Guia A Fome No Mundo Ed. 01 PDF
Guia A Fome No Mundo Ed. 01 PDF
Guia A Fome No Mundo Ed. 01 PDF
GUIA
MUNDO
FOME
UM PROBLEMA
UNIVERSAL
Não importa a cultura, a religião ou a etnia: a fome nunca vai ser
bem-vinda e o medo de senti-la é um dos sentimentos mais temi-
dos pelas pessoas. Apesar disso, o ser humano convive com esse
mal desde seus princípios e ainda não conseguiu erradicá-lo. Mas se
ninguém é a favor da fome, por que ela ainda persiste em assombrar
a humanidade?
Para que seja possível combater a falta de alimentos, é preciso
conhecer as causas desse problema. Ora causado por guerras e con-
flitos políticos, ora por fenômenos naturais imprevisíveis, o fato é
que a fome é um dos vilões mais mortais da história humana.
Este guia desbrava o triste universo daqueles que, em diversas
partes do mundo, não têm o que comer, para ajudar você a entender a
complexidade desse problema. Nas próximas páginas, você também
descobre como cada pessoa pode colaborar para evitar o desperdício
e melhorar a distribuição de alimentos no Planeta.
Os editores
Sadik Gulec / Shutterstock.com
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CAPÍTULO 1
A FOME E O SER HUMANO
Conheça as marcas profundas da fome em
CAPÍTULO 6
A LUTA BRASILEIRA
A linha do tempo da fome no Brasil e a
perspectiva de progresso para os próximos anos
80
CAPÍTULO 7
FAÇA SUA PARTE
Conheça as atitudes que cada um pode tomar
para reduzir o desperdício e melhorar a
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Sadik Gulec / Shutterstock
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G971
ISBN 978-85-432-1325-5
06/05/2016 06/05/2016
HISTÓRIA
A FOME
E O SER HUMANO
AINDA HOJE, 800 MILHÕES DE PESSOAS PASSAM FOME NO
MUNDO. ENTENDA OS MOTIVOS POR TRÁS DESTE QUADRO
Shutterstock
C
ERCA DE 800 MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO ou seja, a relação entre peso e
todo sofrem com a fome, segundo a Orga- altura, desta pessoa fica abaixo
nização das Nações Unidas (ONU). “Mais de 18,5%, nível mínimo para ser
do que falta de comida, a fome é uma injus- considerado saudável.
tiça terrível”, afirma o secretário-geral da entida- Mas o termo é mais usado para
de, Ban Ki-moon. retratar casos de má nutrição ou
A palavra fome vem do latim faminem, que privação total de alimentos entre
significa a situação na qual a alimentação que o populações, normalmente devi-
indivíduo consome não é suficiente para o gasto do à pobreza, conflitos ou insta-
energético das atividades básicas diárias. Em mui- bilidades políticos, ou condições
tos casos de pobreza extrema, uma pessoa fica dias agrícolas adversas.
sem ter o que comer ou ingere pouca quantidade O tema não é novo para a
de alimento. O Índice de Massa Corporal (IMC), humanidade. Os primeiros ca-
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A FOME NO MUNDO
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cimento de comida para a população.
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HISTÓRIA
Graziano foi o responsável pelo desenho e a im- um sobre Estudos Latino-Americanos, pela University
plementação, em 2003, do programa Fome Zero, que College of London, e o outro sobre Estudos do Meio
obteve grande êxito no Brasil. Antes de ser eleito para Ambiente, pela University of California, em Santa Cruz,
o posto máximo da FAO, Graziano foi diretor-geral ad- Estados Unidos.
junto e representante da FAO para América Latina e Em junho do ano passado, ele foi reeleito para o cargo
Caribe entre 2006 e 2011. É formado em agronomia de diretor-geral da FAO, sendo o único candidato ao cargo
com mestrado em economia rural e sociologia pela – ele foi reconduzido com o voto de 177 dos 182 países
Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em presentes na 39ª conferência da entidade, em Roma, Itá-
ciências econômicas pela Universidade Estadual de lia. Eleito pela primeira vez em junho de 2011, Graziano
Campinas. Além disso, concluiu dois pós-doutorados, ficará no cargo por mais quatro anos, até julho de 2019.
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VOCÊ SABIA?
Muitos alimentos consumidos hoje foram inven- Borden patenteou um méto-
tados para “matar a fome” de soldados durante as do para fabricar leite condensa-
guerras, momentos em que a falta de recursos e do em 1856.
alimentos é problemática. Os M&Ms, por exemplo, A novidade ficou meio esquecida até
tão festejados por adultos e crianças de todo o mun- o início da Guerra de Secessão (1861-1865),
do, surgiram para alimentar soldados. E não surgi- quando o exército dos estados do norte incluiu o
ram nos Estados Unidos – pelo menos não com este produto na ração das tropas.
nome. Eles eram usados pelas tropas espanholas Quando voltavam para casa de licença, os solda-
durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). dos contavam às famílias sobre o novo tipo de leite.
O empresário americano Forrest Edward Mars O produto vendeu tanto que a fábrica de Borden
ficou sabendo das pelotas de chocolate envolvidas mal conseguia atender às encomendas.
numa casca dura açucarada, que impedia o calor de Bem antes disso, na década de 1860, o impera-
derreter a guloseima e, inspirado pela ideia, criou os dor francês Napoleão III, sobrinho de Napoleão Bo-
confeitos M&M’s, nome originado das iniciais dos naparte, ofereceu um prêmio a quem descobrisse
sobrenomes de Mars e de seu sócio, Bruce Murrie. uma alternativa barata para a manteiga – na época,
Em 1941, o produto já estava no mercado, mas um produto caro e escasso. Até hoje os historiado-
ganhou impulso quando o exército americano pas- res discutem se o imperador fez isso para facilitar a
sou a incluir os chocolates na alimentação dos solda- vida dos franceses pobres ou para abastecer suas
dos da Segunda Guerra. forças armadas, às vésperas da Guerra Franco-Prus-
Com o leite condensado também foi assim. siana (1870-1871). Seja como for, o químico Mè-
Procurando uma forma de prolongar o armazena- ge-Mouriès apresentou a margarina, em 1869,
mento do leite, reduzir seu volume e contornar levando o prêmio de Napoleão III. E a margarina
a falta de refrigeração, o inventor americano Gail também foi à guerra.
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A FOME NO MUNDO
QUEM DISSE?
“Quem tem fome, “Ainda há gente que “Deus é quem nutre
tem pressa” não sabe, quando todos os homens, e
Herbert José de Sousa, se levanta, de onde o Estado é quem os
conhecido como Betinho, virá a próxima reduz à fome”
criador do projeto Ação da
Cidadania contra a Fome, a refeição, e há Walter Benjamin , filósofo e
crianças com fome sociólogo judeu-alemão
Miséria e pela Vida
que choram”
“A alma da fome é Nelson Mandela, líder político
e ex-presidente
política!” da África do Sul
Do mesmo Betinho
“A fome e a
miséria terão que Wikipedia/ domínio público
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estar em todos os
debates, palanques e
comícios”
Betinho “Fome e guerra não
obedecem a qualquer
“No mundo governa lei natural - são
“Um homem com
um czar impiedoso: criações humanas”
fome não é um
fome é o seu nome” Josué de Castro, escritor e
homem livre” Nikolay Nekrasov, político brasileiro, ativista do
Robert-Louis Stevenson, escritor russo combate à fome
escritor escocês
“Se há no mundo
“Quem tem fome
um ocioso, deve
não tem escolha. O
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haver também
seu espírito não vem
alguém prestes a
de onde ele gostaria,
morrer de fome”
mas da fome”
Leon Tolstoi, escritor russo
Max Frisch, escritor suíço
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HISTÓRIA
LINHA DO TEMPO
476 A.C. 1.200 ção e a distribuição de alimentos
nas regiões que não lhes davam
IMPÉRIO ROMANO LONDRES suporte político.
Os primeiros casos de fome de Superpopulação, colheitas ruins O canibalismo é relatado na
que se tem notícia datam de e epidemias ajudam a entender Hungria durante a fome de 1505
436 a.C., quando milhares de os períodos de fome na Europa e 1598 – pais chegavam a se ali-
romanos famintos chegavam durante a Idade Média. As cri- mentar com a carne de seus pró-
até mesmo a se afogar no Rio Ti- ses de escassez de alimentos prios filhos mortos, para garantir a
bre tamanha a fome e a falta de foram causadas principalmente sobrevivência. Em 1600, meio mi-
perspectiva. Para os imperadores, pela rigidez do sistema feudal, lhão de russos morreram de fome,
o controle sobre o alimento que combinado com as precárias quando lavouras foram destruídas
chegava a Roma e sua distribui- práticas culturais e aumento a mando do governo. Na Ásia, a
ção entre a população eram for- excessivo da população urbana. fome na Índia em 1702-1704 ma-
A falta generalizada e contínua tou cerca de 2 milhões.
mas de dominação.
de alimentos provocou a des-
nutrição na população e abriu 1845-1849
1064-1072 as portas para a proliferação
de doenças endêmicas como a IRLANDA
EGITO peste negra. Em 1235, londri- O episódio que ficou conhecido
nos chegavam a se alimentar como “A grande fome da bata-
de casca de árvore para sobrevi- ta” aconteceu na Irlanda, quan-
ver. O saldo de mortos é de 20 do um fungo destruiu as folhas
mil pessoas só em Londres. e os tubérculos, fazendo com
que as batatas apodrecessem
1.300 devido à praga antes mesmo de
serem colhidas. Praticamente
ITÁLIA toda a cultura de batata foi des-
Na península itálica, as piores truída durante quatro anos con-
crises de fome atingiram princi- secutivos. A batata era um item
palmente a população rural do básico da alimentação irlande-
norte. Além da má distribuição sa e a falta dela provocou fome
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A FOME NO MUNDO
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ser explicada por uma série de er-
ros políticos. Durante o programa
comunista “Grande Salto Adiante”,
SELO RUSSO DE 1974 ILUSTRA O CERCO À CIDADE lançado por Mao Tsé-tung, a agri-
cultura foi organizada em comuni-
russa de Leningrado, hoje chamada São Petersburgo
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HISTÓRIA
LINHA DO TEMPO
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A FOME NO MUNDO
Quase 260 mil somalis morre- 2016 usa a fome e a miséria como ar-
ram de fome entre outubro de mas. De acordo com a organiza-
2010 e abril de 2012. A fome COREIA DO NORTE ção Médicos Sem Fronteiras, pelo
afetou quase quatro milhões de Este ano, enquanto a Coreia do menos 28 pessoas já morreram
pessoas, metade da população Norte celebrava o que classificou de fome em Madaya, uma das
do país, e foi provocada princi- como um teste exitoso da bomba cidades sitiadas, desde dezem-
palmente por uma grave seca no de hidrogênio (ou bomba H, uma bro do ano passado. Fotografias
Chifre da África, agravando a ca- variante mais poderosa e destru- que circulam pelas redes sociais
tastrófica situação da segurança tiva do que as bombas nucleares captam pessoas comendo grama,
no país, que está em guerra civil tradicionais), a ONU lançava um terra e carne de gato.
desde a queda do presidente alerta dizendo que milhares de A guerra civil na Síria, que ma-
Siad Barre, em 1991. crianças estão morrendo de fome tou mais de 220 mil pessoas, já
No período, a Organização das e de diarreia porque o país não dura quase quatro anos e não há
Nações Unidas (ONU) decretou consegue tratar a água e cultivar a indicações de que o conflito es-
que o país vivia uma “epidemia terra. Ano após ano, organizações teja próximo do fim. Os esforços
de fome”. de direitos humanos denunciam para promover um diálogo entre
Enquanto muitos países do a piora do cenário na Coréia do representantes do regime do di-
mundo enfrentam crises de se- Norte. A ONU faz reiterados pedi- tador Bashar al-Assad estão para-
gurança alimentar, com grande dos para que o líder Kim Jong-un lisados. Os protestos contra o re-
número de pessoas famintas e seja levado a julgamento por cri- gime para tirar Assad do poder se
incapazes de obter alimento su- mes contra a humanidade. transformaram em uma violenta
ficiente, raramente as condições guerra civil sectária que dividiu
atendem aos critérios formais da 2016 ainda mais o país. A oposição sí-
comunidade humanitária para ria moderada perdeu espaço com
designar uma epidemia. O ter-
SÍRIA o avanço de diversos grupos ex-
mo foi utilizado na Somália, por Mais de 400 mil pessoas vivem tremistas, sendo o Estado Islâmi-
exemplo, em 1991 e 1992, e de- em zonas sitiadas e o governo co o mais poderoso deles.
pois não mais, apesar de vários
períodos de seca prolongada e
outros problemas terem atingido
o país nos anos seguintes.
A epidemia de fome pode ser
declarada apenas quando certas
medidas de desnutrição, morta-
lidade e fome são atendidas. São
elas: pelo menos 20% das famílias
em uma área enfrentando falta de
alimentos extrema, com uma capa-
Melih Cevdet Teksen / Shutterstock
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CORPO FAMINTO
A BIOLOGIA
DA FOME
QUANDO SE DEPARA COM A FALTA DE COMIDA, O CORPO ACIONA
SEUS MECANISMOS DE DEFESA. MAS NEM SEMPRE ISSO É O
SUFICIENTE PARA GARANTIR A SOBREVIVÊNCIA
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F
OME SIGNIFICA CARÊNCIA ALIMENTAR E UMA SENSA- Sobre a quantidade, a equa-
ção incessante de estômago vazio que decor- ção é simples: o corpo preci-
re justamente da não ingestão de alimentos. sa consumir diariamente uma
A energia proveniente dos alimentos em quantidade de calorias no míni-
forma de calorias é a carga de que o corpo pre- mo igual a que é gasta nas ati-
cisa para manter sua sustentação e saúde. E para vidades rotineiras. A Organiza-
saciar a necessidade de alimento do corpo, é pre- ção das Nações Unidas (ONU)
ciso atenção a duas medidas: quantidade e quali- e a Organização Mundial da
dade da comida. Saúde (OMS) definem que, por
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A FOME NO MUNDO
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dia, cada pessoa precisa consumir, no mínimo, Castro também afirmou
2.500 calorias. que “existem duas maneiras
A fome que decorre da baixa ingestão de calo- de morrer de fome: não comer
rias recebe o nome de global, energética ou caló- nada e definhar de maneira ver-
rica. No livro “O que é fome” (Brasiliense, 1998), tiginosa até o fim, ou comer de
Ricardo Abramovay define a fome calórica como maneira inadequada e entrar
“um fenômeno quantitativo, que pode ser defi- em um regime de carências ou
nido como a incapacidade de a alimentação diá- deficiências específicas, capaz
ria fornecer um total calórico correspondente ao de provocar um estado que
gasto energético realizado pelo organismo”. pode também conduzir à mor-
Mas não é apenas a quantidade de calorias que te”. Para ele, “mais grave que a
define um corpo bem alimentado. Para isso, é fome aguda e total, devido às
preciso que o corpo receba, com frequência, de- suas repercussões sociais e eco-
terminados elementos nutritivos. nômicas, é o fenômeno da fome
A variedade de alimentos consumidos pelo ho- crônica ou parcial, que corrói
mem deve conter seis classes de nutrientes: carboi- silenciosamente inúmeras po-
dratos, gorduras, proteínas, vitaminas, minerais e pulações do mundo”.
