Resumo Neuro PDF
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Unidade Curricular:
Neuropsicologia
RESUMO DA MATÉRIA
Docentes:
Profª. Isabel Barahona da Fonseca
Profª. Maria Luísa Figueira
Jessica Tacoen
2 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Índice
1. Neurónio – Unidade estrutural e funcional do SN ................................................................ 3
2. Neurotransmissor.................................................................................................................. 9
3. Neuropsicologia da memória, plasticidade sináptica e formação de memórias no SN .......... 14
4. Memória e o envelhecimento ................................................................................................. 21
5. Neuropsicologia dos sistemas de comando motor ................................................................. 26
6. A audição ................................................................................................................................. 36
7. Vigília e sono ........................................................................................................................... 43
8. Sistema visual .......................................................................................................................... 51
9. SNA e estruturas cerebrais. Relação com os processos motivacionais e emocionais.
Distúrbios da ansiedade. ............................................................................................................. 59
10. Neuropsicologia da atenção .................................................................................................. 66
11. Neuropsicologia da linguagem .............................................................................................. 72
3 Neuropsicologia – Resumo da matéria
O Neurónio é a unidade-base
do sistema nervoso.
São da ordem dos biliões no nosso
cérebro.
Diferentemente das outras células
do corpo, os neurónios não se
dividem nem se reproduzem,
sendo portanto insubstituíveis.
Diferem quanto à dimensão, à
localização e às funções.
O corpo celular rodeado por uma fina membrana inclui o núcleo celular, que é a
central de energia da célula.
Axónio - (ou fibra nervosa) é cilíndrico e varia de comprimento e diâmetro, é único e
longo tendo como função a condução dos impulsos nervosos para outros neurónios.
Em seu interior há um complexo sistema de transporte formado por microtúbulos,
microfilamentos e neurofilamentos. No órgão de destino, o axónio ramifica-se
formando os telodendros ou botões sinápticos. Alguns axónios estão cobertos por
uma camada de substância branca de matéria gorda, a bainha de mielina, que permite
uma mais rápida transmissão da mensagem. Outros são apenas constituídos pela
substância cinzenta. Para o neurónio manter a sua actividade e assegurar as suas
funções tem de ser alimentado com oxigénio e glicose.
Dendrites – função: recepção de estímulos quer das células sensoriais, quer dos
axónios, e a transformação desses estímulos em impulsos eléctricos que irão ser
transmitidos ao longo do seu corpo celular. O número de dendrites pode atingir as
centenas.
Os neurónios comunicam entre si formando uma rede que chamamos de circuito nervoso.
O cérebro humano possui 10 vezes mais neuroglia que neurónios. Estes não recebem nem
propagam impulsos nervosos.
A mielina que permite a condução rápida dos impulsos nervosos é formada por células de
Schwan e pelas oligodendroglias.
Vasos Sanguíneos
Perspectiva histórica
É Camillo Golgi (1873) o primeiro a utilizar um método de coloração (reazione nera), fixando
partículas de cromato de prata à membrana do neurónio. Golgi dá origem à descoberta do
6 Neuropsicologia – Resumo da matéria
neurónio, pois consegue delinear os neurónios. No entanto, nunca aceita a teoria neuronal.
Utilizando a técnica de Golgi, Santiago Ramón y Cajal defendia que os processos de diferentes
neurónios não possuem continuidade entre si, são discretos, comunicando através de ligações
especializadas descontínuas (sinapses), ao contrário do que pensava Golgi. Cajal propõe então:
Lei da polaridade dinâmica (dos dentrites para o axónio).
Doutrina neuronal (neurónio como célula individual, que não comunica em
continuidade).
A chegada da microscopia electrónica veio confirmar a teoria de Cajal. Em 1906 os dois
investigadores recebem o Prémio Nobel.
Sinapse
União especializada entre o terminal de um axónio e o constituinte de outra célula; função de
processamento e modificação das mensagens; zona de interacção entre neurónios (iões K+, Cl-
, Na+ e outros A-). A sinapse é conduzida através da despolarização e hiperpolarização de
diferentes zonas da membrana.
Tipos de sinapse mediante as partes que estabelecem ligação:
- axodendrítica (entre axónio e dendrite);
- axosomática (entre axónio e corpo celular);
- axoaxónica (entre dois axónios);
- dendrodendrítica (entre duas dendrites).
O impulso nervoso é um sinal eléctrico que conduz informação ao longo do neurónio. Uma
série de eventos determina uma carga eléctrica no interior da célula que passa do seu estado
de repouso (negativo, –) para um estado despolarizado (positivo, +). Processo de polarização,
hiperpolarização, despolarização e repolarização.
Interdependência entre função e estrutura:
SNC – predominam as sinapses químicas (exclusivas do SN)
SNP - predominam as sinapses eléctricas
Potencial de acção:
Mudança rápida no potencial da membrana, o que gera cargas eléctricas. A onda de descarga
eléctrica percorre a membrana de uma célula (propagação) ocorrendo a sinapse.
Dá-se a despolarização da membrana. As membranas das células têm um limiar de potencial
que, quando alcançado ou ultrapassado, desencadeia o P.A que tem sempre a mesma
amplitude, duração e velocidade de propagação. É causado pela activação dos canais
permeáveis de sódio na membrana (em condições de repouso estão quase fechados).
Quando o PA percorre o axónio, abrem os canais de Ca+ (cálcio) voltaicos, contribuindo para a
amplitude do PA. Atrai as vesículas sinápticas e permite a fusão do sinal por exocitose. Quanto
mais elevado é o PA, maior quantidade de iões de Ca+.
Lei do tudo ou nada: o potencial de acção existe ou não existe, não conhece dados
intermédios (a célula está em repouso ou em potencial de acção).
7 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Tem que atingir o limiar excitatório da célula. É uma descarga auto-generativa da membrana.
O potencial de acção (PA) conduz através da fibra sempre a mesma intensidade de sinal. A
corrente propaga-se longitudinalmente.
Limiar de excitabilidade: uma vez atingido, a célula dispara independentemente da amplitude
do sinal.
O neurónio não estimulado, ou em repouso, tem carga negativa (–) no seu interior. Este é o
estado de polarização. Os iões intracelulares mais importantes incluem a positividade da carga
dos iões potássio (K+) e vários aniões (iões carregados negativamente). Eles são bombeados
por uma bomba de ATP na membrana celular. No estado de repouso, os iões K+ tendem a
escoar para fora da célula, levando consigo a carga positiva. A carga positiva perdida para o
exterior e o excesso de aniões presos no interior da célula a tornam negativa (–). A bomba de
sódio-potássio permite a troca de 3 Na+ (para o exterior) por 2 K+ (para o interior),
distribuindo os iões de forma equilibrada.
Quando estimulado, o interior do neurónio torna-se positivo (+) por um curto período
ocorrendo a despolarização (+40, +50mv).
Quando o neurónio é estimulado, a membrana do neurónio se altera de maneira a permitir
aos iões sódio (Na+) atravessarem a membrana e penetrarem na célula. Com mais Na+ fora do
que dentro da célula, o Na+ se difunde para o interior da célula, levando consigo a carga
positiva. Esse processo torna o interior da célula positivo, o que determina a despolarização.
A despolarização se deve a um influxo de Na+ por canais de Na+ normalmente fechados.
A célula, muito rapidamente, retorna ao seu estado de repouso com uma carga interna
negativa (–). O retorno ao estado de repouso é chamado de repolarização.
Essa mudança na membrana interrompe a difusão de Na+ para o interior da célula e permite
sua difusão para o meio extracelular. A saída de K+ remove a carga positiva de dentro da
célula, deixando para trás os aniões carregados negativamente. Desse modo, a saída de K+
causa a repolarização. A fase de repolarização do impulso NÃO se deve à remoção do sódio
(Na+) pela bomba, e sim à difusão do potássio (K+) para fora da célula.
Potencial de repouso
A polarização caracteriza o estado de repouso do neurónio. Quando o neurónio é polarizado, o
seu interior é mais negativo do que o seu exterior; nesse período, nenhum impulso nervoso
está sendo transmitido.
Estado estável da membrana pela acção da permeabilidade selectiva da membrana, com a
bomba sódio-potássio (mecanismos reguladores). A bomba Na+/K+ troca 3 Na+ por 2 K+. A
alta concentração de Na+ extracelular se deve a essa bomba, contribuindo para o potencial de
repouso de -70mv.
Quando não existe estimulação das células
nervosas, não existe actividade nem transmissão
8 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Potenciais Pós-sinápticos
Condução electrotónica: a partir do ponto de origem na fibra e medida que nos afastamos
dele, há um decréscimo na propagação; amplitudes e duração variadas.
Equação de Nernst.
9 Neuropsicologia – Resumo da matéria
2. Neurotransmissor
Questões de exame:
Neurotransmissão e neurotransducção.
Conceito de neurotransmissor (classificação operacional).
