Sobre Odus
Sobre Odus
Sobre Odus
6. OBARÁ : Odu regido por Xangô e Oxossi. Você luta com unhas e dentes
pelo que quer e geralmente consegue muito sucesso material. Mas, no
amor precisa entender que não pode exigir demais dos outros.
7. ODI: Odu regido por Obaluaê. Você realmente está satisfeito com o que
consegue. Mas não fica se lamentando. Prefere ir à luta. Caso aprenda
com clareza seus objetivos, alcançará grandes êxitos.
8. EJI-ONILE: Odu regido por Oxaguiã. Sua agilidade mental faz de você
uma pessoa falante e muito ativa. Além disso, você gosta de poder e
prestígio e chega a sentir inveja de quem está em melhor situação. Mas
seu senso de justiça o impede de prejudicar quem quer que seja.
9. OSSÁ: Odu regido por Iemanjá. Você é uma pessoa que gosta de
estudar cuidadosamente todas as coisas e sua larga visão de mundo em
busca do conhecimento interior. Se quiser alcançar o sucesso, precisa
tomar cuidado de manter alguma ordem no seu dia a dia.
11. OWANRIN: Odu regido por Iansã e Exu. A pressa e a coragem são suas
características. Tenso e agitado, você nunca fica muito tempo no mesmo
lugar, a não ser que se sinta obrigado. Pode não obter grande sucesso
material, mas a vida sempre lhe reserva muitas alegrias.
Fonte: Nosso Amanhã.
OKARAN
NÚMERO: 1
ORIXÁ CORRESPONDENTE: EXÚ
CORES: PRETO E VERMELHO
DIA: SEGUNDA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 03 - 07 - 14 - 24 - 36 - 48 - 54
PERSONALIDADE: SÃO CRIATIVOS, PERSISTENTES E DE EXCELENTE
MEMÓRIA. POSSUEM FORTE INTUIÇÃO. SÃO MAUS. GOSTAM DE FICAR
SÓS. POSSUEM APARÊNCIA DESCUIDADA. SÃO EGOÍSTAS E MEDROSOS.
TENDEM AO EGOÍSMO E AO INDIVIDUALISMO.
EJIÔCO
NÚMERO: 2
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OGUM, IBÊJIS E OBÁ
DIA: TERÇA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 02 - 16 - 26 - 29 - 41 - 50 - 53 - 59
PERSONALIDADE: SÃO GENIOSOS E EXIGENTES. IMPÕEM A SUA VONTADE,
POR ISSO TAMBÉM ADQUIREM MUITOS INIMIGOS. SÃO ALEGRES, JOVIAIS
E FELIZES. QUANDO NADA LHES SAI A CONTENTO, TORNAM-SE
SOFREDORES. POSSUEM MUITO BOM CORAÇÃO. SÃO CORAJOSOS,
BRIGUENTOS, POSSUEM INICIATIVA PRÓPRIA, SÃO AMBICIOSOS E
GUERREIROS.
ETÁOGUNDÁ
NÚMERO:3
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OBALUAIÊ, OGUM
DIA: SEGUNDA - FEIRA
CORES: BRANCO E PRETO
NÚMEROS DA SORTE: 03 - 09 - 11 - 33 - 47 - 56 - 57 - 58
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS CONSCIENTES SOBRE A IMPORTÂNCIA DA
FORÇA DE VONTADE, PARA O SUCESSO, PERSISTÊNCIA E CORAGEM, PARA
TIRAR MELHOR PROVEITO DAS SITUAÇÕES. PESSOAS QUE USAM MUITO A
RAZÃO; EM SEU LADO NEGATIVO, TRAZ A MENTIRA, FALSIDADE,
FINGIMENTO, AVAREZA E FALSA MODÉSTIA.
IROSSUM
NÚMERO:4
ORIXÁS CORRESPONDENTE: YÊMANJÁ , OGUM E XANGÔ
DIA: SÁBADO
NÚMEROS DA SORTE: 04 - 06 - 12 - 17 - 26 - 40 - 46 - 51
PERSONALIDADE: AS PESSOAS DESTE ODU PECAM E SOFREM POR NÃO
GUARDAREM SEGREDO, EXCETO QUANDO LHES É CONVENIENTE. SÃO
FALADORAS, GENEROSAS E FRANCAS; ORGULHOSAS E EXALTADAS.
