Administracao Financeira
Administracao Financeira
Administracao Financeira
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Prof. Dr. Koffi Djima Amouzou
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4
Introdução...............................................................................................................................................................................6
Capítulo 1
Balanço Patrimonial como Demonstrativo Financeiro .....................................................................................9
Capítulo 2
Instrumentos de Análise do Desempenho Financeiro.................................................................................... 29
Capítulo 3
Métodos de Análise de Fluxo de Caixa de Pagamentos Únicos.................................................................. 56
Capítulo 4
Método de Análise de Fluxo de Caixa de Anuidades...................................................................................... 68
Capítulo 5
Ferramentas e Técnicas de Decisão de Orçamento de Capital.................................................................... 79
Capítulo 6
Produtos Financeiros e Formulação de Metodologia de Cálculo de Resultado Efetivo..................... 93
Referências.........................................................................................................................................................................114
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.
4
Organização do Livro Didático
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Saiba mais
Sintetizando
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
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Introdução
Administração financeira é a disciplina que estuda o planejamento financeiro das empresas ou
de pessoas físicas, como, por exemplo, investidores, com base nas informações econômicas e
financeiras de mercado. Para melhor entender o que é administração financeira, é necessário
compreender as principais funções de um administrador financeiro.
De uma forma geral, administração financeira é a disciplina que ensina a analisar o desempenho
financeiro de uma empresa e, ao mesmo tempo, identificar as melhores oportunidades de
investimento de capital, com garantia de retorno de investimentos a custo reduzido. O custo de
capital é definido como a taxa de juro.
Portanto, é uma disciplina muito importante para todos os alunos de administração. Nesse
sentido, convido você a mergulhar nesses estudos com vistas a dominar os conceitos técnicos
que farão de você um excelente analista financeiro. Ao fim, serão desenvolvidas competências
fundamentais, tais como a interpretação e análise de dados financeiros e predição de situações
futuras de retorno sobre investimentos de sua empresa, até sobre suas próprias decisões como
investidor.
Objetivos
6
» Avaliar o valor do dinheiro no tempo.
7
8
CAPÍTULO
BALANÇO PATRIMONIAL COMO
DEMONSTRATIVO FINANCEIRO 1
Apresentação
Neste capítulo, analisaremos os itens do balanço patrimonial, trataremos esse relatório como o
principal demonstrativo financeiro que nos fornece dados precisos sobre o desempenho de uma
empresa. De modo geral, aprenderemos como identificar os subgrupos do balanço patrimonial
e como verificar a regra de equivalência patrimonial, que é um dos principais instrumentos de
análise de demonstrativos financeiros das empresas, e saberemos como construir um relatório
financeiro que ajude nas tomadas de decisão financeiras. Esse relatório consiste em um modo
de organizar as informações financeiras da empresa para informar sobre seu sucesso.
Objetivos
9
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
» o balanço patrimonial;
Atenção
Por exemplo, a General Motors, a Petrobras e outras empresas de capital aberto no Brasil devem
publicar ao final de cada exercício fiscal ano os demonstrativos financeiros em suas páginas
oficiais e nos grandes jornais de circulação.
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
Saiba mais
No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliário (CVM) é o principal órgão que dispõe de normas sobre elaboração
de demonstrativos financeiros com base nos padrões internacionais. O principal incentivo de seguir as normas
internacionais é permitir as companhias de capital aberto captar recursos financeiros no mercado global de
forma que os investidores financeiros tenham acesso às informações financeiras com base no conjunto de
pronunciamentos denominados International Financial Reporting Standards (IFRS), emitidos pelo IASB e
consolidados segundo as normas do International Accounting Standard Board (IASB) e ao fixar o exercício de 2010
para a adoção obrigatória dessas normas internacionais.
Balanço patrimonial
O balanço patrimonial indica, em uma tabela resumida, os ativos e passivos de uma empresa e
avalia a posição financeira da empresa em um determinado período de exercício.
O balanço patrimonial de uma empresa divide-se em duas partes ou lados: no lado esquerdo os
ativos e do lado direito os passivos e o patrimônio dos sócios como mostrado na figura a seguir.
Agora vamos analisar o detalhamento dos itens do balanço patrimonial de uma empresa.
Ativos
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
Importante
Os ativos mostram, de modo geral, como a empresa emprega seu capital, ou seja, seus investimentos. As contas do
ativo são classificadas por ordem decrescente do grau de liquidez, de acordo com a rapidez com a qual podem ser
convertidas em dinheiro.
O conjunto dos elementos do ativo são divididos em dois subconjuntos: os ativos circulantes e
os ativos não circulantes ou realizáveis a longo prazo, como mostrado na figura a seguir.
Ativos circulantes
O ativo circulante representa o dinheiro ao vivo (caixa) e tudo o que pode ser convertido em
dinheiro rapidamente dentro do prazo de um ano, ou seja, no curto prazo, como, por exemplo,
estoque, contas a receber e títulos a receber.
Disponibilidades:
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
Créditos
» títulos a receber: são os direitos pelos quais os instrumentos formais de crédito são
emitidos como evidência da dívida. Segundo Weygandt (2005), o instrumento de crédito
normalmente exige que o devedor pague juros e estende o pagamento por período de
60 a 90 dias ou mais. As contas e os títulos a receber que resultam das transações de
vendas são chamados de contas a receber operacionais.
» outras contas a receber: incluem contas a receber não operacionais, como juros a receber,
empréstimos aos diretores da empresa, adiantamentos aos funcionários e imposto de
renda restituíveis, despesas antecipadas como aluguel ou seguros que tenham sido
pagos adiantados. Embora sejam raras, em geral são classificadas e divulgadas como
itens de ativos circulantes no balanço patrimonial.
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
São incluídos no grupo de ativos não circulantes ou realizáveis de longo prazo os bens de
permanência duradoura destinados ao funcionamento normal da empresa. Segundo Berk (2009),
são ativos não circulantes: propriedades, instalações e equipamentos líquidos, incluem-se ativos
como imóveis ou maquinário que produza benefícios tangíveis por mais de um ano.
Importante
Pelo fato de os equipamentos terem uma vida útil ou se tornarem obsoletos a longo prazo, a empresa deverá
determinar a cada exercício seu valor contábil, que será o valor de aquisição reduzido das depreciações acumuladas.
No Brasil, a receita federal determina a taxa de depreciação de cada tipo de equipamento. O valor da depreciação
é uma conta redutora do ativo circulante. A depreciação de fato não é uma despesa paga pela empresa, mas uma
maneira de reconhecer que imóveis e equipamentos sofrem desgastes e obsolescência, assim se tornam menos
valiosos com o passar do tempo (BERK, 2009).
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
As contas do ativo não circulante são registradas em contas patrimoniais em categorias de:
» valor contábil: o valor contábil de um ativo é igual a seu custo de aquisição menos a
depreciação acumulada;
a. custo – todas as despesas necessárias para adquirir o ativo e torná-lo disponível para
sua utilização pretendida;
b. vida útil – estimativa de vida esperada com base na necessidade de manutenção, período
produtivo e vulnerabilidade à obsolescência;
c. valor residual – cálculo do valor do ativo ao final de sua vida útil. O valor residual é uma
estimativa. Ao fazer a estimativa, a administração deve considerar como planeja dispor
do ativo e sua experiência com ativos semelhantes.
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
Importante
Por ser a despesa principal, a depreciação terá um efeito significativo sobre o lucro líquido da empresa:
» o excesso de depreciação (depreciar acima do valor de aquisição) do ativo diminui o lucro líquido. Quando uma
empresa deprecia um ativo por uma taxa acima do normal, as despesas totais aumentam e o lucro demonstrado
diminui;
» a subdepreciação (depreciar menos que o valor de aquisição) do ativo aumenta o lucro líquido.
b. tempo de vida útil – estimativa de vida esperada com base na necessidade de manutenção,
período produtivo e vulnerabilidade à obsolescência;
c. valor residual – cálculo do valor do ativo ao final de sua vida útil. O valor residual é uma
estimativa. Ao fazer a estimativa, a administração deve considerar como planeja dispor
do ativo e sua experiência com ativos semelhantes.
» Fundo de comércio – fundo de comércio é a diferença entre o preço pago por uma
empresa na aquisição de outra e o valor contábil atribuído à empresa adquirida.
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
Atenção
“Outros ativos realizáveis no longo prazo podem incluir itens como imóveis não utilizados em operações
empresariais, custos de startup relativos a um novo negócio, marcas registradas e patentes, e imóveis reservados para
venda” (BERK, 2009, p324).
Passivos
Passivos circulantes
Representam as obrigações que se espera sejam pagas com os ativos circulantes existentes ou
por meio da criação de outros passivos circulantes. Por representarem uma dívida de curto prazo
da empresa, o período de pagamento é de um ano ou o ciclo operacional. De uma forma geral,
o passivo circulante incluiu:
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
a. Dívidas relacionadas ao ciclo operacional, tais como contas a pagar e salário a pagar,
valores devidos a fornecedores por produtos ou serviços comprados a prazo;
b. Títulos a pagar, dívidas de curto prazo e vencimentos no curto prazo de dívidas de longo
prazo, que são todos os pagamentos de dívidas que ocorrerão no próximo exercício;
c. Outras dívidas de curto prazo, como os empréstimos bancários, juros a pagar, impostos
a pagar e obrigações de longo prazo que vencerão em curto prazo (pagamentos de
obrigações de longo prazo que serão feitas no próximo ano).
Weygandt (2005) define passivo circulante como uma dívida cujo pagamento espera-se que seja
feito a partir do ativo circulante existente ou por meio da criação de outros passivos circulantes, no
prazo de um ano. Segundo ele, as dívidas que não se enquadram nesses critérios são classificadas
de passivo não circulante, ou seja, exigíveis de longo prazo. Em muitas empresas, o passivo
circulante é pago dentro de um ano por meio do ativo circulante, e não pela criação de outros
passivos.
Atenção
As empresas devem monitorar a relação entre o ativo circulante e o passivo circulante, pois a diferença entre ativos
circulantes e passivos circulantes é o capital de giro líquido da empresa, ou seja, o capital disponível no curto prazo
para dirigir a empresa. Essa diferença é decisiva na avaliação da liquidez de uma empresa ou na capacidade de pagar
uma dívida de curto prazo.
O passivo não circulante ou exigível de longo prazo é, segundo Weygandt (2005), as obrigações que
se espera que sejam pagas após um ano. Nesta seção, vamos detalhar os subgrupos de exigível de
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
longo prazo do balanço patrimonial. Essas obrigações são, com frequência, em forma de títulos
de dívida ou de títulos de longo prazo.
Atenção
Os exigíveis de longo prazo são passivos ou dívidas que se estendem além do exercício presente. O passivo não
circulante é o subgrupo de obrigações que devem ser quitadas, cujos vencimentos ocorrerão após o final do exercício
seguinte ao encerramento do balanço patrimonial.
Berk (2009) agrupa os exigíveis de longo prazo em três categorias de dívida, ou seja, em três
principais tipos de exigíveis de longo prazo ou passivo não circulante:
a. dívidas de longo prazo: são os empréstimos ou qualquer outro tipo de dívida ou obrigação
com um resgate de mais de um ano. São uma forma de títulos a pagar que rendem juros
emitidos por empresas ou órgãos governamentais.
b. leasing financeiros: são contratos de leasing de longo prazo, que obrigam a empresa
a fazer pagamentos de leasing regulares em troca do uso de um ativo. Eles permitem
que a empresa faça uso de um ativo fazendo um arrendamento junto ao proprietário.
O leasing, na maioria das vezes, é feito com os fornecedores de equipamento e bancos.
c. impostos diferidos: são impostos incorridos, mas que não foram pagos. As empresas
geralmente mantêm dois conjuntos de demonstrativos financeiros: um para relatórios
financeiros e outro com finalidade tributária. Como os impostos diferidos serão pagos
posteriormente, eles aparecem como passivo no balanço patrimonial.
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
O capital dos sócios, ou patrimônio líquido, é o total dos ativos menos o total dos passivos
circulantes e não circulantes. A diferença entre os ativos e passivos de uma empresa representa
a equivalência patrimonial, que também é chamada de valor contábil do patrimônio dos sócios
ou de patrimônio líquido.
O balanço patrimonial nos fornece uma avaliação precisa do valor verdadeiro do patrimônio
líquido da empresa.
O valor do patrimônio líquido de uma empresa é determinado pela relação denominada igualdade
do balanço patrimonial.
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
Vejamos como é possível entender, de outra maneira, essa temática de patrimônio líquido, que
é crucial no momento de abertura do capital de uma empresa.
Entenda o seguinte: o patrimônio líquido é resultante da diferença entre ativo e passivo exigível
e tem a seguinte composição:
» reserva de lucro: demonstra lucros retidos com objetivos específicos, como investimento
ou expansão.
a. a disponibilidade de ativos para fazer face às dívidas à medida que estas vencerem;
b. as reivindicações dos credores de longo prazo e de curto prazo sobre o ativo total da
empresa, o que pode ocasionar os conflitos de interesses entre a empresa e seus acionistas
no mercado.
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
Vamos agora recapitular tudo isso que aprendemos sobre a estrutura do balanço patrimonial
nos estudos de caso a seguir.
Estudo de caso
Suponha que, no dia 4 de março de 2018, você, como gerente financeiro da Memu S.A., por
curiosidade, entra no programa de controle financeiro da empresa, aperta algumas teclas e se
depara com o link de balanço patrimonial da organização. Suponha, ainda, que as informações não
foram consolidadas em relatório financeiro, mas que você anotou as seguintes informações que
o programa lhe ofereceu sobre o exercício do primeiro trimestre de 2018: Caixa =R$22.800.000,00;
Contas a pagar = R$3.750.000,00; Título de dívidas a pagar = R$6.000.000,00; Contas a receber
= R$300.000,00; Material de propaganda = R$1.500.000,00; Equipamentos de escritório =
R$750.000; Antecipação do pagamento de seguro = R$825.000,00; Depreciação acumulada =
R$60.000,00; Ações ordinárias = R$15.000.000,00; Juros a pagar = R$75.000.000,00; Receitas a
realizar = R$1.200.000,00; Salários a pagar = R$1.800.000,00; Fornecedores = R$1.500.000; Lucros
acumulados = R$3.540.000,00. Com base nesses dados, calcule:
d. o passivo circulante;
f. o patrimônio líquido;
Resolução do exemplo
Como você pode observar, para respondermos a cada uma das questões, precisamos apenas
saber identificar e classificar os itens que foram lançados no sistema de controle financeiro da
empresa. A princípio, como administrador financeiro, você já receberia o balanço patrimonial
pronto apenas para análise, entretanto, para efeito de aprendizagem aqui, exigimos de você um
conhecimento mais profundo em poder identificar cada item lançado no sistema. Observe que
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
todos os seis subgrupos do balanço patrimonial foram discutidos nesse capítulo, agora basta
você ler o enunciado e agrupar os itens em subgrupo de balanço patrimonial.