Diversos tipos de neurotransmissores: neurotransmissores clássicos e neuropeptídios
(ciclo de vida dos neurtotransmissores).
Receptores dos neurotransmissores: receptores directos (ionotrópicos) e indirectos
(metabotropicos): o primeiro e o segundo sistema de neurotransmissão.
Vias de neurotransmissores.
Os neurotransmissores são sintetizados no neurónio, não podem andar livres senão eram
degradados pelas enzimas, sendo então armazenados em vesículas sinápticas. Estes activam
receptores pós-sinápticos (receptores ionotrópicos ou metabotrópicos) e exercem acções no
neurónio pós-sináptico ou órgão efector.
Tipos:
Aminoácidos: glutamato, asparato, glicina, GABA
Monoaminas:
Catecolaminas: dopamina, adrenalina, noreadrenalina
Indolaminas: serotonina
Gases solúveis: óxido nítrico, dióxido de carbono
Acetilcolina
Neuropeptídos (moléculas muito complexas, constituídas por aminoácidos, e descobertas há
pouco tempo): endorfinas, encefalinas
10 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Receptores
Ionotrópicos (canais directos) – o neurotransmissor liga-se a um receptor no canal iónico, o
canal abre-se ou fecha, alterando o fluxo de iões para dentro ou para fora
Metabotrópicos (canais indirectos) - o neurotransmissor liga-se a ao receptor na membrana
pós sináptica. Neste caso não existe canal iónico; as acções pós-sináptica são mais lentas, mas
duradouras e diversificadas. O receptor proteico activa proteínas denominadas proteínas G, as
quais se movem livremente ao longo da face intracelular da membrana pós-sináptica. Por sua
vez, as proteinas G activam as proteínas efectoras. É um processo mais lento que o anterior,
mas com funções a longo prazo. As proteínas efectoras podem ser canais iónicos regulados
pela proteína G ou enzimas que sintetizam o segundo mensageiro (iões cálcio, fosfolípidos,
nucleótidos cíclicos). Estes podem activar proteínas dos canais, regulando-os, ou podem
migrar para o núcleo e alterar a transcrição de DNA.
O sistema de segundo mensageiro tem como funções:
Regulação da síntese e da libertação de neurotransmissores.
Ampliação do sinal do primeiro mensageiro (ou seja, amplificação do sinal de
neurotransmissores ou de outros mensageiros extracelulares) assegurando uma maior
plasticidade da sinapse.
Criação de locais receptores.
Regulação de canais iónicos;
Regulação da síntese proteica e génese de novas sinapses (memória e aprendizagem).
Regulação da transcrição do genoma.
Fosforilação: As proteínas cinases transferem fosfato do ATP para proteínas, o que modifica a
formação da proteína logo, a sua actividade biológica.
Desfosforilação: Realizada pelas proteínas fosfatase que actuam rapidamente na remoção de
grupos fosfato.
Tem que existir estes dois mecanismos em simultâneo para não haver uma saturação de
fosfato e tornar a regulação possível na célula.
Podem ocorrer fosfolarizações de proteínas que dão origem às proteínas dos canais iónicos, os
terceiros mensageiros.
Tipos de segundos mensageiros:
Nucleótidos cíclicos (AMPc e GMPc)
Iões cálcio
Diacilglicerol
Neurotransmissores clássicos:
11 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Aminoácidos:
Glutamato: o principal neurotransmissor excitador do SNC. Está relacionado com a
aprendizagem e memória de longa duração (papel importante na plasticidade sináptica), assim
como, com a percepção da dor.
Aspartato – Função excitatória no cérebro.
Glicina - É um neurotransmissor inibitório, especialmente a nível da medula espinal e tronco
cerebral.
GABA (ácido gama-aminobutirico): é um neurotransmissor inibidor, com a mais ampla
distribuição no sistema nervosa, que contribui para o controle motor, visão e outras funções
corticais. Está também relacionado com a ansiedade e a epilepsia.
Catecolaminas:
A noradrenalina é um neurotransmissor relacionado com a atenção, emoções, vigília e
aprendizagem, assim como, com a regulação de aferências sensoriais e activação cortical. A
noradrenalina é também libertada como uma hormona na corrente sanguínea onde produz a
contracção dos vasos sanguíneos e aumentos da frequência cardíaca. Tem um papel nos
distúrbios do humor.
Subsistema neuroquímico Noradrenalina: os neurónios noradrenérgicos localizam-se em dois
grupos principais na protuberância e no bulbo. O principal grupo de neurónios
noradrenérgicos é o Locus Coeruleus que tem projecções para o córtex cerebral, tálamo, para
regiões sensoriais do tronco cerebral e da espinal medula, com funções de integração onde
exerce acções moduladoras. Está envolvido na regulação das aferências sensoriais e na
activação cortical. No SN periférico, a noradrenalina é o neurotransmissor dos neurónios pós-
ganglionares do SN Simpático.
Produz efeitos no aparelho cardiovascular, nomeadamente a contracção dos vasos sanguíneos
e aumento da frequência cardíaca com o consequente aumento da pressão arterial.
Dopamina é um neurotransmissor envolvido na regulação dos movimentos e da postura.
Modula o humor e desempenha um papel no reforço, motivação e emoções hedónicas, e pode
desempenhar uma função na dependência. A perda de dopamina em determinadas zonas do
cérebro produz alterações motoras e outras características dos sindromas parkinsónicos.
Adrenalina - Actua sobre todo o corpo de modo a produzir uma resposta visceral coordenada.
Hormona secretada pelas glândulas supra-renais, assim chamadas por estarem acima dos rins.
Tem como efeitos terapêuticos a broncodilatação, o controle da frequência cardíaca e da
pressão arterial.
Indolaminas:
Serotonina: origina-se nos núcleos de Rafe do tronco cerebral. Função na regulação do estado
comportamental, contribuindo a regulação da temperatura corporal, o humor, a fome , o sono
e a dor. Regista-se um aumento da actividade destes neurónios durante o despertar.
Desequilíbrios da função deste neurotransmissor parecem estar relacionados com a
depressão, suicídio, comportamento impulsivo e agressividade.
Acetilcolina – é o neurotransmissor dos neurónios motores da medula espinal e dos neurónios
do SN autónomo.
Efeito do fármacos:
Agonistas: aumenta a síntese de moléculas neurotransmissoras, aumentando os precursores.
Aumenta o número de neurotransmissores através da destruição de enzimas de degradação.
Aumenta a libertação de neurotransmissores pelos botões axionais.
Liga-se aos autoreceptores e bloqueia o seu efeito inibidor na libertação de
neurotransmissores.
Liga-se aos receptores da membrana pós sináptica, activando-os ou aumentando o efeito dos
neurotransmissores nestes.
Bloqueia a desactivação do neurotransmissor pela degradação enzimática ou recaptação.
Psicofarmacologia
Caso HM (amnésia retrógrada parcial, grave amnésia anterógrada): Défice “puro” da memória
a seguir a excisão bilateral extensa do lobo temporal incluindo o Hipocampo, a amígdala, para
controlo da epilepsia (Brenda Milner). É incapaz de transferir novas memórias de curto prazo
para longo prazo, no entanto podia aprender novas habilidades motoras (desenho).
Reforça a ideia que os mecanismos de memória declarativa vs. procedural, de curto e longo
prazo não são os mesmos.
Escala de memória Weshsler – demora 1h30, para os 16 aos 89 – estímulos auditivos e visuais.
17 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Sindromas amnésicos
Gradiente temporal da amnésia retrógrada de acordo com a lei de Ribot – lei da regressão:
relação inversa entre o grau de défice da memória e o tempo decorrido entre o evento a ser
recordado e a lesão. As memórias mais antigas são mais resistentes; perda de memórias mais
recentes.
Paradigmas da aprendizagem
Não associativos: Habituação e Sensibilização
Associativos: Condicionamento clássico e operante.
Aprendizagem espacial: Orientação.
Paradigma da habituação
Neurónios facilitadores ou inibidores
Paradigma da Sensibilização
A sensibilização é o contrário da habituação, trata-se do aumento da tendência para responder
a um estímulo que antes poderia até não causar reacção.
Estimulação por choques eléctricos: a aplypsia entra em estado de excitação
motora/comportamental pois não pode prever quando será o próximo choque – ansiedade
crónica – não há nenhuma situação de segurança.
Aprendizagem associativa: formam-se associações entre eventos: condicionamento clássico e
operante.
despolarizada; abrem os canais de Ca+, aumenta o seu influxo, que mobiliza a libertação de
glutamato. Os neurónios facilitadores modulam, agem a nível do botão axional. A facilitação
pré-sináptica vai levar à hipersensibilização, logo à mudança comportamental.
