Lucia Loureiro Colonias Espirituais

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Colônias Espirituais

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Colônias Espirituais

COLÔNIAS ESPIRITUAIS

Lucia Loureiro

Editora Mnêmio Túlio


São Paulo
1995

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Colônias Espirituais

Referências e apresentação da Obra

Colônias Espirituais é um livro de pesquisa, fruto de paciente, dedicado e cuidadoso


trabalho de Lúcia Loureiro. Vem preencher uma lacuna na literatura espírita.
A quantos desejarem conhecer a vida nas colônias espirituais, este livro servirá de roteiro de
conhecimentos a respeito do assunto.
Em seus quatorze capítulos, a autora, em estilo agradável, nos fala e nos desperta interesse
por questões como: Origem das Colônias Espirituais, Vestimenta e Alimentação dos Espíritos,
Comunicação dos Espíritos, Sexo dos Espíritos, Religião no Mundo Espiritual, e nos esclarece sobre
outras imagens e dúvidas, por vezes distorcidas, da vida nas Colônias Espirituais.
Lucia Loureiro é segura, minuciosa e concisa em seu trabalho. A rica bibliografia, parte
integrante do livro, nos dá uma visão da sua dedicação e paciente pesquisa.
A Editora

A obra é encantadora – estrutura perfeita, capítulos riquíssimos de preciosas informações


que esgotam o assunto, estilo sonoro e suave. Seu livro merece ser publicado em outros países.
J. Rizzini

Individualmente, seu livro para mim, é um dos melhores que tenho lido ultimamente. Estilo
claro, objetivo, linguagem fluida e comunicativa, trabalho sério de pesquisa, com respeitáveis
fontes bibliográficas, requisitos que colocam seu livro no alto pedestal da literatura espírita.
Domério de Oliveira

Dedicatória

Colônias Espirituais

… É dedicado aos espíritos:

― Waldemar e Clenita, que me deram a oportunidade de mais uma


encarnação; e

― Carlos Bernardo, Sandra Maria e Marcelo Adriano, que têm


compartilhado comigo esta experiência de vida.

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Colônias Espirituais

Índice
Referências e apresentação da Obra ................................................................................................ 3
Dedicatória ...................................................................................................................................... 3
Índice............................................................................................................................................... 4
Créditos ........................................................................................................................................... 5
Apresentação................................................................................................................................... 6
I. Introdução .................................................................................................................................... 9
II. Histórico das Colônias Espirituais ............................................................................................... 10
Os Egípcios e suas ideias sobre uma outra Vida ...................................................11
Zoroastro: o fundador do Zoroastrismo ...............................................................12
Sócrates e Platão: precursores do cristianismo e do espiritismo ..........................13
Jesus: O Cristo .....................................................................................................14
Dante Alighieri: O visionário ................................................................................14
Emmanuel Swedenborg: Um dos teósofos do culto ao oculto ..............................15
Allan Kardec: o codificador da Doutrina Espírita...................................................16
Obras complementares do Espiritismo ................................................................19
III. Origem das Colônias Espirituais ................................................................................................. 20
IV. Situação do Espírito Desencarnado ........................................................................................... 22
Sensações nos espíritos errantes .........................................................................27
Alimentação dos Espíritos ....................................................................................27
Vida Sexual dos Espíritos .....................................................................................31
Sentimentos e Emoções nos espíritos desencarnados ..........................................33
V. Construtores do Mundo Invisível ............................................................................................... 35
Laboratório do Universo ......................................................................................37
As Vestimentas dos Espíritos ...............................................................................37
Arquitetura das Cidades Espíritas ........................................................................39
VI. Organização Social, Política e Administrativa das Cidades Espirituais ........................................ 42
Estratificação Social da População das Colônias Espirituais ..................................43
Instituições de Direito Público e Privado das Colônias Espirituais .........................43
Órgãos e Funções de Administração nas Cidades Espirituais ................................47
O Trabalho nas Colônias Espirituais .....................................................................49
Educação, Instrução e Lazer no Mundo Espiritual ................................................52
A Arte dos Espíritos .............................................................................................55
VII. A Justiça na Espiritualidade ...................................................................................................... 59
Código Penal da Vida Futura ................................................................................59
Bens e Direito das Coisas no Mundo dos Espíritos. ...............................................60
VIII. Sistema Previdenciário dos Habitantes do Além ...................................................................... 62
Assistência Médica Espiritual ...............................................................................62
Serviço Social das Colônias Espirituais..................................................................63
Comunicação e Linguagem entre os Espíritos Desencarnados ..............................63
X. Sistema de Transporte no Mundo Espiritual ............................................................................... 65
XI. Ecologia dos Mundos Transitórios ............................................................................................. 66
XII. Práticas Religiosas dos Espíritos Errantes.................................................................................. 70
XIII. Conclusão ............................................................................................................................... 72
XIV. Bibliografia ............................................................................................................................. 76
Livros, por título, citados pela Autora: .................................................................76
Bibliografia Básica para Estudo sobre as Colônias Espirituais ...............................77
Notas Explicativas ................................................................................................79
Sobre a Autora ............................................................................................................................... 80

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Colônias Espirituais

Créditos

Autora: Lúcia Loureiro


Colônias Espirituais
© Copyright, 1995:

Editora Mnêmio Túlio


Capa: Issao Hashizume
Rua Dr. Carneiro Malta, 100, tel. 011-577.76338 São Paulo SP Brasil
Planejamento gráfico e revisão: Luiz Carlos Pasqua
Os direitos autorais serão aplicados na difusão do livro e teatro espíritas.

FICHA CATALOGRÁFICA DA EDITORA


LOUREIRO, LÚCIA
Colônias Espirituais — Editora Mnêmio Túlio,
1ª Edição, 160 páginas, 5.000 exemplares — 1995.
Impresso no Brasil — Presita en Brasilo

Conversão Digital 2019


Digitalização e PDF: web. Atendido o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa na revisão, cujas eventuais
observações estão em Notas (N.R.). e-Book sem fins lucrativos visando deficientes visuais; se não o for,
considere comprar um original e doá-lo a uma biblioteca.

O texto e PDF deste e-Book há tempos circula na Web; contudo, promove acréscimos ao livro de 1995 e
suprime sua ficha catalográfica, todas as Notas de Rodapé, e a bibliografia que fundamentou o trabalho da
Autora (como a própria diz) … — Isto se corrigiu nesta versão, para restaurar a credibilidade da obra junto a
quem lê ou estuda.

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Apresentação

Caro Leitor,

Convidado a fazer a apresentação desta obra, fui tomado, de imediato, por uma grande
satisfação, não só pela amizade pessoal, que tenho pela autora, mas, também, pelo fascínio do
tema.

Esta obra é mais um excelente trabalho de pesquisa bibliográfica que Lúcia Loureiro coloca
para o deleite de todos.

Trabalho inédito no campo da investigação dos escritos mediúnicos brasileiros e


estrangeiros, Lúcia Loureiro logrou êxito quando fez a intercessão de informações alusivas ao que
se tem escrito e psicografado, em muitas obras, acerca das Colônias Espirituais.

Os fatos são colocados como estão em suas respectivas fontes, sem, contudo, propor uma
linha de convencimento a quem compulsar este delicioso compêndio informativo

O leitor atento fará suas ilações e consequentes conclusões a respeito de tema tão
controvertido quanto apaixonante.

E surpreendente o avanço do interesse humano acerca da realidade post mortem. Por toda
parte, surgem filmes e peças, livros e revistas, que versam sobre as moradas do Além com sua
Constituição Político-Administrativa, sua arquitetura, suas paisagens, as formas de alimentação
dos Espíritos e suas vestimentas.

Colônias Espirituais, então, haverá de lhe proporcionar uma viagem espetacular, em uma só
obra, por tudo que se tem escrito e psicografado sobre as diversas moradas da Casa do Pai.

Assim sendo: Boa Viagem! ...

do amigo
José Medrado

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Introdução

Nota: Esta ‘introdução’ Inexiste no original.1

Para algumas pessoas pode parecer estranho eu estar apresentando um pouco da nossa
história doutrinária, porém quem abraça o discipulado de Jesus não pode fugir ao testemunho.

Assim é que movimentamos companheiros, para que se tornem conhecidas, em nossa cidade
terrestre, as CONSTRUÇÕES ESPIRITUAIS que nos servem de base, para a realização das tarefas
iniciadas.

Amigos, a transformação anunciada pelo Apocalipse está chegando, porém não esperemos
que esta modificação se faça, através de decretos ou movimentos revolucionários, pois, para o
Planeta se transformar, é preciso que se concretize primeiro a REEDUCAÇÃO DO SER HUMANO.

É do coração do homem que vai sair o movimento libertador das consciências; por
conseguinte, aquele que se torna verdadeiramente cristão, automaticamente vai cristianizando os
que com ele convivem.

A necessidade de uma real confraternização deve ser baseada no respeito mútuo, porque só
se respeitarmos o semelhante é que seremos respeitados, e só assim estaremos estruturação uma
base sólida para a vivência cristã, baseando os nossos atos no amor ao próximo como a nós
mesmos.

A criatura que não se respeita, nem se ama, não saberá amar nem o próximo, nem o mundo
em que vive, porquanto, quem não ama o seu semelhante jamais amará o Criador.

Quando, na década de 40, tivemos o primeiro contato com o dr. Bezerra de Menezes, através
da mediunidade da sra. N. A., ele nos asseverou que:

"No mundo, o Brasil; no Brasil, esta terra que tem o nome do grande Apóstolo, e aqui, esta
nossa Casa (Federação Espírita do Estado de São Paulo), que será um farol a iluminar a
Humanidade".

Mas, para que a nossa Casa crescesse, precisávamos de proteção e orientação; por isto,
permitiu o Divino Mestre que as Grandes Fraternidades trouxessem consigo um grande
contingente de trabalhadores, para que, realmente, o nosso Brasil se tornasse a "Pátria do
Evangelho",

Foram necessárias muitas experiências, a fim de que se comprovasse a existência desses


beneméritos companheiros espirituais. E quando, por ocasião da nossa desencarnação,
pensávamos que a nossa tarefa dentro do Espiritismo Evangélico estivesse terminando, eis que
somos convocados a retomar a luta, servindo-nos de companheiros encarnados.

1 Referência ao livro de 1995 (ver Créditos) usado na revisão textual; embora vença a análise racional (razão de ser
mantido), não se conseguiu aferir a sua consistência. A médium, falecida em 2014, integrava a Federação Espírita do
Estado de São Paulo – FEESP e o Grupo Noel Vila Mariana), ambos em São Paulo/SP (N.R.)
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Muitas foram as experimentações no campo da mediunidade, para que a luz da Verdade


continuasse brilhando na Casa que acolheu esses grupos fraternais, a fim de que, continuando
juntos como operários do Bem, pudéssemos, realmente, edificar, na Terra, o Reinado do Amor
inspirados no exemplo do Mestre por nós escolhido.

Alguns dos adjetivos com que me qualificaram talvez tenham sido ditados pela gratidão de
alguém que conosco tomou parte nessas experimentações. No entanto, não vejam neste
testemunho o trabalho do uma única pessoa; vejam, isto sim, o esforço conjunto de companheiros
encarnados e desencarnados, demonstrando que só a fidelidade e a convivência fraternal é que
poderão continuar trazendo à Terra notícias das nossas construções espirituais nos diversos
Planos da Crosta Terrestre.

Que o Nosso Divino Mestre Jesus continue conquistando novos discípulos, é o que lhes deseja
o amigo fiel

EDGARD ARMOND
(Psicografia da médium Martha Gallego Thomaz)

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I. Introdução

Inicialmente, devemos saber qual o significado da palavra colônia em nossos dicionários. Eis
algumas definições:

— Conjunto de indivíduos da mesma nacionalidade que se estabelecem em local estrangeiro


(Novíssima Enciclopédia DELTA LAROUSSE — vol. 2 — Ed. Delta);

— Conjunto de indivíduos que deixaram a pátria para se estabelecerem noutro país


(Enciclopédia e Dicionário Internacional — vol. V — W. M. Jackson, Inc);

— Grupo de imigrantes que se estabelecem em terra estranha (Dicionário Escolar da Língua


Portuguesa — MEC).

Colônias Espirituais, também chamadas de Comunidades Espirituais, Cidades Espirituais ou


Mundos Transitórios, são locais onde grupos de espíritos errantes (ou desencarnados) se
estabelecem, transitoriamente, enquanto aguardam novas encarnações. Esses locais, porém, não
possuem uma rigidez geográfica como acontece nas colônias dos vivos (ou encarnados); estão, na
verdade, mais ou menos próximos da Terra, segundo o grau de evolução dos seus componentes.

O que rege a formação das Colônias Espirituais é a Lei de Afinidade. Cada um de nós, após
a desencarnação, irá para uma esfera que adapte à sua condição moral.

De acordo com as informações que os espíritos edificadores deram a Allan Kardec a respeito
da erraticidade, não somente espíritos inferiores nela permanecem. Espíritos superiores também
aí se encontram em processo de estudos ou aguardando oportunidade de encarnações em outros
mundos, Allan Kardec e os espíritos que o assessoraram tratam deste assunto nas perguntas 233
e 234 de O Livro dos Espíritos (Capítulo VI, título Vida Espírita) — e respectivas respostas:
P. Os espíritos já purificados vão aos mundos inferiores?
R. Eles vão frequentemente para ajudar o seu progresso; sem isso esses mundos estariam
entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.
P. Como ficou dito, existem mundos que servem aos espíritos errantes como estações e locais de
repouso?
R. Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes e nos quais podem habitar
temporariamente: espécies de acampamentos, de campos para se repousar de uma longa
erraticidade, estado sempre um pouco penoso. São posições intermediárias entre os outros mundos,
graduados de acordo com a natureza dos espíritos que podem alcançá-los e que neles gozam de um
bem-estar maior ou menor.

Sobre os agrupamentos de desencarnados no Mundo Espiritual, encontramos, na resposta à


pergunta nº 278 de O Livro dos Espíritos, os seguintes esclarecimentos:
P. Os espíritos das diferentes ordens estão misturados?
R. Sim e não; quer dizer, eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Eles se evitam ou se
aproximam, segundo a analogia ou a antipatia de seus sentimentos, como acontece entre nós. É todo
um mundo do qual o vosso é o reflexo obscuro. Os espíritos da mesma categoria reúnem-se por uma
espécie de afinidade e formam os grupos ou famílias de espíritos unidos pela simpatia e pelo objetivo
a que se propuseram: os bons, pelo desejo de fazerem o bem; os maus, pelo desejo de fazerem o mal,
pela vergonha das suas faltas e pela necessidade de se encontrarem entre os que se lhes assemelham.

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Tal uma grande cidade, onde os homens de todas as categorias e de todas as condições se veem e se
encontram sem se confundirem; onde as sociedades se formam pela analogia de gostos; onde o vício
e a virtude convivem sem dizerem-se nada.

As Colônias Espirituais são de diversos tipos. Por exemplo, existem as socorristas, criadas
com o objetivo de atender e amparar os desencarnados de alguma forma presos aos males do
corpo físico ou aos problemas terrenos; as correcionais, para atendimento aos suicidas, aos
toxicômanos e aos pervertidos sexuais; as de estudo e de desenvolvimento das artes, e muitas
outras.

A desencarnação não transforma demônios em santos, mesmo que aquela se dê da maneira


mais trágica ou sofrida. Os espíritos que se compraziam no Mal quando estavam encarnados
continuarão vibrando em faixas inferiores quando desencarnarem. De acordo com as diversas
mensagens espirituais que nos têm chegado através de diferentes médiuns, essa categoria de
espíritos atrasados se organiza no submundo, formando suas Colônias, com o firme propósito de
combater as forças do Bem, desequilibrar a Humanidade e alimentar suas perversões.

Nos planos espirituais mais próximos à crosta terrestre, as sociedades humanas


desencarnadas, na sua maioria, permanecem intimamente ligadas aos interesses materiais. Uma
outra parcela menor, mesmo muito distante da perfeição, mas já tocada por talentos sentimentais,
dedica-se às tarefas de auxílio aos que ficaram no Planeta ou aos desencarnados, como forma de
aprimoramento.

II. Histórico das Colônias Espirituais

A revelação sobre a existência das Colônias Espirituais e de sua organização tem sido
constante e progressiva. O homem sempre procurou desvendar os mistérios do Além. Para onde
vão as almas depois da morte? Tudo se acaba no túmulo? Os mortos ressuscitarão para o Juízo
Final? O mundo acabará um dia? E as diversas religiões tentam dar respostas, mas estas não
satisfazem os anseios da Humanidade.

Os povos primitivos, em geral, mesmo os mais atrasados, consideravam a morte como uma
passagem a outro estágio2.

Na América, o culto dos mortos era pomposo. Os parentes e amigos acompanhavam o


cadáver, colocando-lhe, sobre a sepultura, as coisas de que, achavam, o morto teria mais
necessidade no outro mundo, como, por exemplo, alimentos, armas, adornos etc., para que o

2 Na obra, o termo “estádio” é empregado várias vezes que, como substantivo masculino significa campo com
instalações esportivas; mas não há erro, porque também pode significar no modo figurativo, fase, época ou período
de processo, entretanto raramente se utiliza essa palavra com esse sentido; assim, pedindo perdão, alteramos todos
para estágio buscando alinhar com o conceito que a autora quis transmitira, referindo-se a evolução, a uma fase
transitória (N.R.)
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espírito, segundo acreditavam, não sentisse falta de coisa nenhuma durante a longa viagem. Neste
particular, seu rito assemelhava-se ao egípcio.

Os ameríndios tinham grande respeito aos mortos, acreditando que deles dependiam as
atribulações ou alegrias da comunidade. Os tupis-guaranis sabiam que os espíritos feridos em seu
amor-próprio podiam trazer à tribo toda sorte de calamidades. No México, os espíritos são
cercados de especiais cuidados entre os tarahumaras. Em Monografia de los Tarahumaras, do
ilustrado antropólogo mexicano Carlos Bassauri, há uma referência às suas tradições:
Existe grande temor pelos mortos, pois ainda que não voltem na forma indicada, podem causar
malefícios, enfermidades etc., para fazer que seus familiares ou amigos morram também e se reúnam
a eles. Por esse motivo, geralmente os familiares abandonam a casa em que ocorreu a morte e, em
certas ocasiões, até a destroem.
Quando morre um índio, apresenta-se o cueruame (médico ou feiticeiro) e dirige a palavra "ao
espírito, recomendando-lhe que siga, tranquilamente, seu caminho e não volte a incomodar os que ainda
permanecem na Terra, prometendo-lhe que o vão prover de tudo quanto é necessário para a viagem ao
céu".

Em conclusão, os romanos, os chineses, os gregos, os sabinos, os quíchuas, os aymaras, todos


os povos da Antiguidade, rendiam culto aos seus mortos. E, portanto, a crença na imortalidade da
alma e na existência de um Mundo Espiritual uma ideia universal.

Os Egípcios e suas ideias sobre uma outra Vida

A crença na sobrevivência do espírito e no Mundo Espiritual desempenhou importante papel


na cultura dos egípcios. As ideias deste povo sobre a vida após a morte atingiram seu completo
desenvolvimento no período final do Médio Império (2.100 a.C. -1.788 a.C.), antes que a corrupção
do clero e a superstição levassem a religião egípcia à degradação.

A concepção dos egípcios sobre a vida além-túmulo passou por diversas fases, até atingir seu
nível mais elevado.

A princípio, pensava-se que o morto continuasse sua existência na tumba e, para assegurar-
lhe a imortalidade, o corpo tinha de contar com uma provisão de alimentos e de outras coisas
essenciais à vida. Homens ricos deixavam largas doações aos sacerdotes, a fim de que estes se
encarregassem de fornecer sustento às múmias, enquanto durassem esses fundos.

Com o amadurecimento da Teologia, foi adotada uma concepção menos ingênua da vida
extraterrena. Acreditava-se, então, que os mortos deveriam comparecer diante de Osíris3 e serem
julgados de acordo com suas ações na Terra. O processo desse julgamento compreenderia três
estágios. No primeiro, exigia-se que o morto declarasse que era inocente de 42 pecados, entre os
quais, do homicídio, do furto, da mentira, da cobiça, do adultério, da blasfêmia, da ira, do orgulho
e da desonestidade em transações comerciais.

Após desonerar-se destes pecados, o morto, como segundo estágio, deveria enumerar suas
virtudes: que dera pão aos famintos, água aos sedentos, vestira os despidos e dera condução a
quem não possuía barco. No terceiro e último estágio, o coração do réu era colocado numa balança

3 Osiris: Deus dos egípcios, dispensador da imortalidade e juiz dos mortos.


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em face de uma pena, símbolo da verdade, para examinar a exatidão do que afirmara, pois, de
acordo com a concepção egípcia, o coração representava a consciência, que denunciaria o falso
testemunho.

Assim, todos os mortos que passassem por essas provas seriam encaminhados a um reino
celestial de gozos físicos e prazeres simples. Aí, em regiões alagadiças, cheias de lótus e nenúfares,
caçariam gansos selvagens e os abateriam com interminável sucesso. Ou, então, construiriam
casas no meio de pomares com frutos deliciosos, em safras sempre abundantes. Navegariam em
lagos repletos de lírios e se banhariam em lagoas de água brilhante.

Encontrariam, também, florestas habitadas por pássaros canoros e, por toda parte, criaturas
gentis.

Por outro lado, os infelizes cujos corações revelassem vidas viciosas eram condenados à
fome e à sede perpétuas, num lugar escuro, para sempre privados da gloriosa luz de Re4.

Zoroastro: o fundador do Zoroastrismo

O Zoroastrismo, religião dos persas fundada por Zoroastro5, cujas raízes remontam ao
século XV a. C., esboçou uma noção vaga da vida além-túmulo, deturpada pelas ideias de
ressurreição, juízo final e fim de mundo. Pregava a imortalidade da alma, mas dizia, erroneamente,
que, no fim do mundo, os mortos se ergueriam das tumbas para serem julgados, segundo seus
merecimentos. Os justos entrariam no gozo imediato da bem-aventurança, enquanto os maus
seriam lançados às chamas do inferno; porém, no fim, todos se salvariam, pois, o inferno persa não
durava para sempre.

O Zoroastrismo era uma religião ética. Paradoxalmente à ideia mística de predestinação, de


que alguns foram eleitos desde o começo dos tempos para serem salvos, em sua essência
permanecia a convicção de que o Homem possuía o livre-arbítrio, de que era livre para praticar
atos bons ou maus. De acordo com a sua conduta na Terra, seria recompensado ou punido na vida
futura.

A religião zoroástrica condenava o orgulho, a gula, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o


adultério, o aborto, a calúnia, a dissipação, o ascetismo, o acúmulo de riqueza e a prática da
agiotagem com alguém da mesma religião.

O Zoroastrismo tem significado especial por ser, talvez, a primeira religião revelada no
mundo ocidental. O seu preceito áureo consistia no seguinte: Só é bom aquele que não faz a outro
o que não for bom para si mesmo.

Apesar de todas as suas falhas, o Zoroastrismo preparou o Homem para o Cristianismo


através, principalmente, de seus conceitos da outra vida, do conflito entre o Bem e o Mal e outros
mais.

4 Re: deus dos vivos, defensor do bem e do mundo.


5 Zoroastro é uma corruptela grega do nome persa Zaratustra.
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Colônias Espirituais

Sócrates e Platão: precursores do cristianismo e do espiritismo

Sócrates nasceu em Atenas, em 469 a.C., de família humilde, sendo seu pai um escultor e sua
mãe, uma parteira. Tornou-se filósofo por sua própria conta e logo arregimentou um grande
número de admiradores, entre os quais se incluía o jovem aristocrata Platão.

Sócrates nada escreveu. O que sabemos de seus ensinamentos devemos ao seu mais famoso
discípulo: Platão.

Platão nasceu em Atenas, em 427 a.C., filho de pais nobres. Seu verdadeiro nome era
Aristócles, sendo Platão um apelido dado, segundo se supõe, por um dos seus mestres, por causa
dos seus ombros largos. Juntou-se ao círculo de Sócrates, quando tinha vinte anos de idade e dele
só se afastou após a trágica morte do mestre.

Platão desenvolveu a filosofia das ideias originárias da Filosofia Socrática, concluindo (…)
que a relatividade e a mudança constante são características do mundo das coisas físicas, do mundo
que percebemos com nossos sentidos. Negava, porém, que esse mundo constituísse todo o Universo.
Há um reino mais alto e espiritual, composto de formas eternas ou ideias, que só a mente pode
conceber. Não são, porém, meras abstrações criadas pelo Homem, mas sim, entes espirituais.

Cada uma delas é o arquétipo ou modelo de certa classe especial de objetos ou de relações
entre objetos da Terra. Há, porém, ideias de homem, de árvore, de forma, de tamanho, cor,
proporção, de beleza e justiça. A mais alta de todas é a Ideia do Bem, que é a causa ativa e a
finalidade orientadora de todo o Universo. As coisas que percebemos por meio de nossos sentidos
são apenas cópias imperfeitas das realidades supremas — as Ideias (História da Civilização
Ocidental, de Edward McNall Burns).

Assim como acreditavam nos entes espirituais, Sócrates e Platão propalavam a existência de
um Mundo Invisível, em que os desencarnados descansavam nos intervalos das encarnações, após
o estado natural de perturbação por que passavam. Eis, em resumo, a sua doutrina:
Após a nossa morte, o gênio (daimon, dêmon)6 que nos havia sido designado durante a vida nos leva
a um lugar onde se reúnem todos que devem ser conduzidos ao Hades7, para o julgamento. As almas,
depois de permanecerem no Hades o tempo necessário, são reconduzidas a esta vida, por numerosos
e longos períodos (O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec).

Segundo Sócrates, as pessoas que viveram na Terra, encontram-se depois da morte e se


reconhecem. Por haverem professado esses princípios, Sócrates e Platão foram ridicularizados
pela sociedade da época da mesma forma como o foram os médiuns e espíritas.

Sócrates, além de perseguido, foi acusado de impiedade e condenado a beber cicuta.

6 Nome dado antigamente aos nossos espíritos mentores; não tinha o mesmo significado de hoje.
7 Hades, na Mitologia grega, deus do reino dos mortos, os Infernos. Frequentemente designado com o cognome de
Plutão pelos latinos.
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Colônias Espirituais

Jesus: O Cristo

Jesus de Nazaré, nascido numa cidadezinha da Judéia e executado aos 33 anos de idade,
durante o reinado de Tibério, pregou, com eloquência, em defesa dos pobres e oprimidos,
denunciou a impostura e a cobiça e proclamou a imortalidade da alma e a reencarnação. Com ele,
teve início a Era Cristã. Sua missão durou pouco tempo, cerca de três anos; entretanto a força de
seus ensinamentos teve tal repercussão que abalou o Império Romano.

Jesus, o Cristo, médium de Deus, revelou que o Universo compreende as estâncias de socorro
onde as almas que ainda têm a expiar adquirem novas forças e repousam das fadigas de cada
encarnação. E ele nos disse: Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-
lo teria dito; pois vou preparar o lugar.

Logo após a morte de Jesus, seus discípulos desanimaram, julgando que estivesse tudo
acabado. Esses sentimentos, porém, não tardaram a renascer. Recobraram a coragem e saíram a
pregar a palavra do Mestre que, posteriormente, foi escrita nos diversos Evangelhos, dos quais
apenas quatro foram insertos no Novo Testamento após sofrerem profundas alterações. Em
conclusão, os ensinamentos básicos se resumiram nos seguintes:
1º A fraternidade dos homens sob um Deus Pai.
2º Seu preceito áureo: assim como quereis que vos façam os homens, assim fazei vós a eles.
3º O perdão e o amor dos inimigos.
4º A condenação da hipocrisia e da cobiça.
5º A oposição ao cerimonialismo como essência da religião.
6º A imortalidade da alma.
7º A existência de uma vida futura.
8º A reencarnação.

Desde que Jesus deu por encerrada sua missão na Terra até nossos dias, em diversas épocas,
em diversos locais e através de diversos médiuns, numerosas mensagens dos espíritos são
transmitidas, com informações contínuas e progressivas, sobre a vida espiritual, ratificando e
ampliando o que Jesus dissera a seus discípulos. Além disso, os Mensageiros do Espaço têm-se
empenhado em nos instruir de maneira mais simples e objetiva, a fim de que se desfaça o aspecto
místico em que são envolvidas as revelações oriundas do Plano Espiritual.

Dante Alighieri: O visionário

Dante Alighieri, italiano reencarnado em 1265 e desencarnado em 1321, afirmou que


visitara os Mundos Invisíveis, e registrou suas experiências em um poema épico intitulado Divina
Comédia. Na verdade, ele fantasiou um pouco as suas revelações, mas, também, há muita coerência
em determinados aspectos.

Dos seus desdobramentos ao Mundo Espiritual e dos fatos que afirma ter presenciado, Dante
Alighieri descreveu o Mundo Invisível de acordo com as ideias teologais da Idade Média,
certamente influenciado pelos preconceitos da época e temeroso das pressões que sofreria por
contrariar os dogmas católicos. Dessa forma, dividiu o Além-Túmulo em Paraíso, Purgatório e
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Colônias Espirituais

Inferno, querendo significar as faixas vibratórias mais ou menos densas em que se encontram as
Colônias Espirituais.

Léon Denis, no seu livro No Invisível, afirma que Dante Alighieri foi um médium
incomparável e a Divina Comédia, sua famosa obra, uma peregrinação através dos Mundos
Invisíveis. Esclarece Léon Denis, que Ozanã, autor católico que analisou a obra de Dante Alighieri,
reconheceu que o seu plano seria todo calcado nas grandes linhas traçadas pelos iniciados nos
mistérios antigos, cujo princípio era a comunhão com o alto.

Emmanuel Swedenborg: Um dos teósofos do culto ao oculto

Passa o tempo e, no século XVIII, outras revelações são feitas por intermédio de um sueco,
considerado o homem mais culto de sua época: Emmanuel Swedenborg, encarnado em Estocolmo
(1688) e desencarnado em Londres (1772). Destacou-se em todas as ciências, sobretudo na
Teologia, na Mecânica, na Física e na Metalurgia. Os reis o chamavam para os seus Conselhos.

A rainha Ulrica o fez nobre e ele ocupou os mais elevados postos, com distinção, até 1743,
época em que teve a primeira de inúmeras revelações espirituais. Médium vidente desde a
infância, psicógrafo e intuitivo, a partir de então, teve suas visões do Mundo dos Espíritos
ampliadas. Pelo conteúdo dos 29 volumes que escreveu é considerado um dos precursores do
Espiritismo.

