II Unidade A Convivencia Politica Entre
II Unidade A Convivencia Politica Entre
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2.2. Estado/Nação
a) Estado – é o organismo político-administrativo de uma nação. É dirigido por um governo próprio e
constitui-se como uma pessoa jurídica de direito público internacionalmente reconhecido. O Estado é o
conjunto de todos os elementos que envolvem uma sociedade organizada: a população, território,
governantes, a constituição, a soberania.
b) Nação – é a comunidade natural de homens reunidos no mesmo território com mesma origem, os
costumes e a língua (no sentido clássico).
c) Sociedade – é o Estado ou a união dos homens ou dos animais que vivem sob as mesmas leis, ou pela
mesma origem para atingir os mesmos fins.
d)Soberania – é uma autoridade superior que não pode ser limitada por nenhum poder, e o poder
absoluto e perfeito de um a república que goza de liberdade e poder para atingir o bem comum.
2.2.1.Elementos do Estado
A política implica o poder e este poder é exercido numa sociedade ou Estado com toda sua complexidade.
a) População – é o número de pessoas que habitam num determinado território. É designado de povo, no
sentido natural – a massa popular, multidão; e no sentido político – é a população de um Estado que
obedece as mesmas leis.
b) Governo – é a acção de dirigir um Estado. É o conjunto de pessoas com cargos oficiais no Estado. Aí
encontramos os governantes e os governados.
b.1. Governante – é qualquer funcionário publico que assume cargos de direcção que dirige uma
instituição pública. Segundo Pedro A. Neves (1977), “os governantes são aqueles que definem a política
e linhas de orientação, impõe normalmente a sua vontade como mandatários legitimados pelo sufrágio
universal.”
b.2. Governados- são todos aqueles que são dirigidos, que obedecem as leis traçadas, normas e lutam
para atingir o mesmo fim.
c) Constituição – é a Lei Magna (Lei mãe) de onde derivam as leis particulares de um país, a lei
fundamental de um Estado. É a estrutura de uma comunidade política organizada, é a ordem necessária
que deriva do poder soberano e dos órgãos que o exercem.
d) Território – é o espaço geográfico no qual o Estado exerce seu poder de governo. Um território é
constituído por espaço aéreo, mar territorial, superfície terrestre e pelo subsolo.
2.2.2. A Soberania Moçambicana: Símbolos e Órgãos Nacionais
A República de Moçambique é um Estado independente reconhecido internacionalmente à 25 de Junho
de 1975, livre do regime colonial português.
Símbolos Nacionais da República de Moçambique (o Emblema, a Bandeira e o Hino Nacional).
a)O Emblema Nacional - contém como elementos centrais: um livro, uma arma e uma enxada dispostos
em cima do mapa de Moçambique que representam: o livro (a educação); a arma (a luta de resistência ao
colonialismo, a Luta Armada de Libertação Nacional e a defesa da Soberania); a enxada (o campesinato);
o sol nascente (a nova vida em construção); a roda dentada (a industria e o operariado); as plantas de
milho e de cana-de-açúcar (a riqueza agrícola) e a estrela (representa a solidariedade entre os povos).
b)A Bandeira Nacional – tem cinco cores: Vermelha (representa a luta de resistência ao colonialismo; a
Luta Armada de Libertação Nacional e a defesa da soberania); a Preta (o continente africano); Verde (a
riqueza do solo); Amarela-dourada (a riqueza do subsolo) e a Branca (a paz).
Junto a talha, encontra-se um triângulo isósceles de cor vermelha dentro do qual há uma estrela, a arma
AK-47, o livro e a enxada, com os mesmos significados da bandeira.
c) O Hino Nacional – chama-se “Pátria Amada”.
2.2.3. Antigos Chefes do Estado Moçambicano
a)Samora Moisés Machel – torna oprimeiro Presidente da República Popular de Moçambique
independente desde 1975, e morre a 06/11/1986 em Mbuzine, na África do Sul, num acidente de aviação.
b)Joaquim Alberto Chissano –ascendeu como segundo Presidente da República Popular de
Moçambique de 06/11/1986 à 2004. É de recordar que com a nova Constituição (a segunda) de 1990,
Moçambique torna um país multipartidário e democrático, e Joaquim Chissano é eleito comoprimeiro
Presidente da República de Moçambiquedemocrático (1994 - 2004).
c) Armando Emílio Guebuza –segundo Presidente da República de Moçambique democrático (2005 -
2014).
d)Actualmente, Moçambique é governado pelo Presidente Felipe Jacinto Nyusi.Cada presidente eleito
tem pelo direito consagrado na Constituição de cinco (5) anos num mandato, podendo fazer dez (10)
anos.
A génese da ideia moderna dos Direito Humanos encontra-se na Magna Charta Libertatum de 1215, na
Inglaterra, quando os barões impuseram ao rei um julgamento legal depois de uma detenção. O rei viu-
se obrigado a não permitir a detenção ou a punição ilegal de qualquer homem livre.
A Petition of Rights de 1628, a Habbeas Corpus Amendment Act de 1679 e a Bill of Rights de 1689
deram continuidade a protecção do Homem contra a usurpaçãoilegal dos seus direitos pelo Estado.
a.1. Na Petition of Rights, exigiram-se e instituíram-se: - A abolição dos impostos arbitrários; - A
abolição das detençõesarbitrárias;
- A abolição de tribunais militares excepcionais.
a.2. A Habbeas Corpus Act– concedeu a protecção das leis perante a subtracção da liberdade do Homem
e continha uma série de prescrições sobre procedimentos legais. O juiz tinha de se decidir dentro de 48
horas sobre a duração de uma detenção.
a.3. Com a Bill of Rightspromulgada pelo parlamento inglês, fundou-se na Inglaterra soberania do
parlamento.