água. A falta deles provoca o mau desempenho do
organismo, que favorece distúrbios e lesões.
Para este tipo de fome, mais discreta que a
calórica, deu-se o nome de parcial, específica ou NÚMEROS
oculta. “É este um dos capítulos mais trágicos
da patogenia alimentar: o dos estados de fome DE QUE SEU CORPO PRECISA
oculta, mal caracterizados, mas que na verda-
de conduzem o organismo a um estado de in- 2.500
é o que o corpo precisa consumir de calorias diárias
capacidade relativa, de baixa produtividade e
de fraca resistência a todo um cortejo de outras para manter seu bom funcionamento
doenças que se vêm enxertar sobre o organismo
depauperado”, destacou Josué de Castro, um 6
são as classes de nutrientes necessários ao bom
dos grandes especialistas brasileiros no tema,
em sua obra Geopolítica da fome: ensaio sobre funcionamento do organismo: carboidratos,
os problemas de alimentação e de população do gorduras, proteínas, vitaminas, minerais e água
mundo (Brasiliense, 1957).
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CORPO FAMINTO
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A FOME NO MUNDO
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CORPO FAMINTO
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A FOME NO MUNDO
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10 DIAS SEM COMIDA 20 DIAS SEM COMIDA
Se estiver recebendo água, o organismo de O corpo começa um processo de canibalis-
um adulto consegue seguir em completa mo interno. O organismo passa a consumir
abstinência de alimentos, utilizando as re- as próprias proteínas, de tecidos e órgãos,
servas de caloria do próprio corpo. para suprir sua necessidade de energia.
Corpo perde 10% do total de seu peso.
60 DIAS SEM COMIDA Batimentos cardíacos caem para
A morte é inevitável e acontece em 60 por minuto.
coma ou durante uma convulsão. Pressão arterial aumenta.
Começa a debilitação física e mental.
META DO MILÊNIO ALCANÇADA META DO MILÊNIO NÃO ALCANÇADA, META DO MILÊNIO NÃO ALCANÇADA, COM DADOS INSUFICIENTES OU
COM PROGRESSO LENTO FALTA DE PROGRESSO OU DETERIORAÇÃO NÃO ALCANÇADOS
FONTE: FAO/ ONU
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CORPO FAMINTO
MAPA DA OBESIDADE
5–14.9
15–24.9
>25
Os números falam por si: há, hoje, no mundo, com sucesso a fome, mas regis-
2 bilhões de pessoas subnutridas e quase o mesmo traram, ao mesmo tempo, um
número de obesos. Isso significa que quase dois aumento do número de pesso-
terços da população mundial se alimentam mal – as acima do peso. E isto tem
com consequências negativas não somente para a explicação: os hábitos alimen-
saúde dos indivíduos, mas também para os siste- tares caminham cada vez mais
mas de saúde nacionais e para a economia. em direção ao consumo de ali-
Anualmente, a Organização Mundial da Saúde mentos processados e altamen-
(OMS) estima que 2,5 milhões de pessoas morram te calóricos.
vítimas dos efeitos da obesidade. Com uma dieta Enquanto na Ásia, por
altamente calórica e pobre em nutrientes, o risco exemplo, o macarrão instan-
de pessoas com sobrepeso contraírem diabetes e tâneo pobre em nutrientes é
doenças cardiovasculares, como também diversos o que contribui para a má nu-
tipos de câncer, é muito maior do que em pessoas trição, em países industriali-
de peso normal. A OMS acredita que, atualmente, zados, cidadãos mais pobres
sobrepeso e obesidade provoquem mais mortes comem cada vez mais produ-
que a fome. tos prontos com alto teor de
A definição de sobrepeso se aplica a indivíduos gordura, açúcar e sal, como
com um índice de massa corporal (IMC) acima hambúrgueres, batatas fritas,
de 25. A partir do IMC 30, a pessoa é considera- cachorros-quentes, sopas ins-
da obesa. Adotado OMS, o IMC é determinado tantâneas, torradas e pizzas
pela divisão do peso do indivíduo por sua altura congeladas. O resultado: mui-
ao quadrado. tos obesos também sofrem de
Nos últimos anos, economias emergentes, subnutrição, já que ingerem
como a China e o México, conseguiram reduzir poucos nutrientes.
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A FOME NO MUNDO
CÉREBRO
Um cérebro saudável gasta 20% da energia
total do corpo. E energia é igual a comida.
Uma criança desnutrida fica para trás na
escola: ela não consegue se concentrar. Ou
fica mesmo de fora da escola porque tem
que trabalhar para tentar colocar comida
na mesa.
CORAÇÃO
Um coração saudável bomba sangue cons-
tantemente para todo o corpo. Um coração
subnutrido encolhe, literalmente. E, por
isso, ele tem que trabalhar mais para bom-
bar o sangue. A pressão alta é uma das con-
sequências da fome.
ÓRGÃOS VITAIS
Em um corpo saudável, o fígado e os rins
filtram toxinas e resíduos, enquanto o sis-
tema imunológico trabalha para combater
as doenças. Em uma pessoa que passa
fome, as toxinas se acumulam no fígado
e os rins falham. Um sistema imunológico
enfraquecido desmorona diante de qual-
quer doença.
PELE E OSSOS
Em uma pessoa saudável, a pele protege
o organismo de infecções e os ossos ficam
maiores e mais fortes conforme o corpo
cresce.
Em uma pessoa que passa fome, rachadu-
ras na pele se tornam portas de entrada
para infecções. Os ossos param de crescer
e, por isso, crianças desnutridas parecem
pequenas para a idade que têm.
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FOME DE QUÊ?
CAUSAS
DA FOME
DESPERDÍCIO, GUERRAS
E DESASTRES NATURAIS SÃO
OS PRINCIPAIS FATORES DA FALTA DE
ALIMENTOS, QUE PODE SER COMBATIDA
PELA PROMOÇÃO DA AGRICULTURA E
PELA DISTRIBUIÇÃO IGUALITÁRIA
Shutterstock
A
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALI- dutividade agrícola faz com que
mentação e a Agricultura (FAO) alerta pessoas invadam florestas, pas-
para a existência de cerca de 800 milhões tagens e áreas úmidas, criando
de pessoas que ainda passam fome no um espiral de degradação am-
mundo e 2 bilhões que sofrem de deficiências biental e miséria.
de micronutrientes. Em torno de 159 milhões de Identificar as causas da fome
crianças menores de 5 anos de idade apresentam é fundamental para desenvolver
elevados graus de subnutrição que impactam no programas de impacto efetivo.
crescimento natural que seria esperado para a sua “As crianças não podem colher
idade. E cerca de 50 milhões de crianças na mesma plenamente os benefícios da es-
faixa etária registram baixo peso para a sua altura. colaridade se não obtêm os nu-
Por que isso acontece? São muitas as razões trientes de que necessitam; e as
para a existência da fome. Algumas, inclusive, economias emergentes não vão
se interligam e retroalimentam. Não há comida atingir seu pleno potencial se os
suficiente no mundo para alimentar a todos. No seus trabalhadores estão cronica-
centro do problema estão a pobreza e as questões mente cansados porque suas die-
de poder, que impedem o acesso a alimentos nu- tas são desequilibradas”, alerta o
tritivos. Esta situação é agravada pela degradação diretor-geral da Organização das
constante dos solos, da água doce, dos oceanos e Nações Unidas para a Alimen-
da biodiversidade que, por sua vez, inviabilizam tação e a Agricultura (FAO), o
uma boa produção agrícola. O declínio da pro- brasileiro José Graziano da Silva.
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A FOME NO MUNDO
AS CAUSAS DA FOME
A extensão real da fome depende de uma combinação de fatores políticos, econômicos e naturais. Casos
de fome podem ser originados por políticas públicas ineficientes ou uma logística inadequada para a
distribuição de alimentos. Em alguns países, a pobreza e a violência é que atrapalham os processos
agrícolas e a distribuição de alimentos.
Inundações, secas, erupções vulcânicas, terremotos e outros desastres figuram entre as causas naturais
da fome. Por outro lado, guerras, conflitos civis, má gestão de recursos e outros eventos similares são
vistos como razões artificiais, mas também capazes de desenvolver a fome dentro de uma região.
De maneira resumida, as causas da fome podem ser assim definidas:
2 SOCIAIS – Pessoas pobres e famintas não têm condições de se fazer ouvir e proteger
seus próprios interesses, exigindo acesso à educação, à saúde, ao crédito e ao emprego.
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FOME DE QUÊ?
Shutterstock
que será necessário aumentar em
Com 1/4 do total desperdiçado seria possível 60% a produção de alimentos
alimentar todas as vítimas de fome crônica no para dar conta das necessidades
mundo, afirma o responsável pela infraestrutura futuras da humanidade, um pata-
mar insustentável para o planeta.
rural da FAO, Robert van Otterdijk Para a coordenadora de um
relatório da FAO sobre os cus-
tos do desperdício alimentar,
DESPERDÍCIO: 1/3 DA Mathilde Iweins, “as superfícies
PRODUÇÃO MUNDIAL DE agrícolas utilizadas para a produ-
ção de alimentos que não serão
ALIMENTOS VAI PARA O LIXO utilizados equivalem às do Cana-
A Organização das Nações Unidas para Agricultu- dá e da Índia, em conjunto”.
ra e Alimentação (FAO) aponta que o desperdício é As principais razões do desper-
ainda uma das principais razões da fome no mundo dício são, nos países industrializa-
e estima que as perdas globais dos alimentos che- dos, o excesso de normas e regras,
guem a 1,3 bilhão de toneladas por ano – o que re- devido a preocupações sanitárias
presenta cerca de um terço da produção mundial de ou estéticas e, nos países em de-
alimentos – e mais de US$ 750 bilhões em dinheiro. senvolvimento, as reduzidas ca-
Para o responsável pela infraestrutura rural da pacidades de armazenamento e de
FAO, Robert van Otterdijk, com um quarto do acesso ao mercado. O diretor da
total desperdiçado seria possível alimentar todas FAO na Ásia e Pacífico, Hiroyuki
as vítimas de fome crônica no mundo. Konuma, alertou que a inflação
Segundo o especialista, “reduzir à metade esse também é uma barreira. “Os altos
desperdício bastaria para aumentar a produção preços, que são 50% maiores em
alimentar mundial em 32% e para conseguir dar termos reais comparativamente
comida a 9 bilhões de pessoas, a população mun- há dez anos, aumentam a vulnera-
dial prevista em 2050”. Peritos da ONU calculam bilidade dos pobres”, disse.
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A FOME NO MUNDO
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COMO ALIMENTAR MAIS 2 terras cultiváveis a se explorar
BILHÕES DE HABITANTES? no mundo. Isso equivale a 16
milhões de quilômetros qua-
De acordo com dados da Divisão de População da drados, quase o dobro da área
ONU, em 2050 a população mundial deve atingir do Brasil, e a maioria destas áre-
8 bilhões de pessoas, na projeção baixa, 9 bilhões, as está espalhada pela África e
na projeção média, e 10 bilhões, na projeção alta. América Latina. Este número,
E para alimentar mais 2 ou 3 bilhões de habitan- segundo as estimativas, sem pre-
tes será essencial aumentar a produtividade agrí- cisar invadir áreas florestais ou
cola para combater a fome. Segundo cálculos da reservas naturais.
própria ONU, a produção agrícola mundial pre-
cisará crescer 60% para cobrir as necessidades de
alimentação de uma população mundial mais nu- CONSUMO
merosa, mais urbana e mais rica. Este crescimento EXCESSIVO
implica produzir 1 bilhão de toneladas de cereais e
200 milhões de toneladas de carne a mais por ano E INSUSTENTÁVEL
em relação aos níveis de 2007, segundo o relató- Para acabar com o problema da
rio de perspectivas agrícolas da Organização para fome cabe falar também em uma
a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas melhor distribuição da pro-
(FAO) e da Organização para a Cooperação e o dução agrícola. O que se tem,
Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2012. atualmente é, de um lado, a in-
Além disso, a expansão da área destinada à gestão excessiva de alimentos
produção de alimentos terá de ser de 144 milhões por grande parte da população
de hectares – portanto, falta de espaço, solo pou- mundial, em grande parte devi-
co fértil e escassez de água são problemas a se- do ao crescimento da classe mé-
rem enfrentados. Estimativas da ONU afirmam dia global. De outro, milhões de
que pode haver mais 1,6 bilhão de hectares de pessoas que não possuem acesso
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FOME DE QUÊ?