Muitos estudiosos, atualmente, reconhecem que os conceitos swedenborguianos estavam


séculos à frente de sua época. Sua extensa obra exigiu tradutores hábeis em virtude de sua
erudição.

Com a idade de 22 anos, Swedenborg publicou um volume de versos latinos. Filosofia,


Teologia e Literatura atraíram-lhe tanto quanto a Engenharia e as Ciências Naturais.

É sabido que a sua mente ultrapassou a capacidade daquela sociedade — que foi sua
contemporânea —, ao mesmo tempo em que era altamente respeitado por sua cultura; a lentidão
própria dos órgãos do governo, na adoção de suas ideias, deve tê-lo sufocado.

A sua vida adulta pode ser dividida em duas etapas: a primeira foi devotada aos estudos
científicos, com forte orientação para a Medicina e a Fisiologia; a segunda, a uma investigação em
busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o Universo, numa estrutura
de ideias cristãs.

As pesquisas espirituais que realizou foram de tal importância, que seus resultados
provocaram a irritação do filósofo alemão Immanuel Kant. Este, por tentar desenvolver um
trabalho semelhante ao de Swedenborg — e não o conseguir com a mesma objetividade —,
publicou um livro em que tece comentários desdenhosos e zombeteiros sobre o próprio
Swedenborg e o conteúdo de sua obra. Mais tarde, reconhecendo o valor de Swedenborg, Kant
praticamente, retratou-se, ministrando uma série de aulas, provavelmente no ano de 1774 que
continha, em síntese, os conceitos de Swedenborg sobre a alma humana e o Mundo Espiritual.

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Swedenborg foi o primeiro a complementar o ensino de Jesus, com certa objetividade,


informando-nos:
(…) que o Universo se compõe de esferas diferentes, com vários graus de luminosidade e felicidade, e que
essas esferas nos servirão de morada depois da morte na Terra, de conformidade com as condições
espirituais que aqui tenhamos conseguido. Nesses mundos, seremos julgados, automaticamente, por
uma Lei espiritual, de acordo com o que houvermos realizado na Terra.

E ele declara textualmente:


Pelas coisas que vi durante tantos anos, posso fazer as declarações seguintes: no Mundo Espiritual há
Terras como no Mundo Natural8, há Planícies e Vales, Montanhas e Colinas, e também Fontes e Rios; há
Paraísos, Jardins, Bosques e Florestas; há Cidades, e nestas cidades Palácios e Casas; há Escritos e Livros;
há Funções e Comércio; há Ouro, Prata e Pedras Preciosas; em uma palavra, há, tanto em geral como
em particular, todas as coisas que estão no mundo natural, mas estas cousas nos Céus são imensamente
mais perfeitas. (A Verdadeira Religião Cristã, de Swedenborg).
É preciso que se saiba que o Mundo Espiritual na aparência externa é absolutamente semelhante ao
Mundo natural; aí aparecem terras, montanhas, colinas, vales, planícies, campos, lagos, rios, fontes,
como no Mundo natural; assim todas as cousas que são do Reino mineral; aí aparecem também paraísos,
jardins, bosques, florestas, nas quais há árvores e arbustos de todo o gênero com frutos e sementes, e
também plantas, flores, ervas e grama; assim todas as cousas que são do Reino vegetal; aí aparecem
animais voláteis e de todo o gênero; assim todas as cousas que são do Reino animal; (…) (Sabedoria
Angélica, de Swedenborg)

Como se vê, Swedenborg registra informações sobre as Colônias Espirituais em vários


trechos das suas obras; seria, até, cansativo reproduzi-las totalmente. Entretanto, só por essas
transcrições, tem-se uma ideia de quanto o médium sueco desvendou para nós do Mundo dos
Espíritos, mesmo reconhecendo a sua tendência mística.

Os espíritos continuaram a transmitir uma série de fatos sobre o assunto. Nos séculos XIX e
XX, mensagens do mesmo teor se multiplicaram.

Allan Kardec: o codificador da Doutrina Espírita

Foi a 3 de outubro de 1804 que nasceu, numa antiga família de Lyon, na França, Denizard
Hippolyte Léon Rivail, discípulo de Pestalozzi desde criança, veio, mais tarde, a seguir as pegadas
do mestre. Publicou numerosos livros didáticos, apresentou planos, métodos e projetos referentes
à reforma do ensino francês. Dedicou-se ao magnetismo por vários anos até conhecer os
fenômenos das mesas girantes que o levaram a realizar a sua missão de Codificador da Doutrina
Espírita.

Allan Kardec desencarnou a 31 de março de 1869.

A 18 de abril de 1857, Allan Kardec lançou O Livro dos Espíritos, cujo capítulo VI, do Livro
Segundo (perguntas 223 a 236), é dedicado ao esclarecimento do que são espíritos errantes,
erraticidade e mundos transitórios. Colaboraram nessas informações, os espíritos Mozart, Chopin
e o chamado em vida, Santo Agostinho, as quais são em síntese:
— No intervalo das encarnações, a alma se torna um espírito errante; só não se tornam errantes os
espíritos puros, por se encontrarem num estado definitivo;
— Há espíritos errantes dos mais variados graus;

8 Mundo Natural: denominação referente ao mundo material.


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— Enquanto errantes, os espíritos progridem, observam os lugares que percorrem, instruem-se,


analisam os erros e acertos do passado e se preparam para novas experiências na existência
corpórea;
— A situação do espírito errante no Além será determinada por sua vida no Aquém, e ele pertencerá
a um mundo do mesmo grau de sua elevação, embora lhe sejam permitidas visitas a mundo
superiores, como modo de aprendizagem;
— É nas Colônias Espirituais, em espécies de acampamento, que o espírito errante habita nos
intervalos das encarnações a fim de repousar e aprender.

Na Revista Espírita de agosto de 1858, Allan Kardec trata sobre as habitações em Júpiter,
num mundo invisível aos olhos humanos evidentemente, onde se dizia encontrar o espírito
Mozart. Sobre o assunto, declara o Codificador:
Para certas pessoas convencidas da existência do espírito — e aqui não cogito de outras — deve ser
motivo de espanto que, como nós, os espíritos tenham suas habitações e as suas cidades. Não me
pouparam críticas "Casas de espíritos em Júpiter? Que piada! …”

Ressalvando não ser a arquitetura do Mundo Espiritual a principal preocupação de seus


estudos e objeto principal da Doutrina Espírita, também não se é de desprezar o fenômeno de sua
reprodução pelo jovem médium desenhista Victorien Sardou9, que ele considera um distinto e
honrado escritor.

Victorien Sardou, médium psicógrafo que trabalhou com Allan Kardec, foi instrumento na
elaboração de lindos quadros de autoria de diversos espíritos. Foi membro da Academia Francesa
e um dos mais fecundos autores teatrais franceses.

Afirmava Victorien Sardou que, como médium, recebeu mensagens de Mozart e Pallissy e
que lhe foi dito que:
(…) os habitantes de Júpiter têm seus lares comuns e suas famílias, grupos harmoniosos de espíritos
simpáticos, unidos no triunfo, após o terem sido na luta. Daí as moradas tão espaçosas que merecem
exatamente o nome de "palácios". Ainda como nós, os espíritos têm suas festas, suas cerimônias, suas
reuniões públicas; daí certos edifícios destinados especialmente a essas finalidades.

Fala ele de animais que designa de seres bizarros. Tais criaturas ocupam os níveis inferiores
da escala evolutiva. De acordo com informações de Pallissy, as famílias espíritas são sempre
acompanhadas por cortejo de animais. Um reino vegetal bem exótico também está presente nos
desenhos recebidos por Victorien Sardou que foram reproduzidos na Revista Espírita, de Allan
Kardec. Em palestras familiares, Bernard Pallissy, o célebre oleiro do século XVII, descreveu a vida
em outros mundos, principalmente no planeta Júpiter: seus moradores, estado moral etc. E ainda
que o desenho seja fruto de uma fantasia, o simples fato de sua execução por alguém que não sabia
desenhar, já seria, segundo Allan Kardec, um fenômeno digno de atenção.

Em O Céu e o Inferno, um dos livros da Codificação publicado por Allan Kardec em 1865, os
espíritos comunicantes ratificam o que foi dito a respeito da situação do espírito desencarnado no
Além. Este é o livro das esperanças e consolações, que tem por objetivo desfazer a ideia de Céu,
Inferno e Purgatório, implantada na mente do Homem pelas religiões dogmáticas.

O temor da morte é um sentimento natural, consequência do instinto de conservação que a


Sabedoria Divina concedeu a todas as criaturas. É muito raro que alguém esteja preparado para

9 Dramaturgo francês (Paris 1831—id. 1908). Colocou a engenhosidade técnica a serviço de tendências novas, da
comédia burguesa ao drama histórico.
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morrer. A Humanidade, principalmente a Ocidental, ouve falar da morte como um fato aterrador,
através de expressões como: a morte ceifou-lhe a existência, findou-se uma vida no verdor dos
anos, a morte arrebatou-lhe um ente querido, dando uma ideia de que a morte é um acontecimento
terrível, como se os indivíduos fossem retirados do convívio dos semelhantes e reduzidos a nada.

Diante destes condicionamentos a respeito do morrer, o desespero, muitas vezes, toma conta
dos entes que ficaram na Terra, e a ignorância não os deixa ver que houve, apenas, uma separação
temporária. Entretanto, em muitos casos, esse é um sentimento necessário. De acordo com os
ensinos dos espíritos...
À proporção que o Homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez
esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim, calma, resignada e serenamente (O Céu e o
Inferno — cap. II, Allan Kardec).

Os espíritos desencarnados mais esclarecidos, então, assumem a tarefa de orientar


encarnados e recém-desencarnados. Temos, como exemplo, a mensagem da viúva Foulon, ex-
senhora Wollis, falecida em Antibes, a 3 de fevereiro de 1865, recebida mediunicamente cinco dias
após o féretro:
P.: Descreva-nos, agora, a transição, o despertar e as primeiras impressões que aí recebeu.
R.: Eu sofri, mas o espírito sobrepujou o sofrimento material que o desprendimento em si lhe
acordava. Depois do último alento, encontrei-me como que em desmaio, sem consciência do meu
estado, não pensando em coisa nenhuma, numa vaga sonolência, que não era bem sono do corpo,
nem o despertar da alma. Assim fiquei longo tempo, e depois, como se saísse de prolongada síncope,
lentamente despertei no meio de irmãos que não conhecia. Eles prodigalizavam-me cuidados e
carícias, ao mesmo tempo que me mostravam no Espaço um ponto semelhante a uma estrela,
dizendo: "E para ali que vai conosco, pois já não pertence mais à Terra".
Então recordei-me; e apoiada neles, como um grupo gracioso que se lança para as esferas na certeza
de aí achar a felicidade, subimos, subimos, à proporção que a estrela se engrandecia (...).
Era um mundo feliz, um centro superior no qual a sua amiga vai repousar. Quando digo repouso,
quero referir-me às fadigas corporais que amarguei, às contingências da vida terrestre, não à
indolência do espírito, pois que este tem na atividade uma fonte de gozos. (O Céu e o Inferno, de
Allan Kardec).

Outra mensagem esclarecedora, inserida na mesma obra e que dá uma visão ampla do
Mundo Espiritual, é a da condessa Paula, dada originariamente em alemão a um parente, doze anos
após a sua desencarnação. Bela, jovem, rica, de estirpe ilustre e possuidora de boas qualidades
morais e intelectuais, desencarnou aos 36 anos de idade, em 1851. Da sua comunicação constam
os seguintes tópicos:
Tem razão, meu amigo, em pensar que eu sou feliz. Assim é efetivamente e mais ainda do que a
linguagem pode exprimir, conquanto longe do seu último grau.
(...)
Esplêndidas festas terrenas em que se ostentam os mais ricos paramentos, o que são elas comparadas
a estas assembleias de espíritos resplandecentes de brilho que a vossa vista não suportaria, brilho
que é o apanágio da sua pureza? Os vossos palácios de dourados salões, que são eles comparados a
estas moradas aéreas, vastas regiões do Espaço, matizadas de cores que obumbrariam o arco-íris?
(...)
E como são monótonos os vossos concertos mais harmoniosos em relação à suave melodia que faz
vibrar os fluidos do éter e todas as fibras d'alma! As ocupações, ainda que isentas de fadiga, se
revestem de perspectivas e emoções variáveis e incessantes, pelos mil incidentes que lhes filiam.
Tem, cada um, sua missão a cumprir, seus protegidos a velar, amigos terrenos a visitar, mecanismos
na Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar, e é o vaivém não de uma rua a outra, porém, de
um a outro mundo; reunindo-nos, separando-nos para novamente nos juntarmos; e, reunidos em
certo ponto, comunicamo-nos o trabalho realizado, felicitando-nos pelos êxitos obtidos; ajustamo-
nos, mutuamente nos assistimos nos casos difíceis.
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Finalmente, asseguro que ninguém tem tempo para enfadar-se, por um segundo que seja.

Estas mensagens, embora enviadas por espíritos diferentes, completam-se, sendo uma
continuação da outra. Enquanto a primeira revela o momento da morte até o socorro recebido, a
segunda trata de um estádio mais elevado em que o espírito já participou, ativamente, de tarefas
nas Comunidades Espirituais.

Assim, Allan Kardec, hábil pesquisador, preocupou-se, também, com a vida de relação no
Além-Túmulo. Percebeu que as informações dos espíritos da viúva Foulon e da condessa Paula
continham importantes notícias para a humanidade encarnada e as publicou como
complementação do que já houveram dito os espíritos em O Livro dos Espíritos, a respeito dos
Mundos Transitórios.

Enfim, com Allan Kardec, é retirado, totalmente, o véu do misticismo que envolvia tão
polêmico assunto. A existência do Mundo Espiritual em seus diversos aspectos é revelada com
toda objetividade.

Obras complementares do Espiritismo

Obras posteriores continuaram a revelar a vida além-túmulo. É valiosíssima a contribuição


de sábios e cientistas que se interessaram pelo Espiritismo e começaram a pesquisar o assunto.
Através da observação direta ou coleta de informações de diversos médiuns e pesquisadores,
publicaram trabalhos em que espíritos transmitem conceitos e princípios sobre a vida espiritual,
quase com as mesmas palavras, embora por diferentes intermediários.

Antes de Allan Kardec publicar O Céu e o Inferno, obra em que se inserem alguns episódios
vivenciados por espíritos errantes, mensagens do mesmo teor já se encontravam em circulação
pela Europa e Estados Unidos. A obra intitulada Letters and Tracts on Spiritualism, de autoria
do juiz John Worth Edmonds, um dos mais influentes espiritualistas norte-americanos,
condensava artigos e monografias publicadas de 1854 a 1874 a respeito da vida após a morte.
Atualmente, a bibliografia que trata desse assunto é vastíssima e, provavelmente, muito ainda
pode ser dito.

Diversos aspectos sobre a vida no Mundo Espiritual são descritos pelo espírito André Luiz
que, por esse motivo, ficou conhecido, no Movimento Espírita Brasileiro, como O Repórter do
Espaço. Através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, ele nos legou uma série de
publicações que teve início com a obra Nosso Lar, e é o trabalho mais abrangente e minucioso de
informações sobre o funcionamento das Colônias Espirituais.

André Luiz relata a sua trajetória no Mundo Espiritual, a partir da desencarnação, em etapas
graduais de aprendizagem, baseado nas próprias experiências e no que afirma ter observado da
vida nos Mundos Transitórios. Nosso Lar é, apenas, um exemplo das incontáveis Cidades
Espirituais que os espíritos têm citado em suas mensagens.

De tudo que nos tem sido transmitido pelos mais diferentes espíritos, conclusões são tiradas
a respeito das Colônias Espirituais. Temos, por exemplo, além das obras de Francisco Cândido

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Xavier, as dos médiuns Yvonne A. Pereira, Divaldo Pereira Franco, Zilda Gama, Elsa Barker, Isaltino
Barbosa, George Vale Owen e muitos outros entre brasileiros e estrangeiros.

Apesar de algumas contradições que, porventura, apresentem, geralmente as mesmas ideias


e informações se repetem nas comunicações, obedecendo a uma relativa concordância. As
pequenas ou grandes diferenças ficam por conta do nível evolutivo e da vivência de cada espírito
comunicante ou da interferência do médium.

III. Origem das Colônias Espirituais

Consta que a formação das Colônias Espirituais data de diferentes épocas. O espírito André
Luiz, ao decorrer de suas obras ditadas ao médium Francisco Cândido Xavier, refere-se a várias
estações de repouso do Mundo Espiritual. Nosso Lar, por exemplo, foi fundado no século XVI, por
portugueses distintos, desencarnados no Brasil. Ainda no mesmo Nosso Lar, há referências à
Colônia Socorrista Moradia, como uma das mais antigas, ligada a zonas bem inferiores para
atendimento à população do Umbral, assim denominada a região espiritual habitada por espíritos
trevosos.

Outro exemplo é a Colônia Campo da Paz a que o espírito André Luiz se reporta no livro Os
Mensageiros, psicografado por Francisco Cândido Xavier. Segundo ele, esta é uma colônia bem
próxima da Terra:
Alguns benfeitores, reconhecidos a Jesus, resolveram organizar, em nome dele, uma colônia em plena
região inferior, que funcionasse como instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na
Crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas. O projeto mereceu a
bênção do Senhor e o núcleo se criou, há mais de dois séculos.

Em Obreiros da Vida Eterna, também do espírito André Luiz e psicografado por Francisco
Cândido Xavier, é citada a instituição de assistência aos desencarnados Casa Transitória de
Fabiano. Em uma de suas viagens de estudo, ele recebeu do instrutor espiritual Jerônimo a
informação de que esta colônia fora fundada pelo espírito Fabiano de Cristo, devotado servo da
Caridade entre antigos religiosos do Rio de Janeiro, desencarnado há muitos anos.

A Colônia Redenção, descrita por Otília Gonçalves 10 no livro Além da Morte, psicografado
pelo médium Divaldo Pereira Franco, conforme declara a autora espiritual, foi criada no tempo da
escravatura (provavelmente no século XVIII), objetivando socorrer escravos desencarnados sob o
peso de sofrimentos ou sequiosos de vingança.

10 Dedicada trabalhadora do Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado pelo médium Divaldo Pereira Franco. Otília
Gonçalves administrou a primeira creche dessa instituição.
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O Reverendo George Vale Owen11, assessorado por sua mãe desencarnada e um grupo de
Espíritos, registra em sua obra A Vida Além do Véu, a existência da Colônia da Música, em que
esta Arte é cultivada em todos os aspectos.

Enfim, não há como definir, com exatidão, quando se formaram as primeiras Colônias
Espirituais, desde que a época da origem do Homem no planeta Terra não foi ainda determinada
pela Ciência. As diversas colônias existentes, por se encontrarem bem próximas da Terra, sofrem
as mesmas influências do planeta.

E não poderia ser de outra forma, uma vez que foram criadas para atendimento a faixas ainda
não muito elevadas da Espiritualidade. Há, entretanto, as colônias dos planos superiores, a que só
têm acesso espíritos que atingiram as esferas menos densas. No seu oposto, estão as constituídas
por falanges de espíritos que se dedicam ao Mal e se encontram, ainda, nos planos pavorosos do
Mundo Invisível. O espírito Otília Gonçalves, em Além da Morte, a eles se refere como:
(…) bandos perigosos, sob a direção de mentes cruéis, dificultando a obra de evangelização do
mundo.

Essas hostes do Mal, muitas vezes sob o comando de chefes bárbaros, investem, furiosas,
contra abnegados missionários que lhes tiram das mãos espíritos infelizes por eles
arregimentados.

No romance mediúnico Apenas uma Sombra de Mulher, de Fernando do Ó, uma entidade


descreve a Colônia Gordemônio situada nas adjacências da Terra, como uma vasta região
habitada por espíritos transviados e malfazejos, solertes na prática do vampirismo, os quais, após
a desencarnação, surpreenderam-se impotentes para galgar...
(…) planos menos tenebrosos e horríveis, em vista do seu atraso moral.

E formam...
(...) desde tempos quase imemoriais uma como 'societa sceleris'12, que tem por esfera de ação essa
extravagante, estranha e incrível metrópole do crime, (…) organização ‘sui generis’13 que recruta sua
população entre infelizes entidades inferiores. A Colônia dispõe de líderes que superintendem todas
as frentes de atividade de Gordemônio. Os líderes contam com assessores que, a seu turno, dirigem
núcleos mais ou menos numerosos.

Portanto, assim como temos Colônias habitadas por espíritos benfeitores, somos informados
da existência de domínios sombrios, povoados de malfeitores que só pensam em si mesmos ou se
comprazem em praticar o Mal. Não é o inferno propalado pelas religiões, pois não há calor nem
fogo eternos; é uma região criada por Deus com características apropriadas aos pecadores da
Terra e aos demônios.

Os espíritos que aí habitam poderão, em dias, anos ou séculos, libertar-se, por esforço
próprio, desse plano deprimente, criado por suas próprias mentes. Sobre o assunto, Allan Kardec
nos esclarece na Revista Espírita, nº 4, de abril de 1859, no artigo Quadro da Vida Espírita:

11 Reverendo George Vale Owen, vigário de Oxford, no Lancashire, Inglaterra (1869-1931), após experiências psíquicas,
recebeu de espíritos informações sobre a vida Além-Túmulo.
12 Societa sceleris expressão oriunda do latim: sociedade ou aliança de criminosos (N.R.)
13 Sui generis expressão oriunda do latim: de seu próprio gênero ou de espécie única, sem nada igual (N.R.)
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Vem a seguir o que se pode chamar de escória do mundo espírita, constituída de todos os espíritos
impuros, cuja preocupação única é o Mal. Sofrem e desejariam que todos sofressem como eles. A
inveja lhes torna odiosa toda superioridade; o ódio é a sua essência. Não podendo culpar disso os
espíritos, investem contra os homens, atacando aos que lhe parecem mais fracos.
Excitar as paixões ruins, insuflar a discórdia, separar os amigos, provocar rixas; fazer que os
ambiciosos pavoneiem o seu orgulho, para o prazer de abatê-los em seguida; espalhar o erro e a
mentira, numa palavra, desviar do Bem, tais são os seus pensamentos dominantes.

Os espíritos que povoam as regiões inferiores não podem ascender a planos das Altas
Esferas; entretanto os espíritos superiores baixam a planos inferiores para incentivar os espíritos
atrasados a lutar pela sua renovação.

Os espíritos desencarnados, oriundos de países estrangeiros, também se referem a estações


de repouso no Mundo Espiritual, as quais denominam de Colônias e Cidades Espirituais e dão
descrições semelhantes às contidas em obras mediúnicas brasileiras. Diversos desencarnados nos
têm narrado, em mensagens avulsas, as suas experiências pela faculdade mediúnica de Francisco
Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco e José Medrado, para esclarecimento e consolo dos que lhe
são caros: falam sobre o momento da morte, esclarecem dúvidas, dão notícias de parentes
falecidos, descrevem o ambiente em que se encontram e informam sua situação no momento em
que se comunicam.

Em A Vida Além do Véu, por exemplo, o espírito comunicante, entre outros com nomes
esquisitos, afirma ao Reverendo George Vale Owen que o Mundo Espiritual é a Terra aperfeiçoada,
exatamente como dissera Allan Kardec. Do lado de lá, como no de cá, existem montes, rios, belas
florestas e muitas casas; tudo preparado por aqueles que o precederam.

Refere-se, em diversas ocasiões, aos diversos planos da existência, desde os que se


encontram próximos da crosta terrestre, como o Umbral, até as altas esferas, onde habitam os
espíritos mais evoluídos. O ponto discordante entre o conteúdo das mensagens que os médiuns
ingleses receberam e as recebidas no Brasil é não considerar a reencarnação como fator
imprescindível para o evolver do espírito.

Em suma, como se pode apreender dos ensinamentos e descrições que nos chegam do Outro
Mundo, não resta a menor dúvida de que o Mundo Espiritual pouco difere de nosso mundo
material. Entretanto, no que diz respeito a volume de obras psicografadas sobre o tema colônias
espirituais, encontra-se, na dianteira, o médium Francisco Cândido Xavier.

IV. Situação do Espírito Desencarnado

O transe da morte é sempre um estado de crise para qualquer indivíduo, variando conforme
o adiantamento moral de cada um. Daí a passagem do estado da matéria para a vida espiritual
acarretar uma espécie de perturbação mais ou menos longa, até que se quebrem todos os elos
entre o espírito e sua organização física.

Essa crise é um fenômeno natural. Pensemos na hipótese de alguém ter de mudar,


abruptamente, do Nordeste brasileiro para um país europeu ou vice-versa. A mudança repentina

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implicaria um distúrbio tal no indivíduo, que este levaria algum tempo para se descondicionar do
ambiente anterior e se adaptar às novas e diferentes condições de vida.

Que diremos, então, da morte em que o fenômeno de desagregação do corpo processa uma
modificação muito mais violenta? Além disso, vários fatores intervêm na situação do
desencarnado logo após a morte: a idade em que ocorreu a desencarnação (jovem ou idoso?), o
tipo de morte (natural ou violenta?), se era apegado ou desprendido dos bens materiais, se tinha
bons hábitos ou vícios inveterados, se possuía ideias materialistas ou espiritualistas.

Daí a necessidade do adormecimento do espírito, logo após o desprendimento do corpo


físico, para se refazer do transe da morte.

Antes, porém, que o espírito adormeça, ocorre o interessante fenômeno de recordação da


vida passada, em que um panorama desfila ante seus olhos. Tem-se notícia de que, em fração de
segundo, o espírito revê, minuciosamente, todos os fatos da vida terrena que acabou de deixar,
cena após cena, desde a infância até a desencarnação, desde o incidente mais insignificante até o
acontecimento mais importante. Naquele momento, o espírito é capaz de avaliar causas e
consequências de todos os seus atos, sejam bons ou maus, como um registro para aproveitamento
em vidas futuras. Só depois, sobrevêm o sono, cujo tempo varia de espírito para espírito.

O juiz John Worth Edmonds, que era notável médium psicógrafo, falante e vidente, escreveu
longa mensagem de seu amigo desencarnado, o juiz Peckam, a quem ele muito estimava. Nessa
época ainda não era conhecido pelos psicólogos o fenômeno da visão panorâmica. Afirma, então,
o espírito Peckam:
No momento da morte, revi, como num panorama, os acontecimentos de toda a minha existência. Todas
as cenas, todas as ações que eu praticara passaram ante meu olhar, como se se houvessem gravado na
minha mentalidade, em fórmulas luminosas. Nem um só dos meus amigos, desde a minha infância até a
morte, faltou à chamada. Na ocasião em que mergulhei no mar, tendo nos braços minha mulher,
apareceram-me meu pai e minha mãe e foi esta quem me tirou da água, mostrando uma energia, cuja
natureza só agora compreendo. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)

Por seu turno, o espírito que em vida se chamou Dr. Horace Abraham Ackley relata como se
passaram os primeiros momentos após o seu despertamento no Mundo Espiritual:
Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob as vistas, como num
panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado se houvera
tornado presente. Foi todo o meu passado que revi, tendo compreendido o último episódio: o da minha
desencarnação. A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de refletir,
achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão, em seguida, desapareceu com
a mesma instantaneidade com que se mostrara; às meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em
mim vivo interesse pelas condições atuais. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)

Muitas pessoas indagam: Como é possível alguém que passa por incontáveis "mortes",
experimenta o estado de erraticidade e reencarna várias vezes, esquecer que existe o Mundo
Espiritual? Explicam, então, os espíritos codificadores que a situação de esquecimento ou
perturbação nunca é definitiva. Ela é transitória, e a lembrança, mais ou menos rápida, das vidas
anteriores dependerá do grau de evolução de cada espírito.

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C. W. Leadbeater14, em Auxiliares Invisíveis, comenta sobre o mal que os ensinamentos


errôneos a respeito da condição do espírito após a morte provocam na Humanidade,
principalmente no mundo ocidental. Certas religiões assustam os seus adeptos, criando neles
muita perturbação e surpresa quando chegam no Mundo Espiritual. Conta ele o exemplo de um
inglês que, em uma mensagem transmitida três dias depois de morto, narrou que, encontrando
um grupo de espíritos amigos, perguntou:
Mas, se eu estou morto, onde é que estou? Se isto é o céu, não me parece grande coisa; se é o inferno, é
melhor do que eu esperava!

Surpresa semelhante tem o espírito Monsenhor Robert Hugh Benson15. Relata ele, em A Vida
nos Mundos Invisíveis, obra recebida pelo médium Anthony Borgia, que, durante todo o período
que sucedeu a sua última desencarnação, nenhuma ideia lhe ocorrera sobre tribunal de
julgamento ou juízo final, como sugerira a religião ortodoxa. Esses conceitos e os de céu e inferno
lhe pareceram totalmente impossíveis e, na realidade, fantasias absurdas.

Em A Vida no Outro Mundo, seu autor, Cairbar Schutel, combate a ideia de que nada existe
após a morte e que se o espírito não é imortal, (...) a vida é uma farsa que começa no berço e se
acaba no túmulo.

Como vimos anteriormente, os espíritos levam consigo, para o Além-Túmulo, as qualidades


boas ou más, todos os vícios e costumes e todos os conhecimentos e aptidões. Os criminosos veem-
se mergulhados em profundas trevas e só ouvem os lamentos de suas vítimas. Os suicidas só têm,
na mente, o seu ato tresloucado. Allan Kardec, na Revista Espírita de maio de 1862, no capítulo
intitulado Uma Paixão de Além-Túmulo, reporta-se ao suicídio, por amor, de um garoto de 12 anos
de idade. Perguntado sobre sua situação, o jovem responde:
(…) Meu corpo lá estava inerte e frio e eu planava em volta dele; chorava lágrimas quentes. Vocês se
admiram das lágrimas de uma alma. Oh! Como são quentes e escaldantes! Sim, eu chorava, porque
acabava de reconhecer a enormidade de meu erro e a grandeza de Deus! … Entretanto, não tinha
certeza de minha morte; pensava que meus olhos se fossem abrir …

O sofrimento dos espíritos desencarnados é proporcional ao tipo de vida que levaram e ao


maior ou menor apego que tenham à vida material. Durante a crise da morte, eles lutam para reter
a vida corporal que lhes foge, e esse sentimento se prolongará por muito tempo.

Aqueles muito ligados à vida material erram pelas vizinhanças do lar e do local do trabalho;
julgam-se ainda vivos e pretendem participar dos negócios de que se ocupavam quando
encarnados. Os viciados e libertinos continuam a sentir enorme ansiedade e procuram a
convivência de devassos que lhes saciem os apetites sexuais e os vícios. O avarento fica em estado
de angústia, por não poder impedir que os herdeiros esbanjem a fortuna amealhada durante a vida
terrena.

