1 - Artigo Dimensionamento de Sarjetas

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Avaliação de desempenho hidráulico de sarjetas no sistema de drenagem urbana: um estudo no bairro Aldeota, em Fortaleza (CE)

10.5020/23180730.2020.10757

Avaliação de desempenho hidráulico de sarjetas no


sistema de drenagem urbana: um estudo no bairro
Aldeota, em Fortaleza (CE)
Street gutters’ hydraulic performance evaluation in urban
drainage system: a study in Aldeota area, in Fortaleza city,
state of Ceará
Evaluación de rendimiento hidráulico de alcantarillas en el
sistema de drenaje urbano: un estudio en el barrio Aldeota,
en Fortaleza (CE)
Évaluation des performances hydrauliques des caniveaux
dans le système de drainage urbain: une étude dans
Lucas Florêncio da Cunha
Teixeira l'arrondissement Aldeota, à Fortaleza, Brésil
lucasfengcivil@gmail.com
Universidade Federal do
Ceará (UFC) Resumo
Este trabalho se destina a realizar uma avaliação da capacidade hidráulica de sarjetas urbanas
Anísio de Sousa Meneses
no quesito de condução de águas pluviais considerando duas situações distintas: a de projeto,
Filho
em que são obedecidos os parâmetros hidráulicos e hidrológicos de dimensionamento, e
anisiomeneses@unifor.br
Universidade de Fortaleza aquela encontrada em campo, em que são observadas diversas intervenções que desfiguram
(Unifor) esse elemento e, portanto, prejudicam a sua capacidade de condução requerida. Dessa
forma, foi selecionada uma área composta por oito quadras no bairro Aldeota, em Fortaleza
(CE), com alta densidade demográfica. Foram feitas visitas à área de estudo, para locação
das bocas de lobo, e à Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza, para obtenção de material
cartográfico para dar suporte à realização dos cálculos. Com esses dados, foram feitos os
cálculos de vazão limite para as duas situações, podendo-se observar que, com a simulação
das intervenções encontradas em campo pela redução da área transversal das sarjetas, a
área pretensamente drenada passa a ter maior risco de alagamento. Assim, evidencia-se
que a execução física em estrita conformidade ao projeto constitui fator determinante para
o seu efetivo desempenho.
Palavras-chave: Drenagem urbana. Sarjetas urbanas. Condução hidráulica.

Abstract
This paper aims at evaluating the hydraulic capability of street gutters in terms of rainwater
conduction considering two different situations: the design one, in which the sizing hydraulic
and hydrologic parameters are followed, and that one found in a field, where it is perceived
that several interventions disfigure this element and, therefore, harm its required conduction
capability. Thus, an area containing eight blocks located in Aldeota, in Fortaleza city, was
selected to be studied in this paper, with high demographic density. The area was visited
for locating its storm drains. Besides, for aiding the calculation needed for this paper,
cartographic material was collected when visiting Infrastructure Secretary of Fortaleza. With
the possession of this data, boundary flow rates were obtained for both situations and when
simulating the interventions found in a field by reducing the street gutters’ cross-sectional
area, it could be observed that the intended drained area begins to present bigger flooding
risk. Thereby, it is shown that the physical execution in strict accordance with the project

Rev. Tecnol. Fortaleza, v. 41, n. 1, p. 1-15, jun. 2020. 1


Lucas Florêncio da Cunha Teixeira, Anísio de Sousa Meneses Filho

constitutes a determining factor for its effective performance.


Keywords: Urban drainage. Street gutters. Hydraulic conduction.

Resumen
Este trabajo tiene el objetivo de evaluar la capacidad hidráulica de alcantarillas urbanas
en la cuestión de conducción de aguas pluviales considerando dos situaciones distintas:
la del proyecto, en que son obedecidos los parámetros hidráulicos e hidrológicos de
dimensionamiento, y aquella encontrada en campo, en que son observadas muchas
intervenciones que desfiguran este elemento y, por lo tanto, perjudican su capacidad de
conducción requerida. Así, fue seleccionado un área compuesto por ocho cuadras en el barrio
Aldeota, en Fortaleza (CE), con alta densidad demográfica. Los locales de estudio fueron
visitados para ubicación de las alcantarillas, y la Secretaria de Infraestructura de Fortaleza,
para obtención de material cartográfico para dar soporte a la realización de los cálculos.
Con estos datos, fueron hechos los cálculos de caudal límite para las dos situaciones,
observándose que, con la simulación de las intervenciones encontradas en campo por la
reducción del área transversal de las alcantarillas, el área presuntamente drenada pasa a
tener mayor riesgo de inundación. De este modo, se evidencia que la ejecución física en
estricta conformidad al proyecto constituye factor determinante para su rendimiento efectivo.
Palabras-clave: Drenaje urbano. Alcantarillas urbanas. Conducción hidráulica.

