A Realidade Na Fisica Quantica
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All content following this page was uploaded by Jose Ramalho Croca on 26 January 2015.
J.R. Croca
Departamento de Física
Faculdade de Ciências – Universidade de Lisboa
Campo Grande Ed. C8 1749 016 Lisboa
email: croca@fc.ul.pt
1 Introdução
Por mais estranho que nos possa parecer Niels Bohr e a sua Escola foram capazes de
elaborar, dentro deste paradigma indeterminista, uma teoria física dotada de elevado
rigor matemático capaz de prever os resultados de milhares de experiências com uma
grande precisão. Apenas ultimamente surgiram situações, muito especiais, que estão
para além da sua capacidade de previsão desta teoria indeterminista.
Por um lado tinham de ser susceptíveis de localização espacial pontual e, por outro, lado
tinham de ser extensas.
A conclusão a tirar da experiência é que o electrão, essa estranha entidade quântica, pelo
facto de dar origem a uma figura interferencial tem que ter propriedades ondulatórias,
quer dizer, propriedades extensas, tendo que passar ao mesmo tempo pelas duas fendas.
Assim para dar conta dos resultados experimentais, naturalmente com as duas fendas
abertas, somos confrontados com dois resultados aparentemente contraditórios.
Este paradigma indeterminista, ao explicar a experiência das duas fendas vai assumir
que a entidade quântica, a que nós chamamos electrão, não possui uma existência
objectiva antes da medida, antes da observação. Antes de qualquer medida tudo o que
existe é um conjunto de potencialidades, no caso da presente experiência, de onda ou
de corpúsculo. Nestas condições ao chegar ao ecrã com as duas fendas a entidade
quântica ao passar pelas duas fendas, ao mesmo tempo, manifesta o seu carácter
potencial de extensão, quer dizer o aspecto ondulatório dando origem a duas ondas
Palestra proferida no Colóquio A Mente a Religião e a Ciência na Universidade de Lisboa em 30 de
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potenciais que se propagam e que consequentemente vão interferir potencialmente.
Quando no alvo detector vai aparecer um único ponto que corresponde à manifestação,
à materialização do aspecto potencial corpuscular do electrão. Naturalmente, ao fim de
um número suficiente de detecções, correspondentes cada uma à chegada de um
electrão, no alvo detector surge a figura de interferências. Portanto, consoante as
circunstancias, a entidade quântica, a que chamamos electrão, ora manifesta a sua
característica potencial de onda ora o seu carácter potencial de localização, de partícula.
Nunca podendo as duas características de existência potencial se manifestar
simultaneamente.
A ideia que está por trás da experiência das duas fendas, onde o sistema quântico tem
apenas duas hipóteses, de passar pela fenda debaixo ou pela de cima, pode ser
generalizada a mais de duas possibilidades conduzindo ao conceito de medida em
mecânica quântica. Esta situação encontra-se ilustrada na figura seguinte, Fig.3, que
representa o cão quântico.
A Figura 3 representa um cão que se desloca por um certo percurso até que encontra
uma rotunda de onde derivam cinco caminhos. Em linha de principio o cão pode seguir
por qualquer destes caminhos. No entanto, de acordo com a interpretação ortodoxa, o
cão vai ter de seguir por todos os caminhos possíveis. Como não há nenhum cão real
que possa seguir simultaneamente por cinco caminhos segue-se que o cão perde a sua
realidade física objectiva e tornando-se assim num cão potencial. Um estranho cão
quântico seguindo potencialmente por cada um dos caminhos possíveis. Se afirmasse-
mos que cão mantinha a sua realidade e que portanto seguia unicamente por um dos
caminhos disponíveis então estaríamos na mesma situação da experiência das duas
fendas dizendo que, o sistema quântico, o electrão tinha passado por uma fenda ou pela
outra. Neste caso seriamos obrigados a rejeitar o carácter extenso dos sistemas quântico
e, então, não seriamos capazes de explicar as interferências que se observam
experimentalmente!
Na sua progressão o sistema quântico encontra um ecrã com um orifício que atravessa
indo posteriormente manifestar o seu aspecto extenso dando origem a uma onda
esférica. Na sua propagação esta onda encontra um pequeno detector D1 onde poderá
eventualmente ser detectado ao fim de um certo tempo t1. Se o fotão activar este
detector um observador colocado fora do sistema observa uma luz acender. No caso do
fotão não ser detectado no primeiro pequeno detector, ele prosseguirá a sua marcha
sendo, mais tarde, detectado no detector semiesférico D2 colocado bastante longe do
primeiro. Tal como na experiência das duas fendas e do gato de Schrödinger, antes da
medida o fotão tem duas hipóteses, uma de ser detectado no primeiro detector D1, outra
de ser visto no segundo detector D2. Portanto o fotão inicial transforma-se em dois
fotões potenciais correspondentes aos trajectos possíveis.