O glutamato (neurotransmissor que desempenha um papel importante na plasticidade
neuronal) age sobre dois tipos de receptores – NMDA e AMPA. Os AMPA são mediadores das
respostas produzidas quando o glutamato é libertado de uma membrana pré-sináptica,
enquanto os NMDA permanecem com os seus canais bloqueados. Quando existe uma
estimulação eléctrica mais forte abrem-se os canais do receptor NMDA, permitindo um
influxo de iões de Ca2+ no neurónio pós-sináptico, iniciando uma cascata de eventos
bioquímicos em que esta célula nervosa gera estímulos mais intensos para outras. Esta série
de eventos intracelulares pode durar de horas a dias e possui funções importantes nos
processos da memória e aprendizagem.
A célula sensorial fica despolarizada mais tempo, o PA é prolongado, há maior libertação de
neurotransmissores e aumentam as respostas pós-sinápticas na célula motora.
Memórias a curto prazo podem ser eliminadas por choques electrocompulsivos ou traumas
cranianos.
A consolidação das memórias é consequência directa de alterações nas ligações sinápticas dos
neurónios. Estas alterações traduzem-se na chamada LTP (Potenciação de Longa Duração) e
LTD (Depressão de Longa Duração).
A LTP resulta de um conjunto de estímulos com elevada frequência que originam um aumento
da amplitude do potencial excitatório pós-sináptico nos neurónios pós-sinápticos; portanto a
LTP aumenta a força de uma dada sinapse.
A LTD origina uma redução na amplitude do potencial excitatório pós-sináptico nos neurónios
pós-sinápticos; portanto a LTD reduz a força de uma dada sinapse.
21 Neuropsicologia – Resumo da matéria
4. Memória e o envelhecimento
Questões de exame:
Os sistemas e processos da memória: modelos de Atkinson e Shiffrin 1968; Craik e
Byrd 1982, Squire, 1986, etc.
Memórias processuais, declarativas, semântica e autobiográfica; memória de trabalho;
memória prospectiva.
O envelhecimento normal e alterações das funções da memória (memória visual,
memória de duração intermédia, memória para o contexto, source memory .
Modificação no envelhecimento na velocidade e recursos de processamento, memória
de trabalho, processamento automático vs controlado, informação e apoio contextual,
inibição.
Correlatos anatomo-fisiológicos: reduções volumétricas, alterações metabólicas,
reduções do fluxo sanguíneo, aletrações neuroquímicas.
Modelo de multiarmazenamento.
Há um registo de dado sensorial (fracções de segundos)
Memória e o envelhecimento
Funções afectadas:
Declínio do desempenho cognitivo; velocidade de processamento dos recursos,
velocidade das operações mentais;
O processo de recuperação é mais lento;
Capacidade da Memória de Trabalho diminui;
Capacidade de aprendizagem;
Menor capacidade de recordar novas aprendizagens, dificuldades na memória
prospectiva;
Diminuição da capacidade de controlo dos processos – processos automáticos;
Alteração dos recursos da atenção; distracção mais fácil;
Maior dificuldade em ignorar informação irrelevante; discrepância frontal – perda
progressiva da função inibitória da informação relevante quando perante uma tarefa
que perturba a atenção;
22 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Há muito mais áreas envolvidas na mesma tarefa com a idade. Hipóteses controversas:
Compensação?
Perturbação?
O cérebro recrutaria mais estruturas, mais populações de neurónios.
Memória primária de curta duração (ex: recordar um número) - diferenças com a idade são
relativamente pequenas
Memória secundária de longa duração (ex. o que comeste ontem a noite) – a idade revela
diferenças significativas quando é pedido para recordar livremente, mas a diferença é mínima
quando são usadas pistas, ou a tarefa é de reconhecimento (pista semântica).
Memória de longo termo: codificação; retenção; tempo -> evocação. O tempo é importante,
mas o grau de tratamento, profundidade é que vai efectuar a consolidação mnésica.
Contribuições neuropsicológicas:
Memória de Trabalho - área pré-frontal
Memória processual – lobo frontal cortical e sub-cortical, áreas suplementares
motoras de coordenação, cerebelo
O córtex pré-frontal e córtex cingulado (circuito das emoções) recebem aferências das
estruturas do lobo temporal medial.
Lobo frontal
Codificação e recuperação (PET)
Orbitário/ventral interno: ligação memória-emoções (marcadores somáticos);
memória prospectiva
Dorsolateral (externo): organização temporal – frequência e recência; memória de
trabalho
Lobo temporal – é onde nascem os nossos primeiros cabelos brancos, daí o nome temporal.
Estudos com animais sugerem que estimular o cérebro pode impedir que as células encolham
e até aumenta o tamanho do cérebro em alguns casos.
Estudos mostram que ratos que vivem em ambientes enriquecidos, com diversos brinquedos e
desafios, têm camadas cerebrais externas com neurónios maiores e mais saudáveis, e mais
RNAmensageiros.
25 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Animais submetidos a muitos exercícios mentais têm mais dendrites. Têm estímulos sociais e
brinquedos que estimulam a actividade física, logo a melhoria do tecido cerebral.
Em muitos casos, o cérebro de uma pessoa mais velha pode ser menos eficiente, não devido a
algum problema estrutural ou orgânico, mas simplesmente como resultado da falta de uso.
26 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Sequência da actividade motora começa com a decisão, que ocorre na parte anterior do lobo
frontal. Em seguida, as áreas de planeamento motor são activadas (Córtex Motor: comando
executivo); depois, os circuitos de controlo (cerebelo, GB) que regulam a actividade das vias
motoras descendentes (neurónios motores da espinal medula). Áreas pré-motoras e motoras
primárias recebem aferências do cerebelo e gânglios da base através de diferentes núcleos do
tálamo.
Estas vias motoras descendentes levam sinais para os interneurónios medulares e para os
motoneurónios inferiores, que transmitem sinais directamente para os músculos esqueléticos,
produzindo a contracção das fibras musculares apropriadas para mover os membros
necessários à acção.
Comando cortical -> áreas suplementares motoras -> córtex motor primário
Temos células que enviam os seus longuíssimos axónios pela espinal medula (via cortico-
espinal) córtex-> tálamo-> espinal medula. 80% das fibras têm origem em áreas pré-motoras e
córtex primário motor. O resto provém de áreas sensoriais somáticas (áreas parietais):
mensagens visuais (orientação espacial).
Via piramidal – envia comandos motores para o neurónio alfa (motor) que faz sinapse com o
músculo esquelético.
Sistema piramidal: córtex pré-frontal -> área motora suplementar -> área pré-motora -> área
motora -> áreas parietais posteriores -> sensorial somático
Córtex motor: área 4 e 6 – região circunscrita do lobo frontal. Divide-se no córtex motor
primário (área 4), área pré-motora e área motora suplementar.
Córtex motor primário (área 4): responsável pela execução dos actos motores;
contém um mapa topográfico;
Área pré-motora (área lateral 6): planeamento dos actos; especializada em
movimentos voluntários – áreas laterais: influência do cerebelo / zonas internas: sob o
controlo dos GB.
Maior limiar de estimulação. Estimulação eléctrica da área provoca contracções de um
conjunto de músculos coordenados. Movimentos que exigem coordenação entre
muitos músculos. Vias de transmissão do sinal – mesmas vias espinhais e extra cortico-
espinhais da área motora. Relacionada com aquisição de habilidades motoras
especializadas (Comando motor muito fino nas mãos: área cortical na mão é maior).
Controlam movimentos complexos (laringe e boca – formação de palavras; fixação dos
olhos).
Área motora suplementar (área medial 6): programações complexas e execuções de
comportamentos bilaterais. Desempenha funções semelhantes à área pré-motora,
mas em grupos diferentes de músculos. Envia axónios que enervam directamente
unidades motoras distais.
Córtex somestésico primário.
O córtex motor, córtex pré-motor, áreas motoras e parietais enviam colaterais através do
tálamo.
29 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Movimento com o dedo: a área motora e sensorial respectiva à zona dedo é activada. Quando
imaginam uma sequência de movimentos, também activam as áreas motoras, reactiva os
padrões motores do córtex pré-motor.
Vias descendentes: Sistemas de Neurónios que recebem inputs do córtex motor e dos
núcleos subcorticais. É através destas vias que o encéfalo comunica com os neurónios motores
da espinal medula. Os axónios que partem do tronco encefálico descem ao longo da medula
espinal por dois grupos principais de vias:
Mediais (ventromedial): músculos proximais; envolvidas nos movimentos reflexos; vão enviar
sinais para vários centros, níveis de comando motor, que encarregam-se do controlo da
postura, equilíbrio, coordenação e locomoção. Utilização a informação sensorial sobre a
posição corporal e o ambiente visual.
Composta por 4 componentes:
Tracto vestíbulo-espinhal e tecto-espinhal controlam a posição da cabeça e do corpo:
Tracto vestíbulo-espinhal (transmitem a informação sensorial do ouvido interno.
