Sobre Odus

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O que são Odus? Quais são Odus?

Obs.: Este material traz informações coletas, resumidas, analisadas e


pesquisada por mim; mas, em seguida, traz uma Bibliografia muito
interessante, a qual decidi compartilhar com vocês, porque gostei muito
da abordagem.

Existem diversos Odus. Um deles, o primeiro, são os Odus de Nascimento


ou de Origem, os quais influenciam suas escolhas e decisões, durante toda
a vida; atuando como se fossem os signos de um horóscopo. Além da
energia do próprio Odu, cada um deles também se relaciona aos Orixás
desse Caminho e recebem influência deles, para todos os aspectos da sua
existência.
Os Odus de Nascimento levam-nos a uma autorreflexão, sobre o que e
quem somos, nesta existência; eles permitem que nos conheçamos e nos
compreendamos em relação à nossa forma de amar e de nos relacionar;
de nos expressar com as pessoas, de lidarmos com as nossas emoções e
de enfrentarmos os desafios do “Destino”.

1. OKANRAN: Odu regido por Exu. Você parece ser agressivo, mas na


verdade está apenas lutando para preservar a independência da qual
muito se orgulha. Você não poupa esforços para atingir seus objetivos,
mas deve tomar cuidado para não arrumar inimigos à toa.

2. EJI-OKÔ:  Odu regido por Ibeji e Obá. Você se mostra calmo no


comportamento e seguro nas decisões, mas na sua mente sempre existem
dúvidas. Não tenha medo de externar estas incertezas. Como muitas
pessoas o amam, você acabará recebendo bons conselhos.

3. ETÁ OGUNDÁ: Odu regido por Ogum. A obstinação que se traduz em


agitação e inconformismo, é uma das suas principais características. Mas,
se usar suas qualidades, como a coragem, criatividade e a perseverança,
conseguirá o que mais anseia: o poder e o sucesso.

4. IROSUN: Odu regido por Iemanjá e pelos Eguns. Sempre sereno e


disposto a ver tudo com muita clareza e objetividade, você sabe resolver
situações confusas ou tumultuadas. Tem plena consciência da sua força
moral e não hesita em usá-la para atingir todas as suas metas.

5. OXÉ: Odu regido por Oxum. Sensível e sempre atento, você é uma


pessoa sempre disposta a proporcionar alegria aos outros. Mas há
momentos nos quais você precisa de isolamento para poder refletir, pois
preza muito sua liberdade e, sobretudo, seu, crescimento.

6. OBARÁ :  Odu regido por Xangô e Oxossi. Você luta com unhas e dentes
pelo que quer e geralmente consegue muito sucesso material. Mas, no
amor precisa entender que não pode exigir demais dos outros.

7. ODI: Odu regido por Obaluaê. Você realmente está satisfeito com o que
consegue. Mas não fica se lamentando. Prefere ir à luta. Caso aprenda
com clareza seus objetivos, alcançará grandes êxitos.

8. EJI-ONILE: Odu regido por Oxaguiã. Sua agilidade mental faz de você
uma pessoa falante e muito ativa. Além disso, você gosta de poder e
prestígio e chega a sentir inveja de quem está em melhor situação. Mas
seu senso de justiça o impede de prejudicar quem quer que seja.

9. OSSÁ: Odu regido por Iemanjá. Você é uma pessoa que gosta de
estudar cuidadosamente todas as coisas e sua larga visão de mundo em
busca do conhecimento interior. Se quiser alcançar o sucesso, precisa
tomar cuidado de manter alguma ordem no seu dia a dia.

10. OFUN: Odu regido por Oxalufã. Seu jeitão rabugento é apenas um


escudo para que os outros não abusem da sua vontade e da sua
sensibilidade. No fundo, você é uma pessoa serena, que se adapta aos
autos e baixos da vida.

11. OWANRIN: Odu regido por Iansã e Exu. A pressa e a coragem são suas
características. Tenso e agitado, você nunca fica muito tempo no mesmo
lugar, a não ser que se sinta obrigado. Pode não obter grande sucesso
material, mas a vida sempre lhe reserva muitas alegrias.

12. ELI-LAXEBORÁ: Odu regido por Xangô. Sua principal virtude é o amor à


justiça, que algumas vezes se transforma em intolerância com os erros
alheios. Nessas ocasiões, você deve se voltar para outras de suas
qualidades: a dedicação, que lhe permite ajudar todas as pessoas.
13. EJI-OLOGBON: Odu regido por Nanã e Obaluaiê. Você está quase
sempre um pouco deprimido. Só faz o que quer quando quer o como
quer. Mas, como tem grande capacidade de reflexão, acaba se adaptando
e consegue viver bem com os outros.

14. IKÁ-ORI: Odu regido por Oxumarê e Ewá. Paciência e sabedoria são


suas principais características. Versátil, você se dá bem em qualquer
atividade. Poderá passar por provações materiais e sentimentais, mas
sempre saberá reencontrar o caminho para felicidade.

15. OGBÉ-OGUNDÁ: Regido pelo orixá Tempo. Você uma pessoa rebelde


e cheia de vontades, que muitas vezes não resiste a defender seu ponto
de vista mesmo depois que percebe que está errado. Por isso, deve tomar
cuidado para não se deixar dominar pelo nervosismo.

16. ALAFIÁ:  Odu regido por Oxalá e Orumilá. Suas principais


características são a tranquilidade e alegria. Amante da paz, você cria um
clima de harmonia á sua volta. Se mantiver o equilíbrio, sem dúvida
alcançará o sucesso.

Fonte: Nosso Amanhã.

