TPC Leonor
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Grupo I
Texto A
CENA I
MARIA e TELMO
Maria (saindo pela porta da esquerda e trazendo pela mão Telmo, que parece vir de pouca
vontade) – Vinde, não façais bulha, que minha mãe ainda dorme. Aqui, aqui nesta sala é que
quero conversar. E não teimes, Telmo, que fiz tenção e acabou-se.
Telmo – Menina!…
5 Maria – «Menina e moça me levaram de casa de meu pai» – é o princípio daquele livro tão
bonito que a minha mãe diz que não entende: entendo-o eu. – Mas aqui não há menina nem moça;
e vós, senhor Telmo Pais, meu fiel escudeiro, «faredes o que mandado vos é». – E não me
repliques, que então altercamos, faz-se bulha, e acorda minha mãe, que é o que eu não quero.
Coitada! Há oito dias que aqui estamos nesta casa, e é a primeira noite que dorme com sossego.
10 Aquele palácio a arder, aquele povo a gritar, o rebate dos sinos, aquela cena toda… oh! tão
grandiosa e sublime, que a mim me encheu de maravilha, que foi um espetáculo como nunca vi
outro de igual majestade!… à minha pobre mãe aterrou-a, não se lhe tira dos olhos: vai a fechá-los
para dormir, e diz que vê aquelas chamas enoveladas em fumo a rodear-lhe a casa, a crescer para
o ar, e a devorar tudo com fúria infernal!… O retrato de meu pai, aquele do quarto de lavor tão
15 seu favorito, em que ele estava tão gentil-homem, vestido de cavaleiro de Malta com a sua cruz
branca no peito – aquele retrato não se pode consolar de que lho não salvassem, que se queimasse
ali. Vês tu? ela, que não cria em agouros, que sempre me estava a repreender pelas minhas cismas,
agora não lhe sai da cabeça que a perda do retrato é prognóstico fatal de outra perda maior que
está perto, de alguma desgraça inesperada, mas certa, que a tem de separar de meu pai. – E eu
20 agora é que faço de forte e assisada, que zombo de agouros e de sinas… para a animar, coitada!…
que aqui entre nós, Telmo, nunca tive tanta fé neles. Creio, oh, se creio! que são avisos que Deus
nos manda para nos preparar. – E há… oh! há grande desgraça a cair sobre meu pai… decerto! e
sobre minha mãe também, que é o mesmo.
Telmo (disfarçando o terror de que está tomado) – Não digais isso… Deus há de fazê-lo
25 por melhor, que lho merecem ambos. (cobrando ânimo e exaltando-se) Vosso pai, D. Maria, é
um português às direitas. Eu sempre o tive em boa conta; mas agora, depois que lhe vi fazer
aquela ação, – que o vi, com aquela alma de português velho, deitar as mãos às tochas, e lançar
ele mesmo o fogo à sua própria casa; queimar e destruir numa hora tanto de seu haver, tanta
coisa de seu gosto, para dar um exemplo de liberdade, uma lição tremenda a estes nossos
30 tiranos… oh, minha querida filha, aquilo é um homem. A minha vida, que ele queira, é sua. E a
minha pena, toda a minha pena é que o não conheci, que o não estimei sempre no que ele valia.
1. Demonstra, tendo por base o diálogo entre Maria e Telmo Pais, que a conduta de Manuel de
Sousa Coutinho é norteada pela valorização da identidade nacional. (20 pontos)
3. Explicita três dos traços que caracterizam Maria, justificando a resposta com elementos do texto.
(20 pontos)
CENA X
JORGE, MADALENA
Madalena (falando ao bastidor) – Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres
chegar o bergantim; e quando desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Vem para
a cena.) Não há vento, e o dia está lindo. Ao menos não tenho sustos com a viagem. Mas a
volta… quem sabe? o tempo muda tão depressa…
5 Jorge – Não, hoje não tem perigo.
Madalena – Hoje… hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado… que ainda
temo que não acabe sem muito grande desgraça… É um dia fatal para mim: faz hoje anos que…
que casei a primeira vez; faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião; faz anos também que… vi
pela primeira vez Manuel de Sousa.