O rei tinha de reconhecer os seguintes direitos: - Liberdade de opinião no parlamento (o parlamento
gozava ainda de imunidade); - Eleições livres dos membros do parlamento; - Julgamento justo e público
das pessoas acusadas de crime, por um corpo de jurados; - Remetimento das petições ao rei, abolição dos
castigos bárbaros e redução das multas excessivamente altas.
a.4. Com a Settlement Act de 1700, foi concedida a independência judiciária, com a qual se executava um
largo passo em direcção ao Estado de Direito.
b) A luta pelos Direitos Humanos na América
As teorias de John Locke e o exemplo da Carta Inglesa dos Direitos, influenciaram o mundo ocidental.
Os ingleses que haviam emigrado para a América criaram a sua própria democracia, baseadas nas
ideias desenvolvidas na Inglaterra. Esses colonos ingleses recorreram especialmente a filosofia de John
Locke quando tiveram de se defender da tutela do Parlamento de Londres. Eles consolidaram essas ideias
na Bill of Rights do Estado de Virgínia.
A Bill ofRights de Virgínia continha aspectos como os direitos inatos à vida, à liberdade e à
propriedade e determinações sobre a separação de poderes, eleições democráticas e garantia de
protecção legal dos cidadãos perante a privação da liberdade. No mesmo documento, foram também
garantidas a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa e o direito do povo à reforma da Constituição.
Na história das constituições, a ideia de que os Direitos Humanos resultam da natureza humana foi pela
primeira vez exprimida na Bill of Rights de Virgínia, com as seguintes ideias: “Todos os homens são por
natureza igualmente livres e independentes, e detentores determinados direitos inerentes, dos quais, ao
ingressarem na sociedade, não podem por nenhum pacto despojas ou excluir a sua posterioridade, ou
seja, o gozo da vida e da liberdade, com os meios de aquisição e posse da propriedade, da busca e
obtenção da felicidade.”
*Moçambique tem uma experiência na matéria constitucional como o esforço da observância e
implementação dos Direitos Humanos, tais como: .- A
Constituição de 1975; .
- A Constituição de 1990; . - O Acordo Geral de Paz de 1992;
.- As primeiras eleições multipartidárias de 1994; . - Conselho
Constitucional: a sua organização, a sua composição e as suas funções; . - A constituição
de 2004; .
- A existência de muitos partidos políticos em Moçambique.
Portanto, desde a Independência, Moçambique teve trêsConstituições da República: .
-As Constituiçõesde 1975, de 1990 e de 2004
2.3.4. Estado de Direito e Suas Funções
Estado de Direito – é aquele em que o poder é exercido segundo a lei. Todos os membros desta
sociedade estão submetidos na mesma lei a respeito pela hierarquia das normas, separação de poderes e
pelos direitos fundamentais.
Segundo artigo 3 da Constituição da República de Moçambique(edição 2008) define “A República de
Moçambique é um Estado de direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política
democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem.”
A Constituição moçambicana, no artigo 2 define ainda, para além de direitos e deveres, a soberania e
símbolos nacionais: .“ 1. A soberania reside no povo.
. 2. Opovo moçambicano exerce a soberania segundo as formas fixadas na
Constituição. . 3. O Estado subordina-se a Constituição e funda-se na
legalidade...”
Uma das garantis de Estado do Direito é a divisão do poder:
a)Poder legislativo – formula e aprova as leis, está ligado ao parlamento que é a expressão da vontade do
povo. . b)Poder executivo ou administrativo– executa as
leis. É exercido a partir do Presidente da República, seus ministros, governadores até ao ultimo homem
com o poder de direcção reconhecida. c)Poder judiciário – os juristas aplicam as leis ocupando-
se do Direito e da Justiça. Julgam todos aqueles que não agirem em conformidade com as leis nos
Tribunais através dos juízes de direito ou singulares ou por magistrados.
*No Estado de Direito ninguém está acima da lei. A lei reina para todos os indivíduos.
2.3.4.1. Funções do Estado
O Estado tem o dever de cuidar os seus cidadãos e estes também têm suas obrigações para o Estado. De
modo geral, existem três (3) funções do Estado: a segurança, justiça e bem-estar - condição física e
psicológica que caracteriza o equilíbrio das actividades orgânicas e um correto ajustamento do indivíduo
ao seu meio ambiente (habitat).
A teoria de Duguit acolhe certo consenso no seio do EstadoMoçambicano. Ele define três (3) funções
básicas para o Estado, nomeadamente: .
a)Função legislativa – consiste na prática dos actos-regra ou regulamentação de toda a Filosofia da vida
da sociedade, e é exercida pelo Parlamento ou Assembleia Nacional em alguns países.
b)Função administrativa ou executiva – normalmente é exercida pelo governo, consiste em assegurar o
funcionamento dos serviços públicos.
c)Função jurisdicional – consiste na resolução pelo Estado de uma gestão de direito que lhe é submetida
e na decisão que assegura a eficácia dessa resolução.
As trêsfunçõesnão estabelecem uma fronteira rígida entre si no seu funcionamento, pois, o artigo134 da
Constituição de Moçambique (2008) dita o seguinte: “Os órgãos de soberania assentam no princípio de
separação e interdependência de poderes consagrados na constituição e devem obediência à constituição
e às leis”.
d) Formas de Governo
A melhor forma de governo segundo Platão, é a monarquia sob comando de um filósofo-rei, que
governa a polis segundo a justiça e preservaria a sua unidade.
A sua segunda opção, seria a aristocracia, composto por filósofos e guerreiros. Segundo Platão, a
democracia é o pior das formas de governos, porque se o poder se estiver nas mãos do povo, e sendo
este incapaz de conhecer a ciência política facilita através de demagogia o aparecimento da tirania.
3. Aristóteles
a) Pensamento Político: Finalidade do Estado
A finalidade do Estado consiste em assegurar aos homens não só a viver ou a vida, mas o bem-viver, a
vida feliz enquanto vida ordenada para a perfeição; é facilitar a consecução da felicidade, tornar
possível a realização completa de todas as capacidades humanas.
b) Origem do Estado
A origem do Estado segundo Aristóteles é natural, pois para Aristóteles,o homem é por natureza um
animal políticoque se distingue dos outros animais, não porque apenas vive em sociedade, mas vive
numa sociedade politicamente organizada, um animal cívico e educado, que se integra numa ”polis”
(cidade) que resultou de uma civilização contínua da espécie humana da família, tribo, aldeia até a cidade
(Estado).
c) Formas de Governo
Aristótelesdistingue três espécies de constituições segundo o número dos governantes: a)
Monarquia ou Tirania – governo de um só homem;
b) Aristocracia ou Oligarquia – governo de poucos homens, e;
c) A República (Politeia) ou Democracia – governo de muitos homens.
