II Unidade A Convivencia Politica Entre

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Texto de Apoio de Introdução à Filosofia

II Unidade: A Convivência Política entre os Homens


2.1. Introdução à Filosofia Política: Noções Básicas
O conceito da “Política” tem a sua origem na palavra grega “Polis” que significa “Cidade”. Assim
etimologicamente a política é “a arte de governar a cidade.” Na Antiga Grécia, “Política” traduzia-se
normalmente, por República – para designar a organização, o regime político, a constituição de uma
cidade soberana, de uma comunidade ou Estado com individualidade e autonomia própria.
Para Aristóteles (384 – 322 a.C.) todo o Homem é político. Para, ele a política – é a arte de governar, ou
seja, é ciência do governo.
Assim, a Política pode-se definir como o conjunto de acções levadas a efeito por indivíduos, grupos e
governantes com vista a resolver os problemas com que depara uma colectividade.
O conceito da política está ligado ao conceito de poder. Tradicionalmente segundo Thomas Hobbes
(1588 -1679), o poder “são os meios adequados a obtenção de qualquer vantagem.” Para Bertrand
Russel, o poder é “o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados.”
Além do domínio da Natureza, o poder é usado no domínio sobre os outros homens, sendo assim, não é
um fim em si mesmo, mas um meio para obter vantagens, é a posse dos meios. O poder usa a força, a
coerção.
O poder também pode ser definido como uma relação entre dois sujeitos, em que um impõe ao outro a sua
própria vontade e lhe determina o comportamento.
Segundo Norberto Bobbio, existem três (3) formas de poder: poder económico – assenta nos bens; o
poder ideológico – determina o comportamento do individuo através dos sacerdotes, pastores, líderes,
etc.; e o poder político – que constitui e institui órgãos que exercem a governação de um território.
Ciência Política – é a análise sobre factos políticos relacionados com o acesso a titularidade, o exercício
e o controlo do poder político.
2.1.1. A Relação Entre a Filosofia Política e a Política
Filosofia Política – é o ramo da Filosofia que visa a fundamentação da ideia de organização dos homens
que vive em sociedade. É a actividade racional e critica à razão política.
A relação existente entre a Filosofia Política e a Política é que a primeira ocupa-se dos problemas de
origem de Estado, a sua organização, a sua forma ideal, a sua função e o seu fim específico, os princípios
gerais e a natureza da acção política e as suas relações com a moral, a forma do exercício político em cada
época histórica. A Filosofia procura compreender, iluminar e esclarecer os conceitos de justiça, de bem
comum, de Estado, de tolerância, de sociedade e até o próprio conceito de política.
Desde modo, as decisões políticas devem ser sempre objecto de investigação filosófica antes de serem
implementadas. Desde a tradição clássica, a Política é uma ciência que exerce o seu domínio do
conhecimento pratico e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios de justiça e de bem governar
e examinar as condições sociais as quais o homem pode atingir a felicidade (o bem-estar) colectiva ou na
sociedade.
O Filósofo Político – é alguém que analisa criticamente a sociedade (aspectos positivos e negativos) e
aponta soluções filosóficas, por isso, em algumas sociedades, não são bem vistos os filósofos pelos
governantes, pois são considerados como perturbador da sociedade.
Em suma, a relação entre a Filosofia Política e a Política é análoga a da Ética e da moral, sendo a
primeira é uma reflexão sobre a segunda.
2.1.2. A Dimensão Sociopolítica do Homem
O Homem enquanto ser sociocultural integrado na comunidade (família, clã, etnia, associação, e, neste
caso, comunidade política), não se pode realizar como individuo isolado dos outros Homens. Ele
precisa viver em sociedade e é o único que pode criar regras do grupo pela via da violência ou não, para a
ordem estabelecida.
A sociedade surge para o Homem como um todo, já organizado e estruturado na qual ele se integra e se
realiza. No entanto, a dimensão social identifica-se com a dimensão política, mas entre elas distinguem-
se em: a existência social (dimensão social)- é mais rica e mais abrangente doque a dimensão
política,pois envolve muitas outras formas (dimensões) de existência humana, incluindo a dimensão
política. É a dimensão social, que nos seus múltiplos aspectosexplica, cria, contesta, transforma o poder
político (dimensão política) gerando mecanismos de fuga e de libertação.
A dimensão política- é uma das formas históricas que assumiu a existência social organizada em varias
dimensões da vida social deixando-se absorver pela lógica da dominação e os seus mecanismos de muitas
desinteligências, muitas arbitrariedades, muito abuso de poder. Neste contexto, resulta a tensão entre a
dimensão social e a política que exige da Filosofia, reflexões sobre a Ética da Política.
Portanto, a dimensão social é constituída por tudo aquilo que torna a vida de uma comunidade uma
relação real entre os seus membros. A dimensão política, pelo contrário, é o âmbito das relações formais
mediadas pelas instituições, vazias de vida e exteriores aos indivíduos. O político, é a forma alienada da
existência social. Surge assim a imperiosa necessidade de juízos éticos-morais nas decisões políticas.
Toda a actividade política deve ser questionada, por exemplo: Seria eticamente numa situação de crise a
política ignorassem a moral e o direito? Que tipo de equilíbrio deverá existir entre a autoridade política
e a liberdade individual dos cidadãos? Que tipo de relação pode existir entre a autoridade e a
tolerância?
2.1.3. Relação Entre a Ética e Política
A Ética Política – é uma disciplina da Filosofia que reflecte, procura construir e iluminar as decisões ou
acções políticas com base nos princípios da moralidade com vista ao bem comum em função da dignidade
humana.
O vínculo entre a Política e a Ética significa que as qualidades das leis e do poder depende das qualidades
morais dos cidadãos e vice-versa, isto é, a acção política de basear-se em princípios morais, ou melhor da
Ética.
A dimensão política: radica na natureza social do Homem, do seu “ser-com-os-outros”. O individuo tem
necessidade da comunidade, das normas e das instituições que as asseguram e asseguram a vida e a
convivência entre todos.
Assim surge a Política como necessidade social do Homem para estabelecimento da ordem, assegurar a
paz, a tranquilidade, a justiça, o bem comum onde a Política é um agir que dispõe de meios em relação
aos fins e pensa nos fins em relação aos meios. Numa decisão o individuo pode escolher entre varias
possibilidades de comportamento ou de acção porque é na articulação entre os meios eos fins que o
político pratica desinteligências e arbitrariedades.
É aqui onde o Político entra em conflito com o individuo e o social, surgindo assim, o apelo àdimensão
Ética. A Ética é o fundamento da Política, pois os deveres do Estado são os direitos dos cidadãos. O
verdadeiro fim da Ética é procurar iluminar as decisões e as acções políticas para que possam ser
moralmente correctas com base no princípio de moralidade.
Sendo assim, a Ética, é a ciência básica sobre a qual a Política se ergue enquanto garante jurídico-
institucional dos princípios éticos da liberdade, da igualdade, da justiça e da dignidade humana.
Segundo Aristóteles o que une a Ética e a Política é o conceito de justiça. A Ética e a Política são dois
aspectos da mesma acção. Para Aristóteles, “a acção do político deve visar, como supremo objectivo, não
apenas assegurar o funcionamento da cidade ou da comunidade, mas, para além disso, garantir a
felicidade e o bem-estar efectivo dos cidadãos. Em última instância, a política deve orientar-se por
critérios racionais de acordo com a natureza dos Homens. O funcionamento da vida social não pode
estar em desacordo com a natureza da alma humana; o bem comum não pode contradizer aquele bem
que é próprio da existência humana racional; o bem propriamente humano, o bem moral.”
Em suma, a Ética e a Política encontram-se e referenciam-se mutuamente na busca comum do bem: na
Ética, do “mais alto bem”, e na Política, do bem comum da justiça.
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2.2. Estado/Nação
a) Estado – é o organismo político-administrativo de uma nação. É dirigido por um governo próprio e
constitui-se como uma pessoa jurídica de direito público internacionalmente reconhecido. O Estado é o
conjunto de todos os elementos que envolvem uma sociedade organizada: a população, território,
governantes, a constituição, a soberania.
b) Nação – é a comunidade natural de homens reunidos no mesmo território com mesma origem, os
costumes e a língua (no sentido clássico).
c) Sociedade – é o Estado ou a união dos homens ou dos animais que vivem sob as mesmas leis, ou pela
mesma origem para atingir os mesmos fins.
d)Soberania – é uma autoridade superior que não pode ser limitada por nenhum poder, e o poder
absoluto e perfeito de um a república que goza de liberdade e poder para atingir o bem comum.
2.2.1.Elementos do Estado
A política implica o poder e este poder é exercido numa sociedade ou Estado com toda sua complexidade.
a) População – é o número de pessoas que habitam num determinado território. É designado de povo, no
sentido natural – a massa popular, multidão; e no sentido político – é a população de um Estado que
obedece as mesmas leis.
b) Governo – é a acção de dirigir um Estado. É o conjunto de pessoas com cargos oficiais no Estado. Aí
encontramos os governantes e os governados.
b.1. Governante – é qualquer funcionário publico que assume cargos de direcção que dirige uma
instituição pública. Segundo Pedro A. Neves (1977), “os governantes são aqueles que definem a política
e linhas de orientação, impõe normalmente a sua vontade como mandatários legitimados pelo sufrágio
universal.”
b.2. Governados- são todos aqueles que são dirigidos, que obedecem as leis traçadas, normas e lutam
para atingir o mesmo fim.
c) Constituição – é a Lei Magna (Lei mãe) de onde derivam as leis particulares de um país, a lei
fundamental de um Estado. É a estrutura de uma comunidade política organizada, é a ordem necessária
que deriva do poder soberano e dos órgãos que o exercem.
d) Território – é o espaço geográfico no qual o Estado exerce seu poder de governo. Um território é
constituído por espaço aéreo, mar territorial, superfície terrestre e pelo subsolo.
2.2.2. A Soberania Moçambicana: Símbolos e Órgãos Nacionais
A República de Moçambique é um Estado independente reconhecido internacionalmente à 25 de Junho
de 1975, livre do regime colonial português.
Símbolos Nacionais da República de Moçambique (o Emblema, a Bandeira e o Hino Nacional).
a)O Emblema Nacional - contém como elementos centrais: um livro, uma arma e uma enxada dispostos
em cima do mapa de Moçambique que representam: o livro (a educação); a arma (a luta de resistência ao
colonialismo, a Luta Armada de Libertação Nacional e a defesa da Soberania); a enxada (o campesinato);
o sol nascente (a nova vida em construção); a roda dentada (a industria e o operariado); as plantas de
milho e de cana-de-açúcar (a riqueza agrícola) e a estrela (representa a solidariedade entre os povos).
b)A Bandeira Nacional – tem cinco cores: Vermelha (representa a luta de resistência ao colonialismo; a
Luta Armada de Libertação Nacional e a defesa da soberania); a Preta (o continente africano); Verde (a
riqueza do solo); Amarela-dourada (a riqueza do subsolo) e a Branca (a paz).
Junto a talha, encontra-se um triângulo isósceles de cor vermelha dentro do qual há uma estrela, a arma
AK-47, o livro e a enxada, com os mesmos significados da bandeira.
c) O Hino Nacional – chama-se “Pátria Amada”.
2.2.3. Antigos Chefes do Estado Moçambicano
a)Samora Moisés Machel – torna oprimeiro Presidente da República Popular de Moçambique
independente desde 1975, e morre a 06/11/1986 em Mbuzine, na África do Sul, num acidente de aviação.
b)Joaquim Alberto Chissano –ascendeu como segundo Presidente da República Popular de
Moçambique de 06/11/1986 à 2004. É de recordar que com a nova Constituição (a segunda) de 1990,
Moçambique torna um país multipartidário e democrático, e Joaquim Chissano é eleito comoprimeiro
Presidente da República de Moçambiquedemocrático (1994 - 2004).
c) Armando Emílio Guebuza –segundo Presidente da República de Moçambique democrático (2005 -
2014).
d)Actualmente, Moçambique é governado pelo Presidente Felipe Jacinto Nyusi.Cada presidente eleito
tem pelo direito consagrado na Constituição de cinco (5) anos num mandato, podendo fazer dez (10)
anos.

