hidrográfica na qual se localiza;
Além dessas, pode o órgão ambiental fixar outras diretrizes fundamentais que entenda pertinentes, em
razão das peculiaridades do projeto e características ambientais da área.
III – definição das medidas mitigadoras: explicitação das medidas que visam a evitar o impacto ambiental,
inclusive quanto aos aspectos referentes ao seu modo e tempo de aplicação.
O EPIA, como procedimento complexo, deve ser elaborado por uma equipe multidisciplinar de
especialistas, cuja habilitação se dá com a inscrição no Cadastro Técnico Federal de Atividades, sob a
administração do IBAMA (Resolução CONAMA 001/86).
Cabe ao empreendedor providenciar a realização do EPIA. O Estudo deve apresentar a alternativa mais
favorável do ponto de vista ambiental ou, até mesmo, se for o caso, a recomendação de não realização do
projeto. Os custos são arcados pelo proponente do projeto (art. 8º da Resolução 01/86), consagrando o
princípio do poluidor-pagador.
Entendia-se que a equipe autora do EPIA deveria ser desvinculada do projeto em exame, a fim de
favorecer sua independência. Atualmente não mais se faz tal restrição, pois se entende que sempre vai
haver dependência na medida em que o estudo é custeado pelo empreendedor. Assim, entende-se que a
neutralidade dos estudos de impacto ambiental será garantida não por uma eventual independência da
equipe autora em face do proponente, mas pela existência de uma contra-equipe técnica governamental
que examinará o EPIA, do ponto de vista do interesse público.
Na esfera administrativa, o empreendedor estará sujeito às sanções do art. 72 da Lei 9.605, enquanto os
técnicos respondem perante os Conselhos Profissionais e perante o IBAMA.
As conclusões do EPIA serão refletidas no RIMA, cuja linguagem deve ser acessível, ilustrada por mapas,
gráficos e outros métodos que deixem claras as possíveis consequências ambientais do projeto,
comparando-se as vantagens e desvantagens de cada alternativa.
Sobre a publicidade, a Lei 10.650/2003 estabeleceu que o registro de apresentação do EPIA, bem como o
ato de aprovação ou rejeição, serão publicados em diário oficial e ficarão disponíveis nos respectivos
órgãos, em local de fácil acesso ao público.
Ainda nesse contexto, segundo a Res. CONAMA 009/87, deve ser convocada audiência pública, sob pena
de invalidade da licença, sempre que: o órgão de meio ambiente julgar necessário; for solicitada por
entidade civil; for solicitada pelo MP; for pedida por 50 ou mais cidadãos.
A audiência pública deve acontecer na área de influência da obra, tendo prioridade o município ou a área
onde os impactos forem mais significativos, sendo, em alguns casos, necessária a realização de mais de
uma audiência.
A qualidade do EPIA pode ser controlada pela comunidade (controle comunitário), por meio das
audiências públicas e por denúncias e pressões sociais. Pode também ser controlada pelo órgão ambiental
(controle administrativo), através da fixação de diretrizes e termos de referência específicos, bem como
119
pelo exame de mérito da viabilidade do projeto. Pode, ainda, ser controlado pelo Poder Judiciário
(controle judicial), exercido no julgamento das ACP e AP, conforme a proporcionalidade e razoabilidade.
Inexistente ou insuficiente o EPIA não pode a obra ou atividade ser licenciada e se, por acaso, já tiver
havido o licenciamento, este será inválido (Sílvia Cappelli).
O órgão ambiental detém discricionariedade sui generis: ainda que o EPIA/RIMA seja favorável ao
empreendimento, pode negar a licença, desde que motive sua decisão.
Por fim, em havendo interesses diversos envolvidos, deve haver necessária participação dos órgãos
responsáveis, como é o caso da FUNAI, IPHAN, INCRA, etc, situação comum dentre os casos levados à
apreciação do TRF4. Menciona-se a respeito o seguinte precedente:
9.3 Competências
A coordenação do processo de exigência do EPIA foi entregue aos órgãos estaduais competentes, exceção
feita aos casos de expressa competência federal, da alçada do IBAMA, ou de exclusivo interesse local, de
responsabilidade dos órgãos municipais (Resolução do Conama nº 237/97, art. 4, 10).
Para uma visão mais ampla sobre a distribuição das competências dos órgãos responsáveis pelo
licenciamento ambiental, remete-se ao ponto 6 do Edital.
Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV): previsto no Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/00). Semelhante ao
EPIA/RIMA, mas não se confundem. Mais usado em empreendimentos típicos do contexto urbano, sem
grandes impactos no ambiente natural. O EIV não substitui o EPIA, quando exigido. Mas o EPIA, mais
abrangente, pode tornar o EIV dispensável.
EIA a posteriori – Res. 06/1987 CONAMA prevê EIA para obras de grande porte que tenham sido instaladas
ou estejam em operação antes da Resolução 01/1986. Além disso, o art. 8º, II, da Lei 6.938/1981 refere
que o CONAMA poderá determinar a realização de EIA/RIMA sempre que julgar necessário, inclusive
depois do início de obra ou atividade. Tema este controverso, porquanto trata da concorrência entre
direito adquirido e defesa ambiental, sendo que, em regra, esta última prevalece.
120
É inconstitucional norma que submeta a apreciação do licenciamento, ou de seu relatório, a órgão fora
do Poder Executivo, por ofensa à repartição de Poderes (ADI1501, DJ 01.03.2005).
10.1 Biodiversidade
10.1.1 Conceitos
Em apertada síntese, biodiversidade pode ser conceituada como a variedade e a quantidade de espécies
de uma comunidade ou ecossistema.
A proteção à biodiversidade decorre da CF/88, art. 225, § 1º, II, que determina que o Poder Público e a
coletividade devem preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as
entidades dedicadas à pesquisa e manipulação do material genético.
Ante a sua importância para o ser humano pode ser considerada como um conjunto de riquezas, sendo um
patrimônio natural de uma nação.
As normas de proteção à biodiversidade têm duas funções básicas: prevenir a ocorrência de danos à
biodiversidade; buscar a reparação quando ocorrido um dano.
O meio ambiente tem quatro aspectos: meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho. A proteção
à biodiversidade tutela o meio ambiente natural.
2. A segunda categoria inclui tratados aplicáveis a todas as espécies e habitats de uma determinada
região. Alguns exemplos desses tratados: - Convenção Africana sobre a Natureza, de 1968: objetiva
assegurar a conservação, utilização dos recursos naturais, incluindo a fauna e a flora; - Protocolo Kingston
SPA, de 1990: adotado a partir da Convenção de Cartagena (1983), na América do Norte e América Central,
com o objetivo de proteger e utilizar maneira sustentável às áreas de espécies ameaçadas de extinção.
3. A terceira categoria inclui tratados que podem ser aplicados em nível global e regional, mas que seu
objetivo é conservar uma determinada espécie ou habitat. São exemplos os instrumentos para a
121
conservação e proteção de: - Convenção relativa a Zonas Úmidas (Wetlands) de Importância Internacional,
Particularmente como Habitat das Aves Aquáticas (Convenção de Ramsar), de 1971: objetiva conservar,
aumentar e melhorar as zonas úmidas; - Acordo Internacional sobre Madeiras Tropicais, de 1994: visa o
desenvolvimento de técnicas de reflorestamento de madeiras tropicais, como também de manejo de
atividades florestais; - Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar (CNCDM ou UNCLOS – United
Nations Convention on the Law of the Sea), de 1982: principal instrumento internacional a estabelecer
direitos e obrigações dos Estados e outros membros da Comunidade Internacional, visando a conservação
e o uso sustentável dos recursos marinhos, como a sua biodiversidade.
Apenas duas convenções se enquadram nessa categoria: a Convenção sobre Comércio Internacional das
Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CCIEFFSPE ou CITES, Convention on
International Trade in Endangered Species), de 1973, e a Convenção das Nações Unidas sobre a
Diversidade Biológica (CNUDB ou UNCBD, United Nations Convention on Biological Diversity), de 1992. As
duas convenções são as mais importantes para o desenvolvimento do Direito Internacional Ambiental no
que concerne a biodiversidade. É através da conferência das partes de ambos os instrumentos que são
discutidas novas questões acerca da preservação, servindo de escopo para o surgimento de novos
regulamentos, como o Protocolo de Cartagena de Biossegurança de 2000.
10.1.2.1 Convenção sobre comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em
Perigo de Extinção (CITES)
Essa convenção abrange todas as espécies da fauna e da flora do planeta e adota medidas protecionistas
da Biodiversidade no sentido de proibir e regular o comércio internacional de espécies ameaçadas de
extinção, tendo em vista que essas espécies são insubstituíveis e devem ser protegidas para o benefício da
presente e das futuras gerações.
A fim de facilitar a regulamentação do comércio de espécies protegidas, a CITES as dividiu em três anexos.
O anexo I inclui as espécies ameaçadas de extinção e que são ou possam ser afetadas pelo comércio. O
anexo II abrange as espécies que embora não estejam ameaçadas de extinção, poderão atingir esse status
devido à sua exploração comercial. O Anexo III inclui todas as espécies que umas das Partes “declare
sujeitas, nos limites de sua competência, à regulamentação para impedir ou restringir sua exploração e que
necessitem da cooperação das outras partes para o controle do comércio”.
A Convenção não prevê penalidade por descumprimento, mas as próprias partes preferem não constar
da lista de inadimplência, pois pode comprometer as relações econômicas com outras Partes. A própria
Conferência das Partes aconselha a cessação de comércio caso um país esteja atrasando
injustificadamente a implementação da Convenção.
Pode ser aplicada a todas as espécies de animais e plantas encontradas no mundo e a sua atuação é de
nível global. O art. 1º da Convenção estabelece os seguintes objetivos: “A conservação da diversidade
biológica, a utilização sustentável dos seus componentes, a repartição justa e equitativa dos benefícios
derivados da utilização dos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes,
levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, mediante financiamento
adequado”.
A MP 2.186-16/2001 foi revogada pela recente Lei 13.123/15, a qual dispõe sobre a regulamentação
interna sobre a proteção à biodiversidade, em atenção à Convenção sobre Diversidade Biológica, e
dispõe sobre o acesso ao conhecimento tradicional associado. Como esta matéria é recente, em caso de
cobrança, o candidato deve se ater aos conceitos constantes no art. 1o, da Lei.
Argumenta-se que as obrigações oriundas de normas sobre a biodiversidade são erga omnes, pois a
preservação desta é interesse comum da Comunidade Internacional. A biodiversidade representa recursos
genéticos insubstituíveis para prosperidade do planeta, fontes alimentícias, matéria farmacêutica e
contribui para o equilíbrio na biosfera. Além disso, é interesse da Comunidade Internacional que os
recursos naturais sejam conservados para o benefício da presente e das futuras gerações.
O Direito Internacional do Meio Ambiente apresenta mais de 400 tratados multilaterais que preveem,
entre outras, normas sobre a conservação da biodiversidade. Portanto, o caráter erga omnes de normas
sobre a proteção e preservação da biodiversidade é passível de comprovação, dada a grande aceitação dos
documentos sobre o assunto entre os Estados.
A Convenção da Diversidade Biológica (CDB ou UNCBD) propõe regras para assegurar a conservação da
biodiversidade, o seu uso sustentável e a justa repartição dos benefícios provenientes do uso econômico
dos recursos genéticos, respeitada a soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu
território.
Já foi assinada por 175 países (em 1992 durante a Eco-92), dos quais 168 a ratificaram, incluindo o Brasil
(Decreto Nº 2.519 de 16 de março de 1998).
123
A implementação dos princípios da CDB entre os países mega-biodiversos e os detentores de tecnologia
não avança, pois alguns (como os EUA) não a ratificaram. Portanto, não são obrigados a respeitar (e não
respeitam) os princípios da Convenção.
10.1.6 Biopirataria
As informações de um grupo de indivíduos acumuladas por anos, portanto, são bens coletivos, não
simplesmente mercadorias que podem ser comercializadas como qualquer objeto de mercado. Nos
últimos anos, graças ao avanço da biotecnologia e a facilidade de se registrar patentes e marcas em âmbito
internacional, as possibilidades da exploração da biodiversidade se multiplicaram.
Convém ressaltar que o termo biopirataria não se refere somente ao contrabando de diversas espécies
naturais da flora e da fauna, mas principalmente, à apropriação e monopolização dos conhecimentos das
populações tradicionais no âmbito do uso dos recursos naturais. Estas populações estão perdendo o
controle sobre tais recursos.
A biopirataria prejudica a Amazônia. Causa risco de extinção a inúmeras espécies da fauna e da flora, com
sua retirada do habitat natural.
O termo "biopirataria" foi lançado em 1993 pela ONG RAFI (hoje ETC-Group) para alertar sobre o fato do
conhecimento tradicional e dos recursos biológicos estarem sendo apanhados e patenteados por empresas
multinacionais e instituições cientificas.
Cabe ressaltar que, com a novel Lei 13.123/05, a biopirataria e outros atentados contra à biodiversidade
são sancionados administrativamente com penas de multa, advertência e apreensão (art. 27), contudo
ainda não há tipificação penal, entre nós, do crime de biopirataria.
O conhecimento tradicional associado é patrimônio comum do grupo social e tem caráter difuso, de
maneira que toda a comunidade envolvida deve receber os benefícios de sua exploração.
É de fácil constatação que as práticas, processos, atividades e inovações das populações indígenas e locais
exercem significativa contribuição para a preservação da biodiversidade, tendo em vista o intenso manejo
e interação mantidos com ela.
Os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade também são importantes por servirem como
indicadores de material apropriado à pesquisa, encurtando sua procura pelos pesquisadores.
124
A Convenção sobre Diversidade Biológica reconhece que os conhecimentos, inovações e práticas das
comunidades indígenas e locais com estilo de vida tradicionais são relevantes à conservação e à utilização
sustentável da diversidade biológica e deverão ser respeitados e preservados (art. 8 “j”).
O Princípio 22 da Declaração do Rio (ECO-92) dita que: “As populações indígenas e suas comunidades, bem
como outras comunidades locais, têm papel fundamental na gestão do meio ambiente e no
desenvolvimento, em virtude de seus conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer
e apoiar de forma apropriada a identidade, cultura e interesses dessas populações e comunidades, bem
como habilitá-las a participar efetivamente da promoção do desenvolvimento sustentável”.
O artigo 8 “j” da Convenção estatui que cada parte contratante deve, na medida do possível: “em
conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e
práticas das comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à
conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com
a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encorajar a
repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e práticas”
O dispositivo transcrito traz a lume dois princípios básicos enunciados pela CDB, quais sejam: o
consentimento prévio fundamentado (significa que as comunidades detentoras de conhecimentos
tradicionais deverão ser previamente consultadas sobre o acesso e utilização), e a justa e equitativa
repartição de benefícios (garante às populações indígenas e locais o direito de receber os benefícios
derivados do acesso e uso de seus conhecimentos).
O consentimento prévio fundamentado possui como ideia o entendimento de que todas as partes devem
estar cientes dos fatores envolvidos no acesso, isto quer dizer que os povos detentores devem ser
esclarecidos sobre os riscos e benefícios do acesso, bem como de seu intento, entre outros aspectos, e os
interessados na utilização dos conhecimentos devem tomar conhecimento das práticas culturais dos povos
detentores, a saber, sua forma de organização política, seus representantes, suas tradições.
O consentimento prévio informado deve ser comprovado mediante assinatura de termo, registro
audiovisual, parecer do órgão oficial competente ou adesão na forma de protocolo comunitário.
A dificuldade porventura existente em relação ao mecanismo ora tratado seria a identificação do titular da
competência para dar o consentimento prévio informado, uma vez que as formas de representação variam
de uma comunidade para outra e em razão de muitas comunidades possuírem o mesmo conhecimento.
Uma saída para o impasse é estudar de forma detalhada a organização política da comunidade para
descobrir a quem cabe falar em nome da coletividade e verificar se todos os indivíduos foram informados
sobre o pretendido acesso aos conhecimentos, uma vez que qualquer negociação levada a efeito só pode
se regrar pelas normas internas da comunidade. No caso do conhecimento ser do domínio de várias
comunidades, o ideal seria que todas as comunidades fossem identificadas para que houvesse legítimo
consentimento para o acesso e justa repartição de benefícios. Levanta-se a hipótese de constituição de
uma agência nacional que intermediaria a negociação identificando e abordando o maior número possível
de comunidades detentoras daquele conhecimento. O Estado pode participar deste processo, assegurando
que o consentimento de povos indígenas e comunidades locais seja livre e consciente.
Acerca da justa e equitativa repartição de benefícios, trata-se da possibilidade das comunidades
detentoras do conhecimento tradicional associado de participar dos resultados da pesquisa, que poderá
derivar em perspectiva de uso comercial. Porém, mesmo que não se realize a comercialização do produto
ou processo desenvolvido, as comunidades que concederam seus conhecimentos, ainda assim, farão jus à
participação de benefício, os quais não são necessariamente econômicos, podendo consistir em
informação útil à comunidade sobre o resultado da pesquisa, por exemplo.
125
A proteção, tal como determinada pela Convenção, encontra-se tratada nos arts. 8o, 9o e 10, da Lei
13.123/15, destacando-se, no tratamento legal, a necessidade da participação das comunidades na
tomada das decisões e, mormente, a divisão dos resultados obtidos.
Há duas propostas para a forma de proteção: o sistema dos direitos de propriedade industrial (na
hipótese, estariam os conhecimentos tradicionais inseridos no sistema de patentes); e o regime sui
generis, proposta que ganha corpo e reflete a intenção de resguardar os conhecimentos ancestrais acima
de qualquer outro interesse envolvido.
A CDB não deixou claro qual o modelo de proteção a ser utilizado, se o da propriedade industrial ou o do
regime sui generis. Contudo, com base no art. 10, da Lei 13.123/15, percebe-se que, no Brasil, o sistema
seria diferenciado, não se confundindo com a propriedade industrial, porquanto se destaca, na
normativa, mais o caráter protetivo do conhecimento associado, do que a exploração econômica dele.
Ressalta-se a tendência contraditória na Lei de conjugar dois institutos distintos, quais sejam: os direitos
coletivos das comunidades indígenas e locais sobre seus conhecimentos e a possibilidade de utilização dos
direitos de propriedade intelectual. O art. 10º, §1o, da Lei 13.123/15, estatui que o conhecimento
tradicional associado, ainda que pertencente a um indivíduo, poderá ser de titularidade da comunidade,
reconhecendo, nestes termos, a titularidade coletiva da comunidade indígena ou local sobre seus
conhecimentos. A contrario sensu, o §4º do art. 17 prevê a possibilidade de patentear produtos ou
processos resultantes da aplicação comercial ou industrial de conhecimentos tradicionais, permitindo,
assim, a apropriação individual dos ditos conhecimentos tradicionais, sem a repartição dos benefícios.
A doutrina tem posicionamento que reconhece o domínio público do conhecimento tradicional associado2:
A outra orientação – à qual nos filiamos – pretende criar um regime legal sui generis,
ou seja, totalmente distinto do sistema patentário, tanto do ponto de vista
conceitual quanto valorativo. Tal orientação parte da constatação de que todo o
sistema patentário vigente, de proteção a direitos de propriedade intelectual,
protege os chamados “conhecimentos novos”, individualmente produzidos, e não os
conhecimentos tradicionais, gerados coletiva e informalmente, e transmitidos
oralmente de uma geração para outra. Estes são considerados, dentro do sistema
vigente, como pertencentes ao domínio público, e sem qualquer proteção
patentária.
O candidato não deve deixar de ler o art. 17, da Lei 13.123/15, que trata da forma de repartição de
benefícios da exploração do conhecimento tradicional associado, porquanto denota, como dito alhures, o
caráter coletivo da detenção do conhecimento, mas que, ao seu turno, permite o licenciamento exclusivo
do produto resultante por conta do proprietário intelectual:
2
SANTILLI, Juliana Ferraz da Rocha. Biodiversidade e conhecimentos tradicionais associados. Rev. Fund. Esc. Super. Minist.
Público Dist. Fed. Territ., Brasília, Ano 10, Volume 20, pp. 50-74, jul./dez. 2002. p. 56.
126
§ 2o Os fabricantes de produtos intermediários e desenvolvedores de processos
oriundos de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional
associado ao longo da cadeia produtiva estarão isentos da obrigação de repartição
de benefícios.
A L. 12.651/12, inicialmente denominada “Novo Código Florestal”, teve sua ementa alterada, suprimida a
menção a Código. A nova lei não se denomina Código: o texto não é um conjunto sistematizado de normas
relativas às florestas. A legislação a respeito se encontra muito dispersa e a abrangência da Lei 12.651 não
é grande.
Abrangência do NCF: o antigo (primeiro Código Florestal, de 1934) tratava de todas as florestas brasileiras,
com ênfase na produção de madeira. Tratava dos monumentos naturais, florestas protetoras, florestas de
rendimentos (produção de madeira), florestas remanescentes (as demais). O de 1965 manteve
basicamente os institutos do anterior, mas sua abrangência diminuiu com o tempo (criação da Lei das
127
Unidades de Conservação, Lei da Mata Atlântica, Lei de diversidade biológica, Lei de Gestão das Florestas
Públicas etc. – leis especiais que tiraram do âmbito do Código de 65 sua regulamentação). Assim, o novo
“Cód. Florestal” ficou reservado, praticamente, apenas para áreas particulares. Porém, mantendo a
tradição, nos referimos à Lei 12.651 como NCF/NCFlo (Novo Código Florestal).
O principal ponto negativo foi a instituição das chamadas “áreas consolidadas”, espaços degradados por
desobediência à legislação anterior cujos infratores foram anistiados. Houve, assim, o reconhecimento de
fatos consumados sem medidas de recuperação do que foi desmatado no passado, premiando quem
descumpriu a lei. Já os defensores da anistia asseveram que as áreas consolidadas foram criadas para
compatibilizar a proteção do meio ambiente com as atividades já realizadas, por motivo de segurança
jurídica. A ampla anistia foi abrandada por alguns vetos e pela MP 571.
O art. 1º-A estabeleceu que o fundamento central no Novo Código é a proteção e uso sustentável das
florestas e o desenvolvimento sustentável é o objetivo a ser alcançado (art. 1º-A, parágrafo único).
Foram poucas as mudanças com o Novo Código em termos gerais e estruturais, já que a lei aprovada
permitiu somente ajustes pontuais para adequação da situação de fato à situação de direito pretendida
pela legislação ambiental.
A proteção do meio ambiente natural continua sendo obrigação do proprietário mediante a manutenção
de espaços protegidos de propriedade privada, divididos entre Área de Preservação Permanente (APP) e
Reserva Legal (RL).
Uma novidade está na implementação e na fiscalização desses espaços, agora sujeito ao Cadastro
Ambiental Rural (CAR).
O Código Florestal protege: florestas, demais formas de vegetação e as terras propriamente ditas.
Exprimir que as florestas e demais formas de vegetação “são bens de interesse comum a todos” significa
que, embora o domínio da floresta seja público ou privado, o interesse deve ser compreendido como a
faculdade legal e constitucionalmente assegurada a qualquer indivíduo de exigir, administrativa ou
judicialmente, do titular do domínio que ele preserve a sua boa condição ecológica.
Área de Preservação Permanente - APP: “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a
função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a
biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas” (Art. 3º, II).
Enfim, basicamente, a APP tem a função de preservar a água, o solo, a paisagem, a fauna e a flora.
A APP é caracterizada pela intocabilidade dos recursos naturais da área, salvo casos de utilidade pública
ou interesse social ou outros definidos nesta lei.
Os Estados poderão estabelecer, em sua legislação própria, outros critérios para que se definam locais nos
quais a flora será considerada de preservação permanente, já que o Código Florestal é tido como lei geral
(nacional).
128
O disposto no artigo 19, parágrafo 1º da Lei Estadual nº 10.561/91 não conflita com
o preceito contido no artigo 21, parágrafo único do Código Florestal. Trata-se
aquela de lei especial, compatível com o tratamento genérico da norma federal.
(REsp 246531/MG)
Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros,
desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de: [...]
A preocupação do art. 4º, I, “a”, “b”, “c”, “d” e “e” do Código Florestal situa-se na preservação da
vegetação que protege os cursos d’água, diante de sua relevância. “A remoção da cobertura vegetal reduz
o intervalo de tempo observado entre a queda da chuva e os efeitos nos cursos d’água (deflúvio de base),
diminui a capacidade de retenção de água nas bacias hidrográficas e aumenta o pico de cheias”. Ademais,
a cobertura vegetal limita a possibilidade de erosão do solo, minimizando a poluição dos cursos de água
por sedimentos”.
Note-se que a Lei n. 12.727/12 fez sensível alteração para estabelecer que apenas as faixas marginais de
curso d’água natural perene [que possui água corrente durante todo o ano] e intermitente/temporário
[aquele que, naturalmente, não apresenta escoamento superficial em alguns períodos do ano; seca em
período de escassez de chuva] são APPs, excluindo os rios efêmeros [que têm escoamento superficial
apenas durante ou imediatamente após períodos de precipitação].
A linha inicial de demarcação da largura das APPs foi alterada, reduzindo a dimensão das APPs: mede-se,
agora, não a partir do nível mais alto do corpo de água (nível alcançado com a cheia sazonal), mas sim da
“da borda da calha do leito regular”.
II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: a) 100 (cem) metros,
em zonas rurais, exceto para o corpo d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal
será de 50 (cinquenta) metros; b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;
III - as áreas no entorno dos reservatórios d’água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento
de cursos d’água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento;
IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;
V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por cento) na
linha de maior declive;
VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100
(cem) metros em projeções horizontais;
IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação
média maior que 25°.
XI - em veredas, a faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 (cinquenta) metros, a
partir do espaço permanentemente brejoso e encharcado.
129
§ 1º Não será exigida Área de Preservação Permanente no entorno de reservatórios artificiais de água que
não decorram de barramento ou represamento de cursos d’água naturais.
§ 4o Nas acumulações naturais ou artificiais de água com superfície inferior a 1 (um) hectare, fica
dispensada a reserva da faixa de proteção prevista nos incisos II e III do caput, vedada nova supressão de
áreas de vegetação nativa, salvo autorização do órgão ambiental competente do Sistema Nacional do Meio
Ambiente - Sisnama. (Redação dada pela Lei nº 12.727, de 2012).
A proteção das florestas e demais formas de vegetação que se encontrem no topo dos morros, montes,
montanhas e serras tem a finalidade de preservar a integridade dos acidentes geográficos, evitando, ainda,
enchentes e inundações nos térreos mais baixos (a vegetação constitui barreira natural).
Também, o simples efeito da vigência do Código Florestal fez com que as restingas, fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangue, fossem consideradas como de preservação permanente.
As florestas de preservação permanente por efeito da lei só podem ser suprimidas por outra lei, diante
do princípio da similitude das formas.