Estes governos agem de diferentes formas em defesa do bem-comum ou em defesa de interessesprivados
resultando as três (3) formas de possíveis governos rectos e três (3) de governos corruptos:
Contrariamente ao seu mestre (Platão), Aristóteles admite que a melhor forma de governo possa variar
conforme as épocas e povos. Para Aristóteles, a Politeia ou a República é a melhor forma de governo.
Regimes Políticos
4. Democracia Moçambicana
Moçambique é um país democrático, pois goza de uma Democracia Representativa. A democracia
define-se como governo do povo para povo, feito pelos representantes do povo.
A Democracia Representativa Moçambicana é parlamentar de onde deriva uma assembleia de
homens escolhidos cujas deliberações saem decisões eleitorais no seu todo, pois as vontades devem ser
respeitadas e garantidas pela lei. Para que o parlamento seja democrático deve respeitar três (3)
princípios fundamentais: .
a)O princípio de tolerância –o Estado deve garantir a expressão livre de crenças políticas, filosóficas,
religiosas, mas que não atentem contra a ordem pública; .
b)O princípio de separação de poderes – o poder legislativo, executivo e o poder judiciário; e .
c)O princípio de justiça – não fazer ao outro o que não gostaria de ser feito.
Segundo o artigo 3da Constituição da República de Moçambique(edição 2008), define “A República
de Moçambique é um Estado de direito, baseado no pluralismo de expressão, na organização política
democrática, no respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais do Homem”.
III UNIDADE: A FILOSOFIA AFRICANA
3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DO DEBATE SOBRE A FILOSOFIA AFRICANA
1. Questões históricas
Como ponto de partida é: se se pode falar da Filosofia africana ou da Filosofia em África?
Antes da obra de Placide Tempels “Bantu Philosofhy”, o africano era visto como impossível de filosofar
devido a mentalidade construída pelos europeus sobre o negro ao longo da história, o que levou aos
pensadores africanos, com destaque para Cheik Anta Diop, chamarem de “mito da inferioridade negra”.
2. Origem do mito da inferioridade do negro
A ideia de uma filosofia Africana no campo filosófico, apareceu muito tarde e sob varias designações. A
obra do missionário suíço no (ex-)Zaire “Filosofia Bantu” do padre Placide Tempels, foi a pioneira, cuja
tradução francesa apareceu em 1945.
O povo africano foi vítima da colonização europeia, com as viagens apelidadas de “viagens
descobrimentos”, os europeus conheceram outros povos que foram julgados em comparação com os usos
e costumes da cultura ocidental. Os colonizadores denegriram a personalidade dos negros. Assim, os
negros ao serem colonizados, perderam o seu estatuto de “pessoa”.
O escritor africano Cheik Anta Diop, chama a isso de “mito da inferioridade negra”, ideia esta
partilhada por muitos autores africanos e europeus. Para Ali Mazrui (1933), a humilhação negra foi
marcada por três seguintes acontecimentos: o tráfico dos escravos, a colonização europeia e a
discriminação racial.
Os negros africanos foram reduzidos a condição de escravos e por cima os europeus socorreram-se desde
da Teologia às diversas ciências para inferiorizar o negro e superiorizar o branco europeu. Portanto, os
africanos foram considerados como povos desprovidos de qualquer racionalidade e incapazes de
aceder qualquer reflexão filosófica.
Deste modo, o Ocidente criou uma antropologia triunfalista que servia de meio ou credo para esmagar os
outros povos: - Na Teologia cristã – o negro é símbolo de maldição, descendente de Cham que viu a
nudez do pai; - Para Kant, o africano é um povo sem interesse;
- Para Rousseau, os africanos são bons selvagens; - Para Montesquieu, os africanos são povos sem leis
e sem humanidade; - Para Voltaire, o povo
mais alto é o francês e o mais baixo é o africano; - Para Hegel, o
africano é o povo sem história e são desprovidos de humanidade; - Para
David Hume, o africano é um povo não civilizado; - ParaLévy-Brhul, os africano têm uma
mentalidade primitiva, pré-lógica (morta) e não conceptual; - Para Tempels, o africano tem uma lógica
menor; - Os antropólogos Morgan e
Taylor, sustentam que a África é uma sociedade morta.
Segundo Lecrec, na sua obra “Crítica da Antrpologia”, este tipo de antropologia é classificado como
um verdadeiro “vandalismo” cultural, narcisista, agressivo e destruidor, pois mais tarde, as novas
abordagens das ciências sociais e humanas reconheceram que toda a cultura representa uma
determinada civilização independentemente da sua situação geográfica, histórica, social e económica.
Portanto, a Filosofia Africana vem recuperara auto-estima que o homem negro tinha perdido com o
tratamento esclavagista. Assim, os pensadores (filósofos) africanos desenvolveram debates acesos sobre a
existência ou não da Filosofia Africana.
3. Reacção à Atitude Ocidental
As reacções vieram de diferentes partes do mundo, e dividem-se entre o mundo ocidental e o africano,
quanto à sua
origem: . a)Antropólogos
ocidentais – Edward Taylor e Lewis Morgan afirmam que o conceito de “ideias universais” está na
natureza do Homem. A razão é igual a todos os Homens. O desenvolvimento das ideias melhorou a vida
dos ocidentais, mas retardou a vida de algumas pessoas. Por isso, a ideia de que o africano não pode ter
um pensamento filosófico por estar desprovido de ideias universais, é duvidosa.
b)Areacção dos africanos –a reacção dos africanos contra a visão eurocêntrica pode-se localizar entre o
tempo da escravatura no século XV e XVI. A primeira reacção foi marcada por teor reivindicativo das
canções dos escravos nos trabalhos forçados e cultos religiosos nas igrejas, chamados work songs e
gospel spirituals, nas colónias do Sul da América.
