Case Frans Cafe
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Nº 27
Case-Study
FRAN’S CAFÉ
Reestruturação interna e inovação na linha de produtos para enfrentar a
concorrência.
Como o Fran’s Café, uma das maiores redes de cafeterias do país, iniciou um processo de
reestruturação e reposicionamento de suas lojas para enfrentar a concorrência no mercado de
cafeterias.
Este case foi elaborado por Elaine Michely Furtado Carozzi, sob a
orientação do professor Alexandre Gracioso,
com base em publicações editadas no
período de fevereiro/00 a abril/02.
Central de Cases ESPM/EXAME FONE (11) 5085-4570, OU ACESSE O SITE DA ESPM (www.espm.br/publicações).
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I – Introdução
Este caso descreve o desafio da rede Fran’s Café para se reposicionar no mercado de
cafeterias de alto padrão, como a melhor no ramo. A empresa busca aprimorar seu
produto principal, o café, e investir em mudanças que a médio e longo prazo coloquem
a rede como uma das melhores cafeterias do Brasil. Além disso, a estratégia da empresa
inclui um plano de expansão de suas lojas por todo o país, o que impõe um segundo
desafio para a rede: levar o café de alta qualidade para regiões onde o consumo de café
não é tão expressivo quanto nas capitais brasileiras.
Hoje, o mercado de café expresso no Brasil movimenta 100 milhões de reais por ano e,
segundo o Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo (Sindicafé), tem
potencial para muito mais.
A rede Fran’s começou há três anos um processo de mudanças para recompor seu mix
de produtos, promover algumas modificações na sua arquitetura e lançar sua marca
própria de café, o Café Fran’s, uma mistura de grãos de alta qualidade.
A rede Fran’s Café não é a maior da capital paulista, mas tem um perfil único. O tempo
de permanência dentro de suas lojas é de vinte minutos durante o dia e uma hora e meia
durante a noite. Aberta 24 horas (exceto as unidades de shopping e em pontos onde o
fluxo de pessoas só ocorre em horário comercial) e com um cardápio diferenciado, as
lojas Fran’s tornaram-se ponto de encontro para quem busca um ambiente com estilo e
ao mesmo tempo descontraído.
Além disso, a rede Fran’s Café conseguiu reunir um misto de lanchonete e cafeteria ao
mesmo tempo, segundo Sérgio Freire, gerente de marketing do Fran’s, as lojas
proporcionam uma sensação de integração. Sensação porque na verdade, segundo
Freire, o cliente dentro da loja dificilmente é abordado por outro, ou seja, não é um
lugar para se conhecer pessoas, porém o cliente tem a sensação contrária de que está
num ambiente familiar.
O desafio, hoje, da rede é unir esse conceito Fran’s com a mais alta qualidade de seus
produtos. Para isso, a empresa deu início em 2002 a um processo de mudanças nas mais
diversas áreas, mas, principalmente, reposicionando seu produto principal: o café.
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II – Mercado para Cafeterias no Brasil
No Brasil, o consumo de café de alta qualidade está crescendo. Na cidade de São Paulo,
o consumo de café expresso cresceu 10% entre 2000 e 2001. O expresso é um produto
que no Brasil ainda é consumido na grande maioria das vezes fora de casa. Isso abre
oportunidades para a expansão de cafeterias, que hoje é um ramo de negócio bem
definido e diferenciado, que comporta lojas dos mais diferentes tipos e formatos.
Por semana são consumidas na cidade de São Paulo 3,5 milhões de xícaras de café
expresso1, e existe demanda bastante forte por parte do consumidor brasileiro não
apenas por bebidas de qualidade, mas também por ambientes que oferecem mais que
uma xícara de café.
Em restaurantes, o preço do café gourmet pode ser de oito a quinze vezes superior do
que em supermercados, chegando a dois reais a xícara. Apesar de em 2002 o Brasil estar
colhendo sua maior safra dos últimos 50 anos, o preço do café fora de casa aumentou
126% desde o início do Plano Real, sendo seu preço hoje o mais alto dos últimos oito
anos.
Hoje, nos supermercados, 11% da área de vendas na categoria café é ocupada pelos
especiais. Quase 20 marcas nacionais e importadas disputam nas gôndolas um mercado
que, na Grande São Paulo, movimenta mais de 40 milhões de reais, conforme
estimativas do Sindicafé. Para Nathan Herszkowicz, presidente do Sindicafé, esse
negócio não representa mais um nicho, mas sim um mercado já consolidado.
