Fonetica-Morfossintaxe e Semantica
Fonetica-Morfossintaxe e Semantica
Fonetica-Morfossintaxe e Semantica
Estudos Linguísticos I
Florianópolis, 2012.
Governo Federal
Presidente da República: Dilma Vana Rousseff
Ministro de Educação: Aloizio Mercadante
Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC)
Universidade Aberta do Brasil (UAB)
Projeto Gráfico
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Revisão: Rosangela Santos de Souza
Ficha catalográfica
D357t Dellagnelo, Adriana de Carvalho Kuerten
3° período estudos linguísticos I / Adriana de Carvalho Kuerten
Dellagnelo, Ina Emmel, Raquel Carolina Souza Ferraz D’Ely. –
Florianópolis : UFSC/LLE/CCE, 2012.
94p.
Inclui bibliografia
UFSC. Curso de Licenciatura em Letras-Espanhol na Modalidade
a Distância
ISBN 978-85-61483-61-6
UNIDADE B – MORFOLOGIA......................... 29
UNIDADE C – SINTAXE................................... 47
Considerações finais.........................................................87
Referências..............................................................................89
Apresentação
Este livro-texto introduz e discute em mais detalhe os níveis de análise lin-
guística (DELLAGNELO; CERUTTI-RIZZATTI, 2008) que Weedwood (2002)
chama de microlinguística, rol no qual Weedwood inclui também a Lexi-
cologia, mas este nível não será tratado nesta disciplina, e que engloba a
Fonética e a Fonologia, a Morfologia, a Sintaxe e a Semântica. Repetimos,
aqui, portanto, o diagrama que Weedwood apresenta e que permite uma
boa visualização desses níveis em relação ao que a autora denomina de
macrolinguística.
tica
á tica
sociolinguís
pr agm
psicoling
lin
uística
gu
fonética
íst
ica
fonologia
do
sintaxe
te
morfologia
an
xt
áli
lexicologia
o
se
semântica
do
neurolinguística
di
sc
ur
so
histó ica
rica
íst
a
e d ão
lingu
l i s
aná ersaç
v
con
Fonologia
Expressão
Morfologia
Linguística
Sintaxe Sistema
Linguístico
Conteúdo
Semântica
Linguístico
Esperamos que você nos acompanhe com muita dedicação nesse percur-
so, que promete ser desafiador e, assim torcemos, encantador ao mesmo
tempo. Bons estudos!
Adaptação livre.
Estudos Linguísticos I
12
Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
Ao final deste capítulo, você deverá ser capaz de identificar fonética e fo-
nologia como um dos níveis dos estudos linguísticos, distinguindo ambas
as ciências entre si e reconhecendo seus principais fundamentos. Assim,
empreendemos, inicialmente, uma discussão acerca do escopo da fonética
e da fonologia, passando, então, a dar ênfase à fonética articulatória, haja
vista a sua importância para a compreensão da forma como se dá a articu-
lação dos sons em uma língua. É nosso entendimento que tal compreensão
facultará a você maior familiaridade e facilidade no trato com questões de
pronúncia da língua estrangeira a qual você busca dominar – o espanhol.
1.1 Introdução
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Estudos Linguísticos I
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Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
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Estudos Linguísticos I
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Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
Busquemos uma situação que nos ajude a entender melhor essa di-
ferença. Dois falantes de língua portuguesa, um gaúcho e um carioca,
por exemplo, conhecem o segmento sonoro s que aparece na palavra
Abrimos mão da notação
dois – esse segmento s faz parte do inventário de segmentos sonoros que formal dos fonemas em
ambos os falantes adquiriram ao aprender o português. É um segmento nome do caráter introdu-
tório do estudo e da não-
que se distingue do segmento sonoro x, por exemplo, na palavra deixar, -familiaridade dos leitores
certo? Assim, na língua portuguesa existem dois segmentos sonoros dis- com os símbolos fonéticos.
tintos – o s de dois e o x de deixar, entre outros tantos segmentos exis-
tentes. Descrever todos os segmentos sonoros que fazem parte de uma
língua e que são distintos entre si é tarefa da fonologia.