A instituição dessas áreas de preservação permanente, através de ato administrativo (Decreto, via de
regra), possui conteúdo declaratório. Preenchidos os requisitos do art. 6º, a Administração deverá editar o
decreto declaratório da área de preservação permanente. É declaratório, pois “as áreas que ora estão
sendo tratadas já são consideradas protegidas desde a edição do Código Florestal”.
A vegetação situada em Área de Preservação Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área,
possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
130
A obrigação prevista tem natureza real (propter rem) e é transmitida ao sucessor no caso de transferência
de domínio ou posse do imóvel rural.
Essa supressão só pode ser autorizada mediante prévio procedimento administrativo no qual fique
comprovada a utilidade pública ou interesse social e a inexistência de alternativa técnica e locacional
para o empreendimento.
A autorização é da competência do órgão ambiental estadual, com anuência prévia, quando cabível, do
órgão federal ou municipal competente (arts. 10; 11-A, III; 26, Novo Cód. Florestal).
No caso de supressão não autorizada de vegetação realizada após 22 de julho de 2008, é vedada a
concessão de novas autorizações de supressão de vegetação enquanto não cumpridas as obrigações de
recomposição.
Houve grande alargamento das hipóteses de utilidade pública e interesse social, que permitem a
intervenção na APP e a supressão de sua vegetação.
É permitido o acesso de pessoas e animais às Áreas de Preservação Permanente para obtenção de água e
para realização de atividades de baixo impacto ambiental.
A consolidação da utilização antrópica das Áreas de Preservação Permanente foi aspecto principal da
Medida Provisória 571/12 e dos vetos da Presidente da República ao projeto de lei aprovado no Congresso
Nacional.
Foram estabelecidas diversas condicionantes e limitações para a continuidade do uso dessas áreas. O art.
61-A traz disciplina detalhada da recomposição das áreas consolidadas, com tratamento isonômico (mais
brando para pequenos proprietários e mais severo para os grandes proprietários), especificado para cada
tipo de APP. Em matéria de APP, ficou bem clara a inexistência de direito adquirido a poluir, devendo a
propriedade se adequar à conformação legal de sua função social ambiental.
No ponto, aliás, merece destaque importante julgado do STJ relativo à aplicação intertemporal do novo
CFlo, especialmente no que diz com as regras menos protetoras do meio ambiente:
No que se refere às áreas consolidadas, é importante ressaltar que a Lei 12.651/12 não estabeleceu
anistia universal e indiscriminada para todos que tivessem praticado desmatamento, supressão de
vegetação ou degradação de Mata Atlântica antes de sua vigência.
É dizer, este dispositivo não tem normatividade autônoma, está dentro de um capítulo que trata
"das áreas consolidadas em áreas de reserva legal", ou seja, não atinge qualquer degradação ambiental ou
supressão de vegetação que tenha ocorrida em área de proteção ambiental, mas apenas dentro de
reserva legal.
Trata de anistia muito específica e restrita a um caso concreto, a fim de evitar que esses proprietários
sejam obrigados à recuperação de uma extensão de área que antes não era considerada reserva legal, mas
que passou a ser considerada no novo Código Florestal. (neste sentido, dispõe o precedente do TRF4, da 4ª
Turma: AC 50015662920104047006).
Pelo Código Florestal, a propriedade florestal é regida pelas limitações gerais existentes, tais como normas
de vizinhança e o desempenho da função social da propriedade, delineada na Constituição e regulada pelo
Código Florestal.
A propriedade florestal possui 3 limitações principais: áreas de preservação permanente, reservas legais
e corte somente com autorização do poder público.
Verifica-se, portanto, que o direito de propriedade não é caracterizado somente pela liberdade de ação do
proprietário, contraposta a um dever geral ("erga omnes") de todos respeitarem o domínio, mas também
pelos deveres e obrigações a cargo do titular do direito de propriedade. Dessa forma, é a função social
princípio que se manifesta na estrutura do direito de propriedade, sendo que as interferências causadas
no próprio domínio por esse princípio são diversas dos seus limites externos, pois são "limitações" que
surgem com o próprio direito, sendo-lhes intrínsecas. (AC 00005315320094047007, 3ª Turma do TRF4).
Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12 do Código,
com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural,
auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da
biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.
Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a
título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de
Preservação Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação
à área do imóvel, excetuados os casos previstos no art. 68 desta Lei:
132
II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).
Ficou definitivamente superada a concepção inicial do Código Florestal de 1965, de que a Reserva Legal era
um limite para o desmatamento. Agora trata-se claramente de um ônus inerente ao exercício da
propriedade, cuja responsabilidade é propter rem, acompanha a coisa, independentemente do vínculo
pessoal. Em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para assentamentos pelo
Programa de Reforma Agrária, será considerada a área do imóvel antes do fracionamento.
Uma novidade relevante é a possibilidade do cômputo da APP na reserva legal. Esse benefício, que poderá
ser muito útil à regularização de imóveis rurais, está, no entanto, limitado às hipóteses em que:
a) o cômputo não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;
c) o proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
Reserva Legal acima do mínimo legal - Área excedente poderá ser utilizada para fins de constituição de
servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental ou outros instrumentos congêneres. Poderá ser instituído
Reserva Legal em regime de condomínio ou coletiva entre propriedades rurais, respeitado o percentual
previsto no art. 12 em relação a cada imóvel.
A Reserva Legal deve ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel rural,
possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
Para fins de manejo de Reserva Legal na pequena propriedade ou posse rural familiar, os órgãos
integrantes do Sisnama deverão estabelecer procedimentos simplificados de elaboração, análise e
aprovação de tais planos de manejo.
É obrigatória a suspensão imediata das atividades em área de Reserva Legal desmatada irregularmente
após 22 de julho de 2008.
Sem prejuízo das sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, deverá ser iniciado processo de
recomposição da Reserva Legal em até 2 (dois) anos contados a partir da data da publicação desta Lei,
devendo tal processo ser concluído nos prazos estabelecidos pelo Programa de Regularização Ambiental –
PRA.
A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental competente por meio de inscrição no
CAR de que trata o art. 29, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a
qualquer título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei.
Na posse, a área de Reserva Legal é assegurada por termo de compromisso. A transferência da posse
implica a sub-rogação das obrigações assumidas no termo de compromisso.
O manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial depende de
autorização do órgão competente.
O manejo sustentável para exploração florestal eventual sem propósito comercial, para consumo no
próprio imóvel, independe de autorização dos órgãos competentes, devendo apenas ser declarados
133
previamente ao órgão ambiental a motivação da exploração e o volume explorado, limitada a exploração
anual a 20 (vinte) metros cúbicos.
Áreas Consolidadas
O proprietário ou possuidor de imóvel rural que detinha, em 22 de julho de 2008, área de Reserva Legal
em extensão inferior ao estabelecido no art. 12, poderá regularizar sua situação, independentemente da
adesão ao PRA, adotando as seguintes alternativas, isolada ou conjuntamente: I - recompor a Reserva
Legal; II - permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal; e III - compensar a
Reserva Legal.
A proteção florestal, seja por RFL ou por APP, não implica desapropriação, nem deve ser indenizada,
exceto se restringir o domínio ou causar alguma espécie de prejuízo.
134
A desapropriação indireta pressupõe três situações, quais sejam: (I) apossamento do bem pelo Estado sem
prévia observância do devido processo legal; (II) afetação do bem, ou seja, destiná-lo à utilização
pública; e (III) irreversibilidade da situação fática a tornar ineficaz a tutela judicial específica. A edição do
Decreto Federal n. 750/93, que os embargantes reputam ter encerrado desapropriação indireta em sua
propriedade, deveras, tão somente vedou o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou em
estados avançado e médio de regeneração da Mata Atlântica, sendo certo que eles mantiveram a posse do
imóvel. Logo, o que se tem é mera limitação administrativa. As vedações contidas no Decreto Federal n.
750/93 não são capazes de esvaziar o conteúdo econômico da área ao ponto de ser decretada a sua perda
econômica. Recurso de embargos de divergência conhecido e não provido. (STJ. EREsp 922.786/SC, Rel.
Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 15/9/2009).
Por outro lado, o STJ já decidiu em inúmeras oportunidades que a indenização referente à desapropriação
de propriedades detentoras de APP's não deve abranger a área de preservação permanente por esta não
ser passível de exploração econômica, senão vejamos: Nas demandas expropriatórias, é incabível a
indenização da cobertura vegetal componente de área de preservação permanente. (REsp 1090607/SC)
Com relação à cobertura vegetal (RFL), quando o imóvel for desapropriado, o STJ diz que é necessária a
demonstração de exploração econômica (lícita) para o recebimento de indenização:
O STF segue orientação diametralmente oposta, pugnando pela indenizabilidade das áreas de APP e da
cobertura vegetal nos processos de desapropriação: O Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento
de que as áreas referentes à cobertura vegetal e à preservação permanente devem ser indenizadas, não
obstante a incidência de restrição ao direito de propriedade que possa incidir sobre todo o imóvel que
venha a ser incluído em área de proteção ambiental. (AI 653062)
Uma situação interessante no que diz respeito às desapropriações indiretas é referente à legitimidade
passiva ad causam da União quando estas são manejadas tendo por causa de pedir atos decorrentes da
implantação do Parque Nacional, isto é, quando os atos constitutivos da hipótese de desapropriação
indireta decorrem da constituição de UC por meio de Decreto da Chefia do Poder Executivo Federal.
Nestas hipóteses, a União é indubitavelmente parte legítima, uma vez que a unidade de conservação da
natureza foi por ela instituída mediante decreto da Chefia do Poder Executivo Federal e tendo em vista
que a própria Lei nº 9.985/2000 (SNUC), enquadra os Parques Nacionais na categoria de Unidade
de Proteção Integral, com posse e domínio públicos, afirmando a necessidade de que as áreas privadas,
abrangidas nos limites dos Parques, sejam desapropriadas. (nesta linha consta o precedente contido da
Apelação/Remessa Necessária 50082167220134047205, da 3ª Turma do TRF4).
135
“Dumping ambiental”: A Câmara de Comércio Exterior - CAMEX é autorizada a adotar medidas de
restrição às importações de bens de origem agropecuária ou florestal produzidos em países que não
observem normas e padrões de proteção do meio ambiente compatíveis com as estabelecidas pela
legislação brasileira”.
A Lei 11.284/2006 estabelece no plano jurídico um sistema de gestão de florestas destinado a criar
produtos e serviços em proveito do desenvolvimento sustentável, concebendo a floresta como um
instrumento de exploração econômica eficiente e de largo alcance, compreendendo: I - a criação de
florestas nacionais, estaduais e municipais (...) e sua gestão direta; II - a destinação de florestas públicas às
comunidades locais, nos termos do art. 6º desta Lei; III - a concessão florestal, incluindo florestas naturais
ou plantadas e as unidades de manejo das áreas protegidas referidas no inciso I do caput deste artigo.
A lei 11.284/2006 é tida como norma geral, de modo que as leis estaduais e municipais deverão se adequar
às suas normas de contornos gerais, bem como, pela competência suplementar, poderão elaborar normas
supletivas e complementares e estabelecer padrões relacionados à gestão florestal.
I - a proteção dos ecossistemas, do solo, da água, da biodiversidade e valores culturais associados, bem
como do patrimônio público;
II - o estabelecimento de atividades que promovam o uso eficiente e racional das florestas e que
contribuam para o cumprimento das metas do desenvolvimento sustentável local, regional e de todo o
País;
III - o respeito ao direito da população, em especial das comunidades locais, de acesso às florestas
públicas e aos benefícios decorrentes de seu uso e conservação;
V - o acesso livre de qualquer indivíduo às informações referentes à gestão de florestas públicas, nos
termos da Lei no 10.650, de 16 de abril de 2003;
VIII - a garantia de condições estáveis e seguras que estimulem investimentos de longo prazo no manejo,
na conservação e na recuperação das florestas.
O Poder Público poderá exercer diretamente a gestão de florestas nacionais, estaduais e municipais,
sendo-lhe facultado, para execução de atividades subsidiárias, firmar convênios, termos de parceria,
contratos ou instrumentos similares com terceiros, observados os procedimentos licitatórios e demais
exigências legais pertinentes.
136
A duração dos contratos e instrumentos similares a que se refere o caput deste artigo fica limitada a 120
(cento e vinte) meses.
Nas licitações para as contratações, além do preço, poderá ser considerado o critério da melhor técnica
previsto no inciso II do caput do art. 26 desta Lei.
As comunidades locais são “populações tradicionais e outros grupos humanos, organizados por gerações
sucessivas, com estilo de vida relevante à conservação e à utilização sustentável da diversidade
biológica” e, antes da realização das concessões florestais, as florestas públicas ocupadas ou utilizadas
por comunidades locais serão identificadas para a destinação, pelos órgãos competentes.
A destinação pode ser feita nas seguintes formas: I - criação de reservas extrativistas e reservas de
desenvolvimento sustentável; II - concessão de uso, por meio de projetos de assentamento florestal, de
desenvolvimento sustentável, agroextrativistas ou outros similares; III - outras formas previstas em lei.
Estas destinações serão feitas de forma não onerosa para o beneficiário e efetuada em ato administrativo
próprio (art. 6º, § 1º).
A previsão dos instrumentos de destinação acima mencionados não impede que as comunidades locais
participem das licitações destinadas à concessão florestal, por meio de associações comunitárias,
cooperativas ou outras pessoas jurídicas admitidas.
É “a delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo florestal sustentável
para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação, à pessoa jurídica,
em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e demonstre capacidade
para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado”.
A concessão florestal é uma espécie de contrato administrativo por meio do qual o Poder Público, por
meio de licitação, concede ao particular o direito de explorar os recursos florestais (produtos e serviços) de
forma racional e sustentável, de acordo com o Plano de Manejo Florestal Sustentável – PMFS aprovado
pelo governo.
A concessão florestal será autorizada em ato do poder concedente e formalizada mediante contrato, que
deverá observar os termos desta Lei, das normas pertinentes e do edital de licitação (art. 7º). O poder
concedente publicará, previamente ao edital de licitação, ato justificando a conveniência da concessão
florestal, caracterizando seu objeto e a unidade de manejo (art. 12). Também, as licitações para concessão
florestal serão realizadas na modalidade concorrência e outorgadas a título oneroso, sendo vedada a
declaração de inexigibilidade prevista na Lei 8666/93.
137
A publicação do edital de licitação de cada lote de concessão florestal deverá ser precedida de audiência
pública, por região, realizada pelo órgão gestor, nos termos do regulamento, sem prejuízo de outras
formas de consulta pública.
São elegíveis para fins de concessão as unidades de manejo previstas no Plano Anual de Outorga
Florestal – PAOF, que é proposto pelo órgão gestor e definido pelo poder concedente, contendo a
descrição de todas as florestas públicas a serem submetidas a processos de concessão no ano em que
vigorar (art. 10), o qual será submetido ao órgão consultivo da respectiva esfera de governo. Se for federal,
ainda requer a manifestação da SPU/MPOG e se situado em faixa de fronteira, deverá ouvir o Conselho de
Defesa Nacional.
A concessão florestal terá como objeto a exploração de produtos e serviços florestais, contratualmente
especificados, em unidade de manejo de floresta pública, com perímetro georreferenciado, registrada no
respectivo cadastro de florestas públicas e incluída no lote de concessão florestal.
É vedada a outorga de qualquer dos seguintes direitos no âmbito da concessão florestal (art. 16, §1º):
III - uso dos recursos hídricos acima do especificado como insignificante, nos termos da Lei no 9.433, de 8
de janeiro de 1997;
Prevê-se, ainda, licenciamento ambiental, compreendendo a licença prévia e a licença de operação, não se
exigindo a licença de instalação.
A licença prévia para uso sustentável da unidade de manejo será requerida pelo órgão gestor, mediante a
apresentação de relatório ambiental preliminar ao órgão do SISNAMA.
O início das atividades florestais na unidade de manejo somente poderá ser efetivado com a aprovação
do respectivo PMFS pelo órgão do SISNAMA e com a obtenção da licença de operação pelo
concessionário.
O prazo dos contratos de concessão florestal será estabelecido de acordo com o ciclo de colheita ou
exploração, considerando o produto ou grupo de produtos com ciclo mais longo incluído no objeto da
concessão, podendo ser fixado prazo equivalente a, no mínimo, um ciclo e, no máximo, 40 (quarenta)
anos. Mas se for contrato de concessão exclusivo para exploração de serviços florestais será de, no
mínimo, 5 (cinco) e, no máximo, 20 (vinte) anos.
138
Exploração de produtos florestais Apenas serviços florestais
I - florestas públicas: florestas, naturais ou plantadas, localizadas nos diversos biomas brasileiros, em bens
sob o domínio da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal ou das entidades da
administração indireta;
III - produtos florestais: produtos madeireiros e não madeireiros gerados pelo manejo florestal sustentável;
V - ciclo: período decorrido entre 2 (dois) momentos de colheita de produtos florestais numa mesma área;
VII - concessão florestal: delegação onerosa, feita pelo poder concedente, do direito de praticar manejo
florestal sustentável para exploração de produtos e serviços numa unidade de manejo, mediante licitação,
à pessoa jurídica, em consórcio ou não, que atenda às exigências do respectivo edital de licitação e
demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado;
VIII - unidade de manejo: perímetro definido a partir de critérios técnicos, socioculturais, econômicos e
ambientais, localizado em florestas públicas, objeto de um Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS,
podendo conter áreas degradadas para fins de recuperação por meio de plantios florestais;
Os recursos financeiros oriundos dos preços da concessão florestal, via de regra, serão destinados aos
Estados, aos Municípios e ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal no sentido de propiciar
recursos econômicos em face do uso da floresta como bem ambiental.
139
1. O preço sobre os custos de realização do edital de licitação da concessão florestal federal de cada
unidade de manejo, que deve ser pago ao concessionário, excluído do custo do edital aqueles relacionados
às ações realizadas pelo poder público e que, por sua natureza, geram benefícios permanentes ao
patrimônio público (art. 37, Decreto 6063/2007).
Resultado da exploração, excluído o valor mínimo do art. 36, §3º; (art. 39, II)
Resultado da exploração, excluído o valor mínimo do art. 36, §3º, no caso de concessão florestal de
unidades localizadas em florestas nacionais criadas pela União; (art. 39, §1º, II)
O art. 36, §3º da Lei 11284/06, prevê que “será fixado, nos termos de regulamento, valor mínimo a ser
exigido anualmente do concessionário, independentemente da produção ou dos valores por ele auferidos
com a exploração do objeto da concessão”, valor este que integrará os pagamentos anuais devidos pelo
concessionário. A distribuição se dá pela seguinte forma:
Se oriundos dos preços da concessão florestal de unidades localizadas em florestas nacionais criadas
pela União: o valor integral vai para o órgão gestor (art. 39, §1º, I).
1)Natureza jurídica do Patrimônio Genético: O patrimônio genético é bem ambiental de uso comum do
povo brasileiro.
2)Princípios
2.1) Princípios que fundamentam a proteção do patrimônio genético extraídos da Constituição Federal,
da Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos do Homem e da Declaração Ibero-Americana
sobre Ética e Genética:
Lei nº 6.938/81: Estabeleceu a Política e o Sistema Nacional de Meio Ambiente. Com base nesta lei o
CONAMA deliberou as Resoluções 237/97 e nº 305/02.
141
Resolução Conama nº 305/02: Trata do licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos que
façam uso de OGMs e derivados. (Deve, atualmente, ser aplicada naquilo que não contrariar a LB);
Lei n°8.078 e Decreto nº4.680: Para o CDC um dos direitos básicos do consumidor é o de obter informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta, inclusive, a respeito
de suas características e composição, bem como sobre os riscos que apresentem. Já a rotulagem de
alimentos destinados à alimentação humana e animal que contenham ou sejam produzidos a partir de
OGMs foi regulamentada pelo Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003.
Lei nº11.105 ou nova Lei de Biossegurança e Decreto nº5.591/05: A Lei de Biossegurança estabelece
normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos
geneticamente modificados - OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança - CNBS,
reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio e dispõe sobre a Política Nacional de
Biossegurança - PNB.
4)Conceitos
Bioética: é a ciência que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem
sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das
possíveis aplicações.
Biodireito: positiva as regras éticas, garantindo não só o direito a vida, mas também uma melhor qualidade
de vida, do paciente e da relação, garantindo a integridade física do paciente e a integridade do patrimônio
genético.
Biossegurança: conjunto de normas legais e regulamentares que estabelecem critérios e técnicas para a
manipulação genética, no sentido de evitar danos ao meio ambiente e à saúde humana(Luís Paulo
Sirvinskas).
5) Lei da Biossegurança
A lei da biossegurança não está adstrita ao patrimônio genético humano, mas compreende também a
informação de origem genética contida em amostras de todo ou de parte de espécime vegetal, fúngico,
microbiano ou animal.
5.1) Competência para legislar sobre patrimônio genético: Na ADI 3035 o STF declarou inconstitucional Lei
do Paraná que invadia a competência da União. Naquela ação o STF afirmou que a Lei paranaense invadia a
competência privativa da União no que se referia à importação, comercialização e portos e violava a
competência concorrente quanto à matéria ambiental, produção e consumo, vez que existente norma
federal sobre o tema.
142
“Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada contra a lei estadual paranaense de
no 14.162, de 27 de outubro de 2003, que estabelece vedação ao cultivo, a
manipulação, a importação, a industrialização e a comercialização de organismos
geneticamente modificados. Alegada violação aos seguintes dispositivos
constitucionais: art. 1o; art. 22, incisos I, VII, X e XI; art. 24, I e VI; art. 25 e art. 170,
caput, inciso IV e parágrafo único. Ofensa à competência privativa da União e das
normas constitucionais relativas às matérias de competência legislativa
concorrente. (ADI 3035)”.
OBS: Notícia extraída do site do STF, em 25/08/2016, informou que o ministro Gilmar Mendes, deu
provimento ao Recurso Ordinário em Mandado de Segurança (RMS) 26277, para determinar à União que
permita o acesso do Estado do Paraná aos documentos firmados com os produtores rurais daquela
unidade da federação, no que diz respeito à utilização de organismos geneticamente modificados
(transgênicos) sem origem certificada, relativos à safra de 2004, sobretudo, diante do direito fundamental
de acesso à informação.
As atividades e projetos que envolvam OGM e seus derivados ficam restritos ao âmbito de entidades de
direito público ou privado, sendo vedada às pessoas físicas as atividades e projetos com OGM, de forma
autônoma e independente, ainda que mantenham vínculo com pessoas jurídicas.
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio é o órgão competente para conceder aos
interessados autorização para a realização dessas atividades.
Quem financia ou patrocina tais atividades deve exigir a apresentação de Certificado de Qualidade em
Biossegurança, emitido pela CTNBio, sob pena de se tornarem co-responsáveis pelos eventuais efeitos
decorrentes do descumprimento da Lei ou de sua regulamentação.
143
O referido dispositivo teve sua constitucionalidade questionada através da ADI (3510), que, ao final foi
julgada improcedente.
Asseverou-se na decisão que as pessoas físicas ou naturais seriam apenas as que sobrevivem ao parto,
dotadas do atributo a que o art. 2º do Código Civil denomina personalidade civil, assentando que a
Constituição Federal, quando se refere à "dignidade da pessoa humana" (art. 1º, III), aos "direitos da
pessoa humana" (art. 34, VII, b), ao "livre exercício dos direitos... individuais" (art. 85, III) e aos "direitos
e garantias individuais" (art. 60, § 4º, IV), estaria falando de direitos e garantias do indivíduo-pessoa.
Assim, numa primeira síntese, a Carta Magna não faria de todo e qualquer estágio da vida humana um
autonomizado bem jurídico, mas da vida, que já é própria de uma concreta pessoa, porque nativiva, e
que a inviolabilidade de que trata seu art. 5º diria respeito exclusivamente a um indivíduo já
personalizado. Enfatizou-se, ainda, que a lei em questão se referiria, por sua vez, a embriões derivados
de uma fertilização artificial, obtida fora da relação sexual, e que o emprego das células-tronco
embrionárias para os fins a que ela se destina não implicaria aborto. Considerou, também, que, se à lei
ordinária seria permitido fazer coincidir a morte encefálica com a cessação da vida de uma certa pessoa
humana, a justificar a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo ainda fisicamente pulsante para fins
de transplante, pesquisa e tratamento (Lei 9.434/97), e se o embrião humano de que trata o art. 5º da
Lei da Biossegurança é um ente absolutamente incapaz de qualquer resquício de vida encefálica, a
afirmação de incompatibilidade do último diploma legal com a Constituição haveria de ser afastada.
(STF, ADI 3510).
III – engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano;
IV – clonagem humana;
V – destruição ou descarte no meio ambiente de OGM e seus derivados em desacordo com as normas
estabelecidas pela CTNBio, pelos órgãos e entidades de registro e fiscalização,
VI – liberação no meio ambiente de OGM ou seus derivados, no âmbito de atividades de pesquisa, sem a
decisão técnica favorável da CTNBio e, nos casos de liberação comercial, sem o parecer técnico favorável
da CTNBio, ou sem o licenciamento do órgão ou entidade ambiental responsável, quando a CTNBio
considerar a atividade como potencialmente causadora de degradação ambiental, ou sem a aprovação do
Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, quando o processo tenha sido por ele avocado, na forma
desta Lei e de sua regulamentação;
145
O Conselho reunir-se-á sempre que convocado pelo Ministro Chefe da Casa Civil, ou mediante provocação
da maioria absoluta de seus membros. A reunião do CNBS poderá ser instalada com a presença de 6 (seis)
de seus membros e as decisões serão tomadas com votos favoráveis da maioria absoluta.
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNbio
Trata-se de um órgão eminentemente técnico. Integra o Ministério da Ciência e Tecnologia, sendo uma
instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo, para prestar apoio técnico e de
assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e
seus derivados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos
referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus
derivados, com base na avaliação de seu risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente.
As decisões da CTNbio referentes à Biossegurança prevalecem sobre àquelas proferidas por qualquer outro
órgão administrativo, à exceção do CNBS. Nesta seara, convém ponderar que é a CTNbio que detém a
prerrogativa de classificar determinada atividade que utilize OGMs como causadora de “significativo
impacto ambiental”, e, assim, estabelecer o cabível EIA/RIMA.
STJ - Os estudos de impacto ambiental, conquanto previstos na CF/88, são exigidos, na forma da lei, nos
casos de significativa degradação ambiental. No sistema normativo infraconstitucional, o EIA e o RIMA não
constituem documentos obrigatórios para realização de experimentos com OGMs e derivados, salvo
quando, sob o ponto de vista técnico do órgão federal responsável (CTNBio), forem necessários.”
