Carneiro, Vinicius

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 73

i

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS

VINÍCIUS INÁCIO CARNEIRO

A PRÁTICA DO CANTO CORAL JUVENIL COMO RECURSO


INTEGRADOR PARA O ENSINO TÉCNICO EM MÚSICA

GOIÂNIA
2011
ii

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP)


GPT/BC/UFG

Carneiro, Vinícius Inácio.


C289p A prática do canto coral juvenil como recurso integrador
para o ensino técnico em música [manuscrito] / Vinícius
Inácio Carneiro. – 2011.
ix, 63 f. : il., figs, tabs.

Orientador: Prof. Dr. Ângelo de Oliveira Dias.


Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,
Escola de Música e Artes Cênicas, 2011.
Bibliografia.
Anexos.

1. Música coral 2. Canto coral 3. Coro juvenil 4. Música


– Ensino técnico 5. Integração disciplinar. I. Título.

CDU: 78.087.68:377.36
iii

VINÍCIUS INÁCIO CARNEIRO

A PRÁTICA DO CANTO CORAL JUVENIL COMO RECURSO


INTEGRADOR PARA O ENSINO TÉCNICO EM MÚSICA

Artigo apresentado ao CPG do Mestrado em


Música da Escola de Música e Artes Cênicas da
Universidade Federal de Goiás, como exigência
para a obtenção do título de Mestre em Música.
Área de concentração: Música, Criação e
Expressão.
Linha de Pesquisa: Performance Musical e
suas Interfaces.
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Dias.

GOIÂNIA
2011
v

Aos meus pais, que me possibilitaram o presente momento:


João do Valim (in memorian) e D. Ivone.

À minha filha, Leonora.


vi

AGRADECIMENTOS

Ao Criador, pela dádiva da vida, pela oportunidade do labor, e pela renovação das
forças a cada dia.

Aos familiares, pelo carinho e compreensão nos momentos de minha ausência.

A meu orientador, amigo, Ângelo Dias, pelos preciosos e constantes apoio e


aconselhamentos, desde as minhas primeiras incursões na regência coral.

Aos amigos, pelo estímulo e confiança em minha capacidade.

Aos alunos do curso técnico em Instrumento Musical do IFG, pela participação neste
trabalho.

Aos professores do curso técnico em Instrumento Musical do IFG, pela prontidão em


colaborar com a pesquisa.

Ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal de Goiás.

À FAPEG, pela concessão da bolsa de estudo.


vii

“Cada aluno traz consigo um domínio de


compreensão musical quando chega a nossas
instituições educacionais. Não os introduzimos na
música; eles são bem familiarizados com ela,
embora não a tenham submetido aos vários métodos
de análise que pensamos ser importantes para seu
desenvolvimento futuro.”

Keith Swanwick
vii

RESUMO

O presente estudo relata a experiência do autor enquanto regente do Coro do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, na medida em que apresenta os conteúdos
trabalhados na disciplina Canto Coral do Curso Técnico em Instrumento Musical, e ressalta a
ocorrência de aspectos integradores disciplinares. Tomou-se como ponto de partida o
programa da referida disciplina, no ano letivo de 2010, relacionando-a às demais disciplinas
técnicas do curso. O estudo se norteou pela avaliação de questionários elaborados aplicados
aos sujeitos, pelo resultado das avaliações curriculares da disciplina, bem como pela
verificação do desenvolvimento musical da turma no período. Verificou-se que, embora
presente, a integração disciplinar ainda ocorre de forma parcial na referida instituição, não
tendo ainda alcançado a totalidade do potencial a ela reservado entre as disciplinas de música.

Palavras-chave: Música coral; Canto coral; Coro juvenil; Ensino técnico; Integração
disciplinar.
viii

ABSTRACT

The present study investigates the curriculum integration aspects provided by youth choir
practice, as a curricular component in the study of music at the technical (High School) level.
The starting point was the course program of the discipline Choral Singing, in the Technical
Course in Instrument at the Goias Federal Institute (IFG), class of 2010, as it related to the
rest of the program. This investigation was based upon the evaluation of applied
questionnaires, as well as upon the artistic results obtained. The investigation is to be guided
by evaluation of questionnaires during the search. Part of this work is dedicated to report the
author's experience as a conductor of the IFG, with emphasis on the occurrence of curriculum
integration elements throughout. It was possible to verify that the curriculum integration, still
occurs in a partial manner at the above mentioned institution. Therefore, the full potential of
this integration has not been achieved as yet.

Keywords: Choral music; Choral singing; Youth choir; Technical education; Curriculum
integration.
ix

SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................................... vii


Abstract .................................................................................................................................. viii

PARTE A – PRODUÇÃO ARTÍSTICA ............................................................................. 01


Programa – Recital I ................................................................................................................ 02
Programa – Recital II............................................................................................................... 04
Notas de Programa .................................................................................................................. 06

PARTE B – ARTIGO............................................................................................................ 10
Introdução .............................................................................................................................. 11
1 – A prática coral no ensino médio profissionalizante...................................................... 17
1.1 Cursos técnicos de música na Rede Federal de Ensino Tecnológico ................................ 17
1.2 O Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG ........................................................... 18
1.3 O coro do Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG .............................................. 21
2 – Relato de Experiência...................................................................................................... 24
2.1 Primeiro semestre de 2010 ................................................................................................ 24
2.2 Segundo semestre de 2010 ................................................................................................ 26
2.2.1 Procedimentos utilizados durante os ensaios ................................................................. 27
2.2.2 Trenzinho do Caipira ...................................................................................................... 28
2.3 Aspectos integradores........................................................................................................ 32
2.3.1 Disciplina Teoria Musical – 1º ano ................................................................................ 32
2.3.2 Conjuntos de Flautas-Doces ........................................................................................... 33
2.4 Avaliações ......................................................................................................................... 33
2.5 Questionários ..................................................................................................................... 36
2.5.1 Discentes......................................................................................................................... 37
2.5.2 Docentes ......................................................................................................................... 42

Conclusão ............................................................................................................................... 45
Referências ............................................................................................................................. 47
Anexos..................................................................................................................................... 48
1

PARTE A: PRODUÇÃO ARTÍSTICA


2

Sociedade Goiana de Música e SESC Goiás


Apresentam:

Conjuntos de Flautas-Doces & Coro do IFG


18 de novembro 2010
20h30min
Auditório do Sesc Cidadania

Vinícius Carneiro, regência

Recital apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal de


Goiás como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música.
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Dias.
3

PROGRAMA

PARTE I

Giovanni Pierluigi da Palestrina (c.1525 – 1594):


• Sicut cervus

John Dowland (1563 – 1626):


• Come again

Cancioneiro de Palácio (Espanha, sec. XVI):


• Dindirin dindirin

Orlando di Lasso (c.1532 – 1594):


• O occhi, manza mia
Ana Paula Dias, voz

Italo Izzo:
• João Balalão (1944)

Bernd Frank (n.1959):


• Jazzacaglia

Nonato Cordeiro (n.1963):


• Cabaçal (baião)

Conjunto de Flautas-doces
Direção: Prof. Vinícius Carneiro
Flauta-doce sopranino: Pedro Henrique Ribeiro
Flauta-doce soprano: Alexandre Xavier, Habsarai Caiado, Lucas Gregory
Flauta-doce contralto: Habsarai Caiado, Igor César, Lucas Gregory
Flauta-doce tenor: Pedro Henrique Ribeiro, Alexandre Xavier, Felipe Nakagima
Flauta-doce baixo: Igor César, Felipe Nakagima

PARTE II

Franz Schubert (1797 – 1828):


• Missa em Sol Maior, D.167
Solistas:
Luana Torres, soprano
Weber Assis, tenor
Jadson Álvares, barítono

Coro do IFG
Preparador vocal: Prof. Edson Marques
Pianista: Profa. Marina Machado
Regente: Prof. Vinícius Carneiro
4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


ESCOLA DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

RECITAL DE MESTRADO

Coro do IFG
Vinícius Carneiro, regência

Auditório Belkiss Carneiro de Mendonça – Campus II – UFG


29 de março de 2011
15 horas

Recital apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal de


Goiás como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música.
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Dias.
5

PROGRAMA

• Franz Schubert (1797 – 1828): Missa em Sol Maior, D.167 – Kyrie & Gloria
Adrielly Fontes, soprano
Edson Marques, barítono

• Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959): Ave Maria (1916)

• Giovanni Pierluigi da Palestrina (c.1525 – 1594): Sicut Cervus

• Josquin Despréz (c.1440 – 1521): El Grillo

• Cancionero de Palacio (Espanha, sec. XVI): Dindirin Dindirin

• John Dowland (1563 – 1626): Come Again

• Ronaldo Miranda (n.1948): Cantares (texto: Walter Mariani)


(Revisão e complementação: Marum Alexander)
Ana Paula Dias, mezzo-soprano

• Heitor Villa-Lobos / Ferreira Gullar (n.1930): Trenzinho do Caipira


(Arranjo – Vinícius Carneiro)

• Carlos Guastavino (1912 – 2000): Se Equivocó la Paloma (texto: Rafael Alberti)

• Oscar Zander (1928 – 1985): Moteto de Coral

• Tribalistas: Velha Infância


(Arranjo – Vinícius Carneiro)
Violão: Emanuel Ferreira

• Pato Fu: Sobre o Tempo


(Arranjo – Eduardo Lakschevitz)
Soprano: Amanda Santos
Piano: Estéfany de Oliveira

Coro do IFG

Regente Titular: Vinícius Carneiro


Preparador vocal: Edson Marques
Correpetição: Marina Machado/ Edson Marques
6

NOTAS DE PROGRAMA (REFERENTES AOS DOIS RECITAIS)

• Franz Peter Schubert (1797 – 1828) foi um compositor austríaco do final da era clássica.
Embora não tivesse alcançado grande reconhecimento durante sua curta vida, é hoje celebrado
como grande compositor, tendo escrito mais de 600 Lieder, além de música para piano, trios,
quartetos e quintetos. Sua produção também abrange os gêneros sinfônico, coral-sinfônico e
dramático. A Missa em Sol Maior, D.167 é a segunda das seis missas escritas por Schubert.
Obra repassada pelo vigor impetuoso da juventude, foi concluída em apenas seis dias, no ano
de 1815. Sua instrumentação original, pensava-se, contava apenas com orquestra de cordas e
órgão. Posteriormente, na década de 1980, foi encontrado em Klosterneuburg, Áustria, outro
manuscrito da missa, com data posterior à original, trazendo pequenas alterações do
compositor nas partes já conhecidas, além do acréscimo de partes para trompete e tímpanos.

• Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959) destacou-se por ter sido o principal responsável pela
descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música, sendo considerado o maior
expoente do modernismo musical no país. Suas obras enaltecem deixam transparecer o
espírito nacionalista que apenas surgia, incorporando elementos folclóricos, populares e
indígenas, alcançando com isso grande reconhecimento internacional. Dentre as várias
versões escritas por Villa-Lobos para o texto da Ave Maria, esta, de 1916, é um cânone a duas
vozes mistas, a cappella. Já Trenzinho do Caipira é o último movimento da Bachianas
Brasileiras nº 2, e caracteriza-se por imitar os sons característicos de uma locomotiva com os
instrumentos da orquestra. O maranhense Ferreira Gullar (n. 1930) escreveu, em 1975, um
poema pensando na melodia de Villa-Lobos, ainda que, segundo o escritor, sem a intenção
real de que a letra fosse algum dia agregada à música existente. Posteriormente, o cantor e
compositor Edu Lobo realizou a primeira gravação do Trenzinho do Caipira com a inclusão
da poesia de Gullar. O presente arranjo (SATB) foi elaborado livremente sobre a música de
Villa-Lobos, valendo-se de técnicas de composição como fragmentação melódica, recursos
imitativos e o emprego de cluster.

• Giovanni Pierluigi da Palestrina (c. 1525 – 1594), compositor italiano do período


renascentista, foi o mais famoso representante da Escola Romana de composição do século
XVI. Palestrina exerceu grande influência no desenvolvimento da música da Igreja Católica e
sua obra é considerada como a síntese da polifonia renascentista. Sicut Cervus, moteto a
quatro vozes (SATB), é um dos mais expressivos exemplos da música polifônica da
renascença.
7

• A música de Josquin Despréz (c.1440 – 1521), nascido na região francesa de Flandres,


incorpora algumas influências italianas à formação característica da escola flamenga.
Compositor e cantor de talento muito apreciado pelos mais ricos mecenas da Europa, foi o
primeiro a ter volumes de música impressos inteiramente dedicados à própria obra. El Grillo
(SATB), datada de 1504, é uma das mais apreciadas e divertidas peças de Josquin, e diz que o
grilo é um bom cantor, que, ao contrário dos pássaros, que cantam um pouco e se vão, ele
permanece cantando.

• Cancionero de Palacio. O termo cancionero foi utilizado a partir do século XV para


designar uma coletânea ou antologia de poemas sem música, com ou sem a intenção de virem
a ser cantados. Os primeiros cancioneiros com música, compilados entre 1480-1532 contém
canções para mais de uma voz, sem acompanhamentos, com poemas arranjados com base em
melodias preexistentes. Dindirin Dindirin é uma peça a quatro vozes (SATB) que integra o
Cancionero Musical de Palacio (c. 1505-20), a mais célebre dessas coletâneas musicais, e que
representa o repertório musical cortesão da época de Fernando de Aragão e Isabel de Castela.

• John Dowland (1563 – 1626) foi um compositor prolífico e do Renascimento, também


conhecido em sua época como notável alaudista e cantor. Come Again está entre as mais
celebradas canções de Dowland, tanto na versão instrumental, quanto na de solo vocal com
acompanhamento ou coral (geralmente SATB).

• Ronaldo Miranda (n.1948) nasceu no Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira como crítico de
música no Jornal do Brasil e intensificou seu trabalho como compositor a partir de 1977. Sua
produção musical engloba obras para orquestra, banda, coro e piano, além de música de
câmara. Atualmente é professor de composição na Escola de Comunicações e Artes da USP.
Cantares foi composta em 1969, como uma simples canção, sobre o texto do poeta Walter
Mariani. Na década de 1980, a peça foi adaptada para voz, flauta-doce, cravo e viola da
gamba, seguindo-se de uma adaptação para voz e piano. Em 1987, Miranda faz a versão para
coro misto, que foi dedicada à grande regente brasileira Elza Lakschevitz e ao Coral Canto em
Canto.

• Carlos Guastavino (1912 – 2000), um dos mais destacados compositores da Argentina, por
vincular a chamada música culta à música popular, foi aluno de Manuel de Falla. Sua
produção, que atinge mais de 200 obras, é quase totalmente dedicada ao piano e voz.
Guastavino compôs Se equivocó la paloma em 1941, sobre texto do poeta espanhol Rafael
Alberti. A peça, posteriormente, integrou a Suíte Argentina¸ música para o Balé Espanhol de
8

Isabel López, em versão para orquestra de cordas, coro feminino e tímpanos. Apresentamos a
versão coral (SATB) realizada pelo próprio compositor.