Com base na definição do ativo circulante, podemos identificar os seguintes itens como parte
integrante do ativo circulante:
Caixa 22.800.000,00
Contas a Receber 300.000,00
Material de Propaganda 1.500.000,00
Antecipação de pagamento de seguro 825.000,00
Receitas a realizar 1.200.000,00
Total Ativo Circulante 26.625.000,00
Como o ativo total é a soma do ativo circulante e do ativo não circulante, só procedermos aos
cálculos aqui somando os dois subgrupos acima calculados nas questões a e b.
Figura 12. Cálculo do valor do ativo total da MEMU S.A. (1o trimestre de 2018).
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
d. O passivo circulante
Fornecedor 1.500.000,00
f. O patrimônio líquido
Como fizemos nos outros casos, podemos observar que existem dois itens de patrimônio dos
sócios, sendo as ações ordinárias e o lucro acumulado conforme destacado na Figura 10. Sendo
assim, temos como patrimônio líquido da Memu S.A. destacado na Tabela 5:
Da mesma forma que fizemos no caso do total do ativo, basta somar as contas dos subgrupos
do passivo:
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
Lembre-se de que podemos usar a fórmula de equivalência para determinar o valor do patrimônio
líquido a partir da regra de equivalência do patrimônio da seguinte forma:
Atenção
Repare que é idêntico ao valor anterior achado dessa forma, existem diversas formas de encontrar os valores dos
subgrupos do balanço patrimonial. Cabe, então, se lembrar sempre da regra de equivalência patrimonial.
Vamos agora montar o balanço patrimonial da Memu S.A., basta agrupar os itens por categoria
ou subgrupos e mencionar o valor total, como foi pedido.
ATIVO PASSIVO
Caixa 22.800.000,00 Contas a Pagar 3.750.000,00
Contas a Receber 300.000,00 Salário a Pagar 1.800.000,00
Material de Propaganda 1.500.000,00 Fornecedor 1.500.000,00
Antecipação de pagamento de 825.000,00 Total Passivo Circulante 7.050.000,00
seguro
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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
ATIVO PASSIVO
Receitas a realizar 1.200.000,00 Títulos de Dívida a Pagar 6.000.000,00
Estudo de caso 2
Vamos tentar calcular o patrimônio líquido com base nas seguintes informações coletadas
do exercício 2017 do sistema financeiro de uma empresa de médio porte no ramo de varejo
alimentício, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, em que você foi chamado para prestar um serviço
de consultoria.
Como devemos proceder ao cálculo do patrimônio líquido com base nessas informações? Existem
três etapas a partir da regra de equivalência patrimonial.
» Primeira etapa: identifique todos os itens a serem classificados como do ativo circulante.
Você, nesse caso, precisa rever os itens do ativo circulante. Nesse caso específico, os itens
que compõem o ativo circulante são: Caixa + Estoque + Contas a receber.
» Segunda etapa: identifique os itens do ativo não circulante, da mesma forma você deve
rever os itens do ativo não circulante ou realizáveis de longo prazo. Nesse caso específico,
observe que apenas existe um único item do ativo não circulante, que é o imobilizado, e
já que não existe nenhuma informação quanto à depreciação do imobilizado, devemos
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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1
considerar diretamente o valor dado; caso contrário, você terá de descontar a depreciação
do valor dado. Assim, o ativo não circulante é de R$45.000.000,00
» Quarta etapa: identifique os itens do passivo circulante, para isso, você deve consultar
os itens do passivo circulante. Nesse caso específico, os itens que compõem o passivo
circulante são os seguintes, com base nas informações: empréstimos + contas a pagar. Isso
porque não foi especificado para nós se essas dívidas a pagar são de longo prazo, e, como
nada foi especificado, podemos então considerar que o total do passivo é formado por:
Você pode então organizar essas informações em uma tabela de balanço patrimonial da empresa
da seguinte forma:
Ativo
Caixa 15.000.000
Estoque 60.000.000
Contas a receber 30.000.000
Total Ativo Circulante 105.000.000
Imobilizado 45.000.000
Total ativo não circulante 45.000.000
Total ativo 150.000.000
Passivo
Passivo circulante
Empréstimo 22.500.000
Conta a pagar 37.500.000
Total Passivo 60.000.000
Patrimônio líquido 90.000.000
Total Passivo 150.000,00
27
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO
Sintetizando
Vimos que o patrimônio dos sócios representa o patrimônio líquido da empresa e que existe a
regra de equivalência patrimonial que permite determinar o valor do ativo sabendo os valores
do passivo exigível e o patrimônio líquido e vice-versa. Ainda assim, o principal objetivo do
balanço patrimonial é que ele ajuda ao analista financeiro avaliar a verdadeira riqueza da
empresa e tomar decisões sobre o futuro da organização.
28
CAPÍTULO
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO
DESEMPENHO FINANCEIRO 2
Apresentação
Após conhecermos a estrutura do balanço patrimonial, vamos descobrir como se faz a análise do
desempenho financeiro, a partir do balanço patrimonial, com base em indicadores financeiros.
Espero que você possa aproveitar a oportunidade para desenvolver habilidades e competências
com vistas a se tornar um analista financeiro. Bom estudo!
Objetivos
29
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
» compreender os cuidados que devem ser tomados na análise dos índices financeiros e
das informações gerenciais.
Se o papel do gestor financeiro é de maximizar o valor da empresa, ele deve então tirar vantagem
das forças da empresa e corrigir as fraquezas por meio da análise das demonstrações financeiras.
Desse modo, a análise de desempenho financeiro envolve:
30
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
Importante
Esse estudo auxilia os administradores a identificar deficiências para, então, tomar ações corretivas visando a
melhorar o desempenho financeiro da empresa. Assim a análise das demonstrações financeiras é importante do
ponto de vista do investidor, para prever o futuro, e do ponto de vista do administrador, para ajudar a antecipar
condições futuras de risco como ponto de partida para planejar as ações de melhoria da empresa.
31
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
Existe, então, a avaliação com base nas comparações em valores percentuais do ativo ou do
passivo, chamada de análise horizontal ou vertical, considerando demonstrações financeiras
padronizadas para facilitar a comparação de desempenho de duas empresas do mesmo ramo
de negócios para tamanhos diferentes. A demonstração financeira resultante dessa análise parte
de balanços patrimoniais de tamanho comum.
Importante
As demonstrações financeiras padronizadas com base em balanço patrimonial comum consideram proporção ou
percentagem de cada item do ativo ou do passivo sobre o total do ativo ou do passivo em diversos períodos para
comparar a geração de valor da empresa. É uma análise em série ou temporal.
A análise das demonstrações padronizadas é uma comparação das proporções relativas de cada
item do balanço patrimonial pelo total do ativo. Sendo assim, você deve dividir cada item da
composição do balanço patrimonial pelo total do ativo em valor percentual, e não monetário,
uma vez que isso é impossível. Esse tipo de análise permite identificar a proporção de cada item
do balanço patrimonial ou o peso desse item no total do ativo. Esses tipos de demonstrações
financeiras padronizadas são uma análise vertical que considera com base no ativo total do
balanço patrimonial.
Atenção
Na análise das demonstrações financeiras padronizadas, as contas do balanço patrimonial são apresentadas como
porcentagens do ativo, e as contas das demonstrações de resultados, como percentagens de vendas.
Porcentagens Porcentagens
32
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
Agora, vamos ilustrar um exemplo dessa análise vertical de balanço patrimonial padronizada
com base nos balanços patrimoniais da Memu S.A. em 2016 e 2017 consolidadas nesta tabela:
PASSIVO
Passivo Circulante
Patrimônio líquido
A partir desses balanços patrimoniais da Memu S.A., iremos elaborar o balanço patrimonial
de tamanho comum, que servirá de base para a análise vertical que expressa cada conta como
percentagem do total dos ativos. Lembre-se de que esse tipo de apresentação na tabela anterior
facilita a leitura e a comparação.
Após o cálculo dos valores percentuais e da variação, será preciso interpretar os dados e fazer
comparações entre os dois anos dos balanços patrimoniais, verificando, assim, o desempenho
da Memu S.A nos dois anos consecutivos, ou seja, analisar se há ou não crescimento do valor
da empresa entre 2016 e 2017.
33
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
Passivo
Passivo circulante
Patrimônio líquido
A Tabela 9, que representa o balanço de tamanho comum da Memu S.A, mostra cada conta como
porcentagem do total dos ativos, respectivamente em 2016 e 2017.
Para interpretação dos resultados, basta olhar os dois balanços de tamanho comum da Memu S.A.
para perceber que os ativos circulantes atingiram 70% do total dos ativos em 2016, aumentando
para 75,6% em 2017. Houve queda do passivo circulante de 20% do total dos ativos para 16,5%
no mesmo período. Da mesma forma, o patrimônio líquido que representa o capital dos sócios
aumentou de 60% para 68,4% do total do ativo.
De uma forma geral, a liquidez que medimos dividindo o ativo circulante pelo passivo circulante
da empresa aumentou de 2016 para 2017. Ao mesmo tempo, seu endividamento diminuiu como
proporção do ativo total. Veremos esses indicadores de liquidez e de endividamento logo a seguir.
34
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
Como você pode observar, essas interpretações não foram suficientes como informações sobre o
desempenho da empresa, porém ajudaram a ter uma ideia sobre a evolução do valor patrimonial.
Para sabermos como a empresa está sendo vista pelos seus credores, será necessário que usemos
os indicadores financeiros para obter mais precisão sobre o seu desempenho. Para isso, a seguir,
introduziremos os índices financeiros para uma análise mais detalhada das operações financeiras
da empresa.
Saiba mais
Nas revistas e nos jornais de economia e finanças, é comum ver profissionais do mercado financeiro comentarem
sobre o desempenho financeiro das empresas. Em seguida, uma reportagem sobre os resultados da Usiminas,
publicada pela agência Reuters, no dia 9 de fevereiro de 2018. Recomendo essa leitura complementar.
O prejuízo atribuído aos acionistas da companhia, que é aquele que é utilizado para o cálculo para a distribuição de
dividendos, foi de R$ 49,9 milhões.
Usiminas: números do 4o trimestre foram menores que o resultado líquido negativo de 195 milhões de
reais observado em igual período de 2016.
São Paulo – A Usiminas reportou no quarto trimestre do ano passado um prejuízo líquido de R$45 milhões, 76%
menor do que no mesmo período de 2016.
No entanto, se comparado ao terceiro trimestre, a Usiminas saiu de lucro de R$76 milhões e voltou para o vermelho.
No ano, a siderúrgica mineira reverteu prejuízo de R$577 milhões em 2016 para um lucro líquido de R$315 milhões
em 2017.
Com o prejuízo líquido de R$45 milhões, a Usiminas apresentou um resultado pior do que o esperado pelo mercado.
A média das projeções de seis instituições financeiras coletadas pela Prévias Broadcast (BTG Pactual, Itaú BBA,
JPMorgan, Morgan Stanley, Safra e Santander) apontava para um lucro de R$61 milhões nos últimos três meses do
ano passado.
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CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
O Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, considera que o resultado está em linha com as
projeções quando a variação para cima ou para baixo é de até 5%.
O prejuízo atribuído aos acionistas da companhia, que é aquele que é utilizado para o cálculo para a distribuição de
dividendos, foi de R$ 49,9 milhões.
O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado chegou a R$450 milhões entre os
meses de outubro a dezembro do ano passado, aumento de 93% em relação ao observado no mesmo período do ano
anterior. O valor veio 13% menor do que as estimativas, que eram de R$515 milhões.
Em relação ao terceiro trimestre, o Ebitda caiu 1%. No ano, a geração de caixa pelo mesmo critério somou R$2,186
bilhões, aumento de 231%.
A margem Ebitda ajustado foi a 15% no quarto trimestre, ante 11% no quarto trimestre de 2016 e de 17% no terceiro
trimestre. No ano a margem ficou em 20%, contra 8% anotado em 2016.
A receita líquida, por sua vez, ficou em R$3,077 bilhões no quarto trimestre de 2017, aumento de 65% na relação
anual e crescimento de 12% na trimestral. No acumulado do ano, as receitas subiram 27% para R$10,734 bilhões.
A receita reportada no quarto trimestre ficou 14% acima da média das projeções, de R$2,7 bilhões.
Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/usiminas-tem-prejuizo-liquido-de-r45-milhoes-no-4o-tri/>. Acesso em: 9 fev. 2018.
Índices financeiros
O giro mede como a empresa administra seu estoque e o prazo médio de cobrança de contas
a receber, o que ajuda nas informações administrativas da empresa sobre sua lucratividade,
informação relevante para seus investidores ou sócios, e, por fim, informações sobre o valor de
mercado da empresa.
Sendo assim, os índices financeiros são agrupados em cinco categorias ou grupos de informações
financeiras:
36
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
d. índices de lucratividade.
a. Liquidez Corrente
SOLVÊNCIA A CURTO PRAZO OU LIQUIDEZ b. Liquidez Seca
c. Caixa
a. Endividamento geral
SOLVÊNCIA A LONGO PRAZO OU ENDIVIDAMENTO b. Cobertura de Juros
c. Cobertura de Caixa
a. Giro de Estoque
b. Número de dias de Vendas em Estoque
ADMINISTRAÇÃO DE ATIVO OU GIRO c. Giro de Contas a Receber
d. Número de Dias de Contas a Receber
e. Giro do ativo Total
a. Margem de Lucro
b. Retorno sobre Ativo (ROA)
LUCRATIVIDADE
c. Retorno do Capital próprio ou Patrimônio
Líquido (ROE)
a. Índice Preço/Lucro
VALOR DE MERCADO
b. Índice Preço/Valor Patrimonial
Vamos analisar a lógica de cada grupo desses indicadores financeiros, o cálculo dos
respectivos índices e suas interpretações.
37
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
A seguir, veremos como se calcula e como se interpreta cada um desses três indicadores.
É importante entender que nosso objetivo aqui não se trata apenas do cálculo, mas, sim, da
interpretação que se faz do resultado obtido pelo cálculo, por esse motivo que você deve prestar
mais atenção na interpretação. Esses índices são importantes para os credores de curto prazo,
como bancos, quando a empresa precisa de um capital de giro.
Esse índice mede a liquidez da empresa a curto prazo, pois os ativos e passivos circulantes, em
princípio, são convertidos em caixa durante os próximos 12 meses.
Ativo Circulante AC
Liquidez Corrente ( LC ) = ou LC =
Passivo Circulante PC
Vamos calcular o índice de liquidez corrente da Memu S.A. em 2016 e 2017 e interpretar os
resultados com base na Tabela 8, que apresenta os balanços patrimoniais.
Para proceder, vamos levantar as informações financeiras de forma consolidada a partir da Tabela
8 elaborando a Tabela 11:
38
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
105.000.000
Liquidez Corrente ( LC )2016 = = 3,5 vezes
30.000.000
131.900.000
Liquidez Corrente ( LC )2017 = = 4, 6 vezes
28.700.000
Com base nos cálculos, elaboramos a Tabela 11, que contém, além dos índices de liquidez corrente,
as variações do ativo circulante e do passivo circulante, facilitando uma melhor interpretação
dos resultados obtidos.