Constituída por 27 (vinte e sete) cidadãos brasileiros de reconhecida competência técnica, de notória
atuação e saber científicos, com grau acadêmico de doutor e com destacada atividade profissional nas
áreas de biossegurança, biotecnologia, biologia, saúde humana e animal ou meio ambiente.
Cada membro efetivo terá um suplente. Terão mandato de 2 (dois) anos, renovável por até mais 2 (dois)
períodos consecutivos. Devem pautar a sua atuação pela observância estrita dos conceitos ético-
profissionais, sendo vedado participar do julgamento de questões com as quais tenham algum
envolvimento de ordem profissional ou pessoal, sob pena de perda de mandato, na forma do regulamento.
As decisões da CTNBio serão tomadas com votos favoráveis da maioria absoluta de seus membros.
Competências: I – estabelecer normas para as pesquisas com OGM e derivados de OGM; II – estabelecer
normas relativamente às atividades e aos projetos relacionados a OGM e seus derivados; III – estabelecer,
no âmbito de suas competências, critérios de avaliação e monitoramento de risco de OGM e seus
derivados; IV – proceder à análise da avaliação de risco, caso a caso, relativamente a atividades e projetos
que envolvam OGM e seus derivados; V – estabelecer os mecanismos de funcionamento das Comissões
Internas de Biossegurança – CIBio, no âmbito de cada instituição que se dedique ao ensino, à pesquisa
científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção industrial que envolvam OGM ou seus derivados;
VI – estabelecer requisitos relativos à biossegurança para autorização de funcionamento de laboratório,
instituição ou empresa que desenvolverá atividades relacionadas a OGM e seus derivados; VII – relacionar-
se com instituições voltadas para a biossegurança de OGM e seus derivados, em âmbito nacional e
internacional; VIII – autorizar, cadastrar e acompanhar as atividades de pesquisa com OGM ou derivado
de OGM, nos termos da legislação em vigor; IX – autorizar a importação de OGM e seus derivados para
atividade de pesquisa; X – prestar apoio técnico consultivo e de assessoramento ao CNBS na formulação da
PNB de OGM e seus derivados; XI – emitir Certificado de Qualidade em Biossegurança – CQB para o
desenvolvimento de atividades com OGM e seus derivados em laboratório, instituição ou empresa e
enviar cópia do processo aos órgãos de registro e fiscalização referidos no art. 16 desta Lei; XII – emitir
decisão técnica, caso a caso, sobre a biossegurança de OGM e seus derivados no âmbito das atividades
de pesquisa e de uso comercial de OGM e seus derivados, inclusive a classificação quanto ao grau de risco
e nível de biossegurança exigido, bem como medidas de segurança exigidas e restrições ao uso; XIII –
definir o nível de biossegurança a ser aplicado ao OGM e seus usos, e os respectivos procedimentos e
medidas de segurança quanto ao seu uso, conforme as normas estabelecidas na regulamentação desta Lei,
bem como quanto aos seus derivados; XIV – classificar os OGM segundo a classe de risco, observados os
critérios estabelecidos no regulamento desta Lei; XV – acompanhar o desenvolvimento e o progresso
técnico-científico na biossegurança de OGM e seus derivados; XVI – emitir resoluções, de natureza
normativa, sobre as matérias de sua competência; XVII – apoiar tecnicamente os órgãos competentes no
146
processo de prevenção e investigação de acidentes e de enfermidades, verificados no curso dos projetos e
das atividades com técnicas de ADN/ARN recombinante; e XVIII – apoiar tecnicamente os órgãos e
entidades de registro e fiscalização, referidos no art. 16 desta Lei, no exercício de suas atividades
relacionadas a OGM e seus derivados;
Democratização das reuniões da CTNBio: A restrição de acesso de pessoas às reuniões plenárias e das
subcomissões setoriais do CTNBio viola o princípio da publicidade. (AMS 0012201-97.2007.4.01.3400 /
DF)
Comissão Interna de Biossegurança - CIBIO
Toda instituição que utilizar técnicas e métodos de engenharia genética ou realizar pesquisas com OGM e
seus derivados deverá criar uma Comissão Interna de Biossegurança - CIBio, além de indicar um técnico
principal responsável para cada projeto específico.
Os critérios de funcionamento destas comissões são estabelecidos pela CTNBio.
As atribuições destas comissões estão previstas no art. 18: I – manter informados os trabalhadores e
demais membros da coletividade, quando suscetíveis de serem afetados pela atividade, sobre as
questões relacionadas com a saúde e a segurança, bem como sobre os procedimentos em caso de
acidentes; II – estabelecer programas preventivos e de inspeção para garantir o funcionamento das
instalações sob sua responsabilidade, dentro dos padrões e normas de biossegurança, definidos pela
CTNBio na regulamentação desta Lei; III – encaminhar à CTNBio os documentos cuja relação será
estabelecida na regulamentação desta Lei, para efeito de análise, registro ou autorização do órgão
competente, quando couber; IV – manter registro do acompanhamento individual de cada atividade ou
projeto em desenvolvimento que envolvam OGM ou seus derivados; V – notificar à CTNBio, aos órgãos e
entidades de registro e fiscalização, referidos no art. 16 desta Lei, e às entidades de trabalhadores o
resultado de avaliações de risco a que estão submetidas as pessoas expostas, bem como qualquer
acidente ou incidente que possa provocar a disseminação de agente biológico; e VI – investigar a
ocorrência de acidentes e as enfermidades possivelmente relacionados a OGM e seus derivados e
notificar suas conclusões e providências à CTNBio.
Órgãos e entidades de registro e fiscalização
A lei prevê que os órgãos e entidades de registro e fiscalização do Ministério da Saúde, do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Meio Ambiente, e da Secretaria Especial de
Aquicultura e Pesca da Presidência da República possuem atribuições no sistema brasileiro de
Biossegurança. Suas atribuições possuem caráter meramente registrário e fiscalizatório, devendo sempre
obedecer, as decisões técnicas da CTNBio, as deliberações do CNBS e os mecanismos estabelecidos na
Lei 11.105/05.
As atribuições destes órgãos e entidades consistem em: I – fiscalizar as atividades de pesquisa de OGM e
seus derivados; II – registrar e fiscalizar a liberação comercial de OGM e seus derivados; III – emitir
autorização para a importação de OGM e seus derivados para uso comercial; IV – manter atualizado no SIB
o cadastro das instituições e responsáveis técnicos que realizam atividades e projetos relacionados a OGM
e seus derivados; V – tornar públicos, inclusive no SIB, os registros e autorizações concedidas; VI – aplicar
as penalidades de que trata esta Lei; VII – subsidiar a CTNBio na definição de quesitos de avaliação de
biossegurança de OGM e seus derivados.
Cumpre destacar que, no exercício de atividade fiscalizatória, tais órgãos e entidades podem aplicar
multas, sendo o valor arrecadado destinado aos próprios órgãos e entidades. Esta destinação destoa
daquela prevista na Lei 9.605/95, onde o valor das multas aplicadas em decorrência de infrações
ambientais é destinado ao Fundo Nacional do Meio Ambiente.
A LB cria o SIB destinado à gestão das informações decorrentes das atividades de análise, autorização,
registro, monitoramento e acompanhamento das atividades que envolvam OGM e seus derivados. As
normas relativas à biossegurança devem ser divulgadas no SIB, concomitantemente com as respectivas
entradas em vigor.
147
13.7 Licenciamento
A Competência para deliberar sobre a necessidade do licenciamento ambiental será da CTNBIO, inclusive
da exigência ou não do EIA-RIMA. Entende-se que esse licenciamento será sempre de competência do
IBAMA, pois se trata de atividade que poderá gerar danos ambientais regionais ou nacionais, muito
embora a Resolução CONAMA 305/02 apenas preveja expressamente a atribuição da autarquia federal nos
casos de licenciamento para liberação comercial de OGM. A emissão dos registros, das autorizações e do
licenciamento ambiental referidos na LB deverá ocorrer no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias.
Os crimes previstos na LB podem ser assim resumidos: Utilizar embrião humano em desacordo com o que
dispõe o art. 5º desta Lei (art. 24); Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto
humano ou embrião humano (art. 25); Realizar clonagem humana (art. 26); Liberar ou descartar OGM no
meio ambiente, em desacordo com as normas estabelecidas pela CTNBio e pelos órgãos e entidades de
registro e fiscalização (art. 27 – Crime de Competência Federal, pois a liberação de OGM pode acarretar
consequências a direitos difusos, como a saúde pública, não se restringindo ao âmbito dos Estado – STJ
CC nº 41.301). Há causas de aumento variadas para tais crimes, quando resultar dano à propriedade
alheia; dano ao meio ambiente; se resultar lesão corporal de natureza grave em outrem; se resultar a
morte de outrem. Por fim, há, ainda, o crime de utilizar, comercializar, registrar, patentear e licenciar
tecnologias genéticas de restrição do uso. Neste último caso, não há causas de aumento previstas na lei.
O art. 1º da Lei nº11.460/07 veda a pesquisa e o cultivo de organismos geneticamente modificados nas
terras indígenas e áreas de unidades de conservação, exceto nas Áreas de Proteção Ambiental.
Nas APAs e nas Zonas de Amortecimento das demais UC será o Plano de Manejo que disporá sobre as
atividades de liberação planejada e cultivo de OGM, observadas as informações contidas na decisão
técnica da CTNBio sobre: a) o registro de ocorrência de ancestrais diretos e parentes silvestres; b) as
características de reprodução, dispersão e sobrevivência do organismo geneticamente modificado; c) o
isolamento reprodutivo do organismo geneticamente modificado em relação aos seus ancestrais diretos e
parentes silvestres; e d) situações de risco do organismo geneticamente modificado à biodiversidade.
Por fim, caso a UC não tenha fixado, ainda, sua Zona de Amortecimento, caberá ao Poder Executivo
estabelecer os limites para o plantio de OGM nas áreas que circundam as unidades de conservação, até
que seja fixada sua zona de amortecimento e aprovado o seu respectivo Plano de Manejo. Tais limites
estão hoje no Decreto 5.950/06 (500 metros para plantio de soja geneticamente modificada; 800 metros
para o caso de plantio de algodão geneticamente modificado e 5000 metros para o caso de algodão
geneticamente modificado, quando existir registro de ocorrência de ancestral direto ou parente silvestre.
Há, contudo, decisões entendendo pela inconstitucionalidade da aludida norma, por violar o artigo 225 da
CF, especialmente os princípios da precaução e prevenção (TRF 4 AG 2830 RS 2009.04.00.002830-0) e
outras determinando sua aplicação (TRF-4 - AG 30510 RS 2006.04.00.030510-0).
148
Ponto 14 - Proteção química das culturas e meio ambiente (abarcado pelo ponto 15).
15.1 Introdução
Os efeitos sobre a saúde humana do uso dos agrotóxicos são bem conhecidos. Em casos extremos,
chegam a provocar anomalias genéticas, tumores e câncer. O Brasil é o quarto maior consumidor de
agrotóxicos no mundo e responde por 50% de todo o consumo de agrotóxico na América Latina.
Os agrotóxicos são pesticidas. Podem ser divididos em inseticidas, herbicidas e fungicidas. A
comercialização desses produtos somente pode ser feita através de receituário próprio, prescrito por
profissionais legalmente habilitados, salvo casos excepcionais previstos na regulamentação da lei.
A Constituição prevê a obrigatoriedade do Poder Público controlar os agrotóxicos, tendo sido mais
abrangente ao não mencionar expressamente o termo “agrotóxico”, mas sim “substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente” (art. 225, § 1º, V, da CF).
15.2 Competência
O art. 9º da Lei 7.802/89 dispões sobre as providências que estão a cargo da União:
Art. 9º No exercício de sua competência, a União adotará as seguintes providências:
I - legislar sobre a produção, registro, comércio interestadual, exportação,
importação, transporte, classificação e controle tecnológico e toxicológico;
II - controlar e fiscalizar os estabelecimentos de produção, importação e exportação;
III - analisar os produtos agrotóxicos, seus componentes e afins, nacionais e
importados;
IV - controlar e fiscalizar a produção, a exportação e a importação.
No que diz respeito às ações penais que versam sobre agrotóxicos, a depender da conduta
praticada, poderá haver incidência típica no crime do art. 15 da Lei 7.802/89 ou do art. 56 da Lei 9.605/98
(nesse caso, quando se tratar de produto de importação ou exportação clandestina), cuja adequada
definição jurídica do caso concreto determinará se os fatos serão de competência da Justiça Estadual ou
Federal.
“Aquele que produzir, comercializar,
transportar, aplicar, prestar serviço, der
destinação a resíduos e embalagens
vazias de agrotóxicos, seus componentes
e afins, em descumprimento às
Art. 15 da Lei 7.802/89
exigências estabelecidas na legislação
pertinente estará sujeito à pena de
reclusão, de dois a quatro anos, além de
multa. (Redação dada pela Lei nº 9.974,
de 2000)
Produzir, processar, embalar, importar,
exportar, comercializar, fornecer,
transportar, armazenar, guardar, ter em
depósito ou usar produto ou substância
Art. 56 da Lei 9.605/98 tóxica, perigosa ou nociva à saúde
humana ou ao meio ambiente, em
desacordo com as exigências
estabelecidas em leis ou nos seus
regulamentos:
A importação de agrotóxicos de ingresso proibido no Brasil configura o crime ambiental previsto
no art. 56 da Lei 9.605/98, competindo à Justiça Federal processar e julgar o feito, segundo orienta a
jurisprudência do TRF4.
EMENTA: CORREIÇÃO PARCIAL. IMPORTAÇÃO DE AGROTÓXICOS. ART. 56 DA LEI
9605. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA DESCRITA NA DENÚNCIA NA FASE DA
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. REMESSA AO MPF PARA PROPOSTA DE SUSPENSÃO
150
CONDICIONAL DO PROCESSO. INVERSÃO TUMULTUÁRIA DO PROCESSO. NÃO
OCORRÊNCIA. 1. (...). 2. Em face ao princípio da especialidade, aplicam-se as penas
previstas no artigo 56 da Lei n. 9.605/1998 à conduta de importar agrotóxicos,
conforme firme e consolidada orientação desta Corte. Precedentes. (TRF4
5015261-09.2016.404.0000, SÉTIMA TURMA, Relator ADEL AMERICO DIAS DE
OLIVEIRA, juntado aos autos em 18/05/2016)Por outro lado, ficou decido pelo STJ
que a circunstância de o agrotóxico ser proveniente do exterior não atrai, por si só,
a competência da Justiça Federal, caso inexistente qualquer investigação acerca da
existência contrabando do produto.
“PENAL E PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 1. JUSTIÇA FEDERAL X
JUSTIÇA ESTADUAL. CRIME DE TRANSPORTE DE AGROTÓXICOS DE ORIGEM
ESTRANGEIRA. ART. 56 DA LEI N. 9.605/1998 OU ART. 15 DA LEI N. 7.802/1989.
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE COMPROVEM A IMPORTAÇÃO. CONDUTA
PRATICADA NO BRASIL. CONCLUSÃO ALCANÇADA APÓS A INSTRUÇÃO
PROCESSUAL. 2. AUSÊNCIA DE CONTROVÉRSIA ACERCA DA PROCEDÊNCIA
ESTRANGEIRA DO AGROTÓXICO. FATO QUE NÃO ATRAI, POR SI SÓ, A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 3. AUSÊNCIA DE PROCESSO POR SUPOSTO
CONTRABANDO. IMPOSSIBILIDADE DE ATRAÇÃO EM RAZÃO DE INVESTIGAÇÃO
INEXISTENTE. 4. CONFLITO CONHECIDO PARA RECONHECER A COMPETÊNCIA DO
JUÍZO DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DE MATELÂNDIA/PR, O SUSCITANTE. 1. No
caso, a fixação da competência não deve ser firmada de forma apriorística,
porquanto já efetivamente realizada a instrução processual, com base na qual se
considerou não subsistirem indícios da internacionalidade do crime praticado.
2. Não é possível, com base apenas na origem estrangeira dos agrotóxicos - o que
não se discute -, firmar a competência da Justiça Federal. O art. 109, inciso V, da
Constituição Federal dispõe que o crime deve constar em tratado ou convenção
internacional e que deve ter se iniciado em outro país. Contudo, a conduta
atribuída ao denunciado, de transportar agrotóxicos, iniciou-se já dentro do
Brasil, segundo apurado, não se inserindo, portanto, na disposição constitucional.
3. Admitir-se, de forma peremptória, que todo crime que tenha relação com
produtos contrabandeados seja da competência da Justiça Federal,
independentemente da apuração do crime federal e sem que efetivamente se
verifique a vulneração imediata, e não meramente reflexa, de bens, serviços e
interesses da União, desvirtuaria a competência fixada constitucionalmente.
Portanto, não havendo informações acerca da investigação do delito de
contrabando cometido por terceiro que entregou os agrotóxicos ao denunciado,
não há se falar em atração da competência da Justiça Federal.
4. Conheço do conflito para reconhecer a competência do Juízo de Direito da Vara
Criminal de Matelândia/PR, o suscitante.
(CC 114.148/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 09/04/2014, DJe 22/04/2014)
Questiona-se se o transportador que sabe da origem ilícita do produto tóxico, que foi importado
por terceiro de forma clandestina, comete o crime do art. 56 da Lei 9605/98 (modalidade especial de
contrabando - justiça federal) ou o do art. 15 da Lei 7802/89 (transporte ilegal de produto agrotóxico de
origem estrangeira - em tese da justiça estadual)? A resposta é: Depende do liame subjetivo do agente e
da adesão à conduta do importador antes da consumação (coautoria sucessiva). Veja:
A conduta consistente em transportar, no território nacional, em desacordo com as exigências
estabelecidas na legislação pertinente, agrotóxicos importados por terceiro de forma clandestina não se
adequa ao tipo de importação ilegal de substância tóxica (art. 56 da Lei 9.605/1998) caso o agente não
151
tenha ajustado ou posteriormente aderido à importação ilegal antes da entrada do produto no país, ainda
que o autor saiba da procedência estrangeira e ilegal do produto, subsumindo-se ao tipo de transporte
ilegal de agrotóxicos (art. 15 da Lei 7.802/1989).
Essa é a posição do STJ, a qual é seguida pelo TRF4, conforme demonstram os seguintes
julgados:
“Não havendo elementos no sentido de que o agente, tendo recebido os produtos
dentro do Brasil, sabendo da procedência estrangeira, tenha previamente
ajustado ou posteriormente aderido à importação ilegal antes da consumação do
crime, que, sendo formal instantâneo, ocorre com a simples entrada do produto
no país, não se pode falar em participação na importação de substância tóxica
(art. 56 da Lei 9.605/1998), mas tão somente em delito autônomo de transporte
de agrotóxico (art. 15 da Lei 7.802/1989)”. (REsp 1.449.266-PR)
EMENTA: PENAL E PROCESSO PENAL. ARTIGO 15 DA LEI 7.802/89. LEI Nº 9.099/95,
ART. 56. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE PARTICIPAÇÃO DO RÉU NA IMPORTAÇÃO.
AUSÊNCIA DE LESÃO DIRETA E IMEDIATA A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSE DA
UNIÃO OU CRIME ANTERIOR DE COMPETÊNCIA FEDERAL. COMPETÊNCIA
DECLINADA. (...) Consoante entendimento firmado por esta Corte, o simples
conhecimento da origem estrangeira de agrotóxicos não é suficiente para a
fixação da competência federal. Caso em que, a despeito da origem
comprovadamente estrangeira dos agrotóxicos apreendidos, inexistem indícios que
apontem para a participação do réu na suposta importação irregular. (...) (TRF4,
ACR 5007497-70.2011.404.7105, SÉTIMA TURMA, Relator ROBERTO FERNANDES
JÚNIOR, juntado aos autos em 27/05/2015)
A Lei n. 7.802/89, que regula a matéria, tratou de definir agrotóxicos, no seu art. 2º, I, a e b, como
“os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de
produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de
florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e
industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação
danosa de seres vivos considerados nocivos”, bem como as “substâncias e produtos empregados como
desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento”.
Também importa saber o conceito de componentes que seriam: os princípios ativos, os produtos
técnicos, suas matérias-primas, os ingredientes inertes e aditivos usados na fabricação de agrotóxicos e
afins.
153
manutenção em estoque, a comercialização e o uso de diclorodifeniltricloretano (DDT), nos termos da Lei
11.936/2009. O DDT é um agrotóxico altamente persistente no meio ambiente e na cadeia alimentar, além
de possuir características carcinogênicas e de alteração endócrina.
Há também um controle estatal sobre as pessoas físicas e jurídicas que prestem serviços na
aplicação de agrotóxicos, seus componentes e afins, ou que os produzam, importem, exportem ou
comercializem. Todos deverão promover registros nos órgãos competentes, do Estado ou do Município,
atendidas as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis que atuam nas áreas da saúde, do
meio ambiente e da agricultura.
Em decorrência do Princípio da Participação Comunitária ou Cidadã, possuem legitimidade para
requerer o cancelamento ou a impugnação, em nome próprio, do registro de agrotóxicos e afins,
arguindo prejuízos ao meio ambiente, saúde humana e dos animais:
- As entidades de classe, representativas de profissões ligadas ao setor;
- Partidos políticos com representação no Congresso Nacional;
- Entidades legalmente constituídas para a defesa dos interesses difusos do consumidor, do meio
ambiente e dos recursos naturais.
O decreto regulamentar admite o registro de agrotóxicos, seus componentes e afins, para uso
em emergências, nesse caso sendo concedido por prazo determinado, observadas diretrizes e exigências
dos órgãos responsáveis (art. 18). Também por prazo determinado é o registro para fins de pesquisa e
experimentação (art. 24). Nesse uso os produtos agrícolas não podem ser utilizados para alimentação
humana ou animal.
A Lei 7.802/1989, visando à proteção ambiental e da saúde pública, instituiu regras para a
fabricação das embalagens de agrotóxicos e afins, estabelencendo as seguintes exigências (art. 6º):
I - devem ser projetadas e fabricadas de forma a impedir qualquer vazamento,
evaporação, perda ou alteração de seu conteúdo e de modo a facilitar as operações de
lavagem, classificação, reutilização e reciclagem;
II - os materiais de que forem feitas devem ser insuscetíveis de ser atacados pelo
conteúdo ou de formar com ele combinações nocivas ou perigosas;
III - devem ser suficientemente resistentes em todas as suas partes, de forma a não
sofrer enfraquecimento e a responder adequadamente às exigências de sua normal
conservação;
IV - devem ser providas de um lacre que seja irremediavelmente destruído ao ser
aberto pela primeira vez.
Além disso, apenas as empresas produtoras ou estabelecimentos credenciados podem promover
o fracionamento e a reembalagem de agrotóxicos e afins com o objetivo de comercialização.
O art. 6.º, §§ 2.º, 3.º, 4.º e 5.º, da Lei 7.802/1989, criou deveres ambientais para os usuários,
fabricantes e importadores de agrotóxicos e afins.
Com efeito, os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão efetuar a devolução
das embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, de
acordo com as instruções previstas nas respectivas bulas, no prazo de até um ano, contado da data de
compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante, podendo a devolução ser intermediada
por postos ou centros de recolhimento, desde que autorizados e fiscalizados pelo órgão competente.
No caso de produto importado, assumirá a responsabilidade a pessoa física ou jurídica
responsável pela importação.
154
Em decorrência do Princípio do Poluidor-pagador, as empresas produtoras e comercializadoras
de agrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos
produtos por elas fabricados e comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos
apreendidos pela ação fiscalizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua
reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e
sanitário-ambientais competentes, sendo o tema regulamentado pela Resolução CONAMA 334/2003.
Em decorrência do Princípio da Informação, é condição para a venda ou exposição de agrotóxicos
a exibição de rótulos próprios visíveis em condições normais e bulas redigidos em português, que
obrigatoriamente deverão conter indicações para a identificação do produto, instruções para a sua
utilização, informações referentes aos perigos potenciais e recomendação para que o usuário leia o
rótulo antes de utilizá-lo.
O descumprimento das regras sobre o rótulo e a embalagem pode ser arguido através da
impugnação do registro, como pode ser detectado de ofício pelo próprio servidor público.
As responsabilidades administrativa, civil e penal pelos danos causados à saúde das pessoas e ao
meio ambiente, quando a produção, comercialização, utilização, transporte e destinação de embalagens
vazias de agrotóxicos, seus componentes e afins, não cumprirem o disposto na legislação pertinente,
cabem:
155
a) ao profissional, quando comprovada receita errada, displicente ou indevida;
b) ao usuário ou prestador de serviço, quando proceder em desacordo com o receituário ou as
recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitários ambientais;
c) ao comerciante, quando efetuar venda sem respectivo receituário ou em desacordo com a
receita ou recomendações do fabricante e órgãos registrantes e sanitários ambientais;
d) ao registrante que, por dolo ou culpa, omitir informações ou fornecer informações incorretas;
e) ao produtor, quando produzir mercadorias em desacordo com as especificações constantes
do registro do produto, do rótulo, da bula, folheto e da propaganda ou não der destinação as embalagens
vazias em conformidade com a legislação pertinente;
f) Ao empregador, quando não fornecer e não fizer manutenção dos equipamentos adequados
proteção da saúde dos trabalhadores ou dos equipamentos na produção, distribuição e aplicação dos
produtos.
A pena pelo não cumprimento do previsto na legislação sujeita o infrator a pena de reclusão de 2
a 4 anos, além de multa (art. 15).
Sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis, a infração de disposições da lei
acarretará isolada ou cumulativamente as seguintes sanções (administrativas): Advertência; Multa,
dobrando em caso de reincidência; Condenação do produto; Inutilização do produto; Suspensão de
autorização, registro ou licença; Cancelamento de autorização, registro ou licença; Interdição temporária
ou definitiva do estabelecimento; Destruição de vegetais, partes de vegetais e alimentos, com resíduos
acima do permitido ou nos quais tenha havido aplicação de agrotóxicos não autorizados, a critério do
órgão competente (art. 17).
157
A Convenção PIC, juntamente com a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos
Persistentes (POP) e com a Convenção de Basiléia sobre Movimento Transfronteiriço de Resíduos
Tóxicos, constitui o tripé das normas que regulam o campo de produção, comércio e transporte
internacional de certas substâncias químicas.
A Convenção prevê a possibilidade de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão por Estados e
organizações regionais de integração econômica, sem o direito de impor reservas ao seu texto, mediante
depósito do instrumento respectivo no Secretariado geral da Organização das Nações Unidas.
Exclui-se da abrangência da convenção os entorpecentes e as substâncias psicotrópicas; os
materiais radiativos; os resíduos; as armas químicas; os produtos farmacêuticos, incluídos os
medicamentos humanos e veterinários; as substâncias químicas utilizadas como complementos
alimentares; os alimentos; os produtos químicos importados em quantidades mínimas para fins de
pesquisa ou para uso pessoal.