GOSTAM DE AJUDAR O PRÓXIMO, DÁ MUITO VALOR AO OCULTISMO
(COISAS MISTERIOSAS).
OXÊ
NÚMERO:5
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OXUM - LOGUM-ODÉ
DIA: SÁBADO
NÚMEROS DA SORTE: 05 - 08 - 16 - 23 - 28 - 32 - 50
PERSONALIDADE: AS PESSOAS DESTE ODU GOSTAM DE MUITO PRAZER;
SÃO PESSOAS BEM INFLUENTES, CHARMOSAS, AMBICIOSAS E PERIGOSAS,
PRINCIPALMENTE NO AMOR. SÓ PENSAM EM LUCRO, SÃO PRECIPITADAS
NO AGIR; PERDEM GRANDES OPORTUNIDADES POR EXISTIREM INIMIGOS
OCULTOS QUE IMPEDEM AS VITÓRIAS. TÊM O DOM DA FEITIÇARIA. SÃO
APLICADOS NO TRABALHO. SENTIMENTAIS, AMANTES DAS DESCOBERTAS
E DE EXPERIÊNCIAS MÍSTICAS E CIENTÍFICA. SÃO CHORONAS E UM POUCO
FANÁTICAS.
OBARÁ
NÚMERO: 6
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OXÓSSI, LOGUM-ODÉ E XANGÔ
DIA: QUINTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 06 - 15 - 16 - 17 - 22 - 26 - 46 - 54
PERSONALIDADE: PESSOAS COM TEMPERAMENTO UM TANTO QUANTO
ESTOURADO, SÃO DE EXTREMA SINCERIDADE; SÃO UM POUCO
TAGARELAS COM HÁBITO DE CONTAR TUDO O QUE IRÁ SER FEITO,
EVITANDO ASSIM A CONCRETIZAÇÃO DOS PLANOS. DESPERTAM
ANTIPATIA E INVEJA DAS PESSOAS. SÃO JUSTAS E TENDEM A POSSUIR
BENS.
ODÍ
NÚMERO: 7
ORIXÁS CORRESPONDENTE: OBALUAIÊ, OXÓSSI E OXALUFÃ
DIA: SEGUNDA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 07 - 13 - 31 - 45 - 54 - 56 - 58 - 59
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS COMUNICATIVAS E DE FÁCIL AMIZADE;
SÃO SEMPRE TRAÍDOS POR AMIGOS, SÃO SENTIMENTAIS, TÊM FORTE
PODER INTUITIVO E PSÍQUICO. QUANDO ESPIRITUALIZADAS, ATINGEM
POSIÇÃO DE DESTAQUE NA VIDA. FORA ISSO LEVAM A VIDA EM DURAS
PENAS, TENDO DIFICULDADE DE CONVIVER COM OS IMPULSOS. SÃO
DESCONFIADOS E CIUMENTOS. POSSUEM SORTE PARA O JOGO. GOSTAM
MUITO DE TENTAR ADIVINHAR OS FATOS. NÃO SE DÃO MUITO BEM NA
VIDA.
EJIONÍLÊ
NÚMERO: 8
ORIXÁS CORRESPONDENTES: OXAGUIÃ, XANGÔ E OXUM
DIA: SEXTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 08 - 12 - 23 - 26 - 34 - 56 - 57 - 58
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS TRABALHADORAS, GOSTAM DE TUDO
MUITO RÁPIDO, EXIGEM O ASSEIO E A LIMPEZA; SÃO PESSOAS
IMPULSIVAS; PESSOAS DE ESPÍRITO LIVRE; ENJOAM DE TUDO
FACILMENTE; TÊM PAIXÕES VIOLENTAS E SÃO MUITO CURIOSOS.
ADORAM AS VIAGENS.
OSSÁ
NÚMERO: 9
ORIXÁS CORRESPONDENTE: YANSÃ, XANGÔ E YÊMANJÁ
DIA: SÁBADO
NÚMEROS DA SORTE: 09 - 11 - 16 - 21 - 27 39 - 54 - 55
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS AUTORITÁRIAS, TEIMOSAS E BRIGONAS.