OKARAN
NÚMERO: 1
ORIXÁ CORRESPONDENTE: EXÚ
CORES: PRETO E VERMELHO
DIA: SEGUNDA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 03 - 07 - 14 - 24 - 36 - 48 - 54
PERSONALIDADE: SÃO CRIATIVOS, PERSISTENTES E DE EXCELENTE
MEMÓRIA. POSSUEM FORTE INTUIÇÃO. SÃO MAUS. GOSTAM DE FICAR
SÓS. POSSUEM APARÊNCIA DESCUIDADA. SÃO EGOÍSTAS E MEDROSOS.
TENDEM AO EGOÍSMO E AO INDIVIDUALISMO.
EJIÔCO
NÚMERO: 2
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OGUM, IBÊJIS E OBÁ
DIA: TERÇA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 02 - 16 - 26 - 29 - 41 - 50 - 53 - 59
PERSONALIDADE: SÃO GENIOSOS E EXIGENTES. IMPÕEM A SUA VONTADE,
POR ISSO TAMBÉM ADQUIREM MUITOS INIMIGOS. SÃO ALEGRES, JOVIAIS
E FELIZES. QUANDO NADA LHES SAI A CONTENTO, TORNAM-SE
SOFREDORES. POSSUEM MUITO BOM CORAÇÃO. SÃO CORAJOSOS,
BRIGUENTOS, POSSUEM INICIATIVA PRÓPRIA, SÃO AMBICIOSOS E
GUERREIROS.
ETÁOGUNDÁ
NÚMERO:3
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OBALUAIÊ, OGUM
DIA: SEGUNDA - FEIRA
CORES: BRANCO E PRETO
NÚMEROS DA SORTE: 03 - 09 - 11 - 33 - 47 - 56 - 57 - 58
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS CONSCIENTES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA
FORÇA DE VONTADE, PARA O SUCESSO, PERSISTÊNCIA E CORAGEM, PARA
TIRAR MELHOR PROVEITO DAS SITUAÇÕES. PESSOAS QUE USAM MUITO A
RAZÃO; EM SEU LADO NEGATIVO, TRAZ A MENTIRA, FALSIDADE,
FINGIMENTO, AVAREZA E FALSA MODÉSTIA.
IROSSUM
NÚMERO:4
ORIXÁS CORRESPONDENTE: YÊMANJÁ , OGUM E XANGÔ
DIA: SÁBADO
NÚMEROS DA SORTE: 04 - 06 - 12 - 17 - 26 - 40 - 46 - 51
PERSONALIDADE: AS PESSOAS DESTE ODU PECAM E SOFREM POR NÃO
GUARDAREM SEGREDO, EXCETO QUANDO LHES É CONVENIENTE. SÃO
FALADORAS, GENEROSAS E FRANCAS; ORGULHOSAS E EXALTADAS.
GOSTAM DE AJUDAR O PRÓXIMO, DÁ MUITO VALOR AO OCULTISMO
(COISAS MISTERIOSAS).
OXÊ
NÚMERO:5
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OXUM - LOGUM-ODÉ
DIA: SÁBADO
NÚMEROS DA SORTE: 05 - 08 - 16 - 23 - 28 - 32 - 50
PERSONALIDADE: AS PESSOAS DESTE ODU GOSTAM DE MUITO PRAZER;
SÃO PESSOAS BEM INFLUENTES, CHARMOSAS, AMBICIOSAS E PERIGOSAS,
PRINCIPALMENTE NO AMOR. SÓ PENSAM EM LUCRO, SÃO PRECIPITADAS
NO AGIR; PERDEM GRANDES OPORTUNIDADES POR EXISTIREM INIMIGOS
OCULTOS QUE IMPEDEM AS VITÓRIAS. TÊM O DOM DA FEITIÇARIA. SÃO
APLICADOS NO TRABALHO. SENTIMENTAIS, AMANTES DAS DESCOBERTAS
E DE EXPERIÊNCIAS MÍSTICAS E CIENTÍFICA. SÃO CHORONAS E UM POUCO
FANÁTICAS.
OBARÁ
NÚMERO: 6
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OXÓSSI, LOGUM-ODÉ E XANGÔ
DIA: QUINTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 06 - 15 - 16 - 17 - 22 - 26 - 46 - 54
PERSONALIDADE: PESSOAS COM TEMPERAMENTO UM TANTO QUANTO
ESTOURADO, SÃO DE EXTREMA SINCERIDADE; SÃO UM POUCO
TAGARELAS COM HÁBITO DE CONTAR TUDO O QUE IRÁ SER FEITO,
EVITANDO ASSIM A CONCRETIZAÇÃO DOS PLANOS. DESPERTAM
ANTIPATIA E INVEJA DAS PESSOAS. SÃO JUSTAS E TENDEM A POSSUIR
BENS.
ODÍ
NÚMERO: 7
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OBALUAIÊ, OXÓSSI E OXALUFÃ
DIA: SEGUNDA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 07 - 13 - 31 - 45 - 54 - 56 - 58 - 59
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS COMUNICATIVAS E DE FÁCIL AMIZADE;
SÃO SEMPRE TRAÍDOS POR AMIGOS, SÃO SENTIMENTAIS, TÊM FORTE
PODER INTUITIVO E PSÍQUICO. QUANDO ESPIRITUALIZADAS, ATINGEM
POSIÇÃO DE DESTAQUE NA VIDA. FORA ISSO LEVAM A VIDA EM DURAS
PENAS, TENDO DIFICULDADE DE CONVIVER COM OS IMPULSOS. SÃO
DESCONFIADOS E CIUMENTOS. POSSUEM SORTE PARA O JOGO. GOSTAM
MUITO DE TENTAR ADIVINHAR OS FATOS. NÃO SE DÃO MUITO BEM NA
VIDA.
EJIONÍLÊ
NÚMERO: 8
ORIXÁS CORRESPONDENTES: OXAGUIÃ, XANGÔ E OXUM
DIA: SEXTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 08 - 12 - 23 - 26 - 34 - 56 - 57 - 58
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS TRABALHADORAS, GOSTAM DE TUDO
MUITO RÁPIDO, EXIGEM O ASSEIO E A LIMPEZA; SÃO PESSOAS
IMPULSIVAS; PESSOAS DE ESPÍRITO LIVRE; ENJOAM DE TUDO
FACILMENTE; TÊM PAIXÕES VIOLENTAS E SÃO MUITO CURIOSOS.
ADORAM AS VIAGENS.
OSSÁ
NÚMERO: 9
ORIXÁS CORRESPONDENTE: YANSÃ, XANGÔ E YÊMANJÁ
DIA: SÁBADO
NÚMEROS DA SORTE: 09 - 11 - 16 - 21 - 27 39 - 54 - 55
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS AUTORITÁRIAS, TEIMOSAS E BRIGONAS.
TENDEM A TER DISCÓRDIA E RANCORES. POSSUEM BOAS INTUIÇÕES E
SÃO VOLTADOS A GRANDES PROJETOS DE REALIZAÇÃO PESSOAL. SÃO
DAQUELAS PESSOAS QUE SÓ ACREDITAM VENDO. QUANDO ACREDITAM
NAS COISAS ESPIRITUAIS, COSTUMAM ASSUMIR LIDERANÇAS DENTRO DA
SEITA. SÃO MUITO CRÍTICOS, METÓDICOS E INDIVIDUALISTAS. CONTAM
COM UMA PROTEÇÃO ESPECIAL DE OXALÁ.
EJIOFUM
NÚMERO: 10
ORIXÁ CORRESPONFENTE: OXALUFÃ
DIA: DOMINGO
NÚMEROS DA SORTE: 10 - 12 - 31 - 40 - 43 - 45 - 49 - 50
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS IMPORTANTES, COM GRANDES SENSOS
COMUNITÁRIOS E DE PROFUNDO SABER PRÁTICO. EXPERIENTES,
RANCOROSOS, TEIMOSOS, VINGATIVOS, COM SENSO DE JUSTIÇA MUITO
IMPARCIAL. TENDEM OBTER SUCESSO, APÓS MEIA IDADE. SÃO
ENVELHECIDOS INTERNAMENTE E APARENTAM POSSUIR MUITA CALMA E
PACIÊNCIA. O SUCESSO MATERIAL DESTAS PESSOAS DEPENDE DO
SUCESSO ESPIRITUAL.
OWARIN
NÚMERO: 11
ORIXÁS CORRESPONDENTE: YANSÃ, EXU E OGUM
DIA: QUARTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 11 - 17 - 23 - 32 - 45 - 61
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS, DE CERTA FORMA, 'PERIGOSAS";
OBSTINADAS POR SUCESSO. FELIZES, QUANDO BUSCAM PROFISSÕES
LIBERAIS, QUE ATUAM JUNTO AO PÚBLICO. POSSUEM MUITA ENERGIA,
DISPOSIÇÃO. ESTÃO EM CONSTANTE MOVIMENTO, AGITO. SÃO MUITO
NERVOSAS. POSSUEM SORTE NA VIDA; PORÉM SÃO EXTREMAMENTE
VINGATIVAS E DEFENDEM –SE, ATACANDO.
EJILAXEBORÁ
NÚMERO: 12
ORIXÁ CORRESPONDENTE: XANGÔ
DIA: QUARTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 12 - 18 - 19 - 23 - 34 - 40 - 45
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS BARULHENTAS, INTRIGANTES, GOSTAM
DE INTRIGAS, ORGULHOSAS, VAIDOSAS AO EXTREMO, PREPOTENTES,
AUTORITÁRIAS, VOLÚVEIS E SOVINAS. GOSTAM DE MANIPULAR AS
PESSOAS E AS SITUAÇÕES. POSSUEM FORTE TENDÊNCIA A OBTER ALTAS
POSIÇÕES NA SOCIEDADE; POSSUEM TENDÊNCIAS A VÍCIOS, DIFÍCIL DE SE
ARREPENDER DE SUAS ATITUDES. A VITÓRIA FAZ PARTE DE SUA VIDA,
VENHA COMO VIER; PORÉM TAMBEM NÃO ESTÃO LIVRES DO FRACASSO,
POIS ASSIM COMO SE SOBE, TAMBEM SE PODE DESCER.
EJILOBON
NÚMERO:13
ORIXÁS CORRESPONDENTES: NANÃ E OBALUAIÊ
DIA: DOMINGO
NÚMEROS DA SORTE: 13 - 45 - 47 - 48 - 50 - 58 - 59
PERSONALIDADE: SÃO TEIMOSAS, RANCOROSAS, HUMILDES,
IMPACIENTES, ZELOSAS, DÓCEIS, CONSERVADORAS, POSSUEM DIFÍCIL
TRATO. SÃO BASTANTES INTROSPECTIVAS. EM GERAL, SÃO PESSOAS COM
TEMPERAMENTOS E APARÊNCIA MAIS VELHAS. TEM PAVOR DA MORTE.
APARENTAM POSSUIR UMA FELICIDADE QUE, NA VERDADE, NÃO EXISTE.
IKÁ
NÚMERO: 14
ORIXÁS CORRESPONDENTES: OXUMARÊ E OSSÃE
DIA: QUINTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 14 - 42 - 47 - 48 - 50 - 51 - 55 -
PERSONALIDADE: FAZEM BOAS AMIZADES, SÃO DESCONFIADAS,
TRAIÇOEIRAS, POSSUEM MUITA SORTE RELACIONADA AO DINHEIRO; SÃO
MUITO ATIVAS, ESTÃO SEMPRE EM MOVIMENTO (AÇÃO); SÃO PESSOAS
EQUILIBRADAS, PREOCUPAM-SE COM O BEM-ESTAR DE OUTREM.
POSSUEM MUITA LIDERANÇA E FACILIDADE DE APRENDIZADO;
PORTANTO, ADORAM APRENDER A LER E ESCREVER. SÃO CONSIDERADAS
PESSOAS INTELIGENTES.
OBEOGUNDÁ
NÚMERO:15
ORIXÁS CORRESPONDENTES: OBÁ E EWÁ
DIA: QUARTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 02 - 04 - 15 - 36 -39 - 41 - 50
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS COM GRANDES DIFICULDADES EM
RELACIONAMENTOS AMOROSOS. LEVAM VIDA AGITADA. SÃO
BATALHADORAS; POSSUEM PERSONALIDADE FORTE E EXIGENTE. SÃO
MUITAS VEZES INCOMPREENDIDAS E VINGATIVAS. TAMBÉM SÃO MUITO
TRABALHADORAS E, PORTANTO, SÃO FAVORECIDAS NOS NEGÓCIOS (COM
POUCO LUCRO E SUCESSO); MAS, COM MUITA LUTA, TENDEM A VENCER.
ALÁFIA
NÚMERO:16
ORIXÁS CORRESPONDENTES: IFÁ, ORUMILÁ E TODOS OS ORIXÁS FUNFUN
DIA: DOMINGO
NÚMEROS DA SORTE: 02 - 06 - 16 - 22 -31 - 58 - 60
PERSONALIDADE: NÃO POSSUI REGÊNCIA DE ORIXÁ DEFINIDA;
PORTANTO, NÃO PODE SER ASSOCIADO A NENHUM ORIXÁ. SÃO PESSOAS
QUE ALCANÇAM TRIUNFO EM TUDO; LUCROS, HERANÇAS, VIAGENS,
FELICIDADE, BOAS PROPOSTAS. SÃO PESSOAS QUE SEMPRE PRECISAM DE
ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL, POIS A AFLIÇÃO LHE É APARENTE.
Fonte: Templo Xangô Baru
ODUS: Filosofia Africana para uma Metodologia Afro referenciada
 