2.3. Direitos Humanos e Justiça Social


a) Direito – é aquilo que é conforme a uma regra precisa, é o que é permitido ou autorizado por lei.
b) Direitos Humanos – são conjuntos de princípios essenciais á existência humana condigna, apela ao
reconhecimento mútuo entre os homens enquanto seres de direito. É o conjunto de regras ou normas ou
relacionamento entre os homens.
Do ponto de vista jurídico, distingue-se um direito positivo (que resulta das leis escritas) e o direito
natural (que resulta da natureza dos homens e das suas relações independentemente de qualquer
legislação).
O Homem possui direitos inalienáveis como o direito a vida, inviolabilidade física, liberdade e justiça,
inviolabilidade psicológica, etc.
A Declaração do Direitos Humanos foi adoptada pela ONU a 10 de Novembro de 1948, ela foi
elaborada por John Piter Humphre do Canadá mais com ajuda de outras pessoas do mundo como: EUA,
França, China, Líbano, etc.
Justiça Social – é a distribuição justa de rendimentos ou riqueza de acordo com as necessidades e
capacidades das pessoas (noção económica). A Justiça Social está ligada aos Direitos Humanos porque
onde não há justiça social não há direitos.
Segundo John Rawls na sua obra “Teoria de Justiça” diz que a justiça é a primeira virtude das
Instituições Sociais… e devem (as instituições e as leis) ser reformadas ou abolidas se forem injustas.
Rawls defende ainda que a liberdade individual deve ser preservada e não deve haver restrições a esta
quando está em causa o benefício de outros. Para Rawls, a justiça social consiste na inviolabilidade da
pessoa humana.
2.3.1. A história da luta política pelos Direitos Humanos
OqueLocke desenvolveu como resultado da sua concepção do Contrato Social foi a teoria do Estado de
Direito, que se baseia no reconhecimento dos Direitos Humanos, na separação de poderes e nas eleições
livres como os três pilares fundamentais da democracia.
A actual compreensão dos Direitos Humanos, baseia-se nas concepções de natureza do Homem e da
sociedade humana provenientes do iluminismo. Os Direitos Humanos são, segundo a doutrina do direito
natural, inatos; pois eles não são uma dádiva de qualquer organização ou instituição, visto que eles
existem muito antes de o Homem estar ligado aos conceitos de “sociedade”, de “economia”, de “Estado”
e de “religião”.
2.3.2. As quatro (4) características dos Direitos Humanos
1ª.Eles são universais – dizem respeito a todos os indivíduos; .
2ª.Eles são individuais – o individuo como homem livre é o seu portador, não o grupo, associações ou
corporações de sociedades estratificadas. O indivíduo não chega ao direito através da integração no seio
da sua classe, categoria ou grupo social, mas possui, assim, como indivíduo, como pessoa singular os seu
direito.
3ª.São anteriores ao Estado – pois resultam da natureza humana. O Estado só pode reconhecer e não
outorgá-lo. A Constituição apenas declara-os, mas não os crias.
4ª.Em função da sua origem e carácter individual – são um direito de reivindicação perante o Estado a
liberdade pessoal por ele reconhecida e declarada.
Portanto, os Direitos Humanos não são endereçados ao próximo nem à sociedade, mas sim, ao Estado:
Direitos Humanos significam o dever de o Estado não usurpar ilegalmente as liberdades do Homem.

2.3.3. O Empenho Ocidental Pelos Direitos Humanos


a) Aluta pelos Direitos Humanos na Inglaterra

A génese da ideia moderna dos Direito Humanos encontra-se na Magna Charta Libertatum de 1215, na
Inglaterra, quando os barões impuseram ao rei um julgamento legal depois de uma detenção. O rei viu-
se obrigado a não permitir a detenção ou a punição ilegal de qualquer homem livre.
A Petition of Rights de 1628, a Habbeas Corpus Amendment Act de 1679 e a Bill of Rights de 1689
deram continuidade a protecção do Homem contra a usurpaçãoilegal dos seus direitos pelo Estado.
a.1. Na Petition of Rights, exigiram-se e instituíram-se: - A abolição dos impostos arbitrários; - A
abolição das detençõesarbitrárias;
- A abolição de tribunais militares excepcionais.
a.2. A Habbeas Corpus Act– concedeu a protecção das leis perante a subtracção da liberdade do Homem
e continha uma série de prescrições sobre procedimentos legais. O juiz tinha de se decidir dentro de 48
horas sobre a duração de uma detenção.
a.3. Com a Bill of Rightspromulgada pelo parlamento inglês, fundou-se na Inglaterra soberania do
parlamento.
O rei tinha de reconhecer os seguintes direitos: - Liberdade de opinião no parlamento (o parlamento
gozava ainda de imunidade); - Eleições livres dos membros do parlamento; - Julgamento justo e público
das pessoas acusadas de crime, por um corpo de jurados; - Remetimento das petições ao rei, abolição dos
castigos bárbaros e redução das multas excessivamente altas.
a.4. Com a Settlement Act de 1700, foi concedida a independência judiciária, com a qual se executava um
largo passo em direcção ao Estado de Direito.
b) A luta pelos Direitos Humanos na América
As teorias de John Locke e o exemplo da Carta Inglesa dos Direitos, influenciaram o mundo ocidental.
Os ingleses que haviam emigrado para a América criaram a sua própria democracia, baseadas nas
ideias desenvolvidas na Inglaterra. Esses colonos ingleses recorreram especialmente a filosofia de John
Locke quando tiveram de se defender da tutela do Parlamento de Londres. Eles consolidaram essas ideias
na Bill of Rights do Estado de Virgínia.
A Bill ofRights de Virgínia continha aspectos como os direitos inatos à vida, à liberdade e à
propriedade e determinações sobre a separação de poderes, eleições democráticas e garantia de
protecção legal dos cidadãos perante a privação da liberdade. No mesmo documento, foram também
garantidas a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa e o direito do povo à reforma da Constituição.
Na história das constituições, a ideia de que os Direitos Humanos resultam da natureza humana foi pela
primeira vez exprimida na Bill of Rights de Virgínia, com as seguintes ideias: “Todos os homens são por
natureza igualmente livres e independentes, e detentores determinados direitos inerentes, dos quais, ao
ingressarem na sociedade, não podem por nenhum pacto despojas ou excluir a sua posterioridade, ou
seja, o gozo da vida e da liberdade, com os meios de aquisição e posse da propriedade, da busca e
obtenção da felicidade.”
*Moçambique tem uma experiência na matéria constitucional como o esforço da observância e
implementação dos Direitos Humanos, tais como: .- A
Constituição de 1975; .
- A Constituição de 1990; . - O Acordo Geral de Paz de 1992;
.- As primeiras eleições multipartidárias de 1994; . - Conselho
Constitucional: a sua organização, a sua composição e as suas funções; . - A constituição
de 2004; .
- A existência de muitos partidos políticos em Moçambique.
Portanto, desde a Independência, Moçambique teve trêsConstituições da República: .
-As Constituiçõesde 1975, de 1990 e de 2004
2.3.4. Estado de Direito e Suas Funções
Estado de Direito – é aquele em que o poder é exercido segundo a lei. Todos os membros desta
sociedade estão submetidos na mesma lei a respeito pela hierarquia das normas, separação de poderes e
pelos direitos fundamentais.
Segundo artigo 3 da Constituição da República de Moçambique(edição 2008) define “A República de
Moçambique é um Estado de direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política
democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem.”
A Constituição moçambicana, no artigo 2 define ainda, para além de direitos e deveres, a soberania e
símbolos nacionais: .“ 1. A soberania reside no povo.
. 2. Opovo moçambicano exerce a soberania segundo as formas fixadas na
Constituição. . 3. O Estado subordina-se a Constituição e funda-se na
legalidade...”
Uma das garantis de Estado do Direito é a divisão do poder:
a)Poder legislativo – formula e aprova as leis, está ligado ao parlamento que é a expressão da vontade do
povo. . b)Poder executivo ou administrativo– executa as
leis. É exercido a partir do Presidente da República, seus ministros, governadores até ao ultimo homem
com o poder de direcção reconhecida. c)Poder judiciário – os juristas aplicam as leis ocupando-
se do Direito e da Justiça. Julgam todos aqueles que não agirem em conformidade com as leis nos
Tribunais através dos juízes de direito ou singulares ou por magistrados.
*No Estado de Direito ninguém está acima da lei. A lei reina para todos os indivíduos.
2.3.4.1. Funções do Estado
O Estado tem o dever de cuidar os seus cidadãos e estes também têm suas obrigações para o Estado. De
modo geral, existem três (3) funções do Estado: a segurança, justiça e bem-estar - condição física e
psicológica que caracteriza o equilíbrio das actividades orgânicas e um correto ajustamento do indivíduo
ao seu meio ambiente (habitat).

A teoria de Duguit acolhe certo consenso no seio do EstadoMoçambicano. Ele define três (3) funções
básicas para o Estado, nomeadamente: .
a)Função legislativa – consiste na prática dos actos-regra ou regulamentação de toda a Filosofia da vida
da sociedade, e é exercida pelo Parlamento ou Assembleia Nacional em alguns países.
b)Função administrativa ou executiva – normalmente é exercida pelo governo, consiste em assegurar o
funcionamento dos serviços públicos.
c)Função jurisdicional – consiste na resolução pelo Estado de uma gestão de direito que lhe é submetida
e na decisão que assegura a eficácia dessa resolução.

As trêsfunçõesnão estabelecem uma fronteira rígida entre si no seu funcionamento, pois, o artigo134 da
Constituição de Moçambique (2008) dita o seguinte: “Os órgãos de soberania assentam no princípio de
separação e interdependência de poderes consagrados na constituição e devem obediência à constituição
e às leis”.

A finalidade última e a razão da existência do Estado é promover o bem comum (conjunto de


condições fornecidas pelo Estado para que as pessoas possam satisfazer seus desejos de paz, justiça,
segurança e solidariedade).
As funções do Estado podem ser analisadas a partir de duas perspectivas fundamentais: .
a) Funções jurídicas ou – criação do Direito (função legislação - ) e função executiva. b) Funções
não Jurídicas – função política (escolha de meios para obtenção do bem comum) e funçãotécnica
(produção de bens de prestação de serviços).
2.3.5. A Participação Política dos Cidadãos
Péricles defende a participação política dos cidadãos nos assuntos políticos como membros de uma
comunidade organizada, pois para ele “o homem que não participa da política, não é um cidadão
tranquilo, ele é inútil.”
Segundo Pasquino, “a participação política é um conjunto de actos e de atitudes que espiram a
influenciar de forma mais ou menos legais as decisões dos detentores de poder ou em organizações
particulares com o propósito de manter ou modificar a estrutura do sistema de interesses dominantes.”
O problema político é de toda sociedade, então o cidadão deve participar porque a vida é condicionada
pela política. A política é o mecanismo de resolução de conflitos.
Para Jurgen Habermas(1929), “o espaço político é o lugar onde o cidadão discute ideias para o bom
funcionamento da sociedade”. Outra forma de participação política é a formação e participação cívica do
cidadão através dos partidos políticos.
Partido Político – é um agrupamento de indivíduos unidos por ideias e actividades comuns com vista a
consecução de certos fins ou eleição de funcionários para o Estado.
Eleição – é a escolha por meio de sufrágio ou votos de partido ou de pessoas para ocupar um cargo ou
desempenhar certas funções. O partido eleito toma o poder e implementa o seu programa legitimado pelo
povo.
No cômputo geral, a forma mais tradicional de participação política do cidadão é através dos pleitos
eleitorais filiação nas associações de carácter político, religioso. Cultural e económica como se indica nos
artigos 52 e 74da Constituição da República de Moçambique (edição de 2008).
O n.º 1do artigo 53 afirma “Todos os cidadãos gozam da liberdade de constituir ou participar em
partidos políticos.” E o seu no n.º 2 indica que “A adesão a um partido político é voluntária e deriva da
liberdade dos cidadãos de se associarem em torno dos mesmos ideais políticos.” E o artigo 73, fixa o
sufrágio universal como forma mais tradicional de participação no exercício de poder político.