Observe que a liquidez corrente de 2016 foi de 3,5 vezes, isso significa que a Memu S.A. possui,
em 2016, 3,5 reais de ativo circulante para cada um real de passivo circulante, ou seja, o passivo
circulante da Memu S.A. é coberto 3,5 vezes pelo ativo circulante. Assim, para os credores de
curto prazo, os fornecedores de materiais ou serviços, por exemplo, quanto maior o índice
de liquidez corrente da empresa, maior será sua credibilidade financeira e então melhor sua
avaliação financeira.
Atenção
Nem sempre um índice de liquidez corrente alto é melhor para uma empresa, pois pode significar que há uma
ineficiência de uso de caixa e outros ativos de curto prazo. Salvo em algumas circunstâncias, consideramos bom um
índice de liquidez igual a 1, porque, quando menor que 1, significa que o giro de capital é negativo, ou seja, a empresa
já está operando no vermelho ou endividada e sem capital de giro, o que compromete suas operações de curto prazo,
assim sua credibilidade financeira ficará muito abaixo, e isso não será bem visto pelos seus credores, principalmente
os bancos. Por fim, note que um índice de liquidez baixo é um mau sinal para a empresa, ele tem de ser sempre maior
que 1 para garantir sua credibilidade financeira.
O índice de liquidez seca é o indicador que mede a liquidez da empresa descartando do ativo
circulante o estoque. O estoque é considerado o item menos líquido do ativo circulante, uma
vez que ele pode demorar mais tempo para ser vendido. Ou, ainda, passar por uma depreciação
39
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
que pode causar uma redução do valor contábil da empresa, já que o estoque é o item para o
qual o valor contábil é menos confiável como medida de valor de mercado.
Além disso, estoques relativamente muito grandes são sinais de problemas a curto prazo, visto
que parte do estoque pode ser estragada, tornando-se obsoleta, e entrar em perdas e dados para
a empresa.
Para avaliar a liquidez da empresa com mais precisão, considera-se o índice de liquidez seca,
excluindo-se do ativo circulante o estoque, tendo em vista que a empresa pode superestimar
suas vendas e, consequentemente, ter comprado ou produzido em excesso.
Ativo Circulante-Estoque
Índice de Liquidez Seca =
Passivo Circulante
Atenção
A utilização de caixa para a compra de estoques não afeta o índice de liquidez corrente, mas reduz o índice de
liquidez seca.
Vamos, a título de ilustração, calcular o índice de liquidez seca da Memu S.A. em 2016 e 2017 e
interpretar o resultado. De novo, vamos consolidar as informações dos balanços patrimoniais
na Tabela 12 com os cálculos do índice de liquidez seca.
105.000.000 - 60.000.000
Índice de Liquidez Seca 2016 = =1,5 vezes
30.000.000
131.900.000 - 68.400.000
Índice de Liquidez Seca 2017 = =1,5 vezes
28.700.000
Observe, na Tabela 12, que o índice de liquidez seca da Memu S.A. é de 1,5 vezes em 2016, o que
significa que a empresa possui R$1,50 do ativo circulante para cada R$1,00 do passivo circulante,
excluindo o estoque, ou seja, ela consegue pagar suas dívidas de curto prazo em menos tempo
40
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
do que espera vender ou liquidar seu estoque para quitar as dívidas com seus credores. Isso é
muito bem-visto pelos credores, quando o índice de liquidez seca é menor que 1. No entanto,
precisamos tomar certos cuidados, porque pode significar que a empresa tem muitas contas a
receber ou muito dinheiro no caixa, isso significa que, mesmo que seja bom para os credores,
para a empresa considera-se não estar administrando bem suas contas a receber e o caixa.
Percebe-se que há um aumento do índice de liquidez seca em 2017, passando de 1,5 vezes para
2,21 vezes, ou seja, um aumento de 32,2%, como mostrado na Tabela 12. Isso pode não ser
bom para a empresa, pois ela pode ter aumentado de crédito para seus clientes, ou tem muita
disponibilidade em caixa em 2017. Para fazer uma boa análise, será necessário saber o ramo de
negócio da empresa e ter informações detalhadas sobre suas contas do demonstrativo de resultado.
Para se obter mais precisão ainda sobre a credibilidade financeira da empresa quanto à solvência
de curto prazo, será necessário o cálculo do índice caixa.
Índice caixa
O índice caixa mede o grau de liquidez de curto prazo da empresa, como é o caso dos demais
índices anteriores. Contudo, um credor que quer receber à vista pode estar interessado no índice
caixa da empresa, que mede o grau de liquidez imediata.
Caixa
Índice Caixa =
Passivo Circulante
Vamos novamente ilustrar esse cálculo por meio do índice caixa da Memu S.A. nos dois anos
respectivos.
41
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
Observe que o índice caixa é igual a 0,5 vezes em 2016 e que há aumento de 22,4% em 2017
chegando ao valor de 0,64 vezes. Vamos, então, ver o que isso significa na prática.
15.000.000
Índice Caixa 2016 = = 0,50 vezes
30.000.000
18.500.000
Índice Caixa 2017 = = 0,64 vezes
28.700.000
Índice caixa 2016 igual a 0,50 vezes significa que a Memu S.A. possui R$0,50 de dinheiro ao vivo
para cada R$1,00 de passivo circulante. Para cada R$1,00 de dívida de curto prazo, a Memu S.A.
dispõe de R$0,50 para pagar parte da dívida à vista. Ou melhor, significa que a Memu S.A. pode
saldar a metade de suas dívidas de curto prazo à vista. Em 2017, ela tem condição de saldar mais
da metade de suas dívidas de curto prazo à vista, ou seja, a cada R$1,00 de dívida de curto prazo,
ela possui R$0,64 para pagar à vista.
42
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
b. cobertura de juros;
c. cobertura de caixa.
Vamos agora analisar com detalhes cada um desses indicadores e ver como isso se interpreta
na prática.
Endividamento geral
Esse indicador financeiro considera uma medição da alavancagem financeira de todas as dívidas
de diferentes credores de longo prazo. Ele é calculado de diferentes formas, sendo a mais fácil
a seguinte:
Como um exemplo ilustrativo, vamos calcular os índices de endividamento geral da Memu S.A.
em 2016 e 2017 com base nos balanços patrimoniais dados anteriormente.
43
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
150.000.000 - 90.000.000
Índice de Endividamento Geral 2016 = = 0,40 vezes
150.000.000
174.400.000 - 119.300.00
Índice de Endividamento Geral 2017 = = 0,32 vezes
174.400.000
Importante
Observe que o índice de endividamento geral em 2016 é de 0,4 vezes, isso quer dizer que a Memu S.A. utilizou 40% do
capital de terceiros. Entretanto, se isso é bom ou mal, dependerá da relevância ou não da estrutura de capital, o que
será tema de discussão futura.
Assim, percebe-se que essa dependência de capital de terceiros diminuiu 26,61%, passou de 40% para 32% em 2017, o
que é significante quanto aos resultados da empresa em 2017.
Um analista financeiro diria que, em 2016, a Memu S.A. tem R$40,00 de capital de terceiros
para cada R$100,00 de ativo. Portanto, existem R$60,00 de capital próprio para cada R$40,00
de dívida. Com isso, podemos definir duas variações úteis do índice de endividamento
geral, o Quociente Dívida/Capital Próprio, também chamado de Quociente de Capital de
Terceiros / Capital Próprio e o Multiplicador de Capital Próprio. Esses dois indicadores, ou
alavancagem financeira, ajudam na interpretação, por mais que digam as mesmas coisas que
o índice de endividamento geral.
Ativo Total
Multiplicador de Capital Próprio =
Patrimônio Líquido
Vamos praticar do mesmo jeito esses dois indicadores de alavancagem financeiras usando os
dados anteriores da Memu S.A.
44
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
Dívida 0,4
Quociente = = 0,67 vezes
Capital Próprio 2016 (1- 0,4 )
0,60
Multiplicador de Capital Próprio 2016 = =1,67 vezes
(1 - 0,60 )
Dívida 0,32
Quociente = = 0,47 vezes
Capital Próprio 2017 (1- 0,32 )
0,68
Multiplicador de Capital Próprio 2017 = =1,47 vezes
(1 - 0,68 )
Observe que esses índices dizem as mesmas coisas, ou seja, que, em 2016, a Memu S.A. detém
uma capacidade de endividamento de 68%, cada R$100,00 de dívida contratada, a Memu S.A.
tem R$68 de capital próprio. E que, em 2017, essa capacidade caiu para 47%, ou seja, em 2017,
de cada R$100,00 de dívida contratada, ela dispõe de R$47,00 de capital próprio.
Cobertura de juros
É um indicador financeiro que mede quão bem uma empresa cobre suas obrigações de juros de
capital de terceiros. Ele é definido como:
EBIT
Cobertura de Juros =
Juros
Lembrando que EBIT é o LAJIR o Lucro Antes dos Juros e Impostos de Renda do inglês EBIT
45
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
2016 2017
Vendas R$ 214.000.000,00 R$ 198.400.000,00
Observe que, na Tabela 17, a empresa desembolsou R$2.450.000,00 de juros em 2016 com um
LAJIR de R$34.250.000,00. Com base nessas informações, iremos calcular o índice de cobertura
de juros da Memu S.A. resumido na próxima tabela.
34.250.000
Cobertura de Juros 2016 = =13,98 vezes
2.450.000
39.140.000
Cobertura de Juros 2017 = =10, 72 vezes
3.650.000
O índice de cobertura de juros igual a 13,98 vezes significa que, em 2016, a Memu S.A. possui
R$13,98 para cobrir cada R$1,00 de juros a serem pagos.
Cobertura de caixa
O índice de cobertura de caixa mede o fluxo de caixa disponível para a empresa pagar suas
obrigações de longo prazo. O índice de cobertura de caixa dá mais precisão sobre a real capacidade
financeira de a empresa pagar suas dívidas de longo prazo, uma vez que o cálculo da cobertura
46
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
de juros é feito com base no LAJIR, que não constitui uma disponibilidade de caixa, pois as
depreciações são deduzidas do lucro.
EBIT+ Depreciação
Cobertura de Caixa =
Juros
Vamos calcular os índices de cobertura de caixa dos dois anos consecutivos da Memu S.A.
Tabela 19. Índice de Cobertura de Juros e de Cobertura de Caixa da Memu S.A. em 2016 e 2017.
34.250.000 + 1.250.000
Cobertura de Caixa 2016 = =14,49 vezes
2.450.000
Cobertura de caixa de 14,49 vezes significa que a Memu S.A. possui R$14,49 para cobrir cada
R$1,00 de juros.
Importante
Com os índices de endividamento geral, de cobertura de juros e de cobertura de caixa, um analista financeiro
consegue saber se uma empresa assumiu ou não uma carga de dívida muito grande. Esses índices medem os valores
disponíveis para cobrir os juros e outras obrigações fixas. E lembrar que a margem de lucro de uma empresa é
inversamente proporcional às suas vendas.
Atenção
Os índices de cobertura de juros e de cobertura de caixa podem ser modelados para uma situação específica da
empresa, dependendo do que realmente constituem as obrigações fixas que o analista financeiro considerar a serem
pagas pela empresa.
Os índices de gestão de ativos ou de giros medem a capacidade de uma empresa usar seus ativos,
tais como estoque, contas a receber e outros ativos fixos, e de administrar suas contas a pagar.
47
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
Esses índices permitem que o analista financeiro ou investidores da empresa possam avaliar se
a empresa mantém ou não uma quantia razoável de cada tipo de ativo e se a administração usa
ou não cada um deles, para gerar vendas de maneira eficiente. Os índices de gestão de ativos
podem ser classificados em:
a. gestão do estoque;
Esses índices medem a quantidade de vezes que a empresa repõe seu estoque durante um período
de exercício e quantidade de dias que os produtos ficam em estoque até serem vendidos. Para
tanto, eles se dividem em giro de estoque e em dias de vendas em estoque.
Giro de estoque
Mede a quantidade de vezes que a empresa repõe seu estoque no período de um ano. Um alto
nível de giro de estoque significa que os produtos param muito pouco em armazém e que a
empresa tem um alto nível de vendas, o que é muito interessante para seus fornecedores, ou
melhor, seus credores. Um alto nível de giro implica baixos dias de vendas em estoque, e é um
sinal de boa gestão de estoque.
48
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
365 Dias
Período Médio de Estoque =
Giro de Estoque
Vamos, a título de exemplo, calcular os índices de gestão de estoque da Memu S.A. nos dois anos
consecutivos; para tanto, vamos identificar as variáveis a partir dos balanços patrimoniais e dos
demonstrativos de resultado de exercícios (DRE) e efetuar os cálculos.
Seguem os cálculos:
175.000.000,00
Giro de Estoque 2016 = = 3 vezes
60.000.000,00
154.000.000,00
Giro de Estoque 2017 = = 2 vezes
68.400.000,00
365
Dias de Vendas em Estoque 2016 = = 125 dias
3
365
Dias de Vendas em Estoque 2017 = = 162 dias
2
Observe que, em 2016, o giro de estoque foi de 3 vezes, significando que a Memu S.A. trocou seu
estoque de mercadorias 3 vezes no ano de 2016, o que é considerado muito baixo. No entanto, se
considerarmos que a Memu S.A. é uma empresa que vende máquinas agrícolas e atua no ramo
49
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
do agronegócio, a visão do analista financeiro já muda para uma boa gestão de estoque. Observe
que, no mesmo ano, o tempo médio que as máquinas vendidas ficam em estoque é de 125 dias,
o que se considera como uma boa gestão de estoque, tendo em vista que as máquinas agrícolas
são compradas sazonalmente no período de novas safras, em que os agricultores pensam em
trocar de máquinas e aumentar a produtividade. Em 2017, a Memu S.A. levou em média 162 dias
para liquidar seus estoques de máquinas.
Os índices de contas a receber medem o giro de contas a receber e o período médio de recebimento,
este é a quantidade de dias que as contas a receber são mantidas com os clientes até serem
recebidas em caixa pela empresa, e o giro do ativo, que mede a proporção de vendas geradas
por unidade de ativo.
Esse índice mede quão rapidamente a empresa cobra as vendas efetuadas no ano. Ele é obtido
da seguinte forma:
Vendas
Giro de Contas a Receber =
Contas a Receber
50
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
O período médio de cobrança é o tempo médio que a empresa leva para cobrar vendas a crédito
com seus clientes.
365 dias
Período Médio de Recebimento =
Giro de Contas a Receber
Giro do ativo
O giro do ativo é a quantia de vendas geradas por unidade monetária do ativo total. Ele é expresso
da seguinte forma:
Vendas
Giro do Ativo Total =
Ativo Total
Vamos praticar os cálculos de índices de gestão de contas a receber resumidos na Tabela 21.
Tabela 21. Índices de gestão de contas a receber da Memu S.A. em 2016 e 2017.
Observe que, em 2016, o giro de contas a receber da Memu S.A foi de 7 vezes, ou seja, a Memu
S.A. renovou 7 vezes o crédito de contas a receber aos seus clientes no ano. E o período médio
de cobrança foi de 51 dias, as vendas a prazo são cobradas a cada 51 dias, o que aumentou em
38% em 2017, ela passou a cobrar as vendas a prazo em 83 dias. O giro do ativo total é igual a
R$1,43, a cada R$1,00 do ativo total, são gerados R$1,43 em vendas.
