3 Orçamento Empresarial
3 Orçamento Empresarial
3 Orçamento Empresarial
ORÇAMENTO EMPRESARIAL
Em termos gerais, é considerado um dos pilares da gestão e uma das ferramentas fundamentais para que o
accountability, a obrigação dos gestores de prestar contas de suas atividades, possa ser encontrado. Isso
ocorre devido ao fato de que os compromissos dos gestores, quando não especificados e definidos no plano
estratégico, acabam sendo firmados no momento da montagem do orçamento. Dessa maneira, ao planejar
e acompanhar tais resultados, ele se constitui no instrumento que permite que o accountability exista na
organização, de maneira estruturada e, espera-se, negociada e justa.
Dependendo do tipo de organização, pode ser desenvolvido de várias maneiras quanto à participação nas
definições estruturais: top-down, ou seja, de cima para baixo, bottom-up, ou fluindo de baixo para cima da
pirâmide organizacional ou mistura dessas abordagens. A formatação mais frequente é top-down, inclusive
por questões de praticidade e tempo envolvido.
A revisão do instrumento tático é algo a ser considerado. Revisão faz parte do processo de planejamento e
proporciona condições de tornar suportável uma estratégica agressiva que se perceba inadequada durante
o transcorrer de um exercício. Por exemplo sua amplitude pode ser variável, sendo que em algumas
organizações o resultado final da demonstração de resultados não pode ser alterado e as revisões se detém,
basicamente, em maneiras diferentes de atingir tal resultado. Dessa maneira, dependendo do grau de
tolerância permitida pelo relacionamento entre os acionistas e gestores, tais revisões terão diferentes graus
de profundidade e utilidade. Em ambiente de alto patamar de inflação, por exemplo, a revisão mensal da
inflação era considerada compulsória para proporcionar credibilidade ao instrumento. Em momentos de
maior estabilidade macroeconômica e previsibilidade das projeções, revisões menos frequentes podem ser
esperadas. O trade-off entre gastar tempo e recursos ao fazer a revisão e a alternativa de não fazê-la é
decidido pela percepção dos gestores em relação ao grau adicional de segurança proporcionado pela mesma.
O orçamento de uma empresa industrial deve ser elaborado levando-se em conta a seguinte sequência de
etapas:
Lição de casa preparatória para o orçamento: princípios gerais de planejamento, diretrizes dos
cenários, premissas e pré-planejamento;
Plano de marketing;
Plano de suprimentos, produção e estocagem (PSPE);
Plano de investimentos nos ativos de longo prazo;
Plano de recursos humanos;
Plano financeiro.
O orçamento surge como sequência à montagem do plano estratégico, permitindo focar e identificar, num
horizonte menor, de um exercício fiscal, as suas ações mais importantes. O orçamento existe para
implementar as decisões do plano estratégico. Dessa forma, quando as decisões não forem tomadas no plano
estratégico, e muitas vezes isso vai acontecer, algum impacto no gerenciamento dos elementos internos da
empresa deve ocorrer. Nesse sentido, uma vez tendo feito um adequado trabalho na montagem do plano
estratégico, o orçamento tem muita chance de ser elaborado com coerência e consistência. A Figura 3.1
ilustra a composição e a sequência dos vários planos.
Correspondem aos princípios clássicos apresentados por Welsch (1994, p. 50-61), que levam em conta a
necessidade estrutural e servem de checklist para o adequado desenvolvimento do orçamento. A sua
utilidade está relacionada com a possibilidade de se corrigirem vulnerabilidades antes do início dos trabalhos,
o que corresponde a importante ingrediente em termos da eficiência do processo. Na verdade, caso tais
princípios não estejam sendo verificados, o processo de gerenciamento da organização pode ser
negativamente afetado. São eles:
Envolvimento administrativo
As responsabilidades organizacionais devem estar claras, ou seja, quem faz o que é algo definido, e o
organograma formalizado pela organização deve corresponder à estrutura que realmente existe. Este
princípio é fundamental para que os gestores saibam quem deve ser chamado para discutir o plano e,
posteriormente, ser cobrado. Sobreposições de funções devem ser evitadas, assim como a ausência de
definição de responsabilidades.