Aí, o negro afro-americano apresentava-se como guerreiro da liberdade, cuja terra o Norte onde já fora
abolida a escravatura. Segundo José Castiano, na sua obra Referenciais da Filosofia Africana: em busca
da intersubjectivação (2010, 125) diz que “…a presença africana no país ´onde tudo é possível’ (EUA)
foi marcada pela sua escravatura e, intrinsecamente, pela luta para alcançar a liberdade individual e
colectiva dos negros. Ser uma ‘pessoa livre’ era um objectivo básico dos negros por volta de 1850.
Frederick Douglass é talvez o escravo mais conhecido na luta pela abolição da escravatura que
eternizou as suas amargas experiências em livro.”
4. Os Movimentos de Mobilização dos Negros nos EUA
A reacçãosistemática em busca de liberdade dos negros contra o racismo, veio dos negros da diáspora
afro-americanos nos EUA em 1880 e o primeiro quinto do século XX, por os intelectuais como Booker
T. Washington, W.E.B. Du Duboise o Jamaicano Marcus Garvey.
a)Para Booker Washington (desenvolvimento segregado), a melhor forma de combater o racismo
branco e garantir a emancipação política dos negros residia na emancipação económica, só acumulando
riquezas, é que os negros conquistariam o respeito e reconhecimento dos brancos. Assim apelava os
negros a apostarem pela educação técnico-profissional. Esta tese foi conhecida como movimento
segregado, mas os seus críticos acusaram-na de “acomodacionista” uma vez que apelava os negros a se
conformarem com a situação da discriminação.
b) Para seu discípulo, Du Bois (movimento do renascimento negro), pelo contrario, defendia a
integração política e social dos negros e todos os afro-descendentes na “cidadania americana” em
igualdade de circunstâncias que os brancos, através da lata pela restauração da auto-estima e
identidade do próprio negro. Para o efeito, Du Bois religava toda a raça negra à África, àquela África
gloriosa mas do passado, dos antigos impérios e reinos submergidos pela exploração europeia: Egipto,
Gana, Mwenemutapa, etc.
c)Ao contrário do movimento do Du Bois, o jamaicano Marcus Garvey (back to África moviment ou
Regresso à África) criou um movimento rival e com forte aceitação no seio das camadas menos
escolarizadas, que apelava ao regresso á África como a única forma de conquistar a emancipação do
negro ante o racismo branco. Contrariamente a Du Bois, Garvey estava convencido de que o negro
nunca conseguiria o reconhecimento e igualdade dos brancos no seio da sociedade norte-americana bem
como em todos os continentes originariamente brancos.
Garvey, apelava o retorno dos negros de todo o mundo para a África, sua terra natal, continente do
Homem negro, e em contrapartida a expulsão de todo branco da África para os seus continentes.Só
assim, o Homem branco, forçado pelas necessidades de manter a sua economia, estabeleceria novas
relações com a África em pé de igualdade.
Portanto, Du Bois e Garvey procuraram construir as bases da dignidade do negro fazendo referência a
África, ao seu passado histórico e cultural. Estes movimentos americanos influenciaram fortemente nos
jovens africanos em formação nas universidades europeias e a reacção dos africanos não tardou chegar:
a) Por um lado, surgimento de movimentos como a Negritude por obra de Aimé Cesaire, Leo Damas
e Léopold Sédar Senghor influenciados por escritores afro-americanos; .
b)Por outro, pela influência e direcção de Du Bois, nasceu o pensamento político com a missão de pensar
na evolução económica e social do africano, isso sob acção de intelectuais como George Padmore,
NnambiAzikiwe, Kwame Nhrumah, Jomo Kenyatta, entre outro.
Henry Olela, defende que a África foi conhecida na Grécia pelos seus grandes impérios como: Sudanês,
Etíope, Egípcio, etc. pelos seus grandes níveis de organização e poder artístico e filosófico, assim
acivilização africanadevia ser superior em relação a muitas civilizações do mundo.
5. Como esta civilização ficou para trás, em relação a muitas civilizações?
Actualmente,muitos historiadores apontam para três factos da origem desse
atraso: . a) A ignorância dos próprios africanos em relação aos factos históricos;
. b)Possível caso da descriminação racial;e,.c) A necessidade
do reconhecimento dos sistemas de pensamentos como formas do seu pensamento filosófico.
A insuficiência do pensamento Senghor, Olela e James na sua missão, apenas despertaram a visão contra
o pensamento do Hegel, Lévy-Bruhl, mas inauguraram uma nova forma de pensar a causa africana por
vários pensadores, como Placide Tempels, Alexi Kagame, John Mbiti, e seus críticos Paulin
Hountondji, Kwasi Wiredu, Odera Oruka, Kwame Nkrumah entre outros.
6. O Estatuto da Oralidade e Filosofia em África
Uma das questões mais discutidas entre os pensadores africanos é a questão do estatuto da oralidade
tradicional africana. A questão é: Podem considerar-se filosóficos os provérbios, contos tradicionais,
dizeres dos sábios africanos, entre outros? Qual é a função dos filósofos educados profissionalmente para
estes dizeres e provérbios tradicionais?
Hoje entre os filósofos africanos, parece existir duas escolas básicas de pensamento acerca da Filosofia
Africana:
a)A primeira escola, sustenta que a Filosofia Africana é um pensamento especulativo que subjaz nos
provérbios, nas máximas, nos costumes, etc., que os africanos de hoje herdaram dos seus antepassados
através da tradição oral. Portanto, a função do filósofo africano no que se refere à Filosofia Africana, é a
de coleccionar, interpretar e difundir os provérbios, contos folclóricos, mitos assim como outro
material deste tipo. O representante mais destacado desta escola é John Mbiti, autor do livro “African
Religions and Philosophy, 1969”.