Os hábitos de consumo também mudaram. Há alguns anos atrás não se tinha o costume
de pagar pelo cafezinho em restaurantes, por exemplo. Hoje, o brasileiro está
aprendendo a diferenciar um café tradicional de um café gourmet.
O fato de o consumidor ter adquirido o hábito de tomar café expresso há pouco tempo
explica parte do porquê do desenvolvimento tardio dos cafés gourmet no país. A rede
Café do Ponto começou a comercializar cafés especiais de quatro regiões do Brasil em
1992. Dois anos depois, chegou ao país a italiana Illy, hoje já consolidada no mercado.
“São Paulo responde por 80% do faturamento de 2,5 milhões de dólares no Brasil”,
afirma Lauro José Bastos, diretor da Illy no país. Na mesma época, fazendeiros de café
montavam torrefadoras e criavam suas próprias marcas de café gourmet, como é o caso
das marcas Café Astro e Café do Centro. A produção de café de alta qualidade ganhou
impulso ainda em razão da baixa do preço do café verde, que motivou plantadores a
apostar numa parcela da produção com grande rentabilidade. Enquanto a saca do café
comum é comercializada por cerca de 70 reais, a de café especial atinge a média de 200
reais.
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III – Histórico do Fran’s Café
Com o aumento das vendas, em um curto espaço de tempo, o fundador do Fran's Café
abriu a segunda loja, localizada na estação rodoviária de Bauru, local também de
intenso movimento daquela cidade.
Sem dúvida, essa experiência foi a grande responsável pela formatação do atual
conceito 24 horas Fran’s Café, tendo em vista que, o fato de a loja funcionar em uma
estação rodoviária, obrigou seu fundador a mantê-la aberta ininterruptamente, a fim de
atender ao constante fluxo de pessoas que entravam e saíam da cidade.
Enfim, com a rápida expansão das duas lojas na cidade de Bauru, no ano de 1988, o
fundador do Fran's Café associou-se a José Henrique Ramos Ribeiro, que viabilizou a
operação do Fran's Café, na Cidade de São Paulo, inaugurando a primeira loja nesta
capital, instalando-se no Edifício Itália, um dos cartões postais da cidade.
Em 1992, com o rápido crescimento da Rede, a Fran’s Café decidiu pela expansão de
seus negócios pela implantação de Sistema de Franchising, iniciativa pioneira, tendo em
vista que, à época, eram poucos os profissionais que atuavam na área de franquia no
país.
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IV – A Estratégia
A rede de franquia do Fran’s Café trabalha com um conceito muito semelhante ao das
cafeterias da Europa, que tem como objetivo proporcionar não só um bom café, mas
também um ambiente agradável e de conforto para seus clientes.
Hoje, a rede Fran’s vende cerca de 170.000 xícaras de café por semana, o que soma
quase 10 milhões de reais por ano – quase a metade do faturamento total da rede, que
foi de 22 milhões de reais em 2001.
A empresa trabalha com um mix de 80 a 90 produtos e uma loja Fran’s pode faturar
cerca de R$ 35 mil, sendo o café o responsável pela maior parte de suas vendas. Porém
são vendidos tortas, cigarros, refrigerantes, sorvetes, sanduíches, saladas e sopas. A
localização ideal das lojas para o conceito da rede são os pontos de rua, isso porque a
rede oferece mesas e cadeiras para o consumidor usufruir o prazer de um bom café.
O Sistema de Franquia Fran's Café conta com mais de 50 lojas franqueadas e 6 lojas
operadas por seus fundadores e vem-se consolidando no mercado nacional, não apenas
pela qualidade dos produtos que comercializa, mas também pela localização das lojas,
as quais se encontram presentes nos melhores pontos comerciais, como logradouros do
comércio varejista e em grandes shoppings centers.
A rede atualmente está sob a direção da Fran’s Café Franchising, mas já foi
administrada pela LM3 Franchising Management que assumiu o Fran’s Café há três
anos e tinha contrato de gestão de dez anos com os proprietários da marca. A LM3 era
responsável por toda a administração e por lançar as novas estratégias para revigorar a
imagem e o perfil corporativo da rede Fran’s Café. Desde dezembro de 2001, a LM3
não gerencia mais os negócios da rede e sim passou a ser uma empresa do grupo Fran’s.
