Escrita de Sinais Uab - Apostila.completa.
Escrita de Sinais Uab - Apostila.completa.
Escrita de Sinais Uab - Apostila.completa.
ESCRITA DE SINAIS
2018
UNIDADE I
Resumo
Relação de textos
O atraso cognitivo dos surdos pode ser produzido pela limitação que eles têm em
realizar trocas simbólicas com seu meio, provocado pela falta de um instrumento simbólico
e de um ambiente que os estimule a representar suas trocas afetivas e assim evoluir
significativamente.
“Pensar sobre a surdez requer penetrar “no mundo dos surdos” e “ouvir”
as mãos que, com alguns movimentos, nos dizem o que fazer para tornar
possível o contato entre os mundos envolvidos, requer conhecer a “língua
de sinais”. Permita-se “ouvir” essas mãos, pois somente assim será
possível mostrar aos surdos como eles podem “ouvir” o silêncio da
palavra escrita”. (Quadros, 1997, pg. 119).
A escrita real, que responde a uma situação, a uma motivação, supõe compreensão
do modo de sua construção. Na escrita real a criança precisa criar os elementos e as
relações entre eles que não podem ser pré-estabelecidos.
Ao dar aulas para crianças surdas pude observar que muitos alunos pensavam que o
português escrito era a escrita da língua de sinais usada por eles. Existe muita confusão,
entre as duas línguas que, entre outros fatores, limita os resultados também das
aprendizagens de leitura e escrita em português.
Mesmo que a criança surda, quando lê uma língua oral, consiga converter as letras
na soletração digital correspondente ela não vai obter o sinal lexical que ela está
acostumada a usar no dia a dia em sua língua de sinais, e essa é uma crucial diferença em
relação à criança ouvinte.
A principal dificuldade dos surdos, quando escrevem uma língua oral não é o léxico
e sim a sintaxe. Como é pela sintaxe que a língua se define, pois a função geradora está
contida no campo sintático, a dificuldade em adquirir a sintaxe da língua falada é o que
acontece de mais grave na escrita do surdo, o que faz com que seus textos sejam muitas
vezes incompreensíveis.
45
Vygotsky (1934) diz que, na língua materna, os aspectos primitivos da fala são
adquiridos antes dos aspectos mais complexos. Estes últimos pressupõem certa consciência
das formas fonéticas, gramaticais e sintáticas. No caso de uma língua estrangeira, as
formas mais elevadas se desenvolvem antes da fala fluente e espontânea. As teorias
intelectualistas da linguagem que privilegiam a relação entre signo e significado têm um
fundo de verdade no que diz respeito à aquisição de uma língua estrangeira .
A relação dos surdos com a língua de sinais é a mesma do ouvinte com a língua
materna, ele não tem consciência das estruturas gramaticais de sua língua, mas as usa
corretamente, e adquire fluência sem esforço. Para aprender uma língua estrangeira o
aprendiz ouvinte só alcança o resultado positivo depois de um estudo árduo e demorado. Já
o surdo acresce, a dificuldade natural de aprender uma língua estrangeira, o fato de não ter
o mapeamento oferecido pela fala e o fato, ainda mais relevante, de não possuir, em grande
parte das vezes, uma língua de sinais consistente.
A criança transfere para sua nova língua o sistema de significados que já possui na
sua própria língua e quando ela aprende a ver sua língua como um sistema específico entre
muitos, passa a conceber seus fenômenos dentro de categorias mais gerais e isso leva à
consciência das operações lingüísticas.
Há muitas línguas orais que não possuem uma escrita. Seus usuários talvez não
sentiram necessidade dessa representação, ou não conseguiram um sistema que
representasse adequadamente suas línguas. As comunidades surdas, não são comunidades
isoladas, com uma cultura de língua ágrafa, mas participam da vida urbana e do mundo
contemporâneo que é cada vez mais dependente da escrita. As comunidades surdas urbanas
precisam de um nível adequado de leitura e escrita compatível com a sociedade em que
vivem.
fala condensada e abreviada. A escrita é detalhada e exige uma ação analítica deliberada
capaz de construir uma estruturação intencional da teia do significado.
Quando nos comunicamos passamos não apenas uma mensagem, mas a nossa maneira
de ver, sentir e ler o mundo. A pessoa bicultural se define como aquela que participa da
vida de duas culturas, que se adapta a uma e a outra.
A criança surda deve ser preparada a vir a ser uma pessoa bicultural, quer dizer
membro das culturas surda e ouvinte, mesmo que ela tenha a dominância de uma cultura
em relação à outra. Nós defendemos o direito da criança surda a ser bicultural e bilíngüe.
Quarenta anos após as primeiras propostas de reabilitação das línguas de sinais, nós
pensamos, que uma escrita da língua de sinais, pode ampliar as possibilidades de estudos
aplicados às línguas de sinais e o acesso á cultura escrita da população surda. Nesse
contexto, a incorporação da aprendizagem de uma escrita da língua de sinais ao currículo
da educação dos surdos, pode fazer a diferença, entre propostas apenas superficiais e
mudanças estruturais realmente eficazes para sua educação.
No século XIX, Bébian9 (1817) escreveu que, em seus numerosos trabalhos havia
traçado um caminho para a educação dos surdos e que, outro, mais hábil, ou mais bem
assessorado, encontraria o fim desse caminho. Sua posição era equilibrada, realista e
moderna. Ele não pode ser reduzido apenas a um defensor dos sinais, era sim, partidário de
uma educação que começando pelos sinais, pois dizia, essa é a única maneira de
comunicação com uma criança surda, chegaria à maioridade com o surdo possuidor de
duas línguas: a língua de sinais, inclusive escrita, e a língua de seu país, esta somente na
sua forma escrita. Bébian predisse, mas foi necessário chegarmos aos anos 60 para que os
trabalhos do americano William Stokoe retomassem o caminho esboçado por ele.
Há vários tipos de notação para as línguas de sinais dos surdos. Algumas dessas
notações comportam muitas centenas de símbolos cuja reprodução é muito volumosa.