AGRICULTURA
à quantidade e qualidade suficientes de alimento
FAMILIAR
para suprir as necessidades básicas de energia de Nove em cada dez das 570 mi-
maneira saudável. lhões de propriedades agrícolas
Comparando a produção global de alimentos no mundo são geridas por famí-
de hoje com os números da fome, chega-se à con- lias, fazendo com que a agricul-
clusão de que poderia haver calorias e nutrientes tura familiar seja a forma mais
suficientes para todos no mundo. Basta dizer que predominante de agricultura
1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desper- existente e, consequentemente,
diçados ao ano e que um quarto deste total seria um potencial e crucial agente de
possível alimentar todas as vítimas de fome crôni- mudança para alcançar a segu-
ca do mundo, segundo a FAO. rança alimentar sustentável e a
Por que, então, os mecanismos das sociedades erradicação da fome no futuro.
para distribuir alimentos de forma mais equitativa A agricultura familiar produz
não funcionam? Por que a política de segurança ali- cerca de 80% dos alimentos no
mentar é mais complicada do que a realização de mundo, o que indica que ela é
um conjunto de acordos internacionais para trans- “vital para a solução do proble-
portar alimentos dos países com excedente para pa- ma da fome”, segundo o diretor-
íses deficitários? geral da FAO, José Graziano da
Estudiosos do tema área apontam a necessida- Silva, na introdução do novo
de de melhoria da condição de vida dos cidadãos, relatório da FAO de 2014 sobre
com maior acesso à renda e, consequentemente, o Estado da Alimentação e da
aos alimentos, aliada a um forte trabalho de edu- Agricultura (SOFA 2014).
cação alimentar e de conscientização sobre a qua- A agricultura familiar é tam-
lidade nutricional dos alimentos. bém guardiã de cerca de 75% de
De acordo com estudo “Desigualdade do Con- todos os recursos agrícolas do
sumo Alimentar entre Países: Mensuração do mundo e, portanto, é fundamen-
Impacto da Renda sobre a Segurança Alimentar tal para a melhoria da sustentabi-
e Nutricional”, publicado na revista venezuelana lidade ecológica e dos recursos.
“Espacios”, em 2012, o índice de desnutrição e Embora existam produção
profundidade da fome nos países é inversamente e rendimentos impressionantes
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A FOME NO MUNDO
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em terras geridas por agricultores familiares, mui- privado para trabalhar com os
tas propriedades de menor escala são incapazes de agricultores, no sentido de me-
produzir o suficiente para garantir meios de sub- lhorar os sistemas de inovação
sistência decentes para as próprias famílias. E os para a agricultura. Tais sistemas
pequenos produtores também estão entre os mais incluem todas as instituições e
vulneráveis às consequências do esgotamento dos atores que apoiam os agricul-
recursos e às alterações climáticas. tores no desenvolvimento e na
Sendo assim, a agricultura familiar tem um adoção de melhores formas de
triplo desafio. Primeiro: aumentar o rendimento trabalhar no mundo cada vez
agrícola para responder à necessidade mundial de mais complexo de hoje. A ca-
segurança alimentar e de uma melhor nutrição. pacidade de inovação deve ser
Segundo: garantir a sustentabilidade ambiental promovida em diversos ní-
para proteger o planeta e a própria capacidade veis, com incentivos para os
produtiva. Terceiro: aumentar a produtividade e a agricultores, investigadores,
diversificação dos meios de subsistência, a fim de prestadores de serviços de as-
sair da pobreza e da fome. De acordo com o rela- sessoria e cadeias de valor in-
tório SOFA, todos esses desafios implicam que os tegradas para interagir e criar
agricultores familiares precisam inovar. redes e parcerias que permitam
“Em todos os casos, os agricultores familiares partilhar informações, segun-
precisam ser líderes de inovação, pois só assim do o SOFA.
podem apropriar-se do processo e garantir que as Os responsáveis pelas políti-
soluções oferecidas respondam às necessidades”, cas devem considerar também a
afirmou Graziano. “A agricultura familiar é um diversidade da agricultura fami-
componente essencial dos sistemas alimentares liar em termos de tamanho, das
saudáveis de que precisamos para levar uma vida tecnologias utilizadas, e da inte-
mais saudável”, complementou. gração nos mercados, bem como
O relatório chama a atenção do setor públi- as configurações ecológicas e so-
co, das organizações da sociedade civil e setor cioeconômicas. Essa diversidade
27
FOME DE QUÊ?
Shutterstock
significa que os agricultores precisam de coisas dife- De fato, as propriedades agrí-
rentes dos sistemas de inovação. Ainda assim, todas colas com mais de 50 hectares,
as explorações agrícolas precisam de melhor gover- incluindo muitas de agricultores
nança, estabilidade macroeconômica, infraestru- familiares, ocupam dois terços
turas de mercado físicas e institucionais, educação, das terras agrícolas do mundo.
bem como de melhor investigação agrícola básica. Em muitos países de eleva-
O investimento público em pesquisas agríco- do rendimento e de rendimen-
las, bem como em serviços de extensão e assesso- to médio superior, as grandes
ria – que devem ser mais participativos – devem propriedades agrícolas, respon-
ser incrementados para enfatizar a intensificação sáveis pela maior parte da pro-
sustentável e acabar com as diferenças de rendi- dução agrícola, detêm também a
mento e produtividade da mão-de-obra que ca- maior parte das terras agrícolas.
racterizam os setores agrícolas em muitos países Mas, na maioria dos países de
em desenvolvimento. baixo rendimento e de rendi-
Embora os estudos agrícolas sejam feitos por mento médio inferior, as peque-
empresas privadas na maioria dos casos, o investi- nas e médias propriedades agrí-
mento do setor público é indispensável para asse- colas ocupam grande parte das
gurar a pesquisa em áreas de pouco interesse para o terras para o cultivo e produzem
setor privado – como pesquisa básica, culturas órfãs, a maioria dos alimentos.
ou práticas de produção sustentáveis. As pequenas proprieda-
des produzem uma proporção
DADOS SOBRE A maior de alimentos no mun-
do em relação à quantidade de
AGRICULTURA FAMILIAR terras de que usufruem, já que
Segundo o relatório da FAO, a maioria das pro- tendem a ter rendimentos mais
priedades agrícolas familiares é pequena. Oitenta elevados do que explorações
e quatro por cento das culturas de todo o mundo agrícolas com maiores dimen-
têm menos de dois hectares. No entanto, o tama- sões dentro dos mesmos países e
nho das propriedades agrícolas varia amplamente. ambientes agroecológicos.
28
A FOME NO MUNDO
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FOME DE QUÊ?
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A FOME NO MUNDO
Shutterstock
tanto dos produtores quanto
dos compradores”, afirma.
produção de alimentos precisa necessariamente Para ela, chegou a hora de
aumentar de forma dramática e rápida. E isto se- inovar. “É preciso produzir
ria possível com o uso de sementes melhoradas, mais em cada hectare, direcio-
biotecnologia e produtos de proteção (agrotóxi- nar a expansão de forma plane-
cos, por exemplo) para garantir fartas colheitas. jada para pastagens degradadas
Melissa Cooney, gerente de segurança alimen- e torná-las produtivas nova-
tar sustentável para a região da América Latina mente”, diz. Ela conta que, em
da empresa de biotecnologia Monsanto, afirma diversos locais do país, a pecu-
em artigo que o melhor para o Brasil é a aposta ária já vem sendo modificada.
em uma “agricultura intensiva sustentável”. “Cálculos conservadores indi-
“Se o Brasil tem muitas áreas por onde a agri- cam que aumentar as cabeças
cultura poderia se implantar, também existem por hectare na região do Cerra-
vantagens de conter essa expansão. A produção do liberaria uns 12 milhões de
extensiva leva o cultivo para cada vez mais lon- hectares de pastagem, que po-
ge da base das operações e da infraestrutura de deriam ser convertidos em pro-
transporte e de processamento dos alimentos, e dução de soja e outras culturas.
requer mais equipamentos no campo para plan- O Brasil tem rendimentos, na
lavoura de soja, comparáveis
aos dos EUA; a chegada de no-
vas tecnologias poderia resultar
em aumentos muito expressi-
vos de rendimento nesse setor,
nas próximas décadas. Existem
grandes oportunidades para in-
tensificação nas áreas já aber-
tas e preparadas, de maneira
360b / Shutterstock.com
sustentável e economicamente
eficiente, sem precisar expandir
para áreas nativas e sem preju-
A MONSANTO É LÍDER MUNDIAL NA PRODUÇÃO DE SEMENTES GENETICAMENTE
dicar o meio ambiente que su-
modificadas, os transgênicos porta essa produção”, defende.
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FOME DE QUÊ?
32
A FOME NO MUNDO
MEIO AMBIENTE
GRANDES CATÁSTROFES NATURAIS GERAM CRISES DE SEGURANÇA ALIMENTAR
“Nós sabemos o que funciona e temos as ferra- imigração em massa. “As pessoas vão se mudar se
mentas para pôr em prática o combate definiti- não tiverem o suficiente para comer”, enfatizou.
vo à fome, mas a mudança climática ameaça des- A mudança climática é um dos maiores respon-
truir nossos esforços”. A frase, do diretor-geral sáveis pelos atuais fluxos migratórios. Em 2014,
da FAO, José Graziano, assusta. Para ele, acabar calcula-se que houve 19,3 milhões de refugiados
com a fome e a extrema pobreza passa pela refor- climáticos no mundo segundo o último relatório
mulação do sistema de agricultura, que deve ser do Centro de Monitoramento de Deslocados In-
mais produtivo e adaptável a possíveis mudanças ternos (IDMC). Entre 2008 e 2015 foram registra-
climáticas. Para isso, é necessária boa vontade dos dos em média 26,4 milhões de deslocados por ano,
grandes líderes mundiais nas questões ambientais. o que representa quase uma pessoa por segundo.
Apenas entre 2003 e 2013, o setor agrícola per- “Hoje uma grande parte dos deslocados é for-
deu US$ 11 bilhões devido a desastres naturais, mada por populações afetadas por catástrofes na-
segundo a ONU. E um terço da população ainda turais, 87% das quais estão ligadas às mudanças
vive em áreas com alto risco de desastres naturais. climáticas e estima-se que o número de desloca-
Para Graziano, os agricultores familiares são dos climáticos até 2050 alcance os 250 milhões”,
particularmente vulneráveis. “Os seus meios de disse Stéphanie Rivoal, presidente da ONG Ação
subsistência são altamente dependentes do clima Contra a Fome, durante o evento “Desajustes cli-
e eles têm uma fraca capacidade de recuperação máticos, pobreza e refugiados”, realizado em Pa-
de desastres naturais, o que torna necessária a im- ris, em setembro do ano passado.
plementação de uma gestão holística do risco de Mesmo os eventos migratórios atuais na Euro-
desastres”, afirmou durante apresentação do rela- pa, vinculados às guerras, têm a mudança climáti-
tório da FAO para a agricultura. ca como pano de fundo. “A Síria teve, entre 2006 e
Durante a 21ª Cúpula do Clima das Nações 2011, a pior seca do país quando 75% das famílias
Unidas (COP-21), realizada no final do ano pas- perderam todas as safras, recursos hídricos foram
sado, a diretora do Programa Mundial de Alimen- confiscados e o êxodo rural piorou o conflito”,
tos da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmou Monique Barbut, diretora executiva da
Ertharin Cousin, foi outra a chamar atenção para Convenção de Nações Unidas de Combate à De-
o tema. Segundo ela, a ONU não pode cumprir sertificação. Os mais vulneráveis no conflito sírio
suas promessas para erradicar a fome sem um são aqueles que antes de sair do país já tinham se
acordo climático global e investimentos em medi- deslocado internamente por causas socioambien-
das preventivas, como sementes resistentes à seca
e a conservação da água para a agricultura.
“O aquecimento global causado pelo homem
está piorando as secas e as enchentes, que ame-
açam as fontes tradicionais de alimentos e isso
ocorre especialmente nos países pobres, onde
a fome já é um importante problema. A inse-
gurança alimentar, onde houver, é um desafio à
segurança”, disse.
Ela advertiu ainda que a fome causada pelas
Shutterstock
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FOME DE QUÊ?
tais, afirma a Agência para os Refugiados de Na- tado com um investimento de US$ 9 bilhões
ções Unidas (ACNUR). anuais para aumentar a produtividade agrícola
De acordo com relatório do Instituto Inter- e ajudar produtores a enfrentar os efeitos do
nacional de Política Alimentar (IFPRI), o efei- aquecimento global”, afirmou Gerald Nelson,
to adverso da mudança climática na produção um dos autores do relatório do IFPRI. “Me-
de alimentos deixará 25 milhões de crianças lhores estradas, sistemas de irrigação, acesso à
com fome em 2050 se não forem tomadas me- água potável e escolarização para crianças são
didas preventivas. “Este drama pode ser evi- essenciais”, acrescentou.
• DESMATAMENTO: para liberar espaço para as planta- • PROCESSAMENTO E EMPACOTAMENTO: de 8 a 10% das
ções, a derrubada da floresta e a queima da matéria emissões vêm do processo para embalar os produtos.
orgânica respondem por até 18% das emissões de
gases de efeito estufa. • REFRIGERAÇÃO NECESSÁRIA PARA MANTER OS PRO-
DUTOS À VENDA NOS MERCADOS: 2 a 4%.
• AGRICULTURA: os processos de plantação respondem
por 15%. • DESPERDÍCIO: todo alimento desperdiçado geral-
mente tem como destino um aterro sanitário, onde a
• TRANSPORTE: no processo, são emitidos mais 6% de decomposição da matéria orgânica responde por 3 a
gases de efeito estufa. 4% das emissões.
AS CATÁSTROFES E A FOME
Desastres naturais sempre trazem fome que ocorreram após catás- Na época, os danos econômicos foram
a fome como uma de suas princi- trofes ambientais. estimados em US$ 86,4 milhões. O to-
pais consequências. Um estudo tal de mortos chegou a 300 mil.
de 2014 da Organização Meteoro- CICLONE EM
lógica Mundial mostra que entre BANGLADESH (1970) ENCHENTES EM
1970 e 2012, 8,8 mil desastres BANGLADESH (1974)
naturais relacionados a mudanças O ciclone Bhola inundou muitas ilhas
no tempo e no clima levaram ao no Delta do Rio Ganges, destruindo Os danos causados na produção
óbito quase 2 milhões de pessoas inúmeros vilarejos e plantações. A cida- agrícola fez 1974 entrar para a his-
em todo o mundo. Abaixo, confira de mais afetada foi Thana de Tazumud- tória do país como “o ano da fome”.
alguns dos casos mais graves de din, onde 45% da população morreu. Foram mais de 28 mil mortos.