2.4. A Filosofia Política na História


2.4.1. A Filosofia Política na Antiguidade (Os Sofistas, o Platão e Aristóteles)
1. Os Sofistas
Na rota tradicional do pensamento dos pré-socráticos concentrava-se na explicação da natureza. Os
Sofistas foram os primeiros a desviar-se centrando a sua atenção no Homem e nas questões da moral e da
política.
a) A Contribuição dos Sofistas
Na Política – elaboraram e legitimaram o ideal democrático. A maior virtude passa a ser a justiça.
Na Educação – sistematizaram o ensino, a gramática, a retórica e a dialéctica.
Os Sofistas mais famosos foram: Protágoras, Trasímaco, Pródico e Hipódamo.
O Protágoras foi o sofista que mais se destacou com asua máxima “O Homem é a medida de todas as
coisas que são enquanto são e as que não são enquanto não são.”
2. Platão (428 – 347 a.C.)
O seu pensamento político está nas suas obras: “A República”, “O Político” e “As Leis.” Para Platão, a
política deve ter a Filosofia como o seu instrumento e fonte de inspiração, porque a Filosofia é a via
segura de acesso aos valores de justiça e de bem.
a) Origem do Estado (é Convencional)
Platão defende que os homens formam o Estado não por uma tendência ou inclinação natural, mas por
força das necessidades de se garantir a si mesmo. Isto é, deve-se de o Homem não ser auto-suficiente
pelo facto de o homem não se bastar a si mesmo. Ninguém pode ocupar ao mesmo tempo diversas
profissões, por isso, o homem decide associar-se aos outros homens e criar o Estado, cada um com a sua
tarefa social especifica numa área. Portanto, o Estado tem uma origem convencional, isto é, é fruto de
acordo mútuo dos homens.
b) Concepção Política
Platão definiu a política como arte de conduzir a sociedade humana, e finalmente definiu a política
como a arte de governar os homens através de persuasão ou com o seu consentimento, em oposição
ao governo de homens por meio de coerção ou pela força.
Para Platão, a primeira condição para a vida política é o conhecimento, a ciência, é a ciência de
governar, a segunda condição é o temperamento pessoal típico de quem se dedica á política. O ideal
para Platão é que o Estado seja governado pelos filósofos enquanto conhecedores da ciência política e
do bem supremo, isto é, os filósofos se tornem reis como governantes do Estado ideal de Platão.
c) Classes Sociais
Segundo Platão, no seu Estado-ideal, a sociedade divide-se em classes sociais: .
-Trabalhadores (camponeses, artesãos e comerciantes); .
- Dosguerreiros (soldados ou guardas que defendem a cidade e os governantes); e .
- Dosmagistrados ou governantes (que dirigem a cidade).

d) Formas de Governo
A melhor forma de governo segundo Platão, é a monarquia sob comando de um filósofo-rei, que
governa a polis segundo a justiça e preservaria a sua unidade.
A sua segunda opção, seria a aristocracia, composto por filósofos e guerreiros. Segundo Platão, a
democracia é o pior das formas de governos, porque se o poder se estiver nas mãos do povo, e sendo
este incapaz de conhecer a ciência política facilita através de demagogia o aparecimento da tirania.
3. Aristóteles
a) Pensamento Político: Finalidade do Estado
A finalidade do Estado consiste em assegurar aos homens não só a viver ou a vida, mas o bem-viver, a
vida feliz enquanto vida ordenada para a perfeição; é facilitar a consecução da felicidade, tornar
possível a realização completa de todas as capacidades humanas.
b) Origem do Estado
A origem do Estado segundo Aristóteles é natural, pois para Aristóteles,o homem é por natureza um
animal políticoque se distingue dos outros animais, não porque apenas vive em sociedade, mas vive
numa sociedade politicamente organizada, um animal cívico e educado, que se integra numa ”polis”
(cidade) que resultou de uma civilização contínua da espécie humana da família, tribo, aldeia até a cidade
(Estado).
c) Formas de Governo
Aristótelesdistingue três espécies de constituições segundo o número dos governantes: a)
Monarquia ou Tirania – governo de um só homem;
b) Aristocracia ou Oligarquia – governo de poucos homens, e;
c) A República (Politeia) ou Democracia – governo de muitos homens.
Estes governos agem de diferentes formas em defesa do bem-comum ou em defesa de interessesprivados
resultando as três (3) formas de possíveis governos rectos e três (3) de governos corruptos:

Contrariamente ao seu mestre (Platão), Aristóteles admite que a melhor forma de governo possa variar
conforme as épocas e povos. Para Aristóteles, a Politeia ou a República é a melhor forma de governo.

2.4.2. A Filosofia Política na Idade Média (Séculos V-XV)


2.4.2.1 O Pensamento Político Medieval e as Suas Principais Características
A Idade Media ou Medieval, é um período da história europeia que inicia com a que da do Imperio
Romano do Ocidente no ano 476 d.C. e termina em 1453, no ano da queda do Imperio Romano do
Oriente pela acção dos turcos sobre a capital Constantinopla. Portanto a Idade Media dura 1000 anos, pois
é um intervalo compreendido entre os séculos V e XV.
a) Características Gerais
Foram as invasões dos povos germânicos (“povos bárbaros”), vindos do Norte da Europa que deram
derrota final ao Imperio Romano do Ocidente dando novas características toda a Idade Media: a)A nível
geopolítico – fragmentação do Imperio Romano do Ocidente, com capital em Roma, em diversos reinos
no principio do século V e que mais tarde tornaram-se monarquias europeias.b)A nível socioeconómica –
desagregação e substituição da antiga ordem pelo feudalismo por toda a europa. c)A expansão do
Cristianismo – o seu enraizamento foi quem mais influenciou como princípio unificador da vida
religiosa e moral e nas esferas social, política até à científico-filosófica. Segundo Prelot, Lescuyer e
Amaral “o Cristianismo é uma revolução, antes de tudo, religiosa, mais com repercussões morais, sociais
e políticas inegáveis”.
b) As Influências Determinantes do Cristianismo na Idade Media
- Na moral – o Cristianismo tornou-se a nova guardiã da unidade que caracterizava o Império Romano; -
No plano social – com a revolução cristã há proclamação da universalidade e inviolabilidade da pessoa
humana enquanto imagem de Deus; .- No
campo científico-filosófico – aparecimento das escolas e universidades e de novos estudos, traduções de
obras de pensadores gregos clássicos, bem como, da conciliação do seu pensamento com a doutrina cristã.
. – Na área política – distinguem-se dois âmbitos: .
a)Práxis política medieval – a influência do Cristianismo foi sinuosa, por um lado,favoreceu e
legitimou opoder civil (poder temporal) através da consagração dos imperadores e reis, como a
consagração do Imperador Carlos Magno em 800 d.C. pelo Papa Leão II. Por outro lado, as relações
hostisentre a igreja e o império, mundialmente conhecidas como “a luta das duas espadas”.
b)No pensamento (ou teoria) política medieval – os doutrinadores cristãos, baseados no Novo
Testamento, introduzem pela primeira vez a distinção entre a origem e o exercício do poder político.
Todos deviam-se submeter às autoridades civis porque todo o poder vem de Deus e deve ser exercido
pelos governantes em benefício do bem comum e não próprio. O exercício do poder consiste mais em
deveres do que direitos dos governantes; em mais responsabilidade do que privilégios dos
governantes,pois, os governantes são servidores, são ministros do povo no sentido grego do termo.
2.4.2.2 Santo Agostinho e São Tomás de Aquino
1. Santo Agostinho (354 - 430)
Na sua obra “Cidade de Deus”, para Santo Agostinho o Mundo divide-se em duas cidades construídas por
dois amores: a Cidade de Deus – o amor de Deus, que leva ao desprezo de nós próprio construiu a cidade
celeste, e a Cidade Terrena – construída por amor-próprio da sociedade civil, que conduz ao desprezo de
Deus,reunida pela aceitação do mesmo direito e pela comunidade de interesses.
A Igreja é a incarnação da Cidade de Deus e o Estado é a encarnação da Cidade Terrena numa
necessidade imposta ao Homem pelo pecado original.

a) Origem do Estado (pecado original)


De acordo com Santo Agostinho, a origem do Estado provem do pecado original. Santo Agostinho
defende a autoridade política, para que se mantenha a paz a justiça, a ordem e a segurança. A autoridade
política é dada e iluminada pelo Deus. Pois a lei natural reside no coração de cada Homem. É a lei de
Deus; e a lei cristã é promulgação exterior da lei interna da alma. O direito positivo deveria ser o
desenvolvimento da lei natural.
2. São Tomás de Aquino
Para São Tomás de Aquino, na sua obra ‘”De Regimine Principum” (Do Governo dos Príncipes), o
Estado nasce da natureza social do Homem, concordando assim com Aristóteles.
Ele diz ainda que o Estado é uma sociedade perfeita, uma vez que tem os meios suficientes para
proporcionar um modo de vida que permita a todos cidadãos ter aquilo que necessitam para viver como
Homens.A comunidade é fundada em princípios divinos.
A finalidade do Estado é o bem-comum. Para São Tomás de Aquino, o poder religioso é regido pelo
Papa e o temporal pelo Rei ou príncipe. O Rei que viola os princípios, pode ser deposto, pois, “Ainda que
alguns tenham recebido o poder de Deus, se abusarem dele, merecem que lhes seja tirado.”, Visto que
todos os poderes sejam controlados pelos beneficiários – a Comunidade recorre a Deus, apenas, no caso
em que o povo não consiga destituir um certo rei por desmandos.