Imaginemos, agora, esses dois falantes, articulando a palavra dois: Essas diferenças de arti-
possivelmente o falante carioca, ao invés do s ao final de dois, pronuncie culação de um mesmo
um x, dizendo algo como doix, enquanto o gaúcho possivelmente não o segmento sonoro – nesse
caso, o s – interessam à
faça e articule um s nessa posição, dizendo dois. fonética e não à fonologia,
porque, neste caso especí-
fico, s e x são variantes de
Para a fonologia, o que interessa nesse caso é que existe um único
um mesmo fonema: o s, e
segmento sonoro nessa posição (um arquifonema – fonema que pode não dois fonemas distintos.
ser articulado de modo distinto por diferentes falantes; neste caso, o s
em posição de final de sílaba), o segmento é o s. O fato de ele ser realiza-
do de modo distinto na fala de usuários da língua de diferentes regiões
interessa à fonética e não à fonologia, porque é a fonética que se preo-
cupa em descrever como os segmentos sonoros são articulados na fala.
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Estudos Linguísticos I
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Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
5 6 7 8 9 10
1. Cavidade oral
2. Cavidade nasal
3. Cavidade nasofaringal
2 3 4. Cavidade faringal
5. Lábio superior
6. Dentes superiores
1 7. Alvéolos
8. Palato duro
13 17 9. Véu palatino (ou palato mole)
10. Úvula
11. Lábio superior
12. Dentes inferiores
4
13. Ápice da língua
18 14. Lâmina da língua
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Estudos Linguísticos I
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Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
Vibrantes:
a) alveolar sonora: [r] mar
b) alveolar surda: [r] mar
c) uvular: [R] mar
Tepes:
a) alveodental: [] prato, crise, força, caro
Retroflexas:
a) anterior (alveolar): [ɹ] porta, mar
b) posterior (palatoalveolar): [ɻ] porta, mar
Esse alfabeto tem, ainda, outros tantos símbolos, muitos deles especí-
ficos de fones de outras línguas, os quais não existem em português. Você,
durante o curso, tomará contato com segmentos sonoros específicos da
língua espanhola. Sugerimos que você pesquise na bibliografia disponível
em seu pólo – Cristófaro Silva (2001), por exemplo – ou na internet o
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Estudos Linguísticos I
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Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
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Estudos Linguísticos I
Orais Nasais
imã
/a/ mato /ã/
Figura 3 - Mattoso Câmara Júnior manto
tempo
/e/ letra /ẽ/
gente
/ɛ/ teta - -
ruim
/i/ vida /ĩ/
ainda
põe
/o/ boca /õ/ ombro
conto
/ɔ/ obra - -
rumba
/u/ rubro /ũ/
mundo
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Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
/i/ /u/
/e/ /o/
Anteriores
(língua em direção ao palato) Posteriores
(língua em
// // direção ao véu
palatino)
/a/
média (língua em repouso)
A vogal /a/ exige que a língua As vogais /i/, /e/ e /ɛ/ exigem As vogais /u/, /o/ e /ɔ / requerem
que a língua se eleve em direção que a língua se eleve em direção
permaneça baixa, em estado de
ao céu da boca. ao véu palatino (veja novamente
relaxamento. o aparelho fonador para localizar
essa parte do trato vocal que fica
mais ao fundo do céu da boca).
Há vários outros detalhes no estudo classificatório das vogais, tanto Anteriormente, nos referi-
quanto a outras teorizações, de configuração mais recente, em outros mos às semivogais ou glides;
modelos teóricos, no que se refere ao estudo das vogais, mas deixemos trata-se de segmentos que
não têm proeminência acen-
isso para um tempo futuro, quando você estiver mais familiarizado com tual, ao contrário das vogais.
os estudos da fonética e da fonologia. Limitemo-nos a registrar os cha- Talvez pudéssemos “dizer”
que se apóiam nas vogais
mados encontros vocálicos, encontros de vogais e de vogais e semivogais.
por ocasião da articulação
Vejamos isso no quadro a seguir. nesses encontros vocálicos.
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Estudos Linguísticos I
Por ora, vamos parar por aqui nosso estudo de fonética, mas ad-
vertimos que há muitos detalhes nessa discussão que merecem nossa
atenção porque estão em constante processo de aperfeiçoamento e su-
peração. Esperamos, de fato, que estudos de fonética possam vir a inte-
ressá-lo tão logo você domine melhor os caminhos teóricos da lingua-
gem e lembramos que, em disciplinas específicas da língua espanhola,
você aprenderá novos fonemas e fones, específicos daquele idioma.
26
Duas ciências e um só nível de análise linguística
Capítulo 01
acordo com Ramers (1998, p. 65), são descritas sob o rótulo “Processos
Fonológicos”. A alternância é dependente de:
• o contexto fonético;
• a posição dentro da palavra;
• as condições de ordem morfológica: traços flexionais e tipo de
afixo;
• o ritmo da fala; e
• o estilo etc.