Consideremos a situação em que a luz ligada ao pequeno detector foi acesa. Neste caso
concluímos que o fotão chegou a D1, então a possibilidade dele chegar, mais tarde, ao
detector gigante, transforma-se em zero. Quer dizer as duas possibilidades iniciais
modificaram-se para uma única devido, tal como anteriormente, a uma interacção física
observável do fotão com o detector.
Nesta medida, muito especial, o colapso das múltiplas probabilidades deu-se, como
vimos, contrariamente com o que sucedia anteriormente sem que houvesse qualquer
interacção física com o sistema. Esta situação levou os físicos ortodoxos a afirmar que o
colapso da função de onda, a redução das múltiplas possibilidades não é, em última
análise, devida a uma interacção física mas sim obra da consciência do observador. Este
ao tomar consciência da não interacção, do fotão com o primeiro detector, reduz as duas
potencialidades a uma só realidade objectiva.
Assim, de acordo com estes autores, se o mundo tem realidades objectiva, independente
de nós observadores humanos parciais e limitados deve-se ao facto de que existe uma
CONSCIÊNCIA UNIVERSAL – DEUS que ao observar todas as múltiplas
potencialidades de existência torna real aquela de que nós, simples mortais, nos damos
conta. Nesta perspectiva Deus é o único garante da Realidade objectiva do mundo.
Vejamos agora brevemente como foi possível construir um modelo físico e matemático
coerente capaz de integrar esta epistemologia que nega a realidade objectiva da
natureza.
Para conseguir tal fim Niels Bohr vai partir do princípio de que Tudo é constituído por
vibrações, por ondas. Estas ondas são ondas harmónicas infinitas no espaço e no tempo.
Quer dizer, pela sua própria natureza ocupam todo o espaço e existem desde sempre e
continuarão a existir para sempre.
Por outro lado define, ainda, duas regras uma de natureza física outra matemática, a
saber:
Como corolário natural da última regra segue-se, neste modelo, que cada onda finita,
sendo constituída por muitas ondas infinitas, tem necessariamente tantas energias
quantas as das ondas infinitas constituintes. Como uma partícula física é localizada
segue-se que tem de ser formada por muitas ondas infinitas cada uma com a sua energia
bem definida. Assim a partícula teria, simultaneamente uma multiplicidade de energias.
Ora como as partículas observadas tem uma energia bem definida segue-se que antes da
medida as partículas, e por conseguinte todos os sistemas quânticos, não podem ter
Assim com a introdução destas ondas Bohr consegue de modo natural a extensão. Para
obter a localização não tem mais que fazer senão somar as diversas vibrações infinitas.
Naturalmente que o preço a pagar é a negação da realidade objectiva.
Estas ondas ao sobreporem-se vão interferir dando origem a uma interferência com
uma região relativamente localizada. Pela judiciosa combinação de mais ondas pode,
em princípio, conseguir-se uma localização tão boa quanto queiramos.
Neste paradigma as estruturas localizadas não são mais, como vimos, composições de
ondas harmónicas infinitas que preenchem todo o espaço e tempo.
Neste contexto, consideremos dois objectos que à primeira vista parecem afastados um
do outro. Uma vez que afinal são constituídos pelas mesmas ondas não são, na
realidade, mais que manifestações da mesma entidade subjacente. Qualquer acção
praticada num dos objectos tem implicações instantâneas no outro. Esta acção traduz-se,
em última análise, pela modificação da forma de combinação das ondas constituintes.
Segundo Niels Bohr, com o advento da nova física o homo quanticus ao transcender os
conceitos de espaço e de tempo consegue adquirir assim o atributo da omnipresença, até
então apenas apanágio de Deus.
