Ciência Política IGEPP
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Ciência Política:
conceitos básicos
1
Tudo isso faz com que a vida em sociedade seja complexa e, frequentemente,
envolva conflito: de opinião, de interesses, de valores, etc. Entretanto, para que
a sociedade possa sobreviver e progredir, o conflito deve ser mantido dentro de
limites administráveis. Para isto, existem apenas dois meios: a coerção pura e
simples e a política. O problema com o uso da coerção é que, quanto mais é
utilizada, mais reduzido se torna o seu impacto e mais elevado se torna o seu
custo.
Por que é que a definição se restringe aos bens públicos? Porque todas as
questões privadas, que não digam respeito à vida coletiva – como sentimentos,
relações íntimas, crenças pessoais – pertencem ao espaço de liberdade dos
indivíduos, resolvendo-se no seu próprio âmbito e não na esfera da política.
2
SCHMITTER, Philippe C. Reflexões sobre o Conceito de Política. In: BOBBIO, Norberto. Curso de Introdução à
Ciência Política. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1979. p. 31-39..
3
RUA, Maria das Graças (1998). “Análise de Políticas Públicas: Conceitos Básicos”. IN O Estudo da Política:
Tópicos Selecionados Brasília: Ed. Paralelo 15.
4
Com isso, pretendo deixar claro que esse texto não contemplará a discussão sobre bens públicos, semi-
públicos, etc,.própria da Economia.
5
Outro exemplo, a orientação sexual de cada um não é objeto da política, é objeto de foro íntimo. Mas a
regulamentação das relações entre pessoas do mesmo sexo, se tornou uma questão pública em algumas sociedades,
porque envolve direitos de transmissão de herança, pensão, proteção social. E essas são questões de interesse da
coletividade, porque são questões de cidadania. Isso tem a ver com bem público, mesmo estando o seu foco nas
relações privadas.
7
CLAUSEWITZ, Carlvon (1996). Da Guerra. São Paulo, Ed. WMF Martins Fontes
8
O Cartesianismo pode ser descrito, preliminarmente, como a primeira filosofia moderna, que acabou estabelecendo
as bases da ciência moderna e contemporânea. O cartesianismo foium movimento filosófico cuja origem é o
pensamento do francês René Descartes, filósofo, físico e matemático (1596-1650), considerado o fundador da filosofia
moderna, criador das bases da ciência contemporânea e pai da matemática. Descartes foi o responsável pelo
racionalismo continental, fazendo oposição ao empirismo. O Racionalismo desconfia das informações fornecidas
pelos sentidos, crendo que essas são por demais falíveis. Propõe que o caminho correto para o conhecimento seria o
bom uso da razão. Um sistema racional elaborado a partir de premissas válidas traria o conhecimento real, a
verdade.O pensamento de Descartes foi revolucionário para a sociedade da época, na qual o conhecimento estava nas
mãos da Igreja, onde não havia reflexões em torno da existência e da racionalidade. Descartes viajou muito e viu que
sociedades diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias. Viu que os "costumes", a história de um povo, sua
tradição "cultural" influenciam a forma como as pessoas pensam, aquilo em que acreditam. Descartes quer acabar com
a influência desses "costumes" no pensamento. O método cartesiano põe em dúvida tanto o mundo das coisas
sensíveis quanto o das inteligíveis, ou seja, propõe duvidar de tudo: as coisas só podem ser apreendidas por meio das
sensações ou do conhecimento intelectual. A evidência da própria existência – o "penso, logo existo" – traz uma
primeira certeza. A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento. Diz
Descartes "Eu sou uma coisa que pensa, e só do meu pensamento posso ter certeza ou intuição imediata".Para
reconhecer algo como verdadeiro, ele considera necessário usar a razão, o raciocínio como filtro e decompor esse algo
em partes isoladas, em idéias claras e distintas, ou seja, propõe fragmentar, dividir o objeto de estudo a fim de melhor
entender, compreender, estudar, questionar, analisar, criticar, o todo, o sistema.
10
NAGEL, E. (1968). La estructura de la Ciência – Problemas de la lógica de lainvestigación cientifica. Buenos Aires:
Paidos.
Para a disciplina Ciência Política, Nagel faz uma outra importante contribuição
ao sustentar que as ciências sociais12 possuem o mesmo caráter ―científico‖
das demais ciências, compartilhando todas as características acima, portanto,
não se confundindo com o senso comum.
11
Lembrando que existe uma discussão sobre as diferenças entre ciência pura ou básica e ciência aplicada, que não
se confunde com o senso comum.
12
A Ciência Política surge de forma embrionária, no século XIX, sendo uma das chamadas ―ciências sociais‖, tal como
a sociologia e a antropologia, entre outras.
13
FOUREZ, G. (1995). A construção das ciências: introdução á filosofia e à ética das ciências. São Paulo: Editora da
Universidade Estadual Paulista.
14
POPPER, Karl.(1994) Conjecturas e refutações. Brasília, Editora UNB.
Conflito e Consenso
Como foi visto acima, a política – objeto de estudo da Ciência Política – refere-
se à resolução de conflitos. Por que é que existem conflitos? O que é conflito?
Qual a diferença entre competição, conflito, confronto?
Primeiro, toda competição se rege por um acordo inicial quanto às regras. Esse
é um ponto fundamental. No conflito isso pode ocorrer ou não. Muito
frequentemente não ocorre, ou, mesmo que existam regras, as partes tentam
passar por cima delas para favorecer seus interesses. Por exemplo, uma das
grandes questões das relações internacionais é como limitar a guerra. Antes da
Primeira Guerra Mundial a luta envolvia exclusivamente os exércitos mas,
desde então, começaram os ataques a alvos civis, e a população civil deixou
de estar protegida. Na Primeira Guerra já se começou a usar armas químicas,
na Segunda Guerra inaugurou-se o uso de armas nucleares e hoje existe um
grande temor a respeito das armas nucleares que não estão sob o controle de
Estado e de armas biológicas. Hoje, o mundo conta com um tratado de não
proliferação de armas nucleares, tentando colocar limites ao perigo de um
conflito nuclear, mas o tempo todo se vê atores que tentam burlar esse controle
e que não estão de acordo, não ratificam esses tratados. E também há um
grande temor ao terrorismo, porque o que caracteriza o terror é justamente a
completa ausência de regras e de alvos específicos.