TENDEM A TER DISCÓRDIA E RANCORES. POSSUEM BOAS INTUIÇÕES E
SÃO VOLTADOS A GRANDES PROJETOS DE REALIZAÇÃO PESSOAL. SÃO
DAQUELAS PESSOAS QUE SÓ ACREDITAM VENDO. QUANDO ACREDITAM
NAS COISAS ESPIRITUAIS, COSTUMAM ASSUMIR LIDERANÇAS DENTRO DA
SEITA. SÃO MUITO CRÍTICOS, METÓDICOS E INDIVIDUALISTAS. CONTAM
COM UMA PROTEÇÃO ESPECIAL DE OXALÁ.
EJIOFUM
NÚMERO: 10
ORIXÁ CORRESPONFENTE: OXALUFÃ
DIA: DOMINGO
NÚMEROS DA SORTE: 10 - 12 - 31 - 40 - 43 - 45 - 49 - 50
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS IMPORTANTES, COM GRANDES SENSOS
COMUNITÁRIOS E DE PROFUNDO SABER PRÁTICO. EXPERIENTES,
RANCOROSOS, TEIMOSOS, VINGATIVOS, COM SENSO DE JUSTIÇA MUITO
IMPARCIAL. TENDEM OBTER SUCESSO, APÓS MEIA IDADE. SÃO
ENVELHECIDOS INTERNAMENTE E APARENTAM POSSUIR MUITA CALMA E
PACIÊNCIA. O SUCESSO MATERIAL DESTAS PESSOAS DEPENDE DO
SUCESSO ESPIRITUAL.
OWARIN
NÚMERO: 11
ORIXÁS CORRESPONDENTE: YANSÃ, EXU E OGUM
DIA: QUARTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 11 - 17 - 23 - 32 - 45 - 61
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS, DE CERTA FORMA, 'PERIGOSAS";
OBSTINADAS POR SUCESSO. FELIZES, QUANDO BUSCAM PROFISSÕES
LIBERAIS, QUE ATUAM JUNTO AO PÚBLICO. POSSUEM MUITA ENERGIA,
DISPOSIÇÃO. ESTÃO EM CONSTANTE MOVIMENTO, AGITO. SÃO MUITO
NERVOSAS. POSSUEM SORTE NA VIDA; PORÉM SÃO EXTREMAMENTE
VINGATIVAS E DEFENDEM –SE, ATACANDO.
EJILAXEBORÁ
NÚMERO: 12
ORIXÁ CORRESPONDENTE: XANGÔ
DIA: QUARTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 12 - 18 - 19 - 23 - 34 - 40 - 45
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS BARULHENTAS, INTRIGANTES, GOSTAM
DE INTRIGAS, ORGULHOSAS, VAIDOSAS AO EXTREMO, PREPOTENTES,
AUTORITÁRIAS, VOLÚVEIS E SOVINAS. GOSTAM DE MANIPULAR AS
PESSOAS E AS SITUAÇÕES. POSSUEM FORTE TENDÊNCIA A OBTER ALTAS
POSIÇÕES NA SOCIEDADE; POSSUEM TENDÊNCIAS A VÍCIOS, DIFÍCIL DE SE
ARREPENDER DE SUAS ATITUDES. A VITÓRIA FAZ PARTE DE SUA VIDA,
VENHA COMO VIER; PORÉM TAMBEM NÃO ESTÃO LIVRES DO FRACASSO,
POIS ASSIM COMO SE SOBE, TAMBEM SE PODE DESCER.
EJILOBON
NÚMERO:13
ORIXÁS CORRESPONDENTES: NANÃ E OBALUAIÊ
DIA: DOMINGO
NÚMEROS DA SORTE: 13 - 45 - 47 - 48 - 50 - 58 - 59
PERSONALIDADE: SÃO TEIMOSAS, RANCOROSAS, HUMILDES,
IMPACIENTES, ZELOSAS, DÓCEIS, CONSERVADORAS, POSSUEM DIFÍCIL
TRATO. SÃO BASTANTES INTROSPECTIVAS. EM GERAL, SÃO PESSOAS COM
TEMPERAMENTOS E APARÊNCIA MAIS VELHAS. TEM PAVOR DA MORTE.
APARENTAM POSSUIR UMA FELICIDADE QUE, NA VERDADE, NÃO EXISTE.