Descrevo resumidamente algumas das mais relevantes:
9
Tradução livre de Mariana Rossi Stumpf – Essai sur les sourds-muets, 1817.
1.2 A escrita das línguas de sinais
Conforme relato de Oviedo (2008), uma das primeiras tentativas de escrever a língua
de sinais partiu de Roch Ambroise Auguste, apelidado de Bébian, que, em 1875, publicou um
livro intitulado Mimographie.
Bébian passou grande parte de sua juventude ao lado do padrinho Roch Ambroise
Sicard que era diretor do Institution Nationale des Sourds-Muets à Paris, cuja tendo a
oportunidade de aprender a língua de sinais francesa e conviver com os alunos e professores
Surdos ou tornou fluente na língua de sinais.
20
1 - Forma e orientação da mão
2 – Movimento
21
3 - Lugar
22
4 - Expressão facial/corpora.
23
Oviedo (2008) apresenta um exemplo de escrita do sinal ‘Encontrar’ da língua de
sinais alemã:
Símbolo a direita
Escrita final:
Sobre a escrita das línguas de sinais, várias tipos de notação foram testados. Stumpf
(2005), em sua tese de doutorado, apresenta cinco tipos:
24
• Notação de François Neve (1996) – Notação que utiliza códigos que tornam possíveis
uma numeração e um tratamento informático dos sinais. Seu registro é organizado em
colunas verticalmente de cima para baixo, sendo em uma só coluna, quando a mão
dominante sinaliza, e em duas colunas, quando as duas mãos sinalizam. A constituição
do sinal é registrada na seguinte ordem:
Localização <<LO>>
Orientação <<ORI>>
Ação <<ACT>>
25
• Hamburg Notation System – HamNoSys − Inventado na Universidade de Hamburgo,
Alemanha, por Prillwitz, Vollhaber e seus colaboradores, foi inspirado no sistema de
Stokoe.
26
• O Sistema D` Sing de Paul Jouison (1990) – Neste sistema o registro não se dá de
forma isolada, mas em sentenças longas e sequências de discursos. Entretanto, o autor
desta notação faleceu antes de apresentá-la totalmente.
DanceWriting SignWriting
27
A proposta de escrita de sinais mais recente é a de Barros (2008) que apresenta em sua
tese a ELiS – Escrita das Línguas de Sinais. Este é um sistema de escrita de base alfabética e
linear, organizada a partir dos parâmetros proposto por Stokoe (1965). Barros (2008)
apresenta alguns textos escritos por alunos utilizando a Elis, conforme o exemplo a seguir:
Mariângela,
Nós queremos te agradecer, pois estamos felizes com o curso de janeiro, em que você nos
ensinou a ELiS. Vamos chorar. Nós aprendemos coisas diferentes.
Será bom e importante ensinar as crianças para que no futuro possam se desenvolver.
Obrigada!
11
Classes compostas somente por alunos surdos em escolas da rede regular de ensino destinada também a alunos
ouvintes.
28
UNIDADE II
Resumo
O Sign Writing é um dos sistemas de notação da
escrita de sinais mais difundido e estudado. Criado
pela americana Valerie Sutton e estudado no Brasil
inicialmente por Marianne Stumpf. O Sign Writing
permite ao surdo expressar-se livremente, mostrando
sua fluência e compreensão, o que não ocorria com a
escrita da língua oral.
UNIDADE II
O sistema de escrita Sign Writing
Relação de textos
Punho Fechado
Punho Aberto
Mão Plana
Orientação da Palma
Visão de Frente
A mão fica paralela à parede
Orientação da Palma
Visão de Frente
A mão fica paralela à parede
Orientação da Palma
Visão de Frente
A mão fica paralela à parede
Orientação da Palma
Visão de Frente
A mão fica paralela à parede
Orientação da Palma
Visão de Cima
A mão fica paralela ao chão
O espaço na articulação
do dedosignifica que a
mão fica paralela ao chão
Orientação da Palma
Visão de Cima
A mão fica paralela ao chão
Orientação da Palma
Visão de Cima
A mão fica paralela ao chão
O espaço na articulação
do dedo significa que a
mão fica paralela aoo
chã
Orientação da Palma
Visão de Cima
A mão fica paralela ao chão
O espaço na articulação
do dedo significa que a
mão fica paralela aoo
chã
UNIDADE III
Resumo
Relação de textos
BARRETO, Madson; BARRETO, Raquel. Escrita de Sinais sem mistérios.
Texto 1 2. ed. rev. atual. E ampl. Salvador, v. 1: Libras Escrita, 2015.
k
Alfabeto Manual da LIBRAS
Preencha as linhas com cada um dos símbolos para praticar:
w
Alfabeto Manual da LIBRAS
Preencha as linhas com cada um dos símbolos para praticar:
10
Lendo o Alfabeto Manual
Escreva a palavra para cada alfabeto manual abaixo:
1. 7.
2. 8.
3. 9.
4. 10.
5. 11.
6. 12.
Lendo o Alfabeto Manual
Escreva a palavra para cada alfabeto manual abaixo:
UNIDADE I
Resumo
Relação de textos
Texto 4 RIBEIRO, Sérgio. Escrita de Sinais: Por que não? Revista Virtual de
cultura surda e diversidade. Acesso em: http://www.editora-arara-
azul.com.br/revista/01/pontodevista.php
53
29
Fragmento retirado do artigo Educação de surdos: e feitos de modalidade e
praticas pedagógicas de Ronice Muller de Quadros (2011). Publicado no Livro pós-
congresso “Temas em Educação Especial IV”, pela EDUFSCar
http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/midiateca_artigos/pratica_ensino_educacao
_surdos/texto22.pdf.
30
As articulações manuais e não-manuais nas línguas de sinais podem ser
comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros.
Os parâmetros da Libras serão exemplificados posteriormente nesta pesquisa.