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A FOME NO MUNDO
Shutterstock
de mortos foi de 300 mil – muitos Em abril de 2008, o ciclone tropi-
apontam que a demora do governo cal Nargis, com ventos de mais de O BAIRRO LOWER 9TH WARD, EM NOVA ORLEANS
em agir e a leniência das outras na- 200 km/h, causou devastação ao
(EUA), ficou destruído após o Katrina
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FOME DE QUÊ?
tos de terra, matando 135 pessoas e recordes na produção de grãos. O nú- não foram suficientes para atender
deixando milhares desabrigadas. A mero de mortos ultrapassou 55 mil. à população e uma onda de saques
falta de comida fez a população sa- ocorreu no país, além de confrontos
quear supermercados. TERREMOTO NO HAITI por alimentos.
(2010)
FURACÃO IDA (2009) TERREMOTO NO NEPAL
Dez mil pessoas precisando urgente- (2015)
mente de alimentos foi o que a ONU A fome apareceu como consequ-
arindambanerjee / Shutterstock.com
contabilizou após a passagem do fu- ência do terremoto que atingiu o
racão Ida por El Salvador, destruindo país ano passado e já vitimou 4 mil
plantações na época da colheita. Os pessoas. O tremor de terra aconte-
mortos somaram mais de 140 pessoas. ceu justamente em um momento
crucial para a agricultura local: na
TEMPERATURAS EXTREMAS Um terremoto de magnitude 7,0 primavera, quando os agriculto-
na escala Richter atingiu o país, res colhem milho e trigo, além de
NA RÚSSIA (2010) provocando uma série de feridos, começar o plantio do arroz. Espe-
A onda de calor sem precedentes desabrigados e mortos. A água po- cialistas preveem que o país ficará
causou incêndios florestais e quedas tável, a alimentação e os remédios sem arroz por um ano.
AGROECOLOGIA: A AGRICULTURA
DO PONTO DE VISTA ECOLÓGICO
A agroecologia, estudo da agricultura em uma pers-
TERREMOTO EM PORTO PRÍNCIPE, OCORRIDO EM 2010, TAMBÉM AFETOU A
residência oficial do presidente pectiva ecológica, deve tornar-se uma parte impor-
tante das estratégias para erradicar a fome no mun-
do. O conceito prega o desenvolvimento sustentável
HAITI da agricultura, o progresso em direção a sistemas
A ONU também aponta problemas graves no alimentares inclusivos e eficientes e a promoção do
Haiti, onde epidemias, fome e ondas migratórias círculo virtuoso entre a produção de alimentos sau-
ameaçam os avanços conquistados após o terre- dáveis e a proteção dos recursos naturais.
moto que atingiu o país em 2010. Desde junho de O cultivo agroecológico – que na prática me-
2015, as secas e os efeitos do El Niño contribuíram lhora a produção alimentar e a economia dos
para aumentar a insegurança alimentar, que já afeta camponeses, além de proteger solo, água e clima
cerca de 3 milhões de haitianos. – poderia alimentar a população estimada em
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A FOME NO MUNDO
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predadores naturais, adubação verde de cobertu-
ra, culturas mistas, gerenciamento da pecuária e
uma série de práticas complementares. desenvolver. Naquela época, ainda com pouco
O maior estudo já realizado sobre o assunto conhecimento agrícola e dificuldades iniciais de
aponta um ganho aproximado de 79% na produ- produção, muitas famílias não souberam aprovei-
tividade da agricultura. O estudo da ONU cobriu tar o solo corretamente e provocaram o desmata-
286 projetos em 57 países em desenvolvimento, mento de parte da área.
representando uma área total de 37 milhões de A partir de 2000, os agricultores começaram a
hectares. Algumas das “histórias agroecológicas reorganizar a produção de forma sustentável. Em
de sucesso” podem ser vistas na África. Na Tan- parceria com a Universidade de Brasília, eles re-
zânia, onde as províncias do oeste eram conheci- ceberam treinamento em sistemas agroflorestais,
das como o “Deserto da Tanzânia”, técnicas de permacultura, adubação orgânica e manejo de
reflorestamento permitiram que 350 hectares de recursos hídricos. Como resultado, começaram a
terra fossem reabilitados em duas décadas e fize- transição para o modelo de produção orgânico,
ram com que a renda familiar aumentasse em cer- mais complexo e sustentável, e que agrega valor
ca de US$ 500 por ano. Técnicas similares estão aos produtos.
sendo aplicadas satisfatoriamente no Malauí. A produção de alimentos orgânicos a partir de
Os especialistas basearam suas conclusões nas vegetais e espécies nativas do Cerrado ofereceu
experiências de países como Cuba e Brasil, que
tem políticas pró-agroecologia, e nas experiências
de sucesso de centros de pesquisa como o Cen-
tro Mundial de Agroflorestamento em Nairóbi,
no Quênia. “Com mais de um milhão de pesso-
as famintas no planeta e o clima em crise bem à
nossa frente, devemos rapidamente aplicar estas
técnicas sustentáveis. O que precisamos hoje é
passar de projetos-piloto de sucesso para uma es-
cala de políticas nacionais. Esta é a melhor opção
que temos hoje. Não podemos deixar de usá-la”,
afirmou o relator especial para o direito à alimen-
tação da ONU, Olivier De Schutter.
No Brasil, a ONU destaca a experiência do
assentamento Colônia I, localizado em Padre
Bernardo, a 80 quilômetros de Brasília. O assen-
Shutterstock
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FOME DE QUÊ?
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ficos, curtos, agudos e de grande visibilidade a
situações prolongadas devido a uma combinação
de fatores, especialmente os desastres naturais e
uma alternativa sustentável ao desmatamento, conflitos, com as mudanças climáticas, crises de
evitando a poluição proveniente de fertilizantes preços e financeiras frequentemente entre os fato-
e pesticidas, bem como os seus efeitos negativos. res agravantes.
O uso de melhores técnicas de manejo do solo
e dos recursos hídricos, adaptadas às condições
ambientais locais, têm melhorado significativa- REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
mente as condições do solo, reduzido sua degra- Há três anos imersa numa violenta crise interna,
dação e melhorado a gestão da água. O assen- a população da República Centro-Africana en-
tamento virou um modelo produtivo capaz de frenta uma insegurança alimentar considerada ex-
gerar renda e oferecer melhor qualidade de vida trema. Em 2015, a produção das safras foi 57%
às famílias, preservando o meio ambiente e con- menor que a média de 2012, levando metade dos
servando a biodiversidade. centro-africanos a passar fome.
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A FOME NO MUNDO
AS GUERRAS POR
TRÁS DA FOME
Cerca de 795 milhões de pesso-
as passam fome no mundo e os
conflitos armados têm uma rela-
ção direta com essa situação, de
acordo com o Índice Global da
Fome (GHI) de 2015, que apon-
ta que 172 milhões de pessoas
sofrem atualmente com as con-
sequências de uma guerra.
“Conflitos como o da Síria,
Iraque e Sudão do Sul são os prin-
Christiaan Triebert / Shutterstock
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FOME DE QUÊ?
O MUNDO EM ALERTA
Shutterstock
GUERRAS E CONFLITOS
políticos: países e regiões
que correm o risco de
enfrentar a fome ou que
já encaram o problema
EUROPA
A Europa não está em guerra, mas é um
ponto de atenção constante pelo risco
de instabilidade política decorrentes
tanto do grande fluxo de refugiados e
imigrantes quanto de crescentes agi-
tações da sociedade civil, ataques ter-
roristas isolados, ou ainda da violência
contra refugiados e imigrantes.
LÍBIA
O país segue em guerra civil iniciada
em 2014. Após o assassinato do dita-
dor Muammar Kadhafi, a Líbia teve
duas eleições parlamentares, mas
elas não foram suficientes para conci-
liar os interesses dos diversos grupos
políticos e étnicos suprimidos por Ka-
ddafi ao longo de quatro décadas.
ISRAEL
Seguem as tensões entre Israel e os
territórios palestinos, com ataques
contra civis e confrontos armados.
TURQUIA
O exército turco vive uma espécie de
guerra civil, com ataques do exército
narrados de estupros, mutilações e ge a escala cinco – o nível máximo, local contra o Estado Islâmico e tam-
até canibalismo forçado. Três agên- considerado “catastrófico” –, nunca bém contra grupos curdos.
cias da ONU – a Organização das antes registrada no país. Segundo
Nações Unidas para Alimentação e a análise das agências da ONU, pelo EGITO
Agricultura (FAO), o Programa Mun- menos 30 mil pessoas estão viven- Grupos extremistas com base na
dial de Alimentos (PMA) e o Fundo do em condições extremas de fome. Península Sinai têm promovido ata-
das Nações Unidas para a Infância ques terroristas desde a derrubada
(UNICEF) – alertaram em um comu- IRAQUE do presidente islamita Mohammed
nicado conjunto que 3,9 milhões de Em 2011, oito anos depois de uma Morsi, em 2013.
sul-sudaneses vivem em “situação guerra que matou mais de 1 mi-
severa” de insegurança alimentar. lhão de pessoas, os Estados Unidos AFEGANISTÃO
A Classificação Integrada de Fases retiraram suas tropas do Iraque. O aumento da violência e a instabi-
de Segurança Alimentar (IPC) indi- Mas o conflito na vizinha Síria e o lidade política, resultante do fortale-
cou que a situação de uma parcela avanço do grupo terrorista Estado cimento da insurgência talibã, são
da população no Sudão do Sul atin- Islâmico foram o estopim para uma preocupantes no país.
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ATUALIDADE
A FOME NO
MUNDO HOJE
RELATÓRIO DA ONU CONFIRMA AVANÇOS SIGNIFICATIVOS
NO COMBATE À FOME DESDE 1990
Shutterstock
E
M MENOS DE TRÊS DÉCADAS, 200 MILHÕES DE PES- Agricultura (FAO), pelo Fun-
soas deixaram de estar nas estatísticas dos do Internacional para o Desen-
que passam fome no mundo. O feito, do- volvimento Agrícola (IFAD)
cumentado na última edição do relatório e pelo Programa Alimentar
anual “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundial (PAM), merece ser co-
Mundo 2015” (SOFI), publicado pela Organiza- memorado – mesmo que a rea-
ção das Nações Unidas para a Alimentação e a lidade ainda seja dura: em 1990,
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A FOME NO MUNDO
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ATUALIDADE
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ATUALIDADE
CUSTA 25 CENTAVOS DE
DÓLAR POR DIA ALIMENTAR
UMA CRIANÇA E MUDAR
SUA VIDA PARA SEMPRE.
O MAPA
DA FOME
A PREVALÊNCIA DA 795 MILHÕES DE PESSOAS
(OU 1 EM CADA 9 NO MUNDO)
DESNUTRIÇÃO NA VÃO PARA A CAMA COM FOME
POPULAÇÃO (%) NOS TODAS AS NOITES.
ANOS 2014-16
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A FOME NO MUNDO
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HÁ MUITOS PROGRESSOS
NA REDUÇÃO DO NÚMERO
DE PESSOAS COM FOME EM
TODO O MUNDO. E PODEMOS
ALCANÇAR A FOME ZERO.
MUITO BAIXA <5% MODERADAMENTE BAIXA 5-14,9% MODERADAMENTE ALTA 15-24,9% ALTA 25-34,9% MUITO ALTA 35% OU MAIS
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ATUALIDADE
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ALIMENTAÇÃO É UM DIREITO fundamentais, como saúde e educação. Ele signifi-
ca mais do que erradicar a fome e a desnutrição. É
FUNDAMENTAL a garantia de que todas as pessoas devem ter acesso
Desde 1948, o direito humano à alimentação ade- a uma alimentação adequada e saudável.
quada está contemplado no artigo 25 da Declara- Constar na Declaração Universal dos Direitos
ção Universal dos Direitos Humanos. Humanos e na Constituição Federal brasileira, ob-
Já no Brasil, a Constituição Federal de 1988 viamente, não significa necessariamente que o direito
incorporou uma série de direitos à lei, fazendo é exercido na prática. Ainda há muitos passos para o
inclusive com que fosse batizada de “Constitui- país acabar com a fome e efetivamente garantir o direi-
ção Cidadã”. Ali constavam direitos humanos, to humano à alimentação adequada a todo seu povo.
direitos sociais e direitos políticos. Mas, curio- Mas com as leis, o Estado brasileiro tem oficialmente
samente, não havia qualquer menção explícita ao a obrigação de respeitar, proteger, promover e prover
direito à alimentação. a alimentação da população. Por sua vez, a população
E assim foi até 2010, quando uma ampla mobi- passa a ter o direito de exigir que seus direitos sejam
lização social garantiu a aprovação no Congresso cumpridos, no âmbito dos poderes Executivo, Le-
Nacional do Projeto de Emenda Constitucional nº gislativo e Judiciário, nas esferas federal, estaduais e
047/2003, que alterou o artigo 6º da Constituição, municipais. Em outras palavras, o cidadão passa a ter
admitindo o Direito à Alimentação como funda- mais recursos para se fazer ouvir e respeitar.
mental. Assim, o artigo afirma que “São direitos so- A obrigação exige que o Estado seja ativo no sen-
ciais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a tido de tomar todas as medidas possíveis para evi-
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a tar que terceiros (empresas ou indivíduos) privem
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos as pessoas de seu direito à alimentação. O Estado
desamparados, na forma desta Constituição”. tem que prover a alimentação das pessoas que por
O direito humano à alimentação adequada é o algum motivo alheio à sua vontade e determinação,
direito de cada pessoa ter acesso físico e econômi- não conseguem garantir de maneira autônoma sua
co, ininterruptamente, à alimentação adequada ou alimentação por viverem na pobreza ou por serem
aos meios para obter estes alimentos, sem com- vítimas de catástrofes e calamidades. E tem a obriga-
prometer os recursos para obter outros direitos ção de promover políticas públicas sempre elabora-
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A FOME NO MUNDO
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ATUALIDADE
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MONUMENTO EM LUANDA, CAPITAL DA ANGOLA. NÚMERO DE PESSOAS QUE PASSAM FOME NO PAÍS CAIU 52,1% DE 1990 ATÉ HOJE
Em Angola, estima-se que 3,2 milhões de pes- agricultura. Todavia, essa percentagem não che-
soas ainda passem fome, o que representa uma di- gou sequer a 2%.
minuição de 52,1% em relação aos 6,8 milhões de “A África precisa de paz em primeiro lugar,
1990. Apesar dos avanços, este número indica que mas precisa também de um desenvolvimento mais
14% dos angolanos ainda têm falta de acesso a ali- inclusivo e de um compromisso maior dos gover-
mentos. nantes com o desenvolvimento interno de seus
Em São Tomé e Príncipe, o número de malnu- países”, afirmou Graziano.
tridos sempre se manteve inferior a 100 mil pesso-
as, e diminuiu 51,4%. Atualmente, a porcentagem
de são-tomenses que ainda passam fome é de 6,6%. MALAUÍ
“Na costa atlântica da África, há países como No pequeno país localizado no sudeste do conti-
Angola e também Cabo Verde que fizeram pro- nente africano, 2,8 milhões de pessoas enfrentam
gressos notáveis nos últimos anos. Alguns países a fome, de acordo com o Programa Mundial de
que foram destruídos pela guerra civil, como é o Alimentos (PMA). Desde o final do ano passado,
caso de Angola, recuperaram-se e utilizaram os re- o Programa tem oferecido ajuda emergencial para
cursos da produção mineral, entre eles o petróleo, combater a fome entre famílias que foram atingidas
para promover o desenvolvimento, inclusive o de- por secas durante a estação de plantio, entre 2013 e
senvolvimento rural”, disse José Graziano da Silva. 2014, e por enchentes, no início de 2015. De acordo
Angola foi um dos países que se comprometeu, com dados do PMA, quatro em cada dez crianças
ao assinar o Tratado de Maputo, em 2003, a in- apresentam defasagens em seu desenvolvimento fí-
vestir 10% do orçamento em desenvolvimento de sico e mental, condição conhecida como nanismo.