IKÁ
NÚMERO: 14
ORIXÁS CORRESPONDENTES: OXUMARÊ E OSSÃE
DIA: QUINTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 14 - 42 - 47 - 48 - 50 - 51 - 55 -
PERSONALIDADE: FAZEM BOAS AMIZADES, SÃO DESCONFIADAS,
TRAIÇOEIRAS, POSSUEM MUITA SORTE RELACIONADA AO DINHEIRO; SÃO
MUITO ATIVAS, ESTÃO SEMPRE EM MOVIMENTO (AÇÃO); SÃO PESSOAS
EQUILIBRADAS, PREOCUPAM-SE COM O BEM-ESTAR DE OUTREM.
POSSUEM MUITA LIDERANÇA E FACILIDADE DE APRENDIZADO;
PORTANTO, ADORAM APRENDER A LER E ESCREVER. SÃO CONSIDERADAS
PESSOAS INTELIGENTES.
OBEOGUNDÁ
NÚMERO:15
ORIXÁS CORRESPONDENTES: OBÁ E EWÁ
DIA: QUARTA - FEIRA
NÚMEROS DA SORTE: 01 - 02 - 04 - 15 - 36 -39 - 41 - 50
PERSONALIDADE: SÃO PESSOAS COM GRANDES DIFICULDADES EM
RELACIONAMENTOS AMOROSOS. LEVAM VIDA AGITADA. SÃO
BATALHADORAS; POSSUEM PERSONALIDADE FORTE E EXIGENTE. SÃO
MUITAS VEZES INCOMPREENDIDAS E VINGATIVAS. TAMBÉM SÃO MUITO
TRABALHADORAS E, PORTANTO, SÃO FAVORECIDAS NOS NEGÓCIOS (COM
POUCO LUCRO E SUCESSO); MAS, COM MUITA LUTA, TENDEM A VENCER.
ALÁFIA
NÚMERO:16
ORIXÁS CORRESPONDENTES: IFÁ, ORUMILÁ E TODOS OS ORIXÁS FUNFUN
DIA: DOMINGO
NÚMEROS DA SORTE: 02 - 06 - 16 - 22 -31 - 58 - 60
PERSONALIDADE: NÃO POSSUI REGÊNCIA DE ORIXÁ DEFINIDA;
PORTANTO, NÃO PODE SER ASSOCIADO A NENHUM ORIXÁ. SÃO PESSOAS
QUE ALCANÇAM TRIUNFO EM TUDO; LUCROS, HERANÇAS, VIAGENS,
FELICIDADE, BOAS PROPOSTAS. SÃO PESSOAS QUE SEMPRE PRECISAM DE
ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL, POIS A AFLIÇÃO LHE É APARENTE.
Fonte: Templo Xangô Baru
ODUS: Filosofia Africana para uma Metodologia Afro referenciada
ODUS : African Philosophy for an Afro-referenced Methodology
Adilbênia Freire Machado
Doutora em Educação-Universidade Federal do Ceará (UFC), Bolsista
Capes.
adilmachado@yahoo.com.br
Resumo: O presente artigo apresenta a metodologia filosófica, que
também é conteúdo, dos Odus. Trata-se de uma metodologia afro
referenciada demarcada por nossa origem, nossa ancestralidade, nossos
caminhos / experiências / vivências. Alimentaremos, aqui, um diálogo
formativo desde as culturas, os modos de ser / estar no mundo, as
filosofias e saberes africanos e afrodescendentes. Busca-se delinear um
pensamento plural, diverso, numa perspectiva horizontal, circular, que
compreende a universalidade desde um lugar, desde nosso próprio chão,
onde o corpo é produtor e fonte de conhecimento. Apresentaremos esta
metodologia que é tecida por implicações epistemológicas, ativistas,
política, ética, em busca de descolonização curricular e do próprio
conhecimento, delineada pela escuta sensível, perpassada pelo coletivo,
pela memória histórica, pela resistência negra e pela auto formação.