Estabilidade da cabeça);
Tracto tecto-espinhal (aferências desde a retina, aferências somato-sensoriais e
auditivas – colículos inferiores [audição] e superiores [visão]: orientação da cabeça e
do olho na direcção de um novo estímulo. O colículo superior elabora um mapa do
mundo circundante, orientando os olhos e a cabeça);
Tractos retículo-espinhais: Pontino / Bulbar (Controlam a posição do corpo e dos músculos das
extremidades, funcionam em conjunto).
31 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Lesão cerebelar - défices associados - direcção, força, velocidade e amplitude dos movimentos
perturbada:
Ataxia: falta de coordenação do movimento; afecta a força muscular e o equilíbrio (ex: marcha
atáxica);
Dismetria: dificuldade em alcançar o ponto de intenção, avaliar correctamente as
distâncias. O movimento cessa precocemente, ou então, ultrapassa o alvo
(hipermetria);
Tremor de intenção – o tremor aumenta a medida que o dedo se aproxima do objecto;
Disdiadococinésia: incapacidade para realizar movimentos alternantes rápidos;
32 Neuropsicologia – Resumo da matéria
As funções motoras dos GB são mediadas pelo córtex. Os GB não têm ligações directas com a
espinal medula. Estes recebem inputs do córtex e enviam outputs, através do tálamo, para as
áreas corticais pré-frontais, pré-motora, e motora primária. Estes outputs encontram-se
modulados por duas vias paralelas.
Via directa excitadora: corpo estriado –> inibição do GPi –> Tálamo (supressão
da inibição sobre o tálamo). Excitação do tálamo -> área motora suplementar. Resulta
na desinibição do tálamo e aumento no comportamento motor; facilita o movimento e
aumenta a neurotransmissão. Inibição da inibição é a excitação.
Estas vias inibidoras eferentes têm efeitos opostos sobre os núcleos de output dos N.B. e por
conseguinte no tálamo. Também são afectadas de forma diferente pela projecção
dopaminérgica da substância nigra.
Os neurónios do estriado que projectam directamente para o globo pálido têm receptores de
dopamina D1 que facilitam a transmissão, enquanto os neurónios que projectam pela via
indirecta têm receptores D2 que reduzem a transmissão. Dopamina: efeito de activação dos
movimentos: inibe a via indirecta, excita a via directa.
Funciona em conjunto com o sistema piramidal, mesmo se os sintomas dos GB são extra-
piramidais. Críticas à distinção piramidal – extrapiramidal. Os dois não são independentes,
estabelecem relações.
Distinção entre as síndromas motores:
• Síndrome piramidal – espasticidade e paralisia
• Síndrome extrapiramidal – movimentos involuntários, rigidez muscular e imobilidade sem
paralisia.
Perturbação dos movimentos por lesão – Parkinson, Huntigton e hemiblismo
Conceito moderno de circuitos dos GB: Os GB podem ser considerados um dos principais
componentes de um conjunto de circuitos paralelos que ligam o tálamo com o córtex. Cada
circuito inicia-se numa área específica do córtex, envolve porções diferentes dos GB e do
Tálamo e projecta em retorno para as porções do Lobo Frontal (distintas) a partir das quais se
originou o circuito.
Diversos circuitos paralelos que se originam nas regiões corticais pré-frontais e límbicas e
envolvem regiões específicas do estriado, G. pálido e substância nigra.
Alguns circuitos dos G.B. estão envolvidos em aspectos não motores do comportamento
(humor, cognição, emoção):
Circuito dorsolateral prefrontal
Circuito orbitofrontal lateral
Circuito cingulado anterior
6. A audição
Questões de exame:
Características físicas do estímulo e correspondentes qualidades perceptivas (altura,
intensidade e timbre).
Funções do ouvido médio (transmissão mecânica com adaptação de impedância na
passagem das ondas para o ouvido interno).
Estrutura histológica da cóclea e funções das células ciliadas. Projecções aferentes e
eferentes.
Tonotopia da cóclea. Processamento na via auditiva e identificação da altura do som.
Via auditiva. Identificação no espaço da posição da fonte sonora.
Áreas corticais de processamento auditivo. Cortex auditivo tonotopia e organização
colunar.
O ouvido é dividido em três partes: o ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno.
A função do ouvido externo e do ouvido médio é de transmitir a onda sonora para a cóclea,
região do ouvido interno que contém os receptores auditivos.
Ouvido externo
Pavilhão auricular :
-proteger o ouvido médio e prevenir danos ao tímpano
-recolher o som e conduzi-lo para o canal auditivo.
-filtrar o som, ajudando assim a localizar a fonte sonora.
37 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Ouvido médio:
O ouvido médio contém um sistema de ossículos articulados entre si, o martelo, a bigorna e o
estribo. A sua função é de aumentar a pressão da onda sonora sobre o ouvido interno,
compensando as perdas devido à diferença de impedância entre o ar e os fluidos que banham
a cóclea. Se as ondas sonoras fossem conduzidas directamente do ar para a janela oval, a
maior parte da energia seria reflectida e perdida.
Variações da pressão do ar convertem-se em movimentos dos ossículos.
Ossículos (martelo, bigorna e estribo) – funcionam como amplificadores do som: janela
timpánica -> ossículos -> janela oval. Os ossículos suspensos por ligamentos, funcionam como
amplificadores da força vibratória. Martelo e bigorna combinados funcionam como alavanca
com fulcro na membrana timpânica. O martelo levanta ou baixa, empurrando a bigorna:
Martelo (vibração do tímpano imprime-lhe movimento);
Bigorna (move-se no sentido do martelo);
Estribo (gira para trás quando o martelo se move para dentro, e gira para a frente quando o
martelo se move para fora);
A bigorna e o martelo contraem-se e o som diminui, adaptando o ouvido. Protege o ouvido
interno de grandes barulhos que o podem danificar (músculo tensor do tímpano – ligado ao
Martelo; músculo estapédio – ligado à bigorna). Quando estes músculos contraem, a condução
do som fica diminuída. Está também activado quando falamos, para não ouvirmos a nossa
própria voz (não nos ouvimos tão alto como os outros nos ouvem).
Janela oval: membrana que separa o ouvido médio do interno.
Ouvido interno
Canais semicirculares: órgão do sentido do equilíbrio; informa o nosso cérebro sobre a posição
do corpo no espaço. A sensação de tontura depois de pararmos de rodopiar provém de um
conflito entre duas percepções: os líquidos dos canais informam que ainda estamos a rodopiar
e os sinais visuais que não.
Nervo auditivo, acústico: transmite a informação proveniente dos canais semicirculares e da
cóclea para o cérebro.
Cóclea: órgão receptor da audição; estrutura óssea espiralada (do grego: coclos - caracol,
concha, do tamanho de uma ervilha) que, contém as células ciliadas responsáveis pela
transdução do som. O núcleo ósseo da cóclea é o modíolo. A cóclea é preenchida de fluído. O
fluído do ouvido interno resiste ao movimento muito mais que o ar. O líquido coclear necessita
de maior pressão para ter o mesmo grau de vibração que o ar; o sistema de alavanca faz
aumentar a pressão 22 vezes, aumenta a força do movimento.
O tubo encontra-se dividido em 3 câmaras/compartimentos pela membrana de Reissner
(muito flexível) e basilar, preenchidas de fluído: escala vestibular e timpânica (perlinfa + Na -
K); escala média (endolinfa + K - Na). A diferença iónica vai dar origem ao potencial
endolinfear. A cóclea tem 3 rampas, 3 canais enrolados num caracol, labirinto logo a onda
líquida tem de fazer um percurso longo.
Órgão de Corti: órgão sensorial da audição, conjunto de células sensoriais e de suporte.
Assenta na membrana basilar, na escala média e converge, tranduz a energia mecânica em PA,
energia eléctrica. Órgão receptor que gera os impulsos nervosos em resposta à vibração da
MB.
38 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Abertura dos canais de K+ (saída de Na+) nas extremidades dos estereocílios. A tensão
mantém o canal parcialmente aberto, permitindo a entrada de K+ para a célula ciliada. A
entrada de K+ despolariza os cílios, que abre os canais de Ca2 +, levando à liberação do
glutamato para o gânglio espiral.
Intensidade do som
Quando a intensidade aumenta as fibras do nervo vestibulococlear disparam mais
rapidamente; membrana basilar vibra com maior amplitude, causando maior despolarização
dos cílios activados; isto faz com que as fibras com que os cílios fazem sinapse, disparem P.A.
mais frequentemente.
O número de neurónios activados aumenta com a intensidade (estímulos mais intensos
produzem movimentos da membrana basilar que se propagam a distâncias maiores, os quais
levam à activação de mais células ciliadas).
Frequência do estímulo
Existe uma relação tonotópica entre a frequência e as sinapses realizadas com os núcleos
cocleares, núcleo geniculado medial e córtex auditivo.
No córtex, existem áreas específicas para identificar diferentes padrões sonoros. O limiar de
estimulação varia – gama de frequências.