Índices de lucratividade
a. margem de lucro;
51
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
Margem de lucro
30.000.000,00
Margem de Lucro 2016 = =14,0%
214.000.000,0
45.000.000,00
Margem de Lucro 2017 = =22,7%
198.400,000,00
Retorno do Ativo
30.000.000,00
Retorno do Ativo ROA 2016 = =20%
150.000.000,00
45.000.000,00
Retorno do Ativo ROA 2017 = =25,8%
174.400.000,00
45.000.000,00
ROE 2017 = =37,7%
119.300.000,00
52
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
Retorno sobre o
33,3% 37,7% 12%
Patrimônio Líquido ROE
Observe que, em 2016, a margem de lucro foi de 14%, o que significa que R$100,00 de vendas
geravam R$14,00 de lucro em 2017, a margem de lucro aumentou de 38%, passando de R$14,00
para R$22,7 de lucro a cada R$100,00 de vendas. Enquanto em 2016 o retorno do ativo foi de
20%, ou seja, a cada R$100,00 de ativo gerava-se R$20,00 de retorno, em 2017 o valor de retorno
gerado pelo ativo foi de R$25,80, com um aumento de 22%. Por fim, em 2016, o retorno sobre o
patrimônio líquido foi 33,3%, a cada R$100,00 do patrimônio líquido gerava-se R$33,33 o que
aumentou para R$37,70 em 2017.
Importante
Um ROE alto é considerado um sinal positivo de desempenho. Entretanto, o alto nível do ROE é sinal também de
resultado altamente alavancado, e isso pode ser, igualmente, sinal de uma empresa com grande risco de falência.
Muito embora o ROE não incorpore esse risco diretamente para as empresas de capital aberto, os preços de mercado
das respectivas ações o fazem.
Os índices de valor de mercado medem a relação entre o preço das ações de uma empresa e
seus lucros e seu valor contábil, isto é, o valor contábil e o valor de mercado. Nós iremos ver isso
no mercado das ações, na disciplina de mercado financeiro. Os índices de valor de mercado
representam o que os investidores pensam do desempenho financeiro e dos riscos futuros de
uma empresa de capital aberto, sendo os mais usados:
53
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO
Esse índice mede a quantia que os investidores pagarão pelas ações da empresa pelo patrimônio
líquido usado para financiar os ativos da empresa. O valor contábil de um ativo é o valor de
aquisição menos as depreciações acumuladas.
Importante
O índice de valor de mercado/valor contábil compara o valor de mercado (corrente) do patrimônio líquido da
empresa em relação ao seu custo histórico. Quanto mais alto for, melhor é o desempenho financeiro da empresa. Se
os índices de liquidez, de gestão de ativos, de gestão de estoque, de gestão de dívida e de lucratividade forem bons
para a empresa, seu índice de valor de mercado / valor contábil será mais alto. Um índice de valor de mercado /
valor contábil maior do que 1 ou 100% significa que os acionistas pagarão um prêmio sobre o valor contábil pelo seu
investimento em ações na empresa.
O índice P/L mede quanto os investidores estão dispostos a pagar para cada valor que a
empresa lucra com suas ações. Os administradores e investidores usam esse índice para avaliar
o desempenho financeiro relativo das ações da empresa.
54
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2
Importante
Em geral, quanto mais alto for o índice Preço/Lucro, melhor o desempenho da empresa. Os analistas e investidores
esperam que uma empresa com alto índice de P/L passe por um crescimento futuro, que tenham aumentos futuros
rápidos nos dividendos, ou ambos, porque os lucros retidos sustentarão as metas da empresa. Segundo Cornet
(2013), para os investidores que buscam valor, as empresas com alto índice P/L possuem maior risco, porque estão
dispostas a pagar preços mais altos hoje por uma ação em antecipação aos lucros mais altos no futuro.
Sintetizando
Terminamos este capítulo com todos esses índices de desempenho financeiro, os quais auxiliam o analista financeiro
a tomar decisões e examinar o grau de liquidez de uma empresa, sua capacidade de endividamento, lucratividade e
valor de mercado.
Lembre-se de que, no caso de gestão das contas a receber, um alto índice de giro de contas a receber ou um período
médio de cobrança baixo pode ser sinal de boa administração. O índice de retorno sobre o patrimônio ou ROE é
o índice de demonstração financeira que interessa mais os administradores da empresa e, ao mesmo tempo, os
investidores. As empresas com índice de P/L baixos são empresas com pouca expectativa de crescimento ou lucros
baixos. Os lucros de uma empresa dependem de muitos fatores, tais como alavancagem financeira ou impostos que
não têm relação direta com as operações da empresa.
55
CAPÍTULO
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE
CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS 3
Apresentação
Objetivos
» Calcular quantos tempo são necessários para um investimento crescer até alcançar
determinado montante.
56
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3
Uma das ferramentas mais importantes para a análise de fluxo de caixa de um projeto financeiro
é sua linha de tempo. A linha de tempo é uma representação gráfica que mostra o tamanho ou
o valor e momento dos fluxos de caixa no tempo. A linha de tempo dos fluxos de caixa mostra
a magnitude dos fluxos em diferentes períodos de tempo, como mensal, trimestral, semestral
e anual.
No diagrama da linha de tempo, é indicada também a taxa de juros que representa o custo para
emprestar o dinheiro denotado como uma percentagem, e depois o prazo ou tempo ou duração
do investimento. O valor de entrada é representado pelo valor presente e o valor de saída pelo
valor futuro.
57
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS
O diagrama da linha de tempo mostra para um período futuro todas as entradas e saídas de
recursos da empresa. Se consideramos que a aplicação de R$100,00, a data zero, é a entrada, e
se consideramos que a retida só será realizada após cinco anos com um rendimento de 5% ao
ano, consideramos, então, que, na data da retirada que marca o fim do fluxo, o resgate será igual
a sua aplicação inicial de R$100,00 mais o retorno sobre a aplicação, a taxa de juros de 5% a.a.
Um exemplo disso é que você ou um parente seu faz empréstimos no cartão de crédito ou na
compra de um carro ou até da hipoteca de um imóvel e espera que sua compra lhe dê um retorno
no futuro que compense o pagamento dos juros cobrados sobre o empréstimo.
Importante
O sucesso financeiro desse tipo de empreendimento é garantido pelo entendimento da dinâmica de entradas e saídas
de caixa com o tempo. O melhor modo de entender esse mecanismo é compreender como cresce os juros com o
tempo.
O valor futuro é considerado o valor do resgate, ou seja, o valor inicial da sua aplicação mais o
retorno da aplicação que dependerá do tempo de investimento e da taxa de juro aplicado, além
do valor inicial da aplicação.
Para calcularmos o valor futuro de um investimento, somamos ao valor presente o custo dos
juros ganhos. O valor presente é considerado o fluxo de caixa no valor de hoje, assim obtemos a
seguinte equação do valor futuro de um ano de aplicação:
58
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3
Se consideramos i a taxa de juro anual, podemos, de uma forma geral, considerar que o valor
futuro de uma aplicação a taxa de juro anual por um período n é:
VF = VP[1+i]n
Em que:
VP = Valor Presente
VF = Valor Futuros
i = Taxa de Juros
n = Prazo
Observe que essa fórmula é a mesma de juros compostos que você já viu na disciplina de
matemática financeira. Os juros compostos são de fato uma ferramenta poderosa para a construção
de riqueza. Essa fórmula de juros compostos é considerada uma capitalização.
Atenção
Taxas de juros mais altas levam a um valor futuro mais alto. É que a capitalização constrói riqueza ao passar do
tempo.
A seguir, vamos ver como fica o valor futuro para uma capitalização a taxas de juros diferentes
ao longo do período de aplicação.
As taxas de juros variam com o passar do tempo. Nos últimos 10 anos, os bancos ofereceram tanto
aos poupadores ou aplicadores taxas mais baixas, menores do que 1% quanto mais altas com
dois dígitos. Eles também cobraram juros mais altos dos tomadores de dinheiro ou consumidores
para vários tipos de empréstimos bancários.
Aqui, examinamos como calcular o valor futuro de um empréstimo quando as taxas de juros
mudam, de forma que o dinheiro ganha juros a várias taxas de juros com o passar do tempo.
59
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS
Vamos considerar a seguinte situação em que você deposite um valor de R$100,00 a juros de
5%. De repente, seu gerente te liga no ano seguinte da sua aplicação e diz que o banco resolveu
pagar juros de 7% no segundo ano dessa aplicação.
Sabendo que o depósito de R$100,00 passará para R$105 no final do primeiro ano, valor que
ganhará então 7% no segundo e se elevará para 112,35. Segue o detalhe desse cálculo:
Tabela 23. Cálculo do valor futuro de uma aplicação com taxas de juros variáveis.
Partindo dessa Tabela 23, podemos deduzir a equação do valor futuro de uma aplicação a taxas
de descontos variáveis ao longo do período da seguinte forma:
Observe que essa última equação de valor futuro a taxa de juros variáveis é equação
especial do caso de taxa de juros único, pois, se a taxa de juros de todos os períodos for
a mesma, tudo se reduzirá à equação anterior de juros único.
Figura 24. Valor futuro a taxa de juro único e a taxa de juros variáveis.
Juros
Único
VF=VP 1+i n
Juros Variáveis
VF = VP× 1+iPeríodo 1 × 1+iperíodo 2 × 1+iperíodo 3 ×…×(1+ in )
A seguir, vamos analisar com mais detalhes o valor presente e sua relação com as taxas de juros,
o período e o valor futuro.
O valor presente de um fluxo de caixa é o valor que, aplicado na data presente, gerará um fluxo
de caixa futuro já predeterminado. Sendo assim, consideramos que, no caso de valor presente,
60
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3
é importante saber de antemão o valor futuro ou o valor que pretende resgatar no final do
período da aplicação. Esse tipo de princípio implica um tipo de cálculo chamado de desconto.
O desconto é o processo para encontrar o valor presente ao reduzir os valores futuros ao usar a
taxa de desconto ou de juros.
Nesse caso, consideremos que você esteja precisando juntar dinheiro para sua próxima viagem
a Londres, onde fará um curso de inglês. Ao consultar um serviço de agenciamento de cursos
de idiomas no exterior, ficou sabendo que sua viagem será daqui a 4 anos e que precisará de
R$15.000,00. Seu pai quer te ajudar aplicando um valor hoje em uma conta que rende uma taxa
de juros de 2,5% ao ano. A pergunta é: quanto seu pai deve depositar hoje para que, daqui a
quatro anos, você possa resgatar R$15.000,00 para financiar seu curso no exterior.
VF
VP =
(1+i )
n
onde,
VP = Valor Presente
VF = Valor Futuros
i = Taxa de desconto
n = prazo
Com base nessa fórmula do valor presente, vamos ver quanto seu pai precisa depositar na data
de hoje para que você possa realizar sua viagem:
15.000, 00
VP = = R$13.589, 26
(1+0, 025)
4
Esse cálculo mostra que seu pai deverá depositar ou aplicar hoje, um valor de R$13.589,26, para
que você possa realizar a viagem daqui a quatro anos.
Agora, consideramos que, em vez de taxas de descontos fixas ou única, o banco resolve
variá-las. Assim, no primeiro ano, a taxa de desconto será de 2,5% a.a.; no segundo ano, 3,5%
a.a.; no terceiro ano, 4,8% a.a.; no quarto ano, 5,5% a.a. Calcule, nesse caso, quanto seu pai deve
depositar em uma aplicação hoje para resgatar os R$15.000,00 do seu projeto de viagem.
61
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS
Tabela 24. Cálculo do valor presente de uma aplicação com taxas de descontos variáveis.
Taxa de
Período Equação do VP Valor de VF
Juros
15.000
1o ano 2,5% VP= =14.634,15 R$14.634,15
(1+0,025)
15.000
2o ano 3,5% VP= =14.139,27 R$14.139,27
(1+0,025)×(1+0,035)
15.000
3o ano 4,5% VP= =13.530,40 R$13.530,40
(1+0,025) × (1+0,035) × (1+0,045)
15.000
4o ano 5% VP= =12.886,10 R$12.886,10
(1+0,025)×(1+0,035)×(1+0,045)×(1+0,05)
Desses cálculos, generalizamos a fórmula do valor presente com taxas de desconto variáveis como:
VF
VP =
(1+ip1 ) × (1+ip2 ) × (1+ip3 ) ×………× (1+ipn )
Onde
VP = Valor Presente
VF = Valor Futuros
i = Taxa de desconto
n = prazo
pn = eniésiímo período
Até agora, consideramos um fluxo de caixa com depósitos fixos sem retiradas, mas nem sempre
o que planejamos acontece com tanta precisão. Por mais que nos esforcemos para manter o
dinheiro aplicado no banco com vistas à realização de um projeto futuro, a vida nos prega algumas
peripécias. Então, surgem várias dúvidas, por exemplo: estudar inglês na Inglaterra seria melhor
que na Austrália ou na Irlanda ou, ainda, nos Estados Unidos? Ou estudar aqui mesmo no Brasil
num curso de idioma, se o dinheiro aplicado ganhasse mais juros por menos tempo?
62
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3
Da mesma forma, pode acontecer com uma empresa, por exemplo, ter de remodelar seus planos,
como decidir antecipar dois anos antes uma previsão financeira de expansão de seus negócios
com a construção de um novo galpão no sudeste do país. Nesse caso de mudança de plano,
enquanto os investidores e analistas remodelam os projetos de investimento, a gestão da dívida
e o fluxo de caixa, geralmente procuram melhor movimentar os fluxos de caixa em diferentes
momentos ao longo da linha de tempo. Essa movimentação do fluxo de caixa ao longo da linha
de tempo é muito importante para os analistas financeiros, até mesmo para os indivíduos que
planejam uma quantidade de dinheiro para um projeto pessoal e para a empresa, tomarem uma
decisão de grande impacto financeiro.
Atenção
A movimentação do fluxo de caixa ao longo do tempo requer que usemos tanto as equações do valor presente quanto
o valor futuro nos casos de postergar ou antecipar os planos. Especificamente usamos a equação do valor presente
para movimentar os fluxos de caixa antecipadamente no tempo, e a equação do valor futuro para movimentar os
fluxos de caixa por planos postergados. Lembrando, ainda, que, em todos os casos, antecipando ou postergando, o
valor do projeto permanece o mesmo.
Para ilustrar isso, consideremos que você resolva antecipar seu projeto de viagem no terceiro
ano, mas que precisava, de todas as formas, de reunir o mesmo valor de R$15.000,00. Vamos,
nesse caso específico, ver qual o valor que seu pai precisa depositar hoje, considerando a taxa
de desconto único de 2,5% a.a.?
Uma vez que o fluxo de caixa precisa ser movimentado antecipadamente no tempo em um ano,
usamos a equação do valor presente.