15
Já na competiçãonão há inimigos, mas apenas adversários. Mais ainda: é importante que o adversário continue
existindo para que o jogo continue. Todostem interesse em que o jogo continue, pois sem o jogo não há prêmios. Há
uma história m engraçada a respeito da natureza do jogo: Uma pessoa estava num hotel em uma determinada cidade,
voltando para o seu lugar de origem e estava na hora de ir para o aeroporto. Havia um ponto de taxi na rua lateral onde
estavam parados dois taxis, e a pessoa ligoupedindo um taxi para o aeroporto.‖ Pois bem, o cavalheiro que atendeu
ao telefone falou assim ―Sinto muito, senhora, mas nós não podemos.‖ E ela respondeu: Como assim, não pode? Eu
estou vendo que vocês estão aí! Estão dois carros. Um há de poder me levar ao aeroporto!‖ E ele então respondeu:
―Não senhora, nós estamos jogando damas e, se um sair, o jogo acaba.‖ Essa é a lógica do jogo, se um sair o jogo
acaba, ou seja: quando alguns estão disputando alguma coisa, todas as partes têm interesse em que o jogo continue.
Imaginandoum jogo de futebol, é possível perceber que transtorno que é quando um jogo é jogado, acontecem coisas
irregulares e o jogo é anulado. Équase uma tragédia, ninguém quer que aquilo aconteça, todo mundo quer que o jogo
vá até o final, que seja apitado, que seja declarado um vencedor de acordo com as regras. Porisso, não se pode
praticar uma violência que elimine um dos adversários ou que transforme a competição em conflito.
16
MAQUIAVEL, Nicolau (1988). O príncipe. Rio de janeiro: Bertrand Brasil.
17
RAPOPORT, Anatol.(1980) Lutas, jogos e debates. Brasilia: Editora UnB.
O interesse é alguma coisa que tem valor e que mobiliza a ação;pode ter uma
natureza material ou ideal e pode ser objetivo ou subjetivo. O interesse
material, como o nome bem diz, é o interesse relacionado a bens materiais.
Pode ser a terra, petróleo, água, enfim aquilo que seja um bem de natureza
material, que tem existência material ou que gere benefícios outros de natureza
material, dinheiro, etc. Mas o interesse pode ser também de natureza ideal, ou
seja: pode referir-se ao domínio das ideias18, às concepções que as pessoas
desenvolvem. Por exemplo, o conflito religioso origina-se de interesses ideais19.
Os interesses objetivos, por sua vez, não resultam das nossas escolhas
pessoais. Os subjetivos sim, os objetivos não. Por exemplo, uma pessoa que
tem uma vida profissional, suponha-se, na saúde ou na segurança pública,
pode ter um entendimento próprio, uma opinião pessoal de que não se deve
fazer greve porque pessoas podem perder a vida pela paralização desses
serviços. Porém, o seu sindicato diz assim: ―Os interesses da categoria
implicam melhor valorização do trabalho, melhoria das condições de serviço‖.
Esses são os interesses da categoria profissional daquela pessoa. O sindicato
defende os interesses da categoria, mas o interesse subjetivo daquela pessoa
é completamente diferente disso. O interesse subjetivo resulta das crenças
pessoais, sentimentos, análises que cada um faz, etc. Mas o sindicato defende
o que são interesses objetivos da categoria (remuneração, jornada de trabalho,
equipamento, capacitação, etc.), que aquela pessoa, subjetivamente, pode
abraçar ou não.
18
O ideal, aqui, não tem o sentido do senso comum da língua portuguesa que remete a uma coisa, estado, resultado
ou situação que nós idealizamos como desejável para nós. Não é ideal no sentido que alguém dis:―O meu ‗ideal‘ é isso
assim, assim.‖
19
Pode estar relacionado com ideologia, mas não se confunde com ela.
Essa palavra, entretanto é muito usada com outras conotações. Por exemplo,
numa questão de concurso passado, o examinador abriu a questão com um
caput dizendo assim ―O consenso é um acordo generalizado existente na
sociedade em torno de alguma coisa‖. Em uma outra questão, o examinador
afirmou que ―O uso do termo “Consenso” em relação a uma determinada
sociedade significa afirmar que existe um acordo mínimo entre seus membros
21
Por exemplo, é comum queas pessoas falem coisas pesadas sobre as outras quando se alteram. Se elas sabem que
a lei pode puni-las por isso, elas tomam cuidado com o que vão falar. No Brasil, de algum tempo para cá, a justiça
adotou a posição de que pais que se separaram não podem impunemente degradar a imagem do seu cônjuge junto ao
filho, porque isso traz um prejuízo muito grande à criança. Hoje quando começa a ocorrer o conflito de família, os juízes
advertem os pais que isso não pode acontecer e que, se eles fizerem isso, poderão ser penalizados. Então o que
acontece? Qual é a reação das pessoas? Diante dessa ameaça, elas se contêm. A coerção é um dos instrumentos,
um dos mecanismos pelos quais se reprime o conflito.
22
Embora a coerção não signifiquesomente a ação institucional legalizada, refere-se à aplicação da força ou a ameaça
de aplicar a força para que se obtenha um determinado resultado, seja para impedir alguma coisa, ou seja, para obrigar
alguma coisa. Quando o assaltante obriga uma pessoa a entrar em um carro, leva para um caixa automático e obriga
atirar o dinheiro, ele está usando da força, está coagindo para obrigar a pessoa a fazer alguma coisa contra a sua
vontade.
A unanimidade significa que todos estão de pleno acordo com apenas uma das
alternativas. A unanimidade tem uma característica numérica, significa que são
todos, 100%, sem exceção. Trata-se de algo difícil de ser alcançado em
sociedades diversificadas. Porém, no Brasil registra-se pelo menos o caso do
Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que decide por
unanimidade24. Qual o grande problema da regra de unanimidade? Cada um
dos votantes torna-se dotado de enorme poder de veto, pois basta que um
deles discorde para que se chegue a um impasse e a decisão não seja tomada.
23
(ESAF\Gestor\2005)Q. 61- O uso do termo “Consenso” em relação a uma determinada sociedade significa afirmar que existe um
acordo mínimo entre seus membros quanto a princípios, a valores, a normas, a objetivos comuns e aos meios para os atingir. Indique
qual das afirmações abaixo está incorreta. GABARITO: Letra b
a) O Consenso favorece a cooperação e contribui para que a comunidade supere situações adversas, tais como catástrofes e guerras.
b) O Consenso torna dispensável o uso legítimo da violência pelo Estado em situações controversas.
c) A existência de grupos étnicos, lingüísticos ou religiosos, portadores de cultura própria dificulta mas não impede o estabelecimento
de Consenso em uma comunidade.
d) Transformações sócio-econômicas estruturais e inovações tecnológicas, que criam necessidades e expectativas para os diversos
segmentos sociais, acentuam os limites das instituições e envolvem a possibilidade de afetar o Consenso pré-existente.
e) Nos regimes autoritários, as divergências são mantidas na clandestinidade, levando o observador a superestimar o Consenso em
relação a valores e princípios.