ODUS : African Philosophy for an Afro-referenced Methodology
 
Adilbênia Freire Machado
Doutora em Educação-Universidade Federal do Ceará (UFC), Bolsista
Capes.
adilmachado@yahoo.com.br
 
 
Resumo: O presente artigo apresenta a metodologia filosófica, que
também é conteúdo, dos Odus. Trata-se de uma metodologia afro
referenciada demarcada por nossa origem, nossa ancestralidade, nossos
caminhos / experiências / vivências. Alimentaremos, aqui, um diálogo
formativo desde as culturas, os modos de ser / estar no mundo, as
filosofias e saberes africanos e afrodescendentes. Busca-se delinear um
pensamento plural, diverso, numa perspectiva horizontal, circular, que
compreende a universalidade desde um lugar, desde nosso próprio chão,
onde o corpo é produtor e fonte de conhecimento. Apresentaremos esta
metodologia que é tecida por implicações epistemológicas, ativistas,
política, ética, em busca de descolonização curricular e do próprio
conhecimento, delineada pela escuta sensível, perpassada pelo coletivo,
pela memória histórica, pela resistência negra e pela auto formação.
Palavras-Chave: Metodologia Afro referenciada; Odus; Filosofia Africana;
Escuta Sensível; Descolonização Curricular
 
Abstract: The present article presents the philosophical methodology,
which is also content, of the Odus. This is an afro-referenced methodology
demarcated by our origin, our ancestry, our paths / experiences. We will
nourish here a formative dialogue from cultures, ways of being / being in
the world, African and Afro-descendant philosophies and knowledge. It
seeks to delineate a diverse, plural form, horizontal, circular perspective
that understands universality from a place, from our own ground, where
the body is the producer and source of knowledge. We will presente this
methodology that is woven by epistemological implications, activists,
politics, ethics, in search of curricular decolonization and of the knowledge
itself, delineated by sensitive listening, perpassed by the collective, by
historical memory, by black resistance and self-formation.
Keywords: Afrorreferenced methodology; Odus; African Philosophy;
Sensitive Listening; Curricular decolonization
 
 
Adentrando: Uma Metodologia Filosófica Afro referenciada
 
Com o advento da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino
de história e cultura africana e afro-brasileira, tornou-se fundante a
criação de metodologias que possam delinear, demarcar a implementação
de tal lei desde métodos afro referenciados, posto que a proposta é um
ensino desde nosso próprio lugar de pertencimento, nosso modo de ser,
nossos saberes, nossas culturas, nossos corpos, nossas histórias. Assim,
essas metodologias são pautadas desde as histórias que nos foram
negadas nas escolas e universidades, perpassadas pela oralidade, pela
memória, pelos valores que delineiam o cotidiano da população negra
diaspórica que forma o Brasil, perpassadas por corpos negados e cheios de
potência e resistência.
Dessa forma, dialoga-se desde nossos modos de ser e estar no
mundo, desde os (nossos) saberes dos povos africanos que a escravização
trouxe para nosso país. Ainda que a colonização tenha nos tornado uma
nação marcada por dor, sofrimento, desumanização e negação, ela deixou
um legado que segue existindo, reexistindo e fortalecendo um povo que
não nasceu em África, mas que tem a África nascida em si, uma África que
desenhou, teceu, criou, cria e alimenta o Brasil. Aqui não há, em absoluto,
o propósito, ou até mesmo a ideia de romantizar a mestiçagem, longe
disso, mas reconhecer que ainda com todos os processos de
desumanização oriundos da colonização, da escravização, a cultura
africana em terras brasileiras ultrapassa o tempo e os espaços,
fundamentando nosso ser, nossa cultura, fortalecendo-se na luta
cotidiana por sua existência e reexistência, pois somos um povo
demarcado pela ancestralidade e pelo encantamento vindo de África.
Assim, esse artigo propõe um diálogo formativo desde a
perspectiva afro referenciada, ou seja, as culturas, os modos de ser / estar
no mundo, filosofias e saberes africanos e afrodescendentes. Delineando
um pensamento plural, diverso, que tem o diálogo entre os saberes como
preponderante, desde uma perspectiva horizontal, circular,
compreendendo a universalidade desde um lugar, desde nosso próprio
chão, abarcando o corpo como produtor e fonte de conhecimento,
conhecimentos estes oriundos das relações do cotidiano, das nossas
experiências, pois “existir é relacionar-se, e os relacionamentos não se dão
no vazio do nada, mas através de corpos que preenchem o corpo do
espaço e os escorrer do tempo corporal. Não se prescinde do corpo, nem
como coisa, nem como ideia, nem como palavra”.
Assim, pensar / criar / aprender / ensinar / ser desde referenciais que tem
a ancestralidade africana como guia, potencializa nosso estar no mundo,
nos encantando, nos implicando com um mundo melhor, mais digno de se
viver.
Portanto, esse artigo apresentará a metodologia oriunda da Filosofia
Africana delineada pelos Odus. Esses são metodologia e conteúdo
demarcados pelos nossos caminhos / experiências / vivências, pois “não
separa caminho de metodologia, forma de conteúdo. Elas não são
separadas na vida, também não podem ficar separadas na academia” [2].
Também não dissocia experiência de vivência, de atuação política, ética,
social, profissional, assim, trabalha-se desde a compreensão de “formação
como ação”, pois a formação é um “fenômeno que se realiza nos sujeitos
concretos, contextualizados, historicizados, política e coletivamente
situados”.
Odu, que é oriundo do Ifá, é a fonte de inspiração para a criação
dessa metodologia, que fora gestada por Eduardo Oliveira para o ensino
de “História e Cultura Africana e Afro-brasileira”, desenvolvida,
especialmente, para o componente curricular de mesmo nome ofertado
no curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal
da Bahia, entretanto, tal metodologia pode ser “aplicada” em todos os
campos do conhecimento afro referenciado, pois Odu é uma metodologia
filosófica oriunda das filosofias africana, de seus saberes, valores e
tradições. Eduardo Oliveira inspira-se em sua espiritualidade, na sua
relação com o Ifá, cultura em que é iniciado. O Ifá é oriundo da Nigéria, é
uma cultura pré-colonial que representa um sistema ético africano.
Segundo Eduardo Oliveira,
Na religião de matriz africana, pensando ela
como um grande fenômeno social, há uma coisa
absolutamente importante que é o oráculo. O
oráculo é aquilo que faz com que eu possa me
comunicar com o Outro perto e com o Outro
distante, é a comunicação do humano para com
o humano, do humano para com o sagrado e do
sagrado para com o humano. É o lugar da fala da
sabedoria, ou seja, o oráculo é o lugar que
preserva a sabedoria produzida por um grupo.
Um oráculo privilegiado por esse sistema se
chama IFÁ.
Ronilda Ribeiro, diz que o Ifá é “Orumilá, o oráculo divino, deus da
sabedoria iorubá. Também jogo adivinhatório realizado
com ikin ou opelê” (grifo da autora). Para Eduardo Napoleão, o Ifá é o
“Oráculo praticado por sacerdotes yourubanos cujo patrono é Orunmilá.
Compêndio do saber yourubano contendo ensinamentos e textos sobre
música, literatura, história, religião, mitologia, ecologia, ciência, filosofia,
arte, etc”.
Desse modo, o Opelê-Ifá, que é o colar de Ifá, é utilizado como
inspiração metodológica, pois:
é um instrumento (...) para me comunicar com o
oráculo, ele é efetivamente a metodologia, o
instrumento, aquele que faz a comunicação,
aquele que revela a sabedoria produzida pelos
antepassados para os viventes de agora e atualiza
essa sabedoria na experiência desses viventes de
agora.
Um objetivo fundante do ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira é o diálogo com as filosofias presentes na sabedoria de
nossos antepassados, nas experiências vividas e transmitidas. Sabedorias /
Experiências! Sabedorias / Ações! Sabedorias / Modos de Ser – Estar no
Mundo!
O oráculo, o opelê-ifá é circular, pois o círculo é “uma estética
radical de inclusão (...), todo mundo tá lado a lado com o Outro, com
companheirismo, numa relação fraternal (...) e vendo a face do outro.
Então, é uma escritura ética, é uma estética de inclusão”. Por isso o círculo
é fundante como instrumento metodológico.