• Oscar Zander (1928 – 1985) nasceu em Serro Largo, Rio Grande do Sul. Bacharelou-se em
piano e em composição pela UFRGS e, posteriormente, fixou residência na Alemanha, onde
estudou regência com W. Bruckner-Ruggberg, regente da Ópera de Hamburgo. No Brasil,
desenvolveu intensa atividade como docente e maestro, tendo dirigido e fundado importantes
grupos. Publicou, em 1979, o livro Regência Coral, um dos poucos tratados sobre o assunto
no Brasil, que, até os dias atuais, ainda é considerado como o mais completo. Moteto de Coral
é uma peça dividida em três partes, baseada na melodia coral Lobe den Herren, de Joachim
Neander, datada de 1680. A primeira parte apresenta a melodia em uníssono. Em seguida, as
vozes femininas apresentam um contracanto à melodia executada pelos homens. Na última
parte, em quatro vozes (SATB), o baixo apresenta o tema, que se desenrola com o
contraponto das vozes superiores.

• Tribalistas foi o nome dado ao trio formado por Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e
Marisa Monte, que resultou na gravação de um único CD, em 2002. O arranjo para Velha
Infância foi elaborado em 2005 para soprano, contralto e um naipe de vozes masculinas, com
livre acompanhamento de piano ou violão e percussão, com tessitura apropriada às
características vocais de grupos juvenis.

• Pato Fu é uma banda de rock mineira, formada em 1992. A canção Sobre o Tempo recebe
uma refinada caracterização com o arranjo para coro a três partes do maestro Eduardo
Lakschevitz. Nele, a melodia transita pelas vozes, há solo, além da possibilidade de
improvisos. O acompanhamento instrumental, embora não indicado na partitura, fica implícito
no arranjo, devido à escrita musical.

• Orlando di Lasso (c.1532 – 1594), compositor dos Países Baixos, foi um dos mais versáteis
do século XVI, transitando confortavelmente entre o sacro e o profano, tanto no estilo
italianizado quanto no franco-flamengo. Escreveu mais de 2000 obras, em quase todos os
gêneros correntes, incluindo missas, motetos, salmos, hinos, Paixões responsoriais e peças
seculares em italiano, francês e alemão. O occhi, manza mia, madrigal com texto em italiano,
recebe aqui uma adaptação para mezzo-soprano e conjunto de flautas-doces.
• Italo Izzo, maestro e compositor paulista, viveu em meados do século XX. Escreveu trilhas
sonoras para filmes, e foi parceiro de composição de Capitão Furtado. É também autor da
9

música para o Hino da cidade de Tietê (SP). O conjunto de flautas-doce interpreta o arranjo de
Izzo para coro a quatro vozes (SATB) da canção folclórica João Balalão.

• Bernd Frank nasceu em Weisenfels (Alemanha), em 1959. Integram suas composições


música para piano, peças para grupos camerísticos (vocais e orquestrais) e óperas.
Jazzacaglia é uma miniatura para coro a quatro vozes (SATB) com fonemas onomatopaicos e
harmonia jazzística.

• Cabaçal, de Nonato Cordeiro (n.1963), é um baião para sexteto de flautas-doces, e conta


com uma introdução seguida por cinco partes, cada qual com uma repetição. A melodia,
executada pela flauta sopranino dueta com a segunda flauta (sopranino ou soprano), enquanto
as flautas soprano, contralto e tenor marcam o contratempo característico do baião, apoiadas
pela marcação da flauta baixo.
10

PARTE B: ARTIGO

A PRÁTICA DO CANTO CORAL JUVENIL COMO RECURSO


INTEGRADOR PARA O ENSINO TÉCNICO EM MÚSICA
11

INTRODUÇÃO

A recente experiência com o coro de alunos do Curso Técnico em Instrumento


Musical do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), instituição
em que ingressei por concurso público em 2008, despertou em mim um antigo
questionamento, que tem sido recorrente em diversas fases de minha vida profissional: as
várias possibilidades integradoras presentes na atividade coral. Ao contrário do trabalho por
mim realizado em outros segmentos da sociedade – como em corais de empresa, instituições
religiosas e escolas regulares de ensino médio, ambientes onde a atividade musical afigurou-
se como complementar e voluntária –, a lide com o aluno de música tem-me possibilitado
uma nova abordagem e um maior aprofundamento técnico e conceitual no universo do canto
coral. E esse trabalho assume, agora, novos focos. Surgiu a possibilidade de relacionar a
prática coral com outras áreas do conhecimento musical, como, por exemplo, as diversas
disciplinas técnicas do curso. É possível averiguar em que nível se dá a interação entre elas, e
se a prática do canto tem, de alguma forma, ajudado o aluno em outros campos de atuação
escolar.

De forma geral, é sabido que a prática coral engloba aspectos que transcendem a
atividade puramente vocal. FUCCI-AMATO (2008, p. 15) afirma que os corais se
estabelecem, a um só tempo, como grupos de aprendizagem musical e desenvolvimento vocal
que propiciam integração e inclusão social, neles se manifestando complexas relações
interpessoais e de ensino-aprendizagem. Contudo, é possível observar que, por vezes, a
prática coral em cursos de música é tratada apenas como mais uma disciplina isolada ou
prática complementar, até mesmo restringindo-se à elaboração de repertório com o propósito
de cumprir o calendário acadêmico e realizar apresentações em datas comemorativas ou nos
finais de semestre. Tal realidade encontra-se em perfeita consonância com a assertiva de
BARRETO (1973, p. 8), que há quase quatro décadas já alertava para o fato de que o canto
coral era tratado como matéria complementar sem finalidade definida, fugindo à formação
musical do corista, objetivo que a autora considerava como o principal. Por despreparo ou
preocupação principalmente com a produção exaustiva de repertório, é comum que
profissionais da área acabem por reforçar tal incompreensão, desperdiçando valiosas
oportunidades no processo de ensino-aprendizagem por meio do canto coral, sobretudo em se
tratando de cursos de música, nos quais a possibilidade de integração entre as disciplinas
musicais tende a favorecer a sedimentação de conteúdos adquiridos pelo estudante.
12

FIGUEIREDO (2006, p. 16-17) aponta duas mentalidades distintas por parte de


regentes, ao trabalharem com seus cantores. A primeira delas, denominada extrativista, ocorre
quando o cantor é explorado ao máximo com o propósito exclusivo de preparar repertório
para apresentações. Sem pensar no desenvolvimento musical do grupo, o regente, levando o
cantor à exaustão, faz com que este acabe por desistir e saia do grupo, dando lugar a outros,
que serão explorados da mesma maneira, originando um círculo vicioso. A segunda
mentalidade apontada pelo autor é aquela em que o regente busca o desenvolvimento do
grupo, utilizando-se de uma série de metodologias e de muita criatividade. Desse modo,
quanto mais se busca o desenvolvimento dos cantores, mais retorno terá o trabalho.

Em uma turma de ensino técnico, no qual cada aluno deverá, obrigatoriamente,


cumprir os créditos da disciplina canto coral, quão prejudicial não lhe seria, bem como ao
grupo, lidar com um regente cuja postura se alinha à do profissional extrativista? Sendo a
atividade coral uma ferramenta vital para o desenvolvimento técnico-musical do aluno, numa
esfera de abrangência ainda longe de ser totalmente compreendida por grande parte de
músicos de outras áreas – e até mesmo por regentes –, urge uma significativa transformação
da mentalidade destes profissionais.

A verdadeira atuação do regente acontece nos ensaios, na medida em que ele coloca
seus conhecimentos e habilidades em prática para a construção da performance. (OAKLEY,
1999, p. 113) Sendo os cantores o seu instrumento, o regente dispõe de tempo determinado
com o grupo, ao contrário de um pianista ou violinista, que podem ter seus instrumentos à
disposição com muito mais flexibilidade de horários para realizar seus estudos
individualmente. Assim, o tempo torna-se um elemento determinante no trabalho do regente,
delimitando com justeza quando e onde este estará à frente de seu instrumento. Portanto, o
regente deve realizar um minucioso planejamento do ensaio, a fim de que, junto ao grupo,
alcance os objetivos propostos em um encontro que – há exceções – não passará de uma ou
duas horas. Se o foco do regente recair exclusivamente na elaboração de repertório, sem a
devida preocupação com a formação musical e intelectual de seus cantores, seu ensaio poderá
se tornar um processo repetitivo e exaustivo. Ao contrário, se durante a preparação do
repertório, o regente mantém a preocupação em contextualizar o que está sendo ensaiado, em
âmbito musical, histórico, filosófico e literário, isso contribuirá com a produtividade, ao passo
que se oferece um ensinamento global. O trabalho se torna estimulante e vocalmente mais
13

saudável, propiciando, em longo prazo, melhor compreensão e apreensão do conteúdo e, por


conseguinte, maior rapidez no preparo das obras selecionadas. OAKLEY (idem) acrescenta:

O ensaio coral propicia ao regente a oportunidade de alcançar dois objetivos


com uma só tarefa (...): permite aos cantores desenvolver uma experiência
íntima, apurada e imediata com música de grande valor (...), [e] fornece uma
oportunidade para se alcançar objetivos curriculares de longo prazo. (p. 113).

Quando atuando à frente de qualquer grupo coral, mas, em especial, na atividade


desenvolvida em instituições de ensino musical, nas quais regentes podem valer-se de
recursos integradores disciplinares, estes devem ter em mente que o repertório escolhido
servirá para promover o crescimento musical dos cantores durante os ensaios. Eles são a
preparação para o concerto, e este terá o coro como foco principal, em face de uma plateia
cujo anseio é experimentar o resultado de semanas ou meses de trabalho. Se há comunicação
de valores e ideias (musicais e não musicais), grupo e regente se tornam plenamente
recompensados em seus esforços, uma vez que se conclui satisfatoriamente o ciclo
preparação-concerto.

Um aspecto que pode se tornar cerceador da excelência na atividade coral ocorre


quando ela se presta tão somente como coadjuvante para abrilhantar eventos cívicos e sociais.
Infelizmente, tal visão da atividade ainda é muito frequente; não raro, os corais são solicitados
a fazer uma pequena participação em aberturas ou encerramentos de seminários, jogos e datas
comemorativas, servindo tão somente como complemento à realização de eventos que nada
têm a ver com música. Esse tipo de atividade é apontada por SWANWICK (2010, p. 52)
como uma sub-cultura musical (sic), uma vez que o repertório do grupo fica submetido a
interesses e propósitos externos. Nessas circunstâncias, o coro quase sempre dispõe de espaço
inapropriado à desenvoltura do trabalho, submetido a um posicionamento desconfortável,
geralmente ao lado do palco, à frente de uma mesa de autoridades ou espremido entre o palco
e a plateia. Pode ainda ser submetido a apresentações em locais abertos, sem recursos
acústicos adequados e sem a atenção exclusiva da audiência, que se mantém em conversações
durante a apresentação. Em determinadas situações, como as descritas acima, o trabalho foge
ao controle do regente, que se vê até mesmo coagido a aceitar para que não perca seu
emprego. Dedicando-se unicamente a esse tipo de finalidade, o grupo pode se distanciar do
propósito ideal de uma atividade coral formadora e musicalmente enriquecedora. Swanwick
(idem, p. 52) esclarece que, mesmo sob tais circunstâncias, há exceções, quando “o objetivo
14

do regente é ensinar música musicalmente, mais do que brilhar nas viagens do ego e do gosto
popular”, mantendo a qualidade na escolha e na execução musical em compromissos que não
sejam primordialmente artísticos.

É preciso que haja um trabalho do regente, junto à direção da instituição a que se filia,
no sentido de mudar atitudes e perspectivas. A visão do coro como coadjuvante deve ser
revista, evidenciando-se a importância do trabalho no aspecto artístico, sobretudo pedagógico;
a necessidade de tempo apropriado para a preparação do repertório; e a abertura de
oportunidades para realização de concertos formais. Outras formas de incentivo educacional
podem ser a participação em encontros, concursos e festivais corais. Adicionalmente, na
perspectiva do coral como disciplina em cursos de música, regentes e demais professores
devem se empenhar para que haja uma constante integração dos conteúdos apreendidos nas
diversas disciplinas técnicas.

Os objetivos integradores e pedagógicos relacionados à prática coral são conquistados


não porque são inerentes à prática em si, mas porque o trabalho é direcionado especificamente
para reforçar estes aspectos. A atividade coral faculta uma integração entre domínios
disciplinares em dois níveis. Um, que aqui denomino integração disciplinar, porque permite
uma conexão e inter-relação entre as disciplinas do mesmo domínio; e outro,
interdisciplinaridade1, quando expande essa teia de relações para os demais campos do
conhecimento humano, tais como a como a filosofia, a ética, a história, a literatura etc. Em
uma instituição de ensino escolar regular de nível médio, é possível que a aplicação da prática
coral possibilite ao aluno a ocorrência de interdisciplinaridade. Entretanto, no ensino
integrado profissionalizante, tem-se a possibilidade da ocorrência da integração disciplinar e
da interdisciplinaridade. Tal percepção foi-me possível graças à oportunidade do trabalho
junto aos alunos do Curso Técnico em Música do IFG.

Diferenças básicas entre esta atividade, quando desenvolvida no ensino integrado, e


aquela executada – e possível –, em instituições de ensino regular, não integradas ao ensino
técnico de música, afloraram já nos primeiros encontros. O estudo da leitura musical, a
comunicação verbal com emprego de termos técnicos, a noção de fraseado e respiração
desenvolvida nos ensaios – também aplicada no estudo individual de instrumento –, dentre
outros, são fatores que possibilitam maior aprofundamento técnico no trabalho coral.

1
A interdisciplinaridade, enquanto conceito, visando à conexão e inter-relação entre domínios diferentes da
ciência, não é alvo de discussão do presente trabalho.
15

Observa-se, entretanto, que a compreensão da prática coral como linguagem e como meio de
expressão artística, por parte dos alunos novatos, não ocorre imediatamente. Grosso modo, em
virtude de uma série de variantes técnicas que permeiam esta prática pedagógica, é possível
que o êxtase da sonoridade coral possa até ocorrer de forma mais profunda em um cantor
leigo do que em um estudante de música recém-ingresso no curso técnico. Em contrapartida,
o estudo progressivo dos elementos de linguagem característicos desta prática permite ao
aluno veterano, em longo prazo, uma fruição rica em detalhes que escapariam à percepção
consciente do leigo. Isso porque, se determinados elementos sonoros causam esta sensação de
prazer ao amador, passando pelo inconsciente, para um ouvinte familiarizado com a
linguagem musical, tais elementos passarão, invariavelmente, pelo consciente.

Tanto em seu aspecto pedagógico, quanto no artístico, pode ocorrer


interdisciplinaridade na prática coral, mesmo no ensino escolar regular, ainda que, neste, essa
atividade possua caráter complementar. Já no ensino integrado em música, a prática coral se
torna mais vantajosa, pois as possibilidades são mais abrangentes, graças à oportunidade de
integração disciplinar em música, com a qual os níveis de compreensão, elaboração e
execução do repertório tendem a ser mais elevados. Na formação profissional do adolescente
que frequenta o curso técnico, a atividade coral firma-se como um ponto de integração
disciplinar, tornando-se crucial para a sedimentação dos conhecimentos recém-adquiridos em
outras áreas da música.