10 Jorge – Pois contais essa entre as infelicidades da vossa vida?
Madalena – Conto. Este amor – que hoje está santificado e bendito no Céu, porque Manuel de
Sousa é o meu marido – começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi… e quando o
vi – hoje, hoje… foi em tal dia como hoje! – D. João de Portugal ainda era vivo. O pecado estava-
me no coração; a boca não o disse… os olhos não sei o que fizeram; mas dentro da alma eu já não
15 tinha outra imagem senão a do amante… já não guardava a meu marido, a meu bom… a meu
generoso marido… senão a grosseira fidelidade que uma mulher bem nascida quase que mais
deve a si do que a seu esposo. – Permitiu Deus… quem sabe se para me tentar?… que naquela
funesta batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D. João…
Almeida Garrett, op. cit.
4. «É um dia fatal para mim» (l. 7) diz D. Madalena. Prova a veracidade desta afirmação, justificando
com o teu conhecimento da globalidade da obra. (20 pontos)
Grupo II
Lê o texto seguinte.
A Mentira
A mentira é uma conduta aprendida que faz parte dos comportamentos sociais. Quem nunca
mentiu? Começando pelos falsos elogios «esse corte de cabelo fica-te muito bem», passando pelas
desculpas esfarrapadas «não fiz os trabalhos de casa porque faltou a luz», até chegar às mentiras
descaradas «ser o próprio a atender o telefone e dizer que não está». Mas enquanto
5 comportamento aprendido, o papel do meio em que a criança se desenvolve torna-se fundamental.
Se os adultos com quem a criança se relaciona mentem muito, então os miúdos tenderão a não
falar verdade.
25 As idades da Mentira
Dependendo da idade da criança, a mentira pode assumir diferentes facetas. Durante os anos da
pré-escola, a criança ainda não consegue distinguir completamente a fantasia da realidade e neste
sentido, mentir pode ser uma consequência da sua imaginação e imaturidade, traduzindo-se
também em histórias sobre acontecimentos que não se passaram. Nestes casos, os pais podem
30 apenas mostrar a diferença entre a sua imaginação e a realidade, ou quando se trata de uma
situação menos importante, simplesmente ouvir. Com o crescimento vai ganhando compreensão
da mentira e quando apanhado, usa a expressão «estava a brincar» para tentar esquivar-se.
Com a entrada para a escola, a mentira assume um papel utilitário e pode surgir após uma
asneira, porque a criança já tem capacidade para perceber que errou, mas está em conflito entre a
35 vontade de adesão às regras sociais e o desejo de não desagradar ao adulto. Assim, mente para
evitar o embaraço. É preciso que os pais mostrem à criança que sabem que ela está a mentir e
falem abertamente com ela, mostrando a verdade dos factos e que desaprovam a sua atitude,
apresentando as desvantagens da mentira e as vantagens da verdade.
Quando mais velhas, as crianças geralmente mentem para negar algo errado que fizeram e
40 evitar a crítica, para fugir à punição ou para serem fiéis aos amigos.
Na adolescência, os adolescentes descobrem que a mentira pode ser aceite em certas ocasiões e
até ilibá-los de responsabilidade e ajudar à sua aceitação pelos colegas. Também é comum
mentirem para saciar a curiosidade dos pais. […]
A mentira aparece frequentemente devido à falta de barreiras externas que limitem o
45 comportamento. Esta situação surge frequentemente em filhos de pais muito repressivos ou
demasiadamente permissivos. […]
Não esquecer que em casa a criança deve encontrar exemplos de verdade e honestidade que
fomentem a sua atitude de sinceridade. […]
Vera Ramalho (Psicóloga Clínica), «A Mentira», Portal da Criança, dezembro de 2007
(disponível em www.portaldacrianca.com.pt, consultado em março 2016).
1.2 As duas orações presentes em «para não magoar os outros ou porque a verdade pode
provocar danos mais graves naquele momento» (ll. 8-9) introduzem, respetivamente, nexos
de
(A) consequência e causalidade.
(B) condição e causalidade.
(C) finalidade e causalidade.
(D) causalidade e finalidade.
1.5 No segmento «É preciso que os pais mostrem à criança que sabem que ela está a mentir»
(l. 36) estão presentes
(A) uma oração subordinada substantiva completiva e duas orações subordinadas adjetivas
relativas.