Opelê Ifá – Fonte: Internet


 
E o oráculo do Opelê-Ifá:
é composto de oito sementes que são oito
caminhos para entendermos o que a gente fez na
humanidade desde os primórdios até agora. Só
que na cultura Iorubá – Nagô, o Ifá nunca é
pensado como um corpo único, sempre é dois,
então não existe indivíduo [...], o africano não se
pensa como indivíduo / único, se pensa como
comunidade, essa é outra chave de leitura
importantíssima, logo o Ifá se pensa sempre
como duplo.
A multiplicação é fundamental, o duplo pessoa / comunidade,
assim, as sementes do Opelê-Ifá são colocadas lado a lado, ficando quatro
sementes de um lado e quatro de outro, ao se abrirem formam oito, que
são duplicadas por dois formando dezesseis caminhos e segue
multiplicando-se. Assim, enquanto metodologia, a proposta é que os/as
educandos/as possam também construir suas próprias metodologias, a
construção e a produção é coletiva, é oriunda da experiência vivência de
cada um/a, onde todos nossos saberes são valorizados. Portanto, a
metodologia dos Odus, inspirada no Ifá, é construída sempre numa
perspectiva coletiva e de valorização dos saberes antigos e dos saberes do
agora.
 
ODUS: caminhos / experiências
 
Os Odus, ou seja, conteúdo e metodologia, apresentam chaves de
leituras e de interpretações, instrumentos para produção de outros
olhares sobre a história e cultura a africana e afro-brasileira, trazendo
sempre os deslocamentos de sentidos, a coletividade, a memória, o corpo
e a ludicidade como fios condutores dessa produção. Filosofias fundantes
do pensamento africano. Eduardo Oliveira desenvolveu oito Odus,
entretanto, iremos trabalhar aqui apenas os cinco primeiros, pois foram
estes com os quais se trabalhou, no componente curricular HCAA [13], no
período de 2010 a 2014. Os Odus, os caminhos, que estão em processo,
acontecendo, são os seguintes:
1 –  Odu  de Origem
2 –  Odu  de Transição
3 –  Odu  de Desconstrução
4 –  Odu  de Transformação
5 –  Odu  de Beleza (Estética / Encantamento)
6 –  Odu  de Natureza
7 –  Odu  de Espaço
8 –  Odu  de Tempo
Agora vamos caminhar com e desde os Odus!
 
Odu de Origem
 
O primeiro Odu a ser apresentado é o de Origem, entretanto, é só
didaticamente que se começa por ele, pois origem não é começo, posto
que no círculo, no opelê-ifá, pode-se começar de vários pontos, assim, há
mais de uma origem:
não há uma origem única, não tem um dia em
que a bondade começou, que a maldade
começou, que o homem nasceu, que a história
iniciou (...). Isso é sempre dinâmico, (...) a origem
é uma questão de escolha, não é uma questão
ontológica, ou seja, não é um fato consolidado, é
só uma escolha, cada pesquisador, cada
pesquisadora, escolhe o seu ponto de partida,
porque o ponto de partida não é arbitrário.
Desse modo, é importante compreender que a “origem não se
impõe como um dado, a origem é uma construção epistemológica, (...)
mental, (...) conceitual” (Idem), é uma escolha e como tal não se dá do
nada, é pesquisa científica, e acontece em virtude de nossa liberdade,
partindo sempre de um princípio ético. Ética esta que se apresenta como
liberdade da pessoa dentro do coletivo, ou seja, é como aquele ditado que
diz: “a minha liberdade termina quando a do Outro começa”. Assim:
a origem não dá margem para a arbitrariedade, a
origem é fruto de uma livre escolha, portanto, a
base de uma escolha é o que caracteriza a
humanidade, não é a racionalidade. O que
caracteriza o humano é a liberdade e a liberdade
não é uma coisa só docinha, gostosa e etc. (...)
Por isso a educação é fundamental, por que é a
educação que nos dá mais condições de
discernimento, de fazermos melhores escolhas
sem nenhuma garantia que elas irão dar certo,
ninguém pode garantir a vocês do ponto de vista
epistemológico que o que ela tá dizendo é
garantido, (...) ninguém! Isso eu acho
maravilhoso, porque desautoriza as autoridades
absolutas e coloca como condição da produção
do conhecimento a interação com o outro. O
conhecimento não pode ser produzido sozinho,
conhecimento é um fenômeno coletivo.      
O conhecimento nunca é individual, é coletivo e a liberdade são
vestes da criatividade, desse modo:
a base epistemológica da produção do
conhecimento não é a lógica, (...) não é o
raciocínio causal. A base epistemológica do
conhecimento é a criação viva, o universo não
está estruturado em torno de matérias antigas,
sólidas, o universo está estruturado encima de
criação. (...) a matéria é uma ilusão da
compreensão humana e o que a gente tem é um
estado pulsante, constante de criação[16].
A criação é subjetiva e essa subjetividade é quem condiciona a
produção de conhecimento e a lógica é o instrumento para organização
do conhecimento. Essa subjetividade é responsável, é implicada, portanto,
ela se apresenta com a responsabilidade de criar mundos melhores, desde
as nossas experiências, vivenciadas em nós mesmos e com o/a/s
Outro/a/s. Essa criação oriunda da subjetividade tem origem em nossos
processos formativos. É encantamento, implicação e responsabilidade
com nosso estar no mundo.
Educar desde uma perspectiva afro referenciada, desde
as cosmopercepções africanas, é educar pela experiência, pois o
conhecimento real, que pode ser efêmero, tem origem em nós, em nosso
lugar de pertencimento, nosso chão, nossa cultura e saberes. É o educar o
olhar, educar para a sensibilidade, para perceber o Outro como parte de
nós mesmos/as, é promover o exercício da nossa capacidade de sentir, de
ter a emoção como a base, o sustentáculo para a razão, pois “em
formação é preciso entender que a emoção coloca o sujeito em
movimento e impulsiona a ação”. Assim, a criação que parte do sentir se
torna base para o conhecimento, para o ser / fazer.
Para Eduardo Oliveira, na educação do olhar há três posições
fundamentais: o olhar de longe (ou distanciado), o olhar de perto (ou
aproximado) e o olhar do entre-meio. O olhar de longe “tende a privilegiar
o conjunto e perder os detalhes. Com isso perde-se o movimento das
singularidades e se ganha na percepção da totalidade”, já o olhar de
perto “vê fragmentos, mas distancia-se da visão de conjunto” e o olhar
do entre-meio  é “um híbrido que combina tanto a dinâmica do olhar
distanciado quanto do aproximado, ele não substitui, nem supera os
outros olhares, pois não se trata nem de negação nem de aprimoramento
de outras perspectivas”. Assim, compreende que o olhar do  entre-meio é
o escolhido para essa construção metodológica, pois é aquele olhar:
que vai de um a outro, tendo como referência
sempre o oposto, ou seja, o alheio, o Outro.
Assim, quando está sob efeito da vertigem
causada pela proximidade (olhar aproximado)
terá como referência a mansidão do olhar de
totalidade (olhar distanciado) e vice-versa. Ao
contemplar o conjunto de uma paisagem terá
como referência a singularidade de seus
movimentos, pois o olhar entre-meios é uma
relação / interação dos extremos. Por isso ele é
relativista posto que, ao relacionar-se com os
extremos de um oposto a outro, pode redefinir
os contextos e suas medidas de grandeza. (...) O
olhar entre-meios reconhece que o olhar cria o
contexto na mesma medida em que o contexto
cria o olhar. Um é corrente para o outro e juntos
formam os elos culturais.
Desse modo, no Odu de Origem escolhemos nosso ponto de origem,
sabendo-se que essa escolha não é arbitrária e é coletiva, fruto de uma
cultura, um chão, de uma ancestralidade que é fonte de pertencimento e
que tece esse chão / lugar. Escolhemos nosso lugar de origem, mas como
se dá o processo de transição? Nosso próximo Odu poderá nos responder.
 
