Pedagogia Complexa 1

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Coleção Kimono de Ouro - Vol.

1
PEDAGOGIA COMPLEXA
DO JUDÔ
Um manual para treinadores de
equipes de base
José Alfredo Olivio Junior
Alexandre Janotta Drigo

Coleção Kimono de Ouro - Vol. 1


PEDAGOGIA COMPLEXA
DO JUDÔ
Um manual para treinadores de
equipes de base

1ª Edição
2015
© by José Alfredo Olivio Junior & Alexandre Janotta Drigo
© by Editora e Distribuidora de Livros Mundo Jurídico Ltda.

Comissão Editorial especial, responsável por esta obra:


Prof. Dr. Carlos Alexandre Fett - UFMT
Prof. Dr. Claudio Joaquim Borba Pinheiro - UFPA
Prof. Dr. Mário Mateus Sugizaki - UFMT
Prof. Dr. Mauro C. G. A. Carvalho - IF - “Colégio Pedro II” – Rio de Janeiro

Revisão Acadêmica: Coleção Kimono de Ouro:


Professor Ms: Tiago Volpi Braz Alexandre Janotta Drigo
José Alfredo Olivio Junior
Diagramação e Capa: Marcos Elias Mercadante
Silas Renato da Cruz

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

OLIVIO JUNIOR. José Alfredo & DRIGO, Alexandre Janotta

Coleção kimono de ouro - Vol. 1 - Pedagogia complexa


do judô - um manual para treinadores de equipes de base 1ª
edição / José Alfredo Olivio Junior e Alexandre Janotta Drigo -
Leme/SP: Mundo Jurídico, 2015.

ISBN: 978-85-8085-078-9

1. Pedagogia complexa do judô - Brasil I. Título

Índices para catálogo sistemático:


1. Brasil: Pedagogia complexa do judô

Proibida a reprodução total ou parcial sem permissão expressa


do Editor (Lei nº 9.619/98).

Direitos desta edição reservados à:


Editora e Distribuidora de Livros Mundo Jurídico Ltda.
Rua Álvaro Pacheco Silveira, 125 - Vl. Santucci
Telefax: (19) 3571-8027 - Cep: 13614-170 – Leme-SP
http://www.editoramundojuridico.com.br
e-mail: atendimento@editoramundojuridico.com.br
“De modo geral, o ponto forte dos esportes é o fato de
serem competitivos, o que desperta o interesse dos jovens.
Não importa o quanto seja valioso o método de educação
física, se não for colocado em prática, ele não servirá a
nenhum propósito – e aí está a vantagem dos esportes.
Mas neste sentido também há questões que devemos
considerar cuidadosamente. Primeiro, o principal propósito
dos esportes não é a educação física; as pessoas competem por
outra razão, ou seja, para vencer. Assim os músculos não
são necessariamente desenvolvidos de maneira equilibrada;
em alguns casos, o corpo é muito exigido ou até lesionado.
Por esta razão mesmo não havendo dúvidas de que é
muito bom praticar esportes, é preciso analisar com
cuidado o tipo do esporte e o método de treinamento. Os
esportes não devem ser praticados de maneira descuidada,
com exageros ou sem restrições. Entretanto, é seguro dizer
que os esportes competitivos são uma forma de educação
física que deveria ser promovida com essa ressalva em mente”.

JIGORO KANO
(Kano, J. ENERGIA MENTAL E FÍSICA: Escritos do
fundador do judô. Editora Pensamento, São Paulo, 2008; pag 49)
Dedicatória

A todos os judocas, professores e profissionais que


contribuíram para a minha formação e, principalmente, à
minha família, na qual destaco o papel da minha esposa
Karina, parceira para todas as horas que, mesmo grávida
do meu filho Vitor, durante o processo de elaboração deste
livro, se manteve paciente e me deu forças para continuar...
José Alfredo Olivio Junior

Aos que ousaram estudar o judô e aos praticantes que não


ganharam as competições que participaram e, mesmo assim,
jamais deixaram de treinar e serem judocas. Agradeço
também a Ju, o Arthur e a Beatriz que me ensinaram parte
da vida, que só é possível pelas pessoas que amamos...
Alexandre Janotta Drigo
APOIO
AGRADECIMENTO
PREFÁCIO 1

A etimologia da palavra Judô é composta por: Ju, que


quer dizer suavidade, sem resistência; e Dô, que pode ser
traduzido por caminho ou vai, com isto, se pretende explicar
que a forma de vencer uma força não é opor-se a ela, mas
redirecioná-la para nosso propósito. Em outras palavras: usar
a força e peso do oponente contra ele.

Com essa definição conseguimos entender melhor a


filosofia do Judô e, paralelamente poder entender mais sobre
a arte do Caminho Suave ou Caminho da Suavidade.

Esse “caminho suave” representa a vida equilibrada,


regrada e disciplinada que um judoca precisa ter para
atingir seus objetivos. Por isso que é comum encontrar
atletas que buscam aperfeiçoar a sua técnica estudando e
meditando fora do tatame.

O judô assentou as bases para as modernas artes


marciais, tanto em seus objetivos quanto em seus métodos
de ensino. Seu fundador, mestre Kano, dizia que o judô é “a
arte em que se usa ao máximo a força física e espiritual”.

Os professores Alexandre Janotta Drigo e José Alfredo


Olivio Junior bem encarnam esta centenária filosofia desta
14 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

arte marcial, ao nos legarem esta obra intitulada a Pedagogia


complexa do Judô.

Por sua vez a palavra complexo vem do latim complexus,


cujo significado é “o que abraça, liga”. Em espanhol, adquire
o significado de “amálgama, conjunto”. Para Edgar Morin,
complexidade é uma composição cujos elementos hetero-
gêneos são inseparáveis entre si, tal como uma colcha de
retalhos formada por partes muito diferentes, mas que
formam uma unidade coerente, na perspectiva do conjunto,
do todo. É também conexão das partes, uma vez que os
vários retalhos que formam a colcha são emendados uns aos
outros, fazendo aparecer ao final algo totalmente diferente
das partes, tomadas isoladamente. “A complexidade é
efetivamente a rede de eventos, ações, interações, retroações,
determinações, acasos que constituem nosso mundo feno-
mênico” (MORIN, 2003, p. 44). A complexidade vai além
do jogo semântico que a palavra poderia propor. Como
problema epistemológico, a complexidade aparece como
uma rendição. A ciência clássica abomina a contradição e
considera erro tudo que não é habitar o mundo perfeita-
mente conceitual, harmonioso e perfeito, ao eliminar as
impurezas da vida. Para ela, a regra é filtrar do imponde-
rável, do fluir da vida, as imperfeições, para criar leis que,
análogas à natureza, devem conduzir a resultados como a
tecnologia, que se quer neutra dos valores que impregnam a
vida (RIBEIRO, 2005).

Associar estes dois conceitos: judô e complexidade, tão


amplos, no contexto da Pedagogia do Esporte, faz deste livro
uma fonte de consulta indispensável aos profissionais que
utilizar-se-ão do judô como ferramenta pedagógica de
aperfeiçoamento da motricidade humana.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 15

A obra se desenvolve em três partes básicas, nas


quais se apresentam o judô, a Pedagogia Complexa, cul-
minando nas aplicações práticas da Pedagogia Complexa,
trazendo para o campo da práxis as formulações teóricas dos
capítulos anteriores.

Estão de parabéns os autores por tão profunda e


oportuna abordagem do tema, mas estão de parabéns,
principalmente os profissionais de Educação Física em geral
e os sensei de judô em particular, por poderem, à partir de
agora contar com tão importante fonte de consulta,

Professor Dr: Estélio Henrique Martin Dantas


PREFÁCIO 2

Quando tive contato com a pedagogia do esporte no


curso de Educação Física, sempre me apresentaram que as
discussões se focavam nos esportes coletivos. Neste sentido,
ao ter contato com esta obra, fiquei bem surpreso ao verificar
a união presente entre o esporte que amo, o judô, com os
elementos teóricos que aprendi na faculdade, tudo de forma
harmônica entre a teoria e a prática que os autores tiveram o
cuidado de apresentar.

Na leitura da Pedagogia complexa do Judô, tanto os


treinadores como os estudantes e praticantes terão infor-
mações a respeito da forma que um projeto de judô de
valorização esportiva tem se organizado para atender os
anseios de crianças e jovens no desenvolvimento para o
cenário competitivo sem perder os anseios da formação de
um cidadão autônomo em vistas à cidadania brasileira. Assim,
através do financiamento do Governo Federal, via Ministério
do Esporte, pela Lei de Incentivo ao Esporte, o projeto
“Kimono de Ouro” apresenta além dos resultados da formação
de jovens e dos resultados esportivos de seus participantes,
um registro que torna público a forma de organização, a
teoria e os conceitos envolvidos na construção de seus tra-
balhos, e também os processos de avaliação e consolidação
dos métodos empregados.
18 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Desta forma, os autores compartilham seus métodos e


dados para que treinadores, pesquisadores e outros profissionais
possam ter acesso para compreender, estudar e, principal-
mente, debater seus achados, no intuito de cada vez mais
possibilitar melhorias no nível do esporte nacional e na
formação de tecnologia de inovação pedagógica específica
para o meio esportivo. Reconheço assim, o esforço do José
Olivio Junior, que participou de vários treinos comigo na
época em que estava na seleção brasileira de judô e do
professor Dr. Alexandre Drigo, por trazer este material original
em relação ao treinamento de jovens e que, de forma alguma,
fere os princípios da ética e moral tão defendidos pelo
professor Jigoro Kano, criador do judô.

Abraço e boa leitura!

João Derly
Bi-campeão mundial de judô (2005 e 2007)
APRESENTAÇÃO

Este manual tem como objetivo proporcionar ou convidar


os técnicos de equipes de base do judô, estudantes de
Educação Física e outros que trabalham, praticam ou apreciam
as lutas e a pedagogia dos esportes, para reflexões acerca do
treinamento de crianças e jovens, focado na metodologia que
denominamos de complexa focada no judô.
Neste sentido, convidamos os leitores a adentrar ao
método que temos empregado no Projeto Kimono de Ouro e
que apresenta os caminhos teóricos que levaram aos resultados
esportivos que nossos atletas conquistaram em nível nacional
e internacional no judô esportivo. Assim, cabe ressaltar que o
apoio do Ministério do Esporte, com a Lei de Incentivo ao
Esporte do Governo Federal, possibilitou construir a infraes-
trutura necessária para elevar o judô da cidade de Araras-SP
para o nível em que hoje se encontra. Com o apoio recebido
foi possível profissionalizar o espaço que o Projeto Kimono
de Ouro ocupa, principalmente no que tange a equipe multi-
profissional. Desta forma, considero indispensáveis as Equi-
pes Administrativa e de Marketing, às quais me enquadro, a
Equipe de Saúde dos Participantes (Psicóloga Aline Olivio e
o Fisioterapeuta Leonardo Silva) e, finalmente, a Equipe
Técnica, principal responsável por esta obra, composta pelos
técnicos de judô: José Olivio Junior e Bruno Pasqualotto, e
pelo preparador físico Paulo Roveroni.
20 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Durante os quatro anos de desenvolvimento do projeto,


que teve início em 01 de abril de 2011, os jovens e atletas
envolvidos foram submetidos a um processo de treinamento
e avaliações sistemáticas que permitiram, através dos registros,
elaborar métodos próprios de treinamento para o judô,
baseados em teorias pedagógicas que contribuíram para o
desenvolvimento esportivo e também para os processos
educacionais focando na formação de um judoca consciente.

Com o crescimento dos resultados que os atletas apresen-


taram o Projeto Kimono de Ouro se consolidou e, em 2015,
iniciamos uma nova fase com a preocupação da divulgação
de nossos dados e metodologias, através de artigos científicos
e resumos em congressos específicos, tanto em relação a
Comunidade Acadêmica, como na área técnica do esporte e
das lutas, especialmente ao judô, porém sem perder o teor
acadêmico que este manual possui. Desta forma, nós, do
Projetos Kimono de Ouro, confirmamos nosso compromisso
democrático com a Lei de Incentivo ao Esporte, de retornar à
sociedade, o que foi investido em nós, não somente em relação
a atender os jovens de nossa comunidade, mas em divulgar o que
fazemos com o intuito de melhorar o debate, tanto teórico como
prático, da preparação das crianças e jovens para o judô.

Finalmente, agradecemos aos parceiros que propor-


cionaram a existência de nosso projeto: Arteris, Elektro,
Carmelo Fior, Usina Santa Lúcia, Unimed Araras, Flores e
Vegetais, Itauna e Bioativa, ao Ministério do Esporte e às
crianças, jovens, atletas e pais participantes.

Boa leitura!

Prof. Marcos Mercadante


Coordenador do Projeto Kimono de Ouro
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1
Introdução ........................................................................ 23

CAPÍTULO 2
O Judô no Brasil - Uma localização histórico-profissional .. 27
2.1. O modelo artesanal no ensino do Judô: do praticante ao
técnico ......................................................................... 28
2.2. Profissionalismo no Judô e a concepção contemporânea
de técnico ..................................................................... 33
2.3. O Judô como modalidade esportiva: o foco desta obra ... 38

CAPÍTULO 3
A Pedagogia complexa .................................................... 41
3.1. Unidades funcionais da luta como norteadores do processo .. 51
3.2. O método situacional como forma de ensino-aprendizagem-
treinamento .................................................................. 77
3.3. A tática como objeto central da aprendizagem e do treina-
mento .......................................................................... 86
3.4. A progressão espiral do processo de ensino-aprendizagem-
treinamento .................................................................. 89
3.5. As questões éticas e culturais envolvidas no processo de
formação humana ......................................................... 93

CAPÍTULO 4
Aplicações práticas da pedagogia complexa .................. 97
4.1. Uma abordagem complexa na iniciação e no direciona-
22 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

mento esportivo ............................................................ 99


4.2. O Treinamento e a competição no desenvolvimento da
autonomia de judocas .................................................... 136
4.3. Exemplos práticos da utilização da pedagogia complexa
para especialização e rendimento ................................... 154

CAPÍTULO 5
Considerações finais ....................................................... 167

CAPÍTULO 6
Referências ...................................................................... 169
CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Ao desenvolver o material que constitui este manual


foram utilizados os dados referentes ao Projeto Kimono de
Ouro, financiado pelo governo federal através da Lei de
Incentivo ao Esporte, pelo Ministério do Esporte do Brasil,
constando do desenvolvimento do judô para crianças e jovens,
na perspectiva educacional e da preparação esportiva.
Assim, o objetivo deste manual é trazer aos leitores, técnicos,
estudantes e profissionais de Educação Física e admiradores
do esporte, os conceitos teóricos e práticos, baseados na
pedagogia e ciência do desporto acerca da preparação destas
crianças e jovens praticantes.

O desenho teórico-metodológico, presente nesta obra,


possui um caráter inovador em relação à prática do judô e
em relação a um esporte que tem características prioritaria-
mente individual. A maioria das publicações que a literatura
apresenta, sobre os métodos de preparação através das uni-
dades funcionais e da utilização da tática, enquanto preparação
desportiva, incidem nos jogos coletivos. Com isso, ao apre-
sentar esta obra descreve-se uma metodologia original para
o judô e também apresenta-se um método de desenvolvimento
de tecnologia pedagógica de impacto no ensino do judô. Tal
24 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

método desenvolve-se no Brasil através da participação vo-


luntária de atletas, jovens e crianças que conviveram com o
Projeto Kimono de Ouro, durante quatro anos, com a obser-
vação sistemática de seus técnicos e profissionais envolvidos
no processo. Os dados desta observação foram registrados,
estudados e reorganizados, a fim de que pudessem ser cata-
logados e apresentados neste estudo, para proporcionar aos
interessados um registro dos conhecimentos referentes ao
ensino do judô. Com isso, espera-se trazer informações que
sejam utilizadas para a melhoria do esporte nacional e para a
discussão pedagógica e científica, baseadas no desenvolvi-
mento pedagógico fora do ambiente escolar. Também é de
interesse dos autores tornar público tais dados, resultados e
métodos, pois, como foi utilizado dinheiro público para tal
fim, também foi objetivo o retorno para que todos os brasileiros
tenham acesso, permitindo o desenvolvimento do país.

Portanto, este manual tem como objetivo apresentar


uma metodologia complexa para o treinamento de jovens
judocas, mediante ao que foi proposto pelas teorias peda-
gógicas voltadas ao esporte e constituir um manual de
aplicação, conhecimento e desenvolvimento da metodologia
para treinadores de judô e interessados.

A metodologia utilizada nesta obra foi baseada na pes-


quisa qualitativa com a utilização de dados quantitativos,
através de uma triangulação de dados (Alves-Mazzotti;
Gewandsznajder, 1998), que permitiram a elaboração dos
conceitos, técnicas e métodos apresentados. A triangulação
foi efetuada por:

a - Análise documental: formada pelos registros de


treino e acompanhamento individual dos participantes e
atletas, com vistas à análise quali-quantitativa do estudo.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 25

b - Organização da estrutura teórica, norteada pelos


técnicos e profissionais envolvidos no projeto enquanto infor-
mantes-participantes do estudo. Esses profissionais torna-
ram-se parte do corpo teórico e de desenvolvimento das
ações técnico-táticas da equipe e a base da revisão da litera-
tura e as referências de seus trabalhos são explicitados neste
texto. Assim os informantes são colaboradores ativos e não
empíricos, em relação aos meios e métodos empregados no
desenvolvimento dos trabalhos referentes ao judô, compondo
a principal fonte de dados qualitativos do estudo.

c - Análise do desempenho e dados competitivos dos


atletas envolvidos em competições nacionais e internacionais,
enquanto dados quantitativos da avaliação dos resultados
esportivos do projeto. Consequentemente, outros registros,
principalmente oriundos do departamento psicológico dos
participantes do projeto farão parte da análise de formação
e preocupação com a autonomia no processo de desenvolvi-
mento pessoal em vista à formação prevista no projeto.

Por fim, este manual coloca-se como fonte de registro


da atuação de técnicos e profissionais que trabalham com
esporte, indo, de certa forma em direção, a uma necessidade
nacional, onde registros e documentos referentes a métodos
empregados na preparação desportiva de atletas, ainda são
raros, dificultando o debate e o desenvolvimento da área
técnica esportiva no Brasil.
CAPÍTULO 2

O JUDÔ NO BRASIL - UMA LOCALI-


ZAÇÃO HISTÓRICO-PROFISSIONAL

Ao abordar o tema sobre judô e esporte, visando à


formação relacionada à educação e o desenvolvimento de
um trabalho que direcione da iniciação ao alto rendimento, em
nosso país, esbarra-se com vários fatores que compreendem a
nossa cultura esportiva e social. Percebe-se que esportes
como o judô ainda possuem limites da releitura tradicional
japonesa feita pelos técnicos ocidentais e brasileiros que
muitas vezes se perdem, tanto nos significados, quanto no
engessamento e estagnação em relação ao desenvolvimento
de novas tecnologias e práticas pedagógicas. Esquece-se
que, ao criar o Judô Kodokan, o próprio Sensei Jigoro Kano
subverteu as formas de ensinar do antigo ju-jutsu para se
adequar as novas realidades vividas pela sociedade japonesa
no final do século XIX:

No meu entender, com algumas melhorias o ju-jutsu


poderia se tornar um método abrangente de educação
física, treinamento intelectual e educação moral.
Então passei vários anos desenvolvendo minhas idei-
as, até finalmente criar o Judô Kodokan. Eu fiz isso
pesquisando tanto quanto possível o ju-jutsu que até
então existia, mantendo o que, no meu entender,
28 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

valia a pena manter e descartando o restante, estu-


dando profundamente as técnicas e teorias e refor-
mulando-as de uma maneira que fosse aplicável para
a sociedade atual (KANO, 2008, p.19).

Considerando a colocação de Kano (2008) deve-se


também entender que novas demandas, realidades e desafi-
os permitem e possibilitam novos olhares pedagógicos decor-
rente da universalização do judô e da distância temporal que
a sociedade atual se encontra. Assim, em virtude da espeta-
cularização, da importância dada ao esporte nos dias atuais
e principalmente no modelo adotado pelo Brasil, que o judô
acaba sofrendo influência do meio, da cultura, da mídia, de
outras lutas e outros esportes. Já os clubes que, não obstante,
confunde-se e oferecem receitas para a sua prática que
geralmente são focados apenas no resultado competitivo e
na miniaturização do treinamento de adultos.

Neste panorama aparentemente caótico que se insere


o treinador de judô nos tempos atuais, fruto da discussão
entre tradição e modernização do esporte que, de certa
forma, está caminhando para sua profissionalização.

2.1. O modelo artesanal no ensino do judô: do praticante


ao técnico

A proposta deste manual está no desenvolvimento de


novas tecnologias pedagógicas para serem utilizadas no judô,
com enfoque no desenvolvimento de um corpo de conhecimento
que possam ser utilizados pelos técnicos e também na formação
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 29

de novos profissionais. Desta forma, serão apresentadas as


propostas durante a leitura dos próximos capítulos que buscando
associar a teoria e prática, com a tentativa de não perder o
enfoque nas ciências voltadas ao esporte. Assim possibilitando
um direcionamento em vistas a profissionalização da atividade
de técnico de judô. Para tanto, cabe justificar de onde está o
olhar sobre a atividade a partir do estado da arte em que o
judô se encontra atualmente.

Em alguns estudos (DRIGO, 2007, 2008 e 2011) de-


senvolvem a ideia de uma pedagogia da prática, denominada
de artesanato, é a forma que se enquadra os processos de
ensino e aprendizagem no judô, a qual apresenta-se na for-
mação que tradicionalmente os faixas pretas, instrutores,
técnicos e dirigentes se enquadram no Brasil. Este processo é
comum em nossa sociedade e tem grande influência na
forma em que entendemos os esportes e várias atividades
cotidianas e até mesmo a questão laboral do trabalho comum.

Na forma da educação artesanal, o caminho do apren-


dizado se dá, segundo Rugiu (1998), por ser pautada na
relação mestre e discípulo e no aprendizado ser essencial-
mente prático. Desta forma a educação artesanal no judô se
dá ao longo dos anos de participação em um dojô, orientado
por um sensei e progressivamente ao acumular conhecimentos
dos golpes e técnicas o aluno se tornaria um instrutor, técnico
ou mestre na modalidade. Está lógica de formação possui
grande aceitação social perante os praticantes, o público e a
sociedade brasileira em geral.

O caminho do aprendizado (RUGIU, 1998) e que seria


de suma importância para o aperfeiçoamento em uma peda-
gogia artesanal seria “capacidade de um jovem de captar no
30 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

ar aqueles ensinamentos que o mestre não sabia ou não


queria dar-lhe” (p.40), dando grande valia as capacidades
individuais de: adivinhar; induzir; deduzir; concatenar por
iniciativa própria.

Estas questões da forma de agir artesanal é avaliada


por Drigo (2013) em relação ao judô como:

O judô durante seu desenvolvimento no Brasil possuía


características que perduraram durante quase um
século. Da imigração japonesa que aportou em Santos
em 1908 no navio Kassato Marú até os anos 80 ou
90, o funcionamento, a lógica interna do judô
apresentava-se, no que considero modelo artesanal
de ensino ou pratica do Judô.

Considerar a estrutura artesanal do ensino de forma


nenhuma desmerece o modelo ou põe limites a sua
eficiência ou desempenho, pois não é o judô funda-
mentalmente que mudou, mas sim a sociedade em
que está inserido. O modelo artesanal é o mais antigo
meio de ensino-aprendizagem que a sociedade humana
apresentou, desde que um pai ensinou a seu filho
pescar ou caçar este modelo foi configurado, incluindo
posteriormente a própria terminologia de mestre. (p.56)

Desta forma ao pensar como se ensina judô e sua


correspondência com o artesanato permite verificar que,
além da presença do mestre como figura central e molde de
aprendizagem, percebe-se que todo ou quase a totalidade do
aprendizado é prático, através do treinamento até um certo
domínio ou competência técnica. E finalmente, a atividade
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 31

prática tem como objetivo a formação do caráter do aprendiz


da mesma forma que os estudos formais (escolar) formam
o indivíduo.

Outras características comuns entre os meios de for-


mação são apresentadas por Drigo (2013):

... percebe-se a oficina, onde se aprendia o oficio em


atividades práticas, assim como nas academias, as
entidades diretoras do ensino e controle da ativida-
de, as corporações de ofício, semelhantes as nossas
federações e o exame prático para ser considerado
artesão, em bancas específica de mestres, assim
como acontece atualmente nos exames de faixas-
pretas que ocorrem em ambos os casos em evento
específico na capital correspondente. (p.56)

Assim a formação no judô tinha um objetivo simples e


claro do ensino, fundamentado no desenvolvimento do prati-
cante da faixa branca até a faixa preta (DRIGO, 2013). O
contexto do ensino girava em torno disto e as competições
eram testes de confirmação do aprendizado e domínio téc-
nico, geralmente visto como quem se dedicou mais e,
portanto, teria o melhor desempenho, lembrando que era
prioritário o gesto técnico.

Esta forma de gerenciar o judô se apresenta suficiente


para a demanda social em que se inseriu no Brasil e se
desenvolveu durante a história do país. Porém, transfor-
mações sociais ocorreram que, de certa forma, também
exigem mudanças no espaço do judô. Drigo (2013) aponta
estas mudanças:
32 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Mudanças na complexidade da sociedade:

a) Biológica – crescimento do conhecimento biológico


insere no entendimento da fisiologia humana concei-
tos de diferenciação cria divisões de elementos sepa-
rando individualidades biológicas em relação à idade
e sexo. Desenvolvimento de teorias tanto de bioener-
gética, comportamento motor, crescimento e desen-
volvimento.

b) Comportamentais – advindo dos conhecimentos de


psicologia e das mudanças do mundo moderno,
como as normas de consumo, políticas educacionais,
entre outras.

c) Tecnológica – iniciação, especialização inicial, es-


pecialização profunda, treinamento de alto nível.

d) Social - legislativa - regulamentação da profissão e


legislação interveniente como o ECA, código de defe-
sa do consumidor - entendimento de direitos - espor-
te enquanto direito do cidadão nas suas múltiplas
configurações - não apenas direito do desportista de
alto rendimento Acesso a informação - tudo isso está
facilmente disponível no universo atual considerado
era da informação. (p.57)

Estas mudanças sociais acabam de certa forma direcio-


nando a prática desportiva para um contexto profissional.
Onde os espaços se tornam diferenciados e as possibilidades
mais restritas perante a sociedade contemporânea, mas é
interessante constar a citação de Cunha (2000):
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 33

“A educação artesanal desenvolve-se mediante proces-


sos não sistemáticos, a partir do trabalho de um jovem
aprendiz com um mestre de ofício, em sua própria
oficina, com seus próprios instrumentos e até mesmo
morando em sua própria casa. Ajudando-o em peque-
nas tarefas, que lhe são atribuídas de acordo com a
lógica da produção, o aprendiz vai dominando aos pou-
cos o ofício.” (p.2)

Nesta apresentação, identifica-se a história de vida de


vários mestres conhecidos do judô em seu período de apren-
dizagem, o mais conhecido é Shiro Saigo um dos pilares do
Judô Kodokan, que sai de Fukoshima para viver e aprender
judô com Jigoro Kano, como retrata o filme Sugata Sanshiro
(que indica-se a visualização).

