Entre Pensamentos

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Filosofia para

vestibular medicina
3ª edição • São Paulo
2019

C H
2
CIÊNCIAS HUMANAS
ENTRE e suas tecnologias
PENSAMENTOS Alexandre Rocha Jabur Maluf
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autor
Alexandre Rocha Jabur Maluf

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica
Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Programação visual
Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Claudio Guilherme da Silva Souza
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-9542-085-4

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações
nos principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu
conteúdo enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno
realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo comple-
mentar. Todo livro é iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais
abordados nos principais vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões
propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam
as explicações dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de
informações para o estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais aces-
sível e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar
o repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do
aluno. Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado
com finos critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares
de hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e
química, história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações
que relacionam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante
consegue entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando
o contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas”
de fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção “Aplicação no Cotidiano”. Como o próprio
nome já aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm
contato em seu dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas
dessas habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expo-
sitiva, descrevendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurá-las na sua prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um
deles é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas
mentais e fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para
o seu sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.
Herlan Fellini
SUMÁRIO
ENTRE PENSAMENTOS
Aula 10: John Locke 7
Aula 11: Iluminismo francês 21
Aula 12: Jean-Jacques Rousseau 37
Aula 13: Barão de Montesquieu 51
Aula 14: René Descartes 65
Aula 15: David Hume e Francis Bacon 77
Aula 16: Immanuel Kant I 91
Aula 17: Immanuel Kant II 103
Abordagem de FILOSOFIA nos principais vestibulares.

FUVEST
FUVEST – A abordagem desse vestibular é de âmbito interdisciplinar. Os principais teóricos são
apresentados por meio de fragmentos, tendo o aluno que associá-los aos seus respectivos con-
textos históricos. Neste livro, Hobbes e Locke são os autores mais recorrentes.

UNICAMP
UNICAMP – Tal vestibular preza pelo conhecimento das vertentes filosóficas em si. O candidato
deve situar cada autor dentro de sua respectiva escola filosófica. Também é imprescindível asso-
ciar tais escolas a seus contextos históricos.

ENEM/UFMG/UFRJ
ENEM / UFRJ – Cobra-se a capacidade de interpretação de texto do candidato. Este deverá
ater-se aos excertos apresentados e, juntamente com seus conhecimentos, encontrar a resposta
contida no texto. É imprescindível o conhecimento prévio dos autores. Foca-se, também, sobre-
tudo nos autores pós-medievais.

UERJ
UERJ – A abordagem busca integrar o contexto histórico de cada autor com temas das Ciências
Sociais, isto é, Geografia e História. É necessário conhecer os conceitos básicos de cada autor
para vinculá-los às temáticas propostas.
1 0 John Locke

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
John Locke (1632-1704)

Introdução
John Locke nasceu em 1632 no seio de uma família burguesa da cidade de Bristol, Inglaterra. Seu pai, um
comerciante puritano, combateu na guerra civil inglesa nas fileiras do exército do Parlamento. Após anos de estudo
e militância intelectual antiabsolutistas, foi obrigado a exilar-se na Holanda, de onde só retornou após o triunfo
da Revolução Gloriosa. Além de defensor da liberdade e da tolerância religiosa, Locke é considerado o fundador
do empirismo, doutrina segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência, sendo a mente humana uma
tábula rasa. Em suas palavras:

“Supomos, pois, que a mente é, como disse-


mos, um papel branco, desprovida de todos os ca-
racteres, sem quaisquer ideias; como ela será supri-
mida? De onde lhe provém este vasto estoque, que
a ativa e que a ilimitada fantasia do homem pintou
nela com uma variedade quase infinita? De ode apre-
ende todos os materiais da razão e do conhecimen-
to? A isso respondo, numa palavra, da experiência.
Todo nosso conhecimento está nela fundado e dela
deriva fundamentalmente o próprio conhecimento”
(Locke, Ensaio sobre o entendimento humano)

Dentre as suas obras mais famosas, encontram-se Os dois tratados sobre o governo civil, Cartas sobre a
tolerância e Ensaio sobre o entendimento humano.

John Locke

9
Os dois tratados sobre o governo civil
John Locke é considerado como um dos autores clássicos do liberalismo. Sua concepção da natureza huma-
na e da ordem político-social é tida como base para diversos autores dessa corrente. Em seu primeiro tratado sobre
o governo civil, Locke desenvolveu uma visão crítica a respeito da teoria divina do direito dos reis, rechaçando a
ideia de que a autoridade política fora concedida por Deus a Adão e transmitida, por sucessão, a seus descendentes.
Locke afirmava que o mundo era constituído por três estratos: Deus, o homem e as coisas. Nesse sentido,
a relação entre os homens está definida nos termos da propriedade. A liberdade, por consequência, seria aquela
condição em que cada um coordena suas ações e dispõe de suas posses e pessoas como julga oportuno; portanto,
a liberdade opera quando a relação entre os homens não obstaculiza a relação entre os homens e as coisas. O gozo
da propriedade privada constitui a liberdade natural dos indivíduos.
O conceito de propriedade, para ele, é bastante diferente de seus predecessores. Numa concepção genérica, desig-
nava simultaneamente a vida, a liberdade e os bens; tudo isso se constituiria como direitos naturais do ser humano. Em
termos especificamente materiais, ao incorporar o seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado natural, o
homem tornava-a sua propriedade, estabelecendo sobre ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros
homens. O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da propriedade.
Para Locke, o estado de natureza não é um estado de guerra, como preconizava Hobbes, mas uma con-
dição em que o homem vive em plena liberdade e igualdade, sem subordinação e sem se ver submetido a qualquer
autoridade legal. O exercício da razão e da virtude, além da fruição da propriedade, ocorreria com plenitude. Nessa
situação, ninguém teria mais do que necessita para viver plenamente.
Contudo, o estado de natureza, relativamente pacífico, não está isento de inconvenientes, como a violação
da propriedade que, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de força coercitiva para impor a execução de
sentenças, coloca os indivíduos singulares em estado de guerra uns contra os outros. É a necessidade de superar
esses inconvenientes que, segundo Locke, leva os homens a se unirem e estabelecerem livremente o contrato
social, que realizava a passagem do estado de natureza para a sociedade política e civil. Esta é formada por um
corpo político único, dotado de legislação, de judicatura e da força concentrada da comunidade.
O objetivo central da autoridade política seria o de preservar a propriedade privada, ou seja, o direito natural
dos indivíduos, além de proteger a comunidade de perigos internos e externos. Vale salientar que, para o filósofo,
o contrato social é um pacto de consentimento: os homens concordam livremente em formar a sociedade civil para
preservar seus direitos. Logo, nenhum membro da sociedade estaria acima do contrato social.

Londres

10
Para ele, a vantagem da sociedade política é tanto maior quanto mais eficientemente protege, sob o amparo
da lei, a liberdade e os bens dos súditos, isto é, princípios incompatíveis com o Absolutismo.

“Considero, portanto, poder político o di-


reito de fazer leis com pena de morte e, conse-
quentemente, todas as penalidades menores para
regular e preservar a propriedade, de empregar
a força da comunidade na execução de tais leis
e na defesa da comunidade de dano exterior; e
tudo isso tão-só em prol do bem público”
(Locke, Segundo tratado sobre o governo civil)

No que diz respeito às formas de governo, Locke defende que deva ser escolhida pela maioria da comuni-
dade, respeitando-se, porém, os direitos da minoria. Por outro lado, resgata e defende o princípio aristotélico do
governo misto: a separação do poder entre Legislativo, Executivo e Federativo, sendo o primeiro o poder político
supremo. O Legislativo “... é o que tem direito de estabelecer como se deverá utilizar a força da comunidade no
sentido da preservação dela própria e de seus membros.”. Porém, sua existência é tomada em poucos e efêmeros
momentos, pois visa somente à criação de leis vistas como necessárias pela comunidade.
Já o Executivo deve ser constate e duradouro, pois garante a “execução e observância” das leis criadas pelo
legislativo. Desse modo, estes dois poderes ficam frequentemente separados. E, por último, o poder Federativo,
o “... poder de guerra e de paz, de ligas e alianças, e todas as transações com todas as pessoas e comunidades
estranhas à sociedade.”.

(Guilherme de Orange, primeiro monarca inglês a submeter-se à Constituição)

Ressalta-se, diante disso, que como nenhum indivíduo ou grupo está acima do contrato social, um governo
que constantemente viola a lei estabelecida e atenta contra a propriedade, torna-se ilegal, ou seja, degenera-se
em tirania, visto que não atende mais ao bem público. Sob tais circunstâncias, Locke defende a doutrina da
legitimidade da resistência, conferindo ao povo o legítimo direito de resistência armada aos que atentam
contra os direitos individuais e naturais. Tal doutrina ajudou a insuflar inúmeras revoluções liberais que eclodiram
posteriormente na Europa e na América.

11
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo John Locke

Fonte: Youtube

Vídeo John Locke

Fonte: Youtube

Vídeo John Locke | O Segundo Tratado Sobre o Governo

Fonte: Youtube

12
LER

tt
Livros

Segundo Tratado Sobre o Governo Civil - John Locke

Este livro é um clássico da Ciência Política. Fundamentado no


direito natural e no estado natural, traz na liberdade a essência
da soberania Política, tendo influenciado a Declaração de
Independência dos Estados Unidos e se tornado um ícone do
liberalismo político moderno.

Compreender Locke - Patrícia Sheridan

Compreender Locke é uma análise clara e completa da filosofia


de Locke, e oferece um guia ideal para o pensamento deste
filósofo fundamental. O livro apresenta uma resenha temática da
principal obra de Locke, o Ensaio sobre o Entendimento Humano,
além de um apanhado convincente e confiável de sua vida e
influências filosóficas.

13
INTERDISCIPLINARIDADE

Revolução Gloriosa é o nome dado ao movimento ocorrido na Inglaterra entre 1688 e 1689, no qual o rei
Jaime II foi destituído do trono britânico. Chamada por vezes de "Revolução sem sangue", pela forma deveras pací-
fica com que ocorreu, ela resultou na substituição do rei da dinastia Stuart, católico, pelos protestantes Guilherme,
Príncipe de Orange, da Holanda, em conjunto com sua mulher Maria II (respectivamente genro e filha de Jaime II).
Essa revolução marcou um importante ponto para o direcionamento do poder em direção do parlamento,
afastando a Inglaterra permanentemente do absolutismo. Foi aprovado no parlamento o Bill of Rights (declara-
ção de direitos), em que se proibia que um monarca católico voltasse a governar o país, além de eliminar a censura
política, reafirmando o direito exclusivo do Parlamento em estabelecer impostos e o direito de livre apresentação
de petições. A declaração ainda garantiu ao parlamento a organização e manutenção do exército, tirando qualquer
possível margem de manobra política e institucional possível do monarca.
Assim, a barreira representada pelo absolutismo foi removida da vista da classe burguesa e da aristocracia
rural, trazendo, com a Revolução Industrial, uma consequente prosperidade e florescimento às duas, o seu auge
dentro da sociedade inglesa.

Parlamento Inglês

14
Estrutura Conceitual

Direitos
Iguais

Transfere o poder

ESTADO
SOCIEDADE Garante segurança e proteção (Executivo, Judiciário
CIVIL e Federativo)

vida
liberdade
De onde emana propriedade
o poder legítimo

Ausentes no Estado
de Natureza

15
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Unicamp) A maneira pela qual adquirimos verdades construídas deste modo não pesam
qualquer conhecimento constitui suficiente mais que os discursos de um homem que vê
prova de que não é inato. coisas claramente num sonho e com grande
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento segurança as expressa. Mas espero, antes de
humano. São Paulo: Nova Cultural, 1988, p.13. terminar, tornar evidente que este meio de
certeza, mediante o conhecimento de nossas
O empirismo, corrente filosófica da qual
ideias, vai um pouco além da pura imagina-
Locke fazia parte,
ção; e acredito que será mostrado que toda a
a) afirma que o conhecimento não é inato, pois
certeza das verdades gerais pertencentes a
sua aquisição deriva da experiência.
b) é uma forma de ceticismo, pois nega que os um homem não se encontra em nada mais.”
conhecimentos possam ser obtidos. Locke.
c) aproxima-se do modelo científico cartesia-
“Aristóteles e Locke consideram que o co-
no, ao negar a existência de ideias inatas.
nhecimento se realiza por graus contínuos,
d) defende que as ideias estão presentes na ra-
partindo da sensação até chegar às ideias.
zão desde o nascimento.
[...] Para o racionalismo, a fonte do conhe-
cimento verdadeiro é a razão operando por
2. (Unioeste) “I. Objeção: o conhecimento colo- si mesma, sem o auxílio da experiência sen-
cado em ideias deve ser todo uma pura visão. sível e controlando a própria experiência
Não duvido que meu leitor, neste momento, sensível. Para o empirismo, a fonte de todo
deve estar apto para pensar que eu tenho es- e qualquer conhecimento é a experiência
tado todo este tempo construindo apenas um sensível, responsável pelas ideias da razão
castelo no ar, e estar pronto para dizer: ‘Qual e controlando o trabalho da própria razão.”
é o propósito de tudo isto? O conhecimento,
Marilena Chauí.
você afirma, é apenas a percepção de acor-
do ou desacordo de nossas ideias: mas quem Considerando os textos acima que versam
sabe o que estas ideias podem ser? Se isto for sobre a noção de conhecimento moderna e,
verdadeiro, as visões de um entusiasta e os especificamente, sobre a noção de conheci-
raciocínios de um homem sóbrio deverão ser mento em Locke, é INCORRETO afirmar que
igualmente evidentes. Não consiste em ve- a) a teoria do conhecimento de John Locke se ca-
rificar o que são as coisas, de sorte que um racteriza por criticar fortemente a ideia de que
homem observa apenas o acordo de suas pró- o conhecimento funda-se em ideias inatas.
prias imaginações e se expressa em conformi- b) é possível, segundo Locke, construir uma
dade com isso, sendo, pois, tudo verdadeiro, ciência mesmo que as ideias formadoras de
tudo certeza. Tais castelos no ar serão fortale- seu corpo de conhecimento não concordem
zas da verdade como as demonstrações de Eu- com as coisas mesmas.
clides. Uma harpa não constitui um centauro: c) a teoria do conhecimento de Locke preten-
revelamos, por este meio, um conhecimento de demonstrar uma tese: nosso conheci-
tão certo e tão verdadeiro como o que afirma mento é fundado na experiência sensível e
que o quadrado não é um círculo. na experiência interna.
‘Mas para que serve todo este conhecimento d) verdades derivadas de ideias que não en-
refinado das próprias imaginações dos ho- contram nenhum referencial em sensa-
mens que pesquisam a realidade das coisas? ções, pelo menos em sua base, não passam
Não importa o que são as fantasias dos ho- de devaneios da imaginação.
mens, trata-se apenas do conhecimento das e) acordo ou desacordo de nossas ideias, segun-
coisas a ser capturado; unicamente este va- do Locke, produz o conhecimento que temos
loriza nossos raciocínios e mostra o predo- do mundo e quanto mais precisa for esta rela-
mínio do conhecimento de um homem sobre ção, mais próximos estaremos da verdade.
o outro, dizendo respeito às coisas como re-
almente são, e não de sonhos e fantasias’. 3. (Unioeste) “Através dos princípios de um di-
II. Resposta: não exatamente, onde as ideias reito natural preexistente ao Estado, de um
concordam com as coisas. A isto respondo: Estado baseado no consenso, de subordina-
se nosso conhecimento de nossas ideias ter- ção do poder executivo ao poder legislativo,
mina nelas, e não vai além disso, onde há de um poder limitado, de direito de resis-
algo mais para ser designado, nossos mais tência, Locke expôs as diretrizes fundamen-
sérios pensamentos serão de pouco mais uso tais do Estado liberal.”
que os devaneios de um cérebro louco; e as
Bobbio.

16
Considerando o texto citado e o pensamento po- III. Hobbes considerava que o Estado surgiu
lítico de Locke, seguem as afirmativas abaixo: por meio de um acordo implícito por meio
I. A passagem do estado de natureza para a do qual os indivíduos abriram mão de seu
sociedade política ou civil, segundo Lo- direito de revidar os danos sofridos pela
cke, é realizada mediante um contrato ação de outra pessoa, fazendo justiça pe-
social, através do qual os indivíduos sin- las suas mãos, e transferiram esse direito
gulares, livres e iguais dão seu consenti- a um terceiro impessoal: o Estado.
mento para ingressar no estado civil. IV. Para Locke, os indivíduos não têm direito
II. O livre consentimento dos indivíduos para à propriedade privada e o único proprie-
formar a sociedade, a proteção dos direitos tário deve ser o Estado.
naturais pelo governo, a subordinação dos V. Para Marx, os estados nacionais, criados
poderes, a limitação do poder e o direito pela burguesia, representam os interes-
à resistência são princípios fundamentais ses de todas as classes sociais.
do liberalismo político de Locke. Assinale a alternativa correta.
III. A violação deliberada e sistemática dos a) Somente a afirmativa II está correta.
direitos naturais e o uso contínuo da for- b) Somente as afirmativas II e III estão corretas.
ça sem amparo legal, segundo Locke, não c) Somente as afirmativas I e IV estão corretas.
d) Somente a afirmativa IV está correta.
são suficientes para conferir legitimida-
e) Somente as afirmativas IV e V estão corretas.
de ao direito de resistência, pois o exer-
cício de tal direito causaria a dissolução
do estado civil e, em consequência, o re- 5. (UFU) Para bem compreender o poder
torno ao estado de natureza. político e derivá-lo de sua origem, de-
IV. Os indivíduos consentem livremente, se- vemos considerar em que estado todos
gundo Locke, em constituir a sociedade os homens se acham naturalmente, sen-
política com a finalidade de preservar e do este um estado de perfeita liberdade
proteger, com o amparo da lei, do arbítrio para ordenar-lhes as ações e regular-lhes
e da força comum de um corpo político as posses e as pessoas conforme acharem
unitário, os seus inalienáveis direitos na- conveniente, dentro dos limites da lei de
turais à vida, à liberdade e à propriedade. natureza, sem pedir permissão ou depen-
V. Da dissolução do poder legislativo, que der da vontade de qualquer outro homem.
é o poder no qual “se unem os membros LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o
de uma comunidade para formar um Governo. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
corpo vivo e coerente”, decorre, como
consequência, a dissolução do estado de A partir da leitura do texto acima e de acor-
natureza. do com o pensamento político do autor, assi-
Das afirmativas feitas acima nale a alternativa correta.
a) somente a afirmação I está correta. a) Segundo Locke, o estado de natureza se con-
b) as afirmações I e III estão corretas. funde com o estado de servidão.
c) as afirmações III e IV estão corretas. b) Para Locke, o direito dos homens a todas as
d) as afirmação II e III estão corretas. coisas independe da conveniência de cada um.
e) as afirmações III e V estão incorretas. c) Segundo Locke, a origem do poder político
depende do estado de natureza.
d) Segundo Locke, a existência de permissão
4. (UNISC) Um dos problemas principais da para agir é compatível com o estado de
Filosofia Política é o de determinar a natu- natureza.
reza do Estado, entendido como sociedade
politicamente organizada. Essa questão co- 6. (Unesp 2018) Posto que as qualidades que
meçou a ser debatida na Filosofia Antiga e impressionam nossos sentidos estão nas
foi retomada, depois, na Idade Moderna pela próprias coisas, é claro que as ideias pro-
ocasião do surgimento dos Estados Nacionais duzidas na mente entram pelos sentidos. O
modernos, constituindo um tema central entendimento não tem o poder de inventar
tanto da tradição liberal quanto do pensa- ou formar uma única ideia simples na mente
mento marxista. Considere agora as seguin- que não tenha sido recebida pelos sentidos.
tes afirmações sobre esse assunto: Gostaria que alguém tentasse imaginar um
I. Para Aristóteles, como para os sofistas, a gosto que jamais impressionou seu paladar,
natureza do Estado é artificial. Surge de ou tentasse formar a ideia de um aroma que
um acordo implícito por meio do qual al- nunca cheirou. Quando puder fazer isso,
guns grupos humanos colocaram um fim concluirei também que um cego tem ideias
em suas disputas. das cores, e um surdo, noções reais dos di-
II. Segundo Aristóteles, os homens têm ten- versos sons.
dência a viver em sociedade porque não (John Locke. Ensaio acerca do entendimento
podem se bastar a si mesmos. humano, 1991. Adaptado.)

17
De acordo com o filósofo, todo conhecimento juntar-se em sociedade com outros que es-
origina-se tão já unidos, ou pretendem unir-se, para a
a) da reminiscência de ideias originalmente mútua conservação da vida, da propriedade
transcendentes. e dos bens a que chamo de 'propriedade'”.
b) da combinação de ideias metafísicas e empí- Locke
ricas.
c) de categorias a priori existentes na mente Sobre o pensamento político de Locke e o
humana. texto acima, seguem as seguintes afirmati-
d) da experiência com os objetos reais e empí- vas:
ricos. I. No estado de natureza, os homens usu-
e) de uma relação dialética do espírito humano fruem plenamente, e com absoluta segu-
com o mundo. rança, os direitos naturais.
II. O objetivo principal da união dos homens
7. (Uem) “É de grande utilidade para o mari- em comunidade, colocando-se sob gover-
nheiro saber a extensão de sua linha, embo- no, é a preservação da “propriedade”.
ra não possa com ela sondar toda a profun- III. No estado de natureza, falta uma lei es-
didade do oceano. É conveniente que saiba tabelecida, firmada, conhecida, recebida
que era suficientemente longa para alcançar e aceita mediante consentimento, como
o fundo dos lugares necessários para orien- padrão do justo e injusto e medida co-
tar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar con- mum para resolver quaisquer controvér-
tra escolhos que podem destruí-lo. Não nos sias entre os homens.
diz respeito conhecer todas as coisas, mas IV. Os homens entram em sociedade, aban-
apenas aquelas que se referem à nossa con- donando a igualdade, a liberdade e o po-
duta.” der executivo que tinham no estado de
(LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano.
natureza, apenas com a intenção de me-
In: CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia: ensino lhor preservar a propriedade.
médio. 4.ª ed. São Paulo: Ática, 2011. p. 251). V. No estado de natureza, há um juiz conhe-
cido e imparcial para resolver quaisquer
Com base nessa citação em que John Locke controvérsias entre os homens, de acordo
considera os conhecimentos do marinheiro, com a lei estabelecida.
é correto afirmar que Das afirmativas feitas acima
01) o entendimento humano é ilimitado. a) somente a afirmação I está correta.
02) a profundidade do oceano é maior do que o b) as afirmações I e III estão corretas.
instrumento de medida do marinheiro. c) as afirmações II e V estão corretas.
04) a medida da linha não precisa ser maior do d) as afirmações IV e V estão corretas.
que o necessário para orientar a correta na- e) as afirmações II, III e IV estão corretas.
vegação do barco.
08) a linha está orientada apenas em função da
9. (Uem) O filósofo inglês John Locke (1632-
pesca.
1704) construiu uma teoria político-social
16) a experiência empírica não é válida.
da propriedade que é, até hoje, uma das re-
ferências principais sobre o tema. Afirma
8. (Unioeste) “Se o homem no estado de na- ele:
tureza é tão livre, conforme dissemos, se “A natureza fixou bem a medida da proprie-
é senhor absoluto da sua própria pessoa e dade pela extensão do trabalho do homem e
posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, conveniências da vida. Nenhum trabalho do
porque abrirá ele mão dessa liberdade, por- homem podia tudo dominar ou de tudo apro-
que abandonará o seu império e sujeitar-se- priar-se. [...] Assim o trabalho, no começo
-á ao domínio e controle de qualquer outro (das sociedades humanas), proporcionou o
poder? Ao que é óbvio responder que, embo- direito à propriedade sempre que qualquer
ra no estado de natureza tenha tal direito, pessoa achou conveniente empregá-lo sobre
a fruição do mesmo é muito incerta e está o que era comum.”
constantemente exposta à invasão de ter-
(LOCKE, J. Segundo tratado sobre o governo civil.
ceiros porque, sendo todos reis tanto quan- São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 48; 45; 52)
to ele, todo homem igual a ele, e na maior
parte pouco observadores da equidade e da Em consonância com essa concepção de pro-
justiça, a fruição da propriedade que possui priedade do filósofo, é correto afirmar que
nesse estado é muito insegura, muito ar- 01) o direito à propriedade é, prioritariamente,
riscada. Estas circunstâncias obrigam-no a fruto do trabalho.
abandonar uma condição que, embora livre, 02) o direito à propriedade é fundado naquele
está cheia de temores e perigos constantes; e que primeiro se apossou do bem (terra, ani-
não é sem razão que procura de boa vontade mais etc.).