A organização dos neurónios é feita por colunas, com padrões sonoros diferentes.
Há zonas do córtex quase “mudas”, outras altamente especializadas, cujas lesões são
devastadoras (ex: áreas da linguagem).
Mecanismo de intuição lateral: se estivermos a ouvir 5min um concerto, ou focados num som,
qualquer outro som que aparece é apercebido de forma mais intensa: inibição lateral para
sons que não estamos a ouvir; sintonização: é preciso eliminar certos sons.
Córtex auditivo – lobo temporal. Mesmo que haja uma lesão a meio do caminho, há sempre
fibras que levam a informação ao SN. Há sempre caminhos alternativos para a informação
chegar ao SN – mecanismos adaptáveis da espécie.
NGM – núcleo
geniculado
medial
41 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Vias paralelas:
Núcleo coclear Ventral: oliva superior -> lemnisco lateral -> colículo inf -> NGM -> córtex
auditivo
Núcleo coclear Dorsal: lemnisco lateral -> colículo inf -> NGM -> córtex auditivo
Permite-nos localizar a fonte sonora.
Outras projecções também contribuem para a via auditiva.
Córtex Auditivo Primária (A1) – giro de Hersh, lobo temporal, área 41 de Broadmann
Surdez:
Surdez de condução (perturbação na condução do som do ouvido externo à cóclea, na
detecção das vibrações transmitidas por via aérea) - problema mecânico, que interfere com a
condutância do som
Causas: cera em excesso; doenças nos ossículos
Tratamento: cirurgicamente.
Surdez neuronal: perda de neurónios no nervo auditivo ou nas células ciliadas da cóclea
42 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Causas: tumores que afectam o ouvido interno; drogas tóxicas para as células ciliadas (ex:
alguns antibióticos); exposição a sons altos – lesão da cóclea (ex: explosão)
Tratamento: dependendo da extensão da perda celular
- Cóclea ou nervo auditivo completamente destruídos de um lado: surdez total no ouvido
- Perda parcial de células ciliadas: aparelho auditivo para amplificar o som nas células ciliadas
restantes
- Lesão grave na cóclea mas nervo vestibulococlear intacto: cóclea electrónica artificial
(sucesso variável)
Células ciliadas da cóclea não se dividem, não se reproduzem, dai a degeneração da audição.
7. Vigília e sono
Questões do exame:
Caracterização dos estados de vigília, sono lento e sono paradoxal.
Evolução dos ciclos de sono ao longo da vida.
Consequências da privação do sono.
Perturbação do sono e indicadores de perturbação depressiva endógena.
Mecanismos de regulação da vigília, do sono lento (inibição do córtex e influência do
N. reticular talâmico) e do sono paradoxal –
Conceito moderno de Sistema Reticular Activador e funções na vigília. Funções dos
neurónios colinérgicos da Formação Reticular da Protuberância.
Regulação do estado funcional do sistema talamo-cortical pelas influências
neuromoduladoras dos sistemas serotoninérgico, noradrenérgico e colinérgico.
Substâncias indutoras do sono. Marcapasso circadiário do Hipotálamo.
Atenção: pensamento rápido, lógico, sequencial, memória vívida, prontidão para a acção
Vigília: premissa fundamental para a clareza da consciência (frequência cardíaca e tensão
arterial razoáveis). É um estado complexo que exige a manutenção das aferências sensoriais, a
direcção da atenção, o acesso à memória e reajustes constantes da postura, activação do
cérebro anterior
44 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Obnubilação da Consciência
Os estímulos devem ser intensificados para se conseguir um acesso eficiente à consciência.
Diminuição da percepção sensorial, da clareza da vigília; lentidão da compreensão e da
elaboração das impressões perceptivas; lentidão no ritmo e alteração no curso do
pensamento, défice da fixação e da evocação da memória; algum grau de desorientação e
sonolência mais ou menos acentuada (sem estimulação o paciente parece estar a dormir).
Apesar de parecer que está a dormir pode ainda mexer-se e agir, até certo ponto, de forma
ordenada. Podemos despertá-lo falando-lhe ou tocando-lhe. O sujeito compreende ordens
simples, não presta atenção ao que o rodeia, tem falta de espontaneidade.
Sonolência
O paciente está muito apático, lentificado; se deixado só, adormece. Pode ser despertado se
for interpelado em voz alta ou quando é tocado. É caracterizado por dificuldade de
compreensão; desorientação; distúrbios das funções associativas; pobreza ideativa. Não
apresenta já manifestações espontâneas. O paciente demora a responder aos estímulos e tem
diminuição do interesse no ambiente. A face de um doente confuso apresenta uma expressão
ansiosa, enigmática e às vezes de surpresa. Executa escassos movimentos espontâneos,
movimentos de defesa ou de recuo face a estímulos dolorosos, no entanto mantêm-se os
reflexos e a postura. O tónus muscular, reflexo de deglutição e reflexo de tosse estão
diminuídos.
Estupor ou semi-coma:
Difícil de despertar, o paciente apenas responde a estímulos intensos, após os quais retorna ao
estupor. Não se conseguem manifestações verbais, às vezes nem mesmo sons exprimindo dor.
Estado caracterizado pela ausência ou profunda diminuição de movimentos espontâneos e
mutismo; sensibilidade parcial e pronunciada diminuição de reacções motoras. Existem ainda
movimentos de defesa e reflexos conservados mas raramente existem movimentos de
correcção da postura. A respiração é lenta e profunda; de olhos abertos, o paciente consegue
seguir objectos.
Pré-coma e Coma:
Estado mais grave da perda de consciência. Algum comprometimento neurológico e somático
grave; reage pouco ou nada aos estímulos externos (até aos estímulos dolorosos), ou internos
(fome, frio, necessidades fisiológicas); não é possível de despertar. Abolição completa da
consciência; desaparecem os movimentos de defesa e de correcção da postura.
O pré coma e os quatros estádios do coma são diferenciáveis através dos sinais neurológicos e
EEGs.
No pré-coma, o reflexo pupilar à luz e reflexo palpebral permanecem, mas não os reflexos
cutâneos e tendinosos periféricos. No coma extingue-se também o reflexo palpebral, depois o
reflexo à luz (pupilas geralmente midriáticas).
45 Neuropsicologia – Resumo da matéria
EEG: visualiza a actividade do córtex (epilepsia, sono); método não invasivo, indolor.
Mede as correntes que fluem durante a excitação sináptica nas dentrites de muitos neurónios
piramidais do córtex (somatório). Depende do sincronismo, comportamento organizado e
colectivo. Mecanismo análogo a um maestro e à sua banda, com cada músico a tocar no seu
momento próprio.
Ritmos:
Beta: mais rápidos, maiores que 14 HZ, sinalizam um córtex activado
Alfa: entre 8 e 13 HZ, estados de vigília, em repouso
Teta: entre os 4 e os 7 HZ ocorrem durante alguns estados do sono
Delta: muito lentos, menor que 4 HZ, grandes em amplitude, indicam sono profundo.
Sono
No sono, a actividade sensorio-motora está relativamente suspensa, caracterizada por total ou
parcial inconsciência e inactividade dos músculos voluntários.
Sono não REM (Non Rapid Eye Movement): 75% - sono lento
Lentificação de todas as funções (electroencefalograma e cardiograma mais lentos)
A tensão muscular está reduzida em todo o corpo;
O movimento é mínimo, raro, episódico e involuntário; ausência completa de tónus
muscular
A temperatura e o consumo de energia estão reduzidos;
Aumento da actividade da divisão parassimpática; a frequência cardíaca, respiração e
função renal ficam mais lentas, enquanto os processos digestivos aumentam;
O cérebro parece repousar. Estudos mostram que os processos mentais atingem o seu
nível diário mais baixo no estádio não-REM;
46 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Áreas corticais extra-estriais e porções do sistema límbico, estão mais activas no sono
REM, mas as regiões dos lobos frontais, estão menos activas.
Paradoxal: Por um lado, o consumo de oxigénio do encéfalo é maior. Por outro lado, existe a
perda quase total do tónus muscular esquelético Se privados do sono REM, temos tendência a
entrar em sono REM muito mais depressa, os sonhos ocorrem no início da noite e durante o
sono nREM. Ficamos mais irritáveis.
Durante a noite vai ocorrendo uma diminuição na duração do sono não-REM e um aumento do
sono REM.
Atonia muscular: perde-se o tónus muscular quando se está a adormecer, daí a cabeça
começar a cair.
Uma doença do sono: o conteúdo bizarro dos sonhos passa para a realidade, o paciente passa
à acção, contra a sua vontade. São inimputáveis.
Estudos:
Alterações vegetativas do sono: erecção do pénis – não tem a ver com os conteúdos sexuais
dos sonhos.
A privação do sono resulta em períodos de microssono (3 seg.) em que parece que está
acordado, mas está a dormir com os olhos abertos.