Outra questão que os filósofos africanos ainda têm debatido é: em África, embora exista Filosofia, não
há filósofos, pois a Filosofia em África é integralmente colectiva, comunal e não uma actividade
individual.
b)A segunda escola, sustenta que hoje em dia, a Filosofia Africana ocupa-se também dos
desenvolvimentos modernos no conhecimento e na reflexão. Defende ainda que a Filosofia Africana é
o resultado do pensamento abstracto de pensadores africanos individuais, tradicionais como modernos. É
uma reflexão racional e crítica sobre as ideias e os princípios da vida humana e o seu ambiente,
acentuando a importância do debate e a inevitabilidade do pluralismo.
Paulin Hountondji, representante desta escola, no seu livro “African Philosophy, Myth and Reality,
1974” dá enfâse a escrita na criação de uma filosofia moderna, segundo ele, a Filosofia Africana é um
tipo de literatura produzida por africanos e que versa sobre os problemas dos africanos com aspecto
crítico e racional da filosofia. Portanto, os provérbios, máximas e contos tradicionais contêm uma certa
quantidade de conceitos filosóficos, por isso, chama a essa literatura filosófica de etnofilosofia.
Um elemento importante para Hountondji é de ele não conceber as obras etnofilosóficas sobre visões
tradicionais africanas como filosóficas, a menos elaboradas por africanos. Assim, as obras “Bantu
Philosophy”, de Placide Tempels e “African Religions and Philosophy”, de Mbiti, pertencem ao grupo
de obras etnofilosóficas.
No entanto, só esta última pode considerar-se parte da Filosofia Africana. Em Filosofia, um problema
pode ser universal, por isso, uma obra filosófica de um africano não pode versar exclusivamente um
problema africano. Com este pensar, Hountondji recebeu certas criticas:
Um dos seus críticos, foi Odera Oruga (queniano), defende que, desde que um escrito se ajuste a
organizadamente à tradição africana de um país ou região, o mesmo pode considerar-se parte da tradição
filosófica independentemente da nacionalidade do autor, isto é, a Filosofia Africana será o produto dos
pensadores africanos, sem excluir a participação de pensadores não africanos.
Oruga dá muita importância na Filosofia Africano os sábios tradicionais vivos, os que estão destinados
a converter-se em filósofos pela sua racionalidade, onde um filósofo investigador de formação
profissional pode extrair deles informações e redigi-las em forma de literatura africana. Por este facto, a
noção da Filosofia Africana como corpo de pensamento colectivo, é nula e inadequada.
Na visão de Kwasi Wiredu, filósofo queniano, o pensamento tradicional africano contém elementos que
são filosóficos que tentam dar resposta a algumas das interrogações da vida do Homem e do mundo.
Perguntar a não existência da Filosofia africana seria uma demonstração extraordinária duma ignorância
ou falta da capacidade de reflexão.
7. Temas e Correntes da Filosofia Africana
A Filosofia Africana não constitui um corpus com estrutura já acabada e aceite por unanimidade por
todos os seus pensadores devido a falta de consenso entre as correntes que constituem a sua história. O
filósofo queniano Odera Oruga privilegia quatro correntes: Etnofilosofia, Sagacidade Filosófica,
Filosofia Cultural e Filosofia Profissional eAcadémica, que resultam e pertencem a períodos históricos
e interesses diferentes.
As correntes como a “Etnofilosofia” e a “Sagacidade Filosófica” procuram mostrar que os povos
africanos possuem um pensar próprio, uma sabedoria que orienta a sua vida, é digna de nome
“filosofia”. As ouras, como a “Negritude” (quer como movimento cultural quer como político) e a
“Filosofia Profissional”reflectem sobre a autodeterminação política dos povoa africanos.
7.1. A Etnofilosofia
Etnofilosofia – é uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas espelham a
racionalidade do africano, podendo estas serem consideradas Filosofia Africana: são os mitos,
provérbios, rituais, as lendas, crenças, contos, máximas, linguagens africanas.
Assim, como defendemos etnofilósofo tais comos:- Placides Tempels na sua obra “Bantu
Philosophy”,traduzida em francês em 1945;. - Alexis Kagamenas suas obras “La
Philosophie Bantoe Ruandaise de l’être” de 1956 e“La Philosophie Bantu Compareé” de1976;
. - John Mbitina sua obra “African Religions and Philosophy” de 1969;
. -
D. G. Parider, na sua obra “African Traditional Religion”; .
- M. Fortesna sua obra “African Systems of Thought”, .
– As obras de Cheik Anti Diop, de Marcel Griaule, de Vicente Mulagee de outros.Tudo isso, trata-se
do “grito” de africanos e africanistas pelo reconhecimento do negro como homem.
Osetnofilósofos defendem que toda a Filosofia é uma Filosofia cultural,isto é,ninguémfaz
Filosofiasemsebasear em alguma cultura. ParaBrizAnyanw,a missão dofilósofoafricano écompreendere
explicarosprincípiossobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.
Toda via, as suas pesquisas, que se apelidaram de Filosofia Africana, foram alvos de severas críticas,
principalmente pelas seguintes razões:
1ª - As abordagens feitas por tais intelectuais descreviam, na sua maioria, práticas habituais
dosafricanos, afirmando-se como Filosofia africana.
2ª- Estes estudos, quando eram feitos por africanistas nãoafricanos,denegriam o africano.O sacerdote
beiga Placide Tempels, por exemplo, dizia que o africano tinha uma lógica menor.
3a- Uma simplescatalogação de mitos, crenças eprovérbios considerava-se Filosofiaafricana.
4ª- Estes estudiosos abordavam temas relativos a etnias africanas. Alexis Kagame, por exemplo
inspirando se na Fi1osofa aristotélica, escreveu uma obra intitulada “A Filosofia Bantu-Ruandês
doSer”,onde desenvolvia a sua reflexão, trazendo á tona ascategorias aristotélicas do ser,atravésda analise
gramatical rigorosadas estruturas 1inguísticas. A partir desta obra,vários estudantes africanos
defenderam as suas teses, cada um deles com a filosofiabantuda sua línguavernácula.
Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sóque esta é diferente na forma e no conteúdo da
Filosofia europeia.