18
04) o fato de os recursos naturais serem comuns
a todos os homens gera um impedimento à
propriedade individual.
08) o trabalho individualiza o que era proprie-
dade comum, pois agrega algo particular ao
bem.
16) o trabalho antecede a propriedade do bem e
não o contrário.

10. (Uel) Leia o texto a seguir.


Locke divide o poder do governo em três po-
deres, cada um dos quais origina um ramo
de governo: o poder legislativo (que é o fun-
damental), o executivo (no qual é incluído o
judiciário) e o federativo (que é o poder de
declarar a guerra, concertar a paz e estabe-
lecer alianças com outras comunidades). En-
quanto o governo continuar sendo expressão
da vontade livre dos membros da sociedade,
a rebelião não é permitida: é injusta a re-
belião contra um governo legal. Mas a rebe-
lião é aceita por Locke em caso de dissolução
da sociedade e quando o governo deixa de
cumprir sua função e se transforma em uma
tirania.
(LOCKE, John. In: MORA, J. F. Dicionário de Filosofia.
São Paulo: Loyola, 2001. V. III. p. 1770.)

Com base no texto e nos conhecimentos so-


bre John Locke, é correto afirmar:
I. O direito de rebelião é um direito natural
e legítimo de todo cidadão sob a vigência
da legalidade.
II. O Estado deve cuidar do bem-estar mate-
rial dos cidadãos sem tomar partido em
questões de matéria religiosa.
III. O poder legislativo ocupa papel prepon-
derante.
IV. Na estrutura de poder, dentro de certos
limites, o Estado tem o poder de fazer as
leis e obrigar que sejam cumpridas.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Gabarito
1. A 2. B 3. E 4. B 5. C
6. D 7. 02+04=06 8. E 9. 01+08+16=25
10. E

19
1 1 Iluminismo francês

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Origens do iluminismo francês
Embora as primeiras grandes figuras do Iluminismo tenham vindo da Inglaterra, o movimento realmente
explodiu na França, que se tornou um foco de pensamento político e intelectual em 1700. As raízes desse ilumi-
nismo francês estavam concentradas no descontentamento com a decadência da monarquia francesa, já no final
do século XVII. Durante o reinado do loucamente extravagante "Rei Sol" Luís XIV (reinou de 1643 a 1715), as
elites intelectuais abastadas começaram a se reunir regularmente nos salões parisienses (muitas vezes hospedados
por mulheres da alta sociedade), lá reclamavam do estado de seu país. Os salões só cresceram em popularidade
quando Luís XIV morreu e, o muito menos competente, Luís XV assumiu o poder.
Gradualmente, as reclamações nos salões e cafeterias mudaram de lamentos vagarosos para pensamentos
políticos construtivos, especialmente depois que os trabalhos de John Locke foram difundidos. Os participantes dos
salões começaram a discutir filosofias políticas e sociais importantes da época. Em pouco tempo, o pensamento de
ponta em uma variedade de disciplinas entrou nos salões, nascia o Iluminismo Francês.

Os philosophes
No início dos anos 1700, em cafeterias, restaurantes e em espaços públicos em geral, outros grupos sociais
estavam surgindo em toda Paris, incentivando a discussão intelectual sobre o status político e filosófico do país.
Além disso, membros desses grupos liam cada vez mais o trabalho dos principais filósofos. Esses pensadores não
tradicionais seriam conhecidos como os philosophes, um grupo que defendeu as liberdades individuais e o trabalho
de Locke e Newton, denunciou o cristianismo e se opôs ativamente aos governos abusivos encontrados em toda a
Europa à época. Eles eram predominantemente escritores, jornalistas e professores, e estavam confiantes de que a
sociedade humana poderia ser melhorada através do pensamento racional.

23
Filósofos e a Igreja
Uma grande parte dos ataques dos filósofos se concentrava à Igreja e em suas tradições. Em matéria de fé,
muitos dos proeminentes filósofos eram deístas - eles acreditavam em um ser todo-poderoso, mas o comparavam a
um "relojoeiro cósmico" que simplesmente colocava o universo em movimento autônomo e nunca mais o alterava.
Além disso, desprezavam a religião organizada e a ideia tradicional da Igreja sobre a "cadeia do ser", que impli-
cava uma hierarquia natural da existência - primeiro Deus, depois anjos, monarcas, aristocratas e assim por diante.
Os philosophes também levantaram objeções contra os estilos de vida decadentes dos principais represen-
tantes da Igreja, bem como a persistência da Igreja em coletar impostos e dízimos exorbitantes dos cidadãos para
financiar salários extravagantes para bispos e outros funcionários da Igreja. O que os philosophes acharam mais
chocante, no entanto, foi o controle que a Igreja mantinha sobre os plebeus impressionáveis, instilando neles o
medo da condenação eterna. Os philosophes podem ter sentimentos contraditórios em relação às pessoas comuns,
mas tinham sentimentos muito fortes contra a Igreja. Como resultado, eles provocaram a Igreja desafiando dou-
trinas como a existência de milagres e revelação divina, muitas vezes refutando princípios específicos com ciência
simples. A Igreja, por sua vez, combatia os philosophes e tudo o que eles representavam.

Voltaire

Alfabetização
Complementar para possibilitar a atmosfera social e politicamente ativa francesa foi a sua taxa de alfabeti-
zação. Além de apenas conversarem sobre ideias revolucionárias, cada vez mais franceses, especialmente em Paris
e arredores, estavam lendo e escrevendo sobre eles também. Uma relação simbiótica se desenvolveu à medida que
os leitores esperavam ansiosamente mais literatura dos philosophes e, por sua vez, a resposta que os escritores
recebiam os obrigava a escrever mais. A atmosfera acadêmica da época também fornecia às mulheres da socie-
dade francesa - embora ainda dentro de papéis tradicionais como recepcionistas de salão - uma oportunidade de
contribuir para a conversa.

24
Voltaire(1694-1778)
O principal satírico do Iluminismo, François-Marie Arouet, mais conhecido por seu pseudônimo Voltaire
(1694–1778), entrou no mundo literário como dramaturgo. Ele rapidamente tornou-se famoso por sua inteligência
e sátira, bem como as alegações de difamação, que muitas vezes lhe resultaram punições, dentro e fora da França.
Voltaire passou um período de exílio na Inglaterra durante o qual ele foi introduzido para as obras de Locke e
Newton. Os dois pensadores tiveram um profundo impacto no jovem Voltaire, que se tornou extremamente prolífico
nos anos que se seguiram, sendo autor de mais de sessenta peças e romances e inúmeras outras letras e poemas.
Voltaire era um deísta declarado, acreditando em Deus, mas odiando a religião organizada. Como resultado,
ele tornava o cristianismo - que ele chamou de "superstição glorificada" - um alvo frequente de sua inteligente
crítica. Voltaire também foi um fervoroso defensor da monarquia e passou um tempo considerável trabalhando na
reforma judicial.
Mais tarde, depois de saltar para vários países e trabalhar com vários contemporâneos notáveis, Voltaire escre-
veu a sátira Cândido (1759), que desde então se destacou como uma das obras literárias mais influentes da história.
Embora faltasse a Voltaire a amplitude prática de alguns de seus contemporâneos - ele não se interessava
por vários campos científicos -, compensou-o com o volume de seu trabalho. Usando seu engenho brilhante e
sarcástico para analisar tudo, da filosofia à política e ao direito, ele exaltou a virtude da razão sobre a superstição
e a intolerância e, efetivamente, se tornou a voz do Iluminismo. Além disso, seu estilo satírico permitiu que ele
fizesse críticas incrivelmente pontudas, enquanto geralmente evitava um processo sério por parte daqueles que ele
atacava. Embora os detratores se queixem de que Voltaire nunca ofereceu soluções para os problemas que criticou,
ele nunca aspirou a fazê-lo. No entanto, simplesmente apontando problemas e criticando diferentes filosofias, ele
causou mudanças consideráveis no ambiente intelectual da época.

Diderot(1713-1784)
Outra grande figura do Iluminismo francês foi Denis Diderot (1713-1784), escritor e filósofo mais conhecido
por editar e montar a Encyclopédie, uma tentativa de coletar praticamente todo o conhecimento humano reunido
em vários campos até aquele ponto. Com vinte e oito volumes - dezessete textos, onze ilustrados - a Encyclopédie
editada por Diderot foi publicada, um volume de cada vez, de 1751 a 1772. Diderot, assistido pelo matemático
francês Jean Le Rond d'Alembert por parte do projeto coletou meticulosamente o máximo de conhecimento da era
iluminista possível. Depois do envolvimento de Diderot, sete volumes adicionais foram completados, mas o próprio
Diderot não os editou.

Denis Diderot

25
Além de apenas fatos, definições e explicações, a Encyclopédie também incluiu espaço para que os philoso-
phes discutissem seus pensamentos sobre vários tópicos - embora até mesmo essas opiniões tenham sido filtradas
pelas lentes do colapso científico. Um verdadeiro estudioso da era do Iluminismo e que contribuiu para a coleção,
incluindo Montesquieu, Voltaire e Rousseau. Devido à sua natureza altamente científica - e, portanto, não tradi-
cional - a Encyclopédie encontrou uma quantidade significativa de desprezo. Diderot foi amplamente acusado de
plágio e imprecisão, e muitos consideraram a coleção como um ataque aberto à monarquia e à Igreja.
A Encyclopédie foi um dos principais veículos pelos quais as ideias do Iluminismo se espalharam pelo con-
tinente europeu, pois foi o primeiro trabalho a coletar todos os inúmeros conhecimentos e desenvolvimentos que
o Iluminismo tinha promovido. No entanto, a obra teve sucesso não porque explicitamente tentou persuadir as
pessoas a se inscreverem nas ideias do Iluminismo, mas por simplesmente tentar apresentar todo o conhecimento
acumulado do mundo ocidental em um único lugar, permitindo que os leitores tirassem suas próprias conclusões.
Não é de surpreender que a instituição de poder na Europa tenha desaprovado a ideia de as pessoas tirarem suas
próprias conclusões; a Igreja e a monarquia odiavam a Enciclopédia, pois implicava que muitos de seus ensinamen-
tos e doutrinas eram “fraudulentos”. Em resposta às tentativas de proibições, Diderot imprimiu cópias adicionais
em segredo, escapando das punições.

(Jean Le Rond d'Alembert)

26
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo O Iluminismo Francês

Fonte: Youtube

Vídeo A Ideia de Tolerância do Filósofo Voltaire

Fonte: Youtube

Vídeo Roberto Romano - Diderot e a obra de arte total

Fonte: Youtube

28
LER

tt
Livros

Cândido, ou O Otimismo - Voltaire

Cândido ou o Otimismo é um retrato satírico de seu tempo. Escrito


em 1758, situa o leitor entre fatos históricos como o terremoto
que arrasou Lisboa em 1755 e a Guerra dos Sete Anos (1756-
63), enquanto critica com bom-humor as regalias da nobreza,
a intolerância religiosa e os absurdos da Santa Inquisição. Já o
caricato mestre Pangloss é uma representação sarcástica da filosofia
otimista do pensador alemão Gottfried Leibniz (1646-1716).

Antecipando o sucesso desbragado e a carreira de escândalo do


livro, Voltaire, pseudônimo de François-Marie Arouet, assinou a
obra com o enigmático Sr. Doutor Ralph.

Obras – Diderot (Filosofia Política)


Esta coletânea reúne os textos mais importantes de um filósofo
que, na era das Luzes, dominou a cena intelectual. Os livros de
Diderot constituem um ponto elevado na tradição racionalista,
laica e democrática, cujos fundamentos foram abalados pelo
romantismo religioso e místico do século XIX.

29
INTERDISCIPLINARIDADE

"Louis XIV", de Hyacinthe Rigaud, pintado em 1701, é um retrato pintado no final do reinado de Luís XIV
e simboliza seu poder absoluto. Durante esse período, a França estava prestes a passar pela Revolução Francesa.
Ao longo de seu governo, Luís XIV aumentou o orçamento real, causando um colapso nas finanças reais, um dos
principais catalisadores da Revolução Francesa. Luís XIV viveu uma vida luxuosa enquanto o resto da França es-
tava na pobreza. Ele criou Versalhes, enquanto a maioria da França vivia nas ruas ou em moradias insalubres. Luís
XIV aumentou seu poder enquanto limitava o poder da nobreza, fazendo-os realizar tarefas aleatórias que não
envolviam decisões do governo; esta foi uma maneira de manter o poder absoluto da França. O modo corrupto de
liderança de Luís XIV levou a França ao colapso.

30
Estrutura Conceitual

Revolução Científica Iluminismo Difusão de Ideias

Teoria Heliocêntrica Aplicar a ciência no Imprensa


Matemática e observação estudo da sociedade Enciclopedia
Novas ideias políticas Alfabetização
Método científico Literatura
Descobertas em várias áreas Razão para Arte
desvendar a verdade
Tratar assuntos
humanos pela razão

Mudança de
Nova maneira de abordar o Ideais iluministas
paradigmas sobre a
desenvolvimento humano ganham escopo mundial
sociedade e o governo

31
Aprofunde seus conhecimentos
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO uma corrente cultural denominada de
a) Cartesianismo.
Os homens reunidos em sociedade (relevem- b) Evolucionismo.
-me este tom meio pedante) estão virtual c) Iluminismo.
e tacitamente obrigados a obedecer às leis d) Racionalismo.
formuladas por eles mesmos para a conve-
niência comum. Há, porém, leis que eles 3. (Uepb) O século XVIII europeu foi marcado
não impuseram, que acharam feitas, que pela crise do Antigo Regime” e pelo advento
precederam as sociedades, e que se hão de do Iluminismo - um movimento intelectual e
cumprir não por uma determinação de juris- político favorável ao uso da razão como for-
prudência humana, mas por uma necessida- ma de se alcançar a liberdade, a felicidade e
de divina e eterna. Entre essas, e antes de o bem-estar social.
todas, figura a da luta pela vida (...) Analise as assertivas abaixo:
(ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de I. Enquanto movimento intelectual, o Ilumi-
janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 432) nismo pretendia divulgar o conhecimen-
to até então produzido pela humanidade.
1. (Puccamp) Durante o Iluminismo (séculos Foi por isso que se produziu, entre 1751 e
XVII e XVIII), vários filósofos e cientistas 1780, uma Enciclopédia (composta de 35
questionaram a visão de que a sociedade era volumes). A ideia dos enciclopedistas era
resultado de uma ordenação divina e que de- travar uma batalha permanente contra a
veria se guiar pelas leis da Igreja. Podemos ignorância e a favor da educação popular.
encontrar, nesse período, a formulação II. A base ideológica do Antigo Regime, as-
a) desenvolvida por Isaac Newton de que fenô- sim chamado por se inspirar na elabora-
menos da natureza poderiam ser explicados ção aristotélica, era a crítica ao poder ab-
cientificamente, tal como pressupunha, por solutista e a defesa da soberania popular.
exemplo, a Lei da Gravitação Universal. Filosoficamente, se filiava à elaboração
b) redigida por François Marie Arouet, conhe- de enciclopedistas como Voltaire, d’Alem-
cido como Voltaire, em defesa da democracia bert, Montesquieu e Rousseau.
participativa e do princípio de que o poder III. As sociedades europeias do Antigo Regi-
soberano deveria emanar da vontade geral me eram estamentais e o poder político
do povo, e não do rei. e econômico estava nas mãos da nobre-
c) apresentada por René Descartes, que pro- za e da Igreja. Mas a educação ficava a
punha, segundo sua lógica cartesiana, que cargo dos enciclopedistas, que fundaram
a verdade absoluta deveria ser buscada na universidades para lecionar aos filhos
Enciclopédia, e não na Bíblia, uma vez que da elite um tipo de conhecimento laico,
os dogmas da Ciência eram universais e defi- científico e comprometido com a reestru-
nitivos. turação social.
d) proposta por Jean-Jacques Rousseau em sua IV. Enquanto movimento político, o Iluminis-
obra Do Espírito das Leis, em que advoga por mo criticava as sociedades estamentais
um absolutismo esclarecido, amparado em baseadas no Antigo Regime. Os “homens
leis justas e em uma concepção liberal de da ilustração” questionavam a influência
Estado. política e cultural da Igreja, os privilégios
e) difundida por Galileu Galilei ao questio- da nobreza, a servidão no campo e a cen-
nar a teoria heliocêntrica, sendo, por isso, sura às chamadas ideias perigosas”.
acusado de heresia e condenado pela Igreja Assinale a alternativa correta:
Católica por ter se recusado a renegar suas a) I, II e III corretas, enquanto IV incorreta.
concepções. b) IV correta, enquanto I, II e III incorretas.
c) II e III corretas, enquanto I e IV incorretas.
2. (Uece) François-Marie Arouet, conhecido d) II correta, enquanto I, II e IV incorretas.
como Voltaire, afirma que “a história não é e) I e IV corretas, enquanto II e III incorretas.
mais que um quadro de delitos e desventu-
ras”. Interessado nos aspectos sociais, cul- 4. (Ufpa) O texto abaixo recupera uma obra
turais e econômicos de diferentes povos, é iluminista dirigida por Denis Diderot e Jean
considerado um dos precursores da ideia da Le Rond d’ Alembert em 1772 na França inti-
história como ciência autônoma da teologia, tulada de Enciclopédia ou Dicionário racional
da moral, e capaz de desfazer o mito da su- das ciências, das artes e dos ofícios. No tex-
perioridade dos antigos. Voltaire representa to afirma-se que: na Enciclopédia não havia

32
área do engenho humano que não tivesse Com base no texto, é correto afirmar:
sido coberta. Ali se observava a confiança de a) As contribuições das ciências naturais são
que os homens eram, ou poderiam ser em suficientes para melhorar o convívio huma-
breve, senhores de seu próprio destino, que no e social.
poderiam moldar o mundo e a sociedade de b) Ideias não passam de projetos que, enquanto
acordo com as suas conveniências e vanta- não são concretizadas, em nada contribuem
gens. Era o poder da razão. Por isso mesmo a para o progresso humano.
Enciclopédia não foi universalmente aceita. c) Diderot considerava importante o conheci-
Poderes absolutistas civis e religiosos foram mento das ciências humanas para o aprimo-
seus combatentes. ramento da sociedade.
(DENT, N. J. H.. Dicionário de Rousseau. Rio de d) Para o autor, os historiadores recorrem ao
Janeiro: Zahar, 1996, p. 125. Texto adaptado). passado, enquanto os filósofos questionam a
própria existência da sociedade.
A Enciclopédia proposta por homens ilumi-
e) A ciência e o progresso material são sufi-
nistas como Diderot e D’Alembert foi criti-
cientes para conduzir à felicidade humana.
cada no contexto francês do final do século
XVIII, porque nesse momento o absolutismo
e razão significavam 6. (Uff) A Revolução Francesa foi obra coleti-
a) modos de viver compatíveis, nos quais as va com a participação de todos os setores da
novas e modernas ideias iluministas eram sociedade francesa,de nobres a camponeses,
absorvidas pelo reis absolutistas, que per- passando por burgueses e operários. Essa di-
cebiam nelas as vantagens de se moldar o mensão coletiva também esteve presente nas
mundo à sua forma e maneira, tal qual Dide- ideias que deram base à revolução, como o
rot em sua Enciclopédia, o que possibilitou Iluminismo, sistema de pensamento oriundo
o advento da monarquia constitucional. das reflexões dos intelectuais franceses. Es-
b) maneiras de fazer política muito diversas. ses dois aspectos estão presentes numa obra
Para os racionalistas, a política absolutista que junta todos os conhecimentos novos,
deveria ser reestruturada ou revolucionada, práticos e teóricos.
pois os novos saberes deveriam vir das expe- Assinale a alternativa que indica a obra que
riências e das novas ciências e não de Deus e denota o caráter renovador da Revolução
seus emissários. Francesa.
c) formas incompatíveis de fazer política, pois a) A "Enciclopédia" dirigida por Voltaire e Rou-
o povo francês era governado por um velho sseau, que estabelecia as regras de organiza-
monarca autoritário que se mantinha no po- ção da nova sociedade francesa, com desta-
der devido à ignorância do povo. Já livros que especial para o elogio aos modos de vida
como a Enciclopédia seriam a base da nova da nobreza, no que diz respeito à educação e
sociedade revolucionária e anarquista pro- aos costumes refinados.
posta por Diderot. b) A "Declaração dos Direitos do Homem e do
d) formas de governo inconciliáveis, pois o ab- Cidadão", que anunciava a possibilidade da
solutismo era autoritário e ultrapassado. Já revolução resultar de um acordo entre os fi-
os enciclopedistas, como Diderot e D’ Alem- lósofos das Luzes e o Antigo Regime, com o
bert, desejavam a derrubada do Rei pelos intuito de manter a ordem nos campos e nas
revolucionários comunistas, formadores de cidades.
ideias socialistas vinculadas ao marxismo c) A "Declaração Civil do Clero", que cortava
contemporâneo. radicalmente as ligações com o feudalismo e
e) maneiras de governar muito distintas, pois introduzia um novo estatuto para os traba-
os enciclopedistas eram homens de letras, lhadores rurais, garantindo-lhes a proprie-
que iniciavam carreira política nas fileiras dade das terras da nobreza.
dos liberais exaltados, e o monarca absolu- d) A "Enciclopédia" dirigida por Diderot e
tista era do partido conservador francês. D'Alembert, que condensava todas as novas
visões sobre o mundo, o homem e a socieda-
5. (Uel) "[...] Diderot aprendera que não bas- de. Servia de guia para a oposição aos valo-
tava o conhecimento da ciência para mudar res do Antigo Regime.
o mundo, mas que era necessário aprofundar e) A "Declaração dos Direitos do Homem e do
o estudo da sociedade e, principalmente, da Cidadão", que preconizava a manutenção da
história. Tinha consciência, por outro lado, autoridade da nobreza sobre todas as terras
que estava trabalhando para o futuro e que de França e dos burgueses sobre as cidades,
as ideias que lançava acabariam frutifican- dividindo o território em duas grandes par-
do." tes para manter os ideais da Revolução.
(FONTANA, J. "Introdução ao estudo da História
Geral". Bauru, SP: EDUSC, 2000. p. 331.)

33
7. (Feevale) O Iluminismo foi um movimento intelectual que chegou ao auge no século XVIII. Ele es-
tabeleceu uma nova mentalidade que, com o passar do tempo, alcançou grande parte da população
europeia da época, especialmente a burguesia.
Marque a alternativa incorreta sobre as características do Iluminismo.
a) Foi na França que o movimento atingiu maior expressão, combatendo o Antigo Regime.
b) Os nobres eram, na visão dos iluministas, aqueles que defendiam a organização de sociedades democráticas.
c) As ideias iluministas chegaram ao continente americano, influenciando as lutas anticoloniais.
d) O Iluminismo defendia o triunfo da razão sobre a ignorância e a superstição.
e) O Iluminismo defendia o anticlericalismo.

8. (Ufjf-pism 2) Observe a imagem:

O Iluminismo foi o movimento cultural europeu ocorrido entre a revolução inglesa (1688) e a Re-
volução francesa (1789). Acerca desse movimento assinale a alternativa INCORRETA:
a) Em política atacava-se o poder absoluto dos governantes e propunha governos constitucionais.
b) Criticava-se a Igreja Católica, sustentáculo ideológico do Antigo Regime e propunha a separação Igreja – Estado.
c) As propostas do Liberalismo, tais como a não intervenção na economia, eram opostas ao Mercantilismo
dos Estados Absolutistas.
d) A representação da luz – o sol – símbolo da razão, deveria nortear a construção de uma nova sociedade
capitalista e dissipar a treva identificada com o Absolutismo.
e) O movimento iluminista defendia a manutenção do direito divino dos soberanos em oposição ao obs-
curantismo da tradição.

9. (Upf) “A revolução francesa consigna-se desta maneira um lugar excepcional da história do mundo
contemporâneo. Revolução burguesa clássica, ela constitui, para a abolição do regime senhorial e da
feudalidade, o ponto de partida da sociedade capitalista e da democracia liberal na história da França”.
SOBOUL, Albert. A revolução francesa. São Paulo: DIFEL, 1985, p. 122.