24
Scaff, Fernando F. ―A inconstitucional unanimidade do Confaz e o surpreendente Convênio 70‖ consultado em
http://www.conjur.com.br/2014-ago-12/contas-vista-inconstitucional-unanimidade-confaz-convenio-70.
Nas decisões por maioria é preciso definir o que será considerado maioria.
Para isso existem diversos critérios, o que dá origem a vários tipos de maioria.
Pode-se ter a chamada ―maioria simples‖ ou ―maioria relativa‖, que significa
que vence a alternativa que obtiver o maior número de adesões, mesmo que
esse número represente uma fração muito pequena do todo. Numa decisão por
votação, se forem muitas as alternativas em jogo e as preferências forem muito
fragmentadas, os votos podem se pulverizar de tal maneira que a alternativa
que obtiver o maior número de adesões pode representarum percentual ínfimo.
25
Vale lembrar que foi John Locke, no Segundo Tratado sobre o Governo, que propôs que a regra legítima para a
tomada de decisões políticas fosse a regra da maioria. A regra da maioria também foi defendida pelos utilitaristas, que
sustentavam que, para ser legítimo, um governo deveria promover ―a maior felicidade do maior número‖
A ―maioria absoluta‖ pode ser definida, grosso modo, como ―metade mais
um‖26.
26
Grosso modo, porque mais preciso seria dizer ―metade, mais o primeiro número inteiro que vier em seguida‖.
27
No Direito, maioria qualificada é uma situação onde o total de votos em uma opção é maior que a metade do total
de votos possível, ou seja, não se faz a distinção entre a maioria absoluta e as maiorias de 2/3, 3/5, etc.
28
Segundo a Constituição Federal de 1988, para aprovar uma emenda constitucional no Brasil são necessários 3/5 dos
senadores e deputados em dois turnos de votação.
29
Por exemplo, uma pessoa sente sede, e é capaz de pegar um copo e beber água. Uma pessoa pode andar e chegar
onde deseja ir, mas há pessoas que não conseguem executar esses gestos simples. Um professor que ministra aulas,
Por exemplo, se numa relação A tem poder, e B não tem, ou tem menos poder:
B teria um comportamento numa determinada direção se estivesse sozinho,
mas na presença de A, ele se comporta na outra direção, desejada por A. Ou
seja, existe uma relação de poder quando A é capaz de mudar o
comportamento de B, mesmo que B não queira, portanto, poder inclui
obediência e, ao menos potencialmente, conflito.
tem essa capacidade porque tem voz e tem o conhecimento a ser transmitido, por isso, ele possui um poder que é
uma capacidade.
30
Segundo PARSONS, Talcott (1969) , ―Ontheconceptofpoliticalpower‖ IN Politicas and Social Structure, , o poder
consiste em obter que os membros de uma coletividade cumpram obrigações legitimadas em nome de objetivos
compartilhados e permite, eventualmente, que os recalcitrantes sejam obrigados mediante a aplicação, ou ameaça de
aplicação, de sanções negativas. PARSONS, Talcott (1969) , ―On the concept of political power‖ IN Politics and Social
Structure. New York: Free Press.
Apesar de toda essa discussão, tinha razão Max Weber32 ao sustentar que o
conceito de poder é amorfo, porque o seu enunciado não define suas
características. Por isso é que quando se fala em poder (substantivo) segue-se
31
É melhor pensar em termos relativos do que em termos absolutos,porque são bastante raras as situações de alguém
não ter poder algum. de alguma forma, cada ator sempre tem algum poder.
32
WEBER, Max.(1981) Ensaios de Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Editora.
33
As tipologias são procedimentos usados na ciência para caracterizar, diferenciar e identificar situações a partirde
determinadas variáveis, criando-se categorias ou tipos com base nessas variáveis.
34
BOBBIO. Norberto (2010). Dicionário de Política. Brasília. Ed. UnB
Por exemplo, é óbvio que, quando um indivíduo paga o seu Imposto de Renda,
não o faz sob a pressão de um medo pavoroso, de um pânico. Mas é claro
para ele e para todos os demais que, se atrasar sofrerá uma multa, se ele se
esquecer por um tempo longo, sofrerá outras sanções: não poderá ser
contratado no serviço público, não poderá comprar moeda estrangeira, etc. E,
se permanecer sem pagar após ter recebido uma notificação da Receita
Federal, estará sujeito a um processo judicial e poderá até mesmo ser preso
por sonegação de imposto. Isso é o componente da violência, que
frequentemente parece abstrato e longínquo, mas tem uma existência muito
real. Pensando de uma forma não tão pontual, não tão imediata, é possível
perceber que lá no fundo, depois de todas as outras coisas, de fato está a
ameaça ou a aplicação efetiva das sanções físicas e isso é o que caracteriza o
poder político.
Max Weber, no final do texto ―A Política como Vocação‖36 diz claramente: “Não
vamos nos enganar. Pelo menos desde os Upanishades sabemos que a
política e o poder político estão associados ao exercício da violência.”37
35
Por exemplo, algum tempo atrás, no Brasil, um bispo excomungou um juiz que permitiu que uma jovem que tinha
engravidado por estupro fizesse aborto. Excomungou o juiz que autorizou, excomungou o médico que realizou, etc. É
um poder ideológico, depende das pessoas acreditarem na excomunhão, acreditarem que existe um céu e um inferno
e acreditarem que uma determinada pessoa é capaz de condenar alguém a uma punição dessa natureza.
36
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. A política como vocação. São Paulo: Cultrix, 1970.
37
Upanishades são os livros sagrados dos hindus, datados de mais de 5.000 anos atrás.
pode mais numa relação de poder do que quem não tem); conhecimento é
recurso de poder, prestígio é recurso de poder e nós vemos muito claramente
como o prestígio é recurso de poder, popularidade é recurso de poder,
pertencimento a redes sociais, reputação, etc.38
Os recursos de poder são definidos por Silva (2013, não paginado)39 como ―a
forma pela qual os diferentes grupos políticos – estatais ou societais – usam
sua capacidade política de ação e uma gama diferenciada de recursos para
influenciar a formação da agenda do Estado e para participar das arenas
decisórias (...), de modo a viabilizar a concretização de seus interesses
políticos, econômicos e sociais”. Compreendem recursos financeiros, posições
de autoridade, capacidade de mobilização política, reputação, vínculos com
outros atores relevantes, habilidades estratégicas, conhecimento, informação,
etc.