Por estas e outras razões, os críticos opuseram se à existência de uma Filosofia africana. Contudo, não
podemos desprezar Tempels, pois a sua abordagem tinha como fim o reconhecimento do negrocomo
homem pelos colonizadores. Por conseguinte, os seus estudos contribuíram bastante para a redefinição do
relacionamento entre o Ocidente e o povo negro.
John Mbiti – na sua obra “AfricanReligions and Philosofhy, 1969” diz que a Filosofia africana é um
pensamento especulativo que subjaz nos provérbios, nas máximas, nos costumes, nas lendas, nos mitos
folclóricos. Mbiti considera que a função do filósofo africano, é de coleccionar, interpretar e difundir a
Filosofia Africana.
Em suma, a Etnofilosofia -é uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas
espelham a racionalidade do africano, podendo estas ser consideradas Filosofia africana (os mitos,
provérbios, rituais, as lendas, crenças, contos, máximas, linguagens africanas).
Sage (quer em francês, quer em inglês) designa a pessoa que cultiva a rectidão do espírito, o bom senso
nos seus juízos e comportamento, pessoa prudente, em fim, sábia. Assim, sagaz - diz-se de quem possui
ou treina aagudeza de espírito para descobrir com prontidão a explicação de coisas obscuras.
Segundo alguns antropólogos e sociólogos,em cada cultural africana existe pessoas com essa agudeza
de espírito e bom senso que guiam o seu pensamento e juízo pelo poder de raciocínio crítico e intuição
individuais e não pelo saber consensual do seu povo.Tais sábios –que dão respostas racionais e com
um certo nível crítico-são dignos da designação de filósofos africanos e as suas reflexões de serem
reconhecidos como filosóficas, embora seja orais.
Segundo os que advogam esta corrente, tais sábios, na sua maioria iletrados e não escolarizados são
reconhecidos como sábios nas suas comunidades étnicas e são interpelados como conselheiros em
relação a qualquer problema. A originalidade das suas reflexões é reconhecida pela comunidade inteira.
Em suma, esta corrente implicitamente rejeita aproximação holística da filosofia africana e defende a
autonomia individual da sabedoria dos sábios africanos. A tarefa que cabe aos intelectuais
africanosconsiste em identificar tais sábios nas diversas comunidades e registar por escrito as suas
reflexões. O objectivo é mostrar que em áfrica:
- Há pensadores críticos independentes que desenvolvem as suas reflexões pelo exercício individual da
razão e critica numa linha independente quer dos mitos e crenças populares da sua comunidade de
pertença quer de uma eventual influência de culturas europeias e asiáticas (aliás, por não serem
escolarizados, nunca conheceram essa influência). Pelo contrário, esses pensadores usaram a cultura do
seu povo como o único ponto de referência das suas.
- A escrita não e condição necessária para que se considere uma reflexão como filosófica.
7.3. A Negritude (A Filosofia cultural africana)
São conhecidos como fundadores da negritude: Aimé Césaire (antilhano),Leopold Sédar Senghor
(senegalês) e Léon Gontran Damas (guianês).Apaternidade do termo “negritude” é um grande mérito
atribuído ao Aimé Césaire. A Negritude insere-se no espírito pan-africanistada união e solidariedade
entre os africanos. O conceito de Negritude passou a ser utilizado pelos escritores africanos a partir dos
anos trinta, como reacção à rigorosa tentativa de assimilação do poder da colonização francesa. Como
diria Paul Sartre, que a Negritude aparece como tempo fraco duma progressão dialéctica, contra a
afirmação, teórica e prática, da supremacia do branco.
A Negritude nasceu pelo esforço emancipatório da comunidade negra radicadaem
França.Anegritudepretendia a união de todos negros,a ideia de unidade africana sob a forma
cultural,surge como resposta ao funcionalismo que defendeu o relativismo cultural (a corrente
relativista) que impôs como normas o respeito pela diferença, a tolerância,a crença e aceitação na
pluralidade de valores.
Neste âmbito, a Negritude distingue-se como movimento cultural (que envolve a literatura, a arte, a
dança do homem negro), por outro lado, a Negritude foi como movimento de cariz político cujas origens
apontam ao pan-africanismo.
Os maiores defensores da Negritude foram: Césaire, Senghor e Damasque resumiram o projecto em três
conceitos:-identidade - consiste em um negro assumir plenamente a sua condição;
-fidelidade - atitude que traduz a ligação do homem negro a terra-mãe;e-solidariedade - sentimento que
liga secretamente todos os irmão negro.
Portanto, a Negritude surge entre os negros americanos, no quadro do pan-africanismo, de diversas
formas: .- O
desenvolvimento segregado de Booker T. Washington; .
- O movimento do renascimento negro (black renaissance) de W. E. B. Du Bois; e .
– Regresso à África (back to Africa moviment) de Marcus Garvey.
Estes movimentos foram seguidos pela aparição de algumas revistas e jornais literários e com teor
político: a revista Légitime Défense em 1932 de um grupo de antilhanos em Pais, sob orientação de
Ètienne Lero. Dois anos depois, surgiu o jornal L’etudiant Noirque seria o princípio da Negritude; a
poesia de Aimé Cesaire, “Cahier d’un Retour au Pays Natal”, que se considera o hino da Negritude e
do homem negro.
Paralelamente a esta origem diversificada, a Negritude teve vários significados de acordo com os seus
objectivos que são:
a) Negritude – Sofrimento e Revolta
Algumas da questões fundamentais, reflectia no processo de resistência, bem como a questão da
identidade. Visava restituir a África o seu orgulho do passado, afirmar as suas culturas, rejeitar a
assimilação que tanto contribuiu para sufocara sua personalidade. Além disso, também se pode resumir
em “identidade”, “fidelidade” e “solidariedade”.
b) Negritude – Política e Independência Nacional
Enquadra-se na luta de libertação nacional, para a conquista das independências dos povos africanos
dosregimes colonial e neocolonial. A criação de poema e outras manifestações artístico-culturais tornou-
se um acto político, pois expressavam a revolta contra a ordem colonial, imperialista e racista.
c) Negritude – Cultura e Humanismo
A problemática reflecte no repúdio ao ódio e a busca de soluções através do diálogo com as outras
culturas. O negro não tem a intensão nenhuma de insolar-se do resto do mundo, como algumas fontes
pretende convencer-nos. Pelo contrário, tem o objectivo de contribuir para a construção de uma
sociedade pluralista.Enfatizando tal sentimento, urge citar a famosa frase de Paul Sartre que sustenta
que “a Negritude tende a preparar a síntese ou realização do Humano numa sociedade sem raça.”
d) Negritude Antro-político- Revolução Socialista
Depois da revolução socialista de Outubro, na Rússia, muitos países africanos ascenderam ou
conquistaram a independência, e optaram por si desenvolver segundo a orientação socialista.