31
Informações retiradas do “Caderno pedagógico e DVD para o ensino de escrita de
sinais – projeto de pesquisa” do Núcleo de Estudos e Pesquisas em educação de
Surdos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina – CEFET/SC
Disponível em http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/docs/projeto_escrita_sinais.-pdf.
Acesso em 22 mar. 2011.
55
Alfabetização
Sinal 11 – Alfabetização
Escrita de sinais
Sinal 12 – Escrita de sinais
32
De acordo com Brown (2000), a interlíngua se refere a um sistema com estrutura
própria, resultante da interação entre as estruturas da língua materna e as da língua-
alvo. Normalmente os surdos mesclam a estrutura gramatical da língua que estão
estudando (L2, L3...) com a estrutura da sua L1.
61
33
Para Cabré (1999) um dos componentes básicos de uma língua é o léxico, o qual
consiste de palavras de uma língua e as regras que controlam a criatividade do
falante. As palavras são unidades de referências da realidade e nos conectam ao
mundo real.
62
34
Termo utilizado para referi-se a escolas de/para surdos que utilizam resquícios de
métodos oralistas, que tendem priorizar a fala oral em detrimento do
desenvolvimento da linguagem.
64
Resumo
* Professora da Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser, Santa
Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
** Professora da Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser, Santa
Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010 181
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Taking the theme literacy of deaf children is currently directing the eye to the
practice teaching course that demands beyond the school. Questions moving to
daily practice, became a challenge, requiring an investigative attitude. The article
aims to problematize the process of literacy of deaf children. Reflection proposal
emerges from daily practice. This structure is from yarns that include theoretical
studies of Vigotskii (1989, 1994, 1996, 1998); Stumpf (2005), Quadros (1997);
Bolzan (1998, 2002); Skliar (1997a, 1997b, 1998) . From which, problematizes
the processes involved in the construction of written language. It is as a result,
the importance of the instrumentalization of sign language as first language in
education of deaf and learning of sign language writing. Important aspects for the
deaf student is observed in the condition to be literate in their mother tongue. It
points out the need for a redirect in the literacy of deaf children, so that important
aspects of language and its role in the structuring of thought and its communicative
aspect, are respected and considered in this process. Thus, it emphasizes the
learning of the writing of sign language as fundamental, it should occupy a cen-
tral role in the proposed teaching the class, encouraging the contradictions that
put the student in a situation of cognitive conflict, while respecting the diversity
inherent to each humans. It is considered that the production of sign language
writing is an appropriate tool for the deaf students record their visual language.
Introdução
Por não ouvir e não falar oralmente, o aluno surdo passa por um pro-
cesso de alfabetização muito diferenciado em relação aos ouvintes. A escrita do
aluno surdo na língua portuguesa é muito peculiar e acaba sendo sua única
forma de manifestação concreta que pode ser avaliada pelo professor, uma vez
que ele não fala a língua portuguesa, considerada sua segunda língua.
182 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010 183
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
184 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010 185
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
186 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010 187
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Vigotsky (1998, p. 146) diz que: “em vez de tentar avaliar visualmente
as quantidades, o homem aprende a usar um sistema auxiliar de contagem, e
em vez de confiar mecanicamente as coisas à memória, ele as escreve”. Diz,
ainda, que “a escrita é uma dessas técnicas auxiliares usadas para fins psicoló-
gicos, a escrita constitui o uso funcional de linhas, pontos e outros signos para
recordar e transmitir ideias e conceitos”.
A partir de relatos pessoais dos alunos, sobre o que eles mais gostam
na escola, sugeriu-se que eles escrevessem sobre o assunto. Foi possível ob-
servar, no primeiro momento, que as crianças mostraram resistência para fazer
o registro, dizendo “não saber”. Mas, com a mediação da professora, foi explica-
do que era uma atividade livre e que cada um deveria fazer do seu jeito, mobili-
zando uma provocação, que foi aceita pelos alunos.
Uma aluna falou que o que ela mais gostava na escola eram as brinca-
deiras na pracinha. A partir de seu registro escrito, constatamos a seguinte
produção (Figura 3).
188 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010 189
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
190 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
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Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
192 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Referências
Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010 193
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
Notas
Correspodência
Giovana M. Fracari Hautrive – Rua Oscar Ferreira, 312, CEP 97095-490 – Parque Sarandi,
Santa Maria.
E-mail: giovana.fh@gmail.com
194 Rev. Educ. Espec., Santa Maria, v. 23, n. 37, p. 181-194, maio/ago. 2010
Disponível em: <http://www.ufsm.br/revistaeducacaoespecial>
RESUMO
A língua de sinais não é ágrafa, pois todas as línguas possuem suas respectivas escritas. Mesmo assim,
apesar de mais de quarenta países já utilizarem a escrita de sinais no ensino bilíngue, no Brasil este
conhecimento ainda é muito novo, mesmo já tendo havido pesquisas realizadas no Rio Grande de Sul.
Sendo bilíngue, o aluno surdo precisa aprender a língua portuguesa escrita, mas no processo de
alfabetização a grande maioria das escolas não faz diferenciação da metodologia utilizada para ensinar a
escrita de português e o letramento ao surdo. Isto tem dificultado muito a aprendizagem do surdo. Que
influência a aprendizagem da escrita de sinais provoca na aprendizagem do português escrito? Ajuda ou é
indiferente? Por quê? Partindo de uma pesquisa bibliográfica de obras de autores como KLIMSA
FARIAS, SAMPAIO e KLIMSA, In: FARIA e ASSIS (2012); PONTIN e SILVA (2010); PORTO e
PEIXOTO, In: FARIA e CAVALCANTE (2011); RIBEIRO (S/D); STUMPF, In: LODI, HARRISON,
CAMPOS e TESKE (2002); QUADROS, In: FARIA e ASSIS (2012), foi realizado um trabalho sob o
objetivo de explicar como a aprendizagem da escrita de sinais atua sobre a aprendizagem da escrita da
língua portuguesa. A pesquisa esclareceu que os alunos surdos que dominam a LIBRAS (L1) têm maior
facilidade para a aprendizagem da escrita de sinais. Por outro lado, ao aprender a LIBRAS junto à escrita
de sinais (Sign Writing) esses alunos estarão mais bem embasados para a aprendizagem da língua
portuguesa escrita (L2).