14 Charles Webster Leadbeater (Inglaterra, 1847; id. 1934). Teósofo, escritor e conferencista. Residiu, com. seus pais, no
Brasil, quando ainda era criança. Escreveu diversas obras místicas e espiritualistas.
15 Robert Hugh Benson. Filho de Edward White Benson, ex-Arcebispo de Cantuária. Escreveu um livro intitulado Os
Necromantes. Depois de desencarnado, volta e retifica os enganos cometidos nesta obra, através do médium
Anthony Borgia.
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Colônias Espirituais

Em Primeiras Impressões de Um Espírito, mensagem transmitida pelo espírito Delphine de


Girardin à médium Srª Costel na Sociedade Espírita de Paris, consta, dentro da sua perspectiva, o
seguinte:
Falarei da estranha mudança que se opera no espírito após a libertação. Ele se evapora dos despojos
que abandona, como uma chama se desprende do foco que a produziu; depois se dá uma grande
perturbação e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo? A ausência das sensações primárias
produzidas pelo corpo espanta e imobiliza, por assim dizer. Assim como um homem habituado a um
fardo pesado, nossa alma, aliviada de repente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois o espaço
infinito, as maravilhas sem número dos astros, sucedendo-se num ritmo harmonioso, os espíritos
solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece atravessá-los, o sentimento da
libertação que inunda, de súbito, a necessidade de lançar-se também, no espaço como pássaros que
querem treinar suas asas, tais são as primeiras impressões que todos nós sentimos. (Revista Espírita, de
Allan Kardec, nº 11, novembro de 1860)

Temos informações, através de várias mensagens, que, no Além, assim como no Aquém,
existem vagabundos, saltimbancos e fanfarrões. Existem, da mesma maneira, aqueles que se
propõem a auxiliar os companheiros atrasados e, ainda, os que preferem trabalhar pelo seu
próprio aprimoramento.

Sócrates e Platão disso já tinham conhecimento e afirmavam:


A alma impura, nesse estado, encontra-se pesada, é novamente arrastada para o mundo visível,
pelo horror do que é invisível e imaterial. Ela erra, segundo se diz, ao redor dos monumentos e
dos túmulos, juntos dos quais foram vistos, às vezes fantasmas, como devem ser as imagens das
almas que deixaram o corpo sem estar inteiramente puras, e que conservam alguma coisa de
forma material, o que permite aos nossos olhos percebê-las. Essas não são as almas dos bons,
mas as dos maus, que são forçadas a errar nesses lugares, onde carregam as penas de sua vida
passada, e onde continuam a errar, até que os apetites inerentes às suas respectivas formas
materiais façam-nas devolver a um corpo. Então, elas retornam, sem dúvida aos mesmos
costumes que, durante a vida anterior, eram de sua predileção. (O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec)

Como Deus não se compraz com o sofrimento eterno de seus filhos, passada uma fase de
depuração dos fluidos mais densos, sobrevêm ao espírito o sono reparador a que estão sujeitos
todos os recém-chegados ao Mundo Espiritual. Nesse momento, espíritos amigos e familiares
recolhem os recém-desencarnados e os levam para as diversas estações de repouso. Ao despertar
desse sono — que pode variar de horas a séculos —, o espírito desencarnado começa a perceber
o que está em sua volta. Surpreende-se ao encontrar um ambiente muito semelhante ao da Terra.
Por esse motivo, muitos pensam que ainda estão vivos.

E, só a partir de uma tomada de consciência da realidade em que se encontram, surgirão para


eles novas oportunidades: estudos, tarefas, trabalho assistencial, tudo de acordo com o seu
adiantamento espiritual, sua capacidade e suas necessidades. Comentando as palestras familiares
que estabelece com o Além-Túmulo, Allan Kardec diz a respeito da desencarnação:
Extinguindo-se as forças vitais, o espírito se desprende do corpo no momento em que cessa a vida
orgânica. Mas separação não é brusca ou instantânea.
Por vezes começa antes da cessação completa da vida; nem sempre é completada no instante da
morte. Sabemos que entre o espírito e o corpo existe um liame semimaterial, que constitui o primeiro
envoltório. Este liame não se quebra subitamente. E, enquanto subsiste, fica o espírito num estado de
perturbação comparável ao que acompanha o despertar.
(…)
(…) ao entrar no Mundo dos Espíritos é acolhido pelos amigos que o vêm receber, como se voltasse
de penosa viagem. Se a travessia foi feliz, isto é, se o tempo de exílio foi empregado de maneira
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Colônias Espirituais

proveitosa para si e o elevou na hierarquia do Mundo dos Espíritos, eles o felicitam. Ali reencontra
os conhecidos, mistura-se aos que o amam e com ele simpatizam, e então começa, para ele,
verdadeiramente, a sua nova existência. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 4, abril de 1959)

Na erraticidade, o espírito não adquire, imediatamente, o saber e a virtude; antes, conserva


sua inteligência ou ignorância, ideias, concepções, ódios ou afeições. O que se abala com o
desligamento do corpo é a memória, e a sua lucidez retornará segundo o nível moral do
desencarnado e à medida que se apagam as impressões terrenas. Se o espírito errante tem bons
propósitos, ele progride nos aspectos intelectual, moral e espiritual, podendo trazer-nos, mais
tarde, as notícias das Colônias Espirituais onde estagiou, uma vez que, enquanto recebe
tratamento no corpo perispiritual, o espírito desencarnado se instrui.

Devido à diversidade de nossos caracteres — aptidões, sentimentos, vícios, virtudes e


hábitos —, as condições de vida no Além são de uma diversidade infinita, daí as diferenças no
conteúdo das mensagens. Existem, também, espíritos tão evoluídos e depurados (espíritos puros
ou perfeitos) sobre os quais a Terra não mais exerce atração. Estes habitam as regiões menos
densas e só reencarnam para cumprir missões especiais, como aconteceu com Jesus, Buda e
Confúcio, além de outros grandes missionários.

Todavia, há espíritos que não se incorporam a nenhum movimento nobre; vivem na Terra
da Liberdade que é uma região, segundo informam os espíritos, próxima à crosta terrestre, onde
os desencarnados se entregam a mais completa indisciplina. Cada um faz o que quer e age de
acordo com o livre-arbítrio, sem quaisquer restrições morais. A tônica de suas vidas é a
liberalidade. Muitas vezes, reencarnam sem passar por estágios nas Colônias de recuperação e
sem analisarem as vidas anteriores. Nos Mundos Espirituais superiores, os espíritos continuam a
agir dentro do seu livre-arbítrio, porém de acordo com padrões morais elevados.

Segundo Allan Kardec, ao tratar dos Possessos de Morzine:


Sendo a Terra um mundo inferior, isto é, pouco adiantado, resulta que a imensa maioria dos espíritos
que a povoam tanto no estado errante, quanto no de encarnados, deve compor-se de espíritos
imperfeitos, que fazem mais mal que bem. Daí a predominância do Mal na Terra. Ora, sendo a Terra,
ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do Mal que torna os homens infelizes, pois se
todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. É um estado ainda não alcançado por nosso globo;
e é para tal estado que Deus quer conduzi-lo. Todas as tribulações aqui experimentadas pelos homens
de bem, quer da parte dos homens, quer da dos espíritos, são consequências deste estado de
inferioridade. Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay dos mundos: aí se encontram a selvageria
primitiva e a civilização, a criminalidade e a expiação. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 12,
dezembro de 1862)

Assim, o fundamental para nós é saber que a Terra nada mais é que um pálido reflexo do
Mundo Espiritual e que ambos se encontram na mesma faixa vibratória.

Allan Kardec, em mensagem transmitida, após a sua morte, na residência de Miss Anne
Blackwell, em Paris, em 14 de setembro de 1869, confirma os ensinamentos que em vida recebeu
dos espíritos em palestras familiares:
Sou tão feliz como nem podeis pensar, meus bons amigos, por vos encontrar reunidos. Estou entre vós,
numa atmosfera simpática e benevolente, que agrada ao mesmo tempo o meu espírito e o meu coração.
Há muito tempo que eu desejava ardentemente o estabelecimento de relações regulares entre a escola
francesa e a escola americana.
(...)
Os espíritos conservam no Espaço suas simpatias e seus hábitos terrenos. Os espíritos dos americanos
mortos são ainda americanos, como os desencarnado que viveram na França são ainda franceses no
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Espaço. Daí as diferenças dos ensinos em alguns centros. Cada grupo de espíritos, por sua própria
natureza, por seu espírito nacional, apropria suas instruções ao caráter, ao gênio especial daqueles que
o dirigem. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 6, junho de 1869)

Sendo assim, conclui-se que o processo da morte não é necessariamente doloroso, embora,
muitas vezes, os que presenciem o desenlace de algum amigo ou parente observem a luta do
moribundo para conservar o espírito no corpo. Aos olhos físicos a impressão é de a pessoa estar
sofrendo intensamente, mas essa se constitui, apenas, uma visão terrena, dos que ainda
permanecem do lado de cá. A realidade é bem outra.

Sensações nos espíritos errantes

Tratando do momento em que o espírito deixa o corpo e penetra no Mundo Espiritual, Allan
Kardec lhes analisa, em vários artigos da Revista Espírita, as sensações e o desenvolvimento das
ideias. Muitas perguntas lhe tinham sido feitas, como: Sofrem os espíritos? Que sensação
experimentam? Em O Livro dos Espíritos, o codificador da Doutrina Espírita dedica um longo
capítulo a esse tema e que tem por título Ensaio Teórico Sobre as Sensações nos Espíritos. Responde
ele, então, com base em informações dos espíritos e, principalmente, em suas próprias
observações e nos estudos das funções do perispírito16:
Ensina-nos a experiência que, no momento da morte, o perispírito se desprende, mais ou menos
lentamente do corpo; durante os primeiros instantes o espírito não se dá conta da situação; não se
julga morto; sente-se vivo; vê o corpo ao lado, sabe que é seu, mas não compreende que do mesmo
esteja separado. Esse estado dura enquanto existe uma ligação entre o corpo e o perispírito.
Recordemos a evocação do suicida da casa de banhos da Samaritana, (…) Como todos os outros, ele
dizia: (…) entretanto sinto que os vermes me roem". Ora, seguramente, os vermes não roem o
perispírito e, ainda menos, o espírito; apenas roem o corpo. Mas como a separação entre corpo e
espírito não era completa, o resultado era uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a
sensação do que passava no corpo. Repercussão talvez não seja o vocábulo, o qual poderia fazer supor
um efeito muito material: era antes a visão daquilo que se passava em seu corpo, ao qual estava ligado
o seu perispírito que lhe produzia uma ilusão, que tomava como realidade. (Revista Espírita, de Allan
Kardec, nº 11, novembro de 1858).

Dessa forma, as sensações agradáveis são transmitidas ao espírito, assim como as


desagradáveis. Em suas pesquisas, Allan Kardec entrevistou milhares de espíritos que
pertenceram a todas as camadas sociais e a todas as posições, seguindo-lhes os passos desde a
desencarnação, a fim de estudar as mudanças que sofreram na vida além-túmulo.

Nos planos inferiores da Espiritualidade, os espíritos manifestam desejos e apetites. Já o


mesmo não se dá com aqueles cujo perispírito é menos denso.

Alimentação dos Espíritos

Se as pessoas duvidam que os espíritos se vestem, que pensarão elas a respeito da existência
de alimentos no Mundo Espiritual? Entretanto, os espíritos errantes sentem fome. Na maioria das

16 Perispírito - envoltório fluídico semimaterial, que serve de laço entre o Espírito e o Corpo. O Homem é formado de
Corpo, Perispírito e Espírito.
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Colônias Espirituais

vezes, os desencarnados, logo após o desligamento do corpo físico, são atormentados pelo desejo
de satisfazerem suas necessidades fisiológicas, como sede e fome incontroláveis.

Para atendimento dessas necessidades básicas, afirmam os espíritos que existem fábricas de
concentrados de frutas e sopas sujeitos à manipulação específica da Espiritualidade.

Nos hospitais das Colônias, alimentos são fornecidos aos enfermos, a fim de se revigorarem.
Esses manjares espirituais, segundo informações do Outro Mundo, possuem gosto e aroma que
não têm similar na Terra. Nos centros de reeducação para onde são conduzidos os espíritos recém-
chegados do Umbral, faz parte do tratamento a ingestão, pelos enfermos, de alimentos
semelhantes aos terrenos, porém menos densos, até que se adaptem a sistemas de sustentação
das Esferas Superiores.

Allan Kardec transcreve a mensagem do espírito Cura de Bizet que se sentiu chocado com as
cenas que presenciou no Mundo Espiritual:
Se não vim imediatamente ao vosso meio, é que a perturbação da separação e o espetáculo novo com
que fui chocado não mo permitiram. E, depois, não sabia a quem escutar; encontrei muitos amigos cujo
acolhimento simpático me ajudou poderosamente a me reconhecer; mas também tive sob os olhos o
atroz espetáculo da fome entre os espíritos. Encontrei lá em cima muitos desses infelizes, mortos nas
torturas da fome, ainda procurando em vão satisfazer uma necessidade imaginária, lutando uns contra
os outros para arrancar um pedaço de comida que se esconde nas mãos, se entrerasgando e, se assim
posso dizer, se entredevorando; uma cena horrível, pavorosa, ultrapassando tudo quanto a imaginação
humana pode conceber de mais desolador! … (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 6, junho de 1868)

Em Memórias de um Suicida, psicografado por Yvonne A. Pereira, um espírito que fora


hospitalizado na Colônia, relata o seguinte:
A cada um de nós foi servido delicioso caldo, tépido, reconfortante em pratos tão alvos quanto
os lençóis; e cada um sentiu o sabor daquilo que lhe apetecia. Fato singular: enquanto fazíamos
a refeição frugal, era o lar paterno que acudia às nossas lembranças, as reuniões em família, a
mesa da ceia, o doce vulto de nossas mães servindo-nos (…)

O espírito André Luiz17 declara na obra Nosso Lar que, recém-chegado ao Mundo Espiritual,
recebeu igual tratamento:
A essa altura, serviram-me caldo reconfortante, seguido de água muito fresca, que me pareceu
portadora de fluidos divinos. Aquela reduzida porção de líquido reanimava-me inesperadamente. Não
saberia dizer que espécie de sopa era aquela; se alimentação sedativa, se remédio salutar.

Entretanto, segundo colocações deste mesmo espírito, não só os convalescentes têm


necessidade de alimentos. Os trabalhadores das Colônias recebem, regularmente, a sua cota de
provisões:
Cada habitante de Nosso Lar recebe provisões de pão e roupa, no que se refere ao estritamente
necessário; (…)

Situação bastante curiosa é essa necessidade de os espíritos receberem alimentos já


manufaturados, exatamente como ocorre na vida terrestre, uma espécie de cesta básica que os
setores públicos socialistas costumam fornecer à população.

17 Consta que André Luiz tenha sido, em vida, o conhecido médico Oswaldo Cruz, entretanto não há provas sobre isso.t
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Mais tarde, em Evolução em Dois Mundos, obra psicografada pelos médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira, o espírito André Luiz se propõe a uma avaliação científica de como
se verifica a alimentação dos espíritos desencarnados, da qual destacamos alguns trechos:
Encarecendo a importância da respiração no sustento do corpo espiritual, basta lembrar a hematose
no corpo físico, pela qual o intercâmbio gasoso se efetua com segurança, através dos alvéolos, nos
quais os gases se transferem do meio exterior para o meio interno e vice-versa, atendendo à
assimilação e desassimilação de variadas atividades químicas no corpo orgânico.
O oxigênio que alcança os tecidos entra em combinação com determinados elementos, dando, em
resultado, o anidrido carbônico e a água, com produção de energia destinada à manutenção das
províncias somáticas.
(...)
Abandonando o envoltório físico na desencarnação, se o psicossoma está profundamente arraigado
às sensações terrestres, sobrevêm ao espírito a necessidade inquietante de prosseguir atrelado ao
mundo biológico que lhe é familiar, e, quando não a supera ao peso do próprio esforço, no
autorreajustamento, provoca os fenômenos da simbiose psíquica, que o levam a conviver,
temporariamente, no halo vital daqueles encarnados com os quais se afine, quando não promove a
obsessão espetacular.

O espírito David Hatch, autor da obra Cartas de um Morto Vivo, recebida pela médium Elsa
Barker18 afirma que, de acordo com a sua visão do Mundo Espiritual, uma das coisas que mais
interessa aos desencarnados é a alimentação. Assegura que os espíritos errantes comem e bebem;
absorvem, principalmente, muita água, pois é um ótimo alimento para o perispírito que capta sua
ação benéfica. Informa que os corpos perispirituais se encontram impregnados de umidade.
Muitos espíritos já informaram que a água tem imenso valor no Mundo Espiritual. E esse líquido
poderoso veículo de fluidos de qualquer natureza, sendo utilizado, também, como medicação.
Segundo ele, já sentira, certa feita, a ação magnética da água que lhe provocou um delicioso e
revigorante bem-estar.

Reporta-se o espírito David Hatch a um encontro com um jovem desencarnado que


recepcionou a noiva ao desencarnar. Durante os primeiros dias após a desencarnação, a moça,
ainda subjugada pelos hábitos terrenos, queixava-se continuamente de fome; ele tentava satisfazê-
la dando-lhe uma substância tênue como alimento. Outra experiência interessante foi a que
vivenciou ao conhecer certa senhora desencarnada que lhe fez, entre outras queixas da sua vida
no Além, a mais esquisita — confessa — que ouvira. Inquirindo a nova conhecida sobre sua atual
estada, recebe a seguinte revelação:
— Olha, primeiro que tudo acho essa gente horrível. Lembro-me ainda de pensar, quando vivia
em ... que ao menos no Outro Mundo não iria encontrar donas de pensões, nem as competentes
criadas e descuidadas e preguiçosas, e afinal aqui são absolutamente a mesma coisa, se não
forem piores. (Cartas de Um Morto Vivo, de Elsa Barker).

Surpreso com tais respostas e tão intrigantes revelações, insiste o espírito David Hatch com
mais perguntas ao que a senhora responde no mesmo tom, estabelecendo-se o seguinte diálogo:
DH. Que me diz! Pois vive aqui numa pensão?
E. Onde quer que eu viva? Bem sabe que não sou rica. (...)
DH. Que tal é a mesa na sua pensão?
E. É pior do que na última onde estive na Terra.
DH. As refeições são pouco abundantes?

18 Elsa Barker, médium inglesa de escrita automática. O espírito David Hatch é identificado como David P. Hucht, um
magistrado de Los Angeles (Califórnia, Estados Unidos da América) que Elsa Barker conheceu ligeiramente. Cartas de
um Morto Vivo foi publicado em 1914.
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E. São pouco abundantes e não prestam, sobretudo o café.


DH. Diga-me uma coisa, servem-lhe aqui as três refeições a que estava habituada na Terra?
E. O senhor tem uma maneira estranha de se exprimir. Não noto nenhuma diferença especial
entre este mundo e a Terra, como lhe chamam, a não ser a falta de conforto, por tudo ser inconstante
e incerto.
DH. Isso mesmo, continue.
E. De manhã nunca sei ao certo quem estará sentado ao meu lado à tarde. Andam num constante
vai-e-vem.
DH. E que come?
E. As coisas do costume — carne e batatas, pastéis e pudins.
DH. Continua ainda a comer isso?
E. Pois claro; o senhor não come?

Eis, aí, portanto, a situação de um espírito profundamente condicionado à vida que levou na
Terra, de tal modo que nenhuma explicação o faria entender que não mais precisava se preocupar
com certas questões tão insignificantes. Fato curioso no campo da alimentação é narrado pelo
espírito Monsenhor Robert Hugh Benson, na obra A Vida nos Mundos Invisíveis, quando visitou,
com seu grupo de pesquisa, levado pelo anfitrião, um pomar muito bem cuidado:
As frutas eram perfeitas na forma, ricas em cor, e pendiam em grandes cachos. Colheu algumas e
ofereceu-nas, assegurando que nos fariam bem. Eram frescas ao tato e notavelmente pesadas para
seu tamanho; o sabor, delicioso, a polpa, macia, sem ser difícil nem desagradável de tocar, e uma
quantidade de suco semelhante ao néctar, escorria delas. Meus dois amigos observavam-me
atentamente enquanto eu comia umas ameixas, ambos revelando uma expressão de jovial
expectativa. Sendo abundante o suco, que temia que escorresse sobre minha roupa. Escorria sim, mas
não a manchava, o que me maravilhou, provocando o riso de meus amigos. Apressaram-se, então, a
explicar que, estando eu num mundo incorruptível, tudo quando não se aproveita é imediatamente
devolvido ao elemento de origem. (…)
As frutas daquele pomar não eram apenas para os que necessitassem de algum tratamento após a
morte física, mas estavam à disposição de quem quer que os desejasse comer pelo seu efeito
estimulante.

Na obra que ditou ao médium Isaltino Barbosa — Um Espírito Através do Cosmo — o


espírito Castro Lopes19, extasiado com Mundo Espiritual, descreve seus frutos como...
(…) proporcionais às árvores em que são gerados, de sabor delicadíssimo e alguns semelhantes aos da
Terra como a melancia e a laranja.

Todavia, os espíritos chamam a atenção dos encarnados para o fato de que, nas faixas
superiores da Espiritualidade, o corpo não tem necessidade de alimentação, no sentido que
entendemos. À proporção que se aproxima das esferas mais elevadas, o Amor, que é a verdadeira
substância de nutrição das almas, torna-se mais intenso e menos denso, constituindo-se no maior
sustentáculo das criaturas. Daí o preceito evangélico: Amai-vos uns aos outros.

19 Antônio de Castro Lopes (Rio de Janeiro - 05/01/1827; id. 11/05/1901). Pseudônimos: Philogelus, Petrosculus,
Moleque e O. O. S. Um dos grandes pioneiros do Espiritismo no Brasil. Formou-se em Medicina em 1848. Foi professor
do Colégio Pedro II e eleito deputado provincial. Profundo conhecedor do Latim. Fez versos e escreveu peças de
teatro. Continuador do trabalho do Dr. Melo Moraes. Publicou várias obras e foi brilhante orador.
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Vida Sexual dos Espíritos

Após a desencarnação, homens e mulheres continuam, no perispírito, com os órgãos sexuais,


mas estes não conservam as mesmas funções que possuíam na Terra. Todos os espíritos errantes
nutrem os sentimentos e emoções inerentes à sua condição.

O que não há, evidentemente, é a procriação. Isso só ocorre no plano terrestre, onde as Leis
Divinas impulsionam o macho e a fêmea, através do instinto e do amor, a colaborar na criação.
Entretanto, a problemática sexual continua, não no sentido terreno, pois todos se encontram
desembaraçados do corpo físico; não desaparece, uma vez que é a fonte da vida.

Como regra geral, o espírito, ao desencarnar, conserva, na erraticidade, a forma perispiritual


da última encarnação. Talvez, por algum condicionamento ou necessidade, o espírito permaneça
na condição de homem ou mulher. Informa o espírito Silveira Sampaio, na obra O Mundo em que
Eu Vivo20, psicografado por Zíbia M. Gasparetto, que alguns desencarnados têm extrema
dificuldade de mudar qualquer característica física da última encarnação. Todavia, como regra
geral, os espíritos errantes podem manipular o perispírito a seu bel-prazer e de acordo com as
lembranças de vidas passadas que mais lhes agradarem.

O espírito Johannes, que não aceita as leis reencarnacionistas, dá, na obra Rumo às Estrelas,
de autoria de Herbert Dennis Bradley 21, o seu parecer a respeito da diferença de sexos:
Nenhum dos dois (masculino ou feminino) é superior ou inferior ao outro. Tais explicações não podem
aplicar-se às metas de um todo. A mulher é a mesma coisa aqui e aí. E o poder que cria os ideais do
homem. E o grande ser criador, não só de novos seres, como de novos pensamentos. Sua responsabilidade
é ainda maior que a do homem. Não somente a mulher dá ser aos filhos, como realmente cria os altos
ou baixos ideais do ser masculino (…).
A mulher sobrevive como alma feminina; o homem como alma masculina. Devo observar, porém, que o
que na Terra chamais amor nada tem a ver com isto. O Amor existe de muitas maneiras. O Sexo é uma
lei; o Amor uma inspiração. Compreendei a distinção e nunca os confundais.

No dia 25 de abril de 1862, em reunião na Sociedade Espírita de Paris, o espírito J. Sanson,


recém-desencarnado, evocado por Allan Kardec, dá a sua explicação sobre o assunto:
P. Os espíritos não têm sexo. Entretanto, como ainda há poucos dias sereis um homem, tendes
neste novo estado uma natureza mais masculina do que feminina? Acontece o mesmo com o espírito
que tivesse deixado seu corpo há muito tempo?
R. Não temos de possuir natureza masculina ou feminina: os espíritos não se reproduzem. Deus
os criou pela sua vontade, e se, nos seus maravilhosos desígnios, quis que os espíritos se reencarnem
na Terra, teve de acrescentar para isso a reprodução das espécies por meio das condições próprias
do macho e da fêmea. Mas vós o sentis, sem necessidade de nenhuma explicação — os espíritos não
podem ter sexo. (O Céu e o Inferno, de Allan Kardec).

Melhores esclarecimentos temos em O Livro dos Espíritos, na resposta que Allan Kardec
obtém dos espíritos à pergunta 201:

20 José da Silveira Sampaio (Rio de Janeiro, 08/06/1914; id. 1965). Pseudônimo: Sam. Doutorou-se em Medicina, em
1935. Dedicou-se ao Teatro e foi comentarista radiofônico.
21 Herbert Dennis Bradley nasceu na Inglaterra, em 1878. Desenvolveu a mediunidade de voz direta após realizar
experiências, na América, com o médium George Valiantine. O livro Rumo às Estrelas foi lançado em 1924.
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P. O espírito que animou o corpo de um homem, em nova existência pode animar o de uma mulher
e vice-versa?
R. Sim, são os mesmos espíritos que animam os homens e as mulheres. Os espíritos se encarnam
homens ou mulheres porque eles não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como
cada posição social, lhe oferece provas e deveres especiais, além da oportunidade de adquirir
experiência. Aquele que fosse sempre homem não saberia senão o que sabem os homens.

Outra informação interessante a respeito do sexo dos espíritos é encontrada na Revista


Espírita, de Allan Kardec, publicada em janeiro de 1866:
Os sexos só existem no organismo. São necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os
espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão por que os sexos seriam
inúteis no Mundo Espiritual.
(...)
Aos homens e às mulheres, são, assim, destinados deveres especiais, igualmente importantes na
ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro.

Na obra O Sexo Além da Morte, seu autor, R. A. Ranieri, através de desdobramentos, visita
zonas da Espiritualidade em que se encontram criaturas profundamente envolvidas com
problemas sexuais que lhes impedem a marcha ascensional.

Segundo suas observações, estão elas de tal forma arraigadas às práticas aberrantes e
viciosas, que apresentam o perispírito totalmente deformado. São espíritos errantes que
abusaram do sexo e que continuam, após a desencarnação, com os mesmos hábitos. Condicionados
a práticas libidinosas, vivem nos bordéis terrenos, usufruindo dos prazeres sexuais, juntamente
com os encarnados com que têm afinidade, em processos obsessivos recíprocos.

Nestes espíritos, denominados de vampiros pelo professor J. Herculano Pires, os apelos


sexuais são tão intensos, que os desequilibram psiquicamente; as entidades denominadas de
íncubos e súcubos22, responsáveis por terríveis obsessões, pertencem a essa categoria.

Na obra Sexo e Destino, ditada pelo espírito André Luiz, através dos médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo Vieira, temos informação da existência do Hospital-Escola Almas Irmãs.
Instituição destinada a socorrer espíritos desencarnados de todas as idades e de ambos os sexos,
necessitados de reeducação sexual, está sediada em quatro quilômetros quadrados de edifícios e
arruamentos, parques e jardins. É, na realidade, uma pequena cidade.

Levado pela curiosidade, o espírito André Luiz pede informações ao instrutor Neves a
respeito do Instituto. Esclareceu, então, que a agremiação possuía uma diversidade de habitantes:
desde os alienados reclusos em manicômios até os remanescentes de tragédias passionais já
pacificados e de aparência hígida23. No Hospital-escola os enfermos têm, como tema central de
estudos, o sexo, pesquisado e enobrecido nas inúmeras Faculdades de ensino e desdobrado em
especialidades, tais como: sexo e amor; sexo e matrimônio; sexo e maternidade, sexo e estímulo,
sexo e equilíbrio; sexo e medicina; sexo e evolução; sexo e penalogia.

22 Íncubos: seres espirituais, com características masculinas, que mantêm relações sexuais com mulheres; no seu oposto
estão os súcubos, que seduzem os homens. Tais entidades aparecem na literatura de todas as épocas e se
manifestaram intensamente na Idade Média. Atualmente são denominados, pela Doutrina Espírita, de obsessores.
23 Hígida: desfruta de boa saúde, sinônimo de sadio (N.R.)
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Podemos deduzir das informações dos espíritos que, no Além-Túmulo, continuam a atração
sexual, os ciúmes e outros sentimentos, bem mais intensos entre os insensatos que cometem sua
dose de insensatez antes de atingir estágios elevados de desenvolvimento.

Em Cartas de um Morto Vivo, o espírito David Hatch depara com um desencarnado que
casara duas vezes na Terra. Estando todos desencarnados, viviam as esposas em litígio a reclamar
a posse do marido que não tinha sossego. O marido, por sua vez, sentia-se, ainda, atraído pela
segunda esposa e, de alguma forma, afeiçoado à primeira.

O espírito David Hatch se torna muito amigo deste trio singular. Conta ele que, certa feita, as
esposas lhe solicitaram o arbítrio: Com qual delas deveria o esposo ficar? Lembrou-se, então, da
resposta do Cristo aos saduceus a uma pergunta semelhante: Quando ressuscitarem de entre os
mortos, não casarão, nem serão pedidos em casamento; devem ser como anjos do Céu. Querendo que
elas entendessem que, na condição em que se encontravam, não deveria haver o sentimento de
posse e nem utilizariam os órgãos sexuais com a mesma finalidade do casamento terreno.

Nos planos superiores da Espiritualidade, não existe o sexo como vulgarmente conhecemos,
porém, objetivando o programa reencarnacionista, realizam-se planejamentos de uniões de almas,
a fim de criar oportunidades de burilamento e progresso. Nos seus relatos, os espíritos errantes
falam dos diálogos que os futuros esposos mantêm em seus passeios pelos jardins das Colônias
Espirituais a projetar as próximas encarnações.