O Anexo III traz uma listagem das substâncias químicas sujeitas ao procedimento de
consentimento prévio informado, e, portanto, submetidos ao regime jurídico da Convenção. As Partes da
Convenção deverão adotar leis ou medidas administrativas apropriadas para assegurar uma tomada de
decisão em tempo hábil, que poderá consistir em uma decisão final consentindo ou não a importação.
No caso de exportação de uma substância química proibida ou estritamente regulamentada a
partir de seu território, o país exportador deverá dirigir uma notificação de exportação ao país
importador, antes da primeira exportação, contendo diversas informações acerca do produto exportado.
Ademais, o produto químico exportado deverá obedecer a padrões de rotulagem que assegurem a difusão
das informações relativas aos riscos para a saúde das pessoas ou para o meio ambiente, considerando-se
as normas internacionais aplicáveis à matéria, independentemente das exigências do país importador.
Os Estados Partes solucionarão suas controvérsias por meio da negociação ou de qualquer outro
modo de solução pacífica, ou então por um modo jurisdicional de solução de controvérsias, mediante
obrigação recíproca de submeter a controvérsia à arbitragem ou ao mecanismo institucional da Corte
Internacional de Justiça. As organizações internacionais Partes poderão resolver suas controvérsias por
qualquer meio pacífico ou pela arbitragem.
O princípio básico da Convenção PIC consiste em que a exportação de uma substância química
proibida ou severamente restringida, incluída em seu Anexo III, apenas possa ter lugar com o
consentimento prévio informado da Parte importadora. É estabelecido um procedimento para a obtenção
e divulgação das decisões dos países importadores no sentido de consentir a importação de determinado
produto químico e para assegurar o respeito destas decisões pelos países exportadores.
O outro pilar da Convenção diz respeito ao intercâmbio de informações entre as Partes sobre
substâncias químicas potencialmente perigosas que possam ser objeto do comércio internacional. Nesse
sentido, a Parte exportadora de um produto químico proibido ou severamente restringido para uso no seu
território será obrigada a informar a Parte importadora de que essa exportação terá lugar, antes do
primeiro envio.
159
inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de
produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos
consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é
predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da
União (CF, art. 22, inciso VIII). 2. É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido da
inconstitucionalidade das leis estaduais que constituam entraves ao ingresso de produtos nos Estados da
Federação ou a sua saída deles, provenham esses do exterior ou não. (ADI 3813)
Assim, conclui-se que o STF diferencia “uso” (competência concorrente – matéria de saúde
pública) de “transporte” (competência privativa da União – matéria de transporte interestadual e comércio
exterior) de produtos tóxicos, sobretudo, do Amianto.
ASCAREL – é utilizado em larga escala na refrigeração de sistemas elétricos
Portaria Interministerial n. 19/81 – proibiu a instalação de qualquer equipamento que utilize o
Ascarel ou qualquer elemento congênere. Resolução Conama n. 06/88
MERCÚRIO – provoca o envenenamento. Art. 2o do Decreto n. 97.507/89 – vedou o uso do
mercúrio no garimpo não licenciado. Resolução CONAMA n. 357/05 – trata do limite legal de
concentração de mercúrio na água.
BENZENO – Portaria Interministerial n. 03/82 proibiu a fabricação de produtos que contenham
benzeno. Admite-se, contudo, a presença de 1% como agente contaminante.
CLORO – é certamente um dos produtos químicos mais importantes e que, em tal condição, é
responsável por importantes impactos ambientais e sobre a saúde humana (é muito usado no tratamento
da água). A Lei n. 9.976/00 regulamentou a produção de cloro no Brasil.
PILHAS E BATERIAS – a disposição final delas é um dos mais graves problemas gerados pelos
resíduos sólidos. A matéria vem tratada na Resolução n. 401/08 do CONAMA. Trata da informação e
educação ambiental preconizando que “nos materiais publicitários e nas embalagens de pilhas e baterias,
fabricadas no País ou importadas, deverão constar de forma clara, visível e em língua portuguesa, a
simbologia indicativa da destinação adequada, as advertências sobre os riscos à saúde humana e ao meio
ambiente, bem como a necessidade de, após seu uso, serem encaminhadas aos revendedores ou à rede
de assistência técnica autorizada, conforme Anexo I.”
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) integra a Política Nacional do Meio
Ambiente.
A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) é bastante atual e
contém instrumentos importantes para permitir o avanço necessário ao País no enfrentamento dos
principais problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos
sólidos. Dispõe sobre a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de
hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem
e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou
reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado
ou reutilizado).
Considera-se resíduo sólido o material, substância, objeto ou bem descartado
resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se
propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido,
bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem
160
inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam
para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível.
A lei de resíduos sólidos traz, em seu art. 3º, conceitos importantes para melhor compreensão
da matéria, sendo relevante a leitura atenta desse dispositivo. A fim de otimizar os estudos a que se
propõe o presente resumo, colaciono a seguir os conceitos que, ao meu ver, podem ser objeto de
questionamento em prova.
acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder público e
fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a
implantação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto;
área órfã contaminada: área contaminada cujos responsáveis pela disposição não
sejam identificáveis ou individualizáveis;
destinação final ambientalmente adequada: destinação de resíduos que inclui a
reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento
energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do
SNVS e do Suasa, entre elas a disposição final, observando normas operacionais
específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a
minimizar os impactos ambientais adversos;
disposição final ambientalmente adequada: distribuição ordenada de rejeitos em
aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos
à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos;
geradores de resíduos sólidos: pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou
privado, que geram resíduos sólidos por meio de suas atividades, nelas incluído o
consumo;
gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação
final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos,
exigidos na forma desta Lei;
logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado
por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu
ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente
adequada;
reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração
de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação
em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos
pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de
tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente
viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente
adequada;
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de
atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores
e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos
e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à
qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei;
161
reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação
biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões estabelecidos
pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto de
atividades previstas no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007.
Para a execução da Política Nacional de Resíduos Sólidos, foram invocados os seguintes princípios
ambientais gerais: prevenção, precaução, poluidor-pagador, PROTETOR-RECEBEDOR (previsão
inovadora), desenvolvimento sustentável, razoabilidade e proporcionalidade.
Atenção para exclusão expressa da aplicação da Lei 12.305/2010 aos rejeitos radioativos, por já
sofrerem regulação especial pela Lei 10.308/2001.
Dentre as inovações da Lei nº 12.305/10, destacam-se:
• A proibição dos lixões (observada a regra de transição);
• A atribuição de responsabilidade às indústrias pela destinação dos resíduos sólidos que produzem,
verdadeiro corolário do Princípio do Poluidor-pagador;
• A inclusão social das organizações de catadores;
• A logística reversa, que determina que fabricantes, importadores, distribuidores e vendedores realizem o
recolhimento de embalagens usadas;
• A responsabilidade compartilhada, que envolve a sociedade, as empresas, os governos municipais,
distrital, estaduais e federal na gestão dos resíduos sólidos;
• A previsão dos planos de resíduos sólidos;
• A responsabilidade das pessoas de acondicionar de forma adequada o lixo para o seu recolhimento,
devendo fazer a separação onde houver a coleta seletiva.
Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de
prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos.
OBJETIVOS:
É possível afirmar que o objetivo geral da Política Nacional de Resíduos Sólidos é a proteção da
saúde pública e da qualidade ambiental.
Foram listados os seguintes objetivos específicos no artigo 7.º da Lei 12.305/2010:
• Não geração, redução, reutilização, reciclagem3 e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição
final ambientalmente adequada dos rejeitos;
• Estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;4
• Adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos
ambientais;
• Redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;
• Incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos
derivados de materiais recicláveis e reciclados;
• Gestão integrada de resíduos sólidos;5
• Articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à
cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;
• Capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;
• Regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que
assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade
operacional e financeira, observada a Lei 11.445, de 2007;
• Prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para: produtos reciclados e recicláveis; bens,
serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente
sustentáveis;
162
• Integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
• Estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto;
• Incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria
dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o
aproveitamento energético;
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos será elaborado pela União, sob a coordenação
do Ministério do Meio Ambiente, mediante processo de mobilização e participação
social, incluindo a realização de audiências e consultas públicas, com vigência por
prazo indeterminado e horizonte de 20 anos, a ser atualizado a cada quatro anos.
Os planos estaduais de resíduos sólidos serão elaborados para vigência por prazo
indeterminado, abrangendo todo o território dos estados, com horizonte de atuação
de 20 anos e revisões a cada quatro anos. A aprovação dos planos estaduais é
condição para que os estados tenham acesso aos recursos da União, ou por ela
controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à gestão de
resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de
entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade. Ainda poderão os estados
aprovar planos microrregionais de resíduos sólidos, bem como planos específicos
direcionados às regiões metropolitanas ou às aglomerações urbanas, com a
participação obrigatória dos municípios envolvidos.
163
sólidos não obsta a elaboração, a implementação ou a operacionalização do plano de
gerenciamento de resíduos sólidos.
É proibida a importação de resíduos sólidos perigosos e rejeitos, bem como de resíduos sólidos
164
cujas características causem dano ao meio ambiente, à saúde pública e animal e à sanidade vegetal, ainda
que para tratamento, reforma, reúso, reutilização ou recuperação.
Os critérios utilizados pelo constituinte para definir quais águas integram o domínio da União foram:
Atenção: assertiva recorrente em concursos consiste em atribuir à União a titularidade das águas
subterrâneas. Pela simples leitura dos dispositivos acima, percebe-se que a afirmativa é falsa.
Domínio dos Municípios: não há dispositivo constitucional que atribua aos Municípios
titularidade sobre quaisquer espécies de águas.
No que tange à titularidade dos recursos hídricos, cabe frisar que a ANA – Agência Nacional da Águas – traz
critérios para, no caso concreto, poder classificar o curso d’água como pertencente à União ou aos Estados
– Res. 399/04.
Segundo os critérios apresentados pela ANA, os trechos de rios que compõem cursos principais das bacias
hidrográficas que transpassam ou compõem limites estaduais são de domínio federal.
165
Outrossim, de acordo com o art. 11 do Código das Águas, as margens de rios navegáveis são bens de
domínio público relativo ao ente titular do rio. Assim já decidiu o STJ, Resp 679076/MS.
Tal entendimento afeta diretamente o valor da indenização por desapropriação de imóveis localizados
próximos às margens desses rios. Isso porque, se as margens já são bens públicos, não poderão integrar o
total da indenização.
Esse também é o entendimento do STF, corroborado pela Súmula 479:
As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por isso
mesmo, excluídas de indenização.
Sobre a repartição das competências em matéria hídrica: no que tange à competência legislativa, cabe
privativamente à União legislar sobre a exploração econômica dos recursos naturais com potencial
energético, dentro do qual se inclui as águas – Art. 22, inciso IV da CF.
Por outro lado, está no rol da competência legislativa concorrente a atividade legislativa sobre proteção
dos recursos naturais – art. 24, VI.
Em relação à competência material, a divisão do tema ocorre da mesma maneira.
Quando se tratar de exploração econômica dos recursos naturais com potencial energético, dentro os
quais se encontram as águas – cabe somente à União – art. 21 XVI e XIX.
Ao passo que, relativamente à proteção ambiental dos recursos naturais, como a água, nesse caso todos
os entes federados podem exercer o poder de polícia, pois está dentro da competência material comum –
art. 23, XI.
As águas podem estar submetidas a regimes jurídicos de D. Privado ou de D. Público; podem ser de
propriedade pública ou privada e, qualquer que seja o regime jurídico ao qual estejam submetidas, são
merecedoras de tutela jurídica especial.
Não é recente a preocupação do D. Brasileiro com as águas. A proteção às águas já era tratada na
legislação colonial, sobretudo as Ordenações Filipinas, decretadas em 11.01.1603.
Atualmente, o principal instrumento é o Código de Águas (Dec. 24.643/34). Outras normas:
a) CC;
b) L. 4.466/64;
c) L. 5.357/67;
d) L. 6.050/74;
e) L. 6.662/79;
f) L. 6.938/81;
g) Resoluções CONAMA 20/86 e 05/88;
h) CP.
166
O importante da legislação brasileira de recursos hídricos é que, mesmo antes da L. 6.938/81, o Código de
Águas e as demais normas jurídicas voltadas para a proteção dos recursos hídricos já estavam
fundamentados em concepção jurídica que contemplava, simultaneamente, a proteção da saúde humana,
com a proteção da qualidade ambiental das águas e com a proteção e manutenção do valor que as
mesmas ostentam para o desenvolvimento econômico e social.
Primeiramente, vale salientar que a diferença fundamental entre o CC brasileiro e o Código de Águas está
no fato de que o Código de Águas enfoca as águas como recursos dotados de valor econômico para a
coletividade. É a partir de uma ótica intervencionista que devem ser compreendidos os institutos jurídicos
estabelecidos pelo Código de Águas.
1. Públicas
e) as nascentes quando forem de tal modo consideráveis que, por si só, constituam o "caput fluminis";
g) as situadas em zonas periodicamente assoladas pela seca, nos termos e de acordo com a legislação
especial sobre a matéria.
1.2 Dominicais: são aquelas situadas em terrenos que ostentem a condição de domínio público
dominical, quando não forem do domínio público de uso comum, ou não forem comuns.
3. Particulares: as nascentes e todas as águas situadas em terrenos que também o sejam, quando as
mesmas não estiverem classificadas entre as águas comuns de todos, as águas públicas ou as águas
comuns.
167
1. Federais. Quando:
a) sejam marítimas;
b) estejam situadas em territórios federais;
c) sirvam de limites da República com as nações vizinhas ou se estendam a território estrangeiro;
d) quando situadas na zona de 100km contígua aos limites da República;
e) quando sirvam de limites entre dois ou mais Estados;
f) quando percorrerem parte do território de dois ou mais Estados.
2. Estaduais. Quando:
a) sirvam de limites a dois ou mais municípios e
b) quando percorram parte dos territórios de dois ou mais municípios.
3. Municipais. Quando exclusivamente situadas em seu território, respeitadas as restrições que possam
legalmente ser impostas.
Art. 9º Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e ordinariamente
enxuto. (em sentido comum é o leito do rio)
Art. 89. Consideram-se "nascentes" para os efeitos deste Código, as águas que surgem naturalmente ou
por indústria humana, e correm dentro de um só prédio particular, e ainda que o transponham, quando
elas não tenham sido abandonadas pelo proprietário do mesmo.
Art. 102. Consideram-se águas pluviais, as que procedem imediatamente das chuvas.
Rio: curso de água que é apto para navegação ou flutuação, bastando que essa aptidão exista em algum
trecho nos termos do art. 6o do DL 2.281/40. Se assim não for, a corrente deverá denominar-se córrego,
ribeirão, riacho, arroio, etc.
Bacia hidrográfica: área cujo escoamento das águas superficiais contribui para um único exutório. Área de
drenagem de um curso d’água ou lago. Área total drenada por um rio e seus afluentes. Conjunto de terras
drenadas por um rio principal e seus afluentes. São grandes superfícies limitadas por divisores de águas e
drenadas por um rio e seus tributários.
Lagoa: lago pouco extenso. No Brasil é corrente chamar lagoa a qualquer lago.
168
Corrente: águas que correm, que não se acham estagnadas; corrediço, corredio. O curso das águas de um
rio, de um ribeiro, de um regato; correnteza.
Art. 32. As águas públicas de uso comum ou patrimoniais, dos Estados ou dos Municípios, bem como as
águas comuns e as particulares, e respectivos álveos e margens, podem ser desapropriadas por
necessidade ou por utilidade pública:
Art. 33. A desapropriação só se poderá dar na hipótese de algum serviço público classificado pela legislação
vigente ou por este Código.
Obrigação de conservação da qualidade das águas: arts. 109 a 118 do Código de Águas.
Art. 79. É imprescritível o direito de uso sobre as águas das correntes, o qual só poderá ser alienado por
título ou instrumento público, permitida não sendo, entretanto, a alienação em benefício de prédios não
marginais, nem com prejuízo de outros prédios, aos quais pelos artigos anteriores é atribuída a preferência
no uso das mesmas águas.
Parágrafo único. Respeitam-se os direitos adquiridos até a data da promulgação deste código, por
título legítimo ou prescrição que recaia sobre oposição não seguida, ou sobre a construção de obras no
prédio superior, de que se possa inferir abandono do primitivo direito.
A Lei n. 9.433/1997 institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, sendo que os objetivos desta estão em
consonância com a Política Nacional do Meio Ambiente, razão pela qual os órgãos responsáveis para tanto
devem atuar de forma integrada.
169
Seus principais objetivos são:
a) Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água em padrões de
qualidade adequados aos respectivos usos (princípio da solidariedade ou do desenvolvimento sustentável);
b) A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas
ao desenvolvimento sustentável (princípio do planejamento racional);
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE. OBRIGAÇÃO DE FAZER. MATA ATLÂNTICA.
RESERVATÓRIO BILLINGS. LOTEAMENTO CLANDESTINO. ASSOREAMENTO DA REPRESA. REPARAÇÃO
AMBIENTAL. 1. A destruição ambiental verificada nos limites do Reservatório Billings – que serve de água
grande parte da cidade de São Paulo –, provocando assoreamentos, somados à destruição da Mata
Atlântica, impõe a condenação dos responsáveis, ainda que, para tanto, haja necessidade de se remover
famílias instaladas no local de forma clandestina, em decorrência de loteamento irregular implementado
na região.
Fundamentos
A PNRH baseia-se nos seguintes fundamentos:
I) Água é um bem de domínio público (princípio da dominialidade pública: não há se falar em águas
particulares):
1. Benfeitorias são as obras ou despesas realizadas no bem, para o fim de conservá-lo, melhorá-lo ou
embelezá-lo, engendradas, necessariamente, pelo proprietário ou legítimo possuidor, não se
caracterizando como tal a interferência alheia.
2. A propriedade do solo não se confunde com a do subsolo (art. 526, do Código Civil de 1916), motivo pelo
qual o fato de serem encontradas jazidas ou recursos hídricos em propriedade particular não torna o
proprietário titular do domínio de referidos recursos (arts. 176, da Constituição Federal).
170
4. A água é bem público de uso comum (art. 1º da Lei n.º 9.433/97), motivo pelo qual é insuscetível de
apropriação pelo particular.
5. O particular tem, apenas, o direito à exploração das águas subterrâneas mediante autorização do Poder
Público cobrada a devida contraprestação (arts. 12, II e 20, da Lei n.º 9.433/97).
6. Ausente a autorização para exploração a que o alude o art.12, da Lei n.º 9.443/97, atentando-se para o
princípio da justa indenização, revela-se ausente o direito à indenização pelo desapossamento de aqüífero.
7. A ratio deste entendimento deve-se ao fato de a indenização por desapropriação estar condicionada à
inutilidade ou aos prejuízos causados ao bem expropriado, por isso que, em não tendo o proprietário o
direito de exploração de lavra ou dos recursos hídricos, afasta-se o direito à indenização respectiva.
8. Recurso especial provido para afastar da condenação imposta ao INCRA o quantum indenizatório fixado
a título de benfeitoria.
(REsp 518744/RN, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/02/2004, DJ 25/02/2004, p.
108)
II) A água é um recurso natural limitado (princípio da finitude), dotado de valor econômico, o que
concretiza o princípio do usuário-pagador.
A ideia de dar à água a definição de valor econômico tem o intuito de racionalizar o seu uso e evitar o
desperdício, uma vez que se trata de recurso ambiental finito e vulnerável. Portanto, a apropriação desse
recurso por parte de um ou de vários indivíduos, públicos ou privados, deve proporcionar à coletividade o
direito a uma compensação financeira pela utilização de recursos naturais, bens de uso comum.
III) Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a
dessedentação de animais
Nas situações excepcionais de escassez, poderá haver suspensão total ou parcial da outorga de direito de
uso de recursos hídricos. Vale ressaltar que a declaração de escassez demanda ato da Administração.
IV) A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas.
Não só o consumo direto, como também a irrigação, a navegabilidade, as atividades industriais devem ser
o destino dos recursos hídricos.
VI) A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder
Público, dos usuários e das comunidades.
Diretrizes
As diretrizes da PNRH estão elencadas no art. 3º da Lei 9433/97:
171
Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos:
I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade;
IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos
regional, estadual e nacional;
VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.
Instrumentos
Para que sejam alcançados os objetivos estabelecidos em seu art. 2º, a Lei n. 9.433/1997 prevê, no seu art.
5º, os instrumentos da PNRH:
V - a compensação a municípios;
172
2. Águas para o futuro: Cenários para 2020 – define três cenários prováveis sobre os recursos hídricos
no Brasil para 2020.
4. Programas Nacionais e metas: apresenta programas, subprogramas e metas do PNRH, com marcos
operacionais e indicadores de monitoramento e avaliação dos resultados alcançados e sua implementação.
“I- assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem destinadas;
II- diminuir os custos de combate à poluição das águas mediante ações preventivas permanentes.”
As classes de corpos de água estão na Resolução CONAMA 357/05, quais sejam: Doces, com salinidade até
0,5%; Salobras, com salinidade entre 0,5% a 30%; e Salinas, com salinidade acima de 30%, sendo todas
subdividas em 13 classes de destinação. A Resolução CONAMA 396/08, por sua vez, dispõe sobre as águas
subterrâneas (bens dos Estados/DF), classificando-as de acordo com padrões de qualidade.
Por fim, registre-se que a classificação das águas federais, de competência da União, é feita pelo Conselho
Nacional de Recursos Hídricos, ao passo que a classificação das águas estaduais incumbe aos órgãos
estaduais respectivos.
A utilização dos recursos naturais, bens de uso comum do povo e essenciais à sadia qualidade de vida,
depende de prévio consentimento do Poder Público. O meio ambiente é qualificado como patrimônio
público a ser necessariamente assegurado e protegido tendo em vista o seu uso coletivo e, portanto,
inexiste direito subjetivo à sua livre utilização.
O consentimento estatal é deferido por meio de outorga de direitos de uso de recursos hídricos, com a
finalidade de exercer o controle do uso da água sob os critérios quantitativo e qualitativo e do exercício
dos direitos de acesso à água3. Frise-se que a outorga não implica a alienação parcial das águas, que são
inalienáveis, mas o simples direito de uso, por prazo determinado nos termos e condições expressos no
respectivo ato.
Natureza jurídica: outorga é uma AUTORIZAÇÃO (Instrução normativa n. 4; art. 4º, IV, Lei 9.984/00).
3
Coleção Sinopses para Concursos. Direito Ambiental. Editora Juspodivm, 2ª Edição, 2014, p.163.
173
Obs.: trata-se de uma autorização, mas com peculiaridade próprias do direito ambiental, e não como as
características típicas do direito administrativo. Somente poderá ser revogada quando devidamente
motivada.
Nessa linha, para Paulo Afonso de Leme Machado, o Poder Público não poderá deixar de conceder a
outorga se o indivíduo cumprir todos os requisitos. Não seria mera discricionariedade do Poder Público. A
autorização não garante a perpetuidade da autorização, mas nem por isso ela seria precária. Existem
prazos, e estes devem ser respeitados.
Prazo: até 35 anos, podendo ser renovado (art. 16, Lei 9.433/97), com o prazo começando a fluir da
publicação do ato administrativo de concessão, respeitando-se os prazos de até dois anos, para início da
implantação do empreendimento objeto da outorga e de até seis anos para a sua conclusão (art. 5º, lei
9984/2000).4
Finalidade: outorga serve para definir as condições pelas quais os usuários dos recursos hídricos poderão
captá-los ou nele lançar efluentes dentro de critérios técnicos que assegurem a sustentabilidade do
recurso.
Competência para conceder: a outorga deve ser solicitada para a entidade de direito público que detenha
a titularidade do corpo hídrico, ou quem lhe faça às vezes.
Aquele que detiver a gestão do recurso é quem deve dar a autorização para a utilização do recurso.
• Recursos hídricos que estão sob a gestão da União: ANA.
• Recursos hídricos que estão sob a gestão do Estado: dependerá da estrutura de cada Estado (no
Estado de São Paulo – DAEE).
Usos que estão sujeitos à outorga (art. 12, caput, Lei 9.433/97):
a) captação de água
b) extração de água de aquífero subterrâneo
c) lançamento de esgoto e resíduos em corpo de água tratados ou não, com o fim de sua diluição,
transporte ou disposição final: o que se cobra é o uso do recurso. Portanto, mesmo aquele que lança o
efluente dentro dos padrões de tratamento deverá pagar.
d) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos
e) outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de
água.
Hipóteses de uso isento de outorga ou de não exigibilidade de outorga (art. 12, § 1º, Lei 9.433/97):
4
Coleção Sinopses para Concursos. Direito Ambiental. Editora Juspodivm, 2ª Edição, 2014, p.164/165.
174
Segundo Edis Milaré será o plano que deverá estabelecer quais os casos em que não deverá haver a
outorga.
Especificamente sobre a outorga para fins de geração de energia elétrica: estará subordinada ao Plano
Nacional de Recursos Hídricos.
Outorga preventiva: é preciso ressaltar que essa outorga não está prevista na Lei da Política Nacional de
Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/1997), mas sim na Lei n. 9.984/2000, que criou a ANA – Agência Nacional
de Águas e no art. 10, §1º, da Resolução CONAMA 237/1997
Relaciona-se com o questionamento prático de qual ato deve ocorrer primeiro, se a outorga ou o
licenciamento ambiental: outorga deverá preceder à realização do licenciamento.
No corpo do licenciamento ambiental, a existência da outorga é um pressuposto, quando o
empreendimento estiver relacionado com a utilização de recurso hídrico (art. 10, Resolução CONAMA
237/97 – “a outorga para o uso da água emitida pelos órgãos competentes).
Algumas atividades que utilizam recursos hídricos, além da outorga para a utilização da água, também
estão sujeitas ao licenciamento ambiental, como obras de saneamento, abertura de canais para
navegação, transposição de bacias etc.
Nesse caso, o art. 10, §1º da Resolução CONAMA 237/97 esclarece que, anteriormente ao procedimento
de licenciamento, o interessado deve obter a outorga para o uso da água. Essa é a outorga preventiva.
Ela não confere o direito de uso de recursos hídricos. Apenas faz uma reserva da utilização, uma
declaração de disponibilidade da água para o uso pretendido, de forma que o interessado fique seguro
para realizar o planejamento necessário com vistas à realização o empreendimento. A efetiva utilização da
água somente pode acontecer a partir do licenciamento da atividade.
A fixação de prazo da outorga preventiva deve levar em conta a complexidade do planejamento do
empreendimento, limitando-se ao máximo de 3 anos.
Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica: nos rios de domínio da União, a exploração dos
potenciais de energia hidráulica demanda quantidade significativa de recursos hídricos, motivo pelo qual,
antes da licitação da concessão do empreendimento pela ANEEL, ou antes da autorização do uso do
potencial hidráulico, a ANA deve emitir uma Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica – DRDH.