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DESTROÇOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL NAS ILHAS SALOMÃO. PAÍS ALCANÇOU A META DE REDUZIR A FOME PELA METADE
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A FOME NO MUNDO
Segundo Graziano, os países que AVANÇOS EM çambique, Níger, Nigéria, Togo, Ar-
já chegaram à meta devem manter gélia e Marrocos.
os esforços para alcançar objeti-
DIVERSOS PAÍSES
ÁSIA, OCEANIA E CÁUCASO: Ban-
vos mais ambiciosos de combate à Setenta e dois países em desenvol- gladesh, Camboja, Fiji, Indonésia, Kiri-
fome, até a completa eliminação do vimento, dos 129 monitorados pela bati, Laos, Malásia, Maldivas, Nepal, Fi-
problema. “Somos a primeira gera- FAO, atingiram o objetivo de reduzir lipinas, Ilhas Salomão e Uzbequistão.
ção que pode acabar com a fome, pela metade, até o final de 2015, o
que tem atormentado a humanida- número de pessoas com fome. AMÉRICA LATINA E CARIBE: Bo-
de desde o nascimento da civiliza- Destes, 29 países também alcan- lívia, Costa Rica, México, Panamá
ção. Vamos aproveitar esta oportuni- çaram o objetivo mais ambicioso, da e Suriname.
dade”, acrescentou. Conferência Mundial sobre Alimen- ORIENTE MÉDIO: Irã e Jordânia.
A premiação foi entregue em tação (WFS na sigla em inglês), de
cerimônia na sede da FAO, em diminuir pela metade o número de • Países que alcançaram os dois obje-
Roma, Itália, e teve a participação tivos de combate à fome (o Objetivo
subalimentados até 2015.
de vários chefes de Estado, entre de Desenvolvimento do Milênio, que
eles os presidentes da Venezuela, • Países que alcançaram o Objetivo estabelecia como meta a redução
Nicolás Maduro, de Honduras, Por- de Desenvolvimento do Milênio, pela metade, até 2015, da população
firio Lobo, e do Panamá, Ricardo que estabelecia como meta a re- que sofre de fome; e o mais exigen-
Martinelli. A ministra do Desenvol- dução pela metade, até 2015, da te, estabelecido na Cúpula Mundial
vimento Social e Combate à Fome população que sofre de fome: sobre a Alimentação, que propunha
do Brasil, Tereza Campello, esteve a redução pela metade do número
presente, representando a presi- ÁFRICA: Benim, Etiópia, Gâmbia, total de pessoas desnutridas):
dente Dilma Rousseff. Malauí, Mauritânia, Maurício, Mo-
ÁFRICA: Angola, Camarões, Djibuti,
Gabão, Gana, Mali, São Tomé e Príncipe.
ÁSIA, OCEANIA E CÁUCASO: Chi-
na, Myanmar (Birmânia), Samoa,
Tailândia, Vietnã e Uzbequistão.
AMÉRICA LATINA E CARIBE: Brasil,
Chile, Cuba, República Dominicana,
Guiana, Nicarágua, Peru, São Vicente
e Granadinas, Uruguai e Venezuela.
ORIENTE MÉDIO: Kuwait e Omã
• Países que mantiveram a desnutri-
ção abaixo ou muito próximo de 5%:
ÁFRICA: África do Sul e Tunísia.
ÁSIA, OCEANIA E CÁUCASO: Bru-
nei, Coreia e Cazaquistão.
AMÉRICA LATINA E CARIBE: Ar-
gaborbasch / Shutterstock.com
gentina e Barbados.
ORIENTE MÉDIO: Egito, Turquia,
Líbano, Arábia Saudita e Emirados
CRIANÇA SEGURA PANFLETO ESCRITO “MOÇAMBIQUE PARA TODOS”. PAÍS CUMPRIU META DE REDUZIR A Árabes Unidos.
fome pela metade
53
ATUALIDADE
A FOME EM NÚMEROS
1200
Shutterstock
1000
EM LOS ANGELES, NOS ESTADOS UNIDOS, ESCOLAS INCLUÍRAM 117 MIL
crianças em programa de refeição gratuita
800
gratuita. Para tornar o programa mais acessível,
muitas escolas estão oferecendo o café para to- 600
1990-92 2014-16
dos, dentro da sala de aula, para inseri-lo na ro-
tina diária. Com esta estratégia, 600 escolas de
Los Angeles conseguiram incluir mais 117 mil
ENTRE 1990-92, ERAM 1.010 MILHÕES DE PESSOAS COM FOME NO MUNDO.
crianças no programa, aponta a reportagem. De 2014-16, o número cai para 795 milhões
55
ATUALIDADE
REGIÕES EM DESENVOLVIMENTO 10
1990-92 2014-16
Extremamente alarmante Alarmante Sério Moderado Baixo Dados insuficientes Não calculado
FONTE: WELTHUNGERHILFE
56
A FOME NO MUNDO
arindambanerjee / Shutterstock
• 8 casos considerados alarmantes: Repú-
blica Centro-Africana, Chade, Zâmbia,
Timor-Leste, Serra-Leoa, Haiti, Mada-
gascar, Afeganistão.
HAITI: ALERTA MÁXIMO CONTRA A FOME. CRIANÇA HAITIANA EM • 44 casos considerados sérios: Niger, Iê-
acampamento de alimentos
men, Paquistão, Etiópia, Djibuti, Nigéria,
Anualmente, a organização não-governamental Angola, Moçambique, Namíbia, Burquina
Welthungerhilfe apresenta, em conjunto com a Faso, Zimbábue, Libéria, Tajiquistão, Ru-
irlandesa Concern Worldwide e com o Instituto anda, Guiné-Bissau, Mali, Índia, Coreia
Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimen- do Norte, Guiné, Tanzânia, Laos, Uganda,
tícias (IFPRI), o Índice Global da Fome. Malauí, Bangladesh, República do Congo,
O índice classifica os países de acordo com a Costa do Marfim, Suazilândia, Sri Lanka,
realidade da fome em cada um deles: há os casos Camarões, Quênia, Myanmar (Birmânia),
extremamente alarmantes, os alarmantes, os sé- Lesoto, Senegal, Botswana, Togo, Mauri-
rios, os moderados, os baixos e ainda aqueles em tânia, Camboja, Nepal, Iraque, Indonésia,
que os dados não foram suficientes ou que não Benim, Gâmbia, Guatemala, Filipinas.
foram calculados e, por isso, não se enquadram O Brasil, assim como a maioria dos vizinhos
nas demais classificações. da América do Sul, estão na classificação de risco
Para a realização do relatório, três parâmetros baixo. Apenas Bolívia e Paraguai figuram entre os
são levados em consideração: a porcentagem de de risco moderado.
NÚMEROS
• 795 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. • Destes, 29 países também alcançaram o objetivo
• Na década de 1990, o número ultrapassava 1 bilhão mais ambicioso, da Conferência Mundial sobre Ali-
de pessoas. mentação (WFS na sigla em inglês), de diminuir pela
metade o número de subalimentados até 2015.
• Na América Latina e no Caribe, são 34 milhões de fa-
mintos, sendo 10% no Brasil (3,4 milhões). • O Brasil é o país, entre os mais populosos, que teve a
maior queda de subalimentados entre 2002 e 2014,
• De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimen- 82,1%. No mesmo período, a América Latina reduziu
to Social e Combate à Fome, a pobreza no Brasil foi redu- em 43,1% esta quantidade.
zida de 24,7% em 2002 para 8,5% em 2012. A extrema
pobreza caiu de 9,8% para 3,6% no mesmo período. • Na contramão das localidades que conseguiram
diminuir significativamente a fome ao longo de
• 72 países em desenvolvimento, dos 129 monitora- quase três décadas, a África subsaariana registrou
dos pela FAO, atingiram o objetivo de reduzir pela aumento dos casos, que foram de 176 milhões
metade, até 2015, o número de pessoas com fome. para 220 milhões.
57
FUTURO
A FOME NO
MUNDO AMANHÃ
AS BATALHAS E OS DESAFIOS DAS ENTIDADES HUMANITÁRIAS E
GOVERNOS PARA ERRADICAR A FOME E A MISÉRIA
Shutterstock
D
EPOIS DO SUCESSO DOS OBJETIVOS DO MILÊNIO, O novo plano, batizado
que determinavam a meta de reduzir pela como Objetivos de Desenvolvi-
metade a pobreza e a fome no mundo, mento Sustentável, foi acordado
agora os países-membro da Organização em 2015, durante a Cúpula das
das Nações Unidas querem erradicar de uma vez Nações Unidas sobre Desenvol-
por todas os dois temas das agendas políticas in- vimento Sustentável. “Erradicar
ternas e externas. O prazo: 2030. a pobreza em todas as suas for-
58
ChameleonsEye / Shutterstock.com
A FOME NO MUNDO
BAN KI-MOON,
secretário-geral da ONU,
declarou que a entidade
busca acabar com a
pobreza em todas as
suas formas
59
FUTURO
Shutterstock
dimensões, e garantir que todos os seres huma- PAZ – “Estamos determinados a promover socie-
nos possam realizar o seu potencial em dignida- dades pacíficas, justas e inclusivas que sejam livres
de e igualdade, em um ambiente saudável.” do medo e da violência. Não pode haver desen-
PLANETA – “Estamos determinados a proteger o pla- volvimento sustentável sem paz e não há paz sem
neta da degradação, sobretudo por meio do consumo desenvolvimento sustentável.”
e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos PARCERIA – “Estamos determinados a mobili-
seus recursos naturais e tomando medidas urgentes zar os meios necessários para implementar esta
sobre a mudança climática, para que ele possa supor- Agenda por meio de uma Parceria Global para o
tar as necessidades das gerações presentes e futuras.” Desenvolvimento Sustentável revitalizada, com
PROSPERIDADE – “Estamos determinados a assegu- base num espírito de solidariedade global refor-
rar que todos os seres humanos possam desfrutar çada, concentrada em especial nas necessidades
de uma vida próspera e de plena realização pesso- dos mais pobres e mais vulneráveis e com a par-
al, e que o progresso econômico, social e tecnoló- ticipação de todos os países, todas as partes inte-
gico ocorra em harmonia com a natureza.” ressadas e todas as pessoas.”
60
A FOME NO MUNDO
17 OBJETIVOS
A AGENDA 2030 DA ONU PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL FOI DIVIDIDA EM 17
OBJETIVOS. ELES FORAM ELENCADOS COM BASE NOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO
DO MILÊNIO E CONCLUIRÃO O QUE ESTES NÃO CONSEGUIRAM ALCANÇAR. “ELES BUSCAM
CONCRETIZAR OS DIREITOS HUMANOS DE TODOS E ALCANÇAR A IGUALDADE DE GÊNERO E
O EMPODERAMENTO DE MULHERES E MENINAS. ELES SÃO INTEGRADOS E INDIVISÍVEIS, E
EQUILIBRAM AS TRÊS DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: A ECONÔMICA, A
SOCIAL E A AMBIENTAL”, AFIRMA O DOCUMENTO.
OBJETIVO 1. Acabar com a pobreza em todas as OBJETIVO 10. Reduzir a desigualdade dentro dos
suas formas, em todos os lugares. países e entre eles.
OBJETIVO 2. Acabar com a fome, alcançar a segu- OBJETIVO 11. Tornar as cidades e os assentamentos
rança alimentar e melhoria da nutrição e promover a humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
agricultura sustentável.
OBJETIVO 12. Assegurar padrões sustentáveis de
OBJETIVO 3. Assegurar uma vida saudável e pro- produção e de consumo.
mover o bem-estar para todos, em todas as idades.
OBJETIVO 13. Tomar medidas urgentes para com-
OBJETIVO 4. Assegurar a educação inclusiva e equi- bater a mudança do clima e seus impactos.
tativa e de qualidade, e promover oportunidades de
aprendizagem ao longo da vida para todos. OBJETIVO 14. Conservação e uso sustentável dos
oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o
OBJETIVO 5. Alcançar a igualdade de gênero e em- desenvolvimento sustentável.
poderar todas as mulheres e meninas.
OBJETIVO 15. Proteger, recuperar e promover o
OBJETIVO 6. Assegurar a disponibilidade e gestão uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de
sustentável da água e saneamento para todos. forma sustentável as florestas, combater a desertifi-
cação, deter e reverter a degradação da terra e deter
OBJETIVO 7. Assegurar o acesso confiável, sustentá- a perda de biodiversidade.
vel, moderno e a preço acessível à energia para todos.