Résumé
L’objectif de ce travail est de réaliser une évaluation de la capacité hydraulique des caniveaux
urbains en termes de conduction des eaux pluviales en considérant deux situations distinctes:
1) la conception du projet, dans laquelle les paramètres hydrauliques et hydrologiques
de dimension sont respectés et 2) celle qui est trouvée au le terrain, dans laquelle sont
observées plusieurs interventions qui défigurent cet élément et, par conséquent, altèrent
sa capacité nécessaire de conduction. Ainsi, On a sélectionné une zone avec haute densité
démographique, composée de huit blocs dans l’arrondissement Aldeota, à Fortaleza, Brésil.
Des visites ont été effectuées dans la zone d’étude, pour louer des bouches de loups.
On a aussi visité la Secrétariat des infrastructures de Fortaleza, pour obtenir le matériel
cartographique pour qu’on puisse en appuyer des calculs. Avec ces données, des calculs
de débit limite ont été effectués pour les deux situations, et on peut constater qu’avec la
simulation des interventions trouvées au terrain en réduisant la surface transversale des
caniveaux, la zone supposée drainée devient plus à risque d’inondation. Ainsi, il est évident
que l’exécution physique en stricte conformité avec le projet est un facteur déterminant pour
sa performance effective.
Mots-clés: Drainage urbain. Caniveaux urbains. Conduction hydraulique.

1 Introdução

A importância sanitária do manejo das águas pluviais, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2007, p.
287), se dá como uma forma de escoar a água no intuito de combater a propagação de doenças de veiculação
hídrica.
De forma geral, os centros urbanos tendem a se expandir sem a devida atenção aos estudos necessários
para impactar de forma mais amena o sistema natural pré-existente e, portanto, influenciando diretamente
no comportamento hidrológico das bacias hidrográficas, agravando ainda mais o cenário de cobertura de
saneamento básico. (TEIXEIRA, 2017, p. 15). Dessa forma, com a redução de áreas permeáveis, faz-se
necessária a concepção adequada de projeto para drenar o volume de escoamento excedente.

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Avaliação de desempenho hidráulico de sarjetas no sistema de drenagem urbana: um estudo no bairro Aldeota, em Fortaleza (CE)

Com essa expansão territorial, sem fiscalização para direcionar o adequado uso e ocupação do solo, os
problemas de alagamento e enchentes agravam-se ao longo das linhas naturais de escoamento superficial,
seguindo a topografia da cidade. (LIMA, 2019, p. 22).
Entre os elementos de microdrenagem, destacam-se as sarjetas, foco deste trabalho, pelo fato de serem
o primeiro elemento com o qual as águas pluviais entram em contato. Além disso, de forma geral, nos centros
urbanos brasileiros há negligência no que diz respeito à importância desse elemento.
As sarjetas urbanas devem ser concebidas de forma a permitirem a adequada condução das águas pluviais
aos demais elementos de microdrenagem urbana dimensionados pelos projetistas. Entretanto há fatores que
prejudicam o seu correto funcionamento, como: o subdimensionamento, relacionado a problemas de projeto
ou de concepção; a má execução, que pode estar associada, também, à execução do concreto asfáltico
adjacente, podendo haver deslizamento e redução da seção da sarjeta; e a manutenção após a finalização
do serviço de implantação desse elemento, que tem relação com a limpeza correta do lixo despejado sobre as
sarjetas e também com a conservação e reparo de danos causados pelo uso ao longo do tempo. (TEIXEIRA,
2017, p. 16). Portanto, a seção transversal prevista em projeto deve ser obedecida na execução, assim como
mantida durante a vida útil da estrutura.
No município de Fortaleza, devido às exigências da Lei Federal n.° 12.587 (BRASIL, 2012) no tocante
à melhoria dos serviços de circulação viária, a prefeitura municipal demonstrou interesse, nos últimos anos,
na implantação de ciclofaixas para promover a multimodalidade de transportes. Apesar de ser relevante para
a urbanização, a forma como esse elemento está sendo implantado tende a desfigurar a seção transversal
das sarjetas, danificando o abaulamento necessário à correta condução da vazão (TEIXEIRA, 2017, p. 16).
Assim, este trabalho se destina a avaliar o desempenho hidráulico de sarjetas em oito quadras localizadas
no bairro Aldeota, na cidade de Fortaleza (CE), comparando a situação ideal de projeto com aquela encontrada
em campo. A escolha da área se justifica pelo elevado adensamento populacional e pela presença de edifícios
comerciais, fatores que contribuem diretamente para a maior geração de escoamento superficial.