A grande Revolução Francesa, como outras revoluções burguesas do século XVIII, refletiu as ideias
dos filósofos iluministas. Dentre as características a seguir relacionadas, assinale a alternativa que
apresenta a base do Iluminismo.
a) A defesa da doutrina de que a soberania do Estado absolutista garantiria os direitos individuais e
eliminaria os resquícios feudais ainda existentes.
b) A proposição da criação de monopólios estatais e a manutenção da balança de comércio favorável, para
assegurar o direito de propriedade.
c) A crítica ao mercantilismo, à limitação ao direito à propriedade privada, ao absolutismo e à desigual-
dade de direitos e deveres entre os indivíduos.
d) A crença na prática do entesouramento como meio adequado para eliminar as desigualdades sociais e
garantir as liberdades individuais.
e) A defesa da igualdade de direitos e liberdades individuais, proporcionada pela influência da Igreja
Católica sobre a sociedade, por intermédio da educação.

34
10. (Ufu 2012) As mães, as filhas, as irmãs,
representantes da Nação pedem ser consti-
tuídas em Assembleia Nacional. Consideran- Gabarito
do que a ignorância, o esquecimento ou o
menosprezo dos direitos da mulher são as 1. A 2. C 3. E 4. B 5. C
únicas causas das desgraças públicas e da 6. D 7. B 8. E 9. C 10. B
corrupção do governo, resolvemos expor,
numa declaração solene, os direitos natu-
rais, inalteráveis e sagrados da mulher. Em
consequência, o sexo superior em beleza,
como em coragem nos sofrimentos mater-
nais, reconhece e declara, em presença e sob
os auspícios do Ser Supremo, os seguintes
direitos da mulher e da cidadã.
Art. 1 - A mulher nasce livre e permanece
igual ao homem em direitos. As distinções
sociais não podem ser fundadas, senão, so-
bre a utilidade comum.
Art. 2 - A finalidade de toda associação po-
lítica é a conservação dos direitos naturais
e imprescritíveis da mulher e do homem.
Estes direitos são: a liberdade, a prosperida-
de, a segurança e, sobretudo, a resistência à
opressão.
Declaração dos Direitos da Mulher e
da Cidadã. 1791. (adaptado)

O documento acima foi proposto à Assem-


bleia Nacional da França, durante a Revolu-
ção Francesa, por Marie Gouze. A autora pro-
punha uma Declaração de Direitos da Mulher
e da Cidadã para igualar-se à Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, aprovada
anteriormente. A proposta de Marie Gouze
expressa
a) o reconhecimento da fragilidade feminina, de-
vendo a Constituição francesa garantir ações
legais e afirmativas com o objetivo de reparar
séculos de exploração contra a mulher.
b) a participação das mulheres no processo revo-
lucionário e a reivindicação de ampliação dos
direitos de cidadania, com o intuito de abolir
as diferenças de gênero na França.
c) a disputa política entre os Jacobinos e Giron-
dinos, uma vez que estes últimos defendiam
uma radicalização cada vez maior das conquis-
tas sociais no processo revolucionário.
d) o descontentamento feminino ante as desi-
gualdades que as leis francesas até então ga-
rantiam entre os integrantes do terceiro Esta-
do e a aristocracia.

35
1 2 Jean-Jacques Rousseau

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Rousseau, diferentemente dos iluministas de sua época, argumenta que as ciências e as artes não aprimora-
ram a humanidade, mas ajudaram a corrompê-la, contribuindo para criar sociedades desiguais e dotadas de inúme-
ros males. O filósofo, então, tentará distinguir o homem autêntico, o homem ainda não corrompido pela sociedade,
isto é, o homem em seu estado de natureza do homem organizado em um estado civil. Para ele, tal estado é a situa-
ção em que se encontrariam os homens antes da criação das sociedades organizadas, em que somente houvesse
direitos naturais para guiá-los. Já o estado civil representa a sociedade política organizada, com leis e governo. Em
sua obra, procura responder à questão: Por que o homem nasceu livre, mas por toda parte encontra-se agrilhoado?

Retrato de Jean-Jacques Rousseau

Estado de Natureza
Rousseau diz que não podemos observar os homens em estado de natureza, pois tal estado já não existe;
e mais: pode nunca ter existido. Para pensar na natureza humana, o autor procura excluir tudo aquilo que a
sociedade nos impõe: desigualdade econômica e política, paixões, desejos, artes, ciências, convenções sociais,
etc. O que sobraria dessa exclusão seria o homem natural, o homem em estado de natureza.
Dessa forma, eliminadas as convenções e os artifícios sociais que recobrem a natureza humana, Rousseau
aponta que:
§§ Em estado de natureza, os homens vivem isolados, já que a única comunidade natural é a família e esta
somente existe durante o tempo em que os filhos precisam de seus pais;
§§ Dado que em estado de natureza os homens ainda não foram corrompidos, os seres humanos são, em sua
maioria, fortes, sãos e autossuficientes;
§§ Nesse estado, os homens são basicamente iguais, já que as desigualdades existentes seriam somente de
ordem física;
§§ Em estado de natureza, os homens se movem por duas paixões: o desejo e de autoconservação – que o leva
a tentar satisfazer suas poucas necessidades naturais e a piedade ou compaixão – capacidade de identificar-se
com os seus semelhantes.

39
As características anteriores seriam compartilhadas entre os seres humanos e os animais. Contudo, há
traços que nos distinguem de qualquer outra espécie; e justamente essas peculiaridades humanas que degeneram
os homens a ponto de criarem uma comunidade política. Tais características são a liberdade natural, isto é, a
capacidade dos seres humanos escolherem o que querem fazer, à margem de qualquer regra instintiva ou natural
– nenhum animal é capaz de fugir de sua pauta instintiva, seguindo regras fixas de comportamento. A segunda
característica particular dos homens seria a perfectibilidade, ou a capacidade humana de transformarem radi-
calmente suas vidas (tanto em âmbito individual quanto social). Os animais, pelo contrário, não variam seu modo
de ser ao longo de suas vidas.
No geral, o Rousseau defende que o homem é bom por natureza. Porém, ele se torna mau quando encon-
trado em sociedade, pois esta é repleta de vícios: Em sociedade, portanto, que o homem seria o lobo do homem – o
oposto, portanto, do que prega Hobbes.

O Contrato Social
Se esse estado natural conserva a natureza humana em seu melhor aspecto, por qual motivo, então, o ho-
mem passaria a viver em estado civil, com leis e Estado?
Rousseau diz que, em um primeiro momento, os homens descobriram que a união lhes proporcionava certas
vantagens para defender seus interesses. O costume de viverem unidos criou-lhes laços afetivos e paixões antes
desconhecidas, como o amor conjugal e paterno. Depois, em segundo momento, surgiu a propriedade privada, que
trouxe consigo o trabalho forçado, a rivalidade, interesses difusos e insegurança. Por conta da instituição da pro-
priedade privada e pela desigualdade por ela gerada, portanto, é que os homens constituíram Estados, governos e
leis. Em sua obra Discurso sobre a Origem e os fundamentos da Desigualdade entre os homens ele diz:

“O primeiro que, tendo cercado um terreno, se


lembrou de dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas
bastante simples para acreditar, foi o verdadeiro
fundador da sociedade civil. Quantos crimes, guer-
ras, assassínios, misérias e horrores não teria pou-
pado ao gênero humano aquele que, arrancando as
estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado aos
seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse im-
postor; estareis perdidos se esquecerdes de que os
frutos são de todos, e a terra de ninguém!”
Rousseau, Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens,
in: WEFFOR, F. Os Clássicos da Política, Vol.1. São Paulo: Ática, 2006, pp. 201

Por isso, Rousseau propôs reformular as sociedades, visando a criar um modo de organização política que
permita manter as vantagens de viver em sociedade, mas que estivesse de acordo com a natureza humana – isto
é, que permitisse a conservação da liberdade e da igualdade das quais o homem natural gozava. Para levar a cabo
essa reforma, é necessário encontrar um modo de organização na qual o indivíduo se submeta à lei, mas sem
perder sua liberdade anterior. Esse problema se resolve pelo contrato social. O contrato social consistirá em um
acordo mediante o qual cada contratante se submeta inteiramente à vontade geral, sob a condição de que cada
um dos demais faça o mesmo.
A vontade geral pode ser definida como a vontade que surge da união entre os indivíduos, estabelecendo leis
que serão aplicadas igualmente a todos. Desse modo, ao referir-se a todos os indivíduos, os interesses particulares de-
saparecem e o bem comum se instaura. O contrato social, com isso, produz um corpo moral e coletivo ou corpo político.

40
Tal corpo político, quando legisla, é chamado de soberano. Dado que as leis são criadas pela vontade geral,
a soberania residiria na vontade geral. Para o autor, a soberania é inalienável e indivisível. Se o povo colocar sua
capacidade de decidir em outras mãos, logo se tornaria escravo. Liberdade, portanto, é agir conforme as leis criadas
pela vontade geral do povo.
Não é fortuito que muitas das revoluções liberais dos séculos XVIII e XIX se utilizaram das teorias
rousseaunianas. Elas alimentaram toda a crítica ao Antigo Regime e serviram de base para diversas outras correntes socialis-
tas, principalmente na França. Trata-se de um exemplo patente de como as ideias podem ganhar rapidamente força política.

Emílio (Da educação)


Emílio de Rousseau é um romance que conta a história da vida de um homem fictício chamado Émile. Nele,
Rousseau traça o rumo do desenvolvimento de Emílio e a educação que ele recebe, uma educação destinada a criar
nele todas as virtudes do "homem natural" idealizado por Rousseau, não corrompido pela sociedade moderna. De
acordo com Rousseau, a bondade natural de um homem pode ser nutrida e mantida apenas de acordo com esse
modelo de educação altamente prescritivo, e Rousseau afirma que seu objetivo em Emílio é delinear esse modelo
- um modelo que diferia nitidamente de todas as formas aceitas da educação em seu tempo.
Rousseau detalha uma pedagogia específica para cada estágio da vida, um método educacional que cor-
responde às características particulares daquele estágio do desenvolvimento humano. Assim, Emílio é dividido em
cinco livros, cada um correspondendo a um estágio de desenvolvimento. Os livros I e II descrevem a Era da Natureza
até os doze anos; os livros III e IV descrevem os estágios transitórios da adolescência; e o livro V descreve a Era da
Sabedoria, correspondendo aproximadamente às idades de vinte a vinte e cinco anos. Rousseau afirma que esse
estágio é seguido pela Era da Felicidade, o estágio final de desenvolvimento, que ele não aborda em Emílio.
Nos livros I e II, Rousseau insiste que as crianças pequenas na Era da Natureza devem enfatizar o lado físico de sua
educação. Como pequenos animais, eles devem ser libertos de panos constrangedores, amamentados por suas mães e au-
torizados a brincar lá fora, desenvolvendo assim os sentidos físicos que serão as ferramentas mais importantes na aquisição
de conhecimento. Mais tarde, à medida que se aproximam da puberdade, eles devem aprender um ofício manual, como car-
pintaria, e podem desenvolver-se dentro dele, aumentando ainda mais suas capacidades físicas e coordenação mão-cérebro.
Rousseau prossegue dizendo que quando Emílio entra na adolescência, ele deveria começar a educação formal. No
entanto, a educação proposta por Rousseau envolve trabalhar apenas com um tutor privado e estudar e ler apenas aquilo
de que ele é curioso, apenas o que é “útil” ou “agradável”. Rousseau explica que, dessa maneira, Emílio essencialmente
se educa e se empolga sobre aprender. Ele nutrirá amor por todas as coisas belas e aprenderá a não suprimir sua afinidade
natural por elas. Rousseau afirma que o início da adolescência é o melhor momento para iniciar tal estudo, já que após a
puberdade o jovem está totalmente desenvolvido fisicamente, mas ainda não corrompido pelas paixões dos anos posteriores.
Ele é capaz de desenvolver suas próprias faculdades da razão, sob a orientação de um tutor que tenha o cuidado de observar
as características pessoais de seu aluno e sugerir materiais de estudo de acordo com sua natureza individual.
Neste estágio, Emílio também está pronto para a educação religiosa, e em uma subseção do livro IV, chama-
da de "O Credo do Sacerdote da Saboia", Rousseau descreve essa educação. Ele descreve Emílio recebendo uma
lição do Sacerdote da Saboia, que descreve o relacionamento adequado como um homem natural e virtuoso, como
Emílio deve manter com Deus, as escrituras e a igreja. O principal impulso da instrução do sacerdote é que Emílio
deveria abordar a religião como um cético e que ele deveria descobrir a grandeza e a verdade de Deus através de
sua própria descoberta, não através da ingestão forçada do dogma da igreja.
Rousseau escreve que, somente depois de um período final de estudo da história e aprendizado de como a
sociedade corrompe o homem natural, é possível se aventurar desprotegido nessa sociedade sem o perigo de ser
corrompido. Emílio se aventura no livro V, e ele imediatamente encontra mulher, na forma de Sophie. Rousseau dedica
uma grande parte da seção final à sua história de amor, bem como a uma discussão sobre a educação feminina.

41
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Jean-Jacques Rousseau: do Estado de Natureza ao Estado Civil

Fonte: Youtube

Vídeo Rousseau - Breve vida e obra

Fonte: Youtube

42
LER

tt
Livros

O Contrato Social – Rousseau


“O contrato social”, publicado em 1762, é fruto do amadurecimento
intelectual de Rousseau e consiste num tratado de concepção
política que interliga questões sobre a liberdade e a lei. Para
problematizar e chegar a uma forma de associação pacífica entre
os homens e as relações de poder e direito instituídas entre eles,
a obra apresenta-se dizendo que o homem nasceu livre, estando,
contudo, “acorrentado em toda a parte”. Dividido em quatro
seções, “O contrato social” é leitura obrigatória para todos que
querem compreender o fundamento e a legitimação da sociedade.

Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade


entre os homens – Rousseau
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre
os homens é uma obra do filósofo Jean-Jacques Rousseau. O
texto foi escrito em 1754 em reação a uma competição por um
prêmio da Academia de Dijon respondendo o seguinte: o que é a
origem da desigualdade entre os homens, e é ela autorizada pelo
direito natural? Apesar de ele não ter obtido reconhecimento do
comitê julgador do prêmio por essa obra ele, entretanto, publicou
o texto em 1755.

43
INTERDISCIPLINARIDADE

Na história das ideias, o nome do suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) se liga inevitavelmente à
Revolução Francesa. Dos três lemas dos revolucionários - liberdade, igualdade e fraternidade -, apenas o último
não foi objeto de exame profundo na obra do filósofo, e os mais apaixonados líderes da revolta contra o regime
monárquico francês, como Robespierre, o admiravam com devoção. Também, as ideias de Rousseau influenciaram
uma série de intelectuais e escolas filosóficas de cunho socialista durante todo o século XIX e início do XX.

44
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.

A questão da cidadania pode aparecer de diversas formas no Enem. No que tange à filosofia
política, ela pode assumir duas formas. A primeira consiste em relacionar o pensamento dos filósofos
a processos históricos, como revoluções, por exemplo. A segunda se centra mais na fundamenta-
ção teórica do conceito de cidadania abordado pelos pensadores. A Habilidade 24 exige, portanto,
compreensão teórica e histórica, utilizando-se quase sempre de textos de autores clássicos. No caso
abaixo, consta a visão de Rousseau acerca da dicotomia entre homem natural e homem civil. Cabe
ao estudante ler atenciosamente ao enunciado para escolher a alternativa correta.

Modelo
(Enem) O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se
relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. O homem civil é apenas uma unidade fracionária
que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas
instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência abso-
luta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular
não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo.
ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

A visão de Rousseau em relação à natureza humana, conforme expressa o texto, diz que
a) o homem civil é formado a partir do desvio de sua própria natureza.
b) as instituições sociais formam o homem de acordo com a sua essência natural.
c) o homem civil é um todo no corpo social, pois as instituições sociais dependem dele.
d) o homem é forçado a sair da natureza para se tornar absoluto.
e) as instituições sociais expressam a natureza humana, pois o homem é um ser político.

45
Análise Expositiva

Habilidade 24
Somente a alternativa A está correta. O homem civil, segundo o texto de Rousseau, corres-
ponde àquele que, desviando de sua própria natureza, se torna um indivíduo relacional à
comunidade política.
Alternativa A

Estrutura Conceitual
Destitui ou troca o

Protege os direitos da

GOVERNO SOCIEDADE
CONTRATO
SOCIAL

Cede poder ao

Abuso de poder sobre a

46
Aprofunde seus conhecimentos
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES. convidam e não ficarei descontente comigo
mesmo se me tornar digno de meu assunto e
“O homem nasce livre, e por toda a parte en- de meus juízes”.
contra-se a ferros. O que se crê senhor dos
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e
demais não deixa de ser mais escravo do que os fundamentos da desigualdade entre os homens.
eles. (...) A ordem social, porém, é um direito São Paulo: Martins Fontes, 1999, p.159.
sagrado que serve de base a todos os outros.
(...) Haverá sempre uma grande diferença A partir da teoria contratualista de Rous-
entre subjugar uma multidão e reger uma seau, assinale a alternativa que representa
sociedade. Sejam homens isolados, quantos aquilo que o filósofo de Genebra pretende
possam ser submetidos sucessivamente a um defender na obra.
só, e não verei nisso senão um senhor e escra- a) Que a desigualdade social é permitida pela
vos, de modo algum considerando-os um povo lei natural e, portanto, o Estado não é res-
e seu chefe. Trata-se, caso se queira, de uma ponsável pelo conflito social.
agregação, mas não de uma associação; nela b) Que a desigualdade social é autorizada pela
não existe bem público, nem corpo político.” lei natural, ou seja, que a natureza não se
(Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social. encontra submetida à lei.
[1762]. São Paulo: Ed. Abril, 1973, p. 28,36.)
c) Que no estado natural existe apenas o direi-
to de propriedade.
d) Que a desigualdade moral ou política é uma
1. (Unicamp) Sobre Do Contrato Social, publicado
em 1762, e seu autor, é correto afirmar que: continuidade daquilo que já está presente
a) Rousseau, um dos grandes autores do Ilumi- no estado natural.
nismo, defende a necessidade de o Estado e) Que há, na espécie humana, duas espécies
francês substituir os impostos por contratos de desigualdade: a primeira, natural, e a se-
comerciais com os cidadãos. gunda, moral ou política.
b) A obra inspirou os ideais da Revolução France-
sa, ao explicar o nascimento da sociedade pelo 4. (Uel) Leia o texto a seguir.
contrato social e pregar a soberania do povo. A questão não está mais em se um homem é
c) Rousseau defendia a necessidade de o ho- honesto, mas se é inteligente. Não pergun-
mem voltar a seu estado natural, para assim tamos se um livro é proveitoso, mas se está
garantir a sobrevivência da sociedade. bem escrito. As recompensas são prodiga-
d) O livro, inspirado pelos acontecimentos da lizadas ao engenho e ficam sem glórias as
Independência Americana, chegou a ser virtudes. Há mil prêmios para os belos dis-
proibido e queimado em solo francês. cursos, nenhum para as belas ações.
(ROUSSEAU, J. J. Discurso sobre as ciências
2. (Unicamp) No trecho apresentado, o autor e as artes. 3.ed. São Paulo: Abril Cultural,
a) argumenta que um corpo político existe 1983. p.348. Coleção Os Pensadores.)
quando os homens encontram-se associados
O texto apresenta um dos argumentos de
em estado de igualdade política.
Rousseau à questão colocada em 1749, pela
b) reconhece os direitos sagrados como base
para os direitos políticos e sociais. Academia de Dijon, sobre o seguinte problema:
c) defende a necessidade de os homens se uni- O restabelecimento das Ciências e das Artes
rem em agregações, em busca de seus direi- terá contribuído para aprimorar os costumes?
tos políticos. Com base nas críticas de Rousseau à socieda-
d) denuncia a prática da escravidão nas Améri- de, assinale a alternativa correta.
cas, que obrigava multidões de homens a se a) As artes e as ciências geralmente floresceram
submeterem a um único senhor. em sociedades que se encontravam em pleno
vigor moral, em que a honra era a principal
3. (Pucpr) Leia o fragmento a seguir, extraído do preocupação dos cidadãos.
Discurso sobre a origem e os fundamentos da b) A emancipação advém da posse e do con-
desigualdade entre os homens, de Rousseau: sumo exclusivo e diferenciado de bens de
“É do homem que devo falar, e a questão primeira linha, uma vez que o luxo concede
que examino me indica que vou falar a ho- prestígio para quem o possui.
mens, pois não se propõem questões seme- c) Os envolvidos com as ciências e as artes ad-
lhantes quando se teme honrar a verdade. quirem, com maior grau de eficiência, co-
Defenderei, pois, com confiança a causa da nhecimentos que lhes permitem perceber a
humanidade perante os sábios que a isso me igualdade entre todos.

47
d) O amor-próprio é um sentimento positivo 7. (Enem PPL) O homem natural é tudo para
por meio do qual o indivíduo é levado a agir si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro
moralmente e a reconhecer a liberdade e o absoluto, que só se relaciona consigo mes-
valor dos demais. mo ou com seu semelhante. O homem civil é
e) O objetivo das investigações era atingir celebri- apenas uma unidade fracionária que se liga
dade, pois os indivíduos estavam obcecados em ao denominador, e cujo valor está em sua re-
exibir-se, esquecendo-se do amor à verdade. lação com o todo, que é o corpo social. As
boas instituições sociais são as que melhor
5. (Uem) “Hobbes não viu que a mesma causa que sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua
impede os selvagens de usarem sua razão, como existência absoluta para dar-lhe uma relati-
o pretendem os nossos jurisconsultos, impede-os va, e transferir o eu para a unidade comum,
também de abusar das suas faculdades, como ele de sorte que cada particular não se julgue
próprio o pretende; de sorte que se poderia di- mais como tal, e sim como uma parte da uni-
zer que os selvagens não são maus precisamente dade, e só seja percebido no todo.
porque não sabem o que é ser bom” ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação.
(ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os São Paulo: Martins Fontes, 1999.
fundamentos das desigualdades entre os homens. In: Antologia
de textos filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p.590). A visão de Rousseau em relação à natureza
humana, conforme expressa o texto, diz que
A partir disso, assinale o que for correto. a) o homem civil é formado a partir do desvio
01) Jean-Jacques Rousseau aplica à política o de sua própria natureza.
princípio ontológico aristotélico, segundo o
b) as instituições sociais formam o homem de
qual o homem é uma criatura criada por Deus.
acordo com a sua essência natural.
02) As concepções diferentes que Thomas Hobbes e
c) o homem civil é um todo no corpo social,
Jean-Jacques Rousseau têm sobre a natureza hu-
mana os levam a divergir sobre a forma de orga- pois as instituições sociais dependem dele.
nização que deve fundamentar a sociedade civil. d) o homem é forçado a sair da natureza para
04) De acordo com Rousseau, são dois os moti- se tornar absoluto.
vos de o homem não ser mau no estado de e) as instituições sociais expressam a natureza
natureza: em primeiro lugar, sendo isolado humana, pois o homem é um ser político.
e não tendo as paixões do homem civil, o
homem natural não ataca, não se vinga, não 8. (Uenp) “O homem nasce livre, e por toda
mata. Além disso, há no homem natural, o a parte encontra-se a ferros. O que se crê
sentimento de piedade. senhor dos demais, não deixa de ser mais
08) Para Rousseau, o homem torna-se o lobo do escravo do que eles (...). A ordem social é
homem, quando, ao afastar-se do estado de um direito sagrado que serve de base a todos
natureza, ele se perverte. os outros. Tal direito [ordem social], no en-
16) Segundo Hobbes, os homens tendem sempre tanto, não se origina da natureza: funda-se,
para a guerra, pois, se dois homens desejam portanto, em convenções.”
a mesma coisa ao mesmo tempo, e esta é
ROUSSEAU, J.J. Contrato Social. Coleção Os
impossível de ser obtida por ambos, eles se pensadores. São Paulo: Abril Cultural.
tornam inimigos.
Analise as afirmativas sobre o pensamento
6. (Ueg) No século XIX, influenciados pelo Ro- de Rousseau
mantismo, muitos intelectuais brasileiros I. O homem natural é bom, o isolamento
idealizaram a cultura indígena, consideran- propiciado pelo estado de natureza favo-
do-a como autêntica representante do na- rece o desenvolvimento e o exercício de
cionalismo brasileiro. Em termos filosóficos, qualidades positivas, como o amor de si
essa valorização do indígena foi influencia- mesmo e a piedade.
da pelo pensamento do filósofo II. A ordem social é natural e deriva da na-
a) Thomas Hobbes, autor da frase “o homem é o tureza gregária do ser humano.
lobo do homem”, que valorizava o comporta- III. O estado se origina com o objetivo de im-
mento típico de tribos selvagens. pedir que os homens retornem ao estado
b) Santo Agostinho, que, por meio do “livre ar- de guerra generalizado.
bítrio”, acreditava que as sociedades selva- A(s) afirmativa(s) verdadeira(s) é(são):
gens eram capazes de alcançar a graça divina. a) apenas a I.
c) Montesquieu, que se inspirou na organização b) apenas a II.
social dos indígenas para elaborar a famosa c) apenas a III.
teoria dos “três poderes”. d) apenas a IV.
d) Jacques Rousseau, que elaborou a teoria do e) todas.
“bom selvagem”, defendendo a pureza das
sociedades primitivas.

