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sua sombra:
JEAN
GRENIER
(1898-1971)
PATRICK CORNEAU
Tradução de Beatriz Sidou
meçam por criar sua ordem e a vida tam- quitetura se fundem uma na outra. “São as 14 Em Inspirations Méditer-
ranéennes , “Initiation à la
bém lhes é dada a mais”. germinações da pedra, como esta, da natu- Provence”, pp. 93-4.
O humanismo não é unicamente uma reza. Rochedos, baixos-relevos, estátuas, 15 Ibidem, “Penser à la Figure
visão antropocêntrica do mundo, ele con- afrescos: um só bloco” (18). A humanida- Humaine,” p. 137.
tém também um elemento criativo. Em de não tem lugar próprio nessa concepção 16 Ibidem, p. 125.
“Cum Apparuerit”, Grenier proclama que do universo. Em lugar de uma tensão, é 17 Ibidem, pp. 129-30.
em Provence “o homem se une ao homem uma continuidade. “Onde está a fragilida- 18 Ibidem, p. 130.
apenas para fundar… Todo o mundo aqui de dos amores ameaçados?” (19). Parado- 19 Ibidem, p. 132.
GRE
“o humano reside em uma fissura” e que “o
humano não tem o caráter da realização…
O insucesso é a marca do humano”. Em Sur
la Mort d’un Chien (21), ele fala da “mar-
gem do humano”. O homem é mortal, limi-
tado, incompleto, pois sua natureza é tão
NIER
cruelmente amputada pela morte: “Todos
os homens fracassam, mesmo os que ob-
têm sucesso” (22).
A certeza da morte, a existência incerta
do Absoluto subtendem o humanismo cons-
trutivo da civilização mediterrânea em que
os valores positivos repousam sobre um
alicerce de desespero. Foi justamente esse
“tremor que perpassa em Les Îles” que
N
abalou tão fortemente o jovem Albert
Camus, como testemunham essas notas de
leitura enviadas a Grenier em uma carta de
A
1933:
panteístas do que cristãos? À leitura dos uma doutrina aperfeiçoada por todos e por 28 Etiemble conta que Grenier lhe
dissera: “Eu sou católico. Mau
escritos de juventude e das obras da pri- ninguém e a exagerada valorização de ritos católico. Católico por medo.
E excessivamente pessimista.
meira maturidade, às vezes se é tentado a o impedem de sentir-se à vontade – ele de- Você teria um excesso de oti-
acreditar nisso. Com efeito, o Absoluto de sejaria encontrar no cristianismo vivido a mismo. No fundo, você conti-
nua sendo um homem do sécu-
que ele tanto fala permanece uma expres- sabedoria para uma transformação interior, lo da Luz” (Nouvelle Revue
são vaga, que não pode ser identificada com mas este se mostra um sistema doutrinário Française, no 221).
Jean Grenier nasceu em Paris em 1898. Passou sua juventude em Saint-Brieuc, onde fez amizade com Max Jacob e Louis
Guilloux. Foi professor em Alger, no Instituto Francês de Nápoles, na Faculdade de Letras de Lille, nas universidades de
Alexandria e Cairo, e, por último, na Sorbonne, onde ocupou a cátedra de estética. Em 1968 recebeu o Grand Prix National
des Lettres. Colaborou em inúmeras revistas de arte e literatura, entre as quais a Nouvelle Revue Française. Morreu em 1971.