Posteriormente esse documento é convertido em outorga – arts. 7º e 26 da lei 9984/00; art. 23 do Decreto
nº 3692/00 e do art. 9º da Resolução CNRH nº 37 de 2004.
Para as águas de titularidade dos Estados, cabe ao órgão estadual.
Atenção: de acordo com art. 7º da Lei n. 9.984/2000, cabe à própria ANEEL promover, junto à ANA ou ao
órgão estadual, a emissão DRDH, e não ao empreendedor.
Após a ANEEL conceder ou autorizar o empreendimento, a DRDH será transformada automaticamente
pelo outorgante em outorga de direito de uso de recursos hídricos em favor do empreendedor.
Por fim, o artigo 15 da Lei 9.433/97 elenca as hipóteses de suspensão, parcial ou total, da outorga
concedida, senão vejamos:
“Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em
definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:
175
I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;
II - ausência de uso por três anos consecutivos;
III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de
condições climáticas adversas;
IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;
V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de
fontes alternativas;
VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.”
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – previsão do Princípio do Usuário-Pagador (art. 4º, VII, segunda
parte, Lei da Política Nacional).
A cobrança pelo uso da água vem do fato de ser considerada recurso natural limitado e dotado de valor
econômico.
Assim, como corolário do princípio do usuário-pagador, positivado no inciso VII, do art. 4º da Lei 6938/81 –
Política Nacional do Meio Ambiente – faz-se necessário impor ao usuário uma contribuição pela utilização
de recurso ambiental com fim econômico.
Existe relação entre a cobrança e a outorga, na medida em que aquela somente é possível após o poder
público realizar o procedimento de outorga para a utilização do recurso, art. 20 da Lei n. 9.433/1997.
Os critérios para fixação de valores encontram-se no art. 21 da Lei n. 9.433/1997.
O valor arrecadado pela utilização dos recursos hídricos tem natureza jurídica de preço público ou tarifa.
Como não configura tributo, pode ser aplicado de maneira direcionada, na bacia hidrográfica em que foi
gerado.
176
Além de ter o objetivo primeiro de fomentar a racionalização da utilização da água, os recursos
arrecadados pela cobrança financiam programas previstos pelos próprios planos de recursos hídricos.
Dentro do tema da cobrança pelo o uso da água, insta fazer uma digressão acerca do pagamento por
serviços ambientais.
Desde a CF/88, o direito ambiental foi alçado ao âmbito constitucional, de maneira que a preservação do
meio ambiente e o desenvolvimento sustentável passaram a ser desideratos protegidos
constitucionalmente. Assim se legitimam diversas intervenções e instrumentos de que dispõe o Poder
Público, previstos em âmbito infraconstitucional e infralegal com vistas à proteção do meio ambiente.
Dentre esses diversos instrumentos, tem-se destacado atualmente os mecanismos econômicos de
proteção ambiental.
Tais mecanismos partem do pressuposto de que os bens ambientais devem possuir valor econômico, de
maneira que, tanto sua utilização deve ser objeto de pagamento, quanto a sua preservação deve ser
recompensada economicamente. Isso significa dizer que práticas ambientalmente sustentáveis são
implementadas à medida que os seus responsáveis são compensados financeiramente.
Nessa toada, alguns estados brasileiros como MG, SP e RJ vêm implementando um interessante
instrumento econômico, principalmente para os recursos hídricos, que é o pagamento por serviços
ambientais. Resumidamente consiste num pagamento pelo Poder Público para aqueles que prestam
serviços de proteção ambiental, como preservar uma floresta ou manter a qualidade dos recursos hídricos
de suas propriedades.
Os recursos para esses pagamentos são provenientes dos Fundos de Recursos Hídricos, que são
abastecidos pela cobrança pelo uso da água.
Trata-se de concretização do princípio do protetor-recebedor.
Cobrança no caso da suspensão da outorga: tem-se entendido que no caso da suspensão da outorga a
cobrança pode ser cessada.
• EMBARGO PROVISÓRIO DA OBRA (art. 50, III, Lei 9.433/97) – como não há suspensão da
outorga, a doutrina tem entendido que a cobrança deve persistir.
• EMBARGO DEFINITIVO DA OBRA (art. 50, IV, Lei 9.433/97)– como há suspensão da outorga, a
doutrina tem entendido que a cobrança não deve persistir.
Tem por objetivo ser um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações
sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão.
177
Basta a leitura dos arts. 25 a 27 da Lei n. 9.433/1997.
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos: é órgão político formado por representantes dos Ministérios
com atuação no gerenciamento ou uso de recursos hídricos, representantes dos Conselhos Estaduais de
Recursos Hídricos, representantes dos usuários de recursos hídricos e representantes das organizações
civis de recursos hídricos.
Possui atribuições que giram em torno do planejamento, diretrizes e legislação acerca da Política Nacional
de Recursos Hídricos.
Agência Nacional de Águas (ANA): a Lei n. 9984/2000 criou essa autarquia federal, sob regime especial,
com autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade
de implementar, em sua esfera de atribuições, a Política Nacional de Recursos Hídricos.
No âmbito federal, é a entidade responsável pela outorga de uso de recursos hídricos. Obs: pode delegar
algumas atividades de sua competência para as agências de águas ou comitês de bacias hidrográficas.
178
a) Autonomia administrativa e financeira: art. 1º.
b) Poder normativo técnico ou discricionariedade técnica no que tange ao uso de recursos hídricos:
art. 4º, inciso II, da Lei n. 9.984/2000;
c) Poder de polícia, fiscalização e controle sobre o uso de recursos hídricos: art. 4º, incisos I, IV, V, XII,
da Lei n. 9984/2000.
d) Mandato por prazo determinado de seus dirigentes, com a peculiaridade de que podem ser
exonerados imotivadamente nos primeiros 4 meses: art. 9º.
Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal: tem atuação complementar ao
Conselho Nacional no âmbito das Unidades da Federação.
Comitê de Bacia Hidrográfica: funciona como se fosse o parlamento da correspondente bacia, onde serão
tomadas as principais decisões políticas sobre a utilização das águas. Deve o comitê selecionar uma
entidade sem fins lucrativos para atuar como braço executivo, na forma de agência de bacia ou de agência
de água.
Suas atribuições estão previstas no art. 38 da Lei Nacional de Recursos Hídricos, destacando-se: a) arbitrar,
em primeira instância administrativa, os conflitos relacionados aos recursos hídricos; b) estabelecer os
mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e sugerir os valores a serem cobrados; c) promover
o debate da questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades integrantes; d)
aprovar e acompanhar o plano de recursos hídricos da respectiva bacia; e sugerir providências visando o
cumprimento das metas; e) propor aos Conselhos nacional e estaduais as captações e lançamentos de
baixa expressão para fins de isenção de outorga de direitos de uso; e f) promover critérios e rateios de
custos de obras de interesse coletivo. Obs: das decisões do Comitê caberá recurso para o Conselho
Nacional ou Estadual, conforme o caso.
Agências de Água: as Agências de água são órgãos com personalidade jurídica criados para exercer a
função de secretaria executiva do respectivo ou respectivos Comitês de Bacia Hidrográfica. Como
secretaria executiva, sua existência depende da prévia instituição do respectivo comitê da Bacia
Hidrográfica.
Arts. 41 a 44 da Lei.
Organizações Civis de Recursos Hídricos: são pessoas jurídicas sem fins lucrativos que tem como finalidade
a proteção dos recursos hídricos. Podem receber delegação do Conselho Nacional ou do Conselho
Estadual, por prazo determinado, as funções inerentes as Agências de Água, enquanto não forem criadas.
INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS
As infrações à utilização de recursos hídricos estão previstas no art. 49 e as sanções no art. 50.
JURISPRUDÊNCIA
Alguns entendimentos do STF e do STJ sobre o assunto:
179
a) se o crime ambiental atingir bem da União (no caso, o Rio Alagoas, que corta mais de um Estado), a
competência é da Justiça Federal. - RE 45470/AL
b) a água é bem público de uso comum – art. 1º da Lei 9433/97, motivo pelo qual é insuscetível de
apropriação pelo particular. O particular tem, apenas, o direito à exploração das águas subterrâneas
mediante autorização do Poder Público cobrada a devida contraprestação – art. 12, II e art. 20 da lei
9433/97. Ausente a autorização para exploração a que alude o art. 12 da lei 9433/97, atentando-se para o
princípio da justa indenização, revela-se ausente o direito à indenização pelo desapossamento de aquífero.
Não havendo o direito de exploração dos recursos hídricos, afasta-se o direito à indenização respectiva. -
Resp 518744/RN
c) a água fornecida à população, após ser tratada pelas empresas concessionárias, permissionárias ou
autorizada, não caracteriza mercadoria, razão pela qual é insuscetível de cobrança de ICMS. Além disso,
a concessão de exploração da água não importa sua alienação, visto ser bem de uso comum do povo –
AgRg no Resp 1056579/RJ
d) o faturamento do serviço de fornecimento de água com base na tarifa progressiva, de acordo com as
categorias de usuários e as faixas de consumo, é legítimo e atende ao interesse público, porquanto
estimula o uso racional dos recursos hídricos – Resp 861661/RJ
STJ:
PROCESSUAL CIVIL - ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA - CAPTAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS -
OUTORGA - NÃO COMPROVAÇÃO - FALTA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA - ATRIBUIÇÃO DO PODER
EXECUTIVO - DILAÇÃO PROBATÓRIA - DESCABIMENTO. 1. A Lei 9.433/97, que institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, estipula que a exploração de recursos hídricos está sujeita a outorga pelo Poder Público
(art. 12), de modo que somente se legitima a questionar judicialmente, em mandado de segurança, ato da
autoridade pública que visa impedir a captação de água, quem é detentor de outorga do Poder Público
para a referida exploração. 2. A inexistência de comprovação, no ato da impetração, da referida outorga
impede o exame de eventual direito líquido e certo do impetrante à captação de recursos hídricos, uma
vez que o mandado de segurança pressupõe a juntada aos autos de prova pré-constituída do direito
alegado, não podendo haver dilação probatória, nessa via. 3. A concessão da outorga não pode ser
conferida pelo Poder Judiciário, em sede de mandado de segurança, pois, nos termos do art. 14 da citada
Lei, a competência de tal ato é atribuída exclusivamente a autoridade do Poder Executivo Federal, Estadual
ou Distrital. Ademais, os requisitos para essa concessão não podem ser aferidos nesta seara processual,
que sequer admite dilação probatória. 4. Recurso especial improvido.
(ROMS 200501594346, ELIANA CALMON, STJ - SEGUNDA TURMA, 20/06/2007)
12/02/2012 - 08h00
ESPECIAL
Proteção a recursos hídricos é tema recorrente em julgados do STJ
Essencial para a vida no planeta, a água é um recurso limitado, e por isso vem merecendo atenção e
proteção especial do poder público, principalmente por meio da Agência Nacional de Águas (ANA). Em
muitos casos, porém, a necessidade de sua preservação transborda os limites da ação administrativa,
180
exigindo a intervenção do Poder Judiciário – quando não é a própria administração quem põe em risco
esse recurso natural.
O Tribunal da Cidadania tem examinado o assunto sob diversos ângulos, procurando coibir o descaso com
os recursos hídricos e o desrespeito à legislação que trata desse bem público tão precioso.
No ano passado, por exemplo, a Segunda Turma manteve decisão (REsp 1.249.683) que condenou o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o município de
Caucaia (CE) a remover pessoas que se instalaram em área de preservação permanente na margem
esquerda do rio Ceará. A decisão determinou que o município fizesse o reassentamento das famílias em
local disponível da cidade e a demolição das edificações irregulares. No recurso especial, o Ibama
pretendia sua exclusão do processo, o que foi negado pelo STJ.
Na ocasião, o relator do caso, ministro Mauro Campbell, afirmou que o Tribunal de Justiça do Ceará nada
mais fez que confirmar sentença que havia condenado o município a remover as pessoas instaladas
irregularmente e reassentá-las em outros locais, além de obrigar o Ibama a impedir novas invasões e fazer
cessar o agravamento da degradação ambiental local. “Até mesmo em razão do dever de fiscalização
ambiental dessa autarquia”, observou.
Poço artesiano
Em decisão publicada quatro meses antes, a Segunda Turma discutiu (REsp 994.120) os limites da
competência fiscalizatória municipal relacionada à perfuração de poço artesiano e sua exploração por
particular. A questão teve início quando o município de Erechim (RS) autuou um condomínio e lacrou o
poço artesiano. O condomínio recorreu ao Judiciário, e o tribunal estadual entendeu que a competência do
município para fiscalizar referia-se, exclusivamente, à proteção da saúde pública. No recurso ao STJ, o
Ministério Público estadual afirmou ser legal o ato da prefeitura.
A Segunda Turma concordou que o município tem competência para fiscalizar a exploração de recursos
hídricos, podendo, portanto, coibir a perfuração e exploração de poços artesianos, no exercício legítimo
de seu poder de polícia urbanístico, ambiental, sanitário e de consumo. “A Lei da Política Nacional de
Recursos Hídricos significou notável avanço na proteção das águas no Brasil e deve ser interpretada
segundo seus objetivos e princípios”, considerou o ministro Herman Benjamin ao votar.
Ele lembrou os principais objetivos da legislação, observando que todos têm repercussão no caso
analisado: a preservação da disponibilidade quantitativa e qualitativa de água, para a presente e as
futuras gerações; a sustentabilidade dos usos da água, admitidos somente os de cunho racional; e a
proteção das pessoas e do meio ambiente contra os eventos hidrológicos críticos, que ganha maior
dimensão em época de mudanças climáticas.
“Além disso, a Lei 9.433/97 apoia-se em uma série de princípios fundamentais, cabendo citar, entre os
que incidem diretamente neste litígio, o princípio da dominialidade pública (a água, dispõe a lei
expressamente, é bem de domínio público), o princípio da finitude (a água é recurso natural limitado) e o
princípio da gestão descentralizada e democrática”, acrescentou. (importante!)
Autorizações nulas
Em 1998, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública contra o município de Joinville (SC),
Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma) e Ibama, buscando a decretação de nulidade das
autorizações deferidas pelos órgãos ambientais para supressão de vegetação de Mata Atlântica e
licenciamento para construção de anfiteatro e ginásio de esportes.
Requereu, então, a condenação dos três à recuperação da área de 3,5 ha, com recomposição da vegetação
e desassoreamento do curso d’água. Houve a condenação em primeira instância, mas o Tribunal Regional
Federal da 4ª Região entendeu que, dada a largura do córrego (70 cm), a vedação ao desmatamento
181
imposta pelo Código Florestal não se aplicava ao caso, devido às circunstâncias de reduzida ou nenhuma
repercussão ambiental.
Ao julgar o caso, a Segunda Turma observou que a legislação somente admite o desmatamento de Área
de Preservação Permanente quando o empreendedor comprovar que a obra, empreendimento ou
atividade é de utilidade pública ou interesse social e, com base nessa excepcionalidade, conseguir a
necessária e regular autorização, o que não ocorreu.
Segundo o relator, ministro Herman Benjamin, o magistrado não pode afastar a exigência legal de
respeito à manutenção de mata ciliar, sob o argumento de que se está diante de simples “veio d’água”.
“Raciocínio que, levado às últimas consequências, acabaria por inviabilizar também a tutela das
nascentes (olhos d’água)”, observou. “Mais do que nos grandes rios, é exatamente nesses pequenos
cursos d’água que as matas ciliares cumprem o papel fundamental de estabilização térmica, tão
importante à vida aquática, decorrente da interceptação e absorção da radiação solar”, acrescentou.
Especialista em direito ambiental, o ministro lembrou que o rio caudaloso não existe sem suas nascentes e
multifacetários afluentes, mesmo os menores e mais tênues, cuja estreiteza não reduz sua essencialidade
na manutenção da integridade do sistema como um todo. “Por tudo isso, há que ser refutada a
possibilidade de supressão da mata ciliar baseada na largura do curso d’água”, afirmou.
Ao dar provimento ao recurso do MPF, ele observou, ainda, que “nulidade de pleno direito, nos termos da
legislação ambiental, não admite flexibilização, como pretendeu o acórdão recorrido, sob pena de tornar
absolutamente inócuo o mandamento constitucional em defesa da Mata Atlântica como patrimônio de
todos os brasileiros”.
“Assim, é de se reconhecer nulas as autorizações conferidas ao arrepio da lei e, portanto, inviável qualquer
pretensão do município em prosseguir o desmatamento da gleba”, afirmou Herman Benjamin, para
concluir: “Pelo contrário, urge impor aos agentes da infração (município, Ibama e Fatma) a recomposição
do prejuízo ambiental, tal qual pleiteado na ação civil pública.”
Direitos em conflito
Em outra decisão (REsp 403.190), foi mantida condenação de proprietário de imóvel e do município de São
Bernardo do Campo (SP) a remover famílias de local próximo ao Reservatório Billings, que fornece água a
grande parte da cidade de São Paulo. A construção de loteamento irregular provocou assoreamentos,
somados à destruição da Mata Atlântica.
Ao manter a condenação, o ministro João Otávio de Noronha afirmou não se tratar apenas de restauração
de matas em prejuízo de famílias carentes de recursos financeiros, que, provavelmente, deixaram-se
enganar pelos idealizadores de loteamentos irregulares na ânsia de obterem moradias mais dignas. “Mas
de preservação de reservatório de abastecimento urbano, que beneficia um número muito maior de
pessoas do que as residentes na área de preservação”, considerou o ministro. “No conflito entre o
interesse público e o particular, há de prevalecer aquele em detrimento deste quando impossível a
conciliação de ambos”, concluiu.
Vazamento tóxico
E o que dizer dos vazamentos de elementos tóxicos nas águas? Em caso julgado pela Primeira Turma (REsp
570.194), foi mantida condenação das empresas Genesis Navigation Ltd., Chemoil International Ltd.,
Liverpool & London P & I Association Limited, Smit Tak B.V., Fertilizantes Serrana S/A, Trevo S/A, Manah
S/A e Petrobras, além da União Federal, Ibama, Superintendência do Porto de Rio Grande e Estado do Rio
Grande do Sul.
O pedido do Ministério Público na ação civil pública ocorreu após vazamento de substância tóxica do navio
MT Bahamas no Porto de Rio Grande e na Lagoa dos Patos, localizados no Rio Grande do Sul. O
182
requerimento, na ocasião, era de realização de perícia complementar e de monitoramento espaço-
temporal contínuo do processo de biacumulação de metais na área afetada pelo
bombeamento/vazamento da mistura ácida contida no navio Bahamas.
Provado o vazamento do ácido sulfúrico no Estuário da Lagoa dos Patos, pelo navio Bahamas, a
condenação foi mantida, para que o pagamento do monitoramento fosse feito pelos réus. “É manifesto
que o direito ambiental é regido por princípios autônomos, especialmente previstos na Constituição
Federal (artigo 225 e parágrafos) e legislação específica, entre os quais a responsabilidade objetiva do
causador do dano ao meio ambiente”, lembrou na ocasião a ministra Denise Arruda (hoje aposentada).
A insistência da Petrobras em não querer ser responsabilizada ou não pagar custas adiantadas foi,
inclusive, punida com a multa de 1%. “Todas as questões apresentadas foram analisadas e decididas, ainda
que contrariamente à pretensão da embargante”, considerou Denise Arruda. “A embargante insiste – de
maneira censurável e contrária à boa-fé processual – em tese já superada nesta Corte Superior. Evidencia-
se, pois, o intuito procrastinatório dos embargos, impondo-se a aplicação da multa prevista no artigo 538,
parágrafo único, do Código de Processo Civil”, concluiu a relatora.
Responsabilidade penal
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO EM CRIMES
AMBIENTAIS.
É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. .... Precedentes citados: RHC
53.208-SP, Sexta Turma, DJe 1º/6/2015; HC 248.073-MT, Quinta Turma, DJe 10/4/2014; e RHC 40.317-SP,
Quinta Turma, DJe 29/10/2013. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soars da Fonseca, julgado em
6/8/2015, DJe 13/8/2015.
ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOS AO MEIO AMBIENTE. USINA
HIDRELÉTRICA DE CHAVANTES. OFENSA AO ART. 535 DO CPC. OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. LEI
7.990/89. COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. DANOS AMBIENTAIS
EVENTUAIS NÃO ABRANGIDOS POR ESSE DIPLOMA NORMATIVO. PRECEDENTE STF. EXIGÊNCIA DE ESTUDO
PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA). OBRA IMPLEMENTADA ANTERIORMENTE À SUA
183
REGULAMENTAÇÃO. PROVIDÊNCIA INEXEQUÍVEL. PREJUÍZOS FÍSICOS E ECONÔMICOS A SEREM APURADOS
MEDIANTE PERÍCIA TÉCNICA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. O Tribunal de origem apreciou
adequadamente todos os pontos necessários ao desate da lide, não havendo nenhuma obscuridade que
justifique a sua anulação por este Superior Tribunal. 2. A melhor exegese a ser dispensada ao art. 1º da Lei
7.990/89 é a de que a compensação financeira deve se dar somente pela utilização dos recursos hídricos,
não se incluindo eventuais danos ambientais causados por essa utilização. 3. Sobre o tema, decidiu o
Plenário do STF: "Compensação ambiental que se revela como instrumento adequado à defesa e
preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações, não havendo outro meio eficaz para
atingir essa finalidade constitucional" (ADI 3.378-DF, Rel. Min. AYRES BRITTO, DJe 20/06/2008). 4. A
natureza do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado - fundamental e difusa - não confere ao
empreendedor direito adquirido de, por meio do desenvolvimento de sua atividade, agredir a natureza,
ocasionando prejuízos de diversas ordens à presente e futura gerações. 5. Atrita com o senso lógico,
contudo, pretender a realização de prévio Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) num empreendimento
que está em atividade desde 1971, isto é, há 43 anos. 6. Entretanto, impõe-se a realização, em cabível
substituição, de perícia técnica no intuito de aquilatar os impactos físicos e econômicos decorrentes das
atividades desenvolvidas pela Usina Hidrelétrica de Chavantes, especialmente no Município autor da
demanda (Santana do Itararé/PR). 7. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1172553/PR, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/05/2014, DJe 04/06/2014)
TRF1:
ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. PORTARIA Nº 283/97 DO DEPARTAMENTO NACIONAL DE ÁGUAS E
ENERGIA ELÉTRICA - DNAEE. OUTORGA DE CONCESSÃO PARA CAPTAÇÃO DE ÁGUA NO RESERVATÓRIO
BILLINGS PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO PELO SERVIÇO MUNICIPAL DE ÁGUA E SANEAMENTO DE SANTO
ANDRÉ - SEMASA. USINA HIDRELÉTRICA DE HENRY BORDEN. POTENCIAL HIDRELÉTRICO. COMPETÊNCIA DA
UNIÃO. MONOPÓLIO LEGAL DO ESTADO-MEMBRO INEXISTENTE. SERVIÇO PÚBLICO DE INTERESSE LOCAL.
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO. SERVIÇOS MUNICIPAIS AUTÔNOMOS DE ÁGUA E ESGOTO.
ART. 293. AUTONOMIA MUNICIPAL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL E LEI ESTADUAL Nº 119/73. INTERESSE
PÚBLICO. COMPETÊNCIA DO ÓRGÃO ESTADUAL PARA ATUAR COMO PODER CONCEDENTE. ILEGITIMIDADE
PASSIVA AD CAUSAM DA ANEEL. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 2. O art. 21, XIX, da Carta Política
dispõe que compete à União "instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir
critérios de outorga de direitos de seu uso". 3. Não há no ordenamento jurídico qualquer norma que
estabeleça o regime de monopólio na prestação de serviço público de tão relevante importância para a
sociedade. Ao contrário, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 30, V, atribui aos municípios
competência para "organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços
públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial". 4. Se não há
vedação à prestação do serviço pelos entes municipais, se não há monopólio atribuído ao Estado-membro,
e considerando o interesse local do fornecimento de água, não se afigura ilegal a participação dos
municípios neste processo. 8. A prestação de serviço de fornecimento de água aos munícipes pela
prefeitura atende ao interesse público, pela essencialidade que lhe é peculiar. (AC 0036229-
81.1997.4.01.3400/DF, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria De Almeida, Quinta Turma,e-DJF1 p.334
de 20/08/2010)
CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. JULGAMENTO DO MÉRITO PELO TRIBUNAL
(CPC, ART. 515, § 3º, REDAÇÃO DA LEI Nº 10.352/2001). HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ. AUTORIZAÇÃO DO
CONGRESSO NACIONAL QUE SE FAZ INDISPENSÁVEL DIANTE DA CONCRETUDE DAS INTERVENÇÕES
EFETIVADAS A TÍTULO DE "ESTUDOS" (CF, ART. 231, § 3º). APELAÇÃO PROVIDA. 2. "O aproveitamento dos
recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras
indígenas só podem ser efetivadas com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei." (Constituição
Federal, art. 231, § 3º). 3. Interpretação teleológica da norma leva à conclusão de que não importa se a
ação do Estado se dá sob o título de "estudo" ou de efetivo "aproveitamento dos recursos hídricos".
Intervenções concretas ao bem estar das comunidades indígenas, ainda que sob o nome de "estudos" só
podem ser efetivadas se precedidas da necessária autorização do Congresso Nacional. 4. A intervenção do
Congresso Nacional no processo de implementação da hidrovia, por afetar diretamente interesses
indígenas, não pode ser postergada para momento imediatamente anterior à execução das obras que se
realizarão a fim de implantá-la. (AC 1999.01.00.068811-3/MT, Rel. Desembargadora Federal Selene Maria
De Almeida, Quinta Turma,DJ p.39 de 29/07/2005)
TRF4:
INDENIZAÇÃO. SUPRESSÃO DAS SETE QUEDAS PELA CONSTRUÇÃO DA USINA ITAIPU BINACIONAL.