O presente estudo teve como propósito relatar a experiência do autor enquanto regente
do Coro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, na medida em que
apresenta os conteúdos trabalhados na disciplina Canto Coral do Curso Técnico em
Instrumento Musical, ressaltando a ocorrência de aspectos integradores disciplinares. O ponto
de partida foi o perfil atual da disciplina Canto Coral do Curso Técnico em Instrumento
Musical do IFG, relacionando-a às demais disciplinas técnicas do curso, a fim de vislumbrar
suas futuras implicações no desenvolvimento artístico e humano do aluno do ensino
profissionalizante. O estudo se norteou pela aplicação e coleta de resultados obtidos de
questionários para os sujeitos2 nele envolvidos – discentes e docentes das matérias técnicas do
curso –, com o propósito de averiguar em que nível a disciplina Canto Coral se coloca como
integradora disciplinar em relação às demais matérias técnicas.

2
Como no presente trabalho os sujeitos abrangem dois grupos distintos, tais sujeitos serão designados pela
condição – alunos ou professores – quando houver necessidade.
16

O trabalho está organizado em duas partes. A primeira delas, denominada “Prática


Coral no Ensino Médio Profissionalizante”, apresenta um breve histórico sobre os cursos
técnicos de música na Rede Federal de Ensino Tecnológico e do Curso Técnico em
Instrumento Musical do Instituto Federal de Goiás, culminando no perfil do coro do Curso
Técnico desta instituição. Na segunda parte, denominada “relato de experiência”, são
relatadas as atividades realizadas na disciplina Canto Coral durante o período do estudo, bem
como os aspectos integradores facultados pelas atividades, as avaliações bimestrais propostas
e os dados obtidos através da aplicação dos questionários para os sujeitos.

O estudo se alicerçou em material bibliográfico que contempla aspectos musicais,


pedagógicos e socializadores da prática coral em geral, sobretudo aqueles que se relacionam
diretamente com o assunto. Os questionários aplicados contam com objetivos que são
específicos a cada grupo de sujeitos. Um deles, direcionado aos discentes, objetivou averiguar
o nível de interesse pela disciplina Canto Coral e os benefícios que ela pode promover em
relação às demais disciplinas do curso técnico, bem como avaliar o grau de inserção da prática
coral na esfera pessoal do aluno. O outro, direcionado aos docentes das disciplinas técnicas,
objetivou averiguar como a disciplina se qualifica como facilitadora do aprendizado discente
nas demais classes e a forma como são aplicados os conhecimentos nela adquiridos, bem
como descobrir quais elementos do conteúdo ministrado nessas disciplinas podem contribuir
com o aprimoramento da prática do canto coral. Foram atribuídos números aos sujeitos
envolvidos no estudo, a fim de resguardar sua identidade e possibilitar maior liberdade nas
respostas do questionário. As avaliações bimestrais previstas no plano de atividades do curso
técnico integram o estudo. Das quatro avaliações previstas para o ano letivo, duas foram
realizadas individualmente (a primeira e a terceira) e duas em conjunto (a segunda e a quarta),
em forma de recital.

Dentre as atividades integradoras e criativas propostas durante o estudo, foi elaborado


pelo autor, com a colaboração dos alunos do Coro do IFG, um arranjo vocal de Trenzinho do
Caipira, peça de Villa-Lobos com poesia de Ferreira Gullar. O arranjo integra o programa do
segundo recital.

Espera-se que o presente estudo possa criar perspectivas capazes de levar docentes e
músicos a uma reflexão mais aprofundada sobre o assunto, que tenda a um
redimensionamento da condição da atividade coral no contexto do ensino musical em nível
técnico.
17

1 – A PRÁTICA CORAL NO ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE

1.1 Cursos técnicos de música na Rede Federal de Ensino Tecnológico

Instituída em 2008, a Rede Federal de Ensino Tecnológico tem suas raízes nas antigas
Escolas de Aprendizes e Artífices, criadas pelo então presidente Nilo Peçanha, através do
decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. Num total de dezenove, inclusive uma em
Goiás, estas foram as primeiras instituições de ensino técnico criadas pelo Governo Federal,
que mais tarde dariam origem às Escolas Técnicas Federais e Escolas Agrotécnicas Federais.
Após reformulações, essas unidades passaram a receber, em 1999, o nome de Centros
Federais de Educação Tecnológica e, no final de 2008, Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia. Atualmente, a Rede Federal de Ensino Tecnológico é composta pelos
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, pela Universidade Tecnológica
Federal do Paraná, pelos Centros Federais de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro e de
Minas Gerais e pelas escolas técnicas vinculadas às Universidades Federais.

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) oferece o curso


técnico de música na modalidade integrada, isto é, constam da matriz do curso, além das
disciplinas técnicas propriamente ditas, disciplinas do componente curricular do ensino
médio, ou propedêutico. Existem outras duas modalidades de curso técnico ofertadas na Rede
Federal de Ensino Tecnológico: o subsequente, cursado após a conclusão do ensino médio, e
o concomitante, em que o aluno frequenta o ensino médio fora dos IFs, mas paralelamente ao
curso técnico.

A Rede Federal de Ensino Tecnológico conta com cinco cursos técnicos de música nos
Institutos Federais, sendo três subsequentes (IFCE, Campus Fortaleza, IFPI, Campus
Teresina, e IFPB, Campus João Pessoa) e dois integrados ao Ensino Médio (IFPB, Campus
João Pessoa, e IFG, campus Goiânia). Dentre os Institutos Federais, o primeiro a oferecer o
curso técnico em música foi o do Ceará, no Campus Fortaleza, em 2002. As atividades de
canto coral no Instituto Federal do Ceará funcionam como extensão, portanto, não fazem parte
da matriz do curso técnico nesta instituição. Dentre as Universidades Federais, as que ofertam
curso técnico em música são a Universidade Federal de Alagoas, a Universidade Federal do
Pará e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os dados aqui apresentados são do
18

primeiro semestre de 2010 e foram obtidos através de consulta direta realizada junto às
instituições que integram a Rede Federal de Ensino Tecnológico.

1.2 O Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG

O Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG, inicialmente denominado Curso


Técnico de Nível Médio Integrado em Artes/Música, criado em 2008, sofreu reformulações
em 2009, a fim de se adequar às normas do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, elaborado
pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC/MEC), passando a
denominar-se Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Instrumento Musical (IFG, 2009).
Atualmente são oferecidas 30 vagas anuais, com ênfase no estudo de um dos instrumentos
musicais oferecidos, a saber: trompete, trombone, tuba, trompa, violão, clarineta, saxofone e
flauta-doce. O curso, com duração de quatro anos, possui carga horária total de 3.555 horas,
mais estágio curricular que compreende a carga mínima de 108 horas. O quadro a seguir
apresenta a distribuição das horas para as matérias do conteúdo propedêutico, do conteúdo
técnico e do estágio curricular não remunerado:

Ensino
Ensino Técnico Estágio Curricular TOTAL
Propedêutico
2.259 horas 1.188 horas 108 horas 3.555 horas

Quadro 1: carga horária do curso técnico integrado em Instrumento Musical – IFG

Atualmente, as três turmas já iniciadas somam um total de 59 alunos3, distribuídos da


seguinte forma:

1º ano 2º ano 3º ano TOTAL


28 19 12 59

Quadro 2: curso técnico em Instrumento Musical do IFG


Número de alunos por turma (2º semestre de 2010)

Desde sua implantação até o final do primeiro semestre de 2010, houve um índice de
desistência do curso de 9,2%, aproximadamente.

3
Dados de agosto de 2010.
19

São destacados, a seguir, alguns dos objetivos institucionais do curso, conforme


estabelece o projeto de reformulação aprovado em 2009:

• Estimular o desenvolvimento de competências profissionais, envolvendo o


pensamento reflexivo;

• Oportunizar o desenvolvimento artístico, a divulgação, a apreciação, a criação e


execução musical;

• Propiciar ao estudante o desenvolvimento da capacidade de aprender a aprender;

• Formar profissionais aptos a atuar nos campos musicais instituídos e emergentes;

• Preparar profissionais aptos para atuar de forma articulada às necessidades


mercadológicas e à prática social.

Em relação ao perfil do egresso do Curso Técnico em Instrumento Musical, exige-se


que este tenha assegurado em sua formação subsídios essenciais para uma prática profissional
de boa qualidade, seja atuando como instrumentista ou como cantor, como solista ou
integrando conjuntos de diversas formações. Exige-se, também, que este apresente um
material profissional que encontre paralelo nas exigências de apresentação de material
acadêmico, bem como competências profissionais relativas à contextualização do fato
musical, fundamentando a prática adquirida durante o curso. Por fim, que o profissional
egresso se preocupe com sua postura ética e profissional, com aspectos psicológicos, que
envolvem a performance, vestuário, voz e atuação em público. (IFG, 2009)

Quanto à admissão do candidato ao Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG,


há um diferencial em relação ao procedimento comumente adotado por outras instituições de
ensino técnico: não lhe é exigido, previamente, que tenha conhecimentos musicais teórico-
práticos. Neste exame são aferidos a musicalidade, disponibilidade e o interesse pelo curso.
Uma vez aprovado no referido exame e no de conhecimentos do ensino fundamental, o aluno
começa seus estudos específicos numa espécie de marco zero. Se comparado ao aspirante à
graduação, isso se torna um diferencial maior, pois que na maioria das instituições de ensino
superior são exigidos conhecimentos prévios de linguagem e estruturação musicais, História
da Música etc. Assim sendo, as aplicações pedagógicas da prática coral assumem feições
distintas nesses dois universos.
20

Um fator preponderante que diferencia a prática coral no ensino médio e na graduação


é a faixa etária desse aluno. Nos cursos técnicos integrados ao ensino médio, ela gira em torno
dos 14 anos, período que engloba a primeira metade da adolescência4, enquanto que o ensino
superior é voltado, tipicamente, para o público adulto ou no final da adolescência. A idade
desse aluno – enquanto participante da atividade coral – implica numa peculiaridade em
relação às atividades corais infantil e adulta. Na adolescência, período marcado por
significativas mudanças biológicas no indivíduo, o jovem tem de lidar com a muda vocal, o
que quase sempre é motivo de constrangimento quando o assunto é cantar. GARRETSON
(apud OLIVEIRA, 2003, p. 23) aponta duas posturas que norteiam a prática coral na fase da
mudança vocal. Uma delas, vigente na Europa, aconselha que o adolescente pare de cantar até
a completa definição da voz. A outra, predominante nos Estados Unidos, recomenda a
atividade mesmo durante a mudança vocal. No Brasil, é frequente a ideia, entre alguns
regentes e professores de canto, de que o adolescente não deve participar da atividade coral no
período da mudança vocal. Longe de ser um conceito embasado tecnicamente, ele mais se
assemelha a um excesso de cautela, em face de um provável desconhecimento do que se fazer
na sala de ensaio com esse indivíduo.

No Brasil, não existem dados atualizados e rigorosamente coletados em relação ao


número de grupos corais. OLIVEIRA (2003, p. 23), em consulta feita à Fundação Nacional de
Arte (FUNARTE), encontrou os seguintes números em relação a coros cadastrados, de acordo
com a faixa etária: 110 coros infantis, 21 coros infanto-juvenis, 28 coros juvenis e 932 coros
adultos. Estas informações denotam a disparidade entre o total de coros infanto-juvenis e
juvenis em relação aos demais. Se, por um lado, existe certa resistência entre os jovens em
cantar, por outro lado, falta iniciativa e estudo por parte dos regentes a fim de encorajar os
jovens à prática coral.

Recentemente, a FUNARTE iniciou um esforço para o encorajamento à prática coral


adolescente em nosso país, patrocinando uma coleção de partituras especialmente escritas
para coro juvenil por 12 compositores e regentes brasileiros, e que já se encontram
disponíveis no site da instituição. O objetivo foi oferecer aos regentes e grupos um repertório

4
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a adolescência é o período entre 10 e 20 anos, sendo chamado de pré-
adolescência dos 10 aos 12 anos.
21

que respeitasse as características vocais do coro juvenil, ainda limitadas em certos aspectos,
mas ricas em possibilidades musicais e humanas para se atingir uma prática coral plena.5

1.3 O coro do Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG

No Brasil, a grande maioria dos grupos corais é formada por cantores leigos, sem o
domínio da linguagem musical escrita ou de embasamento teórico, o que não implica,
necessariamente, em um impedimento para o desenvolvimento de suas atividades. Ao
contrário, a prática coral se firma como uma excelente porta de entrada para quem pretende
aprender música, ou apenas vivenciar a prática musical. Tocar um instrumento exige um
mínimo de habilidade do executante, conhecimentos teóricos sobre a produção de som do
instrumento, dedilhado, embocadura etc., peculiares a cada um. Para cantar em conjunto,
basta que, inicialmente, o aspirante tenha interesse em colocar em ação suas habilidades de
cantor, as quais foram adquiridas desde a mais tenra idade, na escola ou em casa, além de
possuir um aparelho vocal/fonador/auditivo em perfeitas condições. O fato de o indivíduo não
ser formalmente musicalizado não pressupõe que ele não seja musical ou não tenha
compreensão musical, pois a música permeia seu cotidiano e concede-lhe a chamada
musicalidade. Esta musicalidade se expressa através dos gestos, da fala, dos movimentos, e
pode também ser observada nos fenômenos da natureza, como o ritmo presente no ciclo do
dia ou nas mudanças das estações do ano. SWANWICK (2010, p. 66-67) explica que o aluno
chega às escolas com um domínio de compreensão musical, que estão bem familiarizados
com a música, embora de forma diferente dos métodos de análise que os professores julgam
importantes para o desenvolvimento do aluno.
Na prática coral, é notável que, na maioria dos casos, o cantor sem a devida bagagem
de conhecimentos teórico-musicais específicos, às vezes se sinta sem estímulo para aprender
uma obra cujo nível de complexidade esteja acima de sua capacidade de entendimento. Texto
em língua desconhecida, fórmulas melódicas, rítmicas e harmônicas estranhas ao seu nicho
cultural e musical podem, sim, se tornar fatores desestimulantes ao aprendizado do cantor.
Todavia, o regente atento a estas questões busca alternativas para que seu grupo sinta prazer
em aprender o repertório escolhido, desde que esteja ajustado ao seu nível de desafio.
DEMAREE & MOSES (1995, p. 212) asseveram que todos os regentes são educadores
musicais, e que têm como objetivo básico primordial receber os músicos como tal e tentar

55
A Coleção Coro Juvenil da FUNARTE está disponível para download (partituras e gravações) no
sítio: <http://www.funarte.gov.br/portal/2010/04/20/serie-de-coro-juvenil>
22

fazê-los melhores. O indivíduo musicalizado se torna mais sensível e receptivo ao fenômeno


sonoro e suas respostas musicais na performance serão mais satisfatórias.

O coro do Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG goza de particularidades em


relação a diversos grupos corais, mesmo quando comparado a coros de outras instituições de
ensino musical, que, não raro, têm a atividade como disciplina isolada, ou complementar,
restringindo-se, muitas vezes, à elaboração de repertório e cumprimento de carga-horária.
Primeiro, porque, enquanto disciplina, a prática coral é componente da grade curricular do
curso técnico, em que objetiva-se, primordialmente, o aprendizado musical. Em segundo
lugar, porque existe um esforço no sentido de que os alunos estabeleçam relações e interajam
com os conhecimentos adquiridos nas diversas disciplinas técnicas, tendo o coral como o eixo
integrador disciplinar. Além disso, cada aluno estuda um ou mais instrumentos musicais e
integram a banda do IFG, mesmo alunos de violão, que são incentivados a estudar
instrumentos de sopro ou percussão, a fim de complementar seu aprendizado, visando
melhores possibilidades no campo profissional, ao término do curso.