2 Método

O arquivo contendo as cotas topográficas, fundamentais para o cálculo da capacidade hidráulica e


determinantes para o direcionamento das águas pluviais, foi obtido na Secretaria de Infraestrutura de Fortaleza
(SEINF), sendo disponibilizado material cartográfico constituído de curvas de nível do terreno com equidistância
de 5 metros. A partir desse arquivo, também se coletaram os dados de áreas e comprimentos das ruas.
Posteriormente, algumas visitas de campo foram realizadas na área de estudo para locação das bocas
de lobo existentes em cada trecho e registro fotográfico da situação averiguada. Calcularam-se, então, os
parâmetros hidráulicos das sarjetas, desconsiderando as obstruções no sistema de drenagem. Neste trabalho, a
situação ideal de cálculo está sendo assumida como a de projeto, em conformidade com manuais de drenagem
urbana, a exemplo do de Curitiba.
Em seguida, foram feitas simulações de intervenções no sistema de drenagem compreendendo as
efetivas alterações das seções transversais, obtendo-se os parâmetros hidráulicos para a nova estimativa de
vazão máxima possível sem o extravasamento do canal.

2 1 Aspectos hidrológicos considerados para o dimensionamento


Para estimar a vazão de pico da bacia, aplica-se o método racional, cuja equação é a seguinte:
(1)

Em que Q é a vazão de pico (m³/s), C é o coeficiente de escoamento superficial, i é a intensidade de


chuva (mm/h) e A é a área da bacia (km²).

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O coeficiente de escoamento superficial pode ser obtido conforme a Tab. (1):

Tabela 1 - Valores de C por tipo de ocupação

Descrição da área C
Área comercial  
Central 0,70 – 0,90
Bairros 0,50 – 0,70
Área residencial  
Residências isoladas 0,35 – 0,50
Unidades múltiplas (separadas) 0,40 – 0,60
Unidades múltiplas (conjugadas) 0,60 – 0,75
Lotes com >2.000 m² 0,30 – 0,45
Áreas com apartamentos 0,50 – 0,70
Fonte: Bidone e Tucci, 1995, adaptado, p. 88.

No âmbito deste trabalho, o coeficiente C se refere a área comercial central, sendo considerado o valor
médio de 0,80.
A intensidade de chuva foi estimada aplicando-se a relação IDF de Fortaleza. Essa equação foi elaborada
por Silva, Júnior e Campos (2012), que analisaram 30 anos de registros de chuva e 611 hietogramas da estação
climatológica da Universidade Federal do Ceará, utilizando durações de 5, 10, 20, 30, 45, 60 e 120 minutos.
A relação IDF de Fortaleza é a Eq. (2):

(2)

Sendo i a intensidade de chuva (mm/h), Tr o período de retorno (anos) e t o tempo de duração da chuva
(min).
Para Bidone e Tucci (1995, p. 89-90), “o tempo de concentração inicial nos trechos de cabeceira de
rede, que corresponde ao tempo de escoamento superficial pelos quarteirões, vias e sarjetas, é, muitas
vezes, adotado como sendo de 10 minutos”. Além disso, para pequenas bacias, considera-se que o tempo de
duração da chuva é igual ao tempo de concentração. Segundo Tomaz (2002, p. 381), o valor de 10 minutos
pode estar superestimado no caso de bacias muito impermeáveis e com grande declividade. Neste trabalho,
considerou-se o tempo de concentração de partida de 5 minutos, haja vista a maior intensidade de chuva
para menor duração.
O período de retorno a ser utilizado foi extraído da Tab. (2):

Tabela 2 - Períodos recomendados de acordo com o tipo de estrutura


Tipo de estrutura Período de retorno (anos)
Bueiros em estradas com tráfego baixo 5 a 10
Bueiros em estradas com tráfego médio 10 a 25
Bueiros em estradas com tráfego intenso 50 a 100
Pontes de estrada secundária 10 a 50
Pontes de estrada principal 50 a 100
Bueiros para drenagem de fazenda 5 a 50
Drenagem urbana para cidades pequenas 2 a 25
Drenagem urbana para cidades grandes 25 a 50
Aeroportos com tráfego baixo 5 a 10
Fonte: Tomaz, 2002, adaptado, p. 68.