Silvasustenta, ainda, que os recursos de poder dos atores políticos podem ser
analisados a partir de três dimensões:
(2) Capacidade de ação, definida pelo tipo e pela importância dos recursos de
que cada ator dispõe e que podem estar associados a indivíduos, grupos ou
organizações, como: recursos institucionais, tecnológicos, gerenciais,
financeiros, ideológicos e midiáticos. Essa capacidade deve ser analisada no
âmbito de cada arena setorial do complexo estatal e de suas interligações com
a sociedade.
38
Por exemplo, estar no exercício de uma atividade que é estratégica em uma sociedade, pode ser um enorme de um
recurso de poder. Muitas vezes um grupo pode estar desempenhando uma determinada atividade que aparentemente
não tem muita visibilidade, não tem um prestígio tão grande, mas que de repente se transforma em um grande recurso
de poder, como caminhoneiros – que são capazes de parar um país – ou operadores de controle de vôo em
aeroportos, ou os responsáveis pelo funcionamento dos sistemas informatizados de telecomunicações ou do sistema
financeiro.
39
SILVA, Pedro Luiz Barros. Verbete ―Recursos de Poder‖. In: DI GIOVANNI, Geraldo; NOGUEIRA, Marco Aurélio
(Orgs.). Dicionário de Políticas Públicas. São Paulo: FUNDAP, 2013. Não paginado. Disponível em:
<http://dicionario.fundap.sp.gov.br/Verbete/234>. Acesso em: 17 mai. 2013.
(3) Direção da ação dos atores na arena decisória, que descreve as formas de
interação possíveis entre os atores participantes de cada arena setorial sempre
que uma determinada questão de política pública é objeto de disputa.
Portanto, recurso de poder é tudo aquilo que qualquer ator seja individual, seja
coletivo é capaz de utilizar como elemento de pressão para que seus
interesses sejam atendidos. Ou seja, os recursos de poder não se limitam à
riqueza, dinheiro, bens materiais, ou algo do gênero. A possibilidade de
impedir, de causar dano, tudo isso representa recurso de poder.
40
BOBBIO. Norberto (2010). Dicionário de Política. Brasília. Ed. UnB
41
Por isso que em política não se deve criar uma situação que o adversário não tenha saída. Essa é uma regra muito
importante, existem disputas, divergências, interesses contrapostos e tudo vai ser discutido, mas deve se evitar a todo
custo deixar o adversário que tem menos poder numa posição que ele não tenha uma alternativa, senão ele não terá
outra solução além do enfrentamento.
Uma das teorias que confrontou o argumento pluralista foi o elitismo, que
defende a ideia de que os resultados do jogo político são previamente definidos
no horizonte dos interesses preferenciais das elites que controlam os recursos
organizacionais da sociedade. As elites, porém, competem entre si. E, nessa
competição pelo controle de recursos de poder, eventualmente, certas elites
podem procurar conquistar o apoio da massa que, nesse caso, passa a influir,
em certa medida, no processo político.
42
HAM, Christopher; HILL, Michael.The Policy Process in the Modern Capitalist State.2. ed.HarvesterWheatsheaf,
Londres, 1993.
43
DAHL, Robert A. A Critique of the Ruling-Elite Model.American Political Science Review, v. 52, n. 2, p. 463-469, jun.
1958.
44
HUNTER, Floyd. Community Power Structure. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1953.
45
MILLS, C. Wright. The Power Elite. New York: Oxford University Press, 1956.
Em 1957, no artigo ―The Conceptof Power‖, Dahl (p. 203) definiu o termo
―poder‖ nos seguintes termos: “A tem poder sobre B na medida em ele pode
levar B a fazer algo que, de outra forma, não faria”. Essa formulação aponta
importantes características do poder, segundo o autor: (i) o poder é relacional,
ou seja, ocorre em uma relação entre atores políticos; (ii) deve ser analisado
em situações em que os atores divergem quanto às suas preferências; (iii) os
atores que exercem o poder são aqueles cujas preferências prevalecem em
conflitos sobre questões políticas cruciais; e (iv) o poder só pode ser estudado
a partir de decisões concretas. Ham& Hill (1993, p. 93) destacam que, segundo
a concepção de Dahl, “É preciso um estudo cuidadoso destas decisões antes
que a distribuição de poder possa ser descrita adequadamente”.
46
DAHL, Robert A. Who Governs? New Haven: Yale University Press, 1961.
47
Literalmente, significa um ―governo de poucos‖, ou seja, um governo no qual poucos indivíduos detêm o
poder de decisão e de mando. Aristóteles dizia que a oligarquia nada mais era que uma forma
degenerada da aristocracia, que equivale, nesse autor, ao ―governo dos melhores‖, um governo em que o
mérito é o critério que define quem ocupa o poder e governa a sociedade.
48
Os autores citam o exemplo, dado por Polsby (1980), de varejistas que não conseguem se opor a
planos de reestruturação urbana que prejudicariam seus negócios.
49
POLSBY, Nelson W. Community Power and Political Theory: a further look at problems of evidence and inference.
New Haven: Yale University Press, 1980.
50
LUKES, Steven M. Power. A radical view.London: Macmillan, 1974.
52
SAUNDERS, Peter. Urban Politics.Harmondsworth: Penguin, 1980.
53
Saunders (1980, p. 324) dispõe que: “Nenhum grupo de pressão, não importa quão bem organizado ou
bem conectado, desfruta de um relacionamento como este, pois, em um contexto tão fértil, opiniões,
sugestões e modos de pensamento passam quase imperceptivelmente, como que por osmose, de
empresários para políticos e de políticos para empresários. No relacionamento entre os líderes políticos e
empresariais locais, a camaradagem política atingiu sua forma mais alta e refinada”.
54
LINDBLOM, Charles E. Política e Mercados: os sistemas políticos e econômicos do mundo. Rio de janeiro, Zahar
Editores, 1979.
Um autor que enfatiza a dimensão econômica do poder político, ainda que não
propriamente marxista, e focaliza a sua distribuição nas sociedades modernas
é Andrew Blowers57. Em seus estudos recorreu à comparação entre as teorias
elitista, pluralista e estruturalista58, para mostrar como – em decorrência do
55
ALFORD Robert R. & FRIEDLAND, Roger.Powers of Theory: Capitalism, the State, and Democracy. Cambridge:
Cambridge University Press, 1985.
56
OFFE, Claus. Political Authority and Class Structures. In: CONNERTON, P. (Ed.). Critical Sociology.Harmondsworth:
Penguin, 1976.
57
BLOWERS, Andrew. Something in the Air: corporate power and the environment. London: Harper &Row, 1984.
58
Ham& Hill (1993) entendem que a tese estruturalista não sustenta queos interesses econômicos ou
interesses de classe são os únicos capazes de influenciar o sistema político, e as decisões e os
60
A teoria da não-decisão pode ser denominada, também, ―teoria da não-tomada de decisão‖.