Sentimentos e Emoções nos espíritos desencarnados

Os diversos sentimentos e emoções, positivos ou negativos, cultivados pela humanidade


terrena se transferem para a Mundo dos Espíritos. Isso já se deduz de tudo quanto vimos em temas
aqui tratados anteriormente. O ódio, o orgulho, a inveja, a avareza, a luxúria, a dedicação, a tristeza,
a fraternidade, a alegria entre outros. Até mesmo lágrimas os desencarnados derramam, para
manifestar o que lhes vai no íntimo.

Os espíritos comunicantes insistem em esclarecer aos que ainda permanecem na Terra sobre
a situação dos desencarnados no Mundo Espiritual. Já foi dito que a diversidade de caracteres é
infinita, a depender de cada indivíduo, de suas vidas anteriores, das atitudes e hábitos que
conservou. Encontramos, na Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 4, abril de 1859 os seguintes
esclarecimentos:
Há sensações que têm por fonte o próprio estado dos nossos órgãos. Ora, as necessidades inerentes
ao corpo não se podem verificar, desde que não exista mais corpo. Assim, pois, o espírito não
experimenta nenhuma fadiga, como nenhuma das nossas enfermidades. As necessidades do corpo
determinam necessidades sociais, que para eles não existem. Assim não mais existem as
preocupações dos negócios, as discórdias, as mil e umas tribulações do mundo e os tormentos a que
nós nos entregamos para nos proporcionarmos as necessidades ou as superfluidades da vida. Eles
têm pena do esforço que fazemos por causa de futilidades. Entretanto, quanto mais felizes são os
espíritos elevados, tanto mais sofrem os inferiores.
Mas esses sofrimentos são angústias; e, embora nada tenham de físico, nem por isso são menos
pungentes: eles têm todas as paixões e todos os desejos que tinham em vida (referimo-nos aos
espíritos inferiores) e seu castigo é o de não poder satisfazê-los. Isto é para eles uma tortura que
julgam eterna, porque sua própria inferioridade não lhes permite ver o término, o que é para eles um
castigo.

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Faz parte do aprendizado dos estudantes desencarnados a observação de comportamento


dos espíritos na erraticidade. Há os que alcançaram um equilíbrio e se dedicam às obras
beneficentes, como, também, os apegados aos locais de opróbrio e de vícios. Os que abusam do
álcool rondam as tabernas terrenas, imantados a encarnados que abusam da bebida. Outros
arrastam, durante longos períodos, sofrimentos intoleráveis, criados pela própria mente
dementada. Conservam sentimentos vis; continuam a mentir e a instigar conflitos entre os
encarnados.

Suas feições, assim como todo o corpo, tomam características hediondas que, segundo
informações do Mundo Espiritual, causam pavor. São espíritos malignos que espalham a sua
perversidade, contaminando os desavisados que encontram, de qualquer forma, impregnando-os
de sentimentos inferiores e paixões repugnantes. Alimentam-se eles de emanações venenosas
desprendidas da excitação colérica e dos fluidos animalizados dos seus semelhantes. Esses
espíritos necessitam, quase sempre, de um tratamento nos dois planos — espiritual e terreno —
através de uma doutrinação segura e constante.

Yvonne A. Pereira, em Recordações da Mediunidade, dedica o capítulo 10 ao problema das


obsessões resultantes do assédio dos espíritos sobre os encarnados e alerta para a importância do
trabalho e esclarecimento e reabilitação que deve ser realizado por especialistas no assunto. Diz
ela que:
Um dos mais belos estudos que o Espiritismo faculta aos seus adeptos é, certamente, aquele a que os
casos de obsessão nos arrastam. Temos para nós que esse difícil aprendizado, essa importante
ciência de averiguar obsessões, obsessores e obsidiados deveria constituir especialidade entre os
praticantes do Espiritismo, isto é, médiuns, residentes de mesa, médiuns denominados passistas, etc.
assim como existem médicos pediatras, oculistas, neurologistas, etc., etc., também deveriam existir
espíritas especializados nos casos de tratamento de obsessões, visto que a estes será necessária uma
dedicação absoluta a tal peculiaridade da Doutrina, para levar a bom termo o mandato.
Tal ciência, porém, não se poderá limitar à teoria, requerendo, antes, paciente e acurada observação
em torno dos casos de obsessão que se apresentem no limite de Ação de cada um, pois é sabido que
a observação pessoal, a prática no exercício do sublime mandato espírita enriquece de tal forma os
nossos conhecimentos em torno de cada caso com que nos defrontamos que, cada um deles, ou seja,
cada obsidiado que se nos depare em nossa jornada de espíritas, constituirá um tratado de ricas
possibilidades de instrução e aprendizado, visando à cura, quando a cura seja possível.

O espírito David Hatch, em Cartas de um Morto Vivo, apresenta um caso de avareza;


espetáculo repulsivo que presenciara de um desencarnado. Narra o fato e analisa as consequências
da ambição no Mundo Espiritual. Assistiu ele a um...
(…) avarento a contar o seu dinheiro, e vi os olhares terríveis dos espíritos espreitando avidamente
o seu menor movimento. O ouro possui uma influência especial além do seu poder de aquisição e de
tudo que se lhe acha ligado. Há espíritos que amam o ouro como o avarento, com a mesma paixão
avassalante, ambiciosa, que nada satisfaz.

Entretanto, no Além-Túmulo há, também, aqueles que dedicam seu tempo ao auxílio e ao
progresso geral, pois já cultivam bons sentimentos, como o Amor, a Caridade e a Fraternidade.
Entre eles não há lugar para a inércia e a preguiça.

A prece, o trabalho, a alegria e os ideais superiores fazem parte do seu cotidiano. São os
benfeitores do Espaço, aliados das Esferas Superiores, que recebem a tarefa de instruir espíritos
mais atrasados e aspiram à dignidade do Mestre Jesus.

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V. Construtores do Mundo Invisível

Já foi dito que, como na Terra, no Plano Espiritual existem casas, ruas, flores e quaisquer
outros objetos dos concebidos, cultivados e construídos pelo homem encarnado. E todas essas
notícias têm intrigado muita gente. Qual será, então, o processo utilizado pelos espíritos
desencarnados em suas a criações e construções? E Allan Kardec responde: é o manejo da vontade
e do pensamento.

O pensamento é força criadora; a vontade é força propulsora. Por meio destas duas forças, os
espíritos constroem tudo o que desejam. O Universo é seu laboratório. O espírito Silveira Sampaio,
ao relatar suas observações do Mundo Espiritual, afirma que: (...)
Há também a materialização rápida do nosso pensamento, livre das barreiras carnais. Na Terra,
pensamos e não vemos de imediato a ação da nossa mente, mas aqui, ao pensar, já percebemos a
materialização da ideia. (O Mundo em que Eu Vivo, de Zíbia M. Gasparetto)

Na Terra, antes de um artífice fabricar um objeto, concebe, no pensamento, a forma, a cor e


as características desse mesmo objeto. Depois, reúne os materiais necessários e parte para a
realização da obra.

No Plano Espiritual, o processo se dá de outra maneira. O espírito pensa na forma, na cor e


nas características do objeto que deseja construir e, impulsionando o pensamento com a sua
vontade, terá o objeto pronto imediatamente, o qual será visto, não só pelo fabricante, como por
todos os outros espíritos.

Os objetos assim criados parecerão aos outros espíritos desencarnados, tão reais como reais
são, para nós encarnados, os objetos que utilizamos na vida diária. Informa Allan Kardec em A
Gênese:
Basta ao espírito pensar alguma coisa para que esta se produza, assim como (…) basta modular uma
ária, para que esta repercuta na atmosfera.

Em reuniões de estudos fenomênicos, muitas vezes esse processo é utilizado, quando os


espíritos trazem aos laboratórios de pesquisa objetos, flores, frutos etc. O mesmo acontece nos
fenômenos de aparição de espíritos, quando desejam ser reconhecidos por parentes ou amigos e,
assim, provar suas identidades, sem deixar dúvidas nos observadores.

Apresentam-se, então, com sinais exteriores inconfundíveis (cicatrizes, membros


amputados) da encarnação anterior para qual se transporta em pensamento, e ainda cria,
fluidicamente24, objetos e acessórios que tinham o hábito de usar em vida (cachimbos, bengalas,
armas e outros).

24 Atualmente, muitos estudiosos pretendem substituir a palavra fluido por energia, bioenergia ou energia vital.
Segundo Carlos Toledo Rizzini, energia não é vocábulo mais exato, nem mais correto que fluido. Esta é palavra
tradicional da Doutrina Espírita, mediante as premissas lançadas por Allan Kardec (O Livro dos Espíritos e A Gênese) e
complementada com autores mais recentes.
Então, fluido designa vários estados da matéria mais rarefeita que um gás.
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Allan Kardec, em diversos trechos da bibliografia espírita que organizou, trata do tema
pensamento, procurando demonstrar a sua importância para a existência do espírito. E, do que se
depreende dos seus ensinamentos, o pensamento é o espírito. Eis uma de suas declarações:
Os espíritos agem sobre os fluidos espirituais, não os manipulando como o homem manipula os gases,
mas com o auxílio do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são, para os espíritos, o
que a mão é para o homem. Pelo pensamento, imprimem a esses fluidos tal ou qual direção;
aglomeram-nos, combinam-nos e os dispersam; com eles formam conjuntos, tendo uma aparência,
uma forma, uma cor determinadas; mudam as suas propriedades, como o químico muda as dos gases
e de outros corpos, combinando-os segundo certas leis; são o grande atelier ou o laboratório da vida
espiritual. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 6, junho de 1868)

Esclarece, ainda, o Codificador, que os espíritos, por terem passado por diversas
encarnações, têm uma espécie de arquivo mnemônico no qual estão guardadas todas as
aparências de outras vidas. Assim é que, a depender de suas possibilidades e de sua vontade, os
espíritos podem se apresentar:
(...) com a vestimenta, os sinais exteriores, enfermidades, cicatrizes, membros amputados etc., que
tinham então; um decapitado apresentar-se-á sem a cabeça. Isso não quer dizer que tenha
conservado estas aparências. Certo que não; porque, como espírito, nem é coxo, nem maneta, nem
caolho, nem decapitado, mas seu pensamento, reportando-se à época em que era assim, seu
perispírito toma instantaneamente as aparências, que deixa instantaneamente, desde que o
pensamento deixa de agir. (Id., ibid.)

Tratando-se, porém, da construção de objetos e criação de ambientes, afirma o espírito David


Hatch:
Às vezes edificamos qualquer coisa a pouco e pouco, neste mundo da quarta dimensão, especialmente
quando desejamos deixar uma obra para os outros verem e admirarem, quando queremos que essa
obra seja de duração.
(...)
São mesmo raros os que progridem muito; porém o homem mais estúpido possui aqui uma coisa que
em geral perdem na Terra, isto é — a fé nas criações do seu pensamento. (Cartas de um Morto Vivo,
de Elsa Barker)

Sempre voltando ao assunto que reputava dos mais importantes para se entender o Mundo
dos Espíritos, vejamos o que declarou Allan Kardec, em seu discurso pronunciado na Sociedade
Espírita de Paris, a 2 de novembro de 1864, sobre o tema Comunhão do Pensamento:
O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria;
sem o pensamento, o espírito não seria espírito.
A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a um certo grau de energia;
é o pensamento transformado em força motriz.
É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos em um determinado
sentido. Mas se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser sobre os
elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento age sobre os fluidos ambientes, como o som
sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som.
Pode, pois, dizer-se, com toda verdade, que há nesses fluidos ondas e raios de pensamento que se
cruzam sem se confundir, como há no ar ondas e raios sonoros. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº
12, dezembro de 1864).

Daí o cuidado que os espíritos, encarnados e desencarnados, devem ter com as ideias fixas e
os maus pensamentos. Eles são vistos pelos habitantes do Mundo Espiritual e, muitas vezes, dão
causa a pertinazes obsessões.

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Laboratório do Universo

Allan Kardec fornece as bases para o estudo do processo de criação no Mundo Espiritual em
O Livro dos Médiuns (Cap. VIII — Do Laboratório do Mundo Invisível) e em A Gênese (Cap. XIV —
Ação dos Espíritos sobre os Fluidos — Criações Fluídicas — Fotografia do Pensamento).

Fato interessante sobre formação de objetos por um espírito é o narrado em O Livro dos
Médiuns (Cap. VII — nº 116). Um espírito encarnado se desdobra e, ao visitar uma senhora
enferma, é visto por esta portando uma caixinha de rapé que costumava usar. O espírito visitante
sentou-se numa poltrona ao pé de sua cama, permaneceu silencioso durante todo o tempo e tomou
várias pitadas de rapé.

A excepcionalidade dessa ocorrência se deve à questão de que o espírito era encarnado. Allan
Kardec observa a respeito que, nesse caso, trata-se, apenas, de uma aparência, de uma imitação do
que existe realmente, uma vez que a verdadeira tabaqueira ficara em outro local. Por isso, ele
chama a atenção para a impropriedade do termo criação para esses casos, e explicou o porquê:
O espírito age sobre a matéria; tira da matéria cósmica universal os elementos necessários para
formar, como quiser, objetos com a aparência dos diversos corpos da Terra. Pode também operar,
pela vontade, sobre a matéria elementar, uma transformação íntima que lhe dê certas propriedades.
Essa faculdade é inerente à natureza do espírito, que a exerce muitas vezes de maneira instintiva e,
portanto, sem o perceber, quando se faz necessário. Os objetos formados pelo espírito são de
existência passageira que depende de sua vontade ou da necessidade; ele pode fazê-los e desfazê-los
a seu bel-prazer.
Esses objetos podem, em certos casos, parecer para os vivos perfeitamente reais, tornando-se
momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o espírito
não pode tirar nada do nada.

Sobre o processo de criação no Mundo Espiritual, concordam, por exemplo, os espíritos


Silveira Sampaio, Robert Hugh Benson e David Hatch: o homem na Terra usa a parcela mínima de
criatividade no seu dia a dia, porque desconhece o verdadeiro potencial do ser individual.

No Além, entretanto, se o espírito errante souber manipular suas próprias forças e direcioná-
las para atividades construtivas, desde que respeite as leis sociais da comunidade e os direitos
alheios, desfrutará de um mundo além da sua pobre imaginação. Por isso, o espírito David Hatch
declara, de acordo com as suas observações, que o homem na Terra perdeu a fé no seu poder de
criar.

As Vestimentas dos Espíritos

Uma questão que tem provocado a curiosidade de muita gente é o fato de os espíritos se
apresentarem aos videntes, trajando, muitas vezes, roupas estranhas às que costumavam usar, de
épocas antigas ou, mesmo, com uma simples túnica.

De acordo com Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, no Mundo Espiritual, o vestuário é
um componente que integra o desencarnado, seja ele de qualquer faixa, inferior ou superior.
Através da vidência, em raríssimas ocasiões, médiuns têm informado que as entidades se
apresentam despidas. Em algumas sessões experimentais, espíritos se apresentaram sem roupas.
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Geralmente, os espíritos desencarnados trazem consigo os complementos de sua


indumentária ou objeto de que faziam uso, habitualmente, em vida, como óculos, bengalas e
adereços. Na obra Evolução em Dois Mundos, o espírito André Luiz observa que, em se tratando
da aparência dos desencarnados, como roupas, calçados e peças protéticas, tudo é confeccionado
por eles próprios, estejam eles em qualquer das faixas evolutivas do Mundo Espiritual. Entretanto,
em algumas ocasiões, conforme declarações suas e de outros espíritos comunicantes, os produtos
da criação são encontrados já fabricados, podendo ser utilizados por qualquer desencarnado que
deles necessite, como alimentos, roupas, prédios etc.

Na Revista Espírita nº 8, de agosto de 1859, Allan Kardec comenta a respeito das roupagens
com que os espíritos se revestem e se refere à capacidade que estes têm de mudar sua aparência
com acessórios de toalete diversos. Cita ele, na oportunidade, duas aparições de que teve notícia,
em que uma a um cachimbo que produzia fumaça e a outra e tomava pitadas de rapé, já citada
anteriormente.

Como sempre, há os que escarnecem daquilo que não podem ou não querem compreender.
A presunção da maioria das pessoas de que tudo sabem, as leva a julgar que tais crenças são
ridículas, pois nada existe após a morte, mas os testemunhos fornecidos espíritos se têm
multiplicado através dos tempos.

Em Cartas de um Morto Vivo, o espírito David Hatch, em diálogo com a médium Elsa Barker,
declara:
Parecer-lhe-á absurdo se eu lhe disser que usamos roupa, tal qual como na Terra, mas em menor
quantidade. Ainda não vi malas; porém, é preciso que se note que ainda estou cá há pouco tempo.

Mais tarde, o mesmo espírito retorna e acrescenta:


Uma das coisas que tornam este país muito interessante é a falta de convenções. Não há duas pessoas
vestidas da mesma maneira — não é bem isto que eu pretendia dizer; muitos andam vestidos dum
modo tão excêntrico, que constituem um conjunto extremamente variado.
O meu traje é bem semelhante ao que usava na Terra, porém, quando me transporto pelo pensamento
a uma das minhas vidas anteriores, tenho feito a experiência de enxergar os trajes daquela época.

Reporta-se ele, então, ao caso da Toga Romana. Certa feita, encontrou um espírito de aspecto
feminino vestido à grega. Curioso, perguntou onde tinha arranjado aquele traje. Respondeu que
ela mesma o confeccionara. Ainda neófito, o espírito David Hatch, indagou de que maneira e ela
disse:
— Ora essa, basta idealizar o modelo no meu espírito para logo o ter a minha disposição.
— E coseu tudo, ponto por ponto?
— Não procedi da mesma maneira como teria feito na Terra.

Diante dessa explicação, tentou ele mesmo confeccionar uma toga romana para seu uso, mas
não conseguiu, pois não se lembrava, de forma nenhuma, do modelo exato. Indagou, mais tarde, a
seu Mestre, de como vencer essa dificuldade. Este mostrou-lhe cuidadosamente o processo:
(…) devia fixar o modelo e formá-lo nitidamente no meu espírito, vê-lo no meu íntimo e, em seguida,
atrair, pelo poder do desejo, a matéria sutil do mundo do pensamento em torno do modelo, formando,
assim, a toga.

Assim procedeu o espírito David Hatch e conseguiu confeccionar a toga. Por causa dessa
vestimenta, um espírito recém-chegado à Colônia julgou que ele fosse César, o imperador romano.

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Outra informação interessante sobre o vestuário do Além nos dá o espírito Johannes, no livro
Rumo às Estrelas, através de Herbert Dennis Bradley, que, em outras palavras, resume tudo o que
foi dito, até agora, das vestimentas dos espíritos:
“Algumas criaturas estúpidas pensam que a alma é um fluido sem forma a flutuar de um lado para o
outro. Absurdo. Cada alma tem sua forma adquirida na vida terrena e conservada aqui. O aspecto que
apresentamos é o de homens e mulheres como na Terra; usamos indumentária que nos dá a nós a mesma
impressão que aí recebeis da indumentária terrena. São simples véus para a parte mental, algo que
cobre e dá aparência à forma mental;
(…). Essa indumentária não procede de oficinas, como as vossas; procede da ideia do indivíduo.
Contribui para mostrar a mente”.

Com o que concorda inteiramente o espírito David Hatch.

Em Memórias de um Suicida, romance psicografado pela médium Yvonne A. Pereira e,


segundo consta, de autoria do espírito Camilo Castelo Branco (escritor português), tem-se a
informação de que os espíritos recém-chegados da Terra, através de atos tresloucados em que
tiraram a própria vida física, apresentam roupas andrajosas, sujas e fétidas, revelando o estado de
angústia e desespero em que se encontram. Os baixos níveis mentais de vibração de tais espíritos
refletem o ambiente trevoso de suas pobres almas; uma falange de réprobos em estado lastimável:
(…) trajando todos vestes como que empastadas do lodo das sepulturas, com feições alteradas e
doridas, estampando os estigmas de sofrimentos cruciantes!

Pesquisando sobre a questão das vestimentas espirituais, Allan Kardec solicita do espírito
que em vida ficou conhecido como São Luís, um esclarecimento, e ele respondeu:
R. (...) O espírito tem sobre os elementos materiais disseminados em todo espaço, na nossa
atmosfera, um poder que estais longe de suspeitar. Pode ele, à vontade, concentrar esses elementos
e lhes dar uma forma aparente, adequada aos seus projetos.
P. Faço novamente a pergunta de maneira categórica, a fim de evitar qualquer equívoco: as
roupas com que se cobrem os espíritos são alguma coisa?
R. Parece que a minha resposta anterior resolve a questão. Não sabeis que o próprio perispírito é
alguma coisa?

Daí, concluirmos que os espíritos transmitem às suas vestes o seu estado mental. Elas
demonstram a condição de cada um. Nesse caso, também o pensamento é de suma importância.
Tudo o que lhes vai nos pensamentos transparece nas vestimentas que usam.

Arquitetura das Cidades Espíritas

Assunto dos mais polêmicos é o que trata da construção de prédios e cidades no Mundo
Espiritual. As informações se multiplicam, uma vez que infinitos são os espíritos e locais onde estes
habitam. Excetuando alguns aspectos concordantes, inúmeras informações individuais a respeito
de minúcias sobre estilos e móveis são fornecidas pelos espíritos comunicantes, de acordo com o
aprendizado e experiências por que passaram.

A ação dos espíritos sobre os fluidos tem a mesma força criadora na construção das Cidades
Espirituais, com suas casas, palácios e jardins, resultando em um mundo invisível aos olhos
carnais, todavia bastante intenso e vibrante aos de seus habitantes.

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Empregando o pensamento e a vontade, os espíritos atuam sobre os elementos materiais


espalhados por todo o espaço e lhes imprimem a direção desejada, exatamente como os
encarnados fazem com as mãos ao construir qualquer objeto.

Baseado em suas observações pessoais, explica o espírito Silveira Sampaio, na obra O Mundo
em que Eu Vivo:
Assim, os que já desenvolveram o senso da beleza, e usufruíram de dinheiro da Terra, morando em
residências bem decoradas, aqui construíram suas habitações com gosto e requinte. Vestem-se com
apuro e bom gosto, e procuram ocupar-se com tarefas intelectuais ou condizentes com sua maneira
de ser. E há os que, ao contrário, tendo tido suas últimas encarnações na pobreza ou ocupando
posições mais humildes na sociedade, constroem suas casas sobriamente, com poucas acomodações
e procuram trabalhar nas ocupações mais modestas, que requerem menos esforço mental.

Em A Vida Além do Véu, do Reverendo George Vale Owen, o espírito comunicante descreve
sua casa como
(...) bem-acabada interna e externamente. Dentro, possui banheiro, um salão de música e aparelhos
registradores do nosso trabalho. É um edifício amplo.

Segundo declarações do Mundo Espiritual, os tamanhos e tipos de imóveis variam de acordo


com a importância do trabalho desempenhado pelos espíritos que os ocupam e segundo seus
caracteres. Há, mesmo, verdadeiros palácios com grandes torres, altas abóbadas, grandes cúpulas
e praças públicas ou reservadas. Os templos destinados às religiões, imitando os gostos terrenos,
são, geralmente, suntuosos, verdadeiras catedrais cujas torres se perdem nas alturas.

Em A Vida nos Mundos Invisíveis, o espírito Monsenhor Robert Hugh Benson se dedica a
relatar como se processou a sua morte e as subsequentes viagens através de várias regiões do
Mundo Espiritual. De suas experiências, oferece informações sobre os fascinantes aspectos da vida
dos espíritos. Sobre a estrutura das Cidades Espirituais e estruturas das moradias, diz ele:
Ao nos aproximarmos da cidade, foi possível avaliar a sua enorme extensão. Nem preciso dizer que
era totalmente diversa de tudo que jamais víramos. Consistia de grande número de majestosos
edifícios, rodeados de magníficos jardins e árvores, onde brilhavam, aqui e acolá, espelhos de água,
límpida como cristal, refletindo, além das cores já conhecidas na Terra, outras mil tonalidades jamais
vistas.

Comparados com as estruturas terrenas, os edifícios não eram muito altos, mas apenas
extremamente amplos. E impossível descrever de que materiais se compunham, por serem
essencialmente espirituais. A superfície é lisa como mármore, e tem a delicada consistência e a
transparência do alabastro, ao mesmo tempo que cada prédio emite uma corrente de luz da
mesma pálida tonalidade.

No caso de uma obra complexa e importante como a formação das Colônias Espirituais
Socorristas, informam alguns espíritos comunicantes que a tarefa é confiada às falanges de
espíritos que nisso se especializaram.

Os espíritos, após o sono reparador que se segue à desencarnação, chegam às Colônias


Socorristas e encontram casas e hospitais confortáveis, lindos jardins e espaços acolhedores. Os
sanatórios são luminosos e belos. Tudo construído pelos espíritos que os precederam.

Quanto às residências, consta, das mensagens oriundas do Outro Mundo, que qualquer
espírito errante, desde que tenha desenvolvido capacidade para tal, poderá construir seu lar,
atendendo às comodidades e estilo do que deixou na Terra. Se não consegue construir um por si
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mesmo, usará um construído por outro espírito que dele não mais necessite. Os espíritos são
unânimes em afirmar que a estrutura urbana é das mais harmoniosas que já viram.

O espírito Irmão Jacob25, por exemplo, testemunha, na obra Voltei, psicografada pelo
médium Francisco Cândido Xavier, que, nas Colônias Espirituais que visitou:
Os domicílios não se torturavam uns aos outros como nas grandes cidades terrestres; ofereciam espaços
regulares entre si, como a indicar que naquele abençoado reduto de fraternidade e auxílio cristão há
lugar para todos. Não vi estabelecimentos comerciais, mas, em compensação, identifiquei grande
número de instituições consagradas ao bem coletivo.

Percebe-se que, por serem criadas há muitos anos, o estilo que predomina nas Cidades
Espirituais, segundo as descrições que de lá nos chegam, é o antigo; os prédios de paredes alvas e
estilo clássico. Curiosamente, as preferências recaem nos modelos grego, romano e egípcio.

Extensas e formosas avenidas, ladeadas de vegetação caprichosa e bela que colabora na


criação de ambiente agradável e humanizado. Entretanto, é bom observar que as mensagens sobre
arquitetura espiritual divergem, algumas vezes: enquanto alguns espíritos descrevem prédios
suntuosos e belos, outros os caracterizam como simples e acolhedores, atendendo aos objetivos,
caprichos e vontade de quem os construiu. Então, vejamos o que diz o cientista espírita Léon Denis
a respeito de assunto, em seu livro Depois da Morte:
O espírito, pelo poder da sua vontade, opera sobre os fluidos do Espaço, os combina e os dispõe a seu
gosto, dá-lhes as cores e as formas que convêm ao seu fim. E é por meio desses fluidos que se
executam obras que desafiam toda comparação e análise: Construções aéreas, de cores brilhantes, de
zimbórios resplandecentes; circos imensos onde se reúnem em conselho os delegados do Universo;
templos de vastas proporções, donde se elevam acordes de uma harmonia divina; quadros variados,
luminosos: reproduções de vidas humanas, vidas de fé e de sacrifício, apostolados dolorosos, dramas
do infinito.

Esclareça-se, entretanto, que o aspecto do ambiente variará, segundo a condição moral


daqueles que neles se acham.

Os habitantes das trevas ocupam, e acordo com informação de alguns espíritos errantes,
cavernas lúgubres à semelhança das habitadas por animais ferozes.

Exatamente como qualquer outra necessidade que os espíritos errantes acreditem que
devam ser atendidas, o abrigo nada mais é do que um condicionamento da vida terrena.

Na Terra, temos de nos abrigar das intempéries, as tempestades, do sol escaldante, dos
ventos e dos rumais ferozes, além de preservar a intimidade da homília. No Mundo Espiritual, o
ambiente difere totalmente do planeta, pois lá, como descrevem os espíritos comunicantes, não há
frio nem calor excessivos, não há terremotos nem tempestades, a luz do sol é agradável e
reconfortante. As paredes não se constituem em barreiras para o desencarnado.

De tudo o espírito usufrui quando não se encontra envolvido no emaranhado de suas paixões
ou ainda ligado às sensações terrenas. Daí concluirmos que os espíritos superiores, tendo

25 Consta que Irmão Jacob é o pseudônimo de Frederico Figner, importante colaborador da Federação Espírita
Brasileira. Um indício de sua identidade é o encontro a que ele se reporta, na obra Voltei, com Thomas Alva Edison, o
inventor do fonógrafo. Frederico Figner foi o introdutor deste aparelho no Brasil.
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superado essa fase, não mais precisem de qualquer habitação para seu uso exclusivo ou de seus
familiares.

VI. Organização Social, Política e Administrativa


das Cidades Espirituais

Onde há agrupamentos de indivíduos, impõe-se o estabelecimento de uma estrutura


organizacional, onde as pessoas se orientem dentro da coletividade de que fazem parte. E esses
padrões sociais são levados para o Além, por espíritos ainda ligados à sociedade terrestre e que,
por esse motivo, anseiam por um referencial comunitário. Dentro do conhecimento terrestre e no
conceito estabelecido pelos encarnados, comunidade é uma área geográfica contínua, em que
grupos mutuamente dependentes atuam em conjunto para satisfazer às suas necessidades, através
de organizações e instituições comuns (Conjuntura Atual, de Gleuso Damasceno Duarte).

O mesmo conceito se aplica às Colônias do Mundo Espiritual, com a diferença que, neste, é
muito difícil, senão impossível, definir os seus limites. Quanto ao termo sociedade, refere-se à
forma genérica de organização de cada grupo humano; no caso das Colônias Espirituais, são
falanges de espíritos que se organizam para determinados fins.

No entendimento dos espíritos, devido à vastidão do Mundo Espiritual, não se poderia, de


nenhuma forma, entender que as Cidades Espirituais se constituíssem em comunidades acéfalas.
É certo que haja uma organização administrativa proporcional às suas complexidades e
exigências, mesmo que as necessidades não sejam exatamente as mesmas, tendo como elemento
básico, o pensamento.

Sabem eles que a Sociedade Espiritual próxima à crosta terrena longe está de uma Utopia em
qualidade. O que há, na realidade, é um grande esforço da parte dos espíritos de boa vontade, para
ajudar os espíritos mais atrasados na sua caminhada evolutiva.

A população das Colônias Espirituais está dividida em assistentes e assistidos,


administradores e administrados etc. Geralmente são comunidades heterogêneas. Adultos,
crianças, jovens, velhos, mulheres e homens convivem e trabalham conjuntamente.
Excepcionalmente, porém, a Colônia Espiritual, segundo as mensagens psicográficas, é constituída
especialmente para crianças, suicidas, etc.