48
9. (Ufpa) “A soberania não pode ser represen-
tada pela mesma razão por que não pode ser
alienada, consiste essencialmente na vonta- Gabarito
de geral e a vontade absolutamente não se
representa. (...). Os deputados do povo não 1. B 2. A 3. E 4. E 5. 02 + 04 + 08 + 16 = 30
são nem podem ser seus representantes; não
passam de comissários seus, nada podendo 6. D 7. A 8. A 9. C 10. 01+02+04-07
concluir definitivamente. É nula toda lei que
o povo diretamente não ratificar; em absolu-
to, não é lei.”
(ROUSSEAU, J.J. Do Contrato social, São Paulo, Abril
Cultural, 1973, livro III, cap. XV, p. 108-109)

Rousseau, ao negar que a soberania possa ser


representada preconiza como regime político:
a) um sistema misto de democracia semidireta, no
qual atuariam mecanismos corretivos das dis-
torções da representação política tradicional.
b) a constituição de uma República, na qual os
deputados teriam uma participação política
limitada.
c) a democracia direta ou participativa, man-
tida por meio de assembleias frequentes de
todos os cidadãos.
d) a democracia indireta, pois as leis seriam
elaboradas pelos deputados distritais e apro-
vadas pelo povo.
e) um regime comunista no qual o poder seria
extinto, assim como as diferenças entre ci-
dadão e súdito.

10. (Uem 2012) O filósofo Jean-Jacques Rous-


seau (1712-1778) diz no Contrato Social:
“A passagem do estado natural ao estado ci-
vil produz no homem uma mudança notável,
substituindo em sua conduta o instinto pela
justiça, e conferindo às suas ações a mora-
lidade que anteriormente lhes faltava. [...]
O que o homem perde pelo contrato social
é a liberdade natural e um direito ilimitado
a tudo que o tenta e pode alcançar; o que
ganha é a liberdade civil e a propriedade de
tudo o que possui.”
(ROUSSEAU, Jean-Jacques. Contrato Social. In: Antologia
de textos filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009, p. 606-607.)

A partir desse trecho, que reproduz uma


concepção clássica da filosofia política con-
tratualista, é correto afirmar que:
01) A opção pelo contrato social ocorre porque
não há garantias jurídicas no estado natural.
02) O estado natural é pautado por condutas
instintivas porque não há limitações cívicas
ou legais.
04) O contrato social garante mais liberdade ci-
vil porque os homens agem moralmente.
08) A liberdade civil não é uma conquista para
os homens porque eles perdem seu maior
bem, a liberdade instintiva.
16) O estado natural é inseguro e injusto porque
não há homens moralmente corretos.

49
1 3 Barão de Montesquieu

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Montesquieu (1689-1755)
O objeto do pensamento político de Montesquieu, expresso em sua principal obra O Espírito das Leis, é ela-
borar uma física das sociedades humanas. Seu modelo, tanto em conteúdo quanto em metodologia, está mais na
linha teórica experimental do que especulativa. Adota, para tal, a análise histórica, baseando-se em comparações;
o autor retira dos fatos históricos suas variações para, a partir delas, extrair leis da realidade política.

Barão de Montesquieu

Nessa obra, Montesquieu oferece, além das peculiaridades nacionais, explicação das diversas formas de
governo, que para ele estariam conectadas à história de cada povo, ao seu clima, suas leis antigas, costumes e
tradições. Dessa forma, separa-se da tradição jusnaturalista, que atribui o fundamento das leis na arbitrariedade
dos legisladores. Considerava que as leis procedem de relações necessárias derivadas da natureza das coisas e das
relações sociais, aproximando-se da metodologia de um físico.

“O homem, como é um ser físico, é do mesmo modo


que os demais corpos, governado por leis invariáveis. Como
ser inteligente, viola incessantemente as leis que Deus es-
tabeleceu, e modifica as que ele próprio estabelece. Deve
ele mesmo conduzir-se: e, no entanto, é um ser limitado; é
sujeito à ignorância e ao erro, como todas as inteligências
finitas; e, mais ainda, perde os conhecimentos escassos que
possui. Como criatura sensível, torna-se sujeito a mil pai-
xões.”
O Espírito das Leis, in: WEFFOR, F.
Os Clássicos da Política, Vol.1. São Paulo: Ática, 2006, pp. 123.

Cada povo teria a forma de governo e as leis que seriam próprias à sua idiossincrasia histórica e não haveria,
desse modo, uma melhor forma de governo, aplicável a todas as sociedades. Não significa dizer que Montesquieu
defendia qualquer forma de governo: era um feroz crítico de governos despóticos. Preocupava-se, como Locke, em
pensar maneiras de conter as arbitrariedades dos governantes. O seu princípio de separação dos poderes surgiu
justamente desse anseio.

53
A teoria de separação de poderes
As funções de um Estado são vastas e variadas. É necessário confiar essas funções a órgãos específicos, de
modo que a responsabilidade pela execução dessas funções possa ser efetiva. A divisão do poder governamental
sob quaisquer constituições pode ser de dois tipos; a divisão funcional, como legislativa, executiva e judicial, e a
divisão territorial do federalismo. Assim, o governo consiste em três ramos que têm para suas funções: 1) legislação
ou criação da lei; 2) sua execução ou administração; e 3) interpretação dessas leis. Os três ramos aos quais estas
funções pertencem são conhecidos como Legislativo, Executivo e Judiciário, respectivamente.
A liberdade política em um estado é possível, segundo Montesquieu, quando restrições são impostas ao
exercício desses poderes. As funções do governo devem ser diferenciadas e atribuídas a órgãos separados para limi-
tar cada poder à sua própria esfera de ação, de modo que esses órgãos interajam independentemente entre si. Isto
é o que é conhecido como a teoria da separação de poderes. Montesquieu, o célebre acadêmico francês afirmou
que o poder concentrado é perigoso e leva ao despotismo do governo. Contra esse perigo, ele sugeriu separar as
funções de Executivo, Legislativo e Judiciário para que eles possam cooperar em relativo equilíbrio.
No entanto, Montesquieu não foi o primeiro estudioso a desenvolver a teoria das separações de poderes.
Sua origem pode ser rastreada até Aristóteles, o pai da Ciência Política, embora não tenha discutido a questão
em grandes detalhes. Ele apenas analisou as funções dos três poderes do governo, o executivo, o legislativo e o
judiciário, sem sugerir sua separação. Além dele, muitos outros filósofos, numa fase posterior, a partir do século XIII,
deram alguma atenção à teoria da separação de poderes. Jean Bodiri, um dos primeiros pensadores do período
moderno, vê a importância de separar os poderes executivo e judicial.
Mas, na verdade, o princípio da separação de poderes adquiriu maior significado no século XVIII. John Locke
foi um dos filósofos do século XVIII a prestar mais atenção aos problemas de concentração do poder governa-
mental. Ele argumentou que os poderes executivo e legislativo deveriam ser separados para o bem da liberdade. A
liberdade sofre quando o mesmo ser humano faz a lei e os executa.
Montesquieu, contudo, é considerado o principal arquiteto dos princípios da separação de poderes. Ele em
seu livro "The Spirit of Laws", publicado em 1748, deu a clássica exposição da ideia de separação de poderes.
Durante sua vida, a monarquia Bourbon, na França havia, estabelecido o despotismo, e o povo não gozava de
liberdade. O monarca era o principal legislador, executor e o julgador. A declaração de Luís XIV de que "eu sou o
Estado" delineou o caráter e a natureza da autoridade monárquica. Montesquieu, um grande defensor da dignida-
de humana, desenvolveu a teoria da separação de poderes como uma arma para defender a liberdade do povo. Ele
acreditava que a aplicação dessa teoria impediria o supercrescimento de um órgão em particular, o que significa
perigo para a liberdade política. Segundo ele, todo homem encarregado de algum poder está fadado a usá-lo er-
roneamente. Quando o executivo e os poderes legislativos são dados à mesma pessoa, não pode haver liberdade.
Isso porque, para ele, a mesma pessoa pode promulgar leis opressivas para executá-las de forma caprichosa.
Novamente, não há liberdade se o poder judicial não for separado do legislativo e do executivo. Se os poderes
judicial e legislativo são exercidos conjuntamente, a vida e a liberdade dos sujeitos poderiam ser expostas ao con-
trole arbitrário; para o juiz poderia então ser o legislador. Se se unisse ao poder executivo, os juízes poderiam se
comportar com violência e opressão. Se a mesma pessoa ou corpo de pessoas exercerem esses três poderes – o
de criar leis, executá-las e julgá-las – seria a condenação de todo o sistema de governo.
Em palavras simples, a visão de Montesquieu é que a concentração de funções legislativas, executivas e judi-
ciais em uma única pessoa ou em um corpo de pessoas resulta em abuso de autoridade e tal organização se torna
tirânica. Ele argumentou que os três órgãos do governo deveriam ser organizados de tal forma que cada um fosse con-
fiado a pessoas diferentes e cada um deveria desempenhar funções distintas dentro da esfera de poder a ele atribuída.

54
Freios e Contrapesos
O governo é uma unidade orgânica. As várias partes estão intimamente entrelaçadas. O sistema político com-
preenderia uma série de faculdades e procedimentos que permitiriam que esses órgãos – Executivo, Legislativo e
Judiciário – participassem parcialmente de outro poder. O Legislativo, por exemplo, teria a faculdade de examinar as
ações do Executivo e acusar os ministros ou o presidente de não atuarem em conformidade com as leis. O Executivo
participaria do Poder Legislativo por meio do direito ao veto, que o permite rejeitar as resoluções dos legisladores. Do
mesmo modo, ambos os poderes podem decidir ações em comum, como questões militares e orçamentárias. Por fim,
o Poder Judiciário pode julgar as ações legislativas e executivas, caso ambas não andem em conformidade com a cons-
tituição. Tal mecanismo de interpenetração dos poderes ficou conhecido como sistema de Freios e Contrapesos.
Vê-se que Montesquieu preconiza a ideia de que nenhum poder deve sobrepor-se aos demais. Ambos gozam
de certa autonomia, mas sob a observância dos outros. Tal é a maneira de garantir que não haja arbitrariedades e
tendências despóticas na consecução das políticas. O princípio da divisão dos poderes utiliza, assim, o poder contra o
poder com o intuito de garantir estabilidade, vista, para o autor, como condição necessária à liberdade.

Montesquieu e a Liberdade
“Não há palavra que tenha recebido as mais di-
ferentes significações e que, de tantas maneiras, tenha
impressionado os espíritos como a palavra liberdade.
Uns tomaram-na pela facilidade em depor aquele a
quem outorgaram um poder tirânico; outros, pela fa-
culdade de eleger aquele a quem deveriam obedecer;
outros, pelo direito de se armar, e de exercer a violên-
cia; estes, pelo privilégio de só serem governados por
um homem de sua nação, ou por suas próprias leis. [...]
Enfim, cada um chamou de liberdade ao go-
verno que se adequava aos seus costume ou às suas
inclinações; e como, numa república, nem sempre
temos diante dos olhos e de forma tão presente os
instrumentos dos males de que nos queixamos e,
mesmo, como, nesta forma de governo, as leis pa-
recem falar mais e os executores da lei menos, ela é
colocada geralmente nas repúblicas e excluída das
monarquias. Finalmente, como nas democracias o
povo parece quase fazer o que deseja, ligou-se a li-
berdade a essas formas e governo e confundiu-se o
poder do povo com sua liberdade. [...]
É verdade que nas democracias o povo parece
fazer o que quer; mas a liberdade política não consis-
te nisso. Num Estado, isto é, numa sociedade em que
há leis, liberdade não pode consistir senão em poder
fazer o que se deve querer e em não ser constragido
a fazer o que não se deve desejar.
Deve-se ter sempre em mente o que é indepen-
dência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de
fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pu-
desse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais
liberdade, porque os outros teriam tal poder.”
Montesquieu. O Espírito das Leis. São Paulo: Abril Cultural, 1983, pp.155

55
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Aula 4 - O Espírito das Leis em Montesquieu

Fonte: Youtube

56
LER

tt
Livros

Cartas Persas – Montesquieu


Cartas Persas é uma compilação de textos do filósofo francês Barão de
Montesquieu, escritos de 1711 a 1720 e publicados anonimamente
em 1721. Obra de sua juventude, é um relato imaginário, sob a
forma epistolar, sobre a visita de dois fictícios amigos persas, Rica
e Usbeck, a Paris, durante o reinado de Luís XIV. Eles escrevem para
seus amigos na Pérsia tudo o que veem lá. Por meio desta narrativa,
critica a sociedade, os costumes, as instituições políticas e os abusos
da Igreja e do Estado na França e Europa da época. Espirituoso e
irreverente, esse primeiro livro de Montesquieu tem um fundo sério,
pois relativiza os valores de uma civilização pela comparação com os
de outra muito diferentes. Verdadeiro manual do Iluminismo, foi uma
das obras mais lidas no século XVIII.

O Espírito das Leis – Montesquieu


Certos pontos da filosofia de Montesquieu continuam sendo
basilares para toda reflexão rigorosa sobre a política. Ele mantém
o número de três governos, mas rompe a correspondência
entre estes e a quantidade de membros no órgão governante
ou soberano. O que define cada regime não é mais o simples
número, mas sua estrutura e seu funcionamento.

57
INTERDISCIPLINARIDADE

Enquanto as ideias de Rousseau influenciaram os revolucionários franceses em 1789, a independência e


fundação dos EUA foram inspiradas nas teorias de Montesquieu. Neste país, vê-se um presidencialismo tripartite,
em que há clara designação e definição de funções entre o Legislativo, o Executivo e Judiciário.
A história é repleta de situações nas quais teorias filosóficas e sociológicas ganham corpo político e ins-
titucional. Compreender a tangência entre essas disciplinas é fundamental para um bom entedimento dos fatos.

58
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 12 - Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.

A noção de justiça pode expressar-se tanto na forma do Direito – como constituições ou legislações
em geral – ou como abordagem teórica da importância das normas jurídicas na consecução de
políticas e na mera organização social. No âmbito da filosofia, há uma ampla discussão sobre essa
temática entre os teóricos iluministas, que buscavam encontrar formas justas de organização política
e social, ancoradas nos princípios da representatividade e da estabilidade. O estudante deve ater-se
aos seus conhecimentos e aos fragmentos apresentados nos enunciados. Em muitos dos casos, uma
leitura aguçada é o suficiente para responder às questões.

Modelo
(Enem) É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer; mas a liberdade política
não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liber-
dade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer
tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, porque os outros também teriam tal poder.
MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).

A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito


a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo.
b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à conformidade às leis.
c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis.
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências.
e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais.

59
Análise Expositiva

Habilidade 12
É certo que a liberdade da sociedade democrática é justificada pela sua limitação designada
pela constituição da lei, porém a grande questão passa, então, a ser: qual é o conteúdo da lei?
Se a democracia é um regime fundado sobre o valor da liberdade, então como a própria lei
poderia livrar-se desse condicionamento primordial? O que Montesquieu estabelece é a ne-
cessidade de a lei ser a limitação da licença de se fazer tudo aquilo que não esteja de acordo
com a racionalidade do espírito da lei.
Alternativa B

Estrutura Conceitual
Aprova nomeações, orçamentos,
leis e pode dar início ao processo de
impeachment

Veta leis
LEGISLATIVO EXECUTIVO
Po

s
Ap

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ej
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nis
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aa

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ão

tu

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cio
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d
n
sm

de
al

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i
nis
tro
s

JUDICIÁRIO

60
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Espm) Os textos abaixo referem-se a pen- 3. (Enem) É verdade que nas democracias o
sadores cujas obras e ideias exerceram forte povo parece fazer o que quer; mas a liber-
influência em importantes eventos ocorridos dade política não consiste nisso. Deve-se ter
nos séculos XVII e XVIII. Leia-os e aponte a sempre presente em mente o que é indepen-
alternativa que os relaciona corretamente a dência e o que é liberdade. A liberdade é o
seus autores: direito de fazer tudo o que as leis permitem;
I. “O filósofo desenvolveu em seus Dois Tra- se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas
tados Sobre Governo a ideia de um Estado proíbem, não teria mais liberdade, porque os
de base contratual. Esse contrato imaginá- outros também teriam tal poder.
rio entre o Estado e os seus cidadãos teria MONTESQUIEU. Do Espírito das Leis. São Paulo:
por objeto garantir os direitos naturais do Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado).
homem, ou seja, liberdade, felicidade e
prosperidade. A maioria tem o direito de A característica de democracia ressaltada
fazer valer seu ponto de vista e, quando o por Montesquieu diz respeito
Estado não cumpre seus objetivos e não as- a) ao status de cidadania que o indivíduo ad-
segura aos cidadãos a possibilidade de de- quire ao tomar as decisões por si mesmo.
fender seus direitos naturais, os cidadãos b) ao condicionamento da liberdade dos cida-
podem e devem pegar em armas contra seu dãos à conformidade às leis.
soberano para assegurar um contrato justo
e a defesa da propriedade privada”.
c) à possibilidade de o cidadão participar no po-
II. “O filósofo propôs um sistema equilibrado
der e, nesse caso, livre da submissão às leis.
de governo em que haveria a divisão de po-
d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que
deres (legislativo, executivo e judiciário).
Em sua obra O Espírito das Leis alegava que é proibido, desde que ciente das consequências.
tudo estaria perdido se o mesmo homem ou e) ao direito do cidadão exercer sua vontade de
a mesma corporação exercesse esses três acordo com seus valores pessoais.
poderes: o de fazer leis, o de executar e o
de julgar os crimes ou as desavenças dos 4. (Enem) Para que não haja abuso, é preciso or-
particulares. Afirmava que só se impede o ganizar as coisas de maneira que o poder seja
abuso do poder quando pela disposição das contido pelo poder. Tudo estaria perdido se o
coisas só o poder detém o poder”. mesmo homem ou o mesmo corpo dos princi-
a) I – John Locke; II – Voltaire; pais, ou dos nobres, ou do povo, exercesse es-
b) I – John Locke; II – Montesquieu; ses três poderes: o de fazer leis, o de executar
c) I – Rousseau; II – John Locke; as resoluções públicas e o de julgar os crimes
d) I – Rousseau; II – Diderot; ou as divergências dos indivíduos. Assim,
e) I – Montesquieu; II – Rousseau. criam-se os poderes Legislativo, Executivo e
Judiciário, atuando de forma independente
2. (Uff) De acordo com o filósofo iluminista para a efetivação da liberdade, sendo que esta
Montesquieu, no livro clássico O Espírito das não existe se uma pessoa ou grupo exercer os
Leis, quando as mesmas pessoas concentram referidos poderes concomitantemente.
o poder de legislar, de executar e de julgar, MONTESQUIEU, B. Do espírito das leis. São
instaura-se o despotismo, pois, para que os Paulo: Abril Cultural, 1979 (adaptado).
cidadãos estejam livres do abuso de poder, é
A divisão e a independência entre os poderes
preciso que “o poder freie o poder”.
são condições necessárias para que possa ha-
Identifique a sentença que melhor resume
ver liberdade em um Estado. Isso pode ocorrer
esse pensamento de Montesquieu.
apenas sob um modelo político em que haja
a) Para que a sociedade seja bem governada é
a) exercício de tutela sobre atividades jurídicas
necessário que uma só pessoa disponha do
e políticas.
poder de legislar, agir e julgar.
b) consagração do poder político pela autorida-
b) A separação dos poderes enfraquece o Esta-
de religiosa.
do e toma a sociedade vulnerável aos ata-
c) concentração do poder nas mãos de elites
ques de seus inimigos.
c) A separação e independência entre os poderes técnico-científicas.
é uma das condições fundamentais para que d) estabelecimento de limites aos atores públi-
os cidadãos possam exercer sua liberdade. cos e às instituições do governo.
d) A sociedade melhor organizada é aquela em e) reunião das funções de legislar, julgar e exe-
que o executivo goza de poder absoluto. cutar nas mãos de um governante eleito.
e) As mesmas pessoas podem concentrar o po-
der, desde que sejam bem intencionadas.

