Livro I - Completo.
Livro I - Completo.
Livro I - Completo.
Satanás desperta todas suas legiões e potestades que até ali estavam igualmente aturdidas.
É após o brandir de Satanás que Milton nos apresenta o primeiro indício do caráter
trágico do anjo apóstata7 O autor tece um Satanás com uma dimensão notavelmente
humana. Condenado a perdição sem fim e tomando conhecimento de sua tragédia, o
mesmo se arrepende em primeiro momento ao observar as condições as quais as suas
ações os levou. Além disso, lamenta-se por causar dor aos seus seguidores fiéis.
Entretanto, no fim, persiste em sua escolha, pois, para Satanás, É melhor reinar no
inferno do que no céu servir8. Após inflamante discurso de Satanás, levantam-se os anjos
caídos, pois, ouviram, e pejosos se lançaram9, em grande número "Tão inúmeros eram
os maus anjos. Pairando num voo sob o teto do orco"10, suas ordens de batalha, os
principais chefes chamados, de acordo com os ídolos que serão conhecidos mais tarde em
Canaã e nas terras adjacentes. Milton aborda os ídolos pagãos como falsos deuses
venerados que eram, na verdade, demônios, ou seja, anjos caídos, que haviam persuadido
a humanidade a prestar falsos cultos. Passa, portanto, Milton a clamar Urânia para que ela
conceda os dons necessários para que ele possa apresentar os anjos caídos agora com
nome de Deuses pagãos, pois, seus nomes foram apagados do livro da vida após a
queda11. Milton, ao apresentar os anjos caídos que serão tidos como deuses pagãos, faz
um travestismo dos doze discípulos de Cristo. Moloque é rei porque é esse o sentido
literal do seu nome. Os restantes são: Quemós, Baalim, Astarote, Astarte, Tamuz, Dagon,
Rimon, Osíris, ísis, Hórus e Belial. A estes Satanás põe-se a discursar e conforta-os na
esperança de ainda reconquistarem o Céu12. Diz-lhes Satã que havia uma antiga profecia
ou relatos no Céu, de que haveria um novo mundo e nova criatura e serem criados. Para
saber da veracidade desta profecia e o que deliberar em relação à ela e à situação ao qual
os anjos caídos se encontravam, recorre a um conselho pleno. O que então empreendem
seus companheiros. Subitamente surge o Pandemômio, o palácio de Satanás, erguido das
funduras: os infernais pares lá se sentam em conselho
2 - * - O mói; revolve os olhos perniciosos \ Que farta aflição viram e terror \ Num
misto de ódio e orgulho inexoráveis: \ 'Té onde vai dos anjos a visão \ Vê o mórbido
estado seco e bravo, \ Um cárcere horrível, curvo de cantos \ Como inflamado por forno,
porém chamas \ Sem luz, senão visível cerração \ Revelando paisagens de lamento, \
Regiões de dor, sombrias, onde paz \ E descanso não restam, nem esperança \ Que a
todos no fim resta; mas tortura \ Sem fim, e ígneo dilúvio, atiçado \ Com sempre ardente
enxofre consumido: \ Tal lugar a justiça eterna deu. Livro I. v- 56 - 79.
3 - * - Ele és, mas quão caído! quão diferente, \ Daquele, que nos reinos de luz álacres \
Vestindo excelso brilho encandeaste \ Miríades brilhantes. Livro I, v- 84 -87.
5 - *E se o conquistador (que eu por força \ Onipotente julgo, pois não menos \ Que
toda a força a nossa excederia)\ Intactos nos deixou poder e alento\ P'ra podermos
co'as penas e o sofrer, \ Bastando isso à ira vingativa? \ Ou escravo nos prefere e lhe
prestemos \ Por lei de guerra, prontos e ao dispor, \ Laborando no fogo infernal, \
Fazendo o frete neste fosso escuro. \ De que nos aproveita que sintamos \ Vigor igual, ou
eternas essências \ Se sujeitas a eterna punição? Livro I, v - 143 - 157.
6 - * Mas certo sê. / O bem jamais será nossa tarefa, / Mas o mal o nosso único prazer,
Como o oposto da altíssima vontade / Que combatemos. Se então presciência / Propuser
outro bem do nosso mal, / Deve ser mister nosso pervertê-lo / E do bem achar meios
para o mal. Livro I, v- 158 - 165.
7 - É esta região, o solo, o clima, \ Disse o arcanjo perdido, o assento\ A trocar pelo Céu,
as trevas tristes \ Pela celeste luz ? Seja, já que ele \ Que agora é soberano usa e manda\
O que entende; à parte está melhor\Quem lhe igualou razão, força fez súpera\Acima dos
seus pares. Adeus campos\ Que o gozo sempre habita, ave horrores, \ Mundo infernal, e
tu profundo Inferno\ Recebe o novo dono, o que traz\Mente por tempo ou espaço Não
trocável\ Faz do inferno Céu, faz do Céu inferno. Livro I, v - 242 - 255.
8 - Livro I, v - 263 -264.
9 - Livro I, v - 331.
11 - Os nomes, apagados e delidos / Dos livros da vida à traição devido. / Nem ainda
entre os filhos de Eva tinham / Novos nomes, até que, em terras errantes, / Por outorga
de Deus no ordálio humano, Com mentiras e embustes grande parte / Dos homens
seduziram a abjurar / O seu Deus criador, e dele glória / Que invisível amiúde
transformavam ; Em imagem brutal, ornamentada / Com ritos pavões, cheios de ouro e
pompa, / E diabos a adorar quais divindades: / Entre os gentios eram então célebres /
Nos vários nomes e ídolos pagãos / Diz, Musa, os nomes, que antes e depois / Se
ergueram do torpor do ígneo leito / À voz do imperador, que hierarquia / À vez se lhe
juntou na praia nua / Quando ao longe 'inda turba se enleava. Livro I, v - 363 - 380.
Ó espiritos sem fim, ó potestades / Sem par, à parte o ímpar, vossa luta / Não foi inglória,
pese embora o fim / Que este lugar reflete, e a inominável / Mudança: pois que alcance
de uma mente / Prevendo ou agourando, das fundura / De saber velho ou novo,
temeria, / Quem diria que tal força de deuses, / Tão firme e una, provasse tal repulsa? /
Quem pode também crer, mesmo na perda, / Que estas legiões possantes, cujo exílio /
Evacuou o Céu, não reascenderão / Por si a reapossar o assento pátrio? / Testemunha
me seja a hoste célica, / Se avisos discordes ou perigo obstados / Por mim nos abateram.
O Monarca, / Que no Céu reina, tinha então seguro / O trono, no bordão da velha fama,
/ Licença ou regra, e o seu estado régio / Mostrava, mas a força não, escondia-a / Que o
intento nos tentou e a queda ornou. Livro I, v - 620 - 640.