Monografia - Matheus B. Belchior
Monografia - Matheus B. Belchior
Monografia - Matheus B. Belchior
Projeto de Pesquisa
DISCIPLINA MONOGRAFIA
Vitória/ES
2018/1
Projeto
Palavras chave: Exu; Laterita; Química dos solos; Lei 10.639; Iorubá.
1. INTRODUÇÃO
Laroyê!
Berço da humanidade, a África testemunhou a evolução do homem ancestral (espécies
anterior ao Homo sapiens sapiens) ao homem moderno (Homo sapiens sapiens). A descoberta
dos fósseis mais antigos em território africano aponta que a gênese da civilização se deu no
continente. Não somente lugar onde há o início da civilização humana, mas também do
desenvolvimento de organizações sociais e de tecnologias (COPPENS, 2010; LEAKEY, 2010).
Além disso,
Com a diáspora negra, causado pelo processo de escravização do negro africano pelos
europeus sob uma premissa racista, alguns desses conhecimentos foram difundidos nas colônias
do dito “Novo Mundo”. No Brasil, africanos de origem Bantu, oriundos do Congo e de Angola;
os de origem sudanesa e os de origem iorubana, vindas do Daomé e sudoeste da Nigéria.
Focalizando nosso olhar nestes, chegaram durante o último período da escravatura e foram
concentrados nos centros urbanos (ELBEIN DOS SANTOS, 2012). Na Bahia, há uma maior
concentração de escravizados traficados de origem iorubá que trouxeram para o Brasil o
conhecimento da metalurgia e da mineração, que foram explorados no país (BENITE;
AMAURO, 2017). Para além disso, importaram seus costumes, suas estruturas hierárquicas,
seus conceitos filosóficos e estéticos, sua língua, sua música, sua literatura oral e mitológica
(ELBEIN DOS SANTOS, 2012). Portanto, percebe-se uma influência enorme iorubá na
sociedade brasileira até a contemporaneidade.
Sob uma perspectiva científica, pode-se traçar uma interpretação sobre o mito. Em seu
sentido mais amplo, a laterita pode ser definida como formação geológica decorrente do
processo de laterização e possui como característica grandes concentrações de ferro e alumínio
(AUGUSTIN; LOPES; SILVA, 2013; SIQUEIRA et al., 2014). A laterização é um processo de
intemperismo das rochas característicos de regiões tropicais de clima úmido, na qual as elevadas
temperaturas e chuvas constantes provocam a lixiviação de partículas finas e acarretando na alta
concentração de partículas pesadas (ferro, na forma de hematita e hidróxidos; e alumínio, na
forma de alumina e hidróxidos) (VIEIRA et al., 2007; ARAÚJO; NETO, 2014).
A análise de Juana Elbein dos Santos (2012) mostra que a laterita, formação rochosa de
coloração avermelhada, é a matéria de origem, segundo o mito da gênese iorubá, e Èṣù-Yangi é
a primeira forma dotada de existência individual. Ora, a autora complementa argumentando que
a laterita é o resultado da interação entre água + terra.
De fato, a laterita é fruto da interação entre esses dois elementos, uma vez que é o produto
de um processo causado pelas chuvas características da região - que representa a água - no solo
africano - que representa a terra -, acarretando na concentração de alumínio e ferro - por isso a
coloração avermelhada. Percebe-se que o mito de Èṣù-Yangí, ao mesmo tempo em que aborda
os aspectos mitológicos da cultura iorubá, abrange explicações científicas de sua região, que tem
como característica o solo laterítico. Exemplificando que o conhecimento africano parte da
interação entre o mitológico e o científico, postulando, então, uma visão religiosa do mundo
(HAMPÂTÉ BÂ, 2010).