61
5. (Ufba) Na teoria geral do Estado distin- Assinale o que for correto.
guem-se, embora nem sempre com uma clara 01) Para Rousseau, o soberano é o povo enten-
linha demarcatória, as formas de governo dido como vontade geral, pessoa moral cole-
dos tipos de Estado. Na tipologia das formas tiva livre e corpo político de cidadãos, por-
de governo, leva-se mais em conta a estru- tanto o governante não é o soberano, mas o
tura de poder e as relações entre os vários representante da soberania popular.
órgãos dos quais a constituição solicita o 02) Montesquieu fundamenta-se na teoria po-
exercício do poder; na tipologia dos tipos de lítica do contrato social de Rousseau para
Estado, mais as relações de classe, a relação elaborar sua teoria da formação da sociedade
entre o sistema de poder e a sociedade sub- civil e do Estado.
jacente, as ideologias e os fins, as caracterís- 04) O Estado republicano, para Montesquieu,
ticas históricas e sociológicas. permite a melhor forma de governo, pois
As tipologias clássicas das formas de gover- possibilita aos cidadãos exercer um controle
no são três: a de Aristóteles, a de Maquiavel eficaz sobre os governantes eleitos, limitan-
e a de Montesquieu. do seu poder.
(BOBBIO, 1987, p. 104). 08) Na sua obra O Espírito das Leis, Montesquieu
trata das instituições e das leis e busca com-
De acordo com o texto e com os conhecimen- preender a diversidade das legislações exis-
tos sobre formas de governo e estruturas de tentes em diferentes épocas e lugares.
poder político, são verdadeiras as proposições 16) Montesquieu elabora uma teoria do gover-
01) Monarquia, aristocracia e democracia são no fundamentada na separação dos poderes,
formas de governo definidas por Aristóteles, isto é, do poder legislativo, do poder execu-
a partir do conhecimento da diversidade po- tivo e do poder judiciário, cada um desses
lítica existente nas cidades-Estado da antiga três poderes deve manter sua autonomia; é
Grécia. dessa forma que se pretende evitar o abuso
02) A divisão de poderes fundamentou a organi- do poder dos governantes.
zação da primeira Constituição republicana
brasileira, promulgada em 1891, demons- 7. (Ufsj) Leia o trecho abaixo.
trando a influência da teoria política de “Ninguém deverá se espantar se votos forem
Montesquieu. comprados a dinheiro. Não se pode dar muito
04) O pensamento político de Montesquieu opu- ao povo sem retirar dele ainda mais, porém
nha-se à estrutura do Estado absolutista e para retirar dele é necessário subverter o Es-
propiciou as bases do Estado Liberal. tado. Quanto mais o povo pensa aproveitar
08) As “razões de Estado”, concebidas como va- de sua liberdade, mais se aproximará do mo-
lor político acima de qualquer outro ideal, mento em que deve perdê-la. Cria pequenos
foi um princípio defendido por Maquiavel, tiranos que possuem todos os vícios de um
considerado o fundador da moderna ciência só. Em breve, o que resta da liberdade torna-
política. -se insuportável: surge um único tirano; o
16) O modelo de república liberal idealizado por povo perde tudo, até mesmo as vantagens de
Maquiavel é reconhecível nas formas de go- sua corrupção”.
verno dos países que, na contemporaneida- (MONTESQUIEU. Livro 8º: “Da corrupção dos
de, constituem o denominado Grupo G8. princípios nos três governos”. Cap. II, p. 113.
32) Aristóteles elaborou o projeto político res- Rio de Janeiro: Pensadores, 1979).
ponsável pela unificação política da Grécia
dentro do modelo de tirania temporária. Conforme Montesquieu,
64) Montesquieu privilegiava o Poder Executivo, a) vendendo seus votos o povo terá um governo
em detrimento dos demais poderes, razão do com liberdade plena e governo digno.
seu distanciamento do pensamento político b) o povo conseguirá a sua liberdade vendendo
e filosófico de Maquiavel. os seus votos.
c) é comum corruptores da democracia compra-
rem votos.
6. (Uem) “(...) com exceção de Rousseau, o pen-
d) com um governo tirano o povo também ga-
samento liberal do século XVIII permanece res-
nha vantagens de sua corrupção.
trito aos interesses dos proprietários e portanto
elitista.” “Embora o pensamento de Montes-
quieu tenha sido apropriado pelo liberalismo 8. (Ufsj) Leia o seguinte trecho.
burguês, as suas convicções dão destaque aos “Não há palavra que tenha recebido as mais
interesses de sua classe e portanto o aproxi- diferentes significações e que, de tantas
mam dos ideais de uma aristocracia liberal.” maneiras, tenha impressionado os espíritos
(ARANHA, Maria L. de Arruda e MARTINS, Maria
como a palavra liberdade. Uns tomaram-
H. Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 3ª -na pela facilidade em depor aquele a quem
ed. São Paulo: Moderna, 2003, p. 249). outorgaram um poder tirânico; outros, pela

62
faculdade de eleger aquele a quem deveriam Sobre o pensamento e o constante nas obras
obedecer; outros, pelo direito de se armar, e de Montesquieu é correto afirmar que:
de exercer a violência: estes, pelo privilégio a) os poderes Legislativo, Executivo e Federa-
de só serem governados por um homem de tivo, independentes um do outro, são a me-
sua nação, ou por suas próprias leis”. lhor garantia contra a opressão dos gover-
(MONTESQUIEU. Livro 11º. Das leis que formam a nantes.
liberdade política em sua relação com a constituição, b) cada governo deve ser eleito por sufrágio
cap. II, p. 147, Rio de Janeiro: Pensadores, 1979)
universal, válido para todos os que tiverem
De acordo com esse trecho, a palavra “Liberdade” renda econômica igual ou superior a três sa-
a) significa proibir o armamento a fim de pro- lários mínimos.
mover segurança ao povo e aos governantes c) a infelicidade humana deriva de liberdade,
da nação. pois essa leva à anarquia.
b) significa deixar o tirano governar e eleger a d) o Legislativo, o Executivo e o Judiciário de-
quem se deve obedecer. vem ser independentes e fiscalizar um ao
c) está sendo usada conforme adequação de outro, reciprocamente.
costumes e inclinação de cada povo. e) as alternativas “b” e “d” estão corretas.
d) é o mesmo que ser governado por leis ela-
boradas por homens que têm ideal político
igual ao do povo.

9. (Upe-ssa) O Princípio de Separação dos


Gabarito
Poderes, embora tenha sido positivado por
1. B 2. C 3. B 4. D 5. 01+08+16+32=57
meio da revolução constitucionalista do final
do século XVIII, tem raízes muito mais pro- 6. 01+08+16=25 7. C 8. C 9. E 10. D
fundas, tendo em vista que a preocupação de
atribuir as funções fundamentais do estado
a órgãos distintos é objeto de reflexão e dis-
cussão desde os primórdios da organização
estatal. A separação dos poderes do Estado
tem suas bases definidas por meio de uma
teoria, que se desenvolveu ao longo do tem-
po, mediante a reflexão de filósofos que re-
montam à Antiguidade, consagrando-se efe-
tivamente após a análise de Montesquieu, no
século XVIII.
BARBOSA, Marília Costa. Revisão da Teoria da
Separação dos Poderes do Estado. Escola Superior
do Ministério Público do Ceará. (Adaptado)

Diante do contexto explicado, qual a princi-


pal característica da separação dos poderes
no pensamento de Montesquieu?
a) Combater a expansão dos ideais socialistas.
b) Possibilitar a exploração dos trabalhadores.
c) Garantir a manutenção do Antigo Regime.
d) Propiciar a expansão da industrialização.
e) Assegurar a liberdade dos indivíduos.

10. (Upf) O movimento iluminista teve maior


desenvolvimento na França. Entre os inte-
lectuais que se destacaram naquele contexto
estão Voltaire, Rousseau e o nobre Charles
de Montesquieu, cuja obra de maior reper-
cussão foi Do espírito das leis, publicação na
qual defendia um fracionamento dos pode-
res, como se lê na seguinte passagem: “Não
há liberdade se o poder Judiciário não está
separado do Legislativo e do Executivo... Se
o Judiciário se unisse com o Executivo, o juiz
poderia ter a força de um opressor” (Charles
de Montesquieu, Do espírito das leis, 1748).

63
1 4 René Descartes

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12,13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
René Descartes
O filósofo e matemático francês René Descartes nasceu no ano de 1596, na antiga cidade de La Haye en
Touraine - atualmente nomeada Descartes graças a seu célebre cidadão -, e morreu em Estocolmo, capital sueca,
no ano de 1650. Muito embora tenha se notabilizado também no campo da matemática pelo desenvolvimento da
geometria analítica, é no campo da filosofia que Descartes exerce sua maior influência, inaugurando o pensamento
racionalista moderno, como veremos mais adiante.

O Racionalismo de Descartes
Seguindo a tradição platônica, Descartes acreditava que a única forma válida de se adquirir conhecimento
era por meio da razão. Para o filósofo, os sentidos não eram confiáveis como fonte de conhecimento. Podemos
concluir, portanto, que Descartes rejeitava o empirismo como forma satisfatória de busca pelo conhecimento.
Pode se dizer que Descartes é o grande pai da filosofia moderna, já que foi ele o responsável por organizar
o pensamento filosófico de todo o período renascentista em um sistema filosófico sólido e inovador.

As questões cartesianas
Dentre as questões que permeiam o projeto filosófico de Descartes, podemos citar duas como sendo as mais
importantes: a relação entre corpo físico e alma e tudo aquilo que diz respeito à segurança do conhecimento, isto
é, tudo aquilo que sustenta o conhecimento humano.
No que diz respeito à segurança do conhecimento, podemos dizer que Descartes rejeitava qualquer ceticis-
mo acerca do saber humano. O filósofo não se conformava com a ideia de que o conhecimento poderia ter limites;
acreditava, contudo, que deveríamos sempre questionar o conhecimento previamente produzido caso desejásse-
mos produzir um saber realmente seguro. E, para tornar o processo ainda mais seguro, Descartes acreditava que
a única forma satisfatória seria por meio da razão. Para entender sua enorme fé na filosofia, é importante ter em
mente que Descartes foi contemporâneo da gênese da física clássica - ciência que começava a explicar com sucesso

67
muitos dos processos naturais. Para Descartes, a filoso-
fia deveria, de maneira análoga, também ser capaz de
O método
explicar as grandes questões da humanidade.
O método cartesiano é um método essencial-
O desenvolvimento da física também influenciou
mente matemático. Descartes desejava empregar o mé-
seus pensamentos sobre a relação entre corpo e alma.
todo matemático também em suas reflexões filosóficas,
Com o avanço da concepção mecanicista sobre a natureza,
pois como vimos, na visão do filósofo somente seria
os filósofos passam a enxergar também o corpo humano
possível construir algum tipo de conhecimento sólido e
como uma máquina, explicando suas ações como se fos-
confiável por meio da razão.
sem processos mecânicos. Essa quebra de paradigma faz
Para Descartes, para solucionarmos qualquer
com que, a partir do século XVII, a maioria dos filósofos
problema, devemos sempre partir de questões menores,
enxergassem a alma como sendo separada do corpo. Des-
como se o desmembrássemos. Ele acreditava que o filó-
cartes também estava convencido de que havia uma clara
sofo deveria sempre partir de pensamentos mais simples
separação entre corpo e alma, ou matéria e espírito.
para alcançar pensamentos mais sofisticados. Tal qual na
matemática, Descartes acreditava que todas as hipóteses
O dualismo em Descartes poderiam ser falseadas e que todas elas deveriam ser tes-
tadas; era necessário também ter certeza de que não se
A questão sobre o que seria a alma, contudo, havia descartado nenhuma hipótese sem que houvesse
permanecia. E o filósofo a responde de maneira bastan- sido testada apropriadamente. Em suma, deveria se des-
te lógica: primeiro, ele assume que a realidade exterior confiar de tudo, mas sempre assumindo que tudo é pos-
existe de fato (e não é mera obra da mente humana), sível - até que se prove, com auxílio da razão, o contrário.
já que a mesma pode ser medida (repare o raciocínio
marcadamente matemático e racionalista de Descartes).
O filósofo diferencia, contudo, duas formas de realida-
de, ou duas substâncias: a primeira, o pensamento, se
relaciona à alma; a segunda, a matéria, se relaciona ao
corpo e é uma extensão da primeira. Para Descartes, a
alma seria pura consciência humana, portanto. Por não
ocupar lugar no espaço físico, ela não pode ser des-
membrada, dividida em partes menores. A matéria, por
sua vez, pode ser dividida em partes cada vez menores.
Descartes afirma que tanto a matéria quanto o
pensamento são criados por Deus (que conclui existir,
como veremos adiante). Apesar de possuírem a mesma
origem, contudo, as duas substâncias são independen-
tes. O filósofo é, portanto, um dualista: assume que há
duas realidades, a espiritual e a material. É importante
ressaltar que, apesar de concluir que as duas realidade
são independentes uma das outras, Descartes não ne-
gava a relação íntima que as duas possuíam: a alma, É daí que vem sua famosa frase, “Cogito ergo
acreditava, habitaria o corpo e a ele se conectaria por sum”, ou “penso, logo existo”: Descartes acreditava
meio de um órgão localizado no cérebro humano. Dessa que o bom filósofo deveria duvidar de absolutamente
forma, ele reconhecia uma influência mútua entre corpo qualquer coisa. A única coisa que deveria ter certeza,
e alma, matéria e pensamento. dizia, é de que duvidava de tudo. Quando se duvida, ar-
gumenta Descartes, também se raciocina. E é somente
quando se raciocina, portanto, que se pode ter certeza
de estar vivo, conclui o filósofo.

68
O divino para Descartes
Descartes acreditava que a ideia de um Deus era uma ideia inata em qualquer ser humano, ou seja, que todo
homem já vinha ao mundo com uma ideia clara do que era o divino. Para ele, essa ideia de Deus, presente na mente
de todo e qualquer homem, era a ideia de um ser perfeito. O filósofo argumenta, contudo, que o ser humano é um
ser imperfeito, e a ideia de Deus, um ser perfeito, não poderia surgir de um ser imperfeito.
Além disso, o fato de Deus ser representado como um ser perfeito implica sua existência, pois existir é
característica essencial a um ser perfeito (pois se não existisse, não seria um ser, muito menos perfeito). Descartes
conclui, de maneira lógica, que a existência de Deus é tão certa e evidente quanto o fato de que, quando racio-
cinamos, podemos ter certeza de nossa existência. Perceba que sua argumentação é puro encadeamento lógico,
marcadamente racionalista.

69
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo D07 - Filosofia da educação - Descartes

Fonte: Youtube

Vídeo Filme Descartes 1974 (Legendado)

Fonte: Youtube

Vídeo René Descartes vs David Hume - Racionalismo e Empirismo

Fonte: Youtube

70
INTERDISCIPLINARIDADE

O adjetivo cartesiano refere-se ao matemático e filósofo francês René Descartes que publicou essa ideia em
1637. Foi descoberto independentemente por Pierre de Fermat, que também trabalhou em três dimensões, embora
Fermat não tenha publicado a descoberta. O clérigo francês Nicole Oresme, usou construções semelhantes às co-
ordenadas cartesianas bem antes do tempo de Descartes e Fermat.
Ambos, Descartes e Fermat, usaram um único eixo em seus tratamentos e têm um comprimento variável
medido em referência a este eixo. O conceito de usar um par de eixos foi introduzido mais tarde, depois que La
Géométrie, de Descartes, foi traduzida para o latim, em 1649, por Frans van Schooten e seus alunos. Esses comen-
taristas introduziram vários conceitos ao tentar esclarecer as idéias contidas no trabalho de Descartes.
O desenvolvimento do sistema de coordenadas cartesianas teria um papel fundamental no desenvolvimento
do cálculo por Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz. A descrição de duas coordenadas do plano foi posterior-
mente generalizada no conceito de espaços vetoriais.
Muitos outros sistemas de coordenadas foram desenvolvidos desde Descartes, como as coordenadas pola-
res para o plano, e as coordenadas esféricas e cilíndricas para o espaço tridimensional.

71
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 14 - Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e in-


terpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições
sociais, políticas e econômicas.

Muito cobrada nas disciplinas de Ciências Humanas, a habilidade 14 exige rigor analítico dos es-
tudantes, além de um arcabouço teórico por ele dominado. Trata-se, quase sempre, da presença de
textos de dois pensadores que devem ser contrastados à luz de acontecimentos históricos ou de
perspectivas teóricas. Muitas das vezes, os estudantes tendem a pensar que comparar dois autores
é o exercício de encontrar diferenças entre seus pensamentos, mas nem sempre isso é exigido. Pode
haver, também, a possibilidade de se encontrar semelhanças entre autores que viveram em tempos
históricos distintos. O aluno deve ler os fragmentos com muito cuidado, além de estudar o pensa-
mento dos principais filósofos cobrados pelo Enem.

Modelo
(Enem) TEXTO I
Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas
opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegu-
rados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em
minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo nova-
mente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável.
DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).

TEXTO II
É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se
todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de
alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram
anteriormente varridas por essa mesma dúvida.
SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado).

A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical
do conhecimento, deve-se
a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade.
b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções.
c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos.
d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados.
e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados.

72
Análise Expositiva

Habilidade 14
Como exemplo da radicalidade indicada pelo prof. Franklin Leopoldo e Silva, vale mencio-
nar que Descartes inicia a segunda meditação com a metáfora de um homem submerso, ele
diz: “a meditação que fiz ontem encheu-me de tantas dúvidas, que doravante não está mais
em meu alcance esquecê-las. E, no entanto, não vejo de que maneira poderia resolvê-las; e,
como se de súbito tivesse caído em águas muito profundas, estou de tal modo surpreso que
não posso nem firmar meus pés no fundo, nem nadar para me manter à tona”. Essa metá-
fora expõe um homem de mãos atadas; voltar para a situação anterior é impossível, porém
manter-se no meio do caminho também. A única opção é manter-se trilhando o caminho
da dúvida sistemática e generalizada, esperando desse modo alcançar algum ponto firme o
suficiente para ser possível apoiar os pés, e nadar de volta para a superfície. Mantendo-se
nesse caminho, o filósofo busca o ponto que irá inaugurar uma cadeia de razões da qual ele
não poderá duvidar. O chão desse mar no qual o filósofo está submerso é esta única coisa da
qual ele não pode duvidar, mesmo se o gênio maligno estiver operando. Tal certeza radical é
a certeza sobre o fato de que se o gênio maligno perverte meus pensamentos, ele nunca po-
deria perverter o próprio fato de que eu devo estar pensando para que ele me engane. Penso,
existo é a nova raiz que nutre a modernidade.
Alternativa B

Estrutura Conceitual
Us
ad

Teoria
ap
a

ara
ica

faz
dif

er
Mo

u ma

Observação Hipótese
u m
Ap btém

de
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o

vés
su -se u

tra
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Experimento
aa
xec ma

tad

ão

Tes
,

73
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Enem) Nunca nos tornaremos matemáticos, da construção das cidades, assinale a alter-
por exemplo, embora nossa memória possua nativa correta.
todas as demonstrações feitas por outros, se a) A arquitetura das cidades compreende as edi-
nosso espírito não for capaz de resolver toda ficações planejadas, em que coincidem a or-
espécie de problemas; não nos tornaríamos dem racional e a ordem da realidade objetiva.
filósofos, por ter lido todos os raciocínios b) A experiência sensível era o princípio capaz
de Platão e Aristóteles, sem poder formular de fundamentar as leis do conhecimento,
um juízo sólido sobre o que nos é proposto. permitindo certo ordenamento das constru-
Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, ções nas cidades.
não ciências, mas histórias. c) A mente é como uma folha em branco, isen-
ta de impressões, assim, o conhecimento
DESCARTES. R. Regras para a orientação do
espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999. que nos permite edificar as cidades inicia-se
na execução.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o au- d) O conhecimento se constrói num processo
tor considera o conhecimento, de modo que vai do particular para o universal, o que
crítico, como resultado da valoriza o caráter indutivo na construção
a) investigação de natureza empírica. das cidades.
b) retomada da tradição intelectual. e) Os engenheiros e os mestres de obras se uti-
c) imposição de valores ortodoxos. lizam do conhecimento empírico para a edi-
d) autonomia do sujeito pensante. ficação e o planejamento de nossas cidades.
e) liberdade do agente moral.
3. (Unioeste) “... esta palavra, Filosofia, signi-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. fica o estudo da sabedoria, e por sabedoria
Observe a figura a seguir e responda à(s) não se deve entender apenas a prudência nos
questão(ões) seguinte(s). negócios, mas um conhecimento perfeito de
todas as coisas que o homem pode saber,
tanto para a conduta da sua vida como para
a conservação da saúde e invenção de todas
as artes. E para que este conhecimento assim
possa ser, é necessário deduzi-lo das primei-
ras causas, de tal modo que, para se conse-
guir obtê-lo – e a isto se chama filosofar –,
há que começar pela investigação dessas pri-
meiras causas, ou seja, dos princípios. Estes
devem obedecer a duas condições: uma, é
que sejam tão claros e evidentes que o espí-
rito humano não possa duvidar da sua verda-
de, desde que se aplique a considerá-los com
atenção; a outra, é que o conhecimento das
outras coisas dependa deles, de maneira que
possam ser conhecidos sem elas, mas não o
inverso. Depois disto, é indispensável que, a
2. (Uel) Leia o texto a seguir. partir desses princípios, se possa deduzir o
Descartes, na segunda parte do Discurso do conhecimento das coisas que dependem de-
Método, apresenta uma crítica às cidades an- les, de tal modo que, no encadeamento das
tigas por serem caóticas. Tais cidades, por te- deduções realizadas, não haja nada que não
rem sido no início pequenos burgos e haven- seja perfeitamente conhecido.”
do se transformado, ao longo do tempo, em Descartes.
grandes centros, são comumente mal calcula-
“À medida que Descartes vai desenvolvendo
das. Suas ruas curvas e desiguais foram obra
sua ideia de um sistema reconstruído de co-
do acaso e não uma disposição da vontade de
nhecimento, vemos surgir dois componentes
alguns homens que se utilizaram da razão.
específicos da visão cartesiana. O primeiro é
(Adaptado de: DESCARTES, R. Discurso do Método. São Paulo:
Nova Cultural, 1999. p.43-44. (Coleção Os Pensadores.)) um individualismo radical: a ciência tradi-
cional, ‘composta e acumulada a partir das
Com base no texto, nos conhecimentos sobre opiniões de inúmeras e variadas pessoas, ja-
o racionalismo cartesiano e sobre uma pos- mais logra acercar-se tanto da verdade quan-
sível relação com o tema do planejamento e to os raciocínios simples de um indivíduo de

74
bom senso’. O segundo componente é uma começar tudo novamente desde os fundamen-
ênfase na unidade e no sistema: ‘Todas as tos, se eu quisesse estabelecer alguma coisa
coisas que se incluem no alcance do conheci- de firme e de constante nas ciências.”
mento humano são interligadas’”. (DESCARTES, R. Meditações sobre a filosofia
Cottingham. primeira. In: MARÇAL, J. Antologia de textos
filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 153).
Considerando os textos acima, que tratam
A partir do texto citado, assinale o que for
da teoria cartesiana do conhecimento, é IN-
correto.
CORRETO afirmar que
01) A verdadeira ciência ou conhecimento verda-
a) a teoria cartesiana do conhecimento impli-
ca um sistema em que todos os conteúdos deiro deve refutar toda e qualquer crença ou
encontram-se intimamente relacionados. religião.
b) a teoria do conhecimento cartesiana pretende, 02) O início do processo filosófico de descoberta da
a partir da elaboração de um método preciso, verdade começa com a instauração da dúvida.
reconstruir o conhecimento em bases sólidas. 04) O espírito de investigação filosófica busca ali-
c) a teoria do conhecimento cartesiana, que tem cerces firmes, que não foram dados pelo modo
como objetivo a elaboração de uma ciência como se adquiria o conhecimento até então.
universal, serve-se, em certa medida, do mo- 08) A dúvida sobre o conhecimento que se tem
delo indutivista para alcançar seu objetivo. decorre das opiniões e dos saberes mal apre-
d) o conhecimento que se tem de cada coisa endidos na escola.
deriva de um processo no qual cada etapa 16) Os alicerces firmes do conhecimento devem
pode ser conhecida sem o concurso de eta- estar além das opiniões das autoridades aca-
pas posteriores, mas não o inverso. dêmicas.
e) quando determinada noção se apresenta com
clareza e com distinção, o sujeito pensante 7. (Uem) Na introdução do volume dedicado a
entende que se encontra frente a um conhe- Descartes, na coleção “Os Pensadores”, José
cimento verdadeiro pela própria natureza da Américo Motta Pessanha afirma que o papel
concepção cartesiana do conhecimento. da racionalidade cartesiana na fundação das
ciências se dá da seguinte maneira: “A fí-
4. (Ufsj) Ao analisar o cogito ergo sum – penso, sica de Descartes representa uma aplicação
logo existo, de René Descartes, conclui-se que de sua metafísica, na qual Deus garante o
a) o pensamento é algo mais certo que a
conhecimento científico constituído a partir
própria matéria corporal.
de ideias claras”
b) a subjetividade científica só pode ser pen-
(DESCARTES. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1994, p. 26).
sada a partir da aceitação de uma relação
empírica fundada em valores concretos. Sobre a fundação da racionalidade moderna,
c) o eu cartesiano é uma ideia emblemática e repre- assinale o que for correto.
sentativa da ética que insurgia já no século XVI.
01) A matemática foi, em diversos momentos da
d) Descartes consegue infirmar todos os siste-
história, uma fonte inspiradora e metodoló-
mas científicos e filosóficos ao lançar a dú-
gica da prática científica.
vida sistemático-indutiva respaldada pelas
02) A física cartesiana está orientada contra os
ideias iluministas e métodos incipientes da
princípios de uma ciência meramente prová-
revolução científica.
vel, razão pela qual Descartes recusa todos os
juízos, demonstrações e dados que não possam
5. (Unicentro) Para o racionalismo, a razão é a ser tidos como verdadeiros e indubitáveis.
verdadeira fonte do conhecimento. De acor- 04) Para Descartes, a diversidade das ciências,
do com essa afirmativa, os filósofos que po- que necessita de campos do saber específi-
dem ser considerados racionalistas são cos, inviabiliza a construção de um método
a) Locke, Plotino e Hume. e de regras para a direção do espírito, aplicá-
b) Kant, Aristóteles e Nietzsche. veis a qualquer tipo de conhecimento, seja
c) Platão, Descartes e Karl Marx. qual for seu objeto de estudo.
d) Descartes, Malebranche e Hume. 08) Por Descartes adotar procedimentos céticos
e) Platão, Santo Agostinho e Descartes. para a obtenção da primeira certeza, a re-
flexão cartesiana é precursora do falsifica-
6. (Uem) “Há já algum tempo dei-me conta de cionismo de Karl Popper, segundo o qual a
que, desde meus primeiros anos, recebera falsificabilidade define uma teoria científica.
muitas falsas opiniões por verdadeiras e de 16) O more geométrico cartesiano tem como
que aquilo que depois eu fundei sobre prin- efeito o desenvolvimento de teorias políti-
cípios tão mal assegurados devia ser apenas cas e o fortalecimento de instituições sociais
muito duvidoso e incerto; de modo que era republicanas. Por isso, Jean-Jacques Rous-
preciso tentar seriamente, uma vez em mi- seau e Thomas Hobbes tomam o Discurso do
nha vida, desfazer-me de todas as opiniões Método como ponto de partida do pensa-
que recebera até então em minha crença e mento político moderno.