A carga horária de ensaios do coro estabelecida na grade curricular é de duas aulas


semanais, agregadas em um único encontro de uma hora e meia. Entretanto, além deste, são
realizados dois outros encontros com igual duração, destinados a ensaios de naipes. Dois
professores auxiliam o trabalho do regente durante os ensaios, um preparador vocal e um
pianista. Além dos 59 alunos matriculados no curso de música, o coro recebe mais três alunos,
sendo dois provenientes de outros cursos técnicos da Instituição e um da comunidade. Tais
alunos cursam teoria e instrumento em outras instituições de ensino musical. Os 62 alunos
integrantes do coro no ano letivo de 2010 foram assim dispostos nos naipes: 23 sopranos,
21contraltos, 09 tenores e 09 baixos. Os ensaios são realizados em um dos auditórios do IFG,
espaço climatizado que dispõe de um piano de armário e de 80 cadeiras fixas na plateia. Por
outro lado, as dimensões do palco são insuficientes para o grupo, já que o espaço fora
originalmente idealizado para pequenas conferências. Paralelamente ao trabalho desenvolvido
pelo preparador vocal durante os ensaios, são oferecidas oficinas de técnica vocal em grupo
aos alunos do curso, divididas em turmas de vozes masculinas e vozes femininas.

As condições de estrutura física para os ensaios gerais do Coro do IFG não podem ser
consideradas ideais. Parte do problema deve-se à demanda de espaço físico que a Instituição
vem enfrentando com a abertura de novos cursos, entre técnicos, licenciaturas, bacharelados,
pós-graduações, mestrados e doutorados interinstitucionais – após a sua transformação de
23

Centro Federal de Ensino Tecnológico em Instituto Federal. Isso criou, também, uma
demanda maior para o corpo de servidores técnico-administrativos. Em acréscimo, o auditório
atualmente destinado aos ensaios do coro é o único na Instituição, dentre os espaços fechados,
que comporta três turmas simultaneamente, não estando em permanente disponibilidade para
o coro.

Há no IFG outros dois espaços capazes de receber um número maior de pessoas,


entretanto estão em reforma. Dentre eles está o Teatro do IFG, com capacidade para 350
pessoas e palco suficiente para abrigar confortavelmente um coro de grandes dimensões. Um
terceiro espaço, já em utilização, poderia ser utilizado pelo coro, em sua formação atual, no
entanto, aguarda tratamento acústico e climatização, sem os quais o ensaio do grupo fica
comprometido devido à interferência sonora externa. Este último tem uma vantagem em
relação ao espaço atualmente utilizado, uma vez que dispõe de cadeiras soltas, embora seja
desprovido de piano. Dessa forma, os ensaios teriam que ser correpetidos com teclado.
Atualmente ele é destinado, dentre outras atividades, ao ensaio da banda.

Se por um lado, as atuais condições físicas para a realização dos ensaios do coro ainda
não são ideais, por outro lado, o Coro do IFG conta com um corpo de profissionais que está
fora da realidade de diversos grupos. Nesses, além das atribuições que cabem essencialmente
ao regente, este acumula as funções de preparador e correpetidor do grupo. O conhecimento e
o domínio para desempenhar todos esses atributos são imperativos para um bom profissional.
Entretanto, no IFG, o coro do curso técnico dispõe de regente, correpetidor e preparador
vocal, ao invés de apenas um regente desempenhando vários papéis. Divergências de
opiniões e atitudes em relação ao trabalho de técnica vocal aplicado ao coro raramente
ocorrem entre regente e preparador vocal no ambiente do IFG. Isso porque os papéis são
claramente assumidos e delimitados. Com a presença do professor de canto em todos os
ensaios, quaisquer problemas técnicos de ordem vocal sofrem a intervenção deste
profissional. O correpetidor atua durante a leitura das peças, e, no caso de peças a cappella, o
quanto antes, este deixa de acompanhar e apoiar o coro, de modo que este se firme por si na
afinação das vozes e na manutenção da tonalidade. A intervenção do profissional só ocorre,
então, quando solicitado pelo regente. Nessas condições, o trabalho tende a se tornar mais
satisfatório e produtivo, evitando que o regente seja sobrecarregado.

Como citado anteriormente, o aluno novato do curso de música do IFG inicia seu
aprendizado no que denominamos marco zero, mesmo que alguns deles tragam certa bagagem
24

de conhecimentos teóricos e práticos adquirida anteriormente. Para estes, dependendo do grau


de conhecimentos teóricos, solfejo e leitura, é concedida dispensa das aulas iniciais de Teoria
Musical, no primeiro ano. Contudo, a quantidade de novatos sem contato formal anterior com
o universo da linguagem e estruturação musicais tem sido bastante superior aos demais, nos
três anos de existência do curso. Assim, a prática coral no primeiro semestre do curso lida
com o leigo que progressivamente cria um arcabouço intelectual que o distanciará da sua
condição inicial. Antes de ser um fator limitador da produtividade e dos processos
pedagógicos, este aluno inicialmente leigo pode experimentar um crescimento que, na
verdade, é possível a todo e qualquer cantor que integre um coro amador.

2 – Relato de Experiência

Esta parte é dedicada ao relato de experiência do autor enquanto regente do Coro do


IFG, na medida em que apresenta os conteúdos trabalhados na disciplina Canto Coral do
Curso Técnico em Instrumento Musical, ressaltando a ocorrência dos aspectos integradores
disciplinares. Também são apresentados os dados das avaliações realizadas durante os dois
semestres letivos de 2010. Por último, têm-se os resultados obtidos pela aplicação dos
questionários para os sujeitos envolvidos no estudo.

2.1 Primeiro semestre de 2010

O grupo base com o qual o estudo foi realizado compôs-se pelas turmas de 1º, 2º e 3º
anos de 2010. Como a maioria da turma de 1º ano não possuía experiência com o canto coral,
bem como familiaridade com a escrita musical, observou-se que a atividade em conjunto com
os veteranos gerou desconforto aos novatos que, com visível timidez, apresentaram
dificuldade em relação à navegação na partitura nos primeiros encontros, não obstante
orientações prévias dadas pelo regente. Quanto ao repertório, foram introduzidas,
inicialmente, peças com nível de complexidade baixa, em relação à melodia, tessitura, ritmo e
harmonia. Se os novatos enfrentaram dificuldades técnicas nos ensaios, em face de sua
inexperiência, os veteranos se queixaram pela paciência exigida perante os iniciantes.
Naturalmente, tais dificuldades e conflitos foram gradativamente superados com a aplicação
dos conhecimentos adquiridos pela turma de 1º ano nas aulas de teoria e de técnica vocal, pela
vivência da prática coral em si, e pela convivência nos ensaios com os veteranos. A
25

intermediação-liderança do professor foi fundamental para manter o equilíbrio do processo,


despertando em todos os níveis da classe o mesmo interesse no crescimento do grupo.

Com o apoio do grupo proveniente do ano letivo de 2009, foi possível elevar o nível
de complexidade do repertório estudado mais rapidamente, o que não aconteceria se o grupo
fosse formado essencialmente por alunos sem experiência com a atividade coral que, para os
quais, tudo ainda era novo, (des) conhecido. As peças preparadas no 1º semestre de 2010
foram:

• Ave Maria, de Heitor Villa-Lobos (1948) – cânone a duas vozes;

• Se equivocó la paloma, de Carlos Guastavino – texto de Rafael Alberti (SATB);

• Sobre o tempo, de Pato Fu – arranjo de Eduardo Lakschevitz (SABr);

• Velha infância, de Tribalistas – arranjo de Vinícius Carneiro (SABr);

• Dindirin, Dindirin, anônimo – Cancionero de Palacio, séc. XV (SATB);

• Azulão, de Jayme Ovalle – texto de Manuel Bandeira (SATB);

• Cantares, de Ronaldo Miranda – texto de Valter Mariani (SATB);

• Te Quiero6, de Alberto Favero – texto de Mario Benedetti e arranjo de Liliana Cangiano


(SATB);

• Sicut Cervus, de G. P. Palestrina (SATB).

A peça Come Again, de John Dowland (SATB) foi lida com o coro, sem o texto.

Foram adotados os seguintes critérios para a escolha do repertório: contraste estilístico


(escrita homofônica/polifônica, sacro/secular, diferentes períodos, popular/erudito, solo/tutti),
peças em diversas línguas (português, espanhol, latim) estrutura rítmica e melódica
relativamente simples.

Além do recital de encerramento de semestre, foram realizadas duas apresentações na


vizinha cidade de Anápolis (GO). Uma delas por ocasião da inauguração do Campus do IFG

6
Peça ensaiada pela Dra. Noemi Lugo, professora da Universidade do Kentucky (EUA) e que, por ocasião da
visita à Universidade Federal de Goiás, durante o primeiro semestre letivo de 2010, ofereceu masterclasses de
canto aos alunos do IFG, tendo sido convidada a trabalhar também com o Coro do Instituto.
26

daquela cidade, e a outra, em que o coro participou do XXIII Encontro Nacional de Coros de
Anápolis7.

2.2 Segundo semestre de 2010

Superados os conflitos e dificuldades entre as turmas de veteranos e a turma de


novatos no início do primeiro semestre, o segundo semestre de estudos na disciplina Canto
Coral foi dividido entre a manutenção do repertório já preparado, algumas apresentações e o
ensaio de novas peças. A fim de proporcionar aos alunos o contato com uma obra erudita de
maior envergadura, e de acordo com o nível técnico do grupo, preparamos a Missa em Sol, D.
167, de Franz Schubert. Um fator levado em consideração para esta escolha foi a
oportunidade inédita para o grupo de fazer um repertório com orquestra, uma vez que
havíamos recebido convite prévio. Como complementação para o repertório estudado durante
o ano letivo, ensaiamos duas outras peças com baixo nível de complexidade melódica e
rítmica: Moteto de Coral, de Oscar Zander (SATB), e Nasce a lua, modinha paulista com
arranjo de Oscar Zander (SATB). Durante todo o semestre trabalhamos na criação e ensaio de
Trenzinho do Caipira, de Villa-Lobos, com texto de Ferreira Gullar – arranjo elaborado
durante o período do estudo e que será abordado mais adiante.

Por ocasião dos aniversários de dois Campi da Instituição, o Coro do IFG realizou
apresentações nas cidades goianas de Uruaçu e Itumbiara, em agosto, e também em Ouro
Preto, Minas Gerais. Esta última se deu por ocasião de convite feito à Banda do IFG para
participação no IX Festival Ouropretano de Bandas, promovido pelo Museu da Inconfidência.
Como a banda é formada pelas turmas do curso técnico, assim como o coro, também foi
oportunizado a este divulgar sua atividade em duas apresentações na localidade: no Instituto
Federal de Ouro Preto, aos alunos e servidores, e na Praça Tiradentes, à comunidade local.

7
Um fato marcante aconteceu na viagem de volta do XXIII Encontro Nacional de Coros de Anápolis, na noite
do dia 03 de julho de 2010. Estimulados pela apresentação do grupo e pela oportunidade de assistir à
performance de outros corais, e a despeito do cansaço gerado pelas atividades e provas de final de semestre,
pequena parte do grupo começou a cantarolar uma peça do repertório apresentado na noite. Resolvi participar da
brincadeira, ora cantando a voz do contralto, ora a do tenor ou do baixo. Em poucos instantes, a maioria se
engajou no exercício entre eles, o preparador vocal e a pianista. Alguns decidiram que cantariam a voz de outro
naipe. Assim, foi necessário que cada qual fizesse uso de sua apostila, a fim de ler a melodia escolhida. Sugeri
que lêssemos algo inédito – parte do material reservado para o segundo semestre. Em poucos instantes
solfejamos e adicionamos a letra do Moteto de Coral, de Oscar Zander, a quatro vozes mistas. Tal experiência foi
instigante, dada a evidente motivação dos alunos em um processo lúdico. Nossa brincadeira reforçou o que
sempre é aconselhado aos estudantes: o estudo em conjunto fora da sala de aula a fim de colocar em prática a
troca de conhecimentos e experiências, que são importantes ferramentas para a aprendizagem.
27

Ao término do segundo semestre letivo de 2010, o Coro do IFG apresentou em


conjunto com a Orquestra de Câmara Goyazes – grupo profissional mantido pelo governo do
Estado – e solistas convidados a Missa em Sol, de Schubert, dentro da programação do X
Festival de Artes do IFG.

2.2.1 Procedimentos utilizados durante os ensaios

O emprego de fragmentação melódica descrito por VERTAMATTI (2008) foi


utilizado em dois ensaios com o Coro do IFG. No Hino à Bandeira, de Francisco Braga e
Olavo Bilac, a melodia foi fragmentada em quatro partes, de modo que cada naipe cantasse
pequenos trechos da peça. Dada a exigência de um nível maior de atenção por parte do aluno
que, por sua vez, para uma melodia simples e sem complicadores harmônicos, nem sempre
devota a atenção esperada pelo regente na preparação da obra, notou-se que a dinâmica
proposta propiciou rápida aprendizagem da peça, e de forma envolvente. O emprego deste
recurso visou minimizar a dificuldade dos cantores em executar melodias entrecortadas por
pausas, e o jogo no qual cada voz depende da outra no sentido de formar uma frase coerente
contribuiu para reforçar os aspectos de compreensão fraseológica musical. Outro exercício
apresentado pela autora na lide com o repertório coral contemporâneo é o emprego do cluster.
O recurso da audiação8 foi utilizado diversas vezes durante os ensaios. O exercício proposto
em sala consistiu no seguinte: a um sinal combinado, durante a execução da obra, o grupo
continua a executar a música internamente, isto é, sem emitir som, estáticos e sem regência. A
um novo sinal do regente, o coro volta a emitir sons, do ponto em que estavam cantando
mentalmente, juntos, no mesmo ritmo e afinação. Estes procedimentos serviram ao Coro do
IFG como preparação para o estudo e interpretação de Trenzinho do Caipira, que será
abordado a seguir.

2.2.2 Trenzinho do Caipira

Durante o período deste estudo foi produzido um arranjo coral com a colaboração dos
alunos do coro. Criar um arranjo para Trenzinho do Caipira9, de Villa-Lobos, com poesia10 de
Ferreira Gullar era um anseio relativamente novo, e que teve seu momento propício no
trabalho com o Coro do IFG. Propus aos alunos que, juntos, construíssemos o arranjo. Para

8
Audiação – tradução proposta em versão portuguesa da obra Music Learning Theory, de E. Gordon em 1980, e
significa “a capacidade de ouvir e compreender musicalmente quando o som não está fisicamente presente”,
conforme Caspurro (2007, p. 6).
9
Melodia da tocata das Bachianas Brasileiras nº 2 (1930).
10
Trecho do Poema Sujo, de 1975.
28

tanto, teríamos que descobrir como seria o som do nosso trenzinho. A cada ensaio geral,
durante a fase de elaboração, foram reservados 10 minutos para a obtenção e trabalho de
elementos que pudessem ser empregados na peça.