Depressão major: padrão de sono anormal. Sono REM 1h-45min depois de adormecer;
redução da latência do REM.
Perturbações do sono
– Dissónias (insónias e hipersónias) – alterações quantitativas do sono
Insónias – 3 problemas:
Problema em adormecer
Dificuldade em manter-se a dormir
Acordar mais cedo do que o previsto, de forma continuada.
Hipersónia ideopática: tem origem numa disfunção do SNC; caracterizado por sonolência
excessiva progressiva, dificuldade de ficar acordado, com consequentes prejuízos na vida do
indivíduo (menos activo).
Insónia psicofisiologica: muita preocupação da necessidade de dormir devido às tarefas do dia
seguinte.
Adaptação: dormimos para nos livrarmos dos problemas ou até para conservar
energia;
Actividade neuronal mais intensa durante o sono REM pode contribuir para
estabelecer conexões neuronais no cérebro;
Consolidação do que se aprendeu no dia anterior;
O sono é um momento de reparação dos tecidos corporais. É possível que algumas
regiões cerebrais, tal como o córtex cerebral, possam alcançar alguma forma de
“repouso”.
• Experiências de privação do sono. Se somos privados de sono, somos capazes de
dormir muitas horas compensando. A privação afecta a memória, atenção (ex:
exercícios de matemática), produz deficiências cognitivas provisórias. Depois de 4-5
dias sem dormir bem podem ocorrer experiências alucinatórias, um quadro de
perturbação que é limpo após uma noite completa de sono. A privação prolongada do
sono pode levar a sérios problemas físicos e comportamentais a longo prazo, passando
por sinais de descompensação como alterações da memória, irritabilidade, etc;
• Será que o sono preserva equilíbrios homeostáticos como o equilíbrio calórico do
metabolismo, equilíbrio térmico e a competência do sistema imunitário?
• Função anabólica do sono (predomínio do sono REM durante o período uterino)?
Promoção do desenvolvimento do SNC? Funções metabólicas?
• Preservação do indivíduo e da espécie?
8. Sistema visual
Questões de exame:
• Retina. Organização dos campos receptivos das células ganglionares (on/off).
• As vias paralelas de transmissão e processamento das mensagens visuais: a via
m, p e não m e não p. Funções no processamento respectivamente do
movimento, forma e cor.
• As diversas áreas corticais com funções visuais: a via ventral e a via dorsal.
• Células detectoras de características simples, complexas e hipercomplexas.
• Organização colunar do córtex visual: as minicolunas e a s hipercolunas.
• Agnosias visuais: perceptivas e associativas.
relativamente simples faz com que a retina seja útil para entender como a informação é
processada pelo complexo de circuitos neurais no cérebro.
Processamento visual
O fluxo de informação visual decorre em duas fases: 1. Retina para o tálamo 2. Tálamo para o
córtex visual primário
Os fotorreceptores da retina projectam-se nas células bipolares, que por sua vez têm sinapses
nas células ganglionares. Os axónios das células ganglionares (output da retina) formam o
nervo óptico, que projecta para o NGL no tálamo, por sua vez projecta para os centros
superiores do cérebro, o córtex visual primário (área 17 de Broadmann, V1, córtex estriado –
lobo occipital), que contém um mapa retinotópico, onde é efectuado o processamento
adicional necessário para a percepção (forma, movimento e cor).
A informação visual é transmitida da retina ao córtex por duas vias principais: via M e via P. A
segregação da informação visual começa com dois tipos de células ganglionares da retina:
grandes células (M) e pequenas células (P). Cada uma transmite informações diferentes para o
núcleo geniculado lateral do tálamo. Os axónios das células M projectam para as camadas
magnocellular do núcleo geniculado lateral (via M), e os P para as camadas parvocellular (via
P). Essas duas vias, separadas continuam até ao córtex visual primário, processando diferentes
características:
Via M: células ganglionares M -> NGL (tálamo) camada magnocelular -> córtex visual primário
área 4Ca -> top: córtex parietal posterior (controlo de movimento, profundidade, informação
espacial)
Via P: células ganglionares P -> NGL (tálamo) camada parvocelular -> córtex visual primário
área 4Cb -> bottom: córtex temporal inferior (cor, forma)
Temos cerca de 36 áreas visuais no nosso córtex (áreas 17, 18, 19 de Broadmann).
Área V2 – reconhecimento dos objectos
Área MT ou V5 – análise e percepção do movimento do estímulo, velocidade e disparidade
binocular
Área V4 – cores
Pré-frontal, motoras primárias -> comando da resposta
53 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Transdução
Os fotorreceptores transduzem a luz num sinal eléctrico, não disparam PAs, respondendo à luz
com mudanças graduais no potencial da membrana. Estas células têm falta de canais de Na +
canais capazes de gerar potenciais de acção, em vez disso eles transmitem sinais de forma
passiva.
Na ausência de luz, esses canais de catião são mantidos abertos por intracelular GMPc e
conduz uma corrente interna, carregada em grande parte por Na + que mantém o receptor
despolarizado (= bastonete activado).
A fototransdução resulta numa cascata de eventos bioquímicos em três fases
Os fotorreceptores alteram os fluxos iónicos através da membrana, mudando o potencial da
membrana. A molécula chave da cascata é o nucleótido cíclico guanosina monofosfato (cGMP).
Nos bastonetes, essa molécula activa um segundo mensageiro. A cGMP controla os fluxos
iónicos, abrindo o cGMP-gated ion channel, que permite a entrada de Na+ para dentro da
célula.
No bastonete: quando a luz atinge o fotorreceptor, os canais de cGMP-gated fecham-se por
um processo de três etapas.
(1) A luz é absorvida e activa moléculas de pigmentos (rodopsina) na membrana de disco.
(2) O pigmento activado estimula uma proteína G (transducina nos bastonetes), que por sua
vez, activa a phosphodiesterase. Esta enzima diminui a concentração do GMPc, o segundo
mensageiro (3) Como a concentração de cGMP é diminuída, os canais de cGMP-gated fecham,
reduzindo assim a entrada de corrente de Na+ e causando a hiperpolarização do receptor.
Neste processo, a vitamina A é um composto fundamental no sistema visual e, porque não
podem ser sintetizados por seres humanos, devem ser fornecidos na dieta. As deficiências de
vitamina A podem levar à cegueira nocturna e, se não tratada, a uma deterioração do
segmento externo do bastonete e, eventualmente, a cegueira total.
Na escuridão, a concentração citoplasmática de GMPc é elevada, mantendo assim os canais
cGMP-gated abertos (estado despolarizado da célula) e permitindo a entrada de corrente,
chamada a corrente escura. Como resultado, na escuridão, o potencial de membrana do
fotorreceptor é em torno de -40 mV, depolarizada.
Quando a luz reduz o nível de cGMP, fecha os canais de cGMP-gated, a entrada de corrente
que flui através destes canais é reduzida e a célula torna-se hiperpolarizada a -70 mV.
Se essa iluminação é mantida, os cones lentamente despolarizam a um potencial de
membrana entre -70 e -40 mV (o potencial de repouso), e mais uma vez é capaz de
hiperpolarizar em resposta a aumentos na intensidade da luz - a luz brilhante já não é cega.
55 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Células ganglionares - duas classes funcionais; segregação da mensagem na retina por dois
caminhos:
M magni ou grande (90%): duas camadas magnocellulares dorsais do NGL - grandes campos
receptivos (dendrites), respondem de forma óptima para objectos grandes, conduzem PAs
mais rápidos ao nervo óptico; mais sensíveis a estímulos com baixo contraste; capazes de
acompanhar as rápidas mudanças no estímulo; análise das características totais de um
estímulo e seu movimento.
P parvi ou pequena (5%): quatro camadas parvocellulares ventrais do NGL - mais numerosas;
pequenos campos receptivos; respondem selectivamente a comprimentos de onda
específicos; análise de detalhes finos na imagem visual; envolvidos na percepção da forma e
cor.
Tipo nem P nem M – camadas conicelulares: funções são em grande parte desconhecidas.
McCulloch – retina da rã: dispõe de uma série de células que respondem à variação da
luminância. A activação dos neurónios gnósticos detecta uma categoria de estímulos (ex:
mosca)
Hubell & Wiesel – córtex visual primário dos gatos. O que processa a forma responde a
contrastes e não a estímulos separadamente (fundo branco, ponto escuro) – diferenças de
luminácia. Processa-se ao nível das células ganglionares – respostas aos neurónios organizadas
em campos receptivos mutuamente antagonistas.
O fotorreceptor responde a luz com hiperpolarização, está sempre a libertar glutamato na
corrente escura.
Organização dos campos receptivos:
Célula bipolar off responde ao glutamato com excitação, despolariza com a recepção do
fotorreceptor – centro off; estimulação da periferia excitadora on
Célula bipolar on responde ao glutamato com inibição, hiperpolariza com a recepção do
fotorreceptor – centro on; periferia off
Células on e off estabelecem caminhos paralelos para o sinal de um único cone.