Palavras-Chave: Metodologia Afro referenciada; Odus; Filosofia Africana;
Escuta Sensível; Descolonização Curricular
Abstract: The present article presents the philosophical methodology,
which is also content, of the Odus. This is an afro-referenced methodology
demarcated by our origin, our ancestry, our paths / experiences. We will
nourish here a formative dialogue from cultures, ways of being / being in
the world, African and Afro-descendant philosophies and knowledge. It
seeks to delineate a diverse, plural form, horizontal, circular perspective
that understands universality from a place, from our own ground, where
the body is the producer and source of knowledge. We will presente this
methodology that is woven by epistemological implications, activists,
politics, ethics, in search of curricular decolonization and of the knowledge
itself, delineated by sensitive listening, perpassed by the collective, by
historical memory, by black resistance and self-formation.
Keywords: Afrorreferenced methodology; Odus; African Philosophy;
Sensitive Listening; Curricular decolonization
Adentrando: Uma Metodologia Filosófica Afro referenciada
Com o advento da Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino
de história e cultura africana e afro-brasileira, tornou-se fundante a
criação de metodologias que possam delinear, demarcar a implementação
de tal lei desde métodos afro referenciados, posto que a proposta é um
ensino desde nosso próprio lugar de pertencimento, nosso modo de ser,
nossos saberes, nossas culturas, nossos corpos, nossas histórias. Assim,
essas metodologias são pautadas desde as histórias que nos foram
negadas nas escolas e universidades, perpassadas pela oralidade, pela
memória, pelos valores que delineiam o cotidiano da população negra
diaspórica que forma o Brasil, perpassadas por corpos negados e cheios de
potência e resistência.
Dessa forma, dialoga-se desde nossos modos de ser e estar no
mundo, desde os (nossos) saberes dos povos africanos que a escravização
trouxe para nosso país. Ainda que a colonização tenha nos tornado uma
nação marcada por dor, sofrimento, desumanização e negação, ela deixou
um legado que segue existindo, reexistindo e fortalecendo um povo que
não nasceu em África, mas que tem a África nascida em si, uma África que
desenhou, teceu, criou, cria e alimenta o Brasil. Aqui não há, em absoluto,
o propósito, ou até mesmo a ideia de romantizar a mestiçagem, longe
disso, mas reconhecer que ainda com todos os processos de
desumanização oriundos da colonização, da escravização, a cultura
africana em terras brasileiras ultrapassa o tempo e os espaços,
fundamentando nosso ser, nossa cultura, fortalecendo-se na luta
cotidiana por sua existência e reexistência, pois somos um povo
demarcado pela ancestralidade e pelo encantamento vindo de África.
Assim, esse artigo propõe um diálogo formativo desde a
perspectiva afro referenciada, ou seja, as culturas, os modos de ser / estar
no mundo, filosofias e saberes africanos e afrodescendentes. Delineando
um pensamento plural, diverso, que tem o diálogo entre os saberes como
preponderante, desde uma perspectiva horizontal, circular,
compreendendo a universalidade desde um lugar, desde nosso próprio
chão, abarcando o corpo como produtor e fonte de conhecimento,
conhecimentos estes oriundos das relações do cotidiano, das nossas
experiências, pois “existir é relacionar-se, e os relacionamentos não se dão
no vazio do nada, mas através de corpos que preenchem o corpo do
espaço e os escorrer do tempo corporal. Não se prescinde do corpo, nem
como coisa, nem como ideia, nem como palavra”.
Assim, pensar / criar / aprender / ensinar / ser desde referenciais que tem
a ancestralidade africana como guia, potencializa nosso estar no mundo,
nos encantando, nos implicando com um mundo melhor, mais digno de se
viver.
Portanto, esse artigo apresentará a metodologia oriunda da Filosofia
Africana delineada pelos Odus. Esses são metodologia e conteúdo
demarcados pelos nossos caminhos / experiências / vivências, pois “não
separa caminho de metodologia, forma de conteúdo. Elas não são
separadas na vida, também não podem ficar separadas na academia” [2].
Também não dissocia experiência de vivência, de atuação política, ética,
social, profissional, assim, trabalha-se desde a compreensão de “formação
como ação”, pois a formação é um “fenômeno que se realiza nos sujeitos
concretos, contextualizados, historicizados, política e coletivamente
situados”.