75
8. (Uff) O filósofo francês René Descartes escre- 08) A ideia de extensão (ou tridimensionalida-
veu o seguinte em seu Discurso do Método: de) dos corpos é, ao contrário dos dados re-
“Logo que adquiri algumas noções gerais re- cebidos pelos sentidos, certa e evidente.
lativas à Física, julguei que não podia mantê- 16) Similarmente ao que ocorre nas matemáti-
-las ocultas, sem pecar grandemente contra cas, Descartes pretendeu construir um sis-
tema filosófico a partir de poucos princípios
a lei que nos obriga a procurar o bem geral
que fundamentassem as demais verdades
de todos os homens. Pois elas me fizeram ver desse sistema.
que é possível chegar a conhecimentos que
sejam úteis à vida e assim nos tornar como
que senhores e possuidores da natureza. O 10. (Unioeste) Considerando-se as primeiras
que é de desejar, não só para a invenção de linhas das Meditações sobre a filosofia pri-
uma infinidade de utensílios, que permiti- meira de René Descartes:
riam gozar, sem qualquer custo, os frutos da “Há já algum tempo dei-me conta de que,
terra e de todas as comodidades que nela se desde meus primeiros anos, recebera mui-
acham, mas principalmente também para a tas falsas opiniões por verdadeiras e de que
conservação da saúde, que é sem dúvida o aquilo que depois eu fundei sobre princípios
primeiro bem e o fundamento de todos os tão mal assegurados devia ser apenas muito
outros bens desta vida.” duvidoso e incerto; de modo que era preciso
Assinale a alternativa que resume o pensa- tentar seriamente, uma vez em minha vida,
mento de Descartes. desfazer-me de todas as opiniões que rece-
a) O conhecimento deve ser mantido oculto para bera até então em minha crença e começar
evitar que seja empregado para dominar a na- tudo novamente desde os fundamentos, se
tureza. eu quisesse estabelecer alguma coisa de fir-
b) O conhecimento da natureza satisfaz apenas me e de constante nas ciências. (...) Agora,
ao intelecto e não é capaz de alterar as condi- pois, que meu espírito está livre de todas as
ções da vida humana. preocupações e que obtive um repouso se-
c) Nosso intelecto é incapaz de conhecer a natu- guro numa solidão tranquila, aplicar-me-ei
reza. seriamente e com liberdade a destruir em
d) Devemos buscar o conhecimento exclusiva- geral todas as minhas antigas opiniões”
mente pelo prazer de conhecer. É correto afirmar sobre a teoria do conheci-
e) O conhecimento e o domínio da natureza de-
mento cartesiana que
vem ser empregados para satisfazer as necessi-
a) Descartes não utiliza um método ou uma es-
dades humanas e aperfeiçoar nossa existência.
tratégia para estabelecer algo de firme e certo
no conhecimento, já que suas opiniões anti-
9. (Uem-pas) Considere o seguinte texto do fi- gas eram incertas.
lósofo francês René Descartes (1596-1650): b) Descartes considera que não é possível en-
“Deleitava-me principalmente com as mate- contrar algo de firme e certo nas ciências,
máticas, devido à certeza e à evidência de pois até então esse objetivo não foi atingido.
suas razões; mas ainda não percebia sua ver- c) Descartes, ao rejeitar o que a tradição filo-
dadeira aplicação, e, julgando que só serviam sófica considerou como conhecimento, busca
às artes mecânicas, espantava-me de que, fundamentar nos sentidos uma base segura
sendo seus fundamentos tão seguros e sóli- para as ciências.
dos, não se houvesse construído sobre eles d) ao investigar uma base firme e indestrutível
nada de mais elevado” (Discurso do Método. para o conhecimento, Descartes inicia rejei-
In: Descartes, Coleção Os Pensadores. São Pau- tando suas antigas opiniões e utiliza o método
lo: Nova Cultural, 2004, p.40). A respeito de da dúvida até encontrar algo de firme e certo.
Descartes e de suas contribuições para a filo- e) Descartes necessitou de solidão para investi-
sofia e as ciências, assinale o que for correto. gar as suas antigas opiniões e encontrar entre
01) Descartes não apenas apresentou interesse elas aquela que seria o verdadeiro fundamen-
filosófico nas matemáticas e nas ciências to do conhecimento.
correlatas, mas também contribuiu para o
progresso delas, desenvolvendo, por exem-
plo, a Geometria Analítica e a Óptica.
02) Descartes se deleitava com as matemáticas
devido ao fato de a experiência e os dados Gabarito
vindos dos sentidos fornecerem elementos
para a construção dos princípios inaugurais
dessas ciências. 1. D 2. A 3. C 4. A 5. E
04) O método cartesiano permite dispensar a 6. 02+04+16= 22 7. 01+02=03 8. E
certeza e a evidência dos princípios que
fundamentam um conhecimento em favor 9. 01+08+16=25 10. D
de uma justificação empírica desse mesmo
conhecimento.

76
1 5 David Hume e Francis Bacon

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
David Hume
David Hume foi um filósofo escocês nascido em Edimburgo, no ano de 1711, e falecido em 1776. O filósofo
se tornou notável por, entre outras coisas, seu empirismo radical e sua influência na obra de outro importante pen-
sador, Immanuel Kant. Por ter vivido durante o período do Iluminismo, o chamado “século das luzes”, o filósofo foi
contemporâneo de pensadores como Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Com apenas 28 anos, Hume publica sua
obra mais importante, “Tratado sobre a natureza humana”.

O empirismo de Hume
Seguindo a tradição empirista, David Hume acreditava que somente a reflexão acerca da vida cotidiana e a
experimentação do mundo poderiam fornecer as respostas buscadas pela humanidade.
O filósofo dizia que noções falsas, raciocínios abstratos... Em suma, tudo aquilo que não passasse de mero
produto da mente e da imaginação humana deveria ser eliminado antes de se iniciar o processo de busca pelo
conhecimento. Qualquer forma de raciocínio rebuscado seria incapaz de explicar as questões com as quais a hu-
manidade tipicamente se preocupa. O verdadeiro conhecimento seria encontrado na observação e experimentação
da realidade, da vida cotidiana, dizia ele.

Os tipos de raciocínio para Hume

Hume afirma que existem dois tipos de raciocínio humano: as impressões e as ideias. A impressão seria, para
ele, a percepção imediata que temos da realidade exterior a nós; a ideia, diz, é a lembrança dessa impressão. Se
comermos uma maçã, no momento da mordida teremos uma impressão. Ao nos lembrarmos de seu gosto, teremos
uma ideia. A impressão, diz Hume, é sempre mais forte e vívida do que a ideia, pois esta última não passa de mera
lembrança da primeira, desbotada e corroída pelo tempo. Hume diz ainda que ambos os tipos de raciocínio, as
impressões e as ideias, podem ser simples ou complexas.
Embora para o filósofo a impressão seja a causa direta da ideia, podemos por vezes criar uma ideia que não
exista na realidade; é o caso de anjos e outras criaturas mitológicas, que existem apenas na imaginação, pois não
passam de produto da mente humana. Repare que, no exemplo do anjo, as asas vêm de uma impressão simples

79
(a observação de uma ave, por exemplo, que existe na
A questão do divino
realidade) e o corpo de homem vem de outra impressão
simples. Por isso, Hume diria que um anjo é uma ideia Hume diz que, quando imaginamos Deus, cria-
complexa: algo inexistente na realidade, formado por mos na nossa mente a imagem de um ser complexo. Isso
uma composição de impressões simples. Como veremos porque atribuímos a Deus diversas características prove-
adiante, Hume detalha estes tipos de raciocínio para nientes de múltiplas impressões simples (podemos dizer,
embasar seu método, que consiste em verificar se as por exemplo, que Deus é infinitamente bondoso, sábio
diferentes concepções e ideias humanas teriam corres- e inteligente). Embora faça tal afirmação, Hume rejeita
pondência na realidade. Essa investigação é o grande qualquer tentativa de demonstrar a existência ou inexis-
projeto filosófico de Hume. tência de Deus. Essa recusa faz sentido, uma vez que a
tentativa de comprovar uma religião por meio de lógica
e razão humana é um projeto tipicamente racionalista.
O método de Hume
Pode se dizer, portanto, que a posição de Hume
Como vimos, o método de Hume consiste em em relação a Deus era de agnosticismo. Ele não rejei-
verificar se as ideias humanas encontram amparo na tava a ideia do divino, mas acreditava ser impossível
realidade, na vida cotidiana. O filósofo acreditava que comprová-la por meio do conhecimento humano. Para

de nada vale produzir um pensamento extremamente ele, Deus era simplesmente uma questão de fé. Em ou-

sofisticado caso este seja abstrato ou não se verifique tras palavras: Hume não acreditava em Deus por jamais

ou encontre correspondência na realidade. No caso de a ter tido contato (experimentado, portanto) com nenhu-

ideia não passar pelo crivo da realidade, ela é falseada ma divindade, mas também não rejeitava sua existência

e deve ser descartada. por jamais ter experimentado o fato de Deus não existir.

A identidade para Hume


De maneira análoga à ideia de Deus, a nossa
identidade, ou o eu, é bastante complexa, pois é for-
mado a partir de múltiplas ideias simples (uma pessoa
pode ser inteligente, atraente, maldosa...), e de forma
alguma é imutável, estática. A personalidade de um
indivíduo se altera de acordo com suas experiências,
sendo moldada pela vida cotidiana e pela realidade à
sua volta. Hume afirma que estamos em constante mu-
dança enquanto indivíduos. Não somos os mesmos de
5 ou 10 anos atrás, e provavelmente não seremos os
Mas como, exatamente, Hume propunha fazer mesmos em 30 anos.
isso? O filósofo se perguntava, antes de tudo, de onde Partindo deste raciocínio, é razoável supor que a
vinha determinada ideia (ou seja, de quais impressões mente de uma criança de 3 ou 4 anos, que teve pouco
ela vinha). Dessa maneira, Hume poderia criticar qualquer contato com o mundo real, funciona de maneira dife-
ideia que fosse absurda ou demasiadamente abstrata. rente da de um homem adulto, que provavelmente já
encara o mundo como algo banal.

80
A lei da causalidade
Como vimos, a mente de uma criança funciona de maneira diferente da mente adulta. Isso porque a mente
adulta já experimentou infinitas situações da realidade, enquanto a mente infantil é como uma “folha em bran-
co”, livre de opiniões preconcebidas e preconceitos. Se perguntarmos a um adulto o que aconteceria se alguém
soltasse um copo de cristal no chão, ele responderia que com toda a certeza o copo cairia e se despedaçaria. E
mais: o adulto ficaria chocado caso isso não acontecesse (imagine que o copo flutuasse suavemente, por exemplo,
até encontrar o chão, e nele repousasse intacto). Se um bebê observasse essa cena extraordinária, contudo, ele
provavelmente não ficaria tão espantado assim. Isso porque o bebê ainda não adquiriu a noção plena daquilo que
chamamos de leis naturais, e não teria como saber que um copo flutuante as contraria (no caso, a gravidade). Como
diria Hume, a natureza ainda não se tornou habitual para ele; assim, o bebê percebe o mundo e o experimenta tal
como ele é - sem acrescentar qualquer coisa às suas experiências.
Em sua obra, Hume dá o exemplo da bola de bilhar para criticar a ideia de causalidade: ao bater uma bola de
bilhar em outra bola de bilhar, nós esperamos que a primeira coloque a segunda em movimento, pois vimos isso acontecer
inúmeras vezes. É a força do hábito que nos faz prever o movimento da segunda bola. Devemos lembrar que, para Hume,
um empirista inveterado, só podemos ter certeza daquilo que experimentamos. Mas ninguém experimenta a causa pela
qual a segunda bola começa a se movimentar: o que experimentamos inúmeras vezes é um evento seguindo-se a outro,
ao observarmos repetidamente duas bolas se chocarem e a primeira colocar a segunda em movimento - mas jamais a
verdadeira causa. Essa argumentação pode parecer demasiadamente rigorosa à primeira vista, mas é importante pois
evidencia que, para Hume, a expectativa da segunda bola ser colocada em movimento pela primeira reside na consci-
ência humana - assim como reside na consciência humana a expectativa do copo cair e se quebrar ao ser solto no ar. É,
portanto, um resultado de nossas experiências; nenhum ser humano nasce com a expectativa de um copo cair no chão e
se quebrar ao ser solto, mas sim a adquire à medida em que experimenta o mundo, o vivencia.

Francis Bacon
Francis Bacon foi um pensador inglês nascido em 1561, em Londres, e falecido em 1626. É considerado por
muitos um dos primeiros grandes pensadores modernos.
Fortemente influenciado pelo espírito de sua época, Bacon se dedica ao desenvolvimento de um método
experimental que rejeitasse formulações especulativas e distantes da realidade cotidiana. Suas principais obras são
Novum Organum, em que o autor tece uma crítica à metodologia empregada por Aristóteles em seu pensamento,
e O progresso do saber, no qual o autor explana sua concepção de método científico.

81
O empirismo de Bacon
Bacon acreditava que somente a experimentação e a experiência concreta do indivíduo seriam formas
válidas de busca pelo conhecimento. O filósofo rejeitava qualquer formulação racionalista, abstrata (distanciada
da realidade prática) e rebuscada para a realização do conhecimento. Para Bacon, a mente humana (e a razão
humana, portanto) distorce a realidade. O pensador conclui, a partir daí, que a razão não é confiável ao se tentar
responder as grandes questões da humanidade.

O método de Bacon
Bacon tenta, em seu projeto filosófico, compreender quais são os obstáculos que se apresentam aos seres
humanos para a compreensão do mundo em que vivemos. O pensador deseja propor um método que não se sujeite
a tais obstáculos. Em sua obra, Bacon chama tais obstáculos de ídolos, em referência a tudo aquilo que é ilusório.
Como vimos, a utilização indiscriminada da razão humana (ídolo da tribo) é um destes ídolos, pois esta
tem a propriedade de distorcer a realidade. A enorme diversidade encontrada no intelecto dos homens e as di-
ficuldades de comunicação (palavras com múltiplos significados, ambiguidades etc.) com que se deparam muitos
pensadores são dois outros ídolos (ídolo da caverna e ídolo do foro) apontados por Bacon. Por fim, o autor aponta
como último ídolo (ídolo do teatro) teorias e doutrinas filosóficas que concebem mundos imaginários e apresentam
ideias que não encontram correspondência na realidade.
Qual é, então, o método proposto por Bacon para que a ciência não incorra nestes ídolos? Para o pensador,
o método em questão é o método indutivo, caracterizado pela observação criteriosa dos fenômenos. Essa obser-
vação da realidade vai permitir ao cientista identificar regularidade nos fenômenos em questão e, a partir desta
regularidade, elaborar uma lei geral capaz de explicar situações particulares. Dessa forma, diz Bacon, é possível
produzir conhecimento sólido e seguro, de modo a produzir avanços técnico-científicos.
Vale notar que o método indutivo já havia sido proposto por Aristóteles, mas Bacon diverge do pensamento
aristotélico em alguns aspectos, propondo portanto algo original. Para Aristóteles, a mente humana possuía uma
disposição inata, natural para o conhecimento; para Bacon, como vimos, era necessário preparar previamente a
mente humana para o conhecimento, eliminando os ídolos que poderiam comprometê-lo.

82
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Filosofia - Ciência moderna: Francis Bacon

Fonte: Youtube

Vídeo Empirismo e ceticismo - David Hume

Fonte: Youtube

Vídeo René Descartes vs David Hume - Racionalismo e Empirismo

Fonte: Youtube

84
INTERDISCIPLINARIDADE

Sabemos que, hoje em dia, o método científico alia razão humana à observação da realidade, concilian-
do racionalismo e empirismo. Hume e os empiristas ingleses foram essenciais para disseminar a importância da
observação da realidade na produção de conhecimento. A experimentação é etapa essencial para a ciência. Hoje
temos o entendimento de que, a partir do momento em que uma hipótese não se verifica na realidade, ela deve
ser descartada. Mas isso não significa que o fato de uma hipótese nunca ter sido falseada faz dela uma verdade.
Imaginemos a seguinte situação: uma nova espécie de peixe é encontrada e o biólogo responsável pela descoberta
observa que os espécimes são, em sua maioria, avermelhados. Caso o biólogo tivesse encontrado evidências (ante-
riores à descoberta) de uma nova espécie e suposto que os espécimes seriam, em sua maioria, acinzentados, diante
dos fatos ele teria de descartar sua hipótese inicial. Mas note: o fato de a maioria dos peixes serem avermelhados
não significa, jamais, que não possa haver um exemplar acinzentado. Ter isso em mente é muito importante para
qualquer cientista, não importando a área do conhecimento humano.

85
Estrutura Conceitual

Hume

Origem do Operações do Perspectivas do


Conhecimento pensamento conhecimento

Não há Não há perspectiva


Empirismo
ideias inatas metafísica

Crença nas Ideias se associam por: Conhecimento válido:


impressões dos Aquele fundamentado
sentidos - Semelhança na realidade tangível
- Contiguidade no
tempo e no espaço
- Causalidade

Importância do
raciocínio indutivo

86
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Uel) Leia o texto a seguir. a) defendem os sentidos como critério originário
As ideias produzem as imagens de si mesmas para considerar um conhecimento legítimo.
em novas ideias, mas, como se supõe que as pri- b) entendem que é desnecessário suspeitar do
meiras ideias derivam de impressões, continua significado de uma ideia na reflexão filosófi-
ainda a ser verdade que todas as nossas ideias ca e crítica.
simples procedem, mediata ou imediatamente, c) são legítimos representantes do criticismo
das impressões que lhes correspondem. quanto à gênese do conhecimento.
d) concordam que conhecimento humano é im-
HUME, D. Tratado da Natureza Humana. Trad.
possível em relação às ideias e aos sentidos.
De Serafim da Silva Fontes. Lisboa: Fundação e) atribuem diferentes lugares ao papel dos senti-
Calouste Gulbenkian, 2001. p.35. dos no processo de obtenção do conhecimento.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre
3. (Ufu) O texto abaixo comenta a correlação en-
a questão da sensibilidade, razão e verdade em
tre ideias e impressões em David Hume.
David Hume, considere as afirmativas a seguir.
Em contrapartida, vemos que qualquer impres-
I. Geralmente as ideias simples, no seu pri-
são, da mente ou do corpo, é constantemente
meiro aparecimento, derivam das im- seguida por uma ideia que a ela se assemelha,
pressões simples que lhes correspondem. e da qual difere apenas nos graus de força e
II. A conexão entre as ideias e as impressões pro- vividez. A conjunção constante de nossas per-
vém do acaso, de modo que há uma indepen- cepções semelhantes é uma prova convincente
dência das ideias com relação às impressões. de que umas são as causas das outras; [...].
III.
A s ideias são sempre as causas de HUME, D. Tratado da natureza humana. São Paulo: Editora
nossas impressões. da Unesp/Imprensa Oficial do Estado, 2001. p. 29.
IV. Assim como as ideias são as imagens das
impressões, é também possível formar Assinale a alternativa que, de acordo com Hume,
ideias secundárias, que são imagens das indica corretamente o modo como a mente ad-
ideias primárias. quire as percepções denominadas ideias.
Assinale a alternativa correta. a) Todas as nossas ideias são formas a priori da
mente e, mediante essas ideias, organizamos
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
as respectivas impressões na experiência.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Todas as nossas ideias advêm das nossas ex-
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
periências e são cópias das nossas impressões,
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. as quais sempre antecedem nossas ideias.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. c) Todas as nossas ideias são cópias de percep-
ções inteligíveis, que adquirimos através de
uma experiência metafísica, que transcende
2. (Enem) TEXTO I
toda a realidade empírica.
Experimentei algumas vezes que os sentidos
d) Todas as nossas ideias já existem de forma
eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar
inata, e são apenas preenchidas pelas im-
inteiramente em quem já nos enganou uma vez.
pressões, no momento em que temos algum
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas.
São Paulo: Abril Cultural, 1979. contato com a experiência.

TEXTO II 4. (Ueg) David Hume nasceu na cidade de Edim-


Sempre que alimentarmos alguma suspeita burgo, em pleno Século das Luzes, denomina-
de que uma ideia esteja sendo empregada ção pela qual ficou conhecido o século XVIII.
sem nenhum significado, precisaremos ape- Para investigar a origem das ideias e como
nas indagar: de que impressão deriva esta elas se formam, Hume parte, como a maio-
suposta ideia? E se for impossível atribuir- ria dos filósofos empiristas, do cotidiano das
-lhe qualquer impressão sensorial, isso ser- pessoas. Do ponto de vista de um empirista,
virá para confirmar nossa suspeita. a) não existem ideias inatas.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento.
b) não existem ideias abstratas.
São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado).
c) não existem ideias a posteriori.
Nos textos, ambos os autores se posicionam d) não existem ideias formadas pela experiência.
sobre a natureza do conhecimento humano.
A comparação dos excertos permite assumir
que Descartes e Hume

87
5. (Uenp) A charge abaixo retrata a oposição 08) O campo da experiência está ao alcance das
epistemológica de duas escolas filosóficas faculdades humanas, visto que fornece um
cujos iniciadores podem ser considerados, fundamento empírico para as ideias.
respectivamente, Francis Bacon e René Des- 16) Nas contendas intelectuais, vale utilizar-se
cartes. Assinale a alternativa correta. de toda e de qualquer opinião para obter a
vitória.

7. (Uem) Afirma o filósofo David Hume (1711-


1776):
“Todos os objetos da investigação ou razão hu-
mana podem ser naturalmente divididos em
duas espécies, quais sejam, relações de ideias
e questões de fato. Na primeira estão incluídas
as ciências da geometria, álgebra e aritméti-
ca, ou, em suma, toda afirmação intuitiva ou
a) Empirismo X Criticismo demonstrativamente certa. [...] Questões de
b) Ceticismo X Existencialismo fato, que são a segunda espécie de objetos da
c) Empirismo X Racionalismo razão humana, não são passíveis de uma certi-
d) Racionalismo X Existencialismo ficação como essa, e tampouco nossa evidência
e) Racionalismo X Ceticismo de sua verdade, por grande que seja, é da mes-
ma natureza que a precedente.”
6. (Uem) “Pois como se supõe que as faculdades (HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano.
da mente são naturalmente iguais em todos In: Figueiredo, V. (Org.) Filósofos na sala de aula, São
os indivíduos – e se assim não fosse, nada Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2008, v. 3, p. 107).
poderia ser mais infrutífero que argumentar- Sobre essa noção de ciência, é correto afir-
mos ou debatermos uns com os outros –, seria mar que
impossível, se as pessoas associassem as mes- 01) a filosofia da ciência de Hume trata de obje-
mas ideias a seus termos, que pudessem du- tos, ou seja, de coisas concretas e materiais.
rante tanto tempo formar diferentes opiniões 02) as ciências matemáticas para Hume possuem
sobre o mesmo assunto, especialmente quan- certeza e verdade.
do comunicam suas opiniões, e cada uma das 04) as relações de ideias podem ser verdadeiras
partes volta-se para todos os lados em busca desde que sejam passíveis de demonstração
de argumentos que possam dar-lhes a vitória matemática.
sobre seus antagonistas. É verdade que, se os 08) há um domínio de objetos de investigação
homens tentam discutir questões que estão humana – a que pertencem as questões de
inteiramente fora do alcance das faculdades fato – que não pode ser demonstrado mate-
humanas, tais como as que concernem à ori- maticamente.
gem dos mundos, ou à organização do sistema 16) a razão humana deve ter como objeto de in-
intelectual ou da região dos espíritos, eles po- vestigação apenas aquilo que pode ser mate-
dem ficar longo tempo golpeando o vazio em matizável.
suas infrutíferas contendas, sem nunca che-
gar a qualquer conclusão determinada. Mas IMAGENS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
se a questão diz respeito a algum assunto da
vida e da experiência cotidiana, julgaríamos
que nada poderia preservar a disputa indeci-
dida por tanto tempo [...]”
(HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento
humano. In: MARÇAL, J. Antologia de textos
filosóficos. Curitiba: SEED, 2009, p. 377).