2.4.3. A Filosofia Política na Idade Moderna (início do Séc. XV - finais do Séc.


XXVIII)
2.4.3.1. De Maquiavel, de Hobbes, de Locke, de Montesquieu e de Rousseau
A Modernidade surge no início do Século XV, mas não há consenso sobre o facto histórico que pode ser
considerado o mais significativo a ponto de assinalar o ponto da Era Moderna.
a) Factores que Marcaram o Início da Idade Moderna
Os factores os históricos que sem consenso entre os pensadores, considerados como marcantes do início
da Idade Moderna são: .
– Aqueda do Império Romano do Oriente em 1453; .
- A chegada de Cristóvão Colombo às Américas em 1492; .
- O início do movimento protestante em 1517.
b) Características Fundamentais da Era Moderna
- A libertação do Homem em relação às explicações teológicas da realidade através da razão;
- A libertação do Homem dos regimes ditatoriais – abolição do absolutismo real, através da democracia
(a República); .- A libertação do Homem da dependência da Natureza através
da técnica – a industrialização.
1. Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) – Governar como arte.
Na sua obra-prima “O Príncipe”, Maquiavel parte de uma visão pessimista da natureza humana, propõe
um Estado fundado à forca. As concepções políticas de Maquiavel são consequências da sua concepção
antropológica, segundo a qual “o Homem é por natureza, mau” Assim aconselha aos governantes a
partirem do pressuposto de que todos os Homens são réus, e desde modo, devem empregar todos os meios
para alcançar o fim e conservar a sua própria vida e do Estado. Isto é, o fim é que conta, o governante
deve impor-se mais pela força do que pelo amor (a ditadura) para alcançar os seus objectivos:
Preservar a sua vida e a do Estado
Senso assim, Maquiavel que o príncipe não deve esquecer da sua reputação, isto é, o governante deve
aparentar que está a agir com a melhor das intensões, o que significa que o príncipe deve ser “uma
espécie de lobo vestido de carneiro.” .
* Maquiavel é considerado o fundador da Ciência Política Moderna.
a) Regimes Políticos
Maquiavel fez uma classificação original e inovadora dos regimes políticos: .
a) A República – caracteriza-se por uma vontade colectiva que seria uma república aristocrática ou a
república popular democrática consoante a vontade de todos ou de muitos. A melhor forma de governo
depende das circunstâncias e, ele prefere uma república porque defende a liberdade. . b) A
Monarquia–que é governada pela vontade de um só individuo (o monarca).
Maquiavel sustenta que: qualquer actividade para manter o poder deve ser justificada, e a sua
apreciação que possa ser feita pela moral “os fins justificam os meios”. Em política, deve se fazer o
bem quando possível, mas também o mal, se for necessário.
O pensamento político de Maquiavel resume-se em três (3) áreas fundamentais,
nomeadamente: .a)A origem do realismo político – onde desenvolve a sua concepção pessimista
do Homem; . b)A virtude do príncipe – onde expõe o seu princípio segundo o qual
os fins justificam os meios e nunca vice-versa, e;
. c) Se o
líder quer permanecer no poder deve impor-se pela força e ser moral se for necessário.
2. O Pensamento Político de Thomas Hobbes (1588 -1679)
É um filósofo inglês onde a sua principal doutrina política encontra-se na sua obra-prima “Leviatã”
(Leviathan) para além da obra “De Civi”.
a) Origem do Estado
Para Hobbes, a origem do Estado é o fruto de um “Contrato Social”, decorrendo de conflitos entre os
indivíduos. Para Hobbes, o Homem conheceu dois Estados da humanidade:
a)O primeiro Estado é natural – onde o homem goza de liberdade total, tendo todos direitos e nenhum
dever. É de natureza egoísta, pois cada um procura satisfazer os seus instintos, sem nenhuma
consideração pelos outros. A situação dos homens está entregue a si próprios, é de anarquia, geradora de
insegurança, angustia e de medo.
Os interesses egoístas predominam e o Homem torna um lobo para outro homem (homo homini lupus).
As disputas geram uma guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes). A guerra não
acomoda o Homem.
O medo e o desejo de tranquilidade e de paz, levaram o homem a fundar um Estado social e a
autoridade política onde a razão impõe limites à liberdade, abdicando dos seus direitos em favor do
soberano, que terá um poder absoluto.
b) Daí, nasce o segundo Estado – o Estado Contratual (o Estado Político-social) que caracteriza-se pela
existência de um contrato social. Há uma renúncia definitiva dos direitos individuais ao favor do Estado.
Todos os homens são iguais no contrato social, a moral nasce com a lei civil.
Para Hobbes, a monarquia é a melhor forma de governo. Hobbes é grande defensor do absolutismo
pois para ela, o Estado é o organismo que está acima dos cidadãos.
3. John Locke (1632 - 1704) – do Estado Natural ao Contrato Social
Filosofo Inglês, as suas contribuições políticas encontram-se principalmente na sua obra “Dois Tratados
Sobre o Governo” onde distingue dois Estados: o Estado de Natureza e o Estado Contratual. .a)
Estado de Natureza – não é um Estado no qual cada um tenha direitos ilimitados sobre tudo (como dizia
Hobbes). O Estado de Natureza para Locke, tem uma lei da naturezaque obriga a todos; esta lei é a razão
que ensina a humanidade, todos os Homens são livres iguais e independentes, ninguém deve causar danos
a outrem em sua vida.
No Estado de Natureza cada um é juiz em causa própria. Pela liberdade natural do Homem, ele não pode
ser expulso da sua propriedade e ser submetido ao poder político de outrem sem dar o seu
consentimento. A renúnciaà liberdade natural da pessoa acontece quando concordam em juntar-se e
unir-se em comunidade para viver com segurança, conforto e paz, umas com outras.
b)Nasce assim o Estado Social ou Contratual – que cria a autoridade, alguns encargos de velar pelos
direitos de todos.O contrato é uma delegação de defesa de individuo à autoridade. O cidadão conserva
sempre os seus direitos naturais: à vida, à propriedade privada, à liberdade, à família, etc.
*Locke é defensor da propriedade privada e da democracia na época moderna. A autoridade é
legítima quando usa seus poderes para o bem dos cidadãos; é tirânico quando usa em benefício próprio,
contra a autoridade dos cidadãos. No segundo caso, os cidadãos têm o direito de se rebelarem contra o
poder tirânico.

4. Jean-Jacques Rousseau (1712 -1778)


Natural de Genebra (Suíça), inicia a sua reflexão política partido da hipótese de o Homem se ter
encontrado em dois estados: Estado de natureza e no Estado Contratual. . a)Estado
natural (Estado de inocência ou primitivo) – é descrito na sua obra “Discurso Sobre a Desigualdade
entre os Homens”, neste Estado, “o individuo nasce livre e é bom mas se corrompe com a sociedade”,
que destrói sua liberdade. Os Homens eram sempre iguais, mas os Homens saíram desta condição feliz,
pelo desejo, pela necessidade do socorro do outro e nasceu a propriedade.
Portanto, a propriedade trouxe a desigualdade entre os Homens, a diferenciação entre o rico e o pobre, o
poderoso e o fraco, o senhor e o escravo, surge o homem corrompido pelo poder e é violento – é um
falso contrato. A sua redenção é possível com a reforma no sentido de organizar a humanidade em
estudo segundo a natureza e providenciar-lhe uma educação, uma moral e trabalho com vista a recuperar
a verdadeira civilização’
b)O Estado Contactual– neste estado social, os indivíduos livres se submetem a uma educação, uma
disciplina visando um bem maior para todos e para cada um. O individuo não é um simples Homem, mas
um cidadão.Como tal, ele renuncia os direitos pessoais a favor da comunidade, já não assume as normas,
leis por instinto mas segue a lei que não e estranha a outros nem a si porque o individuo é súbdito ao
mesmo tempo.
Segundo Rousseau, o cidadão não escolhe representantes a quem delegar o poder, como defendia Locke e
estado liberal, porque para Rousseau, o povo é soberania, o governo está submetido no povo, não são
senhores do povo, mas seus oficiais que apenas executam as leis que saem do povo. Rousseau critica o
regime representativo e defende a democracia directa, pois a lei não ratificada pelo povo é nula, isto é,
o contrato social deve ser fruto do consentimento de todos os membros da comunidade.
5. Charles de Montesquieu (1689 - 1755) – a Separação de Poderes.
Filósofo italiano é considerado o pai do “constitucionalismo moderno” e é o autor da obra “Espirito das
Leis”, onde pretende descobrir as leis naturais da vida socal. As leis são relações indispensáveis emanadas
da natureza das coisas. Para Montesquieu, existem leis da natureza e leis positivas:
a) Leis da natureza: 1ª Lei - igualdade de todos os seres inferiores; 2ª Lei – procura de
alimentação; 3ª Lei – Encanto entre seres de sexos diferentes; e a4ª Lei – desejo de viver em sociedade.
b)Leis positivas: 1ª – Direito das gentes (regula a convivência entre diferentes povos, na paz fazer o
maior bem, e na guerra, o menor mal possível); 2ª – o Direito político (regula a convivência entre os
governantes e os governados); e a3ª – Direito civil (normas que regulam as relações entre cidadãos).
Numa análise histórica como tipos sociológicos fundamentais do Estado: a democracia, a monarquia, e
o despotismo (forma de governo na qual uma única entidade governa com o poder absoluto).
O grande mérito de Montesquieu foi o de ter desenvolvido a teoria de separação de poderes legislativo,
executivo e judicial.
Esta divisão impede que alguns deles actuem despoticamente. Mas a condição que Montesquieu
considera fundamental, é a separação efectiva, pois não basta que que estes poderes existam para que o
seu funcionamento seja pleno.
Montesquieu nas relações entre a Igreja e o Estado, sublinha a necessidade de tolerância. Ele aceita
Deus como princípio supremo, fonte das leis do mundo humano e natural e em Cristianismo, reconhece a
sua força civilizadora e o seu carácter sobrenatural.
Recondações – leitura e exploração das páginas 81, 82 e 83 do livro de Filosofia 12ª Classe de Ernesto
Daniel Chambisse e Alcido M. G. Nhumaio.

2.4.4. A Filosofia Política na Idade Contemporânea: John Rawls e Karl Popper


1. Hegel e Hegelianismo
Não se pode falar de Filosofia Contemporânea sem referir de Hegel, pois a Filosofia Política de Hegel, no
Estado de Hegel, o individuo subordina ao Estado, cumpre a ordem suprema, a ideia absoluta que
norteia as outras inteligências e vontades, legitimando assim o regime ditatorial.
Sendo assim, para Hegel, o individuo no Estado, é um simples objecto e não um sujeito do seu destino. A
sua vontade é sufocada pela vontade do Estado e o individuo perde a sua liberdade. Esta ideia foi
contestada pelos liberais nascendo desta forma a esquerda e a direita hegeliana.
2. Pensamento Político de John Rawls (1921 – 2002)
Filosofo Norte-americano, o seu pensamento político encontra-se patente nas suas obras “Uma Teoria de
Justiça” de 1971 e “O Liberalismo Político” de 1993. Para Rawls, a justiça é a estrutura de base da
sociedade e a primeira virtude das instituições sociais. Esta caracteriza-se na efectualização das
liberdades individuais e na sua restrição para o benéfico de outrem.
Para Rawls, uma sociedade justadeve fundar-se na igualdade dos direitos. A justiça não pode ser
reduzida a partir das concepções de bem difundidas na sociedade, mas deve ser encarrada como a
capacidade concedida à pessoa para escolher os seus próprios fins. Na “estrutura de base”, os
homens ocupam posições diferentes, o que origina desigualdade na posição social.
Daí, há necessidade de um novo contrato social à luz do“véu de ignorância” (que se dá por critério da
racionalidade), que defina os princípios de justiça em que as pessoas livres, racionais e iguais
escolheriam, para formar a sua sociedade. Portanto, a justiça em Rawls de ser entendida como
equidade:
a) Justiça como equidade é justiça social
O objecto do julgamento da justiça, não é tanto a esfera jurídica ou individual, mas a estrutura básica da
sociedade democrática, das instituições políticas, económicas e sociais. Ou seja, a teoria de justiça
como equidade, gravita na maneira pelo qual as instituições mais importantes distribuem direitos e
deveres fundamentais e determinam a divisão de vantagens provenientes da cooperação social.
O princípio de justiça como equidade responde ou critica as desigualdades profundas (entre os
homens nas posições e condições diferentes de nascimento, de vida e expectativas económicas e social) e
aparentemente inevitável de que secaracteriza a estrutura básica da sociedade democrática liberal.
b) Justiça como equidade é abstracção da teria do contrato social
A segunda ideia basilar das duas concepções (moral e política) da justiça como equidade é a sua filiação e
fidelidade à tradição contratualista tradicional. Rawls,vem justificar que os princípios de justiça que vão
regular a estrutura básica da sociedade, resultam de um consenso, de um acordo original entre os
indivíduos tal como acontece no estado natural na doutrina tradicional do contrato social, o que Rawls
chama de “posição original” ou “situação inicial”.
Para que os princípios de justiça regulem a cooperação equitativa entre cidadãos na sociedade bem
ordenada é necessário, que tais princípios resultem deles próprios, de uma escolha em circunstâncias
iguais de liberdade que é precisamente a tarefa do artifício “posição original”, o que garante a simetria de
relações e igualdades iniciais, onde as pessoas ou cidadãos caracterizam-se por efectuar a escolha sob
“véu daignorância”.
O “véu da ignorância” é quando as pessoas escolhem o principio de justiça desconhecendo ou
abstraindo por completo e por igual em todos as circunstâncias vantajosas ou desvantajosas que a sua
condição social (classe, statu, distribuição de riquezas e de autoridade, etc.). Isto é, cada um escolhe de
modo imparcial e com boas razões a regra definidora do justo e do injusto, o que dá vantagem ou
desvantagem a cada um em iguais circunstâncias, respectivamente.
c)Princípios da justiça como equidade e a prioridade da justiça
Na “posição original”, Rawls distingue duas concepções de justiça rivais: a primeira e a mais antiga é a
concepção utilitarista de justiçadefendida pelos economistas clássicos e as suas raízes morais recuam de
São Tomás de Aquino e Santo Agostinho até a Aristóteles e Platão. A principal tese do utilitarismo é que
uma sociedade está ordenada correctamente e por isso é justa, quando as suas instituições promovem,
com eficácia racional, o máximo de bem-estar do grupo; são justas as instituições e acções que das
alternativas possíveis retiram o bem maior. Valoriza os fins em prejuízo dos meios.
E a concepção pública de justiça (a concepção alternativa de justiça)considera a justiça como elemento
superior, independente e determinante do bem-estar. É precisamente sobre a justiça (e não sobre o bem)
que assentam os princípios escolhidos por consenso igualitário na “posição original”.
Para Rawls, as pessoas na “situação inicial” escolheriam apenas dois princípios como reguladoras da
cooperação social numa sociedade bem-ordenada de tipo democrático liberal ou constitucional moderna:
1º. O princípio das liberdades – cada pessoa deve ter um direito igual ao esquema de liberdades básicas
iguais às outras pessoas. Por liberdades básicas, Rawls entende por um lado, as liberdades e direitos
políticos iguais (direito do voto, cargo público, liberdade de expressão e de pensamento ou consciência,
propriedade privada, contra a detenção e prisão arbitrária) – essas liberdades permite que cada
pessoa/cidadão julgue a justiça da estrutura básica da sociedade liberal e as suas políticas sociais. Por
outro inclui as liberdades morais como as de consciência e de associação as quais permitem que cada
um realize a concepção de bem.
2º. O princípio da igualdade –as desigualdades sociais e económicas devem satisfazer duas condições:
primeiro, elas devem estar ligadas a cargos e posições acessíveis a todos em condições de igualdade
justa (ou equitativa) de oportunidade; segundo, tais desigualdades devem beneficiar ao máximo os
membros menos favorecidos da sociedade.
As desigualdades de nascimento e de dotes naturais (inteligência), devem ser separadas e compensadas
para uma genuína igualdade de oportunidades. Sendo assim, a sociedade deve dar mais atenção àqueles
com menos dotes inatos e aos oriundos de posições sociais menos favoráveis. Em direcção a igualdade,
maiores recursos devem ser gastos com a educação dos menos inteligentes durante os primeiros anos de
escola, e não o contrário.
Os bem-dotados que ajudem também os menos favorecidos, pois os indivíduos com maiores dotes
naturais e com carácter superior, não é correcto que tenham o direito a um esquema cooperativo que lhes
possibilite obter mais benefícios de maneira que não contribuem para as vantagens dos outros.Este
princípio (de igualdade) aplica-se às instituições encarregues de distribuir a riqueza e a renda bem como
às organizações que fazem o uso de diferenças de autoridade e responsabilidade.
Para que estes dois princípios possam servir de base dos restantes princípios de cooperação equitativa
numa sociedade democrática liberal e garantir a liberdade e igualdade dos cidadãos, é necessário que o
primeiro princípio (o da liberdade) goza de anterioridade e prioridade dobre o princípio de igualdade.