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Dessa forma, foi adotado período de retorno de 25 anos, relativo à drenagem urbana para grandes cidades.

2 2 Especificações das sarjetas urbanas


O Manual de drenagem urbana da região metropolitana de (SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO
DE RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO AMBIENTAL, 2002) considera duas hipóteses para o dimensionamento
da capacidade de condução das sarjetas:
• A água escoando por toda a calha da rua;
• A água escoando somente pelas sarjetas.
Para o primeiro caso, admite-se a declividade da rua (lr) como sendo de 3% e a altura da lâmina d’água
(h1) na sarjeta de 0,15 m. Já para o segundo caso, a declividade da rua também é 3%, mas a altura da lâmina
d’água (h2) será de 0,10 m, conforme pode ser visualizado na Fig. 1:

Figura 1 - Seção transversal da sarjeta conforme as hipóteses admitidas para


o dimensionamento

Fonte: Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiente, 2002, p. 103.

O cálculo da capacidade teórica é dado pela fórmula de Manning, a seguir:

(3)

Em que é o coeficiente de rugosidade, é o raio hidráulico (m), é a declividade (m/m) e é a área de


drenagem (m²).
O coeficiente de rugosidade é dado pelo tipo de material com o qual a sarjeta é construída, sendo obtido
pela Tab. (3):

Tabela 3 - Valores para coeficientes de rugosidade conforme material

Características n
Canais retilíneos com grama de até 15 cm de altura 0,30 - 0,40
Canais retilíneos com capins de até 30 cm de altura 0,30 - 0,060
Galerias de concreto pré-moldado com bom acabamento 0,011 - 0,014
Galerias de concreto moldado no local com formas metálicas simples 0,012 - 0,014
Galerias de concreto moldado no local com formas de madeira 0,015 - 0,020
Sarjetas em asfalto suave 0,013
Sarjetas em asfalto rugoso 0,016
Sarjetas em concreto suave com pavimento de asfalto 0,014
Sarjetas em concreto rugoso com pavimento de asfalto 0,015
Sarjetas em pavimento de concreto 0,014 - 0,016
Pedras 0,016
Fonte: Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiente, 2002, p. 103.

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Para este trabalho, foi adotado o coeficiente de rugosidade de 0,016, referente ao pavimento de concreto.
O raio hidráulico para as sarjetas, cuja seção transversal é aproximadamente um triângulo, é comumente
adotado como a razão entre a área molhada e o perímetro molhado. Já a declividade longitudinal das ruas foi
obtida pela razão entre a diferença de cotas do terreno e respectivo comprimento das ruas.
Assim, para averiguar se as sarjetas conseguem conduzir a água gerada pela chuva de projeto, é feita
uma comparação entre as vazões de projeto e as capacidades teóricas das sarjetas. Caso as sarjetas consigam
conduzir a água de forma eficiente, mas não haja boca de lobo em determinado trecho, a vazão será somada
ao trecho subsequente, seguindo a orientação dada pelas cotas do terreno.

2 3 Área de estudo
A área selecionada para o estudo se localiza na Bacia da Vertente Marítima, compreendendo a faixa ao
longo do litoral entre os rios Cocó e Ceará, inserida totalmente na área urbana de Fortaleza.
A topografia dessa bacia favorece o escoamento das águas para o mar, diretamente ou através de riachos.
Os conflitos entre urbanização e meio natural são evidenciados por seu grande adensamento residencial.
A Figura 2 abaixo ilustra a localização da área de estudo.

Figura 2 - Localização da área de estudo

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020

A sub-bacia compreende oito quadras cuja via central é a avenida Santos Dumont. Paralelas a esta estão
rua Maria Tomázia, rua Desembargador Leite Albuquerque e a rua Joaquim Siqueira. Perpendicularmente,
estão: avenida Desembargador Moreira, rua Barbosa de Freitas, rua Leonardo Mota, rua Vicente Leite e a rua
Coronel Linhares. Essa configuração pode ser visualizada na Figura 3.

