07b - Exercícios Sobre A 'Poética' de Aristóteles PDF
07b - Exercícios Sobre A 'Poética' de Aristóteles PDF
07b - Exercícios Sobre A 'Poética' de Aristóteles PDF
Na atividade anterior (de 16/03/2020), lemos o primeiro capítulo da Poética de Aristóteles e realizamos alguns exercícios
que nos fizeram entender melhor o texto. Os capítulos 2 e 3 continuam discorrendo sobre os modos de imitar a realidade
por meio da arte literária. No capítulo 4, porém, o filósofo se concentra nas origens e nos gêneros da poesia. Vamos,
portanto, aprofundar o conhecimento, lendo esse capítulo e realizando novas atividades.
POÉTICA – Capítulo 4
Origem da poesia. Seus diferentes gêneros.
1. Parece haver duas causas, e ambas devidas à nossa natureza, que deram origem à poesia.
2. A tendência para a imitação é instintiva no homem, desde a infância. Neste ponto distinguem-se os humanos de todos
os outros seres vivos: por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação. Pela imitação adquirimos nossos primeiros
conhecimentos, e nela todos experimentamos prazer.
3. A prova é-nos visivelmente fornecida pelos fatos: objetos reais que não conseguimos olhar sem custo, contemplamo-
-los com satisfação em suas representações mais exatas. Tal é, por exemplo, o caso dos mais repugnantes animais e dos
cadáveres.
4. A causa é que a aquisição de um conhecimento arrebata não só o filósofo, mas todos os seres humanos, mesmo que
não saboreiem tal satisfação durante muito tempo.
5. Os seres humanos sentem prazer em olhar para as imagens que reproduzem objetos. A contemplação delas os instrui,
e os induz a discorrer sobre cada uma, ou a discernir nas imagens as pessoas deste ou daquele sujeito conhecido.
6. Se acontece alguém não ter visto ainda o original, não é a imitação que produz o prazer, mas a perfeita execução, ou
o colorido, ou alguma outra causa do mesmo gênero.
7. Como nos é natural a tendência à imitação, bem como o gosto da harmonia e do ritmo (pois é evidente que os metros
são parte do ritmo), nas primeiras idades os homens mais aptos por natureza para estes exercícios foram aos poucos
criando a poesia, por meio de ensaios improvisados.
8. O gênero poético se dividiu em diferentes espécies, consoante o caráter moral de cada sujeito imitador. Os espíritos
mais propensos à gravidade reproduziram as belas ações e seus realizadores; os espíritos de menor valor voltaram-se
para as pessoas ordinárias a fim de as censurar, do mesmo modo que os primeiros compunham hinos de elogio em
louvor de seus heróis.
9. Dos predecessores de Homero, não podemos citar nenhum poema do gênero cômico, se bem que deve ter havido
muitos.
10. Possuímos, feito por Homero, o Margites e obras análogas deste autor, nas quais o metro iâmbico é o utilizado para
tratar esta espécie de assuntos. Por tal razão, até hoje a comédia é chamada de iambo, visto os autores servirem-se deste
metro para se insultarem uns aos outros.
11. Houve portanto, entre os antigos, poetas heroicos e poetas satíricos.
12. Do mesmo modo que Homero foi sobretudo cantor de assuntos sérios (ele é único, não só porque atingiu o belo,
mas também porque suas imitações pertencem ao gênero dramático), foi também ele o primeiro a traçar as linhas
mestras da comédia, distribuindo sob forma dramática tanto a censura como o ridículo. Com efeito, o Margites apresenta
analogias com o gênero cômico, assim como a Ilíada e a Odisseia são do gênero trágico.
13. Quando surgiram a tragédia e a comédia, os poetas, em função de seus temperamentos individuais, voltaram-se
para uma ou para outra destas formas; uns passaram do iambo à comédia, outros da epopeia à representação das
tragédias, porque estes dois gêneros ultrapassavam os anteriores em importância e consideração.
14. Verificar se a tragédia esgotou já todas as suas formas possíveis, quer a apreciemos em si mesma ou em relação ao
espetáculo, já é outra questão.
15. Em seus primórdios ligada à improvisação, a tragédia (como, aliás, a comédia, aquela procedendo dos autores de
ditirambos, esta dos cantos fálicos, cujo hábito ainda persiste em muitas cidades), a tragédia, dizíamos, evoluiu
naturalmente, pelo desenvolvimento progressivo de tudo que nela se manifestava.
16. De transformação em transformação, o gênero acabou por ganhar uma forma natural e fixa.
17. Com referência ao número de atores: Ésquilo foi o primeiro que o elevou de um a dois, em detrimento do coro, o
qual, em consequência, perdeu uma parte da sua importância; e criou-se o protagonista. Sófocles introduziu um terceiro
ator, dando origem à cenografia.
18. Tendo como ponto de partida as fábulas curtas, de elocução ainda grotesca, a tragédia evoluiu até suprimir de seu
interior o drama satírico; mais tarde, revestiu-se de gravidade e substituiu o metro tetrâmetro (trocaico) pelo trímetro
iâmbico.
19. Até então, empregava-se o tetrâmetro trocaico como o modelo mais adequado ao drama satírico e às danças que o
acompanhavam; quando se organizou o diálogo, este encontrou naturalmente seu metro próprio, já que, de todas as
medidas, a do iambo é a que melhor convém ao diálogo.
20. Prova isto o fato de ser este metro frequente na linguagem usual dos diálogos, ao passo que o emprego do hexâmetro
é raro e ultrapassa o tom habitual do diálogo.
21. Acrescentaram-se depois episódios e outros pormenores, dos quais se diz terem sido embelezamentos.
22. Mas sobre estas questões, basta o que já foi dito, pois seria enfadonho insistir em cada ponto.
ARISTÓTELES. Poética [séc. IV a.C.]. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000005.pdf. Acesso em: 16 mar. 2020.