61
BACHRACH, Peter; BARATZ, Morton S.Two Faces of Power.American Political Science Review, v. 56, n. 4, p. 947-
952, 1962.
Essa, na verdade, não era uma ideia inédita. Um dos grandes críticos da
democracia americana, Elmer Eric Schattschneider63 já tinha cunhado o termo
―mobilizationof bias‖ (―mobilização do viés‖ ou ―mobilização da opinião‖) para
descrever os meios pelos quais o processo decisório ficava restrito ao
tratamento das questões tidas como ―seguras‖, ou seja, que não ameaçassem
os interesses dominantes.
A não-decisão é o que faz com que valores, regras do jogo, relações de poder
entre grupos de atores e instrumentos de força, separados ou combinados,
impeçam que demandas se expressem e sejam reconhecidos como problemas
políticos. Não significa um impasse decisório, nem a ausência de decisão
substantiva sobre um assunto. Significa que as questões nem chegam a ser
reconhecidas como problemas políticos e sequer figuram na agenda decisória
dos governos, permanecendo em estado de latência, graças à mobilização do
viés (―bias‖). Daí se tem que a decisão política, mesmo quando expressa a
neutralidade alegada pelos pluralistas, nunca é realmente neutra, pois age em
favor da manutenção do status quo,não fomentando a realocação de valores
na sociedade. Assim, uma das mais importantes implicações teoria da não-
decisão foi evidenciar que a distribuição do poder é menos equilibrada do que
os pluralistas pretendiam.
62
BACHRACH, Peter; BARATZ, Morton S. Decisions and Nondecisions: an analytical framework. American Political
Science Review, v. 57, n. 3, p. 632-642, 1963.
63
SCHATTSCHNEIDER, Elmer Eric. The Semisovereign People: a realist's view of democracy in America. New York:
Holt, Rinehartand Winston, 1960.
65
Um dos mais importantes testes empíricos da teoria da não-decisão foi realizado por Matthew CRENSON, que
efetuou um estudo comparativo sobre as relações e as influências indiretas dos atores, a antecipação de ações e
comportamentos por eles e as consequentes decisões e não-decisões no controle da poluição do ar. O autor concluiu
que o estudo das decisões esclareceria pouco sobre o fenômeno, e evidenciou a relevância da abordagem da não-
decisão para uma observação completa da distribuição do poder político. CRENSON M.The un-politics of air
pollution : a study of non-decision-making in the cities. Baltimore: John Hopkins Press, 1971
Nesses casos, cabe indagar: ―por que tais sujeitos obedecem a esse
comando‖? É aí que entram os conceitos de legitimidade e de autoridade. É a
legitimidadeque vai fundamentar a autoridade. O que vem a ser legitimidade?
66
Op. Cit.
67
Max Weber sustentava que as ciências da sociedade deviam ser estudadas mediante a comparação. E comparava
fenômenos reais com tipos ideais. Um tipo ideal não significa um tipo ―desejável‖, não envolve juízo de valor. É apenas
um constructo. Weber procurou imaginar o que seria um fenômeno ou uma situação(como a dominação ou a
autoridade) cujos atributos fossem todos consistentes, jamais contraditórios, e se manifestassem em sua potência
máxima. Grosso modo essa seria a definição de tipo-ideal, que tem essa denominação porque só existe no campo das
ideias, é uma abstração,jamais sendo encontrado no mundo real , onde características de um tipo aparecem
misturadas com as características de outro tipo. Ou então a manifestação de uma característica érarefeita, não é
absoluta.
68
Cada um deles está ligado a uma estrutura sociológica radicalmente diversa do corpo administrativo e dos meios da
administração.
69
Éstudos recentes chamam a atenção para conceitos como ―capital social‖, ―cultura política‖, etc. quelevam em conta
as crenças nas instituições.
70
Em algumas regiões do interior do Brasilhá um sujeito que é o chefe local, a quem todos prestam obediência. Se for
perguntado por que alguém, uma pessoa qualquer ali obedece às ordens daquele chefe local, muito provavelmente
terá uma resposta mais ou menos assim: ―Porque o meu avô obedecia, o meu pai também e eu também... então quer
dizer, sempre foi assim‖. Isso que significa a autoridade tradicional: aquilo que se torna quase automático, porqueé
fundado na ideia de que sempre foi assim no passado.
71
Racionalidade significa a adequação dos meios aos fins. A tradição não precisa ter racionalidade nenhuma, é algo
que um ou mais grupos sociais começaram a fazer no passado, ganhou certa permanência, tornou-se a pura
habitualidade; é algo que a maioria – se não todos - replica sem sequer pensarse é a melhor forma de agir, se existem
formas mais eficazes ou mais justas, se deve ou não deve ser daquele jeito.
72
A tradição se impõe inclusive ao governante, até mesmo estabelecendo os limites ao seu arbítrio. Porém, no que a
tradição cala, vale a vontade do soberano. A monarquiaé a forma de governo onde os governantes são vitalícios e
hereditários, a forma de acesso ao poder é hereditariedade, a sucessão dinástica. No período absolutista, naquilo que
a tradição não estabelecesse qual seria o comportamento, a norma, e o limite do poder real,prevalecia a vontade do
rei, do governante. Daí que as lutas contra o absolutismo eram lutas para impor limites constitucionais ao poder do rei.
73
O que é estamento? É um conjunto de relações de direitos e deveres de grupos sociais (não de indivíduos), próprio
do período medieval, baseado em status adscritos, ou seja, posições sociais provenientes de nascimento. No sistema
estamental, a maioria dasatividades só podiam ser realizadas por certos grupos sociais, não eram de livre escolha. Por
exemplo os nobres, eram guerreiros e tinham o direito exclusivo de usar cavalos e armas. As pessoas dopovo - que
eram os servos, os homens livres que viviam nas vilas, e os burgueses - não podiam usar nem armas e nem cavalos,
pois isso era um privilégio estamental da nobreza. Quando é que as pessoas do povo passam a usar cavalos e armas?
Quando as guerras começam a ficar caras, os nobres começam a se queixar muito dos custos da guerra, os burgueses
não querem pagar mais impostos e então os reis têm que colocar o povo na frente de batalha, incorporando os
indivíduos aos exércitos permanentes e em troca lhes concedes direitos. Quando acontece isso, começa a se romper o
sistema estamental.
74
O patrimonialismo se caracteriza pela ausência de limites entre o público e o privado, de tal maneira que o público
acaba se tornando como que o patrimônio privado do governante. Ver WEBER, M. (2000). Economia e Sociedade.