Apesar da riqueza cultural que a mitologia iorubá – e africana – demonstra ter, ela vem
sofrendo ataques por parte da sociedade brasileira devido a concepções racistas da cultura
africana. Principalmente o orixá Èṣù, visto - na cultura iorubá - como o princípio dinâmico na
qual nenhuma vida se desenvolveria sem ele, que é assimilado a concepções negativas por
muitos. Como consequência, as lições filosófico-pedagógicas que os mitos africanos apresentam
são ignoradas.
Além disto, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana determina que o ensino
de história e cultura afro-brasileira e africana busque compreender e interpretar diferentes
formas de expressão e de organização de raciocínios e pensamentos de raiz da cultura africana
(BRASIL, 2004). Logo, a proposta de valorização da história e da cultura africana e afro-
brasileira por meio da leitura de um mito africano vem para garantir os direitos e a valorização
de identidades (POLI, 2015).
2. OBJETIVO
Desmistificar a representação social hegemônica de Èṣù.
A sequência didática a ser desenvolvida englobará desde discussão dos temas a serem
abordados à experimentação, aspecto fundamental para uma maior compreensão dos fenômenos
químicos. Além disso, em algumas etapas do processo, será privilegiada a tradição oral e outros
gêneros africanos.
Como primeira aproximação do tema, será realizada uma pesquisa com os alunos sobre
a concepção que os mesmos carregam sobre Exu. Para isso, os alunos deverão fazer um mapa
conceitual do tipo teia de aranha sobre as palavras que eles associam às palavras-chave. Serão
selecionadas quatro divindades de diferentes mitologias (Zeus, da mitologia grega; Thor, da
mitologia nórdica; Jesus, da mitologia cristã; e Exu, da mitologia ioruba) e, em seguida, os
alunos associarão essas quatro figuras a, no mínimo, cinco palavras que lhes vem à cabeça.
Após a atividade, será apresentado o trabalho a ser proposto e o cronograma de atividades.
Na terceira parte, será abordado sobre o orixá Exu. A aula consistirá basicamente na
explicação da representação de Exu no candomblé. Para isso, serão utilizados alguns mitos e
orikis que explicarão as características e funções desse orixá no culto. Nessa aula, será mostrado
e explicado o mito de Exu Yangi e a pedra de laterita.
Na quarta e quinta aula será trabalhada a química do solo com o enfoque na laterita.
Será explicado o conceito geológico e algumas características desse solo (característica química,
física e geográfica). Alguns outros mineirais, característicos dos solos lateríticos, poderão ser
abordados. A abordagem será por um enfoque químico, por isso trabalharemos com os metais da
tabela periódica e métodos de análise qualitativa e quantitativa dos metais no solo. A dinâmica
desta etapa da sequência didática consistirá na experimentação em conjunto com uma aula
teórica.
Na última aula, será resgatado todo o conhecimento gerado nessas cinco aulas. Para
isso, os alunos farão uma síntese do que foi discutido e estudado na forma de um oriki. Para
isso, será instruído como é construído um oriki e suas características. Os alunos terão a
liberdade de decidir o que, dentro da sequência didática realizada, deve estar dentro do oriki. No
entanto, será prezada a presença do orixá Exu e da laterita no texto (oral ou escrito).
4. PLANO DE TRABALHO/CRONOGRAMA
Inicialmente será realizada a revisão bibliográfica para obter os apoios teóricos que
legitimam a realização do trabalho. Tratando de um tema que pode gerar reações negativas e
contrárias a que o projeto propõe é de suma importância ter em mãos estudos que fundamentem
e contribuem para que há a continuidade do trabalho. As atividades 2 à 7 referem-se à sequência
didática planejada.
ATIVIDADES
Lista de atividades*
1 – Revisão bibliográfica
2 – Aplicação do questionário diagnóstico e apresentação do trabalho
3 – Discussão sobre o tema
4 – Aula sobre Exu
5 – Aula experimental sobre laterita
6 – Aula experimental sobre laterita
7 – Síntese do projeto e confecção de orikis
8 – Elaboração da monografia
9 – Caracterização de amostras de lateritas
10 – Apresentação da monografia
5. BIBLOGRAFIA