Procedimento que se tornou um erro porque a transposição de modelos de desenvolvimento da Europa à
África, constitui um fenómeno que não só veio a criar contradições no seio das próprias sociedades
africanas, como também,contribuiu para fragilidade das suas estruturas, cujas consequências se sentem
até hoje. Importa chamar a atenção para que não si volte a cair em erros idênticos.
e) Negritude – Motor do Desenvolvimento Humanitário
A Negritude reflecte a busca da africanidade, um convite de modo a imprimir uma nova dinâmica de
pensamento e de entendimento. O problema reside, em parte, em nós próprios, os africanos, pelo que
nada vale a política acusatória do colonialismo e outros sistemas nocivos à digna evolução da história
humana. Nós devemos voltar a nós mesmos.
Partindo do conhecimento de que fomos colonizados,aculturados, desprezados, pilhados, não se
afigura tarefa fácil, em virtude de termos assimilado o que nos ensinaram (fuga de nós mesmos). Impõe-
se à Negritude, o dever de buscar a africanidade, e discurso filosófico político apresente um novo
desafio, onde exaltação objectiva da condição de ser negro, actue como uma possibilidade de o negro
encontrar-se consigo mesmo, de se valorizar e de se impor para ser valorizado por outras comunidades.
Para Leopold Sédar Senghor, a negritude é ideia de descobrir os elementos típicos que constituem a
personalidade africana, a africanidade e sua autenticidade. ANegritude (Filosofia da Negritude),foi
primeira forma de rebelião contra a alienação cultural africana.ParaSenghor,a negritude era racismo
anti-racista; ao passo que Jean Paul Sartre definiu a negritude como Orfeu negro.
A Negritude lutava pela unidade e reconhecimento dos negros no mundo sob o ponto de vista
cultural.A etnofilosofia e a negritude preocupavam-se basicamente pela busca identidade
africana.Nalusofonia a Negritude, lutou pela revogação de todas as leis e regulamentos de excepção
contra os africanos.
7.4. Filosofia Profissional Académica e Crítica: A Africanidade da Filosofia
Os filósofos críticos da etnofilosofia recua- se a aceitar a abordagem etnofilosofica como sendo Filosofia
Africana porque no seu entender, reforçariam a ideia da diferença entre os africanos e europeus (a forma
inferior de fazer filosofia). Entre os seus representantes, destacam-se: Paulin Hountondji, Odera Oruga,
Kwasi Weredu, Marcien Towa, Eboussi Bouloga, Bzik Anyanwu, etc.
A ideia de filosofia africana deve ser aliada a um projecto de crítica e reflexão de africanos sobre os
problemas de África,pois:
- A Filosofia deve ter o mesmo significado em todas as culturas embora a matéria e o método baseasse na
cultura e na situação existente na sociedade onde o filósofo trabalhou ou opera; .
– A Filosofia Africana é apanágio exclusivo de filósofos africanos independentemente da área que
cultiva. Para o filosofo nigerianoBzik Anyanwu, a africanidade não reside na pertença do sujeito desta
filosofia à África, pois a Filosofia Africana pode ser cultivada por filósofos nativoa como de não nativos
de África. .- Para aos filósofos profissionais, o criticismo e o
argumento são características essências da de toda a Filosofia.
Porisso Hountondji, afirma que: .
- A filosofia começa onde a opinião e a sabedoria popular
terminam; .-A filosofia supõe a emergência do “ logos” e da escrita a
partir da realidade e do mito; .-Todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um
projecto europeu de demarcar a todos o custo a civilização africana da europeia.Os filósofos que encaram
a filosofia apartir do ponto de vista dopassado designam-se por etnofilosofo e são europeus;
.-Todos concordamos que a filosofia africana não pode nascer ex nihil (do nada),ela nasce da herança
cultural apartir de uma confrontação criativa das suas ideias com o presente e o futuro;-A africanidade da
Filosofia Africana só emerge apartir de uma actividade filosófica de discussão e crítica dos africano que
são filósofos.A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano; -A
Filosofia é uma empresa de um sujeito autónomo, enão totalmente imerso num grupo ou mundo.
Foi dentro do espírito emergente de revolta contra o colonialismo que surgiu o Black Renaissanca, cujo
fundador foi Du Bois. Esta corrente de pensamento teve repercussões sociais, que consistiam em
incutir no homem negro a ideia de ser igual aos brancos. Defendia que os negros não podiam
continuar a assistir passivamente à sua própria discriminaçãoe que deviam reagir peranteos tratamentos
desumanos.Du Boisafirmava: “que os brancos saibam que por cada porrada que o brancodera um
negro, nós lhesvamosdar duas;Porumnegro morto, nós vamos matar dois brancos.”
Azikiwe escreve na sua obra“Renascent Africa”: “Ensinai o africano que renasce a ser homem”." Foi no
âmbito do renascimento africano que se desenvolveu o conceito de personalidade africana. A
personalidade africana defende que existem características comuns, atributos essenciais e únicos que
fazem parte do ser de todos os africanos. A ideia de “African Personality” teve as suas raízes em
Edward Wilmont Blyden efoi retomada por Kwame Nkrumah.
Blyden fundou adignidade do africanona mesma linhado movimento negritude, procurandoprovar que a
raça negra tinha uma história e uma cultura das quais se podia orgulhar.
