GD1 Aline Cunha
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Resumo: O presente artigo é parte de um projeto de pesquisa de mestrado que se iniciou no primeiro semestre
de 2017, junto ao programada de Pós-Graduação em Educação, do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), que tem por objetivo discutir a possibilidade da construção
significativa do conceito de número, a partir da Literatura Infantil, em turmas de Educação Infantil e de
Ensino Fundamental. Partindo do pressuposto que a literatura é, para a criança, uma importante ferramenta
para compreensão do real, pois permite estabelecer relações entre a ficção e a realidade, além de proporcionar
um alargamento do seu domínio linguístico, o que é fundamental para a compreensão e significação do
mundo, buscou-se analisar quais as contribuições da contação de histórias para o desenvolvimento do
conceito de número e como a Literatura pode ser facilitadora do processo de ensino e de aprendizagem da
Matemática. A pesquisa, neste momento em fase inicial, será qualitativa e consistirá, num primeiro momento,
no aprofundamento teórico sobre as inter-relações entre Literatura Infantil e Matemática, visando o ensino da
segunda; posteriormente serão desenvolvidas atividades que permitam explorar o potencial dos livros de
Literatura Infantil para a construção destes conceitos. Esperamos, com este trabalho, despertar o interesse dos
professores para a utilização desta estratégia de ensino, na construção do conceito de número, tornando essa
aprendizagem mais relevante para o aluno.
Introdução
Este artigo é parte do projeto de pesquisa desenvolvido no Mestrado Profissional em
Educação e Tecnologia intitulado “Literatura infantil e Matemática: a construção do
conceito de número a partir da contação de histórias”. Ainda em sua fase inicial, tem como
objetivo verificar se a contação de histórias pode contribuir para que as crianças da
Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental construam o conceito de
número.
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IFSul – Instituto Federal Sul-rio-grandense, e-mail: alinepacto@gmail.com, orientador: Prof. Dr. Rafael
Montoito.
A busca por proporcionar espaços e estratégias de aprendizagens que sejam relevantes para
o aluno é um desafio, principalmente quando se refere à área da Matemática pois, ainda
que vivenciada constantemente, muitos professores das séries iniciais têm demonstrado
dificuldade em transformar estas vivências do cotidiano em conhecimentos sistematizados.
Essa dicotomia entre o saber adquirido e a formalização do conhecimento pode ser
observada, também, na grande maioria dos materiais pedagógicos, nos quais os
conhecimentos matemáticos já vêm formalizados e desprendidos da realidade,
desconsiderando completamente os processos de construção do conhecimento.
Neste sentido, a Literatura Infantil é uma grande aliada dos professores, pois sabe-se que,
embora esta tenha tido sua origem com fins pedagógicos, é, para a criança, uma importante
ferramenta para a compreensão do real, pois permite estabelecer relações entre a ficção e
realidade. Este argumento é defendido por Zilberman, que diz que:
a fantasia é um importante subsídio para compreensão de mundo por parte da
criança: ela ocupa as lacunas que o indivíduo necessariamente tem durante a
infância, devido ao seu desconhecimento do real; e ajuda-o a ordenar suas novas
experiências, frequentemente fornecidas pelos próprios livros (ZILBERMAN,
2003, p. 49)
é necessário todo um esforço para dar significação inicial, para que o sujeito leve
em conta o objeto como um desafio. Trata-se de estabelecer um primeiro nível
de significação, em que o sujeito chegue a elaborar as primeiras representações
mentais do objeto a ser conhecido. (VASCONCELOS,1992, p. 03)
Além disso, a Literatura é, também, para a criança, um meio de acesso ao real, que permite
um alargamento do seu domínio linguístico, fundamental para sua compreensão e
significação de mundo. Como afirma Amarilha (2013, p.17), as histórias “ampliam seu
universo de ideias e conhecimentos, e favorecem o desenvolvimento da linguagem, da
imaginação, da observação, da memória, da reflexão e da capacidade de atenção dos
estudantes. ”
Todas estas habilidades são fundamentais para qualquer aprendizagem, sendo o domínio
linguístico imprescindível neste processo pois, de acordo com Bannell (2016), a linguagem
não é só uma ferramenta que auxilia a criança a pensar, ela é constitutiva do próprio
pensamento.
No estudo realizado por Souza e Oliveira (2010), as autoras apontam que uma prática que
articule a Literatura e a Matemática possibilita que se estabeleçam as relações entre a
língua materna e linguagem matemática, o que, segundo elas, contribui para a formação de
alunos leitores, capazes de fazer uso social da leitura e da linguagem e conceitos
matemáticos.
Destacam, ainda, que estas práticas permitem alunos mais ativos, participativos e
envolvidos com seu processo de descoberta, porém exigem professores mais flexíveis,
capazes de gerir situações de aprendizagem inesperadas e de interação entre aluno-aluno,
aluno-conteúdo e aluno-professor de modo a torná-las mais fecundas. Outro ponto
interessante ressaltado pelas autoras é a necessidade de o professor investigar o que o aluno
pensa a respeito de determinado conteúdo, de modo a compreender as estratégias que ele
usa para realizar uma atividade e, assim, poder intervir de forma adequada, possibilitando
um avanço na aprendizagem do aluno.
Já os estudos realizados por Roedel (2016), embasados em Smole (1997), sublinham que,
ao integrar Literatura e Matemática, as crianças exploram, ao mesmo tempo, a Matemática
e a história, o que permite trazer as ideias matemáticas para sua vida: um dos resultados
disso é uma maior compreensão de sua realidade e um uso real e social da Matemática.