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Figura 3 - Delimitação da área de estudo

Fonte: Google Earth Pro ®, adaptado pelos autores, 2020.

A sub-bacia tem área total de, aproximadamente, 100.300 m². As quadras apresentam aspectos geométricos
bem semelhantes, cada uma delas com área de 10.600 m².
Para o dimensionamento, aplicou-se a Eq. (3) assumindo regime de escoamento permanente uniforme.
As cotas (em metro) de cada encontro das vias da sub-bacia, as áreas das quadras e as larguras das
vias (12 metros na avenida Santos Dumont e 8 metros nas demais vias), foram obtidas na Secretaria de
Infraestrutura de Fortaleza (Seinf), conforme pode ser visualizado na Figura 4.
A área de contribuição para as sarjetas foi obtida considerand-se 25% da área das quadras, ou seja,
aproximadamente 2.650 m², assim como a área referente às ruas.

Figura 4 - Cotas do terreno da área de estudo

Fonte: SEINF, 2020.

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3 Resultados e discussão

3 1 Obtenção de parâmetros hidráulicos de sarjetas de projeto


Atribuindo a cada quadra e a cada trecho da área da subbacia a nomenclatura de Q1 a Q9 e de T1 a
T25, obteve-se a Figura 5.

Figura 5 - Nomenclatura atribuída aos trechos e às quadras

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Assumindo, de acordo com a Figura 1, a altura da lâmina d’água de 0,15 m e declividade transversal de
3%, as capacidades teóricas das sarjetas calculadas estão dispostas na Tab. (4):

Tabela 4 - Capacidade teórica das sarjetas por trecho de acordo com a declividade longitudinal

Capacidade
Declividade Declividade Capacidade teórica
Identificação teórica das Identificação
(m/m) (m/m) das sarjetas (m³/s)
sarjetas (m³/s)
T1 0,0105 0,418 T15 0,0027 0,214
T2 0,0035 0,241 T16 0,0372 0,788
T3 0,0044 0,270 T17 0,0237 0,630
T4 0,0148 0,498 T18 0,0351 0,765
T5 0,0035 0,241 T19 0,0211 0,594
T6 0,0096 0,400 T20 0,0353 0,767
T7 0,0006 0,101 T21 0,0321 0,733
T8 0,0073 0,350 T22 0,0141 0,486
T9 0,0132 0,469 T23 0,0375 0,791
T10 0,0217 0,603 T24 0,0369 0,785
T11 0,0026 0,209 T25 0,0254 0,651
T12 0,0101 0,411 T19/T20 0,0268 0,668
T13 0,0086 0,380
T22/T23 0,0237 0,628
T14 0,0245 0,639
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

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3 2 Comparativo entre a situação de projeto e a situação encontrada em campo


A Figura 6 apresenta as características geométricas das quadras, as cotas de esquina e a localização
das bocas de lobo.
Conforme anteriormente esclarecido, e não estando disponível o projeto original das sarjetas na área
de estudo, a situação de projeto considerada para os cálculos hidráulicos leva em conta a sarjeta padrão,
como mostrada na Figura 1, assumindo-se a altura da lâmina d’água de 0,15 m e a declividade transversal
das ruas de 3%.

Figura 6 - Características geométricas das quadras (cont.)

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Figura 6 - Características geométricas das quadras (conclusão)

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

A Tabela 5 traz as vazões de projeto (Qp), assim como as capacidades teóricas das sarjetas na situação
de projeto e nas simulações, em que foi reduzida a altura da lâmina d’água, antes considerada 0,15m na
situação de projeto, adotando-se, a depender da gravidade de danificação às sarjetas, 0,13m, 0,12m ou 0,10m.