A partir do trecho citado, assinale a(s)


afirmativa(s) correta(s).
01) Tendo em vista que as faculdades da men-
te são iguais, os pensamentos produzidos a
partir das mesmas impressões sensíveis são
também iguais.
02) As controvérsias existem pelo fato de as opi-
niões serem associações diversas de mesmas
ideias a termos diferentes.
04) Disputas que nascem da experiência cotidia-
na têm sua resolução mais rápida, pois não
incorrem na confusão das ideias.

88
10. (Uel) Leia o texto a seguir:
O principal argumento humeano contra a ex-
plicação da inferência causal pela razão era
que este tipo de inferência dependia da re-
petição, e que a faculdade chamada “razão”
padecia daquilo que se pode chamar uma
certa “insensibilidade à repetição”, ou seja,
uma certa indiferença perante a experiência
repetida. Em completo contraste com isso, o
princípio defendido por nosso filósofo, um
princípio para designar o qual propôs os no-
mes de “costume ou hábito”, foi concebido
como uma disposição humana caracterizada
pela sensibilidade à repetição, podendo as-
sim ser considerado um princípio adequado
8. (Uel) A figura do homem que triunfa sobre à explicação dos raciocínios derivados de ex-
a natureza bruta (Fig. 5) é significativa para periências repetidas.
se pensar a filosofia de Francis Bacon (1561- (MONTEIRO, J. P. Novos Estudos Humeanos. São
1626). Com base no pensamento de Bacon, Paulo: Discurso Editorial, 2003, p. 41)

considere as afirmativas a seguir. Com base no texto e nos conhecimentos so-


I. O homem deve agir como intérprete da bre o empirismo, é correto afirmar que Hume
natureza para melhor conhecê-la e domi- a) atribui importância à experiência como fun-
ná-la em seu benefício. damento do conhecimento dedutivo obtido
II. O acesso ao conhecimento sobre a natu- a partir da inferência das relações causais na
reza depende da experiência guiada por natureza.
método indutivo. b) corrobora a afirmação de que a experiência
III. O verdadeiro pesquisador da natureza é é insuficiente sem o uso e a intervenção da
um homem que parte de proposições ge- razão na demonstração do nexo causal exis-
rais para, na sequência e à luz destas, cla- tente entre os fenômenos naturais.
rificar as premissas menores. c) confere exclusividade à matemática como
IV. Os homens de experimentos processam condição de fundamentação do conhecimen-
as informações à luz de preceitos dados a to acerca dos fenômenos naturais, pois, em-
priori pela razão. piricamente, constata que a natureza está
Assinale a alternativa correta. escrita em caracteres matemáticos.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. d) demonstra que as relações causais obtidas
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. pela experiência representam um conhe-
cimento guiado por hábitos e costumes e,
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
sobretudo, pela crença de que tais relações
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
serão igualmente mantidas no futuro.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
e) evidencia a importância do racionalismo, so-
bretudo as ideias inatas que atestam o nexo
9. (Ufsj) “Os homens são frequentemente go- causal dos fenômenos naturais descobertos
vernados por seus deveres, abstendo-se de pela experiência.
determinadas ações porque as julgam injus-
tas, sendo impelidos a outras porque julgam

Gabarito
tratar-se de uma obrigação”.
Com esse argumento, Hume quer demonstrar que
a) as regras morais são, por conseguinte, con-
clusões da razão humana.
1. B 2. E 3. B 4. A 5. C
b) a moral, porque deriva-se da razão, tem in-
fluência direta sobre as ações e os fatos. 6. 02+04+08=14 7. 02+04+08=14
c) a moral é uma filosofia prática e supõe-se
8. A 9. C 10. D
que influencie paixões e ações humanas e
vai além dos juízos calmos e impassíveis do
entendimento.
d) há, nos homens, uma necessidade e uma
emergência que os impele ao exercício práti-
co da razão.

89
1 6 Immanuel Kant I

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Immanuel Kant (1724-1804)

O filósofo Immanuel Kant nasceu na Prússia Oriental, no ano de 1724, na cidade de Königsberg (atual
Kaliningrado). Criado em um lar extremamente cristão, suas convicções religiosas viriam a ser importantíssimas
em sua obra: um dos grandes projetos filosóficos de Kant era salvar os fundamentos de sua fé.
Tendo sido professor de filosofia na universidade de sua cidade, Kant possuía um vasto domínio da tradição
filosófica. Tinha intimidade com praticamente todas as obras dos filósofos que o precederam; teve contato com os
trabalhos tanto de filósofos racionalistas, como Descartes, como com os de tradição empirista inglesa, como Hume
e Locke. Este fato é importante porque, como veremos adiante, Kant é responsável por elaborar uma síntese entre
estas duas escolas, pondo um fim ao caráter dicotômico (racionalismo versus empirismo) existente até então.

Kant e o papel da razão e dos sentidos


Colocando uma pedra sobre o embate acalorado entre os racionalistas franceses e os empiristas ingleses,
Kant afirma que tanto os sentidos como a razão desempenham um papel fundamental na maneira como o ser
humano experimenta o mundo.
O filósofo concorda, por exemplo, com os empiristas ingleses quando estes afirmam que tudo aquilo que se
pode conhecer sobre a realidade é proveniente de experiências sensoriais. Mas ressalva, contudo, que a razão tam-
bém contém pressupostos importantes para a maneira como se pode descobrir o mundo à nossa volta. Isso porque,
para Kant, existiriam fatores condicionantes que determinariam como enxergamos e percebemos a realidade. Um
bom exemplo é se imaginar utilizando óculos com lentes azuis: você passaria prontamente a enxergar tudo que o

93
cerca em tons azulados. As lentes, para Kant, seriam o tudo, na própria razão humana - ainda que deva fazer
correspondente à razão: são fatores que condicionam uso também do empirismo. Isso equivale a dizer, de certa
sua percepção, a percepção da realidade à sua volta. maneira, que nossa consciência, a consciência humana,
São pressupostos subjetivos, isto é, dizem respeito ao não apenas responde passivamente à realidade, mas se
sujeito, a quem usa os óculos. Mas quais seriam, exata- impõe ativamente à nossa visão de mundo. A consci-
mente, estes pressupostos? ência humana se adapta à realidade, mas a realidade
também se adapta à consciência humana. Para Kant,
a consciência é uma instância ativa e transformadora.
O fato de se colocar a razão e a consciência hu-
mana em posição tão central (e não mais a realidade
exterior) é uma concepção tão revolucionária para o
pensamento filosófico que Kant passa a chamá-la de
revolução copérnica (em alusão ao astrônomo polonês
Nicolau Copérnico, pai da teoria heliocêntrica). Antes de
Kant, os filósofos faziam afirmações sobre a realidade
sem antes refletir sobre as categorias razão e experi-
ência - bem como sobre quais são suas possibilidades
e limitações. Kant argumenta que isso é um erro dos
mais vulgares. Aqui fica bastante claro um dos outros
grandes projetos filosóficos de Kant: perguntar-se o que
é possível saber, compreendendo assim os limites do
As formas intuitivas conhecimento (a área que estuda este tipo de questão,
ligada à própria ciência, chama-se epistemologia).
Kant argumenta que estes pressupostos são o
tempo e o espaço. Não importa o que se perceba, diz
ele, tudo será percebido como um fenômeno temporal
e espacial. Em sua obra, tempo e espaço correspondem
às duas formas intuitivas que todo ser humano possui.
O filósofo enfatiza que as formas intuitivas se fazem
presentes na consciência humana antes de qualquer ex-
periência; são formas inatas a qualquer ser humano. A
lei da causalidade defendida por Hume, inclusive, é uma
parte da razão humana (vimos que o filósofo inglês Da-
vid Hume defende que os seres humanos são incapazes (a importância de Kant para a filosofia ocidental pode ser
de experimentar tal lei, lembra-se?), argumenta Kant. percebida pela existência deste selo postal alemão)

A “Revolução Copérnica” “Das Ding an sich” e “Das Ding für


mich”: duas categorias importantes
Conforme visto anteriormente, Kant diz que, de
antemão, pode-se afirmar que qualquer humano per- Dando continuidade ao seu projeto de entender
ceberá as coisas como processos temporais e espaciais. os limites do conhecimento, Kant defende que é impos-
Este é o pressuposto racional intrínseco a todo ser hu- sível a um indivíduo saber, com total certeza, como o
mano. Para o filósofo, nossas impressões sensoriais se mundo é “em si” (em alemão, “an sich”). Kant também
moldam às formas intuitivas. É assim que se dá o pro- chama o mundo como ele realmente é de mundo nu-
cesso de conhecimento para Kant: ele começa, antes de mênico. Para o filósofo, é impossível que conheçamos

94
o mundo numênico. Um indivíduo pode, no máximo, b. A condição exterior, sobre a qual não se pode sa-
saber como o mundo se apresenta para ele (mundo fe- ber nada de antemão; ela só pode ser conhecida
nomênico, o mundo dos fenômenos), isto é, como ele no momento em que se a sente e experimenta.
percebe o mundo por meio de seus próprios sentidos
Pode ser chamada também de material do co-
(em alemão, “für mich” significa “para mim”). Uma
nhecimento, e entendida como a realidade em si
pessoa daltônica naturalmente perceberá o mundo de
(tudo aquilo que nos rodeia, que é objetivo, isto
maneira diferente de uma pessoa com a visão perfeita,
já que elas experimentarão o mundo de maneira dife- é, alheio e exterior à nossa subjetividade).
rente. Mas isso não significa que a árvore que a pessoa Outro importante desdobramento do entendi-
daltônica vê não tenha, objetivamente, folhas verdes. mento de Kant sobre os limites do conhecimento é a
Há, portanto, duas categorias: “a coisa em si” (das Ding sua afirmação de que a humanidade jamais poderá co-
an sich) e a “coisa para mim” (das Ding für mich). nhecer a resposta de questões sobre a natureza da alma
Note que, apesar de tal diferença, Kant afirma-
humana (mortal ou imortal), se há ou não um Deus, se
ria de antemão, como já vimos, que ambos perceberão
o universo é finito ou infinito etc. Veremos a seguir o
os processos com base nas formas intuitivas, tempo e
espaço. Podemos dizer, portanto, que apesar de jamais porquê de tal afirmação.
sabermos como a realidade realmente é, por perceber-
mo-la de maneira diversa (imagine, por exemplo, um O conhecimento no limite
oriental e um ocidental debruçados sobre a mesma
questão: é muito provável que suas culturas distintas in- Kant afirma que, quando fazemos indagações do
fluenciam suas percepções), todo ser humano formulará
tipo “Deus existe?” ou “seria o universo infinito?”, as
suas percepções (das Ding für mich) sobre o mundo com
fazemos porque formular este tipo de pergunta é parte
base nestas categorias. Mas o filósofo vai além: não só
todo ser humano pensa os processos com base nas for- da natureza humana. Sempre podemos formular qual-
mas intuitivas, como também possui intrinsecamente o quer tipo de questão, sobre qualquer coisa - e possi-
desejo de investigar as causas dos fenômenos que ob- velmente sempre o faremos. Isso porque, como vimos,
serva (embora afirme que a razão, que é condição para todo ser humano maduro é dotado de razão (condição
este entendimento, precise de tempo até amadurecer o intrínseca) e formular estas perguntas é, por sua vez,
suficiente, desenvolvendo-se com o passar do tempo).
parte integrante da razão.
A razão, contudo, é por si só insuficiente para
A epistemologia de Kant: o processo do conhecimento. Vimos que precisamos
um resumo de duas condições para conhecer o mundo (condição
exterior e interior, ou intrínseca). O material do conhe-
Em linhas gerais, podemos resumir o pensamen- cimento, a condição exterior, chega a nós somente por
to epistemológico kantiano da seguinte forma: há duas meio das experiências. Quando se trata de questões
condições que orientam a maneira com a qual a hu-
deste tipo, entretanto, Kant afirma que jamais teremos
manidade percebe a realidade à sua volta. Vejamos a
material suficiente para elaborar uma resposta satisfa-
seguir quais são elas:
a. A condição interior, ou intrínseca ao ser humano, tória. Não teremos, por exemplo, contato com Deus (ao
que é a percepção com base nas formas intuitivas menos enquanto estivermos vivos) para experimentar
(tempo e espaço) e que segue sempre a lei causal. sua presença e provar, assim, sua existência. É simples-
Esta condição é reconhecida de antemão, e pode mente impossível, afirma ele.
ser entendida como a razão em si. É chamada tam-
bém de forma do conhecimento, pois é a maneira
como ele se apresentará a qualquer ser humano.

95
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo A Dignidade Moral em Kant - Clóvis de Barros Filho

Fonte: Youtube

Vídeo Immanuel Kant, desejo e vontade - Clóvis de Barros Filho

Fonte: Youtube

Vídeo Kant para iniciantes - Temporada 1 / Episódio 2

Fonte: Youtube

96
LER

tt
Livros

Crítica da razão pura – Immanuel Kant

Crítica da razão pura, principal obra de Immanuel Kant, divide


a história da filosofia em duas: antes e depois da Crítica. Num
momento em que a filosofia dividia-se em racionalistas de um
lado e empiristas de outro, procurou Kant demonstrar que o nosso
conhecimento é, necessariamente, tanto empírico como racional,
inaugurando, com isso, uma posição singular no debate filosófico,
criando as bases para a Teoria do Conhecimento como disciplina
filosófica. Entrar no universo da Crítica da razão pura é aceitar o
desafio, colocado pelo próprio Kant, de evitar o dogmatismo sem
cair no relativismo; evitar o absoluto sem cair no nada.

O único argumento possível para uma demonstração de


existência de Deus – Immanuel Kant

Escrito por Kant durante o ano de 1762, numa fase decisiva


do seu desenvolvimento filosófico, a obra avalia não apenas o
valor das provas tradicionais da existência de Deus, mas também
o significado do conceito de existência de Deus – bem como o
significado do conceito de existência em geral e os meios para
determiná-la.

À paz perpétua – Immanuel Kant

Neste ensaio, Kant ressalta não só como alcançar a paz perpétua,


como também esboça o projeto de um órgão responsável por
promover a união entre as nações, o papel que hoje cabe à
Organização das Nações Unidas (ONU). O que será que se perdeu
pelo caminho?

97
Estrutura Conceitual
Não conhecemos coisas-em-
LIMITES DO
si, pois não podemos conhecer
CONHECIMENTO de fato o que está fora de nós

Objeto

SE NSI B I LI DADE EN T EN DIMENTO


(se nt ido s ) ( razão)

A intuição é
Intuição de tempo e espaço
sempre sensível

Como o objeto se Determinam nossa


apresenta para nós relação com o objeto

Fenômeno Noúmeno
(o que aparece) (a coisa-em-si)

Podemos conhecer Não podemos conhecer

98
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Uema) Fraqueza e covardia são as causas pelas c) as formas distintas de conhecimento, descri-
quais a maioria das pessoas permanece infantil tas na obra Critica da razão pura, são deno-
mesmo tendo condição de libertar-se da tutela minadas, respectivamente, juízo universal e
mental alheia. Por isso, fica fácil para alguns juízo necessário e suficiente.
exercer o papel de tutores, pois muitas pessoas, d) o registro mais contundente acerca do co-
por comodismo, não desejam se tornar adultas. nhecimento se faz a partir da distinção de
Se tenho um livro que pensa por mim; um sa- dois juízos, a saber: juízo analítico e juízo
cerdote que dirige minha consciência moral; sintético ou juízo de elucidação.
um médico que me prescreve receitas e, assim
por diante, não necessito preocupar-me com
4. (Unioeste) “Em todos os juízos em que for
minha vida. Se posso adquirir orientações, não
pensada a relação de um sujeito com o predica-
necessito pensar pela minha cabeça: transfiro
do (se considero apenas os juízos afirmativos
ao outro esta penosa tarefa de pensar.
(…)), essa relação é possível de dois modos.
Fonte: I. Kant, O que é a ilustração. In: F. Weffort (org). Os
clássicos da política, v. 2, 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como
algo contido (ocultamente) nesse conceito A,
Esse fragmento compõe o livro de Kant que ou B jaz completamente fora do conceito A,
trata da importância da(o) embora esteja em conexão com o mesmo”.
a) juízo. Kant
b) razão.
c) cultura. Considerando o texto acima e a teoria do co-
d) costume. nhecimento de Kant, é incorreto afirmar que
e) experiência. a) os juízos sintéticos a posteriori são os mais
importantes para a teoria do conhecimento
2. (Enem) Até hoje admitia-se que nosso conhe- de Kant, pois são contingentes e particulares,
cimento se devia regular pelos objetos; porém estando ligados a casos empíricos singulares.
todas as tentativas para descobrir, mediante b) Kant denomina o primeiro modo de relacio-
conceitos, algo que ampliasse nosso conheci- nar sujeito e predicado de juízo analítico e o
mento, malogravam-se com esse pressuposto. segundo, de juízo sintético.
Tentemos, pois, uma vez, experimentar se c) o problema do conhecimento para Kant en-
não se resolverão melhor as tarefas da meta- volve responder “como são possíveis os juí-
física, admitindo que os objetos se deveriam zos sintéticos a priori?”.
regular pelo nosso conhecimento. d) os juízos analíticos, embora universais e
KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: necessários, não fazem progredir o conheci-
Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). mento, pois são tautológicos.
e) o juízo “Todos os corpos são extensos” é
O trecho em questão é uma referência ao que
analítico, pois não há como pensar o concei-
ficou conhecido como revolução copernicana
to de corpo sem o conceito de extensão.
na filosofia. Nele, confrontam-se duas posi-
ções filosóficas que
a) assumem pontos de vista opostos acerca da 5. (Uncisal) Contrapondo ceticismo e dogmatis-
natureza do conhecimento. mo, o criticismo se apresenta como única saída
b) defendem que o conhecimento é impossível, para se repensar às questões pertinentes à me-
restando-nos somente o ceticismo. tafísica. O criticismo denomina a filosofia de
c) revelam a relação de interdependência entre os a) Hume.
dados da experiência e a reflexão filosófica. b) Hegel.
d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filoso- c) Kant.
fia, na primazia das ideias em relação aos objetos. d) Marx.
e) refutam-se mutuamente quanto à natureza e) Rousseau.
do nosso conhecimento e são ambas recusa-
das por Kant. 6. (Uel 2011) Leia o texto a seguir.
Na Primeira Secção da Fundamentação da
3. (Ufsj) Sobre a questão do conhecimento na Metafísica dos Costumes, Kant analisa dois
filosofia kantiana, é CORRETO afirmar que conceitos fundamentais de sua teoria moral:
a) o ato de conhecer se distingue em duas for- o conceito de vontade boa e o de imperativo
mas básicas: conhecimento empírico e co- categórico. Esses dois conceitos traduzem as
nhecimento puro. duas condições básicas do dever: o seu aspecto
b) para conhecer, é preciso se lançar ao exercí- objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo,
cio do pensar conceitos concretos. o acatamento da lei pela subjetividade livre,

99
como condição necessária e suficiente da ação. c) O conhecimento é constituído de matéria,
(DUTRA, D. V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva forma e pensamento. Para termos conheci-
da moral kantiana. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 29.) mento das coisas temos de pensá-las a partir
do tempo cronológico.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre d) A razão enquanto determinante nos conheci-
a teoria moral kantiana, é correto afirmar: mentos fenomênicos e noumênicos (transcen-
a) A vontade boa, enquanto condição do dever, dentais) atesta a capacidade do ser humano.
consiste em respeitar a lei moral, tendo como e) O homem conhece pela razão a realidade fe-
motivo da ação a simples conformidade à lei. nomênica porque Deus é quem afinal deter-
b) O imperativo categórico incorre na contin- mina este processo.
gência de um querer arbitrário cuja inten-
cionalidade determina subjetivamente o va-
lor moral da ação. 9. (Unioeste) “Já desde os tempos mais anti-
c) Para que possa ser qualificada do ponto de vis- gos da filosofia, os estudiosos da razão pura
ta moral, uma ação deve ter como condição conceberam, além dos seres sensíveis ou fe-
necessária e suficiente uma vontade condicio- nômenos, que constituem o mundo dos senti-
nada por interesses e inclinações sensíveis. dos, seres inteligíveis particulares, que cons-
d) A razão é capaz de guiar a vontade como tituiriam um mundo inteligível, e, visto que
meio para a satisfação de todas as necessi- confundiam (o que era de desculpar a uma
dades e assim realizar seu verdadeiro destino época ainda inculta) fenômeno e aparência,
prático: a felicidade. atribuíram realidade unicamente aos seres
e) A razão, quando se torna livre das condições inteligíveis. De fato, se, como convém, con-
subjetivas que a coagem, é, em si, necessa- siderarmos os objetos dos sentidos como sim-
riamente conforme a vontade e somente por ples fenômenos, admitimos assim que lhes
ela suficientemente determinada. está subjacente uma coisa em si, embora não
saibamos como ela é constituída em si mes-
7. (Uncisal) No século XVIII, o filósofo Ema- ma, mas apenas conheçamos o seu fenômeno,
nuel Kant formulou as hipóteses de seu ide- isto é, a maneira como os nossos sentidos são
alismo transcendental. Segundo Kant, todo afetados por este algo desconhecido”.
conhecimento logicamente válido inicia-se Kant
pela experiência, mas é construído interna-
mente por meio das formas a priori da sensi- Sobre a teoria do conhecimento kantiana,
bilidade (espaço e tempo) e pelas categorias conforme o texto acima, seguem as seguin-
lógicas do entendimento. Dessa maneira, tes afirmativas:
para Kant, não é o objeto que possui uma I. Desde sempre, os filósofos atribuíram re-
verdade a ser conhecida pelo sujeito cognos- alidade tanto aos seres sensíveis quanto
cente, mas sim o sujeito que, ao conhecer o aos seres inteligíveis.
objeto, nele inscreve suas próprias coordena- II. Podemos conhecer, em relação às coisas em
das sensíveis e intelectuais. De acordo com a si mesmas, apenas seu fenômeno, ou seja, a
filosofia kantiana, pode-se afirmar que maneira como elas afetam nossos sentidos.
a) a mente humana é como uma “tabula rasa”, III. Porque podemos conhecer apenas seus
uma folha em branco que recebe todos os fenômenos, as coisas em si mesmas não
seus conteúdos da experiência. têm realidade.
b) os conhecimentos são revelados por Deus IV. Os filósofos anteriores a Kant não diferen-
para os homens. ciavam fenômeno de aparência, e, assim,
c) todos os conhecimentos são inatos, não de- consideravam que o fenômeno não era real.
pendendo da experiência. V. As intuições puras da sensibilidade e os
d) Kant foi um filósofo da antiguidade. conceitos puros do entendimento inci-
e) para Kant, o centro do processo de conheci- dem apenas em objetos de uma experiên-
mento é o sujeito, não o objeto. cia possível; sem as primeiras, os segun-
dos não têm significação.
8. (Uema) Na perspectiva do conhecimento,
Das afirmativas feitas acima
Immanuel Kant pretende superar a dicoto-
a) apenas II e IV estão corretas.
mia racionalismo-empirismo. Entre as alter-
b) apenas II, IV e V estão corretas.
nativas abaixo, a única que contém informa-
c) apenas II, III, IV e V estão corretas.
ções corretas sobre o criticismo kantiano é:
d) todas as afirmativas estão corretas.
a) A razão estabelece as condições de possibi-
e) todas as afirmativas estão incorretas.
lidade do conhecimento; por isso independe
da matéria do conhecimento.
b) O conhecimento é constituído de matéria e 10. (Uem) A Ilustração, movimento filosófi-
forma. Para termos conhecimento das coisas, co que marcou o século XVIII, apresenta,
temos de organizá-las a partir da forma a como uma de suas principais característi-
priori do espaço e do tempo. cas, a aposta na razão como caminho para

100
desenvolver o homem autônomo e esclareci-
do, seja através do conhecimento da nature-
za, da formulação dos imperativos da ética e
da reflexão sobre os juízos de gosto. Sobre a
filosofia ilustrada, assinale o que for correto.
01) É precursor da Ilustração Luís XIV, o rei Sol,
que governou a França absolutista segundo
os ideais de uma razão esclarecida.
02) Apesar de desenvolver a crítica da razão, a
Ilustração permaneceu presa à teoria do co-
nhecimento, ignorando aspectos políticos e
estéticos da racionalidade.
04) Immanuel Kant, um dos representantes do
movimento ilustrado, divide os usos da razão
em teórico (possibilidade do conhecimento
puro a priori e empírico) e prático (possibi-
lidade de uma lei moral a priori).
08) A revolução copernicana foi determinante
na teoria do conhecimento de Immanuel
Kant, pois considera o sujeito e não o objeto
como o fundamento do conhecimento.
16) Segundo Immanuel Kant, o lema da Ilustra-
ção é “sapere aude” (ouse saber), ou seja,
faça uso do seu próprio entendimento sem a
orientação de outrem.