Blyden reflecte não sobre o passado do africano, mas sobre o que se deveria fazer em prol de um futuro
africano mais digno. Para ele, cada um de nós tem um dever especial a cumprir, umtrabalho não só
importante, como tambémnecessário, um trabalho a realizar pela raça a quepertencemos: lutar pela
própria individualidade para a mantere desenvolver. “Orai e amai a vossa raça. Se não fordes vós
mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não havereis deixado nada ao mundo. Não terei\
satisfação, utilidade, nada que atraia ou fascine os homens, porquecom a supressão da vossa
individualidade havereis perdido o vosso carácter distintivo. Vereis, então, que ter abdicado da vossa
personalidade significará ter abdicado da missão e da glóriaparticular à qual sois chamados” -
aconselha Blyden, notando que “seria de facto renunciar àvossa divina individualidade, o que seria o
pior dos suicídios".
Este pensador demonstra que os costumes e as instituições da África negra estão em consonânciacom
as necessidades dos africanos. Ademais, África pode dar um contributo ao mundo nas questões de
ordem espiritual. A civilização europeia é dura, individualista, competitiva, materialista e foi fundada
sobre o culto da ciência e da técnica. A civilização africana é doce e humana. Para Nkrumah, o homem
africano é um ser espiritual, dotado dedignidade, integridadeevalor intrínseco.
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Filosofia Política em África
2.4.1 Génese dos Nacionalismos
A Filosofia PolíticaAfricana está estreitamente ligada ao pan-africanismo. O pan-africanismo, alémde
lutarpelo reconhecimento dos negros no mundo, traçou, principalmente com Du Bois, linhas para uma
FilosofiaPolítica Africana.
Por Filosofia Africanaentende-se como conjunto de pensamentosrelativosàemancipação e ao
reconhecimento do homem negro, quer dentro do seu continente, quer fora dele. A
FilosofiaPolíticaAfricana contém o pensamento de vários autores e temcomo objectivo a
libertaçãofísicaepsíquica do jugo colonial do continente africano.
No 5.o Congresso Pan Africano, que teve lugar cm Manchester, em Inglaterra, em 1945, Du Bois Passou
o testemunho políticoà Nkrumah. Daquele momento em diante, asprincipaisfiguras da Filosofia Africana
seriam Nkrumah e Senghor.Estes dois homensesfrolaram-se por lançar as bases políticas dos Estados
africanos.
Kwame Nkrumah e Léopold Sedar Senghor lideraram dois grupos e dois pontos dc vista quenãochegaram
a conciliar-se: Nkrurnahdefendia a independênciaimediata dos Estadosafricanos, enquanto Senghor
acreditava que uma independência gradual dos Estadosseria o ideal.
Nkrumah teve o mérito deser o promotor do conceito “African Personality”, tendo trabalhado bastante
para conduzir o seu país, o Gana, à independência. Com eleito, o Gana foi a primeira nação negro-
africana a ser independente.
Outros políticosde renome, como Senghor, Luís Cabral, Júlio Nyerere i.. rl(i.25 Laopold
SedarSetrshor.Nyerere e ,Agostinho Neto, aliaram-se tambem ao socialismo,tendo-o abordado do ponto
de vista da realidade africana, dando origem àquilo que se chama, com o pensamento de Nkrumah, o
socialismo africano. Senghor apoia o socialismo africano, defendendo que a alma negra é essencialmente
colectiva e solidarira,por isso, a África é, pornatureza,do seu povo, socialista.
O verdadeiro mérito deNkrumah foi o seu ideal de unidade africana. Concebida em 1953, por Mahjemout
Diop, a unidade africana baniria as fronteirastracadas arbitrariamente em Berlime traçaria novas fronteiras
mais racionais, de modo a estabelecer relacoes económicas entreasgrandes zonas de produçãoafricanas.
Nkrumah concebeu uma unidade africana politicamente organizadaque transformaria o continenteafricano
num só Estado, com um governo central, inspirado na constituiçãoamericana. Nkrumah estava convicto
de que os Estados africanos, considerados individualmente, não eram suficientementefortes para
competirem com as grandes potências do Ocidente. Segundo Nkrumah, esta fraqueza levava-os a procurar
a suasegurançaem acordos com as ex-potências coloniais ou com as potências neocoloniais. Nkrumah
partilhavao ponto de vista deDiopsobre a arbitrariedadecom que foram definidasasfronteiras, dividindo as
populações de uma mesma cultura em diferentesEstados, o que poderia a todo o momentooriginar
conflitosinterafricanos.
A OUA, criada a 25 de Maio de 1963, emAddis Abeba, Etiópia, através da suaassinatura da sua
Constituição por representantes de 32 governos de paísesafricanosindependentes, tinha os seguintes
objectivos:
. Promover a unidade e a solidariedadeentreos Estadosafricanos;
. Coordenar e intensificar a cooperação entre os Estados africanos, no sentido cie proporcionar uma vida
melhor aos povos de África;
. Defendera soberania, integridadeterritorial c independênciados Estados africanos (os Estados -membros
não deviam imiscuir-se nos assuntos interno);
. Erradicar todas as formas de colonialismo em África;
. Promover a cooperaçãointernacional, respeitando a Carta das Nações Unidas e a DeclaraçãoUniversal
dos DireitosHumanos;
. Coordenare harmonizar as políticas dos Estados-membros nas esferaspolítica, diplomática, económica,
educacional, cultural,da saúde, bem-estar, ciência, técnica e de defesa.
Todavia, alguns críticoscondenaram o carácterfechado dos Estados-membrosda OUA, uma vez que nela
não havia inibição de comportamentos ditatoriais, em nome da condição de não se intrometerem nos
assuntos internos. Este facto levou a que ocorressem muitos golpes deEstado em África, concretamente
no Gana, com Nkrumah, no Congo e emoutros países africanos.
A partir da década de 1960, os Estados africanos começaram a ganhar a sua independência, aderindo ao
socialismo africano, à luz dasfilosofias dos políticos africanos quelideravam o processo.
*A característica fundamental da Filosofia Política Africana é lutar pela liberdade política das nações.
Para tal, os Estados africanos cooperaram uns com os outros.