Roedel (2016) traz ainda as ideias de Nacarato (2009), que destaca a importância da
utilização da literatura nas aulas de matemática, pois abrem espaço para a comunicação,
despertando o interesse dos alunos, modificando a tão característica aula de Matemática
marcada pelo silêncio e pela execução de exercícios mecânicos.
Este tipo de prática, onde o aluno tem a possibilidade de comunicar o que pensa e explicar
seu raciocínio, é bastante natural quando, ao ouvir uma história, inquere-se a criança sobre
o que aconteceu ou está por vir. Este diálogo entre professor e aluno, na retomada do que
ouviram ou na tentativa de prever o que vai acontecer, é fundamental para a resolução de
um problema matemático, pois possibilita que o aluno reflita sobre suas hipóteses e, por
vezes, as reformule, chegando a um conhecimento mais elaborado. Por isso, esta ideia de
formar hipóteses, analisá-las e falar sobre elas não deve ficar restrita às atividades de
contação de histórias, mas também permear os momentos de ensino de Matemática.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998):
fazer matemática é expor ideias próprias, escutar as dos outros, formular e
comunicar procedimentos de resolução de problemas, confrontar, argumentar e
procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultados de experiências não
realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, entre
outras coisas. Dessa forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como
produtoras de conhecimentos e não apenas executoras de instruções. Portanto, o
trabalho com matemática pode contribuir para a formação de cidadãos
autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas.
(BRASIL, 1998, p.207).
Smole e Diniz (2001) afirmam que, para ler um texto matemático, compreender a situação
problema que ali se apresenta e ser capaz de traçar estratégias para resolvê-lo, o aluno
necessita, para além do domínio dos conhecimentos matemáticos, ser capaz de mobilizar
seu conhecimento linguístico, seu conhecimento textual e seu conhecimento de mundo.
Conhecimentos estes que, como visto, são amplamente mobilizados e alargados conforme
a criança vai se apropriando do universo literário.
No entanto, é preciso ter cuidado na escolha dos livros, quando se pretende trabalhar com
Literatura e Matemática, para que esta conexão faça sentido e mantenha seu objetivo.
Arnold (2016) destaca que os aspectos literários que permitem a interpretação, a
imaginação e todo jogo ficcional precisam ser preservados. Contrariando seu ponto de
vista, o que se vê, no entanto, é que muitas vezes os aspectos didáticos, pedagógicos e
moralizantes se destacam em detrimento dos literários. Arnold (2016) traz, ainda, a
perspectiva de Coelho (2015), na qual o livro de literatura infantil pertence a duas áreas: a
pedagógica e a arte literária, o que faz com que todo livro tenha a intenção de divertir e
ensinar e que nenhum estremo é desejável.
A pesquisadora ressalta, ainda sob a perspectiva de Coelho (2015), que não há necessidade
de deixar de utilizar textos literários para trabalhar conteúdos escolares, pois:
ensinar e divertir são dimensões sempre presentes nas obras, mas sim, que
precisamos buscar obras que, mesmo trabalhando conteúdos escolares, sejam
estética, linguística e artisticamente ricas, ampliando o repertório cultural de
nossos alunos. Quer dizer, não é por ter o livro uma intencionalidade pedagógica
ou de transmissão de valores que perde seu caráter literário. (ARNOLD, 2016, p.
32)
Deste modo, segundo Arnold (2016), o equilíbrio entre o ensinar e o divertir, o didático e o
artístico deve ser o principal critério na hora de escolher livros de Literatura Infantil para
trabalhar na escola.
O estudo realizado até aqui, aponta, também, o quanto se faz necessário um investimento
maior na formação de professores da Educação Infantil e das séries iniciais, para que estes
possam explorar este material de modo a usufruir de seu potencial, tanto no que se refere à
Literatura, quanto aos conhecimentos matemáticos.
A partir destas leituras, a pesquisa que vai ser desenvolvida, mas longe de trazer soluções,
busca trazer inquietações e reflexões em relação ao uso da Literatura Infantil no ensino da
Matemática, principalmente nas séries iniciais, buscando tornar o processo de ensino e de
aprendizagem desta ciência exata, mais significativo e prazeroso. Como há uma gama
ampla de inter-relações entre estas disciplinas, nosso estudo focará naquelas favoráveis à
construção do conceito de número, via contação de histórias.
Algumas considerações
Diante do exposto, é possível perceber que a conexão entre Literatura e Matemática pode,
além de gerar aprendizagens mais fecundas, mobilizar o aluno para o conhecimento,
despertar neste a imaginação e o prazer em aprender, incentivando-o a comunicar, dialogar
e debater suas descobertas e levando-o a fazer uso social e real, tanto da língua materna,
quanto da linguagem matemática.
O texto aqui apresentado é parte inicial de uma pesquisa que teve início em maio de 2017,
para a qual a pesquisadora ainda está realizando as leituras do aprofundamento teórico.
Concomitantemente, vem buscando livros de Literatura Infantil e paradidáticos que
possam ser usados para desenvolver sequências didáticas que visem a construção do
conceito de número por crianças na fase inicial de numeramento.
A pesquisa será qualitativa e consistirá, nas próximas etapas, em desenvolver sequências
de atividades que permitam explorar o potencial dos livros de Literatura Infantil para a
construção destes conceitos.
Referências
AMARILHA, M. Alice que não foi ao país das maravilhas: educar para ler ficção na
escola. 1. ed. São Paulo: Livraria da Física, 2013.
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