Brasília, Ed UnB
75
Não se deve confundir a liderança carismática com bons produtos de marketing. Muitos perguntam: ―Collor foi um
líder carismático?‖ Não. Collor foi um excelente produto de marketing. Era um momento de muita crise no Brasil, em
1989, as promessas das Diretas Já, da democracia e doPMDB tinham se esgotado e havia uma vazio de lideranças
críveis. Collor era um desconhecido, não era visto como uma figura do sistema. Construiu-se a história do Caçador de
Marajás, e ele, chegava de helicóptero, o homem que vem do céu. São visíveis todas essas características de um bom
marketingtentando construira característica da excepcionalidade. Quando ficou claro que não era carisma? Quando ele
convocou o povo brasileiro a comparecer de verde e amarelo para semanifestar em favor dele e foi todo mundo de
preto. Aí ficou evidente, porque com o líder carismático isso não acontece. Se fosse uma liderança carismática haveria
um levante em sua defesa.
Não existe nada mais rotinizador do que a dominação racional legal, que é
aquela na qual a legitimidade, o fundamento da obediência, provém da
convicção de que uma ordem é legal, é baseada na lei. Mas não somente
legal, é também racional. Por isso Weber denomina ―dominação racional-legal‖.
O que é o racional? É uma convicção de que a lei expressa o melhor para
todos ou para a maioria, se for possível isso. A convicção é: a lei é para ser
obedecida porque é para o bem de todos. Então, tem dois elementos na
dominação racional legal, por que os indivíduos obedecem? Primeiro, porque
está na lei, e estar na lei significa que será aplicada a coerção aos
desobedientes. Segundo, porque a lei foi formulada de acordo com
procedimentos previamente estabelecidos e reconhecidos como legítimos.
Terceiro, a lei destina-se a promover o benefício da sociedade.
76
Em uma sociedade baseada na lei, o que acontece? O líder carismático atua como se estrutura racional legal,
especialmente a organização burocrática,não existisse. Ele preenche cargos que são de sua confiança, cria sua corte
composta por um grupo de seguidores que não tem que ser selecionados por competências racionais, por
conhecimentos, por habilidades, por nada além da confiança do líder.
77
Max Weber assinala que a humanidade se encaminhou para formas cada vez mais aperfeiçoadas de organização,
havendo uma adequação cada vez mais precisa entre meios e fins e, por isso, tem muito mais êxito, muito mais
eficácia. Todavia, que o conjunto de valores que dava sentido a tudo isso ficou perdido no passado e o homem tornou-
seprisioneiro em uma ―gaiola de ferro‖, que é o vazio do processo de burocratização, de repetir rotinas organizacionais
a tal ponto que as rotinas se tornam um fim em si mesmas enquanto as finalidades acabam sendo perdidas.
ede uma força militar. O governante eleito tem poder legitimado e limitado pela
lei. Assim que se encerre o seu mandato, seu cargo, é transferido a outra
pessoa, que o assume com todas as correspondentes responsabilidades e
poderes, segundo normas previamente estabelecidas.
Hegemonia e ideologia
78
Nas ciências sociais existe um grande dilema entre duas grandes famílias de abordagens. A primeiradenomina-se
―individualismo metodológico‖ e consiste em uma forma de analisar qualquer tipo de fenômeno partindo do princípio de
que a unidade que constitui o todo, são indivíduos. Os indivíduos é que são capazes de formular intenções, de formular
significados, de estabelecer relações, etc. E o todo é a soma das partes. Em Hobbes, em Locke,o que é o todo? É a
soma das partes. A coletividade é a soma das unidades individuais, bem simplificadamente. A outra abordagem
denomina-se ―coletivismo metodológico‖ eparte do princípio de que os fenômenos são coletivos e que não há como
entende-los desagregados em unidades individuais. Por exemplo, um cardume é um coletivo, seria impossível
entender o comportamento do cardume a partir do comportamento individual de cada peixe, nesse sentido, o todo é
mais do que a soma das partes, tem sinergiae outras características próprias. O coletivismo metodológico só trabalha
com conceitos coletivos. Hegemonia é um conceito coletivo. Dominação, autoridade, etc., são conceitos individualistas.
Não há como fazer passagem de uma abordagem para outra, pois existem dificuldades para que, da parte, se chegue
ao todo, já que o todo possui mais complexidade. Da mesma forma, como é que, examinado o todo será possível
abstrair e entender que aquilo é apenas parte dele? Então, ao tratar dos conceitos é necessário saber a que
abordagem pertence cada um deles, porque não tem trânsito entre essas duas abordagens, não é possível traduzir
uma nos termos da outra. Então, é preciso atenção para o fato de que toda abordagem marxista (e o seu inimigo
ideológico, o funcionalismo) corresponde ao coletivismo metodológico, mas o pensamento de Rousseau também se
alinha com o coletivismo metodológico. Já Weber, Hobbes, Locke, todo o pensamento pluralista e elitista, todos os
estudos em escolha racional, etc. correspondem ao individualismo metodológico. É possível observar as diferenças
claramente em enunciados simples. Por exemplo, quando Weber fala em autoridade, a referência é―A obediência por
determinados sujeitos.‖. Quando Gramscifala de hegemonia, a expressão é ―uma dominação consentida no âmbito de
uma totalidade histórica‖.
79
Antonio Gramsci, Cadernos do cárcere. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2001.
80
Existem estudos que mostram que, no Brasil, as oligarquias agráriasforam muito bem sucedidas, durante séculos,
em apresentar o que era o seu interesse como sendo o interesse da sociedade brasileira.
Cabe, então, discutir o que vem a ser ideologia. As ideias podem significar
―conceito‖ou ―objetivo‖. E, em ambas as acepções, destinam-se a descrever ou
reproduzir, através de imagens (que podem ser mais ou menos fiéis), um
objeto que -na realidade - não está imediatamente presente aos sentidos.
81
NOGUEIRA, Octaciano (2010). Vocabulário da Política. Brasilia: Senado Federal/Unilegis
Citando Nisbet, Nogueira lembra que ―as ideologias, como as teologias, tem
seus dogmas: grupos de crenças e valores. Em geral, ideologia significa um
conjunto de ideias e crenças,mediante as quais o homem percebe o mundo
exterior e atua sobre a informação, interpretando-a, a fim de compreender esse
mundo e lidar com ele83.
82
MANNHEIM, Karl.(1976) Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
83
É preciso distinguir ideologia de outros termos, como filosofa e teoria. A filosofia consiste em um conjunto de
proposições logicamente articuladas, resultante da contemplação, da reflexão e da organização de ideias e que requer
demonstração formal (lógica). Já a teoria é um conjunto de proposições logicamente articuladas, resultante da reflexão
e da organização de ideias e que requer demonstração empírica. NOGUEIRA, op. cit. pag 206.