d) Justiça como equidade e a sociedade bem ordenada


A noção de justiça como equidade é ideal e fundamental de uma associaçãoou sociedade humana bem-
ordenada onde as concepções e interesses diferentes, está assente numa concepção pública de
justiça.Rawls,adverte para que não se equipare essa sociedade bem-ordenada com as sociedades
democráticas liberais actuais concretas:
Segundo Rawls, as “sociedades concretas são raramente bem-ordenadas…pois o que é justo e o que é
injusto está geralmente sob disputa”, embora os seus membros concordam sobre a necessidade de se
definir certos princípios comuns de cooperação entre eles. Nesta sociedade reina a promoção e
prossecução do bemnuma concepção utilitarista de justiça que prioriza o bem em detrimento do justo.
Uma sociedade bem-ordenada - é aquela que é regulada por uma concepção pública de justiça, a qual
concebe o justo como prioritário sobre o bem. Ela é definida por três (3) aspectos a destacar: .1º.
-Todos os membros desta sociedade aceitam e sabem que os outros aceitam os mesmos princípios a
partir dos quais julgam as suas reivindicações. Ou seja, a aceitação compartilhada por todos dos mesmos
princípios de justiça, cria o vínculo de convivência cívica entre pessoas e cidadãos com objectivos e
desejos díspares e interesses individuais por vezes conflituosos; .
2º. - As instituições sociais básicas se conformam, respeitame guiam o seu sistema de cooperação por
meio desses princípios aceites por todos como válidos; .
3º. - As pessoas ou cidadãos possuem um senso que lhes permite entender e aplicar os princípios de
justiça reconhecidos publicamente e agir conforme os direitos e deveres exigidos pela posição pessoal na
sociedade.
* A Teoria de Justiça de Rawls, foi criticada por não ser possível executá-la sem violar o princípio da
propriedade privada adquirida de forma legítima. Sendo assim, reconhecendo a não execução da sua
teoria, na sua obra “O Liberalismo Político”, recomenda que a nova teoria de liberalismoestabeleça uma
base sobre a qual se possam erguer instituições políticas liberais.
Com isso escolhem-se os princípios de justiça (primeiro principio da liberdade e o segundo da diferença,
sendo o segundo se divide em dois: igualdade equitativa de oportunidades aos menos favorecidos e a
ocorrência de desigualdades socioeconómicas).
3. O Pensamento Político de Karl Raimund Popper (1902 - 1994)
Nasceu em Viena, na Áustria, na sua obra “Sociedade Aberta e os seus Inimigos” critica o método
dialéctico e ataca a ideologia historicista que defendia o totalitarismo. A sociedade aberta opõe-se a
sociedade fechada – que é uma sociedade totalitária, concebida organicamente e organizada tribalmente
segundo as normas não modificáveis.
Popper defende a sociedade aberta – que é aquela que baseia-se no exercício crítico da razão humana,
uma sociedade em que se estimulam instituições democráticas e aliberdade dos indivíduos e dos grupos,
tendo em conta a solução dos problemas sociais, ou seja, as reformas contínuas.
Nesta perspectiva, os governados têm a possibilidade efectiva de criticar os seus governantes e de os
substituir sem derramamento de sangue e sem que signifique que a democracia deva aceitar a ascensão do
totalitarismo ao poder. Popper admite a possibilidade da renovação violenta, a qual só é se for para
derrubar um tirano.
a) Principais Ideias de Popper
1ª – “A história da humanidadenão tem um sentido concretoque antecipadamente possa ser conhecido; o
único sentido que possui é aquela que os homens lhe dão.” . 2ª–“O
progresso da humanidade é possível e não carece de um critério último de Verdade.” .
3ª – “A razão humana é essencialmente falível, o dogmatismo não tem qualquer fundamento. A única
atitude justificável para atingir a verdade é através do diálogo, o confronto de ideias por meios não
violentos. Na ciência significa aceitar o risco de formular hipóteses que venham depois a ser refutadas
pela experiência. Na política essa atitude significa que cada um deve aceitar o risco de ver as suas
propostas a serem recusadas por outros no confronto de ideias ou projectos.”

2.5.Formas de Sistemas Políticos (monocárpicos e policráticos)


Sistema político – é a maneira como a comunidade política se estrutura e exerce o poder político. A
estrutura do poder da comunidade política é feita de duas maneiras: como regime político e como
sistema de governo. .a)Regime
político–é a forma de relacionamento entre o individuo e o Estado ou a sociedade política. b)Sistema de
governo – é a organização do poder na governação, a titularidade e a estruturação do poder político com
os seus titulares e os órgãos estabelecidos para o seu exercício.
1. Formas de Governo
Actualmente as formas de governo baseiam no modo como é designado o chefe do Estado: .
a)Monarquia – é o regime político em quea nomeação do chefe do Estado se faz por herança. .
b)República – é o regime político em que a designação do chefe do Estado se faz por diversas formas: por
eleição directa dos cidadãos ou por seus representantes, por golpe de Estado, por legislação, etc.
2. Tipos de Regimes Políticos e Sistemas de Governos
a)Regime político ditatorial – subdivide-se em: Regime ditatorial autocrático (é o poder político que
controla a sociedade civil mantendo certo grau de autonomia); e o Regime ditatorial totalitário (é aquele
em que o poder político controlae subjuga a sociedade civil). Este regime tira do homem um dos seus
direitos mais importantes – a liberdade. .
b)Regime democrático ou liberal – é o regime em que o homem goza do seu direito de fazer o uso da
sua liberdade. Há participação livre dos cidadãos e o poder é exercido com base na lei do consenso do
povo.

Os regimes políticos classificam-se em ditatoriais ou democráticos e caracterizam-se em:

O regime é ditatorial quando: O regime é democrático quando:


- Há uma ideologia exclusiva ou liderante; - Não existe uma ideologia dominante ou liderante;
- Há um aparelho para impor a ideologia; - Não existe um aparelho para impor a ideologia;
- Não há uma efectiva garantia dos direitos - Existe uma efectiva garantia dos direitos pessoais dos
pessoais doscidadãos; cidadãos;
- Não existe livre participação na designação - Existe livre participação na designação dos
dos governantes; governantes;
- Não existe um controlo do exercício dos - Existe um controlo do exercício das funções dos
governantes. governantes.