Resumo
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Estudos Linguísticos I
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Unidade B
Morfologia
Adaptação livre.
Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
2.1 Introdução
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Estudos Linguísticos I
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
Ficou mais claro agora? Bom, esses conceitos são fundamentais por-
que, normalmente, quando tratamos da estrutura morfológica da língua,
referimo-nos a palavras, no entanto, a noção de palavra é bastante com-
plexa. Se tomarmos, por exemplo, o pronome lhe, diremos que ele é uma
palavra? E se tomarmos as expressões construtor e aquele que constrói –
embora esta última expressão tenha, na maioria dos contextos, sentido
muito semelhante à primeira, seguramente não diremos que é uma pala-
vra, como refere Sandalo (2006). Tomemos, ainda, a diferença entre pala-
vras na fala e na escrita – na escrita, chamamos de palavras os signos que
são separados por espaços em branco. Na fala, porém, não há espaços em
branco separando palavras – quando falamos, por exemplo, casa amarela,
articulamos algo como cazamarela, em um todo único, em razão do con-
tinuum da fala e do mecanismo de coarticulação. Logo, tratar a palavra
como unidade do estudo da morfologia envolve complexidade.
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Estudos Linguísticos I
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
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Estudos Linguísticos I
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
Koch (2002) ou o próprio Câ- Nos verbos: categorias de vo de número plural e de primeira pessoa.
mara Júnior (1970). modo e tempo, número e
pessoa.
Morfemas gramaticais deri- Criam novas palavras na lín- In feliz: o –in é um morfema derivacional
vacionais gua unindo-se aos morfemas que se une ao morfema lexical feliz para
lexicais. São os conhecidos formar uma nova palavra.
prefixos e sufixos.
Feliz mente: o
-mente é um morfema derivacional que se
une ao morfema lexical feliz para formar
uma nova palavra.
Morfemas gramaticais rela- “Ordenam os elementos da São exemplos disso as preposições, as con-
cionais frase, possibilitando a conca- junções, os pronomes relativos.
tenação dos morfemas lexi-
cais entre si.” (SILVA e KOCH,
2001, p. 26)
Composição
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Estudos Linguísticos I
cais, operando-se entre eles uma fusão semântica que pode ser
mais ou menos completa”(SILVA e KOCH, 2002, p.33 e 34).
Derivação
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
Abreviação
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Estudos Linguísticos I
Reduplicação e onomatopéia
• Reduplicação: Dudu.
• Onomatopéia: tique-taque.
Siglas
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
Mattoso Câmara Júnior (1970). Há, ainda, uma outra obra de conteúdo
bastante acessível na qual você pode retomar essas questões, ampliá-las
e exercitar seus conhecimentos: Laroca (2003). Todas essas obras estão
devidamente referidas na bibliografia deste livro.
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Estudos Linguísticos I
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
destaque, mas mantendo-a como parte da sintaxe, mas essa é uma dis-
cussão para o futuro. Assim, teorizações de base gerativista ou teoriza-
ções com base na chamada Teoria da Otimidade, hoje em franca expan-
são, ficarão para mais tarde.
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Estudos Linguísticos I
Resumo
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Das noções básicas à análise morfêmica
Capítulo 02
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Estudos Linguísticos I
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Unidade C
Sintaxe
3 Do gerativismo ao funciona-
lismo: uma visão panorâmica
Ao final desta seção, você deverá ser capaz de identificar a sintaxe como
um dos níveis de estudos linguísticos, caracterizando-a em seus princi-
pais fundamentos. Ênfase será dada à escola gerativista e, dentro dela,
à Gramática Gerativa Transformacional de Chomsky correspondente ao
período de 1957 a 1965 – Teoria Padrão, fazendo alusões pontuais aos
estudos de sintaxe aos olhos da Gramática Tradicional. Adicionalmente,
apresentaremos, ainda que também de forma preliminar, uma abordagem
funcional – hallidayana – à Sintaxe.
3.1 Introdução
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Estudos Linguísticos I
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
S₀ Ss
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Estudos Linguísticos I
S = sentença
SN= sintagma nominal
SV= sintagma verbal
DET= determinante
N= nome
V= verbo
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
SN SV
Det N V SN
Det N
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Estudos Linguísticos I
SN SV
Det N Mod V SN
Mod
SA Det N SP
P SN
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
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Estudos Linguísticos I
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
S1
SN S2 SV
Det N SN SV V SN
SP
P SN
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Estudos Linguísticos I
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
3.3.1 Campo
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Estudos Linguísticos I
3.3.2 Relação
3.3.3 Modo
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
falante parte para comunicar o que pretende. Esses significados são cha-
mados de significados textuais na terminologia hallidayana.