Por ocasião da apresentação da Banda e Coro do IFG em Ouro Preto, Minas Gerais,
em agosto de 2010, dez alunos tiveram a oportunidade de fazer um passeio até a cidade de
Mariana, a fim de conhecer e ouvir o órgão da Sé.11 O percurso, com duração aproximada de
uma hora foi realizado de trem. Nenhum dos alunos presentes havia tido, até então, tal
experiência. Durante o trajeto foram observados alguns sons característicos. Solicitei aos
alunos que tentassem reproduzir alguns desses sons, a fim de utilizarmos posteriormente no
nosso arranjo.

As ideias surgidas durante os ensaios, bem como os sons coletados na viagem de trem
foram adaptadas e empregadas na peça. Em um dos ensaios, no momento destinado à
elaboração conjunta, foi entregue aos alunos um pequeno trecho do que havia sido escrito,
ainda sem texto. O trecho, partindo do uníssono (Lá m), atinge um cluster, seguido de uma
ponte harmônica a fim de se alcançar a tonalidade inicial (Mi) (figura 1).

Figura 1: cluster/ponte

11
Órgão ArpSchnitger, construído em 1701, na Europa, e doado à catedral de Mariana por D.João V, em 1753.
A Sé de Mariana abriga o único exemplar, fora da Europa, dentre os órgãos manufaturados por Schnitger.
29

A fragmentação melódica foi utilizada na introdução da peça. A partir do quarto compasso


tem-se uma alusão ao apito do trem, culminando em um acorde em fermata, anunciando sua
partida (figura 2).

Figura 2: fragmentação melódica.

A movimentação do trem é sugerida através de pequenas células em ostinato,


presentes em diversos pontos da partitura (figuras 3 e 4). O cânone textual entre tenores e
baixos intensifica essa movimentação com a última sílaba da palavra bolacha, nos compassos
57 e seguintes. A partir do compasso 59 sopranos e contraltos imitam o apito do trem, com
intervalos harmônicos de segundas maiores. (figura 4). Nos compassos 87 a 90, o baixo imita
o som dos vagões de trem ao passar sobre as emendas dos trilhos (figura 5). Estes quatro
compassos servem de introdução para a seção em modo menor, na qual o coro, vocalizando,
dá suporte ao poema12 recitado por um dos cantores.

12
O passado se faz presente./ A vida passa/ O trem passa/ E eu continuo ausente./ O tempo passa/ E as coisas/
Passam pelo tempo. – poema elaborado por dois integrantes do Coro do IFG.
30

Figura 3: movimentação do trem.

Figura 4: movimentação do trem.

Figura 5: vagões ao passar pela emenda dos trilhos.

O trabalho com o texto de Trenzinho do Caipira demandou especial cuidado no


planejamento do ensaio. O poema de Ferreira Gullar, inserido posteriormente na música de
31

Villa-Lobos, integra uma obra maior, cujo título é Poema Sujo. Ele foi escrito em 1975,
durante um dos momentos mais dramáticos da vida de Gullar, enquanto este esteve exilado na
Argentina. Considerado sua obra mais ousada, teve sua publicação em 1976, em livro
homônimo, ainda com o poeta no exílio.

Os poucos versos que Gullar emprestou à melodia de Villa-Lobos não dão, sequer de
longe, a mínima dimensão do poema em sua íntegra. Abordando, explicitamente, ora a
impureza no cotidiano humano13, ora a temática erótica14, o escritor cede espaço às
recordações da infância: as viagens que fazia de trem com seu pai – comerciante ambulante –
de São Luís, no Maranhão a Teresina, no Piauí.

Em crônica publicada na Folha de São Paulo, GULLAR (2009) conta que, durante os
anos vividos em São Luís, não se lembra de ter ouvido alguma música de Villa-Lobos.
Somente depois de casado teve contato com a obra do compositor pelos discos de sua esposa.
Em certa ocasião, ao ouvir a tocata da Bachianas Brasileiras nº 2, veio o ímpeto de colocar
letra na música, motivado pela lembrança das viagens feitas com o pai:

O trem saía de madrugada e, ao amanhecer, cortava o Campo dos Perizes15, um vasto


pantanal, povoado de garças, marrecos, nhambus, pássaros de todo tamanho e cor. Eu
ficava deslumbrado, a cada viagem.

Várias tentativas foram empreendidas a fim de escrever o texto para a música,


contudo, Gullar só lograria sucesso bem mais tarde, em 1975:

(...) ao escrever o Poema Sujo, em Buenos Aires, evoco aquelas viagens que fazia com
meu pai e, então, enquanto, antes, era a música de Villa-Lobos que me fazia lembrar
das viagens, agora elas é que me fizeram lembrar da Bachiana nº 2 e, assim, a letra
que não conseguira escrever em 20 anos, escrevi em 20 minutos.

13
(...) tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de/ banana entre os cheiros de flor e
bosta de porco aberta como/ uma boca do corpo (...)
14
(...) e os carinhos mais doces mais sacanas/ mais sentidos/ para explodir como uma galáxia/ de leite/ no centro
de tuas coxas no fundo/ de tua noite ávida/ cheiros de umbigo e de vagina/ graves cheiros indecifráveis/ como
símbolos/ do corpo/ do teu corpo do meu corpo (...)
15
Campo de Perizes, Maranhão.
32

2.3 Aspectos integradores

2.3.1 Disciplina Teoria Musical – 1º ano

Uma das formas de estabelecer a integração de conteúdos nas disciplinas Canto Coral
e Teoria Musical do 1º ano foi o intercâmbio de materiais didáticos empregados nessas
disciplinas. Foi solicitado ao professor desta última que utilizasse parte do repertório do coral
para o treinamento de solfejo em sala. No coro, foram constantemente reforçados os
conteúdos teóricos e reestudados os solfejos dados na classe de teoria. Embora algumas das
peças do coro estivessem em tonalidades afastadas de dó maior ou lá menor – as duas
tonalidades estudadas no primeiro ano – a prática mostrou-se proveitosa para as duas
disciplinas, uma vez que, em Teoria Musical, com a ação comedida do professor e sem fugir
ao conteúdo programático, a turma pôde perceber a relação intervalar das escalas maiores e
menores em diversos tons. No coro, houve sensível melhora em relação à leitura do
repertório. Notou-se crescente interesse dos alunos pelos elementos teórico-musicais na
medida em que novas notações ou fórmulas rítmicas apareciam na partitura, tais como
quiálteras, dobrado-sustenido ou dobrado-bemol. Explicações pertinentes para a execução
eram dadas no ensaio e o conteúdo era reforçado nas aulas de teoria, conforme a necessidade.

Um aspecto negativo ocorre no processo de aprendizado da leitura musical dos alunos,


pois é comum que os professores de teoria introduzam os códigos musicais somente por meio
da clave de Sol. Mais adiante é apresentada aos estudantes a clave de Fá, retornando a ênfase
à primeira delas. Assim, o desenvolvimento da leitura na clave de Fá se torna mais fluente
para os alunos que passam a ler cotidianamente partituras para trombone, tuba, fagote ou a
linha do baixo no coro, escritas predominantemente em clave de Fá. Os demais tendem a ter
mais dificuldade na leitura nesta clave. O argumento mais comum destes alunos é que não é
para sua voz ou instrumento, ou que treinaram pouco durante as aulas de teoria e solfejo.
Observando esse fato, sugeri ao professor de teoria que ensinasse os alunos com um sistema
composto por duas pautas – nas claves de Sol e Fá –, como na escrita tradicional para o piano,
a fim de que eles se familiarizassem desde o início com a leitura e escrita com as duas claves.
A iniciativa adotada pelo professor de teoria proporcionou sensível melhora na leitura da
clave grave por parte dos alunos do 1º ano de 2009, em comparação aos da turma do ano
anterior.
33

A integração disciplinar se mostra importante para o desenvolvimento discente na


perspectiva do ensino técnico, gerando benefícios em mão dupla, pois, na prática coral ele
constantemente se depara com elementos teórico-musicais que podem ainda não terem sido
vistos na aula de teoria, de acordo com sua série, e que são previamente aprendidos no coro.
Além disso, quando tais elementos forem estudados no conteúdo programático de Teoria
Musical, graças à vivência anterior destes na prática coral, a sedimentação dos conteúdos
tende a se facilitar.

2.3.2 Conjuntos de Flautas-Doces

No primeiro semestre de 2010, criei uma disciplina como projeto de extensão


denominada “Conjuntos de Flautas-Doces”, a fim de que os alunos tivessem uma opção a
mais para o preenchimento de horas complementares exigidas pelo curso, além de dar
continuidade ao trabalho de iniciação à flauta-doce, realizado em 2009 com a turma do 1º ano.
Foram abertas seis vagas, tendo como pré-requisito o conhecimento básico de leitura musical.
Nesta disciplina participaram alunos do segundo e terceiro anos do curso. De modo a abordar
os demais aspectos de um repertório comum a mais de uma disciplina, trabalhamos quatro
peças da apostila coral: Dindirin (anônimo do Cancioneiro de Palacio), Sicut cervus
(Palestrina) e Come again (Dowland), quatro outras peças a quatro vozes, para coro, e uma
peça a seis vozes para conjunto de flautas-doces. Em cada uma das obras os alunos se
revezaram, tocando ora flauta soprano, ora contralto, ora tenor, ora baixo. O fato de cantar a
voz de um naipe no coro e tocar outro naipe no conjunto de flautas, utilizando-se a mesma
peça, propiciou ao aluno diferente e enriquecedora vivência musical. Sua “nova” melodia,
desta vez se inseriu de modo diferente no mesmo contexto harmônico da obra estudada.
Timbristicamente, a experiência sonora, diversa daquela proporcionada pela voz humana,
propiciou novas possibilidades no sentido de fixar o aprendizado quanto à articulação,
dinâmica e afinação. Outro aspecto enriquecedor da atividade, é que, ao contrário do coral, no
quarteto de flautas, o aluno atua como solista em seu naipe, o que exige maior
responsabilidade no grupo.

2.4 Avaliações

Foram previstas quatro avaliações durante o período do estudo, sendo duas


individuais, que foram realizadas no 1º e 3º bimestres, e duas coletivas, no 2º e 4º bimestres.
Os alunos recém-ingressos haviam passado por uma triagem inicial, coordenada pelo regente
34

e pelo preparador vocal do grupo, a fim de que fossem direcionados, provisoriamente, a um


dos naipes no coro. Dada a faixa etária dos alunos e a relativa inexperiência que a maior parte
deles tem no uso continuado da voz, tal triagem não poderia ser definitiva. Tecnicamente, o
fator da muda vocal, especialmente nos rapazes, torna a classificação por naipes provisória e
relacionada a uma continuidade do trabalho para que as vozes se acomodem em registros mais
confortáveis e fisiologicamente ajustados. Portanto, a realização de uma avaliação individual
depois de dois meses de prática coral, facultou, além da observação do desenvolvimento
técnico-musical do aluno, a possibilidade de aferição de seu desenvolvimento fisiológico-
vocal, de modo a direcioná-lo, quando necessário, a outro naipe do coro. O procedimento
utilizado para as avaliações individuais foi adaptado do método de diagnóstico proposto por
ESCALADA(2009).

A peça utilizada para a primeira avaliação foi Sicut Cervus, moteto em quatro partes
de Palestrina com o propósito de garantir maior empenho dos alunos no estudo individual de
cada melodia – estas, individualmente, não apresentam complicadores melódicos ou rítmicos,
individualmente. Uma vez definido o conteúdo, a avaliação foi marcada para dali a duas
semanas. Compreensivelmente, os alunos do 1º ano tiveram maior dificuldade quanto à
leitura, entretanto, a preparação para a avaliação foi para eles um desafio enriquecedor, tanto
tecnicamente, como no relacionamento com os alunos das demais turmas do curso. A peça
estava bem preparada pelo grupo, em função do longo tempo de ensaio que a ela já havíamos
dedicado. Fora de sala, durante as duas semanas que antecederam a avaliação, se ouvia
bastante o Sicut Cervus, cantado nos corredores e no pátio pelos alunos novatos, ajudados
pelos do 2º e 3º anos. Eu havia pedido o estudo integral da peça, entretanto, selecionei quatro
trechos por voz para a avaliação. Cada aluno cantou um dos trechos selecionados. Foram
avaliados três itens: melodia, ritmo e memória tonal, cada qual valendo de zero a 10. No item
melodia os resultados foram obtidos pela percentagem de acerto em relação ao total de notas
do trecho cantado. O mesmo se deu em relação à avaliação do item ritmo, levando-se em
conta as figuras musicais. A pontuação conferida no item memória tonal teve critério
subjetivo do avaliador, dada a natureza do item avaliado. Desses valores, foi extraída uma
média geral. Dos resultados das médias da avaliação individual têm-se os seguintes
percentuais:
35

Pontuação até 5 6 – 10
Percentual 15% 85%

Quadro 3: pontuação na 1ª avaliação individual do aluno – valores aproximados.

Os alunos que obtiveram pontuação média até cinco apresentaram maior dificuldade
quanto à melodia e memória tonal. Entretanto, foi possível observar que a questão musical
nesses itens – que são de base técnica – foi afetada por outro aspecto prático que também
precisa ser levado em consideração nessas circunstâncias: os alunos em muda vocal são
prejudicados em sua execução pela instabilidade na emissão vocal. Com o instrumento ainda
em fase de consolidação, nem sempre é possível levar a termo sonoramente as notas que
ocorrem de maneira correta em nível cerebral. A limitação quanto à afinação, neste caso, é
plenamente justificável. A partir dos resultados obtidos na avaliação, foi construído um mapa
de disposição para os cantores no ensaio, de modo que os que obtiveram média menor
ficassem cercados pelos cantores com média maior.

Como, ao final de cada semestre, alunos e professores das diversas disciplinas do


curso ficam sobrecarregados com a aplicação de provas, que geralmente acontecem na última
ou nas duas últimas semanas restantes, optou-se, desta vez, por uma avaliação coletiva com os
alunos no 2º bimestre letivo. Dessa forma, ao invés de dedicar quatro encontros à realização
de avaliação individual, aproveitou-se esse tempo com ensaios. A avaliação se deu no recital
de encerramento de semestre, no qual foi observado o desempenho geral do grupo, tanto em
relação a aspectos musicais, como afinação, articulação, ritmo e equilíbrio sonoro, quanto a
aspectos extramusicais, como pontualidade, disciplina, atenção e postura em palco etc. No
recital de encerramento foram apresentadas todas as peças estudadas durante o 1º semestre
letivo. Os resultados obtidos foram satisfatórios, considerando o nível técnico do grupo no
momento em questão.

Para a avaliação do terceiro bimestre foi solicitado aos alunos o estudo de dois
movimentos da Missa em Sol, de Schubert: Kyrie e Credo. Durante a avaliação, foram
selecionados dois trechos de cada movimento, que foram ouvidos individualmente. Em
relação à primeira avaliação bimestral, observou-se elevação da média geral de pontuação,
proporcionado, em grande parte, pelos alunos que apresentaram dificuldade anteriormente,
notadamente pelos que obtiveram nota baixa no item consistência tonal. Parte da melhora
dessa pontuação se deve ao fato de que os alunos, por terem tido experiência semelhante no
primeiro bimestre, se mostraram menos tímidos ao cantarem sozinhos. Contudo, dentre as
36

médias abaixo de cinco, a maioria se deu por falta de estratégia de estudos por parte de alunos
cuja capacidade havia sido comprovada anteriormente, na primeira avaliação. O quadro a
seguir mostra o comparativo entre os percentuais da primeira e terceira avaliações.