3. Formas de Exercitar o Poder

Monarquia → Ditatorial → Autoritário e Totalitário

Regimes Políticos

República → Democracia → Liberdade de o cidadão controlar o poder

4. Democracia Moçambicana
Moçambique é um país democrático, pois goza de uma Democracia Representativa. A democracia
define-se como governo do povo para povo, feito pelos representantes do povo.
A Democracia Representativa Moçambicana é parlamentar de onde deriva uma assembleia de
homens escolhidos cujas deliberações saem decisões eleitorais no seu todo, pois as vontades devem ser
respeitadas e garantidas pela lei. Para que o parlamento seja democrático deve respeitar três (3)
princípios fundamentais: .
a)O princípio de tolerância –o Estado deve garantir a expressão livre de crenças políticas, filosóficas,
religiosas, mas que não atentem contra a ordem pública; .
b)O princípio de separação de poderes – o poder legislativo, executivo e o poder judiciário; e .
c)O princípio de justiça – não fazer ao outro o que não gostaria de ser feito.
Segundo o artigo 3da Constituição da República de Moçambique(edição 2008), define “A República
de Moçambique é um Estado de direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política
democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem”.
III UNIDADE: A FILOSOFIA AFRICANA
3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO DEBATE SOBRE A FILOSOFIA AFRICANA
1. Questões históricas
Como ponto de partida é: se se pode falar da Filosofia africana ou da Filosofia em África?
Antes da obra de Placide Tempels “Bantu Philosofhy”, o africano era visto como impossível de filosofar
devido a mentalidade construída pelos europeus sobre o negro ao longo da história, o que levou aos
pensadores africanos, com destaque para Cheik Anta Diop, chamarem de “mito da inferioridade negra”.
2. Origem do mito da inferioridade do negro
A ideia de uma filosofia Africana no campo filosófico, apareceu muito tarde e sob varias designações. A
obra do missionário suíço no (ex-)Zaire “Filosofia Bantu” do padre Placide Tempels, foi a pioneira, cuja
tradução francesa apareceu em 1945.
O povo africano foi vítima da colonização europeia, com as viagens apelidadas de “viagens
descobrimentos”, os europeus conheceram outros povos que foram julgados em comparação com os usos
e costumes da cultura ocidental. Os colonizadores denegriram a personalidade dos negros. Assim, os
negros ao serem colonizados, perderam o seu estatuto de “pessoa”.
O escritor africano Cheik Anta Diop, chama a isso de “mito da inferioridade negra”, ideia esta
partilhada por muitos autores africanos e europeus. Para Ali Mazrui (1933), a humilhação negra foi
marcada por três seguintes acontecimentos: o tráfico dos escravos, a colonização europeia e a
discriminação racial.
Os negros africanos foram reduzidos a condição de escravos e por cima os europeus socorreram-se desde
da Teologia às diversas ciências para inferiorizar o negro e superiorizar o branco europeu. Portanto, os
africanos foram considerados como povos desprovidos de qualquer racionalidade e incapazes de
aceder qualquer reflexão filosófica.
Deste modo, o Ocidente criou uma antropologia triunfalista que servia de meio ou credo para esmagar os
outros povos: - Na Teologia cristã – o negro é símbolo de maldição, descendente de Cham que viu a
nudez do pai; - Para Kant, o africano é um povo sem interesse;
- Para Rousseau, os africanos são bons selvagens; - Para Montesquieu, os africanos são povos sem leis
e sem humanidade; - Para Voltaire, o povo
mais alto é o francês e o mais baixo é o africano; - Para Hegel, o
africano é o povo sem história e são desprovidos de humanidade; - Para
David Hume, o africano é um povo não civilizado; - ParaLévy-Brhul, os africano têm uma
mentalidade primitiva, pré-lógica (morta) e não conceptual; - Para Tempels, o africano tem uma lógica
menor; - Os antropólogos Morgan e
Taylor, sustentam que a África é uma sociedade morta.
Segundo Lecrec, na sua obra “Crítica da Antrpologia”, este tipo de antropologia é classificado como
um verdadeiro “vandalismo” cultural, narcisista, agressivo e destruidor, pois mais tarde, as novas
abordagens das ciências sociais e humanas reconheceram que toda a cultura representa uma
determinada civilização independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e económica.
Portanto, a Filosofia Africana vem recuperara auto-estima que o homem negro tinha perdido com o
tratamento esclavagista. Assim, os pensadores (filósofos) africanos desenvolveram debates acesos sobre a
existência ou não da Filosofia Africana.
3. Reacção à Atitude Ocidental
As reacções vieram de diferentes partes do mundo, e dividem-se entre o mundo ocidental e o africano,
quanto à sua
origem: . a)Antropólogos
ocidentais – Edward Taylor e Lewis Morgan afirmam que o conceito de “ideias universais” está na
natureza do Homem. A razão é igual a todos os Homens. O desenvolvimento das ideias melhorou a vida
dos ocidentais, mas retardou a vida de algumas pessoas. Por isso, a ideia de que o africano não pode ter
um pensamento filosófico por estar desprovido de ideias universais, é duvidosa.
b)Areacção dos africanos –a reacção dos africanos contra a visão eurocêntrica pode-se localizar entre o
tempo da escravatura no século XV e XVI. A primeira reacção foi marcada por teor reivindicativo das
canções dos escravos nos trabalhos forçados e cultos religiosos nas igrejas, chamados work songs e
gospel spirituals, nas colónias do Sul da América.
Aí, o negro afro-americano apresentava-se como guerreiro da liberdade, cuja terra o Norte onde já fora
abolida a escravatura. Segundo José Castiano, na sua obra Referenciais da Filosofia Africana: em busca
da intersubjectivação (2010, 125) diz que “…a presença africana no país ´onde tudo é possível’ (EUA)
foi marcada pela sua escravatura e, intrinsecamente, pela luta para alcançar a liberdade individual e
colectiva dos negros. Ser uma ‘pessoa livre’ era um objectivo básico dos negros por volta de 1850.
Frederick Douglass é talvez o escravo mais conhecido na luta pela abolição da escravatura que
eternizou as suas amargas experiências em livro.”
4. Os Movimentos de Mobilização dos Negros nos EUA
A reacçãosistemática em busca de liberdade dos negros contra o racismo, veio dos negros da diáspora
afro-americanos nos EUA em 1880 e o primeiro quinto do século XX, por os intelectuais como Booker
T. Washington, W.E.B. Du Duboise o Jamaicano Marcus Garvey.
a)Para Booker Washington (desenvolvimento segregado), a melhor forma de combater o racismo
branco e garantir a emancipação política dos negros residia na emancipação económica, só acumulando
riquezas, é que os negros conquistariam o respeito e reconhecimento dos brancos. Assim apelava os
negros a apostarem pela educação técnico-profissional. Esta tese foi conhecida como movimento
segregado, mas os seus críticos acusaram-na de “acomodacionista” uma vez que apelava os negros a se
conformarem com a situação da discriminação.
b) Para seu discípulo, Du Bois (movimento do renascimento negro), pelo contrario, defendia a
integração política e social dos negros e todos os afro-descendentes na “cidadania americana” em
igualdade de circunstâncias que os brancos, através da lata pela restauração da auto-estima e
identidade do próprio negro. Para o efeito, Du Bois religava toda a raça negra à África, àquela África
gloriosa mas do passado, dos antigos impérios e reinos submergidos pela exploração europeia: Egipto,
Gana, Mwenemutapa, etc.
c)Ao contrário do movimento do Du Bois, o jamaicano Marcus Garvey (back to África moviment ou
Regresso à África) criou um movimento rival e com forte aceitação no seio das camadas menos
escolarizadas, que apelava ao regresso á África como a única forma de conquistar a emancipação do
negro ante o racismo branco. Contrariamente a Du Bois, Garvey estava convencido de que o negro
nunca conseguiria o reconhecimento e igualdade dos brancos no seio da sociedade norte-americana bem
como em todos os continentes originariamente brancos.
Garvey, apelava o retorno dos negros de todo o mundo para a África, sua terra natal, continente do
Homem negro, e em contrapartida a expulsão de todo branco da África para os seus continentes.Só
assim, o Homem branco, forçado pelas necessidades de manter a sua economia, estabeleceria novas
relações com a África em pé de igualdade.
Portanto, Du Bois e Garvey procuraram construir as bases da dignidade do negro fazendo referência a
África, ao seu passado histórico e cultural. Estes movimentos americanos influenciaram fortemente nos
jovens africanos em formação nas universidades europeias e a reacção dos africanos não tardou chegar:
a) Por um lado, surgimento de movimentos como a Negritude por obra de Aimé Cesaire, Leo Damas
e Léopold Sédar Senghor influenciados por escritores afro-americanos; .
b)Por outro, pela influência e direcção de Du Bois, nasceu o pensamento político com a missão de pensar
na evolução económica e social do africano, isso sob acção de intelectuais como George Padmore,
NnambiAzikiwe, Kwame Nhrumah, Jomo Kenyatta, entre outro.
Henry Olela, defende que a África foi conhecida na Grécia pelos seus grandes impérios como: Sudanês,
Etíope, Egípcio, etc. pelos seus grandes níveis de organização e poder artístico e filosófico, assim
acivilização africanadevia ser superior em relação a muitas civilizações do mundo.
5. Como esta civilização ficou para trás, em relação a muitas civilizações?
Actualmente,muitos historiadores apontam para três factos da origem desse
atraso: . a) A ignorância dos próprios africanos em relação aos factos históricos;
. b)Possível caso da descriminação racial;e,.c) A necessidade
do reconhecimento dos sistemas de pensamentos como formas do seu pensamento filosófico.
A insuficiência do pensamento Senghor, Olela e James na sua missão, apenas despertaram a visão contra
o pensamento do Hegel, Lévy-Bruhl, mas inauguraram uma nova forma de pensar a causa africana por
vários pensadores, como Placide Tempels, Alexi Kagame, John Mbiti, e seus críticos Paulin
Hountondji, Kwasi Wiredu, Odera Oruka, Kwame Nkrumah entre outros.
6. O Estatuto da Oralidade e Filosofia em África
Uma das questões mais discutidas entre os pensadores africanos é a questão do estatuto da oralidade
tradicional africana. A questão é: Podem considerar-se filosóficos os provérbios, contos tradicionais,
dizeres dos sábios africanos, entre outros? Qual é a função dos filósofos educados profissionalmente para
estes dizeres e provérbios tradicionais?

Hoje entre os filósofos africanos, parece existir duas escolas básicas de pensamento acerca da Filosofia
Africana:
a)A primeira escola, sustenta que a Filosofia Africana é um pensamento especulativo que subjaz nos
provérbios, nas máximas, nos costumes, etc., que os africanos de hoje herdaram dos seus antepassados
através da tradição oral. Portanto, a função do filósofo africano no que se refere à Filosofia Africana, é a
de coleccionar, interpretar e difundir os provérbios, contos folclóricos, mitos assim como outro
material deste tipo. O representante mais destacado desta escola é John Mbiti, autor do livro “African
Religions and Philosophy, 1969”.
Outra questão que os filósofos africanos ainda têm debatido é: em África, embora exista Filosofia, não
há filósofos, pois a Filosofia em África é integralmente colectiva, comunal e não uma actividade
individual.
b)A segunda escola, sustenta que hoje em dia, a Filosofia Africana ocupa-se também dos
desenvolvimentos modernos no conhecimento e na reflexão. Defende ainda que a Filosofia Africana é
o resultado do pensamento abstracto de pensadores africanos individuais, tradicionais como modernos. É
uma reflexão racional e crítica sobre as ideias e os princípios da vida humana e o seu ambiente,
acentuando a importância do debate e a inevitabilidade do pluralismo.
Paulin Hountondji, representante desta escola, no seu livro “African Philosophy, Myth and Reality,
1974” dá enfâse a escrita na criação de uma filosofia moderna, segundo ele, a Filosofia Africana é um
tipo de literatura produzida por africanos e que versa sobre os problemas dos africanos com aspecto
crítico e racional da filosofia. Portanto, os provérbios, máximas e contos tradicionais contêm uma certa
quantidade de conceitos filosóficos, por isso, chama a essa literatura filosófica de etnofilosofia.
Um elemento importante para Hountondji é de ele não conceber as obras etnofilosóficas sobre visões
tradicionais africanas como filosóficas, a menos elaboradas por africanos. Assim, as obras “Bantu
Philosophy”, de Placide Tempels e “African Religions and Philosophy”, de Mbiti, pertencem ao grupo
de obras etnofilosóficas.
No entanto, só esta última pode considerar-se parte da Filosofia Africana. Em Filosofia, um problema
pode ser universal, por isso, uma obra filosófica de um africano não pode versar exclusivamente um
problema africano. Com este pensar, Hountondji recebeu certas criticas:
Um dos seus críticos, foi Odera Oruga (queniano), defende que, desde que um escrito se ajuste a
organizadamente à tradição africana de um país ou região, o mesmo pode considerar-se parte da tradição
filosófica independentemente da nacionalidade do autor, isto é, a Filosofia Africana será o produto dos
pensadores africanos, sem excluir a participação de pensadores não africanos.
Oruga dá muita importância na Filosofia Africano os sábios tradicionais vivos, os que estão destinados
a converter-se em filósofos pela sua racionalidade, onde um filósofo investigador de formação
profissional pode extrair deles informações e redigi-las em forma de literatura africana. Por este facto, a
noção da Filosofia Africana como corpo de pensamento colectivo, é nula e inadequada.
Na visão de Kwasi Wiredu, filósofo queniano, o pensamento tradicional africano contém elementos que
são filosóficos que tentam dar resposta a algumas das interrogações da vida do Homem e do mundo.
Perguntar a não existência da Filosofia africana seria uma demonstração extraordinária duma ignorância
ou falta da capacidade de reflexão.
7. Temas e Correntes da Filosofia Africana
A Filosofia Africana não constitui um corpus com estrutura já acabada e aceite por unanimidade por
todos os seus pensadores devido a falta de consenso entre as correntes que constituem a sua história. O
filósofo queniano Odera Oruga privilegia quatro correntes: Etnofilosofia, Sagacidade Filosófica,
Filosofia Cultural e Filosofia Profissional eAcadémica, que resultam e pertencem a períodos históricos
e interesses diferentes.
As correntes como a “Etnofilosofia” e a “Sagacidade Filosófica” procuram mostrar que os povos
africanos possuem um pensar próprio, uma sabedoria que orienta a sua vida, é digna de nome
“filosofia”. As ouras, como a “Negritude” (quer como movimento cultural quer como político) e a
“Filosofia Profissional”reflectem sobre a autodeterminação política dos povoa africanos.
7.1. A Etnofilosofia
Etnofilosofia – é uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas espelham a
racionalidade do africano, podendo estas serem consideradas Filosofia Africana: são os mitos,
provérbios, rituais, as lendas, crenças, contos, máximas, linguagens africanas.
Assim, como defendemos etnofilósofo tais comos:- Placides Tempels na sua obra “Bantu
Philosophy”,traduzida em francês em 1945;. - Alexis Kagamenas suas obras “La
Philosophie Bantoe Ruandaise de l’être” de 1956 e“La Philosophie Bantu Compareé” de1976;
. - John Mbitina sua obra “African Religions and Philosophy” de 1969;
. -
D. G. Parider, na sua obra “African Traditional Religion”; .
- M. Fortesna sua obra “African Systems of Thought”, .
– As obras de Cheik Anti Diop, de Marcel Griaule, de Vicente Mulagee de outros.Tudo isso, trata-se
do “grito” de africanos e africanistas pelo reconhecimento do negro como homem.
Osetnofilósofos defendem que toda a Filosofia é uma Filosofia cultural,isto é,ninguémfaz
Filosofiasemsebasear em alguma cultura. ParaBrizAnyanw,a missão dofilósofoafricano écompreendere
explicarosprincípiossobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.

Toda via, as suas pesquisas, que se apelidaram de Filosofia Africana, foram alvos de severas críticas,
principalmente pelas seguintes razões:
1ª - As abordagens feitas por tais intelectuais descreviam, na sua maioria, práticas habituais
dosafricanos, afirmando-se como Filosofia africana.
2ª- Estes estudos, quando eram feitos por africanistas nãoafricanos,denegriam o africano.O sacerdote
beiga Placide Tempels, por exemplo, dizia que o africano tinha uma lógica menor.
3a- Uma simplescatalogação de mitos, crenças eprovérbios considerava-se Filosofiaafricana.
4ª- Estes estudiosos abordavam temas relativos a etnias africanas. Alexis Kagame, por exemplo
inspirando se na Fi1osofa aristotélica, escreveu uma obra intitulada “A Filosofia Bantu-Ruandês
doSer”,onde desenvolvia a sua reflexão, trazendo á tona ascategorias aristotélicas do ser,atravésda analise
gramatical rigorosadas estruturas 1inguísticas. A partir desta obra,vários estudantes africanos
defenderam as suas teses, cada um deles com a filosofiabantuda sua línguavernácula.

Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sóque esta é diferente na forma e no conteúdo da
Filosofia europeia.
Por estas e outras razões, os críticos opuseram se à existência de uma Filosofia africana. Contudo, não
podemos desprezar Tempels, pois a sua abordagem tinha como fim o reconhecimento do negrocomo
homem pelos colonizadores. Por conseguinte, os seus estudos contribuíram bastante para a redefinição do
relacionamento entre o Ocidente e o povo negro.

John Mbiti – na sua obra “AfricanReligions and Philosofhy, 1969” diz que a Filosofia africana é um
pensamento especulativo que subjaz nos provérbios, nas máximas, nos costumes, nas lendas, nos mitos
folclóricos. Mbiti considera que a função do filósofo africano, é de coleccionar, interpretar e difundir a
Filosofia Africana.
Em suma, a Etnofilosofia -é uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas
espelham a racionalidade do africano, podendo estas ser consideradas Filosofia africana (os mitos,
provérbios, rituais, as lendas, crenças, contos, máximas, linguagens africanas).

7.2. Sagacidade Filosófica

Sage (quer em francês, quer em inglês) designa a pessoa que cultiva a rectidão do espírito, o bom senso
nos seus juízos e comportamento, pessoa prudente, em fim, sábia. Assim, sagaz - diz-se de quem possui
ou treina aagudeza de espírito para descobrir com prontidão a explicação de coisas obscuras.
Segundo alguns antropólogos e sociólogos,em cada cultural africana existe pessoas com essa agudeza
de espírito e bom senso que guiam o seu pensamento e juízo pelo poder de raciocínio crítico e intuição
individuais e não pelo saber consensual do seu povo.Tais sábios –que dão respostas racionais e com
um certo nível crítico-são dignos da designação de filósofos africanos e as suas reflexões de serem
reconhecidos como filosóficas, embora seja orais.
Segundo os que advogam esta corrente, tais sábios, na sua maioria iletrados e não escolarizados são
reconhecidos como sábios nas suas comunidades étnicas e são interpelados como conselheiros em
relação a qualquer problema. A originalidade das suas reflexões é reconhecida pela comunidade inteira.
Em suma, esta corrente implicitamente rejeita aproximação holística da filosofia africana e defende a
autonomia individual da sabedoria dos sábios africanos. A tarefa que cabe aos intelectuais
africanosconsiste em identificar tais sábios nas diversas comunidades e registar por escrito as suas
reflexões. O objectivo é mostrar que em áfrica:
- Há pensadores críticos independentes que desenvolvem as suas reflexões pelo exercício individual da
razão e critica numa linha independente quer dos mitos e crenças populares da sua comunidade de
pertença quer de uma eventual influência de culturas europeias e asiáticas (aliás, por não serem
escolarizados, nunca conheceram essa influência). Pelo contrário, esses pensadores usaram a cultura do
seu povo como o único ponto de referência das suas.
- A escrita não e condição necessária para que se considere uma reflexão como filosófica.
7.3. A Negritude (A Filosofia cultural africana)
São conhecidos como fundadores da negritude: Aimé Césaire (antilhano),Leopold Sédar Senghor
(senegalês) e Léon Gontran Damas (guianês).Apaternidade do termo “negritude” é um grande mérito
atribuído ao Aimé Césaire. A Negritude insere-se no espírito pan-africanistada união e solidariedade
entre os africanos. O conceito de Negritude passou a ser utilizado pelos escritores africanos a partir dos
anos trinta, como reacção à rigorosa tentativa de assimilação do poder da colonização francesa. Como
diria Paul Sartre, que a Negritude aparece como tempo fraco duma progressão dialéctica, contra a
afirmação, teórica e prática, da supremacia do branco.
A Negritude nasceu pelo esforço emancipatório da comunidade negra radicadaem
França.Anegritudepretendia a união de todos negros,a ideia de unidade africana sob a forma
cultural,surge como resposta ao funcionalismo que defendeu o relativismo cultural (a corrente
relativista) que impôs como normas o respeito pela diferença, a tolerância,a crença e aceitação na
pluralidade de valores.
Neste âmbito, a Negritude distingue-se como movimento cultural (que envolve a literatura, a arte, a
dança do homem negro), por outro lado, a Negritude foi como movimento de cariz político cujas origens
apontam ao pan-africanismo.
Os maiores defensores da Negritude foram: Césaire, Senghor e Damasque resumiram o projecto em três
conceitos:-identidade - consiste em um negro assumir plenamente a sua condição;
-fidelidade - atitude que traduz a ligação do homem negro a terra-mãe;e-solidariedade - sentimento que
liga secretamente todos os irmão negro.
Portanto, a Negritude surge entre os negros americanos, no quadro do pan-africanismo, de diversas
formas: .- O
desenvolvimento segregado de Booker T. Washington; .
- O movimento do renascimento negro (black renaissance) de W. E. B. Du Bois; e .
– Regresso à África (back to Africa moviment) de Marcus Garvey.
Estes movimentos foram seguidos pela aparição de algumas revistas e jornais literários e com teor
político: a revista Légitime Défense em 1932 de um grupo de antilhanos em Pais, sob orientação de
Ètienne Lero. Dois anos depois, surgiu o jornal L’etudiant Noirque seria o princípio da Negritude; a
poesia de Aimé Cesaire, “Cahier d’un Retour au Pays Natal”, que se considera o hino da Negritude e
do homem negro.
Paralelamente a esta origem diversificada, a Negritude teve vários significados de acordo com os seus
objectivos que são:
a) Negritude – Sofrimento e Revolta
Algumas da questões fundamentais, reflectia no processo de resistência, bem como a questão da
identidade. Visava restituir a África o seu orgulho do passado, afirmar as suas culturas, rejeitar a
assimilação que tanto contribuiu para sufocara sua personalidade. Além disso, também se pode resumir
em “identidade”, “fidelidade” e “solidariedade”.
b) Negritude – Política e Independência Nacional
Enquadra-se na luta de libertação nacional, para a conquista das independências dos povos africanos
dosregimes colonial e neocolonial. A criação de poema e outras manifestações artístico-culturais tornou-
se um acto político, pois expressavam a revolta contra a ordem colonial, imperialista e racista.
c) Negritude – Cultura e Humanismo
A problemática reflecte no repúdio ao ódio e a busca de soluções através do diálogo com as outras
culturas. O negro não tem a intensão nenhuma de insolar-se do resto do mundo, como algumas fontes
pretende convencer-nos. Pelo contrário, tem o objectivo de contribuir para a construção de uma
sociedade pluralista.Enfatizando tal sentimento, urge citar a famosa frase de Paul Sartre que sustenta
que “a Negritude tende a preparar a síntese ou realização do Humano numa sociedade sem raça.”
d) Negritude Antro-político- Revolução Socialista
Depois da revolução socialista de Outubro, na Rússia, muitos países africanos ascenderam ou
conquistaram a independência, e optaram por si desenvolver segundo a orientação socialista.
Procedimento que se tornou um erro porque a transposição de modelos de desenvolvimento da Europa à
África, constitui um fenómeno que não só veio a criar contradições no seio das próprias sociedades
africanas, como também,contribuiu para fragilidade das suas estruturas, cujas consequências se sentem
até hoje. Importa chamar a atenção para que não si volte a cair em erros idênticos.
e) Negritude – Motor do Desenvolvimento Humanitário
A Negritude reflecte a busca da africanidade, um convite de modo a imprimir uma nova dinâmica de
pensamento e de entendimento. O problema reside, em parte, em nós próprios, os africanos, pelo que
nada vale a política acusatória do colonialismo e outros sistemas nocivos à digna evolução da história
humana. Nós devemos voltar a nós mesmos.
Partindo do conhecimento de que fomos colonizados,aculturados, desprezados, pilhados, não se
afigura tarefa fácil, em virtude de termos assimilado o que nos ensinaram (fuga de nós mesmos). Impõe-
se à Negritude, o dever de buscar a africanidade, e discurso filosófico político apresente um novo
desafio, onde exaltação objectiva da condição de ser negro, actue como uma possibilidade de o negro
encontrar-se consigo mesmo, de se valorizar e de se impor para ser valorizado por outras comunidades.
Para Leopold Sédar Senghor, a negritude é ideia de descobrir os elementos típicos que constituem a
personalidade africana, a africanidade e sua autenticidade. ANegritude (Filosofia da Negritude),foi
primeira forma de rebelião contra a alienação cultural africana.ParaSenghor,a negritude era racismo
anti-racista; ao passo que Jean Paul Sartre definiu a negritude como Orfeu negro.
A Negritude lutava pela unidade e reconhecimento dos negros no mundo sob o ponto de vista
cultural.A etnofilosofia e a negritude preocupavam-se basicamente pela busca identidade
africana.Nalusofonia a Negritude, lutou pela revogação de todas as leis e regulamentos de excepção
contra os africanos.
7.4. Filosofia Profissional Académica e Crítica: A Africanidade da Filosofia
Os filósofos críticos da etnofilosofia recua- se a aceitar a abordagem etnofilosofica como sendo Filosofia
Africana porque no seu entender, reforçariam a ideia da diferença entre os africanos e europeus (a forma
inferior de fazer filosofia). Entre os seus representantes, destacam-se: Paulin Hountondji, Odera Oruga,
Kwasi Weredu, Marcien Towa, Eboussi Bouloga, Bzik Anyanwu, etc.
A ideia de filosofia africana deve ser aliada a um projecto de crítica e reflexão de africanos sobre os
problemas de África,pois:
- A Filosofia deve ter o mesmo significado em todas as culturas embora a matéria e o método baseasse na
cultura e na situação existente na sociedade onde o filósofo trabalhou ou opera; .
– A Filosofia Africana é apanágio exclusivo de filósofos africanos independentemente da área que
cultiva. Para o filosofo nigerianoBzik Anyanwu, a africanidade não reside na pertença do sujeito desta
filosofia à África, pois a Filosofia Africana pode ser cultivada por filósofos nativoa como de não nativos
de África. .- Para aos filósofos profissionais, o criticismo e o
argumento são características essências da de toda a Filosofia.
Porisso Hountondji, afirma que: .
- A filosofia começa onde a opinião e a sabedoria popular
terminam; .-A filosofia supõe a emergência do “ logos” e da escrita a
partir da realidade e do mito; .-Todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um
projecto europeu de demarcar a todos o custo a civilização africana da europeia.Os filósofos que encaram
a filosofia apartir do ponto de vista dopassado designam-se por etnofilosofo e são europeus;
.-Todos concordamos que a filosofia africana não pode nascer ex nihil (do nada),ela nasce da herança
cultural apartir de uma confrontação criativa das suas ideias com o presente e o futuro;-A africanidade da
Filosofia Africana só emerge apartir de uma actividade filosófica de discussão e crítica dos africano que
são filósofos.A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano; -A
Filosofia é uma empresa de um sujeito autónomo, enão totalmente imerso num grupo ou mundo.