Odu de Transição
 
Ao encerrarmos, sem encerrar, o Odu de Origem, percebemos que
basta apenas escolhermos nossa origem, pois, ainda se apresenta como
um ponto, ainda que não seja arbitrário, assim, é imprescindível
pensarmos o seu deslocamento, o seu movimento, ou seja, faz-
se necessário compreendermos como acontece esta transição ou “como
isso se processa na prática, como se ganha forma, corpo”. O Odu de
Transição tem como conceitos fundamentais o movimento, o
deslocamento e o processo, pois:
não basta ter origem, que é uma escolha, que
não é um dado imposto, (...) a origem é só
origem, é só o primeiro passo, para entender
qualquer fenômeno (...) eu preciso entender
como isso se modificou, criou movimento,
ganhou corpo, como chegou a constituir-se
naquilo que eu vejo hoje. Nós não somos os
homens primatas que fomos a princípio, nós
evoluímos, nós não somos mais aqueles
hominídeos, nós somos homens sapiens, sapiens
muito desenvolvidos, dizem. Então, eu preciso
entender a transição, como a coisa sai do seu
estado de origem, do seu estado original (...) para
transformar-se naquilo que é hoje, no fenômeno
que a gente estuda agora.
É importante destacarmos que isso é válido para qualquer campo
do conhecimento, qualquer área. Seguindo essa itinerância, o Odu de
Transição apresenta-se como esse processo de compreensão da transição
de como algo sai do seu estado original e transforma-se no que vemos,
por exemplo: “É entender que têm deslocamento de conceito, de ideia, de
pesquisa, que tem além de deslocamento, tenho que acompanhar o
movimento”. O movimento é fruto das nossas intenções, dos nossos
desejos, dos sopros de vida cotidianos movidos por nossas experiências /
vivências, por nossas andanças!
O conhecimento livre e criativo é contínuo, por isso o movimento é
sua condição, posto que nada na natureza está parado e não há como
pensar, produzir, conhecer, ser desde a perspectiva africana sem que
estejamos em relação com a natureza, pois é ela que “nos ajuda a ser o
nosso verdadeiro ser”[24]. Porquanto, é fundamental desenvolver, criar
epistemologias que acompanhem o movimento próprio da existência, da
realidade que vemos, sabendo-se que há diversos modos de se ler as
coisas, o mundo (as coisas do mundo), não há uma verdade absoluta, há
verdades possíveis, realidades possíveis e diferentes, pois as culturas são
diferentes, somos diferentes e essas diferenças são fontes de
fortalecimento e crescimento. Eduardo Oliveira[25] afirma que ainda
“perdura o paradigma de que pensar é congelar as coisas, separá-las, é
dar respostas definitivas”. Na perspectiva africana “o que não se renova e
não se recria continuamente apodrece e morre. É preciso mover-se e se
aquecer sempre para manter aceso o pavio da vida”[26]. Portanto:
o objeto de estudo da epistemologia é o
processo, é o movimento, não é o resultado,
porque nunca tenho resultado final, tenho
sempre resultados provisórios e parciais (...).
Meu aluno nunca vai estar pronto, eu como
professor nunca estarei pronto, é sempre
provisória a formação, porque eu sempre vou
efetivamente reelaborar, desconstruir, criticar,
acrescentar, manter. É dinâmico, não para
nunca[27].
Nesse movimento de existência e re-existência, escolhemos uma
origem, transitamos pelos movimentos contínuos e diversos, nos
desconstruímos, nos transformamos, pois “conhecer é reter informações,
dominar técnicas e reflexões. Sabedoria é mais! Sabedoria é viver o que se
conhece”[28]. Então, na busca do viver o que conhecemos, escolhemos /
encontramos nossa origem, passamos por um processo de transição e
desconstruímos o que nos foi colocado de um modo imposto por uma
cultura que se deseja mono (cultura ocidental), transformando-nos e nos
encantando, descolonizando e ampliando, trazendo as diversas vozes para
a construção, desconstruindo e transformando e não destruindo como é
próprio de nossa(s) história(s). Desconstruímos para potencializar a
existência, para transformar desde um processo inclusivo, comunitário,
circular!
 
Odu de Desconstrução
 
Em nossa caminhada fazemos alguns percursos, passamos por
acontecimentos diversos, escolhemos nossa origem, passamos por
processos de transição que nos levam a mudanças de paradigmas, porém,
é necessário “desconstruir o que tá instituído, mesmo que eu tenha
localizado, de maneira livre, o meu ponto de partida, mesmo que eu tenha
compreendido o processo e o movimento, eu posso sedimentar, posso
ossificar, posso cristalizar esse conhecimento como ‘certeza’”[29].
Isso implica que é fundante constantemente se fazer crítica, porém
uma crítica responsável, construtiva, que nos leve ao descontentamento,
ou seja, ao não se acomodar com o que está dado:
com o que já está dito, com o que já está pronto.
É a hora de mexer um pouco nas estruturas dos
edifícios, (...) é a parte da problematização
propriamente dita, é o momento de entender
que estudar história e cultura africana não é igual
a estudar história ocidental. Isso é óbvio, mas
apesar de ser óbvio até hoje não está na
academia, por isso a crítica tem que ser cada vez
mais radical, não é a crítica pela crítica é a crítica
para a raiz, ai está toda a diferença[30].
É pensar com os pés, pois eles estão sempre plantados no chão, é
trazer a cabeça para o chão, pois o chão é a raiz, é a inversão de
paradigmas. É mexer nas estruturas, questionar o que está sedimentado e
dar sentido desde nosso contexto, os acontecimentos que formam e
transformam. Eduardo Oliveira traz a percepção de que, por exemplo,
o street dance, o break, o hip hop, etc. tinham muitos movimentos que se
davam no chão, “inclusive um dos movimentos mais radicais é rodar sobre
a sua própria cabeça com muita velocidade (...). Isso quer dizer muita
coisa”[31]. Sabemos que essas danças têm origem na cultura negra, onde “a
estética não é uma coisa decorativa, espetacular, ela denuncia uma
cultura, apresenta uma cultura, sintetiza e atualiza”[32]. Esses exemplos
mostram como é importante levar o nosso cotidiano para sala de aula,
para os espaços de ensino – aprendizagem, onde os questionamos,
proporcionando reflexões desconstrutivas, que nos permitem, por
exemplo, sair do ciclo do racismo e ter perspectivas outras dos diferentes
modos de ser.
É importante não haver apenas o discurso de
diversidade, multirreferencialidade, multiplicidade, diferença, inclusão,
multiculturalismo, é importante que isso seja colocado em prática, que
faça parte da nossa formação, da formação do nosso próprio
conhecimento, da nossa cultura, pois essa diversidade,
essa multirreferencialidade proporciona valorização e respeito do que é
diverso, diferente, valorização e potencialização da diversidade. Onde
nossos espaços de ensino – aprendizagem possam ser delineados por um
currículo plural, diverso, reflexivo, que tem a vida como fundante para e
na sua construção.
Tais reflexões permitem debates pertinentes, abrindo horizontes
para que nossos/as estudantes, e até mesmo educadores/as, acreditem
que é possível enveredar pelos caminhos que acreditamos, por caminhos
outros, culturas outras, ainda que não tenhamos abertura ou que ela seja
pequena. “Desconstrução rima com a criação, (...) leva à necessidade de
continuar produzindo conhecimento, porque caso contrário posso só
repetir conhecimento e repetir não é criar” [33]. Entretanto, há momentos
em que a repetição é importante, mas, não podemos ficar sempre na
repetição,
é necessário a criação e para isso eu tenho que
desconstruir conceitos, metodologias, visões,
olhares, imaginários. Desconstruir estruturas
sociais, históricas, políticas. Desconstruir é
necessário, não é destruir, destruir significa que
você vai eliminar, desconstruir significa que você
vai decompor para compor novamente, é
diferente o sentido[34].
Esse Odu nos impele a compreender que o conhecimento é
contínuo, além de coletivo, é um exercício de crítica radical, ou seja, uma
crítica que vai à raiz, questiona toda a estrutura, mas com um sentido de
transformação para melhor coletiva, ligada à natureza.
No caminho percorrido entendemos que a origem é uma escolha,
assim é fundante refletir o processo, desconstruir as certezas dadas,
entretanto, isso não é suficiente para produção de conhecimento, é
necessário transformar, compreendendo que “transformar significa que o
conhecimento tem que ter implicações práticas, pragmáticas, tem que
alterar as relações”[35]. Conhecimento só é válido quando traz
transformações, quando altera a realidade, conhecimento como
sabedoria, com implicações práticas e que altera as relações.
Na medida em que o conhecimento não é individual, mas coletivo,
dá-se apenas com o encontro. Conhecimento não movimentado não faz
sentido, a coletividade está intrínseca ao conhecimento, pois “não basta
ter conhecimento cognitivo, é preciso atingir também a sensibilidade e
alterar na prática a relação”[36]. Não basta ler um texto, é preciso adentrar
suas entranhas, entranha-se pelos sentidos, lê-se com as mãos, com o
paladar, o olfato... não se enxerga apenas com os olhos, enxerga-se com
todos os sentidos. Comossensações!!! Por isso o educar o olhar!!!
 