COMPENSAÇÃO FINANCEIRA PELA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS HÍDRICOS PARA FINS DE GERAÇÃO DE
ENERGIA ELÉTRICA. CRITÉRIOS QUE NÃO FORAM REGULAMENTADOS. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO
PELO PODER JUDICIÁRIO. MÉRITO ADMINISTRATIVO. PREJUÍZOS ECONÔMICOS. BEM DA UNIÃO. AUSÊNCIA
DE RESPONSABILIDADE. INDENIZAÇÃO DESCABIDA. 1. Embora o Decreto n. 01/91 tenha deixado de
regulamentar matéria, que por determinação legal (art. 5º da Lei n. 7.990/89), deveria ter sido
regulamentada, não há como o Judiciário suprir a omissão para escolher os demais critérios para
compensação financeira mediante a valoração do que possa ser considerado interesse público regional ou
local. Essa escolha, envolve, portanto, a discricionariedade da Administração. (APELREEX
199970040101767, MARIA LÚCIA LUZ LEIRIA, TRF4 - TERCEIRA TURMA, 01/07/2009)
TRF5:
ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE CONCESSÃO DE USO DE ÁREA. UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS PÚBLICAS. NÃO
INCLUSÃO NO OBJETO DO CONTRATO. INADMISSIBILIDADE. NECESSIDADE DE OUTORGA ESPECÍFICA
ORIUNDA DO PODER PÚBLICO. ATO ILÍCITO. NÃO CONFIGURAÇÃO. INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO. 2. Em
primeiro lugar, imperioso observar que o contrato de concessão citado não abrange em seu objeto a
utilização das águas públicas existentes na mencionada faixa de terra. 3. Em segundo lugar, ainda que
fosse o desejo das partes contratantes, a utilização dos recursos hídricos decorrentes das águas públicas,
segundo a legislação vigente, depende de outorga específica oriunda da Administração Pública, o que
inexistiu no caso. 4. Diante das leis que regulam a utilização das águas públicas, sobretudo da formalidade
imposta para tais autorizações - que devem ser específicas -, inadmissível se mostra a tese de que a
autorização, no caso em apreço, havia sido tácita e decorrente do contrato de concessão de área. 5.
Recurso improvido.
(AC 200382000038142, Desembargador Federal Cesar Carvalho, TRF5 - Terceira Turma, 19/03/2010)
187
16.5 Política Nacional de Segurança de Barragens
Por meio da Lei 12.334/2010, a União aprovou a Política Nacional de Segurança de Barragens – PNSB –
destinadas à acumulação de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de rejeitos e à
acumulação de resíduos industriais, bem como criou o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança
de Barragens. De efeito, considera-se barragem qualquer estrutura em um curso permanente ou
temporário de água para fins de contenção ou acumulação de substâncias líquidas ou de misturas de
líquidos e sólidos, compreendendo o barramento e as estruturas associadas. A PNSB tem como objetivos:
I – garantir a observância de padrões de segurança de barragens de maneira a reduzir a possibilidade de
acidente e suas consequências; II – regulamentar as ações de segurança a serem adotadas nas fases de
planejamento, projeto, construção, primeiro enchimento e primeiro vertimento, operação, desativação e
de usos futuros de barragens em todo o território nacional; III – promover o monitoramento e o
acompanhamento das ações de segurança empregadas pelos responsáveis por barragens; IV – criar
condições para que se amplie o universo de controle de barragens pelo poder público, com base na
fiscalização, orientação e correção das ações de segurança; V – coligir informações que subsidiem o
gerenciamento da segurança de barragens pelos governos; VI – estabelecer conformidades de natureza
técnica que permitam a avaliação da adequação aos parâmetros estabelecidos pelo poder público; VII –
fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos.
As barragens deverão ser classificadas pelo Poder Público por categoria de risco, por dano potencial
associado, e pelo seu volume, com base em critérios gerais estabelecidos pelo Conselho Nacional de
Recursos Hídricos. Para a implementação da PNSB, serão manejados os seguintes instrumentos:
I – o sistema de classificação de barragens por categoria de risco e por dano potencial associado; II – o
Plano de Segurança de Barragem; III – o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens
(SNISB); IV – o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (Sinima); V – o Cadastro Técnico
Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; VI – o Cadastro Técnico Federal de Atividades
Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais; VII – o Relatório de Segurança de
Barragens.
De resto, também foi instituído o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens, para
registro informatizado das condições de segurança de barragens em todo o território nacional,
compreendendo um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de suas informações,
devendo contemplar barragens em construção, em operação e desativadas.
Caso Samarco
O rompimento da barragem provocou uma enxurrada de lama que devastou o distrito de Bento
Rodrigues, deixando um rastro de destruição à medida que avança pelo Rio Doce.
Foram suscitados conflitos de competência perante o STJ. No Conflito de Competência (CC) nº1.44.922,
foi firmada a competência da Justiça Federal para analisar as ações civis públicas que tenham por objeto
questões decorrentes do rompimento da barragem de Fundão, conforme acórdão abaixo. O CC nº
145.695, que tinha por objeto fixar a competência para apreciação dos processos criminais relacionados
à tragédia ambiental, foi julgado prejudicado, ante a superveniente perda do objeto, uma vez que
Ministério Público de Minas Gerais apresentou pedido de arquivamento indireto do inquérito penal,
reconhecendo a competência da Justiça Federal - eventualmente até mesmo de Júri Federal – para
apreciação do feito.
CC nº1.44.922
188
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÕES CIVIS PÚBLICAS AFORADAS NO
JUÍZO ESTADUAL E NA JUSTIÇA FEDERAL DE GOVERNADOR VALADARES/MG. ROMPIMENTO DA
BARRAGEM DE FUNDÃO EM MARIANA/MG. FORNECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL. DANOS
SOCIOAMBIENTAIS. RIO DOCE. BEM PÚBLICO PERTENCENTE À UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL. FORO COMPETENTE. SITUAÇÃO DE MULTICONFLITUOSIDADE. IMPACTOS REGIONAIS E
NACIONAL. CONEXÃO ENTRE AS AÇÕES CIVIS PÚBLICAS OBJETO DO CONFLITO E OUTRAS QUE
TRAMITAM NA 12ª VARA FEDERAL DE BELO HORIZONTE/MG. PREVENÇÃO. APLICAÇÃO DA REGRA
ESTABELECIDA NA LEI DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
(...)
7. A Justiça Federal é, pois, competente para conhecer e julgar demandas relacionadas aos impactos
ambientais ocorridos e aos que ainda venham a ocorrer sobre o ecossistema do Rio Doce, sua foz e sobre
a área costeira.
8. Reconhecida a competência da Justiça Federal para o processamento das ações civis públicas referidas
no presente conflito, cabe definir o foro competente para o seu julgamento. FORO
COMPETENTE (BELO HORIZONTE).
9. A problemática trazida nos autos deve ser analisada à luz do microssistema do processo coletivo,
notadamente no que diz respeito à tutela de interesses difusos e metaindividuais, decorrentes todos eles
de um único evento, qual seja, o desastre ambiental consistente no rompimento da barragem de Fundão,
no dia 5 de novembro de 2015, ocorrido na unidade industrial de Germano, entre os distritos de
Mariana e Ouro Preto (cerca de 100 km de Belo Horizonte). (...)
11. A questão que se coloca como premente na hipótese, decorrente da tutela dos interesses difusos,
caracterizados pela indeterminação dos sujeitos e indivisibilidade do objeto, é como se dará a fixação do
foro competente quando o dano vai além de uma circunscrição judiciária. Outra resposta não há, senão
pela prevenção. (...)
13. Existente ação civil pública com escopo mais amplo (danos ambientais strito sensu e danos
pessoais e patrimoniais), já em curso na 12ª Vara Federal de Belo Horizonte-MG, na qual o Ministério
Público Federal se habilitou, inclusive, como litisconsorte ativo (Processo n. 60017-58.2015.4.01.3800).
Além dessa, tramitam na 12ª Vara Federal de Belo Horizonte-MG a Ação Popular n. 0060441-
03.2015.04.01.3800 e a Ação Civil Pública n. 0069758-61.2015.4.01.3400, sendo partes nesta última a
União Federal e outros em face da Samarco Mineração S.A. e outros. (...)
15. Mostra-se caracterizada a relação de pertinência entre as ações civis públicas manejadas em
Governador Valadares/MG, com vistas ao abastecimento de água potável à população local, com essa
outra ação civil (n. 0069758-61.2014.4.01.3400) que tramita na 12ª Vara Federal de Belo Horizonte, cujo
objeto é mais abrangente, englobando as primeiras, pois busca a garantia de fornecimento de água
potável à população de todos os Municípios que tiveram o abastecimento interrompido em função da
poluição do Rio Doce com a lama advinda do rompimento da barragem de Fundão. (...)
17. Dessas circunstâncias, observa-se que a 12ª Vara Federal da Secção Judiciária de Minas Gerais
possui melhores condições de dirimir as controvérsias aqui postas, decorrentes do acidente ambiental
de Mariana, pois além de ser a Capital de um dos Estados mais atingidos pela tragédia, já tem sob sua
análise processos outros, visando não só a reparação ambiental stricto sensu, mas também a
distribuição de água à população dos Municípios atingidos, entre outras providências, o que lhe propiciará,
diante de uma visão macroscópica dos danos ocasionados pelo desastre ambiental do rompimento da
barragem de Fundão e do conjunto de imposições judiciais já direcionadas à empresa Samarco, tomar
medidas dotadas de mais efetividade, que não corram o risco de ser neutralizadas por outras decisões
judiciais provenientes de juízos distintos, além de contemplar o maior número de
atingidos. (...)
EXCEÇÕES À REGRA GERAL.
18. Há que se ressalvar, no entanto, as situações que envolvam aspectos estritamente humanos e
econômicos da tragédia (tais como o ressarcimento patrimonial e moral de vítimas e familiares, combate a
abuso de preços etc) ou mesmo abastecimento de água potável que exija soluções peculiares ou locais,
189
as quais poderão ser objeto de ações individuais ou coletivas, intentadas cada qual no foro de residência
dos autores ou do dano. Nesses casos, devem ser levadas em conta as circunstâncias particulares e
individualizadas, decorrentes do acidente ambiental, sempre com base na garantia de acesso facilitado
ao Poder Judiciário e da tutela mais ampla e irrestrita possível. Em tais situações, o foro de Belo
Horizonte não deverá prevalecer, pois significaria óbice à facilitação do acesso à justiça, marco fundante do
microssistema da ação civil pública.
19. Saliento que em outras ocasiões esta Corte de Justiça, valendo-se do microssistema do processo
coletivo, aplicou a regra específica de prevenção estabelecida na Lei de Ação Civil Pública para definir o
foro em que deveriam ser julgadas as ações coletivas. Precedentes.
20. Conflito de competência a que se julga procedente para ratificar a liminar proferida pela Ministra
Laurita Vaz, no exercício da Presidência, e determinar a competência definitiva do Juízo da 12ª Vara
Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais, em Belo Horizonte, para apreciar e julgar a causa,
determinando a remessa da Ação Cautelar n. 0395595-67.2015.8.13.0105 e da Ação Civil Pública n.
0426085-72.2015, ambas em tramitação no Juízo de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca de Governador
Valadares/MG, e da Ação Civil Pública n. 9362-43.2015.4.01.3813, em curso no Juízo da 2ª Vara Federal
da Subseção Judiciária de Governador Valadares/MG, ficando a critério do Juízo da 12ª Vara Federal da
Seção Judiciária de Minas Gerais a convalidação dos atos até então praticados. (STJ, Primeira Seção, CC
144922 / MG, Ministra DIVA MALERBI (DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO), DJe
09/08/2016)
BIBLIOGRAFIA
Antunes, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12a ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010.
Romeu, Maria Thomé. Manual de Direito Ambiental. Editora: JUSPODIVM, 2011.
Ponto 17 – Mineração
17.1 Introdução
Há critica na doutrina aos incentivos explícitos concedidos à garimpagem pelo legislador constituinte
considerando que, hoje tal atividade constitui um dos mais graves problemas nacionais, seja pelos
aspectos ambientais, seja pelos aspectos sociais. Em contraposição diz que, o art. 225, § 2o, da CF, serve de
verdadeiro marco a indicar um caminho que, deve ser percorrido pela sociedade e pelas autoridades, com
o objetivo de estabelecer um ordenamento razoável para o grave problema.
190
17.2 Previsão constitucional
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XII - jazidas, minas, outros
recursos minerais e metalurgia;
Também tem relação: art. 174, § 3o e 4o; art. 176; art. 231, § 3°.
191
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens. § 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais
energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só
podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da
lavra, na forma da lei.
Importante notar que a mineração em terras indígenas não está proibida no Brasil. O que a CF determinou
foi, apenas e tão-somente, que (1) o Congresso Nacional autorizasse a atividade e que (2) a comunidade
indígena afetada fosse ouvida, (3) assegurando-se à mesma a percepção de royalties. Até hoje o CN não
aprovou a lei a que se refere o citado dispositivo.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus
bens.
Algumas atividades realizadas fora de áreas indígenas podem eventualmente, gerar consequências em
terras indígenas. O Serviço do Meio Ambiente das Terras Indígenas (SEMATI), vinculado à Coordenadoria
de Patrimônio Indígena da FUNAI, é o órgão responsável pela aprovação de projetos. Obrigação de
recuperação ambiental da área degradada.
As únicas restrições são aquelas com imediato assento constitucional. Tais restrições são:
192
b) ser realizada em áreas indígenas sem autorização do CN e sem que as comunidades indígenas
sejam consultadas.
a) Jazida: ocorrência anormal de minerais constituindo um depósito natural que existe concentrado em
certos pontos da superfície do globo terrestre.
d) Garimpo: mina de diamantes ou carbonados; lugar onde se encontram tais minas; lugar onde existem
explorações diamantinas e auríferas; mineração ou exploração clandestina de diamante e de ouro;
povoação fundada e habitada pelos garimpeiros.
Continuando no Código de Mineração, o Decreto-Lei N° 227/67 em seu artigo 70, considera a garimpagem
como:
e) Pesquisa mineral: Entende-se por pesquisa mineral a execução dos trabalhos necessários à definição da
jazida, sua avaliação e a determinação da exequibilidade do seu aproveitamento econômico.
Há dispositivos tímidos, a exemplo do art. 47. Tais disposições não foram revogadas com o advento da
novel legislação de proteção ambiental mas, pelo contrário, devem ser interpretadas de acordo com o
sistema instituído pela política nacional do MA.
17.6 Competências
A União tem competência privativa para legislar sobre “jazidas, minas, outros recursos minerais e
metalurgia” (art. 22, XII, CF/88). Os principais diplomas são o DL 227/67, a L. 7.805/89 e o Dec. 62.934/68.
Há leis especiais para minérios sob monopólio da União e águas minerais em fase de lavra, por exemplo.
O DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) é a autarquia responsável pela outorga dos títulos
minerários e pela fiscalização da exploração em vista da legislação ambiental da União, dos Estados e
Municípios. O controle do Poder Público Federal, por meio do DNPM, dá-se por meio de três
193
procedimentos: Autorização de Pesquisa, Concessão de Lavra e Permissão de Lavra Garimpeira (já
abordados).
Os recursos minerais poderão ser aproveitados mediante (I) autorização de pesquisa, (II) concessão de
lavra, (III) permissão de lavra garimpeira, (IV) licenciamento e (V) regime de monopolização, nos termos
do artigo 2.º do CM.
Art. 2º. Os regimes de aproveitamento das substâncias minerais, para efeito deste
Código, são: (Redação dada pela Lei nº 9.314, de 1996)
Obs. As autorizações e concessões somente podem ser transferidas mediante anuência do Poder Público
(art. 176, § 3°, CF/88).
O regime de permissão da lavra garimpeira também é regulado pela Lei 7.805/1989, a ser outorgada pelo
DNPM, pelo prazo de até cinco anos (renovável), sendo o título pessoal e não podendo a área extrapolar
a 50 ha, salvo se outorgada a cooperativa.
194
Considera-se o regime de permissão de lavra garimpeira como o aproveitamento imediato de jazimento
mineral que, por sua natureza, dimensão, localização e utilização econômica, possa ser lavrado,
independentemente de prévios trabalhos de pesquisa, segundo critérios fixados pelo Departamento
Nacional de Produção Mineral.
A Permissão de Lavra Garimpeira estabelece deveres ambientais para o seu titular (art. 9°, da Lei nº
7.805/1989). A outorga de permissão depende de prévio licenciamento concedido pelo órgão ambiental
competente (art. 3°, da Lei nº 7.805/1989). O licenciamento pode se dar nos três níveis da federação, sem
qualquer hierarquia entre eles. Bastará o indeferimento de uma licença ambiental para que o DNPM não
possa outorgar a permissão da lavra garimpeira.
Garimpagem (lato sensu) abarca a faiscação e a cata, depende de permissão do governo federal, sendo
modalidades rudimentares de mineração, de índole individual e por conta própria.
Nos regramentos do art. 10 da Lei nº 7.805/1989 garimpagem em sentido amplo é “a atividade de
aproveitamento de substâncias minerais garimpáveis, executadas no interior de áreas estabelecidas para
este fim exercida por brasileiro, cooperativa de garimpeiro, autorizada a funcionar como empresa de
mineração, sob o regime de permissão de lavra de garimpeira”. A permissão também depende de
aquiescência do dono da propriedade.
Excepcionalmente, o artigo 7.º dessa Lei possibilita a outorga de permissão garimpeira em área de
manifesto de mina ou de concessão de lavra, a critério do DNPM, se for possível a compatibilização de
ambos os regimes.
A autorização de pesquisa depende de prévia outorga do DNPM, autarquia federal vinculada ao Ministério
de Minas e Energia, consistindo na execução dos trabalhos necessários à definição da jazida, sua
avaliação e a determinação da exequibilidade do seu aproveitamento econômico.
A outorga da lavra exige que (1) a jazida esteja pesquisada, (2) com relatório aprovado pelo DNPM, bem
como que (3) a área de lavra ser adequada à condução técnico-econômica dos trabalhos de extração e
beneficiamento, respeitados os limites da área de pesquisa.
Não haverá lavra se esta for considerada prejudicial ao bem público ou comprometer interesses que
superem a utilidade da exploração industrial, a juízo do Governo. Será considerada ambiciosa a lavra
conduzida sem observância do plano preestabelecido, ou efetuada, de modo a impossibilitar o ulterior
aproveitamento econômico da jazida.
As obrigações ambientais do concessionário estão previstas no art. 47, incisos X a XII, do DL 227/1967 e do
art. 16 da Lei nº 7.805/1989 que, pondera ao prévio licenciamento ambiental.
Os recursos minerais também poderão ser aproveitados pelo regime de licenciamento, regulado pela Lei
6.567/1978, que se limita a substâncias minerais em áreas restritas, sendo facultado exclusivamente ao
proprietário do solo ou a quem dele tiver expressa autorização, dispensando a pesquisa mineral.
Poderão ser objeto de licenciamento o aproveitamento de areias, cascalhos e saibros para utilização
imediata na construção civil, no preparo de agregados e argamassas, desde que não sejam submetidos a
processo industrial de beneficiamento, nem se destinem como matéria-prima à indústria de
transformação; rochas e outras substâncias minerais, quando aparelhadas para paralelepípedos, guias,
sarjetas, moirões e afins; argilas usadas no fabrico de cerâmica vermelha e rochas, quando britadas para
uso imediato na construção civil e os calcários empregados como corretivo de solo na agricultura.
Deveres do titular da concessão (art. 47 do Código de Mineração): dentre outros, “II - Lavrar a jazida de
acordo com o plano de lavra aprovado pelo D.N.P.M., e cuja segunda via, devidamente autenticada, deverá
ser mantida no local da mina; III - Extrair somente as substâncias minerais indicadas no Decreto de
Concessão; (...) V - Executar os trabalhos de mineração com observância das normas regulamentares; (...)
VII - Não dificultar ou impossibilitar, por lavra ambiciosa, o aproveitamento ulterior da jazida; VIII -
Responder pelos danos e prejuízos a terceiros, que resultarem, direta ou indiretamente, da lavra; IX -
Promover a segurança e a salubridade das habitações existentes no local; X - Evitar o extravio das águas e
drenar as que possam ocasionar danos e prejuízos aos vizinhos; XI - Evitar poluição do ar, ou da água, que
possa resultar dos trabalhos de mineração; XII - Proteger e conservar as Fontes, bem como utilizar as
águas segundo os preceitos técnicos quando se tratar de lavra de jazida da Classe VIII; XIII - Tomar as
providências indicadas pela Fiscalização dos órgãos Federais; (...)”.
196
Deveres do DNPM (art. 3º da Lei nº 8.876/94): “V – fomentar a produção mineral e estimular o uso
racional e eficiente dos recursos minerais”; “VI – fiscalizar a pesquisa, a lavra, o beneficiamento e a
comercialização dos bens minerais, podendo realizar vistorias, autuar infratores e impor as sanções
cabíveis, na conformidade do disposto na legislação minerária”; “VII – baixar normas, em caráter
complementar, e exercer fiscalização sobre o controle ambiental, a higiene e a segurança das atividades de
mineração, atuando em articulação com os demais órgãos responsáveis pelo meio ambiente e pela
higiene, segurança e saúde ocupacional dos trabalhadores”.
O artigo 59 do CM instituiu uma servidão administrativa incidente sobre o solo e o subsolo nas
propriedades onde se situam a pesquisa ou lavra, bem como nas vizinhas.
Art. 59. Ficam sujeitas a servidões de solo e subsolo, para os fins de pesquisa ou
lavra, não só a propriedade onde se localiza a jazida, como as
limítrofes. (Renumerado do Art. 60 para Art. 59 pelo Decreto-lei nº 318, de
1967)
A mineração, assim como as demais atividades utilizadoras de recursos ambientais, está submetida à
necessidade de licenciamento, para que possa ser exercido o licitamente, este deve ser em conformidade
com a lei brasileira (art. 10 da Lei nº 6.938/81). Há, entretanto, direito especial quanto ao regime jurídico
do licenciamento das atividades minerarias – Lei nº 7.805/89:
Obs. Exploração mineral em áreas de conservação: depende de prévia autorização do órgão ambiental que
a administre (art. 17, Lei nº 7.805/89).
EIA: sempre necessário (Resolução 01/86, art. 2º, IX; e Resolução nº 09/90, ambas do CONAMA).
Previsões legais:
A Lei nº 7.805/89, no art. 3º exige prévio licenciamento ambiental para a outorga de premissa de lavra
garimpeira.
A Resolução do CONAMA nº 01/1986 em seu art. 2º, IX, disciplina que o EIA-RIMA, elenca a atividade de
extração de minérios como causadora de significativa degradação ambiental, sendo obrigatória a prévia
realização do referido estudo ambiental.
A Resolução do CONAMA nº 09/1990 aduz que, a pesquisa mineral “demanda prévio Licenciamento
Ambiental quando demandar guia de utilização”, além disso, o empreendedor deve requerer a licença de
operação e apresentar plano de pesquisa mineral, com avaliação do impacto ambiental e as medidas
mitigatórias a serem adotadas. A Resolução do CONAMA n. 9/90 cometeu ilegalidade ao exigir
licenciamento ambiental para as atividades de pesquisa mineral, pois, nos termos da legislação vigente
(art. 16 a 18 da L. 7.805/89 e Dec. 98.812/90), a pesquisa mineral só depende do licenciamento
exclusivamente minerário.
Na hipótese de lavra, salvo a garimpagem, deverá submeter seu pedido de licenciamento ambiental ao
órgão estadual de meio ambiente ou ao IBAMA (quando tiver que prestar todas as informações técnicas
respectivas ao empreendimento, nos meandros da legislação ambiental).
A Licença Prévia é requerida ao órgão ministerial competente, ocasião em que o empreendedor deverá
apresentar os “Estudos de Impacto Ambiental”, com os respectivos “Relatórios de Impacto Ambiental”
(Resolução do CONAMA nº 1/1986, art, 2, IX).
198
Instalação, o empreendedor deverá requerer a Licença de Operação, apresentando a documentação
necessária.
O legislador embora tenha exigido que, as atividades minerarias se façam com respeito à legislação de
proteção ao MA e mediante critérios bastante rígidos de segurança, admitiu que, durante a fase de
extração, são inevitáveis os resultados negativos sobre o MA.
A recuperação dos danos ambientais causados pela mineração é, precipuamente, uma atividade de
compensação, pois raramente é possível o retorno, ao status quo ante, de um local que tenha sido
submetido a atividades de mineração.
Nas áreas de proteção ambiental - APAs, a exploração somente é admitida se for demonstrada pelo
requerente sua compatibilidade com as regras estabelecidas para aquela área específica, além das normas
gerais previstas no art. 9° da L. 6.902/1981. Nesse sentido, a Res. 10/88 CONAMA, art. 6°.
A exploração mineral deve ser acompanhada de plano de recuperação da área degradada (art. 225, § 2°,
CF/88), que deve ser apresentado por ocasião do EIA/RIMA (art. 6°, III, Res. 1/86 CONAMA). Aquele que
deixa de recuperar a área pesquisada incorre no crime (art. 55, Parágrafo único, da Lei nº. 9.605/1998).
O art. 21, Parágrafo único, da Lei nº. 7.805/1989 permite a apreensão da produção mineral e dos bens
utilizados na exploração realizada de forma sem a necessária permissão, concessão ou licença.
Ponto 18 - Efetivação da proteção normativa ao meio ambiente: Poder Judiciário, Ministério Público e
Administração Pública.
Cabe à Justiça Comum (Federal e Estadual) a competência para processo e julgamento de questões
ambientais. Excepcionalmente, caberá à Justiça do Trabalho o julgamento de causas fundadas em questões
atinentes ao meio ambiente do trabalho (STF, RE 213.015).
199
O juiz, na tutela dos interesses difusos, assume o papel de guardião da atividade programada, seja
garantindo a efetivação das medidas administrativas, seja garantindo a legalidade do procedimento
administrativo, e de estímulo ao seu cumprimento pelas partes.
São fundamentais as medidas judiciais preventivas de proteção ao meio ambiente, já que é quase
impossível ao retorno ao status quo ante.
Assim, o sistema constitucional de proteção ao meio ambiente ocorre, principalmente, por meio das
tutelas inibitórias previstas nos arts. 461, do CPC, e 84, do CDC, possibilitando a antecipação da ocorrência
do dano.
Também é destacada a ação mandamental preventiva do art. 102, do CDC, tratando-se de ação de rito
ordinário movida contra o Poder Público, do que pode resultar um provimento judicial de natureza
mandamental, inclusive antecipatório de tutela (art. 84, § 3º, CDC), tendo como objeto obrigação de fazer,
a ser cumprida sob pena de multa
Apesar do acesso ao Judiciário se dar por diversas vias, Paulo Affonso Leme Machado lista, como principais
formas de tutela jurisdicional do meio ambiente: a) a ação popular; b) a participação do Ministério Público
(inquérito civil, recomendações e compromisso de ajustamento de conduta); c) e a ação civil pública.
Com a formação jurídica dos direitos difusos, a jurisdição civil apresenta-se em dois sistemas de tutela
processual: a) um destinado às lides individuais, cujo principal instrumento é o Código de Processo Civil; b)
e outro voltado para a tutela coletiva, baseado fundamentalmente nas Leis 7.347/85 e 8.078/90 (CDC).
Considerando que o meio ambiente é um bem difuso, sua defesa recebe tratamento nas normas
procedimentais previstas na jurisdição coletiva (Título III do CDC, Lei da Ação Civil Pública, Lei da Ação
Popular e Mandado de Segurança Coletivo), com a aplicação subsidiária do CPC.