84
MILL, John Stuart.(1964) Considerações sobre o Governo Representativo. Biblioteca ―Clássicos da Democracia‖.
19. São Paulo: IBRASA.
Embora várias ideologias surgidas nos dois últimos séculos tenham perdido
espaço e deixado de mobilizar ação política, algumas ideologias influenciaram
decisivamente a história recente da humanidadee ainda hoje aparecem no
debate político em versões ―neo‖.
Liberalismo
Adam Smith em suas obras A Riqueza das Nações e Uma Teoria dos
Sentimentos Morais, argumentou que qualquer indivíduo é o melhor juiz dos
seus interesses e das suas ações. Se todos tiverem oportunidade de realizar
livremente os seus interesses, eles o farão, e assim a sociedade irá prosperar.
A harmonia social e econômica resulta da livre concorrência e da interação de
interesses e forças econômicas (dinâmica do mercado) que ele
denominou“identificação natural dos interesses” . O mercado seria um
sistemade liberdade natural que só pode operar com perfeição se não sofrer as
distorções provenientes dos sistemas de repressão (Estado, governo).
(a) todos os objetos tem uma utilidade, ou seja, podem satisfazer a uma
necessidade humana;
(b)a utilidade é subjetiva, portanto, cabe a cada homem decidir qual objeto
atende às suas necessidades;
John Stuart Mill, por sua vez, indagava:Se a identificação natural dos
interesses não for completa, como evitar que a felicidade de um homem
signifique o sofrimento de outros? Pelo esclarecimento: o auto-interesse
egoístadaria lugar ao “auto-interesse esclarecido”, ou seja, pela educação, os
homens seriam capazes de aprender a importância da auto-contenção para a
Neoliberalismo
86
O termo foi cunhado em 1938 pelo sociólogo e economista Alexander Rüstow . O termo se refere a uma tentativa de
redefinição do liberalismo clássico, influenciado pelas teorias econômicas neoclássicas.
87
O individualismo jurídico – tambémpresente ao neoliberalismo - significa que as relações de direitos e deveres têm
como agentes cada uma das pessoas humanas. Coletividades não poderia ser sujeitos de direitos ou deveres, a não
ser pela coincidência desses com os indivíduos que as compõem.
Democracia
88
BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. “ Modernidade Neoliberal” . RBCS Vol. 29 n° 84 fevereiro/2014
89
Defendia sufrágio universal absoluto e a total ausênciade restrições à vontade popular.
90
Desenvolveu-se nessa época o ―Socialismo Fabiano‖ ou ―fabianismo‖, que defendia a propagação gradual (e não por
revolução) do socialismo, a educaçãoe a ação política no âmbito das instituições democráticas e parlamentares. A
mudança pretendida era asocialização dos meios de produção, controles estatais da economia e medidas amplas de
assistência social para produzir a maior igualdade possível. Desse núcleo de ideias nasceu o Partido Trabalhista
inglês, nos primeiros anos do século XX.
91
BOBBIO, Norberto .(1986) O futuro da democracia; uma defesa das regras do jogo Rio de Janeiro: Paz e Terra.
b) o voto de todos os cidadãos deve ter peso idêntico isto é, deve valer por um;
c) todos os cidadãos que gozam dos direitos políticos devem ser livres de votar
segundo a própria opinião, formando o mais livremente possível, isto é, em
uma livre concorrência entre grupos políticos organizados, que competem entre
si para reunir reivindicações e transformá-las em deliberações coletivas;
c) todos os cidadãos que gozam dos direitos políticos devem ser livres de votar
segundo a própria opinião, formando o mais livremente possível, isto é, em
uma livre concorrência entre grupos políticos organizados, que competem entre
si para reunir reivindicações e transformá-las em deliberações coletivas;
d) devem ser livres ainda no sentido em que devem ser colocados em condição
de terem reais alternativas, isto é, de escolher entre soluções diversas;
Nacionalismo
92
Para melhor entender essa discussão pode-se considerar ― Estado‖ o poder soberano exercido como monopólio do
uso da violência sobre um povo em um determinado território. ―Estado-Nação‖ou ―Estado nacional‖ é o Estado que
deriva sua legitimidade e identidade de uma nacionalidade. ―Nacionalidade‖ consiste em uma identidade étnica e/ou
cultural, com base em critérios variados; língua, religião, raça, tradições, consciência histórica, território, destino
comum. Um Estado pode incluir várias nacionalidades (ex: Império Austro-Húngaro, URSS, Iugoslávia, pré-1992).
93
Em contraposiçãoao Iluminismo, Racionalismo e Liberalismo que foram ideias e ideologias dominantes nos séculos
XVII e XVIII, o século XIX foi marcado pelo lirismo, pela subjetividade e pela emoção. O Romantismo foi uma
ideologia que originou um movimento artístico, filosófico e político, surgido nas últimas décadas do século XVIII na
Europa, que perdurou por grande parte do século XIX, num ambiente intelectual de grande rebeldia. O Romantismo
valorizava as forças criativas do indivíduo e da imaginação popular. Opunha-se aos clássicos e baseava-se na
inspiração fugaz dos momentos fortes da vida subjetiva: na fé, no sonho, na paixão, na intuição, na saudade, no
sentimento da natureza e na força das lendas nacionais.
Ideologias Totalitarias
94
São considerados critérios objetivos de nacionalidade: língua, religião, história e tradições comuns, território
comum94. A religião teve especial importânciano período de formação da consciência nacional e de afirmação da
independência política de Estados-Nações nos séculos XVI e XVII e, muitas vezes, eram as guerras religiosas que
mobilizavam o povo.Os critérios subjetivos de nacionalidade sãoo próprio nacionalismo e a autodeterminação. O
elemento subjetivo está na vontade e no propósito. A autodeterminação é o direito dos que constituem uma
nacionalidade para formarem seu próprio Estado soberano
95
Seus axiomas são: todo conhecimento é subjetivo, portanto, particular. A intuição (e não a razão ) é a única forma de
chegar ao conhecimento absoluto. Schopenhauer, filósofo alemão, escreveu um livro que se iniciava coma frase: ―O
mundo é uma ideia minha...‖ o que significava que o conhecimento é inteiramente subjetivo, e como tal, não está
sujeito ao discurso racional e científico
96
Exemplos de Mitos totalitários: supremacia racial, pureza racial, força nacional, ressurreição de impérios, recuperação
da glória passada (facismo), reafirmação dos laços tribais (germânicos, no caso do nazismo),ditadura do proletariado
(comunismo), etc.
