Administracao Financeira

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PROF. DR.

KOFFI DJIMA AMOUZOU

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA

1ª Edição

Brasília/DF - 2018
Autores
Prof. Dr. Koffi Djima Amouzou

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4

Introdução...............................................................................................................................................................................6

Capítulo 1
Balanço Patrimonial como Demonstrativo Financeiro .....................................................................................9

Capítulo 2
Instrumentos de Análise do Desempenho Financeiro.................................................................................... 29

Capítulo 3
Métodos de Análise de Fluxo de Caixa de Pagamentos Únicos.................................................................. 56

Capítulo 4
Método de Análise de Fluxo de Caixa de Anuidades...................................................................................... 68

Capítulo 5
Ferramentas e Técnicas de Decisão de Orçamento de Capital.................................................................... 79

Capítulo 6
Produtos Financeiros e Formulação de Metodologia de Cálculo de Resultado Efetivo..................... 93

Referências.........................................................................................................................................................................114
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Cuidado

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

Importante

Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.

Observe a Lei

Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

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Organização do Livro Didático

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Posicionamento do autor

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

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Introdução
Administração financeira é a disciplina que estuda o planejamento financeiro das empresas ou
de pessoas físicas, como, por exemplo, investidores, com base nas informações econômicas e
financeiras de mercado. Para melhor entender o que é administração financeira, é necessário
compreender as principais funções de um administrador financeiro.

Com efeito, o administrador financeiro é considerado um analista financeiro que tenha


estudado e desenvolvido, na sua formação superior, seja na graduação em administração, no
curso tecnólogo de gestão financeira ou em uma especialização em finanças empresariais, as
competências e habilidades para analisar as informações financeiras recebidas do mercado
e tomar decisão de investimento de uma pessoa jurídica ou física. Esse profissional, assim,
é competente para analisar a capacidade financeira da empresa, por exemplo, por meio
de relatórios e pareceres financeiros em que se possa evidenciar a decisão de a instituição
investir, ou não, ou de um investidor aplicar seus recursos financeiros em um negócio sob a
forma de investimento, ou não. Para tanto, esse profissional deverá dominar os indicadores
financeiros que permitem identificar e calcular o risco do capital investido e o retorno sobre
o investimento.

De uma forma geral, administração financeira é a disciplina que ensina a analisar o desempenho
financeiro de uma empresa e, ao mesmo tempo, identificar as melhores oportunidades de
investimento de capital, com garantia de retorno de investimentos a custo reduzido. O custo de
capital é definido como a taxa de juro.

Portanto, é uma disciplina muito importante para todos os alunos de administração. Nesse
sentido, convido você a mergulhar nesses estudos com vistas a dominar os conceitos técnicos
que farão de você um excelente analista financeiro. Ao fim, serão desenvolvidas competências
fundamentais, tais como a interpretação e análise de dados financeiros e predição de situações
futuras de retorno sobre investimentos de sua empresa, até sobre suas próprias decisões como
investidor.

Objetivos

No final desta disciplina, você será capaz de:

» Examinar os demonstrativos financeiros e produzir relatórios e pareceres financeiros.

» Tomar decisões financeiras analisando custos e benefícios de um investimento.

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» Avaliar o valor do dinheiro no tempo.

» Analisar as cotações e ajustes de taxas de juros.

» Entender as regras de decisão de investimento.

» Conhecer a estrutura do mercado financeiro e os principais produtos negociáveis nesse


mercado.

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CAPÍTULO
BALANÇO PATRIMONIAL COMO
DEMONSTRATIVO FINANCEIRO 1
Apresentação

Neste capítulo, analisaremos os itens do balanço patrimonial, trataremos esse relatório como o
principal demonstrativo financeiro que nos fornece dados precisos sobre o desempenho de uma
empresa. De modo geral, aprenderemos como identificar os subgrupos do balanço patrimonial
e como verificar a regra de equivalência patrimonial, que é um dos principais instrumentos de
análise de demonstrativos financeiros das empresas, e saberemos como construir um relatório
financeiro que ajude nas tomadas de decisão financeiras. Esse relatório consiste em um modo
de organizar as informações financeiras da empresa para informar sobre seu sucesso.

Existem quatro principais instrumentos de demonstrativos financeiros e vários tipos de indicadores


financeiros que mostram as informações pertinentes sobre o desempenho de uma empresa. No
entanto, aqui nós aprenderemos apenas a identificar os itens do ativo e do passivo para começar a
entender como uma empresa constrói sua riqueza. Este capítulo é, em grande parte, uma revisão
de conceitos que você já viu no capítulo de fundamentos de contabilidade.

Objetivos

Após estudar este capítulo, você será capaz de:

» Entender a estrutura do balanço patrimonial.

» Identificar os itens do ativo.

» Identificar os itens do passivo.

» Calcular o patrimônio líquido de uma empresa.

Classificação de demonstrativos financeiros

Ao falar em demonstrativos financeiros, partimos do princípio de que somente as empresas de


capital aberto são obrigadas a publicarem seus demonstrativos financeiros, os quais consistem

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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

em um conjunto de informações contábeis que mostram a situação financeira da empresa.


São informações que revelam o desempenho financeiro da empresa para investidores e credores
no mercado, portanto elas não podem ser confidenciais, visto que ajudam a organização a atrair
novos capitais e informam os acionistas acerca da situação patrimonial da empresa em um
determinado período de exercício.

Os quatro principais tipos de demonstrativos financeiros são:

» o balanço patrimonial;

» o demonstrativo de resultados de exercício;

» o demonstrativo de fluxo de caixa;

» o demonstrativo de equivalência financeiro.

Atenção

Os especialistas em finanças recomendam a intervenção de um auditor financeiro para checar os demonstrativos


financeiros anuais, garantir que eles estejam de acordo com as normais contábeis e verificar a confiabilidade das
informações.

Figura 1. Principais tipos de demonstrativos financeiros.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Por exemplo, a General Motors, a Petrobras e outras empresas de capital aberto no Brasil devem
publicar ao final de cada exercício fiscal ano os demonstrativos financeiros em suas páginas
oficiais e nos grandes jornais de circulação.

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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

Saiba mais

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliário (CVM) é o principal órgão que dispõe de normas sobre elaboração
de demonstrativos financeiros com base nos padrões internacionais. O principal incentivo de seguir as normas
internacionais é permitir as companhias de capital aberto captar recursos financeiros no mercado global de
forma que os investidores financeiros tenham acesso às informações financeiras com base no conjunto de
pronunciamentos denominados International Financial Reporting Standards (IFRS), emitidos pelo IASB e
consolidados segundo as normas do International Accounting Standard Board (IASB) e ao fixar o exercício de 2010
para a adoção obrigatória dessas normas internacionais.

Balanço patrimonial

O balanço patrimonial indica, em uma tabela resumida, os ativos e passivos de uma empresa e
avalia a posição financeira da empresa em um determinado período de exercício.

O balanço patrimonial de uma empresa divide-se em duas partes ou lados: no lado esquerdo os
ativos e do lado direito os passivos e o patrimônio dos sócios como mostrado na figura a seguir.

Figura 2. Balanço Patrimonial de uma Empresa.

Fonte: elaborada pelo autor.

Agora vamos analisar o detalhamento dos itens do balanço patrimonial de uma empresa.

Ativos

De maneira geral, os ativos representam os bens e direitos da empresa, consistem em um conjunto


de elementos das contas patrimoniais: caixa, estoque, contas a receber, títulos a receber, imóveis,
instalações e equipamentos, entre outros investimentos que a empresa tenha realizado.

11
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

Importante

Os ativos mostram, de modo geral, como a empresa emprega seu capital, ou seja, seus investimentos. As contas do
ativo são classificadas por ordem decrescente do grau de liquidez, de acordo com a rapidez com a qual podem ser
convertidas em dinheiro.

O conjunto dos elementos do ativo são divididos em dois subconjuntos: os ativos circulantes e
os ativos não circulantes ou realizáveis a longo prazo, como mostrado na figura a seguir.

Figura 3. Estrutura dos ativos de uma empresa.

Fonte: Elaboração do autor.

Vamos, a seguir, discutir, detalhadamente, cada um deles.

Ativos circulantes

O ativo circulante representa o dinheiro ao vivo (caixa) e tudo o que pode ser convertido em
dinheiro rapidamente dentro do prazo de um ano, ou seja, no curto prazo, como, por exemplo,
estoque, contas a receber e títulos a receber.

As contas do ativo circulante são agrupadas em duas categorias: as disponibilidades e os créditos.

Disponibilidades:

As disponibilidades da conta de ativo são os valores existentes em caixa e bancos, assim


como as aplicações de curto prazo e liquidez absoluta. As principais disponibilidades do ativo
circulante são:

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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

» caixa: dinheiro oriundo das transações de receitas de vendas;

» banco conta movimento: são os depósitos em contas correntes de livre movimentação


da empresa, incluindo conta poupança, caso exista;

» aplicações financeiras: são os investimentos efetuados pela empresa em títulos de


liquidação imediato, ou seja, investimentos prontamente conversíveis em dinheiro no
curto prazo. São aplicações com rendimento prefixado e pós-fixado;

» depósitos bancários à vista: cheques ou transferências que entrarão na conta da empresa


em curto prazo;

» estoques: são compostos de matérias-primas, de bens acabados e bens não acabados


e de mercadorias, de acordo com a natureza da empresa seja ela comercial, de serviço
ou indústria.

Créditos

São direitos que a empresa tem a receber:

» contas a receber: são importâncias devidas pelos clientes provenientes de vendas


a prazo de mercadorias e serviços. As contas a receber são o tipo mais relevante de
dinheiro mantido por uma empresa, como, por exemplo, duplicatas a receber e contas
de clientes.

» títulos a receber: são os direitos pelos quais os instrumentos formais de crédito são
emitidos como evidência da dívida. Segundo Weygandt (2005), o instrumento de crédito
normalmente exige que o devedor pague juros e estende o pagamento por período de
60 a 90 dias ou mais. As contas e os títulos a receber que resultam das transações de
vendas são chamados de contas a receber operacionais.

» outras contas a receber: incluem contas a receber não operacionais, como juros a receber,
empréstimos aos diretores da empresa, adiantamentos aos funcionários e imposto de
renda restituíveis, despesas antecipadas como aluguel ou seguros que tenham sido
pagos adiantados. Embora sejam raras, em geral são classificadas e divulgadas como
itens de ativos circulantes no balanço patrimonial.

» Contas redutoras do ativo: provisão para créditos de liquidação duvidosa.

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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

Figura 4. Contas do ativo circulante.

Fonte: Elaboração do autor.

Ativos não circulantes ou realizáveis de longo prazo

São incluídos no grupo de ativos não circulantes ou realizáveis de longo prazo os bens de
permanência duradoura destinados ao funcionamento normal da empresa. Segundo Berk (2009),
são ativos não circulantes: propriedades, instalações e equipamentos líquidos, incluem-se ativos
como imóveis ou maquinário que produza benefícios tangíveis por mais de um ano.

Importante

Pelo fato de os equipamentos terem uma vida útil ou se tornarem obsoletos a longo prazo, a empresa deverá
determinar a cada exercício seu valor contábil, que será o valor de aquisição reduzido das depreciações acumuladas.
No Brasil, a receita federal determina a taxa de depreciação de cada tipo de equipamento. O valor da depreciação
é uma conta redutora do ativo circulante. A depreciação de fato não é uma despesa paga pela empresa, mas uma
maneira de reconhecer que imóveis e equipamentos sofrem desgastes e obsolescência, assim se tornam menos
valiosos com o passar do tempo (BERK, 2009).

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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

As contas do ativo não circulante são registradas em contas patrimoniais em categorias de:

» valor contábil: o valor contábil de um ativo é igual a seu custo de aquisição menos a
depreciação acumulada;

» depreciações acumuladas: é o custo da desvalorização ou da obsolescência que sofre um


bem em determinado período. A depreciação de um bem é função da taxa de depreciação
determinada pela receita federal e do tempo de vida útil do bem.

Os fatores que afetam o cálculo da depreciação

Três fatores afetam o cálculo da depreciação, são eles:

a. custo – todas as despesas necessárias para adquirir o ativo e torná-lo disponível para
sua utilização pretendida;

b. vida útil – estimativa de vida esperada com base na necessidade de manutenção, período
produtivo e vulnerabilidade à obsolescência;

c. valor residual – cálculo do valor do ativo ao final de sua vida útil. O valor residual é uma
estimativa. Ao fazer a estimativa, a administração deve considerar como planeja dispor
do ativo e sua experiência com ativos semelhantes.

Figura 5. Fatores que afetam a depreciação.

Fonte: Elaboração do autor.

15
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

Importante

Por ser a despesa principal, a depreciação terá um efeito significativo sobre o lucro líquido da empresa:

» o excesso de depreciação (depreciar acima do valor de aquisição) do ativo diminui o lucro líquido. Quando uma
empresa deprecia um ativo por uma taxa acima do normal, as despesas totais aumentam e o lucro demonstrado
diminui;

» a subdepreciação (depreciar menos que o valor de aquisição) do ativo aumenta o lucro líquido.

Existem três fatores que afetam o cálculo da depreciação:

a. custo de aquisição – todas as despesas necessárias para adquirir o ativo e torná-lo


disponível para sua utilização pretendida;

b. tempo de vida útil – estimativa de vida esperada com base na necessidade de manutenção,
período produtivo e vulnerabilidade à obsolescência;

c. valor residual – cálculo do valor do ativo ao final de sua vida útil. O valor residual é uma
estimativa. Ao fazer a estimativa, a administração deve considerar como planeja dispor
do ativo e sua experiência com ativos semelhantes.

Figura 6. Fatores que afetam o cálculo da depreciação.

Fonte: Elaboração do autor.

» Fundo de comércio – fundo de comércio é a diferença entre o preço pago por uma
empresa na aquisição de outra e o valor contábil atribuído à empresa adquirida.

» Amortização – representa a mudança de valor dos ativos adquiridos. Assim como na


depreciação, a amortização não é de fato um desembolso de caixa.

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BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

Atenção

“Outros ativos realizáveis no longo prazo podem incluir itens como imóveis não utilizados em operações
empresariais, custos de startup relativos a um novo negócio, marcas registradas e patentes, e imóveis reservados para
venda” (BERK, 2009, p324).

A seguir, vamos analisar os passivos.

Passivos

Eles estão representados ao lado direito do balanço patrimonial, ajudando os administradores a


visualizarem as formas de financiamento da empresa. Eles representam as emissões de (venda)
de títulos, mais especificamente chamados de obrigações (acordos de dívidas da empresa com
seus credores) ou ações (certificados de propriedade). Assim como os ativos, os passivos são
classificados em dívidas de curto prazo (passivos circulantes) e dívidas de longo prazo (exigíveis)
e o patrimônio líquido ou patrimônio dos sócios.

Figura 7. Contas do passivo.

Fonte: Elaboração do autor.

Passivos circulantes

Representam as obrigações que se espera sejam pagas com os ativos circulantes existentes ou
por meio da criação de outros passivos circulantes. Por representarem uma dívida de curto prazo
da empresa, o período de pagamento é de um ano ou o ciclo operacional. De uma forma geral,
o passivo circulante incluiu:

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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

a. Dívidas relacionadas ao ciclo operacional, tais como contas a pagar e salário a pagar,
valores devidos a fornecedores por produtos ou serviços comprados a prazo;

b. Títulos a pagar, dívidas de curto prazo e vencimentos no curto prazo de dívidas de longo
prazo, que são todos os pagamentos de dívidas que ocorrerão no próximo exercício;

c. Outras dívidas de curto prazo, como os empréstimos bancários, juros a pagar, impostos
a pagar e obrigações de longo prazo que vencerão em curto prazo (pagamentos de
obrigações de longo prazo que serão feitas no próximo ano).

Weygandt (2005) define passivo circulante como uma dívida cujo pagamento espera-se que seja
feito a partir do ativo circulante existente ou por meio da criação de outros passivos circulantes, no
prazo de um ano. Segundo ele, as dívidas que não se enquadram nesses critérios são classificadas
de passivo não circulante, ou seja, exigíveis de longo prazo. Em muitas empresas, o passivo
circulante é pago dentro de um ano por meio do ativo circulante, e não pela criação de outros
passivos.

Atenção

As empresas devem monitorar a relação entre o ativo circulante e o passivo circulante, pois a diferença entre ativos
circulantes e passivos circulantes é o capital de giro líquido da empresa, ou seja, o capital disponível no curto prazo
para dirigir a empresa. Essa diferença é decisiva na avaliação da liquidez de uma empresa ou na capacidade de pagar
uma dívida de curto prazo.

Figura 8. Composição do passivo circulante.

Fonte: Elaboração do autor.

Passivo não circulante ou exigíveis a longo prazo

O passivo não circulante ou exigível de longo prazo é, segundo Weygandt (2005), as obrigações que
se espera que sejam pagas após um ano. Nesta seção, vamos detalhar os subgrupos de exigível de

18
BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

longo prazo do balanço patrimonial. Essas obrigações são, com frequência, em forma de títulos
de dívida ou de títulos de longo prazo.

Atenção

Os exigíveis de longo prazo são passivos ou dívidas que se estendem além do exercício presente. O passivo não
circulante é o subgrupo de obrigações que devem ser quitadas, cujos vencimentos ocorrerão após o final do exercício
seguinte ao encerramento do balanço patrimonial.

Berk (2009) agrupa os exigíveis de longo prazo em três categorias de dívida, ou seja, em três
principais tipos de exigíveis de longo prazo ou passivo não circulante:

a. dívidas de longo prazo: são os empréstimos ou qualquer outro tipo de dívida ou obrigação
com um resgate de mais de um ano. São uma forma de títulos a pagar que rendem juros
emitidos por empresas ou órgãos governamentais.

b. leasing financeiros: são contratos de leasing de longo prazo, que obrigam a empresa
a fazer pagamentos de leasing regulares em troca do uso de um ativo. Eles permitem
que a empresa faça uso de um ativo fazendo um arrendamento junto ao proprietário.
O leasing, na maioria das vezes, é feito com os fornecedores de equipamento e bancos.

c. impostos diferidos: são impostos incorridos, mas que não foram pagos. As empresas
geralmente mantêm dois conjuntos de demonstrativos financeiros: um para relatórios
financeiros e outro com finalidade tributária. Como os impostos diferidos serão pagos
posteriormente, eles aparecem como passivo no balanço patrimonial.

Figura 9. Principais tipos de exigíveis de longo prazo ou passivo não circulante.

Fonte: Elaboração do autor.

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CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

Patrimônio dos sócios

O capital dos sócios, ou patrimônio líquido, é o total dos ativos menos o total dos passivos
circulantes e não circulantes. A diferença entre os ativos e passivos de uma empresa representa
a equivalência patrimonial, que também é chamada de valor contábil do patrimônio dos sócios
ou de patrimônio líquido.

O patrimônio líquido é o conjunto de três elementos importantes para a constituição da empresa


e da sua sustentabilidade: capital, reservas e lucros ou prejuízos acumulados.

Figura 10. Composição do patrimônio líquido.

Fonte: Elaboração do autor.

O balanço patrimonial nos fornece uma avaliação precisa do valor verdadeiro do patrimônio
líquido da empresa.

O valor do patrimônio líquido de uma empresa é determinado pela relação denominada igualdade
do balanço patrimonial.

Figura 11. Regra de igualdade do balanço patrimonial.

Fonte: Elaboração do autor.

20
BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

Composição do patrimônio líquido

Vejamos como é possível entender, de outra maneira, essa temática de patrimônio líquido, que
é crucial no momento de abertura do capital de uma empresa.

Entenda o seguinte: o patrimônio líquido é resultante da diferença entre ativo e passivo exigível
e tem a seguinte composição:

» capital social (ações ordinárias): valores que os acionistas ordinários investiram na


empresa ou lucros não distribuídos aos acionistas;

» lucros ou prejuízos acumulados: como o nome diz, é o “estoque” de lucros ou prejuízos


de exercícios anteriores;

» reservas de capital: indicam aportes de capital por acionistas, aumentos de valor de


ativos (realização) e lucros não distribuídos;

» reservas de reavaliação: é a contrapartida da valorização dos ativos por conta da


reavaliação.

» reserva de lucro: demonstra lucros retidos com objetivos específicos, como investimento
ou expansão.

Importância da estrutura do balanço patrimonial

A estrutura do balanço patrimonial, além de facilitar a comparação de sua empresa com as


demais empresas do setor, ajudará você a resolver as seguintes questões usando as demonstrações
financeiras de um determinado período:

a. a disponibilidade de ativos para fazer face às dívidas à medida que estas vencerem;

b. as reivindicações dos credores de longo prazo e de curto prazo sobre o ativo total da
empresa, o que pode ocasionar os conflitos de interesses entre a empresa e seus acionistas
no mercado.

O balanço patrimonial informa o ativo, o passivo e o patrimônio líquido da empresa.


A demonstração de resultado apresenta as receitas e despesas e lucro (ou prejuízo) líquido de
um determinado período. O balanço patrimonial é como uma foto instantânea da situação
financeira da empresa em um determinado momento. A demonstração de resultado do exercício
fornece uma boa indicação da lucratividade da companhia, as origens das receitas e o quadro
das despesas da empresa.

21
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

Vamos agora recapitular tudo isso que aprendemos sobre a estrutura do balanço patrimonial
nos estudos de caso a seguir.

Exemplo 1: Elaboração do balanço patrimonial

Estudo de caso

Suponha que, no dia 4 de março de 2018, você, como gerente financeiro da Memu S.A., por
curiosidade, entra no programa de controle financeiro da empresa, aperta algumas teclas e se
depara com o link de balanço patrimonial da organização. Suponha, ainda, que as informações não
foram consolidadas em relatório financeiro, mas que você anotou as seguintes informações que
o programa lhe ofereceu sobre o exercício do primeiro trimestre de 2018: Caixa =R$22.800.000,00;
Contas a pagar = R$3.750.000,00; Título de dívidas a pagar = R$6.000.000,00; Contas a receber
= R$300.000,00; Material de propaganda = R$1.500.000,00; Equipamentos de escritório =
R$750.000; Antecipação do pagamento de seguro = R$825.000,00; Depreciação acumulada =
R$60.000,00; Ações ordinárias = R$15.000.000,00; Juros a pagar = R$75.000.000,00; Receitas a
realizar = R$1.200.000,00; Salários a pagar = R$1.800.000,00; Fornecedores = R$1.500.000; Lucros
acumulados = R$3.540.000,00. Com base nesses dados, calcule:

a. o ativo circulante da empresa;

b. o ativo não circulante da empresa;

c. o valor total do ativo;

d. o passivo circulante;

e. o passivo não circulante ou exigíveis de longo prazo;

f. o patrimônio líquido;

g. o valor total do passivo;

h. monte o balanço patrimonial da empresa.

Resolução do exemplo

Como você pode observar, para respondermos a cada uma das questões, precisamos apenas
saber identificar e classificar os itens que foram lançados no sistema de controle financeiro da
empresa. A princípio, como administrador financeiro, você já receberia o balanço patrimonial
pronto apenas para análise, entretanto, para efeito de aprendizagem aqui, exigimos de você um
conhecimento mais profundo em poder identificar cada item lançado no sistema. Observe que

22
BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

todos os seis subgrupos do balanço patrimonial foram discutidos nesse capítulo, agora basta
você ler o enunciado e agrupar os itens em subgrupo de balanço patrimonial.

Então vamos fazer isso?

a. Ativo circulante da empresa

Com base na definição do ativo circulante, podemos identificar os seguintes itens como parte
integrante do ativo circulante:

Tabela 1. Contas do ativo circulante.

Caixa 22.800.000,00
Contas a Receber 300.000,00
Material de Propaganda 1.500.000,00
Antecipação de pagamento de seguro 825.000,00
Receitas a realizar 1.200.000,00
Total Ativo Circulante 26.625.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

b. Ativo não circulante da empresa

Tabela 2. Contas do ativo não circulante.

Equipamentos de Escritório 5.775.000,00


Depreciação acumulada (-) -60.000,00
Total Ativo não Circulante 5.715.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

c. O valor total do ativo

Como o ativo total é a soma do ativo circulante e do ativo não circulante, só procedermos aos
cálculos aqui somando os dois subgrupos acima calculados nas questões a e b.

Figura 12. Cálculo do valor do ativo total da MEMU S.A. (1o trimestre de 2018).

Fonte: Elaboração do autor.

23
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

d. O passivo circulante

Com base na definição e na estrutura do passivo circulante, classificaremos os seguintes itens


como itens do passivo circulante do balanço patrimonial.

Tabela 3. Contas do passivo circulante.

Contas a Pagar 3.750.000,00

Salário à Pagar 1.800.000,00

Fornecedor 1.500.000,00

Total Passivo Circulante 7.050.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

e. O passivo não circulante ou exigíveis de longo prazo

Tabela 4. Contas do passivo não circulante - exigíveis de longo prazo.

Títulos de Dívida a Pagar 6.000.000,00

Juros a Pagar 750.000

Total de passivo não circulante 6.750.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

f. O patrimônio líquido

Como fizemos nos outros casos, podemos observar que existem dois itens de patrimônio dos
sócios, sendo as ações ordinárias e o lucro acumulado conforme destacado na Figura 10. Sendo
assim, temos como patrimônio líquido da Memu S.A. destacado na Tabela 5:

Tabela 5. Contas do patrimônio líquido.

Ações ordinárias 15.000.000,00

Lucros acumulados 3.540.000,00

Total Patrimônio Líquido 18.540.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

g. O valor total do passivo

Da mesma forma que fizemos no caso do total do ativo, basta somar as contas dos subgrupos
do passivo:

24
BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

Figura 13. Cálculo do valor total do ativo.

Fonte: Elaboração do autor.

Lembre-se de que podemos usar a fórmula de equivalência para determinar o valor do patrimônio
líquido a partir da regra de equivalência do patrimônio da seguinte forma:

Ativo = Passivo Exigível + Patrimônio Líquido =>> PL = A – PE

PL = 32.430.000 – 7.050.000 – 6.750.000 = R$18.540.000,00

Atenção

Repare que é idêntico ao valor anterior achado dessa forma, existem diversas formas de encontrar os valores dos
subgrupos do balanço patrimonial. Cabe, então, se lembrar sempre da regra de equivalência patrimonial.

h. Monte o balanço patrimonial da empresa.

Vamos agora montar o balanço patrimonial da Memu S.A., basta agrupar os itens por categoria
ou subgrupos e mencionar o valor total, como foi pedido.

Tabela 6. Balanço patrimonial da empresa memu S.A no primeiro trimestre de 2018

ATIVO PASSIVO
Caixa 22.800.000,00 Contas a Pagar 3.750.000,00
Contas a Receber 300.000,00 Salário a Pagar 1.800.000,00
Material de Propaganda 1.500.000,00 Fornecedor 1.500.000,00
Antecipação de pagamento de 825.000,00 Total Passivo Circulante 7.050.000,00
seguro

25
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

ATIVO PASSIVO
Receitas a realizar 1.200.000,00 Títulos de Dívida a Pagar 6.000.000,00

Total Ativo Circulante 26.625.000,00 Juros a Pagar 750.000

Equipamentos de Escritório 5.775.000,00 Total de passivo não 6.750.000,00


circulante

Depreciação acumulada (-) -60.000,00 Ações ordinárias 15.000.000,00

Total Ativo não Circulante 5.715.000,00 Lucros acumulados 3.540.000,00

Total do Ativo 32.340.000,00 Total Patrimônio Líquido 18.540.000,00

Total do Passivo 32.340.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

Exemplo 2: Como você deve calcular o patrimônio líquido?

Estudo de caso 2

Vamos tentar calcular o patrimônio líquido com base nas seguintes informações coletadas
do exercício 2017 do sistema financeiro de uma empresa de médio porte no ramo de varejo
alimentício, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, em que você foi chamado para prestar um serviço
de consultoria.

Caixa = R$15.000.000,00; Estoques = R$60.000.000,00; Contas a receber = R$30.000.000,00;


Imobilizado = R$45.000.000,00; Empréstimos = R$22.500.000,00; Contas a pagar = R$37.500.000,00.
Após determinar o valor do patrimônio líquido da empresa, elabore seu balanço patrimonial.

Como devemos proceder ao cálculo do patrimônio líquido com base nessas informações? Existem
três etapas a partir da regra de equivalência patrimonial.

Patrimônio líquido = Total do Ativo – Passivo Exigível

» Primeira etapa: identifique todos os itens a serem classificados como do ativo circulante.
Você, nesse caso, precisa rever os itens do ativo circulante. Nesse caso específico, os itens
que compõem o ativo circulante são: Caixa + Estoque + Contas a receber.

Ativo circulante: = 15.000.000 + 60.000.000 + 30.000.000 = 105.000.000,00

» Segunda etapa: identifique os itens do ativo não circulante, da mesma forma você deve
rever os itens do ativo não circulante ou realizáveis de longo prazo. Nesse caso específico,
observe que apenas existe um único item do ativo não circulante, que é o imobilizado, e
já que não existe nenhuma informação quanto à depreciação do imobilizado, devemos

26
BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO • CAPÍTULO 1

considerar diretamente o valor dado; caso contrário, você terá de descontar a depreciação
do valor dado. Assim, o ativo não circulante é de R$45.000.000,00

» Terceira etapa: calcule o valor total do ativo

Valor total do ativo = ativo circulante + ativo não circulante

Valor Total do Ativo = 105.000.000 + 45.000.000 = 150.000.000,00

» Quarta etapa: identifique os itens do passivo circulante, para isso, você deve consultar
os itens do passivo circulante. Nesse caso específico, os itens que compõem o passivo
circulante são os seguintes, com base nas informações: empréstimos + contas a pagar. Isso
porque não foi especificado para nós se essas dívidas a pagar são de longo prazo, e, como
nada foi especificado, podemos então considerar que o total do passivo é formado por:

Valor Total do Passivo = 22.500.000+37.500.00 = R$60.000.000,00

» Quinta etapa: calcule o patrimônio líquido usando a regra de equivalência patrimonial:

Patrimônio Líquido = Valor Total do Ativo – Valor Total do Passivo Exigível

Patrimônio Líquido = 150.000.000 – 60.000.000 = R$90.000.000,00

Você pode então organizar essas informações em uma tabela de balanço patrimonial da empresa
da seguinte forma:

Tabela 7. Balanço patrimonial da empresa X em dezembro de 2017.

Ativo
Caixa 15.000.000
Estoque 60.000.000
Contas a receber 30.000.000
Total Ativo Circulante 105.000.000
Imobilizado 45.000.000
Total ativo não circulante 45.000.000
Total ativo 150.000.000
Passivo
Passivo circulante
Empréstimo 22.500.000
Conta a pagar 37.500.000
Total Passivo 60.000.000
Patrimônio líquido 90.000.000
Total Passivo 150.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

27
CAPÍTULO 1 • BALANÇO PATRIMONIAL COMO DEMONSTRATIVO FINANCEIRO

Sintetizando

Neste capítulo, aprendemos a classificar os itens do balanço patrimonial identificando os


subgrupos desse balanço, os quais se dividem em ativo circulante, ativo não circulante,
passivo circulante, passivo não circulante, e que consistem no conjunto das obrigações da
empresa ou no conjunto de suas dívidas de curto e de longo prazo.

Vimos que o patrimônio dos sócios representa o patrimônio líquido da empresa e que existe a
regra de equivalência patrimonial que permite determinar o valor do ativo sabendo os valores
do passivo exigível e o patrimônio líquido e vice-versa. Ainda assim, o principal objetivo do
balanço patrimonial é que ele ajuda ao analista financeiro avaliar a verdadeira riqueza da
empresa e tomar decisões sobre o futuro da organização.

Ademais, o balanço patrimonial observa se o valor contábil do patrimônio dos sócios é


negativo, não sendo, necessariamente, indício de mau desempenho da empresa. Com o
balanço patrimonial de uma empresa, podemos descobrir muitas informações úteis sobre
seu desempenho financeiro a partir do cálculo de alguns indicadores financeiros. Isso que
iremos descobrir no próximo capítulo.

28
CAPÍTULO
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO
DESEMPENHO FINANCEIRO 2
Apresentação

Após conhecermos a estrutura do balanço patrimonial, vamos descobrir como se faz a análise do
desempenho financeiro, a partir do balanço patrimonial, com base em indicadores financeiros.

O balanço patrimonial é um potente instrumento de avaliação do desempenho financeiro de


uma empresa, pois nos dá informações sobre o valor contábil da organização e, principalmente,
sobre o valor de liquidação. Com o balanço patrimonial, podemos descobrir muitas informações
úteis sobre o desempenho financeiro da empresa que vão além do valor do patrimônio líquido.
Essas informações são obtidas por meio de alguns indicadores financeiros que iremos aprender
a calcular e interpretar para se revelar a real situação financeira e contábil de uma empresa.

A importância dos indicadores financeiros é de permitir que investidores, gestores financeiros


e analistas financeiros possam obter informações pertinentes para tomar decisões sobre a
lucratividade, a liquidez, a capacidade de endividamento e do valor da empresa no curto prazo.
Cabe aqui lembrar que tecnicamente a análise do desempenho financeiro de uma empresa é
o mesmo que análise das demonstrações financeiras. Lembre-se de que iremos fazer a análise
das demonstrações financeiras!

Espero que você possa aproveitar a oportunidade para desenvolver habilidades e competências
com vistas a se tornar um analista financeiro. Bom estudo!

Objetivos

No final deste capítulo, você será capaz de:

» entender os instrumentos de análise de demonstrações financeiras.

» discutir as técnicas de análise financeira.

» calcular e interpretar os principais índices financeiros para a gestão de dívidas da


empresa.

29
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

» calcular e interpretar os principais índices de lucratividade e de valor de mercado de


uma empresa.

» entender as relações entre os principais índices financeiros.

» compreender os cuidados que devem ser tomados na análise dos índices financeiros e
das informações gerenciais.

Fundamentos de análise de demonstrações financeiras

Existem diversas maneiras e métodos de analisar o desempenho financeiro de uma empresa,


entretanto o mais recomendável é a análise das demonstrações financeiras. Como visto
anteriormente, as demonstrações financeiras colocam em evidência a posição da organização
em um determinado período sobre suas operações financeiras durante um exercício passado.
O principal objetivo da análise das demonstrações financeiras é prever lucros, dividendos e fluxo
de caixa livre de uma empresa.

Se o papel do gestor financeiro é de maximizar o valor da empresa, ele deve então tirar vantagem
das forças da empresa e corrigir as fraquezas por meio da análise das demonstrações financeiras.
Desse modo, a análise de desempenho financeiro envolve:

a. comparar o desempenho da empresa com o das demais empresas do setor ou ramo do


mercado;

b. avaliar tendências na posição financeira da empresa ao longo do tempo podendo ser


no curto ou no longo prazo.

Figura 14. Objetivos da análise de demonstrações financeiras.

Fonte: Elaboração do autor.

30
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Importante

Esse estudo auxilia os administradores a identificar deficiências para, então, tomar ações corretivas visando a
melhorar o desempenho financeiro da empresa. Assim a análise das demonstrações financeiras é importante do
ponto de vista do investidor, para prever o futuro, e do ponto de vista do administrador, para ajudar a antecipar
condições futuras de risco como ponto de partida para planejar as ações de melhoria da empresa.

Instrumentos da análise de demonstrações financeiras

A principal razão de realizar uma análise de demonstrações financeiras é verificar se a empresa


está criando valor ou não. Entretanto, em muitas das circunstâncias, o analista financeiro não é
capaz de visualizar os impactos das decisões financeiras sobre o valor do mercado. Para tal, ele
deverá usar alguns instrumentos técnicos que permitem a análise por meio de interpretação de
resultados obtidos a partir de indicadores financeiros. Esses indicadores financeiros permitem
fazer comparações entre duas empresas do mesmo ramo e medem o valor da empresa no tempo
por meio das variações proporcionais de itens do ativo ou do passivo. Dependendo do tamanho
da empresa, os valores do ativo variam muito; tendo em vista essa variação de tamanho, é
recomendável fazer uma comparação horizontal para se verificar a evolução do ativo da empresa
no tempo.

Existem dois tipos de instrumentos de análise de demonstrações financeiras:

a. análise com base em demonstrações financeiras padronizadas ou análise em série


que considere, com base de comparação, as percentagens do total de ativo no caso do
balanço patrimonial, e, no caso da demonstração de resultados do exercício (DRE), as
percentagens de vendas.

b. análise com base em índices financeiros agrupados em cinco categorias.

Figura 15. Instrumentos de análise de demonstrações financeiras.

Fonte: Elaboração do autor.

31
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Existe, então, a avaliação com base nas comparações em valores percentuais do ativo ou do
passivo, chamada de análise horizontal ou vertical, considerando demonstrações financeiras
padronizadas para facilitar a comparação de desempenho de duas empresas do mesmo ramo
de negócios para tamanhos diferentes. A demonstração financeira resultante dessa análise parte
de balanços patrimoniais de tamanho comum.

Importante

As demonstrações financeiras padronizadas com base em balanço patrimonial comum consideram proporção ou
percentagem de cada item do ativo ou do passivo sobre o total do ativo ou do passivo em diversos períodos para
comparar a geração de valor da empresa. É uma análise em série ou temporal.

Exemplo de análise de demonstrações financeiras


padronizadas

A análise das demonstrações padronizadas é uma comparação das proporções relativas de cada
item do balanço patrimonial pelo total do ativo. Sendo assim, você deve dividir cada item da
composição do balanço patrimonial pelo total do ativo em valor percentual, e não monetário,
uma vez que isso é impossível. Esse tipo de análise permite identificar a proporção de cada item
do balanço patrimonial ou o peso desse item no total do ativo. Esses tipos de demonstrações
financeiras padronizadas são uma análise vertical que considera com base no ativo total do
balanço patrimonial.

Atenção

Na análise das demonstrações financeiras padronizadas, as contas do balanço patrimonial são apresentadas como
porcentagens do ativo, e as contas das demonstrações de resultados, como percentagens de vendas.

Figura 16. Demonstrações financeiras padronizadas.

CONTAS DO CONTAS DAS


BALANÇO DEMONSTRAÇÕES
PATRIMONIAL DE RESULTADOS

Porcentagens Porcentagens

do Ativo das Vendas

Fonte: Elaboração do autor.

32
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Agora, vamos ilustrar um exemplo dessa análise vertical de balanço patrimonial padronizada
com base nos balanços patrimoniais da Memu S.A. em 2016 e 2017 consolidadas nesta tabela:

Tabela 8. Balanços patrimoniais da Memu S.A. em 31 de dezembro de 2016 e 2017.

ATIVO 2016 2017


Ativo Circulante    

Caixa R$ 15.000.000,00 R$ 18.500.000,00

Estoque R$ 60.000.000,00 R$ 68.400.000,00

Contas a receber R$ 30.000.000,00 R$ 45.000.000,00

Total Ativo Circulante R$ 105.000.000,00 R$ 131.900.000,00

Ativo Não Circulante    

Instalações e Equipamentos R$ 45.000.000,00 R$ 42.500.000,00

Total Ativo Não Circulante R$ 45.000.000,00 R$ 42.500.000,00

TOTAL ATIVO R$ 150.000.000,00 R$ 174.400.000,00

PASSIVO    

Passivo Circulante    

Empréstimo R$ 12.500.000,00 R$ 14.200.000,00

Contas a pagar R$ 17.500.000,00 R$ 14.500.000,00

Total Passivo Circulante R$ 30.000.000,00 R$ 28.700.000,00

Passivo Não Circulante    

Leasing R$ 30.000.000,00 R$ 26.400.000,00

Total Passivo Não Circulante R$ 30.000.000,00 R$ 26.400.000,00

Patrimônio líquido    

Capital Social e Reservas R$ 60.000.000,00 R$ 74.300.000,00

Lucros Retidos R$ 30.000.000,00 R$ 45.000.000,00

Total Patrimônio Líquido R$ 90.000.000,00 R$ 119.300.000,00

TOTAL DO PASSIVO R$ 150.000.000,00 R$ 174.400.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

A partir desses balanços patrimoniais da Memu S.A., iremos elaborar o balanço patrimonial
de tamanho comum, que servirá de base para a análise vertical que expressa cada conta como
percentagem do total dos ativos. Lembre-se de que esse tipo de apresentação na tabela anterior
facilita a leitura e a comparação.

Após o cálculo dos valores percentuais e da variação, será preciso interpretar os dados e fazer
comparações entre os dois anos dos balanços patrimoniais, verificando, assim, o desempenho
da Memu S.A nos dois anos consecutivos, ou seja, analisar se há ou não crescimento do valor
da empresa entre 2016 e 2017.

33
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Tabela 9. Balanços de Tamanho Comum da Memu S.A em 31 de dezembro de 2016 e 2017.

Ativo 2016 2017 Variação


Ativo Circulante      
Caixa 10% 10,6% 0,6%

Estoque 40,0% 39,2% -0,8%

Contas a receber 20,0% 25,8% 5,8%

Total Ativo Circulante 70,0% 75,6% 5,6%

Ativo Não Circulante

Instalações e Equipamentos 30,0% 24,4% -5,6%

Total Ativo Não Circulante 30,0% 24,4% -5,6%

Total Ativo 100,0% 100,0% 0,0%

Passivo

Passivo circulante

Empréstimo 8,3% 8,1% -0,2%

Conta a pagar 11,7% 8,3% -3,4%

Total Passivo Circulante 20,0% 16,5% -3,5%

Passivo Não Circulante

Leasing 20,0% 15,1% -4,9%

Total Passivo Não Circulante 20,0% 15,1% -4,9%

Patrimônio líquido

Capital Social e Reservas 40,0% 42,6% 2,6%

Lucros Retidos 20,0% 25,8% 5,8%

Total Patrimônio Líquido 60,0% 68,4% 8,4%

Total do Passivo 100% 100,0% 0,0%

Fonte: Elaboração do autor.

A Tabela 9, que representa o balanço de tamanho comum da Memu S.A, mostra cada conta como
porcentagem do total dos ativos, respectivamente em 2016 e 2017.

Para interpretação dos resultados, basta olhar os dois balanços de tamanho comum da Memu S.A.
para perceber que os ativos circulantes atingiram 70% do total dos ativos em 2016, aumentando
para 75,6% em 2017. Houve queda do passivo circulante de 20% do total dos ativos para 16,5%
no mesmo período. Da mesma forma, o patrimônio líquido que representa o capital dos sócios
aumentou de 60% para 68,4% do total do ativo.

De uma forma geral, a liquidez que medimos dividindo o ativo circulante pelo passivo circulante
da empresa aumentou de 2016 para 2017. Ao mesmo tempo, seu endividamento diminuiu como
proporção do ativo total. Veremos esses indicadores de liquidez e de endividamento logo a seguir.

34
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Como você pode observar, essas interpretações não foram suficientes como informações sobre o
desempenho da empresa, porém ajudaram a ter uma ideia sobre a evolução do valor patrimonial.
Para sabermos como a empresa está sendo vista pelos seus credores, será necessário que usemos
os indicadores financeiros para obter mais precisão sobre o seu desempenho. Para isso, a seguir,
introduziremos os índices financeiros para uma análise mais detalhada das operações financeiras
da empresa.

Saiba mais

Nas revistas e nos jornais de economia e finanças, é comum ver profissionais do mercado financeiro comentarem
sobre o desempenho financeiro das empresas. Em seguida, uma reportagem sobre os resultados da Usiminas,
publicada pela agência Reuters, no dia 9 de fevereiro de 2018. Recomendo essa leitura complementar.

O prejuízo atribuído aos acionistas da companhia, que é aquele que é utilizado para o cálculo para a distribuição de
dividendos, foi de R$ 49,9 milhões.

Por Reuters 9 fev. 2018, 08h50 - Publicado em 9 fev. 2018, 08h09.

Usiminas: números do 4o trimestre foram menores que o resultado líquido negativo de 195 milhões de
reais observado em igual período de 2016.

Fonte: Reuters, 2018.

São Paulo – A Usiminas reportou no quarto trimestre do ano passado um prejuízo líquido de R$45 milhões, 76%
menor do que no mesmo período de 2016.

No entanto, se comparado ao terceiro trimestre, a Usiminas saiu de lucro de R$76 milhões e voltou para o vermelho.

No ano, a siderúrgica mineira reverteu prejuízo de R$577 milhões em 2016 para um lucro líquido de R$315 milhões
em 2017.

Com o prejuízo líquido de R$45 milhões, a Usiminas apresentou um resultado pior do que o esperado pelo mercado.
A média das projeções de seis instituições financeiras coletadas pela Prévias Broadcast (BTG Pactual, Itaú BBA,
JPMorgan, Morgan Stanley, Safra e Santander) apontava para um lucro de R$61 milhões nos últimos três meses do
ano passado.

35
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

O Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, considera que o resultado está em linha com as
projeções quando a variação para cima ou para baixo é de até 5%.

O prejuízo atribuído aos acionistas da companhia, que é aquele que é utilizado para o cálculo para a distribuição de
dividendos, foi de R$ 49,9 milhões.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado chegou a R$450 milhões entre os
meses de outubro a dezembro do ano passado, aumento de 93% em relação ao observado no mesmo período do ano
anterior. O valor veio 13% menor do que as estimativas, que eram de R$515 milhões.

Em relação ao terceiro trimestre, o Ebitda caiu 1%. No ano, a geração de caixa pelo mesmo critério somou R$2,186
bilhões, aumento de 231%.

A margem Ebitda ajustado foi a 15% no quarto trimestre, ante 11% no quarto trimestre de 2016 e de 17% no terceiro
trimestre. No ano a margem ficou em 20%, contra 8% anotado em 2016.

A receita líquida, por sua vez, ficou em R$3,077 bilhões no quarto trimestre de 2017, aumento de 65% na relação
anual e crescimento de 12% na trimestral. No acumulado do ano, as receitas subiram 27% para R$10,734 bilhões.
A receita reportada no quarto trimestre ficou 14% acima da média das projeções, de R$2,7 bilhões.
Disponível em: <https://exame.abril.com.br/negocios/usiminas-tem-prejuizo-liquido-de-r45-milhoes-no-4o-tri/>. Acesso em: 9 fev. 2018.

Índices financeiros

Os índices financeiros, em contrário às demonstrações financeiras de tamanho comum, dão


informações mais detalhadas sobre a vida financeira da empresa, ajudando nas tomadas de
decisão, com maiores precisões nas informações sobre a solvência de curto prazo ou liquidez.
Essa solvência mede como a empresa será capaz de pagar suas dívidas de curto prazo; a solvência
de longo prazo, por sua vez, mede o grau de endividamento da empresa no longo prazo, o que
é uma informação muito relevante para seus credores.

O giro mede como a empresa administra seu estoque e o prazo médio de cobrança de contas
a receber, o que ajuda nas informações administrativas da empresa sobre sua lucratividade,
informação relevante para seus investidores ou sócios, e, por fim, informações sobre o valor de
mercado da empresa.

Sendo assim, os índices financeiros são agrupados em cinco categorias ou grupos de informações
financeiras:

a. índices de solvência a curto prazo ou liquidez.

b. índices de solvência a longo prazo ou endividamento.

c. índices de administração de ativo ou giro.

36
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

d. índices de lucratividade.

e. índices de valor de mercado.

Tabela 10. Grupos de índices financeiros.

INDICADORES FINANCEIROS ÍNDICES FINANCEIROS

a. Liquidez Corrente
SOLVÊNCIA A CURTO PRAZO OU LIQUIDEZ b. Liquidez Seca
c. Caixa

a. Endividamento geral
SOLVÊNCIA A LONGO PRAZO OU ENDIVIDAMENTO b. Cobertura de Juros
c. Cobertura de Caixa

a. Giro de Estoque
b. Número de dias de Vendas em Estoque
ADMINISTRAÇÃO DE ATIVO OU GIRO c. Giro de Contas a Receber
d. Número de Dias de Contas a Receber
e. Giro do ativo Total

a. Margem de Lucro
b. Retorno sobre Ativo (ROA)
LUCRATIVIDADE
c. Retorno do Capital próprio ou Patrimônio
Líquido (ROE)

a. Índice Preço/Lucro
VALOR DE MERCADO
b. Índice Preço/Valor Patrimonial

Fonte: Elaboração do autor.

Vamos analisar a lógica de cada grupo desses indicadores financeiros, o cálculo dos
respectivos índices e suas interpretações.

Índices de solvência a curto prazo ou liquidez

Os índices de solvência a curto prazo ou liquidez se dividem aqui em três principais


indicadores financeiros: a liquidez corrente, a liquidez seca e o caixa, os três indicando
o grau de solvência da empresa no curto prazo. Isto é, a capacidade de a empresa poder
quitar suas dívidas de curto prazo ou de captar dinheiro de maneira rápida a partir de sua
credibilidade financeira do ponto de vista de seus credores de curto prazo, principalmente
os fornecedores de serviços ou materiais.

37
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Figura 17. Índices de solvência de curto prazo ou liquidez.

Fonte: Elaboração do autor.

A seguir, veremos como se calcula e como se interpreta cada um desses três indicadores.
É importante entender que nosso objetivo aqui não se trata apenas do cálculo, mas, sim, da
interpretação que se faz do resultado obtido pelo cálculo, por esse motivo que você deve prestar
mais atenção na interpretação. Esses índices são importantes para os credores de curto prazo,
como bancos, quando a empresa precisa de um capital de giro.

Índice de liquidez corrente

Esse índice mede a liquidez da empresa a curto prazo, pois os ativos e passivos circulantes, em
princípio, são convertidos em caixa durante os próximos 12 meses.

É obtido a partir da seguinte fórmula:

Ativo Circulante AC
Liquidez Corrente ( LC ) = ou LC =
Passivo Circulante PC

Vamos calcular o índice de liquidez corrente da Memu S.A. em 2016 e 2017 e interpretar os
resultados com base na Tabela 8, que apresenta os balanços patrimoniais.

Para proceder, vamos levantar as informações financeiras de forma consolidada a partir da Tabela
8 elaborando a Tabela 11:

38
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Tabela 11. Cálculo do Índice de Liquidez Corrente.

Indicadores 2016 2017 Variação

Ativo Circulante R$ 105.000.000,00 R$ 131.900.000,00 20,4%


Passivo Circulante R$ 30.000.000,00 R$ 28.700.000,00 -4,5%
Liquidez Corrente 3,5 4,60 23,8%

Fonte: Elaboração do autor.

105.000.000
Liquidez Corrente ( LC )2016 = = 3,5 vezes
30.000.000

131.900.000
Liquidez Corrente ( LC )2017 = = 4, 6 vezes
28.700.000

Com base nos cálculos, elaboramos a Tabela 11, que contém, além dos índices de liquidez corrente,
as variações do ativo circulante e do passivo circulante, facilitando uma melhor interpretação
dos resultados obtidos.

Observe que a liquidez corrente de 2016 foi de 3,5 vezes, isso significa que a Memu S.A. possui,
em 2016, 3,5 reais de ativo circulante para cada um real de passivo circulante, ou seja, o passivo
circulante da Memu S.A. é coberto 3,5 vezes pelo ativo circulante. Assim, para os credores de
curto prazo, os fornecedores de materiais ou serviços, por exemplo, quanto maior o índice
de liquidez corrente da empresa, maior será sua credibilidade financeira e então melhor sua
avaliação financeira.

Atenção

Nem sempre um índice de liquidez corrente alto é melhor para uma empresa, pois pode significar que há uma
ineficiência de uso de caixa e outros ativos de curto prazo. Salvo em algumas circunstâncias, consideramos bom um
índice de liquidez igual a 1, porque, quando menor que 1, significa que o giro de capital é negativo, ou seja, a empresa
já está operando no vermelho ou endividada e sem capital de giro, o que compromete suas operações de curto prazo,
assim sua credibilidade financeira ficará muito abaixo, e isso não será bem visto pelos seus credores, principalmente
os bancos. Por fim, note que um índice de liquidez baixo é um mau sinal para a empresa, ele tem de ser sempre maior
que 1 para garantir sua credibilidade financeira.

Índice de liquidez seca

O índice de liquidez seca é o indicador que mede a liquidez da empresa descartando do ativo
circulante o estoque. O estoque é considerado o item menos líquido do ativo circulante, uma
vez que ele pode demorar mais tempo para ser vendido. Ou, ainda, passar por uma depreciação

39
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

que pode causar uma redução do valor contábil da empresa, já que o estoque é o item para o
qual o valor contábil é menos confiável como medida de valor de mercado.

Além disso, estoques relativamente muito grandes são sinais de problemas a curto prazo, visto
que parte do estoque pode ser estragada, tornando-se obsoleta, e entrar em perdas e dados para
a empresa.

Para avaliar a liquidez da empresa com mais precisão, considera-se o índice de liquidez seca,
excluindo-se do ativo circulante o estoque, tendo em vista que a empresa pode superestimar
suas vendas e, consequentemente, ter comprado ou produzido em excesso.

O índice de liquidez seca é obtido a partir desta fórmula:

Ativo Circulante-Estoque
Índice de Liquidez Seca =
Passivo Circulante

Atenção

A utilização de caixa para a compra de estoques não afeta o índice de liquidez corrente, mas reduz o índice de
liquidez seca.

Vamos, a título de ilustração, calcular o índice de liquidez seca da Memu S.A. em 2016 e 2017 e
interpretar o resultado. De novo, vamos consolidar as informações dos balanços patrimoniais
na Tabela 12 com os cálculos do índice de liquidez seca.

105.000.000 - 60.000.000
Índice de Liquidez Seca 2016 = =1,5 vezes
30.000.000

131.900.000 - 68.400.000
Índice de Liquidez Seca 2017 = =1,5 vezes
28.700.000

Tabela 12. Cálculo do Índice de Liquidez Seca.

INDICADORES 2016 2017 VARIAÇÃO


Ativo Circulante R$ 105.000.000,00 R$ 131.900.000,00 20,4%

Passivo Circulante R$ 30.000.000,00 R$ 28.700.000,00 -4,5%

Estoque R$ 60.000.000,00 R$ 68.400.000,00 12,3%

Liquidez Seca 1,50 2,21 32,2%

Fonte: Elaboração do autor.

Observe, na Tabela 12, que o índice de liquidez seca da Memu S.A. é de 1,5 vezes em 2016, o que
significa que a empresa possui R$1,50 do ativo circulante para cada R$1,00 do passivo circulante,
excluindo o estoque, ou seja, ela consegue pagar suas dívidas de curto prazo em menos tempo

40
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

do que espera vender ou liquidar seu estoque para quitar as dívidas com seus credores. Isso é
muito bem-visto pelos credores, quando o índice de liquidez seca é menor que 1. No entanto,
precisamos tomar certos cuidados, porque pode significar que a empresa tem muitas contas a
receber ou muito dinheiro no caixa, isso significa que, mesmo que seja bom para os credores,
para a empresa considera-se não estar administrando bem suas contas a receber e o caixa.

Percebe-se que há um aumento do índice de liquidez seca em 2017, passando de 1,5 vezes para
2,21 vezes, ou seja, um aumento de 32,2%, como mostrado na Tabela 12. Isso pode não ser
bom para a empresa, pois ela pode ter aumentado de crédito para seus clientes, ou tem muita
disponibilidade em caixa em 2017. Para fazer uma boa análise, será necessário saber o ramo de
negócio da empresa e ter informações detalhadas sobre suas contas do demonstrativo de resultado.

Para se obter mais precisão ainda sobre a credibilidade financeira da empresa quanto à solvência
de curto prazo, será necessário o cálculo do índice caixa.

Índice caixa

O índice caixa mede o grau de liquidez de curto prazo da empresa, como é o caso dos demais
índices anteriores. Contudo, um credor que quer receber à vista pode estar interessado no índice
caixa da empresa, que mede o grau de liquidez imediata.

O índice caixa se obtém por meio desta fórmula:

Caixa
Índice Caixa =
Passivo Circulante

Vamos novamente ilustrar esse cálculo por meio do índice caixa da Memu S.A. nos dois anos
respectivos.

Tabela 13. Cálculo do Índice Caixa.

Indicadores 2016 2017 Variação

Ativo Circulante R$ 105.000.000,00 R$ 131.900.000,00 20,4%

Passivo Circulante R$ 30.000.000,00 R$ 28.700.000,00 -4,5%

Estoque R$ 60.000.000,00 R$ 68.400.000,00 12,3%

Caixa R$ 15.000.000,00 R$ 18.500.000,00 18,9%

Índice Caixa 0,50 0,64 22,4%

Fonte: Elaboração do autor.

41
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Observe que o índice caixa é igual a 0,5 vezes em 2016 e que há aumento de 22,4% em 2017
chegando ao valor de 0,64 vezes. Vamos, então, ver o que isso significa na prática.

15.000.000
Índice Caixa 2016 = = 0,50 vezes
30.000.000

18.500.000
Índice Caixa 2017 = = 0,64 vezes
28.700.000

Índice caixa 2016 igual a 0,50 vezes significa que a Memu S.A. possui R$0,50 de dinheiro ao vivo
para cada R$1,00 de passivo circulante. Para cada R$1,00 de dívida de curto prazo, a Memu S.A.
dispõe de R$0,50 para pagar parte da dívida à vista. Ou melhor, significa que a Memu S.A. pode
saldar a metade de suas dívidas de curto prazo à vista. Em 2017, ela tem condição de saldar mais
da metade de suas dívidas de curto prazo à vista, ou seja, a cada R$1,00 de dívida de curto prazo,
ela possui R$0,64 para pagar à vista.

Vamos resumir em uma tabela só todos os índices de solvência de curto prazo:

Tabela 14. Índices de Solvência da Memu S.A. em 2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 Variação

Ativo Circulante R$ 105.000.000,00 R$ 131.900.000,00 20,4%

Passivo Circulante R$ 30.000.000,00 R$ 28.700.000,00 -4,5%

Estoque R$ 60.000.000,00 R$ 68.400.000,00 12,3%

Caixa R$ 15.000.000,00 R$ 18.500.000,00 18,9%

Liquidez Corrente 3,50 4,60 23,8%

Liquidez Seca 1,50 2,21 32,2%

Índice Caixa 0,50 0,64 22,4%

Fonte: Elaboração do autor.

Índices de solvência a longo prazo ou endividamento

Os índices de solvência a longo prazo ou endividamento medem a capacidade de a empresa


saldar suas obrigações de longo prazo ou tecnicamente, seu grau de alavancagem financeira.
Para isso, esses indicadores são denominados de indicadores de alavancagem financeira. Existem
três indicadores de alavancagem financeira:

42
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

a. índice de endividamento geral;

b. cobertura de juros;

c. cobertura de caixa.

A seguir, uma ilustração dos índices de alavancagem financeira ou de solvência de


longo prazo.

Figura 18. Índices de alavancagem financeira.

Fonte: Elaboração do autor.

Vamos agora analisar com detalhes cada um desses indicadores e ver como isso se interpreta
na prática.

Endividamento geral

Esse indicador financeiro considera uma medição da alavancagem financeira de todas as dívidas
de diferentes credores de longo prazo. Ele é calculado de diferentes formas, sendo a mais fácil
a seguinte:

Dívidas Totais Ativo Total - Patrimônio Líquido


Índice de Endividamento Geral = =
Ativo Total Ativo Total

Como um exemplo ilustrativo, vamos calcular os índices de endividamento geral da Memu S.A.
em 2016 e 2017 com base nos balanços patrimoniais dados anteriormente.

43
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Tabela 15. Índice de Endividamento Total.

  2016 2017 Variação

Ativo Total R$ 150.000.000,00 R$ 174.400.000,00 13,99%

Patrimônio Líquido R$ 90.000.000,00 R$ 119.300.000,00 24,56%

Endividamento Total 0,40 0,32 -26,61%

Fonte: Elaboração do autor.

150.000.000 - 90.000.000
Índice de Endividamento Geral 2016 = = 0,40 vezes
150.000.000

174.400.000 - 119.300.00
Índice de Endividamento Geral 2017 = = 0,32 vezes
174.400.000

Importante

Observe que o índice de endividamento geral em 2016 é de 0,4 vezes, isso quer dizer que a Memu S.A. utilizou 40% do
capital de terceiros. Entretanto, se isso é bom ou mal, dependerá da relevância ou não da estrutura de capital, o que
será tema de discussão futura.

Assim, percebe-se que essa dependência de capital de terceiros diminuiu 26,61%, passou de 40% para 32% em 2017, o
que é significante quanto aos resultados da empresa em 2017.

Um analista financeiro diria que, em 2016, a Memu S.A. tem R$40,00 de capital de terceiros
para cada R$100,00 de ativo. Portanto, existem R$60,00 de capital próprio para cada R$40,00
de dívida. Com isso, podemos definir duas variações úteis do índice de endividamento
geral, o Quociente Dívida/Capital Próprio, também chamado de Quociente de Capital de
Terceiros / Capital Próprio e o Multiplicador de Capital Próprio. Esses dois indicadores, ou
alavancagem financeira, ajudam na interpretação, por mais que digam as mesmas coisas que
o índice de endividamento geral.

Dívida Exigível Total


Quociente =
Capital Próprio Patrimônio Líquido

Ativo Total
Multiplicador de Capital Próprio =
Patrimônio Líquido

Vamos praticar do mesmo jeito esses dois indicadores de alavancagem financeiras usando os
dados anteriores da Memu S.A.

44
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Tabela 16. Indicadores de Quociente Dívida/Capital Próprio e o Multiplicador de Capital Próprio de


2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 Variação


Ativo Total R$ 150.000.000,00 R$ 174.400.000,00 13,99%

Patrimônio Líquido R$ 90.000.000,00 R$ 119.300.000,00 24,56%

Endividamento Total 0,4 0,32 -26,61%

Quociente Dívida/ Capital Próprio 0,67 0,47 -26,61%

Multiplicador de Capital Próprio 1,67 1,47 -26,61%

Fonte: Elaboração do autor.

Dívida 0,4
Quociente = = 0,67 vezes
Capital Próprio 2016 (1- 0,4 )

0,60
Multiplicador de Capital Próprio 2016 = =1,67 vezes
(1 - 0,60 )
Dívida 0,32
Quociente = = 0,47 vezes
Capital Próprio 2017 (1- 0,32 )

0,68
Multiplicador de Capital Próprio 2017 = =1,47 vezes
(1 - 0,68 )

Observe que esses índices dizem as mesmas coisas, ou seja, que, em 2016, a Memu S.A. detém
uma capacidade de endividamento de 68%, cada R$100,00 de dívida contratada, a Memu S.A.
tem R$68 de capital próprio. E que, em 2017, essa capacidade caiu para 47%, ou seja, em 2017,
de cada R$100,00 de dívida contratada, ela dispõe de R$47,00 de capital próprio.

Cobertura de juros

É um indicador financeiro que mede quão bem uma empresa cobre suas obrigações de juros de
capital de terceiros. Ele é definido como:

EBIT
Cobertura de Juros =
Juros

Lembrando que EBIT é o LAJIR o Lucro Antes dos Juros e Impostos de Renda do inglês EBIT

Earning Before Interest and Tax (EBIT)

Para o cálculo do índice de cobertura de juros, será necessária a demonstração de resultado


do exercício (DRE). Para tanto, consideramos a seguir de DRE 2016 e 2017 da Memu S.A. na
Tabela 17.

45
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Tabela 17. DRE da Memu S.A. 2016 e 2017.

  2016 2017
Vendas R$ 214.000.000,00 R$ 198.400.000,00

Custo das Mercadorias Vendidas R$ 175.000.000,00 R$ 154.000.000,00

Lucro Bruto R$ 39.000.000,00 R$ 44.400.000,00

Despesas Operacionais Fixas R$ 3.500.000,00 R$ 3.500.000,00

Depreciações R$ 1.250.000,00 R$ 1.760.000,00

EBIT R$ 34.250.000,00 R$ 39.140.000,00

Juros R$ 2.450.000,00 R$ 3.650.000,00

LAIR R$ 31.800.000,00 R$ 35.490.000,00

Impostos (40%) R$ 12.720.000,00 R$ 14.196.000,00

Lucro Líquido R$ 19.080.000,00 R$ 21.294.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

Observe que, na Tabela 17, a empresa desembolsou R$2.450.000,00 de juros em 2016 com um
LAJIR de R$34.250.000,00. Com base nessas informações, iremos calcular o índice de cobertura
de juros da Memu S.A. resumido na próxima tabela.

Tabela 18. Índice de Cobertura de Juros da Memu S.A. em 2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 Variação


EBIT R$34.250.000,00 R$39.140.000,00 12,5%

Juros R$2.450.000,00 R$3.650.000,00 32,9%

Cobertura de juros 13,98 10,72 -30,4%

Fonte: Elaboração do autor.

34.250.000
Cobertura de Juros 2016 = =13,98 vezes
2.450.000

39.140.000
Cobertura de Juros 2017 = =10, 72 vezes
3.650.000

O índice de cobertura de juros igual a 13,98 vezes significa que, em 2016, a Memu S.A. possui
R$13,98 para cobrir cada R$1,00 de juros a serem pagos.

Cobertura de caixa

O índice de cobertura de caixa mede o fluxo de caixa disponível para a empresa pagar suas
obrigações de longo prazo. O índice de cobertura de caixa dá mais precisão sobre a real capacidade
financeira de a empresa pagar suas dívidas de longo prazo, uma vez que o cálculo da cobertura

46
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

de juros é feito com base no LAJIR, que não constitui uma disponibilidade de caixa, pois as
depreciações são deduzidas do lucro.

O índice de cobertura de juros é obtido a partir da seguinte fórmula:

EBIT+ Depreciação
Cobertura de Caixa =
Juros

Vamos calcular os índices de cobertura de caixa dos dois anos consecutivos da Memu S.A.

Tabela 19. Índice de Cobertura de Juros e de Cobertura de Caixa da Memu S.A. em 2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 Variação


Depreciações R$ 1.250.000,00 R$ 1.760.000,00 29,0%

EBIT R$ 34.250.000,00 R$ 39.140.000,00 12,5%

Juros R$ 2.450.000,00 R$ 3.650.000,00 32,9%

Cobertura de Juros 13,98 10,72 -30,4%

Cobertura de Caixa 14,49 11,21 -29,3%

Fonte: Elaboração do autor.

34.250.000 + 1.250.000
Cobertura de Caixa 2016 = =14,49 vezes
2.450.000

Cobertura de caixa de 14,49 vezes significa que a Memu S.A. possui R$14,49 para cobrir cada
R$1,00 de juros.

Importante

Com os índices de endividamento geral, de cobertura de juros e de cobertura de caixa, um analista financeiro
consegue saber se uma empresa assumiu ou não uma carga de dívida muito grande. Esses índices medem os valores
disponíveis para cobrir os juros e outras obrigações fixas. E lembrar que a margem de lucro de uma empresa é
inversamente proporcional às suas vendas.

Atenção

Os índices de cobertura de juros e de cobertura de caixa podem ser modelados para uma situação específica da
empresa, dependendo do que realmente constituem as obrigações fixas que o analista financeiro considerar a serem
pagas pela empresa.

Índices de gestão de ativos

Os índices de gestão de ativos ou de giros medem a capacidade de uma empresa usar seus ativos,
tais como estoque, contas a receber e outros ativos fixos, e de administrar suas contas a pagar.

47
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Esses índices permitem que o analista financeiro ou investidores da empresa possam avaliar se
a empresa mantém ou não uma quantia razoável de cada tipo de ativo e se a administração usa
ou não cada um deles, para gerar vendas de maneira eficiente. Os índices de gestão de ativos
podem ser classificados em:

a. gestão do estoque;

b. gestão de contas a receber;

c. gestão de ativo total.

Índices de gestão de estoque

Esses índices medem a quantidade de vezes que a empresa repõe seu estoque durante um período
de exercício e quantidade de dias que os produtos ficam em estoque até serem vendidos. Para
tanto, eles se dividem em giro de estoque e em dias de vendas em estoque.

Figura 19. Índices de Gestão de Estoque.

Fonte: Elaboração do autor.

Giro de estoque

Mede a quantidade de vezes que a empresa repõe seu estoque no período de um ano. Um alto
nível de giro de estoque significa que os produtos param muito pouco em armazém e que a
empresa tem um alto nível de vendas, o que é muito interessante para seus fornecedores, ou
melhor, seus credores. Um alto nível de giro implica baixos dias de vendas em estoque, e é um
sinal de boa gestão de estoque.

O giro de estoque é obtido pela seguinte fórmula:

Custo de Mercadorias Vendidos


Giro de Estoque=
Estoque

48
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Período médio de estoque

Mede a quantidade de dias que as mercadorias vendidas ficam em estoque ou armazenadas.


Quanto menor esse índice, é sinal de boa gestão de estoque.

Os dias de vendas em estoque é obtido da seguinte maneira:

365 Dias
Período Médio de Estoque =
Giro de Estoque

Vamos, a título de exemplo, calcular os índices de gestão de estoque da Memu S.A. nos dois anos
consecutivos; para tanto, vamos identificar as variáveis a partir dos balanços patrimoniais e dos
demonstrativos de resultado de exercícios (DRE) e efetuar os cálculos.

Tabela 20. Índices de Gestão de Estoque da Memu S.A. em 2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 Variação

Custo das Mercadorias Vendidas R$ 175.000.000,00 R$ 154.000.000,00 -13,6%

Estoque R$ 60.000.000,00 R$ 68.400.000,00 12,3%

Giro de Estoque 3 2 -29,5%

Dias de Vendas em Estoque 125 162 22,8%

Fonte: Elaboração do autor.

Seguem os cálculos:

175.000.000,00
Giro de Estoque 2016 = = 3 vezes
60.000.000,00

154.000.000,00
Giro de Estoque 2017 = = 2 vezes
68.400.000,00

365
Dias de Vendas em Estoque 2016 = = 125 dias
3

365
Dias de Vendas em Estoque 2017 = = 162 dias
2

Observe que, em 2016, o giro de estoque foi de 3 vezes, significando que a Memu S.A. trocou seu
estoque de mercadorias 3 vezes no ano de 2016, o que é considerado muito baixo. No entanto, se
considerarmos que a Memu S.A. é uma empresa que vende máquinas agrícolas e atua no ramo

49
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

do agronegócio, a visão do analista financeiro já muda para uma boa gestão de estoque. Observe
que, no mesmo ano, o tempo médio que as máquinas vendidas ficam em estoque é de 125 dias,
o que se considera como uma boa gestão de estoque, tendo em vista que as máquinas agrícolas
são compradas sazonalmente no período de novas safras, em que os agricultores pensam em
trocar de máquinas e aumentar a produtividade. Em 2017, a Memu S.A. levou em média 162 dias
para liquidar seus estoques de máquinas.

Gestão de contas a receber

Os índices de contas a receber medem o giro de contas a receber e o período médio de recebimento,
este é a quantidade de dias que as contas a receber são mantidas com os clientes até serem
recebidas em caixa pela empresa, e o giro do ativo, que mede a proporção de vendas geradas
por unidade de ativo.

Figura 20. Índices de gestão de contas a receber.

Fonte: Elaboração do autor.

O giro de contas a receber

Esse índice mede quão rapidamente a empresa cobra as vendas efetuadas no ano. Ele é obtido
da seguinte forma:

Vendas
Giro de Contas a Receber =
Contas a Receber

50
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Período médio de recebimento

O período médio de cobrança é o tempo médio que a empresa leva para cobrar vendas a crédito
com seus clientes.

365 dias
Período Médio de Recebimento =
Giro de Contas a Receber

Giro do ativo

O giro do ativo é a quantia de vendas geradas por unidade monetária do ativo total. Ele é expresso
da seguinte forma:

Vendas
Giro do Ativo Total =
Ativo Total

Vamos praticar os cálculos de índices de gestão de contas a receber resumidos na Tabela 21.

Tabela 21. Índices de gestão de contas a receber da Memu S.A. em 2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 Variação


Vendas R$ 214.000.000,00 R$ 198.400.000,00 -8%
Contas a receber R$ 30.000.000,00 R$ 45.000.000,00 33%
Ativo Total R$ 150.000.000,00 R$ 174.400.000,00 14%
Giro de Contas a Receber 7 4 -62%
Período Médio de Cobrança 51 83 38%
Giro de Ativo 1,43 1,14 -25%

Fonte: Elaboração do autor.

Observe que, em 2016, o giro de contas a receber da Memu S.A foi de 7 vezes, ou seja, a Memu
S.A. renovou 7 vezes o crédito de contas a receber aos seus clientes no ano. E o período médio
de cobrança foi de 51 dias, as vendas a prazo são cobradas a cada 51 dias, o que aumentou em
38% em 2017, ela passou a cobrar as vendas a prazo em 83 dias. O giro do ativo total é igual a
R$1,43, a cada R$1,00 do ativo total, são gerados R$1,43 em vendas.

Índices de lucratividade

Os índices de lucratividade mostram os efeitos combinados dos indicadores de lucratividade


sobre os resultados operacionais da empresa. Eles são agrupados em subcategorias de:

a. margem de lucro;

b. retorno do ativo (ROA);

c. retorno do capital próprio ou patrimônio líquido (ROE).

51
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Fonte: Elaboração do autor.

Vamos praticar novamente calculando os índices de lucratividade da Memu S.A. e, depois,


resumindo tudo na Tabela 22.

Margem de lucro
30.000.000,00
Margem de Lucro 2016 = =14,0%
214.000.000,0

45.000.000,00
Margem de Lucro 2017 = =22,7%
198.400,000,00

Retorno do Ativo
30.000.000,00
Retorno do Ativo ROA 2016 = =20%
150.000.000,00

45.000.000,00
Retorno do Ativo ROA 2017 = =25,8%
174.400.000,00

Retorno do Capital Próprio ou do Patrimônio Líquido


30.000.000,00
ROE 2016 = =33,3%
90.000.000,00

45.000.000,00
ROE 2017 = =37,7%
119.300.000,00

52
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

Tabela 22. Índices de Lucratividade da Memu S.A. em 2016 e 2017.

Indicadores 2016 2017 VARIAÇÃO

Vendas R$ 214.000.000,00 R$ 198.400.000,00 -8%

Lucro Líquido R$ 30.000.000,00 R$ 45.000.000,00 33%

Ativo Total R$ 150.000.000,00 R$ 174.400.000,00 14%

Total Patrimônio Líquido R$ 90.000.000,00 R$ 119.300.000,00 25%

Margem de Lucro 14,0% 22,7% 38%

Retorno do Ativo - ROA 20,0% 25,8% 22%

Retorno sobre o
33,3% 37,7% 12%
Patrimônio Líquido ROE

Fonte: Elaboração do autor.

Observe que, em 2016, a margem de lucro foi de 14%, o que significa que R$100,00 de vendas
geravam R$14,00 de lucro em 2017, a margem de lucro aumentou de 38%, passando de R$14,00
para R$22,7 de lucro a cada R$100,00 de vendas. Enquanto em 2016 o retorno do ativo foi de
20%, ou seja, a cada R$100,00 de ativo gerava-se R$20,00 de retorno, em 2017 o valor de retorno
gerado pelo ativo foi de R$25,80, com um aumento de 22%. Por fim, em 2016, o retorno sobre o
patrimônio líquido foi 33,3%, a cada R$100,00 do patrimônio líquido gerava-se R$33,33 o que
aumentou para R$37,70 em 2017.

Importante

Um ROE alto é considerado um sinal positivo de desempenho. Entretanto, o alto nível do ROE é sinal também de
resultado altamente alavancado, e isso pode ser, igualmente, sinal de uma empresa com grande risco de falência.
Muito embora o ROE não incorpore esse risco diretamente para as empresas de capital aberto, os preços de mercado
das respectivas ações o fazem.

Índices de valor de mercado

Os índices de valor de mercado medem a relação entre o preço das ações de uma empresa e
seus lucros e seu valor contábil, isto é, o valor contábil e o valor de mercado. Nós iremos ver isso
no mercado das ações, na disciplina de mercado financeiro. Os índices de valor de mercado
representam o que os investidores pensam do desempenho financeiro e dos riscos futuros de
uma empresa de capital aberto, sendo os mais usados:

53
CAPÍTULO 2 • INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO

Figura 21. Índices de Valor de Mercado.

Fonte: Elaboração do autor.

Índice de valor de mercado/valor contábil

Esse índice mede a quantia que os investidores pagarão pelas ações da empresa pelo patrimônio
líquido usado para financiar os ativos da empresa. O valor contábil de um ativo é o valor de
aquisição menos as depreciações acumuladas.

Ele é obtido a partir da seguinte fórmula:

Preço de Mercado por Ação


Índice de Valor de Mercado / Valor Contábil =
Valor Contábil por Ação

Importante

O índice de valor de mercado/valor contábil compara o valor de mercado (corrente) do patrimônio líquido da
empresa em relação ao seu custo histórico. Quanto mais alto for, melhor é o desempenho financeiro da empresa. Se
os índices de liquidez, de gestão de ativos, de gestão de estoque, de gestão de dívida e de lucratividade forem bons
para a empresa, seu índice de valor de mercado / valor contábil será mais alto. Um índice de valor de mercado /
valor contábil maior do que 1 ou 100% significa que os acionistas pagarão um prêmio sobre o valor contábil pelo seu
investimento em ações na empresa.

Índice Preço/Lucro (P|L)

O índice P/L mede quanto os investidores estão dispostos a pagar para cada valor que a
empresa lucra com suas ações. Os administradores e investidores usam esse índice para avaliar
o desempenho financeiro relativo das ações da empresa.

54
INSTRUMENTOS DE ANÁLISE DO DESEMPENHO FINANCEIRO • CAPÍTULO 2

O índice P/L é obtido por meio da seguinte equação:

Preço P Preção de Mercado por Ação


Índice ou =
Lucro L Lucro por Ação

Importante

Em geral, quanto mais alto for o índice Preço/Lucro, melhor o desempenho da empresa. Os analistas e investidores
esperam que uma empresa com alto índice de P/L passe por um crescimento futuro, que tenham aumentos futuros
rápidos nos dividendos, ou ambos, porque os lucros retidos sustentarão as metas da empresa. Segundo Cornet
(2013), para os investidores que buscam valor, as empresas com alto índice P/L possuem maior risco, porque estão
dispostas a pagar preços mais altos hoje por uma ação em antecipação aos lucros mais altos no futuro.

Sintetizando

Terminamos este capítulo com todos esses índices de desempenho financeiro, os quais auxiliam o analista financeiro
a tomar decisões e examinar o grau de liquidez de uma empresa, sua capacidade de endividamento, lucratividade e
valor de mercado.

Lembre-se de que, no caso de gestão das contas a receber, um alto índice de giro de contas a receber ou um período
médio de cobrança baixo pode ser sinal de boa administração. O índice de retorno sobre o patrimônio ou ROE é
o índice de demonstração financeira que interessa mais os administradores da empresa e, ao mesmo tempo, os
investidores. As empresas com índice de P/L baixos são empresas com pouca expectativa de crescimento ou lucros
baixos. Os lucros de uma empresa dependem de muitos fatores, tais como alavancagem financeira ou impostos que
não têm relação direta com as operações da empresa.

55
CAPÍTULO
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE
CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS 3
Apresentação

Muitos consultores, analistas financeiros e investidores costumam se deparar com situações


adversas em que precisam avaliar um projeto antes de tomar qualquer decisão financeira de
risco. Nesse momento, eles fazem uso de ferramentas poderosas para estimar o retorno sobre
o investimento. Com essas ferramentas de análise de fluxo de caixa, eles conseguem saber do
valor do dinheiro no tempo. Os cálculos do valor do dinheiro no tempo ajudarão qualquer
administrador de empresa, ou investidor, a tomar decisões financeiramente sólidas sem muito
risco. Os fatores que devem ser levados em consideração, quando se trata do valor do dinheiro
no tempo, são: tamanho dos fluxos de caixa, tempo entre os fluxos de caixa e taxa de retorno
que podemos ganhar.

Objetivos

No final deste capítulo, você será capaz de:

» Criar uma linha de tempo do fluxo de caixa.

» Calcular o valor futuro do dinheiro.

» Mostrar como o poder dos juros compostos aumenta a riqueza.

» Calcular o valor presente de um pagamento feito a prazo.

» Mover os fluxos de caixa de um ano para outro.

» Calcular a taxa de retorno realizada na venda de um ativo.

» Calcular quantos tempo são necessários para um investimento crescer até alcançar
determinado montante.

56
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3

Organização da linha de tempo de fluxos de caixa

Uma das ferramentas mais importantes para a análise de fluxo de caixa de um projeto financeiro
é sua linha de tempo. A linha de tempo é uma representação gráfica que mostra o tamanho ou
o valor e momento dos fluxos de caixa no tempo. A linha de tempo dos fluxos de caixa mostra
a magnitude dos fluxos em diferentes períodos de tempo, como mensal, trimestral, semestral
e anual.

O fluxo acontece em dois momentos: o momento da entrada e o momento da retirada ou


saida. O momento da entrada, representa o valor do dinheiro recebido, muitas das vezes de um
investimento. A entrada é considerada o valor de entrada ou valor presente, o dinheiro inicial a
ser aplicado por um determinado período. No final do período, é feita uma retirada, chamada
de valor futuro ou saída, representada por um valor negativo indicando a retirada.

No diagrama da linha de tempo, é indicada também a taxa de juros que representa o custo para
emprestar o dinheiro denotado como uma percentagem, e depois o prazo ou tempo ou duração
do investimento. O valor de entrada é representado pelo valor presente e o valor de saída pelo
valor futuro.

Figura 22. Fatores de uma linha de tempo.

Fonte: Elaboração do autor.

Diagrama da linha de tempo

Vamos considerar, aqui, como exemplo, um depósito bancário em aplicações financeiras de


R$100,00 a taxa de 5% ao ano, qual é o rendimento no final de 5 anos?

57
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS

Figura 23. Diagrama da linha de Tempo.

Fonte: Elaboração do autor.

O diagrama da linha de tempo mostra para um período futuro todas as entradas e saídas de
recursos da empresa. Se consideramos que a aplicação de R$100,00, a data zero, é a entrada, e
se consideramos que a retida só será realizada após cinco anos com um rendimento de 5% ao
ano, consideramos, então, que, na data da retirada que marca o fim do fluxo, o resgate será igual
a sua aplicação inicial de R$100,00 mais o retorno sobre a aplicação, a taxa de juros de 5% a.a.

O diagrama de fluxo de caixa permite ao analista financeiro ou ao administrador elaborar uma


estrutura gerencial e calcular a rentabilidade, a lucratividade, o ponto de equilíbrio e o prazo de
retorno do investimento de um determinado projeto de investimento. Isso permite verificar a
saúde financeira por meio das projeções de possibilidades de retorno do investimento inicial.
Assim, o diagrama de fluxo de caixa é considerado um demonstrativo de fluxo de caixa com as
entradas e saídas de dinheiro de um projeto.

Um exemplo disso é que você ou um parente seu faz empréstimos no cartão de crédito ou na
compra de um carro ou até da hipoteca de um imóvel e espera que sua compra lhe dê um retorno
no futuro que compense o pagamento dos juros cobrados sobre o empréstimo.

Importante

O sucesso financeiro desse tipo de empreendimento é garantido pelo entendimento da dinâmica de entradas e saídas
de caixa com o tempo. O melhor modo de entender esse mecanismo é compreender como cresce os juros com o
tempo.

Valor futuro ou capitalização a taxa de juro único de um


fluxo de caixa

O valor futuro é considerado o valor do resgate, ou seja, o valor inicial da sua aplicação mais o
retorno da aplicação que dependerá do tempo de investimento e da taxa de juro aplicado, além
do valor inicial da aplicação.

Para calcularmos o valor futuro de um investimento, somamos ao valor presente o custo dos
juros ganhos. O valor presente é considerado o fluxo de caixa no valor de hoje, assim obtemos a
seguinte equação do valor futuro de um ano de aplicação:

58
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3

Valor Futuro = VF = VP+ iVP = VP(1+i)

Se consideramos i a taxa de juro anual, podemos, de uma forma geral, considerar que o valor
futuro de uma aplicação a taxa de juro anual por um período n é:

VF = VP[1+i]n

Em que:

VP = Valor Presente

VF = Valor Futuros

i = Taxa de Juros

n = Prazo

Observe que essa fórmula é a mesma de juros compostos que você já viu na disciplina de
matemática financeira. Os juros compostos são de fato uma ferramenta poderosa para a construção
de riqueza. Essa fórmula de juros compostos é considerada uma capitalização.

Atenção

Taxas de juros mais altas levam a um valor futuro mais alto. É que a capitalização constrói riqueza ao passar do
tempo.

A seguir, vamos ver como fica o valor futuro para uma capitalização a taxas de juros diferentes
ao longo do período de aplicação.

Capitalização a taxa de juros variáveis de um fluxo de


caixa

As taxas de juros variam com o passar do tempo. Nos últimos 10 anos, os bancos ofereceram tanto
aos poupadores ou aplicadores taxas mais baixas, menores do que 1% quanto mais altas com
dois dígitos. Eles também cobraram juros mais altos dos tomadores de dinheiro ou consumidores
para vários tipos de empréstimos bancários.

Aqui, examinamos como calcular o valor futuro de um empréstimo quando as taxas de juros
mudam, de forma que o dinheiro ganha juros a várias taxas de juros com o passar do tempo.

59
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS

Vamos considerar a seguinte situação em que você deposite um valor de R$100,00 a juros de
5%. De repente, seu gerente te liga no ano seguinte da sua aplicação e diz que o banco resolveu
pagar juros de 7% no segundo ano dessa aplicação.

Sabendo que o depósito de R$100,00 passará para R$105 no final do primeiro ano, valor que
ganhará então 7% no segundo e se elevará para 112,35. Segue o detalhe desse cálculo:

Tabela 23. Cálculo do valor futuro de uma aplicação com taxas de juros variáveis.

Período Taxa de Juros Equação do VF Valor de VF


1o ano 5% VF = 100 * (1+0,05) = 105 R$105

2o ano 7% VF = 100 * (1+0,05) * (1+0,07) = 112,35 R$112,35

Fonte: Elaboração do autor.

Partindo dessa Tabela 23, podemos deduzir a equação do valor futuro de uma aplicação a taxas
de descontos variáveis ao longo do período da seguinte forma:

VF=VP×1+i Período1 ×1+i período2 ×1+i período3 ×n×(1+i n )

Observe que essa última equação de valor futuro a taxa de juros variáveis é equação
especial do caso de taxa de juros único, pois, se a taxa de juros de todos os períodos for
a mesma, tudo se reduzirá à equação anterior de juros único.

Figura 24. Valor futuro a taxa de juro único e a taxa de juros variáveis.

Juros
Único
VF=VP 1+i n

Juros Variáveis
VF = VP× 1+iPeríodo 1 × 1+iperíodo 2 × 1+iperíodo 3 ×…×(1+ in )

Fonte: Elaboração do autor.

A seguir, vamos analisar com mais detalhes o valor presente e sua relação com as taxas de juros,
o período e o valor futuro.

Valor presente de um fluxo de caixa a taxa de juro


constante

O valor presente de um fluxo de caixa é o valor que, aplicado na data presente, gerará um fluxo
de caixa futuro já predeterminado. Sendo assim, consideramos que, no caso de valor presente,

60
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3

é importante saber de antemão o valor futuro ou o valor que pretende resgatar no final do
período da aplicação. Esse tipo de princípio implica um tipo de cálculo chamado de desconto.
O desconto é o processo para encontrar o valor presente ao reduzir os valores futuros ao usar a
taxa de desconto ou de juros.

Nesse caso, consideremos que você esteja precisando juntar dinheiro para sua próxima viagem
a Londres, onde fará um curso de inglês. Ao consultar um serviço de agenciamento de cursos
de idiomas no exterior, ficou sabendo que sua viagem será daqui a 4 anos e que precisará de
R$15.000,00. Seu pai quer te ajudar aplicando um valor hoje em uma conta que rende uma taxa
de juros de 2,5% ao ano. A pergunta é: quanto seu pai deve depositar hoje para que, daqui a
quatro anos, você possa resgatar R$15.000,00 para financiar seu curso no exterior.

Nesse caso, temos o valor presente:

VF
VP =
(1+i )
n

onde,

VP = Valor Presente

VF = Valor Futuros

i = Taxa de desconto

n = prazo

Com base nessa fórmula do valor presente, vamos ver quanto seu pai precisa depositar na data
de hoje para que você possa realizar sua viagem:

15.000, 00
VP = = R$13.589, 26
(1+0, 025)
4

Esse cálculo mostra que seu pai deverá depositar ou aplicar hoje, um valor de R$13.589,26, para
que você possa realizar a viagem daqui a quatro anos.

Valor presente de um fluxo de caixa a taxa de desconto


variável

Agora, consideramos que, em vez de taxas de descontos fixas ou única, o banco resolve
variá-las. Assim, no primeiro ano, a taxa de desconto será de 2,5% a.a.; no segundo ano, 3,5%
a.a.; no terceiro ano, 4,8% a.a.; no quarto ano, 5,5% a.a. Calcule, nesse caso, quanto seu pai deve
depositar em uma aplicação hoje para resgatar os R$15.000,00 do seu projeto de viagem.

61
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS

Tabela 24. Cálculo do valor presente de uma aplicação com taxas de descontos variáveis.

Taxa de
Período Equação do VP Valor de VF
Juros

15.000
1o ano 2,5% VP= =14.634,15 R$14.634,15
(1+0,025)

15.000
2o ano 3,5% VP= =14.139,27 R$14.139,27
(1+0,025)×(1+0,035)

15.000
3o ano 4,5% VP= =13.530,40 R$13.530,40
(1+0,025) × (1+0,035) × (1+0,045)
15.000
4o ano 5% VP= =12.886,10 R$12.886,10
(1+0,025)×(1+0,035)×(1+0,045)×(1+0,05)

Fonte: Elaboração do autor.

Desses cálculos, generalizamos a fórmula do valor presente com taxas de desconto variáveis como:

VF
VP =
(1+ip1 ) × (1+ip2 ) × (1+ip3 ) ×………× (1+ipn )
Onde

VP = Valor Presente

VF = Valor Futuros

i = Taxa de desconto

n = prazo

pn = eniésiímo período

Movimentação de fluxos de caixa ou fluxo de caixa


equivalente

Até agora, consideramos um fluxo de caixa com depósitos fixos sem retiradas, mas nem sempre
o que planejamos acontece com tanta precisão. Por mais que nos esforcemos para manter o
dinheiro aplicado no banco com vistas à realização de um projeto futuro, a vida nos prega algumas
peripécias. Então, surgem várias dúvidas, por exemplo: estudar inglês na Inglaterra seria melhor
que na Austrália ou na Irlanda ou, ainda, nos Estados Unidos? Ou estudar aqui mesmo no Brasil
num curso de idioma, se o dinheiro aplicado ganhasse mais juros por menos tempo?

62
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3

Da mesma forma, pode acontecer com uma empresa, por exemplo, ter de remodelar seus planos,
como decidir antecipar dois anos antes uma previsão financeira de expansão de seus negócios
com a construção de um novo galpão no sudeste do país. Nesse caso de mudança de plano,
enquanto os investidores e analistas remodelam os projetos de investimento, a gestão da dívida
e o fluxo de caixa, geralmente procuram melhor movimentar os fluxos de caixa em diferentes
momentos ao longo da linha de tempo. Essa movimentação do fluxo de caixa ao longo da linha
de tempo é muito importante para os analistas financeiros, até mesmo para os indivíduos que
planejam uma quantidade de dinheiro para um projeto pessoal e para a empresa, tomarem uma
decisão de grande impacto financeiro.

Atenção

A movimentação do fluxo de caixa ao longo do tempo requer que usemos tanto as equações do valor presente quanto
o valor futuro nos casos de postergar ou antecipar os planos. Especificamente usamos a equação do valor presente
para movimentar os fluxos de caixa antecipadamente no tempo, e a equação do valor futuro para movimentar os
fluxos de caixa por planos postergados. Lembrando, ainda, que, em todos os casos, antecipando ou postergando, o
valor do projeto permanece o mesmo.

Fluxo de caixa equivalente antecipado

Para ilustrar isso, consideremos que você resolva antecipar seu projeto de viagem no terceiro
ano, mas que precisava, de todas as formas, de reunir o mesmo valor de R$15.000,00. Vamos,
nesse caso específico, ver qual o valor que seu pai precisa depositar hoje, considerando a taxa
de desconto único de 2,5% a.a.?

Uma vez que o fluxo de caixa precisa ser movimentado antecipadamente no tempo em um ano,
usamos a equação do valor presente.

15.000
VE = VP = = R$14.634,15
(1+0, 025)1

Como o plano foi antecipado um ano antes, no terceiro ano o valor do resgate passa a ser
R$14.634,15, que é considerado um fluxo de caixa equivalente ao fluxo de caixa de R$15.000,00
a ser resgatado no quarto ano no fim do prazo.

Suponhamos que você decida fazer esse resgate dois anos antes do fim do contrato, ou seja,
antecipar dois anos seu plano, qual será o fluxo de caixa?

Da mesma forma, usamos a equação do valor presente por se tratar de uma antecipação do
resgate.

63
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS

Tabela 25. Cálculo do fluxo de caixa equivalente antecipado de um plano de R$15.000,00 no final de 4 anos a
taxa de 2,5% a.a.

Equação do VP = Valor Fluxo de caixa equivalente


Período Antecipação
Equivalente ou valor de resgate

15.000
1o ano 3 anos VE = =13.928,99 R$13.928,99
(1+0, 025)
3

15.000
2o ano 2 anos VE = =14.277, 22 R$14.277,22
(1+0, 025)
2

15.000
3o ano 1 ano VE = =14.634,15 R$14.634,15
(1+0, 025)
1

15.000
4o ano 0 ano VE = =15.000, 00 R$15.000,00
(1+0, 025)
0

Fonte: Elaboração do autor.

Fluxo de caixa equivalente postecipado

Vamos agora considerar o caso em que, por um motivo familiar, você precisou adiar sua viagem
por um ano. Nesse caso, veremos o fluxo de caixa equivalente, considerando os mesmos valores
de R$15.000,00 no final do quarto ano. Observe que, nessa situação, seu plano precisará ser
realizado no final do quinto ano. Sendo assim, temos com base na equação do valor futuro:

VE = VF = 15.000 (1 + 0,025)1 = R$ 15.375,00}

Sendo o plano adiado para o quinto ano, o valor resgatado será de R$15.375,00.

Vamos considerar a Tabela 26 como o caso de adiamento do plano para quatro anos e calcular
os fluxos de caixas equivalentes.

Tabela 26. Cálculo do fluxo de caixa equivalente postecipado de um plano de R$15.000,00 no final de 4 anos
a taxa de 2,5% a.a.

Fluxo de caixa equivalente


Período Postecipado Equação do VF = Valor Equivalente
ou Valor de resgate

5o ano 1 ano VE = 15.000 x (1 + 0,025)1 = 15.375,00 R$15.375,00

6o ano 2 anos VE = 15.000 x (1 + 0,025)2 = 15.759,38 R$15.759,38

7o ano 3 anos VE = 15.000 x (1 + 0,025)3 = 16.153,36 R$16.153,36

8o ano 4 anos VE = 15.000 x (1 + 0,025)4 = 16.557,19 R$16.557,19

Fonte: Elaboração do autor.

64
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3

Agora, você já sabe o que fazer quando se antecipa ou se posterga um fluxo de caixa, lembre-se:
no caso do valor equivalente postecipado usar a equação do valor futuro, e a equação do valor
presente, se for antecipado.

Regra de 72

A regra 72 é aquela que nos permite determinar o tempo aproximado que um investimento levará
para dobrar de valor. Essa regra foi descoberta por Albert Einstein, ao introduzir uma aproximação
matemática simples para o período de anos necessário para dobrar um investimento. Uma regra
que ilustra o poder dos juros compostos.

72
Período Aproximado de Anos Necessários para dobrar o Investimento =
Taxa de Juros

Quantos anos serão necessários para dobrar um investimento de 8,5% a.a.? Com a regra 72,
descobrimos que o valor será:

72
Período Aproximado de Anos Necessários para dobrar o Investimento= =6 anos.
12

Assim, qualquer aplicação em dinheiro a taxa de 12% levará aproximadamente 6 anos para
dobrar de valor capitalizado.

Podemos também usar a regra de 72 para calcular a taxa de juros necessária para dobrar um
investimento em um período específico de tempo. Qual a taxa de juros necessária para dobrar
um investimento em 5 anos? Com a regra de 72, podemos calcular a taxa de juros aproximada
desta forma:

72
Taxa de juros aproximada = =12% a.a.
6

Destarte, qualquer valor de dinheiro aplicado a taxa de juros aproximada a 12% a.a. dobrará em
6 anos.

Taxa de juro de um ativo

O cálculo da taxa de juro acontece quando conhecemos dois fluxos de caixa e precisamos encontrar
a taxa de retorno. O mercado financeiro muitas vezes usa essa análise. Em geral, com o uso de
uma calculadora financeira, o cálculo de uma taxa de juro ou de retorno de um ativo é muito
fácil. Contudo, no caso em que não podemos fazer uso de calculadora financeira, utilizamos as
equações de valor de dinheiro no tempo sendo o valor futuro.

65
CAPÍTULO 3 • MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS

 1

VF  VF  n
VF = VP (1+i ) =>>  − 1 =
n
= (1+i) n =>> i
VP  VP  
 

Vamos ilustrar esse cálculo. Suponha que você é amador do futebol e resolveu comprar, no início
da Copa de 2014, no Brasil, US$3.500,00 dólares. Você espera que essa aplicação aumente para
US$4.500,00 dólares com vistas a garantir seu lugar na final da Copa de 2018 na Rússia. Qual
deverá ser a taxa de retorno que lhe permitirá realizar esse sonho?

Para descobrirmos essa taxa de retorno, devemos considerar as seguintes situações: período de
investimento ou de aplicação é de 4 anos, VP é de US$3.500,00 e VF é de US$4.500,00. Assim,
empregando a equação anterior de taxa de retorno, temos:

 1
  45 0,25 
  4.500  4

− 1 = i =>> i =   − 1 = 6, 48% a.a.
 3.500    35  
 

Portanto, sua aplicação deverá render 6,48% a.a.

Atenção

Os termos taxa de juros ou taxa de retorno se referem a mesma coisa. No entanto, é uma convenção comum se referir
à taxa de juros, quando você é quem paga o fluxo de caixa, e à taxa de retorno, quando você é quem recebe os fluxos
de caixa.

Período necessário para acumular um fluxo de caixa

Às vezes, os analistas financeiros ou administradores de empresa são obrigados a calcular o


período de tempo necessário para acumular uma quantia específica de dinheiro. Para resolver,
será necessário saber de antemão o fluxo de caixa inicial (VP), a taxa de juros (i) e o fluxo de
caixa futuro (VF) ou o valor a ser acumulado para encontrar o número de anos que precisará
para acumular essa quantia. Mesmo sabendo dessas variáveis, encontrar o tempo necessário
para acumular um fluxo de caixa é complicado, pois requer o uso do logaritmo neperiano, mas
o cálculo se torna mais simples pelo uso de uma calculadora financeira.

A equação para encontrar o número de período é:

 VF 
ln  
 VP 
n= , em que:
ln (1+i )

VP = Valor Presente

66
MÉTODOS DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE PAGAMENTOS ÚNICOS • CAPÍTULO 3

VF = Valor Futuros

i = Taxa de desconto

n = período de tempo para acumular o fluxo de dinheiro

Vamos ilustrar esse exemplo conjecturando a seguinte situação: quando as taxas de juros são
fixadas a 12%, quanto tempo levará para um investimento de R$15.000,00 dobrar? Para encontrar
a solução, usamos a equação anterior de logaritmo neperiano:

 30.000 
ln  
15.000  ln ( 2 ) 0,69
n=  = = = 6,27 anos
ln (1+0,12 ) ln (1,12 ) 0,11

Ou seja, 6 anos + 0,27 x 360 dias = 6 anos e 98 dias ou 6 anos 3 meses e 2 dias.

Sintetizando

Neste capítulo, vimos a linha de tempo de fluxo de caixa e seus principais fatores, analisamos o futuro do dinheiro no
tempo, mostramos como o poder dos juros compostos aumenta a riqueza de uma empresa ou indivíduo, calculamos
o valor presente de um pagamento feito a prazo, analisamos a movimentação de um fluxo de caixa antecipado ou
postecipado, aprendemos a calcular a taxa de retorno ou os juros de uma aplicação, conhecemos a equação para
calcular o tempo necessário para um investimento crescer até alcançar determinado montante.

67
CAPÍTULO
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE
CAIXA DE ANUIDADES 4
Apresentação

No capítulo anterior, aprendemos a analisar o fluxo de caixa único, ou seja, como fazer pagamentos
únicos e capitalizá-los no futuro com base nas equações de valores presente e futuro. Mas nem
sempre essa circunstância descreve os problemas de dívida que enfrentam as empresas ou as
pessoas, pois a maioria das aplicações de dívida e investimento de dinheiro no tempo apresenta
fluxos de caixa múltiplos.

Para isso, temos de aprender a analisar situações muito mais complexas que pedem muitos
pagamentos iguais ao longo do tempo, como, por exemplo, empréstimos para aquisição de
carro, empréstimos imobiliários e hipotecários que requerem que o mutuário faça os mesmos
pagamentos mensalmente por muitos meses ou anos. Temos outros casos de depósitos mensais
para muitos anos, tais como uma previdência privada para aposentadoria ou mesmo as poupanças
feitas por indivíduos mensalmente por um longo período e até pagamentos de juros feitos
regularmente por empresas por um empréstimo que serão tratados como casos de capitalizações.

Na maioria dos casos, o analista financeiro se faz uma pergunta: como avaliar esses pagamentos
em termos comuns ou comparáveis? Exatamente isso que iremos estudar neste capítulo, os fluxos
de caixa múltiplos ao longo do tempo, incluindo muitos casos de pagamentos iguais e casos de
como incorporar diferentes situações de capitalização.

Objetivos

No final deste capítulo, você será capaz de:

» Entender os métodos de capitalização de múltiplos fluxos de caixa para o futuro.

» Calcular valor futuro de fluxos de caixa múltiplos.

» Calcular o valor presente de fluxos de caixa múltiplos.

» Calcular o valor presente de uma anuidade.

» Calcular o valor presente de uma perpetuidade.

68
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4

» Ajustar valores para os pagamentos de anuidades no início do período em comparação


aos pagamentos de anuidades de final de período.

» Identificar a diferença entre a taxa percentual anual e a taxa anual efetiva.

» Calcular a taxa de juros dos pagamentos de anuidades.

» Calcular os pagamentos e as amortizações de empréstimos para compra de carros e


hipotecários.

» Calcular o número de pagamentos de um empréstimo.

Valor futuro de fluxos de caixa múltiplos

As pessoas geralmente pensam em como guardar dinheiro suficiente para dar de entrada na
compra de uma casa, de um carro, até mesmo para sua aposentadoria. Elas geralmente fazem
contribuições para muitos anos nas suas contas poupanças ou compram títulos quando entendem
de investimentos. Assim, nosso objetivo será calcular o valor futuro dessas contribuições para
saber, por exemplo, quanto o total valerá no futuro em algum ponto no decorrer do tempo – na
sua aposentadoria, em um plano de previdência privada, ao completar 70 anos de idade, ou
daqui a cinco anos para dar entrada em uma casa nova, entre outros projetos. Vamos examinar
essas situações.

Valor futuro de fluxos de caixas múltiplos e variáveis

Esse é o caso em que fazemos vários depósitos em uma conta poupança, sendo pagamentos de
valores diferentes com vistas a economizar dinheiro suficiente para determinado projeto, sendo
a aquisição de um ativo. Consideremos, então, que você faz as seguintes contribuições para sua
conta poupança com o passar do tempo: começa com um depósito de R$1.200,00 hoje, seguido
de um de R$1.450,00 no ano seguinte, e outro de R$1.800,00 no final do segundo ano. Se as taxas
de juros são fixadas a 6,45% a.a., qual é o valor futuro de seus depósitos no final do terceiro ano?

Vamos começar mostrando esse enunciado em uma linha de tempo:

Figura 25. Linha de tempo de fluxos de caixas.

VF =?

0 1 2

3 anos

i = 6,45% a.a.

-1200 -1450 -1800


Fonte: Elaboração do autor.

69
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES

Observe na linha de tempo que o primeiro depósito será capitalizado por três anos, sendo (3 –
0); o segundo, no final do primeiro ano, será capitalizado por 2 anos (3 – 1); e o terceiro, no final
do segundo ano, será capitalizado por 1 ano (3 – 2). Podemos generalizar, considerando que um
depósito no ano m será capitalizado (N – m) vezes por um valor futuro no ano N. Encontramos,
assim, a quantia total no final do terceiro ano ao calcular o valor futuro de cada depósito e depois
somá-los.

Usando a equação do valor futuro, o valor futuro das três contribuições no final do terceiro ano
será:

VF = 1200(1 + 0,0645)3 + 1450(1 + 0,0645)2 + 1800(1 + 0,0645)1

VF = 1447,5 + 1643,08 + 1916,10 = R$5006,68

Tabela 27. Valor futuro de fluxo de caixa a taxa de juros de 6,45% a.a. de três pagamentos variáveis.

Valor do Tempo de Valor futuro de


Depósitos Datas Valor futuro
depósito capitalização cada depósito
1o Hoje 0 120 3 anos = 3 - 0 1200(1 + 0,0645)3 R$1.447,50

2o Final de 1o anos 145 2 anos = 3 – 1 1450(1 + 0,0645)2 R$1643,08

3o Final do 2o ano 180 1 ano = 3 – 2 1800(1 + 0,0645)1 R$1.916,10

Valor Futuro das contribuições no Final do Terceiro ano R$5.006,68

Fonte: Elaboração do autor.

Dessa forma, a equação geral para calcular o valor futuro de fluxos de caixa múltiplos e variáveis é:

VFN =PTM m × (1+i ) +PTM n × (1+i ) +…+ PTM p × (1+i )


N-m N-n N- p

Em que:

m, n e p = denotam números de pagamentos ou depósitos realizados

PTM o valor do pagamento ou depósito

i = taxa de juros

VF = o valor futuro

N = o tempo de capitalização

Valor futuro de uma anuidade

Suponha que os fluxos de caixa sejam iguais e ocorrem em períodos regulares (mês, semestre ou
ano). Esse conjunto de fluxos de caixa de igual valor pagos em período de intervalo regular são

70
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4

chamados de anuidades. Consideramos que o primeiro fluxo de caixa de uma anuidade ocorre
sempre no final do ano se o período de vencimento for considerado o ano ou qualquer outro
período até o último ano. Desse modo, encontramos a fórmula do valor futuro de uma anuidade
considerando o valor futuro de fluxo de caixas múltiplas, ou seja, a fórmula anterior. Assim, a
equação aparece de forma simples:

 (1 + i ) N − 1 
VFA
= N PTM ×   Em que :
 i 

PTM = valor da anuidade

i = taxa de juros

VF = o valor futuro

N = o tempo de capitalização

Para ilustrar isso, vamos considerar que você esteja depositando no final de cada mês um valor
de R$600,00 na sua conta poupança com a intenção de dar entrada no financiamento de um
apartamento. Se considerarmos que a taxa de juros da poupança é de 0,45% ao mês, quanto você
dará de entrada na compra da casa após cinco anos de poupança?

Para resolvermos esse caso, você deve se lembrar que a taxa de juros foi expressa em 0,45% a.m.,
portanto devemos considerar a taxa equivalente, fazendo uma conversão ou, caso contrário,
considerar o período de 60 meses equivalente a cinco anos.

Vamos, primeiramente, considerar aqui a taxa mensal e o período de 60 meses.

Identificando as variáveis da fórmula anterior do valor futuro de uma anuidade, temos os seguintes:

PTM = 600

i = 0,45% a.m.

VF =?

N = 5 anos = 60 meses

 (1+0,0045 )60 -1 
VFA 60 = 600×   = 41.222,84
 0,0045 

Nesse caso, consideramos que você dará de entrada R$41.222,84 para o financiamento da casa.

71
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES

Observe que trabalhamos com a taxa mensal, porém podemos proceder ao mesmo cálculo
determinado inicialmente, a taxa anual equivalente à taxa mensal de 0,45% a.m.

i12meses = (1+i1 mês ) -1 ×100= (1+0,0045 ) -1 ×100=5,54% a.a.


12 12

   

Vamos usar a fórmula anterior para determinar o valor futuro com o período de cinco anos.
 (1 + 0, 0045 )12 − 1 
Devemos considerar que o valor poupado anualmente será 600 ×  7.380,90
=  .
 0, 0045 
Esse valor passa a ser o valor da anuidade. Depois que calcularmos, considerando o período de
cinco anos, devemos, então, comparar os valores.

  (1 + 0, 0045 )12 − 1    (1 + 0, 0554 )5 − 1   (1 + 0, 0554 )5 − 1 


VFA5 = 600 ×   × [7.380,90] × 
 VFA5 = = 41.226,39
0, 0045 0, 0554 0, 0554
       

Observe que o valor poupado foi de R$41.226,39, quase igual ao valor anterior, mas com uma
pequena diferença de R$3,55. Considere que foram feitos cinco depósitos de R$7.380,90 cada.

Valor futuro de anuidade múltiplas

A anuidade múltipla ocorre quando, por algum motivo de melhoria das condições financeiras,
por um emprego melhor, ou de mudança favorável, você decide aumentar o valor poupado ou
diminui-lo. Para ilustrar, vamos considerar que, no início do quarto ano, você foi promovido ao
cargo de supervisor por estar quase no final do seu curso; por esse motivo, você decide aumentar
o valor do depósito de R$7.380,90 ao ano, para R$12.860,00 no final do quarto ano em seguinte.
Lembre-se de que você fazia um aporte de R$7.380,90 ao ano até o final do terceiro ano.

Para calcular o valor futuro dessas duas anuidades, calcule o valor futuro de cada uma delas
separadamente e, em seguida, some-as. Nesse caso, o valor futuro da anuidade de R$7.380,90 é
R$41.226,39. O valor futuro do aumento da anuidade (12.860 – 7.380 = 5.479,61) é:

(1 + 0, 0554 )
2
−1
5.479, 61× 11.262, 79, assim :
=
0, 0554

 (1+0,0554 )5 -1   (1+0,0554 )2 -1 
VF5 = [ 7.380,90]×   +5.479,61×   =41.226,39+11.262,79 =52.489,18
 0,0554   0,0554 

Atenção

Da mesma forma, poderíamos facilmente calcular o valor futuro se os dois últimos anos fossem uma redução do
valor. Para resolver essa alternativa, simplesmente subtrairíamos o valor futuro de R$11.262,79 em vez de somá-lo.

72
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4

Valor presente dos fluxos de caixa múltiplos

O conceito de valor futuro permite aos analistas e administradores financeiros entender como
as pessoas ou empresas podem construir uma fortuna em períodos posteriores da existência.
O conceito de valor presente ajuda a avaliar créditos ou empréstimos que tomamos de nossos
credores para compra ou aquisição de um bem durável, como um carro, uma hipoteca de casa
própria ou aquisição de um equipamento por uma empresa, e as aplicações comerciais para
determinar o valor das oportunidades de negócios. Sendo assim, vamos, a seguir, analisar todas
as formas de cálculo do valor presente de oportunidades de negócios.

Valor presente de fluxo de caixas múltiplas e variáveis

Vamos considerar as mesmas situações de três depósitos sucessivos com valores diferentes de
R$1.200,00 hoje, seguido de um de R$1.450,00 no ano seguinte e outro de R$1.800,00 no final do
segundo ano a taxa de juro de 6,45% a.a. Dessa vez, iremos determinar, em vez do valor futuro,
o valor presente dessa capitalização no final do terceiro ano, se as taxas de juros são fixadas a
6,45% a.a.

Figura 26. Valor presente de fluxos de caixas múltiplas e variáveis.

VP = ?

1 2
Período

i = 6,45% a.a.

-1200 -1450 -1800

O primeiro fluxo de caixa no valor de R$1.200 já ocorreu no ano zero, de forma que seu valor não
mudará, descontaremos o segundo fluxo em um ano e o terceiro fluxo de caixa em dois anos.
Usando a equação do valor presente do capítulo anterior, o valor presente dos fluxos é a soma
de valor presente de cada uma no tempo a data zero.

1200 1450 1800


VP = + + = 1200 +1362,14+1.588,48 = 4.150,62
(1+0,0645) (1+0,0645) (1+0,0645)
0 1 2

Dessa maneira, a equação para se calcular o valor presente de um fluxo de caixa múltiplo e
variável é esta:

PTM m PTM n PTM p


VP = +…+ +…+
(1+i ) (1+i ) (1+i )
N-m N-n N-p

73
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES

Em que:

m, n e p = denotam números de pagamentos ou depósitos a serem realizados

PTM= valor do pagamento ou depósito a serem realizados

i = taxa de juros

VP = o valor presente

N = Prazo de pagamento

Valor presente de anuidades

O valor presente de uma anuidade é muito mais usado nos negócios, e também na vida pessoal,
pois sempre precisamos de um crédito a mais para realizarmos nossos projetos, um empréstimo
para pagar as dívidas com a faculdade, crédito para compra de um carro ou aquisição de uma
casa nova.

A maioria dos empréstimos é projetada de forma que a quantia emprestada (o valor presente)
é paga via anuidades feitas periodicamente ao longo do prazo de pagamento. Cabe, entretanto,
aos credores examinarem os orçamentos dos mutuários e determinar quanto cada um é capaz de
pagar. O valor máximo do empréstimo oferecido é o valor presente de pagamento de anuidades.
Assim, podemos escrever a equação do valor presente de anuidades de um empréstimo como:

 1 
 1 - 
(1+i )
N

VPN = PTM×  
 i 
 
 

Em que:

PTM = Valor da Anuidade

i = Taxa de juros

VP = Valor Presente

N = Prazo de pagamento

Para ilustrarmos essa situação, suponha que alguém faça pagamentos de R$450,00 ao mês ao
longo de cinco prestações, de carro novo, se as taxas de juros são estimadas a 2,54% a.m., qual
foi o valor do empréstimo tomado na contratação do crédito?

74
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4

Para isso, devemos identificar do enunciado as seguintes variáveis da equação de valor presente:

PTM = 450,00

i = 0,0254

VP =?

N = 60 meses equivalente a cinco anos.

Vamos aplicar a equação:

 1   1 
1 - 1+i N  1 - 1+0,0254 60 
VPN = PTM× 
( )  =450×  ( )  = R$13.783, 03.
 i   0,0254 
   
   

Dessa forma, o valor de crédito concedido pelo banco financiador foi R$13.783,03. E o total a ser
pago no final do contrato será R$60x450 = R$27.000,00. Assim, podemos considerar que o total
de juros a serem pagos será de R$13.216,97, é o que às vezes muitas pessoas não entendem na
hora de tomar um crédito.

Atenção

Observe que o período de tempo sobre o qual o mutuário paga a anuidade e a taxa de juros para desconto afeta
intensamente os cálculos do valor presente. Isso quer dizer que, quando você toma dinheiro emprestado de um
banco, essa instituição vê a quantia emprestada como o valor presente da anuidade que ele recebe do mutuário ao
longo do prazo do contrato.

Valor da anuidade: prestação ou amortização de


empréstimo amortizado

Muitas vezes empresas ou pessoas físicas precisam de dinheiro para realizar grandes projetos ou
ampliar os planos de vida, porém são confrontadas com as limitações de recursos financeiros
e o último recurso acaba sendo utilizar capital de terceiros, recorrem, assim, ao empréstimo
bancário. Nesse sentido, é importante que saibam a taxa de juro cobrada e o valor das prestações
a serem pagas.

Um empréstimo estruturado em pagamentos de anuidades que saldam o valor total da dívida


contratada é chamado de empréstimo amortizado. Assim, o valor da prestação ou da anuidade
é obtido a partir da equação do valor presente de uma anuidade.

75
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES

 
 
i
PTM= VP ×  
N
 1 
1 − 
(1 + i )
N
 

Em que:

PTM = anuidade ou valor da prestação.

VP = o valor presente ou valor financiado.

N = o prazo de financiamento expresso em meses.

I = a taxa de juro cobrada expresso em meses.

Na maioria das vezes, o financiamento de um carro novo ou usado requer pagamentos mensais
de três a cinco anos. Essa equação representa então o cálculo do valor da prestação sabendo a
taxa de juros e o prazo de financiamento.

Para ilustrarmos esse caso, suponha que você precisa financiar um carro que custa R$47.950,00
pelo banco da concessionária a taxa de 0,75% a.m. Você então decide financiar seu carro por um
prazo de cinco anos, 60 meses. Qual o valor da prestação que pagará mensalmente ao aceitar a
proposta da concessionária?

Para começar, será importante identificar as variáveis da equação do valor da unidade:

PTM = anuidade ou valor da prestação? O que está sendo pedido no enunciado.

VP = valor financiado = R$47.950,00.

N = o prazo de financiamento expresso em meses = 60 meses.

i = a taxa de juro cobrada expresso em meses = 0,75% a.m.

   
   
i 0,0075
PTM N =VP×   =PTM =47.500×   =R$995,36
 1  60
 1 
1-  1- 
 (1+i )  (1+0,0075 )
N 60
 

Para financiar esse carro, você deverá desembolsar 60 prestações de R$995,36.

76
MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES • CAPÍTULO 4

Atenção

Os níveis da taxa de juros e a duração do empréstimo afetam o valor das anuidades ou dos pagamentos. À medida
que a taxa de juros declina, o pagamento mensal de um empréstimo também declina. É por isso que as pessoas
devem refinanciar suas hipotecas de casa própria quando as taxas de juros caem. No Brasil, os bancos não orientam
as pessoas a aproveitarem os financiamentos quando as taxas de juros são mais baixas. Por isso que o momento certo
para realizar seus projetos é o momento em que as taxas de juros são mais baixas no mercado. Infelizmente mesmo
os que sabem dessa prática às vezes são interrompidos pela burocracia de papelada para comprovar a renda.

Período de tempo necessário para pagar uma dívida

Você pode saber quanto tempo levará para quitar uma dívida sabendo o valor, a taxa de juros
estipulada e o valor das prestações tendo em vista suas limitações financeiras. Vamos empregar
a equação do valor presente para identificar o tempo necessário.

A equação para encontrar o tempo necessário para quitar um empréstimo é:

 PTM 
ln  
 PTM - VPN ×i 
N=
ln (1+i )

Em que:

N = prazo do financiamento expresso em meses.

PTM = valor da prestação ou da anuidade pago mensalmente.

VPN = valor presente ou do valor do empréstimo.

i = taxa de juros expresso em mês.

ln= logaritmo neperiano.

Para fins de ilustração, suponha que queira renegociar uma dívida de R$35.450,00 com seu
banco. Sabendo que a taxa de juros é de 0,25% a.m., em quanto tempo você pagará essa dívida
se sua capacidade financeira está limitada ao pagamento de parcelas iguais a R$745,54 ao mês?

Vamos identificar as variáveis do enunciado:

N = prazo do financiamento expresso em meses.

PTM = 745,54

VPN = 35.450

i = 0,25% a.m.

77
CAPÍTULO 4 • MÉTODO DE ANÁLISE DE FLUXO DE CAIXA DE ANUIDADES

 745,54   745,54 
ln   ln 
 (745,54 − 35.450 × 0, 0025   745,54 − 88,=45 
=N = 48,94 ≅ 49 meses
ln (1 + 0, 0025 ) ln(1, 0025)

Sendo assim, você deverá pagar sua dívida de R$35.450, em 49 parcelas de 745,54 a taxa de juros
de 0,25% a.m. Entretanto, esse mesmo cálculo realizado em uma calculadora financeira deu um
prazo de 51 meses, quatro anos e três meses.

Sintetizando

Neste capítulo, estudamos como empregar os métodos de capitalização de múltiplos fluxos de caixa para o futuro,
aprendemos a calcular o valor futuro de fluxos de caixa múltiplos, a calcular o valor presente de fluxos de caixa
múltiplos, a calcular o valor presente de uma anuidade.

Agora, você sabe ajustar valores para os pagamentos de anuidades no início do período em comparação aos
pagamentos de anuidades de final de período. Aprendemos a identificar a diferença entre a taxa percentual anual
e a taxa anual efetiva, assim você está preparado para aplicar melhor seu dinheiro, analisar o pagamento das
amortizações de um empréstimo e calcular o número de pagamentos necessários para saldá-lo.

78
CAPÍTULO
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE
DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL 5
Apresentação

Quando uma empresa está elaborando um novo projeto de investimento, como, por exemplo,
a compra de uma nova máquina ou equipamento para aumentar sua produtividade, é preciso
estimar os fluxos de caixa do projeto. Dessa forma, é possível identificar alguns fatores que
podem garantir uma análise dos impactos desse projeto sobre os lucros da empresa. Para estimar
corretamente os fluxos de caixa de um projeto, é necessário considerar alguns fatores relevantes
na análise dos fluxos de caixa incrementais, tais fatores são assim listados pelo analista financeiro
Cornett (2013): custos e receitas de novos produtos e serviços específicos, impacto provável que
o novo produto ou serviço terá nos custos e nas receitas dos produtos existentes da empresa,
uso de ativos ou funcionários, já empregados pela empresa, a maneira de lidar com encargos,
como os custos de pesquisa e desenvolvimento para produzir novo produtos.

Existe uma maneira de trabalhar todos os fatores sistematicamente. O processo para estimar
os fluxos de caixa esperados de um projeto usando apenas as partes relevantes do balanço
patrimonial e das demonstrações de resultado é chamado de análise proforma. A análise
proforma nos permite identificar o impacto desse projeto nos fluxos de caixa total da empresa,
se o projeto for efetivamente implementado, ou qual será o fluxo de caixa incremental caso o
projeto seja implementado. Esse será o principal objeto de estudo deste capítulo. Você vai ter
todos os elementos possíveis para saber se o projeto deve ser aceito ou não com base em uma
análise dos fluxos de caixa incremental.

Objetivos

No final deste capítulo, você será capaz de:

» entender por que usamos as demonstrações financeiras proforma para analisar os fluxos
de caixa do projeto.

» identificar quais fluxos de caixa podemos atribuir a um projeto proposto e quais não
podemos.

79
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

» calcular os fluxos de caixa esperados de um projeto usando a abordagem do fluxo de


caixa livre.

» explicar como a depreciação afeta os fluxos de caixa do projeto.

» calcular os fluxos de caixa livres para a substituição das máquinas.

Princípios de estimativa dos fluxos de caixa incrementais

Uma das decisões mais importantes do gerente financeiro de uma empresa diz respeito à
escolha dos investimentos. A escolha dos investimentos é baseada nos princípios de estimativa
de fluxos de caixa incremental. E o processo de alocação do capital para investimento é
chamado de orçamento de capital. As empresas levantam o capital do que precisam para
realizar investimentos emitindo valores mobiliários como ações e títulos. Uma das principais
responsabilidades do gerentes financeiro é determinar quais projetos ou investimentos a
empresa deve realizar.

O orçamento de capital nesse caso é o processo de análise de oportunidades de investimento


e de decisão sobre quais projetos levar adiante. O processo exige calcular o VPL (valor presente
líquido) e aceitar os projetos cujo VPL seja positivo. O primeiro passo nesse caso é estimar os
fluxos de caixa esperados do projeto fazendo previsões sobre suas receitas e custos. Podemos,
também, fazer uma análise proforma utilizando de uma maneira simples análise do balanço
patrimonial e da demonstração do resultado para comparar os fluxos de caixa esperados do
projeto com os fluxos de caixa sem o projeto.

Os fluxos de caixa esperados do projeto são considerados fluxos de caixa incrementais e, para
aceitarmos o projeto, devemos garantir que todos os fluxos de caixa incrementais serão cobertos,
isto é, as mudanças nos fluxos de caixa que esperaríamos para toda a empresa quando o novo
projeto entrar em vigor.

Para ilustrarmos esse caso, suponha que você trabalha para uma empresa de transporte e
distribuição de bebidas, a TLR (Transporte e Logística Ribamar), que possui um grande CD
(Centro de Distribuição) na cidade de Nova Iguaçu para a distribuição de bebidas em todo o
Estado do Rio de Janeiro. A TLR considera para o próximo ano 2019 arrendar um novo Galpão
em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, com o fito de transformá-lo em CD
para as bebidas destinadas às entregas na região dos lagos, uma região fortemente turística,
esperando, assim, aumentar o volume de entrega por ano no Rio de Janeiro. A TLR considera que
esse projeto custará R$40.000.000,00, e os volumes de carga transportada e distribuída no Estado
do Rio de Janeiro nos próximos cinco anos são estimados em valores monetários e mostrados
na Tabela 28 a seguir:

80
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5

Tabela 28. Estimativas de volume de entrega de bebidas pela TLR no RJ nos próximos 5 anos.

ANO VALOR DA CARGA


2019 R$40.000.000,00

2020 R$56.000.000,00

2021 R$56.000.000,00

2022 R$56.000.000,00

2023 R$42.000.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

Dada a mudança do futuro presidente da república nas próximas eleições em 2023, a TLR não
espera entregar muito depois do terceiro ano do projeto por estar próximo ao ano das eleições.

Os custos variáveis são extremamente baixos e estimados a R$65,00 por km percorrido na


viagem de entrega, a TLR espera que os custos fixos totalizam R$22.000.000,00. Os custos iniciais
envolvem R$750.000,00 de uma máquina de processamento de demanda e controle de estoque
mais R$240.000,00 em adicionais em custos de envio e instalação.

Para nossa primeira tentativa em analisar esse projeto, presumiremos que a máquina de
processamento da demanda e controle de estoque será depreciada em R$50.000,00 linear
durante a vida do projeto. Esperamos que essa máquina valha apenas R$350.000,00 no
mercado depois de cinco anos de uso. A nova máquina de processamento é uma versão
atualizada de uma velha máquina que a TLR já possui, mas tem a intenção de continuar usando.
Considera-se que a máquina velha não tem mais a capacidade de processar de forma rápida as
projeções de demanda de bebida nos próximos cinco anos. A velha tem uma vida útil de cinco
anos e foi comprada há três anos, seu valor contábil é de R$460.000,00. O gerente financeiro
estima que suas necessidades de capital de giro no início de cada ano serão aproximadamente
de 12% das receitas de vendas. Considerando uma alíquota de imposto de renda de 34% e uso
de uma taxa de desconto do 15% em projetos com perfil de risco como este, a pergunta é: a LTR
deve ou não comprar a nova máquina?

A escolha da melhor alternativa de investimento implica, além do princípio do VPL positivo e da


cobertura dos fluxos de caixa incrementais, a análise de diversos fatores, tais como:

a. custos de oportunidade;

b. custos irrecuperáveis;

c. efeitos substitutivos e complementares;

d. despesas com juros;

e. impostos;

81
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

f. cálculo da depreciação;

g. cálculo do fluxo de caixa operacional;

h. cálculo da variação nos ativos fixos brutos;

i. cálculo das variações no capital de giro líquido;

j. cálculo de desembolsos de capital e depreciação;

k. cálculo do lucro líquido não alavancado.

Importante

No caso da escolha das alternativas de investimentos, existem dois princípios que devem ser considerados: o
princípio do VPL positivo e o princípio da cobertura dos fluxos de caixas incrementais que visa à previsão dos lucros
incrementais. Entretanto, esses dois princípios são acompanhados de análise de outros fatores para garantir a escolha
do projeto certo. Esses princípios serão desenvolvidos na próxima e último capítulo.

Vamos, a seguir, analisar cada um desses fatores acima listados.

Custos de oportunidade

Em muitos casos, projetos utilizam um recurso que a empresa já possui. E, como a empresa
não precisa gastar dinheiro para aquisição desse recurso para um novo projeto, consideramos
que esse recurso está disponível gratuitamente. Entretanto, em várias situações, esse recurso
poderia gerar valor para a empresa em uma outra oportunidade ou projeto. Berk (2009) considera
que custo de oportunidade é utilizar um recurso cujo valor que ele poderia ter gerado em sua
melhor alternativa de uso fosse usado em novo projeto. Assim, como esse valor se perde quando
o recurso é utilizado por um outro projeto, devemos incluir o custo de oportunidade como um
custo incremental do projeto.

Se considerarmos o caso da empresa TLR em que ela está analisando se deve ou não renunciar
ao uso da velha máquina e comprar uma nova com ampliação dos seus depósitos de bebida
em São Gonçalo, se a velha máquina já era usada pela empresa e ainda tem dois anos de vida
útil, óbvio que a mudança da máquina velha para a nova exigiria outros custos extras, tais como
de instalação, de obras e até de treinamento. No final, não importaria se a empresa tivesse que
comprar uma nova máquina ou não.

Para entendermos melhor a questão do custo de oportunidade, suponha que a TLR decida comprar
a máquina nova, ela terá de arrendar também um novo espaço para ampliar seus negócios,
sabemos que o novo armazém custa 40.000.000,00 para os próximos cinco anos, sendo cerca de
R$5.000.000,00 ao ano, a ideia é saber como esse custo vai impactar nos lucros da empresa nos
próximos anos.

82
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5

Importante

Definimos o custo de oportunidade como de capital, como a taxa que se poderia obter sobre um investimento
alternativo com risco equivalente. Dessa forma, podemos ainda considerar que o custo de oportunidade é a
oportunidade renunciada de usar um ativo que é propriedade da empresa ou uma pessoa empregada em um novo
projeto.

Custos irrecuperáveis

Os custos irrecuperáveis são os custos que a empresa já pagou, independentemente de implementar


o novo projeto ou não, digamos, uma consultoria que pode ter sido realizada para estudar a
viabilidade econômica e financeira do projeto. É recomendável que a empresa nunca contabilize
os custos irrecuperáveis nos fluxos de caixa do projeto. Por exemplo, a LTR teve custo de estudo
do solo no novo terreno, para tanto contratou engenheiros e um escritório de advogado para
formalização do contrato de arrendamento, assim como pesquisa para escolha do fornecedor
da máquina nova. Consideramos aqui que a TLR nunca recuperaria essas despesas prévias,
mesmo que não venha a desenvolver ou não o projeto. Assim, esses custos são considerados
irrecuperáveis, e a LTR nem sequer os consideraria como parte de sua decisão de seguir com o
projeto ou não.

Despesas gerais fixas

As despesas gerais são associadas a atividades que não são diretamente atribuíveis a uma única
atividade empresarial, mas que, em vez disso, afetam diferentes áreas da empresa. Essas despesas
geralmente são alocadas às diferentes atividades empresariais para fins contábeis. Na medida em
que essas despesas gerais são fixas, ocorrerão de qualquer maneira, elas não são incrementais
ao projeto e não devem ser incluídas. Devemos incluir como despesas incrementais apenas
despesas gerais adicionais que surgem devido à realização do projeto.

Dividendos de ações e juros das dívidas

Segundo Cornett (2016), uma observação importante a respeito dos fluxos de caixa incrementais
é que nunca contamos quaisquer custos de financiamento, incluindo os dividendos pagos sobre
as ações ou os juros pagos sobre dívida, como despesas do projeto.

Sendo assim, os custos de capital estão incluídos como custos componentes no custo médio
ponderado de capital, que será usado para descontar dos fluxos de caixa, isso evita duplicidade
das contas.

83
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

Fluxo de caixa livre do projeto

A demonstração dos fluxos de caixa mede o fluxo de caixa líquido como lucro líquido mais ajustes
que não envolvem saída de caixa. Para poder manter os fluxos de caixa ao longo do tempo, as
empresas devem continuamente repor o capital de giro, depreciar os ativos fixos e desenvolver
novos projetos ou produtos. Nesse caso, os gestores financeiros da empresa não podem usar os
fluxos de caixa disponíveis do jeito desejado. Os fluxos de caixa livres são de grande interesse
dos investidores.

De uma maneira geral, os fluxos de caixa livres são aqueles disponíveis para pagar os acionistas
e credores da empresa depois de ela ter feito os investimentos necessários de capital de giro e os
investimentos em ativos fixos, e desenvolvido os novos produtos necessários para sustentar suas
operações em andamento. Para calcular o fluxo de caixa livre (FCL), utilizamos a equação a seguir:

FCL = [EBIT - Imposto + Depreciação] - [∆ativo fixo bruto + ∆Capital de giro operacional líquido]
FCL = [Fluxo de Caixa operacional] - [Investimentos em capital operacional]

Cálculo da depreciação de ativo

Existem diversos métodos de depreciação, mas, para fim de cálculo do fluxo de caixa livre, iremos
usar apenas o método de depreciação linear, chamado, também, de método de quotas constantes,
esse método considera a seguinte equação:

Custo de Aquisição - Valor Residual Estimado


Depreciação =
Período de Vida Útil do Ativo

A depreciação esperada sobre os equipamentos usados durante a vida do projeto afetará os fluxos
de caixa operacionais e a mudança nos ativos fixos brutos que ocorrerão no final do projeto,
exibindo, assim, seu valor residual.

Cálculo do valor residual ou valor de liquidação de um


ativo

Os ativos que não são mais usados geralmente possuem um valor de venda, ou valor residual,
se as máquinas forem vendidas para um ferro velho. Pode acontecer que alguns ativos tenham
um valor de liquidação negativo. Por exemplo, pode custar dinheiro para a empresa se livrar de
uma velha máquina totalmente obsoleta.

No cálculo de um fluxo de caixa ativo, incluímos o valor de liquidação de qualquer ativo que
não seja mais útil e que possa ser descartado. Quando um ativo é liquidado, qualquer ganho de

84
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5

capital é tributado como renda. Calculamos o ganho de capital como a diferença entre o preço
de venda e o valor contábil do ativo:

Ganho de Capital = Preço de Venda - Valor Contábil

O valor contábil é igual ao valor de aquisição ou custo original do ativo menos a quantia que já
foi depreciada para fins tributários:

Valor Contábil = Custo de Aquisição - Depreciação Acumulada

Temos de ajustar o fluxo de caixa livre para incluir o fluxo de caixa após os impostos que resultaria
da venda de um ativo:

Fluxo de Caixa Após os Impostos Sobre a Venda de um Ativo = Preço de Venda -


tIR× Ganho de Capital

Para ilustração da questão da depreciação, suponha os seguintes fatos: os móveis e utensílios


usados, vendidos pela JPY Ltda. por R$ 6.500,00, renderam um ganho de capital líquido de
R$2.500,00. Como os objetos foram adquiridos por R$14.000,00 e tinham vida útil estimada em
dez anos, sem valor residual, isso significa que, por ocasião da operação de venda, calcule as
seguintes informações:

a. o valor contábil do ativo;

b. o valor da depreciação acumulada desses móveis;

c. o valor percentual da depreciação.

Solução:

a. O valor contábil do ativo

Esta questão é uma mistura de resultado não operacional com cálculo de depreciação. Repare
que o ativo foi vendido por R$6.500,00, rendendo um lucro (ganho de capital) de R$ 2.500,00.
Ora, qual era, então, o custo contábil desse ativo (valor contábil)?

Não podemos esquecer que o valor contábil de um ativo não circulante é o seu custo de aquisição
menos a sua depreciação acumulada.

Valor de Venda = R$6.500,00

Valor Contábil = (X)

Ganho de Capital = R$2.500,00

O valor contábil é de R$4.000,00.

85
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

b. Depreciação acumulada

Como o ativo custou R$14.000,00, para que ele tenha um valor contábil de R$4.000,00, a sua
depreciação acumulada tem de ser de R$10.000,00 (R$14.000,00 – R$4.000,00).

c. Valor percentual da depreciação acumulada

Este valor (R$10.000,00) representa 71,43% do custo de aquisição (R$10.000,00/R$14.000,00).

Critérios de decisão de investimento

Uma vez calculado o custo de um projeto e estimado seus fluxos de caixa, a pergunta mais
pertinente para se fazer com vistas a tomar decisão de investir ou não no projeto é: o projeto
vale seu valor futuro projetado? Veremos que a maioria das regras de decisões sobre o orçamento
de capital terá os sinais de positivo ou negativo, isso porque os projetos de orçamento de
capital geralmente envolvem a compra de ativos reais, os quais normalmente são negociados
em mercados menos competitivos. Como resultado, os projetos e as compras que envolvem
equipamentos e capital normalmente transmitem, segundo Cornett (2013), no mínimo,
algum tipo de monopólio e os lucros monopolísticos associados para a empresa comprá-los e
adotá-los para o uso a longo prazo. Para escolher ou determinar quais projetos merecem o capital
escasso da empresa, será necessário identificar, por meio de algumas técnicas, quais projetos
apresentam o melhor retorno de capital para a empresa. Sendo assim, as técnicas comumente
usadas no orçamento de capital são:

VPL - valor presente líquido;

PBD - payback descontado ou período de recuperação do capital;

TIR - taxa interna de retorno;

TIRM - taxa interna de retorno modificada;

IL - índice de lucratividade.

Essas são as técnicas de medição ou indicadores de tomada de decisão de orçamento de capital.


Daqui em diante iremos analisar cada um desses critérios para saber se o projeto irá garantir um
retorno do investimento no futuro ou não.

Valor presente líquido

O VPL representa uma das regras de análise comparativa de alternativas de investimento em


um projeto, ou seja, orçamento de capital, é considerado o melhor indicador de medição do

86
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5

valor de aceitação no qual estamos interessados na formação da riqueza do projeto. O método


de VPL mede o aumento da riqueza ao calcular a diferença entre os valores presentes das
entradas e das saídas de caixa de um projeto. Se o VPL for positivo, isso indica que o projeto é
aceitável, isso quer dizer que o retorno do projeto cobre todos os demais custos necessários para
realizá-lo. Assim sendo, o VPL é a somatória de todos os valores presentes de todos os fluxos de
caixa:

FC0 FC1 FC2 FCn N


FCn
VPL= + + + ....+ =∑
(1+i ) (1+i ) (1+i ) (1+i ) (1+i )
0 1 2 n n
n =0

Em que:

N = período;

FCn = fluxo de caixa do período n;

i = taxa de juros;

 Projeto Aceito VPL ³ 0


Regra de VPL =>> 
Projeto Rejeitado se o VPL < 0

Para ilustrarmos isso, vamos considerar aqui que a empresa Memu S.A. está analisando
se deve ou não investir em uma nova máquina. A nova máquina custa R$405.500,00. Em
uma avaliação prévia do projeto da nova máquina, considere um conjunto de fluxo de
caixa incremental normal usando uma taxa de desconto apropriada para o risco de 15%,
nos próximos cinco anos, como mostrado na tabela a seguir. Pede-se calcular o VPL do
projeto.

Tabela 29. Fluxos de Caixa Esperados do Projeto.

Ano Fluxo de Caixa

0 -405.000

1 125.000,00

2 135.000,00

3 150.000,00

4 140.000,00

5 120.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

Para resolver o enunciado, vamos proceder com uma linha de tempo a fim de visualizá-lo melhor:

87
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

Figura 27. Fluxos de Caixa do Projeto.

150.000
135.000 140.000
125.000
120.000

1 2 3 4 5

- 405.000

Fonte: Elaboração do autor.

Vamos calcular o VPL com base na equação anterior. Lembre-se de que sempre terá de iniciar o
investimento inicial no ano zero, como na Figura 27.

Aplicando à equação, temos:

-405000 125.000 135.000 150.000 140.000 120.000


VPL= + + + + + = 41.109,14
(1+ 0,15) (1+ 0,15) (1+ 0,15) (1+ 0,15) (1+ 0,15) (1+ 0,15)
0 1 2 3 4 5

VPL = R$ 44.109,14 > 0

Dessa forma, concluímos que a Memu S.A. deve comprar a nova máquina.

Com base na regra de VPL, devemos aceitar o projeto de compra da nova máquina.

Atenção

Sempre o custo do projeto deverá ser incorporado no VPL. Por esse motivo que consideramos o ano zero como o
investimento inicial e que, depois de um ano a contar da implementação, gera-se o primeiro fluxo de caixa. Os fluxos
de caixa esperados são somente realizados no fim de cada ano, como mostrado na linha de tempo do exercício
anterior.

PBD - Payback descontado ou período de recuperação do


capital

A ideia de PBD é saber quanto tempo levaremos para recuperar o investimento inicial do projeto,
ou seja, o custo do projeto.

É muito usual, na prática fala-se do período de payback de uma proposta de investimento. É o


método que procura estabelecer o tempo necessário para que fundos gerados pelo investimento

88
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5

sejam iguais ao gasto inicialmente feito, ou seja, “recuperarmos nossa isca”. Preocupa-se com a
recuperação simples do dinheiro empregado ou do valor investido.

 Ν
FCn
 Regra de Payback Descontado PBD =? ∑
ν =0 (1+i )
n
=0


Trata-se da soma do valor presente dos fluxos de caixa descontados igual a zero.

 Ν

 Regra de Payback Simples PBS =? ∑FCn = 0


 ν =0
Trata-se da soma dos fluxos de caixa acumulados igual a zero

Em que:

N = período de recuperação do investimento;

i = taxa de desconto.

Nota-se imediatamente que o método de payback não consegue diferenciar dois projetos
A e B. Sua principal deficiência é não considerar os ganhos após a recuperação, nem o
escalonamento das entradas de Caixa. Não se faz um investimento para recuperar o
capital, e sim para obter lucro. O processo serve apenas para complementar os outros
métodos no auxílio da tomada de decisão.

A ideia básica é quantos anos precisaremos esperar até que os fluxos de caixa acumulados desse
investimento se igualem ou superem seu custo? Com base nessa regra, um investimento é aceito
se seu período de payback calculado for menor do que algum número predeterminado de anos.

Para ilustramos, vamos considerar as duas situações seguintes:

Exemplo 1: Regra de período de payback simples

Os fluxos de caixa líquidos de um projeto de investimento estão indicados na figura abaixo.


Quantos anos precisaremos esperar até que os fluxos de caixa acumulados desse investimento
se igualem ou superem seu custo?

Figura 28. Fluxos de caixa de um projeto.

R$30.000,00 R$20.000,00 R$10.000,00 R$5.000,00

- R$50.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

89
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

Resolução

Conforme indicado na figura, o investimento inicial é de R$50.000,00. Depois do primeiro ano, a


empresa recupera R$30.000,00, deixando R$20.000,00 a descoberto. O fluxo de caixa no segundo
ano é exatamente igual a R$20.000,00, o investimento “se paga” em exatamente dois anos. Em
outras palavras, o payback period é de dois anos. Se exigíssemos um payback de três anos ou
menos, o investimento seria aceitável.

Observe que esse caso é muito simples, devendo considerar apenas o valor dos fluxos de caixa.

Exemplo 2: Período de payback descontado PBD

Para ilustrarmos isso, vamos considerar o exemplo anterior em que a empresa Memu S.A. está
analisando se deve ou não investir em uma nova máquina. A nova máquina custa R$405.500,00.
Em uma avaliação prévia do projeto da nova máquina, considera-se um conjunto de fluxo de
caixa incremental normal usando uma taxa de desconto apropriada para o risco de 15%, nos
próximos cinco anos, como mostrado na tabela a seguir. Calcula-se, assim, o VPL do projeto.

Tabela30. Fluxos de caixa esperados do projeto.

Ano Fluxo de Caixa


0 -405.000

1 125.000,00

2 135.000,00

3 150.000,00

4 140.000,00

5 120.000,00

Fonte: Elaboração do autor.

Para resolver esse exemplo, vamos proceder com uma linha de tempo.

Figura 29. Fluxos de caixa do projeto.

150.000
135.000 140.000
125.000
120.000

1 2 3 4 5

- 405.000

Fonte: Elaboração do autor.

90
FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL • CAPÍTULO 5

Agora, vamos calcular o valor presente de cada fluxo com base na equação anterior. Lembre-se
de que sempre terá de iniciar o investimento inicial no ano zero, conforme a Figura 29.

Tabela 31. Fluxos de Caixa Esperados do Projeto

Fluxo de Valor Presente


Ano Valor Presente Valor Presente
Caixa Cumulativo
−404000
0 -405.000 - 405.000 -405.000
(1 + 0,15)0

125.000
1 125.000,00 108.695,65 -299.304,35
(1 + 0,15)1

135.000
2 135.000,00 102.079,40 -197.224,95
(1 + 0,15)2

150.000
3 150.000,00 98.627,43 -98.597,52
(1 + 0,15)3

140.000
4 140.000,00 80.045,45 -18.552,07
(1 + 0,15)4

120.000
5 120.000,00 59.661,21 41.109,14
(1 + 0,15)5

Fonte: Elaboração do autor.

Podemos parar quando os valores cumulativos passam de negativo para positivo. Nesse caso, a
interpolação linear nos dará uma métrica de PDB de:

18.552,07
PBD =
4+ 4,31 anos ou 4 anos e 3 meses e 22 dias
=
59.661,21

O custo do projeto será recuperado em 4 anos, 3 meses e 22 dias.

Taxa interna de retorno

A técnica da taxa interna de retorno é a mais popular dos métodos de orçamento de capital
baseados em taxa de retorno, em razão de, se você considerar um projeto com fluxos de caixa
normais, que seja independente de outros projetos, essa estatística dar a mesma resposta para
aceitar ou rejeitar como ocorre com a regra de VPL.
N
FCn
Re gra da TIR =>> 0 = ∑
n=0 (1+ TIR)n

Resolvemos simplesmente a equação da taxa de juros que fará com que o VPL seja igual a zero.

Quando deve aceitar ou rejeitar o projeto na regra do TIR?

91
CAPÍTULO 5 • FERRAMENTAS E TÉCNICAS DE DECISÃO DE ORÇAMENTO DE CAPITAL

 Aceitar o projeto se a TIR for ≥ Custo de Capital



 Re jeitar o projeto se a TIR for ≤ Custo de Capital

O problema é que somente é possível calcular o TIR com uma calculadora científica ou HP, por
isso não iremos experimentar nenhum exemplo aqui.

Índice de rentabilidade

Outro método utilizado de avaliação de projetos é o índice de rentabilidade (IR), ou quociente


benefício/custo. Esse índice é definido como “o quociente entre o valor presente dos fluxos de
caixa futuros e o investimento inicial”.

VPL
IR =
FC0

Um índice de rentabilidade maior do que 1,00 significa que o valor presente dos fluxos de caixa
futuros é maior do que o investimento inicial. Portanto, para um projeto que custasse R$200,00, e
o valor presente dos fluxos de caixa futuros fosse R$ 220,00, o índice de rentabilidade seria 220/200
= 1,10. Isso nos diz que cada real investido resulta em R$1,10. Esse índice mede o valor criado
por dólar investido. Por esse motivo, é frequentemente proposto como medida de desempenho
de investimentos governamentais ou sem fins lucrativos. Além disso, quando há limitação de
capital, pode fazer sentido alocar o capital aos projetos com maiores IRs. Esse método será usado
mais no capítulo sobre análise de desempenho financeiro de uma empresa que envolverá o uso
de vários índices de rentabilidade econômica e financeira. Faremos mais exercícios detalhados
sobre o emprego desse método.

Sintetizando

Neste capítulo, aprendemos os métodos de orçamento de capital, as técnicas de decisão de investimento em projetos com
base no valor presente líquido, o período de retorno do investimento, nos fluxos de caixa esperados de um projeto usando a
abordagem do fluxo de caixa livre. Destacamos como a depreciação afeta os fluxos de caixa do projeto. E aprendemos a usar
os cálculos de período de payback com desconto e de taxa interno de retorno.

92
CAPÍTULO
PRODUTOS FINANCEIROS E
FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE
CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO 6
Apresentação

Até agora nós estudamos a análise de balanço patrimonial, a avaliação de fluxo de caixa para
tomadas de decisão financeira, tanto por parte de pessoa física quanto de investidores, e as
principais funções de um analista financeiro, além disso os métodos de avaliação de investimentos.

Neste último capítulo, vamos fechar a disciplina fixando nosso aprendizado nos vários produtos
financeiros negociados nos mercados financeiros e formular metodologias de cálculo para
avaliação dos resultados efetivos para decisões de financiamento com base em taxas de juros de
mercado. Aspectos normativos das operações não são tratados com maior profundidade neste
capítulo.

Este estudo trata das características dos produtos presentes no mercado financeiro e dos métodos
de avaliação dos resultados efetivos na ótica de um investidor comprador ou fornecedor de
títulos financeiros.

Objetivos

No final deste capítulo, você será capaz de:

» entender os diversos tipos de produtos financeiros negociados no mercado primário


e secundário;

» dominar as formulações das metodologias de cálculo dos resultados efetivos dos produtos
financeiros;

» compreender a estrutura das taxas de juros utilizadas nos cálculos de resultados efetivos
de produtos financeiros.

93
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

Mercados financeiros

Os mercados financeiros existem para administrar os fluxos dos fundos de investidores para os
mutuários. Podemos distingui-los em duas dimensões: a primeira – mercados primários versus
mercados secundários, esse até agora não foi discutido; e a segunda – mercados monetários
versus mercados de capitais. Você deve estar se perguntando: o que são mercados primários
e mercados secundários? Mercados monetários e mercados de capitais? Vamos às definições!

Figura 30. Estrutura do Mercado Financeiro.

Fonte: Elaboração do autor.

Mercados primários

Os mercados primários promovem um fórum no qual, segundo Cornett (2013), os demandantes


de fundos (por exemplo, corporações ou entidades governamentais como a IBM ou o Tesouro
Nacional) levantam fundos ao emitir novos instrumentos financeiros, como ações e obrigações. As
corporações ou entidades governamentais continuamente têm novos projetos ou necessidades de
produção expandidas, mas não têm fundos suficientes gerados internamente ou capital próprio
(como lucros retidos) para sustentar suas necessidades de capital. Dessa forma, as corporações
e os governos emitem títulos nos mercados primários externos para levantar fundos adicionais.

No Brasil, os bancos de investimento organizam a maioria das transações no mercado primário


para as empresas. Os bancos de investimento fornecem aos demandantes de fundos uma série
de serviços, que incluem aconselhar empresas ou agências governamentais sobre as emissões

94
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

de títulos (como um preço de oferta apropriado e o número de títulos a serem emitidos) e atrair
os compradores de ofertas públicas iniciais das ofertas de títulos feitas por clientes.

A figura a seguir ilustra a transferência de fundos no mercado primário, um cronograma para


o mercado primário de fundos de uma nova emissão de obrigações corporativas ou de ações.

Figura 31. Mercado primário.

Transferência de Fundos no Mercado Primário

Onde novas emissões de instrumentos financeiros são oferecidas para a venda

Demandantes Títulos
de fundos Títulos
Subscrevendo Fornecedores
(corporações com bancos de iniciais de
que emitem investimento fundos
instrumentos de
(investidores)
dívida/patrimôn Dinheiro Dinheiro
io líquido)

Fonte: CORNETT, 2013.

Importante

As empresas que precisam de fundos raramente são especialistas em levantar capital para si mesmas, de forma que são
avessas ao risco e rebaixam seus custos quando se voltam para os bancos de investimento especializados para emitirem seus
títulos do mercado primário.

Mercados secundários

Uma vez que as empresas emitem os instrumentos financeiros nos mercados primários, essas
mesmas ações e obrigações são negociadas nos mercados secundários. Além de ações e obrigações,
os mercados secundários existem para os instrumentos financeiros garantidos também por
hipotecas e outros ativos, moeda estrangeira, futuros e opções (isto é, títulos derivativos).

Os compradores encontram os vendedores de títulos no mercado secundário em agentes


econômicos que precisam de fundos. Os mercados secundários promovem, segundo Cornett
(2013), um mercado centralizado no qual os agentes econômicos podem vender ou comprar a
maioria dos títulos, de forma rápida e eficiente. Os mercados secundários, portanto, economizam,
para os agentes econômicos custos de encontrar compradores e vendedores por conta própria.

A figura a seguir ilustra a transferência de fundos no mercado secundário. Os compradores nos


mercados secundários muitas vezes usam corretores de títulos ou outras empresas de corretagem
para atuar como intermediários quando trocam fundos por títulos.

95
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

Figura 32. Mercado secundário.

Transferência de Fundos no Mercado Secundário

Onde os instrumentos financeiros uma vez emitidos são negociados

Títulos Títulos

Mercados Corretores de Outros


Financeiros Títulos fornecedores de
fundos
Dinheiro
Dinheiro

Fonte: CORNETT, 2013.

Importante

É importante lembrar que a empresa que originalmente emitiu as ações ou obrigações não está, de maneira alguma,
envolvida com as transações nos mercados secundários. Nenhum dinheiro é acumulado pela empresa em si quando suas
ações são negociadas no mercado secundário.

Os mercados secundários oferecem benefícios para ambos, os investidores (fornecedores de


fundos) e os emissores (demandantes de fundos). Os investidores ganham liquidez e benefícios
de diversificação. Muito embora os emissores de títulos corporativos não estejam diretamente
envolvidos nas transações do mercado secundário, os emissores obtêm informações sobre o
valor de mercado corrente de seus títulos. De acordo com o Cornett (2013), as empresas de
capital aberto podem, então, observar como os investidores percebem o valor corporativo de
suas decisões ao rastrearem os preços dos seus títulos no mercado secundário. Ainda assim,
ele comenta que essas informações sobre os preços permitem que os emissores avaliem quão
bem usam os fundos internos, assim como aqueles gerados de ações e obrigações emitidos, e
fornecem indicações sobre quão bem qualquer oferta subsequente de obrigações ou ações pode
ser recebida e a que preço.

Mercados monetários

Observamos anteriormente que os mercados financeiros são diferenciados em parte pelas datas
de vencimento dos produtos negociados. Essa distinção é importante quando diferenciamos
os mercados monetários dos mercados de capitais. Ambos lidam com títulos de dívida, mas a
questão é: quando esses títulos vencem?

96
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

Cornett (2013) define, em seus estudos sobre os mercados monetários, como aqueles que destacam
os títulos, os instrumentos de dívida com vencimento em um ano ou menos. Assim, segundo o
autor, os agentes econômicos com excesso de fundos de curto prazo podem emprestá-los para os
agentes econômicos que precisam desse tipo de fundo (dessa forma, eles vendem instrumentos
do mercado monetário para levantar fundos). Pelo fato de os instrumentos do mercado monetário
serem negociados apenas por períodos de tempo curtos, as flutuações nos preços do mercado
secundário são normalmente bastante pequenas. Com menos volatilidade, os títulos negociados
nos mercados monetários são, portanto, menos arriscados do que os instrumentos com prazos
mais longos.

Produtos negociados nos mercados monetários

Corporações e entidades governamentais emitem uma variedade de títulos do mercado monetário


para obter fundos de curto prazo, os quais incluem:

a. notas do tesouro: obrigações de curto prazo do governo;

b. fundos federais: fundos de curto prazo transferidos entre as instituições financeiras,


geralmente por não mais do que um dia;

c. acordos de recompra: acordos que envolvem a venda de títulos de uma parte para outra,
com a promessa de reverter a transação em uma data e preço especificados, geralmente
com um preço descontado;

d. títulos negociáveis (algumas vezes chamados de papéis): notas promissórias não


garantidas, de curto prazo, que as empresas emitem para levantar dinheiro em um
prazo de tempo curto;

e. certificados de depósitos (CDS) negociáveis: depósitos de prazo emitidos pelos bancos


que especificam uma taxa de juros e a data até o vencimento e são negociáveis;

f. aceites bancários: títulos garantidos por bancos pagáveis a um fornecedor de produtos.

Mercados de capitais

Os mercados de capitais são aqueles nos quais as partes negociam produtos do patrimônio
líquido (ações) e dívida (obrigações) que vencem em mais de um ano. Em razão de seu tempo até
o vencimento mais longo, os instrumentos dos mercados de capitais estão sujeitos a flutuações
mais amplas nos preços do que os instrumentos dos mercados monetários.

97
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

Produtos negociados no mercado de capitais

Os títulos negociados no mercado de capitais incluem:

a. Notas e obrigações do Tesouro Nacional: obrigações de longo prazo do Tesouro Nacional


para financiar a dívida pública e pagar por outros gastos do governo federal.

b. Obrigações dos governos estaduais e locais: títulos de dívida emitidos pelos governos
estaduais e locais geralmente para cobrir as melhorias de capital a longo prazo.

c. Hipotecas: empréstimos de longo prazo para indivíduos e empresas para comprar casas,
terrenos ou qualquer outro imóvel.

d. Títulos lastreados por hipoteca: títulos de dívida de longo prazo que oferecem o
principal esperado e o pagamento de juros como colateral. Esses títulos, compostos
de muitas hipotecas, são agrupados em um único grupo e são, dessa forma, garantidos
pelo principal prometido e pelos fluxos de caixa dos juros.

e. Obrigações corporativas: obrigações de longo prazo emitidas por corporações.

f. Ações corporativas: títulos de patrimônio líquido de longo prazo emitidos por empresas
de capital aberto, as ações representam direitos de propriedade corporativa fundamentais.

Tipos de instituições financeiras

Como visto no primeiro capítulo, aqui se destacam as instituições financeiras que compõem o
mercado financeiro:

Bancos comerciais

São instituições depositárias cujos maiores ativos são empréstimos e os maiores passivos,
depósitos. Os empréstimos dos bancos comerciais cobram uma extensão mais ampla, incluindo
empréstimos para consumidores, comerciais e imobiliários, do que os empréstimos de outras
instituições depositárias. Pelo fato de serem maiores e, provavelmente, terem mais acesso aos
mercados de títulos públicos, os passivos dos bancos comerciais geralmente incluem mais fontes
de não depósito de fundos, como as notas subordinadas e debêntures, do que aqueles de outras
instituições depositórias.

Instituições de poupança e empréstimo

São instituições depositárias incluindo as associações de poupança, as caixas econômicas e


as cooperativas de crédito. As instituições de poupança e empréstimo geralmente realizam

98
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

serviços similares aos bancos comerciais, mas têm a tendência de concentrar seus empréstimos
em um segmento, como os empréstimos imobiliários e para consumidores. As cooperativas de
crédito operam sem fins lucrativos para grupos específicos de indivíduos, como um sindicato
ou funcionários de uma empresa específica.

Empresas de seguros

Elas protegem os indivíduos e corporações (portadoras das apólices) de eventos


financeiramente adversos. As empresas de seguro de vida oferecem proteção no evento
de morte prematura ou doença e ajudam no planejamento de aposentadoria. O seguro
contra danos prediais protege contra ferimentos e responsabilidade civil pessoal causados
por acidentes, roubo, incêndio, e assim por diante.

Empresas financeiras

Elas fazem empréstimos para indivíduos e empresas. Diferentemente das instituições depositárias,
as empresas financeiras não aceitam depósitos, entretanto dependem de dívida de curto e longo
prazo para financiamento. Grande parte de seus empréstimos são garantidos com algum tipo
de produto durável, como lavadora/secadora de roupa, móveis, carpetes e afins.

Empresas de título e bancos de investimento

Elas subscrevem títulos e se engajam em atividades relacionadas, como corretagem de títulos,


negociações de títulos, e fazem os mercados nos quais os títulos são negociados.

Fundos mútuos

Eles agrupam os recursos financeiros de muitos indivíduos e empresas e os investem em portfólio


de ativos.

Fundos de pensão

Eles oferecem planos de poupança pelos quais os participantes do fundo acumulam poupanças
durante seus anos de trabalho. Os participantes, então, retiram seus recursos de pensão (os quais
presumidamente obtiveram retornos adicionais nesse meio tempo) na aposentadoria. Os fundos
originalmente investidos e acumulados em um fundo de pensão estão isentos da tributação
corrente. Os participantes pagam impostos nas distribuições retiradas depois dos 65 anos de
idade, quando suas faixas tributárias são (presumidamente) mais baixas.

99
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

Produtos financeiros e metodologia de avaliação de


resultado efetivo

Após essa discussão sobre os mercados financeiros e os principais produtos negociados em


cada mercado, além dos tipos de instituições financeiras que atuam no mercado financeiro,
nossa discussão agora será sobre como avaliar os diferentes produtos financeiros com foco na
formulação de metodologias para avaliar os resultados efetivos da contratação desses produtos
no mercado, na perspectiva de investidor comprador de títulos financeiros.

Nas linhas seguintes, prepare sua calculadora, pois iremos fazer cálculos o tempo todo, toda
concentração é importante. A cada produto identificado, será dada uma aplicação para os cálculos
de resultados como exemplo de formulação de metodologia. Todas as aplicações a seguir foram
baseadas integralmente no capítulo do livro de Assaf Neto (2012) sobre produtos financeiros
de sua obra, mercado financeiro publicado em 2012, isso porque é um dos melhores livros que
existe atualmente.

Certificado e recibo de depósito bancário (CDB/RDB)

Os CDBs e RDBs constituem-se em títulos de renda fixa emitidos pelos bancos Comerciais/
Múltiplos e bancos de investimentos destinados a lastrear operações de financiamento de capital
de giro.

A remuneração desses títulos pode basear-se em:

a. taxa prefixada;

b. taxa pós-fixada;

c. taxa flutuante, atrelada à variação de algum índice (CDI, por exemplo).

Estrutura da taxa

Um banco anuncia pagar 22,6% ao ano para aplicação em CDB de sua emissão. É projetada uma
inflação de 7,2% ao ano, e o mercado vem trabalhando, com o referencial da taxa pura de juros
(taxa de juros livre de risco), os 6% ao ano pago pela caderneta de poupança. Admite uma taxa
de IR de 20% calculada por ocasião do resgate sobre os rendimentos. Definir, para o período de
um ano:

a. taxa efetiva bruta e líquida do IR;

b. taxa real de juros;

c. taxa de risco embutida na remuneração do CDB.

100
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

Importante

A principal diferença entre o CDB e o RDB é a possibilidade de o certificado de depósito bancário ser transferido a outros
investidores por endosso nominativo. O RDB é um título intrasferível.

Figura 33. A estrutura das taxas de juros embutidas na remuneração anual de um CDB/RDB.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

Antes de tudo, recomendo que tome cinco minutos do seu tempo para ler muito bem o enunciado
e entende-lo.

a. Taxa efetiva bruta e líquida do IR

Primeiro considere que a taxa efetiva bruta, ou remuneração bruta do título, nesse caso,
é Ib = 22,6% dada pelo enunciado.

A taxa efetiva líquida do IR, ou a remuneração líquida para uma alíquota de IR de 20%,
é a remuneração equivalente a 80% da taxa anual, ou seja:

IL = Ib x (1 – IR)

IL = 22,6% (1 – 0,20) = 18,08%


Fonte: Elaboração do autor.

b. Taxa real de juros r

1 + IL
=r − 1 Sendo INF a taxa de inf lação
1 + INF

1 + 0,1808
=r = − 1 10,15%a.a
1 + 0,072

c. Taxa de risco embutida na remuneração

A estrutura das taxas de juros embutidas na remuneração anual de um CDB/RDB pode


ser ilustrada da seguinte forma:

101
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

1+ r
Risco
= −1 Sendo RF a taxa livre de risco (taxa pura de juros).
1 + RF

1 + 0,1015
Risco
= = − 1 3,92%a.a
1 + 0,06

IR incidindo sobre CDB

A tabela a seguir ilustra as alíquotas de imposto de renda no Brasil, adotada uma alíquota
decrescente em relação ao prazo da aplicação, ou seja:

Tabela32. Alíquota de Imposto de Renda.

Prazo Alíquota de Imposto de Renda


Até 6 meses 22,5%

De 6 a 12 meses 20,0%

De 12 a 24 meses 17,5%

Acima de 24 meses 15,0%

Fonte: ASSAF NETO, 2012.

Para ilustrar, admita uma aplicação de R$200.000,00 em título de renda fixa (CDB) pelo prazo de
36 dias corridos. No período, existem 24 dias úteis. A remuneração do título é definida na taxa
prefixada de 11,9% a.a. (base 360 dias).

Determinar:

a. valor líquido do resgate;

b. taxa efetiva anual;

c. taxa efetiva líquida ao ano over.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado


a. Valor líquido do resgate

Primeiro precisamos achar o rendimento bruto ou total da aplicação após os 36 dias


corridos de aplicação; para tanto, você deve usar a seguinte fórmula ou equação:

 dc

Rb =(1 + i)360 − 1 x V0
 

Em que:

› Rb: é o rendimento bruto após o período corrido de aplicação.

102
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

› V0: é o valor aplicado ou valor do título no exemplo aqui I0=R$200.000,00.

› dc: o número de dias corridos da aplicação durante o ano, no exemplo aqui sendo
36 dias corridos.

36
 
Rb =
(1 + 0,1190)360
−1 x R$200.000,00 =
R$2.261,40
 

Em seguida, devemos calcular o valor do IR retido sobre o rendimento da aplicação para


deduzir o valor do rendimento líquido. Considerando que o título foi aplicado durante
um período de 36 dias, devemos considerar a alíquota de IR de 22,5% de acordo com a
tabela de alíquota de IR e usar a seguinte fórmula:

Ir = Rb x IR

Em que:

› Ir: valor do imposto retido sobre o rendimento da aplicação.

› Rb: valor do rendimento bruto calculado anteriormente Rb= R$2.261,40.

› IR: alíquota do imposto de renda no exemplo IR=22,5%.

Ir = 22,5% x $2.261,40 = R$ 508,82

Agora que já temos o valor do imposto de renda retido, podemos deduzir o valor do
rendimento líquido descontando do rendimento bruto o valor do imposto retido.

RL – Rb – Ir

RL = R$ 2.261,60 – R$ 508,82 = R$ 1752,58

Por fim, o valor líquido do resgate é igual à aplicação mais o rendimento líquido:

VL = R$ 200.000,00 + R$ 1.1752,58 = R$ 201.752,58

Podemos resumir todas essas etapas em uma tabela de resultado simplificado.

Tabela 33. Tabela simplificada do resultado da aplicação.

Rendimento Bruto ou Total R$2.261,40

(-) Imposto de Renda Retido R$508,82

Rendimento Liquido R$1.752,58

Valor aplicado R$200.000,00

Valor do resgate R$201.752,58

Fonte: Elaboração do autor.

103
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

b. Taxa líquida efetiva anual

É a taxa de retorno correspondente ao período de 36 dias de aplicação. Existem duas


formas diferentes de calcular essa taxa líquida efetiva anual.

 VL   VL 
IL =
 − 1 x100 ou IL =
  x100
 V0   V0 

 $201.752,58 
IL 
= − 1 x100
= 0,8763% ao período (36 dias corridos)
 200.000,00 

ou

 $1.752,58 
=IL =  x 100 0,8763% ao período
 200.000,00 

c. Taxa over ao ano (efetiva)

É a taxa de retorno correspondente ao período de 24 dias úteis de aplicação, ou seja,


o período de 36 dias em que os R$200.000,00 ficaram aplicados, somente 24 dias
corresponderam a dias úteis.

t0 = [( 1+iL) 252/24 – 1] x 100

Taxa over = [(1,008763) 252/24 – 1] x 100 = 9,59% a.a

Certificado de depósito interfinanceiro (CDI)

Os CDIs são títulos que lastreiam as operações no mercado financeiro. São emitidos por instituições
financeiras e têm por função básica viabilizar a transferência de recursos entre os participantes
do interfinanceiro.

As operações com CDI são geralmente realizadas por um dia, podendo ainda ocorrer transações
por prazos maiores. Os CDIs negociados por um dia são conhecidos no mercado por depósitos
interfinanceiros (DI) e funcionam como uma taxa de referência diária para o mercado, o DI over.

As operações com CDIs no mercado interfinanceiro são controladas e registradas pelas instituições
participantes e nos terminais da CETIP (comissão de custódia). Esses títulos estão isentos de
impostos, e os juros são definidos pela denominada taxa over, geralmente expressa como linear
mensal e capitalizada pelos dias úteis previstos na operação.

Taxa efetiva e taxa over

Uma taxa over está definida em 2,61% a.m. Admitindo a existência de 22 dias úteis no período,
calcular a taxa efetiva da operação.

104
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

Atenção

Você deve sempre se lembrar de converter a taxa over ao dia antes de achar o valor da taxa efetiva, que será ao mês.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

A taxa over é uma taxa de juro nominal com capitalização diária, porém válida somente para dias
úteis, sua capitalização ocorre unicamente em dia de funcionamento do mercado financeiro. A
taxa costuma ser expressa ao mês, obtida pela simples multiplicação da taxa só dia por 30.
d
 t u 
EFE =
 1 + 0  − 1 x 100
 30  

t0 2,61%
» é a taxa over ao dia que, nesse caso, é de: = 0,087% a.d.
30 30

» to é a taxa over mensal dada no enunciado, equivalente a 2,61% a.m.

» du é o número de dias úteis de aplicação ou da operação.

2,61%
Taxa over ao dia = = 0,087% a.d.
30

EFE = [(1 + 0,00087)22­– 1] x 100 = 1,93% a.m.

Operação interbancária

Uma operação interbancária é efetuada por três dias. Sendo as taxas over mensais definidas
em cada dia: 2,17%, 2,23% e 2,30%, determinar a taxa efetiva no período e a taxa over média da
operação.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

Para iniciar, devemos, primeiramente, converter todas as taxas over mensais em taxas over diárias,
com base na fórmula anterior, teremos:

2,17%
Over1
= = 0,0723% ao dia
30

2,23%
Over2
= = 0,0743% ao dia
30

105
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

2,30%
Over3
= = 0,0767% ao dia
30

Taxa Efetiva (EFE) =  (1 + 0,000723 ) x (1 + 0,000743 ) x (1 + 0,000767 )  −1  x100

EFE = 0,2235% no período

Lembre-se de que dessa vez procedemos de maneira diferente sem usar os três dias de aplicação,
isso porque tivemos três taxas diferentes a cada dia da aplicação. Para a taxa efetiva over média
da aplicação, devemos usar a fórmula a seguir:

Taxa efetiva Over média =  n (1 + EFE ) − 1 x 100


 

Com n nesse caso aqui igual a 3, pois temos três observações ou dados:

Taxa média =  3 (1 + 0,002235 ) − 1 x 100


 
Taxa média = 0,0744% ao dia

CDB com a taxa over

Um CDB está pagando no mercado a taxa bruta efetiva de 20,6% ao ano. A alíquota de IR é de
20%, incidente sobre os rendimentos totais. Por ocasião do resgate, transforma-se a taxa de
remuneração líquida do CDB em taxa over mensal, remuneração líquida do CDB em taxa over
mensal, admitindo a existência de 23 dias úteis no período.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

Taxa bruta (ib) = 20,% a.a.

Taxa líquida (ib) = tb x (1 – IR) x 100

Como a taxa bruta é anual, precisamos achar a taxa líquida primeiramente ao ano e, depois,
converter ao mês com 23 dia úteis, como indicado no enunciado, assim temos:

iL = 0,206 x (1 – 0,20) x 100 = 16,48% a.a.

Agora, convertendo a taxa líquida anual em taxa líquida mensal, que será equivalente à taxa
efetiva – lembre-se da fórmula da taxa efetiva anteriormente apresentada, a qual converteremos
em taxa over –, faremos o mesmo procedimento, assim teremos:

12 1 + 0,1648 − 1 x 100 =


iL = 1,28% a.m.
 

A taxa over será a taxa efetiva equivalente aos 23 dias úteis de investimento e convertida à taxa
over mensal.

106
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

Over = du 1 + EFE − 1 x 30

 28 1 + 0,0128 − 1 x 30
Over =
 

Over (1,0128 )
1/23
= − 1 x 30
 

Over = 1,66% a.m.

Um CDB com prazo de 34 dias corridos (ou 23 dias úteis) está pagando uma taxa efetiva de juros
de 12,8% a.a. (base 360 dias). Calcular a taxa over equivalente anual (taxa a.a.o.).

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

Esse segundo exemplo é mais para lidar com as conversões de taxas efetivas para taxas over. Dessa
vez, trata-se de uma conversão de taxa efetiva correspondente ao período de 34 dias correntes para
a taxa anual over equivalente. Essas conversões, por mais que sejam determinadas diretamente
por programas de computação hoje, em qualquer sistema operacional de finanças, é importante
que o administrador saiba operá-las, elas são extremamente relevantes para tomadas de decisão
de investimento e para análise de resultado das aplicações.

Taxa efetiva anual (base 360 dias) = 12,8% a.a.

Taxa efetiva equivalente ao período:

(1,128 )34/360 − 1 x 100 =


1,1440% a.p.
 

Taxa over anual equivalente:

(1,0114 )252/23 − 1 x 100 =


13,27% a.a.a.
 

Taxa over efetiva (Taxa SELIC)

As taxas apuradas no SELIC são definidas como over anual efetiva. O Banco Central considera
252 dias úteis no ano. A taxa “overnight” do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) é
expressa em bases anuais, admitindo a existência de 252 dias úteis, de acordo com orientação do
Banco Central. Representa a taxa média ponderada pelo volume das operações de financiamento
lastreadas em títulos públicos federais, de um dia, realizadas na SELIC. A taxa OVER/SELIC é
publicada diariamente, sendo usada no mercado como a taxa básica de juros de referência da
política monetária executada pelo Banco Central.

107
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

(1 + OVER a.a.o )1/du − 1 x 100


i a.d =
 

Em que:

Ia.d. é a taxa ao dia;

OVERa.a.o. é taxa over efetiva ao ano;

du é o número de dias úteis (du = 252).

Taxa over anualizada

A taxa SELIC apurada no mês de outubro de 2017 anualizada atingiu 19,25% a.a. Pede-se para
calcular:

a. taxa por dia útil

b. taxa efetiva mensal, admitindo a existência de 20 dias úteis no mês.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

a. Taxa por dia útil

(1 + 0,1925 )1/252 − 1 x 100 =


i= 0,0699% a du (ao dia útil)
 

b. Taxa efetiva mensal

(1 + 0,1925 )20/252 − 1 x 100 =


i= 1,407% a.m.o(ao mês over)
 

Taxa SELIC anualizada

A taxa SELIC efetiva mensal referente a dois meses, e seus respectivos dias úteis, é apresentada
a seguir:

Taxa Efetiva Dias Úteis


Mês 1 1,475% 21
Mês 2 1,380% 30

Pede-se determinar a taxa efetiva anual (base de 252 dias úteis) da SELIC para cada mês.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

(1 + 0,01475 )252/21 − 1 x 100 =


19,21% a.a.o(ao ano over)
 

(1,01380 )252/20 − 1 x 100 =


18,85% a.a.o(ao ano over)
 

108
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

Taxa efetiva equivalente

Um CDI, com prazo de 22 dias úteis e 30 dias corridos, paga uma taxa efetiva over anual de 13,25%.
Pede-se para calcular a taxa efetiva equivalente ao ano base de 360 dias corridos.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

Taxa efetiva no período:

EFE = [(1 + 0,1325)22/252 – 1] x 100 = 1,0922% p/22 du (30dc)

Taxa efetiva equivalente anual (base 360 dias):

EFE = [(1 + 0,010922)360/30 – 1 ] x 100 = 13,92% a.a

Caderneta de poupança

A caderneta de poupança é a aplicação mais popular do mercado financeiro brasileiro. Tem como
atrativos a possibilidade de se aplicar qualquer valor (não há exigência de um capital mínimo
investido), liquidez imediata para depositante, isenção de imposto de renda para pessoas físicas
e baixo risco. Os saldos aplicados são garantidos, até determinado valor pelo governo.

A caderneta de poupança tem uma “data de aniversário”, que é o dia que foi efetuado o depósito
(aplicação). Os rendimentos são calculados mensalmente e creditados sempre nessa data ao
aplicador. Caso haja retiradas antes da data de aniversário, a caderneta não paga nenhum
rendimento sobre o dinheiro sacado. A remuneração é calculada sobre o menor saldo mantido
no período.

A remuneração atual da caderneta de poupança é TR (Taxa Referencial) mais 0,5% ao mês.

Rendimentos da aplicação

Admita, como ilustração, que a TR mensal tenha atingido os seguintes percentuais em determinado
trimestre do ano:

Mês 1 Mês 2 Mês 3

0,0510% 0,0589% 0,1151%

Uma pessoa mantém aplicado R$500.000,00 na caderneta de poupança no trimestre, sem efetuar
nenhuma movimentação na conta (novos depósitos ou saques). A remuneração da aplicação
é formada pela TR mais uma taxa de 0,5% a.m. A data de aniversário desta conta é o último dia
de cada mês.

Pede-se para calcular, para cada mês e todo o período, o movimento disponível e a rentabilidade
oferecida pela aplicação.

109
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

Para responder às perguntas, devemos calcular para cada mês a taxa de rentabilidade efetiva,
lembrando do TR mais a taxa de 0,50% a.m., em seguida calcular o montante disponível ao final
do semestre e, por fim, a rentabilidade acumulada do trimestre.

Tabela 34. Cálculo de rentabilidade e de taxa de rentabilidade efetiva de uma caderneta de poupança.

Mês 1

Rentabilidade Efetiva: [(1 + 0,000510) x (1 + 0,005) – 1] 0,5513%

Mês 2

Rentabilidade Efetiva: [(1 + 0,000589) x (1 + 0,005) – 1] 0,5592%

Mês 3

Rentabilidade Efetiva: [(1 + 0,001151) x (1 + 0,005) – 1] 0,6157%

Montante disponível ao final do trimestre


R$508.680,32
R$500.000,00 x (1 + 0,000510) x (1 + 00589) x (1 + 0,001151) x (1 + 0,005)3

Rentabilidade Acumulada do Trimestre

 (1 + 0,000510 ) x (1 + 0,000589 ) x (1 + 0,001151)(1 + 0,005 )3  − 1 1,736% a.t


  

Fonte: Elaboração do autor.

Crédito direto ao consumidor (CDC)

É uma operação de financiamento direcionada para aquisição de bens e serviços pelo consumidor
ou usuário final. O financiamento é geralmente pago em prestações mensais, iguais e consecutivas.
Os encargos de uma operação de CDC são basicamente juros e a cobrança do Imposto sobre
Operações Financeiras (IOF).

Valor da prestação de um CDC com e sem IOF

Suponha um financiamento ao consumidor de R$12.000,00 pagável em seis meses, por meio de


prestações mensais, iguais e sucessivas. O CDC contratado não prevê carência, e o juro cobrado
é de 1,4% a.m., a alíquota de IOF considerada nesse exemplo é de 0,0082% ao dia corrido.

Pede-se para calcular o valor das prestações:

a. sem o IOF;

b. com o IOF.

Formulação da metodologia de cálculo do resultado

a. Valor das prestações sem financiar o IOF

110
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

Utilizando-se as formulações da matemática financeira, tem- se:

1 − (1 + i )
−n

PV = PMT x
i

Em que:

PV = valor presente (financiamento);

PMT = prestação periódica mensal;

i = taxa de juro;

n = prazo.

Substituindo, tem-se:

1 − (1,014 )
−6

12.000 = PMT x
0,014

PMT = $ 2.099,14/mês.

A seguir, está a planilha financeira desse CDC. Deve-se utilizar o Excel para produzir
tal tabela.

Figura 34. Tabela de Cálculo das Amortizações de um CDC sem Financiamento do IOF.

Mês Saldo Devedor Amortização Juros Prestação (PMT)


0 R$ 12.000,00
1 R$ 10.068,86 R$ 1.931,14 R$ 168,00 R$ 2.099,14
2 R$ 8.110,68 R$ 1.958,18 R$ 140,96 R$ 2.099,14
3 R$ 6.125,09 R$ 1.985,59 R$ 113,55 R$ 2.099,14
4 R$ 4.111,70 R$ 2.013,39 R$ 85,75 R$ 2.099,14
5 R$ 2.070,13 R$ 2.041,58 R$ 57,56 R$ 2.099,14
6 R$ 0,00 R$ 2.070,13 R$ 28,98 R$ 2.099,14

Fonte: Elaboração do autor.

O valor do juro do primeiro mês é obtido pela seguinte metodologia:

J1 = R$ 12.000 x 0,014 = R$ 168

A1 = PMT – J1 = R$ 2.099,14 – R$168,00 = R$ 1.931,14

S1 = 12.000 – A1 = 12.000 – 1.931,14 = R$10.068,86

111
CAPÍTULO 6 • PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO

J2 = R$10.068,86 x 0,014 = R$140,96

A2 = PMT – J2 = R$2.099,14 – R$140,96 = R$1.958,18

S2 = S1 + A2 = R$10.068,86 – R$1.958,18 = R$8.110,68

E assim em diante até o sexto mês.

O IOF é calculado com base no valor das amortizações para a operação. Admitindo a alíquota
de IOF de 0,25% a.m. (IOFa.m = IOFa.d x 30 = 0,0082% x 30 = 0,25% a.m) tem-se:

Tabela 35. Cálculo do IOF sem financiamento de um CDC.

Mês Amortização IOF sem financiar


1 1.931,14 4,83

2 1.958,16 9,79

3 1.985,59 14,89

4 2.013,39 20,13

5 2.041,58 25,52

6 2.070,13 31,05

Total 12.000,00 106,21

Fonte: Elaboração do autor.

a. Valor das prestações com financiamento do IOF

O cálculo da prestação seria:

 
 PV 
IOFFIN 
=  − PV
1 − IOFSEM 
 PV 

Em que:

PV = valor do financiamento original;

IOFFIN = valor do IOF financiado;

IOFSEM = valor do IOF sem financiar.

Substituindo:

 
 R$12.000,00 
IOFFIN=   − R$12.000,00
= R$107,16
 1 − 106,21 
 12.000,00 

IOFFIN = R$107,16

112
PRODUTOS FINANCEIROS E FORMULAÇÃO DE METODOLOGIA DE CÁLCULO DE RESULTADO EFETIVO • CAPÍTULO 6

» Valor do financiamento com IOF = R$12.000,00 + R$107,16 = R$12.107,16


1 − (1 + 0,014 )
−6
» Valor da prestação do CDC com IOF (PMTIOF): 12.107,16 = PMTIOF x
0,014

PMTIOF = $2.177,88 / mês

Sintetizando

Neste capítulo, identificamos a estrutura do mercado financeiro e os diversos produtos financeiros oferecidos pelas
instituições financeiras, aprendemos como formular os cálculos para determinar as taxas efetivas de financiamento de
títulos privados no mercado. Vimos que diversos tipos de produtos financeiros são negociados no mercado primário e
secundário, estudamos as formulações das metodologias de cálculo dos resultados efetivos dos produtos financeiros e a
estrutura das taxas de juros utilizadas nos cálculos de resultados efetivos de produtos financeiros.

113
Referências
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2012.

BERK, J. Finanças empresariais. Porto Alegre: Bookman, 2009.

CORNETT, M. M. Finanças. Porto Alegre: AMGH, 2016.

FARIA, R. G. de. Matemática comercial e financeira: com exercícios e cálculos em Excel e HP-12C. São Paulo: Ática, 2007.

FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS CONTÁBEIS, ATUARIAIS E FINANCEIRAS. Manual de contabilidade das


sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. – 5ª ed. – São Paulo: Atlas, 2000.

FRANCO, H. Contabilidade geral. 22ª ed. São Paulo: Atlas, 1989.

GIACOMONI, J. Orçamento público. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 1996.

GIAMBIAGI, F.; ALÉM, A. C. D de. Finanças públicas: teoria e prática no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

FORO, C. de. Introdução à matemática financeira. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.

MANSFIELD, E. Microeconomia: teoria e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2006.

PINTO, A. C. Matemática financeira com HP 12C. São Paulo: Barros, Fischer & Associados; Clio Editora, 2010.

TAN, S. T. Matemática aplicada à administração e economia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.

WEYGANDT, J. J. Contabilidade financeira. 3ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2005.

114

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