Tabela 5 – Comparativo entre as vazões de projeto e capacidades teóricas das sarjetas de cada quadra

Qc (m³/s) Qc (m³/s) - Qp Qc (m³/s) Qc (m³/s) -


Quadra Trecho Qp (m³/s) Quadra Trecho
- Projeto Simulação (m³/s) - Projeto Simulação

T1 0,118 0,418 0,286


T8 0,079 0,350 0,239
T6 0,127 0,400 0,273
Q1 Q6
T15 0,117 0,214 0,073
T22 0,063 0,486 0,268
T17 0,117 0,630 0,630
T6 0,127 0,400 0,221 T4 0,118 0,498 0,498
T10 0,118 0,603 0,204 T9 0,127 0,469 0,259
Q2 Q8
T14 0,117 0,639 0,639 T22/T23 0,117 0,628 0,213
T16 0,117 0,788 0,788 T25 0,117 0,651 0,221
T7 0,127 0,101 0,069 T9 0,127 0,469 0,159
Q3
T19/T20 0,117 0,668 0,456
T13 0,118 0,380 0,380
T7 0,127 0,101 0,034
Q9
T11 0,118 0,209 0,115
Q4 T21 0,117 0,733 0,248
T16 0,117 0,788 0,788
T18 0,117 0,765 0,422 T24 0,117 0,785 0,433
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

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Avaliação de desempenho hidráulico de sarjetas no sistema de drenagem urbana: um estudo no bairro Aldeota, em Fortaleza (CE)

A Quadra 1 possui nove bocas de lobo e a capacidade teórica das sarjetas é superior às vazões de
projeto, acarretando em condução de água superficial eficiente pelas sarjetas ao assumir os parâmetros
considerados para a situação de projeto. Com a simulação das intervenções de campo, os trechos T1, T6 e T15
se encontraram danificados, sendo suas lâminas d’água reduzidas para 0,13m, 0,13m e 0,10m, respectivamente.
Devido a essa redução, o trecho T15 passa a não comportar a vazão gerada pela água precipitada, gerando
escoamento superficial excessivo. Apesar disso, essa condição é amortecida pela quantidade de bocas de
lobo existentes no trecho.
No caso da Quadra 2, o trecho T10 consegue conduzir a vazão de projeto, mas, pelo fato de não haver
boca de lobo, a vazão soma-se à do trecho seguinte, que, nesse caso, é o T14. As vazões de projeto de T10
e T14 somadas (aproximadamente 0,235m³/s) não superam a capacidade teórica de T14, e são conduzidas a
duas bocas de lobo encontradas em campo. Assim, não há pontos de alagamento nesses dois trechos. Com
as simulações realizadas para a situação encontrada em campo, o trecho T10 ainda consegue comportar a
vazão de projeto, apesar de ter havido uma redução da lâmina d’água de 0,15m para 0,10m. Além disso, as
vazões somadas de T10 e T14 não superam a capacidade teórica de T14, já que esse trecho se encontra
numa situação conservada, conforme observado em campo. O trecho T6, que se encontra danificado e foi
simulado com uma redução de 0,15m para 0,12m, não consegue comportar as vazões somadas de T6 e T16.
Para a Quadra 3, foram selecionados dois trechos para averiguar a situação das sarjetas na situação de
projeto. A vazão de projeto no trecho T7 supera a capacidade teórica, gerando alagamentos. Como não há boca
de lobo no trecho, a vazão será somada à do trecho T19/T20. As duas vazões somadas (aproximadamente
0,244m³/s) não superam a capacidade teórica de T19/T20, não havendo, teoricamente, pontos de alagamento.
Para a situação de campo, o trecho T7 apresenta problemas ainda maiores de alagamento quando comparado
à situação de projeto com a simulação das intervenções. Como não há boca de lobo, a vazão será somada à
de T19/T20, o que não supera a capacidade teórica da sarjeta, apesar das simulações de redução de 0,15m
para 0,13m.
Na Quadra 4, a sarjeta do trecho T7 não comporta a vazão de projeto, gerando alagamentos. Pelo fato
de não haver bocas de lobo encontradas in loco, toda a quadra apresenta pontos de inundação, mesmo com a
capacidade de condução hidráulica das sarjetas dos demais trechos funcionando adequadamente. Ao realizar-
se as simulações, o problema de inundações por ausência de bocas de lobo é ainda mais evidenciado com a
redução do desempenho hidráulico das sarjetas, mesmo com as capacidades teóricas dos trechos T16 e T18
sendo maiores que as vazões de projeto. O trecho T11 não comporta a vazão gerada pela precipitação após
a simulação de redução da lâmina d’água de 0,15m para 0,12m.
Na Quadra 5, na situação de projeto considerada, os trechos conseguem escoar a água adequadamente
pelas sarjetas até as bocas de lobo. Os trechos T8 e T22 comportam as vazões de projeto, mas não há bocas
de lobo na Quadra 6, o que gera pontos de alagamento. Na situação de campo, nos trechos analisados da
Quadra 6, como não há bocas de lobo, os problemas de alagamento são ainda mais agravados. Apesar das
reduções, as sarjetas conseguem comportar as vazões geradas pela precipitação, mas não têm condições
de direcionar a água para escoamento nas bocas de lobo.
A Quadra 7 apresenta situação semelhante à da Quadra 4, com ausência de bocas de lobo. Assim,
mesmo com as sarjetas conduzindo a água precipitada de forma eficiente, há pontos de alagamento na quadra.
A Quadra 8, em situação de projeto assumida, consegue conduzir adequadamente a água pelas sarjetas,
pois a ausência de bocas de lobo em T22/T23 e T9 é suprida pelas dos trechos subsequentes, sendo as vazões
somadas com valor inferior à capacidade teórica das sarjetas. Ao simularem-se as intervenções encontradas
em campo, observa-se que a sarjeta do trecho T4 se encontra conservada e, portanto, consegue comportar as
vazões somadas de T4 e T22/T23. Com a redução de 0,15m para 0,10m no trecho T25, ocorrem situações de
alagamento não observadas na situação de projeto, pois a capacidade teórica da sarjeta no trecho é superada
pelo somatório das vazões de T9 e T25.