15.000
VE = VP = = R$14.634,15
(1+0, 025)1
Como o plano foi antecipado um ano antes, no terceiro ano o valor do resgate passa a ser
R$14.634,15, que é considerado um fluxo de caixa equivalente ao fluxo de caixa de R$15.000,00
a ser resgatado no quarto ano no fim do prazo.
Suponhamos que você decida fazer esse resgate dois anos antes do fim do contrato, ou seja,
antecipar dois anos seu plano, qual será o fluxo de caixa?
Da mesma forma, usamos a equação do valor presente por se tratar de uma antecipação do
resgate.
63
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS
Tabela 25. Cálculo do fluxo de caixa equivalente antecipado de um plano de R$15.000,00 no final de 4 anos a
taxa de 2,5% a.a.
15.000
1o ano 3 anos VE = =13.928,99 R$13.928,99
(1+0, 025)
3
15.000
2o ano 2 anos VE = =14.277, 22 R$14.277,22
(1+0, 025)
2
15.000
3o ano 1 ano VE = =14.634,15 R$14.634,15
(1+0, 025)
1
15.000
4o ano 0 ano VE = =15.000, 00 R$15.000,00
(1+0, 025)
0
Vamos agora considerar o caso em que, por um motivo familiar, você precisou adiar sua viagem
por um ano. Nesse caso, veremos o fluxo de caixa equivalente, considerando os mesmos valores
de R$15.000,00 no final do quarto ano. Observe que, nessa situação, seu plano precisará ser
realizado no final do quinto ano. Sendo assim, temos com base na equação do valor futuro:
Sendo o plano adiado para o quinto ano, o valor resgatado será de R$15.375,00.
Vamos considerar a Tabela 26 como o caso de adiamento do plano para quatro anos e calcular
os fluxos de caixas equivalentes.
Tabela 26. Cálculo do fluxo de caixa equivalente postecipado de um plano de R$15.000,00 no final de 4 anos
a taxa de 2,5% a.a.
64
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3
Agora, você já sabe o que fazer quando se antecipa ou se posterga um fluxo de caixa, lembre-se:
no caso do valor equivalente postecipado usar a equação do valor futuro, e a equação do valor
presente, se for antecipado.
Regra de 72
A regra 72 é aquela que nos permite determinar o tempo aproximado que um investimento levará
para dobrar de valor. Essa regra foi descoberta por Albert Einstein, ao introduzir uma aproximação
matemática simples para o período de anos necessário para dobrar um investimento. Uma regra
que ilustra o poder dos juros compostos.
72
Período Aproximado de Anos Necessários para dobrar o Investimento =
Taxa de Juros
Quantos anos serão necessários para dobrar um investimento de 8,5% a.a.? Com a regra 72,
descobrimos que o valor será:
72
Período Aproximado de Anos Necessários para dobrar o Investimento= =6 anos.
12
Assim, qualquer aplicação em dinheiro a taxa de 12% levará aproximadamente 6 anos para
dobrar de valor capitalizado.
Podemos também usar a regra de 72 para calcular a taxa de juros necessária para dobrar um
investimento em um período específico de tempo. Qual a taxa de juros necessária para dobrar
um investimento em 5 anos? Com a regra de 72, podemos calcular a taxa de juros aproximada
desta forma:
72
Taxa de juros aproximada = =12% a.a.
6
Destarte, qualquer valor de dinheiro aplicado a taxa de juros aproximada a 12% a.a. dobrará em
6 anos.
O cálculo da taxa de juro acontece quando conhecemos dois fluxos de caixa e precisamos encontrar
a taxa de retorno. O mercado financeiro muitas vezes usa essa análise. Em geral, com o uso de
uma calculadora financeira, o cálculo de uma taxa de juro ou de retorno de um ativo é muito
fácil. Contudo, no caso em que não podemos fazer uso de calculadora financeira, utilizamos as
equações de valor de dinheiro no tempo sendo o valor futuro.
65
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS
1
VF VF n
VF = VP (1+i ) =>> − 1 =
n
= (1+i) n =>> i
VP VP
Vamos ilustrar esse cálculo. Suponha que você é amador do futebol e resolveu comprar, no início
da Copa de 2014, no Brasil, US$3.500,00 dólares. Você espera que essa aplicação aumente para
US$4.500,00 dólares com vistas a garantir seu lugar na final da Copa de 2018 na Rússia. Qual
deverá ser a taxa de retorno que lhe permitirá realizar esse sonho?
Para descobrirmos essa taxa de retorno, devemos considerar as seguintes situações: período de
investimento ou de aplicação é de 4 anos, VP é de US$3.500,00 e VF é de US$4.500,00. Assim,
empregando a equação anterior de taxa de retorno, temos:
1
45 0,25
4.500 4
− 1 = i =>> i = − 1 = 6, 48% a.a.
3.500 35
Atenção
Os termos taxa de juros ou taxa de retorno se referem a mesma coisa. No entanto, é uma convenção comum se referir
à taxa de juros, quando você é quem paga o fluxo de caixa, e à taxa de retorno, quando você é quem recebe os fluxos
de caixa.
VF
ln
VP
n= , em que:
ln (1+i )
VP = Valor Presente
66
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3
VF = Valor Futuros
i = Taxa de desconto
Vamos ilustrar esse exemplo conjecturando a seguinte situação: quando as taxas de juros são
fixadas a 12%, quanto tempo levará para um investimento de R$15.000,00 dobrar? Para encontrar
a solução, usamos a equação anterior de logaritmo neperiano:
30.000
ln
15.000 ln ( 2 ) 0,69
n= = = = 6,27 anos
ln (1+0,12 ) ln (1,12 ) 0,11
Ou seja, 6 anos + 0,27 x 360 dias = 6 anos e 98 dias ou 6 anos 3 meses e 2 dias.
Sintetizando
Neste capítulo, vimos a linha de tempo de fluxo de caixa e seus principais fatores, analisamos o futuro do dinheiro no
tempo, mostramos como o poder dos juros compostos aumenta a riqueza de uma empresa ou indivíduo, calculamos
o valor presente de um pagamento feito a prazo, analisamos a movimentação de um fluxo de caixa antecipado ou
postecipado, aprendemos a calcular a taxa de retorno ou os juros de uma aplicação, conhecemos a equação para
calcular o tempo necessário para um investimento crescer até alcançar determinado montante.
67
CAPÍTULO
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE
CAIXA DE ANUIDADES 4
Apresentação
No capítulo anterior, aprendemos a analisar o fluxo de caixa único, ou seja, como fazer pagamentos
únicos e capitalizá-los no futuro com base nas equações de valores presente e futuro. Mas nem
sempre essa circunstância descreve os problemas de dívida que enfrentam as empresas ou as
pessoas, pois a maioria das aplicações de dívida e investimento de dinheiro no tempo apresenta
fluxos de caixa múltiplos.
Para isso, temos de aprender a analisar situações muito mais complexas que pedem muitos
pagamentos iguais ao longo do tempo, como, por exemplo, empréstimos para aquisição de
carro, empréstimos imobiliários e hipotecários que requerem que o mutuário faça os mesmos
pagamentos mensalmente por muitos meses ou anos. Temos outros casos de depósitos mensais
para muitos anos, tais como uma previdência privada para aposentadoria ou mesmo as poupanças
feitas por indivíduos mensalmente por um longo período e até pagamentos de juros feitos
regularmente por empresas por um empréstimo que serão tratados como casos de capitalizações.
Na maioria dos casos, o analista financeiro se faz uma pergunta: como avaliar esses pagamentos
em termos comuns ou comparáveis? Exatamente isso que iremos estudar neste capítulo, os fluxos
de caixa múltiplos ao longo do tempo, incluindo muitos casos de pagamentos iguais e casos de
como incorporar diferentes situações de capitalização.
Objetivos
68
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4
As pessoas geralmente pensam em como guardar dinheiro suficiente para dar de entrada na
compra de uma casa, de um carro, até mesmo para sua aposentadoria. Elas geralmente fazem
contribuições para muitos anos nas suas contas poupanças ou compram títulos quando entendem
de investimentos. Assim, nosso objetivo será calcular o valor futuro dessas contribuições para
saber, por exemplo, quanto o total valerá no futuro em algum ponto no decorrer do tempo – na
sua aposentadoria, em um plano de previdência privada, ao completar 70 anos de idade, ou
daqui a cinco anos para dar entrada em uma casa nova, entre outros projetos. Vamos examinar
essas situações.
Esse é o caso em que fazemos vários depósitos em uma conta poupança, sendo pagamentos de
valores diferentes com vistas a economizar dinheiro suficiente para determinado projeto, sendo
a aquisição de um ativo. Consideremos, então, que você faz as seguintes contribuições para sua
conta poupança com o passar do tempo: começa com um depósito de R$1.200,00 hoje, seguido
de um de R$1.450,00 no ano seguinte, e outro de R$1.800,00 no final do segundo ano. Se as taxas
de juros são fixadas a 6,45% a.a., qual é o valor futuro de seus depósitos no final do terceiro ano?
VF =?
0 1 2
3 anos
i = 6,45% a.a.
69
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES
Observe na linha de tempo que o primeiro depósito será capitalizado por três anos, sendo (3 –
0); o segundo, no final do primeiro ano, será capitalizado por 2 anos (3 – 1); e o terceiro, no final
do segundo ano, será capitalizado por 1 ano (3 – 2). Podemos generalizar, considerando que um
depósito no ano m será capitalizado (N – m) vezes por um valor futuro no ano N. Encontramos,
assim, a quantia total no final do terceiro ano ao calcular o valor futuro de cada depósito e depois
somá-los.
Usando a equação do valor futuro, o valor futuro das três contribuições no final do terceiro ano
será:
Tabela 27. Valor futuro de fluxo de caixa a taxa de juros de 6,45% a.a. de três pagamentos variáveis.
Dessa forma, a equação geral para calcular o valor futuro de fluxos de caixa múltiplos e variáveis é:
Em que:
i = taxa de juros
VF = o valor futuro
N = o tempo de capitalização
Suponha que os fluxos de caixa sejam iguais e ocorrem em períodos regulares (mês, semestre ou
ano). Esse conjunto de fluxos de caixa de igual valor pagos em período de intervalo regular são
70
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4
chamados de anuidades. Consideramos que o primeiro fluxo de caixa de uma anuidade ocorre
sempre no final do ano se o período de vencimento for considerado o ano ou qualquer outro
período até o último ano. Desse modo, encontramos a fórmula do valor futuro de uma anuidade
considerando o valor futuro de fluxo de caixas múltiplas, ou seja, a fórmula anterior. Assim, a
equação aparece de forma simples:
(1 + i ) N − 1
VFA
= N PTM × Em que :
i
i = taxa de juros
VF = o valor futuro
N = o tempo de capitalização
Para ilustrar isso, vamos considerar que você esteja depositando no final de cada mês um valor
de R$600,00 na sua conta poupança com a intenção de dar entrada no financiamento de um
apartamento. Se considerarmos que a taxa de juros da poupança é de 0,45% ao mês, quanto você
dará de entrada na compra da casa após cinco anos de poupança?
Para resolvermos esse caso, você deve se lembrar que a taxa de juros foi expressa em 0,45% a.m.,
portanto devemos considerar a taxa equivalente, fazendo uma conversão ou, caso contrário,
considerar o período de 60 meses equivalente a cinco anos.
Identificando as variáveis da fórmula anterior do valor futuro de uma anuidade, temos os seguintes:
PTM = 600
i = 0,45% a.m.
VF =?
N = 5 anos = 60 meses
(1+0,0045 )60 -1
VFA 60 = 600× = 41.222,84
0,0045
Nesse caso, consideramos que você dará de entrada R$41.222,84 para o financiamento da casa.
71
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES
Observe que trabalhamos com a taxa mensal, porém podemos proceder ao mesmo cálculo
determinado inicialmente, a taxa anual equivalente à taxa mensal de 0,45% a.m.
Vamos usar a fórmula anterior para determinar o valor futuro com o período de cinco anos.
(1 + 0, 0045 )12 − 1
Devemos considerar que o valor poupado anualmente será 600 × 7.380,90
= .
0, 0045
Esse valor passa a ser o valor da anuidade. Depois que calcularmos, considerando o período de
cinco anos, devemos, então, comparar os valores.
Observe que o valor poupado foi de R$41.226,39, quase igual ao valor anterior, mas com uma
pequena diferença de R$3,55. Considere que foram feitos cinco depósitos de R$7.380,90 cada.
A anuidade múltipla ocorre quando, por algum motivo de melhoria das condições financeiras,
por um emprego melhor, ou de mudança favorável, você decide aumentar o valor poupado ou
diminui-lo. Para ilustrar, vamos considerar que, no início do quarto ano, você foi promovido ao
cargo de supervisor por estar quase no final do seu curso; por esse motivo, você decide aumentar
o valor do depósito de R$7.380,90 ao ano, para R$12.860,00 no final do quarto ano em seguinte.
Lembre-se de que você fazia um aporte de R$7.380,90 ao ano até o final do terceiro ano.
Para calcular o valor futuro dessas duas anuidades, calcule o valor futuro de cada uma delas
separadamente e, em seguida, some-as. Nesse caso, o valor futuro da anuidade de R$7.380,90 é
R$41.226,39. O valor futuro do aumento da anuidade (12.860 – 7.380 = 5.479,61) é:
(1 + 0, 0554 )
2
−1
5.479, 61× 11.262, 79, assim :
=
0, 0554
(1+0,0554 )5 -1 (1+0,0554 )2 -1
VF5 = [ 7.380,90]× +5.479,61× =41.226,39+11.262,79 =52.489,18
0,0554 0,0554
Atenção
Da mesma forma, poderíamos facilmente calcular o valor futuro se os dois últimos anos fossem uma redução do
valor. Para resolver essa alternativa, simplesmente subtrairíamos o valor futuro de R$11.262,79 em vez de somá-lo.
72
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4
O conceito de valor futuro permite aos analistas e administradores financeiros entender como
as pessoas ou empresas podem construir uma fortuna em períodos posteriores da existência.
O conceito de valor presente ajuda a avaliar créditos ou empréstimos que tomamos de nossos
credores para compra ou aquisição de um bem durável, como um carro, uma hipoteca de casa
própria ou aquisição de um equipamento por uma empresa, e as aplicações comerciais para
determinar o valor das oportunidades de negócios. Sendo assim, vamos, a seguir, analisar todas
as formas de cálculo do valor presente de oportunidades de negócios.
Vamos considerar as mesmas situações de três depósitos sucessivos com valores diferentes de
R$1.200,00 hoje, seguido de um de R$1.450,00 no ano seguinte e outro de R$1.800,00 no final do
segundo ano a taxa de juro de 6,45% a.a. Dessa vez, iremos determinar, em vez do valor futuro,
o valor presente dessa capitalização no final do terceiro ano, se as taxas de juros são fixadas a
6,45% a.a.
VP = ?
1 2
Período
i = 6,45% a.a.
O primeiro fluxo de caixa no valor de R$1.200 já ocorreu no ano zero, de forma que seu valor não
mudará, descontaremos o segundo fluxo em um ano e o terceiro fluxo de caixa em dois anos.