Unidades de negócios, centros de lucros, centros de custos e centros de responsabilidades devem estar
claramente definidos na contabilidade e devem ser considerados na geração de informações. O plano de
contas deve refletir adequadamente as operações existentes e/ou previstas.
Os objetivos da organização são refletidos nas várias áreas. Por sua vez, os indivíduos devem ser responsáveis
pelos objetivos da sua área de atuação. Devem ser evitados objetivos conflitantes entre a organização e as
suas várias áreas, assim como objetivos existentes na organização que não apareçam em alguma área da em-
presa ou mesmo nos objetivos individuais. Uma amarração adequada dos objetivos permite coerência entre
as ações, priorização, avaliação e mesmo política de remuneração adequada. O estabelecimento de objetivos
permite dispor de padrões para serem medidos e traz à tona a preocupação fundamental com a avaliação do
nível de eficiência atingido pelo todo e pelas partes. Quando esses objetivos são definidos levando em conta
individuo, área, empresa, a amarração permite evitar a dubiedade no atingir metas da organização. O
balanced scorecard proporciona benefício na gestão de tais elementos.
Comunicação integral
Expectativas realísticas
Devem ser evitados tanto o plano acomodado, ou seja, sem desafios, como também o plano agressivo em
demasia, mas com baixa probabilidade de se converter em realidade. Os dois extremos são nocivos à
organização e nem sempre é fácil entender e avaliar o grau de realidade de um plano. A maneira considerada
mais adequada requer a análise de cada parte da sua montagem para poder julgar se o todo é realista ou
não. Isso se verifica porque, normalmente, as várias etapas podem ter características distintas. A organização
pode ter um plano de vendas que contêm volume extrema- mente agressivo, mas o seu preço é
relativamente conservador. Como conclusão, o seu plano de marketing é agressivo ou conservador? Só é
possível responder a essa pergunta analisando o caso particular, de maneira segmentada. De qualquer
maneira, a perspectiva de que ele seja exequível é fundamental para a credibilidade do processo e do
instrumento.
Oportunidade
A oportunidade está ligada ao momento mais adequado de dispor das informações para a sua utilização.
Nesse sentido, um plano anual deve estar montado, analisado, aprovado e divulgado antes de o período por
ele compreendido começar. Para isso, um minucioso cronograma de elaboração deve ser elaborado para
viabilizar a montagem no tempo disponível. Analogamente, o relatório de controle orçamentário deve estar
à disposição dos executivos o mais rápido possível, para que possa ter utilidade. Se o relatório referente ao
mês de janeiro só está disponível no mês de maio, certamente a sua serventia será muito pequena, em face
da defasagem entre a ocorrência do fato e a sua divulgação/explicação.
Aplicação flexível
“O plano não deve dominar a organização.” Significa que o processo de planejamento é um instrumento a
serviço dos executivos e não uma camisa de força que impeça ações que, por algum motivo, não foram
percebidas ou consideradas no plano. Por outro lado, é fundamental evitar situação em que o processo de
planejamento seja solenemente ignorado e qualquer tipo de mudança seja incorporada sem critério. Na
verdade, além da justificativa, do argumento adequado, existe o momento adequado para tais incorporações
serem feitas.
Acompanhamento
O planejamento só se consuma se for monitorado, acompanhado e controlado. Significa que, além de se
identificar as variações, ações corretivas ou de manutenção/ disseminação (no caso de variações favoráveis)
devem ser planejadas e executadas. Consequentemente, o processo de planejamento deve passar por
revisão que incorpore as variações já decorridas. Na verdade, o grande benefício do acompanhamento é a
percepção do que deve ser feito no futuro, ou seja, o replanejamento.
Não apenas o desempenho negativo deve ser evidenciado. A ênfase sobre o desempenho negativo cria a
percepção de que o orçamento só existe para punir os executivos. Quando a organização identifica as
variações favoráveis e desfavoráveis, relacionando tal desempenho a uma área e a um indivíduo e
proporcionando consequências na remuneração, ela proporciona condições de aprendizado e de motivação
adequada as pessoas. As características do reconhecimento individual não são necessariamente fáceis de ser
atingidas. Em muitos casos, a composição do acompanhamento é uma barreira significativa, já que ele deve
direcionar-se para uma abordagem justa, compreensiva e precisa. Este último princípio contem questões
conceituais fundamentais, apontando para o envolvimento filosófico e das crenças e valores da instituição.