OBJETIVO 16. Promover sociedades pacíficas e inclu-
OBJETIVO 8. Promover o crescimento econômico sivas para o desenvolvimento sustentável, proporcio-
sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno nar o acesso à justiça para todos e construir instituições
e produtivo e trabalho decente para todos. eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis.
61
FUTURO
62
A FOME NO MUNDO
cados e bem geridos em nível nacional, regional e 2.b Corrigir e prevenir as restrições ao comércio e dis-
internacional, e garantir o acesso e a repartição justa torções nos mercados agrícolas mundiais, incluindo
e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização a eliminação paralela de todas as formas de subsí-
dos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais dios à exportação e todas as medidas de exportação
associados, como acordado internacionalmente. com efeito equivalente, de acordo com o mandato
da Rodada de Desenvolvimento de Doha.
2.a Aumentar o investimento, inclusive via o reforço da
cooperação internacional, em infraestrutura rural, 2.c Adotar medidas para garantir o funcionamento
pesquisa e extensão de serviços agrícolas, desen- adequado dos mercados de commodities de ali-
volvimento de tecnologia, e os bancos de genes de mentos e seus derivados, e facilitar o acesso opor-
plantas e animais, para aumentar a capacidade de tuno à informação de mercado, inclusive sobre as
produção agrícola nos países em desenvolvimento, reservas de alimentos, a fim de ajudar a limitar a
em particular nos países menos desenvolvidos. volatilidade extrema dos preços dos alimentos.
A.L. E CARIBE SEM FOME ATÉ 2025 De acordo com Graziano, a estreita relação en-
tre a pobreza rural e a insegurança alimentar na
Com os bons resultados alcançados com as duas região demanda um novo foco para o desenvolvi-
metas de redução da fome propostas pelos Obje- mento econômico e ambiental.
tivos de Desenvolvimento do Milênio e pela Cú- “Para erradicar a fome, não só é preciso for-
pula Mundial da Alimentação, América Latina e talecer a agricultura familiar, mas também desen-
Caribe prometem novos feitos diante dos Objeti- volver sistemas agroalimentares inclusivos, efi-
vos de Desenvolvimento Sustentável. cientes e sustentáveis”, explicou.
A meta estipulada pelos países-membro da A chave para alcançar esse objetivo é articu-
Organização das Nações Unidas (ONU) para er- lar as políticas de desenvolvimento agropecuário
radicar a fome é 2030. Mas América Latina e Ca- com as de proteção social, gestão de riscos e em-
ribe acreditam que conseguem alcançar o objetivo prego agrícola, disse o diretor-geral.
cinco anos antes, em 2025. Esse enfoque deve considerar também o acesso
Em 1990, 14,7% da população da América La- aos recursos e serviços produtivos, as polí-
tina e Caribe vivia com fome e mais de 66 milhões ticas de proteção social e de empre-
de pessoas eram incapazes de obter os alimentos go rural, principalmente para
necessários para uma vida saudável. Hoje, o nú- jovens, mulheres rurais e
mero total de famintos caiu para 34 milhões e a povos indígenas.
porcentagem foi reduzida para 5%, mesmo em
meio ao crescimento populacional.
Para alcançar essa meta, os governos estão im-
plementando grandes acordos regionais, como a
Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome e
o Plano de Segurança Alimentar, Nutrição e Er-
radicação da Fome da Comunidade de Estados
Latino-Americanos (CELAC), além de progra-
Shutterstock
mas nacionais.
“O mundo entrou em uma nova era: a era dos
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, dis-
se o diretor-geral da Organização das Nações Uni- AMÉRICA LATINA E
Caribe prometem
das para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o erradicar a fome até 2025
brasileiro José Graziano da Silva.
63
FUTURO
64
A FOME NO MUNDO
Shutterstock
doações. As contribuições benefi-
ciam crianças refugiadas da Síria
que fazem parte do programa de refeições escolares ONG ACTIONAID
do PMA na Jordânia. O ShareTheMeal está disponível É uma organização internacional sem fins lucrativos
para os sistemas Android e iOS e pode ser adquirido que há 40 anos trabalha com comunidades excluídas
em lojas de aplicativos no mundo todo. ao redor do mundo. Mais de 20 milhões de pessoas
são beneficiadas em 40 países pobres da África, Ásia e
PACTO PELA POLÍTICA Américas. No Brasil, a ONG está presente desde 1999,
ALIMENTAR URBANA em 13 estados, junto com 25 organizações parceiras,
Prefeitos de 100 cidades do mundo, incluindo São beneficiando mais de 300 mil pessoas.
Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, assinaram em A ONG apoia, por exemplo, as quebradeiras de coco
2015 o pacto com o compromisso de assumir papel de babaçu, no Maranhão, em sua luta para continuar vi-
fundamental para acabar com a fome e melhorar a nu- vendo desse recurso natural que é parte da sua história
trição. Os princípios do acordo são: garantia de dispo- e cultura. Em pesquisa divulgada pela ONU em julho
nibilidade de comida saudável a todos, promoção da de 2007 e publicada pelo jornal inglês Financial Times,
sustentabilidade no sistema alimentar, educação so- a ActionAid foi avaliada como uma das 20 organizações
bre alimentação saudável e redução de desperdícios. sem fins lucrativos mais competentes do mundo.
65
FOME NO BRASIL
A LUTA
BRASILEIRA
DESDE O INÍCIO DOS ANOS 2000, O BRASIL VEM
SUPERANDO SEU DESEMPENHO NO COMBATE À FOME.
MAS A SITUAÇÃO AINDA NÃO ESTÁ TOTALMENTE RESOLVIDA
Shutterstock
A
FOME AINDA É UMA REALIDADE NO BRASIL, MAS, 82% de 2002 a 2014. Para efeito
de modo geral, o cenário é positivo. Se- de comparação, no mesmo pe-
gundo o Banco Mundial, a proporção de ríodo, a América Latina como
brasileiros vivendo na extrema pobreza um todo reduziu em 43,1%
(pessoas que vivem com menos de US$ 2,5 ou esta quantidade.
cerca de R$ 7,5 por dia) caiu de 10% para 4% A redução mais significati-
entre 2001 e 2013. A fome, segundo a Organiza- va da fome no Brasil aconteceu
ção das Nações Unidas (ONU), teve queda de em 2012, ano em que o país al-
66
A FOME NO MUNDO
67
FOME NO BRASIL
Shutterstock
indígenas e quilombolas, que
NOVOS DESAFIOS
COMUNIDADES
indígenas e quilombolas
abrigam a maior parte abrigam a maior parte das pes-
dos brasileiros que A realidade do país desde 2014 mudou bastante soas que ainda sofrem de insegu-
sofrem com a insegurança
alimentar e, hoje, o Brasil enfrenta um fraco crescimento rança alimentar no país. Também
econômico. Entre as recomendações do Banco é preciso adotar medidas para di-
Mundial para continuar enfrentando a pobreza minuir o desperdício de alimen-
está a de não aumentar os impostos. Os autores tos e enfrentar as questões rela-
sugerem ajustes fiscais para promover o gasto pú- cionadas às mudanças climáticas.
blico eficiente para incentivar a competitividade, Outro ponto defendido pela
melhorar a infraestrutura e os serviços públicos, ONU é que o Brasil precisa me-
além de não abandonar os programas sociais. lhorar a alimentação da popula-
Uma reforma tributária, segundo os especialistas, ção para combater a obesidade.
favoreceria as classes mais baixas, já que muitos im- Em todo o mundo cresce o nú-
postos são cobrados na compra de produtos, para mero de pessoas com sobrepeso.
onde vai a maior parte da renda dos mais pobres. A obesidade figura como uma
Já no relatório da ONU (SOFI 2015), a indica- das principais causas de doenças
ção é que o país volte sua atenção para os chama- como, por exemplo, hipertensão
dos grupos mais vulneráveis, como comunidades e diabetes. Segundo o relatório,
68
A FOME NO MUNDO
há uma erosão de 20% nos orçamentos dos países tos do mundo, com uma pro-
decorrentes da obesidade e doenças a ela associadas. dução capaz de atender tanto a
No Brasil, em 2011, o custo da obesidade e da fração demanda interna, como a exter-
atribuível de cada doença a ela associada foi de mais na. “Por apresentar condições
de R$ 480 milhões para o Sistema Único de Saúde. excepcionais para a produção de
“A alimentação saudável deve ser uma aliada da alimentos, a partir dos próximos
população. As dietas precisam garantir alimentos dez anos, o mundo vai precisar
nutritivos e ricos em proteínas. E quem pode con- muito do Brasil”, afirmou Boja-
tribuir bastante para isso é o agricultor familiar. Os nic, lembrando que a produção
pequenos agricultores são responsáveis por mais de alimentos até 2050 precisa
de 70% dos alimentos que chegam diariamente a crescer fortemente para alimen-
nossas mesas e a produção deles vem de uma fonte tar mais de 9 bilhões de pessoas,
sustentável e acima de tudo saudável”, ressaltou o segundo as projeções de cresci-
representante da Organização das Nações Unidas mento populacional.
para Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, Em sua opinião, o Brasil está
Alan Bojanic, na apresentação do estudo. à altura e pode produzir sem a
O relatório também faz referência aos novos necessidade de aumentar a área
desafios pós-2015 com a aprovação dos Objetivos de cultivo, sem fazer desmata-
de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Mais de mento. Uma opção, diz Bojanic,
190 países se comprometeram na Assembleia Ge- “é a reutilização das áreas degra-
ral da ONU com 17 objetivos, sendo os dois pri- dadas, que podem ser transfor-
meiros bem ambiciosos: erradicar a pobreza em madas em recursos agrícolas de
todas suas formas até 2030 e alcançar a segurança alta produtividade”. “É o que
alimentar e a melhora da nutrição e promover a chamamos de intensificação sus-
agricultura sustentável. tentável da agricultura. Com este
O Brasil tem um papel importante nesse pro- ganho de espaço, o Brasil tem
cesso, já que o país tem capacidade de se tornar nas condições de aumentar a produ-
próximas décadas o maior exportador de alimen- ção sem abrir novas áreas.”
ALIMENTOS CAROS
2011 foi o ano em que a FAO, o órgão das Nações Uni-
das para agricultura e alimentação, registrou a maior
alta nos preços desde 1990. O aumento dos preços é
causado não só por fatores climáticos, mas também pela
Shutterstock
69
FOME NO BRASIL
MODELO DE PRODUÇÃO
VOLTADO PARA O AGRONEGÓCIO
E A EXPORTAÇÃO
Apesar da importância dos pequenos agricultores no
Brasil, a política de liberalização comercial e as pressões
do crescimento do agronegócio têm tirado muitos agri-
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
As pessoas pobres são as mais afetadas pelos efeitos das PLANTAÇÃO DE SOJA NO MATO GROSSO: AGRONEGÓCIO É UMA DAS CAUSAS DA
mudanças climáticas, porque têm menos acesso aos re- fome no Brasil
cursos financeiros e naturais para diminuir sua vulne-
rabilidade. Com o prejuízo às colheitas e à pecuária, BIOCOMBUSTÍVEIS
causados por enchentes e secas, pequenos agricultores A produção dos biocombustíveis geralmente ocor-
têm a quantidade de alimentos para autoconsumo e co- re em detrimento da produção de alimentos, além
mercialização reduzida. de desmatamento.
A FOME NO BRASIL
BRASILEIROS NA EXTREMA FOME NO BRASIL
POBREZA 2002
(%)
10
8
DE 2002 A 2014,
6 QUEDA DE 82%
4 82%
2
0
2001 2013 2014
70
A FOME NO MUNDO
Shutterstock
tras, publicou uma das mais realistas visões sobre a
DRAMA NORDESTINO seca no livro A Fome, de 1890. “A peste e a fome
Os relatos de fome, sede, miséria, migração e epi- matam mais de 400 por dia! O que te afirmo é que,
demias decorrentes da escassez de chuva no Nor- durante o tempo em que estive parado em uma es-
deste existem desde o século 16. Uma das primei- quina, vi passar 20 cadáveres: e como seguem para
ras secas que se tem notícia aconteceu entre 1580 e a vala! Faz horror! (...) E as crianças que morrem
1583, vitimando principalmente os índios. Na oca- nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela
sião, o estado mais atingido foi Pernambuco. Padre manhã os encarregados de sepultá-las vão reco-
Fernão Cardin relatou, segundo documentos his- lhendo-as em um grande saco: e, ensacados os ca-
tóricos, que houve “uma grande seca e esterilidade dáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a
na província e cinco mil índios desceram o sertão um pau e conduzido para a sepultura”, descreve.
apertados pela fome, socorrendo-se aos brancos”. No Sertão, chove entre dezembro e abril, mas, em
Rodolfo Teófilo, historiador e escritor que foi determinados anos, isso não acontece, ocasionando
um dos fundadores da Academia Cearense de Le- um longo período sem chuvas que origina a seca.
71
FOME NO BRASIL
As secas prolongadas no
Nordeste são oriundas, muitas
vezes, da elevação da temperatu-
ra das águas do Oceano Pacífico
– fenômeno que recebe o nome
científico de El Niño. A longa
estiagem provoca uma série de
prejuízos aos agricultores, como
perda de plantações e animais, e
a falta de produtividade causada
pela seca provoca a fome.
A seca de 1877 é considerada
a mais arrasadora da história do
Nordeste. Durou três anos, mas
vitimou metade da então popu-
lação do semiárido (500 mil pes-
soas). Nesta época a seca passou
a ser considerada um problema
nacional – até por sua consequ-
ência natural: o êxodo rural.