Usando a equação do valor presente do capítulo anterior, o valor presente dos fluxos é a soma
de valor presente de cada uma no tempo a data zero.
Dessa maneira, a equação para se calcular o valor presente de um fluxo de caixa múltiplo e
variável é esta:
73
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES
Em que:
i = taxa de juros
VP = o valor presente
N = Prazo de pagamento
O valor presente de uma anuidade é muito mais usado nos negócios, e também na vida pessoal,
pois sempre precisamos de um crédito a mais para realizarmos nossos projetos, um empréstimo
para pagar as dívidas com a faculdade, crédito para compra de um carro ou aquisição de uma
casa nova.
A maioria dos empréstimos é projetada de forma que a quantia emprestada (o valor presente)
é paga via anuidades feitas periodicamente ao longo do prazo de pagamento. Cabe, entretanto,
aos credores examinarem os orçamentos dos mutuários e determinar quanto cada um é capaz de
pagar. O valor máximo do empréstimo oferecido é o valor presente de pagamento de anuidades.
Assim, podemos escrever a equação do valor presente de anuidades de um empréstimo como:
1
1 -
(1+i )
N
VPN = PTM×
i
Em que:
i = Taxa de juros
VP = Valor Presente
N = Prazo de pagamento
Para ilustrarmos essa situação, suponha que alguém faça pagamentos de R$450,00 ao mês ao
longo de cinco prestações, de carro novo, se as taxas de juros são estimadas a 2,54% a.m., qual
foi o valor do empréstimo tomado na contratação do crédito?
74
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4
Para isso, devemos identificar do enunciado as seguintes variáveis da equação de valor presente:
PTM = 450,00
i = 0,0254
VP =?
1 1
1 - 1+i N 1 - 1+0,0254 60
VPN = PTM×
( ) =450× ( ) = R$13.783, 03.
i 0,0254
Dessa forma, o valor de crédito concedido pelo banco financiador foi R$13.783,03. E o total a ser
pago no final do contrato será R$60x450 = R$27.000,00. Assim, podemos considerar que o total
de juros a serem pagos será de R$13.216,97, é o que às vezes muitas pessoas não entendem na
hora de tomar um crédito.
Atenção
Observe que o período de tempo sobre o qual o mutuário paga a anuidade e a taxa de juros para desconto afeta
intensamente os cálculos do valor presente. Isso quer dizer que, quando você toma dinheiro emprestado de um
banco, essa instituição vê a quantia emprestada como o valor presente da anuidade que ele recebe do mutuário ao
longo do prazo do contrato.
Muitas vezes empresas ou pessoas físicas precisam de dinheiro para realizar grandes projetos ou
ampliar os planos de vida, porém são confrontadas com as limitações de recursos financeiros
e o último recurso acaba sendo utilizar capital de terceiros, recorrem, assim, ao empréstimo
bancário. Nesse sentido, é importante que saibam a taxa de juro cobrada e o valor das prestações
a serem pagas.
75
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES
i
PTM= VP ×
N
1
1 −
(1 + i )
N
Em que:
Na maioria das vezes, o financiamento de um carro novo ou usado requer pagamentos mensais
de três a cinco anos. Essa equação representa então o cálculo do valor da prestação sabendo a
taxa de juros e o prazo de financiamento.
Para ilustrarmos esse caso, suponha que você precisa financiar um carro que custa R$47.950,00
pelo banco da concessionária a taxa de 0,75% a.m. Você então decide financiar seu carro por um
prazo de cinco anos, 60 meses. Qual o valor da prestação que pagará mensalmente ao aceitar a
proposta da concessionária?
i 0,0075
PTM N =VP× =PTM =47.500× =R$995,36
1 60
1
1- 1-
(1+i ) (1+0,0075 )
N 60
76
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4
Atenção
Os níveis da taxa de juros e a duração do empréstimo afetam o valor das anuidades ou dos pagamentos. À medida
que a taxa de juros declina, o pagamento mensal de um empréstimo também declina. É por isso que as pessoas
devem refinanciar suas hipotecas de casa própria quando as taxas de juros caem. No Brasil, os bancos não orientam
as pessoas a aproveitarem os financiamentos quando as taxas de juros são mais baixas. Por isso que o momento certo
para realizar seus projetos é o momento em que as taxas de juros são mais baixas no mercado. Infelizmente mesmo
os que sabem dessa prática às vezes são interrompidos pela burocracia de papelada para comprovar a renda.
Você pode saber quanto tempo levará para quitar uma dívida sabendo o valor, a taxa de juros
estipulada e o valor das prestações tendo em vista suas limitações financeiras. Vamos empregar
a equação do valor presente para identificar o tempo necessário.
PTM
ln
PTM - VPN ×i
N=
ln (1+i )
Em que:
Para fins de ilustração, suponha que queira renegociar uma dívida de R$35.450,00 com seu
banco. Sabendo que a taxa de juros é de 0,25% a.m., em quanto tempo você pagará essa dívida
se sua capacidade financeira está limitada ao pagamento de parcelas iguais a R$745,54 ao mês?
PTM = 745,54
VPN = 35.450
i = 0,25% a.m.
77
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES
745,54 745,54
ln ln
(745,54 − 35.450 × 0, 0025 745,54 − 88,=45
=N = 48,94 ≅ 49 meses
ln (1 + 0, 0025 ) ln(1, 0025)
Sendo assim, você deverá pagar sua dívida de R$35.450, em 49 parcelas de 745,54 a taxa de juros
de 0,25% a.m. Entretanto, esse mesmo cálculo realizado em uma calculadora financeira deu um
prazo de 51 meses, quatro anos e três meses.
Sintetizando
Neste capítulo, estudamos como empregar os métodos de capitalização de múltiplos fluxos de caixa para o futuro,
aprendemos a calcular o valor futuro de fluxos de caixa múltiplos, a calcular o valor presente de fluxos de caixa
múltiplos, a calcular o valor presente de uma anuidade.
Agora, você sabe ajustar valores para os pagamentos de anuidades no início do período em comparação aos
pagamentos de anuidades de final de período. Aprendemos a identificar a diferença entre a taxa percentual anual
e a taxa anual efetiva, assim você está preparado para aplicar melhor seu dinheiro, analisar o pagamento das
amortizações de um empréstimo e calcular o número de pagamentos necessários para saldá-lo.
78
CAPÍTULO
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE
DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL 5
Apresentação
Quando uma empresa está elaborando um novo projeto de investimento, como, por exemplo,
a compra de uma nova máquina ou equipamento para aumentar sua produtividade, é preciso
estimar os fluxos de caixa do projeto. Dessa forma, é possível identificar alguns fatores que
podem garantir uma análise dos impactos desse projeto sobre os lucros da empresa. Para estimar
corretamente os fluxos de caixa de um projeto, é necessário considerar alguns fatores relevantes
na análise dos fluxos de caixa incrementais, tais fatores são assim listados pelo analista financeiro
Cornett (2013): custos e receitas de novos produtos e serviços específicos, impacto provável que
o novo produto ou serviço terá nos custos e nas receitas dos produtos existentes da empresa,
uso de ativos ou funcionários, já empregados pela empresa, a maneira de lidar com encargos,
como os custos de pesquisa e desenvolvimento para produzir novo produtos.
Existe uma maneira de trabalhar todos os fatores sistematicamente. O processo para estimar
os fluxos de caixa esperados de um projeto usando apenas as partes relevantes do balanço
patrimonial e das demonstrações de resultado é chamado de análise proforma. A análise
proforma nos permite identificar o impacto desse projeto nos fluxos de caixa total da empresa,
se o projeto for efetivamente implementado, ou qual será o fluxo de caixa incremental caso o
projeto seja implementado. Esse será o principal objeto de estudo deste capítulo. Você vai ter
todos os elementos possíveis para saber se o projeto deve ser aceito ou não com base em uma
análise dos fluxos de caixa incremental.
Objetivos
» entender por que usamos as demonstrações financeiras proforma para analisar os fluxos
de caixa do projeto.
» identificar quais fluxos de caixa podemos atribuir a um projeto proposto e quais não
podemos.
79
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
Uma das decisões mais importantes do gerente financeiro de uma empresa diz respeito à
escolha dos investimentos. A escolha dos investimentos é baseada nos princípios de estimativa
de fluxos de caixa incremental. E o processo de alocação do capital para investimento é
chamado de orçamento de capital. As empresas levantam o capital do que precisam para
realizar investimentos emitindo valores mobiliários como ações e títulos. Uma das principais
responsabilidades do gerentes financeiro é determinar quais projetos ou investimentos a
empresa deve realizar.
Os fluxos de caixa esperados do projeto são considerados fluxos de caixa incrementais e, para
aceitarmos o projeto, devemos garantir que todos os fluxos de caixa incrementais serão cobertos,
isto é, as mudanças nos fluxos de caixa que esperaríamos para toda a empresa quando o novo
projeto entrar em vigor.
Para ilustrarmos esse caso, suponha que você trabalha para uma empresa de transporte e
distribuição de bebidas, a TLR (Transporte e Logística Ribamar), que possui um grande CD
(Centro de Distribuição) na cidade de Nova Iguaçu para a distribuição de bebidas em todo o
Estado do Rio de Janeiro. A TLR considera para o próximo ano 2019 arrendar um novo Galpão
em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, com o fito de transformá-lo em CD
para as bebidas destinadas às entregas na região dos lagos, uma região fortemente turística,
esperando, assim, aumentar o volume de entrega por ano no Rio de Janeiro. A TLR considera que
esse projeto custará R$40.000.000,00, e os volumes de carga transportada e distribuída no Estado
do Rio de Janeiro nos próximos cinco anos são estimados em valores monetários e mostrados
na Tabela 28 a seguir:
80
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5
Tabela 28. Estimativas de volume de entrega de bebidas pela TLR no RJ nos próximos 5 anos.
2020 R$56.000.000,00
2021 R$56.000.000,00
2022 R$56.000.000,00
2023 R$42.000.000,00
Dada a mudança do futuro presidente da república nas próximas eleições em 2023, a TLR não
espera entregar muito depois do terceiro ano do projeto por estar próximo ao ano das eleições.
Para nossa primeira tentativa em analisar esse projeto, presumiremos que a máquina de
processamento da demanda e controle de estoque será depreciada em R$50.000,00 linear
durante a vida do projeto. Esperamos que essa máquina valha apenas R$350.000,00 no
mercado depois de cinco anos de uso. A nova máquina de processamento é uma versão
atualizada de uma velha máquina que a TLR já possui, mas tem a intenção de continuar usando.
Considera-se que a máquina velha não tem mais a capacidade de processar de forma rápida as
projeções de demanda de bebida nos próximos cinco anos. A velha tem uma vida útil de cinco
anos e foi comprada há três anos, seu valor contábil é de R$460.000,00. O gerente financeiro
estima que suas necessidades de capital de giro no início de cada ano serão aproximadamente
de 12% das receitas de vendas. Considerando uma alíquota de imposto de renda de 34% e uso
de uma taxa de desconto do 15% em projetos com perfil de risco como este, a pergunta é: a LTR
deve ou não comprar a nova máquina?
a. custos de oportunidade;
b. custos irrecuperáveis;
e. impostos;
81
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
f. cálculo da depreciação;
Importante
No caso da escolha das alternativas de investimentos, existem dois princípios que devem ser considerados: o
princípio do VPL positivo e o princípio da cobertura dos fluxos de caixas incrementais que visa à previsão dos lucros
incrementais. Entretanto, esses dois princípios são acompanhados de análise de outros fatores para garantir a escolha
do projeto certo. Esses princípios serão desenvolvidos na próxima e último capítulo.
Custos de oportunidade
Em muitos casos, projetos utilizam um recurso que a empresa já possui. E, como a empresa
não precisa gastar dinheiro para aquisição desse recurso para um novo projeto, consideramos
que esse recurso está disponível gratuitamente. Entretanto, em várias situações, esse recurso
poderia gerar valor para a empresa em uma outra oportunidade ou projeto. Berk (2009) considera
que custo de oportunidade é utilizar um recurso cujo valor que ele poderia ter gerado em sua
melhor alternativa de uso fosse usado em novo projeto. Assim, como esse valor se perde quando
o recurso é utilizado por um outro projeto, devemos incluir o custo de oportunidade como um
custo incremental do projeto.
Se considerarmos o caso da empresa TLR em que ela está analisando se deve ou não renunciar
ao uso da velha máquina e comprar uma nova com ampliação dos seus depósitos de bebida
em São Gonçalo, se a velha máquina já era usada pela empresa e ainda tem dois anos de vida
útil, óbvio que a mudança da máquina velha para a nova exigiria outros custos extras, tais como
de instalação, de obras e até de treinamento. No final, não importaria se a empresa tivesse que
comprar uma nova máquina ou não.
Para entendermos melhor a questão do custo de oportunidade, suponha que a TLR decida comprar
a máquina nova, ela terá de arrendar também um novo espaço para ampliar seus negócios,
sabemos que o novo armazém custa 40.000.000,00 para os próximos cinco anos, sendo cerca de
R$5.000.000,00 ao ano, a ideia é saber como esse custo vai impactar nos lucros da empresa nos
próximos anos.
82
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5
Importante
Definimos o custo de oportunidade como de capital, como a taxa que se poderia obter sobre um investimento
alternativo com risco equivalente. Dessa forma, podemos ainda considerar que o custo de oportunidade é a
oportunidade renunciada de usar um ativo que é propriedade da empresa ou uma pessoa empregada em um novo
projeto.
Custos irrecuperáveis
As despesas gerais são associadas a atividades que não são diretamente atribuíveis a uma única
atividade empresarial, mas que, em vez disso, afetam diferentes áreas da empresa. Essas despesas
geralmente são alocadas às diferentes atividades empresariais para fins contábeis. Na medida em
que essas despesas gerais são fixas, ocorrerão de qualquer maneira, elas não são incrementais
ao projeto e não devem ser incluídas. Devemos incluir como despesas incrementais apenas
despesas gerais adicionais que surgem devido à realização do projeto.
Segundo Cornett (2016), uma observação importante a respeito dos fluxos de caixa incrementais
é que nunca contamos quaisquer custos de financiamento, incluindo os dividendos pagos sobre
as ações ou os juros pagos sobre dívida, como despesas do projeto.
Sendo assim, os custos de capital estão incluídos como custos componentes no custo médio
ponderado de capital, que será usado para descontar dos fluxos de caixa, isso evita duplicidade
das contas.
83
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
A demonstração dos fluxos de caixa mede o fluxo de caixa líquido como lucro líquido mais ajustes
que não envolvem saída de caixa. Para poder manter os fluxos de caixa ao longo do tempo, as
empresas devem continuamente repor o capital de giro, depreciar os ativos fixos e desenvolver
novos projetos ou produtos. Nesse caso, os gestores financeiros da empresa não podem usar os
fluxos de caixa disponíveis do jeito desejado. Os fluxos de caixa livres são de grande interesse
dos investidores.