A promulgação do Código de Processo Civil de 2015 não traz mudanças significativas ao microssistema
coletivo, pois o CPC15 deixou de contemplar o processo coletivo: só contém normas esparsas a respeito,
com algumas referências à tutela coletiva. Hugo Nigro Mazzilli destaca que o CPC15: “remeteu
expressamente ao sistema da Lei da Ação Civil Pública e do Código de Defesa do Consumidor, como no art.
139, X; quis que os casos repetitivos fossem julgados por meio do incidente de resolução de demandas
repetitivas (art. 976 e s.); alargou a atuação do Ministério Público nos litígios coletivos que envolvessem a
posse de terra rural ou urbana (art. 178, III), o que não é de todo uma novidade, pois o CPC de 1973, em
seu art. 83, III, já previa a participação do Ministério Público em conflitos coletivos possessórios; previu a
suspensão dos processos individuais nos casos em que a repercussão geral tivesse sido reconhecida (art.
1.037, II); previu também a aplicação da tese jurídica fixada no IRDR a processos individuais e coletivos
(art. 985)”.
O autor sustenta que “não é verdade que o Código de Processo Civil de 2015 seja voltado para o coletivo.
Ele contemplou, sim, incidentes que tornariam as teses dos tribunais vinculantes para os juízes inferiores
ou resolveriam lides repetitivas, mas omitiu totalmente a disciplina do processo coletivo”.
200
18.1.2 Termo de Ajustamento de Conduta – TAC
É possível, nos termos do art. 5º, §6º, Lei 7347/85, que os órgãos legitimados firmem TAC objetivando
tratar de temas ambientais. Tal termo não poderá transacionar sobre a matéria ambiental, mas tão
somente sobre a forma de cumprimento das obrigações ambientais.
O STJ decidou que a assinatura de TAC ambiental não é capaz de afastar a tipicdade penal, pois a extensão
nesta seara não é alcançada pela esfera administrativa ou civil - independência de instâncias. O
cumprimento do TAC servirá, no máximo, para atenuar a sanção penal imposta (Informativo STJ 467 e REsp
1.294.980)
As fontes de energia são elementos ou corpos que contêm ou transformam a energia, a exemplo do sol e
das usinas hidroelétricas, pois estas conseguem converter a energia cinética em elétrica com a força das
águas que impulsionam as turbinas. Podem ser classificadas em renováveis ou não renováveis.
A discussão sobre as políticas energéticas a serem adotadas pelas nações está na ordem do dia nos
debates mundiais. É certo que a energia gerada pela queima de combustíveis fósseis vem gerando o
célere aquecimento do Planeta Terra, havendo o comprometimento de muitas nações na redução da
emissão dos gases que causam efeito estufa, a exemplo da celebração do Protocolo de Quioto.
Da mesma forma, o crescimento das economias exige uma maior utilização de energia pelas indústrias
e pelo comércio, sendo diretamente proporcional, forçando as nações a cada vez mais investirem em
novas fontes energéticas para não estagnar o avanço econômico.
No Brasil, viveu-se uma crise energética principalmente nos anos 2001 e 2002, conhecida como
"apagão", pois houve um grande risco de não existir energia suficiente para mover a economia, tendo
em vista a ausência de chuvas que prejudicou as atividades nas usinas hidroelétricas, atestando a
fragilidade da política energética do país.
Não faltou somente chuva neste período, mas também um planejamento e investimentos no setor, vez
que a ocorrência de períodos contínuos de seca é algo que deve ser previsto pelo Poder Público. Na
época, houve um racionamento de energia que foi decisivo para prevenir o pior, além de ter
colaborada na educação energético-ambiental da população.
Por outro lado, existem também inúmeros problemas ambientais a serem equacionados pelo
crescimento do setor energético. As fontes de energia fóssil geram o aumento do efeito estufa e da
temperatura na Terra. A fonte hidrelétrica exige o alagamento de extensas áreas com significativo
impacto ambiental, a exemplo da construção da usina de Belo Monte, no Estado do Pará.
Já a energia nuclear é deveras perigosa, pois os acidentes que podem ocorrer são altamente lesivos ao
ambiente e à saúde da população, a exemplo da tragédia ocorrida em Fukushima, no Japão, em 2011.
As fontes "limpas" de energia, especialmente a solar e a eólica, contam com o inconveniente de ainda
não serem viáveis economicamente, sendo pouco utilizadas pelas nações e gerando pouca energia.
Em 2007, a Comissão Europeia propôs um pacote integrado relativo à energia e às alterações climáticas
para reduzir a emissão de gases com efeito estufa. O pacote energético visava a estabelecer uma nova
Política Energética para a Europa, com o objetivo de combater as alterações climáticas e dinamizar a
segurança energética e a competitividade.
O Conselho Europeu aceitou a maior parte das propostas apresentadas e aprovou ações para
desenvolver uma política europeia integrada em matéria de clima e energia.
201
Pode-se concluir que os países europeus estão se preparando para enfrentar ou prevenir uma potencial
crise energética, bem como adotar fontes menos impactante ao ambiente.
No Brasil, o tema é regulado principalmente pela Lei n. 9.478/97, que dispõe sobre a política energética
nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo, institui o Conselho Nacional de Política
Energética e a Agência Nacional do Petróleo.
19.2 Política Energética no Brasil
A Lei do Petróleo trata principalmente do setor energético que lhe dá o nome, mas a este não se limita. Ao
cuidar dos princípios e objetivos da Política Energética Nacional, aborda a generalidade das fontes de
energia disponíveis.
É preciso destacar que os princípios fundantes e os objetivos da Política Energética foram reproduzidos,
em boa parte, a partir dos princípios constitucionais norteadores da República Federativa e da Ordem
Econômica.
A Lei criou o Conselho Nacional de Política Energética, órgão vinculado à Presidência da República e
presidido pelo Ministro de Estado de Minas e Energia, com a atribuição de propor ao Presidente da
República políticas nacionais e medidas específicas destinadas a promover o aproveitamento racional dos
recursos energéticos do País, em conformidade com os objetivos da Política Energética.
As demais atribuições do CNPE estão no art. 2° e incisos da Lei n. 9.478/97. A estrutura e o funcional do
CNPE são regulados pelo Decreto n. 3.520/2000.
São propriedades da União os depósitos de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos
existentes no território nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar territorial, a plataforma
continental e a zona econômica exclusiva.
Por sua vez, são monopólio da União as atividades de pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás
natural e outro hidrocarbonetos fluidos; a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro, a importação e
exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades ora previstas e o transporte
marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produzidos no País,
bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer
origem.
No entanto, desde a promulgação da Emenda Constitucional n. 9, de 1995, essas atividades podem ser
exercidas, mediante concessão, autorização ou contratação sob o regime de partilha de produção, por
empresas constituídas sob as leis brasileiras, com sede e administração no país. A EC, portanto, promoveu
uma flexibilização do monopólio.
202
As demais atribuições na ANP estão no art. 8° da Lei n. 9.478/97. Dentre estas, destaca-se a seguinte:
articular-se com órgãos reguladores estaduais e ambientais, objetivando compatibilizar e uniformizar as
normas aplicáveis à indústria e aos mercados de gás natural.
Destaca-se, em termos de meio ambiente, esta última competência administrativa da ANP, pois a sua
atuação deve ser harmônica e em regime de parceria com os órgãos ambientais das três esferas de
governo, pois não raro as atividades petrolíferas e de gás natural podem gerar acidentes catastróficos
de significativa degradação aos ecossistemas.
Quando, no exercício de suas atribuições, a ANP tomar conhecimento de fato que possa configurar
indício de infração da ordem econômica, deverá comunicá-lo imediatamente ao Conselho
Administrativo de Defesa Econômica – CADE e à Secretaria de Direito Econômico do Ministério da
Justiça, para que estes adotem as providências cabíveis, no âmbito da legislação pertinente.
Nos termos do art. 21 da citada lei, todos os direitos de exploração e produção de petróleo, de gás natural
e de outros hidrocarbonetos fluidos em território nacional, nele compreendidos a parte terrestre, o mar
territorial, a plataforma continental e a zona econômica exclusiva, pertencem à União, cabendo sua
administração à ANP, ressalvadas as competências de outros órgãos e entidades expressamente
estabelecidas em lei
Já a Petróleo Brasileiro S.A - PETROBRÁS - é uma sociedade de economia mista, vinculada ao Ministério de
Minas e Energia, que tem como objeto a pesquisa, a lavra, a refinação, o processamento, o comércio e o
transporte de petróleo proveniente de poço, de xisto ou de outras rochas, de seus derivados, de gás
natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, bem como quaisquer outras atividades correlatas ou afins,
conforme definidas em lei.
Desde a flexibilização do monopólio do petróleo levada a efeito pela EC n. 9/1995, a pesquisa, a lavra, a
refinação, o processamento, o comércio e o transporte de petróleo proveniente de poço, de xisto ou de
outras rochas, de seus derivados, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos, bem como quaisquer
outras atividades correlatas ou afins serão desenvolvidas pela PETROBRÁS em caráter de livre competição
com outras empresas, em função das condições de mercado, que inclusive poderá atuar fora do território
nacional.
5
Partilha de produção: regime de exploração e produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos
fluidos no qual o contratado exerce, por sua conta e risco, as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção e,
em caso de descoberta comercial, adquire o direito à apropriação do custo em óleo, do volume da produção correspondente
aos royalties devidos, bem como de parcela do excedente em óleo, na proporção, condições e prazos estabelecidos em contrato.
6
Área do pré-sal: região do subsolo formada por um prisma vertical de profundidade indeterminada, com superfície
poligonal definida pelas coordenadas geográficas de seus vértices estabelecidas no Anexo desta Lei, bem como outras regiões
que venham a ser delimitadas em ato do Poder Executivo, de acordo com a evolução do conhecimento geológico.
203
bens, após extraídos, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos incidentes e das
participações legais ou contratuais correspondentes.
Ademais, o contrato para exploração, desenvolvimento e produção de petróleo ou gás natural não se
estende a nenhum outro recurso natural, ficando o concessionário obrigado a informar a sua
descoberta, prontamente e em caráter exclusivo, à ANP.
Existem regras licitatórias especiais para a concessão em comento, no que concerne aos critérios de
julgamento das propostas. Da mesma forma, obrigatoriamente, a Lei n. 9.478/1997 prevê disposições
especiais que deverão constar do edital e do contrato a ser celebrado. Interessante notar que, em caso
de empate, a licitação será decidida em favor da PETROBRÁS, quando esta concorrer não consorciada
com outras empresas.
A participação governamental na concessão consistirá em bônus de assinatura, royalties, participação
especial e pagamento pela ocupação ou retenção de área, sendo as duas últimas de previsão contratual
obrigatória.
Constará também do contrato de concessão de bloco localizado em terra cláusula que determine o
pagamento aos proprietários da terra de participação equivalente, em moeda corrente, a um
percentual variável entre cinco décimos por cento e um por cento da produção de petróleo ou gás
natural, a critério da ANP.
As concessões serão extintas pelo vencimento do prazo contratual, por acordo entre as partes, pelos
motivos de rescisão previstos em contrato, ao término da fase de exploração, sem que tenha sido feita
qualquer descoberta comercial, conforme definido no contrato, no decorrer da fase de exploração, se o
concessionário exercer a opção de desistência e de devolução das áreas em que, a seu critério, não se
justifiquem investimentos em desenvolvimento.
Insta destacar que, em qualquer caso de extinção da concessão, o concessionário fará, por sua conta
exclusiva, a remoção dos equipamentos e bens que não sejam objeto de reversão, ficando obrigado a
reparar ou indenizar os danos decorrentes de suas atividades e praticar os atos de recuperação
ambiental determinados pelos órgãos competentes.
Na forma do art. 3° da Lei n. 12.351/2010, a exploração e a produção de petróleo, de gás natural e de
outros hidrocarbonetos fluidos na área do pré-sal e em áreas estratégicas serão contratadas pela União
sob o regime de partilha de produção.
Demais disso, a PETROBRÁS será a operadora de todos os blocos contratados sob o regime de partilha
de produção, sendo-lhe assegurado, a este título, participação mínima no consórcio, não cabendo à
União assumir os riscos das atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento e produção
decorrentes dos contratos de partilha de produção.
No caso específico das áreas localizados no pré-sal eventualmente contratadas sob o regime de
concessão, a parcela dos royalties que cabe à administração direta da União será destinada
integralmente ao fundo de natureza contábil e financeira, criado por lei específica, com a finalidade de
constituir fonte de recursos para o desenvolvimento social e regional, na forma de programas e
projetos nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento da educação, da cultura, do esporte,
da saúde pública, da ciência e tecnologia, do meio ambiente e de mitigação e adaptação às mudanças
climáticas, vedada sua destinação para outras despesas.
19.4 Biocombustíveis
O biocombustível é o combustível biológico que não tem origem fóssil, normalmente oriundo da cana-
de-açúcar, do milho, da mamona, da beterraba, dentre outros produtos agrícolas.
Legalmente, é definido como a substância derivada de biomassa renovável, tal como biodiesel, etanol e
outras substâncias estabelecidas em regulamento da ANP, que pode ser empregada diretamente ou
204
mediante alterações em motores a combustão interna ou para outro tipo de geração de energia,
podendo substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil (Lei n. 12.490/2011).
A vantagem do biocombustível é ser uma alternativa ao petróleo, tendo um processo de produção
menos impactante ao meio ambiente, bem como uma menor emissão de CO2, reduzindo o efeito
estufa.
Mas existem sérias desvantagens, inclusive ambientais. É possível que o objetivo de lucrar com os
biocombustíveis incentive o desmatamento de florestas nativas, com o propósito de plantar cana-de-
açúcar e outros gêneros agrícolas, além de ocupar áreas antes destinadas ao plantio de produtos de
subsistência, além de elevar o consumo de água.
De acordo com a Lei n. 12.490/2011, qualquer empresa ou consórcio de empresas constituídas sob as
leis brasileiras com sede e administração no País poderá obter autorização da ANP para exercer as
atividades econômicas da indústria de biocombustíveis.
Não são sujeitas à regulação e à autorização pela ANP a produção agrícola, a fabricação de produtos
agropecuários e alimentícios e a geração de energia elétrica, quando vinculadas ao estabelecimento no
qual se construirá, modificará ou ampliará a unidade de produção de biocombustível.
19.5 Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia
Especialmente em razão do risco do "apagão" a partir do ano 2001, a União aprovou a Política Nacional
de Conservação e Uso Racional de Energia por meio da Lei n. 10.295/2001, que visa à alocação eficiente
de recursos energéticos e a preservação do meio ambiente.
Ora, cada vez mais é preciso utilizar a energia de modo mais eficiente e racional, prevenindo-se o seu
desperdício e adotando-se a produção de equipamentos com baixo consumo de energia com o manejo
de novas tecnologias.
Segundo a referida lei, cabe ao Poder Executivo estabelecer níveis máximos de consumo específico de
energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia
fabricados ou comercializados no País, com base em indicadores técnicos pertinentes.
Os fabricantes e os importadores de máquinas e aparelhos consumidores de energia são obrigados a
adotar as medidas necessárias para que sejam obedecidos os níveis máximos de consumo de energia e
mínimos de eficiência energética, constantes da regulamentação específica estabelecida para cada tipo
de máquina e aparelho.
As máquinas e aparelhos consumidores de energia encontrados no mercado sem as especificações
legais, quando da vigência da regulamentação específica, deverão ser recolhidos, no prazo máximo de
30 (trinta) dias, pelos respectivos fabricantes e importadores.
Findo este prazo, os fabricantes e importadores estarão sujeitos às multas por unidade, a serem
estabelecidas em regulamento, de até 100% (cem por cento) do preço de venda por eles praticados.
Previamente ao estabelecimento dos indicadores de consumo específico de energia, ou de eficiência
energética, de que trata a aludida lei, deverão ser ouvidas em audiência pública, com divulgação
antecipada das propostas, entidades representativas de fabricantes e importadores de máquinas e
aparelhos consumidores de energia, projetistas e construtores de edificações, consumidores,
instituições de ensino e pesquisa e demais entidades interessadas.
Eis uma aplicação do Princípio da Participação Comunitária.
Vide Decreto n. 4.059/2001, que regulamenta a Lei n. 10.295/2001 e institui o Comitê Gestor de
Indicadores e Níveis de Eficiência Energética - CGIEE.
205
19.6 Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
Em meio à crise energética, a União criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica (PROINFA), por meio da Lei n. 10.438/2002, que ainda dispôs sobre a expansão da oferta de
energia elétrica emergencial e a recomposição tarifária extraordinária.
O PROINFA tem como objetivo aumentar a participação da energia elétrica produzida por
empreendimentos de Produtores Independentes Autônomos, concebidos com base em fontes eólica,
pequenas centrais hidrelétricas e biomassa, no Sistema Elétrico Interligado Nacional, sendo
implementado em duas etapas (para aprofundamento do tema, vide art. 3° da Lei n. 10.438/2002).
O Produtor Independente é Autônomo quando sua sociedade, não sendo ela própria concessionária de
qualquer espécie, não é controlada ou coligada de concessionária de serviço público ou de uso do bem
público de geração, transmissão ou distribuição de energia elétrica, nem de seus controladores ou de
outra sociedade controlada ou coligada com o controlador comum.
O intuito é promover a diversificação da Matriz Energética Brasileira, buscando alternativas para
aumentar a segurança no abastecimento de energia elétrica, além de permitir a valorização das
características e potencialidades regionais e locais.
O grande benefício ambiental trazido pelo PROINFA foi o desenvolvimento da matriz energética eólica
nacional, considerada como energia limpa.
19.7 Energia Nuclear
São diversas as atividades nucleares que podem ser desenvolvidas pelas nações como, por exemplo, a
produção de armamento, geração de energia nuclear, pesquisas e usos médicos. A Política Nacional de
Energia Nuclear foi instituída pela Lei n. 4.118 de 1962.
Registre-se, ainda, que toda atividade nuclear em território nacional somente é admitida para fins
pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional. Neste sentido, dispõe o art. 48, XIV, da CF, ser da
competência exclusiva do CN aprovar iniciativas do Poder Executivo referentes a atividade nuclear.
Conforme inovação inaugurada pela EC n. 49/2006, sob regime de permissão, são autorizadas a
comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais.
Da mesma forma, sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de
radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas. Esses isótopos radioativos podem ser utilizados
especialmente para detectar doenças do coração e do pulmão.
Por tudo isso, conclui-se que constitui monopólio da União a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e
reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, com ressalva
das exceções descritas acima, não podendo haver delegação desta atividade para empresas privadas.
Trata-se de uma exceção à livre-iniciativa ao trabalho que fundamenta a Ordem Econômica no Brasil,
especialmente em razão de imperativos de segurança nacional.
O monopólio da União é exercido pela Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, autarquia federal
criada em 1956 (na época, como órgão) e vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
O art. 21, XXIII, da CF, ainda prevê que a responsabilidade civil por danos nucleares independe da
existência de culpa (teoria do risco integral), tema regulamentado pela Lei n. 6.453/1977. Considera-se
dano nuclear o dano pessoal ou material produzido como resultado direto ou indireto das propriedades
206
radioativas, da sua combinação com as propriedades tóxicas ou com outras características dos materiais
nucleares, que se encontrem em instalação nuclear, ou dela procedentes ou a ela enviados.
A competência legislativa é exclusiva da União (art. 22, XXVI, CF/88) e o art. 225, §6°, da CF prescreve que
as usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que
não poderão ser instaladas. Logo, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão editar atos
normativos acerca das atividades nucleares, tema reservado ao ente federal (v. ADI 329/SC).
O destino final dos rejeitos radioativos produzidos no território nacional é regulado pela Lei n. 10.308/2001.
Considera-se rejeito radioativo qualquer material resultante de atividades humanas, que contenha
radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção, estabelecidos pela CNEN, para o qual a
reutilização é imprópria e não prevista.
Não se sabe ao certo o que fazer com os rejeitos radioativos. Este, certamente, juntamente com os riscos
de acidentes, é o principal problema da energia nuclear. Inexiste tecnologia para retirar imediatamente a
sua carga nociva ao ambiente e à saúde humana, devendo-se esperar a ação do tempo para a sua
descontaminação, razão pela qual os rejeitos devem ser depositados em algum lugar considerado seguro.
Para aprofundamento do tema "rejeitos radioativos" (incabível neste resumo), estudar a Lei n.
10.308/2001.
No Brasil, o maior acidente com rejeitos radioativos ocorreu no Estado de Goiás, em 13 de setembro de
1987. A União foi responsabilizada solidariamente pelo acidente, por decisão do STJ.
Matriz energética é o conjunto de todos os tipos de energia que um país produz e consome. A matriz
energética brasileira é uma das mais limpas do planeta, porque parte significativa da energia consumida
aqui provém de fontes renováveis (recursos hídricos, biomassa, etanol). De acordo com Resenha
Energética divulgada pelo Ministério de Minas e Energia em 2015 (ano base 2014), 39% da energia
consumida no Brasil foi produzida a partir de fontes renováveis, enquanto nos países integrantes da OCDE
o percentual foi de 10%. Considerando todos os países do mundo, o percentual foi de 14%,
Apesar dos benefícios decorrentes da utilização da energia renovável, o seu aproveitamento resulta em
diversas modificações no meio ambiente, provocando impactos sérios e, muitas vezes, irreversíveis, tais
como: inundação de terras agricultáveis, cidades, sítios arqueológicos; desordenação da vida aquática no
curso d'água onde é construída a barragem; alteração climática; mortandade de animais; redução da
biodiversidade; danos paisagísticos; erosão; assoreamento. Isso sem considerar os danos à população
residente nas áreas afetadas, como as comunidades ribeirinhas que, não raro, são realocadas e privadas
do seu meio habitual de sustento.
A CF/88 determina que o Poder Público exija, na forma da lei, Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para
instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental (art. 225,
§ 1º, IV).
Tal exigência está diretamente relacionada a dois princípios centrais do Direito Ambiental: o da precaução
e o da prevenção. Enquanto este último tem aplicação diante de riscos certos e de perigo concreto de
danos, o primeiro se relaciona com riscos incertos e perigo abstrato e potencial. O certo é que, em ambas
as situações, a realização do estudo de impacto ambiental é indispensável. No primeiro caso, para verificar
207
a viabilidade do empreendimento, a partir do estado de técnica atual, e, no segundo, para dimensionar o
impacto ambiental.
No caso das centrais hidrelétricas, é sabido que a atividade causará significativos impactos ambientais: “O
EIA/RIMA não servirá tanto para demonstrar a inexistência dos danos, mas, sobretudo, seu alcance, formas
de mitigação e compensação. O que não se pode admitir é a elaboração de EIA sem consideração da
hipótese de não-realização da obra, como vem ocorrendo”.
Já em relação ao princípio da precaução, tem-se dito que “o princípio tem aplicação irrestrita. Qualquer
atividade que tenha potencialidade para afetar a quantidade ou a qualidade da água dos mananciais deve
ser analisada com profundidade, buscando-se sempre evitar o agravamento da crise da água. Isso não quer
dizer que toda e qualquer dimensão de dano seja impeditiva da atividade potencialmente poluidora. O que
se exige é a realização do estudo de impacto ambiental, do desenvolvimento do estado da técnica, da
busca de alternativas não ou menos poluentes. A partir de todos esses recursos, a deliberação deve ser
tomada com suporte no princípio do desenvolvimento sustentável, mas somente após amplo
conhecimento da situação e dos riscos, dos prós e dos contras. A solução tem de ser consciente e
responsável; se foi acertada, por vezes só o futuro evidenciará.”
Já foi objeto de pergunta de concurso : como reduzir ao máximo os possíveis danos ambientais. A resposta
registrada pelo anotador foi “gestão eficiente do processo”. Isto é, a pessoa física ou jurídica responsável
pelo aproveitamento do potencial hidráulico deve implementar um Sistema de Gestão Ambiental (SGA),
que corresponde a um conjunto inter-relacionado de políticas, práticas e procedimentos organizacionais,
técnicos e administrativos com o objetivo de obter melhor desempenho ambiental, bem como, controle
e redução dos seus impactos ambientais, a partir da observância das normas internas e internacionais de
proteção ao meio ambiente.
Atenção! Este ponto não consta no edital do XVI concurso do TRF 4, mas optamos por atualizá-lo e
mantê - lo.
208
20.1. Fundamentos constitucionais dos direitos indígenas
A proteção aos direitos indígenas ganhou capítulo próprio na CF/88. Trata-se do Capítulo VIII, que engloba
os artigos 231 e 232, os quais reconhecem o direito originário dos índios (declaratório, e não constitutivo)
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, ou seja, as ocupadas em caráter permanente, as utilizadas
para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao
seu bem estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural.
A CF assegura às comunidades indígenas a posse permanente sobre tais terras, bens da União, tendo este
estado de fato contornos constitucionais, não se aplicando o regime jurídico tradicional do Código Civil,
acerca da posse, apenas utilizados supletivamente, no que for compatível com o direito publicístico
constitucional.
O art. 231 da Lei Maior reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições,
e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
A CF ainda prevê a competência privativa da União para legislar sobre populações indígenas (art. 22, XIV) e
a necessidade de autorização do Congresso Nacional para mineração em terras indígenas (art. 49, XVI).
209
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
Obs.2: Ementa de Acórdão – Dra. Maria Isabel Klein (membro da Banca TRF4) – dano moral coletivo a
quilombola.
APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Nº 5043925-95.2013.4.04.7100/RS
RELATORA : Juíza Federal MARIA ISABEL PEZZI KLEIN APELANTE : ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL APELADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMENTA
CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. USO EXCESSIVO E
IMOTIVADO DE FORÇA POLICIAL. COMUNIDADE REMANESCENTE DO
QUILOMBO FAMÍLIA SILVA. DANOS MORAIS COLETIVOS. CARACTERIZADOS.
INDENIZAÇÃO.
(...)
A jurisprudência dos tribunais pátrios consolidou entendimento segundo o
qual a possibilidade de indenização por dano moral, prevista no art. 5º, inciso
V, da Constituição Federal, não se restringe a hipóteses de violação à esfera
individual, sendo plenamente viável a caracterização da lesão
extrapatrimonial coletiva, quando a avaliação direcionar-se-á a valores e
interesses fundamentais de um grupo, ou seja, à defesa do patrimônio
imaterial de determinada coletividade. Precedentes do STJ e deste Tribunal.