Shutterstock
De 1979 a 1983, o Nordeste
viveu cinco anos seguidos de es-
OS LONGOS PERÍODOS DE SECA FAZEM COM QUE A REGIÃO NORDESTE FIQUE VULNERÁVEL À FALTA DE ALIMENTOS tiagem. Uma pesquisa da Orga-
nização das Nações Unidas para a
Em nível nacional, o sertão nordestino apresenta as Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) apon-
menores incidências de chuvas. Isto acontece pelo tou que 62% das crianças nordestinas da zona rural,
tipo de massa de ar aliado ao relevo, que muitas ve- com idades entre 0 e 5 anos viviam em estado de des-
zes impede que massas de ar quentes e úmidas ajam nutrição aguda.
sobre o local causando chuvas. No sul do sertão Em 1993, o descaso público com as secas ganha
ocorrem, raramente, chuvas entre outubro e março, destaque. Com a seca de 1998, que se estende a
provenientes da ação de frentes frias com caracterís- 2000 e se repete em 2001, é criada uma Comis-
tica polar que se apresentam e agem no sudeste. As são Parlamentar de Inquérito (CPI), no Congres-
outras áreas do sertão têm suas chuvas provocadas so Nacional, para investigar desvios de um órgão
pelos ventos alísios vindos do hemisfério norte. público que deveria promover obras de combate
72
A FOME NO MUNDO
73
FOME NO BRASIL
A obra engloba a construção de quatro tú- vestigações da Polícia Federal que apontam su-
neis, 14 aquedutos, nove estações de bombea- perfaturamento e envolvem os mesmos doleiros
mento e 27 reservatórios. Tendo início em 2006, e empreiteiros da operação Lava Jato, que inves-
quando tinha orçamento de R$ 4,5 bilhões, a tiga os desvios de dinheiro da Petrobras.
obra já sofreu inúmeros atrasos, o que fez seu Enquanto as ações políticas seguem polêmicas, o
custo praticamente dobrar de valor. Nordeste continua a sofrer com a falta d’água. Até
Segundo o Ministério da Integração Nacional, o início deste ano, quase mil cidades do Nordeste
a demora na entrega dos trechos acontece devido estavam em estado de emergência pela seca. O esta-
à burocracia na escolha das empresas e na adapta- do do Ceará, por exemplo, assistiu a seu quinto ano
ção dos projetos iniciais. consecutivo de seca. Na Paraíba e em Alagoas, 26
A contabilidade da obra, porém, é alvo de in- cidades entraram em colapso total de água.
Shutterstock
sua refeição para não morrer de fome.
A história mobilizou setores nacionais e interna-
cionais. Uma igreja batista holandesa despachou
para Fortaleza 20 contêineres cheios de roupas e uma
equipe de televisão para registrar o que ocorria no
Nordeste. No Brasil, um grupo de empresários passou
a transferir, mensalmente, uma ajuda financeira que
socorreu 649 famílias cearenses. Cada empresário
apadrinhou uma família.
74
A FOME NO MUNDO
INDÍGENAS E QUILOMBOLAS
AINDA VULNERÁVEIS
Apesar de o Brasil ter deixado o mapa da fome
da ONU em 2014, aproximadamente 12 milhões
de pessoas ainda sofrem com o problema no país,
um número estatisticamente considerado residu-
al, mas equivalente às populações de países como
Bolívia e Bélgica.
Para o consultor da ActionAid, Francisco
Menezes, é preciso atenção especial aos indíge-
nas e quilombolas que ainda vivem em situação
muito precária.
Em entrevista ao site da organização sem fins
lucrativos, ele afirma que os conflitos fundiários
são responsáveis por esta realidade. “Temos hoje
em torno de 3 milhões de famílias, ou 12 milhões
de pessoas, que ainda são vulneráveis à fome no
Brasil. Indígenas e povos tradicionais fazem parte
deste grupo, pela dificuldade de acesso às políticas
públicas e por sofrerem ataques muito severos a
suas formas de produção”, afirma.
E completa: “Existe uma causa estrutural sobre
a qual não se mexe e, mais do que isso, se agrava a
cada dia, que é a tomada das terras indígenas pelo
agronegócio, sobretudo para produção de soja.
Ultimamente também tem acontecido, em algum
nível, com a produção de cana. A situação mais
grave é no Centro-Oeste do país, com o exemplo
mais recente nas disputas pelas terras dos Guara-
ni-Kaiowá, que estiveram perto de serem despe-
Shutterstock
75
FOME NO BRASIL
Para combatê-la come-se o seu próprio. Vão até os ossos.” Brasil... Que sonha com a volta do irmão do Hen-
fil. Com tanta gente que partiu. Num rabo de fo-
O trecho de Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, guete. Chora! A nossa pátria mãe gentil. Choram
expõe a crueza da seca e da fome e a animalização do Marias e Clarices no solo do Brasil...”, diz a letra.
homem diante de tal realidade. A história narra a tra- Betinho retornou ao Brasil em 79 e criou, jun-
jetória de uma família de retirantes nordestinos com- to com os companheiros de exílio Carlos Afonso
posta por Fabiano, sua mulher Sinhá Vitória e seus dois e Marcos Arruda, o Instituto Brasileiro de Análi-
filhos, além da cachorra Baleia e de um papagaio. Em ses Sociais e Econômicas (Ibase).
determinada altura do livro, exaustos e famintos, eles Em 1986, depois de saber que era portador do
não veem outra alternativa, se não matar a ave de esti- vírus HIV (ele era hemofílico e dependia de trans-
mação em nome da sobrevivência. fusões de sangue), Betinho ajudou a fundar a Asso-
76
A FOME NO MUNDO
77
FOME NO BRASIL
OS PROGRAMAS DE COMBATE
À FOME NO BRASIL
O Programa Nacional
de Alimentação Escolar
oferece alimentação
escolar e ações de
educação alimentar e
nutricional aos alunos
de toda a educação
básica matriculados
em escolas públicas.
Em 2015, o programa
beneficiou 42,6 milhões
de estudantes
78
A FOME NO MUNDO
79
BUSCANDO SOLUÇÕES
FAÇA
SUA PARTE
CONHEÇA OS IMPACTOS DO DESPERDÍCIO, COMO REDUZI-LOS E
QUAIS AS CELEBRIDADES QUE JÁ ESTÃO AJUDANDO
Shutterstock
T
ODOS OS ANOS, CERCA DE 1,3 BILHÃO DE TONELA- Quando o assunto é o com-
das de alimentos produzidos para consumo bate à fome, a relação com o
humano são perdidos ou desperdiçados, o desperdício é óbvia: de acordo
que representa um terço de toda a comida com as informações das Nações
produzida no mundo. Os dados, divulgados cons- Unidas, os alimentos desper-
tantemente pela Organização das Nações Unidas diçados anualmente poderiam
(ONU), são alarmantes em vários sentidos. alimentar 2 bilhões de pessoas –
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A FOME NO MUNDO
ALIMENTOS
desperdiçados
anualmente poderiam
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alimentar 2 milhões
de pessoas
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BUSCANDO SOLUÇÕES
VOCÊ SABIA?
• Segundo relatório da FAO de
2013, 1,3 bilhão de tonela-
das de alimentos são joga-
dos fora por ano no mundo, o
equivalente ao desperdício de
US$ 750 bilhões. Traduzido em
recursos naturais, o desperdício
consome cerca de 250 quilô-
metros cúbicos de água e ocu-
pa cerca de 1,4 bilhão de hecta-
res de terra.
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de um quilo de lixo por dia.
Cerca de 58% desse total é re-
SE UMA FAMÍLIA NO alimentos durante a produção inicial – na África, presentado por lixo orgânico,
Brasil deixasse de
desperdiçar 20% onde as perdas equivalem a 60% da produção, formado de restos de alimen-
dos alimentos, em metade de todo o alimento produzido é perdido tos. A conta é do Instituto Akatu.
70 anos economizaria
R$ 1,1 milhão nessa fase. Já nos desenvolvidos, o desperdício
ocorre majoritariamente nas etapas finais da ca- • O mesmo instituto apresentou
deia de abastecimento. o cálculo do quanto se deixa
de poucpar com o desperdício.
Uma família média brasileira
DESPERDÍCIO NO BRASIL gasta, em média, R$ 478 reais
Só no Brasil, 26,3 milhões de toneladas de ali- mensais para comprar comida.
mentos têm o lixo como destino, sendo a maior Se o desperdício de 20% de
perda (45%) de hortifrútis. Com base em dados alimentos deixasse de existir
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- em casa, R$ 90 deixariam de
ca (IBGE), os pesquisadores do Instituto Akatu, ir para o ralo. Guardando esses
que prega o consumo consciente, fizeram a se- R$ 90 todos os meses, depois
guinte conta: uma família média brasileira gasta de 70 anos (expectativa média
R$ 478 mensais para comprar comida. Se o des- de vida) a família teria uma
perdício de 20% de alimentos deixasse de existir, poupança de R$ 1,1 milhão.
R$ 90 reais deixariam de ir para o ralo. Guardan-
do esses R$ 90 todos os meses, depois de 70 anos
(expectativa média de vida) a família teria uma
poupança de nada menos do que R$ 1,1 milhão. QUEM COMBATE O
De acordo com a Empresa Brasileira de Pes-
quisa Agropecuária (Embrapa), o desperdício DESPERDÍCIO?
de alimentos está presente em toda a cadeia de Há algumas iniciativas bem inte-
produção de alimentos no Brasil, sendo 10% no ressantes no Brasil de combate ao
campo, 50% no manuseio e no transporte, 30% desperdício de alimentos. A orga-
na comercialização e no abastecimento, e 10% nização não governamental Ban-
no varejo (supermercados) e consumidor final. co de Alimentos, por exemplo,
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A FOME NO MUNDO
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recolhe alimentos excedentes de comercializações e nomiza é destinado ao combate
perfeitos para o consumo e os distribui para quem da má-nutrição infantil.
precisa. São 42 instituições cadastradas no projeto, Há um aplicativo gratuito Sa-
que atendem mais de 21 mil pessoas. tisfeito que facilita a busca pelos
Como já apresentado no capítulo anterior, o restaurantes que participam do
Serviço Social do Comércio (Sesc) também dispõe movimento. A busca dos lugares
de uma rede de banco de alimentos, dentro do Pro- pode ser feita por nome, regiões,
grama Mesa Brasil, onde são distribuídos alimentos culinária ou faixa de preço. Por
excedentes ou fora dos padrões de comercialização enquanto apenas contém restau-
para o Sesc, mas que ainda podem ser consumidos. rantes da grande São Paulo.
O Instituto Alana, organização da sociedade O usuário também pode adi-
civil sem fins lucrativos, que incentiva projetos em cionar os lugares preferidos na
defesa da infância, lançou, em 2012, o movimento sua lista dos favoritos e compar-
Satisfeito. A ideia é simples: é muito comum so- tilhar com os amigos via redes
brar comida no prato quando se almoça ou janta socias. O aplicativo está dispo-
em um restaurante. Então, os restaurantes partici- nível para iPhone, iPad e iPod
pantes oferecem seus pratos em versões reduzidas, Touch em três idiomas: portu-
com 2/3 do tamanho, batizadas de “versão Satis- guês, inglês e espanhol. Além do
feito” – e com conhecimento do cliente, é claro. aplicativo, as pessoas podem se
Ao fazer esta opção, o consumidor paga o mesmo informar sobre todos os restau-
valor da versão original e o que o restaurante eco- rantes pelo site satisfeito.com/br.
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menos produtos. As promoções costumam ser
irresistíveis, no entanto, são as grandes vilãs do
consumo consciente porque estimulam a com- decidir que vai levar pegue o alimento. Assim,
prar um número alto de produtos, que acabam o produto será preservado por mais tempo.
se estragando. Fique atento.
• Na hora de cozinhar, dê preferência aos pro-
• Não dê importância à aparência dos alimentos. dutos que estão próximos do vencimento da
Alimentos “limpinhos” geralmente têm menos validade. Anote quais são eles em uma lista e
tempo de vida, ao passo que legumes e batatas cole na geladeira para não esquecer.
ainda com terra em cima costumam durar mais.
• Se depois de alguns dias notar que abobrinha,
• Na hora de comprar frutas, verduras e legu- chuchu, mandioquinha e outros legumes apre-
mes, escolha com os olhos. Somente depois de sentam partes estragadas, corte-os, lave bem o
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que pode ser aproveitado e faça uma seleta de to: mergulhe os vegetais em água fervente,
legumes para acompanhar assados em geral. espere que a água volte a ferver, retire do
• Aprenda a reciclar as sobras de alimentos: do fogo e mergulhe imediatamente esses ve-
feijão, faça sopa. Com arroz, purê de batatas, getais em uma vasilha de água gelada. Não
cenouras cozidas, carne assada ou o que res- confunda o branqueamento com preparação
tou da bacalhoada prepare deliciosos bolinhos. definitiva. O vegetal branqueado não está
Frutas azedas ou maduras demais podem virar pronto, mas apenas protegido para ser guar-
compotas, geleias e recheios para bolo. dado por mais tempo.
• Ponha no prato apenas a quantidade suficiente • Antes de guardar frutas, verduras e legumes na
para aquela refeição. geladeira, higienize-os e seque-os. Depois de
consumir, guarde esses alimentos em embalagens
• Consuma verduras, legumes e frutas da esta-
fechadas para evitar a proliferação de bactérias.
ção, que além de mais saborosos têm preços
mais baixos. Em geral, esses produtos vêm de • Para evitar o desperdício de gás, retire os con-
mais perto, não exigindo grande transporte e gelados do freezer com antecedência. Eles
reduzindo perdas pela manipulação, gastos de descongelarão naturalmente facilitando na
combustível e poluição. hora de cozinhar.
• Dê preferência às comidas típicas e aos ingre- • Antes de ir viajar, esvazie o freezer e a geladeira
dientes de sua região, pois estará ajudando a re- e tire-os da tomada. Não é necessário resfriar
duzir os custos de transporte e as perdas causa- alimentos se ninguém vai consumir.
das pela manipulação dos alimentos.
• Em estações mais frias do ano, ajuste o termos-
• Vegetais, incluindo talos e folhas, podem ser tato de sua geladeira para não resfriar demais
congelados pelo processo de branqueamen- os alimentos e economizar energia.
FONTE: INSTITUTO AKATU E ECYCLE
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QUEIJOS
Permanecem sem estragar de cinco dias a um mês, se a vida do produto e não desperdiçar, basta usar o vinho
bem conservados na geladeira. Ricota e minas aguen- como tempero que ele dura até um mês.
tam no máximo 5 dias, enquanto que os mais duros,
como provolone e parmesão, têm maior tempo de FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES
conservação. Você deve dispensar o queijo quando ele Se forem higienizados e secos antes de serem armaze-
apresentar pontos esverdeados em sua superfície e sua nados na geladeira, esses alimentos duram cinco dias.