1) Ontem João foi ao cinema, ou outras ainda, nem tão comuns, mas
permitidas pelo sistema da língua portuguesa brasileira, tais como
2) Foi ao cinema ontem, o João, ou 3) Ao cinema, João foi ontem. Na
análise gerativa, o que faríamos seria constatar que os sintagmas
verbais, nominais e preposicionais podem ser ordenados de formas
distintas, certo? Já na proposta hallidayana, cada qual dessas formas
de referirmo-nos à ação praticada por João permite-nos vislumbrar
intenções comunicativas distintas, já que o ponto de partida de
cada qual é distinto. Assim, na sentença 1, o foco recai no momento
em que João foi ao cinema; na 2, o foco está na ação feita por João, e
na sentença 3, o foco centra-se no local para o qual João foi.
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Estudos Linguísticos I
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Do gerativismo ao funcionalismo – uma visão panorâmica
Capítulo 03
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Estudos Linguísticos I
Resumo
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Unidade D
Semântica
reavivamentoereforma.com
Possibilidades de significação
Capítulo 04
4 Possibilidades de significação
Ao final desta seção, você deverá ser capaz de identificar a semântica como
um dos níveis de estudos linguísticos, caracterizando-a em seus principais
fundamentos. Elencaremos, assim, alguns fenômenos estudados nessa área
e daremos uma breve explanação sobre cada qual desses fenômenos. Em
seguida, particularizaremos a Semântica Formal, referindo-nos a signifi-
cado, sentido, referência, em especial e terminaremos por fazer uma breve
alusão aos estudos de Semântica da Enunciação e de Semântica Cognitiva.
4.1 Introdução
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Estudos Linguisticos I
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
Só na sentença (5) temos uma parte dela que está sendo mencio-
Outro exemplo para mar-
nada enquanto a sentença como um todo está sendo usada. E a parte car essa diferença: Uma
mencionada vai ser efetivamente o nosso objeto de estudos, e é em cima mãe falando com o filho
desta parte que incide a definição de significado acima. que acabou de receber
um presente de aniversá-
rio da tia: “Diz ‘obrigado’
Caso ainda não tenha ficado totalmente clara a diferença entre uso pra titia, filho!”. A sentença
como um todo está sendo
e menção, que também pode ser pensada em termos de linguagem e
usada, mas tem uma parte
metalinguagem, lá vai mais uma explicação. Pense num professor que- dela que está sendo ape-
rendo explicar um fenômeno físico qualquer. Ele vai poder se valer da nas mencionada.
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Estudos Linguisticos I
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
truir e interpretar sentenças que nunca ouvimos antes. A sentença a se- Uma sugestão de leitura
guir, por exemplo, certamente é inédita, mas você consegue interpretá- para aprimoramento desse
conhecimento sobre a tra-
-la e atribuir a ela um significado:
ma de sentenças e que é
muito divertida ao mesmo
tempo, pois se baseia em
(06) Sapos miúdos comeram trigo azedo. exemplos reais, é: Introdu-
ção à Semântica. Brincan-
do com a gramática (2001),
de Rodolfo Ilari. Veja a refe-
rência completa na biblio-
Como fazemos isso? Conhecemos os significados lexicais de sapo, grafia ao final deste livro.
miúdo, comer, trigo, azedo. Esses itens, porém, ocorrem em determi-
nada forma gramatical. O verbo comer está conjugado no pretérito
perfeito, do indicativo, na voz ativa. Portanto, não está no futuro do
presente (comerão), nem no pretérito imperfeito (comiam), tampou-
co, está no modo subjuntivo (se comessem) e nem na voz passiva (foi
comido). A sentença também não está sendo negada (não comeram),
os adjetivos concordam com os substantivos (plural em miúdos e sin-
gular em azedo), mas não estão no superlativo (miudíssimos), nem no
comparativo (mais azedo que...). O plural sapos tem significado dife-
rente de sapo e assim por diante... Portanto, de acordo com Löbner
(2002, p. 12), os significados das palavras em suas respectivas formas
dentro da sentença precisam ser derivados dos seus significados lexi-
cais através de regras. Essas regras são parte do aparato que usamos na
composição de sentenças. E as formas resultantes fazem parte do que
convencionamos como significado gramatical.
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Estudos Linguisticos I
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
está miando’ seja verdadeira, uma vez que ele muito bem pode estar
brincando com uma bolinha, arranhando uma porta etc.