- In casu, estão caracterizados a conduta estatal (violência promovida pelos
policiais contra membros da 'Família Silva'), dano antijurídico (lesão à honra e
à dignidade da comunidade, posto estar latente o preconceito social e de
raça) e o nexo de causalidade entre ambos (efetivamente a abordagem
policial gerou toda essa situação de consequências jurídicas nefastas ao
patrimônio imaterial), requisitos que configuram o dever do Estado do Rio
Grande do Sul de, exemplarmente, reparar o dano coletivo sofrido por
Quilombo historicamente esquecido das mais básicas políticas estatais (como
saneamento e assistência social) e que tardiamente obteve o
reconhecimento formal das áreas de sua propriedade. - Deverá o valor da
indenização ser utilizado com acompanhamento e fiscalização do Ministério
Público Federal e prestação de contas ao juízo federal, tudo em prol
preferencialmente da Comunidade Quilombola. Porto Alegre, 27 de janeiro
de 2016.
A questão das terras se transformara no ponto central dos direitos constitucionais dos índios, pois, para
eles, ela tem um valor de sobrevivência física e cultural. Não se ampararão os seus direitos se não se lhes
assegurar a posse permanente, a riqueza das terras por eles tradicionalmente ocupadas. Conforme já dito,
sem a proteção de uma local geográfico intimamente ligado à cultura e a tradição, dificilmente a
comunidade consegue se perpetuar.
Portanto, a disputa dessas terras e de sua riqueza constitui o núcleo da questão indígena hoje no Brasil.
Declara-se, em primeiro lugar, que essas terras são bens da União (artigo 20, XI). A outorga constitucional
dessas terras ao domínio da União visa precisamente preservá-las e manter o vínculo que se acha
210
embutido na norma, cria-se aí uma propriedade vinculada ou propriedade reservada como fim de garantir
os direitos dos índios sobre ela. Por isso são terras inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas,
imprescritíveis. Essas terras destinam-se à posse permanente dos índios, cabendo-lhes o usufruto
exclusivo das riquezas do solo dos rios e dos lagos nela existentes.
Disto também origina a irremovibilidade dos índios de suas terras, o que só é permitido com o referendo
do Congresso Nacional, e apenas em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população,
ou no interesse da soberania do País, garantido, em qualquer hipótese o retorno imediato logo que cesse o
risco (art. 231, §5°, da CF).
São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras indígenas (art. 231, §5°, da CF).
A base do conceito acha-se no art.231, §1º, fundado em quatro condições, todas necessárias e nenhuma
suficiente sozinha, a saber: 1. Serem habitadas em caráter permanente; 2. Serem por eles utilizadas para
suas atividades produtivas; 3. Serem imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a
seu bem-estar; 4. Serem necessárias a sua reprodução física e cultural.
Costuma-se afirmar que os índios tem direito congênito às terras tradicionalmente ocupadas, revelando o
indigenato o fundamento da sua posse constitucional especial, sendo mais que um direito adquirido, pois
já nasceu com os índios como um direito natural, reconhecido pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Ao analisar o instituto do indigenato, José Afonso da Silva diz que “(…) o indigenato não se confunde com a
ocupação, com a mera posse. O indigenato é a fonte primária e congênita da posse territorial; é um direito
congênito, enquanto a ocupação é um título adquirido”.
Segundo o Professor José Ribas Vieira, indigenato é “um instituto tradicional do direito luso-brasileiro que
remonta ao Alvará de 1º de abril de 1680 e define o direito dos índios às suas terras como congênito,
legítimo por si, podendo ser exercido de forma imediata, independentemente de posterior legitimação e
registro, ao contrário do que ocorre com a posse por ocupação (que é título adquirido).
A primeira constituição brasileira a tratar de forma expressa sobre o instituto do indigenato foi a
Constituição de 1934, que dispunha: “Art. 129. Será respeitada a posse de terras de silvícolas que nelas se
achem permanentemente localizados, sendo-lhes no entanto, vedado aliená-las”.
As Constituições subsequentes também trataram sobre o tema:
E, conforme o art. 231, § 1º, CF/88: “São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à
preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física
e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”.
7 Fonte: http://blog.ebeji.com.br/o-que-se-entende-por-indigenato/
211
pelo ministro, diz-se que o direito dos indígenas começou com a Constituição de 1988 (Dos Índios –
Capítulo VIII).
Importante ressaltar que as duas teorias visam definir, na prática, quais são, segundo a Constituição, as
terras indígenas, ou seja, as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, sendo que um dos requisitos
constitucionais para o reconhecimento destas é o fato de serem por eles habitadas em caráter
permanente (art. 231 § 1°).
Segundo o ministro Menezes Direito, esse caráter permanente não pode ser considerado como imemorial
ou remoto, excessivamente ligado ao passado longínquo das tribos indígenas e do próprio território,
conforme determina a teoria do indigenato. A teoria do fato indígena, em sua opinião, exige requisitos
mais plausíveis para a constatação da posse, sendo suficiente para isso averiguar a presença constante e
permanente dos índios nas terras em questão, com base na data da promulgação do Texto Maior.
Resumindo: O STF (Pet. 3388/RR) adotou a Teoria do Fato Indígena para definir a partir de qual momento
se consideraria como “terras indígenas” a área a ser demarcada. Com isso, a data fixada para esse limite
temporal foi 05 de outubro de 1988, quando a Constituição da República foi promulgada. Afastou-se a
Teoria do Indigenato, segundo a q qual a posse indígena é imemorial, ou seja, sem data inicial aferível.
Entretanto, a doutrina, bem como os TRF’s e o MP adotam a Teoria do Indigenato em detrimento da
Teoria do Fato Indígena: Vejamos alguns julgados:
TRF da 1ª Região:
TRF da 5ª Região:
O direito dos silvícolas à posse permanente das terras mencionadas no art. 231, parágrafo
1º, da Constituição, funda-se no indigenato, a revelar fonte primária e congênita da posse
territorial. Daí que, tais terras se destinam à posse permanente dos índios, constituindo
garantia para o futuro da cultura indígena, sendo inalienáveis e imprescritíveis (AC
505872/CE, julgamento 21/08/2012).
Obs.: Exceção à Teoria do Fato Indígena no STF (ARE 803462/MS – 04/08/2014 – Rel. Min. Teori Zavascki)
Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05/10/1988, ela não será
considerada indígena. Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado
renitente esbulho. Assim, se, na época da promulgação da CF/1988, os índios não ocupavam
a terra porque dela haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se
que eles foram vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para
os fins do art.231. O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório,
iniciado no passado e persistente até o marco demarcatório temporal da data da
promulgação da Constituição, materializado por circunstancias de fato ou por controvérsia
possessória judicializada. Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é
necessário, que no momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem
disputando a posse da terra ou tivesse sido dela expulsos há pouco tempo. Se eles foram
212
expulsos muitos anos antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado
“renitente esbulho”.
Isso significa uma garantia para o futuro, no sentido de que estas terras são inalienáveis e indisponíveis e
são destinadas para sempre ao seu habitat.
O reconhecimento do direito dos índios ou comunidades indígenas à posse permanente das terras por eles
ocupadas, nos termos do art. 231, §2º, independe de sua demarcação, e cabe ser assegurado pelo órgão
federal competente, atendendo à situação atual e ao consenso histórico.
Completa o conjunto de direitos dos índios, outorgado no art. 231 da CF, o reconhecimento de seu direito
ao usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios, e dos lagos existentes nas terras que tradicionalmente
ocupam. Esse usufruto é intransferível e é pleno, compreende o uso e a fruição, quer se trate de minerais,
de vegetais ou de animais.
O art. 231, §3º, dispõe que o aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização do
Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei.
Nem mesmo se admite a atividade garimpeira, em cooperativa ou não, mencionada no art.174, §§ 3º e 4º,
salvo, evidentemente, a atividade garimpeira dos próprios índios.
Compete à União demarcar as terras indígenas (art. 231, CF). Mas não é da demarcação que decorre
qualquer dos direitos indígenas. Estes direitos preexistem antes mesmo da demarcação.
O processo administrativo de demarcação das terras indígenas é regulado pelo Decreto 1.775/1996,
validado pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do MS 24.045, de 28/04/2005:
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. RESPEITO AO
CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA. SEGURANÇA INDEFERIDA. Imprescindibilidade de
citação da FUNAI como litisconsorte passiva necessária e ausência de direito líquido e certo,
por tratar a questão de matéria fática. Preliminares rejeitadas. Ao estabelecer um
procedimento diferenciado para a contestação de processos demarcatórios que se iniciaram
antes de sua vigência, o Decreto 1.775/1996 não fere o direito ao contraditório e à ampla
defesa. Proporcionalidade das normas impugnadas. Precedentes. Segurança indeferida. (MS
24045, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 28/04/2005, DJ 05-
08-2005 PP-00006 EMENT VOL-02199-01 PP-00197 LEXSTF v. 27, n. 322, 2005, p. 145-154)
213
Com propriedade, restou assentado pelo TRF da 3ª Região que a "orientação jurisprudencial é no sentido
da necessidade de produção de estudo histórico-antropológico para quaisquer questões acerca da posse
de imóvel que estaria localizado em região tradicionalmente ocupada por indígenas" (AI
2001.33.00.029599-3).
Processo Administrativo de Demarcação: O primeiro passo é identificar e delimitar a área a ser
demarcada, sendo fundamentado em trabalho desenvolvido por antropólogos. Há previsão de designação
de grupos complementares, composto por servidores da FUNAI, preferencialmente. Se solicitados, os
órgãos públicos devem prestar informações sobre a área demarcada num prazo máximo de 30 dias.
Uma vez apresentado o relatório delimitando a área a ser demarcada, caberá ao Presidente da FUNAI
aprová-lo e publicá-lo no Diário Oficial da União, em um prazo de 15 dias. Os Estados e Municípios
interessados em questionar a área demarcada poderão fazê-lo em um prazo de até 90 dias da publicação
do resumo no D.O. As referidas objeções deverão ser instruídas com todas as provas pertinentes, como
títulos dominais, laudos periciais, pareceres, declarações de testemunha, fotografias, mapas (...) podendo,
ainda, pleitear indenização e demonstrar os vícios dos relatórios.
Assim, as terras indígenas serão administrativamente demarcadas por iniciativa e orientação da FUNAI,
com fundamento em estudo antropológico de identificação, com a participação da comunidade indígena
interessada.
Em seguida, caberá a participação do Ministro da Justiça no processo de demarcação, a quem competirá
declarar, mediante portaria, os limites da terra indígena, determinando a sua demarcação, ou então
desaprovar a identificação e fazer retornar os autos ao órgão federal de assistência ao índio.
A decisão é ato vinculado, de modo que o Ministro da Justiça não pode avaliar a conveniência e
oportunidade da demarcação. Caso a área demarcada tiver a presença de ocupantes não índios, o INCRA,
órgão fundiário federal, deverá dar prioridade ao reassentamento.
O ato final será do Presidente da República, que, via decreto, irá homologar a demarcação da terra
indígena, a sofrer registro imobiliário e na Secretaria de Patrimônio da União.
De acordo com o STF, "a demarcação administrativa, homologada pelo Presidente da República, é ato
estatal que se reveste de presunção juris tantum de legitimidade e de veracidade" (RE 183.188), além de se
revestir de natureza declaratória e força autoexecutória (Pet. 3.388, de 19/03/2009).
STJ:
O STJ decidiu que a alegação de que a demarcação da terra indígena não observou os parâmetros
estabelecidos pela CF/1988 não justifica a remarcação ampliativa de áreas originariamente demarcadas
em período anterior à sua promulgação.
214
Desde o julgamento da Pet 3.388-RR (Caso Raposa Serra do Sol), a jurisprudência passou a entender que é
vedada a ampliação de terra indígena já demarcada, salvo em caso de vício de ilegalidade do ato de
demarcação e, ainda assim, desde que respeitado o prazo decadencial.
É inegável que a CF/88 mudou o enfoque atribuído à questão indígena e trouxe novas regras mais
favoráveis a tais povos, permitindo a demarcação das terras com critérios mais elásticos, a partir da
evolução de uma perspectiva integracionista para a de preservação cultural do grupamento étnico. Isso,
contudo, não é motivo suficiente para se promover a revisão administrativa das demarcações de terras
indígenas já realizadas, especialmente nos casos em que se passou o prazo decadencial.
STJ. 1ª Seção. MS 21.572-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/6/2015 (Info 564).
3.6 Terra Indígena Raposa Serra do Sol
Em 25/09/2013 foi publicado o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Pet
3.388, que trata da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Trata-se de Ação Popular ajuizada
por Augusto Affonso Botelho Neto em impugnação à Portaria n. 534/2005, do Ministério da Justiça,
homologada pelo Presidente da República em 15/04/2005, que estabeleceu a demarcação da terra
indígena denominada “Raposa Serra do Sol”.
O ato questionado revogou a Portaria n. 820/98, contra a qual foram ajuizadas inúmeras ações, todas
encaminhadas ao Supremo Tribunal Federal por força da decisão proferida na RCL 2.388, as quais foram
posteriormente extintas sem julgamento de mérito, em decorrência da revogação da referida Portaria.
O emblemático caso “Raposa Serra do Sol” é de grande relevância não apenas porque envolveu a posse e a
propriedade de vasta extensão territorial - açambarcando uma considerável fatia do território de uma
unidade federativa (Estado de Roraima) – mas também porque definiu importantes aspectos ligados à
tutela constitucional dos povos indígenas
Neste resumo, serão transcritas as condicionantes fixadas pela Corte Maior. No mais, recomenda-se a
leitura do acórdão:
1 – O usufruto das riquezas do solo, dos rios e dos lagos existentes nas terras indígenas
pode ser relativizado sempre que houver como dispõe o artigo 231 (parágrafo 6º, da
Constituição Federal) o relevante interesse público da União na forma de Lei
Complementar;
2 - O usufruto dos índios não abrange o aproveitamento de recursos hídricos e
potenciais energéticos, que dependerá sempre da autorização do Congresso
Nacional;
3 - O usufruto dos índios não abrange a pesquisa e a lavra das riquezas minerais, que
dependerá sempre de autorização do Congresso Nacional, assegurando aos índios
participação nos resultados da lavra, na forma da lei.
4 – O usufruto dos índios não abrange a garimpagem nem a faiscação, devendo se for o
caso, ser obtida a permissão da lavra garimpeira;
5 - O usufruto dos índios não se sobrepõe ao interesse da Política de Defesa Nacional. A
instalação de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares, a
expansão estratégica da malha viária, a exploração de alternativas energéticas de cunho
estratégico e o resguardo das riquezas de cunho estratégico a critério dos órgãos
competentes (o Ministério da Defesa, o Conselho de Defesa Nacional) serão implementados
independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai;
215
6 – A atuação das Forças Armadas da Polícia Federal na área indígena, no âmbito de suas
atribuições, fica garantida e se dará independentemente de consulta a comunidades
indígenas envolvidas e à Funai;
7 – O usufruto dos índios não impede a instalação pela União Federal de equipamentos
públicos, redes de comunicação, estradas e vias de transporte, além de construções
necessárias à prestação de serviços públicos pela União,
especialmente os de saúde e de educação;
8 – O usufruto dos índios na área afetada por unidades de conservação fica sob a
responsabilidade imediata do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade;
9 - O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade responderá pela
administração da área de unidade de conservação, também afetada pela terra indígena,
com a participação das comunidades indígenas da área, que deverão ser ouvidas, levando
em conta os usos, as tradições e costumes dos indígenas, podendo, para tanto, contar com
a consultoria da Funai;
10 - O trânsito de visitantes e pesquisadores não-índios deve ser admitido na área afetada à
unidade de conservação nos horários e condições estipulados pelo Instituto Chico Mendes;
11 – Deve ser admitido o ingresso, o trânsito, a permanência de não-índios no restante da
área da terra indígena, observadas as condições estabelecidas pela Funai;
12 – O ingresso, trânsito e a permanência de não-índios não pode ser objeto de cobrança de
quaisquer tarifas ou quantias de qualquer natureza por parte das comunidades indígenas;
13 – A cobrança de tarifas ou quantias de qualquer natureza também não poderá incidir ou
ser exigida em troca da utilização das estradas, equipamentos públicos, linhas de
transmissão de energia ou de quaisquer outros equipamentos e instalações colocadas a
serviço do público tenham sido excluídos expressamente da homologação ou não;
14 - As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou
negócio jurídico, que restrinja o pleno exercício do usufruto e da posse direta pela
comunidade indígena;
15 – É vedada, nas terras indígenas, qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou
comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutas, assim como de
atividade agropecuária extrativa;
16 - As terras sob ocupação e posse dos grupos e comunidades indígenas, o usufruto
exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes nas terras ocupadas, observado o
disposto no artigo 49, XVI, e 231, parágrafo 3º, da Constituição da República, bem como a
renda indígena, gozam de plena imunidade tributária, não cabendo a cobrança de quaisquer
impostos taxas ou contribuições sobre uns e outros;
17 – É vedada a ampliação da terra indígena já demarcada;
18 – Os direitos dos índios relacionados as suas terras são imprescritíveis e estas são
inalienáveis e indisponíveis.
19 – É assegurada a efetiva participação dos entes federativos em todas as etapas do
processo de demarcação.
216
em essência, da própria Constituição, mas também pela necessidade de se explicitarem as diretrizes
básicas para o exercício do usufruto indígena, de modo a solucionar de forma efetiva as graves
controvérsias existentes na região. Nesse sentido, as condições integram o objeto do que foi decidido e
fazem coisa julgada material. Isso significa que a sua incidência na Reserva da Raposa Serra do Sol não
poderá ser objeto de questionamento em eventuais novos processos" "Pet 3388 ED, Relator(a): Min.
Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 23/10/2013, Acórdão Eletrônico DJe-023 divulg 03-02-2014
public 04-02-2014).
Os direitos e interesses dos índios têm natureza de direito coletivo, direito comunitário. A CF reconhece
legitimação para defendê-los em juízo aos próprios índios, às suas comunidades e organizações, intervindo
o Ministério Público em todos os atos do processo.
Histórico
O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública com o objetivo de paralisar as atividades
administrativas relacionadas ao processo de licenciamento da UHE Belo Monte, sob o fundamento da
suposta nulidade do Decreto Legislativo 788/2005, tendo em vista a existência, em tese, de vícios formais e
materiais. Porém, o juiz federal da Vara Única de Altamira (PA) julgou improcedente o pedido.
O MPF interpôs recurso de apelação, mas a 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou seu
provimento, “entendendo não existirem vícios que maculem a legalidade e a constitucionalidade do
Decreto Legislativo 788/2005, que autoriza o aproveitamento hidroelétrico de Belo Monte”. Após isso, o
MPF apresentou outro recurso (embargos de declaração) e, na análise deste, o TRF-1 declarou a invalidade
do Decreto Legislativo 788/2005, por violação à Convenção 169 da OIT e à Constituição Federal. Decidiu,
ainda, impedir que o Ibama praticasse qualquer ato de licenciamento da UHE Belo Monte, bem como
tornar insubsistentes os já praticados e conferiu imediata eficácia à sua decisão, ordenando a paralisação
do empreendimento.
Pedido
Segundo a AGU, o cumprimento do ato reclamado “está prestes a inviabilizar o empreendimento, do qual,
presentemente, depende o planejamento da política energética do país”. “São incalculáveis as
consequências dessa proibição de realização de qualquer ato de licenciamento da Usina Hidrelétrica de
Belo Monte por parte do IBAMA no cronograma governamental de planejamento estratégico do setor
elétrico do país”, afirma.
Além disso, assevera que além de desrespeitar decisão do Supremo, a decisão do TRF-1 “invade
completamente a esfera de discricionariedade administrativa e repercutirá na formulação e
implementação da política energética nacional”. Assim, pede, liminarmente, a suspensão da eficácia do
acórdão da 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) a fim de evitar dano irreparável ao
patrimônio público e, no mérito, solicita a anulação da decisão questionada por desrespeitar a autoridade
da decisão proferida pelo STF no julgamento da Suspensão de Liminar 125.
Outros detalhes
A Usina Hidrelétrica de Belo Monte é uma central hidrelétrica que está sendo construída no Rio Xingu. Será
feita uma barragem principal no rio, localizada a 40 km abaixo da cidade de Altamira, formando o
Reservatório do Xingu. A partir deste reservatório, parte da água será desviada por um canal de derivação
de 20 km de comprimento para um Reservatório Intermediário, localizado a aproximadamente 50 km de
Altamira na região cercada pela Grande Volta do Xingu.
219
Este reservatório será criado fechando os escoadouros da região por 27 diques menores. A área total dos
reservatórios será de 516 km²3, dividida entre os municípios de Vitória do Xingu (248 km²), Brasil Novo (0,5
km²) e Altamira (267 km²). A área a ser alagada é apenas parte desse total, pois este inclui a calha atual do
Rio Xingu. Custo estimado em 26 bilhões pela concessionária4. Potência: 11.233 MW; (efetivamente 4.500
MW) cerca de 10% do consumo nacional. Em potência instalada, a terceira maior hidrelétrica do mundo,
atrás apenas da chinesa "Três Gargantas" e da brasileira e paraguaia "Itaipu".
Impacto Ambiental e Socioeconômico:
Comunidades Indígenas e Locais: Remanejamento de mais de 20 mil famílias de moradores da periferia de
Altamira e da área rural de Vitória do Xingu, e de impacto em cerca de 350 famílias ribeirinhas que vivem
em reservas extrativistas6. Índios: Todas as 24 etnias que ocupam 30 Terras Indígenas na Bacia do Xingu,
12 no Mato Grosso e 18 no Pará, seriam direta ou indiretamente afetadas à medida que o Xingu e sua
fauna e flora, além do seu entorno, fossem alterados pela usina.
Na região de influência direta de Belo Monte, três Terras Indígenas seriam diretamente impactadas: a TI
Paquiçamba, dos índios Juruna, e a área dos Arara da Volta Grande, que se situam no trecho de 100 km do
rio que teria sua vazão drasticamente reduzida. Já a área indígena Juruna do KM 17 fica às margens da
rodovia PA 415, e seria fortemente impactada pelo aumento do tráfego na estrada e pela presença de um
canteiro de obras.
Inundação de Igarapés: Inundação constante, hoje sazonal, dos igarapés Altamira e Ambé, que cortam a
cidade de Altamira, e parte da área rural de Vitória do Xingu.
Redução da vazão da água a jusante do barramento do rio na Volta Grande do Xingu e interrupção do
transporte fluvial até o Rio Bacajá, único acesso para comunidades ribeirinhas e indígenas. Alteração do
regime do rio sobre os meios biótico e socioeconômico, com redução do fluxo da água; afetando a flora e
fauna locais e introduzindo diversos impactos socioeconômicos. Atualmente, este é o único meio de
transporte para comunidades ribeirinhas e indígenas chegarem até Altamira, onde encontram médicos,
dentistas e fazem seus negócios.
221
NECESSIDADE DE LAUDO ANTROPOLÓGICO. SENTENÇA ANULADA. APELAÇOES PROVIDAS. 1. Em exame
apelações interpostas pelo Ministério Público Federal e pela União em face de sentença que julgou
procedente ação de interdito proibitório incidente sobre imóvel rural situado no Distrito de Olivença,
Município de Ilhéus/BA. 2. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são aquelas por eles habitadas
em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural,
segundo seus usos, costumes e tradições (CF, art. 231, §1º). 3. A posse indígena, por suas peculiaridades,
não pode ser analisada à luz dos conceitos civilistas de posse e propriedade. 4. Está em curso
procedimento administrativo de demarcação da "Terra Indígena Tipinambá de Olivença" cujo resumo do
relatório foi publicado no Diário Oficial da União de 20/04/2009. Incide a espécie na vedação prevista no §
2º do artigo 19 do "Estatuto do Índio" (Lei nº 6.001/73) que proíbe a concessão de interdito proibitório. 5.
Além disso, ainda que não haja notícia nos autos de que o processo administrativo de demarcação já
chegou ao fim, não foi elaborado laudo antropológico ao longo da instrução processual, necessário para
aferir se o imóvel rural encontra-se localizado na área indígena da aludida reserva. Se tal hipótese for
confirmada, essa circunstância basta para desfigurar o pretendido direito à reintegração de posse. 6. "O
Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade do procedimento administrativo de
demarcação de terras indígenas, previsto no Decreto 1.775/96 (...). Saber se os índios ocupavam a área na
data de promulgação da CF/88, ou se nela já não habitavam por força de esbulho injusto e violento de não
índio (marco temporal), se estiveram sempre na intenção de reocupá-las, se têm relação anímica com
aquela específica porção do território (marco tradicionalista), dentre outras questões de fato, dependem
de indispensável dilação probatória (...). A demarcação de terras indígenas processada e conduzida
exclusivamente na instância administrativa, sem necessidade de apreciação judicial, é prática reiterada na
Administração Pública Federal, sobretudo após a promulgação da CF/88." (STJ, MS 15.822/DF, Rel.
Ministro CASTRO MEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2012, DJe 01/02/2013) 7. Deve ser anulada
a sentença e determinado o retorno dos autos à Vara Federal de origem para realização de prova pericial.
8. Apelações da União e do Ministério Público Federal providas. (AC 0000932-04.2006.4.01.3301 / BA, Rel.
DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, Rel.Conv. JUIZ FEDERAL MÁRCIO BARBOSA
MAIA (CONV.), QUINTA TURMA, e-DJF1 p.91 de 27/02/2014).
Decisão Monocrática
Classe: AG - AGRAVO DE INSTRUMENTO
Processo: 5028231-41.2016.404.0000 UF:
222
Data da Decisão: 06/07/2016 Orgão Julgador: QUARTA TURMA
Fonte D.E. 06/07/2016
Relatora VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA
Trata-se de agravo de instrumento interposto em face de decisão que, em ação de reintegração ajuizada
por Geneci Aparecida Siqueiri Fanhani e outros, em virtude de ocupação indígena de imóvel de sua
propriedade, localizada no Município de Terra Roxa/PR, indeferiu o pedido de suspensão do feito até a
finalização do procedimento demarcatório e o julgamento da Ação Civil Pública n.º 5001076-
03.2012.404.7017, formulado pelo Ministério Público Federal.
A ação civil pública n.º 5001076-03-2012.404.7017 foi proposta pelo MPF contra a Funai e a União,
objetivando compelir os réus a identificar e demarcar as terras indígenas de aldeias Guarani nas cidades de
Guaíra e Terra Roxa, no Paraná. Nela foi deferida, em parte, a antecipação de tutela, para determinar à
Funai que inicie o procedimento demarcatório. A decisão interlocutória foi parcialmente confirmada por
esta Turma, em julgado de relatoria do Desembargador Cândido Alfredo Silva Leal Junior, assim ementado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. FUNAI. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MPF. DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS.
FIXAÇÃO DE PRAZO. MULTA DIÁRIA. REDUÇÃO.
1. Não cabe ao Judiciário fixar prazos para a administração exercer as atribuições que lhe são próprias, a
não ser em casos excepcionais, em que a mora do poder público é flagrante, e nos quais a inércia da
administração inviabiliza o exercício de direitos pelos cidadãos
2. Redução da multa diária pelo descumprimento, para R$ 200 (duzentos reais) ao dia, conforme os
princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
223