No entanto, uma vez que tal combate foi sempre efectuado aceitando os pontos de
partida de Niels Bohr no que diz respeito à aceitação do paradigma de Fourier, estes
autores não tinham, na realidade, qualquer hipótese de fugir ao ciclo vicioso da não
localidade intrínseca que é inerente àquela estrutura formal. Tal como um automobilista
quando, por motivos alheios à sua vontade, se vê subitamente numa auto-estrada
seguindo no sentido contrária àquela que quer, sem qualquer hipótese de voltar para
trás. Só depois de caminhar vários quilómetros, por vezes muitos, alcança o primeiro nó
de saída onde tem possibilidade de sair, fazer inversão de marcha, e seguir então na
direcção desejada.
Do esforço destes homens e dos seus seguidores, que jamais abdicaram da causalidade,
resultou presentemente a possibilidade de recuperar em termos cientificamente sólidos a
existência de uma Realidade objectiva independente do observador.
Foi assim possível elaborar uma nova teoria causal e local mais geral que a mecânica
quântica ortodoxa indeterminista.
Esta nova teoria contém, naturalmente, formalmente como caso particular a teoria
quântica borheana.
A diferença dos dois modelos resulta sobretudo do facto que estas novas ondas em vez
de serem necessariamente infinitas são agora finitas e de extensão variável. A cada uma
destas ondas finitas é atribuída uma energia bem determinada em oposição ao
paradigma de Fourier. Estas hipóteses de partida estão perfeitamente de acordo com
aquilo que nós observamos no nosso dia a dia. Nunca ninguém observou uma vibração
infinita no espaço e no tempo!
Ondas
Finitas
Onduletas
Ondas
Infinitas
Fourier
Como se pode observar a combinação de várias ondas finitas ou infinitas vai gerar,
devido à interferência, duas regiões representando duas partículas. Consideremos o caso
em que uma destas partículas se mantém fixa e que apenas a outra se move. Em termos
de ondas infinitas de Fourier as duas partículas são, na verdade, a mesma entidade pois
são constituídas pelas mesmas ondas. Assim uma modificação na posição de uma
partícula implica a alteração de todas as ondas, em todo o espaço e todo o tempo, para
que a sobreposição, a interferência, das ondas seja agora construtiva na nova região. No
caso das ondas finitas, como cada partícula é constituída por um grupo onduletas finitas
independentes, a modificação da posição de uma partícula em nada afecta a outra.
Apenas o grupo de onduletas afectas à partícula que se deslocou é afectado. Esta
Palestra proferida no Colóquio A Mente a Religião e a Ciência na Universidade de Lisboa em 30 de
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consequência resulta do facto do grupo de ondas finitas que a constituem uma partícula
ser, como vimos, independentes do grupo das onduletas que formam a outra partícula.
Vejamos a título de exemplo como neste contesto da nova mecânica causal mais geral
como a experiência das duas fendas é perfeitamente compreendida sem ser necessário
rejeitarmos a existência de uma realidade objectiva.
A Figura 8 representa o esquema da experiência das duas fendas vista à luz da teoria
causal. A partícula quântica, emitida pela fonte, é constituída por uma parte extensa a
onda, que tem a possibilidade de passar simultaneamente pelas duas fendas, dando
origem a duas ondas. A singularidade seguindo numa das ondas, ou passa por uma
fenda ou por outra. Ao propagarem-se as duas ondas vão sobrepor-se dando assim
origem às interferências observadas. Como se pode observar, deste modo bastante
simples e intuitivo, é possível resolver, sem qualquer necessidade negar a existência de
uma realidade objectiva, a aparente contradição da partícula quântica ter que passar
simultaneamente pelas duas fendas e ao mesmo tempo passar por uma ou por outra. A
onda passa por uma fenda e por outra simultaneamente, a singularidade, essa passa por
uma ou por outra.
Palestra proferida no Colóquio A Mente a Religião e a Ciência na Universidade de Lisboa em 30 10
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Esta moderna teoria mais geral que recupera a existência da realidade objectiva da
Natureza, permite explicar em termos causais a contradições e os impasses resultantes
da utilização da mecânica quântica ortodoxa indeterminista. Por outro lado, como já se
fez referência, convém ainda salientar que foram recentemente postas em evidência
situações experimentais muito especiais que escapam ao âmbito de descrição da teoria
indeterminista de Niels Bohr. Estes resultados experimentais são perfeitamente
explicadas no universo da nova mecânica quântica não linear e causal.
Algumas referências:
J.R. Croca, Beyond Non-Causal Quantum Physics, Chapter of the Book in Modern
Nonlinear Optics, Part 2, Second Edition, Edited by Myron Evans. Series Editors I.
Prigogine and Stuart Rice. Evans, (John Wiley & Sons, New York 2002)