Além da revisão e análise do estágio de aderência aos princípios de planejamento, os elementos que devem
ser tratados antes do início da montagem do orçamento são os seguintes:
Diretrizes
Cenários
O cenário deve considerar, dentre outros elementos, o cenário político, o cenário econômico, o cenário
mercadológico (clientes, fornecedores, concorrência etc.).
Tanto o cenário como as premissas são basilares na elaboração do orçamento, devendo estar definidos antes
do início da montagem do instrumento propriamente dito, já que contêm informações indispensáveis à sua
montagem. Uma vez definido o cenário, as premissas podem ser estruturadas.
Premissas
São também denominadas de pressupostos, uma vez que são definidas por alguém na empresa antes de o
processo de planejamento ser iniciado. Devem ser, de alguma forma, resultado de algum nível de consenso
entre os gestores.
De qualquer maneira, as premissas utilizadas pela organização, independente- mente de quem as concebeu,
são premissas de gestores, devendo ser por eles assumidas. Mesmo que terceiros tenham desenvolvido e
fornecido tais premissas, elas se tornam premissas da empresa quando utilizadas no orçamento. Isso é
importante porque elas têm impacto muito importante sobre os resultados, tornando o plano exequível,
confiável ou não, dependendo do patamar estabelecido. Podem ser separadas em premissas operacionais,
de estruturação e econômico-financeiras.
a. Operacionais
Pontos de partida (saldos de balanço, preços dos produtos a comercializar, salários, preços dos insumos
a comprar etc.);
• etc.
b. De estruturação
Correspondem aos critérios considerados, tais como moeda de decisão utilizada, período de planejamento
(janeiro a dezembro, julho a junho, por exemplo).
c. econômico-financeiras
Trata-se das premissas mais conhecidas. Correspondem a inflação, juros, variação dos preços dos insumos,
variação cambial etc. Devem apresentar consistência com o cenário econômico adotado.
Pré-planejamento
O preá́-planejamento pode ser feito e consiste em exercício que permite antever as principais tendências
esperadas pela alta administração. Consiste na montagem da demonstração de resultados a partir da
sensibilidade dos executivos. Tal exercício não consiste, por si só, em montagem de um orçamento, mas em
uma forma de direcionar as ações para racionalizar, facilitar o processo de montagem do instrumento.
Por uma questão didática, a montagem propriamente dita do orçamento pode ser dividida em dois blocos:
etapa operacional e etapa financeira (Figura 3.1). A etapa operacional consiste nos planos que proporcionam
condições de estruturação das atividades da organização, de maneira a integrar as atividades, as operações.
Por sua vez, a etapa financeira corresponde à tradução de todas as atividades para uma mesma linguagem
comum, no caso a monetária. A caracterização da etapa financeira é a existência dos demonstrativos
contábeis, ou seja, o balanço, a demonstração de resultados e o fluxo de caixa. Os Capítulos 4 e 5 tem por
missão detalhar as duas etapas do processo. A etapa operacional deve ser caracterizada pelo tipo de
atividade da empresa, seja industrial, seja de serviços ou comercial. Tal caracterização terá implicações em
termos dos planos necessários para atender a tal demanda. Uma empresa comercial, por exemplo,
demandará um grande esforço no plano de estocagem dos produtos acabados, enquanto que uma empresa
de serviços não terá tal plano.
A etapa operacional, para os efeitos deste trabalho, será exemplificada como entidade produtora de bens
tangíveis, dada a maior complexidade que esse tipo de organização requer, e potencial de explorar suas
potencialidades. Tem, portanto, planos de marketing, plano de suprimentos, produção e estocagem, plano
de investimentos no ativo permanente e plano de recursos humanos.