56 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Células ganglionares
On-center: células que ficam excitadas, respondendo com PA quando a luz é direccionada para
o centro do campo receptivo. Em contrapartida, quando a luz é aplicada à área circundante há
inibição.
Off-center: células que ficam inibidas quando a luz é dirigida ao centro do campo receptivo;
ficam excitadas respondendo com PA na ausência de luz no centro do campo receptor.
Esses mecanismos físicos de ON-OFF nas células bipolares e ganglionares fazem com que o
olho humano detecte variações espaciais locais e não da magnitude absoluta da luz que cai
sobre a retina. Facilitam a visualização do objecto focado de acordo com a quantidade de luz
disponível no ambiente.
Lesões
57 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Áreas extra-corticais activas durante os testes de percepção visual. PET - variações no fluxo
sanguíneo cerebral.
Córtex parietal: negligência visual: não respondem aos objectos apresentados no campo visual
contralateral à lesão parietal.
Córtex temporal: dificuldade em discriminar as diferentes formas; pobre memória visual de
formas; incapacidade de identificar rostos (prosopagnosia - lesões occipitais inferiores
bilaterais).
Estas observações neurológicas sugeriram:
Córtex parietal / via parietal posterior: representação espacial, localização, onde está o
objecto;
Córtex temporal / via temporal inferior: reconhecimento do objecto, o que é o objecto.
Agnosias
Simultaneoagnosia “ventral” - lesões temporo –occipitais inferiores esquerdas
Pacientes são capazes de reconhecer objectos individuais mas falham se for mais do que um
objecto, ou quando se tratam de figuras complexas.
Não reconhecem múltiplos objectos mas podem vê-los.
Perturbada a leitura – soletram as letras.
Défice de atenção visual: um estímulo de cada vez.
Cegueira cortical (córtex visual primário) – vê mas não consegue reagir ao estímulo –
funcionalmente cego
Prosopagnosia (zona occipital inferior – bilateral): incapazes de reconhecer o estímulo face.
Testes fisiológicos (condutância palmar) indicam que continuam a ter indicações afectivas
perante membros da família; forma de conhecimento que não atinge a percepção consciente –
processamento cego, pré-lógico, pré-consciente.
Afasia gráfica
58 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Teorias da emoção:
Teoria de James-Lange
Experimentamos a emoção em resposta a alterações fisiológicas no nosso organismo.
As mudanças corporais decorrem directamente da percepção do estímulo, e a sensação destas
mudanças provoca a emoção.
Teoria de Cannon-Bard
Argumentaram contra James dizendo que emoções podem ser experimentadas mesmo
quando mudanças fisiológicas não são sentidas. As reacções simpáticas a estímulos
desencadeadores são quase sempre as mesmas ao passo que as nossas experiências
emocionais variam amplamente.
A entrada sensorial é então recebida pelo córtex cerebral, que, por sua vez, activa certas
mudanças no organismo. As emoções são produzidas quando os sinais alcançam o tálamo.
Inerva:
Glândulas secretoras (salivares, lacrimais, além de várias glândulas produtoras de
muco).
Coração e vasos sanguíneos para controlar a pressão e o fluxo sanguíneo.
Brônquios dos pulmões de forma a atender às necessidades de oxigénio do corpo.
Regula:
Actividades automáticas do corpo.
Funções digestivas e metabólicas do fígado, trato gastrointestinal e pâncreas.
Funções dos rins, bexiga, intestino grosso e recto.
É essencial para as respostas sexuais dos órgãos genitais e reprodutores.
Interage com o sistema imunitário do organismo.
Hipotálamo – área cerebral activada; muito rica, com uma série de núcleos; controla o SNA.
O hipotálamo anterior correlaciona-se com o sistema nervoso parassimpático; O hipotálamo
posterior correlaciona-se como sistema nervoso simpático.
Mediador de funções endócrinas, autónomas e comportamentais;
Integra a informação recebida acerca do estado corporal;
Antecipa algumas necessidades do corpo;
Fornece um conjunto coordenado de respostas neurais e hormonais;
É o principal regulador dos neurónios pré-ganglionares no SNA.
Regula a homeostase:
Os níveis de temperatura;
A composição do sangue;
Peso corporal;
A saciedade e início do comportamento alimentar;
Quantidade de líquidos no organismo (sensação de sede);
Várias glândulas endócrinas (tiróide, ovários, testículos);
Comportamento sexual e reprodução
Equilíbrio energético;
Libertação das hormonas pela hipófise (ex: cortisol)
A resposta dada pelos neurónios do hipotálamo aos sinais sensoriais tem três componentes:
61 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Os reflexos automáticos, não passam pela percepção, pelo córtex, pela formação de esquemas
de conhecimento; passam apenas pela medula (ex do reflexo do martelo). Não é controlável
voluntariamente, não é consciente. Ex: cão de Pavlov – a salivação não é consciente e
deliberada, daí a resposta “condicionada” e automática, que não passa pelo córtex.
Polígrafo: tem vários canais que medem a oscilação respiratória, a pressão arterial, a
saturação do sangue, o pulso, o reflexo cardíaco. Se a mão tiver seca, a corrente eléctrica
passa muito devagar porque necessita de um ambiente aquoso. Serve para investigar na área
da emoção, da atenção, e como detector de mentiras.
Sistema de neurotransmissores
Vias de sertononina (5-Ht), noradrenalina/norepinefrina (NA) e GABA (ácido-gama-
aminobutírico).
Existem fármacos que inibem a recaptação de certos neurotransmissores, aumentando os
mesmos nas sinapses.
5-Ht (origem nos 9 núcelos de rafe) Regula o comportamento (temperatura corporal; fome;
atenção; dor; humor; comportamento emocional; sono).
Aumento da actividade: ansiedade generalizada
Tratamento:
Ansiolítico – benzodiazepinas [xanax, diazepam] diminuem instantaneamente a serotonina e
potenciam/aumentam o efeito inibidor do GABA. Causam dependência.
Ansiolíticos atípicos – demoram semanas a actuar mas não provocam dependência
Diminuição da actividade: ansiedade, pânico.
Tratamento:
Antidepressivos tricíclicos: inibem a recaptação de noradrenalina e serotonina, aumentam a
quantidade de 5-HT e NA disponíveis para a transmissão sináptica.
Inibidores da recaptação de serotonina (ISRSs): prolongam a acção da serotonina libertada nos
receptores, inibindo a sua recaptação ou degradação.
Em todo o sistema nervoso existem receptores que funcionam como fechaduras para
determinadas chaves; não temos sempre o mesmo número de receptores. Por exemplo, se
ingerirmos um antidepressivo durante 15 dias, há um aumento dos receptores; se pararmos,
há os receptores, mas não há a substância.
Áreas subcorticais:
Amígdala: regula a excitação cortical e a resposta neuroendócrina a estímulos inesperados e
ambíguos. Está envolvida na aprendizagem emocional (medo, raiva) e na memória de
sensações desagradáveis. É responsável pelas nossas sensações de ansiedade e medo e é onde
os sinais de perigo ganham conotação afectiva e representação de ameaça para o indivíduo;
controla as reacções emocionais e condutas agressivas.
A activação excessiva da amígdala está correlacionada com o grau de depressão; pode estar
implicada na tendência para ruminar as memórias negativas.
Lesões da amígdala estão associadas à redução da emocionalidade, atenuam bastante suas
reacções a estímulos condicionados e incondicionados que sinalizam perigo.
A amigdalectomia bilateral pode reduzir profundamente o medo, afectar a agressividade e a
memória.
A estimulação da amígdala pode levar a um estado de vigília ou atenção aumentada; à
ansiedade e ao medo, mais sensível a sensações de medo, de ameaça.
Relação inversa significativa entre o volume total do hipocampo e o período de tempo em que
a depressão não foi tratada.
Os doentes com depressão registam um fluxo de sangue acrescido:
Amígdala;
Córtex médio esquerdo e orbital lateral;
Córtex pré-frontal ventrolateral.
40% das pessoas com AVC ficam com depressão pós-AVC, tendendo a ser de pouca duração.
Numa parcela destes casos, as áreas lesadas estão localizadas no córtex pré-frontal anterior
esquerdo ou nos gânglios de base. A recuperação motora e a reabilitação psicossocial é muito
pior quando o paciente continua deprimido. O paciente pode sofrer, mais raramente, de
euforia e desinibição pós-AVC.
A depressão é mais comum nas mulheres. Os homens têm maneiras diferentes de lidar com a
situação (acção - agressividade, drogas, etc.); as mulheres têm muita influência das hormonas.
Afecta anualmente 5% da população mundial.
A depressão é comum em doenças nas quais as conexões entre o córtex frontal e os gânglios
de base estão afectadas (ex. Parkinson).