De uma maneira geral, os fluxos de caixa livres são aqueles disponíveis para pagar os acionistas
e credores da empresa depois de ela ter feito os investimentos necessários de capital de giro e os
investimentos em ativos fixos, e desenvolvido os novos produtos necessários para sustentar suas
operações em andamento. Para calcular o fluxo de caixa livre (FCL), utilizamos a equação a seguir:
FCL = [EBIT - Imposto + Depreciação] - [∆ativo fixo bruto + ∆Capital de giro operacional líquido]
FCL = [Fluxo de Caixa operacional] - [Investimentos em capital operacional]
Existem diversos métodos de depreciação, mas, para fim de cálculo do fluxo de caixa livre, iremos
usar apenas o método de depreciação linear, chamado, também, de método de quotas constantes,
esse método considera a seguinte equação:
A depreciação esperada sobre os equipamentos usados durante a vida do projeto afetará os fluxos
de caixa operacionais e a mudança nos ativos fixos brutos que ocorrerão no final do projeto,
exibindo, assim, seu valor residual.
Os ativos que não são mais usados geralmente possuem um valor de venda, ou valor residual,
se as máquinas forem vendidas para um ferro velho. Pode acontecer que alguns ativos tenham
um valor de liquidação negativo. Por exemplo, pode custar dinheiro para a empresa se livrar de
uma velha máquina totalmente obsoleta.
No cálculo de um fluxo de caixa ativo, incluímos o valor de liquidação de qualquer ativo que
não seja mais útil e que possa ser descartado. Quando um ativo é liquidado, qualquer ganho de
84
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5
capital é tributado como renda. Calculamos o ganho de capital como a diferença entre o preço
de venda e o valor contábil do ativo:
O valor contábil é igual ao valor de aquisição ou custo original do ativo menos a quantia que já
foi depreciada para fins tributários:
Temos de ajustar o fluxo de caixa livre para incluir o fluxo de caixa após os impostos que resultaria
da venda de um ativo:
Solução:
Esta questão é uma mistura de resultado não operacional com cálculo de depreciação. Repare
que o ativo foi vendido por R$6.500,00, rendendo um lucro (ganho de capital) de R$ 2.500,00.
Ora, qual era, então, o custo contábil desse ativo (valor contábil)?
Não podemos esquecer que o valor contábil de um ativo não circulante é o seu custo de aquisição
menos a sua depreciação acumulada.
85
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
b. Depreciação acumulada
Como o ativo custou R$14.000,00, para que ele tenha um valor contábil de R$4.000,00, a sua
depreciação acumulada tem de ser de R$10.000,00 (R$14.000,00 – R$4.000,00).
Uma vez calculado o custo de um projeto e estimado seus fluxos de caixa, a pergunta mais
pertinente para se fazer com vistas a tomar decisão de investir ou não no projeto é: o projeto
vale seu valor futuro projetado? Veremos que a maioria das regras de decisões sobre o orçamento
de capital terá os sinais de positivo ou negativo, isso porque os projetos de orçamento de
capital geralmente envolvem a compra de ativos reais, os quais normalmente são negociados
em mercados menos competitivos. Como resultado, os projetos e as compras que envolvem
equipamentos e capital normalmente transmitem, segundo Cornett (2013), no mínimo,
algum tipo de monopólio e os lucros monopolísticos associados para a empresa comprá-los e
adotá-los para o uso a longo prazo. Para escolher ou determinar quais projetos merecem o capital
escasso da empresa, será necessário identificar, por meio de algumas técnicas, quais projetos
apresentam o melhor retorno de capital para a empresa. Sendo assim, as técnicas comumente
usadas no orçamento de capital são:
IL - índice de lucratividade.
86
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5
Em que:
N = período;
i = taxa de juros;
Para ilustrarmos isso, vamos considerar aqui que a empresa Memu S.A. está analisando
se deve ou não investir em uma nova máquina. A nova máquina custa R$405.500,00. Em
uma avaliação prévia do projeto da nova máquina, considere um conjunto de fluxo de
caixa incremental normal usando uma taxa de desconto apropriada para o risco de 15%,
nos próximos cinco anos, como mostrado na tabela a seguir. Pede-se calcular o VPL do
projeto.
0 -405.000
1 125.000,00
2 135.000,00
3 150.000,00
4 140.000,00
5 120.000,00
Para resolver o enunciado, vamos proceder com uma linha de tempo a fim de visualizá-lo melhor:
87
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
150.000
135.000 140.000
125.000
120.000
1 2 3 4 5
- 405.000
Vamos calcular o VPL com base na equação anterior. Lembre-se de que sempre terá de iniciar o
investimento inicial no ano zero, como na Figura 27.
Dessa forma, concluímos que a Memu S.A. deve comprar a nova máquina.
Com base na regra de VPL, devemos aceitar o projeto de compra da nova máquina.
Atenção
Sempre o custo do projeto deverá ser incorporado no VPL. Por esse motivo que consideramos o ano zero como o
investimento inicial e que, depois de um ano a contar da implementação, gera-se o primeiro fluxo de caixa. Os fluxos
de caixa esperados são somente realizados no fim de cada ano, como mostrado na linha de tempo do exercício
anterior.
A ideia de PBD é saber quanto tempo levaremos para recuperar o investimento inicial do projeto,
ou seja, o custo do projeto.
88
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5
sejam iguais ao gasto inicialmente feito, ou seja, “recuperarmos nossa isca”. Preocupa-se com a
recuperação simples do dinheiro empregado ou do valor investido.
Ν
FCn
Regra de Payback Descontado PBD =? ∑
ν =0 (1+i )
n
=0
Trata-se da soma do valor presente dos fluxos de caixa descontados igual a zero.
Ν
Em que:
i = taxa de desconto.
Nota-se imediatamente que o método de payback não consegue diferenciar dois projetos
A e B. Sua principal deficiência é não considerar os ganhos após a recuperação, nem o
escalonamento das entradas de Caixa. Não se faz um investimento para recuperar o
capital, e sim para obter lucro. O processo serve apenas para complementar os outros
métodos no auxílio da tomada de decisão.
A ideia básica é quantos anos precisaremos esperar até que os fluxos de caixa acumulados desse
investimento se igualem ou superem seu custo? Com base nessa regra, um investimento é aceito
se seu período de payback calculado for menor do que algum número predeterminado de anos.
- R$50.000,00
89
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
Resolução
Observe que esse caso é muito simples, devendo considerar apenas o valor dos fluxos de caixa.
Para ilustrarmos isso, vamos considerar o exemplo anterior em que a empresa Memu S.A. está
analisando se deve ou não investir em uma nova máquina. A nova máquina custa R$405.500,00.
Em uma avaliação prévia do projeto da nova máquina, considera-se um conjunto de fluxo de
caixa incremental normal usando uma taxa de desconto apropriada para o risco de 15%, nos
próximos cinco anos, como mostrado na tabela a seguir. Calcula-se, assim, o VPL do projeto.
1 125.000,00
2 135.000,00
3 150.000,00
4 140.000,00
5 120.000,00
Para resolver esse exemplo, vamos proceder com uma linha de tempo.
150.000
135.000 140.000
125.000
120.000
1 2 3 4 5
- 405.000
90
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5
Agora, vamos calcular o valor presente de cada fluxo com base na equação anterior. Lembre-se
de que sempre terá de iniciar o investimento inicial no ano zero, conforme a Figura 29.
125.000
1 125.000,00 108.695,65 -299.304,35
(1 + 0,15)1
135.000
2 135.000,00 102.079,40 -197.224,95
(1 + 0,15)2
150.000
3 150.000,00 98.627,43 -98.597,52
(1 + 0,15)3
140.000
4 140.000,00 80.045,45 -18.552,07
(1 + 0,15)4
120.000
5 120.000,00 59.661,21 41.109,14
(1 + 0,15)5
Podemos parar quando os valores cumulativos passam de negativo para positivo. Nesse caso, a
interpolação linear nos dará uma métrica de PDB de:
18.552,07
PBD =
4+ 4,31 anos ou 4 anos e 3 meses e 22 dias
=
59.661,21
A técnica da taxa interna de retorno é a mais popular dos métodos de orçamento de capital
baseados em taxa de retorno, em razão de, se você considerar um projeto com fluxos de caixa
normais, que seja independente de outros projetos, essa estatística dar a mesma resposta para
aceitar ou rejeitar como ocorre com a regra de VPL.
N
FCn
Re gra da TIR =>> 0 = ∑
n=0 (1+ TIR)n
Resolvemos simplesmente a equação da taxa de juros que fará com que o VPL seja igual a zero.
91
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL
O problema é que somente é possível calcular o TIR com uma calculadora científica ou HP, por
isso não iremos experimentar nenhum exemplo aqui.
Índice de rentabilidade
VPL
IR =
FC0
Um índice de rentabilidade maior do que 1,00 significa que o valor presente dos fluxos de caixa
futuros é maior do que o investimento inicial. Portanto, para um projeto que custasse R$200,00, e
o valor presente dos fluxos de caixa futuros fosse R$ 220,00, o índice de rentabilidade seria 220/200
= 1,10. Isso nos diz que cada real investido resulta em R$1,10. Esse índice mede o valor criado
por dólar investido. Por esse motivo, é frequentemente proposto como medida de desempenho
de investimentos governamentais ou sem fins lucrativos. Além disso, quando há limitação de
capital, pode fazer sentido alocar o capital aos projetos com maiores IRs. Esse método será usado
mais no capítulo sobre análise de desempenho financeiro de uma empresa que envolverá o uso
de vários índices de rentabilidade econômica e financeira. Faremos mais exercícios detalhados
sobre o emprego desse método.
Sintetizando
Neste capítulo, aprendemos os métodos de orçamento de capital, as técnicas de decisão de investimento em projetos com
base no valor presente líquido, o período de retorno do investimento, nos fluxos de caixa esperados de um projeto usando a
abordagem do fluxo de caixa livre. Destacamos como a depreciação afeta os fluxos de caixa do projeto. E aprendemos a usar
os cálculos de período de payback com desconto e de taxa interno de retorno.
92
CAPÍTULO
PRODUTOS FINANCEIROS E
FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE
CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO 6
Apresentação
Até agora nós estudamos a análise de balanço patrimonial, a avaliação de fluxo de caixa para
tomadas de decisão financeira, tanto por parte de pessoa física quanto de investidores, e as
principais funções de um analista financeiro, além disso os métodos de avaliação de investimentos.
Neste último capítulo, vamos fechar a disciplina fixando nosso aprendizado nos vários produtos
financeiros negociados nos mercados financeiros e formular metodologias de cálculo para
avaliação dos resultados efetivos para decisões de financiamento com base em taxas de juros de
mercado. Aspectos normativos das operações não são tratados com maior profundidade neste
capítulo.
Este estudo trata das características dos produtos presentes no mercado financeiro e dos métodos
de avaliação dos resultados efetivos na ótica de um investidor comprador ou fornecedor de
títulos financeiros.
Objetivos
» dominar as formulações das metodologias de cálculo dos resultados efetivos dos produtos
financeiros;
» compreender a estrutura das taxas de juros utilizadas nos cálculos de resultados efetivos
de produtos financeiros.
93
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
Mercados financeiros
Os mercados financeiros existem para administrar os fluxos dos fundos de investidores para os
mutuários. Podemos distingui-los em duas dimensões: a primeira – mercados primários versus
mercados secundários, esse até agora não foi discutido; e a segunda – mercados monetários
versus mercados de capitais. Você deve estar se perguntando: o que são mercados primários
e mercados secundários? Mercados monetários e mercados de capitais? Vamos às definições!
Mercados primários
94
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
de títulos (como um preço de oferta apropriado e o número de títulos a serem emitidos) e atrair
os compradores de ofertas públicas iniciais das ofertas de títulos feitas por clientes.
Demandantes Títulos
de fundos Títulos
Subscrevendo Fornecedores
(corporações com bancos de iniciais de
que emitem investimento fundos
instrumentos de
(investidores)
dívida/patrimôn Dinheiro Dinheiro
io líquido)
Importante
As empresas que precisam de fundos raramente são especialistas em levantar capital para si mesmas, de forma que são
avessas ao risco e rebaixam seus custos quando se voltam para os bancos de investimento especializados para emitirem seus
títulos do mercado primário.
Mercados secundários
Uma vez que as empresas emitem os instrumentos financeiros nos mercados primários, essas
mesmas ações e obrigações são negociadas nos mercados secundários. Além de ações e obrigações,
os mercados secundários existem para os instrumentos financeiros garantidos também por
hipotecas e outros ativos, moeda estrangeira, futuros e opções (isto é, títulos derivativos).
95
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
Títulos Títulos
Importante
É importante lembrar que a empresa que originalmente emitiu as ações ou obrigações não está, de maneira alguma,
envolvida com as transações nos mercados secundários. Nenhum dinheiro é acumulado pela empresa em si quando suas
ações são negociadas no mercado secundário.
Mercados monetários
Observamos anteriormente que os mercados financeiros são diferenciados em parte pelas datas
de vencimento dos produtos negociados. Essa distinção é importante quando diferenciamos
os mercados monetários dos mercados de capitais. Ambos lidam com títulos de dívida, mas a
questão é: quando esses títulos vencem?
96
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
Cornett (2013) define, em seus estudos sobre os mercados monetários, como aqueles que destacam
os títulos, os instrumentos de dívida com vencimento em um ano ou menos. Assim, segundo o
autor, os agentes econômicos com excesso de fundos de curto prazo podem emprestá-los para os
agentes econômicos que precisam desse tipo de fundo (dessa forma, eles vendem instrumentos
do mercado monetário para levantar fundos). Pelo fato de os instrumentos do mercado monetário
serem negociados apenas por períodos de tempo curtos, as flutuações nos preços do mercado
secundário são normalmente bastante pequenas. Com menos volatilidade, os títulos negociados
nos mercados monetários são, portanto, menos arriscados do que os instrumentos com prazos
mais longos.
c. acordos de recompra: acordos que envolvem a venda de títulos de uma parte para outra,
com a promessa de reverter a transação em uma data e preço especificados, geralmente
com um preço descontado;
Mercados de capitais
Os mercados de capitais são aqueles nos quais as partes negociam produtos do patrimônio
líquido (ações) e dívida (obrigações) que vencem em mais de um ano. Em razão de seu tempo até
o vencimento mais longo, os instrumentos dos mercados de capitais estão sujeitos a flutuações
mais amplas nos preços do que os instrumentos dos mercados monetários.
97
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
b. Obrigações dos governos estaduais e locais: títulos de dívida emitidos pelos governos
estaduais e locais geralmente para cobrir as melhorias de capital a longo prazo.
c. Hipotecas: empréstimos de longo prazo para indivíduos e empresas para comprar casas,
terrenos ou qualquer outro imóvel.
d. Títulos lastreados por hipoteca: títulos de dívida de longo prazo que oferecem o
principal esperado e o pagamento de juros como colateral. Esses títulos, compostos
de muitas hipotecas, são agrupados em um único grupo e são, dessa forma, garantidos
pelo principal prometido e pelos fluxos de caixa dos juros.
f. Ações corporativas: títulos de patrimônio líquido de longo prazo emitidos por empresas
de capital aberto, as ações representam direitos de propriedade corporativa fundamentais.
