Wilson Cava PDF
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Wilson Cava1
Celso Augusto dos Santos Gomes2
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
A conduta ética de profissionais que trabalham em órgãos públicos deve ser exemplar.
Pois ética para Lopes (2018) representa uma abordagem sobre as constantes morais, ou um
conjunto de valores e costumes mais ou menos permanentes no tempo e uniforme no espaço. A
moral administrativa é imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as
exigências da instituição a que serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum. Souza (2002)
afirma que, entende-se ética como um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as
relações humanas. Assim, os agentes públicos devem possuir estas características éticas e morais
para poder administrar o bem público e não ser corruptível. Esses princípios devem ter
características universais, precisam ser válidos para todas as pessoas e para sempre.
1
Oficial de carreira combatente, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras – Resende/RJ, Bacharelado em
Ciências Militares 1999, Pós-Graduação em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – Rio
de Janeiro/RJ 2008, Especialização em Base Geopolíticas para formulação Estratégicas pela Escola de Comando e
Estado-Maior – Rio de Janeiro/RJ 2012 . E-mail: cava.wilson@eb.mil.br.
2
Orientador. Doutor em Educação pela UNIMEP e Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela
PUC/SP. E-mail: celso.gomes@unis.edu.br.
A ética na administração e a moralidade administrativa não representam senão uma das
faces da moralidade pública que se sujeita ao controle social, pois a moralidade é
encontrada nos julgamentos que as pessoas fazem sobre a conduta e não na própria
conduta. E tratando-se de moralidade pública, torna-se imperioso reivindicar-se alto grau
de generalidade e autoridade, resultando, então, do julgamento respectivo, em caráter
objetivo e público, não um ato individual e privado. As leis e normas são de caráter
impositivo, tendo o agente público o dever de cumpri-las, e tendo que responder pelo seu
não cumprimento. Já a conduta ética é de caráter pessoal e o agente público tem a
responsabilidade de ser ético, porém sem jamais deixar de respeitar e cumprir o princípio
constitucional da moralidade administrativa (LOPES, 2018).
A ética é a parte da filosofia que trata da reflexão sobre os princípios que fundamentam a
moral. Pode ser entendida como uma teoria filosófica ou científica. De acordo com Bauman
(1997) ética é um código moral que pretende ser o único conjunto de regras de conduta
harmonicamente coerentes ao qual toda pessoa considerada moral deva obedecer. De acordo com
Holanda (2010) a ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana
suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativa à determinada
sociedade, ou seja, de modo absoluto. Para Vázquez (2002) ética é a teoria ou ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade. É um conjunto sistemático de conhecimentos
racionais e objetivos a respeito do comportamento humano moral.
Para melhor compreender a finalidade deste trabalho, a seguir será visto a ética na
administração pública.
Pode ser notado que nas relações entre o homem e o Estado, a apreciação de valores e a
probidade é o principal quesito a ser avaliado. Para tanto a de se considerar no presente estudo o
agente público atuando dentro dos padrões éticos e morais estabelecidos pelo Estado, como grupo
do “bem” e quando o mesmo relega qualquer princípio moral e ético integra o pelotão do “mal”.
Para Melo (2017) com o passar do tempo o homem afastou-se muito de padrões éticos
como a honestidade e a honradez, fazendo com que, ao reverso, se aproximasse de um fenômeno
chamado corrupção. A corrupção certamente é o mal que mais aflige a humanidade neste século e
está associada à fragilidade dos padrões éticos da sociedade, refletida principalmente na ética do
agente público.
Cabe ressaltar que a solução, ao que consta, não depende exclusivamente da edição de
leis e de punições mais rigorosas aos malfeitores, mais sim a que se falar em uma questão
cultural, de mudança de mentalidade, que deve partir do maior interessado: o povo brasileiro.
Segundo Hillesheim (2004) a corrupção certamente é o mal que mais aflige a humanidade neste
século e está associada à fragilidade dos padrões éticos da sociedade, refletida principalmente na
ética do agente público. Neste aspecto, preocupante é a constatação da existência de acentuada
deformação de caráter em muitos dos que ascendem à administração do interesse público. Tal
definhamento, em alguns casos, é legado do próprio agente público e precede à investidura na
função pública. Em outros, no entanto, é fruto direto da interação com um meio contaminado, o
que vem a confirmar elementar regra da natureza.
A Administração Pública está presa ao princípio da legalidade, que, não é um pressuposto,
mas uma determinante essencial. Meirelles (2010, p.82) leciona que na Administração Pública
não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na Administração particular é lícito fazer tudo
que a lei não proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que a lei autoriza.
A Constituição Federal dispõe em seu artigo 37, § 4º que os atos de improbidade
administrativa importarão a suspensão dos direitos públicos, a perda da função pública, à
indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.
Com o intuito de regulamentar e completar o artigo acima citado surge o artigo 12 da Lei
nº 8.429/92, que diz que independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas
na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito as seguintes sanções:
o ressarcimento integral do dano causado à Administração Pública, a perda da função pública, a
suspensão dos direitos políticos, a multa civil, a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente
ao patrimônio e a proibição de contratar com o Poder Público.
Contudo, a lei e a norma reguladora do ato de improbidade administrativa deixam brechas
às quais cabe interpretação jurídica e, assim fica nas mãos dos juízes a punição ou não de agentes
públicos, muitas vezes resultando em injustiças e prejuízos aos cofres públicos.
4 A COMISSÃO DE ÉTICA
A Comissão de ética deve ser a porta de entrada para um bom e eficaz controle social, é
através dela que o cidadão poderá realizar consultas, esclarecer dúvidas e apresentar reclamações
e denúncias sobre o comportamento ético e moral do servidor público.
Os Códigos de ética empresarial não apenas formalizam os compromissos éticos da
empresa, mas também constituem uma importante ferramenta de comunicação desses valores e
práticas para com seus stakeholders. Eles exprimem os princípios que norteiam a atividade da
organização e suas expectativas com relação ao comportamento de seus funcionários e à
qualidade das relações estabelecidas com as partes interessadas. Os Códigos de Ética são a
articulação dos valores que conduzem a conduta empresarial. Cada vez mais as organizações
estão percebendo que podem agregar valor às relações com seus parceiros por meio do Código de
Ética. Dessa forma Queiroz (2008) apresenta que adotar Código de Ética não significa
simplesmente escrever uma série de tópicos como se fossem ordens ou mandamentos e distribuí-
los aos funcionários. É necessário que suas palavras reflitam os valores realmente praticados a
partir dos dirigentes para que seja interiorizado nos demais níveis e não se esquecendo de que
deve haver participação de todos na elaboração do Código, se não, não terá nenhuma eficiência.
As Comissões de Ética são responsáveis por fiscalizar o cumprimento da norma e regras
previstas no Código de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.
O funcionamento deficiente dessas comissões em cada órgão do serviço público vem sendo o
principal desafio para tornar o código efetivo.
Para Bauman (1997) uma crise ética do mundo contemporâneo pode ser descrita como a
discrepância entre excesso de poder e escassez de orientação para utilização desse poder. Tal crise
apresenta dimensões práticas que se referem à magnitude dos poderes individuais e coletivos com
resultados imprevisíveis. A liberdade de escolha conduz a um estado de incerteza que, seguindo o
autor, refletirá em ambiguidade moral. A ética, considerada como código moral, julga os ideais
humanos como um desafio, e a ambivalência dos juízos morais como um desequilíbrio a ser
corrigido. A crise moral então se transforma em crise ética.
Segundo Daft (2006) as ferramentas eficazes para a configuração dos valores éticos em
organizações são: a liderança baseada em valores, a estrutura organizacional e os sistemas da
organização. Assim, Daft define que as lideranças dos níveis hierárquicos superiores são
responsáveis pela criação e manutenção de uma cultura que enfatize cotidianamente a
importância da conduta ética para todos os funcionários. Os Comitês de Ética, constituídos por
um grupo de executivos com a atribuição de supervisionar a ética, e os gerentes com função de
ouvir e analisar as reclamações sobre ética são formas para atribuir responsabilidades por valores
éticos na estrutura da organização. O autor acredita que a promoção do comprometimento ético
em ambiente laboral depende da inserção da ética na cultura da organização. Por isso, os valores
éticos devem ser incorporados às políticas e regras, o Código de Ética divulgado, os incentivos
vinculados ao comportamento ético e a ética deve ser considerada no processo de seleção e
treinamento de funcionários.
Os Códigos de Ética surgem nas organizações com o objetivo de disciplinar a conduta do
empregado e constituir instrumento de punição rápida às transgressões de conduta.
Os Comitês de Ética das organizações têm a finalidade de revisar e adaptar o Código de
Ética, bem como de investigar e propor soluções para os casos de transgressões éticas.
Porém, alguns erros são comuns nesse processo, como a falta de sentido de urgência, o
não envolvimento da alta direção ou apoiar uma equipe para promover mudanças, onde Kotler
(1997) expõe que são erros comuns subestimar o poder da visão corporativa; não transmitir a
visão de mudança; não fomentar o empoderamento; não obter resultados em curto prazo;
satisfazer-se com resultados imediatos sem consolidá-los para criar mais mudanças; não
incorporar as mudanças à cultura da empresa.