PALAVRAS CHAVE: Aluno surdo. Escrita de Sinais. Português escrito.
ABSTRACT
Sign language is not unwritten, because all languages have their respective writings. Yet, despite more
than forty countries already use writing signs in bilingual education in Brazil this knowledge is still very
new, even having already been surveys conducted in Rio Grande do Sul. Being bilingual, deaf students
need to learn the language written Portuguese, but in the literacy process the vast majority of schools does
not differentiate the methodology used to teach writing and literacy to Portuguese deaf. This has hindered
the learning of very deaf. That influence the learning of writing in learning signal causes of written
Portuguese? Help or indifferent? Why? Starting from a literature survey of the works of authors such as
KLIMSA FARIAS, SAMPAIO and KLIMSA, In: FARIA & ASSIS (2012); PONTIN and SILVA (2010);
PORTO and PEIXOTO, In: FARIA and CAVALCANTE (2011); RIBEIRO (S / D); STUMPF, In: LODI,
HARRISON, CAMPOS and TESKE (2002); QUADROS, In: FARIA & ASSIS (2012), a work was
performed under the objective of explaining how the learning of writing signal acts on the learning of
writing in Portuguese. The survey stated that deaf students who dominate LIBRAS (L1) have greater ease
in learning the written signs. On the other hand, to learn LIBRAS next to the writing of signs (Sign
Writing) these students will be well grounded for learning Portuguese written language (L2).
KEYWORDS: Deaf Student. Writing Signal. Portuguese written.
Introdução
Considerando a aprendizagem da língua escrita alfabética (e/ou silábica) por parte dos
alunos ouvintes, é possível reconhecer que os registros da oralidade em muito lhes
ajudam no avanço da compreensão da escrita, uma vez que este conhecimento parte da
percepção de que a escrita tende a representar sons da fala. No caso do aluno surdo isto
não acontece, uma vez que no geral ele somente é submetido ao ensino da língua
portuguesa escrita, mesmo que não tenha a referência sonora para se apoiar durante o
aprendizado da mesma. Partindo do pressuposto de que todas as línguas possuem suas
respectivas escritas, é possível se deduzir que a língua de sinais utilizada pelos surdos
também tem sua respectiva escrita.
Ao aluno surdo é necessário aprender a língua portuguesa escrita, uma vez que este vive
numa sociedade cuja cultura e língua são prioritariamente ouvintistas. Isto é
indispensável, já que o mesmo necessita adquirir domínio da escrita desta sociedade
para nela exercitar a sua cidadania, informando-se dos seus direitos e informando suas
necessidades de conquistas. Só que existe um problema no processo de alfabetização
dos surdos em relação à língua portuguesa escrita: estes são obrigados a aprender a
escrita alfabética dos ouvintes sob um ensino que enfatiza a mesma metodologia que é
dispensada aos alunos ouvintes. Este problema ocasiona muitas dificuldades para o
aluno surdo ser alfabetizado na escrita em português.
Sob essa questão, o objetivo deste artigo é explicar como a aprendizagem da escrita de
sinais atua sobre a aprendizagem da escrita da língua portuguesa. Para fazer isto é
preciso usar conhecimentos ofertados por autores como KLIMSA FARIAS, SAMPAIO
e KLIMSA, In: FARIA e ASSIS (2011); PONTIN e SILVA (2010); PORTO e
PEIXOTO, In: FARIA e CAVALCANTE (2011); RIBEIRO (S/D); STUMPF, In:
LODI, HARRISON, CAMPOS e TESKE (2002); QUADROS, In: FARIA e ASSIS
(2012).
Atualmente já existem mais de quarenta países cujas escolas bilíngues usam
normalmente a escrita de sinais. No Brasil este ainda é um conhecimento novo, de sorte
que o uso da escrita de sinais através do sistema SignWriting surgiu em 1996, pela
pesquisadora Surda Marianne Stumpf. “Como instituições pioneiras que
desenvolveram projetos de aprendizagem do SignWriting destacam-se a Escola Especial
Concórdia de Porto Alegre – RS e a Escola Hellen Keller de Caxias do Sul – RS. Outras
instituições se interessaram por esse sistema de escrita de sinais, como o Instituto
Nacional de Educação de Surdos (INES) e a Federação Nacional de Educação e
Integração de Surdos (FENEIS)”. (ALVES, 2014, p. 03)
Antes de ir para a escola, a criança (surda ou ouvinte) passa a maior parte do tempo com
os seus familiares, significando que é no núcleo da família que geralmente as crianças
recebem os primeiros estímulos para o desenvolvimento do processo de alfabetização.
Em se tratando de familiares ouvintes, para a criança audiente tudo funciona bem, uma
vez que ela possui input1 para os estímulos da língua oral que é maciçamente utilizada
pelos familiares que com ela interagem. Para a maioria das crianças surdas o processo
não funciona tão fluentemente, pois esses pequeninos possuem input que correspondem
às experiências visuais. Isto significa que no processo da aquisição da linguagem, sua
tendência natural é para a aprendizagem da língua de sinais que, no caso do Brasil,
corresponde à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Como a maioria das crianças surdas nasce em lares de pessoas ouvintes, a carência de
contatos e de interações com pessoas que usem a LIBRAS ocasiona em atraso no
desenvolvimento da aquisição da sua língua natural, a de sinais, e, consequentemente,
na aquisição da língua portuguesa escrita.
Neste caso, se o ensino da LIBRAS não é intenso aos surdos nem oferecido aos
ouvintes como segunda língua (como requer um ensino bilíngue), a situação é pior em
relação ao trato da escrita de sinais, pois a existência deste conhecimento ainda é quase
desconhecida pela grande maioria das escolas brasileiras, mesmo que no mundo já
existam mais de quarenta países que o utilizam normalmente.