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A empresa trabalha com o conceito 24 horas e lojas padrão que tenham no mínimo 80
m, no entanto para adequar-se a novos modelos de negócios a rede abriu lojas tipo
quiosques e office, como as que funcionam em prédios comercial e também lojas 16
horas para localidades onde o fluxo de clientes não ultrapassa, na sua maioria, do
horário comercial. Essa flexibilidade no tamanho das lojas se deve a grande dificuldade
de se encontrar pontos nas regiões de interesse da rede que comportem uma loja no
formato tradicional.
Na estratégia desenhada pela empresa para reposicionar a rede Fran’s Café inclui uma
comunicação visual forte que vai desde uma padronização arquitetônica marcante,
atualização da logomarca e peças exclusivas, bastante sensíveis ao consumidor.
A última estratégia da empresa foi uma grande restruturação em sua linha de produto,
lançada em junho de 2002. As diferenças são sutis, já que se trata apenas de um reforço
no reposicionamento da marca, mas constituem um grande passo estratégico. “todas as
lojas venderão o café Fran’s, um expresso de altíssima qualidade” diz Lupércio.
Desde de 1996, o café servido nas lojas Fran’s Café é o Spresso, da Melita. Agora, a
rede quer vender exclusivamente o café da marca Fran’s, produzido com grãos especiais
e 100% nacional. Também foi lançada em 2002 a linha Collection, de produtos
exclusivos da marca Fran’s Café. Serão vendidas cafeteiras, xícaras especiais, aventais,
camisas pólo e outros artigos da marca. O investimento inicial foi de 1 milhão de reais,
divididos entre 15.000 novos pratos e xícaras, 70 moinhos de café e publicidade nas
lojas.
A empresa, que hoje possui 75 lojas no país, pretende abrir mais 200 novas lojas, sendo
18 só em 2002. Para aplicar esse plano de expansão, a rede conta uma logística eficaz: o
café Fran’s é embalado de forma especial que mantém o teor e a qualidade de seus grãos
e o restante do mix de produtos são produzidos por fornecedores que possuem
distribuição nacional. A rede inaugurou recentemente uma loja em Recife e diz que a
logística é muito eficiente.
A política de preços para as diferentes regiões onde a rede pretende atuar será estudada
praça a praça, segundo Sérgio Freire. Isso porque existem diferenças de hábitos e poder
aquisitivo da população em determinadas regiões.
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V – A Concorrência
O Brasil possui atualmente 1.500 cafeterias, um terço das quais funciona como
franquias das marcas Café do Ponto, Café Pelé, Fran’s Café, Mr. Coffee e de redes
como a Casa do Pão de Queijo e DunKin’Donuts, nas quais o conceito é outro, mas a
venda de café tem grande peso. Cada rede de cafeterias possui uma estratégia singular
de fato que, muitas delas, não são concorrentes diretamente entre si.
O que ocorre é que o perfil de cada loja é, em alguns casos, muito diferente. Em
algumas lojas o cliente apenas entra e consome, na maioria das vezes, no balcão mesmo.
Em outras, como a rede Fran’s Café o cliente pode consumir tanto um cafezinho como
fazer uma refeição completa.
Cabe ressaltar que a rede Fran’s Café vem seguindo há algum tempo uma estratégia
similar à americana Starbucks. O sucesso da Starbucks Coffee Company é uma das
histórias mais notáveis do mundo dos negócios registradas na última década: partiu de
uma única loja varejista na zona portuária de Seattle para uma empresa com mais de mil
lojas espalhadas pelos Estados Unidos, com uma média de 50 novas lojas sendo
inauguradas por mês.
Mesmo sem quase fazer propaganda, que hoje se restringe aos pontos-de-venda, a
Starbucks foi considerada uma das 25 maiores marcas globais do século 21, pela revista
Interbrand magazine. A empresa alcançou um faturamento de US$ 2,6 bilhões em
2001.
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A rede americana tem planos para a América Latina e principalmente para o Brasil. A
Starbucks trabalha com lojas próprias nos Estados Unidos e fora dele por meio de
parcerias.
Para vir para o Brasil, a empresa alega depender de uma parceria que, segundo seu CEO
Orin Smith, não se trata de uma rede de franchising como o Mc Donald’s e sim uma
empresa que já atue no setor de café. Essa parceria faz parte de uma estratégia para que
a empresa possa adaptar-se à cultura local.
