Analise Da Musica Pais e Filhos
Analise Da Musica Pais e Filhos
Analise Da Musica Pais e Filhos
Urbana
15/02/2011
Uma das canções mais famosas e cantadas da banda Legião Urbana, Pais e filhos tem uma
letra forte, chamativa e triste. Ao contrário do que muitos pensam, a canção conta a
história de uma menina que se suicida após várias discussões e desentendimentos com seus
pais. A letra é fabulosa por começar do suicídio e só depois explicar os motivos. Além disso,
o refrão é uma lição de vida que diz que devemos amar as pessoas todos os dias, porque o
amanhã pode não existir.
Álbum de 1989 que traz grandes sucessos, entre eles, Pais e filhos
A letra traz vários fatos e perguntas das relações entre pais e filhos. Desde perguntas
simples de “Por quê que o céu é azul” até exemplos de rebeldia dos filhos como “vou fugir
de casa”. Renato Russo, letrista da canção, chegou a dizer que a história é fictícia, mas
traz fatos parecidos com a realidade.
O tema suicídio sempre causou muita discussão, já que não pode culpar a vítima pela morte.
A busca de explicações para um suicídio é um desafio para investigadores, que muitas vezes
encontram as respostas nas relações familiares. Sendo assim, Pais e filhos é, na verdade,
uma crítica contra os pais que não dão a atenção devida aos seus filhos.
Muito de nós já cantamos essa belíssima canção sem nos dar conta de sua mensagem. Isso
deve-se em grande parte ao fato de sua melodia doce e nostálgica esconder o peso de seus
versos. A música gira em torno de um tragédia que a maioria toma por uma metáfora, já que
por ser tão músico quanto poeta, Renato Russo costumava recitar suas letras em tom
misterioso.
Mas desta vez a frase “Ela se jogou da janela do quinto andar” quer dizer exatamente isso
mesmo. Pais e Filhos aborda suicídio, relacionamentos conflituosos, amizade e ainda nos
sugere refletir sobre o comportamento de nossos pais e, quem sabe, entendê-los.
Renato usa um recurso muito comum entre escritores para iniciar sua música: começar a
história pelo final. Eis a cena inicial deste “filme”: a câmera mostra o ambiente que a moça
vive “Estátuas e cofres e paredes pintadas”. Dependendo da imagem que construirmos do
lugar em nossas mentes, essa cena pode insinuar um ambiente perfeitamente normal, com
paredes pintadas e limpas, além de cofres e estátuas, o que acaba por revelar que a
protagonista desse drama tinha apego material e fazia planos para o futuro. Pode-se
presumir, com isso, que a personagem não vivia nenhum terrível drama particular e levava
uma vida normal, portanto “ Ninguém sabe o que aconteceu “, sabe-se apenas que “Ela se
jogou da janela do quinto andar”, mas alheios ao que se passava em seu interior, ninguém
entende o que a levou a isso: “Nada é fácil de entender”.
Dorme agora
É só o vento lá fora
Aqui Renato quebra a história para recitar trechos de diálogos comuns entre pais e filhos.
Começando pelo verso “Dorme agora/É só o vento lá fora”. Frase que vem ilustrar muito
bem como os pais tranquilizam os filhos nas noites de terror vivenciadas na infância, seja
por medo do escuro, do bicho papão, paranoias ou sofrimentos adventos de perdas.
Como filhos que ainda são crianças: “Quero colo!/Vou fugir de casa/Posso dormir
aqui com vocês?/Estou com medo, tive um pesadelo” – e os pais são o centro de seu
universo e fonte de amor e proteção infinita. Fase em que tamanha dependência faz
o mundo sem os pais parecer algo inimaginável.
Como filhos que já são jovens: “Só vou voltar depois das três” – envoltos em
rebeldia, crítica e incompreensão. A fase da adolescência é certamente o momento
em que são questionadas as escolhas dos pais e geralmente conclui-se que eles
poderiam ter se saído melhores em tudo.
E como pais que sonham em dar o seu melhor para os filhos: “ Meu filho vai ter nome
de santo/Quero o nome mais bonito”.
Fazendo uso desses versos, Renato leva-nos a uma aproximação e consequente empatia pela
relação pais x filhos. Todos que são filhos e pais podem se identificar com a estrofe.
Funciona como uma generalização realista e comum a todos.
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há
É justamente essa generalização o gatilho para Renato deixar subentendido que essa fases
são normais, todos passamos por elas. E que durante um intervalo de tempo filhos terão os
pais como heróis e centro de seu universo. Depois verão seus pais com um olhar bastante
crítico quando jovens. Mas por fim entenderão seus pais quando tiverem filhos.
Então, aconteça o que acontecer, ame-os como se não houvesse amanhã. Pois não importa a
fase, a briga, a incompreensão, o desentendimento, a crítica… o amor tem que estar
presente nessa relação. Além do mais, conflitos não devem estender-se no tempo, já que
para seres humanos ele é limitado ou até curto demais as vezes. Então, ame “ Como se não
houvesse amanhã/Porque se você parar pra pensar/Na verdade não há”.
Renato sai do papel de conselheiro e volta para nos trazer mais detalhes dessas relações e
aborda questões triviais para os pais e também para os filhos. Logo questionamentos da
infância que mesmo na velhice jamais puderam ser desvendados são colocados em pauta
“Me diz, por que que o céu é azul?/Explica a grande fúria do mundo”.
Condições de relações diversas também são alvos de Renato Russo, que incorpora à música
diálogos de personagens, ora porque são pais que recebem os cuidados dos filhos na velhice
(cuidado), ora porque são filhos que sequer sabem quem são seus pais (abandono). Filhos que
moram com os pais (presença) e filhos que moram em qualquer lugar (ausência). Eis o grande
mistério do parágrafo: trata-se de um jogo de antíteses.
(repetição)
Essa estrofe diz que talvez toda essa ausência dos pais ou mesmo um relacionamento
turbulento entre pais e filhos são condições que trazem enorme insegurança para ambos os
lados. Nesse sentido, pais e filhos sente-se incompreendidos. Em uma relação ruim, os dois
lados ficam em péssimo estado. Não há espaço para compreensão e muito menos
flexibilidade.
Os primeiros dois versos são como os envolvidos se declaram mediante a relação “ Sou uma
gota d’água/Sou um grão de areia”. Sentem-se pequenos um em relação ao outro e julgam-
se incapazes de solucionar suas divergências.
Em seguida, em meio a conversa com uma das partes (filhos), Renato incorpora o
conselheiro e segue a música até o fim na mesma levada “ Você me diz que seus pais não te
entendem/Mas você não entende seus pais”.
“Se meus pais tivessem feito isso por mim, se tivessem feito aquilo, seria tudo diferente e
melhor”, dizem os filhos sobre os pais. Costumeiramente atribuem seus traumas e
fracassos a eles. Mas Renato considera isso um equívoco da parte dos filhos e nos leva a
pensar que mesmo após adultos, sentimos medo, fazemos péssimas escolhas, erramos!
Somos criança, não importa nossa idade ou se temos filhos. Por isso, ser compreensivo é
essencial.
Não querendo que essa tragédia se repita, essa é a história que nosso narrador resolveu
nos contar. Para finalizar, Renato revela um ponto muito importante que talvez nós não
refletimos ainda:
Seus pais “São crianças como você/O que você vai ser quando você crescer”.
Não, não é uma pergunta, como a maioria pensa. Trata-se de uma afirmação. Você
vai ser como seus pais quando “crescer”: permanecerá sendo uma criança.