Com exceção das frutas tropicais, como banana e abaca-
VINHOS te, que, se forem para a geladeira, vão escurecer.
Para consumir como bebida, o ideal é tomá-lo em um
dia porque, depois de aberto, os vinhos sofrem a oxida- FERMENTO
ção - o oxigênio entra na garrafa e reage com a bebida, Se for o químico em pó, dura até seis meses na geladei-
alterando seu sabor e aroma. Se você quiser prolongar ra. Já o biológico, que é muito utilizado para fazer pães,
não ultrapassa três dias depois de aberto porque con-
tém leveduras. Quando elas morrem, o fermento para
de funcionar.
COMIDA PRONTA
Após a refeição, guarde as sobras em recipientes fecha-
dos com tampa e leve-os para a geladeira. Feito isso, sua
comida pronta vai durar três dias, em média.
CARNES
Caso você não venha a preparar a carne logo depois que
a comprou, o ideal é congelá-la para que dure mais, ou
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casca para fazer sucos, refogados patês e recheios.
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da cenoura podem ser usadas no preparo e bolinhos,
refogados e sopas.
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utilizada no preparo de caldas.
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MANTEIGA
Aguenta três meses sob refrigera-
ção por conter bastante gordura
em sua composição. O máximo LARANJA: a fruta pode ser batida com casca para preparar o suco. Na hora de
que pode acontecer é aparecer coar, o que ficar na peneira pode ser aproveitado no preparo de bolos e outros
uma capa amarela escura - basta doces. O mesmo vale para outras frutas como mamão, maçã, goiaba e manga.
raspar essa capa para voltar ao uso
normal do produto. MELÃO E MELANCIA: aquela parte mais branca
conhecida como entrecasca, é rica em fibra e potássio,
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vida, que dura de três a quatro dias talos contêm fibras e podem ser usados
na geladeira. para preparar patês, sopas e refogados.
KETCHUP, MAIONESE E
MOSTARDA ABÓBORA: as sementes podem ser tostadas e servidas
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O APROVEITAMENTO Integral dos Alimentos: Melhor dos alimentos que não costu-
INTEGRAL É POSSÍVEL Sobrar do que Faltar”, destaca
que o baixo aproveitamento dos
mam marcar presença nos car-
dápios mais tradicionais:
Não é costume ainda no Brasil, alimentos pelos próprios consu- • Os talos de couve, agrião, be-
mas é possível aproveitar os ali- midores finais é um dos maiores terraba, brócolis e salsa, entre
mentos de maneira integral, ou responsáveis pelo desperdício. outros, contêm fibras e po-
seja, em sua totalidade – literal- “A forma mais comum de dem ser aproveitados como
mente, até o talo. desperdício caseiro é a distorção recheios de tortas, patês ou em
Em um artigo que estuda o no uso do alimento. Talos, fo- escondidinhos.
aproveitamento integral de ali- lhas e cascas são, muitas vezes,
mentos, publicado em 2012, a mais nutritivos do que a parte • Os talos do agrião podem ser
nutricionista Tereza Raquel Lau- dos alimentos que estamos ha- refogados com tempero e ovos
rindo e a médica Karina Antero bituados a comer”, alerta. batidos como incremento ao
Rosa Ribeiro concluíram que esta Porém, a mudança dos hábi- molho pesto de manjericão.
prática, além de gerar economia tos alimentares não é algo tão • As folhas da cenoura são ricas
na hora das compras, também au- simples. Assim como diversos em vitamina A (importante
menta o consumo de nutrientes. outros elementos, a culinária para saúde dos olhos, pele, ca-
“Através do aproveitamento também faz parte da cultura, e belos e para o crescimento). E
das partes comumente inutiliza- adotar novas práticas de preparo podem substituir o uso da sal-
das, é possível não só alimentar inclui mudar a visão da socieda- sinha – são extremamente pa-
um número maior de pessoas, mas de sobre os alimentos. recidas em aspecto e sabor.
também reduzir as deficiências nu- “O aproveitamento integral • A água do cozimento das bata-
tricionais que possam existir, uma passa de mera utilização de cas- tas acaba concentrando todas as
vez que, boa parte dos alimentos cas, folhas, talos e brotos para vitaminas. Pegue esta água, jun-
desperdiçados contém nutrientes uma prática de consumo cons- te leite em pó e manteiga para
com alto valor nutricional”, expli- ciente dessas partes, tornando- fazer purê, ou para agregar valor
cam as pesquisadoras. se um exercício da cidadania”, nutricional ao arroz ou massa.
Analisado sob uma perspec- ressaltam Teresa Antero e Kari-
tiva social, o aproveitamento in- na Ribeiro. • A água do cozimento da beter-
tegral também ajuda a promover No geral, a população bra- raba pode ser utilizada para o
a sustentabilidade, já que reduz sileira ainda não está habitua- preparo de gelatinas vermelhas
a quantidade de resíduos descar- da a aproveitar o máximo dos para deixá-las mais nutritivas.
tados nos aterros sanitários. alimentos. Para ajudar nessa • Cascas de batata, mandioqui-
A nutricionista Camila Ba- tarefa, confira abaixo algumas nha, nabo, cenoura ou beter-
dawi, no artigo “Aproveitamento ideias de como utilizar partes raba podem ser assadas ou fri-
tas em óleo quente e servidas
como aperitivo.
• A casca da laranja pode ser ca-
ramelizada, para ser servida
com café, ou utilizada em com-
potas ou mesmo para biscoitos.
• Com as cascas das frutas, po-
de-se preparar sucos baten-
do-as no liquidificador. Este
suco pode ser aproveitado
para substituir ingredientes
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dos alimentos.
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A FOME NO MUNDO
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ria possível se deparar com um
grupo de pessoas cultivando sal- cultivadas em espaços coletivos
sinha, cebolinha, pimenta e mui- como praças, parques e escolas.
to mais? Hoje, isso já faz parte Aliás, o caráter coletivo é uma oito anos depois, há mais de 40
da realidade da região. marca destas iniciativas. “cantos comestíveis” espalhados
Nos últimos anos, vem se tor- No grupo on-line da rede por lá, incluindo o cultivo nas
nando cada vez mais comum en- Hortelões Urbanos, que reúne escolas locais. E o mais curioso
contrar locais de cultivo coletivo pessoas interessadas no cultivo é que tudo o que é cultivado nas
nas grandes cidades do mundo. de alimentos nas cidades, já re- hortas pode ser consumido gra-
Uma reportagem publicada no úne mais de 35 mil participan- tuitamente por qualquer mora-
portal Disney Babbel revela que tes apenas cinco anos após sua dor, basta colher.
em Nova Iorque (Estados Uni- formação. Apesar de o grupo Durante uma palestra em
dos), Sidney (Austrália) e Hong apresentar dicas de como culti- Londres, durante o TEDSalon,
Kong (China), as chamadas “fa- var hortas em espaços pequenos, a cofundadora do projeto Pam
zendas urbanas” já são regula- como varandas de apartamentos, Warhurst declarou que as hortas
mentadas e contam com o apoio os membros também são estimu- têm como objetivo dar início a
dos governos locais. lados a criarem hortas comunitá- uma revolução no que diz res-
A densa urbanização somada rias nos locais onde vivem. peito à produção de alimentos.
ao ritmo acelerado da vida nas Entre as grandes cidades “As pessoas querem ações posi-
metrópoles faz com que as pes- elencadas pela material da Dis- tivas nas quais possam se engajar
soas fiquem cada vez mais dis- ney Babbel, Nova Iorque é a e, bem no fundo, sabem que che-
tantes dos alimentos que conso- metrópole com o maior número gou a hora de assumir responsa-
mem e de como são produzidos. de fazendas urbanas: são mais bilidades e investir em mais gen-
Foi neste cenário que as hortas de 700, segundo contagem feita tileza com o outro e com o meio
urbanas começaram a florescer. pela organização nova-iorquina ambiente”, ressaltou.
Criadas para facilitar o acesso Five Borough Farm.
a alimentos frescos e saudáveis, Porém, a nível mundial, o des-
estes espaços são ainda uma for- taque fica por conta da pequena
ma de aproximar vizinhos, ami- cidade inglesa de Todmorden,
a 379 quilômetros de Londres.
Desde 2008, o município implan-
tou o projeto “A incrível comes-
tível Todmorden”, que estimulou
o cultivo de hortas coletivas em
espaços públicos da cidade.
littleny / Shutterstock.com
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Divulgação/ CEAGESP
ções que acolhem refugiados.
Para garantir a qualidade dos
NO ENTREPOSTO SÃO PAULO, O MAIOR DA AMÉRICA LATINA, CIRCULAM alimentos distribuídos, antes de
mensalmente 280 mil toneladas de alimentos serem encaminhados às entidades
beneficiadas, os produtos passam
quilômetros até chegarem ao seu
COMBATE AO destino. Além disso, os produtos
por um processo de seleção coor-
denado por nutricionistas. Junto
DESPERDÍCIO NA ainda enfrentam uma segunda às mercadorias, os profissionais
jornada até chegarem às gôndolas
DISTRIBUIÇÃO DOS dos supermercados e hortifrútis.
do banco também fornecem aos
destinatários da doação algumas
ALIMENTOS Por conta de todo esse per- dicas de receitas com aproveita-
curso, alguns produtos que saem mento integral dos alimentos.
A Companhia de Entreposto e
da horta fresquinhos amadure- Ao passarem pela seleção, os
Armazéns Gerais de São Paulo,
cem antes de chegar à mesa do produtos que são considerados
mais conhecida como Ceagesp,
consumidor. Quando isso ocor- impróprios para o consumo são
é responsável por administrar a
re, os atacadistas responsáveis transformados em adubo orgâ-
maior central de abastecimento
pela distribuição dos alimentos nico por meio de compostagem.
de frutas, verduras, flores e outros
acabam descartando-os antes A passagem pelo entreposto,
itens alimentícios da América La-
mesmo de serem vendidos. E porém, é só uma das etapas que
tina. Por mês, são comercializa-
parte desse descarte é feito den- as mercadorias percorrem antes
das no Entreposto Terminal São
tro da Ceagesp. de chegarem à mesa do consu-
Paulo, localizado na zona oeste
Para evitar que estes alimentos midor. Desde a saída da horta,
da capital paulista, cerca de 280
em boas condições sejam desper- o transporte pelas estradas até
mil toneladas de produtos.
diçados, a companhia mantém o
Estas mercadorias chegam até
Banco Ceagesp de Alimentos.
a Ceagesp a bordo de caminhões
Criado em 2003, o banco tem
que, por vezes, viajam centenas de
como objetivo coletar e selecio-
nar os alimentos doados pelos
produtores e comerciantes ata-
cadistas que atuam dentro da
Ceagesp e repassar a entidades
sociais do estado de São Paulo.
Nos últimos anos, a iniciativa
distribuiu cerca de 160 tonela-
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CELEBRIDADES QUE
FAZEM A DIFERENÇA
Asianet-Pakistan / Shutterstock
JOLIE NO PAQUISTÃO:
embaixadora da ONU
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Northfoto / Shutterstock
tes, declarou: “Como mãe, não
SELENA GOMEZ
A cantora e atriz é uma das em-
A CANTORA COLOMBIANA SHAKIRA AJUDOU A
baixadoras do Fundo das Nações reconstruir uma escola no Haiti após o terremoto de 2010
Andrea Raffin / Shutterstock.com
Unidas para a Infância (Unicef).
“Quando você fala com essas Em 2011, a cantora colombiana
crianças, vê esperança, compro- doou US$ 800 mil por meio de sua
metimento e um futuro brilhan- organização não governamental,
te”, disse ao participar de ações Pés Descalços, para a construção O ATOR CHINÊS JACKIE CHAN FEZ SHOWS PARA
humanitárias em Gana e no Chile. de uma escola no Haiti, após o arrecadar fundos para vítimas de desastres no Japão
terremoto de 2010 que destruiu
grande parte do país. Em 2011, o ator chinês realizou
OPRAH WINFREY uma série de shows e apresenta-
A apresentadora mantém uma ções para arrecadar fundos para
escola, a Oprah Winfrey Lea-
GEORGE CLOONEY o Japão, que sofreu terremotos,
dership Academy for Girls, que O ator apoia as operações de tsunami e vazamento de mate-
garante moradia, alimentação paz realizadas pela ONU em rial nuclear.
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cano Warren Buffett, Gates fundou uma das metas da Fundação, que
o The Giving Pledge, um clube de costuma oferecer bolsas de estu-
bilionários que se comprometem do em áreas relacionadas à saúde
a doar quase toda sua fortuna à ca- global, alfabetização infantil, tec-
ridade no momento de sua morte. nologias inovadoras e prevenção REDUZIR A MORTALIDADE INFANTIL É UMA DAS
O clube conta com nomes como o de doenças. metas da Fundação Bill & Melinda Gates
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neftali / Shutterstock.com
NORDESTE JÁ
A iniciativa desencadeou no mesmo ano, no Bra-
sil, a campanha Nordeste já, que seguiu a ideia SELO DE 1985 HOMENAGEIA O CANTOR MICHAEL JACKSON, UM DOS NOMES
original, mas que, por aqui, abraçou a causa da a frente do projeto “We are the world”
PRESIDENTE: Paulo Roberto Houch • VICE-PRESIDENTE EDITORIAL: Andrea Calmon (redacao@editoraonline.com.br) • COORDENADOR DE ARTE: Rubens Martim •
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NESTA EDIÇÃO
GRANDES CICLOS DE FOME
PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS
A FOME NO MUNDO HOJE
COMO EVITAR O DESPERDÍCIO
CRISES, GUERRAS E CONSEQUÊNCIAS
METAS E PROJETOS DA ONU
O BRASIL E A FOME
ALIMENTAÇÃO: UM DIREITO FUNDAMENTAL
INCIATIVAS DE COMBATE A ESTE MAL
ISBN: 978-85-432-1325-5
Edição: 01
Ano: 01
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