Plano de marketing
Indica a atividade comercial da organização, no que se refere a volume físico de venda, por período, por área,
por preço etc. Deve definir política de descontos, prazos, gastos com comunicação e despesas comerciais
previstas. Deve conter as decisões verificadas no plano estratégico, destinadas ao período compreendido
pelo orçamento. Em condições normais, a área comercial da entidade se mobiliza para desenvolver este
plano, levando em conta as necessidades internas, coordenando atividades quanto a demandas para
lançamento de novos produtos, por exemplo.
Plano de suprimentos, produção e estocagem (pspe)
Trata os estoques de produtos acabados, produtos em processo e matérias-primas, produção própria e/ou
terceirizada, suprimentos de materiais e necessidade de mão de obra da organização. A área de operações
deve estar estruturada para coordenar as atividades de planejamento dos processos de suprimentos,
produção e de estocagem.
Explicita os gastos que serão efetuados em movimentações (aquisições, vendas e baixas) referentes a ativos
de longo prazo da organização. Envolve todos os tipos de investimento do antigo ativo permanente (ativos
de longo prazo), tais como imobilizado, diferido e investimento em outras entidades.
Deve tratar os elementos referentes aos recursos humanos na organização, desde estrutura organizacional,
preenchimento dessa estrutura, movimentações de funcioná- rios, remuneração, treinamento, admissões e
desligamentos, consultorias na área etc.
Plano financeiro
Corresponde à etapa do plano em que as demonstrações financeiras são disponibilizadas e a análise global é
viabilizada. A função do plano financeiro consiste em permitir que todas as decisões tomadas nos vários
subplanos sejam transformadas em um único denominador, no caso, o monetário. Deve conter o fluxo de
caixa, a demonstração de resultados e o balanço patrimonial para o intervalo de tempo planejado.
Consiste na espinha dorsal do controle gerencial. Poder-se-ia dizer que a facilidade atual da disponibilidade
das informações geradas pelos sistemas viabilizou uma abordagem mais enfática e agressiva em termos de
controle gerencial. Discussões sobre tipos de equipamentos e softwares, pela sua própria rápida
obsolescência, não fazem parte das preocupações desta obra. Contudo, alguns aspectos estruturais se fazem
muito importantes. A Figura 3.2 considera as bases de dados que interagem na organização. Significa que as
informações contábeis devem estar disponibilizadas e proporcionam suportes para respostas as questões
demandadas. O processo de montagem do próprio orçamento é suportado pelas informações contábeis
apuradas, que, por sua vez, serão obtidas para acompanhamento orçamentário. Por outro lado, a mesma
base de dados deve gerar as informações fiscais, as destinadas a atender à legislação tributária e societária.
Figura 3.2 – Relacionamento entre a contabilidade e o planejamento
Alguns conflitos importantes surgem quando se fala sobre relatórios gerenciais. Muitas vezes, algumas
dimensões podem ser encontradas e outras não, no grau desejado. Dentre aquelas mais comumente citadas,
encontram-se: (1) dimensão da seleção da informação – inclui as características qualitativas da relevância,
confiabilidade e materialidade; (2) dimensão da apresentação da informação – inclui as características
qualitativas da comparabilidade e compreensibilidade (esta última também de- nominada abrangência); e
(3) restrição para uma informação confiável e relevante inclui a tempestividade e a relação custo × benefício.
Destacando os atributos mais citados, consideram-se:
• confiabilidade. Significa dizer que a informação representa o que pretendia representar, sem viés ou
erro;
• abrangência. As informações gerenciais devem permitir uma ideia ampla da situação econômico-
financeira da empresa, fazendo uso, em determinadas situações, de comentários adicionais;
• tempestividade. Corresponde a dizer que a informação chega no momento necessário para a tomada
de decisão.
Muito se fala sobre os benefícios proporcionados pela integração entre os sistemas de informações das
organizações. Sem dúvida, comparativamente falando, os sistemas se tornam tão mais úteis quanto mais
forem integrados. Essa percepção, tem consequências práticas em termos de qualidade de informações e
diminuição de erros. A Figura 3.3 apresenta uma exemplificação da interação entre os vários módulos de
sistemas de informações de uma empresa. O fato de uma informação ter uma única entrada dentro do
sistema afeta favoravelmente o compartilhamento de dados e mesmo o potencial de rapidez no trato da
informação, essenciais à qualidade do seu gerenciamento.