Tratamentos do humor:
Electroconvulsoterapia (ECT) actividade convulsiva no lobo temporal – muito violento,
aconselhado em caso de tendências extremas de suicídio. Vantagem: o paciente rapidamente
encontra alívio na 1ª sessão; Desvantagem: o paciente sofrerá de perda de memória.
Estimulação magnética transcortical.
Lítio - alterações nos neurónios.
Anti-depressivos – tratamento mais demorado
Amígdala
Transtornos de ansiedade
A ansiedade é adaptativa, mobilizadora de recursos; mas é não adaptativa quando em excesso,
originando transtornos de ansiedade, impedindo as pessoas de levarem a sua vida
normalmente.
Atenção:
Essência da atenção é constituída pela focalização, concentração e consciência.” (Wiliam
James, 1890). Selectividade do processamento. Implica a negligência de alguns com vista a
lidar eficazmente com outros.
É impossível reduzir a uma única região do cérebro.
Indispensável actividade sensorial, linguagem, aprendizagem e memória
Propriedade do sistema cognitivo. Permite processar com sucesso alguns recursos de
informação com exclusão de outros, com o objectivo de alcançar algumas metas e excluir
outras, com papel da consciência e dos processos de decisão.
Funções:
Orientação – para a fonte
Alerta - manutenção de um estado de sensibilidade aos estímulos.
Execução - monitorização
Características do processo atencional:
Mecanismo que selecciona a informação (filtro)
Capacidade limitada (nº de tarefas). Há pessoas mais capazes que outras. Para desempenhar
duas tarefas ao mesmo tempo, uma delas tem de estar no mínimo semi-automatizada.
Mecanismo de alerta (preparação para o processamento dos estímulos, vigilidade)
Atenção aberta
Atenção encoberta – sem mudança aberta dos olhos e cabeça
Teorias da atenção
• Modelos de afunilamento (funil – boca larga, saída estreita)
– Teoria do filtro
– Teoria da atenuação
– Teoria da selecção tardia
• Modelos de capacidade
Modelos de afunilamento
Só uma parte dos estímulos captados pelos órgãos sensoriais é processada.
Paradigmas da atenção selectiva:
As tarefas de atenção selectiva foram fundamentais para o desenvolvimento destes modelos.
Envolvem a focagem numa tarefa com exclusão dos estímulos irrelevantes
Críticas
Dois estímulos podem ser processados integralmente ao mesmo tempo
Moray (1959) demonstra que sujeitos numa experiência de audição dicótica são capazes de
reconhecer o seu próprio nome se introduzido no ouvido “não atendido”.
Treisman (1960) experiência de audição dicótica mostra que os sujeitos conseguem “destacar”
parte do significado de uma mensagem no ouvido “não atendido”
Gray & Wedderburn (1960) – estudantes de Oxford. Podemos misturar as mensagens de um
lado e do outro, mesmo tentando ouvir só de um ouvido:
– Ouvido atendido -Pobre 2 Jane
– Ouvido não atendido -5 Tia 9
– Resposta dada: “Pobre Tia Jane 5 2 9”
(Von Wright et. al, 1975) – emparelha palavras com choques eléctricos na pele, induzindo ao
medo. Utilizando a técnica de Cherry, quando as palavras eram apresentadas no ouvido não
atendido, o reflexo vegetativo acusava, sem controlo possível, mesmo com ausência de
consciência sobre o que era ouvido, sem conseguir reproduzir a palavra. Mostra que algum
significado era processado antes da consciência do significado do estímulo.
Efeito de Stroop; tarefa: nomear a cor em que está impressa a palavra; efeito: TR mais elevado
se o significado da palavra compete com a cor.
De acordo com o modelo de Broadbent deveríamos ser capazes de atender à cor e ignorar a
palavra.
Os doentes esquizofrénicos não conseguem ter uma atenção selectiva igual a nós, tendo um
péssimo resultado na tarefa de Stroop.
Estimulação:
Relacionada com a ansiedade
Aumenta o grau de emocionalidade, intensidade das emoções
WCST- Wisconsin Card Sorting Test: avalia o raciocínio abstracto e a habilidade para
trocar estratégias cognitivas como resposta a eventuais modificações ambientais.
Utilizado como teste do funcionamento frontal e pré-frontal;
Trail Making Test: objectivo de ligar os pontos de 25 alvos consecutivos e terminar o
teste o mais rápido possível;
Teste Stroop de Cores e Palavras: avaliar a presença de comprometimentos pré-
frontais, se o indivíduo apresenta uma dificuldade para inibir respostas previamente
aprendidas.
Lesões:
Lesão parietal direita – negligência hemi-espacial – heminegligência esquerda, espaço contra-
lesional.
Só comem os alimentos da parte direita do prato.
Para copiar um objecto, negligenciam a parte esquerda:
No entanto as fronteiras destas áreas não estão claramente definidas. E cada área pode estar
envolvida em mais do que uma função da linguagem.
Segundo alguns estudos há vias mais rápidas, passando por menos centros conceptuais devido
à prática. (leitura).
Afasia de Broca
Sabemos hoje que a afasia de Broca é um síndrome heterogéneo. Nas perspectivas actuais,
esta área não é considerada como um centro de compreensão auditiva.
A Afasia de Broca persistente – lesão extensa: lesão da Área de Broca (Circunvolução Frontal
Inferior esquerda – área 44 e 45 de Brodmann); campos frontais vizinhos; substância branca;
insula e gânglios da base.
Uma lesão limitada à Área de Broca é uma forma moderada e transitória da afasia: dificuldade
em nomear palavras, desintegração fonémica, afemia, mas há recuperação. Se afectar zonas
da ínsula e dos GB, já não.
Características:
Distúrbio mais motor
Repetição perturbada;
74 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Afasia de Wernicke
Lesão na região posterior do córtex auditivo (temporal) de associação esquerda (área 22 de
Brodman).
Características
75 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Exemplo de discurso: “Well this…mother is away here working her work out
o´here better, but when she’s looking, the two boys looking in the other part. One
their small tile into her time here. She’s working another time because she is
getting, too.
Afasia de condução
Lesão do feixe arqueado (conecta e articula Broca e Wernicke), da circunvolução temporal
superior esquerda e do Lobo Parietal Posterior, podendo estender-se ao córtex auditivo
esquerdo, à insula e substância branca.
Caracterísiticas:
Produção fluente com alguns defeitos de articulação;
Compreensão intacta ou muito preservada;
Repetição perturbada – a principal dificuldade;
Compreendem frases simples e produzem uma fala inteligível mas, tal como os
pacientes com a. de Broca ou de Wernicke, não conseguem repetir, produzem
parafrasias fonéticas (ex: dizer vaca em vez de cavalo) e têm dificuldades em nomear
objectos.
Destrói as ligações feedback e feedforward entre os córtices temporal, parietal, insular e
frontal.
Este sistema inter-relacionado parece ser parte da rede que reúne os fonemas em palavras e
coordena a articulação.
A activação da circunvulação angular na leitura não foi comprovada no PETscanning, pois esta
só tem função de integrar o padrão visual com o equivalente fonético – integracção visuo-
auditivo.
Há vários caminhos para a leitura (Bottom-up; Top-down)
Afasias
Privilegia-se mais a análise qualitativa e descrição do sintoma. Há formas de reabilitação e
remediação na afasia.
Aguda – evolui em semanas, são lesões funcionais extensas, com perturbações associadas da
consciência, atenção e conhecimento; exige internamento.
Crónica - evolui ao longo dos meses (6 meses após a lesão), a reorganização funcional reduz o
défice.
Sistemas de classificação das afasias:
Segundo a modalidade / categorias. Ex: sensorial-motor; ou expressivo/receptivo
Base anatómica: síndromes “anterior” versus “posterior” ex: subcortical; talâmica.
Défice linguístico: afasia fluente e não fluente; velocidade de produção; dimensão da
frase; etc.
Diagnóstico
Observação e análise qualitativa do discurso espontâneo (erros fonológicos,
lexicais/semânticos, sintácticos, fluência, produções repetitivas patológicas – automatismo da
fala, ecolália, perseveração, etc.).
Pode haver sindromas confundíveis com perturbações psicopatológicas (ex: esquizofrenia).
Testes neuropsicológicos
Avaliar a gravidade do défice afásico
Analisar a estrutura neuropsicológica e neurolinguística dos défices do paciente com
vista à definição da bateria de testes e do planeamento do tratamento.
Analisar o efeito da afasia no desempenho comunicativo do paciente em condições
ambientais.
Reabilitação
78 Neuropsicologia – Resumo da matéria
Terapias que visam directamente a recuperação das funções deficitárias – exposição e prática
repetida. Se tiverem sucesso, o tratamento pode funcionar promovendo a reorganização
neuronal.
Diagnóstico é crucial – identificar a terapêutica mais adequada ao paciente individual .
Regimes terapêuticos flexíveis que permitam estabelecer objectivos variáveis e adequados às
diferentes fases da reabilitação.