Odu de Transformação
 
O Odu de Transformação implica no pensar / fazer desde a ética, no
compartilhar, no encontro, o pensar a própria ética, pois “a parte mais
importante da ética é a coletividade”[37]. Transformar desde a ética não é
qualquer transformação, é uma transformação inclusiva, em comunhão.
Desse modo o referido Odu implica em um conhecimento pragmático, ele
causa alterações reais, visíveis, concretas, sólidas.
É também a dimensão da ética, que é a dimensão
da ação, (...) aqui é o conhecimento já em ação, a
atitude ética. E a palavra base dessa ética chama-
se responsabilidade, ou seja, essa transformação
não é qualquer transformação, (...) eu tenho que
pensar as consequências da minha ação (...)! Eu
tenho que pensar, refletir, medir as
consequências das minhas ações, da minha fala,
(...) porque vai ter efeitos práticos na vida de
outras pessoas[38].
Essa ética responsável tem o propósito da manutenção e ampliação
da liberdade, onde “uma ação ética é balizada pela responsabilidade com
o que você diz e faz. A responsabilidade é o maior princípio da política” [39],
da educação, da vida. Eduardo Oliveira[40] afirma que “grandes autores do
nosso tempo estão falando numa ética da responsabilidade, eu, além, de
uma ética da responsabilidade, junto com o pessoal da filosofia da
libertação falo de uma ética da libertação, que é uma responsabilidade um
pouco mais ampliada”.
Concluímos que não importa apenas o conteúdo, mas o que esse
conteúdo pode fazer, as transformações que traz para o cotidiano no qual
estamos inseridos/as, o que importa é o que fazemos desse conteúdo,
como o potencializamos. Essa é a potência da Lei 10.639 / 11.645, uma
ação que reflete nas experiências do cotidiano, implicando no re-
encontro com nossas origens. O Odu de transformação é delineado
pelo Odu de Estética, pelo Encantamento, pois é o transformar-se desde a
implicação, a responsabilidade com o estar no mundo!
 
Odu de Beleza / Estética / Encantamento
 
Discorrer acerca do Odu de Beleza / Estética / Encantamento é uma
tarefa complexa, ainda que este seja um conceito fundante na minha
trajetória, não apenas enquanto pesquisadora. Tecer essa teia é intenso, é
falar desde a sensibilidade almejando outros modos de concepções da
vida, do fazer / produzir / pensar / criar / ser. É ser desde o coletivo e
numa perspectiva de ser de corpo inteiro, onde esse corpo é sagrado, é
fundamental. Durante nossa caminhada, geralmente, somos
“ensinados/as” que a razão está separada da emoção, acredito que muitos
de nós, ou talvez todos/as nós já nos perguntamos, em algum ou em
muitos momentos, como isso é possível se tudo está “junto e misturado”.
Como separar o que sentimos do que fazemos?
Vanda Machado[41] nos diz que:
o pensamento africano não separa, não
hierarquiza. Corpo, membro, memória, tradição,
sentidos, imaginário, símbolos, signos,
espiritualidade e as vivências cotidianas, tudo faz
parte de uma tradição na sua
multidimensionalidade que não se presta a
explicação reduzida, a categoria que fragmentam
sentido.
Tentaram nos tirar desse lugar, de algum modo o fizeram, pois
somos formados/as em outra perspectiva, racionalizada de um jeito que
nega o nosso corpo e tenta nos formatar, então, como agir com ética se
não somos “ensinados/as” desde a sensibilidade? Se vamos à escola e
sentamos em fileiras, um/a atrás do/a outro/a e não olhamos no olho? Se
a educação escolar aparece como um lugar onde temos que guardar
informações (não, necessariamente, compreendê-las, mas,
principalmente, armazená-las) que nem sempre diz quem somos, qual a
nossa história, qual a nossa origem. Se somos orientados/as a concluir
uma graduação, depois um mestrado, depois um doutorado, depois,
depois... sempre numa perspectiva de juntarmos bens materiais, melhor
salário, onde a qualidade de vida está relacionada a um status social?
Assim, o Odu de Beleza acaba por ter a responsabilidade de
implantar uma dimensão filosófica em nosso estar no mundo, em relação
aos Odus apresentados anteriormente. O Odu do encantamento “produz
os sentidos da vida, é esse odu que produz o mundo, (...) constrói o
mundo”[42].
Vivemos no mundo da complexidade, “pois quanto mais
complexidade, mais a minha liberdade aumenta”[43] e é dentro da
complexidade que fazemos escolhas, desse modo, “quanto mais complexo
for o meu olhar, maior a minha possibilidade de escolha” [44], quanto mais
complexa a realidade, maior deve ser meu critério, o discernimento para
essas escolhas, assim “a gente pode educar o nosso olhar para as
complexidades, porque o mundo é complexo, não adianta olhar o mundo
reduzindo a certo e errado” [45]. Educar o olhar para a sensibilidade é
caminhar por princípios formativos outros, princípios que tem a ética do
corpo, do desejo pelo Outro/a e o respeito à diversidade como fios
condutores para o próprio existir.
A morte foi um dos temas que teceram o Odu de Estética / Beleza /
Encantamento, delineado por diversas músicas, onde dialogamos sobre
rituais de morte em algumas culturas, especialmente na africana, pois
“a crença na imortalidade do homem explica, em grande parte, a grande
importância que a morte e os ritos funerários têm na cosmovisão de
mundo africana[46]. Sabemos que:
a morte abrange as esferas mais importantes da
vida africana, pois abarca a concepção de
homem, a necessidade das restituições dos
papéis sociais mais importantes, como chefes de
família ou governantes políticos. Isto porque,
uma vez ocorrido o evento da morte o equilíbrio
da comunidade está posto em questão, pois as
personagens que morreram sintetizam as ações
históricas do grupo. É neste momento que os
ritos funerários ganham grande importância, pois
eles são capazes de reorganizar rapidamente as
comunidades restabelecendo o equilíbrio
social[47].
Eduardo Oliveira[48] considera que a “cultura é a reposta ao
problema da morte”, se quisermos conhecer bem uma cultura deveríamos
procurar “saber seus rituais fúnebres”. Nessa perspectiva a morte aparece
não como lamento, mas como reorganização do meio onde se vive, como
um renascimento, pois ela é a condição para o nascimento. Nesse
momento a música “Drão” de Gilberto Gil chega para dialogar conosco. É
importante demarcarmos que a metodologia dos Odus, perpassada pela
nossa memória histórica, pelo nosso cotidiano, é tecida pelas artes que
nos tecem, assim, a música, a dança, o desenho, enfim, a arte como um
modo geral é instrumento metodológico, pois Odus vem dos sentidos, do
sentir.
 
[49]
Drão
 
“Drão,
o amor da gente é como um grão,
uma semente de ilusão,
tem que morrer pra germinar,
plantar nalgum lugar,
ressuscitar no chão
nossa semeadura!
Quem poderá fazer
aquele amor morrer?
Nossa caminha dura!
Dura caminhada
pela estrada escura.
Drão,
não pense na separação,
não despedace o coração,
o verdadeiro amor é vão,
estende-se, infinito,
imenso monolito,
nossa arquitetura.
Quem poderá fazer
aquele amor morrer?
Nossa caminha dura!
Cama de tatame
pela vida afora...
Drão,
os meninos são todos sãos,
os pecados são todos meus,
Deus sabe a minha confissão,
não há o que perdoar
por isso mesmo é que há
de haver mais compaixão!
Quem poderá fazer
aquele amor morrer,
se o amor é como um grão:
morre, nasce trigo,
vive, e morre pão!
Drão”
 
Após ouvirmos a música, destacamos a seguinte parte: “o amor é
como um grão: morre, nasce trigo, vive e morre pão!” Após muitas
reflexões coletiva fortalecemos a concepção de que “a condição para o
nascimento é a morte e que um tema está absolutamente relacionado ao
outro”[50]. Do ponto de vista psicológico é o que fazemos continuamente,
pois:
sofremos muitas mortes e temos necessidade de
renascer de novo. A gente se perpetua, enquanto
espécie, no círculo morte e nascimento (...). A
cada dia que se vive a gente fica mais morto, é o
paradoxo do viver, e ao mesmo tempo, quanto
mais morto, nesse sentido aqui que a gente está
falando, que estou falando, mais consciente de
que estou vivo estarei.[51]
Seguindo a sensibilidade imposta pelos acontecimentos
cotidianos[52], da produção em diálogo, somos apresentados/as a mais
uma música, considerada com uma perspectiva mais ocidental, em
contraponto às reflexões anteriores, escutemos:
 
Canto Para a Minha Morte[53]
 
Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar
Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...
Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...
Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,
mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida
A reflexão acerca dos sentidos dessa música acaba por delinear
nosso pensamento para “tornar o mistério palatável dentro do limite do
viver”[54], ou seja, compreender que a ancestralidade nos forma,
acessando aquilo que não podemos identificar. Desse modo, não seria
acessar o mistério, mas produzir sentido desde e para esse mistério, pois
quando produzimos sentidos “se morde a ponta do mistério” [55], ou seja, o
mistério é a possibilidade da existência, é o que movimenta, é
movimento!
Nossas reflexões chegam à religião, pois “toda vez que se fala de
nascimento, de morte e nascimento, é quase impossível você não falar de
religião. A religião é uma resposta cultural à morte e ao nascimento, (...)
não há religião que não trate desse tema como prioridade” [56]. É, então,
mais uma perspectiva para compreendermos o mistério da vida, as
perguntas que nos seguem em nosso cotidiano: por que nascemos, para
quê, para onde vamos, qual a nossa “missão” nesse mundo [57]. Novamente
uma música vem dialogar conosco, mais uma vez Raul Seixas provoca
reflexões com “Ave Maria da Rua”[58].
 
Ave Maria da Rua
 
No lixo dos quintais
Na mesa do café
No amor dos carnavais
Na mão, no pé, oh
Tu estás, tu estás
No tapa e no perdão
No ódio e na oração
Teu nome é Yemanjah (Yemanjah)
E é Virgem Maria
É Glória e é Cecília
Na noite fria
Oh, minha mãe
Minha filha tu és qualquer mulher
Mulher em qualquer dia
Bastou o teu olhar (Teu olhar)
Pra me calar a voz
De onde está você
Rogai por nós
Ooooh, Ooooh!
Minha mãe, minha mãe
Me ensina a segurar
A barra de te amar
Não estou cantando só
Cantamos todos nós
Mas, cada um nasceu
Com a sua voz,
Ooooh, Ooooh!
Pra dizer, pra falar
De forma diferente
O que todo mundo sente
Segure a minha mão
Quando ela fraquejar
E não deixe a solidão
Me assustar
Ooooh, Ooooh!
Minha mãe, nossa mãe
e mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ooooh, Ooooh!
Minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Nas letras do teu nome
Ooooh, Ooooh!
minha mãe, nossa mãe
E mata minha fome
Na glória do teu nome.
Após ouvirmos a música algumas vezes, houve uma breve
explanação do seu tempo histórico (ditadura militar), em seguida
refletimos a questão de gênero, a associação da mulher com a divindade
criadora, na cultura africana, enquanto o homem no ocidente é
considerado o criador. Para a cultura africana a união dos gêneros é
necessária para a construção e manutenção do mundo. Assim, in-
concluimos o Odu de Encantamento com o mito de “Oxum na organização
do mundo”, que traz a importância fundante da mulher na construção do
mundo. Quem nos conta tal mito é Vanda Machado e Carlos Petrovich[59]:
 
Oxum na organização do Mundo
 
Era uma vez, no princípio do mundo, Olodumaré  mandou todos os
orixás para organizarem a terra. Os homens faziam reuniões e mais
reuniões. Somente os homens, as mulheres não eram convidadas. Aliás as
mulheres foram proibidas de participar da organização do mundo. Deste
modo nos dias e horas marcadas, os homens deixavam em casa as suas
mulheres e saiam para tomar as providências indicadas por Olodumaré.
As mulheres não gostaram de ficar de lado. Contrariadas foram
conversar com Oxum.
Oxum  era conhecida como uma Iyalodé.
Iyalodé é um título da pessoa mais importante entre as mulheres do
lugar.
Na verdade, parece que os homens tinham esquecido do poder
de Oxum sobre a água doce.
E sem a água doce, com certeza, a vida na terra seria impossível.
Oxum  já estava aborrecida com esta desconsideração dos homens.
Afinal ela não poderia de forma alguma ficar longe das deliberações para o
crescimento das coisas da terra.
Ela sabia de tudo que estava acontecendo.
Era preciso compreender que todos são importantes para a
construção do mundo.
Procurado por suas companheiras, conversavam durante muito
tempo e por fim a Iyalodé comunicou: - De hoje em diante, vamos mostrar
o nosso protesto para os homens.
Vamos chamar atenção, porque somos todos responsáveis pela
construção do mundo.
Enquanto não formos consideradas, vamos parar o mundo!
- Parar o mundo? O que significa isto? Perguntaram as mulheres
curiosas.
- De hoje em diante, falou Oxum, até que os homens venham
conversar conosco, estamos todas impedidas de parir. Também as árvores
não vão mais dar frutos, nem as plantas vão florescer, nem crescer. Isto foi
dito e isto aconteceu.
Aquela foi uma reunião muito forte. A decisão foi acatada por todas
as mulheres.
E os resultados foram imediatos. Os planos que os homens faziam,
começaram a se perder sem nenhum efeito.
Desesperados, os homens se dirigiram a Olodumaré e explicaram
como as coisas iam mal sobre a terra. As decisões tomadas nas
assembleias não davam certo de forma nenhuma.
Olodumaré  ficou surpreso com as más notícias.
Depois de meditar por alguns instantes perguntou:
- Vocês estão fazendo tudo como eu mandei? Oxum está
participando destas reuniões?
Os homens responderam: - Veja senhor, estamos fazendo tudo
“direitinho” como o senhor mandou. Agora, este negócio de mulher
participando de nossas reuniões...
Isto ai, a gente não fez assim não.
Coisa de homem, tem que ser separado de coisa de mulher.
Olodumaré  falou forte:
- Não é possível. Oxum é o orixá da fecundidade. É quem faz
desenvolver tudo que é criado.
Sem Oxum o que é criado não tem como progredir.
Por exemplo, vocês já viram alguma coisa plantada crescer sem
água doce?
Os homens voltaram correndo para a terra e cuidaram logo de
corrigir aquela grande falha.
Quando chegaram à casa de Oxum,  ela já esperava na porta,
fazendo jeito de quem não sabia o que estava acontecendo. Aí os homens
foram chegando e dizendo:
- Agô nilê!  (Com licença).
 