97
O pensadorsindicalista revolucionário francês, Georges Sorel dizia que a violência é, em si mesma enobrecedora, e
ajuda o povo a desenvolver a coragem, a moral e as emoções necessárias para se distinguir da covardia e
racionalidade burguesa. Marx, Engels, Lenin e Stalin defendiam a revolução violenta para pôr fim à ordem burguesa.
Hitler defendia a eliminação violenta dos que conspurcavam a pureza racial.
Facismo
98
Op. cit.
sindicatos operários e eram vistos como uma ―ameaça vermelha‖ pelas classes
médias, pela Igreja, pela burguesia industrial e até pelos camponeses.
Sem a coletividade grupal, não poderia haver vida e liberdade individual e nem
propósitos comuns. Somente o Estado seria capaz de exprimir a coletividade e
os indivíduos nela contidos. Por isso, deveriam se subordinar ao Estadotodas
as atividades e organizações sociais, todos os interesses individuais, todas as
manifestações culturais (inclusive a religião) e todos os direitos materiais,
políticos e morais.
99
O principal lema do facismo era: ―Tudo dentro do Estado, tudo para o Estado, nada forado Estado‖
100
Mussolini permitiu que o Rei permanecesse no trono como chefe formal a fim de manter o apoio dos monarquistas e
conservadores. Tambempermitiu que o Parlamento continuasse existindo e legislando e houvesse eleições periódicas,
com candidatos exclusivamente facistas.Mas era o Duce que era o líder e chefe responsável do governo e quem
decidia todas as questões do Estado.
101
O regimefacista italiano estabeleceu 22 corporações, cada qual responsável por uma ampla área de atividade
econômica e cada qual reconhecida como um organismo oficial do Estado.. Em cada corporação empregados e
empregadores eram igualmente representados e em todas elas havia um membro do Partido Facistarepresentando ―o
público‖. Todas as corporaçõeselegiam a Assembleia Geral Corporativa.
102
A ideologia facista original era anti-burguesa, anti-liberal, anti-elites (clero, proprietários de terras e nobreza) e
propunha extensas reformas estruturais em beneficio dos trabalhadores e dos pobres. Na prática, o movimento facista
acabou sendo capturado pelas elites, pela burguesia e pelas classes médias.
103
Variações do Facismo: Salazarismo, em Portugal e Franquismo, na Espanha
Consultar: http://www.slideshare.net/samanta_vglr/nazismo-fascismo-salazarismo-franquismo-e-estado-novo-no-brasil
Comunismo
(iv) Emerge dessa contradição, a luta de classes, uma vez que, nos períodos
revolucionários, é possível identificar uma classe associada às antigas relações
de produção e outra mais progressista, ansiosa por novas relações de
produção;
(v) Há uma teoria das revoluções subjacente à dialética das forças e das
relações de produção;
104
De acordo com o Dicionário de Política, coube a Platão a primeira formulação orgânica de um ideal político
comunista. Na República, de fato, onde traça o modelo da cidade ideal, ele prevê a supressão da propriedade privada,
a fim de que desapareça qualquer conflito entre o interesse privado e o Estado, e a supressão da família, a fim de que
os afetos não diminuam a devoção para o bem público. O acasalamento dos sexos deve ser temporário e os filhos
devem ficar desconhecidos aos pais: o Estado provera a sua educação e criação. Ao traçar este modelo, Platãonão se
refere à totalidade do povo, mas somente às classes superiores ou aos dirigentes do Estado: os guerreiros e os
guardiães. Para as classes inferiores, ao invés, isto é, para aqueles que são destinados à agricultura, aos serviços
manuais e ao comércio, ele prevê a organização econômica e familiar tradicional.
105
ARON, Raymond. (2000) "As etapas dopensamento Sociológico. São Paulo, Martins Fontes.
Leninismo
106
(1)Todas as decisões devem ser tomadas num debate livre e aberto pelo órgão representativo do Partido, o
Congresso.(2)Uma vez tomada a decisão, ela se torna obrigatória para todos. Não se admitem facções dentro do
partido e qualquer minoria não pode discordar ou manifestar em público suas queixas.(3)Todos os funcionários do
Partido Comunista são eleitos indiretamente, de baixo para cima, dentre os seus quadros.(4)Todas as decisões e
instruções dos funcionários executivos do Partido são obrigatórias para órgãos e funcionários inferiores.
107
LENIN, Vladimir I. (1917) O Estado e a Revolução. Consultado em:
http://pcb.org.br/portal/docs/oestadoearevolucao.pdf
Também, em Marx e Engels não há nenhuma menção nem mesmo vaga sobre
a estatização dos meios de produção: os meios de produção seriam
socializados e os frutos da produção distribuídos,não havendo mais sistema de
salário e Engels esclarece: "O Estado moderno, qualquer que seja a sua forma,
é uma máquina essencialmente capitalista, é o Estado dos capitalistas, o
capitalista coletivo Ideal. E quanto mais forças produtivas passe à sua
propriedade tanto mais se converterá em capitalista coletivo e tanto maior
quantidade de cidadãos explorará. Os operários continuam sendo operários
assalariados, proletários. A relação capitalista, longe de ser abolida com essas
medidas, se aguça." 109
108
Idem, op.cit.
109
ENGELS, Friedrich (1877). Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. Consultado em:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/socialismoutopico.pdf
110
Troskystas, Estalinistas e Comunistas de Esquerda se dividiram quanto ao tema. Para os últimos, o Estado Operário
só se desenvolveu embrionariamente na Revolução Alemã, Húngara e Espanhola além dos primeiros anos da
revolução russa, nunca se concretizando como socialismo, mesmo da URSS e no Leste Europeu. Para os Estalinistas
a URSS era um Estado Operário e para maioria dos autores dessa linha, democrática. Os trotskystas, nesse assunto,
se dividem. Para alguns autores, o conceito de Estado Operário não diz respeito ao regime político ou a forma de
governo, mas sim ao conteúdo de classe do Estado, entendendo o Estado como conjunto de instituições através das
quais a classe dominante na sociedade exerce o poder político.
A essência do Comunismo Leninista pode ser resumida como (a) Ênfase nas
táticas e políticas revolucionárias , independentemente das condições
objetivas; (b)Confiança no fator humano – vontade, liderança, organização –
independentemente do seu conteúdo social; (c) Subordinação de tudo à
revolução comunista; (d)Internacionalização do movimento comunista; (e)O
Partido comunista fala pela classe trabalhadora; (f) Vanguarda Revolucionária
conduz o Partido e a revolução; (g) O partido se rege pelo centralismo
democrático; (h) O Comitê Central do Partido fala por todos os Partidos
Comunistas
111
MACRIDIS, Roy. Ideologias Políticas Contemperâneas. Brasilia: Ed. UnB, 1980.
Maoismo