Pontuação até 5 6 – 10
Percentual 1ª bimestre 15% 85%
Percentual 3º bimestre 7% 93%

Quadro 4: relação percentual das avaliações de 1º e 3º bimestres – valores aproximados.

Nos mesmos moldes e sob circunstâncias semelhantes àquelas do final do segundo


bimestre letivo, a quarta avaliação foi realizada durante o concerto de encerramento do ano
letivo. Desta vez o grupo cantou ao lado da Orquestra de Câmara Goyazes, mantida pelo
governo de Goiás, e solistas convidados. O coro apresentou a Missa em Sol¸ de Schubert.
Como esta foi a primeira ocasião em que o Coro do IFG atuou com orquestra, ficou notável
um empenho acima do esperado por parte do grupo, o que trouxe resultados excelentes na
apresentação.

As experiências acumuladas nos ensaios e apresentações, aliadas à prática integradora


disciplinar, se mostraram como importantes fatores para alavancar o aprendizado discente
durante o ano letivo de 2010. Prova disso foi o desempenho em alto nível das turmas nas
demais disciplinas técnicas do curso, tanto teóricas quanto práticas. Contudo, pequena parte
dos alunos não obteve resultado satisfatório em determinadas disciplinas do ensino
propedêutico, vindo a dever matérias para o ano seguinte ou até mesmo a ser reprovado.
Possíveis explicações para isso são: dificuldade do adolescente em dosar o tempo de estudo
entre as disciplinas técnicas e as demais disciplinas do curso, problemas de adaptação ao
sistema de ensino e o nível de exigência requerido para o ensino médio no IFG.

2.5 Questionários

Durante o período do estudo foram elaborados dois questionários, um para os


discentes e outro para os docentes das disciplinas técnicas do curso. Os critérios para a
formulação das perguntas foi o seguinte: a) questões abertas; b) conteúdo visando inibir
digressões nas respostas; c) linguagem acessível aos discentes. A aplicação do questionário se
deu no início do segundo semestre letivo de 2010.

O questionário direcionado aos discentes (Anexo II), contendo oito questões abertas,
teve como objetivo avaliar o nível de interesse pela disciplina Canto Coral e os benefícios que
37

ela poderia promover em relação às demais disciplinas do curso técnico, bem como detectar o
grau de inserção da prática coral na esfera pessoal do indivíduo. Aos alunos foi entregue um
termo de consentimento, para que tomassem ciência da natureza do estudo e autorizassem sua
participação. No caso de menores de idade, o termo foi lido e assinado pelos responsáveis. Do
total de 59 alunos, 44 concordaram em participar do estudo. É digno de nota um fato que pode
explicar a não adesão de alguns deles. Apesar do termo de consentimento trazer todas as
informações sobre a segurança e clareza do estudo em andamento – conforme as normas e
com a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da UFG –, talvez pelo ineditismo da
empreitada, alguns pais buscaram informações adicionais, inclusive preocupados com os
possíveis riscos nela envolvidos. O índice de abstenção de participação foi de,
aproximadamente, 25%.

O questionário direcionado aos docentes (Anexo III), contendo três questões abertas,
objetivou averiguar: a) em que nível a disciplina Canto Coral se qualifica como facilitadora
do aprendizado do aluno nas demais disciplinas técnicas; b) a forma como são aplicados os
conhecimentos nela adquiridos; c) quais elementos do conteúdo ministrado nessas disciplinas
podem contribuir com o aprimoramento da prática do canto coral.

2.5.1 Discentes

Aos discentes participantes do estudo foram atribuídos números, sorteados em sala, de


modo a resguardar suas identidades, possibilitando, inclusive, maior liberdade nas respostas
do questionário. Considerou-se que um semestre de participação no Coro do IFG tenha
propiciado à turma do 1º ano desenvoltura suficiente para responder o questionário proposto.
Quanto à experiência anterior em prática coral, 30 alunos responderam que não a haviam tido
– 68,2%; 14 alunos já haviam cantado em coral, em níveis distintos de experiência – 31,8%.

Prática coral

Tiveram

Não tiveram

Gráfico 1: Experiência anterior com a prática coral.


38

Sobre a influência da prática coral na vida do aluno, 34% das respostas apontaram
para aspectos sociais, como: mudança de comportamento, melhoria no convívio com colegas,
melhoria de disciplina e auxílio na perda da timidez. 66% das respostas apontaram para
aspectos técnicos, como melhoria de afinação, de leitura e de técnica vocal.

Influência do canto coral

Direcionamento a
aspectos técnicos
Direcionamento a
aspectos sociais

Gráfico 2: A Influência do canto coral na esfera pessoal do aluno.

Em relação ao auxílio da prática coral na experiência musical em outras disciplinas


técnicas do curso, 35 respostas apontaram para matérias teóricas, sendo dois para História da
Música e 33 para Teoria Musical (79,5%). Nove respostas apontaram para as disciplinas
práticas, como aula de instrumento, canto ou banda (20,5%).

Auxílio em outras disciplinas

Matérias teóricas

Instrumento

Gráfico 3: Auxílio proporcionado pela prática coral em outras disciplinas técnicas.

Quanto ao fortalecimento do aprendizado em relação ao solfejo, leitura rítmica e


harmonia, propiciado pela prática coral, foram obtidos os seguintes dados: 17 respostas
apontaram para a prática coral como fortalecedora nos três itens (38,64%); 23 apontaram para
39

a prática coral como fortalecedora no exercício do solfejo (52,3%); duas apontaram que o
fortalecimento do aprendizado em relação aos itens se deu pelo fato de cantar com pessoas
mais experientes (4,53%); duas respostas em branco.

Fortalecimento
Fortalece solfejo
do aprendizado

Fortalece solfejo, leitura


rítmica e harmonia

Cantando ao lado de mais


experientes

Não responderam

Gráfico 4: Fortalecimento do aprendizado no solfejo, leitura rítmica e harmonia.

Os dados encontrados referentes aos aspectos do trabalho desenvolvido na disciplina


que mais chamaram a atenção e que foram considerados mais construtivos foram:
desenvolvimento da leitura por meio da prática em conjunto (16 respostas, ou 36,37%); o
repertório ensaiado (dez respostas, ou 22,75%); dinâmica de ensaio (quatro sujeitos, ou
9,09%); vocalize/técnica vocal (quatro respostas, ou 9,09%); desenvolvimento da
musicalidade (duas respostas, ou 4,55%); formação ética e profissional (duas respostas, ou
4,55%); perda do medo/vergonha (duas respostas, ou 4,55%); integração com diversas turmas
(uma resposta, ou 2,27%); viagens (uma resposta, ou 2,27%); relação aluno/professor (uma
resposta, ou 2,27%); não responderam: 2,27%.
40

Desenvolvimento da leitura/prática
Aspectos mais construtivos em conjunto
Repertório

Dinâmica de ensaio

Vocalise/técnica vocal

Desenvolvimento da musicalidade

Formação ética/profissional

Perda do medo/vergonha

Outros

Gráfico 5: Aspectos mais construtivos da disciplina Canto Coral.

No tocante à disciplina e organização necessárias à prática coral, os sujeitos foram


questionados a respeito de como elas poderiam ser aplicadas em outros campos de atuação
pessoal e profissional. 63,65% das respostas foram direcionadas para a aplicação da disciplina
e organização nas relações pessoais, em ambientes social e escolar, com responsabilidade e
comportamento ético (28 respostas). 27,3% das respostas foram direcionadas para cooperação
e fortalecimento do trabalho em equipe/atuação profissional (12respostas). Outras: 2,27%.
Não responderam: 2,27%.

Aplicação da disciplina e
organização Ambientes social/escolar

Trabalho em equipe/ambiente
profissional

Outras

Não responderam

Gráfico 6: Aplicação da disciplina e organização necessárias à prática coral em outras áreas.


41

Na avaliação das condições de trabalho disponíveis para a prática coral no IFG, temos:
satisfatórias: 29 respostas (65,9%); parcialmente satisfatórias: seis respostas (13,65%);
insatisfatórias: seis respostas (13,65%); três respostas em branco (6,81%).

Condições de trabalho

Satisfatórias 65,9%

Parcialmente
satisfatórias 13,65%
Insatisfatórias 13,65%

Não responderam 6,81%

Gráfico 7: avaliação das condições de trabalho disponíveis para a prática coral no IFG

Foram solicitadas duas sugestões a fim de fortalecer o ensino e aprendizagem na


prática coral. As sugestões recebidas são aqui apresentadas em dois grupos. No primeiro
grupo temos as sugestões que se adequaram ao foco da solicitação feita no questionário:

a) Maior cobrança do regente quanto à pontualidade e conversas nos ensaios: 08;


b) Aumento do tempo de ensaios/técnica vocal: 15;
c) Inserção de maior número de repertório popular: 05;
d) Intensificação do auxílio aos alunos com dificuldade de aprendizado: 03;
e) Divisão do grupo – turmas de 1º e 2º anos / turmas de 3º e 4ºanos: 04;
f) Melhor espaço físico para ensaio: 03;
g) Realização de avaliação individual das peças bimestralmente: 04;
h) Oportunizar a diversos alunos o acompanhamento do coro com instrumentos/ fazer
solos: 02;
i) Proporcionar maior interação dos alunos do 1º ano com os demais/ realização de
dinâmicas em grupo para o trabalho em conjunto: 02.

O segundo grupo engloba sugestões direcionadas ao recebimento de auxílio financeiro,


lanche, confecção de uniformes e viagens:
a) Lanche para os coristas: 01;
b) Realização de maior número de viagens: 02;
42

c) Recebimento de auxílio financeiro: 05;


d) Confecção de uniformes: 05.

Com as respostas obtidas foi possível notar que o nível de interesse pelos discentes à
prática coral se demonstrou elevado, e que esta atividade vem proporcionando intercâmbio no
aprendizado das demais disciplinas técnicas, notadamente em Teoria Musical. No entanto, a
disciplina História da Música foi citada em apenas duas respostas. Possivelmente isso se deve,
em parte, ao fato de que esta disciplina é oferecida no 3º ano do curso, e, durante o estudo, a
turma correspondente contou com 12 alunos, conforme vimos anteriormente. Outra
possibilidade na integração disciplinar se dará com a disciplina História da Música Brasileira,
oferecida no 4º ano do curso.

2.5.2 Docentes

Cinco dos sete professores das disciplinas técnicas do curso participaram do estudo.
As respostas dos participantes se ativeram essencialmente a aspectos técnicos em relação aos
benefícios proporcionados pela disciplina Canto Coral, tendo o aperfeiçoamento da leitura
musical como principal elemento de ajuda às demais disciplinas técnicas. Segue abaixo uma
súmula das respostas obtidas.

a) A disciplina Canto Coral como facilitador ao processo de ensino das demais


disciplinas técnicas:

Professor 01: Otimização da percepção auditiva, fortalecimento do conhecimento da


harmonia, aperfeiçoamento da leitura.

Professor 02: Fixação dos preceitos da técnica vocal (respiração, emissão, ataque,
articulação, dicção, sustentação, condicionamento físico-vocal), no entendimento de
elementos musicais (fraseado, períodos, seções), melhora da leitura musical; maior noção em
relação a estilos musicais, definição de períodos e diferenças interpretativas.

Professor 03: Melhoria da percepção em afinação, quanto aos intervalos, harmonicamente e


leitura métrica e solfejo à primeira vista, além do desenvolvimento da habilidade de fazer
música em conjunto.

Professor 04: No solfejo do estudo para o instrumento.


43

Professor 05: Encarando a disciplina Canto Coral como um seguimento da disciplina


percepção musical, ela permite um melhor entendimento dos elementos musicais, pois se trata
da prática da percepção musical. O aluno adquire maior destreza no solfejo, já que na prática
coral ele deve seguir o maestro, evitando parar toda vez que erra. Noções de harmonia ficam
mais aguçadas, pois no coro o aluno percebe diferentes vozes cantando ao mesmo tempo.
Compreende melodicamente com maior facilidade a diferença entre os intervalos e possui
melhor concepção do fraseado musical. No ritmo, a percepção da síncope melhora a cada dia,
pelo exercício prático no coro.

b) Como o professor utiliza os conhecimentos adquiridos pelos alunos na prática


coral:

Professor 01: Tentando transpor os conhecimentos de divisão entre as vozes e a harmonia


para as peças solo de piano e música de câmara.

Professor 02: Com a prática em conjunto é possível que se observe o que o companheiro está
fazendo de certo ou errado, servindo como parâmetro a fim de melhorar o desempenho
individual do aluno. A noção de equilíbrio vocal e o controle do individualismo exigidos na
prática coral são reforçados nas aulas de canto e música em conjunto.

Professor 03: Por meio da observação do repertório elaborado pelo coral são trabalhados
aspectos rítmicos e teóricos, com os alunos de 1º ano.

Professor 04: Pedindo que os alunos cantem os estudos do próprio instrumento.

Professor 05: Tento trazer para a percepção musical a prática de solfejo realizada nos ensaios
do coro, no qual os alunos leem uma obra do começo ao fim, sem interrupção. A afinação
exigida na prática coral é refletida na análise sonora dos intervalos dados em aula. Também
são utilizadas células rítmicas extraídas de músicas do coro, para exemplificar e facilitar o
aprendizado do aluno.

c) O conteúdo ministrado nas disciplinas técnicas que pode contribuir com o


aprimoramento da prática do canto coral:

Professor 01: Leitura à primeira vista, harmonia, música de câmara e a divisão entre melodia
e acompanhamento, e os diferentes estilos musicais, entre outros.
44

Professor 02: A técnica vocal (respiração, impostação vocal, emissão, articulação e dicção),
fraseados, estilos, leitura, postura interpretação, relacionamento aluno-aluno/aluno-professor.

Professor 03: Leitura rítmica, métrica e solfejos melódicos, elementos de teoria musical
(figuras, compassos, estruturas musicais etc.)

Professor 04: O uso dos exercícios preparatórios de respiração, o uso da consoante nas
articulações, o relaxamento antes e depois da atividade musical.

Professor 05: Todos os elementos da disciplina Percepção Musical contribuem para o canto
coral. Entretanto, o principal deles é o solfejo, onde se integra melodia e ritmo. O aluno com
bom solfejo facilita o desenvolvimento dos ensaios e contribui para uma melhor performance
na apresentação, dando ao maestro possibilidades de trabalhar demais elementos, como estilo,
fraseado e pontuação, fatores indispensáveis para a excelência de qualquer coral.
45

CONCLUSÃO

O presente estudo buscou relatar a experiência do autor enquanto regente do Coro do


IFG, apresentando os conteúdos trabalhados na disciplina Canto Coral do Curso Técnico em
Instrumento Musical, no período letivo de 2010, ressaltando a ocorrência de aspectos
integradores disciplinares. O trabalho se norteou pela avaliação das atividades desenvolvidas
na disciplina Canto Coral, bem como pelos resultados de dois questionários aplicados. Para os
discentes nele envolvidos, objetivou-se averiguar o nível de interesse pela atividade e os
benefícios que ela pode promover em relação às demais disciplinas técnicas do curso e o grau
de inserção da prática coral na esfera pessoal do aluno. Por meio dos resultados de
questionário para os docentes, objetivou-se averiguar em que nível a prática coral se qualifica
como facilitadora no aprendizado discente das demais disciplinas técnicas e a forma como são
empregados os conhecimentos nela adquiridos, bem como conferir quais elementos do
conteúdo ministrado nessas disciplinas podem contribuir com o aprimoramento da prática do
canto coral.