(B) duas orações subordinadas substantivas completivas e uma oração subordinada
adjetiva relativa.
(C) três orações subordinadas substantivas completivas.
(D) três orações subordinadas adjetivas relativas.
2.1 Identifica o valor da oração «que faz parte dos comportamentos sociais» (l. 1).
2.2 Classifica a oração «que a verdade traga consequências negativas» (ll. 14-15).
Grupo III
Umberto Eco, numa das suas últimas entrevistas, após lhe ter sido colocada a questão se as pessoas
preferiam a mentira à verdade, respondeu o seguinte:
«Certamente! Acreditar permite-lhes recusar o facto de que são culpadas. A credulidade é uma
forma de evitar o desespero, a desilusão – de evitar o medo da morte.»
Partindo da afirmação de Umberto Eco, redige um texto expositivo, entre cento e trinta a cento e
setenta palavras, sobre a mentira/ilusão enquanto refúgio em Frei Luís de Sousa.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles
com, pelo menos, um exemplo significativo. (50 pontos)
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que
atender ao seguinte:
um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
Grupo I
Texto A
Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, apresentação crítica de Maria João Brilhante,
3.a edição, Lisboa, Editorial Comunicação, 1994.
3. Refere de que forma a ansiedade de D. Madalena, após a revelação do Romeiro, fica patente no
seu discurso, justificando com elementos textuais. (20 pontos)
Texto B
tragiam carqueija pera acender o fogo cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo
35 muitos doestos23 contra a Rainha.
De cima nom minguava quem braadar que o Meestre era vivo, e o Conde Joam Fernandez
– Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que28 nom matou logo a aleivosa com
50 ele! Creedes em Deos29
grande, mandarom-no chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem aqui por traiçom.
30
, e agora nos queria matar outro; leixae-a, ca ainda há mal
d’acabar por estas cousas que faz!
Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos), edição crítica de Teresa Amado,
Lisboa, Seara Nova/Comunicação, 1980.
1
Aló: lá. 2 Percebido: combinado. 3 Rijamente: energicamente. 4 Era dali grande espaço: era longe dali. 5 Alvoraçavom-se nas vontades:
excitavam-se os ânimos. 6 Asinha: rapidamente. 7 Prestes: pronto, preparado. 8 Coifa: parte da armadura que cobria a cabeça. 9 Quaes quer:
quaisquer. 10 Arroido: ruído. 11 Em logo de: em lugar de. 12 Com mão armada: com armas na mão. 13 Escusar: evitar. 14 Nom quedava d’ir
pera alá: não parava de ir para lá; continuava a dirigir-se para lá. 15 Escusos: escondidos ou pouco frequentados. 16 Minguava: faltava.
17
Talente: vontade. 18 Çarradas: encerradas, fechadas. 19 Desvairadas: várias, diversas. 20 Britassem: arrombassem. 21 Aleivosa: maldosa,
traidora. 22 Aficavom: teimavam. 23 Doestos: insultos. 24 Guisa: maneira, modo. 25 Tolher: impedir. 26 Som: sou. 27 Torvaçom: perturbação.
28
Que: porque. 29 Creedes em Deos: Tão certo como Deus existir. 30 Senhor: D. Fernando (o povo julgava que D. Leonor contribuíra para a
sua morte).
5. O discurso de Fernão Lopes reveste-se de grande dinamismo. Justifica com elementos textuais.
(20 pontos)
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a única opção que permite obter
uma afirmação correta. (35 pontos)
1.5 O segmento «pela “mundanal afeição”» (l. 17) desempenha a função sintática de
(A) modificador.
(B) complemento direto.
(C) complemento oblíquo.
(D) complemento agente da passiva.
1.6 As aspas são utilizadas em «“verdade nua e crua”» (l. 19) porque se trata de
(A) uma explicação.
(B) uma citação.
(C) discurso direto.
(D) um empréstimo.
1.7 O constituinte sublinhado em «isenta de todo o tipo de parcialidade» (l. 18) desempenha a
função sintática de
(A) modificador restritivo do nome.
(B) modificador apositivo do nome.
(C) complemento do adjetivo.
(D) complemento do nome.
2.3 Indica o referente do pronome pessoal presente em «que as lideram» (l. 25).
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há que
atender ao seguinte:
um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.