Qual é o resultado dessa situação? Pontin e Silva (2010) lembram que nas escolas
inclusivas que têm surdos é muito comum a emissão de comentários do tipo: os alunos
surdos esquecem as palavras da língua portuguesa; os alunos ouvintes conseguem ler e
entender o significado de muitas palavras, mas os alunos surdos não conseguem.
Esclarecendo o caráter desse apoio, é preciso lembrar que, sendo a escrita portuguesa
uma representação de língua sonora, aos surdos fica inviável apoiarem-se em sons que
não ouvem. Assim, o caminho é apoiarem-se na perspectiva “gestuovisual”, sendo por
isto que Sign Writing, enquanto escrita que representa os sinais utilizados na LIBRAS,
compõe o recurso linguístico ideal para apoiar os surdos na aprendizagem do português.
Mediante o que já foi esclarecido, convém dizer que do ponto de vista da natureza da
aprendizagem não existe diferença entre a alfabetização da criança surda e da ouvinte. O
que existe, mesmo, é o desconhecimento de que os processos de ensino são bilaterais no
que se refere ao fato de que a ouvinte precisa do referencial sonoro e a surda do visual.
Antes de discorrer sobre o que o título acima sugere, julgamos interessante retomar o
sentido da importância da escrita de sinais para o surdo. Para fazer isto, precisamos
lançar mão do pensamento de uma pessoa surda. Stumpf expressa que
a escrita de sinais está para nós, surdos, como uma habilidade que pode nos
dar muito poder de construção e desenvolvimento de nossa cultura. Pode nos
permitir, também, muitas escolhas e participação no mundo civilizado do
qual também somos herdeiros, mas do qual até agora temos ficado à margem,
sem poder nos apropriar dessa representação. Durante todos os séculos da
civilização ocidental, uma escrita própria fez falta para os surdos, sempre
dependentes de escrever e ler em outra língua, que não podem compreender
bem, vivendo com isso uma grande limitação. (STUMPF, 2002, in:
RIBEIRO, S/D, <http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=67>)
Contradizendo a falsa ideia de que os surdos são preguiçosos para escrever (por causa
da indisposição que apresentam para aprender a língua portuguesa), as crianças surdas
revelam interesse na aprendizagem da escrita de sinais e isto é inteligível, uma vez que
esta escrita representa a sua primeira língua (L1). Por isto elas se sentem mais
entusiasmadas quando são alfabetizadas/letradas a partir da escrita de sinais. Daí porque
eu concordo plenamente com Stumpf quando diz que
o professor pode ler o descobrimento do Brasil com alunos, pedir que cada
um leia parte do texto com suas próprias palavras, ou deveríamos dizer, suas
próprias mãos? Depois disto, o professor pode trabalhar o texto em sala
através de questionário em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) onde o
aluno fará a leitura e interpretação do texto, respondendo em LIBRAS e
depois se expressando a respeito do conteúdo. Como cada aluno terá o livro-
texto em LIBRAS, o professor poderá passar atividades para que os alunos
aprofundem seus conhecimentos em casa. (RIBEIRO, S/D, disponível em
<http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/revista/?p=67>)
Se as crianças surdas prezam a aprendizagem da escrita de sinais, mais ainda elas são
abertas à utilização desta escrita, tanto em atos de leitura quanto de escrita de textos nos
seus diferentes gêneros. Essa receptividade também acontece porque elas compreendem
que serão beneficiadas com livros que lhes deem condições de adquirir conhecimentos e
de dispor (e/ou criar) literaturas informativas e de lazer para aprender. Sob esse
pensamento os surdos reconhecem que Sign Writing os estimula a ler e a escrever.
Conclusão
A este respeito, a experiência de Stumpf sobre o ensino da escrita de sinais para alunos
dos anos iniciais do Ensino Fundamental esclareceu que os alunos que dominam a
LIBRAS têm muita facilidade para a aprendizagem da escrita de sinais. Isto significa
que quanto maior for o contato com a LIBRAS maior será a probabilidade de
compreender a estrutura desta língua de modo mais natural possível.
Quando primeiro é introduzida a escrita de sinais para depois ser a escrita do português
é criada uma circunstância que pode produzir no aluno surdo o estímulo do raciocínio
para aprender a L2, ajudando-o a fazer uma comparação entre os textos produzidos em
escrita de sinais e os produzidos em português
Referências
ALVES, Kledson de Albuquerque. Escrita de sinais: uma prioridade que não pode ser relegada. Trabalho
apresentado no IV COBESC da UFCG, 22 a 25 de setembro de 2014 em Campina Grande – PB.
FARIA, Evangelina Maria Brito de e ASSIS, Maria Cristina de. (Orgs.) Língua portuguesa e LIBRAS:
teorias e práticas. Vol. 5. João Pessoa: Editora da UFPB, 2012. (305 p.)
PONTIN, Bianca Ribeiro e SILVA, Erika Vanessa de Lima. Língua Escrita: português/sinais (SW).
Anais do IX Encontro do CELSUL. Palhoça, SC, out. 2010. Universidade do Sul de Santa Catarina.
PORTO, Shirley e PEIXOTO, Janaína. Literatura Visual. In: Língua Portuguesa e LIBRAS: teorias e
práticas. FARIA, Evangelina Maria Brito de e CAVALCANTE, Marianne Carvalho Bezerra,
organizadoras. Vol 3. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011, p. 165-195.
RIBEIRO, Sérgio. Escrita de Sinais – Por que não? (S/D) Disponível em http://editora-arara-
azul.com.br/novoeaa/revista/?p=67 (Pesquisado em 27 de setembro de 2013).
Foi somente no final da década de 1950, que a língua de sinais passou a ter atenção de
cientistas e lingüistas, através dos estudos de STOKOE. Deste então, muita coisa tem
mudado para a comunidade surda mundial, não só em relação a sua língua, como cultura
e direitos.