In-Conclusões Caminhantes
 
Compreendo não ser possível ensinar sobre história e cultura
africana e afro-brasileira sem pensar uma educação para as relações
étnico-raciais, sem voltar-se para comunidade como um todo, sem a
escuta sensível, sem pensar o coletivo. O que não é válido apenas para o
ensino de história e cultura africana e afro-brasileira, pois não é suficiente
ter conhecimento cognitivo se não mudarmos nossas práticas, se não
trabalharmos esse conhecimento, assim, essa é uma perspectiva válida em
todos os campos do conhecimento, da vida. Experiência /
vivência / aprendência...
A metodologia dos Odus é tecida por memórias históricas, pois
“valorizar a memória e a resistência negra contra as hegemonias é um
processo decolonial e ressignificante, que fortalece o combate contra o
preconceito e a discriminação racial que afetam a nossa sociedade,
possibilitando a mudança do cenário de desigualdade vivida no Brasil” [60].
Assim, também é perpassada pela autoformação na busca de uma
sociedade mais justa, democrática, antirracista, contra o patriarcalismo,
contra toda e qualquer forma de opressão. Metodologia tecida por
implicações epistemológicas, ativistas, política, ética, em busca da
descolonização curricular, do conhecimento e de nossos próprios corpos.
Ancestralidade tecendo o presente para um futuro livre, liberdade
demarcada pela conquista de todos os direitos, bem-viver!
Assim, in-concluo esse artigo convidando a cada leitor e a cada
leitora a desenvolver suas próprias metodologias, os Odus estão ai para
serem recriados, tecidos desde o contexto social, histórico de cada um, de
cada uma. Tecidos por nossas próprias histórias, por
nossas escrevivências, como diria Conceição Evaristo, delineado por
educadores e educadoras que se compreendem como aprendizes
contínuos, e também enxergam seus educandos e suas educandas como
construtores de todo e qualquer processo de aprendizagem. Odus é uma
metodologia, que também é conteúdo, da escuta sensível, da
potencialização da vida! Que caminhando possamos construir outros
mundos melhores, mundos encantados, fortalecidos, potencializados por
nossa ancestralidade, afrorreferenciado nossos modos de ser / fazer.
Filosofia(s) Africana(s) como poéticas de sentidos, do viver!
“Antes de morder veja com atenção se é pedra ou se é pão”.
Mãe Stella de Oxóssi
 
Referência
 
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense,
2007.
 
CORREA, Marco Aurélio. Pequena África e os cotidianos da resistência: o
cinema negro como possibilidades para e Lei 10.639/03. Revista da
ABPN,  v. 10, Ed. Especial-Caderno Temático: História e Cultura Africana e
Afro-brasileira – lei 10.639/03 na escola, p.109-134, maio-2018.
 
MACEDO, Roberto Sidnei. Compreender/mediar a formação: o fundante
da educação. Brasília: Liber Livro Editora, 2010.
 
MACHADO, Adilbênia Freire. Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de
Educação, Salvador, 2014.
 
MACHADO, Vanda. Pele da Cor da Noite. Salvador: EDUFBA, 2013.
 
NAPOLEÃO, Eduardo. Vocabulário Yorùbá. Rio de Janeiro: Pallas, 2011.
 
OLIVEIRA, Eduardo David de. Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na
filosofia da educação brasileira. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2007.
 
OLIVEIRA, E. D. de. Cosmovisão africana no Brasil: elementos para uma
filosofia afrodescendente. Curitiba: Editora Gráfica Popular, 2006.
 
PETROVICH, Carlos; MACHADO, Vanda. Irê  Ayó: Mitos Afro-brasileiros.
Salvador: EDUFBA, 2004.
 
RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma Africana no Brasil: Os Iorubás. São Paulo:
Editora Oduduwa, 1996.
 
SOMÉ, Sobonfu. O Espírito da Intimidade: ensinamentos ancestrais
africanos sobre relacionamentos. SP: Odysseus Editora, 2003.
 

*
 Esse artigo é oriundo da dissertação de mestrado de Machado. Ver
MACHADO, Ancestralidade e Encantamento como inspirações formativas:
filosofia africana mediando a história e cultura africana e afro-
brasileira, 2014.
[1]
 OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 107.
[2]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 94.
[3]
 MACEDO, Compreender/mediar a formação: o fundante da educação,
2010.
[4]
 Ibidem, p. 108.
[5]
 Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal
da Bahia (UFBA); Professor Permanente do Doutorado Multi-Institucional
e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC) / Salvador. E-
mail: afroduda@gmail.com
[6]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 98.
[7]
 RIBEIRO, Alma Africana no Brasil: Os Iorubás, p. 263.
[8]
 NAPOLEÃO, Vocabulário Yorùbá, p. 105.
[9]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 99.
[10]
 Ibidem, p. 99-100.
[11]
 Segundo Ronilda Ribeiro, “o oráculo sagrado possui 4.096 (16 x 16 x 16)
poemas. Com base nesses poemas é feita a interpretação no jogo
adivinhatório de Ifá ou de búzios. Por ocasião do processo iniciático o
babalaô procura, através do jogo divinatório, tomar conhecimento de qual
é o odu de nascimento do iaô que passará a cultuar também o orixá
relativo a esse odu, respeitando os ewo (quizilas, restrições) por ele
prescritos. O odu de nascimento orienta o iaô quanto ao seu destino, nos
mais diversos níveis” (grifo da autora). Ver RIBEIRO, Alma Africana no
Brasil: Os Iorubás, 1996.
[12]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 99-100.
[13]
 Abreviatura de “História e Cultura Africana e Afro-brasileira”.
Acompanhei o referido componente curricular no período entre 2010 e
2014.
[14]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 115.
[15]
 Ibidem, p. 115-116.
[16]
 Ibidem, p. 116.
[17]
 MACEDO, Compreender/mediar a formação: o fundante da educação,
p. 129.
[18]
 OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 238-239.
[19]
 Segundo o autor, esses olhares caracterizam a percepção da metafísica
(olhar de longe), o pensamento pós-moderno (olhar de perto) e a cultura
dogon (olhar do entre-meio) que é uma cultura africana que muito
influencia a pesquisa que realiza em sua tese. Vide OLIVEIRA, Filosofia da
ancestralidade: corpo e mito na filosofia da educação brasileira, p. 237-
243.
[20]
 OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 239.
[21]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 118.
[22]
 Ibidem.
[23]
 Ibidem.
[24]
 SOMÉ, O Espírito da Intimidade: ensinamentos ancestrais africanos
sobre relacionamentos, p. 20.
[25]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 119.
[26]
 MACHADO, Pele da Cor da Noite, p. 110.
[27]
 Ibidem.
[28]
 OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 110.
[29]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 120.
[30]
 Ibidem.
[31]
 Ibidem.
[32]
 Ibidem.
[33]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 121.
[34]
 Ibidem.
[35]
 Ibidem.
[36]
 Ibidem, p. 122.
[37]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 122.
[38]
 Ibidem.
[39]
 Ibidem.
[40]
 Ibidem, p. 213.
[41]
 MACHADO, Pele da Cor da Noite, p. 52.
[42]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 124.
[43]
 Ibidem, p. 125.
[44]
 Ibidem.
[45]
 Ibidem.
[46]
 OLIVEIRA, Cosmovisão africana no Brasil: elementos para uma filosofia
afrodescendente, p. 56.
[47]
 Ibidem.
[48]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 125.
[49]
 Essa música data de 1982, fora feita quando da separação de Gilberto
Gil com sua 3ª esposa, Sandra, com a qual vivera 17 anos. Fonte:
http://www.overmundo.com.br/banco/drao-historia-que-a-musica-de-
gilberto-gil-conta
[50]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 126.
[51]
 Ibidem, p. 127.
[52]
 Nessa metodologia os acontecimentos cotidianos são sempre
respeitados, privilegiados. As singularidades de cada um/a em um
constante diálogo com o conhecer, seria compreender que “dependendo
da coragem de compreensão com que nos lançamos a investigar e buscar
compreender o que ‘descobrimos do real’, podemos estender o alcance
de nosso olhar, de nosso coração (um excelente instrumento de
interpretação da vida e de nós mesmos) e de nossa mente”. Ver
BRANDÃO, O que é educação, p. 44.
[53]
 Essa música faz parte do quinto álbum solo de Raul Seixas (cantor e
compositor baiano), lançado em 1976, intitulado “Há dez mil anos atrás”.
[54]
 OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 128.
[55]
 Ibidem.
[56]
 Ibidem.
[57]
 Lembro-me de quando criança seguir anos buscando entender por que
havia nascido, pra quê, qual era minha “missão” neste mundo. No início
da adolescência compreendi que nasci para melhorar-me como pessoa.
Hoje, pensando desde a cosmopercepção na qual me reconheço,
refletindo desde a ancestralidade africana, compreendo que se melhorar
como pessoa só é possível quando encontramos a teia do nosso ser e
compreendemos que ao nos tornarmos pessoas “melhores”, tornamo-nos
mais éticos e vamos ao encontro com o/a Outro/a, entendendo esse/a
Outro/a como algo que me completa e que é completado por mim,
sempre numa perspectiva do coletivo.
[58]
 Também faz parte do álbum “Há dez mil anos atrás” de Raul Seixas.
[59]
 PETROVICH; MACHADO. Irê Ayó: Mitos Afro-brasileiros,  p. 69-71.
[60]
 CORREA. Pequena África e os cotidianos da resistência: o cinema negro
como possibilidades para e Lei 10.639/03, p. 127.

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