Desta forma, as organizações públicas necessitam cada vez pautarem sua gestão de
acordo com seus Códigos de Ética de maneira que seus funcionários alcancem o prescrito no
Código de Ética do Servidor Público do Brasil, como por exemplo, ser probo, reto, leal e justo,
demonstrando toda a integridade do seu caráter.
A conduta ética não é nato do ser humano, deve ser desenvolvida. Muitos cidadãos são
trilhados e forjados eticamente pelos ensinamentos e exemplos de seus pais. Mesmo assim, ainda
que não tenha recebido a educação ética em casa pelos seus pais, também poderia ter aprendido
nas escolas durante o ensino fundamental e médio. Assim, ao chegar à fase adulta, as pessoas
necessitam ter atitudes éticas para assumirem cargos públicos, funções de chefia, entre outros, e
já teriam estes atributos – vistos no item 4 – forjados no seu caráter. Conforme Johann (2009)
cabe à educação a tarefa de imprimir os valores que exigem o compromisso do cuidado da vida e
do planeta em cada recém-chegado e em todos os que por aqui já transitam há mais tempo. A
condição humana, portanto, será desenvolvida pela ação educativa.
A educação realizada nos colégios para crianças e adolescentes é muito importante para
contribuir com o desenvolvimento do caráter dos cidadãos brasileiros. Para Johann (2009) a
educação passa a ser determinada pelo paradigma tecnológico, industrial e mercantilista. Uma
educação a serviço da fabricação, por certo, que clama por princípios éticos a orientá-la para o
seu verdadeiro papel de construtora de um ser humano pleno e de um mundo melhor.
Além disso, para que uma organização tenha sua equipe de trabalho realizando ações que
possuam esses atributos éticos, é necessário que faça trabalhos de educação de modo que os seus
funcionários desenvolvam esses atributos e os assimilem na sua rotina profissional e pessoal.
Esse trabalho de aprendizado e conscientização deve ser constante, como, por exemplo,
realizando palestras semanais ou mensais, instruções e treinamento prático, de modo que todos
massifiquem os conceitos de ética e os adotem como filosofia de vida.
Toda sociedade, por menor que seja e por menos desenvolvida que pareça, possui seus
valores morais, que vão sendo ensinados a seus membros através da família, da escola,
da igreja, dos meios de comunicação de massa. Isso porque eles desempenham um papel
fundamental como elementos reguladores do comportamento das pessoas. Em outras
palavras, como um elemento determinante do tipo de conduta necessária à sociedade.
Logicamente, esses valores não são claramente impostos pelas sociedades. O processo é,
de certa forma, sutil e dá-se lentamente.
Martinez (2009) diz que o bom agente público é o que, usando de sua competência para o
preenchimento das atribuições legais, se determina não só pelos preceitos vigentes, mas também
pela moral comum. Se os primeiros delimitam as fronteiras do lícito e do ilícito, do justo e do
injusto – a segunda espera dele conduta honesta, intrínseca e extrinsecamente conforme a função
realizada por seu intermédio.
Pode-se considerar como limitação o fato do conceito de ética ser muito subjetivo. É um
termo que está relacionado com valores internalizados pelas pessoas e na relação que cada um
tem com si mesmo e com os outros. Não se pode, então, generalizar o que é ética.
Amorim (2000) mostra a importância de se criar uma consciência individual e coletiva
sobre os valores, não exime, entretanto, o Estado de definir instrumentos normativos e
disciplinadores da questão ética no trato da ‘coisa pública’.
O maior teste para a ética é a relação de poder. A ética deve ser mais forte que o poder,
os princípios éticos precisam estar acima das manifestações de poder. A sociedade ideal
sempre se guia pelos valores da ética. A felicidade humana se produz pela ética, e não
pela política. A ética é o reino do Bem. Em síntese, é preciso resgatar a ética como forma
de orientar as relações humanas (SOUZA, 2002).
This work deals some notes on ethics in public administration. The debate on ethics has
gained prominence in today's society, both in personal relationships and in public administration.
Thus, the growing interest of the population in cases such as immorality or impropriety, diversion
of resources or mismanagement of public resources by public agents is notable. Such an approach
is justified by exposing the importance of the ethical conduct of all Brazilian citizens, in all
sectors, whether public or private, and especially by agents of the public administration. The
purpose of this work is to argue about ethics in public administration, showing that ethical
conduct is personal and the public agent has the responsibility to be ethical, without ever failing
to respect and comply with the constitutional principle of administrative morality. This purpose
will be obtained from the bibliographical review and descriptive documentary research of the
legislation that covers the subject. In this way, we tried to provide a diversified set of updated
contributions so that a direction can be given to the considerations on the subject.
Keywords: Ethics. Public administration. Code of Ethical Conduct.
REFERÊNCIAS
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