Gabarito
1. B 2. A 3. A 4. A 5. C
6. A 7. E 8. B 9. B 10. 04+08+16=28

101
1 7 Immanuel Kant II

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9,
10, 11, 12, 13, 15,
16, 18, 20, 22, 23,
24 e 25

C HENTRE
PENSAMENTOS
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-
H8
-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferen-
tes grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócioambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Kant e o esclarecimento
Como vimos, Kant considera que todo ser humano maduro é dotado de razão e tem, portanto, capacidade
para formular questões e buscar suas respostas. Mas como o homem alcança, entretanto, essa maturidade?
Em sua obra, Kant tenta responder a pergunta “O que é esclarecimento?”. Segundo ele, o esclarecimento é a saída
do homem de sua menoridade - isto é, condição de incapacidade de fazer uso da razão sem a orientação de outro indivíduo.
O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condição pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua
motivação ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mesmo. Para o filósofo, todo indivíduo vive uma
situação de menoridade em algum momento de sua vida: neste caso, a menoridade é natural, pois é o mesmo
que imaturidade. O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente pronto para o raciocínio; uma criança
demora até atingir a autossuficiência, por exemplo. Kant critica, contudo, autoridades (especialmente religiosas)
que, através do medo ou constrangimento, deliberadamente mantêm seus seguidores em menoridade – bem como
ironiza indivíduos que vivem uma situação de menoridade “auto imposta” (neste caso, por comodismo). Kant
afirma, explicitamente, que a preguiça e a covardia são os grandes motivos pelos quais tantos homens continuem
presos à menoridade – e frisa que, caso seja de sua vontade (e caso não haja barreiras para isso, como restrições à
liberdade), todo e qualquer homem é capaz de abandonar a menoridade e concluir o processo de esclarecimento.
Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para haver esclarecimento, a liberdade é condição fun-
damental: só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for amplamente garantido. O filósofo reconhece,
contudo, que as restrições à liberdades são bastante comuns (ainda mais em sua época). Finalmente, o filósofo
conclui que ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um profundo conhecimento sobre determinado
tema, mas sim combinar este conhecimento à conquista da autonomia e da emancipação humana.

A fé para Kant
Nestes casos, em que as perguntas tratam de questões tão complexas que abrangem toda a realidade
(como os questionamentos sobre a infinitude do universo, do qual somos apenas uma pequena parte) esbarramos
na razão pura – e seu único desdobramento possível é a angústia de formular perguntas sem respostas possíveis.
Não é possível emitir nenhum juízo seguro sobre estas questões, afirma o filósofo.
À luz da razão pura, afirma ele, é tão razoável dizer que Deus existe ou afirmar o contrário. Para Kant, qual-
quer afirmação dessa natureza se trataria simplesmente de especulação. E é aí que o filósofo abre caminho para
um de seus maiores projetos filosóficos: resgatar os fundamentos da fé da qual ele próprio professava, a fé cristã.
Para o filósofo, o vazio que por vezes é deixado pela razão e pela experiência (como é o caso quando estas
são insuficientes para responder questões do tipo discutido) só poderia ser preenchido pela fé religiosa, por meio
de postulados – isto é, algo que não se pode comprovar, apenas crer. Kant chama ainda a atenção para três pos-
tulados que considera fundamentais: a crença em Deus, a crença em uma alma imortal e a crença no livre-arbítrio.
Para o filósofo, estes três postulados (chamados por ele de postulados práticos) são importantes para a moral
humana, isto é, necessários para que a humanidade caminhe bem.

105
A ética kantiana (ou a ética do dever) Pode-se entender a lei moral kantiana como a ma-
nifestação da própria consciência humana – que também
é intrínseca a todo homem e não pode ser comprovada
racionalmente, apesar de ser possível conhecê-la.
Kant diz que muito mais importante para a mo-
ralidade do que se perguntar o que fazer, é se perguntar
o motivo pelo qual se faz alguma coisa. Imaginemos a
seguinte situação: uma pessoa é abordada na rua por
um pedinte e, ao sentir pena de sua situação, lhe dá uma
esmola. Uma segunda pessoa também é abordada pelo
pedinte e, apesar de não se compadecer de sua situação,
lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a segun-
da pessoa agiu mais moralmente do que a primeira. Por
quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de
Kant também dedicou grande parte de sua obra
maneira descolada de suas próprias emoções. Ela ofere-
a questões relativas à esfera moral. Aqui, o filósofo Da-
ceu ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo
vid Hume também influencia de maneira substancial sua
a se fazer, porque era seu dever (por essa razão, inclusive,
obra: segundo o empirista, não seria possível determinar
a ética kantiana também é chamada de ética do dever);
o que é certo e o que é errado; não é possível, segundo
a primeira pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda por pena,
Hume, realizar a passagem de sentenças positivas para pela maneira como se sentiu. Da mesma forma Kant veria
sentenças normativas (isto é, do “ser” para o “dever alguém que pratica boas ações para se promover social-
ser”). Isso porque, para o filósofo britânico, a razão hu- mente ou ficar bem aos olhos de Deus. Se esta é a moti-
mana e a suas experiências não são capazes de tal discer- vação de suas boas ações, ele diria, elas de nada valem.
nimento: isso ficaria a cargo das emoções.
Kant, contudo, não concorda com Hume. Seguin-
do a tradição racionalista, ele afirma que a capacidade de Kant e a liberdade humana
tal distinção se encontra, sem dúvida, na razão humana.
Para Kant, dado que seremos sempre regidos
Para ele, todo ser humano sabe o que é certo e o que é er-
por uma lei, só há uma maneira de ser verdadeiramente
rado: este conhecimento é intrínseco à condição humana.
livre: escolher qual lei seguir. Se formos capazes dessa
Kant diz que todos somos dotados de uma razão prática,
escolha, seremos livres. E qual é a única lei a que po-
isto é, de uma capacidade racional inata de discernir o
demos espontaneamente escolher seguir? A lei moral.
que é certo e o que é errado.
Pois para estar em consonância com essa lei, temos de
O filósofo vai além: a capacidade de discernimento
fazer uma escolha racional. E a capacidade de fazer
é tão inata quanto qualquer outra faculdade da razão. Tal
uma escolha é a própria liberdade. Somente agindo de
afirmação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio
acordo com a lei moral é que somos livres, pois quando
é o fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que
nos submetemos a ela, somos nós mesmos que estamos
há algo como uma lei moral universal, tão absoluta quanto
determinando qual lei nos governará, diria o filósofo.
qualquer lei natural. Tal lei seria, segundo Kant, válida para
Podemos escolher machucar um homem indefe-
qualquer momento histórico, sociedade e situação. E seria
so ou não; podemos escolher ajudar alguém em neces-
também imperativa, pois não se pode escapar dela. Kant a
sidade ou não. Se fizermos a escolha certa, diz Kant,
formula, portanto, como um imperativo categórico. E um
somos livres. E somente agiremos com moralidade se
de seus maiores pressupostos, juntamente com a ideia de
fizermos a escolha certa pelos motivos certos.
que a moralidade está relacionada à maneira universal de
se agir, é a proibição de se utilizar outrem como meios para
atingir quaisquer objetivos: todos devem ser tratados como
um fim em si mesmo.

106
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo A Dignidade Moral em Kant - Clóvis de Barros Filho

Fonte: Youtube

Vídeo Immanuel Kant, desejo e vontade - Clóvis de Barros Filho

Fonte: Youtube

Vídeo Kant para iniciantes - Temporada 1 / Episódio 2

Fonte: Youtube

108
LER

tt
Livros

Crítica da razão pura – Immanuel Kant

Crítica da razão pura, principal obra de Immanuel Kant, divide


a história da filosofia em duas: antes e depois da Crítica. Num
momento em que a filosofia dividia-se em racionalistas de um
lado e empiristas de outro, procurou Kant demonstrar que o nosso
conhecimento é, necessariamente, tanto empírico como racional,
inaugurando, com isso, uma posição singular no debate filosófico,
criando as bases para a Teoria do Conhecimento como disciplina
filosófica. Entrar no universo da Crítica da razão pura é aceitar o
desafio, colocado pelo próprio Kant, de evitar o dogmatismo sem
cair no relativismo; evitar o absoluto sem cair no nada.

O único argumento possível para uma demonstração de


existência de Deus – Immanuel Kant

Escrito por Kant durante o ano de 1762, numa fase decisiva do seu
desenvolvimento filosófico, a obra avalia não apenas o valor das
provas tradicionais da existência de Deus, mas também o significado
do conceito de existência de Deus – bem como o significado do
conceito de existência em geral e os meios para determiná-la.

À paz perpétua – Immanuel Kant

Neste ensaio, Kant ressalta não só como alcançar a paz perpétua, como
também esboça o projeto de um órgão responsável por promover a
união entre as nações, o papel que hoje cabe à Organização das
Nações Unidas (ONU). O que será que se perdeu pelo caminho?

109
INTERDISCIPLINARIDADE

símbolo da ONU

No campo político, Kant foi um ferrenho defensor da criação de uma “assembleia popular”, espécie de
órgão global que reunisse todas as nações do mundo, cuja função seria encontrar meios para que pudessem ter
uma convivência pacífica e harmoniosa.
A ideia surge, originalmente, em sua obra “À paz perpétua”, publicada no ano de 1795. Mais de 120 anos
se passaram até que, após o triste episódio da Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações (que viria a se transfor-
mar na ONU, após a Segunda Guerra Mundial) fosse criada.

110
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 23 - Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.

O estudo da ética pode ser compreendido como a discussão sobre o agir justo, moldando uma ati-
tude que deve ser defendida e seguida pelos cidadãos. Na filosofia iluminista, muito dessa discussão
se inseria na perspectiva de encontrar meios para agir e viver livremente. Cabe salientar que em
muitos países, ainda vigorava o absolutismo monárquico, combinado com a preponderância intelec-
tual e espiritual da Igreja Católica. É indispensável estudar e analisar os filósofos iluministas sob a
perspectiva de suas inquietações com seus respectivos momentos históricos.

Modelo
(Enem) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A meno-
ridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem
é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas
na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer
uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas
pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma
condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida.
KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).

Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto


filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa
a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade.
b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas.
c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma.
d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento.
e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.

Análise Expositiva

Habilidade 23
Como diz Kant em Resposta à pergunta: “O que é Iluminismo?” (1784), a palavra de ordem
deste movimento de renovação cultural é “Sapere aude!”, isto quer dizer basicamente que os
homens deveriam deixar sua menoridade, da qual são culpados, e direcionarem seu entendi-
mento a partir de suas próprias forças, sem a guia de outro.
Alternativa A

111
Estrutura Conceitual

L EI MORAL

Imperativo
Dever
Categórico

MORALIDADE B OA VON TADE LIBERDADE

Ações

Razão

112
Aprofunde seus conhecimentos
1. (Uel) As leis morais juntamente com seus c) No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os
princípios não só se distinguem essencial- membros da comunidade e o chefe de Estado.
mente, em todo o conhecimento prático, de d) Os súditos de um Estado Civil devem possuir
tudo o mais onde haja um elemento empíri- igualdade de ação em conformidade com a lei
co qualquer, mas toda a Filosofia moral re- universal da liberdade.
pousa inteiramente sobre a sua parte pura e, e) Os súditos estão autorizados a transformar em
aplicada ao homem, não toma emprestado o violência o descontentamento e a oposição ao
mínimo que seja ao conhecimento do mesmo poder legislativo supremo.
(Antropologia).
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos
Costumes. Trad. de Guido A. de Almeida. São 3. (Ufu) Autonomia da vontade é aquela sua
Paulo: Discurso Editorial, 2009. p.73. propriedade graças à qual ela é para si mes-
ma a sua lei (independentemente da natu-
Com base no texto e na questão da liberdade reza dos objetos do querer). O princípio da
e autonomia em Immanuel Kant, assinale a autonomia é, portanto: não escolher senão
alternativa correta. de modo a que as máximas da escolha es-
a) A fonte das ações morais pode ser encontra- tejam incluídas simultaneamente, no querer
da através da análise psicológica da consci-
mesmo, como lei universal.
ência moral, na qual se pesquisa mais o que
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica
o homem é, do que o que ele deveria ser. dos Costumes. Tradução de Paulo Quintela.
b) O elemento determinante do caráter moral Lisboa: Edições 70, 1986, p. 85.
de uma ação está na inclinação da qual se
origina, sendo as inclinações serenas moral-
De acordo com a doutrina ética de Kant:
mente mais perfeitas do que as passionais.
a) O Imperativo Categórico não se relaciona com
c) O sentimento é o elemento determinante
para a ação moral, e a razão, por sua vez, so- a matéria da ação e com o que deve resultar
mente pode dar uma direção à presente in- dela, mas com a forma e o princípio de que
clinação, na medida em que fornece o meio ela mesma deriva.
para alcançar o que é desejado. b) O Imperativo Categórico é um cânone que nos
d) O ponto de partida dos juízos morais encon- leva a agir por inclinação, vale dizer, tendo por
tra-se nos “propulsores” humanos naturais, objetivo a satisfação de paixões subjetivas.
os quais se direcionam ao bem próprio e ao c) Inclinação é a independência da faculdade
bem do outro. de apetição das sensações, que representa
e) O princípio supremo da moralidade deve as- aspectos objetivos baseados em um julga-
sentar-se na razão prática pura, e as leis mo- mento universal.
rais devem ser independentes de qualquer d) A boa vontade deve ser utilizada para satis-
condição subjetiva da natureza humana.
fazer os desejos pessoais do homem. Trata-
2. (Uel) Kant, mesmo que restrito à cidade de Kö- -se de fundamento determinante do agir,
nigsberg, acompanhou os desdobramentos das para a satisfação das inclinações.
Revoluções Americana e Francesa e foi levado
a refletir sobre as convulsões da história mun- 4. (Unioeste) “A necessidade prática de agir
dial. Às incertezas da Europa plebeia, individu- segundo este princípio, isto é, o dever, não
alista e provinciana, contrapôs algumas certe- assenta em sentimentos, impulsos e inclina-
zas da razão capazes de restabelecer, ao menos ções, mas, sim, somente na relação dos se-
no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as res racionais entre si, relação essa em que a
nações com vista à constituição de uma federa- vontade de um ser racional tem de ser con-
ção de povos – sociedade cosmopolita. siderada sempre e simultaneamente como le-
(Adaptado de: ANDRADE, R. C. “Kant: a liberdade, o gisladora, porque de outra forma não podia
indivíduo e a república”. In: WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos pensar-se como fim em si mesmo. A razão re-
da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.49-50.)
laciona, pois, cada máxima da vontade con-
Com base nos conhecimentos sobre a Filo- cebida como legisladora universal com todas
sofia Política de Kant, assinale a alternativa as outras vontades e com todas as ações para
correta. conosco mesmos, e isto não em virtude de
a) A incapacidade dos súditos de distinguir o útil qualquer outro móbil prático ou de qualquer
do prejudicial torna imperativo um governo vantagem futura, mas em virtude da ideia da
paternal para indicar a felicidade. dignidade de um ser racional que não obede-
b) É chamado cidadão aquele que habita a cidade, ce à outra lei senão àquela que ele mesmo si-
sendo considerados cidadãos ativos também as multaneamente dá a si mesmo. [...] O que se
mulheres e os empregados. relaciona com as inclinações e necessidades

113
gerais do homem tem um preço venal [...], consciência; um médico, que decide por mim
aquilo, porém, que constitui a condição só a dieta etc.; assim não preciso eu mesmo dis-
graças a qual qualquer coisa pode ser um fim pensar nenhum esforço. Não preciso necessa-
em si mesma, não tem somente um valor re- riamente pensar, se posso apenas pagar.”
lativo, isto é, um preço, mas um valor íntimo, (KANT, I. Resposta à questão: o que é
isto é, dignidade”. esclarecimento? In: Antologia de textos
filosóficos. Curitiba: SEED-PR, 2009. p. 407).
Kant.
A partir do texto de Kant, é correto afirmar que
Considerando o texto citado e o pensamento 01) liberdade é não precisar de ninguém para nada.
ético de Kant, seguem as afirmativas abaixo: 02) riqueza não é sinônimo de liberdade, como
I. Para Kant, existe moral porque o ser hu- pobreza não é sinônimo de escravidão.
mano e, em geral, todo o ser racional, fim 04) a justificativa para a falta de liberdade é a
em si mesmo e valor absoluto, não deve pouca idade dos seres humanos.
ser tomado simplesmente como meio 08) a liberdade é, primeiramente, liberdade de
ou instrumento para o uso arbitrário de pensamento.
qualquer vontade. 16) a liberdade é resultado de um esforço pesso-
II. Fim em si mesmo e valor absoluto, o ser al incômodo para libertar-se das amarras do
humano é pessoa e tem dignidade, mas pensamento.
uma dignidade que é, apenas, relativa-
mente valiosa, por se encontrar em de- 6. (Enem) Esclarecimento é a saída do homem
pendência das condições psicossociais e de sua menoridade, da qual ele próprio é cul-
político-econômicas nas quais vive. pado. A menoridade é a incapacidade de fazer
III. A moralidade, única condição que pode uso de seu entendimento sem a direção de
fazer de um ser racional fim em si mes- outro indivíduo. O homem é o próprio culpa-
mo e valor absoluto, pelo princípio da do dessa menoridade se a causa dela não se
encontra na falta de entendimento, mas na
autonomia da vontade, e a humanidade,
falta de decisão e coragem de servir-se de si
enquanto capaz de moralidade, são as
mesmo sem a direção de outrem. Tem cora-
únicas coisas que têm dignidade.
gem de fazer uso de teu próprio entendimen-
IV. As pessoas têm dignidade porque são
to, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça
seres livres e autônomos, isto é, seres e a covardia são as causas pelas quais uma tão
que se submetem às leis que se dão a si grande parte dos homens, depois que a natu-
mesmos, atendendo imediatamente aos reza de há muito os libertou de uma condi-
apelos de suas inclinações, sentimentos, ção estranha, continuem, no entanto, de bom
impulsos e necessidades. grado menores durante toda a vida.
V. A autonomia da vontade é o fundamen- KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?
to da dignidade da natureza humana e de Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado).
toda natureza racional e, por esta razão, a
Kant destaca no texto o conceito de Escla-
vontade não está simplesmente submetida
recimento, fundamental para a compreen-
à lei, mas submetida à lei por ser concebi-
são do contexto filosófico da Modernidade.
da como vontade legisladora universal, ou
Esclarecimento, no sentido empregado por
seja, se submete à lei na exata medida em
Kant, representa
que ela é a autora da lei (moral). a) a reivindicação de autonomia da capacidade
Das afirmativas feitas acima racional como expressão da maioridade.
a) somente a afirmação I está incorreta. b) o exercício da racionalidade como pressu-
b) somente a afirmação III está incorreta. posto menor diante das verdades eternas.
c) as afirmações II e IV estão incorretas. c) a imposição de verdades matemáticas, com
d) as afirmações II e III estão incorretas. caráter objetivo, de forma heterônoma.
e) as afirmações II, III e V estão incorretas. d) a compreensão de verdades religiosas que li-
bertam o homem da falta de entendimento.
5. (Uem) O filósofo Immanuel Kant (1724- e) a emancipação da subjetividade humana de
1804) estabelece uma íntima relação entre a ideologias produzidas pela própria razão.
liberdade humana e sua capacidade de pen-
sar autonomamente, ao afirmar: 7. (Enem PPL) Um Estado é uma multidão de
“Esclarecimento é a saída do homem da me- seres humanos submetida a leis de direito.
noridade pela qual é o próprio culpado. Me- Todo Estado encerra três poderes dentro de
noridade é a incapacidade de servir-se do si, isto é, a vontade unida em geral consiste
próprio entendimento sem direção alheia. de três pessoas: o poder soberano (sobera-
[...] É tão cômodo ser menor. Possuo um livro nia) na pessoa do legislador; o poder exe-
que faz as vezes do meu entendimento; um cutivo na pessoa do governante (em conso-
guru espiritual, que faz às vezes de minha nância com a lei) e o poder judiciário (para

114
outorgar a cada um o que é seu de acordo Tudo é um só coração.
com a lei) na pessoa do juiz. Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, Brasil,
KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003. Salve a seleção.
(Canção: Pra frente Brasil/ Copa 1970.
De acordo com o texto, em um Estado de direito Autor: Miguel Gustavo)
a) a vontade do governante deve ser obedecida,
pois é ele que tem o verdadeiro poder. Na obra “Resposta à questão: o que é o es-
b) a lei do legislador deve ser obedecida, pois clarecimento?”, Kant discute conceitos como
ela é a representação da vontade geral. uso público e privado da razão e a superação
c) o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é so- da menoridade.
berano, pois é ele que outorga a cada um o À luz do pensamento kantiano, o fenômeno
que é seu. contemporâneo do uso político dos eventos
d) o Poder Executivo deve submeter-se ao Ju- esportivos
diciário, pois depende dele para validar suas a) torna o indivíduo dependente, já que a sua
determinações. menoridade impede o esclarecimento e a
e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Exe- possibilidade de pensar por si próprio.
cutivo, na pessoa do governante, pois ele b) forma o indivíduo autônomo, uma vez que
que é soberano. amplia a sua capacidade de fazer uso da pró-
pria razão para agir autonomamente.
c) impede que o indivíduo pense de forma res-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
trita, pois, mesmo estando cercado por tuto-
O desenvolvimento não é um mecanismo
res, facilmente rompe com a menoridade.
cego que age por si. O padrão de progresso
d) proporciona esclarecimento político das
dominante descreve a trajetória da sociedade
massas, pois tais eventos promovem o apren-
contemporânea em busca dos fins tidos como
dizado crítico mediante a afirmação da ideia
desejáveis, fins que os modelos de produção e
de nacionalidade.
de consumo expressam. É preciso, portanto,
e) confere liberdade às massas para superar a
rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se
dependência gerada pela aceitação da tutela
entende predominantemente por desenvolvi- de outrem.
mento, aceita-se rever as quantidades (me-
nos energia, menos água, mais eficiência,
10. (Uema) No texto Que é “Esclarecimento”?
mais tecnologia), mas pouco as qualidades:
(1783), o que significa, conforme Kant, a
que desenvolvimento, para que e para quem?
saída do homem da menoridade da qual ele
(LEROY, Jean Pierre. Encruzilhadas do Desenvolvimento.
O Impacto sobre o meio ambiente. Le Monde mesmo é culpado?
Diplomatique Brasil. jul. 2008, p.9.) a) O uso da razão crítica, exceto quando se tra-
tar de doutrinas religiosas.
b) A capacidade de aceitar passivamente a au-
8. (Uel) Tendo como referência a relação en- toridade científica ou política.
tre desenvolvimento e progresso presente c) A liberdade para executar desejos e impulsos
no texto, é correto afirmar que, em Kant, tal conforme a natureza instintiva do homem.
relação, contida no conceito de Aufklärung d) A coragem de ser autônomo, rejeitando, por-
(Esclarecimento), expressa: tanto, qualquer condição tutelar.
a) A tematização do desenvolvimento sob a e) O alcance da idade apropriada para uso da
égide da lógica de produção capitalista. racionalidade subjetiva.
b) A segmentação do desenvolvimento tecno-
científico nas diversas especialidades.
c) A ampliação do uso público da razão para
que se desenvolvam sujeitos autônomos. Gabarito
d) O desenvolvimento que se alcança no âmbito
técnico e material das sociedades. 1. E 2. D 3. A 4. C 5. 02+08+16=26
e) O desenvolvimento dos pressupostos científicos
na resolução dos problemas da filosofia prática. 6. A 7. B 8. C 9. A 10. D

9. (Uel)
90 milhões em ação, pra frente, Brasil, do meu
coração.
Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil, salve
a seleção.
De repente é aquela corrente pra frente.
Parece que todo o Brasil deu a mão.
Todos ligados na mesma emoção.

115

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