A rede Café Pelé trabalha com um mix de 25 a 30 itens, e suas unidades são em sua
maioria (95% de seus pontos) no formato de lojas e quiosques, os quais, além do
tradicional cafezinho, oferecem as combinações com leite, cappucino, chás, pães de
queijo, doces, sorvetes, cigarros e café solúvel; sendo que o café representa, em média,
30% do faturamento das unidades da rede. Fora o ponto, um quiosque requer R$ 43 mil,
e uma loja, R$ 55 mil. O faturamento médio é de R$ 15 mil, mas pode oscilar de 7 mil a
42 reais, dependendo dependendo do local está localizada e do gerenciamento.
Sob o comando do grupo Sara Lee Cafés do Brasil Ltda., a rede de cafeterias Café do
Ponto atua no setor desde 1976, quando inaugurou sua primeira loja de café no
Shopping Ibirapuera (São Paulo). No ano de 1992, foi criado o Departamento de
Franquia, com uma equipe de profissionais especializados, para prestar suporte ao
franqueado durante a implantação, operação e administração da loja.
Com um mix de produtos variados que incluem cafés para consumo imediato, em grãos
ou moído, as lojas também oferecem uma grande variedade de produtos: salgados,
doces, refrigerantes, sorvetes, souvenirs, drink’s à base de café e cigarros.
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Com um ambiente charmoso e melhor atendimento, a rede McDonald’s arrisca nesse
concorrido mercado de cafeterias.
Para a empresa, bons produtos e atendimento eficiente é a fórmula para o sucesso desse
tipo de negócio. Para bebidas, a rede estabeleceu uma parceria com a Nestlé, que já é
fornecedora do McDonald’s no mundo todo há 15 anos. A mistura de grão do café foi
desenvolvida pela Nestlé com exclusividade para o McCafé. O brownie vendido nas
lojas é importado da França, isso porque a empresa não encontrou esse tipo de iguaria
com qualidade à altura de seu padrão de qualidade aqui no Brasil
O setor de cafeterias é tido hoje como uma boa alternativa de investimento. Isso porque
o consumo de café expresso tem aumentado no Brasil. Porém, o setor enfrenta alguns
desafios, pois o brasileiro não possui o hábito de distinguir a qualidade do café e está
muito pouco disposto a pagar um preço alto por um “cafezinho”. Além disso, a
concorrência nesse setor deverá crescer bastante no futuro, principalmente se a
americana Starbucks realmente entrar no mercado brasileiro.
É nesse ambiente que a rede de cafeterias Fran’s Café se esforça para se reestruturar e
posicionar sua marca através de mudanças na arquitetura de suas lojas, na comunicação
e no seu produto principal: o café. A rede busca trabalhar seu composto de marketing,
criando uma marca que seja sinônimo de um bom café e de um ambiente agradável.
A rede Fran’s busca no modelo Starbucks e nas cafeterias européias inspiração para sua
estratégia de posicionamento no setor. Da Europa, a rede buscou trazer o romantismo e
glamour e da Starbucks a estratégia de constituir uma marca forte. Porém, a rede Fran’s
Café, ao contrário da americana Starbucks, investiu fortemente na comunicação com
seu público-alvo.
1. O quanto uma rede multinacional com a força da Starbucks pode ameaçar as redes
de cafeterias nacionais? Ao responder a esta questão, discuta, entre outros pontos, o
quanto é importante para as empresas do setor de cafeterias serem nacionais ou
estabelecerem parcerias com empresas brasileiras, para se adequarem ao mercado do
país.
2. Em comparação com outras empresas do setor, como Café do Ponto, Casa do Pão de
Queijo e McCafé, você acredita que o ambiente agradável de uma cafeteria seja um
diferencial tão importante quanto servir um café gourmet?
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3. Que estratégia de competição, de acordo com a visão de Porter5, você recomendaria
ao Fran’s Café para enfrentar a concorrência, especialmente com a entrada de uma
empresa forte como a americana Starbucks?
4. Tanto o Fran’s Café quanto a Starbucks (ver caso Starbucks) não utilizam
comunicação de massa. Em uma eventual situação de concorrência entre as duas
empresas, você acha que elas deverão rever as suas estratégias?
N.B.: Ao iniciar o estudo deste caso, recomenda-se ao leitor que procure conhecer as
cafeterias da rede Fran’s Café e os seus principais concorrentes. Sabendo-se que o
ambiente é uma das principais vantagens competitivas da rede Fran’s Café, compare o
atendimento oferecido por esta e pelos concorrentes. Analise, também, a estratégia da
Fran’s Café que prefere lojas de rua, ao invés de lojas de shopping. A rede está certa
nesta preferência? Você acha que o conceito de posicionamento da Fran’s Café não se
adapta bem aos shopping centers? Por quê?
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