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Estudos Linguisticos I
zir isso numa linguagem matemática, por exemplo, por a=a, e dizer que,
em todos esses casos, estamos diante de uma tautologia.
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
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Estudos Linguisticos I
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
Você saberia dizer qual seria a referência das sentenças (09), (10) e
(11)? Lembra-se que falamos no início que os “objetos” numa se-
mântica referencial eram coisas bem amplas? Pois bem, agora che-
gamos ao ponto do estranhamento. O “objeto” a que nos referimos
como uma sentença, ou seja, a referência de uma sentença, é o seu
valor de verdade. Quais seriam então os valores de verdade (as re-
ferências!!!) das sentenças acima? Se você disse V (verdadeiro) para
(09) e para (11), e F (falso) para (10), você pegou o “espírito da coisa”.
Faltou explicar por que uma sentença vira um “nome próprio”, não
é mesmo? Temos que pensar em termos de uma máquina, que toma ele-
mentos ou que os relaciona. É que a própria sentença (agora vista como
nome próprio, que tem sentido, expressa um pensamento e tem uma
referência) pode virar argumento de uma nova expressão insaturada.
Não se desespere, o exemplo a seguir já vai elucidar isso.
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Estudos Linguisticos I
existir e referência do nome próprio Lula, esse alguém fez uma ve-
rificação de algo, e esse algo era..., e por aí vai. Se você associou aqui
o que já havíamos comentado antes no capítulo quando falamos da
composicionalidade, você está no caminho certo: “a verdade do todo se
dá a partir da verdade das partes”.
O fato do Chávez ser um grande amigo do Brasil pode até não ser
verdadeiro (e pensamos não o ser mesmo!), mas isso não altera o fato do
Lula acreditar nisso e ela continuará sendo verdadeira. Assim, enquanto
os outros exemplos citados se constituem em sentenças extensionais,
aqui estamos diante de um contexto intensional (atenção: é com “s”
mesmo, pois é em contrapartida a extensional). Nesse tipo de sentença
80
Possibilidades de significação
Capítulo 04
Você já deve estar achando esse tal de Frege um cara genial, por ter
introduzido para nós essa diferença entre sentido e referência (entre ou-
tras coisas que nem comentamos aqui), tão relevante para todo o desen-
volvimento dos estudos semânticos a partir dele, não é mesmo? Tudo isso
tem servido muito às teorias que procuram mimetizar o conhecimento
intuitivo que temos sobre o significado das sentenças de nossa língua.
Mas nem tudo são flores, nem na vida do Frege! E só para lembrar
mais uma vez: na teoria referencial fregueana, a verdade não está na lin-
guagem, mas nos fatos do mundo. Para Frege, portanto, se formos falar de
personagens fictícios, tais como Saci-Parerê, Papai-Noel, Garfield, o fato
de esses personagens carecerem de referência no mundo real faz com que
as sentenças também careçam de valor de verdade, ou seja, é impossível
dizer se são verdadeiras ou falsas. Sentenças que ferem a pressuposição da
existência, no entanto, apesar de não terem referência, têm sim sentido.
Essa, porém, é uma discussão que vai ter de ficar para um outro momento.
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Estudos Linguisticos I
Situação 1
Maria João
Josefina Pedro
Yara José
Daniela Luciano
Situação 2
Maria
Josefina
Luciano
Yara
Daniela
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
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Possibilidades de significação
Capítulo 04
Resumo
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Estudos Linguisticos I
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Considerações Finais
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Estudos Linguísticos I
São com essas interrogações que finalizamos, por ora, nossa conversa,
esperando que as discussões os tenham levado a responder essas per-
guntas. Sabemos, no entanto, que a tarefa é desafiadora, principalmente
porque, no momento em que encontramos algumas repostas, nos da-
mos conta de que outras interrogações surgem. Mas, afinal, é esse o mo-
vimento que nos faz embarcar em eterno aprendizado, não é mesmo?
88
Referências
89
COSTA, S. B. B. O Aspecto em Português. Coleção Repensando a Lín-
gua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 1997.
_____; GERALDI, J. W. Semântica. 10. ed. São Paulo: Editora Ática, 1999.
90
MARGOTTI, F. W. Morfologia do Português. Florianópolis: LLV/CCE/
UFSC, 2008.
91
_____. Semântica Formal. Uma breve introdução. Campinas, SP: Mer-
cado das Letras, 2001.
92
TAYLOR, K. Truth and Meaning. An introduction to the Philosophy of
Language. Oxford: Blackwell Publishers Inc., 1998.
88
93
94