Odu, que é oriundo do Ifá, é a fonte de inspiração para a criação
dessa metodologia, que fora gestada por Eduardo Oliveira para o ensino
de “História e Cultura Africana e Afro-brasileira”, desenvolvida,
especialmente, para o componente curricular de mesmo nome ofertado
no curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal
da Bahia, entretanto, tal metodologia pode ser “aplicada” em todos os
campos do conhecimento afro referenciado, pois Odu é uma metodologia
filosófica oriunda das filosofias africana, de seus saberes, valores e
tradições. Eduardo Oliveira inspira-se em sua espiritualidade, na sua
relação com o Ifá, cultura em que é iniciado. O Ifá é oriundo da Nigéria, é
uma cultura pré-colonial que representa um sistema ético africano.
Segundo Eduardo Oliveira,
Na religião de matriz africana, pensando ela
como um grande fenômeno social, há uma coisa
absolutamente importante que é o oráculo. O
oráculo é aquilo que faz com que eu possa me
comunicar com o Outro perto e com o Outro
distante, é a comunicação do humano para com
o humano, do humano para com o sagrado e do
sagrado para com o humano. É o lugar da fala da
sabedoria, ou seja, o oráculo é o lugar que
preserva a sabedoria produzida por um grupo.
Um oráculo privilegiado por esse sistema se
chama IFÁ.
Ronilda Ribeiro, diz que o Ifá é “Orumilá, o oráculo divino, deus da
sabedoria iorubá. Também jogo adivinhatório realizado
com ikin ou opelê” (grifo da autora). Para Eduardo Napoleão, o Ifá é o
“Oráculo praticado por sacerdotes yourubanos cujo patrono é Orunmilá.
Compêndio do saber yourubano contendo ensinamentos e textos sobre
música, literatura, história, religião, mitologia, ecologia, ciência, filosofia,
arte, etc”.
Desse modo, o Opelê-Ifá, que é o colar de Ifá, é utilizado como
inspiração metodológica, pois:
é um instrumento (...) para me comunicar com o
oráculo, ele é efetivamente a metodologia, o
instrumento, aquele que faz a comunicação,
aquele que revela a sabedoria produzida pelos
antepassados para os viventes de agora e atualiza
essa sabedoria na experiência desses viventes de
agora.
Um objetivo fundante do ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira é o diálogo com as filosofias presentes na sabedoria de
nossos antepassados, nas experiências vividas e transmitidas. Sabedorias /
Experiências! Sabedorias / Ações! Sabedorias / Modos de Ser – Estar no
Mundo!
O oráculo, o opelê-ifá é circular, pois o círculo é “uma estética
radical de inclusão (...), todo mundo tá lado a lado com o Outro, com
companheirismo, numa relação fraternal (...) e vendo a face do outro.
Então, é uma escritura ética, é uma estética de inclusão”. Por isso o círculo
é fundante como instrumento metodológico.
*
Esse artigo é oriundo da dissertação de mestrado de Machado. Ver
MACHADO, Ancestralidade e Encantamento como inspirações formativas:
filosofia africana mediando a história e cultura africana e afro-
brasileira, 2014.
[1]
OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 107.
[2]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 94.
[3]
MACEDO, Compreender/mediar a formação: o fundante da educação,
2010.
[4]
Ibidem, p. 108.
[5]
Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal
da Bahia (UFBA); Professor Permanente do Doutorado Multi-Institucional
e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento (DMMDC) / Salvador. E-
mail: afroduda@gmail.com
[6]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 98.
[7]
RIBEIRO, Alma Africana no Brasil: Os Iorubás, p. 263.
[8]
NAPOLEÃO, Vocabulário Yorùbá, p. 105.
[9]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 99.
[10]
Ibidem, p. 99-100.
[11]
Segundo Ronilda Ribeiro, “o oráculo sagrado possui 4.096 (16 x 16 x 16)
poemas. Com base nesses poemas é feita a interpretação no jogo
adivinhatório de Ifá ou de búzios. Por ocasião do processo iniciático o
babalaô procura, através do jogo divinatório, tomar conhecimento de qual
é o odu de nascimento do iaô que passará a cultuar também o orixá
relativo a esse odu, respeitando os ewo (quizilas, restrições) por ele
prescritos. O odu de nascimento orienta o iaô quanto ao seu destino, nos
mais diversos níveis” (grifo da autora). Ver RIBEIRO, Alma Africana no
Brasil: Os Iorubás, 1996.
[12]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 99-100.