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Lucas Florêncio da Cunha Teixeira, Anísio de Sousa Meneses Filho

Na Quadra 9, os trechos T13 e T24 conseguem conduzir a água precipitada, sendo suficiente uma boca
de lobo (encontradas in loco para cada um dos trechos) para comportar o escoamento superficial gerado. O
trecho T21 também comporta a vazão de projeto e sua vazão é somada ao trecho T9, resultando em 0,244m³/s
aproximadamente. A capacidade teórica da sarjeta do trecho é superior ao somatório de vazões, que consegue
conduzir a água até a boca de lobo. Portanto, não há pontos de alagamento na quadra na situação de projeto.
Realizando as simulações de redução de seção transversal, observa-se que não há alagamentos nos trechos
T13, T21 e T24, mas, como não há boca de lobo em T21, sua vazão é somada ao trecho T9. A redução da
lâmina d´água nesse trecho, de 0,15m para 0,10m, faz com que as vazões somadas superem a capacidade
teórica da sarjeta, que apresenta problemas de inundação, não observados na condição anterior.

3 3 Registro fotográfico coletado


Para ilustrar algumas das situações encontradas durante as visitas à área em estudo, a Figura 7 traz a
representação esquemática das quadras e fotos de três trechos, demonstrando a condição precária e, portanto,
a reduzida capacidade de condução de vazão de projeto.

Figura 7 - Registro fotográfico dos trechos T6, T9 e T25

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

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Avaliação de desempenho hidráulico de sarjetas no sistema de drenagem urbana: um estudo no bairro Aldeota, em Fortaleza (CE)

3 4 Síntese gráfica dos resultados obtidos


De forma a demonstrar o impacto gerado pela redução da capacidade hidráulica, causada pelas
intervenções nas sarjetas, foi elaborada a Figura 8:

Figura 8 - Comparação entre as capacidades teóricas das sarjetas nas duas situações
consideradas

Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

As simulações realizadas levaram em conta as reduções existentes nas seções transversais das sarjetas
que influenciam na área molhada e, por consequência, no raio hidráulico e na capacidade de escoamento.
Observando a Figura 8 e fazendo a correlação com a Tab. (4), pode-se notar que os trechos com maior
redução de capacidade hidráulica são os que apresentam as maiores declividades, já que a área molhada
é diretamente proporcional à capacidade teórica das sarjetas. Portanto, os trechos de menores declividades
não tiveram uma redução significativa em sua capacidade de condução, não sendo afetados por problemas
de enchentes como os demais.
Outra forma de realizar comparações entre as duas situações é através da Eq. (4):

(4)

Em que é a dispersão entre os resultados, Qproj é a capacidade teórica das sarjetas na condição de
projeto assumida e Qexist é a capacidade na condição existente.
O resultado da aplicação da Eq. (4), considerando a média dos trechos pertencentes a cada quadra,
pode ser observado na Figura 9:

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Lucas Florêncio da Cunha Teixeira, Anísio de Sousa Meneses Filho

Figura 9 - Dispersões entre os resultados de projeto e de simulação


por quadra
0,5
0,45
0,4
0,35
0,3
0,25
0,2
0,15
0,1
0,05
0
Q1 Q2 Q3 Q4 Q6 Q8 Q9
Fonte: Elaborado pelos autores, 2020.