Na questão educacional, no Brasil, está reconhecido que a educação do surdo é bilíngüe,
valorizando assim sua língua de sinais como língua materna ou natural e o português
como um segundo idioma a ser aprendido na modalidade escrita.
Porém, muitas questões ainda não estão claras com respeito a esta educação bilíngüe,
como trabalhá-la na pré-escola e ensino fundamental? E a inclusão do aluno surdo, como
pode a língua de sinais ser priorizada quando o surdo está inserido numa classe
predominantemente ouvinte, com professor ouvinte que sabe muito pouco sobre sua
língua e cultura?
Mas o fato é que a educação bilíngüe na verdade retrata uma conquista da comunidade
surda que é o simples fato do reconhecimento de sua língua e do direito de ser educado
neste idioma. Desta forma, poderíamos bem perguntar: Uma classe de alunos surdos,
onde é utilizado a língua de sinais por professores e alunos, deveria ser chamada de
classe especial ou sala regular de surdos? A educação bilíngüe impõe uma nova forma de
ver a educação dos surdos e os conflitos acontecem justamente quando tenta-se utilizar
uma metodologia que não leve em conta esta nova característica, que não valorize a
especificidade do aluno surdo.
Neste contexto podemos citar então a escrita de sinais, qual a sua importância na
educação do aluno surdo e para a comunidade surda em geral?
Todos sabemos que a história se faz através da escrita, ou seja, é a partir do surgimento
da escrita que conhecemos o que hoje chamamos de história, o que ocorreu antes dela é
considerado como pré-história. Inegavelmente, a escrita desempenha um papel de
extrema importância na disseminação da informação e preservação da mesma.
Porém, existem línguas que são consideradas ágrafas, ou seja, que não possuem uma
representação escrita. Em função disto, muitas se tornaram extintas, por esta razão tem
surgido movimentos que buscam, através da escrita, um modo de preservá-las. Quando
falamos da preservação de uma língua, não estamos apenas falando em preservar um
idioma, mas toda uma cultura.
Mas a questão é que nunca se precisou de que a língua de sinais fosse escrita. Bom,
neste caso, poderíamos nos perguntar se nunca se precisou ou se apenas nunca se
pensou em estabelecer um modelo escrito para ela? Mesmo a esta pergunta podemos
encontrar a seguinte resposta. Sim, já se pensou em registrar a língua de sinais de
forma escrita. ITARD. já em 1842, afirmava que o homem a partir dos gestos poderia ter
inventado uma escrita para registrar suas imagens visuais. Em 1817, BEBIAN defendeu a
tese de que os surdos deveriam ser instruídos em sinais também em sua modalidade
escrita. No final da década de 1950, STOKOE criou um sistema de notação escrita para
registrar a língua de sinais em seus estudos. Já ALEXANDER GRAHAM BELL afirmou que
um método de consolidar os surdos numa classe distinta seria converter a língua de sinais
para a escrita, para que possuíssem uma literatura comum distinta do resto do mundo.
Sem dúvida, a escrita abre novas possibilidades para uma língua e não é diferente no
caso da língua de sinais. Desde 1974, quando foi inventado o sistema conhecido como
SignWriting temos presenciado esta possibilidade. Hoje presente em mais de 40 países,
este sistema é capaz de registrar todas as características das diferentes línguas de sinais
ao redor do mundo, dando assim um novo status a elas e abrindo novas possibilidades
em diversas áreas do conhecimento.
Já pensou em entrar numa livraria e comprar MACHADO DE ASSIS, JOSÉ DE ALENCAR
entre outros totalmente escritos em LIBRAS? Já pensou numa versão impressa da Bíblia?
Tudo isto é possível com a escrita de sinais e o sistema SignWriting torna esta tarefa
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exeqüível.
Na campo da educação, a escrita de sinais viabiliza a própria pedagogia surda quando
abre a possibilidade do professor trabalhar 100% com a língua de sinais. O professor
pode ler o descobrimento do Brasil com alunos, pedir que cada um leia parte do texto
com suas próprias palavras, ou deveríamos dizer, suas próprias mãos? Depois disto, o
professor pode trabalhar o texto em sala através de questionário em Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS) onde o aluno fará a leitura e interpretação do texto, respondendo em
LIBRAS e depois se expressando a respeito do conteúdo. Como cada aluno terá o livro-
texto em LIBRAS, o professor poderá passar atividades para que os alunos aprofundem
seus conhecimentos em casa.
A própria disciplina LIBRAS passa a ter uma nova abordagem, pois os alunos escrevendo
os sinais podem analisar melhor sua estrutura aprimorando assim a própria compreensão
da língua e gramática. É inegável o benefício para o surdo ao aprender a ler e escrever
primeiro em seu próprio idioma. Este conhecimento servirá de base para o aprendizado
de um segundo idioma, no caso do Brasil, o português.
Aqui no Brasil, o uso da escrita de sinais através deste sistema teve inicio em 1996.
Vamos, então ao capítulo do SignWriting no Brasil. No ano de 1996, a PUC do RS em
Porto Alegre através do Dr. Antonio Carlos da Rocha Costa descobriu o SignWriting
enquanto sistema escrito de sinais usado através do computador. A partir disso,
SignWriting começou a tomar forma no Brasil. O Dr. Rocha formou um grupo de trabalho
envolvendo especialmente a Prof. Marianne Stumpf e a Prof. Marcia Borba. Marianne é
surda, professora na área de computação na Escola Especial Concórdia. Atualmente, ela
está trabalhando com o SignWriting em algumas turmas. A Escola Especial Concórdia tem
apoiado o desenvolvimento do SignWriting, pois tem considerado ser uma forma de
escrever a língua de sinais. Marcia tem se envolvido com a parte de pesquisa relacionada
à computação. Tive oportunidade de contatar Leonardo Mahler, um de seus alunos, que
está desenvolvendo um softer juntamente com um grupo para acessar o dicionário do
SignWriting. Temos certeza que do Departamento de Informática da PUC do RS teremos
bons frutos do desenvolvimento desse sistema escrito no Brasil. O Dr. Rocha continua
apoiando esse processo com muita dedicação.
O projeto de alfabetização está se constituindo a partir de contato estabelecido com
Valerie Sutton durante minha estada nos Estados Unidos. Enquanto pesquisava a estrutura
da língua brasileira de sinais - LIBRAS - e estudava as teorias que serviriam de base para
minha tese, mantive contato intenso com Valerie Sutton discutindo sobre as formas de
expressar a escrita e possibilidades de ter seu apoio no desenvolvimento do projeto para
o Brasil. Valerie sempre foi bastante prestativa e eficiente. Ela gentilmente aceitou dar o
suporte que necessitamos. Atualmente, estamos trabalhando na produção de estórias e na
composição do dicionário bilíngüe, ou seja, sinal na LIBRAS e palavra em português. Esse
é um trabalho interminável, pois quantidade é muito importante, além da qualidade, é
claro. Tenho certeza que aos poucos teremos mais e mais escritores para colaborar neste
processo e esperamos contar com suporte financeiro no Brasil para obtermos recursos
para produção da estórias. Essa etapa é muito importante, pois a escrita se torna viva
quando ela realmente existe. Quando os autores dessa escrita começam a produzir textos
e a ler outros textos, essa escrita se torna algo significativo e passa a desempenhar um
papel no processo de aquisição da escrita.
No Brasil, temos boas perspectivas de dar continuidade a esse processo, uma vez que
algumas escolas começam a se interessar e buscar conhecer tal sistema. A Escola
Especial Concórdia de Porto Alegre e a Escola Hellen Keller de Caxias do Sul/RS já
começaram a aprender como escrever a LIBRAS. Esse é um passo que tende a ser
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trilhado por muitas outras escolas. Instituto Nacional de Educação de Surdos no Rio de
Janeiro e algumas escolas em São Paulo começam a se interessar por SignWriting. A
Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos demosntra curiosidade. Esse é o
processo!!
Tenho mantido contato com a Dr. Eulália Fernandez da UERJ e com a Dr. Regina Maria de
Souza da UNICAMP sobre educação de surdos, comunidade surda e alfabetização. Nestes
contatos, temos conversado sobre a possibilidade de implementação do projeto de
alfabetização com o SignWriting e temos algumas luzes dispontando no caminho.
O Projeto de Alfabetização é uma porta para a aquisição da escrita da LIBRAS que servirá
de suporte para um processo de aquisição do português escrito. (MÜLLER)
Meu contato com a escrita de sinais aconteceu em meados de 2002, quando passei a
atuar como instrutor do curso de oratório para uma classe da Escola do Ministério
Teocrático numa das Congregações das Testemunhas de Jeová. Este curso abrange vários
aspectos da oratória, o que se constituía um grande desafio para os surdos. Por exemplo,
quando um aluno surdo recebia uma designação para uma demonstração, ele tinha uma
fonte de matéria da qual deveria desenvolver um determinado tema, as fontes de matéria
na época estavam disponíveis apenas em português, então um intérprete tinha que
interpretar o assunto para que então o surdo pudesse desenvolver sua apresentação, o
que geralmente era feito de memória. Isto exigia muito dos surdos, principalmente os
iniciantes que além de decorar conteúdo ainda tinham que dar atenção aos aspectos de
oratória o qual estaria sendo observado e também com o nervosismo. Uma alternativa
era a preparação de um esboço, o que também era uma característica da escola, porém
alguns esboços eram preparados em português, durante os ensaios com o intérprete os
surdos conseguia decorar as palavras do português e seus respectivos sinais, porém
quando chegava o dia de apresentar-se era comum esquecer-se dos sinais para as
palavras que estavam escritas. Ensinar o português para os surdos demandaria muito
tempo, e alguns deles já estavam em fase pós-escolar e dificilmente voltariam a
freqüentar uma sala de aula regular, também este não é o foco do curso, o foco é ensiná-
los a tornar-se palestrantes em sua própria língua, ou seja, Libras. Uma alternativa que
funcionava muito bem era fazer desenhos em seqüência das idéias do que seria
apresentado, como desenhos em quadrinhos, mas nem todos os intérpretes ou surdos
eram bons desenhistas. Foi aí que inicie minha pesquisa sobre a existência de alguma
forma de se escrever os sinais, pois isto ajudaria em duas situações distintas, primeiro a
fonte de matéria poderia ser traduzida de forma escrita para o surdo e o mesmo não
dependeria da disponibilidade do interprete para sua preparação e ensaios, já que teria a
matéria escrita e poderia lê-la e relê-la quando necessário. Outra coisa é que poderia
preparar seu próprio esboço ou notas para apresentar-se. Dentre os sistemas que
encontrei o que mais me chamou a atenção foi o sistema SignWriting, uma vez que era
totalmente visual. Passei então e pesquisar sobre sua utilização e funcionamento. Uma
vez entendido os princípios básicos de leitura e escrita eu precisava saber como os surdos
receberiam esta nova proposta, a utilização de uma forma escrita de sua língua. Reuni
um grupo de surdos e ouvintes que eram estudantes do curso e apresentei a eles o
sistema, no princípio acharam estranho mas quando entenderam o seu funcionamento
logo se empolgaram com a idéia de sua utilização. Então iniciamos um curso de
Signwriting com este grupo. Notei que a media que os surdos entendiam com facilidade e
logo assimilavam os princípios do sistema, o mesmo não ocorria com os ouvintes, que
seriam os tradutores. Em geral, achavam que seria mais fácil se os surdos aprendessem
o português.