[13]
Abreviatura de “História e Cultura Africana e Afro-brasileira”.
Acompanhei o referido componente curricular no período entre 2010 e
2014.
[14]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 115.
[15]
Ibidem, p. 115-116.
[16]
Ibidem, p. 116.
[17]
MACEDO, Compreender/mediar a formação: o fundante da educação,
p. 129.
[18]
OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 238-239.
[19]
Segundo o autor, esses olhares caracterizam a percepção da metafísica
(olhar de longe), o pensamento pós-moderno (olhar de perto) e a cultura
dogon (olhar do entre-meio) que é uma cultura africana que muito
influencia a pesquisa que realiza em sua tese. Vide OLIVEIRA, Filosofia da
ancestralidade: corpo e mito na filosofia da educação brasileira, p. 237-
243.
[20]
OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 239.
[21]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 118.
[22]
Ibidem.
[23]
Ibidem.
[24]
SOMÉ, O Espírito da Intimidade: ensinamentos ancestrais africanos
sobre relacionamentos, p. 20.
[25]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 119.
[26]
MACHADO, Pele da Cor da Noite, p. 110.
[27]
Ibidem.
[28]
OLIVEIRA, Filosofia da ancestralidade: corpo e mito na filosofia da
educação brasileira, p. 110.
[29]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 120.
[30]
Ibidem.
[31]
Ibidem.
[32]
Ibidem.
[33]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 121.
[34]
Ibidem.
[35]
Ibidem.
[36]
Ibidem, p. 122.
[37]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 122.
[38]
Ibidem.
[39]
Ibidem.
[40]
Ibidem, p. 213.
[41]
MACHADO, Pele da Cor da Noite, p. 52.
[42]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 124.
[43]
Ibidem, p. 125.
[44]
Ibidem.
[45]
Ibidem.
[46]
OLIVEIRA, Cosmovisão africana no Brasil: elementos para uma filosofia
afrodescendente, p. 56.
[47]
Ibidem.
[48]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 125.
[49]
Essa música data de 1982, fora feita quando da separação de Gilberto
Gil com sua 3ª esposa, Sandra, com a qual vivera 17 anos. Fonte:
http://www.overmundo.com.br/banco/drao-historia-que-a-musica-de-
gilberto-gil-conta
[50]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 126.
[51]
Ibidem, p. 127.
[52]
Nessa metodologia os acontecimentos cotidianos são sempre
respeitados, privilegiados. As singularidades de cada um/a em um
constante diálogo com o conhecer, seria compreender que “dependendo
da coragem de compreensão com que nos lançamos a investigar e buscar
compreender o que ‘descobrimos do real’, podemos estender o alcance
de nosso olhar, de nosso coração (um excelente instrumento de
interpretação da vida e de nós mesmos) e de nossa mente”. Ver
BRANDÃO, O que é educação, p. 44.
[53]
Essa música faz parte do quinto álbum solo de Raul Seixas (cantor e
compositor baiano), lançado em 1976, intitulado “Há dez mil anos atrás”.
[54]
OLIVEIRA apud MACHADO, Ancestralidade e Encantamento: filosofia
africana mediando a história e cultura africana e afro-brasileira, p. 128.
[55]
Ibidem.
[56]
Ibidem.
[57]
Lembro-me de quando criança seguir anos buscando entender por que
havia nascido, pra quê, qual era minha “missão” neste mundo. No início
da adolescência compreendi que nasci para melhorar-me como pessoa.
Hoje, pensando desde a cosmopercepção na qual me reconheço,
refletindo desde a ancestralidade africana, compreendo que se melhorar
como pessoa só é possível quando encontramos a teia do nosso ser e
compreendemos que ao nos tornarmos pessoas “melhores”, tornamo-nos
mais éticos e vamos ao encontro com o/a Outro/a, entendendo esse/a
Outro/a como algo que me completa e que é completado por mim,
sempre numa perspectiva do coletivo.
[58]
Também faz parte do álbum “Há dez mil anos atrás” de Raul Seixas.
[59]
PETROVICH; MACHADO. Irê Ayó: Mitos Afro-brasileiros, p. 69-71.
[60]
CORREA. Pequena África e os cotidianos da resistência: o cinema negro
como possibilidades para e Lei 10.639/03, p. 127.