Constatou-se que a prática coral no Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG


tem propiciado integração entre as disciplinas técnicas do curso, conferindo diferenciais
positivos ao aprendizado do aluno.

A constatação do desenvolvimento técnico do coro se deu por meio dos resultados das
avaliações bimestrais individuais e coletivas, pelas apresentações realizadas e, sobretudo, pela
progressiva melhora no desempenho do grupo durante os ensaios quanto ao solfejo e
desenvolvimento vocal.

A integração estabelecida entre as disciplinas Conjunto de Flautas-Doces e Canto


Coral se demonstrou satisfatória, favorecendo a fixação dos conteúdos trabalhados em ambas,
por meio de experiências sonoras diferentes, transcendendo o trabalho de leitura musical. A
técnica vocal oferecida como disciplina complementar ao curso técnico teve um importante
papel como integradora e facilitadora ao desenvolvimento técnico-vocal dos alunos. Com a
utilização (dentre outros) do repertório do coro como material para as aulas de canto, além de
o aprendizado ter se tornado mais efetivo – em nível de leitura –, mais rápido ocorreu o
amadurecimento técnico-musical-vocal do aluno para este repertório.
46

A integração disciplinar se estabeleceu fora do ambiente da sala de aula e, tomando


feição lúdica, de caráter espontâneo, constatou-se que o aluno lançou mão desse recurso para
resolução de desafios ou problemas que surgiram cotidianamente.

Conforme resultado do questionário direcionado aos discentes, quanto à organização e


disciplina necessárias ao desenvolvimento da prática coral, aproximadamente 34% das
respostas obtidas evidenciaram a influência da prática coral na esfera pessoal do aluno. Outro
fator que denota tal influência é a frequente participação de parentes e amigos em
apresentações do coro. A integração disciplinar se desenvolveu mais acentuadamente entre a
disciplina Teoria Musical (1º ao 3º ano) e a disciplina Canto Coral. Tal constatação se deu por
meio das respostas dos questionários direcionados aos professores e da observação diária do
aluno em sala. De modo geral, a preocupação dos professores de música em promover o
intercâmbio de aprendizado entre as disciplinas técnicas recaiu preponderantemente na turma
de 1º ano, a fim de que esta prática, firmada desde o princípio, venha propiciar melhor
aproveitamento pelo aluno durante os quatro anos do curso.

Conclui-se que no ambiente do Curso Técnico em Instrumento Musical do IFG a


integração disciplinar se apresenta de forma parcial. Conforme o empenho dos professores em
buscar alternativas para o fortalecimento e sedimentação desta integração, ela tenderá a se
evidenciar entre a prática coral e as outras disciplinas de prática, como foi observado em
relação à disciplina Teoria Musical.

Com o reconhecimento e a consolidação da prática coral como eixo integrador


disciplinar no ensino técnico, espera-se expressiva melhora na formação de profissionais
qualificados a atuar em um mercado de trabalho cujo leque de opções vem se ampliando.
Além das atividades tradicionalmente relacionadas diretamente ao fazer musical, como
atuação em conjuntos vocais ou instrumentais, esses profissionais se dedicarão também a
atividades ligadas ao ramo tecnológico, cada vez mais presentes na profissão de músico da
atualidade. Espera-se também que estes profissionais, em atuação docente ou não,
reconheçam e revelem a contribuição da atividade coral no contexto educacional como um
importante recurso integrador para o aprendizado musical.
47

REFERÊNCIAS

BARRETO, Ceição de Barros. Canto Coral: organização e técnica de coro. Petrópolis:


Vozes, 1973.
CASPURRO, Helena. Audição e Audiação: o contributo epistemológico de Edwin Gordon
para a história da pedagogia da escuta. Disponível em: < http://www.mulheravestruz.pt/
downloads/DocenciaInvestigacao/Audicao_e_audiacao-APEM.pdf >. Acesso em:
01/04/2011.
FUNARTE. Coleção Coro Juvenil. Disponível no sítio:
<http://www.funarte.gov.br/portal/2010/04/20/serie-de-coro-juvenil>. Acesso em 27/08/2010.
Decreto nº. 7.566, de 23 de setembro de 1909. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/decreto_7566_1909.pdf>. Acesso em:
27/02/2010.
ESCALADA, Oscar. Um coro en Cada Aula: manual de ayuda para el docente de música.
Buenos Aires: Ediciones GCC, 2009.
FIGUEIREDO, Carlos Alberto. Reflexões sobre aspectos da prática coral. In:
LAKSCHEVITZ, Eduardo (Ed.). Olhares Sobre a Música Coral Brasileira. Rio de Janeiro:
Centro de Estudos de Música Coral, 2006. p. 7-49.
FUCCI-AMATO, Rita de Cássia. Habilidades e Competências na Prática da Regência Coral:
um estudo exploratório. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 19, p. 15-26, 2008.
GULLAR, Ferreira. Poema Sujo. 7 ed. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1995.

_________________ Trenzinho do Caipira. Crônica. Disponível em:


<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0612200923.htm>. Acesso em 12/02/2011.

OAKLEY, Paul. O Ensaio Coral: a performance do regente. In: CONVENÇÃO


INTERNACIONAL DE REGENTES DE COROS, 1999, Brasília. Anais... Brasília: Gráfica
da Fundação Educacional do Distrito Federal, 1999. p. 113-128.
OLIVEIRA, Vilson Galvadão de. O desenvolvimento vocal do adolescente e suas
implicações no coro juvenil a cappella. Dissertação (mestrado em música) – Universidade
Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre,1996.
_________________Coro juvenil: o desafio para regentes e cantores.Revista Canto Coral,
Goiânia, Ano II, n. 2, p. 22-29, 2003.
Projeto de Reformulação do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Instrumento
Musical. IFG, Goiânia, 2009.
SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina
Tourinho. São Paulo: Moderna, 2010.
VERTAMATTI, Leila Rosa Gonçalves. Ampliando o Repertório do Coro Infanto-Juvenil:
um estudo de repertório inserido em uma nova estética. São Paulo: Editora UNESP; Rio de
Janeiro: FUNARTE, 2008.
48

Anexo I

Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Instrumento Musical


Tabela de disciplinas técnicas

COMPONENTE CURRICULAR TÉCNICO Nº de aulas semanais (45min) CARGA HORÁRIA


1º ano 2º ano 3º ano 4º ano
Teoria Musical 4 4 4 4 432
Instrumento 2 2 2 2 216
Coral 2 2 2 2 216
Grupos Musicais - 2 2 2 162
História da Música - - 2 - 54
História da Música Brasileira - - - 2 54
Interpretação Musical - - - 2 54
TOTAL 08 10 10 16 1188
Estágio Supervisionado (mínimo) 108
Componente Curricular do Ensino Médio (Total) 2259
TOTAL GERAL DO CURSO (h/a) 3555
49

Anexo II

Questionário direcionado aos discentes

Prezado(a) aluno(a)

O presente questionário faz parte do meu projeto de pesquisa de mestrado, junto ao


Colegiado de Pós-graduação da Escola de Música e Artes Cênicas, da Universidade Federal
de Goiás, intitulado “A Prática do Canto Coral Juvenil Como Recurso Integrador Para o
Ensino Técnico em Música”. As questões abaixo foram elaboradas de modo a avaliar o nível
de interesse pela disciplina Canto Coral, os benefícios que essa disciplina pode promover em
relação às demais disciplinas do curso técnico, bem como detectar o grau de inserção da
prática coral na esfera pessoal do aluno. Cada aluno sorteará um número que deverá ser
mantido em sigilo. Esse número o identificará em cada etapa da pesquisa. Portanto, é
imprescindível que decore este número.

Sua colaboração é valiosa para esta pesquisa, pois contribuirá com a melhoria da qualidade
do trabalho de regentes e coros. Portanto, responda cuidadosamente as seguintes
perguntas.

1. Qual a influência que a prática coral tem exercido em sua vida? Você já havia tido
alguma experiência na área antes de seu ingresso no curso de música?
2. Como prática coral tem auxiliado sua experiência musical em outras disciplinas de
música no curso?
3. De que modo a prática coral fortaleceu seu aprendizado em relação a solfejo, leitura
rítmica, harmonia?
4. Quais aspectos do trabalho desenvolvido na disciplina chamaram mais sua atenção e
que você considera mais construtivos?
5. Como a disciplina e organização necessárias à pratica coral podem ser aplicadas em
outros campos de atuação pessoal e profissional?
6. Como você avalia as condições de trabalho disponíveis para o desenvolvimento da
prática coral no seu curso?
7. Apresente duas sugestões que possam ser empregadas para o fortalecimento do ensino
e aprendizado na atividade coral.
50

Anexo III

Questionário direcionado aos docentes

Prezado(a) colega,

O presente questionário faz parte do meu projeto de pesquisa de mestrado, junto ao Colegiado
de Pós-graduação da Escola de Música e Artes Cênicas, da Universidade Federal de Goiás,
intitulado “A Prática do Canto Coral Juvenil Como Recurso Integrador Para o Ensino
Técnico em Música”. As questões abaixo foram elaboradas de modo a avaliar o nível de
interesse pela disciplina Canto Coral, bem como os benefícios que essa disciplina pode
promover em relação às demais disciplinas do curso técnico. Sua colaboração é muito
importante para esta pesquisa, pois contribuirá com a melhoria da qualidade do trabalho de
regentes e coros. Em suas respostas, procure se fixar a aspectos técnicos quantificáveis.

1. De que forma o aprendizado dos alunos na disciplina canto coral tem sido um
facilitador no processo de ensino de sua(s) disciplina(s)?

2. Considerando a atividade coral como um forte instrumento de integração disciplinar,


como você utiliza os conhecimentos que os alunos adquirem na prática coral para
facilitar o aprendizado de sua(s) disciplina(s)?

3. Que elementos do conteúdo ministrado em suas disciplinas podem contribuir com o


aprimoramento da prática do canto coral?
51

Anexo IV

Trenzinho do Caipira
Música: Heitor Villa-Lobos(1887 – 1959)
Texto: Ferreira Gullar (n. 1930)
Arranjo: Vinícius Carneiro (2010)
Elaborado carinhosamente com e para o Coro do IFG,

Trenzinho do Caipira
Heitor Villa-Lobos (1887-1959) / Ferreira Gullar (n.1930)

Arranjo: Vinícius Carneiro (2010)

b
q = 60
U
Soprano & b b 44 Œ Ó ‰ œ œj ˙ ‰ œj œ j
œ Jœ ˙ œ
pe - la pe... ra

b U
& b b 44 Œ j
‰ j j œj œ . j j
Contralto
œ œ ˙ œ œ œ œ œ œ œ œ
do vai la pe... mar

b 4 U̇
Vbb 4 Œ Œ ‰ œ ˙ œ œ ˙. œ œ
J J J
Tenor

vai ra vai lo

w ˙ U̇
? b b 44 ‰ œ ˙ ˙
Baixo
b J
cor - ren... ter.. ser..
4
b U̇
&bb Œ ‰ Jœ ˙ Œ ‰ Jœ ˙ Œ ‰ Jœ ˙ . ‰ œj

U
trem trem trem vai... Lá

b j ‰ œj ˙ . ‰ œj ˙ . ‰ j
& b b ‰ œ ˙. ˙. œ
vai vai vai vai... Lá

b U̇.
Vbb Œ ˙. Œ ˙. Œ ˙. ‰ œj

U
o o o vai... Lá

? bb
b w w w ˙. ‰ œJ
lá lá lá vai... Lá

b q = 100
j j
8
j j
&bb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
vai, lá vai, lá vai, lá vai o trem c'o me - ni - no, lá vai a vi - daIa ro -

b j
& b b œ. œ œ œ œ. œ œ œ
j
œ œ œ œ œ œ œ œ
vai, lá vai o trem, lá vai, lá vai a vi - da, vi - da, vi - da,

b j j j ‰ œj j
Vbb œ œ œ œ œ œ. œ œ œ œ
J
œ œ œ
vai o trem c'o me - ni - no, lá vai a vi - daIa ro -

? bb œ œ œ œ. œ œ œ œ œ œ
b J
œ œ
J J ‰ Jœ J œ
J
vai o trem c'o me - ni - no, lá vai a vi - daIa ro -
Trenzinho do Caipira - 2

j j
b ‰ œj
11
j
&bb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ. œ œ
dar, ro - dar - ro - dar, ro - dar, lá vai ci - ran - daIe des - ti - no, ci -

b
& b b œj œ œ œ
j j
œ bœ œ œ œ
j j
œ œ œ œ œ œ
j
vi - da, ro - dar, lá vai ci - ran - daIe des - ti - no, lá vai, ci -

b ‰ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ. œ œ ‰ Jœ
V b b ˙. J J
dar, lá vai ci - ran - da, an - da sem des - ti - no ci -

? b ˙. ‰ Jœ bœ. œ œ ‰ œJ œ œ œ œ œ œ œ œ
bb J
dar, lá vai, vai, lá vai ci - ran - da, an - da sem ci -

14
b j œ œ œ œ
& b b œJ œ œ œ œ ˙. ‰ œ
J J œ
J
da - deIe noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -

b j j ‰ œj œj œ j
&bb œ œ œ œ œ ˙. œ œ œ
da - deIe noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -

b œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ ‰ Jœ œ œ œ
Vbb œ J œ œ J
da - deIe noi - te, noi - te, noi - te, noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -
œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ j j
? bb
b ‰ Jœ œ œ œ œ œ
da - deIe noi - te, noi - te, noi - te, noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -

17
b œ. œ œ œ œ œ j ˙. ‰ œj
&bb J ‰ œ
J J œ œ
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

b j
& b b œ. œ œ ‰ œj œ œ œ œ œ
j ˙. ‰ œj
J
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

b . ‰ Jœ œ œ œ.
Vbb œ œ œ
J J
œ œ œ
J
œ œ
J ‰ œ
J
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

? bb œ . œ œ ‰ Jœ œ œ j œ œ ‰ Jœ
b J J œ œ œ œ. J
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -
Trenzinho do Caipira - 3

b j j j j nnn
20

&bb œ œ œ œ j j
œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra, vai pe - lo

b nnn
&bb œ œ œ œ œ œ ˙ œ œ œ œ
j ‰ Ó
œ œ
ren - do pe - la ter - ra, vai, pe - la ser - ra...

b œ œ œ œ œ œ œJ œ œ œ œ œ œ œ Œ nnn
V b b œ. J J œ œ
J J
ren - do vai pe - la ter - ra, vai o trem...

? b œ œ œ œ œ j j
bb J œ œ J J œ œ œ œJ œ œ n œ œ nnn
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra, vai pe - lo

23 q = 120

& œ Œ Ó ∑ ∑
.
mar.

& ∑ ∑ Ó Œ ‰ j
œ

V œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
Não, ca - fé com pão, bo - la - cha não, ca - fé com pão, bo - la - cha não, chá não, chá não, ca - fé com

? œ Œ Ó ∑ ∑
.
mar.