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Acabou que eu e uma interprete, minha esposa, nos encarregamos de fazer as traduções
de matérias para os surdos, desta forma iniciou-se então a utilização da escrita de sinais
nesta Congregação. Com o tempo muitas matérias passaram a ser traduzidas em Libras
pelas Testemunhas de Jeová, hoje 90% da fonte de matéria utilizada no curso está
disponível neste idioma, tornando assim desnecessárias as traduções como antigamente,
porém os surdos continuam a fazer uso da escrita em diversas situações, principalmente
na elaboração de seus esboços e pesquisa. E mesmo que exista hoje uma vasta
quantidade de material em vídeo é curioso observar que estes surdos, que conhecem a
escrita de sinais,ficariam muito felizes de poder ter estes materiais disponíveis também
de forma escrita, principalmente uma versão da Bíblia totalmente em Libras impressa.
No lado profissional também passei a pesquisar sobre a escrita e a produção de literatura
impressa. Realizei várias palestras e cursos de signwriting para pessoas interessadas,
comecei a notar o grande interesse neste tema e a escassez de material sobre o assunto.
Então, nasceu o Centro Educacional Cultura Surda que entre outras coisas tem como foco
principal a divulgação da cultura e língua de sinais, através de cursos, palestras e
produção de material. No curso de Libras, que é oferecido por nós, desde o inicio o aluno
aprende a escrita de sinais, isto se mostrou uma ferramenta muito interessante para o
ensino de Libras para ouvintes, pois além dos vídeos ele tem a disposição materiais
escritos onde pode ler com suas próprias mãos os sinais, ajudando assim no
desenvolvimento de sua habilidade com a língua bem o aprendizado da forma correta em
que os sinais são realizados, pois ele tem um modelo escrito.
Temos buscado fazer parcerias com escolas que trabalham com educação de crianças
surdas para a utilização da escrita de sinais nos anos iniciais junto com a disciplina de
Libras. Através desta experiência temos observado que o processo de aquisição da
escrita de uma língua de sinais por uma criança surda tem seus próprios paradigmas, o
que demandaria um campo interessante de pesquisa para o campo da educação,
psicologia e lingüística.
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Acima de tudo é importante saber o que os surdos pensam sobre a escrita de sinais.
Embora ela ainda não esteja tão difundida entre a comunidade surda, muitos surdos,
principalmente aqueles envolvidos em projetos de pesquisa em universidades estudando e
pesquisando sobre língua de sinais, tem feito manifestações favoráveis a respeito.
Eu estou escrevendo para dizer-lhes como me sinto em relação a SignWriting e como isto
poderá beneficiar a Comunidade Surda. Eu nasci surda em uma família de surdos e sou
usuária nativa da ASL. Trabalho com SignWriting desde 1982. Fui uma das primeiras
surdas a escrever artigos em ASL utilizando o sistema SignWriting para o Jornal
SignWriter. Depois eu e Valerie Sutton criamos o Deaf Action Committe For SignWriting ou
DAC em 1988. Acho muito importante dar o meu depoimento a respeito da Escrita de
Sinais. ASL antes do advento de SignWriting era um idioma sem sua forma escrita.
Quando entrei em contato com SignWriting descobri que era possível ter uma forma de
escrever nosso proprio idioma. Os Surdos americanos são uma minoria lingüística e não
tem disponíveis livros que ensinem Inglês em sua língua nativa. Acho que podemos
utilizar SignWriting para ajudar os surdos a aprenderem Inglês. Os Surdos se beneficiarão
muito com livros, que explanem a gramática da língua inglesa, escritos em ASL. Nós
podemos utilizar SignWriting para escrever e preservar estórias, poemas e peças teatrais.
Como vocês sabem, existem muitos poetas e atores surdos, e até hoje eles não tem
como escrever em ASL sua própria literatura. Entretanto, SignWriting nos encoraja a ler e
escrever e na minha opinião isto é o mais importante. Espero que vocês realmente
aprendam SignWriting. Seu interesse e ajuda é muito importante para a Comunidade
Surda ( Batch in Sutton, 2000 )
A criança ouvinte, quando vai para a escola, já conhece o significado das palavras.
Quando ela aprende a ler, sabe o que as palavras significam, pois o português escrito
apresenta características da fala, assim como se fosse um retrato. Quando aprende a ler,
a criança ouvinte vê esse retrato e o reconhece. Por outro lado, a criança surda não ouve
a fala da família. Então, ela vai para a escola, aprende a ler, mas não consegue entender
o que as palavras representam, ela não consegue reconhecer o retrato porque antes não
ouviu a palavra associada à ação ou ao objeto. Por isso, o surdo parece que sabe mas
não entende o significado.
Nós, surdos, precisamos de uma escrita que represente os sinais visuais-espaciais com os
quais nos comunicamos, não podemos aprender bem uma escrita que reproduz os sons
que não conseguimos ouvir.
A escrita de sinais está para nós, surdos, como uma habilidade que pode nos dar muito
poder de construção e desenvolvimento de nossa cultura. Pode nos permitir, também,
muitas escolhas e participação no mundo civilizado do qual também somos herdeiros,
mas do qual até agora temos ficado à margem, sem poder nos apropriar dessa
representação. Durante todos os séculos da civilização ocidental, uma escrita própria fez
falta para os surdos, sempre dependentes de escrever e ler em outra língua, que não
podem compreender bem, vivendo com isso uma grande limitação (STUMPF, 2002).
Diante de tantas possibilidades, bem, podemos nos perguntar: Escrita de Sinais – Por que
não?
Referencias Bibliográficas
MÜLLER, R. SignWriting uma forma de ler e escrever sinais [on-line] Disponível em:
<http://www.signwriting.org/library/history/hist010.html>. Acesso em 27 de Janeiro de
2007.
SACKS, O. W. Uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras,
1998.
SOARES, M. A. L. A Educação do surdo no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados;
Bragança Paulista, SP: EDUSF, 1999.
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STUMPF, M. R. Transcrição de língua de sinais brasileira em signwriting. In: LODI, A. C.B.;
HARRISON, K. M. P.; CAMPOS, S. R. L.; TESKE, O. Letramento e minorias. Porto Alegre:
Mediação, 2002. p. 62-70.
SUTTON, V. Lessons in SignWriting textbook. 3. ed., La Jolla, CA: Deaf Action Committee
for SignWriting, 2000.
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