Assim, da mesma forma que a sociedade começa a se


direcionar para um profissionalismo, pensa-se que a educação
pelo ofício não deve ser menosprezada. Concordando com
Rugiu (1998), percebe-se que a experiência artesã ainda
pode ser considerada por muitos autores, como possuidora
de aspectos essenciais de formação, visto como experiência
ideal para instruir e se educar, para tornar-se “hábil com as
mãos e rápido com a cabeça” (RUGIU, 1998)

2.2. Profissionalismo no judô e a concepção contem-


porânea de técnico

Referindo-se judô brasileiro há um embate que se


originaram na concepção do treinador em relação aos ditos
práticos e os teóricos, que são os formados pela prática do
esporte contrapondo-se aos formados na Universidade,
34 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

particularmente nos cursos de educação física, esta visão é


tão extremada em certos casos que se apresentam como
polos excludentes não passíveis de terem, no discurso,
ambas as vivências.

A formação do técnico geralmente advém dos conheci-


mentos adquiridos como lutador de judô, e isto determina o
desempenho desportivo do seu atleta na relação imediata de
seus processos empíricos de aquisição de conhecimentos, ou
seja, da tentativa e erro em relação ao treinamento (DRIGO,
2007). Neste sentido é apontado que questões técnicas
apresentavam lacunas quanto aos conhecimentos oriundos
da Educação Física e das bases fundadas nas Ciências do
Desporto, mais voltadas para os conhecimentos de Ana-
tomia, Biomecânica e Fisiologia relacionados ao rendimento
desportivo, Pedagogia, Psicologia e Sociologia do Desporto e
Bases Teóricas e Metodológicas do Treinamento objetivando
o rendimento ótimo e máximo de atletas ou mesmo do
ensino da modalidade.

Ao apontar anteriormente as mudanças sociais de-


corrente na modernidade do mundo contemporâneo, vale
pensar que, todas estas transformações determinaram alte-
rações na forma de como o judô está expresso na sociedade,
pois apesar de parecer de forma sutil, às reconfigurações são
graduais e nos adaptamos a ela, pois fazemos parte do
processo (DRIGO, 2013). Porém ao olhar para as academias
de judô há vinte anos, as mesmas possuíam o tatame e
acessórios (alguns aparelhos para musculação geralmente),
percebe-se que ela está em extinção. Atualmente, segundo
Drigo (2013), no estado de São Paulo percebe-se que apenas
uma minoria de espaços apresentam estas características, o
mercado direcionou o judô para clubes ou prefeituras, em
academias com múltiplas atividades e que se inclui lutas,
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 35

projetos sociais, em atividades de saúde vinculados a hospitais


e SUS e em espaços educacionais como escolas e faculdades,
ao contrário da antiga academia que funcionava como oficina
de ofício (vide item anterior).

Outra questão que incide nesta mudança é que não há


mais necessariamente a figura definida do mestre. O sensei
de judô ficou refém, nos últimos tempos, de contratos e
concursos para sua sobrevivência e, dependendo do local em
que a modalidade funciona vários instrutores fazem parte da
formação do judoca especificando as funções entre eles que
cuidam de iniciações e gêneros como técnicos especializados
para cada fase. Devido a isto, Drigo (2013) ainda aponta:

Nas lutas a demanda de profissionais está em um


período de transição, pois acredito estarmos no final
de uma faze e, neste sentido é imprescindível o pla-
nejamento para o futuro. O que considero importante
é iniciar políticas de incentivo a cursos superiores
com propostas curriculares, cursos de extensão e
especialização e pesquisas que supram a necessidades
profissionais do trabalho em judô. Considero os cursos
de Educação Física como legalmente instituídos para
formação profissionais no esporte e práticas corporais
e hoje deve-se focar esforços para que estes cursos
auxiliem nesta meta. E por outro lado, em momentos
de transição, deve-se tomar os devidos cuidados para
que a essência do judô, expressos nos ensinamentos
de Jigoro Kano, não se percam, alterem-se ou se
contaminem. (p;57)

Devido a estes fatores que neste manual apontamos a


necessidade de repensar o valor da aprendizagem do judô e
caminhar, em direção à mudança estrutural da sociedade
36 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

moderna, em que, o saber fazer aos poucos são substituídos


pelo saber científico e tecnológico. Assim, a base teórico-
prática da dimensão dos conhecimentos necessários a atua-
ção como técnico está perante a profissionalização e na ação
de capacitar, gerar, consumir e produzir conhecimento.

Desta forma o processo de ensino e aprendizagem


desloca-se do mestre, no caso do artesanato, e direciona-se
para a realidade do que o aluno é capaz de aprender e nas
consequências desta aprendizagem enquanto preparação
para a vida e formação esportiva. Assim ao colocar o foco na
aprendizagem, determina-se também o envolvimento das
questões éticas, morais e comportamento que, obrigatoria-
mente, devem envolver os conceitos da tradição, respeito e
valores do judô. Por isso, na proposta deste livro, não nega-se
as particularidades da cultura japonesa expressa no judô,
mas pelo contrário, e sim a valoriza. Pois considera-se que a
profissionalização poderá trazer instrumentos mais atuais
para a comunicação entre os mestres e seus discípulos e
métodos pedagógicos mais interessantes para o ensino e
treinamento da modalidade, incluindo tópicos sobre a
origem e o respeito dentro da modalidade (fato que será
abordado posteriormente).

Da mesma forma pensa-se que ao efetivar o processo


de planejamento do treinamento como um todo, das sessões
diárias, da relação interdependente de cada ano que se
treina e sua relação com o desenvolvimento da criança,
jovem ou atleta envolvido e que percebe-se a necessidade de
um conhecimento maior e mais adequado a nossos dias.

Nesse caminho, Verkhoshansky (1990) discursa sobre a


importância do conhecimento científico relacionado ao de-
senvolvimento atlético. Em suas argumentações aborda a
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 37

relação entre o saber fazer e a ciência, mencionando a


possibilidade de sucesso, em um passado recente, ser devido
apenas a experiência pessoal do treinador, da tentativa e
erro baseado apenas na instrução e princípios lógicos, con-
trapondo-se à atual evolução do desporto que se baseia em
pressupostos mais objetivos, relacionada à planificação e
estruturação. Essas conotariam as bases científicas do treina-
mento desportivo. Verkhoshansky (1990) remete a impor-
tância da ciência na solução dos problemas metodológicos do
treinamento, e informa que:

“A preparação dos atletas de alto nível está ligada


sobretudo a grandes estímulos dos sistemas funcionais
vitais para o organismo e produzir um efeito de aumento
dos níveis de trabalho a pontos muito elevados que
atualmente, sem conhecimentos científicos e sim-
plesmente apelando ao bom senso e intuição, não é
possível resolver os complexos problemas do treinamento
moderno.” (p.16).

Embora o alto rendimento não seja o foco deste ma-


nual é na preocupação com metodologias para a aprendizagem
em relação a modernidade e a aplicação para formação e
prática de treinadores que se incorpora os conceitos da
ciência aplicada ao esporte enquanto colaboradora de uma
pedagogia esportiva.

Como consequência destes apontamentos e somados


as questões que envolvem a nossa sociedade é que se aposta
na forma que Bento (1989) descreve a função do treinador
moderno enquanto gestor tanto das questões do desporto
como na ética moderna. Assim, estre treinador seria um
gerente de conflitos entre os processos e os envolvidos no
ambiente esportivo em suas múltiplas manifestações, e que
38 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

se pode anunciar como: processo de treinamento como um


todo; gerenciamento de equipe multiprofissional; envolvi-
mento das mídias, dirigentes e da família no processo;
relacionamento com árbitros, outros técnicos e torcida; pressão
de patrocinadores e financiadores; pressões sobre resultados,
entre outros fatores e personagens.

Com isto, ao contrário do que foi enunciado na primeira


frase deste item, acredita-se que tanto a formação dentro do
judô, quanto a formação acadêmica em educação física,
corroboram para um melhor entendimento da modalidade,
dos processos vinculados ao cotidiano do treino e da formação
pedagógica necessária aos novos desafios contemporâneos

2.3. O judô como modalidade esportiva: o foco desta


obra

Aproveitando as discussões anteriores, é de consenso


atual que o esporte, incluindo o judô, possui vertentes maiores
que a competição propriamente dita. Desta forma, a Consti-
tuição brasileira apresenta o esporte como direito e assim,
reconhece a sua divisão enquanto atividade participação,
bem-estar e convivência social. Nesse sentido, pensar única
e exclusivamente em um judô competitivo é limitar-se em
relação às possibilidades que a prática pode proporcionar,
porém, indica-se que este manual está focado nas dimensões
do treinamento e desenvolvimento físico, ético e moral através
da pratica esportiva.

Ao reconhecer que o judô assume diferentes possibi-


lidades de manifestações e em espaços diferentes como
academias, clubes ou prefeituras, locais de lazer, escolas e
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 39

serviços de saúde com atividade física. Sobre isto, Drigo e


col. (2012) reflete:

Uma academia deve priorizar a participação de dife-


rentes personagens da vida cotidiana não apenas o
competidor ou ainda o campeão se quer sobreviver.
As Federações desportivas nesse mesmo aspecto
devem criar mecanismos que estimulem a prática do
esporte judô em suas amplas dimensões não só a
competitiva mas também na promoção de saúde e na
participação vinculada a prática de atividade física
ou mesmo lazer caso busque uma massificação do
esporte pois, o campeão continua sendo o exemplo,
porém são os praticantes que custeiam a maioria dos
gastos das Federações. (p.64)

Evidente que ao descrever o projeto que foi testada a


proposta pedagógica, assume-se a realidade competitiva do
judô, porém um dos pontos que precisa ser repensado é que
visar o esporte competitivo para jovens, a vitória não é a
única possibilidade de desenvolvimento ou finalidade. A
questão lógica sobre o assunto é uma reflexão proposta por
Drigo e col. (2012) consideramos dois fatores:

1. Crianças, jovens ou atletas incluídos os vencedores


são altamente estimulados, pois as conquistas retroalimentam
seu interesse pelo esporte;

2. Os atletas que não vencem, que são a grande


maioria, tendem a ter um estímulo menos evidenciado e que
irá diminuir o interesse pela prática se o fim do processo for
apenas a competição.
40 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Desta forma a estrutura que devesse pensar no trabalho


com judô consiste em, por um lado reconhecer a grandiosi-
dade das conquistas competitivas, mas, somado a uma
valorização do esforço e do prazer de praticar o esporte.
Com isto, torna-se necessário relembrar os valores do esporte
que, as vezes esquecidos, são essenciais para o desenvolvi-
mento individual e social.

Estes fatores remeterão aos capítulos posteriores que


tratarão sobre o trabalho direcionado ao processo de auto-
nomia dos jovens praticantes e o envolvimento ético para o
desenvolvimento moral no treinamento. As atividades pro-
postas nestes capítulos não diferem os melhores competidores
dos menos habilidosos, pois, preocupam-se exclusivamente
com a formação dos jovens em direção aos processos de
cidadania. Consequentemente, visando estar de acordo com
Jigoro Kano que identifica a prática de judô como atividade
que busca essencialmente o benefício mútuo, ou seja, uma
prática de inclusão e não de exclusão.
CAPÍTULO 3

A PEDAGOGIA COMPLEXA

A partir do contexto apresentado anteriormente, per-


cebe-se a necessidade de desenvolver uma proposta de
trabalho para o judô que corresponda às demandas atuais.
Dentre estas, podemos elencar: O elevado número de
praticantes de judô no Brasil, o judô como modalidade
olímpica de grande visibilidade midiática, devido aos re-
sultados em Jogos Olímpicos com 19 medalhas conquis-
tadas até os Jogos de 2012 (CBJ -2015), sendo o esporte
nacional com maior número de conquistas olímpicas e
também devido ao trabalho da gestão atual da modalidade,
que angariou inúmeros recursos para o desenvolvimento
da modalidade.

Outro aspecto é a mudança no perfil social que vem


ocorrendo no país, seja em decorrência de programas gover-
namentais de distribuição de renda, ou ainda com os inúmeros
projetos sociais e de rendimento que vem surgindo com a
modalidade e principalmente a mudança no perfil dos sistemas
educacionais, pois com o advento, cada vez mais acessível,
da tecnologia da informação tem tornado mais desafiador os
processos pedagógicos em qualquer esfera.
42 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Esta mudança da sociedade deve ser acompanhada de


mudanças pedagógicas para que consigamos atingir as ex-
pectativas de aprendizagem, pois se o perfil dos alunos - o
que não difere do atleta - mudou, a maneira de conduzir o
processo - pedagogia - deverá evoluir concomitantemente
(TARDIF, 2002).

Neste sentido, à proposta pedagógica que será defen-


dida nesta obra, parte do princípio do saber experiencial
(TARDIF, 2002), no qual, as observações práticas em anos
de atuação como técnico de judô em diferentes níveis, a
testagem e registro de diversos métodos apoiados na lite-
ratura e o debate com outros treinadores, permitiu elencar e
sistematizar um método próprio, que vem apresentando re-
sultados (OLIVIO JUNIOR, et al., 2015; OLIVIO JUNIOR e
DRIGO, 2015) consistentes e duradouros, o qual nomeou-se
de Pedagogia Complexa.

A nomenclatura “pedagogia complexa” foi adotada


por se entender que esta proposta é a compilação e a
organização de meios e métodos de ensino-aprendizagem
(GRECO, 1998) e treinamento (GARGANTA, 1997) em
modalidades esportivas coletivas, que foram adaptadas, testadas
e convergidas para um método que busca evoluir conceitos
do método tradicional no intuito de atender as necessidades
atuais da modalidade, tanto no aspecto do judô competitivo,
quanto no que tange a modalidade enquanto meio auxiliar
para a educação e formação pessoal do indivíduo, uma vez
que centra suas ações no desenvolvimento sócio motor do
praticante, sobretudo na sua autonomia.

E uma vez que “pedagogia” é a “forma de conduzir” o


processo de ensino-aprendizagem, no campo o esportivo,
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 43

pode ser entendida como os fundamentos teóricos para a


prática do esporte (BARBANTI, 2003). Desta forma, é ne-
cessário estabelecer parâmetros e buscar compreender o
judô e o judoca, enquanto indivíduo, e suas relações comple-
xas, sendo que neste trabalho, se propõe um método no qual
o judoca em construção, no caso o aprendiz, é o ator ativo
deste caminho, sendo os técnicos os mediadores. Desta forma,
esta pedagogia centra sua atenção na “aprendizagem”,
partindo dos pré-requisitos que o indivíduo domina e suas
possibilidades e dificuldades pessoais, busca-se ofertar subsí-
dios para a sua evolução adequando à suas características
bio-pisico-sociais.

Tal escolha se contrasta com o processo de ensino-


aprendizagem-tradicional no judô, que centra as ações no
“ensino”, ou seja, um modelo considerado adequado, seja
este um golpe, uma configuração de pegada ou uma série de
comportamentos considerados padrões, deverá ser copiado e
atingido pelo judoca, independente da sua individualidade.
Desta forma, o desenvolvimento do judoca estará comprometido
se o mesmo não corresponder às expectativas de “ensino”.

Com esta abordagem, espera-se que o judoca se desen-


volva, tanto na esfera social quanto na esfera competitiva,
uma vez que, sendo ativo no processo, terá maior capacidade
de “se perceber” perante o meio, bem como, uma maior
capacidade de escolher suas ações e quando necessário
adaptar-se as demandas encontradas. Neste sentido, acredi-
tamos que o judoca que tiver condições individuais inerentes
a prática competitiva de judô, desenvolverá uma série de
pré-requisitos cognitivos, emocionais, motores, técnicos e
táticos que lhe permitirão alcançar o alto rendimento.
44 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

O papel do técnico de judô migra de uma perspectiva


artesanal (DRIGO, 2007) na qual é detentor do conhecimento
específico - saber fazer – e condutor do processo de ensino-
aprendizagem-treinamento para uma perspectiva de mediador
da aprendizagem do judoca. Esta alteração de perspectiva
torna o trabalho do técnico ainda mais significativo, pois
necessita de um corpo de conhecimentos que não seja so-
mente o “saber fazer”, mas também: compreender o judô,
enquanto arte e objeto de trabalho, e compreender o judoca
– no que se refere a suas diferentes escolhas, fases de
desenvolvimento, objetivos com a prática, entre outros.

Para perspectiva deste trabalho, o judô, enquanto mo-


dalidade esportiva será classificado pela ótica da praxiologia
motriz, como modalidade sócio motriz, ou seja, que as inte-
rações entre os adversários é constante e determinante para
as ações escolhidas em situações práticas (PARLEBAS,
2001; RIBAS, 2002). Desta forma, o fator “tomada de
decisão - tática” é condicionante em relação à evolução e
desempenho. Por este motivo, os métodos tradicionais do
processo de ensino-aprendizagem-treinamento no judô deixam
possíveis lacunas, que por meio da pedagogia complexa
poderão ser abordadas e possivelmente sanadas em relação
à formação dos judocas.

Partido desta caracterização do judô, enquanto modali-


dade sócio motriz, o foco deste método é desenvolver no
judoca a “inteligência de jogo”, descrita por Garganta (1997)
como a capacidade do jogador de perceber as alterações do
ambiente e se adaptar rapidamente a elas, no caso do judô,
pode-se chamar de “inteligência para a luta”. Desta forma,
desenvolver pré-requisitos técnicos e táticos por meio de um
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 45

método hierárquico e racional para que o mesmo escolha as


ações técnicas e táticas que lhe sejam pertinentes e possíveis
de executar.

Neste sentido, duas concepções, originalmente adotadas


em modalidades coletivas dão suporte à pedagogia complexa
no judô enquanto método, sendo estas a periodização tática,
baseada no pressuposto teórico do método de jogos condicio-
nados (GARGANTA, 1997) e o método situacional (GRECO,
1998) ambas ressignificadas e testadas ao longo de anos em
situações práticas com diferentes judocas.

Não obstante, a proposta se baseia em publicações da


literatura nacional e internacional, que serviu como base
para a escolha dos meios e métodos utilizados. Dentre estas,
a obra “Judô: desempenho competitivo” (FRANCHINI, 2001),
que traz uma caracterização da modalidade, principalmente
no alto rendimento, que permitiu traçar as primeiras linhas
desta pedagogia.

Outro ponto que permitiu a discussão e elaboração


deste trabalho foi a testagem de propostas de treinamento,
principalmente da escola Russa como as obras de Matveev
(1996 e 1997), Platonov (2004 e 2008), Filin (1996), Zakharov
e Gomes (1992) e Verkhoshanky (2001), que foram determi-
nantes para estabelecer uma relação dialética entre as de-
mandas da modalidade (FRANCHINI, 2001) e como formatar
um processo de treinamento que conduzisse o judoca a
característica desejada.

No entanto, do ponto de vista técnico e tático, princi-


palmente se tratando de judocas iniciantes e em formação,
foi identificado que outras informações seriam necessárias
46 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

para a elaboração de um método de ensino-aprendizagem


que convergisse e possibilitasse o desenvolvimento dos ju-
docas de acordo com as características apresentadas por
atletas da elite da modalidade, apresentado nos trabalhos
Calmet e Ahmaidi (2004), Calmet et al. (2006), Franchini et
al. (2008) e Lech et al. (2007).

Partindo destas inquietações, buscou-se meios para


desenvolver no judoca a capacidade de imprevisibilidade,
como apontado anteriormente, quanto mais possibilidades
de atacar, sobretudo, quanto mais direções de ataque, maior
a possibilidade de alcançar sucesso em um ataque e se
manter no alto-nível (CALMET et. al., 2006; FRANCHINI et
al., 2008).

É fato, que por muito tempo resultados em nível inter-


nacional foram obtidos por atletas brasileiros submetidos ao
método tradicional, porém, ao observar a dinâmica da
carreira dos mesmos, nota-se uma relação altíssima com a
especialização e treinamento precoce, no qual, sete de oito
atletas entrevistados relataram cargas de treinamento su-
periores a 15 horas semanais antes de completar 12 anos de
idade (OLIVIO JUNIOR, dados não publicados).

Porém cabe cautela ao analisar a carreira apenas destes


atletas, pois uma divergência é encontrada nos estudos de
Massa (2010) e Cavazani (2012) que demonstram que os
resultados competitivos nas classes iniciais e elevadas quanti-
dades de treinamento nestas etapas como não sendo deter-
minantes para o sucesso nas classes adultas.

Segundo Cavazani (2012), apenas 5,8% dos judocas


que conquistaram resultados nas classes inferiores (9 e 10
anos) em campeonatos paulistas conseguiram se manter
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 47

constantemente entre os melhores do estado nos anos sub-


sequentes e Massa (2010) indica que 83,3% dos judocas
olímpicos brasileiros, nos jogos de Atenas 2004, não foram
talentos precoces. Desta forma, o processo de ensino-
aprendizagem, sobretudo com judocas jovens, deverá ter um
enfoque qualitativo, que oferte estímulos adequados para o
desenvolvimento em longo prazo e não com foco nos resultados
competitivos nas classes jovens.

Para atender os aspectos, tanto da formação esportiva


para o longo prazo, quanto das características técnicas e
táticas do judô competitivo, das quais consideramos determi-
nantes: a) tática: entendido neste trabalho como tática indi-
vidual e “tomada de decisão” em relação às situações de luta
e; b) imprevisibilidade de ações: entendido como a variabilidade
de opções de ataque (repertório técnico) provocando a incerteza
no adversário. Encontrou-se em dois métodos, originalmente
desenvolvidos para modalidades coletivas, a possibilidade
responder a estas demandas. Sendo estes: o método situacional
de Greco (1998) e a periodização tática, a qual, neste trabalho,
será remetido como fonte Garganta (1997).

Ao tentar aplicar este método, foi encontrado um novo


ponto de ajuste, pois havia ainda um paradigma do judô, no
qual consideram-se técnicas, os golpes em pé e no solo, e as
situações propostas em treinos eram baseadas somente para
estas tais técnicas. Buscando na literatura, nas observações
práticas e no debate com técnicos de diferentes níveis brasi-
leiros e de outros países, como Japão, França, Alemanha,
Bélgica e Canadá, uma nova linha de raciocínio começou a
ser traçada, sendo esta: como tornar o judoca mais efetivo nos
ataques, rompendo com o modelo tradicional brasileiro que
preconiza a repetição de gestos, com alto volume de repetições.
48 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Analisando o trabalho de Drigo (2007), nota-se uma


característica no judô nacional de baixa eficiência, ou seja,
aplicação de ações em pé sem a real intenção de projetar,
buscando penalidades em detrimento da pontuação e ou
condução da luta para o solo. Esta característica fica evidente
ao observar o trabalho de Olivio Junior (2010), que apresentam
uma relação muito baixa entre técnicas executadas e técnicas
que geram pontuação nas classes juvenis no campeonato
paulista de 2008, sendo que 17% das ações geraram pontuação
para os vencedores e apenas 2% para os derrotados.

Inicialmente, buscou-se maneiras de tornar os atletas


eficientes, ou seja de produzir ações mais determinantes na
luta em pé, que pontuem ou conduzam a luta ao solo.
Partindo destes questionamentos, ao observar competições
internacionais sênior e de categorias de base (OLIVIO JUNIOR,
anotações pessoais), sobretudo, a conduta dos atletas de
maior êxito e o tipo de orientação que os técnicos ofereciam
a estes, um novo ponto de vista passou a ser desenvolvido,
que para tornar o atleta mais eficiente, seria necessário
fragmentar a luta em unidades funcionais (OLIVIO JUNIOR
et al., 2015), para que pudesse tanto identificar falhas no
processo de aplicação de golpes, quanto para criar situações
padrões que atendessem cada uma das fases da luta.

Ponto que corrobora com a criação das unidades fun-


cionais, são os trabalhos feitos com análise de lutas nacionais
e internacionais (MIARKA et al., 2012; MIARKA, 2014;
MIARKA et al., 2014), que classificam a luta em cinco
momentos: aproximação, pegada, situação ataque e defesa,
luta de solo e pausa. Estas etapas descritas são importantes
para a compreensão dos fatores técnicos e táticos inerentes
à competição de judô, bem como para entender o fluxo de
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 49

ações que ocorrem na luta, devido à inter-relação entre cada


uma das fases.

Partindo destas informações, buscou-se sistematizar a


pedagogia complexa, no intuito de responder as questões
registradas e observadas, pedagogia que vem sendo testada
na prática e alguns aspectos desta aplicação serão trazidos à
tona ao decorrer dos próximos capítulos.

Pois, ao analisar a modalidade, pode-se inferir que a


interferência contextual no ambiente de aprendizagem e
aplicação é alta dentro do judô, remetendo-nos a buscar um
plano metodológico que contemple todos esses quesitos de
desenvolvimento dos indivíduos e também em relação ao
desenvolvimento do judô.

Desenvolver ações próximas ao contexto real e às


características apresentadas pode ser determinante na
aprendizagem e aquisição de habilidades, visto que, ao
trabalhar com variações de prática e contexto é um dos
fatores primordiais para obtenção de sucesso em transfe-
rências futuras, conseguindo fazer com que o praticante
execute o que aprendeu em situações diversas e com mu-
danças constantes. (MAGILL, 2000).

A interferência contextual é um fator que vem mos-


trando ter grande importância dentro do ambiente de iniciação
e direcionamento do judô, principalmente quando atrelamos
a modalidade à classificação da praxiologia motriz como já
apontado, pois as interferências causadas pelo adversário na
prática da modalidade são inúmeras. Sendo as ações realizadas
nestes momentos, resultado de situações de aprendizagem
constante do praticante. Logo, é necessário traçar um plano
metodológico e estruturação da prática que contemple estas
50 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

questões, pois a versatilidade de prática, interferência


contextual assim como os seus níveis e também os tipos de
prática são os fatores primordiais num processo de aprendi-
zagem quando trabalhado de forma objetiva e correta.
(SCHIMIDT E WRISBERG, 2001; MAGILL, 2000; UGRINO-
WITSCH E MANOEL, 2005; CORREA, 1997).

Outro ponto de reflexão está relacionado na importância


de uma pedagogia específica ao judô, que se deu mediante
a leitura de “Memórias de Jigoro Kano: o início da história do
judô” (WATSON, 2012), livro que traz uma reflexão sobre os
valores que o judô deve trazer a sociedade, por este fato,
embora este trabalho vise o desenvolvimento esportivo,
acredita-se, como o professor Jigoro Kano, que um processo
conduzido com sabedoria, ética e responsabilidade pelos
senseis, ofertará ao praticante de judô tanto uma formação
física quanto social em busca de sua “liberdade”, seja este
competidor ou não.

Para finalizar, duas obras complementam este trabalho,


os livros “Kodokan Judô” (1986) e “Uma abordagem Didactica
do Judo: ideias e sugestões de trabalho” (VELOSO et al.,
2010), foram utilizados como norteadores de termos e de-
finições das nomenclaturas em língua japonesa, sendo que a
grafia escolhida será baseada nestas duas obras.

Iniciamos a seguir uma descrição dos princípios meto-


dológicos da pedagogia complexa, a qual se incide em cinco
pilares, sendo necessária a compreensão de todos para a
aplicação plena do método, uma vez que se inter-relacionam
enquanto meio para atingir a pedagogia complexa, sendo estes:

1 - As unidades funcionais da luta como norteadores do


processo;
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 51

2 - O método situacional como forma de ensino-apren-


dizagem-treinamento;

3 - A tática como objeto central da aprendizagem e do


treinamento;

4 - A progressão espiral do processo de ensino-apren-


dizagem-treinamento e;

5 - As questões éticas e culturais envolvidas no processo


de formação humana.

3.1. Unidades funcionais da luta como norteadores do


processo

A luta de judô é composta de diferentes momentos,


contendo nestes momentos, inúmeras possibilidades de
ações, que podem ocorrer em diferentes planos. A complexi-
dade da luta de judô se dá pelas possibilidades de variáveis
em que uma ação ou intenção técnica e tática pode se
desdobrar. Neste sentido, para uma melhor compreensão da
luta e consequentemente para a elaboração de um processo
pedagógico para ensino-aprendizagem-treinamento que
responda a esta complexidade é necessário uma análise das
unidades funcionais da luta.

Por Unidades Funcionais (OLIVIO JUNIOR e DRIGO,


2015; OLIVIO JUNIOR et al., 2015) entende-se: pequenas
unidades que compõem o todo da luta, sendo estas unidades
identificáveis e quantificáveis, ou seja, tem claramente um “mo-
mento início” e um “momento fim”, tendo função determinante
para as unidades subsequentes. Entende-se ainda que unidades
52 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

funcionais podem ser treinadas e desenvolvidas tanto individual-


mente quanto em um relação complexa com outras unidades.

Antes de adentrar as unidades funcionais propriamente


ditas, cabe resgatar alguns pontos referentes à divisão peda-
gógica do treinamento técnico no judô.

Logo, a abordagem complexa aponta para o ensino-


aprendizagem-treinamento das técnicas baseadas nos dife-
rentes momentos que se apresentam na luta. Desta forma,
alguns questionamentos são pertinentes para compreender o
método, sendo assim, ao observarmos uma luta de judô em
quantos momentos podemos dividi-la?

No que tange aos aspectos técnicos da execução de


um golpe vem logo à mente a divisão: kumi-kata - kuzushi -
tsukuri - kake ou pegada - desequilíbrio - execução - projeção,
apresentado largamente no ensino das técnicas, porém, para
nortearmos um processo de ensino-aprendizagem-treina-
mento eficiente somente atentarmos estes aspectos é suficiente?
Voltando ao ponto de que o judô por ser uma modalidade
aberta, que proporciona variadas possibilidades para a exe-
cução de uma única técnica em situação de luta, seria esta
divisão pedagógica relativamente incompleta?

Ou ainda, pode-se afirmar que um processo de ensino


que contemple apenas estes aspectos, poderá refinar a habi-
lidade a ponto de utilizá-la em situação de combate aberto e
imprevisível?

Algumas soluções são propostas em aulas e treinamento,


porém será buscado aqui sistematizar as ações por meio de
uma divisão pedagógica da luta. Fazendo um resgate de
algumas propostas observadas, chama-se a atenção para a
proposta do medalhista Olímpico e técnico de judô de nível
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 53

internacional Douglas Vieira, que no seu caderno didático


(VIEIRA, s.d.), inseriu neste sistema o aspecto “movimentação
de oportunidade”, que consiste na criação ativa ou passiva
para uma aplicação de golpe que se dá após a pegada e
antes do desequilíbrio, configurando os aspectos da questão
técnica conforme a figura 1.

Movimentação
Pegada de Desequilíbrio Execução Projeção
oportunidade

Figura 1: Configuração da técnica no judô

A inserção da “movimentação de oportunidade” no


sistema de ensino-aprendizagem-treinamento da técnica de
judô é um importante aspecto devido à característica da
modalidade, uma vez que a execução de uma técnica em
situação de luta se dará mediante a uma resistência externa
ativa do adversário, sendo que a “oportunidade” poderá
surgir de quatro maneiras sendo:

a) passiva, uma movimentação na qual o adversário se


coloca em posição adequada para a realização de um golpe;

b) ativa, o posicionamento do adversário é criado pelo


tori por meio de ações de controle como puxar, empurrar e
balançar o adversário;

c) reativa, por meio de uma ação de reação do adver-


sário, por exemplo o tori empurra com a intenção que o uke
resista e empurre de volta se desequilibrando para frente
oportunizando a aplicação e;

d) combinada, na qual o atleta cria a oportunidade de


executar uma técnica alvo por meio de uma técnica de
preparação ou aproximação.
54 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Esta questão deve ser atentada na elaboração das


sessões de judô pelos técnicos e instrutores, pois, os aspectos
da movimentação de oportunidade tem papel importante na
aquisição técnica e tática do judoca, lhe permitindo aperfeiçoar
as ações que já executa em situações fechadas, levando a
ação técnica a uma situação mais contextualizada. Porém,
ao atentarmos a situações competitivas ao longo dos anos,
em particular dos atletas por nós orientados e observando as
orientações que outros técnicos realizam aos seus atletas em
competições, presume-se que há uma necessidade de evoluir
este modelo de ensino-aprendizagem-treinamento no judô.

Sendo a luta de judô um sistema mutável e dinâmico,


no qual há um fluxo de ações ocorrendo a cada instante ou
estímulos da luta, gerando respostas e adaptações entre os
adversários (CALMET e AHMAID, 2004). E sabedores que
uma maior variabilidade técnica e tática é condição de su-
cesso competitivo (CALMET e AHMAID, 2004; CALMET
et al., 2006; FRANCHINI et al., 2008; WEERS, 2015),
torna-se necessário uma abordagem pedagógica que con-
temple estes aspectos.

Para tal fim, é necessário compreender a dinâmica do


combate de judô, neste sentido, Franchini (2006) apresenta
um modelo com uma sequência lógica do combate da luta de
judô, apresentado na figura 2 abaixo na qual apresenta as
possíveis situações que poderão ocorrer em uma luta. Nesta
linha Miarka (2010) apresenta parâmetros para análise de
uma luta, na qual estrutura a luta em cinco fases distintas,
sendo estas: aproximação, pegada, situação de ataque, luta
de solo e momento de pausa. Sendo que ações de uma fase
tendem a determinar o fluxo de ações nas fases seguintes
(MIARKA et al., 2012).
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 55

Aproximação Kumi-kata

Com vantagem Com desvantagem Impede a movimentação

Movimentação Pegada desligada

Não Pretendida

Desequilibrar o adversário

Não Sim

Ataque em

Contra- Projeção Completo (Ippon)


Sem Projeção Incompleto Defender

Em Luta de
Domínio ou
Completo Incompleto Atacar Sem domínio

Figura 2: Modelo de combate de judô (adaptado de Franchini, 2006).

Uma vez conhecedores da complexidade da luta de


judô e dos fatores que podem determinar o sucesso competitivo,
bem como as possibilidades que poderão ocorrer em uma
situação de luta (FRANCHINI, 2006) o processo de ensino-
aprendizagem-treinamento deverá abordar estas característica
desde a iniciação no esporte até as fases de competição e
alto rendimento. Sendo assim, será apresentado uma divisão
pedagógica da luta de judô, baseada em unidades funcionais,
o que permitirá uma abordagem complexa da modalidade.

As unidades funcionais aqui apresentadas serão divididas


hierarquicamente sendo inicialmente em quatro momentos,
sendo estes momentos diluídos em oito unidades funcionais, a
partir destas unidades serão 23 subunidades e estes diluídos em
48 microunidades que permitirão as ações técnicas específicas.

Apresentaremos a tabela das Unidades Funcionais de


maneira vertical, para melhor compreensão, apresentando
inicialmente os momentos, subsequentemente as unidades,
subunidades e microunidades.
56 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

No que tange aos momentos, a divisão consiste quatro


diferentes momentos, sendo estes: pré-contato, controle
em pé, controle em transição e controle no solo, conforme
Figura 3: Unidades funcionais da luta de judô: momentos.

Unidades
funcionais da
luta de judô

Controle em Controle no
Momento Pré-contato Controle em pé
transição solo
Figura 3: Unidades funcionais, momentos da luta.

Por pré-contato entendem-se todas as ações que


ocorrem na luta sem que os atletas estejam se tocando,
podendo ser no início da luta, no reinício ou com o desligamento
de pegadas, acreditamos que este momento é o mais negligen-
ciado nos processos de ensino-aprendizagem-treinamento,
porém uma ênfase qualitativa neste processo poderá determinar
sucesso no fluxo de ações dos momentos subsequentes. Abordar
este momento durante as aulas e treinamentos, pode ter
relação de transferência de habilidades de outras modalidades
esportivas para o judô e do judô para outras modalidades
esportivas, sendo este ponto corroborado por técnicos de sucesso
no Brasil (OLIVIO JUNIOR e PEROTTI JUNIOR, 2008).

Por Controle em pé, entende-se todas as ações que


ocorrem após o contato inicial até que um dos atletas vá ao
solo sem possibilidade de retornar a luta em pé imediata-
mente, normalmente este aspecto é o mais atentado nas
aulas e treinamentos.

Por Controle em transição considera-se todas as


ações que ocorrem após o desequilíbrio, consequentemente
a queda ou defesa da queda e a dinâmica que ocorre antes
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 57

de iniciar a luta de solo em si, acredita-se que neste momen-


to ocorre uma disputa entre os indivíduos para se colocar em
situação de vantagem ou defesa para a luta de solo. Acredi-
tamos que este momento deva ser melhor atentado, uma vez
que a ocorrência de lesões, principalmente em adolescentes
e adultos ocorrem durante a projeção (STERKOWICZ, 2015)
ou após serem projetados (JAMES e PETER, 2015). Relacio-
nado ao aspecto competitivo, este momento é determinante
para a sequência da luta no solo.

Finalmente por Controle no solo são as ações que


ocorrem após a dinâmica da disputa durante o controle de
transição, o que caracteriza a luta de solo.

A importância de conhecer os diferentes momentos na


estruturação de treinos e aulas se dá devido ao fluxo da luta.
Para ilustrar tal fato, cabe relatar que ao observar atletas da
base da seleção brasileira* (classe sub18 e sub 21) com
grande capacidade técnica na luta em pé e na luta de solo
em competições na Europa, acabavam sendo derrotadas por
ataques nas primeiras pegadas ou por imobilizações, princi-
palmente imobilizadas pela posição de sankaku.

Esta ocorrência se dava devido à falta de treinamento no


pré-contato, ou seja, antes da realização da pegada, nos quais
as atletas europeias atacavam ao mesmo tempo em que toca-
vam no judogi prejudicando o fluxo de luta das brasileiras,
não oportunizando as mesmas a chance de atacar na luta em pé.

Em relação ao sankaku, o problema detectado pela


comissão técnica não residia no controle do solo, mas sim,
durante o controle em transição, momento no qual as

*. Realizadas em etapas do circuito mundial sub18 e sub21, vídeos 2010,


2011, 2012 e 2013 e in lócus 2014 e 2015.
58 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

atletas europeias intencionalmente se colocavam em condição


de vantagem quando as brasileiras tentavam defender os ata-
ques em pé, possibilitando a execução da técnica de forma
dinâmica, sem oportunizar a defesa (OLIVIO JUNIOR, sd).

A comissão técnica do Brasil buscou formas de corrigir


as situações, inicialmente atentando ao Pré-contato, orien-
tando e treinando as atletas nacionais para mudar a posição
das mãos e braços antes de estabelecer contato na luta em
pé e focando atenção para o Controle em transição,
estabelecendo possibilidades de defesa e contra-ataque, antes
de iniciar a luta de solo em situação de desvantagem perante
as atletas europeias, estes ajustes embora não mensurados,
mostraram ser eficazes no que tange ao desempenho das
atletas do Brasil, conforme observado pela comissão técnica*.

Este exemplo foi utilizado, para remeter a questão do


sistema tradicional priorizar os momentos controle em pé e
controle no solo em detrimento ao pré-contato e ao
controle de transição sendo que no processo de ensino-
aprendizagem-treinamento estes momentos não podem ser
negligenciados. Tanto relacionado à questão do desempenho
como a questão de um trabalho preventivo de lesões uma vez
que a maioria das lesões ocorre nas trocas de pegada (pré-
contato) e durante as quedas e defesas de quedas (controle
de transição) (STERKOWICZ, 2015; JAMES e PETER, 2015).

Destaca-se a divisão da luta em momentos se dá apenas


por questões pedagógicas, porém, deve-se ressaltar que os
momentos são ligados e que um influencia e é influenciado
pelo outro. Ao avançar para o próximo nível da tabela de

*. Observações realizadas com as técnicas Andrea Berti e Danuza Shira, nas


competições do circuito mundial sub18 e sub21 feminino.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 59

Unidades Funcionais, nos quais os momentos são diluídos


em oito unidades funcionais, que são apresentados na
figura 4: Unidades funcionais: Nível 2. Destaca-se aqui que
algumas Unidades Funcionais estão relacionadas a um ou
dois momentos diferentes, isto ocorre devido à dinâmica da
luta de judô ser extremamente complexa e rápida.

Unidades
funcionais da
luta de judô

Controle em Controle no
Momento Pré-contato Controle em pé
transição solo
Aproximação

oportunidade

Desequilíbrio
Criação de

Aplicação

Transição
Unidades

Projeção
Contato

Luta no
Solo

Obs: o traço contínuo representa relação direta entre o momento e a UF,


enquanto o tracejado representa uma relação indireta.
Figura 4: Unidades Funcionais: Nível 2.

Para elucidar as Unidades Funcionais (UF) atentemos


ao momento “Pré-contato”, tal momento divide-se em duas
UF, sendo a primeira, é exclusiva deste momento, a “apro-
ximação” que consiste em todas as ações que ocorrem na
luta entre o comando para iniciar “hajime” até o momento
em que os atletas se tocam com uma ou ambas as mãos.
Muitas vezes a movimentação de deslocamento frontal ou
lateral executada pelo judoca em direção ao oponente é
conhecida como shintai, porém acreditamos que o termo
aproximação se adequa melhor em relação à UF.

Em relação ao “contato”, consideramos todas as


ações que se relacionam diretamente com o tocar no corpo
60 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

do adversário, seja este com estabelecimento de pegada ou


não, o fato de bloquear uma ação do adversário é considerado
aqui como contato, diferindo-se da definição de kumikata.
Esta UF tem relação indireta com o momento Pré-contato e
direta com o momento controle em pé.

Estas duas UF merecem atenção especial no processo


de ensino-aprendizagem-treinamento de judô, uma vez que a
característica da modalidade é a intermitência das ações
(RIBEIRO ROSA, 2008; CASTARLENAS e PLANAS, 1997;
STERKOWICZ e MASLEJ, 1998; SIKORSKI et al., 1997;
MARKON, 2010), ou seja, durante a situação de competição
a luta é interrompida inúmeras vezes devido aos mais diferentes
motivos, como por exemplo, saída de área, penalizações,
ataques sem sucesso, ataques e continuação no solo sem sucesso.

Neste sentido, a questão de como se aproximar e como


realizar o contato com o adversário é determinante para a
continuidade e o fluxo das ações que serão realizadas posterior-
mente uma vez que a configuração da pegada tem relação com
as ações realizadas (KAJIMOVIC, 2014). Pois uma aproxi-
mação e um contato que coloque o judoca em desvantagem na
pegada pode levá-lo a sofrer uma pontuação ou punição por
ficar em situação defensiva, ou ainda, ser levado a uma situação
de desvantagem para a luta de solo como descrito acima.

Outro ponto a destacar é que quando colocado em si-


tuação de desvantagem o judoca necessita de um grande
dispêndio de energia para se colocar novamente em situação de
vantagem perante o adversário, podendo assim executar suas
ações. Esta dinâmica intermitente esta presente tanto em lutas
das classes sênior (RIBEIRO ROSA, 2008; CASTARLENAS
e PLANAS, 1997; STERKOWICZ e MASLEJ, 1998; SIKOR-
SKI et al., 1997; MARKON, 2010), quanto nas classes mais
jovens (OLIVIO JUNIOR et al., 2009; OLIVIO JUNIOR, 2010;
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 61

DEVAL et al., 2008). Logo, acreditamos que esta característica


deve ser abordada nos treinos técnicos, bem como nos
trabalhos com randori, ou seja, estabelecer uma dinâmica na
qual os judocas por diversas vezes necessitarão se desligar do
adversário, para novamente aproximar e estabelecer contato.

Com um trabalho intermitente e direcionado a questão


de como se aproximar do adversário e consequentemente
como buscar o melhor contato para a realização de seus
golpes o judoca desenvolverá um repertório de configurações
de pegada que lhe permitirão criar incertezas no adversário
em relação as suas ações (WEERS, 1997) facilitando o de-
senvolvimento das unidades funcionais subsequentes.

Por criação de oportunidade entende-se todas as


ações que o judoca executa com o intuito de desequilibrar
(LEHMANN, 1984) para projetar ou levar ao solo o adversário
em situação de vantagem. Esta UF, tem relação direta com o
momento de controle em pé, porém é influenciado pelos
duas UFs anteriores, uma vez que, se a aproximação e o
contato forem realizados de maneira insatisfatória, a criação
de oportunidade poderá se restringir apenas a contra-ataques
ou ainda uma nova disputa para estabelecer uma configuração
de pegadas que permita criar a oportunidade.

Neste sentido, cabe refletir sobre estes três primeiros


princípios, pois é por meio destes que uma situação de
aplicação dos golpes em pé serão possibilitados, ou seja,
uma dinâmica estabelecida para se criar uma “janela de
oportunidade” para a execução de um ataque. Conforme
esta dinâmica, pode-se afirmar que quando se obtém uma
aproximação e consequentemente um contato satisfatório a
criação da oportunidade é facilitada, porém quando os duas
primeiras UFs não propiciam oportunidade de um ataque, o
atleta é conduzido a duas possíveis situações, sendo uma assumir
uma postura defensiva ou tentar estabelecer-restabelecer
62 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

uma situação que lhe permita a criação de uma oportunidade.


Conforme figura 5: Dinâmica da criação da oportunidade.

Aproximação Contato
Janela de
oportunidade
Desvantagem no Vantagem no
kumi-kata kumi-kata

Assumir uma Buscar a


Cortar o postura vantagem no Movimentação
contato defensiva kumi-kata de oportunidade

Figura 5: Dinâmica da criação da oportunidade

Por desequilíbrio, pode-se entender o Kuzushi citado


anteriormente, como uma UF, localiza-se na sequência peda-
gógica após, ou durante, a criação de oportunidade. Salien-
tamos que a criação da oportunidade e o desequilíbrio se
diferem enquanto UF, pois considera-se o desequilíbrio o
momento em que a estabilidade dos pontos de apoio do
adversário no solo é perturbado, projetando o centro de
gravidade para fora da plataforma de sustentação criada no
solo, enquanto a criação da oportunidade se caracteriza pelo
conjunto de ações realizadas para que se possa induzir o
adversário para uma situação que permita ser desequilibrado.

Para situar o leitor, nesta diferenciação, em uma situação


de disputa de pegadas, na qual o tori está em desvantagem,
a movimentação para se colocar em vantagem – condição
para executar um golpe - seja esta por meio da movimentação
do membros inferiores, superiores, a combinação dos dois ou
com ações complexas como técnicas de ashi-waza, configura
como a criação da oportunidade, o desequilíbrio se dá após a
criação da oportunidade ou concomitante.

Por aplicação, entende-se o tsukuri enquanto fase do


desenvolvimento da execução do golpe de projeção após o
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 63

desequilíbrio, também traduzida por “fase aérea do golpe”,


normalmente está relacionada com a ação que se dá mediante
a retirada de um ou os dois pés do chão pelo tori. Neste
sentido, é imprescindível que o uke esteja desequilibrado
para que a execução seja mais eficaz e com menor chance
de contragolpe. Consideramos que o judô brasileiro careça
de atentar para a efetividade dos ataques realizados, pois
conforme Drigo (2007) os atletas brasileiros de nível olímpico
tendem a realizar menos ações determinantes - técnicas em
pé que originem pontuação ou que levem o adversário a uma
posição de desvantagem - do que seus adversários, deixando
a dinâmica da luta menos eficiente. Este dado encontra
aprofundamento nos achados de Olivio Junior (2010) que
verifica que atletas da classe juvenil, apresentam um total de
17% de eficiência de ações para os atletas que vencem as lutas.

Por projeção, entende-se o kake, ou seja, todas as


ações realizadas após a aplicação do golpe até o uke chegar
ao solo. Como citado anteriormente, é observado baixa
efetividade nos golpes de atletas brasileiros (DRIGO, 2007;
OLIVIO JUNIOR et al., 2009; OLIVIO JUNIOR, 2010). É
fato que, em sessões de treinamento nas quais os atletas
realizam muitas quedas pode se tornar desconfortável, neste
sentido, outras estratégias para minimizar os riscos relacio-
nados ao impacto podem ser adotadas, dentre estas o uso de
colchões, ou o uchi-komi de força com um terceiro parceiro
realizando resistência. Porém, acreditamos que o número de
projeções deverá ser maior que o usual, sendo mais próximo
ao número de aplicações, uma vez que a mecânica da projeção
e consequentemente a finalização do golpe difere-se da sua
realização apenas “encaixando” ou “carregando”. Quando o
judoca faz a projeção cria e encontra mecanismos que possi-
bilitem ajustar seu golpe durante a situação de luta.
64 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Por Transição se entende todas as ações que ocorrem


após a aplicação, durante a projeção e antes de iniciar a luta
de solo. Todas as ações realizadas para estabelecer situação
de vantagem - possibilidade de atacar no solo - ou de proteção
- defender-se de um possível ataque no solo do adversário
(WEERS, 2015; MIARKA et al., 2010).

Quando a transição é realizada de maneira insatisfa-


tória, a possibilidade de ser derrotado na luta de solo é maior
(WEERS, 2015). Conforme relatado anteriormente, a comissão
técnica da seleção brasileira de base vem apontando este
déficit há anos em diferentes atletas. Corroboram com esta
constatação, a análise de lutas da seleção japonesa feminina
sub 21, em uma competição europeia, na qual conquistou
seis medalhas de ouro e duas de bronze com oito atletas, de
nove lutas analisadas aleatoriamente, sete destas lutas foram
terminadas no solo, em todos os casos o ataque no solo foi
realizado em sequência de um golpe em pé e na mesma
posição de pegada de pelo menos uma das mãos (OLIVIO
JUNIOR, s.d.), ou seja, o controle durante a transição entre a
luta em pé e a luta de solo foi determinante para a eficiência.

A luta no solo consiste em todas as ações realizadas após


a projeção e a transição, neste caso, considera-se aqui, todas
as ações realizadas com a intenção de imobilizar ou provocar
a desistência do adversário por meio de estrangulamentos e
chaves de articulações. Para diferir as unidades transição e luta
no solo, entende-se que durante a transição é possível pontuar
por meio de uma queda, enquanto a luta de solo se configura
a partir do momento em que não é mais possível se estabelecer
uma pontuação em pé, apenas pelas ações supracitadas.

No próximo nível das unidades funcionais, será abor-


dado as subunidades (SUF), neste caso, consideramos que
um judoca quando encontra-se em fase de direcionamento
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 65

esportivo (PLATONOV, 2004; PLATONOV, 2008; FILIN, 1996),


deverá ter contato com estas unidades constantemente e de
maneira espiral para contribuir a construção da sua tática
individual e consequentemente dos seu repertório técnico.
São apresentadas a seguir 29 subunidades, na figura 6 que
serão descritos individualmente.
Unidades
funcionais da
luta de judô

Controle em Controle no
Pré-contato Controle em pé
transição solo
Aproximação

oportunidade

Desequilíbrio
Criação de

Aplicação

Transição
Projeção
Contato

Luta no
Solo
Incompleta com

Incompleta com
Lado contrário
Não ortodoxo

desvantagem

Engajamento

Engajamento
Sem contato
Mesmo lado

Combinada

Incompleta

Intencional
Complexa

provocada
vantagem

Defensiva
Completa

Ofensiva
Passiva

Passiva

Passivo

Reativa

passivo
Direita
Direto
Ativa

Ativa

ativo

Obs: o traço contínuo representa relação direta entre os níveis, enquanto


o tracejado representa uma relação indireta, leg; inc: Incompleta
Figura 6: Unidades Funcionais: Nível 3: subunidades

A UF de aproximação se subdivide em três SUF sendo estas:

- aproximação ativa, situação na qual o tori toma a ini-


ciativa de se aproximar do uke, invadindo seu espaço de domínio;

- aproximação passiva o tori aguarda o uke dentro


de sua base de equilíbrio, permitindo que o mesmo invada
seu espaço de domínio;
66 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

- aproximação complexa, quando a aproximação


ocorre concomitantemente ao contato e a criação de opor-
tunidade.

Ao atentar estas SUF em treinamento, permitirão ao


judoca agregar ao seu repertório técnico e tático, ações que
dificultarão a aproximação do adversário bem como tornarão
mais incerto a forma como vai se aproximar do mesmo.
Desta forma, o judoca poderá criar uma gama de possibili-
dades para que a realização do contato seja produtiva a ele,
facilitando o controle do espaço entre os mesmos. Conse-
quentemente, quem controlar primeiro e melhor terá vantagem
em relação ao adversário para poder propor a luta conforme
lhe for conveniente.

Após as diferentes formas de se aproximar do adversário


vem as diferentes possibilidades de estabelecer contato, e
nas SUF elencou-se quatro diferentes formas, sendo estas:

- complexo: conforme descrito acima, acontece con-


comitante a aproximação;

- não ortodoxo: este tipo de contato ocorre quando


ao estabelecer contato o judoca utiliza-se de configurações
de pegadas que não as convencionais, ou seja, com uma
das mãos na manga e a outra mão na gola, sendo que as
possibilidades de contatos não ortodoxos estarão descritos
nas microunidades;

- mesmo lado: ocorre quando o contato estabelecido


pelos judocas se dá com a mesma configuração, ou seja, se
ambos são destros, a mão direita de ambos buscará contato
com a gola esquerda enquanto a mão esquerda buscara
contato com a manga direita do oponente;
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 67

- lado contrário: a configuração exatamente contrária,


ou seja enquanto um busca a gola direita o outro busca a gola
esquerda e consequentemente as mangas contrárias.

O estudo e o treinamento da forma de se aproximar


bem como de estabelecer contato com o adversário, merece
atenção especial nas sessões de judô, pois cabe ressaltar que
ocorrem muito mais disputas de pegada, devido à intermi-
tência da luta, do que aplicação de técnicas que geram pontos.
Neste caso, um judoca que muitas vezes não consegue aplicar
golpes na luta em pé, provavelmente careça de ajustes nestas
unidades funcionais, tendo em vista que a forma que realiza
o contato tem relação com os golpes aplicados (KAJIMOVIC
et al., 2014; MIARKA et al., 2010).

Subsequentemente e após o estabelecimento do contato,


as SUF a serem abordados tangem a criação da oportunidade,
neste caso, considera-se que esta pode ser:

- complexa: conforme descrito anteriormente, tem


relação direta com a aproximação e o contato, ou seja, no
momento que se aproxima do adversário e estabelece o
contato já é criada a oportunidade, para exemplificar seria o
“pegar e entrar”, neste caso não há uma movimentação
entre os judocas, mas a aplicação imediata de um golpe.

- passiva: ocorre quando, após o contato, o atleta


aguarda a movimentação do adversário para a execução de
sua ação, ou seja, aguarda “o tempo certo” para executar a
sua entrada;

- ativa: que se dá por meio da execução de movimentos


com a intenção de posicionar o adversário de uma forma
adequada e que ofereça menos riscos para aplicação de um
golpe em pé;
68 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

- reativa: que se dá mediante a reação de um adver-


sário ao se deparar com a ação do outro, normalmente
associado à finta, ou engajamento de técnicas.

Como ponto de destaque destas SUF, está a relação


dinâmica que ocorre na luta, uma vez que ambos estarão
tentando estabelecer uma “janela de oportunidade” para
projetar o adversário. Neste sentido, remetemos as SUF ante-
riores, quando a aproximação e o contato são realizados para
se colocar em vantagem em relação ao adversário, consequen-
temente a criação da oportunidade estará facilitada, uma vez
que um contato em desvantagem torna necessário o dispêndio
de energia para reestabelecer uma situação de vantagem ou
ainda para executar uma postura ou ações defensivas.

Logo, acredita-se que o judoca que tem estas SUFs


desenvolvidas, será condutor da luta e consequentemente
terá mais oportunidades para desequilibrar o adversário, sendo
que o desequilíbrio poderá ocorrer de três maneiras, sendo estas:

- passivo, que se dá quando a o deslocamento do


centro de gravidade do adversário ocorre devido a sua própria
movimentação, normalmente associado à criação de oportu-
nidade passiva;

- ativo, que ocorre por meio de uma ação de desloca-


mento do centro de gravidade em direção à movimentação
proposta pelo tori, por exemplo, no caso de um ippon-
seoi-nage, o tori puxa o adversário para que o mesmo se
desloque para frente;

- reativo, que ocorre quando ao reagir para defender


ou evitar uma ação do adversário para uma direção acaba
deslocando o centro de gravidade para a direção contrária,
normalmente associado à criação de oportunidade reativa.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 69

Cabe aqui novamente destacar que a criação de


oportunidade e o desequilíbrio podem ser confundidos como
Unidade Funcional, devido à estreita relação entre uma uni-
dade e outra, porém, se diferem enquanto conceito e aplicação
em treinamento. Para exemplificar será utilizado o golpe
osoto-gari, hipoteticamente em atletas com lados opostos,
um destro e um canhoto - kenka yotsu (WEERS, 1997) - a
criação de oportunidade está no ato de se deslocar, ou deslocar
o adversário, por meio de movimentação, finta, combinação
de técnicas entre outros, para uma situação na qual é possível
aplicar o golpe, enquanto que o desequilíbrio consiste no ato
de deslocar o centro de gravidade do adversário para fora da
sua base de sustentação, após ou durante a criação da opor-
tunidade. Ou seja, sem criar a oportunidade, possivelmente
o desequilíbrio seria impedido devido à posição corporal, na
qual neste caso a perna de apoio está distante do adversário.

No caso da aplicação, tsukuri, consideramos duas SUFs


possíveis, a aplicação direta e a aplicação combinada, no
entanto, cabe destacar que optamos por considerar 10 direções
de aplicação de golpes, enquanto outros trabalhos propõem
quatro (CALMET e AHMAID, 2004; CALMET et al., 2006;
FRANCHINI et al., 2008). Para fins pedagógicos consideramos
as direções como: laterais direita e esquerda, para frente e
para trás, diagonais para trás direita e esquerda, diagonais
para frente direita e esquerda e as direções circulares horária
e anti-horária, As direções são consideradas a partir da pers-
pectiva do uke, ou seja, consideramos a direção do golpe de
acordo com o deslocamento do centro de gravidade em
relação a sua orientação, conforme a figura 7: Possíveis
direções de aplicação de golpes em pé.

Por aplicação direta considera-se a situação após a criação


da oportunidade, o judoca aproveitando o movimento de de-
sequilíbrio do adversário realiza a ação na mesma direção do
70 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

deslocamento do centro de gravidade, enquanto a ação combi-


nada, o judoca realiza um golpe na direção do deslocamento e
um segundo golpe, após reação do uke para uma direção dife-
rente configurando o engajamento de técnicas, ou ranraku-waza.

Para efeito de conceituação, a definição da SUF de


aplicação combinada, se dá quando o primeiro golpe aplicado
tem intenção real de projetar o adversário, porém a partir de
sua defesa, reação à primeira aplicação, é executado um
segundo golpe. Tal fato diferencia-se da criação de oportuni-
dade por meio das fintas, situação na qual o tori executa
totalmente ou demonstra que vai executar um golpe apenas
com a intenção que o uke reaja para que ele aplique golpe
em outra direção. Ou seja, a diferença da finta para o
engajamento se dá mediante a intenção do tori.

Exemplificando esta situação utilizaremos do kouchi-gari


como o primeiro golpe e o seoi-nage como segundo golpe.
Neste caso, se a realização do kouchi-gari se dá com intenção
de projetar o judoca para trás ou para alguma diagonal para
trás provocando o desequilíbrio do mesmo, o que o obriga a
se defender, reagindo para a direção contrária possibilitando
a aplicação do seoi-nage, configurando como aplicação
combinada, pois o primeiro golpe foi realizado com a intenção
real de projetar o que gerou uma reação do uke possibilitando
o segundo golpe. No entanto, quando o primeiro golpe é
executado sem a real intenção de projetar o adversário, ou
seja, apenas para ludibriar, fintar e provocar uma reação que
possibilite a realização do seoi-nage considera-se a primeira
ação como uma criação de oportunidade para a segunda,
não configurando como engajamento de golpes.

Cabe salientar que não esta sendo abordado nenhuma


das divisões tradicionais dos golpes de projeções - nage-waza -
pois considera-se que os golpes são individualizações das
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 71

unidades funcionais, e acredita-se que o judoca, que conseguir


desenvolver todas as unidades funcionais satisfatoriamente
terá pré-requisitos para optar pelos golpes que lhe convém e
lhe for melhor adaptado, desenvolvendo assim seus golpes
mais funcionais e preferidos – tokui-waza.

Neste sentido, ao observar as possibilidades de aplicação


de golpes, sem definir qual golpe e considerando apenas a
direção de desequilíbrio do mesmo, existem 110 possibilidades
de aplicação, sendo 10 diretas e 100 aplicações combinadas
(10 (primeiro golpe) X 10 (segundo golpe). Por isso, considera-se
que desenvolver a variabilidade de aplicações, enquanto tipo
de golpes e direções dos mesmos, em detrimento da especia-
lização de um ou alguns golpes, promove um desenvolvimento
técnico e tático mais completo em longo prazo, pois além de
ofertar maior repertório motor ao judoca, torna o mesmo
mais imprevisível para o adversário, aumentando suas possi-
blidades de obter pontuação em uma luta.

T
dDT dET

aH D E H

dDF dEF
F

Legenda: D: direita; E: esquerda; F: para frente; T: para trás; dDT diagonais


para trás direita e dET diagonais para trás esquerda; dDF: diagonais para frente
direita e dEF: diagonal para frente esquerda; H: circulares horária; aH: anti-horária.
Figura 7: Possíveis direções de aplicação de golpes em pé.
72 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

As SUFs referentes à projeção se dão mediante ao


resultado da mesma, ou seja, se a aplicação foi determinante,
e entende-se por determinante a ação de levar o adversário
ao solo. Neste sentido, a projeção poderá ser:

- completa, quando a mesma resultar em ippon, o


que determina o encerramento da luta;
- incompleta, quando obter pontuação (waza-ari ou yuko);
- incompleta com vantagem, quando o atleta que
executou a projeção mesmo não pontuando encontra-se em
situação que lhe possibilite atacar o adversário na luta de solo;
- incompleta com desvantagem, quando o atleta
que promoveu a projeção, conquistando ou não pontuação,
vai ao solo em situação que o adversário encontra-se em
condição mais favorável a promover ataque no solo;
- projeção intencional ou provocada, ou seja, o
tori, executa um golpe não com a intenção de projetar o
adversário, mas sim de levá-lo a luta de solo em um situação
na qual promoverá um ataque no solo.

As projeções completa e incompleta estão claras aos


praticantes do judô, porém cabe exemplificar as questões para
a demais possibilidades. No que tange a projeção com vantagem,
utilizaremos para exemplificar o golpe Tai-otoshi, neste caso,
após a aplicação do golpe o uke se desequilibra e vai ao solo
não sofrendo pontuação, porém para se defender se coloca
em situação que cede as costas para o tori, dando oportunidade
do tori atacar na luta de solo, já na situação da projeção com
desvantagem, utilizaremos do exemplo do mesmo golpe, porém
quando o adversário defende o golpe promove o desequilíbrio
do tori que vai ao solo de joelhos com o adversário posicionado
nas costas com condição de atacá-lo na luta de solo.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 73

Salienta-se que a projeção pode gerar pontuação e


ainda ser considerada com vantagem ou desvantagem de
acordo com a possibilidade de continuidade no solo. Outro
ponto que merece destaque é a projeção intencional ou
provocada, ou seja, a realização das ações em pé com a
intenção de produzir pontuação na luta de solo.

Como exemplo, utilizaremos duas situações diferentes,


sendo a primeira no caso do tomoe-nage, na qual o tori executa
a ação intencionado do adversário defender para que possa
promover uma chave de articulação no cotovelo (kansetsu-waza)
promovendo o engajamento dos golpes. Outra situação, utili-
zando o sasae-tsurikomi-ashi, o tori executa a ação do dese-
quilíbrio do lado da mão que segura a gola com a intenção
que o adversário defenda a queda se deslocando para frente e
ajoelhando para que ele possa promover um estrangulamento
- shime-waza - com a mesma mão que já está na gola.

As vivências das situações de projeções tornam a com-


preensão das unidades funcionais de transição mais simples,
uma vez que há uma relação direta entre as unidades funcionais.
Neste sentido, entende-se que a transição poderá ser:

- sem contato, quando, durante ou após a projeção


ocorra um desligamento do contato entre os atletas;

- intencional ou provocada, conforme descrito ante-


riormente tem relação direta com a projeção, ou seja, a
projeção é executada na intenção de atacar no solo e não de
promover pontuação em pé;

- engajamento ativo, quando após a projeção incom-


pleta o atleta se encontra em possibilidade imediata de
atacar o adversário no solo:
74 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

- engajamento passivo, o atleta encontra-se em


situação em que após a projeção encontra-se em posição
imediata de ser atacado pelo adversário, sendo necessário
primeiro defender-se.

Em análise de lutas do campeonato mundial, Weers


(2015) observou a dinâmica da transição após a aplicação de
um golpe de projeção, apontando que 30,3% das situações o
atleta que aplicou o golpe em pé terminava em condições de
atacar no solo (engajamento ativo), enquanto 28,7% das
situações o atleta que promoveu o ataque em pé encontrava-se
em situação defensiva (engajamento passivo), e 41% das
situações, ocorreram sem contato ou vantagem.

Além deste fato, o mesmo trabalho, aponta que o


judoca que controla o espaço durante a projeção, seja este o
que executa o ataque ou o que defende o ataque, tem maior
possibilidade de controlar a luta de solo.(Roux, 1990 apud
Miarka, 2014), nesta linha aponta que dentre as posições
corporais que o uke assume após tentativa de projeção as
que mais ocorrem são quatro apoios (31,3%) e decúbito
dorsal (17,8%) sendo exploradas pelo tori em 59,1% e
81,9% das vezes que ocorre.

Há uma relação estreita entre as unidades funcionais


de projeção e de transição, sendo que, a abordagem destas
em sessões de judô permitirão ao judoca antecipar possíveis
situações possam ocorrer em competição, bem como tornarão
o fluxo da luta de solo favorável. O treinamento destas
unidades fundamental para o desenvolvimento competitivo.

Reforçam esta premissa os estudos de Castarlena e


Planas (1997) e Markon (2010) que apontam que em uma
competição ocorrem cerca de 11 sequências de luta sendo
estas com 3 e 4 sequências de solo. Consideramos que
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 75

ocorre no solo 18% do tempo total da luta (SIKORSKI et al.,


1997), o controle da projeção bem como as possibilidades
de transição são determinantes para o sucesso na luta de solo.

Ao observar uma relação estreita entre as projeções e


as transições (WEERS, 2015), tal característica não se dife-
rencia para as SUFs da luta de solo que terão relação direta
com as transições no que tangem ao seu início. Neste sentido,
considera-se três possibilidades para a luta de solo sendo a
intencional ou provocada, fato que não difere-se das ex-
plicações acima, cabendo ainda a SUF da luta ofensiva,
quando as ações do atleta tem a intenção de buscar a
pontuação na luta de solo enquanto a SUF defensiva as
ações se dão no sentido de evitar os ataques do adversário.
Salientamos que estas SUF correspondem à dinâmica da luta
de judô em situação competitiva, porém a luta de solo tem
uma dinâmica na qual as situações ofensivas e defensivas se
alternam constantemente.

Em relação a esta SUF aponta-se a necessidade da luta


de solo ser desenvolvida concomitante a luta em pé, uma vez
que as situações que ocorrem com as transições diferem-se
das situações que ocorrem nas tradicionais lutas de chão -
randori de ne-waza. Bem como a criação de “situações
padrão” - tratando-se do método situacional – que abordem
e que promovam o desenvolvimento destes SUF.

Será apresentado na figura 8 a seguir divisão completa


das unidades funcionais propostas, sendo que as microunidades
apresentadas caminham para as possibilidades de situações
individuais, tornando a compreensão e a “leitura” da luta
mais pontuais, sendo possível identificar pontos de ajuste de
atletas em fase de especialização profunda e fase de resultados
internacionais, cabendo ajustes tanto no que tange a tática
quanto a estratégia de luta.
JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Ofensiva frontal
Controle no

Luta no Nas costas


Defensiva Na guarda
Solo
solo

frontal
Engajamento Nas costas
ativo Na guarda
Engajamento Retomada de luta em pé
Transição passivo Fuga do contato
Busca do contato
Controle em

Intencional

Figura 8: Unidades funcionais da luta de judô.


transição

provocada Braço dominado Circular horário


Pescoço dominado Circular anti horário
Sem contato Dominado na guarda
Projeção Diagonal esquerda para frente
Incompleta com Meia guarda por baixo

10 direções
Esquerda
desvantagem Adversário nas costas Diagonal esqueda para trás
Incompleta com Imobilizado
Trás
vantagem Com domínio de braço
Diagonal direita para trás
Aplicação Com domínio de pescoço
Incompleta Na guarda com domínio Direita
Em meia guarda em cima Diagononal direita para frente
Completa
funcionais da
luta de judô

Frente
Controle em pé
Unidades

Nas costas do adversário


Direita Situação de imobilização
Desequilíbrio Waza-ari / yuko
Combinada Ippon
10 direções Circular horário
Reativa 10 x 10 direções Circular anti horário
Criação de engajamento Diagonal esquerda para frente
Direto
oportunidade

10 direções
finta Esquerda
Passivo Movimentação reativa Diagonal esqueda para trás
Ativa Movimentação direcionada Trás
Movimentação aguardada Diagonal direita para trás
Contato Passiva Reativa Direita

Momento Pré-contato
Lado contrário Desvantagem na pegada Diagononal direita para frente
Vantagem na pegada Frente
Mesmo lado Domínio alto
Não ortodoxo Manga e manga
Aproximação Gola e gola
Complexa Manga e gola
Pegada e golpe
Passiva Com pegada
Unidades Ativa Trás-frente
Circular
76
Subunidades Microunidades
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 77

3.2. O método situacional como forma de ensino-


aprendizagem-treinamento

Desta forma, o judô apresenta-se como modalidade


esportiva de características abertas (SILVA, 2010) com varia-
bilidade de situações que são presentes na prática, o que
torna desafiador o ensino e aprendizagem técnico e tático,
cabendo um olhar sobre o método situacional proposto origi-
nalmente por Greco (1998) para as modalidades esportivas
coletivas. Porém devido a sua estruturação, se adéqua a
nossa proposta pedagógica uma vez que busca o desenvolvi-
mento técnico de forma contextualizada.

Originalmente, na prática do judô utiliza-se tradicional-


mente os métodos analíticos (sequência de exercícios), sendo
estes, na sua maioria, cíclicos e repetitivos como os uchi-komi,
no qual se preconiza a aprendizagem, aquisição e estabilização
da técnica por meio da repetição do gesto, o que caracteriza
estas práticas como atividades psicomotora (PARLEBAS,
2001; RIBAS, 2002), pois a preocupação está na plasticidade
do gesto em detrimento a sua funcionalidade.

Porém remetendo novamente aos esportes coletivos,


cabe refletir sobre o uso exclusivo do método analítico-sinté-
tico, conforme Graça (1995), que aponta que o ensino dos
esportes coletivos não deverá ser perspectivado como aquisição
de um somatório de habilidades isoladas que se autojustificam.
Assim como no judô, o método de ensino, também não deverá
ser apenas um somatório de gestos isolados, que espera-se
que o judoca realize em situações complexas.

É fato que o método analítico-sintético proporciona


aprendizagem e tem utilidade para correção de determinadas
etapas da aplicação de um golpe, porém, destaca-se que
78 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

esta prática isolada acaba se tornando descontextualizada


das exigências competitivas, uma vez que, em raríssimas
situações o adversário em uma competição se colocará em
posição corporal e em movimentação similar a adotada pelo
parceiro de treino durante a prática do uchi-komi.

Como forma de buscar a contextualização, inúmeros


treinadores adotam outras práticas, dentre estas, o uchi-komi
em movimento, ou “em linha”, situação na qual os parceiros
deslocam-se linearmente de um lado ao outro no tatame
aplicando as técnicas em movimento unidirecional. Ainda
nesta linha, outra forma adotada é o engajamento de técnicas
ou chamados de uchi-komi em movimentação de luta, método
pelo qual as técnicas são combinadas em diferentes direções
e movimentação não é linear.

Há ainda outros meios, como yaku-soku-gueyko,


kakari-gueyko, nague-komi, entre outros que intencionam o
desenvolvimento técnico do judoca. Todos estes meios para
desenvolver o repertório motor e técnico do judoca são válidos
e devem ser utilizados.

Por outro lado, a outra forma largamente utilizada é o


método global, no caso do judô o randori, ou treino livre.
Fazendo um paralelo aos esportes coletivos, o randori, seria
o jogo, propriamente dito, ou seja, o momento do judoca
testar as hipóteses e tentar aplicar as técnicas trabalhadas
pelo método analítico em uma situação totalmente aberta
(SILVA, 2010). Este método, por si só é insuficiente para
aprendizagem, aquisição e estabilização das técnicas do
judô, devido a alta complexidade das ações motoras que a
modalidade contempla.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 79

Neste sentido, propõe-se aqui um olhar crítico sobre os


dois métodos tradicionais utilizados nas aulas e treinos de
judô, no qual utiliza-se prioritariamente o método analítico
(diferentes formas de uchi-komi) para desenvolver a técnica
e o método global (randori) para testar e tentar aplicar as
técnicas em situação aberta, bem como, desenvolver a tática.
Desta forma, há uma “lacuna metodológica” entre os
meios de ensino-aprendizagem da técnica e o objetivo final
da aplicação da mesma no contexto esportivo que é a com-
petição (shiai) conforme a figura 9.

Esta “necessidade metodológica” ocorre devido a falta


métodos que proporcionem desenvolver as técnicas da
modalidade de uma forma contextualizada. Se por um lado,
a metodologia tradicional preconiza a repetição cíclica do
golpe e a correção de aspectos motores como posicionamento
do corpo ou a coordenação de passos entre outros, para
execução de um gesto estereotipado considerado ideal. Por
outro lado, no randori ou shiai a ocorrência destes gestos
estará possibilitada pouquíssimas vezes, sendo que muitas vezes
o judoca deverá adaptar totalmente o padrão do movimento
para conseguir executar as técnicas devido ao ambiente mais
instável (tempo para execução, biótipo do adversário, tipo de
pegada do adversário, tipo de movimentação e resistência
que o adversário vai promover) que vai encontrar.

Destaca-se ainda que nas modalidades coletivas este


ponto vem sendo discutido a décadas, pois, ao se identificar
a dicotomia entre a aprendizagem técnica e a tática relacio-
nado a tomada de decisão, relacionado ao método analítico
e o global respectivamente, uma série de propostas para o
ensino e treinamento das modalidades coletivas passou a ser
80 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

desenvolvido e testado dentre estes o “modelo de ensino do jogo


para a compreensão”, “modelo desenvolvimental” e “modelo
de abordagem progressiva ao jogo” (MESQUITA et al., 2009)

Convida-se aqui a refletir sobre esta questão da dicotomia


entre o ensino das técnicas e a aplicação das mesmas no
contexto global (luta) durante o processo de ensino-aprendi-
zagem-treinamento no judô, Desta forma ao analisar a figura 9,
deve-se entender como:

Ambiente: as características do parceiro ou adversário


(biótipo, tipo de pegada, tipo de movimentação e resistência
que vai promover) e o controle do espaço;

Tempo para execução: o momento ou momentos


que o individuo tem para tomar a decisão e executar a ação
motora;

Característica do movimento: refere-se a repetição


e a ligação entre uma ação e outra, sendo cíclico o movi-
mento que se repete sem alterar o padrão e acíclico o que
não se repete;

Oportunidade para a execução: o número de vezes


que é oportunizado ao indivíduo para executar a ação técnica;

Contexto: entende-se a relação da situação com a


competição;

Possibilidade e momento de correção: a quantidade


de informações pontuais e em que momento da execução
que um instrutor ou técnico poderá inferir na execução do
exercício sem interromper sua prática.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 81

Uchi-komi Uchi-komi Lacuna


Randori Shiai
parado em mov. tradicional

Pouco Altamente
Ambiente Estável Pertubado
pertubado pertubado

Tempo para Condicionado Condicionado Condicionado


Qualquer pela
execução momento pelo pela oportunidade
da técnica movimento oportunidade e arbitragem

Característica Cíclico ou
do Cíclico acíclico Acíclico Acíclico
descontex-
movimento tualizado

Oportuni-
Muita Muita Pouca Pouquíssima
dades para
oportunidade oportunidade oportunidade oportunidade
execução

Sem Baixo Alto Contexto


Contexto
contexto contexto contexto total

Possibilidade Alta e Alta e Baixa e pós- Baixa e pós-


e momento imediata imediata situação situação
de correção identificada identificada

Figura 9 - Relação entre os meios tradicionais de ensino-aprendizagem-


treinamento no judô com a necessidade metodológica identificada.

Neste sentido, são necessários meios e métodos que


venham a suprir esta lacuna, ou seja, um método que possi-
bilite um ambiente relativamente perturbado, um tem-
po de execução condicionado e dirigido para a oportuni-
dade de execução, com característica de movimentos ací-
clicos, mas com repetições sistematizadas para que se
possibilite mais oportunidades de execução, porém com um
contexto mais aproximado da situação aberta oportu-
nizando aos técnicos observar e inferir sobre as ações identi-
ficando possíveis pontos de evolução.
Neste caso, propõem-se aqui o método situacional
(GRECO,1998), pois, este método apresentará características
que permitam direcionar o processo de ensino-aprendizagem-
treinamento uma vez que contempla aspectos tanto do método
82 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

global quanto do método analítico, suprindo a necessidade


metodológica permitindo assim, desenvolver os diferentes
aspectos técnicos do judô de uma forma contextualizada,
com o aspecto tático sendo mais significativo.

No método situacional jogadas básicas são extraídas de


situações padrões de jogo e utilizadas como meio para o para
a execução de tarefas e resoluções de problemas técnicos e
táticos. Iniciando com situações menos complexas, porém
contextualizadas com o jogo, estas situações conforme a
evolução dos exercícios vai agregando elementos e se apro-
ximando cada vez mais do jogo formal (GRECO, 1998).

Tanto aspectos técnicos e quanto os táticos são abor-


dados, possibilita-se a combinação de objetivos e situações,
o que cada vez mais vai aproximando da realidade da moda-
lidade esportiva. Logo, preconiza-se nesta proposta que este
método se adeque ao judô. Desta forma, situações padrões
da luta, pautada pelas unidades funcionais, permitem a ade-
quação a modalidade.

Como forma de exemplificar diferenças entre o método


tradicional (analítico-sintético) e o método situacional adaptado
ao judô, será utilizado uma técnica como objeto de aprendi-
zagem, aqui utilizaremos o “osoto-gari”.

Tradicionalmente utiliza-se um processo pedagógico na


qual iniciaria com o kumi-kata adequado, depois o uchi-komi
com o parceiro parado, na qual seria corrigido a posição dos
pés, depois o kusushi, depois o tsukuri e por ultimo o kake.
Após dominar estes aspectos o uchi-komi passa a ser em
movimento. Considera-se o golpe correto quando o mesmo
alcança alguns pontos característicos desta técnica, como
posição dos pés, do tronco o equilíbrio adequado, entre
outros aspectos que o técnico considere ideal.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 83

Após este processo, ou durante este processo com esta


técnica e com outras (parte técnica da aula ou treino técnico)
o judoca é submetido à luta, ou randori (método global),
situação na qual o adversário, não fica estático, não se
movimenta linearmente, não deixa segurar com o kumi-kata
adequado e se deixa, coloca resistência contra impedindo o
desequilíbrio correto para a execução do tsukuri e do kake.

Desta forma, o ensino da técnica e o seu objetivo final


que é conseguir executá-lo em situação de luta estão dis-
tantes. É fato que inúmeros judocas encontraram e encontrarão
meios de executar as técnicas adquiridas pelo método analí-
tico-sintético em situação de luta, pois o método permite
automatizar e ajustar pontos de execução. Porém, poderá
condicionar a aplicação das técnicas à situações na qual
execute apenas algumas técnicas e apenas em situações em
que o adversário se apresente em relação a posição corporal
e movimentação de uma forma adequada (vivenciada) a exe-
cução, reduzindo a capacidade de adaptações e impedindo
ao judoca o desenvolvimento de outras soluções técnicas.

Dentre os pontos negativos que esta abordagem pode


ter é a especialização ou treinamento precoce, uma vez que
a quantidade de repetições e consequentemente o tempo
necessário para as mesmas é extenso. Embora, como salien-
tado anteriormente, muitos judocas que foram formados por
métodos tradicionais conseguiram desenvolvimento técnico e
desempenho competitivo satisfatório, houve no processo
duas situações importantes a serem atentadas, uma delas é
que muito dos judocas que obtiveram resultados competitivos
satisfatórios durante os primeiros anos de carreira não conse-
guiram manter seus resultados (CAVAZANI, 2012) e outro
ponto é que a maioria dos atletas brasileiros que conquistaram
84 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

resultados internacionais foram submetidos a treinamento


precoce antes mesmo de completar 12 anos de idade, com
quantidades superiores a 15 horas semanais (OLIVIO JUNIOR
et al., 2015). Logo esta abordagem atualmente, talvez não
contemplem as necessidades e as características sociais atuais.

Acreditamos que ao optar pelo método situacional, o


judoca também desenvolverá aspectos básicos da técnica,
porém, deve estar inserido em situações padrões e funcionais
para o desenvolvimento, correção e adaptação do mesmo.
Utilizando exclusivamente o osoto-gari como objeto, sugere-se
alguns meios para o seu desenvolvimento situacional. Exemplos:

Situação 1: o tori deverá tentar executar o osoto-gari


porém o uke, deverá impedir que o tori segure as duas mãos
no judogui;

Situação 2: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,


porém o uke não vai parar de se movimentar, e o tori terá
10 segundos para a execução;

Situação 3: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,


porém o uke vai pressionar o tori para que ele saia da área
de luta;

Situação 4: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,


porém o uke vai segurar as duas mangas do tori;

Situação 5: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,


porém o uke vai se movimentar sem desligar o kumi-kata e
poderá contra golpear;

Situação 6: o tori deverá tentar executar o osoto-gari,


porém o uke vai se movimentar sem desligar o kumi-kata e
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 85

poderá contra golpear, mas será permitido ao tori executar


outras técnicas como finta ou combinações, entre outros. Por
meio do aumento da complexidade e de outros elementos, o
tori, estará desenvolvendo tanto o aspecto técnico (gesto) como
as soluções para executar o gesto, adaptá-lo as situações ou
ainda na tentativa de executar o osoto-gari (objetivo primário)
executar outra ação que for possibilitada.

Salienta-se que foi apresentada apenas uma possibili-


dade de utilizar o método, mas em essência cabe ao técnico,
de acordo com a necessidade dos seus alunos ou atletas,
extrair situações que ocorram com constância nas lutas e
partindo destas propor diferentes objetivos. Cabe ressaltar
que é necessário que se coloque parâmetros de execução e
pressão, como por exemplo: tempo, número de tentativas
durante determinada configuração de pegada, durante de-
terminada configuração de espaço, entre outros, para que o
indivíduo que está executando a técnica busque solucionar o
problema proposto dentro de uma estrutura pré-determinada
pelos parâmetros.

Logo, o método situacional (GRECO, 1998) se adéqua


a esta proposta pedagógica por criar mecanismos que
permitem direcionar a aprendizagem da técnica de forma
contextualizada e adequada a capacidades motoras, cogni-
tivas e maturacionais do judoca. Salienta-se que não deve-se
descartar os métodos tradicionais, mas sim, utilizar do método
situacional para tornar mais contextualizada e adaptável a
aprendizagem do judoca.

Destaca-se ainda que este método pode e deve ser usado


por toda a vida esportiva do judoca, da iniciação ao alto
rendimento, buscando as adaptações e contextualizações ne-
cessárias a cada etapa.
86 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

3.3. A tática como objeto central da aprendizagem e


do treinamento

Partindo do principio abordado por Garganta (1997),


no qual a organização e consciência tática de uma equipe é
condição de sucesso competitivo. Tendo em vista o judô,
modalidade na qual a complexidade de ações motoras e
possibilidades de se alcançar a vitória em uma disputa é alta,
uma vez que o atleta pode atingir pontuações por meio de
quedas, imobilizações, estrangulamentos, chaves de articulação
e punições do adversário, torna a questão da sua “tomada de
decisão”, ou tática, fundamental para o sucesso competitivo.

Os judocas interagem constantemente na luta, de forma


que ação de um atleta se torna condição para uma resposta
do adversário e um estímulo para adaptação das ações pre-
tendidas (CALMET e AHMAID, 2004). Logo esta relação
estímulo resposta reforça a premissa de que a tática deve ser
o objeto central do ensino aprendizagem no judô.

Em nosso caso, entendemos que um atleta ou esportista


poderá ser autônomo em sua prática esportiva, no que tange
a tática individual e consequentemente a tomada de decisão,
quando este tiver a capacidade de escolher por si só, as
respostas às situações esportivas a que for submetido, de
maneira produtiva e adequada as suas potencialidades e
dificuldades. No judô a questão das tomadas de decisão é tão
presente em relação às ações da luta que se pode remeter a
Lavega (2008) no qual aponta “Significa pensar que o outro
pensa que eu estou pensando e então posso antecipar-me as
suas antecipações”.

Para tanto, é necessário ao longo da sua formação espor-


tiva o mesmo ser suprido de pré-requisitos que possibilitem
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 87

desenvolver as suas escolhas, sendo estes pré-requisitos


motores, cognitivos e psicológicos.

Sendo o judô, como as modalidades esportivas coletivas


e outras lutas, uma modalidade de característica aberta e
imprevisível, entende-se que a capacidade de compreender
as situações esportivas e executar uma resposta imediata é
uma das condições determinantes para se obter sucesso na
modalidade e, no alto rendimento, possivelmente seja a prin-
cipal (RÉ e BARBANTI, 2010).

Neste sentido, será entendido por tática um processo


interno do atleta dentro de uma situação esportiva no qual o
mesmo deve fazer observações, analisar opções e tomar
decisões e tomar decisões rápidas baseadas nas hipóteses
por ele observadas elencando quais vão gerar respostas posi-
tivas com menos ou mais riscos (SILVA e DE ROSE, 2005).

Cabe aqui diferenciar estratégia e tática, por tática


entende-se a execução de um planejamento estratégico, ou
seja, o “como utilizar da técnica” em uma situação aberta,
sendo um processo dinâmico, que vai se alternando conforme
estímulos produzidos e induzidos pela dinâmica da intenção
do atleta e das respostas do adversário, gerando uma nova
intenção e uma nova resposta sucessivamente. Por estratégia,
entende-se como o plano de ação com um objetivo, partindo
das potencialidades e dificuldades físicas, técnicas e táticas
do atleta e do adversário, elaborado previamente a situação
esportiva pelo treinador e/ou pelo atleta. De maneira geral,
a estratégia é a intenção ou conjunto de intenções previas
(planejamento) a luta e a tática é o como cumprir as intenções
durante a luta (adaptação).

Partindo desta conceituação, propõe-se aqui uma me-


todologia de ensino-aprendizagem na qual a tática é o objeto
88 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

central, ou seja, tornar o judoca autônomo em relação de


como utilizar “a técnica”, ofertando ao mesmo o máximo de
situações que permitam antecipar, adaptar e executar suas
intenções técnicas previamente estabelecidas.

Cabe destacar que a técnica não estará descartada de


maneira alguma do processo, pois o refinamento técnico é
condição importante para a proteção do organismo, bem
como para o rendimento esportivo principalmente nas fases
mais avançadas de direcionamento e especialização no trei-
namento, porém busca-se aqui um olhar crítico para a tática
e sua relação com a técnica. O ponto a destacar é o objetivo
do processo de ensino-aprendizagem-treinamento técnico,
ele não deverá ter um fim em si mesmo, ou seja, na execução
correta e estereotipada e sim estar engajado aos objetivos
táticos do judoca que é a luta em si (KOZUB e KOZUB, 2004).

Referindo-se as aulas e/ou treinos, uma atitude tática


do judoca, no que tange a “tomada de decisão” será pré-
requisito central de quase todas as sessões, uma vez que o
principal objetivo desta pedagogia é desenvolver no judoca a
“inteligência tática” voltada à luta de judô. Entende-se desta
forma que um judoca autônomo além de buscar as melhores
ações dentro de uma luta, poderá ter maiores condições de
optar por qual caminho adotar em relação a modalidade,
sendo esta competitiva, educativa ou de saúde e qualidade
de vida.

Para tal fim a escolha das atividades em aulas e treinos,


sempre deve abordar a questão da “tomada de decisão”,
mais uma vez, o método situacional é uma forma de abordar
esta questão. Pois permite ao judoca encontrar diferentes
caminhos para resolver o problema proposto.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 89

3.4. A progressão espiral do processo de ensino-


aprendizagem-treinamento

As metodologias de treinamento mais consolidadas


(MATVEEV, 1996 e 1997; PLATONOV, 2004 e 2008;
VERKHOSHANKY, 2001) tratam do processo de organização
da preparação de atletas, as concepções pedagógicas preo-
cupam-se principalmente com a relação entre o desporto e o
desenvolvimento infanto-juvenil (SILVA, 2010). Neste trabalho,
os argumentos buscam compreender estas concepções pe-
dagógicas e metodológicas na proposta de trabalhar uma
construção ao longo dos anos, desde o início direcionando a
possibilidade do alto rendimento.

Devido a isso, a preocupação desta proposta é consolidar


a estrutura corporal do atleta para o alto rendimento e, ao
mesmo tempo, não desenvolver padrões motores iniciais
característicos da especialização precoce. Neste sentido, a
proposta pedagógica incide no entendimento de que nem
todos que treinam podem alcançar o alto rendimento, porém
a estrutura corporal devido ao treino deve objetivar melhora
no rendimento global do praticante. Consequentemente a
proposta poderá não resultar em ganhos expressivos na
conquista de medalhas, porém, em relação aos aspectos
motores, tomadas de decisão, (inteligência tática) e formação
ética o ganho deverá ser considerável.

Logo para que o processo atinja os objetivos almejados,


entende-se que o planejamento e aplicação das sessões de
prática de judô necessitam ter um caráter formativo e os
aspectos pedagógicos necessitam interagir-se de maneira
espiral ao longo dos anos.

Por Progressão Espiral do processo de ensino-


aprendizagem-treinamento, entende-se que o processo não
90 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

deverá esgotar as possibilidades de execução e adaptação de um


movimento ou de uma das unidades funcionais da luta em um
bloco de aulas ou treinos, sendo necessária uma sistematização
do processo pedagógico de forma que sempre após algum
tempo este movimento ou unidade funcional seja retomada
para que o judoca possa agregar novas possibilidades de res-
posta com sua atitude tática “alimentada” pela abordagem de
outras etapas e outras unidades funcionais dentro do processo.

Logo, uma mesma habilidade, movimento ou unidade


funcional deverá constantemente alternar entre estar presente
e ausente do processo de ensino-aprendizagem-treinamento
para que o judoca desenvolva outras habilidades, movimen-
tos ou unidades funcionais sempre ampliando seu repertório
motor, técnico e tático, agregando cada vez mais elementos
que possam contribuir para suas tomadas de decisões em
situações de luta.

Neste sentido, o processo pedagógico tem um caráter de


espiral, na qual tem como eixo central a tática, ou seja, o fator
“tomada de decisão” deverá estar presente constantemente nos
treinamentos, em um plano mediano as unidades funcionais
e periféricos ao processo os movimentos específicos e as indivi-
dualidades de cada judoca (tokuy-waza), conforme figura 10.

Mov Lut
Des Apr Con Tran sol
op
Con Tática Lut Tática Pro
sol
Apr Pro Tran Des Apli

Leg: Apr: aproximação; Con: contato; Mov op: movimentação


de oportunidade; Des: desequilíbrio; Pro: projeção; Tran: transição;
Lut sol; luta de solo e; Apli: aplicação.
Figura 10: Caracterização espiral do processo pedagógico complexo.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 91

Cabe destacar que por meio deste processo, espera-se


que dentro de um clube, academia ou qualquer outro espaço de
prática do judô, que os judocas tenham diferentes percepções
da modalidade e desta forma busquem e desenvolvam o reper-
torio técnico e tático que mais se adéquem as suas condições
motoras e cognitivas, porém sem negligenciar as outras pos-
sibilidades de movimento que o judô contém e que em um
novo momento poderá fazer parte do repertório deste judoca.

Ao utilizar-se desta metodologia o técnico poderá pos-


sibilitar ao judoca ampliar seu repertório técnico, porém sem
se especializar em alguns movimentos, pois permitirá ao
mesmo experienciar outros segmentos da prática bem como
resolver problemas táticos que poderão ocorrer pré ou pós a
execução dos movimentos que o judoca domina.

Para exemplificar esta questão imaginemos hipoteti-


camente um judoca que domine o osoto-gari de maneira
satisfatória em diferentes condições de uchi-komi, porém, o
mesmo não consegue executar em situações de luta. Inúmeros
fatores pré-execução podem estar ocorrendo para que o
mesmo não execute com êxito em situação de luta, dentre
estes, pode-se elencar, a forma que ele se aproxima do
adversário, a forma do adversário se aproximar do judoca, a
maneira que o adversário posiciona a sua pegada, a maneira
que o próprio judoca posiciona a sua pegada, o tipo de
movimentação do adversário, a antecipação do adversário
ao movimento, entre outras várias hipóteses. Além destas
ainda há situações que ocorrerão pós-aplicação do movimento,
sendo estas uma queda completa (ippon), incompleta (que não
gerou ippon), um contragolpe, uma situação de desvantagem
ou vantagem para a luta no solo, entre outras possibilidades.

Todas estas possibilidades pré e pós-execução de uma


ação técnica (intenção) são previstas e abordadas neste processo
92 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

em espiral, desta forma o judoca cada vez, que aborda a


unidade funcional novamente, agregará elementos que
possibilitam resolver as situações problemas que surgirão se
apropriando de elementos novos para os possíveis desdobra-
mentos para a sua intenção tática, tornando o judoca cada
vez mais capaz de adaptar a suas possibilidades na luta.

A necessidade do planejamento em espiral, principal-


mente das Unidades funcionais, se dá como um “currículo”
de habilidades e competências que o judoca deverá ter
contato intermitentemente para cada vez mais agregar
elementos em seu repertório de ações e decisões, pois, espera-se
que os elementos adquiridos no trabalho com uma unidade
funcional, possibilite ao judoca adaptar seu repertório e agregar
mais elementos para a o desenvolvimento de uma nova
unidade, ampliando as opções de resposta a uma situação
problema encontrada.

Por tanto, não é necessário o judoca dominar uma


determinada unidade funcional para iniciar um trabalho com
outra unidade, pois pequenas lacunas são esperadas, e o
pensamento tático será desenvolvido quando o judoca por
meio de novos elementos adquiridos tente resolver tais lacunas.

Para exemplificar, em uma situação de aproximação e


contato, na qual o judoca não consiga dominar a manga do
adversário em situação de kenka-yotsu para executar um
seoi-nage. Ao identificar esta dificuldade, a mesma poderá
ser abordada no treinamento com a unidade funcional criação
de oportunidade, na qual, poderão ser produzidas ações e
mecanismos para três outras opções táticas, como por
exemplo: 1 - uma movimentação, após o contato, que permita
dominar a manga; 2 - um ataque direto, antecipando a situação
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 93

que dificulta o kumi-kata e; 3 - movimentação e ataque para


o lado que já estabelece o domínio, no caso, lado contrário
ao dominante do Tori.

Neste exemplo, utilizou-se de uma dificuldade encon-


trada em uma unidade funcional (aproximação e contato)
para criar situações e possibilitar outras opções de resolução
de problemas, desta maneira o fluxo de luta não estará
prejudicado e sim estará ampliando o repertório de ações
técnicas do judoca. Desta forma, o processo espiral, no qual
as unidades funcionais alternam em estarem presentes e
ausentes, possibilitam ao técnico e ao judoca: identificar
dificuldades, propor soluções, testar as soluções propostas
estabelecendo metas de treinamento.

Neste sentido, ao utilizar-se das unidades funcionais de


maneira espiral o técnico poderá propor uma séries de situações
que possibilitarão concomitantemente o desenvolvimento
técnico do judoca, uma vez, que ampliará possibilidades de
execução, bem como o repertório tático, pois com a sobre-
posição das unidades funcionais estará possibilitando dife-
rentes aplicações para o repertório técnico adquirido.

3.5. As questões éticas e culturais envolvidas no processo


de formação humana

“Educação
Não há nada maior no mundo.
A educação moral de uma pessoa se estende a dez mil
pessoas.
A educação de uma geração se expande por uma
centena de gerações.
94 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Educação
Não há nada mais agradável no mundo.
Cultivando o talento e melhorando o mundo,
essa fragrância perfuma para sempre após a morte.
(KANO, 2008 p.121)”

A formação para os esportes configura também na


organização dos aspectos éticos e morais do envolvido (MA-
TVEEV, 1996), sendo o fair play a consolidação das normas
de conduta ética para os atletas. Em virtude da espetaculari-
zação do esporte e, no caso do Brasil, das Mídias que se
preocupam com notícias rendáveis e polêmicas e assim,
pouco divulgam os valores do espírito esportivo. Porém, a
fim de ampliar o conceito de ética presente na prática de
esportes, trazendo para o tatame, torna-se especial pois faz
parte da essência da modalidade e sem a educação ética e
moral, proposta por Jigoro Kano, não é possível praticar ou
identificar como judô.

Convém ressaltar que ética é entendido, neste livro,


enquanto valores coletivos que facilitam a convivência mútua
e a moral enquanto valor individual baseado em crenças
pessoais, conforme Cortella e Barros Filho (2014) definem.
Da mesma forma, pensar sobre estes conceitos para o judô,
está se referindo a educação pela modalidade e, no caso, não
de forma superficial, mas indissociável com a prática. Conforme
o valor da educação presente no discurso de Jigoro Kano:

Quando eu era jovem, após me graduar na Universi-


dade, pensei me tornar primeiro ministro ou milionário,
mas achei que nenhuma dessas opções seria satisfa-
tória. Eu concluí que a educação é a única coisa à qual
um homem poderia devotar sua vida sem arrepen-
dimentos, e assim busquei uma carreira na área da
educação. (KANO, 2008 p.120)
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 95

Neste sentido, o espírito esportivo se relaciona aos


conceitos de educação pelo esporte de forma geral, não
específica para o judô, porém, ao entender que a educação
é valorizada pelo sensei Kano, também faz sentido para
formar judocas. Porém não se deve confundir os conceitos.
Neste sentido, Cavazani (2012) aponta:

... dentro do imaginário dos participantes os saberes


da prática, nesse caso os valores do judô tradição são
mais relacionados aos conceitos do espírito desportivo
ou fair-play do que a tradição oriental proposta por
Jigoro kano para o judô. Os relatos dos participantes
direcionam a questões de respeito aos adversários,
respeito aos árbitros e regras e conduta ética perante o
treinamento e competições. (p.123)

Assim, entender os valores propostos por Jigoro Kano


para a prática do judô são, o “Ju” (suavidade) em relação a
não contraposição de forças para que leve o judoca a conseguir
utilizar o segundo princípio, da eficiência máxima, (seiryoku
saizen Katsuyo ou apenas seiryoku zenyo) que é a energia
mental e física deve ser usada da maneira mais eficiente
possível para que se chegue ao resultado desejado indepen-
dente do objetivo e não apenas por meio da luta. Outro
princípio é o chamado de sojo sojou jita kyoei ou apenas
jitakyoei que significa prosperidade mútua por meio da assis-
tência e da concessão mútua o que leva a perceber que
dessa maneira, a situação traz para todos, vantagens que
não teriam sozinhos, indo além da obediência sem reflexão
(KANO, 2008, p. 38). Tudo isto relacionado com a prática
pelo caminho (DÔ), ou seja, vivenciar e trazer para vida
cotidiana como um conjunto de sabedoria para vida.

Desta forma, essas concepções da tradição que funda-


mentam o pensamento de Kano para o judô não são relacionadas
96 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

ao esporte (CAVAZANI, 2012), mas se relaciona a conceitos


de crescimento pessoal que deve atingir o praticante de judô
na sua trajetória de vida relacionado aos processos de cida-
dania e convívio dentro de uma concepção maior ao bem
universal. Neste caso, reatar com os ensinamentos de Jigoro
kano possibilita perceber o quanto os valores esportivos
acabaram naturalizando-se ao judô. Devido a isto, ambas as
formas de entendimento de ética devem ser abordadas no
treinamento da modalidade, pois ambas possuem valores
importantes e que devem ser inseridos na formação moral do
praticante. Porém, deve-se evitar confusões, pois, alerta
Cavazani (2012):

...a falta de formação adequada somada à valorização


esportiva competitiva, contribuiu para que os conceitos
da tradição fossem reorganizados em relação aos seus
significados, miscigenando-se e substituindo os origi-
nários, vindos dos preceitos de Jigoro Kano, em relação
ao crescimento individual e a cidadania, conceitos estes
que vão além das medalhas. (p.127)

• Ficando o cuidado de perceber quando utilizar a


discussão sobre o fair play em relação ao respeito aos adver-
sários, árbitros e todos do ambiente esportivo sem, portanto,
ressignificar em relação à tradição do judô e dos seus valores
próprios. E, o componente tradicional do judô, expresso pelos
valores de Jigoro Kano enquanto aspectos identificadores do judô
devem estar presentes no cotidiano da vivência da modalidade.
CAPÍTULO 4

APLICAÇÕES PRÁTICAS DA
PEDAGOGIA COMPLEXA

Serão apresentadas neste capítulo algumas aplicações


práticas da pedagogia complexa. Para tal fim, foram convi-
dados dois profissionais que atuam com equipes de judô e
que em suas práxis adotam os aspectos da pedagógica com-
plexa, descritos acima, como norteadores do trabalho.

Partindo da perspectiva do conhecimento experiencial


(TARDIF, 2002) os capítulos a seguir flutuam entre os
pressupostos teóricos e a aplicação prática dos mesmos,
sendo apresentadas algumas possibilidades de aplicação do
método que concatenam ao mesmo tempo com a formação
do cidadão autônomo e para o direcionamento do judoca
para o rendimento e alto rendimento, caso seja a opção
do indivíduo.

Neste sentido, será apresentado no “4.1 Uma


abordagem complexa na iniciação e no direciona-
mento esportivo”, uma caracterização do indivíduo nesta
fase da vida e algumas propostas de atividade para estas
faixas etárias.

A proposta parte do desenvolvimento do indivíduo em


sua totalidade, tendo o judô como "o meio" para tal fim.
98 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Propõe-se aqui uma breve discussão sobre a aplicação do


método, no qual, crê-se que deva ser sistematizado, organizado
e direcionado com objetivos e perspectivas de desempenho,
porém, que estes objetivos de desempenho não sejam
confundidos com desempenho competitivo imediato e precoce.
Não obstante, que os jogos, propostas de exercícios e outros
meios não sejam abordadas nas sessões de judô apenas uma
perspectiva lúdica, e apenas lúdica, mas sim que embora
seja prazerosas aos judocas iniciantes tenham objetivos pe-
dagógicos que atendam as necessidades da preparação
esportiva a longo prazo.

Complementando, o capítulo 3.2 “O treinamento e


competição no desenvolvimento da autonomia de
judocas”, apresenta a competição com uma significação
diferente da comumente adotada, pois acredita-se que é
necessário o indivíduo competir para se avaliar, tanto nos
aspectos psicológicos quanto técnicos e táticos, e que com-
preender a competição como "meio" tanto pelo técnico, pelo
atleta como pelos familiares envolvidos trará a mesma,
significados positivos ao processo de formação tanto do cidadão
como do atleta de judô.

Finalmente, no capitulo 3.3 “Exemplos práticos da


utilização da pedagogia complexa para especialização
e rendimento” apresenta uma perspectiva da pedagogia
complexa a longo prazo, bem como alguns exemplos de
exercícios e organização para atletas em especialização,
especialização profunda. Destaca-se também uma breve
discussão sobre o método adotado para atletas de rendimento
e alto rendimento.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 99

4.1. Uma abordagem complexa na iniciação e no dire-


cionamento esportivo

Participação: Bruno Bohm Pasqualoto*

A iniciação esportiva é compreendida como o período


em que a criança inicia a prática de esporte, sendo apresentada
para variadas modalidades esportivas. Esse processo deve
ter como foco o desenvolvimento pleno das crianças, criando
adaptações nos indivíduos para possíveis direcionamentos e
especializações dentro do esporte, não sendo foco nessa
etapa as competições e o treinamento esportivo (TSUKA-
MOTO e NONOMURA, 2005).

Esse processo de iniciação é dependente de um en-


gajamento de estímulos que ocorrem durante as diferentes
etapas que os indivíduos passam, para que então consigam
obter sucesso em relação a esse processo complexo de
formação esportiva.

Todo esse contexto deve ser pautado em um processo


planejado e sistematizado que se inicia na infância, sem
negligenciar fases essenciais de desenvolvimento das crianças.
A janela de oportunidades e desenvolvimento pleno de todos
os indivíduos são fatores primordiais para o sucesso e prática
de habilidades esportivas complexas, assim como para o
desenvolvimento motor e biopsicossocial essencial para a
vida dos envolvidos. (GRECO e BENDA, 2007).

A melhor fase para a iniciação é por volta dos seis anos


de idade e deve-se ofertar nesse momento aos participantes

*. Pasqualoto, B.B.; Olivio Junior, J.A.; Drigo, A.J. Uma abordagem com-
plexa na iniciação e no direcionamento esportivo. In: Olivio Junior, J.A.;
Drigo, A.J. Pedagogia complexa no judô: um manual para treinadores
de base. Ed. Mundo Jurídico: Leme-SP, 2015.
100 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

o maior número possível de estímulos e situações, para que


futuramente tenham bagagens motoras, cognitivas e sociais
quanto à prática de atividades, podendo escolher quais praticar
(GRECO e BENDA, 2007). Essa variabilidade deveria ocorrer
com prática de diversas atividades e esportes, sem uma
especialização precoce, para que em uma próxima fase,
que pode ser definida como direcionamento, as crianças
começassem a se direcionar as modalidades com maior
especificidade e que mais se identificam, podendo aliar a
prática específica a outras atividades. Por fim, caso opte por
seguir o caminho do esporte competitivo, segue para a fase
de especialização e os envolvidos nesse momento passarão a
treinar sistematicamente uma única modalidade esportiva
(TSUKAMOTO e NONOMURA, 2005).

Percebe-se que atualmente é crescente o número de


crianças que iniciam a prática esportiva entre seis e 12 anos
de idade, o que deve ser compreendido como uma situação
benéfica aos envolvidos, se todo processo de desenvolvimento
for ofertado de maneira sistematizada e organizada mediante
as características deles, respeitando as fases desse processo
e não os especializando precocemente, o que poderá influ-
enciar negativamente tanto o desenvolvimento geral, quanto o
desenvolvimento esportivo (GIMENEZ e UGRINOWITSH, 2002).

Devido a essa grande procura pela prática de esportes


na atualidade, deve-se proporcionar situações que possam
ofertar um desenvolvimento pleno dos indivíduos conforme
as suas características, primando pelo desenvolvimento motor,
cognitivo e social dos participantes. O processo deve também
auxiliar a busca pela autonomia desses praticantes, uma vez
que, esta característica será importante para desenvolver no
judoca a "tomada de decisão" mediante as situações problemas
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 101

que serão encontradas. Além dos beneficio sócio educativos,


um processo de iniciação organizado e direcionado, fornece
uma base sólida a esses participantes, para que futuramente
eles tenham repertório necessário para desenvolver outras
atividades ou se especializar no esporte que pratica.

O judô é uma modalidade que têm grande procura por


crianças que encontram-se nas faixas etárias correspondentes
à iniciação esportiva. Portanto, o judô pode se tornar uma
ferramenta no desenvolvimento desses praticantes, uma vez
que, acaba se tornando algumas vezes a única prática es-
portiva dos sujeitos. Porém, em alguns casos, ocorre o direci-
onamento antecipado dentro da modalidade que atropela
fases e principalmente que não oferta estímulos necessários
para o desenvolvimento desses indivíduos.

Tsukamoto e Nonomura (2005) reforçam essa questão


apontando que queimar etapas nesse processo de iniciação
esportiva pode prejudicar o desenvolvimento dos esportistas,
além de que, nem sempre campeões nas fases adultas foram
campeões nas fases iniciais (CAVAZANI, 2012). Portanto as
fases de desenvolvimento das crianças devem ser respeitadas.
Outro ponto de reflexão é em relação ao custo de uma
especialização precoce a uma criança, bem como a expecta-
tiva exacerbada construída devido a resultados esportivos nas
classes mais jovens.

Um fator que deve ser levado em conta nesse processo


é que esse desempenho, em relação à conquista de medalhas,
que muitas crianças apresentam pode estar ligado simples-
mente a uma antecipação nos seus processos de maturação
em relação as outras crianças, ou ainda a idade relativa, o
que certamente fará que ela obtenha maiores resultados
nesse momento, porém posteriormente essa vantagem pode
102 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

ser igualada e os resultados não serem mantidos (FERREIRA,


2015). Sendo assim é necessário estimular a participação de
todos os participantes de uma aula ou treino, e não apenas
dos pequenos campeões, e organizar a iniciação esportiva
com base nestas premissas.

Contudo, observa-se então a grande complexidade que


existe nesse processo, uma vez que, as situações encontra-
das diferem do contexto ideal de iniciação esportiva, muitas
vezes por falta de informação, metodologias adequadas, que
não contemplam esses processos, fatores ambientais, sociais
e econômicos.

Neste sentido, aponta-se para a pedagogia complexa


no judô, como uma possibilidade para a iniciação esportiva,
que por meio da sistematização proposta possibilitará e
oportunizará estímulos diferentes que contemplem um grande
número de ações e atitudes, contribuindo para o desenvolvi-
mento dos indivíduos na sua forma plena e principalmente,
caso seja a intenção futura do judoca, possibilitará o seu
direcionamento e especialização no que tange a modalidade
como esporte competitivo. Desta forma o processo está
centrado no sujeito e na sua aprendizagem, respeitando
seus limites e potencialidades, tornando o judô nesta fase da
preparação esportiva a longo prazo, um meio para o desen-
volvimento e não um fim.

Para caracterizar os sujeitos que estão presentes nesta


fase, temos que centrar esta abordagem em relação às faixas
etárias que se encontram presentes em grande escala nos
processos de iniciação, direcionamento ou especialização,
principalmente no judô, evidenciando então crianças entre
seis e 12 anos de idade.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 103

Crianças que estão nessa faixa etária começam a par-


ticipar de vários projetos relacionados ao judô, sendo escolas
específicas da modalidade, clubes recreativos, projetos sociais
atrelados ao desenvolvimento do esporte etc. Nota-se que
atualmente a iniciação esportiva muitas vezes negligencia as
fases de desenvolvimento das crianças, utilizando métodos
que não contemplam os objetivos de desenvolvimento das
faixas etárias correspondentes, estimulando pouco e erronea-
mente os processos de aprendizagem, comprometendo o
desenvolvimento dos participantes nesta fase.

Este suposto engano ocorre devido a dois extremos de


ordem metodológica no que tange a preparação esportiva a
longo prazo, sendo: a) a exacerbação da importância dos
resultados competitivos neste período o que deturpa a abor-
dagem das aulas provocando uma especialização e ou treina-
mento precoce e; b) o distanciamento das ações em aula da
modalidade específica, tornando a aula pouco sistematizada
e com ações extremamente lúdicas, tornando um momento
que pode ser significativo no processo de ensino-aprendi-
zagem-treinamento do judoca em atividades que configurem
apenas como recreação.

Logo, aponta-se para a pedagogia complexa como


uma opção que se adeque para todos os lócus de iniciação
em judô, pois a iniciação e o direcionamento na modalidade
devem ser sempre com duas intenções principais: a) desen-
volver um indivíduo autônomo e estimulado a prática esportiva,
seja esta o judô ou outra modalidade e b) oferecer subsídios
motores, técnicos, táticos, psicológicos e sociais para aquele que
intenciona inserir-se em um processo competitivo da modalidade.

Primeiramente, as crianças não devem ser compreen-


didas e tratadas como adultos, ou adultos em miniatura, pois
104 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

elas estão em processo de desenvolvimento e possuem as


suas particularidades mediante a fase da vida que se encon-
tram, sendo fator de sucesso e permanência dentro da práti-
ca que estão iniciando, respeitar e trabalhar conforme essas
fases (SILVA, 2010).

Utilizando das divisões de classes no Judô que ocorre


em relação as faixas etárias e dentro destas classes temos
ainda a divisão em categorias em relação ao peso corporal,
essa organização que já faz parte da modalidade terá grande
importância em todo processo organizacional em relação a
estrutura pedagógica da modalidade. Essa divisão por clas-
ses facilita o processo de iniciação e direcionamento dentro
da modalidade, assim como caracterizar os participantes de
cada classe é fator primordial para execução das ações nos
processos de ensino-aprendizagem-treinamento.

As classes são divididas (FPJ):

Sub-7: menores de 6 anos;


Sub-9: 7e 8 anos;
Sub-11: 9 e 10 anos;
Sub-13: 11 e 12 anos;
Sub-15: 13 e 14 anos;
Sub-18: 15, 16 e 17 anos;
Sub-21: 18, 19 e 20 anos;
Sênior: acima de 21anos

O nosso foco será em relação às crianças com idade entre


06 e 12 anos e pertencentes as classe sub 07, sub 09, sub 11
e sub 13 no judô que se encontram na terceira infância,
podendo essa ser caracterizada como fase dos anos escolares.
(PAPALIA e OLDS, 1998). Nesta fase, as crianças se desen-
volvem em todos os aspectos, ficando mais altas, mais pesadas,
mais fortes, além de se desenvolverem cognitiva e socialmente.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 105

Esses variados desenvolvimentos que ocorrem nessas


faixas etárias podem ser melhor entendidos quando observa-se
as mudanças, ou seja, em relação a altura as crianças crescem
2,5cm a 7,6cm ao ano, já relacionado ao peso elas ganham
2,2kg a 3,6kg, ou mais, ao ano. Outra questão que deve ser
observada é o ganho de habilidades, capacidades cognitivas
e seu desenvolvimento social. Em relação às habilidades mo-
toras, todas as crianças continuam a se aperfeiçoar, tornando-se
mais rápidas, mais fortes e tentam continuamente obter
avanços de desempenho nas diversas tarefas que realizam.
Cognitivamente as crianças fazem avanços significativos nos
pensamentos lógicos e criativos, avançam significativamente
na questão do juízo moral e socialmente elas se tornam mais
influentes na sociedade. A autoestima delas melhora e por
mais que os pais ainda as influenciem diretamente, a sociedade
e, principalmente, suas companhias começam a ter um papel
importante na evolução dessas crianças (PAPALIA e OLDS, 1998).

Durante este período, as crianças começam a adquirir


habilidades que as deixam capazes de participar de atividades
mais sistematizadas, organizadas e com níveis de complexidade
diferentes, como jogos e esportes (PAPALIA e OLDS, 1998).

Greco e Benda (2007) também caracterizam as fases


de preparação desportiva a longo prazo, segundo a classifi-
cação dos autores e atrelando as mesmas as divisões encon-
tradas no judô, crianças entre 06 e 12 anos correspondente
ao ultimo ano da classe sub 07 no judô até o final da classe
sub-13 se encontram na fase universal de desenvolvimento,
onde elas se apresentam com movimentos básicos em
processo de refinamento constante, são dependentes do
processo metodológico de estimulação e desenvolvimento
para alcançar os objetivos preconizados. Estes estímulos serão
base sólida e apropriada em relação ao movimento e às
106 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

interferências de contexto surgidas na fase seguinte. Pos-


teriormente surge a fase de orientação que inicia-se entre 11
e 12 anos (classe sub-13) como primeira etapa e, após como
um segundo momento ela abrange também os 13 e 14 anos
(classe sub-15).

Na fase de orientação os esportistas começam a espe-


cializar os seus movimentos em direção a habilidades esportivas
diversas e aumentam gradualmente a complexidade destas
habilidades e suas combinações em relação às diversas ativi-
dades que participam, para então se direcionarem posterior-
mente a modalidades esportivas específicas.

O judô, enquanto modalidade esportiva, é desenvolvido


em um contexto amplamente construído de situações abertas
com interferências contextuais variadas e em diferentes
graus. Nestas situações construídas ocorrem ações discretas
e seriadas e a "tomada de decisão" é constante na modalidade
em relação as suas ações. Logo, estes fatores a indicam que
o processo deve ter um planejamento de conteúdos e uma
pedagogia que contemple estas características, aproxi-
mando o processo de ensino-aprendizagem-treinamento das
características reais que ocorrem na modalidade (SCHMIDT
e WRISBERG, 2001).

Neste sentido, a proposta da pedagogia complexa


corresponde tanto às exigências da modalidade, quanto se
adequa as fases de preparação desportiva a longo prazo.
Para isso, é necessário adequar às atividades propostas de
acordo com o organograma proposto nas Unidades Funcionais
da Figura 8, pois, conforme o judoca vai se aprofundamento
e especializando modalidade, vai aumentando o nível de
complexidade que deverá ser abordado as unidades funcionais.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 107

Desta forma, na fase de iniciação, as atividades propostas


deverão estar pautadas nos quatro momentos: pré-contato,
controle em pé, controle em transição e controle no solo,
pois embora possuam dentro dos seus contextos todas as
unidades funcionais, permite a elaboração de jogos e exercícios
mais gerais, que proporcionam concomitantemente: a) de-
senvolvimento motor geral, podendo inclusive promover a
transferência para outras modalidades esportivas; b) desen-
volvimento da inteligência tática, tanto para aplicação em
judô, quanto em outras modalidades e; c) pré-requisitos técnicos
e táticos para o direcionamento e especialização na modalidade.

As atividades devem primeiramente englobar caracte-


rísticas gerais referente aos momentos e posteriormente seguir
para um direcionamento das unidades funcionais mais
complexas que correspondem aos momentos, aproximando
do contexto real da luta formal de judô. Logo as atividades
não devem ser propostas aleatoriamente, mas sim, organizadas
de forma que tenham uma sequencia metodológica.
Exemplificando o aumento gradual da complexidade, ao
executar a atividade “pegar o nó da faixa”*, que se configura
nos momentos: "pré-contato" e "controle em pé", a atividade
permite direcionamentos e contextualizações para as uni-
dades funcionais de aproximação, contato e criação de
oportunidade. No entanto, a atividade, não deixa de se
caracterizar como uma atividade de caráter geral.

*. A atividade é realizada em duplas, causando inicialmente um processo de


interação. Antes de iniciar o jogo propriamente dito, as saudações no
judô já podem ser ensinadas às crianças; ao iniciar a atividade. Em relação
ao processo de desenvolvimento motor geral, ocorre quando a criança
para resolver o problema proposto, opta por deslocamentos variados,
tentativas de fintas e defesas, que promovem o desenvolvimento geral
da sua agilidade, podendo futuramente ser transferido para outras modali-
dades esportivas.
108 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Por meio deste exemplo, evidenciam-se alguns pontos:


1- o caráter sócio motriz da atividade, 2- a possibilidade de
desenvolvimento multilateral com esta atividade, pois tem
características gerais e específicas, 3 - a adequação a faixa
etária contextualizando uma brincadeira com as unidades
motoras propostas neste trabalho, 4 - o caráter lúdico,
tornando atrativo, motivacional e dinâmico o processo de
aprendizagem, 5 - o caráter específico de desenvolvimento,
uma vez que contempla situações padrões encontradas em
competição, reorganizadas e adequadas para a faixa etária,
6 - o desenvolvimento da capacidade tática - tomada de
decisão (KOZUB e KOZUB, 2004), 7 - a possibilidade espiral
contida, uma vez que poderá ser inserida atividades que
deem continuidade a unidade proposta e 8 - a possibilidade
de contextualização com situações especificas de judô que
poderão a vir ocorrer em competições.

Ressaltando o processo em espiral, no qual ocorre uma


sobreposição das unidades funcionais em um processo enga-
jado, ressalta-se que não há necessidade de domínio total de
uma unidade funcional para iniciar a unidade subsequente.
Pois, espera-se que prováveis déficits relacionados à resolução
dos problemas ocorram, tornando-se lacunas que provoquem
desconfortos no judoca e que por meio de aquisições obtidas
na abordagem de novas unidades vão paulatinamente tentar
suprir este problema, criando outras opções de solução e
quando retornar.ao problema original terá provavelmente
mais de uma via de solução.

Será proposto aqui algumas atividades pautadas no


método, muitas das quais já são utilizadas em aulas e treinos
por outros técnicos, mas buscando aqui uma forma de con-
textualiza-las.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 109

Momento: Aproximação; Atividade: relógio

Em duplas, parceiros estar de frente um para o outro


a uma distância que permita que façam o kumi-kata se ne-
cessário. Um dos parceiros deverá se movimentar em várias
direções aleatoriamente e o outro deverá sempre tentar ficar
de frente com o parceiro que está movimento, sendo que toda
vez que chegar a frente do outro deve tocar as mãos no
oponente para que ele pare de se movimentar. Realizar a ativi-
dade em um raio de 1,5 metros ou 2,0 metros no máximo.
110 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Aproximação; Atividade: Pega o pé

Em duplas, devem tentar tocar o pé do oponente e


aquele que tocar primeiro realiza o ponto. É necessário que
nessa atividade haja uma grande movimentação e aproximação
variada dos participantes. Realizar a atividade em um raio
de 1,5 metros a 2,0 metros.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 111

Momento aproximação; Atividade: Pega a bola

Em duplas ou em grupos realizando uma vez cada um a


atividade. Um dos parceiros deve estar com uma bola, sendo
que o mesmo irá quicar na sua frente e em várias direções e
o parceiro que estiver próximo deve se deslocar e apanhar a
bola. Essa atividade pode ser contextualizada com outras
modalidades, porém possui características muito próximas
aos princípios de aproximação no judô. Realizar a atividade
em raio de 1,5 metros ou 2,0 metros no máximo.
112 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: aproximação; Atividade: Bagunça Kimono

Em duplas e os parceiros devem se movimentar con-


forme a luta, porém o objetivo é o contato rápido e constante
tentando "bagunçar" o kimono do colega, ou seja, tirá-lo de
dentro da faixa. Na ausência de kimono, essa atividade
poderá ser realizada com os integrantes com a camiseta por
dentro da calça.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 113

Momento: Aproximação; Atividade: Pega primeiro

Em duplas com movimentação de luta sem contato ao


comando do instrutor os indivíduos devem realizar as ações
antes do adversário Ex: pegar manga e manga, gola e gola,
manga e gola etc.
114 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Aproximação e controle em pé; Atividade:


Pegar a faixa

Em duplas e com o nó da faixa de ambos os parceiros


virado para trás. A atividade tem como objetivo trazer o nó da
faixa do adversário para frente, sendo que tal atividade requer
bastante aproximação, contato rápido e pontual e controle do
oponente em pé durante a tentativa de executar o objetivo da
atividade para trazer o nó para frente. Essa atividade pode ser
realizada em grupos e, na ausência de faixas, pode ser usado
algum objeto que eles consigam deixar pendurado atrás para os
parceiros tentarem pegar. Ex: tira de pano presa no elástico
da calça - faz ponto quem consegue tirar a tira do adversário.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 115

Momento: Aproximação e controle em pé; Atividade:


Abraçar a cintura

Em duplas e os adversários devem tentar abraçar a


cintura do oponente, sendo que realiza ponto aquele que
conseguir abraçar a cintura primeiro. Essa atividade requer uma
aproximação variada e um contato rápido com o adversário.
116 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em pé; Atividade: Rouba tesouro

Em duplas em um raio de 2,0 metros no máximo, cada


participante precisará ter um objeto atrás de si mesmo no
solo, sendo que o objetivo do adversário é colocar a mão no
objeto do oponente. Essa atividade requer muito contato,
pois para evitar que o adversário pegue o seu objeto ou para
pegar o dele o contato entre eles será enorme. Deixar claro
que eles devem ter contato e não correr um do outro, mas
sim desenvolver ações que facilitem ou possibilitem que
consigam chegar ao objetivo.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 117

Momento: Controle em pé; Atividade: Controle de


território

Em duplas e o objetivo é não deixar que o outro entre


no seu espaço, podendo ser um arco ou círculo criado com a
faixa no tatame. O indivíduo que irá defender o território
deve ficar fora do espaço. Outras variações podem ocorrer
nessa atividade usando espaços diferentes ou situações
diversas. Ex: com dois territórios, sendo que um tem que
invadir e também tenho que defender o seu espaço.
118 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em pé; Atividade: Sumô adaptado

A atividade pode ser realizada em duplas, individual-


mente - sendo um contra todos - ou em equipes. O objetivo é
causar o desequilíbrio do adversário fazendo com que ele
coloque alguma parte do corpo no solo que não seja os pés.
O vencedor é aquele que conseguir causar o desequilíbrio no
oponente. Podemos também variar essa atividade: ao invés
de se desequilibrar o adversário para colocar alguma parte do
corpo no solo que não seja os pés, tenta-se tirar ele do
espaço estabelecido como limite.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 119

Momento: Controle em pé; Atividade: Bate as mãos

Em duplas, um de frente para o outro em uma distância


que eles conseguirão se tocar; deve-se tentar desequilibrar o
adversário batendo as palmas da mão, sendo que o ganhador
é o que conseguir fazer com que o outro mude os pés de
posição ou caia.
120 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em pé; Atividade: Sumô de


mãos

Em duplas e um do lado do outro em direções opostas.


Os participantes devem dar as mãos e um tentar desequilibrar
o outro, fazendo com que um deles mude os pés de posição.
Ganha a atividade aquele que conseguir tirar o oponente
do lugar.

Nessa atividade podemos ter inúmeras variações que


caminham em direção aos mesmos objetivos, sendo: realizar
a atividade com auxilio de um cabo de vassoura onde cada
participante deverá segurar uma extremidade do cabo com
uma mão e movimentar (puxar, empurrar para ambas as
direções) tentando desequilibrar o oponente fazendo com que
ele se movimente e troque seus pés de local (desequilibre);
usando o cabo de vassoura também podemos colocar o mesmo
na frente dos adversários horizontalmente e ambos devem
pegar no cabo com as duas mãos e através de movimentações
aleatórias tentar tirar o oponente do seu ponto de equilíbrio;
realizar a atividade segurando a mão do adversário de frente
pra ele, sendo que as mãos que estarão em contato devem
ser de lados diferentes (direita, esquerda ou esquerda, direita)
e através de movimentações aleatórias tentar tirar o oponente
do seu ponto de equilíbrio;

Realizar essas variações com disposições diferentes do


pés no solo, ou seja, os parceiros com os pé paralelos, direito
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 121

a frente, esquerdo a frente, pés opostos ao adversário, sendo


que essas variações devem ser constantemente anexadas ao
contexto de prática.
122 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em pé; Atividade: Luta de ganchos

Em duplas e os oponentes devem tentar projetar o


adversário ao solo realizando somente ganchos nas pernas.
Essa atividade é uma ótima iniciação para a compreensão
das técnicas de ashi-waza.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 123

Momento: Controle em pé; Atividade: Uchi-komi variado

Podem ser realizadas entradas de golpes variadas, po-


rém sempre contextualizadas e próximas às características
da luta, além de ser de muito importante a variação de
direções e contextos. Ex: empurrando, puxando, deslocando
aleatoriamente, deslocando para direita, esquerda, girando
etc. Nessa atividade a variação de direções é fator primordial
e, uma maneira de contextualizar essa grande variação é
abordar nessa atividade todas as movimentações possíveis
que podem ocorrer dentro da luta, fazendo com que o aluno
se relacione e vivenciei essas mudanças de contextos, exem-
plos: para frente, para trás, direita, esquerda, girando para a
direita, girando para a esquerda, diagonais pra frente direita
e esquerda e diagonais para trás direita e esquerda.
124 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em pé; Atividade: Abraça a


cintura e ganchos

Em duplas e os parceiros deverão tentar abraçar a


cintura do adversário e realizar ganchos nas pernas tentando
projetar o oponente. Essa atividade é muito produtiva para o
início da aprendizagem de técnicas de ashi-waza e contragolpes.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 125

Momento: Controle em transição; Sentar o parceiro

Em duplas e um parceiro deve começar a atividade


abraçando a cintura do outro, porém esse que abraçou deve
estar nas costas do adversário e tentar fazer com que ele
sente-se. O objetivo é desenvolver a projeção e transição
(uma vez que tenta controlar o contato em direção ao solo)
em relação às técnicas de kaeshi-waza (contragolpes) para o
que está atacando e para o parceiro que está se defendendo
desenvolver mae-ukemi.
126 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em transição; Atividade: Casco


de Tartaruga

Em duplas e um parceiro deve ficar na posição de oito


apoios de maneira compacta, fazendo evidência ao casco da
tartaruga, sendo que o objetivo da atividade é não deixar o
adversário virar o parceiro que está no casco da tartaruga.
Nessa atividade, conseguimos contextualizar situações que
acontecem frequentemente durante as lutas de judô referentes
à transição.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 127

Momento: Controle em transição; Atividade: Rolinho

Em duplas e de joelhos. Um parceiro realizará um


koshi-guruma no adversário e esse, após cair, rolará o outro
por cima do seu corpo, realizando transição e já caindo em
posição de imobilização.
128 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle em transição e no solo; Atividade:


Pegar primeiro

Em duplas e sentados. Um deve estar de costas para o


outro e ao sinal do técnico devem virar-se e tentar segurar o
adversário com as costas no chão. Para que eles possam
compreender o tempo que eles devem segurar, pode-se
trabalhar com a contagem até 10, ou seja, quem segura
deve ficar segurando até que termine de contar.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 129

Momento: Controle em transição e no solo; Atividade:


Controle no espaço de joelhos

Em duplas e de joelhos um parceiro deve ficar em um


espaço pré-estabelecido e o outro tentar manter ele dentro
desse espaço não permitindo que ele saia. A atividade deve
ser realizada o tempo todo de joelhos, estimulando o controle
no solo e as variações próximas a situações de transição.
130 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle no solo; Atividade: Segura escapa

Em duplas e um parceiro deve segurar o outro com


as costas no chão e da maneira que se sentir confortável,
sendo que ao sinal do instrutor esse que está embaixo deverá
tentar sair.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 131

Momento: Controle no solo; Atividade: Passagens

Trabalhar com as crianças o ensino de passagens simples


que possam auxiliar o seu desenvolvimento quando estiverem
em situações que necessitem de algo técnico para realizar a
transição. Ex: ganchos nos braços, rolinho segurando calça e
manga etc. Essa atividade poderá subsidiar as crianças na
realização de atividades citadas acima.
132 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Momento: Controle no solo; Atividade: Rei da guarda

Em duplas e um deve ficar na posição de guarda e o


outro tentar passar e imobilizar. É importante ressaltar que o
parceiro que está na guarda deve tentar ficar na posição e
não dar as costas para o outro parceiro. Nessa atividade
podemos realizar algumas variações, como: realizar a mesma
atividade porém em meia guarda; com a guarda ou meia
guarda aberta e fechada etc.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 133

Em relação às crianças e alunos pertencentes ao direcio-


namento, também devemos pautar o trabalho sobre esses
momentos da luta, porém enfatizando agora com mais di-
recionamento as oito unidades funcionais. (OLIVIO JUNIOR
et. al., 2015). Atribui-se que os indivíduos pertencentes ao
direcionamento dentro do judô já se apresentam em uma
fase mais avançada de desenvolvimento de acordo com as
características motoras e cognitivas preconizadas para esses
sujeitos, conseguindo combinar habilidades e realizar ações
que envolvam situações mais complexas, fato esse apontado
por Gallahue e Osmun (2005) colocando que conforme os
sujeitos são estimulados e a aquisição de repertório motor
evolui mediante a aquisição de habilidades diversas e rela-
cionadas com as suas fases de desenvolvimento, os sujeitos
pertencentes a esse processo começam a adquirir capacidade
para combinar habilidades e participar de jogos ou situações
motoras com maior complexidade, situação essa encontrada
dentro do direcionamento no judô.

Sabe-se que é extremamente dependente essa fase de


direcionamento dos estímulos recebidos na fase de iniciação,
pois, caso esta fase tenha sido pobre em relação aos estí-
mulos recebidos, possivelmente os indivíduos pertencentes
ao direcionamento apresentarão um aproveitamento e
acompanhamento dificultado em relação às atividades, tendo
muitas vezes que realizar atividades referentes à iniciação.

Em relação a exemplos de atividades que contemplem


os momentos da luta e suas unidades funcionais para a fase
de direcionamento, cabe citar, primeiramente, que todos os
exercícios que são utilizados na fase de iniciação também
podem ser usados nessa fase, modificando apenas a comple-
xidade e os objetivos da atividade, focando sobre as unidades
134 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

funcionais existentes nos momentos e não somente sobre


eles, sendo essas modificações atreladas ao desenvolvi-
mento dos indivíduos. As atividades propostas serão
apresentadas na figura 11. Atividades propostas para o
direcionamento.
Momentos Descrição
Em duplas e os parceiros deverão realizar diferentes formas de contato e
Aproximação pegada ao sinal do professor, podendo também estabelecer situações
e contato específicas como realizar a pegada para a direita, esquerda, costas, nas
mangas etc.
Nessa atividade é muito importante a variabilidade de ações e contextos,
buscando um desenvolvimento pleno do indivíduo. Ex: devem ser realizados
Aplicação
uchi-komis em movimentações aleatórias com e sem resistência, uchi-komi
e desequilíbrio
em pizza onde o tori realiza as suas ações para as 10 direções possíveis,
conforme figura 7.
Realizar randori em situações diversas de desvantagens , para que o que
tori em desvantagem busque criar soluções e mudar o contexto que está
ocorrendo. Essas desvantagens podem estar relacionadas a uma pegada
dominada, a uma situação de canto de área, desvantagem em placar ou
ainda configurações de kumi-kata que dificultem o tori a executar seu tokui-
waza.
Criação de Realizar randori com o tempo reduzido para que os parceiros busquem
oportunidade criações a fim de obterem uma situação determinante (ponto ou levar ao
solo com condição de ataque) com parâmetro de pressão do tempo.
Realizar o randori com o tempo normal de competição de cada categoria,
porém durante os combates colocar pausas intermitentes e aleatórias,
conforme acontecem na competição, para que assim criem o hábito de
buscar a oportunidade e recriar um plano de ação constantemente
mediante as diferentes variáveis que surgem no contexto.
Em duplas o uke deve dificultar as ações do tori estabelecendo kumi-kata
Desequilíbrio, diversos conforme as orientações do sensei. Ex: o tori deve desequilibrar e
criação de criar a oportunidade buscando a aplicação, porém o uke vai dificultar
oportunidade e estando segurando nas duas mangas, nas duas golas, de canhoto, destro,
projeção manga e gola etc. Essa atividade faz com que o tori crie continuadamente
um plano de ação perante as diferentes situações encontradas.
Em duplas e colocando o uke como agente principal da atividade o tori irá
movimentar conforme a luta e aplicar o golpe, sendo que o uke nesse
momento irá realizar ações de contra golpes, buscando estabelecer
vantagem perante a situação seja pontuando ou não. Engajado a essa
Aplicação atividade uma variação que pode acontecer é o uke realizando o contra
golpe e automaticamente após já realizar a transição para a luta de solo.
Outra variação é o tori tentar impedir o contra golpe e se colocar
novamente em vantagem, seja conseguindo completar a projeção ou
retornando a uma posição confortável sem ser contra golpeado.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 135

Os parceiros devem realizar variação de aplicação com projeção


juntamente com as situações de transição, sendo muito importante anexar
a atividades como essa, situações diversas. Ex: com o adversário correndo
para cima, andando para traz, segurando em lados opostos ao seu,
somente com uma mão no judogui etc.
Em duplas e realizando a atividade uma vez cada, o tori do momento deve
Projeção e realizar uma projeção com técnica de sutemi waza e a partir dessa realizar
transição a sua ação de transição. Uma variação para essa atividade pode ser o tori
entrando o sutemi-waza como estabelecimento de fuga e uke buscando
realizar a transição perante o momento.
Desenvolver com as praticantes ações juntamente com a transição criando
uma visualização da área de combate, ou seja, próximo ao limite da área,
na parte central da área, tentando atrelar as ações para que essas sejam
úteis para o momento e o contexto que está ocorrendo.

faz-se em duplas e o uke deve realizar ataques em pé com pouca energia


Tansição para se tornarem falidos ou ineficientes de maneiras diversas, desta forma o
tori poderá realizar as ações de defesa da queda e de transição
Os participantes devem realizar luta de solo a partir de diferentes formas de
Luta de
iniciar como na guarda, meia-guarda, nas costas, com o adversário já
solo
segurando, quatro apoios, etc.

Figura 11: Atividades propostas para o direcionamento

Esses são alguns exemplos de atividades que podem


ser ofertadas a atletas que encontram-se em direcionamento
(após os 10 anos de idade). Devemos observar que nesse
grupo há uma combinação maior de unidades e momentos,
pois, essa complexidade deve acompanhar os níveis de
desenvolvimento dos indivíduos.

Todas as atividades podem ser realizadas pelas turmas


de iniciação ou direcionamento, diferenciando na maneira
de serem orientadas pelos técnicos e em relação aos seus
objetivos, pois o principal de toda ação é o modo como
será contextualizada com seu aluno sobre os seus objetivos,
sendo fator primordial o entendimento dos processos de
desenvolvimento, características da modalidade, os mo-
mentos da luta de judô e as unidades funcionais referentes a
cada momento.
136 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Esse planejamento pode ter ainda mais êxito se acoplado


a planos de aulas individuais que farão com que os técnicos
pensem nos objetivos constantemente e nas possibilidades
metodológicas.

4.2. O Treinamento e a competição no desenvolvimento


da autonomia de judocas

Participação: Aline Beatriz Olivio*

Quando iniciamos um trabalho pedagógico como pro-


fessor escolar, técnico de uma equipe ou de uma seleção,
voluntário em um projeto social, ou qualquer outra esfera de
atuação profissional é exigido uma responsabilidade em relação
a direcionar esforços para contribuir com seres humanos em
formação. Não se deve, portanto, perder de vista o papel de
"formador" que o cargo confere, estando à frente de um
grupo requer avaliação da finalidade e a objetividade das
ações, neste sentido, este capítulo coaduna com a ideia de
Scaglia (1999, p.26)

Ensinar não é, e nunca será, tarefa simples e desprovida


de responsabilidades. Ao ensinar tem-se o compromisso
com o formar. Formar o cidadão que, para se superar e
ser sujeito histórico no mundo, necessita desenvolver
sua criticidade, sua autonomia, sua liberdade de ex-
pressão, sua capacidade de reflexão, sintetizando sua
cidadania. Assim sendo, aluno/sujeito/cidadão, lapidado

*. Olivio, A.B.; Olivio Junior, J.A.; Drigo, A.J. O Treinamento e a compe-


tição no desenvolvimento da autonomia de judocas. In: Olivio Junior,
J.A.; Drigo, A.J. Pedagogia complexa no judô: um manual para
treinadores de base. Ed. Mundo Jurídico: Leme-SP, 2015.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 137

por quem ensina, não será mais aquele que simples-


mente se adapta ao mundo, mas o que se insere,
deixando sua marca na história.

Ao tratar o método como a pedagogia complexa, é


imprescindível avaliar. Neste sentido, como a proposta se
refere à prática do judô, no que tange ao desenvolvimento a
longo prazo, a proposta para avaliar o atleta ao longo dos
anos poderá ser por meio da própria competição. Conse-
quentemente, ao avaliar a competição não se deve entender
como avaliar o resultado dela e sim os aspectos desenvol-
vidos ao longo do processo que, dentro deste ambiente,
surgem de forma mais espontânea e menos controlada que
no treino. Assim ela serve como a verificação do conteúdo
passado nas atividades do treinamento, colocados em um
ambiente ecologicamente distinto e particular. Desta forma
o jovem enfrentará sozinho seus desafios e dilemas, dentre
eles os técnicos, os táticos, os atitudinais, os cognitivos, os
emocionais e os psicológicos.

Logo, a competição enquanto avaliação do processo


não deve ser classificatória, excludente e taxativa. As com-
petições deverão ao longo do processo ofertar subsídios
pontuais para serem trabalhados e desenvolvidos, com obje-
tivo de evolução do judoca, na direção a sua autonomia
como atleta e como cidadão, principalmente quando o tra-
balho é com judocas em formação.

Neste sentido, as competições ao serem ressignifi-


cadas para avaliação não podem ser uma via de mão única,
técnico-atleta, mas necessita tornar -se processual, dialética
e contínua, atleta-técnico-atleta, pois, por meio de uma auto
avaliação sistêmica e dirigida o judoca desenvolverá maior
138 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

autoconsciência. Consequentemente busca-se torna-lo mais


autônomo em relação a suas escolhas, sejam estas na esfera
esportiva ou não.

Esta abordagem se faz necessária quando se trabalha


com o método da pedagogia complexa, uma vez que o ponto
central desta é o fator tática, compreendida aqui como
tomada de decisão perante uma situação. Logo, desenvolver
a inteligência de jogo, a autoconsciência, auto avaliação e
portanto autonomia são condições sine qua non para o
desenvolvimento pleno do judoca. Assim, o contexto da frase
atribuída a Jigoro Kano que, o judoca não se aperfeiçoa para
lutar, mas luta para se aperfeiçoar, tem sentido neste
contexto, tornando a proposta altamente adequada no que
se refere ao judô.

Para melhor compreensão dos critérios a ser avaliados


em competição, bem como os itens a ser desenvolvido ao
longo dos anos de prática do judô, cabe uma reflexão sobre
alguns aspectos, dentre estes o relacionado ao caráter for-
mativo do indivíduo vem em um primeiro e em seguida o
esportivo. Salientamos que a partir de um amadurecimento
com o método a divisão tornará aos poucos desnecessária,
assumindo um formato que ambos podem ser trabalhados de
maneira concomitante, e assim coadunem na formação
integral do judoca, seja este competidor ou não.

Partindo da perspectiva da formação integral do indi-


víduo, considera-se que a autonomia tem o papel central
para o desenvolvimento deste método. Autonomia neste
caso é definida como a capacidade do individuo em analisar,
comparar, decidir e arcar com as consequências da sua ação,
de forma que este entende que existe a regra e por si só
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 139

sabe o que pode ou não executar, porque está internalizado


e não por temer a punição (PIAGET, 1932).

Diferente da autonomia, as fases que antecedem a


ela são caracterizadas pela falta de reflexão pelo próprio
individuo. A primeira delas, chamada de anomia, se refere
ao primeiro período de vida da criança, quando ainda não
conhece o que pode ou não pode perante a sociedade.
Durante esse processo a criança chora porque está com
fome, independente do lugar onde se encontra. Conforme
começa a interagir com o meio, passa a perceber que existem
regras e que, portanto há comportamentos que pode ou não
emitir em determinados ambientes, chegando à segunda
fase que é conhecida como heteronomia. Nesse momento a
criança age baseada na reflexão do outro, e então segue a
regra porque o outro verbaliza que precisa seguir, e não
porque compreende (PIAGET, 1932).

Em estados autoritários o desenvolvimento do juízo


moral estaciona no estágio da heteronomia. Muitas vezes o
ambiente força o indivíduo a obedecer às normas e regras a
partir da coerção, então por medo, ele cumpre o que os
outros ordenam, não internalizando as regras necessárias
(PIAGET, 1932). Neste sentido, observa-se que o ambiente
onde este indivíduo está inserido, neste caso o local em que
ele pratica o judô, tem uma contribuição significativa para
desenvolver no mesmo, um ser humano que se comporta
com base em um processo de reflexão ou de coerção.

Pensando no desenvolvimento do indivíduo, atleta ou


não, um dos passos que podem auxiliar o desenvolvimento
da autonomia, capacidade de reflexão e criticidade, é o
estabelecimento de metas. Uma vez que, uma meta a ser
140 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

atingida identifica e sugere quais comportamentos podem


ser executados, em que situações devem ocorrer e quais
serão as consequências (MARTIN E TKACHUK, 2001). O
estabelecimento de metas torna-se o maior auxiliar na
avaliação do processo, uma vez que permite ao atleta tomar
consciência de quais são suas limitações que precisam ser
superadas a fim de conquistar seu objetivo e, portanto,
melhorar sua capacidade.

Segundo Weinberg e Gould (2001) alguns critérios devem


ser adotados para estabelecer metas. O primeiro deles se
refere a que tipo de metas deve ser definida, variando entre
subjetivas e objetivas. Ao trabalharmos com metas objetivas,
que direciona a atenção para o padrão específico de compe-
tência em uma tarefa, os autores sugerem a seguinte divisão
para que se alcance melhores resultados na aplicação:

1 - Metas de resultados;

2 - Metas de desempenho;

3 - Metas de processo;

A primeira delas se refere às metas de resultados com-


petitivos, ou seja, a vitória em uma competição. Portanto,
essa meta depende não apenas do atleta em si, mas também
do seu adversário. Já as metas de desempenho, estão rela-
cionadas ao próprio desempenho do atleta. Elas são estipu-
ladas baseadas em padrões de desempenho que o atleta
quer atingir, como por exemplo, um judoca que gostaria de
tornar um determinado golpe eficiente.

Por último, as metas de processo, são ações que o


atleta precisa realizar para conseguir atingir o desempenho
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 141

desejado. E então partindo do exemplo anterior, em que


posição os braços, pernas e/ou quadris poderiam estar que
facilitariam a projeção do adversário.

Não se pode desconsiderar nenhuma das três metas


tendo em vista que todas são importantes na orientação de
mudança do comportamento. Porém enquanto as metas de
resultado estão relacionadas aos resultados competitivos e a
outras duas estão relacionadas ao próprio atleta, então, inde-
pendem do adversário para serem atingidas. O fato de depen-
derem apenas do próprio atleta além de possibilitar ajustes
mais precisos, pode contribuir para diminuir ansiedade e
aumentar autoconfiança. Apesar de não ser o foco do trabalho,
as metas de resultados também precisam estar presentes, a
longo prazo, para que o atleta se sinta motivado fora do
período de competição, sem perder de vista as demais metas.

Weinberg e Gould (2001) ainda citam outros princípios


a serem seguidos para o estabelecimento das metas, são eles:

1 - Definir metas específica;

2 - Estabelecer metas tangíveis de serem atingidas;

3 - Elencar metas a curto e longo prazo;

4 - Desenvolver metas de treino e competição;

5 - Realizar registro das metas;

6 - Criar estratégias;

7 - Levar em consideração personalidade e motivação


dos atletas;
142 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

8 - Apoios e incentivos;

9 - Fornecer feedback;

As metas quando são declaradas com especificidade


apresentam melhores resultados, pois clareiam os objetivos
que o individuo está em busca.

O segundo principio, diz respeito ao nível de dificuldade


da meta e está ligada a motivação. Metas com níveis baixos
de dificuldade podem gerar desinteresse por parte do atleta
por serem fáceis de atingir, enquanto que as metas com
níveis muito elevados podem gerar ansiedade por julgar-se
incapaz de corresponder. Para que o atleta se mantenha
motivado para conquistar a meta declarada, ele precisa
sentir-se desafiado e ao mesmo tempo capaz de cumpri-la
dentro de um período de tempo. Cabe lembrar que mudanças
requerem tempo, portanto é necessário que as metas
compreendam o período em que devem ser executadas. Há
necessidade de se criar metas a longo e a curto prazo de
forma que ambas estejam ligadas e que caminhem para o
mesmo fim, ou seja, as metas de curto prazo usadas como
estágios para a conquista da meta a longo prazo (WEINBERG
e GOULD, 2001).

Outro ponto, ainda seguindo o mesmo autor, se refere


às diferentes metas para competição e treinamento. Ter
como objetivo apenas a primeira, não é visto como uma
proposta ideal, já que o atleta passa a maior parte do seu
tempo nos treinamentos, o que pode ser um fator desmo-
tivador sem a presença delas. Por outro lado, ao se inserir
metas de treinamento, pode-se aproximar mais das condições
de competição e suas metas específicas, possibilitar ou
facilitando que estas sejam atingidas.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 143

Registra-las também é um item importante nesse


processo e pode ser realizado de diversas formas, ou seja,
através de cadernos, cartões e diários. O registro é necessário
para que os atletas revisem com frequência quais metas
buscam atingir e quais foram atingidas, não as perdendo de
vista. Desenvolver estratégias também é um item importante
uma vez que direciona as ações, indica a quantidade delas e
a frequência com que deve ser realizada. Quanto mais
especificas são essas estratégias, melhor o direcionamento.
Finalmente, como cada atleta tem uma personalidade e uma
motivação específica, cabe ao aplicador conhecer essas ca-
racterísticas, para que se estabeleçam as metas e assim
permaneçam no processo até que o objetivo seja alcançado,
sem que a motivação seja um item que atrapalhe.

Ainda como um dos princípios básicos para aplicação


das metas observa-se o incentivo ao compromisso e apoio. É
relevante que o atleta esteja diretamente relacionado ao
processo e não seja apenas parte dele, de forma que o
técnico tenha apenas o papel de orientador, permitindo que
cada um dos participantes estabeleça as suas próprias metas.
Também é necessário entender que pessoas envolvidas no
contexto, seja elas familiares ou técnicos, ao demonstrarem
interesse pelas metas estipuladas pelos atletas e ao acom-
panhar a evolução delas, contribuem para a motivação e
permanências principalmente tratando-se de crianças e jovens
em formação.

O último item se refere à avaliação e Feedback, ou


seja, a resposta do aplicador diante das ações do atleta.
Além de ser um item relevante para a realização das metas,
é também um importante orientador das escolhas, principal-
mente quando se trata de jovens atletas. Ele pode ser tanto
144 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

de caráter motivacional, quando aponta ao atleta o que tem


feito incorretamente e fornece um referencial para melhorar;
como de caráter instrutivo que informa o atleta sobre os
comportamentos específicos a serem executados e os níveis
de competência atual e os a serem alcançados (WEINBERG
E GOULD, 2001).

Nesse sentido para que o feedback seja realmente efetivo


ele deve ser aplicado de formas diferentes. Dependendo do
estágio de aprendizagem que o atleta se encontra, ou seja,
durante o desenvolvimento de novas habilidades o feedback
continuo é importante, pois funciona como motivador e for-
nece informações necessárias. Quando o atleta já domina
uma habilidade e realiza com uma frequência desejada, o
feedback intermitente tem mais utilidade, porque nesse caso
o comportamento persistirá por mais tempo na ausência de
reforço (WEINBERG e GOULD, 2001). Para que então o
feedback apresente um caráter construtor no atleta é preciso
entender os princípios de reforço. Reforço são recompensas
que aumentam a probabilidade de um determinado compor-
tamento ocorrer de forma semelhante em outro momento
(SKINNER, 1974).

Partindo desta perspectiva, para que se alcance muitas


vezes a mudança de comportamento desejado em um atleta,
é necessário conhecer o que para ele é realmente importante
e, portanto reforçador (WEINBERG E GOULD, 2001). Ao
realizar uma ação, a consequência dela será determinante
para que o mesmo comportamento volte ou não a acontecer.
Caso a consequência seja positiva, e então ele se sinta
recompensado, a possibilidade de ocorrer novamente au-
menta, mas em uma situação onde a consequência seja
desagradável a tendência é não ter o comportamento repetido
(SKINNER, 1974).
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 145

Ainda nesse sentido, um mesmo reforçador pode ter


efeitos diferentes em dois atletas, em função da significação
que cada um deles estabelece, ou o mesmo reforço pode não
ter um valor muito elevado quando concorre com outros
reforçadores externos. Dessa forma, fortalece a razão de se
conhecer muito bem o atleta que se trabalha para aumenta a
probabilidade de encontrar o reforço ideal (WEINBERG E
GOULD, 2001).

Dentre os tipos de reforços e estratégias que os treina-


dores podem utilizar e que dessa forma podem aumentar a
percepção de competência e sucesso do atleta, além de
influenciar o nível de motivação intrínseca (BARBANTI,
2005) está: os reforçadores sociais (ex: elogios); os reforça-
dores materiais (ex: medalhas); os reforçadores de atividade
(ex: descansar) e as saídas especiais (ex: assistir uma compe-
tição) (WEINBERG e GOULD, 2001).

Apesar de algumas vezes punições, por meio de críticas,


por exemplo, serem usadas no processo de treinamento para
eliminação dos comportamentos indesejados, esse não é visto
como o processo adequado, uma vez que a motivação principal
se torna o medo. Diante dessa situação o atleta perde o foco
nas ações efetivas para obter sucesso e se prende nas conse-
quências do perder, além do ambiente de aprendizagem
aversivo que se é criado, de forma que o atleta possa vir a
emitir alguns comportamentos somente na presença da
ameaça de punição, ou até mesmo com o intuito de conseguir
atenção (WEINBERG e GOULD, 2001).

Ao recompensar as tentativas bem sucedidas, de-


sempenho, esforço e as habilidades emocionais e sociais, ao
invés do resultado competitivo, o técnico contribui para o
atleta entender melhor a competição como parte do processo
146 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

e não como determinante para o momento em que se


encontra. Com isso o técnico pode possibilitar com que o
atleta lide melhor com as emoções negativas decorrentes da
derrota e do fracasso.

Sendo assim, as metas ao serem atingidas levam a


novos e maiores desafios e a referência passa a ser o desem-
penho e não mais as expectativas externas. O resultado a
curto prazo deixa de ser o foco principal e a motivação
intrínseca passa a ser um alvo, já que o atleta agora está sob
influência dos padrões de desempenho que deseja atingir e
nas ações que deverá executar.

Motivação aqui é entendida como uma força que


impulsiona a ação (FIGUEIREDO, 2000). Enquanto a motivação
extrínseca depende de recompensas externas, a motivação
intrínseca não, nessa o atleta é movido por suas questões
internas e a tarefa por si só tem esse caráter. Quanto mais o
atleta foca em seu próprio desempenho, maior a chance
dele desenvolver a motivação intrínseca e menor será a in-
fluência das questões externas, mais uma vez diminuindo o
risco de se abalar diante de resultados negativos (WEING-
BERG E GOULD, 2001).

Baseado nas discussões apresentadas até esse momento


observa-se que quanto maior a percepção de competência
desse atleta, maior é a chance dele se manter motivado para
a prática esportiva (WEINGBERG E GOULD, 2001), enten-
dendo a percepção como capacidade de selecionar e analisar
as informações recebidas e orientar sua ação (GRECO,
2009) e, portanto é um item que também merece atenção.

Levando em conta que o judô é um esporte individual,


com características de esportes coletivos no que tange a sua
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 147

práxis (PARLEBAS,2001; RIBAS, 2002), a percepção necessi-


taria ser observada nos dois processos definidos por Grego
(2009), são elas: percepção externa e auto percepção. A
primeira diz respeito às informações do meio ambiente
(espaço, tempo, movimento do adversário, etc.) e a segunda
as informações da própria pessoa (movimento corporal).

Melhorar a percepção desses atletas influencia tanto


em competições, quando o atleta precisa analisar as infor-
mações recebidas no encontro com o adversário - tática, quanto
nos treinamentos para conhecer suas capacidades e limites.

Uma proposta para desenvolver as percepções de su-


cesso e competência, assim como também a motivação
intrínseca, é citada por Weingberg e Gould (2001). Nela, os
autores sugerem proporcionar experiências de sucessos,
criando condições para que o atleta seja capaz de executar
suas ações; recompensá-los com base em seus desempenhos
por meio de feedback positivo; variar o conteúdo e a sequência
dos exercícios para assim diminuir a monotonia e oportunizar
a testagem de novas possibilidades pelos atletas; envolver os
atletas nas tomadas de decisão para que aumentem a per-
cepção de controle e realização pessoal; além das metas de
desempenho já discutidas anteriormente.

A percepção é um processo presente em todas as


ações esportivas e são importantes para organizar e orientar
o atleta. Quanto maior a capacidade de perceber e processar
os sinais significativos para uma ação, melhor será a sua
resposta para as exigências de um exercício ou de uma luta.
Nesse sentido, quanto maior e melhor a experiência ao longo
dos anos, ou seja, quanto melhor for a aquisição de conheci-
mento no processo de aprendizagem, maior será a quantidade
148 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

de experiências acumuladas e arquivadas na memória, au-


mentando a capacidade de processar e elaborar os estímulos e
informações (Greco, 2009).

Observou-se até aqui que a busca pela autonomia está


relacionada ao fato do atleta conhecer melhor suas necessi-
dades, capacidades e limitações, e que fatores externos
como família, amigos e técnicos apresentam papel funda-
mental nessa trajetória (CAVAZANI, 2012). O ser humano,
além de suas características genéticas, é constituído pelo seu
histórico de aprendizagem selecionado pelas consequências
reforçadoras e pela sua interação social. Nesse sentido, o
ambiente tem uma função significativa na seleção dos
comportamentos também. Desde a infância, essa interação
permite a construção de ideias muitas vezes negativas e
distorcidas da realidade, em função da percepção que temos
dos eventos que ocorrem ao longo da vida. À medida que
esses eventos são observados sempre pelas mesmas pers-
pectivas, essa noção é confirmada e a crença é instalada.

Desta forma, a competição deve tomar um novo sig-


nificado, remetendo a outros valores que muitas vezes dife-
rencem do senso comum e da crença popular, na qual só
importa o campeão. Como profissionais do esporte é preciso
entender e atribuir significados que sejam condizentes ao
desenvolvimento integral do judoca.

Neste sentido, a competição para Coakley (1994) é


entendida como um processo social onde pessoas ao realizarem
a mesma tarefa, são recompensadas quando apresentam um
desempenho melhor que o desempenho de seus adversários.
Nesse sentido, ao competir há uma comparação direta dos
participantes, de maneira que a estrutura de recompensa
fortalece a noção de sucesso de um participante e de fracasso
do outro.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 149

Quando se tem a perspectiva de que fracassou diante


de um adversário e não se tem a ideia da competição como
processo, o sentimento negativo é instalado, podendo afetar
a motivação do atleta, assim como outras características
psicológicas, dificultando o processo de aprendizagem. Ao se
pensar na repetição desse evento ao longo do período, como por
exemplo, perder campeonatos com frequência, o risco de
desenvolver uma crença desfavorável para um bom desempenho,
ou até mesmo para se manter praticando o esporte é aumentado.

Sendo assim o modelo elaborado por Martens (1975)


concorda com essa definição, mas discute a competição
como um processo que está sob influências sociais e que,
portanto, tem a qualidade da liderança (técnico) como deter-
minante, muitas vezes, para criar uma experiência positiva
ou negativa ao atleta. Para esse autor, ao usar como padrão
de comparação a vitória sobre um adversário, ao invés de
usar o próprio desempenho, acaba-se acentuando a compe-
tição, aumentando assim, algumas vezes, a sensação de
pressão e ansiedade no atleta (WEINBERG e GOULD,
2001). Para que essa crença não seja instalada ou para que
seja desconstruída, é preciso que a melhora no desempenho
do atleta, comparado a ele mesmo em momentos passados
tornem-se o objeto da avaliação.

Concordando com Roffé (1999) quando afirma que ao


aumentar a confiança dos atletas em si mesmos, trará maior
segurança para realizar as ações, as capacidades de decisão
e de agir, e o controle dos medos na prática esportiva.
Entende-se, portanto que à medida que o atleta conhece a
si mesmo e percebe suas evoluções tem sua confiança
melhorada, aumentando com isso a probabilidade de emitir
comportamentos bem sucedidos em outros momentos,
diminuindo a ansiedade e o medo, e melhorando a capaci-
dade de tomar decisões.
150 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Munidos destes pressupostos que remete ao treinamento


e a competição como um meio para desenvolver o judoca de
maneira integral, ou seja, que busca o desenvolvimento
esportivo e social, cabe agora refletir em como aplicar estes
aspectos no dia-a-dia, com judocas de diferentes níveis de
aprendizagem, treinamento e maturidade.

Pelos conceitos utilizados no cotidiano do projeto, ini-


cia-se a reflexão sobre os ocorridos em competições nas
classes anteriores ao sub-15 pela classificação supracitada de
Piaget (1932). Segundo ele, os judocas encontram-se na fase
de desenvolvimento da autonomia, definindo que o papel
dos instrutores e familiares é fundamental para conduzir o
indivíduo para um estado de preparação para a proposta
apresentada, da consciência autônoma do indivíduo. Logo,
as inferências realizadas pré e pós competições são determi-
nantes no processo e, são estes momentos, que os técnicos
deverão promover reflexões acerca das competições baseadas
em questões simples, mas que levam a inferir sobre as
ocorrências e sua localização em relação ao desempenho
individual, nível competitivo, metas traçadas, nível de adver-
sários, limitações e possibilidades, tudo isto relacionado ao
tempo de prática que cada criança tem enquanto judoca do
projeto. Para tal fim, sugere-se que após competições, os
técnicos promovam aos judocas questionamentos como:

“Quais dificuldades encontradas nesta competição?”

“Quais dificuldades você conseguiu resolver e quais


não conseguiu?”

“O que precisa ser feito para resolver estas dificuldades?”

“Como se sentiu durante as lutas?”


PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 151

“Ficou satisfeito com seu desempenho? Se sim por quê?


Se não por quê?”

“Conseguiu cumprir alguma meta nesta competição?”

“Quais metas para a próxima competição?”

A partir destes questionamentos, convida-se o judoca a


nortear sua percepção e consequentemente a capacidade de
auto avaliar e autocriticar resultando numa prática reflexiva.
Tanto o técnico como o atleta, trarão consigo aspectos
positivos para o processo de formação social e esportivo do
judoca, uma vez que, facilitarão os feedbacks entre as partes,
promoverá a reflexão ativa por parte do judoca e, em novas
situações deverá transferir o que foi vivenciado anteriormente
e, assim, possibilitará aos mesmos desenvolver diferentes
soluções a desafios futuros.

Pensando no aspecto competitivo e seus efeitos bené-


ficos para o desempenho e aprimoramento enquanto atletas,
foi verificado no projeto Kimono de Ouro, que conduzir desta
forma no que tange a prática sistemática da pedagogia
complexa e a utilização das competições secundarias como
avaliações, promoveram no grupo considerável ganho em
aspectos técnicos e táticos em situação competitiva. Uma
vez que os atletas, na competição que objetivaram, encon-
traram diversas maneiras de obter ponto ou vantagem nas
lutas da seletiva nacional brasileira em 2014, por exemplo.
A aplicação das avaliações e feedback em competições
secundárias permitiu aos atletas, mesmo nos casos de insu-
cessos em relação a classificação, identificar que apresentaram
repertório técnico e tático criativo e relacionado com as
atitudes desenvolvidas no treinamento.
152 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Outro ponto, este reportado pelos atletas, foi o fato de


que tinham plena consciência das possibilidades e dificuldades
antes de cada uma das lutas, o que permitiu aos mesmos,
traçar planos (estratégias) para cada uma delas, partindo de
um conhecimento prévio e não dependendo exclusivamente
dos apontamentos dos técnicos.

Além dos fatores de avaliação e reflexão citados,


tratando-se do judô competitivo, alguns aspectos merecem
ser abordados:

Quantas direções promoveu ataques nas lutas;

Quantas direções conseguiu pontuar nas lutas;

Que tipo de pegada obteve dificuldade.

Conseguiu estabelecer a pegada que queria.

Conseguiu promover ataques no solo.

Conseguiu promover soluções para situações em


desvantagem.

Conhecia o "jogo" do adversário antes da luta.

Se deparou com situações que não tinha treinado.

Quais pontos acertou na competição.

Quais pontos errou na competição.

Quais metas técnicas e táticas conseguiu e não conseguiu


atingir.

Quais pontos a evoluir para a próxima competição.


PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 153

Estes são alguns dos questionamentos que auxiliam na


avaliação técnica e tática, e como salientado anteriormente,
o registro destas avaliações permite a técnico e atleta
acompanharem o desenvolvimento e o processo em que o
judoca se encontra. No projeto adota-se o caderno do atleta,
em que são registradas todas as avaliações a que são subme-
tidos e fazem pequenos relatórios de todas as competições
bem como registram metas de treinamento, competição e
desempenho, ficando a cargo de cada um, individualmente,
elaborar os registros.

A realização de feedback também durante os treina-


mentos é um item presente na metodologia, de forma que deve
ser realizado com base no nível competitivo e de autonomia
que o judoca se encontra. Para que o técnico apresente
condições de reconhecer o estado que o seu atleta se encontra,
é imprescindível permitir o acesso e entrar em contato com a
singularidade de cada um deles.

Assim toda a discussão realizada nesse capítulo, trouxe


alguns pontos considerados importantes para o desenvolvimento
da autonomia do ser humano tanto no campo de treinamento,
como na competição e as influências sofridas e causadas
pelo ambiente. Cabe lembrar que a apresentação não engloba
todas as questões necessárias para esse desenvolvimento,
mas levanta algumas que exercem grande colaboração.

Baseado no trabalho desenvolvido com os atletas de


judô que foram a referencia para a construção deste capítulo,
observou-se que não é possível a dissociação entre o atleta e
o ser humano, desta forma, quanto mais reflexivo e capaz de
arcar com as consequências de seu próprio comportamento,
melhor será seu desempenho esportivo e sua formação pessoal
perante a sociedade.
154 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Depositar no atleta apenas conhecimento técnico, não


contribui para o seu desenvolvimento integral, mas sim para
o que Scaglia (1999) chama de adestramento, pois não
desenvolve a capacidade crítica sobre os conteúdos ensi-
nados, e assim, o comportamento é resultante de imitação e
não do entendimento e da aprendizagem a partir de seu
próprio pensamento. Isso contribui para o ser humano não
apenas enquanto atleta, mas enquanto ser pertencente a
uma sociedade.

4.3. Exemplos práticos da utilização da pedagogia


complexa para especialização e rendimento

A metodologia proposta pode ser adequada a qualquer


lócus em que o judô esteja presente, seja este competitivo ou
não, pois objetiva o desenvolvimento integral do judoca por
meio do judô e para o judô. Desta forma, os parâmetros de
carga (BARBANTI, 2003) e escolha dos exercícios se darão
mediante a necessidade que cada treinador optar para seu
grupo de judocas.

Oferece-se aqui um meio para direcionar as escolhas e


auxiliar os técnicos no desenvolvimento do judoca. Desta
forma, a elaboração dos meios de treinamento devem
responder aos cinco pilares descritos no Capítulo 2, ou seja,
na elaboração de um exercício correspondente a pedagogia
complexa, devemos ater a cinco perguntas, sendo:

1 - Este exercício corresponde a possível situação en-


contrada na luta? (Método situacional) (GRECO, 1998)

2 - Com este exercício eu possibilito a criatividade e a


tomada de decisão de quem executa? (Tática como
objeto central)
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 155

3 - Este exercício está engajado com a situação anterior,


ou seguinte, a ele em situação de luta? É possível
prosseguir para outra situação após este e retornar a
ele com outras soluções? (Progressão espiral)

4 - Este exercício corresponde a qual(is) Unidade(s)


Funcional(is) do judô?(Unidades Funcionais como norte-
adoras do processo)

5 - Estou desenvolvendo algo positivo no repertório


esportivo e social do judoca? (Questões éticas e cultu-
rais envolvidas no processo).

Ao responder estes questionamentos o técnico poderá


nortear a escolha dos meios utilizados.

Outro aspecto a destacar na aplicação prática da


pedagogia complexa se insere na quantidade de UF abor-
dadas em cada sessão de treinamento. Pois, para promover
uma aprendizagem significativa, com a capacidade de en-
contrar soluções e em níveis mais avançados de treinamento
poder automatizá-las, um número reduzido de unidades deve
ser abordado.

É fato que na luta, no caso o shiai, todas as UF estarão


presentes, porém, ao aplicar a metodologia, para que possa
centrar em aspectos tangíveis que queira desenvolver, o técnico
deverá direcionar a atenção as UF daquela sessão. Devemos
deixar claro, que o randori, não deve ser descartado (AGOS-
TINHO, 2012), mas sim contextualizado, para que o judoca
ao lutar consiga identificar suas possibilidades e dificuldades
inerentes a UF abordada nas sessões de treinamento.

Além deste ponto, merece destaque a crescente com-


plexidade da metodologia, pois diferente de outras nações
156 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

como França, Alemanha e Japão (OLIVIO JUNIOR, s.d.),


em que no processo de desenvolvimento a longo prazo do
judoca, o mesmo passará durante a sua carreira esportiva
em diferentes locais de prática do judô, no Brasil muitas
vezes este processo se dará por toda a vida esportiva, ou em
alguns casos por muitos anos, no mesmo local em que se
inicia em uma perspectiva artesanal (DRIGO et al., 2011).

Logo, indicamos que além da adequação das cargas


(BARBANTI, 2003) o técnico de judô deverá ter uma leitura
crítica da figura 8 das unidades funcionais e conforme o
judoca evolui dentro da preparação esportiva a longo prazo
de uma condição de iniciante, para um direcionamento
esportivo e treinamento (SMITH, 2003) deverá evoluir os
níveis de aplicação das UF também.

Neste sentido, o modelo de organização proposto no


Judô Canadá, pode servir de parâmetro para a aplicação da
pedagogia complexa na realidade nacional, pois a organização
proposta contempla a prática do judô em diferentes faixas
etárias e com diferentes objetivos, pois vai apresentando
um aumento da complexidade de trabalho, bem como de
aumento de carga.

Serão apresentadas algumas opções de trabalho para as


unidades funcionais para judocas em especialização, especiali-
zação profunda, rendimento e alto rendimento (PLATONOV,
2004; PLATONOV, 2008; FILIN, 1996; ZAKHAROV e
GOMES, 1992). Cabe ressaltar que quanto mais situações
diferentes forem ofertadas maior repertório técnico tático o
atleta vai adquirir. Neste sentido, aponta-se a necessidade,
de se utilizar as UF a partir das Subunidades e das microuni-
dades sendo esta ultima a individualização do trabalho, ou
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 157

seja, as microunidades partem da escolha de repertório do


próprio judoca.

A oferta de situações problema, baseada na luta de


judô já foi proposto em outros momentos (AGOSTINHO,
2012; MONTEL, 2012), porém neste método devem estar
baseadas nas unidades funcionais e em caráter espiral, porém
não é intenção deste trabalho esgotar as possibilidades de
realização, mas apenas apresentar algumas opções de trabalho
e possíveis engajamentos entre as UF e a preparação des-
portiva a longo prazo.

Exemplo 1, UF aproximação e contato: em um


grupo de atletas (de três a cinco) um dos judocas ficará a
frente do grupo, e tem como objetivo realizar uma determi-
nada configuração e pegada, podendo ser sua pegada favo-
rita ou determinada pelo técnico, lembrando que deve ser
contextualizado ao tori que o mesmo deverá buscar uma
configuração de pegada que lhe permita promover ataques e
não apenas bloquear os adversários. Após estas orientações
os ukes deverão, similar ao hajime em uma competição se
aproximar, alternadamente do tori, e também tentar pro-
mover a sua pegada, impedindo que o tori execute a dele.
Este exercício deve ser executado com parâmetros de tempo
(5 a 20 segundos) para que não vire apenas "briga de pegada",
mas sim a busca por uma configuração que permita executar
seus ataques favoritos.

Dentre as adaptações, o tempo para se estabelecer a


pegada, as orientações aos ukes, ou seja, podendo ser livre
(qualquer kumikata) ou ainda partindo de situações especificas,
como por exemplo: todos os ukes deverão se aproximar de
maneira circular, todos deverão tentar realizar determinada
158 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

configuração de pegada, todos deverão apenas tentar anular


a movimentação e a configuração de pegada do tori, entre
outras. Considera-se que para judocas em especialização o
maior número possível de situações deve ser vivenciada para
aumentar o repertório.

No caso do rendimento e alto rendimento, acreditamos


que o mesmo exercícios deva ser utilizado, porém a viés
deverá ser a estratégia e não a tática, ou seja, as situações
propostas devem se ater as características de aproximação e
contato dos principais adversários do atleta, neste caso, um
estudo prévio deve ser executado, para que as ações sejam
direcionadas. Outro ponto, importante, é estabelecer um
planejamento das ações técnicas e táticas com a periodização
do treinamento (OLIVIO JUNIOR e DRIGO, 2015), para que
seja otimizado o trabalho.

Exemplo 2, contato e criação de oportunidade.


Dentro do mesmo sistema proposto anteriormente, o judoca
após estabelecer o contato deverá por meio de fintas, movi-
mentação, ou engajamento de golpes posicionar o uke de
uma forma que lhe permita atacar em pé. Formas de adaptar
e evoluir o exercício é realiza-lo concomitante ao exemplo 1,
porém é necessário que tori e uke conheçam bem as ações,
para que a ação de "criar a oportunidade" não seja facilitada
em demasia pelo uke, o que não corresponde ao que vai
ocorrer na competição.

A oportunidade poderá ser criada mediante a anteci-


pação do contato, porém muitas vezes não é possível, sendo
uma forma de enriquecer o exercício é iniciar a criação da
oportunidade com o tori em desvantagem relativa, como por
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 159

exemplo, tendo uma ou duas das mãos dominadas pelo uke,


ou ainda, iniciar em uma configuração de pegada que difi-
culte a realização dos seus principais ataques, obrigando o
tori a desenvolver mecanismos que possibilitem posicionar o
uke para a aplicação dos golpes.

Novamente se tratando do rendimento e alto rendimento,


cabe a mesma linha registrada anteriormente, é muito impor-
tante, conhecer a característica dos principais adversários e
propor situações similares para a execução do treinamento,
bem como a adequação da periodização.

Exemplo 3, desequilíbrio, aplicação e projeção:


A execução do desequilíbrio poderá ser complexa, ou
seja, conforme descrito nos exemplos anteriores, ao ante-
cipar uma situação de contato o tori pode realizar o ata-
que - pegar e entrar - aproveitando o próprio estabeleci-
mento do contato como oportunidade e desequilíbrio para a
aplicação.

Outra forma é solicitar ao uke que estabeleça determi-


nadas movimentações com diferentes formas de resistência
para que o tori execute os desequilíbrios e aplicação dos
golpes. Nesta linha, sugere-se que o desequilíbrio e aplicação
de um determinado golpe deva ser realizado para diferentes
direções de movimentação do uke, para que o tori analise,
entenda e promova suas ações de maneira efetiva, ou seja,
poderá optar por realizar o golpe com desequilíbrio passivo
(aguardando a movimentação do uke para a direção do
golpe), ativo (provocando o deslocamento do uke em direção
ao golpe) ou reativo (por meio de uma ação finta ou engaja-
mento de dois ou mais golpes).
160 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Ainda nesta linha a utilização da figura 7 como forma de


balizar as direções dos golpes pode ser auxiliar na construção
do repertório técnico e tático do judoca. Outro ponto impor-
tante é realizar o treino destas UF após algumas sessões de
trabalho com as UF do exemplo 1 e 2 poderá potenciar a
realização dos golpes, uma vez que o judoca vai adquirindo
mecanismos de ajuste para a realização dos mesmos.

Outra forma de utilizar figura 7 é solicitar ao judoca


que realize diferentes ações para cada uma das direções
propostas, pois vai ampliando seu repertório e identificando
quais golpes consegue realizar com maior facilidade.

Ainda em relação ao desequilíbrio, aplicação e pro-


jeção, quando se trata de engajamento de golpes, acredita-se
que devemos deixar claro para os atletas que a realização do
primeiro golpe deve ter a intenção de projetar, ou pelo
menos de provocar a defesa da primeira técnica, para que
crie a oportunidade e desequilibre o uke na direção da
técnica pretendida.

Outro ponto a ser trabalhado é o de produzir ataques


com diferentes configurações de pegadas, sendo característica
presente no alto rendimento, o atleta apresentar ínfima
variabilidade de ações, para diferentes direções (CALMET e
AHMAID, 2004; CALMET et al., 2006; FRANCHINI et al.,
2008) e produzir ataques rápidos após estabelecer uma
pegada com possibilidade de atacar (CALMET, et al.,
2010). Neste sentido, as ações descritas nos três exemplos
anteriores, também devem ser adaptados para que o atleta
também consiga realizar ações determinantes - ações que
conduzam a luta ao solo em vantagem - com configurações
de pegadas alternativas a sua preferida.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 161

Neste ponto cabe uma ressalva, pois muitas vezes os


judocas tendem a realizar configurações de pegada alternativa
as suas habituais com intenção única de defender possíveis
ataques do adversário. Esta prática deve ser analisada com
cautela, pois cremos que a busca pela pegada deve ter a
intenção de promover a criação da oportunidade, ou seja, a
ênfase da ação deve ser em oportunizar o ataque (AGOS-
TINHO, 2010). Porém, com atletas de rendimento e alto
rendimento, muitas vezes, treinar pegadas defensivas poderá
ter consequências positivas, uma vez que dependendo a
situação da luta, no que se refere a pontuações, o atleta em
vantagem se expõe menos a possíveis ataques do adversário
se conseguir uma pegada defensiva e não punitiva.

Exemplo 4, projeção, transição e luta de solo: O


trabalho de projeções deverá seguir a linha descrita no de-
sequilíbrio e aplicação, porém, indica-se que sempre que
realizar uma projeção o judoca deve manter contato no solo
alguns instantes após a queda, pois, mesmo que não seja
executada a transição, o mesmo deverá criar o hábito de
controlar o adversário no solo.

Neste sentido, um trabalho de engajamento de golpes


em pé para o solo deve estar presente nas sessões de treina-
mento, assim como os randoris ou situações de combate
devem sempre conter continuidade na luta de solo, para que
os atletas se habituem a atacar rápido quando em vantagem
e defender rápido quando em desvantagem.

Realizar ações em pé com objetivo exclusivo do ad-


versário defender oportunizando atacar no solo é uma for-
ma de tornar a transição mais efetiva. Outra proposta é o
162 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

tori executar uma defesa de queda, associado à condução da


luta para o solo, ou seja, utilizando de um ataque falido ou
ineficiente do adversário como ponto de início do trabalho de
transição e luta de solo.

Já em relação a luta de solo, indicamos para este nível


que inicie de situações padrões, dentre estas, um atleta de
quatro apoios com o outro em pé na lateral ou nas costas, a
mesma situação porém com o atleta que esta em pé locali-
zado a frente e por ultimo a meia-guarda, pois são situações
mais presentes em competição.

Outra sugestão de trabalhar com transição e luta de


solo é solicitar a um dos atletas que inicie a luta em pé por
meio de um ataque que leve os dois atletas ao solo, como por
exemplo ouchi-gari, kouchi-makikomi, sumi-gaeshi, tomoe-
nage, entre outros.

Ressalta-se que é importante trabalhar dentro de pa-


râmetros de tempo mais aproximados a competição, su-
gerimos lutas de solo partindo das situações descritas entre
20 e 60 segundos.

Estas são apenas sugestões de como executar sessões


de treino com a pedagogia complexa, apresentaremos algu-
mas formas de organizar um período de treinamento com as
sessões descritas, para atletas em especialização.

Na figura 12 exemplo de organização de todas as


unidades em uma semana de treinamento, na qual existem
sessões de judô todos os dias, já na figura 13 um exemplo de
organização para duas semanas com sessões todos os dias.
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 163

Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta


Unidade Aproximação e Contato e Cr. Oportunidade Projeção e transição e
Funcional Contato Cr. Oportunidade des. e projeção Transição luta de solo
Ex. Ginásticos Exercícios com Ex. Ginásticos Uchi-komi Educativos
Aquecimento
e saltos apoio das mãos jogos de sumô Jogos de L.O. de solo
CG no ataque fal. est. pos.
Parte Sit. Antecipação D Sit. Desvantagem D e E Sit. Antecipação var.
ashi-waza + ne-waza costas e
principal 1 Sit. Antecipação E Sit. Desvantagem var. Sit. desvantagem dir.
sutemi + ne-waza meia-guarda
Randori sit. Pós Randori sit.
Randori situação: Randori situação:
Randori com desv. ataque falido costas
uke dirigido Desvantagem dirigidas
Parte Randori com vant. T 40" ? 7" x 3 (T 40" ? 40") x 3
(T 20" ? 7" x 4 ) x 3 (T 30" ? 7" x 4) x 3
principal 2 T 60" ? 10" x 4 x 3 randori ênfase final. meia-guarda
uke livre Desvantagem variadas
GS para tori T 60" ? 60" (T 40" ? 40") x 3
(T 20" ? 7" x 4) x 3 (T 30" ? 7" x 4) x 3
GS para ambos Gs tachi-ne

Legenda: Cr: Criação; Des: desequilíbrio; L.O: Luta Olímpica; D e E:


Direita e esquerda; Fal: Falido; Est. Pos.: Estudo de posições; Sit: Situação.
Figura 12: Organização de todas as unidades funcionais em uma semana.

Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta


Unidade Desequilíbrio Aproximação Cr. Oportunidade Aplicação, Projeção Transição e
Funcional e aplicação e Contato des. e projeção e Transição luta de solo
Ex. Ginásticos Exercícios Ex. Ginásticos Uchi-komi Educativos
Aquecimento
e coordenativos Ginásticos jogos de sumô Jogos de L.O. de solo
uck força CG no ataque fal. est. pos.
Parte Controle do espaço sit. Antecipação var.
uck força + engaj. ashi-waza + ne-waza costas e
principal 1 controle do espaço dir. sit. desvantagem dir.
Ashi + livre sutemi + ne-waza meia-guarda
situação Randori sit. Pós Randori sit
randori situação:
aproximação dirigida Randori com desv. ataque falido costas
uke livre
Parte (T 15" ? 7" x 3) x 3 Randori com vant. T 40" ? 7" x 3 (T 40" ? 40") x 3
3 entradas resistidas +
principal 2 aproximação variadas T 60" ? 10" x 4 x 3 randori ênfase final. meia-guarda
sit. Randori
(T 15" ? 7" x 4) x 3 GS para tori T 60" ? 60" (T 40" ? 40") x 3
(T 20" ? 7" x 4) x 8
obj. pegada favorita GS para ambos Gs tachi-ne

Dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta


Unidade Desequilíbrio Aproximação Cr. Oportunidade Desequilíbrio e Transição e
Funcional e aplicação e Contato e apicação Transição luta de solo
Ex. Ginásticos Exercícios Uchi-komi carregando Nague-komi sutemi Educativos
Aquecimento
e coordenativos Ginásticos uchi-komi linha Jogos de controle de solo
uck força Desvantagem em Engajamento Pos. ne-waza
Parte Controle do espaço
uck força + engaj. 1 gola e gola ouchi para ne-waza lateral e
principal 1 controle do espaço dir.
Ashi + livre 2 manga e manga sassae para ne-waza frontal
Situação Randori sit
randori situação: Defesa de
aproximação dirigida Randori com desv. lateral
uke livre ataque ajoelhados
Parte (T 15" ? 7" x 3) x 3 Randori com vant. (T 40" ? 40") x 3
3 entradas resistidas + com ataque ne-waza
principal 2 aproximação variadas T 60" ? 60" x 10 Frontal
sit. randori defesa de ashi
(T 15" ? 7" x 4) x 3 GS para ambos (T 40" ? 40") x 3
(T 20" ? 7" x 4) x 8 com ataque ne-waza
obj. pegada favorita Gs tachi-ne

Legenda: Cr: Criação; Ex: Exercícios; uck: Uchi-komi; Engaj: Engajamento


de golpes; Pos: Posições; sit: Situação; T: Tempo; ": Segundos; ?: Pausa;
Obj: Objetivo; Desv: Desvantagem; Vant: Vantagem; GS: Golden Score.
Figura 13: Exemplo de organização de duas semanas.

Com atletas em especialização profunda, a proposta


deve estar associada à preparação física dos atletas, logo,
sugere-se a organização das UF associadas às possibilidades
de exercícios no treinamento físico. Não será apontado aqui
164 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

para nenhum modelo de periodização, porém, a escolha dos


exercícios e as capacidades motoras desenvolvidas por estes,
devem corroborar enquanto objetivo com as sessões de
judô, proporcionando maior desenvolvimento dos aspectos
técnicos e táticos.

Neste sentido, a Figura 14. Proposta de exercícios combi-


nados as Unidades Funcionais, apresenta exercícios que pode-
rão ser desenvolvidos concomitantes a abordagem das unidades
funcionais nos ciclos de treinamento. Lembrando que a comple-
xidade da luta, bem como parâmetros de carga dos exercícios
permite que outros ajustes possam ser organizados para a
realização do treinamento, sendo esta apenas uma sugestão.
Unidade Possibilidades de
Funcional combinações
Deslocamentos variados, com alternância de direções
Aproximação Coordenativos de corrida com uso de escadas de coordenação
Circuitos de agilidade utilizando de cones, arcos e outros
Pliométricos de membros superiores
Suspensão e barras em judogi
Contato Subidas em cordas
Exercícios isométricos
Trabalho de agilidade com as mãos
Circuitos de força
Criação de Circuitos de potência
Oportunidade Resistência de força dinâmica
Complexos: força + Potência
Exercícios com Polias
Desequilíbrio Exercícios de levantamento de potência
Exercícios com elásticos de tração
Exercícios com Polias
Exercícios de levantamento de potência
Aplicação
Exercícios com arremessos de objetos
Exercícios de ginástica (rolamentos, mortais e outros)
Exercícios de força máxima e sub máxima
Exercícios de levantamento de potência
Projeção
Exercícios com arremessos de objetos
Complexos: Levantamento+ arremesso de objetos
PEDAGOGIA COMPLEXA DO JUDÔ 165

Exercícios de sustentação corporal


Exercícios de sustentação corporal em duplas
Exercícios de levantamento de potência
Transição
Exercícios de ginástica (rolamentos, mortais e outros)
Exercícios de força máxima e sub máxima
Exercícios isométricos
Complexos de CORE
Exercícios de sustentação corporal em duplas
Luta no solo Exercícios de levantamento de potência
Exercícios de ginástica (rolamentos, mortais e outros)
Coordenativos no solo com troca de planos
Figura 14. Proposta de exercícios combinados as unidades funcionais

No caso de atletas de rendimento e alto rendimento, a


aplicação de exercícios que se complementem deve ser
similar ao proposto para atletas em especialização profunda,
porém, a carga adotada, bem como o modelo de periodização
utilizado, deverá se pautar nas necessidades e características
pertinentes a etapa que os atletas se encontram. Apontamos
que além das diferenças na organização da preparação física
entre os grupos, no que tange a técnica, tática e estratégia,
o trabalho com os grupos também deverá ser abordado de
maneira diferenciada.

O foco do treinamento com atletas em especialização


profunda será prioritariamente o desenvolvimento técnico e
tático, ou seja, agregando elementos ao seu repertório de
ações que permita resolver um montante de situações que
possam surgir em situações competitivas futuras, baseado na
tática individual do atleta para inúmeras situações. Já com
atletas de rendimento e alto-rendimento, espera-se que os
mesmos já tenham adquirido repertório durante a sua
formação, sendo que o foco do treinamento dos mesmos,
deverá se pautar prioritariamente na estratégia de luta
para com os principais adversários.
166 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

Logo, se por um lado o treinamento balizado pelas


unidades funcionais do atleta de rendimento e alto-rendi-
mento deverá ser prioritariamente orientado na característica
dos adversários, estabelecendo uma estratégia para cada
possível adversário que vira a enfrentar em uma competição.
Por outro lado, o treinamento para atletas em especialização
profunda deverá estar balizado nas características do próprio
atleta, desenvolvendo seu repertório tático.
CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este livro apresenta a forma teórica e prática da orga-


nização de treinamentos visando o desenvolvimento esportivo
de jovens judocas. Espera-se registrar para conhecimentos
dos treinadores de judô e pares acadêmicos na expectativa
de gerar novas iniciativas de registros, aumentando assim as
possibilidades de diálogos, estudos e formas de pensar em
relação ao futuro esportivo da modalidade. De forma nenhuma
pensou-se em ser referência no treinamento de jovens ou
mesmo de apresentar o melhor método, mas sim, ao expor a
forma de trabalho considera-se que:

• Foram diversos erros que permitiram chegar a um


formato teórico prático suficiente para possibilitar
esta publicação;

• O grupo de trabalho acredita que conhecimento gera


conhecimento e assim, espera-se que novas publi-
cações deste teor possa desestabilizar que hoje é
certo. Assim proporcionar novas investidas teóricas e
práticas para novos horizontes metodológicos;

• O método que foi utilizado foi o melhor para os


profissionais envolvidos e, além de não ser o único,
168 JOSÉ ALFREDO OLIVIO JUNIOR & ALEXANDRE JANOTTA DRIGO

outros profissionais podem não obter os mesmos re-


sultados. Desta forma não é possível generalizar a
proposta, mas entende-la é fundamental para boas
tomadas de decisões enquanto treinador de jovem
judocas;

• Por fim, apesar das limitações, a escolha do método


e da forma de organizar o treinamento baseado em
todas as vertentes abordadas, incluindo os valores
extracompetitivos, corresponde aos ideais de profissi-
onalismo presente no projeto. Assim, na perspectiva
profissional abordou-se um arcabouço teórico, a apli-
cação prática e a produção e publicação de novos
conhecimentos baseados na forma que se identifica a
ação de um treinador profissional na essência desta
denominação. Por este fator, foram elaborados trei-
namentos, avaliações, propostas baseado em teorias
conhecidas pelo grupo, possibilitando bons resultados
e, por conhecer o que foi feito, permitiu a divulgação
para outros treinadores através deste manual.
CAPÍTULO 6

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