26

& ∑ Ó ˙ ww
Lá vai!

j
& œj œ œ œ œ.
j
œ œ ‰ œj œ œ œ œ œ
j
œ
vai o trem c'o me - ni - no, lá vai a vi - daIa ro -

V œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
pão, bo - la - cha não, ca - fé com pão, bo - la - cha não, ca - fé com pão, bo - la - cha não, ca - fé com

? ∑ ∑ Ó ‰ œj œ œ
Bo - la - cha
Trenzinho do Caipira - 4

29
j
& Œ ‰ œ œ œ œœ ˙˙ .. Œ œ. b œœ œœ Œ
J
O trem! Lá vai!

& ˙. ‰ j j j j ‰ œj
œ œ œ œ œ œ œ. œ œ
dar, lá vai ci - ran - daIe des - ti - no, ci -

j
V œj ‰ ‰ œ œ œ œ ‰ œ œ œ bœ œ œ œ œ œ œ œ
J
pão bo - la - cha não, bo - la - cha não, ca - fé com pão, bo - la - cha

? œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ ‰ œ œ œ
J
não, ca - fé com pão, bo - la - cha não, ca - fé com pão, bo - la - cha não bo - la - cha

32

‰ œ œœ ˙˙ .. ‰ œj œ œ œ j
& Ó J œ œ
J
Vai o trem! Lá vai o trem sem des -

j j
& œ œ œ œ œ
j ˙. ‰ œj œJ œ œ œ œ
da - deIe noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -

œ œ œ œ œ œ œ ‰ œj œ œ œ j
V nœ ‰ œ J J
œ œ
não, bo - la - cha não, chá não vai! Lá vai o trem sem des -

? œ œ œ œ œ œ œ œ œ. œ œ œ œ œ œ œ
J ‰ Jœ J J
não, ca - fé com pão, bo - la - cha não vai! Lá vai o trem sem des -

j
‰ œj œ œ
35

& œ. œ œ œ œ j ˙. ‰ œj
J œ
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

& œ. œ œ ‰ œj j j ‰ œj
J œ œ œ œ œ ˙.
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

V œ. œ œ ‰ œj œ œ œ œ œ ˙. ‰ œ
J J J J
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

? œ. œ œ
J ‰ œJ œ œ œ œ œ ˙. ‰ œj
J J
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -
Trenzinho do Caipira - 5

38

& œj œ œ œ œ
j j
œ œ œ œ
j j j
œ œ œ œ œ œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la se - ra, vai pe - lo

& j j j j j j
œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la se - ra, vai pe - lo
j j œ œ œ œ œ
V œ œ œ œ œ œ œ œ œ J œ
J J J
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la se - ra, vai pe - lo

? œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ j
J J J œ œ œ
J J
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la se - ra, vai pe - lo

‰ œj œ
41
j j
& œ œ ‰ œ œ œ œ ‰ œ œ œ œ
œ
mar. Lá vai o trem, lá vai o trem. Cor - ren - do

& ‰ œj œ ‰ j ‰ œj œ œ œ
œ #œ œ œ œ œ
œ
mar. Lá vai o trem, lá vai o trem. Cor - ren - do

‰ Jœ œ œ œ
V ˙. ‰ J œ œ ˙. ‰ Jœ
mar. Can - tan - do lá vai o trem. Cor -

?
˙. ‰ œj œ œ ‰ œ œ œ ˙. ‰ œj
J
mar. Can - tan - do trem. Cor -

j U
‰ œj ˙ ‰ œj ˙
44

& œ ‰ œ œ œ œ œ w
vai, vai pe - lo mar, lá vai, o trem.

‰ œ j ‰ œj ˙ ‰ œj ˙
& #œ œ œ œ œ w
vai, vai pe - lo mar, lá vai, o trem.

V œ œ ‰ Jœ œ œ ˙. œ ˙. œ w
ren - do, vai pe - lo mar, no ar, no ar.

? œ œ ‰ œ œ
J œ ˙. œ ˙. œ w
ren - do, vai pe - lo mar, no ar, no ar.
Trenzinho do Caipira - 6

48 q = 60

& ˙˙ ww
œ œ œ œ ˙˙
Ser - ras do lu - ar, lu - - - ar...

& w
œ œ œ œ ˙ ˙
Ser - ras do lu - ar, lu - - - ar...

V œ œ œ œ ˙ ˙ w
Ser - ras do lu - ar, lu - - - ar...

? œ œ œ œ œ œ œ œ w
Ser - ras do lu - ar, lu - - - ar...

51

& ˙˙ œœ œ œœ ˙˙ œ #w
œ
vai pe - lo ar, vai, o trem,

& ˙ œ œ œ œ ˙ #œ #œ œ œ œ œ œ
vai pe - lo ar, o trem, can - ta, can - ta, can - ta, vai,

V œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ #œ #œ œ œ œ œ œ
vo - a, vo - a, vo - a, vo - a, trem, o trem, o trem, o trem, can - ta, can - ta, can - ta, vai,

? ˙ œ œ œ. œ ˙ #w
J
vai pe - lo ar, o trem vai,

bœ U
˙. bbb
54

& œ #œ œ œ w
can - ta pe - lo ar, no ar...
U
& #œ œ œ œ œ œ bœ œ œ œ œ bw bbb
can - ta pe - lo... can - ta pe - lo ar, pe - lo ar...
U
V œ œ œ œ b˙. œ œ bw bbb

bUw
can - ta pe - lo ar, pe - lo ar...

? œ œ œ œ b˙ œ
bœ bbb
can - ta pe - lo ar, pe - lo ar...
Trenzinho do Caipira - 7

q = 100
˘
bbb
57

& ∑ ∑ œ. œ œ Œ
J
Ca - fé

b ˘
&bb ∑ ∑ œ. œ œ Œ
J
Ca - fé

b
Vbb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
Não, ca - fé com pão, bo - la - cha não (...)

? bb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
b
Fé com pão, bo - la - cha não, ca - fé com pão (...)

b b ˘œ . ˘ ˘
‰ œj
60

& b œ œ Œ œ. œ œ Œ œ. œ œ
J J J
com pão, ca - fé com pão... Lá

b ˘ ˘ ˘
j
& b b œ. œ
J
œ Œ œ. œ œ
J
Œ œ. œ
J
œ ‰
œ
com pão... ca - fé com pão... Lá

b
Vbb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ

? b œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
bb

b j j j
‰ œj œ œ j
63

&bb œ œ j œ œ
œ œ œ œ. œ œ œ
vai o trem c'o me - ni - no, lá vai a vi - daIa ro -

b ‰ œj œj œ
& b b œj œ œ œ
j
œ œ.
j
œ œ œ œ œ
j
vai o trem c'o me - ni - no, lá vai a vi - daIa ro -

b
Vbb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ

? bb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
b
Trenzinho do Caipira - 8

b ‰ œj œj œ j ‰ œj
66
j
& b b ˙. œ œ œ œ. œ œ
dar, lá vai ci - ran - daIe des - ti - no, ci -

b
& b b ˙. ‰ œj œj œ œ œ
j
œ œ.
j
œ œ ‰ œj
dar, lá vai ci - ran - daIe des - ti - no, ci -

b
Vbb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ

? b œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
bb

q = 60
69
b j ritardando.......................................
‰ Jœ œJ œ œ œ
& b b œJ œ œ œ œ ˙. œ
J
da - deIe noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -

b j j ‰ œj j j
&bb œ œ œ œ œ ˙. œ œ œ œ œ
da - deIe noi - teIa gi - rar. Lá vai o trem sem des -

b ‰ Jœ œ œ œ œ œ
Vbb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ J J
não, ca - fé com pão... Lá vai o trem sem des -

? bb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
œ œ ˙ ‰ J J J
b
ca - fé com pão... Lá vai o trem sem des -

b . j
‰ œj
72

&bb œ œ œ
J ‰ Jœ œ œ
J
œ œ œ ˙.
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

‰ œj œ œ
b j j j j ‰ œj
& b b œ. œ œ œ œ œ œ. œ œ
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

b . ‰ Jœ œ œ
Vbb œ œ œ
J J œ œ œ
J
˙. ‰ œ
J
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -

? b œ. œ œ
J
œ
‰ J
œ œ
J
œ œ œ
J
˙. ‰ Jœ
bb
ti - no pro di - a no - voIen - con - trar. Cor -
Trenzinho do Caipira - 9

b œj œ j j
75 morendo...........................
b j j j
& b œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ Œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra vai...

b
& b b œj œ œ œ
j j
œ œ œ œ œ œ
j j
œ œ œ œ
j Œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra vai...

b
V b b œJ œ œ œ œ
J œ œ
J
œ œ œ
J
œ
J
œ œ œ
J
Œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra vai...

? b œJ œ œ œ œ
J
œ œ œ œ œ œ œ œ œ Œ
bb J J J J
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra vai...

bb b Óq = 100
78

& Œ ‰ œj œj œ j
œ œ œ œ ‰ œj
œœ ˙.
can - tan - do pe - las ser - ras do lu - ar, cor -

b ‰ œj œj œ j
&bb Ó Œ œ œ œ œ œœ
‰ j
˙. œ
can - tan - do pe - las ser - ras do lu - ar, cor -

b œ œ œ œ œ œ œ œ
V b b ‰ œJ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
Ca - fé com pão, bo - la - cha não, ca - fé com pão bo - la - cha não, ca - fé com pão bo - la - cha

? b ‰ œj œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
bb
não, ca - fé com pão bo - la - cha não, ca - fé com pão bo - la - cha

b j
81
j
&bb œ œ œ œ œ œ œ œ ˙. œ œ
˙.
ren - doIen - treIas es - tre - las a vo - ar, no ar, no

b
& b b œj œ j
œ œ œ œ œ œ ˙. œ œ
˙.
ren - doIen - treIas es - tre - las a vo - ar, no ar, no

b œ ‰ œ ‰ œ ‰ œ ‰ œ ‰ œ ‰ œ ‰ œ ‰
Vbb œ œ œ œ œ œ œ œ
J J J J J J J J
não, ca - fé com pão bo - la - cha não, ca - fé com pão, bo - la - cha

? bb œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
b
não, ca - fé com pão bo - la - cha não, ca - fé com pão bo - la - cha não, ca - fé com pão bo - la -cha
Trenzinho do Caipira - 10

bbb
84 ritardando.......................................
& Œ Ó ‰ j w
œ. ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
ar. Ca - fé com pão, bo - la - cha não!

b w
&bb Œ Ó ‰ j
œ. ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
ar. Ca - fé com pão, bo - la - cha não!

b
V b b œJ ‰ Jœ ‰ Jœ ‰ Jœ ‰ ‰ ¿ ¿
J
¿ ¿ ¿ ¿ ¿ w
não, bo - la - cha Ca - fé com pão, bo - la - cha não!

? b œj ‰ œj ‰ œj ‰ œj ‰ j w
bb ‰ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
não, bo - la - cha Ca - fé com pão, bo - la - cha não!

q = 100
bbb
87

& ∑ ∑ ∑

b
&bb
œ œœ œ œ œœ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œœ œ œ œœ œ
Tem, va-le quem tem, va-le quem tem, va - le quem tem, va - le quem tem, va-le quem tem, va-le quem

b j j j
V b b œ. œ ˙ œ. œ ˙ œ. œ ˙
Quem tem, quem tem, quem tem,

? bb ‰œ œ ‰ œ œ ‰ œ œ
b ˙. ˙. ˙.
Tem, só quem tem, só quem tem, só quem

b j ‰ j œj œ
90

&bb Ó Œ ‰ œj œjœ œ œj
œ œ œj œ . œ œ œ œ
Uh! uh!

b
&bb
œ œ œ œ ˙ w w w
tem, va - le quem tem. Uh!

b j j j j
V b b œ. œ ˙ œ. œ ˙ œ. œ ˙ œ. œ ˙
quem tem. Uh!

? b w w w w
bb
tem. Uh!
Trenzinho do Caipira - 11

(Falado:) O passado se faz presente. O trem passa, a vida passa e eu continuo ausente. O tempo passa
bb
94

& b ˙. ‰ j j j j ‰ œj
œ œ œ œ œ œ œ. œ œ
uh! uh!

b
&bb . j j j
œ ˙
œ nœ ˙ œ. nœ ˙ œ.
uh!

b
Vbb w w w
uh!

? b w w w
bb
uh!

b b œj œ œ
e as coisas passam pelo tempo. (texto: Adrielly Fontes / Flávia Andressa)

‰ œj œ œ œ
97

& b œ œ j œ œ œ ‰ J
œ ˙
Lá vai o trem, o trem, o

b j ‰ œj j œ
& b b œ. j
œ ˙ œ. œ œ œ œ œ œ J
uh! lá vai! Lá vai o trem c'o me -

b œ. ‰ œj œ œ œ œ œ
Vbb w œ œ
J J J
uh! lá vai! Lá vai o trem c'o me -

? b ˙ ‰ Jœ œ œ ˙. ‰ œJ
bb w
uh! Lá vai o trem, o

b œ œ3 œ œ3 œ œ œ ‰ œj
100
œ œ œ œ œ œ œ.
&bb œ
3 3

J
trem c'o me - ni - no, pro di - a no - voIen - con - trar. cor -

b
3

‰ j
3 3

&bb ˙ œ ˙
3

œ œ œ œ œ œ ˙. œ
œ
ni - no pro di - a no - voIen - con - trar. cor -

b
Vbb ˙ œ ˙ œ œ œ œ œ œ œ ˙. ‰ œ
3 3 3 3

J
ni - no pro di - a no - voIen - con - trar. cor -

? bb œ œ3 œ œ œ3 œ œ œ ˙. ‰ Jœ
3 3

b œ œ œ œ
trem c'o me - ni - no, pro di - a no - voIen - con - trar. cor -
Trenzinho do Caipira - 12

b œj œ j j
103

b
& b œ œ j j j
œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra, vai pe - lo

b j
& b b œj œ œ œ
j j
œ œ œ œ œ
j j
œ œ œ
œ œ œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra, vai pe - lo

b j œ
V b b œJ œ œ œ œ
J
œ œ
J
œ œ œ
J
œ œ œ œ J
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra, vai pe - lo

? b œJ œ j œ œ
œ œ
j
œ œJ œ
j
bb œ œ œ J œ œ œ
ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la ser - ra, vai pe - lo

b ‰ œj œj œ j
106

& b b ˙. œ œ j œ œ œ j
œ œ œ
mar, cor - ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la

b ‰ œj œj œ j
& b b n˙. œ œ œ
j œ œ œ j
œ œ
mar, cor - ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la

b œ œ
V b b ˙. ‰ œ
J
œ œ
J
œ
J
œ œ
J
œ œ œ
J
mar, cor - ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la

? bb j j œ œ œ
b ˙. ‰ œ œJ œ œ œ œ œ œ J
J
mar, cor - ren - do vai pe - la ter - ra, vai pe - la

b j
109

&bb œ œ œ j w
œ œ ˙. bœ œ b˙ œ
ser - ra, vai pe - lo mar, no mar, vai no ar!

b
&bb j j w
œ œ œ œ œ ˙. bœ œ b˙ œ
ser - ra, vai pe - lo mar, no mar, vai no ar!

bb j j w
V b œ œ bœ œ œ n˙. bœ nœ b˙ œ
ser - ra, vai pe
w
- lo mar, no mar, vai no ar!

? bb b œ œ bœ œ œ ˙. bœ œ b˙ œ
b J J
ser - ra, vai pe - lo mar, no mar, vai no ar!

Você também pode gostar

pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy