Artigo, Revisitando A Historiografia Da Jurema
Artigo, Revisitando A Historiografia Da Jurema
Artigo, Revisitando A Historiografia Da Jurema
Resumo
A Jurema Sagrada é uma religião de matriz afro-indígena que surge em torno do litoral
nordestino por volta do século XVIII, primeira vez citada em documentos oficiais, através
processos de mestiçagens entre matrizes religiosas indígenas, africanas e até católicas. Na
perspectiva botânica a Jurema é uma planta típica da Caatinga, diante do exposto
perguntamos porque se tornou uma planta tão cultuada no litoral? Nesta pesquisa
objetivamos analisar como os povos indígenas levaram esse culto do sertão ao litoral
nordestino, especialmente o paraibano e pernambucano, principalmente na cidade de
Alhandra, onde é considerada por muitos estudiosos a "cidade do Culto a Jurema". A
partir da análise de documentos e teóricos como Sandro Guimarães de Salles, Clarice da
Mota, Alexandre “L’omi L’odo’’, o trabalho pretende reconstituir um recorte temporal
para entender a difusão do culto da Jurema Sagrada. Como nosso trabalho se encontra em
fase iniciática, os resultados são uma revisão de literatura dos principais autores que
ressignificaram o tema.
1
Graduando em história pela Universidade Federal de Campina Grande - PB
2
Graduando em história pela Universidade Federal de Campina Grande - PB
3
Professora Doutora, do Programa de Pós-Graduação em História (Mestrado) da Universidade Federal de
Campina Grande –PB.
Introdução
4
Doutora em Antropologia Social - University of Texas System pós-doutorado em Etnobotânica na
University of Califórnia at Berkeley
5
Pós-doutorado (2009-2010) pela Faculdade de Ciências Culturais da Europa-Universität Viadrina
(Frankfurt/Oder)
mim, praticante da Jurema- e dúvida para conseguir obter o resultado necessário, ou seja,
agradar crentes e descrentes.
Quando se fala em Jurema, pouco se sabe sobre ela, quais seus ritos, suas crenças
e acima de tudo se ela faz parte da umbanda ou do candomblé. A jurema é pouco
conhecida e estudada, salvo seus adeptos ou pessoas do meio das religiões afro-
brasileiras, raro são as exceções que ao ouvir falar da Jurema tem conhecimentos que
perpassam o preconceito, porém isso não é culpa dos leigos, ou seja, dos que estão fora
do ‘meio’, a jurema sofre um certo “preconceito”, dos próprios povos de terreiro que não
levam a sério sua importância, sendo ela apenas um culto secundário dentro dos terreiros
de Umbanda ou barracões de Candomblé pois ela não assume um papel de uma religião
independente, mas sim uma extensão do culto praticado; porém para seus praticantes, a
jurema adota uma figura muito maior, para muitos ela é a chamada religião primaz do
Brasil, como destaca Alexandra L’Omi7 , grande referência tanto no estudo da jurema
como sacerdote e ativista da luta contra a discriminação religiosa.
6
Ver Das “feitiçarias que os padres se valem: circularidades culturais entre indígenas Tarairiú e
missionários na Paraíba setecentista” / Gláucia de Souza Freire. –Campina Grande, 2013
7
Mestre em ciência das religiões pela UNICAP (2010), sacerdote da Jurema e do culto aos orixás,
militante no campo das políticas públicas.
Para reforçar essa afirmação, que a jurema é a religião primaz vários autores como o
próprio Alexandre L’Omi (2017), Sandro Guimarães de Sales (2010), Glaucia de Souza
Freire (2013) utilizam de cartas de missões religiosas endereçadas a Portugal, onde a
presença da bebida Jurema, principal influência do culto indígena, já era usada desde
antes de 1740, data do possível primeiro registro oficial8 antes mesmo de um contato mais
significativo com o europeu, ou seja desde antes de sua chegada, deixando claro a
importância da religião como verdadeira, até então, religião primaz brasileira.
Ocupação e Exploração
Antes da Chegada dos portugueses no ano de 1500, o Brasil era habitado por povos
indígenas que ocupavam toda a extensão territorial, na região Nordeste o mesmo
acontecia, desde os Tupis da costa aos tapuias do interior, porém com a chegada dos
homens brancos, a ocupação costeira foi a principal durante os primeiros anos como é
bem abordado no Livro a História dos Índios no Brasil (1992).
Essa ocupação litorânea foi suma importância para a criação da religião da Jurema, pois
só com ela foi possível um contato de maior intensidade entre os povos para haver a
hibridização aqui já citada. Segundo Clarice da Mota (2005, p. 220) os povos indígenas
bebedores de jurema se espalham desde o norte do Nordeste à região do atual estado de
Alagoas, porém uma cidade do litoral sul do estado da Paraíba, o município de Alhandra,
se destacou e ficou conhecido como a cidade do culto da jurema, com a Mestra Maria do
Acais, uma das entidades mais importantes do culto. Entretanto, voltando a questão
central do trabalho: “como uma arvore do bioma da caatinga virou objeto de culto que
8
Ver processo n° 4884 do arquivo Histórico Ultramarino
surge no litoral? “, primeiro temos que entender que a necessidade de povoamento, de
busca de mais escravos indígenas e busca de metais preciosas fez com que os portugueses
adentrassem em território até então para eles desconhecido, os chamados sertões, através
de expedições conhecidas como entradas e bandeiras foi possível essa “conquista”, mas
para esse trabalho as expedições não são o foco total, mas sim seus “resultados”.
Permitamo-nos chamar de resultados dessas expedições, os chamados aldeamentos,
locais para onde os indígenas dos sertões e de outros cantos da colônia eram conduzidos
para serem catequizados, ou mesmo para ser de fácil acesso para os europeus caso
necessitassem de mão de obra escrava de nativos;