8. A Filosofia Política Africana


Debate Histórico
Esta corrente é constituído de um grupo de escritores e intelectuais africanos que, sem serem
propriamente filósofos políticos no sentido moderno do termo- com que se apelidam pensadores como
Maquiavel ou Hobbes, Locke, Rousseau ou Montesquieu, entre outros, dedicaram-se a reflectir
sobre um regime de governo que fosse apropriado aos povos africanos, que respeitasse e
salvaguardasse os seus valores cultuais, entre outros assuntos. Na verdade, nos seus discursos, nos seus
artigos e nos seus livros, estes políticos africanos contemporâneos têm reflectido sobre o futuro dos
seus povos e têm dado expressão às aspirações das suas nações.
Os representantes da Filosofia Política Africana foram:Kwame Nkrumah,Sénghor,Julius
Nyerere,Kenneth Kaunda, Albert Luthuli, que se interessaram pelo futuro socioeconómico e
político de África.O socialismo foi o modelo de governação adoptado pelos países e povos africanos
depois das suas independências.Uma vez mais, excepção deve ser feita a Senghor, que além de política, e
poeta e poeta e filosofo por direito próprio.
Os principais representantes da filosofia política africana foram:NKrumah e Sénghor que lideraram dois
grupos e dois pontos de vista diferentes que chegaram a conciliar se:
a)Nkrumah defendia aindependência imediata dos estados africanos, na sua obra “African
Personality”, defende o espírito comunitário (consciencismo e o socialismo). .
*O mérito de Nkrumah, foi de ter idealizado aunidade africana.
b)Sénghor, defendia que o ideal era a independência gradual dos Estados africanos. Ele afirma que “a
alma negra e solidaria e essencialmente colectiva; a África e por natureza do seu povo socialista.”
Não obstante,estes escritores encontram-se numa situação politicamente privilegiada,pois, no meio do
povo predominantemente analfabeto ou sem educação, têm um horizonte muito mais amplo para a
criatividade política. Seus povos vêem-nos como mestres, figuras paternas e, como os sábios “filósofos-
reis” de Platão.
Posto que uma análise e uma crítica da Filosofia Política de qualquer um dos políticos escritores
mencionados cairia fora dos limites e do alcance deste capítulo, preferimos apresentar e desenvolver o
ponto de convergência de suas diferenças e enfoques, mormente, o socialismo.
Esta afirmação da teoria económica socialista tem duas razões fundamentais. Por um lado, o Socialismo
está enraizado em nosso próprio passado (africano), na sociedade tradicional que nos produz. O
Socialismo africano moderno pode extrair da sua herança tradicional o reconhecimento da sociedade
como uma extensão da unidade familiar.
Por outo lado, há nas tradições africanas uma concepção da riqueza como algo ao serviço da comunidade,
mais do que em proveito do individuo. Nenhum individuo deverá explorar o próximo sob argumento de
ser detentor de maior riqueza. O capitalismo nunca predominou verdadeiramente na sociedade tradicional
africana.
8.1 A Negritude versus Pan-africanismo
O Pan-africanismo – é uma teoria desenvolvida pelos africanos na diáspora americana,descendentes
dos africanos escravizados nas Américas e pessoas nascidas na África a partir dos meados do Séc. XX
como William Edward Burghardt DuBois eMarcus Garvey, Kwame NKrumah e Sénghor como
Filosofia Política Africana. O seu objectivo principal era a unidade política dos Estados Africanos. A
sua perspectiva englobava a federação dos países regionais autónomos e o seu enquadramento num
conjunto de Estado Unidos de África.
Pan-africanismo vem do Grego ‘‘pan’’ (toda) e africanismo (elemento africanos).O Pan-africanismo e a
Negritude defenderam a ideia de libertação dos africanos, serviam como meio de união dos africanos
no que se refere aos domíniospolítico e cultural, respectivamente.Eram diferentes na dominação mas
tinha os mesmos objectivos: .
a)A Negritude – reconhecimento dos negros no mundo,lutava pela unidade dos negros na visão
cultural.b)O Pan – africanismo –luta pela emancipação política de todas os africanos.Surgiu como união
e solidariedade entre os povos africanos. Objectivo principal era: a unidade política dos Estado como
africanos.
O primeiro Congresso do pan-africanismo foi em 1900, em Londres. Neste Congresso discutiram sobre:
- A protecção do africano da agressão colonial e respectiva submissão;
- África unida iria conquistar a sua terra e a sua personalidade;
- Lutar pelos direito de todos os africanos a serem tratados como homens ,
O quinto(5º) Congresso foi realizado em 1945, emManchester (Inglaterra). Onde Du Bois passou a
liderança para Kwame Nkrumah, Político africano.
9. A Filosofia dos Movimentos de Libertação

9.1. Renascimento Negro (Black Renaissance) e Renascimento Africano (African Renaissance)

Foi dentro do espírito emergente de revolta contra o colonialismo que surgiu o Black Renaissanca, cujo
fundador foi Du Bois. Esta corrente de pensamento teve repercussões sociais, que consistiam em
incutir no homem negro a ideia de ser igual aos brancos. Defendia que os negros não podiam
continuar a assistir passivamente à sua própria discriminaçãoe que deviam reagir peranteos tratamentos
desumanos.Du Boisafirmava: “que os brancos saibam que por cada porrada que o brancodera um
negro, nós lhesvamosdar duas;Porumnegro morto, nós vamos matar dois brancos.”

Azikiwe escreve na sua obra“Renascent Africa”: “Ensinai o africano que renasce a ser homem”." Foi no
âmbito do renascimento africano que se desenvolveu o conceito de personalidade africana. A
personalidade africana defende que existem características comuns, atributos essenciais e únicos que
fazem parte do ser de todos os africanos. A ideia de “African Personality” teve as suas raízes em
Edward Wilmont Blyden efoi retomada por Kwame Nkrumah.

Blyden fundou adignidade do africanona mesma linhado movimento negritude, procurandoprovar que a
raça negra tinha uma história e uma cultura das quais se podia orgulhar.
Blyden reflecte não sobre o passado do africano, mas sobre o que se deveria fazer em prol de um futuro
africano mais digno. Para ele, cada um de nós tem um dever especial a cumprir, umtrabalho não só
importante, como tambémnecessário, um trabalho a realizar pela raça a quepertencemos: lutar pela
própria individualidade para a mantere desenvolver. “Orai e amai a vossa raça. Se não fordes vós
mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não havereis deixado nada ao mundo. Não terei\
satisfação, utilidade, nada que atraia ou fascine os homens, porquecom a supressão da vossa
individualidade havereis perdido o vosso carácter distintivo. Vereis, então, que ter abdicado da vossa
personalidade significará ter abdicado da missão e da glóriaparticular à qual sois chamados” -
aconselha Blyden, notando que “seria de facto renunciar àvossa divina individualidade, o que seria o
pior dos suicídios".

Este pensador demonstra que os costumes e as instituições da África negra estão em consonânciacom
as necessidades dos africanos. Ademais, África pode dar um contributo ao mundo nas questões de
ordem espiritual. A civilização europeia é dura, individualista, competitiva, materialista e foi fundada
sobre o culto da ciência e da técnica. A civilização africana é doce e humana. Para Nkrumah, o homem
africano é um ser espiritual, dotado dedignidade, integridadeevalor intrínseco.

*******************************************************************************
Filosofia Política em África
2.4.1 Génese dos Nacionalismos
A Filosofia PolíticaAfricana está estreitamente ligada ao pan-africanismo. O pan-africanismo, alémde
lutarpelo reconhecimento dos negros no mundo, traçou, principalmente com Du Bois, linhas para uma
FilosofiaPolítica Africana.
Por Filosofia Africanaentende-se como conjunto de pensamentosrelativosàemancipação e ao
reconhecimento do homem negro, quer dentro do seu continente, quer fora dele. A
FilosofiaPolíticaAfricana contém o pensamento de vários autores e temcomo objectivo a
libertaçãofísicaepsíquica do jugo colonial do continente africano.
No 5.o Congresso Pan Africano, que teve lugar cm Manchester, em Inglaterra, em 1945, Du Bois Passou
o testemunho políticoà Nkrumah. Daquele momento em diante, asprincipaisfiguras da Filosofia Africana
seriam Nkrumah e Senghor.Estes dois homensesfrolaram-se por lançar as bases políticas dos Estados
africanos.
Kwame Nkrumah e Léopold Sedar Senghor lideraram dois grupos e dois pontos dc vista quenãochegaram
a conciliar-se: Nkrurnahdefendia a independênciaimediata dos Estadosafricanos, enquanto Senghor
acreditava que uma independência gradual dos Estadosseria o ideal.

A ideologia adoptada pelos Estadosafricanosfoi o socialismo, talvez pela influência do “conscieicismo”


de Nkrumah edeoutras conjunturas políticas. Nesta ideologia, hipertrofia-se o espíritocomunitário
doafricano, o que levou Nkrumah a postular o socialismo, comoprova o seguinte excertao: “O vulto
tradicional da África implica uma atitudeemrelação ao homem que nas suas manifestações sociais nao
pode deixar de ser classificada como socialista”.

O consciencismo constituiu uma autêntica defesa do materialismo, pois alguns africanos achavam-no
incompatívelcoma espiritualidade africana. Nkrumah defendiaque o ateísmo não era condição
indispensável da adesão ao marxismo, ou pelo menos ao materialismo. Por outro lado, pretendia mostrar
que o conteúdoessencial do socialismo, o igualitarismo, era conformeAs tradiq6cs socioculturais
africanas. O consciencismo pretendiaassegurar o desenvolvimento de cada individuo.

Nkrumah teve o mérito deser o promotor do conceito “African Personality”, tendo trabalhado bastante
para conduzir o seu país, o Gana, à independência. Com eleito, o Gana foi a primeira nação negro-
africana a ser independente.

Outros políticosde renome, como Senghor, Luís Cabral, Júlio Nyerere i.. rl(i.25 Laopold
SedarSetrshor.Nyerere e ,Agostinho Neto, aliaram-se tambem ao socialismo,tendo-o abordado do ponto
de vista da realidade africana, dando origem àquilo que se chama, com o pensamento de Nkrumah, o
socialismo africano. Senghor apoia o socialismo africano, defendendo que a alma negra é essencialmente
colectiva e solidarira,por isso, a África é, pornatureza,do seu povo, socialista.

O verdadeiro mérito deNkrumah foi o seu ideal de unidade africana. Concebida em 1953, por Mahjemout
Diop, a unidade africana baniria as fronteirastracadas arbitrariamente em Berlime traçaria novas fronteiras
mais racionais, de modo a estabelecer relacoes económicas entreasgrandes zonas de produçãoafricanas.
Nkrumah concebeu uma unidade africana politicamente organizadaque transformaria o continenteafricano
num só Estado, com um governo central, inspirado na constituiçãoamericana. Nkrumah estava convicto
de que os Estados africanos, considerados individualmente, não eram suficientementefortes para
competirem com as grandes potências do Ocidente. Segundo Nkrumah, esta fraqueza levava-os a procurar
a suasegurançaem acordos com as ex-potências coloniais ou com as potências neocoloniais. Nkrumah
partilhavao ponto de vista deDiopsobre a arbitrariedadecom que foram definidasasfronteiras, dividindo as
populações de uma mesma cultura em diferentesEstados, o que poderia a todo o momentooriginar
conflitosinterafricanos.

Na década de 1960, nasceram dois grupos: umdeMonróvia (Califórnia, EUA) e outro


deCasablanca(Marrocos). O grupo de Monróvia dependia a criação dos Estados Unidos da Áfricae o de
Casablanca defendia a criação das nações e assim fundou a OUA - Organização de Unidade Africana.
Este último grupo acabou por ganhar a batalha.

A OUA, criada a 25 de Maio de 1963, emAddis Abeba, Etiópia, através da suaassinatura da sua
Constituição por representantes de 32 governos de paísesafricanosindependentes, tinha os seguintes
objectivos:
. Promover a unidade e a solidariedadeentreos Estadosafricanos;
. Coordenar e intensificar a cooperação entre os Estados africanos, no sentido cie proporcionar uma vida
melhor aos povos de África;
. Defendera soberania, integridadeterritorial c independênciados Estados africanos (os Estados -membros
não deviam imiscuir-se nos assuntos interno);
. Erradicar todas as formas de colonialismo em África;
. Promover a cooperaçãointernacional, respeitando a Carta das Nações Unidas e a DeclaraçãoUniversal
dos DireitosHumanos;
. Coordenare harmonizar as políticas dos Estados-membros nas esferaspolítica, diplomática, económica,
educacional, cultural,da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de defesa.

Todavia, alguns críticoscondenaram o carácterfechado dos Estados-membrosda OUA, uma vez que nela
não havia inibição de comportamentos ditatoriais, em nome da condição de não se intrometerem nos
assuntos internos. Este facto levou a que ocorressem muitos golpes deEstado em África, concretamente
no Gana, com Nkrumah, no Congo e emoutros países africanos.

A partir da década de 1960, os Estados africanos começaram a ganhar a sua independência, aderindo ao
socialismo africano, à luz dasfilosofias dos políticos africanos quelideravam o processo.

*A característica fundamental da Filosofia Política Africana é lutar pela liberdade política das nações.
Para tal, os Estados africanos cooperaram uns com os outros.

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