Nas Comunidades Espirituais, todos têm seus afazeres e momentos de lazer. Há liberdade de
escolha para se dedicar à leitura, ou à música, ou a passeios e visitas. A respeito da vida social nas
Colônias Socorristas, esclarece o espírito André Luiz, em Evolução em Dois Mundos:
Espíritos abnegados aglutinam-se em verdadeiras cidades e vilarejos com estilos variados como
acontece nos burgos terrestres, característicos da metrópole ou do campo, edificando largos
empreendimentos de educação e progresso, em favor de si mesmos e a benefício dos outros.

São as minorias que se constituem em verdadeiros condutores de irmãos desencarnados. As


regiões que ele denomina de purgativas ou infernais são amparadas por esses servidores.

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A todo aquele que deseje progredir é dada oportunidade de acordo com a sua capacidade.

Há tarefas em todos os campos da atividade humana: na educação, na assistência médica, na


enfermagem, no serviço social, nas pesquisas e nas tarefas domésticas. O que não falta é serviço.

Estratificação Social da População das Colônias Espirituais

No conceito terreno, dá-se o nome de estratificação social às diversas camadas ou classes


sociais, superpostas ou hierarquizadas, de acordo com o status dos indivíduos que as compõem.

No caso do Mundo Espiritual, o que determina a estratificação é o grau de evolução dos


espíritos que formam cada escala vibratória, dentro de uma escala infinita. A importância social e
financeira, como é óbvio neste caso, não tem nenhuma influência.

Podemos representar a sociedade espiritual, fazendo uma comparação com a sociedade


terrena, como uma pirâmide em que a base representa a faixa de espíritos inferiores, muito mais
numerosos na Erraticidade, conforme os próprios informantes do Espaço; a parte intermediária
mostra uma parcela menor que se dedica a beneficiar a Humanidade; enquanto o ápice, muito mais
restrito, retrata o contingente de espíritos puros.

Eis o que diz o espírito Silveira Sampaio, a respeito do Mundo Espiritual, na obra O Mundo
em que Eu Vivo:
Há sociedade, hierarquia e em alguns lugares é interessante observar o comportamento de cada um.
Com exceção dos planos mais altos, onde o equilíbrio é mais constante e as comunidades socializadas
em alto padrão, há cidades onde as criaturas, mesmo convivendo em paz e preparando-se para voltar
a reencarnar com proveito, conservam costumes adquiridos durante vidas consecutivas e que lhes é
difícil modificar.

Allan Kardec, na Introdução de O Livro dos Espíritos, chama a atenção para o fato de que,
no Mundo Espiritual, há escalas diferenciadas de espíritos. Tratando sobre hierarquia dos
espíritos, no artigo Quadro da Vida Espírita (Revista Espírita, nº 4, abril de 1859) informa que, no
Além-Túmulo, encontramos desde as camadas da escória espiritual até aquelas compostas por
espíritos elevados.

Os espíritos têm afirmado em diversas oportunidades que as Colônias Espirituais possuem


uma estrutura social, em que a hierarquia é respeitada naturalmente, tomando-se por base a
autoridade moral.

Instituições de Direito Público e Privado das Colônias Espirituais

Objetivando o trabalho de reeducação, os espíritos instrutores organizam suas instituições


de maneira que as tarefas por eles desenvolvidas obtenham êxito. Dessa forma, em seus variados
setores, a disciplina é imprescindível, a fim de que todos os desencarnados tenham igual
oportunidade de progredir e a interação entre os seus habitantes seja a mais efetiva possível.

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Assim como ocorre na Terra, no Mundo Espiritual, os espíritos, também integrantes de uma
comunidade, devem se enquadrar em normas e respeitar instituições. Estas, à semelhança das
estabelecidas na Terra, podem ser classificadas em públicas e privadas.

Seriam classificadas como públicas o Governo, com seus ministérios, departamentos, centros
de estudos, bibliotecas, hospitais e outras não menos importantes para o desenvolvimento da vida
nas Colônias Espirituais. De Direito privado assume importância maior a família.

Na vida de cada indivíduo, a família é considerada o grupo social mais importante, tanto no
plano físico como no plano extrafísico. Isso devido às funções que a mesma desempenha:

No Plano Material:
— Função procriadora: que garante a propagação e perpetuação da espécie, possibilitando a
realização biológica e psíquica do casal, no desempenho da maternidade e da paternidade.
— Função educadora: que procura desenvolver o indivíduo física, psíquica e socialmente através
de longos e contínuos cuidados.
— Função econômica: através da qual os membros são providos de subsistência e conforto.

No Plano Espiritual:
— Função educadora: que possibilita ao encarnado a oportunidade de evolver e se reeducar.

No plano físico, a equipe doméstica atende, geralmente, à consanguinidade, e, algumas vezes,


ao sistema de parentesco que abrange, além dos consanguíneos, os afins (ligados ao grupo pelo
casamento) e, ainda, os adotivos. Esclareça-se, entretanto, que os laços de parentesco se estendem
ao Mundo Espiritual.

Avós, pais e irmãos da família encarnada, possivelmente comporão a família espiritual, desde
que afins espiritualmente pois, no plano extrafísico, o grupo familiar obedece, exclusivamente, à
Lei de Afinidade. A essa lei inflexível se submete a grande família espiritual que, neste caso, tem
um sentido muito mais abrangente.

Swedenborg já citara, em suas obras, as comunidades agrupadas por costumes, hábitos,


crenças e nacionalidades. Assim, ele vislumbrou sociedade de holandeses, de protestantes e outras
bastante sectárias. Afirmou ele que tais comunidades estão de tal maneira condicionadas à vida
material anterior que não admitem mudanças.

Sobre o mesmo assunto, informa o espírito André Luiz, em Evolução em Dois Mundos:
Por isso mesmo, na esfera seguinte à condição humana, temos notícias do espaço das nações, com as
suas comunidades, idiomas, experiências e inclinações, inclusive organizações religiosas típicas,
juntos das quais funcionam missionários de libertação mental, operando com caridade e discrição
para que as ideias renovadoras se expandam sem dilaceração e sem choque.

Em Nosso Lar, este mesmo espírito nos fala sobre a organização doméstica encarnada, em
seu sentido mais restrito:
O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável.
É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora,
grande número de estudiosos das questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela
regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da família humana está
ameaçada.

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Os espíritos recém-desencarnados são, geralmente, recebidos na Espiritualidade por amigos


e parentes que os precederam na desencarnação e com quem irão conviver nas Colônias
Espirituais. Os amigos e familiares que se apresentam para a recepção no Além são sempre os da
última encarnação, como pai, mãe, avós. Há casos, entretanto, em que laços anteriores superam os
da última encarnação e parentes desencarnados de famílias terrenas pretéritas ou espíritos afins
ficam à espera dos recém-desencarnados.

Eis os que dizem os espíritos errantes através do médium John C. Sloan26, registrado na obra
No Limiar do Etéreo, de J. Arthur Findlay:
Morrer, dissemos, é tão fácil, tão simples, quanto o adormecer e o despertar. O nosso corpo etéreo
escapa-se do corpo físico, levando consigo a mente e nós despertamos noutro meio, onde
encontramos os amigos e os que conosco entretiveram relações, prontos a nos ajudar e instruir em a
nova vida.

Na obra The Witness, de autoria da Sra. Jessie Platts, encontra-se uma coleção de
comunicações obtidas através de sua própria mediunidade. Todas as mensagens foram dadas por
seu filho mais moço, Tiny.

Este jovem desencarnou com 18 anos de idade, durante um combate na frente francesa, em
abril de 1917. No ano seguinte, ele se comunicou, fornecendo provas diretas de sua identidade e
escrevendo sobre o meio espiritual que o cercava. Em certa ocasião, relatou o seguinte:
Algumas vezes, os espíritos desencarnados, ao se acharem sós num meio desconhecido, são tomados
de grande pavor; mas, isso só se dá com os que em vida foram profundamente egoístas e nunca
dirigiram o seu pensamento a Deus. Contudo, em chegando o momento, esses espíritos são ajudados
e animados, à sua vez, por seus "espíritos-guias", mas preciso lhes é, primeiro, adquirirem uma
espiritualidade suficiente, para se acharem em condições de perceber os "espíritos-guias" (...).
Quando, entre os espíritos recém-chegados, há os que se encontrem ligados por vivas afeições a
outros espíritos desencarnados algum tempo antes, estes últimos lhes acorrem ao encontro, antes
que passem pela fase do sono reparador. Não se pode imaginar ventura maior do que a desses
encontros no meio espiritual, após longas separações que parecem definitivas. Se bem que os
espíritos saibam que terão de se separar, ainda por certo tempo, não o lamentam, por estarem cientes
de que estas separações já não serão iguais às anteriores. E, quando os espíritos recém-chegados
despertam do sono reparador, seus "guias" intervêm para informá-los do adestramento espiritual
que a cada um se acha reservado.

A vida em família, por conseguinte, em ambos os planos, é considerada o melhor meio para
reeducar o espírito, pois, só através dessa instituição, é possível promover um encontro efetivo de
espíritos que necessitam de provar e expiar conjuntamente. Por isso, os espíritos errantes, no
intervalo das encarnações, são estimulados a participar da vida doméstica, a fim de se
condicionarem ao convívio do lar e fortalecerem os laços familiares.

Como foi dito anteriormente, no sistema familiar das Comunidades Espirituais, a família é
formada, exclusivamente, pela Lei de Afinidade. Observa-se, entretanto, que as designações pai,
mãe e filho continuam a ser utilizadas no cotidiano das Colônias Espirituais.

O espírito com características femininas é apresentado como elemento de grande valor na


integração dos componentes da família. É geralmente a mãe, ou a avó, ou a esposa, que resgata os

26 J. Arthur Findlay nasceu na Inglaterra, em 1883. Fundou em 1920 e foi vice-presidente da Sociedade para Pesquisas
Psíquicas de Glascow. Fez, durante 5 anos, experiências de voz direta com o médium John C. Sloan. No Limiar do
Etéreo foi publicado em 1931.
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filhos, netos ou esposos das zonas inferiores onde se encontram após a desencarnação. É de se
estranhar que esses rótulos e características sexuais continuem a ser utilizados no Mundo
Espiritual, uma vez que, conforme os espíritos codificadores informaram a Allan Kardec na
pergunta 200 de O Livro dos Espíritos, os espíritos desencarnados não têm sexo:
P. Os espíritos têm sexo?
R. Não como entendeis, porque os sexos dependem da constituição orgânica. Há entre eles amor
e simpatia, mas baseados na afinidade dos sentimentos.

Na verdade, do que se depreende das mensagens do Além, o espírito feminino assume


numerosas obrigações nas Colônias, tanto na esfera doméstica, como na enfermagem, no ensino,
no serviço assistencial e em outros setores importantes. A ele são entregues uma das tarefas mais
nobres do Mundo Espiritual que é cuidar das crianças, cujas mães ainda se encontram na Terra.

De acordo com mensagens oriundas dos mensageiros espirituais, espíritos há que adotam,
como seus, os filhos de outros espíritos que não têm condições de desempenhar suas tarefas.

Temos notícias de que muitos casamentos, antes que se efetivem na Terra, foram planejados
no Espaço. Seria uma espécie de planejamento familiar, envolvendo pais e filhos, a fim de que,
durante a convivência do dia a dia, retifiquem erros, amenizem conflitos e eliminem ódios de vidas
passadas.

Há referências a locais onde os futuros cônjuges se encontram e, através de diálogos


amistosos, preparam-se para as provas e alegrias que os esperam junto aos futuros filhos e demais
parentes. Excepcionalmente, as programações não são respeitadas, devido ao livre-arbítrio. Há,
ainda, a possibilidade de espíritos que nunca se encontraram anteriormente, a partir de um
momento, darem início a um relacionamento.

Da mesma forma que há casamentos na Espiritualidade, também existem separações. Muitas


vezes, espíritos que estiveram casados em determinada encarnação, decidem se separar no Mundo
Espiritual e partir para missões ou provas que tenham de cumprir separadamente.

Pode ocorrer, por exemplo, que motivos superiores designem um dos cônjuges para serviço
especial na Terra, em virtude de possuir qualidades específicas para alguma tarefa, enquanto o
outro permaneça no Mundo Espiritual. Pode acontecer, também, que um dos cônjuges, após
venturoso estágio em Mundos Superiores, tenha de regressar à Terra a fim de se submeter a
provas difíceis e resgatar compromissos.

O espírito André Luiz, em Nosso Lar, descreve o Bosque das Aguas como uma das mais belas
regiões da Colônia:
Trata-se de um dos locais prediletos para excursões dos amantes, que aqui vêm tecer as mais lindas
promessas de amor e fidelidade, para as experiências da Terra.

Entretanto, os casamentos nem sempre são planejados com base no Amor, na Fraternidade
e no Dever; existem os que objetivam a provação e a expiação, e que representam, na verdade,
oportunidades de conciliação, imprescindíveis ao processo de retificação e aprimoramento dos
espíritos. A maioria dos casais humanos é constituída, segundo o espírito André Luiz, de
verdadeiros trabalhos forçados, sob algemas.

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O que deixou o espírito André Luiz bastante curioso — ele mesmo confessa em Nosso Lar —
foi ter encontrado noivados no Mundo Espiritual. A esse respeito, esclarece Lísias, seu instrutor
espiritual:
— Como não? Vive o amor sublime no corpo mortal, ou na alma eterna? Lá, no círculo terrestre, meu
caro, o amor é uma espécie de ouro abafado nas pedras brutas. Tanto o misturam os homens com as
necessidades, os desejos e os estados inferiores, que raramente se diferenciará a ganga do precioso
metal.
(...)
— O noivado é muito mais belo na espiritualidade. Não existem véus de ilusão a obscurecer-nos o
olhar. Somos o que somos.

No entender do espírito Silveira Sampaio, cada encarnação é, para o reencarnante, como ir a


uma guerra. A Terra se compara a um campo de batalha. No período que se limita do berço ao
túmulo, o indivíduo se vê diante de várias situações, em que ele pode matar ou morrer, vencer ou
fracassar, ter alegrias ou ficar durante muitos anos no sofrimento e na dor.

Realmente, as lutas do espírito para vencer suas próprias inferioridades e não falhar com os
seus semelhantes são inauditas. Por isso, a presença de familiares é indispensável na vida do
espírito encarnado desde o nascimento, quando é completamente dependente dos pais, até a
partida para o Outro Mundo, dando-lhe apoio nos momentos difíceis.

Órgãos e Funções de Administração nas Cidades Espirituais

Levando-se em consideração as declarações dos espíritos a respeito da vida além-túmulo, as


instituições que constituem o Mundo Espiritual formam um conjunto harmônico em que imperam
a ordem e a justiça. É uma sociedade harmônica a que o espírito desencarnado tem dificuldade de
se adaptar, devido ao condicionamento do Plano Físico.

Na verdade, as Colônias Espirituais se destinam aos recém-chegados da Terra, para que eles
encontrem uma base que lhes ofereça um ambiente não muito diferente daquele onde habitava.

Em A Vida Além do Véu27, o capítulo IV é todo dedicado à Cidade e aos Domínios de Castrel.
Este espírito exerce a função de governador desta Comunidade Espiritual e analisa, juntamente
com seus prepostos, os relatórios acerca do progresso deste ou daquele setor administrativo da
Colônia. Por coordenar de maneira eficiente um grande distrito, é chamado, também, de
Supergovernador.

Com os livros do espírito André Luiz, temos um quadro da vida espírita que nada fica a dever
à sociedade terrena. Quase não há mudanças e as preocupações rotineiras e burocráticas
continuam nas Colônias, exceto pela disciplina e solidariedade que prevalecem no dia a dia de seus
habitantes.

Geralmente, os espíritos trabalham em equipe. Os grupos de trabalho são divididos em


Ministérios, Departamentos, Caravanas e Turmas. Temos, segundo informações dos autores
espirituais, Ministérios da Comunicação, do Auxílio, do Esclarecimento, da Regeneração, da União

27 De autoria do Reverendo George Vale Owen (1869-1931) (N.R.)


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Divina, da Encarnação e da Elevação, com seus Ministros e respectivos funcionários. Subordinados


aos Ministérios, estão os Departamentos: da Esperança, Hospitalar, de Vigilância, Auxiliar e outros.
Há, ainda, referências às Turmas (de Vigilância, de Higiene) e as Caravanas (Socorristas e de
Estudo). Toda essa estrutura é ligada à Governadoria, que é o órgão diretivo.

A autoridade maior, algumas vezes representada por um Governador, ou Supergovernador,


apresenta-se, periodicamente, aos habitantes das Colônias para orientar ou instruir através de
palestras, para conferenciar com seus auxiliares, com os Ministros e trabalhadores. O cargo de
governador não é vitalício, embora seja exercido por período bastante longo.

O espírito André Luiz, no livro Nosso Lar, refere-se a um ex-governador nos seguintes
termos: "o ex-governador era talvez demasiado tolerante".

Entretanto, a supervisão geral das Colônias que circundam a Terra é atribuída a Jesus Cristo
por vários Mensageiros Espirituais. Ele não é visto pelos espíritos, mas é descrito como uma luz,
uma força.

A estrutura administrativa do Mundo Espiritual, segundo as informações do espírito André


Luiz, objetivando atingir os fins ético-morais propostos pela Lei Divina, é composta de diversos
setores, pelos quais são distribuídos milhões de funcionários.

Os espíritos aceitam de bom grado as tarefas, pois sabem que a cada um é dado o trabalho
de acordo com sua capacidade, e as ocupações, por mais insignificantes que pareçam, são
encaradas com muita seriedade, desde as de vigilância até as ministeriais.

Referências a um governante do setor da Música em uma das Cidades Espirituais,


encontramos no livro A Vida nos Mundos Invisíveis, pelo espírito Monsenhor Robert Hugh
Benson:
Nominalmente, o governante do reino é o reitor de todos os departamentos e as decisões maiores
são tomadas por ele, mas nomeia gente competente e dá-lhe carta branca em suas decisões.
Cada departamento tem seu chefe direto, mas não se deve imaginar que é oficial, inatingível e oculto
dos olhos de todos, visto apenas em ocasiões relativamente raras. É exatamente o oposto. Está
sempre por ali, dando as boas-vindas a qualquer um que apareça, como aprendiz ou como mero
apreciador da Música.

Sobre os aspectos vigilância e defesa das Colônias Espirituais, merecem análise cuidadosa as
colocações do espírito André Luiz, em Nosso Lar (capítulo 42), que tem por título A Palavra do
Governador, do qual foram extraídos os trechos transcritos a seguir:
Para o domingo imediato à visita do clarim28, prometeu o Governador a realização do culto
evangélico do Ministério da Regeneração (…).
Às dez horas, chegou o Governador, acompanhado pelos doze ministros da regeneração.
(...)
O velhinho enérgico e amorável passeou o olhar pela assembleia compacta, constituída de milhares
de assistentes. Em seguida, abriu um livro luminoso que o companheiro nos informou ser o Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Folheou-o atento e, depois, leu em voz alta pausada:
— "E ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que
tudo isso aconteça, mas ainda não é o fim." — Palavras do Mestre em Mateus, capítulo 24, versículo 6”.
E finalizando, dirigiu- se o Governador aos servidores do Ministério nos seguintes termos:

28 Referente à clarinada. Toques prolongados, com modulações comoventes, estranhas e imponentes, executados pelos
Espíritos superiores, convocando os trabalhadores da Colônia Nosso Lar para os serviços de socorro à Terra.
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— "(….) Consagrei o culto de hoje a todos os servidores deste Ministério, votando-lhes, de modo
particular, a confiança do meu coração. Não me dirijo, pois, neste momento, aos nossos irmãos cujas
mentes já funcionam em zonas mais altas da vida, mas a vós outros que trazeis nas sandálias da
recordação os sinais da poeira do mundo, para exalçar a tarefa gigantesca.
Nosso Lar precisa de trinta mil servidores adestrados no serviço defensivo, trinta mil trabalhadores que
não meçam necessidade de repouso, nem conveniências pessoais, enquanto perdurar nossa batalha com
as forças desencadeadas do crime e da ignorância.
(...)
“Somos, em Nosso Lar, mais de um milhão de criaturas devotadas aos desígnios superiores e ao
melhoramento moral de nós mesmos. Seria caridade permitir a invasão de vários milhões de espíritos
desordeiros? Não podemos, portanto, hesitar no que se refere à defesa do Bem (...).
“Todos devemos estar prontos para o sacrifício individual, mas não podemos entregar nossa morada
aos malfeitores (...).
“Quem não sabe preservar, não é digno de possuir”.

Do exposto, conclui-se que determinadas Colônias Espirituais muito próximas da Terra, a


exemplo de Nosso Lar, necessitam de exércitos para defender suas fronteiras dos ataques de
espíritos considerados perigosos e indesejáveis. Esse sistema de defesa consiste no uso de armas
e cães, para rechaçar o ataque inimigo.

Os espíritos trevosos não morrem, pois esta já é sua condição, mas se ressentem de algum
modo e se afastam, pois neles as armas apropriadas ao nível vibratório das Colônias provocam
algum dano, caso contrário não os assustariam.

E na Terra em que os ataques à integridade do indivíduo e aos seus bens ocorrem da mesma
maneira? Será correto utilizar os mesmos sistemas de defesa, com armas apropriadas ao padrão
vibratório do nosso planeta? E caso para reflexão…

O Trabalho nas Colônias Espirituais

Os espíritos têm dito insistentemente que, nas Cidade Espirituais, todos cooperam, através
do trabalho, para o engrandecimento do patrimônio comum. A respeito do assunto, Allan Kardec
diz o seguinte:
Se considerarmos o número infinito de mundos que povoam o Universo e o número incalculável de
seres que os habitam, compreenderemos que os espíritos têm muito em que se ocupar. Essas
ocupações, entretanto, nada têm de penosas: exercem-nas com alegria, voluntariamente, sem
constrangimento, e sua felicidade é triunfar naquilo que empreendem; ninguém pensa numa
ociosidade eterna, que seria um verdadeiro suplício. Quando as circunstâncias o exigem, reúnem-se
em conselho, deliberam sobre a marcha a seguir, vão para onde o dever os chama.
Essas assembleias são mais gerais ou mais particulares, conforme a importância do assunto; nenhum
lugar especial ou circunscrito é escolhido para essas reuniões. O espaço é o domínio dos espíritos.
Contudo, eles ficam de preferência nos mundos onde estão seus objetivos. Os espíritos encarnados,
que neles estão em missão, delas participam conforme a sua elevação: enquanto o corpo repousa, vão
receber conselhos dos outros espíritos e, por vezes, receber ordens relacionadas com a conduta que
devem ter como homens. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 4, abril de 1859)

De acordo com informações contidas em Nosso Lar, a Governadoria controla, diretamente,


numerosos serviços, como o de alimentação, de distribuição de energia elétrica, de trânsito, de
transporte e outros mais. Regulando tudo isso, existem leis que constituem o Direito do Trabalho
do Espaço. As leis trabalhistas são cumpridas rigorosamente, dentro do período de dias, semanas,
meses e anos, exatamente como ocorre na Terra. Existem horas de almoço, hora da prece coletiva

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ao cair do crepúsculo, noites etc. Segundo André Luiz, a jornada de trabalho nas Colônias é, em
geral, de 48 horas a, excepcionalmente, 72 horas semanais, ou seja, 8 ou 12 horas diárias,
respectivamente.
Os programas de trabalho, porém, são numerosos e a Governadoria permite quatro horas de esforço
extraordinário, aos que desejam colaborar no trabalho comum, de boa vontade.

Entretanto, todos os trabalhadores da Colônia Nosso Lar devem dar …


(…) no mínimo, oito horas de serviço útil, nas vinte quatro horas de que o dia se constitui. Isso perfaz
uma semana de trabalho de 6 dias.

O espírito que ofereceu, até agora, pormenores sobre a vida nas Colônias foi André Luiz,
seguido pelo espírito Monsenhor Robert Hugh Benson. Ambos fornecem informações que
coincidem em vários pontos. Este último chega a declarar que, realmente, fez questão de só dar as
suas mensagens quando pudesse fornecer as maiores minúcias possíveis. Quanto a suas
narrativas, esclarece que, embora bastante rica, ela deve ter ocorrido em não mais que alguns
minutos do tempo terrestre.

Nas leis trabalhistas do Espaço, decorrida uma semana ou jornada de trabalho, o descanso é
rigorosamente observado. O Governador da Colônia Nosso Lar nunca dorme nem repousa, mas,
segundo o espírito André Luiz, concede férias aos espíritos trabalhadores.

O repouso semanal, como acontece na Terra, coincide, geralmente, com os domingos.


Vejamos o que nos informa o livro Além da Morte, psicografado pelo médium Divaldo Pereira
Franco, no diálogo entre os espíritos Adrião e Otília Gonçalves:
“Hoje é domingo e encontro-me com o saldo de horas livres. Desejo oferecê-las a você e acredito que
seriam de utilidade se as pudéssemos aproveitar numa pequena caminhada até o parque de repouso,
(…) (Fala de Adrião).
Momentos depois, estávamos em plena rua. O movimento fazia lembrar o das zonas residenciais da
Terra, nos dias de repouso comercial.

O que se conclui é que, no Mundo Espiritual, nada existe sem preço. Para receber é
indispensável dar algo em troca: Lei de Causa e Efeito.

Nos trabalhos sacrificiais, as horas de serviço são contadas em dobro ou, muitas vezes, em
triplo. De tal importância é a função maternal que, se um determinado lar se dedica à adoção de
crianças órfãs espiritualmente, essa família, além de contar as horas trabalhadas em dobro, fica
dispensada das tarefas externas.

A respeito dos trabalhos sacrificiais e do repouso no Mundo Espiritual, esclarecem os


espíritos codificadores a Allan Kardec, na pergunta de nº 254:
P. Os espíritos experimentam a fadiga e a necessidade do repouso?
R. Eles não podem sentir a fadiga tal como vós a entendeis e, por conseguinte, não têm
necessidade do vosso repouso corporal, pois eles não têm órgãos cujas funções devam ser reparadas.
O espírito repousa no sentido de que não tem uma atividade constante. Sua ação não é material, mas
intelectual, e seu repouso, moral. Há momentos em que seu pensamento deixa de ser tão ativo e não
se fixa sobre um objeto determinado; é um verdadeiro repouso, mas que não pode ser comparado ao
repouso do corpo.
A espécie de fadiga que os espíritos podem experimentar está em razão da sua inferioridade: quanto
mais sejam elevados, menos necessitam de repouso.

Nas Cidades Espirituais são exigidas de todos os trabalhadores, indistintamente, disciplina,


assiduidade, pontualidade e honestidade, seja na orientação ou na subalternidade. O sacrifício
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pessoal é igualmente remunerado, pois qualquer tarefa, mesmo a mais simples, é considerada
digna.

Nas Colônias, um dos mais valiosos instrumentos de reabilitação do espírito é o Trabalho,


utilizado, também, como terapia ocupacional. À medida que o espírito convalescente se interessa
pelo serviço da comunidade, dedicando-se a qualquer tarefa, ainda que a mais simples, vai, da
mesma forma, sedimentando a sua cura. Os espíritos comunicantes são unânimes quanto a essas
declarações.

Em A Vida Além do Véu, de George Vale Owen, encontramos a seguinte explicação:


O nosso trabalho, na casa ou colônia a que ora pertenço, é dedicado a esses espíritos em progresso,
como também aos da Terra. Essa, porém, é uma seção diferente da minha atualmente.

O espírito Otília Gonçalves, em Além da Morte, também dá o seu depoimento como


trabalhadora da Colônia Redenção:
Aclimatada, na Terra, aos labores humildes de limpeza e asseio, ofereci-me à irmã Zélia, em dia de
grande movimento, para contribuir de algum modo com os deveres de manutenção da Enfermaria
onde me encontrava, experimentando, com a sua aquiescência, indizível júbilo.
À medida que era atraída para esse serviço singelo, estranho revigoramento tomava corpo dentro de
mim, entusiasmando-me e fazendo-me esquecer as preocupações e angústias lancinantes que
ficaram no espírito, com a distância colocada pela morte.
— O trabalho — informou o gentil Adrião — é o poderoso elixir de longa vida que fortifica todas as
esperanças e esponja que apaga todas as preocupações. A alma que labora não é colhida pelas malhas
das tentações da dúvida e do medo, ficando distante do barco fraco dos receios.

Acrescenta o mesmo espírito que, na Colônia onde se encontra, a palavra trabalho não é…
(...) apenas um vocábulo, mas sim uma realidade construtiva e ativa em todos os lados.
Os residentes pareciam divididos em misteres especiais e não me recordo de ter visto, até hoje, um
semblante sequer, onde a inércia se desenvolvesse.

Foi informada por Adrião, seu amigo espiritual, que:


Com Jesus aprendemos que todo trabalho é honrosa incumbência, constituindo-se concessão
utilíssima de elevação para todos.

Nas Colônias Espirituais dedicadas ao Bem, o trabalho é imprescindível. Entretanto, as


tarefas de cada grupo, de cada turma e de cada indivíduo são delimitadas e especificadas. Os
espíritos cumprem as tarefas de que foram incumbidos com indizível júbilo, cientes de que o
trabalho é o único meio de alcançar a felicidade plena.

Assim, todos trabalham e cumprem, disciplinadamente, as suas obrigações, excetuando os


hospitalizados e convalescentes. Os hospitalizados estão, muitas vezes, semi-inconscientes, e os
convalescentes, em fase de observação. Os que simplesmente se recusam a trabalhar são
considerados ainda doentes e não evolvem, conservam-se, por prazer, na vagabundagem.

Por isso, cabe aos espíritos mais adiantados a responsabilidade de auxiliar os que se mantêm
na retaguarda. Em Cartas de um Morto Vivo, há a seguinte informação do espírito David Hatch
sobre a questão do trabalho nos Outros Mundos:
Aqui também há pessoas como na Terra, que se dedicam ao bem-estar do próximo. Formaram mesmo
uma grande e importante sociedade de almas denominada "Liga". O trabalho que as ocupa em
especial é auxiliar as que acabam de chegar, facilitando-lhes o princípio de sua nova vida, ajudando-
as, por assim dizer, a aclimatar-se. Nesta "Liga" há tanto homens como mulheres. Têm prestado bons
serviços (…). Auxiliam não só as crianças, mas também adultos.

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Enfim, no Além, todos os momentos são dedicados ao trabalho, a fim de proporcionar


benefícios individuais e coletivos. A ociosidade e a inércia não têm lugar para aqueles que sentem,
a necessidade de progredir. Só a dedicação abnegada ao bem-estar geral faz com que se ascenda
aos Planos Superiores. Todavia aqueles que persistirem na indolência e inutilidade, mais cedo ou
mais tarde, lá também chegarão, pela dor.

Educação, Instrução e Lazer no Mundo Espiritual

Já sabemos que o Mundo Espiritual não é um local onde se vive em uma condição de êxtase,
onde o espírito errante ficará, perpetuamente, voltado para as coisas imateriais e vagas, como lhe
foi ensinado pelas religiões. Nesse mundo não se sofre a fadiga corporal nem mental, mas isso não
quer dizer que as ocupações sejam ininterruptas. Há tarefas consideradas leves que proporcionam
verdadeiro prazer aos espíritos.

Nas Colônias Espirituais, a reeducação e instrução são indispensáveis. Os centros de estudo


oferecem várias formas de recreação e lazer. Todos os habitantes são estimulados a participar das
tarefas e dos estudos. Os espíritos mais evoluídos recebem o cargo de mestre ou instrutor.
Qualquer espírito errante pode continuar, no Mundo Espiritual, as tarefas e os estudos
interrompidos pela desencarnação desde que, assim, o deseje.

Arthur Conan Doyle29, em sua obra História do Espiritismo, transcreve a mensagem


registrada em outro livro intitulado O Caso de Lester Coltman, de Lilian Walbrook, bastante
elucidativa sobre a continuidade das obras dos indivíduos após a morte física. O espírito Lester
Coltman, condicionado às ideias do povo inglês de que o evolver se completa no Mundo Espiritual,
sem necessidade de reencarnar, declara:
Meu trabalho continua aqui como se iniciou na Terra, ou seja, no terreno científico.
Para progredir em meus estudos, visito frequentemente um laboratório, onde encontro facilidades
tão completas como extraordinárias para a realização de experiências.
Tenho casa própria, verdadeiramente bela, com grande biblioteca, na qual existe toda a classe de
livros de consulta: históricos, científicos, de Medicina, e de todos os gêneros de Literatura. Para nós,
estes livros são tão interessantes como para vós, da Terra.
(...)
O meu ajudante principal é um chinês antigo, muito competente em análises químicas. É, como
disséssemos, o chefe da casa. É uma alma admirável, goza de grandes simpatias e é dotado de
profunda filosofia.
É muito difícil vos falar do trabalho no Mundo dos Espíritos. Cada um tem sua missão, segundo suas
possibilidades.
Quando um espírito chega diretamente da Terra, ou de qualquer outro mundo material, tem de
aprender tudo o que não aprendeu na existência precedente, com o fim de se aproximar da perfeição.

Algo semelhante revelam os espíritos Raymond e Feda, no livro de Oliver Lodge, intitulado
Raymond:
Aqui estou, mãe (…) saiba que estou seguro aqui; não é nenhum buraco triste, como muita gente
supõe, antes um lugar cheio de vida. Tenho comigo instrutores e professores (…). (Fala do espírito
Raymond à sua mãe).

29 Arthur Conan Doyle (Inglaterra, 1858; id. 1930). Criador da famosa personagem Sherlock Holmes. Dedicou-se à
pesquisa dos fenômenos espíritas e escreveu várias obras sobre esse tema.
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Ele (referência a Raymond) entrou numa biblioteca com seu avô (…). Agora uma coisa extraordinária:
há lá obras que ainda não foram publicadas no plano terrestre. Foi informado — apenas informado,
não sabe por si — de que esses livros aparecerão um dia, livros como os que já apareceram; e que a
matéria desses livros será impressa no cérebro de algum homem que ficará como autor.
Diz que nem todos neste plano têm permissão para ler esses livros; podem estragá-los — a esses
livros ainda não publicados. (Narrativa de Feda a respeito de Raymond)

Segundo informações de vários espíritos que se têm comunicado através de diversos


médiuns, as universidades das Colônias Espirituais suplantam as mais aperfeiçoadas da Terra. As
bibliotecas são as mais completas, pois contêm não só o conhecimento já captado pela
Humanidade como aquele que ainda lhe será revelado.

Na Cidade Universitária citada em Memórias de um Suicida, psicografado pela médium


Yvonne A. Pereira, ciclos de estudo e de aprendizagem são oferecidos aos espíritos errantes.
Academias diversas apresentam-se a emocionados estudantes que escolhem ao que desejam se
dedicar: Moral, Filosofia, Ciência, Psicologia, Pedagogia, Artes etc.

Nessa Cidade, o recinto destinado às aulas era um salão imenso, disposto em semicírculo,
cujas cômodas arquibancadas se encontravam em frente a enorme placa luminosa, semelhante a
nossos modernos telões de TV, na qual as cenas recordadas pelo instrutor se reproduziam,
enquanto o mesmo narrava os fatos.

Os instrutores espirituais se dispõem a transmitir aos espíritos errantes o máximo de lições


elucidativas, a fim de formar, nos futuros reencarnantes, um vasto cabedal de conhecimentos e um
desejável aprimoramento moral.

Os espíritos, denominados de adultos30, têm liberdade de escolher o setor do conhecimento


que mais os atrai, entre o técnico, o artístico ou o científico. Enquanto as crianças recém-
desencarnadas recebem tratamento especializado de acordo com o seu nível de maturidade
espiritual. Há creches e escolas apropriadas à educação infantil. Eis uma mensagem sobre o
assunto transmitida pelo espírito Lester Coltman:
Há, aqui, magníficas escolas para instrução dos espíritos de crianças. Nelas permanecem até
aprenderem tudo o que se refere à Terra e aos demais mundos, bem assim a todos os reinos que se
acham sob o cetro de Deus.
Aqueles que receberam instrução como espírito de criança, quando chegam a ir para o vosso mundo,
ostentam o mais refinado e belo dos caracteres”. (O Caso de Lester Coltman, de Lilian Walbrook)

Uma curiosidade sobre as crianças no Mundo Espiritual é encontrada na obra A Vida Além
do Véu, de George Vale Owen. O espírito comunicante confessa a sua surpresa ao encontrar
crianças em uma determinada cidade do Além, porque pensava que elas se mantivessem, apenas,
em casas especiais, só a elas destinadas.

Apresentou-se, então, a Mãe do lugar, acompanhada de alguns auxiliares, e explicou que


aquelas crianças eram espíritos de natimortos, isto é, desencarnados, segundo informou, sem
respirar a atmosfera terrena. Tinham, por isso, um caráter diferente daquelas nascidas com vida,

30 Por Espírito “adulto” se entende, nesse caso, aquele que apresenta a forma de um indivíduo de idade adulta, mesmo
não evolvido espiritualmente. Entretanto, um Espírito evolvido, ou não, pode se apresentar, também, com a forma
perispiritual de criança, por diversos motivos, entre os quais necessidade de descondicionamento após
desencarnação em idade precoce ou opção.
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ou que se conservaram vivas mesmo por poucos instantes. Necessitavam, pois, de cuidados
especiais a fim de progredir em mentalidade e estatura e reiniciarem sua instrução.

Em geral, as crianças que desencarnam logo ao nascer ou com pouco tempo de vida
necessitam de tratamento especial, uma vez que não readquirem, imediatamente, a maturidade
que possuíam anteriormente. Da mesma forma que a criança, ao nascer, passa pelas fases naturais
da infância, a desencarnada prematuramente também precisa de uma fase de adaptação.

Parece que — de acordo com as colocações dos espíritos —, só em casos excepcionais o


desencarnado se descondiciona, rapidamente, da influência infantil, sem cuidados especiais —, no
caso, por exemplo, de um espírito muito elevado.

O espírito Robert Hugh Benson afirma que uma das suas maiores curiosidades foi saber o
destino dado às crianças que passavam para o Outro Mundo. Em suas observações na Esfera das
Crianças, onde encontrou crianças de todas as idades, desde bebê até adolescentes de dezesseis
ou dezessete anos, sentiu-se encantado com um bosque com as mais engraçadas casinhas de
campo, tais como as vistas em livros de fadas. E ele mesmo comenta as suas observações:
Pode-se pensar que o Mundo Espiritual tenha se inspirado na Terra, nessas criações fantasistas para
a alegria das crianças, mas não foi o caso. Na verdade, toda essa concepção de casas em miniatura
emanou do próprio Mundo Espiritual. Qualquer artista que tenha recebido nossa impressão original,
perdeu-a na Terra através dos anos. Esse artista é conhecido aqui, onde vai continuar sua obra na
Esfera das Crianças. (A Vida nos Mundos Invisíveis, de Anthony Borgia)

O espírito Irmão Jacob, na obra Voltei, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier,
conduzido por sua filha Marta, já desencarnada, conheceu uma instituição destinada a albergar
crianças desencarnadas na faixa etária de sete a doze anos de idade.

Em suas observações do Mundo Espiritual, ele conheceu crianças que são denominadas de
escoteiros do heroísmo espiritual31, espíritos de excepcional adiantamento moral e que fazem parte
de caravanas em missão de socorro a adultos e crianças desencarnadas. Muitas dessas crianças se
tornam mentoras dos próprios pais.

Enfim, o que se pode concluir é que, no Mundo Espiritual, não há orfandade; todas as crianças
que precisam de auxílio são amparadas por espíritos-Mães32 que, abnegadamente, as recebem em
seus braços como se fossem os próprios filhos.

Sobre as crianças no Mundo Espiritual, já revelara Swedenborg:


As crianças são bem recebidas no Outro Mundo, sejam ou não batizadas. Aí elas crescem e são
adotadas por mulheres jovens, até que lhes apareçam suas mães verdadeiras.

Como se vê, os processos educativos utilizados nas Colônias Espirituais são bastante
abrangentes. O ensino se realiza através de métodos didáticos moderníssimos e das mais
aperfeiçoadas técnicas.

Existem cursos, palestras, conferências, tudo coadjuvado por recursos visuais. Aparelhos
especiais, num sistema eletrônico avançadíssimo, são empregados em espécies de consultórios

31 Nesse caso, os Espíritos, por uma circunstância especial, conservam as suas características perispirituais infantis.
32 Assim denominados em virtude de suas características perispirituais e tendências maternais.
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psiquiátricos para correção de caracteres e tratamento de patologias. É uma forma agradável de


se instruir.

O lazer também é uma forma de reeducar o espírito, visto que o estudo pode ser, também,
uma forma de distração, uma recreação intelectual. De acordo com as suas vivências, o espírito
Silveira Sampaio relata como ele passa o tempo livre no Mundo Espiritual:
Ontem foi domingo e eu aproveitei para ir a um museu. Sim. Aqui também descansamos aos
domingos e buscamos a recreação como derivativo dos problemas do cotidiano.
“Não acreditam? Acham que fantasma não tem mais problemas? Enganam-se por certo. Eles nos
buscam o coração, em todo lugar, fazem parte de nós e aqui se tornam mais evidentes”. (O Mundo
em que Eu Vivo, de Zíbia M. Gasparetto)

O espírito David Hatch afirmou que dedicava suas horas de lazer nas visitas à bibliotecas e
galerias de arte da Colônia Espiritual em que habitava. Confessou que, algumas vezes, ele e seus
companheiros tinham necessidade de um esporte mais violento. Pegava, então, um barco e visitava
uma ilha.

Esclarece, entretanto, que as competições esportivas no Mundo Espiritual apresentavam


diferenças das realizadas no plano terrestre, pois eram puramente amistosas e não envolviam
rivalidades, prêmios e disputas. A única recompensa, no caso das disputas nas águas, era o
aprendizado da arte de navegar.

Como não há necessidade de ar livre e dispêndio de energia física para realizar as práticas
esportivas, chega-se à conclusão que as recreações dos espíritos pertencem mais à mente, e como
se tem muito a aprender, os que se dedicam ao aprendizado por livre escolha sentem com isso
enorme prazer. As recreações terrenas lhes parecem meras trivialidades. Observa-se, porém, que
a Arte em geral se constitui, ao mesmo tempo, educação, instrução e lazer para o Espirito errante.

A Arte dos Espíritos

Instrumento dos mais importantes no processo educativo empregado nas Colônias


Espirituais, todas as manifestações da Arte são estimuladas: a Música, a Pintura, a Literatura e
outras. A Música, entre todas, parece ser a mais cultivada.

Em quase todas as obras que tratam do Mundo Invisível, aparecem espíritos dedicados ao
estudo de instrumentos musicais, componentes de corais e compositores. A música espiritual é
descrita como algo sublime e de imensa beleza, sem similar na Terra.

Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, em resposta a sua pergunta nº 251, é informado que
a música da Terra é para a celeste, como o canto selvagem é para a melodia suave.

Na Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 5, de maio de 1859, tratando da Música de Além-


Túmulo, Chopin assim se expressou ao ser inquirido sobre as obras que compunha no Mundo
Espiritual, em comparação com as compostas quando encarnado:
P. Como considerais as vossas obras musicais?
R. Eu as prezo muito. Mas entre nós fazemo-las melhores; sobretudo as executamos melhor.
Dispomos de mais recursos.
P. Quem são, pois, os vossos executantes?

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R. Temos às nossas ordens legiões de executantes, que tocam as nossas composições com mil
vezes mais arte do que qualquer de vós. São músicos completos. O instrumento de que se servem é a
própria garganta, por assim dizer, e são auxiliados por uns instrumentos, espécies de órgãos, de uma
precisão e de uma melodia que, parece, não podeis compreender.

Perguntado sobre o mesmo assunto, Mozart responde:


P. Teríeis a bondade de explicar o que acaba de dizer Chopin? Não compreendemos essa execução
por espíritos errantes.
R. Compreendo o vosso espanto. Entretanto, já vos dissemos que há mundos particularmente
destinados aos seres errantes, mundos que eles podem habitar temporariamente, espécies de
bivaques, de campos de repouso para esses espíritos fatigados por uma longa erraticidade, estado
que é sempre um pouco penoso.

Nessa ocasião, Mozart ditou o fragmento de uma sonata, cuja partitura foi publicada e
colocada à venda no Escritório da Revista Espírita, na livraria espírita do Sr. Ledoyen, Falais Royal,
Galerie d'Orléans, nº 31, ao preço de 2 francos.

Em A Vida Além do Véu, de George Vale Owen, há referências a Colônias Espirituais


destinadas exclusivamente à Música e à manufatura de instrumentos musicais:
Os que ali vivem ocupam-se do estudo da Música, das suas combinações e efeitos, não só sobre o que
se conhece como som, como também debaixo de outros pontos de vista.

Segundo comunicações transmitidas aos médiuns, há colégios que ensinam o melhor meio
de os espíritos inspirarem os compositores da Terra. Médiuns musicais são aqueles que têm
capacidade de captar composições de espíritos desencarnados no estilo que possuíam em vida.
Entre os que se dedicam ao exercício de tal faculdade temos, entre outros: Rosemary Brown e
Clifford Enticknap (Inglaterra), Belita Adair (Estados Unidos), Iola Catera (Roma), Jorge Rizzini,
Martha Gallego Thomaz, Mayave Pereira Valença, Terezinha Menezes Café, Sônia Maria Petersen
e José Medrado (Brasil).

O espírito André Luiz, levado pelo espírito instrutor chamado Lísias, conheceu o campo da
música, onde, conforme observou, há manifestações para todos os gostos musicais, do regional ao
universal. Essa região e considerada de indescritível beleza.

O espírito Lester Coltman, através de Lilian Walbrook, afirma que, no Espaço, existe uma sala
de música com toda a sorte de instrumentos e, ainda, que a Música...
(...) é uma das mais poderosas forças do nosso mundo para se alcançar a perfeição do espírito. (A
História de Lester Coltman, de Lilian Walbrook)

Muitas vezes, no Mundo Espiritual, os sons musicais não se originam de um local


determinado, senão de todo o ambiente. Os próprios espíritos não sabem descrever, em linguagem
terrestre, a harmonia e os sons da Altas Esferas.

Todos são unânimes, entretanto, ao afirmar que a Música está presente em toda a vida das
Colônias Espirituais e que esta Arte tem influência no evolver do espírito.

Em seu círculo familiar, Conan Doyle recebeu mensagem de um espírito de características


femininas que, falando de suas atividades nas Cidades Espirituais, declarou que se dedicava a
ensinar música às crianças.

Existem, também, informações de que as Artes Plásticas são bastante cultivadas no Mundo
Espiritual, assim como a Literatura. Médiuns com faculdades próprias captam e reproduzem
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quadros de artistas desencarnados, do mesmo modo como compõem músicas ou psicografam


obras literárias com os estilos que os autores tinham em vida.

No campo da pintura, dois médiuns têm conseguido, segundo opinião de conhecedores dessa
Arte, reproduzir, com fidelidade, obras assinadas por artistas famosos, como Renoir, Manet,
Monet, Modigliani etc. São eles: Luiz Antônio Gasparetto e José Medrado.

Muitos são os encarnados, com aptidão para as Artes, que visitam o Mundo Espiritual no
desdobramento do sono, guardam as imagens e os sons do Além e, ao voltarem, reproduzem
materialmente, de forma pálida, todavia, tudo o que viram.

A respeito das Artes, diz Peter Richelieu, em A Viagem de uma Alma:


(…) se um homem gostou muito de música durante a existência, gostará dela depois da morte, e
encontrará muitas oportunidades de satisfazer os desejos que não pôde satisfazer antes. Se o desejar,
o amante da música pode passar todo o tempo ouvindo a mais bela música que o mundo pôde
produzir (…). Pode ver as poderosas formas de pensamentos que a música do plano físico produz na
matéria mais fina do plano astral.
Para o homem apreciador da Arte, todas as obras-primas do mundo estão à sua disposição, quer em
galerias de arte, quer em coleções particulares.

Em A Vida nos Mundos Invisíveis, de Anthony Borgia, há um capítulo inteiro (VII) todo
dedicado à Música no Mundo dos Espíritos. Refere-se o espírito Monsenhor Robert Hugh Benson
ao Templo da Música, com sua ampla biblioteca, onde toda a história da música, desde os seus
primórdios, encontra-se arquivada e à disposição dos espíritos apreciadores dessa Arte.

Também são encontradas partituras raras e preciosas, cujos autores são conhecidos na
Terra. Além das composições terrenas, existem aquelas para as quais os ouvidos humanos não são
bastante afinados até que seus tímpanos sofram uma alteração fundamental. O Templo da Música
possui um salão de concertos que pode abrigar, de cada vez e confortavelmente, milhares de
espíritos.

No Mundo Espiritual, o pintor não mais usará pincéis e telas para expressar sua Arte, depois
da desencarnação, as criações serão através das formas-pensamento que, a depender da
capacidade do autor, produzirão telas muito mais vivas e belas.

Talvez, por isso, diversos artistas ainda encarnados declarem que se sentem sempre
insatisfeitos com o seu trabalho, mesmo que o mundo aplauda a sua genialidade. Declaram, com
frequência que não conseguem expressar, exatamente, o que a sua imaginação concebe. Na
verdade, eles não conseguem reproduzir, fielmente, o que viram no Mundo Espiritual.

Os amantes dos livros passam horas agradáveis, uma vez que as bibliotecas estão à sua
disposição. De acordo com as comunicações contidas no livro Entre Dois Mundos, da médium
Antoinette Bourdin, os autores espirituais habitam locais próprios das Colônias, de onde se
descortina um vasto e minucioso cenário do mundo, e onde se inspiram para criação de suas obras.

Os escritores que ainda encarnados utilizaram a palavra escrita como meio de desequilibrar
indivíduos, se não persistirem em suas ideias viciosas, selecionam o que lhes pertence para julgar
o seu valor. Fazem uma avaliação da vida anterior e, tomados de bons propósitos, leem o que
escreveram e corrigem os erros e imperfeições. Foram as chamadas obras da hipocrisia…

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(…) as mais perigosas porque esterilizam o coração pelo ódio que inspiram, (…) comprimem as
inteligências, interceptam a luz espiritual e asfixiam a liberdade de pensamento. (Entre Dois
Mundos, de Antoinette Bourdin)

O espírito David Hatch, transmite, na obra Cartas de um Morto Vivo, a informação que, em
determinada zona da Espiritualidade, há a região dos modelos. O que será realizado pela
Humanidade está ali preestabelecido.

As invenções, as descobertas existem no Mundo Espiritual antes que surjam na Terra. Lá, no
Espaço, estão as amostras e os paradigmas. Convém observar, entretanto, que não estão
predeterminados os autores ou responsáveis pelas revelações dos mesmos, futuramente, no plano
material.

A Arte Teatral também faz parte da vida dos espíritos e exerce grande influência no trabalho
de reeducação e de lazer nas Colônias Espirituais. Contam os Mensageiros do Espaço que, no Outro
Mundo, os apreciadores da dramaturgia têm oportunidade de frequentar belos teatros e de assistir
a peças dos mais variados gêneros. Há peças onde problemas sociais são debatidos para encontrar
soluções e, também, comédias que provocam risos muito mais intensos e espontâneos dos que
costumamos ter na Terra.

Em tais espetáculos, os incidentes baixos e sórdidos são omitidos, pois repugnariam à


assistência atenta e apaixonada. Os prédios destinados à Arte Dramática se encontram, segundo
informações de espíritos errantes, nos arredores das Colônias Espirituais, desenhados por
meticulosos arquitetos. De acordo com informações do espírito Monsenhor Robert Hugh Benson,
a construção dos seus teatros…
(…) revela o grau de ativa cooperação que existe entre os artesãos. A guarnição interior é feita por
exímios artistas do Edifício das Fábricas; os jardins de fora mostram o mesmo cuidado devotado de
sempre. O resultado está tão longe de um teatro terreno quanto se possa imaginar. (A Vida nos
Mundos Invisíveis, de Anthony Borgia)

O espírito Silveira Sampaio que, em vida, reinou nos palcos terrenos, refere-se, entre suas
experiências, a visitas costumeiras aos teatros do Mundo Espiritual. Para ele — da mesma forma
pensava o espírito Monsenhor Robert Hugh Benson — o teatro em seu mundo é um elemento
interessante de cultura. E acrescenta:
Enquanto na Terra o autor atém-se ao tempo diminuto de uma vida, aqui esse limite não existe. Os
enredos vão de encarnação a outra, educando, mostrando, elevando. O conceito de beleza mais
desenvolvido, sentimentos apurados, compõe-se páginas imorredouras.
A música, as danças, tudo nos alegra e enriquece. (O Mundo em que Eu Vivo, de Zíbia M. Gasparetto)

Em Obras Póstumas, Allan Kardec dedica um longo capítulo às Artes em geral e, segundo
suas colocações, nem todas as criações são oriundas do Mundo Espiritual; os espíritos encarnados
também têm capacidade de criar. E importante a diferenciação que ele faz entre a Arte
Transcendental (do Mundo dos Espíritos) e a Arte originária do nosso mundo material.

Assim, existem a Música, a Pintura e a Literatura originária do Mundo dos Espíritos —


provavelmente os modelos a que se referiu o espírito David Hatch — que podem, até, ser captados
por pessoas possuidoras de faculdades mediúnicas —, e as produções exclusivas dos artistas
encarnados.

Daí a responsabilidade de cada um pelas obras que executa e publica, seja em qualquer
campo da atividade humana. Uma obra de baixo nível — do tipo pornográfico, por exemplo — que
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contribua para deturpar as mentes encarnadas, principalmente dos jovens, trará para o autor a
responsabilidade da sua inconsequência: os danos morais que causou em virtude de sua influência
perniciosa.

VII. A Justiça na Espiritualidade

Segundo declara o espírito André Luiz em Evolução em Dois Mundos, a justiça no Mundo
Espiritual funciona com muito maior segurança que na Terra, uma vez que a própria consciência
do indivíduo exerce grande influência no mecanismo da reencarnação. Além disso, espíritos
conhecedores dos diversos ramos do Direito, das Ciências Sociais, Psicologia etc. integram
tribunais, onde, dignos e imparciais, examinam as responsabilidades de cada um.

E não só delinquentes se submetem a esse júri, mas, também, trabalhadores das Colônias
Espirituais que se deixam arrastar por tendências inferiores e sentimentos inconfessáveis. Afirma
ele que...
Há delinquentes tanto no plano terrestre, quanto no plano espiritual, e, em razão disso, não apenas
os homens recentemente desencarnados são entregues a julgamento específico, sempre que
necessário, mas também as entidades desencarnadas que, no cumprimento de determinadas tarefas,
se deixam, muitas vezes, arrastar por paixões e caprichos inconfessáveis. (Evolução em Dois
Mundos, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira).

Estes constituem a escória espiritual a que se referiu Allan Kardec. O julgamento será mais
ou menos sumário, segundo o grau evolutivo dos culpados; quanto maior o adiantamento moral
do réu, mais complexa a análise da culpa.

Enfim, de acordo com as informações dos espíritos errantes, no Mundo Extrafísico existe
uma espécie de sistema jurídico que rege as atividades das Colônias, em bases semelhantes ao
instituído pelos homens, tendo, porém, por lema o Amor.

Código Penal da Vida Futura

Allan Kardec, no capítulo VII, do livro O Céu e o Inferno, trata sobre o Código Penal da Vida
Futura, composto de 33 artigos, baseados na Lei de Causa e Efeito, dos quais transcrevemos os
seguintes:
Art. 8. — Sendo infinita a justiça de Deus, o Bem e o Mal são rigorosamente considerados, não
havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha consequências fatais, como não há uma
única ação meritória, um bom movimento da alma que se perca, mesmo para os mais perversos, por
isso que constituem essas ações um começo de progresso.
Art. 10 — O espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a consequência das próprias
imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas
imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente, ou em precedentes existências.
Art. 12 — Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do castigo: a única lei
geral é que, segundo o seu valor, toda falta terá punição, bem como recompensa todo ato meritório.
Art. 14 — A duração do castigo depende da melhoria do espírito culpado.

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Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita. O que Deus exige por termo de
sofrimento é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao Bem.
Desta maneira, o espírito é sempre o árbitro do próprio destino, podendo prolongar os sofrimentos
pela pertinácia no Mal ou suavizá-los e anulá-los pela prática do Bem.
Art. 16 — O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si
só; são precisas a expiação e a reparação.
Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as condições necessárias para apagar
os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação,
abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito,
destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação.

Nos 33 artigos, Allan Kardec resume os problemas mais frequentes que atingem os espíritos
por implicação da Lei de Causa e Efeito, resultantes dos atos livremente praticados. E ressaltada a
situação desesperadora do suicida e a pena maior atribuída ao que induz alguém à prática do gesto
tresloucado.

Bens e Direito das Coisas no Mundo dos Espíritos.

Nas Colônias Espirituais, há bens de diversos tipos utilizados pelos espíritos errantes:
imóveis, móveis, consumíveis, públicos, de família etc. Assim é que vemos os espíritos se referirem
a obras de arte, partituras musicais, livros, roupas, metais, veículos, alimentos, edifícios públicos
e residenciais, plantações e muitos outros classificados na economia terrena como bens
consumíveis, duráveis e de produção ou de capital.

Os espíritos errantes vivem em lares separados, construídos, muitas vezes, pelos parentes
que lhes antecederam a desencarnação. A família espiritual trabalha em conjunto e conquista um
lar. As residências das Colônias são bem semelhantes às da Terra.

Pelo que se depreende das informações recebidas através das obras subsidiárias da Doutrina
Espirita, os espíritos, surpreendentemente, conservam o apego às coisas materiais e às
comodidades terrenas, por longo tempo após a desencarnação.

Certos espíritos que habitam numa Colônia do nível de Nosso Lar são considerados, pelo
espírito André Luiz, como tendo adquirido consciência da sua situação. Por que, então, a
necessidade de possuir, de ter, de ser proprietário de algo? A explicação não pode ser outra senão
a existência, nesses espíritos, ainda de um forte condicionamento às comodidades terrenas.

O homem e a mulher que se dedicam às nobres tarefas do lar, após a desencarnação,


associam-se no desempenho de atividades construtivas e de amparo aos filhos que, porventura,
ainda permaneçam no corpo físico.

É com o trabalho que o espírito adquire os seus bens. Não há, entretanto, propriedade
particular exatamente como se entende na Terra. Aqui as leis concedem ao Homem a posse e uso
dos bens de uma forma definitiva, embora, na realidade, esta seja, também, provisória, pois todos
nós seremos compelidos, pela morte, a deixar as vantagens da esfera física.

Mas, se no Mundo Espiritual não há necessidade de bens materiais, como dinheiro e objetos,
o que pensar da preocupação com a temporalidade? Por que a utilização dos conceitos de horas,
dias, anos, dia e noite etc., sendo estes restritos ao plano terrestre? A respeito do assunto, os
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espíritos codificadores respondem a Allan Kardec o seguinte, na pergunta 240 de O Livro dos
Espíritos:
P.: Os espíritos compreendem o tempo como nós?
R.: Não, e é por isso que não nos compreendeis sempre, quando se trata de fixar datas ou épocas.

E Allan Kardec comenta:


Os espíritos vivem fora do tempo, tal como nós os compreendemos: o tempo para eles se anula, por
assim dizer, e os séculos, tão longos para nós, não são a seus olhos senão instantes que se esvanecem
na eternidade, da mesma forma que as desigualdades do solo se apagam e desaparecem para aqueles
que se elevam no espaço.

O espírito Monsenhor Robert Hugh Benson, declara que:


Com a ausência de tempo terreno no Mundo dos Espíritos, nossas vidas são ordenadas por
acontecimentos, isto é, aqueles que são parte de nossa vida. Não me refiro às ocorrências incidentais,
mas às que na Terra são consideradas acontecimentos periódicos. (A Vida nos Mundos Invisíveis, de
Anthony Borgia)

Vejamos o que diz a instrutora espiritual Laura ao espírito André Luiz durante uma aula de
aprendizado:
Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas
de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o nosso dinheiro. Quaisquer utilidades são adquiridas com
esses cupons obtidos por nós mesmos, à custa de esforço e dedicação. Às construções em geral
representam patrimônio comum, sob controle da Governadoria; cada família espiritual, porém, pode
conquistar um lar (nunca mais que um), apresentando trinta mil bônus-hora (…). (Nosso Lar, de
Francisco Cândido Xavier)

Esclarece ela que a moeda nas Colônias, se assim pode ser denominado, é o bônus-hora. Não
se constitui em papel moeda como vulgarmente conhecemos, mas numa espécie de ficha
individual que funciona como valor aquisitivo. Os que trabalham adquirem direitos justos:
alimento, vestuário e abrigo.

Informações idênticas a respeito de aquisição de bens no Mundo Espiritual nos dá o espírito


Irmão Jacob, na obra Voltei, ao esclarecer que os edifícios do parque não representavam
propriedade particular, mas, sim, patrimônio comum orientado pela administração central da
Colônia. Que o espírito é, apenas, o usufrutuário dos bens que adquire com seu próprio esforço,
dos quais a retenção é provisória, visto que, pela Lei de Evolução, nenhum espírito pode
permanecer eternamente em determinada Colônia Espiritual. Ele só não se refere ao bônus-hora.
Na verdade, a referência a tal moeda só é encontrada nas obras ditadas pelo espírito André Luiz.