Como visto no primeiro capítulo, aqui se destacam as instituições financeiras que compõem o
mercado financeiro:
Bancos comerciais
São instituições depositárias cujos maiores ativos são empréstimos e os maiores passivos,
depósitos. Os empréstimos dos bancos comerciais cobram uma extensão mais ampla, incluindo
empréstimos para consumidores, comerciais e imobiliários, do que os empréstimos de outras
instituições depositárias. Pelo fato de serem maiores e, provavelmente, terem mais acesso aos
mercados de títulos públicos, os passivos dos bancos comerciais geralmente incluem mais fontes
de não depósito de fundos, como as notas subordinadas e debêntures, do que aqueles de outras
instituições depositórias.
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
serviços similares aos bancos comerciais, mas têm a tendência de concentrar seus empréstimos
em um segmento, como os empréstimos imobiliários e para consumidores. As cooperativas de
crédito operam sem fins lucrativos para grupos específicos de indivíduos, como um sindicato
ou funcionários de uma empresa específica.
Empresas de seguros
Empresas financeiras
Elas fazem empréstimos para indivíduos e empresas. Diferentemente das instituições depositárias,
as empresas financeiras não aceitam depósitos, entretanto dependem de dívida de curto e longo
prazo para financiamento. Grande parte de seus empréstimos são garantidos com algum tipo
de produto durável, como lavadora/secadora de roupa, móveis, carpetes e afins.
Fundos mútuos
Fundos de pensão
Eles oferecem planos de poupança pelos quais os participantes do fundo acumulam poupanças
durante seus anos de trabalho. Os participantes, então, retiram seus recursos de pensão (os quais
presumidamente obtiveram retornos adicionais nesse meio tempo) na aposentadoria. Os fundos
originalmente investidos e acumulados em um fundo de pensão estão isentos da tributação
corrente. Os participantes pagam impostos nas distribuições retiradas depois dos 65 anos de
idade, quando suas faixas tributárias são (presumidamente) mais baixas.
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CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
Nas linhas seguintes, prepare sua calculadora, pois iremos fazer cálculos o tempo todo, toda
concentração é importante. A cada produto identificado, será dada uma aplicação para os cálculos
de resultados como exemplo de formulação de metodologia. Todas as aplicações a seguir foram
baseadas integralmente no capítulo do livro de Assaf Neto (2012) sobre produtos financeiros
de sua obra, mercado financeiro publicado em 2012, isso porque é um dos melhores livros que
existe atualmente.
Os CDBs e RDBs constituem-se em títulos de renda fixa emitidos pelos bancos Comerciais/
Múltiplos e bancos de investimentos destinados a lastrear operações de financiamento de capital
de giro.
a. taxa prefixada;
b. taxa pós-fixada;
Estrutura da taxa
Um banco anuncia pagar 22,6% ao ano para aplicação em CDB de sua emissão. É projetada uma
inflação de 7,2% ao ano, e o mercado vem trabalhando, com o referencial da taxa pura de juros
(taxa de juros livre de risco), os 6% ao ano pago pela caderneta de poupança. Admite uma taxa
de IR de 20% calculada por ocasião do resgate sobre os rendimentos. Definir, para o período de
um ano:
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
Importante
A principal diferença entre o CDB e o RDB é a possibilidade de o certificado de depósito bancário ser transferido a outros
investidores por endosso nominativo. O RDB é um título intrasferível.
Figura 33. A estrutura das taxas de juros embutidas na remuneração anual de um CDB/RDB.
Antes de tudo, recomendo que tome cinco minutos do seu tempo para ler muito bem o enunciado
e entende-lo.
Primeiro considere que a taxa efetiva bruta, ou remuneração bruta do título, nesse caso,
é Ib = 22,6% dada pelo enunciado.
A taxa efetiva líquida do IR, ou a remuneração líquida para uma alíquota de IR de 20%,
é a remuneração equivalente a 80% da taxa anual, ou seja:
IL = Ib x (1 – IR)
1 + IL
=r − 1 Sendo INF a taxa de inf lação
1 + INF
1 + 0,1808
=r = − 1 10,15%a.a
1 + 0,072
101
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
1+ r
Risco
= −1 Sendo RF a taxa livre de risco (taxa pura de juros).
1 + RF
1 + 0,1015
Risco
= = − 1 3,92%a.a
1 + 0,06
A tabela a seguir ilustra as alíquotas de imposto de renda no Brasil, adotada uma alíquota
decrescente em relação ao prazo da aplicação, ou seja:
De 6 a 12 meses 20,0%
De 12 a 24 meses 17,5%
Para ilustrar, admita uma aplicação de R$200.000,00 em título de renda fixa (CDB) pelo prazo de
36 dias corridos. No período, existem 24 dias úteis. A remuneração do título é definida na taxa
prefixada de 11,9% a.a. (base 360 dias).
Determinar:
dc
Rb =(1 + i)360 − 1 x V0
Em que:
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
› dc: o número de dias corridos da aplicação durante o ano, no exemplo aqui sendo
36 dias corridos.
36
Rb =
(1 + 0,1190)360
−1 x R$200.000,00 =
R$2.261,40
Ir = Rb x IR
Em que:
Agora que já temos o valor do imposto de renda retido, podemos deduzir o valor do
rendimento líquido descontando do rendimento bruto o valor do imposto retido.
RL – Rb – Ir
Por fim, o valor líquido do resgate é igual à aplicação mais o rendimento líquido:
103
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
VL VL
IL =
− 1 x100 ou IL =
x100
V0 V0
$201.752,58
IL
= − 1 x100
= 0,8763% ao período (36 dias corridos)
200.000,00
ou
$1.752,58
=IL = x 100 0,8763% ao período
200.000,00
Os CDIs são títulos que lastreiam as operações no mercado financeiro. São emitidos por instituições
financeiras e têm por função básica viabilizar a transferência de recursos entre os participantes
do interfinanceiro.
As operações com CDI são geralmente realizadas por um dia, podendo ainda ocorrer transações
por prazos maiores. Os CDIs negociados por um dia são conhecidos no mercado por depósitos
interfinanceiros (DI) e funcionam como uma taxa de referência diária para o mercado, o DI over.
As operações com CDIs no mercado interfinanceiro são controladas e registradas pelas instituições
participantes e nos terminais da CETIP (comissão de custódia). Esses títulos estão isentos de
impostos, e os juros são definidos pela denominada taxa over, geralmente expressa como linear
mensal e capitalizada pelos dias úteis previstos na operação.
Uma taxa over está definida em 2,61% a.m. Admitindo a existência de 22 dias úteis no período,
calcular a taxa efetiva da operação.
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
Atenção
Você deve sempre se lembrar de converter a taxa over ao dia antes de achar o valor da taxa efetiva, que será ao mês.
A taxa over é uma taxa de juro nominal com capitalização diária, porém válida somente para dias
úteis, sua capitalização ocorre unicamente em dia de funcionamento do mercado financeiro. A
taxa costuma ser expressa ao mês, obtida pela simples multiplicação da taxa só dia por 30.
d
t u
EFE =
1 + 0 − 1 x 100
30
t0 2,61%
» é a taxa over ao dia que, nesse caso, é de: = 0,087% a.d.
30 30
2,61%
Taxa over ao dia = = 0,087% a.d.
30
Operação interbancária
Uma operação interbancária é efetuada por três dias. Sendo as taxas over mensais definidas
em cada dia: 2,17%, 2,23% e 2,30%, determinar a taxa efetiva no período e a taxa over média da
operação.
Para iniciar, devemos, primeiramente, converter todas as taxas over mensais em taxas over diárias,
com base na fórmula anterior, teremos:
2,17%
Over1
= = 0,0723% ao dia
30
2,23%
Over2
= = 0,0743% ao dia
30
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CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
2,30%
Over3
= = 0,0767% ao dia
30
Lembre-se de que dessa vez procedemos de maneira diferente sem usar os três dias de aplicação,
isso porque tivemos três taxas diferentes a cada dia da aplicação. Para a taxa efetiva over média
da aplicação, devemos usar a fórmula a seguir:
Com n nesse caso aqui igual a 3, pois temos três observações ou dados:
Um CDB está pagando no mercado a taxa bruta efetiva de 20,6% ao ano. A alíquota de IR é de
20%, incidente sobre os rendimentos totais. Por ocasião do resgate, transforma-se a taxa de
remuneração líquida do CDB em taxa over mensal, remuneração líquida do CDB em taxa over
mensal, admitindo a existência de 23 dias úteis no período.
Como a taxa bruta é anual, precisamos achar a taxa líquida primeiramente ao ano e, depois,
converter ao mês com 23 dia úteis, como indicado no enunciado, assim temos:
Agora, convertendo a taxa líquida anual em taxa líquida mensal, que será equivalente à taxa
efetiva – lembre-se da fórmula da taxa efetiva anteriormente apresentada, a qual converteremos
em taxa over –, faremos o mesmo procedimento, assim teremos:
A taxa over será a taxa efetiva equivalente aos 23 dias úteis de investimento e convertida à taxa
over mensal.
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
28 1 + 0,0128 − 1 x 30
Over =
Over (1,0128 )
1/23
= − 1 x 30
Um CDB com prazo de 34 dias corridos (ou 23 dias úteis) está pagando uma taxa efetiva de juros
de 12,8% a.a. (base 360 dias). Calcular a taxa over equivalente anual (taxa a.a.o.).
Esse segundo exemplo é mais para lidar com as conversões de taxas efetivas para taxas over. Dessa
vez, trata-se de uma conversão de taxa efetiva correspondente ao período de 34 dias correntes para
a taxa anual over equivalente. Essas conversões, por mais que sejam determinadas diretamente
por programas de computação hoje, em qualquer sistema operacional de finanças, é importante
que o administrador saiba operá-las, elas são extremamente relevantes para tomadas de decisão
de investimento e para análise de resultado das aplicações.
As taxas apuradas no SELIC são definidas como over anual efetiva. O Banco Central considera
252 dias úteis no ano. A taxa “overnight” do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) é
expressa em bases anuais, admitindo a existência de 252 dias úteis, de acordo com orientação do
Banco Central. Representa a taxa média ponderada pelo volume das operações de financiamento
lastreadas em títulos públicos federais, de um dia, realizadas na SELIC. A taxa OVER/SELIC é
publicada diariamente, sendo usada no mercado como a taxa básica de juros de referência da
política monetária executada pelo Banco Central.
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CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
Em que:
A taxa SELIC apurada no mês de outubro de 2017 anualizada atingiu 19,25% a.a. Pede-se para
calcular:
A taxa SELIC efetiva mensal referente a dois meses, e seus respectivos dias úteis, é apresentada
a seguir:
Pede-se determinar a taxa efetiva anual (base de 252 dias úteis) da SELIC para cada mês.
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
Um CDI, com prazo de 22 dias úteis e 30 dias corridos, paga uma taxa efetiva over anual de 13,25%.
Pede-se para calcular a taxa efetiva equivalente ao ano base de 360 dias corridos.
Caderneta de poupança
A caderneta de poupança é a aplicação mais popular do mercado financeiro brasileiro. Tem como
atrativos a possibilidade de se aplicar qualquer valor (não há exigência de um capital mínimo
investido), liquidez imediata para depositante, isenção de imposto de renda para pessoas físicas
e baixo risco. Os saldos aplicados são garantidos, até determinado valor pelo governo.
A caderneta de poupança tem uma “data de aniversário”, que é o dia que foi efetuado o depósito
(aplicação). Os rendimentos são calculados mensalmente e creditados sempre nessa data ao
aplicador. Caso haja retiradas antes da data de aniversário, a caderneta não paga nenhum
rendimento sobre o dinheiro sacado. A remuneração é calculada sobre o menor saldo mantido
no período.
Rendimentos da aplicação
Admita, como ilustração, que a TR mensal tenha atingido os seguintes percentuais em determinado
trimestre do ano:
Uma pessoa mantém aplicado R$500.000,00 na caderneta de poupança no trimestre, sem efetuar
nenhuma movimentação na conta (novos depósitos ou saques). A remuneração da aplicação
é formada pela TR mais uma taxa de 0,5% a.m. A data de aniversário desta conta é o último dia
de cada mês.
Pede-se para calcular, para cada mês e todo o período, o movimento disponível e a rentabilidade
oferecida pela aplicação.
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CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
Para responder às perguntas, devemos calcular para cada mês a taxa de rentabilidade efetiva,
lembrando do TR mais a taxa de 0,50% a.m., em seguida calcular o montante disponível ao final
do semestre e, por fim, a rentabilidade acumulada do trimestre.
Tabela 34. Cálculo de rentabilidade e de taxa de rentabilidade efetiva de uma caderneta de poupança.
Mês 1
Mês 2
Mês 3
É uma operação de financiamento direcionada para aquisição de bens e serviços pelo consumidor
ou usuário final. O financiamento é geralmente pago em prestações mensais, iguais e consecutivas.
Os encargos de uma operação de CDC são basicamente juros e a cobrança do Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF).
a. sem o IOF;
b. com o IOF.
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
1 − (1 + i )
−n
PV = PMT x
i
Em que:
i = taxa de juro;
n = prazo.
Substituindo, tem-se:
1 − (1,014 )
−6
12.000 = PMT x
0,014
PMT = $ 2.099,14/mês.
A seguir, está a planilha financeira desse CDC. Deve-se utilizar o Excel para produzir
tal tabela.
Figura 34. Tabela de Cálculo das Amortizações de um CDC sem Financiamento do IOF.
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CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO
O IOF é calculado com base no valor das amortizações para a operação. Admitindo a alíquota
de IOF de 0,25% a.m. (IOFa.m = IOFa.d x 30 = 0,0082% x 30 = 0,25% a.m) tem-se:
2 1.958,16 9,79
3 1.985,59 14,89
4 2.013,39 20,13
5 2.041,58 25,52
6 2.070,13 31,05
PV
IOFFIN
= − PV
1 − IOFSEM
PV
Em que:
Substituindo:
R$12.000,00
IOFFIN= − R$12.000,00
= R$107,16
1 − 106,21
12.000,00
IOFFIN = R$107,16
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PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6
Sintetizando
Neste capítulo, identificamos a estrutura do mercado financeiro e os diversos produtos financeiros oferecidos pelas
instituições financeiras, aprendemos como formular os cálculos para determinar as taxas efetivas de financiamento de
títulos privados no mercado. Vimos que diversos tipos de produtos financeiros são negociados no mercado primário e
secundário, estudamos as formulações das metodologias de cálculo dos resultados efetivos dos produtos financeiros e a
estrutura das taxas de juros utilizadas nos cálculos de resultados efetivos de produtos financeiros.
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Referências
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.
FARIA, R. G. de. Matemática comercial e financeira: com exercícios e cálculos em Excel e HP-12C. São Paulo: Ática, 2007.
GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. D de. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
FORO, C. de. Introdução à matemática financeira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.
PINTO, A. C. Matemática financeira com HP 12C. São Paulo: Barros, Fischer & Associados; Clio Editora, 2010.
TAN, S. T. Matemática aplicada à administração e economia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
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