Quanto menor a dispersão , mais próxima a sarjeta consegue operar com sua capacidade de condução
hidráulica, conforme a Figura 1. Portanto, pelo que se depreende da Figura 12, a Quadra 2 é aquela cujas
sarjetas mais se aproximam das condições de projeto consideradas, conseguindo alcançar o desempenho
hidráulico previsto de forma mais satisfatória. Em situação mais precária, por outro lado, encontram-se as
sarjetas das Quadras 8 e 9, que conseguem escoar, em média, pouco mais de 55% da vazão de projeto –
nesse caso, o volume excedente do escoamento superficial passa a ocupar parte significativa da via de tráfego,
comprometendo, consequentemente, a circulação veicular e de pessoas.

4 Conclusão

O problema de enchentes urbanas na área de estudo é agravado pela deficiência de manutenção e


conservação dos elementos estruturais existentes. Atenta-se, então, para a necessidade de se preservarem
as condições de projeto, desde a sua implantação física e ao longo de toda a vida útil, além do adequado
tratamento e acondicionamento dos resíduos sólidos.
Em termos de projeto, as obstruções observadas durante a execução deste trabalho geram acúmulo de
água precipitada nas malhas viárias, e as galerias pluviais, que deveriam acomodar essas vazões, acabam
se tornando estruturas superdimensionadas ao operarem com aproveitamento abaixo de sua capacidade.
O satisfatório desempenho dos equipamentos urbanos, incluindo aqueles relacionados à drenagem,
demanda o efetivo e sistemático gerenciamento da manutenção e conservação, promovendo o escoamento
seguro das águas de chuva e, dessa maneira, contribuindo para a saúde coletiva e o bem-estar geral da
população.

Referências

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Rubem La Laina (org.); BARROS, Mário T. de (org.). Drenagem urbana. 1. ed. Porto Alegre: Editora da
Universidade, 1995. cap. 3. p. 77-105.
BRASIL. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade
Urbana. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm. Acesso em:
7 abr. 2020.
BRASIL. Manual de Saneamento. 3. ed. Brasília: Funasa, 2007. 408 p. Disponível em https://wp.ufpel.edu.
br/ccz/files/2016/03/FUNASA-MANUAL-SANEAMENTO.pdf. Acesso em: 9 abr. 2020.

14 Rev. Tecnol. Fortaleza, v. 41, n. 1, p. 1-15, jun. 2020.


Avaliação de desempenho hidráulico de sarjetas no sistema de drenagem urbana: um estudo no bairro Aldeota, em Fortaleza (CE)

GOOGLE. Google Earth Pro ®. 2020. Disponível em: https://www.google.com.br/earth/download/gep/


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SILVA, Francisco Osny Enéas da; PALÁCIO JUNIOR, Francisco Flávio Rocha; CAMPOS, José Nilson
Bezerra. Equação de chuvas para Fortaleza CE com dados do pluviógrafo da UFC. Revista DAE,
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edicao_192_n_1491.pdf. Acesso em: 7 abr. 2020.
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AMBIENTAL (Paraná). Manual de drenagem urbana da região metropolitana de Curitiba. Curitiba:
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TEIXEIRA, Lucas Florêncio da Cunha. Avaliação do desempenho hidráulico de sarjetas no sistema de
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422p. Disponível em: http://wiki.urca.br/dcc/lib/exe/fetch.php?media=livro10_calculos_hidrologicos-ler.pdf.
Acesso em: 9 abr. 2020.

Sobre os autores

Lucas Florêncio da Cunha Teixeira


Mestrando na área de Recursos Hídricos pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade
Federal do Ceará. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade de Fortaleza (2017).

Anísio de Sousa Meneses Filho


Mestre em Engenharia Civil pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal (1991).
Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Piauí (1986) e, atualmente, professor do Centro de
Ciências Tecnológicas da Universidade de Fortaleza.

Recebido em: 10.04.2020


Aceito em: 14.05.2020

Rev. Tecnol. Fortaleza, v. 41, n. 1, p. 1-15, jun. 2020. 15

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