Embora não exista propriedade no sentido que entendemos na Terra, os lares adquiridos
podem ser objeto de sucessão. Inversamente ao que se dá na desencarnação, em que o falecido
lega aos herdeiros o seu espólio, na encarnação, que é a morte para a vida espiritual, o proprietário
deixa seus bens para os familiares que ficam nas Colônias, exceto os créditos em bônus-hora que
reverterão ao patrimônio comum, pois, segundo informam os espíritos, são pessoais e
intransferíveis.

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VIII. Sistema Previdenciário dos Habitantes do Além

Toda a infraestrutura das Colônias Espirituais é um perfeito sistema previdenciário que tem
como objetivo o atendimento de toda a população espiritual necessitada de assistência e amparo.
Os tratamentos se efetivam através da Assistência Médica, da Assistência Espiritual, da Reabilitação
e do Serviço Social.

Portanto, o doente, nas Colônias, recebe assistência completa, isto é, em todos os aspectos,
desde o resgate das zonas umbralinas, passando pelo tratamento médico-hospitalar, a
convalescença, até a conclusão do aprendizado produtivo, a readaptação à vida nova e preparação
para futura reencarnação. Para isso, as Comunidades Espirituais contam com hospitais, médicos
de diversas especialidades, enfermeiros, aparelhos altamente sofisticados, instrutores e lares-
escola, que formam uma extensa obra assistencial.

Assistência Médica Espiritual

O serviço de assistência médica é bastante ativo nas Colônias Espirituais. Pode-se, mesmo,
afirmar que ele ocupa quase a totalidade dos trabalhadores e se constitui na finalidade prioritária
da criação das Colônias Espirituais. Quase todos os espíritos que nos têm informado sobre a vida
Além-Túmulo descrevem os hospitais-escolas por onde passaram ou que conheceram após o
abandono do corpo carnal.

Os espíritos recém-chegados da Terra, ainda intoxicados pelas radiações do planeta,


necessitam de depuração e repouso. Esta informação dos espíritos é, podemos dizer, unânime.

Os enfermos espirituais são sempre acolhidos em amplas enfermarias, impecavelmente


limpas, onde recebem tudo o de que necessitam. Médicos e enfermeiros, sempre atenciosos
tratam, carinhosamente, dos espíritos que são colocados sob a sua responsabilidade. Os suicidas,
as crianças e os desencarnados de forma violenta são os mais necessitados de atenção e
tratamento especiais.

A Medicina e a Enfermagem do Espaço são praticadas com todo amor e dedicação. Consta
que muitos profissionais que não souberam honrar o diploma adquirido na Faculdade, ou que
cometeram atos doloso ou culposos, colocam seus serviços à disposição, objetivando
aprendizagem e retificação dos erros praticados.

No momento em que nasce na Terra, o espírito é assistido por parteiras, enfermeiras e


médicos, muitas vezes em hospitais e clínicas. Na desencarnação, que é, na realidade, o retorno do
espírito a sua verdadeira vida, geralmente há necessidade, também, da assistência médica, para
descondicioná-lo das influências materiais.

A presença desses profissionais do Espaço é tão real que o enfermo se julga ainda encarnado.
Só, aos poucos, ele tomará consciência da sua situação. Muitas vezes, medicação e alimentos são
fornecidos, como se estivesse internado em hospitais terrenos. Paralelamente ao tratamento
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médico, a passeterapia para o refazimento espiritual é aplicada, auxiliada pela prece e


acompanhamento de apoio ao espírito desequilibrado.

Serviço Social das Colônias Espirituais

Nas Colônias Espirituais, o Serviço Social possui um vasto campo de ação. O profissional
desta área está em todo o desenvolvimento das atividades: desde as entrevistas iniciais até o
encaminhamento em excursões para estudo e observação.

Os espíritos instrutores empregam fórmulas variadas com os recém-desencarnados, a


depender de suas características, temperamentos e reações. O Amor e a Tolerância são
fundamentais, e o espírito que recepciona o que chega, emprega toda a habilidade para que este
se sinta seguro e aceito, apesar de suas imperfeições.

Com muita cautela, mas com autoridade, comenta os erros do passado, estimulando o
espírito desequilibrado a lutar pela retificação.

Os Assistentes Sociais do Mundo Espiritual integram as Caravanas Socorristas e são


elementos preparados para fazer a aproximação junto àqueles que se acham em condições
razoáveis para recebimento do socorro. Nas frequentes visitas das Caravanas Socorristas às zonas
inferiores do Mundo Espiritual, a primeira ajuda oferecida aos espíritos carentes é a sua retirada
do local e transporte para as instituições hospitalares das Colônias, pois, durante a fase de
perturbação que precede a morte, os espíritos, ainda exauridos, não têm forças para se locomover
nem o senso da direção, daí a necessidade de transportá-los em macas, da mesma forma como se
procede com os doentes na Terra.

A seguir, os Assistentes Sociais fazem visitas periódicas aos enfermos, a fim de estimulá-los
a elevar o seu padrão vibratório, esclarecê-los sobre a sua nova condição, etc. Assim, acompanham
os assistidos em suas estadas nas Colônias, observando o evolver de cada cliente. O Serviço Social
tem, como principais tarefas, o Socorro Espiritual e a Reabilitação.

Comunicação e Linguagem entre os Espíritos Desencarnados

Tanto no plano terreno como no plano espiritual, os espíritos Superiores lutam pela
instituição de um idioma comum, pois a diversidade de línguas, segundo sua opinião, perturba a
comunicação entre os homens. Em Memórias de um Suicida, obra psicografada pela médium
Yvonne A. Pereira, há referência a…
(…) um idioma novo, que não seria apenas uma língua a mais, a ser usada na Terra como
atavio de abastados, ornamento frívolo de quem tivesse recursos monetários suficientes
para comprar o privilégio de aprendê-la. Não! O idioma cuja indicação ali nos surpreendia,
seria o Idioma definitivo, que havia de futuramente estreitar as relações entre os homens e
os espíritos, por lhes facilitar o entendimento, removendo igualmente as barreiras de
incompreensão entre os humanos e contribuindo para a confraternização ideada por Jesus
de Nazaré.
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Em muitas obras, mediúnicas ou não, é citado o Esperanto como língua universal que
facilitaria o entendimento entre encarnados e desencarnados, servindo, também, como o grande
mensageiro do Espiritismo entre os povos.

Segundo o espírito Johannes (em Rumo às Estrelas de H. Dennis Bradley), em matéria de


linguagem, o Mundo Espiritual, na realidade, só possui uma, pois, com o evolver da espiritualidade,
a multiplicidade de idiomas seria um estorvo. E ele explica o que é uma língua única: a formada
pelas ideias.
Os que habitam o mesmo plano compreendem-se com muito maior facilidade que aos planos
superiores e inferiores. A linguagem real, entretanto, é o som mediante o qual nos fazemos
entender uns aos outros — e é a mesma para todos. (Rumo às Estrelas, de H. Dennis
Bradley)

Os desencarnados formam famílias, conversam, assistem a conferências. Hábitos e costumes


anteriores determinam, também, a formação desses grupos familiares. Por isso, a preferência dos
espíritos errantes, ainda apegados à crosta terrestre, por aglomerações, conforme esclarece Allan
Kardec, de cada nacionalidade — ingleses, franceses etc. — não somente pela Lei de Afinidade,
como pela facilidade de comunicação.

Logo que desencarnam, os espíritos não se desvinculam da linguagem articulada,


acompanhada de gestos e expressões, exatamente como usavam na Terra. À proporção que
passam para faixas vibratórias menos densas, a telepatia vai sendo empregada com mais
constância até atingir um estágio mais elevado de comunicação, ou seja, o nível das ideias, uma
vez que a linguagem real do espírito é a do pensamento.

Em suas considerações sobre o perispírito, informa Allan Kardec que…


Por sua natureza fluídica, essencialmente móvel e elástica, se assim se pode dizer, como agente direto
do espírito, o perispírito é posto em ação e projeta raios pela vontade do espírito. Por esses raios ele
serve à transmissão do pensamento, porque, de certa forma, está animado pelo pensamento do
espírito. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 12, dezembro de 1862)

Vejamos ainda o que diz o Codificador a respeito do assunto na Introdução de O Livro dos
Espíritos, parte XIV:
Para os espíritos, e sobretudo para os espíritos superiores, a ideia é tudo, a forma não é nada. Livres
da matéria, sua linguagem, entre eles, é rápida como o pensamento, uma vez que é o pensamento que
se comunica sem intermediários.

E complementa mais tarde:


A palavra articulada é uma necessidade de nossa organização. Como os espíritos não necessitam de
vibrações sonoras para lhes ferir os ouvidos, compreendem-se pela simples transmissão de
pensamento, assim como por vezes acontece que nos entendemos por um simples olhar. (Revista
Espírita de Allan Kardec, nº 4, abril de 1859)

As informações a respeito da comunicação no Mundo Espiritual são — pode-se dizer —


unânimes. A linguagem dos espíritos é o pensamento, que é transmitido através de ondas
magnéticas. Isso nas Esferas Superiores, onde não há necessidade da palavra nem de sons
articulados.

Confessam alguns espíritos que tiveram muita dificuldade de se comunicar com outros
desencarnados, pois sentiram, por longo período, a necessidade de falar através dos mesmos

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meios empregados na Terra. Com o passar do tempo é que conseguiram se libertar desse
condicionamento.

X. Sistema de Transporte no Mundo Espiritual

Em quase todas as publicações que tratam da vida no Mundo Espiritual, temos referências a
veículos utilizados na locomoção de espíritos, principalmente daqueles que, ainda, não possuem a
capacidade de volição desenvolvida.

Os espíritos superiores usam a força do pensamento, também, para se deslocarem de um


lugar para o outro e sua força mental é tão grande que levam consigo outros espíritos que não
dispõem dessa capacidade. Satisfazendo a curiosidade da médium Rosemary Brown33, o espírito
Liszt, autor da Sinfonias Inacabadas, usou um termo de ficção científica para que ela entendesse
sua explicação. Segundo ele, o sistema de locomoção do Mundo Espiritual é o teletransporte que
consiste em se viajar pelo Espaço apenas pensando no lugar aonde deseja ir ou na pessoa que
deseja ver.

Muitos se admiram das afirmações dos repórteres do espaço a respeito dos variados meios
de transporte utilizados nas Cidades Espirituais. As explicações são muito semelhantes,
principalmente quanto à importância desse sistema no socorro de espíritos exauridos, doentes e
desfalecidos nas zonas umbralinas.

Observemos o que propõe o instrutor espiritual Lísias ao espírito André Luiz e a reação deste
último:
— Esperemos o aeróbus (Fala de Lísias).
Mal me refazia da surpresa, quando surgiu grande carro suspenso do solo a uma altura de
cinco metros mais ou menos e repleto de passageiros.
(...)
E ele viu que Lísias se referia a um carro aéreo semelhante a um grande funicular”. (Nosso
Lar, de Francisco Cândido Xavier)

George Vale Owen fica sabendo, através de captação mediúnica, da utilização de meios de
transporte no Mundo Espiritual, embora de outros tipos:
Alguns chegaram em (...) Carros (…). Eram puxados por cavalos que pareciam compreender
perfeitamente os seus condutores, pois não tinham rédeas, como se usam na Terra, e
pareciam ir para onde os condutores queriam que eles fossem.
Alguns vinham a pé e outros se transportavam pelo espaço, aereamente. Não, não. As asas
não são necessárias. (A Vida Além do Véu, do Reverendo George Vale Owen).

Em Memórias de um Suicida, de Yvonne A. Pereira, os Caravaneiros, em suas missões de


resgate de infelizes no Vale dos Suicidas, fazem uso de várias espécies de veículos:

33 Dona de casa londrina que, em meados da década de 1960, começou a receber a visita do espírito Liszt, famoso
compositor desencarnado que passou a orientar a sua mediunidade musical.
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As macas, (…) abrigadas no interior de grandes veículos à feição de comboios, no entanto,


apresentam singularidade interessante, digna de relato. Em vez de apresentarem os vagões
comuns às estradas de ferro, como os que conhecíamos, lembravam, antes, meio de
transporte primitivo, pois se compunham de pequenas diligências atadas umas às outras e
rodeadas de persianas muito espessas, o que impediria ao passageiro verificar os locais por
onde deveria transitar. Brancos, leves, como burilados em matérias específicas habilmente
laqueadas, eram puxados por formosas parelhas de cavalos também brancos (…).

E acrescenta o espírito André Luiz:


(…) grande parte dos companheiros poderia dispensar o aeróbus e transportar-se, à vontade,
nas áreas de nosso domínio vibratório; mas, visto a maioria não ter dominado, ainda, essa
faculdade, todos se abstêm de exercê-la em nossas vias públicas. Essa abstenção, todavia,
não impede que utilizemos o processo longe da cidade, quando é preciso ganhar distância e
tempo. (Nosso Lar, de Francisco Cândido Xavier)

O tema em questão não passou despercebido na codificação da Doutrina Espírita. Sobre o


sistema de locomoção, Allan Kardec diz:
Enquanto nos arrastamos penosamente pela terra o nosso corpo pesado e material, como o
calceta as suas correntes, o dos espíritos, vaporoso e etéreo, transporta-se, sem fadiga, de
um lugar para o outro, rasga o espaço com a velocidade do pensamento e tudo penetra sem
encontrar qualquer obstáculo material”. (Revista Espírita, de Allan Kardec, nº 4, abril de
1859)

Enfim, quanto aos tipos de transporte no Mundo Espiritual, temos veículos com as mais
variadas características. São eles utilizados para as mais diversas finalidades no cotidiano dos
espíritos errantes: em passeios, no auxílio a necessitados, para competições esportivas, nas
excursões de estudos em outros mundos etc. Há, até, referência a barcos e naves à semelhança de
discos voadores34.

Consta, de acordo com mensagens mediúnicas, que, exatamente como ocorre na Terra,
espíritos aguardam, em determinados pontos, os coletivos que os levarão a locais próximos ou
distantes. Entretanto, do que se pode concluir, a maior utilidade dos veículos nas Colônias
Espirituais é o atendimento a enfermos.

XI. Ecologia dos Mundos Transitórios

Analisando as diversas obras que tratam das Colônias Espirituais, encontramos, em quase
todas elas, descrições de paisagens. Observa-se que o ambiente é bastante diversificado, de acordo
com as vibrações do meio em que se encontram. A Natureza forma um conjunto equilibrado e há

34 Alerta constante, apenas, do arquivo PDF origem deste e-book, na forma de “Nota” que nos permitimos reproduzir:
No transcorrer de nossa vida ao estudar a Doutrina Espírita, notamos uma boa parcela de confrades, vinda de outras
religiões dogmáticas, costumam interpretar uma coisa dita sobre o Mundo Espiritual, como sendo plena e verdadeira
para todo ele. Muitas vezes, como neste caso, os transportes existem para aquela camada mais próxima da crosta da
Terra, visto ser constituída pelos espíritos inferiores, os quais ainda não tiveram uma evolução necessária, por ter o
corpo espiritual muito denso, matéria densa, ainda não consegue VOLITAR, (devido ao seu padrão vibratório muito
baixo), nem se teletransportar, sendo então necessário um meio de transporte para que possa vaguear pela amplidão
do Mundo Espiritual. Subscrito por Edivaldo. (N.R.)
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um íntimo relacionamento entre os três reinos: animal, vegetal e mineral. Até mesmo as
construções, como casas, ruas etc., obedecem à Lei da Afinidade.

O Mundo Espiritual, exatamente como na Terra, possui a sua fauna e a sua flora, seus rios e
lagos. Os egípcios disso tinham conhecimento.

Swedenborg se referiu, muitas vezes, a esses reinos espirituais. Vários são os espíritos a
repetir descrições de ambiente em que se encontram, desde os mais densos e lúgubres até as
paisagens mais sublimes. São lamaçais fétidos e pestilentos, flores de perfumes e cores
indescritíveis; águas lodosas e rios tranquilos e cristalinos.

Em suas conversações com os espíritos errantes, J. Arthur Findlay chegou à conclusão que
fora do corpo continuamos a existir como unidades de pensamento isoladas, sem nos
confundirmos com nenhuma outra mente desencarnada nem com o todo universal.
Teremos, portanto, peso, forma, individualidade e a mesma mente que temos agora; porém, e o que
concerne ao ambiente e meio?
(...)
Dissemos que o mundo etéreo se assemelha a este, que se compõe de individualidades e outras coisas
vivas. Admitimos, tirando-a das nossas experiências físicas, a conclusão lógica de que todas as coisas
vivas são animadas pela força de vida, e, desde então, já não será despropositado concluir que tal
força, combinada com a mente, que tem o poder de atuar sobre a matéria física, produzindo o que
experimentamos aqui no nosso mundo, também dispõe do mesmo poder para influenciar a matéria
etérea, para produzir árvores, animais e outras formas viventes no mundo do éter, semelhantes às
que existem no mundo físico.
Não será, pois, igualmente despropositado acreditar-se que o mundo etéreo contém árvores, animais
e flores, e para todos fins e efeitos que lhe são assinados neste nosso mundo, nem que, quando
realizamos a passagem chamada morte, vamos encontrar-nos em um mundo muitíssimo semelhante
ao em que hoje vivemos, com a só diferença de lá não estarmos embaraçados pela matéria física e de
serem, conseguintemente, mais ativos os nossos cérebros e mais céleres os nossos pensamentos e
movimentos”. (No Limiar do Etéreo, de J. Arthur Findlay)

A Natureza nas Colônias Espirituais constitui uma cópia melhorada da Terra. Nas que se
dedicam ao Bem, as cores são mais harmônicas e delicadas. Há um verdadeiro entrosamento entre
todos os seus componentes. Arvores frondosas oferecem sombra amiga àqueles que desejam
repousar, pois os espíritos errantes, mesmo os mais evoluídos, não prescindem, totalmente, de
alguns momentos de descanso. A fauna e a flora, de diversas qualidades, cooperam no trabalho
coletivo. Os animais participam da vida nas Colônias: os cavalos, nas carruagens, os pássaros com
seus cantos, os cães, na defesa.

Todos se constituem em preciosos auxiliares dos desencarnados. As cascatas possuem


sonoridades musicais, formando um ambiente agradável e repousante. Os animais são mais
inteligentes e não sofrem os temores nem as crueldades que experimentam na Terra. Tudo forma
um lindo cenário. Segundo o espírito Castro Lopes, no Além:
As flores conservam o mesmo tipo fundamental através dos mundos. Toda a Natureza, enfim, guarda a
mesma forma e o mesmo desenho, o que varia é o tamanho, a cor o a densidade. Só em Júpiter é que as
vi com uma forma estranha e esquisita. Fiquei extasiado a contemplar essa flora, em que predominava
o tom vermelho-sombrio. (Um Espírito Através do Cosmo, de Isaltino Barbosa).

Sobre a presença de minerais, plantas e animais no Mundo Espiritual, Allan Kardec dedica o
capítulo XI (Os Três Reinos) às informações dos espíritos codificadores, nas perguntas de nº 585
a 613. Entre as respostas dadas temos uma, bem esclarecedora à pergunta de nº 600:

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P. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante, como a do homem após a
morte?
R. Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um espírito
errante. O espírito errante é um ser que que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem
a mesma faculdade. E a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do espírito. O
espírito do animal é classificado após a morte, pelos espíritos incumbidos disso e utilizado quase
imediatamente: não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.

Na Revista Espírita nº 8, de agosto de 1858, Allan Kardec trata da presença dos animais no
Mundo Espiritual, tomando por base as informações contidas nas mensagens recebidas pelo
médium Vitorien Sardou com referência à residência do compositor Mozart, localizada no planeta
Júpiter. E muitos outros espíritos revelam a existência dos reinos mineral, vegetal e animal no
Outro Mundo. Eis a descrição que o espírito Monsenhor Robert Hugh Benson faz de certa
localidade que visitou:
A ilha correspondeu a nossa expectativa em beleza cênica. Não havia muitas habitações; as que
podiam ser vistas eram apenas residências de verão. Mas a principal característica do lugar era a
quantidade de árvores, nenhuma alta, mas todas de vigoroso desenvolvimento. Viam-se nos galhos
os mais belos pássaros, cuja plumagem era uma orgia de cores. Alguns voavam, outros passeavam
majestosamente pelo chão. E não se atemorizavam conosco. Acompanhavam-nos se estivéssemos
andando; e se estendíamos os braços, os menores se empoleiravam nos dedos. Pareciam conhecer-
nos, e saber que seria absolutamente impossível que os maltratássemos. (A Vida nos Mundos
Invisíveis, de Anthony Borgia)

Em suas andanças pelo Mundo Espiritual, o espírito David Hatch, após presenciar uma
graciosa dança por um grupo de crianças, diz o seguinte:
“A avenida dos Ciprestes tinha ficado para trás; agora encontrava-me numa vasta planície, rodeada por
uma floresta de árvores em flor. O ar estava impregnado de perfumes primaveris, os passarinhos
gorjeavam numa alegria louca. No centro da planície elevava-se uma grande fonte circular, cujos jogos
de água eram maravilhosos; os repuxos jorravam à grande altura, caindo depois em nuvens irisadas de
espuma. Um encanto inexprimível reinava sobre toda paisagem”. (Cartas de Um Morto Vivo, de Elsa
Barker)

Os espíritos que se comunicaram com o Reverendo George Vale Owen, interrogados por este,
descrevem, de acordo com suas limitações, o ambiente em que se encontram no Mundo Espiritual:
O terreno é muito extenso e todo ele está como que em relação com as casas; há relação em tudo.
Assim, por exemplo, as árvores são verdadeiras árvores e crescem como na Terra, porém estão de
acordo com os edifícios. As diferentes qualidades de árvores correspondem algumas a determinada
casa mais que a outras e cooperam para efeito e para o trabalho a que essa casa é destinada.
(...)
A atmosfera é também naturalmente influenciada pela vegetação e pela edificação e, seja-me lícito
repetir, aquelas casas não são de mera construção mecânica, mas o produto da força de vontade dos
que se acham aqui, na alta escala, e por isso gozam de grande poder criador.
A atmosfera também influi em nosso vestuário, na sua contextura, na sua cor, assim como na nossa
própria personalidade” (A Vida Além do Véu, do Reverendo George Vale Owen).

O espírito Silveira Sampaio sempre se emociona com as paisagens das Colônias Espirituais.
Confessa que, embora passado tanto tempo de sua desencarnação, ainda se belisca para ter certeza
de que está bem vivo e acordado:
Olhando este jardim, sentindo seu aroma, a frescura de suas alamedas, posso assegurar que, não fora
algumas particularidades, como o brilho luminoso das flores e a delicadeza persistente e penetrante dos
aromas, a leveza da brisa delicada, quase compondo música suave no ambiente, eu diria estar na crosta
da Terra mesmo, num lindo dia de verão. (O Mundo em que Eu Vivo, de Zíbia M. Gasparetto)

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Entretanto, não devemos esquecer que, por haver, no Mundo Espiritual, uma íntima relação
entre habitantes e Natureza, nas regiões umbralinas o ambiente é completamente diverso do que
acabamos de apresentar. Vejamos, por exemplo, a descrição de um ambiente em que se encontram
os réprobos do suicídio, em Memórias de Um Suicida, psicografado por Yvonne A. Pereira:
Nessa paragem aflitiva, a vista torturada do grilheta não distinguia sequer o doce vulto de um
arvoredo que testemunhasse suas horas de desesperação; tampouco paisagens confortativas, que
pudessem distraí-los da contemplação cansativa dessas gargantas onde não penetrava outra forma
de vida que não a traduzida pelo supremo horror!

São as regiões chamadas Domínios Sombrios, Umbrais, Mundo de Sombra. Locais onde se
acham os que se esqueceram de Deus e não dedicaram um segundo sequer de sua existência
terrena em auxílio ao próximo. São as almas de gelo, a que se referiu o espírito Castro Lopes, na
obra que ditou ao médium Isaltino Barbosa — Um Espírito Através do Cosmo — prefaciada pelo
professor baiano Leopoldo Machado.

São as moradias das pessoas indiferentes ao sofrimento alheio que se compraziam em


humilhar, torturar e conduzir o seu semelhante à rua da amargura, arrancando-lhe a pele e
sugando-lhe o sangue; redutos dos avarentos, que só pensaram em amealhar fortuna sem
dispender a mínima parcela em alguma obra de ajuda material ou moral. Muitos outros preferem
permanecer nessas faixas vibratórias do baixo mundo espiritual, onde têm oportunidade de dar
vazão aos tenebrosos vícios e de perpetrar os mais hediondos crimes.

Lá estacionam essas criaturas a sofrer as torturas e as agonias até que tomem consciência de
que existe a necessidade de evolver para Mundos Superiores; são mundos sem encantos e belezas,
descritos pelo espírito Castro Lopes na obra acima citada:
O mundo, que está sendo descrito, é estéril, tem uma fauna paupérrima, na qual só figuram répteis,
que se arrastam na sua superfície, como que para lembrar a essas almas, o papel que representaram
na vida, onde não foram mais que répteis humanos, serpentes venenosas, que levavam o veneno no
olhar e a morte nas palavras que proferiam contra o semelhante, cuja felicidade desejavam ver
destruída.
O reino vegetal é ainda mais pobre que o animal. Algumas espécies de plantas rasteiras e escuras,
impressionando pelo aspecto sombrio e triste. Nenhuma árvore, nenhum arbusto, tudo pequeno e
rastejante, como as almas dos habitantes; tudo lúgubre e hórrido, como as consciências dos espíritos
que para ali são desterrados. (Um Espírito Através do Cosmo, de Isaltino Barbosa)

Tais criaturas vivenciam a barbárie do planeta. Como bem analisa o Professor J. Herculano
Pires, a tragédia espiritual é sempre decorrente dos interesses práticos do homem que são
alimentados na ganância, na cobiça e no egoísmo, provocando o vampirismo voraz, espíritos ainda
desequilibrados e cheios de viciações se atiram, como aves de rapina, sobre encarnados com
tendências negativas, a fim de continuarem a praticar delitos.

O escritor Carlos Bernardo Loureiro, em sua obra inédita — Obsessão: A Invasão dos Abutres
— chama a atenção para a proporção que tem tomado esse assédio dos espíritos infelizes sobre a
Humanidade em geral e analisa um interessante comentário de Allan Kardec a respeito do assunto:
Os espíritos maus, egoístas e endurecidos, logo depois da morte sentem-se dominados por uma
dúvida cruel quanto ao seu destino — presente e futuro. Olham à sua volta. A princípio nada
enxergam em que possam dar vazão à maldosa personalidade e são tomados de desespero, pois o
isolamento e a inatividade são intoleráveis para os espíritos maus. Não erguem suas vistas para as
regiões habitadas pelos espíritos puros.
Examinam o que está ao seu redor e logo, notando o abatimento dos espíritos fracos e em punição,
aferram-se a estes como uma presa, valendo-se da lembrança que guardam das faltas passadas,

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utilizando-se incessantemente delas para escarnecê-los. Não lhes bastando esse escárnio, atiram-se
à Terra como abutres famintos e procuram, entre os homens, a alma que dê mais livre acesso as suas
tentações.
Apossam-se dela, exaltam-lhe a cobiça, tratam de extinguir a sua fé em Deus, e quando, finalmente,
senhores de uma consciência, veem segura a sua presa, estendem a tudo que se aproxime de sua
vítima o fatal contágio. (O Céu e o Inferno, de Allan Kardec).

E, assim, os Mundos Espirituais vão sendo descritos através de mensagens e observações.

A série é imensa e infinita como infinita a trajetória de cada espírito. Planos e camadas
vibratórias se superpõem, desde os abismos mais tenebrosos até as esferas resplandecentes de
luz e beleza inimagináveis.

XII. Práticas Religiosas dos Espíritos Errantes

Nas Colônias próximas à crosta terrestre, as atividades espirituais são bastante valorizadas
por todos os espíritos que trabalham sob a égide do Cristo. Entretanto, devido a condicionamentos
e preconceitos, muitos espíritos tentam preservar as suas preferências religiosas e, assim,
estruturam templos com as mesmas características que possuíam na Terra. Segundo informações
do Mundo Espiritual, existem os santuários destinados a orações coletivas.

Os templos, imponentes e austeros, destacam-se pela sua beleza clássica, geralmente de


grandes proporções, lembrando a arquitetura antiga. São, também, redutos de meditação e
aprendizagem doutrinária, para onde convergem criaturas de várias correntes religiosas da Terra,
já descondicionadas de antigos dogmas e libertas dos cultos exteriores.

O espírito Irmão Jacob assim descreve sua surpresa ao encontrar, no Outro Mundo, um
templo de orações:
(…) parei admirado diante de formoso e magnificente edifício, no qual adivinhei um templo
importante. Sete torres maravilhosas, de algum modo semelhante às da famosa catedral de
Colônia, invadem as alturas. Em tudo o que meu olhar podia abranger, eu observava
primorosas manifestações de ourivesaria, admirável pela finura e beleza (…) nos achávamos
perante o grande santuário da cidade, onde se processam os mais destacados serviços
espirituais da vida coletiva.
“(...) Até ali, somente chegam, vindas da esfera carnal, pessoas libertas do estreito dogmatismo
religioso (…) aqui confraternizam em torno do Evangelho de Jesus Cristo. Há serviço diário.
(Voltei, de Francisco Cândido Xavier).

Foram grandes as surpresas do espírito Monsenhor Robert Hugh Benson em suas primeiras
experiências no Mundo Espiritual. Acompanhado de amigos, passeava pelas cidades e campos,
emocionado com os belas flores, rios e casas. Isso lhes proporcionava um grande prazer. A certa
altura, eles viram, à distância, uma igreja com a mesma aparência das construídas na Terra.
Decidiram, então, seguir na direção do templo acompanhando um riacho cristalino cuja água, ao
correr, emitia notas musicais, combinando-as numa rapsódia das mais suaves sonoridades. Após
curta caminhada, chegaram à igreja.

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Tratava- se de um templo em estilo gótico, de tamanho médio, à semelhança das paróquias


terrenas, excetuando-se o cemitério anexo o que, evidentemente, era desnecessário. À porta de
entrada, havia o usual quadro para afixação de avisos com a natureza dos serviços, sem,
entretanto, os horários dos mesmos. Também não havia comunicados de casamentos e batizados.
E pôs-se ele a pensar:
Não figurava ali o horário dos cultos, e pus-me a refletir como uma organização desta espécie poderia
reunir-se se. O tempo, como é conhecido no mundo, não tem existência. Aqui não há noite e dia
alternadamente, pelos quais o tempo possa ser medido. É dia perpétuo.
(...)
Como sempre, voltei a indagar de meu amigo a respeito das reuniões de congregações.
Era muito simples — disse ele. — Quem estiver encarregado delas, tem apenas que enviar seus
pensamentos para sua congregação, e aqueles que desejam vir, se reúnem. Não há necessidade de tocar
sinos, pois a emissão do pensamento é muito mais completa e exata. Os paroquianos têm apenas de
esperar até que os pensamentos os alcancem para se congregarem.
(...) O prelado que trabalhava como pastor desse estranho rebanho sentiria, pelos seus deveres
cotidianos na Terra, a aproximação do dia e hora usuais em que os cultos eram mantidos ”. (A Vida
nos Mundos Invisíveis, de Anthony Borgia)

Por fim, penetraram o interior do templo e se deslumbraram com os belíssimos vitrais


representando vidas de santos. Havia um belo órgão e um altar-mor ricamente trabalhado. Ao sair,
passaram a comentar sobre a falta de religiosidade de Rute, um dos espíritos componentes do
grupo. Suas ações a favor do próximo tinham contribuído para o seu progresso espiritual, sem que
fosse assídua frequentadora de igrejas.

Perceberam, então, a inutilidade de toda a exibição externa de religião e de colecionar


acessórios da religião ortodoxa. Entretanto, muitos espíritos ainda mantinham, por um longo
período da erraticidade, seus próprios credos e formulários.

Alguns espíritos errantes têm declarado que as orações coletivas nas Colônias Espirituais
são feitas ao cair do crepúsculo; nesse momento, os seus habitantes se dirigem aos templos e
comungam de um só pensamento de Amor e Fraternidade. Aqueles que não têm condições de
deixar os leitos dos hospitais ou se encontram ocupados em seus lares, participam através de
aparelhos receptores de imagens e sons.

As práticas religiosas nas Esferas Superiores são desprovidas de atavios, pois não visam,
como na Terra, repercussões sociais. Os espíritos instrutores se empenham na difusão dos
princípios de Fé e Caridade entre os incontáveis desencarnados que permanecem imantados à
crosta terrestre a estimular a malícia e a discórdia.

Há, outrossim, aqueles não completamente maus, mas mentes ignorantes e acomodadas que
precisam de esclarecimento, uma vez que se mantêm na confissão de fé que professavam na Terra,
praticando seus ritos e fiéis a falsos dogmas. Muitos espíritos errantes praticam, ardorosamente,
as religiões que foram suas prediletas na Terra.

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XIII. Conclusão

Cotejando a extensa bibliografia que trata da vida no Mundo Espiritual, observamos diversos
aspectos analisados pelos espíritos comunicantes e, em tal riqueza de pormenores, que se chega a
pensar que não existe nenhuma diferença entre o Além e o Aquém.

Sabemos, todavia, que, em virtude da limitação humana, nem tudo nos foi revelado e, nem
sempre o que nos foi revelado, retratou a realidade da vida dos espíritos. Futuramente, com
certeza, receberemos informações de que a atual pobreza de nosso vocabulário e limitação do
nosso intelecto impossibilitam a recepção e compreensão.

De acordo com nosso estágio de evolução, só estamos aptos a conhecer o que se enquadra
na experiência tacanha da vida material. Por outro lado, certas pessoas se insurgem contra as
notícias que nos chegam do Mundo Espiritual, por julgarem que se está materializando demais a
vida dos espíritos; alegam que são alucinações dos médiuns ou mistificação de espíritos
zombeteiros.

Tais pessoas não aceitam, em nenhuma hipótese, a ideia de continuarmos, nas Colônias
Espirituais, com as mesmas tarefas que desempenhávamos na Terra. O espanto é enorme ao
saberem da existência de habitações, objetos, alimentos, animais, enfim de toda uma organização
nos moldes humanos.

No outro extremo, temos pessoas excessivamente crédulas que anseiam pelo momento da
desencarnação, a fim de poderem habitar uma Colônia Espiritual, do tipo Nosso Lar, esquecidas de
que o Além será para nós o que construímos na Terra. Colheremos o que plantamos.

O professor James Hervey Hyslop35, a propósito de determinadas revelações sobre a vida no


Além, ponderou em um artigo publicado, em 1913, no American Journal of the SPR (Nova Iorque):
Nada há de impossível nas informações que essas "mensagens" contêm! (…). Não chego a
compreender porque se exige que o Mundo Espiritual seja mais ideal do que o nosso. Os dois mundos
são obra do mesmo Autor, quer este se chame Matéria, ou Deus (…). Ninguém pode afirmar ou negar
a priori. O fato de negar ou lançar ao ridículo as "revelações transcendentais" equivale a pretender
conhecer, de modo certo, o Mundo Espiritual, o que constitui presunção indigna de um céptico que
raciocine.
Em suma, os livros desta espécie são importantes pois nos dão uma primeira ideia sobre o Mundo
Espiritual, oferecendo-nos assim oportunidade de comparar os detalhes contidos nas diferentes
revelações obtidas (…). Ora, no nosso caso, comprova-se que as informações que nos são transmitidas
nessas mensagens pelas personalidades que se comunicam, concordam com outras que nos vêm por
intermédio de médiuns que não eram religiosos e não tinham a cultura e a inteligência deste médium
(…).

Declarações análogas publicaram pesquisadores eminentes, como, por exemplo, o cientista


italiano Ernesto Bozzano36. Este ilustre pesquisador elaborou monografias com análises
comparadas de mensagens esparsas recebidas de médiuns americanos e ingleses a respeito do

35 James Hervey Hyslop (1854-1920). Professor de Lógica e Ética de 1889 a 1902, na Universidade de Columbia (Nova
Iorque). Um dos mais importantes pesquisadores americanos.
36 Ernesto Bozzano nasceu em 1862. É considerado o decano das pesquisas psíquicas e do Espiritualismo na Itália.
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Mundo Espiritual. O resultado de tais pesquisas foi registrado na obra A Crise da Morte. De acordo
com suas observações àquela época, só na Inglaterra e Estados Unidos havia revelações da vida
dos espíritos com provas da identidade do defunto que as ditou e, ainda, organizadas sob forma
de tratados, em narrativas continuadas.

Ernesto Bozzano preocupou-se com o estudo comparado de numerosas informações obtidas


mediunicamente. Diz ele que:
(…) só quando se haja chegado à certeza científica, com relação à origem espírita da parte mais
interessante dos fenômenos metapsíquicos, se compreenderá o grande valor científico, moral, social,
das revelações transcendentais estudadas sistematicamente”. (A Crise da Morte, de Ernesto
Bozzano).

James Hervey Hyslop, exatamente como Ernesto Bozzano, propunha um trabalho que
envolvesse o maior número possível de médiuns que não conhecessem a Doutrina Espírita, a fim
de que se comparassem os resultados finais sem que houvesse qualquer interferência religiosa ou
ideológica.

Enfim, de tudo que foi visto até então, deduz-se que não se deve esperar da vida, nas Colônias
Espirituais, uma estada indolente e preguiçosa, de eterna contemplação, de eternas delícias. Essa
visão enganosa da situação após a morte pode ser causa de fuga, através do suicídio, para uma
vida melhor. Todo indivíduo tem de deixar que se cumpra o período que lhe foi destinado em cada
reencarnação.

Abreviar a existência só trará sofrimentos e perturbações ao espírito. Não pensemos,


portanto, que, apenas pela desencarnação, pura e simplesmente, atingiremos o descanso eterno
como pregam, enganosamente, certas religiões.

O nosso evolver só se dará através do trabalho produtivo e abnegado em favor do próximo,


tanto do lado de lá como do lado de cá. As romagens terrenas, bem aproveitadas, fortalecem-nos o
espírito e permitem-nos galgar níveis mais elevados de aperfeiçoamento. Assim, levaremos para
o Outro Mundo um cabedal de ações positivas e, da mesma forma, traremos, do Além, novas
experiências num processo infinito de retroalimentação de nosso aprendizado.

Informações que não condizem, totalmente, com a verdadeira situação de um espírito


errante, são as fornecidas por pesquisadores que lidaram com indivíduos que passaram pelo
transe da morte aparente, também conhecida como morte clínica ou temporária, em virtude de
choques traumáticos ou por medicamentos.

Entrevistados pelos cientistas, esses ressuscitados narram o que sentiram durante os


momentos em que ficaram separados do corpo físico. Foram sensações de bem-estar e de leveza
nunca imaginados; desejo de continuar fora do corpo e nunca mais retornar. Esta se constitui
numa visão enganosa do Mundo Espiritual, uma vez que, nesses casos, a saída do espírito não é
definitiva, isto é: não houve a ruptura do cordão fluídico, ou cordão de prata, que serve de liame
entre o corpo físico e perispírito, conhecido, no conceito moderno como cordão vital.

Os indivíduos que passaram por tal experiência se encontravam, na realidade, num espaço
intermediário entre o plano terreno e o plano espiritual. Daí se conservarem, geralmente, no
mesmo ambiente onde se encontram os seus corpos. Entre visões de túneis, luzes e pessoas
desencarnadas mistura-se a percepção do ambiente do hospital, da presença dos médicos que os
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trataram e dos parentes vivos. São, apenas, saídas temporárias em que os espíritos permanecem
flutuando no recinto, vendo seus corpos, ouvindo as conversas de parentes e, muitas vezes, aflitos
sem poderem dizer a todos que estão vivos.

Por isso, alguns Mensageiros Espirituais têm aconselhado que os encarnados não enterrem
os corpos de seus mortos antes que deem sinais de decomposição, a fim de evitar que sejam
enterrados vivos.

Allan Kardec já chamava a atenção para a gravidade do assunto e transcreve a mensagem de


um espírito que passou por esta horrível experiência. Embora não se possa negar que tais fatos
dão provas incontestáveis da imortalidade pessoal, só se tem uma ideia real do Outro Mundo
quando se efetiva a desencarnação.

Como matéria de estudo, encontramos na Revista Espírita nº 9, de setembro de 1858, o fato


relatado no Courrier dês États-Unis, referente a Senhora Schwabenhaus e que comoveu toda a
população de Baltimore.

Doente por longo período, pareceu ter exalado o último suspiro numa noite de segunda para
terça-feira. Seu corpo ficou gelado e rígido. Os familiares prestaram os deveres ao cadáver,
colocaram-no na câmara ardente e foram repousar. Tudo estava preparado para o enterro.

Às 6 horas da manhã, o Sr. Schwabenhaus, esposo da falecida, ouviu a voz desta chamando-
lhe pelo nome. A princípio, julgou que estivesse sonhando, mas a insistência do chamado fê-lo
precipitar-se para o aposento onde se instalara a câmara mortuária. Qual não foi a sua surpresa,
ao ver a esposa sentada no leito, com aparência sadia e pedindo água, chá e vinho para beber.
Demonstrando tranquilidade, disse:
Sei que vocês pensavam que eu estivesse morta, (…) entretanto, estava, apenas adormecida. Durante
esse tempo minh'alma foi transportada às regiões celestes; um anjo veio buscar-me e em poucos
instantes transpusemos o espaço. Este anjo que me conduzia era a filhinha que perdemos no ano
passado (…).
Às oito horas, depois de se haver ternamente despedido do marido, dos filhos e de uma porção de
pessoas que a rodeavam, a Sra. Schwabenhaus expirou realmente, conforme foi constado pelos
médicos, de maneira a não deixar mais dúvida.

Este espírito foi evocado numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, a 27 de
abril de 1858, e manteve um longo diálogo, cujos trechos vão aqui transcritos:
6.) Sofríeis durante a letargia?
― Não.
7.) Como se operou vosso retorno à vida?
― Deus permitiu que eu voltasse para consolar os corações aflitos que me rodeavam.
8.) Desejaríamos uma explicação mais material.
― Aquilo a que chamais perispírito ainda animava o meu invólucro terrestre.
11.) Onde estiveste durante o sono letárgico?
― Não posso descrever a felicidade que eu experimentava: a linguagem humana não exprime
estas coisas.
12.) Vós vos sentíeis ainda na Terra ou no espaço?
― Nos espaços.
13.) Voltando a vós, dissestes que a filha, que havíeis perdido no ano anterior, vos tinha vindo
buscar. É verdade?
― Sim: é um espírito puro.
(...)
18.) Vistes outros espíritos além de vossa filha?

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― Vi uma porção de outros; mas a voz de minha filha e a felicidade que experimentava eram as
minhas únicas preocupações.

Nesse caso relatado por Allan Kardec, existiu a particularidade de o espírito entrar em êxtase
após a letargia e não perceber o que ocorreu a sua volta durante o fenômeno.

Outras informações que necessitam de análise cuidadosa são as transmitidas por espíritos
condicionados a certas correntes culturais inglesas e americanas que não aceitam a reencarnação.
Por isso mesmo não se constituem, totalmente, em fontes fidedignas de estudo da vida dos
espíritos, exceto em alguns aspectos, uma vez que, diante de tal preconceito, não admitem a Lei de
Causa e Efeito como fator importantíssimo na situação do desencarnado após a morte.

Neste caso, só haveria uma vida, uma morte e, depois, a eternidade para que o espírito
transformasse o seu caráter. Alguns são de opinião que, depois da morte, o indivíduo vai encontrar
sempre paragens tranquilas e nenhum problema com que se preocupar.

Allan Kardec, no capítulo XXVI de O Livro dos Médiuns — Perguntas que se podem fazer
(sobre outros mundos) —, ao inquirir os espíritos do grau de confiabilidade que poderíamos ter
dessas descrições dos Outros Mundos, recebe o seguinte esclarecimento:
Isso depende do grau de adiantamento real dos espíritos que dão essas descrições. Porque
compreendeis que os espíritos vulgares são tão incapazes de vos informar a respeito como um
ignorante o seria, entre vós, no tocante aos países da Terra.
Formulais, muitas vezes, sobre esses mundos, questões científicas que esses espíritos não podem
resolver. Se são de boa fé, falam a respeito segundo suas ideias pessoais. Se são levianos, divertem-
se a vos dar descrições bizarras e fantásticas, tanto mais que esses espíritos, tão imaginosos na
erraticidade como na Terra, tiram da própria imaginação o relato de muitas coisas que nada têm de
real.
Entretanto, não acrediteis na impossibilidade absoluta de obter alguns esclarecimentos sobre esses
mundos.
Os espíritos bons gostam mesmo de descrever aqueles em que habitam, a fim de oferecer
ensinamentos para vos melhorar e vos colocar no caminho que vos pode conduzir a eles. É uma
maneira de concentrar as vossas ideias sobre o futuro e não vos deixar no vácuo.

Enfim, o objetivo dos espíritos ao fornecerem dados sobre sua vida no Além é,
principalmente, desfazer as ideias teologais errôneas implantadas nas mentes dos homens sobre
o seu destino após cada encarnação. Porém, o estudo de qualquer assunto referente à Doutrina
Espírita deve se revestir de extremos cuidados, e, mais ainda, quando se tratar de obras
complementares com mensagens oriundas do Mundo Espiritual.

O professor J. Herculano Pires foi um dos que ao ler a obra Nosso Lar, psicografada por
Francisco Cândido Xavier, chamou atenção para o que aconselha a Codificação, a respeito do
consenso universal, segundo o qual era exigido um mínimo de concordância entre as obras
produzidas por vários médiuns em diferentes locais.

Chamado a se pronunciar, Francisco Cândido Xavier argumentou que livros já existiam em


países estrangeiros que relatavam fatos semelhantes da vida dos espíritos em Outros Mundos. Eis,
portanto, o que aconselha Allan Kardec para dirimir dúvidas quanto ao conteúdo das obras
pertinentes à problemática espírita:
1º Analisar uma multiplicidade de comunicações do mesmo teor.
2º Verificar a identidade de cada espírito comunicante.
3º Fazer um cotejo entre as várias comunicações existentes.

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4º Verificar a seriedade das informações ou respostas.


5º Verificar a uniformidade dos informes.

Agindo assim, controlando a exatidão das descrições, a coerência dos relatos e a


universalidade dos ensinos dos espíritos, separaremos o joio do trigo. Este é o critério do consenso
universal em que se estruturou todo o trabalho desenvolvido por Allan Kardec.

XIV. Bibliografia

Livros, por título, citados pela Autora:


Nota: Esta bibliografia ‘por citação da Autora’ inexiste no original.37
A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano
A Gênese, de Allan Kardec
A História de Lester Coltman, de Lilian Walbrook
A Verdadeira Religião Cristã, de Emmanuel Swedenborg
A Viagem de uma Alma, de Peter Richelieu
A Vida Além do Véu, do Reverendo George Vale Owen (1869-1931)
A Vida no Outro Mundo, de Cairbar Schutel
A Vida nos Mundos Invisíveis, do espírito Monsenhor Robert Hugh Benson, psicografado por Anthony
Borgia
Além da Morte, de Otília Gonçalves psicografado por Divaldo Pereira Franco
Apenas uma Sombra de Mulher, de Fernando do Ó
Artigo de 1913, no American Journal of the SPR, do prof. James Hervey Hyslop na Universidade de
Columbia-NY
Auxiliares Invisíveis, de C. W. Leadbeater
Cartas de Um Morto Vivo, de David Hatch, psicografado por Elsa Barker
Depois da Morte, de Léon Denis
Divina Comédia, de Dante Alighieri
Entre Dois Mundos, de Antoinette Bourdin
Evolução em Dois Mundo, de André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
História da Civilização Ocidental, de Edward McNall Burns
História do Espiritismo, de Arthur Conan Doyle
Letters and Tracts on Spiritualism, do juiz John Worth Edmonds
Memórias de Um Suicida, do espírito Camilo Castelo Branco, psicografado por Yvonne A. Pereira
Monografia de los Tarahumaras, de Carlos Bassauri
No Invisível, de Léon Denis
No Limiar do Etéreo, de J. Arthur Findlay, psicografado por John C. Sloan
Nosso Lar, de André Luiz psicografado por Francisco Cândido Xavier

37 Referência ao livro de 1995 usado na revisão textual e citado nos Créditos; item mantido por sua utilidade, mas
acrescido dos livros omitidos. (N.R.)
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O Caso de Lester Coltman, do espírito de Lester Coltman, por Lílian Walbrook


O Céu e o Inferno, de Allan Kardec
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec
O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec
O Mundo em que Eu Vivo, de Silveira Sampaio, psicografado por Zíbia M. Gasparetto
O Mundo em que Eu Vivo, do espírito Silveira Sampaio, psicografado por Zíbia M. Gasparetto
O Sexo Além da Morte, de R. A. Ranieri
Obreiros da Vida Eterna, de André Luiz psicografado por Francisco Cândido Xavier
Obsessão: A Invasão dos Abutres de Carlos Bernardo Loureiro
Os Mensageiros, de André Luiz psicografado por Francisco Cândido Xavier
Os Necromantes, de Robert Hugh Benson
Raymond, de Raymond e Feda, canalizado por Oliver Lodge
Recordações da Mediunidade, de Yvonne A. Pereira
Revista Espírita (diversos números) de Allan Kardec
Rumo às Estrelas, do espírito Johannes, psicografado por Herbert Dennis Bradley
Sabedoria Angélica, de Emmanuel Swedenborg
Sexo e Destino, de André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
The Witness, de Tiny, canalizada por Srª. Jessie Platts
Um Espírito Através do Cosmo, de Castro Lopes, psicografado por Isaltino Barbosa
Voltei, de Irmão Jacob, psicografado por Francisco Cândido Xavier

Bibliografia Básica para Estudo sobre as Colônias Espirituais

Ação e Reação - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)


Ainda no Limiar do Mistério da Sobrevivência - Hamilton Prado (ECO)
Além e o Aquém, O - Cristóvão Marques Pessoa (ABC do Interior)
Além do Inconsciente - Jaime Cerviño (FEB)
Além da Morte - Divaldo Pereira Franco/Otília Gonçalves (LEAL)
Além e a Sobrevivência do Ser, O - Léon Denis (FEB)
Além do Véu e da Morte - Helen Greaves (Pensamento)
Alma é Imortal, A - Gabriel Delanne (FEB)
Apenas Uma Sombra de Mulher - Fernando do O’ (FEB)
Auxiliares Invisíveis - C. W. Leadbeater (Pensamento)
Arcanos Celestes - Emmanuel Swedenborg
Cartas de Uma Morta - Francisco Cândido Xavier/ Maria João de Deus (LAKE)
Cartas de Um Morto Vivo - Elsa Barker (LAKE)
Céu e Inferno - Emmanuel Swedenborg (Freitas Bastos)
Céu e o Inferno, O - Allan Kardec (Edicel)
Cidade do Além - Francisco Cândido Xavier e H. Cunha (IDE)
Crianças no Além - Francisco Cândido Xavier/Caio Ramacciotti/Marcos (GEEM)
Crime, a Psicografia e os Transplantes, O - Freitas Nobre (O Clarim)
Crise da Morte, A - Ernesto Bozzano (FEB)
Confissões de Um Corruptor - Osvaldo Polidoro (Crística)
Da Alma Humana - Antônio J. Freire (FEB)
Depois da Morte - Léon Denis (FEB)
Desconhecido e os Problemas Psíquicos, O (vols. I e II) - Camille Flammarion (FEB)
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Devassando o Invisível - Yvonne A. Pereira/Espíritos diversos (FEB)


Diário Espiritual - Emmanuel Swedenborg
Drama da Bretanha, O - Yvonne A. Pereira/Charles (FEB)
Dramas da Obsessão - Yvonne A. Pereira/Bezerra de Menezes (FEB)
Dois Mundos - Isidoro Duarte dos Santos/Maria Gonçalves Duarte Santos (Estudos Psíquicos)
Do Outro Lado - Wilson Frungilo Jr. (IDE)
E a Vida Continua - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Eles Conheceram o Desconhecido - Martins Ebon (Pensamento)
Eles Vivem - Zilda Giunchetti Rosin (Instituto Maria)
Entre Dois Mundos - Antoinete Bourdin (FEB)
Entre a Terra e Céu - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Evangelho das Recordações, O - Eliseu Rigonatti (Pensamento)
Evangelho Segundo o Espiritismo, O - Allan Kardec (Edicel)
Evidências científicas demonstram que Você Vive Depois da Morte - Russel Norman Champlin (Nova Época)
Evolução em Dois Mundos - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Filosofia Penal dos Espíritas - Fernando Ortiz (LAKE)
Gênese, A - Allan Kardec (Edicel)
História do Espiritismo - Arthur Conan Doyle (Pensamento)
Intercâmbio - Alayde de Assunção e Silva/Lúcia Maria Secron Pinto/Luiz Sérgio (REMA)
Libertação - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Livro dos Espíritos, O - Allan Kardec ( Edicel)
Livro dos Médiuns, O - Allan Kardec (Edicel)
Martírio dos Suicidas, O - Almerindo Martins de Castro (FEB)
Memórias de Um Espírito - Maria Amélia/Danti (Culturesp)
Memórias de Um Suicida - Yvonne A. Pereira (FEB)
Mensageiros, Os - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Meu Filho Vive no Além - Walter Wynn (ECO)
Missionários da Luz - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Morte e Libertação - Zilda Giunchetti Rosin (Instituto Maria)
Morte é a Verdadeira Vida, A - W. F. Neech (ECO)
Morte é Vida - Zilda Giunchetti Rosin (LAKE)
Morte não é o fim, A - Horace Loaf (Pensamento)
Morte e Seu Mistério, A (vols. I, II, III) - Camille Flammarion (FEB)
Morte e seus Mistérios, A - Ernesto Bozzano (ECO)
Mortos Vivem, Os - Heinrich Ohlhaver (O Clarim)
Mundo que Eu Encontrei, O - Alayde de Assunção e Silva/Luiz Sérgio (REMA)
Mundo em que Eu Vivo, O - Zíbia M. Gasparetto/Silveira Sampaio (Associação Cristã de Cultura Espírita “Os
Caminheiros”)
Na Esperança de Uma Nova Vida - Irene Pacheco Machado/Luiz Sérgio (REMA)
Nas Telas do Infinito - Yvonne A. Pereira/C. C. Branco e Bezerra de Menezes (FEB)
Nas Voragens do Pecado - Yvonne A. Pereira/Charles (FEB)
Ninguém Está Sozinho - Irene P. Machado/Luiz Sérgio (REMA)
No Invisível - Léon Denis (FEB)
No Limiar do Etéreo - J. A. Findlay (FEB)
No Mundo Maior - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (Edicel)
Nos Bastidores da Obsessão - Divaldo Pereira Franco/Manoel Philomeno de Miranda (FEB)
Nos Domínios da Mediunidade - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Nosso Lar - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (Edicel)
Novas Mensagens - Alayde Assunção e Silva/Luiz Sérgio (REMA)
Nova Revelação, A - Arthur Conan Doyle (FEB)
Obras Póstumas - Allan Kardec (Edicel)
Obreiros da Vida Eterna - Francisco Cândido Xavier/André Luiz (FEB)
Painéis da Obsessão - Divaldo Pereira Franco/Manoel Philomeno de Miranda (LEAL)
Paz, Afinal - Jason Leen (Editora Vértice)
Pensamento e Vontade - Ernesto Bozzano (FEB)
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Perda de Entes Queridos - Zilda Giunchetti Rosin (Instituto Maria)


Porque Creio na Imortalidade da Alma - Sir Oliver Lodge (FEESP)
Problema do Ser, do Destino e da Dor (O) - Léon Denis (FEB)
Que é a Morte, O - Carlos Imbassahy (Edicel)
Que nos Espera Depois da Morte, O - George W. Meek (Record)
Raymond - Sir Oliver Lodge (Edigraf)
Recordações da Mediunidade -Yvonne A. Pereira/Bezerra de Menezes (FEB)
Revista Espírita (12 vols.) - Allan Kardec (Edicel)
Rumo às Estrelas - H. Dennis Bradley (Sociedade Metapsíquica de São Paulo)
Seareiros da Atualidade - Diversos autores (ABC do Interior)
Sexo Além da Morte (O) - R. A. Ranieri (ECO)
Sexo e Destino - Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira/André Luiz (FEB)
Sinfonias Inacabadas - Rosemary Brown (Edigraf)
Terras do Universo - Emmanuel Swedenborg
Um Espírito Através do Cosmo - Isaltino Barbosa/Castro Lopes (Editora Aurora Ltda.)
Vampirismo - J. Herculano Pires (Paidéia)
Várias Cousas sobre o Mundo Espiritual - Emmanuel Swedenborg
Verdadeira Religião Cristã, A - Emmanuel Swedenborg (Freitas Bastos)
Viagem de Uma Alma, A - Peter Richilieu (Pensamento)
Viagens Fora do Corpo - Robert A. Monroe (Record)
Vida Além do Véu, A - Rev. C. Vale Owen (FEB)
Vida Além da Sepultura - Hereílio Maes/Ramatis e Atanagildo (Freitas Bastos)
Vida Depois da Morte, A - Ramacharaka (Pensamento)
Vida Depois da Vida - Dr. Raymond A. Moody Jr. (Nordiea)
Vida Fora da Matéria, A - (N/consta) (Centro-Redentor)
Vida nos Mundos Invisíveis, A - Anthony Borgia (Pensamento)
Vida no Outro Mundo, A - Cairbar Scbutel (O Clarim)
Vida sem Morte? - Nils O. Jacobson (Nórdica)
Voltar do Amanhã - Dr. George G. Ritchie e Elisabeth Sherrill (Nórdica)
Voltei - Francisco Cândido Xavier/Irmão Jacob (FEB)
Voo Mais Alto, O - Irene P. Machado/Luiz Sérgio (REMA)
Obras estrangeiras:
Aprés la Mort - Emile Baumann
Case of Lester Coltman - Lilian Walbrook
Emmanuel Swedenborg - Signe Toksvig
La Mort - Paul Bodier
La Mort Cette Inconnue - Raoul Montadon
La Mort l’Au Delà - La Vie Dans l’Au Delà - Carl Du Prel
La Vie d’Outre Tombe - Trarieux D’Egmont
L’Homme Aprés la Mort - Martene Buber
L’Homme Aprés la Mort - Prof. Ch. Henri
Le Mystère de la Mort - Solange Lemaitre
Le Problème de la Mort - Louis Bourdeau
The Spirit World - Mrs. Florence Marryat

Notas Explicativas

1. As obras de Emmanuel Swedenborg que não foram traduzidas pela Livrarias Freitas Bastos podem ser
consultadas na Sociedade da Nova Jerusalém (RJ)
2. A lista bibliográfica fornece leituras adicionais. Não está restrita a obras espíritas, uma vez que tem a
função de suprir o leitor com fontes complementares que lhe permitirão um estudo mais amplo dos assuntos:
sobrevivência, comunicabilidade e reencarnação do Espírito. Por ser um trabalho de pesquisa, a presente
bibliografia contém livros espíritas (mediúnicos ou não), espiritualistas (vinculados ou não a seitas, doutrinas e

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Colônias Espirituais

religiões) e resultados de pesquisas científicas, a fim de que o estudioso, após exame criterioso, conclua pela
universalidade dos ensinos oriundos do Mundo Espiritual.

Sobre a Autora

DADOS BIOGRÁFICOS

Lúcia Maria Farias Loureiro de Souza nasceu em Salvador, Bahia, em 1944, filha do dentista Waldemar Caetano
de Farias e da professora Clenita da Silva Farias. Fez o curso de Pedagogia no Instituto de Educação Isaías Alves.

E, também, formada em Letras, com Inglês e Serviço Social pela Universidade Católica de Salvador. Casada com
o advogado e escritor espirita Carlos Bernardo Cajazeira Loureiro de Souza (conhecido como Carlos Bernardo
Loureiro), e juntos se iniciaram no Espiritismo em fins da década de 60.

Como espírita, colaborou nos periódicos: Impacto, Presença Espírita, O Samaritano, Gazeta Espírita
(Bahia), Correio Fraterno do ABC (São Paulo), e Mundo Espírita (Paraná); publicou, em 1990, na série Caderno de
Espiritismo, um estudo sobre Colônias Espirituais; escreveu a peça A Pedra no Lago, encenada, partir de setembro
de 1984, em várias cidades do interior baiano e, também, em Salvador; adaptou a peça O Diabinho Coxo, baseada em
um apólogo de Leopoldo Machado, apresentada em instituições espíritas da Capital baiana e em Minas Gerais; possui,
ainda inéditos, Pequeno Histórico do Teatro Espírita, Em Uma Tarde de Verão (peça teatral), Lalá e Lelé (peça
teatral infantil) e as Experiências do Grupos Ambroise Paré.

O esposo e ela fundaram o Teatro Espírita Leopoldo Machado, ao qual passaram a se dedicar38; hoje ela se
dedica integralmente à causa espírita.

38 O esposo da Autora, pesquisador espirita muito conhecido no meio, faleceu em 2006. Fonte:
autoresespiritasclassicos.com - acesso em março/2019. (N.R.)
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